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RIXON RAIDERS 1
L A COTTON
CONTENTS
Rixon RAiders
Sinopse:
Dedicatória
Chapter 1
Chapter 2
Chapter 3
Chapter 4
Chapter 5
Chapter 6
Chapter 7
Chapter 8
Chapter 9
Chapter 10
Chapter 11
Chapter 12
Chapter 13
Chapter 14
Chapter 15
Chapter 16
Chapter 17
Chapter 18
Chapter 19
Chapter 20
Chapter 21
Chapter 22
Chapter 23
Chapter 24
Chapter 25
Chapter 26
Chapter 27
Chapter 28
Chapter 29
Chapter 30
Chapter 31
Chapter 32
Chapter 33
Chapter 34
Chapter 35
Chapter 36
Chapter 37
Chapter 38
Chapter 39
Chapter 40
Epilogue
Agradecimentos
Playlist
About the Author
O problema com você
L. A. Cotton
Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são produtos da imaginação
do autor ou foram usados de forma fictícia e não devem ser interpretados como reais. Qualquer
semelhança com pessoas, vivas ou mortas, eventos reais, localidades ou organizações é inteiramente
coincidência.
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9610 de 19/02/1998. Exceto para o uso de pequenos
trechos em resenhas, é proibida a reprodução ou utilização deste livro, no todo ou em parte, de qualquer
forma, sem a permissão prévia por escrito do detentor dos direitos autorais deste livro.
Rixon RAiders
O problema com você
The game you play
The harder you fall
The end game is you
Sinopse:
Hailee Raine só precisa sobreviver a mais um ano.
Um ano na cidade obcecada por futebol.
Um ano de espírito escolar nauseante.
Só mais um ano com Jason, seu meio-irmão cruel, e seus amigos
jogadores de futebol metidos e arrogantes.
Ela os odeia. Especialmente Cameron Chase, o cara que ela achava que
era diferente.
***
***
@ThatcherQB1 : Rixon East está pronta para lutar com RHS este ano. Os
Raiders vão correr assustados depois que os Eagles acabarem com eles
#EaglesCampeões #RaidersQueSeFodam
***
***
***
***
Assim que ela encontrou uma vaga para estacionar, Flick desligou o motor e
se virou para mim.
— Certo — ela respirou profundamente. — Você consegue fazer isso.
— Fazer o quê?
— Entrar lá com a cabeça erguida, é claro.
— Certo — respondi, confusa. — Tem outra opção?
— Bem, eu estava preparada para adicionar outra coisa à minha lista.
— Estava?
— Sim. — A malícia brilhou em seus olhos. — Não quero acabar de
castigo, mas eu faria isso por você.
— De castigo ? — Sufoquei a risada que crescia em meu peito.
— Sou a sua melhor amiga, baby. — Flick balançou as sobrancelhas. —
Estou falando sério. Se você quiser se vingar, estou dentro. Com certeza. O
que o Cameron fez foi...
— Não quero vingança — falei, minha voz sumindo.
Minha melhor amiga recuou, com os olhos arregalados de surpresa.
— Sinto muito, acho que ouvi errado, porque achei que você disse que
não quer vingança.
Dando de ombros, eu disse:
— Não quero. Encerrei o assunto.
— Aconteceu mais alguma coisa?— Ela franziu o cenho. — Algo que
você não...
— Você estava certa. Isso já foi longe demais e se eu não parar, serei eu
quem vai acabar machucada. Não posso mais cair nos joguinhos dele.
Encerrei o assunto.
Algo mudou quando Cameron me beijou, não que eu fosse admitir isso
para alguém. Por uma fração de segundo, eu realmente pensei que ele me
queria. Seu beijo foi muito intenso. Seu toque, muito desesperado. E eu quase
caí nessa com anzol, linha e isca.
Mas agora, percebi que tudo fazia parte do jogo.
Um jogo que até o momento em que seus lábios cobriram os meus, eu
sempre estive mais do que disposta a jogar. Até me considerava um oponente
digno. A garota que se recusava a deixar os Raiders pisarem nela. Mas algo
estava diferente neste semestre.
Cameron foi atrás da única coisa que sempre protegi.
Minhas emoções.
Ele me fez sentir algo. Coisas que eu não queria sentir. As regras
mudaram e, no fundo, eu sabia que se continuasse jogando, minha reputação
e sanidade não seriam as únicas coisas em jogo.
— Uau, Hailee Raine, será que você finalmente amadureceu?
— Não me chateie. — Bati em seu braço. — Tenho coisas mais
importantes em que me concentrar.
— Você quer dizer como me ajudar com a minha lista? — Ela parecia tão
presunçosa que murmurei indignada. — Você me deve, se lembra? — Flick
acrescentou, me dando seu melhor olhar de cachorrinho.
Quando saímos do seu carro e entramos na escola, não pude deixar de
pensar que troquei uma forma de tortura por outra.
***
***
Sexta à noite, voltei ao único lugar onde nunca mais queria pisar novamente.
Mas minha melhor amiga era implacável e no final, achei que era mais fácil
acabar com isso agora do que passar o semestre inteiro tentando evitar seus
avanços. Eu meio que esperava que ela me cumprimentasse usando uma
camiseta dos Raiders e um boné combinando, mas ela disse que poderíamos
deixar isso para a próxima vez.
Como se esta noite fosse acontecer novamente.
— É emocionante, você não acha? — Ela gritou acima do barulho da
multidão enquanto caminhávamos para as arquibancadas junto com o resto de
Rixon. A cidade inteira foi fechada para a noite do jogo e quem não teve a
sorte de conseguir os ingressos estavam acampados na frente da televisão,
prontos para assistir ao jogo de abertura dos Raiders contra os mosqueteiros
da Marshall Prep.
— Emocionante, sim — resmunguei quando encontramos nossos lugares.
O campo já era uma colmeia de atividade. A banda marchando se
apresentando enquanto o time de líderes de torcida levava a multidão ao
frenesi.
Como na noite da reunião, o ar estava elétrico. Mas esta noite era
diferente. Mais intenso, de alguma forma. A multidão estava faminta, a
energia de cinco mil pessoas emanando ao redor do Dawson Stadium. Mas
nada poderia ter me preparado para a onda que senti quando a equipe rasgou
a enorme faixa azul e branca.
— Meu coração está batendo tão forte — Flick admitiu, com os olhos
brilhando de alegria e a pele corada. Ela era um deles agora. Seu coração
estava sincronizando com a batida da multidão, a batida da banda. Uma boa
amiga ficaria animada, feliz por ela estar tendo todas essas novas
experiências de vida, que ela poderia riscar sua lista. Mas acho que perdi meu
título de boa amiga quando deixei de perceber que ela queria essas
experiências.
Imagine Dragons explodiu pelo campo, mal abafando o canto estridente
enquanto todos cantavam a letra de seus amados Raiders. Meus olhos
imediatamente encontraram o número 1 e 42... finalmente pousando em
Cameron, o número 14 em sua camisa se destacando como um sinal de néon
que meus olhos não poderiam evitar, nem que eu tentasse.
— Não me odeie — Flick chamou minha atenção, pressionando ao meu
lado. — Mas acho que adoro isso.
— Eu sei — sussurrei, sentindo meu estômago afundar. Porque eu sabia
mesmo. Ela estava radiante. Como se estar aqui, na multidão, fosse sua
vocação.
— Só me prometa que você não vai se tornar uma delas — respondi,
tentando controlar minha decepção.
— Delas? — ela perguntou, mal conseguindo desviar o olhar do campo.
— Sim, uma Khloe Stemson ou Jenna Jarvis. Me prometa que você não
vai cruzar essa linha.
Flick franziu as sobrancelhas como se eu estivesse falando outro idioma.
Mas antes que ela pudesse responder, os capitães dos times foram chamados
para o cara ou coroa. Quando Jason e seus companheiros voltaram para o
resto do time, ela gritou.
— Sim! Eles ganharam!
— É mesmo? — perguntei, sem ter ideia do que estava acontecendo no
campo.
— Sim, veja. — Ela apontou para Jason, Cameron e alguns outros que
agora estavam correndo para o campo. — Parece que eles vão lançar para o
outro time.
— E eu devo saber o que isso significa?
Ela assentiu devagar.
— Fique de olho, você vai entender.
— Se você diz.
— Sim, agora preste atenção. — Flick balançou a cabeça para o campo, e
eu gemi.
Seria uma longa noite.
Doze
Cameron
Meus músculos latejavam com o esforço, o suor escorria pelas minhas costas
e pingava na minha testa enquanto nos amontoávamos no vestiário,
esperando pelo treinador. Ele entrou com os técnicos assistentes, parecendo
estar muito calmo.
— É assim que se faz, rapazes — disse, tirando o boné e passando a mão
pelo cabelo grisalho. — Pessoal do ataque, continuem trabalhando duro e
executando aquelas jogadas rápidas que trinamos. Assim, a Marshall vai
comer na palma da nossa mão. Defesa, mantenha-os presos. Bennet, bom
bloqueio, filho. O QB deles está completando três de quatro passes, mas
continue em cima que ele ficará cansado. — Asher sorriu para mim do outro
lado da sala, e eu revirei os olhos. — Mas cuidado com a corrida de volta,
pois ele tem uma tendência a ir longe e se enfiar entre nossos caras.
— Entendi, treinador. — Asher ergueu seu capacete. — Ninguém vai
passar por mim.
— Fico muito feliz em ouvir isso, filho. Agora se juntem. — Ele acenou
para nós. — Sei que há muita pressão. As pessoas ficaram desapontadas
quando não passamos da primeira rodada no ano passado. Caramba, eu fiquei
desapontado, mas esta é uma nova temporada. — Sons baixos soaram ao meu
redor enquanto os caras se lembravam de como foi a sensação de ser
eliminado graças a Rixon East.
— Muito bem, muito bem — o treinador Hasson gritou, esperando pelo
silêncio. — Me deixem dizer algo sobre ganhar o estadual. Não se trata de
sorte ou qual escola tem os melhores jogadores ou mais dinheiro, é sobre
trabalho em equipe e coração. Trata-se de aproveitar todas as oportunidades e
transformá-las em algo de que se orgulhar. Não jogue para você, jogue para
os outros dez homens em campo. Os homens que te observam da lateral.
— Este pode ser apenas o jogo de abertura, mas bem aqui, vocês farão o
que fazem de melhor: vão até lá e joguem como campeões, estão me
ouvindo?
— Sim, senhor.
— Eu perguntei: vocês estão me ouvindo?
— SIM, SENHOR. — Nossas vozes se fundiram, ecoando nas paredes.
— É isso que eu gosto de ouvir. Asher, filho, vá em frente.
Ele seguiu para o meio do amontoado, com os olhos semicerrados e os
ombros retos.
— Quem somos?
— Raiders — todos nós gritamos em sincronia bem ensaiada.
— Eu perguntei quem somos?
— RAIDERS.
— E o que somos?
— Família — nossas vozes ecoaram pela sala, reverberando em meu
peito.
— E o que vamos fazer?
— Ganhar.
— Perguntei o que vamos fazer?
— GANHAR!
— Claro que vamos — o treinador gritou. — Agora vamos lá e joguem.
— Ele jogou a prancheta para cima e nós corremos para fora do vestiário com
os punhos erguidos e os espíritos elevados. A adrenalina correu por mim
enquanto eu saltava na ponta dos pés, esticando o pescoço de um lado para o
outro. A noite do jogo era sempre cheia de adrenalina: viciante e devoradora.
Durante aqueles quarenta e oito minutos, não havia espaço para pensar em
mais nada a não ser na vitória.
O rugido da multidão quando voltamos a entrar no campo era
ensurdecedor, o brilho das luzes da noite de sexta-feira nos cegava. Éramos
deuses agora, e esta era a nossa arena.
— Absorva isso, mano — Jase me deu um tapinha nas costas. — Este ano
é nosso. Está pronto? — Seus olhos estavam escuros, quase pretos. Eu nunca
vi ninguém ficar tão focado quanto ele.
Assentindo, coloquei o capacete, mordendo com força o protetor bucal e
caminhando para a nossa zona final. Os Marshalls já estavam em campo na
linha de trinta e cinco jardas, prontos para dar o pontapé inicial. Nossos
jogadores se posicionaram. O apito tocou e seu kicker , o responsável por
chutar a bola, deu o pontapé inicial. Meus olhos se fixaram nela, rastreando
sua projeção enquanto subia pelo ar, alta e profunda
— É sua, Quatorze — alguém gritou.
Ela continuou voando, cortando o ar como uma bala. Fui para trás, me
movendo sob a trajetória da bola, me alinhando para a recepção. Eu não
precisava pensar, as ações eram impressas, instintivas como a memória
muscular. Joelhos soltos, mãos embaladas, a bola caiu com um baque e a
coloquei em meu corpo, fechando os dedos em torno do couro.
— CORRE! — Outra voz gritou, ecoada pelo treinador e seus homens
nas laterais, além da torcida de cinco mil pessoas nas arquibancadas. Mas eu
não precisava de incentivo, meus olhos já estavam examinando o campo,
antecipando a rota de volta para casa. Os blockers do time da Marshall,
jogadores que faziam o bloqueio, já estavam se movendo no campo, uma
onda de preto e amarelo vindo direto em minha direção, mas vi uma abertura
e decolei, movendo minhas pernas o mais rápido que elas podiam me levar. A
adrenalina disparou minhas sinapses, correndo pelo meu corpo como
minúsculos raios, me impulsionando para frente.
Passei do meio-campo para a área de quarenta jardas com a debandada de
jogadores da Marshall bem na minha cola, mas continuei pressionando.
Continuei em movimento. Pegando um borrão de amarelo e preto na minha
visão periférica, me enfiei, me preparando para o golpe que não veio, já que
um dos nossos bateu no blocker , tirando-o do jogo. Trinta jardas... vinte...
dez... eles não podiam me pegar enquanto eu voava em direção a endzone , a
área em que eu precisava focar, nada entre mim e o touchdown , exceto ar
fresco. Jogando a bola no chão, me vi empurrado entre meus companheiros
de equipe enquanto a multidão explodia.
— Noventa e cinco jardas, baby — Grady gritou. — É assim que se faz.
— Ele deu um soco em mim enquanto avançávamos no campo para o nosso
kicker, para tentar a conversão. A bola passou de forma limpa pelas colunas,
nos dando um ponto extra e levando a nossa vantagem para trinta e oito a
seis. A Marshall precisava de um milagre para conseguir uma vitória.
Enquanto corríamos de volta para a linha lateral, Jase me prendeu,
pressionando seu capacete contra o meu.
— É por isso que a Penn te quer. — Ele me deu um sorriso raro. — Um
jogo a menos, outros nove para terminar e então vamos até o fim.
A convicção em sua voz era mortal, e eu sabia que Jason acreditava em
cada palavra que saía de sua boca.
Que nós ganharíamos o Estadual.
Que eu iria para a Penn com ele.
E teríamos uma longa e bem-sucedida carreira no futebol universitário...
juntos .
Na cabeça dele, não havia outra opção.
— Ei, você está bem? — Ele agarrou meu ombro com os olhos fixos no
meu rosto.
— Estou, sim. — A mentira saiu da minha língua. — Vamos, temos um
jogo a ganhar.
Ganhamos por quarenta e seis a doze no final. Nosso ataque foi rápido,
nossa defesa, impenetrável. E nas palavras do treinador, “nós os superamos
como um sonho”. Mas a vitória foi agridoce.
Depois que deixamos o campo e voltamos para o vestiário, ouvi uma
mensagem de voz do meu pai avisando que eles não viriam ao jogo. Ele a
deixou dez minutos após o início. Então, enquanto meus companheiros
estavam animados em ver seus amigos e familiares esperando do lado de fora
para nos dar os parabéns, tudo que eu queria era um pouco de ar.
Não é que eu não apreciasse as pessoas que vinham para nos apoiar. Eu
gostava, mas era um lembrete doloroso de que as pessoas que eu mais queria
esperando por mim na multidão reunida não estavam ali.
— Bom jogo, Cam, — Khloe veio em minha direção enquanto eu
esperava pelo resto dos caras.
— Obrigado — grunhi, chutando a sujeira com meu tênis.
Ela se aproximou e seus seios roçaram meu braço.
— Você vai para o Bell’s?
— Não tenho certeza do que os caras querem fazer ainda. — Ou se eu
queria comemorar.
Meus olhos percorreram o estacionamento para onde Asher e alguns dos
caras estavam dando autógrafos e tirando fotos com os fãs enquanto Jase e
seu pai conversavam com o treinador.
— Bem, talvez pudéssemos... — Sua voz sumiu quando avistei Hailee do
outro lado do estacionamento, caminhando com Felicity até seu carro feio.
O que ela estava fazendo aqui?
Ela odiava futebol quase tanto quanto odiava Jason. E depois da reunião
de boas-vindas ao time, nunca pensei que ela pisaria neste lugar novamente.
Esse era o ponto principal. No entanto, aqui estava ela. Me provocando. Me
fazendo desejar que as coisas fossem diferentes.
— Então, o que acha? — A mão de Khloe pousou no meu braço e eu
olhei para ela, franzindo a testa.
— O quê?
— Perguntei se podíamos sair algum dia, só nós dois? — Código para
dizer que queria transar comigo.
— Ouça, Khloe, eu não estou... — Os olhos de Hailee me encontraram,
semicerrando com desprezo. O ódio irradiava dela, mesmo do outro lado do
estacionamento. Ou talvez nem fosse ódio, quem sabe não era ciúme.
Entrelacei o braço ao de Khloe e avaliei o rosto de Hailee para ver uma
reação. Seus lábios se entreabriram enquanto sua respiração ofegou. Bingo .
Inclinando a cabeça no ouvido de Khloe, sussurrei:
— Acho que você teria mais sorte com o Mackey. Esse garoto está se
destacando e sei que ele te acha gostosa.
Ao contrário de mim, que não ficava com o resto dos outros, a maioria
dos caras compartilhava garotas.
— É mesmo? — Ela sorriu, mas eu ainda estava com os olhos fixos em
Hailee.
Ela observou por mais um segundo antes de balançar a cabeça e entrar no
carro da amiga. Eu queria irritá-la e envolvê-la depois de uma semana em que
nos ignoramos. Era para me fazer sentir melhor, me dar aquela pontada de
excitação que eu sentia sempre que interagíamos. Mas, desta vez, tudo o que
senti foi a pontada amarga de desânimo e uma onda de arrependimento.
— Ei, cara. — Asher se aproximou. — Era a Hailee que vi entrando no
carro feio da Felicity?
— Hailee? Ela estava aqui? Em um jogo de futebol? — Khloe olhou por
cima do ombro com o cenho franzido. — Uau. Ela tem coragem depois de...
— Acho que vi o Mackey bem ali — falei, cortando-a.
— É mesmo? — Seus olhos brilharam com esperança.
— Sim, está vendo? — Apontei para onde ele estava com o resto dos
caras. — Você deveria ir até lá e dar um alô.
— Ceeerto. Tchauzinho.
Ela se afastou com um pulinho e Asher perguntou:
— Mas que merda foi essa?
Rindo, falei em tom malicioso.
— Eu disse que o Mackey estava a fim dela.
— Ele está a fim de qualquer coisa que tenha uma boceta.
— Sorte a dela então.
— Você está bem, cara? Seus pais vieram?
Balançando a cabeça de leve, murmurei:
— Não.
— Merda, cara, sinto muito. Ouça, você quer ir lá para casa ao invés de
sair? Minha mãe vai fazer lasanha. — Apesar de seus pais ficarem muito
tempo fora da cidade, sempre que voltavam, a sra. Bennet insistia em se
dedicar a família.
— Não, acho que eu deveria ir para casa e me certificar de que está tudo
bem.
— Tem certeza?
— Sim, mas dê um alô aos seus pais por mim.
Asher me deu um tapinha nas costas antes de seguir até seu jipe.
— Ei, Chase. — Era a voz de Jase. — Você vai ao Bell’s? — Ele
começou a se aproximar e alguns caras ficaram atrás, esperando que seu QB
desse a ordem.
— Preciso ir para casa.
— Vamos lá, mano, sempre comemoramos a vitória juntos. — Ele estava
certo, nós fazíamos isso. Mas eu não estava no clima esta noite.
— Preciso voltar para casa. — Não era uma mentira completa.
— Sei que tem algo com a sua mãe, mas é o último ano. — Ele parecia
irritado. — Eles sabem que você precisa priorizar a equipe. Você não precisa
se sentir cul...
— Amanhã eu vou, tá? — Acenei de forma breve, esperando que ele
desistisse.
Ele me estudou por mais alguns segundos e depois deu de ombros.
— Tá, você quem sabe, cara. Te ligo amanhã. — Jase ficou puto, mas não
demonstrou.
Talvez ele nunca o fizesse.
E até recentemente, isso nunca tinha sido um problema.
Treze
Hailee
Já que fui ao jogo de futebol com ela ontem à noite, Flick concordou em me
agradar indo ao The Alley. Era nosso ponto de encontro habitual,
principalmente porque o time de futebol raramente aparecia por aqui. Eles
preferiram ir ao Bell’s, um bar no centro da cidade. O proprietário era um
grande fã de futebol que deixava o time entrar e sair quando bem entendesse.
Desnecessário dizer que eu o evitava a todo custo. Mesmo que eles tivessem
as melhores batatas fritas com chili da cidade.
Mas o The Alley era legal. Tinha patinação, boliche, uma pequena
galeria, lanchonete e, em um fim de semana, Tate, o proprietário, deixava
bandas locais se apresentarem. Ele não era como Jerry, o dono do Bell’s, que
deixava o time beber e não fazer nada de bom, mas ainda era divertido.
A segunda razão pela qual eu amava tanto o The Alley... é que ele ficava
bem na divisa entre Rixon/Rixon East com vista incrível do rio Susquehanna.
Era como se fosse minha própria Suíça. Uma zona livre do futebol, intocada
pela rivalidade entre Raiders e Eagles. Qualquer um era bem-vindo para ficar
aqui, mas Tate te expulsaria mais rápido do que você conseguiria dizer “vai,
Raiders” se ele notasse ou soubesse de qualquer problema.
Já mencionei que Tate era meu tipo de pessoa?
— E aí, você odiou tanto quanto esperava? — Flick me perguntou
enquanto pegávamos nossos milkshakes e batatas fritas com queijo e bacon e
encontramos uma mesa.
— Foi... tudo bem, eu acho. Mas não vou me apressar para comprar
ingressos para o jogo da próxima semana.
— Desmancha prazeres. — Ela mostrou a língua para mim. — Os caras
estavam gostosos, não é? Com aquelas calças justas e ombreiras. — Ela
praticamente ofegou.
— Realmente não me atrai. — Dei de ombros enquanto mexia na
cobertura de morango do milkshake.
— Me desculpe — Flick ofegou —, mas você é cega?
— Eu simplesmente não acho jogadores de futebol gostosos. — Talvez
um, mas ele era um idiota com quem eu não queria ter nada a ver. Nunca.
Mais.
Flick me examinou, e seus olhos semicerrados procuraram meu rosto.
— O que foi? — perguntei, desconfortável com seu olhar investigativo.
— Você está escondendo algo.
— Não estou. — Grande resposta, idiota.
— Hails...
— Flick... — Encarei seu olhar de aço.
— É ele, não é? O Cameron? Ele te irritou?
— O quê? Não.
— Você está sendo cautelosa. Sei que alguma coisa aconteceu. Você
pode muito bem me dizer agora ou eu...
— Tudo bem — sussurrei. — Só fale baixo, tá? — Olhei ao redor,
procurando alguém da escola. Me aproximando mais da mesa, me apoiei nos
braços. — Ele me beijou.
— Te beijou? — Seus olhos quase saltaram do rosto. — E você não me
contou? Quando isso aconteceu? Foi de língua? Foi bom? — Ela gemeu. —
Claro que foi bom, estamos falando do Cameron Chase, pelo amor de Deus.
— Flick. — Dei a ela um olhar penetrante. — Respire.
