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18, nik und de apitalsmus, 1904-5] repo em Gesan mete Auteur Aeligionsocolaje | 1906: 61) ticular que recebe a identidade nacional. Er vez de trata- "incorporada € aceita sem discuss6es, prefiro examind-la mente, quando sé entB0 a considerarei em condipées de ser comentada Nao tem sentido falar-se em sentimento de identidade ‘nacional antes da Independéncia. Até a chegada do futuro . Jodo VI a0 Rio de Janeiro, em 1808 - dez anos antes de crescents OINRIU ue, entre seus nabitantes,né0 havia nerhum sentimento de subordinag a um Estado: cconfianga respondia a confianca nas relagdes do individuo para o individuo, ndo nas relagdes de individuo para 0 Estado" (op.cit. 98); endo a prépria colonia dividida entre 1 Estados do Maranhao e do Brasil, s6 no momento do nga de uma populagd0 continuo, que fala uma iados € traz internalizados havi se resumido 8 bosinagen dizimadas quando da colonizagao, ou reduzidas, quando nao fossem salvas por serem ignoradas, a grupos dispersos. Oesbogo de um Estado moderno, que comega de improviso com a chegade da corte portuguesa, com seus pressupostos de “order legal, burocracia, jursdigao compulsria sobre um terrtério e monopdlo do uso legitimo da fore’, conforme a sintese de Max Weber oferecida por Reinhard Bendix (Bendix, 1962: 418), confrontar-se-a, no momento da “ndependéncia, com um Estado-nagio .. sem nagSo. Em vez de 0 Estado conformer sua atuacéo a usos e costumes, 2 situacio de fato o obrigava @n&o interfer nos poderes jj estabelecidos dos danas de terra. Nao estranha, pois, a esforgo da primeira geracSo da intelligentsia brasileira em procuar forjar um sentimento de nacionaldade; muito menos surpreende que ela elegesse literatura como 0 ‘eiculo adequado para o que carecia o pais recém-independente. Basta que se Ieia a frase de abertura do “Discurso sobre a historia da literatura no Brasil", que Gongalves de Magalhdes, visconde do ‘Araquaia, publica, no primeiro nimero da revista Niterdi;, O visconde escrevia em tempo presente, com seus infindavels "©, "8,0 que, historicamente, deveria suceder no futuro: *A literatura de um povo serd.”. Masa corrego gramatical nao s6 era impropria como tornatia mais descabios 0 superativas ~o "mais & sublime, 0 “mais flos6fico", o “mais herdico", 0 “mais belo”. Os ualificativos eram indispensavels ao visconde enquanto membros, de uma cadeia retorica vazia; necessariamente vazios porque por que essa fantasia precisava recorrer a uma retérica aca, que sempre selecionava o superlativo, sendo porque sé ela, enquanto ‘ca, estava em consondincia cam o estado de coisas? Recordemos bbrevemente: Portugal fizera da imensa colénia um mero entreposto ‘comercial, destinado a exportar para 0 reino uns poucos produtos. Coma 0 ouro sé foi abundante por um curto periodo ¢ exclusivo. 2 uma regido, qualquer coisa servia para exportar, desde madeiras até 0 ani Os encarregados da politica do principe regent e depos re procuraram armar de sibito um arcabougo institucional que atendesse ao imprevisto de que o Ro, endo mals Lisboa, fsse agora 4 capital do reno, Mas nem Portugl tinha muito o que fazer 20 tmigrar para @ transigo em que a colbnia se eneontrava, nem muito menos o aparato de Escolas ¢ Academias entdo implantadas visava_ mais do que atender caéncis imediats.O resultado €haver-se constituido o que i se bem chamau de “cultura de ‘exterividade Com base nos ——— que estveram no Brasil do séeulo XIX, 1 -epossivelinfere que se constitu aqui uma cultura ‘voltada para fora, orientada primoraialmente pela introdugio de itenslgados 20 conforto material, a0 luxo € aos encantos exteriores da vide social, muito antes da consciéncia da necessidade de serem implantadas insttuigdes de