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O PROBLEMA COM VOCÊ

RIXON RAIDERS 1

L A COTTON
CONTENTS

Rixon RAiders
Sinopse:
Dedicatória
Chapter 1
Chapter 2
Chapter 3
Chapter 4
Chapter 5
Chapter 6
Chapter 7
Chapter 8
Chapter 9
Chapter 10
Chapter 11
Chapter 12
Chapter 13
Chapter 14
Chapter 15
Chapter 16
Chapter 17
Chapter 18
Chapter 19
Chapter 20
Chapter 21
Chapter 22
Chapter 23
Chapter 24
Chapter 25
Chapter 26
Chapter 27
Chapter 28
Chapter 29
Chapter 30
Chapter 31
Chapter 32
Chapter 33
Chapter 34
Chapter 35
Chapter 36
Chapter 37
Chapter 38
Chapter 39
Chapter 40
Epilogue
Agradecimentos
Playlist
About the Author
O problema com você
L. A. Cotton

Copyright de The Trouble with You © L. A. Cotton, 2019.


Copyright da tradução © 2020 por Andreia Barboza — L. A. Book Services.
Copidesque da tradução: Luizyana Poletto.

Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são produtos da imaginação
do autor ou foram usados de forma fictícia e não devem ser interpretados como reais. Qualquer
semelhança com pessoas, vivas ou mortas, eventos reais, localidades ou organizações é inteiramente
coincidência.

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9610 de 19/02/1998. Exceto para o uso de pequenos
trechos em resenhas, é proibida a reprodução ou utilização deste livro, no todo ou em parte, de qualquer
forma, sem a permissão prévia por escrito do detentor dos direitos autorais deste livro.
Rixon RAiders
O problema com você
The game you play
The harder you fall
The end game is you
Sinopse:
Hailee Raine só precisa sobreviver a mais um ano.
Um ano na cidade obcecada por futebol.
Um ano de espírito escolar nauseante.
Só mais um ano com Jason, seu meio-irmão cruel, e seus amigos
jogadores de futebol metidos e arrogantes.
Ela os odeia. Especialmente Cameron Chase, o cara que ela achava que
era diferente.

Cameron tem o mundo a seus pés.


Ele tem tudo: beleza, talento e charme.
As faculdades fazem fila para ter a estrela do Rixon Raiders.
Até que algo ameaça tudo pelo que ele já trabalhou, e só uma pessoa pode
acalmar a guerra feroz dentro dele.
Mas ele deveria odiá-la – a irmã do seu melhor amigo.

Ela está fora dos limites.


É intocável.
E é problema com P maiúsculo.

Então Hailee se vê no meio de uma partida de futebol que deu errado...


E, de repente, odiar um ao outro nunca foi tão bom.
O problema com você é o primeiro livro da série Rixon Raiders. Todos os
livros podem ser lidos separadamente!
Dedicatória
Para todos que lutam para se dividir entre o que acham que deveriam estar
fazendo e o que realmente gostariam de fazer...
A vida é uma só.
Viva.
Um
Hailee
— Filho da puta. — Fechei a gaveta da cômoda e entrei no banheiro ao lado
do meu quarto. Aquele que eu compartilhava de má vontade com meu meio-
irmão.
— Jason! — gritei, vasculhando o cesto de roupa suja, fazendo-as voarem
por toda parte. Minha respiração estava ofegante. — Jason, juro por Deus, eu
vou...
— Algum problema, querida? — A cabeça da minha mãe apareceu na
porta. Ela pegou uma camiseta voadora e a segurou, olhando para mim como
se eu estivesse louca.
— O Jason roubou todos os meus sutiãs.
— Hailee Raine, tenho certeza de que ele não fez isso. — Sua expressão
mudou e ela franziu a testa, lisa por causa do preenchimento. — Tem certeza
de que não estão todos aí? — Ela apontou para o cesto. O mesmo que eu
ainda estava vasculhando como uma louca.
Ergui a sobrancelha enquanto grunhia:
— Ele pegou todos. Vou matá-lo.
— Amor. — Ela soltou um suspiro cansado. — Será que você e o Jason
podem tentar se dar bem? É o último ano, e vocês são praticamente adultos.
Essas brincadeiras bobas que vocês pregam um no outro...
— Denise, viu a minha carteira?
— Acho que você estava com ela na cafeteira — minha mãe gritou para
meu padrasto, Kent. — É melhor eu ir ajudá-lo. Preciso correr ou vou chegar
atrasada para a academia, mas, baby? — Ela fez uma pausa, olhando de volta
para o banheiro. — Por favor, tente. Por mim.
— Claro, mãe, te vejo mais tarde — falei com os dentes cerrados,
deixando a mentira sair com facilidade. Ela sorriu, me desejando um bom
primeiro dia de aula antes de desaparecer no corredor.
Há muito tempo, aprendi que não devo esperar que minha mãe intervenha
em uma das minhas brigas com Jason. Mas não importava. Eu não precisava
mais dela para lutar minhas batalhas.
— Jason — gritei, entrando em seu quarto. Nem me incomodei em bater.
Para minha sorte, ele já estava vestido. Embora já o tenha visto nu diversas
vezes.
— Bom dia para você também — ele falou, de forma debochada e
passando a mão pelo cabelo bagunçado de quem acabou de acordar.
— Onde estão?
— O quê ? — Ele franziu o cenho, mas sua máscara de inocência não me
enganava.
— Meus sutiãs, seu idiota. Sei que você os pegou.
— Se eu quisesse roubar sutiãs, poderia pensar em maneiras mais
criativas. — Seus olhos brilharam com diversão, e eu franzi o cenho,
fuzilando-o com o olhar.
— É o primeiro dia de aula. Preciso de um sutiã. — De jeito nenhum eu
poderia sobreviver a um dia inteiro sem um. Eu não era uma daquelas garotas
com barriga chapada e peito achatado. Eu tinha curvas. Mais do que gostaria,
especialmente na aula de ginástica, quando o sr. Tinney nos fazia jogar
queimada ou vôlei.
— Me devolva um deles — eu disse. — E vamos esquecer que tudo isso
aconteceu.
— Não tenho ideia do que você está...
— Você quer guerra? — questionei, sentindo uma onda de irritação se
espalhar por mim. — Tudo bem, mas não espere que eu vá pegar leve com
você.
— Ah, estou com medo. O que você vai fazer? Me cortar com isso? —
Jason sorriu e olhou para o meu peito, onde meus mamilos endureceram com
o ar frio. Automaticamente eu os escondi, sentindo a raiva borbulhar.
Ódio era uma palavra forte, mas era o único substantivo para descrever
com precisão o que eu sentia pelo meu meio-irmão. Ele riu, jogando itens
aleatórios em sua mochila. Fiquei surpresa por ele estar se incomodando. O
último ano era basicamente uma formalidade para os Rixon Raiders. Eles iam
passar mais tempo no campo de futebol neste semestre do que em sala de
aula. Porque o desempenho deles em campo era muito mais importante do
que qualquer nota nas provas, obviamente .
Revirando os olhos, perguntei:
— É assim que você quer jogar? — Dei a ele mais uma chance de ceder,
mas eu deveria saber que ele não o faria. Jason Ford podia ser meu meio-
irmão, mas ainda era um idiota de proporções épicas.
— Como eu disse, Hailee Raine ... — Ele parecia muito presunçoso,
sabendo o quanto eu odiava quando minha mãe me chamava assim. — Não
tenho ideia do que você está falando.
— Tudo bem, mas não diga que não avisei. — Eu o empurrei antes de
sair de lá, sem me deixar abater por sua risada arrogante.
Quando finalmente desci as escadas, quinze minutos depois, Kent franziu
a testa para mim, ou melhor, para minha roupa.
— Não pergunte — falei sem humor para uma de suas tentativas idiotas
de fazer piada.
— Não ia dizer nada — ele respondeu com um meio sorriso enquanto eu
pegava a caixa de Pop-Tarts do armário e colocava na torradeira.
— Essas coisas vão apodrecer seus dentes.
— Esse rosto parece se importar?
— Sejamos honestos. — Jason entrou no cômodo. — Ninguém vai olhar
para o seu rosto hoje.
— Vá se foder — murmurei.
— Eu ouvi isso — Kent resmungou, ganhando uma risadinha de Jason.
Os dois eram péssimos. Tal pai, tal filho . Jason era bonito como pai:
cabelos castanhos rebeldes, olhos azul-gelo emoldurados por cílios longos e
um sorriso que poderia encantar e fazer até mesmo a garota mais recatada
tirar a calcinha. Mas era mais do que isso. Jason vinha de uma longa
linhagem de jogadores de futebol. Os rumores na cidade eram de que Kent ia
direto para a NFL se uma lesão no último ano não encerrasse sua carreira de
sucesso com os Penn Quakers na faculdade. Deve ter sido difícil de engolir,
mas agora Jason estava decidido a seguir seus passos. E a cidade não poderia
estar mais orgulhosa. Alguém me passe o balde.
A torradeira apitou, e eu peguei um pedaço de papel toalha, usando-o
como uma luva para pegar o Pop-Tart.
— É para mim, tchau — eu disse. — Tente não quebrar uma perna. —
Pisquei para Jason antes de sair de casa.
Minha melhor amiga, Felicity – ou Flick como eu costumava chamá-la –
já estava esperando por mim na entrada da garagem em seu Beetle amarelo
girassol.
— Esse seu visual está bem interessante . — Ela sufocou uma risada
quando entrei.
— Argh, não. — Enfiei os óculos na cabeça para manter meu cabelo
longe do rosto enquanto mordia o Pop-Tart, deixando a sobrecarga de açúcar
conter um pouco da minha raiva. — Jason roubou todos os meus sutiãs.
Tive que improvisar e usar a parte de cima de um biquíni. Ele tinha um
bojo leve, mas era óbvio para quem me conhecia que não tinha a sustentação
de costume. Com o tempo ainda quente, não era como se eu pudesse usar
outra coisa além de uma camiseta. A menos que eu quisesse passar o dia
suando e sem sustentação.
Flick riu enquanto dirigia.
— Era de se imaginar que ele tivesse coisas mais importantes para fazer
da vida no último ano.
— Ah, não, o Jason ainda tem tempo suficiente para tornar minha vida
um inferno. Mas não se preocupe. — Dei a ela um sorriso secreto. — Estou
planejando a morte dele enquanto conversamos.
Ela fez uma careta.
— Não que eu não tenha gostado de te ver colocá-lo em seu lugar
algumas vezes nos últimos anos, mas você não acha que deveria... recuar?
Ele foi mal no ano passado, mas agora ele vai ser... — Ela estremeceu, sem
terminar seu pensamento.
Flick estava certa.
Desde a sexta série, quando Jason e eu fomos forçados a conviver porque
seu pai e minha mãe anunciaram que iriam morar juntos, estávamos em
guerra. Jason não queria uma irmã e eu não tinha tempo para um irmão.
Especialmente alguém tão irritante e arrogante quanto ele. Éramos opostos.
Ele, popular e atlético. Eu, artística e de espírito livre. Jason vivia e respirava
futebol, como a maioria de Rixon. Mas eu, não. Eu mal sabia as regras do
jogo. Não é preciso dizer que à medida que crescíamos, a distância entre nós
só aumentou. Ele amava me irritar, e eu amava passar meus dias planejando
vingança.
— Só porque todo mundo pensa que o sol brilha na bunda dele, não
significa que tenho que me deitar a seus pés e aceitar as merdas que ele faz.
Flick ergueu a sobrancelha.
— A bunda dele é muito boa.
— Retire o que você disse. — Quase me engasguei, com a boca cheia de
Pop-Tart. — Retire o que disse agora.
— O quê? — Sua risada suave encheu o carro. — Eu nunca provaria a
mercadoria, mas não faz mal olhar.
— Ah, meu Deus, não posso ouvir isso. Não como a primeira coisa em
uma manhã de segunda-feira. — Enfiei os dedos nos ouvidos, mas ela não se
calou.
— Não me diga que você nunca deu uma espiada nos caras quando eles
acabam um jogo. Você já deve ter dado uma olhada no Asher ou no
Cameron...
— Felicity Giles, quem é você e o que fez com a minha melhor amiga?
— O quê? — Ela sorriu. — Só estou dizendo que detesto o time de
futebol, mas isso não significa que não possamos apreciar o físico dos
garotos...
— Pare. — Me inclinei, tapando sua boca com a mão. — Quer parar?
Eu não queria pensar sobre Jason e seus amigos dessa maneira.
Principalmente de Cameron Chase. Ele sempre adoro fazer da minha vida um
inferno. Tanto quanto meu meio-irmão. É verdade que nem sempre foi assim.
Quando nos mudamos com Jason e seu pai, Cameron foi um amortecedor
para a hostilidade do seu melhor amigo em relação a mim. Nos últimos cinco
meses da sexta série, acreditei como uma boba que poderíamos nos tornar
amigos. Mas então o verão antes do ensino médio chegou e tudo mudou.
Tudo.
Percebi que Cameron Chase era um idiota, assim como meu meio-irmão.
Chegamos na Rixon High School, e Flick entrou no estacionamento. Seu
Beetle amarelo vintage se projetou como um polegar machucado ao lado de
todos os Honda e Ford novos. Como eu, minha melhor amiga não seguia
padrões. Saímos e seguimos em direção ao prédio da escola, e toda a minha
raiva se dissolveu com a perspectiva de voltar ao estúdio. Ao contrário da
maioria dos meus colegas de classe, que estavam animados por estar de volta
ao convívio dos amigos, revivendo memórias das aventuras de verão, eu
estava ansiosa para voltar às aulas, principalmente às aulas de arte.
— Inspire tudo. — Flick respirou profundamente quando chegamos às
portas. — Nosso último primeiro dia na escola. Nunca mais vamos começar
um novo ano aqui. Ano que vem, seremos calouras.
Segurei a maçaneta da porta e olhei para ela.
— Então é melhor fazermos valer a pena. — Eu sorri. Um sorriso
genuíno e honesto. Porque ela estava certa.
Um ano.
Eu só tinha que sobreviver a mais um ano. A esta cidade e seu time de
futebol amado, ao meu meio-irmão e seus amigos idiotas.
Então eu estaria livre.
Mas apesar da minha empolgação com o que o futuro me reservava –
longe de Rixon, se eu pudesse escolher – era o último ano, e eu pretendia
aproveitar ao máximo.
Então ouvi uma voz familiar, um lembrete cruel do Universo de que
enquanto eu ainda vagava pelos corredores da Rixon High, não havia como
escapar deles.
— Você está bonita, Raio de Sol.
Meus olhos encontraram Cameron Chase, estrela do Rixon Raiders e o
melhor amigo do meu meio-irmão, sorrindo para mim.
— Você sabe que não gosto que me chame assim — falei com calma,
controlando a irritação.
— Eu sei — ele respondeu com um ar de indiferença, dando de ombros.
— Bela camiseta ... — Seu olhar caiu para o meu peito antes de voltar
lentamente para meu rosto, com diversão brilhando em seus olhos azuis
escuros. — Está frio aqui ou eles só estão felizes em me ver?
Cameron piscou antes de passar por mim e Flick. Ele tirou minha mão da
maçaneta, e eu me afastei, pega de surpresa pelos minúsculos raios de
eletricidade que passaram por mim. Ele parou por um segundo, olhando para
sua mão, balançou a cabeça e entrou no prédio, deixando a porta se fechar
atrás dele... bem na minha cara.
Com um suspiro pesado, eu a abri e Flick e eu entramos.
— Olha só para essa bunda — ela sussurrou, se inclinando para perto,
observando Cameron recuar enquanto os alunos se chocavam para sair de seu
caminho. Mas eu não estava olhando para a bunda dele. Meus olhos estavam
queimando na parte de trás da sua cabeça, imaginando todas as maneiras
dolorosas que eu poderia machucá-lo. Ele olhou por cima do ombro, nossos
olhos se encontraram, e eu soltei um gemido de frustração.
Eu conhecia aquele olhar.
Já o havia visto vezes demais ao longo dos anos. Mas nunca de Cameron.
Claro, ele concordava com as travessuras e esforços de Jason para encontrar
novas maneiras de me irritar. Mas nunca foi tão descarado a esse respeito.
Olhei de volta, desejando que ele desviasse o olhar. Mas para minha
surpresa – e irritação – ele se virou por completo, ainda andando e me
olhando fixamente. Meu estômago deu um nó, sentindo sua intensidade me
desarmar. Ele parecia querer me matar ou me devorar, e conhecendo
Cameron do jeito que eu conhecia, sabia que não era a última opção.
Merda, o que o deixou tão nervoso?
A não ser pelo casamento, evitei os três o máximo possível durante o
verão. Eles saíam muito: foram a campos de futebol e depois ao treino de
verão. O sr. Bennet os deixou passar as férias em sua casa nos Hamptons
como um presente de aniversário adiantado para Asher. Nas raras ocasiões
em que eles estavam em casa, eu me afastava, me trancando no meu quarto.
Mas pelo jeito que Cameron estava olhando para mim, qualquer um pensaria
que matei seu cachorro e ele queria uma vingança lenta e dolorosa.
— Humm, Hails, o que está acontecendo agora? — A voz de Flick me
tirou dos meus pensamentos, mas não foi o suficiente para me salvar da
armadilha em que ele me enredou. — Por que o Cameron está te olhando
assim? — Ela entrelaçou o braço no meu, mas antes que eu pudesse
responder, Jason apareceu do nada e se chocou contra Cameron, os dois
dando aquele abraço masculino estranho. Finalmente afastei a sensação
persistente de seus olhos e fui para o meu armário.
— Isso foi estranho — Flick acrescentou.
— Provavelmente ele só estava curtindo o show. — Olhei para o meu
peito e a situação óbvia do mamilo.
— Talvez — ela murmurou, nada convencida.
Eu também não estava convencida. Porque tenho certeza de que Cameron
estava me mandando uma mensagem.
E parecia muito com o começo de um jogo .
Dois
Cameron
— Puta merda, sim, último ano — Asher balançou as sobrancelhas enquanto
se encostava em seu armário. A maioria dos alunos já tinha seguido para a
aula, mas não nosso grupo. Não estávamos com pressa. Não era como se
alguém fosse nos dizer para nos apressarmos.
— Cacete, cara, você viu a Hailee? — Joel Mackey, um estudante do
segundo ano e nosso novo tight end , a posição ofensiva do time, sorriu. —
Podemos agradecer por isso, Jase?
Olhei de forma distraída para onde ela estava, desaparecendo no corredor
com sua melhor amiga. Logo em seguida, olhei para Jason, que deu de
ombros com indiferença. Ele gostava de implicar com Hailee, mas não era do
tipo que se gabava disso. Pelo menos, não para qualquer pessoa.
— Bem, pelo menos, eu gostei do show.
Antes que eu soubesse o que estava acontecendo, dei um tapa na cabeça
de Joel. Ele gritou e seu sorriso foi substituído por uma careta.
— Ei, tenha respeito, ela é a irmã do seu quarterback.
— Meia -irmã — Jason me corrigiu, me olhando de um jeito engraçado.
— Desculpe, Jase, eu só estava brincando — Joel murmurou, esfregando
a marca da minha mão em sua pele.
Eu não queria bater nele, mas ouvi-lo falar assim sobre Hailee não me
pareceu legal. Além disso, a ideia de que o filho da puta estava olhando para
ela... as únicas pessoas com permissão para mexer com ela... olhar para ela...
falar com ela... eram Jason, Asher e eu.
— Ei, Jason, Cam. — Khloe Stemson, líder de torcida e um pé no saco,
se aproximou de nós. — Você está bonito. — Ela olhou para Jason, depois
para mim e umedeceu os lábios como a víbora que era. — Eu estava
pensando que deveríamos nos reunir para conversar sobre a mobilização...
— Agora não, Khloe. Temos que ir para a aula. — Jason passou por ela,
fazendo sinal com a cabeça para que o seguíssemos. Seus olhos se fixaram
em mim novamente, brilhando com luxúria e desespero, mas se ela achou que
eu a salvaria, estava redondamente enganada. Khloe não era o tipo de garota
para ser salva. Era o tipo que você come e depois segue em frente.
Segue em frente bem rápido .
— Vamos mesmo para a aula? — Asher perguntou enquanto
caminhávamos pelo corredor deserto.
— O que você acha? — Jason resmungou. — Não consigo acreditar que
estamos presos a Khloe o ano todo.
— Como se você ainda não tivesse trepado com ela. — Asher deu uma
cotovelada em Jase, que o fuzilou com os olhos.
— Exatamente — ele grunhiu. — E não estou procurando uma repetição.
Nunca. — O desprezo era nítido em suas palavras, como se a ideia de estar
com uma garota mais de uma vez fosse loucura. Mas quando elas se atiravam
em um cara do jeito que faziam com Jason, eu não podia culpá-lo.
Ser um Rixon Raider vinha com um certo conjunto de privilégios.
Éramos tratados como deuses nos corredores da escola. E na cidade, não era
muito diferente. Era fácil se deixar levar por tudo isso. As garotas. A atenção.
O respeito. Mas ser o quarterback e astro do time era outra coisa. Jason Ford
não era apenas um Rixon Raider – ele era o Rixon Raider. O cara já era uma
lenda e todos nós sabíamos que ele tinha uma passagem só de ida para a
NFL.
— Qual é o plano? — Joel perguntou, e Jason virou a cabeça como se
tivesse se esquecido totalmente que ele estava conosco.
— Você deveria ir para a aula.
— Mas...
— Mais tarde, Mackey. — Eu o empurrei em direção às escadas, e ele se
afastou, com os ombros caídos e o desânimo brilhando em seus olhos.
— O filho da puta tem coragem de falar sobre a Hailee daquele jeito —
Asher comentou e minha coluna se endireitou.
— A Hailee o comeria vivo. Mas ninguém vai tocar nela — Jase grunhiu.
— Todo mundo sabe que ela está fora dos limites.
Obrigado, porra.
— Do jeito que você age, qualquer um pensaria que você a quer.
— O que é que você acabou de dizer? — Jason prendeu Asher contra a
parede antes que ele soubesse o que o havia atingido.
— Calma, cara. — Os olhos de Asher estavam arregalados e suas mãos
estavam ao lado do corpo em sinal de rendição enquanto eu observava.
As provocações entre Jason e Hailee eram nada mais que rivalidade entre
irmãos que acabou mal. Mal pra cacete. Eu e Asher os conhecíamos há tempo
suficiente para saber disso. Então o fato de ele estar levantando essa questão
agora era um desenvolvimento interessante.
— Só estou te provocando — ele ofegou. — Eu não quis dizer nada com
isso.
— Então, não diga esse tipo de babaquice. — Ele relaxou seu aperto, e
Asher caiu contra a parede esfregando a garganta. — Você sabe que eu mal
posso tolerar a presença dela. E nem me fale sobre a Denise. Juro que eu
deveria ter sabotado o casamento antes que eles continuassem com isso. Não
posso acreditar que meu pai se casou com aquela vaca presunçosa.
Não era segredo que Jason tinha problemas. Eu gostaria de dizer que o
casamento recente do pai com a mãe de Hailee era o motivo de sua raiva, mas
ele sempre foi assim. Desde que éramos crianças, ele tinha um ressentimento
enorme, uma raiva do mundo e de todos nele.
— Não sei — Archer disse. — Ela sempre foi legal comigo. Ofereceu
biscoitos e leite, me olhou com aqueles olhos de me coma . Ei, se você
precisar que eu ajude a atrapalhar a felicidade pós-casamento, estou mais do
que disposto a fazer um sacrifício pelo time. — Ele sorriu, arqueando as
sobrancelhas. Jase se agarrou a ele e os dois caíram contra a parede
novamente, mas desta vez estavam rindo.
— Sr. Ford, sr. Chase e sr. Bennet, que surpresa. — O diretor Finnigan
apareceu, com as mãos cruzadas nas costas e a desaprovação gravada em sua
expressão enquanto observava meus dois melhores amigos se soltando.
— Bom dia, senhor. — Jason passou a mão pelo cabelo bagunçado,
deixando-o cheio. — Como você está hoje?
— Melhor ainda por te ver. — Ele brincou. — Acredito que não posso
esperar nada além de trabalho árduo e uma abordagem madura para sua
experiência escolar neste semestre?
— Claro, senhor.
— Fico feliz em ouvir isso. Seria uma pena ficar no banco no último ano.
— O diretor nos lançou um olhar mordaz antes de prosseguir com seu
trabalho.
— Filho da puta... — Asher murmurou baixinho. — Como se ele pudesse
fazer isso.
— Ele está chateado porque o conselho escolar o recusou no ano passado.
Houve um incidente com nossos rivais, Rixon East High. Os nossos
nomes foram apagados no final, mas o diretor Finnigan assumiu a missão de
limpar a reputação do time de futebol, seja lá o que isso significasse.
Finnigan não entendia. Ele foi transferido para a cidade no ano passado,
então não entendia como era viver e jogar futebol em Rixon. Não entendia
que as pessoas faziam vista grossa se você estivesse aprontando, mesmo que
o reconhecessem como um Raider. Porque Rixon, na Pensilvânia, era uma
cidade do futebol. E havia uma das rivalidades mais antigas da história do
futebol escolar. Uma rivalidade que saía do campo e se espalhava pela vida
das pessoas. Algo tão embutido na história da cidade que as pessoas a
aceitavam do mesmo jeito que aceitavam o Quatro de Julho ou o Dia de Ação
de Graças.
— O treinador nos avisou que ele poderia ser um problema este ano,
então precisamos tentar nos manter na linha. — Jason abriu a porta que dava
acesso ao campo de atletismo e cortamos caminho pela grama para o ginásio.
— Dane-se — Asher disse. — O Thatcher vai querer se vingar depois do
que você fez com Aim... — Ele voltou atrás quando Jase o encarou. — Foi
mal. Só estou dizendo que depois do que aconteceu, ele vai querer revidar.
— Ele pode fazer isso — Jason grunhiu — Se eles vierem para o nosso
território, a responsabilidade é deles. O Finnigan não pode nos acusar de nada
se tiver as impressões digitais deles por toda parte.
— Então é isso? Vamos deixar rolar e ver no que dá? — Asher olhou
incrédulo para Jase. Mas os olhos de Jase escureceram com um brilho
perverso quando disse:
— Quem disse alguma coisa sobre deixar rolar?

***

— Tome banho e dê o fora daqui — o treinador Hasson disse. Eu já estava


me despindo e segurando meu membro enquanto me enfiava no chuveiro.
— Vamos ao Bell’s hoje à noite? — Asher perguntou de algum lugar
atrás de mim e Jase grunhiu:
— Sim.
Jase não queria falar. Ele raramente o fazia depois de treinar no campo,
mas Asher falava o suficiente por nós três juntos. Terminamos o banho,
pegamos as toalhas e voltamos para o vestiário.
— O que há de errado com vocês? — Jase grunhiu para os caras que
ainda estavam lá olhando para nós.
— Eu... humm, merda... — Foi Joel quem deu um passo à frente,
evitando olhar para o seu QB .
— Desembucha, Mackey — eu disse, indo para o meu armário.
— A Hailee, ela... humm...
Hailee?
Que merda é essa?
Então olhei para o banco em frente ao armário do Jase. O banco onde sua
bolsa estava. Aquela que deveria estar cheia com suas roupas... mas não
estava.
— Ah, merda... — murmurei entre os dentes, sem saber se deveria estar
impressionado ou preocupado com a vida dela.
— Ela não ousaria, cacete. — Jase agarrou sua bolsa e a virou de cabeça
para baixo. — Ela levou tudo. — Ele estava calmo. Mortal.
Merda. Hailee pagaria por isso e havia algo de muito errado comigo,
porque a ideia fez meu pau ganhar vida.
Minha história com Hailee Raine era complicada. Quando ela e a mãe
foram morar com Jason e o pai, ela não era nada mais além de sua meia-irmã
irritante. Mas rapidamente descobri que ela não era irritante. Era inteligente e
perspicaz, e não aceitava as provocações de Jason.
Desde o primeiro dia, ela o enfrentou. Olhou diretamente em seus olhos
quando ele implicou com ela, rindo de suas marias-chiquinhas, óculos e
macacão jeans manchados de tinta. Ele a chamava de Pippi Meia Longa, a
personagem de um livro infantil, e disse que não brincava com garotas que
pareciam um brechó ambulante. Hailee o chutou na canela e saiu correndo.
Mas ela não contou o que ele fez e nem chorou. Isso chamou minha atenção.
Seis anos era muito tempo. Agora éramos mais velhos, e Hailee era chata
de um jeito diferente. Crescida, ela preenchia todos os lugares certos desde o
ensino fundamental. Eu notei. Caramba, todos nós notamos. Foi por isso que
Jason inventou aquela merda na nona série, o ano em que os seios dela
cresceram. Sempre foi uma regra tácita, mas naquele ano Jason oficializou a
lei.
Hailee Raine estava fora dos limites para a equipe.
Mas isso não era bom o suficiente para Jase. Não, ele emitiu um
lockdown na escola toda. Foi excessivo. Eu sabia. Asher também. Todo
mundo sabia disso. Mas uma vez que todos conheciam a reputação do seu
meio-irmão de cumprir suas ameaças, ninguém ousou convidá-la para sair. E
nos últimos três anos, Hailee ficou isolada. Ela se mantinha sozinha, tinha um
pequeno círculo de amigos e preferia se perder no ateliê de arte a se perder no
espírito escolar. Embora parte de mim não pudesse deixar de se perguntar se
ela gostava que as coisas fossem desse jeito ou se ela simplesmente passou a
aceitar seu destino.
Eu deveria ter sentido um pouco de culpa por isso, mas não senti. Porque
a verdade era que Jason não era o único que tinha problemas com o fato de
seus companheiros de equipe, ou de qualquer outra pessoa, se relacionar com
Hailee.
— Encontrei. — Grady, outro veterano, entrou no vestiário, segurando
uma pilha de roupas. — Mas você não vai gostar do que ela fez com a sua
camisa. — Ele abriu a peça de roupa branca e azul-cobalto e a ergueu, com
uma estranha mistura de medo e diversão brilhando em seus olhos.
— Puta merda — alguém murmurou enquanto todos nós olhamos o
desenho de um par de seios cobrindo metade da camisa. Se não fosse tão
estranho, seria um bom desenho. Muito bom.
— Eu diria que é um tamanho 44 — alguém gritou. Mas Jason não
respondeu. Ele simplesmente tirou a camisa das mãos de Grady, com a raiva
irradiando dele, enfiou-a na bolsa e começou a se vestir.
Jason gostava de pensar que tinha Hailee sob controle. Gostava de pensar
que era ele quem mandava. Mas, nos últimos dois anos, ela se tornou
corajosa e batia cada vez mais de frente conosco. Com ele. Era como se ela
não desse a mínima, e isso trouxe algumas memórias divertidas.
Havia algo sobre conseguir uma reação dela que fazia meu sangue
bombear. Embora ele nunca tivesse admitido, Jason e sua meia-irmã eram um
casal perfeito.
Graças a Deus, meu melhor amigo ainda tinha um resquício de
moralidade. Porque vê-lo dar em cima dela teria sido demais – até mesmo
para mim.
Não que eu a quisesse.
Eu não queria.
Só não gostava da ideia de outra pessoa ficando com ela.
Três
Hailee
Durante toda a semana, esperei a retaliação de Jason. Mas, para minha
surpresa, ele não fez nada. Na verdade, na terça de manhã quando saí do
quarto, quase tropecei em uma bolsa com meus sutiãs perdidos. Foi
necessária uma investigação completa para considerá-los seguros. Não havia
nenhum bilhete. Sem armadilhas escondidas. Apenas meus sutiãs em toda sua
glória de super sustentação. Qualquer outra pessoa poderia ter pensado que
era uma bandeira branca. Mas eu não era esse tipo de pessoa. Sabia que o
gesto era uma isca, com a intenção de me distrair do que quer que ele tenha
planejado.
Então esperei a semana toda.
E continuei esperando.
Meus sentidos ficavam em alerta máximo sempre que eu avistava Jason e
os amigos nos corredores da escola. Mas eles mal olhavam na minha direção
– como eu geralmente gostava. Exceto por Cameron. Seus olhos sempre se
demoravam um pouco demais. Como se ele estivesse tramando algo ou
planejando minha queda. Era enervante, mas não perdi tempo pensando
nisso. Será que ele estava se sentindo idiota este ano? O que quer que fosse,
não me importava, porque eu poderia lidar com qualquer coisa que eles
jogassem em mim.
Lido com isso nos últimos cinco anos e meio.
Todo mundo achava que Jason e eu nos odiávamos. Mas não se tratava de
odiá-lo, mas de odiar tudo o que ele representava. Ele podia jogar futebol?
Grande coisa. O mesmo acontecia com milhares de outros jovens de dezoito
anos. Pessoalmente, eu não entendia a paixão das pessoas. Praticar esportes
não fazia de alguém uma boa pessoa. Isso não os tornava confiáveis ​ou
gentis. Na minha experiência, jogadores de futebol geralmente eram idiotas
presunçosos que se preocupavam mais com seus paus e vencer os jogos do
que com o que estava acontecendo no mundo ao seu redor. Como suas ações
afetavam o mundo ao seu redor.
— Terra para Hailee. — Flick me olhou e eu pisquei, afastando as
memórias.
— Sim?
Ela colocou uma batata na boca e franziu a testa.
— Você está tão estranha.
— E você não deve falar com a boca cheia.
— Não olhe agora — ela baixou a voz. — Mas o Jason acabou de entrar.
O que fiz? Eu olhei. Receber ordens para não fazer algo era como
balançar uma bandeira vermelha para eu reagir. Minha mãe me chamava de
teimosa, mas eu preferia obstinada. Jason sequer olhou em nossa direção.
Esquisito.
— Hum — falei, começando a me sentir um pouco desapontada com sua
falta de retaliação.
— Não me diga que você quer que ele venha atrás. — Flick ficou
boquiaberta enquanto eu empurrava uma batata frita em meu prato, cobrindo-
a com uma deliciosa combinação de ketchup e maionese.
— Não estou dizendo que quero que ele... — Minhas palavras morreram
quando senti alguém me olhando. Erguendo o rosto, meu olhar encontrou
com o de Cameron.
— Se eu não o conhecesse, diria que Cameron Chase tem uma queda por
você. Essa é a quarta vez nesta semana que eu o pego olhando para cá — ela
disse, contraindo os lábios.
— Sim — bufei. — E os porcos podem voar.
— Seria tão estranho? Você o conhece há anos.
— Você está falando sério? — Foi a minha vez de ficar boquiaberta. —
Você se esqueceu de que ele ajudou meu irmão naquela vez que roubaram
minha bicicleta e minhas roupas quando eu estava nadando no riacho e tive
que andar cinco quilômetros até em casa só de maiô e chinelos? — É verdade
que tínhamos apenas treze anos na época, mas fiquei com bolhas por uma
semana e a queimadura de sol doeu pra caramba. — Ou aquela vez na nona
série, quando ele e Asher entraram sorrateiramente em casa enquanto Jason
estava doente e decidiram me assustar com máscaras de palhaço esquisitas?
Ou a vez em que...
— Eles gostam de te irritar... sabe, algumas pessoas chamam isso de
preliminares. — Ela balançou as sobrancelhas de forma sugestiva.
— Ah, meu Deus, você está falando sério.
Flick deu de ombros.
— Só estou dizendo que ele está te olhando como se você fosse oxigênio
e ele estivesse se afogando.
Não, ele não estava.
Estava?
Discretamente, olhei para o time de futebol de novo. Eles sempre se
sentavam nas mesmas mesas – próximo às janelas com vista para o campo de
atletismo. Cameron não estava me observando agora. Ele estava conversando
com uma loirinha – uma jovem chamada Kayla, ou talvez fosse Kylie. Eu não
tinha certeza, porque ao contrário da maioria das pessoas na Rixon High,
conhecer todos não era a missão da minha vida. Na verdade, eu poderia
contar meus amigos em uma mão. Mas era mais fácil assim. Quando
começamos o ensino médio juntos e as pessoas perceberam que eu era a
meia-irmã de Jason, elas me olhavam de um jeito diferente, e eu rapidamente
me tornei um trampolim para a realeza de Rixon High.
Algo que eu não desejava ser.
Nunca.
Eu os observei juntos. Cameron estava com um sorriso malicioso, e ela
estava praticamente em seu colo, toda recatada e tímida, de uma forma
totalmente óbvia.
— É ciúme o que vejo estampado em seu rosto?
Me inclinei sobre a mesa e pressionei a mão na testa de Flick.
— Tem certeza de que está se sentindo bem? — Nunca tínhamos
conversado muito sobre Jason e seus amigos, muito menos olhado para eles.
Mas peguei Felicity olhando em sua direção mais de uma vez esta semana.
— Negue o quanto quiser, mas eu sei dessas coisas — o riso encheu sua
voz —, e estou dizendo que o Cameron está a fim de você.
A fim de tornar minha vida um inferno.
Revirei os olhos, mas meu olhar vagou de volta para ele. A loira estava
acariciando sua mandíbula mal barbeada, com o peito pressionado contra o
dele. Deus, eu não estava com ciúme. Estava com náuseas. A maneira como
as meninas se jogavam sobre eles era nojenta. Os Raiders não namoravam.
Eles trepavam. Se fartavam com as garotas como se elas fossem um bufê
coma a vontade . E as meninas da escola estavam muito dispostas a fazer
parte do menu.
— Se lembra daquele teste que tivemos que fazer na feira de empregos no
ano passado? — Flick me perguntou, olhando para as mesas que o time de
futebol americano ocupava. — Quantas garotas você acha que responderam
Maria Chuteira à pergunta: “onde você se vê daqui a cinco anos”?
Eu ri.
— Muitas.
— É patético demais.
— Desesperado — acrescentei, sentindo um nó estranho no estômago.
Ignorando, afastei o prato, empurrei os óculos e peguei meu bloco de desenho
e lápis.
— No que você está trabalhando? — Flick se inclinou para ver melhor.
— Uau, isso é bom, Hails, muito bom.
O orgulho cresceu em meu peito. Eu não desenhava para outras pessoas,
mas não fazia mal ouvir alguém apreciar a arte. A peça, um esboço de alunos
entrando na escola que chamei de “agitação do primeiro dia”, tinha me
tomado horas, mas ainda não estava totalmente concluída. Eu gostava de
carregar um projeto comigo para momentos como este.
Momentos em que eu precisava escapar de todas as besteiras que
apareciam por eu ser meia-irmã de Jason Ford.
— Humm... Hails. — A voz de Flick arruinou minha concentração e olhei
para ela.
— O quê?
— Isso é maneira de cumprimentar seu... amigo ?
Olhei por cima do ombro para encontrar Asher Bennet de pé atrás de
mim, com um sorriso maroto estampado no rosto.
— O que você quer? — Com o lápis posicionado entre meus dedos e a
coluna rígida, me preparei para qualquer besteira que ele estivesse prestes a
lançar em minha direção.
As mesas ao nosso redor ficaram quietas. Todos sabiam que Jason e eu
éramos meios-irmãos. Todos também sabiam que não havia amor perdido
entre nós. Ele não costumava vir atrás de mim durante a aula, preferindo
manter nossos jogos longe do olhar do público, então sempre que ele ou um
de seus amigos se aproximava de mim, geralmente garantia a atenção de
todos.
— Eu só queria devolver isso. — Ele tirou algo das costas, deixando-o
cair sobre a mesa na minha frente.
Arregalei os olhos e os semicerrei para ele com desprezo.
— Onde foi que você conseguiu isso? — O calor inflamou minhas
bochechas enquanto cobri o sutiã rendado preto com as mãos, arrastando-o
lentamente em minha direção. Era uma pergunta estúpida, cuja resposta eu já
sabia, mas ele me pegou desprevenida.
— Você o deixou na minha casa. — Asher passou a mão em sua
mandíbula, aumentando a voz para se certificar de que todos nas
proximidades o ouvissem. — Quando nós... você sabe... — Ele arqueou as
sobrancelhas com um sorriso malicioso estampado no rosto.
Todos na mesa em frente a nós riram, um estrondo baixo de sussurros
começando a se formar ao meu redor. Filho da puta. Fechei as mãos em
punhos, cravando as unhas em minhas palmas. Não havia como tirar
vantagem disso, e pelo brilho arrogante em seus olhos, ele também sabia.
Tinha certeza de que se olhasse para a mesa de futebol, Jason estaria
vendo seu plano se desdobrar do jeito que ele esperava. Fui tola em baixar a
guarda. Mas depois de três dias de silêncio, uma pequena parte de mim
esperava que ele finalmente tivesse estabelecido uma trégua. Garota estúpida
. Nunca haveria uma trégua entre nós, e eu parei de me perguntar há muito
tempo por que ele me odiava tanto.
Mas me recusava a simplesmente baixar a cabeça e aceitar suas merdas.
Eu não podia.
Mantendo o olhar em Asher e não na mesa de futebol, me levantei e antes
que pudesse me conter, dei um tapa nele. O estalo da minha palma contra sua
bochecha soou alto e seus olhos escureceram.
— O que...
— Você prometeu — chorei com o desempenho digno de um Oscar. —
Prometeu que não contaria a ninguém. Eu pensei... eu pensei que significava
algo para você. Eu pensei que você me amava.
Ele recuou.
— Te a-amava? — Asher riu, mas o som saiu estrangulado e errado. —
Eu nunca disse...
— Claro que disse. — Me aproximei e olhei para ele com o que esperava
serem olhos de cachorrinho convincentes. — Logo depois que nós... fizemos ,
você disse que me amava.
Com o canto do olho, vi Jason se mover em nossa direção, com a raiva
queimando em seus olhos azuis. Sabendo que tinha sua atenção, continuei.
— Sei que você está preocupado com o que o Jason vai dizer, Ash, mas
está tudo bem. — Passei as mãos por seu peito e sua expressão se desfez. —
Podemos ficar juntos. O Jason não vai... Ah, oi, Jason. — Finalmente olhei
para ele.
— Que merda você está fazendo? — ele perguntou, e o escárnio era
nítido em seu tom de voz.
Dando um passo para trás, me aproximei de Jason, nos afastando de
olhares curiosos, já que tínhamos a atenção de todo o refeitório agora.
— Você se acha tão esperto — eu disse com os dentes cerrados, ainda
sorrindo. — Vai ter que tentar muito mais que isso para me envergonhar.
No segundo em que disse as palavras, vi seus olhos se iluminarem.
Porcaria. Eu normalmente não caio em suas provocações, mas ele me irrita
muito. Infelizmente, acabei de desafiá-lo abertamente. E Jason nunca desistia
de um desafio.
Uma das poucas coisas que tínhamos em comum.
— Jase. — O som da voz rouca de Cameron me assustou. Eu nem tinha
percebido que ele havia se aproximado de nós. Olhei para onde ele estava, ao
lado de Asher. — Vamos lá, ela nem vale a pena — ele disse com frieza, sem
nem pestanejar quando as palavras deixaram seus lábios e seus olhos se
recusaram a encontrar os meus.
Mas eu vacilei.
Mesmo agora, depois de todos esses anos, era difícil esquecer que
Cameron não era um cara bom. Ele era um idiota, assim como meu meio-
irmão, Asher e o resto do time de futebol. Mas até esta semana, ele nunca
tinha sido tão óbvio sobre sua antipatia por mim. Não que isso realmente
importasse, porque o sentimento era totalmente recíproco.
Flick entendeu errado.
Muito errado.
Cameron não me queria, ele queria me arruinar. E além de ser puxa-saco
do meu meio-irmão, eu não tinha ideia do porquê.
— Você deveria ouvi-lo, Jase — zombei. — Não gostaria que as pessoas
pensassem que você estava...
— Certo, Hails. — Os braços de Flick envolveram minha cintura, e ela
começou a me puxar para longe. — Acho que seu trabalho aqui está feito.
Os três olharam atrás de mim, com uma mistura de confusão, desprezo e
desafio brilhando nos olhos. A maioria das garotas teria medo. A maioria das
garotas teria corrido para o banheiro e chorado com a possibilidade de os
caras mais populares da escola irem atrás delas.
Mas eu não era a maioria das garotas.
— O que é que foi aquilo? — Flick sibilou no segundo em que saímos do
refeitório. Ela empurrou minha bolsa para mim.
— O quê? Eu não ia ficar parada e deixar o Asher fazer aquilo.
— Mas provocar o Jase daquele jeito?
Dando de ombros, saí em direção ao estúdio de arte. Eu tinha um tempo
livre e o sr. Jalin ficava mais do que feliz por eu usar uma das salas, desde
que eu mesma limpasse tudo. E eu precisava pintar minhas frustrações.
Flick me alcançou.
— Ei, eu não quis dizer...
Parei e encontrei seu olhar de desculpas.
— Eu sei. Eu só... argh ! Ele é tão irritante. Você acha que eu quero
passar o último ano brigando com ele? Confie em mim, não quero. Mas
também não posso fazer nada.
Tentei isso e não funcionou. Na nona série, decidi ignorá-los. Se eu não
reagisse, eles ficariam entediados, certo?
Errado.
A gota d'água foi quando Jason pagou Macaulay Denver para me
convidar para o baile da primavera. Ele foi tão fofo e insistente, e tínhamos
uma aversão em comum ao time de futebol. Foi impossível dizer não, mas eu
deveria saber que era tudo uma armação. Eu deveria saber que meu meio-
irmão esquisito tinha algo a ver com isso. Mas eu tinha quatorze anos e
queria uma noite de normalidade adolescente.
A mãe de Macaulay nos levou para a escola e como um verdadeiro
cavalheiro, ele abriu a porta para mim e segurou minha mão enquanto
caminhávamos para o ginásio. Depois de encontrar uma mesa para nós, ele se
certificou de que eu estava confortável antes de ir buscar uma bebida.
Observei os outros jovens dançando, rindo e sorrindo, e por aqueles poucos
minutos preciosos, me senti como um deles. Até dez minutos depois, quando
vi Macaulay beijar sua namorada de verdade , Sarah McKrinsky. Jason teve
grande prazer em me dizer a verdade, sorrindo para mim com Cameron e
Asher ao seu lado, como tenentes do mal. Eu poderia ter saído correndo de lá
com lágrimas nos olhos e o coração em farrapos, mas não o fiz. Porque Jason
me subestimou. Ele não percebia que cada vez que implicava comigo, cada
vez que tentava me derrubar, isso só me tornava mais forte. E minhas paredes
estavam tão impenetráveis ​agora que eu não tinha certeza se havia algo mais
que ele pudesse fazer para me machucar.
Para grande aborrecimento do meu meio-irmão, fiquei no baile naquela
noite. Flick e seu acompanhante ficaram mais do que felizes em me deixar
segurar vela e nós dançamos e rimos até que a música acabou e as luzes se
acenderam. Macaulay até se desculpou, dizendo que se sentiu intimidado
para concordar com aquilo. Afinal, não se dizia não a Jason Ford. Mesmo aos
quatorze anos, as pessoas o tratavam de maneira diferente por causa de seu
talento no campo. Por causa do legado de seu pai. Raramente, olheiros da
faculdade vinham ver alunos do nono ano, que também não tinham um
compromisso verbal com a faculdade, mas Jason, sim. Logo percebi que só
pioraria à medida que ele crescia. Ignorá-lo não ia funcionar, então não tive
escolha a não ser me fortalecer e jogar seus jogos.
Não foi nenhuma surpresa quando nunca mais fui convidada para sair.
— Eu sei, eu sei. — Flick suspirou. — Eu só me preocupo com você. Sei
que ele nunca foi longe demais, mas algo parece diferente este ano.
Ela não estava errada. Também senti isso. O troco. A mudança no ar.
Mas que escolha eu tinha?
Esta era minha escola, minha vida, e eu estaria ferrada se Jason Ford
roubasse isso de mim também.
Quatro
Cameron
Deixei Asher e Jase na academia com a desculpa de me encontrar com a
orientadora. Eu não iria, mas eles não precisavam saber disso. Os corredores
estavam vazios enquanto eu seguia para o estúdio de arte. Hailee tinha um
período livre, o que significava que só haveria um lugar onde ela estaria. Não
foi surpresa quando a encontrei em uma das salas menores. A porta estava
entreaberta e eu entrei, fechando-a atrás de mim. Era um risco vir aqui, mas
ninguém ousaria me questionar. E se alguém espalhasse rumores, eu usaria
isso a meu favor. Digamos que estava fazendo um favor a Jase, avisando-a
para recuar.
Hailee estava sentada em uma cadeira, de costas para mim. Seu cabelo
loiro escuro estava preso em um coque bagunçado, com fios caindo ao redor
do rosto enquanto ela passava o pincel na tela com longos traços. De vez em
quando, ela parava e inclinava a cabeça, revelando a curva delicada de seu
pescoço. A camisa enorme que ela usava – sem dúvida para proteger as
roupas que estavam por baixo – combinada com os óculos de armação preta,
não deveria ser tão atraente. Mas era. Era sexy pra cacete.
Ela escolheu aquele exato momento para tirar os fones de ouvido que eu
não tinha notado que ela estava usando. Os ombros de Hailee enrijeceram
como se sentisse minha presença, e ela olhou por cima do ombro.
— Saia. — Sua voz e o olhar eram frios.
Erguendo as mãos em sinal de rendição, falei:
— Venho em paz.
— Você acha que sou idiota?
O veredicto sobre isso havia sido dado. A maneira como ela respondeu à
travessura de Jason e Asher foi imprudente. Divertido pra caramba, mas
imprudente ao mesmo tempo.
— Estou aqui para controlar os danos.
— Controlar os danos? — Ela ergueu a sobrancelha e tirou a perna da
cadeira para se levantar e me encarar. — Não somos amigos — ela falou,
levantando o queixo em desafio, e meu pau estremeceu.
Caramba, essa garota me deixava louco.
— Não, não somos. — Mas houve um tempo em que eu queria ser amigo
dela.
Merda, eu não deveria ter vindo. Esfregando a mão no rosto, soltei um
suspiro de frustração.
— O que você quer, Cameron? — Hailee cruzou os braços, inclinando o
quadril para o lado. — Estou ocupada.
— Você precisa recuar, Raio de Sol — falei e seus olhos cor de mel
brilharam com desprezo. Garota teimosa. Hailee era teimosa e imprudente.
Não percebi, mas comecei a me mover em sua direção como se ela estivesse
me enrolando com algum fio invisível.
— Cameron, o que você... — Ela engoliu em seco, olhando para mim
quando parei bem na sua frente. O ar mudou ao nosso redor, espesso e
pesado. Sempre mantive distância dela. Olhava sem tocar. Mas de pé aqui,
tão perto, eu queria tocar... puta merda, como eu queria tocá-la.
Surpreendendo a nós dois, estendi a mão, puxando uma mecha de cabelo
entre meus dedos.
— Pare com as provocações — falei baixinho, apesar da advertência
tecida em minhas palavras. — O Jase precisa focar no time e na temporada.
Ele não precisa se distrair com seus jogos.
Ela arregalou os olhos e seus lábios se entreabriram enquanto respirava
fundo e afastava minha mão.
— Meus jogos? — Ela quase se engasgou com as palavras. — Vá se
foder, Cameron. Você sabe que é tudo culpa dele. Jason sempre me odiou.
Ele implica comigo e me pressiona. Mas não vou baixar a cabeça. Sem
chance. — Hailee estremeceu com as vibrações que saiam dela.
— Tem certeza disso? — Arqueei uma sobrancelha para ela, avançando
ainda mais em seu espaço e forçando-a a andar para trás. Suas pernas devem
ter batido na cadeira, porque ela tropeçou. Minha mão voou para a sua
cintura, estabilizando-a e minúsculos raios de eletricidade passaram por mim
quando nossos olhos se encontraram. Hailee arregalou os olhos, que estavam
nublados e confusos. Merda. Ela também sentiu. Tive essa mesma sensação
na segunda-feira quando brinquei com ela por causa de sua camiseta.
Isso era ruim... ruim demais.
No entanto, não fiz nenhum movimento para me afastar. Se afaste, seu
idiota .
— Cameron. O que você está...
Me aproximei mais, ficando frente a frente com ela. Seus olhos
fervilhavam de raiva, mas não deixei de notar como ela ofegou mais uma vez.
— Pare, Raio de Sol. O Jase vai acabar ficando entediado se você recuar.
— Já fiz isso e não deu certo. — Ela estava cheia de raiva. — Duas
palavras: Macauley Denver, se lembra disso?
Se me lembro?
Fui atormentado com as memórias por semanas.
Ignorando-a, falei:
— Um de vocês precisa recuar antes que as coisas fiquem realmente
ruins, e nós dois sabemos que ele não vai fazer isso.
Jase brincava com Hailee, mas era tudo inofensivo. Claro, ela podia ficar
magoada de vez em quando ou ter sofrido algum constrangimento nas mãos
dos outros alunos da escola, mas poderia ter sido pior... muito pior.
No entanto, dessa vez era diferente. A última temporada foi difícil para
Jason. As tensões entre os Raiders e os Rixon East Eagles estavam maiores
que nunca, e ele estava em busca de sangue. Eu sabia que Hailee podia ser
pega no fogo cruzado. Jason a usava como seu saco de pancadas. Mas depois
de provocá-lo no refeitório... Hailee podia muito bem ser a bandeira vermelha
e Jase o touro. Eu não tinha dúvidas de que ele já estava planejando dar o
troco. E, desta vez, não seria uma brincadeira infantil.
Ela respirou fundo e meus olhos foram automaticamente para sua boca.
Cruzei a distância entre nós até meus lábios pairarem sobre os dela.
— Último aviso, Raio de Sol — sussurrei, tão perto que quase podia
prová-la. — Pare ou não diga que não avisei.
Ela ergueu as mãos, empurrando meu peito, e eu cambaleei para trás.
— Vá se foder, Cameron. Fodam-se todos vocês.
— Hailee, vamos lá...
Eu não queria usar o nome dela, simplesmente saiu dos meus lábios. Mas
ela me cortou.
— Saia. Saia antes que eu grite, e vou gritar. Você pode ser um Raider,
mas não me importo. — Seus olhos estavam selvagens, me encarando com
tanto ódio que meu estômago deu um nó. Mas era uma coisa boa. Ela
precisava me odiar.
Com um sorriso, comecei a me afastar.
— Não venha chorar quando ele te arruinar.
Seu rosto empalideceu, e eu sabia que ela se lembrava de cada travessura,
cada vez que Jase foi atrás dela. Antes que pudesse me repreender mais, saí
da sala e dei o fora do estúdio de arte.
E disse a mim mesmo que não tinha quase acabado de beijá-la.

***

— E aí, o que a srta. Hampstead disse? — Asher perguntou quando nos


encontramos fora da classe.
— Ela só queria ver minhas inscrições para a faculdade.
Jase zombou.
— Como se ela não soubesse exatamente para onde você vai.
— Nada está certo ainda — falei baixinho enquanto caminhávamos para
o vestiário.
— Você vai para a Penn comigo — ele falou sem hesitação. Como se já
fosse um negócio fechado.
Dei um olhar duro para ele.
— Eu não sou o menino de ouro da Rixon. — O canto da minha boca se
ergueu. — Não há garantia de que os olheiros vão...
— Eles vão querer você — ele disse, me interrompendo. — Você já sabe
que eles estão interessados.
— Preciso ter outras opções. — Além do mais, eu não tinha certeza se a
ligação realmente viria e se a Penn era o que eu queria. Era uma escola da Ivy
League, o que significava que era cara. Portanto, embora fosse um dos
melhores programas de futebol do país, se eu escolhesse Pittsburg e
Michigan, que provavelmente viria de mãos dadas com bolsas de estudo para
atletas, havia muito em que pensar.
— Qual é o seu problema? — Jase se virou para me olhar enquanto abria
a porta. — Você esteve de mau humor a manhã toda.
— Ele precisa transar — Asher entrou na conversa, jogando a bolsa no
banco. — Quanto tempo tem, cara, um mês?
— Vá se foder. — Tirei a camiseta, a embolei e joguei para ele.
— Festa na minha casa hoje à noite?
— Claro. Mas não convide a Khloe ou a equipe de líderes de torcida —
Jase falou. — Estamos na primeira semana do semestre e já estou de saco
cheio dela.
— Talvez devêssemos convidar a Hailee? — Asher sorriu.
Jase arregalou os olhos e suas narinas se dilataram.
— É sério que você vai falar sobre ela comigo? Agora ? Quer que alguém
acabe no departamento médico?
Asher deu um tapinha nas costas dele.
— Chame isso de motivação. O treinador disse que você precisava se
superar nesta temporada.
— Eu sempre me supero, idiota.
— Bem, então você pode melhorar ainda mais.
— Ouvi alguém dizer festa? — Joel enfiou a cabeça por entre os
armários.
— Sim, na minha casa esta noite. Pode espalhar. Sem líderes de torcida.
Mas convide a equipe de ginástica. Essas garotas são super flexíveis. —
Asher sorriu. — Ei, Cam, talvez você possa ficar com a Miley.
— Talvez eu fique. — Eu sorri. Miley não era uma garota grudenta como
a maioria das garotas em Rixon.
— Vocês três vão ficar sentados o dia todo reclamando? — O treinador
apareceu na porta. — Ou vamos jogar bola?
Corremos para colocar nossas ombreiras e as travas das chuteiras, e
saímos em fila para o campo de futebol.
— Se juntem — o treinador gritou, e nós nos movemos para formar dois
semicírculos ao redor dele e a primeira fila se agachou.
— Certo, silêncio. — Ele esperou que o barulho de conversa diminuísse.
— Tem sido uma boa semana. Vocês vieram para o semestre com a
dedicação e a motivação que espero. Jason. — Ele se dirigiu ao meu melhor
amigo e ao nosso capitão. — Você está bem lá fora, filho. Está pronto para
levar sua equipe até o fim nesta temporada?
— Sim, senhor.
— Sinto muito. — O treinador Hasson contorceu o rosto, colocando a
mão na orelha. — Não te ouvi.
— Eu disse SIM, SENHOR — Jase gritou, e sua voz ecoou pelo campo.
— É isso aí, filho. O ano passado foi difícil. — Ele fez uma careta. —
Sabíamos que a Rixon East viria até nós com tudo, e foi o que fizeram. Nós é
que deveríamos participar do jogo final do campeonato. Mas este ano, o
Estadual é nosso. Agora, juntem-se. — Circulamos o treinador, ombro a
ombro, até que ele fez a formação, levantando o punho. Trinta e cinco mãos
se seguiram, depois a de Asher e a minha. Finalmente, Jase ergueu a dele e
disse:
— Raiders, no três. Um, dois...
Nosso grito de guerra encheu o ar, a onda de energia era palpável. Não
havia nada mais elétrico e mais gratificante do que ficar lado a lado com seus
companheiros de equipe, sua família, pronto para uma nova temporada.
Todos nós sentimos isso: a expectativa, a sugestão do que estava por vir.
Tivemos azar no ano passado ao perdermos a chance de ganhar o
Campeonato Estadual para a Rixon East. Nossa única satisfação era que os
idiotas tiveram uma derrota esmagadora contra a Fieldson Hills.
Mas esse ano era nosso. Jase estava consumido pela ideia de vencer, de
ser o melhor, de conseguir seu anel do campeonato antes de nos formarmos.
E nada nem ninguém ficaria em seu caminho. Jason Ford derrubaria qualquer
um que ousasse tentar impedi-lo, e eu não podia deixar de me perguntar se
isso se aplicava a mim. Seu melhor amigo. Seu irmão. Talvez não de sangue,
mas de todas as maneiras que contavam.
Todos nós sabíamos que o futebol significava sacrifício. Isso significava
manhãs difíceis na academia e longos dias no campo. Significava colocar
todo o resto em segundo plano: família, garotas, aulas, embora o diretor
Finnigan tivesse algo a dizer sobre isso. Se você queria ser o melhor, tinha
que dar tudo de si. Qualquer coisa menos não era uma opção. Você tinha que
viver, comer e respirar até sangrar as cores de seu time. Mas tudo valeria a
pena no final. Quando a ligação chegasse, tudo valeria a pena.
Não é?
Cinco
Hailee
— Não acredito que ele disse isso. — Flick balançou a cabeça, incrédula
enquanto eu contava tudo sobre a proeza de Cameron durante nossa incursão
ao Ice T’s, um lugarzinho fofo no centro da cidade.
— Acredite. Agora me diga, quem ele pensa que é? — Cameron não
conversava comigo há anos, a não ser quanto me lançava algum insulto
estranho ou ameaça velada.
Ela lambe seu sorvete de Oreo com casquinha de morango e franze a
testa.
— E eu que pensei que ele te queria.
— Confie em mim, Cameron Chase não me quer — bufei. — Ele só quer
que eu pare de mexer com seu amado quarterback .
— O que você vai fazer?
— Fazer?
— Sim. — Ela me encarou. — Afinal, ele te ameaçou.
— Isso não é novidade, Flick. — Lido com eles há anos. — Se o Jason
recuar, eu também recuo, mas sabemos que isso nunca vai acontecer.
— Então acho que sei a resposta para minha próxima pergunta. — A
culpa brilhou em seus olhos, me fazendo inclinar a cabeça enquanto a
observava.
— Quer me contar algo? — Arqueei a sobrancelha enquanto eu lambia a
colher.
— Bem, eu estava pensando... já que é o último ano e tudo mais, e já que
nunca teremos essas experiências novamente... — Flick respirou fundo. —
Isso... talvez... devêssemos ir à reunião de torcida no próximo fim de semana
. — As palavras saíram em uma explosão.
— Espere um minuto. Você quer ir naquela coisa? Nós nunca vamos. —
Nós odiamos esses eventos. Sem mencionar o fato de que era uma noite
inteira dedicada ao time de futebol em toda sua glória idiota.
— Eu sei, eu sei. — Ela baixou a cabeça envergonhada. — É que fiz uma
lista estúpida.
— Lista? — Isso chamou minha atenção. — Que lista?
Flick colocou a bolsa sobre a mesa e pegou uma folha de papel dobrada.
— É besteira... — Seus dedos o agarraram como se fosse o Santo Graal.
Mas agora eu estava intrigada.
— Me dê isto. — Arranquei o papel de seus dedos e o desdobrei,
alisando-o sobre a mesa. — Número um, começar um novo hobby. — Olhei
para ela. — Então é por isso que você se inscreveu no clube do livro?
— Eu gosto de ler. — Ela deu de ombros enquanto mexia o canudo em
volta do copo. — Agora posso fazer isso com outras dezesseis pessoas.
— Certo, número dois, matar aula. Mas nós...
— Sem ter uma desculpa válida. — Flick me lançou um olhar penetrante.
— Sair de forma furtiva para comprar chocolate e absorventes, porque você
menstruou não conta.
Mostrei a língua para ela.
— Vamos em frente. Número três, participar de uma reunião de torcida.
Ah, eu sei, poderíamos pintar nossas unhas de azul Raider e fazer a insígnia
do time também. — Sorri, meio que esperando que ela risse comigo. Mas ela
não riu.
Pegando a lista de volta, Flick fez uma careta para mim.
— Você não tem que ser idiota por isso. — Sua expressão vacilou e a
culpa envolveu meu coração.
— Sinto muito... — Dei a ela um meio sorriso. — Foi uma coisa horrível
de se dizer.
— Sim, foi. Posso não gostar do espírito escolar tanto quanto todo
mundo, mas isso não significa que não quero experimentar tudo pelo menos
uma vez, Hails. Estamos no último ano. Nosso último ano antes de irmos
para a faculdade, e...
— Você está assustada? — Vi a nebulosidade em seus olhos e o quanto
ela esteve agindo de forma estranha durante toda a semana.
— Não estou com medo — ela soltou um suspiro pesado —, só estou...
olhe. — Flick cruzou os braços sobre a mesa e se inclinou para frente. —
Nem todos podemos ser como você, Hails. Você está muito endurecida. Nada
que alguém diga ou faça te afeta. A maioria dos jovens da nossa idade se
esconde atrás de uma máscara, fingindo ser forte e intocável, mas você, não.
Você não precisa fingir, porque é assim.
— Eu não estou... endurecida.
Eu estava?
E se estava, era porque as circunstâncias me fizeram assim.
— Sabe quantos caras da escola me convidaram para sair no ano
passado? — Flick me perguntou, e eu fiz uma careta, me questionando o que
isso tinha a ver com qualquer coisa. — Nenhum, Hails. Nenhum.
— E daí? A perda é deles, Flick. Você seria um bom partido...
Ela balançou a cabeça e a tristeza tomou conta de sua expressão.
— Você não entende. — Suas paredes se ergueram, e eu odiei isso. Nós
nunca brigamos. Então, eu não entendia o que estava acontecendo. — Não
importa... esqueça que eu disse qualquer coisa.
— Não, espere. — Segurei sua mão. — Me diga. Eu sou sua melhor
amiga, quero saber. — Achei que sabia tudo sobre ela, mas obviamente
estava errada.
Apertando os olhos com força, Flick prendeu a respiração instável.
Quando ela os abriu novamente, fixando suas íris verdes em mim, meu
estômago afundou, e eu sabia que não ia gostar do que ela estava prestes a
dizer.
— É você — ela falou, de forma categórica.
— Eu? — Ofeguei, sentindo como se ela tivesse puxado o tapete debaixo
de mim e meu estômago despencou.
— Sim. Não. — Ela fez uma careta. — Isso saiu errado.
Eu ?
Eu era a razão pela qual os caras não a convidavam para sair? Isso não
fazia sentido, porque eles também não me convidavam. E isso nunca
importou. Saíamos com caras o tempo todo no The Alley.
— Eu não sei o que você... ah. — A verdade estava escrita em seu rosto,
eu só não queria ver.
— Sim, ah. — Flick me deu um sorriso fraco. — Você está fora dos
limites, Hails, sabe que está. Ninguém vai te olhar porque tem medo do...
— Jason.
Ela assentiu.
— E eu sou sua melhor amiga. Chegar perto de mim seria como chegar
perto de você e isso seria muito arriscado.
— Você não é um risco, Flick — falei, sentindo meu nível de irritação
aumentar. — Você realmente quer sair com algum idiota que deixa meu
meio-irmão ditar quem ele pode ou não namorar?
— Não, eu não quero. Mas esse não é o ponto... — Ela deixou as palavras
no ar.
— Então qual é?
— Eu quero namorar, Hails. Quero ir às boas-vindas e ao festival inverno.
Quero ir ao baile.
— V-você quer? — Afundei na cadeira, sentindo o peso da sua confissão
me atingir.
— Eu te amo. Sabe disso. Mas às vezes, ser sua melhor amiga não é fácil,
Hailee, e você é muito... alheia a isso.
— Não sou... — Pressionei meus lábios, engolindo o argumento alojado
na minha garganta. Porque Flick estava certa. Até agora, eu não tinha ideia de
que ela se sentia assim.
— Eu não quero ser a próxima Khloe Stemson. Não quero me juntar ao
time de líderes de torcida e me jogar aos pés dos Raiders, não é isso. Só não
quero me formar e ter todos esses arrependimentos. — Ela balançou a lista no
ar com um suspiro pesado. — Lamento se magoei seus sentimentos.
— Lamento ser uma vaca endurecida que arruína sua vida.
— Hails...
— Brincadeira. — Levantei as mãos. — Estou brincando. — Pelo menos,
em parte. — Preciso ir ao banheiro. Volto já. Quer pedir mais alguma coisa?
Por minha conta?
— Humm, eu não deveria. — Ela olhou para o balcão. — Mas eu
aceitaria um daqueles brownies com castanha como uma oferta de paz.
Com um sorriso fraco e o coração pesado, me levantei.
— Feito. — Segui para dentro da loja e me dirigi para os fundos, onde
ficavam os banheiros.
A admissão de Flick me pegou completamente desprevenida. Não havia
como negar que Jason dificultou as coisas desde que me mudei para Rixon,
mas não era como se ele tivesse arruinado minha vida. Eu ainda ia às aulas,
gostava de arte, e Flick e eu participávamos de eventos escolares não
relacionados ao futebol o tempo todo. Certo, não tínhamos um grande grupo
de amigos e não éramos convidadas para nenhuma festa, mas estávamos bem.
Contentes em fazer nossas coisas.
Ou, pelo menos, pensei que estávamos.
Depois de lavar as mãos, fui até o balcão comprar o brownie de Flick e
um milk shake de morango para mim. Não queria que ela se ressentisse
comigo. Éramos melhores amigas. Desde que entrei na turma de matemática,
na sétima série e me sentei ao lado da garota com olhos verde acinzentados,
éramos nós duas contra o resto do mundo. Mas ela estava certa, este era o
último ano. Nosso último ano juntas. Flick tinha planos de ir para a Penn no
próximo ano, e eu esperava ir para Michigan. Eles tinham um ótimo
programa de arte na Stamps School of Art and Design . A esta altura, no ano
que vem, haveria quilômetros entre nós, então acho que o mínimo que eu
poderia fazer era apoiá-la para completar sua lista idiota.
Sem estar totalmente de acordo com a ideia, mas disposta a dar uma
chance a minha melhor amiga, paguei ao caixa e peguei meus itens antes de
voltar para a mesa. Mas quando olhei para ela, paralisei. Deixei Flick sozinha
por dez minutos, mas ela não estava sozinha agora. Jason, Asher e Cameron
estavam sentados com ela e estavam... rindo.
Todos eles.
De forma cautelosa, saí e parei na ponta da mesa.
— Perdi algo?
O rosto de Flick empalideceu com o som da minha voz, e eu semicerrei
os olhos, perguntando silenciosamente o que estava acontecendo.
— Humm — ela limpou a garganta. — Jase e os caras estavam indo à
loja comprar suprimentos para a festa.
Jase e os caras ? Ela fez parecer que eram velhos amigos.
— E o que me interessa?
Flick respirou fundo, mas não teve chance de responder, porque meu
meio-irmão se levantou, com os olhos duros fixos em mim.
— O Asher achou que vocês gostariam de vir. Eu disse a ele que era uma
ideia idiota.
— Deixe-me ver se entendi: você está nos convidando para uma festa?
Asher deu de ombros, colocando as mãos nos bolsos.
— Não é grande coisa.
Desviei os olhos para Cameron, que estava em silêncio. Eu queria saber o
que ele pensava sobre isso depois de me avisar de forma explicita para recuar.
Isso era um teste? Alguma maneira confusa para ver se eu cairia?
Ele ficaria extremamente desapontado. Ou, dependendo de como se
olhasse para isso, talvez ficasse impressionado.
— Nossa, obrigada pelo convite, mas estarei ocupada lavando o cabelo.
— Coloquei o prato de Flick na frente dela e me sentei. — Agora, a menos
que vocês queiram outra coisa, vocês deveriam...
— E você, Felicity? — Jase perguntou, com um brilho perverso nos
olhos. — Quer vir com a gente?
Arregalei os olhos, e ela abaixou a cabeça. Suas bochechas coraram.
— Merda, cara, acho que ela quer vir. — Os olhos de Asher se
iluminaram como se a ideia de fazer Flick desertar para o lado deles fosse
muito tentadora. — Vamos, Felicity, cuidaremos de você.
Virei a cabeça até onde Jase estava parado.
— Mexa comigo, faça suas brincadeiras bobas, tudo bem, mas deixe-a
fora disso, tá? Ela não merece o seu...
— Hails — Flick me chamou baixinho. — Está tudo bem. Sei que eles
estão só brincando.
— Não, não pense isso, baby. — Asher sorriu para ela. — Você está
certa, a Hails não é bem-vinda, mas abriríamos uma exceção para você.
Certo, Jase?
Seus olhos permaneceram na minha melhor amiga, sombrios e
perscrutadores, por muito tempo. Ele me lembrou do Lobo Mau pronto para
atacar a Chapeuzinho Vermelho. O rubor nas bochechas de Flick se
aprofundou com o olhar intenso de Jason. E antes que eu soubesse o que
estava fazendo, me levantei e bati minhas mãos em seu peito.
— Se afaste — rebati, empurrando-o com força.
— Jesus, mulher, está maluca? Só estávamos nos divertindo um pouco.
— Bem, não faça isso. Ela nunca te fez nada.
Nos encaramos, fervendo de raiva e ódio.
— Não que eu não goste de ver vocês dois brigando... — A voz de
Cameron me assustou, e eu pisquei, interrompendo meu impasse com Jason.
Seu lábio se curvou em um sorriso presunçoso, como se soubesse que tinha
vencido esta rodada.
Desgraçado.
— Sim, sim — Jason falou, esfregando o queixo. — Bem, isso foi
divertido, mas temos lugares mais interessantes para estar, irmãzinha.
Irmãzinha?
Ele era só dois meses mais velho que eu.
— Sim, como a boceta de Jenna Jarvis — Asher riu, e eu o olhei com
nojo. — O quê? — Ele fez beicinho.
— Você é nojento.
— Não, baby, eu sou um Raider, e sabemos como trepar de verdade...
— Vamos sair logo daqui, estou entediado pra caramba. — Cameron
começou a se afastar. Asher mandou um beijo para Flick antes de sair atrás
do amigo, mas Jason ficou. Seus olhos ainda estavam focados em mim.
— O que é? — questionei.
Sem outra palavra, ele balançou a cabeça e foi atrás deles.
— E você quer abraçar isso ? — perguntei, incrédula, me sentando de
novo.
— Eu não... eu não... Deus, você está certa — Flick falou, com as
bochechas ainda rosadas. Mas enquanto eu a observava olhar os três
seguirem em direção ao carro de Asher, rindo e brincando, percebi que ela
queria. Queria ir à festa idiota deles, ficar bêbada e beijar um cara qualquer.
Talvez até dar uns amassos com um deles. Disfarcei um estremecimento.
Eu estava tão consumida com a rivalidade entre mim e Jason, a guerra
sem fim e o ódio pelo time de futebol, que não conseguia ver o que estava
bem na minha frente.
Flick me divertia.
Todo esse tempo, pensei que éramos iguais. Achei que compartilhávamos
um ódio mútuo por todo o espírito escolar e Rixon Raiders.
Mas ela não odiava, não de verdade.
Ela fingia.
E fez isso por mim.
Seis
Cameron
— É impressão minha ou a Felicity Giles ficou gostosa este ano? Aqueles
macacões feios não costumam me atrair, mas nela parecem...
— Primeiro a Hailee, agora a Felicity? — Jase zombou. — A próxima
coisa que você vai querer fazer é entrar na banda e usar um daqueles suéteres
horríveis. — ele arqueou as sobrancelhas quando olhou de forma penetrante
para Asher pelo espelho retrovisor.
— Não estou dizendo que eu as pegaria, mas você não pode negar que as
duas fazem aquele tipo de garota geek que as deixa gostosas.
Suas palavras fizeram meu peito apertar, e eu esfreguei a palma da mão
na perna. Hailee não era geek, ela era... Hailee. Ela mesma, sem rótulos.
Sempre foi.
— Podemos, por favor, não falar mais sobre ela? — Jase gemeu. — Só
quero transar, encontrar alguma ginasta flexível para ir para a cama e
esquecer tudo sobre Hailee Raine e sua mãe. — Seus lábios franziram e os
dedos ficaram brancos enquanto ele segurava o volante.
O celular de Asher tocou.
— Ah, merda — ele disse, e eu olhei para trás. — O Thatcher acabou de
twittar uma provocação.
— Me deixe ver isso. — O tom de Jase era frio quando ele estendeu a
mão para trás, esperando que Asher entregasse o aparelho. — Filho da puta
— ele murmurou, jogando o telefone para mim.

@ThatcherQB1 : Rixon East está pronta para lutar com RHS este ano. Os
Raiders vão correr assustados depois que os Eagles acabarem com eles
#EaglesCampeões #RaidersQueSeFodam

— Ele está procurando vingança — Asher comentou.


