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UNIVERSIDADE SALVADOR

Ecossistema Ânima
Curso: Gestão Financeira
Discente: Monique Santos Neiva
Número de inscrição: 2022106456
Disciplina: Comunicação

Atividade 1

Texto das propostas: Ao longo da unidade, estudamos sobre os gêneros discursivos e


como eles afetam diretamente as relações humanas e de comunicação no que diz
respeito ao uso da língua. Sabemos que diversos fatores influenciam diretamente na
maneira como um indivíduo se comunica e isso varia de acordo com sua cultura,
criação, meio em que vive, situação, classe econômica e nível de escolaridade.
O Brasil é um país de grande extensão e, dessa forma, permite que existe uma grande
pluralidade de povos. Estes, mesmo falantes da Língua Portuguesa, continuam tendo
suas próprias maneiras de falá-las ou expressá-las.
Sabemos ainda que os gêneros discursivos sofrem variações quanto ao uso da língua
formal ou informal. Um mesmo indivíduo pode abarcar em sua comunicação diferentes
variações, como, por exemplo, quando este tem que se expressar durante uma reunião
de trabalho (língua formal) ou em uma comemoração com amigos (língua informal).

Questão 1: Diante deste contexto, identifique diferentes gêneros discursivos presentes


na nossa língua e como eles se transformam de acordo com o emprego em diferentes
contextos sociais e geográficos de comunicação, verificando em qual campo estes
gêneros se alocam mais tipicamente, se no formal ou no informal.

RESPOSTA
Baseando-se no que foi discutido no componente da disciplina de Comunicação do
curso de Gestão Financeira, é necessário trazer à tona algumas considerações. Existe
uma vertente da área da Linguística que estuda, dentre outras coisas, a grosso modo,
texto e contexto, chamada Análise textual. Nessa disciplina, há um enfoque especial
dado aos diferentes gêneros que compõem o nosso cotidiano textual. Em uma citação
legitimada, de Koch e Elias (2006, p. 101), importantes intelectuais do âmbito da
Linguística textual, defende-se que os gêneros textuais são “formas padrão
relativamente estáveis de estruturação”. Tal ponto, frisando o aspecto “relativamente
estáveis”, reflete a versatilidade advinda de tais gêneros, já que, por mais que tenham
suas características identificáveis e que os distinguem entre si, encontra-se em sua
natureza também um caráter muito peculiar de flexibilidade quanto a essas mesmas
características.
De acordo com esse entendimento, pode-se conjecturar acerca do gênero carta, por
exemplo. A depender dos lugares discursivos que apareça, ou seja, entendendo-se quais
os registros adequados às situações do cotidiano especificamente – pertinentes à
variação diafásica –, ela assumiria uma variação dessemelhante quanto aos usos
linguísticos. Vê-se que em seu contexto informal, isto é, aquele revelado pelo afeto e
pela intimidade entre os interlocutores, haverá uma predileção pelas formas de
vocábulos coloquiais, sem uma grande preocupação com a colocação pronominal dos
oblíquos átonos adequada ou com usos indiscriminados de figuras de linguagem e seus
sentidos figurados. A essa variação, inclusive, dar-se-á o nome de carta pessoal. Segue-
se uma ilustração exemplificando uma carta pessoal:

https://novaescola.org.br/planos-de-aula/fundamental/9ano/lingua-portuguesa/a-colocacao-pronominal-na-carta-
pessoal/4641

Por outro lado, se o emissor pretende fazer uma solicitação a um receptor que tem uma
marca de autoridade social, ou à população como um todo cujo documento, com valor e
legitimidade, circulará em diários oficiais, a necessidade situacional revelará a condição
de uma carta argumentativa ou de uma carta aberta.
A priori, uma carta argumentativa redigida por um emissor terá o intuito de fazer uma
solicitação para o receptor – uma autoridade de alguma instituição –, defendendo um
ponto de vista, no qual terá que recorrer à sequência discursiva de um texto
argumentativo. Esse uso é muito comum em requerimentos, em universidades ou
quando solicitados alguns serviços a empresas. Nesse ínterim, selecionará a linguagem
denotativa, ou seja, de uso formal, para fazê-la. Quanto mais formal e convincente for o
emissor em seus argumentos, maior a possibilidade de ele conseguir o que solicitou. Em
uma segunda perspectiva, se o assunto relatado na carta for de interesse público, na qual
tenha um papel político e social, faz-se necessário o uso da carta aberta, cuja intenção é,
muitas vezes, fazer uma denúncia e promover uma reflexão mais profunda de
conscientização, tanto da população quanto das autoridades. Também nessa carta,
haverá o uso mais formal da língua portuguesa. Pode-se observar, respectivamente,
essas cartas nas imagens a seguir:

http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=57308
https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/08/26/em-carta-aberta-servidores-do-ibama-listam-medidas-para-impedir-
colapso-da-gestao-ambiental-federal.ghtml

Em resumo, todas as cartas apresentadas seguem aproximadamente muitas semelhanças


que se revelam nas formas padrão de estruturação dessas características, como é
possível identificar nos elementos que as compõem – remetente, destinatário, data e
cidade, etc., – mas que, no entanto, também se revelam flexíveis e relativamente
estáveis, se for observado o contexto em que elas podem aparecer, oferecendo-lhes
novos desdobramentos no que diz respeito aos usos linguísticos. Dessa forma, desenha-
se um panorama bastante dinâmico dos gêneros textuais nas variações que deles podem
advir.