ensino, formadoras, de praticas culturaisregulares e sérias" (Veloso e Madeira, 1999: 65)° Paradoxalmente,@ necessidade de constituir uma negdo que desse vida e concretude ao aparato burocrtico-coeritivo do Estado promoveu uma cultura pra inglés ver. € a partir do reconhecimento externo que se pretende estabelecer uma imagem interna do pals, e, um sentimento de identidage Como a caréncia era do proprio sentimento de nacionalidade, «nada do que o homem aqui fizera no passado era bastante alorioso, 0 caminho adequado consistia em enfatizar a peculiaridade da natuteza. Dal o imenso prestigio que assumir, entre nés, um viajante que aqui chegara sem saber muito bem ( que fazer, Ferdinand Denis. Seu Resumé dhistoirelittéraice. ‘du_Brésil (1826) seré 0 guia de nossa geracao romantica "Nessas belas paragens,tdo favorecidas pela natureza, 0 pensamento deve alargar-se como 0 espetdculo que se Ihe oferece; majestoso, gragas 2 obras-primas do passado, tal pensamento deve permanecer independente, no procurando outro Auia que a observacao. Enfim, a América deve ser livre tanto na sua poesia, como no seu governa” (Denis, 1978:36) 1 Como tengo evens no pss ds preci peas de eaeran ites aa ser que xrdeno mere Nemo fst af de aumentarnasos indices detxpotaga0 se acompanna do descaso pele uaa des rstivines formar Parc ert simtomatin que pire Bildung oe com temo esangeia eo nk sae ‘Na mesma teclainsistirio Garrett, Herculano, Ferdinand Wolff. Cria-se uma norma para o escrito: nao € brasileiro quem no exalt sua natureza Seu realee, motivo e inflamado, seria no 56 de parémetro para que o estrangeiro reconhecesse 2 letra brasileira, como para que o proprio brasileiro ai encontrasse a imagem que se pretendia fxar do pais. 0 topos va natureze tropical fe tal fortuna que uin anni Gz escreve uma pequera alegoria, “Os Monumentos em ruina’, que mereceria um pouco mais de atenga0 do que Ihe temas dado, Sabe-se que o culto das ruinas se incorporara 8 sensibilidade romantica ocidental desde Le Génie du christianisme (1802). 0 anénimo Gz nao se limita a adapté-la a0 caso brasileiro, sendo assinala sua nota espectfica: Para o andnimo autor, as ruinas no fazem, como para Chateaubriand, pensar na transitoriedade do tempo. Nos trdpicos, elas supdemn um passado de destruicao e um futuro, de descanso e confarto, Nao se ousa dizer 0 que o presente deveria fazer para provocar a metamorfose, No unico niimero Publicado do Ostensor brasileiro, o autor desconhecido converte a constatacao hiigotética de Goncalves de Magalhes fem remansosa utopia - dela se destaque nfo haver lugar. ‘para.a reflexio, mesmo que fosse a mais supeficial. €m um ‘tempo futuro, escarneceriamos da Europa porque, em vez de = templos € palacios, a natureza nos abrigaria com seus “sitios 4 < graves € melancélicos", aptos para nosso inefavel descanso. (Gz prenuncia os resorts que a hotelaria norte-americana espalharia pelo mundo). Eo sae (Capctso da natureza tropical como valor foi, portanto, 2 primeiro trago que, entre nds, se internalizou como, indicativo de nossa identidade nacional, Ela logo daria lugar 8 contraposicao entre postura metropolitana e autenticidade fundada em usos e costumes lacais. Ela se coneretize nos ‘Polos Nabuco, como sindnimo de cosmopolitismo, ¢ Euclides 4a Cunha, como exltador do “rsa de racha’osertanei, Nao hé clive que um fteretura, sbretudo ‘epresentante de uma dita esséncia nacional, Cosmopolitismo € ma literatura nascent, deve rincipalmente localsmo (ou regionalsma) atuazavam pois, respectvamente, _plimentar-s dos assuntos que Ihe oferece a sua ‘© que nao deveria ser € 0 que deveria fazer o intelectual aldo; mas ndo estabelegamos doutrinas tao brasileiro. Mas, para compreender-se 0 que se propuna pbsolutas que 2 empobrecam. Og