— Eu... uau. — Uma expressão sonhadora tomou conta dela. — Ele te
beijou. — Sua expressão mudou para presunçosa. — Eu sabia. Sabia que ele
te queria.
— Você se esqueceu do que ele fez comigo?
— Preliminares, amiga. Estou te dizendo, são tudo preliminares.
— Você tem uma visão muito estranha do mundo.
— Só estou dizendo que ser um idiota de grau A vem de mãos dadas com
ser um Raider. Esses caras são... bem, eles são a própria lei. É assim que é.
Você sabe que o treinador tem todas aquelas regras sobre namoro e garotas
serem uma distração.
— Então isso lhes dá licença para dormir com metade das garotas da
escola e nunca mais ligar para elas? — Arqueei a sobrancelha. Eu não estava
acreditando nisso, de jeito nenhum.
— Não é isso que estou dizendo, mas toda a cidade os coloca neste
pedestal. Não é de admirar que eles sejam do jeito que são quando você pensa
sobre isso.
— Há algo que você precise me dizer? — Virei o assunto para ela.
— O quê? Não! — Ela corou e sinos de alarme soaram na minha cabeça.
— Só estou dizendo...
— Parece que você os está defendendo, se me perguntar.
— Ah, pare. — Flick me lançou um olhar perplexo. — Todo mundo sabe
que os caras da equipe são mulherengos. Eles não namoram, não se
apaixonam e certamente não beijam garotas por beijá-las. — Foi a vez dela
de levantar uma sobrancelha.
— Eles beijam garotas por causa disso o tempo todo.
— Onde o Cameron te beijou?
— O quê? — Fiquei boquiaberta, me sentindo corar.
— Responda a pergunta, Hails.
— Onde você acha que ele me beijou? Na boca, idiota. — Embora eu não
pudesse negar que a ideia de ele me beijar em outros lugares tenha me feito
pressionar os joelhos um contra o outro. Controle-se Hailee Raine. Você o
odeia, se lembra? Você. O. Odeia.
— Não, quero dizer onde ele te beijou? Em uma festa? No corredor da
escola? Em casa? No seu quarto? Idiota .
— Eu... humm... no armário do zelador da escola.
— Ah, isso está cada vez melhor. — Flick sorriu e diversão brilhou em
seus olhos. — E como, por favor, você acabou no armário do zelador com
ele?
— Não importa.
— Não importa? Você está brincando comigo? Acho que isso importa,
sim. Acho que importa muito. Você gosta dele, não gosta?
Gostar dele?
Eu não gostava de Cameron Chase.
Eu o odiava com cada fibra do meu ser.
— Não vou mais falar sobre isso — eu disse, enfiando um punhado de
batatas fritas na boca.
— Tudo bem, mas sei que há mais aí. E lembre-se, Hails, a verdade virá à
tona, ela sempre aparece.
***
Uma hora depois, Flick finalmente desistiu da ideia de haver mais entre
Cameron e eu. Meu tratamento silencioso toda vez que ela o mencionava
provavelmente tinha algo a ver com isso.
— Gatos à esquerda. — Ela olhou de soslaio para os caras bonitos que
tinham acabado de entrar enquanto jogávamos air hockey . — O loiro é fofo.
— Minha melhor amiga ainda estava olhando na direção deles.
— É bom que eu goste de alto, moreno e bonito então. — Pisquei para
ela, enfiando o disco em seu gol aberto. Os caras devem ter notado que
estávamos olhando, porque um deles cutucou o outro e os dois olharam em
nossa direção.
— E quanto ao Cameron?
— Quem é Cameron? — Inclinei a cabeça, mas seu sorriso vacilou, como
se ela visse através do meu ardil.
— Tudo bem, que assim seja. Acha que deveríamos convidá-los?
— Eu não... merda, tarde demais — murmurei, baixando o olhar e
sussurrei — eles estão vindo para cá.
Flick deu um gritinho animado.
— Deveríamos ter uma noite das garotas — protestei, mas ela
simplesmente revirou os olhos para mim.
— Que melhor maneira de fazer você esquecer tudo sobre aquele que não
pode ser nomeado do que caras bonitos?
— Não sei. — Olhei para eles de novo. Eles voltaram para o balcão,
provavelmente quando notaram minha carranca, mas continuaram nos
olhando enquanto pediam bebidas. Eu estava brincando quando eles
entraram, na esperança de afastá-la do assunto sobre Cameron. Mas agora eu
não tinha tanta certeza se queria que eles viessem aqui.
— Está na minha lista — ela deixou escapar. — Número dez, ficar com
um cara qualquer.
Cuspi um pouco de refrigerante.
— Calma aí, quem disse alguma coisa sobre ficar?
Eu não estava procurando por isso.
— Olha quem fala. — Flick suspirou, baixando a voz. — Você já não é
mais virgem. Agora é minha vez, Hails. Não quero ser a única garota na
faculdade que ainda não fez sexo.
— Flick, vamos lá. Não foi como se a única vez que fiz fosse algo
memorável. — Foi estranho e acabou tão rápido que eu não tinha certeza se
tinha acontecido, e eu nunca mais vi o cara. Não era exatamente uma
primeira vez para lembrar.
— Não estou dizendo que quero dormir com ele. — Seu olhar mudou
para os dois caras mais uma vez. — Mas eu não diria não para a segunda
base.
— Não sei... — Mas era tarde demais. Os caras já estavam vindo em
nossa direção, o loiro olhando para a minha melhor amiga enquanto o moreno
sorria para mim.
— Oi, eu sou o Toby.
— Oi — Flick respondeu, ansiosa. — Eu sou a Felicity, esta é minha
amiga Hailee. E você é? — Ela se dirigiu ao outro cara.
— Jude — ele respondeu baixinho.
— Bem, Jude, quer me pagar uma bebida?
Toby e eu assistimos enquanto Flick agarrou sua mão e não lhe deu
escolha a não ser segui-la de volta ao balcão.
— Ela é sempre tão... — Sua voz sumiu.
— Não — eu disse lutando contra um sorriso. — Ela não é. — E eu não
tinha certeza do que fazer com esta nova versão da minha melhor amiga.
— Será que vou parecer um idiota completo se eu não perguntar se você
quer uma bebida?
— Nada de julgamento aqui. — Levantei as mãos. Então algo me
ocorreu. — Ei, você mora por aqui? Eu não te reconheço da escola.
— Ah, é porque eu estudo na Rixon East.
— Eu imaginei.
— Acho que você é uma Raider?
— É assim que vocês nos chamam atualmente? — O canto da minha boca
se ergueu. — Na verdade, eu odeio futebol.
— Sério? E eles ainda não te expulsaram?
Eu ri. Toby era engraçado e tinha um sorriso bonito.
— Por favor, não me diga que você joga?
— Eu pareço um jogador? — Ele não parecia. Era alto e magro, mais
parecido com um jogador de basquete ou nadador do que um jogador de
futebol. — Não, isso não é muito a minha praia. Eu sou mais do tipo
criativo...
— Não acredito, eu também.
— É mesmo?
— Sim, espero ir para Michigan no próximo ano para a Stamps School of
Art and Design.
— Legal. — Toby sorriu e me vi retribuindo o gesto. — Então, sei que
isso pode parecer um pouco exagerado, mas na verdade estamos indo para
uma festa. Você quer vir?
— Esta festa é em Rixon East? — perguntei, por que de jeito nenhum eu
iria a uma festa em que meu irmão e seus amigos atletas pudessem estar.
— Sim, é do outro lado do rio. Isso é um problema?
— Por mim, não — respondi com um sorriso, assim que Flick e Jude
voltaram.
— E aí?— Jude perguntou ao amigo.
— Convidei a Hailee para vir para a festa com a gente. Quer ir? — Ele
olhou para Flick e os olhos dela brilharam, travando em Jude.
— Estou dentro.
— Legal — seu novo amigo. — Vamos lá então?
— Claro. — Passei a mão na minha calça jeans e seguimos os caras para
fora do prédio. Eles caminharam um pouco à frente, então Flick aproveitou a
oportunidade para entrelaçar seu braço no meu.
— Uma festa da East. Tem certeza? Se o Jason descobrir...
— Deixe-o descobrir. Ele não é meu guardião, Flick. O que aconteceu
com “ah, ele é tão fofo”? — Dei a ela um olhar penetrante enquanto
seguíamos atrás de Jude e Toby.
— Ah, estou dentro. — Ela sorriu. — Só estou garantindo que você saiba
o que está fazendo .
— Tudo certo? — Jude se virou para onde eu e Flick paramos. Segurei a
mão dela, comecei a ir em direção ao carro dele e disse:
— Está tudo bem.
Apesar de Rixon e Rixon East serem divididos pelo rio Susquehanna,
demoramos só quinze minutos para chegar na festa. Jude parou em frente a
uma casa de campo. Carros e caminhonetes se alinhavam na rua e a vibração
fraca da música soava para fora das janelas.
— Puta merda — Flick assobiou entre os dentes. — Este lugar é...
— Impressionante, né? — Toby saiu e deu a volta para abrir minha porta.
Desci, de repente me sentindo mal vestida com a calça jeans, camiseta da
Vans e tênis desgastados. Rixon East era conhecido por ser mais rico que
Rixon. Nosso bairro não era pobre por nenhum esforço da imaginação, mas
Rixon East ostentava mais propriedades aninhadas nos arredores bonitos e
arborizados, e aluguéis exclusivos ao longo do rio.
A casa diante de nós não era exceção.
— Você conhece alguém que mora aqui? — Fiquei boquiaberta e Toby
riu.
— Sim, o meu primo. Vamos.
— Primo? — Flick murmurou enquanto seguíamos os caras para dentro.
Dei de ombros. Agora era tarde demais para nos preocuparmos com quem era
o primo de Toby.
Até que entramos, apenas para encontrar um mar de vermelho e branco.
— Humm, Toby, quem você disse que era o seu primo? — Flick
perguntou. O pânico brilhava em seus olhos quando ela me deu um olhar de
soslaio.
— Lewis Thatcher, o melhor QB do estado — Jude entrou na conversa.
Quase engasguei com o ar em meus pulmões. O primo de Toby era Lewis
Thatcher, QB Um de Rixon East Eagles e arqui-inimigo de Jason.
Merda.
Flick arregalou os olhos por cima do ombro, mas eu balancei minha
cabeça discretamente. Ninguém sabia quem eu era. Poderíamos aproveitar a
festa, nos misturar e ficar fora do radar.
Pelo menos esse era o plano.
Catorze
Cameron
— Aqui está, garotos. — Sara, uma das garçonetes do Bell’s passou nossos
pratos de comida. Ganhando ou perdendo, nosso ritual pós-jogo era ir ao
Bell’s no sábado à noite e quando Jase me ligou esta manhã, não hesitei em
dizer sim.
Quando cheguei em casa ontem, minha mãe e Xander estavam dormindo.
Meu pai estava com duas cervejas no freezer, me esperando para brindar
nossa primeira vitória da temporada. Ficamos acordados até tarde, assistindo
a fitas de jogos antigos e conversando sobre as divisões de base. Mas não
falamos sobre o elefante na sala.
Hoje de manhã, quando finalmente me arrastei para fora da cama com os
músculos doloridos, minha mãe estava de bom humor. Ela até fez o café da
manhã para todos nós. Foi legal. Normal.
Foi como nos velhos tempos.
— Se precisarem de mais alguma coisa, é só me chamar, tá?
— Gostaria de receber um bom... — Mackey começou, mas Sara o
interrompeu.
— Volte aqui quando tiver vinte e um, gostosão. — Ela piscou, dando um
sorrisinho antes de se afastar, colocando um balanço extra em seu andar.
Mackey se recostou na cadeira e gemeu.
— O que eu não daria para pegá-la.
— A Sara é gostosa, mas não transa com jogadores de futebol — Asher
explicou, colocando ketchup na sua comida. — Nem mesmo com o QB Um,
não é, Jase?
— Ela tem uma boca muito esperta para mim. Gosto que minhas
mulheres falem menos e chupem mais.
— Sim — Mackey acrescentou. — Mas imagine o que ela pode fazer
com esses lábios carnudos.— Uma expressão boba se apoderou dele, e Grady
se inclinou, acertando-o na cabeça. — Foco. Temos um jogo em que nos
concentrar.
— Cara, acabamos de derrotar os Marshall na noite passada. Acho que
temos direito a uma folga.
— Idiotas do segundo ano — alguém resmungou.
— Eu ouvi.
— Relaxa — Jase disse a Mackey enquanto cortava seu Bell’s Special
Burger pela metade. A coisa era grande demais para tentar comer inteiro. —
Entendemos que você está empolgado, mas o Kaiden está certo, a única coisa
em que você precisa se concentrar é no próximo jogo. Até a semana dez.
Entendido?
— Entendido — Mackey resmungou. — Não significa que não posso
olhar, certo? — Seus olhos voltaram para onde Sara estava, servindo outra
mesa.
Jase e eu trocamos um olhar divertido. Nós sabíamos como era: os
hormônios em fúria, a agitação por sermos deuses entre os homens. Em uma
cidade como Rixon, ser parte do time do colégio era uma medalha de honra
que abria portas: para faculdades, para garotas e para um passe livre para
errar de vez em quando. Mas também vinha com expectativa e pressão.
Expectativa de ser o melhor, para trabalhar duro e dar tudo de si. Joel
Mackey podia não entender agora, mas depois de uma temporada sob o
comando do técnico Hasson e sua equipe, ele entenderia. Esses caras te
derrubavam até que você não fosse nada além de sangue e osso e então te
reconstruíam até que você ficasse duro, por dentro e por fora. Até que
nenhuma equipe – não importa o quanto fosse grande, forte ou agressiva –
fosse uma ameaça. O programa de futebol da Rixon High construía
guerreiros. Rapazes moldados, cheios de coração, coragem e determinação.
Como o treinador Hasson gostava de nos lembrar sempre que podia, “grandes
homens não nascem, são feitos”.
E a Rixon High só fazia os melhores.
Mas não havia como negar que às vezes era um fardo pesado para se
carregar. E relaxar um pouco de vez em quando era a única maneira de
avançar.
— Então, Jase — Grady falou. — Qual é o plano para a Rivals Week? —
ele perguntou, se referindo a semana de rivalidade da temporada.
— Isso você vai descobrir. — O brilho malicioso nos olhos do meu
melhor amigo chamou minha atenção.
— Ah, vamos lá. Faltam só duas semanas. Você pode nos dizer.
— Meus lábios estão selados.
— Mas vai envolver uma pequena viagem pelo rio, estou certo?
— Devíamos ir a casa deles e desenhar uns Vikings em seu campo —
Kaiden falou.
— Ou hackear as contas das redes sociais e sacaneá-los. — Mackey
sorriu, claramente impressionado com sua própria ideia.
— Falando nisso, o Thatcher está falando besteira no Twitter de novo. —
Kaiden ergueu seu telefone celular. — Dá uma olhada nessa merda. — Ele
entregou o aparelho a Jase e nós dois examinamos a tela.
***
***
Na manhã seguinte, fiquei deitada na cama, pois não estava pronta para
enfrentar as consequências da noite anterior. Quando Asher parou em frente à
nossa casa, Jason ordenou que eu entrasse enquanto os dois ficaram no jipe
para conversar. Eu só sabia disso porque os observei da minha janela. Algo
estava errado, mas o que quer que fosse, eles não acharam necessário me
dizer. Idiotas .
Meu celular tocou e me inclinei para pegá-lo da mesa de cabeceira.
Recebi duas mensagens de Toby.
Toby: Bom dia, só queria ter certeza de que Ford não te matou no caminho
para casa.
Eu: Estou bem, obrigada. Isso foi muito louco. As coisas são sempre assim
nas festas do Leste?
Portanto, não foi a primeira vez que algo assim aconteceu. Interessante.
Guardei esse fragmento de informação para outra hora.
Não era uma frase de apresentação que funcionava bem para mim: “Oi, eu
sou Hailee Raine, e a propósito, meu meio-irmão é Jason Ford”.
Toby: Não é. Mas da próxima vez, provavelmente devemos evitar uma festa
dos Eagles...
Eu estava sorrindo.
***
***
***
***
***
Eu era um capacho total ou a melhor amiga que uma garota poderia ter. O júri
ainda estava decidido quando engoli o resto da bebida, esmagando o copo e
jogando-o em uma das latas de lixo que Asher havia colocado de forma
estratégica no quintal, que era tão grande, senão maior, do que todos disseram
que era. O lugar era assustadoramente enorme.
— Acho que estou bêbada — declarei.
— Vamos pegar outra? — Flick não parecia muito sóbria enquanto
vagávamos por entre a multidão de pessoas reunidas para comemorar a
vitória do time contra o Levinson Lion na noite passada. De acordo com
todos, foi um jogo fácil para os Raiders e que os levou um passo mais perto
dos play-offs.
Eu nem resisti quando Flick apareceu na minha porta mais cedo com uma
bolsa cheia de roupas e um sorriso que nem mesmo a pessoa mais corajosa
poderia ter recusado. Mas, até agora, não estava sendo tão ruim.
Conseguimos evitar meu meio-irmão e seus amigos, ou talvez eles estivessem
nos evitando. De qualquer forma, bebemos e dançamos e até nos juntamos a
um ou dois jogos de beer pong .
No início, foi estranho ter pessoas gritando meu nome.
O meu nome.
Hailee. Hailee. Hailee.
Mas eu não podia negar, mesmo em meu estado ligeiramente bêbado, que
era emocionante. Fiquei animada com as pessoas gritando meu nome. Ah,
Deus, eu estava me transformando em Jason. A ideia me fez estremecer.
— O que você disse? — Flick virou a cabeça para mim.
— Eu não disse nada.
— Disse, sim. Você disse que está se transformando no Jason.
— Não disse. — Mostrei a língua para ela, que franziu a testa.
— Preciso ir ao banheiro. Merda, preciso muito fazer xixi. — Flick me
empurrou em uma cadeira no gramado, dançando no local como se tivesse
formigas em sua calça. — Fique bem aqui, tá. Já volto.
Acenei para ela enquanto o mundo girava. Levantando as pernas sobre o
braço da cadeira, inclinei a cabeça até que não pudesse ver nada além de
estrelas cintilantes contra um vasto fundo escuro. Era tão pacífico e calmo,
mundos de distância da festa que eu podia ouvir vagamente acontecendo ao
meu redor.
— Confortável? — uma voz disse das sombras, e um rosto tão
impressionante que me fez respirar fundo encheu minha visão. Os olhos eram
intensos, o nariz reto e o maxilar forte – até mesmo de cabeça para baixo
Cameron era lindo.
Sorri para ele, dando um pequeno suspiro que evitou um soluço.
— Oops. — Coloquei a mão sobre a boca, sufocando meu sorriso
sonhador. Ele riu, se acomodando em outra cadeira. — Eu me perguntei para
onde você tinha ido.
— É mesmo? — Virei o corpo para vê-lo melhor, mas não me sentei.
Gostei da sensação de estar de cabeça para baixo. Sem peso.
— Sim, eu esperava poder dançar com você.
— Uma dança, sim. Sei.
Ele não riu. Por que ele não está rindo?
— Você não está falando sério? — Quase me engasguei com as palavras.
Ele deu de ombros.
— Claro que estou. — Ele parecia indiferente. — Gosto de dançar.
— Você está bêbado?
— Não tanto quanto você.
Mostrei a língua para ele e seus olhos brilharam como um raio em uma
tempestade.
— Em breve teremos o baile.
Baile.
Só a palavra me deixava nauseada.
— Prefiro colocar uma brasa quente nos olhos.
— Então você não vai? — ele perguntou.
— Não, não vou ao baile. — Eu iria?
— Claro que vai, Raio de Sol. É um rito de passagem e você tem que
estar lá.
— A Flick quer ir. — Cruzei minhas mãos, deixando-as cair no meu colo.
— A Flick tem bom senso.
Olhando para ele, perguntei:
— Você vai ao baile?
Sua expressão ficou sombria.
— Meio que vem com o território.
— Ahh, a corte do baile. Entendi.
Seu rosto se enrugou com desagrado.
— Não é bem a minha cara, mas o treinador gosta que retribuamos e
todos....
— Ei. — Ergui as mãos. — Não diga mais nada, sr. Rei do Baile.
— Não, esse será o seu irmão.
— Meio-irmão — gemi, e Cameron riu. O som suave flutuou sobre mim,
me envolvendo como um cobertor quente. — Você tem uma bela risada —
eu disse e fechei os olhos.
— E você está mais bêbada do que percebi. Como você vai voltar para
casa esta noite?
— Acho que vou dormir beeeeem aquiiiiii. — Estiquei os braços acima
da cabeça, me aninhando ainda mais na cadeira, mas então meu mundo se
inclinou quando mãos fortes me puxaram para cima.
— Ah, não, não vai — Cameron falou. — Você pode ficar aqui. O Asher
não vai se importar.
— Flick... preciso contar a Flick. — As palavras saíram confusas
enquanto ele mantinha o braço ao meu redor e me guiava de volta para a casa.
As pessoas chamavam seu nome e o meu enquanto ele nos conduzia pelo
mar de corpos que ainda bebiam e riam. Mas foi estranho. Não senti como se
estivessem rindo de mim. Não dessa vez. Talvez toda a vodca em minha
corrente sanguínea estivesse me dando uma falsa sensação de confiança.
Talvez eu já tivesse adormecido e tudo isso fosse um sonho.
De qualquer forma, envolta nos braços de Cameron, não era o pior lugar
para se estar.
Mesmo que eu o odiasse.
— Quase lá — ele disse quando chegamos ao topo da escada.
— O Asher tem uma bela casa — murmurei enquanto ele parava em uma
porta. Observei com os olhos vidrados Cameron tirar uma chave da carteira e
destrancar a porta. — Isso não é nem um pouco assustador.
— Você acha que eu deixo qualquer um ficar no meu quarto? — Seus
olhos escureceram, me prendendo no lugar, roubando a resposta sarcástica da
ponta da minha língua.
Quarto dele?
Ele tinha um quarto na casa dos Bennet? Mas por quê?
Antes que eu pudesse fazer a pergunta, o ar escapou dos meus pulmões
quando Cameron me pegou como um bebê e me carregou para o quarto.
— O que...
— Relaxe, Raio de Sol, você está quase apagada.
Eu estava?
Agora que ele mencionou, me senti muito cansada e bêbada.
Definitivamente bêbada.
Enrolei os dedos na camisa polo de Cameron e o inspirei.
— Humm. — Meu estômago se apertou. Ele cheirava bem, muito bem.
Como sabonete com um toque de algo amargo, talvez uísque ou tequila. Tão
bom que quando ele começou a me deitar na cama, não o soltei e Cameron
caiu em cima de mim. Nós pousamos com um baque suave, com os corpos
emaranhados e rostos quase se tocando.
— Merda, Hailee, me desculpe... — Ele pressionou as mãos no colchão
aos lados da minha cabeça para tirar um pouco de seu peso de mim. — Eu
não pretendi...
— Está tudo bem. — Alcançando-o, tracei sua mandíbula. Ele era tão
lindo que deveria ser ilegal. O ar mudou ao nosso redor quando me inclinei,
roçando meus lábios nos dele, uma... duas vezes... até que minha boca estava
inclinada sobre a dele e eu o estava beijando.
Eu estava beijando Cameron Chase.
E era bom.
Muito bom.
O calor explodiu no meu estômago, correndo para as minhas terminações
nervosas, fazendo minha pele formigar e meu corpo zumbir. Eu poderia
beijá-lo para sempre. Seus lábios eram muito suaves e quentes e ele tinha o
gosto de tudo que eu desejava e nunca soube que queria.
— Hailee... — Sua voz estava rouca.
— Não — sussurrei, dando beijinhos em seus lábios, chupando e
mordiscando. — Sem pensar. — Não importava que nos odiávamos. Nada
importava neste momento, a não ser sua boca na minha.
Colocando meu braço em volta do seu pescoço, puxei Cameron para mais
perto, encostando meu nariz contra o seu.
