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TEXTO I

Liceu Literário Português


Instituto de Língua Portuguesa
Curso extra/ 1º semestre 2019
Professora: Rita de Cássia Mérida

A subordinação oracional em português

1. Comentários prévios: os domínios da linguagem e o conhecimento da língua


materna

A grande polêmica que se estabelece em relação ao estudo da norma culta pode


ser decorrente, provavelmente, do desconhecimento do conceito de sociedade ─ grupo
falante de uma dada língua ─ e dos aspectos que a gerenciam. Não se pode deixar de
entender a sociedade como um conjunto de convenções e leis, que estabelece padrões
comportamentais que influenciam diretamente nas escolhas de seus participantes.
Existem modelos a serem seguidos, como por exemplo, o que indica a maneira mais
educada de se comportar em público, a vestimenta adequada para as diversas ocasiões,
a obediência aos sinais de trânsito, etc. O dia a dia das pessoas está efetivamente
condicionado às inúmeras regras que viabilizam um convívio humano harmônico.
No que se refere à língua, a situação não é diferente, pois seu uso implica
obediência a um conjunto de obrigações e deveres a serem seguidos nas interações
comunicativas. Evidentemente, há diferenças entre o modo de falar num encontro com os
amigos e numa conferência científica, por exemplo. Da mesma maneira, escreve-se
diferentemente um bilhete para um familiar e uma pesquisa acadêmica. Há necessidade
de se buscar uma adaptação coerente entre as diversas possibilidades de empregos
linguísticos e a situação do discurso, observando-se o conteúdo da mensagem, o grau de
domínio da língua pelo receptor, a finalidade da mensagem, etc. Em face dessas
observações, decide-se sobre a seleção lexical, o nível de organização sintática do texto,
a profundidade dos argumentos empregados na composição do texto, etc.
Em relação ao papel da gramática tradicional nos estudos de Português, o ensino
prescritivo garante à língua materna um ponto de convergência em face das muitas
diversidades individuais, regionais e circunstanciais existentes nas diferentes modalidades
de uso, promovendo, principalmente, a unidade linguística, tendo em vista o caráter mais
amplo e perene da escrita. Ao se lerem, por exemplo, jornais de Recife ou Salvador, é
possível perceber uma semelhança praticamente absoluta com os do Rio de Janeiro e de
São Paulo. Tal constatação impede a negação de o português formal escrito agasalhar
bem menos variações do que a fala cotidiana dos falantes dessas localidades. Daí é
importante ressaltar a relevância do estudo da gramática tradicional pelos falantes de
língua portuguesa, já que essa modalidade escrita formal obedece a um padrão na
seleção das palavras e na estrutura morfossintática, que garante uma compreensão mais
abrangente e única por parte dos usuários oriundos das diferentes regiões do Brasil.
Repudiar a necessidade do estudo de um padrão linguístico mais normativo
equivale à negação da própria identidade do homem, que historicamente sempre formulou
regras de comportamento e de conduta, aplicáveis às mais diferentes atividades
humanas, incluindo-se também a linguagem. A completa ausência de regras e diretrizes,
no contexto geral da sociedade, seria a configuração do caos. Pode-se até afirmar como
leviana ou inconsequente a atitude de defesa da exclusão do estudo (e do ensino!) da
gramática tradicional (normativa ou prescritiva), uma vez que esse comportamento, longe
de resolver os problemas de leitura e escrita dos usuários, promoveria dificuldades ainda
maiores nas atividades de produção de textos orais ou escritos. Os problemas
apresentados pelos falantes de língua materna na elaboração dos textos ─ que não
apresentam recursos de articulação das ideias de forma coesa e coerente, além do
emprego de um léxico cada vez mais reduzido e de uma estrutura sintática extremamente
simplificada ─ não podem ser atribuídos exclusivamente a uma tradição pedagógica,
cujas aulas de português apresentavam um enfoque essencialmente gramatical, ou à
ação da escola, a quem não se podem delegar inúmeras funções e tarefas que fogem do
contexto escolar e da competência do professor. Fatores de ordens distintas – desníveis
socioculturais e econômicos; interesses político-partidários; prestígio/ desprestígio de
certas áreas de conhecimento ou atuação; desestrutura familiar; etc. – têm contribuído
para o tão apregoado declínio do ensino e da escola e, especialmente no que tange à
língua, do emprego cada vez mais limitado do vocabulário, de organizações oracionais
muito simplificadas ou incoerentes, da frequência excessiva de certas marcas da
oralidade na escrita, etc. Há, portanto, situações comprovadamente extralinguísticas e
não relacionadas ao estudo da norma padrão que atuam na visível decadência (por mais
dura que seja tal palavra!) da atividade de elaboração textual – seja oral, seja escrita –
dos falantes do nosso idioma. Não buscar efetivas soluções para tais problemas pelos
órgãos competentes e delegar a culpa ao ensino, aos professores e ao uso da gramática
constitui-se numa saída extremamente simplista, injusta e injustificada.

2. A gramática tradicional: alguns posicionamentos críticos

De acordo com os comentários anteriores, possivelmente uma mudança de


paradigma no estudo e no ensino da norma padrão não implicaria necessariamente um
impacto positivo nas dificuldades apresentadas pelos falantes no que concerne à
elaboração de textos orais ou escritos ou à capacidade de leitura. O uso da linguagem
pressupõe convívio, interação, sendo necessário empregá-la em todas as suas
variedades, inclusive na modalidade mais formal do idioma, a fim de garantir a
capacidade de se produzirem textos que exijam registros linguísticos variados.
Não se pode negar, certamente, que muito há a se reformular e adaptar, em função
da verdadeira identidade do português culto atualmente vigente no Brasil. Urgentes se
mostram reflexões e questionamentos sobre fatos gramaticais que não correspondem à
realidade linguística brasileira, praticada, inclusive, entre indivíduos com grau de
letramento compatível com as classes mais escolarizadas. Essas análises, embora
apontem para uma necessária reformulação de certas questões conceituais e de
determinadas regras que frequentemente comprovam incoerências abissais entre a teoria
gramatical e o efetivo uso da língua, não representam nenhum demérito ao estudo da
gramática normativa ou discordância à sua importante atuação na tarefa da unificação
linguística portuguesa em território nacional.

3. Gramática: definição e algumas de suas especificidades

A palavra gramática ─ unidade linguística pertencente ao léxico do português e de


outras línguas ─ tem origem no latim (grammatica, æ), que por sua vez é proveniente de
um étimo grego. Entre os gregos e os romanos, gramática consistia num conjunto de
prescrições e regras para o uso considerado correto da língua escrita e falada. Esse
significado evoluiu, bem como a própria ciência linguística, e tem sofrido variações
determinantes no surgimento de diversas correntes teóricas.
3.1. A gramática normativa: os conceitos de certo e errado

A definição inicial ─ e que ainda se mantém entre muitos estudiosos da língua ─


concebe a gramática como um manual constituído de regras para o bom uso da língua, ou
seja, consiste num compêndio com normas e diretrizes para uma expressão oral e escrita
correta, pautada no uso linguístico de escritores consagrados. Sob essa perspectiva de
gramática, a variedade de língua efetivamente merecedora de crédito é a fundamentada
na norma culta ou padrão, sendo as demais variedades consideradas desvios a serem
evitados. Há, portanto, uma forma correta ─ que deve ser seguida, pois consta das
prescrições normativas ─ e outra errada ─ que por estar em desarmonia com a norma
padrão não deve ser utilizada. Tal concepção ─ conhecida por boa parte dos estudiosos
da língua ─ relaciona-se à gramática normativa, que trata especialmente da modalidade
escrita padrão, em que os usos linguísticos devem seguir todas as prescrições ditadas
pelo modelo tradicional.

3.2. A gramática descritiva: a adequação na prática discursiva

Segundo esse conceito, a gramática deve limitar-se à descrição e à estrutura do


funcionamento de uma determinada língua. Não há o binômio certo/ errado como na
perspectiva anterior, uma vez que todas as manifestações presentes no cotidiano, em
qualquer de suas variedades, são consideradas gramaticais. A variação, no enfoque da
gramática descritiva, denota diferenças de uso e não desvios. Daí não haver os conceitos
de certo/ errado, estando presente a ideia de adequação. O interesse da gramática
descritiva é tão somente o registro do efetivo funcionamento de uma língua.

3.3. A gramática internalizada: a competência linguística individual

De acordo com essa visão, todos os usuários da língua detêm um conhecimento


implícito de funcionamento linguístico que orienta a estruturação de seus discursos,
mesmo que não consigam explicitar os critérios empregados para tal elaboração. A
apreensão desse conhecimento acontece natural e espontaneamente ao longo da vida,
assim como se desenvolvem as habilidades de andar, nadar, pedalar, etc. Portanto, trata-
se de um saber não relacionado à instrução formal e sistemática recebida na escola, já
que pessoas que nunca estudaram conseguem formular textos de acordo com o
conhecimento adquirido no decorrer do tempo ou, em outros termos, empregando essa
gramática internalizada, que consiste na formulação gradual de hipóteses construídas
sobre a língua, a partir do desenvolvimento de sua competência linguística no exercício
de suas próprias práticas discursivas. Esse sentido de gramática internalizada consiste,
então, no conhecimento implícito de que os usuários são dotados acerca da constituição e
do funcionamento da língua com a qual estabelecem comunicação.

3.4. A gramática reflexiva: observação dos fatos da língua

A gramática reflexiva consiste numa tarefa de reflexão sobre os recursos


gramaticais já empregados pelos usuários para possibilitar a aprendizagem de novas
habilidades linguísticas para um domínio mais produtivo da língua. Os fatos gramaticais
são apresentados a partir de exemplos próximos dos falantes, de modo a possibilitar a
observação e a análise do funcionamento da língua, privilegiando os efeitos de sentido
produzidos pelos elementos linguísticos na interlocução em face das diversas
possibilidades dos diferentes enunciados linguísticos.
3.5. A gramática histórica: a perspectiva diacrônica

A gramática histórica trata dos fatos da língua no seu movimento sucessivo, desde
a sua origem até a atualidade. Investigar a origem e a evolução de uma língua significa
analisar a língua sob o ponto de vista diacrônico. A gramática histórica, portanto, analisa a
língua, remontando ao seu passado, às suas origens, ao período de sua formação,
apresentando as transformações pelas quais passou em todas as etapas de sua evolução
no espaço e no tempo.

 A título de conclusão:
Conforme observado, o termo gramática comporta diferentes significados ─ além dos que não foram
aqui mencionados, como gramática expositiva, escolar, funcional, de usos, etc. Pode-se empregar a
palavra sob perspectivas diversas. Além de ser considerada como o conjunto de conhecimentos
internalizados dos falantes de uma língua, pode designar também uma área de estudo ou ainda
qualquer compêndio ou manual que contenha as regras que definem as possibilidades de
combinações das unidades lexicais de uma língua.

