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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

Instituto de Educação a Distância

Licenciatura em ensino de português

Trabalho de Campo da Disciplina de Linguística Geral

Armando Cardoso

Turma T, Código-708223396

Relação entre Língua e Sociedade

Docente:

Orlando Silvestre
_______________

Nampula

Novembro

2022
Armando Cardoso

Licenciatura Em Ensino De Português

Trabalho de Campo da Disciplina de Linguística Geral

Código-708223396

Turma: T

Relação entre Língua e Sociedade

Trabalho a ser apresentado no curso de


licenciatura em ensino de português na
Universidade Católica De Moçambique
Tutor: Orlando Silvestre

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

Instituto de Educação a Distância

Nampula

Novembro

2022

1
Índice
Introdução ................................................................................................................................... 3

Objectivos ................................................................................................................................... 3

Geral ........................................................................................................................................ 3

Específicos .............................................................................................................................. 3

Metodologias .............................................................................................................................. 3

1. Relação entre Língua e Sociedade .......................................................................................... 4

1.1. Conceitos ......................................................................................................................... 4

1.1.1. Língua ........................................................................................................................... 4

1.1.2. Linguagem ........................................................................................................................ 5

1.1.2.1. Tipos de linguagem .................................................................................................... 5

1.1.3. A fala ................................................................................................................................ 6

1.2. Variação e mudanças linguísticas ........................................................................................ 6

1.2.1. Tipos de variações linguísticas ..................................................................................... 7

1.2.2. Preconceito linguístico .................................................................................................. 9

1.2.3. Linguagem formal e informal ..................................................................................... 10

1.3. Mudança linguística ....................................................................................................... 11

1.3.1. Causas da mudança linguística ................................................................................ 11

1.3.2. Caracterização da mudança linguística ....................................................................... 11

2. Conclusão ............................................................................................................................. 14

3. Referências bibliográficas .................................................................................................... 15

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Introdução

O presente trabalho fundamenta-se no pensamento de Foucault, Labov e Boudieu. Objetiva


relacionar língua e sociedade, mostrando que a sociedade humana não se constitui sem a
linguagem, da mesma forma que a língua não se realiza fora das relações sociais.

Não se pode negar a relação existente entre língua e sociedade e para analisá-la fez-se um
percurso que inicia com a análise entre língua e contexto sociocultural, passando pela relação
entre a língua e a posição social do falante e finalizando com a análise entre mudança
linguística e movimento de classe. No primeiro momento, argumenta-se que a língua ganha
significação a partir de seu contexto de produção e que o falante não fala por si só, sua fala
não é fundamentada em sua individualidade, mas em uma colectividade social, sendo que sua
fala é representante de um grupo social, por isso, quando há variações linguísticas, o valor
social é transplantado para a forma linguística, isso quer dizer que quando há duas formas
linguísticas a que é produzida por um grupo social de maior status, geralmente, tem maior
valor social.

Objectivos

Geral

 Falar de forma detalhada sobre a Relação entre Língua e Sociedade

Específicos

 Falar e conceituar a língua e a linguagem, não deixando os aspectos que os


constituem.
 Falar da variação linguista e da mudança linguística.

Metodologias

Para a realização do presente trabalho, baseou-se no método bibliográfico que consistiu


na consulta de diversas obras que versam sobre o tema em análise. De referir que as
mesmas obras constam na bibliografia final do trabalho.

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1. Relação entre Língua e Sociedade

A relação entre língua e sociedade apresenta influência mútua, pois através da linguagem se
participa das relações sociais de poder e as mudanças na estrutura social são decorrentes da
dinâmica dessas relações. A língua não é um corpo autónomo capaz de determinar as relações
sociais, como também não é determinada pela estrutura social, mas há uma relação de
influências entre elas, por isso que pela análise linguística pode-se compreender elementos
importantes da estrutura social, como também pela análise das relações sociais pode-se
compreender muito dos processos linguísticos. A língua não está deslocada de um contexto
sociocultural, sua significação é decorrente de seu contexto de produção, sua força simbólica
se potencializa a partir da força do grupo social que a produz. A língua, assim como a
sociedade, não é um corpo estático, há transformações significativas no decorrer do processo
histórico, a mudança linguística não ocorre isolada do movimento de classe, muito embora ela
não seja determinada por ele, há uma relação entre a mudança linguística e o movimento de
classe, em que este só se completa quando ocorre a mudança linguística e, ao mesmo tempo,
ela é um reflexo do movimento de classe. Assim, não se pode negar a relação de influências
mútuas entre língua e sociedade.