— Puta merda — ele murmurou, se ajustando sobre mim para que
ficássemos como duas peças de um quebra-cabeça encaixadas. Uma de suas
mãos deslizou para minha coxa e eu enganchei a perna em volta de seu
quadril, me esfregando contra ele. Desesperada para aliviar a dor que crescia
dentro de mim.
Os olhos de Cameron se fecharam e seu pomo de Adão se moveu contra
sua garganta. Mas então ele abaixou a cabeça, pressionando um beijo no vão
do meu pescoço, sugando a pele sensível entre os dentes. Gemi, passando as
mãos pelo seu peito até a bainha da sua camiseta. Eu precisava senti-lo. Tocá-
lo. Queria passar meus dedos sobre cada centímetro de sua pele lisa.
Ele se moveu contra mim, nos fazendo gemer.
— Cameron, mais... — ofeguei. — Eu preciso de mais... — Algo estava
crescendo dentro de mim, como uma tempestade de fogo atingindo minha
barriga e correndo para o meu núcleo. Minha boca procurou a sua
novamente, beijando-o com fervor.
Mas rapidamente percebi que Cameron não estava me beijando em
retribuição. Ele estava imóvel como uma estátua e sua respiração ofegante era
o único som enchendo o silêncio. Pressionei a boca na sua novamente apenas
para ter certeza de que ele não estava me beijando de volta.
— Cameron. — Recuei para olhá-lo. — O que há de errado?
— Não podemos. — Sua voz soou engraçada, mas ele queria isso. Eu
sabia que sim. Estava bem ali em seus olhos enquanto eles me observavam.
Sua dureza pressionou em mim, me provocando. Me tentando com todas as
coisas que eu queria e não deveria.
Me inclinei para beijá-lo mais uma vez, precisando que ele retribuísse
meu beijo.
— Hailee. — Ele se afastou, olhando para mim e sua expressão era fria
agora. — Pare...
Pare.
Pisquei para ele, certa de que tinha ouvido mal. Porque ele não poderia
querer parar, não quando estava tão bom.
— Temos que parar — ele repetiu as palavras, jogando meu estômago em
queda livre.
Isso não estava certo. Ele deveria querer mais. Me desejar do jeito que eu
o desejava.
Mesmo assim, ele disse a palavra e agora ela pairava entre nós como uma
geleira, fria e implacável.
Eu me afastei, me acomodando no colchão e virei a cabeça para o lado
para evitar seu olhar de desculpas. Ele soltou um suspiro pesado.
— Você deveria dormir um pouco. Vou encontrar a Flick e avisá-la que
você está aqui.
Com os olhos bem fechados, sentindo as lágrimas queimarem a minha
garganta, esperei que ele fosse embora.
Eu beijei Cameron. Praticamente me ofereci a ele e ele não me quis. A
rejeição me atingiu como ácido até que senti náuseas.
Prestes a dizer para ele ir embora, para me deixar em paz, senti a cama
afundar e ele se inclinou sobre mim, dando um beijo na minha cabeça.
— Boa noite, Hailee — ele sussurrou, e então se foi.
Peguei um travesseiro e enterrei meu rosto nele, me deixando me afogar
em minha mortificação até que finalmente adormeci.
Algum tempo depois, na periferia dos meus sonhos, senti a cama afundar
ao meu lado.
— Cameron? — murmurei, mal acordada.
— Não, sou eu.
— Flick? — Meus olhos procuraram na escuridão, ignorando o buraco
gigante no meu estômago.
— Volte a dormir, Hails. Está tarde.
— Você está bem? — Ela parecia meio engraçada.
— Estou — ela fungou, deslizando para baixo das cobertas. — Vá
dormir.
— Boa noite, Flick.
— Boa noite, Hails.
Mas quando o sono começou a me envolver novamente, tive quase
certeza de ter ouvido minha melhor amiga chorar.
Vinte
Cameron
Depois de uma noite agitada dormindo no sofá da casa de Asher, finalmente
me levantei e fui para a cozinha, onde o encontrei limpando a bagunça.
— Aconteceu alguma coisa entre você e a Felicity? — Fui direto ao
assunto.
— Aconteceu? — Ele olhou por cima do ombro para mim. — Tipo o
quê?
— Você dormiu com ela?
— Não, não dormi. Por quê? Ela disse algo? — Ele continuou a recolher
todos os copos e garrafas vazias. Às vezes, eu me perguntava o que ele
amava mais: a festa ou a manhã seguinte, porque eu nunca tinha visto um
cara limpar como Ash fazia.
— Não, mas eu a vi e ela estava chateada. — Ela não quis falar sobre
isso, e eu sabia que Asher havia desenvolvido um interesse estranho por ela.
Mas pela carranca profunda gravada em seu rosto, talvez eu tenha me
precipitado.
— E você de achou que tenho algo a ver com isso? — Seus olhos se
arregalaram em descrença. — Valeu pelo voto de confiança.
Me servi de um copo d'água e me recostei no balcão.
— Eu só pensei... esqueça.
— Essas garotas deixaram vocês todos confusos. Vi você carregando a
Hailee para o seu quarto, e não fui o único. — Ele me lançou um olhar
penetrante. — Espero que saiba o que está fazendo.
— Ela estava bêbada e elas não tinham como voltar para casa. O que eu
deveria fazer? Deixá-la dormir lá fora?
— Antes de toda essa merda com o Thatcher, é exatamente isso o que
você teria feito. Caramba, você provavelmente teria feito muito pior também.
— Esfregando a mão na cabeça e na parte de trás do meu pescoço, soltei um
suspiro pesado. Mas Asher não tinha terminado. — Você gosta dela, não é?
— Eu...
— Advil. — Jase entrou na cozinha, e eu engoli minhas palavras. —
Preciso de um Advil.
— Sim, claro, cara. Você sabe onde estão. — Asher me lançou um olhar
que me disse que essa conversa não tinha acabado. — Com quem você
acabou na noite passada? — ele perguntou a Jase, que engoliu dois
comprimidos e tomou um copo d'água antes de se sentar em um dos bancos.
— Kayla, Kylie ou alguma merda qualquer que não consigo me lembrar.
— O quê? Achei que ela estava de olho no Cam. — Asher sorriu para
mim e eu mostrei o dedo do meio pelas costas do nosso amigo.
Jase deu de ombros, sem saber.
— Ela não estava reclamando quando coloquei meu pau em sua boca.
— Então, humm — limpei a garganta. — Você provavelmente deveria
saber que a Hailee e a Felicity estão dormindo no andar de cima.
— Que merda é essa? — Ele enrijeceu e seu humor ficou mais sombrio
do que uma nuvem de tempestade. — Eu disse para convidá-las para a festa,
não para uma porra de uma festa do pijama.
— A Hailee estava bêbada, certo, Cam?
— Sim. Eu a coloquei no meu quarto.
Os olhos de Jase semicerraram em um olhar mortal.
— Seu quarto?
— Calma, não é assim. — Mantive a expressão calma. — Mas eu não
sabia mais o que fazer com ela.
— E a Felicity também está lá?
Assenti, certo de ter percebido um problema em sua voz quando ele disse
o nome dela.
— Você disse algo para ela?
— Quem? — Ele franziu a testa.
— Felicity.
Jase recuou com os olhos arregalados.
— O que eu diria a ela?
— Não sei, ela parecia chateada com alguma coisa. Achei que talvez o
Asher tivesse...
— Mais uma vez, obrigado por isso — Asher acrescentou enquanto se
movia pela cozinha limpando os balcões, assobiando uma melodia otimista
demais para esta hora da manhã.
— Não, eu não disse nada a ela. Estava muito ocupado inclinando a
Kayla sobre a cama da sua mãe e do seu pai. — Ele sorriu para Asher e o
sangue foi drenado de seu rosto.
— Não me diga isso. De novo não, cara. Você prometeu...
— Relaxe. — Ele riu de um jeito sombrio. — Usei um dos quartos de
hóspedes.
— Ela ainda está aí?
— O que você acha?
— Pegue e não se apegue, baby. — Asher empurrou seus quadris para
cima. Quando revirei os olhos, ele acrescentou: — Você deveria tentar
alguma hora, Cam, ou então a Miley pode ter uma impressão errada, achando
que você está procurando por algo mais do que o pequeno arranjo que vocês
têm. Falando na adorável Miley, eu não a vi ontem à noite.
— Vá se foder — murmurei.
Neste momento, o som de vozes femininas soou na sala.
— Alguém se livre delas, por favor — Jase resmungou, mas era tarde
demais. Hailee e Felicity apareceram na porta.
— Humm, oi. — Ela não encontrou meus olhos, e eu sabia que ela se
lembrava. Puta merda. Eu esperava que ela estivesse bêbada demais para se
lembrar.
— Garotas, entrem e se sentem. O café da manhã será servido em... —
Asher esfregou o queixo. — Imagino que nenhuma de vocês queira fazer o
café da manhã?
Hailee subiu em um dos banquinhos, enterrando o rosto no braço.
— Felicity? — Asher sorriu para ela.
— Argh — ela resmungou e seu olhar cansado passou rapidamente por
Jase. Ele ficou rígido, sem fazer nada para esconder seu descontentamento
com as garotas interrompendo nossa rotina matinal.
— Tudo bem. — Felicity esfregou as mãos. — O que você tem aí?
— Acho que tem ovos, bacon e coisas para fazer panquecas. — Ele a
chamou até a geladeira e os dois começaram a trabalhar. Foi estranho. Nunca
tínhamos feito isso antes. Sempre saíamos para comer, e eu não conseguia me
lembrar de nenhuma vez em que incluíssemos meninas em nosso ritual do dia
seguinte.
— Estarei lá fora. Preciso de um pouco de ar — Jase desapareceu pela
porta dos fundos, deixando nós quatro. Estendi a mão sobre o balcão,
cutucando o braço de Hailee.
— Você está viva? — sussurrei, e ela olhou para mim.
— Pouco.
— Café?
Dando um pequeno aceno de cabeça, ela murmurou:
— Água.
— Água então. — Peguei uma garrafa de água para ela, com cuidado para
não atrapalhar Felicity e Asher enquanto eles organizavam todos os
ingredientes. Ela dava ordens para ele e estava gostando muito se o brilho em
seus olhos fosse alguma indicação.
— Aqui. — Entreguei a garrafa para Hailee e uma caixa de Advil.
— Obrigada. — Ela destampou a garrada e tomou dois comprimidos,
engolindo-os de uma vez. — Acho que preciso me lembrar dos meus limites.
— É normal se soltar de vez em quando.
— Se bem me lembro, você estava sóbrio. — Seus olhos tinham um
significado não dito e eu senti como se tivesse levado um soco.
Afastando-a, eu disse:
— Bebi algumas cervejas. O treinador não gosta que nós...
— Pare, por favor pare. — Ela ergueu a mão, enterrando o rosto
novamente. — Isso dói. — Suas palavras foram murmuradas.
— Tem certeza de que sabe o que está fazendo? — perguntei a Asher. Ele
tinha uma marca de mão de farinha em seu rosto e outra em sua camiseta.
— Você deve bater a massa, não usá-la — Felicity falou, olhando por
cima da panela. O cheiro de bacon fumegante chegou até mim e meu
estômago roncou.
— Já volto. Tentem não se matar. — Dei um sorriso divertido para Asher,
e ele me mostrou o dedo do meio por cima do ombro de Felicity enquanto ela
tentava mostrar a ele como bater corretamente.
Lá fora, Jase estava sentado em uma das cadeiras do pátio.
— Ela é irritante pra cacete.
— Quem, Hailee?
— Não, Felicity — ele grunhiu.
— Não sei, ela não é tão ruim.
Jase me encarou com um olhar severo.
— Por que elas estão aqui?
— Porque você disse ao Asher para convidá-los para a festa...
— Tá, só não quero que ela pense que isso significa alguma coisa.
— Por que a Felicity pensaria...
— A Hailee, idiota. Preste atenção.
— Você está com um humor maravilhoso esta manhã.
— Estou farto dessa merda com o Thatcher. Ele descobrir sobre a Hailee
foi a pior coisa que poderia ter acontecido. Agora tenho que fingir que
realmente me importo com ela.
— Se isso te faz se sentir melhor, não acho que ela vai ter uma ideia
errada tão cedo.
Hailee não era como a maioria das garotas. Ela não via sinais de coisas
que não existiam. Na verdade, os anos de idas e vindas com Jason a
endureceram. Agora, ela era desconfiada dos outros, sempre questionando os
motivos das pessoas. Na verdade, eles eram muito mais parecidos do que
qualquer um deles imaginava. Só que onde o exterior frio de Jason a atingia,
ela falhava em fazer qualquer coisa na casca dura dele.
— Rivals Week. — Sua voz era entediada. — Normalmente vivo para
esta merda, mas algo está diferente este ano.
Ele não precisava me dizer. Eu senti isso desde que entramos na escola,
no primeiro dia do semestre. Talvez fosse nossa temporada final iminente
como Raiders, a expectativa de ganhar o estadual. Ou talvez fosse a distância
aumentando entre nós à medida que nossas vidas começaram a tomar
caminhos diferentes. Eu queria ir para a faculdade. Queria uma carreira
universitária jogando futebol. Mas não do mesmo jeito que Jase. E durante o
verão, conforme os dias até o último ano se aproximavam, o buraco no meu
estômago aumentou sem parar até que me senti puxado ao meio.
Parte de mim ainda era Cameron Chase, o número quatorze, o wide
receiver dos Rixon Raiders, esperando pelo aceno de uma equipe da primeira
divisão. Mas a outra parte não sabia mais quem era. Estava com medo do
desconhecido, de como seria o futuro de sua família se partisse. E as duas
partes de mim não estavam mais casadas.
— Pelo menos, eles estão vindo para o nosso quintal. Não precisamos nos
preocupar com eles fazendo acrobacias em sua casa na noite do jogo.
Há alguns anos, em nosso segundo ano e no primeiro de Jason como QB
de primeira linha, vencemos os Eagles em seu campo. Foi uma luta de cães –
as duas equipes batalhando pela vitória. As tensões estavam elevadas e os
ânimos desgastados. Jase tinha entrado nisso com dois defensive ends , os
jogadores que se posicionam nos cantos da linha defensiva, depois que eles
continuaram jogando sujo – repetidamente segurando-o e tentando agarrar
seu capacete – até que uma briga aconteceu no campo.
Jase cerrou o punho contra a coxa.
— Quero destruí-lo. Eu quero...
— O café da manhã está servido. — A voz de Asher soou e Jase se
levantou da cadeira, espreitando para dentro.
Ele estava perdendo o controle. Mas a Rivals Week sempre foi uma
semana importante em nosso calendário. O treinador Hasson já havia nos
avisado para ficar longe da East na próxima semana, um aviso que todos nós
sabíamos que havia sido enviado pelo diretor Finnigan. Isso não significava
que Thatcher e seus rapazes não iriam atrás de nós, e agora que ele sabia
sobre Hailee, havia toda a probabilidade de ela estar no topo da sua lista de
merdas a fazer.
Voltei para dentro e a cena de Asher e Jase tomando café da manhã com
Hailee e Felicity, sem tentar matar um ao outro, foi uma das coisas mais
estranhas que já testemunhei.
— Cara, você precisa experimentar o bacon. A garota sabe cozinhar. —
Asher pegou outro pedaço do prato e enfiou na boca, sorrindo para Felicity.
— Você precisa bancar o porco? — ela o repreendeu e ele realmente
corou. As bochechas de Asher Bennet ficaram vermelhas como uma
beterraba.
O que estava acontecendo agora?
— Isso parece estar ótimo, Felicity, obrigada — eu disse, me sentando no
banquinho ao lado de Hailee. Ela ficou tensa, sem olhar para mim enquanto
empurrava ovo mexido em seu prato.
— Não está com fome? — perguntei, lutando contra um sorriso.
— Cai fora — ela resmungou, retomando sua arte no prato.
— Bem — Felicity disse, completamente alheia aos vários graus de
tensões que pairavam sobre nós. — Rivals Week? Como vocês se sentem em
relação ao grande jogo de sexta-feira?
Jase a olhou como se ela tivesse com uma segunda cabeça enquanto
Asher ria.
— Está se tornando uma grande fã, não é, Fee?
— Fee ? — ela quase se engasgou com a palavra.
— O quê? — Ele deu de ombros. — Achei que você precisava de um
apelido, agora que somos todos amigos.
Fee não pareceu convencida.
— Por que isso? — ela perguntou, olhando para Jase de novo. O que
havia com ela e meu melhor amigo? — Nunca sei se devo acreditar em algo
que sai da sua boca.
— Porque você não deve confiar em um Raider, — Hailee falou.
— Agora, agora, Hails — Asher falou em um tom presunçoso. — Não
menti sobre a festa, não é?
— Isso está sendo divertido e tudo mais — a voz de Jase estava repleta de
sarcasmo —, mas vocês duas estão planejando dar o fora daqui em breve?
O silêncio caiu sobre a bancada de café da manhã dos Bennet. Felicity
baixou os olhos, mordendo o lábio de um jeito ansioso. Mas Hailee não
pareceu surpresa. Na verdade, ela parecia estranhamente aliviada quando
encontrou seu olhar gelado.
— Será um prazer. — Ela se levantou do banquinho rapidamente,
fazendo as pernas de metal arranhar os ladrilhos, e agarrou Felicity. —
Vamos?
— Eu... ah, sim. Tchau. — A amiga de Hailee nos deu um pequeno aceno
e as duas fugiram da cozinha.
— Você é um idiota — Asher falou, empurrando o prato para longe.
— E você só percebeu isso agora? — Jase rebateu, continuando a comer
seu café da manhã como se não tivesse acabado de dispensar a meia-irmã e
sua amiga da mesa como crianças travessas.
Vinte E Um
Hailee
Saí da casa de Asher com Flick atrás de mim. Deus, meu meio-irmão era um
idiota. Ele não podia ser civilizado por dez minutos enquanto tomávamos o
café da manhã. O café da manhã que minha melhor amiga fez para ele.
Cretino.
— Hails, pode desacelerar um segundo?
— Preciso sair daqui, Flick. — A raiva me impulsionou para frente até
que eu estava pisando forte na calçada dos Bennet, com os braços balançando
ao lado do corpo e a respiração ofegante. — Vir até aqui foi uma má ideia
— Ele é um idiota, você está certa. Mas o Asher é...
Eu me virei, olhando para ela.
— Por favor, não me diga que você está desenvolvendo uma queda por
Asher Bennet , o mesmo Asher que dormiu com toda a equipe feminina de
atletismo. — Provavelmente, com todas de uma vez.
— Não, não gosto dele. Caramba, você pode só respirar por um segundo?
— Ela empurrou o cabelo para trás, se recompondo. — Só acho que ele é
engraçado e gosta de nós.
— Ele gosta de nós agora, Flick. Agora . Depois que o Thatcher
descobriu quem eu sou. Você não entende como isso é confuso? Se não
tivéssemos ido àquela festa com Toby e Jude, você realmente acha que
estaríamos aqui agora?
— Bem, não. — Seus ombros caíram em derrota e a dor brilhou em seus
olhos enquanto eles se desviavam para o chão.
Me senti uma vadia má, mas ela foi muito rápida em ver o lado bom de
Asher. Cega demais pela promessa de festas em sua casa e por ser amável
com ela no refeitório. Flick não foi o alvo de suas piadas e travessuras
maldosas nos últimos cinco anos e meio, mas ela esteve bem ao meu lado
para testemunhar isso. Então, o fato de ela estar pronta para ignorar as coisas,
fez tudo parecer trivial de alguma forma. Como se nada disso realmente
importasse, porque eles eram Raiders. E se eles estendessem um convite para
seu círculo íntimo, o certo era aceitá-lo, independentemente de qualquer
besteira que tivesse acontecido antes.
— Olha, me desculpe, tá? — Tentei controlar minha irritação. — Sei que
você quer se encaixar. Sei que tem sua lista e quer fazer do último ano algo
para se lembrar. Mas ainda pode ser divertido sem eles. — Olhei por cima do
ombro e de volta para a casa.
— E quanto ao Cameron?
— O que tem ele? — Meu peito doeu ao me lembrar de como ele me
rejeitou na noite passada e então agiu como se nada tivesse acontecido esta
manhã.
— Você gosta dele — ela acrescentou. — Sei que gosta.
— Não importa — eu disse baixinho, sentindo meu peito apertar. — Ele é
o melhor amigo do Jason, Flick. Um Raider. Nossos mundos não deveriam
coexistir. — Quanto mais rápido eu colocasse isso na minha cabeça, melhor.
Cameron era leal a Jason, o que o tornava meu inimigo. Portanto, apesar de
qualquer atração entre nós, ter algo com ele era má ideia. Péssima . Porque
Cameron Chase não ia apenas me machucar. Se tivesse meia chance, ele me
arruinaria completamente.
E eu não podia deixar isso acontecer.
Não permitiria.
— Mas...
— Vamos. — Eu a cortei e parei de falar sobre ele. — Podemos caminhar
de volta para sua casa.
Ela assentiu, me seguindo pela longa e sinuosa entrada de automóveis.
— Ei, você estava chorando noite passada? — perguntei, a vaga
lembrança surgindo na minha cabeça de repente.
— O quê? Quando?
— Quando você veio para a cama? Achei ter te ouvido chorar.
— Não. — A palavra saiu de seus lábios um pouco rápido demais, e eu
olhei para ela com o canto do olho.
— Se o Asher te magoou, Flick...
— Hails, não sei o que você acha que ouviu, mas está errada. Estou bem.
Está tudo bem. Quanto ao Asher, como eu disse, não gosto dele assim. — Eu
conhecia Flick desde que tínhamos doze anos. Eu conhecia a forma como ela
falava. As coisinhas que ela fazia quando não era completamente honesta.
E agora, eu sabia que ela estava mentindo.
Mas se não foi Asher quem a aborreceu... quem foi?
***
***
Mais tarde naquele dia, tive um período livre, então fui para o estúdio. Eu só
estava lá há quinze minutos quando a voz do sr. Jalin ecoou pela sala.
— Ah, Hailee.
Largando o pincel no cavalete, girei o banco para encará-lo, empurrando
os óculos sobre a minha cabeça.
— Olá, senhor.
— Bom. — Seu olhar analisou minha tela. — Isso está muito bom,
Hailee. Eu particularmente gosto do que você fez com os traços largos. —
Ele se aproximou, traçando as marcas grossas do pincel com os dedos,
tomando cuidado para não chegar muito perto. — Vai usar isso para a sua
peça final?
— Acho que sim.
— Boa escolha. — Ele me ofereceu um sorriso tranquilizador. — Acho
que você vai se sair bem.
— Obrigada, senhor.
— Agora, a verdadeira razão de eu estar aqui. — Cruzando as mãos nas
costas, o sr. Jalin me olhou com uma expressão reservada. — Você é uma
artista muito talentosa, Hailee. Uma das melhores que já vi entrar pelas portas
da Rixon High. O treinador Hasson e eu estávamos conversando e ele se
perguntou se este ano, para a apresentação da Noite dos Veteranos,
poderíamos tentar algo um pouco diferente.
— Hum... sinto muito, mas não entendi. — A menção ao time de futebol
me deixou um pouco sem palavras.
— Todo ano, o treinador Hasson gosta de presentear seus veteranos com
uma lembrança. Normalmente, é uma fotografia para marcar seu tempo com
os Raiders. Mas este ano, pensamos que seria bom incluir uma pintura.
— Você quer que eu... pinte o time. — Engoli a saliva, sentindo minha
boca seca de repente.
— Bem, sim, a menos que haja um problema?
— Não, não, senhor, eu só... — Limpei as mãos úmidas no avental
enquanto uma centena de razões pelas quais isso era uma má ideia enchiam
minha cabeça. Mas apesar de a minha voz interior gritar para eu não fazer
isso, tudo que eu conseguia pensar era que o sr. Jalin, Diretor de Artes de
Rixon, e o treinador Hasson me pediram para fazer isso.