4. A gramática: brevíssimo histórico

Os estudos linguísticos sob um viés mais sistemático tiveram origem na tradição


gramatical hindu com a elaboração de uma gramática do sânscrito pelo gramático indiano
Panini (520 – 460 a.C.). O sânscrito – língua hindu de uso litúrgico em algumas religiões
orientais – é uma das línguas indo-europeias, como o grego e o latim, e pertence ao
mesmo tronco linguístico de grande parte dos idiomas falados na Europa. Os estudos
acerca do sânscrito, que tiveram início em fins do século XVIII, muito contribuíram para a
investigação dos estudos gramaticais modernos.
A gramática de Panini, organizada aproximadamente no século VI a. C., constitui-
se na mais vasta, metódica e completa exposição da teoria gramatical de uma língua de
toda a antiguidade. Trata-se essencialmente de uma gramática descritiva, retratando os
usos linguísticos de diferentes regiões da Índia. É uma obra pioneira nessa área de
estudos, sendo considerada a primeira gramática produzida na história da civilização
humana.
O estudo da língua pelos hindus surgiu da intenção de se evitarem alterações nos
textos sagrados ao serem recitados ou cantados em rituais e cerimônias religiosas. Os
gramáticos hindus procuraram descrever minuciosamente o sistema fonético e gramatical
dos hinos reunidos no Veda (cada um dos quatro antigos livros sagrados nos quais estão
registrados os preceitos do Hinduísmo), a fim de estabelecerem registros linguísticos que
deveriam ser seguidos para garantia da manutenção da língua.
Embora a gramática de Panini seja considerada a primeira, defende-se que o
estudo formal da gramática teve origem na Grécia, cujos estudiosos iniciaram as
observações sobre a estrutura da língua. Dionísio, o Trácio, gramático grego, escreveu a
Arte da Gramática, obra que inspirou a elaboração das gramáticas grega, latina e de
outras línguas europeias até o Renascimento.

4.1. Os gregos e os romanos

O estudo das línguas desenvolvido pelos gregos surgiu em face da curiosidade e


do interesse acerca da origem da linguagem, das mudanças pelas quais passa e da
diversidade linguística que apresenta, o que provocou reflexões filosóficas como as de
Platão e Aristóteles. Um dos pontos principais dessas reflexões baseava-se na discussão
entre a defesa de Platão, no Crátilo, de que as palavras expressam, por natureza, a
realidade que nomeiam, e a convicção aristotélica de que o seu significado é
convencional, isto é, resulta de um acordo preestabelecido pelos falantes.
A análise do grego, nos seus diferentes níveis, favoreceu o aperfeiçoamento do
alfabeto e a elaboração de gramáticas. A primeira gramática grega ─ atribuída a Dionísio
de Trácia ─ distingue oito partes do discurso: artigo, nome, pronome, verbo, particípio,
advérbio, preposição e conjunção. Apolônio Díscolo dedicou-se à análise sintática do
grego, e assim como Aristóteles, considerava que a estrutura da frase se assentava em
dois elementos fundamentais: o sujeito e o predicado.
Os estudos dos gramáticos gregos e a sua doutrina gramatical tiveram
repercussão especialmente no oriente grego, chegando tardiamente ao ocidente da
Europa, por intermédio dos gramáticos latinos. Na história da linguística, o mérito dos
latinos, além da elaboração de obras mais detalhadamente descritas do que as dos
gregos, reside no fato de promover o conhecimento das reflexões gramaticais e filosóficas
dos seus antecessores.

4.2. A Idade Média

Durante toda a Idade Média, os gramáticos latinos mantiveram-se como modelo.


Nos países nórdicos e anglo-saxônicos, as gramáticas latinas foram as primeiras a ser
sistematicamente elaboradas para o ensino de uma língua estrangeira ─ no caso o latim
que, durante séculos, cumpriu a função de língua franca.
Nos países de matriz românica, o estudo das línguas vernáculas ─ como as várias
línguas faladas na Europa Ocidental ─ era realizado, até meados do século XVI, com
base em gramáticas escritas em latim, seguindo o modelo das primitivas gramáticas
latinas. A partir dessa altura, a alfabetização recebeu um considerável impulso, que
prosseguiu com a possibilidade de difusão dos textos escritos, nos quais se incluíam as
gramáticas.

4.3. As gramáticas em língua portuguesa

Em Portugal, onde o português já era falado há alguns séculos, a Gramática da


Linguagem Portuguesa de Fernão de Oliveira, publicada em 1536; e a Gramática da
Língua Portuguesa, de João de Barros, cuja publicação data de 1540, são as primeiras
gramáticas escritas em português. Além de serem obras escritas em vernáculo, essas
gramáticas fornecem informações sobre a construção das palavras e das frases. A partir
do século XVI, entretanto, a área de estudo das línguas de maior desenvolvimento foi a
fonética, em virtude da relevância atribuída, pela primeira vez, à língua falada.

5. Sintaxe: pontos iniciais de


reflexão De acordo com Berlinck et al (2005, p. 209.), (...) a
Sintaxe como disciplina linguística independente data
O termo sintaxe – do grego apenas do final do século XIX (...). Um dos primeiros
syntaxis (ordem, disposição) – indícios do interesse específico pelos fenômenos
sintáticos está no trabalho de John Ries, Was ist
corresponde a um dos níveis de Syntax? (O que é sintaxe?) de 1894. No entanto, é
análise linguística, cujo principal sobretudo a partir das ideias do linguista suíço
objetivo é o de descrever as regras Ferdinand de Saussure, no início do século XX, e das
responsáveis pela formação de uma várias aplicações e desenvolvimentos que delas
sentença. É uma das ramificações da fizeram seus seguidores que a Sintaxe foi adquirindo
o estatuto de disciplina autônoma.
Linguística, juntamente com a
fonética, a fonologia, a morfologia e a
semântica. Estas disciplinas se
ocupam “da estrutura interna de uma língua – aquilo que a distingue das outras línguas do
mundo, e que não decorre diretamente de condições da vida social ou do conhecimento
do mundo” (PERINI, 1996, p. 50). Apesar de cada disciplina possuir seu objeto específico
de análise, é importante destacar que correspondem a níveis que atuam em conjunto no
discurso.
Por discurso, entende-se a atividade linguística oral ou escrita que pressupõe
interação entre os interlocutores, que se efetiva a partir dos conhecimentos
compartilhados. A atividade discursiva manifesta-se por meio do texto, ou seja, implica
dizer algo para alguém, de uma determinada forma e de acordo com a situação de
produção. Isso requer, por parte dos participantes, escolhas em relação ao gênero textual,
à seleção das unidades lexicais e da estruturação das frases.

6. Objeto de estudo da sintaxe

Na atividade discursiva – ato verbal de comunicação –, as palavras se relacionam


em frases que, por sua vez, se organizam em períodos que constituem os textos. A
sintaxe descreve as regras dessas combinações entre as palavras nas frases e destas no
período de que participam. São as regras de organização sintática que permitem ao
falante elaborar incontáveis sentenças e ao interlocutor decodificá-las. Nesse sentido,
cumpre destacar que essa abordagem desconsidera a participação da criatividade
linguística na produção e na interpretação das sentenças da língua, uma vez que a sua
criação e decodificação podem exigir mais do que o simples conhecimento das regras de
combinação do sistema linguístico. Por exemplo: diante da pergunta “Você tem horas?”, o
falante não espera apenas a resposta afirmativa, mas a subsequente informação sobre a
indicação precisa do tempo. Pode-se dizer, então, que enunciador e enunciatário estão
culturalmente condicionados à interpretação das sentenças tanto a partir da
contextualização quanto da decodificação dos aspectos lexicais e sintáticos.
Nesse sentido, expressões como “fogo!”, “entrada” e “ônibus”, por exemplo, são
sentenças compreensíveis em função do contexto em que se inserem, relacionando-se,
portanto, à situação em que os falantes se encontram, uma vez que apresentam um
componente extralinguístico, como o alerta de um perigo iminente, a indicação de acesso
a determinado local e a informação sobre oferta de transporte, respectivamente. Já
sentenças como “O homem trabalha” e “Sairemos agora” constituem informações de
perfeita interpretabilidade independentemente do contexto discursivo em que são
proferidas, haja vista a possibilidade de decodificação dos elementos lexicais e da
estrutura sintática que apresentam. Embora a língua portuguesa reconheça todas as
sentenças anteriormente mencionadas como participantes do ato de comunicação,
interessa aos estudos sintáticos as duas últimas, que correspondem efetivamente ao
objeto de estudo da sintaxe, porque “as constituições favoritas de estrutura oracional em
português apresentam a binaridade sujeito e predicado, podendo o primeiro vir expresso
apenas pela desinência verbal”1 (BECHARA, 2014, p. 27.). Em “O homem trabalha”, a
sentença encerra os dois termos – sujeito (O homem) e predicado (trabalha) – de que
geralmente se constitui uma oração. Já o enunciado “Sairemos agora” comprova que não
necessariamente a representação do sujeito pressupõe a presença de uma palavra
específica para tal função, uma vez que a sua identificação é possível por meio do
componente morfológico – a desinência verbal -mos –, que indica a primeira pessoa do
plural. No caso desse exemplo, portanto, a anteposição do pronome “nós” ao verbo ou a
sua omissão depende da escolha do falante. Aliás, frequentemente há elipse do “pronome

1
Os recursos de destaque constantes no presente texto – uso de itálico, caixa alta, sublinhado, etc. – são
recursos de organização que não obrigatoriamente correspondem aos mesmos empregados nas obras
consultadas. São fidedignas, entretanto, as citações dos autores mencionados.
sujeito quando de 1ª e 2ª pessoas do singular e plural, porque a desinência verbal aí o
especifica com evidência; a omissão do pronome sujeito de 3ª pessoa do singular ou
plural fica dependente da situação e do contexto” (BECHARA, op. cit., p. 26.).
Na elaboração das sentenças, evidentemente o falante tem liberdade na escolha
das palavras, mas precisa respeitar certas diretrizes que regem a sua construção, como
os princípios gramaticais de concordância, de regência e de colocação, além da
adequada associação entre as classes de palavras e as funções que podem
desempenhar na estrutura frasal. Daí é importante também comentar a distinção e a inter-
relação entre análises e estudos relacionados à morfologia e à sintaxe.

A morfologia é a parte da gramática que estuda os


elementos estruturais das palavras, além dos processos de sua
formação e a sua organização em classes.

A sintaxe, conforme já
mencionado, tem como objeto de
estudo as relações das palavras nas
orações e das orações entre si no
período em que se encontram.
Com o avanço dos estudos linguísticos, tem-se
discutido atualmente a interface entre morfologia e sintaxe, resultando daí o termo
morfossintaxe. Realmente, pode-se afirmar que esses dois níveis de descrição linguística,
apesar de suas especificidades, se complementam.

6.1. Morfossintaxe: entre classes e funções

O relacionamento entre essas duas modalidades de análise linguística pode ser


percebida quando se afirma, por exemplo, que os pronomes podem apresentar formas
distintas conforme as pessoas do discurso a que se referem. Entre esses pronomes, os
denominados pessoais têm formas distintas para cumprir as funções de sujeito e
complemento. No caso dos pronomes, além dessa relação morfossintática, acrescenta-se
o aspecto morfológico ao se mencionar que vários pronomes apresentam, ao lado das
formas masculina e feminina, uma terceira forma “neutra”: aquilo, em face de aquele/
aquela2. Pelo critério morfossintático, as classes gramaticais são reconhecidas segundo
suas características sintáticas. O substantivo e o pronome substantivo, por exemplo, são
termos nucleares do sujeito e dos complementos; os artigos e os advérbios assumem a
função de adjuntos; os adjetivos, por sua vez, podem desempenhar função de adjuntos e
de predicativos. Esses papéis só podem ser identificados no contexto do sintagma, ou
seja, a indicação da classe gramatical de uma determinada palavra está condicionada ao
contexto discursivo em que se insere, com base na relação que estabelece com os
demais participantes do enunciado:

a) aqueles atletas brasileiros → atletas: substantivo/ brasileiros: adjetivo;


b) aqueles alunos atletas → alunos: substantivo/ atletas: adjetivo;
c) aqueles brasileiros classificados → brasileiros: substantivo/ classificados: adjetivo.