1.1. Conceitos

1.1.1. Língua

É um conjunto organizado de elementos (sons e gestos) que possibilitam a comunicação. Ela


surge em sociedade, e todos os grupos humanos desenvolvem sistemas com esse fim. As
línguas podem se manifestar de forma oral ou gestual.

Língua é somente uma parte determinada, essencial dela, indubitavelmente. É ao mesmo


tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções
necessárias, adoptadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos
indivíduos. Tomada em seu todo, a linguagem é multiforme e heteróclita; a cavaleiro de
diferentes domínios, ao mesmo tempo física, fisiológica e psíquica. A língua é um “sistema de
signos” um conjunto de unidades, ocorrendo uma relação entre significante (imagem
acústica) e o significado (conceito). (Saussure, 1970, p. 17).

Partindo do ponto de vista de Saussure:

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A língua existe na colectividade sob a forma duma soma de sinais
depositados em cada cérebro, mais ou menos como um dicionário cujos
exemplares, todos idênticos, fossem repartidos entre os indivíduos.
Trata-se, pois, de algo que está em cada um deles, embora seja comum
a todos e independa da vontade dos depositários (Op. Cit. 1970, p.27).

Logo, essa “colectividade sob a forma duma soma de sinais depositados em cada cérebro”,
manifesta-se em duas formas: na fala e escrita. Através da fala e da escrita é possível notar a
dimensão histórica da língua, por meio do seu carácter social. A língua existe desde os
primórdios, nascemos com ela já imposta, já feita e muito bem definida por seus usuários, ela
é comum a todos os seres humanos e é através da língua que podemos nos comunicar com
diversas pessoas, de diversos países, continentes e hemisférios.

1.1.2. Linguagem

É toda forma que o ser humano usa para se comunicar. A linguagem inclui a língua que, por
sua vez, é um sistema convencionado pelos homens e utilizados por grupos. Um desses
sistemas convencionados é a Gramática, ou seja, as regras que estabelecem o uso de uma
língua.

Nesse sentido, a linguagem inclui também a língua, pois através dela e com a língua materna,
os falantes nativos conseguem se expressar de maneira clara entre os seus.

Todavia, qualquer conjunto de sinais e signos é considerado linguagem. Códigos linguísticos,


placas de trânsito, mímica, dança, gestos corporais, comportamentos, tudo isso pode ser
considerado linguagem. Por sua vez, a linguagem é dividida em verbal, não-verbal ou mista.

1.1.2.1. Tipos de linguagem

Existem diferentes tipos de linguagem:

 Verbal;
 Não-verbal;
 Mista.

A linguagem verbal é aquela que utiliza palavras para transmitir uma mensagem. Os códigos
usados na linguagem verbal acabam por facilitar a comunicação entre o emissor e o receptor.

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Todavia, um exemplo de linguagem verbal é a língua. Por sua vez, para que a comunicação
entre emissor e receptor seja estabelecida, ambos devem compreender a mesma língua.

Exemplos: e-mail, jornal, livro.

A linguagem não-verbal é aquela que utiliza imagens, sinais, gestos, entre outros para
transmitir uma mensagem. A princípio, a linguagem não-verbal pode ser considerada como
toda comunicação estabelecida por outros meios que não com o uso das palavras. Neste caso,
bons exemplos são gestos, expressões corporais e símbolos.

1.1.3. A fala

Segundo GUY (2000), a fala é uma linguagem oral que, além disso, recorre à língua para se
manifestar. Por exemplo, as pessoas falam português, inglês, espanhol, entre tantas outras
línguas.

Conforme o contexto dos seus falantes, surgem diferentes níveis da fala: a fala coloquial e a
fala culta.

A fala coloquial é utilizada em situações informais, logo, comum no dia a dia dos falantes,
cujo vocabulário pode ser mais simples e marcado por gírias.