Questão 2: A partir dessa reflexão, então, eleja uma região do Brasil e cite alguns
exemplos de atos de preconceito linguístico que os povos da região sofrem e o que isso
reflete em sua vivência e comunicação na sociedade, articulando com sua exposição
acerca dos gêneros discursivos.

RESPOSTA
No Brasil, as regiões norte e nordeste são alvo de muita discriminação, sobretudo por
serem as regiões onde há índices de desenvolvimento humano menor, segundo dados
divulgados pelo PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento –
(2000-2010). Dentro desse recorte, vamos direcionar nosso olhar em específico para o
nordeste, um dos principais focos receptores do preconceito linguístico. O termo em
destaque refere-se à expressão cunhada pelo linguista Marcos Bagno, que defende um
uso mais democrático da língua no que tange à legitimação das variações da língua que
são desprestigiadas dentro do espaço nacional. Recentemente, nas universidades, a
exemplo da Universidade Salvador, existe um esforço, das novas perspectivas de
ensino, para que compreendamos a diversidade da língua para melhorarmos nossa
comunicação, uma vez que é nesses espaços que construímos a noção de legitimação
social e fornecemos fontes de conhecimento para a sociedade. No entanto, esse esforço
encontra muitos obstáculos, inclusive, fornecidos pelo próprio ambiente acadêmico, já
que, em contrapartida, um purismo linguístico tem determinado ainda lugar de destaque
nas cobranças acadêmicas feitas pelo quadro docente de inúmeros departamentos.
No vídeo de abertura do componente curricular da disciplina de Comunicação, a
Doutora em Semiótica Ana P. Machado fala sobre os preconceitos explícitos e
implícitos provenientes de inúmeras situações sociais e sobre como é papel fundamental
da comunicação oferecer um suporte de diversidade à língua para os indivíduos sociais.
A função da universidade nisso fica mais do que evidente, uma vez que devemos, no
mundo em constante processo de globalização, propiciar espaços discursivos cada vez
mais inclusivos. Nesse sentido, a globalização democratizou os meios de comunicação,
disponibilizando, de maneira progressista, vários canais para pleitear os mais diversos
assuntos, mas ainda paira a sombra de um uso mais conservador quanto ao código,
principalmente na língua portuguesa escrita. Dessa forma, em diversas plataformas
digitais, é possível encontrar depoimentos carregados de xenofobia – desconfiança,
temor ou antipatia por pessoas estranhas ao meio daquele que as ajuíza, ou pelo que é
incomum, segundo dicionário Oxford – em que o preconceito linguístico aos usuários
do nordeste seja naturalizado entre os usuários de outras regiões do Brasil,
especialmente em redes sociais que os contextos não exigiriam a modalidade formal da
língua. Muitas vezes, essas considerações são postas de modo a atacar a integridade dos
usuários nordestinos, diminuindo-os pela sua maneira muito particular de falar o
português atrelado a questões de política partidária. O que causa espanto também é a
contradição que esses mesmos usuários apresentam ao também cometerem desvios à
norma padrão em registros como em publicações do Twitter, exemplificados a seguir:
http://monetgeekchic.blogspot.com/2011/04/falar-de-mais-x-redes-sociais.html

https://br.noticias.yahoo.com/blogs/jornalismo-wando/fernando-henrique-e-o-preconceito-contra-o-nordestino-
174743942.html

No primeiro exemplo, pode-se observar a xenofobia expressa em todos os tweets, com


referências ao grau de escolaridade de nordestinos, o que podemos inferir como uma
relação ao modo de falar mais distante da norma culta. Verifica-se a crítica à falta de
escolarização, mas também vários desvios da norma padrão, a exemplo da expressão
“pra” em vez de “para” – na língua portuguesa não há essa preposição –, e da falta de
acentuação no monossílabo tônico “da” (verbo dar) em vez de “dá”. Parece que só é
dado a eles o direito ao desvio nas redes socias. No segundo exemplo, percebe-se
também desvios como a falta do uso da vírgula para isolar o vocativo, entre outros.
Sou professora de língua portuguesa formada pela Universidade Federal da Bahia.
Dentro da perspectiva desses usuários preconceituosos, seria mais um nordestino sem
escolarização suficiente para discutir política nas redes sociais? Creio que a resposta
seria afirmativa. Não é incomum perceber a expressão de surpresa ao revelar que sou
professora e nordestina ou que, ao ser professora, eu pudesse também me comunicar
usando as expressões coloquiais que marcam o jeito peculiar de falar do povo baiano
sem necessariamente desconhecer as regras da norma padrão e não poder fazer com
maestria uma carta argumentativa ou aberta. É sempre uma questão muito complexa
entender esses limites discursivos, dentro e fora dos ambientes acadêmicos, uma vez
que a diversidade almejada pelo potencial revelado nos usos dos gêneros textuais fica
restrita às discussões teóricas. Na prática, revela-se o desconhecimento da língua
portuguesa como falares característicos que revelam um multiculturalismo por parte dos
falantes da região sul, sudeste e centro-oeste, em sua maioria.
Em síntese, não teremos avançado na comunicação enquanto esses conhecimentos não
forem popularizados de maneira a empoderar e a legitimar as diversas variações
existentes no Brasil. Há muito conhecimento disponível nos diversos meios de
comunicação, mas não temos a mediação necessária para tratar das questões linguísticas
sem preconceito. Cabe às escolas e aos profissionais da educação e da comunicação
horizontalizar as discussões sobre o código, por meio de campanhas e de debates na
internet, de forma a desmistificar o imaginário social que estigmatiza as pessoas que são
relativamente dessemelhantes em sua interlocução.

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