No segmento aqueles atletas brasileiros, atletas é o núcleo da construção e


brasileiros, o constituinte acessório; daí serem classificados como substantivo e adjetivo,
respectivamente. Em aqueles alunos atletas, o termo nuclear na situação anterior ─ e por
isso substantivo – passa a assumir função acessória e a classificação de adjetivo, já que

2
Cf. AZEREDO, 2001.
alunos é o substantivo por ser o núcleo do enunciado. Por sua vez, em aqueles brasileiros
classificados, a palavra brasileiros – adjetivo na primeira situação por exercer função
acessória – é classificada como substantivo, pois desempenha função nuclear no
contexto em que se encontra.
Pela observação das situações apresentadas, emergem duas constatações: a
primeira diz respeito à impossibilidade de se estabelecerem classes com componentes
fixos e desassociados de um contexto discursivo, como se fossem compartimentos
estanques e de fronteiras rígidas; a segunda é a de que a análise da função
desempenhada pela palavra e a sua significação na oração são condições essenciais
para uma melhor identificação das classes gramaticais.
A afirmação de que as unidades da língua devem ser analisadas em relação ao
contexto não implica desconsiderar a sua organização num conjunto de acordo com
certas características estruturais que favorecem a compreensão do seu sentido, bem
como possibilitam a formação de novos vocábulos e o reconhecimento das classes a que
pertencem.
Na verdade, a abordagem morfossintática consiste numa análise abrangente, que
observa tanto a estrutura das palavras de um enunciado quanto a função sintática e o
sentido que apresentam na situação textual da qual participam.

Observe:

I) Um camuripema chimbeava à sorrelfa no calabrote de um cacifo.

II) O xararativo xererezinho xiririrou o xororó do xururuzeiro xararativelmente.

O primeiro segmento é formado por palavras pertencentes ao léxico da língua


portuguesa, apesar de um considerável número de falantes desconhecerem o seu
significado. O segundo segmento é constituído de palavras inventadas e realmente
desprovidas de significação. Entretanto, independentemente da dificuldade ou da
impossibilidade de apreensão dos sentidos das unidades linguísticas constantes nos dois
enunciados, as características estruturais das palavras e as suas relações combinatórias
no contexto oracional favorecem o reconhecimento das classes gramaticais e das funções
sintáticas que desempenham. É, portanto, o inter-relacionamento das duas perspectivas
de análise – a morfológica e a sintática – que favorece o melhor reconhecimento das
classes gramaticais em função de suas
características sintáticas.
A palavra texto provém do latim textum,
que significa tecido, entrelaçamento.
Fica evidente, assim, que já na origem 7. Análise sintática: alguns conceitos
da palavra encontramos a ideia de que o essenciais3
texto resulta de um trabalho de tecer, de
entrelaçar várias partes menores a fim
de se obter um todo interrelacionado.
7.1. Texto: unidade do discurso
Daí podemos falar em textura ou
tessitura de um texto: é a rede de A atividade discursiva pressupõe a
relações que garantem sua coesão, sua elaboração de textos capazes de estabelecer
unidade. comunicação entre os usuários da língua. A
(INFANTE, 1991, p. 49.)
partir dessa afirmação, cumpre,
primeiramente, tecer algumas informações

3
Os conceitos ora apresentados serão retomados em textos futuros de forma mais minuciosa. Neste,
apresentam-se definições preliminares e somente alguns exemplos para exposição geral dos termos
relacionados à área da sintaxe.
sobre texto, que de modo geral, é definido como um conjunto de frases, embora uma
única palavra, dependendo da situação, pode ser entendida como tal. Por exemplo, a
palavra “fogo” escrita num pedaço de papel encontrado ao acaso ou pronunciada sem
qualquer ênfase não constitui um texto. Entretanto, nele configurar-se-á se a mesma
palavra for pronunciada aos brados no meio de uma multidão, haja vista apresentar a
capacidade de transmitir a mensagem pretendida e garantir a comunicação. Daí pode-se
concluir que os textos abrangem realizações tanto orais quanto escritas e não são
simplesmente amontoados de palavras ou frases, ou seja, precisam fazer sentido. Em
outros termos, é necessário que o determinado enunciado apresente textualidade – termo
cunhado por Robert-Alain de Beaugrande e Wolfgang Dressler –, que se refere ao
“conjunto de características que fazem com que um texto seja um texto, e não apenas
uma sequência de frases ou palavras” (BEAUGRANDE; DRESSLER, 1981, apud SILVA,
2010, p. 20.). Para tanto, é necessário que as ideias sejam apresentadas com coerência,
característica responsável pelo sentido do texto e envolve fatores lógico-semânticos e
cognitivos, já que se relaciona ao conhecimento de mundo partilhado entre os
interlocutores. A coerência de um texto está intimamente relacionada à coesão, cujos
elementos organizam as relações lógico-semânticas expressas na superfície textual,
garantindo a sequência das ideias e a progressão temática.

Em sentido amplo, texto corresponde a “qualquer manifestação através de um estoque de sinais de


um código. Pode designar toda e qualquer manifestação da capacidade textual do ser humano”
(KOCH, 1984, p. 21.). Em outros termos, equivale às mais distintas formas de comunicação que se
realiza por meio dos diversos sistemas de signos disponíveis, incluindo, portanto, sistemas verbais e
não verbais. O texto é, portanto, “uma unidade de língua em uso, unidade semântica: não de forma e
sim de significado” (HALLIDAY, 1973 apud KOCH, op. cit., p. 22.). Assim, o texto veicula algum tipo de
mensagem, cujo sentido é transmitido por palavras, imagens, sons, etc. Tradicionalmente, denomina-
se texto verbal – oral ou escrito – aquele constituído por palavras, estando presente no diálogo entre
as pessoas, em propagandas, em reportagens (jornais, revistas, etc.), em obras literárias, artigos
acadêmicos e científicos, etc. O texto não verbal é o que utiliza imagens, sons, cores, figuras, etc.,
como meio de comunicação, como se observa, por exemplo, nos sinais de trânsito, nas artes plásticas,
na dança, etc. Já o texto misto engloba as duas manifestações linguísticas, ou seja, empregam-se
simultaneamente a linguagem verbal e a não verbal, como nas histórias em quadrinhos, charges,
tirinhas, placas, outdoors, cartazes publicitários, etc.

7.2. Frase: constituinte do texto

Comumente a frase é definida como um enunciado capaz de estabelecer


comunicação. Em outros termos, consiste numa “unidade do discurso que permite a
atualização da língua na sua função comunicativa” (IGNÁCIO, 2003, p. 29-31). Por meio
dela, ocorre um intercâmbio de ideias entre os interlocutores, podendo “expressar juízos,
descrever ações, estados ou fenômenos, transmitir apelos ou ordens, exteriorizar
emoções” (KOCH; SILVA, 1983, p. 11). No processo de comunicação e,
consequentemente, na elaboração das frases desempenham “relevante papel a situação
e o contexto. Entende-se por situação o ambiente físico e social onde se fala; contexto é o
ambiente linguístico onde se acha a oração” (BLOOMFIELD, 1941, p. 114-115 apud
BECHARA, op. cit., p. 25.). A característica fundamental da frase é o propósito da
comunicação, não apresentando uma estrutura gramatical definida, podendo variar
“quanto à extensão, ao sentido, às palavras de que se compõem e à ordem em que estas
se apresentam” (KOCH; SILVA, idem, ibidem.).
Em relação à extensão, a frase não tem estrutura gramatical predeterminada,
podendo ter uma formulação extensa e elaborada, como por exemplo, “a leitura do mundo
precede a leitura da palavra” (Paulo Freire); ou ser constituída por uma única palavra ou
interjeição, desde que haja obediência à premissa básica de apresentar entonação
peculiar com a qual se estabeleça comunicação, como ocorre com “fogo”, “socorro”, “ih!” e
“psiu!”, que em face do contexto situacional, são frases completas. Então, não
obrigatoriamente a frase precisa ser um conjunto de palavras:

Não se trata, pois necessariamente, de uma reunião de vocábulos, embora haja sempre
implícita uma binaridade, isto é, a conjugação de dois elementos em que um determina o
outro: a) ambos no contexto, como em – Paremos; b) um num contexto e outro noutro
contexto, como em – Sim; c) um no contexto e outro extralinguístico, como em – Fogo! ,
onde a binaridade está na associação entre o vocábulo enunciado e qualquer coisa em
chamas dentro da situação em que se acha o falante.

(MATTOSO CÂMARA JR., 1964, p. 64.)

No que se refere ao sentido, a organização da frase está estreitamente


relacionada à intencionalidade discursiva, em função do objetivo a ser alcançado pelo
emissor e do efeito que pretende produzir no receptor. Nesse aspecto, a entonação e os
sinais de pontuação – estes, no caso específico dos contextos discursivos escritos – são
elementos fundamentais na tarefa de expressar a intenção presente em cada frase. A
título de ilustração, de acordo com a entonação, uma sentença simples como “é ela” pode
indicar constatação, dúvida, surpresa, indagação, decepção, etc. Na escrita, a variação na
pontuação define o exato sentido representado. Assim:

É ela.
É ela... É ela? É ela!

Em face dessa intenção (ou sentido que expressam), as frases podem ser:

a) declarativas: expressam uma informação dada pelo emissor, afirmando ou negando o


fato ao receptor. Nas frases declarativas, emprega-se o ponto final [.].
Exemplos:
“A leitura engrandece a alma.” (Voltaire)
“Minha pátria é a língua portuguesa.” (Fernando Pessoa)

b) exclamativas: exprimem um estado afetivo do emissor; em geral, apresentam


entonação ligeiramente prolongada e são finalizadas pelo ponto de exclamação [!].
Exemplos:
Adoro análise sintática!
Que livro bom!

c) imperativas: indicam ordem, conselho ou pedido; geralmente, com presença de verbo


no modo imperativo, podendo-se empregar ponto de exclamação [!] ou ponto final [.].
Exemplos:
Leia mais!
Retire uma senha e aguarde a sua vez.

d) interrogativas: encerram uma pergunta feita pelo emissor para obter alguma informação
do receptor. A interrogação pode ser direta ou indireta. O ponto de interrogação [?] é
usado no final das frases interrogativas diretas; nas indiretas, emprega-se ponto final [.].
Exemplos:
Você já comprou uma boa gramática? (Interrogação direta)
Desejo saber se você já comprou uma boa gramática. (Interrogação indireta)

e) optativas: transmitem algum desejo do emissor. Normalmente, são finalizadas por


ponto de exclamação [!].
Exemplos:
Feliz aniversário!
Boa pesquisa!

f) imprecativas: expressam uma súplica do emissor numa nuança de maldição,


exprimindo um mau desejo. Geralmente, são finalizadas por ponto de exclamação [!].
Exemplos:
Vá para o inferno!
[...] o léxico é a parte da língua que primeiramente
Eu quero mais que você morra! configura a realidade linguística e arquiva o saber
Que tudo dê errado nessa festa! linguístico de uma comunidade. [...] é o repositório
do saber linguístico e é ainda a janela através da
Observação: qual um povo vê o mundo. Um saber partilhado
que apenas existe na consciência dos falantes
duma comunidade.
 Alguns não tratam distintamente as
frases imprecativas, considerando-as (VILELA, 1994, p.6.)
também optativas.

