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BOX:

Meu vizinho Milionário


(e proibido)
+
Minha vizinha Irresistível
(e proibida)

Kate Palace
Copyright © 2019 Kate Palace
Tradução: Hugo Teixeira
Imagem: Canva
Capa: Hashtags
Edição: Hashtags
Reservados todos os direitos desta produção
+ 18 anos: cenas de sexo, e linguajar inapropriado para menores
de idade.
Sinopse

Sempre fui apaixonada por Dax Caden, meu vizinho. Só tem um


pequeno – grande – problema: ele é o melhor amigo do meu irmão super
protetor e irritantemente ciumento.
Achei que jamais teria uma chance com Dax. Até que... Nós nos
reencontramos depois de uma década sem nos vermos.
Ele está mais lindo ainda.
Ele se tornou um milionário.
Ele é um dos solteiros mais desejados do mundo.
E ele não me reconheceu.
O melhor: Dax está muito atraído por mim.
Agora, preciso decidir o que fazer: conto que sou a irmã caçula – e
proibida – do seu melhor amigo, ou realizo meu sonho de passar uma noite
muito quente com Dax?
E será que meu coração vai se satisfazer apenas com uma noite?

* A BOX contém a história COMPLETA, composta por: Meu Vizinho


Milionário (e proibido) e Minha Vizinha Irresistível (e proibida).
PARTE 1

Meu vizinho Milionário (e proibido)


1
Sam

— Estou te falando, Sam, o vibrador é SEN-SA-CIO-NAL.


Apresento-lhes Zoey Tucker, minha melhor amiga. Ela é leal,
engraçada, sagaz e absolutamente indiscreta quando o assunto é sexo.
Todo mundo tem defeito...
O Sr. Jones, um dos meus clientes mais assíduos, caminha até mim
com um sorriso cordial. Sorrio de volta, mas sinto minhas bochechas
queimarem.
Eu sei que ele não pode ouvir à conversa, ainda assim, sinto-me
mal por estar falando desses temas na presença de um homem que tem
idade para ter participado da Segunda Guerra Mundial.
Abaixo o som do celular, apenas como garantia para o Sr. Jones não
ouvir os gritos de Zoey sobre as maravilhas de seu novo brinquedo sexual,
registro o livro que ele selecionou e passo o cartão de crédito dele.
— Espero vê-lo novamente na semana que vem, Sr. Jones — desejo
ao lhe entregar o saco de papel com seu livro e a nota fiscal. — Aquela
edição rara de Shakespeare que o senhor vem nos pedindo vai finalmente
chegar.
Atualmente, estou à frente da livraria da minha mãe. É
especializada em edições raras, e fica no andar térreo da casa triplex da
família em Notting Hill, Londres. Isso mesmo: eu vivo na mesma quadra
que o Hugh Grant do filme.
Mamãe jamais imaginaria que um filme de Hollywood seria capaz
de transformar sua pequena livraria em uma das mais conceituadas da
cidade.
Somos pequenos, eu praticamente me mato todos os dias
trabalhando aqui, mas amo o que faço. Comecei aos sete anos, e, desde
então, sou apaixonada por livros.
Quando consegui uma bolsa para Oxford, não pensei duas vezes: eu
me formei em Literatura Inglesa e fiz um mestrado na mesma área.
— Obrigado, querida — O Sr. Jones agradece e leva uma
eternidade caminhando até a saída.
Na primeira vez que ele veio nos visitar, uns cinco anos atrás,
mamãe tentou acompanhá-lo até a porta. Ele soltou um grunhido irritado e
disse a ela que já tinha vivido oitenta e sete anos sem precisar da ajuda de
ninguém para caminhar.
Nunca mais o acompanhamos até a porta.
— Um ótimo fim de semana, Sr. Jones.
— Para você também, Sam.
Viro-me de costas, para tentar abafar minha vontade de ajudá-lo, e
começo a organizar os livros na prateleira. Longos segundos mais tarde,
ouço o sino da porta tocar, indicando que ele conseguiu, enfim, sair da
loja.
Vou vai trabalhar que nem uma louca amanhã. A maior parte dos
nossos clientes vem nos finais de semana. Durante a semana, apenas
alguns habituais que curtem o silêncio da livraria.
Aos sábados, costumamos fazer um pequeno leilão para meia dúzia
de livros raros. Eles passam a semana inteira expostos em nossa vitrine,
com informações sobre a data de publicação, a edição, dados sobre o autor
e a estória.
Foi ideia de mamãe, e foi genial. Sempre lotamos. Turistas
também adoram a ocasião. Além disso, vendemos essa meia dúzia de
livros com margens que pagam quase todos os gastos da livraria.
— Está prestando atenção no que digo, Samantha Carmichael?
Queria poder não prestar atenção. Ela continua me explicando, em
detalhes, como se divertiu na noite passada com seu novo brinquedo
favorito.
— Um segundo, deixa eu te colocar no viva voz agora que estou
sozinha.
Coloco o celular sobre o aparador que fica atrás do balcão e
começo a limpar as prateleiras acima dele, onde deixamos expostos livros
de mamãe que ela se recusa a vender.
Enquanto isso, Zoey continua tagarelando sobre as vantagens de
seu vibrador.
— Tem várias velocidades, desde lento e gostoso até rápido de
estourar os miolos.
— Ai, meu senhor.
— Não, amiga. É “ai, meu vibrador”! Nenhum homem me fez gozar
tanto quanto Mr. Darcy.
Derrubo um dos livros quando ela diz aquilo. Não. Eu não posso ter
escutado direito.
— V-você está chamando o seu vibrador de Mr. Darcy?
— Qual é o problema?
— É uma afronta!
Minha Santa Jane Austen! Como ela pôde fazer algo assim? E
ainda me contar, sabendo que Austen é uma das minhas autoras favoritas
de todos os tempos?
Respiro fundo, decido que não vale a pena ficar furiosa agora – já
que Zoey não está aqui para eu enforcá-la, de qualquer maneira – e decido
não insistir no tópico.
— Falando em homens que nos fazem gozar, você vai para a festa
hoje, né?
Ela está falando do open house que Lisa, uma grande amiga nossa
que morava a algumas quadras de distância, vai fazer hoje para
comemorar seu novo apartamento no Soho.
— Ainda não sei. Estou morta.
Adoro a Lisa, mas já fui algumas vezes ao seu apartamento. Eu a
ajudei com a mudança e tudo. Além disso, se eu não terminar de arrumar
tudo hoje, terei que madrugar amanhã para preparar a livraria para o
leilão.
— Morta você estará se não for! — Zoey reclama em tom de
ameaça. — Vai ter vários homens interessantes lá, com certeza! Você
arrumou algo para vestir que não pareça ter saído de um romance da Jane
Austen?
Mando uma língua para o celular. Não uso roupas do século XIX!
Zoey só fica chateada porque não curto nada justo, curto ou com decote.
É, posso não vestir nada do século XIX, mas eu bem que gosto de
vestidos que estavam na moda na época que minha avó era virgem...
— Não se preocupe. Se eu for — foco no “se” —vou usar o vestido
que você escolheu.
— Ótimo. Ele é bem sexy, mas não chega a gritar “vem cá me
comer”. É mais tipo “vem cá descobrir os meus segredos”.
— Eu não tenho segredos! — sinto meu rosto queimando de novo,
porque eu tenho alguns segredos, sim...
— E quem se importa que você é uma virgem sem graça? — e esse
aí é o maior deles. — Basta aparentar ser interessante.
Por que ela faz sempre questão de falar da minha virgindade como
se fosse um defeito, como se houvesse algo de errado comigo?
Sim, sei que é bem incomum alguém ainda ser virgem aos vinte e
quatro anos, mas não quero transar com um cara qualquer só para dizer
que me tornei uma mulher “experiente”.
— Estou só esperando pelo cara certo, Zoe — repito o que sempre
digo nessas horas.
— Ai, meu pai eterno, juro que você vai morrer uma virgem! — ela
esbraveja do outro lado da linha. — Você, pelo menos, se deu ao trabalho
de se depilar?
Por sorte, não precisaria mentir; já imaginando que ela faria aquela
pergunta, eu tinha passado no salão de beleza no dia anterior.
Dave, meu outro melhor amigo, que é gay e o único homem que já
viu a minha depilação na virilha, sempre reclama que eu gasto demais com
algo que não vai fazer qualquer diferença na minha vida.
Isso é porque não é ele quem tem que ouvir os sermões
intermináveis de Zoey Tucker quando ela descobre que não estou depilada.
“Tem que estar sempre pronta para arrancar suas teias de aranha,
Samantha! “, é o que ela mais gosta de repetir.
O que simplesmente não entra na cabeça dela é que nunca vi graça
em sexo casual. Zoey também não, mas ela acredita em amizades
coloridas ou namoros com caras de quem ela apenas “gosta”.
Eu, por outro lado, acredito apenas em sexo com amor. Mais ainda:
em sexo com o amor da sua vida. E, a cada ano que eu passo sem encontrar
esse cara, ela acredita que eu preciso perder logo a virgindade e arranjar
um cara que pelo menos me dará prazer.
Atualmente, ela defende que, assim que eu vir o homem certo (ela
alega que eu terei certeza quando puser os olhos nele), eu deveria levá-lo
logo para a cama, ir até Vegas, casar-me com o cara e viver feliz para
sempre com ele.
Tudo em menos de uma semana. Ah, e ela espera ser a única
convidada para meu casamento em Vegas (cuja viagem nem tenho grana
para pagar, mas tudo bem) e madrinha dos nossos filhos, claro.
— Sim, eu me depilei. — Nossa, que conversa mais bizarra para se
ter em uma tarde fria de sexta-feira em Notting Hill.
Quando falo que moro em Notting Hill, as pessoas logo pensam no
filme romântico de Julia Roberts, não em depilações e vibradores.
— A virilha também, né?
— Pelo amor! Se eu perder a virgindade hoje, vai querer que eu
conte para você também o tamanho do...
— Que pergunta mais estúpida! — ela me interrompe. — Claro
que vou querer saber de todos os detalhes!
— Preciso trabalhar — digo, porque não quero que nenhum cliente
entre e nos escute discutindo esse assunto.
— Não antes de me dizer qual foi a depilação que você fez. —
Zoey retorna ao assunto inconveniente.
Dou uma olhada na tela do celular, para ver como está o sinal. Em
geral, a livraria tem um sinal péssimo, mas vejo que todas as barras estão
cheias.
A porcaria da ligação não vai cair justo desta vez?
— Como assim, qual foi a depilação que eu fiz?
É quando eu ouço um riso abafado.
Lentamente, viro a cabeça e olho para trás. E lá está ele. Um metro
e noventa e dois de altura, em um corpo definido e impressionante. Olhos
azuis capazes de arrancar qualquer calcinha, e a barba por fazer.
E ele está sorrindo. Um sorriso maroto, que sempre fez minhas
pernas virarem gelatina.
Dax Caden.
Quem é ele? Ah, apenas o cara que cresceu na casa vizinha, por
quem sempre fui apaixonada.
Eu não o vejo há mais de dez anos, desde que ele se mudou para os
Estados Unidos. Fico paralisada do pescoço para cima. Há quanto tempo
ele está aqui dentro?
— Que saco, amiga! Você me mata com essas perguntas! — Zoey
continua gritando, sua voz ressoando pela livraria, enquanto o meu rosto
pega fogo. — Eu quero saber se fez depilação francesa, triângulo das
bermudas, brasileira... Ou deixou lisinha mesmo?
— Boa tarde. — A voz de Dax está ainda mais irresistível: rouca e
profunda, e com uma autoridade que ele não tinha com seus vinte e poucos
anos.
Gente, devia ser proibido um cara desses ficar ainda mais perfeito
com a idade!
— Quem disse isso? Quem está aí? — Zoey não sabe calar a boca.
— Será que ele ouviu a parte sobre o meu vibrador?
É com a porcaria do vibrador que Zoey está preocupada? Pois eu
estou aqui morrendo porque o cara por quem eu tive uma queda desde...
SEMPRE! Entrou na porcaria da livraria e eu nem ouvi.
Como eu pude não ouvir?
Droga. Droga, droga e droga. Ele deve ter entrado quando o Sr.
Jones saiu, por isso o sino não fez barulho de novo.
— Hã... Eu... Preciso desligar — desliga logo o telefone,
Samantha! Droga, estou agora paralisada do pescoço para baixo. — Um
cliente entrou na loja.
Se eu dissesse quem era, Zoey viria imediatamente e pioraria ainda
mais a situação. É melhor que ela não saiba.
— Que cliente? Se for o Sr. Jones, nunca mais conseguirei olhar
para a cara dele se ele souber do meu vibrador roxo de vinte e cinco
centímetros e sete velocidades diferentes.
Minha mão volta a funcionar e desliga o celular. Viro o corpo
inteiro de frente para Dax, sem ter ideia do que dizer.
— B-boa tarde.
Ai, que idiota. Depois de dez anos, vejo o cara que está nos meus
sonhos quase todas noites, provavelmente a maior razão de eu ainda ser
virgem, e, depois de um mestrado em Literatura de uma das melhores
universidades do mundo, só consigo pronunciar duas palavras?
Nos encaramos por alguns segundos. Em silêncio. No mais
absoluto silêncio. Tipo, parece que estamos em um cemitério no meio da
noite em um suspense de Stephen King e o mundo está morto.
Exceto pelo meu coração, que está batendo tão forte que até Dax
deve estar ouvindo.
Do nada, o sorriso dele aumenta, e Dax começa a gargalhar.
Eu continuo paralisada, claro. Não por estar irritada ou ofendida; é
só que Dax gargalhando é ainda mais sexy que Dax com o sorriso maroto.
Quando ele vê a minha expressão de zumbi, deve interpretar que
fiquei chateada com ele e para de rir.
— Desculpa.
— T-tudo bem.
Que idiota. Nem acredito que fui eleita a oradora da minha classe.
— Eu sinto muito — ele diz de novo, seus olhos intensos me
queimando por dentro.
Parece que saí de Londres e entrei no deserto do Saara. Ficou
quente aqui, hein? Com certeza o termostato do ar está quebrado.
— A culpa não é sua.
Finalmente! Consegui dizer mais que duas palavras.
— Fui até os fundos da loja, tentei não escutar, mas...
— Ela fala bem alto.
Eu bem o sei. Às vezes, sinto que Zoey é capaz de estourar meus
tímpanos.
Ele coça a cabeça, revelando o bíceps malhado, e eu praticamente
derreto.
Devo estar ficando louca, porque acho que ele olhou para os meus
lábios.
— Eu deveria ter me anunciado antes, mas foi ficando mais bizarro
e...
— Que tal esquecermos que isso aconteceu?
— Posso fingir.
Definitivamente estou ficando louca. Me internem. Estou vendo
coisas, só pode. O melhor amigo – proibido – do meu irmão jamais olharia
para os meus seios, e é isso que eu o vejo fazendo agora.
Deixa de ser louca, Sam. Ele te acha uma garotinha.
— Melhor que nada — respondo, toda esbaforida, como se tivesse
acabado de participar das Olimpíadas.
Só se for olímpiada de pessoas desastradas que não sabem lidar
com seu crush de infância.
— Eh... Eu seria muito babaca se te chamasse para sair?
Quê?
Como?
Devo ter entrado em um mundo paralelo. Só assim para explicar o
que Dax acabou de propor.
Por que eu estou com tanta maldade no coração? Fomos vizinhos a
minha infância inteira, ele é o melhor amigo do meu irmão e adora meus
pais. Deve estar me convidando só por educação.
Eu é que estou pensando em como quero que ele veja minha
depilação. O problema sou eu, não ele. Eu e meu coração cheio de paixão,
más intenções e vontade de fazer muitos bebês com ele.
Claro que ele me convidou para sair. Quer dizer, a gente não se vê
há dez anos, e, depois desse mico, ele provavelmente quer tomar um café e
falar sobre o que aconteceu comigo nos últimos dez anos...
Queria eu que ele não me convidasse para um café, e sim para um
jantar romântico. A velas. A sós. No quarto dele?
Para com isso, Samantha Rose Carmichael!
— Desculpa, não quis te deixar sem graça — ele comenta, mais
uma vez, interpretando errado minha reação.
— Foi a conversa que você ouviu que me deixou sem graça.
— Eu achei que a gente ia esquecer.
— Eu achei que você apenas fingiria que esqueceu.
Agora eu também estou com um sorriso maroto nos olhos. E o
olhar dele definitivamente desceu para a minha boca. E para os meus
seios.
Chamem os bombeiros porque acho que vai pegar fogo aqui na
livraria! Eu não estou louca! Dax Caden está atraído por mim!
Ele está olhando para mim daquele jeito que galãs de cinema
olham para as mulheres de quem gostam antes do beijo.
Será que vai rolar um beijo?
Aqui?
Depois do que ele escutou?
Bem, não era exatamente como eu imaginava nosso primeiro beijo,
mas é melhor do que não ter beijo. E, depois da promessa que ele fez ao
meu irmão dez anos atrás, eu já tinha aceitado que jamais rolaria beijos
entre nós.
Mentira. Eu sempre tive uma pontinha de esperança. É por isso
que, aos vinte e quatro anos, ainda sou vergonhosamente e irritantemente
uma virgem. Segundo Zoey, a virgem mais velha do Reino Unido.
— Então... Hã... O Sr. Carmichael e a Sra. Carmichael estão por
aqui?
Sr. Carmichael?
Sra. Carmichael?
Por que ele está se referindo aos meus pais de um jeito tão formal?
Será que ele... Não, não é possível.
— Hã... Eles não moram mais aqui. Sou eu que cuido da
propriedade agora.
— Eu achei que a Sra. Carmichael cuidava pessoalmente da
livraria. Mesmo depois que eles se mudaram para Surrey.
— Não. Ela viaja e compra os livros. Eu fico aqui.
Na minha vida rotineira. Monótona. Sem sexo. Sem Dax.
Até agora.
— Que bom para mim. Sam. Um nome bonito.
Um nome bonito? Do que diabos ele está falando?
Oh, céus. Oh, meu senhor. Minhas suspeitas estavam certas. Ele
não se lembra. Dax Caden não lembra quem eu sou.
Meu irmão sempre me chamou de Rose, porque é meu nome do
meio e eu simplesmente o detesto. Infelizmente, meus pais adoraram a
ideia e, desde que sou pequena, eles também me chamam pelo nome do
meio.
Sim, eu me chamo Samantha Rose Carmichael, e meu irmão não
me deixa esquecer disso. Por causa dele, todos os amigos dele também me
chamavam de Rose. Acho que boa parte deles nem sabe que meu primeiro
nome é Samantha.
Bem, pelo menos Dax não sabe. Aparentemente.
O que eu faço? Deveria corrigir seu erro agora mesmo, antes que as
coisas fiquem mais estranhas ainda.
— O-obrigada.
Ah, como eu sou uma retardada.
— Sou Dax.
Ah, eu sei. Como sei. Como sonhei com esse nome.
— Posso dar seu recado para eles, se quiser.
— Você se importaria de entregar esse envelope aos Carmichael e
avisar que passei aqui?
— C-claro.
— Acho que vou passar a visitar mais esta livraria.
Dax Caden está me paquerando!
— Será bem-vindo.
E eu estou paquerando Dax Caden de volta!
Belisco minha perna só para ter certeza de que estou acordada. Ai!
Estou sim. Definitivamente acordada.
— Até a próxima, Sam — ele se afasta, enquanto eu o encaro com
uma tonelada de concreto na garganta. — Espero que a festa seja boa.
2
Dax

Acordei planejando fazer uma agradável viagem até Surrey, depois


de distribuir os convites na minha antiga rua em Notting Hill.
Vamos pegar todos de surpresa. Minha mãe vai descobrir a
qualquer minuto o que eu e Anne estamos aprontando. Queria ver a cara
dela, mas sei que este é o momento de Anne e Jim, não meu.
Já passou da hora deles se casarem. Fiquei puto no começo, eles
namoraram em segredo uns seis meses, mas eu tenho que admitir que eles
foram feitos um para o outro.
Quando chego à livraria, noto que não é a Sra. Carmichael quem
está trabalhando lá dentro. Estranho; eu fiquei de entregar os convites aqui
em Notting Hill porque Anne tinha certeza de que ela estaria aqui.
No lugar da Sra. Carmichael, há uma mulher muito atraente no
balcão, e há apenas um cliente lá dentro, um idoso que está comprando
alguns exemplares. A situação fica cada vez mais bizarra: não apenas a
Sra. Carmichael não está aqui, como ela deixou alguém que não é da
família cuidar de sua preciosa livraria?
A última vez que falei com Zack sobre o tema, ele comentou que
Rose ficaria à frente da livraria, mas só quando terminasse o mestrado que
está fazendo em Oxford. Tenho que me lembrar de perguntar a ele quem é
a beldade que a mãe dele contratou.
Além de linda, essa funcionária deve ser muito competente, porque
a Sra. Carmichael jamais deixaria a livraria nas mãos de alguém que não
fosse de sua absoluta confiança.
Ela nunca deixou nem mesmo Zack cuidar da livraria sozinho.
Quando tinha que viajar para comprar livros raros, pedia que um ex-
professor seu de literatura da Universidade de Londres indicasse uma de
suas alunas para ficar de olho.
Tenho pouco tempo para distribuir os convites, já que o grande
evento é em menos de duas semanas, então preciso entregá-los logo.
Quando alcanço a porta, o senhor que estava lá dentro a abre com
dificuldade. Eu o ajudo, e ele me dirige um olhar de puro ódio.
Okay, alguém está de mau humor. Aproximo-me da beldade,
admirando suas curvas femininas, e estou prestes a lhe dar boa tarde,
quando uma voz ao telefone gritar:
— V-você está chamando o seu vibrador de Mr. Darcy?
Ela está claramente ofendida com sua amiga ao telefone. E eu bem
imagino por que razão. Se Anne estivesse aqui, ela também estaria
profundamente ofendida com o apelido.
Orgulho e Preconceito é seu livro favorito, e passei a adolescência
ouvindo o nome de Mr. Darcy.
— Qual é o problema? — a mulher ao telefone questiona, e noto
que a vendedora fica ainda mais irritada por causa de seus ombros tensos.
— É uma afronta!
— Falando em homens que nos fazem gozar, você vai para a festa
hoje, né?
Acreditando que a vendedora não percebeu minha entrada, decido
me afastar, oferecendo a ela privacidade para terminar sua ligação nada
discreta.
Deveria ter anunciado a minha entrada logo no início, mas perdi
minha chance. Além disso, devo admitir que estou me divertindo com essa
ligação indiscreta.
É mais seguro – e mais engraçado – eu esperar a ligação bizarra
terminar e eu fingir que acabei de entrar.
Os minutos passam e percebo que a moça do outro lado da linha
está ficando cada vez mais animada ao falar de seu amigo roxo. Ela tem
uma voz estranhamente familiar, mas não consigo ter certeza de onde a
conheço.
Parece que a ligação não vai terminar nunca e, apesar de estar bem
divertida, eu não acho legal continuar escutando.
Nunca fui um cavalheiro, mas tampouco sou de invadir a
privacidade de mulheres, porque detesto quando tentam fazer isso comigo.
Em geral, eu só escuto o que elas querem que eu escute.
E, pela conversa, temo que esta garota não seja o tipo de mulher
que vai lidar bem com o fato de que tem um cara ouvindo.
E eu pretendo chamá-la para sair. Definitivamente quero conhecê-
la melhor. A cada segundo que passo escutando à ligação mais interessado
eu fico.
Volto a me aproximar do balcão, mas a vendedora continua
arrumando os livros nas prateleiras, de costas para mim.
— Pelo amor! Se eu perder a virgindade hoje, vai querer que eu
conte para você também o tamanho do...
— Que pergunta mais estúpida! Claro que vou querer saber de
todos os detalhes!
Ah, droga. Ela é virgem; por isso está reagindo desta maneira à
história do vibrador roxo da amiga. Seguro a gargalhada e decido que,
afinal de contas, não é o melhor momento para interrompê-las.
Eu não deveria ficar excitado com aquela descoberta; muito pelo
contrário, saber que ela é inexperiente deveria me manter bem longe da
vendedora.
Porém, eu sinto exatamente o oposto. Quero conhecê-la. Preciso
conhecê-la. Estou na presença dela há menos de dez minutos, e a
vendedora já se tornou uma das mulheres mais interessantes que conheci.
Linda.
Inteligente com certeza, para trabalhar aqui.
Engraçada, de um jeito inocente e adorável.
E sensual. Sim, apesar de sua inexperiência e de suas roupas
modestas, ela se move de um jeito sensual.
— Preciso trabalhar — a vendedora reclama.
— Não antes de me dizer qual foi a depilação que você fez.
— Como assim, qual foi a depilação que eu fiz?
Não aguento, e solto uma gargalhada. Essa mulher é tão inocente
que chega a ser fofo.
Ela se vira para mim, e sinto meu sangue ferver. Não é uma mulher.
É uma deusa.
Eu tinha visto seu belo rosto de longe; mas ela é ainda mais
encantadora de perto. Seus cabelos encaracolados decoram um rosto
angelical, com feições delicadas, olhos grandes e inocentes, e lábios
rosados e irresistíveis.
Nossa, como quero beijá-los.
Ela, por outro lado, parece ter visto um fantasma. A cor saudável
de suas bochechas desaparece, e ela parece estar prestes a ter um AVC.
Como eu previa, ela não reagiu bem ao descobrir que tinha alguém
escutando sua conversa.
— Que saco, amiga! Você me mata com essas perguntas! Eu quero
saber se fez depilação francesa ou deixou lisinha mesmo?
Acho engraçado, mas, desta vez, engulo a risada. Até porque, não
quero estragar minhas chances com esta mulher. Seu rosto, que ficou
pálido assim que ela me viu, fica vermelho como um pimentão com a
mesma rapidez.
Quando eu era mais jovem, não conseguia ficar com a mesma
mulher mais de um mês seguido. Depois de um tempo, quando meus
amigos começaram a namorar sério, noivarem e casarem, comecei a me
questionar se o problema era eu.
E era. Eu estava saindo com o tipo de mulher por quem jamais teria
qualquer sentimento sério. A verdade é que eu saía apenas com gostosas,
mas sempre gostei das inteligentes.
E a mulher à minha frente tem as duas coisas. Nem ferrando a Sra.
Carmichael deixaria uma idiota cuidando de sua preciosa livraria. Além
disso, ela é absolutamente linda.
E adorável, com suas bochechas rosadas de vergonha.
— Boa tarde — digo, sem conseguir disfarçar meu sorriso arranca
calcinha.
— Quem disse isso? Quem está aí? Será que ele ouviu a parte
sobre o meu vibrador?
Ah, se ouvi. Ouvi muitas outras coisas também.
— Hã... Eu... Preciso desligar. Um cliente entrou na loja.
— Que cliente? Se for o Sr. Jones, nunca mais conseguirei olhar
para a cara dele se ele souber do meu vibrador roxo de vinte e cinco
centímetros e sete velocidades diferentes.
— B-boa tarde.
Juro que tentei segurar a risada. Mas só consegui por dois
segundos. Rio tanto que uma lágrima desce de meus olhos. Apenas fico
sério ao ver o rosto angelical preocupado.
— Desculpa.
— Tudo bem.
— Eu sinto muito. Fui até os fundos da loja, tentei não escutar,
mas...
— Ela fala bem alto.
Sim. A amiga dela fala bem alto mesmo.
— Eu deveria ter me anunciado antes, mas foi ficando mais bizarro
e...
— Que tal esquecermos que isso aconteceu?
— Posso fingir.
— Melhor que nada.
— Eh... Eu seria muito babaca se te chamasse para sair?
Ela fica nervosa. Merda, errei. Ela acha que sou um desses trastes
que só querem tirar a virgindade dela. Não deveria ter feito isso.
— Desculpa, não quis te deixar sem graça.
Meus olhos baixam um pouco, e acabam viajando para seus seios.
As curvas dela atrás são sensuais, mas os seios... Nem grandes, nem
pequenos, do tamanho ideal. Empinados, redondos, chupáveis...
Se segura, Dax! Qual é o seu maldito problema?
Levanto os olhos de novo, e noto que ela me observa com suspeita
nos olhos. Droga. Ela definitivamente vai achar que sou um traste.
— Foi a conversa que você ouviu que me deixou sem graça — ela
diz com sua voz suave, e me sinto um babaca, porque a pobrezinha está
tremendo visivelmente.
— Eu achei que a gente ia esquecer — comento com um novo
sorriso, tentando deixá-la mais a vontade.
Aí, meu olhar baixa de novo para os seios. Droga! Pelo menos,
desta vez consegui me concentrar na placa com seu nome. Sam. Nome
lindo.
Tipo de nome que quero sussurrar em seu ouvido enquanto eu me
enterro nela.
Controle-se, Dax. Parece até que voltei a ser adolescente de novo.
— Eu achei que você apenas fingiria que esqueceu — ela responde,
e há divertimento em seu tom agora.
Sam está me paquerando de volta?
Quero muito beijá-la, mas quero pegar leve para não assustá-la de
novo.
O que dizer? Bem, posso começar falando sobre o motivo de ter
vindo aqui. Por que eu vim à livraria mesmo? Ah, os convites.
— Então... Hã... O Sr. Carmichael e a Sra. Carmichael estão por
aqui?
Nossa, estou soando como um robô.
— Hã... Eles não moram mais aqui. Sou eu que cuido do prédio
agora.
Uau. Ela cuida do prédio? Deve ser alguém muito especial mesmo,
porque eles são bastante apegados à casa, que está na família da Sra.
Carmichael há quatro gerações.
— Eu achei que a Sra. Carmichael cuidava pessoalmente da
livraria. Mesmo depois que eles se mudaram para Surrey.
Pelo menos, foi isso que a minha mãe disse no último Natal. Ela
passava a semana em Londres e ia para Surrey aos finais de semana.
— Não. Ela viaja e compra os livros. Eu fico aqui.
— Que bom para mim — olho de novo para seus seios. Droga!
Preciso disfarçar. Aponto para a plaquinha com seu nome. — Sam. Um
nome bonito.
— O-obrigada.
Ela ainda está nervosa. Deveria imaginar que alguém inexperiente
como ela ficaria sem graça depois que um cara ouvisse seu segredo mais
íntimo.
E, claro, há o fato de que eu devo estar olhando para ela como um
tubarão olha para a sua presa. Preciso ficar mais tranquilo.
— Sou Dax.
Ela apenas acena milimetricamente, e fica meio dura, como se
estivesse muito tensa.
— Posso dar seu recado para eles, se quiser — ela comenta.
Ah. Ela quer se livrar de mim.
Droga, não acredito que, pela primeira vez em muito tempo, eu
conheço uma mulher que realmente me interessa, e consigo estragar as
minhas chances em questão de minutos.
— Você se importaria de entregar esse envelope para eles e avisar
que passei aqui?
Levanto o braço, mas, como ela não se mexe para pegar o
envelope, eu o coloco em cima do balcão entre nós.
— C-claro.
— Acho que vou passar a visitar mais esta livraria.
Decido tentar uma última vez.
— Será bem-vindo.
Desta vez, a reação dela é ótima. Eu definitivamente vou retornar.
Quero muito chamá-la para jantar, mas não quero arriscar assustá-
la de vez. Ela é tímida, e já fico excitado de imaginar como será delicioso
conhecê-la melhor.
Águas calmas são as mais profundas.
— Até a próxima, Sam. Espero que a festa seja boa.
3
Treze anos antes...

Sam

Não me lembro qual foi o momento que a minha admiração por


Dax se tornou romântica. Só sei que, quando soube que ele deixaria
Londres para estudar nos Estados Unidos com meu irmão, senti como se
tivesse perdido a habilidade de respirar.
Eu tinha onze anos nesta época, enquanto Dax e Zack tinham
acabado de fazer dezoito. Estava tentando criar coragem para me despedir
de Dax com um beijo no rosto.
Pela milésima vez naquela tarde, caminhei até a porta do quarto de
Zack, que estava fechada. Meu punho estava quase encostando na porta,
quando escutei os dois discutindo lá dentro.
— Não vai sair com a minha irmã, Carmichael! — Dax gritou de
forma ameaçadora.
Assim como Zack sempre foi comigo, Dax é bastante ciumento
com sua irmã gêmea, Anne. Ele era conhecido na escola por ameaçar de
morte todos os caras que ousassem chegar perto dela.
Meu irmão tinha uma queda por ela quando eram adolescentes.
Hoje, eles riem do assunto. Ela está namorando há uns três anos com um
cara que virou amigo dos três enquanto faziam faculdade na Caltech, Jim.
Os quatro – Zack, Dax, Anne e Jim – fundaram uma Fintech no
final da faculdade e a venderam por cinquenta milhões de dólares. Desde
então, reinvestem parte do dinheiro em novos projetos e os vendem por
ainda mais grana. Eles têm uma empresa de investimentos hoje.
Meu irmão acabou voltando para Londres quando papai se
aposentou. Na verdade, papai foi aposentado pela mamãe, depois que teve
um ataque cardíaco que quase o matou e o cardiologista o aconselhou a ter
uma vida mais tranquila.
Eles acabaram comprando uma pequena fazenda em Surrey, ao lado
da propriedade dos Caden, que já tinham se aposentado lá. Fica a uma hora
e meia de carro e meia hora de trem de Londres, então eu e Zack
conseguimos visitá-los com bastante frequência.
Há três famílias que são vizinhas há muitas gerações em Notting
Hill e que se tornaram vizinhos também em Surrey à medida que foram se
aposentando: os Carmichael, os Caden, e os Tucker. Acabamos nos
tornando várias gerações de melhores amigos.
Zack, então, retornou dos Estados Unidos para ficar em seu lugar
na empresa de fundos que tem com o pai de Zoey, já que eu, a essa altura,
estava sendo preparada por mamãe para ficar à frente na livraria.
Todo ano, Zack, Jim e Dax viajam juntos, só os três, para algum
lugar onde podem relaxar e esquecer sobre o estresse do dia a dia. Em
geral, eles fazem alguma viagem de macho alfa. Sabe, nadar com tubarões
brancos no México, ou fazer um safari na África do Sul, até tentaram
escalar o Everest (mas claro que essa não deu certo).
Apesar de estar à frente da empresa de papai, Zack continua como
um dos sócios da companhia de investimentos com os outros três, e busca
novas oportunidades em Londres. Dax ficou responsável pela filial de
Nova Iorque, enquanto Jim e Anne ficam na sede, em São Francisco.
Nem preciso dizer que eles se tornaram muito, mas muito ricos
mesmo.
— E se sua irmã quiser sair comigo? — Meu irmão rebate. — Ela
não tem o direito de escolher com quem vai sair, Caden?
— Não vou permitir que Anne seja uma das suas conquistas,
Carmichael.
Quando os dois se tratam por sobrenomes, significa que a briga
está feia.
— Foda-se, seu idiota!
E, quando começam a se xingar, quer dizer que a discussão está
prestes a virar física.
— Vou quebrar sua cara, seu desgraçado!
— Então venha! Anne vale um olho roxo e um nariz fraturado. Na
verdade, ela ficará até com pena de mim.
Ouço alguns sons de coisas quebrando e baques deles contra algum
móvel (quando mamãe vir o estrago, vai dar uma bronca homérica nos
dois), até que fica tudo quieto de novo.
— E se... Nós fizéssemos um acordo? — Dax propõe.
— Não quero acordos contigo!
— Fique longe da minha irmã, que eu ficarei longe da sua.
Esta foi a primeira vez que eu considerei a possibilidade de não me
casar com Dax. Até então, eu tinha até escolhido os nomes dos nossos
filhos.
Então imagina como eu me senti. A proposta do meu príncipe
encantado foi como um soco no estômago.
— Cala a boca, seu merda! Rose é um bebê.
Fiquei revoltada com a fala de Zack. Na época, eu sentia que já era
grande, capaz de conquistar o mundo.
— Ela ainda é uma bebê hoje — a frase foi como um soco no
estômago. — Mas ela vai crescer. E nós dois sabemos que Rose sempre
teve uma queda bem fofa por mim.
— Fique longe da minha irmã, Caden — o jogo agora inverteu-se.
As palmas das minhas mãos estavam suadas, e eu estava tão
ansiosa que respirava pela boca.
— Já te disse, Carmichael. Ficarei longe de Rose. Desde que você
fique bem longe de Anne.
— Temos um acordo.
NÃO! Quando ouço passos caminhando na direção da porta,
escondo-me no armário do corredor. Escuto Dax descendo as escadas e
invado o quarto do meu irmão.
— Eu te odeio! — começo a dar socos em seus braços, mas ele
parece nem sentir.,
Olha para baixo (para mim, no caso, que era uns trinta centímetros
menor que ele) e levanta uma sobrancelha.
— O que eu fiz desta vez, Rose?
— Você proibiu o Dax de ficar comigo.
— Claro que eu proibi! A lista de garotas dele é maior que a nossa
rua, Rose.
— Pois eu vou ficar com ele.
— Se ficar com ele, vou ficar com a Zoey.
— Pode tentar — mando uma língua para ele, só para irritá-lo. —
Ela te detesta.
Mentira. Ela gosta dele desde sempre.
— Ah, detesta?
— Sim. Detesta.
— Eu sei que é tudo fingimento.
— Não é nada — bati o pezinho no piso, que entregou a minha
mentira.
Eu ainda tenho essa mania: quando estou irritada e contando uma
mentira, meu pé parece tomar vida própria e bate contra o chão.
— Mesmo que Zoey não goste de mim, você sabe que a minha lista
de conquistas é quase tão grande quanto a de Dax.
Verdade também. Ele sai com as meninas mais bonitas da escola.
Aquelas que não saem com o Dax, digo.
Zack namorou algumas mulheres legais, mas acabou ficando sério
com a única que eu detestei. Sua namorada atual é falsa, chata e, para
piorar, é a antiga chefe da Zoey.
Sabe qual era a maior diversão da Gisele? Torturar minha melhor
amiga psicologicamente. Dizer que ela foi uma péssima chefe é pouco.
Zoey poderia fingir odiar meu irmão quando era mais nova, mas seu ódio
agora é tudo, menos fingimento.
Ela está sendo treinada por Zack e pelo Sr. Tucker para sucedê-lo
em breve, quando ele também se aposentará de vez. Atualmente, ele vai ao
escritório apenas algumas vezes por semana, quando tem reunião com
clientes antigos.
Apesar do meu irmão ser Vice-Presidente, ela não tem qualquer
pudor em mandá-lo... Bem, a vários lugares.
Zack não ousa demiti-la, até porque ela é a sucessora oficial do pai,
mas, acho que mesmo que não fosse, ele não seria tolo em desperdiçar o
talento dela. Ela é uma senhora advogada; não perde uma briga sequer.
— Eu te odeio, Zack! — gritei novamente, enquanto batia ainda
mais os pezinhos.
— Você já disse isso, Rose — meu irmão respondeu com um tom
irônico que me fez ficar com ainda mais raiva dele.
— Vou te odiar para sempre.
— Se for para protegê-la de caras como Dax, vai valer a pena.
— Mas ele é seu melhor amigo.
— Ele é um amigo foda. Mas é um péssimo namorado.
— Quem tem que dizer isso sou eu!
—Você que sabe, Rose. Acho que vou passar na casa dos Tuckers.
Fazer uma visita a Zoey.
— Tudo bem! — grito, porque meu pior pesadelo seria ver Zack
tentando seduzir Zoey, para depois partir seu coração. — Temos um
acordo.
4
Sam

Respiro fundo ao terminar de contar tudo que aconteceu para Zoey.