Como brailidade, no basta acentuar odesdobramento cue $8 pari da exigencia co sertmento de nag. Hé nda ‘de se pensar sobre a propria constituicdo deste sentimento Mas seus cuidados no foram bastantes para que, contra devrasse des abate mio pesode de Sibi Romera Pare le, as caracterstcas de Machado deivam do mal Capacidade de ita, decorrencia de nossa estos efantasists".O seu humor" uma pouco hab de vérios autores inglese spantar porque “o humor [é] essa parti xplictava o documentalsma, Assim os nossos realises apenas do componente ‘sentimental. Na verdade, nossa composicaorealistaé vm Brolongamento, com pequena varacdo, da matiz romantic, fsta continuidade faria com que o cuto da naco, pelo real a natureza,cobrisse todo o século XI com uma unica excesdo imprescindvel: Machado de Assis, Nao estranha, pois, ue Seia 0 mesmo Machado que reagria & norma da natureza camo taco de breslidade. om toda a polide de quem sabia ‘star navegando contra a corrente,sobretudo em se tratando de um tema no sitet, mas fundamentalmente poco, lescrevia Machado, no seu “Instinto de ‘nacionalidade”: z 2 ae Se 22 sergipano, a presenga da natureza na qualificagdo do escritor ‘eapareceria mais de cinqienta anos, em ensaio de Gilberto Freyre. Em Reinterpretando José de Alencar, Freyre contrastava 0 “paisagismo eloguente” de Alencer, cujo “radicalismo de roméntico estava em no desejar a relva brasileira abafada pelo chamado tapete europeu’, com a auséncia de paisagem em Machado, em que insinuava encontrar-se preconceita contra ‘© homem de cor:“[E] dentro de casa (.) que ele se defende da meméria de ter nascido mulato e quase em mucambo e de ter crescido menino de rus e quase moleque. (Frere, 1986: 6,16, 9}. Com sua inegavel habilidade, Gilberto Freyre combinava 0 Tepidio & antropologia bioldgica com a manutengdo do legado romantico ~ 0 culto da natureza como trago pelo qual se peculiarizava 0 intelectual brasileiro Em suma, parecendo & primeira gerapao do lmpeério que a falta de sentimento nacional comprometia a estabilidade do Estado- nado, empenhou-se ela em utilizar a literatura como a arma principal contra a caréncia.Ainda que, 2 longo do século XIX, prolongando-se pelo XX, o critério nacionalstatenha softido ‘modificagdes ¢ tenha se enrijecido de maneira 8s vezes racista eequase sempre caricata, hd de se dizer que ele teve amplo sito. Sua vitoria servi 0 menos do panto de vista sécio- politic. © mesmo nao pode se dizer da literature, Mas poderia ser de outra maneira? “L.1 O escrito brasileiro guardou sempre algo daquela vocardo patidtico-sentimental(.};0 ppublico, do seu lado, sempre tendeu a exigi-la como critrio de acitagdo reconhecimento do escrito ‘Anda hoe, acor local, exibig afetiva,opitoresco deseritivo ea eloqiéncia sdo requisites mais ou menos prementes, mostrando que o homem de letras foi aceto como cidadao, dsposto a falar aos arupos;€ como amante da terra, pronto a celebr-ta com arroubo, para elfieago de quantos, mesmo sem ole, estavam dispostos @ guvisi” (Candido, 1985:81-2) ¢ Internamente, isto é, na relagio do escritor com sua obra, 05. ‘elementos a explorar ~ retérica afetiva,nativismo, pitoresco descritivo, ete. condicionavam (¢ condicionam) uma obra fluentemente rasteira; externamente, na relagdo da obra com o piiblico, tal limite deveria € continua a no dever ser ultrapassado, porque o nivel de tolerancia do leitor brasileiro ra e continua baixo. E por que é baixa sua tolerancia de recepeéo? Porque em instante algum dele se exigiu a prética da reflexividade? Enquanto dela permanecermos carentes, ‘©. que chamamos de brasilidade continuard dependente de ‘marcas leves, caracterizadas por sua intolerancia ao que exige imaginagao trabalhada efou conceitualidade rigorosa, Ora, a leveza em que