Gong Li Cheng1
Mariana Alice de Souza Miranda2
Diversidade cultural
Nessa visão contemporânea, das sociedades culturalmente híbridas, a escola passa a ter no-
vos desafios: como valorar o nível de aculturamento dos alunos, a partir dos diversos discursos pro-
feridos e textos produzidos em sala?; o que eles aprendem autodidaticamente é válido para o futuro
mercado de trabalho que eles farão parte?; e se eles já trazem um conhecimento prévio, qual seria o
papel fundamental da escola? Roxane Rojo traz suas contribuições à baila do Grupo de Nova Lon-
dres:
Essa visão desessencializada (sic) de cultura(s) já não permite escrevê-la com maiúscula –
A Cultura –, pois não supõe simplesmente a divisão entre culto/inculto ou
civilizado/barbárie, tão cara à escola da modernidade. Nem mesmo supõe o pensamento
com base em pares antitéticos de culturas, cujo segundo termo pareado escapava a esse
mecanismo dicotômico – cultura/popular, central/marginal, canônica/de massa – também
esses tão caros ao currículo tradicional que propõe a “ensinar” ou apresentar o cânone ao
consumidor massivo, a erudição ao populacho, o central aos marginais. (ROJO, 2012, p.
13–14).
A proposição da autora sobre a construção coletiva através do diálogo vai ao encontro dos
conceitos de dialogismo e polifonia bakhtinianos; ao levar em consideração as várias vozes, culturas
presentes no discurso de cada sujeito, cria-se um ambiente diversificado sem a opressão de uma
ideologia dominante, processo bastante enriquecedor para o processo de aprendizagem coletivo.
Multiplicidade de linguagens
Nos dois primeiros tópicos tratamos sobre a diversidade cultural e a diversidade de lingua-
gens na escola, mas há que se pensar que toda a sociedade passou a ter acesso a esses textos multi-
modais, seja ele impresso, virtual, etc. Os textos multimodais são aqueles “[…] textos compostos de
muitas linguagens (ou modos, ou semioses) e que exigem capacidades e práticas de compreensão e
produção de cada uma delas (multiletramentos) para fazer significar” (ROJO, 2012, p. 19). Se a so-
ciedade passou a se comunicar e a se informar por meios e suportes que oferecem inúmeras possibi-
lidades, há que se pensar em maneiras de trabalhá-las criticamente, entender o funcionamento des-
ses meios e como gerar produtos a partir delas. “E como ficam nisso tudo os letramentos? Tornam-
se multiletramentos: são necessárias novas ferramentas – além das da escrita manual (papel, pena,
lápis, caneta, giz e lousa) e impressa (tipografia, imprensa) – de áudio, vídeo, tratamento de ima-
gem, edição e diagramação.” (Ibid, p. 21).
A pedagogia dos multiletramentos, nesse sentido, vem à tona para atender as novas deman-
das (discutidas nos tópicos anteriores) da sociedade contemporânea; já que a escola, para frisar uma
vez mais, é um espaço multicultural e até mesmo fronteiriço – com alunos de nacionalidades dife-
rentes, como é o caso de Corumbá e Bolívia – tem de pensar em discursos e práticas que contem-
plem todos os alunos, independentemente da classe social, do nível de erudição, além do pertenci-
mento à determinada cultura (por mais “exótica” que pareça), uma nova ética democraticamente
construída, que não oprima os diferentes e valorize justamente a alteridade e as possibilidades de se
aprender um com o outro. Não descartar os meios de comunicação, como o smartphone, em sala de
aula, mas sim utilizá-lo como ferramenta de pesquisa. Esta e muitas outras ações demonstram como
a pedagogia dos multiletramos tem dado ênfase à possibilidade de colaboração e interação das No-
vas Tecnologias da Informação e da Comunicação.
Assim posto, vimos que há inúmeras contribuições dessas novas perspectivas que, começam
com o GNL, mas já se mostraram pertinentes a outros contextos. E que no Brasil, além de ser bem
recebido pelos profissionais da educação ainda tem sido bem representado por pesquisadores com-
petentes, entretanto, como aponta a autora acima, tem-se vários embates pendentes ainda.