Claro que, assim que Dax saiu da livraria, e eu recuperei os movimentos
do meu corpo, liguei para a minha melhor amiga e falei sobre a identidade
do “cliente” que escutou nossa conversa.
Vinte minutos mais tarde, ela estava na livraria, exigindo saber
todos os detalhes. Sim, sair mais cedo do trabalho para saber de uma
fofoca quente é bem típico de Zoey Tucker. Ela tem prioridade
interessantes...
— Dax Caden?
— Isso. — repito pela centésima vez.
Duas clientes entram na livraria e, depois de atendê-las, e fechar a
livraria, volto para o balcão, onde Zoey me aguarda, boquiaberta.
Ela está boquiaberta há pelo menos meia hora.
Eu apago as luzes da livraria, subo até o segundo andar, onde Dave,
meu vizinho de baixo, nos aguarda com coquetel de frutas e salgadinhos, e
repito toda a história de novo.
— Dax Caden, o cara por quem você é apaixonada desde os onze
anos, esteve aqui? — eu contei a história para o Dave, mas é claro que
Zoey é quem insiste no assunto.
— O próprio — respondo, me segurando para não revirar os olhos.
Se eu fiquei paralisada com a visita de Dax, Zoey parece ter ficado
com Alzheimer.
— O mesmo Dax Caden por quem você guardou sua virgindade
que nem uma tonta e nem quis perdê-la para aquele cara lindo da
faculdade?
— Quantos Dax Caden nós conhecemos, Zoe?
— Hã... — ela reflete sobre o assunto. Às vezes, sinto um desejo
louco de esganá-la. — Um.
— Exatamente. Foi esse cara que apareceu na livraria hoje.
— Não acredito que Dax Caden era o cliente que estava na livraria
enquanto eu falava do meu vibrador de vinte e cinco centímetros...
— E sete velocidades. E não se esqueça que você também falou da
minha virgindade.
— Pelo menos, ele sabe que você está depilada.
Não acredito que, de tudo que ele ouviu, é com esse detalhe que ela
está preocupada.
— Você está de palhaçada, Zoey? Eu nunca mais vou poder olhar
para a cara dele.
— Ou você pode esperar outros dez anos até ele não te reconhecer
mais.
— Cala a boca!
— E ele ainda deu em cima de você!
— Não temos certeza disso.
— Temos sim! — Dave grita da cozinha, terminando de fazer o
coquetel de frutas.
Depois que meus pais se mudaram para Surrey, e Zack decidiu
morar o mais próximo possível do trabalho, que fica no setor financeiro,
eu transformei o segundo e terceiro andares em dois apartamentos
separados.
David, que foi meu colega de turma em Oxford, mudou-se para o
segundo andar, e ele quebra vários galhos para compensar o aluguel
baratíssimo que cobro dele, que variam desde fazer meu supermercado
semanalmente a me cobrir na livraria quando tenho outro compromisso.
É maravilhoso, porque ele economiza para caramba em aluguel e
eu tenho um amigo que me ajuda demais em tudo que preciso.
Meus pais às vezes passam alguns dias no meu apartamento, mas a
maior parte do tempo eles ficam em Sussex ou estão viajando, com a
desculpa de que vão atrás de livros raros para a livraria.
— Quem deveria ficar com vergonha de olhar para a sua cara
quando ele se der conta que você é a irmã – proibida – do melhor amigo
dele é Dax Caden — Zoey comenta, enquanto nos servimos do coquetel de
frutas e alguns salgadinhos que Dave preparou.
— Nossa, não tenho ideia do que fazer — reclamo, e tomo dois
goles enormes da bebida.
— Tem sim — Zoey afirma com convicção. — Pelo menos, eu
tenho.
— Tem álcool? — eu pergunto depois que termino o primeiro
copo, o que é meio irresponsável da minha parte, já que, no meio dessa
confusão toda, eu prometi a Zoey que iríamos hoje juntas para a festa e eu
vou dirigir.
— Você acha que eu deixaria você beber álcool antes de dirigir,
Sam?
Nunca fui acostumada a dirigir. Quando era mais nova, papai tinha
um motorista da empresa, e ele me dava uma carona quando eu tinha que
sair da cidade ou ir a algum lugar à noite.
Em Londres, sempre andei de transporte público. Na faculdade, em
Oxford, fazia quase tudo a pé, pois morava no campus.
Por conta dessa minha falta de histórico na direção, quando
retornei a Notting Hill, menos de um ano antes, eu havia feito a autoescola
de novo, mas aquilo não tinha ajudado muito. Como eu moro literalmente
onde trabalho, não preciso dirigir no dia a dia.
Mas Zoey insistiu para irmos de carro hoje, e foi ela quem dirigiu
da última vez. Desde que ela passou quase duas horas na chuva esperando
taxi e Uber em uma festa uns dois meses atrás, ela se recusa a depender
desse tipo de transporte.
— Então, qual é a sua ideia? — pergunto à minha melhor amiga.
— Continue jogando esse joguinho.
— Que joguinho? — Dave está tão perdido quanto eu.
Ela nos oferece um sorriso conspiratório. Isso não pode ser bom
sinal.
— Ele não te reconheceu. Deixe que continue assim.
Péssima ideia. Por vários motivos. O primeiro deles é: não sei
mentir, droga! Mas sei que não posso dar essa justificativa a uma
advogada como Zoey.
— Nem sei se vou vê-lo de novo.
— Ah, mas vai sim — ela afirma, com uma segurança que jamais
possuí.
— Como sabe?
— Ele ficou interessado. E você não deu muita bola para ele...
— Sim, porque eu estava praticamente tendo um derrame ao vê-lo
depois de dez malditos anos!
— Então... Caras como ele, acostumados a ter garotas a seus pés,
voltam para uma que reage com aparente indiferença. Eles gostam de ser
surpreendidos.
— Ah, eu com certeza o surpreendi. Especialmente com a história
do vibrador roxo.
— Quer deixar meu vibrador fora dessa?
— É verdade o que Zoe disse? — Dave questiona, os olhos
brilhando de curiosidade. — Você se guardou este tempo todo para ele?
— Hum...
— Sim! Para ele ou para o Ian Somerhalder — ela responde eu
meu lugar, e Dave começa a se abanar com a mão.
— Nossa, nem me fala. Eu só assistia a Diários de um Vampiro por
causa dele.
— E olha que eu achava que a Sam tinha mais chance com o Ian do
que com Dax — Zoey comenta, como se eu não estivesse ali.
— Por causa da promessa que ele fez ao seu irmão — Dave
também age como se eu tivesse ficado magicamente invisível.
— Sim — Zoey confirma.
— Pois esta é a chance de Sam de perder a virgindade com o
homem dos seus sonhos.
— E depois? — eu interfiro, e eles me olham como se tivessem
acabado de se dar conta de que ainda estou na conversa.
A conversa na qual EU sou o tema principal!
— Depois você parte para outra, querida — Zoey diz como se fosse
a coisa mais simples do mundo. — Pelo menos, você o terá por uma noite
inteira. Sei que não é suficiente, mas...
— Uma noite inteira é muito mais do que eu sonhei que teria
algum dia — digo, já me sentindo meio vazia por dentro.
— Além do mais, o Dax não vai ficar muito tempo aqui em
Londres.
— Como você sabe, Zoey?
— Minha mãe conversou na semana passada com a Sra. Caden, e
ela não parava de falar em como estava chateada que os gêmeos ficariam
apenas até o final de semana que vem.
— Estranho — comento. — Em geral, ele e a irmã só costumam
vir no Natal.
Mas ainda faltam dois meses para o Natal. E os pais deles tentam
visitá-los todo verão. Ou seja, essa vinda deles está completamente fora do
roteiro.
Os gêmeos são bastante certinhos quando o assunto é vir ao Reino
Unido, já que precisam deixar os escritórios dos Estados Unidos sem seus
respectivos chefes, e sei que não gostam de fazer isso.
— Os gêmeos Caden estão aprontando alguma coisa — Zoey
parece ler meus pensamentos.
— Independentemente do que for, o que importa é que Dax Caden
não tem motivos para ficar muito tempo em Londres, mas é mais que
suficiente para você convencê-lo a tirar sua virgindade — Dave comenta
todo risonho, e começa a bater palminhas.
— Gente, vocês estão falando como se eu fosse morrer em um mês.
Para quê essa pressa toda?
— Porque você pode morrer em um mês! — Zoey rebate.
— Ou em um dia! — Dave, sempre o otimista, complementa.
Reviro os olhos.
— Quer morrer uma virgem? — Zoey esfrega na minha cara o
argumento que sabe que vai me atingir.
Sim, eu morro de medo de morrer virgem, e é muito injusto a
minha melhor amiga usar esta informação logo num momento desses.
— Não quero ficar com ele com base em uma mentira!
— Não é uma mentira, é uma omissão.
Como sempre, a perfeita advogada. Sempre tem argumentos para
tudo.
— Além disso, vamos ser sinceros: não vai partir o coração dele —
Dave comenta. — E vai ser bom para você superar esse cara de uma vez
por todas.
Sabe o que é a pior parte? Esses dois doidos estão conseguindo me
convencer. Não consigo rebater os argumentos deles.
— Ai, meu senhor. Não acredito que eu vou fazer isso — eles
começam a comemorar, até eu admitir: — Por sinal, o que eu tenho que
fazer?
5
Dax

Algumas horas depois de sair da livraria, sinto meu celular vibrar.


Quando estou em Londres, uso apenas meu celular particular, que apenas
minha família e algumas poucas pessoas do trabalho conhecem.
Olho o visor e um sorriso surge em meu rosto quando vejo o nome
de Anne.
— Ei, Dax! — a voz da minha irmã gêmea é um misto de animação
e nervosismo.
— E aí? Como foi com os coroas?
— Papai está chorando até agora.
— O pai? Achei que a mãe ia chorar.
— Ela também chorou, mas já parou há uns dez minutos.
— Porra, acho que nem quando o Manchester perdeu na final do
campeonato eu o vi chorando.
— Eu bem sei... Mas eles ficaram muito felizes.
— Isso não é novidade.
— Entregou os convites do Sr. e da Sra. Carmichael? Nossos pais
disseram que eles estão em York hoje, mas que sempre tem alguém na
livraria.
— Sim, entreguei — olho pela janela, na direção da casa vizinha,
mas não vejo Sam.
Ela deve estar arrumando outra prateleira de livros na loja. Sim, eu
já estou agindo como um stalker. Desde que entrei na casa dos meus pais,
esta deve ser a centésima vez que olho pela janela, na esperança de vê-la.
Infelizmente (ou felizmente, porque essa minha obsessão repentina
não é nada saudável), a casa dos meus pais, apesar de ser bem ao lado da
dos Carmichael, não tem uma visão muito boa da livraria, porque não tem
janelas no primeiro andar naquela direção.
Tenho apenas uma vista lateral, de onde não consigo observar o
balcão. Não ficava hospedado aqui há anos; quando venho ao Reino Unido
no final do ano, passo o Natal com meus pais em Sussex, e o Ano Novo
com Zack no apartamento dele.
Agora, que sei quem é a nossa nova vizinha em Notting Hill, tenho
um motivo bem agradável para ficar hospedado aqui.
As luzes da loja se apagam, indicando que Sam está saindo.
— E convite dos Tuckers? — Anne me traz de volta à realidade.
— Não encontrei ninguém na casa, mana. Devem estar no
escritório. Mas juro que passo lá amanhã de manhã.
Os Tucker passam parte do tempo deles em Surrey, parte em
Londres. Teoricamente, eles devem estar em Londres ainda.
O Sr. Tucker começou a treinar a filha, Zoey, para sucedê-lo uns
dois anos atrás, e ele também tem sido um grande mentor para Zack, já
que a Sra. Carmichael proibiu o marido de colocar os pés de novo no
escritório.
— Ah, você não vai adivinhar. Lembra-se da Lisa, que vivia no
final da nossa rua?
— Sim, claro que lembro. Ela era uns dois anos mais nova que a
gente e estava no seu time de natação, não era?
— Isso! Eu a convidei para o casamento e ela nos chamou para o
open house da casa dela hoje.
— Hum... Não sei...
— Ah, vamos! O pessoal todo da rua vai!
— Todo mundo?
— Sim, ela disse que convidou até os funcionários do comércio da
rua.
Antes de me dar conta, eu respondo que vou, porque há uma chance
de Sam estar lá.
Sei que é ridículo; eu deveria ir por causa de todos os amigos com
os quais perdi contato enquanto fazia minha fortuna nos Estados Unidos,
mas a verdade é que não consegui tirá-la da cabeça a tarde inteira.
Eu me apronto rapidamente, mais animado do que deveria estar
depois de viajar a noite inteira e passar o dia distribuindo convites de um
casamento surpresa.
***
Devo admitir que foi bom encontrar meus amigos. Senti-me meio
culpado de ficar frustrado por ver todos, exceto Sam.
Porra, eu mal a conheço, e já estou procurando por ela em todos os
cantos. Tenho que desencanar.
Já desisti de encontrá-la aqui, quando a vejo de costas para mim,
meio agitada, parecendo que está procurando alguém. Será que procura por
mim? Eu me aproximo, e a chamo.
— Sam.
Ela se vira devagar, como se não pudesse acreditar que eu estou
aqui. Não, ela definitivamente não estava me procurando.
Quando me vê, fica boquiaberta.
— Tudo bem? — ela continua paralisada. Será que ela se lembra de
mim? Será que sou tão esquecível assim? — Sou eu, o Dax.
Ela continua me encarando com uma cara fantasmagórica.
— Da livraria.
Ela olha por cima do meu ombro e, em seguida, sinto alguém me
puxando para trás. Ah, merda. Só falta ela ter namorado.
Não é um homem que me encara; é Zoey Tucker. Zoey sempre teve
um lugar especial no meu coração; desaforada, com um humor cínico e
uma inteligência sagaz, mesmo quando criança ela era capaz de deixar até
o padre da nossa paróquia sem palavras.
— Zoey? O que você está fazendo aqui?
— Sou eu que deveria perguntar isso a você, Sr. Agora Sou
Americano & Rico & Perfeito.
Não consigo conter um sorriso.
— Já vi que não mudou nada.
Pelo menos, na personalidade. Porque, no resto, ela mudou
bastante.
Zoey era uma criança rechonchuda que sempre estava com um
milk-shake em uma mão e um pacote de biscoitos na outra.
Ela não perdeu suas curvas por completo, mas, agora, está bem
mais feminina.
E muito estilosa também. Seus cabelos cor de mel estão cortados
no ombro, com um penteado moderno e leve, que valoriza seus olhos
verdes. Zoey perdeu peso, mas não se tornou uma mulher magra; ao invés
disso, aprendeu a se vestir de forma a valorizar o corpo voluptuoso.
Sei que ela não é minha irmã, mas sinto um instinto protetor
gigante em relação a ela, assim como sempre foi com Rose, e me dá uma
vontade bizarra de cobrir suas pernas quando noto alguns dos caras da
festa admirando-as.
— Você também não mudou nada, Dax Caden — ela comenta em
seu tom tipicamente ácido — Vejo que continua dando em cima de tudo
que é mulher.
Sam! Olho em volta, mas ela parece ter desaparecido.
— Onde ela foi?
— Sua próxima vítima? Conseguiu fugir das suas garras.
— Ah, ela está ali — Vejo Sam aproximando da porta. — Com
licença.
Zoey me agarra pelo braço, me lança um sorriso sedutor e começa
a agarrar meu bíceps. Mas que porra...
— Nossa, você andou malhando?
— Como é que é? — questiono, sem entender mais nada.
Zoey Tucker, a pequena Zoey, está dando em cima de mim? Seria
como se Anne estivesse me paquerando!
— Desde quando você é a fim do Dax? — Zack aparece do nada ao
meu lado.
Não entendi nada. Ele tinha me dito que estava indo embora com a
namorada uns quinze minutos atrás.
— Desde quando é seu problema de quem eu sou a fim? — Zoey
grita de volta, soltando meu braço.
— Não é problema meu, mas eu achei que você fosse diferente.
Que conversa mais bizarra.
— Eu também achei que você fosse diferente, até começar a
namorar com a Mini Cruela.
Seguro a gargalhada, porque sei precisamente a quem Zoey está se
referindo. Gisele, a namorada de Zack. Queria não ter que dizer isso, mas
o apelido é perfeitamente apropriado.
Zack realmente não poderia ter escolhido uma namorada pior.
Linda, verdade, mas é insuportável.
— Eu sei que você não gosta dela e...
— Não gosto dela? Se ela morrer antes de mim, vou cuspir em seu
caixão e vou pichar seu túmulo, dizendo: “aqui jaz uma psicopata de quem
apenas um imbecil no universo sentirá falta!” Adivinha quem é o imbecil?
— O que está rolando aqui? — questiono, porque a interação deles
está bizarra demais para eu ficar em silêncio.
— NADA! — os dois respondem juntos, o que indica que algo está
rolando.
Será que eles andaram brigando na companhia? Estranho, porque
Zack nem mencionou. Pelo contrário, ele sempre elogia a competência de
Zoey quando nos falamos.
Danem-se eles. Quero encontrar Sam.
— Onde ela está? — pergunto em voz alta, dando uma olhada em
volta.
— Ela quem? — Zoey se faz de desentendida.
— A moça que estava aqui — respondo, perdendo a paciência.
Talvez ela não conheça a Sam. Afinal de contas, passa o dia no
escritório do pai.
— Ah, aquela beldade maravilhosa? — então Zoey sabe de quem
estou falando.
— Você a conhece?
— Conhece quem? — É Zack agora quem está desconfiado.
Eu o ignoro, assim como Zoey.
— Acho que ela acabou de sair.
A voz de Zoey soa bastante familiar de repente. Eu a observo por
alguns segundos, e consigo juntar os pontos. Ela conhece Sam, sim.
Melhor do que eu imaginava.
— Era você no telefone?
— Que telefone? — ela pergunta, mas, pela cara dela, sei que é a
mulher do vibrador roxo.
Ah, essa é impagável!
— Do que vocês estão falando?
Zoey arregala os olhos, e sei que agora está louca de vontade de se
livrar de mim.
— Por que você não vai logo atrás da beldade? — ela sugere, me
empurrando para saída. Em seguida, grita por cima do ombro para Zack:
— E por que você não vai cuidar da Mini Cruela?
6
Sam

A festa estava ótima, o apartamento novo de Lisa ficou muito fofo


e eu estava me divertindo com meus velhos amigos da rua.
Isto é, até alguém comentar que havia uma possibilidade dos
gêmeos Caden virem. Nem quis dizer nada sobre o que escutei a Zoey, por
medo dela começar a bolar um plano louco para me juntar a ele esta noite.
Além disso, nem sei se ele vai aparecer mesmo.
— Argh — Zoey reclama, olhando por cima do meu ombro —, seu
irmão chegou com a versão miniatura da Cruela.
— Quê?
— Seu irmão. E Cruela. Achei que ela já teria assassinado ele a
esta altura.
— Se ele não pedi-la em casamento ainda este ano, acho que ela é
capaz de matá-lo mesmo.
Nem acredito que, de todas as mulheres do mundo, ele foi escolher
logo uma das mais chatas que já conheci na vida e, pior, a ex-chefe cruel
de Zoey.
Não é nenhum segredo na empresa dos nossos pais que elas se
odeiam. Logo que Zoey terminou a faculdade, ela começou a trabalhar lá.
Como o tio Jack, o pai dela, não quis lhe dar nenhum privilégio, Zoey
começou por baixo, trabalhando como advogada júnior.
E foi logo no departamento de Gisele. Como Zoey é ainda mais
cabeça dura que o pai, nunca reclamou com tio Jack sobre Gisele, mas sei
que Zack já tinha ouvido falar, de várias fontes, sobre os problemas entre
as duas.
Nem preciso dizer que, a partir do momento em que começaram a
trabalhar, Zack se tornou seu arqui-inimigo também.
Nem quero pensar como vai ser quando tio Jack se aposentar e
Zack ficar com seu cargo como presidente, porque Zoey será sua vice e
tenho certeza de que não vai facilitar a vida dele.
Ao longo dos últimos anos, Zoey cresceu rapidamente na empresa.
Também, foram dezenas de finais de semana perdidos e vários casos
ganhos a favor da empresa.
Ela pode herdar a companhia, mas certamente mereceu suas
promoções. Hoje, ela também é gerente jurídica e par de Gisele.
— Nossa, nem trabalho mais no departamento dela, mas continuo
odiando a mulher.
— Não te julgo, Zoe. Também não entendo o que meu irmão vê
nela.
— Eu sei — noto tristeza em seu tom, e quero abraça-la, mas sei
que ela não gosta de se sentir vulnerável. Cruela é um assunto que
realmente mexe com Zoey. — O que ele vê nela são pernas longas e finas e
seios siliconados.
— Zack valoriza mais do que pernas e seios, Zoe.
Meu irmão tem vários defeitos, mas não consigo acreditar que ele
seria superficial a este ponto.
— Eu também achava isso do seu irmão. Mas... Cruela?
— Nem meus pais gostam dela... E você sabe como eles só veem o
lado bom das pessoas.
— Aquela mulher não tem lado bom, Sam. Só tem um lado ruim e
o outro diabólico.
— É... — sou obrigada a concordar.
— Você ainda está pensando no Dax?
— Penso nele há mais de dez anos, Zoey.
— Ai, às vezes eu esqueço o quanto você é ridícula.
— Eu sei, amiga. Nem me fale.
— Vamos pensar em outros caras — ela sorri para mim, e noto,
pelo brilho em seus olhos, que já esqueceu do meu irmão e sua namorada.
— Tem vários gatinhos aqui e... o Dax!
— Achei que você queria que eu pensasse em outros caras —
reviro os olhos.
— Vamos agora!
Ela me puxa escadas acima como uma maníaca, até o segundo
andar da casa e nos tranca no banheiro.
— O que você pensa que está fazendo, Zoey?
— O Dax está aqui!
Meu coração começa a pulsar mais forte.
— E meu irmão também está aqui — eu digo em voz alta.
Isso é um desastre. Dax vai descobrir quem eu sou e terei
dificuldade de explicar para meu irmão por que não revelei logo quem eu
era para seu melhor amigo.
Além disso, e por mais que eu ache o plano de Zoey uma loucura,
sei que minha única chance de ficar com Dax é se ele não descobrir quem
eu sou de verdade.
Ainda não sei se vou seduzi-lo, como Zoey quer, mas tampouco
estou preparada para destruir a minha oportunidade com Dax. Meu lado
romântico simplesmente não consegue abrir mão dele.
— Isso vai estragar totalmente nossos planos de juntar vocês dois
por uma noite.
Zoey diz exatamente o que estou pensando.
— Talvez esse não seja um bom plano, Zoe.
Eu minto para ela e para mim mesma, porque, para falar a verdade,
se esse é o único plano que vai me fazer ficar com Dax, então é um plano
que pode realizar meu maior sonho.
Mesmo que seja baseado em uma mentira. Digo, uma omissão,
como Zoey já repetiu umas mil vezes.
— Fala sério, Sam! — ela me agarra pelos ombros e começa a me
sacudir. — Se você não perder a virgindade com esse cara, vai morrer
virgem. Você quer morrer virgem, Sam?
— N-não.
Não quero. Esse é meu maior medo. Morrer sem nunca ter feito
amor com um homem.
— Não te ouvi! — ela me sacode mais, e sei que seus dedos
deixarão marcas roxas na minha pele. — Você quer morrer virgem?
— Não! — digo com mais força desta vez.
— VOCÊ QUER MORRER VIRGEM, PORRA?
— NÃO! — grito.
Ela me abraça forte, e sussurra no meu ouvido que vamos
conseguir por o plano dela em prática.
— Só não vai ser hoje — eu respondo.
— Isso mesmo. Me dá cinco minutos, que eu vou distraí-lo, aí você
sai de fininho pela porta dos fundos.
— Tudo bem.
Zoey me dirige um sorriso de confiança e sai do banheiro. Nerd
que sou, cronometro os cinco minutos, quase morrendo se ansiedade a
cada segundo que passa.
Depois do tempo combinado, desço lentamente as escadas.
Felizmente, não vejo nem meu irmão nem Dax. Zoey deve ter dado um
jeito de se livrar deles, porque eu também não a vejo.
Estou checando meus arredores à procura dela, quando ouço a voz
que perseguiu meus sonhos ao longo de muitos anos.
— Sam.
Meu coração volta a martelar enlouquecidamente. Como sempre
acontece quando Dax está nas proximidades, meus joelhos viram gelatina,
dificultando meus movimentos.
Ainda assim, não posso fingir que não o escutei. Eu me viro
devagar.
Aí, ele me encara. E eu fico muda. Ele continua me encarando. Eu
sinto como se estivesse nua em uma sala lotada de gente me encarando.
Por fim, ele parece perceber que eu estou me transformando em um
zumbi.
— Tudo bem? — continuo sem responder, porque minha bile subiu
à garganta e não quero arriscar vomitar nele. — Sou eu, o Dax.
Fala alguma coisa, Sam. Qualquer coisa. Você tem um mestrado em
literatura de Oxford, droga! Pode pronunciar duas palavras.
Minha garganta continua ignorando os pedidos da minha mente.
Estou ferrada. Completamente ferrada.
— Da livraria — ele diz, como se eu fosse esquecer aquele rosto
lindo e aquele sorriso irresistível.
Se eu ficar quieta mais um segundo, ele vai achar que eu entrei em
coma em pé mesmo e vai chamar a ambulância. Isso, ou vai me internar
em alguma clínica psiquiátrica.
Finalmente, Zoey aparece atrás de Dax e arregala os olhos,
percebendo que meu cérebro está fritando. Ela o puxa.
— Zoey? O que você está fazendo aqui?
— Sou eu que deveria perguntar isso a você, Sr. Agora Sou
Americano & Rico & Perfeito.
Agora que o olhar intenso de Dax não está sobre mim, consigo
voltar a me mexer. Aproveito a distração dele para fugir.
Tremendo do dedo mindinho até o último fio de cabelo, alcanço
meu carro, e saio pelas ruas de Londres. Quando já estou a dez minutos da
casa, vejo que meu celular está tocando sem parar. Paro em uma vaga em
frente a uma padaria fechada e atendo.
É Zoey.
— Onde você estava? — digo em tom acusatório. — Achei que iria
distraí-lo!
— Seu irmão me viu e a gente começou a discutir.
— Vocês nunca foram melhores amigos, mas vivem brigando
agora. Aconteceu alguma coisa?
— Além dele namorar a vaca que infernizou minha vida?
— Sei... — Sinto que há algo a mais nessa história, mas não vou
insistir. Quando se sente pressionada, Zoey vira um túmulo. — Bem, agora
que Dax me viu na festa, ele pode perceber quem eu sou.
— Duvido muito. Ele nem pareceu desconfiar quando perguntou
onde você estava.
— E onde ele está?
— Dax foi atrás de você — ela diz em um tom vitorioso.
— Mas eu já saí!
— Ah, do jeito que você dirige devagar, ele te encontra daqui a
pouco no caminho até Notting Hill.
Bem, eu disse para ele na livraria que cuido da casa dos meus pais
agora, então Dax pode ter chegado à conclusão que vivo lá.
Ainda assim...
— Ele não vai ficar me procurando pela cidade, Zoey!
— Dax ficou desesperado quando te perdeu de vista. É uma ótima
oportunidade para ir à casa dele e acabar logo os longos anos de espera!
Você vai deixar de ser virgem esta noite, amiga!
— Obrigada por me dizer isso e me deixar mais nervosa.
— Vai dar tudo certo. Quero que me conte todos os detalhes
amanhã.
Ela desliga na minha cara. Ótimo.
Com as mãos trêmulas e suadas, volto a dirigir. Claro que uma
tempestade praticamente despenca dos céus londrinos exatamente nesse
momento.
7
Dax

Logo notei que ela dirigia bem devagar. Estava com vontade de
ultrapassá-la, para obrigá-la a parar e falar comigo, quando entendi por
que era tão lenta ao volante: Sam claramente não tinha muita experiência
em dirigir na chuva.
Na verdade, ela não parecia ter muito jeito ao conduzir um carro.
Ponto.
Não sou um daqueles babacas que acham que mulher não sabe
dirigir. Contudo, Sam parece uma adolescente que roubou os carros dos
pais para ir a uma festa sem ter ideia do que fazer na direção.
Fico na dúvida se devo dar algum alerta para ela parar no
acostamento; posso assustá-la e causar um acidente.
Por outro lado, tenho que fazê-la parar o carro de algum jeito; se
ela continuar dirigindo, vai bater em alguém, mais cedo ou mais tarde.
Além disso, quero aproveitar esse encontro (ou melhor, minha
perseguição) para convidá-la para jantar. Decerto, depois de salvá-la de um
acidente bem provável, ela com certeza se sentirá agradecida.
No fim das contas, eu não precisei fazer nada; em um trecho onde a
estrada estava mais escorregadia, ela perdeu o controle do carro, e subiu
na calçada, que estava felizmente vazia.
Por sorte, como ela estava dirigindo tão rápido quanto uma
tartaruga, a colisão não foi forte. Mal amassou a frente do veículo.
Estaciono na frente do carro dela, respiro fundo, e saio da caminhonete.
Ela está tentando sair do carro, aos tropeços, tentando verificar o
estrago. Seus saltos não são muito altos, mas Sam não me passou a
imagem de ser uma mulher acostumada a andar de saltos. Ou com
vestidos.
Seu vestido branco, que estava bem discreto na festa, está quase
transparente na chuva. Engulo em seco, tentando suprimir a imagem das
coisas que quero fazer com ela naquele vestido, e caminho até seu carro.
— Sam? Está bem?
Ela me encara como se eu fosse o monstro do Lago Ness. Olhos
grandes como os dela deveriam ser proibidos; por um momento, esqueço
que estou na chuva, e me perco neles.
— Oi — ela diz baixinho, e eu só consigo ouvi-la porque estou
bem próximo.
Algumas pessoas passam por nós de carro, perguntando se
precisamos de ajuda, mas eu lhes garanto que está tudo sob controle.
— Você saiu apressada da festa — digo com um sorriso. — Espero
que não tenha sido por minha causa.
Sim, ainda estamos na chuva. Sim, seu vestido está ficando cada
vez mais transparente. Precisamos sair agora daqui, senão não responderei
pelos meus atos.
Tiro meu casaco e o coloco em volta de seus ombros trêmulos.
Ajudou um pouco, mas não o suficiente. Ainda consigo ver as longas
pernas sob a saia molhada.
— Eu... É que... — ela começa a gaguejar, suas bochechas
adquirindo um tom rosado adorável. — Encontrei uma pessoa na festa que
eu não via há muito tempo, e...
Ela se interrompe, olhando para os pés.
— Ficou nervosa e teve que ir embora?
— Por aí.
— É ex-namorado?
— Não.
— É algum cara que vai brigar comigo por você?
Os olhos dela arregalam de surpresa na direção dos meus, e minha
respiração fica acelerada.
— Hã... Não — um mínimo sorriso contorna seus lábios carnudos.
Que lábios beijáveis.
— Que bom. Então, que tal irmos até meu carro ligar para o
guincho? Está bem frio aqui fora, você vai pegar pneumonia.
— Tudo bem.
Ofereço meu braço para ela poder se apoiar e Sam caminha ao meu
lado, cabisbaixa. Depois de meia dúzia de passos, ela já tropeçou duas
vezes.
Na terceira, eu preciso segurá-la pela cintura para evitar que caia, e
nossos corpos acabam colados. E molhados.
As pupilas de Sam dilatam, e sinto sua respiração ofegante contra
minha face.
Ela tem cheiro de hortelã. Inspiro profundamente, mas, sentindo
seu corpo esguio ficar tenso nos meus braços, acho mais prudente me
afastar um pouco.
— Esses sapatos são péssimos — comento. — Posso levá-la até o
carro no colo?
Ela nem responde, apenas acena. É mais que o suficiente para mim.
Eu a pego no colo sem dificuldade, e tenho uma sensação bizarra de que
seu corpo elegante e esguio, com curvas nos lugares certos, foi feito para
se encaixar nos meus braços.
Rapidamente, agora que ela não está mais tropeçando a cada dez
centímetros, alcanço meu carro e a coloco no banco do carona, dou a volta
e, quando entro do lado do motorista, ela já está falando com seu seguro.
— Obrigada por me carregar — ela comenta timidamente ao
encerrar a ligação. — Uma amiga minha insistiu que eu usasse saltos. E
esse vestido.
Quando ela olha para o vestido, arregala os olhos e começa a tentar
esconder as belas pernas sob a saia encharcada com as pequenas mãos.
Apesar de adorar a vista das longas pernas, quero deixá-la
confortável. Ligo o aquecedor do carro e direciono as saídas para ela, para
ela secar mais rápido, e pego outro casaco que está no banco de trás, e lhe
entrego.
— Você está linda, mas realmente não está preparada para uma
chuva dessas.
— Ah. Obrigada.
— Então, vamos esperar aqui ou posso te levar para Notting Hill?
— Eles já estão chegando — ela comenta, olhando pelo retrovisor,
e noto um guincho se aproximando.
Ela baixa a janela para entregar as chaves do seu carro e, em
poucos minutos, eles arrumam tudo e o levam para a oficina.
— Notting Hill? — questiono, e ela responde com um leve
balançar de cabeça.
Volto a olhar para seu rosto, que está pálido. E seu lábio inferior
está tremendo. Droga.
— Você está tremendo, Sam.
— S-sim. Um pouco.
Aumento o aquecedor, até me dar conta de que, como um idiota, eu
lhe dei um casaco para cobri-la, mas ela precisa se livrar das roupas
molhadas.
— Espera um segundo. Tenho algumas roupas secas no porta-
malas.
— Não precisa e... — saio antes que ela termine a frase.
Retorno com algumas roupas nas mãos.
— São grandes para você, mas são quentes.
Entrego uma calça de moletom e uma camisa velha de algodão
para ela e me viro de costas no banco para lhe dar privacidade.
Sinto ela me tocar no ombro segundos depois, e, ao me virar, fico
meio zonzo com o sorriso que ela me dirige.
— Obrigada — o sorriso dela se alarga quando ela inspira
profundamente. — Já estou melhor.
— Que bom, Sam — sorrio de volta.
Pego o casaco extra que trouxe do porta-malas, tiro a minha camisa
social encharcada e coloco o casaco seco. Ela está me olhando com olhos
esbugalhados.
Sorrio por dentro. Não sou só eu que estou atraído por ela. O
sentimento é mútuo. Espero só que ela esteja atraída o suficiente para
passar mais tempo comigo.
— Você está morando na casa dos Carmichael? — questiono só
para confirmar.
— Sim, no terceiro andar. Transformamos os dois últimos andares
em apartamentos independentes.
Ligo o carro e saio pelas ruas londrinas. A essa hora, devemos
chegar rápido em Notting Hill, e quero aproveitar cada segundo em sua
companhia. Então, dirijo quase tão lentamente quanto ela estava dirigindo
antes do acidente.
Se ela reclamar, dou a chuva como desculpa. Sam, porém, parece
bem mais confortável agora que está de roupas secas, e se acomoda no
assento de couro.
— O Zack, o filho mais velho dos Carmichael, comentou comigo
sobre a reforma, mas não tinha comentado quais eram os planos. Achei
que a Sra. Carmicheal passasse alguns dias da semana em Londres para
cuidar da livraria.
— Até alguns meses atrás, era assim mesmo. Agora, ela só vem a
Londres para entregar os livros que encontrou em suas viagens.
— Nunca imaginei que a Sra. Carmichael deixaria outra pessoa
cuidar da livraria dela.
— Ah, mas ela ainda controla bastante.
Rimos juntos do comentário dela. Sim, a Sra. Carmichael é uma
mulher gentil e adorável, mas é bem controladora e paranoica quando o
assunto é sua querida livraria de obras raras.
— Eu imagino. Ainda assim, ela deve confiar muito em você. Qual
é a sua formação?
— Fiz graduação e mestrado em Literatura Inglesa em Oxford.
— Uau. É uma universidade excelente. Você tem cara de quem
conseguiu bolsa.
— Consegui. Integral.
Ela fica vermelha de vergonha, o que eu acho absolutamente fofo.
Outras pessoas no lugar dela seriam arrogantes, mas não Sam. É como se
ela tivesse vergonha por ser inteligente.
— A minha primeira impressão de você foi que se tratava de uma
mulher tão inteligente quanto era bonita. Pelo visto, eu estava certo.
— E você? — ela tenta mudar o foco da conversa, o que só pode
significar uma coisa.
— Já vi que você é do tipo de pessoa que fica desconfortável com
elogios...
— Não... É que... Já sei muito sobre mim mesma. Gostaria de saber
mais sobre você.
Uau. Uma pessoa que não quer ficar tagarelando sobre si própria,
seus sucessos e fracassos, seus problemas e gostos?
Realmente gosto desta garota.
Sempre achei que relacionamentos fossem uma via de mão dupla.
Duas pessoas que gostam de conversar com a outra, mas também gostam
de escutar a outra.
Nos dias de hoje, as pessoas ou estão falando, ou fingem que estão
escutando quando, na realidade, estão checando as redes sociais no celular.
— Eu digo o mesmo, Sam. Já sei muito sobre mim, e quero saber
mais sobre você — tomo coragem e decido que chegou a hora de fazer o
convite. — Que tal assim: a gente janta e reveza nas perguntas sobre o
outro?
— Agora?
Olho para o painel. Já passou das dez da noite, mas é sexta, então
não é muito tarde.
— Sim — respondo com um misto de gentileza e insegurança.
Engraçado; nunca tive tanto medo de ser rejeitado antes. Assim
como nunca quis tanto receber um “sim”. Em menos de vinte e quatro
horas, essa garota já bateu vários recordes comigo.
— Os restaurantes estão fechados em Notting Hill a esta hora.
Ela tem razão. Notting Hill não é como o Soho, ou outras partes
mais agitadas de Londres.
— Verdade... — fico desanimado por um instante, até me lembrar
de uma coisa. — Minha irmã comprou bastante comida assim que chegou
em Londres, porque vai fazer um jantar na semana que vem para alguns
amigos. Posso cozinhar um jantar para a gente e reponho o que usar
amanhã.
— Hã... Eu...
— Não se preocupe, Sam. Não vou forçar nada. É só um jantar.
Assim que quiser, pode sair, e estará bem ao lado da sua casa. Somos
vizinhos, lembre-se.
Ela abre a boca dela para responder, mas seu celular nos
interrompe. Sam olha para a tela e um sorriso aparece em seus lábios.
Devo admitir que fiquei com ciúmes. Será que algum cara mandou
mensagem para ela? Não resisto e acabo me intrometendo, mesmo
sabendo que estou agindo feito um adolescente inseguro e babaca:
— É a pessoa do seu passado que estava na festa?
— Não... Não é nada.
— O seu sorriso me diz que é alguma coisa, sim — insisto, já me
sentindo melhor que, pelo menos, não é do tal cara que mexeu com ela a
ponto de fazê-la sair às pressas da festa.
— Ah... É que é besteira. Minha série favorita estreou hoje, e eu
pedi para receber notificação.
Ela realmente é uma nerd. Uma nerd linda e adorável.
— Me conta, Sam.
— É de ficção científica... Meio nerd, mas...
Ela me mostra o celular. Não, não é possível. Como que ela foi me
mostrar justamente essa série? Também estava ansioso pela estreia da
nova temporada!
— É a minha série favorita! — digo, e o sorriso dela em resposta
quase me faz bater a maldita caminhonete. — Já disponibilizaram todos os
episódios?
— Sim.
— Melhor ainda. Que tal eu preparar nosso jantar enquanto
assistimos ao primeiro episódio juntos?
— Eu adoraria.
— Nem acredito que você curte essa série, Sam. Nenhum dos meus
amigos assiste, e nunca tenho com quem comentar.
— Nem me fale... Minha melhor amiga vive reclamando que sou
viciada. Adoro conversar sobre as teorias da conspiração envolvendo as
origens da protagonista.
— Qual é a sua teoria favorita?
Continuamos conversando até chegarmos em Notting Hill, e, juro,
apesar de ser um papo tolo sobre um seriado, é a conversa mais divertida
que tenho em muito tempo.
Gosto bastante de Sam.
8
Sam

