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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL

UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CAMPO GRANDE


LINGUAGEM E TECNOLOGIAS DIGITAIS

Gong Li Cheng1
Mariana Alice de Souza Miranda2

ROJO, Roxane Helena Rodrigues. Pedagogia dos multiletramentos: diversidade cultural e de


linguagens na escola. In: ROJO, R. H. R.; MOURA, E.. (Org.). Multiletramentos na Escola. 1ª ed.
São Paulo: Parábola Editorial, 2012, v. único, p. 11-32.3

 Diversidade cultural

A diversidade cultural é um fenômeno sobretudo da contemporaneidade, as Novas Tecnolo-


gias da Informação e de Comunicação (dos séculos XX e XXI) modifica(ra)m a constituição dos su-
jeitos, que, a partir de uma perspectiva sócio-histórica, constituem-se numa determinada cultura e,
simultaneamente, as influencia. Seus códigos e linguagens carregam as marcas do processo de cul-
turalização experienciado. Essa nova sociedade múltipla, consequentemente, é caracterizada pela
multiplicidade de textos, como aponta Roxane Rojo: “[…] multiplicidade cultural das populações e
a multiplicidade semiótica de constituição dos textos por meio dos quais ela [a sociedade] se infor-
ma e se comunica” (ROJO, 2012, p.13). O processo de informação que os jovens vivenciam em seu
cotidiano é hipermidiático, um dos fatos que explica a diversidade de linguagens no ambiente esco-
lar.

 Diversidade de linguagens na escola

Nessa visão contemporânea, das sociedades culturalmente híbridas, a escola passa a ter no-
vos desafios: como valorar o nível de aculturamento dos alunos, a partir dos diversos discursos pro-
feridos e textos produzidos em sala?; o que eles aprendem autodidaticamente é válido para o futuro
mercado de trabalho que eles farão parte?; e se eles já trazem um conhecimento prévio, qual seria o
papel fundamental da escola? Roxane Rojo traz suas contribuições à baila do Grupo de Nova Lon-
dres:
Essa visão desessencializada (sic) de cultura(s) já não permite escrevê-la com maiúscula –
A Cultura –, pois não supõe simplesmente a divisão entre culto/inculto ou
civilizado/barbárie, tão cara à escola da modernidade. Nem mesmo supõe o pensamento
com base em pares antitéticos de culturas, cujo segundo termo pareado escapava a esse
mecanismo dicotômico – cultura/popular, central/marginal, canônica/de massa – também
esses tão caros ao currículo tradicional que propõe a “ensinar” ou apresentar o cânone ao
consumidor massivo, a erudição ao populacho, o central aos marginais. (ROJO, 2012, p.
13–14).

1 Acadêmica de 2º Ano do curso de Licenciatura em Letras – Português, Espanhol e suas Literaturas.


2 Acadêmica de 2º Ano do curso de Bacharelado em Letras.
3 Resumo para a disciplina de LTD, ministrado pelo Prof. Dr. Ruberval Franco Maciel, no ano de 2017.
A visão exposta acima vai muito ao encontro do que alguns teóricos chamam de pós-moder-
nismo, já que, o (des)posicionamento é indeterminado, na medida em que já não se sabe quais são
os valores que devem ser passados pelas instituições de ensino aos futuros “partícipes pensantes” da
sociedade. Levando-se em consideração que a linguagem dos alunos é parte de um processo de in-
tensa influência multicultural, como desenvolver planos de ensino, de letramento, que abranja todas
essas especificidades multiculturais? Esta e outras questões foram pensadas pelo GNL e continuam a ser
desenvolvidas por pesquisadores e professores que vivenciam esses dilemas em seu ambiente de trabalho.

 Nova ética e novas estéticas


A nova ética de que fala Roxane Rojo diz respeito ao consagramento de determinadas auto-
rias, pois na concepção da autora, os alunos deveriam ter maior liberdade de escolha, já que, por
exemplo, a Internet oferece inúmeros materiais, comentários de outros internautas, interpretações
complementares que muitas vezes não estão presentes no referencial teórico que os professores
apontam aos alunos como o único utilizável. Nesse sentido, a apreciação de cada sujeito passa a
ocupar um lugar central no ambiente de aprendizagem, se há tantas possibilidades disponíveis e ao
alcance da maioria dos jovens, por que não os orientar criticamente para buscar um meio, um canal
de informação e comunicação, que, esteticamente os agradem?
Para tanto, são requiridas uma nova ética e novas estéticas. Uma nova ética que já não se
baseie tanto na propriedade (de direitos de autor, de rendimentos que se dissolveram na
navegação livre da web), mas no diálogo (chancelado, citado) entre novos interpretantes (os
remixers, mashupers). Uma nova ética que, seja na recepção, seja na produção ou design,
baseie-se nos letramentos […] (ROJO, 2012, p. 16).