Quanto às palavras de que se


compõem, a elaboração das frases pressupõe reflexão sobre a escolha das unidades
lexicais em face do propósito de comunicação. Essa escolha está condicionada a certos
fatores determinantes para uma plena e efetiva interlocução, dentre os quais a faixa etária
dos participantes, o nível sociocultural, o grau de (in)formalidade da situação, a
adequação às características e exigências do discurso oral ou escrito, etc.
A atenção a esses fatores está estreitamente relacionada à competência
linguística dos interlocutores, que envolve familiaridade com o vocabulário; habilidade de
clareza na exposição das ideias; conhecimentos semânticos, de modo a empregar uma
determinada palavra de acordo com a finalidade comunicativa a que se dispõe o
enunciador, como informar, entreter, persuadir, emocionar, etc.
Além dessa seleção das unidades linguísticas disponíveis no léxico em função do
propósito comunicativo, interessa à sintaxe o fato de a sentença frasal apresentar ou não
verbo. Nesse sentido, as frases podem ser:

a) nominais: não apresentam verbos em sua estrutura.


Exemplos:
Fogo!
Boa pesquisa!

b) verbais: constroem-se com verbos.


Exemplos:
Noticiaram a morte de mais um policial no Rio.
Alguns alunos leem pouco.
A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) denomina de oração a estrutura
frasal dotada de verbo. Nesse sentido, os exemplos “fogo!” e “boa pesquisa!” não
configuram orações em virtude da ausência de uma forma verbal na sua constituição. Em
contrapartida, a oração não necessariamente expressa sentido completo. Um segmento
como “que não leem” constitui oração por apresentar verbo, mas não é dotado de sentido
completo, deixando transparecer a necessidade de fazer parte de um contexto maior,
como por exemplo, “os alunos que não leem têm vocabulário limitado” para que seu
sentido seja claramente compreendido.
No que diz respeito à ordem das palavras nas frases, embora não seja arbitrária,
a disposição pode apresentar variações de acordo com o contexto em que se processa o
discurso – se oral ou escrito – e de certas circunstâncias que envolvem o ato da
comunicação. Na combinação dos termos componentes das frases atuam
significativamente a competência linguística, o estilo e a sensibilidade do produtor do
texto.
Na construção das frases, os termos constituintes podem aparecer na ordem
direta e na inversa. Na ordem direta, os termos regentes precedem os termos regidos,
organizando-se na sequência sujeito + verbo + complementos e/ou adjuntos; na inversa
(ou indireta) ocorre alteração nessa sequência.
O segmento “Naquele dia, a árvore dos Cubas brotou uma graciosa flor”
(MACHADO DE ASSIS, Memórias Póstumas de Brás Cubas, p. 41.) corresponde à
organização dos termos constituintes na ordem inversa, haja vista o sujeito não aparecer
no início do enunciado. Sob outra forma de organização – A árvore dos Cubas brotou uma
graciosa flor, naquele dia –, o segmento exemplifica a ordem direta, pois a sequência
corresponde a sujeito (A árvore dos Cubas), verbo (brotou), complemento (uma graciosa
flor) e adjunto adverbial (naquele dia).
Em relação à inversão dos termos, a estrutura frasal pode ser extremamente
variável, como se constata nas várias possibilidades a seguir:
Naquele dia, brotou a árvore dos Cubas uma graciosa flor.

Naquele dia, brotou uma graciosa flor a árvore dos Cubas.

A árvore dos Cubas, naquele dia, brotou uma graciosa flor.

A árvore dos Cubas brotou, naquele dia, uma graciosa flor.

A árvore dos Cubas brotou uma graciosa flor, naquele dia.

Brotou a árvore dos Cubas uma graciosa flor, naquele dia.

Na literatura, a ordem inversa é mais frequentemente


empregada, seja por questões de estilo, ritmo,
expressividade, ênfase, etc. A escrita literária é dotada
de maior liberdade criativa; o exercício linguístico do
escritor está associado a um forte apelo estético.
Apesar das variações na ordem em que as palavras podem aparecer nas frases, é
bom lembrar a necessidade de cautela na organização das sentenças, pois como
mencionado, a liberdade na inversão dos termos não é arbitrária, no sentido de qualquer
colocação ser aceitável. A posição das palavras é controlada por alguns princípios de
ordem gramatical e semântica que garantem a coerência e a clareza da informação.
No que concerne aos princípios de orientação gramatical, há certas regras de
colocação das palavras, principalmente em textos que exigem um uso linguístico
compatível com a norma padrão, como não iniciar frases com pronomes oblíquos átonos;
empregar procliticamente o pronome quando da presença de advérbios, de conjunções
subordinativas e de palavras de sentido negativo, como em “Onde você estiver, não se
esqueça de mim” (Não se esqueça de mim - Roberto e Erasmo Carlos.).
Além das normas de colocação exigidas pela sintaxe em função do grau de
formalidade da situação discursiva, o usuário da língua deve atentar para a ordem das
palavras em virtude do efeito que podem produzir no texto, seja pelo sentido que
efetivamente se queira transmitir, seja para evitar ambiguidades, incoerências, etc. Há
adjetivos, por exemplo, que assumem significados diferentes conforme estejam
antepostos ou pospostos aos substantivos a que se referem, como em “homem pobre e
pobre homem”, que equivale a sem recursos no primeiro caso e a infeliz no segundo.
Outro exemplo dessa distinção é a célebre apresentação de Brás Cubas “eu não sou
propriamente um autor defunto, mas um defunto autor” (MACHADO DE ASSIS, op. cit., p.
2.), em que na primeira afirmação, a palavra autor é substantivo e defunto, adjetivo; e na
segunda, defunto assume valor de substantivo e autor, de adjetivo.
Outra preocupação em relação à ordem das palavras se refere à questão da
ambiguidade que pode surgir em função da colocação dos termos nas frases. Um
exemplo disso ocorreu durante um ato público em São Paulo, cujo principal organizador
era o sociólogo Herbert de Souza – o Betinho. Numa faixa promocional do evento, lia-se a
frase “Compareçam todos ao ato da campanha contra a fome do Betinho”. É evidente que
os leitores entenderam a intenção do redator da mensagem, entretanto a organização da
frase sugeria outra possibilidade de sentido: a de que a campanha era para saciar a fome
do próprio Betinho. Outra estrutura, como “Compareçam todos ao ato da campanha do
Betinho contra a fome”, evitaria a ambiguidade (Cf.
https://www.recantodasletras.com.br/gramatica/1590637.).
Há estudiosos que sinonimizam frase e período, destacando que este “é a
frase organizada em oração ou orações” (CUNHA; CINTRA, 1985, p. 118), cuja
característica é a ocorrência de um verbo ou de uma locução verbal na sequência de
palavras.

7.3. Oração e período

A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) denomina de oração o


segmento textual provido de verbo, que pode ou não ter sentido completo e que
representa o centro de interesse da sintaxe. “A oração articula as funções sujeito e
predicado” (AZEREDO, 1990, p. 30.), salvo as chamadas orações sem sujeito, que se
resumem ao predicado. A cada verbo ou locução verbal corresponde uma oração, que
pode ser independente e dotada de sentido completo ou dependente de outras que com
ela se relacionam no período. Este, por sua vez, constitui uma estrutura que possui, pelo
menos, uma oração. Em função do número de orações que apresentem, o período pode
ser:
a) simples: quando apresenta uma oração apenas.
Exemplos:
“Mentira tem perna curta.”
(provérbio popular)

“Naquele dia, a árvore dos Cubas brotou uma graciosa flor.”


(MACHADO DE ASSIS, op. cit., p. 41.)

b) composto: quando apresenta duas ou mais orações.


Exemplos:
“Cão que ladra não morde.”
(provérbio popular)

“Um poeta dizia que o menino é pai do homem.”


(MACHADO DE ASSIS, idem, p. 42.)

A pontuação nas sentenças frasais:

● O ponto final [.] marca o fechamento do período (simples ou composto), que também pode ser
sinalizado por ponto de interrogação [?] ou de exclamação [!] e ainda por reticências [...], como nos
exemplos a seguir:
• A rebelião, que durou uma semana, deixou vários feridos.
• Por que você demorou tanto?
• Choveu até no sertão nordestino, que tanto sofre com a seca!
• “Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que
eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...” (MACHADO DE ASSIS, A
Cartomante, 1959, p. 7.);
● os pontos de interrogação e exclamação ou as reticências podem indicar apenas a divisão das
orações de um período e não o seu final, como em:
• Por que você demorou tanto? perguntou a mãe aflita.
• A chuva caiu tão forte! exclamou o sertanejo.
• “Camilo achou-se diante de um longo véu opaco... pensou rapidamente no inexplicável de tantas
cousas.” (MACHADO DE ASSIS, idem, p. 11.);
 acima, os períodos terminam em aflita, sertanejo e cousas, respectivamente, pois os pontos de
interrogação, de exclamação e as reticências não equivalem a ponto final;
● as orações constituintes de um período composto são identificadas de acordo com os verbos (ou
locuções verbais) que apresentam. São separadas em função dos conectores (conjunções ou
pronomes relativos) – caso sejam empregados –, sendo que a fronteira entre elas é definida também
em observância à presença de vírgula [,], ponto e vírgula [;], dois pontos [:], travessão [–], ponto de
interrogação [?], ponto de exclamação [!], parêntese [()] e reticências [...]. Exemplos:
• “Camilo fechava os olhos,/ pensava em outras cousas (...)” (MACHADO DE ASSIS, idem, p. 14.)
• Conversamos/ enquanto aguardávamos o ônibus.
• Fez uma excelente prova;/ foi, pois, aprovado.
• Assistimos ao filme/ que ganhou o prêmio.
• O rapaz observava a paisagem/ e guardava a imagem na memória.
• “Veio a noite do baile,/ e a baronesa vestiu-se.” (MACHADO DE ASSIS, Um apólogo, 1984, p. 59.)
 Sobre os dois últimos exemplos:
Não se emprega vírgula antes da conjunção aditiva e, exceto quando as orações apresentam
sujeitos diferentes.
7.3.1. O relacionamento das orações no período

As orações que constituem um período podem estabelecer as seguintes relações


entre si:

 No período simples: a oração é independente e dotada de sentido completo; por ser o


único componente do período é denominada de oração absoluta.

 “O seu olhar foi um novo sol na minha existência.”


(LESSA, Orígenes. O feijão e o sonho, 2015, p. 68.)

No exemplo acima, existe um verbo apenas (foi), portanto há somente uma


oração – absoluta –, constituindo um período simples.