Meu celular continua vibrando na minha mão. Decido desligá-lo,


porque Zoey não vai desistir de me perguntar o que está acontecendo até
eu lhe dar os mínimos detalhes.
E, esta noite, quero focar no Dax. Que minha amiga me perdoe,
mas a noite é dele e minha.
Ele estaciona em frente à antiga casa dos pais dele. A casa dos
Caden é mais simples que a nossa, mas muito confortável.
Também tem três andares só que foi reformada pela última vez uns
quinze anos atrás, enquanto a nossa recebe manutenção continuamente,
especialmente a livraria.
Manter a casa é bastante custoso, mas, como está na família há
décadas, eles se recusam a vendê-la. Mamãe comentou comigo que eles
sequer aceitam alugá-la.
Os Caden a usam cada vez menos; Anne fica uma ou duas semanas
na casa todo ano quando visita o Reino Unido. Acho que é a primeira vez
em muito tempo que Dax se hospeda aqui.
Não sei por que ele ficou aqui e não em Surrey com os pais ou no
apartamento de Zack. O que importa é que ele voltou a ser meu vizinho.
Desta vez, além de proibido, é meu vizinho famoso e milionário.
Começo a tremer quando entro na casa; desta vez, é de nervosismo
mesmo, porque a temperatura está bem agradável.
Dax, no entanto, consegue me acalmar em questão de minutos,
contando piadas, me ocupando como sua ajudante de cozinha e, é claro,
com um bom vinho.
Ele me deixa confortável, quase como se eu estivesse em casa. Em
nenhum momento ele me toca de forma íntima demais ou diz coisas que
poderiam me deixar constrangidas.
É como se ele soubesse exatamente como não me deixar ansiosa.
Claro, sendo o homem experiente que é, ele sabe que não vai me seduzir se
for agressivo. Se bem que, do jeito que gosto dele, acho que ele
conseguiria me seduzir de qualquer jeito.
Ao invés disso, Dax me seduz com olhares intensos, com palavras
gentis, com comentários engraçados.
No fim, nós nos entupimos de comida e passamos a noite
assistindo à nova temporada. O que era para ser uma sessão com o
primeiro episódio, acaba se tornando uma sessão com seis episódios,
metade da temporada inteirinha.
E juro que ele não forçou a barra para eu ficar mais em nenhum
momento. É que, a cada novo episódio, nós nos divertíamos criando
teorias para o episódio seguinte, e acabávamos assistindo para ver quem
tinha chutado certo.
Estamos negociando os termos do sétimo episódio, quando vejo
que já passam das três da manhã. Céus, eu tenho que estar na livraria em
menos de seis horas!
— Dax, eu tenho que ir.
—Já? — o rosto dele de cachorro abandonado é tão fofo que
começo a rir.
— Como assim, já? Você viu a hora?
Ele olha para o relógio digital da sala, que fica em cima do
aparador, e arregala os belos olhos azuis. Pelo jeito, ele tampouco notou a
hora passar.
— É... Está bem tarde... — ele parece arrasado com a notícia. —
Mas é que está tão divertido...
— Eu sei... — também não queria ir, especialmente quando ele me
olha desse jeito, me implorando para ficar. — Mas sábados são os dias
mais cheios da livraria.
Abrimos às nove, e eu preciso estar lá às oito para arrumar tudo,
então tenho apenas poucas horas para descansar. Não que eu vá conseguir
dormir depois desta noite.
— Eu me lembro — ele comenta. — Por causa dos famosos
leilões.
— Sim. E eu que os organizo agora, então... — levanto os ombros,
indicando que não tenho muita escolha.
Espero que ele saiba que, se não fosse por isso, passaria a noite por
ele. Zoey vai ficar furiosa, porque não fizemos nada sexual (nem nos
beijamos!); ainda assim, este foi, de longe, o encontro mais legal da minha
vida.
E nem é por ser o Dax, o cara que está nos meus sonhos desde
sempre. É que ele é uma companhia muito mais divertida do que eu
poderia imaginar.
Eu jamais pensei que tivéssemos tantas coisas em comum. Nosso
gosto para filmes, séries e até livros são bem parecidos.
— Tudo bem — ele passa a mão pelo rosto. — Eu também terei
um dia cheio.
Levantamos juntos do sofá, e ele me acompanha até a porta.
— Obrigada pelo jantar — digo, saindo da casa.
— Vou acompanhá-la até sua casa.
Não há qualquer necessidade disso, já que eu moro literalmente ao
lado dele e nossa rua é uma das mais seguras da cidade. Mas eu sou
egoísta, e quero aproveitar cada segundo com ele.
Dax coloca a mão sobre a minha lombar, me fazendo ficar
arrepiada dos pés à cabeça. Estremeço um pouco e, achando que estou com
frio, ele coloca o braço em volta dos meus ombros.
Quando chegamos à minha porta, fico meio nervosa, mexendo no
molho de chaves, torcendo para que ele me dê um beijo. Claro que eu não
tenho coragem de fazê-lo.
Mais um motivo para Zoey querer me assassinar.
Ele afasta uma mecha de cabelo dos meus olhos, e me dá um beijo
na bochecha, bem no canto da boca. Claro que eu paro de respirar e fico
paralisada do pescoço para cima, como a tonta que sou.
— Eu adorei nosso encontro, Sam.
— Eu também.
Ele me entrega o vestido molhado e o sapato de saltos (ainda estou
usando a roupa dele e tênis velhos de Anne que ele me emprestou), e, com
uma carinha triste, acena uma última vez e se afasta.
Destranco a porta e ouço ele me chamar.
— Sam, vamos jantar hoje de novo?
— Eu não sei...
Eu quero. Muito. Mais do que qualquer coisa.
Mas ele não quer sair comigo. Com a irmã caçula de seu melhor
amigo. Com a garota que ele conhece desde que andava de fraldas.
Ele quer sair com uma mulher misteriosa que acabou de conhecer.
Certamente não sairia comigo se soubesse que sou uma Carmichael.
Como eu quero lhe contar quem eu sou. Não quero mais mentir,
não quero mais fingir que eu o conheci há menos de vinte e quatro horas.
Achei que eu conseguiria fazer isso, mas não sei se sou capaz.
— Eu devo ir para Sussex na segunda, onde meus pais vivem agora
— ele diz. — Quero muito te ver mais este final de semana.
Droga. Vou falar. Preciso falar. Enquanto ainda há tempo. Enquanto
nada aconteceu. Digo, nada muito sério.
— Dax, eu preciso te contar uma coisa.
— Não precisa, Sam. Eu sei. Eu ouvi a sua ligação com sua amiga,
lembra?
Ah. Ele acha que eu estou falando do fato que sou virgem. Que ele
sabe. Por causa da bocuda indiscreta da Zoey.
— Obrigada por me lembrar disso.
— Olha, eu estou muito atraído por você. De verdade. Mas eu não
estou te chamando para jantar contigo de novo por causa de sexo.
— Ah.
— É que... Na verdade, esta é a primeira vez que passo a noite
inteira ao lado de uma mulher por quem eu sinto uma atração insana e não
rola nada.
— Ah. Imagino.
Atração insana? Ele disse que sente uma atração INSANA por
mim?
— Não, desculpa eu falei errado. Não quis soar como um babaca. A
verdade é, apesar de não ter rolado nada sexual entre a gente, este é o
melhor primeiro encontro que já tive na minha vida. E eu adoraria te
conhecer ainda mais.
— Eu...
Sou Samantha Rose Carmichael, a irmã – proibida – do seu melhor
amigo. Somos vizinhos desde que nascemos, basicamente, e você sempre
me enxergou como uma garotinha.
As palavras queimam na minha garganta, mas não saem.
— Sam, diga que sim. Por favor. Não sei se você sempre conhece
caras com quem se dá bem, mas eu geralmente não me dou tão bem assim
com as mulheres com as quais eu saio. Sinto que há algo aqui, e não quero
desperdiçar esta oportunidade.
— Eu...
Sou Samantha Rose Carmichael!
Claro que as palavras não saem. De novo.
— Me dê mais uma chance, Sam. Mais um jantar. Se eu não
convencê-la que vale a pena me conhecer melhor, te deixo em paz.
Droga. Uma vozinha me diz para virar a chave e entrar logo em
casa. A outra vozinha, do Time Zoey, diz que eu tenho que aproveitar
minha vida e ficar logo com o Dax para não morrer uma virgem.
— Que horas? — pergunto.
Em geral, minha voz responsável vence, mas, desta vez, estamos
falando do Dax. Então é natural que a minha voz impulsiva Time Zoey
venceu.
— A livraria ainda fecha às seis?
— Sim.
— Então que tal às sete?
— Combinado.
— Obrigada por esta noite, Sam.
— Até... Hoje à noite.
— Mal posso esperar.
Pois eu esperei a minha vida inteira, Dax.
9
Sam

— Como assim, você não deu pra ele? — Zoey praticamente berra.
A livraria inteira olha na nossa direção.
— Cala. A. Boca. — Sussurro de volta, enquanto aceno para o Jack,
nosso leiloeiro, continuar.
Felizmente, como o ótimo profissional que é, Jack consegue dar
continuidade ao leilão como se nada tivesse acontecido.
Acho que, mesmo se Zoey começasse a falar de seu vibrador roxo
de vinte e cinco centímetros, Jack conseguiria finalizar o leilão sem
dificuldade.
Até o momento, ele vendeu três dos livros que colocamos no leilão
de hoje. E já nos ajudou a lucrar mais do que eu consegui durante a
semana inteira.
— Gente, você consegue ser mais difícil do que uma freira — Zoey
continua reclamando. — O que eu vou ter que fazer para você perder a
virgindade? Vou ter que te trancar pelada em um quarto com ele?
— Eu...
— Vocês ao menos se pegaram?
— Eu...
— Jesus Cristo — ela olha para o teto —, ela nem pegou o cara?
— Não é assim — tento me defender. — Foi romântico.
— Diga-me exatamente o que aconteceu.
À medida que vou contando, ela vai ficando mais impressionada.
— Nossa, foi bem romântico mesmo.
Em seguida, me dá um tapa na nuca.
— Ai! Por que essa violência toda?
— Porque você é uma retardada!
— Eu sei, mas...
— Mas nada! Eu ouço você falar desse cara a minha maldita vida
inteira, e agora, que você finalmente tem uma chance com ele, nem dá uns
pegas no gato?
— Não gosto de mentir para ele, Zoey!
— Você não está mentindo, está omitindo!
Aí vem ela, dando uma de advogada.
— Mesma coisa.
— Não é! — ela insiste. — Além disso, homens vivem mentindo
para pegarem mulheres, então, em nome de todas nós, você poderia dar o
troco. Dax nunca vai descobrir.
— Como pode ter tanta certeza, Zoey?
Não sei o que é pior: mentir para levá-lo para a cama ou ser pega
na mentira. Imagina se ele descobrir? Vai me odiar! E não quero que Dax
me odeie.
— Dax mesmo disse que está indo para Surrey na segunda — ela
argumenta. — Depois disso, aposto que ele vai voltar para os Estados
Unidos.
— Mas em dois meses ele retornará a Londres no Natal!
— E ficará na casa dos pais em Surrey, onde fica todos os anos.
Enquanto isso, seus pais ficarão em Notting Hill contigo, onde passam
todos os Natais.
— Verdade.
Em geral, nossos pais, os Tuckers, os Caden e os Carmichael,
passam a virada de ano juntos, mas cada um faz sua própria ceia de Natal.
— Provavelmente, vai levar mais dez anos para vocês se verem de
novo — Zoey continua — e, com sorte, você já vai ter ficado uma baranga
e ele nem vai te reconhecer. De novo.
— Obrigada pela confiança.
— Você se guardou a vida inteira para este cara, Sam. Agora, tem a
chance de perder a virgindade com Dax, como sempre sonhou. Não
desperdice esse sonho, por favor!
— Meu irmão disse que, se eu algum dia ficasse com Dax, ele
ficaria contigo.
Ela fica boquiaberta. Eu nunca contei para a Zoey sobre o acordo
que fiz com ele. No início, foi porque não queria que ela me odiasse; ela
tinha uma queda do tamanho do Niágara Falls pelo Zack.
Depois, quando eles se mudaram para os Estados Unidos, nem
pensei muito mais no pacto que fiz com Zack.
— Pois Zack pode continuar sonhando — ela diz de um jeito
esquisito, sem me olhar nos olhos.
— Aconteceu alguma coisa entre você e o Zack? — eles vêm
brigando há algum tempo, mas, mesmo antes dele começar a namorar a
Gisele, havia um clima meio estranho entre eles.
— Já pensou no que vai vestir esta noite?
Mais uma vez, ela foge do assunto. Sim, tem alguma fofoca bem
cabeluda aí. Eu vou descobrir. Na hora certa. Uma advogada como Zoey
sabe evitar assuntos como ninguém.
— Não.
Por que ela tinha que me lembrar disso? Agora fiquei ansiosa de
novo. Dax está acostumado a sair com modelos lindas e mulheres
elegantes, não com uma garota que nem sabe andar direito de salto alto!
Se bem que ele não pareceu se importar muito com o fato de eu
estar vestida com calça de moletom e camisa velha ontem.
— Como será um jantar em casa, não pode ser nada muito chique
— Zoey tagarela. — Mas podemos dar um jeito de colocar algo
confortável em você, mas que ele consiga tirar com rapidez.
— Ai, meu pai eterno.
Acho que prefiro quando ela fala do seu vibrador favorito.
— E é melhor você perder a virgindade hoje, Samantha Rose
Carmichael.
Alguns olhares se voltam para nós duas. Obrigada por espalhar por
toda Londres minha situação sexual, Zoey Tucker. Dirijo um olhar bem
feio para ela, quando somos interrompidas por uma senhora.
— Gostaria de levar essa edição especial de Orgulho e Preconceito,
por favor.
Pela cara dela, com certeza escutou o comentário de Zoey.
— Ah, claro — dou um sorriso amarelo.
Quando finalizo a venda, comento com Zoey:
— Acho melhor você parar de conversar comigo quando eu estiver
trabalhando, senão vão achar que isso aqui é um sex shop.
10
Dax

Não consegui dormir um minuto sequer na noite passada. Ainda


assim, quando ouço a campainha tocar precisamente às sete horas, não
sinto nem um pingo de sono.
Pelo contrário; parece que acabei de receber um a injeção de
adrenalina.
Limpo as mãos no pano de prato e vou abrir a porta. Sei que a vi
apenas algumas horas antes, mas parece que se passaram dias. E ela
consegue estar ainda mais bonita do que eu me lembrava.
Sam usa um vestido listrado que bate nos joelhos e é justo na
cintura, e um casaco de lã azul escuro por cima. Parou de chover, mas,
como bons londrinos, sabemos que o tempo pode virar a qualquer instante
em Londres, especialmente nesta época do ano.
— Uau. Você está linda.
Suas bochechas ficam rosadas com o comentário, e ela abaixa os
olhos, esticando o braço para mim.
— Trouxe vinho.
Ela muda de assunto imediatamente, para fugir do meu comentário.
Sua timidez é adorável. Geralmente, mulheres atraentes como Sam usam
sua beleza para manipular homens.
Sam, por outro lado, parece nem perceber como ela afeta os
homens à sua volta.
— Esse vinho vai ficar ótimo com a lasanha aos quatro queijos que
estou preparando.
Abro espaço para ela entrar, e fecho a porta atrás dela. Sam inspira
profundamente, e passa a língua pelos lábios vermelhos.
— Isso é chocolate? — ela pergunta, praticamente salivando.
— Sim, estou fazendo brownies. Você não é alérgica a chocolate,
né?
— Deus me livre. Se fosse, teria uma depressão seríssima. Eu amo
chocolate.
Ajudo-a a tirar o casaco, porque deixei a lareira acesa, e a
temperatura está bastante agradável aqui dentro. Agora, sem o casaco
pesado escondendo algumas de suas curvas, posso admirá-la melhor.
Claro que Sam me flagra praticamente babando.
— Nossa, sei que já disse isso, mas você é linda demais.
— O-obrigada.
— Você realmente não está acostumada a receber elogios, não é?
Coloco a garrafa de vinho sobre a ilha na cozinha, e coloco a
lasanha do forno. Vou sugerir que a gente jante na ilha mesmo. Quero um
jantar informal, como foi o de ontem.
— É que... Eu mudei bastante desde a adolescência.
— Deixe-me adivinhar: você era o patinho feio que virou cisne.
— Hum...
Mais uma vez, ela fica sem graça.
— Cara, não te aguento.
Sem pensar, eu a seguro pela nuca e a puxo contra meu corpo, e
esmago meus lábios nos dela.
O corpo de Sam fica rígido por um momento. No seguinte, ele
relaxa de uma vez, e ela cola o corpo no meu. Estamos nos tocando dos
calcanhares ao peitoral, e isso me faz estremecer, porque a sensação é
simplesmente perfeita.
O beijo é lento, suave, diferente daquele que eu imaginava que
seria o nosso primeiro. Com outras mulheres, o primeiro beijo significava
mãos arrancando roupas, lábios mordiscando a pele sensível, e outras
partes do corpo se encaixando.
No lugar disso, o que acontece agora é infinitamente mais
perigoso, porque envolve emoções. Emoções essas que sinto por uma
mulher que acabei de conhecer.
Há atração naquele beijo, e tesão também, tanto que minha calça já
está apertada, mas o que mais há nele é admiração e carinho. E eu nunca
fui do tipo carinhoso.
Acaricio sua mandíbula, até que ela se abre para mim. Não perco
tempo; invado-a com a língua, enquanto as mãos dela me seguram pelos
ombros. Começo a brincar com a língua de Sam, arrancando gemidos de
sua garganta.
É a minha vez de gemer na sua boca quando sinto seus dedos
passando pelos músculos dos meus braços, agarrando-os, como se eles
pudessem lhe dar forças.
Minhas mãos, que estavam comportadas em sua cintura, sobem até
seus seios. Desde que a vi ontem na livraria, pensei em como seria tocá-
los, senti-los com a minha mão e a minha língua. Quero abocanhá-los.
Sam é esguia nos lugares certos e curvilínea onde importa. Ela tem
longas pernas e cintura fina, seios fartos e um bumbum redondo de deixar
qualquer cara suspirando.
Hoje ela usa um vestido simples e comportado, mas que tem um
decote em V que revela o suficiente para me deixar salivando.
Mesmo com o tecido grosso do vestido e o sutiã, sinto seus
mamilos endurecendo sob meu toque, e o corpo de Sam estremeceu de
prazer.
As mãos dela escorregam pelas minhas costas até ela encontrar a
barra da minha camisa. Ela passa as mãos por dentro, me deixando
arrepiado quando sinto sua pele quente contra a minha.
Decido que também quero tocar sua pele. Encontro a manga do
vestido e a puxo para baixo, revelando um sutiã de renda muito sexy.
Separo nossas bocas apenas para encarar seu seio quando afasto o sutiã.
Que visão linda da porra.
Volto a beijá-la, e ela grunhe algo incoerente, talvez pedindo mais,
e é isso que eu lhe dou. Ao mesmo tempo que aprofundo o beijo,
explorando cada canto de sua boca deliciosa, puxo seu mamilo entre meus
dedos.
Abafo seu grito com o beijo, e começo a descer meus lábios, para
sua mandíbula, seu pescoço... Sei que não consigo me controlar mais. Sei
que, se continuar, ela pode se arrepender.
Sam é inexperiente, e não posso me esquecer disso. Nem sei até
onde ela já foi com um homem, até onde ela já se envolveu.
Sabendo que estou chegando ao fim do meu limite, eu me afasto
enquanto ainda consigo. É uma das coisas mais difíceis que já fiz.
Vejo seus lábios inchados dos nossos beijos e quero beijá-la de
novo. Colo nossas testas e fecho os olhos enquanto acalmo a respiração.
— Isso é porque eu disse que me comportaria.
— Eu também não me comportei, Dax.
— Não diz esse tipo de coisa, Sam, ou eu vou continuar te beijando
e não conseguirei me controlar.
— E se eu quiser que você não se controle?
Uau. Eu acabei de morrer e fui para o paraíso.
— Acho melhor eu ir terminar o jantar.
Vamos conversando e tomando vinho. Acabamos jantando na ilha
da cozinha mesmo, entre risadas e mais taças de vinho. A cada minuto que
passo ao lado de Sam, mais eu gosto dela.
Quem sabe, eu não fico trabalhando do nosso escritório de Londres
até o Natal, para conhecê-la melhor? Ela definitivamente vale a pena. E
meus pais vivem reclamando que sempre fico pouco tempo na Inglaterra.
Porém, por ora, não vou lhe falar dos meus planos. Não sei o que se
passou com ela, mas Sam é bem assustada com o sexo masculino, e sua
inexperiência apenas a deixa ainda mais insegura.
Porra, se ela soubesse como é linda... Ela nem reparou como os
homens da festa a observavam enquanto ela praticamente fugia.
Quero descobrir quem foi que a assustou ao ponto de largar a festa
tão cedo, mas é algo que deixarei para depois. Se meus planos derem
certo, teremos bastante tempo para nos conhecermos melhor.
— Quer terminar de assistir à série?
— Com certeza!
Ela tenta se levantar e acaba tropeçando. Eu a agarro pela cintura,
me desequilibro também, mas giro nossos corpos, de forma a receber o
impacto do chão.
— Nossa, eu sou muito desajeitada.
— Acho que chega de vinho para você.
Ela gargalha.
E me beija. E eu beijo de volta. Só que, com o vinho, o pouco
autocontrole que eu tinha foi para o espaço.
— Acho melhor pararmos agora.
— Por quê? — ela pergunta, mordiscando meu lábio. Sério... Essa
mulher está dificultando meus planos de ser um cavalheiro esta noite —
Está tão bom...
— Porque, se não pararmos agora, não sei se consigo parar mais,
Sam.
— E se eu não quiser parar?
— Sam...
Ela pode dizer isso agora, quando a atração entre nós está
explosiva, quando o vinho está anuviando nossos pensamentos, mas pode
se arrepender amanhã.
— Não, me escute. Eu sempre parei antes, Dax. Sempre esperei
antes. Porque nunca senti que era o momento certo.
— Não quero forçá-la a nada.
— Você me disse que ontem tivemos o melhor primeiro encontro
da sua vida.
— E hoje tivemos o melhor beijo.
— Eu sinto exatamente o mesmo. Cansei de esperar. Cansei de
parar.
— Sam. Nós mal nos conhecemos. Você mal me conhece.
— A decisão é minha. Se não me quiser, posso ir embora.
Ir embora? É a última coisa que eu desejo, especialmente quando
ela está deitada sobre mim, sua maciez se encaixando perfeitamente nos
meus músculos.
Sinto-a quente entre as pernas, e meu amigo fica louco para se
enterrar dentro dela.
— Você sabe muito bem que não é isso, Sam.
— Então, qual é o problema?
— Não quero que se arrependa disso.
— Eu vou me arrepender é se não fizer isso agora. Contigo.
A segurança nos olhos dela foi o que me convenceu.
11
Sam

Nem acredito que consegui dizer tudo aquilo. Não tenho ideia de
onde veio toda aquela ousadia, aquela coragem, mas funcionou. Sei que o
convenci quando ele me puxa para um novo beijo.
Desta vez, o beijo é sedutor, quase agressivo, como se ele mal
pudesse se conter de desejo. Dou um beliscão na perna, apenas para me
certificar de que estou acordada enquanto Dax Caden me beija
enlouquecidamente.
Ele estica o braço e tenta alcançar a carteira que está em cima da
mesa de centro da sala. Sabendo o que ele quer pegar, eu seguro sua mão e
o interrompo.
— Não quero usar preservativo na minha primeira vez, Dax.
Nossa, estou corajosa mesmo. Se Zoey estivesse aqui, ela estaria
gritando: “Vai, Sam! Vai, Sam! Vai, Sam!”.
Dax me observa com admiração nos olhos. Quantas vezes sonhei
quem ele me olharia assim, não como uma garotinha boba, mas como uma
mulher que deseja?
— Tudo bem — ele segura meu rosto, usando os dedos para
acariciar minhas bochechas. — Você estará segura comigo. Sempre uso
preservativos e faço exames regularmente.
Sorrio para ele, roçando nossos lábios.
— E eu tomo pílula há anos.
Gosto de ter o ciclo regulado.
Ele se levanta e me ajeita em seu colo como se eu fosse tão leve
quanto uma pena, e me carrega até a mesa da cozinha.
Que bom, porque não sei se iria aguentar esperar que ele me
carregasse até o terceiro andar.
Não há mais palavras a serem trocadas, apenas instinto, desejo, e
atração. Nem estou nervosa. Achei que ficaria ansiosa na minha primeira
vez, mas eu me sinto perfeita, como se fosse a coisa certa a fazer.
Como se ele fosse o homem certo. O único homem.
Ele me coloca sentada sobre o tampo da mesa, e me observa com
as pupilas dilatadas, que quase escondem por completo o azul dos seus
olhos.
— Dax... — Eu suspiro quando ele morde levemente minha orelha,
virando a cabeça para o lado, oferecendo meu pescoço para ele, fechando
os olhos para aproveitar seu toque.
Uma das minhas músicas favoritas, de Sade, começa a tocar, Your
Love is King. Abro as pernas para permitir que ele se acomode entre elas, e
ele se esfrega em mim, deixando eu sentir sua ereção.
— Será que o brownie já esfriou? — Ele pergunta de repente,
afastando-se de mim.
Meus olhos arregalam-se de choque.
— Você quer comer brownies agora?
Eu amo brownies, mas tem hora para tudo!
— Quero comer muitas coisas agora, Sam.
Dax responde com uma voz rouca de desejo, seus lábios formando
um sorriso safado e sedutor que deixa cada pelo do meu corpo arrepiado.
Ai. Meu. Deus.
Ele começa tirando a minha roupa. Peça a peça, ele vai me
deixando mais exposta a ele, a seus olhos escuros de paixão.
Dax não diz nada enquanto me despe, apenas me encara, com
aqueles olhos lascivos, examinando cada centímetro do meu corpo.
Estranhamente, não fiquei tímida. Não tentei me cobrir. Queria
apenas que ele me tocasse com a mesma intensidade com a qual me
encara.
Quando estou completamente nua, ele me deita sobre a mesa,
afasta-se, e pega a bandeja de brownies que deixou sobre a ilha, tudo sem
tirar os olhos de mim.
Partindo um pequeno pedaço, ele coloca sobre meu pescoço. Dax o
lambe diretamente do meu corpo, e continua provando a minha pele,
lambendo cada centímetro do meu pescoço.
Estou pegando fogo, como se meu sangue tivesse sido substituído
por lava. E quero mais, muito mais. Apenas suas carícias não são mais
suficientes.
Preciso de Dax, em cima de mim, ao meu redor, dentro de mim.
Anos atrás, quando ele foi embora para os Estados Unidos, deixou um
vazio em mim que apenas ele poderá preencher.
Ele pega mais dois pedaços de brownie, e os coloca sobre cada um
dos meus seios. Imediatamente, meus mamilos endurecem e ficam
sensíveis, apenas com a expectativa de sentir a boca dele sobre eles.
Dax os come lentamente, o maldito. Tão lentamente que eu chego à
beira do precipício, mas não consigo alcançar o clímax. Estou lá, perto do
ápice, e Dax, só para me torturar, não me deixa alcançá-lo.
— Por favor! — Eu imploro, e ele solta uma gargalhada.
Dax Caden está rindo de mim, uma mistura de desejo, paixão e
divertimento, e eu não posso fazer absolutamente nada para me vingar
dele. Ainda.
Seus dedos descem lentamente pela minha barriga enquanto ele
continua sua degustação sobre meus mamilos, um de cada vez, tomando
todo o tempo do mundo, me levando à loucura.
Quando seus dedos chegam à minha abertura, eles me invadem,
bem devagar também, para eu me acostumar à intrusão sem sentir dor, e
saem de novo.
Durante todo o processo, ele me observa atentamente, preocupado
com o meu prazer, o que apenas me deixa mais excitada.
Ele repete o movimento; enfia e tira. Cada vez mais rápido. Cada
vez mais profundo. Enfia e tira. De novo e outra vez.
Minhas costas arqueiam, minha respiração acelera, meu coração
bate tão forte que temo que vá explodir.
Enquanto estou prestes a ser consumida pelo torpor, Dax
acompanha cada uma das minhas reações e, quando nota que estou
chegando no clímax, puxa um dos meus mamilos entre seus dentes e enfia
dois longos dedos de uma vez.
Meu corpo reage violentamente; grito alto o seu nome, começo a
me contrair, apertando seus dedos, meus músculos e ossos virando
mingau.
— Não aguento mais, Sam — ele comenta com a voz trêmula,
afastando-se de mim, tirando a roupa.
Estou anestesiada, mas não o suficiente para não observar o strip
tease com o qual sonhei a vida inteira. Dax não é só bonito; ele é sexy. O
corpo dele não é simplesmente atraente; é gostoso, forte, másculo.
Ele é o típico macho alfa, que me faz sentir totalmente fêmea,
totalmente feminina.
Só de ver o torso dele nu e seus braços musculosos, meu corpo
começa a queimar de novo de desejo por ele, e a sensação de vazio que
precisa ser preenchido retorna com ainda mais força.
Eu acabei de gozar, e já estou a caminho do segundo ápice apenas
de observá-lo.
Assim como fez enquanto tirava minha roupa, Dax não deixou de
me encarar enquanto se despia, nem quando eu arregalei os olhos ao
encarar sua ereção.
Ele me dirige um sorriso que é pura malícia e sensualidade,
aproxima-se novamente, apoia minhas costas com seu braço, e me puxa
para ele, até me deixar sentada, com as pernas para fora da mesa.
— Tem certeza disso, Sam?
— Eu te quero dentro de mim — respondo, minha voz tão rouca
que eu mal reconheço. — Agora.
Quem é essa mulher que tomou posse da minha boca? Pode ficar
no meu corpo, amiga, porque gostei de você!
Time Sam! Time Sam! Time Sam!
Dax solta um grunhido com a minha resposta e afasta minhas coxas
com seu corpo. Ele fica entre minhas pernas, e sinto sua cabeça latejante
aproximando-se da minha abertura, brincando comigo, me provocando.
Não consigo parar de olhar para seu corpo, admirar cada detalhe
seu, como se tentasse gravar cada segundo que estamos juntos para sempre
na memória.
— Olhe para mim, Sam. — Ele coloca o dedo sob meu queixo,
inclinando meu rosto para cima, até estar no mesmo nível do dele. —
Quero que olhe nos meus olhos enquanto eu estiver entrando em você.
A penetração é lenta, alucinante. Nossa, como ele é grande. E como
é paciente também. Pelas suas feições, sei que está se controlando ao
máximo para ir devagar, para não me machucar.
Eu me estico por dentro para acomodá-lo, como se meus músculos
estivessem despertando. Minhas coxas se abrem ainda mais, permitindo
que ele me penetre mais profundamente, e sinto quando ele se torna,
oficialmente, o meu primeiro.
E o último.
Que pensamento mais estúpido! Comecei isso sabendo que não há
futuro, que nem estaríamos aqui se ele soubesse quem eu sou.
Pelo menos, ele será meu primeiro. E isso precisa ser suficiente.
Quando ele está completamente dentro, sussurra no meu ouvido:
— Respire, Sam.
Eu tinha realmente esquecido de respirar, meu corpo estava
completamente focado na ligação entre nós dois, naquela parte deliciosa
dele que está completamente introduzida em mim, ajustando-se dentro de
mim.
— Você está bem, Sam? — seu tom é gentil e, por mais que esteja
excitado, sei que ele pararia agora mesmo se eu assim pedisse.
Há dor, mas o prazer é infinitamente maior.
Seguro seu rosto e, com os lábios roçando nos dele, respondo:
— Estou perfeita, Dax. Você é perfeito.
— Você que é. Nunca conheci alguém que me fizesse sentir como
você, Sam — ele diz e me beija profundamente.
Aí ele lentamente de mim, para entrar no mesmo ritmo. Ele quer o
que, me levar à loucura?
Repete o movimento, sempre devagar, sempre paciente. Eu sei que
esse ritmo é difícil para ele; sua face está coberta por uma camada de suor,
sua mandíbula está tensa, seus olhos estão pegando fogo com desejo
reprimido.
— Caralho, Sam. Você é tão apertada — a voz dele soa rouca como
um trovão. — Tão perfeita.
— Mais, Dax. Mais forte. Mais rápido. — Eu imploro.
— Não quero te machucar, Sam.
— Não vai. Juro.
Finalmente, ele vai aumentando a cadência aos poucos, mas sem
ser no ritmo dele, sem a força que o faria chegar no ápice.
Não, Dax Caden, o homem dos meus sonhos, está focado em meu
prazer, por mais difícil que seja para ele.
Quando ele segura minha bunda e se enfia ainda mais em mim,
mais profundamente, eu chego ao ápice outra vez.
Desta vez é tão violento, tão carnal, que eu me jogo para trás,
deitando-me na mesa novamente. Ele coloca minhas pernas para cima,
apoiando-as com seus ombros, e enterra-se em mim com força.
— Eu te machuquei?
— Não, Dax. Muito pelo contrário.
— Então agora é a minha vez, Sam. — Ele avisa.
E é mesmo.
Dax me segurou pelo quadril, e começa a me penetrar mais rápido,
mais fundo. Meu gozo me deixou encharcada, facilitando suas estocadas.
Como se já não tivesse me enlouquecido o suficiente, ele continua
me provocando, tirando sua ereção por completo, para enfiar com força
logo em seguida.
— Mais, Dax — imploro, sentindo-me contorcendo por dentro. —
Mais.
— Gulosa — ele diz, e me come com força.
Cada vez que ele saía, eu sentia o vazio desesperador, e, quando ele
entrava, nunca era suficiente. Inacreditavelmente, eu cheguei ao ápice pela
terceira vez, junto com ele.
***
Desperto sentindo meu corpo cansado, com um dolorido prazeroso
entre as pernas, e um sentimento de satisfação que deixa minha alma leve.
O braço de Dax está em volta da minha cintura, com a mão sobre
meu estômago, que me dá uma sensação de paz e segurança.
Minha primeira vez foi infinitamente melhor do que eu imaginei
durante todos esses anos.
Estamos de lado, eu na frente, enclausurada por seu corpo, na cama
dele, para onde ele me carregou assim que conseguiu controlar a
respiração.
Dax está tão sintonizado comigo que desperta logo depois de mim,
apesar de eu ter feito meu máximo para não me mexer, não incomodá-lo.
— Que fome... — ele sussurra no meu ouvido, mordiscando o
lóbulo. — A lasanha cairia tão bem agora...
— Pena que estamos aqui em cima... — concordo com ele. —
Alguém poderia ir lá embaixo e preparar uma bandeja para a gente comer
na cama, não é?
— E esse alguém sou eu, né?
Dou uma risadinha.
— Juro que te dou uma sobremesa depois.
— Trato feito — Dax grunhe, enfiando o rosto em meus cabelos,
sua mão subindo até meu seio, sua ereção se esfregando entre minhas
nádegas.
— Se você continuar assim, não é comida que vai comer, Dax. —
Digo, meio rindo, meio arfando.
Com resistência, a mão dele deixa meu seio.
— Você será meu fim, Sam. — ele comenta ao se levantar. — O
meu fim.
E você é o meu tudo, Dax Caden. Sempre foi, e sempre será.
12
Dax

Depois da pizza, dormimos algumas horas e acordamos por volta


das dez da manhã. Decidimos passar o restante do dia terminando de
assistir à nossa série favorita na minha cama.
Claro que aproveito cada minuto que temos juntos, e a provoco o
tempo inteiro. Nem acredito que já é domingo, e terei que ir a Surrey
amanhã. Se pudesse, passaria uma semana inteira entrando e saindo de
Sam.
— E aí? — ela questiona quando terminamos o último episódio. —
Quais são as suas teorias? Ele morreu ou não?
— Duvido. Ele é o par da protagonista. Com certeza ele deu um
jeito de escapar.
— Gostou da temporada?
Eu a viro, e subo em cima dela, enterrando meu quadril entre suas
coxas. Sam está vestindo uma das minhas camisas, mas não permiti que
colocasse calcinha de novo.
— A minha favorita até agora.
— O que quer fazer agora, Dax? — ela questiona de um jeito
provocador.
Sam pode ser tímida fora do quarto, mas na cama... Ela é quente
como um vulcão. Sou um sortudo da porra por ser seu primeiro. Sam
confiou em mim o tempo inteiro, e nossos corpos tiveram uma sintonia
perfeita.
Sempre achei que fazer sexo e fazer amor eram coisas
incompatíveis.
Definitivamente, eu achava isso porque ainda não tinha encontrado
uma mulher que me deixasse tão louco de desejo e tão admirado ao
mesmo tempo.
— Garota, se você soubesse o que eu queria fazer contigo neste
momento...
— E por que não faz?
— Não quero te machucar, Sam.
E sei que, se continuarmos fazendo amor, vou acabar fazendo
exatamente isso.
— Você não vai me machucar, Dax.
Só para me deixar ainda mais sedento, ela tira a camisa.
— Esta definitivamente é a melhor temporada — digo, admirando
seus seios.
Ela gargalha, uma risada que me deixa duro como mágica.
— Merecem um Grammy.
Ela arranca minha cueca, a última camada de tecido entre nós.
— Sou muito jovem para ter um ataque cardíaco, Sam.
— Só terá um ataque cardíaco se ficar me encarando sem fazer
nada, Dax.
— Sam...
Seus olhos ficam vidrados, encarando meu pau como se fosse um
sorvete que ela estivesse louca para lamber. Lamba à vontade, Sam. Ela
passa a língua pelos lábios, mas não baixa a cabeça.
Ao invés disso, suspende os quadris, deixando minha ereção em
sua entrada. Continuo imóvel, porque quero provocá-la.
Sam fica com uma carranca adorável e nos gira no colchão. Desta
vez, é ela quem está por cima. Prendo a respiração quando ela começa a
descer o quadril, encaixando sua entrada, deixando que eu penetre um
pouco nela.
Se eu respirar, se eu me mover, vou gozar ainda fora dela, de tão
excitado que estou. Não posso perder o controle, não ainda; preciso estar
enterrado bem fundo nela. E nem ferrando vou gozar antes dela chegar ao
clímax.
Ela arfa quando estou dentro dela, porque ainda encontro
resistência para entrar por completo. Como ela é apertada. Muito, mas
muito apertada.
Sam está quente, úmida e tão deliciosamente perfeita para mim que
eu sei que a diabinha me estragou de vez. Nenhuma outra mulher vai ser
tão gostosa quanto ela, ou vai se encaixar tão perfeitamente depois dela.
Volto a me concentrar, porque estou prestes a explodir – de novo –
e a seguro sobre mim, um pouco dentro dela, mas já o suficiente para
deixar cada músculo do meu corpo tenso.
Ainda a segurando pela cintura, ajudo-a a descer vagarosamente,
até eu estar completamente enterrado nela.
Nós paramos por um momento, para voltarmos a respirar, nossos
olhos fixos um no outro, nossos corpos estremecendo com o prazer
daquele contato, minhas mãos firmes em sua cintura, as mãos dela
espalmadas sobre o meu peito.
Aí ela começa a se remexer para me acomodar melhor. Vejo
vermelho, perco completamente o autocontrole, e começo a investir nela
com fúria, subindo os quadris, enquanto ela baixa os dela, em um ritmo
frenético, que vai se intensificando.
Ela começa a gritar; eu, a grunhir. Quando sinto que ela está
chegando perto do clímax, eu a viro, para deixá-la sob meu corpo, abro
suas pernas e quase tiro tudo, para depois me enterrar de uma vez.
Ela goza junto comigo. Devo ter jorrado litros e litros dentro dela.
Depois de alguns segundos estremecendo, também aproveitando
seu longo clímax, Sam abre os olhos, e me encara intensamente, com um
sorriso de satisfação que quase me deixa duro de novo.
Como conseguirei me afastar dela depois dos melhores momentos
da minha vida?
13
Sam