A proposição da autora sobre a construção coletiva através do diálogo vai ao encontro dos
conceitos de dialogismo e polifonia bakhtinianos; ao levar em consideração as várias vozes, culturas
presentes no discurso de cada sujeito, cria-se um ambiente diversificado sem a opressão de uma
ideologia dominante, processo bastante enriquecedor para o processo de aprendizagem coletivo.

 Multiplicidade de linguagens
Nos dois primeiros tópicos tratamos sobre a diversidade cultural e a diversidade de lingua-
gens na escola, mas há que se pensar que toda a sociedade passou a ter acesso a esses textos multi-
modais, seja ele impresso, virtual, etc. Os textos multimodais são aqueles “[…] textos compostos de
muitas linguagens (ou modos, ou semioses) e que exigem capacidades e práticas de compreensão e
produção de cada uma delas (multiletramentos) para fazer significar” (ROJO, 2012, p. 19). Se a so-
ciedade passou a se comunicar e a se informar por meios e suportes que oferecem inúmeras possibi-
lidades, há que se pensar em maneiras de trabalhá-las criticamente, entender o funcionamento des-
ses meios e como gerar produtos a partir delas. “E como ficam nisso tudo os letramentos? Tornam-
se multiletramentos: são necessárias novas ferramentas – além das da escrita manual (papel, pena,
lápis, caneta, giz e lousa) e impressa (tipografia, imprensa) – de áudio, vídeo, tratamento de ima-
gem, edição e diagramação.” (Ibid, p. 21).

 “Pedagogia” dos multiletramentos


O termo “pedagogia” utilizado por Roxane Rojo leva em consideração os itens “nova ética”
e “novas estéticas”.
[…] são requeridas uma ética e várias estéticas e aí se encontra um trabalho que a escola
pode tomar para si: discutindo criticamente as “éticas” ou costumes locais, constituir uma
ética plural e democrática; discutindo criticamente as diferentes “estéticas”, constituir
variados critérios críticos de apreciação dos produtos culturais locais e globais. Aqui,
estamos no domínio das atitudes e valores, que também se aplicam às línguas (e suas
variedades), às linguagens e suas combinações e às práticas letradas em suas variedades (e,
logo, justifica-se uma área de línguas/linguagens nas escolas). (ROJO, 2012, p. 28).

A pedagogia dos multiletramentos, nesse sentido, vem à tona para atender as novas deman-
das (discutidas nos tópicos anteriores) da sociedade contemporânea; já que a escola, para frisar uma
vez mais, é um espaço multicultural e até mesmo fronteiriço – com alunos de nacionalidades dife-
rentes, como é o caso de Corumbá e Bolívia – tem de pensar em discursos e práticas que contem-
plem todos os alunos, independentemente da classe social, do nível de erudição, além do pertenci-
mento à determinada cultura (por mais “exótica” que pareça), uma nova ética democraticamente
construída, que não oprima os diferentes e valorize justamente a alteridade e as possibilidades de se
aprender um com o outro. Não descartar os meios de comunicação, como o smartphone, em sala de
aula, mas sim utilizá-lo como ferramenta de pesquisa. Esta e muitas outras ações demonstram como
a pedagogia dos multiletramos tem dado ênfase à possibilidade de colaboração e interação das No-
vas Tecnologias da Informação e da Comunicação.

 Embates quanto à “pedagogia” dos multiletramentos


Roxane Rojo diz que a maioria do corpo docente tem recepcionado bem as novas práticas
da pedagogia dos multiletramentos. No entanto, aponta que ainda há desafios para que se concretize
mais contundentemente essas novas práticas de ensino:
(a) o que fazer quanto à formação/remuneração/avaliação de professores;
(b) o que mudar (ou não) nos currículos e referenciais, na organização do tempo, do espaço
e da divisão disciplinar escolar, na seriação, nas expectativas de aprendizagem ou
descritores de “desempenho”, nos materiais e equipamentos disponíveis nas escolas e salas
de aula. (ROJO, 2012, p. 31).

Assim posto, vimos que há inúmeras contribuições dessas novas perspectivas que, começam
com o GNL, mas já se mostraram pertinentes a outros contextos. E que no Brasil, além de ser bem
recebido pelos profissionais da educação ainda tem sido bem representado por pesquisadores com-
petentes, entretanto, como aponta a autora acima, tem-se vários embates pendentes ainda.

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