— Ele só fala — Jase o dispensou, mas vi sua mandíbula tensionar. Não
havia amor perdido entre Lewis Thatcher e meu melhor amigo. Eles passaram
pelo juniores juntos, mas a rivalidade só cresceu com o tempo. As coisas
finalmente chegaram a um ponto crítico no ano passado, quando a irmã de
Thatcher, Aimee, se envolveu. E a coisa toda explodiu.
— Somos mais fortes no papel e no campo — ele acrescentou, muito
arrogante.
— Sem dúvida — foi apenas um grunhido do banco de trás. Mas então
Asher enfiou o rosto entre os bancos da frente. — Eles são nosso terceiro
jogo, certo?
Assenti.
— Então vamos sujar um pouco as mãos antes disso. Mostrar ao Thatcher
que não vamos aceitar nenhuma detenção este ano.
— Achei que tínhamos acabado com essa merda — falei. — O Finnigan
está só procurando uma desculpa para te colocar no banco.
— O Finnigan que se foda — o QB zombou.
Chegamos à casa de Asher, e Jase estacionou, efetivamente encerrando
nossa conversa. Saímos, pegamos as compras no porta-malas e nos dirigimos
para os fundos, onde alguns caras já estavam. Os pais de Asher eram legais e
como estavam fora da cidade a negócios, geralmente nos encontrávamos
aqui. Sua casa era maior do que a maioria das outras, graças à bem-sucedida
empresa de tecnologia do seu pai. O lugar tinha vista para um lago onde
havia jet skis e um pequeno barco a motor, como se a enorme piscina e a
churrasqueira já não fossem suficientes.
Era muito legal.
Jase foi se juntar aos caras, deixando a cerveja e os lanches para que
Asher e eu levássemos para dentro. Coloquei as sacolas no balcão e o encarei
com um olhar severo.
— Por que você não para de mencionar a Hailee?
— Essa situação é engraçada. Nunca vi o Jase tão fora de si por causa de
uma garota.
— Ela é irmã dele, ou você se esqueceu disso?
— Ainda assim... não é como se eles fossem parentes de sangue.
— Tem algo muito errado com você. — Cruzei os braços, deixando-o
lidar com as sacolas. — Não crie problemas, Ash, não precisamos disso. Não
esse ano.
— Sim, sim. — Ele abriu a geladeira para guardar as cervejas. Quando
terminou, ele se encostou no balcão e me encarou. — Ainda não consigo
acreditar que é o último ano. Já pensou sobre o que vai fazer?
Passando a mão no rosto, balancei a cabeça.
— Não é tão simples assim.
— Sim, eu sei. Mas se você conhecer a Penn, não vai ser...
— Por que estão demorando tanto? — Jase apareceu na porta com os
olhos duros e avaliadores.
— Só estou pegando um pouco de cerveja, cara. — Asher pegou um
engradado com seis e jogou um saco de batatas fritas para mim. — Vamos.
— Ele passou por Jase e saiu.
— Você está bem? — Jase inclinou a cabeça para mim, e eu assenti.
— Estou, sim.
Seus olhos permaneceram em mim por mais um segundo, então ele se
virou e seguiu Asher. Me encostei no balcão, soltando o ar que estava
prendendo. Jase não entendia. Ele não entendia por que qualquer coisa teria
precedência sobre o futebol. Sobre a faculdade. Eu acho que é isso que o
tornava diferente – o que lhe dava uma vantagem que outros jogadores não
tinham. Ele era desapegado o suficiente da vida para fazer os sacrifícios
exigidos, e mais alguns. Não se preocupava com a família, porque seu time
era sua família. Acho que ele aprendeu isso com o pai. Mas meu pai não era
um astro do futebol em ascensão e, embora me apoiasse e apoiasse o time,
outras coisas estavam acontecendo que exigiam sua atenção.
Às vezes, parecia que eu estava em uma encruzilhada: um pé firmemente
plantado em meus sonhos de jogar futebol, ir para a faculdade e a promessa
de ir para a NFL e o outro permanecendo enraizado na vida real, onde os
sonhos nem sempre se tornavam realidade e a vida nem sempre era justa. E
equilibrar os dois... bem, era difícil pra caramba.
— Ei, Cam, pegue mais um saco de batatas fritas. — A voz de Asher
interrompeu meus pensamentos, e eu afastei todos os problemas e os tranquei
com força. Porque agora eu era um Raider, e o futebol e tudo o que vinha
com isso precisava ser minha prioridade.

***

— Só estou dizendo — Mackey se ergueu, balançando ligeiramente no meio


do nosso círculo de cadeiras. — O Alabama está apertado este ano, e
Clemson está mais forte que nunca, mas meu dinheiro está nos Buckeyes.
Um mar de copos amassados foi jogado sobre ele, que ergueu as mãos
para proteger o rosto.
— Vamos, Jase, ajude um amigo. O estado de Ohio te queria, certo? O
que você acha?
Olhei para Jase, que estava sentado em uma cadeira com as pernas
esticadas e os olhos ligeiramente vidrados por tantas cervejas.
— Não há como negar que Ohio vai trazer tudo o que tem este ano, mas
não é nesta temporada que estou interessado, é na próxima. E dizem que a
Penn recrutou um dos melhores QBs do país. — Ele sorriu. — É um baita
divisor de águas.
Uma risada baixa soou ao redor da fogueira.
— Não que eu esteja desprezando o Nittany Lions, não estou — Grady
falou. —Mas você sabe que eles não ganham um campeonato nacional desde
mil novecentos e oitenta e seis, certo?
Jase deu de ombros, cheio de arrogância.
— Ouvi dizer que Deontay Syracuse vai se comprometer com a Penn. Ele
é o melhor DT do país no momento. Juntos, seremos imbatíveis — ele disse,
se referindo ao jogador que era defensive tackle , um jogador de defesa.
Alguém soltou um assobio baixo.
— E quanto ao Chase? Eles também querem você, não é?
Foi a minha vez de dar de ombros e tomar um grande gole de cerveja. Os
olhos de Jase encontraram os meus, mas ele não falou nada.
— Ainda estou decidindo.
O som estridente da campainha da casa de Asher interrompeu o silêncio
espesso que caiu sobre nós, e ele ficou de pé.
— O entretenimento chegou. — Com um sorriso idiota, ele desapareceu
enquanto Grady, Mackey e alguns dos caras começaram a examinar o time da
Penn.
Quando Asher reapareceu, estava com o braço ao redor de uma linda
morena que reconheci da equipe de ginástica.
— Meninas, sejam bem-vindas — ele declarou. — Fiquem à vontade. As
bebidas estão na cozinha. — Ele girou a garota e apontou para a casa. — A
piscina está bem ali, fiquem à vontade para entrar. Mas se fizerem isso,
devem cumprir a regra.
— Regra? — uma delas perguntou.
— Sim, meu pai exige isso para manter a água limpa. — Ele lutou contra
um sorriso malicioso. — Ele prefere que todos nadem nus. Reduz o uso de
produtos químicos.
— Sim, mas aumenta os fluidos corporais — um dos rapazes uivou, e as
risadas ressoaram ao nosso redor enquanto as garotas reviravam os olhos,
rindo e sussurrando sobre o papo de Asher.
Mas funcionou. Algumas delas se afastaram das amigas e começaram a
tirar as roupas. É verdade que não ficaram nuas, mas os biquínis minúsculos
deixavam muito pouco para a imaginação.
— Caramba, sim — Mackey disse, pulando e tirando a camisa. —
Esperem por mim. — Ele correu e caiu na água, lançando uma chuva de
respingos na direção das garotas. Elas inclinaram a cabeça para trás, rindo,
agarraram as mãos uma das outras e pularam atrás dele.
As coisas passaram rapidamente do time batendo papo e discutindo sobre
a próxima temporada de futebol americano universitário para uma festa
completa. Asher ligou o sistema de som antes de se juntar às meninas na
piscina, e Jenna Jarvis foi direto para Jason, se acomodando em seu colo e
passando os dedos por seu cabelo. Ele abaixou a cabeça, passando a língua ao
longo da mandíbula dela, que se abriu de boa vontade, capturando seus
lábios. Sem conversa, sem coerção ou promessas de coisas que ele nunca iria
cumprir. Mas garotas como Jenna havia aos montes. Elas sabiam o que Jason
queria e ainda assim estavam dispostas a entrar na cova do leão. Só pela
chance de dizer que tentaram domesticá-lo.
Eu ainda estava olhando para eles com o canto do olho quando Miley
Connor entrou no meu campo de visão.
— Cameron Chase, que bom te encontrar aqui. — Ela sorriu, mas não
daquele jeito tímido que diz por favor, me escolha , mas com um jeito mais
amistoso .
— O que manda, Miley?
— Não em você, aparentemente. — Seu olhar caiu para minha virilha, e
dei uma risada gutural.
A outra coisa sobre Miley... ela não tinha filtro. Se sentando na cadeira ao
meu lado, deu um gole em sua bebida. Ela estava bonita, o short desfiado e a
camiseta regata se moldava ao seu corpo magro e tonificado pelas horas de
treino. Miley era como o resto de nós, uma atleta. Ela sabia tudo sobre
sacrifício e estar no auge da sua condição física. E ao contrário de muitas das
suas companheiras de equipe, ela não tinha tempo para correr atrás de
jogadores de futebol. Não estando focada nas Olimpíadas.
É por isso que eu gostava dela.
Com Miley, não sentia nenhuma expectativa, nenhuma pressão para
prometer coisas que eu não poderia lhe dar. Nós transávamos, usávamos um
ao outro como uma fuga só por um tempo. E quando terminávamos,
seguíamos caminhos separados até a próxima vez.
— Por que você está tão taciturno, Chase? É o último ano — ela falou,
olhando para a festa.
— Você nunca se cansa disso? — perguntei baixinho.
— Estou cansada de não poder comer o que quero, quando quero, se é
isso que você quer dizer. — Miley soltou um longo gemido. — O que eu não
daria para poder ir à Pizza Pepe e comer uma pizza inteira de calabresa com
cebola só para mim e depois me empanturrar com sorvete de massa de
biscoito até passar mal? Mas é o sacrifício que fazemos. — Ela olhou para
mim, sorrindo.
— Um passarinho me disse que você vai se comprometer mais cedo com
o Alabama?
— Esse passarinho está certo.
— Legal. — Eu invejava que ela tivesse tanta certeza e convicção do seu
futuro.
— É uma grande mudança, mas é o melhor programa do país, e eu quero
ser a melhor. — Ela me deu um sorriso caloroso. — E você? Um passarinho,
também conhecido como nossa classe inteira está dizendo que a Penn te quer
tanto quanto o Jason.
— Eles estão interessados, mas ainda não me comprometi.
— Ivy League — ela assobiou por entre os dentes. — Impressionante.
— Não sou apenas um rostinho bonito e um dos melhores wide receivers
do estado, sabe? — falei, mencionando minha posição ofensiva no time, e
sorri para ela.
— Não, Cameron Chase, você não é. Você também é muito, muito bom
com a língua. — Seus olhos escureceram com luxúria. — Quer sair daqui?
— Achei que você nunca perguntaria. — Engoli o resto da cerveja e me
levantei, esperando Miley fazer o mesmo. Asher chamou minha atenção do
outro lado da piscina. Ele sabia do acordo entre Miley e eu, mas estava muito
ocupado com uma de suas amigas para falar alguma coisa.
— Vamos sair — disse a Jase quando passamos por ele.
— Aqui? — ele perguntou, e eu sabia que ele estava perguntando se
íamos subir ou sair para outro lugar.
Olhei para Miley, que deu de ombros.
— Eu sou fácil.
— Aposto que sim — Jase riu, e eu lancei um olhar severo a ele.
— Cuidado com ele, Jenna — Miley disse com uma pitada de amargura.
— Ouvi dizer que ele morde.
Jenna tirou o rosto do pescoço de Jason e falou com o lábio curvado com
arrogância.
— Ah, eu sei disso. Mas eu mordo com mais força.
Tudo bem então.
— Vamos, Chase — Miley riu baixinho, e eu coloquei minhas mãos nos
bolsos, seguindo-a em direção à casa de Asher. — Lugar chique — ela falou.
— Sim, os pais do Ash são bem de vida.
— Não precisa nem dizer.
Entramos, e Miley fez uma pausa, me deixando liderar o caminho. Parei
para pegar algumas garrafas de água e a levei escada acima para o quarto de
hóspedes que os Bennet me deixavam usar sempre que eu ficava aqui. Eu não
chamaria de meu quarto, mas ninguém mais ficava aqui. Eles até me deram
uma chave no ano passado.
— O que é isso? — Miley perguntou quando parei do lado de fora da
porta e tirei a chave da carteira — Seu quarto vermelho da dor?
— Algo assim — sorri para ela —, por que, está com medo?
— Que nada, Chase. Você deu um bom show, mas eu vejo o que há por
trás de toda essa besteira de macho Raider.
Suas palavras me pegaram desprevenido, mas controlei minha expressão.
— Você sabe o que é isso, certo?
— Sim, sim — ela respondeu, assentindo. — Só transamos, nada mais,
nada menos. Não estou pedindo nada a você.
Assentindo, empurrei a porta e a puxei para dentro. Às vezes, nos
momentos de silêncio após o sexo com Miley, eu me perguntava como seria
me abrir com ela, contar todos os meus medos mais profundos, meus
segredos mais obscuros. Não tínhamos esse tipo de relacionamento, e eu nem
queria isso. Pelo menos, não com ela.
Mas a vida não era justa e nem sempre podíamos ter o que queríamos.
Eu sabia disso melhor que a maioria das pessoas.
Sete
Hailee
— Esta é uma má ideia. — Flick pegou a garrafa da vodca com sabor da
minha mão e deu um grande gole nela. — É uma ideia muito ruim. — Ela
passou as costas da mão na boca antes de soluçar.
— Vamos, precisamos ser rápidas. — Segurei sua mão, puxando-a por
entre as árvores que cercavam a propriedade dos Bennet.
— Não posso acreditar que te deixei me convencer disso — ela gemeu
baixinho enquanto a floresta ficava mais densa e as sombras nos engoliam
inteiras.
— Considere como algo para adicionar à sua lista.
— Hails.
— Ah, vamos, Flick. Eu já disse que vou com você para a estúpida
reunião de incentivo, e vou considerar o baile de inverno...
— Vai? — A esperança em sua voz me fez sentir como a pior amiga do
mundo, mas enterrei a emoção, me concentrando na tarefa em mãos.
Quando Jason, Cameron e Asher se afastaram de nós no Ice T's, eu sabia
que não poderia simplesmente deixar isso de lado. Mesmo que Cameron
tivesse me avisado para recuar. Uma coisa era mexer comigo, mas mexer
com a Flick? Isso era completamente inaceitável, especialmente depois que
descobri que ela realmente queria ir à festa idiota deles. Então, enquanto ela
devorava seu brownie de desculpas, eu tracei um plano.
— Certo — falei, parando no limite das árvores, bem onde elas
encontravam a entrada de automóveis da casa de Asher. — Me dê a bebida.
— Eu precisava de mais coragem líquida para o que estava prestes a fazer.
Era estúpido e imprudente, e poderia me deixar em maus lençóis se alguém
me pegasse, mas valeria a pena.
Bebi o restante da vodca, sentindo meu estômago revirar enquanto o
gosto amargo inundava meus sentidos. Quando terminei, joguei a garrafa no
mato e estendi a mão.
— Agora me dê as outras coisas.
Flick soluçou de novo antes de me entregar a lata e o adesivo.
— Tem certeza absoluta sobre isso?
— Você precisa mesmo perguntar?
— Acho que não. Mas, Hails, você não precisa fazer isso, não por mim.
— Quieta. Agora preciso me concentrar. — Li as instruções de novo, mas
meus olhos vidrados estavam deixando tudo um pouco embaçado. Quando eu
tive certeza de que estava tudo certo, me virei para Flick. — Espere aqui, tá?
Não vou demorar. — Empurrei o capuz sobre a cabeça, puxei a corda para
esconder o máximo possível do meu rosto e lentamente me afastei das
árvores.
A frente da casa estava mergulhada na escuridão. Todo barulho e música
vinha dos fundos. Eu nunca estive na casa de Asher, mas todo mundo sabia
que seus pais eram ricos. Ouvi alguns garotos conversando na escola sobre as
festas infames perto do lago em que a propriedade ficava. Olhei para os dois
lados, me certificando de que não havia ninguém por perto antes de cortar o
caminho para a fila de carros. O jipe ​de Asher, a caminhonete de Cameron e,
finalmente, meu alvo: o Dodge Charger 1969 restaurado de Jason
Dando a volta no carro, me agachei na frente do capô. Meus dedos
tremiam e meu coração batia forte enquanto removia o adesivo da parte de
trás e o posicionava no centro da pintura preta elegante. Alisei o logotipo da
Rixon East Eagles no capô e, em seguida, comecei a usar a tinta spray.
— Hails — a voz abafada de Flick foi carregada pela brisa enquanto eu
me inclinava sobre o capô, pulverizando com tanta precisão quanto eu
poderia, dada a falta de luz e minha atual falta de sobriedade. — Se apresse.
— Estou indo, estou quase terminando. — Recuando para examinar
minha obra, sorri para mim mesma. Jason ia me matar. Se havia uma coisa
que ele amava quase tanto quanto futebol, era este carro. E quando ele
percebesse... merda. De repente, me ocorreu que talvez eu não fosse a
primeira suspeita a surgir na mente dele.
Os Raiders tinham uma história complicada com a Rixon East High. Uma
rivalidade há décadas. O que só tinha aumentado desde que Jason se tornou o
QB número um dos Raiders. Porcaria. E se ele pensasse que alguém da
equipe tinha feito isso? Eu poderia ser o fósforo acendendo um fogo de longa
duração. Mas era tarde demais para me preocupar. Não tinha como remover o
adesivo ou a tinta spray.
Pegando todas as evidências, coloquei-as nos bolsos e verifiquei a calçada
novamente antes de voltar para as sombras. Mas o som de vozes me assustou,
e eu corri de volta para o jipe ​de Asher, me agachando atrás dele.
— Tem certeza de que está bem para voltar para casa?
Era Cameron. Graças a Deus. Pelo menos, não era Jason. Talvez eu ainda
pudesse sair dessa sem ser pega. Os carros estavam estacionados em frente à
garagem dupla ao lado da casa, então se ninguém aparecesse por aqui, eu
ficaria bem.
— Sim — uma voz feminina falou. — Sou uma garota crescida, posso
cuidar de mim mesma. É fofo que você se importe.
Ele deu uma risada tensa e meu estômago deu um nó. Cameron e uma
garota. Não deveria ter me surpreendido. As palavras Raider e mulherengo
praticamente andavam de mãos dadas.
— Obrigado — ele falou — por... você sabe.
— É sempre um prazer, Chase. Eu viria correndo a qualquer dia da
semana por causa daquele truque que você faz com o seu... — O ronronar
suave do motor de um carro abafou suas palavras. Graças a Deus, porque eu
realmente não queria ouvir tudo sobre as incríveis habilidades de Cameron no
quarto.
Me arrastando para o outro canto do jipe, me inclinei para tentar dar uma
olhada em quem estava com ele. Mas tudo o que vi foi o flash de um cabelo
comprido e escuro antes de ela entrar no Uber.
Agora era minha chance, eu tinha que sair daqui. Me agachando
novamente, saí de trás do jipe ​e corri. Mas logo antes de atingir a linha das
árvores, a lata caiu do meu bolso, rolando para o chão com um baque alto.
Paralisei, prendendo a respiração enquanto esperava. Talvez Cameron já
tivesse entrado, talvez ele estivesse...
— Que porcaria é essa?
Merda !
Meu pulso batia forte enquanto eu tentava analisar minhas opções. Eu
poderia correr para as árvores e esperar que ele não corresse atrás de mim, ou
poderia me virar e confessar. De qualquer forma, a situação não estava boa
para mim. Eu esperava estar enfiada na cama quando Jason descobrisse
minha última obra.
Decidindo arriscar, dei um passo, pronta para mergulhar nas árvores, mas
fiz barulho.
— Quem está aí? Thatcher, se for você, é melhor...
Me virei lentamente, afrouxando o cordão do capuz para revelar meu
rosto. A máscara de fúria de Cameron vacilou por um segundo e seus olhos
se arregalaram. Mas depois os franziu perigosamente enquanto se
aproximava. — Raio de Sol? O que é que você está fazendo aqui?
— Humm, oi. — Dei a ele um sorriso irônico.
Ele segurou meu braço, e eu me perguntei o que ele estava fazendo até
que me puxou ainda mais para as sombras.
— Que merda, Cam...
Ele apontou para a casa, onde havia uma câmera CCTV. Porcaria. Por
que não pensei nisso? Provavelmente porque você está bêbada e tem muita
adrenalina em suas veias, idiota.
— Agora — sua voz estava fria —, quer me explicar o que você pensa
que está fazendo?
— Humm, sobre isso... bem, achei que o carro de Jason precisava de uma
pequena reforma? — Minha resposta saiu mais como uma pergunta do que
como uma piada sarcástica que era minha intenção.
Cameron soltou um suspiro exasperado, e tenho certeza de que o ouvi
sussurrar:
— Você não está tornando as coisas fáceis para mim. — Mas percebi que
meus ouvidos estavam pregando peças em mim. — Você não podia
simplesmente recuar, não é? — Seus olhos me mantiveram presa.
Mas dane-se.
— Talvez você deva controlar seu garoto. — Apontei o dedo para ele. —
Posso aceitar que ele implique comigo. Mas não com a Flick. Ela não faz
parte disso.
Ele se inclinou, enrolando seus dedos nos meus.
— E você não acha que quando ele descobrir que você fez isso, virá atrás
de você com tudo o que tem? Pense nisso, Raio de Sol.
— Pare de me chamar assim. — Não consegui pensar direito quando ele
disse as palavras.
A boca de Cameron se curvou um pouco, mas o suficiente para eu saber
que ele estava gostando disso. Idiota . Ele era exatamente como meu meio-
irmão. Pior ainda, porque houve um tempo em que eu realmente acreditava
que ele era diferente. Mas eu era jovem e tola, e aprendi minha lição no que
dizia respeito a Cameron Chase.
— O que você vai fazer? — Ele franziu a testa, então eu acrescentei: —
Vai contar a ele?
— Deixe que eu me preocupe com o Jason, você se preocupe só consigo
mesma.
— O que isso significa?
Mais vozes soaram, e Cameron olhou para o portão ao lado da garagem.
— Merda — ele murmurou. — Você precisa sair daqui.
— Mas e quanto...
— Hailee, vá. Agora.
— Hails? — Flick me chamou por entre as árvores, com os olhos
vidrados e arregalados, o pânico gravado em seus traços suaves. Cameron
xingou baixinho. — Vocês duas estão bêbadas? — Ele parecia estar
chateado.
— Eu... nós... — Olhei para o portão, pois o barulho de metal chamou
minha atenção.
— Tire-a daqui agora. E não volte. — Cameron não estava falando
comigo. Estava olhando para Felicity como se ela fosse, de alguma forma, a
culpada por tudo isso.
— Não olhe para ela assim — comecei, mas Flick já estava com a mão no
meu braço, tentando me puxar para longe.
— Ei, Chase? Você está aqui? — A voz do meu meio-irmão estava perto.
— Pensei ter ouvido um carro.
— Vá, agora — a voz de Cameron era um sussurro mortal.
A vodca deu a Flick uma super força, porque ela me puxou para as
árvores como se eu não pesasse nada, até que o rosto de Cameron não estava
mais visível através das folhas.
— O que foi aquilo? — ela assobiou.
Mas não pude responder, porque eu não tinha resposta.
— Filho da puta! — O estouro da voz de Jason e a raiva escorrendo de
cada sílaba afogou todos os meus pensamentos.
— Merda. — Entrei em ação. — Precisamos sair daqui agora. — Minha
mão encontrou a de Flick e comecei a puxá-la enquanto eu me movia
rapidamente pela floresta. Viemos caminhando para a casa de Asher. Ela
morava a apenas alguns quarteirões, mas era longe o suficiente para Jason
nos encontrar se não nos apressássemos.
Assim que saímos da propriedade dos Bennet, corremos. Nenhuma de nós
era muito atlética, mas não precisávamos de uma desculpa esta noite. Nossos
pés batiam no chão, árvores e galhos passando por nós, sombras dançando na
minha visão. Nunca fiquei mais feliz em ver a casa de Flick à distância.
— Vamos — eu disse, sem fôlego, entrelaçando meu braço ao seu e
olhando por cima do ombro uma última vez. — Provavelmente deveríamos
entrar.
Quarenta minutos depois, estávamos de banho tomado e nos deitamos na
cama de Flick de pijama.
— Não acredito que o Cameron te pegou — ela falou, dando uma
mordida na sua bala Fini.
— Eu me pergunto o que ele disse a Jason.
— Acho que você vai saber em breve.
— O que isso deveria significar? — Franzi o cenho.
— Bem, se ele contar a Jason, pode esperar uma retaliação terrível, e se
não contar, acho que você está segura... por enquanto.
— Você faz parecer um episódio de Game of Thrones .
— Acho que é mais como Guerra dos Sexos — ela brincou, e eu cutuquei
seu ombro com o meu.
— Foi estranho, certo? O Cameron poderia ter me delatado bem ali, mas
não o fez. Ele nos disse para irmos. — Flick sorriu, e eu acrescentei: — O
quê?
— Não. Nada...
— Vamos, me diga.
— Eu sei que você acha que ele não te quer, Hails, mas você tem que
admitir, pareceu que ele estava te protegendo.
— Me protegendo ? — Eu estava incrédula. — Dois minutos antes, ele
estava se despedindo da transa da noite.
— Transa da noite? — Flick explodiu em gargalhadas e rolando de
costas, mas eu não estava rindo. Eu não sabia mais o que eu era. O último ano
estava se tornando mais confuso do que eu esperava.
Me virei também, deitando ombro a ombro com ela. Nós duas olhamos
para o teto, deixando os eventos da noite tomarem conta de nós.
— Você se divertiu?
— Se me diverti? — ela questionou. — Ser expulsa da propriedade de
Asher Bennet por Cameron depois que você marcou o carro de Jason, não é
minha ideia de diversão, Hails. Por quê? — Sua pergunta era cheia de
suspeita. — Você se divertiu?
— Acho que estou ficando louca — admiti. Porque ainda que eu estivesse
com medo de ficar cara a cara com Cameron, eu não podia negar que uma
parte de mim gostou. O perigo, a emoção de tirar o fôlego quando colei o
logotipo do time rival no carro de Jason.
— Você não está ficando louca. — Flick parecia triste. — Você está tão
acostumada a ficar na defensiva e a jogar esses jogos estúpidos com Jason,
que isso alterou sua percepção do que é divertido e do que não é.
— Você quer dizer que estou endurecida? — Vacilei, lembrando da
palavra que ela usou para me descrever mais cedo. Parecia que fazia uma
década.
— Sim e não. Acho que você está endurecida, Hails, mas é normal você
estar assim, eu entendo. Essa coisa entre você e Jason, o constante vai e
vem... você não tem que provar nada para ele.
Provar?
Ela pensou que eu estava tentando me provar para ele?
— Não é isso que estou fazendo — eu disse, mas quando as palavras
saíram, percebi que talvez ela tivesse razão. Jason foi muito rápido em me
ignorar quando nossos pais ficaram juntos. Ele nem me deu uma chance. E
talvez, parte de mim quisesse participar dessa batalha de egos para derrubá-lo
do pedestal, da escola, da cidade e colocá-lo em seu lugar. Talvez no fundo,
eu quisesse que ele percebesse que eu era uma boa pessoa. Uma pessoa que
valia a pena conhecer.
Uma irmã que valia a pena ter.
Argh. Eu odiava me sentir assim. Fraca e à sua mercê.
Odiava sentir que a opinião de Jason realmente importava.
Rolando para o lado, me afastei de Flick. Depois de alguns segundos de
silêncio, ela falou.
— Me desculpe, eu não queria te aborrecer.
— Está tudo bem — murmurei, engolindo as lágrimas que ameaçavam
cair.
Eu não ia chorar.
Não por isso.
E definitivamente não por causa do idiota do meu meio-irmão e seus
amigos.
— Só não quero ver você se magoar — ela disse, se virando atrás de
mim. Flick envolveu o braço na minha cintura e se aconchegou nas minhas
costas. — Eu te conheço, Hails, e sei que você nunca deixaria as coisas irem
longe demais, mas o Jason? Eu não tenho tanta certeza. Ele tem que ser o
melhor, sair por cima, custe o que custar. Você já deveria saber disso.
Eu sabia.
Ele era frio. Focado. Determinado a ter sucesso, não importava o que
fosse preciso.
E por mais que eu tentasse, não era como ele. Eu estava endurecida, sim,
mas ainda tinha sentimentos. Ainda sofria.
Minha melhor amiga estava certa. Se eu não tomasse cuidado, esse jogo
entre Jason e eu ia me consumir até que não restasse nada. É sobre isso que
Cameron estava me alertando também. Jason não pararia. Ele continuaria
pressionando, me atingindo, até que eu me rendesse.
Mas mesmo sabendo que ele poderia me machucar e que no fim Jason
poderia quebrar minhas paredes com sucesso, eu ainda não sabia se
conseguiria.
Eu não sabia se poderia recuar.
Oito
Cameron
— Depois do Thatcher ter falado merda no Twitter e no Snapchat a semana
toda, minha aposta é nele. — Asher deu um longo gole na cerveja, se
acomodando em uma das cadeiras da sala de jogos.
— Bem, se for, ele está querendo morrer. — O comportamento de Jason
irradiava raiva. Depois que viu o carro – e a obra de Hailee – pensei que ele
fosse explodir. Asher agiu rapidamente e encerrou a festa, mandando todos
para casa enquanto tentávamos limpar o carro e acalmá-lo. Retiramos o
adesivo sem nenhum dano, mas a pintura precisaria ser removida
profissionalmente.
— Não podemos tirar conclusões precipitadas — falei. — Se formos atrás
do Thatcher e estivermos errados, isso pode nos custar...
— Sim, mas vamos lá, cara — Asher cruzou as mãos atrás da cabeça. —
Quem mais é burro o suficiente para fazer algo como... Hailee. — Seus olhos
brilharam. — Pode ter sido ela.
— Nada, cara — eu disse, tentando ficar tranquilo. — Ela está pronta
para uma ou duas travessuras, mas danos criminais?
Jason estava quieto. Quieto demais. Eu o observei com o canto do olho,
tentando descobrir o que estava acontecendo em sua cabeça.
— Você verificou o CCTV? — ele perguntou a Asher, que assentiu.
— Como eu disse antes, meu velho desligou o sistema antes do verão,
quando começou a apresentar falhas. Ele ainda não conseguiu consertá-lo.
Graças a Deus.
Jase grunhiu, esfregando o queixo.
— Não, a Hailee não faria isso. Ela é corajosa, mas não o suficiente para
fazer algo assim. Só pode ser o Thatcher.
Eu não sabia o que fazer. Por um lado, poderia confessar e entregar
Hailee... ou poderia esconder a verdade e dar mais munição para ir atrás de
Thatcher.
De qualquer forma, era uma tragédia anunciada.
Mas eu poderia delatar Hailee sabendo que Jason iria atrás dela com tudo
que ele tinha?
— Mesmo assim — eu disse, tomando minha decisão —, sem evidências,
você precisa agir com cuidado. O Finnigan está ansioso, esperando por uma
desculpa para ser duro com você. Se ele sentir cheiro de problemas com a
East, vai atacar.
Jase se recostou, considerando minhas palavras. Embora Asher gostasse
de criar problemas, sempre fui a voz da razão de Jase.
— Puta merda, eu quero destruir aquele idiota.
— Então faça isso no campo, onde doerá mais. — Thatcher era muito
parecido com Jason: cabeça-dura, arrogante e devotado cento e dez por cento
ao jogo. Perder para os Raiders seria quase tão bom quanto qualquer
retaliação que Jase e Asher pudessem imaginar para ele.
— Ou atravessamos o rio e mostramos àquele filho da puta quem
realmente são os Raiders — Asher falou com um sorriso.
Eu o cortei com um olhar severo, mas Jase me surpreendeu quando disse:
— Não, o Chase está certo. Embora eu tenha noventa e cinco por cento de
certeza que foi ele ou um dos seus caras, não podemos revidar. Ainda não.
Não com o Finnigan fungando em nossos pescoços.
Asher resmungou baixinho, mas não discutiu. A palavra de Jase era
definitiva, sempre foi.
— Mas isso não significa que não preciso dar uma lição na Hailee.
— Agora estamos falando a mesma língua. — Asher esfregou as mãos, a
travessura brilhando em seus olhos. — Podemos brincar com a Felicity
também?
A expressão de Jase endureceu – foi apenas por uma fração de segundo,
mas eu vi.
Interessante.
— Não, a Hailee tem razão. Isso é entre nós dois. — Mas ele ficava muito
feliz de nos colocar para fazer seu trabalho sujo de vez em quando.
Asher deu de ombros.
— Sim, tudo bem, cara.
— Vou buscar outra cerveja — falei. — Vocês querem?
Os dois assentiram, e eu saí da sala. Estava certo em mentir para Jason.
Se ele soubesse que Hailee estava por trás do que aconteceu com seu carro...
bem, eu não queria pensar sobre o que ele faria. Mas percebi que ele nunca
desistiria desse jogo de gato e rato com ela. E se ele direcionasse a raiva de
Thatcher para ela, as coisas ainda poderiam ficar feias.
A menos que Hailee fosse colocada em seu lugar de uma vez por todas.

***

A segunda-feira chegou e todo mundo estava falando sobre a próxima


reunião. Era sempre uma grande confusão com a escola inteira aparecendo
para apoiar os Raiders e dar as boas-vindas ao time do colégio. Khloe encheu
o celular de Jase o dia todo querendo saber quando poderiam se reunir para
planejar nossa grande entrada . Eventualmente, ela o pegou durante seu
período livre, mas eu o deixei para enfrentá-la sozinho, dizendo que precisava
ir para a aula. Ele apontou que eu já estava atrasado, mas eu apenas sorri e dei
o fora de lá.
Eu não esperava dar de cara com Hailee enquanto contornava o corredor
vazio.
— Preciso falar com você. — Ela segurou meu braço e me puxou para o
armário do zelador.
— Olá para você também. — Olhei para ela, confuso sobre como me
sentia com ela me puxando. Por um lado, meu pau gostou. Se a protuberância
em meu jeans fosse alguma indicação, ele gostou muito. Mas minha cabeça
sabia que era um jogo perigoso que ela estava jogando.
— Por que você não disse ao Jason que fui eu? — Ela semicerrou os
olhos com suspeita, mas não a culpei. Ela tinha todo direito de desconfiar de
mim.
— Então você ouviu os rumores? — Um sorriso lento se abriu em meus
lábios. —Sobre como a Rixon East atravessou o rio e marcou o carro de
nosso capitão? Tsk, tsk .
— Cameron...
— Raio de Sol ...
Meu sorriso cresceu.
— Deus, você é irritante.
Hailee recuou, colocando algum espaço entre nós, mas estávamos no
armário do zelador, então realmente não havia muito.
Arqueei a sobrancelha.
— Eu? Eu sou irritante? Talvez você devesse dar uma boa olhada no
espelho, Raio de...
— Pare de me chamar assim — ela retrucou antes de soltar um suspiro
exasperado. — Por que você fez isso? Por que me protegeu?
— Você acha que eu estava te protegendo ? — Endureci o olhar e cruzei
os braços. — Desculpe estourar sua pequena bolha, mas não protegi você.
Protegi meu melhor amigo de si mesmo. De fazer uma grande merda.
— Ele é um homem crescido — ela zombou. — Tenho certeza de que ele
é perfeitamente capaz de arcar com as consequências de suas ações. — Foi a
vez de Hailee arquear uma sobrancelha.
— Você não entende.
Como ela podia?
— Ha, futebol. — A palavra estava envolta em amargura. — Tudo se
resume ao futebol, não é? — Hailee balançou a cabeça com incredulidade.
— Jason tem toda a carreira pela frente. Ele não precisa se distrair com
você e sua incapacidade de saber quando parar.
— Eu...
Sua expressão se desfez e um raio de culpa me atingiu, mas foi
rapidamente seguida por outra coisa. Aquilo que vivia dentro de mim, que se
acostumou a ver Hailee brigar com Jason. Que gostava da sua boca
inteligente e ações imprudentes.
A parte que ansiava por esse lado.
Merda, eu estava confuso demais quando se tratava dela.
— Admita, Raio de Sol. Você é exatamente como ele. Não suporta a ideia
de perder para o Jase. — Me aproximei dela. — Acho que você gosta desses
jogos. Assim como de toda a atenção que damos a você. A atenção que eu te
dou.
Seus olhos brilharam de raiva quando ela respirou fundo. Foi apenas uma
pequena ação, mas o suficiente para me fazer olhar para seus lábios. Aqueles
lábios rosa suave e que eu queria beijar.
Puta merda.
Ela já me odiava, poderia muito bem me odiar um pouco mais.
Peguei uma mecha de seu cabelo macio, a mesma que segurei quando fui
vê-la no estúdio de arte.
— Cameron? — ela perguntou com a voz incerta, baixa e muito diferente.
— Por que você está me olhando assim?
— Assim como, Hailee?
Ela engoliu em seco, umedecendo o lábio com a ponta da língua.
E eu estava acabado.
A corda fina do meu controle estourou, e minha boca cobriu a dela
enquanto eu enroscava as mãos em seu cabelo e nos pressionava contra a
prateleira. Os dedos de Hailee agarraram minha camisa, me puxando para
mais perto... ou ela estava tentando me afastar? Eu não sabia, mas não me
importava, porque o gosto de seus lábios nos meus, a maneira como minha
língua deslizou contra a sua... isso me consumiu até que eu estivesse me
afogando em nada além de Hailee Raine.
Minha mão desceu por sua cintura e passou por sua bunda para puxá-la
para mais perto, encaixando nossos corpos como duas peças de um quebra-
cabeça. Eu estava duro como uma rocha. Meu pau pressionou seu ventre e foi
muito bom. Ela era gostosa demais. Mas eu estava aprofundando o beijo,
roçando meus quadris nos seus para conseguir um pouco mais de atrito
quando ela bateu as mãos no meu peito, me empurrando com força.
Tropecei para trás e ela gritou:
— O que é isso, Cameron? — Suas bochechas estavam vermelhas e os
lábios, inchados. — O que é que foi isso? — Não sei se ela percebeu, mas
passou os dedos nos lábios, tocando-os como se não tivesse certeza de que foi
real. Mas sua confusão se dissipou, sendo substituída pela raiva.
Raiva ardente e intensa.
E foi tudo direcionado a mim.
— Isso foi... você não pode fazer isso. — As palavras saíram roucas, mas
ela estava sem palavras e não pude deixar de me sentir presunçoso por tê-la
afetado tanto. Porque, caramba, só eu sabia o quanto ela me afetou.
— Não posso te beijar? — provoquei. — Acho que acabei de fazer isso.
— Bem, não faça de novo. — Suas bochechas coraram e seu peito subiu e
desceu rápido. Ah, com certeza ela queria que eu fizesse de novo. Só não
queria admitir.
Me aproximei de Hailee até que suas costas batessem na prateleira e a
encarei. Ela ainda estava sem fôlego e a confusão nublava seus olhos.
— Você me quer — falei.
— Eu não — ela rebateu. — Isso... nós... eu te odeio. — Ela estava irada,
mas eu ainda não tinha acabado de brincar. Passando a mão pela curva do seu
pescoço, me inclinei, roçando os lábios sobre a sua orelha.
— Pode me odiar o quanto quiser, Raio de Sol, mas isso não muda o fato
de que você deve estar molhada para mim.
Seu suspiro suave preencheu o pequeno espaço, e eu a senti estremecer.
— Vá se foder — ela grunhiu, tentando passar por mim, mas eu a prendi,
encaixando minha perna entre as suas e pressionando suavemente. Eu queria
tocá-la, para testar minha teoria.
Mas sabia que não deveria.
Sabia que se o fizesse, poderia querer fazer de novo, e isso seria
realmente perigoso.
— Cameron, se você não sair de cima de mim nos próximos três
segundos, eu vou... — Um gemido estrangulado deixou seus lábios como se
ela estivesse lutando contra seu próprio corpo quando empurrei meu joelho
entre suas pernas.
— Isso é bom, Raio de Sol? — Fiz de novo, e ela inclinou a cabeça para
trás, deixando outro gemido suave escapar de seus lábios. Mas quando meus
dedos alcançaram o cós da calça jeans, acariciando a pele nua, ela paralisou.
Senti a mudança no ar, a temperatura esfriando junto com seu olhar
gelado.
— Tire. As. Mãos. De. Mim. — O veneno em suas palavras me fez recuar
lentamente. Ela parecia estar furiosa. Hailee poderia negar tudo o que
quisesse, mas eu senti a química entre nós. A atração e repulsa.
E eu sabia que ela também.
Seus olhos queimaram nos meus e seu corpo tremia. Eu nunca tinha visto
Hailee tão agitada e, caramba, se eu ainda não estivesse convencido de que
era meu toque, meu beijo, isso bastava. Um instante se passou enquanto
estávamos lá, travados em uma batalha de vontades. Mas ela desviou o olhar
para a porta, e eu me afastei, lhe dando passagem antes de fazer algo
realmente estúpido.
Hailee correu até ela, agarrando a maçaneta, mas no último segundo,
olhou para trás.
— Você acha que pode fazer o que quiser só porque é um Raider e isso é
patético pra caramba, mas você não me assusta, Cameron. Nenhum de vocês.
O desafio cintilou em seus olhos e parte de mim ficou impressionada.
Mesmo agora, em um armário escuro comigo, ela tentava manter o controle.
— É por isso que você está fugindo?
— Eu não estou... — Ela apertou os lábios, se recusando a começar uma
nova rodada de discussões, e eu sorri.
— Acho que nós dois sabemos que você está fugindo — falei. — Mas
você deve ter cuidado, Raio de Sol.
— É mesmo? — Ela ergueu o queixo. — E por quê?
— Porque você pode fugir, mas nós dois sabemos que não pode se
esconder.
Ela franziu o cenho como se eu fosse um quebra-cabeça que ela quisesse
entender, mas então, assentindo rapidamente, ela saiu e minha risada a seguiu
por todo o caminho.
Nove
Hailee
Cameron me beijou.
Quatro dias se passaram, e eu ainda não conseguia entender isso.
Passamos de discutir, insultando um ao outro, para ele me empurrar contra as
prateleiras do armário do zelador e me beijar. Só que beijar não fazia justiça à
forma como seus lábios cobriram os meus. Se beijos tivessem nomes, os de
Cameron seriam chamados de perigosos. Era como se ele tivesse pegado todo
o ódio entre nós, todo aquele jogo de gato e rato, e o liberasse sobre mim.
Não foi doce ou terno, nem um reconhecimento de sentimentos escondidos.
Foi um beijo de ódio, alimentado pela tensão contínua entre nós. Com certeza
não foi por causa das emoções que não queríamos sentir. Emoções que me
recusava a reconhecer.
Não. Eu não ia aceitar isso como uma possibilidade.
Ele era o melhor amigo do meu meio-irmão.
Um Raider.
Sem mencionar que era um dos meus algozes.
Cameron Chase era tudo que eu odiava.
No entanto, não fui capaz de esquecer a sensação dos seus lábios se
movendo nos meus, a maneira como ele me abraçou e me tocou. Então eu fiz
a única coisa que podia: passei a semana fingindo que ele não existia.
Claro que não contei a Flick. Isso só alimentaria sua teoria de que
Cameron realmente sentia algo por mim. Mesmo após o beijo, eu ainda não
estava convencida disso. Sua lealdade ao meu irmão, o fato de ele ser um
Raider e de ter passado tantos anos me provocando tanto quanto Jason, me
disse tudo que eu precisava saber sobre ele.
Mas esta noite, não havia como escapar.
— Me lembre de novo por que estamos aqui? — gemi, seguindo Flick
enquanto ela se movia pelo mar de azul e branco.
— Porque é nosso último ano, e estamos entrando de cabeça nisso. Além
do mais, você concordou em ajudar sua melhor amiga a realizar a listinha
boba dela, se lembra? —​ ela falou com um sorriso extravagante estampado
no rosto.
— Como eu poderia me esquecer? — Mostrei a língua para ela. —
Contanto que você saiba o quanto isso é doloroso para mim. Eu te disse que
eu realmente odeio futebol? — Minha resposta foi um pouco alta demais,
fazendo com que algumas pessoas me fuzilassem com os olhos.
— Hails — Flick falou, chegando ao meu lado e empurrando meu braço
com o seu. — Estamos aqui para nos divertir. Sei que você odeia futebol —
ela baixou a voz. — Sei que é muito doloroso para você estar aqui, mas esta é
a última vez que teremos a chance de fazer isso. Em quatro anos, você não
vai querer olhar para trás e se arrepender de não ter vindo para uma dessas
coisas.
Eu não conseguia imaginar um cenário onde isso acontecesse.
Meus olhos percorreram o campo de futebol, observando os grupos
animados de garotas, o barulho ensurdecedor, a banda tocando para uma
plateia distraída. O ar estava elétrico, carregado com a energia de oitocentos
jovens reunidos para homenagear seu time. Mas a única coisa que provocou
dentro de mim foi uma leve dor de estômago e uma grande vontade de revirar
os olhos.
— Não fique tão taciturna. — Flick riu, jogando um punhado de bastões
luminosos para mim.
— Devo saber o que fazer com isso?
Ela balançou a cabeça, a diversão brilhando em seus olhos, e ergueu os
pulsos.
— Abra e use.
— Mas por quê?
— Você verá. — Foi tudo o que ela disse enquanto segurava minha mão e
me puxava pela multidão. Me dei conta de como ela estava à vontade com
tudo isso.
A área das arquibancadas para a qual fomos conduzidas estava lotada.
Havia muitos cartazes feitos em casa e os jovens se espalhavam pela borda do
campo. A torcida estava reunida perto do palco elevado, onde o diretor
Finnigan e o treinador Hasson estavam. Era o fanatismo do futebol no seu
melhor, todos esperando para dar uma olhada no time deste ano. A equipe
que eles esperavam que ganhasse o campeonato estadual.
Flick conseguiu encontrar dois assentos no meio da arquibancada, ao lado
de um grupo de calouras que ostentavam o logotipo dos Raiders nas
bochechas. Elas estavam acenando com seus cartazes escrito “Eu amo Jason”
e “Cameron, me ligue”. Elas nos ofereceram sorrisos dignos de espírito de
torcida, mas a melhor saudação que consegui dar foi um revirar de olhos e
lábios franzidos. Mesmo que elas soubessem que o máximo de atenção que
podiam esperar do meu meio-irmão era uma transa bêbada e um tapinha na
bunda ao sair, não importava. Acho que ser um jogador cinco estrelas,
detendo vários recordes na temporada e correndo atrás do recorde de passes
do estado de todos os tempos dava a ele passe livre para ser um idiota
presunçoso. Eu só sabia de seus recordes porque Kent mantinha uma placa na
cozinha totalizando as estatísticas de Jason. Todas as manhãs, enquanto eu
tomava meu café com Pop-Tart, recebia um pequeno lembrete de que Jason –
e o futebol – faziam parte da minha vida, eu gostasse ou não.
Só por mais alguns meses.
— Estou surpresa por você não ter feito algo. — Cutuquei Flick,
apontando para as meninas. — Já que você está abraçando isso e tudo mais.
— Comporte-se — ela respondeu com um sorriso sardônico. — Ah, olhe,
está prestes a começar. — Flick bateu palmas, e eu resmunguei baixinho.
A banda marchou em formação, mas era impossível ouvi-los com o
rugido da multidão. A força disso me atingiu, fazendo meu coração cair,
arrepiando os pelos dos meus braços e da parte de trás do meu pescoço.
— Puta merda — falei para ninguém em particular. Olhando para Flick,
vi que ela estava sorrindo com os olhos fixos na banda enquanto eles
cantavam a música da escola. O mascote do time, uma cabeça Viking azul
gigante, cambaleou para o campo, enfrentando uma Águia vermelha e branca,
o símbolo dos Eagles. A multidão vaiou e a risada atravessou as
arquibancadas como uma onda.
— Isso é sério? — perguntei a Flick pelo canto da boca, ciente de que
todos ao nosso redor estavam completamente absortos, observando um
Viking de espuma tentando derrubar uma Águia, também de espuma.
Felizmente, a exibição constrangedora não durou muito, e eles saíram do
campo com o Viking vitorioso, é claro.
Estava prestes a perguntar para que precisávamos dos bastões luminosos
quando os holofotes se apagaram, deixando todo o lugar na escuridão.
— O que... — A adrenalina me atingiu e meu coração disparou na
garganta enquanto as luzes de néon se destacavam no fundo escuro e as
batidas de abertura da música Get ready for this explodiram pelo sistema de
som. Percebi que todas as placas e faixas eram pintadas com tinta neon, e as
líderes de torcida estavam vestidas com camisas brancas e detalhes em azul
neon no peito. Elas usavam bastões luminosos nos pulsos e tornozelos. Nem
eu não podia negar que a escolha da luz negra foi eficaz.
Quando a apresentação terminou, a multidão explodiu novamente,
fazendo o lugar tremer. Entrelacei o braço no de Flick.
— Isso é loucura — falei, me aconchegando a ela.
— Está tudo bem — ela suspirou e por um segundo meu estômago
afundou. Eu não ia perder minha melhor amiga – a única pessoa que sempre
me entendeu – para o futebol , ia?
Meus pensamentos evaporaram rapidamente quando a música Wathever it
takes do Imagine Dragons tocou no campo. Nem uma única pessoa
permaneceu sentada. A multidão estava de pé aplaudindo, pulando e gritando.
Era frenético. Selvagem. Era a loucura do colégio no seu melhor. E nem eu –
a pessoa que mais odiava futebol que já viveu em Rixon – podia negar que a
atmosfera estava elétrica. Contagiante. Embora eu quisesse bloquear tudo,
odiar tanto quanto sempre odiei, ela se infiltrou em mim, queimando em
minhas veias como um incêndio. E não importava o quanto você soubesse
que era perigoso, que era mais seguro fugir das chamas, você não podia
deixar de parar e vê-las queimar.
Mas o feitiço foi quebrado quando meus olhos pousaram no meu meio-
irmão liderando seu time para o campo, o número 1 em sua camisa iluminado
com tinta neon. Cameron, número 14, à sua direita e Asher, número 42, à sua
esquerda. Os três estavam um pouco à frente do resto da equipe. Eles me
lembravam de um general e seus tenentes liderando um exército, com as
cabeças erguidas, pintura de guerra e capacetes pendurados ao lado do corpo
como armas mortais. Ouvi garotas gritarem seus nomes enquanto garotos
cantavam. Até Flick parecia pronta para se juntar ao refrão, mas belisquei seu
braço, encarando-a com um olhar duro.
— O quê? — Ela deu de ombros. — Quando em Roma... — Ela balançou
as sobrancelhas antes de se virar para o campo e gritar: — Nós te amamos,
QB 1, tenha bebês comigo.
— Meu Deus. — Tampei sua boca, abafando sua risada. — Você é louca.
— É preciso ser louca para reconhecer outra — ela murmurou, tirando
meus dedos da sua boca. — Veja o Cameron, ele está gost...
— Não termine essa frase.
Era tarde demais. Meus olhos o absorveram. A maneira como seus
quadris se estreitavam, como as calças justas se agarravam à suas pernas
musculosas... e outros lugares .
— Você está babando um pouco. — Flick pressionou o polegar no canto
da minha boca.
— Vá se foder — resmunguei, batendo na sua mão. — Essa coisa já está
acabando?
Ela fez beicinho.
— Você não é divertida.
— Não, isso não é divertido. — Agora que o zumbido inicial havia
passado, eu estava pronta para ir.
— Vamos só esperar o discurso do treinador Hasson e depois vamos, tá?
— Tudo bem — eu bufei, sabendo que estava fazendo todas as vontades
dela. — Mas você me deve uma.
Mesmo assim, no fundo, eu sabia que era o contrário.
Uma hora depois, ainda não tínhamos saído. Flick estava se divertindo e
acho que meu coração não era completamente feito de pedra, porque vê-la tão
feliz me deixou feliz.
— Vou fazer xixi — eu disse enquanto vagávamos pela multidão. Depois
que o treinador Hasson colocou a todos em outro frenesi, ele apresentou o
time do time do colégio para a próxima temporada. Eu conhecia cada nome,
cada rosto. Todos nós conhecíamos. A única diferença era que eu não me
importava.
— Vou esperar na barraca Bata na Águia — Flick respondeu com a boca
cheia de algodão doce. — Isso é bom. — Ela lambeu os dedos pegajosos,
sorrindo.
Depois do encontro, todos foram para o estacionamento onde o comitê
social montou barracas para arrecadar dinheiro para o time. Eles mantiveram
o tema escuro, mas penduraram pequenas luzes de néon entre as cabines. Era
irritantemente eficaz, assim como tudo nesta noite.
— Acho que você tem que usar os banheiros do estádio.
— Ótimo. — Porque eu realmente queria voltar lá.
Corri em direção à estrutura imponente. Ao contrário da maioria das
escolas de ensino médio na área, Rixon High construiu um estádio para cinco
mil pessoas o que, no dia do jogo na próxima sexta-feira, teria apenas lugares
em pé. Quanto mais longe do estacionamento, mais escuro ficava e eu mal
conseguia distinguir a sinalização dos banheiros. Ao entrar, achei que
encontraria mais jovens, mas fui recebida com nada além de um silêncio
ensurdecedor. As luzes automáticas se acenderam, acalmando meu pulso
acelerado, mas ainda assim eu me apressei, ansiosa para sair daqui e voltar
para Flick.
Quando terminei, lavei as mãos e voltei para o corredor, esperando as
luzes se acenderem. Mas isso não aconteceu. Então avancei, balançando as
mãos na esperança de acionar os sensores.
— Merda — murmurei quando nada aconteceu.
Abraçando minha cintura, caminhei em direção à saída quando uma mão
cobriu a minha boca, me puxando para as sombras e abafando o grito que
saiu da minha garganta. Uma onda de medo tomou conta de mim enquanto eu
era empurrada contra a parede, com os olhos selvagens lutando contra a
escuridão e procurando freneticamente por algo... qualquer coisa . Mas
quando alguém entrou na minha frente, me encostei ainda mais no cimento
frio, desesperada para derreter nas sombras e me tornar invisível mais uma
vez.
— Jason? — questionei e o tremor em minha voz me traiu. — É você? —
Silêncio. — Isso é baixo. — Quando a pessoa não respondeu, minha voz
falhou. — J- Jason?
Mesmo no escuro, vestindo um moletom com capuz e uma máscara preta
escondendo o rosto, eu sabia que era um cara. Era muito alto, com ombros
muito largos e musculoso... muito mortal para ser uma menina.
— Jason, pare com a atuação de Sexta-feira 13 — falei, tentando
controlar o pânico em minha voz. — Você me pegou, eu admito. — Levantei
as mãos em sinal de rendição, mas a pessoa continuou me observando.
Uma vozinha no fundo da minha mente sussurrou: E se não for o Jason?
E se for um serial killer e você estiver prestes a ser estripada como um
peixe? Mas eu afastei os pensamentos. Foi uma reação instintiva à situação e
ao medo que subia pela minha garganta. Era Jason.
Tinha que ser.
— Dane-se — murmurei, me preparando para correr. Mas quando estava
prestes a me afastar, outras duas pessoas apareceram, agarrando meus braços
e me prendendo contra a parede.
— Jason — sibilei enquanto meu cérebro tentava processar o que estava
acontecendo. — Isso não é engraçado. Diga aos seus amigos idiotas para
pararem antes que eu grite.
Suas mãos me apertaram e eu me debati, mas eles eram muito fortes e
provavelmente eu teria hematomas amanhã.
— Cameron e Asher, vocês fizeram um monte de coisas complicadas
comigo no passado, mas isso é...
A pessoa – Jason – cruzou a distância entre nós em longas passadas,
parando a meros milímetros do meu corpo.
— Jason? — murmurei, não mais convencida de que era ele e que eu não
estava prestes a ser estripada como um peixe.
O medo tomou conta de mim enquanto ele enfiava a mão no bolso.
Respirei fundo quando ele começou a levantar o braço, esperando o brilho do
metal. Mas isso não aconteceu. Minha visão ficou escura quando algo foi
empurrado sobre minha cabeça e desta vez eu gritei. O silêncio foi assustador
o suficiente. Mas isso era pior.
Isso era terrível.
— Acalme-se, porra — alguém disse, mas o sangue pulsando entre
minhas orelhas tornava difícil distinguir a voz. Meu coração bateu
violentamente, tornando difícil respirar enquanto todos os cenários possíveis
do que estava prestes a acontecer inundaram minha mente.
— Por favor — implorei. — Pare...
Uma mão cobriu a minha boca novamente, e eu ofeguei, lutando para
respirar enquanto o cheiro de poliéster dominava meus sentidos. Mas tudo
parou quando senti algo se mover em meu estômago, pintando padrões
torturantes. Ah, Deus . Minha resposta de luta definhou e morreu, me
deixando paralisada enquanto esperava pelo clarão de dor. Mas isso não
aconteceu e um objeto contundente se moveu sobre a minha camiseta.
Confusa e afogada em um tsunami de medo e paranoia, deixei meu corpo
ficar completamente relaxado enquanto meus captores começaram a me
puxar para longe da parede, me guiando algum outro lugar. E então o mundo
voltou em um borrão opressor de cor e ruído quando o capuz foi arrancado da
minha cabeça.
— O quê? — Pisquei rapidamente, ofegando enquanto cambaleava em
direção aos sons.
Mas quando minha visão começou a se estabilizar, percebi que algo
estava errado.
Muito errado.
Eu estava no estacionamento, olhando para a mobilização. E todo mundo
estava olhando para mim.
Todo mundo.
A risada começou como uma tempestade. O estrondo de um trovão ao
longe, chegando mais perto a cada estalo de luz. Até que me atingiu. Cada
estrondo como um arrepio violento na minha espinha, cada estalo como uma
sacudida no meu coração.
— Hails? — Flick abriu caminho no meio da multidão, com os olhos
brilhando de pânico. — O que... — Seus olhos caíram para o meu peito, e ela
ofegou. — Ah, merda. — A cor sumiu do seu rosto.
Alcancei a bainha da camiseta, esticando-a para que eu pudesse entender
as palavras. Lá, pintadas com caneta azul, estava escrito: Eu pego os Raiders
por diversão .
O constrangimento me atingiu, queimando minhas bochechas quando
encontrei o olhar simpático da minha melhor amiga.
— Vou matá-lo — grunhi, sem me importar com quem pudesse me ouvir.
Ela deu um passo cauteloso em minha direção.
— O Jason não fez isso...
— Claro que fez — sibilei, já procurando na multidão por seu rosto
presunçoso.
— Não, ele não fez, Hails. — Algo na convicção em sua voz me fez parar
e olhei para ela. — Ele esteve aqui o tempo todo.
— Mas isso não é...
— É, eu juro.
Só então, eu o senti. Arregalei os olhos e, com certeza, Jason estava lá, no
meio da minha audiência reunida, com os olhos fixos em mim. Flick estava
certa. Não poderia ter sido ele.
— E o Asher? — perguntei com a voz trêmula.
— Ele estava bem aqui também. Eu os vi baterem na Águia três vezes
seguidas.
Não sabia o que sentir quando finalmente perguntei:
— E o Cameron?
— Ele estava lá no começo, mas não tenho certeza... eu não... — Ela
parecia se desculpar, e eu não entendi. Ela não tinha nada com que se sentir
mal. Não foi culpa dela.
— Entendo. — Meu sangue gelou.
— Vamos — ela disse, pegando minha mão. — Vamos sair daqui.
Eu a deixei me levar para longe dos sussurros, olhares e risadinhas. Jason
e seus amigos idiotas foram maus comigo por anos. Não era nada novo. Nada
que eu já não estivesse acostumada. Mas isso... isso era diferente.
E não pude deixar de me lembrar das palavras de Cameron: não venha
chorar para mim quando ele te arruinar .
Dez
Cameron
— Você tem algo para me dizer? — Jase estava bloqueando a porta do Bell’s
com as mãos nos bolsos e a suspeita brilhando em seus olhos. Viemos direto
para cá depois do evento, mas vim sozinho em vez de pegar uma carona com
ele e com Asher.
— Tudo que você precisa saber é que eu lidei com a situação.
— Lidou com a situação? — Ele arqueou a sobrancelha. — Não sabia
que havia uma situação.
Soltando um suspiro exasperado, passei a mão sobre a cabeça e na parte
de trás do pescoço.
— Olha, você não pode se dar ao luxo de ferrar com as coisas este ano. A
Hailee é um problema do qual você não precisa.
— Então você pensou em lidar com ela por mim? — Ele se endireitou,
cruzando os braços.
— Só não quero ver você atrapalhar a temporada por causa dela.
Ele semicerrou os olhos, procurando algo em meu rosto. Algo para o qual
eu não tinha resposta. Prendi a respiração, esperando. Me senti aliviado pra
caramba quando um raro sorriso apareceu no canto da sua boca.
— Merda, cara, não acredito que você fez isso. Ela parecia prestes a
chorar... e acho que nunca a vi chorar.
Meu peito se apertou ao me lembrar de como Hailee ficou paralisada
quando eu a agarrei. Como suas curvas suaves ficaram tensas sob meus
dedos. Foi o mesmo quando a beijei, só que ela amoleceu sob meu toque. Seu
corpo derreteu juto do meu, embora ela tivesse tentado lutar contra.
Durante toda a semana, após o beijo no armário do zelador, eu a observei.
Ela tentou me evitar. Mantinha a cabeça baixa sempre que passávamos um
pelo outro no corredor da escola e notei que ela não se sentava mais no
refeitório para almoçar. Mas houve momentos em que ela não sabia que eu a
estava observando. Havia uma leve curiosidade em sua expressão e algo que
parecia muito com luxúria brilhando em seus olhos. Hailee poderia negar
tudo o que quisesse, mas me beijar despertou algo dentro dela. Eu senti.
Nós dois sentimos.
Mas não importava o quanto foi tê-la em meus braços e beijá-la, esse era
um problema que nenhum de nós precisava.
Então fiz o que deveria ter feito o tempo todo: eu a afastei da única
maneira que conhecia.
— Espero que isso a mantenha longe de você por um tempo. Mas você
precisa parar também. Temos o suficiente com que nos preocupar com o
Finnigan, e ainda tem essa coisa com o Thatcher...
— Calma, cara, está tudo sob controle. — Ele me deu um tapinha nas
costas antes de abrir a porta. — Vamos lá, as bebidas são por minha conta.
Eu o segui para dentro, onde fomos recebidos com um estrondo baixo de
alegria. O Bell’s era o nosso território – um bar administrado por Jerry, um
ex-Raider que decorou o lugar para ser um memorial vivo para a equipe.
Recortes de jornais e fotos cobriam a parede e havia uma enorme estante de
troféus que abrigava algumas das lembranças mais preciosas dos Raiders:
bolas de jogo autografadas, capacetes e canhotos de ingressos de jogos. Ele
até teve sua camisa velha autografada por Jerome Maddox, um Raider que
ganhou dois Super Bowls com o Pittsburg Steelers.
— Rapazes — Jerry nos cumprimentou enquanto nos sentávamos em um
banquinho no balcão. — O que querem?
— Duas Bud Lights por favor, J. — Jase pegou a carteira, mas Jerry
balançou a cabeça. — O primeiro é por conta da casa. Se vocês não
continuassem vindo ao meu bar, os negócios não estariam tão bons.
— O Bell’s sempre será território dos Raiders. — Jase acenou com a
cabeça enquanto Jerry pegava nossas cervejas.
— Como está a equipe? — Ele entregou as garrafas sem hesitar, outra
vantagem de ser um Raider. — Acha que iremos até o estadual?
— Você sabe que sim — Jase falou.
— Tem que trazer o anel para casa antes de ir para a faculdade. — Ele
balançou a mão e a luz bateu no anel do campeonato. — Ouvi dizer que o
East tem falado muito besteira. — O canto da boca de Jerry se curvou.
Ninguém sabia tanto sobre tudo quanto ele.
— O East pode tentar. Eles tiveram sorte no ano passado. Este ano, não
terão.
— Certo, filho. Certo. Me lembro do meu último ano, 1981, aquela
temporada foi brutal. — Seus olhos ficaram vidrados com memórias do
passado. — Ninguém pensou que iríamos chegar aos play-offs. Nosso último
jogo foi contra os Eagles. Foi uma luta de cães. No quarto período, estávamos
perdendo por 26 pontos a zero. Tínhamos gente sangrando, mais feridos do
que podíamos contar e uma equipe que mal conseguia se levantar. Vou ser
honesto com vocês, garotos, pensei que estava tudo acabado. Todos nós
achamos.
— O que aconteceu? — Eu gostava de agradar o velho. Eu já tinha
ouvido essa história. Todos que entraram pela porta de Bell já ouviram em
um momento ou outro.
— O treinador Royston nos reuniu e disse: a força cresce nos momentos
em que você não pode continuar, mas você continua mesmo assim . Entramos
naquele quarto período derrotados, mas saímos vitoriosos e conquistamos o
estadual. Traga para casa esta temporada, filho. — Ele se dirigiu a Jason. —
A cidade inteira está contando com você.
Com o canto do olho, observei meu melhor amigo. Seus olhos estavam
semicerrados, escuros e todo o seu comportamento era mortal. O campeonato
estadual era o sonho da maioria dos times de futebol do ensino médio, mas
não era apenas um sonho para Jason, era um rito de passagem. Estava em seu
sangue. E ele queria isso mais do que qualquer outra coisa. Ele não só queria,
como precisava disso. Às vezes, eu me perguntava se ele precisava mais
disso do que do ar que respirava.
— Vão com calma. — Jerry nos desejou boa noite e foi servir alguns
outros clientes. Nós fomos para onde o resto da equipe estava reunido.
— Por quê? — Grady saltou. — Por que vocês dois nunca têm que pagar
pela cerveja e o resto de nós, sim?
Jase ergueu uma sobrancelha enquanto se sentava em uma das cabines.
— Porque ele é QB 1, idiota — alguém gritou.
— E o Chase? O que ele tem que eu não tenho? — Grady estava sorrindo
para mim, e eu mostrei o dedo do meio para ele.
— Tente ter três ofertas sobre a mesa de universidades da primeira
divisão, incluindo a Penn — Mackey sorriu para mim como se estivesse me
fazendo um favor.
Asher endureceu ao meu lado e, em seguida, bateu com a mão na mesa.
— Não sei vocês, mas não quero falar de cerveja grátis. Quero falar sobre
acabar com os Marshall.
Um coro de “ah, sim” estourou no nosso canto do bar. Pulando no banco
de couro, ele ergueu sua cerveja.
— O que me dizem? Vocês acham que podemos acabar com o Marshall?
Todo o lugar entrou em erupção e revirei os olhos para Jase, que só olhou
para o nada, como se Asher não estivesse em pé no banco agitando os
clientes de Jerry em um frenesi.
— Não consigo ouvir vocês. — Ele colocou a mão na orelha, gritando
para sua audiência extasiada. — Eu perguntei se vocês acham que vamos
acabar com os Mosqueteiros na sexta-feira?
Kaiden deu um pulo, Mackey também. Até que a maioria dos jogadores
mais jovens estava de pé, torcendo e pulando. Mas eu não me mexi. Nem
Jase ou um grupo de outros jogadores mais antigos. Já tínhamos passado por
isso. Não invejei eles absorverem tudo – a atenção, a emoção de usar a
camisa azul e branca – mas eu sabia que havia um mundo inteiro esperando
por mim. Um mundo fora de Rixon e dos Raiders. E enquanto a hora deles
ainda chegaria, para mim, para Jase e Asher, já estava aqui.
Era para ser o momento decisivo na nossa carreira no futebol americano
do ensino médio e, ainda assim, eu não sabia se meu coração estava nisso.
E em alguns dias, eu não sabia como lidar com essa realidade.

***

A segunda-feira chegou e com ela, a expectativa para o primeiro jogo da


temporada.
— Bom dia — falei com um bocejo enquanto entrava na cozinha, indo
direto para a geladeira.
— Oi, querido. — Minha mãe me deu um sorriso caloroso enquanto
ajudava meu irmão mais novo, Xander, a comer seu cereal, mas vi as olheiras
escuras em seu rosto.
— Ameron . — Ele bateu palmas de forma vigorosa e o cereal meio
mastigado espirrou da sua boca.
— Oi, carinha. — Tomei uma caixa de leite enquanto bagunçava seu
cabelo.
— Dia do utebol do Ameron ? — Xander sorriu para mim como se eu
fosse a melhor coisa que existia, e meu peito se apertou. O merdinha era fofo
e tão alheio que eu o invejava.
Eu invejei uma criança de três anos.
Que patético.
— Sim, amigo. — Eu me inclinei no balcão. — Tenho treino hoje. Nosso
primeiro jogo é na sexta.
— Dia do Ame ! — Seus olhos brilharam. — Mamãe, vamo no dia do
Ameron ?
— Veremos, baby. — Ela deu um sorriso tenso, olhou rapidamente para
mim e depois desviou. Mas não antes de ver o lampejo de arrependimento ali.
— Veremos.
— Talvez a mãe do Asher pudesse levá-lo? — Sugeri. Não seria a
primeira vez que a sra. Bennet o levava. — Se você for, você sabe...
— Sim — a resposta foi baixa enquanto ela limpava meu irmão. —
Veremos.
— Bom dia, família. — Meu pai entrou na cozinha. — E como estamos
todos esta manhã? — Ele puxou minha mãe para um abraço, dando um beijo
em sua cabeça, e eles compartilharam um sorriso íntimo antes de ele ir até a
cafeteira.
— Primeiro jogo da temporada é na sexta-feira? — ele se dirigiu a mim.
— Como você está se sentindo?
— Bem — eu disse, mal prestando atenção nele enquanto observava
minha mãe pegar Xander e desaparecer da cozinha. — Estou pronto.
— É um grande ano, filho. — Meu pai deu um gole no café. — Eu
gostaria que as coisas fossem fáceis...
— Está tudo bem, pai — eu o cortei. Não queria fazer isso hoje de
manhã. — Não decidi nada, ainda dá tempo.
Ele assentiu e a compreensão brilhou em seus olhos.
— Vou fazer o possível para estar lá, mas...
— Eu sei. — As palavras quase me sufocaram.
— O time da Marshall Prep pode ser difícil para o primeiro jogo. Eles
têm uma defesa forte com aquele garoto, Belson, não é?
— Sim, mas acho que podemos conseguir. Nosso ataque está preparado e
o treinador nos faz praticar jogadas até ficarmos com o rosto azul.
— Isso é bom. O Xander vai ficar na casa da Katie depois da escola na
segunda, quarta e sexta-feira, pois temos compromissos.
— Merda, pai, eu já disse que posso cuidar dele. Posso falar com o
treinador e talvez organizar...
— Cameron, é o último ano. — Ele suspirou, mal conseguindo encontrar
meus olhos. — Este ano é importante, filho. E o Xander gosta de ficar com a
Katie. Sei que você é capaz de ajudar, mas isso é importante para nós. Seu
futuro é importante para nós.
— Como ela está, pai? — Forcei as palavras. — De verdade.
Ele passou a mão pelo rosto, deixando escapar um suspiro exasperado.
— Sua mãe vai ficar bem, filho. Este novo médico é assertivo. Ele está
ajustando a medicação e fazendo alguns exames. Tenho um bom
pressentimento.
— Bem, isso é bom. — Porque só Deus sabia que precisávamos de uma
pausa.
— Só preciso que você se concentre na escola e no futebol, Cameron. —
Ele se aproximou de mim. — Promete que vai fazer isso? — Meu pai apertou
meu ombro, e eu consegui assentir.
— Prometo. — A palavra saiu estrangulada. O que mais eu poderia fazer?
Mas quando meu pai se despediu e foi procurar minha mãe e Xan, não
consegui evitar a sensação de que havia algo que ele não estava me dizendo.
Onze
Hailee
— Bom dia, querida. — Minha mãe estava ocupada preparando o café da
manhã quando finalmente desci as escadas. — Não se esqueça que temos que
escolher as fotos do casamento na quarta-feira.
Gemi por dentro.
— Ótimo. — Por que eu era obrigada a fazer isso quando deveria ser algo
que um marido fazia com sua esposa, estava além de mim. Mas Kent estava
ocupado e sugeriu que eu fosse em seu lugar.
— Hailee Raine, você pode pelo menos tentar fingir que está interessada?
Isso é importante para mim.
— Eu sei, mãe, eu só... — Apertando os lábios, engoli as palavras que
queria dizer e forcei um sorriso. — Quarta está ótimo. Posso levar a Flick?
— Eu já disse ao sr. Fetton para esperar por nós três. — Ela me conhecia
muito bem. — Então, como foi seu fim de semana? — Detectei um traço de
suspeita em seu tom.
— Foi bom. — As palavras saíram um pouco mais ríspidas do que eu
pretendia.
Passei a maior parte do sábado no quarto. Flick veio para cá e nós
assistimos a filmes de terror cafonas e comemos junk food . Ontem trabalhei
em alguns projetos de arte.
Minha mãe inclinou a cabeça, me observando.
— Tem certeza? Você parece...
— Estou bem. — Sorri novamente.
— Porque se algo aconteceu...
— Não aconteceu nada, mãe. — Era possível que ela tivesse ouvido falar
sobre a mobilização. Os rumores circulavam pela nossa cidade mais rápido
do que um raio, mas de jeito nenhum eu ia trazer isso à tona. Eu queria
esquecer o que aconteceu.
— Tudo bem. — Ela cedeu, e algo chamou sua atenção por cima do meu
ombro. — Bom dia, Jason.
Fiquei rígida, mas não olhei para trás para cumprimentar meu meio-
irmão. Eu não o vi durante todo o fim de semana e, depois da noite de sexta-
feira, eu realmente não queria. Pode não ter sido suas mãos que me agarraram
no estádio e me humilharam, mas eu sabia que ele colocou Cameron nisso. E
como um bom cachorrinho de estimação, ele seguiu as ordens de seu mestre.
Meus músculos ficaram tensos enquanto eu me preparava para seu
comentário presunçoso. Mas ele não disse nada. Só ofereceu um breve bom
dia à minha mãe, sem me poupar um segundo olhar.
Esquisito.
— Seu pai já saiu — minha mãe manteve a voz alegre.
— Tudo bem. — Jason pegou uma barra energética e uma de suas
bebidas de proteína e saiu. Ele não me lançou um olhar mordaz ou murmurou
nenhum insulto pelas costas da minha mãe.
Essa foi a primeira vez e me deixou mais nervosa do que nunca.
Minha mãe se inclinou no balcão, soltando um suspiro pesado.
— Ele não facilita, não é? — A tristeza tomou conta de suas feições, e eu
o odiei um pouco mais por fazê-la se sentir mal.
— Ele é... o Jason. — Bebi meu suco.
— Eu sei, eu sei. Ele está sob muita pressão com a equipe e a faculdade.
Mas eu pensei... eu esperava que talvez com o casamento e sendo o último
ano e tudo mais, ele iria...
— Mãe. — Colocando meu copo no balcão, fui até ela e peguei suas
mãos. — Não o deixe te atingir.
— Ele fica diferente quando o Kent está por perto.
Sim, porque o Kent era um amortecedor, absorvendo um pouco da
hostilidade de seu filho contra mim e minha mãe. E ele sempre teve uma
desculpa para a relutância de Jason em comparecer a refeições em família ou
viagens. Ele precisa se concentrar no futebol , Kent dizia, Ele está sob muita
pressão . Mas minha mãe não era idiota. Jason a odiava quase tanto quanto a
mim.
Houve um tempo em que me perguntei se Jason me odiava por causa
dela. Achei que ele fosse apenas um menino de doze anos zangado, chateado
por seu pai estar tentando substituir a mãe. Mas não éramos mais crianças, e
Jason nunca foi afetuoso com a minha mãe. E ele ficou ainda mais frio
comigo. Além disso, pelo que ouvi, o relacionamento do sr. e da sra. Ford
acabou muito antes de nós duas entrarmos em cena. Minha mãe era uma mãe
solteira que lutava, e Kent estava juntando os pedaços de sua vida quando
eles se conheceram. Embora eu não estivesse animada com a perspectiva de
formar uma nova família, depois do que meu pai fez conosco – com minha
mãe – eu só queria que ela fosse feliz.
Mesmo que ela tivesse escolhido um ex-jogador de futebol universitário
que treinava futebol infantil do colégio, com um filho que respirava futebol
como se fosse ar. Mas, pelo menos, Kent não jogava mais. Isso teria sido
demais para suportar.
Nos abraçamos e minha mãe colou seu melhor sorriso.
— Talvez ele só precise de algum tempo para se acostumar com isso, não
é?
— Talvez. — Eu duvidava. Ele teve anos para se acostumar com o fato
de eles estarem juntos antes do casamento, mas eu não queria estourar sua
bolha. — Tenho que ir, a Flick está esperando.
— Tenha um bom dia, baby. — Ela beijou o topo da minha cabeça, e eu
peguei minha bolsa antes de seguir para o corredor, sentindo meu estômago
dar um nó mais forte a cada passo.