O domingo passou tão rápido quanto a noite de sábado. Parece que


piscamos e, quando vimos, já era hora de eu voltar para a minha casa e
dele ir embora.
— Você já está indo para Surrey? — questiono quando paramos na
porta da minha casa.
— Só preciso fazer um favor para minha irmã bem rápido e vou
para lá em seguida.
— Obrigada por tudo, Dax.
Ele me deu a melhor primeira vez que uma mulher poderia ter. No
caso, foram algumas vezes. Muitas vezes, na verdade.
Começo a sentir meu rosto queimando. Eu sou uma tonta mesmo.
Dax conhece meu corpo inteiro, assim como eu conheço o dele e, é só
pensar no que fizemos juntos que sinto as bochechas queimarem de
vergonha.
Pelo menos, minha timidez evaporou na hora H. Pena que ela
retornou agora com toda a força.
Dax obviamente nota a mudança da minha cor de pele. Ele sorri e
me abraça, e sussurra no meu ouvido:
— Fala sério, Sam. Você... Porra, me deu o melhor final de semana
da minha vida.
— Ah.
Voltei a ficar tímida e perdi a capacidade de falar de novo, pelo
visto. Ai, como eu sou ridícula.
— Sam — ele me aperta em seus braços, e eu enfio o rosto em seu
pescoço, aproveitando os últimos segundos de Dax —, eu preciso te ver de
novo.
Quê?
Por essa eu não esperava.
— Você mesmo disse que vai para Surrey daqui a pouco. De lá, vai
voltar para os Estados Unidos.
Ou seja, conforme Zoey previu desde o início, não há qualquer
futuro para nós.
— Você poderia me encontrar no próximo final de semana — ele
insiste, e me afasta um pouco para me encarar com seus olhos azuis
atentos e intensos.
Engulo em seco infinitas vezes antes de conseguir responder:
— Onde eu vou encontrá-lo?
— Em Surrey — okay, esse homem quer me dar um infarto. — Vai
ter um casamento, e seria uma honra se você me acompanhasse.
Casamento de quem? Decido que não importa: a questão aqui é que
não há qualquer razão para ele me levar para Surrey, onde os pais dele
estão... E os meus... Ah, céus.
Por um instante, penso que pode ser brincadeira, mas ele está sério.
Não sei como proceder. Pelo histórico de Dax com mulheres, achei que ele
nem fosse querer me ligar mais.
Agora ele quer me levar para um casamento? Em geral, o homem
só convida a namorada para esse tipo de evento. Não é?
Zoey me garantiu que um cara como Dax não ia nem querer saber
de mim depois da nossa noite. Que acabou virando um final de semana.
Mas isso é só um detalhe.
Eu estava preparada para um beijo sem graça nos lábios com uma
promessa vazia de que nos veríamos quando ele retornasse à Inglaterra.
Esse interesse todo dele não foi previsto.
O convite de casamento não estava nos planos.
Ele insistir em me ver de novo é bem inesperado.
Eu detesto surpresas. Não sei lidar com elas. Ficou quente aqui ou
é impressão minha?
— Quer que eu o acompanhe a um casamento? De quem?
— Da minha irmã.
Anne? Ah, droga! Com certeza meus pais e os Caden estarão lá.
Sem falar todo mundo da minha infância. Pessoas que vão me reconhecer
imediatamente, ao contrário de Dax.
— Quando sua irmã vai se casar?
E como o idiota do Zack não me contou nada disso? Eu não teria
entrado nessa enrascada se soubesse que Dax estava aqui para o casamento
da Anne.
Não, não posso me arrepender do que aconteceu. Foi lindo,
perfeito, e, aconteça o que acontecer, valeu a pena.
Só tenho que dar um jeito de traçar um Plano B. Zoey vai me
ajudar, ela sempre tem uma solução. Nossa, está realmente quente aqui.
Acho que vou passar mal a qualquer momento.
— O casamento é sábado agora — Em menos de uma semana? —
É um casamento surpresa, que ela e o noivo decidiram meio em cima da
hora, por isso passarei esta semana inteira terminando os preparativos. Ela
só virá a Londres para fazer a despedida de solteira e o jantar de noivado.
Agora tudo começa a fazer sentido. Por que Zack não me disse
nada, por que meus pais tampouco comentaram sobre o casamento quando
falei com eles ao telefone alguns dias atrás.
Ninguém sabia.
— O envelope que você me entregou...
— São os convites — ele confirma. — Você conseguiu entregá-los
aos Carmichael, por acaso?
— Desculpa, eles não estavam em casa este final de semana e
acabei me esquecendo completamente de mandar uma mensagem para eles
avisando.
— É por isso que está tão pálida?
— Hã?
Não estou pálida, estou a ponto de ter um aneurisma cerebral.
Certamente, eu sou uma das convidadas para o casamento.
O que eu vou fazer? Zoey, preciso falar com a Zoey agora.
— Não precisa se sentir culpada — Dax me segura pelos ombros e,
pela primeira vez na minha vida, quero me afastar dele.
Quero acertar isso, quero ligar para Zoey e bolar uma solução com
ela.
— Fiquei tão distraído contigo que esqueci de avisar sobre a
urgência —ele continua. — Se puder falar com eles ainda hoje...
— Claro.
— Se bem que, meus pais com certeza já deram a notícia para os
Carmichael.
Sinto a bile subindo à garganta e sei que, se não sair daqui agora,
vou vomitar nos pés de Dax.
— Eu preciso ir — viro-me e enfio a chave na fechadura.
— Você vai querer ir ao casamento comigo?
— Realmente preciso ir, Dax! — entro na casa e fecho a porta na
cara dele.
Corro até o banheiro e despejo todo o conteúdo do almoço no vaso.
***
— Ele o quê? — Zoey questiona pela milésima vez.
Tiro os pedaços de pepino que Dave trouxe para mim quando
cheguei em sua casa aos prantos e a encaro com ódio mortal nos olhos.
— Dax me convidou para um casamento! — eu explico pela
milésima vez. E aí volto a chorar.
De novo.
Ainda não consegui explicar para ela que o casamento é de Anne e,
por isso, estou completamente ferrada.
— Mas... Isso é uma ótima notícia, não? Caras só levam mulheres
para casamentos quando estão a fim delas de verdade...
— A ideia de vocês foi um fiasco! — grito entre soluços.
— Fiasco? — ela parece pessoalmente ofendida com a minha
acusação. — Querida, você acabou de me dizer que passou um final de
semana maravilhoso com ele.
— Ele vai me odiar! Ele vai se odiar, por ter quebrado a promessa
com meu irmão. Oh! Meu irmão vai me odiar! Meus pais vão me odiar.
— Meu senhor — ela leva as mãos aos céus —, para que tanto
ódio?
— Isso é tudo culpa sua, Zoey Tucker!
— Agora você está soando como a Mini Cruela — ela reclama.
— Você que me pressionou!
— Okay, diga o que a Zoey aqui fez de errado e eu conserto. Você
sabe que sou uma excelente advogada, Sam.
— Eu transei com ele! — grito, e tanto ela quanto Dave levantam a
sobrancelha para mim, como se eu tivesse ficado louca.
Em seguida, eles começam a fazer dancinhas pela sala de Dave.
— Uhuuuu! — Dave grita.
— Amiga! Que maravilha — Zoey me puxa para seus braços e me
abraça. Claro que é quando eu começo a chorar pela décima vez. — Ah,
não. Ele é pequeno?
— Quê?
Às vezes, penso se eu e Zoey não pertencemos a galáxias
diferentes.
— O pau dele — ela diz lentamente, me encarando. — É pequeno?
Às vezes, o tamanho das mãos engana.
— Você só pensa em sexo, Zoey?
— Considerando que tenho uma amiga de vinte e quatro anos que,
até a semana passada, era a virgem mais velha do Reino Unido, sim! Só
pensava em você fazer logo sexo! Só não imaginava que ele seria tão ruim.
— Ele não foi ruim!
— Por que você está praticamente vomitando então?
— Ah, não! — Dave me dirige um olhar fantasmagórico. — Você
está grávida?
— A gente transou este final de semana, Dave — reviro os olhos e
seco as lágrimas das minhas bochechas, jogando-me de volta no sofá dele.
— Como eu já saberia que estou grávida?
— Algumas mulheres sabem até o momento da concepção — ele
diz como se já tivesse engravidado. — Vocês não são normais, não.
— Por que está assim, Sam?
Gente, zumbis comeram os cérebros desses dois, só pode. Quando
eles vão entender que Dax vai descobrir a minha identidade?
— Ele vai descobrir que eu sou a irmã caçula do melhor amigo
dele, Zoey.
O celular dela toca.
— Peraí, é a minha mãe.
— Você vai atender agora?
Quando estou prestes a ter um surto psicótico?
— Oi, mãe — uma linha se forma entre as sobrancelhas de Zoey.
Ah, não. Mais uma notícia ruim? — Como assim, o Dax está aí em casa?
Ai, meu Deus. Era esse o favor que ele tinha que fazer para a irmã:
entregar os convites para os Tucker.
Assim como meus pais e os Caden, os Tucker também compraram
uma casa de campo em Surrey, mas eles passam pouco tempo lá, já que o
pai da Zoey ainda não se aposentou.
— Quem vai se casar? — Zoey grita, e sei que, enfim, ela vai
entender por que estou surtando.
— Está tudo bem, Zoey? — Dave questiona, ficando preocupado.
— Merda, puta que o pariu, fodeu tudo! — ela começa a xingar. —
Não, claro que estou feliz por ela, mãe. Eu xingo quando estou feliz, você
me conhece.
Ela desliga o telefone e me puxa de novo para longe do sofá.
Começa a me sacudir como se o mundo estivesse prestes a acabar.
De uma certa forma, está mesmo. O meu mundo, pelo menos.
— Você está fodida literal e metaforicamente, amiga! — ela me
diz o que eu tenho tentado explicar na última hora.
— Zoey, você deveria estar acalmando a Sam, não piorando a
situação! — Dave a acusa.
— Dax vai descobrir quem foi a virgem que ele deflorou este final
de semana — ela ignora o comentário de Dave. — Seu irmão vai explodir.
Dax vai querer nos matar, porque eu também “omiti” quem você era.
Meus pais vão me deserdar depois que souberem que fui eu que te
empurrei para o pau do Dax!
— Eu sei, eu sei! É isso que estava tentando dizer!
Ela começa a fazer círculos na sala de Dave, até que para de
repente.
— Poderíamos mudar de país.
— Como é que é? — eu e Dave questionamos juntos.
— Sim — ela fica pensativa —, eu poderia abrir um escritório de
advocacia em algum país que não tem acordo de extradição com o Reino
Unido.
— Não quero ir embora e deixar meus pais, Zoey!
— Vocês duas querem se acalmar, por favor? Sentem-se aqui.
AGORA! — Dave ordena.
Entre soluços (da minha parte) e xingamentos (da parte de Zoey)
sentamos lado a lado no sofá. Dave senta-se na poltrona à nossa frente.
— Vamos bolar um plano — ele diz calmamente. — Juntos. E vai
dar certo.
— Q-que plano? — pergunto.
— Não há outra solução. Temos que sair do país — Zoey insiste.
— Respirem, meninas. Somos três divas maravilhosas.
Conseguiremos bolar algo que tire Sam do caminho de Dax.
Até três dias atrás, eu teria amado se Dax tivesse me convidado
para acompanhá-lo ao casamento de Anne. Mas isso era quando eu achava
que ele sempre me enxergaria como a irmãzinha caçula do seu melhor
amigo.
Hoje, eu prefiro morrer antes de ir ao casamento como sua
acompanhante. Como o mundo dá voltas.
14
Dax

Não entendi nada. Depois de passar o final de semana inteiro em


meus braços, eu achei que Sam ficaria animada em me ver de novo, em ir
comigo ao casamento da minha irmã.
Ao invés disso, ela agiu como se eu tivesse acabado de revelar que
contraí a peste negra e fechou a porta na minha cara.
Agora, horas mais tarde, eu ainda não entendo o que diabos
aconteceu. Eu achei que nossa química tinha sido perfeita.
Será que eu a machuquei? Será que os sentimentos foram mais
profundos para mim que para ela? Não, isso não faz sentido. Sam não teria
perdido sua virgindade comigo se eu também não fosse especial para ela.
Ou, talvez, ela tenha simplesmente se cansado de esperar pelo
príncipe encantado e ficou com o primeiro sapo que apareceu na livraria.
Nossa, como eu detesto sentir essa insegurança! Estou
considerando seriamente pegar o carro e voltar para Londres, quando olho
para cima e noto meu futuro cunhado e um dos meus melhores amigos me
observando com desconfiança nos olhos.
— Que cara é essa?
— A minha cara, Jim — respondo rispidamente, porque ainda não
estou pronto para contar sobre o que rolou.
Especialmente porque eu tenho a impressão de que Sam me deu um
fora. Nunca recebi um fora antes, e não estou sabendo lidar direito
comigo.
Cara, eu não consigo tirá-la da cabeça. Ela não pode desistir assim
da gente. Será que isso é carma por causa de todos corações que parti ao
longo dos anos?
Eu finalmente encontro uma mulher por quem eu poderia me
apaixonar e ela não quer me ver de novo. Sim, esta é a definição de carma,
porque já fiz isso dezenas de vezes. Centenas de vezes. Com inúmeras
mulheres.
— Não... — Jim insiste, praticamente implorando para levar um
soco. — Tem algo diferente.
— Sim, estou entediado com seus comentários maçantes.
— Também não é isso.
— Oi, Dax — Anne entra na sala, dá um selinho em Jim e senta-se
na poltrona ao meu lado. — Conseguiu entregar os convites para os
Tucker?
— Sim, foram os últimos.
— Os Carmichael disseram para mamãe que ainda não receberam
os dele.
Respiro fundo, porque, apesar de estar sentindo como se eu
estivesse enterrado na lama, não quero estragar o momento especial de
Anne e Jim.
— Eu sei, Anne. Foi um erro de comunicação da minha parte, mas
me garantiram que eles serão comunicados ainda hoje.
— Já sei! — Jim aponta para mim. — Você pegou alguém este
final de semana.
— Não é da sua conta — bufo.
— Não é da minha conta? — ele zomba, enquanto minha irmã me
encara sem entender nada. —Ih, seu irmão está apaixonado, Anne. Ele
adora tirar onda das gatas que pega.
— Cala a boca, Jim.
— Sempre que pegava alguma gostosa na faculdade, ele voltava
pro dormitório praticamente falando com o andar inteiro que tinha
conseguido a garota que ninguém mais conseguia.
— Cala. A. Merda. Da. Boca. Jim.
— Ih, quando é o casamento? — ele continua me provocando, e
minha paciência chega ao limite.
Como não quero bater na cara dele e passar o resto da vida ouvindo
as reclamações de Anne, me acusando de estragar o rosto do noivo nas
fotos do casamento, levanto-me e saio da sala.
— Foda-se, Jim.
Quando chego ao meu quarto, no segundo andar, começo a
considerar o que ele comentou.
Estou mesmo apaixonado? Impossível. Eu conheço Sam há poucos
dias. Impossível se apaixonar tão rápido. Não é?
Depois do que aconteceu a Jenna, não me senti no direito de levar
ninguém a sério. Mas, com Sam, é tudo diferente. Ela me atrai como um
imã. Não consigo erguer minhas barreiras com ela, como faço com outras
mulheres.
Ouço a porta do meu quarto bater de leve, e a cabeça de Anne
aparece na fresta.
— Ei, mano.
— Ei.
É minha forma de dizer que ela pode entrar no quarto. Anne senta-
se à cama, e me observa por algum tempo antes de perguntar:
— Jim tem razão? Você ficou com alguém este final de semana?
— Sim — não adianta mentir para a minha irmã gêmea.
Às vezes, acho que ela me conhece melhor do que eu mesmo.
— Dax — ela segura minha mão. — O que aconteceu?
— Eu achei que tinha sido ótimo — digo.
— E não foi?
— Para mim, foi. Porra, Anne, eu achei que foi perfeito, a química
foi perfeita, o papo foi perfeito, o sexo foi mais do que perfeito, tipo
daquelas merdas que a gente vê em filme romântico e acha completamente
clichê, mas aí acontece algo bem no finalzinho que cai como uma droga de
uma bomba e...
— E o quê?
— Deixa pra lá — deito-me na cama, e ela se deita ao meu lado.
— Dax — ela segura minha mão de novo, como fazemos desde
crianças, quando um dos dois está em apuros, ou com medo. — Não vou
deixar pra lá.
— De que vai adiantar? Eu sei que fiz alguma besteira, e não é o
Jim que vai me ajudar.
— Você tem razão. O Jim não vai ajudar. Pela primeira vez, você
precisa de conselhos que não sejam dos seus amigos neandertais.
— Ei! Você vai se casar com ele em menos de uma semana.
— Eu sei. Eu amo o Jim, mas sei que, quando se trata de
relacionamentos românticos, vocês são todos homens das cavernas que
querem colocar a mulher sobre o ombro e gritar para os demais
neandertais que elas são suas.
Ela acertou em cheio nessa.
Em geral, Anne tem razão, mas eu raramente admito. Se ela já é
arrogante, imagina como ficará se eu disser que ela sempre vencia as
nossas discussões.
— É exatamente isso que eu quero fazer, Anne — admito.
— Mas, se fizer isso, vai afastá-la ainda mais.
— Especialmente essa garota.
— Me fale dela — Anne vira-se de lado, apoiando-se sobre um
cotovelo para poder me encarar.
— Ela é completamente diferente de qualquer mulher com quem
eu já saí, Anne.
— Imagino. Nunca te vi assim por causa de mulher nenhuma, e eu
já te conheço há vinte e oito anos.
— Há trinta e um anos, você quer dizer.
— E se você contar para alguém isso, eu te mato.
Reviro os olhos e rio um pouquinho. Sempre posso contar com
Anne para me fazer sorrir.
— Ei. Dax, não fique assim. O que quer que tenha acontecido, eu
posso tentar te ajudar. Com uma perspectiva feminina. O que aconteceu?
Você a ofendeu?
— Estava tudo ótimo. Digo, pelo menos, para mim, estava tudo
perfeito, cheguei a cogitar a hipótese de ficar trabalhando daqui até o
Natal.
— Uau — ela levanta as sobrancelhas em surpresa. — Essa garota
deve ser especial mesmo.
— Porra, você não tem ideia. Ela é linda, mas não sabe disso, é
inteligente pra cacete, mas sem ser arrogante, e tem um senso de humor
meio sarcástico, do jeito que eu adoro. Nós nos demos muito bem.
— Então o que houve?
— Quando fomos nos despedir, ela ficou super nervosa e saiu
como se eu tivesse acabado de virar um zumbi.
Ela não parece acreditar que Sam ficou estranha do nada.
— Qual foi a última coisa que você disse antes dela ficar estranha,
Dax?
— Eu a convidei para o seu casamento.
— Ah — ela morde o lábio inferior.
— Ah? Isso quer dizer o que?
— Algumas mulheres adoram ir rápido com o relacionamento,
outras são mais reservadas. A sua garota pode ter se assustado com o
convite.
— Bem, ela é bastante inexperiente — admito. — E tímida.
— Aí está, garanhão. Você passou tanto tempo lidando com
mulheres acostumadas a se relacionarem com o sexo oposto que acabou
assustando uma mais fechada.
— O que eu devo fazer, Anne?
— Se você quiser trazê-la no sábado, pode tentar se reaproximar
dela esta semana — ela pressiona o indicador contra meu peito. — Mas
aos poucos, sem pressioná-la demais.
— Posso visitá-la quando for te levar para Londres.
Anne vai à cidade para a despedida de solteira que suas amigas
estão organizando. Alguns amigos nossos querem fazer a despedida do Jim
também, mas a minha animação é menos um milhão.
— Calminha aí, garanhão. Antes de invadir o espaço dela, veja
como ela vai reagir se você entrar em contato por outros meios.
— Outros meios?
Nem sei o telefone dela. Só o da livraria. Droga, como eu não
pensei em pegar o telefone dela? Ou pelo menos o e-mail? Nem sei o
nome completo de Sam.
Ela pode ter se assustado, mas eu bem dei motivo. Não tenho
informações básicas dela e já fui convidando para o casamento da minha
irmã? Ela deve me considerar um lunático.
— Você poderia enviar flores — Anne sugere.
— Com um cartão com o meu telefone, dizendo que eu amei o
final de semana.
Assim, eu vou esperar ela tomar a iniciativa quando se sentir
confortável. A espera será uma merda, mas, por Sam, vale a pena o
sofrimento.
— Vocês nem trocaram telefones?
— Eu te disse: ela praticamente fugiu. Mas eu sei onde ela
trabalha. Só que o lugar abre apenas a partir de terça.
A Sra. Carmichael descansava aos domingos e limpava a livraria às
segundas. Eu me lembro porque, nos verões, ela costumava nos pagar
alguns trocados para ajudá-la.
— Ótimo, Dax! — Anne olha para o relógio e se levanta. — Tenho
que ir. Preciso visitar o pessoal do buffet.
— Boa sorte, mana.
— Me conta depois como foi — ela segura a maçaneta, mas não
abre a porta. — E Dax?
— Quê?
— Estou feliz por você.
15
Sam

Não conseguimos bolar um plano que justifique o meu sumiço para


três eventos. Sim, fui convidada para três eventos de Anne, no fim das
contas.
Depois de levar uma bronca homérica da minha mãe porque não
falei dos convites assim que foram entregues, ela me avisou que fui
convidada para a despedida de solteira na quinta, para o jantar de noivado
na sexta, e para a festa de casamento no sábado, que acontecerá nos jardins
da propriedade dos Caden em Surrey.
E Dax estará, com certeza, em pelo menos dois desses eventos.
Depois de uma garrafa inteira de tequila (que eu vomitei assim que
voltei para o meu apartamento), eu, Zoey e Dave chegamos à conclusão de
que seria melhor eu ir à despedida, porque não haveria muita chance de
Dax aparecer por lá, mas inventar uma desculpa para não ir ao jantar de
noivado e evitá-lo no casamento (lá, haverá mais convidados, então posso
tentar me misturar).
Eu sei, eu sei. O plano é péssimo. Isso é o que acontece quando
temos um plano A capenga que não dá certo. Precisamos de um plano B
que será pior ainda.
Eu detesto surpresa. E detesto ainda mais quando tenho que mentir.
Essa omissão de que Zoey tanto fala já virou mentira faz tempo.
Passei a segunda-feira me distraindo com faxinas. Não abrimos a
livraria às segundas, pois é o dia que Mary, a moça da limpeza, faz faxina
no ambiente. Eu acabo marcando eventuais compromissos médicos nesse
dia.
Para não enlouquecer em casa, faço minha própria faxina. Duas
vezes. Em cada cômodo.
Tudo para não me desesperar e acabar ligando para Dax e revelar
quem eu sou.
Ele me convidou para a festa de casamento da irmã, mas tenho
certeza que foi impulso do momento, por conta do final de semana que
tivemos.
A esta altura, ele já deve ter me esquecido. A esta altura, ele já
deve estar discutindo a nova temporada da nossa série favorita com outra
garota.
Sinto um aperto no coração de ciúmes, mas logo me dou um belo
de um sermão. Sempre soube que não tinha um futuro com Dax, e o que eu
tive já foi mais do que eu jamais imaginei ter.
Além disso, devo me lembrar de que nada disso teria acontecido se
ele soubesse quem eu sou de verdade.
Acordo na terça me sentindo um pouco melhor. Ainda estou
morrendo de saudades dele, ainda sinto seu cheiro na minha pele, ainda
penso em seu toque a cada cinco segundos, mas, pelo menos, estou mais
segura de que tudo pode dar certo.
Olho para o relógio no meu criado mudo, e me dou conta de que
perdi a droga da hora. Preciso pegar uma caixa de livros que mamãe
enviou por meio da minha tia que mora em Mayfair e foi visitá-la este
final de semana.
Ligo para meu vizinho.
— Dave, você pode abrir a livraria para mim? Vou ter que resolver
uma coisinha. Juro que levo uma hora, no máximo.
— Respira, Sam. Claro que eu posso. Só tenho que dar aula hoje à
tarde.
Eu sempre fico com o gato do Dave quando ele viaja. Em troca, ele
é um anjo que me cobre quando preciso resolver algo urgente. Além disso,
o fato de ele pagar um aluguel ridiculamente baixo também ajuda
bastante.
Dave é professor de Literatura Feminina e LGBT na Universidade
de Londres. Ele também escreve uma coluna para um jornal londrino. É
um cara incrível. Dei muita sorte que ele quis morar em Notting Hill
quando se mudou para Londres.
E o melhor: mamãe confia nele o suficiente para permitir que me
substitua na livraria.
Resolvo o que preciso em Mayfair mais rápido do que imaginava e,
quando estou no Uber voltando para Notting Hill, recebo uma mensagem
de Dave.
“Amiga, você recebeu uma encomenda.”
Encomenda? Não estava esperando nenhuma encomenda.
Apenas quando estou em frente à livraria, percebo o que ele quis
dizer. A livraria está repleta de flores. Cada superfície está coberta por
vasos de flores. São rosas, de todas as cores, centenas delas.
Meu senhor de ex-virgens que precisam se livrar do cara por quem
sempre foram apaixonadas, por favor, me ajude.
Entro na livraria e Dave me recebe com um sorriso gigante,
colocando um cartão na minha mão.
— Eu não li — ele avisa, me dá um beijo na bochecha, e vai
receber um cliente.
Com as mãos tremendo como folhas ao vento, abro o envelope e
tiro o pequeno cartão.
“Eu amei nosso tempo juntos e adoraria repetir. Quero te conhecer
melhor, Sam, se você também topar.”
No fim, ele coloca o celular e pede que eu ligue quando estiver
disponível. Engulo em seco, por isso definitivamente não faz parte dos
planos.
Uma livraria coberta de rosas? Acho que nem filmes de comédia
romântica de Hollywood colocam esse tipo de coisa.
— Sam, que romântico... — Dave lê o cartão por cima do meu
ombro.
— Por que, senhor? — pergunto aos céus. — Ele sempre soube
quem eu era e me ignorou a vida inteira. Agora, que ele deveria me
ignorar, ele me deseja? Por que as pessoas nunca agem como esperamos
que ajam?
— Se fôssemos tão previsíveis assim, seríamos bem sem sal, né?
— Pois eu preferia o previsível, sem sal, e monótono. Por que eu
fui sair com ele? Por que eu não disse logo quem eu era?
— Não diga essas coisas, Sam — Dave me abraça — Não se
arrependa agora. Independentemente do que aconteça, você teve uma
primeira vez linda, com o cara que você sempre amou.
— Verdade — é melhor do que a maioria das garotas têm. Não
posso ser mal-agradecida. Ainda assim... — Eu só queria que ele agisse
como o garanhão que sempre foi e partisse para a próxima.
— Você parte do pressuposto que este final de semana foi especial
somente para você, e que, para o Dax, você foi apenas mais uma mulher
em sua lista.
Exatamente a minha interpretação dos eventos. Por isso não tenho
ideia por que ele me convidou para o casamento da irmã e me mandou
cem toneladas de flores, se está indo embora para os Estados Unidos em
poucos dias.
— E? — questiono.
— Talvez, tenha sido especial para ele também.
Reviro os olhos.
— Dax é um multimilionário que criou sua primeira empresa
quando nem tinha saído da faculdade. Ele sempre teve as mulheres que
quis à sua disposição, e nunca ficou com nenhuma mais do que alguns
poucos meses.
— E? — desta vez, é Dave quem pergunta com ironia.
— Eu sou uma nerd que passou a maior parte de sua vida com o
nariz grudado nos livros e que apenas perdeu a virgindade aos vinte e
quatro anos de idade.
— Vou perguntar de novo: e?
— Somos completamente diferentes, Dave. Somos me mundos
diferentes. Somos de lados opostos. Ele é Mercúrio, eu sou Netuno.
— Às vezes, são os temperos mais diferentes que fazem os
melhores molhos.
— Isso parece frase de biscoito da sorte chinês.
— Pois é a ideia do dia de David Dare, diva, foda, e sempre certo.
Ele pisca para mim, arrancando um sorriso involuntário dos meus
lábios.
— O que você vai fazer, Sam?
— Vou ignorá-lo. Em alguns dias, ele vai me esquecer.
— Duvido muito — ele levanta os ombros. — Mas é você quem
sabe.
16
Dax

— Como assim, ela não ligou?


— Exatamente o que você ouviu, Anne. Ela ignorou
completamente as flores.
Passei os últimos dois dias quase indo à loucura toda vez que meu
celular tocava. E nada. Sei que ela é ocupada, mas já é quarta.
Sam teve mais do que tempo suficiente para responder alguma
coisa. Nem que fosse só para agradecer. Ao invés disso, tudo o que recebi
foi seu silêncio.
Chega. Preciso conversar pessoalmente com ela.
Independentemente de sua atitude, sei que o que sinto é recíproco. Tem
que ser. Ninguém consegue fingir a química que tivemos, especialmente
alguém inexperiente como ela.
— Talvez ela não tenha visto as flores, Dax — Anne sugere.
— Vá por mim: ela viu.
Eu garanti isso ao enviar várias dúzias de rosas, de todas as cores
que tinham na floricultura. Queria ter certeza de que minha mensagem não
passaria em branco, de que eu não seria apenas mais um cara a dar flores
para ela.
Sam é o tipo de mulher que atrai atenção do sexo oposto, então eu
sei que, apesar de sua falta de experiência sexual, essa não deve ser, nem
de longe, a primeira vez que ela ganha rosas.
Por isso, quis fazer algo que iria surpreendê-la.
— Como pode ter tanta certeza? — Anne pergunta, desconfiada, e
eu aperto o volante com força, porque sei que ela não vai gostar do que fiz.
— Se enviou para o trabalho dela, podem ter esquecido de avisar que eram
para ela ou ela nem notou.
A floricultura informou que foi David Dare quem recebeu as
flores; claro que, como não sou amador nesse jogo, já dei meu jeito de
descobrir quem era. Ele é o morador do segundo andar, que cobre a Sam
na livraria quando ela tem algum compromisso.
E, felizmente, ela não é o tipo dele. Porque ela é mulher.
— Não tem como ela não ter notado — digo, e ela percebe, pelo
meu tom, que não fui discreto como Anne sugeriu.
— Dax, exatamente quantas flores você enviou?
— Duas dúzias.
— Dax! Isso é meio exagerado. Um buquê com duas dúzias pode
assustá-las.
Rá! Quero ver a cara dela quando eu contar quantas eu enviei de
verdade.
— Ah, mas eu não mandei duas dúzias de flores. Enviei duas
dúzias de buquês.
— O quê? — Anne berra. — Você está louco? O trabalho dela deve
ter ficado entupido de flores!
— Era esse o objetivo: ela não conseguir ignorá-las.
— Seu imbecil, eu disse para você ir aos poucos, para não assustá-
la!
— Quer dizer que eu fiz merda?
Eu tinha certeza de que não haveria gesto mais romântico.
— Sim, das grandes. Você precisa ir devagar com essa mulher, ela
está com medo.
— De mim?
— Não, seu idiota. Do que ela sente por você, do que você sente
por ela, isso tudo está indo rápido demais!
Droga. Anne tem razão. Sam deve estar com medo. E eu a entendo;
já estive com dezenas de mulheres e nunca me senti assim, imagina ela,
que sequer tem uma base de comparação?
Por isso eu insisti em vir para Londres com Anne. Jim até não está
cem por cento convencido de fazer uma despedida de solteiro aqui, já que
seus amigos dos Estados Unidos só virão para o casamento.
Agora, a insegurança bateu forte, porque, se eu aparecer na livraria
como planejei, pode piorar as coisas. Por que eu estou tão inseguro com
ela, quando preciso ser o maduro da relação, o experiente, que sabe como
agir e como lidar com a inexperiência de Sam?
— Nós homens somos um bando de neandertais mesmo, Anne.
— Enviar flores não é coisa de neandertal, Dax. É romântico.
— Eu não enviei duas dúzias de buquês para ser romântico.
Ela levanta uma sobrancelha.
— Eu enviei flores para ser romântico, mas a quantidade foi para
mandar recado para todos os imbecis que a veem no trabalho.
Agora, ao menos os clientes mais habituais saberão que Sam está
com alguém. Então, sim, foi coisa de homem das cavernas que quer
marcar território. Estou me sentindo um cachorro mijando em volta da
livraria.
— Isso sim é coisa de neandertal — Anne concorda comigo. —
Mas um neandertal apaixonado.
Ih, agora ela também veio com isso?
— Cala a boca, Anne.
— Sabe o que eu adoro na vida? É que ela é feita de segundas
chances. Tenta de novo.
— Ah, mas eu vou tentar mesmo.
— Desta vez, pegue leve.
Isso eu não sei se consigo fazer. Não quando o assunto é Sam.
— Vou tentar — prometo, mais para mim mesmo que para Anne.
***
Deixo Anne na casa de uma amiga em Kensington para elas
acertarem os detalhes da despedida de solteira de amanhã à noite. Em
seguida, vou para a casa dos meus pais em Notting Hill.
Estaciono na lateral oposta da livraria, e caminho até a esquina, e
vejo que Sam está no balcão atendendo alguns clientes. Há vários dos
buquês que eu enviei espalhados pela loja.
Pelo menos, ela gostou das flores. Entro na casa correndo, e pego o
telefone sem fio para ligar para a livraria. Ligar para perguntar se ela
recebeu as flores não é forçar muito a barra, não é?
Antes que a voz da minha irmã grite “NÃO” na minha mente,
digito os números que decorei décadas antes.
— Livros Raros Carmichael, como posso ajudar?
— Sam?
— Dax — ela reconhece minha voz de cara.
É um bom sinal, não é?
NÃO É?
Que saco toda essa insegurança. Nunca mais vou ficar entediado
quando vir programas que falam sobre problemas de autoestima. Eu os
considerava inúteis porque nunca tinha me sentido assim antes.
— Oi... Eu...
Quero muito te ver. Porra, estou morrendo de saudades. Mal posso
esperar para ver seu sorriso de novo e ouvir sua gargalhada.
Pega leve, Caden.
— Queria saber se recebeu as flores.
— Sim. Todas as duzentas e oitenta e oito flores nos vinte e quatro
buquês.
Essa é a minha garota. Extremamente tímida, mas também é direta.
Minha nerd favorita.
— Gostou?
— Elas são lindas. Obrigada.
— Que bom.
— Só não entendi... Por que você as enviou?
— Porque eu adorei a sua companhia e quero te ver de novo.
— Por que você quer me ver de novo? Você é Dax Caden, um dos
cem solteiros mais desejados do mundo, você pode ter qualquer mulher
que quiser!
Ah, então é disso que ela tem medo? Que eu saia com ela algumas
vezes, a use e a jogue fora? Se bem que... Foi isso que fiz com todas as
mulheres da minha vida.
Em meus trinta e um anos de vida, apenas namorei uma vez. Durou
alguns meses, e terminou em tragédia. Se eu fosse Sam, também ficaria
insegura de namorar alguém com meu histórico.
Preciso deixar claro que ela não é mais uma na minha lista
interminável de conquistas.
Mas sem pressioná-la, Dax, lembro-me das sábias palavras de
Anne.
— Eu quero você, Sam.
Merda. Forcei a barra.
Como eu tenho certeza? Ela passa os próximos trinta segundos em
silêncio.
— Quem sai magoado é sempre o lado mais fraco.
Então eu estava certo. Ela tem medo que eu a use e a abandone.
— Quem disse que alguém precisa sair magoado?
— Qual é, Dax? Em alguns dias, você vai voltar para a sua vida de
verdade nos Estados Unidos.
— Como assim? Você também faz parte da minha vida de verdade.
— Não, não faço! — ela responde, exasperada. —Você é um dos
executivos mais promissores do mundo. Eu sou uma garota que trabalha
em uma pequena livraria formada em um curso que meu pai costuma
chamar de “especialização em Jane Austen”.
— Engraçado. Alguém já me disse isso sobre formação em
literatura antes.
Quem foi mesmo?
— Hã... Um cliente chegou. Eu preciso ir.
— Peraí. Você quer...
Ela desliga.
17
Sam

Estou com meia dúzia de livros nos braços quando ouço o sino
indicando que alguém entrou na loja. Com dificuldade, coloco os livros
em cima do aparador.
— Só um segundo e... — viro-me para cumprimentar o cliente e
dou de cara com os olhos azuis que não saem da minha cabeça. — Ah,
Dax. Oi.
— Não terminamos nossa conversa desta manhã, achei melhor
falarmos pessoalmente.
Por que ele precisa ter um sorriso tão lindo? É muito injusto. Ele
poderia ter ficado um pouquinho menos charmoso e irresistível nos
últimos dois dias.
Ao invés disso, o olhar dele parece estar mais intenso, como se ele
conseguisse me ver nua. Ah, claro. Ele já me viu nua. Em várias posições.
Droga. Começou a ficar quente aqui dentro.
— Desculpa, realmente não quis desligar na sua cara.
— Nunca se desculpe por fazer bem o seu trabalho. Você foi
atender um cliente.
Isso que é pior. Nem fui. Estou ficando profissional em mentiras.
— Já enviei os convites para os meus... Hum... Para os Carmichael.
Ele acena, olha em volta, e, verificando que estamos sozinhos,
desembucha:
— Quer sair comigo hoje à noite?
Sim.
Não.
Não sei.
Só sei que não quero mais mentir.
Só sei que sonho com você todas as noites.
Só sei que, depois de tantos anos apaixonada por você, descobri
que o Dax da minha realidade é ainda melhor que o Dax dos meus sonhos.
E eu vou acabar te machucando se continuarmos juntos. E você
também vai me magoar, se descobrir quem eu sou, porque não vai mais
querer saber de mim.
E eu tenho que responder algo. Logo.
Fala, Samantha!
— Dax, eu...
— Por favor, Sam — ele me interrompe ao notar minha dúvida, e
segura minhas mãos frias com as suas quentes, aquecendo-me por dentro e
por fora. — Nem precisamos passar a noite juntos, só queria conversar um
pouco com você. Podemos passear pelo Hyde Park.
— Eu adoro o Hyde Park.
— E precisamos aproveitar, porque logo vai ficar frio demais para
passear lá.
Nossa, ele é tão bom em argumentos quanto Zoey. Realmente, por
isso é um excelente homem de negócios: não aceita “não” como resposta e
sabe te convencer a seguir o desejo dele.
— Você não desiste, né?
— De você? — ele beija cada um dos meus dedos, me deixando
arrepiada. — De jeito nenhum.
— Eu realmente queria ir, mas acabei acumulando trabalho — sei
que pode soar como desculpa, mas essa parte é verdade. Mostro uma caixa
de papelão atrás do balcão. — Depois que fechar a livraria, ainda preciso
registrar esta caixa inteira de livros e as cento e cinquenta e duas vendas
que fizemos no sábado.
— Uau — ele parece verdadeiramente impressionado. E é
impressionante mesmo, para uma livraria do tamanho da nossa. — Foi
bem cheio.
— Sim, e minha amiga estava aqui – supostamente para me ajudar
–, mas não me deixou trabalhar.
Percebo que ele está segurando a gargalhada.
— Imagino que seja a sua amiga da ligação — ele levanta uma
sobrancelha, e eu aceno para ele. — Zoey. Eu a conheço, sabia?
Claro que sei, Dax. Você conhece nós duas. Desde sempre.
Diga, Sam. Admita. Por favor. Sou Samantha Rose Carmichael, a
irmã de Zack.
— Não queria que você ligasse o tema da ligação à pessoa — é o
que eu acabo dizendo, porque sou uma tonta medrosa.
Ele faz algumas perguntas sobre o leilão do sábado e conversamos
um pouco sobre os livros que vendemos com os melhores valores. Três
clientes aparecem nesse período e ele me ajuda bastante com as vendas.
Uau. Dax é um excelente vendedor, e não é só com as mulheres.
Ele convence um dos meus clientes habituais mais difíceis, o Sr. Walters, a
levar sete livros raros.
Quando estamos sozinhos de novo, ele retorna ao passeio de Hyde
Park esta noite.
— E se eu te ajudar? Digo, te ajudar de verdade?
— Como assim?
— Eu fico de olho na livraria enquanto você faz... Tudo isso aí que
você precisa fazer.
— Dax Caden, o queridinho de Wall Street, vai trabalhar como
vendedor aqui na livraria?
— Sim. Sempre quis entrar no negócio de livros. E, pela última
venda que eu fiz praticamente sozinho — claro que ele joga isso na minha
cara — acho que tenho jeito para a coisa.
Ele pisca. Eu rio.
— Você é impossível, Dax.
— Não, Sam. Sou insistente. Quando sei o que quero.
Ele me olha com tanta admiração que quase me faz dar um tapa no
meu próprio rosto. Como eu pude mentir para ele? É tão injusto, porque
ele não tem sido nada além de sincero comigo.
— Dax, preciso te explicar uma coisa...
— Eu sei o que vai dizer. Toda aquela história de “eu sou um
milionário em Nova Iorque, você é uma livreira em Notting Hill” e tudo o
mais.
— Está mais para o tudo o mais.
Tipo, eu sou a irmã do seu melhor amigo, a garota com quem você
prometeu nunca se envolver e de quem você tirou a virgindade no último
final de semana.
Esse tipo de “tudo o mais”.
— Também quero te explicar uma coisa, Sam. Eu estou aqui, não
como o milionário, não como um dos cem solteiros mais cobiçados...
— Do mundo — complemento para ele.
— Do mundo. Estou aqui como um cara que acabou de ter o
melhor final de semana da vida dele ao lado de uma garota, e quer que ela
aceite sair mais uma vez com ele.
Oh, ele adaptou o discurso do filme Notting Hill! Ainnnn.... Só
matando esse homem de beijos.
— Você está dando uma de Julia Roberts para cima de mim? Jogou
baixo, Caden.
— Você não me deixou qualquer alternativa.
Mordo o lábio inferior com força, para segurar o desejo de beijá-lo.
Ele me segura pelo queixo e, com o indicador, solta meu lábio.
— Mal posso esperar para te beijar de novo, Sam.
Rosto queimando. Bolo na garganta. Coração parecendo que está
participando da Fórmula 1. Sintomas básicos da Síndrome Dax Caden.
— Desculpa — ele pede, interpretando completamente errado meu
silêncio. Ele acha que fiquei chateada com seu comentário, mas fiquei foi
excitada mesmo. — Nada vai rolar se você não quiser, Sam. Saia comigo.
Por favor. Só um passeio no parque.
Ele não vai parar até eu dizer sim. E eu não quero mais negar.
— É melhor que faça um bom trabalho aqui em cima, Caden.
— Juro que vou. Sei como a Sra. Carmichael fica quando alguém
faz besteira em sua livraria.
— Qualquer coisa, estarei no quarto dos fundos, onde fica o
escritório.
— Tudo bem.
— E mais uma coisa, Dax.
Dou a volta no balcão, o puxo pela nuca e dou um beijo nele. Sim,
é um beijo quente, de língua, daqueles que nos fazem sentir como se
estivéssemos sozinhos no planeta.
Eu termino com o beijo antes que comecemos a tirar a roupa no
meio da livraria.
— Eu também estava com saudade da sua boca, Dax.
— Depois você diz que eu sou impossível.
18
Sam