 No período composto:

a) por coordenação (parataxe): as orações não mantêm entre si dependência gramatical,


são independentes. A noção de independência baseia-se no aspecto sintático, ou seja, as
orações são independentes no sentido de uma não exercer nenhuma função sintática em
relação à outra. Evidentemente, há entre elas um vínculo de sentido, mas do ponto de
vista sintático, uma não depende da outra. A essas orações independentes, dá-se o nome
de orações coordenadas, que podem ser assindéticas – sem conectivos4 – ou sindéticas
– com conectivos.

 “A noite descia, caía de cima uma claridade láctea, pesava um austero e lento
silêncio, a larga brancura celeste era gloriosa.”
(QUEIROZ, Eça. Prosas Bárbaras, 1947, p. 61.)

Há quatro verbos (descia, caía, pesava, era) que indicam a presença de quatro
orações sintaticamente independentes:
1ª) A noite descia;
2ª) caía de cima uma claridade láctea;
3ª) pesava um austero e lento silêncio;
4ª) a larga brancura celeste era gloriosa.

Essas orações constituem um período composto por coordenação. As orações


não apresentam conjunção, por isso se classificam como assindéticas (ou justapostas).

“A erva seca e a flor fenece, mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente.”
(Isaías, 40-8.)

Os três verbos (seca, fenece, permanece) indicam as três orações


independentes do período composto por coordenação:
1ª) A erva seca;
2ª) e a flor fenece;

4
Conectivos são vocábulos gramaticais que funcionam como elementos relacionais, estabelecendo
“conexão entre palavras ou partes de uma frase. São subordinativos, quando a conexão é de subordinação,
e são coordenativos, quando a conexão é de coordenação. Em português, há três espécies de conectivos:
1) preposições [...]; 2) pronome relativo [...]; 3) conjunções [...]” (MATTOSO CÂMARA JR., 1978, p. 79.).
3ª) mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente.
A primeira oração não apresenta conjunção, daí ser assindética; a segunda e a
terceira, introduzidas por conjunção, são classificadas como sindéticas aditiva e
adversativa, respectivamente.

Observações:

 Há autores que refutam o emprego da palavra “coordenada” para a primeira oração do


período composto por coordenação, quando assindética, propondo o termo “coordenante”
para a sua descrição (Cf. MATEUS et alii, 2003, p. 552.). Já alguns compêndios
acrescentam a palavra “inicial” a essa primeira oração assindética, entretanto “a
Nomenclatura Gramatical Brasileira não lhe fixa nome especial” (BECHARA, op. cit., p.
128.).

 Em relação às orações independentes, há as que se classificam como intercaladas (ou


interferentes), “que não pertencendo propriamente à sequência lógica das orações do
período, aí aparecem como elemento adicional que o falante julga ser esclarecedor”
(BECHARA, idem, ibidem.). As orações intercaladas (ou interferentes), que podem ser
separadas por vírgula, travessão ou parêntese, são sempre justapostas e sintaticamente
independentes, interpondo-se a outras orações para expressar uma ressalva, um
comentário, uma opinião, etc. Exemplos:

 Esperávamos ansiosos, comentaram os funcionários, por merecidas férias.


(oração intercalada justaposta de citação)

 Esse problema – que eu saiba – nunca teve solução.


(oração intercalada justaposta de ressalva)

 Aquele comentário (que foi sábio, por sinal) despertou a minha admiração.
(oração intercalada justaposta de opinião)

 Há orações coordenadas que podem aparecer sob a forma de reduzidas de gerúndio.


Caracterizam-se por apresentar a sequência do acontecimento anterior. Exemplos:

 O menino dobrou o papel, dando-lhe a forma de barquinho.


= e deu-lhe a forma de barquinho
(oração coordenada sindética aditiva reduzida de gerúndio)

 Ela ficou na ponta dos pés, não alcançando a lata de biscoitos.


= mas não alcançou a lata de biscoitos
(oração coordenada sindética adversativa reduzida de gerúndio)

b) por subordinação (hipotaxe): as orações constituintes do período composto por


subordinação estabelecem uma relação de dependência sintática: há uma principal e
outra que desempenha uma determinada função em relação à principal, denominada de
subordinada. As orações subordinadas são classificadas conforme a função sintática que
desempenham e podem apresentar-se como desenvolvidas, justapostas e reduzidas. As
orações desenvolvidas apresentam conjunções – se substantivas ou adverbiais – ou
pronomes relativos – se adjetivas –; e os verbos aparecem flexionados nos diferentes
tempos e modos.
Exemplos:
 O rapaz observou que a criança se afastava.
(oração subordinada substantiva objetiva direta)

 Castro Alves, que escreveu o belíssimo “O Navio Negreiro”, morreu aos 24 anos.
(oração subordinada adjetiva explicativa)

As orações justapostas apresentam verbos flexionados nos diferentes tempos e


modos, mas não são introduzidas por conjunções ou pronomes relativos. Exemplos:

 Ninguém sabe quando os salários serão pagos.


(oração subordinada substantiva objetiva direta justaposta)

Tivesse ele oportunidade, viajaria mais.


(oração subordinada adverbial condicional justaposta)

As orações reduzidas, além de não introduzidas por conjunções ou pronomes


relativos, apresentam verbos nas formas nominais do infinitivo, do gerúndio e do
particípio.
Exemplos:

 O governador garantiu pagar os salários integralmente.


(oração subordinada substantiva objetiva direta reduzida de infinitivo)

 Terminada a aula, saímos em silêncio.


(oração subordinada adverbial temporal reduzida de particípio)

 Persistindo os sintomas, o médico deverá ser consultado.


(oração subordinada adverbial condicional reduzida de gerúndio)

7.3.2. As orações subordinadas substantivas

Exercem funções sintáticas próprias do substantivo (sujeito, objeto direto, objeto


indireto, predicativo, complemento nominal e aposto). Quando desenvolvidas, são
introduzidas pelas conjunções integrantes que e se – elementos sem função sintática na
oração, funcionando somente como conectivos.
Exemplo:

 “Você verá que a emoção começa agora.”


(Brincar de viver - Guilherme Arantes)

Os dois verbos (verá, começa) – indicam a presença de duas orações:


1ª) Você verá;
2ª) que a emoção começa agora.

No caso, as orações são dependentes, porque a segunda exerce uma função


sintática em relação à primeira, formando um período composto por subordinação. Assim,
a primeira (Você verá) corresponde à principal; e a segunda (que a emoção começa
agora), à oração subordinada substantiva objetiva direta.
Observações:

 Há orações subordinadas substantivas justapostas, ou seja, não introduzidas por


conjunções integrantes, mas por outras “palavras de natureza pronominal ou adverbial
intimamente relacionadas com os relativos, mas sem que venham referidos a
antecedentes: quem, quanto, por que, como, quando, onde, que, qual” (BECHARA, idem,
p. 138.).
Exemplos:

 Ele não sabia quando teria outra chance.


(oração subordinada substantiva objetiva direta justaposta)

 “Quem tudo quer tudo perde.”


(oração subordinada substantiva subjetiva justaposta)

Falava a quem se interessasse.


(oração subordinada substantiva objetiva indireta justaposta)

 As orações subordinadas substantivas podem apresentar-se também como reduzidas


de infinitivo.
Exemplos:

 Não convém responder agressivamente


. (oração subordinada substantiva subjetiva reduzida de infinitivo)

 Seu sonho era comprar uma nova casa.


(oração subordinada substantiva predicativa reduzida de infinitivo)

 Ela demonstrou desejo de retomar os estudos.


(oração subordinada substantiva completiva nominal reduzida de infinitivo)

7.3.3. As orações subordinadas adjetivas

Desempenham a função sintática de adjunto adnominal, função normalmente


exercida pelo adjetivo. As orações subordinadas adjetivas, quando se apresentam
desenvolvidas, são introduzidas por pronomes relativos (que, quem, quanto, onde, cujo,
etc.), que exercem função sintática na oração subordinada de que participam.

 “Iam bem os negócios que me trouxeram ao Rio.”


(MACHADO DE ASSIS, Felicidade pelo casamento, 1994, p. 38.)

Os dois verbos (iam, trouxeram) indicam duas orações:


1ª) Iam bem os negócios → oração principal;
2ª) que me trouxeram ao Rio → oração subordinada adjetiva restritiva.

As duas orações constituem um período composto por subordinação. São


dependentes, porque a segunda oração desempenha função sintática em relação à
primeira; no caso, o pronome relativo que corresponde ao sujeito.
Observações:

 Assim como as substantivas, as orações subordinadas adjetivas podem também ser


justapostas quando não se referem a nenhum antecedente.
Exemplo:

 Nem sempre conhecemos os segredos de quantos nos cercam.


(Cf. BECHARA, idem, p. 141.)

 As orações subordinadas adjetivas podem aparecer na forma reduzida; em geral, de


infinitivo e gerúndio.
Exemplos:
 Ele foi o único a apreciar a peça.
(oração subordinada adjetiva restritiva reduzida de infinitivo)

 Aquele rapaz, a acenar agora para nós, é um grande amigo.


(oração subordinada adjetiva explicativa reduzida de infinitivo)

 Há um funcionário distribuindo senhas.


(oração subordinada adjetiva restritiva reduzida de gerúndio)

7.3.4. As orações subordinadas adverbiais

Exercem a função sintática de adjunto adverbial, geralmente expressa pelo


advérbio. As orações subordinadas adverbiais são introduzidas por conjunções
subordinativas – exceto as integrantes, que iniciam as orações substantivas – e
expressam diversas circunstâncias, como tempo, causa, consequência, condição,
concessão, comparação, conformidade, finalidade e proporção. Assim como as
integrantes, as conjunções adverbiais funcionam apenas como conectivo e não exercem
nenhuma função sintática na oração.
Exemplo:

 “Quando cansou do passado, falou do presente, dos negócios da casa, das


canseiras de família.”
(MACHADO DE ASSIS, Missa do Galo, 2011, p. 18.)

Os dois verbos (cansou, falou) marcam a presença de duas orações constituintes


de um período composto por subordinação, haja vista a relação de dependência entre
elas, no sentido de uma exercer função sintática sobre a outra. No caso, a oração
“Quando cansou do passado” desempenha função característica de advérbio – daí ser
subordinada adverbial temporal –, enquanto que “falou do presente, dos negócios da
casa, das canseiras de família” corresponde à oração principal.
Observações:
 As orações subordinadas adverbiais também se apresentam justapostas. Exemplos:

 Falasse ele a verdade, todos ainda teriam desconfiança.


(oração subordinada adverbial concessiva justaposta)

 Fomos enganados por quem não esperávamos.


(oração subordinada adverbial agente da passiva justaposta)
 Há também orações subordinadas adverbiais com estrutura reduzida de infinitivo, de
gerúndio e de particípio.
Exemplos:

 Perdi a prova por ter chegado tarde.


(oração subordinada adverbial causal reduzida de infinitivo)

 Para quitar a dívida, o governador conseguiu um empréstimo.


(oração subordinada adverbial final reduzida de infinitivo)

 Retornando das férias, você assumirá outra função.


(oração subordinada adverbial temporal reduzida de gerúndio)

 Vencida essa disputa, o lutador recupera o título de campeão.