***

Assim que ela encontrou uma vaga para estacionar, Flick desligou o motor e
se virou para mim.
— Certo — ela respirou profundamente. — Você consegue fazer isso.
— Fazer o quê?
— Entrar lá com a cabeça erguida, é claro.
— Certo — respondi, confusa. — Tem outra opção?
— Bem, eu estava preparada para adicionar outra coisa à minha lista.
— Estava?
— Sim. — A malícia brilhou em seus olhos. — Não quero acabar de
castigo, mas eu faria isso por você.
— De castigo ? — Sufoquei a risada que crescia em meu peito.
— Sou a sua melhor amiga, baby. — Flick balançou as sobrancelhas. —
Estou falando sério. Se você quiser se vingar, estou dentro. Com certeza. O
que o Cameron fez foi...
— Não quero vingança — falei, minha voz sumindo.
Minha melhor amiga recuou, com os olhos arregalados de surpresa.
— Sinto muito, acho que ouvi errado, porque achei que você disse que
não quer vingança.
Dando de ombros, eu disse:
— Não quero. Encerrei o assunto.
— Aconteceu mais alguma coisa?— Ela franziu o cenho. — Algo que
você não...
— Você estava certa. Isso já foi longe demais e se eu não parar, serei eu
quem vai acabar machucada. Não posso mais cair nos joguinhos dele.
Encerrei o assunto.
Algo mudou quando Cameron me beijou, não que eu fosse admitir isso
para alguém. Por uma fração de segundo, eu realmente pensei que ele me
queria. Seu beijo foi muito intenso. Seu toque, muito desesperado. E eu quase
caí nessa com anzol, linha e isca.
Mas agora, percebi que tudo fazia parte do jogo.
Um jogo que até o momento em que seus lábios cobriram os meus, eu
sempre estive mais do que disposta a jogar. Até me considerava um oponente
digno. A garota que se recusava a deixar os Raiders pisarem nela. Mas algo
estava diferente neste semestre.
Cameron foi atrás da única coisa que sempre protegi.
Minhas emoções.
Ele me fez sentir algo. Coisas que eu não queria sentir. As regras
mudaram e, no fundo, eu sabia que se continuasse jogando, minha reputação
e sanidade não seriam as únicas coisas em jogo.
— Uau, Hailee Raine, será que você finalmente amadureceu?
— Não me chateie. — Bati em seu braço. — Tenho coisas mais
importantes em que me concentrar.
— Você quer dizer como me ajudar com a minha lista? — Ela parecia tão
presunçosa que murmurei indignada. — Você me deve, se lembra? — Flick
acrescentou, me dando seu melhor olhar de cachorrinho.
Quando saímos do seu carro e entramos na escola, não pude deixar de
pensar que troquei uma forma de tortura por outra.

***

— É como se você fosse invisível — Flick sussurrou na quinta-feira


enquanto nos sentávamos em nosso lugar habitual na cafeteria.
— Que bom — murmurei com a boca cheia de taco.
— Sim, mas quero dizer, é estranho, não é? — Seus olhos passaram por
cima do meu ombro, e eu sabia que ela estava olhando para a mesa de
futebol. — Depois da última sexta-feira, eu meio que esperava que tivesse
alguma repercussão.
— Paul Rankle me perguntou se faço sexo à três e Finley Palmer me
perguntou se eu queria montar em seu pau na academia. Acho que já é
repercussão suficiente. — Houve outras coisas ao longo da semana:
anotações na aula de inglês e algumas “ofertas” no almoço. Toda vez que eu
entrava na aula, a sala ficava em silêncio total. Mas, no geral, ninguém disse
nada. Eu sabia que não significava que as pessoas não estivessem falando
sobre isso por trás, elas só não queriam arriscar irritar seu amado capitão do
time de futebol.
— Acho que sim. — ela disse. — E vi algumas coisas no banheiro
feminino...
— Viu? — Arregalei os olhos. — Claro que viu. — Soltei um suspiro
exasperado. Todos sabiam que as garotas eram um nível superior quando se
tratava de acabar com uma das suas. Os caras podiam partir corações por
aqui, mas eram as garotas que arruinavam reputações.
— Provavelmente foi Khloe e seu esquadrão de vacas. Você sabe que ela
não gosta da ideia de que outra pessoa estar “pegando os Raiders para se
divertir” — ela citou as últimas palavras, e eu ri.
— A Khloe puxa o saco deles. — Discretamente, olhei por cima do
ombro. Jenna Jarvis estava enrolada em Jason como uma erupção cutânea
enquanto o resto da equipe de ginástica estava sentada entre o time. Olhei
direto para Cameron e a morena aconchegada a ele e voltei a olhar para
minha amiga. — Embora pareça que o time de líderes de torcida está fora e a
equipe da ginástica está dentro.
— Bem, essas meninas são extremamente flexíveis. — Flick zombou, e
meu rosto se contorceu.
— Essa é uma imagem que não preciso enquanto estou almoçando.
— Sobre o jogo de amanhã...
— Isso de novo, não, Flick. Já te disse, não vou. — Assistir a uma
reunião de torcida era uma coisa, mas um jogo de futebol? Depois da última
sexta-feira, não conseguia pensar em nada pior.
— Mas você tem que vir. — Ela fez beicinho, me dando seus melhor
olhar de cachorrinho. — Ou vou ter que ir sozinha e você não vai querer isso,
não é? Sua melhor amiga totalmente triste e sozinha em uma multidão de
cinco mil pessoas? — Ela pisca.
— Te odeio.
— Não, não odeia, você me ama, e por esse motivo vai ao jogo de
abertura comigo. — Não era uma pergunta, então não respondi. Mas eu a
encarei. Intensamente.
A risada baixa de Flick encheu nosso pequeno canto da cafeteria.
— Vai ser muito divertido — ela falou.
— Sim, talvez eles percam. — Sorri e a ideia me provocou uma sensação
doentia de satisfação.
— Hails, você não pode dizer isso. Dá má sorte ou algo assim.
— Tudo bem, tudo bem. — Sacudi a mão. — Vai, Raiders.
— Melhor. — Ela assentiu com aprovação. — Muito melhor. Ainda
faremos de você uma fã dos Raiders.
Limpamos nossa mesa e saímos do refeitório, mas quando viramos o
corredor, Cameron estava em seu armário. Ele ergueu a cabeça e me encarou.
Mas tão rápido quanto me olhou, desviou o olhar para longe. Como se eu não
fosse ninguém.
Como se ele não tivesse me beijado na outra noite e depois me humilhado
na frente da maior parte da escola.
E o pior?
Eu não sabia o que doía mais.

***

Sexta à noite, voltei ao único lugar onde nunca mais queria pisar novamente.
Mas minha melhor amiga era implacável e no final, achei que era mais fácil
acabar com isso agora do que passar o semestre inteiro tentando evitar seus
avanços. Eu meio que esperava que ela me cumprimentasse usando uma
camiseta dos Raiders e um boné combinando, mas ela disse que poderíamos
deixar isso para a próxima vez.
Como se esta noite fosse acontecer novamente.
— É emocionante, você não acha? — Ela gritou acima do barulho da
multidão enquanto caminhávamos para as arquibancadas junto com o resto de
Rixon. A cidade inteira foi fechada para a noite do jogo e quem não teve a
sorte de conseguir os ingressos estavam acampados na frente da televisão,
prontos para assistir ao jogo de abertura dos Raiders contra os mosqueteiros
da Marshall Prep.
— Emocionante, sim — resmunguei quando encontramos nossos lugares.
O campo já era uma colmeia de atividade. A banda marchando se
apresentando enquanto o time de líderes de torcida levava a multidão ao
frenesi.
Como na noite da reunião, o ar estava elétrico. Mas esta noite era
diferente. Mais intenso, de alguma forma. A multidão estava faminta, a
energia de cinco mil pessoas emanando ao redor do Dawson Stadium. Mas
nada poderia ter me preparado para a onda que senti quando a equipe rasgou
a enorme faixa azul e branca.
— Meu coração está batendo tão forte — Flick admitiu, com os olhos
brilhando de alegria e a pele corada. Ela era um deles agora. Seu coração
estava sincronizando com a batida da multidão, a batida da banda. Uma boa
amiga ficaria animada, feliz por ela estar tendo todas essas novas
experiências de vida, que ela poderia riscar sua lista. Mas acho que perdi meu
título de boa amiga quando deixei de perceber que ela queria essas
experiências.
Imagine Dragons explodiu pelo campo, mal abafando o canto estridente
enquanto todos cantavam a letra de seus amados Raiders. Meus olhos
imediatamente encontraram o número 1 e 42... finalmente pousando em
Cameron, o número 14 em sua camisa se destacando como um sinal de néon
que meus olhos não poderiam evitar, nem que eu tentasse.
— Não me odeie — Flick chamou minha atenção, pressionando ao meu
lado. — Mas acho que adoro isso.
— Eu sei — sussurrei, sentindo meu estômago afundar. Porque eu sabia
mesmo. Ela estava radiante. Como se estar aqui, na multidão, fosse sua
vocação.
— Só me prometa que você não vai se tornar uma delas — respondi,
tentando controlar minha decepção.
— Delas? — ela perguntou, mal conseguindo desviar o olhar do campo.
— Sim, uma Khloe Stemson ou Jenna Jarvis. Me prometa que você não
vai cruzar essa linha.
Flick franziu as sobrancelhas como se eu estivesse falando outro idioma.
Mas antes que ela pudesse responder, os capitães dos times foram chamados
para o cara ou coroa. Quando Jason e seus companheiros voltaram para o
resto do time, ela gritou.
— Sim! Eles ganharam!
— É mesmo? — perguntei, sem ter ideia do que estava acontecendo no
campo.
— Sim, veja. — Ela apontou para Jason, Cameron e alguns outros que
agora estavam correndo para o campo. — Parece que eles vão lançar para o
outro time.
— E eu devo saber o que isso significa?
Ela assentiu devagar.
— Fique de olho, você vai entender.
— Se você diz.
— Sim, agora preste atenção. — Flick balançou a cabeça para o campo, e
eu gemi.
Seria uma longa noite.
Doze
Cameron
Meus músculos latejavam com o esforço, o suor escorria pelas minhas costas
e pingava na minha testa enquanto nos amontoávamos no vestiário,
esperando pelo treinador. Ele entrou com os técnicos assistentes, parecendo
estar muito calmo.
— É assim que se faz, rapazes — disse, tirando o boné e passando a mão
pelo cabelo grisalho. — Pessoal do ataque, continuem trabalhando duro e
executando aquelas jogadas rápidas que trinamos. Assim, a Marshall vai
comer na palma da nossa mão. Defesa, mantenha-os presos. Bennet, bom
bloqueio, filho. O QB deles está completando três de quatro passes, mas
continue em cima que ele ficará cansado. — Asher sorriu para mim do outro
lado da sala, e eu revirei os olhos. — Mas cuidado com a corrida de volta,
pois ele tem uma tendência a ir longe e se enfiar entre nossos caras.
— Entendi, treinador. — Asher ergueu seu capacete. — Ninguém vai
passar por mim.
— Fico muito feliz em ouvir isso, filho. Agora se juntem. — Ele acenou
para nós. — Sei que há muita pressão. As pessoas ficaram desapontadas
quando não passamos da primeira rodada no ano passado. Caramba, eu fiquei
desapontado, mas esta é uma nova temporada. — Sons baixos soaram ao meu
redor enquanto os caras se lembravam de como foi a sensação de ser
eliminado graças a Rixon East.
— Muito bem, muito bem — o treinador Hasson gritou, esperando pelo
silêncio. — Me deixem dizer algo sobre ganhar o estadual. Não se trata de
sorte ou qual escola tem os melhores jogadores ou mais dinheiro, é sobre
trabalho em equipe e coração. Trata-se de aproveitar todas as oportunidades e
transformá-las em algo de que se orgulhar. Não jogue para você, jogue para
os outros dez homens em campo. Os homens que te observam da lateral.
— Este pode ser apenas o jogo de abertura, mas bem aqui, vocês farão o
que fazem de melhor: vão até lá e joguem como campeões, estão me
ouvindo?
— Sim, senhor.
— Eu perguntei: vocês estão me ouvindo?
— SIM, SENHOR. — Nossas vozes se fundiram, ecoando nas paredes.
— É isso que eu gosto de ouvir. Asher, filho, vá em frente.
Ele seguiu para o meio do amontoado, com os olhos semicerrados e os
ombros retos.
— Quem somos?
— Raiders — todos nós gritamos em sincronia bem ensaiada.
— Eu perguntei quem somos?
— RAIDERS.
— E o que somos?
— Família — nossas vozes ecoaram pela sala, reverberando em meu
peito.
— E o que vamos fazer?
— Ganhar.
— Perguntei o que vamos fazer?
— GANHAR!
— Claro que vamos — o treinador gritou. — Agora vamos lá e joguem.
— Ele jogou a prancheta para cima e nós corremos para fora do vestiário com
os punhos erguidos e os espíritos elevados. A adrenalina correu por mim
enquanto eu saltava na ponta dos pés, esticando o pescoço de um lado para o
outro. A noite do jogo era sempre cheia de adrenalina: viciante e devoradora.
Durante aqueles quarenta e oito minutos, não havia espaço para pensar em
mais nada a não ser na vitória.
O rugido da multidão quando voltamos a entrar no campo era
ensurdecedor, o brilho das luzes da noite de sexta-feira nos cegava. Éramos
deuses agora, e esta era a nossa arena.
— Absorva isso, mano — Jase me deu um tapinha nas costas. — Este ano
é nosso. Está pronto? — Seus olhos estavam escuros, quase pretos. Eu nunca
vi ninguém ficar tão focado quanto ele.
Assentindo, coloquei o capacete, mordendo com força o protetor bucal e
caminhando para a nossa zona final. Os Marshalls já estavam em campo na
linha de trinta e cinco jardas, prontos para dar o pontapé inicial. Nossos
jogadores se posicionaram. O apito tocou e seu kicker , o responsável por
chutar a bola, deu o pontapé inicial. Meus olhos se fixaram nela, rastreando
sua projeção enquanto subia pelo ar, alta e profunda
— É sua, Quatorze — alguém gritou.
Ela continuou voando, cortando o ar como uma bala. Fui para trás, me
movendo sob a trajetória da bola, me alinhando para a recepção. Eu não
precisava pensar, as ações eram impressas, instintivas como a memória
muscular. Joelhos soltos, mãos embaladas, a bola caiu com um baque e a
coloquei em meu corpo, fechando os dedos em torno do couro.
— CORRE! — Outra voz gritou, ecoada pelo treinador e seus homens
nas laterais, além da torcida de cinco mil pessoas nas arquibancadas. Mas eu
não precisava de incentivo, meus olhos já estavam examinando o campo,
antecipando a rota de volta para casa. Os blockers do time da Marshall,
jogadores que faziam o bloqueio, já estavam se movendo no campo, uma
onda de preto e amarelo vindo direto em minha direção, mas vi uma abertura
e decolei, movendo minhas pernas o mais rápido que elas podiam me levar. A
adrenalina disparou minhas sinapses, correndo pelo meu corpo como
minúsculos raios, me impulsionando para frente.
Passei do meio-campo para a área de quarenta jardas com a debandada de
jogadores da Marshall bem na minha cola, mas continuei pressionando.
Continuei em movimento. Pegando um borrão de amarelo e preto na minha
visão periférica, me enfiei, me preparando para o golpe que não veio, já que
um dos nossos bateu no blocker , tirando-o do jogo. Trinta jardas... vinte...
dez... eles não podiam me pegar enquanto eu voava em direção a endzone , a
área em que eu precisava focar, nada entre mim e o touchdown , exceto ar
fresco. Jogando a bola no chão, me vi empurrado entre meus companheiros
de equipe enquanto a multidão explodia.
— Noventa e cinco jardas, baby — Grady gritou. — É assim que se faz.
— Ele deu um soco em mim enquanto avançávamos no campo para o nosso
kicker, para tentar a conversão. A bola passou de forma limpa pelas colunas,
nos dando um ponto extra e levando a nossa vantagem para trinta e oito a
seis. A Marshall precisava de um milagre para conseguir uma vitória.
Enquanto corríamos de volta para a linha lateral, Jase me prendeu,
pressionando seu capacete contra o meu.
— É por isso que a Penn te quer. — Ele me deu um sorriso raro. — Um
jogo a menos, outros nove para terminar e então vamos até o fim.
A convicção em sua voz era mortal, e eu sabia que Jason acreditava em
cada palavra que saía de sua boca.
Que nós ganharíamos o Estadual.
Que eu iria para a Penn com ele.
E teríamos uma longa e bem-sucedida carreira no futebol universitário...
juntos .
Na cabeça dele, não havia outra opção.
— Ei, você está bem? — Ele agarrou meu ombro com os olhos fixos no
meu rosto.
— Estou, sim. — A mentira saiu da minha língua. — Vamos, temos um
jogo a ganhar.
Ganhamos por quarenta e seis a doze no final. Nosso ataque foi rápido,
nossa defesa, impenetrável. E nas palavras do treinador, “nós os superamos
como um sonho”. Mas a vitória foi agridoce.
Depois que deixamos o campo e voltamos para o vestiário, ouvi uma
mensagem de voz do meu pai avisando que eles não viriam ao jogo. Ele a
deixou dez minutos após o início. Então, enquanto meus companheiros
estavam animados em ver seus amigos e familiares esperando do lado de fora
para nos dar os parabéns, tudo que eu queria era um pouco de ar.
Não é que eu não apreciasse as pessoas que vinham para nos apoiar. Eu
gostava, mas era um lembrete doloroso de que as pessoas que eu mais queria
esperando por mim na multidão reunida não estavam ali.
— Bom jogo, Cam, — Khloe veio em minha direção enquanto eu
esperava pelo resto dos caras.
— Obrigado — grunhi, chutando a sujeira com meu tênis.
Ela se aproximou e seus seios roçaram meu braço.
— Você vai para o Bell’s?
— Não tenho certeza do que os caras querem fazer ainda. — Ou se eu
queria comemorar.
Meus olhos percorreram o estacionamento para onde Asher e alguns dos
caras estavam dando autógrafos e tirando fotos com os fãs enquanto Jase e
seu pai conversavam com o treinador.
— Bem, talvez pudéssemos... — Sua voz sumiu quando avistei Hailee do
outro lado do estacionamento, caminhando com Felicity até seu carro feio.
O que ela estava fazendo aqui?
Ela odiava futebol quase tanto quanto odiava Jason. E depois da reunião
de boas-vindas ao time, nunca pensei que ela pisaria neste lugar novamente.
Esse era o ponto principal. No entanto, aqui estava ela. Me provocando. Me
fazendo desejar que as coisas fossem diferentes.
— Então, o que acha? — A mão de Khloe pousou no meu braço e eu
olhei para ela, franzindo a testa.
— O quê?
— Perguntei se podíamos sair algum dia, só nós dois? — Código para
dizer que queria transar comigo.
— Ouça, Khloe, eu não estou... — Os olhos de Hailee me encontraram,
semicerrando com desprezo. O ódio irradiava dela, mesmo do outro lado do
estacionamento. Ou talvez nem fosse ódio, quem sabe não era ciúme.
Entrelacei o braço ao de Khloe e avaliei o rosto de Hailee para ver uma
reação. Seus lábios se entreabriram enquanto sua respiração ofegou. Bingo .
Inclinando a cabeça no ouvido de Khloe, sussurrei:
— Acho que você teria mais sorte com o Mackey. Esse garoto está se
destacando e sei que ele te acha gostosa.
Ao contrário de mim, que não ficava com o resto dos outros, a maioria
dos caras compartilhava garotas.
— É mesmo? — Ela sorriu, mas eu ainda estava com os olhos fixos em
Hailee.
Ela observou por mais um segundo antes de balançar a cabeça e entrar no
carro da amiga. Eu queria irritá-la e envolvê-la depois de uma semana em que
nos ignoramos. Era para me fazer sentir melhor, me dar aquela pontada de
excitação que eu sentia sempre que interagíamos. Mas, desta vez, tudo o que
senti foi a pontada amarga de desânimo e uma onda de arrependimento.
— Ei, cara. — Asher se aproximou. — Era a Hailee que vi entrando no
carro feio da Felicity?
— Hailee? Ela estava aqui? Em um jogo de futebol? — Khloe olhou por
cima do ombro com o cenho franzido. — Uau. Ela tem coragem depois de...
— Acho que vi o Mackey bem ali — falei, cortando-a.
— É mesmo? — Seus olhos brilharam com esperança.
— Sim, está vendo? — Apontei para onde ele estava com o resto dos
caras. — Você deveria ir até lá e dar um alô.
— Ceeerto. Tchauzinho.
Ela se afastou com um pulinho e Asher perguntou:
— Mas que merda foi essa?
Rindo, falei em tom malicioso.
— Eu disse que o Mackey estava a fim dela.
— Ele está a fim de qualquer coisa que tenha uma boceta.
— Sorte a dela então.
— Você está bem, cara? Seus pais vieram?
Balançando a cabeça de leve, murmurei:
— Não.
— Merda, cara, sinto muito. Ouça, você quer ir lá para casa ao invés de
sair? Minha mãe vai fazer lasanha. — Apesar de seus pais ficarem muito
tempo fora da cidade, sempre que voltavam, a sra. Bennet insistia em se
dedicar a família.
— Não, acho que eu deveria ir para casa e me certificar de que está tudo
bem.
— Tem certeza?
— Sim, mas dê um alô aos seus pais por mim.
Asher me deu um tapinha nas costas antes de seguir até seu jipe.
— Ei, Chase. — Era a voz de Jase. — Você vai ao Bell’s? — Ele
começou a se aproximar e alguns caras ficaram atrás, esperando que seu QB
desse a ordem.
— Preciso ir para casa.
— Vamos lá, mano, sempre comemoramos a vitória juntos. — Ele estava
certo, nós fazíamos isso. Mas eu não estava no clima esta noite.
— Preciso voltar para casa. — Não era uma mentira completa.
— Sei que tem algo com a sua mãe, mas é o último ano. — Ele parecia
irritado. — Eles sabem que você precisa priorizar a equipe. Você não precisa
se sentir cul...
— Amanhã eu vou, tá? — Acenei de forma breve, esperando que ele
desistisse.
Ele me estudou por mais alguns segundos e depois deu de ombros.
— Tá, você quem sabe, cara. Te ligo amanhã. — Jase ficou puto, mas não
demonstrou.
Talvez ele nunca o fizesse.
E até recentemente, isso nunca tinha sido um problema.
Treze
Hailee
Já que fui ao jogo de futebol com ela ontem à noite, Flick concordou em me
agradar indo ao The Alley. Era nosso ponto de encontro habitual,
principalmente porque o time de futebol raramente aparecia por aqui. Eles
preferiram ir ao Bell’s, um bar no centro da cidade. O proprietário era um
grande fã de futebol que deixava o time entrar e sair quando bem entendesse.
Desnecessário dizer que eu o evitava a todo custo. Mesmo que eles tivessem
as melhores batatas fritas com chili da cidade.
Mas o The Alley era legal. Tinha patinação, boliche, uma pequena
galeria, lanchonete e, em um fim de semana, Tate, o proprietário, deixava
bandas locais se apresentarem. Ele não era como Jerry, o dono do Bell’s, que
deixava o time beber e não fazer nada de bom, mas ainda era divertido.
A segunda razão pela qual eu amava tanto o The Alley... é que ele ficava
bem na divisa entre Rixon/Rixon East com vista incrível do rio Susquehanna.
Era como se fosse minha própria Suíça. Uma zona livre do futebol, intocada
pela rivalidade entre Raiders e Eagles. Qualquer um era bem-vindo para ficar
aqui, mas Tate te expulsaria mais rápido do que você conseguiria dizer “vai,
Raiders” se ele notasse ou soubesse de qualquer problema.
Já mencionei que Tate era meu tipo de pessoa?
— E aí, você odiou tanto quanto esperava? — Flick me perguntou
enquanto pegávamos nossos milkshakes e batatas fritas com queijo e bacon e
encontramos uma mesa.
— Foi... tudo bem, eu acho. Mas não vou me apressar para comprar
ingressos para o jogo da próxima semana.
— Desmancha prazeres. — Ela mostrou a língua para mim. — Os caras
estavam gostosos, não é? Com aquelas calças justas e ombreiras. — Ela
praticamente ofegou.
— Realmente não me atrai. — Dei de ombros enquanto mexia na
cobertura de morango do milkshake.
— Me desculpe — Flick ofegou —, mas você é cega?
— Eu simplesmente não acho jogadores de futebol gostosos. — Talvez
um, mas ele era um idiota com quem eu não queria ter nada a ver. Nunca.
Mais.
Flick me examinou, e seus olhos semicerrados procuraram meu rosto.
— O que foi? — perguntei, desconfortável com seu olhar investigativo.
— Você está escondendo algo.
— Não estou. — Grande resposta, idiota.
— Hails...
— Flick... — Encarei seu olhar de aço.
— É ele, não é? O Cameron? Ele te irritou?
— O quê? Não.
— Você está sendo cautelosa. Sei que alguma coisa aconteceu. Você
pode muito bem me dizer agora ou eu...
— Tudo bem — sussurrei. — Só fale baixo, tá? — Olhei ao redor,
procurando alguém da escola. Me aproximando mais da mesa, me apoiei nos
braços. — Ele me beijou.
— Te beijou? — Seus olhos quase saltaram do rosto. — E você não me
contou? Quando isso aconteceu? Foi de língua? Foi bom? — Ela gemeu. —
Claro que foi bom, estamos falando do Cameron Chase, pelo amor de Deus.
— Flick. — Dei a ela um olhar penetrante. — Respire.
— Eu... uau. — Uma expressão sonhadora tomou conta dela. — Ele te
beijou. — Sua expressão mudou para presunçosa. — Eu sabia. Sabia que ele
te queria.
— Você se esqueceu do que ele fez comigo?
— Preliminares, amiga. Estou te dizendo, são tudo preliminares.
— Você tem uma visão muito estranha do mundo.
— Só estou dizendo que ser um idiota de grau A vem de mãos dadas com
ser um Raider. Esses caras são... bem, eles são a própria lei. É assim que é.
Você sabe que o treinador tem todas aquelas regras sobre namoro e garotas
serem uma distração.
— Então isso lhes dá licença para dormir com metade das garotas da
escola e nunca mais ligar para elas? — Arqueei a sobrancelha. Eu não estava
acreditando nisso, de jeito nenhum.
— Não é isso que estou dizendo, mas toda a cidade os coloca neste
pedestal. Não é de admirar que eles sejam do jeito que são quando você pensa
sobre isso.
— Há algo que você precise me dizer? — Virei o assunto para ela.
— O quê? Não! — Ela corou e sinos de alarme soaram na minha cabeça.
— Só estou dizendo...
— Parece que você os está defendendo, se me perguntar.
— Ah, pare. — Flick me lançou um olhar perplexo. — Todo mundo sabe
que os caras da equipe são mulherengos. Eles não namoram, não se
apaixonam e certamente não beijam garotas por beijá-las. — Foi a vez dela
de levantar uma sobrancelha.
— Eles beijam garotas por causa disso o tempo todo.
— Onde o Cameron te beijou?
— O quê? — Fiquei boquiaberta, me sentindo corar.
— Responda a pergunta, Hails.
— Onde você acha que ele me beijou? Na boca, idiota. — Embora eu não
pudesse negar que a ideia de ele me beijar em outros lugares tenha me feito
pressionar os joelhos um contra o outro. Controle-se Hailee Raine. Você o
odeia, se lembra? Você. O. Odeia.
— Não, quero dizer onde ele te beijou? Em uma festa? No corredor da
escola? Em casa? No seu quarto? Idiota .
— Eu... humm... no armário do zelador da escola.
— Ah, isso está cada vez melhor. — Flick sorriu e diversão brilhou em
seus olhos. — E como, por favor, você acabou no armário do zelador com
ele?
— Não importa.
— Não importa? Você está brincando comigo? Acho que isso importa,
sim. Acho que importa muito. Você gosta dele, não gosta?
Gostar dele?
Eu não gostava de Cameron Chase.
Eu o odiava com cada fibra do meu ser.
— Não vou mais falar sobre isso — eu disse, enfiando um punhado de
batatas fritas na boca.
— Tudo bem, mas sei que há mais aí. E lembre-se, Hails, a verdade virá à
tona, ela sempre aparece.

***

Uma hora depois, Flick finalmente desistiu da ideia de haver mais entre
Cameron e eu. Meu tratamento silencioso toda vez que ela o mencionava
provavelmente tinha algo a ver com isso.
— Gatos à esquerda. — Ela olhou de soslaio para os caras bonitos que
tinham acabado de entrar enquanto jogávamos air hockey . — O loiro é fofo.
— Minha melhor amiga ainda estava olhando na direção deles.
— É bom que eu goste de alto, moreno e bonito então. — Pisquei para
ela, enfiando o disco em seu gol aberto. Os caras devem ter notado que
estávamos olhando, porque um deles cutucou o outro e os dois olharam em
nossa direção.
— E quanto ao Cameron?
— Quem é Cameron? — Inclinei a cabeça, mas seu sorriso vacilou, como
se ela visse através do meu ardil.
— Tudo bem, que assim seja. Acha que deveríamos convidá-los?
— Eu não... merda, tarde demais — murmurei, baixando o olhar e
sussurrei — eles estão vindo para cá.
Flick deu um gritinho animado.
— Deveríamos ter uma noite das garotas — protestei, mas ela
simplesmente revirou os olhos para mim.
— Que melhor maneira de fazer você esquecer tudo sobre aquele que não
pode ser nomeado do que caras bonitos?
— Não sei. — Olhei para eles de novo. Eles voltaram para o balcão,
provavelmente quando notaram minha carranca, mas continuaram nos
olhando enquanto pediam bebidas. Eu estava brincando quando eles
entraram, na esperança de afastá-la do assunto sobre Cameron. Mas agora eu
não tinha tanta certeza se queria que eles viessem aqui.
— Está na minha lista — ela deixou escapar. — Número dez, ficar com
um cara qualquer.
Cuspi um pouco de refrigerante.
— Calma aí, quem disse alguma coisa sobre ficar?
Eu não estava procurando por isso.
— Olha quem fala. — Flick suspirou, baixando a voz. — Você já não é
mais virgem. Agora é minha vez, Hails. Não quero ser a única garota na
faculdade que ainda não fez sexo.
— Flick, vamos lá. Não foi como se a única vez que fiz fosse algo
memorável. — Foi estranho e acabou tão rápido que eu não tinha certeza se
tinha acontecido, e eu nunca mais vi o cara. Não era exatamente uma
primeira vez para lembrar.
— Não estou dizendo que quero dormir com ele. — Seu olhar mudou
para os dois caras mais uma vez. — Mas eu não diria não para a segunda
base.
— Não sei... — Mas era tarde demais. Os caras já estavam vindo em
nossa direção, o loiro olhando para a minha melhor amiga enquanto o moreno
sorria para mim.
— Oi, eu sou o Toby.
— Oi — Flick respondeu, ansiosa. — Eu sou a Felicity, esta é minha
amiga Hailee. E você é? — Ela se dirigiu ao outro cara.
— Jude — ele respondeu baixinho.
— Bem, Jude, quer me pagar uma bebida?
Toby e eu assistimos enquanto Flick agarrou sua mão e não lhe deu
escolha a não ser segui-la de volta ao balcão.
— Ela é sempre tão... — Sua voz sumiu.
— Não — eu disse lutando contra um sorriso. — Ela não é. — E eu não
tinha certeza do que fazer com esta nova versão da minha melhor amiga.
— Será que vou parecer um idiota completo se eu não perguntar se você
quer uma bebida?
— Nada de julgamento aqui. — Levantei as mãos. Então algo me
ocorreu. — Ei, você mora por aqui? Eu não te reconheço da escola.
— Ah, é porque eu estudo na Rixon East.
— Eu imaginei.
— Acho que você é uma Raider?
— É assim que vocês nos chamam atualmente? — O canto da minha boca
se ergueu. — Na verdade, eu odeio futebol.
— Sério? E eles ainda não te expulsaram?
Eu ri. Toby era engraçado e tinha um sorriso bonito.
— Por favor, não me diga que você joga?
— Eu pareço um jogador? — Ele não parecia. Era alto e magro, mais
parecido com um jogador de basquete ou nadador do que um jogador de
futebol. — Não, isso não é muito a minha praia. Eu sou mais do tipo
criativo...
— Não acredito, eu também.
— É mesmo?
— Sim, espero ir para Michigan no próximo ano para a Stamps School of
Art and Design.
— Legal. — Toby sorriu e me vi retribuindo o gesto. — Então, sei que
isso pode parecer um pouco exagerado, mas na verdade estamos indo para
uma festa. Você quer vir?
— Esta festa é em Rixon East? — perguntei, por que de jeito nenhum eu
iria a uma festa em que meu irmão e seus amigos atletas pudessem estar.
— Sim, é do outro lado do rio. Isso é um problema?
— Por mim, não — respondi com um sorriso, assim que Flick e Jude
voltaram.
— E aí?— Jude perguntou ao amigo.
— Convidei a Hailee para vir para a festa com a gente. Quer ir? — Ele
olhou para Flick e os olhos dela brilharam, travando em Jude.
— Estou dentro.
— Legal — seu novo amigo. — Vamos lá então?
— Claro. — Passei a mão na minha calça jeans e seguimos os caras para
fora do prédio. Eles caminharam um pouco à frente, então Flick aproveitou a
oportunidade para entrelaçar seu braço no meu.
— Uma festa da East. Tem certeza? Se o Jason descobrir...
— Deixe-o descobrir. Ele não é meu guardião, Flick. O que aconteceu
com “ah, ele é tão fofo”? — Dei a ela um olhar penetrante enquanto
seguíamos atrás de Jude e Toby.
— Ah, estou dentro. — Ela sorriu. — Só estou garantindo que você saiba
o que está fazendo .
— Tudo certo? — Jude se virou para onde eu e Flick paramos. Segurei a
mão dela, comecei a ir em direção ao carro dele e disse:
— Está tudo bem.
Apesar de Rixon e Rixon East serem divididos pelo rio Susquehanna,
demoramos só quinze minutos para chegar na festa. Jude parou em frente a
uma casa de campo. Carros e caminhonetes se alinhavam na rua e a vibração
fraca da música soava para fora das janelas.
— Puta merda — Flick assobiou entre os dentes. — Este lugar é...
— Impressionante, né? — Toby saiu e deu a volta para abrir minha porta.
Desci, de repente me sentindo mal vestida com a calça jeans, camiseta da
Vans e tênis desgastados. Rixon East era conhecido por ser mais rico que
Rixon. Nosso bairro não era pobre por nenhum esforço da imaginação, mas
Rixon East ostentava mais propriedades aninhadas nos arredores bonitos e
arborizados, e aluguéis exclusivos ao longo do rio.
A casa diante de nós não era exceção.
— Você conhece alguém que mora aqui? — Fiquei boquiaberta e Toby
riu.
— Sim, o meu primo. Vamos.
— Primo? — Flick murmurou enquanto seguíamos os caras para dentro.
Dei de ombros. Agora era tarde demais para nos preocuparmos com quem era
o primo de Toby.
Até que entramos, apenas para encontrar um mar de vermelho e branco.
— Humm, Toby, quem você disse que era o seu primo? — Flick
perguntou. O pânico brilhava em seus olhos quando ela me deu um olhar de
soslaio.
— Lewis Thatcher, o melhor QB do estado — Jude entrou na conversa.
Quase engasguei com o ar em meus pulmões. O primo de Toby era Lewis
Thatcher, QB Um de Rixon East Eagles e arqui-inimigo de Jason.
Merda.
Flick arregalou os olhos por cima do ombro, mas eu balancei minha
cabeça discretamente. Ninguém sabia quem eu era. Poderíamos aproveitar a
festa, nos misturar e ficar fora do radar.
Pelo menos esse era o plano.
Catorze
Cameron
— Aqui está, garotos. — Sara, uma das garçonetes do Bell’s passou nossos
pratos de comida. Ganhando ou perdendo, nosso ritual pós-jogo era ir ao
Bell’s no sábado à noite e quando Jase me ligou esta manhã, não hesitei em
dizer sim.
Quando cheguei em casa ontem, minha mãe e Xander estavam dormindo.
Meu pai estava com duas cervejas no freezer, me esperando para brindar
nossa primeira vitória da temporada. Ficamos acordados até tarde, assistindo
a fitas de jogos antigos e conversando sobre as divisões de base. Mas não
falamos sobre o elefante na sala.
Hoje de manhã, quando finalmente me arrastei para fora da cama com os
músculos doloridos, minha mãe estava de bom humor. Ela até fez o café da
manhã para todos nós. Foi legal. Normal.
Foi como nos velhos tempos.
— Se precisarem de mais alguma coisa, é só me chamar, tá?
— Gostaria de receber um bom... — Mackey começou, mas Sara o
interrompeu.
— Volte aqui quando tiver vinte e um, gostosão. — Ela piscou, dando um
sorrisinho antes de se afastar, colocando um balanço extra em seu andar.
Mackey se recostou na cadeira e gemeu.
— O que eu não daria para pegá-la.
— A Sara é gostosa, mas não transa com jogadores de futebol — Asher
explicou, colocando ketchup na sua comida. — Nem mesmo com o QB Um,
não é, Jase?
— Ela tem uma boca muito esperta para mim. Gosto que minhas
mulheres falem menos e chupem mais.
— Sim — Mackey acrescentou. — Mas imagine o que ela pode fazer
com esses lábios carnudos.— Uma expressão boba se apoderou dele, e Grady
se inclinou, acertando-o na cabeça. — Foco. Temos um jogo em que nos
concentrar.
— Cara, acabamos de derrotar os Marshall na noite passada. Acho que
temos direito a uma folga.
— Idiotas do segundo ano — alguém resmungou.
— Eu ouvi.
— Relaxa — Jase disse a Mackey enquanto cortava seu Bell’s Special
Burger pela metade. A coisa era grande demais para tentar comer inteiro. —
Entendemos que você está empolgado, mas o Kaiden está certo, a única coisa
em que você precisa se concentrar é no próximo jogo. Até a semana dez.
Entendido?
— Entendido — Mackey resmungou. — Não significa que não posso
olhar, certo? — Seus olhos voltaram para onde Sara estava, servindo outra
mesa.
Jase e eu trocamos um olhar divertido. Nós sabíamos como era: os
hormônios em fúria, a agitação por sermos deuses entre os homens. Em uma
cidade como Rixon, ser parte do time do colégio era uma medalha de honra
que abria portas: para faculdades, para garotas e para um passe livre para
errar de vez em quando. Mas também vinha com expectativa e pressão.
Expectativa de ser o melhor, para trabalhar duro e dar tudo de si. Joel
Mackey podia não entender agora, mas depois de uma temporada sob o
comando do técnico Hasson e sua equipe, ele entenderia. Esses caras te
derrubavam até que você não fosse nada além de sangue e osso e então te
reconstruíam até que você ficasse duro, por dentro e por fora. Até que
nenhuma equipe – não importa o quanto fosse grande, forte ou agressiva –
fosse uma ameaça. O programa de futebol da Rixon High construía
guerreiros. Rapazes moldados, cheios de coração, coragem e determinação.
Como o treinador Hasson gostava de nos lembrar sempre que podia, “grandes
homens não nascem, são feitos”.
E a Rixon High só fazia os melhores.
Mas não havia como negar que às vezes era um fardo pesado para se
carregar. E relaxar um pouco de vez em quando era a única maneira de
avançar.
— Então, Jase — Grady falou. — Qual é o plano para a Rivals Week? —
ele perguntou, se referindo a semana de rivalidade da temporada.
— Isso você vai descobrir. — O brilho malicioso nos olhos do meu
melhor amigo chamou minha atenção.
— Ah, vamos lá. Faltam só duas semanas. Você pode nos dizer.
— Meus lábios estão selados.
— Mas vai envolver uma pequena viagem pelo rio, estou certo?
— Devíamos ir a casa deles e desenhar uns Vikings em seu campo —
Kaiden falou.
— Ou hackear as contas das redes sociais e sacaneá-los. — Mackey
sorriu, claramente impressionado com sua própria ideia.
— Falando nisso, o Thatcher está falando besteira no Twitter de novo. —
Kaiden ergueu seu telefone celular. — Dá uma olhada nessa merda. — Ele
entregou o aparelho a Jase e nós dois examinamos a tela.

@ThatcherQB1 : O que é preto, azul e todo quebrado? Os Raiders depois de


lidarmos com eles #vamostepegar #rivalsweek

Jase ficou tenso ao meu lado.


— Ele é um idiota.
— Se ele continuar assim — Kaiden disse, pegando o celular de volta. —
O treinador deles terá que intervir. Snapchat é uma coisa, mas o Twitter tem
outra dimensão.
— Não se preocupe. Daqui duas semanas, o único tweet que ele vai
mandar é: hashtag, dói.
Os caras uivaram de tanto rir, mas eu não pude deixar de me perguntar o
que Jason tinha na manga.
E se eu ainda queria saber.

***

Uma hora depois, tínhamos passado para a mesa de sinuca.


— Chase, é a sua vez. — Grady acenou para que eu jogasse assim que
meu celular vibrou.
— Espere aí — falei, pegando-o no bolso. — É o meu pai. Volto já. —
Indo para o corredor que leva aos banheiros, apertei para atender. — Pai?
— Oi, filho. — Ele parecia cansado. Sua voz estava baixa e vazia. A
mundos de distância do cara que deixei em casa mais cedo.
Meus sentidos ficaram em alerta máximo.
— Está tudo...
— É a sua mãe, ela... — Meu estômago se apertou quando sua voz
falhou. Ele limpou a garganta, forçando as palavras. — Odeio ter que te ligar
quando você está fora com os rapazes, mas seria muito bom se você pudesse
vir para cá. O Xander está...
— Já vou, pai. — O medo me atingiu. Meu pai raramente ligava. Quando
isso acontecia, era porque Katie não podia ficar com Xan. Então, o fato de ele
ter me ligado em um sábado à noite quando eu estava com o time... eu sabia
que não era bom.
Asher me encontrou olhando para o celular.
— Tudo bem?
— Não tenho certeza. — Enfiei o aparelho no bolso, esfregando a mão no
rosto. — Ele precisa de mim em casa.
— Sua mãe?
— Sim, acho que sim. — Minha cabeça estava disparando em uma
centena de direções diferentes, tentando descobrir o que poderia ter
acontecido.
— Merda, cara, sinto muito. Existe alguma coisa que você...
— Não, está tudo bem. Tenho certeza de que está tudo bem. O Xander
provavelmente ficou chateado de novo. — Asher sabia mais do que a maioria
sobre minha mãe e suas mudanças de humor. É por isso que eu ficava na casa
dele às vezes, quando as coisas ficavam muito intensas em casa.
Há quatro anos, quando a minha mãe descobriu que estava grávida de
Xander, as coisas ficaram difíceis. Ela e meu pai não estavam prontos para
serem pais de novo. Eu tinha quatorze anos e minha vida já girava em torno
do futebol. Eles eram meus maiores torcedores, nunca perdendo um único
jogo. Depois que meu irmão nasceu, minha mãe teve dificuldades. Os
médicos disseram que ela teve depressão pós-parto. Meu pai tirou um tempo
para ajudar em casa e com meu irmão caçula. Com alguns medicamentos e
terapia, as coisas melhoraram, e quando Xander fez um ano, parecia que ela
estava voltando ao normal.
Mas ela nunca voltou, não de verdade.
E desde então acompanhamos sua batalha contra a própria mente.
— Diga ao Jase...
— Dizer o que ao Jase? — Ele apareceu no corredor, com o cenho
franzido e os braços cruzados.
— Meu pai precisa de mim em casa.
— De novo? — Ele nem se preocupou em disfarçar sua desaprovação.
— Sim, é minha mãe...
— Achei que ela estava melhor. — Estremeci com a dureza em sua voz.
Mas eu não poderia culpá-lo totalmente por sua falta de compaixão. Não era
como se eu andasse divulgando os problemas da minha família, e meus pais
se mantinham calados atualmente. Era um assunto delicado, algo que minha
mãe não queria que todos soubessem.
— Ela está bem, mas algo deve ter acontecido. Preciso ir. — Fui
contorná-lo, mas ele levantou a mão, pressionando-a contra meu peito.
— Tem certeza de que está tudo bem? — Seus olhos procuraram os meus
e eu queria acreditar que ele se importava, que ele não estava apenas
preocupado que isso seria uma distração para mim. Pela equipe.
— Sim, cara. Te vejo amanhã. — Gostávamos de ir à academia aos
domingos, na casa de Asher. — Só me faça um favor, tá?
— Qualquer coisa — ele disse.
— Não faça nada estúpido enquanto eu estiver fora.
O canto da boca de Jase se curvou enquanto Asher ria.
— Costumamos fazer?
Lancei um olhar duro aos dois, esperando que eles atendessem ao meu
aviso antes de seguir pelo corredor e sair pela porta dos fundos, não querendo
enfrentar uma enxurrada de perguntas dos caras.
Eu queria acreditar no meu pai quando ele disse que minha mãe estava
melhorando, que esse novo médico tinha certeza de que poderia ajudar, mas
já estivemos neste estágio muitas vezes nos últimos três anos. Cada vez que
seu humor se estabilizava e ela começava a se sentir normal de novo, outra
onda de enxaqueca, letargia e ansiedade a atacava. E cada vez que isso
acontecia, a gravidade de suas oscilações de humor piorava. Às vezes, durava
apenas alguns dias, outras vezes durava semanas. É por isso que, no final,
meu pai contratou Katie para cuidar de Xander. Ele precisava voltar a
trabalhar e eu tinha a escola e o futebol. Eu me ofereci para ajudar mais, para
largar o treino e priorizar a família, mas ele não quis ouvir falar disso.
Nenhum deles queria. O futebol era minha passagem para a faculdade, meu
futuro. Mas não impedia de sentir culpa. Eu a carregava comigo como um
peso permanente em meu peito.
No fundo, acho que é por isso que as coisas estavam diferentes este ano.
Eu era veterano agora, jogando a última temporada. Se tudo corresse como
planejado, eu estaria indo para a faculdade no próximo verão, deixando meu
pai para criar Xander e cuidar da minha mãe. Eu sabia que eles não queriam
que eu colocasse minha vida em espera, mas eu não era mais criança. E não
pude deixar de me perguntar se agora era a hora que eu precisava parar e
assumir mais responsabilidades em casa.
Minha casa ficava a poucos quarteirões do Bell’s e, antes que eu
percebesse, estava entrando na garagem. Já era tarde, quase nove e meia.
Xander já deveria estar dormindo, sonhando com heróis e carros de corrida
falantes, mas algo obviamente aconteceu. Com o coração pesado, o medo
dando um nó no meu estômago com o pensamento do que eu encontraria lá
dentro, segui até a casa.
— Ei — falei, fechando a porta atrás de mim. — Sou eu.
— Estamos aqui — a voz do meu pai soou pelo corredor, e eu a segui até
a sala de estar. Ele estava na poltrona com Xander enrolado em seu colo. Os
olhos do meu irmão mais novo se abriram, e ele sorriu.
— Ameron está em asa .
— Ei, amigo, venha aqui. — Eu me agachei, abrindo os braços. Ele saltou
do colo do meu pai e cambaleou até mim. Suas perninhas se moviam o mais
rápido que podiam. Pegando-o, estudei seu rosto. Ele esteve chorando, seus
olhos estavam inchados e vermelhos. Olhei por cima do ombro dele e meu
pai fez uma careta, passando a mão pelo rosto.
— E aí, cara?
— A mamá me fez cholar .
— Tenho certeza de que ela não teve intenção. — Baguncei seu cabelo
enquanto ele enterrava seu rosto em meu ombro. — Que tal se eu te colocar
na cama e terminar aquela história que começamos na outra noite?
Xan acenou com a cabeça, se recusando a afrouxar o aperto em meu
pescoço.
— Venha, amigo. Está na hora de história para dormir. — Carreguei o
garotinho até seu quarto, lutando com ele para tirá-lo de meus braços e
colocá-lo na cama.
— Você quer uma história?
Seus lábios se apertaram enquanto ele baixava os olhos sonolentos.
Caramba, vê-lo assim dava um nó dentro de mim.
— Ei, Xan — me ajoelhei ao lado da sua cama e puxei as cobertas ao
redor de seu corpinho —, a mamãe te ama. Sabe disso, certo?
Ele me espiou por baixo de seu cabelo castanho.
— Xei .
— Às vezes, ela simplesmente não é muito boa em demonstrar, amigo. —
Acariciei seu cabelo, tirando-o de seu rosto para que eu pudesse ver seus
olhos. — Mas ela te ama muito e tenho certeza de que você é o garotinho
favorito dela, sempre será.
— É?— Seus olhos brilharam. — Ela mim ama.
— Isso mesmo, ela te ama. E vai te compensar, tá? — Ela sempre fazia
isso, fosse indo tomar sorvete no Ice T's com ele ou levando-o ao parque. Em
seus dias bons, minha mãe encontrava maneiras de apagar todos os dias não
tão bons da cabeça do meu irmão mais novo.
— Tá, Ameron . — Ele bocejou, fechando os olhos e se aconchegando no
travesseiro.
— Muito bem, amigo. Durma um pouco. — Dei um beijo em sua cabeça.
— Vejo você de manhã.
Xander adormeceu em segundos. Saí do seu quarto na ponta dos pés,
fechando a porta. Dei uma olhada em minha mãe, mas ela estava dormindo
também, com a expressão serena como se seus sonhos fossem o único lugar
em que ela encontrava consolo atualmente. O pensamento estrangulou meu
coração.
Antes de engravidar de Xander, minha mãe era tão cheia de vida... era
minha maior apoiadora. Era difícil ficar ressentido com o garotinho, porque
eu o amava muito. Mas às vezes, quando ela perdia outro jogo ou se esquecia
de me perguntar como foi o treino, eu não podia deixar de desejar que as
coisas fossem como costumavam ser. Antes de ela ficar doente.
No andar de baixo, encontrei meu pai na cozinha, tomando um copo de
uísque.
— Foi muito ruim? — perguntei.
— Não vou mentir, filho, estou preocupado. — Seus olhos se fecharam
enquanto ele respirava profundamente. — Eu nunca a vi assim antes, ela
estava... — A dor em sua voz me partiu o coração e fui até ele, puxando-o em
meus braços.
— Vai ficar tudo bem, pai. — Eu o apertei com força, mas enquanto dizia
as palavras, não sabia se acreditava nelas. Nos apegávamos à esperança de
que ela ficaria bem há tanto tempo que eu não achava que nenhum de nós
tivesse realmente parado para considerar a alternativa.
E se ela não ficasse?
Quinze
Hailee
Duas horas de festa e conseguimos nos misturar. Toby e Jude mantiveram
nossos copos cheios e a conversa fluindo. Era revigorante estar incógnita e
sair com pessoas que não me conheciam ou minha ligação tênue com os
Raiders. E quando Toby se aproximou de mim e roçou o braço no meu, não
recuei. Ele era legal. Não era como seu primo e os amigos atletas que
estavam ocupados jogando ping pong do lado de fora enquanto garotas
seminuas brincavam na piscina olímpica competindo pela atenção deles.
— Isso é divertido, não é? — Flick veio em minha direção quando os
caras se afastaram.
— Sim. — Sorri, tomando outro gole do meu copo. Era ponche, o sabor
amargo do licor quase imperceptível.
— O Toby é fofo. — Ela sorriu. — Pena que ele é primo do QB do
Eagles.
— Shhh — sussurrei, examinando a cozinha a procura de qualquer sinal
dele. — Eles não podem saber quem sou, ainda não.
— E se descobrirem? — Ela me lançou um olhar de desaprovação.
— Eles não vão.
Flick parecia pronta para discutir quando começamos a ouvir barulhos de
explosão. As pessoas começaram a gritar e o inferno começou. Agarrando
meu braço, ela me puxou para trás do balcão enquanto o sangue batia forte
em meus ouvidos.
— O que é isso? — Flick tremia enquanto os sons continuavam pela casa.
— Tiros? — ela gritou.
— Claro que não — respondi sem fôlego, com o coração preso na
garganta. Estávamos em Rixon East, as pessoas não eram baleadas aqui. Mas
com certeza parecia um tiroteio.
— Filhos da puta — alguém rugiu, e um grupo de caras usando camisetas
vermelhas e brancas correu pela cozinha e saiu pela porta dos fundos. O ar
cheirava a queimado e uma névoa de fumaça pairava no ar enquanto eu
espiava por cima do balcão.
Flick agarrou meu braço.
— Hails, o que...
— Acha mesmo que eles estariam lá fora se fossem tiros?
— São fogos de artifício — alguém explicou, e eu virei a cabeça para um
cara que estava se aproximando das janelas. — Meu irmão usa isso o tempo
todo.
Mais pessoas entraram na cozinha, a curiosidade levando a melhor. Dei
de ombros e fui para a porta dos fundos.
— Hailee, o que... — Eu a abri e saí. O barulho tinha parado, mas havia
um grupo de caras lutando no gramado extenso dos Thatchers.
— Ah, merda — alguém gritou. — Briga.
As pessoas saíram da casa, ansiosas para ver o que estava acontecendo.
Mas quando meus olhos pousaram em Jason e Asher no meio da briga,
ofeguei.
— Jason, mas o que é isso?
Os olhos do meu meio-irmão se fixaram nos meus assim que um dos
caras de Rixon East acertou um soco em sua mandíbula. A cabeça dele foi
para trás e o sangue jorrou.
— Jason! — gritei enquanto abria caminho através da multidão crescente.
— Espere — Toby disse de algum lugar atrás de mim. — Você o
conhece?
— Tipo isso — murmurei, observando enquanto Jason lutava contra dois
caras e Asher controlava o terceiro. — Ele é meu meio-irmão. — Minha voz
estava baixa enquanto eu forçava as palavras.
— Ah, merda — ele falou, esfregando o queixo. — Eu não fazia ideia.
Por que ele faria?
Jason vivia no centro das atenções, não eu. E seu sobrenome era Ford,
enquanto o meu era Raine. A menos que nos conhecessem, ninguém jamais
faria a ligação.
Os caras estavam circulando um ao outro e a multidão estava empolgada
e sedenta. Um dos caras avançou para Jason, mas eu gritei:
— Pare.
Sem pensar, corri para o círculo e fiquei na frente dele, me colocando
como escudo.
— Sai da frente, vadia Raider — o cara grunhiu e um hematoma feio
estava se formando ao redor do seu olho. — Antes que eu...
— Se afaste, Thatcher, ela é minha irmã. Quer mesmo começar algo que
sabe que vamos terminar?
O cara – Lewis Thatcher – olhou para mim e seus olhos brilharam com
interesse enquanto ele esfregava o queixo. Ele era um rapaz de aparência
cruel: alto, forte, com olhos penetrantes e cabelo curto espetado. Mas eu
estava presa na parte em que Jason me chamou de irmã.
Ele nunca tinha me chamado de irmã antes, a menos que isso viesse de
mãos dadas com um insulto.
— Você tem cinco minutos para dar o fora daqui. — Os ombros de Lewis
Thatcher relaxaram quando ele deu um passo para trás e seus amigos fizeram
o mesmo.
— Flick? — Acenei para ela vir até mim, com lágrimas nos cantos dos
olhos. — Vamos — eu disse, colocando um braço ao seu redor.
Jason enxugou a boca. Ele estava selvagem, com os olhos fervilhando de
raiva, o sangue manchando seu lábio e o cabelo despenteado. Asher não
estava melhor. Os dois inclinaram a cabeça para Lewis Thatcher e seus
amigos antes de recuarem devagar.
— Hailee, você e Felicity vão esperar no jipe ​do Asher.
— Mas...
— Agora , Hailee.
Vacilei com seu tom severo, e Flick começou a me puxar para longe.
— Vamos, Hails — ela disse, trêmula. — É melhor a gente ir.
Olhei para trás para ver Jason e Asher enfrentando os caras de Rixon
East. Fiquei surpresa com o alívio que senti quando eles começaram a nos
seguir.
Chegamos ao Jeep de Asher, que estava estacionado na rua, escondido
nas sombras.
— Entre — ele disse. — Está destrancado.
Flick não perdeu tempo e pulou para dentro, mas eu hesitei enquanto meu
olhar frenético avaliava Jason.
— Entre na porcaria do Jeep, Hailee — ele grunhiu quando seus olhos
encontraram os meus. Havia um corte profundo em seu lábio e uma sombra
escura na bochecha, mas não foram seus ferimentos que chamaram minha
atenção. Foram seus olhos. Estavam completamente pretos.
Ferozes.
— Mas...
— Entre. Na. Porcaria. Do. Jeep. — Ele segurou a porta, esperando que
eu entrasse. Com um suspiro pesado, me sentei ao lado de Flick, e Jason
bateu a porta atrás de mim. Ela me lançou um olhar preocupado, mas não
disse nada. A tensão quando Asher e Jason entraram era tão densa que eu mal
conseguia respirar.
— Bem, eu não esperava por isso — Asher falou enquanto ligava o motor
e manobrava para a estrada. Ele olhou para o meu meio-irmão. — Isso pode
ser um problema...
— Não — Jason o interrompeu, mas não perdi o olhar silencioso que eles
compartilharam. Eu queria perguntar o que ele quis dizer, por que isso
poderia ser um problema, mas algo me disse que eu não gostaria da resposta.
Derrotada, afundei nos assentos de couro, olhando pela janela.
A viagem de volta através do rio não demorou muito, mas pareceu horas.
Ninguém falou nada. Flick estava quieta, com os olhos fechados e
balançando a perna. De vez em quando, os olhos de Asher encontravam os
meus no espelho retrovisor, mas eu não conseguia decifrar a expressão em
seu rosto. E Jason... bem, ele estava presente fisicamente, mas estava
completamente longe dali. Perdido na raiva que irradiava dele como um
campo de força.
Ele estava furioso.
E algo me disse que tinha tudo a ver comigo.

***

Na manhã seguinte, fiquei deitada na cama, pois não estava pronta para
enfrentar as consequências da noite anterior. Quando Asher parou em frente à
nossa casa, Jason ordenou que eu entrasse enquanto os dois ficaram no jipe ​
para conversar. Eu só sabia disso porque os observei da minha janela. Algo
estava errado, mas o que quer que fosse, eles não acharam necessário me
dizer. Idiotas .
Meu celular tocou e me inclinei para pegá-lo da mesa de cabeceira.
Recebi duas mensagens de Toby.

Toby: Você chegou bem em casa? Eu estava preocupado.

Sorri e abri a mensagem mais recente.

Toby: Bom dia, só queria ter certeza de que Ford não te matou no caminho
para casa.

Me deitando de costas, meus dedos voaram pela tela.

Eu: Estou bem, obrigada. Isso foi muito louco. As coisas são sempre assim
nas festas do Leste?

Toby: Nada. As coisas só ficam malucas se o seu irmão aparece.

Portanto, não foi a primeira vez que algo assim aconteceu. Interessante.
Guardei esse fragmento de informação para outra hora.

Eu: MEIO-irmão. E acredite em mim, gostaria que ele não fosse.

Toby: Eu me perguntei por que você não mencionou isso...

Eu: Não sabia que era importante.

Não era uma frase de apresentação que funcionava bem para mim: “Oi, eu
sou Hailee Raine, e a propósito, meu meio-irmão é Jason Ford”.

Toby: Não é. Mas da próxima vez, provavelmente devemos evitar uma festa
dos Eagles...

Meu coração deu uma pequena cambalhota inesperada com as palavras


“próxima vez”.

Eu: Próxima vez? Muito presunçoso da sua parte.

Eu estava sorrindo.

Toby: Isso é um sim?

Eu: Vou pensar a respeito.


Ao apertar o botão enviar, meu celular começou a tocar.
— Oi — eu disse a Flick, com a voz ainda cheia de sono.
— Oi. Então... a noite passada foi interessante.
— Argh . Não — gemi, colocando o braço sobre o rosto. — Não acredito
que eles apareceram lá.
— Não acredito que achei que estávamos no meio de um tiroteio. Meu
coração ficou acelerado o resto da noite.
— Sim, foi uma loucura. Mas adivinha quem acabou de me mandar uma
mensagem?
— É mesmo? Isso é engraçado, porque o Jude me mandou uma também.
— Sua voz se elevou.
— Ah. — De repente, não me senti tão especial. — Acha que eles
combinaram?
— Isso importa? — Flick zombou. — Eles são gostosos, legais e nos
querem. Mesmo depois de descobrirem quem é seu irmão.
— Meio-irmão — eu a corrigi.
— Como se isso importasse. Jason te tirou da festa como se fosse seu pai.
— Por favor, não me lembre disso. — Eu o repreenderia por agir assim.
Um dia.
Empurrando as cobertas, saí da cama, ouvindo Flick enquanto ela me
contava os prós e contras de suas mensagens com Jude. Aparentemente, eles
trocaram um beijo secreto na festa e parecia que minha melhor amiga estava
mesmo afim dele.
De dentro do banheiro, tentei ouvir qualquer sinal de vida vindo do quarto
de Jason. Quando não ouvi nada, saí para o corredor e desci as escadas. Eu
adorava as manhãs de domingo. Kent e minha mãe sempre saíam de casa
cedo para ir jogar golfe com nossos vizinhos e se Jason estivesse em casa, ele
raramente aparecia antes das dez. E então ele ia direto para a casa do Asher.
Mas ao chegar ao último degrau, ouvi o estrondo baixo de vozes vindo da
cozinha. Fiz uma pausa. Colocando a mão em volta do telefone, sussurrei:
— Flick, preciso ir.
— Ir? Mas eu estava prestes a te falar...
— Acho que Jason e os caras estão aqui. Eu te ligo mais tarde.
— Ah, certo.
Nos despedimos e desligamos, e eu segui pelo corredor na ponta dos pés.
Jason estava conversando com Asher, mas eu não conseguia ouvir mais
ninguém. Me esforci para ouvir.
— Ele pode usá-la contra você — Asher falou e ouvi Jason zombar.
— Como se qualquer coisa que ele pudesse fazer com ela fosse me
incomodar.
— Cara, você pode odiá-la, mas ela ainda é da família. Se o seu pai ou a
mãe dela descobrissem... — a voz de Asher sumiu, e minha espinha ficou
rígida quando percebi que eles estavam falando sobre a noite passada.
Sobre mim.
Sem pensar, invadi a cozinha e meus olhos pousaram imediatamente em
Jason e Asher... e Cameron, sentados no balcão, tomando café da manhã.
Jason gemeu, esfregando a mão no rosto enquanto Cameron ficou tenso.
Ignorando-o para me concentrar em meu meio-irmão, perguntei:
— Por que me usariam contra você?
— Hailee...
Era um aviso, e sua voz soou baixa e fria. Mas dane-se. Eles brincaram o
suficiente com minha vida sem me arrastar para sua rivalidade com Rixon
East.
— Que se dane — grunhi, sentindo a frustração e a fúria no interior do
meu estômago. — Não te pedi para aparecer naquela festa ontem à noite e
estragar tudo. — Com o canto do olho, notei a expressão de Cameron
endurecer e seus dedos se curvarem na borda do balcão.
E então percebi que estava vestindo uma regata fina e um short de pijama
curto.
Ótimo.
Simplesmente ótimo.
— Para começo de conversa, você não deveria ter ido lá. Puta merda,
Hailee, é território leste. Esses filhos da puta...
— Você acha que eu me importo com isso? Que me importo em que time
eles jogam? Eu estar lá não teve nada a ver com você.
— Vamos, Hails , você espera que acreditemos... — Asher engoliu suas
palavras quando o olhei com severidade.
Ergui as mãos e uma risada amarga saiu de mim.
— Vocês estão iludidos. — Arregalei os olhos. — Se quer saber, eu e a
Flick fomos a essa festa porque você fez questão de garantir que não sejamos
convidadas para nenhuma festa daqui. Nós nem sabíamos que era uma coisa
dos Eagles até que o Toby disse...
— Toby? Mas quem é esse tal de Toby? — Cameron finalmente falou, e
meu olhar encontrou o seu.
— Vai realmente se sentar aí e agir como se você se importasse? — quase
grunhi para ele. No verdadeiro estilo idiota, ele permaneceu mascarado como
uma pedra, minhas palavras não fazendo nada com sua expressão
impenetrável.
O silêncio se estendeu diante de nós e o ar ficou mais denso. Com um
suspiro exasperado, olhei para Jason novamente.
— Por que você se importa tanto que Lewis Thatcher saiba quem eu sou?
Nunca importou antes.
— Porque eles podem vir até mim através de você.
Zombei disso. Ele estava falando besteira. Eu não era nada para ele,
ninguém. Portanto, a ideia de que alguém me machucaria para chegar até
Jason foi a coisa mais idiota que eu já ouvi.
— Se for esse o caso — falei — então estou surpresa que você não tenha
me entregado antes. — Eu o encarei, desafiando-o a provar que eu estava
errada.
A mandíbula de Jason cerrou enquanto ele abria e fechava a mão no
balcão como se estivesse trabalhando os músculos.
— Confie em mim, irmãzinha — ele estava irado. — Você não quer
acabar no meio disso.
— Você está brincando comigo? Não pedi para acabar no meio de nada .
— Minha voz estava estridente, mas eu estava cansada disso tudo. — Você
não é meu dono, Jason. Todos podem tratá-lo como o filho pródigo do
futebol, mas eu, não. Cuidado. — Meu sangue ferveu de desprezo.
Jason se levantou.
— Que se foda essa merda — ele falou, saindo da cozinha.
— Isso foi bom. — Asher me deu um sorriso irônico e revirei os olhos.
Mas ele não tinha terminado. — Sabe, ele está certo. Você acha que tornamos
sua vida um inferno, mas se entrar no meio da situação entre Thatcher e Jase,
as coisas podem ficar muito complicadas.
— O que ele fez para que o Thatcher quisesse me usar para se vingar?
Asher ia responder, mas Cameron disse:
— Ash, não. — E balançou a cabeça.
Olhei de volta para ele.
— Sério, vocês vão me manter no escuro?
— É para o seu próprio bem.
— Ah, por favor, como se tudo o que vocês fizessem fosse para o meu
bem.
— Eeeee, estou fora. — Asher se levantou para sair. — Não faça nada
que eu não faria, mano. Se bm que gostosa como ela está — seus olhos
correram sobre mim, provocando um arrepio na minha espinha, e não do tipo
bom —, eu não te culparia se fizesse algo.
— Nojento.
— Vaca. — Ele desapareceu no corredor me deixando sozinha com
Cameron.
O último lugar que eu queria estar.
Dezesseis
Cameron
— Ele é nojento — Hailee falou quando a porta se fechou atrás de Asher.
— O Asher só está brincando com você.
— Ele me chamou de vaca. — Ela me lançou um olhar penetrante, me
desafiando a discordar.
— Sim, mas ele não quis dizer isso. — Asher era... complicado. Ele agia
como um deus do futebol mimado, melhor do que a maioria de nós, mas eu o
conhecia muito bem. E a versão de Asher da Rixon High não era o que
existia debaixo da sua máscara.
— Dane-se. — Hailee cruzou os braços, chamando a atenção para as
curvas suaves dos seus seios.
Claro que ela teve que invadir a cozinha vestindo só um pijama fino, com
o cabelo macio caindo sobre os ombros como uma flecha enorme dizendo
“olhe para meus seios”.
Me forcei a desviar o olhar, silenciosamente ordenando ao meu pau que
parasse.
— Você está bem? — perguntei, interrompendo o silêncio ensurdecedor.
Os olhos de Hailee semicerraram quando me olharam de volta com a
expressão assassina.
— Não posso acreditar nisso — ela murmurou. — Fui àquela festa para
escapar de todas as porcarias daqui e agora estou no meio de uma rivalidade
estúpida no futebol graças ao idiota do meu irmão. Então, me diga, Cameron,
como é que eu deveria me sentir?
— Se serve de consolo, eu disse a eles para não fazerem nada imprudente.
— Ah, uau, você falou? Veja como funcionou bem. — Ela zombou. —
Deus, eu realmente quero torcer o pescoço de alguém agora.
O silêncio nos envolveu, e a atmosfera era tóxica. Hailee tinha todo o
direito de estar chateada. Caramba, eu também estava. Eu disse a eles para
não fazerem nada imprudente, avisei para ficarem fora de Rixon East. Mas eu
deveria saber que eles não iam ouvir. Jason fazia o que queria, quando queria,
que se danassem as consequências. Mas ele nunca teve que se preocupar com
ninguém além de si mesmo e o time. Os jogadores da East saberem sobre
Hailee mudava as coisas. E quer Jase admitisse ou não, isso o deixaria
vulnerável.
— Preciso ir. — Ela começou a se mover para a porta, mas eu me
endireitei no balcão.
— Deveríamos...
— O quê, Cameron? — Os olhos de Hailee estavam arregalados quando
ela me encarou com um olhar que me fez sentir com cinco centímetros de
altura. — O que deveríamos fazer? Fingir que podemos realmente suportar
um ao outro? Jogar outra rodada de xadrez verbal? Ou talvez você queira
enfiar um saco de pano na minha cabeça e estragar outra camisa nova?
Ouvi suas palavras, senti o veneno por trás delas, mas eu estava muito
distraído por seus lábios para realmente deixá-las me atingir. Muito focado na
forma como sua boca se curvava com cada sílaba.
— Ah, meu Deus — ela gritou. — Você está fazendo isso de novo. Você
está olhando para o meu...
Cruzei a distância entre nós, apertando-a contra a parede, prendendo uma
mecha do seu cabelo entre meus dedos. Foi um movimento ousado, dado o
olhar de ódio que ela estava me dando e o fato de seu meio-irmão estar lá
fora, mas era uma visão bem melhor do que agarrar seu cabelo e colar minha
boca na sua, que era o que eu realmente queria fazer.
— Você nunca para de falar? — perguntei.
— Já pensou em pedir ajuda profissional? — Ela desviou o olhar, com os
braços cruzados enquanto lutava contra um sorriso.
— Ah, Raio de Sol, a única coisa que me deixa louco é você.
— Isto não é um jogo, Cameron. Isso, nós, não é atração que você sente.
É ódio. Eu. Te. Odeio .
Me inclinando, passei o nariz pela sua mandíbula, certo de que senti seu
corpo estremecer e sua respiração ficar presa.
— Continue dizendo isso a si mesma, Raio de Sol.
Ela pressionou as mãos no meu peito enquanto olhava para mim, mas não
me enganava. Hailee estava chateada, sim, mas também estava excitada. Suas
pupilas estavam dilatadas e a pele quente e corada. E eu não queria nada mais
do que descobrir outras maneiras de fazê-la corar.
Mas ela grunhiu:
— Eu não vou fazer isso de novo. Não vou ser esse tipo de garota. — me
dando um empurrãozinho, Hailee se abaixou e se afastou de mim. — Fique
longe de mim, Cameron.
Mas quando ela saiu, soube que estava ferrado.
Porque as regras mudaram, e eu sabia que não poderia ficar longe dela.
Mesmo que eu quisesse.

***

Depois de me dar cinco minutos para me acalmar, encontrei Jase do lado de


fora, jogando bola. Ele estava péssimo: estava com um hematoma roxo
profundo em um olho e um corte terrível no lábio. A raiva irradiava dele
como um sinal de alerta que dizia, “fique longe”, mas eu não me importava.
E precisávamos conversar sobre isso.
— Eu deveria ter te ouvido — ele grunhiu, colocando a bola no chão e
jogando-a na cesta.
Cruzando meus braços, dei de ombros.
— Eu disse que era uma má ideia, mas você não poderia saber que ela
estaria lá.
— Ela não deveria estar lá, puta mer...
— Você sabe que ela não foi para causar problemas.
— Não? — Ele me encarou com um olhar duro. — Como posso saber
com certeza de que isso não fazia parte do plano dela de se vingar de mim
por sua pequena façanha na manifestação? — Ele arqueou a sobrancelha.
Assim era Jason, muito desconfiado dos motivos ocultos de todos. Acho que
vinha com o território. Quanto mais alto você subia, menos poderia confiar
nas pessoas ao seu redor. Porque todos queriam um pedaço de uma lenda em
formação.
— Porque, cara, a Hailee pode gostar de seus jogos quase tanto quanto
você, mas ela é diferente. Além disso, ela odeia os holofotes. Você pode
realmente imaginá-la indo a uma festa da East e se anunciando como a meia-
irmã de Jason Ford?
Ele refletiu sobre minhas palavras, com seus olhos fixos no chão.
— Ela tornou as coisas muito difíceis para mim. Meu pai sabe que nós
brigamos, mas se ele descobrir... merda. — Ele cerrou o punho ao lado do
corpo. — Não sei o que devo fazer aqui.
— A East sabe que ela é da família agora, então você pode muito bem
começar a tratá-la assim. A Rivals Week é daqui duas semanas. Se eles forem
tentar qualquer coisa, pode apostar que vai ser aí.
Jase enfiou os dedos no cabelo, puxando as pontas em frustração.
— Ela nunca vai aceitar. E, honestamente, não tenho certeza se posso
fazer isso. Não gosto dela. — Ele olhou para mim. — Nunca vou gostar.
— Você não precisa gostar. — As palavras ficaram presas na minha
garganta. — Mas ela está no meio disso agora, quer você goste ou não.
Sua expressão sombria me disse que ele sabia que eu estava certo.
— Ela não vai facilitar as coisas — ele parecia derrotado.
— Não precisa. Um semestre... só precisamos passar por um semestre e
então a temporada termina.
— Um semestre — ele repetiu como se estivesse testando o tempo. —
Juro por Deus, cara, se ela estragar alguma coisa para mim...
— Ela não vai. — Se Hailee soubesse o que era bom para ela, manteria a
cabeça baixa e a boca fechada, e essa coisa com Thatcher poderia não
explodir. E se não... bem, eu não queria pensar sobre isso agora.
— Merda. — Jase deixou a bola voar, e ela atingiu a borda externa do
aro. Jason não errava.
Ele nunca errava.
Olhando nos olhos do meu melhor amigo, eu disse:
— Você precisa manter a cabeça fria quanto a isso, tá?
— Sim — ele murmurou. — Eu só...
— Eu sei.
Futebol, esta vida, era tudo o que ele conhecia. O ar que ele respirava.
E para alguém como Jason, perder até mesmo um grama de controle não
era uma opção.