Quando eu achei que seria impossível superarmos nossos encontros


no final de semana, me surpreendo com um encontro melhor ainda.
A conversa foi maravilhosa, e estávamos tão à vontade na
companhia um do outro que parecíamos um casal em um relacionamento
de décadas.
Saímos juntos da livraria, onde ele se comportou
maravilhosamente bem (tivemos bem mais movimento que o normal, e
claro que muitas das novas clientes eram do sexo feminino).
Antes das seis da tarde, horário que fecho a livraria, já tinha
conseguido terminar todo o trabalho acumulado.
Dax me levou para tomar seu sorvete favorito em Londres, que é
basicamente um carrinho de sorvete no meio do Hyde Park.
Passamos as horas seguintes conversando sobre nossos livros
favoritos. Para duas pessoas tão diferentes, é engraçado como temos
gostos bem parecidos.
Talvez Dave tenha razão. Essa nossa mistura dá um molho bem
interessante.
Tento dizer várias vezes quem eu sou de verdade, mas ele acaba
mudando o rumo da conversa antes das palavras deixarem a minha boca.
A verdade é que eu me sinto bem sendo o centro das suas atenções.
Durante toda a minha vida, sempre quis que Dax me olhasse assim, como
se eu fosse a única mulher do mundo, e eu estou com medo de perder isso.
Eu não quero perder isso.
Talvez eu consiga dar um jeito de não ser descoberta até ele voltar
para os Estados Unidos.
Essa nossa história já se prolongou muito mais do que eu imaginei,
mas não posso ser inocente de imaginar que ele vai continuar interessado
depois que retornar a Nova Iorque.
Enquanto conversamos sob o céu estrelado de Londres, eu começo
a entender o que Zoey quis dizer. Tenho que me dar ao direito de
aproveitar cada segundo com ele.
Depois do nosso breve relacionamento, vou seguir em frente.
Preciso seguir em frente. Pelo menos, terei realizado meu sonho de perder
a virgindade com Dax Caden.
Como Dave disse, poucos têm o privilégio de terem sua primeira
vez com alguém que amam de verdade.
Quando começa a esfriar, ele me dá seu casaco e chama um Uber.
Caminhamos até a minha casa, e ele me acompanha até a porta.
— Fui ou não um perfeito cavalheiro até agora? — Ele diz com um
de seus sorrisos sedutores.
— Gabar-se disso não é muito cavalheiresco — cruzo os braços e
levanto a sobrancelha.
— Sam, você acaba com o ego de qualquer homem.
— É bom assim: vocês já têm muitas mulheres enchendo seus
egos. Se não tiverem cuidado, nem conseguem mais caber em elevadores.
— Então você está me fazendo um favor? — ele pergunta, rindo.
— De nada — respondo, e seu sorriso vira uma gargalhada.
— Obrigado pela companhia, Sam.
— Eu também adorei a noite.
— Pode continuar adorando — ele faz círculos na palma da minha
mão, um toque inocente e sensual ao mesmo tempo.
— Dax...
— Sam... Acabou de estrear um filme novo de ficção científica.
Eu sei. Recebi notificação hoje de manhã. Estava pensando em
assisti-lo.
— Podemos ver juntos lá em casa — ele continua. — Juro que vou
me comportar.
— Está sozinho em casa?
Ele tinha mencionado que Anne faria um jantar para suas
madrinhas hoje à noite.
— Eu pedi que ela fizesse em um apartamento de um amigo meu
no centro.
Deve ser o apartamento do meu irmão. Meus pais comentaram que
ele receberia alguns amigos em casa esta semana.
Como Zack estava nos Estados Unidos enquanto eu terminava o
ensino médio, e eu passei anos em Oxford quando ele retornou a Londres,
acabamos nos distanciando um pouco.
Para piorar, a namorada dele vive grudada no meu irmão, e eu não
gosto muito da companhia dela. Zoey então... Segundo a própria, prefere
jogar ácido em seus ouvidos do que ter que lidar com Gisele fora do
ambiente de trabalho.
— Entendi — respondo.
Ele expulsou a irmã de casa para ficarmos a sós. Malandrinho.
Armou tudo para terminarmos a noite juntos. E sabe de uma coisa? Eu que
não vou recusar.
Estou na chuva, e vou me molhar o máximo que puder, porque sei
que, muito em breve, a verdade vai aparecer ou ele vai voltar para os
Estados Unidos e não nos veremos mais.
De uma forma ou de outra, meu tempo com Dax está terminando.
Pego sua mão e caminhamos juntos até a casa dele.
Dax arruma tudo e se senta o mais distante possível de mim no
sofá.
— Uau. Você realmente planeja se comportar.
— Promessa é promessa, Sam.
— Precisa ficar tão longe assim? — questiono em tom de
reclamação.
Se for para eu ficar aqui, que ele seja um pouco menos
cavalheiresco. Já aceitei vir para sua casa, oras.
— Se eu ficar mais perto, não respondo pelos meus atos.
— E se for isso que eu quero, Dax?
Felizmente, ele entende minha indireta (que é bem direta), e me
agarra, puxando-me para seu colo.
Seu corpo colide com o meu, e sua boca ataca a minha. Desta vez,
o beijo não é gentil, e sim, desesperado. Nós realmente sentimos falta um
do outro.
Sabia que meus lábios ficariam inchados no dia seguinte e, ainda
assim, parecia não ser suficiente. Eu quero Dax por inteiro, e sinto que ele
deseja o mesmo.
Tipo, consigo literalmente sentir o desejo de Dax; ele está roçando
uma parte bem dura dele contra minhas nádegas e eu não estou ajudando
em nada rebolando no colo dele.
Agarro seus ombros musculosos com o mesmo desespero que ele
agarra minha cintura, e minhas mãos sobem para a nuca dele no mesmo
instante em que as dele descem para a minha bunda. E ele aperta. Com
força.
Decido que chegou a hora de ousar mais. Mudo de posição,
sentando de frente para ele no sofá, abrindo minhas pernas para senti-lo
entre elas.
Quando dou por mim, estou só de sutiã e calça jeans; eu nem
sequer havia me tocado de que ele tirou minha camisa de botões e meu
casaco enquanto nos beijávamos.
Ainda sem desgrudar os lábios dos meus, ele tira o próprio casaco e
camisa social. Espalmo minhas mãos em seu peitoral firme e duro, e
engulo um gemido enlouquecedor dele.
— Sam... — ele sussurra meu nome várias vezes, que soam como
grunhidos.
Quase que por conta própria, meus quadris começam a se mover de
forma circular, pressionando os dele contra o sofá, esfregando-me na sua
ereção.
Quero arrancar a calça jeans, mas teria que me afastar dele para
fazê-lo, e aquilo eu não faria de jeito nenhum.
Dax parece escutar meus pensamentos, porque, de repente, se move
para cima de mim, posicionando-me deitada no sofá, sob seu corpo
musculoso.
Em nenhum instante, porém, os lábios dele deixaram os meus. Ele
afasta um pouco a cintura da minha, abre os botões e o zíper da minha
calça e a tira em um movimento brusco.
O peso dele quase me esmaga contra o sofá, e toda aquela força, os
músculos contraídos, a camada de suor que já cobria seu torso, me deixa
tão excitada que eu achei que chegaria ao ápice só de sentir seu corpo
colado ao meu.
Ele coloca uma mão entre nossos corpos, fazendo uma trilha de
fogo pela minha pele, até alcançar a barra da calcinha. Sabe aqueles
momentos que fazem o tempo se esticar e se encolher ao mesmo tempo?
Este é um deles.
Quando Dax toca meu centro, ele o fez como seu beijo; é um toque
apaixonado, brutal, desesperado. Desliza um longo e grosso dedo dentro de
mim, enquanto o outro começa a fazer coisas paradisíacas com meu
clitóris.
Como ele consegue me controlar por completo com dois dedos?
Cada músculo do meu corpo fica tenso, ao mesmo tempo que a boca dele
ataca meu pescoço.
— Goza pra mim, Sam — ele sussurra no meu ouvido.
Estou quase lá, Dax.
Minhas costas arqueiam, minhas pernas abrem-se mais e mais, até
eu não conseguir mais movê-las. Começo a sentir a onda de calor e prazer
que passa pelo nosso corpo quando chegamos ao clímax. É agora.
Meu celular começa a tocar.
Felizmente, Dax não para o que está fazendo nem por um milésimo
de segundo, então eu rapidamente retorno ao ponto em que estava antes de
ser interrompida.
Voltando ao ápice, podia sentir as ondas de prazer percorrendo meu
corpo, dos dedos dos pés ao último fio de cabelo. Estou quase lá, quando...
O. Maldito. Celular. Toca.
— É a Zoey — ele comenta, depois de olhar a tela.
— Onde está o celular?
— Caiu no chão.
— Vou desligar — digo, mas ele me interrompe.
— Não sei há quanto tempo você e Zoey se conhecem, Sam, mas é
capaz dela vir aqui se você não atender.
— Ela não sabe que estou aqui — ele me olha com uma
sobrancelha erguida.
Eu sei o que ele quer dizer. Ela com certeza vai verificar se estou
aqui, depois de não me achar em casa.
— Faça o que tem que fazer, e eu farei o mesmo — ele sussurra em
um tom sedutor, enquanto introduz um segundo dedo dentro de mim.
Dou um gritinho abafado antes de conseguir atender o celular.
Apenas para registro: Dax mantém seus dedos safados exatamente onde
estavam.
— Sam! Que droga, por que demorou a atender? — A voz dela
berra do outro lado da linha, soando muito preocupada.
Oh, céus. Eu vou ter uma conversa séria com Zoey Tucker
enquanto Dax Caden tenta me fazer gozar? De forma alguma aquilo
acabará bem.
— Posso te ligar depois? — Tento afastar a mão diabólica de Dax,
mas ele não deixa e enfia com mais força. — A-agora não é o melhor
momento e...
— Por que está toda esbaforida?
— Como?
— Você está fazendo sexo, Samantha?
Dax deve ter ouvido a palavra sexo, porque se afasta do meu
pescoço por um instante para me lançar um sorriso sedutor e volta a
mordiscar minha orelha e fazer círculos no meu clitóris.
— Hã? — se eu desligar na cara dela, é certo que Zoey vai nos
interromper, então é melhor eu fingir que estou prestando atenção.
— Sexo, Samantha. Do tipo que você foi introduzida este final de
semana depois de vinte e quatro anos na seca? Agora que conseguiu, não
consegue mais parar, né? Eu sabia que você se tornaria uma ninfomaníaca
depois que experimentasse o gostinho da safadeza.
Com certeza Dax ouviu tudo. O rosto dele fica vermelho de segurar
a gargalhada.
— Não estou fazendo sexo, Zoey.
Ele levanta uma das sobrancelhas, e eu mando uma língua para ele.
Tecnicamente, não estamos fazendo sexo. Aí ele tira os dedos e os enfia de
novo, e eu mordo os lábios para engolir um grito de prazer.
— P-posso te ligar depois, Zoey? — insisto.
— Só se você detalhar exatamente o que está fazendo.
— Apenas beijando um cara. Sabe... O cara. Dax.
Ele faz cara de satisfeito porque eu contei sobre ele para a minha
amiga.
— Só beijando? Que sem graça. Nem uma mão boba no peito?
Dax tira os dedos e eu consigo me concentrar melhor na ligação.
Isto é, até ele afastar meu sutiã e abocanhar um mamilo.
— Ah! — é a minha resposta coerente e eloquente.
— Eu sabia, amiga! Que bom que sua depilação ainda está divina,
né? Aproveite bem, antes que vire uma selva de novo aí embaixo.
Dax enterra de novo a cara no meu pescoço, mas, daquela vez, é
para abafar a gargalhada. Os ombros dele sacodem desavergonhadamente,
enquanto a barba por fazer roça na minha pele, deixando-a ainda mais
sensível.
Como retaliação, levanto os quadris e me esfrego nele; Dax para de
rir rapidinho.
— Por que você ligou mesmo?
— Ah! Sim... É que... Eu fiz uma coisa... Acho que você não vai
curtir muito.
— Que coisa? — Fico imediatamente preocupada; o que ela
aprontou daquela vez?
— Bem, depois do final de semana, sabia que você ficaria meio
encanada com o Dax. Eu queria adiantar as coisas para você, então fiz um
perfil para você em um aplicativo de namoro.
— Como é que é? — Ela está brincando, só pode. — Quem disse
que eu estou à procura de um namorado?
— Bem, não é bem para namoro, está mais para sexo casual.
Não, aquilo não pode ser verdade.
— Onde exatamente você fez esse perfil, Zoey?
— No Tinder.
— Tinder?
— Boa noite, Zoey. Não se preocupe, amanhã ela vai lhe dar todos
os detalhes do que acontecerá esta noite. Mas pode apagar o perfil do
Tinder porque ela já encontrou o homem dela. — ele me dá um beijo
romântico nos lábios e continua, antes de desligar na cara de Zoey: — Por
sinal, eu adorei a depilação dela.
— Seu babaca! — acuso, mas aí estrago o efeito da bronca ao
gargalhar até lágrimas saírem dos meus olhos.
Quando finalmente paro de rir, ele está me encarando
intensamente, com olhos escuros.
— Vamos, Sam.
— Para onde?
— Para o meu quarto. E vamos deixar os celulares aqui na sala.
19
Dax

Fizemos amor de novo – desta vez, no conforto da minha cama –


antes de decidirmos que estava na hora do banho.
Nem preciso dizer que foi o banho mais erótico da minha vida.
Comecei lavando os cabelos dela. Depois, ela ensaboou meu corpo inteiro,
e ficou uns bons cinco minutos lavando meu pau.
Aí Sam sorriu para mim, um sorriso sedutor e cheio de más
intenções quando me sentiu crescendo em sua mão.
— Está na hora de devolver o favor — ela sussurra, mas eu estou
tão focado na massagem que a mãozinha maravilhosa dela está fazendo
que nem me dou ao trabalho de perguntar do que ela está falando.
Pois a mão foi substituída pela boca.
Em poucos minutos, estou dentro dela de novo, pressionando-a
contra a parede, as pernas de Sam em volta da minha cintura, as unhas dela
cravadas nos meus ombros. Ela chega ao ápice antes de mim daquela vez.
Sam está quase adormecida quando eu a levo para a cama. Eu a
puxo para perto de mim, e a cabeça dela se encaixa no meu pescoço.
Estou com as pálpebras pesadas, inebriado com o cheiro feminino e
sensual de Sam, pronto para dormir com o corpo nu dela colado ao meu,
quando lembro de uma coisa.
— Vai comigo para o casamento?
— Dax... — a voz dela está triste. — Por favor, não insista nisso.
— Rápido demais?
— A verdade é que eu não esperava que o que aconteceu entre nós
fosse... Bem, continuar acontecendo — ela diz, enquanto seus dedos fazem
círculos no meu peito.
— Você achou que se livraria de mim assim tão fácil, Sam?
— Honestamente? Achei que um cara como você não teria mais
interesse depois...
— Depois que fizemos amor — eu completo a frase.
Okay, ela acabou de me chamar de galinha. E está certa mesmo. Se
fosse qualquer outra mulher, uma noite teria sido mais que suficiente.
Só que com ela...
— Foi diferente com você, Sam — explico. — Nossa química é
diferente de qualquer coisa que já senti antes. Não é assim para você
também?
Por favor, diga que é.
— Para mim foi maravilhoso, foi...
— Perfeito — dou um beijo na ponta de seu nariz.
— Por aí — ela sorri timidamente. Como ela pode estar com
vergonha depois de tudo que acabamos de fazer? Ela é realmente adorável.
— É diferente. O que temos é diferente, Sam.
— Não tenho muito com o que comparar, sabe?
Sei, sim. Eu escutei a maluca da Zoey berrando aos quatro ventos
sobre a situação sexual de Sam na primeira vez em que a vi.
— Eu tenho com o que comparar, Sam. Vá por mim: o que há entre
nós dois é incomparável, único.
— Dax, tem muita coisa que eu quero te contar, mas não quero
fazer isso agora.
— Tudo bem — decido escutar o conselho da minha irmã. —
Podemos ir no seu ritmo.
— Tenho algo muito importante a dizer. Eu te conto depois do
casamento da sua irmã.
— Isso quer dizer que vai haver um depois? — pergunto,
esperançoso.
— Eu...
Ela fica vermelha de novo, e sinto minhas entranhas apertando.
Porra, eu tinha transado com a mulher duas vezes em pouco mais de uma
hora e meu amigo de baixo já está querendo mais.
— Depois, então — colo minha testa na dela.
— Depois. — Sam concorda.
— Esta noite, há apenas nós dois no mundo.
***
Dormimos a manhã inteira de quinta-feira. Sam saiu do quarto
apenas para pegar o celular e pedir que seu vizinho de baixo, Dave, a
cobrisse na parte da manhã.
Como ela estará ocupada durante o dia, e eu, todas as noites desta
semana por causa dos preparativos do casamento, ficamos de nos
encontrarmos no domingo, depois do casamento de Anne.
— Que vista privilegiada — digo, quando volto para o quarto com
uma bandeja de café-da-manhã/almoço e ela está me esperando vestindo
apenas uma camisa minha velha.
— Ah, obrigada.
— Estou falando da janela do seu quarto — coloco a bandeja sobre
a cama e aponto para a janela do quarto dela, que fica bem em frente à
minha.
— Ah. Obrigada?
— Mas esta vista aqui está linda também.
Passo as mãos pelas pernas dela, e vou subindo, até chegar em seu
centro. Ela já está molhada para mim.
— Para, Dax — ela pede em um tom que significa que quer mais.
— Me promete que você vai se trocar com as cortinas abertas nos
próximos dias? — digo, massageando seu brotinho sensível.
— Dax... — ela fecha os olhos e volta a se deitar, arqueando as
costas.
— Vai sair molhada do banho sem toalha?
— Para... — ela diz, mas aperta o dedo que introduzo dentro dela.
— Por favor, Sam. Nada melhor do que começar o dia vendo essa
belezinha do outro lado da rua — coloco o nariz entre seus lábios, e
inspiro.
Cara, ela tem um cheiro delicioso.
— Por que quer me ver do outro lado da rua e não na sua cama? —
ela me lança um sorriso provocante.
— Sam... Não provoca que eu não resisto.
— Me prova então que você não resiste.
— Você será meu fim, garota diabólica — deito-me sobre ela, já
me livrando dos calções que vesti para preparar comida. — Sam... É de
Samantha?
Acho que foi o nome que ouvi na ligação de Zoey. Não acredito que
não perguntei antes.
— Hum... — ela fica tensa em meus braços de repente.
— Qual é o seu nome completo?
— Depois do casamento da sua irmã — ela responde, meio tensa.
Qual é o problema em saber o nome dela?
— Você é o que, uma princesa secreta da Inglaterra?
— Não — ela revira os olhos, com um sorriso angelical nos lábios.
— Bobo.
— Uma fada?
— Ridículo.
— A mulher dos meus sonhos?
Ela me beija, e sei que não vamos sair da cama tão cedo.
— Acho que Dave pode esperar mais um pouco, Dax.
— Essa é a minha garota.
20
Sam

Hoje é a despedida de solteira de Anne, e achamos melhor irmos,


para não levantar suspeitas. é muito pouco provável que Dax vá.
Como estava em cima da hora para organizar algo mais elaborado,
Anne acabou organizando um jantar no apartamento do meu irmão
mesmo, que foi escolhido por ser a melhor localização para todas, e as
convidadas levarão presentes com tema sexual.
Ainda não acredita como nossa noite – e manhã, e almoço –
conseguiram ser melhores que o final de semana. Parece que, cada vez que
ficamos juntos, a química melhora.
Por outro lado, mais uma noite sem dormir tem seu preço. Estou
quase dormindo no Uber a caminha da despedida de solteira de Anne.
— Que cara de morta é essa, amiga? — Zoey questiona
indiscretamente. Gente, ela não sabe sussurrar, não? — Deu muito, hein?
— Hã... Eu...
— Pode ficar mais falante que eu vou querer todos os detalhes.
— O motorista do Uber não precisa ouvir isso, Zoey.
— Moço, se eu te der cinco libras de gorjeta, você coloca os fones
no volume máximo para a minha amiga falar da noite incrível de sexo que
ela teve com seu crush de infância sem se sentir envergonhada?
— Finjo-me de morto e tudo — o cara responde com um sorriso e
pega os fones no porta-luvas.
— Valeu, amigo — ela sorri para ele. — Já garantiu suas cinco
estrelas.
— A senhorita também. Valeu pela gorjeta — ele agradece e coloca
os fones.
— Então, como foi? Fizeram anal? Ele usou algum brinquedo
erótico? Eu adoro um chicote de couro e...
— Chega, Zoey! Foi... Normal.
— Normal?
Inspiro profundamente, me lembrando do seu toque.
— Normalmente perfeito.
— Ah — ela parece entediada.
— E ele usou a fala da Julia Roberts no filme. Sabe? Notting Hill.
— Sei... — mais entediada ainda.
Problema dela, porque estou gostando de falar sobre Dax.
— E disse que eu sou especial para ele.
— Hum...
— E eu disse que preciso conversar com ele depois do casamento
de sua irmã. Vou contar tudo.
— Como é? — ela finalmente fica interessada no que digo.
— Preciso contar quem eu sou, Zoey. Estou cansada dessa mentira.
— Não é mentira, é...
— Omissão — eu a interrompo. — Eu sei que, tecnicamente, não
estou mentindo, mas não consigo saber que ele vai embora sem saber o
que aconteceu de verdade.
— E se ele contar para o seu irmão?
— É a escolha dele. Vou contar e pedir desculpas, mas não posso
exigir que Dax não diga nada a Zack.
Sei que Zack vai ficar furioso, provavelmente passará os próximos
cinquenta anos reclamando que quebrei minha parte do acordo, mas vai ter
valido a pena.
— Mas...
— Chegamos — o motorista anuncia.
— Amigo, gastei cinco libras para nada — ela reclama com ele.
— Sinto muito.
— Nem me fale.
No trajeto do Uber até o apartamento, Zoey insiste que eu devo
ficar de bico calado, já que Dax está indo embora.
Por melhor que sejam seus argumentos, nada vence o meu desejo
de passar tudo a limpo com o Dax. Depois dele insistir como a nossa
química é única e especial, quero que ele saiba toda a verdade.
Ele merece saber.
— Pense direito no que vai fazer, amiga — Zoey continua
insistindo.
Toco a campainha do apartamento.
— Podemos não falar disso aqui? — sussurro, enquanto ouvimos a
música alta do outro lado da porta.
— Tudo bem... — ela responde, zero convincente.
— Meninas! — Anne abre a porta com um sorriso enorme. —
Gente, vocês estão lindas! Entrem.
Eu não via a Anne há uns três anos, desde que ela passou alguns
dias em Notting Hill quando uma de suas melhores amigas teve neném.
Anne sempre foi muito gentil e atenciosa conosco, e paciente com
nossas brincadeiras infantis. Mesmo sendo sete anos mais velha que a
gente, ela jamais nos excluiu; nos levava ao parque para tomar sorvete, ou
ao cinema para assistir a um novo desenho animado da Disney.
Não conheço direito o Jim, mas ele é um cara muito sortudo. E
tenho certeza de que Anne será uma excelente mãe também.
Depois de conversarmos rapidamente sobre o casamento e
passarmos uns cinco minutos admirando seu belo anel de noivado, ela vai
receber outras convidadas.
Caminhamos um pouco pelo apartamento, que está muito bem
decorado, o que é impressionante, considerando o curto tempo que tiveram
para organizar a festa.
Pegamos taças de champanhe e circulamos pela sala,
cumprimentando as amigas de Anne que conhecemos.
— Ugh — Zoey reclama ao meu lado. — A Miniatura de Cruela
está aqui.
Óbvio que a namorada de Zack está aqui. Por que Zoey está tão
surpresa? Eles moram juntos.
— É o apartamento do meu irmão... — eu a recordo.
— Anne bem que poderia ter escolhido um lugar melhor.
Infelizmente, tenho que concordar com ela. Também não curto
estar na presença de Gisele, mas tenho que ao menos ser educada com ela.
Distancio-me de Zoey um pouco, cumprimento Gisele (que está
com uma cara de quem chupou limão azedo, como sempre) rapidamente e,
quando volto a ficar ao lado da minha melhor amiga, ela está me fuzilando
com os olhos.
Quando estamos na terceira taça de champanhe, vem a notícia
bombástica.
— E quem é a sortuda que conquistou seu irmão?
Cuspo o champanhe. Por sorte, como eu e Zoey estamos em um
canto discreto do ambiente, ninguém nota a minha reação exagerada.
Enquanto seco a boca com um guardanapo de linho, Zoey me puxa
pelo pulso para escutar melhor a conversa que Anne está tendo com sua
madrinha.
Pelo menos, não somos as únicas; parece que todas as convidadas
pararam de respirar para ouvir a fofoca da vez. Que sou eu.
Ficou meio quente aqui, né?
— Não sei. Ele se recusa a me dizer o nome dela ou onde ela
trabalha — Anne responde, para meu alívio.
Dax pode não ter se dado conta de que sou Rose, mas Anne ligaria
os pontos rapidinho se ele dissesse que estava saindo com uma tal de Sam
que trabalha na livraria dos Carmichael.
— Será que você a conhece e é por isso que ele não quer dizer
quem é? — a tal madrinha insiste, e sinto minhas mãos ficando trêmulas.
Minha melhor amiga percebe meu nervosismo, e segura minha
mão, me oferecendo um apoio silencioso.
— Acho que ele ainda está na fase de guardá-la só para si — Anne
responde, levantando os ombros.
— Ainnnnn! — algumas das convidadas dizem.
As outras estão com um olhar de ódio que me dá medo. Pelo visto,
várias delas queriam ter Dax para si.
Analiso cada uma delas e me dou conta de que, ao menos meia
dúzia das convidadas já passou uma noite quente com ele.
Por que estou com ciúmes? Eu já sabia que ele era mulherengo.
— Vai ver, a nova garota do Dax é só mais uma das muitas
mulheres na sua lista — a vaca da Gisele comenta, recebendo vários
olhares assassinos, inclusive o meu.
Quem é ela para julgar outra mulher que nem conhece? Quem é ela
para julgar o Dax?
Minha melhor amiga, que não sabe calar a boca, diz em voz alta:
— Alguns dizem a mesma coisa de Zack.
Ouço algumas risadinhas abafadas, e até os ombros de Anne estão
sacudindo. Gisele, por outro lado, parece que está prestes a botar um ovo
podre. Gente, a Zoey é corajosa, porque essa mulher me dá arrepios.
E ela sabe onde a gente mora.
— Está com ciúmes, Zoey? — Gisele questiona com maldade.
E, pela cara de Zoey, é exatamente o comentário que ela estava
esperando ouvir. Ah, céus. O show vai começar.
— Ciúmes? — Seu tom é de puro escárnio. — De você? Que
precisa ficar com sócio da empresa para garantir o emprego que eu tenho
por competência e que herdarei por merecimento? Não, obrigada, de nada,
beijo no ombro.
Mais risinhos abafados, e o olhar assassino de Gisele vira olhar de
serial killer. Sério, ela é psicopata. Alguém chame por favor o Sherlock
Holmes para prendê-la.
— Que tal abrirmos os presentes? — Anne sugere, tentando
quebrar o gelo.
— Ótima ideia! — Lisa concorda. — Que tal o seu primeiro, Zoe?
Assim como Anne, Lisa é uma querida. É bem a cara dela tentar
acertar as coisas por vias diplomáticas.
O plano de Lisa dá certo; Zoey está animadíssima com o presente
de Anne, que ela entrega com um sorriso de orelha a orelha. Um sorriso
bem safado.
Aposto qualquer coisa que ela deu para Anne uma nova versão do
brinquedo favorito dela. Sabe, aquele sobre o qual ela não parava de falar
quando Dax entrou na livraria.
Dito e feito. Anne tira um vibrador enorme do pacote.
— Nossa. Que... Grande.
— Sim! — Zoey bate palminhas de tão animada. — Tem vinte e
cinco centímetros, sete velocidades e é simplesmente perfeito para noites
de chuva com filmes do Hugh Grant.
— Ah.... — Anne não consegue tirar os olhos do... Brinquedo.
— Vá por mim, amiga. Depois de alguns anos de casada, esse
vibrador rosa vai virar seu melhor amigo.
A madrinha de Anne brinca, fazendo a gente rir. A esta altura, a
pequena discussão entre a minha melhor amiga e a namorada do meu
irmão já foi esquecida.
Digo, foi esquecida pelas convidadas, porque Gisele continua
olhando para Zoey como se estivesse planejando matá-la, desmembrá-la e
espalhar as partes de seu corpo pelo Hyde Park.
Depois que Anne abre todos os presentes, nós nos servimos do
jantar e cada um vai comer em um canto. Eu e Zoey escolhemos um
aparador atrás do sofá onde Anne sentou-se com algumas amigas.
— Anne, fale mais do seu irmão e de sua nova paquera — uma
mulher que não conheço volta para o assunto que me deixou nervosa.
Eu e Zoey praticamente caímos da cadeira para escutar o que estão
dizendo.
— Eles não se conhecem há muito tempo — Anne explica —, mas
sei que passaram o final de semana grudados.
— Uau. Dax, ficar com alguém um final de semana inteiro? Já é
uma novidade enorme — A madrinha de Anne comenta.
— Não é só isso — Anne continua. — Ele gostou tanto dela que
está pensando em estender sua estada em Londres até o Natal.
Engasgo com a comida.
— Amiga, você está bem? — Zoey começa a me dar tapinhas nas
costas, tentando me salvar da morte iminente.
Depois de várias tentativas, consigo desentalar e voltar a respirar.
— Claro que não estou bem, Zoey! Dax vai ficar em Londres com
base em uma mentira!
— Omissão — ela repete, e eu quero quebrar o prato na cabeça
dela para ver se deixa de ser tão dura.
— Foda-se! — ela arregala os olhos, porque é raro eu xingar. —
Dax vai tomar uma decisão sem ter todas as informações que precisa! Vou
contar para ele. Antes do casamento.
— Sam, sei como você está se sentindo. Mas, às vezes, mentimos
para as pessoas que amamos para protegê-las.
— Não concordo com isso, Zoey. Vou contar.
Está decidido. O quanto antes. Não sei como, ou quando arranjarei
uma oportunidade antes do casamento de Anne, mas vou dar um jeito.
Sinto o coração apertado ao saber que ele quer ficar comigo de
verdade. Desde que se mudou para os Estados Unidos, Dax não passa mais
do que duas semanas por ano na Inglaterra; agora, está disposto a ficar
mais de dois meses em Londres por mim.
É romântico, porém, ainda assim, é baseado em uma MENTIRA.
Sim, isso deixou de ser omissão há algum tempo.
— Tudo bem — Zoey concorda, ao notar a resolução no meu rosto.
— Faz sentido você contar, agora que sabemos o quanto ele está levando
essa relação a sério.
— Obrigada — agradeço pelo apoio dela, mesmo sabendo que vai
ter um “mas”.
— Mas — não disse? Conheço a minha melhor amiga. —, se eu
fosse você, manteria o plano de contar depois do casamento. Você não
quer arrumar confusão que possa atrapalhar o evento.
Entendo seu ponto.
Esta é uma data muito importante, não apenas para Anne e Jim,
como também para as famílias de ambos. Não posso arriscar estragar uma
data tão especial Dax.
— Você tem razão.
— Sempre tenho razão.
Levanto a sobrancelha para ela.
— Tudo bem. Nem sempre tenho razão. Só noventa e nove por
cento do tempo.
21
Dax

No fim das contas, alguns amigos americanos de Jim chegaram


antes da data combinada, juntaram-se aos nossos amigos em comum aqui
na Inglaterra, e organizaram uma despedida de solteiro capenga, que
envolve uma stripper em um bar bem tosco.
Passei a última hora bebericando de um uísque de má qualidade,
toda hora olhando para a tela do celular, louco de vontade de enviar uma
mensagem para Sam.
Sim, eu finalmente peguei o telefone dela. Na verdade, está mais
para eu roubei o telefone dela e peguei seu número enquanto ela se jogava
em cima de mim na cama tentando tirar o aparelho da minha mão.
Foi uma briga que terminou em um sexo bem gostoso, por sinal.
Remexo na cadeira, tentando ajeitar a calça que ficou apertada,
mas não adianta muito. Só quem consegue acalmar meu amigo é Sam.
— Não está curtindo o show? — Zack senta-se do meu lado e pede
uma dose de uísque.
— Não tenho mais paciência para isso.
— Não tem mais paciência para mulheres seminuas? — ele me
olha como se eu fosse verde e tivesse antenas.
— E você? — pergunto de volta, para ele experimentar do próprio
veneno. — Se o show está tão interessante assim, por que está aqui?
— Vim ver se ainda tem seus testículos — ele provoca.
A contragosto, rio da piada dele, e viramos a dose de uísque juntos.
— Jim também não parece estar curtindo — olho para meu futuro
cunhado, que está com uma expressão entediada enquanto a stripper rebola
na sua cara.
— Como ele não está curtindo tetas sendo esfregadas na cara dele?
— A ideia não foi dele. Foi do primo dele — aponto para um cara
loiro que está quase babando a stripper. — O idiota tem vinte e três anos.
— Se lembra dos nossos vinte e três anos?
— Sim, éramos dois idiotas que só pensavam em sexo.
— Agora você pensa em quê, filosofia grega?
— Penso em uma mulher, Zack.
— Cara, que merda meu primo aprontou — Jim senta-se ao nosso
lado e pede três doses de uísque.
Viramos as doses juntos. Nesse ritmo, vou aparecer na porta de
Sam dentro de outra hora, completamente bêbado e cantando serenatas de
amor.
É melhor eu pegar leve.
— Você não estava gostando do show? — Zack repete a pergunta
estúpida que fez para mim.
— Gostar do show? Aquela mulher que provavelmente teve que
sair de casa aos dezesseis anos e precisa esfregar as tetas na cara de
estranhos para sustentar o filho pequeno. Não, não curto mais isso, cara. Já
passei dessa fase.
Não poderia concordar mais com ele.
— Vocês dois ainda têm pau?
— Sim, e o meu continua sendo maior, se você quiser ter esta
conversa de macho babaca — rosno a resposta.
— Foda-se, Caden.
— Vem me chupar, Carmichael.
— Não acredito que vocês dois não estão curtindo o show. Se
tornaram dois manés.
— Nenhum de nós três está curtindo, Zack — Jim comenta, e vira
outra dose de uísque. — Sejamos sinceros.
— Verdade — Zack aceita derrota. — Mas eu e Jim temos
mulheres maravilhosas nos esperando.
— Jim tem. Já você... — comento secamente, porque nem ferrando
Gisele pode ser descrita como uma mulher maravilhosa.
Uma falsa com tetas artificias e mais maquiagem que caráter, isso
sim a descreve bem.
— Qual é, cara? Para de falar assim da Gisele.
— Zack, quando você vai cair na real e perceber que nem gosta da
companhia dela?
Dá para perceber que ele faz de tudo para fugir da Gisele. Nem foi
decisão dele os dois morarem juntos.
Ela apareceu um dia com meia dúzia de malas à sua porta,
alegando que foi expulsa do apartamento que dividia com uma amiga, e
nunca mais saiu da casa dele.
— Eu gosto da companhia dela na cama — ele diz a coisa mais
artificial e escrota que alguém poderia falar de um relacionamento.
Até eu, que nunca morei com ninguém, sei que é preciso muito
mais do que bom sexo para dividir sua vida com a pessoa.
Uma boa conversa.
O mesmo gosto para séries, livros e filmes.
Uma química avassaladora.
Uma Sam.
— Isso é suficiente quando está pegando alguém, cara... — Jim
comenta. — Mas namorar? Morar junto? Precisa ter mais. Tenho que
concordar com Dax.
— E se a mulher que você quer não te quiser?
Do que Zack está falando?
— Como é? Alguém rejeitou o todo poderoso Zack Carmichael? —
Jim sacaneia.
— Cala a boca.
O mais bizarro é que não há um pingo de raiva ou irritação no tom
de Zack. Há apenas tristeza. Há quanto tempo ele está assim? E por que
não notei isso antes?
Para falar a verdade, desde que ele voltou para a Inglaterra eu
tenho conversado com ele mais sobre trabalho que qualquer outra coisa. E,
quando viajamos juntos, falamos apenas de assuntos superficiais.
Eu não tenho sido um bom amigo. Há algo de muito errado
acontecendo na vida de Zack, meu amigo de infância, e só agora eu estou
me dando conta disso.
Ele está claramente triste. Mais que isso: está angustiado.
— O que está acontecendo, cara? — pergunto em um tom
amigável. — Você está estranho.
— Não sou o único que está estranho. O que está rolando contigo,
Dax? Desde que chegou na Inglaterra, vem evitando a gente.
— Estou... Meio que saindo com alguém.
— Você está vermelho? — Jim pergunta com ironia.
— É tão sério assim? — Zack questiona, surpreso.
— Deixa pra lá. Tenho que ir.
Essa conversa me deixou com ainda mais vontade de vê-la. Sei que
combinamos de nos falarmos só depois do casamento, sei que estou agindo
como um adolescente imprudente, sei que não estou indo devagar, como
Anne me aconselhou, mas...
Dane-se.
Eu preciso ver a Sam. Hoje. Agora.
Isto é, quando Jim soltar o meu braço.
— Vai embora antes de nos contar?
— Quem é ela? — Zack quer saber.
— Modelo da Victoria’s Secret, pode apostar — Jim responde por
mim.
Não, Sam não poderia ser mais diferente do tipo modelo. Porém,
entendo a ideia de Jim.
— Não. Ela é o oposto de todas as mulheres com quem já saí até
hoje.
— Então, finalmente, pode ter chance de dar certo, Dax — Jim bate
no meu ombro. — Porque você sempre saiu com mulheres que não tem
nada a ver contigo, meu amigo.
Nem me diga.
— Isso é verdade — Zack concorda com um sorriso. — Estou feliz
por você, cara.
— Por que você está aqui e não com ela?
— Eu...
Não sei. Não tenho ideia.
— Vá logo, Dax — Jim me empurra. — Não tem nada para você
aqui.
— Valeu, irmão.
***
Estou em frente à casa dela há uns quinze minutos, na dúvida do
que devo fazer.
Já está tarde, e não quero que Sam pense que só vou atrás dela para
sexo. Não quero que ela ache que esta é uma visita para um sexo casual.
Por outro lado, mal posso esperar para tê-la de novo em meus braços.
Nem precisamos fazer nada; só de estar em sua companhia, já
ficarei satisfeito. Só de acordar ao seu lado amanhã, será maravilhoso.
Pelo visto, eu bebi o suficiente para ficar sentado à sua porta, mas
não estou bêbado o bastante para tocar a maldita campainha.
— Dax? — Um cara me chama. Um cara que está saindo da casa de
Sam.
Nunca fui do tipo ciumento, mas sinto uma vontade bizarra de
esmagar o nariz do sujeito contra a parede.
Até eu me dar conta de que ele sabe o meu nome, e está sorrindo
para mim. Se fosse algum cara em uma relação romântica com Sam, ele
não saberia quem eu sou e muito menos seria simpático com um
concorrente, não é mesmo?
Sendo assim, ele só pode ser uma pessoa.
— Você é o Dave, não é? — ele me cumprimenta com um apertar
forte de mãos. — Obrigado por cobrir hoje de manhã.
O cara já ganhou minha admiração, porque as horas que tivemos a
mais juntos foram simplesmente perfeitas.
— Já soube que Sam aproveitou muito bem o tempo extra — ele
pisca, e não seguro o sorriso.
— Eu também, Dave.
— O que está fazendo aqui, com essa cara de cachorro encarando
frango assado na vitrine? — ele coloca as mãos na cintura.
— Eu... Quero vê-la — admito o óbvio. — Mas não quero que ela
ache que estou aqui só para...
— Uma visitinha conjugal? — ele pisca novamente. — Que
gracinha. O solteirão milionário está caidinho pela minha querida
livreira...
— Não quero incomodá-la. Só queria vê-la.
O sorriso dele se alarga. Realmente gostei desse cara. Agora
entendo por que Sam disse que ele era o melhor vizinho que uma mulher
solteira poderia pedir. Ele realmente parece gostar dela.
— Acho que Sam vai adorar a visita, bonitão.
— Está tarde...
O que eu estou fazendo? Fiquei tão covarde que agora comecei a
dar desculpas esfarrapadas?
— Sam acabou de dormir — ele informa. — Ela veio ao meu
apartamento para me contar... Bem, sobre vocês. Ela está na minha casa,
bonitão.
— Mas... E você? — eu vejo um cara chegar e acenar para Dave.
— Digo, e vocês?
— Não vou dormir aqui esta noite, querido — ele manda um beijo
para o cara e pede que espere um pouco. — Aqui a minha chave. Faça uma
surpresa para ela.
— Obrigado.
— Ah, e cuidado com Lady Di — é a primeira vez que Dave fica
sério.
— Lady Di?
— Minha gata. Ela tá no cio e vai querer ficar se esfregando em
você.
— Ah.
— Ela é uma safadinha, e tem ótimo gosto para homens.
Pisca para mim uma última vez e sai gargalhando.
É agora ou nunca, Caden. Deixe de ser um covarde, digo para mim
mesmo.
Destranco a porta principal com a chave maior e a porta do
apartamento do segundo andar com a chave menor. Apesar de terem feito
muitas reformas, consigo me encontrar nesta casa com facilidade.
Eu passei minha infância e adolescência vindo para cá quase que
diariamente. Os quartos de Zack e Rose ficavam no terceiro andar, mas o
andar principal, já que a livraria fica no primeiro, sempre foi o segundo,
com a ampla sala de estar e a cozinha.
Agora, que transformaram o segundo andar em um apartamento de
dois quartos, tiraram a sala de jantar e cortaram parte da sala de estar, mas
está muito confortável.
A decoração é bastante moderna, com cores vivas nas cortinas e
nas almofadas, enquanto os móveis são neutros e elegantes. No sofá de
três lugares, Sam está dormindo.
Ela está parecendo um anjo. Fazendo o mínimo de barulho
possível, tiro os sapatos, a calça social e a camisa, ficando apenas de
boxers.
Depois de passar uns dez minutos fazendo carinho em Lady Di (ela
começou a se esfregar nos meus pés assim que eu entrei), caminho até
Sam e, gentilmente, a pego no colo. Eu a carrego até o quarto menor, que
creio ser o de visitas. Nós nos esprememos na cama.
Ela apenas abre os olhos quando eu a puxo para ficar com a cabeça
recostada em meu ombro, como temos dormido quando estamos juntos.
— Dax? — o tom dela indica que não tem certeza se está sonhando
ou não.
— Oi, Sam.
— O que... O que está fazendo aqui?
— Precisava ver você.
— Hum... — ela sorri, e volta a se acomodar em meu ombro. — Eu
estava sonhando com você.
Ela volta a dormir quase que imediatamente. Eu a observo por mais
alguns momentos, e me acomodo para dormir.
— Também tenho sonhado muito com você, Sam.
22
Sam