A fala culta é utilizada em situações formais e, assim, o vocabulário é mais polido.

1.2. Variação e mudanças linguísticas

Segundo Beline (2004), a variação linguística é o movimento comum e natural de uma língua
que varia principalmente por factores históricos e culturais. Modo pelo qual ela se usa,
sistemática e coerentemente, de acordo com o contexto histórico, geográfico e sociocultural
no qual os falantes dessa língua se manifestam verbalmente.

É o conjunto das diferenças de. É o conjunto das diferenças de realização linguística falada
pelos locutores de uma mesma língua. Tais diferenças decorrem do fato de um sistema
linguístico não ser unitário, mas comportar vários eixos de diferenciação: estilístico, regional,
sociocultural, ocupacional e etário.

Quando falamos em variação linguística, analisamos os diferentes modos em que é possível


expressar-se em uma língua, levando-se em conta a escolha de palavras, a construção do
enunciado e até o tom da fala. A língua é a nossa expressão básica, e, por isso, ela muda de
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acordo com a cultura, a região, a época, o contexto, as experiências e as necessidades do
indivíduo e do grupo que se expressa. Veja quantos fatores empregamos para adequar a nossa
fala à situação e ao grupo em que nos encontramos.

1.2.1. Tipos de variações linguísticas

Beline (2004), afirma que há quatro tipos de distinção dentro das variações linguísticas:

I. Variações históricas (diacrónicas)

As variações históricas tratam das mudanças ocorridas na língua com o decorrer do tempo.
Algumas expressões deixaram de existir, outras novas surgiram e outras se transformaram
com a acção do tempo.

Um clássico exemplo da língua portuguesa é o termo “você”: no português arcaico, a forma


usual desse pronome de tratamento era “vossa mercê”, que, devido a variações inicialmente
sociais, passou a ser mais usado frequentemente como “vosmecê”. Com o passar dos séculos,
essa expressão reduziu-se ao que hoje falamos como “você”, que é a forma incorporada pela
norma-padrão (visto que a língua adapta-se ao uso de seus falantes) e aceita pelas regras
gramaticais. Em contextos informais, é comum ainda o uso da abreviação “cê” ou, na escrita
informal, “vc” (lembrando que estas últimas formas não foram incorporadas pela norma-
padrão, então não são utilizadas na linguagem formal).

Vossa mercê → Vosmecê → Você → Cê

Outras mudanças comuns são as de grafia, as quais as reformas ortográficas costumam


regular. Assim, a partir de 2016, a palavra “consequência” passou a ser escrita sem trema,
sendo que antes era escrita desta forma: “consequência”. Do mesmo modo, a palavra “fase” é
hoje escrita com a letra f devido à reforma ortográfica de 1911, sendo que antes era escrita
com ph: “phase”.

Consequência → Consequência

Phase → Fase

Vale, ainda, comentar a respeito de palavras que deixam de existir ou passam a existir. Isso
acontece frequentemente com as gírias: se antes jovens costumavam dizer que algo era
“supimpa” ou que “aquele broto é um pão”, hoje é mais comum ouvir deles que algo é “da
hora” ou que “aquela mina é mó gata”.
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II. Variações geográficas (diatópicas)

As variações geográficas naturalmente falam da diferença de linguagem devido à região.


Essas diferenças tornam-se óbvias quando ouvimos um falante brasileiro, um angolano e
um português conversando: nos três países, fala-se português, mas há diferenças imensas
entre cada fala.

Não é preciso que a distância seja tão grande: dentro do próprio Brasil, vemos diferenças de
léxico (palavras) ou de fonemas (sons, sotaques). Há diferenças entre a capital e as cidades do
interior do mesmo estado. Observemos alguns exemplos de diferenças regionais:

“Mandioca”, “aipim” ou “macaxeira”? Os três nomes estão correctos, mas, dependendo da


região do Brasil, você ouvirá com mais frequência um ou outro. O mesmo vale para a
polémica disputa entre “biscoito” e “bolacha”, que se estende para todo o território nacional.

As gírias também variam bastante regionalmente: cerveja pode ser conhecida como “bera” em
regiões do Paraná, “breja” em São Paulo e “cerva” no Rio de Janeiro.