Eu.
— A Noite dos Veteranos é daqui a pouco mais de dois meses — ele
continuou enquanto eu ainda estava tentando processar o que isso significava,
se eu concordasse. — Isso vai significar muitas horas e você vai precisar
passar algum tempo com os jogadores mais antigos, sair e vê-los treinar, mas
acho que você consegue.
— O treinador Hasson tem algum estilo específico em mente? — Meus
pensamentos começaram a disparar em um milhão de direções. Ele ia querer
algo mais tradicional como um retrato realístico ou talvez algo mais fluido
como um retrato impressionista? — Ou tenho liberdade de escolha?
— Tudo depende de você, dentro do razoável, é claro. — Sua expressão
ficou séria. — Isso não é algo para se dar pouco valor, Hailee. Este projeto
pode realmente ajudá-la a fazer seu nome localmente.
Ele não precisava me dizer. Para uma garota de uma pequena cidade que
morava em Rixon, era o equivalente a ser convidada a fazer uma exposição
no Penn Museum ou no Philly Museum of Art .
— Eu vou fazer — falei com convicção. Eu só teria que me preocupar
com os detalhes mais sutis mais tarde, quando descobrisse a direção que eu
queria tomar. — Obrigada por pensar em mim, senhor.
— Lembre-se de que precisamos que isso seja um sucesso, Hailee. Há
anos tenho lutado contra o conselho escolar para canalizar mais dinheiro para
o nosso Departamento de Artes. Este pode ser o início de uma relação
mutuamente benéfica entre nós e o Departamento Desportivo.
— Compreendo. — Sem pressão então .
— O treinador Hasson gostaria de lhe passar algumas informações, então
se você pudesse marcar um encontro com ele o mais rápido possível... — O
sr. Jalin me deu um pequeno aceno de cabeça antes de me deixar sozinha. Era
quase como se as estrelas estivessem se alinhando. Minha mãe e Kent
estavam insistindo que eu comparecesse ao jantar na casa do treinador
Hasson amanhã à noite e agora eu tinha uma razão válida para estar lá.
Mas enquanto eu olhava para a minha pintura, me perdendo nos
redemoinhos de azul e cinza, uma energia nervosa vibrou dentro mim. Estar
perto do treinador Hasson significava estar perto da equipe. E estar perto da
equipe significava estar perto de Cameron, algo que eu queria evitar a todo
custo. Mas essa era uma oportunidade boa demais para ser recusada e seria
ótimo para o meu currículo, caso eu fosse aceita na Stamps. Eu tinha
participado de uma exposição local e tive algumas peças expostas pela escola
antes, mas isso poderia ser uma grande oportunidade para mim.
Só havia uma falha fatal com o plano – fazer com que Jason fosse legal
por tempo suficiente para eu concluir o projeto.
Vinte E Dois
Cameron
O rugido da multidão era ensurdecedor. Soou durante todo o jogo, que
acabou sendo brutal, como todos esperavam. Os Eagles marcaram um
touchdown , nós marcamos outro. Eles derrubaram nosso QB, derrubamos
Thatcher com o dobro de força. Estávamos exaustos, mental e fisicamente
acabados e, apesar de superá-los, os Eagles estavam liderando por cinco
pontos. Mas estávamos perto de um touchdown , com onze segundos
restantes no relógio, o que significava que tínhamos tempo para uma jogada
final.
E precisávamos disso para contar.
— Tempo — o treinador gritou e nós avançamos para receber suas
instruções. — Tudo bem — ele disse. — Eles nos cercaram, sei disso. Vocês
sabem disso. Mas este jogo deveria ter sido nosso na segunda parte. Jase, o
que você acha, filho?
Todos nós olhamos para nosso QB e capitão, nada surpresos com o fato
de treinador o estar deixando assumir o controle. Ele confiava em Jase
explicitamente. Todos nós confiávamos.
— Devíamos usar o Red 59 Counter Arrow — ele falou em voz baixa, se
referindo a uma jogada, apesar do fogo em seus olhos. Ele não queria essa
vitória, ele precisava dela.
— Quatorze? — O treinador fixou os olhos em mim. — Você está pronto
para isso?
— Estou — concordei.
— Era isso o que eu queria ouvir. Agora vá lá e cuide das coisas. Raiders
em um.
Nosso grito de guerra ondulou pelo campo, nos alimentando. Nos dando a
força de que precisávamos para uma jogada final.
— Está pronto? — Jase correu até mim.
— Vamos acabar com eles. — A compreensão passou por nós quando ele
me ofereceu um raro sorriso.
— Vá pegá-los, mano.
Nos posicionamos atrás da linha de scrimmage , a linha imaginária
transversal que corta o campo e se posiciona entre a linha defensiva e a
ofensiva, esperando a chamada de Jase. Ele falou a jogada depressa antes de
sinalizar:
— Cabana — Grady, nosso center , jogador que atua no centro, jogou a
bola para ele, que fingiu ir para a esquerda. Corri, passando pela defesa. Meu
melhor amigo caiu para trás, levantou o braço e deixou a bola voar, direto
para a end zone e meu destino. Movi as pernas com força, correndo o mais
rápido que já corri na minha vida. Tínhamos que vencer. Eu tinha que colocar
minhas mãos naquela bola.
Não era apenas pelo futebol, era por Hailee. Para tirar o sorriso
presunçoso do rosto de Thatcher quando os derrotássemos. Mas isso estava
caminhando rápido demais. Merda. Em um movimento arriscado,
impulsionei no chão e me lancei para frente, esticando os dedos até que senti
meus músculos rasgarem e a dor latejar em meu ombro. Mas valeu a pena
quando senti o couro liso familiar roçar meus dedos.
— Touchdown — o locutor gritou quando meu corpo colidiu com o chão
duro. A multidão enlouqueceu enquanto eu estava lá, olhando para as luzes.
Meus músculos doíam, meus pulmões queimavam e eu tinha certeza de que
havia torcido algo, mas não importava. Nós tínhamos conseguido.
Eu consegui.
Jase e Ash foram os primeiros a me alcançar, me colocando de pé e, em
seguida, o resto dos caras estava em cima de nós, nos empurrando como se
tivéssemos vencido o jogo do campeonato. Mas Jase não estava
comemorando conosco, ele estava olhando para o campo, com os olhos fixos
em Thatcher.
— Vamos lá, cara. — Empurrei a multidão e coloquei meu braço em
volta de seu ombro. — Não aqui, não agora. — Mantive a voz baixa.
— Um dia — ele grunhiu com a voz estranhamente calma. — Um dia.
***
Duas horas depois, ainda no auge da nossa vitória contra a Rixon East, fomos
para a casa do treinador Hasson para o jantar anual da Rivals Week. Era uma
casa estilo fazenda com vista para o rio e espaço suficiente para hospedar a
equipe e suas famílias.
— Humm, mano, por que a Hailee e a Fee estão aqui? — Asher cutucou
meu braço e inclinou a cabeça para onde as meninas tinham acabado de
entrar, as duas parecendo assustadas.
— Vai saber. — Dei um longo gole no refrigerante, sentindo uma dor
profunda no ombro.
Mais tarde, depois do jantar, o treinador faria vista grossa quando todos
nós invadíssemos a geladeira para pegar cervejas. Mas enquanto as famílias
da equipe estavam presentes e sóbrias, ele esperava decoro.
— Elas vieram com o meu pai e a Denise — Jase grunhiu, se juntando a
nós. Meus olhos foram para a cerveja em sua mão.
— Sério? — perguntei, com a sobrancelha erguida.
— O quê? — Ele deu de ombros. — Eu precisava de uma.
Revirando os olhos, lutei contra um sorriso. Jason não seguia as regras,
ele as fazia. E eu sabia que ninguém daria a mínima para ele sobre isso.
— Eu sabia que elas estavam no jogo — Asher acrescentou, ainda
olhando para eles. — Mas não tinha ideia de que estavam vindo para cá.
Acho que ela está me perseguindo.
Cuspi refrigerante, rindo da declaração ridícula.
— Você não está falando sério, não é?
— Seríssimo — ele brincou, cruzando os braços enquanto semicerrava os
olhos em Hailee e sua amiga. Mas elas não olharam em nossa direção.
Foi o mesmo durante toda a semana. Depois da manhã desastrosa na casa
de Asher, depois da festa, Hailee me evitou como uma praga. E dei espaço a
ela, porque o que mais eu poderia fazer? Ela me beijou... tentou fazer muito
mais do que isso, e eu a rejeitei. Não me arrependi de parar com tudo naquela
noite. Ela estava bêbada, e Jase estava bem no corredor, transando com uma
das ginastas. Mas me arrependi de como as coisas aconteceram entre nós.
Eu simplesmente não sabia como consertar as coisas – ou se deveria
tentar.
— Aqui está ele. — A voz do Sr. Ford soou acima do barulho. — O
homem do momento. Parabéns, filho. — Ele veio direto para mim, me dando
tapinhas nas costas. — Aquele foi um momento de hall da fama .
— Obrigado, senhor — eu disse e desviei os olhos rapidamente para Jase.
— Não poderia ter feito isso sem meu QB.
— Certo, é claro. Bom jogo, filho. — O sr. Ford estendeu a mão para
Jase, que a apertou com leve hesitação.
— Obrigado, pai. — Suas palavras foram rudes e todos nós sentimos a
tensão entre pai e filho.
— Jason. — A mãe de Hailee apareceu em nosso pequeno grupo. — Isso
foi... estou tão orgulhosa de você, querido. — Ela tentou puxá-lo para um
abraço, mas ele recuou. Denise vacilou, disfarçando o afastamento dele com
um largo sorriso. — Estamos todos muito orgulhosos de você, de todos
vocês. E pensar que vocês podem trazer o campeonato para casa este ano.
Todos nós reprimimos nossas risadas com seu falso entusiasmo, até
mesmo Jase lutou contra um sorriso perplexo.
— Certo, querida. — O sr. Ford envolveu sua esposa em um abraço. —
Vamos deixar os rapazes se divertirem. Quero falar com o Henry.
Henry, ou o treinador Hasson como o conhecíamos, estava lá fora em sua
enorme churrasqueira, enquanto uma nuvem de fumaça subia no ar.
— Este é o seu ano, filho, estamos todos contando com você — foram as
palavras de despedida do sr. Ford enquanto nos deixavam com nossa
diversão .
Trinta minutos depois, estávamos todos reunidos do lado de fora por
ordem do treinador. Ele e sua esposa nos serviram hambúrgueres e cachorros-
quentes, bife e costelas. Foi bom, mas senti falta dos meus pais. Eles não
estavam no jogo para nos ver derrotar os Eagles e não estavam aqui agora
para comemorar conosco.
E eu odiei isso.
Esta era a maior temporada da minha vida, e eles não estavam aqui para
ver, para compartilhar comigo. Era uma merda, mas eu não tive escolha a não
ser abrir um sorriso e comemorar com meus companheiros de equipe.
Depois que todos comeram, o treinador Hasson se levantou, exigindo
silêncio.
— Discurso — um dos caras gritou e uma onda de risos encheu o ar.
— Acalmem-se, acalmem-se — o treinador falou. — Há algumas coisas
que eu quero dizer, então tenha paciência comigo. Em primeiro lugar, quero
agradecer a minha esposa, Sandra. — Ele olhou de forma calorosa para a
mulher ao lado dele. — Sem ela, eu não seria metade do homem que sou. E
sou grato por ela me deixar dar as boas-vindas a todos vocês em minha casa
ano após ano.
Todos aplaudiram, erguendo seus copos e garrafas no ar para brindar à
sra. Hasson.
— Agora, aos meus garotos — seus olhos percorreram cada um de nós
—, vocês lutaram muito esta noite. Não desistiram quando as coisas ficaram
difíceis. Vocês fincaram os pés e seguiram em frente. Estou muito orgulhoso
de vocês. Não apenas por mostrar àqueles caras do outro lado do rio como
jogamos bola, mas por manterem a cabeça fria e não permitirem que eles o
provoquem a se rebaixarem aos padrões deles. — Seu olhar pousou em mim,
Asher e Jason, transmitindo alguma mensagem não dita. — A Rivals Week
acabou. Nós ganhamos. Esse é o limite, estão me ouvindo?
Cada um de nós deu a ele um aceno imperceptível, mas a irritação de Jase
era palpável. Ele respeitava o treinador, ouvia suas ordens dentro e fora do
campo, mas todos nós sabíamos que essa coisa entre ele e Thatcher era
pessoal. Portanto, embora tivéssemos vencido esta noite, tivéssemos acabado
com Thatcher em campo, sabíamos que isso não estava encerrado.
Não por um bom tempo.
O treinador passou a mão pelo rosto, engolindo em seco.
— Farei tudo isso de novo em algumas semanas na Noite dos Veteranos,
então não vou insistir muito. Mas saibam disso, treinar os Raiders é um
privilégio, que não considero de forma leviana. E este ano, é o nosso ano.
Sinto isso. Este ano, vamos trazer o campeonato para casa.
O quintal do Hasson entrou em erupção, com meus companheiros de
equipe fazendo a maior parte do barulho enquanto gritávamos e aplaudíamos.
Ele esperou que todos se calassem antes de continuar:
— E, finalmente, tenho um anúncio a fazer. Onde está a srta. Raine? —
Ele a procurou na multidão e meus olhos localizaram Hailee, vendo suas
bochechas queimarem de vergonha enquanto ela erguia a mão. — A srta.
Raine concordou gentilmente em trabalhar com a equipe em um projeto de
arte emocionante nesta temporada. Eu gostaria que todos vocês mostrassem a
ela o respeito que sei que são capazes.
Um murmúrio de resmungos respondeu a ele enquanto Asher e eu
compartilhamos um olhar confuso.
— Que merda é essa? — ele murmurou enquanto eu tentava processar o
que o treinador estava dizendo.
Hailee ia trabalhar com a equipe? Em um projeto de arte?
O que isso significava?
Mas o mais preocupante, por que foi que ela concordou com isso?
***
Não vi Hailee pelo resto da noite. Isso até eu entrar para pegar outra bebida e
quase tropeçar nela.
— Merda. — Ergui as mãos, firmando-a. — Sinto muito.
— Tudo bem. — Ela deu de ombros, tirando o cabelo do rosto e
prendendo-o atrás da orelha. — Eu estava só... — Hailee apontou por cima
do meu ombro para a porta dos fundos e começou a se mover ao meu redor.
— Espere — corri, segurando seu braço. Ela olhou para onde meus dedos
envolviam ao redor do seu pulso e, em seguida, lentamente olhou para os
meus olhos.
— Desculpe, eu só... podemos conversar?
— Você quer conversar aqui ? — Ela parecia incrédula e eu não podia
culpá-la. Não depois do último fim de semana. Mas eu precisava limpar o ar
entre nós, porque durante toda a semana parecia que um peso pesado estava
pressionando meu peito.
Tive uma ideia e sorri.
— Já viu a sala de troféus do treinador?
— Você sabe que não.
— Bem, então você deveria considerar. — Esperei, deixando-a tomar a
decisão. Era um risco, já que sua família estava aqui, mas todos estavam lá
fora, aproveitando a noite quente e boa companhia.
— É para fins de pesquisa — Hailee disse baixinho.
— Pesquisa?
— Para a Noite dos Veteranos.
— Ah, sim, isso. — Passei a mão pelo rosto. Quase tinha me esquecido
do anúncio do treinador de que Hailee pintaria os veteranos, mas apenas
porque, uma vez que percebi que isso poderia significar passar algum tempo
um a um com ela, não consegui pensar em nada além de nós dois. Sozinhos.
Juntos.
— Cameron?
Pisquei para ela, afastando os pensamentos.
— Humm, sim, vamos lá — falei antes de fazer a coisa sensata e ir
embora. — É bem ali na frente.
Vinte E Três
Hailee
Segui Cameron pelo corredor e para uma grande sala, arregalando os olhos
com as filas e filas de armários e prateleiras de troféus.
— Uau. — Eu não sabia para onde olhar primeiro. — Eu não fazia ideia.
— Sim. — Ele caminhou até um dos armários de vidro. — O treinador
era um grande jogador na época de estudante.
— Não me diga. — Corri meus olhos sobre a coleção de medalhas. —
Qual é aquela? — perguntei, apontando para uma pequena estatueta de
bronze.
Cameron deu uma risada suave.
— Esse é o Heisman.
— Ah, acho que já ouvi falar.
Ele arregalou os olhos, divertido.
— É algo muito importante.
— Tem algo a ver com futebol universitário, certo?
Ele repetiu minhas palavras, murmurando-as.
— Como é que você vive com o Jason e o pai dele por seis anos e ainda
não sabe nada disso?
— Tenho excelentes habilidades para evitar certas coisas. — Ele me
lançou um olhar penetrante e me senti corar. — Eu não quis dizer...
— Então, você não está me evitado a semana toda?
O ar na sala ficou denso quando os olhos azul-acinzentados de Cameron
me encararam atentamente.
Limpando a garganta, consegui falar:
— Acho que ficou bem claro depois do último sábado... — Ele deu um
passo para frente, e eu engoli a saliva, recuando com cuidado para não tocar
nos armários de troféus. — Cameron — sussurrei.
— Sim, Raio de Sol? — O canto de sua boca se inclinou.
— Você prometeu que era apenas para fins de pesquisa.
— É assim que estamos chamando isso? — O humor brilhava em seus
olhos enquanto ele avançava em minha direção e apesar de saber que
precisava escapar, me vi perdida em seu olhar tempestuoso.
Minhas costas finalmente bateram na parede e estremeci. Pressionei as
mãos contra ele para me impedir de estender a mão para ele. Mas Cameron
se inclinou, tocando a cabeça na minha, me oprimindo por completo.
— Não consigo parar de pensar em você — ele admitiu. Foi tão baixinho
que parecia mais uma lufada de ar quente do que palavras reais. — No
sábado passado, eu estava fazendo a coisa certa, Hailee. Você estava bêbada
e eu...
— Você só quer o que não pode ter. — Meus olhos queimaram com
desafio, desejando permanecer forte.
— Eu gostaria que fosse tão simples. — Ele soltou um suspiro profundo.
— O que estamos fazendo, Cameron? — O que você está fazendo
Hailee?, adicionei para mim mesma, respirando fundo.
Durante toda a semana, eu disse a mim mesma que evitá-lo era o melhor,
que eu precisava ficar longe de Cameron e de seus jogos mentais. Foi fácil
quando o vi com o time, a rotação constante de garotas disputando sua
atenção. Cameron Chase, wide receiver , o número 14, pertencia a Rixon. Ele
era deles para adorar e amar. Mas houve momentos com ele, quando
estávamos só nós dois, quando parecia que ele era meu. Como se ele
estivesse me oferecendo um pedaço de si mesmo.
E tudo que eu tinha que fazer era estender a mão e pegá-lo.
Mas eu não queria as sobras. Eu não era só mais uma maria chuteira
procurando o que pudesse conseguir. Eu queria tudo ou nada. Algo que eu
sabia, ele nunca seria capaz de me dar.
— Me diga o que você está pensando — ele pediu, me puxando ainda
mais sob seu feitiço.
Mas era só isso. Um feitiço. E quando tivesse quebrado, eu seria Hailee
Raine, a meia-irmã de Jason novamente e ele seria Cameron Chase, o melhor
amigo do meu irmão.
Razão pela qual não importava o quanto eu o queria – e eu queria, poderia
finalmente admitir – forcei as palavras:
— Estou pensando que isso, nós, nunca vai funcionar.
O desafio brilhou em seus olhos quando ele baixou a boca para a minha.
— Você ainda não sabe, Raio de Sol? Eu sou um Raider e os Raiders
nunca desistem.
Meu estômago afundou quando Cameron me beijou. Não porque a
sensação de seus lábios se movendo contra os meus não fosse boa, porque
era. Parecia que meu corpo inteiro estava pegando fogo, cada movimento da
sua língua fazendo as chamas me queimarem mais e mais até que eu estava
pegando fogo de necessidade. Mas porque ele provou que eu estava certa. Ele
era um Raider e sempre seria. E um dia, ele e meu meio-irmão cavalgariam
para o pôr do sol juntos, deixando a mim e o resto de Rixon sem escolha a
não ser ficar parados e assistir.
E então onde isso me deixaria?
— Cameron... — murmurei contra seus lábios enquanto eles me
devoravam. Colados no meu, roubando o ar dos meus pulmões e todo o
pensamento racional da minha cabeça.
— Apenas me dê isso, Hailee. — Ele fez uma pausa, sua boca pairando
sobre a minha e seus olhos me fixaram no lugar. — Preciso disso, por favor .
— Havia algo tão vulnerável na maneira como ele disse as palavras que fez
meu coração doer. Eu me inclinei para trás, finalmente levando minhas mãos
ao seu rosto, me permitindo tocá-lo.
Dando a mim mesma – a ele – este momento.
Passei os dedos contra a barba por fazer, traçando os ângulos agudos de
seu rosto. Apoiei minha outra mão em seu bíceps, cobrindo a tatuagem que
aparecia por baixo de sua manga.
— Você gosta disso, não é? — ele perguntou, e eu assenti.
— É linda. — Eu nunca tinha realmente achado tatuagens atraentes antes,
mas olhar para a flor de cerejeira e o beija-flor tatuados no braço de Cameron
me fez querer desenhar em sua pele. Marcá-lo com meu próprio desenho.
— Você é linda. — Seus dedos gentilmente agarraram meu queixo,
forçando meu rosto de volta ao seu. Cameron não hesitou desta vez e lambeu
meus lábios. Passou as mãos pelo meu corpo e segurou minha cintura, me
puxando contra si. Deixei um suspiro baixo escapar quando senti o contorno
da sua dureza contra meu ventre. Acho que nunca me acostumaria com o fato
de que Cameron me queria. Isso me deixou bêbada de desejo. Me excitou de
uma maneira que eu nunca tinha experimentado antes.
Mas, acima de tudo, fez com que todas as memórias de suas
cumplicidades nos jogos de Jason se desvanecessem em nada.
— Quero te sentir — ele murmurou entre beijos. — Me deixe te tocar,
Hailee. — O desespero cru em sua voz fez meu coração palpitar de forma
descontrolada no peito. E quando uma de suas mãos encontrou o pedaço de
pele entre o suéter e o cós da minha calça jeans, quase morri, bem na frente
de seus olhos.
— Cam... — Minha voz estava trêmula e minha respiração ofegante.
— Me diga o que você precisa, Hailee...
Apertei sua camisa, puxando-o para mais perto, beijando-o com mais
força. A mão de Cameron desceu, desabotoando a calça jeans com facilidade.
Ele desceu a mão e roçou na calcinha úmida.
— Caramba — ele gemeu, se afastando do beijo para me olhar. Ele não
disse nada, apenas me observou, enquanto acariciava o clitóris sobre o tecido
fino. Meus joelhos dobraram, meu estômago apertou com a necessidade,
enquanto eu engolia um gemido. — Preciso sentir você, Hailee...
Assenti, inclinando a cabeça para trás. Cameron puxou a calcinha para o
lado e deslizou os dedos pela minha umidade, provocando uma série de
pequenos suspiros dos meus lábios. Seus olhos estavam selvagens, enquanto
me observavam. Escuros e semicerrados, fervendo de pura luxúria.
— Hailee... — Ele engoliu em seco. — Eu...
— Ei, Chase, você está... — Asher entrou na sala e arregalou os olhos
quando viu a mim e Cam entrelaçados como amantes no escuro. Entrei em
pânico tentando empurrar Cameron para longe, mas ele me pressionou ainda
mais contra a parede, me protegendo, com os dedos ainda dentro de mim.
— Humm, o treinador está procurando por você, mas posso ver que você
está ocupado.
— Ash — Cameron grunhiu.
Ele ergueu as mãos.
— Não vi nada. — Havia cadência em sua voz. Humor. E eu queria que o
chão se abrisse e me engolisse por inteiro. — Mas você pode querer... se
apressar. — Asher inclinou a cabeça para o corredor.
