Introdução à Estilística: A expressividade na língua
portuguesa. São Paulo: EDUSP, T. A. Queiroz (Ed), 19891.
Gong Li Cheng2
A linguista Nilce Sant’Anna Martins começa o seu capítulo “A conceituação de
estilística” apontando as diversas acepções que o termo “estilo” foi ganhando nos estudos linguísticos. Etimologicamente, a autora aponta que o termo estilo vem da palavra latina stilus, que designava um instrumento pontiagudo para escrever nas tabuinhas enceradas, que, posteriormente, ganhou o sentido de escrita e também o modo com o qual se escreve. Nos estudos linguísticos e literários, o termo estilo ganhou várias acepções: desvio da norma, elaboração da escrita, artifício meramente literário, artifício de todas as manifestações linguísticas, características individuais, características coletivas, entre muitas outras significações. Após passar por alguns teóricos que visavam definir a área da estilística enquanto campo de estudo da linguagem, a linguista data o momento em que de fato a estilística vai ser pensada como um dos níveis da língua, se pensarmos em confluência com o estruturalismo saussuriano. No século XIX, a palavra estilística já era utilizada; mas é apenas no século XX que a linguística vai reconhecer a estilística como uma espécie de substitua da retórica ou de sua complementação teórica. Muitos teóricos, inclusive pesquisadores que tinham como campo de estudo a língua portuguesa, passaram a ampliar, por exemplo, a ideia do ensino de língua, já que as questões de estilística se mostraram úteis para equilibrar o ensino, que era demasiadamente normativo, isto é, seguia apenas os preceitos da gramática normativa. A exemplo dos pesquisadores que se ocuparam da língua portuguesa, Mattoso Câmara Júnior, em Contribuição à estilística portuguesa (1952) passa a relacionar melhor as questões gramaticais com as questões estilísticas. Para o autor, a estilística daria conta de pensar a maneira como exprimimos nossos estados psíquicos, nessa perspectiva, à estilística cabe dar forma a estados da realidade humana que não são contemplados pelo “sentido literal”, isto é, o sentido denotativo. A autora realizando um movimento historiográfico da estilística, na cultura ocidental, revela-nos as influências que as classificações feitas por Aristóteles na 1 Fichamento para a disciplina de Língua Portuguesa IV, da Profa. Ma. Maiara Cano, da UEMS- UUCG, no ano letivo de 2019. 2 Acadêmica do curso de Licenciatura em Letras – Português, Espanhol e suas Literaturas da UEMS- UUCG. Poética e na Retórica legaram até as formulações mais linguísticas do século XX. Para o filósofo era essencial classificar os gêneros das obras literárias de seu tempo, além de identificar os recursos formais utilizados para a composição dessas. Como é sabido, sua principal contribuição veio a se tornar a ideia de mimeses ou de verossimilhança, que estabelece como princípio que as histórias de ficção sejam críveis, ainda que seja preferível o impossível crível do que o possível incrível. Nesse sentido, Aristóteles quis dizer que através de recursos formais a língua consegue dizer o impossível de forma crível, de maneira que os leitores ou espectadores não só compreendem como também creem que a situação representada ou encenada poderia acontecer na realidade. Posteriormente, mais preocupado com as questões de argumentação, Aristóteles nos deixa a Retórica, na qual o filósofo explica a função da metáfora e outras figuras que auxiliam na construção de uma argumentação, que segue os princípios do raciocínio lógico. Para Nice Sant’Anna Martins, Aristóteles contribuiu para perpetuar a ideia de que a estilística é estritamente um domínio da literatura. Quando, de fato, trata-se de um recurso da expressividade em sentido amplo. Que pode estar presente tanto na oralidade quanto na escrita. Além de assumir os mais diversos usos, que podem estar ligados ao léxico escolhido, aos sentidos gerados, até mesmo à formação das palavras e sua sonoridade. Dessa forma, a autora demonstra como a preocupação com a estilística é uma questão recorrente no pensamento ocidental, além de contribuir para pensarmos a estilística nos dias de hoje, bem como as suas implicações no ensino de língua, seja vernácula ou estrangeira.