***

Segunda-feira de manhã, na sala de musculação foi horrível. O treinador não


queria que ficássemos arrogantes depois da nossa esmagadora vitória sobre a
Marshall Prep e nos fez trabalhar mais duro, o que significava que o treino
seria mais pesado. Ele também deu uma bronca em Jason e Asher pela
aparência dos dois, mas não fez perguntas. Ele não queria saber. Contanto
que estivessem em forma o suficiente para jogar e ficassem fora do caminho
do diretor Finnigan, isso era tudo o que importava.
O burburinho no vestiário era contagiante, com todo mundo ainda no
auge da noite de sexta-feira.
— Ouvi dizer que o Levinson está bem nesta temporada — Layton, um
dos novos jogadores disse. — Meu primo foi lá e disse...
— O Levinson pode se danar — Asher grunhiu. — Na temporada
passada, eles não tiveram de seis partidas, quatro derrotas?
— As coisas mudam, cara. Estou dizendo, eles estão com um novo
treinador, e ele realmente os trabalhou duro durante o verão.
Asher deu de ombros.
— Só vou acreditar quando vir.
— Não fique convencido, Ash — Jase interrompeu. — Tratamos todos os
jogos como se estivéssemos jogando o da porcaria do campeonato, está me
ouvindo?
— Sim, sim, não se preocupe, cara. Nós sabemos como funciona.
— Ah, merda — alguém disse. — Ei, QB, é melhor você vir ver isso. —
Era Grady.
Minha coluna se arrepiou quando Jase cruzou a sala até ele, olhando por
cima do ombro do cara, com os olhos fixos na tela.
— Filho da puta — ele murmurou, apertando a mão fechada contra a
cocha.
— Problema? — perguntei.
— Está na hora de começar a trabalhar, garotos — o treinador avisou. —
E é melhor que não seja um celular isso que estou vendo, Grady. Tire isso da
minha frente, filho, e saia para o campo. Se você não estiver lá em dez
segundo, pode passar as próximas duas horas fazendo flexão. Entendeu?
— S- sim, treinador, entendido — Grady murmurou enquanto Jase
voltava para seu armário. Ele estava furioso, com os olhos semicerrados e as
narinas dilatadas.
— E aí? — perguntei, mas ele balançou a cabeça.
— Agora não — Jase falou. — Temos treino a cumprir.
Isso despertou meu interesse. O que ele no celular de Grady o deixou
todo agitado, o que significava que o que quer que fosse, não era bom. E meu
instinto me disse que só havia duas coisas que poderiam atingir meu melhor
amigo assim.
Lewis Thatcher.
E sua meia-irmã.
Dezessete
Hailee
— Precisamos conversar. — Flick estava esperando por mim do lado de fora
da sala de Literatura Inglesa com a expressão sombria.
— Tudo bem... — Franzi as sobrancelhas.
— Aqui, não. — Ela olhou de um lado para o outro no corredor. —
Vamos. — Sua mão encontrou a minha e abrimos caminho através do fluxo
de alunos indo e vindo da aula.
— Flick, espere, o que...
— Traidora dos Raiders. — Alguém me empurrou com o ombro, me
jogando para trás.
— O que é isso? — Me virei, olhando para a garota se afastando.
— Vamos, precisamos ir. Agora. — Flick segurou minha mão de novo e
começou a m puxar.
— Felicity Giles, você pode me dizer o que é que...
— Ela acha que é boa demais para nós, para os Raiders. — As palavras
tomaram conta de mim, e meu olhar encontrou um grupo de garotas perto da
porta do banheiro feminino. Todas caíram na risada quando perceberam que
eu as observava.
— O que você disse? — Eu me irritei, semicerrando os olhos para a líder,
mas Flick não desistiu enquanto continuava me puxando em direção às portas
principais.
— Você é uma vergonha — alguém zombou até que percebi que todos
estavam olhando para mim.
Todo. Mundo.
Quando chegamos às portas principais, fui chamada de todos os insultos
possíveis – prostituta, vadia, vaca – e mais alguns que eu nunca ouvi. Ao
sairmos, respirei fundo e senti meu peito se apertar enquanto olhava para as
portas. — O que é que está acontecendo agora?
Flick mordeu o polegar, sem focar me olhar nos olhos.
— Flick — insisti. — O que está acontecendo?
— Certo, não entre em pânico... — Ela finalmente olhou para cima. —
Mas o Thatcher postou uma coisa no Snapchat e as pessoas estão
compartilhando.
— Ele postou? — Eu nem tinha Snapchat .
Ela assentiu.
— É ruim, Hails, muito ruim.
— Estou vendo. — Minha voz estava séria e meu estômago,
embrulhando. — Pior do que o evento de boas-vindas?
Ela pressionou os lábios em uma linha fina.
— Me mostre — falei.
— Hails, não sei se...
— Me mostre. — Estendendo a mão, esperei que ela me desse o telefone
celular. Ela tocou na tela algumas vezes antes de entregá-lo a mim. Um
suspiro escapou de meus lábios quando meus olhos pousaram em uma foto
minha. Só que não era eu. Era meu rosto photoshopado – de forma bastante
convincente – no corpo de uma garota que estava vestindo uma camiseta dos
Eagles e chupando um picolé de forma provocante.
— A irmã do Ford chupa bem o pau dos Eagles. — Minha voz sumiu. —
De onde veio essa foto? — Me aproximando, consegui ver melhor. — Ah,
meu Deus, essa é uma das minhas fotos do anuário do ano passado? — Eu
me lembrava disso. Eu estava no estúdio de arte e Denny Marcus, o fotógrafo
do anuário, me fez rir. — Como foi que conseguiram isso? — perguntei,
como se esse fosse realmente o problema aqui.
— Não importa. Agora todo mundo pensa que você...
Olhei para ela.
— Não está ajudando, Flick.
— Desculpe, eu só... merda, Hails, o que você vai fazer?
— Nada. Eu não vou fazer nada. — Se eu não atiçasse o fogo, as chamas
morreriam.
— Quando o Jason descobrir...
— Ele vai o quê? Atravessar o rio e defender minha honra? Por favor. —
As palavras foram amargas. — Ele não vai se importar com essa porcaria.
Devíamos voltar lá para dentro. — Balancei a cabeça para as portas.
— Jura? Achei que devíamos matar o resto das aulas.
— É só uma foto. Não vou me esconder por causa de uma foto. —
Mesmo que eu parecesse um anúncio de filme pornô barato.
— Bem, se você diz. — Flick se arrastou atrás de mim quando entramos
novamente no prédio. — Que aula você tem agora? — ela perguntou.
— Matemática.
— O Asher faz essa aula com você, certo?
Fiz uma careta, sem saber aonde ela queria chegar com isso.
— Quando ele se incomoda em aparecer, sim. Por quê?
Ela me lançou um olhar simpático e disse:
— Porque algo me diz que isso só vai piorar.

***

Flick não estava errada. Na aula de matemática, recebi quatro bilhetes de


ódio, tive várias bolas de papel jogadas em mim e algumas das amigas de
Khloe Stemson passaram a aula inteira chutando as costas da minha cadeira.
Como eu esperava, Asher não apareceu, mas avistei a equipe pela janela,
treinando no campo de atletismo.
— Como foi? — Flick segurou meu braço assim que saí da sala, me
mantendo perto enquanto lutávamos contra o fluxo de gente saindo.
— A matemática é sempre tão divertida? — Dei a ela meu melhor sorriso,
e ela o devolveu com um olhar penetrante.
— Tudo bem — admiti. — Foi ruim. Na noite do jogo, espero ser forçada
a usar a fantasia de espuma dos Eagles e ser jogada no campo para receber
uma surra pública de Vinnie, o Viking.
Flick sufocou uma risada.
— Sinto muito. Sei que não é engraçado, mas isso evoca todos os tipos de
visuais malucos.
— Caramba, valeu. — Pressionei meus lábios, revirando os olhos
enquanto caminhávamos pelo corredor. Se eu me concentrasse muito, quase
poderia bloquear os insultos.
Quase.
— Sabe o que realmente me irrita? — perguntei quando chegamos ao
nosso armário. — Quando o Cameron me humilhou, ninguém me defendeu.
Mas agora que acham que estou brincando com o inimigo, estão todos em
uma missão pessoal para defendê-los. É patético.
— É futebol — minha melhor amiga respondeu.
Troquei alguns livros e fechei o armário. A aula a seguir era de história, a
única que eu assistia com Cameron... se ele aparecesse.
— Certo — anunciei quando paramos do lado de fora da minha próxima
aula. — Me deseje sorte.
Flick pousou as mãos no meu ombro.
— Você consegue. E se alguém te encher o saco, lembre-o de que você
pega os Raiders e chupa os Eagles . Caramba, garota, esse é o objetivo das
maria chuteiras aqui. — Ela piscou antes de me girar e me empurrar para
dentro da sala.
Todos os olhos pousaram em mim enquanto eu seguia para os fundos da
sala. Eu gostava de pensar que tinha paciência quando se tratava de meus
inconstantes colegas de classe, mas depois de uma hora sendo chutada no
último período, um assento na última fileira parecia a aposta mais segura.
— Prostituta dos Eagles — alguém sussurrou quando passei. Mas não cai
na provocação. Não baixei a cabeça nem os olhos.
Eu não daria essa satisfação a ninguém.
Mas meu silêncio apenas os alimentou e os insultos abafados começaram
a se espalhar pela sala como uma onda crescente, até que o professor, o sr.
Henson, finalmente interveio.
— Desculpe, estou atrasado, senhor. — Cameron entrou na sala, e eu
deixei a cabeça cair sobre a mesa com um gemido abafado. Eu poderia
sobreviver cinquenta e cinco minutos ouvindo que eu era uma vagabunda
traidora, mas não conseguia aguentar ouvir isso na frente dele.
Seus olhos encontraram os meus do outro lado da sala, escurecendo
quando começou a andar em minha direção.
— Sr. Chase. — O sr. Henson parecia chateado. — Gostaria que você
tomasse seu lugar de sempre
— Mudança de planos, senhor. — Ele sequer olhou para o sr. Henson. —
Vou precisar de um lugar nos fundos. Jones — Cameron se dirigiu ao cara ao
meu lado. —, saia.
O ruído surdo de conversa o seguiu quando ele alcançou a mesa ao meu
lado. O cara que já estava sentado quase tropeçou ao se mover.
— Agora, se todos estiverem em seus lugares — o sr. Henson cortou
Cameron com um olhar severo —, podemos começar.
Dez minutos depois de começar a aula, Cameron bateu com a caneta na
ponta da minha mesa.
— O quê? — murmurei. Nossas vozes estavam abafadas pela discussão
acontecendo entre o professor e alguns alunos na frente.
— Você está bem?
— O que você acha? — sussurrei, voltando meu olhar para a frente da
sala.
Ignorei Cameron pelo resto da aula. Quando o sinal finalmente tocou e
todos começaram a arrumar suas coisas, uma bola de papel pousou na minha
mesa. Eu o abri de forma casual, mantendo a mão sobre a página para evitar
que alguém visse – ou seja, que Cameron visse. Alguém riu enquanto eu
pegava o bilhete maldoso e saía de lá.
Mal consegui sair pela porta quando ouvi:
— Quem foi que escreveu isso? — A dureza da voz de Cameron
reverberou em mim, me fazendo estremecer, mas não olhei para trás.
Eu não podia.
— Hailee, espere — ele me chamou, mas comecei a empurrar através da
multidão o mais rápido que pude.
Achei que poderia lidar com isso. Que não importava o que as pessoas
falassem sobre mim ou as mentiras que elas contavam. Mas, aparentemente,
até eu tinha um limite. E esse limite era um relato detalhado de que alguém
achava que eu era uma prostituta traidora.
Prostituta traidora.
Qualquer um que me conhecesse, realmente me conhecesse, sabia que eu
não namorava, muito menos ficava com caras aleatórios.
As lágrimas queimaram em meus olhos enquanto eu irrompia pelas portas
principais para o ar fresco. Mas eu não choraria. Não por causa de um bando
de garotos que ficaram muito felizes em me ignorar durante todos esses anos
no ensino médio. Além disso, eu sentia raiva, não dor.
— Hailee, espere...
— Vá embora, Cameron. — Acenei para ele por cima do ombro enquanto
fazia um caminho mais curto para o estacionamento, ignorando o fato de que
ele me chamou pelo nome e não pelo apelido idiota que geralmente amava
usar.
— Ei. — Sua mão se curvou em volta do meu ombro.
— O que você quer de mim? — Me virei, encolhendo os ombros e
semicerrando os olhos para ele.
— Eu... — Sua resposta morreu quando ele deu um passo para trás,
colocando alguma distância entre nós. Ele passou a mão pelo cabelo curto.
— Só me deixe em paz, tá?
Mas Cameron não se mexeu. Ele não fez nada. Só ficou lá, me olhando
com a expressão sombria. Seu olhar era tão intenso que me senti despida.
Comecei a me afastar, mas ele se moveu rapidamente, agarrando meu pulso.
— Foi assim a manhã inteira?
— O que isso importa?
Algo brilhou em seus olhos, mas ele não me ofereceu uma resposta e
deixei escapar um suspiro pesado.
— Sabe — eu disse —, tudo o que eu queria era terminar o último ano.
Eu sabia que nada mudaria com o Jason, sabia que ele ainda estaria obcecado
com suas brincadeiras estúpidas. Mas eu estava bem com isso. Era entre nós.
Eu ainda poderia ficar nas sombras...
— Eu vou resolver — ele falou, de forma enigmática.
— Resolver? — Minha voz soou incrédula. — Sabe que a culpa é de
vocês por eu estar nesta situação, certo?
— Se você não tivesse ido para aquela festa...
— Você só pode estar brincando comigo. O que há de errado com você?
Eu tenho dezessete anos, Cameron. Eu deveria ir a festas, conhecer garotos e
me embebedar. Mas espere, não posso, porque você e o idiota do meu irmão
garantiram que eu não conseguisse fazer isso.
Alguns alunos passaram por nós com os olhos arregalados de curiosidade.
Cameron segurou meu braço e me puxou em direção a sua caminhonete até
que estivéssemos escondidos entre seu veículo e o outro ao lado dele.
— Sei que dificultamos muito, mas é melhor assim.
— Melhor? — Respirei fundo. — Para quem? Para vocês? Para o Jason?
— A raiva vibrou em meu peito enquanto eu olhava para ele.
— Eu... — ele suspirou. — Olha — Cameron pressionou as mãos nas
laterais da minha cabeça, me prendendo —, só fiz o que fiz na reunião porque
o Jason estava pronto para te destruir.
— Então você estava me salvando? Por favor. — Uma risada amarga
subiu pela minha garganta. — Você fez o que fez porque é exatamente como
ele. Jason faz seus pedidos e você vem correndo como um bom...
— Cuidado, Raio de Sol. — Suas palavras soaram baixas. Graves. Como
se tudo isso fosse um jogo para ele. Mas não era um jogo, era minha vida. E
tudo estava desmoronando por causa deles e da rivalidade estúpida com a
Rixon East.
— Ou o quê? — Minhas costas pressionaram ainda mais a lateral da
caminhonete, presas por seu olhar intenso.
— Você realmente quer saber a resposta para essa pergunta? — Cameron
arqueou a sobrancelha em um desafio silencioso.
Isso era diferente. Eu estava com raiva, sim, mas não podia negar que
havia algo mais fervendo dentro de mim. Algo estranho. Um desejo profundo
que eu tentava lutar contra, tentava desesperadamente ignorar toda vez que
estava perto de Cameron Chase.
— Qual é o problema, Raio de Sol? — Ele se inclinou, aproximando o
rosto do meu. — O gato comeu sua língua?
— Por quê? — A palavra escapou de meus lábios. — Por que você está
fazendo isso comigo?
— O que você acha que estou fazendo?
Engoli a saliva quando seus olhos foram para a minha boca, do jeito que
ele havia feito no armário do zelador e novamente na cozinha da minha casa.
— Brincando comigo assim — minhas palavras saíram em um sussurro.
— E se eu dissesse que isso não é um jogo?
Não é um jogo?
O que isso significa?
— Eu... eu não entendo.
Cameron se aproximou, roçando as pernas nas minhas. Ergui as mãos,
apoiando-as em seu peito, desesperada para mantê-lo ali. Mas no segundo em
que o toquei, seus olhos se fecharam e um grunhido retumbou em seu peito.
Ele engoliu em seco, balançando um pouco a cabeça. Quando encontrou meu
olhar novamente, suas íris estavam escuras. Seus olhos, semicerrados.
— Cameron?
— Só me dê um minuto... — Uma instante passou, e outro enquanto a
energia estalava entre nós como uma tempestade elétrica.
Eu precisava sair dali. Precisava afastá-lo e me mover. Mas eu estava
enraizada no lugar, perdida em seus olhos azul-acinzentados e em todas as
coisas que ele não estava dizendo. Meu coração disparou e minha cabeça
estava perdida em pensamentos confusos. Cameron não era o cara bom aqui,
eu sabia disso. No entanto, eu não podia quebrar qualquer feitiço que ele
tivesse lançado sobre mim.
E eu não tinha certeza se queria.
O que há de errado comigo?
— Cameron — eu finalmente disse, quebrando a tensão. — É melhor eu
ir.
— Você não pode — ele disse e sua voz era quase inaudível.
— Cameron, não vou fazer isso. — O que quer que fosse. — Eu não
vou...
Uma de suas mãos deslizou ao longo da minha clavícula, passando pelo
meu pescoço e seu polegar acariciou a pele ali. Lutei contra um gemido.
— Você pode me odiar, Hailee. Eu mereço, sei disso. Mas não me insulte
fingindo que não sente o mesmo. — Ele se aproximou, inalando
profundamente. — Me diga que você sente.
Eu podia sentir algo bem ali, se avolumando em minha coxa.
Engolindo em seco, tentei processar o que estava acontecendo. Tentando
entender Por que meu coração era como um trem em fuga, batendo no peito
como se estivesse tentando escapar. Por que minha pele formigava e eu sentia
calor por toda parte.
— Você sente isso — ele sussurrou novamente, e senti seu hálito
mentolado quente no meu rosto. — Sei que sente. — Se eu erguesse o queixo
um pouquinho, nossos lábios se tocariam. Estaríamos nos beijando. Mas eu
não queria beijá-lo.
Queria?
— Eu... — Queria dizer que não sentia, que não tinha ideia do que ele
estava dizendo, mas obviamente havia algo de muito errado comigo, porque
eu senti. Sentia. Mas não podia dizer isso a ele.
Não diria.
Em vez disso...
— Eu te odeio — foi o que saiu dos meus lábios.
Antes que eu pudesse retirar as palavras, a outra mão de Cameron
segurou meu pescoço, e me beijou, com a língua deslizando em meus lábios,
pedindo passagem. Ele me beijou lenta e profundamente, bem ali no
estacionamento da escola, encostado na lateral da sua caminhonete.
E tudo que eu conseguia pensar era que Cameron Chase estava me
beijando...
Cameron Chase estava me beijando...
Me beijando.
O calor inundou meu estômago, fazendo minhas coxas se apertarem
enquanto ele me pressionava de encontro à caminhonete, me beijando mais
profundamente e com mais força. Nossas línguas se encontraram, lutando
pelo domínio. Mas ele venceu, e eu amoleci sob seu toque. A maneira como
ele mordeu meu lábio, acariciando minha mandíbula, meu pescoço, sugando
e mordiscando.
— Cameron. — Era para ser um aviso, um sinal para ele diminuir a
velocidade. Um lembrete de onde estávamos e o que estávamos fazendo.
Um lembrete para mim mesma para me controlar.
Mas o prazer escapou da minha garganta, e eu gemi baixinho.
— Puta merda, seu gosto é muito bom — ele murmurou enquanto seus
lábios e mãos exploravam minha pele e meu corpo como se ele não pudesse
se cansar de mim. O que não fazia sentido, porque nos odiávamos.
Eu o odiava.
Eu o odeio.
— Espere. — Eu me afastei, e ele gemeu, deixando cair o rosto na curva
do meu ombro. — O que estamos fazendo? — Minha voz tremia enquanto eu
tentava recuperar meu controle e minhas emoções estúpidas e inconstantes.
— Cameron — eu disse, enfiando os dedos em suas costelas quando ele não
se moveu. — Tire as mãos de mim.
Ele deu um passo para trás e seus lábios se curvaram em um sorriso
irritantemente sexy.
— Você não está tornando isso fácil, Raio de Sol.
— Juro por Deus, se você me chamar assim de novo, eu...
— Vai o quê? Me beijar? — Seu sorrisinho se transformou em um sorriso
maroto.
— Vou embora — falei de forma rude. — Por favor, não me siga. —
Porque eu posso te implorar por coisas que não deveria querer . Me soltei e
passei entre ele e sua caminhonete e comecei a me afastar, mas sua mão
agarrou meu pulso. — Cameron. — Seu nome deixou meus lábios com um
suspiro suave.
— Só me diga uma coisa — ele pediu.
— O quê? — Dei um suspiro de frustração. Mas não era apenas com
Cameron que eu estava frustrada.
— Me odiar é tão bom para você quanto é para mim?
— Adeus, Cameron. — Meus olhos baixaram para onde seus dedos
estavam enrolados em meu pulso, e ele me soltou.
— Você é quem sabe, Raio de Sol. — A última palavra tinha que ser
dele. — Mas lembre-se, Hailee. — Meu nome em seus lábios fez meu
estômago embrulhar. — Você pode correr, mas não pode se esconder.
Dezoito
Cameron
Hailee voltou correndo para a escola, mas não fui atrás dela. Eu precisava de
um pouco de ar. A garota me irritou até que não consegui pensar direito.
Quando a segui até aqui, eu não tinha planejado beijá-la novamente. Eu
só queria conversar, descobrir o que estava acontecendo. Mas então a puxei
para a lateral da minha caminhonete e a tentação foi demais. Vê-la lutar
contra si mesma para admitir que sentia essa coisa crescendo entre nós foi a
gota d'água.
Puta merda.
Ela estava bagunçando minha cabeça. Me fazendo querer coisas que eu
não podia ter. Mas havia coisas maiores acontecendo agora, como o fato de
alguém ter enviado a ela um bilhete repleto de ofensas que me fizeram querer
dar um soco em algo ou em alguém.
Quando o treino terminou e Jase me mostrou a foto que Thatcher tinha
adicionado ao seu Snapchat , quase perdi a cabeça. O que eu não esperava,
era como o resto dos alunos da escola reagiriam. No segundo em que a
encontrei sentada no fundo da classe, eu sabia que algo estava acontecendo.
Hailee não se escondia – ela geralmente se sentava na frente, ansiosa para
responder a perguntas e participar. Mas ela estava quieta, se escondendo atrás
dos óculos com os olhos vazios da faísca usual que eu via lá. E no segundo
em que a observei ler o bilhete, vi sua expressão endurecer, o sangue sendo
drenado de seu rosto e soube que era apenas a ponta do iceberg.
Reprimindo tudo, voltei para a escola indo direto para o refeitório, me
surpreendendo quando a vi sentada com Felicity em sua mesa de costume.
— Essa merda que o Thatcher postou está em toda parte — Acher
comentou, se aproximando de mim e olhando rapidamente para as meninas.
— O que ela disse na aula de história?
— Não muito, mas alguém mandou um bilhete e foi péssimo.
— Ouvi um grupo de caras no corredor falando como se ela fosse...
— Não faça isso — grunhi.
Ele olhou para mim.
— Qual o seu problema? Você está tenso. Talvez devesse ligar para
Miley e pedir que ela te ajude a resolver isso...
— Sério, mano, eu disse não.
— Caramba, alguém está sensível demais. Ou é essa merda com o Jase e
a Hailee? Vai passar, sabe? — Ele me deu um tapinha nas costas. — O
Thatcher tem peixes maiores para fritar.
Eu não tinha tanta certeza disso.
Mesmo que a foto de Hailee tivesse sido manipulada, os alunos viram o
que queriam ver e, graças a Thatcher, Hailee se tornou o inimigo público
número um da escola. Não importava que eu tivesse feito algo semelhante
nas boas-vindas, porque isso não a colocou contra nós. Por mais fodido que
fosse, para a maioria das garotas da escola, ser apontada como alguém que
pegava um Raider teria sido uma medalha de honra. Mas dormir com o
inimigo, mesmo que fosse apenas um boato, era um crime que nossos fãs não
perdoariam.
— Vamos que estou morrendo de fome. — Asher me olhou por cima do
ombro, se movendo para a fila. Mas ele não me esperou, seguiu direto e deu
um sorriso enorme à funcionária do restaurante. Eles conversaram um pouco
sobre o próximo jogo na sexta-feira, enquanto eu pegava um sanduiche e
colocava em sua bandeja. Ele continuou jogando charme, até que ela lhe deu
uma piscadela, nos deixando passar sem pagar.
Atravessamos as mesas em direção a Jase, que já estava sentado. Jenna
Jarvis estava se esfregando em sua perna.
— E aí? — ele disse friamente.
— Temos um problema — respondi baixinho, apontando para Hailee.
— Ela vai ficar bem. — Jase engoliu as palavras enquanto observávamos
um cara se aproximar da mesa dela. Flick olhou furiosamente para ele quando
se sentou no banco ao lado de Hailee.
— Talvez devêssemos... — comecei, mas Jase me interrompeu
balançando a cabeça.
— Ela pode cuidar de si mesma — ele disse.
Eu não tinha dúvidas disso, mas ela estava nessa situação por causa dele.
Por nossa causa. E isso não me agradava.
O cara estava dizendo algo, um sorriso presunçoso estampado em seu
rosto enquanto se inclinava para perto dela. Perto demais. Ele envolveu o
braço na cintura de Hailee e eu me preparei para intervir, mas ela o acertou
bem no rosto. O cara morreu de rir, recuando, mas vi o choque em sua
expressão.
Todos nós vimos.
Asher assobiou por entre os dentes.
— Caramba, essa garota é corajosa.
— Ela vai precisar ser corajosa — Jase resmungou como se soubesse – e
aceitasse – que só ia piorar.
Bem, que se dane.
— É tão triste — Jenna falou, enrolando o cabelo em volta dos dedos. —
Ela poderia ter sido uma de nós, mas escolheu trepar com o Thatcher só para
superar...
Jase a empurrou de seu colo e ela caiu no banco ao lado dele com um
baque.
— Ai, Jase, o que foi isso?
— Estou entediado. — Sua voz estava fria. — Se manda.
— Seu desgraçado. — Jenna manteve a voz composta, mas suas
bochechas ficaram vermelhas de vergonha quando ela acenou para que as
amigas a seguissem, e elas se afastaram, tentando manter a dignidade. Alguns
dos caras deram risada, mas logo calaram a boca quando Jase lançou um
olhar duro para a mesa.
Meus olhos encontraram os de Hailee do outro lado da sala novamente.
Ela estava de cabeça baixa, remexendo uma salada em seu prato.
— Devíamos ir até lá.
— Você foi atingido um pouco forte demais no treino? — Jase bufou.
— Só estou dizendo que se não fizermos algo para acabar com isso, vai
ficar muito pior. E se ficar tão ruim e o professor errado ouvir algo, pode cair
na mesa de Finnigan. E isso é um problema do qual não precisamos.
Meu melhor amigo me olhou por um segundo, esfregando o rosto.
— Merda — Jase murmurou, se afastando do banco. Ele se levantou e
olhou para nós dois. — Vamos lá, não vou fazer essa merda sozinho.
— Ah, caramba, sim, estou dentro. Talvez eu possa tocar em Felic...
— Ela está fora dos limites — Jase grunhiu.
— Está? — Asher recuou como se tivesse levado um tapa. — Mas por
quê? Achei que só Hailee estava nessa regra.
— Porque eu disse, idiota.
Asher ergueu as mãos em sinal de rendição e contraiu os lábios.
Quando chegamos à mesa delas, Hailee e a amiga olharam boquiabertas
para nós.
— Sim? — ela perguntou, de forma direta. — Podemos ajudá-los?
— Não, mas acho que nós podemos. — Jase se sentou ao lado de Felicity,
cujos olhos se arregalaram, olhando entre ele e Hailee.
— O que está acontecendo agora?
— Vocês precisam de nós — ele disse como se fosse simples assim.
— Humm, não — Hailee brincou. — Não, não precisamos.
— Não é isso que ele acha. — Jase sacudiu a cabeça para onde o cara que
ela havia esbofeteado nos observava. O filho da mãe parecia pronto para se
mijar. Ele baixou os olhos para o chão rapidamente quando semicerrei meu
olhar diretamente sobre ele.
— Aff — Hailee resmungou. — Lidei com ele muito bem.
— Você lidou mesmo, Hails — Asher comentou, se sentando ao lado
dela. Me sentei do seu outro lado, observando-a com o canto do olho.
— Não me chame assim — ela falou, com um tom defensivo em sua voz.
— Nós não somos amigos.
— Parece que somos, de onde estou sentado. — Ele sorriu.
— Se bem me lembro. — Hailee olhou para ele. — Nada disso estaria
acontecendo se você não tivesse invadido a festa deles e começado a brigar
com o Thatch...
— Brigar? — Asher brincou quando Jase se recostou, olhando para ela
com uma expressão sombria. — Não, baby, aquilo não foi uma briga, foi
apenas o aquecimento.
Hailee zombou e rapidamente desviou o olhar para seu meio-irmão.
— Foi divertido e tudo mais, mas vocês podem ir agora. — Ela balançou
os dedos em um aceno.
— Sim, estou pensando que foi uma má ideia. Estou fora. — Jase se
levantou e saiu andando enquanto Asher me lançava um olhar de “o que
devemos fazer agora?”. Mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa,
Hailee me encarou com um olhar frio e disse:
— Não sei o que é isso, mas não preciso que vocês finjam ser meus
amigos. Eu me saí bem sem vocês todo esse tempo. Acho que vou sobreviver
a isso.
— Tudo bem — falei, percebendo que talvez Jase estivesse certo. Talvez
vir aqui tenha sido um grande erro. — Faça do seu jeito, Raio de Sol. Ash,
vamos embora.
— Mas... — Seus olhos foram para Felicity, mas quando balancei a
cabeça, ele soltou um longo suspiro. — Tudo bem, estou indo. Não façam
nada que eu não faria, garotas. Até a próxima.
Todos olharam enquanto nos afastávamos de Hailee e sua amiga, mas
tudo bem. Se ela era teimosa demais para admitir que precisava de nós, então
teríamos apenas que contorná-la.
— Ela é terrível — Asher murmurou enquanto abria a porta. — Mas a
amiga dela é quieta. Gosto disso. Significa que ela provavelmente é do tipo
que grita entre...
— Você pensa em outra coisa além do seu pau?
— Futebol e boceta. — Ele deu de ombros e um sorriso preguiçoso
apareceu em seu rosto. — Em que mais eu pensaria?
Eu queria dizer a ele que, um dia, ele conheceria uma garota que tornaria
tudo o mais insignificante. Uma garota que iria roubar seu coração e
consumir sua alma. Mas ele não estava pronto para ouvir essas palavras... e
eu não estava pronto para admitir que sabia do que estava falando. Então,
coloquei meu braço em volta de seu ombro e falei:
— Vamos, Casanova, talvez devêssemos assistir a uma ou duas aulas.

***

Nossa pequena façanha na hora do almoço acalmou os rumores cruéis que se


espalharam pelos corredores, mas ainda não impediu alguns caras e garotas
de pensarem que poderiam falar sobre Hailee como se ela fosse a vagabunda
da cidade.
— Você precisa fazer alguma coisa — falei para Jase enquanto
caminhávamos da última aula para o vestiário.
— Tentei e ela recusou.
— Então faça o time anular os rumores.
Ele olhou para mim.
— Por que você está tão preocupado com isso? Era só uma foto.
— E você está bem com todo mundo pensando que a Hailee transa com
alguém dos Eagles? Com o Thatcher? — Arqueei a sobrancelha, desafiando-
o. Não era como se eu pudesse contar a verdade a ele: que toda vez que ouvia
alguém chamá-la de vadia ou prostituta, eu sentia vontade de quebrar a cara
deles. Ele não gostaria de ouvir isso.
— Você precisa colocar um fim nisso agora. Antes que o Finnigan ouça
algo que lhe dê motivos para olhar mais de perto para este rancor entre nós e
a East.
Jase girou os ombros para trás e seu olhar endurecido estava travado no
meu. Mas ele não respondeu, simplesmente entrou no vestiário. Seguindo
atrás dele, fui direto para o banco e comecei a tirar as roupas.
— Sim, bem, eu não me importaria se ela chupasse meu pau.
Olhei para dois alunos do terceiro ano que estavam olhando para a tela de
um telefone celular.
— O que é isso? — perguntei, puxando a minha calça.
O que segurava o telefone empalideceu.
— Humm, nada, não é nada. — Ele largou o celular em sua bolsa e
apertou os lábios.
— Não, sério, o que foi? — A irritação percorreu minha espinha. —
Porque eu sei que não é o que estou pensando — eu grunhi, me aproximando
deles devagar. — Sei que você não é estúpido o suficiente para falar sobre a
meia-irmã do seu QB assim.
O lugar ficou em silêncio sala, mas eu só tinha olhos para o jovem que
parecia pronto para se mijar.
— Vamos, Chase — ele gaguejou com um sorriso fraco, como se
fôssemos velhos amigos. — Não é assim... eu não estava...
— Então me diga como é? — Eu o alcancei, tirando o celular de sua
bolsa aberta. Ele estava branco como um fantasma agora quando empurrei o
celular para ele e gritei: — Destrave.
Com dedos trêmulos, ele deslizou a tela e destravou.
— Me desculpe, cara, só estávamos brincando.
Vi o flash do rosto de Hailee na tela, mas mantive meus olhos fixos em
seu rosto. Eu não conseguia ver essa merda, de novo não. Não se eu quisesse
evitar cometer um grande erro. Agarrando-o pelo colarinho, puxei com força
nos colocando cara a cara.
— Isto não é só uma equipe, é uma família. Se você desrespeita a um de
nós, desrespeita a todos. Quer falar merda sobre a irmã do seu QB? — Minha
respiração ficou ofegante enquanto semicerrei os olhos sobre ele.
— Eu... sinto muito. — Seu rosto estava pálido.
— Chase, acalme-se. — A ordem de Jase mal penetrou minha raiva, mas
eu o senti se mover atrás de mim. — Chase. — Sua mão pousou no meu
ombro e eu vacilei, empurrando o garoto até que ele tropeçou para trás.
— Você está falando merda sobre a Hailee? — Jase perguntou a ele.
— Não foi...
— O Chase está certo. Esta é uma equipe. A. Porcaria. Da. Minha.
Equipe . — Sua voz estava fria como gelo. — Você me entendeu?
O garoto assentiu, murmurando algum pedido de desculpas incoerente.
— Isso vale para o resto de vocês. — Jase se virou, passando os olhos por
cada um de seus companheiros de equipe. — Alguém mais quer falar sobre a
Hailee? — Ele foi recebido com silêncio. — Achei que não. A Hailee está
fora dos limites. Sempre esteve. Se alguém precisa ser lembrado disso, não
tenho nenhum problema em relembrar. Essa merda com a foto acaba agora.
Os olhos do meu melhor amigo encontraram os meus. Seus lábios
estavam franzidos, a irritação emanava dele, mas ele me deu um pequeno
aceno de compreensão e eu retribuí. Jase podia não querer intervir, mas não
dei escolha a ele.
Eu só esperava não me arrepender.
Dezenove
Hailee
Depois que Jason, Asher e Cameron tentaram se sentar conosco na hora do
almoço na segunda-feira, as coisas se acalmaram. Quando chegou sexta-feira,
a minha foto era notícia velha. Em vez disso, todos estavam falando sobre o
primeiro jogo dos Raiders fora de casa contra o Levinson Lions.
— Oi, Hailee — uma garota que não conhecia falou enquanto Flick e eu
caminhávamos para almoçar.
— Humm, oi — respondi com o cenho franzido antes de olhar para
minha amiga. — Muito bem, o que está acontecendo agora?
Ela me deu um olhar presunçoso e perguntei:
— O quê?
— Acho que você é a mais nova gostosona da Rixon e todos querem se
aproximar.
— Não seja ridícula. — Algumas pessoas tentaram falar comigo e me
perguntaram se eu ia assistir ao jogo esta noite. Eu não ia, obviamente. Mas
minha total falta de espírito escolar não parecia mais me qualificar como uma
pária social. E por mais que eu não quisesse admitir, Flick estava certa. As
pessoas se interessaram por mim de repente.
Com uma risada, ela enlaçou o braço no meu quando entramos no
refeitório.
— Sabe, eles vieram se sentar com você por um motivo.
— Sim, mas... — hesitei. Eu sabia o que ela estava insinuando, mas não
fazia sentido. — Deixe-me ver se entendi. Primeiro, sou tratada como uma
proscrita porque Jason emitiu algum tipo de regra geral de que Hailee está
fora dos limites . Então me tornei a vagabunda da escola por causa de uma
foto falsa que Lewis Thatcher compartilhou. E agora, eu sou o quê? A
gostosona porque Jason e os caras se sentaram conosco na hora do almoço –
por cinco minutos, devo acrescentar.
— Jason e os caras? — Flick sorriu e seus olhos zombaram de mim.
— Ah, cai fora — eu resmunguei. — Você sabe o que eu quero dizer. —
Foi um simples deslize da língua. Nada mais.
— Não estou dizendo que faça sentido, estou apenas dizendo que acho
que ele fez alguma coisa.
— Fez alguma coisa? — zombei. — Ele mal me disse duas palavras
desde segunda-feira. — Houve um grunhido estranho aqui ou ali quando nos
cruzamos em casa, e ele realmente se sentou e fez uma refeição conosco na
noite passada, para a surpresa de todos. Mas eu não tinha ilusões de que
Jason e eu estávamos mais perto de nos tornarmos amigos. Esse navio já
havia partido há muito tempo.
Não que eu quisesse mesmo.
Eu não queria.
Flick deu de ombros quando entramos na fila do almoço.
— Mas ele pode ter dito algo nos bastidores. Dito às pessoas que
precisam ser um pouco mais legais com você, talvez? — Ela arqueou a
sobrancelha sugestivamente.
— Você conhece meu meio-irmão, certo? Ser bom não está em sua
capacidade emocional.
— Ele é um idiota, não estou negando isso. — Seus lábios franziram
como se as palavras deixassem um gosto amargo em sua boca. — Mas pense
a respeito. Ele nunca deixa ninguém chegar perto de você. Porém, no
segundo em que o Thatcher enviou aquela foto, ele se posicionou.
Posicionou? Era assim que íamos chamar isso?
— E eu devo fazer o quê? — sussurrei sibilando, ciente de todos os olhos
e ouvidos curiosos em nossa vizinhança imediata. — Eu deveria perdoar os
últimos seis anos e me tornar Team Jason ?
Como se isso fosse acontecer. Carreguei a bandeja com alguns itens de
almoço e segui Flick até o balcão de serviço.
— Acho que soa meio bobo quando você coloca dessa maneira.
— Acha? — rspondi, incapaz de manter a descrença fora da minha voz.
— E como estão minhas duas mulheres favoritas? — Asher Bennet
apareceu do nada e nos abraçou, guiando-nos para nossa mesa de costume.
Eu me esquivei de seu abraço, deixando ele e Flick caminharem juntos,
lançando a ela um olhar duro no processo. Ela deu de ombros como se não
fosse grande coisa.
Traidora.
— Bem — ele se sentou ao lado de Flick como se costumasse se juntar a
nós para almoçar todos os dias —, eu estava me perguntando...
— Calma aí, você pode ter dor de cabeça. — Sorri, espetando um pedaço
de massa com o garfo, sem fingir que era o rosto de Asher.
— Ai. Tão espinhosa, Raine. Tão espinhosa. De qualquer forma, como eu
estava dizendo. — Ele deu a minha melhor amiga sua atenção e ela absorveu,
pendurada em cada palavra dele. Meu estômago afundou. — Gostariam de ir
a uma festa amanhã à noite?
— Não.
Eu disse ao mesmo tempo que Flick disse:
— Sim.
A risada retumbou no peito de Asher.
— Posso ver que vamos ter que ficar de olho nesta aqui — ele disse as
palavras para Flick, mas as direcionou para mim.
— Você pode ir agora — bufei. Já era ruim o suficiente ele estar sentado
à nossa mesa. Mas flertar com Flick? Isso era o suficiente para me fazer
vomitar e eu nem tinha dado uma única garfada no meu almoço ainda.
— Você deveria vir. Não há nenhuma segunda intenção, eu juro — foram
suas palavras de despedida enquanto ele se levantava. Seus olhos se
demoraram um pouco demais em minha amiga. Quando ele recuou de volta
para sua mesa, Flick gritou de alegria.
— Uma festa — ela exclamou, baixando a voz quando dei a ela um olhar
irritado. — Uma festa na casa de Asher Bennet. Não posso acreditar nisso.
— Você quer ir mesmo?
— Hails, vamos lá. — Ela gemeu, revirando os olhos teatralmente. —
Isso nunca aconteceu conosco. E está na minha lista.
— Acho que sua lista está se tornando uma maneira de me convencer a
vender minha alma.
— Ah, não seja tão dramática. É só uma festa. E quem sabe, talvez você
se divirta. — Ela se inclinou mais perto. — Além disso, o Cameron vai estar
lá. — Seus olhos brilharam com insinuação.
— Nem vem... — avisei. Eu não queria pensar em Cameron, não aqui,
não agora.
Nunca.
Mas meus olhos tinham vontade própria e focaram onde ele e o resto da
equipe estavam sentados. Ele ergueu a cabeça e seus olhos azul-acinzentados
fixaram em mim, mas me afastei rapidamente, sentindo minhas bochechas
esquentarem.
Alheia, Flick disse:
— O quê? — Ela me olhou como um cachorrinho inocente.
— Não importa.
Inclinando a cabeça, ela me estudou.
— Está tudo bem gostar dele, sabe?
— Eu não... — Inspirei de forma brusca. Eu não gostava dele. Não
mesmo. — Tanto faz. Podemos falar sobre outra coisa?
Um lento sorriso apareceu em sua boca.
— Isso significa que você vai?
— Tenho escolha?
— Não. — O sorriso dela se transformou em um sorriso largo. — Não,
você não tem.

***

Eu era um capacho total ou a melhor amiga que uma garota poderia ter. O júri
ainda estava decidido quando engoli o resto da bebida, esmagando o copo e
jogando-o em uma das latas de lixo que Asher havia colocado de forma
estratégica no quintal, que era tão grande, senão maior, do que todos disseram
que era. O lugar era assustadoramente enorme.
— Acho que estou bêbada — declarei.
— Vamos pegar outra? — Flick não parecia muito sóbria enquanto
vagávamos por entre a multidão de pessoas reunidas para comemorar a
vitória do time contra o Levinson Lion na noite passada. De acordo com
todos, foi um jogo fácil para os Raiders e que os levou um passo mais perto
dos play-offs.
Eu nem resisti quando Flick apareceu na minha porta mais cedo com uma
bolsa cheia de roupas e um sorriso que nem mesmo a pessoa mais corajosa
poderia ter recusado. Mas, até agora, não estava sendo tão ruim.
Conseguimos evitar meu meio-irmão e seus amigos, ou talvez eles estivessem
nos evitando. De qualquer forma, bebemos e dançamos e até nos juntamos a
um ou dois jogos de beer pong .
No início, foi estranho ter pessoas gritando meu nome.
O meu nome.
Hailee. Hailee. Hailee.
Mas eu não podia negar, mesmo em meu estado ligeiramente bêbado, que
era emocionante. Fiquei animada com as pessoas gritando meu nome. Ah,
Deus, eu estava me transformando em Jason. A ideia me fez estremecer.
— O que você disse? — Flick virou a cabeça para mim.
— Eu não disse nada.
— Disse, sim. Você disse que está se transformando no Jason.
— Não disse. — Mostrei a língua para ela, que franziu a testa.
— Preciso ir ao banheiro. Merda, preciso muito fazer xixi. — Flick me
empurrou em uma cadeira no gramado, dançando no local como se tivesse
formigas em sua calça. — Fique bem aqui, tá. Já volto.
Acenei para ela enquanto o mundo girava. Levantando as pernas sobre o
braço da cadeira, inclinei a cabeça até que não pudesse ver nada além de
estrelas cintilantes contra um vasto fundo escuro. Era tão pacífico e calmo,
mundos de distância da festa que eu podia ouvir vagamente acontecendo ao
meu redor.
— Confortável? — uma voz disse das sombras, e um rosto tão
impressionante que me fez respirar fundo encheu minha visão. Os olhos eram
intensos, o nariz reto e o maxilar forte – até mesmo de cabeça para baixo
Cameron era lindo.
Sorri para ele, dando um pequeno suspiro que evitou um soluço.
— Oops. — Coloquei a mão sobre a boca, sufocando meu sorriso
sonhador. Ele riu, se acomodando em outra cadeira. — Eu me perguntei para
onde você tinha ido.
— É mesmo? — Virei o corpo para vê-lo melhor, mas não me sentei.
Gostei da sensação de estar de cabeça para baixo. Sem peso.
— Sim, eu esperava poder dançar com você.
— Uma dança, sim. Sei.
Ele não riu. Por que ele não está rindo?
— Você não está falando sério? — Quase me engasguei com as palavras.
Ele deu de ombros.
— Claro que estou. — Ele parecia indiferente. — Gosto de dançar.
— Você está bêbado?
— Não tanto quanto você.
Mostrei a língua para ele e seus olhos brilharam como um raio em uma
tempestade.
— Em breve teremos o baile.
Baile.
Só a palavra me deixava nauseada.
— Prefiro colocar uma brasa quente nos olhos.
— Então você não vai? — ele perguntou.
— Não, não vou ao baile. — Eu iria?
— Claro que vai, Raio de Sol. É um rito de passagem e você tem que
estar lá.
— A Flick quer ir. — Cruzei minhas mãos, deixando-as cair no meu colo.
— A Flick tem bom senso.
Olhando para ele, perguntei:
— Você vai ao baile?
Sua expressão ficou sombria.
— Meio que vem com o território.
— Ahh, a corte do baile. Entendi.
Seu rosto se enrugou com desagrado.
— Não é bem a minha cara, mas o treinador gosta que retribuamos e
todos....
— Ei. — Ergui as mãos. — Não diga mais nada, sr. Rei do Baile.
— Não, esse será o seu irmão.
— Meio-irmão — gemi, e Cameron riu. O som suave flutuou sobre mim,
me envolvendo como um cobertor quente. — Você tem uma bela risada —
eu disse e fechei os olhos.
— E você está mais bêbada do que percebi. Como você vai voltar para
casa esta noite?
— Acho que vou dormir beeeeem aquiiiiii. — Estiquei os braços acima
da cabeça, me aninhando ainda mais na cadeira, mas então meu mundo se
inclinou quando mãos fortes me puxaram para cima.
— Ah, não, não vai — Cameron falou. — Você pode ficar aqui. O Asher
não vai se importar.
— Flick... preciso contar a Flick. — As palavras saíram confusas
enquanto ele mantinha o braço ao meu redor e me guiava de volta para a casa.
As pessoas chamavam seu nome e o meu enquanto ele nos conduzia pelo
mar de corpos que ainda bebiam e riam. Mas foi estranho. Não senti como se
estivessem rindo de mim. Não dessa vez. Talvez toda a vodca em minha
corrente sanguínea estivesse me dando uma falsa sensação de confiança.
Talvez eu já tivesse adormecido e tudo isso fosse um sonho.
De qualquer forma, envolta nos braços de Cameron, não era o pior lugar
para se estar.
Mesmo que eu o odiasse.
— Quase lá — ele disse quando chegamos ao topo da escada.
— O Asher tem uma bela casa — murmurei enquanto ele parava em uma
porta. Observei com os olhos vidrados Cameron tirar uma chave da carteira e
destrancar a porta. — Isso não é nem um pouco assustador.
— Você acha que eu deixo qualquer um ficar no meu quarto? — Seus
olhos escureceram, me prendendo no lugar, roubando a resposta sarcástica da
ponta da minha língua.
Quarto dele?
Ele tinha um quarto na casa dos Bennet? Mas por quê?
Antes que eu pudesse fazer a pergunta, o ar escapou dos meus pulmões
quando Cameron me pegou como um bebê e me carregou para o quarto.
— O que...
— Relaxe, Raio de Sol, você está quase apagada.
Eu estava?
Agora que ele mencionou, me senti muito cansada e bêbada.
Definitivamente bêbada.
Enrolei os dedos na camisa polo de Cameron e o inspirei.
— Humm. — Meu estômago se apertou. Ele cheirava bem, muito bem.
Como sabonete com um toque de algo amargo, talvez uísque ou tequila. Tão
bom que quando ele começou a me deitar na cama, não o soltei e Cameron
caiu em cima de mim. Nós pousamos com um baque suave, com os corpos
emaranhados e rostos quase se tocando.
— Merda, Hailee, me desculpe... — Ele pressionou as mãos no colchão
aos lados da minha cabeça para tirar um pouco de seu peso de mim. — Eu
não pretendi...
— Está tudo bem. — Alcançando-o, tracei sua mandíbula. Ele era tão
lindo que deveria ser ilegal. O ar mudou ao nosso redor quando me inclinei,
roçando meus lábios nos dele, uma... duas vezes... até que minha boca estava
inclinada sobre a dele e eu o estava beijando.
Eu estava beijando Cameron Chase.
E era bom.
Muito bom.
O calor explodiu no meu estômago, correndo para as minhas terminações
nervosas, fazendo minha pele formigar e meu corpo zumbir. Eu poderia
beijá-lo para sempre. Seus lábios eram muito suaves e quentes e ele tinha o
gosto de tudo que eu desejava e nunca soube que queria.
— Hailee... — Sua voz estava rouca.
— Não — sussurrei, dando beijinhos em seus lábios, chupando e
mordiscando. — Sem pensar. — Não importava que nos odiávamos. Nada
importava neste momento, a não ser sua boca na minha.
Colocando meu braço em volta do seu pescoço, puxei Cameron para mais
perto, encostando meu nariz contra o seu.
— Puta merda — ele murmurou, se ajustando sobre mim para que
ficássemos como duas peças de um quebra-cabeça encaixadas. Uma de suas
mãos deslizou para minha coxa e eu enganchei a perna em volta de seu
quadril, me esfregando contra ele. Desesperada para aliviar a dor que crescia
dentro de mim.
Os olhos de Cameron se fecharam e seu pomo de Adão se moveu contra
sua garganta. Mas então ele abaixou a cabeça, pressionando um beijo no vão
do meu pescoço, sugando a pele sensível entre os dentes. Gemi, passando as
mãos pelo seu peito até a bainha da sua camiseta. Eu precisava senti-lo. Tocá-
lo. Queria passar meus dedos sobre cada centímetro de sua pele lisa.
Ele se moveu contra mim, nos fazendo gemer.
— Cameron, mais... — ofeguei. — Eu preciso de mais... — Algo estava
crescendo dentro de mim, como uma tempestade de fogo atingindo minha
barriga e correndo para o meu núcleo. Minha boca procurou a sua
novamente, beijando-o com fervor.
Mas rapidamente percebi que Cameron não estava me beijando em
retribuição. Ele estava imóvel como uma estátua e sua respiração ofegante era
o único som enchendo o silêncio. Pressionei a boca na sua novamente apenas
para ter certeza de que ele não estava me beijando de volta.
— Cameron. — Recuei para olhá-lo. — O que há de errado?
— Não podemos. — Sua voz soou engraçada, mas ele queria isso. Eu
sabia que sim. Estava bem ali em seus olhos enquanto eles me observavam.
Sua dureza pressionou em mim, me provocando. Me tentando com todas as
coisas que eu queria e não deveria.
Me inclinei para beijá-lo mais uma vez, precisando que ele retribuísse
meu beijo.
— Hailee. — Ele se afastou, olhando para mim e sua expressão era fria
agora. — Pare...
Pare.
Pisquei para ele, certa de que tinha ouvido mal. Porque ele não poderia
querer parar, não quando estava tão bom.
— Temos que parar — ele repetiu as palavras, jogando meu estômago em
queda livre.
Isso não estava certo. Ele deveria querer mais. Me desejar do jeito que eu
o desejava.
Mesmo assim, ele disse a palavra e agora ela pairava entre nós como uma
geleira, fria e implacável.
Eu me afastei, me acomodando no colchão e virei a cabeça para o lado
para evitar seu olhar de desculpas. Ele soltou um suspiro pesado.
— Você deveria dormir um pouco. Vou encontrar a Flick e avisá-la que
você está aqui.
Com os olhos bem fechados, sentindo as lágrimas queimarem a minha
garganta, esperei que ele fosse embora.
Eu beijei Cameron. Praticamente me ofereci a ele e ele não me quis. A
rejeição me atingiu como ácido até que senti náuseas.
Prestes a dizer para ele ir embora, para me deixar em paz, senti a cama
afundar e ele se inclinou sobre mim, dando um beijo na minha cabeça.
— Boa noite, Hailee — ele sussurrou, e então se foi.
Peguei um travesseiro e enterrei meu rosto nele, me deixando me afogar
em minha mortificação até que finalmente adormeci.
Algum tempo depois, na periferia dos meus sonhos, senti a cama afundar
ao meu lado.
— Cameron? — murmurei, mal acordada.
— Não, sou eu.
— Flick? — Meus olhos procuraram na escuridão, ignorando o buraco
gigante no meu estômago.
— Volte a dormir, Hails. Está tarde.
— Você está bem? — Ela parecia meio engraçada.
— Estou — ela fungou, deslizando para baixo das cobertas. — Vá
dormir.
— Boa noite, Flick.
— Boa noite, Hails.
Mas quando o sono começou a me envolver novamente, tive quase
certeza de ter ouvido minha melhor amiga chorar.
Vinte
Cameron
Depois de uma noite agitada dormindo no sofá da casa de Asher, finalmente
me levantei e fui para a cozinha, onde o encontrei limpando a bagunça.
— Aconteceu alguma coisa entre você e a Felicity? — Fui direto ao
assunto.
— Aconteceu? — Ele olhou por cima do ombro para mim. — Tipo o
quê?
— Você dormiu com ela?
— Não, não dormi. Por quê? Ela disse algo? — Ele continuou a recolher
todos os copos e garrafas vazias. Às vezes, eu me perguntava o que ele
amava mais: a festa ou a manhã seguinte, porque eu nunca tinha visto um
cara limpar como Ash fazia.
— Não, mas eu a vi e ela estava chateada. — Ela não quis falar sobre
isso, e eu sabia que Asher havia desenvolvido um interesse estranho por ela.
Mas pela carranca profunda gravada em seu rosto, talvez eu tenha me
precipitado.
— E você de achou que tenho algo a ver com isso? — Seus olhos se
arregalaram em descrença. — Valeu pelo voto de confiança.
Me servi de um copo d'água e me recostei no balcão.
— Eu só pensei... esqueça.
— Essas garotas deixaram vocês todos confusos. Vi você carregando a
Hailee para o seu quarto, e não fui o único. — Ele me lançou um olhar
penetrante. — Espero que saiba o que está fazendo.
— Ela estava bêbada e elas não tinham como voltar para casa. O que eu
deveria fazer? Deixá-la dormir lá fora?
— Antes de toda essa merda com o Thatcher, é exatamente isso o que
você teria feito. Caramba, você provavelmente teria feito muito pior também.
— Esfregando a mão na cabeça e na parte de trás do meu pescoço, soltei um
suspiro pesado. Mas Asher não tinha terminado. — Você gosta dela, não é?
— Eu...
— Advil. — Jase entrou na cozinha, e eu engoli minhas palavras. —
Preciso de um Advil.
— Sim, claro, cara. Você sabe onde estão. — Asher me lançou um olhar
que me disse que essa conversa não tinha acabado. — Com quem você
acabou na noite passada? — ele perguntou a Jase, que engoliu dois
comprimidos e tomou um copo d'água antes de se sentar em um dos bancos.
— Kayla, Kylie ou alguma merda qualquer que não consigo me lembrar.
— O quê? Achei que ela estava de olho no Cam. — Asher sorriu para
mim e eu mostrei o dedo do meio pelas costas do nosso amigo.
Jase deu de ombros, sem saber.
— Ela não estava reclamando quando coloquei meu pau em sua boca.
— Então, humm — limpei a garganta. — Você provavelmente deveria
saber que a Hailee e a Felicity estão dormindo no andar de cima.
— Que merda é essa? — Ele enrijeceu e seu humor ficou mais sombrio
do que uma nuvem de tempestade. — Eu disse para convidá-las para a festa,
não para uma porra de uma festa do pijama.
— A Hailee estava bêbada, certo, Cam?
— Sim. Eu a coloquei no meu quarto.
Os olhos de Jase semicerraram em um olhar mortal.
— Seu quarto?
— Calma, não é assim. — Mantive a expressão calma. — Mas eu não
sabia mais o que fazer com ela.
— E a Felicity também está lá?
Assenti, certo de ter percebido um problema em sua voz quando ele disse
o nome dela.
— Você disse algo para ela?
— Quem? — Ele franziu a testa.
— Felicity.
Jase recuou com os olhos arregalados.
— O que eu diria a ela?
— Não sei, ela parecia chateada com alguma coisa. Achei que talvez o
Asher tivesse...
— Mais uma vez, obrigado por isso — Asher acrescentou enquanto se
movia pela cozinha limpando os balcões, assobiando uma melodia otimista
demais para esta hora da manhã.
— Não, eu não disse nada a ela. Estava muito ocupado inclinando a
Kayla sobre a cama da sua mãe e do seu pai. — Ele sorriu para Asher e o
sangue foi drenado de seu rosto.
— Não me diga isso. De novo não, cara. Você prometeu...
— Relaxe. — Ele riu de um jeito sombrio. — Usei um dos quartos de
hóspedes.
— Ela ainda está aí?
— O que você acha?
— Pegue e não se apegue, baby. — Asher empurrou seus quadris para
cima. Quando revirei os olhos, ele acrescentou: — Você deveria tentar
alguma hora, Cam, ou então a Miley pode ter uma impressão errada, achando
que você está procurando por algo mais do que o pequeno arranjo que vocês
têm. Falando na adorável Miley, eu não a vi ontem à noite.
— Vá se foder — murmurei.
Neste momento, o som de vozes femininas soou na sala.
— Alguém se livre delas, por favor — Jase resmungou, mas era tarde
demais. Hailee e Felicity apareceram na porta.
— Humm, oi. — Ela não encontrou meus olhos, e eu sabia que ela se
lembrava. Puta merda. Eu esperava que ela estivesse bêbada demais para se
lembrar.
— Garotas, entrem e se sentem. O café da manhã será servido em... —
Asher esfregou o queixo. — Imagino que nenhuma de vocês queira fazer o
café da manhã?
Hailee subiu em um dos banquinhos, enterrando o rosto no braço.
— Felicity? — Asher sorriu para ela.
— Argh — ela resmungou e seu olhar cansado passou rapidamente por
Jase. Ele ficou rígido, sem fazer nada para esconder seu descontentamento
com as garotas interrompendo nossa rotina matinal.
— Tudo bem. — Felicity esfregou as mãos. — O que você tem aí?
— Acho que tem ovos, bacon e coisas para fazer panquecas. — Ele a
chamou até a geladeira e os dois começaram a trabalhar. Foi estranho. Nunca
tínhamos feito isso antes. Sempre saíamos para comer, e eu não conseguia me
lembrar de nenhuma vez em que incluíssemos meninas em nosso ritual do dia
seguinte.
— Estarei lá fora. Preciso de um pouco de ar — Jase desapareceu pela
porta dos fundos, deixando nós quatro. Estendi a mão sobre o balcão,
cutucando o braço de Hailee.
— Você está viva? — sussurrei, e ela olhou para mim.
— Pouco.
— Café?
Dando um pequeno aceno de cabeça, ela murmurou:
— Água.
— Água então. — Peguei uma garrafa de água para ela, com cuidado para
não atrapalhar Felicity e Asher enquanto eles organizavam todos os
ingredientes. Ela dava ordens para ele e estava gostando muito se o brilho em
seus olhos fosse alguma indicação.
— Aqui. — Entreguei a garrafa para Hailee e uma caixa de Advil.
— Obrigada. — Ela destampou a garrada e tomou dois comprimidos,
engolindo-os de uma vez. — Acho que preciso me lembrar dos meus limites.
— É normal se soltar de vez em quando.
— Se bem me lembro, você estava sóbrio. — Seus olhos tinham um
significado não dito e eu senti como se tivesse levado um soco.
Afastando-a, eu disse:
— Bebi algumas cervejas. O treinador não gosta que nós...
— Pare, por favor pare. — Ela ergueu a mão, enterrando o rosto
novamente. — Isso dói. — Suas palavras foram murmuradas.
— Tem certeza de que sabe o que está fazendo? — perguntei a Asher. Ele
tinha uma marca de mão de farinha em seu rosto e outra em sua camiseta.
— Você deve bater a massa, não usá-la — Felicity falou, olhando por
cima da panela. O cheiro de bacon fumegante chegou até mim e meu
estômago roncou.
— Já volto. Tentem não se matar. — Dei um sorriso divertido para Asher,
e ele me mostrou o dedo do meio por cima do ombro de Felicity enquanto ela
tentava mostrar a ele como bater corretamente.
Lá fora, Jase estava sentado em uma das cadeiras do pátio.
— Ela é irritante pra cacete.
— Quem, Hailee?
— Não, Felicity — ele grunhiu.
— Não sei, ela não é tão ruim.
Jase me encarou com um olhar severo.
— Por que elas estão aqui?
— Porque você disse ao Asher para convidá-los para a festa...
— Tá, só não quero que ela pense que isso significa alguma coisa.
— Por que a Felicity pensaria...
— A Hailee, idiota. Preste atenção.
— Você está com um humor maravilhoso esta manhã.
— Estou farto dessa merda com o Thatcher. Ele descobrir sobre a Hailee
foi a pior coisa que poderia ter acontecido. Agora tenho que fingir que
realmente me importo com ela.
— Se isso te faz se sentir melhor, não acho que ela vai ter uma ideia
errada tão cedo.
Hailee não era como a maioria das garotas. Ela não via sinais de coisas
que não existiam. Na verdade, os anos de idas e vindas com Jason a
endureceram. Agora, ela era desconfiada dos outros, sempre questionando os
motivos das pessoas. Na verdade, eles eram muito mais parecidos do que
qualquer um deles imaginava. Só que onde o exterior frio de Jason a atingia,
ela falhava em fazer qualquer coisa na casca dura dele.
— Rivals Week. — Sua voz era entediada. — Normalmente vivo para
esta merda, mas algo está diferente este ano.
Ele não precisava me dizer. Eu senti isso desde que entramos na escola,
no primeiro dia do semestre. Talvez fosse nossa temporada final iminente
como Raiders, a expectativa de ganhar o estadual. Ou talvez fosse a distância
aumentando entre nós à medida que nossas vidas começaram a tomar
caminhos diferentes. Eu queria ir para a faculdade. Queria uma carreira
universitária jogando futebol. Mas não do mesmo jeito que Jase. E durante o
verão, conforme os dias até o último ano se aproximavam, o buraco no meu
estômago aumentou sem parar até que me senti puxado ao meio.
Parte de mim ainda era Cameron Chase, o número quatorze, o wide
receiver dos Rixon Raiders, esperando pelo aceno de uma equipe da primeira
divisão. Mas a outra parte não sabia mais quem era. Estava com medo do
desconhecido, de como seria o futuro de sua família se partisse. E as duas
partes de mim não estavam mais casadas.
— Pelo menos, eles estão vindo para o nosso quintal. Não precisamos nos
preocupar com eles fazendo acrobacias em sua casa na noite do jogo.
Há alguns anos, em nosso segundo ano e no primeiro de Jason como QB
de primeira linha, vencemos os Eagles em seu campo. Foi uma luta de cães –
as duas equipes batalhando pela vitória. As tensões estavam elevadas e os
ânimos desgastados. Jase tinha entrado nisso com dois defensive ends , os
jogadores que se posicionam nos cantos da linha defensiva, depois que eles
continuaram jogando sujo – repetidamente segurando-o e tentando agarrar
seu capacete – até que uma briga aconteceu no campo.
Jase cerrou o punho contra a coxa.
— Quero destruí-lo. Eu quero...
— O café da manhã está servido. — A voz de Asher soou e Jase se
levantou da cadeira, espreitando para dentro.
Ele estava perdendo o controle. Mas a Rivals Week sempre foi uma
semana importante em nosso calendário. O treinador Hasson já havia nos
avisado para ficar longe da East na próxima semana, um aviso que todos nós
sabíamos que havia sido enviado pelo diretor Finnigan. Isso não significava
que Thatcher e seus rapazes não iriam atrás de nós, e agora que ele sabia
sobre Hailee, havia toda a probabilidade de ela estar no topo da sua lista de
merdas a fazer.
Voltei para dentro e a cena de Asher e Jase tomando café da manhã com
Hailee e Felicity, sem tentar matar um ao outro, foi uma das coisas mais
estranhas que já testemunhei.
— Cara, você precisa experimentar o bacon. A garota sabe cozinhar. —
Asher pegou outro pedaço do prato e enfiou na boca, sorrindo para Felicity.
— Você precisa bancar o porco? — ela o repreendeu e ele realmente
corou. As bochechas de Asher Bennet ficaram vermelhas como uma
beterraba.
O que estava acontecendo agora?
— Isso parece estar ótimo, Felicity, obrigada — eu disse, me sentando no
banquinho ao lado de Hailee. Ela ficou tensa, sem olhar para mim enquanto
empurrava ovo mexido em seu prato.
— Não está com fome? — perguntei, lutando contra um sorriso.
— Cai fora — ela resmungou, retomando sua arte no prato.
— Bem — Felicity disse, completamente alheia aos vários graus de
tensões que pairavam sobre nós. — Rivals Week? Como vocês se sentem em
relação ao grande jogo de sexta-feira?
Jase a olhou como se ela tivesse com uma segunda cabeça enquanto
Asher ria.
— Está se tornando uma grande fã, não é, Fee?
— Fee ? — ela quase se engasgou com a palavra.
— O quê? — Ele deu de ombros. — Achei que você precisava de um
apelido, agora que somos todos amigos.
Fee não pareceu convencida.
— Por que isso? — ela perguntou, olhando para Jase de novo. O que
havia com ela e meu melhor amigo? — Nunca sei se devo acreditar em algo
que sai da sua boca.
— Porque você não deve confiar em um Raider, — Hailee falou.
— Agora, agora, Hails — Asher falou em um tom presunçoso. — Não
menti sobre a festa, não é?
— Isso está sendo divertido e tudo mais — a voz de Jase estava repleta de
sarcasmo —, mas vocês duas estão planejando dar o fora daqui em breve?
O silêncio caiu sobre a bancada de café da manhã dos Bennet. Felicity
baixou os olhos, mordendo o lábio de um jeito ansioso. Mas Hailee não
pareceu surpresa. Na verdade, ela parecia estranhamente aliviada quando
encontrou seu olhar gelado.
— Será um prazer. — Ela se levantou do banquinho rapidamente,
fazendo as pernas de metal arranhar os ladrilhos, e agarrou Felicity. —
Vamos?
— Eu... ah, sim. Tchau. — A amiga de Hailee nos deu um pequeno aceno
e as duas fugiram da cozinha.
— Você é um idiota — Asher falou, empurrando o prato para longe.
— E você só percebeu isso agora? — Jase rebateu, continuando a comer
seu café da manhã como se não tivesse acabado de dispensar a meia-irmã e
sua amiga da mesa como crianças travessas.
Vinte E Um
Hailee
Saí da casa de Asher com Flick atrás de mim. Deus, meu meio-irmão era um
idiota. Ele não podia ser civilizado por dez minutos enquanto tomávamos o
café da manhã. O café da manhã que minha melhor amiga fez para ele.
Cretino.
— Hails, pode desacelerar um segundo?
— Preciso sair daqui, Flick. — A raiva me impulsionou para frente até
que eu estava pisando forte na calçada dos Bennet, com os braços balançando
ao lado do corpo e a respiração ofegante. — Vir até aqui foi uma má ideia
— Ele é um idiota, você está certa. Mas o Asher é...
Eu me virei, olhando para ela.
— Por favor, não me diga que você está desenvolvendo uma queda por
Asher Bennet , o mesmo Asher que dormiu com toda a equipe feminina de
atletismo. — Provavelmente, com todas de uma vez.
— Não, não gosto dele. Caramba, você pode só respirar por um segundo?
— Ela empurrou o cabelo para trás, se recompondo. — Só acho que ele é
engraçado e gosta de nós.
— Ele gosta de nós agora, Flick. Agora . Depois que o Thatcher
descobriu quem eu sou. Você não entende como isso é confuso? Se não
tivéssemos ido àquela festa com Toby e Jude, você realmente acha que
estaríamos aqui agora?
— Bem, não. — Seus ombros caíram em derrota e a dor brilhou em seus
olhos enquanto eles se desviavam para o chão.
Me senti uma vadia má, mas ela foi muito rápida em ver o lado bom de
Asher. Cega demais pela promessa de festas em sua casa e por ser amável
com ela no refeitório. Flick não foi o alvo de suas piadas e travessuras
maldosas nos últimos cinco anos e meio, mas ela esteve bem ao meu lado
para testemunhar isso. Então, o fato de ela estar pronta para ignorar as coisas,
fez tudo parecer trivial de alguma forma. Como se nada disso realmente
importasse, porque eles eram Raiders. E se eles estendessem um convite para
seu círculo íntimo, o certo era aceitá-lo, independentemente de qualquer
besteira que tivesse acontecido antes.
— Olha, me desculpe, tá? — Tentei controlar minha irritação. — Sei que
você quer se encaixar. Sei que tem sua lista e quer fazer do último ano algo
para se lembrar. Mas ainda pode ser divertido sem eles. — Olhei por cima do
ombro e de volta para a casa.
— E quanto ao Cameron?
— O que tem ele? — Meu peito doeu ao me lembrar de como ele me
rejeitou na noite passada e então agiu como se nada tivesse acontecido esta
manhã.
— Você gosta dele — ela acrescentou. — Sei que gosta.
— Não importa — eu disse baixinho, sentindo meu peito apertar. — Ele é
o melhor amigo do Jason, Flick. Um Raider. Nossos mundos não deveriam
coexistir. — Quanto mais rápido eu colocasse isso na minha cabeça, melhor.
Cameron era leal a Jason, o que o tornava meu inimigo. Portanto, apesar de
qualquer atração entre nós, ter algo com ele era má ideia. Péssima . Porque
Cameron Chase não ia apenas me machucar. Se tivesse meia chance, ele me
arruinaria completamente.
E eu não podia deixar isso acontecer.
Não permitiria.
— Mas...
— Vamos. — Eu a cortei e parei de falar sobre ele. — Podemos caminhar
de volta para sua casa.
Ela assentiu, me seguindo pela longa e sinuosa entrada de automóveis.
— Ei, você estava chorando noite passada? — perguntei, a vaga
lembrança surgindo na minha cabeça de repente.
— O quê? Quando?
— Quando você veio para a cama? Achei ter te ouvido chorar.
— Não. — A palavra saiu de seus lábios um pouco rápido demais, e eu
olhei para ela com o canto do olho.
— Se o Asher te magoou, Flick...
— Hails, não sei o que você acha que ouviu, mas está errada. Estou bem.
Está tudo bem. Quanto ao Asher, como eu disse, não gosto dele assim. — Eu
conhecia Flick desde que tínhamos doze anos. Eu conhecia a forma como ela
falava. As coisinhas que ela fazia quando não era completamente honesta.
E agora, eu sabia que ela estava mentindo.
Mas se não foi Asher quem a aborreceu... quem foi?
***

Quinta-feira de manhã, as coisas finalmente pareciam estar voltando ao


normal. Quase sobrevivi à Rivals Week. Não houve mais postagens nas redes
sociais sobre mim de Thatcher – ele estava muito ocupado postando conversa
fiada a respeito do grande jogo de amanhã – e Jason, Asher e Cameron nos
deixaram em paz a maior parte do tempo. Eu sabia que Flick estava se
sentindo abatida pela recente mudança de opinião de Asher no que dizia
respeito a amizade que florescia entre eles. Mas, se recusando a ser jogada
para fora do curso, ela se concentrou em duas coisas: sua lista e no que vestir
no baile no próximo fim de semana. O mesmo que, apesar dos
acontecimentos recentes, ela ainda insistia em que participássemos.
— Ansiosa para o jogo de sexta-feira? — Kent me perguntou quando
entrei na cozinha. Mal acordada, peguei uma caneca de café e me sentei em
um dos banquinhos.
— Jogo, que jogo?
— Sei que você não mora debaixo de uma rocha, Hailee. É a Rivals
Week. Nem mesmo você pode ignorar isso.
— Ah, eu não vou.
— Claro que vai. É importante para o Jason e o time, e temos ingressos
para a seção familiar.
— Quem você teve que subornar para conseguir mais? — Cada jogador
recebia dois ingressos para suas famílias e os sobressalentes eram como ouro
em pó.
— O treinador Hasson — ele confessou, puxando a gravata como se a
coisa estivesse muito apertada.
— Minha mãe vai?
— Vai. Ela não perderia por nada no mundo.
Claro que não . Engoli as palavras.
— Sei que as coisas nem sempre foram fáceis entre você e o Jason, mas
eu realmente espero que agora que estamos casados, as coisas...
— Bom dia. — Minha mãe entrou na cozinha, muito brilhante e alerta
para sete e meia da manhã.
— Bom dia, esposa. — Kent a abraçou quando ela passou por ele e a
beijou com mais gosto do que eu precisava testemunhar.
— Vocês se importam? — bufei.
O olhar sonhador da minha mãe encontrou o meu.
— Bom dia, gatinha. — Suas bochechas estavam vermelhas e ela parecia
um pouco sem fôlego. Que nojo . — Como você está?
— Eu estava bem até você entrar e começar a chupar a cara de Kent.
— Ele lhe contou as boas notícias? — Ela sorriu, se soltando dos braços
dele e indo direto para a cafeteira.
— Vai me deixar ir a Nova York no meu aniversário de dezoito anos?
— Boa tentativa, mas não, querida. Temos ingressos para o jogo de
amanhã.
— Ah, isso. — Cerrei meus dentes.
— Hailee, isso é importante para...
— Jason. Sim, sim, já ouvi um argumento muito convincente de Kent. Se
eu concordar em ir, você vai pelo menos pensar em me deixar ir para Nova
York? — Um dos meus artistas favoritos ia fazer uma exposição no Met que
eu realmente queria ver.
Minha mãe e Kent trocaram um olhar, e ele deu a ela um pequeno aceno
de cabeça.
— Tudo bem — ela disse. — Se você for ao jogo na sexta-feira e ao
jantar que o treinador Hasson vai oferecer depois, sim, vamos pensar sobre
isso.
Jantar na casa do treinador Hasson? Com toda a equipe e seus familiares?
Preciso de reforços.
— Tem um ingresso reserva para Flick?
— Estou perfeitamente ciente de que vocês duas são como um pacote,
Hailee. — Kent me deu um sorriso caloroso. — Diga a ela que vamos buscá-
la antes do jogo.
— Tudo bem, então temos um acordo.
Um jogo de futebol e um jantar na casa do treinador Hasson, em troca de
uma viagem para Nova York no meu aniversário.
Era um pequeno preço a pagar.