— Sim, me dê um minuto. — Cameron parecia frio agora, e o fogo
morreu dentro de mim. Tentei me desvencilhar de novo, mas ele era muito
forte e se recusou a me deixar ir.
— Hails. — Asher sorriu. — Você está bonita. — Ele se virou e saiu,
fechando a porta atrás de si.
— Ah, meu Deus — gemi, fechando os olhos.
— O Asher não vai dizer nada. — Cameron finalmente retirou os dedos e
recuou. Abri os olhos e o encarei, mas ele olhou através de mim.
Meu estômago afundou enquanto eu me atrapalhava com o botão da calça
jeans.
— É melhor eu ir — ofeguei, desejando que ele dissesse algo.
— Hailee, sinto muito. É só...
Não eram as palavras que eu queria ouvir, então eu o interrompi.
— Sim, eu também — sussurrei.
E então, sem olhar para trás, saí correndo de lá.
***
***
Depois de um treino extenuante, fiquei para trás enquanto o resto dos rapazes
entravam no vestiário. O treinador estava ocupado conversando com Hailee.
Ela tinha um bloco de desenho nas mãos e um sorriso estampado no rosto
enquanto mostrava a ele o que estava fazendo.
— Chase, venha aqui, filho. — Sua voz se elevou através do campo, e eu
arranquei meu capacete e corri até eles. — E aí, treinador? — Olhei para o
rosto de Hailee enquanto passava a mão pelo meu cabelo úmido, mas ela
manteve o olhar firme no bloco em sua mão.
— Você pode mostrar o depósito a srta. Raine? Ela quer vasculhar alguns
dos álbuns de fotos antigos para... — Ele olhou para ela, que sorriu.
— Inspiração.
— Inspiração, certo. — O treinador apertou os lábios. — Posso confiar
em você para mostrar a ela?
— Claro, senhor.
— E se você precisar de mais alguma coisa, é só pedir. — Ele deu a ela
um aceno severo e nos deixou sozinhos.
— Ei. — Dei um sorriso a ela. — Como você está?
— Estou bem, obrigada. — Ela me olhou.
— Ouça, eu queria falar com você, depois da outra noi...
— Não vamos fazer isso — Hailee disse, segurando o bloco de desenho
contra o peito como um escudo. Como se ela precisasse de uma armadura
contra mim. O pensamento me deu um soco no peito. — Preciso me
concentrar neste projeto se quiser concluí-lo a tempo e não posso ter
nenhuma... distração.
— É isso que eu sou? — O canto da minha boca se inclinou. Ser uma
distração para ela parecia algo que eu poderia fazer.
— Cameron, estou falando sério. — Ela semicerrou os olhos, mas eu
tinha certeza de que vi um brilho neles.
— Sem distrações. — Levantei as mãos. — Eu prometo. Vamos lá, vou
mostrar onde fica o depósito, mas provavelmente devo avisá-la que lá tem
cheiro de chuteiras velhas. — Ela franziu o nariz e eu ri. — Achou que pintar
a equipe seria glamoroso?
— Não sei o que pensei. — Ela ainda estava segurando aquele escudo
dela. — Para ser honesta, estou me sentindo um pouco fora do meu ambiente
aqui.
— Deixe-me ver o que você fez.
— Humm, não sei. — Ela segurou o bloco com mais força. — É apenas
um esboço tosco no momento. Eu queria pegar vocês em ação. — Um rubor
sexy se espalhou por seu pescoço e bochechas e eu não perdi a maneira como
ela quase ofegou com a palavra “ação”. — Estou pensando em fazer uma
composição menos tradicional, algo que capture a essência do esporte e não
apenas o jogador.
— Parece... complicado. — Eu não tinha a mínima ideia sobre arte,
composições ou qualquer uma dessas coisas.
— Não é, não realmente. Mas preciso de matéria-prima suficiente para
trabalhar.
— Então, eu posso... — Estendi a mão, esperando que ela me permitisse.
Hailee olhou para mim com olhos cautelosos, batendo os dedos suavemente
no bloco de desenho. Um silêncio constrangedor se estendeu diante de nós.
— Tudo bem — comecei a falar depois do que pareceu uma eternidade
—, você não precisa... — Com um suspiro baixo, Hailee finalmente entregou
o bloco para mim e eu o abri.
— Puta merda, Hailee, isso é incrível. — Ela capturou Grady, um dos
outros jogadores veteranos, no meio do exercício, jogando seu corpo contra o
trenó de bloqueio. Era apenas rústico, mas as linhas e sombras capturaram o
impacto de uma maneira que eu nunca pensei ser possível. — Você é
realmente talentosa. — Comecei a virar para outra página, mas ela agarrou o
bloco.
— Certo, isso é o suficiente.
— Espere aí, quero ver mais. — Eu o arranquei dela, segurando-o fora do
seu alcance e virei outra página. Minha boca se abriu e o ar foi sugado de
meus pulmões.
— Como eu disse — sua voz era baixa, incerta —, é só um esboço tosco
no momento. Algo para trabalhar assim que eu estiver no estúdio.
Meus olhos beberam cada detalhe. A curva do meu braço enquanto me
preparava para lançar a bola, minha postura ampla e meu olhar semicerrado
enquanto procurava meu companheiro de equipe pelo campo. O sombreado
intrincado em torno do 14 na minha camisa, dando a ilusão do material se
movendo com o ar.
— Cameron? — A voz dela estava baixa, mas reverberou até a minha
alma.
— S-sim, desculpe. — Fechei o bloco de desenho e devolvi a ela.
— O resultado final será muito melhor. — Hailee colocou o cabelo atrás
da orelha.
Eu sabia que provavelmente deveria dizer algo, mas fiquei sem palavras.
— Vamos lá — consegui balbuciar e nós caminhamos o resto do caminho
em um silêncio pesado.
Não era que eu quisesse que ela pensasse que não gostei do desenho,
porque gostei. Gostei muito, mas fez algo em mim. Ela tinha feito algo em
mim.
E eu não sabia como desfazer, nem se eu quisesse.
— Bem, é isso — eu disse, empurrando a porta do depósito. Os olhos de
Hailee caíram sobre as caixas empoeiradas.
— Há um monte de coisas aqui.
— Sim. O treinador é meio acumulador. Boa sorte com isso. — Ofereci-
lhe um sorriso, mas ela não retribuiu.
Merda, eu estava sendo um idiota.
— Então, o baile é esta semana. — Tentei mudar de rumo. — Você tem
um acompanhante?
— Acompanhante? — As palavras ficaram presas em sua garganta.
— Sim, você sabe, um cara te convida para ir, você se veste bem, ele leva
flores e vocês posam para fotos estranhas. — Pare. De. Falar. idiota .
— Isso não é baile de formatura?
— Mesma coisa. — Dei de ombros de repente me sentindo uma completa
idiota. — E então? Você tem, quero dizer? — Por que eu estava questionando
isso? Eu não queria ouvir sobre Hailee e seu par.
— Na verdade, sim.
Ela tinha?
Puta merda.
— Flick.— Hailee franziu a testa, me olhando com uma expressão
estranha. — Eu vou com a Flick.
— Ah, certo. — O alívio me atingiu, diminuindo o aperto no meu peito.
— Isso é bom. — Bom?
— Você está bem? Está agindo um pouco estranho.
— Eu? Estou bem. — Dei de ombros, recuando, mas bati no canto de
uma pilha de caixas. — Merda. — Me movi depressa e consegui firmá-las.
Quando olhei de volta para Hailee, ela estava lutando contra um sorriso.
— Então, é melhor eu... ir. Devo ir. — O que havia de errado comigo?
Era a porcaria do esboço. Tinha poderes de vodu ou algo assim, porque
me senti todo desequilibrado.
— Tudo bem. — Ela me observou e sua expressão estava muito mais
divertida do que há cinco minutos.
— Até a próxima? — Minha voz se elevou no final, fazendo soar como
uma pergunta e eu não queria nada mais do que bater minha cabeça contra a
parede. Mas antes que Hailee concluísse que eu era totalmente idiota, fiz uma
pequena saudação e dei o fora dali.
Vinte E Cinco
Hailee
— Tem certeza disso? — Respirei fundo, passando as mãos pelo vestido
prata claro que Flick tinha insistido que eu usasse. Foi o primeiro que
experimentei, e ela saltou da cama, gritando de alegria e declarando que era
perfeito. Mas mesmo agora, com saltos altos e maquiagem sutil, eu não tinha
certeza.
— Acho que vou vomitar — falei, segurando meu estômago enquanto
nos aproximávamos do ginásio.
— Hails. — Flick se virou e as camadas de seu vestido se espalharam
como uma cascata. — Você consegue. Não estamos no nono ano. Você não
vai entrar lá e ser motivo de chacota na escola. É o último ano. Somos
veteranas e merecemos isso. Tudo bem? — Ela me deu um sorriso caloroso.
— Tudo bem — respondi, apesar de minha cabeça gritar: não, não, não .
— Embora teria sido muito mais divertido se tivéssemos acompanhante
— ela acrescentou, e eu lhe dei uma cotovelada nas costelas.
— Eu sou sua acompanhante.
— Eu sei e honestamente, não gostaria que fosse de nenhum outro jeito,
maninha. — Ela sorriu para mim. — Agora, o que acha: vamos lá com nossas
cabeças erguidas e nos divertimos um pouco?
— Tem certeza de que não quer desistir e sair com Jude e Toby em vez
disso? — Eu sabia que ele estava mandando mensagens para ela. Toby tinha
me enviado algumas mensagens vez ou outra também, mas tive a impressão
de que ele estava um pouco desconfiado agora que sabia quem era meu meio-
irmão. Mas provavelmente era melhor. Toby era legal e nos demos bem, mas
ele não desencadeou um frio no meu estômago. Ele não era o cara que
consumia todos os meus pensamentos.
Meu corpo vibrou com nervosismo com a ideia de ver Cameron. Durante
toda a semana, ficamos nos rodeando, observando um ao outro no refeitório,
sentados perto, mas sem se tocar na história, e houve outro momento, quarta-
feira após o treino quando eu o peguei olhando para minha boca. O que quer
que fosse essa coisa entre nós, estava crescendo. Se tornando algo maior a
cada dia que passava. Eu sabia que era perigoso me enredar com ele – era o
melhor amigo de Jason. E eu não era ingênua o suficiente para pensar que ele
ficaria bem comigo e com Cameron. Mas eu também não conseguia me
conter. Ansiava por ele. Ansiava pela maneira como ele me fazia sentir. A
emoção de ser pega.
Era oficial, eu estava completamente louca de desejo por Cameron Chase.
E ele estava lá, sem dúvida parecendo mais digno de babar do que nunca. Ele
brincou mais de uma vez sobre eu guardar uma dança para ele. Tudo bem,
provavelmente não poderíamos dançar juntos, por causa do meu irmão idiota,
mas só de saber que ele queria dançar comigo era o suficiente.
Não era?
Flick segurou minha mão e começou a me puxar em direção à porta. A
cada passo, a batida da música lá dentro espelhava meu próprio batimento
cardíaco. Bum. Bum. Ba-bum.
— Você está nervosa. — Ela observou.
— Não, não estou. Só estou chateada por você ter me feito usar este
vestido.
— O vestido está lindo, assim como seu cabelo e maquiagem. Agora pare
de se preocupar. É um baile. É para ser divertido.
Divertido, certo.
Eu poderia me divertir.
Mas quando entramos, me senti com quatorze anos novamente, vendo
meu par beijar outra garota. Só que Cameron não estava beijando a garota
com quem ele estava conversando. Mas pareciam muito próximos. A mão
dela estava em seu braço enquanto ela sorria para o que quer que ele estivesse
dizendo. Flick percebeu e me puxou em outra direção, com um sorriso
divertido brincando em seus lábios.
Encontramos o bar – na verdade, era apenas uma mesa comprida – e o sr.
Henderson vestido com um smoking fazia alguns drinques de aparência
descolada – pedimos dois mocktails e depois fomos nos sentar em uma mesa
vazia na beira da pista de dança. Khloe Stemson e o resto do esquadrão de
vadias estavam agarradas a seus, mas não havia um jogador de futebol à vista
entre eles.
— Acho que elas ainda estão afastadas do Jason e do time — Flick
comentou, bebendo seu mojito sem licor.
— E a equipe de ginástica ainda está por perto.
Virei a cabeça para onde Jason estava com Jenna Jarvis contra a parede,
atacando seu pescoço com a boca.
— Ela é uma vadia —Flick falou em tom frio.
— Agora, quem parece estar com ciúmes?
— Quero dizer, olhe para ela. Ela sabe que ele não vai se comprometer e,
ainda assim, ela se joga nele em todas as oportunidades.
— Talvez seja só sexo.
— Ah, certo. Garotas não fazem só sexo . Elas dizem isso a si mesmas
para se sentirem melhor. Mas sexo para garotas vem com sentimentos. É
biologia simples.
— Humm. — Levantei um dedo. — Transei sem sentimentos.
— Isso é diferente. — Ela franziu o cenho. — Você funciona de forma
diferente.
— Ei. — Golpeei seu braço. — Eu poderia facilmente ter desenvolvido
sentimentos pelo Austin, mas depois do sexo, percebi que não era algo que eu
estava com pressa de fazer novamente. — Dei a ela um sorriso brincalhão e
sua expressão taciturna se desfez.
— Foi tão ruim assim?
— Não foi bom, com certeza.
— Então, por que você fez?
— Não sei. — Dei de ombros. — Acho que eu só queria acabar com isso.
E o Austin parecia ser legal na época. Foi há muito tempo, provavelmente
estou revirginizada.
Flick riu disso.
— Somos um desastre. Você está fuzilando Cameron com os olhos
porque ele está falando com uma garota, e eu estou sentada aqui falando
sobre sexo quando mal cheguei à terceira base com um cara — ela gemeu,
deixando cair a cabeça na mesa.
— Vamos lá, nem tudo é ruim. Talvez você e o Jude vão...
— Garotas, vocês vieram. — Asher Bennet pairou sobre mim, com um
brilho malicioso em seus olhos. — E vocês duas estão gostosas.
— Gostosas, sério? — Franzi o nariz. Era um milagre que alguém se
apaixonasse por seu charme, ou pela falta dele. Embora nem mesmo eu
pudesse negar que ele parecia bem de calça cinza e camisa branca com as
mangas arregaçadas e o cabelo loiro escuro despenteado em seu típico jeito
descontraído de Asher Bennet. — Isso é o melhor que você pode fazer?
— Tão espinhosa como sempre, Raine.
Flick olhou para ele, boquiaberta. Um sorriso lento se espalhou pelo rosto
de Asher.
— Eu e você, Giles, vamos.
— Vamos? Vamos aonde?
— Transar no meu Jeep, onde você acha?
— Ah, meu Deus — ela suspirou, e eu pensei por um segundo que ela
fosse desmaiar.
— Pista de dança, Felicity. — Asher balançou a cabeça para a multidão
de jovens dançando. — Vamos dançar.
— D-dançar? — ela murmurou para mim e eu a olhei com os olhos
arregalados.
— Vá, é o que você queria, certo? Dançar e se divertir. — E eu não tinha
planos imediatos de fazer papel de boba na frente de toda a nossa classe.
Com as bochechas em um tom profundo de vermelho, Flick deixou Asher
puxá-la para cima e eles caminharam de mãos dadas para a pista de dança.
No ano passado, ela não teria olhado duas vezes para ele, Cameron ou meu
meio-irmão. Mas este ano, ela estava diferente.
Talvez nós duas estivéssemos.
Vi enquanto Asher dançava em círculos – círculos literais – ao redor dela,
mas ela estava rindo, com os olhos brilhando de felicidade. Não demorou
muito para que ele tivesse toda a pista de dança comendo na palma da sua
mão, e bem no centro de sua atenção estava a minha melhor amiga, em seu
momento culminante.
Meu olhar vagou até onde eu tinha visto Cameron antes. Ele estava
sozinho agora, vendo Asher e Flick, uma expressão estranha em seu rosto.
Me sentindo corajosa, me levantei e fui até ele, mas quando quase o alcancei,
uma garota segurou-o e ele a abraçou de forma afetuosa, sorrindo para ela. O
mesmo sorriso que ele me deu mais de uma vez. Meu estômago afundou
enquanto me escondi nas sombras perto da parede, me pressionando até que a
escuridão me engoliu por completo. O que eu achava? Que eu viria aqui esta
noite e que Cameron realmente gostaria de dançar comigo? Passar um tempo
comigo? Garota estúpida, estúpida.
Engolindo meu orgulho, voltei para a mesa apenas para perceber que
Flick não estava mais dançando com Asher. Examinei a sala quando minha
bolsa vibrou.
Toby: E aí?
Eu: Estou no baile e está um saco.
Toby: Você deveria vir para a festa com a gente... não é uma coisa de
futebol, juro.
Outra festa com Toby? Eu realmente queria isso? Meus dedos pairaram sobre
o botão de resposta e então comecei a digitar.
Eu: Tá.
Apertei enviar antes que pudesse me acovardar. Eu realmente não queria ir,
mas a última coisa que eu queria fazer era ficar aqui e ver Cameron e alguma
garota dançarem e se beijarem.
Só então, tive um vislumbre de Flick. Corri até ela, semicerrando meu
olhar quando vi sua expressão sombria.
— O que aconteceu? — perguntei.
— N- Nada. — Ela limpou a maquiagem, borrando as manchas de rímel
em seu rosto.
— Flick, sei que você está chorando.
— Não aqui, tá? — ela pediu, olhando ao meu redor como se estivesse
procurando por algo. Ou alguém. — Podemos ir?
— O Toby me mandou uma mensagem, nos convidando para uma fest...
— Perfeito. — Ela segurou minha mão e começou a me puxar em direção
à porta.
— Que bom. — Eu ri. — Porque eu meio que já disse sim.
Recebi outra mensagem de Toby dizendo que ele estava em nossa
vizinhança e chegaria em mais ou menos dez minutos.
— Tem certeza de que você está bem? — perguntei a Flick novamente
enquanto ela passava os braços ao redor do corpo, se recusando a encontrar
meus olhos. — O Asher fez alguma coisa...
— Estou bem, Hails. Eu juro.
— Juro por Deus, se ele te magoar, vou matá-lo. — Seu interesse pelo
minha melhor amiga estava crescendo. O único problema era que eu não
conseguia descobrir se tudo era uma grande piada ou se ele realmente gostava
dela. De qualquer forma, Asher Bennet iria comê-la viva, algo que eu não
tinha intenção de deixar acontecer.
— Não é o Asher.
— Não?
— Não.
— Mas é um cara? — Porque meu instinto me dizia que era. Algo estava
acontecendo com a minha melhor amiga, eu simplesmente não sabia o quê.
Ela encontrou meus olhos e apertou os lábios, dando um pequeno aceno
de cabeça.
— Mas não quero falar sobre isso.
O fato de ela não sentir que poderia falar comigo doeu. Mas também não
fui exatamente sincera sobre Cameron. Então, ofereci a ela um sorriso
caloroso e disse:
— Tudo bem, mas quando você estiver pronta, estarei aqui.
— Obrigada. — Flick fungou. — Argh, o baile é um saco.
— Eu poderia ter te dito isso.
— Eu só pensei... — Um suspiro pesado escapou de seus lábios. — Não
sei, talvez essa lista toda seja estúpida.
Me aproximando dela, apertei sua mão.
— Não é estúpido. É corajoso. E estou orgulhosa de você, Felicity Giles.
— É mesmo? — Seus olhos brilharam.
— Sim. Você poderia ter ficado parada e me deixado atropelar seu último
ano e não o fez. — O brilho dos faróis nos cegou e eu levantei meu braço
para ver melhor o carro que se aproximava.
— É o Toby, vamos lá. — Flick segurou minha mão e me puxou em sua
direção.
— Muito ansiosa? — murmurei e ela me lançou um olhar mordaz por
cima do ombro.
— O baile pode ter sido uma droga, mas a noite ainda é uma criança, e
não pretendo desperdiçar este vestido.
— Você está bem gata — concordei.
— Estou mesmo. O Jude nem vai saber o que o atingiu. — A garota triste
que encontrei minutos antes se foi.
— Flick — eu disse. — Você não precisa...
— Não, não estou ouvindo. Eu preciso disso, Hails. — Eu não tinha
certeza a que ela estava se referindo, mas o brilho em seus olhos me disse
para não discutir.
Toby baixou o vidro e olhou para meu corpo. Seus olhos escureceram
com luxúria.
— Oi. — Ele me deu um sorriso preguiçoso.
— Oi.
— Oi, Toby. — Os olhos de Flick passaram por ele e focaram dentro do
carro.
— Você está bonita, Felicity. — A voz de Jude chegou até nós e um largo
sorriso se estendeu em seu rosto.
— Pronta para ir? — Toby perguntou e ela assentiu, ansiosa, entrando na
parte de trás. Hesitei, olhando para o ginásio.
— Hailee?
— Sim. Estou indo. — Entrei e afastei todos os pensamentos sobre o
baile e Cameron Chase da minha cabeça.
— Por que está tão taciturna? — Flick tomou um gole da sua bebida,
movendo o corpo na batida sensual. Estávamos malvestidas na última festa
que Toby nos trouxe, mas esta noite nos destacávamos por diferentes razões.
Tanto para escapar.
— Eu simplesmente não estou no clima — falei, examinando a sala. Os
jovens estavam amontoados em cada centímetro da casa. Não era nem de
perto tão grande quanto a casa de Lewis Thatcher, mas eu também não tinha
visto nenhum jogador de futebol da East, então tinha isso a seu favor.
— O Toby parece interessado. — Flick acenou para os caras enquanto
eles nos traziam outra rodada de bebidas.
— Acho que sim.
Minha melhor amiga semicerrou os olhos e ela segurou meu braço, me
puxando para si.
— Você está deprimida.
— Não estou. Eu só... — Não estou pensando em como Cameron parecia
bonito .
— Você deveria ter ido falar com ele. — Flick soltou um suspiro
exasperado, mas eu não respondi. — Bem. Seja uma desmancha-prazeres.
Mas, por favor, não estrague minha diversão. Eu preciso disso, Hails. Na
verdade — ela disse em tom conspiratório. — Estou pensando em fazer.
— Fazer? — Eu a encarei.
— Sexo, Hails. Talvez eu transe.
Ergui a mão depressa, tampando sua boca.
— Jesus, Flick, fale baixo.
— O quê? — Ela sorriu. — Não tem problema dizer as palavras.
— Você está bêbada? — Só tínhamos bebido duas taças.
— Não, não estou bêbada. Só estou abraçando a oportunidade. O Jude é
gostoso e está me enviando todos os sinais certos.
— Então isso não tem nada a ver com o que aconteceu antes? — Arqueei
a sobrancelha.
— Não foi nada.
Ah, com certeza tinha sido, ela só não queria admitir o que quer que
fosse.
Meus olhos encontraram Jude e Toby por cima do ombro. Eles estavam
voltando para nós.
— Só não tome decisões precipitadas. O Jude parece um cara legal, mas
sua primeira vez deve ser com alguém de quem você goste... realmente goste.
— Como você...
— Um desses é para mim? — perguntei, alertando Flick para o fato de
que os caras estavam de volta. Ela me lançou um sorriso agradecido, antes de
se virar para Jude e pegar sua nova bebida dele.
— Quer dançar? — ela perguntou.
Ele deu de ombros, mas Flick não se intimidou. Agarrando sua mão, ela
os levou para a próxima sala onde estava a dança.
— Eu gosto dela — Toby falou. — Ela tem uma personalidade...
verdadeira.
— Essa é sua maneira educada de dizer que ela é agressiva? — Eu ri e ele
sorriu.
— Ela vai atrás do que quer. Não há nada de errado com isso. — Ele
semicerrou os olhos para mim e eu afastei os meus, precisando quebrar a
conexão.