(oração subordinada adverbial condicional reduzida de particípio)

c) por coordenação e subordinação (ou período misto5): as orações constituintes do


denominado período misto podem ser independentes (coordenadas ou intercaladas) e
dependentes (subordinadas).
Exemplos:

 “A mulher está olhando para ela com ternura, ajeita-lhe a fitinha no cabelo
crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo.”
(SABINO, Fernando. A última crônica, 1965, p. 174.)

Há quatro orações, que se indentificam pela presença da locução verbal “está


olhando” e pelos verbos “ajeita”, “limpa” e “cai”. Dentre elas, três são independentes e
uma dependente, daí formarem um período composto por coordenação e subordinação
(ou período misto):

1ª) oração coordenada assindética:


A mulher está olhando para ela com ternura,

2ª) oração coordenada assindética:


ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo,

3ª) oração coordenada assindética e principal (em relação à quarta):


limpa o farelo de bolo

4ª) oração subordinada adjetiva restritiva:


que lhe cai ao colo.

A seguir, apresentam-se mais alguns exemplos que mostram o relacionamento


das orações nos períodos de que participam:

5
“Quando o período encerra mais de um tipo de oração, dá-se-lhe comumente o nome de período misto,
denominação que a Nomenclatura Gramatical Brasileira não agasalha” (BECHARA, op. cit., p. 170.).
 A dama-da-noite, que recebe também os nomes de coirana, jasmim-danoite e
jasmim-verde, brota num arbusto de porte médio, cujas folhas são pequenas e
lanceoladas. Durante o dia, as flores mantêm-se inodoras e fechadas, mas florescem ao
pôr do sol e exalam um delicioso perfume que perdura por toda a noite. Embora seja uma
planta vigorosa, os ramos da dama-da-noite não têm sustentação suficiente. Os botânicos
aconselham que os cultivadores apoiem os caules em peças de bambu ou varas de
madeira para que a planta floresça intensamente.
(www.jardineiro.net/plantas/dama-da-noite-cestrum-nocturnum.html/ adaptado)

O texto acima é formado por quatro períodos, cujos términos são indicados por
ponto final [.]. O primeiro período corresponde ao trecho entre A dama-da-noite [...]
lanceoladas; o segundo, compreende Durante o dia [...] noite; o terceiro período engloba o
trecho entre Embora [...] suficiente; e o quarto, entre Os botânicos [...] intensamente. Por
sua vez, cada período é constituído de orações:

● Três verbos (brota, recebe, são) indicam as orações que constituem o primeiro período,
que se classifica como composto por subordinação e é constituído pelas seguintes
orações:
1ª) oração principal:
A dama-da-noite brota num arbusto de porte médio,

2ª) oração subordinada adjetiva explicativa:


que recebe também os nomes de coirana, jasmim-da-noite e jasmim-verde,

3ª) oração subordinada adjetiva explicativa:


cujas folhas são pequenas e lanceoladas.

● O segundo – período composto por coordenação e subordinação (ou misto) – apresenta


quatro orações, em face da presença dos verbos (mantêm, florescem, exalam, perdura):

1ª) oração coordenada assindética:


Durante o dia, as flores mantêm-se inodoras e fechadas,

2ª) oração coordenada sindética adversativa:


mas florescem ao pôr do sol

3ª) oração coordenada sindética aditiva e principal (em relação à quarta oração):
e exalam um delicioso perfume

4ª) oração subordinada adjetiva restritiva:


que perdura por toda a noite.

● O terceiro, que possui duas orações (dois verbos: seja, têm), é um período composto
por subordinação:

1ª) oração subordinada adverbial concessiva:


Embora seja uma planta vigorosa,

2ª) oração principal:


os ramos da dama-da-noite não têm sustentação suficiente.
● O quarto período é composto por subordinação, constituído por três orações, cujos
verbos são aconselham, apoiem e floresça:
1ª) oração principal:
Os botânicos aconselham
2ª) oração subordinada substantiva objetiva direta:
que os cultivadores apoiem os caules em peças de bambu ou varas de madeira

3ª) oração subordinada adverbial final:


para que a planta floresça intensamente.

“Todos se tinham posto em pé quando el-rei se erguera, e esperavam ansiosos


o que diria o velho.”
(HERCULANO, Alexandre. A abóboda, apud BECHARA, op. cit., p. 168.)

O período é formado por quatro orações, que se constituem pela locução verbal
“tinham posto” e pelos verbos “erguera”, “esperavam” e “diria”. Há orações dependentes e
independentes, caracterizando um período composto por coordenação e subordinação
(ou período misto):
1ª) oração principal (de 1ª categoria):
Todos se tinham posto em pé

2ª) oração subordinada adverbial temporal:


quando el-rei se erguera,

3ª) oração coordenada sindética aditiva (em relação à principal) e oração principal de 2ª
categoria (em relação à quarta oração):
e esperavam ansiosos o

4ª) oração subordinada adjetiva restritiva:


que diria o velho.

Observações:

 No exemplo acima, há a presença de duas orações principais: a primeira (Todos se


tinham posto em pé) apresenta sua indicação de tempo de ação na segunda, que lhe é
subordinada (quando el-rei se erguera) e também está vinculada à terceira oração, que a
ela se liga por coordenação. Por sua vez, a terceira (e esperavam ansiosos o) se
apresenta sob duplo aspecto sintático: a) é coordenada à principal e b) por possuir como
objeto direto o pronome demonstrativo o [= aquilo], cujo adjunto adnominal é oracional – a
quarta oração que diria o velho –, funciona como a segunda principal do período.

 Quando, num mesmo período, existirem duas ou mais orações principais, diz-se que há
decorrência de subordinadas, empregando-se as expressões principal de 1ª categoria, de
2ª categoria, de 3ª categoria, etc. Tais denominações já eram empregadas “nas
excelentes noções elementares de análise sintática que abrem, desde 1887, a tradicional
Antologia Nacional, devidas a Fausto Barreto” (BECHARA, op. cit., p. 168-169.).
 O desejo do professor de português é que o aluno interprete os enunciados,
que perceba as variedades linguísticas e que as empregue de acordo com a situação
discursiva.

Há quatro verbos – “é”, “interprete”, “perceba” e “empregue” –, indicando a


presença das quatro orações que constituem o período composto por subordinação:

1ª) oração principal:


O desejo do professor de português é

2ª) oração subordinada substantiva predicativa:


que o aluno interprete os enunciados,

3ª) oração subordinada substantiva predicativa:


que perceba as variedades lingüísticas

4ª) oração subordinada substantiva predicativa:


e que as empregue de acordo com a situação discursiva.

Observações:

 Assim como certos períodos apresentam mais de uma oração principal, outros podem
ser constituídos de várias subordinadas relacionadas à mesma principal, conforme visto
no exemplo acima, o que exemplifica a concorrência de orações subordinadas. A
concorrência de orações ocorre quando as subordinadas desempenham a mesma função
sintática em relação à principal, estando coordenadas entre si. No exemplo, a terceira e
quarta orações têm o mesmo valor sintático que a segunda em relação à principal – todas
com função de predicativo – e são coordenadas entre si. Embora a conjunção aditiva
apareça somente na quarta oração, na anterior o conectivo fica subentendido. Então,
ambas apresentam dupla função sintática: a terceira oração é coordenada à segunda e
subordinada à principal; a quarta, coordenada à terceira e subordinada à principal. Em
vez desta classificação longa, pode-se dizer apenas que a terceira oração é equipolente à
segunda; e a quarta, equipolente à terceira oração6.

 O conectivo subordinativo (conjunção ou pronome relativo) pode ser omitido da oração


equipolente: O desejo do professor de português é que o aluno interprete os enunciados,
perceba as variedades linguísticas e as empregue de acordo com a situação discursiva.

8. A estrutura sintática na fala e na escrita: requisito para a comunicação

Fala e escrita não constituem realizações às quais se atribuem graus


comparativos, no sentido de se entender uma como superior à outra. Ambas são
modalidades distintas do mesmo sistema linguístico – a língua portuguesa –, mas que
exigem o cumprimento de certas exigências gramaticais, de acordo com suas
características e especificidades, para que a atividade comunicativa aconteça
eficazmente.
Afirmar que a escrita é mais complexa e pressupõe formalidade, enquanto a fala
é sempre mais informal e simples não corresponde à realidade, haja vista existir uma

6
“Infelizmente, esta denominação cômoda não encontrou agasalho na Nomenclatura Gramatical Brasileira”
(BECHARA, op. cit., p. 172.).
“escrita informal que se aproxima da fala e uma fala formal que se aproxima da escrita,
dependendo da situação comunicativa” (KOCH, 1995, p. 689.). Em cartas informais,
bilhetes, letras de músicas, postagens em redes sociais, por exemplo, que são textos
escritos, o nível de informalidade é bastante significativo, apresentando repetições, gírias,
certos marcadores conversacionais, fragmentações, etc., que são elementos
característicos da oralidade. Em contrapartida, há outros textos, como discursos de
formatura, noticiários veiculados em rádio e televisão, apresentações acadêmicas, etc.,
que requerem um registro linguístico formal, apesar de serem realizações orais.
Apesar dos exemplos acima apresentados, nos quais se destacou que o critério
da (in)formalidade do discurso é relativo em face do contexto de comunicação,
evidentemente, de modo geral, os enunciados construídos oralmente são mais passíveis
de certos truncamentos, repetições, digressões, etc., porque os falantes estão presentes,
interagindo no processo comunicativo. Mais frequentemente, o contexto da escrita é
diferente, pois há um maior distanciamento entre os interlocutores, que ocupam tempo e
espaço distintos, e, portanto, não contam com os recursos verbais e não verbais da língua
falada. Assim, se distinguem a sintaxe da fala e a da escrita. Nesta, existe possibilidade
de planejamento, correção e reescrita; naquela, as orações se sucedem no intercâmbio
das ideias entre os participantes do discurso.
Entretanto, é importante destacar que independentemente da modalidade – se
oral ou escrita –, os textos devem ser elaborados em função da finalidade a que se
propõem, das características de seus interlocutores e do contexto discursivo em que
estão inseridos. Para tanto, embora diferentes entre si, é preciso que as orações
constituintes dos textos obedeçam a certas estruturas sintáticas básicas de organização
oracional, de modo que os enunciados construídos na oralidade e na escrita
correspondam efetivamente ao propósito da comunicação.

9. Sintaxe e estilo: interface entre necessidades e possibilidades na estrutura


oracional7

Um maior domínio das estruturas sintáticas pelos usuários da língua amplia a


possibilidade de se tornarem leitores e produtores de textos mais proficientes. Essa
concepção considera que a sintaxe tem papel fundamental no desenvolvimento de
habilidades linguísticas para a construção de textos orais e escritos claros e coesos,
melhor fruição na leitura e maior capacidade interpretativa dos mais variados textos.
Evidentemente, vale destacar que a sintaxe por si só, desvinculada dos reais fatos da
língua e dos aspectos pragmáticos e textuais, não promove uma efetiva competência
comunicativa. Entretanto, o reconhecimento dos conceitos sintáticos e a apropriação das
várias estruturas empregadas na organização dos textos ajudam os usuários na
compreensão do funcionamento do sistema linguístico, propiciam condições de
empregarem construções discursivas coerentes e possibilitam a percepção de certos
recursos sintáticos que promovem maior expressividade ao texto.
Nesse sentido, cumpre fazer a distinção entre necessidade sintática, imposta
pelas regras de combinação e de reciprocidade entre as palavras constituintes das
orações, e possibilidade estilística, que permite ao usuário da língua a escolha dos
elementos e de seus arranjos na sequência oracional para garantir melhor eficiência
expressiva. A partir dessa distinção, convém delimitar as fronteiras entre a sintaxe e a
estilística: a primeira, por ser parte da gramática, vincula-se ao intuito intelectivo, centrado
no objetivo de elaborar orações conforme as regras de organização; a segunda relaciona-
se à expressividade e à liberdade criativa do autor, que subverte ou recria certas
estruturas de acordo com a sua intenção comunicativa.