III. Variações sociais (diastráticas)

As variações sociais são as diferenças de acordo com o grupo social do falante. Embora
tenhamos visto como as gírias variam histórica e geograficamente, no caso da variação social,
a gíria está mais ligada à faixa etária do falante, sendo tida como linguagem informal dos mais
jovens (ou seja, as gírias atuais tendem a ser faladas pelos mais novos).

Há, ainda, expressões informais ligadas a grupos sociais específicos. Um grupo de


futebolistas, por exemplo, pode usar a expressão “carrinho” com significado específico, que
pode não ser entendido por um falante que não goste de futebol ou que será entendido de
modo distinto por crianças, por exemplo.

Um grupo de capoeiristas pode facilmente falar de uma “meia-lua”, enquanto pessoas de fora
desse grupo talvez não entendam imediatamente o conceito específico na capoeira. Do mesmo
modo, capoeiristas e instrumentistas provavelmente terão mais familiaridade com o conceito
de “atabaque” do que outras pessoas.

Como vimos, as profissões também influenciam bastante nas variações sociais por meio dos
termos técnicos (jargões): contadores falam dos termos “ativo” e “passivo” para remeter a

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conceitos diferentes daqueles usados por linguistas. No entanto, em ambos os casos, ativo e
passivo são conceitos muito mais específicos do que seu uso geral em outros grupos.

IV. Variações estilísticas (difásicas)

As variações estilísticas remetem ao contexto que exige a adaptação da fala ou ao estilo dela.
Aqui entram as questões de linguagem formal e informal, adequação à norma-padrão ou
despreocupação com seu uso. O uso de expressões rebuscadas e o respeito às normas-padrão
do idioma remetem à linguagem tida como culta, que se opõe àquela linguagem mais
coloquial e familiar. Na fala, o tom de voz acaba tendo papel importante também.

Assim, o vocabulário e a maneira de falar com amigos provavelmente não serão os mesmos
que em uma entrevista de emprego, e também serão diferentes daqueles usados para falar com
pais e avós. As variações estilísticas respeitam a situação da interacção social, levando-se em
conta ambiente e expectativas dos interlocutores.

1.2.2. Preconceito linguístico

Tendo tantas variações e nuances, pudemos ver que cada contexto social traz naturalmente um
modo mais ou menos adequado de expressão, sendo importante entender que as variações
linguísticas existem para estabelecer uma comunicação adequada ao contexto pedido.

Apesar disso, as diversas maneiras de expressar-se ganham status de maior ou menor prestígio
social baseado em uma série de preconceitos sociais: as variações linguísticas ligadas a grupos
de maior poder aquisitivo, com algum tipo de status social, ou a regiões tidas como
“desenvolvidas” tendem a ganhar maior destaque e preferência em relação às variedades
linguísticas ligadas a grupos de menor poder aquisitivo, marginalizados, que sofrem
preconceitos ou que são estigmatizados.

Desenvolve-se, assim, o preconceito linguístico, que se baseia em um sistema de valores que


afirma que determinadas variedades linguísticas são “mais corretas” do que outras, gerando
um juízo de valor negativo ao modo de falar diferente daqueles que se configuram como os
“melhores”. O preconceito linguístico nada mais é do que a reprodução, no campo linguístico,
de um sistema de valores sociais, económicos e culturais.

No entanto, ao estudarmos as variações linguísticas, percebe que não há uma única maneira
de expressar-se e que, portanto, não há apenas um modo certo. A língua e sua expressão

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variam de acordo com uma série de factores. Antes de tudo, ela deve cumprir seu papel de
expressão, sendo compreendida pelos falantes e estando adequada aos contextos e às
expectativas no ato da fala. Dessa forma, o ideal do preconceito linguístico, que gera juízo de
valor às diferentes variações linguísticas, não deve ser alimentado.

As variações linguísticas são determinadas pelos mais variados factores.

1.2.3. Linguagem formal e informal

Uma diferença importante é aquela entre linguagem formal e linguagem informal. A situação
em que nos encontramos define o tipo de linguagem que usaremos. Primeiro, pensemos no
conceito de norma-padrão: as convenções da língua criam regras gramaticais que buscam
nortear seu uso, de modo que falantes de uma mesma língua, apesar das variações existentes,
consigam entender-se por um padrão comum a todos.