***

Mais tarde naquele dia, tive um período livre, então fui para o estúdio. Eu só
estava lá há quinze minutos quando a voz do sr. Jalin ecoou pela sala.
— Ah, Hailee.
Largando o pincel no cavalete, girei o banco para encará-lo, empurrando
os óculos sobre a minha cabeça.
— Olá, senhor.
— Bom. — Seu olhar analisou minha tela. — Isso está muito bom,
Hailee. Eu particularmente gosto do que você fez com os traços largos. —
Ele se aproximou, traçando as marcas grossas do pincel com os dedos,
tomando cuidado para não chegar muito perto. — Vai usar isso para a sua
peça final?
— Acho que sim.
— Boa escolha. — Ele me ofereceu um sorriso tranquilizador. — Acho
que você vai se sair bem.
— Obrigada, senhor.
— Agora, a verdadeira razão de eu estar aqui. — Cruzando as mãos nas
costas, o sr. Jalin me olhou com uma expressão reservada. — Você é uma
artista muito talentosa, Hailee. Uma das melhores que já vi entrar pelas portas
da Rixon High. O treinador Hasson e eu estávamos conversando e ele se
perguntou se este ano, para a apresentação da Noite dos Veteranos,
poderíamos tentar algo um pouco diferente.
— Hum... sinto muito, mas não entendi. — A menção ao time de futebol
me deixou um pouco sem palavras.
— Todo ano, o treinador Hasson gosta de presentear seus veteranos com
uma lembrança. Normalmente, é uma fotografia para marcar seu tempo com
os Raiders. Mas este ano, pensamos que seria bom incluir uma pintura.
— Você quer que eu... pinte o time. — Engoli a saliva, sentindo minha
boca seca de repente.
— Bem, sim, a menos que haja um problema?
— Não, não, senhor, eu só... — Limpei as mãos úmidas no avental
enquanto uma centena de razões pelas quais isso era uma má ideia enchiam
minha cabeça. Mas apesar de a minha voz interior gritar para eu não fazer
isso, tudo que eu conseguia pensar era que o sr. Jalin, Diretor de Artes de
Rixon, e o treinador Hasson me pediram para fazer isso.
Eu.
— A Noite dos Veteranos é daqui a pouco mais de dois meses — ele
continuou enquanto eu ainda estava tentando processar o que isso significava,
se eu concordasse. — Isso vai significar muitas horas e você vai precisar
passar algum tempo com os jogadores mais antigos, sair e vê-los treinar, mas
acho que você consegue.
— O treinador Hasson tem algum estilo específico em mente? — Meus
pensamentos começaram a disparar em um milhão de direções. Ele ia querer
algo mais tradicional como um retrato realístico ou talvez algo mais fluido
como um retrato impressionista? — Ou tenho liberdade de escolha?
— Tudo depende de você, dentro do razoável, é claro. — Sua expressão
ficou séria. — Isso não é algo para se dar pouco valor, Hailee. Este projeto
pode realmente ajudá-la a fazer seu nome localmente.
Ele não precisava me dizer. Para uma garota de uma pequena cidade que
morava em Rixon, era o equivalente a ser convidada a fazer uma exposição
no Penn Museum ou no Philly Museum of Art .
— Eu vou fazer — falei com convicção. Eu só teria que me preocupar
com os detalhes mais sutis mais tarde, quando descobrisse a direção que eu
queria tomar. — Obrigada por pensar em mim, senhor.
— Lembre-se de que precisamos que isso seja um sucesso, Hailee. Há
anos tenho lutado contra o conselho escolar para canalizar mais dinheiro para
o nosso Departamento de Artes. Este pode ser o início de uma relação
mutuamente benéfica entre nós e o Departamento Desportivo.
— Compreendo. — Sem pressão então .
— O treinador Hasson gostaria de lhe passar algumas informações, então
se você pudesse marcar um encontro com ele o mais rápido possível... — O
sr. Jalin me deu um pequeno aceno de cabeça antes de me deixar sozinha. Era
quase como se as estrelas estivessem se alinhando. Minha mãe e Kent
estavam insistindo que eu comparecesse ao jantar na casa do treinador
Hasson amanhã à noite e agora eu tinha uma razão válida para estar lá.
Mas enquanto eu olhava para a minha pintura, me perdendo nos
redemoinhos de azul e cinza, uma energia nervosa vibrou dentro mim. Estar
perto do treinador Hasson significava estar perto da equipe. E estar perto da
equipe significava estar perto de Cameron, algo que eu queria evitar a todo
custo. Mas essa era uma oportunidade boa demais para ser recusada e seria
ótimo para o meu currículo, caso eu fosse aceita na Stamps. Eu tinha
participado de uma exposição local e tive algumas peças expostas pela escola
antes, mas isso poderia ser uma grande oportunidade para mim.
Só havia uma falha fatal com o plano – fazer com que Jason fosse legal
por tempo suficiente para eu concluir o projeto.
Vinte E Dois
Cameron
O rugido da multidão era ensurdecedor. Soou durante todo o jogo, que
acabou sendo brutal, como todos esperavam. Os Eagles marcaram um
touchdown , nós marcamos outro. Eles derrubaram nosso QB, derrubamos
Thatcher com o dobro de força. Estávamos exaustos, mental e fisicamente
acabados e, apesar de superá-los, os Eagles estavam liderando por cinco
pontos. Mas estávamos perto de um touchdown , com onze segundos
restantes no relógio, o que significava que tínhamos tempo para uma jogada
final.
E precisávamos disso para contar.
— Tempo — o treinador gritou e nós avançamos para receber suas
instruções. — Tudo bem — ele disse. — Eles nos cercaram, sei disso. Vocês
sabem disso. Mas este jogo deveria ter sido nosso na segunda parte. Jase, o
que você acha, filho?
Todos nós olhamos para nosso QB e capitão, nada surpresos com o fato
de treinador o estar deixando assumir o controle. Ele confiava em Jase
explicitamente. Todos nós confiávamos.
— Devíamos usar o Red 59 Counter Arrow — ele falou em voz baixa, se
referindo a uma jogada, apesar do fogo em seus olhos. Ele não queria essa
vitória, ele precisava dela.
— Quatorze? — O treinador fixou os olhos em mim. — Você está pronto
para isso?
— Estou — concordei.
— Era isso o que eu queria ouvir. Agora vá lá e cuide das coisas. Raiders
em um.
Nosso grito de guerra ondulou pelo campo, nos alimentando. Nos dando a
força de que precisávamos para uma jogada final.
— Está pronto? — Jase correu até mim.
— Vamos acabar com eles. — A compreensão passou por nós quando ele
me ofereceu um raro sorriso.
— Vá pegá-los, mano.
Nos posicionamos atrás da linha de scrimmage , a linha imaginária
transversal que corta o campo e se posiciona entre a linha defensiva e a
ofensiva, esperando a chamada de Jase. Ele falou a jogada depressa antes de
sinalizar:
— Cabana — Grady, nosso center , jogador que atua no centro, jogou a
bola para ele, que fingiu ir para a esquerda. Corri, passando pela defesa. Meu
melhor amigo caiu para trás, levantou o braço e deixou a bola voar, direto
para a end zone e meu destino. Movi as pernas com força, correndo o mais
rápido que já corri na minha vida. Tínhamos que vencer. Eu tinha que colocar
minhas mãos naquela bola.
Não era apenas pelo futebol, era por Hailee. Para tirar o sorriso
presunçoso do rosto de Thatcher quando os derrotássemos. Mas isso estava
caminhando rápido demais. Merda. Em um movimento arriscado,
impulsionei no chão e me lancei para frente, esticando os dedos até que senti
meus músculos rasgarem e a dor latejar em meu ombro. Mas valeu a pena
quando senti o couro liso familiar roçar meus dedos.
— Touchdown — o locutor gritou quando meu corpo colidiu com o chão
duro. A multidão enlouqueceu enquanto eu estava lá, olhando para as luzes.
Meus músculos doíam, meus pulmões queimavam e eu tinha certeza de que
havia torcido algo, mas não importava. Nós tínhamos conseguido.
Eu consegui.
Jase e Ash foram os primeiros a me alcançar, me colocando de pé e, em
seguida, o resto dos caras estava em cima de nós, nos empurrando como se
tivéssemos vencido o jogo do campeonato. Mas Jase não estava
comemorando conosco, ele estava olhando para o campo, com os olhos fixos
em Thatcher.
— Vamos lá, cara. — Empurrei a multidão e coloquei meu braço em
volta de seu ombro. — Não aqui, não agora. — Mantive a voz baixa.
— Um dia — ele grunhiu com a voz estranhamente calma. — Um dia.

***

Duas horas depois, ainda no auge da nossa vitória contra a Rixon East, fomos
para a casa do treinador Hasson para o jantar anual da Rivals Week. Era uma
casa estilo fazenda com vista para o rio e espaço suficiente para hospedar a
equipe e suas famílias.
— Humm, mano, por que a Hailee e a Fee estão aqui? — Asher cutucou
meu braço e inclinou a cabeça para onde as meninas tinham acabado de
entrar, as duas parecendo assustadas.
— Vai saber. — Dei um longo gole no refrigerante, sentindo uma dor
profunda no ombro.
Mais tarde, depois do jantar, o treinador faria vista grossa quando todos
nós invadíssemos a geladeira para pegar cervejas. Mas enquanto as famílias
da equipe estavam presentes e sóbrias, ele esperava decoro.
— Elas vieram com o meu pai e a Denise — Jase grunhiu, se juntando a
nós. Meus olhos foram para a cerveja em sua mão.
— Sério? — perguntei, com a sobrancelha erguida.
— O quê? — Ele deu de ombros. — Eu precisava de uma.
Revirando os olhos, lutei contra um sorriso. Jason não seguia as regras,
ele as fazia. E eu sabia que ninguém daria a mínima para ele sobre isso.
— Eu sabia que elas estavam no jogo — Asher acrescentou, ainda
olhando para eles. — Mas não tinha ideia de que estavam vindo para cá.
Acho que ela está me perseguindo.
Cuspi refrigerante, rindo da declaração ridícula.
— Você não está falando sério, não é?
— Seríssimo — ele brincou, cruzando os braços enquanto semicerrava os
olhos em Hailee e sua amiga. Mas elas não olharam em nossa direção.
Foi o mesmo durante toda a semana. Depois da manhã desastrosa na casa
de Asher, depois da festa, Hailee me evitou como uma praga. E dei espaço a
ela, porque o que mais eu poderia fazer? Ela me beijou... tentou fazer muito
mais do que isso, e eu a rejeitei. Não me arrependi de parar com tudo naquela
noite. Ela estava bêbada, e Jase estava bem no corredor, transando com uma
das ginastas. Mas me arrependi de como as coisas aconteceram entre nós.
Eu simplesmente não sabia como consertar as coisas – ou se deveria
tentar.
— Aqui está ele. — A voz do Sr. Ford soou acima do barulho. — O
homem do momento. Parabéns, filho. — Ele veio direto para mim, me dando
tapinhas nas costas. — Aquele foi um momento de hall da fama .
— Obrigado, senhor — eu disse e desviei os olhos rapidamente para Jase.
— Não poderia ter feito isso sem meu QB.
— Certo, é claro. Bom jogo, filho. — O sr. Ford estendeu a mão para
Jase, que a apertou com leve hesitação.
— Obrigado, pai. — Suas palavras foram rudes e todos nós sentimos a
tensão entre pai e filho.
— Jason. — A mãe de Hailee apareceu em nosso pequeno grupo. — Isso
foi... estou tão orgulhosa de você, querido. — Ela tentou puxá-lo para um
abraço, mas ele recuou. Denise vacilou, disfarçando o afastamento dele com
um largo sorriso. — Estamos todos muito orgulhosos de você, de todos
vocês. E pensar que vocês podem trazer o campeonato para casa este ano.
Todos nós reprimimos nossas risadas com seu falso entusiasmo, até
mesmo Jase lutou contra um sorriso perplexo.
— Certo, querida. — O sr. Ford envolveu sua esposa em um abraço. —
Vamos deixar os rapazes se divertirem. Quero falar com o Henry.
Henry, ou o treinador Hasson como o conhecíamos, estava lá fora em sua
enorme churrasqueira, enquanto uma nuvem de fumaça subia no ar.
— Este é o seu ano, filho, estamos todos contando com você — foram as
palavras de despedida do sr. Ford enquanto nos deixavam com nossa
diversão .
Trinta minutos depois, estávamos todos reunidos do lado de fora por
ordem do treinador. Ele e sua esposa nos serviram hambúrgueres e cachorros-
quentes, bife e costelas. Foi bom, mas senti falta dos meus pais. Eles não
estavam no jogo para nos ver derrotar os Eagles e não estavam aqui agora
para comemorar conosco.
E eu odiei isso.
Esta era a maior temporada da minha vida, e eles não estavam aqui para
ver, para compartilhar comigo. Era uma merda, mas eu não tive escolha a não
ser abrir um sorriso e comemorar com meus companheiros de equipe.
Depois que todos comeram, o treinador Hasson se levantou, exigindo
silêncio.
— Discurso — um dos caras gritou e uma onda de risos encheu o ar.
— Acalmem-se, acalmem-se — o treinador falou. — Há algumas coisas
que eu quero dizer, então tenha paciência comigo. Em primeiro lugar, quero
agradecer a minha esposa, Sandra. — Ele olhou de forma calorosa para a
mulher ao lado dele. — Sem ela, eu não seria metade do homem que sou. E
sou grato por ela me deixar dar as boas-vindas a todos vocês em minha casa
ano após ano.
Todos aplaudiram, erguendo seus copos e garrafas no ar para brindar à
sra. Hasson.
— Agora, aos meus garotos — seus olhos percorreram cada um de nós
—, vocês lutaram muito esta noite. Não desistiram quando as coisas ficaram
difíceis. Vocês fincaram os pés e seguiram em frente. Estou muito orgulhoso
de vocês. Não apenas por mostrar àqueles caras do outro lado do rio como
jogamos bola, mas por manterem a cabeça fria e não permitirem que eles o
provoquem a se rebaixarem aos padrões deles. — Seu olhar pousou em mim,
Asher e Jason, transmitindo alguma mensagem não dita. — A Rivals Week
acabou. Nós ganhamos. Esse é o limite, estão me ouvindo?
Cada um de nós deu a ele um aceno imperceptível, mas a irritação de Jase
era palpável. Ele respeitava o treinador, ouvia suas ordens dentro e fora do
campo, mas todos nós sabíamos que essa coisa entre ele e Thatcher era
pessoal. Portanto, embora tivéssemos vencido esta noite, tivéssemos acabado
com Thatcher em campo, sabíamos que isso não estava encerrado.
Não por um bom tempo.
O treinador passou a mão pelo rosto, engolindo em seco.
— Farei tudo isso de novo em algumas semanas na Noite dos Veteranos,
então não vou insistir muito. Mas saibam disso, treinar os Raiders é um
privilégio, que não considero de forma leviana. E este ano, é o nosso ano.
Sinto isso. Este ano, vamos trazer o campeonato para casa.
O quintal do Hasson entrou em erupção, com meus companheiros de
equipe fazendo a maior parte do barulho enquanto gritávamos e aplaudíamos.
Ele esperou que todos se calassem antes de continuar:
— E, finalmente, tenho um anúncio a fazer. Onde está a srta. Raine? —
Ele a procurou na multidão e meus olhos localizaram Hailee, vendo suas
bochechas queimarem de vergonha enquanto ela erguia a mão. — A srta.
Raine concordou gentilmente em trabalhar com a equipe em um projeto de
arte emocionante nesta temporada. Eu gostaria que todos vocês mostrassem a
ela o respeito que sei que são capazes.
Um murmúrio de resmungos respondeu a ele enquanto Asher e eu
compartilhamos um olhar confuso.
— Que merda é essa? — ele murmurou enquanto eu tentava processar o
que o treinador estava dizendo.
Hailee ia trabalhar com a equipe? Em um projeto de arte?
O que isso significava?
Mas o mais preocupante, por que foi que ela concordou com isso?

***

Não vi Hailee pelo resto da noite. Isso até eu entrar para pegar outra bebida e
quase tropeçar nela.
— Merda. — Ergui as mãos, firmando-a. — Sinto muito.
— Tudo bem. — Ela deu de ombros, tirando o cabelo do rosto e
prendendo-o atrás da orelha. — Eu estava só... — Hailee apontou por cima
do meu ombro para a porta dos fundos e começou a se mover ao meu redor.
— Espere — corri, segurando seu braço. Ela olhou para onde meus dedos
envolviam ao redor do seu pulso e, em seguida, lentamente olhou para os
meus olhos.
— Desculpe, eu só... podemos conversar?
— Você quer conversar aqui ? — Ela parecia incrédula e eu não podia
culpá-la. Não depois do último fim de semana. Mas eu precisava limpar o ar
entre nós, porque durante toda a semana parecia que um peso pesado estava
pressionando meu peito.
Tive uma ideia e sorri.
— Já viu a sala de troféus do treinador?
— Você sabe que não.
— Bem, então você deveria considerar. — Esperei, deixando-a tomar a
decisão. Era um risco, já que sua família estava aqui, mas todos estavam lá
fora, aproveitando a noite quente e boa companhia.
— É para fins de pesquisa — Hailee disse baixinho.
— Pesquisa?
— Para a Noite dos Veteranos.
— Ah, sim, isso. — Passei a mão pelo rosto. Quase tinha me esquecido
do anúncio do treinador de que Hailee pintaria os veteranos, mas apenas
porque, uma vez que percebi que isso poderia significar passar algum tempo
um a um com ela, não consegui pensar em nada além de nós dois. Sozinhos.
Juntos.
— Cameron?
Pisquei para ela, afastando os pensamentos.
— Humm, sim, vamos lá — falei antes de fazer a coisa sensata e ir
embora. — É bem ali na frente.
Vinte E Três
Hailee
Segui Cameron pelo corredor e para uma grande sala, arregalando os olhos
com as filas e filas de armários e prateleiras de troféus.
— Uau. — Eu não sabia para onde olhar primeiro. — Eu não fazia ideia.
— Sim. — Ele caminhou até um dos armários de vidro. — O treinador
era um grande jogador na época de estudante.
— Não me diga. — Corri meus olhos sobre a coleção de medalhas. —
Qual é aquela? — perguntei, apontando para uma pequena estatueta de
bronze.
Cameron deu uma risada suave.
— Esse é o Heisman.
— Ah, acho que já ouvi falar.
Ele arregalou os olhos, divertido.
— É algo muito importante.
— Tem algo a ver com futebol universitário, certo?
Ele repetiu minhas palavras, murmurando-as.
— Como é que você vive com o Jason e o pai dele por seis anos e ainda
não sabe nada disso?
— Tenho excelentes habilidades para evitar certas coisas. — Ele me
lançou um olhar penetrante e me senti corar. — Eu não quis dizer...
— Então, você não está me evitado a semana toda?
O ar na sala ficou denso quando os olhos azul-acinzentados de Cameron
me encararam atentamente.
Limpando a garganta, consegui falar:
— Acho que ficou bem claro depois do último sábado... — Ele deu um
passo para frente, e eu engoli a saliva, recuando com cuidado para não tocar
nos armários de troféus. — Cameron — sussurrei.
— Sim, Raio de Sol? — O canto de sua boca se inclinou.
— Você prometeu que era apenas para fins de pesquisa.
— É assim que estamos chamando isso? — O humor brilhava em seus
olhos enquanto ele avançava em minha direção e apesar de saber que
precisava escapar, me vi perdida em seu olhar tempestuoso.
Minhas costas finalmente bateram na parede e estremeci. Pressionei as
mãos contra ele para me impedir de estender a mão para ele. Mas Cameron
se inclinou, tocando a cabeça na minha, me oprimindo por completo.
— Não consigo parar de pensar em você — ele admitiu. Foi tão baixinho
que parecia mais uma lufada de ar quente do que palavras reais. — No
sábado passado, eu estava fazendo a coisa certa, Hailee. Você estava bêbada
e eu...
— Você só quer o que não pode ter. — Meus olhos queimaram com
desafio, desejando permanecer forte.
— Eu gostaria que fosse tão simples. — Ele soltou um suspiro profundo.
— O que estamos fazendo, Cameron? — O que você está fazendo
Hailee?, adicionei para mim mesma, respirando fundo.
Durante toda a semana, eu disse a mim mesma que evitá-lo era o melhor,
que eu precisava ficar longe de Cameron e de seus jogos mentais. Foi fácil
quando o vi com o time, a rotação constante de garotas disputando sua
atenção. Cameron Chase, wide receiver , o número 14, pertencia a Rixon. Ele
era deles para adorar e amar. Mas houve momentos com ele, quando
estávamos só nós dois, quando parecia que ele era meu. Como se ele
estivesse me oferecendo um pedaço de si mesmo.
E tudo que eu tinha que fazer era estender a mão e pegá-lo.
Mas eu não queria as sobras. Eu não era só mais uma maria chuteira
procurando o que pudesse conseguir. Eu queria tudo ou nada. Algo que eu
sabia, ele nunca seria capaz de me dar.
— Me diga o que você está pensando — ele pediu, me puxando ainda
mais sob seu feitiço.
Mas era só isso. Um feitiço. E quando tivesse quebrado, eu seria Hailee
Raine, a meia-irmã de Jason novamente e ele seria Cameron Chase, o melhor
amigo do meu irmão.
Razão pela qual não importava o quanto eu o queria – e eu queria, poderia
finalmente admitir – forcei as palavras:
— Estou pensando que isso, nós, nunca vai funcionar.
O desafio brilhou em seus olhos quando ele baixou a boca para a minha.
— Você ainda não sabe, Raio de Sol? Eu sou um Raider e os Raiders
nunca desistem.
Meu estômago afundou quando Cameron me beijou. Não porque a
sensação de seus lábios se movendo contra os meus não fosse boa, porque
era. Parecia que meu corpo inteiro estava pegando fogo, cada movimento da
sua língua fazendo as chamas me queimarem mais e mais até que eu estava
pegando fogo de necessidade. Mas porque ele provou que eu estava certa. Ele
era um Raider e sempre seria. E um dia, ele e meu meio-irmão cavalgariam
para o pôr do sol juntos, deixando a mim e o resto de Rixon sem escolha a
não ser ficar parados e assistir.
E então onde isso me deixaria?
— Cameron... — murmurei contra seus lábios enquanto eles me
devoravam. Colados no meu, roubando o ar dos meus pulmões e todo o
pensamento racional da minha cabeça.
— Apenas me dê isso, Hailee. — Ele fez uma pausa, sua boca pairando
sobre a minha e seus olhos me fixaram no lugar. — Preciso disso, por favor .
— Havia algo tão vulnerável na maneira como ele disse as palavras que fez
meu coração doer. Eu me inclinei para trás, finalmente levando minhas mãos
ao seu rosto, me permitindo tocá-lo.
Dando a mim mesma – a ele – este momento.
Passei os dedos contra a barba por fazer, traçando os ângulos agudos de
seu rosto. Apoiei minha outra mão em seu bíceps, cobrindo a tatuagem que
aparecia por baixo de sua manga.
— Você gosta disso, não é? — ele perguntou, e eu assenti.
— É linda. — Eu nunca tinha realmente achado tatuagens atraentes antes,
mas olhar para a flor de cerejeira e o beija-flor tatuados no braço de Cameron
me fez querer desenhar em sua pele. Marcá-lo com meu próprio desenho.
— Você é linda. — Seus dedos gentilmente agarraram meu queixo,
forçando meu rosto de volta ao seu. Cameron não hesitou desta vez e lambeu
meus lábios. Passou as mãos pelo meu corpo e segurou minha cintura, me
puxando contra si. Deixei um suspiro baixo escapar quando senti o contorno
da sua dureza contra meu ventre. Acho que nunca me acostumaria com o fato
de que Cameron me queria. Isso me deixou bêbada de desejo. Me excitou de
uma maneira que eu nunca tinha experimentado antes.
Mas, acima de tudo, fez com que todas as memórias de suas
cumplicidades nos jogos de Jason se desvanecessem em nada.
— Quero te sentir — ele murmurou entre beijos. — Me deixe te tocar,
Hailee. — O desespero cru em sua voz fez meu coração palpitar de forma
descontrolada no peito. E quando uma de suas mãos encontrou o pedaço de
pele entre o suéter e o cós da minha calça jeans, quase morri, bem na frente
de seus olhos.
— Cam... — Minha voz estava trêmula e minha respiração ofegante.
— Me diga o que você precisa, Hailee...
Apertei sua camisa, puxando-o para mais perto, beijando-o com mais
força. A mão de Cameron desceu, desabotoando a calça jeans com facilidade.
Ele desceu a mão e roçou na calcinha úmida.
— Caramba — ele gemeu, se afastando do beijo para me olhar. Ele não
disse nada, apenas me observou, enquanto acariciava o clitóris sobre o tecido
fino. Meus joelhos dobraram, meu estômago apertou com a necessidade,
enquanto eu engolia um gemido. — Preciso sentir você, Hailee...
Assenti, inclinando a cabeça para trás. Cameron puxou a calcinha para o
lado e deslizou os dedos pela minha umidade, provocando uma série de
pequenos suspiros dos meus lábios. Seus olhos estavam selvagens, enquanto
me observavam. Escuros e semicerrados, fervendo de pura luxúria.
— Hailee... — Ele engoliu em seco. — Eu...
— Ei, Chase, você está... — Asher entrou na sala e arregalou os olhos
quando viu a mim e Cam entrelaçados como amantes no escuro. Entrei em
pânico tentando empurrar Cameron para longe, mas ele me pressionou ainda
mais contra a parede, me protegendo, com os dedos ainda dentro de mim.
— Humm, o treinador está procurando por você, mas posso ver que você
está ocupado.
— Ash — Cameron grunhiu.
Ele ergueu as mãos.
— Não vi nada. — Havia cadência em sua voz. Humor. E eu queria que o
chão se abrisse e me engolisse por inteiro. — Mas você pode querer... se
apressar. — Asher inclinou a cabeça para o corredor.
— Sim, me dê um minuto. — Cameron parecia frio agora, e o fogo
morreu dentro de mim. Tentei me desvencilhar de novo, mas ele era muito
forte e se recusou a me deixar ir.
— Hails. — Asher sorriu. — Você está bonita. — Ele se virou e saiu,
fechando a porta atrás de si.
— Ah, meu Deus — gemi, fechando os olhos.
— O Asher não vai dizer nada. — Cameron finalmente retirou os dedos e
recuou. Abri os olhos e o encarei, mas ele olhou através de mim.
Meu estômago afundou enquanto eu me atrapalhava com o botão da calça
jeans.
— É melhor eu ir — ofeguei, desejando que ele dissesse algo.
— Hailee, sinto muito. É só...
Não eram as palavras que eu queria ouvir, então eu o interrompi.
— Sim, eu também — sussurrei.
E então, sem olhar para trás, saí correndo de lá.

***

— Onde é que você estava? — Flick correu em minha direção, entrelaçando


o braço no meu. — Você sumiu há trinta minutos.
Foi só isso? Parecia que eu estava com Cameron há mais tempo. O tempo
havia deixado de existir na sala de troféus do treinador Hasson. Mas voltei
para a Terra com um baque retumbante quando Asher tropeçou em nós.
Ele nos viu.
Deus, que confusão.
Acreditei em Cameron quando ele disse que Asher não diria nada, mas
isso não tornava o fato de ele saber mais fácil.
— Você está bem? Você está... não sei, corada.
O que, é claro, só me fez enrubescer mais.
— Estou bem, acabei de encontrar o Cameron.
— Aaah. — Seus olhos brilharam de excitação. — E...
— E o quê? — Fiz uma careta.
— E sobre o que vocês dois conversaram?
— Nada importante. — Dei de ombros, me sentindo culpada.
Ela me lançou um olhar estranho.
— Você está escondendo algo, Hailee Raine. — Flick se inclinou mais
perto, baixando a voz. — Você o arrastou para o banheiro e o beijou de
novo?
Algo parecido.
— Sério? — Mantive a expressão séria. — Estamos na casa do treinador
Hasson cercados por toda a equipe, sem falar de suas famílias. — Embora
agora eu tenha pensado nisso, eu não tinha visto Cameron com seus pais. Eu
tinha ouvido Jason dizer que eles nunca mais tinham ido aos jogos, já que a
mãe dele teve seu irmão mais novo há poucos anos.
— Sim, acho que poderia ser estranho se o Jason ou a sua mãe
aparecessem. — Ela disfarçou uma risadinha. — Mas vocês vão ter que se
acostumar a estar perto um do outro, já que você vai fazer o projeto da Noite
dos Veteranos, certo?
Certo.
Gemi internamente, me perguntando se eu cometi um erro terrível ao
concordar com este projeto.
— Eu conheço esse olhar. — Flick nos guiou de volta para o quintal
enorme.
— Que olhar? — cedi a ela.
— Você está se apaixonando por ele.
— Não seja ridícula. — Uma risada estrangulada escapou dos meus
lábios, mas eu não estava rindo por dentro. Porque ela não podia estar certa.
Eu não poderia estar me apaixonando por Cameron Chase.
Podia?
Vinte E Quatro
Cameron
— Você tem visita — Asher sussurrou enquanto corríamos para o campo.
Meus olhos seguiram seu dedo para encontrar Hailee sentada sozinha na
arquibancada.
— Ela deve estar iniciando o projeto de arte.
— Projeto de arte, sei — ele falou. — É assim que estamos chamando?
Porque se o projeto inclui ficar perto dela como vi vocês dois na sala de
troféus do treinador na sexta à noite, então pode me inscrever...
— Sério, você precisa parar de falar — grunhi, procurando por Jase no
campo. Asher percebeu e sufocou uma risada.
— Não se preocupe, ele está trabalhando com o treinador em algumas
jogadas novas.
Eu lhe dei um olhar duro, mas isso apenas alimentou sua curiosidade.
— Então, qual é o problema? Desde quando cuidar dela envolve ter seus
dedos enterrados profundamente em...
— Ash, eu juro por Deus, se você...
— Caramba. — Ele ergueu as mãos depressa. — Piada, estou brincando.
Mas estou começando a pensar que essa coisa com ela não é um jogo. Você
gosta dela.
— Eu não...
Ele me lançou um olhar penetrante.
— Ah, merda, você gosta, você gosta mesmo dela. O Jase vai...
— Nunca vai descobrir isso, está me ouvindo? Isso foi um erro.
— Sim, sim, como quiser, cara. — Asher me deu um tapinha nas costas.
— Seja cuidadoso. Essa garota é louca. E essa coisa com ela, Jase e Thatcher
só vai piorar antes de melhorar.
Exatamente com o que eu estava preocupado.
Todos nós esperávamos que Thatcher fizesse um movimento durante a
Rivals Week, mas não houve nada. Não significava que ele não iria contra-
atacar, apenas que ele estava ganhando tempo.
— Chase, Bennet, venham aqui. Temos exercícios para fazer — um dos
treinadores assistentes gritou. Com um último olhar para as arquibancadas e
Hailee, engoli todos os pensamentos que passavam pela minha cabeça e me
concentrei na tarefa em mãos. Derrubar algumas jogadas da defesa

***

Depois de um treino extenuante, fiquei para trás enquanto o resto dos rapazes
entravam no vestiário. O treinador estava ocupado conversando com Hailee.
Ela tinha um bloco de desenho nas mãos e um sorriso estampado no rosto
enquanto mostrava a ele o que estava fazendo.
— Chase, venha aqui, filho. — Sua voz se elevou através do campo, e eu
arranquei meu capacete e corri até eles. — E aí, treinador? — Olhei para o
rosto de Hailee enquanto passava a mão pelo meu cabelo úmido, mas ela
manteve o olhar firme no bloco em sua mão.
— Você pode mostrar o depósito a srta. Raine? Ela quer vasculhar alguns
dos álbuns de fotos antigos para... — Ele olhou para ela, que sorriu.
— Inspiração.
— Inspiração, certo. — O treinador apertou os lábios. — Posso confiar
em você para mostrar a ela?
— Claro, senhor.
— E se você precisar de mais alguma coisa, é só pedir. — Ele deu a ela
um aceno severo e nos deixou sozinhos.
— Ei. — Dei um sorriso a ela. — Como você está?
— Estou bem, obrigada. — Ela me olhou.
— Ouça, eu queria falar com você, depois da outra noi...
— Não vamos fazer isso — Hailee disse, segurando o bloco de desenho
contra o peito como um escudo. Como se ela precisasse de uma armadura
contra mim. O pensamento me deu um soco no peito. — Preciso me
concentrar neste projeto se quiser concluí-lo a tempo e não posso ter
nenhuma... distração.
— É isso que eu sou? — O canto da minha boca se inclinou. Ser uma
distração para ela parecia algo que eu poderia fazer.
— Cameron, estou falando sério. — Ela semicerrou os olhos, mas eu
tinha certeza de que vi um brilho neles.
— Sem distrações. — Levantei as mãos. — Eu prometo. Vamos lá, vou
mostrar onde fica o depósito, mas provavelmente devo avisá-la que lá tem
cheiro de chuteiras velhas. — Ela franziu o nariz e eu ri. — Achou que pintar
a equipe seria glamoroso?
— Não sei o que pensei. — Ela ainda estava segurando aquele escudo
dela. — Para ser honesta, estou me sentindo um pouco fora do meu ambiente
aqui.
— Deixe-me ver o que você fez.
— Humm, não sei. — Ela segurou o bloco com mais força. — É apenas
um esboço tosco no momento. Eu queria pegar vocês em ação. — Um rubor
sexy se espalhou por seu pescoço e bochechas e eu não perdi a maneira como
ela quase ofegou com a palavra “ação”. — Estou pensando em fazer uma
composição menos tradicional, algo que capture a essência do esporte e não
apenas o jogador.
— Parece... complicado. — Eu não tinha a mínima ideia sobre arte,
composições ou qualquer uma dessas coisas.
— Não é, não realmente. Mas preciso de matéria-prima suficiente para
trabalhar.
— Então, eu posso... — Estendi a mão, esperando que ela me permitisse.
Hailee olhou para mim com olhos cautelosos, batendo os dedos suavemente
no bloco de desenho. Um silêncio constrangedor se estendeu diante de nós.
— Tudo bem — comecei a falar depois do que pareceu uma eternidade
—, você não precisa... — Com um suspiro baixo, Hailee finalmente entregou
o bloco para mim e eu o abri.
— Puta merda, Hailee, isso é incrível. — Ela capturou Grady, um dos
outros jogadores veteranos, no meio do exercício, jogando seu corpo contra o
trenó de bloqueio. Era apenas rústico, mas as linhas e sombras capturaram o
impacto de uma maneira que eu nunca pensei ser possível. — Você é
realmente talentosa. — Comecei a virar para outra página, mas ela agarrou o
bloco.
— Certo, isso é o suficiente.
— Espere aí, quero ver mais. — Eu o arranquei dela, segurando-o fora do
seu alcance e virei outra página. Minha boca se abriu e o ar foi sugado de
meus pulmões.
— Como eu disse — sua voz era baixa, incerta —, é só um esboço tosco
no momento. Algo para trabalhar assim que eu estiver no estúdio.
Meus olhos beberam cada detalhe. A curva do meu braço enquanto me
preparava para lançar a bola, minha postura ampla e meu olhar semicerrado
enquanto procurava meu companheiro de equipe pelo campo. O sombreado
intrincado em torno do 14 na minha camisa, dando a ilusão do material se
movendo com o ar.
— Cameron? — A voz dela estava baixa, mas reverberou até a minha
alma.
— S-sim, desculpe. — Fechei o bloco de desenho e devolvi a ela.
— O resultado final será muito melhor. — Hailee colocou o cabelo atrás
da orelha.
Eu sabia que provavelmente deveria dizer algo, mas fiquei sem palavras.
— Vamos lá — consegui balbuciar e nós caminhamos o resto do caminho
em um silêncio pesado.
Não era que eu quisesse que ela pensasse que não gostei do desenho,
porque gostei. Gostei muito, mas fez algo em mim. Ela tinha feito algo em
mim.
E eu não sabia como desfazer, nem se eu quisesse.
— Bem, é isso — eu disse, empurrando a porta do depósito. Os olhos de
Hailee caíram sobre as caixas empoeiradas.
— Há um monte de coisas aqui.
— Sim. O treinador é meio acumulador. Boa sorte com isso. — Ofereci-
lhe um sorriso, mas ela não retribuiu.
Merda, eu estava sendo um idiota.
— Então, o baile é esta semana. — Tentei mudar de rumo. — Você tem
um acompanhante?
— Acompanhante? — As palavras ficaram presas em sua garganta.
— Sim, você sabe, um cara te convida para ir, você se veste bem, ele leva
flores e vocês posam para fotos estranhas. — Pare. De. Falar. idiota .
— Isso não é baile de formatura?
— Mesma coisa. — Dei de ombros de repente me sentindo uma completa
idiota. — E então? Você tem, quero dizer? — Por que eu estava questionando
isso? Eu não queria ouvir sobre Hailee e seu par.
— Na verdade, sim.
Ela tinha?
Puta merda.
— Flick.— Hailee franziu a testa, me olhando com uma expressão
estranha. — Eu vou com a Flick.
— Ah, certo. — O alívio me atingiu, diminuindo o aperto no meu peito.
— Isso é bom. — Bom?
— Você está bem? Está agindo um pouco estranho.
— Eu? Estou bem. — Dei de ombros, recuando, mas bati no canto de
uma pilha de caixas. — Merda. — Me movi depressa e consegui firmá-las.
Quando olhei de volta para Hailee, ela estava lutando contra um sorriso.
— Então, é melhor eu... ir. Devo ir. — O que havia de errado comigo?
Era a porcaria do esboço. Tinha poderes de vodu ou algo assim, porque
me senti todo desequilibrado.
— Tudo bem. — Ela me observou e sua expressão estava muito mais
divertida do que há cinco minutos.
— Até a próxima? — Minha voz se elevou no final, fazendo soar como
uma pergunta e eu não queria nada mais do que bater minha cabeça contra a
parede. Mas antes que Hailee concluísse que eu era totalmente idiota, fiz uma
pequena saudação e dei o fora dali.
Vinte E Cinco
Hailee
— Tem certeza disso? — Respirei fundo, passando as mãos pelo vestido
prata claro que Flick tinha insistido que eu usasse. Foi o primeiro que
experimentei, e ela saltou da cama, gritando de alegria e declarando que era
perfeito. Mas mesmo agora, com saltos altos e maquiagem sutil, eu não tinha
certeza.
— Acho que vou vomitar — falei, segurando meu estômago enquanto
nos aproximávamos do ginásio.
— Hails. — Flick se virou e as camadas de seu vestido se espalharam
como uma cascata. — Você consegue. Não estamos no nono ano. Você não
vai entrar lá e ser motivo de chacota na escola. É o último ano. Somos
veteranas e merecemos isso. Tudo bem? — Ela me deu um sorriso caloroso.
— Tudo bem — respondi, apesar de minha cabeça gritar: não, não, não .
— Embora teria sido muito mais divertido se tivéssemos acompanhante
— ela acrescentou, e eu lhe dei uma cotovelada nas costelas.
— Eu sou sua acompanhante.
— Eu sei e honestamente, não gostaria que fosse de nenhum outro jeito,
maninha. — Ela sorriu para mim. — Agora, o que acha: vamos lá com nossas
cabeças erguidas e nos divertimos um pouco?
— Tem certeza de que não quer desistir e sair com Jude e Toby em vez
disso? — Eu sabia que ele estava mandando mensagens para ela. Toby tinha
me enviado algumas mensagens vez ou outra também, mas tive a impressão
de que ele estava um pouco desconfiado agora que sabia quem era meu meio-
irmão. Mas provavelmente era melhor. Toby era legal e nos demos bem, mas
ele não desencadeou um frio no meu estômago. Ele não era o cara que
consumia todos os meus pensamentos.
Meu corpo vibrou com nervosismo com a ideia de ver Cameron. Durante
toda a semana, ficamos nos rodeando, observando um ao outro no refeitório,
sentados perto, mas sem se tocar na história, e houve outro momento, quarta-
feira após o treino quando eu o peguei olhando para minha boca. O que quer
que fosse essa coisa entre nós, estava crescendo. Se tornando algo maior a
cada dia que passava. Eu sabia que era perigoso me enredar com ele – era o
melhor amigo de Jason. E eu não era ingênua o suficiente para pensar que ele
ficaria bem comigo e com Cameron. Mas eu também não conseguia me
conter. Ansiava por ele. Ansiava pela maneira como ele me fazia sentir. A
emoção de ser pega.
Era oficial, eu estava completamente louca de desejo por Cameron Chase.
E ele estava lá, sem dúvida parecendo mais digno de babar do que nunca. Ele
brincou mais de uma vez sobre eu guardar uma dança para ele. Tudo bem,
provavelmente não poderíamos dançar juntos, por causa do meu irmão idiota,
mas só de saber que ele queria dançar comigo era o suficiente.
Não era?
Flick segurou minha mão e começou a me puxar em direção à porta. A
cada passo, a batida da música lá dentro espelhava meu próprio batimento
cardíaco. Bum. Bum. Ba-bum.
— Você está nervosa. — Ela observou.
— Não, não estou. Só estou chateada por você ter me feito usar este
vestido.
— O vestido está lindo, assim como seu cabelo e maquiagem. Agora pare
de se preocupar. É um baile. É para ser divertido.
Divertido, certo.
Eu poderia me divertir.
Mas quando entramos, me senti com quatorze anos novamente, vendo
meu par beijar outra garota. Só que Cameron não estava beijando a garota
com quem ele estava conversando. Mas pareciam muito próximos. A mão
dela estava em seu braço enquanto ela sorria para o que quer que ele estivesse
dizendo. Flick percebeu e me puxou em outra direção, com um sorriso
divertido brincando em seus lábios.
Encontramos o bar – na verdade, era apenas uma mesa comprida – e o sr.
Henderson vestido com um smoking fazia alguns drinques de aparência
descolada – pedimos dois mocktails e depois fomos nos sentar em uma mesa
vazia na beira da pista de dança. Khloe Stemson e o resto do esquadrão de
vadias estavam agarradas a seus, mas não havia um jogador de futebol à vista
entre eles.
— Acho que elas ainda estão afastadas do Jason e do time — Flick
comentou, bebendo seu mojito sem licor.
— E a equipe de ginástica ainda está por perto.
Virei a cabeça para onde Jason estava com Jenna Jarvis contra a parede,
atacando seu pescoço com a boca.
— Ela é uma vadia —Flick falou em tom frio.
— Agora, quem parece estar com ciúmes?
— Quero dizer, olhe para ela. Ela sabe que ele não vai se comprometer e,
ainda assim, ela se joga nele em todas as oportunidades.
— Talvez seja só sexo.
— Ah, certo. Garotas não fazem só sexo . Elas dizem isso a si mesmas
para se sentirem melhor. Mas sexo para garotas vem com sentimentos. É
biologia simples.
— Humm. — Levantei um dedo. — Transei sem sentimentos.
— Isso é diferente. — Ela franziu o cenho. — Você funciona de forma
diferente.
— Ei. — Golpeei seu braço. — Eu poderia facilmente ter desenvolvido
sentimentos pelo Austin, mas depois do sexo, percebi que não era algo que eu
estava com pressa de fazer novamente. — Dei a ela um sorriso brincalhão e
sua expressão taciturna se desfez.
— Foi tão ruim assim?
— Não foi bom, com certeza.
— Então, por que você fez?
— Não sei. — Dei de ombros. — Acho que eu só queria acabar com isso.
E o Austin parecia ser legal na época. Foi há muito tempo, provavelmente
estou revirginizada.
Flick riu disso.
— Somos um desastre. Você está fuzilando Cameron com os olhos
porque ele está falando com uma garota, e eu estou sentada aqui falando
sobre sexo quando mal cheguei à terceira base com um cara — ela gemeu,
deixando cair a cabeça na mesa.
— Vamos lá, nem tudo é ruim. Talvez você e o Jude vão...
— Garotas, vocês vieram. — Asher Bennet pairou sobre mim, com um
brilho malicioso em seus olhos. — E vocês duas estão gostosas.
— Gostosas, sério? — Franzi o nariz. Era um milagre que alguém se
apaixonasse por seu charme, ou pela falta dele. Embora nem mesmo eu
pudesse negar que ele parecia bem de calça cinza e camisa branca com as
mangas arregaçadas e o cabelo loiro escuro despenteado em seu típico jeito
descontraído de Asher Bennet. — Isso é o melhor que você pode fazer?
— Tão espinhosa como sempre, Raine.
Flick olhou para ele, boquiaberta. Um sorriso lento se espalhou pelo rosto
de Asher.
— Eu e você, Giles, vamos.
— Vamos? Vamos aonde?
— Transar no meu Jeep, onde você acha?
— Ah, meu Deus — ela suspirou, e eu pensei por um segundo que ela
fosse desmaiar.
— Pista de dança, Felicity. — Asher balançou a cabeça para a multidão
de jovens dançando. — Vamos dançar.
— D-dançar? — ela murmurou para mim e eu a olhei com os olhos
arregalados.
— Vá, é o que você queria, certo? Dançar e se divertir. — E eu não tinha
planos imediatos de fazer papel de boba na frente de toda a nossa classe.
Com as bochechas em um tom profundo de vermelho, Flick deixou Asher
puxá-la para cima e eles caminharam de mãos dadas para a pista de dança.
No ano passado, ela não teria olhado duas vezes para ele, Cameron ou meu
meio-irmão. Mas este ano, ela estava diferente.
Talvez nós duas estivéssemos.
Vi enquanto Asher dançava em círculos – círculos literais – ao redor dela,
mas ela estava rindo, com os olhos brilhando de felicidade. Não demorou
muito para que ele tivesse toda a pista de dança comendo na palma da sua
mão, e bem no centro de sua atenção estava a minha melhor amiga, em seu
momento culminante.
Meu olhar vagou até onde eu tinha visto Cameron antes. Ele estava
sozinho agora, vendo Asher e Flick, uma expressão estranha em seu rosto.
Me sentindo corajosa, me levantei e fui até ele, mas quando quase o alcancei,
uma garota segurou-o e ele a abraçou de forma afetuosa, sorrindo para ela. O
mesmo sorriso que ele me deu mais de uma vez. Meu estômago afundou
enquanto me escondi nas sombras perto da parede, me pressionando até que a
escuridão me engoliu por completo. O que eu achava? Que eu viria aqui esta
noite e que Cameron realmente gostaria de dançar comigo? Passar um tempo
comigo? Garota estúpida, estúpida.
Engolindo meu orgulho, voltei para a mesa apenas para perceber que
Flick não estava mais dançando com Asher. Examinei a sala quando minha
bolsa vibrou.

Toby: E aí?
Eu: Estou no baile e está um saco.

Toby: Você deveria vir para a festa com a gente... não é uma coisa de
futebol, juro.

Outra festa com Toby? Eu realmente queria isso? Meus dedos pairaram sobre
o botão de resposta e então comecei a digitar.

Eu: Tá.

Apertei enviar antes que pudesse me acovardar. Eu realmente não queria ir,
mas a última coisa que eu queria fazer era ficar aqui e ver Cameron e alguma
garota dançarem e se beijarem.
Só então, tive um vislumbre de Flick. Corri até ela, semicerrando meu
olhar quando vi sua expressão sombria.
— O que aconteceu? — perguntei.
— N- Nada. — Ela limpou a maquiagem, borrando as manchas de rímel
em seu rosto.
— Flick, sei que você está chorando.
— Não aqui, tá? — ela pediu, olhando ao meu redor como se estivesse
procurando por algo. Ou alguém. — Podemos ir?
— O Toby me mandou uma mensagem, nos convidando para uma fest...
— Perfeito. — Ela segurou minha mão e começou a me puxar em direção
à porta.
— Que bom. — Eu ri. — Porque eu meio que já disse sim.
Recebi outra mensagem de Toby dizendo que ele estava em nossa
vizinhança e chegaria em mais ou menos dez minutos.
— Tem certeza de que você está bem? — perguntei a Flick novamente
enquanto ela passava os braços ao redor do corpo, se recusando a encontrar
meus olhos. — O Asher fez alguma coisa...
— Estou bem, Hails. Eu juro.
— Juro por Deus, se ele te magoar, vou matá-lo. — Seu interesse pelo
minha melhor amiga estava crescendo. O único problema era que eu não
conseguia descobrir se tudo era uma grande piada ou se ele realmente gostava
dela. De qualquer forma, Asher Bennet iria comê-la viva, algo que eu não
tinha intenção de deixar acontecer.
— Não é o Asher.
— Não?
— Não.
— Mas é um cara? — Porque meu instinto me dizia que era. Algo estava
acontecendo com a minha melhor amiga, eu simplesmente não sabia o quê.
Ela encontrou meus olhos e apertou os lábios, dando um pequeno aceno
de cabeça.
— Mas não quero falar sobre isso.
O fato de ela não sentir que poderia falar comigo doeu. Mas também não
fui exatamente sincera sobre Cameron. Então, ofereci a ela um sorriso
caloroso e disse:
— Tudo bem, mas quando você estiver pronta, estarei aqui.
— Obrigada. — Flick fungou. — Argh, o baile é um saco.
— Eu poderia ter te dito isso.
— Eu só pensei... — Um suspiro pesado escapou de seus lábios. — Não
sei, talvez essa lista toda seja estúpida.
Me aproximando dela, apertei sua mão.
— Não é estúpido. É corajoso. E estou orgulhosa de você, Felicity Giles.
— É mesmo? — Seus olhos brilharam.
— Sim. Você poderia ter ficado parada e me deixado atropelar seu último
ano e não o fez. — O brilho dos faróis nos cegou e eu levantei meu braço
para ver melhor o carro que se aproximava.
— É o Toby, vamos lá. — Flick segurou minha mão e me puxou em sua
direção.
— Muito ansiosa? — murmurei e ela me lançou um olhar mordaz por
cima do ombro.
— O baile pode ter sido uma droga, mas a noite ainda é uma criança, e
não pretendo desperdiçar este vestido.
— Você está bem gata — concordei.
— Estou mesmo. O Jude nem vai saber o que o atingiu. — A garota triste
que encontrei minutos antes se foi.
— Flick — eu disse. — Você não precisa...
— Não, não estou ouvindo. Eu preciso disso, Hails. — Eu não tinha
certeza a que ela estava se referindo, mas o brilho em seus olhos me disse
para não discutir.
Toby baixou o vidro e olhou para meu corpo. Seus olhos escureceram
com luxúria.
— Oi. — Ele me deu um sorriso preguiçoso.
— Oi.
— Oi, Toby. — Os olhos de Flick passaram por ele e focaram dentro do
carro.
— Você está bonita, Felicity. — A voz de Jude chegou até nós e um largo
sorriso se estendeu em seu rosto.
— Pronta para ir? — Toby perguntou e ela assentiu, ansiosa, entrando na
parte de trás. Hesitei, olhando para o ginásio.
— Hailee?
— Sim. Estou indo. — Entrei e afastei todos os pensamentos sobre o
baile e Cameron Chase da minha cabeça.
— Por que está tão taciturna? — Flick tomou um gole da sua bebida,
movendo o corpo na batida sensual. Estávamos malvestidas na última festa
que Toby nos trouxe, mas esta noite nos destacávamos por diferentes razões.
Tanto para escapar.
— Eu simplesmente não estou no clima — falei, examinando a sala. Os
jovens estavam amontoados em cada centímetro da casa. Não era nem de
perto tão grande quanto a casa de Lewis Thatcher, mas eu também não tinha
visto nenhum jogador de futebol da East, então tinha isso a seu favor.
— O Toby parece interessado. — Flick acenou para os caras enquanto
eles nos traziam outra rodada de bebidas.
— Acho que sim.
Minha melhor amiga semicerrou os olhos e ela segurou meu braço, me
puxando para si.
— Você está deprimida.
— Não estou. Eu só... — Não estou pensando em como Cameron parecia
bonito .
— Você deveria ter ido falar com ele. — Flick soltou um suspiro
exasperado, mas eu não respondi. — Bem. Seja uma desmancha-prazeres.
Mas, por favor, não estrague minha diversão. Eu preciso disso, Hails. Na
verdade — ela disse em tom conspiratório. — Estou pensando em fazer.
— Fazer? — Eu a encarei.
— Sexo, Hails. Talvez eu transe.
Ergui a mão depressa, tampando sua boca.
— Jesus, Flick, fale baixo.
— O quê? — Ela sorriu. — Não tem problema dizer as palavras.
— Você está bêbada? — Só tínhamos bebido duas taças.
— Não, não estou bêbada. Só estou abraçando a oportunidade. O Jude é
gostoso e está me enviando todos os sinais certos.
— Então isso não tem nada a ver com o que aconteceu antes? — Arqueei
a sobrancelha.
— Não foi nada.
Ah, com certeza tinha sido, ela só não queria admitir o que quer que
fosse.
Meus olhos encontraram Jude e Toby por cima do ombro. Eles estavam
voltando para nós.
— Só não tome decisões precipitadas. O Jude parece um cara legal, mas
sua primeira vez deve ser com alguém de quem você goste... realmente goste.
— Como você...
— Um desses é para mim? — perguntei, alertando Flick para o fato de
que os caras estavam de volta. Ela me lançou um sorriso agradecido, antes de
se virar para Jude e pegar sua nova bebida dele.
— Quer dançar? — ela perguntou.
Ele deu de ombros, mas Flick não se intimidou. Agarrando sua mão, ela
os levou para a próxima sala onde estava a dança.
— Eu gosto dela — Toby falou. — Ela tem uma personalidade...
verdadeira.
— Essa é sua maneira educada de dizer que ela é agressiva? — Eu ri e ele
sorriu.
— Ela vai atrás do que quer. Não há nada de errado com isso. — Ele
semicerrou os olhos para mim e eu afastei os meus, precisando quebrar a
conexão.
Toby era bom. Um cara legal. Estava constantemente verificando se eu
estava bem, pegando bebidas e me fazendo rir. E não parecia tão desanimado
que meu meio-irmão fosse Jason Ford como eu havia pensado. Mas, apesar
de tudo que ele tinha a seu favor, Toby não colocava meu mundo em chamas.
Ele não fazia meu coração bater descontroladamente no peito ou
despertava o desejo em meu ventre.
Ele era fofo. Gentil e atencioso. Era tudo que eu queria gostar.
Tudo que eu deveria gostar.
Só havia um pequeno problema.
Ele não era Cameron Chase.
Vinte E Seis
Cameron
— Vai usar essa coisa a noite toda? — perguntei a Jase, olhando com
diversão para a coroa de plástico barato em sua cabeça.
— Eu já tive três ofertas para chuparem meu pau, e Lisa Tenby me
deixou transar com ela no banheiro feminino, então sim, vou usar isso a noite
toda. O que está acontecendo com você?
— Nada. Estou bem. — Olhei ao redor, na esperança de ver Hailee. Mas
não a encontrei.
Eu não a via há horas, desde que a vi chegar junto com Flick.
Jase olhou para mim. Ele observou meu rosto enquanto tomava um gole
de sua bebida.
— Tem certeza de que está bem?
— Sim. — Assenti, olhando para a multidão novamente. Eu não gostava
de bailes da escola, nunca gostei, mas quando você era um Raider e jogava
para o treinador Hasson, não comparecer não era opção. Deveríamos
aparecer, sorrir e dar às pessoas o que elas queriam. A maioria dos caras
absorvia – era sua chance de serem reis esta noite. Mas eu, não.
— A Miley está gostosa — Jase comentou e meus olhos encontraram os
dele. — O que está acontecendo?
— É um lance casual. — Dei de ombros.
— Não me diga. Mas vamos lá, cara, você gosta dela? Eu vi o jeito como
ela te olha.
— Nós somos só amigos, Jase. — Nada mais. Nada menos. Mas ele não
parecia estar convencido.
— Sim, bem, mantenha assim. A última coisa que precisamos é de
distrações. E ela tem problema escrito nela. Vou ao banheiro. — Ele
atravessou o salão, separando o mar de pessoas como se fosse o filho
pródigo.
E talvez fosse.
Para uma cidade como Rixon, Jason estava a um passo de ter seu nome
estampado nos jornais nacionais. As pessoas mal podiam esperar pelo dia,
daqui a cinco anos, quando poderiam dizer que conheciam a nova estrela da
NFL.
Encontrei Asher perto das portas mexendo no telefone celular. Vi as
linhas de preocupação gravadas em seu rosto e me endireitei, sentindo a
minha espinha formigar. Mas antes que eu pudesse ir até lá e descobrir se ele
estava bem, seus olhos me encontraram do outro lado da sala e ele fez uma
careta.
Nos encontramos no meio do caminho quando ele estava encerrando a
ligação.
— Tudo bem? — perguntei enquanto ele olhava para o seu telefone
celular.
— Eu, humm, era a Fee.
— Fee? A Felicity?
— S-sim. — Ele engoliu em seco, passando a mão pelo cabelo. — Ela,
me pediu para fazer você ligar para ela imediatamente .
— Eu? Mas por que ela iria querer... Hailee. — O ar saiu dos meus
pulmões. — Você tem o número dela?
Claro que sim, eles tinham acabado de falar no celular. Mas tudo estava
um pouco nebuloso, e meu coração batia forte no peito.
— Coloquei meu número no celular dela no dia em que ela preparou o
café da manhã. É melhor você ligar, ela estava em pânico. Quando perguntei
o que havia de errado, ela disse que não tinha tempo para explicar... — ele
acrescentou e meus olhos se fixaram nos dele.
— Me mande o número dela e diga ao Jase que tive que ir embora.
— Merda — ele murmurou. — O que eu deveria...
— Diga a ele que é minha mãe ou algo assim. — Não importava. Eu só
precisava chegar a Hailee. Se Felicity ligou para o Asher...
— Cam? — A voz dele me tirou dos meus pensamentos.
— Sim?
— Perguntei se você certeza de que sabe o que está fazendo. Talvez não
seja uma boa ideia...
— Só me envie o número dela.
— Merda, tá. Tudo bem. — Ele começou a mexer no celular, e eu esperei
pela mensagem. Em seguida, dei o fora de lá.
Assim que saí do baile, peguei o celular e liguei para Felicity.
— Cameron? — ela perguntou. — É você?
— O que aconteceu?
— Eu... ela... merda, isso é ruim, Cameron. Eu não sei o que...
— Desacelere. Onde você está? — Eu estava chegando na caminhonete.
— Em uma festa, do outro lado do rio.
Puta merda.
— Tá. — Controlei a raiva. — Pode me enviar uma mensagem com o
endereço? Vou levar cerca de quinze minutos. — Se eu ultrapassar o limite
de velocidade.
— S-sim. E obrigada. Eu não sabia mais para quem ligar.
— Não me agradeça ainda — falei antes de desligar. Alcançando a
caminhonete, quase arranquei a porta.
Uma festa da East.
Elas deixaram o baile e foram para uma festa da East. Asher estava certo.
Eu não tinha ideia do que estava fazendo. Porque era o último lugar que eu
deveria ir. Especialmente sem apoio. Mas Hailee estava lá e, pelo desespero
na voz de Felicity, o que quer que tenha acontecido não era bom.
Droga.
Enquanto eu saía do estacionamento e pisava no acelerador, uma energia
inquieta passou por mim. Hailee precisava de mim. Certo, a realidade era que
Felicity precisava de mim, mas eu não ia perder a cabeça pelo fato de ela ter
me chamado para ajudar.
Eu não podia negar que uma pequena parte de mim estava chateada.
Passei a maior parte da noite procurando por Hailee, na esperança de ter outro
vislumbre dela, e o tempo todo ela esteve em uma festa da East com aquele
idiota do Toby, sem dúvida. Apertei o volante com força. Eu sempre soube
que Hailee era um problema. Mas se Jason descobrisse sobre isso, a confusão
seria enorme. Eu não poderia deixá-la lá, nem iria. Porque Hailee Raine
estava entranhada em mim.
E pior ainda, gostei de ela estar lá.