7
Tópico baseado nas considerações contidas em BECHARA, op. cit., p. 28.
10. Sintaxe e semântica: relações de forma e sentido

Em linhas gerais, a sintaxe, como parte da gramática que trata da disposição das
palavras nas frases constituintes do texto, apresenta um conjunto de regras que
determinam a forma como essas palavras podem se associar na estrutura oracional. Por
sua vez, a semântica estuda o significado das palavras, observando o modo como se
combinam nas frases para que a produção textual efetivamente seja dotada de sentido.
Esses dois níveis de análise linguística, apesar de suas especificidades, não são
excludentes, nem apresentam fronteiras estanques, haja vista a possibilidade de melhor
se reconhecerem os significados de certos termos em relação à função que
desempenham nas frases.
Na atividade discursiva, os interlocutores devem organizar palavras e frases
adequadamente relacionadas e combinadas de acordo com os padrões sintáticos de
estruturação oracional para que os textos façam sentido e garantam a interação
comunicativa. Cabe, então, destacar a importância entre adequação sintática e produção
de sentidos. A adequação sintática corresponde à “construção coerente de períodos e
orações, observadas as relações existentes entre seus termos e a sua organização”
(HENRIQUES, 2010, p. 17.) para que as realizações linguísticas sejam coerentes e
cumpram o seu papel de significar algo para alguém. Percebe-se, portanto, que a
adequação sintática mantém relação estreita e direta com enunciados semanticamente
organizados. Dependendo do arranjo sintático, as palavras e orações constituintes do
texto podem corresponder a certos efeitos de expressividade que garantem a sua
textualidade, que consiste num conjunto de princípios norteadores para a construção de
sentido dos textos, especialmente no que se refere à coerência na exposição das ideias.
As regras sintáticas estabelecidas pela gramática, portanto, devem servir,
principalmente, ao propósito da comunicação, oferencendo os recursos necessários para
que os usuários da língua consigam “estabelecer a relação entre a forma das expressões
e sua significação” (FRANCHI, 2006, p. 102 apud HENRIQUES, op. cit., p. 19.). Desse
modo, aumentam as suas condições de melhor desempenho linguístico e competência
comunicativa, desenvolvendo a capacidade de produzir e compreender os mais diversos
textos, em diferentes contextos de comunicação. É na produção de textos coerentes e
sintático-semanticamente bem elaborados, portanto, que deve centrar o ensino de língua
materna. Nessa perspectiva, a sintaxe – assim com as demais áreas de análise linguística
– torna-se um facilitador do processo de construção de textos, cuja proficiência é
conseguida por meio de relações sintáticas, semânticas e discursivas coesas e coerentes
entre as palavras que os constituem.
Como instrumento essencial para a compreensão e o emprego adequados das
múltiplas possibilidades de combinação de palavras e orações, as relações sintático-
semânticas vão se internalizando na consciência linguística do falante, capacitando-o a
perceber estruturas inadequadamente organizadas quanto a essas relações. Por
exemplo, num enunciado como “A porta chorou copiosamente”, que se apresenta sob
uma forma estrutural sintaticamente possível, não é semanticamente adequado, pois lhe
falta coerência, já que a informação não faz sentido8. Então, mesmo com uma estrutura
sintática possível, mas semanticamente inadequado, pode-se considerar que o segmento
não cumpriu o seu propósito comunicativo. Há casos também em que a estrutura sintática

8
Desde que não esteja, é claro, num apólogo – gênero textual no qual os personagens são seres
inanimados, principalmente objetos, cuja intenção é basicamente transmitir um ensinamento de vida,
narrando situações de ordem social ou moral. Um exemplo clássico na literatura brasileira é o conto “Um
Apólogo”, de Machado de Assis.
pode afetar o perfeito entendimento do sentido por provocar ambiguidade, como em “A
mulher viu o homem no parque com o telescópio”, que gera duas possibilidades de
interpretação: na primeira, a mulher usa um telescópio para visualizar o homem; na
segunda, a mulher vê que o homem portava um telescópio.
A adequação sintática e a semântica, portanto, são mecanismos essenciais para
a competência comunicativa, que implica o desenvolvimento de habilidades de selecionar
e combinar palavras e orações, organizando-as em textos que promovam uma plena
interação entre os participantes do processo de comunicação. Assim, a organização
textual depende, além evidentemente de conhecimentos prévios compartilhados pelos
interlocutores, de determinadas operações sintáticas para a produção dos sentidos.
Nessa abordagem, a sintaxe não pode se restringir à nomeação e ao
reconhecimento dos componentes sintáticos da oração, uma vez que a análise linguística
deve se ancorar no seu contexto de uso e na depreensão dos sentidos dos enunciados,
de modo que o usuário da língua se aproprie dos diversos mecanismos linguísticos de
organização textual. O papel da sintaxe nesse processo de elaboração de textos que
figuram nos discursos não se resume apenas a capacitar os usuários no domínio da
estruturação das entidades sintáticas das orações e períodos, mas habilitá-los a
“combinar essas unidades sintáticas em peças comunicativas eficientes, o que envolve a
capacidade de adequar os enunciados às situações, aos objetivos da comunicação e às
condições de interlocução. E tudo isso se integra na gramática” (NEVES, 2002, p. 226.).

11. As relações sintático-semânticas nos textos

Conforme mencionado, no que tange à atividade de interação comunicativa,


certos procedimentos de estruturação sintática podem ser extremamente relevantes na
construção dos sentidos dos diferentes textos.
A título de ilustração, analisar-se-ão alguns textos de humor9, destacando certos
recursos de construção sintática que atuam na produção dos sentidos, desempenhando
papel fundamental na organização discursivo-textual.

11.1. Texto “O empregador”

Certo candidato a prefeito numa pequena cidade do interior gaúcho fazia seu
discurso de campanha com muita empolgação, mas num português todo estropiado: “Vou
mandá patrulhar as rua”, “Vou construí muitas escola”, “Vou fazê moradia popular para
todas as pessoa dessa cidade”.
Um assessor chega ao ouvido do orador e diz: “Prefeito, emprega o plural!”.
O candidato prontamente emenda o discurso:
– E tem mais: vou empregá o plural, a mulher do plural, os filho do plural. Não
vou deixar ninguém sem emprego.
(Jornal Zero Hora - 18/02/2000.)

O efeito humorístico resulta de dois recursos presentes no discurso: o primeiro é


a ambiguidade da palavra emprega, que o assessor usou com o objetivo de alertar o
candidato sobre a flexão de número das palavras. No entanto, a própria situação
comunicativa – o discurso de campanha eleitoral em que muitas promessas são feitas –
provocou no candidato interpretação distinta. Essa situação também reforça a

9
Os textos analisados encontram-se disponíveis em:
//www.leffa.pro.br/tela4/Textos/Textos/Anais/ECLAE_II/a%20sintaxe%20na%20constru%C3%A7%C3%A3o/
direita.htm.
necessidade de os interlocutores apresentarem os mesmos conhecimentos prévios para
que a mensagem se estabeleça satisfatoriamente. O outro recurso de humor acontece por
meio do emprego da palavra plural, que não se relaciona com ambiguidade, mas com a
falta de conhecimentos linguísticos do candidato, que além de não flexionar as palavras,
não entendeu o alerta do assessor. A situação explora as frequentes censuras aos
candidatos aos cargos públicos quanto às promessas falsas, ao descaso e ao
despreparo. No episódio apresentado, a crítica se refere ao descaso com o povo e com a
língua.
Em relação ao aspecto sintático-semântico, convém destacar a presença da
conjunção coordenativa e em “E tem mais: vou empregá o plural, a mulher do plural, os
filho do plural”, que não se limita a conectar enunciados sintaticamente equivalentes,
exprimindo a ideia de adição, mas proporciona um efeito de ênfase maior no sentido
expresso pela conjunção, reiterando de forma mais veemente a suposta preocupação do
candidato com seus possíveis eleitores.

11.2. Texto “Guarda-chuva”

O homem cumprimentou o outro, no café.


– Creio que nós fomos apresentados na casa do Olavo.
– Não me recordo.
– Pois tenho certeza. Faz um mês mais ou menos.
– Como me reconheceu?
– Pelo guarda-chuva.
– Mas nessa época eu não tinha este guarda-chuva.
– Realmente, mas eu tinha...

(Máximas e Mínimas do Barão de Itararé, in Jornal Zero Hora - 3/1/2001.)

Na situação discursiva apresentada no texto, o primeiro personagem começa um


diálogo, no qual afirma a seu ouvinte que já tinham sido apresentados anteriormente,
porém não esclarece o motivo de sua plena convicção desse fato. O ouvinte não
apreende a intenção comunicativa de seu interlocutor por não atentar para o guarda-
chuva ser o componente responsável pelo seu reconhecimento. É importante ressaltar
que o leitor também só depreende a relevância desse elemento como determinante no
reconhecimento no final da leitura, o que mostra que ele precisa seguir a diretriz do texto
para compreender os efeitos de sentido.
Nesse texto, devem-se considerar os conectores pois e mas, que denotam
sentidos distintos dos que lhe são normalmente peculiares na organização sintática dos
enunciados em que se inserem.
Em relação ao conectivo pois, o seu papel tradicional pode corresponder à
classificação de conjunção coordenativa explicativa ou conclusiva, além de subordinativa
causal. Entretanto, a situação apresentada não expressa nenhum desses três valores;
seu valor semântico indica uma contraposição que ressalta o contraste entre uma
afirmação negativa (“Não me recordo”) e uma positiva (“Pois tenho certeza”).
No que se refere à conjunção mas, a primeira ocorrência (“Mas nessa época eu
não tinha este guarda-chuva”) destoa do sentido de oposição e contraste, que caracteriza
as coordenativas adversativas; seu sentido está mais próximo de expressar uma restrição
ao que ficou pressuposto no enunciado anterior. Na segunda ocorrência (“Realmente,
mas eu tinha...”), a conjunção corresponde à ideia de adversidade, entretanto fazendo
referência à fala do outro personagem, equivalendo a um enunciado como Você não tinha
guarda-chuva, mas eu tinha e era esse...
Cumpre chamar a atenção também para a palavra realmente, no que diz
respeito à necessidade de salientar a observação dos sentidos expressos pelos advérbios
terminados em -mente, de modo geral classificados como de modo, mas que podem
indicar diferentes circunstâncias, dependendo do contexto em que se apresentem. Outro
ponto sobre o advérbio se refere ao conceito que normalmente aparece nos compêndios:
a de que o advérbio modifica um verbo, um adjetivo ou outro advérbio. No texto, o
advérbio não modifica nenhuma dessas categorias gramaticais, além de não acrescentar
circunstância à frase toda de que participa, como também se destaca em algumas obras.
Na situação apresentada, o advérbio tem como escopo todo um conjunto de
relações das quais os interlocutores participam, desempenhando um importante papel na
construção do sentido do texto, pois é o elemento que esclarece e confirma o furto do
guarda-chuva no encontro anterior entre os personagens.