se sustenta nossa aferigéo da identidade acional hoje se confronta com uma sociedade mundialmente moldada por comandos eletrénicos e mediaticos. Nas Sociedades cuja identidade de um ou outro modo privilegiou a refiexividade, 0 isco ¢ menor: 20 lado dos contingentes quase Paviovianos, ha setores suficientes para que a produco do saber intelectual néo estagne. Mas que dizer de nossa situagao? Sea nossa literatura, apesar de todas os eritrios fcilitadores, ‘8 era, como dizia Céndido, “uma literatura sem leitores" (op. cit, 82). que pode suceder a toda 2 nossa produséo intelectual {que nao seja movida por um interesse téenico-industrial? 0 quadro se torna mais grave se recordarmos que, depois 4a uitima ditadura militar, os governos que se sucederam /mostraram, de igual, uma absoluta inapeténcia em constituir ‘uma politica educacional e cultural 0 destaque atual nos restos de cultura popular, com o estimulo & praticae difusdo da capoeira, da ubanda, do maracatu, ete seria louvével, caso. elas ndo apontassem como fildes a alimentar a “industria cultural"; a maneira de que assim néo se desse, a0 menos: er cxclusivamente, estaria em que tal estimulo se desdobrasse €m seu exame antropolégico. Mas isso, para nossas presentes sutoridades, seria estimular 0 "erudito’, algo a ser evitado. Em sintese: neste curto comentéria no cabe acentuar todos ontos que eu gostaria. Apenas 0s elenco:aidentidade inal é um fenémeno sécio-politico cujo peso ndo $2 desconhece, nem deverd sé-lo, No caso brasileiro, a nsideragao da identidade teve de atacar uma deficiéncia nical: como ndo havia sentimento de nagdo, logo depois de proclamade @ Independencia, este teve de ser construido e desenvolvido artficialmente. A partir da natureza,criou-se 9 nativismo ¢ estimulou-se a ret6rica sentimental, Scio- Boliticamente, a construgao teve éxito. Mas, ao mesmo Po, alijou-se a capacidade reflexiva,Criatam-se assim dois problemas: 1. ainda de ordem séciopolitia: eleger certo critério ‘como 0 adequado para certa identidade nacional equivale #@ Considerar marginal todo aquele individuo ou grupo que Bi ndo se enquatre, Pata vit, scr preciso entender que. ‘fendmena dentro da oem da design, © no dos valores Alguém néo se valrza porque sua conduta seque ‘=is0u quis parbmetrosidemitros; 2. sera identidade de orem séciopotic sige que, noutasordens, la é um ctitroinvdio, se no mesmo danas, Dai havermos dit que seu instrumento principal trata, padceu epadece, 20 se he apie rtéro de bresidade Ninguém terécuvido falar em uma quimica ou uma fisca brasileira, mas sim em uma quimice ou uma fisceproduzda no Basi Mas todos nbs torramos come inontestes as exresiesteratura brasil, francesa italiana et. Mas que entendemos por itratura? Al Feevatios- na verdad, nto sé nds. Ententaraparad exge apactade reflexive Exatamente aquela de que a bresildade Sempre nos sentou, considerando-a, de um lad, prépria das cultures madras, se no envehectes, de outro, desnecessria em terra de tntas cores, chiros e sabores Assim consttuid, 2 brasidade se ornou um frdo, que ou desfiamos, ou nos mantera em nossa permanente situagdo de marginalidade. Rio de Janeiro, outubro, 2005 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS. ASSIS, Machado de. [1873], Instnto de nacionalidade In COUTINH, A Obras completes v. I. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1962 BENDIX R, Max Weber [1960]. An inteletual portrait New York: Doubleday Anchor Bok, 1962, CANDIDO, Antonia [1955]. 0 Eseritor eo pbc, In Literatura € sociedad: So Paul: Companhia Esitora Nacional, 1965, pp. 73-68 DENIS Fernand, [1826], Resumo de histéxaliterria do Brasil In CESAR, Guilhermino (org). Historiadorese crticos {4 romantisme, 1. 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