Toby era bom. Um cara legal. Estava constantemente verificando se eu
estava bem, pegando bebidas e me fazendo rir. E não parecia tão desanimado
que meu meio-irmão fosse Jason Ford como eu havia pensado. Mas, apesar
de tudo que ele tinha a seu favor, Toby não colocava meu mundo em chamas.
Ele não fazia meu coração bater descontroladamente no peito ou
despertava o desejo em meu ventre.
Ele era fofo. Gentil e atencioso. Era tudo que eu queria gostar.
Tudo que eu deveria gostar.
Só havia um pequeno problema.
Ele não era Cameron Chase.
Vinte E Seis
Cameron
— Vai usar essa coisa a noite toda? — perguntei a Jase, olhando com
diversão para a coroa de plástico barato em sua cabeça.
— Eu já tive três ofertas para chuparem meu pau, e Lisa Tenby me
deixou transar com ela no banheiro feminino, então sim, vou usar isso a noite
toda. O que está acontecendo com você?
— Nada. Estou bem. — Olhei ao redor, na esperança de ver Hailee. Mas
não a encontrei.
Eu não a via há horas, desde que a vi chegar junto com Flick.
Jase olhou para mim. Ele observou meu rosto enquanto tomava um gole
de sua bebida.
— Tem certeza de que está bem?
— Sim. — Assenti, olhando para a multidão novamente. Eu não gostava
de bailes da escola, nunca gostei, mas quando você era um Raider e jogava
para o treinador Hasson, não comparecer não era opção. Deveríamos
aparecer, sorrir e dar às pessoas o que elas queriam. A maioria dos caras
absorvia – era sua chance de serem reis esta noite. Mas eu, não.
— A Miley está gostosa — Jase comentou e meus olhos encontraram os
dele. — O que está acontecendo?
— É um lance casual. — Dei de ombros.
— Não me diga. Mas vamos lá, cara, você gosta dela? Eu vi o jeito como
ela te olha.
— Nós somos só amigos, Jase. — Nada mais. Nada menos. Mas ele não
parecia estar convencido.
— Sim, bem, mantenha assim. A última coisa que precisamos é de
distrações. E ela tem problema escrito nela. Vou ao banheiro. — Ele
atravessou o salão, separando o mar de pessoas como se fosse o filho
pródigo.
E talvez fosse.
Para uma cidade como Rixon, Jason estava a um passo de ter seu nome
estampado nos jornais nacionais. As pessoas mal podiam esperar pelo dia,
daqui a cinco anos, quando poderiam dizer que conheciam a nova estrela da
NFL.
Encontrei Asher perto das portas mexendo no telefone celular. Vi as
linhas de preocupação gravadas em seu rosto e me endireitei, sentindo a
minha espinha formigar. Mas antes que eu pudesse ir até lá e descobrir se ele
estava bem, seus olhos me encontraram do outro lado da sala e ele fez uma
careta.
Nos encontramos no meio do caminho quando ele estava encerrando a
ligação.
— Tudo bem? — perguntei enquanto ele olhava para o seu telefone
celular.
— Eu, humm, era a Fee.
— Fee? A Felicity?
— S-sim. — Ele engoliu em seco, passando a mão pelo cabelo. — Ela,
me pediu para fazer você ligar para ela imediatamente .
— Eu? Mas por que ela iria querer... Hailee. — O ar saiu dos meus
pulmões. — Você tem o número dela?
Claro que sim, eles tinham acabado de falar no celular. Mas tudo estava
um pouco nebuloso, e meu coração batia forte no peito.
— Coloquei meu número no celular dela no dia em que ela preparou o
café da manhã. É melhor você ligar, ela estava em pânico. Quando perguntei
o que havia de errado, ela disse que não tinha tempo para explicar... — ele
acrescentou e meus olhos se fixaram nos dele.
— Me mande o número dela e diga ao Jase que tive que ir embora.
— Merda — ele murmurou. — O que eu deveria...
— Diga a ele que é minha mãe ou algo assim. — Não importava. Eu só
precisava chegar a Hailee. Se Felicity ligou para o Asher...
— Cam? — A voz dele me tirou dos meus pensamentos.
— Sim?
— Perguntei se você certeza de que sabe o que está fazendo. Talvez não
seja uma boa ideia...
— Só me envie o número dela.
— Merda, tá. Tudo bem. — Ele começou a mexer no celular, e eu esperei
pela mensagem. Em seguida, dei o fora de lá.
Assim que saí do baile, peguei o celular e liguei para Felicity.
— Cameron? — ela perguntou. — É você?
— O que aconteceu?
— Eu... ela... merda, isso é ruim, Cameron. Eu não sei o que...
— Desacelere. Onde você está? — Eu estava chegando na caminhonete.
— Em uma festa, do outro lado do rio.
Puta merda.
— Tá. — Controlei a raiva. — Pode me enviar uma mensagem com o
endereço? Vou levar cerca de quinze minutos. — Se eu ultrapassar o limite
de velocidade.
— S-sim. E obrigada. Eu não sabia mais para quem ligar.
— Não me agradeça ainda — falei antes de desligar. Alcançando a
caminhonete, quase arranquei a porta.
Uma festa da East.
Elas deixaram o baile e foram para uma festa da East. Asher estava certo.
Eu não tinha ideia do que estava fazendo. Porque era o último lugar que eu
deveria ir. Especialmente sem apoio. Mas Hailee estava lá e, pelo desespero
na voz de Felicity, o que quer que tenha acontecido não era bom.
Droga.
Enquanto eu saía do estacionamento e pisava no acelerador, uma energia
inquieta passou por mim. Hailee precisava de mim. Certo, a realidade era que
Felicity precisava de mim, mas eu não ia perder a cabeça pelo fato de ela ter
me chamado para ajudar.
Eu não podia negar que uma pequena parte de mim estava chateada.
Passei a maior parte da noite procurando por Hailee, na esperança de ter outro
vislumbre dela, e o tempo todo ela esteve em uma festa da East com aquele
idiota do Toby, sem dúvida. Apertei o volante com força. Eu sempre soube
que Hailee era um problema. Mas se Jason descobrisse sobre isso, a confusão
seria enorme. Eu não poderia deixá-la lá, nem iria. Porque Hailee Raine
estava entranhada em mim.
E pior ainda, gostei de ela estar lá.
***
***
***
Quando a manhã de domingo chegou, meu humor não estava muito melhor.
Graças à minha mãe e ao Kent, eu tinha ingressos para uma exposição que
queria muito ver. Mas agora eles vinham de mãos dadas com Jason. Deus, ele
parecia tão convencido na noite passada quando revelou seu grande plano.
Ele basicamente sequestrou meu aniversário para que ele e seus amigos
pudessem passar a noite em Nova York, porque, embora minha mãe tivesse
comprado quatro ingressos, eu não tinha ilusões de que seriamos cinco
fazendo a viagem.
Eu estava secando o cabelo quando uma notificação soou no meu celular.
Eu a ignorei, pois provavelmente era Flick. Mas quando soou de novo... e
mais uma vez, finalmente o peguei na mesa. Destravando a tela, fiz uma
careta quando vi a quantidade de mensagens de texto que recebi da minha
melhor amiga. Abrindo a mais recente, senti o sangue fugir do meu rosto.
Meu estômago deu um nó, mas antes que eu pudesse responder, o nome de
Flick apareceu na tela e seu toque cortou o silêncio.
— Que merda é essa? — Murmurei enquanto apertava para atender.
— Hails? — ela estava um pouco sem fôlego.
— Sim?
— Estou aqui fora.
— Aqui fora? — Fui até a janela e seu Beetle amarelho estava parado na
calçada. — Por que você está do lado de fora da minha casa? — Minha voz
falhou enquanto meu subconsciente lentamente começou a acordar e sinos de
alarme soaram em meu subconsciente.
— Pegue suas coisas e venha. Ah — ela adicionou — e me prometa que
você não vai olhar o Snapchat .
— Eu não tenho Snapchat, você sabe disso.
— Que bom — ela respondeu, distraída enquanto eu calçava sapatilhas.
— Já desço. — Meu coração bateu com força no peito.
— Tudo bem. — Flick deu um suspiro de alívio. — E Hails?
— Sim.
— Eu te amo e sinto muito. Sinto muito mesmo. — A linha ficou muda e
eu encarei meu celular, com os dedos tremendo. Antes de saber o que estava
fazendo, abri a App Store e encontrei o ícone do Snapchat. Prometa que não
vai olhar , ela disse. Soltando um gemido de frustração, coloquei o celular no
bolso e peguei minha bolsa.
O que quer que fosse, não poderia ser pior do que a última brincadeira no
Photoshop de Thatcher.
Poderia?
Mas quando saí de casa e vi a expressão sombria de Flick, eu sabia que
estava errada.
Só não previ o quanto.
Trinta
Cameron
Xander rastejou sobre minhas pernas, passando seu pequeno carro para cima
e para baixo, fazendo todos os barulhos para acompanhá-lo.
— Espere aí, carinha — falei, sentindo meu bolso vibrar. Consegui pegar
o celular sem interromper a brincadeira.
Era um link da web sem descrição. Cliquei para abrir e meu mundo caiu.
— Ameron ? — A voz do meu irmão me assustou.
— Humm, desculpe, carinha, eu preciso... — Engoli o nó enorme na
garganta e o tirei das minhas pernas para que eu pudesse ficar de pé. — Já
volto, tá?
— Tá, mao . — Ele aprendeu uma nova palavra graças a Asher, mas
como Xan não conseguia pronunciar certas coisas muito bem ainda, “mano”
se tornou “mao ”'.
Fui até o outro lado da sala e liguei para Asher.
— Que merda é essa? — sibilei o mais baixo que pude.
— Não tenho certeza. O Thatcher postou o link no story do Snapchat .
Parecia misterioso, então cliquei.
— É... ela . — Quase me engasguei com as palavras. — É a Hailee.
— Puta merda — Asher falou. — Quero dizer, sim, achei que fosse... mas
puta merda.
— O Jase já viu isso?
— Não sei, ele está vindo para cá.
— Segure-o aí. Estou falando sério, Ash, não o deixe sair.
— Vamos lá, cara, você sabe que ele vai perder a cabeça quando vir isso,
se é que ainda não viu.
Minhas notificações começaram a explodir, o bipe persistente
dificultando a concentração.
— Merda, está em toda parte — Asher soltou um longo suspiro. — Não
para de entrar notificação.
— Aqui também — falei baixinho, olhando para Xander, que ainda
estava brincando com seus brinquedos.
— Tenho que ir.
— O que você vai fazer?
— Não sei, mas a Hailee...
— Merda, ela vai pirar quando vir isso.
É exatamente por isso que eu precisava chegar até ela.
— Eu te ligo mais tarde. Apenas se certifique de que o Jase fique aí, tá?
— Sim, sim, entendi.
— Ei, carinha. — Fui até Xander e o peguei. — Vamos encontrar a
mamãe e o papai, certo? — Ela passou o dia no hospital ontem em
observação, mas deram alta a ela no final do dia, e esta manhã ela parecia
mais animada.
— Eu sou Aze , a Áquina Monstro. — Ele girou seu carro no ar enquanto
eu o carregava pelo corredor até a cozinha, onde nossos pais estavam
sentados na bancada, olhando alguns papéis.
— Tudo certo? — perguntei.
— Está tudo bem. — Minha mãe me deu um sorriso caloroso que não
atingiu seus olhos enquanto empurrava os papéis para meu pai e estendia os
braços para Xander.
— E como está meu homenzinho favorito?
— Mamá , eu sou Aze — ele gritou de alegria.
— Claro que você é, baby. — Ela bagunçou o cabelo dele, pressionando
o rosto mais perto.
— Preciso sair, vocês vão ficar bem...
— Está tudo bem, filho. — Meu pai juntou os papéis em uma pilha. —
Faça o que precisa. Vamos levar esse monstrinho para tomar sorvete e depois
ao parque, mas gostaríamos de nos sentar mais tarde para conversar com você
sobre algumas coisas, tá?
Meu estômago embrulhou.
— Que coisas? — Olhei entre eles, tentando ler nas entrelinhas. Mas
quando minha mãe baixou o olhar, se protegendo atrás do meu irmão, eu
soube. E o buraco no meu estômago se abriu. — Eu posso ficar — falei. —
Se for importante, eu posso...
— Vá — meu pai se levantou e veio até mim, apertando meu ombro. —
Isso pode esperar até mais tarde. Diga aos rapazes que mandei parabéns pela
vitória na sexta à noite.
— Eu, humm... sim, tudo bem. — Olhei para minha mãe e Xander mais
uma vez, e ela me deu um sorriso fraco. Algo estava errado, algo que eles
precisavam me contar. Eu me senti sem fôlego. Esperei semanas para saber e
no dia em que eles decidiram que eu estava pronto para saber a verdade, eu
precisava ir até Hailee.
Merda.
— Vai ficar tudo bem — meu pai acrescentou quando eu não me mexi.
— Tudo vai ficar bem, filho.
Mas não acreditei mais nele.
***
Ash: O Jase está aqui, mas está pronto para matar alguém. Posso precisar
de reforços.
Uma ideia maluca surgiu na minha cabeça, mas algo me disse que ela faria
isso. Felicity faria qualquer coisa por sua melhor amiga.
***
Brownies na mão, coração na garganta, bati o dedo contra a porta apenas para
encontrar o silêncio.
— Hailee, sou eu. Cameron. — Muito bem, idiota .
Silêncio.
— Hailee? — Espiei pela porta entreaberta. — Eu posso ent...
— Não — ela retrucou, mal encontrando meus olhos.
— Que pena, Raio de Sol, você está presa a mim. — Entrei, fechando a
porta atrás de mim, ciente de que a ação parecia sugar todo o ar do quarto.
Hailee estava sentada no meio da cama de Felicity, com as costas
pressionadas contra a cabeceira da cama, os joelhos dobrados e abraçando
uma almofada rosa fofa. Lágrimas silenciosas desciam por suas bochechas.
Ela parecia tão frágil e triste, um contraste total com a garota com quem eu
estava acostumado. E a visão dela me destruiu, apertou meu coração com
tanta força que pensei que fosse desmaiar.
— Sinto muito mesmo. — Me aproximei, olhando rapidamente entre o
final da cama e a cadeira da escrivaninha. Optando pela escolha mais segura,
coloquei a caixa de brownies na mesa e peguei a cadeira.
— Você... você viu o vídeo? — Ela empalideceu e uma nova onda de
lágrimas inundou seus olhos. — Será que... o Jason viu?
Pressionei os lábios me perguntando o que eu deveria fazer.
— Ah, Deus — ela gemeu.
— Ei, vai ficar tudo bem. Vamos nos certificar diss...
— A escola inteira provavelmente já viu. Você não pode fazer as pessoas
passarem despercebidas, Cameron.
Não, eu não poderia. Mas eu poderia ameaçar qualquer filho da puta que
tentasse trazer isso à tona ou mencionar essa merda nos corredores da escola.
— Continuo tentando me lembrar do que aconteceu — Hailee disse com
a voz baixa. — Continuo tentando ver os rostos e ouvir as risadas deles... mas
não há nada. Isso é o que eu mais odeio. Que eles tenham feito isso comigo e
eu nem soube. Quero dizer, e se eles... — Ela quase vomitou e o som foi tão
cheio de dor que rasgou meu peito. — E se eles tentaram fazer... mais ?
— Mais?
Seus olhos encontraram os meus, se arregalando com a ideia.
— Não — falei, sem querer acreditar. — O Thatcher é um babaca, mas
ele não... Por que, você acha que alguém te machucou? — As palavras
ficaram presas na minha garganta.
Presumi que o vídeo era o fim de tudo, mas e se não fosse? E se alguém
realmente a tivesse machucado fisicamente?
A bile subiu pela minha garganta enquanto eu respirei pelo nariz,
tentando não perder a calma.
— Não, eu... acho que não. Eu não senti nada... sabe? — Ela deu de
ombros, como se não fosse grande coisa.
Mas era uma grande merda.
— Puta merda — grunhi, segurando a parte de trás do meu pescoço. — E
eu... nós... — Eu a toquei ontem de manhã. Eu. Depois que alguém poderia
ter... — Fiquei de pé, andando de um lado para o outro.
— Cameron — Hailee me chamou, mas eu não conseguia pensar direito.
Não conseguia tirar da minha cabeça a imagem dela deitada, fora de si,
enquanto alguém tirava o vestido do seu corpo, rindo, sussurrando
provocações sobre o quanto ela queria, como ela era fácil.
A bile subiu pela minha garganta. Ninguém foi reconhecido no vídeo, o
ângulo da câmera só focou Hailee. Seu corpo.
Ela segurou meu braço e eu paralisei, enquanto meu coração batia forte
no meu peito.
— Está tudo bem. Estou bem. Eu saberia se alguma coisa tivesse
acontecido e não aconteceu.
Mas poderia. Se Flick não a tivesse encontrado, poderia ter acontecido.
Devagar, me virei para ela. Os olhos de Hailee estavam vermelhos e
inchados, e seu sorriso não os alcançou.
— Nada disso está bem — falei, em voz baixa. — Quando penso sobre
eles fazendo isso com você... possivelmente te machucando, eu... —
Engolindo em seco, envolvi um braço em sua cintura nos mantendo juntos, e
apoiei a cabeça na sua, respirando seu cheiro.
— Foi só uma brincadeira cruel, Cameron. — As duas mãos de Hailee
agarraram meus braços agora, mas eu não conseguia descobrir se ela estava
me segurando mais perto ou tentando me manter a uma distância segura. —
O Jason vai...
— Ssh. — Pressionei meu polegar em seus lábios. — O Jase é a última
pessoa sobre a qual quero falar agora. — Essa merda com Thatcher, entre ele
e Hailee, tinha que acabar.
Deveria ter acabado muito antes de agora.
Seus olhos brilharam de surpresa quando ela respirou fundo.
— Por que você está aqui, Cameron? Por que você veio?
Foi a pergunta que me fiz mais de uma vez no caminho até aqui. Mas no
segundo em que abri aquele link, não consegui pensar em nada além de
chegar até ela.
— Porque eu me importo com você, Hailee — confessei. — Eu me
importo pra caramba com você.
Sua expressão vacilou, e ela enterrou o rosto no meu peito, soluçando na
minha camiseta. Passei as mãos em seus cabelos, trazendo seu rosto de volta
para o meu.
— Vou resolver isso, eu prometo.
Não sabia como ainda, mas eu resolveria. As coisas foram longe demais.
Hailee não merecia isso. Ela nunca mereceu nada disso.
E eu fui covarde demais para impedir qualquer coisa.
As lágrimas se acumularam nos cantos de seus olhos, e eu passei a mão
pelo seu rosto, enxugando as gotas de umidade com a ponta do meu polegar.
— Não chore, Raio de Sol — pedi. Eu não suportaria isso.
A boca de Hailee se curvou.
— Eu realmente odeio quando você me chama assim.
— E eu realmente adoro a maneira como você fica vermelha quando eu
chamo.
— O que estamos fazendo, Cameron? — Ela me encarou, em busca de
respostas. Respostas que eu queria dar a ela, mas não tinha certeza de que ela
estava pronta para ouvir.
— O que deveríamos ter feito há muito tempo — coloquei para fora e a
puxei para mim.
E então eu a beijei.
Trinta E Um
Hailee
— Cameron, espere. — Coloquei as mãos em seu peito, empurrando-o
suavemente. Ele recuou. Vi seus olhos fervendo de luxúria e algo que eu não
queria reconhecer. — Nós não podemos...
— Podemos, sim — ele disse sem hesitar. — Me diga que você não quer
isso, Hailee. Olhe nos meus olhos e diga que você não me quer.
Eu quero você.
Quero tanto que me apavora.
Mas as palavras ficaram presas na minha garganta e tudo que pude fazer
foi olhar para ele.
— Cansei de fingir, Hailee — Cameron suspirou, se aproximando. —
Quero você. Eu te quis desde o dia em que coloquei os olhos em você.
— Éramos crianças. — Revirei os olhos. Ele não podia estar falando
sério.
Podia?
Cameron passou as mãos pelos meus braços e a apoiou em meus ombros.
— Eu te quero, Hailee Raine. Você. — Seus olhos queimaram nos meus,
acendendo um fogo no meu estômago.
— Mas nós... nos odiamos. — Era uma discussão inútil. Algo que eu
sabia que não se aplicava mais no que dizia respeito a mim e Cameron. A
curva do seu sorriso me disse isso.
— Não, Raio de Sol, não é ódio, é...
Colei meus lábios nos dele. Eu não queria ouvir o que ele achava que era
essa coisa entre nós, ainda não. Só queria sentir. Esquecer. Queria que ele me
ajudasse a escapar da merda em que minha vida havia se tornado, apenas por
um tempo.
Cameron gemeu de aprovação quando empurrei minha língua em sua
boca, pressionando meu corpo contra o seu. Mas não foi o suficiente. Eu
precisava de mais.
Eu precisava de tudo dele.
Envolvi seu pescoço com meus braços e o puxei até que caímos na cama
de Felicity, aterrissando com uma lufada de ar e um emaranhado de
membros.
— Merda... a Flick — murmurei. — Nós não deveríamos...
— Ela não está aqui. — Cameron olhou para mim, enquanto seu peso me
esmagava da maneira mais perfeita. — Eu a mandei para ficar de olho em
Jase.
— Você mandou? — Arqueei a sobrancelha, sem saber como me sentia
sobre isso.
— Se você quiser parar... — Ele começou a se afastar, mas meus dedos
cravaram em seus ombros.
— Não quero parar — sussurrei, sentindo meu coração bater de forma
violenta em meu peito.
— Ainda bem. — Ele pareceu aliviado e se aproximou para beijar meu
queixo, se movendo mais para baixo para sugar meu pescoço. Um leve
gemido subiu pela minha garganta, escapando como um suspiro de
necessidade. Ele moveu os quadris para mim. — Levante-se.
Me sentei de frente, deixando-o puxar minha camiseta e tremendo
enquanto seus dedos roçavam minha pele nua. Cameron tirou a própria
camiseta e absorvi cada centímetro dos músculos bronzeados. Nossos olhos
se conectaram, enquanto ele se deitava de volta sobre mim, me pressionando
no colchão.
— Quero te tocar, Hailee. — Seu olhar exibia uma pergunta silenciosa, e
eu assenti com a boca seca e a cabeça nublada de desejo.
Me senti vibrar de expectativa quando ele se inclinou para frente,
pressionando um beijo na curva do meu peito. Suas mãos deslizaram pelas
minhas costas. Ele se atrapalhou com o fecho do sutiã, mas quando o abriu, a
peça caiu do meu corpo e o ar frio atingiu minha pele sensível. Seus olhos
escureceram com luxúria e seu pomo de Adão pressionou contra sua garganta
enquanto ele traçava os dedos sobre a minha pele.
— Perfeitos — ele sussurrou, antes de capturar um dos mamilos rosados
em sua boca.
Arqueei o corpo em sua direção, abafando um gemido.
— Gosta disso, Raio de Sol? — Cameron olhou para mim através dos
cílios escuros. Apertando os lábios, lutei contra um sorriso, mas ele viu
através de mim e se aproximou mais uma vez para dar ao meu outro seio a
mesma atenção. A sensação da sua boca quente, o roçar da mandíbula mal
barbeada contra minha pele, fez meu coração bater de forma descontrolada e
meu estômago se apertar tanto que ofeguei seu nome.
Cameron sugou e mordiscou o caminho dos meus seios até a clavícula,
seguindo para a inclinação do meu pescoço.
— O que você quer, Hailee? — ele sussurrou contra meu ouvido, me
fazendo arrepiar.
— Você — finalmente admiti. — Eu quero você, Cameron.
Seu corpo inteiro pareceu relaxar enquanto ele sorria para mim. Não foi
arrogante ou presunçoso desta vez, foi genuíno. Caloroso. E suavizou algo
dentro de mim.
— O quê? — ele perguntou, ainda apoiado em cima de mim.
— Isto é real? — Mordi o lábio, sentindo a energia nervosa passar por
mim.