Isso que acontece quando fazemos coisas guiados apenas pelo


coração; quando começamos a pensar com a cabeça, já é tarde demais. Já
fizemos algo que não tem volta.
Como voltar no tempo e contar, no momento em que me dei conta
que Dax não me reconheceu, que eu era a irmã caçula do melhor amigo
dele.
Agora, depois de acordar em seus braços, não adianta chorar pelo
leite derramado. Especialmente considerando que eu aproveitei cada
segundo do meu mundinho de fantasia.
Mas está chegando a hora de retornar à realidade. Só não será
agora. Apesar de ter me dado diversos conselhos no mínimo questionáveis,
Zoey tem razão em um ponto: o ideal é evitar contar a verdade para Dax
antes do casamento.
Se já esperei até agora, posso esperar mais um pouco. Está ficando
mais difícil guardar esse segredo a cada segundo que passa, mas, por ele,
vou tentar. Até domingo, depois do casamento de Anne.
Até lá, preciso evita-lo ao máximo. Ele me convidou, esta manhã,
para eu ir hoje com ele ao jantar de noivado de sua irmã, alegando que
seria bem mais informal que o casamento.
Como não queria mentir – de novo –, e inventar uma desculpa
qualquer, eu lhe contei a verdade (em termos): disse que não me sentia
confortável em ir. Dax aceitou e se despediu de mim com um longo beijo.
Infelizmente, vou ter que mentir para os meus pais, que insistem
em saber por que não vou hoje com eles. Os dois vieram de Surrey apenas
para o evento.
— Como assim, você não vai? — mamãe reclama do outro lado da
linha.
Ela está ajudando Anne e a mãe a terminarem de organizar o jantar.
Engulo toneladas de concreto antes de conseguir dizer, com a voz
trêmula:
— Não estou me sentindo bem, mãe.
Por um lado, não é exatamente uma mentira. Estou tão ansiosa com
essa situação que passei o dia sem conseguir colocar nada de comida na
boca.
— Faça um esforço, filha — como Zoey previu, mamãe insiste.
Minhas mãos tremem enquanto leio o papel que Zoey me entregou.
Sabendo que eu ficaria nesse estado de nervos, ela preparou um discurso.
Eu detesto mentir, e parece que, quanto mais eu quero fugir da
mentira/omissão do Dax, mais eu preciso mentir.
Tenho que acabar com isso. De uma vez por todas. Se, depois que
descobrir a verdade, Dax quiser contar para seus pais, para meu irmão,
para o jornal, vou aceitar.
Quem está errada nessa história sou eu, não ele.
Por que diabos eu fui aceitar o conselho de Zoey? Ela é uma
excelente advogada, mas é uma catástrofe em assuntos românticos.
Por outro lado, parece que ela conhece meus pais melhor do que eu,
porque sabia exatamente como eles iam reagir à minha notícia – falsa – de
que estou passando mal e não posso ir ao jantar. Ou é um talento de
advogados.
O que quer que seja, ela já deixou uma resposta pronta para o
comentário de mamãe.
— É que... Se eu for hoje, posso piorar e não ter condições de ir
para o casamento.
— Ah.
— E, se eu descansar bem hoje, sei que estarei bem disposta
amanhã.
Nossa, a Zoey é boa mesmo nisso.
— Tem toda razão, querida. É melhor que descanse hoje mesmo.
— Mande um abraço enorme para Anne e para o Sr. e a Sra. Caden.
— Claro, e mandarei um abraço para Dax também.
— D-Dax?
— Claro. Ele sempre gostou muito de você. E lembra como você
era grudada nele? Acho que ele nem sabe que você está trabalhando na
livraria e...
— NÃO DIGA NADA! — grito, quase tendo um AVC ao imaginar
a cara do Dax se souber, pela mamãe, que a garota da livraria com quem
ele passou as últimas noites é ninguém menos que sua filha.
— O que houve, filha? — mamãe pergunta, soando preocupada.
— É que... — por que Zoey não deixou um discurso pronto para
esta situação? — Deixa que eu falo com o Dax pessoalmente sobre meu
novo trabalho no casamento.
— Ah... Claro. Melhor mesmo, para vocês terem assunto.
— Isso!
Despeço-me dela e de papai, com a promessa que dormirei cedo
esta noite para poder estar bem disposta amanhã. Como se tivesse
adivinhado que se tornou tema surpresa da minha conversa com mamãe,
Dax me envia uma mensagem.

Boa noite, Sam.

Oi, Dax.
Está tudo bem?

Já estou com saudade.

Ele é tão fofo que dá raiva. De mim mesma, digo. Não quero
magoá-lo, mas tampouco quero continuar fingindo ser alguém que não
sou.
Alguém que ele conheceu dias atrás.
Alguém que ele nunca tinha visto antes.
Alguém que não quer ir ao casamento com ele por medo de ir
rápido demais, e não por medo de ser descoberta.
Alguém que ele poderia amar.
O que responder nesses casos? O Google deveria ter respostas para
esse tipo de coisa...

Ah.

Ah?
Mereço algo mais que “ah”, não?
Depois do final de semana, das flores, do Hyde Park, e das últimas
noites, achei que receberia pelo menos um UAU.

Seu ego já é maior que o Big Ben.


Não conte comigo para deixá-lo mais inflado.
Se dependesse de você, eu ficaria com um problema sério de
autoestima, Sam.

Eu diria para você me mandar a conta da sua psicanalista, Dax.


Mas acho que não consigo bancá-la.

Engraçadinha.
Não é legal fazer piada com dinheiro.

Por que não?


Afinal de contas, na nossa situação, você é a Julia Roberts, e eu, o
Hugh Grant.

Deveria me sentir mal por ter grana?

Claro que não, Dax.


Você tem porque merece.
Mas eu me sinto deslocada com o fato de que pertencemos a planetas
diferentes.
Eu disse planetas?
Quis dizer galáxias.

E qual é a sua galáxia?


Porque eu definitivamente quero viver nela.

Quando eu acho que nossa conversa está indo para um caminho


seguro, lá vem ele de novo e diz algo fofo, que me deixa ainda mais
apaixonada por ele, que me deixa ainda pior por tudo que preciso lhe
contar.

Dax...

Sam...
Quero muito te ver hoje...

E o jantar de noivado da sua irmã?

Não vai terminar muito tarde.


Inclusive, o meu convite ainda está de pé.
Vai comigo.
Por favor...

Rápido demais, Caden.


Rápido demais.

Se você acha que estamos indo rápido demais, nem sei o que acharia
se soubesse o que planejo para a gente.

Respira, Sam. Isso é o tipo de coisa que homem diz para mulher
com quem está saindo.
Ainda assim, significa o mundo ouvir isso dele. Sonhei em escutar
essas palavras durante longos anos, e, agora que ele as diz, nem posso
curti-las.
A cada segundo que passa, eu sinto uma necessidade maior de
contar quem sou de verdade. Ao mesmo tempo, o medo de perdê-lo
aumenta.
Quero ser honesta com ele, porque Dax é um cara bacana que
merece a verdade, mas meu lado egoísta quer curtir esse Dax mais um
pouquinho.
O Dax que me deseja, que não me vê como a irmã caçula – e
proibida – de seu melhor amigo.

Eu te assustei, né?

Não é você quem me assusta, Dax.


O que me assusta é o que eu sinto por você.
O que me assusta é como você vai reagir quando tivermos nossa
conversa na semana que vem.

O que quer que queria me contar, eu vou aceitar, Sam.


Costumava sair com várias mulheres, mas não conseguia levar
nenhuma a sério.
Era uma merda.
Eu queria um relacionamento sério, mas não me enxergava acordando
ao lado de nenhuma delas no longo prazo.
Agora, tenho dificuldade de me imaginar acordando sem você.
Durante todos esses anos, eu estava saindo com as mulheres erradas.
Pelo menos, agora eu encontrei a certa.

Afundo minha cabeça no travesseiro e solto um grito abafado. Meu


Deus, esse homem quer me matar ou o que? Meu pobre coração não
aguenta mais tanta fofura.
— Rose? — a voz de Zack diz da sala.
Peraí. Zack está na minha sala de estar? Ferrou; se eu já sou
péssima em mentir pelo telefone, imagina ao vivo.
Pego novamente o papel que Zoey me deu e leio mais uma vez,
tentando decorar as falas. Segundos depois, ele enfia a cabeça pela fresta
da porta, e eu sou obrigada a esconder os papeis debaixo do travesseiro.
— Oi, Zack — tento oferecer um sorriso simpático, mas sai como
o do Frankenstein.
— O que está fazendo?
— O que você está fazendo aqui? — pergunto de volta.
— Você ainda não está pronta! — ele diz em tom acusatório.
— Eu... Tô... Meio que... Passando mal?
É muito mais difícil mentir quando estou falando pessoalmente
com meu irmão. Droga! Por que ele não ligou antes de vir? Será que eu
devo fingir um espirro?
Nossa, não poderia ter saído mais forçado. Tento dar uma tossida,
mas mais parece um ronco de motor. Sou péssima mentirosa mesmo.
— O que está acontecendo? — agora ele está muito desconfiado.
— Do que você está falando? — tento fazer cara de santa, mas é
difícil quando se está praticamente chorando de desespero.
— Primeiro, fico sabendo que Zoey vai para o jantar com um cara,
e depois você vem com essa história bizarra que está passando mal quando
está com uma cara ótima?
Zoey não vai com um namorado ou nada assim, é só o Dave. E por
que Zack está agindo como se Zoey estivesse indo para Vegas se casar em
segredo com o Dave?
Sem esperar pela minha resposta, Zack entra no meu armário e
começa a selecionar roupas. Ele escolhe um e o joga em cima da minha
cama.
— Eu usei esse vestido para o batizado do Mathias, Zack.
— Sim, e ele é um vestido muito bonito.
E comportado. Na verdade, eu parecia uma noviça nele, coberta do
pescoço aos calcanhares. Não que importe muito isso, porque ele nem cabe
mais em mim. Há, tipo, uns cinco anos.
— Eu tinha quinze anos quando o vesti pela última vez, Zack. Saia.
Vou me trocar. — Dou-me por vencida.
Escolho minha roupa e entro no banheiro para me trocar.
— Rose?
— Ah! Que susto! O que você quer agora?
— Se eu te fizer uma pergunta, você vai ser sincera comigo?
Ah, não. Não, não, não. Ele sabe. Mas como o Zack pode saber?
Quem teria contado a ele? Talvez, ele nos viu juntos? Ou Anne passou em
Notting Hill, nos flagrou dormindo na mesma cama e contou para ele?
Ah, droga! Eu deixei meu celular em cima da cama, e ele pode ter
lido as mensagens do Dax. Agora já era.
Por um lado, estou suando de nervoso com essa história. Por outro,
estou me sentindo aliviada. A verdade, enfim, surgirá.
— Sim, Zack. O que quer que tenha a me perguntar, não vou mentir
para você.
— A Zoey está namorando?
Quê?
— Por que a pergunta?
— Eu conheço ela. Zoey jamais levaria um cara para o jantar se
não o levasse a sério.
O cara em questão é Dave, que tem um namorado de dois metros
de altura. Tipo, a Zoey faz zero o tipo dele. Ela me disse que iria leva-lo
pela companhia, já que, teoricamente, eu não deveria ir.
Não sei ao certo o que dizer ao meu irmão.
— Por que você quer saber, Zack?
— Só me diga, por favor.
— Não. Ela não está namorando com o Dave.
E, se Zack me escutasse mais, saberia que Dave é o meu ex-colega
de faculdade e o meu amigo gay que aluga o segundo andar desta casa.
— Ok. Não diga para ela que eu perguntei, tá?
— Mas o que...
— Que demora é essa, Zack? — escuto a voz irritante de Gisele da
sala.
— Você deixou a Cruela... Digo, a Gisele entrar aqui em casa?
— Vou levá-la lá pra baixo. Se vista logo.
— Ei, Zack.
— O quê? — ele pergunta por cima do ombro, já na porta.
— Eu te amo.
Ele sorri, entra de novo no quarto e me dá um abraço.
— Eu também te amo, Sam.
— E te amo demais para te ver saindo com alguém de quem
claramente não gosta, enquanto a mulher dos seus sonhos pode estar bem
debaixo do seu nariz.
— Eu... Você é a melhor irmã do mundo, sabia? — ele comenta,
com os olhos marejados, e sai do quarto.
— Queria eu ser, Zack... Me desculpa por mentir sobre o Dax... Me
desculpa por não ser a melhor irmã do mundo...
23
Dax

Sei que deveria dar espaço a ela. Anne vem repetindo isso sem
parar. Ainda assim, não consigo resistir à tentação de lhe enviar uma
mensagem dizendo que estou com saudade.
Apesar de Sam estar assustada, sei que me deseja. Sei que está
sentindo o que eu sinto. Porém, talvez por ela ser tão inexperiente, esteja
muito insegura.
Eu, por outro lado, nunca tive tanta certeza do que quero. Ela. Sam.
Porra, nem sei seu sobrenome, e já estou me imaginando tendo
algo sério com ela. Posso perguntar para a Sra. Carmichael quem é a sua
funcionária.
Não, não é legal fazer isso. Sam disse que quer me contar algo
sobre ela mesma, e tenho que respeitar seu desejo. Vou esperar até
segunda-feira para perguntar tudo que desejo sobre ela.
Quem sabe, até lá, ela já tenha se dado conta que nosso caso não
envolve apenas sexo casual? Claro, o sexo é sensacional, mas está longe de
ser tudo. Na verdade, acho que curto sua companhia tanto quanto curto
estar dentro dela.
Preciso enviar uma mensagem agora mesmo.
Quando admito que estou com saudades e quero vê-la hoje, ela fica
nervosa.

E o jantar de noivado da sua irmã?

Conversamos mais um pouco sobre o tema, e eu insisto que ela vá


comigo. Eu a convidei esta manhã, com ela em meus braços e agora, assim
como mais cedo, ela diz que estou indo rápido demais.
Talvez eu esteja mesmo, e o pior é que estou tendo sérias
dificuldades para desacelerar.
Depois disso, ela para de escrever por alguns instantes. Se Anne
estivesse aqui, ela estaria batendo minha cabeça contra a parede por não
ter seguido seu conselho.
De novo.

Eu te assustei, né?

Não é você quem me assusta.


O que me assusta é o que eu sinto por você.
O que me assusta é como você vai reagir quando tivermos nossa
conversa na semana que vem.

O que quer que queria me contar, eu vou aceitar, Sam.


Costumava sair com várias mulheres, mas não conseguia levar
nenhuma a sério.
Era uma merda.
Eu queria um relacionamento sério, mas não me enxergava acordando
ao lado de nenhuma delas no longo prazo.
Agora, tenho dificuldade de me imaginar acordando sem você.
Durante todos esses anos, eu estava saindo com as mulheres erradas.
Pelo menos, agora eu encontrei a certa.

Espero um minuto. Nada. Dois. Ela continua offline. Depois de uns


quinze minutos, durante os quais eu encaro a tela do meu celular como um
adolescente inseguro e cheio de hormônios, ouço um grito atrás de mim.
— Seu idiota!
— Anne. O que está fazendo aqui?
A pergunta é meio estúpida, já que eu estou em um dos cantos do
restaurante que Anne alugou para seu jantar de noivado.
Ela é que deveria estar me perguntando isso, já que eu prometi
ajudar e passei os últimos quinze minutos trocando mensagens com Sam.
— Você acabou de se declarar para ela, seu imbecil? — ela arranca
meu celular da minha mão e aponta para a tela.
Ah. Então ela leu tudo.
— Isso não é da sua conta! — meus pais, Os Carmichael e Jim
olham em nossa direção.
Anne acena para eles, alegando que é só uma pequena discussão de
irmãos gêmeos, e todos voltam aos seus afazeres.
— Quando você vai deixar de ser um macho alfa orgulhoso e me
ouvir? — ela diz mais baixo.
— Isso é assunto particular, Anne! — pego meu celular de volta.
— Você entende de sexo, mas eu entendo de amor!
— Amor? Quem falou em amor?
Ela revira os olhos para mim, e aponta para a tela do celular.
— Leia de novo a porcaria da mensagem, Dax. Você está
apaixonado por ela. E acabou de revelar isso para uma mulher que já está
insegura o suficiente.
Leio de novo toda a conversa. Anne tem razão. A cada nova frase, a
cada nova declaração, Sam parece mais desconfortável.
Eu despejei tudo que estava sentindo para ela, apesar de saber que
Sam ainda não está pronta para assumir nada.
— Você vai estragar tudo se não fizer exatamente o que eu mando
— ela comenta com irritação.
— Isso não é um jogo, Anne.
— E quem falou em jogo? Sexo é jogo, amor é um campo de
batalha.
— Nós não vamos ter essa conversa — tento sair do canto onde
estamos, mas ela me segura pelo pulso.
— Vamos, sim. Você me disse que ela é inexperiente. Quão
inexperiente?
— Hã...
— Quão inexperiente, Dax?
— Ela... Era...
Os olhos dela arregalam-se de surpresa quando ela compreende o
quanto Sam é – ou melhor, era – inexperiente até me conhecer.
— Você tirou a virgindade dela?
Engulo em seco.
— Sim.
— E ela sabia quem você era?
Ela está se referindo ao fato de eu ser considerado um dos solteiros
mais desejados do mundo, segundo algumas listas famosas.
Fico meio enojado com esse título, porque não quero mais ser
solteiro. Entretanto, quando Sam ficou comigo, ela ficou sabendo que eu
era um solteiro famoso e convicto.
— Sim — eu finalmente respondo.
— E ela perdeu a virgindade contigo, sabendo que você voltaria
para os Estados Unidos?
— Eu... Hum... Sim, mas já estou pensando em ficar e ver no que
isso vai dar e...
— Você se colocou no lugar dela, Dax? — ela coloca as mãos na
cintura, exatamente como mamãe costumava fazer antes de me dar uma
bronca homérica.
Bem, se eu comparar Anne à nossa mãe, ela provavelmente me
dará um chute entre as pernas, então engulo a piada e respondo de forma
monossilábica.
— Não.
— Ela tem mais de vinte anos, e é virgem. Escolheu perder a
virgindade com um cara que ela sabia que ia embora e que, portanto, era
alguém inatingível, com quem ela passaria apenas um final de semana.
— Hã — eu realmente não tinha pensado por essa perspectiva.
— E, agora, você decide que quer ter algo mais sério. Mas ela
nunca teve qualquer relacionamento antes, Dax. Deve estar assustada o
suficiente com o fato de que está se envolvendo com um dos maiores
solteiros do mundo.
— E? Isso pouco importa para mim.
— Mas importa para ela! Sabe o que se passa na cabeça dela? Em
alguns meses, ou até semanas, quem sabe dias, você vai se cansar dela,
mas ela ficará com o coração partido por muito mais tempo.
— Eu duvido que vá me cansar dela, Anne.
— Você sabe disso. Ela não sabe. A pobrezinha deve estar se
sentindo sufocada.
— Ela comentou que eu sou a Julia Roberts e ela, o Hugh Grant.
— Notting Hill?
— Sim. Eu... Meio que usei uma fala da Julia Roberts quando quis
convencê-la a ficar comigo.
Um sorriso mínimo aparece nos lábios de Anne. É um dos filmes
favoritos dela.
— Você não presta, Dax Caden — ela diz com divertimento no
tom. — Nenhuma mulher resiste a homem que sabe fala de filme de
comédia romântica.
— Eu sei. O que acha que devo fazer, Anne?
— Primeiro, vai dar um pouco de espaço a ela. Entendeu? ES-PA-
ÇO. Não vai mais enviar mensagem para ela hoje.
— Tudo bem.
— Entregue o celular.
— Eu disse que tudo bem!
— Acha que não sei como uma pessoa apaixonada se comporta?
— Eu...
— Está completamente apaixonado. O que significa que vai beber
no jantar, e vai começar a enviar mensagem de bêbado para ela.
— Argh! Detesto quando tem razão.
— Quando eu tenho razão? Eu sempre tenho razão.
— Tudo bem, mamãe.
Ela me dá um soco no braço. Doeu, mas nem se compara com o
chute entre as pernas que eu estava esperando.
Entrego o celular, e ela o coloca na bolsa. Sem problema; no meio
do jantar eu pego de volta. Quando ela tiver distraída com seus
convidados.
— E nem pense em passar na casa dela quando voltar do jantar,
está me entendendo?
— Estou.
— Repita, Dax.
— Não vou passar na casa dela depois do seu jantar.
Mas não sei se continuarei pensando assim depois de umas doses
de tequila. Aí, não me responsabilizo pelos meus atos.
24
Sam

Claro que estou tremendo que nem uma folha ao vento quando
chegamos ao restaurante. Encontro Dax sem dificuldade.
Tento me esconder do fotógrafo que está tirando fotos dos
convidados e caminho até um canto discreto do ambiente, onde Zoey está
parada, evitando Dax ao máximo.
— O que você está fazendo aqui? — ela arregala os olhos ao me
ver, e me empurra contra uma pilastra, para me esconder por completo do
campo de visão do Dax.
— Oi, Zoey — meu irmão diz atrás de mim, atraindo a atenção
dela.
Seus olhos escurecem de raiva.
— Zack. Gisele — ela pronuncia o nome como se quisesse vomitá-
lo.
— Você engordou, Zoey? — Gisele pergunta com maldade.
Cruela é uma santa perto dela. Mulher venenosa. Ela sabe que Zoey
sempre foi insegura quando o assunto é a balança.
Eu, meu irmão e ela ficamos paralisados, porque é um assunto bem
desconfortável. Dave, porém, aproxima-se com um sorriso que me diz que
ele não vai deixar barato.
— Na verdade, acho que ela nunca esteve tão linda — ele dá um
tapa na bunda nela, e juro que o rosto de meu irmão começa a se contorcer
de dor, enquanto eu seguro a gargalhada. — Adoro essas curvas dela.
Gisele fica boquiaberta, e não é pelo tapa na bunda. David é gato.
Eu disse gato? Quis dizer lindo. Tipo, uma mistura de Brad Pitt jovem
com o cara que faz o Thor, Chris Hemsworth.
Quando ele veio falar comigo pela primeira vez em Oxford, eu
fiquei uns bons dois minutos encarando-o sem saber o que responder. Ele é
definitivamente um dos homens mais bonitos que eu já vi.
E soube deixar Gisele morrendo de inveja de Zoey.
— E quem é você? — meu irmão questiona de um jeito nada
educado.
Por que ele está tão agressivo com o Dave?
— David Dare. Fotógrafo da Vogue.
Quero gargalhar de novo; de fato, Dave já esteve na Vogue, mas
como modelo, não fotógrafo. Inclusive, foi como ele pagou pela graduação
e mestrado em Oxford.
— Ah, é? — Meu irmão infla como um pavão.
Gente, esses homens parecem um bando de neandertais. Só falta
ele bater no peito e chamar Dave para um duelo.
Dave, por outro lado, finge nem perceber a reação de Zack e
Gisele. Ele olha apenas para Zoey; se eu não o conhecesse, e soubesse que
ela nunca será um interesse romântico dele, eu juraria que está apaixonado
por ela.
Dave a segura pela cintura e, sem tirar os olhos dela, diz:
— Estava tirando umas fotos no Hyde Park e vi a Zoey... Ela é a
mulher mais fotogênica que já conheci.
— Mesmo? — A Gisele não sabe quando calar a boca e deixar de
ser uma babaca.
Sério, como diabos meu irmão aguenta essa mulher? Nunca fui
uma pessoa violenta, mas minha vontade é quebrar a garrafa de
champanhe na cabeça dela.
Como ela pode ser tão cruel, sem qualquer motivo?
Para variar, Dave sabe muito bem dar o troco. O olhar dele desvia,
e foca na Gisele. Ela faz pose de modelo, até ele examiná-la com um olhar
de pura reprovação.
— É, a indústria da moda só gosta do mesmo tipo de mulher, as
magricelas com peitos de silicone e cabelos platinados — ele faz uma cara
de nojo ao olhar para os seios (bastante siliconados) da Gisele. — Mas,
homem com bom gosto curte é mulher diferente e com belas curvas. Sabe,
mulher de verdade.
— Eu bem sei... — meu irmão comenta, os olhos colados em Zoey.
Quê? O que diabos está acontecendo?
— O que você disse, Zack? — questiono, porque não acredito no
que ouvi.
E no que isso significa. De repente, as peças começam a se
encaixar. Zack... Zack está atraído pela Zoey? Enquanto namora sua maior
inimiga?
Olho para a minha melhor amiga. E os olhos dela também estão
colados nele. Hã? Os dois foram raptados por alienígenas e sofreram
lavagem cerebral, só pode.
Até ontem eles se odiavam. Não é?
NÃO É?
Agora, estou na dúvida se havia apenas ódio entre eles mesmo.
— Hã... Vamos para a mesa? — Gisele pergunta em tom de
reclamação, e se afasta sem esperar por Zack.
— Preciso falar contigo a sós, Sam — Zoey diz.
— Sobre o quê? — Zack, o intrometido, pergunta.
— Sobre sexo tântrico. Estou pensando em experimentar — ela
responde ironicamente, e me puxa para os fundos do cômodo. Será que há
uma outra saída lá? Espero que sim, porque quero fugir daqui antes que
Dax me veja.
Assim que nos afastamos de Zack e Dave, eu me viro para ela.
— O que está acontecendo, Zoey?
— Eu ia perguntar o mesmo a você. Dax já está aqui.
— Droga. Meu irmão apareceu de surpresa, e não consegui fingir
que estava passando mal.
— Cara, você é a pior cliente que eu tenho.
— Não sou sua cliente, sou sua melhor amiga! — eu a recordo.
— Estou pensando seriamente em começar a te cobrar honorários
advocatícios.
— E que história é essa do Zack estar todo interessado no Dave?
— Como assim? Seu irmão mudou de time? — ela tenta se fazer de
inocente, mas eu a conheço muito bem.
— Não muda o tema, Zoey! Ele veio até minha casa perguntar se
você está namorando. O que está rolando entre vocês?
— NADA! — Zack, o intrometido, se intromete de novo em uma
conversa que não o interessa. Não acredito que ele nos seguiu.
— Vamos sair? — Zoey sugere, olhando para Zack com um olhar
ameaçador. — Já que não conseguimos privacidade aqui dentro.
— Já vou, já vou — a contragosto, Zack caminha até a mesa no
centro do cômodo, onde os convidados começam a se acomodar.
Felizmente, Zoey arranjou um cantinho ótimo. É difícil alguém
conseguir nos ver do salão principal.
— Preciso contar para o Dax, Zoe. Isso chegou longe demais. Não
quero ficar me escondendo assim no casamento também. É loucura.
— Não combinamos que você ia contar depois do casamento, logo
antes dele voltar para os Estados Unidos?
— Ele vai querer saber por que eu estou no casamento, Zoe. Isso se
ele não me vir aqui.
— Você pode continuar escondida — Zoey diz como se fosse a
coisa mais lógica do mundo.
— O resto da noite? Como vou me esconder na hora que todos se
sentarem à mesa?
— Você fica na cozinha.
Chego a considerar esse plano. Por um segundo. No seguinte, eu
me dou conta de que é uma loucura.
Mesmo que Zack não note minha ausência – o que será bem difícil
– há ainda o fato de que precisarei passar pelo salão principal na hora de ir
embora.
Além disso, depois de tudo que me escreveu hoje, não consigo
mais esconder quem eu sou de verdade. Dax se declarou para mim, não é
justo!
— Chega disso, Zoey. Preciso contar agora para o Dax.
— Imagina o clima que vai ficar no casamento, Sam.
— Eu sei... Eu... Preciso contar.
Localizo Dax com facilidade; ele está agora em frente à porta
principal, recebendo convidados recém-chegados.
Seco as mãos na saia do vestido, respiro fundo, e começo a
caminhar na direção dele. Quando estou no meio do caminho, Zoey me
joga atrás de outra pilastra, corre até Dax e dá um beijo.
Na. Boca. Dele.
O que diabos...
— Zoey! — meu irmão berra do lado oposto do salão, e corre até
os dois. — Que porra é essa?
— Qual é o problema, Zack? Ele é gato, eu estou solteira, e é isso.
— Meu senhor — estou tendo uma arritmia cardíaca. Vou infartar a
qualquer instante.
— Você não estava aqui com um cara? — meu irmão questiona,
desconfiado.
Dave aparece logo atrás de mim, mas, tendo em vista a discussão,
ele se esconde atrás da pilastra junto comigo.
— Dave já foi embora. Tinha um compromisso na Vogue.
— O que está rolando entre vocês dois? — desta vez, Zack
pergunta a Dax. — É ela que você está pegando, Caden?
— Quê? — Dax obviamente não tem ideia do que está rolando.
Pelo olhar de Zack, sei que as coisas vão ficar feias.
— Vou te matar, seu desgraçado!
Zack pula em cima de Dax, e os dois começam a brigar, rolando
pelo chão do restaurante.
— De que porra você está falando? — Dax diz, entre um soco e
outro. — Não estou saindo com a Zoey!
— Você não está pegando a Zoey? — meu irmão para de desferir
golpes, mas os narizes de ambos já estão sangrando.
Sem contar que os dois terão olhos roxos amanhã, no casamento.
Jim aproveita que eles pararam de brigar para separá-los, e meu pai
empurra Zack para a direção oposta. Mas eles continuam discutindo.
— Claro que não estou saindo com a Zoey, Zack — Dax se
defende, parecendo ofendido com a acusação. — Ela é só uma criança.
Sinto meu coração despedaçando.
Zoey é só uma criança? Mas ela tem a minha idade!
— Não sou criança nada! — Zoey bate os pés no chão, como fazia
desde que era... Bem, uma criança.
Às vezes minha amiga pode ser bastante infantil.
Gisele, enquanto isso, observa os três com uma expressão
desconfiada.
— Você sabe do que estou falando, Zoe — Dax tenta acalmá-la. —
Fomos criados juntos. Você é como a minha irmã mais nova. Assim como
a Rose.
Eu me sinto um lixo. Ele sempre vai me ver como a irmã mais
nova de seu melhor amigo. Assim que descobrir, não vai querer mais nada
comigo.
— Ah. Merda — Zoey coloca a mão na testa, e olha na direção da
pilastra atrás da qual eu e Dave estamos.
Ela sabe. Sabe muito bem o que essa fala de Dax está fazendo
comigo, com o meu coração.
— Merda o que? — Zack questiona, e caminha até ela, segurando-a
pelos ombros. — Você está a fim de Dax mesmo?
Meu Deus, meu irmão pode ser um idiota.
— Isso não é da sua conta! — ela se defende.
— Zoe, eu gosto muito de você, mas não desse jeito — Dax insiste.
— Também não gosto de você desse jeito — ela faz uma careta. —
Que nojo!
— Então por que me beijou?
— Queria... Hã... — Todos os convidados da festa estão olhando
para ela. Zoey levanta os ombros e ergue o queixo, com sua famosa
expressão de escárnio. — Fiquei curiosa para saber como é beijar um dos
solteiros mais desejados de Wall Street.
Jim e Anne começam a gargalhar, e os outros convidados fazem os
mesmos, mas Gisele e Zack continuam sérios.
A expressão de Dax relaxa, e um sorriso irônico curva seus lábios.
— E o que achou, Zoe?
— Mais ou menos — ela responde no mesmo tom de brincadeira.
— Esses coroas já não sabem mais como tratar uma garota.
— Coroas? — ele questiona, arrancando mais gargalhadas dos
convidados.
— Sei que somos mais velhos que você — meu irmão comenta,
parecendo verdadeiramente ofendido. Nossa, ele está bem sensível hoje.
— Mas não precisa exagerar, Zoe.
— Enfim, Dax já foi testado e reprovado.
— Assim você parte meu coração, Zoe — Dax brinca, colocando as
mãos sobre o peito.
— Quer me testar também, Zoey? — Meu irmão provoca,
recebendo um olhar assassino de sua namorada.
Qual é o problema dele hoje?
— Deus me livre! Prefiro beijar um zumbi.
Agora os convidados vão à loucura. Papai está dobrando ao meio
de tanto rir.
— Ah, é? — Zack questiona, irritado.
— Um zumbi com bafo de cocô de vaca. — ela o provoca.
— O que está acontecendo? — Dave sussurra no meu ouvido.
Ele também sentiu que há algo rolando entre meu irmão e Zoey.
Algo que ela nunca contou para a gente.
— De tudo e mais um pouco — respondo. — Me tira daqui, por
favor?
— Isso — Dave concorda. — Antes que Dax te veja.
Estamos chegando à porta de entrada, tentando caminhar pelos
cantos e nas sombras, quando Zoey nos alcança. Saímos juntos e, assim
que chegamos ao carro de Dave, ela se vira para mim:
— Sam, preciso que você durma na minha casa hoje — ela diz. —
Eu menti para você. Na verdade, eu venho mentindo para você há bastante
tempo.
25
Dax

Quando chego em Notting Hill, meu olho já está roxo e meu nariz,
bastante dolorido. Tomo remédio para dor e um anti-inflamatório, e olho
pela janela do meu quarto.
Tudo está escuro no quarto de Sam. Ou ela está dormindo, ou ainda
não chegou em casa. Coloco gelo no olho direito, o que foi atingido pelo
punho de Zack, enquanto escrevo uma mensagem para Sam.
Sim, consegui pegar meu celular de volta enquanto Anne buscava
curativos para colocar na ferida acima da minha sobrancelha.
O Zack fez um belo de um estrago, e é melhor ele explicar
direitinho por que ele fez isso. Não quis falar do assunto na frente dos
convidados, mas está claro para mim que há algo rolando entre ele e Zoey.
A cara que ele fez quando mencionei que ela é nova demais para a
gente, que ela é como nossa irmã mais nova... Sério, parecia que ele ia
morrer ali mesmo de remorso.

Ei, Sam. Por onde você anda?

Oi, Dax. Vim dormir na casa de uma amiga.


Ela está precisando de um ombro amigo.

Droga. Depois da noite que eu tive, eu bem que queria passar a


noite com ela.
Ah, seja sincero, Caden. Eu ia querer passar a noite com ela mesmo
que o jantar de noivado tivesse sido perfeito.

Também estou precisando de um ombro amigo.


Do seu ombro amigo.

Sei...
Hoje terá que encontrar outro.

Meu outro ombro amigo brigou comigo hoje.


Então posso garantir que ele não vai querer falar comigo.

O que aconteceu?

Sabe a sua amiga Zoey, do vibrador roxo?


Pois é. Ela me beijou hoje.
Não tenho ideia por que ela faria algo assim.
Ela foi criada comigo. É como uma irmã mais nova.

Tenho a mesma idade que Zoey, Dax.

Sempre soube que Sam era mais nova que eu, mas nunca a vi na
mesma categoria que Zoey. Sim, homens têm, muitas vezes, o mau hábito
de separar mulheres em categorias.
Zoey, desde sempre, fica em uma categoria muito semelhante à de
Anne, bem distante da categoria de Sam. Apesar de compartilharem a
mesma idade e uma amizade, elas representam coisas bem distintas para
mim.
Enquanto eu sempre enxergarei Zoey como parte da família, quase
como uma irmã mais nova, ou uma prima por quem tenho um imenso
carinho, Sam é a mulher que me enlouquece na cama e me surpreende fora
dela.
Sam me encanta, me seduz, me excita. Zoey, assim como irmãs
mais novas geralmente o fazem, me irrita e me faz sorrir ao mesmo
tempo.
Por isso, achei bizarro quando ela me beijou; entretanto, quando
ela explicou o motivo – mais bizarro ainda – por ter me beijado, foi uma
das coisas mais engraçadas que ouvi.
Como uma irmã que aprontou feio, mas a gente não consegue não
achar bonitinho.
Porém, como consigo explicar tudo isso para Sam?