***

— O que foi que aconteceu? — Saí da caminhonete e cheguei até Felicity em


um segundo, puxando o corpo mole de Hailee dos braços de sua amiga para
os meus.
— Eu... ela... não sei. Deus. — Sua voz falhou. — Que confusão. —
Felicity chorou quando peguei Hailee no colo, embalando-a. Ela gemeu e
virou a cabeça para o lado.
— F-Flick? — ela soltou um murmúrio distorcido.
— Ssh, peguei você — eu disse com a voz rouca. Olhando para a casa,
era óbvio que a festa ainda estava acontecendo lá dentro.
— Cameron, precisamos ir. Ela precisa...
— Sim. — Olhei de volta para Felicity. — Certo.
Dando a volta para abrir a porta traseira da caminhonete, Felicity me
ajudou a colocar Hailee para dentro, e nós a deitamos nos assentos. Entrei,
segurando o volante enquanto a observava pelo espelho retrovisor. Ela
parecia uma boneca de pano, o cabelo solto em volta do rosto, a maquiagem
borrada ao redor dos olhos. E ela estava ofegante.
Felicity se sentou ao meu lado e soltou um suspiro profundo.
— Sinto muito — disse. — Eu não sabia para quem mais ligar.
— Me diga o que aconteceu. — Eu ainda não tinha girado a chave na
ignição, sentindo a energia inquieta correndo em minhas veias.
— Dirija e eu direi. — Felicity me observou com um olhar que me disse
que ela sabia exatamente o que eu estava pensando. — Cameron... — ela
acrescentou após um instante. — Precisamos ir antes que alguém te veja aqui.
— Tudo bem — grunhi. — Vamos.
Acionando o motor, manobrei na garagem e saí para a rua.
— Vamos, fale — pedi enquanto a casa encolhia no espelho retrovisor.
— O Toby mandou uma mensagem para ela quando estávamos no baile,
nos convidando para outra festa. Tive a impressão de que a Hailee estava
chateada com você, então saímos.
Chateada... comigo?
Não era a primeira vez, mas eu nem tinha falado com ela no baile.
— Ele...? — As palavras se alojaram na minha garganta e a raiva cresceu
em meu peito.
— O quê? Deus, não. O Toby é um cara legal, Cameron. Eu juro. Mas
algo aconteceu . Estávamos bebendo a mesma coisa e eu estava bem, mas
Hailee começou a agir de um jeito estranho. Eu queria voltar para casa, mas
ela disse que queria ficar e se divertir. De repente, ela desapareceu. Nós a
procuramos em todos os lugares.
— Nós ?
— Sim, eu, Jude e Toby.
Toby.
Eu já estava cansado de ouvir o nome desse filho da puta.
— O que aconteceu?
— Não conseguimos encontrá-la em lugar nenhum, mas então alguém
disse que a viu entrar na casa da piscina... um lugar que todos diziam estar
fora dos limites... — sua voz sumiu.
— E...
— E nós a encontramos assim, quase desmaiada no sofá. Ela estava
completamente fora de si. Toby e Jude foram buscar um pouco de água e
descobrir o que houve, então eu liguei para você e consegui arrastá-la para
fora de lá.
— Por que você não esperou que eles voltassem?
— Acho que entrei em pânico. Quero dizer, olhe para ela. A Hails não é
assim, ela não perde o controle dessa forma. E se alguém...
Olhei para Felicity, que desviou o olhar.
— E se alguém o que, Felicity? — Minha pergunta soou dura.
Ela respirou fundo.
— E se alguém deu algo a ela?
Olhei de volta pelo espelho retrovisor. Ela estava certa, Hailee não estava
bêbada, ela estava completamente apagada.
— Você acha que ela estava dopada?
— Ou algo assim.
— Merda. — Endireitei as costas, sentindo a raiva subir pela minha
espinha. Eu queria dar a volta com a caminhonete, voltar para a festa e
espancar alguém até descobrir o que aconteceu esta noite. Mas eu sabia que
isso não ajudaria na situação. E agora, não ajudaria Hailee.
— Devemos levá-la para o hospital?
— Acho que ela vai ficar bem — falei, verificando-a novamente. — Ela
só precisa dormir.
— Ela deveria ficar na minha casa, mas se a minha mãe e o meu pai a
virem assim, eles vão...
— Está tudo bem, ela pode ficar comigo. — As palavras saíram antes que
eu pudesse detê-las. Mantive os olhos na estrada, mas senti a amiga de Hailee
me observando.
— Você gosta dela.
Não sei por que, mas o fato de não ser uma pergunta me irritou.
— Eu não vou fazer isso — falei com frieza.
— Tudo bem. — Felicity reprimiu um sorriso. — Não vou dizer mais
nada.
— Que bom. — Foi só um grunhido, mas eu não queria falar sobre isso,
não aqui. Não com ela.
A travessia do rio foi rápida o suficiente e antes que eu percebesse, estava
estacionando em frente à casa de Felicity.
— Tem certeza de que vai cuidar dela? — ela perguntou baixinho. Bufei,
irritado, e ela engoliu em seco, acrescentando: — Ela é minha melhor amiga
e você nem sempre foi legal com ela. Tenho que perguntar.
— Vou me certificar de que ela esteja bem. — Se Deus quisesse, todo
mundo estaria dormindo para que eu pudesse evitar qualquer conversa
estranha esta noite.
— Ela age com ímpeto, mas tudo isso, seus joguinhos idiotas... ela não é
tão durona quanto você pensa, Cameron.
Não confiei em mim mesmo para responder, então dei a Felicity um
aceno de cabeça e esperei que ela saísse.
Dez minutos depois, parei na minha casa. Hailee ainda dormia
profundamente, murmurando baixinho de vez em quando. Saí da
caminhonete e dei a volta até a porta de trás. Seu corpo estava pesado, então a
peguei e entrei, levando-a direto para o meu quarto.
— F-Flick, o que aconteceu? — Ela começou a se mexer quando a deitei
na cama.
— Ssh. — Afastei os fios de cabelo de seu rosto. — Vou pegar um pouco
de água para você.
— C-Cameron? — Hailee abriu os olhos e me olhou. A confusão nublava
sua expressão. — O que é – ah, Deus. — Ela tapou a boca com a mão e
vomitou.
— Merda, tudo bem, venha cá. — Ajudando-a a sair da cama, eu meio
que a carreguei para o pequeno banheiro ao lado do meu quarto. Hailee
desabou no chão segurando a cesta de lixo, bem a tempo de seu conteúdo
estomacal reaparecer. Eu me agachei, afastando seu cabelo do rosto. Ela
parecia tão pequena e frágil assim... nada como a garota forte, teimosa e
imprudente que eu sabia que ela era.
Alguém tinha feito isso com ela.
O pensamento foi como um soco no estômago.
Se atrapalhando para puxar a descarga, Hailee finalmente conseguiu antes
de afundar de volta emmeu corpo com um gemido de dor.
— Se sente melhor? — Eu perguntei.
— Não sei o que estou sentindo agora. — Sua voz estava grogue e suas
palavras lentas.
— Vem, vamos te limpar. — Encontrei uma escova de dentes e uma
toalha sobressalentes para ela antes de ajudá-la a se levantar. — Vou te dar
alguns minutos. Posso te dar uma camiseta velha, quer? — O vestido dela
estava amassado e manchado, mas tudo que vi foi como ela ficou bonita no
baile.
— Eu, ah... sim, isso seria bom, obrigada. — Ela não me olhou e isso
doeu. Mais do que deveria.
Assentindo com um nó na minha garganta, eu a deixei sozinha e fui
encontrar uma antiga camisa de futebol que ela pudesse usar. Foi uma
decisão idiota, algo de que ela encheria o saco quando se sentisse melhor,
mas eu não podia negar que a ideia de vê-la com as cores do meu time era
muito tentador para não fazer isso.
Batendo na porta do banheiro, eu a entreabri e enfiei a mão lá dentro.
— Aqui está.
Hailee pegou a camiseta e fechou a porta na minha cara. Me sentei na
cadeira no canto do quarto, esfregando as têmporas. Não era assim que eu
imaginei que seria a noite. Pensei em ir ao baile, sair com os caras, ver Hailee
do outro lado do salão e me imaginar dançando com ela, reivindicando-a
como minha, bem ali na frente de toda a nossa classe. Mas Miley me
encurralou e a próxima coisa que eu vi foram os anúncios de Rei e Rainha do
baile.
Eu estava aliviado por Flick ter ligado para Asher. Se ela não tivesse feito
isso, poderia ter sido Toby cuidando de Hailee agora, e não eu. A ideia fez
meu peito apertar. Especialmente quando eu não tinha certeza de que não era
ele quem havia dado algo para ela na festa.
Merda, ela não deveria estar lá, no território da East. Thatcher deixou
claro que ia atrás dela. Estava na cara que foi ele quem fez isso. Fiquei
aliviado por Flick tê-la encontrando antes que... puta merda. Eu nem podia
pensar nisso. A ideia de alguém tocar Hailee, machucando-a, era quase
demais para suportar. Respirando fundo, inclinei a cabeça para trás e fechei
os olhos. Demorou uma eternidade até que o som da porta do banheiro
rangendo me fez abri-los. Ela estava lá, usando só a minha velha camiseta de
futebol e calcinha... e eu percebi que meu plano saiu pela culatra. Porque ela
estava completamente à vontade com a minha camisa, sem mencionar que era
sexy pra caramba.
— Eu, ah... — Suas bochechas coraram em um rosa profundo quando ela
puxou a bainha. — Vomitei um pouco no vestido e tentei lavá-lo, agora está
todo molhado, e eu não podia...
— Tudo bem. — Me levantei, cruzando a distância entre nós, dizendo a
mim mesmo para olhar para qualquer lugar, menos para suas pernas longas e
macias. — Como você está se sentindo?
— Como se eu tivesse sido atropelada por um caminhão. Mas vou
sobreviver. — Ela olhou para o chão enquanto colocava o cabelo atrás da
orelha. — Eu gostaria de saber o que aconteceu.
— Nós achamos que alguém pode ter batizado sua bebida.
— Nós? — Ela me olhou e senti meu peito apertar, provocando todos os
tipos de merdas estranhas.
— Sim, eu e a Felicity.
— Ela ligou para você, não é? — Um sorriso incerto apareceu em seus
lábios. — O que é muito estranho, porque eu não tinha ideia de que vocês
dois tinham trocado número de telefone. — Hailee soltou uma risada
estrangulada.
— Ela ligou para o Asher.
— Asher? A Flick tem o número do Asher ? Como eu não sabia disso? —
Ela franziu o cenho. — Então ela ligou para o Asher, e o que aconteceu
exatamente?
Foi a minha vez de olhar para o chão. Joguei futebol contra algumas das
maiores pontas defensivas do jogo. Ser derrubado no chão por caras com o
dobro do meu tamanho era normal. No entanto, Hailee, uma garota com
metade do meu tamanho, me desarmou completamente.
— Ela ligou para o Ash e pediu que eu ligasse para ela.
— Mas por que ela faria isso? E mais especificamente, por que você ligou
de volta?
Semicerrei os olhos ligeiramente.
— Hailee, vamos lá ...
— Por que, Cameron? — Seus olhos me mantiveram no lugar.
— Porque você não merece nada disso — admiti. — E eu estava
preocupado.
— Mas...
— Vamos — eu a cortei. — Está tarde, você provavelmente deveria
descansar um pouco. — Minha cabeça apontou para a cama e sua
sobrancelha se ergueu. Eu acrescentei: — Vou dormir no chão.
— Cameron. — Meu nome em seus lábios soou bem. Bem pra caramba.
— Não vou fazer você dormir no chão. — A cor subiu por seu pescoço e
pelas bochechas. Hailee passou por mim e subiu na cama, se acomodando
debaixo das cobertas. Parte de mim esperava que ela lutasse, que insistisse
que eu a leve para casa.
Mas ela não tinha feito isso.
E como o otário que eu era, queria acreditar que significava algo.
Tirei a camiseta e comecei a desabotoar a calça enquanto Hailee tentava
ao máximo não espiar. Mas senti seus olhos em mim mais de uma vez. Me
deitei na cama ao seu lado, com cuidado para não chegar muito perto.
Procurando o interruptor de luz, fiz o quarto cair na escuridão.
— Isso é bem esquisito — Hailee sussurrou. E embora estivesse escuro e
eu mal pudesse vê-la, eu estava ciente de tudo. O som suave de cada
respiração que ela dava, a corrente quente que fluía entre nós. A forma como
minha pele formigou e meu pulso disparou com sua proximidade, apesar do
fato de eu nem mesmo tê-la tocado.
Me virando de lado, tracei o perfil de seu rosto.
— Durma um pouco — murmurei as palavras para me impedir de fazer
algo estúpido. Como dizer a ela que não era nada estranho para mim.
Que era quase perfeito.
— Boa noite, Cameron.
— Boa noite, Raio de Sol.
Um instante de silêncio passou e então sua voz sonolenta o cortou.
— Cameron?
— Sim?
— Obrigada.
Enquanto eu sentia a atração do sono, minha mente era uma confusão de
pensamentos. De mim e de Hailee. De todas as razões pelas quais essa era
uma ideia realmente ruim. Mas um pensamento se destacou acima de todos
os outros. Foi a primeira vez que adormeci com uma garota na minha cama.
E eu gostei.
Gostei muito disso.
Vinte E Sete
Hailee
— Ameron , a casa de Ameron . — A voz me assustou, e eu abri um olho para
espiar, tentando me orientar. Onde estou? Forcei meu cérebro em busca de
uma explicação quando um garoto de cabelos escuros e rosto rechonchudo
encheu minha visão.
— Você não é o Ameron — ele disse e uma carranca fofa enrugou seu
rosto.
Ameron?
Gemi, afastando o cabelo do meu rosto. O que foi que...
Tudo me atingiu de uma vez. Baile. A festa com Toby. Cameron
segurando meu cabelo enquanto eu vomitava tudo, menos minha alma, no
banheiro. O banheiro ao lado do quarto.
Quarto dele.
Ah, Deus, eu estava no quarto de Cameron.
Deitada.
Na.
Sua.
Cama.
Olhei para o lado e lá estava Cameron, de frente, com o braço apoiado
debaixo da cabeça, roncando baixinho.
— Quem você? — o menino perguntou enquanto subia na cama, se
acomodando entre Cameron e eu.
— Eu sou a Hailee.
— Ailee ? Eu sou o Ander .
— Prazer em conhecê-lo. — Dei a ele meu melhor sorriso, apesar do
pânico crescendo em meu peito. — Humm, Cameron? — murmurei. —
Cameron, acorde. Temos companhia.
— Xan? — Cameron disse com a voz cheia de sono. — Merda, Xander?
— Ele se endireitou, esfregando os olhos. Eles encontraram os meus,
alarmados, e eu ri, abaixando a cabeça.
— Você aumjou uma amorada , Ameron?
— O que, eu... ah, não, carinha. Esta é a minha amiga...
— Ailee . — Ele assentiu. — Ela é munita .
— Certo, carinha, está na hora de você ir. — Cameron pegou o garoto e
saiu da cama sem se preocupar em colocar uma roupa. — Eu já volto — ele
murmurou por cima do ombro, e eu assenti, sentindo as bochechas corarem.
Quando eles saíram do quarto, afundei nos travesseiros, gemendo de
mortificação. Eu estava na cama de Cameron.
Na cama de Cameron.
E nós acabamos de ser pegos pela criança mais fofa que eu já vi.
Bem quando pensei que minha vida não poderia ficar mais louca.
Dois minutos depois, Cameron voltou para o quarto.
— Me desculpe por isso.— Ele passou a mão pela cabeça, seus olhos
correndo em volta de mim.
— Seu irmão é muito fofo — eu disse, puxando os lençóis ao redor do
corpo, ciente de que estava vestindo só a camisa de futebol e calcinha, e ele
só usava a cueca boxer preta justa. Mantenha os olhos no rosto dele, Hailee.
No. Rosto. Dele.
— Sim, embora ele seja como um redemoinho.
— Ele é um garoto adorável.
— Não se deixe enganar. — Ele riu e nós compartilhamos um sorriso
raro. — Como você está se sentindo? — Cameron se sentou na ponta da
cama, me encarando.
— Achou que vou ficar bem. Ainda não consigo acreditar que alguém fez
isso comigo. — Minha cabeça doía e meus músculos pesavam como chumbo,
sem mencionar o fato de que parecia que algo tinha morrido em meu
estômago. Mas eu tinha coisas mais importantes com que me preocupar
agora, como o fato de que Cameron estava bem ali, e estava quase nu
enquanto os planos duros de seu corpo imploravam para serem tocado.
Deus, eu queria tocá-lo.
O que é que havia de errado comigo?
— Sim, bem, as pessoas fazem todo tipo de coisas malucas em nome do
futebol.
— Isso inclui você? — Arqueei a sobrancelha enquanto o olhava.
— Fiz algumas coisas das quais não me orgulho, sim. — Cameron
engoliu em seco como se as palavras fossem difíceis de dizer.
— Bem, você veio me ajudar ontem à noite, então, obrigada.
— Não foi nada.
Mas foi alguma coisa.
Os eventos da noite passada foram nebulosos. Mas me lembrei com
perfeita clareza que Cameron veio correndo após a ligação de Flick pedindo
socorro.
Ele chegou mais perto, angulando seu corpo para mim. Eu me senti um
pouco tonta de repente.
— O que você consegue se lembrar sobre a festa? — ele perguntou com
gentileza.
— Eu... — Um suspiro pesado escapou dos meus lábios. — Não muito,
para ser sincera. Saímos do baile e Toby veio nos buscar. Ele disse que não
era uma coisa de futebol, então eu pensei... — Minha voz falhou e eu baixei o
olhar.
— Por que você foi embora do baile?
Olhei para ele, mas não respondi. O que eu diria? Que fui embora porque
o vi com uma garota? Dando de ombros, segurei os lençóis.
— Eu só fui para manter a Flick feliz, e ela parecia chateada com alguma
coisa, então fomos embora.
— Engraçado. — Ele ergueu a sobrancelha ligeiramente. — Porque ela
me disse que você foi embora porque estava chateada comigo.
Minhas bochechas queimaram.
— Ela precisa aprender a manter a boca fechada. — Eu ia matá-la.
— Procurei por você, pensei em ganhar aquela dança. — Seu lábio se
curvou. — Mas você já tinha ido.
— Sim, bem, você parecia muito ocupado, então achei que não era grande
coisa. — Envolvendo os braços em minha cintura, abaixei meu olhar
novamente.
— Hailee. — sua voz acalmou algo dentro de mim. — O que é... a
Miley...— Ele soltou um suspiro exasperado. — Você me viu falando com a
Miley.
— Não vi você falando com ninguém, Cameron, pode parar. — Eu não
queria me sentir assim, nem pensar nele conversando com outra garota. Era
irracional. Ilógico. Completamente patético. Mas eu não podia negar que o
ciúme me atingiu quando ele disse o nome dela.
— A Miley é só uma amiga, você não precisa se preocupar com ela.
— Não importa. — Eu não conseguia encontrar seus olhos.
— Por que você está agindo assim? — ele perguntou.
Finalmente olhei para ele.
— Assim como?
— Como uma vaca.
— Que maneira de me lembrar que você não é o cara bom aqui. —
Empurrei a coberta e saí da cama. — Tenho que ir.
— Ei, vá devagar, Hailee. Nós temos que conversar.
— Não temos nada para conversar — falei mais alto enquanto entrava no
banheiro, esperando que meu vestido estivesse seco o suficiente para usá-lo,
caso contrário, seria estranho explicar para minha mãe e Kent porque eu
estava só de calcinha e uma das camisas de futebol de Cameron.
— Graças a Deus — murmurei quando o encontrei quase limpo e seco.
Coloquei-o sobre o toalheiro, joguei um pouco de água no rosto e tentei
domar meu cabelo passando os dedos por ele. Não estava perfeito, mas
serviria. Em seguida, roubei um pouco de pasta de dente para refrescar meu
hálito. Mas quando me olhei no espelho, dei de cara com olhos cinza
tempestuosos.
— Saia. — Bati em Cameron enquanto ele bloqueava a porta, olhando
para mim com uma expressão sombria.
— Me faça sair.
— Cameron, vamos. Você fez uma coisa decente noite passada, mas não
vamos transformá-la em algo que não é.
— E o que seria, Raio de Sol?
— Sabe qual é o seu problema? — Me virei e olhei para ele. Eu estava
cansada, com sede, não inteiramente certa de que tinha vomitado tudo e farta
dos jogos constantes.
Do vai e vem.
Da provocação.
Todos esses sentimentos indesejáveis ​que eu sentia cada vez que ele
olhava para mim.
— Ah, eu adoraria ouvir tudo sobre o que você acha que há de errado
comigo. — Ele se encostou no batente da porta bloqueando minha saída. Não
que eu estivesse pronta para ir. Eu ainda precisava me vestir.
— Você se acha — eu disse. — Está acostumado com as pessoas
atendendo a todas as suas ordens. Se quiser matar uma aula, tudo bem porque
você é um Raider. Quer transar com as garotas e depois chutá-las para o
meio-fio e não ouvir nada por isso, legal, você é um Raider. Você passou
anos tornando minha vida um inferno e então, na única vez que faz algo de
bom, espera o quê? Que eu tire a calcinha e deixe você... — Engoli as
palavras enquanto a expressão de Cameron ficava faminta e seu lábio
curvado em um sorriso irritante.
— A ideia de eu transar com outras garotas te aborrece, Raio de Sol? —
Ele deu um passo à frente, me forçando a voltar para o banheiro.
— Cameron, vamos lá, isso é... — Mas ele continuou andando até minha
bunda bater no balcão de mármore. Minhas mãos voaram atrás de mim, me
firmando, e ele riu.
— Sabe o que eu acho? — ele disse. — Acho que você é uma vadia
crítica. Você não sabe nada sobre mim ou minha vida. Você só vê o jogo.
Você não consegue deixar de olhar para o próprio umbigo por tempo
suficiente para ver o que realmente está acontecendo aqui.
Entreabro os lábios em um suspiro.
— Eu não sou...
— Mas quer saber o que eu realmente acho? — Cameron abaixou a
cabeça, me apertando ainda mais contra a bancada até que a ponta áspera
roçou na minha pele. — Você não me odeia, você se odeia. Eu sou tudo que
você detesta, mas você me quer mesmo assim.
— Eu...
Sua boca pairou sobre meus lábios, tão perto que pude sentir seu hálito
quente. Meu corpo começou a tremer e meu estômago deu um nó tão forte
que me senti um pouco tonta.
— Por que você continua fazendo isso? — sussurrei, mal conseguindo
falar. Cameron era demais. Seu olhar inflexível, seu corpo colado ao meu.
Suas mãos... Meu Deus, suas mãos começaram a acariciar meus lados,
tornando difícil pensar direito, quanto mais respirar.
— Eu só quero que você admita. — Ele tocou meu nariz com o seu. —
Admita que me quer e então vou te deixar em paz.
— Vai? — Engoli em seco, me sentindo perdida em tudo que se referia a
Cameron Chase.
Ele assentiu de leve, com os olhos ainda fixos nos meus. Eu nunca tinha
notado antes, ou talvez eu apenas tivesse me recusado a ver, mas eram de um
tom escuro de azul com manchas cinza-prateadas riscadas neles. Me
lembravam de relâmpagos em um céu tempestuoso. Muito adequado,
considerando o quanto Cameron estava se tornando perigoso para a minha
vida cuidadosamente construída.
— Estou esperando, Raio de Sol — ele disse quando eu não respondi.
— Bem. Se isso significa que você vai me deixar em paz... eu quero você
— falei com o mínimo de emoção possível. — Não faz sentido, vai contra
tudo que defendo e, para ser honesta, me deixa muito desapontada comigo
mesma, mas é a verdade. Feliz agora?
— Raio de sol? — Um sorriso lento apareceu no canto de sua boca.
— S-sim?
— Cale a boca.
E depois ele me beijou. Cameron Chase me pegou como se eu não
pesasse nada, me apoiou na bancada e me beijou.
— Cameron, espere. — Segurei seus ombros, o afastando, enquanto eu
conseguia me desvencilhar. — O que estamos fazendo?
Ele deu um gemido gutural.
— Vamos chamar de resolver nossas diferenças. — Ele passou Uma de
suas mãos sobre meu quadril e por baixo da camisa, tirando um gemido baixo
dos meus lábios. — Não pense demais, Hailee.
Não pense demais.
Certo.
Eu poderia fazer isso.
Eu poderia...
Cameron se aproximou de novo, capturando minha boca. Ele enfiou a
mão no meu cabelo, me puxou para mais perto, e passou a língua pelos meus
lábios e em minha boca. E, caramba, fui de boa vontade. Passei tanto tempo
lutando, estando na defensiva. Não podia negar que, apenas pela primeira
vez, foi bom desistir. Abrir mão do ataque, para variar.
Para parar de pensar e apenas sentir.
Envolvi as pernas em seus quadris e Cameron puxou meu corpo até a
borda da bancada, se esfregando em mim. Ele ainda estava seminu e não
pude resistir a alcançar seu peito, traçando seu abdômen com meus dedos.
Seu corpo era perfeito e as horas de treinamento físico e condicionamento
ficavam evidentes nos planos rígidos de seu peito, nos músculos tensos de
seu pescoço e ombros e bíceps grossos.
— Puta merda, isso é bom — ele murmurou contra minha boca enquanto
eu continuava pintando padrões em sua pele. O conhecimento de que eu o
afetava da maneira como ele me afetava era poderoso. Inebriante.
E eu queria mais.
Envolvi meu outro braço em seu pescoço, me aproximando ainda mais,
beijando-o mais profundamente. Beijei outros caras antes. Caras do The
Alley e da estranha festa que havíamos invadido. Mas nunca beijei ninguém
assim. Era fogo e gelo. Dois opostos se juntando com consequências
perigosas.
Cameron se encaixou em mim novamente e seu comprimento duro
acertou o lugar certo.
— Ah, caramba — gemi, sentindo uma onda de necessidade cair sobre
mim. Ele estava certo. Eu o queria.
Eu desejava Cameron Chase.
Havia algo muito errado comigo em querer a única coisa que odiava. Mas
talvez Flick estivesse certa. Talvez tudo estivesse levando a esse ponto.
— Caramba, não, Raio de Sol. — Ele mordiscou minha orelha. —
Catorze.
Segurando seu queixo, eu encarei os olhos tempestuosos de Cameron.
— Você não se referiu a si mesmo como o seu número do time, não é?
— Sou só um atleta presunçoso, se lembra? — Ele arqueou a
sobrancelha, me desafiando a discutir. Mas eu não estava procurando outra
rodada de xadrez verbal, então colei meus lábios nos seus, exigindo mais.
Precisando de mais.
Os dedos de Cameron deslizaram pelas minhas coxas até a borda da
minha calcinha e eu congelei. Beijar era uma coisa, mas deixá-lo me tocar...
isso era algo totalmente diferente.
— Preciso sentir você — ele disse com a voz rouca. — E sei que você
quer. Você está praticamente montando na minha perna.
Inclinei a cabeça para trás contra o espelho enquanto eu o encarava com
um olhar duro. Ele riu de novo, empurrando suavemente minha calcinha até
que fosse uma poça no chão. O mármore parecia frio contra minhas coxas,
mas quando Cameron se colocou entre minhas pernas novamente, com a
cueca boxer estendida, esqueci completamente da cautela.
— Você está molhada para mim, Hailee?
— Por que você não descobre? — respondi, surpreendendo a nós dois.
Cameron arqueou a sobrancelha quando se inclinou para capturar meus lábios
novamente, empurrando sua língua contra a minha com um rosnado faminto.
Seus dedos deslizaram pela minha umidade, me provocando.
Cameron interrompeu o beijo, encostando sua cabeça na minha e seus
olhos fervendo de calor enquanto ele me acariciava com um dedo dentro de
mim. Eu queria me mover, escapar de seu olhar intenso. Mas ele me prendeu.
Me enlaçou. E quando ele curvou o dedo para cima e o moveu, me perdi.
Cameron Chase era meu dono agora, e eu me entreguei voluntariamente.
— Puta merda, você é tão apertada — ele ofegou, adicionando um
segundo dedo, me esticando.
Fechei os olhos quando ele começou a mover os dedos em mim, com
estocadas longas e lentas, passando a ponta do polegar sobre o meu clitóris.
— Olhos abertos — ele exigiu. — Quero ver você quando eu te fizer
gozar.
Engoli a resposta sarcástica na ponta da minha língua, gemendo em vez
disso, quando meu corpo começou a tremer.
— Eu... — Minha voz se perdeu quando ondas intensas de prazer
começaram a tomar conta de mim. — Mais — murmurei.
A outra mão de Cameron deslizou pela minha barriga, roçando a lateral
do meu seio. Arqueei para ele, empurrando meu peito para fora, precisando
de mais.
Precisando de tudo.
— Tão ansiosa — ele sussurrou contra meus lábios.
— Eu vou... ah, caramba. — Seu dedo alcançou meu mamilo, enviando
uma onda de calor através de mim. Eu mal conseguia respirar, mas não
importava. Cameron me pegou em sua tempestade de fogo e eu não me
importava em me queimar.
Na verdade, eu queria incendiar.
Queria me jogar direto nas chamas.
— Posso te sentir, Raio de Sol. — Sua voz ficou no limite do meu delírio
induzido pelo desejo. — Você está perto.
Assenti, enquanto gemidos baixos deixavam meus lábios. Cameron fez
algo com os dedos, algo mais profundo, mais intenso, e meu mundo explodiu
em pequenas estrelas brancas. E lá, na bancada de Cameron, me afogando de
prazer, tentando recuperar o fôlego, percebi que ele não era perigoso apenas
em campo.
Cameron Chase era perigoso para o meu coração.
Vinte E Oito
Cameron
O corpo de Hailee se derreteu contra o meu. Sua respiração estava acelerada e
sua pele, corada. Puta merda, ela ficava bem em cima da bancada, usando só
minha camisa. Nunca deixei uma garota usar meu número antes, mas tinha
um estranho desejo de garantir que ela nunca o tirasse. Merda, Chase,
controle-se.
— Eu... Cameron — ela sussurrou, lutando contra um sorriso. — Não
consigo sentir minhas pernas.
Soltando seu corpo, recuei, dando-lhe algum espaço. Ela estava em cima
de mim e eu só queria levar meus dedos aos lábios e chupá-los, mas Hailee
estava em pânico. Vi isso escrito em seu rosto.
— Você está bem? — perguntei, não me importando que eu estivesse
com uma ereção violenta que era impossível de esconder na boxer apertada.
— Eu... isso foi...
Me preparei para sua resposta espertinha, mas em vez disso, ela me pegou
completamente desprevenido.
— Incrível — ela suspirou, sonhadora.
— É? — Parecendo muito satisfeito comigo mesmo, eu me encolhi.
Mas foi ela.
Hailee fez algumas das outras merdas desaparecerem. A pressão
constante. A preocupação com a minha mãe. Em escolher uma faculdade. E
embora eu gostasse da implicância entre nós, eu também gostava dela.
Dos momentos tranquilos.
Estar perto de Hailee era como uma lufada de ar fresco, e eu já ansiava
por outra dose.
— Vou deixar você se limpar. — Curvei o lábio em um sorriso. Eu não
pude evitar. Saber que eu a fiz desmoronar provocou coisas em mim. Coisas
sérias.
Coisas que eu não tinha previsto.
— Tudo bem. — Ela me deu um sorrisinho, e eu saí do banheiro.
Se não nos aparecêssemos logo, Xander viria nos procurar. Ele tinha
perguntas sobre minha amiga . Muitas perguntas, e eu sabia que não podia
confiar nele para ficar quieto na frente dos nossos pais, então quando eu o
levei para a cozinha, dei a eles uma breve explicação de por que a meia-irmã
de Jason estava no meu quarto em uma manhã de sábado.
Claro, eles provavelmente não esperavam que eu tivesse meus dedos
enfiados profundamente dentro dela e minha língua em seu pescoço.
Quando Hailee reapareceu. Ela estava usando a minha camisa por cima
do vestido.
— Eu, humm, tudo bem ficar com ela? — Ela baixou o olhar. — Não
queria sair daqui só com o meu vestido.
— Claro, pode levar. Tenho muito mais dessas. — Hailee respirou fundo
e eu voltei atrás. — Eu não quis dizer isso... saiu errado.
— Está bem. — Ela se moveu para se sentar na cama. — Então...
— Ouça Hailee, eu...
Os gritos de Xander soaram e meu corpo ficou tenso.
— Merda. — Meu coração disparou em minha garganta. — Preciso ir.
Fique aqui. Volto já.
— T-tá.
Saí do quarto e desci correndo, pulando dois degraus de cada vez.
— Mamãe, mamãe. — Xander gritou e enquanto eu contornava a cozinha
meu mundo implodiu. Minha mãe estava no chão, com massa de panqueca
respingada nos armários, nos ladrilhos e em sua blusa.
— Pai — gritei, correndo para o lado dela. — Mãe, mãe, você pode me
ouvir? — Balancei suavemente seus ombros. Ela estava desmaiada, mas vi o
leve subir e descer de seu peito. Ela estava respirando.
Graças a Deus, ela estava respirando.
Rolando-a para o lado, olhei de volta para Xander.
— Ei, carinha, onde o papai foi?
— Na loja omprar arope .
— Ele saiu para comprar xarope?
Xander assentiu com os olhos arregalados e cheios de lágrimas.
— Mama bem?
— A mamãe vai ficar bem, carinha. — Mas quando disse essas palavras,
meu estômago despencou. Ela não estava bem.
Nem um pouco.
— Ah, Deus. — Ao som da voz de Hailee, respirei bruscamente. — Ela
está bem?
— Ailee — Xander gritou.
— Oi, amiguinho. — Ela foi até ele e acariciou seus cabelos.
— Sei que isso é pedir muito. — Encontrei seu olhar preocupado. — Mas
você pode tirá-lo da cadeira e levá-lo para a outra sala?
— Claro. Devemos ligar para a emergência? — Ela olhou para o corpo
inerte da minha mãe.
— Eu não...
— Cameron? — Meu pai entrou pela porta dos fundos. — O que
aconteceu?— Ele largou a sacola de mantimentos no balcão, espalhando as
coisas por toda parte e correu em nossa direção.
— Não sei, ouvi o Xander gritando e a encontrei assim.
Papai me conduziu para fora do caminho e foi até minha mãe.
— Karen, querida, você pode me ouvir? — Seus dedos traçaram
suavemente o rosto dela, que começou a se mexer, e um alívio como eu
nunca tinha conhecido antes me atingiu.
— C-Clarke? O que aconteceu? — Minha mãe tentou se sentar, mas
desabou no chão. Meu pai passou o braço sob o seu pescoço, embalando sua
cabeça no colo dele. — Você desmaiou, querida.
— Eu-eu desmaiei? — As lágrimas se acumularam no canto dos olhos da
mamãe e eu estava vagamente ciente do olhar de Hailee em mim. — E o
Xander...
— O Xander está bem, mãe — eu a tranquilizei e olhei para Hailee, que
assentiu, com meu irmão agarrado a ela como um macaco.
— Por que você e a Hailee não o levam para a sala enquanto eu ligo para
o dr. Kravis?
— Tem certeza...
— Por favor, filho. — Meu pai olhou para minha mãe e eu percebi que
ele queria proteger a privacidade e dignidade dela.
— Claro, se precisar de mim, é só chamar. — Fui até Hailee e Xander. —
Vamos, vamos mostrar seus brinquedos para a Hailee.
No segundo em que entramos na sala, Xander se soltou dos braços de
Hailee e se sentou no chão. — Vamos, Ailee . Você gosta do Aze ?
— Aze ? — ela murmurou para mim.
— Blaze e as máquinas de monstros.
— Eu, ah, não conheço esse.
Sorri, observando enquanto Xander segurou a mão dela e a puxou para
dentro da sala. E me ocorreu que não era o único apaixonado por Hailee
Raine. Ela ouviu com paciência enquanto Xan a colocava a par de todas as
coisas sobre Blaze. Quando ele estava absorto no jogo, Hailee se afastou de
forma sorrateira, vindo até mim.
— Sua mãe vai ficar bem? — ela perguntou.
Me movendo para o sofá, esperei que ela se juntasse a mim.
— Honestamente — confessei —, não sei.
— O que há de errado com ela?
— Ela tem depressão e pós-parto e ansiedade.
Hailee franziu o cenho e eu soube o que ela estava pensando.
— Mas não tenho certeza se isso é tudo — admiti. — Meu pai disse que
ela está fazendo alguns exames.
— Que exames?
— Não tenho certeza. — Enterrei o rosto em minhas mãos, esfregando os
olhos com a palma, deixando escapar um suspiro trêmulo. Eu tinha visto
minha mãe perder o controle mais vezes do que eu poderia contar. Eu a vi em
lágrimas, soluçando sobre algo tão trivial quanto queimar o jantar. Observei-
a, incapaz de sair da cama por dias a fio, reclamando que estava exausta. Mas
nunca a vi sem reação assim.
— Ei. — Os dedos de Hailee roçaram meu braço, me persuadindo a
encontrar seu olhar. — Se precisar conversar, estou aqui.
Eu a encarei, sem palavras. Ela se ofereceu para me dar apoio,
simplesmente assim. Sem julgamento. Sem perguntas ou segundas intenções.
Era mais do que eu merecia e, ainda assim, queria aceitar. Queria abrir
meu coração para essa garota.
— Cameron? — Meu pai apareceu na porta. — Posso te pegar
emprestado por um segundo? — Seus olhos foram para a garota ao meu lado.
— Sinto muito, que rude da minha parte. Eu sou o pai do Cameron, Clarke.
Você é Hailee, irmã do Jason, certo?
— Sim, senhor, é um prazer conhecê-lo.
— Eu gostaria que fosse em melhores circunstâncias. Meu filho disse que
você teve um probleminha na noite passada e ele te ajudou?
— Sim. — Sua voz era baixa.
— Bem, estou feliz que você esteja bem. Cameron? — Seu olhar
encontrou o meu de novo e eu me levantei, seguindo-o para o corredor.
— Ela está bem?
— O dr. Kravis quer que a gente vá direto para o Rixon General. A Katie
está vindo para pegar o Xander...
— Pai, eu posso ficar...
— Você deve levar a Hailee para casa e depois ir para a casa dos Bennet,
tá? — Ele segurou meu ombro e o apertou de leve. — Te ligo assim que
soubermos de alguma coisa.
— Tudo bem. — Passei a mão pelo rosto. — Vou arrumar as coisa do
Xander.
Ele assentiu.
— Ela vai ficar bem, filho. — Meu pai deu um suspiro baixo e saiu pelo
corredor. Voltei para a sala para encontrar Hailee no chão brincando carros
de corrida com Xander. Eu os observei do batente da porta, sentindo um
aperto no peito. Ela estava sorrindo, deixando meu irmãozinho passar o carro
vermelho por cima de suas pernas.
Como se ela me sentisse olhando, me olhou e sorriu.
— Oi — ela murmurou.
— Ei. — Fui em direção a eles. — Adivinha só, carinha? A Katie está
vindo te buscar.
— Atie , eu a amo. — Ele bateu palmas e começou a guardar a pilha de
carros. Hailee ajudou e rapidamente não havia qualquer evidência da sua
brincadeira.
Peguei Xander e o joguei por cima do ombro. A risada de criança encheu
a sala e aliviou um pouco da dor que senti ao ver minha mãe assim.
— Você se importa em esperar que Katie venha buscá-lo e depois eu te
levo para casa?
— Tudo bem. — A expressão dela mudou, mas não tive tempo ou energia
para tentar decifrá-la.

***

O caminho para a casa de Hailee foi silencioso. Eu estava perdido em meus


pensamentos; preocupado com a minha mãe e me sentindo culpado por
Xander estar com Katie em vez de com sua família. Em vez de comigo. E
algo mudou com Hailee. Não foi bem pelo que ela disse, mas por tudo o que
ela não estava dizendo.
Caramba, a quem eu estava enganando? Ela provavelmente já tinha se
arrependido de me deixar beijá-la e tocá-la do jeito que eu fiz. Ela amoleceu
na minha casa. Abaixou a guarda. Mas agora, estávamos na minha
caminhonete, indo para a casa dela, e era como se ontem à noite, esta manhã,
tudo tivesse sido um sonho. Um lindo pesadelo onde você acorda e percebe
que as memórias incríveis não são memórias, mas uma realidade alternativa
que sua mente criou para provocá-lo.
Apertei o volante enquanto minhas emoções me atingiam como um
tsunami.
— Cameron? — A voz de Hailee chamou minha atenção e eu olhei para
ela.
— Sim?
O som do meu celular cortou a tensão e eu olhei para o console e vi o
nome de Jase piscando na tela.
— Merda — murmurei baixinho. Hailee deve ter notado o nome dele
também, porque ela inclinou seu corpo em direção à janela, observando
Rixon passar.
Tudo estava indo desabando e eu não conseguia encontrar uma maneira
de suavizar isso. Queria que conversássemos para descobrir o que esta manhã
significou para ela. Para nós. Mas não havia tempo agora.
A casa de Hailee apareceu e dei um suspiro de alívio quando percebi que
o carro de Jason não estava na garagem.
— Ele já deve estar no Asher — falei.
— Acho que sim.
Parei ao lado da caminhonete do sr. Ford e olhei para Hailee. Ela não
estava mais olhando pela janela, mas também não estava olhando para mim.
— Hailee...
— Cameron...
Nós dois rimos e seus olhos brilharam para mim.
— Diga você — ela falou.
Por onde eu começava? Havia tanta coisa que eu queria dizer. Mas não
conseguia organizar meus pensamentos confusos, então disse a primeira coisa
que me veio à mente.
— Você sabe que não podemos contar ao Jason sobre isso.
A dor brilhou em seus olhos.
— Certo, é claro. — Hailee segurou a maçaneta da porta e se virou para
sair.
— Espere, merda... isso saiu errado. Eu não quis dizer assim.
— Tudo bem. — Seus olhos não encontraram os meus. — Sei que não
significou nada. Só estávamos resolvendo nossas diferenças, certo? — Seu
olhar finalmente encontrou o meu. Ela estava chateada. E tinha todo o direito
de estar. Mas eu não conseguia pensar direito.
— Hailee, isso não é...
— Espero que sua mãe fique bem, de verdade. Tchau, Cameron — ela
disse antes de abrir a porta e escapar da caminhonete. A frustração cresceu
em meu peito. Ela estava fugindo. Ela podia fingir que a culpa era minha,
mas isso era só uma desculpa – a saída que ela estava procurando para fugir
de mim. De novo.
— Isso não acabou, Hailee — falei, travando os olhos nos seus enquanto
ela olhava para mim, desafiando-a a negar. Seus lábios se entreabriam como
se fosse dizer algo. Diga alguma coisa , implorei em silêncio.
Mas no último segundo, ela balançou um pouco a cabeça e se afastou de
mim.
Vinte E Nove
Hailee
Depois que Cameron me deu carona para casa, passei o dia enfurnada no meu
quarto, trabalhando no projeto de arte para a Noite dos Veteranos. Consegui
encontrar fotos suficientes dos jogadores mais antigos em ação no depósito
para usar. Eram nove no total. O que significava nove pinturas individuais. O
sr. Jalin estava certo: ia demandar muitas horas no estúdio, mas achei bom.
Depois desta manhã na casa de Cameron, eu precisava de uma distração.
Algo para ocupar minha cabeça para que eu não passasse cada minuto
repetindo a maneira como ele me beijou ou a forma como meu corpo ganhou
vida com seu toque. Minha pele começou a formigar e meu estômago se
apertou enquanto eu me deixei levar pelas lembranças. Frustrada comigo
mesma, afastei os pensamentos intrusivos e foquei na tarefa em mãos.
Desenhar sempre foi uma forma de relaxar, de me desligar da vida e me
perder em nada além do roçar de um pincel contra uma tela nova ou do
arranhar de um lápis bem apontado contra uma página do meu bloco de
desenho. Não conseguia me lembrar de uma época em que não gostasse de
desenhar. Quando criança, eu estava sempre rabiscando, pintando e fazendo
minha mãe esculpir formas em batatas para que eu pudesse fazer pinturas
malucas. Mas quando nos mudamos e fomos morar com Jason e seu pai, isso
se tornou muito mais para mim do que apenas um hobby. Foi uma forma de
me expressar, de resolver minhas frustrações.
E era meu.
Eu não precisava de um time atrás de mim ou de uma plateia gritando
meu nome. De certa forma, a arte estava o mais longe do esporte que se
poderia chegar, e a ironia não passou despercebida.
Mas não era só gostar, eu era boa nisso.
Enquanto olhava para o esboço de Cameron, não pude deixar de sorrir.
Capturei sua força e físico com perfeição. Sem perceber, meus dedos
começaram a percorrer seu rosto, coberto pelo capacete. Acordar em sua
cama esta manhã foi um choque, mas não foi tão estranho quanto eu
esperava.
Como deveria ser.
Na verdade, houve momentos em que não pareceu nada estranho.
— Hailee, pode vir aqui, por favor? — A voz da minha mãe interrompeu
meus pensamentos e deixei escapar um suspiro pesado.
— Estou ocupada — gritei, acrescentando mais sombras ao redor do
capacete de Cameron.
— É importante.
Cedendo, fechei o bloco de desenho e desci as escadas.
— Sim? — Me arrastei para a cozinha.
— Atitude, mocinha. — Minha mãe me deu um sorriso brincalhão.
— Me desculpe, eu estava trabalhando. — Puxei um banquinho e me
sentei. — O projeto artístico que o sr. Jalin e o treinador Hasson me pediram
para fazer.
— Ah, sim — Kent falou. — Como está indo?
— Bem, acho. Não é exatamente minha praia.
— É futebol, Hailee, não é obra do diabo.
— Kent — minha mãe falou em voz baixa.
Ele sacudiu seu jornal, me oferecendo um sorriso de desculpas.
— Você queria alguma coisa? — Tentei mudar de assunto, não querendo
entrar nos motivos pelos quais detestava futebol.
— Eu e o Kent estávamos conversando e como você foi ao jogo conosco
e ao jantar do treinador Hasson depois — ela pegou um envelope branco da
mesa — o Kent mexeu uns pauzinhos e... bem, feliz aniversário adiantado,
baby.
Peguei o envelope dela e senti a excitação dar um nó em meu estômago
enquanto eu o rasgava e puxava o conteúdo.
— Você me deu as entradas — eu gritei.
— Presente nosso.
— Obrigada. — Sorri, pulando do banquinho, e abracei minha mãe. —
Muito obrigada
— De nada. — Ela me abraçou, rindo baixinho. — Mas...
— Sem mas, mãe. — Me desvencilhando dela, fiz beicinho. — Tenho
dezoito anos.
— Você ainda terá dezessete por mais duas semanas e meia, Hailee. E
Nova York é uma viagem de três horas e meia que é... — Sua voz sumiu
quando ela olhou para Kent.
— O que a sua mãe está tentando dizer é que nos sentiríamos muito
melhor se você fosse até Nova York... hum... se o Jason fosse com você.
Meu estômago embrulhou.
— Não.
— Hailee, seja razoável — minha mãe me repreendeu. — Conseguimos
quatro ingressos para a exposição. Achamos que você poderia levar a Flick, e
o Jason poderia convidar o Asher ou o Cameron.
— Você acha mesmo que eles vão querer ir a uma exposição de arte
comigo no meu aniversário?
Este dia não poderia ficar pior. Primeiro, Cameron arruinou o que tinha
sido um dos melhores momentos da minha vida e agora minha mãe e meu
padrasto queriam que eu representasse a família feliz com Jason – justo no
meu aniversário de dezoito anos.
— Prefiro não ir — falei, cruzando os braços.
— Ir aonde? — Jason entrou na cozinha, e eu gemi para mim mesma.
— Conseguimos ingressos para uma exposição que a Hailee quer ver no
The Met Museum, em Nova York — minha mãe respondeu e ele ficou
surpreso.
— Você vai deixá-la ir para Nova York? Sozinha?
Me ericei, cerrando os dentes.
— Bem, não. A Felicity iria com ela e esperávamos... — Minha mãe
olhou para Kent de novo e ele finalmente largou o jornal. — Gostaríamos que
você e um dos rapazes as acompanhassem.
— Quando é?
Não sei quem ficou mais surpreso: eu, minha mãe ou Kent.
— O quê? — Jason acrescentou enquanto todos nós olhamos para ele. —
Não posso perder um jogo, mas se for uma semana livre, não tem problema.
— É dezenove de outubro — minha mãe falou.
— É uma semana livre.
— Isso resolve tudo então — ela disse. — Não é uma ótima notícia,
Hailee?
— Ótima — resmunguei, fuzilando Jason com os olhos. Ele semicerrou
os dele, mas não vi malicia.
O que estava acontecendo agora?
— Acho que o pai do Asher tem um lugar onde podemos ficar, vou
perguntar a ele.
— Você quer ficar lá? — perguntei. Isso estava ficando cada vez melhor.
— Bem, sim, a menos que você estivesse planejando dormir no carro?
Kent se levantou da mesa, indo para o lado de Jason.
— É uma ótima ideia, filho. Tenho certeza de que nos sentiríamos melhor
sabendo que você estarão hospedados em algum lugar indicado pelo Neil. —
Seus olhos se voltaram para os da minha mãe e ela assentiu com um sorriso.
— Mas só por uma noite.
Uma noite em Nova York... com meu meio-irmão e seus amigos.
Me mate agora.
— E nada de festas — ela acrescentou, com uma expressão tensa. Jason
assentiu, concordando com seus termos, mas vi o brilho em seus olhos.
— Acho que deveríamos ir se quisermos pegar o happy hour no The
Royal — Kent disse, checando seu relógio.
— Vocês dois vão ficar bem? — Minha mãe olhou entre nós, em dúvida.
— Há dinheiro no balcão para que vocês possam pedir comida e deixei uns
salgadinhos também
— Pode deixar, Denise. — O lábio de Jason se contraiu quando ele
ganhou um olhar duro do pai. Ele conduziu minha mãe para fora da cozinha,
deixando nós dois sozinhos.
— Por quê? — Não perdi tempo em perguntar.
— Porque o quê? — Jason foi até a geladeira e pegou uma cerveja.
— Por que você concordou em ir para Nova York?
— Eu preciso de um motivo? — Ele abriu a garrafa, se recostou na
bancada e deu um longo gole.
— O Met é...
— Você acha que eu realmente pretendo ir a uma exposição de arte
idiota?
— Mas a minha mãe disse...
— Deixe a sua mãe e o meu pai pensarem o que for preciso para que
fiquem tranquilos. Podemos ir juntos e quando chegarmos lá, faremos nossas
próprias coisas.
Claro, esse era o seu plano.
Idiota.
— E eu que achei que você tinha um pingo de decência no corpo.
Ele deu um passo à frente e curvou o lábio em um sorriso arrogante.
— Só porque eu tive que tolerar você nessa merda com o Thatcher não
significa que somos amigos. Isso nunca vai acontecer, Hailee.
— Vá se foder, Jason — eu grunhi, sentindo minha mandíbula ficar tensa.
Seus olhos brilharam com algo, mas não fiquei por perto para descobrir o
que era, porque eu estava cheia dele.
Cheia de tudo isso.

***

Quando a manhã de domingo chegou, meu humor não estava muito melhor.
Graças à minha mãe e ao Kent, eu tinha ingressos para uma exposição que
queria muito ver. Mas agora eles vinham de mãos dadas com Jason. Deus, ele
parecia tão convencido na noite passada quando revelou seu grande plano.
Ele basicamente sequestrou meu aniversário para que ele e seus amigos
pudessem passar a noite em Nova York, porque, embora minha mãe tivesse
comprado quatro ingressos, eu não tinha ilusões de que seriamos cinco
fazendo a viagem.
Eu estava secando o cabelo quando uma notificação soou no meu celular.
Eu a ignorei, pois provavelmente era Flick. Mas quando soou de novo... e
mais uma vez, finalmente o peguei na mesa. Destravando a tela, fiz uma
careta quando vi a quantidade de mensagens de texto que recebi da minha
melhor amiga. Abrindo a mais recente, senti o sangue fugir do meu rosto.

Flick: Ligue para mim. Agora!

Meu estômago deu um nó, mas antes que eu pudesse responder, o nome de
Flick apareceu na tela e seu toque cortou o silêncio.
— Que merda é essa? — Murmurei enquanto apertava para atender.
— Hails? — ela estava um pouco sem fôlego.
— Sim?
— Estou aqui fora.
— Aqui fora? — Fui até a janela e seu Beetle amarelho estava parado na
calçada. — Por que você está do lado de fora da minha casa? — Minha voz
falhou enquanto meu subconsciente lentamente começou a acordar e sinos de
alarme soaram em meu subconsciente.
— Pegue suas coisas e venha. Ah — ela adicionou — e me prometa que
você não vai olhar o Snapchat .
— Eu não tenho Snapchat, você sabe disso.
— Que bom — ela respondeu, distraída enquanto eu calçava sapatilhas.
— Já desço. — Meu coração bateu com força no peito.
— Tudo bem. — Flick deu um suspiro de alívio. — E Hails?
— Sim.
— Eu te amo e sinto muito. Sinto muito mesmo. — A linha ficou muda e
eu encarei meu celular, com os dedos tremendo. Antes de saber o que estava
fazendo, abri a App Store e encontrei o ícone do Snapchat. Prometa que não
vai olhar , ela disse. Soltando um gemido de frustração, coloquei o celular no
bolso e peguei minha bolsa.
O que quer que fosse, não poderia ser pior do que a última brincadeira no
Photoshop de Thatcher.
Poderia?
Mas quando saí de casa e vi a expressão sombria de Flick, eu sabia que
estava errada.
Só não previ o quanto.
Trinta
Cameron
Xander rastejou sobre minhas pernas, passando seu pequeno carro para cima
e para baixo, fazendo todos os barulhos para acompanhá-lo.
— Espere aí, carinha — falei, sentindo meu bolso vibrar. Consegui pegar
o celular sem interromper a brincadeira.

Asher: Você precisa ver isso.

Era um link da web sem descrição. Cliquei para abrir e meu mundo caiu.
— Ameron ? — A voz do meu irmão me assustou.
— Humm, desculpe, carinha, eu preciso... — Engoli o nó enorme na
garganta e o tirei das minhas pernas para que eu pudesse ficar de pé. — Já
volto, tá?
— Tá, mao . — Ele aprendeu uma nova palavra graças a Asher, mas
como Xan não conseguia pronunciar certas coisas muito bem ainda, “mano”
se tornou “mao ”'.
Fui até o outro lado da sala e liguei para Asher.
— Que merda é essa? — sibilei o mais baixo que pude.
— Não tenho certeza. O Thatcher postou o link no story do Snapchat .
Parecia misterioso, então cliquei.
— É... ela . — Quase me engasguei com as palavras. — É a Hailee.
— Puta merda — Asher falou. — Quero dizer, sim, achei que fosse... mas
puta merda.
— O Jase já viu isso?
— Não sei, ele está vindo para cá.
— Segure-o aí. Estou falando sério, Ash, não o deixe sair.
— Vamos lá, cara, você sabe que ele vai perder a cabeça quando vir isso,
se é que ainda não viu.
Minhas notificações começaram a explodir, o bipe persistente
dificultando a concentração.
— Merda, está em toda parte — Asher soltou um longo suspiro. — Não
para de entrar notificação.
— Aqui também — falei baixinho, olhando para Xander, que ainda
estava brincando com seus brinquedos.
— Tenho que ir.
— O que você vai fazer?
— Não sei, mas a Hailee...
— Merda, ela vai pirar quando vir isso.
É exatamente por isso que eu precisava chegar até ela.
— Eu te ligo mais tarde. Apenas se certifique de que o Jase fique aí, tá?
— Sim, sim, entendi.
— Ei, carinha. — Fui até Xander e o peguei. — Vamos encontrar a
mamãe e o papai, certo? — Ela passou o dia no hospital ontem em
observação, mas deram alta a ela no final do dia, e esta manhã ela parecia
mais animada.
— Eu sou Aze , a Áquina Monstro. — Ele girou seu carro no ar enquanto
eu o carregava pelo corredor até a cozinha, onde nossos pais estavam
sentados na bancada, olhando alguns papéis.
— Tudo certo? — perguntei.
— Está tudo bem. — Minha mãe me deu um sorriso caloroso que não
atingiu seus olhos enquanto empurrava os papéis para meu pai e estendia os
braços para Xander.
— E como está meu homenzinho favorito?
— Mamá , eu sou Aze — ele gritou de alegria.
— Claro que você é, baby. — Ela bagunçou o cabelo dele, pressionando
o rosto mais perto.
— Preciso sair, vocês vão ficar bem...
— Está tudo bem, filho. — Meu pai juntou os papéis em uma pilha. —
Faça o que precisa. Vamos levar esse monstrinho para tomar sorvete e depois
ao parque, mas gostaríamos de nos sentar mais tarde para conversar com você
sobre algumas coisas, tá?
Meu estômago embrulhou.
— Que coisas? — Olhei entre eles, tentando ler nas entrelinhas. Mas
quando minha mãe baixou o olhar, se protegendo atrás do meu irmão, eu
soube. E o buraco no meu estômago se abriu. — Eu posso ficar — falei. —
Se for importante, eu posso...
— Vá — meu pai se levantou e veio até mim, apertando meu ombro. —
Isso pode esperar até mais tarde. Diga aos rapazes que mandei parabéns pela
vitória na sexta à noite.
— Eu, humm... sim, tudo bem. — Olhei para minha mãe e Xander mais
uma vez, e ela me deu um sorriso fraco. Algo estava errado, algo que eles
precisavam me contar. Eu me senti sem fôlego. Esperei semanas para saber e
no dia em que eles decidiram que eu estava pronto para saber a verdade, eu
precisava ir até Hailee.
Merda.
— Vai ficar tudo bem — meu pai acrescentou quando eu não me mexi.
— Tudo vai ficar bem, filho.
Mas não acreditei mais nele.

***

Quinze minutos depois, parei em frente à casa de Felicity e desliguei o motor.


Eu estava prestes a mandar uma mensagem para ela para descobrir onde
Hailee estava quando ela enviou uma. Pegando o celular, rapidamente enviei
uma mensagem para Asher avisando que eu estava com Hailee. Sua resposta
veio direto.

Ash: O Jase está aqui, mas está pronto para matar alguém. Posso precisar
de reforços.

Uma ideia maluca surgiu na minha cabeça, mas algo me disse que ela faria
isso. Felicity faria qualquer coisa por sua melhor amiga.

Eu: Vou mandar a Felicity ir aí.

Ash: Você ficou maluco? Ele não a suporta!

Eu: Deixe-a entrar quando ela chegar.

Ash: Espero que saiba o que está fazendo...

Eu não tinha certeza se sabia de alguma coisa. Então, ignorando sua


mensagem, respirei fundo e saí da caminhonete, indo até a casa de Felicity. A
porta se abriu e ela me encarou.
— Ela está lá em cima. — Sua voz estava triste quando ela deu um passo
para o lado para me deixar passar. — Ela não quer falar comigo sobre isso. E
sei que não é culpa minha, mas não posso deixar de pensar que se eu tivesse
feito mais na festa... — Soluços abafaram suas palavras enquanto ela
enterrava o rosto nas mãos.
— Ei — falei, me sentindo estranho pra caramba. — A culpa não é sua.
Felicity olhou para mim.
— Você está certo. Isto é tudo culpa sua. — Ela apertou os lábios em uma
linha sombria. — Bem, culpa do Jason. Mas isso te torna culpado por
associação.
— Felicity, qual é...
— Não, qual é digo eu, Cameron. Alguém a drogou, a deixou nua e a
filmou... — Ela engoliu em seco e uma nova onda de lágrimas escorreu pelo
seu rosto. — Isso foi longe demais. Eu disse a ela para parar. Falei para ela
parar de brigar com o Jason, que...
Mas não teria importância. Thatcher queria vingança. Ele queria humilhar
e machucar Jason do jeito que tinha feito com ele.
E Hailee era o alvo perfeito.
— Eu preciso que você faça algo por mim — falei.
— Eu? — Sua voz soou trêmula e seus olhos verdes estavam arregalados
de descrença.
— Sei que é pedir muito, mas preciso que você vá até a casa do Asher e o
ajude a impedir o Jase de fazer algo estúpido.
Ela empalideceu.
— Você quer que eu faça o quê? — Ela apertou a garganta.
— Sei que ele pode ser... difícil. — Felicity zombou disso. — Mas a
última coisa de que precisamos agora é que Jase atravesse o rio e faça algo
que só vai tornar tudo dez vezes pior. — Sem mencionar que arriscaria todo o
seu futuro.
— Cameron, eu não sei...
— Por favor. Não há mais ninguém para quem eu possa pedir. — E havia
algo sobre ela. A maneira como ela assumiu o controle naquela manhã na
cozinha de Asher, fazendo o café da manhã para todos nós como se realmente
merecêssemos sua bondade.
— Tudo bem. Tudo bem . Mas você me deve uma. E é melhor você
encontrar uma maneira de resolver isso, porque a minha melhor amiga está lá
em cima e está arrasada. Arrasada, Cameron. E eu odeio isso. Odeio vê-la
assim.
Passei a mão pelo rosto, sentindo o sangue pulsar em meus ouvidos.
Felicity estava certa, é claro que estava. Jason, Asher e até eu, todos nós
contribuímos para arrastar Hailee para essa merda.
Felicity estava ocupada calçando os sapatos quando disse:
— Meu quarto é o último à esquerda. Vou mandar uma mensagem
quando tivermos contido Jason. E não se preocupe com meus pais, eles estão
fora da cidade esta noite.
Sorri com isso.
— Obrigado.
— E há uma caixa de brownies no balcão da cozinha. — Ela apontou para
o corredor. — São os favoritos dela.
— Brownies , tudo bem.
— E uma última coisa: não a magoe. Sei que vocês dois têm uma coisa
estranha acontecendo e que vocês fingem não se importar. Mas ela se
importa. A Hailee se preocupa com você, Cameron. Ela é teimosa demais
para admitir. E acho que você também se importa. Então, como a melhor
amiga dela estou avisando: se você magoá-la, vou encontrar uma maneira de
destruí-lo. Estou falando sobre a vingança no estilo Carrie.
Me engasguei com o ar em meus pulmões.
— Jesus — murmurei.
— Estou falando sério, Cameron. — Ela semicerrou os olhos
perigosamente.
Ah, eu não duvidava disso. Asher estava certo, eram com os quietos que
tínhamos que nos preocupar.
Felicity me deu um breve aceno e saiu pela porta, e eu soltei a respiração
que estava prendendo. Tudo estava confuso e o pior era que ainda não tinha
acabado. Até amanhã, na escola, todos já teriam visto o vídeo de Hailee. E ela
teria que andar pelos corredores da escola sabendo disso.
Fechei as mãos enquanto engolia o rugido que crescia na minha garganta.
Eu não podia deixar minhas emoções levarem o melhor de mim, não
enquanto Hailee estava lá em cima. Afastei todos esses sentimentos, fui em
busca da caixa de brownies e segui para procurá-la.

***
Brownies na mão, coração na garganta, bati o dedo contra a porta apenas para
encontrar o silêncio.
— Hailee, sou eu. Cameron. — Muito bem, idiota .
Silêncio.
— Hailee? — Espiei pela porta entreaberta. — Eu posso ent...
— Não — ela retrucou, mal encontrando meus olhos.
— Que pena, Raio de Sol, você está presa a mim. — Entrei, fechando a
porta atrás de mim, ciente de que a ação parecia sugar todo o ar do quarto.
Hailee estava sentada no meio da cama de Felicity, com as costas
pressionadas contra a cabeceira da cama, os joelhos dobrados e abraçando
uma almofada rosa fofa. Lágrimas silenciosas desciam por suas bochechas.
Ela parecia tão frágil e triste, um contraste total com a garota com quem eu
estava acostumado. E a visão dela me destruiu, apertou meu coração com
tanta força que pensei que fosse desmaiar.
— Sinto muito mesmo. — Me aproximei, olhando rapidamente entre o
final da cama e a cadeira da escrivaninha. Optando pela escolha mais segura,
coloquei a caixa de brownies na mesa e peguei a cadeira.
— Você... você viu o vídeo? — Ela empalideceu e uma nova onda de
lágrimas inundou seus olhos. — Será que... o Jason viu?
Pressionei os lábios me perguntando o que eu deveria fazer.
— Ah, Deus — ela gemeu.
— Ei, vai ficar tudo bem. Vamos nos certificar diss...
— A escola inteira provavelmente já viu. Você não pode fazer as pessoas
passarem despercebidas, Cameron.
Não, eu não poderia. Mas eu poderia ameaçar qualquer filho da puta que
tentasse trazer isso à tona ou mencionar essa merda nos corredores da escola.
— Continuo tentando me lembrar do que aconteceu — Hailee disse com
a voz baixa. — Continuo tentando ver os rostos e ouvir as risadas deles... mas
não há nada. Isso é o que eu mais odeio. Que eles tenham feito isso comigo e
eu nem soube. Quero dizer, e se eles... — Ela quase vomitou e o som foi tão
cheio de dor que rasgou meu peito. — E se eles tentaram fazer... mais ?
— Mais?
Seus olhos encontraram os meus, se arregalando com a ideia.
— Não — falei, sem querer acreditar. — O Thatcher é um babaca, mas
ele não... Por que, você acha que alguém te machucou? — As palavras
ficaram presas na minha garganta.
Presumi que o vídeo era o fim de tudo, mas e se não fosse? E se alguém
realmente a tivesse machucado fisicamente?
A bile subiu pela minha garganta enquanto eu respirei pelo nariz,
tentando não perder a calma.
— Não, eu... acho que não. Eu não senti nada... sabe? — Ela deu de
ombros, como se não fosse grande coisa.
Mas era uma grande merda.
— Puta merda — grunhi, segurando a parte de trás do meu pescoço. — E
eu... nós... — Eu a toquei ontem de manhã. Eu. Depois que alguém poderia
ter... — Fiquei de pé, andando de um lado para o outro.
— Cameron — Hailee me chamou, mas eu não conseguia pensar direito.
Não conseguia tirar da minha cabeça a imagem dela deitada, fora de si,
enquanto alguém tirava o vestido do seu corpo, rindo, sussurrando
provocações sobre o quanto ela queria, como ela era fácil.
A bile subiu pela minha garganta. Ninguém foi reconhecido no vídeo, o
ângulo da câmera só focou Hailee. Seu corpo.
Ela segurou meu braço e eu paralisei, enquanto meu coração batia forte
no meu peito.
— Está tudo bem. Estou bem. Eu saberia se alguma coisa tivesse
acontecido e não aconteceu.
Mas poderia. Se Flick não a tivesse encontrado, poderia ter acontecido.
Devagar, me virei para ela. Os olhos de Hailee estavam vermelhos e
inchados, e seu sorriso não os alcançou.
— Nada disso está bem — falei, em voz baixa. — Quando penso sobre
eles fazendo isso com você... possivelmente te machucando, eu... —
Engolindo em seco, envolvi um braço em sua cintura nos mantendo juntos, e
apoiei a cabeça na sua, respirando seu cheiro.
— Foi só uma brincadeira cruel, Cameron. — As duas mãos de Hailee
agarraram meus braços agora, mas eu não conseguia descobrir se ela estava
me segurando mais perto ou tentando me manter a uma distância segura. —
O Jason vai...
— Ssh. — Pressionei meu polegar em seus lábios. — O Jase é a última
pessoa sobre a qual quero falar agora. — Essa merda com Thatcher, entre ele
e Hailee, tinha que acabar.
Deveria ter acabado muito antes de agora.
Seus olhos brilharam de surpresa quando ela respirou fundo.
— Por que você está aqui, Cameron? Por que você veio?
Foi a pergunta que me fiz mais de uma vez no caminho até aqui. Mas no
segundo em que abri aquele link, não consegui pensar em nada além de
chegar até ela.
— Porque eu me importo com você, Hailee — confessei. — Eu me
importo pra caramba com você.
Sua expressão vacilou, e ela enterrou o rosto no meu peito, soluçando na
minha camiseta. Passei as mãos em seus cabelos, trazendo seu rosto de volta
para o meu.
— Vou resolver isso, eu prometo.
Não sabia como ainda, mas eu resolveria. As coisas foram longe demais.
Hailee não merecia isso. Ela nunca mereceu nada disso.
E eu fui covarde demais para impedir qualquer coisa.
As lágrimas se acumularam nos cantos de seus olhos, e eu passei a mão
pelo seu rosto, enxugando as gotas de umidade com a ponta do meu polegar.
— Não chore, Raio de Sol — pedi. Eu não suportaria isso.
A boca de Hailee se curvou.
— Eu realmente odeio quando você me chama assim.
— E eu realmente adoro a maneira como você fica vermelha quando eu
chamo.
— O que estamos fazendo, Cameron? — Ela me encarou, em busca de
respostas. Respostas que eu queria dar a ela, mas não tinha certeza de que ela
estava pronta para ouvir.
— O que deveríamos ter feito há muito tempo — coloquei para fora e a
puxei para mim.
E então eu a beijei.
Trinta E Um
Hailee
— Cameron, espere. — Coloquei as mãos em seu peito, empurrando-o
suavemente. Ele recuou. Vi seus olhos fervendo de luxúria e algo que eu não
queria reconhecer. — Nós não podemos...
— Podemos, sim — ele disse sem hesitar. — Me diga que você não quer
isso, Hailee. Olhe nos meus olhos e diga que você não me quer.
Eu quero você.
Quero tanto que me apavora.
Mas as palavras ficaram presas na minha garganta e tudo que pude fazer
foi olhar para ele.
— Cansei de fingir, Hailee — Cameron suspirou, se aproximando. —
Quero você. Eu te quis desde o dia em que coloquei os olhos em você.
— Éramos crianças. — Revirei os olhos. Ele não podia estar falando
sério.
Podia?
Cameron passou as mãos pelos meus braços e a apoiou em meus ombros.
— Eu te quero, Hailee Raine. Você. — Seus olhos queimaram nos meus,
acendendo um fogo no meu estômago.
— Mas nós... nos odiamos. — Era uma discussão inútil. Algo que eu
sabia que não se aplicava mais no que dizia respeito a mim e Cameron. A
curva do seu sorriso me disse isso.
— Não, Raio de Sol, não é ódio, é...
Colei meus lábios nos dele. Eu não queria ouvir o que ele achava que era
essa coisa entre nós, ainda não. Só queria sentir. Esquecer. Queria que ele me
ajudasse a escapar da merda em que minha vida havia se tornado, apenas por
um tempo.
Cameron gemeu de aprovação quando empurrei minha língua em sua
boca, pressionando meu corpo contra o seu. Mas não foi o suficiente. Eu
precisava de mais.
Eu precisava de tudo dele.
Envolvi seu pescoço com meus braços e o puxei até que caímos na cama
de Felicity, aterrissando com uma lufada de ar e um emaranhado de
membros.
— Merda... a Flick — murmurei. — Nós não deveríamos...
— Ela não está aqui. — Cameron olhou para mim, enquanto seu peso me
esmagava da maneira mais perfeita. — Eu a mandei para ficar de olho em
Jase.
— Você mandou? — Arqueei a sobrancelha, sem saber como me sentia
sobre isso.
— Se você quiser parar... — Ele começou a se afastar, mas meus dedos
cravaram em seus ombros.
— Não quero parar — sussurrei, sentindo meu coração bater de forma
violenta em meu peito.
— Ainda bem. — Ele pareceu aliviado e se aproximou para beijar meu
queixo, se movendo mais para baixo para sugar meu pescoço. Um leve
gemido subiu pela minha garganta, escapando como um suspiro de
necessidade. Ele moveu os quadris para mim. — Levante-se.
Me sentei de frente, deixando-o puxar minha camiseta e tremendo
enquanto seus dedos roçavam minha pele nua. Cameron tirou a própria
camiseta e absorvi cada centímetro dos músculos bronzeados. Nossos olhos
se conectaram, enquanto ele se deitava de volta sobre mim, me pressionando
no colchão.
— Quero te tocar, Hailee. — Seu olhar exibia uma pergunta silenciosa, e
eu assenti com a boca seca e a cabeça nublada de desejo.
Me senti vibrar de expectativa quando ele se inclinou para frente,
pressionando um beijo na curva do meu peito. Suas mãos deslizaram pelas
minhas costas. Ele se atrapalhou com o fecho do sutiã, mas quando o abriu, a
peça caiu do meu corpo e o ar frio atingiu minha pele sensível. Seus olhos
escureceram com luxúria e seu pomo de Adão pressionou contra sua garganta
enquanto ele traçava os dedos sobre a minha pele.
— Perfeitos — ele sussurrou, antes de capturar um dos mamilos rosados
em sua boca.
Arqueei o corpo em sua direção, abafando um gemido.
— Gosta disso, Raio de Sol? — Cameron olhou para mim através dos
cílios escuros. Apertando os lábios, lutei contra um sorriso, mas ele viu
através de mim e se aproximou mais uma vez para dar ao meu outro seio a
mesma atenção. A sensação da sua boca quente, o roçar da mandíbula mal
barbeada contra minha pele, fez meu coração bater de forma descontrolada e
meu estômago se apertar tanto que ofeguei seu nome.
Cameron sugou e mordiscou o caminho dos meus seios até a clavícula,
seguindo para a inclinação do meu pescoço.
— O que você quer, Hailee? — ele sussurrou contra meu ouvido, me
fazendo arrepiar.
— Você — finalmente admiti. — Eu quero você, Cameron.
Seu corpo inteiro pareceu relaxar enquanto ele sorria para mim. Não foi
arrogante ou presunçoso desta vez, foi genuíno. Caloroso. E suavizou algo
dentro de mim.
— O quê? — ele perguntou, ainda apoiado em cima de mim.
— Isto é real? — Mordi o lábio, sentindo a energia nervosa passar por
mim.
— É. — Cameron me beijou, profundamente e sem pressa, girando a
língua contra a minha enquanto movia os quadris. Não havia como negar que
ele me queria, eu só esperava que ele quisesse mais do que apenas este
momento.
Mas eu estava longe demais para me preocupar com as consequências
agora. Precisava dele. Eu necessitava dele de uma forma que me confundiu,
me excitou e fez minha cabeça girar com possibilidades. Ele continuou me
beijando, me garantindo em silêncio que isso era real. Que eu não abriria os
olhos e descobriria que era tudo um sonho.
Passei as mãos pelo seu peito, encontrando o caminho até o cós da calça
jeans e abri o botão, movendo as mãos para dentro, e o segurei.
— Puta merda, Hailee — ele ofegou quando comecei a acariciá-lo. Estava
muito duro e pesado em minha mão enquanto seu corpo respondia ao meu
toque. — Isso parece... — Cameron engoliu em seco, me beijando de novo.
Mas então sua mão segurou a minha, prendendo-a ao lado da minha
cabeça.
— Sua vez. — Ele sorriu, dando um beijo rápido em meus lábios antes de
deixar meu corpo. Empurrando o jeans e a boxer, ele os tirou antes de tirar
minha legging e calcinha. — Eu poderia me acostumar com isso. — Seu
olhar faminto percorreu meu corpo enquanto ele segurava sua ereção. Mas eu
só tinha olhos para ele. Seu corpo esculpido e ombros largos, a cintura
estreita que destacava o delicioso V com que a maioria das garotas apenas
sonhava.
Ele voltou para a cama, se ajoelhando entre minhas pernas. Passou as
mãos pelas minhas panturrilhas, despertando minúsculos raios de eletricidade
em mim. Ao se abaixar sobre mim, ele segurou sua ereção e a empurrou
contra o meu clitóris.
— Cam — ofeguei —, p-preservativo.
— Espere — ele disse, com a voz rouca. — Apenas me deixe... — Ele se
esfregou contra mim novamente, deslizando pela minha umidade,
provocando ondas deliciosas de prazer em mim. — Você é tão gostosa,
Hailee.
— Mais — eu ofeguei, apertando os lençóis. — Preciso... — Inclinei a
cabeça para trás, e fiquei vagamente ciente do rasgo do invólucro e das mãos
de Cameron entre nós. Até que ele estava me penetrando e roubando o ar dos
meus pulmões.
— Putaaa merdaaa — ele murmurou, apoiando o rosto na curva do meu
ombro. Lábios quentes me beijaram, sugaram e provaram enquanto eu me
agarrava em seus ombros. Ele enganchou os braços em volta das minhas
pernas, me puxando para mais perto quando ele começou a estocar em mim.
Devagar no início, atingindo um ponto que fez meu ventre se apertar e minha
respiração ficar presa na garganta.
— Ah, caramba — gemi quando Cameron acelerou o ritmo, estocando
em mim com movimentos profundos. Eu o encontrei em cada impulso,
movendo os quadris para encontrar os seus, até que só o som da minha pele
contra sua e nossos gemidos ecoaram pelo quarto.
— Puta merda, Hailee, não posso... — ele murmurou contra minha boca.
Nossos beijos ficaram cada vez mais confusos: dentes, língua e desespero
quente enquanto nós dois seguíamos para o clímax.
Começou como uma onda suave e, em seguida, caiu sobre mim como um
poderoso tsunami me derrubando, me deixando mole e sem fôlego enquanto
me apertava ao seu redor.
— Merda — Cameron gemeu, enterrando o rosto no meu pescoço e
sugando a pele de uma forma que eu sabia que deixaria um hematoma
enquanto empurrava dentro de mim.
— Isso foi... — Sua voz foi abafada enquanto nós dois nos movíamos,
desfrutando do prazer.
Mas nenhuma palavra parecia fazer justiça ao que eu sentia. Estar com
Cameron era incrível. Parecia certo. Como uma limpeza do passado. Mas,
acima de tudo, mudou tudo.
E eu não tinha certeza se poderia voltar ao que era.
***

— Você está bem? — Cameron me perguntou enquanto estávamos deitados


lado a lado algum tempo depois e os sons de nossa respiração irregular
finalmente voltavam ao normal.
— Vou ficar — respondi, puxando o lençol para cobrir meu corpo. —
Mas a Flick vai me matar.
Ele rolou para o lado e me encarou.
— Vai nada. Podemos comprar lençóis novos.
Sufoquei uma risada.
— Não acredito que fizemos isso.
— Acredite, Raio de Sol. — Cameron se inclinou, dando um beijo na
ponta do meu nariz. — E é só o começo.
Começo?
Certamente, ele não quis dizer...
— Não fique tão preocupada.
— Mas e quanto ao Jason? — Olhei para ele.
— O que tem ele? — Cameron parecia calmo, mas notei um leve
tensionar em sua mandíbula quando mencionei o nome do meu meio-irmão.
— Pelo que sabemos, foi ele quem levou o Thatcher a fazer isso...
— Ele é um idiota, Hailee, sei disso. Mas ainda é seu meio-irmão e nunca
faria isso. Além disso, ele e Thatcher trabalhando juntos, eu não acredito... —
Cameron parou e eu fiz uma careta.
— Cameron, o que é? — Seus olhos estavam nublados com alguma coisa.
— Você se arrepende? — Ele roçou no meu queixo, se inclinando para
roubar um beijo.
— Me arrependo de quê?
— Isto... nós. — A vulnerabilidade brilhou em seu olhar tempestuoso,
fazendo meu peito se contrair.
— Não. — Não me arrependi de nada do que aconteceu entre nós este
ano, porque tudo levou a esse ponto. Deitada aqui em seus braços, me
sentindo segura e querida. — Por quê? — perguntei. — Você se arrepende?
Um sorrisinho apareceu no canto da sua boca.
— A única coisa de que me arrependo é não ter feito isso antes.
Bati em seu peito, mas Cameron segurou meu pulso, me puxando para o
meu lado.
— Acho que a Flick estava certa o tempo todo.
— E o que foi que a Fee disse? — Ele arqueou a sobrancelha de
brincadeira.
— Ela parecia pensar que tudo isso, as pegadinhas e outras coisas, era
algum tipo de preliminar esquisita.
— Acho que pode se dizer que foi.
— Cameron, vamos lá...
Ele deu de ombros, passando o nariz pelo meu queixo. Respirei fundo,
sentindo meus olhos tremularem e um frio enorme na minha barriga.
— Eu nunca te odiei, Hailee. Eu odiava não poder te ter. Mas o Jas...
— Não faça isso — pedi. — Não estrague as coisas. — Qualquer menção
ao meu meio-irmão só iria estourar a bolha temporária de felicidade que
criamos para nós.
— Sabe, vamos ter que conversar sobre isso em algum momento — ele
falou.
— Eu sei. Eu só... quero que isso seja nosso por mais um tempo.
Cameron assentiu, se inclinando para capturar meus lábios novamente.
Nossas línguas se encontraram em lambidas longas e preguiçosas. — Posso
te contar uma coisa? — ele perguntou finalmente se afastando.
— Qualquer coisa. — Me afastando para colocar algum espaço entre nós,
eu o olhei nos olhos. — Você pode me dizer qualquer coisa.
— Estou com medo, Hailee. Estou com tanto medo de que haja algo
errado com a minha mãe.
Ah, Deus, sua mãe. Nem pensei em perguntar como ela estava porque eu
estava lidando com minha própria crise.
— Ela está...
— Está bem. Foi liberada ontem depois de algumas horas em observação,
mas eles estavam olhando uns papeis e agindo com cautela. Meu pai disse
que eles querem falar comigo esta noite, que tudo vai ficar bem, mas estou
com uma sensação... — Sua voz falhou e meu coração se partiu junto com
ele. Colocando os braços ao seu redor, puxei Cameron para mim. — Este
deveria ser o meu ano, Hailee. Eu deveria estar animado com a faculdade,
com o futuro. E tudo em que consigo pensar é se algo estiver errado,
realmente errado...
— Está tudo bem — falei baixinho. Tenho certeza de que tudo vai ficar
bem.
— E o pior de tudo é que... — Cameron se afastou para olhar para mim,
com a expressão abatida — não posso contar a ninguém. Quer dizer, o Ash
sabe algumas coisas, mas o Jase não entende. Não entende, porque o futebol
é tudo para ele. O objetivo final. Mas tenho que pensar no Xander, na minha
família. Meu pai quer que eu me concentre no futebol, em vencer o Estadual,
mas que tipo de pessoa isso me torna?
— Cameron, você tem dezoito anos. É o último ano, tenho certeza de que
se as coisas estivessem... bem, tenho certeza de que seu pai lhe contaria se
precisasse de mais ajuda.
Ele me deu um sorrisinho, mas que não chegou aos seus olhos.
— Não sei mais de nada — ele suspirou. — Futebol, o time... o Jase...
isso tudo sempre pareceu tão importante, mas agora a minha mãe pode estar
doente, muito doente, e você foi pega no fogo cruzado nessa coisa com o
Thatcher, e eu simplesmente não sei...
— Ssh. — Pressionei os lábios no canto de sua boca. — Estou aqui, estou
bem aqui. — Estarei aqui enquanto você precisar de mim .
Cameron me abraçou como se eu fosse um bote salva-vidas e ele
estivesse se afogando, e percebi que havia muito mais no cara irritante e
arrogante que eu sabia que ele era. Ele estava carregando o peso do mundo.
As pressões e expectativas do time em relação à situação de sua família. E
agora, por razões que eu ainda não entendia muito bem, ele assumiu minhas
preocupações também.
Passei quase seis anos o odiando. Por ser melhor amigo de Jason. Por
ficar ao seu lado, até mesmo ajudar meu meio-irmão a tornar minha vida um
inferno. Eu odiava o time de futebol idiota, isso não tinha mudado. Detestava
o que eles faziam, o que representavam. A maneira como as pessoas
adoravam o chão que eles andavam e justificavam seu comportamento de
merda porque usavam uma camisa azul e branca. Odiava toda a instituição.
Mas também não podia negar que embora eu odiasse os Rixon Raiders
com cada fibra do meu ser, eu tinha certeza de que estava me apaixonando
por um.
Trinta E Dois
Cameron
Deixei Hailee dormindo na cama de Felicity. Ela estava exausta. Depois que
conversamos, nos beijamos e nos tocamos mais um pouco, ela começou a
apagar. Então disse a ela para descansar um pouco e que ligaria mais tarde.
Eu precisava de um pouco de ar. Não de Hailee, ela foi perfeita. Ela era tudo
o que eu precisava e nem tinha percebido. Mas ela disse algo quando
estávamos juntos, algo que eu não conseguia esquecer.
Ao chegar na casa de Ash, não fiquei surpreso ao passar por Felicity, que
estava saindo, com Asher logo atrás dela.
— Vou querer saber o que houve? — perguntei a ele enquanto nós dois a
víamos sair da casa com os punhos cerrados ao lado do corpo e emanando a
raiva.
— Apenas o Jase bancando o idiota como sempre. — Ele deu de ombros.
— Vou ver se ela está bem.
Assenti, e ele saiu atrás dela. Pelo menos agora tínhamos a casa só para
nós. Encontrei Jase na cozinha, tomando uma bebida proteica de aparência
descolada.
— Você fez isso? — Olhei nos olhos dele, pedindo a Deus que Hailee
estivesse errada.
— O quê? — Os olhos de Jase semicerraram perigosamente enquanto sua
postura ficava ereta.
— Me diga que você não fez isso. Olhe nos meus olhos e diga que você
não armou tudo para arruiná-la.
Eu nem havia considerado isso até que Hailee plantou a semente. Mas
enquanto eu estava lá, olhando para ela, isso se enraizou em mim e cresceu.
Foi algo que não consegui parar.
Mas era um exagero. Jason odiava Thatcher, então a ideia de eles
conspirarem para machucar Hailee estava fora de questão. Especialmente
dada a história entre eles. Mas eu não pude deixar de me perguntar se ele
tinha alguma influência no que havia acontecido.
— Você acha que eu tenho algo a ver com... — Ele passou a mão pelo
rosto, deixando escapar um suspiro pesado. — Não, não fiz isso, cacete. Mas
parte de mim gostaria de ter feito. É isso que você quer ouvir?
— Mas a Aimee...
— A Aimee não tem nada a ver com isso.
— Você transou com a irmã do Thatcher e enviou a ele um vídeo de
vocês dois. — Foi baixo, mesmo para meu melhor amigo, e aumentou as
apostas na briga. Mas ele tinha seus motivos. Por mais confuso que fosse,
Jase nunca agia sem motivação ou provocação e Aimee o magoou de uma
forma que poucos haviam feito.
— Sim, bem, ela era uma vadia conivente que teve o que merecia.
— Há algo de muito errado com você. Sabe disso, certo? — Eu não sabia
o que ele planejava fazer com Aimee, mas mesmo se soubesse, não haveria
como pará-lo. Ele a deixou entrar, mas ela o magoou. E em sua lógica
distorcida, Jason estava matando apenas dois coelhos com uma cajadada.
— Vá se foder, Chase. Você não sabe como é ser eu.
— Puta merda. Você tem toda a cidade a seus pés. Mas isso não significa
que você pode pisar nas pessoas, Jase. Existem consequências para suas
ações. Só porque você não puxou o gatilho, não significa que não tenha suas
impressões digitais estampadas nela. Se não tivesse começado isso com o
Thatcher, a Hailee nunca teria sido pega no fogo cruzado.
— Você acha que eu dou a mínima? — Ele cruzou os braços, levantando
uma sobrancelha. — Você não tem ideia de como é viver com ela. Fingir que
está tudo bem quando não está. A minha mãe foi embora por causa dela.
— Hailee? — Fiz uma careta, confuso. — A sua mãe não foi embora por
causa da Hailee. Ela foi embora porque seu pai não conseguia esquecer o
passado. — Ele era casado com o jogo, com o futuro que havia perdido e o
que Jase tinha ao seu alcance.
A raiva acendeu em seus olhos e o músculo em sua mandíbula pulsou.
— Estou falando sobre a Denise, idiota. Eles estavam resolvendo as
coisas até que ela apareceu. — Ele quase cuspiu a palavra.
— Jase, vamos lá, acabou. — As coisas estavam complicadas entre sua
mãe e seu pai muito antes de Denise entrar em cena. — Essa coisa com a
Hailee, não é justo. Ela não é a mãe. Você não pode continuar punindo-a...
— Você acha que eu a estou punindo? — ele grunhiu com um brilho
perverso em seus olhos. — Não estou punindo a Hailee. Eu simplesmente
não gosto dela. Ela acha que a mãe é maravilhosa, mas não tem ideia de
como ela realmente é uma vadia destruidora de lares. Sabe que ela o
perseguiu? Ela passou meses andando atrás do meu pai enquanto ele e minha
mãe tentavam resolver as coisas. Eu a peguei ligando para ele, até os peguei
quase transando uma vez, e ouvi minha mãe mandá-lo embora por isso.
— Merda, cara, eu não sabia...
— Não, você não sabia. — Sua expressão era cautelosa.
— Por que você nunca disse nada? — Mas isso não era nenhuma
surpresa. Jase era um livro fechado para todos ao seu redor.
— O que eu deveria dizer? Meu pai, um herói da cidade, um homem que
todos adoravam, era um filho da puta traidor que se importava mais em trepar
com alguma prostituta do que consertar seu casamento?
— Ele sabe que você sabe?
— O que você acha? — ele grunhiu.
O sr. Ford não sabia. Se soubesse, não havia como Jase ainda estar
morando sob seu teto, porque a a bomba teria estourado muito antes.
— Você não poderia ter partido com a sua mãe, se mudado para Pittsburg
e se transferido de escola?
— E arriscar todo o meu futuro?
Mesmo agora, com a verdade à sua frente, tudo se resumia ao futebol. Eu
não poderia culpá-lo por se ressentir da mãe de Hailee. Por odiá-la. Mas
Hailee não era a mãe. Ela não era a parte responsável aqui. Ela era apenas
mais uma criança inocente apanhada na confusão que o pai dele criou.
E ela não tinha ideia da verdade da situação.
— Eu entendo — admiti. — Eu também a odiaria. Mas a Hailee é...
— A Hailee é uma vadia hipócrita que se acha melhor que eu. Ela sempre
fez isso. Sabia que o pai dela era um grande jogador de futebol na faculdade?
— Balancei a cabeça, sentindo a raiva correr pela minha espinha com a
maneira com que ele falava sobre ela. Mas eu não ia a começar algo que não
tinha certeza se conseguiria terminar.
Jase continuou:
— Sim, jogou como running back para os Rutgers. Ele engravidou a
Denise quando estavam no primeiro ano a deixou com o bebê enquanto corria
atrás do futebol e mulheres.
— Eu não fazia ideia. — Mas isso explica parte da atitude de Hailee em
relação ao futebol, em relação a nós. O time.
Ela cresceu sem pai, porque ele escolheu o jogo e a vida, em vez dela e de
sua mãe.
— Se você a odeia tanto, por que não contou a verdade a ela?
Os olhos de Jase escureceram, mas vi a hesitação ali. Quando ele não
respondeu, acrescentei:
— Sabe o que acho? Que você a está atacando porque não pode ir atrás de
Denise. No fundo, você sabe que seu pai vai escolher a Denise porque a ama,
e as pessoas fazem coisas malucas em nome do amor. E isso te assusta.
Conheço o sr. Ford desde que era criança e nunca o vi agir com a sra.
Ford como ele fazia com Denise. Ele não só a amava, ele a adorava. E, pela
primeira vez, Jason não era o primeiro na vida do pai.
— Você não sabe do que está falando.
— Não sei? — Eu sabia que estava certo. Jason ainda era um garoto de
doze anos que descobriu que seu pai havia se apaixonado por outra mulher.
— Não — a voz de Hailee soou e meu estômago afundou. Merda, ela não
deveria estar aqui. Ela deveria estar na casa de Felicity, onde a deixei
dormindo.
— O que é que você está fazendo aqui? — Jase grunhiu.
— Eu vim encontrar a Flick, ela não estava atendendo ao telefone.
Ele resmungou algo baixinho, irritado, mas Hailee acrescentou:
— Você está brincando, não é? O que você disse sobre a minha... a minha
mãe, é só uma piada cruel?
A dor em sua voz me machucou. Queria me virar e dizer algo para
confortá-la, para resolver as coisas, mas estava preso no lugar, incapaz de me
mover, sentindo o peso de seu olhar queimar minhas costas.
— É a verdade, irmãzinha — Jase respondeu de forma zombeteira, e eu
quis dar um soco em seu rosto para calá-lo. — A sua mãe não é a mulher
honesta que você pensa que é.
— Não... — ela sussurrou, sua voz soando magoada. — Não acredito,
você está mentindo. Você está só tentando me magoar.
— Está sendo bem presunçosa agora, não? — A risada de Jase era
amarga — Você me odeia, odeia tudo que defendo, porque seu pai era um
babaca que não assumiu a responsabilidade por seus erros, mas isso não
impediu sua mãe de dar em cima do meu pai. Ela praticamente implorou para
que ele transasse com ela. Estava pronta para abrir as pernas como uma...
— Você precisa recuar. — Parei na frente de Jason, protegendo Hailee
dele.
Seus lábios se curvaram em um sorriso malicioso quando a compreensão
surgiu em seu olhar escuro.
— Sabia. Eu sabia que você era a fim dela. Todos esses anos, você
concordou com as minhas merdas, jogou o jogo, mas não foi para o meu
benefício, foi? Era por ela. Você a estava protegendo. Você a escolheu em
vez de mim.
— Escolhi você, se lembra? — Dei a ele um olhar penetrante, fechando
as mãos ao lado do corpo enquanto me obrigava a manter a calma para não
me envolver em seu jogo malicioso.
— Nada, cara. — Jase balançou a cabeça. — Você não me escolheu.
Você a escolheu. Está transando com ela?
A respiração ofegante de Hailee me fez estremecer. Mas não me virei
para olhar para ela ainda, eu não podia.
— Eu te fiz uma pergunta. — Ele coçou o queixo, esperando por uma
resposta.
— Não — menti, me odiando. Olhei bem nos olhos do meu melhor amigo
e menti. Mas sabia que se confessasse, isso acabaria mal. Muito pior do que
já estava indo.
— Mas você quer, não é?
— Jase, cara, vamos. Não faça isso.
— Fazer o quê? Perguntar ao meu melhor amigo se todo esse tempo ele
planejou me apunhalar pelas costas por causa de alguma vadia hipócrita? —
Seus olhos foram por cima do meu ombro para Hailee e minha espinha ficou
rígida.
— Não é assim e você sabe disso. — Cerrei os dentes enquanto tentava
controlar a raiva fervendo em minhas veias. Mas por mais que eu quisesse
protegê-la, defender a honra de Hailee contra Jason e sua língua cruel, eu
precisava de seus olhos afastados dela e mais em mim.
— Não, não sei de mais nada. — Ele inclinou a cabeça, esfregando o
queixo com força. — Eu confiei em você. Confiei em você com minha vida.
Era você e eu, irmão. Íamos ser imparáveis. Nada jamais iria ficar entre nós,
se lembra? — Jase diminuiu a distância entre nós até que estivéssemos frente
a frente, olhando para mim como se ele não me reconhecesse mais. Batendo
seu ombro no meu, ele disse: — Espero que ela valha a pena — e então ele
saiu da sala.
Soltei a respiração que estava prendendo, me virando lentamente para
encarar Hailee. Ela estava pálida. Seu rosto era uma máscara de tristeza
enquanto lágrimas silenciosas escorriam por seu rosto.
— Hailee, eu...
— Não. — Sua voz tremia enquanto ela recuava. — Não faça isso.
— Sinto muito. Sinto muito mesmo.
O silêncio nos envolveu. Espesso e sufocante. Mas eu não sabia como
resolver as coisas. Ela não deveria estar aqui, não deveria ouvir nada disso.
Depois de alguns segundos, Hailee finalmente quebrou a tensão.
— É verdade? Ele estava falando a verdade?
— Eu-eu acho que sim. — Engoli a saliva, sentindo minha garganta seca.
Jason era muitas coisas, mas não era mentiroso. Se ele fizesse algo, assumia.
— Mas a minha mãe não... ela não faria isso. — Hailee cruzou as mãos
trêmulas em volta da cintura, como se estivesse se controlando. — Não
depois do meu pai...
— Até os adultos cometem erros, Hailee.
— E Jason, o que ele quis dizer sobre você me escolher?
Merda!
— Eu, humm... — Limpei a garganta, tentando desalojar o nó gigante que
estava preso lá. — Talvez devêssemos falar sobre isso outra hora...
— Não, acho que devemos conversar sobre isso agora. — Ela olhou para
mim e eu queria que o chão se abrisse e me engolisse por inteiro. Nada sobre
essa conversa terminaria bem, não após a revelação de Jase. Mas ela estava
olhando para mim com aqueles olhos castanhos, arrancando todas as
verdades de mim, e eu sabia que tinha que confessar.
— Sexta série, quando você foi morar com o Jase e o pai dele...
— Eu me lembro. Achei que você queria ser meu amigo. — A tristeza
tomou conta dela.
— Eu queria. — Meu peito se apertou. — Eu gostei de você. Você era
como uma lufada de ar fresco, sempre enfrentando o Jason e se recusando a
aceitar suas merdas. Eu te admirei.
— O que mudou? — ela perguntou com frieza e a dureza em sua voz
transformou meu sangue em gelo.
— O Jason começou a ficar com ciúme. Ele nunca disse nada, mas
percebi que quanto mais eu falava com você — e eu falava muito com ela —
mais ele zombava. Pouco antes do verão, eu o chamei, e ele me disse que eu
precisava escolher. Você ou ele.
A mágoa brilhou em seu rosto.
— E você o escolheu.
— Sei que não faz sentido, Hailee, mas não o escolhi, escolhi você. Vi o
jeito que o Jason te olhava. Ele te odiava. Era confuso, e eu realmente não
entendia, mas sabia o quanto ele podia ser cruel. Eu sabia que ele nunca iria
te deixar em paz se eu admitisse a verdade.
— A verdade?
— Que eu gostava de você. Mesmo naquela época, quando eu era muito
jovem para entender as garotas ou qualquer uma dessas coisas. Sabia que
você era diferente. Você foi a primeira garota de quem eu queria estar perto
para conhecer.
— Você tornou minha vida miserável naquele verão.
— Eu sei. — A culpa deu um nó no meu estômago enquanto as memórias
tomavam conta de mim.
Passamos um verão inteiro zombando dela, pregando peças, roubando
suas coisas e tornando sua vida péssima. Era como se Jason estivesse me
testando, me fazendo provar minha lealdade. E aceitei, porque esperava que
se eu jogasse seus jogos, ele eventualmente desistisse e a deixasse em paz.
Mas ele não fez isso. E quando percebi que ele não faria, era tarde demais.
Uma linha foi traçada entre nós. Hailee de um lado. Jason, eu e Asher do
outro. Com o passar dos anos, disse a mim mesmo que era o melhor, que
admitir o que sentia por ela só colocaria lenha na fogueira. Então, fiquei
longe. Joguei os jogos de Jase e em algum momento ao longo do caminho,
até passei a gostar. Porque provocá-la, forçá-la a retaliar, era minha chance de
ter sua atenção.
Foi a única maneira que consegui manter um pedaço de Hailee Raine na
minha vida.
— Eu realmente devo acreditar que todo esse tempo você concordou com
seus jogos estúpidos porque você... gostava de mim ? — A dúvida nos olhos
de Hailee foi o suficiente para me matar, mas olhei nos olhos dela enquanto
assentia.
— Isso não faz sentido...
— Com certeza, não — ela grunhiu. — Não somos crianças, Cameron.
Isso não é mais o ginásio. Isto é minha vida. E tudo isso tem sido um grande
jogo para você. Eu tenho sido um grande jogo...
— O quê? — O pânico subiu pela minha garganta. — Não... isso não é...
— Preciso ir. — Ela se virou e foi direto para a porta, mas corri até ela,
agarrando seu pulso.
— Espere — ofeguei. — Precisamos conversar sobre isso...
Havia muito que não havia sido dito. Eu precisava tentar explicar. Mas
quando Hailee encontrou meu olhar novamente, vi a derrota em seus olhos.
— Sabe — ela falou baixinho, seu tom neutro rasgando meu peito. —
Sempre soube que estava certa a seu respeito. Não posso confiar em você. —
Ela deu de ombros e fugiu da sala, levando um pedaço do meu coração
partido e ensanguentado com ela.
O início foi um dos melhores momentos da minha vida. Não parecia uma
traição ou um jogo. Parecia real.
Certo.
Parecia que tinha demorado muito para chegar.
Mas agora, na dura luz do dia, tudo estava uma merda. E eu não pude
deixar de pensar que só podia culpar a mim mesmo.
Trinta E Três
Hailee
— Hailee, querida, está tudo bem? — A voz da minha mãe soou pela fresta
da porta, mas a ignorei, o mesmo que tinha feito nas três vezes anteriores em
que ela veio me ver.
Depois de ouvir a discussão de Jason e Cameron, fugi da casa de Asher e
me enfiei no meu quarto. Tudo que eu pensei que sabia era mentira. Minha
mãe e Kent não se conheceram depois que ele e a mãe de Jason se separaram.
Minha mãe era a outra . E todo esse tempo, Jason sabia.
Ele sabia e nunca havia dito uma palavra sobre isso.
Não era de se admirar que ele odiasse minha mãe ou a mim por esse fato.
Sempre fui tão crítica sobre ele e os Raiders. Assustada com minhas próprias
experiências de crescer sem pai por causa do futebol. Gary Broker foi uma
estrela em ascensão na NCAA, a principal divisão de futebol da América. Ele
não teve tempo para criar um bebê, para brincar de família feliz com a garota
que engravidou acidentalmente. Ele tinha coisas melhores para fazer com seu
tempo – o ciclo interminável de garotas, festas e atenção – e tudo que eu
tinha eram algumas fotos granuladas dele e nenhuma boa memória. Mesmo
depois que nasci, ele não quis ter nenhuma relação comigo. Houve alguns
encontros estranhos quando eu era criança, mas não se repetiram depois do
meu sétimo aniversário, quando ele finalmente cresceu e se estabeleceu com
sua outra família – aquela com a qual ele realmente se importava.
Minha mãe passou anos enchendo a minha cabeça, me dizendo que caras
como ele não eram confiáveis. Atletas. Jogadores. Caras que estavam mais
focados em suas carreiras do que em garotas. Mas era tudo mentira. Porque
nos mudamos para Rixon, e ela conseguiu farejar Kent Ford. Herói do futebol
local e lenda em formação, se não fosse pelo acidente que encerrou sua
carreira.
Deus, fui tão ingênua.
Todo esse tempo, odiei Jason quando minha mãe não apenas o traiu, ela
traiu a mim também.
— Hailee — sua voz me tirou dos meus pensamentos —, vou entrar,
baby. — Ela apareceu pela porta, me dando um sorriso preocupado. — Você
está aqui há horas. Perdeu o jantar.
— Não estou com vontade de comer agora.
— Aconteceu alguma coisa... com o Jason? — Seus lábios franziram
como se fosse uma conclusão precipitada. — Ele está agindo mais mal-
humorado do que o normal.
Claro que ela presumiu que a culpa era dele. Porque por anos ela ficou de
lado enquanto brigávamos, e nenhuma vez ela tentou resolver a confusão.
Confusão que ela criou.
— Você ia me contar? — As palavras saíram.
— Contar? — ela perguntou, se sentando na beira da minha cama. — Do
que é que você está falando?
— Como você conheceu o Kent, mãe?
Sua expressão vacilou, mas ela se recuperou rapidamente.
— Você conhece essa história, baby. Nos mudamos para Rixon e Kent foi
bondoso em me ajudar com um pneu furado e o resto, como dizem, é história.
— Eu sei.
— Sabe? — Ela inclinou a cabeça. — Hailee, não tenho certeza...
— O Jason me contou. — Ela respirou fundo, o barulho atingindo o ar e
meu coração. Mas ela não disse nada. Não tentou me dizer que eu estava
errada, que ela não tinha ideia do que eu estava me referindo. — Você sabia
que ele conhecia a história toda?
Ouvi Jason dizer a Cameron que ele achava que seu pai não sabia, então
presumi que ela também não soubesse.
— Eu suspeitava que ele sabia de algo, sim. — Minha mãe olhou para
baixo, mas vi o arrependimento ali, a vergonha colorindo suas bochechas.
— Então é verdade? Você teve um caso?
— Baby. — Ela estendeu a mão para mim, mas eu puxei minha mão de
volta. — As questões do coração nunca são tão simples. — Ela deu um
pequeno suspiro.
— Assuntos do coração? — Ri com amargura. — Você acabou com o
casamento deles, mãe. Você arruinou o Jason...
— Não é tão simples assim. — O pânico apareceu em sua voz. — Kent e
Maryanne estavam tendo problemas, ele estava sozinho...
— Então você pensou em fazer o quê? Oferecer a ele um ombro para
chorar? Uma cama quente à noite? Algum lugar para ele escapar de seu
casamento de merda?
— Hailee Raine — ela ne repreendeu, endurecendo sua expressão. — Sei
que você está chateada, mas ainda sou sua mãe.
O que era o ponto. Os adultos deveriam dar o exemplo, ser aqueles que
repreendiam os filhos por cometerem erros. Não o contrário.
— Você mentiu — eu disse. — Todos esses anos, você mentiu. Passei
anos admirado com sua força, mãe. Você me criou sozinha, nunca pediu nada
ao meu pai. Admirei você por não seguir o caminho fácil, por não se
conformar com qualquer velho. — E houve alguns ao longo do caminho. —
E tive que descobrir pelo Jason que era tudo mentira.
— Hailee, por favor, me deixe explicar... — Lágrimas rolaram pelo seu
rosto, mas eu não a confortaria.
Eu não podia.
— Você me criou à sua imagem, mãe. Me fez acreditar na autoestima, em
nunca me contentar com nada menos do que mereço. Mas você também me
endureceu. Todas aquelas histórias me avisando sobre caras como o meu pai,
bagunçaram minha cabeça. E então você me trouxe para uma cidade onde o
futebol é mais importante do que qualquer coisa, e mora com uma lenda do
futebol local, nada menos. E eu nunca reclamei. Nem uma vez. Porque fiquei
feliz por você. Porque era a sua hora de curtir a vida, de ser feliz. E agora eu
descubro que é tudo mentira. Que você foi atrás do Kent sabendo que ele
tinha uma esposa e uma família. Saia — falei com frieza.
— Hailee, espere um minuto...
— Eu disse saia. Não consigo nem olhar para você agora.
— Hailee Raine. — Ela empalideceu.
— Saia — gritei. — SAIA. SAIA. SAIA. — As palavras saíram da minha
garganta como uma explosão feia. Minha mãe soluçou, fugindo do meu
quarto. Eu não queria perder a calma, mas não conseguia olhar para ela. Eu
não poderia me sentar aqui e ouvir suas desculpas vazias.
Ela mentiu.
Dia após dia, ela me olhava nos olhos e escondia de mim esse segredo
sujo e imperdoável. Passei quase seis anos morando com Jason, tolerando
suas besteiras por ela. Porque ela estava feliz. Porque ela merecia um homem
que a tratasse da maneira que ela merecia ser tratada.
Agarrando o travesseiro mais próximo, eu o coloquei no meu rosto,
gritando de frustração. Cresci sem pai, mas nunca senti como se estivesse
perdendo algo por isso. Minha mãe era minha mãe e meu pai, tudo em um.
Ela me segurou quando eu me machuquei, chorou comigo em filmes tristes,
me ajudou com projetos de ciências e dever de casa. Onde meu pai esteve
ausente em cada marco, minha mãe esteve lá. Cento e dez por cento. Eles
eram o oposto um do outro.
Mas no final, descobri que eles tinham uma coisa em comum.
Os dois me traíram da pior maneira possível.