— É. — Cameron me beijou, profundamente e sem pressa, girando a
língua contra a minha enquanto movia os quadris. Não havia como negar que
ele me queria, eu só esperava que ele quisesse mais do que apenas este
momento.
Mas eu estava longe demais para me preocupar com as consequências
agora. Precisava dele. Eu necessitava dele de uma forma que me confundiu,
me excitou e fez minha cabeça girar com possibilidades. Ele continuou me
beijando, me garantindo em silêncio que isso era real. Que eu não abriria os
olhos e descobriria que era tudo um sonho.
Passei as mãos pelo seu peito, encontrando o caminho até o cós da calça
jeans e abri o botão, movendo as mãos para dentro, e o segurei.
— Puta merda, Hailee — ele ofegou quando comecei a acariciá-lo. Estava
muito duro e pesado em minha mão enquanto seu corpo respondia ao meu
toque. — Isso parece... — Cameron engoliu em seco, me beijando de novo.
Mas então sua mão segurou a minha, prendendo-a ao lado da minha
cabeça.
— Sua vez. — Ele sorriu, dando um beijo rápido em meus lábios antes de
deixar meu corpo. Empurrando o jeans e a boxer, ele os tirou antes de tirar
minha legging e calcinha. — Eu poderia me acostumar com isso. — Seu
olhar faminto percorreu meu corpo enquanto ele segurava sua ereção. Mas eu
só tinha olhos para ele. Seu corpo esculpido e ombros largos, a cintura
estreita que destacava o delicioso V com que a maioria das garotas apenas
sonhava.
Ele voltou para a cama, se ajoelhando entre minhas pernas. Passou as
mãos pelas minhas panturrilhas, despertando minúsculos raios de eletricidade
em mim. Ao se abaixar sobre mim, ele segurou sua ereção e a empurrou
contra o meu clitóris.
— Cam — ofeguei —, p-preservativo.
— Espere — ele disse, com a voz rouca. — Apenas me deixe... — Ele se
esfregou contra mim novamente, deslizando pela minha umidade,
provocando ondas deliciosas de prazer em mim. — Você é tão gostosa,
Hailee.
— Mais — eu ofeguei, apertando os lençóis. — Preciso... — Inclinei a
cabeça para trás, e fiquei vagamente ciente do rasgo do invólucro e das mãos
de Cameron entre nós. Até que ele estava me penetrando e roubando o ar dos
meus pulmões.
— Putaaa merdaaa — ele murmurou, apoiando o rosto na curva do meu
ombro. Lábios quentes me beijaram, sugaram e provaram enquanto eu me
agarrava em seus ombros. Ele enganchou os braços em volta das minhas
pernas, me puxando para mais perto quando ele começou a estocar em mim.
Devagar no início, atingindo um ponto que fez meu ventre se apertar e minha
respiração ficar presa na garganta.
— Ah, caramba — gemi quando Cameron acelerou o ritmo, estocando
em mim com movimentos profundos. Eu o encontrei em cada impulso,
movendo os quadris para encontrar os seus, até que só o som da minha pele
contra sua e nossos gemidos ecoaram pelo quarto.
— Puta merda, Hailee, não posso... — ele murmurou contra minha boca.
Nossos beijos ficaram cada vez mais confusos: dentes, língua e desespero
quente enquanto nós dois seguíamos para o clímax.
Começou como uma onda suave e, em seguida, caiu sobre mim como um
poderoso tsunami me derrubando, me deixando mole e sem fôlego enquanto
me apertava ao seu redor.
— Merda — Cameron gemeu, enterrando o rosto no meu pescoço e
sugando a pele de uma forma que eu sabia que deixaria um hematoma
enquanto empurrava dentro de mim.
— Isso foi... — Sua voz foi abafada enquanto nós dois nos movíamos,
desfrutando do prazer.
Mas nenhuma palavra parecia fazer justiça ao que eu sentia. Estar com
Cameron era incrível. Parecia certo. Como uma limpeza do passado. Mas,
acima de tudo, mudou tudo.
E eu não tinha certeza se poderia voltar ao que era.
***
***
***
— Tudo bem, tenho que perguntar, o que é que está acontecendo com você e
o Jase? — Ash bateu a mão contra o armário ao lado do meu, bloqueando
minha saída.
— Não estou com humor para isso — falei, cortando-o com um olhar
duro.
— Puta merda, porque tentei perguntar a ele, que quase arrancou minha
cabeça com uma mordida. Então agora estou perguntando a você. E não me
venha com essa besteira de “está tudo bem”. Eu estava no treino. Vi você se
atrapalhar com a bola. Não vamos esquecer o fato de que vocês dois
pareciam prontos para se derrubarem.
— Eu disse que não quero falar sobre isso. — Avistei Hailee com o canto
do olho e me inclinei de encontro ao armário, seguindo-a com os olhos. Ela
não me olhou. Nem precisava. Senti suas vibrações de “fique longe de mim”
de onde eu estava.
— O que está acontecendo aí? — A voz de Ash cortou meu transe. —
Porque estou sentindo alguma coisa séria e sombria vindo dela.
— Sei lá. — Dei de ombros, me esquivando dele e seguindo Hailee pelo
corredor.
— Então, vocês dois estão...
— Nada. — Estremeci, sentindo meu peito apertar. Não estávamos
fazendo nada. Mas tínhamos feito.
Só que eu não tinha certeza de que continuaríamos fazendo.
— Caramba, tirar respostas suas é como tirar o Mackey dos peitos da
Khloe.
— Então pare de perguntar.
— Vamos lá, cara, sou eu. Sei que algo aconteceu entre você e Jase e
aposto minha herança que tem algo a ver com ela. — Ele apontou o dedo
para Hailee.
— Não é minha história para contar. — Acelerei o passo.
— O que isso significa? — ele gritou atrás de mim, mas eu estava muito
focado na garota à minha frente. Ela se desviou para a esquerda, longe do
fluxo de alunos que se dirigiam para o refeitório e seguiu para o
departamento de artes.
— Hailee — gritei quando ela estava prestes a desaparecer pelas portas.
— Vá embora, Cameron. — Ela nem mesmo olhou para mim. Ela poderia
muito bem ter arrancado meu coração e pisado em cima dele.
— Só quero conversar, por favor. — Preciso falar .
— Estou ocupada. Tenho que trabalhar no projeto.
Dane-se a porcaria do projeto , eu queria dizer. Preciso de você.
— Por favor. — Minha voz falhou, me traindo, mas chamou sua atenção.
Lentamente Hailee se virou para mim, com as sobrancelhas franzidas.
— O quê, Cameron?
— Eu... — As palavras ficaram presas na minha garganta. — Sinto muito.
— Era isso o que você queria me dizer? — ela zombou. — Não tenho
tempo para isso. Tive uma manhã realmente horrível.
— O que há de errado...
— Sério, Cameron? Ou você esqueceu do vídeo que o Thatcher espalhou
em todas as redes sociais? — A dor queimou em seus olhos.
Puta merda.
— Eu não... quero dizer, é claro que não... — Mas eu tinha me esquecido.
Estava tão preocupado que tinha me esquecido tudo sobre isso. Tivemos
condicionamento, depois treino e minha cabeça estava girando depois do fim
de semana. Muito bem, idiota . Mas agora que ela mencionou, notei os
olhares, o ruído surdo de sussurros de um grupo de alunos passando.
— O que é que vocês estão olhando? — rebati, sentindo meus músculos
travarem.
— Cameron, não. — O aviso de Hailee mal penetrou na névoa vermelha
que descia sobre mim.
— Fico surpreso por ele querer a vagabunda do Thatcher...
Eu estava no cara em um segundo. O ar saiu de seus pulmões quando suas
costas bateram na parede e o som reverberou ao nosso redor.
— O que foi que você disse? — Meus dedos se apertaram em torno de
sua garganta e o sangue drenou de seu rosto.
— Eu... eu... — O garoto balbuciou.
— Cameron, isso não está ajudando. — Hailee se moveu para a minha
visão periférica.
— Acha que pode falar sobre ela assim?
— Pare. — O puro desespero na voz de Hailee me fez afrouxar o aperto e
o cara deslizou pela parede, tossindo e cuspindo.
— Dê o fora daqui — falei de forma brusca, mantendo os olhos fixos em
Hailee e não nele.
Ele saiu correndo e eu exalei um longo suspiro.
— Tem sido assim a manhã toda?
Hailee olhou para mim como se não me reconhecesse e meu peito se
apertou.
— O que é que foi isso? — Ela fervia de raiva. — Não preciso de você
para me proteger, Cameron. Eu estava bem sem...
— Hailee, por favor. — Cobri a distância entre nós, apertando-a contra a
parede e a prendi com minhas mãos aos lados de sua cabeça. — Me desculpe,
tá? Eu só... — Puta merda. Eu estava estragando tudo. Mas não conseguia
pensar direito.
— Preciso ir. — Hailee soltou um suspiro exasperado e seus ombros
estavam caídos em derrota. Eu queria dizer algo para consertar, para resolver
as coisas entre nós, mas ela não era mais a única arrasada. E quando tentei
falar, nada além de um suspiro pesado escapou dos meus lábios.
— Te vejo por aí, Cameron. — Ela me deu um sorriso fraco e passou
entre mim e a parede, desaparecendo pelas portas de vaivém. E tudo que eu
podia fazer era assistir.
***
***
***
Indo para o quarto período, o jogo estava empatado. Foi difícil assistir. Algo
estava errado no campo dos Raiders e todos sentiram isso. Meu meio-irmão
estava chateado, gritando com seus companheiros de equipe toda vez que eles
se atrapalhavam com a bola ou não jogavam, e o treinador Hasson parecia
pronto para explodir em mais de uma ocasião.
— Isso deveria ter sido um passeio no parque para eles — Flick
resmungou ao meu lado. Ela realmente encontrou seu lugar como a mais
recente fã do time. O boné azul e branco estava em sua cabeça com orgulho.
— Vamos lá — ela gritou quando nossa defesa derrubou um dos ataques do
St. Odell Saints e a multidão respondeu com um rugido feroz.
Os jogadores se moveram e fiquei observando o número quatorze
enquanto ele corria para o campo, seguindo para a sua posição. Jason gritou o
passe e pareceu haver uma inspiração coletiva enquanto jogava a bola para
Cameron, que disparou pelo campo esquerdo, logo abaixo de sua trajetória. A
multidão estava extasiada e havia um estalo de antecipação no ar, quando ele
enganchou a mão pronto para receber a bola. Foi um bom passe, uma pegada
ainda melhor, e a multidão foi à loucura, provocando um barulho
ensurdecedor.
— Vá, vá — Flick gritou, cravando as unhas em meu braço com tanta
força que tive certeza de que poderiam tirar sangue.
Mas não torci, não consegui. Meus olhos estavam muito focados em
Cameron, na maneira como ele cortava o ar e suas pernas fortes
ultrapassavam os marcadores de jardas. Trinta... vinte... dez.
— Ah, Deus — minha melhor amiga suspirou enquanto o mundo ficava
mais lento. Um atacante do Saints apareceu do nada, em rota de colisão com
Cameron.
— Flick — minha voz falhou enquanto eu observava, junto com o resto
da multidão enquanto o enorme jogador de defesa se chocava contra
Cameron, jogando-o no ar. Seu corpo voou para trás e ele caiu com força. O
lugar inteiro estremeceu, o forte assobio de quatro mil respirações fez meus
pelos se arrepiarem e a energia nervosa agitou meu estômago.
Não era meu primeiro jogo. Vi outros jogadores serem atingidos. Assisti
enquanto corpos estavam caídos pelo campo como bonecas de pano, mas
nunca senti o impacto antes.
— Flick. — Minha voz não soava mais como a minha enquanto eu
agarrava minha amiga, observando os jogadores ficarem ao redor do corpo
sem vida de Cameron.
— Ele está bem — Flick disse com a voz embargada. — Ele vai ficar
bem. Os jogadores levam golpes assim o tempo todo.
Mas ele não parecia estar bem.
Ele não se levantou e se sacudiu como os jogadores costumavam fazer.
Ele apenas ficou lá, imóvel.
Ainda mortal.
O medo tomou conta de mim, levando meu coração a colapso enquanto
batia violentamente contra meu peito. Os juízes do jogo estavam em campo,
atendendo a Cameron, que ainda não havia se movido. Por que ele não está se
movendo? Jason arrancou o capacete e começou a andar ao lado do melhor
amigo, passando a mão pelo cabelo úmido para a frente e para trás,
repetidamente enquanto Asher observava com o resto de seus companheiros.
— Levante-se — murmurei.
Por que ele não está se levantando?
Depois do que pareceu uma eternidade, Cameron se sentou devagar e
todo o estádio respirou fundo com ele. — Graças a Deus — ofeguei, mal
conseguindo pronunciar as palavras sobre o nó na garganta.
Dois homens o ajudaram a se levantar e Jason e Asher seguiram a seu
lado enquanto o conduziam para a área do time na linha lateral. Uma lenta
salva de palmas cresceu ao redor das arquibancadas até que todos estivessem
de pé batendo palmas para seu amado número quatorze.
O jogo recomeçou rapidamente, como se meu mundo não tivesse quase
acabado, e os Saints assumiram a posição ofensiva. Mas eu estava muito
ocupada olhando para Cameron. Ele havia tirado o capacete agora e estava
com a cabeça baixa enquanto um dos treinadores assistentes e a equipe
médica o examinavam.
— Tem algo de errado — eu disse, estendendo a mão para Flick quando
ele saltou, jogando o capacete no chão e começou a se afastar. Jason foi atrás
dele. Os dois travaram uma batalha de vontades enquanto Cameron olhava
para ele e murmurava algo que eu não consegui decifrar – a distância tornava
muito difícil ler seus lábios.
— Ele está...? — Flick engoliu suas palavras enquanto nós dois víamos
Cameron sair do campo sem olhar para trás.
— Ele foi embora — falei, afirmando o óbvio, sentindo meu estômago
afundar no esquecimento. — Ele acabou de sair.
— Talvez você devesse ir atrás dele — Flick sugeriu.
— O quê? — Pisquei para ela. Eu não conseguia pensar direito. Algo não
parecia certo. Ele havia se machucado, sim, mas parecia bem ao sair do
campo, então o que aconteceu naqueles poucos minutos entre ele se sentar e
sair como um furacão?
E então aquilo me atingiu.
Sua mãe.
Ah, Deus, e se algo tivesse acontecido com sua mãe?
Ele esteve desatento a noite toda – seus passes foram desajeitados e as
jogadas, mal interpretadas. Mesmo uma espectadora novata como eu podia
ver que a cabeça de Cameron não estava aqui.
— Faltam só alguns minutos para terminar. — Flick me cutucou. — Se
você sair agora, vai evitar a confusão. Ele provavelmente está no vestiário.
— Flick, não posso simplesmente... — Ela me lançou um olhar
penetrante e eu balancei a cabeça, mal conseguindo acreditar nas próximas
palavras que saíram da minha boca. — Você vai ficar bem? — perguntei.
Um sorriso irônico apareceu em seus lábios.
— Por favor, eu nasci para isso. — Ela puxou a aba de seu boné. — Além
do mais, quero vê-los atacando os Saints.
— Tá. — Respirei fundo. Eu realmente estava prestes a entrar no
vestiário dos Raiders?
Sim, sim, eu estava.
Porque se Cameron estava sofrendo, eu queria estar ao lado dele. Queria
confortá-lo do jeito que ele me confortou.
Com um pequeno aceno de cabeça, pedi desculpas às pessoas em nossa
fileira enquanto seguia até o fim. Quando cheguei ao final das arquibancadas,
estava sem fôlego e um pouco desorientada, mas rapidamente me encontrei e
fui para dentro do estádio, contornando o outro lado até onde ficavam os
vestiários. A multidão explodiu no alto e as vibrações ecoaram por todo o
lugar, fazendo meu pulso disparar. Pela ferocidade do rugido, eu sabia que os
Raiders haviam marcado, mesmo antes de o sistema de som fazer o anúncio.
Quando finalmente alcancei as portas azuis, fiz uma pausa. Eu não
poderia simplesmente aparecer lá. E se Cameron estivesse tomando banho?
Ou recebendo atendimento médico?
E se ele não quisesse me ver?
De repente, me sentindo completamente fora de mim, me encostei na
parede bem em frente às portas. O jogo terminaria em alguns minutos, o que
significava que não demoraria muito para que o resto da equipe chegasse lá.
— Com licença senhorita. — Um segurança se aproximou de mim. —
Você não pode ficar aqui embaixo.
— Eu... humm, sou Hailee Raine. — O reconhecimento brilhou em seus
olhos, mas ele me deixou terminar. — Meia irmã do Jason Ford. Preciso vê-
lo. — Foi a primeira coisa que me veio à cabeça.
— Bem, claro. — Ele sorriu calorosamente com a menção de Jason. —
Seu irmão fez um grande jogo esta noite. Vai, Raiders. — Seus olhos
brilharam quando ele socou o ar. Percebendo seu deslize momentâneo, ele
limpou a garganta e colocou de volta sua máscara profissional. — Você não
pode ir até lá, mas ficaria feliz em avisá-lo de que você está esperando aqui.
Merda, não era isso que eu queria.
— Obrigada.
Ele assentiu de forma educada antes de entrar pelas portas proibidas. Me
acomodei no chão frio, puxando meus joelhos para cima. Eu deveria ter
entrado antes que o time voltasse. Mas já era tarde demais. Eu teria que
esperar.
E eu só esperava que, quando ele aparecesse, Cameron falasse comigo.
***
Sentada no chão duro, descobri algo novo sobre jogadores de futebol – eles
gostavam de tomar banho depois do jogo. Trinta e cinco minutos depois que
o estádio ficou vazio, os jogadores finalmente começaram a sair, mal
prestando atenção em mim, muito focados na festa para a qual estavam indo,
sem dúvida. Mas quando Asher e Jason apareceram, pulei e dei um passo à
frente.
— Hails, que surpresa. — Ash me deu um sorriso fácil, mas não perdi a
tensão em seus olhos.
— Eu, humm... — Isso não era nada estranho. — Eu vim ver se o...
— Ele foi embora. — A voz de Jase soou fria e seus olhos estavam duros
enquanto me observavam. Mas, surpreendentemente, pela primeira vez, não
senti que seu desprezo fosse dirigido a mim.
— Foi? — ofeguei.
Mas eu estava esperando aqui há mais de quarenta minutos. A menos
que... merda. Cameron deve ter voltado aqui, pegado suas coisas e deixado o
estádio imediatamente. Nesse caso, eu acabei perdendo-o.
Meu estômago afundou.
— Vou deixar vocês conversarem. — Asher me deu um aceno de cabeça
antes de jogar sua bolsa por cima do ombro e se dirigir a Jason. — Me ligue
mais tarde se quiser conversar. — Ele seguiu pelo longo corredor e Jason
soltou um suspiro pesado, se movendo para encostar na parede ao lado da
porta bem em frente a mim.
— Nunca pensei que eu estaria aqui. — Ele quebrou o silêncio.
— Nem você, nem eu. — Dei de ombros enquanto remexi meus pés
contra o chão.
— Nunca o vi assim, não em todos os anos que o conheço. É como se ele
nem estivesse em campo...
— Acho que algo está errado.
— Errado?
— Sim. — Engoli em seco, me perguntando o quanto eu deveria dizer a
ele. — Com a mãe dele.
— Ela tem depressão ou algo assim. Acho que ter o Xander estragou
tudo.
— Jason — eu repreendi, desejando saber o que tinha acontecido com ele
para que se tornasse tão ruim. — É mais do que isso. Talvez se você não
fosse assim... — Deixei as palavras morrerem na minha língua. Eu não estava
aqui para discutir com ele. Só queria apoiar Cameron.
— Vá em frente, diga. Você acha que investi muito no futebol para ver o
que realmente está acontecendo aqui.
— Não foi? — perguntei.
— Eu... merda. — A expressão de Jason endureceu, mas depois suavizou
quando ele soltou um suspiro exasperado. — Há realmente algo acontecendo
com a mãe dele?
Concordei.
— Acho que sim. Ele me contou algumas coisas.
— Que coisas? — Isso chamou sua atenção.
Eu pressionei meus lábios em desafio. Não cabia a mim revelar os
segredos de Cameron.
— Ele nunca disse nada para mim —Jason acrescentou quando não dei
uma explicação.
— Tem certeza? Talvez ele estivesse tentando te dizer o tempo todo e
você não estava ouvindo. — Minha voz se elevou e a tensão entre nós
aumentou com ela.
Ele passou a mão pelo cabelo castanho rebelde e seus olhos escureceram.
— Você deveria ir atrás dele.
— O quê?
— Não pense que isso significa que estou bem com vocês dois. Não
estou. Mas se o que você diz é verdade, o Chase precisa de alguém, e
provavelmente sou a última pessoa que ele quer ver.
— Jason — suspirei. — Você é o melhor amigo dele.
— Um grande merda nisso — ele resmungou.
Fiquei atordoada e sem palavras. Jamais ouvi Jason confessar suas
deficiências. Ele sempre foi tão arrogante e frio. Infalível. No entanto, ele
parecia completamente perdido esta noite. O fogo em seus olhos se extinguiu
em nada mais do que uma chama morrendo.
— Ele vai voltar a si — falei, sem dúvida. Porque o vínculo entre os três
excedia o certo e o errado, o bom e o mau. Eles eram irmãos. Ligados por
fios invisíveis que eu nunca entenderia de verdade.
— Só diga a ele que sinto muito — ele disse e algo se passou entre nós.
Um entendimento mútuo que nunca pensei que teríamos. — Pode fazer isso
por mim?
Muito sufocada para responder, assenti.
— E Hailee? — Ele não tinha acabado. — O que o Thatcher fez... ele foi
longe demais e, por isso, sinto muito.
Fiquei boquiaberta, sem saber se estava ouvindo corretamente. Isso
ficaria para sempre como um dos momentos mais surreais da minha vida.
Mas eu aceitaria.
Se finalmente significasse não estar do lado oposto da linha de Jason, eu
aceitaria.
***
***
***
***
***
***
Depois de me vencer no boliche duas vezes, levei Hailee de volta para minha
casa. A tensão entre nós estava quase no limite. A noite toda, ela me
provocou com beijinhos e toques sutis. Fiquei surpreso com o quanto ela era
tátil comigo, dados os constantes olhares e sussurros direcionados em nossa
direção. Mas nós dois estávamos muito envolvidos para nos importar.
Quando parei na garagem e desliguei o motor, Hailee se virou para mim.
— Obrigada, por esta noite. Foi perfeita.
— Não. — Me inclinei, capturando uma mecha de cabelo entre meus
dedos. — Você é perfeita.
Hailee olhou para baixo e corou. Mas segurei seu queixo com gentileza,
forçando-a a olhar para mim. — Aconteça o que acontecer na próxima
semana, não mudará o que sinto por você. Quero que saiba disso.
— Cameron, eu...
— Espere, apenas me ouça, tá? — Eu precisava tirar isso do meu peito.
— Posso ficar com raiva e confuso e provavelmente vou estragar tudo, mas
saiba que eu te amo e estou muito aliviado por ter você ao meu lado.
Hailee subiu no console e no meu colo, deslizando as pernas sobre as
minhas e envolvendo os braços no meu pescoço.
— Não vou a lugar nenhum. Você já deve saber, não desabo com
facilidade. — Ela se inclinou para me beijar, me provocando com a língua.
— Nunca quis te magoar — confessei. — Só queria que você me visse.
Encostando a cabeça na minha, os olhos de Hailee brilharam com
possessividade feroz.
— Eu vejo você, Cameron. EU. Vejo. Você.
Trinta E Nove
Hailee
— Talvez não tenha sido uma ideia tão boa — eu disse enquanto estávamos
sentados na caminhonete de Cameron no estacionamento da escola. Ele
insistiu em me dar uma carona.