Você é diferente. Você é uma mulher-menina. Ou melhor, um mulherão-


menina.

O que isso quer dizer?


Você é uma mulher com uma inteligência extraordinária, uma
maturidade muito acima de alguém da sua idade, com um corpo de me
deixar com água na boca só de falar nele, e uma beleza sensual, mesmo
que você não saiba o quanto é linda, o que só te deixa mais sexy.
Mas você também tem seu lado menina.
Aquela garota insegura e inexperiente...
Com uma inocência que eu amo.

E se eu fosse a Zoey?
Ou a Rose?
Se eu fosse a irmã do seu melhor amigo?

Rose? Por que ela está falando de Rose?


Pensando bem, até faz sentido que ela também seja amiga de Rose,
já que ela parece ser próxima de Zoey e, além disso, trabalha na livraria da
Sra. Carmichael e dorme no quarto que costumava ser de Rose.
Por sinal, preciso tomar vergonha na cara e perguntar à Sra.
Carmichael sobre Rose. Será que ela já terminou o mestrado que estava
fazendo?
Ouvi alguém comentando que ela estava doente esta noite, mas
espero que esteja melhor até amanhã. Não a vejo há muitos anos, e sempre
gostei muito dela.
Será que foi Rose quem indicou Sam para a vaga na livraria? Tenho
quase certeza de que Zack comentou que ela também estudava em Oxford.
De repente, sinto meu peito apertar. É como se eu estivesse olhando
para um quebra-cabeças, e as peças não estão se encaixando direito.
Tento tirar aquele pensamento confuso da mente enquanto falo com
Sam.

Digamos que é melhor que você não seja a irmã caçula do meu melhor
amigo.

Por que não?

Senão, não ficaríamos juntos, e eu não teria a chance de conhecer a


mulher maravilhosa que você é.
Eu jamais trairia a confiança do meu melhor amigo.
O que seu melhor amigo tem a ver com isso?

Muitos anos atrás, Zack Carmichael me fez prometer que nunca sairia
com a irmã dele.

Então, se você reencontrasse a irmã dele hoje,


não sairia com ela?

De jeito nenhum.

Ainda não entendi essas perguntas de Sam sobre Rose, mas vou
continuar oferecendo o que ela deseja.
Se Anne estivesse aqui, ela estaria orgulhosa de mim. Sei que não
cumpri minha promessa de dar espaço a Sam, mas, pelo menos, estou
deixando que ela guie a conversa, para que fique à vontade.
Se ela precisa perguntar cem questões estranhas para se convencer
de que temos um futuro juntos, então eu vou responder a todas as cem
questões sem reclamar.
Vai ver, a nossa diferença de idade é algo que a incomoda. Se for
assim, vamos conversar até essa diferença deixar de ser um obstáculo.
Anne tem razão: até o momento, eu agi de acordo com as minhas
necessidades e o meu ritmo. Está na hora de fazer as coisas do jeito de
Sam.
Leio sua próxima pergunta, e respiro fundo antes de responder.
Gostaria de falar de nós, não de Rose.

E se você gostasse de Rose?

Eu nunca gostaria dela desse jeito, Sam.


Não do jeito que gosto de você.
Não vejo a Rose há muitos anos, mas sempre vou vê-la como se fosse
minha irmã mais nova.

Ah, é mesmo?
Como sua irmã mais nova?

Sim. E por que estamos falando de Rose?


Quero falar de nós dois.
Eu conheço a Rose.
Ela é bem a fim de você.

Apesar das minhas boas intenções, minha paciência foi para o ralo.
Quero falar de Sam, não de Rose. Quero falar do meu futuro com ela, do
meu futuro em Londres.

Rose sempre teve uma queda fofa por mim, mas não é nada sério.
De qualquer forma, quero falar da gente.
Estou pensando em ficar aqui em Londres mais tempo.
Sam. Eu estou me apaixonando por você.
Mentira.
Eu já estou apaixonado por você.

Okay, talvez minha irmã não ficasse tão orgulhosa assim de mim
com essa última mensagem. Eu mesmo me arrependi assim que apertei o
botão enviar.
Não que eu me arrependa de falar dos meus sentimentos para ela,
mas sim do timing. Talvez, ela ainda não esteja pronta para ouvir que eu a
amo.
Agora já era.

Acho melhor não continuarmos esta conversa, Dax.


Não antes de eu te contar uma coisa.

Pode falar.

Sabe qual é o nome completo da Rose?

Rose Carmichael?

Não. É Samantha Rose Carmichael.

Aquela mensagem é como um tapa na cara. Como um trator


passando por cima de mim.
Meu coração começa a bater tão forte que sinto que vai quebrar
minhas costelas e fugir do peito. Um bolo se forma na minha garganta.
Você é Samantha também, não é?
Qual é o seu sobrenome?

Ela não responde, o que me deixa ainda mais aflito.

Sam, qual é o seu sobrenome?

Não preciso dizer, Dax.


É exatamente o que você está pensando.

Você é a Rose?

Sim.

A irmã mais nova do meu melhor amigo?

Exatamente.

A irmã mais nova – proibida – do meu melhor amigo.

Sim.
Euzinha.
Aquela que você considera como uma irmã mais nova.
Aquela por quem você jamais sentiria nada.
Aquela que você prometeu não se envolver quase treze anos atrás.
Aquela com quem você tem dormido na última semana.
Aquela de quem você tirou a virgindade.

Merda. Eu estou apaixonado pela Rose.


PARTE 2

Minha Vizinha Irresistível (e proibida)


26
Sam

Nem sei há quanto tempo eu sou apaixonada pelo Dax. Acho que,
desde que o vi a primeira vez, quando ele sorriu para mim e me deu um
beijo casto na testa, eu passei a enxergá-lo como um príncipe encantado de
um conto de fadas.
Claro que, com o tempo, meus sonhos inocentes de menina viraram
sonhos safados de adulta. No fim das contas, o destino nos uniu – na cama,
inclusive –, mas, do jeito que as coisas estão indo, não ficaremos unidos
muito tempo...
Quanto mais tempo eu passo com ele, mais eu entendo que ele
ainda não compreende que a Rose, a pequena garotinha que ele conheceu,
com quem ele jurou jamais se envolver, cresceu e agora usa o nome
Samantha.
Estou falando com Dax por mensagens e, apesar de não querer
fazer isso pelo telefone, de ter planejado ter uma conversa pessoalmente
com ele sobre o assunto, preciso arrancar isso do meu peito.
Preciso saber se ele ainda enxerga a Rose (ou seja, a minha antiga
versão) apenas como a irmã caçula do seu melhor amigo.
Por isso, eu pergunto, apesar de temer a resposta:

E se você gostasse de Rose?

Eu nunca gostaria dela desse jeito, Sam.


Não do jeito que gosto de você.
Não vejo a Rose há muitos anos, mas sempre vou vê-la como se fosse
minha irmã mais nova.

Se Dax soubesse... Quem eu sou... Como suas palavras me


machucam... Será que ele faria algo diferente?
O melhor amigo do meu irmão continua pensando em mim como
se eu ainda fosse aquela criança inocente, tola e desengonçada.
Será que ele me daria alguma chance se soubesse quem eu sou?
Será que me olharia do jeito que me olhou na livraria se eu tivesse
esclarecido, desde aquele primeiro momento, quem eu era?
A resposta não poderia estar mais clara em suas mensagens. Não:
eu não teria qualquer chance.
Pelo menos, isso me dá algum alívio: eu tive momentos
maravilhosos com ele e, se foi com base em uma mentira (ou, segundo a
minha melhor amiga, Zoey, uma omissão), pelo menos valeu a pena. Eu
tive o homem que sempre amei.
Nem que por apenas algumas poucas noites.
Mas não posso continuar com isso. Especialmente depois da
mensagem seguinte dele:

Estou pensando em ficar aqui em Londres mais tempo.


Sam. Eu estou me apaixonando por você.
Mentira.
Eu já estou apaixonado por você.

Eu menti sobre quem eu era por mim. Mas vou dizer a verdade por
Dax.
Ele precisa saber quem eu sou antes de decidir ficar em Londres.
Eu decidi por nós dois que ele tiraria a minha virgindade. Agora, Dax
precisa decidir se vamos ou não ter um futuro.
Se ele realmente está apaixonado por mim, o fato de eu ser a irmã
de seu melhor amigo não fará diferença. Se ele me ama de verdade, vai
superar qualquer obstáculo entre nós.

Acho melhor não continuarmos esta conversa, Dax.


Não antes de eu te contar uma coisa.

Pode falar.

Sabe qual é o nome completo da Rose?

Rose Carmichael?

Não. É Samantha Rose Carmichael.


Ele continua fazendo perguntas, quer saber meu nome completo,
mas, se ele for sincero consigo mesmo, Dax vai reconhecer que já sabe a
verdade. Ele apenas não quer encará-la.
Agora, eu me pergunto se ele não fez vista grossa desde o início.
Afinal de contas, quem mais mamãe deixaria à frente de sua loja? Quem
moraria no último andar da casa dos Carmichael?
E seria uma coincidência gigantesca se eu tivesse estudado na
mesma faculdade que Rose. Se bem que, é capaz de Zack nunca ter
comentado com ele.
A verdade é que, desde que fui para a faculdade, Zack só tem
passado tempo com Dax quando viajam anualmente juntos. E duvido que
falem de irmãs mais novas nessas ocasiões.
Quando eles se falam no telefone, é geralmente sobre negócios,
mulheres ou sobre viagens futuras.
Apesar disso, se Dax quisesse mesmo saber quem eu era, ele
poderia ter descoberto antes. De repente, fico irritada com toda essa
confusão, comigo mesma, e com ele também.
Se ele tivesse simplesmente dormido comigo e me deixado em paz,
não estaríamos passando por nada disso!

Você é a Rose?

Sim.

A irmã mais nova do meu melhor amigo?

Exatamente.

A irmã mais nova – proibida – do meu melhor amigo.

Sim.
Euzinha.
Aquela que você considera como uma irmã mais nova.
Aquela por quem você jamais sentiria nada.
Aquela que você prometeu não se envolver quase treze anos atrás.
Aquela com quem você tem dormido na última semana.
Aquela de quem você tirou a virgindade.
Gente, o que eu estou fazendo? Qual é o meu maldito problema?
Por que estou enviando mensagens com a mesma sutileza de balas de
canhão?
Nada disso é culpa do Dax, mesmo que ele tenha sido cego em
determinados momentos. Na verdade, nem eu sou totalmente responsável,
apesar de sentir uma raiva enorme de mim mesma.
No fundo, o que estamos passando é uma soma de diversas coisas
que deram errado, e tudo começou com a minha obsessão bizarra pelo
melhor amigo do meu irmão e piorou com a promessa ridícula que Zack
obrigou o Dax a fazer, de nunca sair comigo.
Respiro fundo, e decido encerrar essa conversa antes que eu diga
mais besteira. Não quero machucá-lo. Nem sei mais o que eu quero.
Claro que você sabe, Sam. Você quer Dax. Sempre o quis. Sempre
vai querê-lo.
Droga. Preciso realmente encerrar esta conversa.

Sinto muito pela mentira. Dax.


Sinto mesmo.
Mas não quero mais conversar por aqui.
A gente se fala depois do casamento.
Até amanhã.

Temendo receber uma resposta dele que me faça dizer mais


besteiras, eu desligo o celular e dou de cara com Zoey.
— Por que está com essa cara de quem viu um zumbi de The
Walking Dead? — ela pergunta, desconfiada.
Respiro fundo, sentindo as mãos trêmulas. Minha melhor amiga,
como sempre, sabe que o assunto é sério apenas de olhar para mim. Ela me
puxa até a cama, e nos sentamos de frente uma para a outra.
Ela me entrega o copo d’água que estava tomando e, depois de
alguns goles, finalmente encontro a minha voz de novo.
— Contei para o Dax quem eu sou, Zoe.
— Sério?
— Eu... Cansei de mentir, Zoey. Não aguentava mais.
— Eu sei... Depois do que ele disse hoje... Sobre nos enxergar
como suas irmãs mais novas... Eu imaginei que você ficaria chateada.
Quando ele disse aquilo no restaurante, bem no jantar de noivado
de sua irmã gêmea, Anne, eu achei que explodiria ali mesmo e diria a
verdade na frente de todo mundo.
Doeu tanto ouvir aquilo dos lábios que haviam me beijado centenas
de vezes na última semana que a minha vontade era a de me esconder no
fundo do meu armário, como eu fazia quando era criança, e ficar encolhida
lá dentro até Dax voltar para os Estados Unidos.
Pelo visto, ele está planejando continuar em Londres. Digo, ele
estava, até eu admitir quem eu sou. Será que ele vai desistir de ficar?
Ao mesmo tempo que eu o quero por perto, se for para não tê-lo,
prefiro não vê-lo nunca mais. A distância será menos dolorosa do que ver
todos os dias o homem que eu amo, sabendo como nossa química é
perfeita e como poderíamos dar certo se ele não fosse tão... Dax.
— Estou mais magoada que chateada, amiga.
— Ele reagiu tão mal assim, Sam?
— Desliguei o celular antes de descobrir.
— Também preciso te contar algumas coisas — Zoey diz em tom
de suspense.
Se fosse qualquer outro dia, eu esqueceria todos os meus
problemas e me focaria imediatamente no que Zoey tem a dizer. Mas eu
acabei de fazer a confissão mais difícil da minha vida.
Além disso, é bem provável que a minha melhor amiga queira
apenas inventar alguma história para me distrair.
— Que coisas, Zoey?
— Então, lembra quando você foi para Oxford e me deixou aqui,
sozinha e abandonada para fazer direito na Universidade de Londres?
— Sim, lembro — reviro os olhos, e um pequeno sorriso surge nos
meus lábios. Só ela para me fazer sorrir numa hora dessas. — Que drama,
Zoe.
— Então... Lembra que eu perdi minha virgindade no meu primeiro
período de faculdade?
— Sim, com um cara com quem você só passou uma noite.
— Esse cara foi o seu irmão.
Eu. Literalmente. Caio. Da. Cama.
— Zack?
— Você tem outro irmão, Samantha Rose Carmichael?
— Você... Zack...
Ela não inventaria isso. Nem para me distrair da história com o
Dax. E olha que distraiu. Muito. Como... Como?
Maldição, como?
E como eu nunca soube disso? Pelo visto, não foi só o Dax que
estava meio cego em relação a verdades que estavam bem embaixo do
nariz dele.
— Eu e o Zack estávamos bêbados, sempre fui a fim dele, ele
estava super gostoso, ficou cheio de olhares para cima de mim, eu
aproveitei que ele estava sozinho e o ataquei como uma cobra.
— Ah.
Menos detalhes, Zoey Tucker. Menos detalhes.
Droga, agora eu tenho uma imagem de Zoey atacando o meu irmão
como uma cobra, e vai ficar na minha mente pelo resto da vida.
Eu vou ter vários pesadelos sobre isso, com certeza.
— Antes que ele percebesse, estava dentro de mim, me tornando
uma mulher.
Meu senhor das melhores amigas que não querem ouvir detalhes
sobre a primeira vez com o irmão mais velho! Me proteja!
— Menos detalhes. Mais explicações — digo para ela. — O que
aconteceu depois?
— O Zack voltou para os Estados Unidos no dia seguinte. Não
falou mais comigo. Eu cansei de esperar por ele e comecei a namorar o
Henry. Você sabe a partir daí.
— É por isso que ele sempre detestou o Henry?
Eu realmente fui muito cega. Zack sempre falou do Henry com um
nível de ciúmes que não podia ser explicado pela alegação dele de que
considerava Zoey uma irmã e, por isso, queria protegê-la de caras que se
aproveitariam dela.
Então ele deveria tê-la protegido dele próprio! Nem acredito que
meu irmão tirou a virgindade da Zoey e nem se deu ao trabalho de se
despedir dela. Que babaca!
— Zack detestava o Henry? — Zoey pergunta, parecendo surpresa.
— Com todas as forças — afirmo. — E ele ficou bem chateado
quando me perguntou do Dave.
O que não faz qualquer sentido. Zack odiava o Henry porque ele foi
o cara com quem a Zoey namorou logo depois do rolo deles.
Mas o Dave? Zoey e Zack passaram uma noite juntos muitos anos
atrás. Mesmo que ele não tenha ideia de que Dave é gay, por que ele ainda
está preocupado com quem Zoey sai ou deixa de sair?
A não ser que...
— Ah... — ela fica sem palavras.
Isso só acontece quando ela está escondendo alguma coisa.
— Ah, o quê? — questiono. — Rolou alguma coisa depois dessa
primeira vez de vocês dois?
— Quase um ano atrás, um pouco antes de você voltar do seu
mestrado em Oxford, ele brigou com a Cruela, e nós acabamos... Bem, na
cama de novo.
— E? — sério que ela não vai terminar essa história?
A cada nova fala de Zoey, fico mais chocada.
Não apenas ela escondeu (ela vai alegar que omitiu, tenho certeza)
o fato de que perdeu a virgindade com o meu IRMÃO, como também
transou com ele DE NOVO e não me disse nada?
— Não aconteceu nada depois.
Do jeito que ela me conta, sei que a opção não foi dela. Zack deve
ter voltado com a Gisele e afastado a Zoey. Não acredito que meu irmão
poderia ser tão cruel.
Sempre soube que ele era mulherengo, mas cruel? Jamais imaginei.
Especialmente com uma das pessoas que eu mais amo no mundo.
A traição dele comigo foi infinitamente pior do que a minha com
Dax, porque eu sempre fui apaixonada pelo Dax, fiquei com ele porque o
amo, enquanto Zack tratou a minha melhor amiga feito lixo.
Por outro lado, se Zack queria tanto se livrar da Zoey, por que fica
tão incomodado toda vez que acha que ela está a fim de alguém?
Olho para a minha amiga, e vejo que ela está com lágrimas nos
olhos. Zoey, a durona que não deixa nenhum homem machucá-la, está com
o coração despedaçado. E é por causa do meu irmão.
Não é hora de colocar dúvidas sobre os sentimentos dele. É hora de
confortá-la. Independentemente dos sentimentos de Zack, ele não tinha o
direito de tratá-la desse jeito.
— Zoey... Eu sinto muito. — seguro a mão dela.
— Eu estou bem, juro. Ele teve a chance dele. Eu tenho uma regra,
se um cara me abandona sem nem perguntar se está tudo bem, ele precisa
se arrastar para me ter de volta. E ele não se arrastou. Sam, ele só transa
comigo quando está muito bêbado. Eu mereço mais.
— Sei que merece — eu a abraço forte. — Merece alguém que te
adore.
— Desculpa por não ter contado antes — eu me afasto dela, e vejo
que seu rosto está coberto por lágrimas.
— Só não sei por que não me contou — seco suas lágrimas com
meus dedos.
— Eu me senti envergonhada.
— Zack é que deveria estar envergonhado pela forma que te tratou
— grito, querendo esganar meu irmão.
— Eu não queria que você ficasse com raiva dele, Sam. Vocês
sempre se deram bem.
— Já era. Quero cortá-lo ao meio.
Na verdade, quero cortar suas partes íntimas para ele nunca mais
esquecer como machucou a minha amiga.
— Então somos duas — ela diz, e seu sorriso, em meio às
lágrimas, me diz que ela vai ficar bem.
Claro que ela vai superar. Zoey pode cair às vezes, mas ela sempre
se levanta de novo.
Decido que chega de ficar chorando por caras que se preocupam
mais com seus amigos idiotas do que conosco. Eu a puxo para a cozinha,
tiro uma garrafa de vinho da geladeira, e proponho:
— Que tal, esta noite, esquecermos os idiotas que não nos
valorizam como merecemos?
Ela dá uma risadinha, pega duas taças e serve o vinho.
— A nós duas — ela levanta sua taça em um brinde.
— A nós duas. Sempre juntas.
— Sempre, Sam.
27
Dax

Eu não sei onde estou. A rua é familiar, assim como os prédios, os


cheiros, e os sons, mas eu não consigo precisar que lugar é este, apesar de
estar na ponta da língua.
De repente, vejo cabelos encaracolados, balançando enquanto a
beldade caminha, sua bunda empinada mal se movendo na pequena saia
que expõe pernas longas e graciosas.
Sam.
Nossa conversa pelo celular foi péssima. Preciso falar com ela,
mesmo sem ter ideia do que dizer.
— Sam, precisamos conversar!
Ela me olha por cima do ombro, seus grandes olhos esbugalhando-
se ao me reconhecer. Sam entra no primeiro prédio ao seu lado, e eu a
sigo.
— Sam, espere.
Ela entra em um elevador e consigo entrar antes que a porta se
feche. Ela aperta o quarto andar (por que esse andar soa familiar?), e eu
aperto o botão de emergência; preciso conversar com ela e poucos
segundos até o quarto andar não serão suficientes.
O elevador balança um pouco antes de parar.
— O que você pensa que está fazendo, Dax? — ela reclama.
— Precisamos conversar.
— Mudou de ideia a respeito da promessa que fez ao meu irmão?
Sei a que ela se refere. Sam está falando da promessa que fiz a
Zack de nunca ficar com ela.
— Não, mas...
— Então não fale. Não pense. Não chegue perto de mim.
Sam tenta apertar o botão de emergência, mas eu a impeço. Ela dá
alguns passos para trás, tentando se afastar de mim, mas o espaço é
minúsculo, e ela é barrada pelo fundo do elevador.
Em meio segundo, estou a centímetros dela. Planto uma mão em
cada lado de sua cabeça, e aproximo meu corpo do dela até praticamente
nos tocarmos. Nossas respirações misturam-se, e, por um momento, eu
esqueço todas as razões para não ficar com ela.
— Eu tentei, Sam. Tentei fingir que não sinto nada por você. Tentei
fingir que nada aconteceu.
Encosto a testa na dela e inspiro profundamente, sentindo seu
aroma feminino, sensual e de Sam. Minha Sam. A minha mulher inocente,
minha putinha safada.
— É isso que quer? Esquecer o que aconteceu entre a gente? —
Sua voz sai trêmula e sei que, mais uma vez, eu a machuquei. — Pois
deveria tentar mais, Dax.
Ela quer soar fria e distante, mas está afetada pela nossa
proximidade.
— E se eu não quiser tentar?
— Achei que me visse apenas como sua irmã mais nova.
— Nem ferrando eu a vejo como a minha irmã, Sam.
Em um movimento tão rápido que não a permite reagir, eu a seguro
pela bunda que tanto amo, abrindo suas pernas com as minhas, e enterro
meu quadril no dela, pressionando-a entre o elevador e meu corpo.
Sempre foi relativamente fácil controlar o meu prazer, até garantir
que a minha parceira está satisfeita. Entretanto, para se ter controle, o
cérebro precisa estar funcionando.
O meu está em fase suspensa neste momento, porque todo o meu
sangue está bombeando meu coração e a minha ereção, que está vibrando
por Sam.
Depois de passado seu choque inicial, vejo que Sam está prestes a
gritar comigo de novo. Antes que o faça, aproveito seus lábios abertos
para invadi-la com a língua, em um beijo feroz e agressivo, e engulo suas
reclamações, mas também seus gemidos e gritos de prazer.
Pressiono-a ainda mais contra o elevador, e os braços dela dão a
volta em meus ombros, suas unhas arranhando meu pescoço, suas pernas
arreganhadas, em volta da minha cintura, puxando meu quadril ainda
mais para perto.
Uso uma das mãos para levantar sua saia; é foda, porque estamos
colados e não quero me afastar dela. Consigo subir a saia até sua cintura,
encontro o elástico de sua calcinha e puxo, rasgando-a no meio.
Agora vem a parte mais difícil; tirar minha calça. Felizmente, Sam
está tão desesperada para me ter enterrado dentro dela como eu estou
para comê-la gostoso, então, sem descolar a boca da minha, enquanto eu a
penetro violentamente com a língua, uma pequena mão trêmula de desejo
encontra um espaço entre nossos corpos.
Ela abre o cinto e desabotoa o jeans com ansiedade, praticamente
arrancando o zíper. Quando sua mão quente segura meu pau, vou à
loucura.
— Sua mão é maravilhosa, mas não quero gozar nela, Sam. Preciso
da sua bocetinha molhada — digo contra a sua boca.
Nem sei como ainda estou falando, como ainda consigo formular
frases. Com certeza é meu pau quem está mandando as mensagens pro meu
cérebro.
Ela imediatamente me obedece, e, em uma arrematada, eu entro
nela até o talo.
— AH! — ela grita.
Sinto o suor escorrendo pelas minhas costas, sinto as coxas
ardendo do esforço de segurar nós dois, sinto as unhas dela machucando
minha nuca, mas todas as sensações são abafadas pelo sentimento
avassalador que é estar dentro dela, sentindo suas paredes apertando
minha ereção, ouvi-la gritar de prazer, sentir suas coxas apertando mais
minha cintura.
— Sam, Sam, Sam — é tudo que consigo dizer, enquanto a penetro
com força.
Deveria dar a ela um tempo para se preparar para a intrusão; se
eu a invadir com força agora, sem deixá-la se acostumar ao meu tamanho,
ela vai ficar dolorida.
Mas não penso, não faço estratégias para a noite, apenas preciso
estar dentro dela, preciso marcá-la definitivamente como minha.
— Dax! — ela vira a cabeça para trás, remexendo os quadris.
Movo-a de tal forma que, a cada arrematada, minha ereção se
esfregue no clitóris dela, retirando-o quase por completo, deixando
apenas a cabeça, e entrando até o talo, batendo no fundo.
— Você é viciante, Sam.
Tudo nela é viciante. Seu cheiro, seus lábios, sua boceta apertada,
sua voz gemendo de prazer, seus olhos grandes, sensuais e inocentes ao
mesmo tempo, sua inteligência sagaz e sarcástica.
Porra, ela é perfeita.
De repente, preciso de mais. Quero mais dela. Abro sua blusa de
seda, arrancando os botões. Por sorte, o sutiã dela abre pela frente, então
não preciso destruí-lo.
Seus seios são firmes e suculentos, e abaixo a cabeça para
abocanhar um mamilo rosado e durinho.
— Dax... — ela arfa quando puxo o mamilo, sentindo-o encostar no
céu da minha boca.
Não vou aguentar muito tempo, especialmente com Sam rebolando
no meu pau enquanto a penetro com força. Ela deve estar dolorida, mas o
prazer grita mais alto, deixando todo o resto entorpecido.
Afasto o rosto dos seus seios, e, mais uma vez, mudo-a de posição,
segurando-a pela cintura para poder enfiar com mais força, ainda mais
rápido.
O suco dela me encharca, e, quando suas paredes começam a se
contrair, sei que ela está chegando ao clímax.
— Oh! — Ela grita, fechando os olhos, apertando meu pau e o
encharcando ainda mais com seu leite.
— Isso, Sam, goza para mim.
— Dax! — Ela continua gritando, arfando, rugindo de prazer. Seu
gozo é intenso.
Quero me segurar, quero ficar aqui apreciando a vista de Sam
gozando, mas cheguei ao meu limite, e despejo o que parecem ser litros de
sêmen dentro dela.
— SAM! — grito, gozando enquanto sinto ela me apertando. —
Você é minha, Sam.
Quando finalmente paramos, estamos tão cansados que nem
conseguimos nos mexer. Sei que, dentro de poucos minutos, estarei duro de
novo, se eu continuar dentro dela. É o efeito Sam.
Porém, não consigo sair de dentro dela porque qualquer
movimento parece ser impossível. Colo minha testa de novo na dela, e ela
abre os olhos, que estão repletos de satisfação e alívio.
Eu sei, Sam. Também estava com saudades.
De repente, o elevador volta a se mover, e sobe. Não tenho tempo –
ou condições – de me ajeitar, ou de sair de Sam, antes que as portas se
abram. Apenas consigo virar a cabeça para olhar por cima do ombro.
Do outro lado da porta, um rosto familiar nos encara, boquiaberto.
Por isso o prédio parecia tão familiar. Estamos no prédio de Zack.
Mas ele não está sozinho. Claro que não. Ao lado dele, há uma
mulher. Não qualquer mulher; é Jenna, a minha primeira namorada.
Meu coração, que estava acelerado como um carro de Fórmula 1
até meio segundo atrás, parece não conseguir mais bater. Zack e Jenna
abrem a boca e, juntos, dizem uma palavra:
— Traidor!
Abro os olhos, e me dou conta de que estava sonhando. Meu corpo
está coberto de suor, e minha cueca está úmida. Ao menos um aspecto do
sonho aconteceu de verdade.
Eu sei exatamente o que significou esse sonho. Culpa. Há mais de
uma razão para eu me afastar de Sam. A principal delas é a mais óbvia: ela
merece um cara melhor do que eu.
28
Dax

Dez anos antes...

Era a primeira vez que eu levava uma namorada para casa. Na


realidade, era a primeira vez que eu tinha uma namorada fixa.
Sempre gostei de variar em termos de mulheres quando estava no
colégio, era algo que eu fazia quase que naturalmente, mas, desde que
comecei a faculdade, senti uma vontade de começar a levar alguém a
sério.
Agora, eu levaria Jenna, minha primeira namorada oficial, para
conhecer meus pais na Inglaterra. Eu e ela estávamos namorando há
alguns meses, e achei que era hora de tornar as coisas mais sérias entre
nós.
O problema foi que, assim que saímos da faculdade, e começamos
a conversar sobre assuntos que não tinham a ver com provas, matérias do
curso e trabalho, eu me dei conta de que não tinha nada em comum com a
Jenna fora da Caltech.
Ou seja, no avião de ida para a Inglaterra eu já sabia que terminaria
com ela. Não terminaria na viagem: não faria isso com Jenna, que era uma
mulher muito legal, nem com meus pais, que pediam para conhecê-la há
meses.
À época, eles e os Carmichael ainda viviam em Notting Hill.
Depois de passar a manhã com meus pais e almoçar com eles,
fomos convidados para tomar um chá com os Carmichael, que também
queriam conhecer a minha namorada.
Mal imaginavam que eu já estava pensando em terminar com ela
assim que voltássemos aos Estados Unidos.
Quando ela começou a falar sem parar na nova coleção da Chanel,
precisei sair da sala, e fui ao banheiro do segundo andar.
Achei que Jenna era diferente das mulheres com as quais eu saía
antes, até perceber que ela era exatamente a mesma coisa, só ia para uma
faculdade chique.
Eu só não tinha percebido antes porque nós dois andávamos
soterrados com as coisas da faculdade. Se tivéssemos conversado uma vez
sequer sobre filmes, livros, política, ou qualquer tema não relacionado à
Caltech, eu teria percebido.
Talvez, eu evitasse conversar sobre assuntos importantes com ela
de propósito. Talvez, eu quisesse enxergar a mulher certa para mim, mas,
no fundo, sabia que era a errada.
Quando saí do banheiro, escutei alguém chorando, e me surpreendi
ao encontrar Rose, toda encolhida, dentro de seu closet.
— Rose? O que está fazendo aqui?
Ela mal levantou a cabeça. Estava bem mais alta, mas continuava
sendo apenas uma garotinha de pele e osso. Seus cabelos estavam tão
embaraçados que pareciam um ninho de pássaros.
Ela estava adorável, mas senti o peito apertar ao ver seu rosto
coberto por lágrimas.
— Nada — ela diz com a voz trêmula, sem me olhar nos olhos. —
Estou bem.
Entrei no armário ao lado dela.
— Ei, pode me contar qualquer coisa — tentei pegar sua mão, mas
ela a afastou.
— Não somos amigos!
— Não, mas sou amigo do seu irmão e te conheço desde sempre.
Ela ficou ainda mais pálida e escondeu o rosto entre os joelhos.
— Alguém te machucou, Rose?
— Sim, mas não desse jeito que você está pensando.
— De que jeito, então?
— Eu gosto de um cara.
Ela ainda era muito magra para a idade, e sempre a vi como uma
pequena criança ingênua, mas, depois de calcular, me dei conta de que
Rose já tinha catorze anos.
Ainda não é uma mulher, muito longe disso, mas é natural que
comece a se interessar pelo sexo oposto. E, como é uma garota desajeitada
e sem curvas, provavelmente o sexo oposto ainda não se deu conta de que
ela existe.
— E esse cara foi indelicado com você?
— Não, ele nem sabe que eu existo. Digo, ele mal repara que eu
existo.
Como eu imaginava.
— Dê tempo ao tempo, Rose. Quem sabe, um dia, ele vai reparar?
— Duvido muito.
— Se ele não reparar, é porque é um babaca.
— É, Zoey diz que ele é um babaca cego que não merece a minha
atenção.
Podia ouvir a voz de Zoey dizendo aquelas palavras. Ela nunca foi
conhecida por ser delicada, longe disso.
Queria rir, mas sabia que esse assunto era sério para Rose, e ela me
expulsaria se eu levasse na brincadeira.
— Entendo. Zoey não é a pessoa mais ajuizada que eu conheço,
mas é uma das mais espertas. Talvez, você deveria escutá-la.
— Você acha que eu deveria esquecê-lo?
— Se ele não retribuir seus sentimentos, com certeza.
— Mas... E se eu não conseguir esquecê-lo?
Típico de adolescente de catorze anos, pensei na época. Imaginei
que ela deveria ser “apaixonada” pelo tal cara há algumas semanas, e já
achava que era o amor da sua vida.
— Seja paciente, Rose. Conforme o tempo passar, você vai
esquecê-lo, acredite em mim.
— Já me sinto assim há bastante tempo, e não passou.
Por bastante tempo, interpretei que ela queria dizer um ou dois
meses. Para adolescentes, cada dia parece uma eternidade, cada problema
parece o fim do mundo.
— Seja paciente — insisti.
— Duvido que eu encontre alguém tão perfeito quanto ele.
— Não há perfeição, Rose.
— Para mim, ele é perfeito.
Ela vai se decepcionar tanto... Os contos de fadas são cruéis. Eles
ensinam as meninas a acreditarem em príncipes encantados, e nunca
chegaremos aos pés dos heróis que elas idealizam.
Tampouco Jane Austen nos ajudou com o tal de Mr. Darcy. Sim, eu
sei quem é Mr. Darcy. Depois de passar anos ouvindo minha irmã recitar
várias de suas qualidades e me comparar a ele (segundo Anne, sou pior
que a unha encravada do cara), fiquei com um ódio mortal da mulher que o
criou.
O que Jane Austen estava pensando? Como algum dia vamos
conseguir atender às expectativas que ela estabeleceu?
— Um dia, você vai entender que todos nós temos defeitos, Rose
— especialmente os homens.
As mulheres são seres muito mais evoluídos que nós. O que posso
dizer? Aparentemente, Darwin esqueceu de mencionar que os instintos de
sobrevivência e a capacidade de adaptação do sexo feminino estão anos-
luz à frente dos nossos.
— Dax! — ouço a voz de Jenna me chamando.
— Tenho que ir, Rose. Mas lembre-se: seja paciente. Se for para
ficar com ele, vai ficar. Se for para esquecê-lo, vai conhecer outro garoto
melhor para você. De qualquer forma, é jovem demais para chorar por um
cara, especialmente um babaca cego que te ignora.
Levanto-me e, quando me viro para me despedir dela, recebo um
pequeno sorriso que já vale meu dia.
Um longo mês mais tarde – o mês mais insuportável da minha vida
–, estamos de volta aos Estados Unidos, e eu já estou enlouquecendo com
a presença de Jenna. No mau sentido.
Queria esperar alguns dias para terminar o namoro, mas não me
seguro. Decido conversar com ela voltando do aeroporto.
— Jenna, precisamos conversar.
— Eu ia te falar a mesma coisa.
Ah, que bom. Sei que eu e a Jenna não damos certo, mas isso não
quer dizer que eu não tenha carinho e respeito por ela. Não quero fazê-la
sofrer.
Pela cara que ela está fazendo, deve sentir o mesmo que eu:
provavelmente, também está planejando terminar.
Nós até transamos algumas vezes nos primeiros dias na Inglaterra,
mas, nas últimas semanas, mal nos tocamos.
E, assim como eu não a procurei na cama, ela tampouco pediu
atenção, o que não é nada normal para a gente. Desde que começamos a
namorar, somos bem ativos no quarto.
— Pode falar, Jenna.
— Dax... Nem sei como te contar.
— Vá por mim, eu já imagino o que seja e está tudo bem — eu a
asseguro.
Assim como eu não quero magoá-la, ela também não quer me
magoar. Se tivermos sorte, ninguém sairá desta relação com o coração
partido.
— Você sabe como eu fico com mudança de fuso horário.
Talvez eu esteja enganado. O que tem fuso horário a ver com
término de namoro?
— Sei...
Não faço ideia do que ela está querendo dizer.
— E eu acabei esquecendo de tomar pílula.
Ah, merda. Espero que ela não esteja querendo dizer o que eu acho
que quer dizer.
— Você... Nós... Não, não pode ser.
Tenho uma garrafa de uísque que meu pai me deu de presente na
minha mochila. Coloco a garrafa no colo e abro a tampa.
Sim, eu sei. Muito irresponsável da minha parte, considerando que
estou dirigindo. O que posso dizer? Eu era um idiota inconsequente. Pelo
menos, não sou mais inconsequente.
— O que está fazendo, Dax?
— Se você está prestes a me dizer que serei pai, preciso tomar um
gole.
— Você está dirigindo.
— Ah, jura?
— Você sabe que não gosto quando dirigem depois de beber.
Dou um gole gigante na garrafa.
Eu sei, eu sei. Estava me comportando como um babaca. A culpa
não é da Jenna que não quero ter filhos. Pelo menos, não ainda. E não com
ela.
Tampouco a culpa é dela que, momentos antes dela me dar esta
notícia assustadora, eu estava pensando em como poderia terminar com
ela da maneira mais gentil possível.
— Pare, Dax. Por favor — ela implora, em um tom choroso. —
Dax, nem sei se estou grávida, é que atrasei...
Antes que ela terminasse a frase, acabo perdendo controle do carro
e caímos em um barranco.
Resultado? Eu não tive nada. Nem um maldito arranhão. Jenna não
teve a mesma sorte.
Ela se machucou feio. Perdeu o movimento das pernas. Levou
quase cinco anos para voltar a caminhar, mesmo com o melhor tratamento
que meu dinheiro pôde pagar.
No fim das contas, não estava grávida, foi só um susto. O pior nem
foi isso: eu não só saí ileso do acidente, como saí ileso da merda que fiz
também.
Contratei um dos melhores advogados da cidade com uma parcela
ínfima do dinheiro que ganhei ao vender a fintech que criei com Zack, e
eles conseguiram negociar que, ao invés de cumprir pena, eu apenas
fizesse centenas de horas de trabalho voluntário e pagasse uma multa.
Eu deveria ter ido para prisão pelo que fiz.
Os pais da Jenna sequer me processaram. Eu paguei as contas dela
relacionadas ao acidente, que era literalmente o MÍNIMO que eu poderia
fazer, e pronto. Foi isso, como se nada tivesse acontecido.
Sei que a culpa que carrego é uma das responsáveis por eu ter
dificuldade em deixar uma mulher se aproximar de mim.
Porém, eu fui me apaixonar logo pela irmã caçula do meu melhor
amigo. Não coloquei qualquer barreira entre nós dois, apesar do estrago
que eu poderia ter causado a ela.
Definitivamente, há algo de muito errado comigo. Sam merece
mais. Assim como Jenna merecia alguém muito melhor do que eu.
29
Dax