***

Algum tempo depois, acordei com o som de vozes elevadas. Desorientada,


me sentei, esfregando os olhos secos e doloridos. Chorei tanto que não tinha
certeza se havia mais lágrimas.
— Você estava transando com ela muito antes da minha mãe ir embora
— Jason rugiu e a raiva em sua voz era evidente até mesmo do meu quarto.
— Jason, você precisa se controlar — Kent estava calmo e composto
enquanto eu me arrastava para o corredor mal iluminado. — Você não tinha o
direito de contar a ela.
— Quantas vezes tenho que te dizer? Não contei a ela. Ela ouviu uma
conversa entre...
— Você acha que me importo com como ela descobriu, filho? Este não
era o jeito certo...
— Você acha que existe um jeito certo de descobrir que sua mãe é uma
destruidora de lares que... — O som de pele estalando soou no ar e eu vacilei,
descendo as escadas na ponta dos pés.
— Me toque de novo... — A voz do meu meio-irmão era baixa. Mortal. E
por uma fração de segundo, temi pelo bem-estar de Kent. Mas por mais idiota
que Jason fosse, eu não acreditava realmente que ele machucaria seu pai.
— Jason, eu não... sinto muito. Eu não gosto que você fale sobre a Denise
dessa forma. Isso é embaraçoso, filho. Se ao menos você tivesse vindo falar
comigo antes...
— Você teria feito o quê? Terminado? Tentado resolver as coisas com a
minha mãe?
— Isso não é...
— Acho que não — Jason grunhiu. — A minha mãe foi embora. Ela foi
embora por sua causa. Por causa dela. E você se pergunta por que eu não a
suporto.
— Chega — Kent disparou. — A Denise é minha esposa, Jason. Nada do
que você pudesse ter dito ou feito iria mudar isso. Eu a amo. E sinto muito
que as coisas tenham acontecido desse jeito, sinto mesmo, mas a vida nem
sempre é fácil, filho. É complicada, difícil e às vezes dói.
Eu estava presa no lugar, com os dedos enrolados em torno do corrimão.
Eu nunca tinha ouvido Jason e o pai discutirem antes. Eles nem sempre foram
calorosos um com o outro, mas imaginei que isso se devia a Jason. Ele era
desapegado, desprovido de emoção. Mas agora percebi que havia muito mais
no meu meio-irmão do que aparentava, e por mais que eu não quisesse sentir
simpatia por ele, não pude evitar de sentir.
Eu sabia a verdade há algumas horas – ele conviveu com ela por anos.
Então, por que ele nunca me contou? Não poderia ter sido para me
proteger, isso não fazia sentido. Ele expressou seu desprezo por mim em mais
de uma ocasião. Mas uma pequena parte de mim não podia deixar de se
perguntar se ele queria me poupar da dor que veio com o conhecimento.
Uma porta bateu, me tirando dos meus pensamentos e corri escada acima,
me trancando no meu quarto. Posso ter sentido simpatia por Jason, mas Flick
estava certa, eu estava endurecida. Porque embora eu soubesse que ele estava
sofrendo e que provavelmente precisava de alguém tanto quanto eu, não
poderia ser essa pessoa para ele.
Não poderia perdoá-lo.
Quando a manhã de segunda-feira chegou, eu estava exausta. Mal dormi
na noite passada. Minha conversa com a minha mãe e aquela que ouvi entre
Jason e Kent se repetiu indefinidamente até que meus sonhos se tornaram
uma realidade distorcida: mentiras e verdades se tornando uma teia
emaranhada de incertezas. Jason não tinha voltado para casa e assumi que ele
tinha ficado na casa de Asher ou com sua última transa. Ouvi Kent
tranquilizar minha mãe, dizendo que as coisas iam melhorar, como se a
verdade fosse algo que todos nós pudéssemos varrer para debaixo do tapete e
ignorar. Mas acho que eles precisavam dizer isso a si mesmos para uma vida
fácil.
— Bom di... você está um lixo. — Flick franziu o cenho. — O que
houve?
— É uma longa história.
— Tenho precisamente — ela verificou o relógio no painel — onze
minutos. Pode me contar.
Então eu disse a ela o que aconteceu, desde o momento em que Cameron
apareceu na casa dela ontem, até quando ouvi Jason e Kent discutindo na
noite passada.
— Certo, me deixe ver se entendi — ela falou, entrando no
estacionamento da escola. — Você teve uma transa sensual e deliciosa com
Cameron, descobriu que sua mãe e Kent tiveram um caso pelas costas da sra.
Ford, efetivamente acabando seu casamento, e que Jason sabia todo esse
tempo?
— Não se esqueça de que Cameron foi um idiota comigo todos esses
anos, porque meu meio-irmão o fez escolher entre nós. — Fechei os lábios
em uma linha tensa.
— Nem sei por onde começar. Vamos começar com a transa. — Seus
olhos brilharam com possibilidades. — Sim, vamos começar por aí, embora
você me deva muito pelo fato de ter transado na minha cama. Poxa, é sério?
Tive que dormir lá. — Ela franziu o nariz.
— Flick, foco — gemi, enterrando o rosto nas mãos, em parte por
vergonha e em parte por frustração por estarmos falando sobre isso. — Você
ouviu alguma coisa que acabei de dizer? O Cameron basicamente me tratou
como um lixo todos esses anos porque...
— Ele estava te protegendo, obviamente — ela disse as palavras sem
hesitar, revirando os olhos do jeito que sempre fazia quando achava que eu
estava sendo burra, enquanto eu olhava para ela.
— Me protegendo, certo.
— Vamos, Hails. — Ela se inclinou, puxando minhas mãos do meu rosto.
— Você não pode negar que tem uma certa poesia romântica.
— Poesia romântica — murmurei baixinho, empurrando a porta e saindo
do carro. — Bem, romântico ou não, não tenho certeza de como me sinto
sobre tudo isso.
— Então, você não vai ter um encontro no estilo Romeu e Julieta no
refeitório? — Ela balançou as sobrancelhas e eu franzi meus lábios.
— Você sabia que os dois acabaram mortos? — Arqueei minha
sobrancelha e ela sufocou uma risada. — Isso não vai acontecer, Flick. Além
disso, você parece ter esquecido um pequeno detalhe: tenho que sobreviver a
isso primeiro. — Apontei para a multidão reunida, todos olhando em minha
direção.
— Merda — ela murmurou entre os dentes. — Talvez devêssemos matar
aula hoje. Não tenho certeza...
— Não. — Coloquei minha bolsa no ombro e comecei a andar, ignorando
o coro de insultos.
Vagabunda.
Prostituta.
Vadia dos Eagles.
Mordi o interior da bochecha, me forçando a engolir as lágrimas.
— Não vou deixar que Lewis Thatcher ou qualquer outra pessoa me
expulse da escola — falei com convicção vacilante.
Todos eles viram o vídeo em que eu estava desmaiada e nua? Que
vergonha para eles por assistirem em primeiro lugar. Eu tinha coisas maiores
com que me preocupar agora. Como minha mãe destruidora de lares e meus
pensamentos conflitantes sobre um meio-irmão que passei a maior parte dos
seis anos odiando.
Sem mencionar o cara que consumiu todos os meus pensamentos, mas me
deu uma chicotada em cada curva.
Flick se colou ao meu lado, entrelaçando seu braço no meu.
— Você é muito corajosa, Hails — ela sussurrou e seu olhar duro enviou
sinais de alerta para algumas garotas próximas que estavam descaradamente
apontando e rindo. — Ou muito estúpida.
— Sim — suspirei, sentindo meus colegas de classe me olharem de forma
julgadora enquanto entrávamos na escola. — Eu vou te avisar quando
descobrir.
O que eu realmente queria era dar meia-volta e correr, ficar bem longe
deles. Mas eu não ia me acovardar. Hoje, não. Não por causa do vídeo ou dos
meus colegas de classe. Eu era melhor que isso.
Melhor que eles.
E seria preciso mais do que um video para me derrubar.
Trinta E Quatro
Cameron
— Se aproximem, garotos — o treinador gritou pelo campo enquanto eu me
atrapalhava com a bola pela terceira vez naquela manhã. — Quatorze — ele
gritou. — Estamos com algum problema, filho?
— Não, senhor — respondi, xingando baixinho.
— E você, QB? Quer me contar alguma coisa?
— Não, senhor — Jase repetiu minhas palavras, olhando para mim pelo
campo.
Eu não o via desde que ele foi embora ontem. Mas foi bom para mim. Eu
tinha coisas maiores com que lidar.
— Muito bem, execute novamente. — O treinador Hasson parecia
chateado, e eu não o culpava. Estávamos sem foco e a tensão entre mim e
Jase ondulava ao redor do campo como uma tempestade no horizonte.
— Que tal você tentar pegá-lo dessa vez? — Alguém riu, mas deixei isso
de lado e me movi em posição de jogo.
— Hut — ele disse, usando a expressão que os quarterbacks usam para se
comunicar com o center , para que a jogada seja iniciada. A voz de Jase
ecoou ao nosso redor quando Grady agarrou a bola para ele, e eu corri,
girando atrás dele e seguindo pelo lado direito do campo. Ele deixou a bola
voar e eu rastreei sua projeção, mas algo chamou minha atenção.
Hailee.
Ela estava sentada na arquibancada, os óculos emoldurando seu rosto e o
bloco de desenho equilibrado sobre os joelhos.
— Mãe de Deus — o treinador gritou enquanto meus dedos roçavam o
couro e a bola rolava para fora do meu alcance. — Ataque. Agora.
Soltei um suspiro pesado enquanto corria para a linha lateral, mas Jase
parou na minha frente.
— O que há de errado com você hoje? — ele perguntou com os dentes
cerrados e eu lancei um olhar duro a ele.
— Você realmente quer tocar nesse assunto? — questionei.
— Talvez devêssemos. Talvez se resolvêssemos toda essa merda entre
nós, você realmente conseguiria pegar a porcaria de um passe ou dois. — Ele
estava cara a cara comigo agora, nossos ombros estavam retos e os olhos
fixos um no outro.
O campo inteiro estava quieto, a tensão estalava no ar enquanto todos
esperavam para ver o que aconteceria.
— Vá embora, Chase — ele disse friamente.
— Vá você.
— Se vocês dois não vierem aqui nos próximos dois segundos — o
treinador explodiu —, vou bater suas cabeças uma na outra.
Jase soltou um suspiro pesado e balançou a cabeça como se não pudesse
acreditar no que tinha acontecido entre nós e então ele fez algo que nunca
imaginei que ele ia fazer.
Ele foi embora.
Me obrigando a respirar fundo e me acalmar, fui atrás dele, me juntando
ao grupo.
— Acordei em algum universo alternativo onde meu wide receiver não
consegue pegar a porcaria da bola e meu quarterback está grunhindo para
seus companheiros em vez de falar com eles com a porcaria do respeito que
eles merecem? — Seus olhos encararam a mim e a Jase enquanto estávamos
ombro a ombro, apesar do grande buraco entre nós.
— Desculpe, treinador — Jase resmungou. — Foram alguns dias difíceis.
— Seus olhos encontraram os meus.
— Perdão, o que você disse? — O treinador Hasson colocou a mão na
orelha. — Porque pareceu que você amarelou durante a noite, Ford. É a
quinta semana. Estamos na metade do caminho, senhores. Vocês acham que
podemos deixar a bola cair agora, sem trocadilhos, Chase? Os play-offs estão
quase ao nosso alcance, mas precisamos manter a cabeça fria. Vocês me
ouviram?
— Sim, senhor — alguns de nós murmuraram.
— Desculpe, ouvi vocês.
— Sim, senhor. — Nossas vozes se fundiram em uma.
— Bom, agora vão até lá e joguem como o time que sei que vocês são.
Chase, filho, uma palavra.
Os olhos de Jase me seguiram enquanto eu ficava para trás e todos os
outros se posicionavam.
— Preciso me preocupar? — O treinador não fez rodeios. — Você está se
atrapalhando com a bola e com as jogadas, e sei que você se atrasou para o
condicionamento esta manhã. Quer me contar algo, filho? — Seus olhos se
suavizaram enquanto esperava por respostas.
Respostas que eu não tinha.
Porque enquanto tudo estava desmoronando ao meu redor, eu não podia
contar a ele.
Não poderia dizer as palavras, mesmo se quisesse.
— Estou bem, treinador — ofeguei, sentindo o peso da mentira pesar em
meu peito. — Vou ficar bem.
Ele semicerrou os olhos com suspeita.
— Vamos então. Temos um jogo para vencer na sexta-feira. — O
treinador me deu um tapinha nas costas e eu me inclinei para frente, olhando
de novo para onde Hailee estava sentada sozinha. Eu queria ir até lá. Pedir
desculpas por ontem e explicar tudo, mas de que adiantava? Ela mal olhou
para mim durante toda a manhã. Suas paredes estavam mais altas do que
nunca.
Eu finalmente consegui meu momento com ela, para tê-lo arrancado de
mim em um piscar de olhos.
E foi uma merda.
— Chase, vamos — o treinador disse, e eu assenti, me livrando dos
pensamentos. Eu queria Hailee. Eu a deseja muito. Mas queria muitas coisas
também. Faculdade. Uma bolsa de futebol. Um futuro brilhante.
Mas às vezes, os sonhos não se realizam.
Às vezes, eles pegavam fogo e não havia nada que você pudesse fazer a
não ser tentar evitar a queimadura.

***

— Tudo bem, tenho que perguntar, o que é que está acontecendo com você e
o Jase? — Ash bateu a mão contra o armário ao lado do meu, bloqueando
minha saída.
— Não estou com humor para isso — falei, cortando-o com um olhar
duro.
— Puta merda, porque tentei perguntar a ele, que quase arrancou minha
cabeça com uma mordida. Então agora estou perguntando a você. E não me
venha com essa besteira de “está tudo bem”. Eu estava no treino. Vi você se
atrapalhar com a bola. Não vamos esquecer o fato de que vocês dois
pareciam prontos para se derrubarem.
— Eu disse que não quero falar sobre isso. — Avistei Hailee com o canto
do olho e me inclinei de encontro ao armário, seguindo-a com os olhos. Ela
não me olhou. Nem precisava. Senti suas vibrações de “fique longe de mim”
de onde eu estava.
— O que está acontecendo aí? — A voz de Ash cortou meu transe. —
Porque estou sentindo alguma coisa séria e sombria vindo dela.
— Sei lá. — Dei de ombros, me esquivando dele e seguindo Hailee pelo
corredor.
— Então, vocês dois estão...
— Nada. — Estremeci, sentindo meu peito apertar. Não estávamos
fazendo nada. Mas tínhamos feito.
Só que eu não tinha certeza de que continuaríamos fazendo.
— Caramba, tirar respostas suas é como tirar o Mackey dos peitos da
Khloe.
— Então pare de perguntar.
— Vamos lá, cara, sou eu. Sei que algo aconteceu entre você e Jase e
aposto minha herança que tem algo a ver com ela. — Ele apontou o dedo
para Hailee.
— Não é minha história para contar. — Acelerei o passo.
— O que isso significa? — ele gritou atrás de mim, mas eu estava muito
focado na garota à minha frente. Ela se desviou para a esquerda, longe do
fluxo de alunos que se dirigiam para o refeitório e seguiu para o
departamento de artes.
— Hailee — gritei quando ela estava prestes a desaparecer pelas portas.
— Vá embora, Cameron. — Ela nem mesmo olhou para mim. Ela poderia
muito bem ter arrancado meu coração e pisado em cima dele.
— Só quero conversar, por favor. — Preciso falar .
— Estou ocupada. Tenho que trabalhar no projeto.
Dane-se a porcaria do projeto , eu queria dizer. Preciso de você.
— Por favor. — Minha voz falhou, me traindo, mas chamou sua atenção.
Lentamente Hailee se virou para mim, com as sobrancelhas franzidas.
— O quê, Cameron?
— Eu... — As palavras ficaram presas na minha garganta. — Sinto muito.
— Era isso o que você queria me dizer? — ela zombou. — Não tenho
tempo para isso. Tive uma manhã realmente horrível.
— O que há de errado...
— Sério, Cameron? Ou você esqueceu do vídeo que o Thatcher espalhou
em todas as redes sociais? — A dor queimou em seus olhos.
Puta merda.
— Eu não... quero dizer, é claro que não... — Mas eu tinha me esquecido.
Estava tão preocupado que tinha me esquecido tudo sobre isso. Tivemos
condicionamento, depois treino e minha cabeça estava girando depois do fim
de semana. Muito bem, idiota . Mas agora que ela mencionou, notei os
olhares, o ruído surdo de sussurros de um grupo de alunos passando.
— O que é que vocês estão olhando? — rebati, sentindo meus músculos
travarem.
— Cameron, não. — O aviso de Hailee mal penetrou na névoa vermelha
que descia sobre mim.
— Fico surpreso por ele querer a vagabunda do Thatcher...
Eu estava no cara em um segundo. O ar saiu de seus pulmões quando suas
costas bateram na parede e o som reverberou ao nosso redor.
— O que foi que você disse? — Meus dedos se apertaram em torno de
sua garganta e o sangue drenou de seu rosto.
— Eu... eu... — O garoto balbuciou.
— Cameron, isso não está ajudando. — Hailee se moveu para a minha
visão periférica.
— Acha que pode falar sobre ela assim?
— Pare. — O puro desespero na voz de Hailee me fez afrouxar o aperto e
o cara deslizou pela parede, tossindo e cuspindo.
— Dê o fora daqui — falei de forma brusca, mantendo os olhos fixos em
Hailee e não nele.
Ele saiu correndo e eu exalei um longo suspiro.
— Tem sido assim a manhã toda?
Hailee olhou para mim como se não me reconhecesse e meu peito se
apertou.
— O que é que foi isso? — Ela fervia de raiva. — Não preciso de você
para me proteger, Cameron. Eu estava bem sem...
— Hailee, por favor. — Cobri a distância entre nós, apertando-a contra a
parede e a prendi com minhas mãos aos lados de sua cabeça. — Me desculpe,
tá? Eu só... — Puta merda. Eu estava estragando tudo. Mas não conseguia
pensar direito.
— Preciso ir. — Hailee soltou um suspiro exasperado e seus ombros
estavam caídos em derrota. Eu queria dizer algo para consertar, para resolver
as coisas entre nós, mas ela não era mais a única arrasada. E quando tentei
falar, nada além de um suspiro pesado escapou dos meus lábios.
— Te vejo por aí, Cameron. — Ela me deu um sorriso fraco e passou
entre mim e a parede, desaparecendo pelas portas de vaivém. E tudo que eu
podia fazer era assistir.

***

Com o passar da semana, as coisas só pioraram. Jase e eu mal podíamos estar


na mesma sala sem que a tensão atingisse o ponto de ebulição. Asher não
sabia que lado escolher ou por que ele estava tomando partido em primeiro
lugar. E eu queria matar alguém toda vez que ouvia mencionar o vídeo de
Hailee. Felizmente, acabar com essa merda foi a única coisa em que
podíamos concordar, e entre nós anulamos qualquer menção ao vídeo nos
corredores da escola.
— Bom dia. — Meu pai entrou na cozinha.
— Oi. — Mexi a colher no cereal com pouco entusiasmo.
— Grande jogo amanhã
— Acho que sim.
— Cameron, filho, tudo vai ficar bem...
— Não posso fazer isso. — Afastei a tigela e me levantei. — Não posso
fingir que está tudo bem. Não está tudo bem, caramba.
— Filho, olhe para mim. — Meu pai veio em minha direção, colocando
as mãos nos meus ombros. — Nós vamos superar, filho. Mas o que preciso
de você agora, o que eu e sua mãe precisamos, é que você continue
normalmente. Vá para a escola, se concentre no futebol e nos orgulhe.
— Mas como você pode... — As palavras morreram na ponta da minha
língua. — Não sei como devo fazer isso, pai, não quando ela...
— Shh , filho, shh . — Ele me puxou para um abraço, me segurando com
força. — Nós vamos superar isso, eu prometo. Só preciso que você seja forte.
Você pode fazer isso por mim?
Muito sufocado para responder, dei a ele um aceno imperceptível. A mão
do meu pai apertou minha nuca, se demorando, como se ele precisasse desse
momento tanto quanto eu. Quando ele se afastou para olhar para mim, vi o
medo em seus olhos. Era um reflexo do meu.
— Vamos seguir com as coisas como o habitual por enquanto, tá?
Engoli em seco, sentindo minha garganta áspera. Meu pai aproximou a
cabeça da minha e inspirou de forma dolorosa. Ele não disse nada desta vez.
Não precisava. Nada estava bem e tudo estava em jogo. E parte de mim
estava chateada por eles terem escondido isso. Mas eles eram os adultos, os
tomadores de decisão. Eles tinham que escolher como e quando dar a notícia
aos filhos. Claro, Xander era muito jovem para entender. Tudo o que ele
sabia era que sua mãe às vezes ficava doente, ela gritava e chorava e então o
abraçava com força e se desculpava sem parar. Ele estava confuso, mas parte
de mim o invejava. Em algum nível, sua inocência o protegeria das coisas
que viriam.
Meu estômago se apertou.
— Preciso ir. — Saí correndo, me afastando do abraço do meu pai.
— Cameron...
— Estou bem, pai. Só preciso de um pouco de ar. — E eu precisava que
ele não estivesse me olhando assim. Como se o pior já tivesse acontecido. —
Tenho treino depois da aula, então vou chegar tarde.
— O Xander vai ficar na casa da Katie. Eu e sua mãe estaremos...
— Sim, eu sei. — Peguei a mochila e as chaves, e acenei para ele. Foi um
movimento idiota. Mas eu não sabia como lidar com isso, como lidar com a
raiva e o medo que apodrecia dentro de mim. Eu não sabia como ele esperava
que eu fosse para a escola e jogasse futebol como se tudo estivesse igual.
Quando realmente nada mais seria o mesmo.

***

Estávamos reunidos em torno do treinador Hasson para sua conversa pré-


jogo. As últimas vinte e quatro horas foram um torpor, onde minha cabeça
estava ocupada só com duas coisas: minha mãe e essa merda com Jase,
Thatcher e Hailee. Ela não olhou duas vezes para mim durante toda a semana,
e eu me senti perdido. Era uma loucura como a única garota que passei a
maior parte dos seis anos mantendo à distância se tornou a que eu queria ao
meu lado mais do que qualquer coisa. Pensei em tentar falar com ela de novo
para explicar, mas no fundo, eu não sabia o que dizer. E se ela me rejeitasse
de novo, eu não tinha certeza se conseguiria lidar com isso.
— Quatorze, sua cabeça está no lugar, certo, filho?
— Claro, treinador. — Meu capacete estava pendurado na minha mão
enquanto eu assentia.
— A St. Odell tem uns bons jogadores. Mantenha os olhos abertos e a
cabeça baixa, está me ouvindo?
Uma rodada de grunhidos encheu o vestiário.
— Chegou a hora, senhores. Vamos vencer e não há como nos parar. Nós
somos os únicos a ganhar, os únicos a derrotar. — Seus olhos de aço
percorreram cada um de nós. — Juntem-se, Raiders.
O vestiário ficou eletrizado enquanto nos preparávamos para correr para o
campo. Me concentrei no enorme 'R' azul e branco pintado ao lado da porta;
nosso amuleto da sorte, um lembrete de quem éramos e para onde estávamos
indo.
— Ei — Jase se aproximou depois que o círculo se desfez. — Você está
bem? — Foi a primeira vez que ele tentou falar comigo em três dias.
— Se você está preocupado que eu não vá fazer o trabalho — grunhi —
eu vou.
— Chase.— Ele agarrou meu pulso, e eu olhei para ele. — Vamos, isso
não é... — Um suspiro pesado escapou de seus lábios. — Essa merda entre
nós não está certa.
— Sim, bem, muita coisa não está mais certa. — Dei de ombros e me
juntei aos meus companheiros de equipe enquanto entrávamos no campo sob
as luzes brilhantes da noite de sexta-feira, rezando silenciosamente que eu
pudesse sobreviver na próxima hora.
Trinta E Cinco
Hailee
— Não posso acreditar que deixei você me convencer a fazer isso —
sussurrei para Flick enquanto estávamos sentadas entre um mar de azul e
branco.
— Chame de pesquisa.— Ela me deu um sorriso divertido.
— É mais como uma morte lenta e dolorosa.
— Sério, Hails? Você está me dizendo que nem mesmo uma pequena
parte sua quer estar aqui para torcer por ele? — Ela ergueu a sobrancelha,
com uma expressão duvidosa.
— Torcer por quem?
Ela me deu um sorriso malicioso.
— Se você pensar por um segundo que eu acredito nessa coisa entre você
e — minha melhor amiga se inclinou para mais perto, se certificando de que
ninguém ao nosso redor pudesse ouvir — o quatorze acabou, então você é
mais tola do que eu... ah, lá vem eles.
Imagine Dragons explodiu no sistema de som, levando a multidão ao
frenesi. Só que isso não desencadeou a adrenalina em minhas veias como
antes. Não quando passei a última semana tentando evitar meus colegas, o
que era difícil quando se passava quase sete horas do dia com eles. Como se
isso não bastasse, a atmosfera em casa era tóxica. E Cameron mal olhou para
mim durante toda a semana. Então, me sentar entre quatro mil fãs do Raider,
torcendo pelo time para a vitória, não era exatamente minha ideia de escapar
de toda a merda que estava acontecendo na minha vida.
Mas Flick era persistente e se eu fingisse muito e tentasse evitar procurar
Cameron pelo campo, poderia me convencer de que estava aqui apenas para
fins de pesquisa.
Bem, quase.

***
Indo para o quarto período, o jogo estava empatado. Foi difícil assistir. Algo
estava errado no campo dos Raiders e todos sentiram isso. Meu meio-irmão
estava chateado, gritando com seus companheiros de equipe toda vez que eles
se atrapalhavam com a bola ou não jogavam, e o treinador Hasson parecia
pronto para explodir em mais de uma ocasião.
— Isso deveria ter sido um passeio no parque para eles — Flick
resmungou ao meu lado. Ela realmente encontrou seu lugar como a mais
recente fã do time. O boné azul e branco estava em sua cabeça com orgulho.
— Vamos lá — ela gritou quando nossa defesa derrubou um dos ataques do
St. Odell Saints e a multidão respondeu com um rugido feroz.
Os jogadores se moveram e fiquei observando o número quatorze
enquanto ele corria para o campo, seguindo para a sua posição. Jason gritou o
passe e pareceu haver uma inspiração coletiva enquanto jogava a bola para
Cameron, que disparou pelo campo esquerdo, logo abaixo de sua trajetória. A
multidão estava extasiada e havia um estalo de antecipação no ar, quando ele
enganchou a mão pronto para receber a bola. Foi um bom passe, uma pegada
ainda melhor, e a multidão foi à loucura, provocando um barulho
ensurdecedor.
— Vá, vá — Flick gritou, cravando as unhas em meu braço com tanta
força que tive certeza de que poderiam tirar sangue.
Mas não torci, não consegui. Meus olhos estavam muito focados em
Cameron, na maneira como ele cortava o ar e suas pernas fortes
ultrapassavam os marcadores de jardas. Trinta... vinte... dez.
— Ah, Deus — minha melhor amiga suspirou enquanto o mundo ficava
mais lento. Um atacante do Saints apareceu do nada, em rota de colisão com
Cameron.
— Flick — minha voz falhou enquanto eu observava, junto com o resto
da multidão enquanto o enorme jogador de defesa se chocava contra
Cameron, jogando-o no ar. Seu corpo voou para trás e ele caiu com força. O
lugar inteiro estremeceu, o forte assobio de quatro mil respirações fez meus
pelos se arrepiarem e a energia nervosa agitou meu estômago.
Não era meu primeiro jogo. Vi outros jogadores serem atingidos. Assisti
enquanto corpos estavam caídos pelo campo como bonecas de pano, mas
nunca senti o impacto antes.
— Flick. — Minha voz não soava mais como a minha enquanto eu
agarrava minha amiga, observando os jogadores ficarem ao redor do corpo
sem vida de Cameron.
— Ele está bem — Flick disse com a voz embargada. — Ele vai ficar
bem. Os jogadores levam golpes assim o tempo todo.
Mas ele não parecia estar bem.
Ele não se levantou e se sacudiu como os jogadores costumavam fazer.
Ele apenas ficou lá, imóvel.
Ainda mortal.
O medo tomou conta de mim, levando meu coração a colapso enquanto
batia violentamente contra meu peito. Os juízes do jogo estavam em campo,
atendendo a Cameron, que ainda não havia se movido. Por que ele não está se
movendo? Jason arrancou o capacete e começou a andar ao lado do melhor
amigo, passando a mão pelo cabelo úmido para a frente e para trás,
repetidamente enquanto Asher observava com o resto de seus companheiros.
— Levante-se — murmurei.
Por que ele não está se levantando?
Depois do que pareceu uma eternidade, Cameron se sentou devagar e
todo o estádio respirou fundo com ele. — Graças a Deus — ofeguei, mal
conseguindo pronunciar as palavras sobre o nó na garganta.
Dois homens o ajudaram a se levantar e Jason e Asher seguiram a seu
lado enquanto o conduziam para a área do time na linha lateral. Uma lenta
salva de palmas cresceu ao redor das arquibancadas até que todos estivessem
de pé batendo palmas para seu amado número quatorze.
O jogo recomeçou rapidamente, como se meu mundo não tivesse quase
acabado, e os Saints assumiram a posição ofensiva. Mas eu estava muito
ocupada olhando para Cameron. Ele havia tirado o capacete agora e estava
com a cabeça baixa enquanto um dos treinadores assistentes e a equipe
médica o examinavam.
— Tem algo de errado — eu disse, estendendo a mão para Flick quando
ele saltou, jogando o capacete no chão e começou a se afastar. Jason foi atrás
dele. Os dois travaram uma batalha de vontades enquanto Cameron olhava
para ele e murmurava algo que eu não consegui decifrar – a distância tornava
muito difícil ler seus lábios.
— Ele está...? — Flick engoliu suas palavras enquanto nós dois víamos
Cameron sair do campo sem olhar para trás.
— Ele foi embora — falei, afirmando o óbvio, sentindo meu estômago
afundar no esquecimento. — Ele acabou de sair.
— Talvez você devesse ir atrás dele — Flick sugeriu.
— O quê? — Pisquei para ela. Eu não conseguia pensar direito. Algo não
parecia certo. Ele havia se machucado, sim, mas parecia bem ao sair do
campo, então o que aconteceu naqueles poucos minutos entre ele se sentar e
sair como um furacão?
E então aquilo me atingiu.
Sua mãe.
Ah, Deus, e se algo tivesse acontecido com sua mãe?
Ele esteve desatento a noite toda – seus passes foram desajeitados e as
jogadas, mal interpretadas. Mesmo uma espectadora novata como eu podia
ver que a cabeça de Cameron não estava aqui.
— Faltam só alguns minutos para terminar. — Flick me cutucou. — Se
você sair agora, vai evitar a confusão. Ele provavelmente está no vestiário.
— Flick, não posso simplesmente... — Ela me lançou um olhar
penetrante e eu balancei a cabeça, mal conseguindo acreditar nas próximas
palavras que saíram da minha boca. — Você vai ficar bem? — perguntei.
Um sorriso irônico apareceu em seus lábios.
— Por favor, eu nasci para isso. — Ela puxou a aba de seu boné. — Além
do mais, quero vê-los atacando os Saints.
— Tá. — Respirei fundo. Eu realmente estava prestes a entrar no
vestiário dos Raiders?
Sim, sim, eu estava.
Porque se Cameron estava sofrendo, eu queria estar ao lado dele. Queria
confortá-lo do jeito que ele me confortou.
Com um pequeno aceno de cabeça, pedi desculpas às pessoas em nossa
fileira enquanto seguia até o fim. Quando cheguei ao final das arquibancadas,
estava sem fôlego e um pouco desorientada, mas rapidamente me encontrei e
fui para dentro do estádio, contornando o outro lado até onde ficavam os
vestiários. A multidão explodiu no alto e as vibrações ecoaram por todo o
lugar, fazendo meu pulso disparar. Pela ferocidade do rugido, eu sabia que os
Raiders haviam marcado, mesmo antes de o sistema de som fazer o anúncio.
Quando finalmente alcancei as portas azuis, fiz uma pausa. Eu não
poderia simplesmente aparecer lá. E se Cameron estivesse tomando banho?
Ou recebendo atendimento médico?
E se ele não quisesse me ver?
De repente, me sentindo completamente fora de mim, me encostei na
parede bem em frente às portas. O jogo terminaria em alguns minutos, o que
significava que não demoraria muito para que o resto da equipe chegasse lá.
— Com licença senhorita. — Um segurança se aproximou de mim. —
Você não pode ficar aqui embaixo.
— Eu... humm, sou Hailee Raine. — O reconhecimento brilhou em seus
olhos, mas ele me deixou terminar. — Meia irmã do Jason Ford. Preciso vê-
lo. — Foi a primeira coisa que me veio à cabeça.
— Bem, claro. — Ele sorriu calorosamente com a menção de Jason. —
Seu irmão fez um grande jogo esta noite. Vai, Raiders. — Seus olhos
brilharam quando ele socou o ar. Percebendo seu deslize momentâneo, ele
limpou a garganta e colocou de volta sua máscara profissional. — Você não
pode ir até lá, mas ficaria feliz em avisá-lo de que você está esperando aqui.
Merda, não era isso que eu queria.
— Obrigada.
Ele assentiu de forma educada antes de entrar pelas portas proibidas. Me
acomodei no chão frio, puxando meus joelhos para cima. Eu deveria ter
entrado antes que o time voltasse. Mas já era tarde demais. Eu teria que
esperar.
E eu só esperava que, quando ele aparecesse, Cameron falasse comigo.

***

Sentada no chão duro, descobri algo novo sobre jogadores de futebol – eles
gostavam de tomar banho depois do jogo. Trinta e cinco minutos depois que
o estádio ficou vazio, os jogadores finalmente começaram a sair, mal
prestando atenção em mim, muito focados na festa para a qual estavam indo,
sem dúvida. Mas quando Asher e Jason apareceram, pulei e dei um passo à
frente.
— Hails, que surpresa. — Ash me deu um sorriso fácil, mas não perdi a
tensão em seus olhos.
— Eu, humm... — Isso não era nada estranho. — Eu vim ver se o...
— Ele foi embora. — A voz de Jase soou fria e seus olhos estavam duros
enquanto me observavam. Mas, surpreendentemente, pela primeira vez, não
senti que seu desprezo fosse dirigido a mim.
— Foi? — ofeguei.
Mas eu estava esperando aqui há mais de quarenta minutos. A menos
que... merda. Cameron deve ter voltado aqui, pegado suas coisas e deixado o
estádio imediatamente. Nesse caso, eu acabei perdendo-o.
Meu estômago afundou.
— Vou deixar vocês conversarem. — Asher me deu um aceno de cabeça
antes de jogar sua bolsa por cima do ombro e se dirigir a Jason. — Me ligue
mais tarde se quiser conversar. — Ele seguiu pelo longo corredor e Jason
soltou um suspiro pesado, se movendo para encostar na parede ao lado da
porta bem em frente a mim.
— Nunca pensei que eu estaria aqui. — Ele quebrou o silêncio.
— Nem você, nem eu. — Dei de ombros enquanto remexi meus pés
contra o chão.
— Nunca o vi assim, não em todos os anos que o conheço. É como se ele
nem estivesse em campo...
— Acho que algo está errado.
— Errado?
— Sim. — Engoli em seco, me perguntando o quanto eu deveria dizer a
ele. — Com a mãe dele.
— Ela tem depressão ou algo assim. Acho que ter o Xander estragou
tudo.
— Jason — eu repreendi, desejando saber o que tinha acontecido com ele
para que se tornasse tão ruim. — É mais do que isso. Talvez se você não
fosse assim... — Deixei as palavras morrerem na minha língua. Eu não estava
aqui para discutir com ele. Só queria apoiar Cameron.
— Vá em frente, diga. Você acha que investi muito no futebol para ver o
que realmente está acontecendo aqui.
— Não foi? — perguntei.
— Eu... merda. — A expressão de Jason endureceu, mas depois suavizou
quando ele soltou um suspiro exasperado. — Há realmente algo acontecendo
com a mãe dele?
Concordei.
— Acho que sim. Ele me contou algumas coisas.
— Que coisas? — Isso chamou sua atenção.
Eu pressionei meus lábios em desafio. Não cabia a mim revelar os
segredos de Cameron.
— Ele nunca disse nada para mim —Jason acrescentou quando não dei
uma explicação.
— Tem certeza? Talvez ele estivesse tentando te dizer o tempo todo e
você não estava ouvindo. — Minha voz se elevou e a tensão entre nós
aumentou com ela.
Ele passou a mão pelo cabelo castanho rebelde e seus olhos escureceram.
— Você deveria ir atrás dele.
— O quê?
— Não pense que isso significa que estou bem com vocês dois. Não
estou. Mas se o que você diz é verdade, o Chase precisa de alguém, e
provavelmente sou a última pessoa que ele quer ver.
— Jason — suspirei. — Você é o melhor amigo dele.
— Um grande merda nisso — ele resmungou.
Fiquei atordoada e sem palavras. Jamais ouvi Jason confessar suas
deficiências. Ele sempre foi tão arrogante e frio. Infalível. No entanto, ele
parecia completamente perdido esta noite. O fogo em seus olhos se extinguiu
em nada mais do que uma chama morrendo.
— Ele vai voltar a si — falei, sem dúvida. Porque o vínculo entre os três
excedia o certo e o errado, o bom e o mau. Eles eram irmãos. Ligados por
fios invisíveis que eu nunca entenderia de verdade.
— Só diga a ele que sinto muito — ele disse e algo se passou entre nós.
Um entendimento mútuo que nunca pensei que teríamos. — Pode fazer isso
por mim?
Muito sufocada para responder, assenti.
— E Hailee? — Ele não tinha acabado. — O que o Thatcher fez... ele foi
longe demais e, por isso, sinto muito.
Fiquei boquiaberta, sem saber se estava ouvindo corretamente. Isso
ficaria para sempre como um dos momentos mais surreais da minha vida.
Mas eu aceitaria.
Se finalmente significasse não estar do lado oposto da linha de Jason, eu
aceitaria.

***

Flick concordou em me deixar na casa de Cameron. A viagem foi tranquila.


Eu estava muito perdida em meus pensamentos para realmente responder a
qualquer uma de suas perguntas. E foram muitas. Eu estava pensando sobre a
estranha conversa com Jason. Distraída pela apreensão que agitava meu
estômago.
Em certo momento, ela calou a boca e aceitou o silêncio como trilha
sonora para a curta jornada.
— Tem certeza disso? — ela finalmente perguntou quando paramos do
lado de fora da casa.
— Não, mas estou com um pressentimento muito ruim. — Os jogadores
não costumavam sair do campo sem um bom motivo, não os Raiders. E,
especialmente, não astros do time.
— Devo esperar...
— Não — falei. — Eu cuido disso. — Além do mais, se o pior cenário se
tornasse realidade e Cameron batesse a porta na minha cara, eu não gostaria
que ninguém testemunhasse.
— Tudo bem, então vá atrás do seu homem. — Flick estendeu a mão e
apertou a minha, me oferecendo um sorriso tranquilizador. Desci e caminhei
até a porta dos Chase. A casa estava às escuras, sem nenhum sinal de vida. A
caminhonete de Cameron estava estacionada na garagem, mas o carro do seu
pai, não. Eu não sabia se isso era um bom sinal ou não.
Respirando fundo, olhei para trás para Flick, que levantou o polegar antes
de sair e desaparecer na noite escura.
— Você pode fazer isso — sussurrei para mim mesma. Mas quando fui
bater, percebi que a porta estava entreaberta. — Cameron? — Entrei e fui
saudada com silêncio. — Cameron? — O sangue latejava entre minhas
orelhas. Estava quieto e o lugar mergulhado na escuridão. Mas a porta estava
aberta. — Olá? — Chamei de novo, mas só ouvi o som do meu próprio
coração batendo descontroladamente contra o meu peito.
Enfiando a mão no bolso, peguei o celular, só por garantia, enquanto
entrava na casa.
— Cameron? — Foi um sussurro desta vez. Mas o lugar parecia deserto.
E então eu ouvi. Um murmúrio suave. Correndo pelo corredor, irrompi na
cozinha e derrapei até parar.
— Cameron?
Ele estava caído no chão contra uma das bancadas e com o rosto
enterrado nas mãos. Devagar, ele me olhou e o que vi em seus olhos azul-
acinzentados partiu meu coração. Cameron Chase, wide receiver dos Raiders,
estava em pedaços. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, sem o brilho
usual, e suas mãos estavam ensanguentadas e machucadas.
— Cameron. — Me ajoelhei e cheguei mais perto dele, pegando suas
mãos e inspecionando seus ferimentos. — O que você fez?
— Não importa. — Sua voz falhou quando ele inclinou a cabeça para trás
contra o armário.
— Isso precisa de limpeza, você tem um kit de primeiros socorros?
Seus olhos se fecharam enquanto ele respirava irregularmente, que senti
por todo o caminho até minha alma. Eu queria confortá-lo, envolvê-lo em
meus braços e perguntar o que havia de errado, mas algo me impediu.
— Cameron, um kit de primeiros socorros? — perguntei de novo,
distraindo a mim e a ele.
— Eu... sim, tem no armário ali. — Ele balançou a cabeça, com os olhos
fixos nos meus. A intensidade em seu olhar era quase insuportável.
Encontrei o kit de primeiros socorros e corri de volta para ele, me
ajoelhado entre suas pernas estendidas.
— Isso pode doer. — Ele sibilou enquanto eu limpava o sangue de seus
dedos. A pele estava esfolada. — Espero que o outro cara tenha ficado pior.
— Tenho certeza de que a parede ganhou — ele disse sem rodeios, e meu
estômago afundou.
— Certo, a outra. — Ficamos em silêncio enquanto eu continuei a limpar
suas feridas. Cameron não falou, não precisava – sua dor girava ao nosso
redor como uma tempestade de raiva. Quando terminei, coloquei o kit de
primeiros socorros de lado e acariciei seu queixo com meus dedos. —
Gostaria de falar sobre isso? — perguntei baixinho, deixando minhas
palavras se estabelecerem entre nós.
— Falar? — ele zombou. — Não tenho certeza se há algo mais a dizer,
Hailee.
Meu peito se apertou.
— Tente — falei com um ar de desafio. Porque agora, Cameron precisava
de alguém. E eu queria ser quem lhe daria apoio.
Eu queria tirar sua dor e torná-la minha.
Trinta E Seis
Cameron
— O que você está fazendo aqui, Hailee? — Era algo péssimo a se dizer
quando ela veio atrás de mim, limpou minhas juntas arrebentadas e não pediu
nada em troca. Mas agora ela estava perguntando, e eu não tinha certeza se
tinha respostas.
Tudo estava desmoronando ao meu redor. Durante toda a semana, mal
consegui me manter à tona, com a cabeça acima da água. E então esta noite,
no campo, algo se quebrou.
Eu desmoronei.
— Eu... — Ela torceu as mãos, olhando para todos os lados, menos para
mim. Ela estava nervosa, era nítido, e me atingiu como uma parede de tijolos.
— Eu estava preocupada com você. — Suas palavras saíram em tom baixo
quando ela finalmente fixou os olhos em mim. — Você foi atingido, e eu não
sabia se... até que vi você sair de lá e percebi que não perguntei como sua
mãe estava, e pensei...
— Ela está com um tumor no cérebro. — Meu peito se apertou, o que fez
com que meu coração se comprimisse. Respirei fundo, tentando colocar mais
ar em meus pulmões. Eu não tinha a intenção de contas, mas ver Hailee
correr para a cozinha e a preocupação em seus olhos, fez com que algo se
partisse dentro de mim. Ou talvez tenha consertado algo.
Eu não sabia de mais nada.
— Um tumor no cérebro? — Ela empalideceu. — Cameron, sinto muito.
— Me envolvendo com seus braços, Hailee me puxou para seu abraço e eu
fui. Fui com tanta facilidade que se alguém pudesse me ver, pensaria “que
cara fraco”, mas eu não me importava. Desde que me sentei em frente à meus
pais há cinco noites, enquanto eles tentavam me explicar o que estava
acontecendo, eu andava por aí em transe. Incapaz de processar a verdade,
minha nova realidade.
Minha mãe não estava deprimida, ela tinha um tumor. Por quatro anos,
nós a vimos se perder nas mudanças de humor, nos altos e baixos e na
letargia paralisante. Mas não era sua mente. Era um invasor, um tumor de dez
centímetros que estava comprimindo seu lobo frontal.
As mãos de Hailee esfregaram minhas costas enquanto eu me agarrava a
ela, lutando contra as lágrimas que estavam presas na minha garganta desde
sábado.
— Cameron — sua voz era baixa —, olhe para mim. — Ela me empurrou
com gentileza e me segurou com o braço esticado. — Estou aqui. Me diga o
que você precisa. O que posso fazer.
O alívio foi imediato, me atingindo como uma onda incontrolável. A
semana toda, eu quis falar com Hailee, confiar nela. Só para ficar com ela.
Foi como caminhar pela areia movediça e a cada dia ser puxado mais e mais
para baixo, ameaçando me afogar em minha raiva, dor e confusão.
Eu não deveria ter ido a escola e com certeza não deveria estar naquele
campo de futebol esta noite. Mas meus pais me fizeram prometer que eu
continuaria seguindo a vida normalmente.
Normalmente.
Isso era uma piada.
Eles queriam que eu fosse forte, que carregasse o fardo e não
desmoronasse. Mas eu não era forte. Eu estava muito abalado. Me
desfazendo lentamente. E envolto nos braços da garota que possuía meu
coração por mais tempo do que eu gostaria de admitir, eu finalmente me
deixei desmoronar.
— Fique comigo, Hailee — sufoquei as palavras. Minha garganta estava
dolorida por todas as lágrimas que chorei. — Só fique comigo.
— Eu posso fazer isso. — Ela me deu um sorriso incerto, mas foi o
suficiente.
Naquele momento, foi tudo.
Sem mais palavras, me levantei, puxando Hailee comigo e a conduzi para
o meu quarto. Meus pais estavam em uma rara noite fora. O dr. Kravis havia
providenciado sua cirurgia para a próxima semana, então meu pai insistiu que
eles passassem algum tempo juntos. Só por garantia.
Só por garantia.
Puta merda.
— Cameron? — Hailee perguntou, quando eu paralisei.
— Desculpe, eu estou...
— Ei, está tudo bem. — Ela apertou minha mão antes de se mover na
minha frente, me puxando com carinho em direção ao meu quarto. Quando
chegamos à porta, Hailee não hesitou em entrar. O ar estava denso ao nosso
redor e os eventos das últimas semanas pesando muito sobre nós dois.
— Cameron — ela falou, liberando minha mão e se virando para mim. —
Eu...
— Venha aqui. — Segurei sua mão, puxando-a para mim até que eu
estava olhando para seus olhos castanhos que brilhavam com compaixão e
compreensão. — Você não tem ideia do que a sua presença significa para
mim.
— Eu fui até o vestiário — ela admitiu. — Logo depois que você deixou
o campo. Eu fui te encontrar. Mas você já tinha saído.
— Eu precisava de espaço. Quando aquele blocker me derrubou, foi
como se tudo tivesse me atingido. Minha mãe. Essa coisa com você e
Thatcher. Xander. Parece idiota, mas minha vida passou diante dos meus
olhos e eu... — Engoli em seco. Parecia loucura. Mas Hailee não parecia
assustada.
Nem um pouco.
— Não é idiota — ela disse. — Você se machucou e, dadas as
circunstâncias... é compreensível, Cameron. Você está sob muita pressão e...
— Mas é exatamente isso. — Passei a mão rapidamente pela cabeça. —
Estou sob pressão por causa do futebol, por causa do time. Mesmo com tudo
o que está acontecendo, meus pais insistiram muito para que eu continuasse
jogando, para que eu continuasse como se nada tivesse mudado quando, na
verdade, tudo mudou. Minha mãe precisa fazer uma cirurgia, ela pode... — A
dor me oprimiu e fechei os olhos. Os dedos de Hailee torceram em minha
camisa polo enquanto ela se inclinava para mais perto.
— Morrer — forcei a palavra. — Ela pode morrer, Hailee. — Inclinei a
cabeça contra a dela, sentindo o peso da verdade quase me derrubar.
— Sinto muito. Sinto muito mesmo — ela repetiu várias vezes, roçando o
rosto no meu enquanto beijava o canto da minha boca. Ela não podia resolver
isso, ninguém podia. Tivemos que entregar essa responsabilidade aos
médicos do hospital Rixon General e esperar que Deus – orar – e eles
pudessem remover o tumor e nos devolver a minha mãe inteira.
Não percebi que estava chorando de novo até que Hailee beijou minhas
bochechas. Puta merda, eu não chorava. Eu era Cameron Chase, um dos
melhores wide receivers do estado. Lutei contra alguns dos maiores e mais
difíceis jogadores de defesa do país. Mas Hailee entendia; em algum nível ela
entendia. E eu não tinha percebido o quanto precisava de alguém até este
momento.
— Ssh — ela sussurrou e sua voz soou como uma carícia gentil. — Estou
aqui, Cameron. Eu estou bem aqui. — Hailee acariciou meus lábios com os
dedos, capturando-os com a boca até que estivéssemos nos beijando.
Pequenos beijos incertos. Levei as mãos aos seus cabelos para que eu pudesse
inclinar seu rosto, aprofundando o beijo. Deslizei a língua contra a sua,
precisando estar mais perto.
Precisando de mais.
Ela me beijou com ferocidade, exigindo as mesmas coisas, me puxando
para mais perto, encaixando nossos corpos até que fôssemos um emaranhado
de beijos e membros, suspiros e toques. Eu ainda me sentia vazio, a agonia do
que estava por vir pesava na boca do meu estômago, mas Hailee preencheu
um pouco o vazio. Cada toque de sua língua era um remendo no buraco em
meu coração; cada toque de seus lábios era um curativo para minha dor.
— Está tudo bem? — ela murmurou contra meus lábios, enfiando a mão
por baixo da minha camiseta e passou sobre minha pele quente. Assenti,
muito consumido para falar. Eu precisava disso.
Necessitava dela.
Mais do que jamais pensei ser possível.
Hailee pintou padrões suaves sobre minha pele, levando um tempo para
acariciar meu abdômen. Era como se fosse a primeira vez que eu a estava
tocando. Minha cabeça nublou com muitas emoções e pensamentos. Meu
corpo a queria e meu pau lutava dolorosamente contra a calça jeans, mas ela
merecia que eu estivesse cem por cento no momento.
— Hailee, espere... — Eu não podia acreditar que estava dizendo essas
palavras.
Ela recuou, olhando para mim, e sua expressão se suavizou.
— Tudo bem.
Entrelaçando minha mão na sua, ela me puxou para a cama e me
empurrou devagar. Caí com um baque, me apoiando sobre os cotovelos.
Hailee tirou lentamente as roupas. Seu suéter foi o primeiro, revelando uma
extensão de pele macia, seguida por seu jeans.
— Puta merda, você é linda — sussurrei, olhando para ela, que se
ajoelhou e alcançou o botão da minha calça jeans antes de puxá-la pelas
minhas pernas, me cutucando para levantar meus pés para que pudesse
removê-la completamente.
Eu a observei: a curva suave de seus lábios, o rubor em sua pele, quando
ela percebeu que eu estava excitado.
— Você tem camisinha? — ela perguntou, e eu movi a cabeça para a
mesa de cabeceira, sentindo a garganta seca e a pele quente. Hailee se
levantou e foi até lá. Pegou o invólucro laminado enquanto eu arrancava a
camiseta. Então ela abriu o sutiã e o deixou cair no chão e encaixou os dedos
na calcinha e a tirou.
— Venha aqui — eu disse, incapaz de disfarçar a pura luxúria em minha
voz. Ela veio de boa vontade, escalando minhas pernas até que estava
montada em mim. Com uma mão pressionada em suas costas, entrelacei a
outra em seu cabelo, angulando seu rosto enquanto capturava seus lábios.
Beijos quentes, úmidos e desesperados. Hailee gemeu meu nome e meu pau
pulsou. Eu queria adorá-la, passar meu tempo me familiarizando com cada
inclinação e curva de seu corpo incrível. Mas eu não podia esperar. Não essa
noite. Não agora.
— Eu preciso de você — sussurrei contra seus lábios.
— Então me tome — ela respondeu, olhando para mim com desejo e
amor.
Amor?
A emoção me atingiu, roubando meu fôlego.
Hailee realmente me amava?
Merda, não era possível.
Era?
E o mais importante, eu a amava?
A quem eu estava enganando? Eu não a amava.
Então, por que é que a minha garganta estava seca e meu coração batia
tão forte que pensei que fosse explodir no meu peito?
Hailee se inclinou um pouco para trás, rasgou a embalagem e colocou a
camisinha em mim. Arqueei com um gemido. Puta merda, seu toque era
como criptonita. Mas não era nada comparado à maneira como ela se
encaixava em mim.
— Cam — ela sussurrou. Seu corpo estava trêmulo.
— Eu sei, baby, eu sei. — Levei a mão a sua nuca, prendendo seu cabelo,
segurando-a no lugar e precisando saborear o momento e a sensação do seu
aperto em volta de mim, sua pele contra a minha, suas curvas moldadas ao
redor das minhas linhas duras. Mas Hailee estava impaciente, se movendo em
minha direção, e a intensidade da posição nos fez gemer.
— Preciso me mover — ela gritou, seus olhos vidrados, a pele corada.
Segurei a curva de seu quadril quando ela começou a se mover de forma
contínua, afastando toda a tristeza até que não houvesse nada além de nós. Eu
só ouvia os sons de nossos corpos se movendo um contra o outro, nossas
respirações ofegantes e gemidos silenciosos.
Sentindo o formigamento familiar na base da minha coluna, comecei a
estocar, encontrando Hailee cada vez que ela movia os quadris.
— Mais forte, Cam, mais forte... — ela murmurou, arranhando meu peito.
A pontada me levou mais perto do clímax. Me lembrando que eu estava vivo.
Que eu estava aqui neste momento e que tinha que lutar.
Pela minha mãe.
Meu futuro.
Minha família.
Os gritos de Hailee aumentaram e seu ritmo acelerou quando ela começou
a perder o controle. Puxando seu cabelo para fazê-la arquear para trás, abaixei
a cabeça, sugando seu pescoço, mordiscando sua pele e levando-a para mais
perto do orgasmo.
— Cam — Meu nome escapou de seus lábios enquanto ela apertava em
torno de mim, me puxando ainda mais em seu corpo e me apertando com
tanta força que vi estrelas. Eu queria ficar lá. Viver nesta bolha e nunca mais
sair. Mas suas paredes me apertaram novamente, e eu caí direto no orgasmo
com ela, abraçando-a enquanto meus músculos travavam e eu gozava com
força.
Eu sabia que teria que sair de dentro dela em algum momento, mas bem
ali, eu não quis soltá-la.
Trinta E Sete
Hailee
— Bom dia. — O timbre profundo da voz de Cameron provocou arrepios na
minha coluna.
— Bom dia. — Espiei com um olho aberto, lutando contra um sorriso
enquanto esticava meu corpo e minhas pernas tocavam as dele, fazendo
minha barriga se apertar.
— Eu estava quase com medo de acordar, caso a noite passada fosse um
sonho. — Seus olhos brilharam com emoção.
Emoção na qual eu não queria me perder. Não quando ainda havia tanta
coisa acontecendo ao nosso redor.
— Venha aqui. — Cameron puxou meu corpo para mais perto do seu,
acendendo um fogo na minha barriga. — Eu poderia me acostumar com isso
— ele disse.
Enterrando meu rosto na curva de seu ombro, me permiti aproveitar o
momento. Eu estava na cama de Cameron... de novo. E não parecia
incômodo, estranho ou como se eu estivesse cometendo um erro terrível, de
que me arrependeria mais tarde.
Parecia certo.
— Obrigado. — Sua voz me persuadiu a sair de seu peito, e eu olhei para
ele. — Por ter vindo atrás de mim ontem à noite. Obrigado. — Cameron
encostou a cabeça na minha, respirando fundo.
— Eu não poderia estar em nenhum outro lugar. — Colocando meu braço
em volta de seu ombro, eu o inspirei e o cheiro persistente de sexo inundou
meus sentidos. — Devemos esperar uma visita do Xander a qualquer minuto?
— perguntei.
— Ele foi dormir na casa da Katie, mas acho que devo avisar que minha
mãe e meu pai estão em casa. — Arregalei os olhos, e ele sorriu. — Isso vai
ser um problema?
— Não sei, você é quem tem que me dizer.
— Quero que eles te conheçam — ele deixou escapar, se afastando com
gentileza para ver minha reação.
— Eu já conheci seus...
— Quero dizer oficialmente, Hailee. Quero apresentar você a eles como
minha garota.
Sua garota?
— Não fique tão preocupada. Isso é uma coisa boa. — Cameron roubou
um beijo de mim enquanto eu ainda estava me recuperando de suas palavras.
Sua garota.
Ele me chamou de sua garota.
— Mas o Jason...
— Vai ter que superar. A vida é muito curta, Raio de Sol. Percebo isso
agora. Nunca se sabe o que vai acontecer no futuro e não vou perder mais um
segundo me preocupando com o que Jase pode ou não dizer porque estou
apaixonado por sua meia-irmã.
— Apaixonado... — ofeguei. — Você me ama ? — Meu coração ia
explodir no peito. Ele parecia tão calmo, tão normal, e eu estava tendo um
ataque interno.
Os lábios de Cameron se curvaram, abrindo um largo sorriso enquanto ele
ria.
— Você ainda não tinha percebido? Eu estou completamente — ele me
beijou — e totalmente — outro beijo — apaixonado por você, Hailee Raine.
— Ah.
Ah.
Ele arqueou a sobrancelha.
— Acho que nunca te vi sem palavras. Não sei se devo ficar lisonjeado ou
ligeiramente preocupado. — A diversão brilhou em seus olhos.
— Eu... acho que preciso de um minuto.
— Eu deveria... — Ele apontou para a porta e começou a se desvencilhar
dos lençóis, mas eu me enrolei em volta dele, puxando-o de volta para a
cama. — Espere.
— Esperar? — Ele sorriu. — Há algo que você queira me dizer?
— Cameron — eu o repreendi —, você não pode simplesmente lançar
algo assim e esperar que eu esteja bem com isso.
— Bem, eu meio que esperava que você sentisse o mesmo... — Ele
deixou as palavras pairando entre nós enquanto se aproximava, capturando
meus lábios novamente. Me virando de costas, Cameron uniu nossos corpos,
apagando qualquer espaço – e dúvidas – entre nós.
— Eu...
Uma batida na porta nos assustou, e Cameron paralisou em cima de mim.
— Sim?
— Sou eu, filho. Sua mãe quer saber se você está com fome?
O calor brilhou em seus olhos enquanto ele endurecia entre minhas
pernas.
— Claro, pai. — Sua voz falhou com a luxúria. — Mas diga a ela para
fazer um prato extra.
Minhas bochechas queimaram enquanto balancei a cabeça com
descrença.
— Sei... — Seu pai limpou a garganta. — Bem, vamos... humm, veremos
vocês dois em breve.
— Claro, pai.
— Cameron — sussurrei no segundo em que os passos de seu pai soaram
longe. — O que foi isso?
— Está na hora de conhecer meus pais. — Ele piscou, dando um beijo na
minha cabeça antes de sair de cima de mim e da cama, sem se preocupar em
tentar esconder sua ereção.
Eu queria ficar com raiva dele, argumentar que isso estava acontecendo
muito rápido, que ele estava completamente louco. Mas enquanto o
observava vestir a calça jeans e uma camiseta limpa, não consegui protestar.
Porque ele me amava.
Cameron Chase me amava.

***

Dez minutos depois, eu estava tendo dúvidas.