Virando seu corpo para mim, ele soltou um longo suspiro. Os alunos já
haviam começado a nos notar, e eu sabia que não demoraria muito para que
toda a escola soubesse, se é que já não sabiam depois do nosso encontro no
The Alley na noite passada.
— Hailee, olhe para mim. — Meus olhos encontraram os seus. — Eu te
amo. Nada que alguém faça ou diga vai mudar isso.
Senti um frio em meu estômago. Achei que nunca iria me acostumar a
ouvi-lo dizer essas palavras. Mesmo que eu não tivesse retribuído ainda.
Uma batida forte nos assustou, e Asher pressionou o rosto na janela do
carro de Cameron.
— Vocês vão ficar sentados aí a manhã toda?
Cameron gemeu.
— Sinto muito — ele murmurou para mim e eu ri baixinho.
— Eu e a Fee estamos esperando.
Isso me fez esticar a cabeça para encontrar Flick de pé ao lado de Asher,
parecendo culpada. Abri a porta, saí da caminhonete e dei a volta para
encontrar minha melhor amiga.
— Oi — ela disse me dando sorrisinho. — Isso é... o que é isso
exatamente?
Fui responder, mas Cameron saiu e passou os braços ao meu redor, me
puxando de volta contra seu peito.
— Eu e a Hailee estamos juntos agora.
Flick sorriu enquanto Asher arregalou os olhos.
— Juntos, juntos? Ou como amigos de cama, porque eu pensei... — Seus
lábios se achataram com o que quer que Cameron estivesse falando para ele.
Olhei para Cameron, que se aproximou e capturou meus lábios em um
beijo suave.
— Peço desculpas por qualquer coisa que possa sair da boca do Asher.
— Eu ouvi isso — Asher resmungou.
— Foi intencional.
— Não que eu não esteja feliz por vocês — ele continuou. — Estou, mas
o Jase sabe sobre isso?
Cameron apertou o braço ao meu redor quando disse:
— Não importa.
Asher olhou para seu melhor amigo.
— Há muita coisa que eu quero dizer, mas, ah... falando no diabo.
Nos viramos na direção que ele estava olhando para encontrar Jason
caminhando em direção à escola com alguns dos caras do time. Como se ele
nos sentisse, seus olhos nos encontraram através do gramado, se fixando em
mim e Cameron. Tudo desacelerou: o fluxo de alunos entrando no prédio, a
conversa incessante e as risadas, o oxigênio filtrando ao redor do meu corpo.
Eu sabia que as coisas seriam estranhas, mas não esperava que parecesse que
uma nova linha estava sendo traçada. Eu praticamente podia sentir a mudança
no ar, a parede invisível sendo erguida entre nós. Flick, Asher, Cameron e eu
de um lado e e Jason do outro.
Estremeci com o pensamento.
— Ei — a voz de Cameron me trouxe de volta —, vai ficar tudo bem. Ele
vai voltar. — Ele beijou minha bochecha.
Flick olhou para mim, nervosa, e eu ofereci a ela um sorriso fraco. Mas
foi Asher quem quebrou a tensão sufocante.
— Bem, baby — ele disse —, acho que somos você e eu, Fee. — Ele
passou o braço pelo ombro da minha melhor amiga, que me lançou um olhar
como se estivesse pedindo ajuda. Um sorriso apareceu na minha boca. Era
uma pena que ela o tivesse colocado na friend-zone por causa do seu cara
misterioso, porque, apesar da tendência mulherenga de Asher, eles formavam
um casal bem fofo. Mas eu já tinha o suficiente com que me preocupar sem
me envolver na vida amorosa dela.
— Você está pronto? — perguntei a Cameron em voz baixa, mas é claro
que Asher ouviu.
— Pronto? Pronto para quê?
A expressão de Cameron mudou quando ele disse:
— Tenho que falar com o treinador.
***
Sobrevivemos ao dia na escola. Depois que o boato quase explodiu com
notícias minhas e de Cameron, as coisas se acalmaram. Mas eu teria que me
acostumar com minha nova popularidade agora que estava com um Raider.
Com um Raider . Isso era algo que nunca pensei que diria.
— Do que você está rindo? — Cameron perguntou quando me encontrou
fora da classe.
— Ah, nada. — Eu sorri, deixando-o pegar a pilha de livros da minha
mão. — Mas ter um namorado tem sua utilidade.
Paramos no meu armário e troquei os livros que precisava para o dever de
casa com os que estavam nos braços de Cameron. Quando terminei, me vi
presa contra o armário e seus olhos azuis acinzentados tempestuosos fixos em
mim. O corredor estava vazio, mas alguns alunos nos observavam com leve
curiosidade e diversão.
— Temos plateia. — Passei as mãos por seu peito enquanto movia a
cabeça para o grupo de calouras que olhava abertamente em nossa direção.
— Acho que deveríamos dar a eles algo para que falem. — Cameron
cruzou a distância entre nós, colando a boca na minha e deslizando a língua
entre meus lábios. — Deus, eu te amo — ele murmurou, me puxando para
mais perto.
— Também te amo — falei um pouco mais alto do que pretendia,
ganhando uma rodada de assobios e gritos de alguns dos companheiros de
equipe de Cameron que passaram por nós. — Estou apaixonada por você.
Era verdade, eu estava completa e totalmente apaixonada por Cameron
Chase.
— É? — Ele se afastou. — Você não está dizendo isso só porque quer
meu corpo ou para dizer que pegou um Raider?
Estendi a mão e belisquei seu mamilo antes de acariciar seu abdômen.
— Bem, isso é um bônus...
Sua risada suave tomou conta de mim, me deixando quente e mole por
dentro.
— Puta merda, esperamos demais por isso, certo? Deveríamos estar
juntos o tempo todo.
— Eu... — Eu não sabia o que dizer. Mas não precisei, porque Cameron
me beijou novamente. Eu estava tão perdida no beijo, na exatidão de seus
lábios se movendo contra os meus, que quase não ouvi alguém pigarrear.
Mas Cameron ouviu e se afastou, soltando um longo suspiro.
— Então os rumores são verdadeiros — uma garota com longos cabelos
escuros disse. — Cameron Chase finalmente saiu do mercado.
— Miley, esta é a minha namorada, Hailee. Hailee, esta é a Miley.
Miley.
Eu conhecia essa garota. Era a mesma do baile, e eu tinha certeza de que
ela era a garota da noite da festa de Asher quando estraguei o carro de Jason.
— Oi. — Acenei.
— Oi. — Seu olhar frio passou por mim, mas não parecia desagradável
como algumas das meninas da nossa classe. — Um aviso teria sido bom. —
Ela estava olhando para Cameron e a dor persistente era visível em seus
olhos.
— Me dê um segundo — ele disse para mim antes de guiar Miley pelo
corredor fora do alcance da voz. Meu estômago deu um nó ao vê-los
conversando. Eles ficaram perto, um olhando para o outro. Ela era linda,
magra e tonificada, uma atleta com certeza. E por mais que eu não quisesse
sentir ciúme, isso me queimava como ácido.
Depois de um ou dois minutos, Miley assentiu, se virou e saiu pelo
corredor. Cameron se aproximou de mim lentamente e seus olhos me
absorveram. Tentando me dizer coisas que eu não conseguia decifrar.
— Então essa é a Miley — eu disse. — Ela é linda. Vocês dois eram um
casal?
— Hailee, não faça isso. — Ele soltou um suspiro pesado. — A Miley
não é importante para mim.
— Mas ela tinha algo com você?
Cameron me pressionou contra o armário novamente, segurando meu
queixo e virando meu rosto para o seu.
— Me ouça. É você que eu quero. É de você que preciso. A Miley era
alguém para preencher o vazio por um tempo. Mas isso é tudo. Eu e você,
isso é real. — Ele se aproximou. — Preciso de você, Hailee. Preciso tanto de
você que isso me apavora. — A vulnerabilidade brilhava em seus olhos como
estrelas no céu noturno.
Acariciando sua bochecha, inspirei e disse:
— Você me tem. — Cada pedacinho . — Agora me leve para casa e me
mostre o quanto você precisa de mim.
***
Cameron não voltou para a escola depois disso. Ele queria estar presente nas
consultas da mãe e ajudar com Xander. Fiquei surpresa quando ele me
convidou para ir ao jogo com ele na sexta à noite.
— Você está bem? — Apertei sua mão enquanto observávamos os
Raiders correndo para o campo. Estávamos na seção familiar, usando os dois
ingressos reservados para seus pais, e Asher teve a gentileza de deixar Flick
usar um dos dele, já que seus pais estavam fora da cidade.
— Estou bem. — Cameron assentiu antes de se inclinar para capturar
meus lábios em um beijo lento.
— Humm, pessoal, estou bem aqui.
— Desculpe. — Olhei ao redor e fiz beicinho para minha melhor amiga.
— Vocês são tão fofos que não consigo nem ficar com raiva. Argh — ela
gemeu, reajustando o boné dos Raiders. — Eu preciso de um homem.
— E quanto ao Ash...
Coloquei a mão sobre a boca de Cameron.
— Não coloque ideias na cabeça dela.
— Ele é legal e tudo — Flick respondeu, ignorando completamente a
mim e a Cameron. — Mas não é o meu tipo.
— Existe outro tipo além do atleta arrogante?
— Raio de Sol — Cameron avisou.
— O quê? — me fiz de boba. — É verdade. Vocês, atletas, são todos
arro...
Ele se aproximou e me silenciou com seus lábios e língua. Me derreti
contra ele e algumas pessoas atrás de nós riram.
— Cam — sussurrei. — Temos que... parar.
— Você não é engraçada. — Foi a vez dele de fazer beicinho.
— Como está a sua mãe, Cameron? — Nós dois nos viramos para Flick e
sua expressão ficou séria.
— Ela está indo tão bem quanto o esperado, obrigado. A boa notícia é
que seu médico está confiante de que ela vai se curar.
— Isso é ótimo.
Era ótimo. Karen havia sobrevivido à cirurgia e seu prognóstico era bom.
Ela ainda não estava fora de perigo e ainda tinha um longo caminho pela
frente se os médicos decidissem que ela precisaria de radioterapia, mas era
tão positivo quanto possível, dadas as circunstâncias.
Envolvendo meu braço na cintura de Cameron, me aconcheguei a seu
lado. Apesar da cirurgia da mãe ter ido bem, ele ainda queria ficar fora da
escalação para o jogo desta noite. O técnico e os companheiros imploraram
para que ele ficasse no banco, mas ele decidiu assistir da arquibancada. Acho
que, no fundo, ele ainda estava esperando uma ligação que dissesse que algo
tinha dado errado.
— Ela está bem — sussurrei, apertando-o com mais força. Cameron
olhou para mim e sorriu.
— Eu sei. — Ele me beijou de novo e Flick resmungou.
— Acho que gostava mais de vocês dois quando se odiavam.
***
***
***
Cameron
— Qual é o seu problema? — perguntei a Jase enquanto olhávamos para o
clube. Hailee e Flick estavam dançando na pista lotada. Ela queria que eu
fosse com elas, mas eu queria que ela aproveitasse um pouco com sua melhor
amiga e queria falar com o meu.
— Você está mal-humorado a noite toda. É ela?
— Ela? — Ele me olhou com frieza, tomando um longo gole de sua
cerveja. Achei que poderíamos ter problema para entrar no clube, mas
descobri que os primos de Asher conheciam todo mundo e entramos
imediatamente. Era muito legal, mesmo que eu preferisse estar de volta na
cobertura com Hailee. Sozinhos, nus e enterrado tão profundamente dentro
dela que eu não sabia onde ela começava e onde eu terminava.
— Você sabe de quem estou falando. — Meu olhar voltou para as
meninas enquanto elas riam e dançavam, alheias a todos os caras olhando
famintos para elas.
— Você está bem com isso? — Jase virou a mesa para mim. — Com ela
lá embaixo enquanto eles a olham? Se ela fosse minha...
— Você está bem com isso? — rebati, e ele sabia muito bem que não me
referia à sua meia-irmã.
— Onde é que você quer chegar?
— Você a observa, sabe? — Lutei contra um sorriso malicioso. —
Quando você acha que ninguém está olhando, você a observa.
Ele soltou uma risada estrangulada.
— Não sei do que você está falando. A única garota que tenho olhado
essa noite é para Vaughn.
— Sério, cara? Ela é prima do Asher.
— Isso não te impediu, não é? — Ele soltou um longo suspiro e se virou
para se encostar na grade da varanda, ficando de costas para a pista de dança
e as meninas.
— Não vou fazer isso com você.
— Fazer o quê? Não estou fazendo nada. — Seu olhar duro caiu sobre
Asher e os primos. Ele parecia faminto. Rancoroso. Ele parecia o Jase de
antes.
Bati a mão em seu estômago quando ele deu um passo à frente.
— Não faça isso. Você não precisa provar nada. Tudo o que você vai
fazer é machucá-la...
— Machucar quem?
Com um aceno de desaprovação, eu o deixei ir. Jase vivia para seus
jogos, mas um dia ele receberia o troco. E por mais que eu não quisesse que
Felicity se envolvesse com ele, talvez ela fosse a garota que finalmente o
colocaria em seu lugar.
— Qual é o problema dele? — Asher se juntou a mim, olhando para a
multidão lá embaixo.
— Quem, Jase? As coisas de sempre.
— Ele gosta dela, sabe? — ele disse como se não fosse nada. — Ele
nunca vai admitir, mas ele gosta. Ela o irrita.
Olhei para ele, mas ele estava muito ocupado olhando para a pista de
dança... para as garotas.
Felicity.
Ele estava observando Felicity.
— E você? — perguntei, sem saber se eu queria entrar nisso. — Ela te
irrita?
Ele deu de ombros, indo com calma. Mas vi a tensão em torno de sua
mandíbula. Ele gostava dela. Puta merda.
— Não importa — ele falou. — Ela não gosta de mim.
— E ela gosta do Jase?
— Não tenho certeza. Ela diz que não, mas eu a pego olhando para ele às
vezes com aquele olhar, e tenho certeza de que algo aconteceu entre eles na
minha casa.
— Olhar?
Asher soltou um suspiro trêmulo quando segurou o corrimão.
— O olhar que você costumava dar a Hailee. O mesmo olhar que diz que
você quer algo, mesmo sabendo que é uma péssima ideia.
— Funcionou para nós, não foi?
Ele riu, mas foi cheio de amargura.
— Você é a exceção à regra. Além do mais, você não é um cretino cruel
como Jase. Ele rasgaria Fee com os dentes e depois se banquetearia com os
ossos dela só porque pode. — Ele cerrou a mandíbula. — E, no entanto,
aposto que antes do final do semestre ela vai transar com ele.
— Talvez ela só precise saber que há outras opções disponíveis. — Dei a
ele um olhar duro.
— Talvez. — Algo brilhou em seu rosto, mas ele rapidamente escondeu.
— Vamos descer lá antes que algum metido a besta roube sua garota bem
debaixo do seu nariz?
Meus olhos se concentraram em Hailee novamente. Asher estava certo.
Dois caras estavam avançando.
— Vamos — eu disse, esvaziando minha cerveja e deixando-a na
bancada.
Descemos as escadas através do mar de corpos. Imediatamente, olhei para
o idiota que estava se aproximando de Hailee. Ele arregalou os olhos e os
semicerrou quando cheguei por trás, passando meu braço em volta da sua
cintura.
— Oi — ela murmurou por cima do ombro.
— Senti sua falta. — Beijei a ponta de seu nariz antes de entrelaçar
nossas mãos e colocá-las em seu estômago. O cara zombou antes de se
afastar. Olhei para Asher, que me lançou um sorriso divertido enquanto
puxava Flick para seus braços. Ela foi de boa vontade, com um sorriso
estampado no rosto.
— Felicity está bêbada? — perguntei a Hailee enquanto ela movia seus
quadris, provocando uma trilha de eletricidade em mim.
— O Asher vai cuidar dela — ela disse.
Era exatamente com isso que eu estava preocupado.
— Não tenho certeza... — Hailee girou em meus braços, colando sua
boca na minha. Desci as mãos por suas costas, encontrando a curva de sua
bunda. Ela era um pecado no vestido preto justo e saltos altos que faziam
suas pernas parecerem mais longas.
Nossas línguas se moveram juntas, com lambidas lentas e preguiçosas,
refletindo a maneira como nossos corpos se moviam. Eu não tinha o hábito
de dançar, mas por Hailee eu andaria sobre brasas. Havia algo magnético
nela. E eu estava completamente impotente contra seus encantos.
— Me leve para casa, Cameron — ela gemeu em meus lábios. — Preciso
de você.
Puta merda.
Eu queria jogá-la por cima do ombro e dar o fora daqui, mas ainda estava
cedo e havia Felicity e meus amigos a considerar. Embora ela e Asher
parecessem mais do que à vontade, envolvidos nos braços um do outro.
— Mais tarde — eu disse, roubando outro beijo. — A Felicity quer
aproveitar ao máximo a noite.
Os olhos de Hailee escureceram quando ela me olhou.
— Eu te amo. — Ela lutou contra um sorriso. — Eu te amo muito.
Eu a puxei para perto, sentindo um soco de emoção em meu estômago.
Hailee passou os braços em volta da minha cintura e segurou firme enquanto
nos balançávamos, dançando no nosso ritmo.
Há apenas algumas semanas, meu futuro era incerto e uma nuvem negra
pairava sobre mim, apagando toda a luz. Mas agora, eu tinha tudo que sempre
quis. Eu tinha o time e o estadual estava ao nosso alcance. Minha mãe estava
indo tão bem quanto se poderia esperar, dadas as circunstâncias. E eu tinha
uma garota que me amava incondicionalmente.
Eu era um filho da puta sortudo. Mas se as últimas semanas me
ensinaram alguma coisa, era para não tomar nada como garantido.
E eu pretendia aproveitar ao máximo minha vida – começando com a
garota em meus braços.
Hailee
— Aonde você vai? — Cameron murmurou, estendendo a mão para mim
enquanto eu tentava me desvencilhar dos lençóis.
— Água — eu disse. — Preciso de água. — O ar era diferente em Nova
York. Espesso e úmido, se agarrava à pele e fazia seus pulmões se
contraírem.
— Pegue uma garrafa para mim.
— Pode deixar. — Passei os dedos sobre sua mandíbula e o calor me
inundou enquanto eu me lembrava de como havia sido intenso entre nós
quando voltamos para a cobertura.
Pegando a camisa de Cameron, rapidamente a abotoei apenas no caso de
alguém ainda estar acordado, mas pelo estado de Jason, Flick, Asher e seus
primos, eu duvidava que alguém estivesse.
Caminhando silenciosamente pelo corredor, corri para a cozinha e peguei
duas garrafas de água na geladeira, parando quando ouvi um barulho. Meu
coração saltou na garganta. Provavelmente era só alguém roncando. Mas,
quando voltei para o corredor na ponta dos pés, ouvi novamente. Um rangido
suave. Um gemido abafado. Meus olhos se esforçaram na escuridão para
encontrar a fonte do ruído, mas só vi as portas fechadas. Até que meus olhos
focaram no quarto que Flick estava usando. A porta estava entreaberta. Ela
tinha bebido muito na noite passada. Talvez ela estivesse vomitando? Corri
até lá, parando do lado de fora. Um soluço abafado soou no ar e eu entrei.
— Flick, você está...
Uma bunda nua me cumprimentou.
A bunda nua de Jason enquanto ele estocava em minha amiga.
— Ah, meu Deus — sussurrei assim que os olhos de Flick encontraram
os meus por cima do ombro dele.
— Hails — ela gritou com os olhos arregalados de surpresa e nebulosos
com luxúria. Ela se encolheu enquanto Jason xingava baixinho antes de rolar
para longe da minha melhor amiga.
A minha melhor amiga.
...e meu meio-irmão.
Juntos.
Me virei e saí de lá. Cameron estava certo. Algo estava acontecendo.
Algo entre os dois.
Uma das pessoas que eu mais amava no mundo.
E uma das que eu mais odiava.
A vida tinha ficado muito mais complicada.
Agradecimentos
Este livro não deveria existir. Tive algum tempo “livre” e queria escrever
algo totalmente novo. Quatro semanas e noventa e seis mil palavras depois, a
história de Hailee e Cam estava terminada. Não acho que nenhuma outra
história saiu como essa. Inicialmente, eu pretendia que fosse um romance
agressivo. Algo mais sombrio do que estou acostumada a escrever, mas Cam
(ah, Cameron) tinha outras ideias. Veja, eu não guio meus personagens, eles
me guiam e, bem, aqui estamos. Mas para quem queria um protagonista um
pouco mais idiota, não tema, acho que o Jason mostrará bastante disso em
The Game You Play (livro ainda não disponível em português).
Como qualquer autor dirá, escrever só é preciso uma pessoa para escrever
uma história, mas publicar precisa de uma comunidade. E eu tenho um monte
de gente a agradecer.
Primeiro, minha editora, Andie. Sinceramente, não sei o que faria sem
suas palavras de incentivo, tapas virtuais e abraços tão necessários. Sei que
sou terrível às vezes, mas que pena, você está presa a mim!
Em seguida, um grande obrigada à minha equipe de leitores beta: Becky,
Bre, Jamie e Tami por lerem a versão inicial de O problema com você e me
ajudarem a dar a Cameron e aos Raiders uma voz autêntica de “futebol”.
Ginelle, extraordinária revisora de provas, estou tão feliz (e aliviada) por
te entregar este livro a tempo! Obrigada por ser tão completa e oportuna.
A Sarah Puckett e Wen Ross, por trazerem Hailee e Cameron à vida, eu
adoro isso! E Brandie e Krystyn, da Audiobook Obsession, por me ajudarem
a preparar o audiobook (em inglês) para o lançamento!
Para meu grupo promocional Rixon Raiders – vocês, garotas, são demais!
Sério. Sou muito grata por ter vocês ao meu lado, prontas para espalhar o
amor pelos Raider. Muito obrigada!
Minhas Indie Girls , vocês sabem quem são. Eu amo nosso espaço seguro
para conversar, desabafar e explorar o que está funcionando e o que não está.
Obrigada por me apoiarem!
Para meus leitores/grupos de spoiler – estar “presente” não é fácil para
mim, mas estou tentando o meu melhor para compartilhar essa jornada com
todos vocês. Obrigada por ficarem por aqui.
A cada blogueiro, resenhista ou bookstagrammer que me apoiou neste
lançamento, sem todos vocês, não haveria lançamento, então, obrigada!
E, finalmente, aos meus filhos. Sei que deixo a desejar em alguns
momentos, mas faço tudo isso por vocês e por um futuro melhor. Mamãe os
ama!
Até a próxima,
Beijos.
LA
Playlist
Somebody That I Used To Know – Goyte, Kimbra
Whatever It Takes – Imagine Dragons
Hard Feelings/Loveless – Lorde
Hell To The Liars – London Grammar
War Of Hearts – Ruelle
Where’s My Love – SYML
Runnin’ (Lose It All) Sofia Karlberg
Love To Hate It – Off Bloom
All We Do – Oh Wonder
All The Stars – Kendrick Lamar, SZA
Ready For War – Tommee Proffit, Liv Ash
Irrestible – Fall Out Boy ft. Demi Levato
My Motto – Jade Bird
I Hate You, I Love You – Gnash, Olivia O’Brien
I Can’t Make You Love Me – SOAK
Mercy – Lewis Capaldi
Water Under The Bridge – Adele
Crazy In Love – Sofia Karlberg
Send Them Off! – Bastille
Can’t Hold Us Down – Tommee Proffit, Sam Tinnesz
About the Author
Drama. Angústia. Romances viciantes
Sua casa fica em uma pequena cidade no meio da Inglaterra, onde atualmente
faz malabarismos para escrever em tempo integral e ser mãe/árbitra de duas
crianças. Em seu tempo livre (e quando ela não está acampada na frente do
laptop), você provavelmente encontrará L. A. imersa em um livro, escapando
do caos que é a vida.
L. A. adora se conectar com os leitores. Os melhores lugares para encontrá-la
são:
www.lacotton.com