11.3. Texto “Redação”

A professora passou a lição de casa: fazer uma redação com o tema: “Mãe só
tem uma”.
No dia seguinte, cada aluno leu a sua redação. Todas mais ou menos dizendo as
mesmas coisas: a mãe nos amamenta, é carinhosa conosco, é a rosa mais linda no nosso
jardim etc. etc. etc. Portanto, mãe só tem uma...
Aí chegou a vez de Juquinha ler a sua redação:
“Domingo foi visita lá em casa. As visitas ficaram na sala. Elas ficaram com sede e
minha mãe pediu para mim ir buscar coca-cola na cozinha. Eu abri a geladeira e só tinha
uma coca-cola. Aí, eu gritei pra minha mãe: Mãe, só tem uma!”

(Texto publicado na seção “Humor”, da revista de bordo da VASP Viaje Bem.)

O texto possibilita reflexões sobre vários aspectos relativos ao funcionamento da


língua. Uma delas é analisar as razões pelas quais Juquinha escreveu a sua redação
numa perspectiva diferente da que a professora pretendia. Uma frase isolada, mesmo que
escrita no quadro, pode permitir diferentes interpretações, principalmente se forem
consideradas certas deficiências dos usuários da língua em relação a estruturas sintáticas
cuja alteração dos termos constituintes de uma oração pode ocorrer mediante apenas
mudanças na pontuação. No texto, nas orações “Mãe só tem uma” e “Mãe, só tem uma!”,
o papel sintático dos elementos que as constituem comprovam isso. Acerca da primeira
oração, deve-se destacar a presença do verbo ter como equivalente a haver, tão
comumente empregado no registro coloquial, mas combatido pela norma padrão culta.
Independentemente do verbo utilizado, essa oração corresponde à estrutura da oração
sem sujeito; a palavra mãe, então, exerce a função de objeto direto. Na segunda oração,
a vírgula alterou o sentido da palavra mãe, que passou a vocativo, constituindo-se em
termo independente, sem função sintática na estrutura oracional.
Cabe ressaltar que a modificação promovida pela vírgula alterou também o
sentido da palavra uma no contexto: na primeira oração, depreende-se o valor que se
atribui à figura materna, considerada única, insubstituível; na segunda, a relação se
estabelece com coca-cola, que mesmo elíptica neste segmento, pode ser retomada pela
palavra uma, que funciona como elemento de coesão entre os enunciados, indicando o
sentido de quantidade.
Outro aspecto a ser destacado relaciona-se à palavra só empregada em ambas
as orações. Na primeira, o sentido que expressa equivale a exclusivamente; na segunda,
a noção de quantidade fica mais evidente.
Interessante também é evidenciar como, em situações de oralidade, os sentidos
do texto podem variar em face das influências da entonação, das construções ambíguas,
da ordem das palavras nas orações, etc. Ainda em relação à oralidade, cabe destacar a
presença de certas marcas típicas dessa modalidade em textos escritos, conforme se
observou na redação feita pelo personagem: o uso de orações curtas; a brevidade das
informações; o emprego de marcadores conversacionais, como aí, tão comum na língua
falada e que vem assumindo valor de conjunção na escrita; a contração da preposição
(“... eu gritei pra minha mãe...”); o recorrente emprego do oblíquo mim como sujeito de
infinitivo (“... e minha mãe pediu para mim ir buscar coca-cola na cozinha.”).
A partir das breves reflexões sobre os textos acima, confirma-se, portanto, o
relacionamento entre sintaxe e semântica na análise das estruturas oracionais para que
se possam depreender os verdadeiros sentidos expressos pelos textos empregados nas
mais diversas situações comunicativas.

12. Paralelismo: organização textual e produção de sentido

O paralelismo consiste na simetria entre duas ideias, estruturas verbais ou


sequências textuais que se encontram coordenadas num determinado enunciado. O
paralelismo pode ser de ordem sintática, semântica e rítmica (GARCIA, 2006, p. 42-44.).

12.1. Paralelismo sintático: estruturas oracionais encadeadas

Entende-se por paralelismo sintático a correspondência entre os componentes de


uma estrutura sintática, que devem estar perfeitamente coordenados entre si. Como a
coordenação pressupõe encadeamento de termos de mesmo valor sintático, os
componentes oracionais coordenados devem apresentar estruturas gramaticais similares,
embora possam admitir certa flexibilidade, haja vista o paralelismo não se enquadrar
numa norma gramatical rígida em face de as produções linguísticas comportarem padrões
variados de organização frasal (Cf. AZEREDO, 2008, p. 510.).
Num enunciado como “Não só canta mas também artesanato é sua
especialidade”, embora seja uma construção gramatical, não se respeitou o princípio do
paralelismo pela falta de simetria entre os termos coordenados pela série aditiva não só...
mas também, que são de natureza distinta: na primeira oração, um verbo (canta) é o
termo correlacionado; na segunda, um substantivo (artesanato). Já há paralelismo
sintático em “Não só o estudo mas também a sorte são decisivos na vida” (BECHARA,
2004, p. 321.), uma vez que a série aditiva correlaciona substantivos nas duas orações do
período (estudo; sorte). “Qualquer dessas formas é perfeitamente aceitável, pois não fere
a integridade sintática do sistema linguístico” (AZEREDO, idem, ibidem).
Também há uma ruptura com o paralelismo em “Espero dessas férias: viagens,
descanso, festas e conhecer novos amigos”, pois apresenta uma quebra na estrutura
apositiva, a partir do momento em que emprega como último termo um segmento iniciado
por verbo, após uma sequência de substantivos. Para que se mantivesse o paralelismo,
poder-se-ia substituir o enunciado por Espero dessas férias: viagens, descanso, festas e
novas amizades.
O período “Estamos ameaçados de um livro terrível e que pode lançar o
desespero nas fileiras literárias” (GARCIA, op. cit., p. 53.) exemplifica outra estrutura em
que não se respeitou o princípio do paralelismo sintático. No enunciado, os adjuntos
adnominais da palavra livro – o adjetivo terrível e a oração subordinada adjetiva que pode
lançar o desespero nas fileiras literárias – estão coordenados pela conjunção
coordenativa aditiva e, o que torna o enunciado inadequado, tendo em vista a diferença
estrutural entre eles. Para garantir o paralelismo (ou simetria) do enunciado, a sua
reescrita poderia ser Estamos ameaçados de um livro terrível e capaz de lançar o
desespero nas fileiras literárias ou ainda Estamos ameaçados de um livro que é terrível e
(que) pode lançar o desespero nas fileiras literárias, cujas estruturas correspondem à
“perfeita correlação na estruturação sintática da frase” (AZEREDO, idem, ibidem.). A
escolha por uma dessas estruturas pode ser definida por questões de contexto ou de
estilo.
Na literatura, o paralelismo é um recurso
empregado intencionalmente; a repetição de certos
termos pode promover efeitos sugestivos e de
Na literatura, o paralelismo pode
acentuada força semântica, como se observa em: ser chamado de paralelismo
anafórico. A anáfora é uma figura
Era uma estrela tão alta! de sintaxe que se caracteriza pela
Era uma estrela tão fria tendência de se seguir uma
Era uma estrela sozinha simetria sintática e semântica nas
repetições.
Luzindo no fim do dia.

(BANDEIRA, M. A estrela, 2003, p. 108.)

A tua linda voz de água corrente


Ensinou-me a cantar... e essa canção
Foi ritmo nos meus versos de paixão,
Foi graça no meu peito de descrente.

(ESPANCA, Florbela. Charneca em Flor, 2007, p. 20.)

O paralelismo sintático não consiste, conforme já mencionado, num processo que


obrigatoriamente deve ser respeitado na organização dos enunciados, entretanto pode
representar um recurso estilístico de grande expressividade no discurso. “Constitui, na
verdade, uma diretriz de ordem estilística – que dá ao enunciado uma certa harmonia – e
constitui ainda um recurso de coesão – que deixa o enunciado numa simetria sintática
que é por si só articuladora” (ANTUNES, 2005. p. 64 apud AZEREDO, idem, ibidem.).

12.2. Paralelismo semântico: sentidos simétricos

O paralelismo semântico corresponde a uma relação lógica entre os termos


constituintes de uma oração em relação ao sentido que expressam, há uma manutenção
no campo das ideias. Em outros termos, o paralelismo semântico relaciona-se à
coordenação de termos que pertencem ao mesmo campo semântico.
No segmento “Fiz duas operações: uma em São Paulo e outra no ouvido” 10,
embora sintaticamente paralelas (o segmento apositivo apresenta substantivos como
termos nucleares: São Paulo e ouvido), há quebra na sequência das ideias, uma vez que
os substantivos não se relacionam aos conjuntos de elementos semanticamente
equivalentes dos quais cada um faz parte: São Paulo pertence a um conjunto indicativo
de lugares; e ouvido, ao de partes do corpo.
Também em “O presidente brasileiro negocia novas propostas comerciais com os
Estados Unidos” evidencia-se a ruptura na associação das ideias, a partir do emprego de
termos que não apresentam correlação de sentidos, pois os elementos envolvidos são de
natureza distinta. Enquanto presidente brasileiro se refere à pessoa, Estados Unidos faz
referência a um país. Para garantir o paralelismo semântico, uma proposta seria “O
presidente brasileiro negocia novas propostas comerciais com o presidente americano”.
A preservação do paralelismo semântico é tão importante quanto o sintático, mas
a genialidade dos escritores transforma a quebra de simetria semântica em ricos e

10
GARCIA, op. cit., p. 60.
expressivos efeitos de estilo. Em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, Machado de
Assis expõe toda a ironia e amargura do narrador no trecho “Marcela amou-me durante
15 meses e 11 contos de réis” (op. cit., p. 101.), opondo ideias de sentidos distintos
(indicação temporal: 15 meses; valor monetário: 11 contos de réis).
No conto “O Enfermeiro”11, o segmento “mas para isso era preciso tempo, ânimo
e papel” apresenta uma sequência de elementos de diferentes patamares semânticos.

12.3. Paralelismo rítmico: cadências similares

O paralelismo rítmico consiste numa forma de construção textual em que seus


segmentos (termos, orações) ou frases íntegras têm extensão igual ou o mais similar
possível. Pode também ser denominado de similicadência (GARCIA, op. cit., p. 62.). O
ritmo é decorrente de estruturas frasais simétricas que promovem cadências
semelhantes, como nos segmentos “Você conhece. Você confia” (Volkswagen), “Tão
gostosa de usar. Uma delícia de tirar” (Zorba Fit) e “Mais firmeza. Mais rápido” (Loção
Firmadora Q10), em que as duas frases constituintes de cada slogan apresentam
extensão e ritmo de leitura equivalentes.

13. Bibliografia

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BILAC, Olavo. Antologia Poética. Porto Alegre, RS: L&PM, 2012.

11
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.htm>.
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