— Não tenho certeza se isso é...
— Hailee, pare. — Cameron me puxou para seus braços. — Eles vão te
amar. — Ele olhou para mim com tanta intensidade que senti minha garganta
apertar.
— Sim, mas...
— Sem desculpas. Preciso de você, tá? — Sua expressão suavizou. —
Por favor, faça isso por mim.
Arqueando minha sobrancelha, soltei um suspiro exasperado.
— Você não está jogando limpo. — Eu queria estar ao seu lado, claro que
queria. Mas não era justo usar sua situação contra mim.
Que sacana.
— Eu te disse uma vez, sou um Raider. E os Raiders nunca desistem.
Mesmo que tenhamos que jogar um pouco sujo às vezes. — Algo passou por
seu rosto, mas sumiu antes que eu pudesse decifrar o que era. — Pronta? —
ele acrescentou, e eu dei de ombros.
— Acho que sim.
Cameron me levou para a cozinha, com a mão firme ao redor da minha.
— Bom dia — ele falou, sem se importar com o mundo. — A Hailee vai
ficar para o café da manhã. Espero que esteja tudo bem.
Sua mãe, uma mulher com cabelo escuro curto e olhos azuis acinzentados
como os de Cameron sorriu para nós.
— Claro, está tudo bem, querido. Hailee, eu sou a Karen, a mãe do
Cameron. É um prazer conhecê-la. — Ela se aproximou e me abraçou. — E
em melhores circunstâncias desta vez. Lamento que você tenha visto aquilo,
querida — ela sussurrou, e eu engoli o nó na minha garganta.
— É um prazer conhecê-la também — falei enquanto Cameron me
abraçava, me guiando até um dos banquinhos.
— Hailee — o sr. Chase falou com um sorriso cauteloso. — É bom te ver
de novo.
— Olá. — Acenei para ele quando me sentei e Cameron ajudava a mãe a
pegar alguns pratos extras do armário.
— Como foi o jogo ontem à noite?
Cameron enrijeceu, mas se recuperou rapidamente.
— Na verdade, eu queria falar com vocês sobre isso. — Ele se aproximou
e se sentou ao meu lado, segurando minha mão como se precisasse do
contato. — Enquanto a mamãe está passando por seu... tratamento — a
palavra ficou presa em sua garganta —acho que devo sair do time.
A sra. Chase ofegou, o som foi quase doloroso e as sobrancelhas do sr.
Chase se contraíram quando ele se mexeu desconfortavelmente no
banquinho.
— Filho, não há necessidade de...
— Apenas me ouça, pai, por favor. — Cameron passou a mão enérgica
pelo rosto. — Esta semana foi péssima para mim. Eu estava totalmente
desligado do jogo. Estou com raiva, confuso... não é o que eu ou a equipe
precisamos agora. Quero estar aqui por vocês e pelo Xander. Eu preciso estar
aqui. — Com a última palavra, seu peito se ergueu como se um peso tivesse
sido retirado.
— Mas, filho, os olheiros...
— Não importa, pai. Isso é mais importante. A minha mãe é mais
importante.
Me senti uma estranha. Esta era uma conversa que Cameron deveria ter
tido em particular com seus pais, mas ele estava apertando minha mão e seus
olhos pousaram em meu rosto atordoado. Ele me deu um sorriso tão
vulnerável, mas reconfortante ao mesmo tempo, que percebi que apesar de
minhas reservas, ele precisava de mim aqui. Em algumas reviravoltas bizarras
de eventos, dei a Cameron a força de que ele precisava para verbalizar seus
pensamentos para os pais.
— Ah, querido, venha aqui. — Os braços da sra. Chase envolveram o
pescoço do filho enquanto ela o abraçava por trás, fungando em seu ombro.
— Sinto muito. Sinto muito mesmo.
Engoli minhas próprias lágrimas. Esta era uma família: três pessoas
tentando fazer o melhor com a adversidade que estava acontecendo. Os pais
de Cameron não o pressionaram para manter o futebol e a escola por causa de
expectativa ou pressão, eles fizeram isso por ele. Porque sabiam o que o
futebol e seu futuro significavam para ele. Mas era um fardo muito pesado
para Cameron carregar. A noite passada foi a prova disso.
— Você não tem nada de que se desculpar, mãe. Eu tomei minha decisão.
Vou falar com o treinador na segunda-feira.
O sr. Chase estava quieto e seus olhos observavam o filho.
— Não tome nenhuma decisão precipitada, certo, filho? Este é o seu
futuro. Vamos superar essa coisa da mesma forma que passamos por tudo –
juntos. Se precisar de uma pausa, tudo bem. Mas não precisa ser o fim do
futebol. Não quando você está tão perto de tudo pelo que trabalhou tanto.
Pai e filho trocaram um longo olhar e os dedos de Cameron continuavam
firmemente entrelaçados nos meus. Eventualmente, a sra. Chase quebrou o
silêncio sufocante, colocando pratos de panquecas e bacon na nossa frente.
— Espero que vocês estejam com fome — ela disse com a expressão
calorosa enquanto olhava para mim e seu filho.
— Mãe. O que há de errado? — Cameron perguntou, percebendo que ela
nos observava.
— Nada, querido. Estou muito feliz que você tenha a Hailee. — Ela
engoliu em seco e uma máscara de tristeza caiu sobre ela enquanto fixava seu
olhar em mim. — Estou feliz que meu filho tenha você.
Assenti, muito emocionado para responder.
— Sinto muito. — a sra. Chase sorriu. — Fiz toda essa comida e agora
todo mundo está triste.
— Está tudo bem, mãe. Vamos comer, estou morrendo de fome. — Ele
me deu uma piscadela discreta e fez sinal para que eu comesse.
E foi o que fiz.
Porque algo me disse não importava o quanto a família estivesse
assustada, agora eles precisavam se consolar nas pequenas coisas.

***

— Seus pais são legais — eu disse quando voltamos para a privacidade do


quarto de Cameron.
— Eles são boas pessoas — ele respondeu, se jogando na cama e me
puxando junto. Caímos sobre ela com um baque selvagem e me posicionei
deitada sobre ele.
— Eles foram tranquilos sobre eu estar aqui esta manhã.
Ele deu de ombros.
— Nunca falei muito sobre isso com eles, mas tenho dezoito anos, Hailee.
Não é como se fossemos crianças. — Cameron roçou seu nariz contra o meu,
me beijando de leve. — Estou feliz por você estar lá comigo. Tenho tentado
encontrar as palavras a semana toda, mas sempre que tento abordar o assunto,
simplesmente não consigo.
— Você realmente quer sair do time?
— Sim... não, não sei. — Ele apoiou a cabeça nos travesseiros, mantendo
os olhos fixos no teto enquanto soltava um suspiro entrecortado. — É muita
pressão, sabe? Se eu não conseguir me controlar, estou sujeito a...
— Sim, mas você não precisa parar. O treinador vai entender se você
precisar de algum tempo, todos vão.
— Talvez. — Seus olhos voltaram para os meus. — Ou talvez eu tenha
percebido que há mais coisas na vida.
— Você adora o futebol.
— Sim. — Seus olhos brilharam. — Mas não é tudo que eu quero.
Diferentemente do Jas... — ele se interrompeu.
— Está tudo bem, você pode falar comigo sobre isso.
— Sempre foi o plano dele. Dominaríamos o campeonato juntos e depois
iríamos para a Penn, mas tudo está diferente agora.
— Diferente?
— Sim — ele sorriu, mas estava cheio de tristeza. Meu coração se
apertou pelo cara por quem jurei que não me apaixonaria e agora eu estava
tão profundamente envolvida que não tinha certeza se encontraria uma saída.
E eu estava bem com isso.
Mais do que bem.
— Houve um tempo em que eu queria, quando ficava pensando “este é o
mês que a minha mãe vai melhorar”. Mas isso nunca aconteceu e a cada
episódio, meus sonhos foram se afastando cada vez mais até que eu não tinha
mais certeza de que eram o que eu queria. — Cameron fez uma pausa,
mordiscando o lábio inferior como se estivesse avaliando se deveria dizer o
que estava pensando.
— O quê? — perguntei.
— E você aconteceu.
— Eu?
— Sim. Naquele primeiro dia do semestre, vi você e foi como se eu
estivesse te vendo pela primeira vez novamente.
— Cameron... — Abaixei a cabeça, sentindo minhas bochechas
queimarem.
— Ei, não se esconda de mim, Hailee. — Ele passou os dedos debaixo da
minha mandíbula, me persuadindo a olhar de volta para ele. — Nunca se
esconda.
— Eu só... isso, nós , não era para acontecer.
— Mas aconteceu, e eu estava falando sério. A única coisa que lamento é
que não aconteceu antes. — Ele me aninhou em seu peito, passando a mão
para cima e para baixo nas minhas costas, provocando arrepios na minha
espinha.
— Cameron?
— Sim, Raio de Sol?
— Me beije.
Ele levou a mão ao meu rosto, inclinando minha cabeça para trás e eu
pude ver seu olhar azul-acinzentado brilhando para mim. Ele sorriu de forma
calorosa, provocando um frio na minha barriga e disse:
— Isso eu posso fazer.
Trinta E Oito
Cameron
Puxei a gola da camisa. Era cinza escura, com as mangas enroladas. Muito
diferente da minha camisa de futebol ou pólo de sempre. Mas eu queria que
esta noite fosse perfeita, por isso liguei para Flick pedindo alguns conselhos.
Respirando fundo, bati na porta de Hailee, orando a Deus para que ela
abrisse e não sua mãe, ou pior ainda, sr. Ford. Ela abriu e meu coração deu
um salto. Hailee estava lá de saia jeans, camiseta branca e tênis. Seu cabelo
loiro escuro estava preso no alto da cabeça e seus óculos protegiam o rosto
dos fios soltos. Era simples, discreto, mas eu nunca tinha visto nada mais
bonito.
— Oi — eu finalmente disse, encontrando minha voz. — Comprei isso
para você. — Empurrando a caixa de brownies para ela, esfreguei a nuca.
— Você conversou com a Flick de novo? — Ela arqueou a sobrancelha.
— Talvez. — Eu sorri. — Ela mencionou que você gostava deles quando
eu vim... mas não chegamos a comê-los.
As bochechas de Hailee coraram em um tom profundo de vermelho e
seus olhos escureceram. Me inclinei, incapaz de resistir à tentação e beijei sua
bochecha.
— Senti sua falta. — Passei os lábios contra sua orelha e ela envolveu os
dedos em minha camisa, me puxando mais para perto.
— Faz apenas algumas horas. — Ela virou a cabeça e seus lábios
pairaram sobre os meus. A eletricidade vibrou entre nós e os pelos dos meus
braços se eriçaram. Eu estava tão perdidamente apaixonado por essa garota
que eu poderia muito bem ter entregado meu coração e minhas bolas em um
pacote pequeno e enfeitado e dito para devolvê-los quando ela terminasse
com eles.
Roubando um beijo rápido, me afastei, colocando alguma distância entre
nós.
— Acho que devemos ir. Fiz reserva.
— Fez? — Sua boca se curvou e não pude resistir a inclinar minha cabeça
para reivindicar seus lábios novamente.
— Você está linda, Raio de Sol.
— Cam... — Hailee suspirou contra a minha boca e o ruído suave fez
uma linha direta com o meu pau. — Tem certeza de que não quer ficar em
casa? — Seus braços enlaçaram meu pescoço.
Eu não queria nada além do que levá-la para seu quarto e me perder nela,
mas também queria que saíssemos para desfrutarmos de uma noite juntos
antes da próxima semana.
— Nós precisamos disso. — Sorri. — Além do mais, não pretendo perder
você de vista esta noite.
Hailee se afastou, franzindo a testa.
— Não posso ficar fora a noite toda.
— Sua mãe ou Kent vão reclamar?
— Bem, acho que não, mas...
— Pegue uma bolsa, Raio de Sol. Te encontro na caminhonete.
— Tão mandão — ela resmungou antes de se virar e marchar de volta
escada acima. Mas não fui para a caminhonete. Eu esperei. Incapaz de me
afastar dela nem por um segundo.
Quando ela desceu as escadas alguns minutos depois, me desencostei do
batente da porta e fui até ela.
— Pronta?
Ela assentiu.
— Vai me dizer para onde estamos indo?
Envolvendo sua cintura com meu braço, beijei o topo da sua cabeça e
falei:
— É surpresa.

***

Dez minutos depois, parei a caminhonete em uma vaga e desliguei o motor.


— The Alley — Hailee falou. — Nós vamos para o The Alley?
— Sim, tudo bem?
— Sim, quero dizer, eu amo esse lugar, mas tem certeza de que quer estar
aqui?
— O que há de errado com esse lugar?
— Nada... — Ela apertou os lábios.
— Fiz a coisa errada? É que a Felicity disse...
— A Felicity disse para você me trazer aqui? — Hailee olhou para mim
com descrença.
— Bem, sim. Eu queria que esta noite fosse perfeita. Ela disse que você
adora aqueles brownies, que eu deveria evitar usar a camisa de futebol e que
você adora o The Alley... então, aqui estamos.
Sua expressão suavizou enquanto ela se arrastava pelo assento e se
inclinava em minha direção. Emoldurando meu rosto em suas mãos, Hailee
me beijou.
— É perfeito. Eu só não queria que você se sentisse desconfortável.
Isso chamou minha atenção.
— Por que eu me sentiria desconfortável? — Era apenas boliche e um
jantar. Nada demais.
— Porque estamos na Suíça.
— Suíça? — Agora era eu quem estava olhando para ela.
— Sim. — Ela deu uma risadinha. — Aqui, você não será Cameron
Chase, wide receiver dos Raiders. Você será apenas Cameron, meu par.
— E isso é uma coisa ruim? — Porque parecia quase perfeito para mim.
— Bem, não, eu só pensei... não importa, é bobo.
— Hailee, pare. Nada que você possa dizer ou fazer é bobo. Agora me
diga o que está acontecendo nessa sua cabeça?
— É só que você está acostumado a ir ao Bell’s ou a festas na casa do
Asher. Isso — seus olhos se voltaram para o The Alley — não é exatamente
o que você está acostumado. — Hailee olhou para baixo e meu peito apertou.
Ela realmente achava que eu me importava com onde estávamos? Nós
poderíamos estar no refeitório da escola cercados por nossos colegas
intrometidos e não teria importado.
Roubei outro beijo antes de abrir um sorriso.
— Venha, ou vamos nos atrasar.
— Atrasar? Mas... — Sua voz abafou quando eu desci da caminhonete
esperando por ela.
— Pronta? — Estendi a mão quando ela veio até mim, ainda franzindo a
testa.
— O que você está planejando, Cameron Chase?
— Por que você não vem descobrir?
Tate, o proprietário, nos encontrou lá dentro.
— Cameron, Hailee, que bom que vocês vieram. A mesa de vocês está
pronta.
Olhei para a garota ao meu lado, sorrindo quando vi sua expressão
perplexa.
— Humm, Tate — ela disse. — O que está acontecendo? E como vocês
dois se conhecem? — Hailee olhou dele para mim e de volta para ele.
— Meus lábios estão selados, Hailee, desculpe. — Ele me deu um sorriso
cúmplice, nos levando para a parte da lanchonete. Pedi uma cabine especifica
com vista para o rio. O The Alley podia ser a Suíça de Hailee, mas não
demorou muito para que as pessoas nos notassem, sussurrando e apontando
enquanto seguíamos Tate, minha mão na parte inferior das costas de Hailee.
— Todo mundo está olhando — ela sussurrou com a postura tensa.
Me inclinei para frente, roçando em sua orelha e respondi:
— Deixe-os olhar.
Eu não tinha nenhum problema com todos saberem que ela era minha. Na
verdade, se eu não achasse que ela me daria um chute no saco, eu a teria
beijado, dando a eles o show que eles esperavam.
— Espero que esteja do agrado de vocês — Tate disse quando paramos
na última cabine, removendo a placa escrita “reservado” à mão. Era o mais
privado possível, mas Flick rejeitou minha primeira sugestão de pedir a Tate
o uso exclusivo do lugar. Você conhece a Hailee? , ela me perguntou com um
ar divertido antes de continuar a me dizer que eu só precisava ser eu mesmo –
não o Cameron Raider, mas o cara por trás da bravata – e nada mais.
— Está ótimo, obrigado. — Estendi a mão e ele a apertou antes de nos
deixar.
Hailee ofegou, movendo os olhos da cabine para mim.
— O que vai acontecer agora?
— Vamos jantar e depois vou acabar com você no boliche. — Peguei sua
mão e a empurrei para dentro da cabine, me acomodando na sua frente. — E
aí, o que há de bom aqui? — Peguei o menu.
— Não acredito que você pediu ao Tate que nos reservasse uma mesa.
— Poderia ter sido pior. Eu poderia ter reservado o lugar inteiro só para
nós dois.
Eu esperava ver seu nariz franzir com a ideia obscena e exagerada, mas
não aconteceu. Em vez disso, suas pupilas se dilataram e aquele rubor sexy
pra caramba se espalhou por seu pescoço.
— Você gostaria disso? — perguntei.
— Talvez. — Ela mordeu o lábio inferior, o desejo fervendo em seus
olhos.
Minha sobrancelha se ergueu.
— Sim? Aqui? — Examinei o lugar rapidamente, imaginando todos os
lugares que eu poderia deitá-la e...
— Hailee? — Um cara de cabelos escuros se aproximou da cabine,
olhando entre nós.
— Oi, Toby. — A expressão dela se desfez.
Toby.
Minha coluna ficou rígida quando me endireitei.
— Desculpe, não queria interromper. Posso ver que você está... ocupada.
— Ele engoliu em seco. — Só queria me desculpar pelo que aconteceu. Você
não me respondeu, e eu...
— Você precisa ir agora. — retruquei, segurando com força a mesa de
fórmica.
— Cameron — Hailee falou baixinho. — Está tudo bem. Toby, este é o
Cameron, meu...
— O namorado dela. — Eu o encarei, enviando-lhe uma mensagem
silenciosa. O pé de Hailee me chutou por baixo da mesa, e eu me sacudi na
cadeira.
— Comporte-se — ela murmurou. — Lamento não ter respondido a
mensagem, Toby, mas não parecia certo, não depois de...
— Sim, eu entendo. — Ele passou a mão pelo cabelo. — Me senti mal
com o que aconteceu e queria que você soubesse que eu não tinha ideia de
que o Thatcher faria isso. Ele pode ser meu primo, mas não foi legal.
— Você terminou? — perguntei com frieza.
Crédito para ele, o cara me olhou bem nos olhos quando disse:
— Sim, terminei. — Ele voltou a olhar para Hailee. — E sinto muito
novamente. Acho que te vejo por aí.
Ela acenou para ele, que foi embora, e eu dei um grande suspiro de alívio.
— Você não precisava ser tão rude — Hailee me repreendeu, tentando e
falhando em manter a diversão fora de sua voz.
— Rude? Eu fui educado, Raio de Sol.
— Cameron, qual é... — Ela me deu um olhar penetrante, mas eu não
estava disposto a desistir. Não quanto a isso.
— Hailee — Me inclinei para frente, baixando a voz. — Ele te levou a
uma festa onde você foi drogada e... — As palavras ficam presas na minha
garganta. — Nunca vou ficar bem com isso. — Ele teve sorte de eu não ter
dado um soco em seu rosto.
— Eu sei, eu só... você também fez algumas coisas horríveis comigo,
Cameron.
Suas palavras me cortaram como uma faca e meus olhos se fecharam
enquanto eu respirava fundo.
— Você nunca vai me deixar esquecer, vai? — Meu estômago afundou
quando olhei para ela mais uma vez, com medo do que poderia encontrar em
seus olhos.
— Tenho certeza de que há maneiras de me compensar. — A luxúria
emanou de suas palavras e meus olhos se fixaram nos seus.
— É? — Eu praticamente ofeguei e seu sorriso se ampliou.
E assim, todos os pensamentos sobre Toby e Thatcher evaporaram.

***

Uma hora depois, cheios de hambúrgueres e milkshakes no The Alley,


atraímos bastante público. Mas eu só tinha olhos para a garota à minha frente.
A cada pergunta que fiz, cada toque de meus dedos nos seus, Hailee relaxou.
Conversamos sobre tudo: sua mãe, seu pai, como ela entrou nas aulas de arte,
seus planos para depois da formatura.
— A Stamps é uma escola de arte e design?
— Sim — ela falou, se servindo de uma grande colherada do sundae que
decidimos dividir. — Faz parte da Universidade de Michigan.
— Não diga. — Meu coração acelerou e um plano – um pouco louco –
começou a se desenrolar na minha cabeça.
— O que você vai fazer se decidir não jogar futebol americano
universitário? — Hailee voltou os holofotes para mim.
— Honestamente, não sei. Sempre gostei de números, então talvez eu
curse algo na área de negócios, finanças ou algo assim.
— E você pode fazer isso em qualquer lugar — ela disse. — Assim você
pode ficar por perto se a sua família precisar de você. Ah, merda, me
desculpe. Eu não quis dizer...
— Hailee. — Cobri sua mão com a minha. — Está tudo bem. Eu estou
bem. — Eu estava com medo do que a próxima semana traria? Sim. Mas
tinha que confiar que os médicos sabiam o que estavam fazendo. E com
Hailee ao meu lado, tudo parecia muito mais fácil de processar.
— Você já descobriu o que vai dizer ao treinador? — ela mudou de
assunto.
— Ainda não. Mas não consigo pensar no time até depois da cirurgia.
Com um aceno reconfortante, Hailee sorriu.
— Ela vai ficar bem, Cameron.
— Acredito que sim. — De repente, não sentia mais fome. Porque a
realidade era que eu não estava pensando além da cirurgia. Nos “e se” ou
talvez. Porque Hailee estava certa, minha mãe ficaria bem.
Ela tinha que ficar.

***

Depois de me vencer no boliche duas vezes, levei Hailee de volta para minha
casa. A tensão entre nós estava quase no limite. A noite toda, ela me
provocou com beijinhos e toques sutis. Fiquei surpreso com o quanto ela era
tátil comigo, dados os constantes olhares e sussurros direcionados em nossa
direção. Mas nós dois estávamos muito envolvidos para nos importar.
Quando parei na garagem e desliguei o motor, Hailee se virou para mim.
— Obrigada, por esta noite. Foi perfeita.
— Não. — Me inclinei, capturando uma mecha de cabelo entre meus
dedos. — Você é perfeita.
Hailee olhou para baixo e corou. Mas segurei seu queixo com gentileza,
forçando-a a olhar para mim. — Aconteça o que acontecer na próxima
semana, não mudará o que sinto por você. Quero que saiba disso.
— Cameron, eu...
— Espere, apenas me ouça, tá? — Eu precisava tirar isso do meu peito.
— Posso ficar com raiva e confuso e provavelmente vou estragar tudo, mas
saiba que eu te amo e estou muito aliviado por ter você ao meu lado.
Hailee subiu no console e no meu colo, deslizando as pernas sobre as
minhas e envolvendo os braços no meu pescoço.
— Não vou a lugar nenhum. Você já deve saber, não desabo com
facilidade. — Ela se inclinou para me beijar, me provocando com a língua.
— Nunca quis te magoar — confessei. — Só queria que você me visse.
Encostando a cabeça na minha, os olhos de Hailee brilharam com
possessividade feroz.
— Eu vejo você, Cameron. EU. Vejo. Você.
Trinta E Nove
Hailee
— Talvez não tenha sido uma ideia tão boa — eu disse enquanto estávamos
sentados na caminhonete de Cameron no estacionamento da escola. Ele
insistiu em me dar uma carona.
Virando seu corpo para mim, ele soltou um longo suspiro. Os alunos já
haviam começado a nos notar, e eu sabia que não demoraria muito para que
toda a escola soubesse, se é que já não sabiam depois do nosso encontro no
The Alley na noite passada.
— Hailee, olhe para mim. — Meus olhos encontraram os seus. — Eu te
amo. Nada que alguém faça ou diga vai mudar isso.
Senti um frio em meu estômago. Achei que nunca iria me acostumar a
ouvi-lo dizer essas palavras. Mesmo que eu não tivesse retribuído ainda.
Uma batida forte nos assustou, e Asher pressionou o rosto na janela do
carro de Cameron.
— Vocês vão ficar sentados aí a manhã toda?
Cameron gemeu.
— Sinto muito — ele murmurou para mim e eu ri baixinho.
— Eu e a Fee estamos esperando.
Isso me fez esticar a cabeça para encontrar Flick de pé ao lado de Asher,
parecendo culpada. Abri a porta, saí da caminhonete e dei a volta para
encontrar minha melhor amiga.
— Oi — ela disse me dando sorrisinho. — Isso é... o que é isso
exatamente?
Fui responder, mas Cameron saiu e passou os braços ao meu redor, me
puxando de volta contra seu peito.
— Eu e a Hailee estamos juntos agora.
Flick sorriu enquanto Asher arregalou os olhos.
— Juntos, juntos? Ou como amigos de cama, porque eu pensei... — Seus
lábios se achataram com o que quer que Cameron estivesse falando para ele.
Olhei para Cameron, que se aproximou e capturou meus lábios em um
beijo suave.
— Peço desculpas por qualquer coisa que possa sair da boca do Asher.
— Eu ouvi isso — Asher resmungou.
— Foi intencional.
— Não que eu não esteja feliz por vocês — ele continuou. — Estou, mas
o Jase sabe sobre isso?
Cameron apertou o braço ao meu redor quando disse:
— Não importa.
Asher olhou para seu melhor amigo.
— Há muita coisa que eu quero dizer, mas, ah... falando no diabo.
Nos viramos na direção que ele estava olhando para encontrar Jason
caminhando em direção à escola com alguns dos caras do time. Como se ele
nos sentisse, seus olhos nos encontraram através do gramado, se fixando em
mim e Cameron. Tudo desacelerou: o fluxo de alunos entrando no prédio, a
conversa incessante e as risadas, o oxigênio filtrando ao redor do meu corpo.
Eu sabia que as coisas seriam estranhas, mas não esperava que parecesse que
uma nova linha estava sendo traçada. Eu praticamente podia sentir a mudança
no ar, a parede invisível sendo erguida entre nós. Flick, Asher, Cameron e eu
de um lado e e Jason do outro.
Estremeci com o pensamento.
— Ei — a voz de Cameron me trouxe de volta —, vai ficar tudo bem. Ele
vai voltar. — Ele beijou minha bochecha.
Flick olhou para mim, nervosa, e eu ofereci a ela um sorriso fraco. Mas
foi Asher quem quebrou a tensão sufocante.
— Bem, baby — ele disse —, acho que somos você e eu, Fee. — Ele
passou o braço pelo ombro da minha melhor amiga, que me lançou um olhar
como se estivesse pedindo ajuda. Um sorriso apareceu na minha boca. Era
uma pena que ela o tivesse colocado na friend-zone por causa do seu cara
misterioso, porque, apesar da tendência mulherenga de Asher, eles formavam
um casal bem fofo. Mas eu já tinha o suficiente com que me preocupar sem
me envolver na vida amorosa dela.
— Você está pronto? — perguntei a Cameron em voz baixa, mas é claro
que Asher ouviu.
— Pronto? Pronto para quê?
A expressão de Cameron mudou quando ele disse:
— Tenho que falar com o treinador.

***
Sobrevivemos ao dia na escola. Depois que o boato quase explodiu com
notícias minhas e de Cameron, as coisas se acalmaram. Mas eu teria que me
acostumar com minha nova popularidade agora que estava com um Raider.
Com um Raider . Isso era algo que nunca pensei que diria.
— Do que você está rindo? — Cameron perguntou quando me encontrou
fora da classe.
— Ah, nada. — Eu sorri, deixando-o pegar a pilha de livros da minha
mão. — Mas ter um namorado tem sua utilidade.
Paramos no meu armário e troquei os livros que precisava para o dever de
casa com os que estavam nos braços de Cameron. Quando terminei, me vi
presa contra o armário e seus olhos azuis acinzentados tempestuosos fixos em
mim. O corredor estava vazio, mas alguns alunos nos observavam com leve
curiosidade e diversão.
— Temos plateia. — Passei as mãos por seu peito enquanto movia a
cabeça para o grupo de calouras que olhava abertamente em nossa direção.
— Acho que deveríamos dar a eles algo para que falem. — Cameron
cruzou a distância entre nós, colando a boca na minha e deslizando a língua
entre meus lábios. — Deus, eu te amo — ele murmurou, me puxando para
mais perto.
— Também te amo — falei um pouco mais alto do que pretendia,
ganhando uma rodada de assobios e gritos de alguns dos companheiros de
equipe de Cameron que passaram por nós. — Estou apaixonada por você.
Era verdade, eu estava completa e totalmente apaixonada por Cameron
Chase.
— É? — Ele se afastou. — Você não está dizendo isso só porque quer
meu corpo ou para dizer que pegou um Raider?
Estendi a mão e belisquei seu mamilo antes de acariciar seu abdômen.
— Bem, isso é um bônus...
Sua risada suave tomou conta de mim, me deixando quente e mole por
dentro.
— Puta merda, esperamos demais por isso, certo? Deveríamos estar
juntos o tempo todo.
— Eu... — Eu não sabia o que dizer. Mas não precisei, porque Cameron
me beijou novamente. Eu estava tão perdida no beijo, na exatidão de seus
lábios se movendo contra os meus, que quase não ouvi alguém pigarrear.
Mas Cameron ouviu e se afastou, soltando um longo suspiro.
— Então os rumores são verdadeiros — uma garota com longos cabelos
escuros disse. — Cameron Chase finalmente saiu do mercado.
— Miley, esta é a minha namorada, Hailee. Hailee, esta é a Miley.
Miley.
Eu conhecia essa garota. Era a mesma do baile, e eu tinha certeza de que
ela era a garota da noite da festa de Asher quando estraguei o carro de Jason.
— Oi. — Acenei.
— Oi. — Seu olhar frio passou por mim, mas não parecia desagradável
como algumas das meninas da nossa classe. — Um aviso teria sido bom. —
Ela estava olhando para Cameron e a dor persistente era visível em seus
olhos.
— Me dê um segundo — ele disse para mim antes de guiar Miley pelo
corredor fora do alcance da voz. Meu estômago deu um nó ao vê-los
conversando. Eles ficaram perto, um olhando para o outro. Ela era linda,
magra e tonificada, uma atleta com certeza. E por mais que eu não quisesse
sentir ciúme, isso me queimava como ácido.
Depois de um ou dois minutos, Miley assentiu, se virou e saiu pelo
corredor. Cameron se aproximou de mim lentamente e seus olhos me
absorveram. Tentando me dizer coisas que eu não conseguia decifrar.
— Então essa é a Miley — eu disse. — Ela é linda. Vocês dois eram um
casal?
— Hailee, não faça isso. — Ele soltou um suspiro pesado. — A Miley
não é importante para mim.
— Mas ela tinha algo com você?
Cameron me pressionou contra o armário novamente, segurando meu
queixo e virando meu rosto para o seu.
— Me ouça. É você que eu quero. É de você que preciso. A Miley era
alguém para preencher o vazio por um tempo. Mas isso é tudo. Eu e você,
isso é real. — Ele se aproximou. — Preciso de você, Hailee. Preciso tanto de
você que isso me apavora. — A vulnerabilidade brilhava em seus olhos como
estrelas no céu noturno.
Acariciando sua bochecha, inspirei e disse:
— Você me tem. — Cada pedacinho . — Agora me leve para casa e me
mostre o quanto você precisa de mim.

***

Cameron não voltou para a escola depois disso. Ele queria estar presente nas
consultas da mãe e ajudar com Xander. Fiquei surpresa quando ele me
convidou para ir ao jogo com ele na sexta à noite.
— Você está bem? — Apertei sua mão enquanto observávamos os
Raiders correndo para o campo. Estávamos na seção familiar, usando os dois
ingressos reservados para seus pais, e Asher teve a gentileza de deixar Flick
usar um dos dele, já que seus pais estavam fora da cidade.
— Estou bem. — Cameron assentiu antes de se inclinar para capturar
meus lábios em um beijo lento.
— Humm, pessoal, estou bem aqui.
— Desculpe. — Olhei ao redor e fiz beicinho para minha melhor amiga.
— Vocês são tão fofos que não consigo nem ficar com raiva. Argh — ela
gemeu, reajustando o boné dos Raiders. — Eu preciso de um homem.
— E quanto ao Ash...
Coloquei a mão sobre a boca de Cameron.
— Não coloque ideias na cabeça dela.
— Ele é legal e tudo — Flick respondeu, ignorando completamente a
mim e a Cameron. — Mas não é o meu tipo.
— Existe outro tipo além do atleta arrogante?
— Raio de Sol — Cameron avisou.
— O quê? — me fiz de boba. — É verdade. Vocês, atletas, são todos
arro...
Ele se aproximou e me silenciou com seus lábios e língua. Me derreti
contra ele e algumas pessoas atrás de nós riram.
— Cam — sussurrei. — Temos que... parar.
— Você não é engraçada. — Foi a vez dele de fazer beicinho.
— Como está a sua mãe, Cameron? — Nós dois nos viramos para Flick e
sua expressão ficou séria.
— Ela está indo tão bem quanto o esperado, obrigado. A boa notícia é
que seu médico está confiante de que ela vai se curar.
— Isso é ótimo.
Era ótimo. Karen havia sobrevivido à cirurgia e seu prognóstico era bom.
Ela ainda não estava fora de perigo e ainda tinha um longo caminho pela
frente se os médicos decidissem que ela precisaria de radioterapia, mas era
tão positivo quanto possível, dadas as circunstâncias.
Envolvendo meu braço na cintura de Cameron, me aconcheguei a seu
lado. Apesar da cirurgia da mãe ter ido bem, ele ainda queria ficar fora da
escalação para o jogo desta noite. O técnico e os companheiros imploraram
para que ele ficasse no banco, mas ele decidiu assistir da arquibancada. Acho
que, no fundo, ele ainda estava esperando uma ligação que dissesse que algo
tinha dado errado.
— Ela está bem — sussurrei, apertando-o com mais força. Cameron
olhou para mim e sorriu.
— Eu sei. — Ele me beijou de novo e Flick resmungou.
— Acho que gostava mais de vocês dois quando se odiavam.

***

— Você está praticamente brilhando. — Flick entrelaçou o braço no meu


enquanto seguíamos Cameron pela parte de trás do estádio para encontrar o
time e parabenizá-los pela vitória merecida.
— Estou feliz — admiti. — Ele me faz feliz.
— Bem, dã. — Ela deu uma risadinha. — Você conseguiu pegar um
Raider. Acho que algumas coisas se tornam realidade.
Fiquei boquiaberta com ela, incapaz de controlar minha indignação, mas
ela apenas riu mais.
— Você tinha que ver sua cara. Agradeça por eu não ter te dado a você
uma camiseta de aniversário com “ hashtag eu pego um Raider” impresso. —
Flick piscou.
— Você está é com ciúmes.
Seus olhos nublaram por um segundo, o ar ao nosso redor esfriou
consideravelmente, mas então Flick estava sorrindo como se nada tivesse
acontecido.
— Claro que estou. Quer dizer, eu tenho olhos. Olhe para ele.
Foi o que fiz.
Cameron estava cumprimentando e abraçando seus companheiros de
equipe. Amigos dele. Ficamos por ali enquanto ele fazia seu trabalho,
deixando Kaiden e Asher darem a um relato detalhado de cada touchdown ,
como se não estivéssemos assistindo ao jogo inteiro. Mas percebi que
provavelmente era apenas o jeito deles de incluí-lo na vitória.
— Como vão as coisas em casa? — Flick desviou minha atenção de
Cameron.
— Estão estranhas. Minha mãe e Kent estão agindo como se nada tivesse
acontecido e Jason mal reconhece qualquer um deles, então não mudou muita
coisa aí. Estou naquela situação estranha de querer ficar brava com ela, mas
não tenho certeza se tenho energia para continuar assim por muito mais
tempo.
— Olha — minha melhor amiga falou —, ela cometeu um erro. Sim, foi
épico, mas não se pode escolher por quem você se apaixona. Você, de todas
as pessoas, deveria saber disso.
— Eu... — Flick estava certa. Ela sempre estava. Mas isso não aliviava a
dor da traição da minha mãe. Acho que fiquei mais magoada pelo fato de ela
ter mentido todo esse tempo do que pelo fato de ela ter tido um caso.
As pessoas tinham casos o tempo todo. Eu não apoiava isso, mas ela e
Kent eram adultos. Eles sabiam o que estavam fazendo. Jason e eu sabendo
não teria mudado nada.
Mas algo me disse que ele não tinha pressa em perdoar o pai.
— E você e o Jason, o que está acontecendo aí?
— Sim, irmã. — Ele apareceu do nada. — O que está acontecendo?
Flick revirou os olhos para ele, que mal olhou duas vezes para ela.
— Não seja um idiota, Jason.
Ele ergueu as mãos.
— Venho em paz. — Seus olhos se voltaram para onde Cameron estava.
— Como ele está?
— Por que você não pergunta a ele? — Não houve malícia em minhas
palavras. Cameron estava certo. A vida era muito curta. Depois de me sentar
com ele na sala de espera do hospital enquanto sua mãe era submetida a uma
cirurgia para salvar sua vida, percebi que esse rancor entre mim e Jason, as
coisas com Thatcher, nada importava. Isso era o ensino médio. Os alunos
eram maus e gostavam de derrubar uns aos outros. Mas o mundo real, onde
as coisas eram difíceis, dolorosas e incertas, estava esperando por eles. O
ensino médio não me definia. Eu sabia meu valor e, este momento, bem aqui,
me definia.
Jason passou a mão pelo cabelo úmido enquanto eu me aproximava dele e
colocava a minha em seu braço.
— Você deveria falar com ele. Cameron sente sua falta.
Não importava o que Jason pensasse ou não de mim, nossas vidas
estavam entrelaçadas agora. Gostasse ou não. Eu amava seu melhor amigo,
seu irmão em todas as formas que contavam, então tínhamos que encontrar
uma maneira de coexistir.
— Eu... — ele hesitou.
— Vá — falei em voz baixa. — Ele precisa de você. Precisa saber que
você está bem com tudo isso.
Cameron podia ter dito que estava pronto para deixar o time, mas eu sabia
que não estava. Não de verdade. Mas essa coisa entre ele e Jason o estava
levando a tomar a decisão errada. E independentemente do que eu pensava
sobre futebol, não queria que ele desistisse de seus sonhos.
Como se sentisse que estávamos olhando para ele, Cameron virou a
cabeça em nossa direção. Seus olhos escureceram quando ele viu Jason ao
meu lado. Coloquei a mão nas costas do meu meio-irmão e o empurrei para
frente.
— Vá. Você vai se arrepender se não fizer isso. Confie em mim.
Quarenta
Cameron
Observei Hailee e Jason enquanto ele decidia se viria ou não falar comigo.
Ela queria que ele fizesse isso, eu podia ver em seus olhos castanhos mel.
Mas não fiz nenhum movimento. A iniciativa tinha que partir dele.
Hailee estava no meu lado agora. Ela podia estar oficialmente na minha
vida há apenas alguns dias, mas ela esteve ao meu lado a cada passo do
caminho. No hospital, enquanto esperávamos minha mãe sair da cirurgia, do
lado de fora do vestiário enquanto eu dizia ao treinador que precisava de um
tempo longe do time. Ela me apoiou sem perguntas. Ela simplesmente
entendeu. Compreendeu o que eu precisava. E estava lá.
Isso significava o mundo para mim.
Mas Jason agira de forma diferente. A seus olhos, empatia e compaixão
eram fraquezas. Características que significavam deixar as pessoas chegarem
perto – algo que ele raramente fazia. Então, quando ele começou a seguir em
minha direção, me preparei para qualquer merda que estivesse prestes a sair
de sua boca.
— Oi — ele disse.
— E aí? — Inclinei a cabeça. Desde que eu conseguia me lembrar, nós
dois éramos inseparáveis, mas agora parecia que havia um campo de futebol
inteiro entre nós.
— Essa noite não foi legal. — Jase olhou para mim e seu cabelo caiu
sobre os olhos.
— Vocês ganharam, isso é tudo que importa, certo? — Eu não queria que
soasse como uma provocação, mas ele se encolheu.
— Qual é, cara, não é... olha, eu estraguei tudo, eu sei.— Sua expressão
não combinava com o Jason que eu conhecia – o cara que estava um passo
mais perto do Estadual. — Mas você não me contou, você não...
— Você não queria ouvir. — Fechei os olhos. — Você não é como o
resto de nós, Jase. Você está tão focado no futebol, no futuro...
— Mas isso é diferente. Eu teria... — Ele soltou um suspiro pesado. —
Como ela está?
— Bem, mas ainda não sabem se ela vai precisar de radioterapia. — O dr.
Kravis estava otimista de que havia extraído todas as células tumorais, mas
como era um meningioma de grau dois, ainda havia uma chance de voltar.
— Puta merda — Jase sussurrou. — Sinto muito, cara.
— Ela está viva e deu tudo certo, é nisso que estamos nos concentrando
agora.
A espera para ela sair da cirurgia era algo que eu nunca mais queria
experimentar. Aquelas seis horas foram insuportáveis. Se não fosse pelas
perguntas incessantes de Xander e por ter Hailee bem ao meu lado, acho que
teria perdido a cabeça.
Jase esfregou a nuca. Ele queria dizer algo, eu podia ver em seus olhos.
— O que foi? — perguntei.
— Nada, não importa.
— Vá em frente, diga.
— Você acha que vai voltar para o time... agora que ela está bem?
Balancei a cabeça, incrédulo. Mesmo agora, ele não conseguia ver nada
além do futebol.
— Merda, isso saiu errado. — Ele esfregou a mão no rosto. — Quer
dizer, entendo por que você não pôde jogar esta noite. Para ser honesto, estou
surpreso que você tenha vindo.
Eu não queria, mas meu pai insistiu. Até a minha mãe deu sua bênção.
— O que quero dizer é que preciso de você. Você e eu, Chase.
Precisamos passar por isso juntos.
— Não sei se...
— Eu sei. — Ele ergueu as mãos. — E eu entendo, entendo mesmo. Mas
trabalhamos muito para isso, você trabalhou muito para isso.
— Ouça, Jase, não tenho certeza se a Penn é...
— Que se dane a Penn. Você tem que fazer o que é melhor para sua
família, eu entendo. De qualquer maneira, sempre foi o meu sonho. Mas este
ano é nosso. Posso fazer isso sem você, mas, honestamente — Jase fixou os
olhos em mim —, eu não quero.
— Preocupado em não ser nada sem o seu melhor wide receiver ? — Eu
sorri.
— Caramba, estou. O Kaiden é bom, mas ele não é o Catorze. — Ele me
deu um sorriso raro. — Então o que você me diz, Chase? Está dentro?
— Não posso prometer nada, mas se a minha mãe estiver bem e os
médicos estiverem felizes com seu progresso, então sim, aceito. — O
treinador já havia dito que eu poderia diminuir o treino se precisasse.
O alívio brilhou nos olhos do meu melhor amigo, seus ombros caíram e,
pela primeira vez na minha vida, vi Jason Ford baixar a guarda. Ele realmente
falou de coração cada palavra que acabou de dizer.
E isso significou algo para mim.
Apesar de todos os altos e baixos e eventos das últimas semanas, o fato de
que ele finalmente conseguiu olhar além de si mesmo e do futebol,
significava algo.
— Então, você e a Hailee, hein? — Ele balançou a cabeça para onde as
meninas estavam fingindo não nos observar.
— Sim, isso vai ser um problema? Porque vou ser bem claro: se você me
fizer escolher, será ela, o tempo todo. — Ele era meu melhor amigo, mas eu
estava cansado de ser sua marionete. Eu precisava de Hailee. Não sabia como
explicar, mas precisava dela. E agora que finalmente estávamos juntos, não
tinha planos de fazer nada para nos prejudicar.
— Acho melhor me acostumar com isso então. — Jase deu de ombros,
mas vi a tensão em torno de seus olhos. — Você sabe, ainda precisamos dar o
troco em Thatcher pelo que ele fez a ela.
— Jase, não tenho certeza...
— Ele vai cair, de uma forma ou de outra, ele vai...
— Quem vai cair?— Hailee finalmente apareceu, a culpa brilhando em
seus olhos. — Desculpe — ela sussurrou. — Eu não podia esperar mais.
— Tudo bem. — Passei um braço em volta dela, puxando-a para o meu
lado.
— Do que vocês estavam falando?
— Pergunte ao lover boy .— O canto da boca de Jase se inclinou, e eu
mostrei dedo do meio a ele.
— Perguntar o quê? — Ash apareceu, com o braço ao redor dos ombros
de Felicity, que não parecia nada impressionada por ter sido arrastada para
nossa pequena reunião.
— Acho que eles estão tramando algo — Hailee disse, me lançando um
olhar duvidoso.
— Não estamos tramando nada — eu disse. — Juro. — Mas os olhos de
Jase brilharam com algo perigoso, e eu sabia que ele não deixaria essa coisa
com Thatcher de lado.
— Os caras querem saber se vamos para o Bell’s — Ash perguntou, com
o braço ainda ao redor de Felicity.
— Não tenho certeza... — comecei, mas Hailee pressionou a mão no meu
estômago.
— Está tudo bem. Se você quiser, podemos ir. — Ela assentiu de forma
tranquilizadora.
— Fee, baby, você está dentro?
— Promete parar de me chamar assim? — Felicity revirou os olhos para
Ash.
— Prometo ficar bêbado e tentar te apalpar. — Ele piscou, e eu vi Jase
enrijecer.
Eu estava perdendo alguma coisa. Algo que envolvia meus dois melhores
amigos e Felicity. Mas antes que eu pudesse tentar descobrir o que estava
acontecendo, Jase disse:
— Vamos então.
Nós o seguimos como se nós cinco sairmos juntos fosse algo comum.

***

— Deixe-me adivinhar, isso está na sua lista?


— Lista, que lista? — perguntei a Hailee, ouvindo a conversa dela e de
Felicity quando chegamos à porta do Bell’s.
— Humm, não sabia que você estava aí. — Hailee olhou para mim com
os olhos arregalados como se tivesse sido pega com a mão no pote de
biscoitos.
— Onde você achou que eu estava?
— Lá dentro com o Asher e o Jason.
— Sempre estarei onde você estiver. — Me inclinei para beijá-la. Na
verdade, liguei para meu pai para saber como a minha mãe estava, e ele me
garantiu que ela estava bem e que Xander estava com Katie. Depois da
semana mais difícil de nossas vidas, ele queria – não, exigia – que eu tentasse
desfrutar de uma noite com minha namorada e amigos.
— Ah, Deus, preciso de uma bebida. Algo forte. É verdade que o dono
daqui não exige identidade para o time?
Eu ri, ainda beijando Hailee. Ela se afastou, olhando para a amiga.
— Você quer beber? Aqui ?
Felicity deu de ombros.
— Tempos de desespero, Hails, tempos de desespero. — Ela entrou, nos
deixando sozinhos.
— Ela está agindo de um jeito estranho. — Hailee soltou um suspiro de
frustração e eu hesitei, me perguntando se deveria ou não revelar minha
teoria. — Cameron?
Fui pego.
— Então, eu... acho que algo pode estar acontecendo com a Felicity e os
caras.
— Os caras? — Hailee empalideceu. — O que você quer dizer com os
caras ?
— Asher e Jase.
— Você acha... não... — Ela soltou uma risada estrangulada. — A Flick
não chegaria perto do Jason, e essa coisa com ela e o Asher é uma piada. É só
uma brincadeira. Quero dizer, é o Asher, ele é...
— Certo. — Inclinei a cabeça na dela. — Respire. Provavelmente estou
errado. Não deve ser nada. — Eu tinha certeza de que era alguma coisa, mas
pude perceber que Hailee não estava pronta para ouvir.
— Claro, você está errado. Ela não... não, eu simplesmente não posso. —
Hailee balançou a cabeça, com um olhar alarmante em seu rosto antes de
entrar no Bell’s. Eu a segui, lamentando ter dito qualquer coisa. Mas eu
conhecia Jase e Ash, e senti que algo estava acontecendo há um tempo. E se
eu estivesse certo, era possível que acontecesse um desastre.
No segundo em que entrei no bar, gritos e aplausos me cumprimentaram.
Jase e Ash ficaram na frente e o resto da equipe se reuniu atrás deles gritando
meu nome. Posso não ter estado em campo esta noite, ajudando-os a garantir
a vitória e levando-os um passo mais perto do Estadual, mas essa foi a
maneira deles de me incluir. De me mostrar que não importa o que
acontecesse daqui em diante, eu ainda fazia parte do time.
Ainda era da família.
— É bom te ver, cara. — Grady veio até mim, me puxando para um
abraço. — Soubemos da sua mãe. Se houver algo que eu possa fazer...
— Obrigado, cara, eu agradeço — murmurei as palavras sobre o nó na
minha garganta. Kaiden foi o próximo, depois Mackey e alguns dos outros
alunos do segundo ano. Cada um deles ofereceu palavras de apoio e me
lembraram do porquê eu amava tanto o futebol, desde que eu conseguia me
lembrar.
Porque era mais do que apenas um jogo.
Era mais do que a alegria da vitória ou a dor da perda. Era fraternidade e
família, e saber que um protegia ao outro, não importando o que acontecesse.
— Ei. — Hailee apareceu ao meu lado quando os caras finalmente me
deram algum espaço. — Você está bem?
— Estou, sim. — Eu a beijei, sem me importar com quem poderia nos
ver, ganhando outra salva de palmas. Seus dedos se contorceram em minha
camisa e quando ela se afastou, um lindo rubor se espalhou por suas
bochechas.
— Ah, Deus, isso foi tão embaraçoso — ela murmurou.
— Você é uma Raider agora — eu disse, lutando contra um sorriso
enquanto a colocava ao meu lado, nos guiando até Jase, Ash e Felicity.
— Acho que posso agradecer a vocês dois pela recepção calorosa? —
perguntei aos caras.
— Só queremos que você saiba que o time está te apoiando cento e dez
por cento. O que quer que você decida, estamos com você — Ash disse.
— Sempre — Jase acrescentou, e não sei quem ficou mais chocado.
Asher, eu ou Hailee.
— Sim, sim — ele resmungou. — Não se acostume muito com isso.
Ainda sou o cretino de coração frio que todos vocês amam odiar. — Seu
olhar duro contornou Felicity, que fingiu não notar.
Mas eu percebi.
Eu só esperava que Hailee não tivesse notado, porque eu não queria que
esta noite terminasse em drama. Queria aproveitar o momento – meus
amigos, o time e a minha namorada coexistindo em um dos meus lugares
favoritos.
Após semanas de incerteza, me sentindo puxado em diferentes direções,
finalmente senti que podia respirar. E eu sabia que tudo dependia de Hailee.
Ela fez todas as outras merdas desaparecerem. Ela me manteve são nos
momentos de silêncio, nos momentos em que meus pensamentos se tornavam
sombrios e tomavam rumos que eu não queria.
E embora fosse cedo, eu sabia que não queria estar em nenhum lugar que
ela não estivesse.
Sem pensar, pulei na mesa vazia mais próxima e esperei que o lugar
ficasse em silêncio. Hailee olhou para mim como se eu tivesse perdido a
cabeça. E talvez eu tivesse, mas se a vida me ensinou alguma coisa nas
últimas semanas, era que você nunca sabia o que estava por vir.
— Eu só quero dizer algumas palavras.
Todos os meus companheiros de equipe fizeram barulho, pisoteando o
chão e batendo nas mesas.
— Mostrem algum respeito ao cara — Jerry gritou de sua posição atrás
do bar, e eu dei a ele um aceno apreciativo.
Quando todos se calaram, continuei:
— No início desta semana, para ser honesto, não sabia se voltaria a vestir
a minha camisola. O futebol é importante para mim, mas não é tudo. A
família é o que importa. — Meus olhos encontraram meus melhores amigos.
— Amizade, apoiar um ao outro, estar presente quando as coisas chegam ao
fundo do poço, é isso que torna especial ser um Raider. A emoção da vitória é
viciante? Caramba, sim, é. Mas é saber que se você perder, se seus sonhos
ficarem em chamas na frente de seus olhos, você ainda terá uma equipe, uma
família para carregar o fardo com você.
Fiz uma breve pausa.
— Todos vocês provavelmente já sabem que minha família recebeu más
notícias recentemente. E isso me fez questionar tudo que eu pensava que
sabia. Mas independentemente do que as próximas semanas trarão, uma coisa
é certa, eu sempre serei um Raider. E eu não consigo pensar em um time
melhor para ganhar o estadual.
— Isso significa que você vai ficar por aqui? — Grady gritou, e eu lutei
contra um sorriso.
— Bem, vocês vão precisar do seu melhor wide receiver , não é?
— Claro que sim. — Ele sorriu e o lugar explodiu.
Jase e Ash estavam em cima de mim no segundo em que pulei do banco.
Jase agarrou minha nuca e pressionou sua cabeça contra a minha, seus olhos
dizendo tudo que eu sabia que ele nunca diria. E então Ash se juntou a nós,
com os braços em volta de nossos pescoços, nos puxando para perto.
— Graças a Deus, não preciso mais perder o sono sobre de que lado devo
ficar.
Um momento de compreensão passou entre nós três. Estávamos à beira
de algo, todos podíamos sentir isso. Tudo o que tínhamos era esse momento
antes de as coisas mudarem.
— Você acha que vai escolher alguma universidade quando os olheiros
vierem na próxima semana? — Ash perguntou, e meus olhos encontraram
Hailee parada com Felicity no bar.
— Sim, vou escolher.
O futebol era uma parte de mim, uma parte de quem eu era. E eu devia a
mim mesmo, à minha família, ver onde isso me levaria.
— Bem, não nos deixe esperando. Onde vai ser?
— Michigan — eu disse sem hesitação. — Vou escolher Michigan.
Foi uma decisão precipitada, sobre a qual eu sabia que precisava
conversar com meus pais, sem mencionar Hailee. Mas a vida era preciosa e
eu não queria perder um minuto. Se as coisas dessem errado com a minha
mãe, eu cruzaria essa ponte quando ela viesse. Ainda tínhamos nove meses
antes da faculdade. Muita coisa podia mudar.
Mas aqui, neste momento, eu queria o sonho.
Eu queria futebol.
E a garota.
Epilogue
Hailee
— Ah, meu Deus, é tão grande.
— Eu sei de algo que é grande — Asher se virou e deu a Flick um sorriso
malicioso.
— Asher, por favor. — Ela revirou os olhos antes de fixar o olhar mais
uma vez no horizonte de Nova York enquanto cruzávamos a ponte. Jason
grunhiu, semicerrando os olhos se concentrando na estrada, mas o ignorei
porque Cameron estava errado.
Ele tinha que estar.
Flick não gostava do meu meio-irmão – não havia nada para gostar nele.
— Você está animada? — Os lábios de Cameron roçaram a minha orelha,
provocando uma trilha de calor que percorreu meu corpo. Apertei as pernas
uma na outra e sua risada suave tomou conta de mim.
— Sim, sempre quis ver uma exposição de Reba. Não posso acreditar que
Kent conseguiu os ingressos para nós.
— Para vocês — Jason disse. — Já disse, não vou a nenhuma exposição
de arte idiota. Além disso, os primos do Ash vão nos levar para dar um
passeio, certo?
— O quê? — perguntei, olhando de Jason para Cameron. — Você não
disse nada sobre os primos do Asher. — Esta viagem foi oficialmente
sequestrada pelo meu meio-irmão.
Que se fodesse a minha vida.
Podíamos ter estabelecido uma trégua temporária, devido a tudo o que
aconteceu com a mãe de Cameron, mas eu não tinha ilusões de que isso
duraria. Muita coisa aconteceu entre nós. Mas em um raro fim de semana,
nossas diferenças não eram o centro das atenções. Cameron precisava deste
fim de semana, todos nós precisávamos. E nada ia estragar isso.
Droga nenhuma.
Trinta minutos depois, após enfrentar o trânsito da cidade, finalmente
chegamos ao prédio.
— Puta merda, Hails, não posso acreditar. Olha essa vista. Posso ver o
Empire State Building. — A voz de Flick tinha um tom de admiração quando
ela me chamou para olhar pela janela que ia do chão ao teto.
A suíte da cobertura com vista para a Quinta Avenida era ridícula. Mas
Flick insistiu que eu ficasse lá com Cameron, então eu não podia reclamar.
Jason e Asher iam dividir o outro quarto duplo – com duas camas king-size –
e Flick adorou ficar com o quarto conjugado.
— Nova York — ela suspirou, sonhadora. — Ainda não consigo
acreditar. E — minha melhor amiga se inclinou, sussurrando — ouvi o Asher
dizer ao Jason que seus primos vão nos levar a um clube noturno. Um clube,
Hails. Estou muito animada.
Franzi o cenho enquanto eu tentava compartilhar seu entusiasmo.
— Um clube? Não tenho certeza...
— Ah, não, nada disso, Hailee Raine. Esta é uma oportunidade única na
vida. Você sabe quantos alunos da escola matariam para estarem aqui agora?
Vamos abraçar isso.
— Deixe-me adivinhar — eu disse. — Está na sua...
— Shh . Não deixe os caras ouvirem. Já é ruim o suficiente que o
Cameron tenha nos escutado. Não quero que eles pensem que eu sou... —
Sua voz sumiu quando algo chamou sua atenção por cima do meu ombro.
Olhei para trás para encontrar Jason e Asher nos observando.
— Vocês duas vão ficar paradas aí o dia todo ou podemos sair daqui?
— Você pode pelo menos tentar ser civilizado? — perguntei a Jason, mas
ele apenas resmungou e foi até a geladeira.
— Então, como estão minhas duas mulheres favoritas? — Asher se
aproximou de nós, mas eu me abaixei antes que ele pudesse me segurar. No
entanto, ele passou os braços ao redor de Flick. Estava se tornando um
hábito.
— Isso é tão legal — Flick sorriu para ele. — Não acredito que seu pai
está nos deixando ficar aqui.
— Acredite, baby. — Ele sorriu de volta. — Mas você não viu nada
ainda. Meus primos conhecem todos os lugares da moda.
— Asher, não tenho certeza...
— Hails . — Ele me lançou um olhar sério. — Uma noite. Temos uma
noite. Vire essa carranca de cabeça para baixo e entre no trem do amor.
— Trem do amor? Sério?
— Está tudo bem para você, que tem o Chase para atender... suas
necessidades. — Ele balançou as sobrancelhas. — O resto de nós precisa ir à
caça.
— Asher. — Flick lhe deu uma cotovelada nas costelas. — Isso é
nojento.
— Não, baby. É biologia simples. A menos que você esteja...
— Ele está te incomodando? — Cameron veio por trás, passando o braço
em volta de mim e me puxando contra seu peito.
— Quem, eu? — Asher fingiu surpresa.
— Que horas é a exposição? — Cameron roçou os lábios na minha
orelha.
— Só depois das duas.
— Então temos algum tempo para andar por aí?
— Temos, sim. — Flick se esquivou do aperto de Asher e segurou seu
braço. — Vamos. Quero ver tudo.
— Claro que você quer — Asher resmungou, seguindo atrás dela como
um cachorro de colo.
— Isso vai ser interessante — eu disse enquanto os seguíamos.
Eu e Flick com meu namorado, meio-irmão e seu melhor amigo.
O que poderia dar errado?

***

— E aí, você gostou? — perguntei a Flick quando saímos do Met. Tínhamos


liberado os caras, apesar de Cameron insistir que queria ir. Era a viagem dele
também, e eu não queria monopolizar todo o seu tempo. Além disso, eu sabia
que se Cameron viesse, Asher ia querer vir, e de jeito nenhum eu queria que
ele fizesse uma cena em um dos museus mais prestigiados do país.
— Eu... — Ela hesitou. — Você gosta e é isso que importa. E pelo menos
posso dizer que visitei o Met.
— Foi tão... inspirador. O trabalho dela é realmente incrível.
— E eu adoraria ouvir tudo sobre isso algum dia, mas... — ela apontou
para os caras parados na parte inferior das escadas — quem é aquela?
Jason estava conversando com uma garota muito bem vestida e muito
bonita.
— Acho que é a prima do Asher.
— Ele não disse que ela parecia uma supermodelo. — Flick segurou meu
braço, me puxando em direção a eles.
— Tenho certeza de que ela é legal, apesar de ser parente do Asher.
— Hails, ele não é tão ruim.
— Mas também não é adequado para ser um namorado, certo?
Ela mordiscou os lábios.
— Flick? — perguntei a ela novamente.
— Eu já te disse, não estou interessada. Mas não faz mal se divertir um
pouco.
— Humm, não tenho certeza se Asher é o tipo de cara que você...
— Fee, venha aqui. Quero te apresentar Vaughn e Riley.
— Vamos, Hails. Ele quer nos apresentar aos seus primos. — Ela me deu
um sorriso brincalhão, saltando pelos últimos degraus e se aproximando de
Asher como se fossem melhores amigos.
E me ocorreu que talvez fosse essa a direção que as coisas entre eles
estava tomando.
— Fee, Hails, este é meu primo Riley e sua irmã Vaughn.
— Oi — o cara disse, olhando para Flick e depois para mim. Cameron se
aproximou, sussurrando no meu ouvido o quanto sentiu minha falta. Riley
sorriu.
— Ela é sua?
— Na verdade, ele é meu — eu disse, segurando a mão de Cameron.
— Certo. — O sorriso de Riley se transformou em um riso fácil. — E
você? — Ele balançou a cabeça para Flick, que corou profundamente.
— Eu? Eu estou, ah, estou muito... solteira — ela resmungou.
— Mas você vai manter suas patas sujas longe dela. — Asher abraçou
Riley e o puxou para longe.
— Se eu não te conhecesse — Vaughn falou enquanto ia atrás deles. —
Eu diria que meu primo tem uma queda por ela.
— Ei, cara, você está bem? — Cameron perguntou a Jason que estava
parado no local, observando Vaughn se afastar.
— O que? Sim, estou bem. — Ele olhou para Flick. — Você sabe que ela
está brincando, certo? O Ash não te quer. Ele só gosta de brincar com você.
— Eu... — Ela fechou a boca e a vergonha queimou suas bochechas.
— Jason não seja um idiota — eu o repreendi.
— Sim, cara, vamos. Temos apenas uma noite — Cameron acrescentou.
— Vamos tentar nos dar bem.
— Tanto faz — ele resmungou antes de sair atrás de Asher e seus primos.
— Você está bem? — perguntei a Flick.
— Por favor, estou bem. — Ela sorriu, mas foi forçado. — Vamos,
devemos acompanhá-los. — Flick passou por nós e correu atrás deles.
— Aquilo foi estranho.
— Não se preocupe com o Jase — Cameron falou — ele está chateado
por seu melhor amigo estar namorando com sua irmã.
— Você faz isso soar tão romântico. — Me inclinei, dando um beijo em
seus lábios.
— Mais tarde — Cameron murmurou. — Mais tarde, vou beijar cada
centímetro do seu corpo.
— Isso é uma promessa? — Segurei seu suéter, e ele sorriu.
— É, sim.
— Estou ansiosa por isso. — Roubei outro beijo. — Vamos, antes que os
percamos.
— Espere. — Ele segurou meu pulso. — O que o Asher disse antes, sobre
a coisa...
— A coisa? — Me lembrei vagamente de Asher perguntando a Cameron
se ele havia me contado sobre a coisa, mas eu estava muito ocupada
apreciando a vista da cidade.
— Sim. — Cameron engoliu a saliva. — Decidi para onde vou.
Meu coração disparou.
— Sério?
— Sim.
— Está tudo bem — eu disse sobre o nó na minha garganta. Não
tínhamos conversado muito sobre isso, nosso relacionamento era recente, e
eu não queria fazer suposições. — Faremos as coisas funcionarem.
— Ótimo, porque escolhi Michigan.
— Michigan...
Um sorriso lento apareceu em seu rosto quando ele assentiu.
— Tudo bem?
— Você vai para a universidade de Michigan?
— Se você quiser...
— Eu quero. — Joguei meus braços em volta dele. — Quero mesmo.
— Ainda bem, porque eu meio que já fiz um compromisso verbal.
Bati em seu peito, mal conseguindo acreditar. Eu sabia que Cameron
estava procurando faculdades depois que a cirurgia de sua mãe correu bem.
Mas, no fundo, eu esperava que ele seguisse Jason até a Penn e, embora eu
odiasse a ideia, nunca teria ficado em seu caminho.
— Jason... — comecei, mas ele me cortou.
— É importante para mim, e essa decisão é minha, não dele.
E embora ele estivesse quase seis anos atrasado, ele finalmente me
escolheu.

Cameron
— Qual é o seu problema? — perguntei a Jase enquanto olhávamos para o
clube. Hailee e Flick estavam dançando na pista lotada. Ela queria que eu
fosse com elas, mas eu queria que ela aproveitasse um pouco com sua melhor
amiga e queria falar com o meu.
— Você está mal-humorado a noite toda. É ela?
— Ela? — Ele me olhou com frieza, tomando um longo gole de sua
cerveja. Achei que poderíamos ter problema para entrar no clube, mas
descobri que os primos de Asher conheciam todo mundo e entramos
imediatamente. Era muito legal, mesmo que eu preferisse estar de volta na
cobertura com Hailee. Sozinhos, nus e enterrado tão profundamente dentro
dela que eu não sabia onde ela começava e onde eu terminava.
— Você sabe de quem estou falando. — Meu olhar voltou para as
meninas enquanto elas riam e dançavam, alheias a todos os caras olhando
famintos para elas.
— Você está bem com isso? — Jase virou a mesa para mim. — Com ela
lá embaixo enquanto eles a olham? Se ela fosse minha...
— Você está bem com isso? — rebati, e ele sabia muito bem que não me
referia à sua meia-irmã.
— Onde é que você quer chegar?
— Você a observa, sabe? — Lutei contra um sorriso malicioso. —
Quando você acha que ninguém está olhando, você a observa.
Ele soltou uma risada estrangulada.
— Não sei do que você está falando. A única garota que tenho olhado
essa noite é para Vaughn.
— Sério, cara? Ela é prima do Asher.
— Isso não te impediu, não é? — Ele soltou um longo suspiro e se virou
para se encostar na grade da varanda, ficando de costas para a pista de dança
e as meninas.
— Não vou fazer isso com você.
— Fazer o quê? Não estou fazendo nada. — Seu olhar duro caiu sobre
Asher e os primos. Ele parecia faminto. Rancoroso. Ele parecia o Jase de
antes.
Bati a mão em seu estômago quando ele deu um passo à frente.
— Não faça isso. Você não precisa provar nada. Tudo o que você vai
fazer é machucá-la...
— Machucar quem?
Com um aceno de desaprovação, eu o deixei ir. Jase vivia para seus
jogos, mas um dia ele receberia o troco. E por mais que eu não quisesse que
Felicity se envolvesse com ele, talvez ela fosse a garota que finalmente o
colocaria em seu lugar.
— Qual é o problema dele? — Asher se juntou a mim, olhando para a
multidão lá embaixo.
— Quem, Jase? As coisas de sempre.
— Ele gosta dela, sabe? — ele disse como se não fosse nada. — Ele
nunca vai admitir, mas ele gosta. Ela o irrita.
Olhei para ele, mas ele estava muito ocupado olhando para a pista de
dança... para as garotas.
Felicity.
Ele estava observando Felicity.
— E você? — perguntei, sem saber se eu queria entrar nisso. — Ela te
irrita?
Ele deu de ombros, indo com calma. Mas vi a tensão em torno de sua
mandíbula. Ele gostava dela. Puta merda.
— Não importa — ele falou. — Ela não gosta de mim.
— E ela gosta do Jase?
— Não tenho certeza. Ela diz que não, mas eu a pego olhando para ele às
vezes com aquele olhar, e tenho certeza de que algo aconteceu entre eles na
minha casa.
— Olhar?
Asher soltou um suspiro trêmulo quando segurou o corrimão.
— O olhar que você costumava dar a Hailee. O mesmo olhar que diz que
você quer algo, mesmo sabendo que é uma péssima ideia.
— Funcionou para nós, não foi?
Ele riu, mas foi cheio de amargura.
— Você é a exceção à regra. Além do mais, você não é um cretino cruel
como Jase. Ele rasgaria Fee com os dentes e depois se banquetearia com os
ossos dela só porque pode. — Ele cerrou a mandíbula. — E, no entanto,
aposto que antes do final do semestre ela vai transar com ele.
— Talvez ela só precise saber que há outras opções disponíveis. — Dei a
ele um olhar duro.
— Talvez. — Algo brilhou em seu rosto, mas ele rapidamente escondeu.
— Vamos descer lá antes que algum metido a besta roube sua garota bem
debaixo do seu nariz?
Meus olhos se concentraram em Hailee novamente. Asher estava certo.
Dois caras estavam avançando.
— Vamos — eu disse, esvaziando minha cerveja e deixando-a na
bancada.
Descemos as escadas através do mar de corpos. Imediatamente, olhei para
o idiota que estava se aproximando de Hailee. Ele arregalou os olhos e os
semicerrou quando cheguei por trás, passando meu braço em volta da sua
cintura.
— Oi — ela murmurou por cima do ombro.
— Senti sua falta. — Beijei a ponta de seu nariz antes de entrelaçar
nossas mãos e colocá-las em seu estômago. O cara zombou antes de se
afastar. Olhei para Asher, que me lançou um sorriso divertido enquanto
puxava Flick para seus braços. Ela foi de boa vontade, com um sorriso
estampado no rosto.
— Felicity está bêbada? — perguntei a Hailee enquanto ela movia seus
quadris, provocando uma trilha de eletricidade em mim.
— O Asher vai cuidar dela — ela disse.
Era exatamente com isso que eu estava preocupado.
— Não tenho certeza... — Hailee girou em meus braços, colando sua
boca na minha. Desci as mãos por suas costas, encontrando a curva de sua
bunda. Ela era um pecado no vestido preto justo e saltos altos que faziam
suas pernas parecerem mais longas.
Nossas línguas se moveram juntas, com lambidas lentas e preguiçosas,
refletindo a maneira como nossos corpos se moviam. Eu não tinha o hábito
de dançar, mas por Hailee eu andaria sobre brasas. Havia algo magnético
nela. E eu estava completamente impotente contra seus encantos.
— Me leve para casa, Cameron — ela gemeu em meus lábios. — Preciso
de você.
Puta merda.
Eu queria jogá-la por cima do ombro e dar o fora daqui, mas ainda estava
cedo e havia Felicity e meus amigos a considerar. Embora ela e Asher
parecessem mais do que à vontade, envolvidos nos braços um do outro.
— Mais tarde — eu disse, roubando outro beijo. — A Felicity quer
aproveitar ao máximo a noite.
Os olhos de Hailee escureceram quando ela me olhou.
— Eu te amo. — Ela lutou contra um sorriso. — Eu te amo muito.
Eu a puxei para perto, sentindo um soco de emoção em meu estômago.
Hailee passou os braços em volta da minha cintura e segurou firme enquanto
nos balançávamos, dançando no nosso ritmo.
Há apenas algumas semanas, meu futuro era incerto e uma nuvem negra
pairava sobre mim, apagando toda a luz. Mas agora, eu tinha tudo que sempre
quis. Eu tinha o time e o estadual estava ao nosso alcance. Minha mãe estava
indo tão bem quanto se poderia esperar, dadas as circunstâncias. E eu tinha
uma garota que me amava incondicionalmente.
Eu era um filho da puta sortudo. Mas se as últimas semanas me
ensinaram alguma coisa, era para não tomar nada como garantido.
E eu pretendia aproveitar ao máximo minha vida – começando com a
garota em meus braços.

Hailee
— Aonde você vai? — Cameron murmurou, estendendo a mão para mim
enquanto eu tentava me desvencilhar dos lençóis.
— Água — eu disse. — Preciso de água. — O ar era diferente em Nova
York. Espesso e úmido, se agarrava à pele e fazia seus pulmões se
contraírem.
— Pegue uma garrafa para mim.
— Pode deixar. — Passei os dedos sobre sua mandíbula e o calor me
inundou enquanto eu me lembrava de como havia sido intenso entre nós
quando voltamos para a cobertura.
Pegando a camisa de Cameron, rapidamente a abotoei apenas no caso de
alguém ainda estar acordado, mas pelo estado de Jason, Flick, Asher e seus
primos, eu duvidava que alguém estivesse.
Caminhando silenciosamente pelo corredor, corri para a cozinha e peguei
duas garrafas de água na geladeira, parando quando ouvi um barulho. Meu
coração saltou na garganta. Provavelmente era só alguém roncando. Mas,
quando voltei para o corredor na ponta dos pés, ouvi novamente. Um rangido
suave. Um gemido abafado. Meus olhos se esforçaram na escuridão para
encontrar a fonte do ruído, mas só vi as portas fechadas. Até que meus olhos
focaram no quarto que Flick estava usando. A porta estava entreaberta. Ela
tinha bebido muito na noite passada. Talvez ela estivesse vomitando? Corri
até lá, parando do lado de fora. Um soluço abafado soou no ar e eu entrei.
— Flick, você está...
Uma bunda nua me cumprimentou.
A bunda nua de Jason enquanto ele estocava em minha amiga.
— Ah, meu Deus — sussurrei assim que os olhos de Flick encontraram
os meus por cima do ombro dele.
— Hails — ela gritou com os olhos arregalados de surpresa e nebulosos
com luxúria. Ela se encolheu enquanto Jason xingava baixinho antes de rolar
para longe da minha melhor amiga.
A minha melhor amiga.
...e meu meio-irmão.
Juntos.
Me virei e saí de lá. Cameron estava certo. Algo estava acontecendo.
Algo entre os dois.
Uma das pessoas que eu mais amava no mundo.
E uma das que eu mais odiava.
A vida tinha ficado muito mais complicada.
Agradecimentos
Este livro não deveria existir. Tive algum tempo “livre” e queria escrever
algo totalmente novo. Quatro semanas e noventa e seis mil palavras depois, a
história de Hailee e Cam estava terminada. Não acho que nenhuma outra
história saiu como essa. Inicialmente, eu pretendia que fosse um romance
agressivo. Algo mais sombrio do que estou acostumada a escrever, mas Cam
(ah, Cameron) tinha outras ideias. Veja, eu não guio meus personagens, eles
me guiam e, bem, aqui estamos. Mas para quem queria um protagonista um
pouco mais idiota, não tema, acho que o Jason mostrará bastante disso em
The Game You Play (livro ainda não disponível em português).
Como qualquer autor dirá, escrever só é preciso uma pessoa para escrever
uma história, mas publicar precisa de uma comunidade. E eu tenho um monte
de gente a agradecer.
Primeiro, minha editora, Andie. Sinceramente, não sei o que faria sem
suas palavras de incentivo, tapas virtuais e abraços tão necessários. Sei que
sou terrível às vezes, mas que pena, você está presa a mim!
Em seguida, um grande obrigada à minha equipe de leitores beta: Becky,
Bre, Jamie e Tami por lerem a versão inicial de O problema com você e me
ajudarem a dar a Cameron e aos Raiders uma voz autêntica de “futebol”.
Ginelle, extraordinária revisora ​de provas, estou tão feliz (e aliviada) por
te entregar este livro a tempo! Obrigada por ser tão completa e oportuna.
A Sarah Puckett e Wen Ross, por trazerem Hailee e Cameron à vida, eu
adoro isso! E Brandie e Krystyn, da Audiobook Obsession, por me ajudarem
a preparar o audiobook (em inglês) para o lançamento!
Para meu grupo promocional Rixon Raiders – vocês, garotas, são demais!
Sério. Sou muito grata por ter vocês ao meu lado, prontas para espalhar o
amor pelos Raider. Muito obrigada!
Minhas Indie Girls , vocês sabem quem são. Eu amo nosso espaço seguro
para conversar, desabafar e explorar o que está funcionando e o que não está.
Obrigada por me apoiarem!
Para meus leitores/grupos de spoiler – estar “presente” não é fácil para
mim, mas estou tentando o meu melhor para compartilhar essa jornada com
todos vocês. Obrigada por ficarem por aqui.
A cada blogueiro, resenhista ou bookstagrammer que me apoiou neste
lançamento, sem todos vocês, não haveria lançamento, então, obrigada!
E, finalmente, aos meus filhos. Sei que deixo a desejar em alguns
momentos, mas faço tudo isso por vocês e por um futuro melhor. Mamãe os
ama!

Até a próxima,
Beijos.
LA
Playlist
Somebody That I Used To Know – Goyte, Kimbra
Whatever It Takes – Imagine Dragons
Hard Feelings/Loveless – Lorde
Hell To The Liars – London Grammar
War Of Hearts – Ruelle
Where’s My Love – SYML
Runnin’ (Lose It All) Sofia Karlberg
Love To Hate It – Off Bloom
All We Do – Oh Wonder
All The Stars – Kendrick Lamar, SZA
Ready For War – Tommee Proffit, Liv Ash
Irrestible – Fall Out Boy ft. Demi Levato
My Motto – Jade Bird
I Hate You, I Love You – Gnash, Olivia O’Brien
I Can’t Make You Love Me – SOAK
Mercy – Lewis Capaldi
Water Under The Bridge – Adele
Crazy In Love – Sofia Karlberg
Send Them Off! – Bastille
Can’t Hold Us Down – Tommee Proffit, Sam Tinnesz
About the Author
Drama. Angústia. Romances viciantes

Autora de romances young adult e new adult , L. A. fica mais feliz


escrevendo o tipo de livro que adora ler: histórias viciantes, cheias de
angústia adolescente, tensão, voltas e reviravoltas.

Sua casa fica em uma pequena cidade no meio da Inglaterra, onde atualmente
faz malabarismos para escrever em tempo integral e ser mãe/árbitra de duas
crianças. Em seu tempo livre (e quando ela não está acampada na frente do
laptop), você provavelmente encontrará L. A. imersa em um livro, escapando
do caos que é a vida.
L. A. adora se conectar com os leitores. Os melhores lugares para encontrá-la
são:

www.lacotton.com

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