Assim, um jovem nascido no Acre conseguirá comunicar-se com uma senhora que viveu em
Santa Catarina baseado nas regras comuns da norma-padrão da língua portuguesa.

Do mesmo modo, grandes veículos de comunicação, como emissoras de TV ou


mesmo youtubers, podem produzir mensagens que serão basicamente compreendidas por
qualquer falante do idioma utilizado.

Um contexto mais casual, como uma reunião com amigos ou um almoço em família, pede
uma expressão coloquial. Por mais respeito que haja entre você e sua família e amigos, você
não utilizará palavras ou construções gramaticais muito rebuscadas. Aqui, há mais liberdade
na maneira de falar, por isso você utiliza uma linguagem informal, que pode permitir o uso de
gírias, de frases feitas ou interjeições, de abreviações, de desvios gramaticais (ou menor
preocupação em seguir a norma-padrão).

Já o contexto formal, como reuniões profissionais, discursos ou ambientes académicos, exige


o uso da linguagem formal, aquela que se preocupa com a norma-padrão e suas regras
gramaticais, seguindo-as estritamente. Além disso, a fala torna-se polida e clara, e mesmo a
escolha das palavras é feita com maior cuidado.

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1.3. Mudança linguística

Para Lucchesi (2004), chama-se mudança linguística ao processo de modificação e


transformação que todas as línguas experimentam em geral - e as unidades linguísticas de
cada um dos seus níveis, em particular -, na sua evolução histórica.

A mudança é um processo inerente à própria língua natural humana, qualquer língua natural
humana evolui. Evolui o sistema linguístico, evolui aqueles que o usem (comunidade
linguística).

1.3.1. Causas da mudança linguística


Factores individuais

 Má audição/compreensão do falante.
 Falhas de memória.
 Problemas de visão.
 Lei do menor esforço.
 Tendência para a analogia (ex. Hambúrguer: de Hamburgo, Cheeseburger?).

Factores ligados ao grupo

 Aceitação no grupo (ex. Hipercorrecção).


 Aparecimento de novas realidades (criação/formação de palavras; ex. Internet, Sida).
 Melhoramento da expressão do pensamento:
 Mudança de significado (alargamento, restrição ou troca).
 Desaparecimento de palavras (ex. Azinha = pressa).

1.3.2. Caracterização da mudança linguística

Não corresponde a desvios resultantes da fala, só quando se generaliza (vindo dum subgrupo
da comunidade) e impondo-se gradualmente até ser reconhecida como regra (ex. Informar de
que: o «de» tem tendência a desaparecer).

Não pode confundir-se estrutura com homogeneidade. A variação nunca é desordenada, há


regras. Falar uma língua é dominar as estruturas heterogéneas que o constituem (fala de
Olhão, de Braga).

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I. Nem sempre a variação implica mudança no sistema, porém toda a mudança resulta da
variabilidade do sistema.
II. A mudança não se generaliza de forme uniforme e instantânea, o sistema pode
albergar formas alternativas durante muito tempo antes de adoptar alguma delas como
regra.
III. A mudança ocorre nos idiolectos. Estes não são coesos nem internamente consistentes
pois dependem de factores sociais.
IV. A mudança não se restringe à variação dentro da família para ser considerada como tal
tem de transmitir-se a toda a comunidade.
V. A mudança decorre da conjunção de factores intra e extra linguísticos
indissociavelmente ligados. Todas as perspectivas que se limitam ao estudo de apenas
umas destas vertentes, falha na descrição dos fenómenos.

1.3.3. Mudança fonética/fonológica

A mudança linguística afecta os vários níveis constitutivos da língua: fonético, fonológico,


morfológico, sintáctico e semântico.

Fonética: estudo dos sons da fala (fones).

Fonologia: estudo dos sons da língua (fonemas).

Princípio da regularidade da mudança fonética; um som muda quando:

 Se mantém o contexto fonético em que ocorre.


 Ocorre num determinado período de tempo.
 Se verifica na mesma região ou comunidade.

Não houver interferência de nenhum factor de outra natureza como por exemplo:

 Condicionamento semântico
 Influência de tipo dialectal
 Influência de articulação individual.

1.3.4. Mudança semântica

A mudança linguística afecta os vários níveis constitutivos da língua: fonético, fonológico,


morfológico, sintáctico e semântico.

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Considerando, agora, apenas o último dos referidos níveis, recorde-se que são três os
processos que conduzem à mudança semântica de uma unidade lexical:

Alargamento ou ampliação do significado

A mudança linguística se diferencia da variação linguística. Na mudança linguística, as


modificações são diacrônicas - e, portanto, são objecto de estudo da linguística histórica. Já as
variações linguísticas são sincrônicas e constituem o objecto de análise da sociolinguística,
entre outras disciplinas.

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2. Conclusão

Não há uma forma única e pré-estabelecida de linguagem. Ela surge da necessidade de


comunicação entre os humanos e desenvolve-se a partir dessa necessidade. Mas subjazem a
essa necessidade outras necessidades humanas, como o poder de mando. Então, o domínio da

linguagem carrega em si a possibilidade do domínio de outrem. O discurso não é vazio de


intenções, pois, além de comunicar, pretende algo mais. Ele objetiva ir além da simples
comunicação, pois comunica para alguma coisa. Em todo ato comunicativo observa-se um
jogo de intenções, não há uma relação única e evidente entre significante e significado,
sempre pode haver uma relação subjacente, que desvia o significado para outro significante.
Em um diálogo, os atores de um acontecimento discursivo constroem seus enunciados dentro
de um mesmo sistema. Caso contrário, não ocorre interação entre eles, pois passa a existir
uma barreira que impede a interação e que só é superada com a aquisição do mesmo código
pelos sujeitos envolvidos na ação discursiva. “

Uma forma linguística se distingue de outra não pelo seu valor linguístico, mas pelo valor
social que possui o grupo social que a pronuncia. Uma forma linguística que ganha status
social relevante não ganha por si mesma, mas devido ao grupo sociocultural que a representa.
Dessa forma não se pode dissociar a língua da sociedade que a produz. A relação entre língua
e sociedade é umbilical. Não se pode deslocar uma da outra sem prejuízos. As formas
linguísticas de um grupo social dizem muito da sociedade e do grupo social ao qual
pertencem.

Existindo em uma sociedade uma diversidade de grupos sociais, é forçoso que haja também
uma diversidade linguística. Porém quando há uma relação de segregação ou estratificação
entre esses grupos sociais, essa relação será percebida também no âmbito linguístico, pois os
valores sociais frequentemente são transportados para outros âmbitos da vida, inclusive para o
linguístico.

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3. Referências bibliográficas

BELINE, R. "A variação lingüística". In: FIORIN, J. L. (org.) Introdução à lingüística I.


Objetos teóricos. 3ª ed. São Paulo: Contexto, 2004, p. 121-40.

CULLER, Jonathan. As ideias de Saussure. Tradução de Carlos Alberto da Fonseca.


São Paulo: Cultrix, 1979. 105 p.

DUBOIS, Jean et al. Dicionário de Linguística. Editora Pensamento-Cultrix, 2011, p.609,


610.

Editora Conceitos.com (maio., 2012). Conceito de Língua. Em https://conceitos.com/lingua/.


São Paulo, Brasil. [...] de Conceitos.com https://conceitos.com/lingua/

FERREIRA, A. B. H. (1986). Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de


Janeiro. Nova Fronteira.

GUY, G. (2000). A identidade linguística da comunidade de fala: paralelismo interdialetal nos


padrões linguísticos, Organon, 14(28-9): 17-32.

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MOLLICA, C; BRAGA, M. (orgs.). Introdução à Sociolinguística: o tratamento da variação.


São Paulo: Contexto, p. 9-14.

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Luiza (orgs.). Introdução à Sociolinguística: o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, p.
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TARALLO, Fernando (1986). A Pesquisa Sociolinguística. São Paulo: Ática.

SAUSSURE, F de. (1973) Curso em Linguística Geral. 27. ed. Tradução de Antônio
Chelini, José Paulo Paes, Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix.

LUCCHESI, Dante (2001). O tempo aparente e as variáveis sociais. Boletim da ABRALIN,


v.26, p.135-137, Número especial.

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