O casamento foi organizado na pequena fazenda dos meus pais em


Surrey.
Apesar de ter sido planejado de longe, já que, por conta da
surpresa, Anne não pôde contar para os meus pais e teve que combinar
tudo com a organizadora de casamentos dos Estados Unidos, a decoração
estava muito bonita.
A cerimônia será realizada do lado de fora, onde cadeiras foram
colocadas e um pequeno altar foi montado sob uma árvore florida, com
uma vista agradável da propriedade.
Depois, a festa continuará em uma tenda que foi montada ao lado
da casa. Como estamos na Inglaterra, Anne não quis arriscar que a festa
fosse ao ar livre, para o caso de chover.
Termino de me arrumar e desço ao primeiro andar, de onde vejo os
Carmichael sentados na varanda dos fundos da casa. Sinto o coração
acelerar só de vê-los: a culpa pelo que aconteceu com Sam me consome.
Não via os Carmichael há mais de cinco anos. Quando venho para a
fazenda dos meus pais no Natal, eles estão em Londres com Zack e Rose...
Digo, Sam.
E, quando eles retornam para a fazenda deles, eu vou para Londres
passar o ano novo com Zack. Nunca pensei perguntar sobre Sam. Na
realidade, não pensava nela há mais de uma década.
Depois do sonho erótico que virou pesadelo, passei a noite me
perguntando se eu não deveria ter percebido quem ela era desde o início.
Não precisava ser muito inteligente para chegar à conclusão de que a
pessoa responsável pela casa e a livraria dos Carmichael era a filha deles.
A filha brilhante deles, de quem eles sempre tiveram muito
orgulho. Faz todo sentido: Zack ficou à frente da empresa do pai, enquanto
Sam ficou responsável pela preciosa livraria da mãe.
Zack sempre foi mais voltado para negócios; Sam sempre adorou
livros, desde criança.
Talvez meu subconsciente não quisesse chegar à conclusão óbvia.
Eu senti uma atração irresistível por ela desde a primeira vez que a vi. Ou
melhor, desde a primeira vez que a revi.
Eu não queria acreditar que ela era aquela garotinha tímida, que me
tratava como se eu fosse seu herói. Ela se tornou uma mulher linda, que
não tem ideia da própria sensualidade, inteligente, independente e gostosa
demais na cama e...
Qual é o meu maldito problema? Eu estou pensando essas coisas da
Rose? A pequena Rose?
— Dax, querido! — A Sra. Carmichael se levanta para me
cumprimentar. Mal sabe ela os pensamentos libidinosos que eu estava
tendo sobre sua filha. — Quanto tempo.
— Sentimos sua falta, Dax — O Sr. Carmichael aperta a minha
mão.
— Eu sei — não consigo me liberar da culpa. — Vou visitá-los
mais.
Sinto meu coração apertar. Será que conseguirei visitá-los, agora
que descobri como tirei a virgindade da princesinha deles?
Eles me olham com um misto de curiosidade e preocupação. Eu
devo estar com uma cara péssima, de quem mal conseguiu dormir.
Anne também reparou, e me perguntou o que estava acontecendo
esta manhã, mas, para não estressá-la bem no dia do seu casamento, eu
apenas disse que estava de ressaca porque acabei misturando vinho e
uísque ontem.
Ela sabe que eu sempre fico um lixo quando bebo muito vinho e
muito uísque na mesma noite. Apenas parte dessa história é mentira: estou
me sentindo um lixo mesmo.
— Sabe quem está aqui? — A Sra. Carmichael anuncia com um de
seus sorrisos afáveis. — Rose.
Aquele nome... É como se eu tivesse levado um tiro no peito.
— Ah — se eu disser mais alguma coisa, posso acabar vomitando
nos sapatos dos Carmichael.
— Ela terminou o mestrado em Oxford este ano e está à frente da
livraria há alguns meses — o pai de Sam diz com muito orgulho.
— Você não a vê há bastante tempo, né?
Droga! Mal estou em condições de falar, muito menos de mentir.
Respiro fundo e lhes conto a verdade. Digo, a verdade que posso revelar.
— Na verdade, eu a vi na livraria.
E na cama. E na sala. E nua. E... Preciso parar com essa linha de
pensamento.
— Ah, que bom. Ela ficou muito bonita, não é?
Ela é a mulher mais linda que eu já vi na vida. Além de ser, de
longe, a mais inteligente. É também gentil, tem um sorriso de deixar até
um cadáver excitado, e uma risada que mais soa como música clássica.
Engulo em seco e, lentamente, balanço a cabeça, forçando um
sorriso amarelo.
— Pena que ainda não arranjou um namorado.
— Mary! — O Sr. Carmichael reclama com a esposa.
— Eu só queria que ela arranjasse um rapaz bacana, da idade dela.
Às vezes aparecem uns homens mais velhos na livraria interessados nela.
Mas eu sempre a aconselho a mandá-los pastar.
Um rapaz da idade dela. Da idade dela. Não o cara que já era
homem feito quando ela ainda brincava de bonecas. Não o cara em quem
ela sempre confiou, por ser o melhor amigo do irmão dela.
Eu me aproveitei dela. Foi isso que eu fiz. No fundo, eu sabia que
ela era mais jovem que eu, infinitamente mais inexperiente, e não levei
isso em conta, porque eu já estava tão louco por ela que não pensei nas
consequências dos meus atos para Sam.
Assim como eu fiz com Jenna.
A primeira diferença é que eu machuquei Jenna fisicamente, e
machuquei Sam de várias outras formas que não são visíveis.
A segunda diferença é que eu consegui errar feio com a primeira
mulher por quem eu me apaixonei de verdade. E, depois de Sam, não sei se
conseguirei amar de novo.
Como eu posso ser tão foda para os negócios e tão imbecil para os
assuntos românticos? Não poderia dividir a inteligência e aplicá-las de
forma equilibrada para as duas áreas?
— Mary, pare de alugar o Dax — O Sr. Carmichael deve ter notado
a minha falta de habilidade para falar.
Não é culpa deles; muito pelo o contrário, os Carmichael sempre
foram incrivelmente gentis e carinhosos comigo. Me tratam como se eu
também fosse filho deles.
Por sorte, uma garçonete passa com água, sucos, refrigerantes,
cerveja e champanhe.
Sabendo que não tenho qualquer condição de consumir bebida
alcóolica hoje, já que Sam está aqui e precisarei de todas as minhas forças
para me manter distante dela, pego um copo d’água e tomo um gole.
— Tudo bem, Sr. Carmichael, vocês nunca me incomodam —
consigo, enfim, pronunciar uma frase inteira.
Tomo outro gole d’água.
— Falando em namorados, sua mãe me contou que você está
namorando.
Aí eu me engasgo com a água. Pelo menos, não a cuspi na cara dos
meus sogros. Digo, na cara dos Carmichael.
Merda, nem bebi e estou alucinando mesmo assim. Que
pensamento louco foi esse?
— Mary, eu lhe disse que era segredo — ouço a voz familiar da
minha mãe atrás de mim.
Claro que a minha mãe chega nesse preciso momento. E óbvio
também que ela ouviu a última parte da conversa.
— Quem te disse que estou namorando, mãe? — já que estamos
falando do assunto, quero saber quem foi o fofoqueiro.
Tenho certeza de que não foi a Anne.
— Ah, escutei o Jim comentando outro dia que você está meio
sumido esta semana. Parece que até saiu mais cedo da despedida de
solteiro para encontrar essa namorada misteriosa.
— É alguém que conhecemos? — A Sra. Carmichael questiona,
sem qualquer vergonha de ser indiscreta.
Ela sempre foi um amor, mas nunca se preocupou muito em manter
a privacidade alheia.
— Hã... — ficou quente aqui, não?
— Por que está todo nervoso? — minha mãe coloca as mãos na
cintura, como ela fazia quando achava que tínhamos feito merda. — Não
me diga que já fez besteira, Dax Maxwell Caden.
— Não me sinto muito confortável falando desses assuntos agora,
mãe.
— É alguém que vamos aprovar? — minha mãe insiste.
— Espero que não seja uma amiga da Gisele. Não preciso ver mais
aquela mulher do que necessário. Juro que nunca vou entender o que meu
filho vê nela.
Disso não posso discordar. Eu tampouco entendo o que Zack
enxerga nela. Nunca o ouvi elogiando a Gisele, a não ser para falar que ela
tem um corpo maravilhoso.
— Deixe de ser tão dura, Mary — O Sr. Carmichael, como sempre,
tenta ser diplomático. — Gisele é...
— Tentando pensar em algo positivo para dizer dela? — A Sra.
Carmichael provoca o marido.
Preciso sair daqui.
— Você e muito exigente, Mary.
Preciso sair daqui agora.
— Está saindo com Zoey? — Minha mãe pergunta do nada, e os
três me encaram como se eu fosse uma peça de museu.
Se eu tivesse água na boca, teria engasgado de novo.
— Como?
— Bem, Jim e Anne comentaram que você está ficando em Notting
Hill, o que não faz muito seu tipo. Geralmente, você fica na casa de Zack,
ou aluga um apartamento no prédio dele — A Sra. Carmichael comenta.
— Hã...
— E a Zoey te beijou ontem no jantar — O Sr. Carmichael me
lembra da situação que eu faria de tudo para esquecer.
A minha cara deve ter revelado a resposta para eles, porque as
expressões da minha mãe e de Mary Carmichael mudam imediatamente.
— Deixe de ser tolo, John — A Sra. Carmicahel reclama para o
marido, como se ela também não tivesse desconfiado que eu e Zoey
poderíamos estar saindo. —Zack nos disse que foi um mal-entendido.
— Além do que, Zoey e Rose são como irmãs mais novas para o
meu Dax, não é filho?
Uma bomba acabou de explodir no meu peito. Obrigado por me
fazer sentir como um babaca aproveitador de garotas inocentes, mãe.
— Eu...
— Pode falar a verdade: você não ficou na casa do meu filho e não
quis alugar um apartamento lá porque não suporta a Gisele — A Sra.
Carmichael me pressiona.
Juro, essas duas perderam o verdadeiro talento delas: seriam
excelentes detetives da Scotland Yard. Nenhum suspeito resistiria.
Eu estou suando, com as mãos molhadas de nervosismo, um bolo
de concreto na garganta, e o coração tão acelerado que pode explodir a
qualquer momento.
De repente, tudo muda quando vejo cabelos cacheados caminhando
na direção das tendas onde foi montado o salão de festas.
— Estou vendo Sam — a atenção deles se volta para o quintal.
— Sam? — O Sr. Carmichael observa a filha.
— Você quer dizer Rose, não? — A Sra. Carmichael me corrige.
Droga. Preciso disfarçar.
— É. Ela prefere ser chamada de Sam, não é?
— Não sei por que ela insiste tanto nisso — A Sra. Carmichael
reclama. — Rose é tão bonito. E é a flor favorita dela.
— Vou lá falar com ela.
Digo a mim mesmo que é uma desculpa para me livrar do
interrogatório. Mas a verdade é que mal consigo ficar longe de Sam.
***
Entro na tenda, e me deparo com Sam, que parece uma mistura de
anjo e sereia. Ela usa um vestido justo de mangas longas, que vai até os
joelhos, e mostra todas as suas curvas.
O tecido parece cetim, macio como ela, e é vinho, causando um
contraste elegante e sexy ao mesmo tempo com seu tom de pele e os
cabelos.
Felizmente, Sam deixou os longos cabelos encaracolados soltos, e
eu me imagino agarrando-os para puxá-la para meus braços. Ela está de
costas para mim, observando a mesa com os doces e o bolo.
— Sam.
Ela se vira como uma bailarina, os grandes olhos me encarando
com um misto de surpresa e desejo.
Também estou com muito desejo acumulado, Sam. Pensei em você
cada segundo que passamos separados.
Droga. Se eu quiser dizer as coisas que preciso, vou ter que
exercitar melhor meu autocontrole.
— Oi — os lábios dela se partem, as bochechas ficam rosadas.
Controle-se Caden. Controle-se.
Engulo em seco. Uma, duas, meia dúzia de vezes, e ficamos em um
silêncio repleto de tensão sexual. Obrigo-me a falar:
— Precisamos conversar.
— Agora? — o desejo é substituído por insegurança. — Eu... Acho
melhor esperarmos até depois do casamento.
Ela tenta passar por mim, mas eu a seguro pelo pulso. É um toque
inocente, nada sexual; ainda assim, parece que é Ano Novo e fogos de
artifício começaram a estourar dentro da tenda.
Como eu vou conseguir ficar longe dela? Como conseguirei dizer o
que precisa ser dito?
Seja forte, Caden. Pela Sam. Ela merece alguém melhor.
— Não, Sam. Precisamos conversar agora.
Sinto sua pele ficando arrepiada onde a toco; nossa atração é uma
via de mão dupla. Seu pulso está acelerando sob meus dedos, e sua pupila
está dilatada, assim como a minha deve estar.
Meus olhos baixam para seus lábios, e eu esqueço que estou no
maldito casamento de minha irmã só de encará-los, imaginando o gosto
deles, a sensação macia contra os meus.
— Tudo bem — ela sussurra, sua voz rouca. — Eu sinto muito por
não ter te contado quem eu era, Dax.
Não sei como, mas nós estamos mais próximos ainda. É como se
nossos corpos fossem magnéticos e se atraíssem por uma força superior
que não podemos controlar.
Estou de frente para ela, nossos corpos separados por uma fina
camada de ar. Ainda assim, sinto que é distante demais. Quero tanto colá-
la ao meu corpo que dói.
— Eu também sinto muito, Sam.
— Sente muito? — uma linha se forma entre seus olhos. — Pelo
quê?
— O que aconteceu entre a gente foi errado — digo, apesar da
nossa proximidade parecer ser a coisa mais certa que já me aconteceu,
apesar de sentir como se esta mulher tivesse nascido para estar em meus
braços, apesar de desejar passar o resto dos meus dias acordando com ela
ao meu lado. — Eu me aproveitei de você, da sua inocência.
As palavras têm gosto de veneno na minha boca.
— Eu sou uma adulta, Dax — ela diz com rispidez, inclinando a
cabeça, aproximando seu rosto ainda mais do meu. Mais um milímetro, e
meus lábios tocarão os dela. Mais um maldito milímetro. — Eu escolhi
ficar com você. Eu escolhi perder a virgindade com você.
— Mas você é só uma garota e...
Ela me segura pelos ombros, seu toque transferindo uma corrente
elétrica pelo meu corpo.
— Eu sou uma mulher, Dax! Abra os olhos!
— Sim, eu sei — fecho os olhos, para resistir à tentação de beijá-
la. — Mas nós fomos criados como família, e o que aconteceu entre a
gente é errado.
— Errado? — a voz dela soa chorosa, triste.
Não queria machucá-la, mas será preciso. Eu nunca deveria ter
chegado perto dela. Nunca deveria ter tirado a virgindade dela. Nunca
deveria tê-la tocado.
— Sim, Sam. Nunca mais vai acontecer de novo.
— Então, de repente, só porque você descobriu quem eu sou,
perdeu toda a atração por mim?
Nem ferrando. Nunca a desejei tanto como agora, Sam. Eu não
quero nenhuma outra mulher além de você. Você é perfeita para mim.
— Isso mesmo, Sam. Perdi toda a atração — minto
descaradamente, ainda com os olhos fechados, de covarde que eu sou.
— Duvido muito, Dax.
Algo no tom dela me faz abrir os olhos. Por um segundo, um
instante, vejo a certeza em seu olhar, vejo sua decisão. Sei o que ela vai
fazer. Sei que preciso pará-la antes que ela o faça.
Entretanto, no instante seguinte, seus lábios colidem contra os
meus, e todos os motivos que me empurravam para longe dela evaporam.
Foda-se que ela é a irmã mais nova – e proibida – do meu melhor
amigo. Foda-se que eu não sou bom o bastante para ela. Foda-se que
fomos criados como irmãos.
Neste momento, ela é a minha mulher, e eu sou seu homem. Nada
mais importa.
Seguro-a pela parte de trás das coxas, e ela automaticamente agarra
meus ombros, para não se desequilibrar, e coloco-a sentada em uma das
mesas de jantar espalhadas pelo salão de festas.
Abro seus joelhos com minhas mãos, fazendo a saia do vestido
subir até seus quadris, e me posiciono entre suas coxas, até que minha
ereção fique pressionada contra a virilha dela.
Sam solta um gemido quando me sente entre suas longas pernas,
suas mãos ainda segurando meus ombros, seus lábios ainda grudados aos
meus.
Separo nossas bocas e, encarando-a, tiro as mãos dela dos meus
ombros e as coloco em cada lado da minha cintura. Nossas respirações se
misturam, e sinto seu coração acelerado bater contra o meu peito.
Afasto os cabelos dela do pescoço e os prendo em uma das minhas
mãos, puxando sua cabeça para trás, para me dar mais acesso. Ataco seu
pescoço, e desta vez o gemido de Sam não é nem um pouco discreto.
O som dos meus sonhos.
Mexo os quadris da forma que faria se estivesse dentro dela,
enquanto puxo sua pele entre meus dentes, provando-a, e quase chego ao
ápice com o gosto dela; é doce e amargo ao mesmo tempo, delicioso,
ainda mais sensual do que eu me lembrava.
As pernas dela arreganham-se mais, e ela as coloca em volta da
minha cintura. Estamos tão próximos que seus seios ficam achatados
contra meu peito.
— Puta que pariu, Sam, você tem gosto de pecado — digo, a voz
rouca de tesão, e minha mão livre entra no jogo.
Afasto meu corpo do dela só um pouco, apenas para ter espaço
suficiente para colocar minha mão entre nós. Coloco minha mão entre suas
coxas, passando os dedos pelo elástico de sua calcinha para provocá-la.
Ao mesmo tempo, dou leves mordidas na sua mandíbula, nos seus
ombros, embaixo de sua orelha. Sam murmura palavras incompreensíveis,
e suas pernas continuam me pressionando para junto dela.
Minha outra mão solta seus cabelos e afasta o decote do vestido até
encontrar seu mamilo direito, que está duro, sensível. Sinto os pelos do
pescoço de Sam eriçarem sob meus lábios quando começo a massagear seu
mamilo com meu polegar.
Minha outra mão, agindo quase que por vontade própria (foco no
quase), passa por dentro da calcinha, até atingir sua entrada. Ela está
encharcada, pronta para mim.
Brinco com seu clitóris, usando meus dedos para fazer círculos à
sua volta, chegando bem perto de sua abertura, mas sem invadi-la.
— Por favor, Dax! Enfia! — Ela implora, e eu quase explodo ao
ouvir a paixão em sua voz.
Enfio dois dedos de uma vez, fazendo a cabeça dela voar para trás e
sua garganta libertar um som gutural. Afasto o rosto do pescoço dela para
ver sua expressão.
Ela é tão sensual, tão perfeita, tão minha. Seus olhos me encaram, e
há apenas luxúria neles. Sam, minha Sam. Calma, que vou fazê-la gozar
muito gostoso.
Meus lábios retornam ao seu pescoço, enquanto eu tiro um
pouquinho os dedos, para enfiá-los novamente. Cada vez que eu os retiro e
os coloco, faço-o mais rápido, e Sam me ajuda com os movimentos dos
quadris.
— Dax, Dax! — Ela repete meu nome cada vez que eu a invado
com os dedos.
Uso o polegar para acariciar seu clitóris, e enfio um terceiro dedo.
Sam chega ao ápice, gozando com meus dedos enfiados nela, apertando-os
com força.
Estou me preparando para tomá-la aqui mesmo, no salão de festas,
quando ouço alguém invadir a tenda.
Quero matar o desgraçado, mas meu instinto natural é proteger
Sam. Ajeito seu vestido e me afasto um pouco dela.
O olhar de Sam ainda está perdido, repleto de satisfação e desejo, e
preciso usar toda a minha força para não carregá-la no colo, levá-la para
um lugar mais privativo e terminar o que começamos.
— Parem! Parem agora! — Zoey grita, correndo em nossa direção.
— O que aconteceu, Zoey? — Sam parece ter se recuperado.
— Ele está vindo! O seu irmão está vindo!
30
Sam

Ele me disse tantas besteiras. Acho que eu o preferia me acusando


de mentirosa do que dizendo que ele errou, colocando a culpa em si
mesmo, como se ele fosse o adulto irresponsável e eu, a pobre criança
inocente.
Senti uma bola de concreto se formar na minha garganta quando
ele falou que se aproveitou de mim. Como assim, ele se aproveitou de
mim? Fui eu que me aproveitei da ignorância dele, do fato de Dax não ter
me reconhecido.
Aí, ele diz algo que faz meu coração ferver. Ele me chama de
garota. Não, Dax. Já não sou garota há muito tempo. E, se ele não quer
entender isso por bem, vai entender isso por mal.
— Eu sou uma mulher, Dax! — eu praticamente berro, deixando a
ofensa colorir meu tom. Estou com tanta raiva que nem me preocupo com
o fato de que alguém passando em frente ao salão poderia nos escutar. —
Abra os olhos!
— Sim, eu sei. Mas nós fomos criados como família, e o que
aconteceu entre a gente é errado — ele diz, sem me olhar nos olhos.
— Errado? — minha voz sai trêmula.
Estou à beira das lágrimas, e elas são um misto de tristeza e raiva.
Depois de tudo o que aconteceu entre a gente, dos momentos lindos que
tivemos juntos, ele tem a audácia de dizer que foi errado?
Não, isso ele não vai tirar de mim.
— Sim, Sam. Nunca mais vai acontecer de novo — ele diz sem
qualquer convicção.
— Então, de repente, só porque você descobriu quem eu sou,
perdeu toda a atração por mim?
— Isso mesmo, Sam. Perdi toda a atração.
Mentira. Se ele tivesse perdido a atração por mim, por que não
consegue me olhar nos olhos? Por que sua respiração está acelerada, como
se ele tivesse acabado de correr a maratona?
— Duvido muito, Dax.
Sem pensar duas vezes, eu o puxo para um beijo. Eu já imaginava
que ele estava mentindo, mas não sabia que estava mentindo tanto. Não só
ele ainda sente atração por mim, como ele já estava com uma ereção
enquanto nós conversávamos.
Em um momento, ele estava dizendo besteiras, me chamando de
garota, falando como o que rolou entre a gente era errado; no seguinte, ele
estava com os dedos enfiados dentro de mim, mal conseguindo manter um
centímetro de distância entre nós, me fazendo chegar ao ápice.
Ainda estou me recuperando do clímax avassalador, quando Dax
começa a me ajeitar, baixando a minha saia e colocando o decote do
vestido no lugar.
Agora ele vai parar? Sério? Abro os olhos, e me dou conta de que
não estamos mais sozinhos. Zoey está correndo na nossa direção, como se
tivesse acabado de descobrir que o Apocalipse Zumbi começou.
— Parem! Parem agora! — ela grita.
— O que aconteceu, Zoey? — levanto-me da mesa, terminando de
me ajeitar.
— Ele está vindo! O seu irmão está vindo!
Droga! Todo o sangue se evapora do meu rosto, e vejo que Dax
também ficou pálido.
Zoey olha em volta, como se estivesse procurando um lugar para
nos esconder.
Sei qual é o motivo de sua preocupação; eu e Dax não temos uma
desculpa para estarmos dentro do salão de festa sozinhos, antes mesmo da
cerimônia.
E, pela cara do Dax, ele não está nem um pouco preparado para
contar para meu irmão sobre a gente.
Isto é, se a “gente” existe mesmo, porque, pelo papo dele, não sei
se vamos continuar saindo, mesmo depois da nossa cena explosiva na
mesa.
Sem contar que Zack tem seu lado explosivo. Tipo, nível bomba
atômica. Não preciso que ele cause uma briga com seu melhor amigo e o
padrinho do casamento minutos antes da cerimônia.
— Precisamos de algo para distrair o Zack — Zoey diz com olhos
esbugalhados de medo, e se aproxima de Dax.
Ele dá alguns passos para trás, afastando-se de nós duas.
— Se você me beijar de novo, vai ser pior do que ontem, Zoe.
— Deus me livre. Não quero te beijar nunca mais. Pensei em algo...
Mais drástico.
Ela passa por mim e por ele, e caminha até a mesa de doces. Mas o
que...
— Rose? — a voz de Zack soa do lado de fora.
— Mais drástico do que beijar o Dax? — questiono, quase não
querendo saber qual é a ideia dela.
Ao invés de me responder, ela segura um dos potes de amêndoas, e
enche sua boca delas. Sinto meu coração entrar em curto-circuito.
— Zoey não é alérgica a amêndoas? — Dax questiona, paralisado
do pescoço para baixo.
Ela é mortalmente alérgica a amêndoas.
Em poucos segundos, Zoey começa a passar mal, esbarra em
alguns copos de vidro em cima da mesa, e cai em cima dos estilhaços,
usando os braços para se proteger.
Sangue começa a se espalhar pelo chão.
— Sam! — a voz de Zack me tira da paralisia.
Corro até ela que, quase que de imediato, começa a tossir e ficar
com o rosto vermelho.
Não, não acredito que minha melhor amiga colocou a vida dela em
risco por causa de um maldito segredo!
Da última vez que ela comeu amêndoas acidentalmente, quase
morreu, e eu passei meses super paranoica com tudo que ela comia.
Eu me ajoelho ao lado de Zoey e a ajudo a levantar. Dax também
sai de seu estado de paralisia e a segura pelo outro lado.
O sangue já manchou seu vestido rosa claro, mas não vejo
nenhuma ferida que pareça particularmente profunda, então torço para que
sejam apenas superficiais, mesmo tendo sangue demais espalhado no chão.
— O que está acontecendo? — Meu irmão parece um fantasma de
tão pálido.
Antes que eu responda, ele a tira dos nossos braços e a carrega no
colo. O rosto dela está começando a inchar, e sua respiração está
barulhenta, como se não estivesse conseguindo puxar o ar.
Abro sua boca, e sua língua já está umas três vezes o tamanho
normal.
— Precisamos levar a Zoey ao hospital agora!
Ela aponta para a bolsa, que ficou caída no chão. Não sei por que
ela está preocupada com a maldita bolsa numa hora dessas, provavelmente
é por causa da sua carteira de seguro saúde.
Pego a bolsa e saímos todos correndo da tenda, mas, ao invés de
irmos na direção do quintal da casa dos Caden, onde convidados começam
a chegar, corremos na direção oposta, para a fazenda dos meus pais.
Vejo o carro de Zack parado em frente à casa deles, então imagino
que ele esteja com as chaves no bolso. Zoey não tem muito tempo.
— Zoey? O que foi? — Zack pergunta para ela, mas sua língua já
está tão inchada que ela apenas solta uns sons sem sentido.
— Ela comeu amêndoas — respondo em seu lugar.
Zack xinga uns dez nomes nada adoráveis e corre mais rápido.
Estou no encalço deles, mas Dax me segura pelo pulso.
— Peraí. Preciso avisar aos pais dela e aos meus que estamos
saindo.
— Não! — puxo meu braço de volta. — Fique, Dax! Zoey não vai
querer que todos parem o casamento por causa dela.
— Mas ela vai ser hospitalizada.
— Já lidei com isso antes. Não é tão sério. — É sim. O hospital
mais próximo fica a uns vinte minutos, e não sei se temos todo esse
tempo. Mas não vou dizer isso a eles e estragar o casamento: Zoey
aprontou essa na tentativa de salvar a cerimônia. — Basta uma injeção e
ela ficará melhor.
— O que faço? — Dax pergunta, indeciso.
— Discretamente, avise aos pais dela, mas não cause pânico. Seus
pais e Anne não precisam saber.
Ele passa a mão pelos cabelos, como se tivesse na dúvida do que
fazer. Viro-me para correr de novo, mas ele me segura – mais uma vez –
pelo pulso.
— Espere por mim, eu te levo.
— Você é padrinho, Dax! Participe da cerimônia, por favor! Ela fez
isso para nos ajudar, não para atrapalhar o casamento!
— Me mantenha informado. Vou assim que terminar a cerimônia.
Ele me solta, e eu saio correndo. Meu irmão já colocou a Zoey
dentro do carro, e está dando a partida.
— Vamos logo, Rose!
Eu praticamente pulo para dentro do carro, como numa cena de
Missão Impossível. Estou no banco de trás, enquanto Zoey está no carona.
— Você está bem, Zoe? — com dificuldade, ela vira a cabeça por
cima do ombro.
Seus olhos mal conseguem se abrir, de tão inchados, sua boca já
está deformada, e sua língua está para fora.
Ela sorri para mim, tentando me tranquilizar, mas seu sorriso mais
parece o do Coringa, o que me deixa ainda mais preocupada.
Só falta a Zoey ter uma crise epiléptica por minha culpa. Ah, não.
Isso não. Qualquer coisa, mas que Zoey não se machuque.
Tentei não parecer tão desesperada, porque sei que minha melhor
amiga ficaria furiosa se todos os convidados deixassem a festa para visitá-
la no hospital.
Entretanto, se chegar a este ponto, chamo até o padre do casamento
para ajudar.
— Olha a cara dela! — Zack reclama, acelerando na estrada de
acesso à cidade.
— Vou ligar para o hospital — pego o celular de Zack que, por
sorte, ele tinha deixado no carro, e procuro o telefone do hospital no
Google.
— Como ela ingeriu amêndoas? — Zack questiona, irritado. —
Estava em um dos doces?
Sabia que ele ia perguntar.
— Hã... Não exatamente — respondo, e Zoey dirige um dos seus
sorrisos de Coringa para Zack.
— Eu insisti uma dúzia de vezes para Anne ter cuidado com isso!
— ele bate contra o volante. — Ela me garantiu que nenhum prato teria
amêndoas, que as deixariam separadas para quem quisesse colocar na
salada.
Zoey levanta uma sobrancelha com o comentário do meu irmão,
mas seu rosto já está tão inchado que mal dá para notar.
— Vou ligar para o hospital avisando que ela está chegando — ligo
para o telefone informado no site deles.
— Ainda vamos levar uns dez minutos.
Tempo demais. Ela precisa da injeção AGORA!
Praticamente sem conseguir respirar, Zoey vira-se para trás e
aponta para a bolsa dela, que está na minha mão.
É quando eu me dou conta: ela sempre carrega uma injeção de
emergência com ela. Como sou uma idiota!
— Peraí, Zoe. Vou cuidar de você!
Deixo o celular de Zack no colo, abro a bolsa com dedos trêmulos,
e encontro a injeção com facilidade, já que ela apenas colocou isso, a
maquiagem e a identidade na bolsa micro.
— Pare o carro! — ordeno a Zack.
— Está louca? Precisamos chegar ao hospital o quanto antes. Por
causa da alergia e da ferida dela.
Ferida? Olho direito para Zoey, e noto que a mão dela está
pingando sangue. Droga! Então havia uma ferida profunda, no fim das
contas. Espero que não tenha vidro alojado lá dentro.
Zoey dá um chute na coxa do Zack
— Mas que porra...
— Pare o carro, Zack! — repito, gritando. — Estou com a injeção
dela, mas não consigo aplicar com o carro em movimento.
Será difícil o suficiente aplicar com o carro parado.
Ele para imediatamente no acostamento, eu saio do carro e abro a
porta do carona. Tremendo como uma folha no meio de uma ventania,
aplico a injeção contra a coxa dela.
Em poucos segundos, ela começa a respirar melhor, e o inchaço
melhora levemente. Pelo menos, sua vida não está mais em jogo. Mas
ainda precisamos ir ao hospital.
Vejo uma echarpe da Chanel, que imagino ser da Cruela, no banco
de trás do carro. Olho para a ferida na mão de Zoey, tentando localizar
algum vidro, mas há tanto sangue que não dá para ver nada.
Enrolo o tecido em volta de sua mão e aperto, tentando estocar um
pouco o sangue.
Fecho de volta a porta e retorno para o banco de trás.
— Você está melhor, Zoey? — Zack pergunta, segurando-a pelo
ombro.
Ela fecha os olhos, encosta a cabeça no banco e acena. Já está com
a respiração quase normalizada.
— Vamos para o hospital, Zack — peço, e ele liga o carro e volta
para a estrada rapidamente.
— Fiquei preocupado contigo, Zoe.
— Percebi, Zack — respondo ironicamente. Agora que o pior do
susto passou, algumas coisas precisam ser esclarecidas. — Assim que
chegarmos lá, você vai nos explicar que preocupação toda foi essa.
— Como assim? — ele se faz de sonso, mas eu o conheço desde
que nasci para cair nessa. — Zoey é a sua melhor amiga, claro que me
preocupo.
Zoey revira os olhos de maneira teatral.
— Exato, Zack. Ela é a minha melhor amiga. Por que foi você
quem ficou falando com a Anne das alergias dela? Isso é coisa de homem
apaixonado e... AI!
Zoey me dá um beliscão.
— Do que está falando, Rose?
— É Sam! — digo, já sem mais paciência que me chamem de um
nome que não gosto. — E sabe de uma? O que rolou entre vocês é
problema de vocês, então esquece.
— Nada rolou...
— Posso ser sua irmã mais nova, mas não sou cega — eu o
interrompo, antes que ele termine a frase mentirosa.
— Mas... — ele insiste, e eu o paro de novo.
— É melhor pararmos de falar, porque não gosto de mentir e gosto
menos ainda quando mentem para mim.
31
Sam

Olho para meu irmão, e quase sinto pena dele. Foco no quase.
Depois de tudo que ele fez com a Zoey, será difícil sentir qualquer empatia
por Zack de novo.
Ainda assim, está na cara que ele está sofrendo. Zack está pálido,
aguardando notícias de Zoey. Assim que chegamos ao hospital, ela já
estava bem melhor, mas, pela quantidade absurda de amêndoas que tinha
comido, tiveram que fazer lavagem estomacal.
Também tiveram que fazer uma pequena cirurgia na mão dela.
Parece que vários pedaços de vidro entraram em sua mão, e precisaram ser
retirados.
Por conta do ferimento da palma da mão, que foi ainda mais
profundo do que eu imaginei, ela perdeu bastante sangue mas, felizmente,
não foi o suficiente para ela precisar de transfusão.
Os pais de Zoey vieram assim que souberam do incidente; quando
souberam da cirurgia e que ela teria que passar a noite em observação,
saíram para pegar algumas coisas de que precisariam.
Eu prometi que ficaria até eles voltarem. Zack apenas olhou para
mim como se nada nem ninguém fosse capaz de arrancá-lo do hospital.
Se, por um lado, ele parece bem preocupado com ela, por outro,
isso não combina com tudo que Zoey me contou da história deles.
Por que ele estaria tão aflito se teve não apenas uma, como duas
chances com ela, e desperdiçou as duas, tratando-a como se ela fosse uma
camisinha usada?
Se eu não soubesse do que aconteceu entre eles, e como Zack a
abandonou, apesar de Zoey demonstrar o quanto estava interessada em ter
um futuro com ele, eu juraria que ele estava perdidamente apaixonado pela
minha melhor amiga.
Não, não faz qualquer sentido. Provavelmente, ele a enxerga como
parte da família, por conhecê-la desde nova. O problema é que o olhar dele
quando a pegou no colo definitivamente não era fraternal.
Ah, sei lá. Assim como eu me surpreendi com a história de Zoey,
talvez tenha uma versão de Zack que me surpreenda também.
Agora, tenho outras preocupações na cabeça, como o bem-estar da
minha melhor amiga.
— Ela já voltou para o quarto — uma enfermeira nos avisa, e Zack
parece o The Flash, praticamente voa até a suíte da Zoey.
Quando eu chego, Zack está sentado ao lado da cama estreita,
segurando a mão boa de Zoey, e ela está olhando para o teto como se fosse
uma obra de arte do Van Gogh.
Isso será interessante.
Eu me aproximo da cama, e os olhos dela movem-se calmamente
até mim, meio etéreos, meio alegres demais para alguém que quase
morreu algumas horas atrás.
— Amiga, como você está? — pergunto, e ela abre um sorriso
preguiçoso, como se estivesse bêbada.
— DI-VI-NA.
— O que aconteceu? — pergunto à enfermeira, que está cuidando
do soro dela.
— A Srta. Tucker estava muito nervosa, e reclamando bastante de
dor, então acabamos dando mais... Remédios.
O que ela quis dizer é que drogaram a minha amiga e ela está tão
alta quanto um balão meteorológico.
— Entendi — respondo secamente.
— Zoey, como se sente? — Zack questiona, parecendo aflito.
— Você é tão bonito...
— Ah, sou? — meu irmão infla de orgulho.
Nossa, o ego dele é maior que o quarto. É um milagre que ele caiba
aqui dentro.
— Mas é tão babaca — Ela o faz desinflar tão rápido quanto inflou.
Seguro a gargalhada, sabendo que ele mereceu esse comentário.
Depois do que ele aprontou com Zoey, vou levar bastante tempo para
perdoá-lo.
Ainda não entra na minha cabeça como ele não correu atrás de
Zoey, que é linda, inteligente e interessante, para ficar com a Miniatura da
Cruela.
— Eu sinto muito, Zoe — ele comenta, e noto seus olhos ficarem
marejados.
Mais uma vez, a reação dele me deixa completa e absolutamente
perdida.
Meu irmão não é de ficar emocionado. A última vez que o vi com
lágrimas nos olhos foi quando o Manchester venceu a Copa do Mundo de
Clubes da FIFA em 2008.
— Foda-se você e seu “sinto muito” — ela afasta a mão do toque
dele.
— Zoe — ele tenta pegar a mão dela de novo, mas ela a tira de
forma teatral.
Gente, isso está parecendo cena de novela mexicana. Olho para a
enfermeira, que me encara como se perguntasse: “o que diabos está
acontecendo aqui?”.
Levanto os ombros, respondendo, com o gesto “estou tão perdida
quanto você, minha nova companheira de novela mexicana”.
Zoey coloca a mão para cima, em sinal para Zack deixá-la em paz,
e volta a olhar para o teto.
A aguardar as cenas dos próximos capítulos.
De repente, o olhar da Zoey cruza com o meu, e sua carranca
rapidamente se transforma em um sorriso perdido, como se ela tivesse se
esquecido do meu irmão e eu fosse um unicórnio cor de rosa feito de
algodão-doce.
— Sam. Fico tão feliz que você não seja mais uma freira.
Ah, merda. A enfermeira e Zack me olham com curiosidade.
— O que ela quis dizer, Sam? — Zack questiona.
Ah, merda ao cubo.
— Zoey, chega — digo entredentes.
— Chega mesmo. Chega de dar mole para aquele idiota que não te
merece.
— Que idiota? — meu irmão insiste, seu tom ficando mais irritado.
A enfermeira, por outro lado, está enrolando para sair, já deve ter
checado o soro da Zoey meia dúzia de vezes. De repente ficou interessada
na novela para a qual eu acabei de ser puxada.
— Quem é ele, para tirar a virgindade de minha melhor amiga e
depois dizer que você é como sua irmã mais nova?
Se eu desmaiar agora, será que a Zoey para de falar?
— Quem é esse pedófilo? — meu irmão acusa.
— Pedófilo? Eu sou adulta, Zack!
— Hã... Oi, pessoal. Vim ver a Zoey — quase tenho um ataque
cardíaco ao ouvir a voz de Dax atrás de mim. — Interrompo alguma coisa?
— SIM! — Zack grita.
— Não! — grito de volta, caminho até meu irmão e o puxo pelo
braço. — Vamos terminar esta conversa lá fora. Você fica um pouco com a
Zoey, Dax?
— Mas eu... — Zack se segura na cama, até ver meu olhar
assassino.
— Vamos agora, Zack!
Não foi ele quem fez perguntas indiscretas? Pois agora vai ter que
me escutar. Cansei dele agindo como se fosse meu pai e eu ainda tivesse
dez anos de idade!
Saímos juntos do quarto, enquanto Zoey nos observa com um
sorriso divertido no rosto, e Dax nos encara como se estivéssemos
caminhando para o corredor da morte.
— O que está acontecendo, Rose? — ele pergunta quando estamos
lá fora.
— Você tem que entender que eu cresci. Minha vida sexual
realmente não é da sua conta, Zack.
— É, sim.
— Não, não é. — Respiro fundo, e decido ser mais gentil. O que
estou prestes a dizer é duro, mas ele precisa me ouvir. — Sei que você
sempre foi um irmão protetor, e te agradeço por isso. Mas eu já sou uma
adulta, Zack, responsável pelas minhas decisões e suas consequências.
— Mas... Não quero que um homem se aproveite de você, minha
Pequena Rose. Homens são muito safados.
— Homens como você, quer dizer?
— Rose... — ele comenta em tom de aviso.
Como se esse tom dele ainda fosse capaz de me assustar.
— Zack... — seguro suas mãos. — Mesmo que eu encontre um
homem que tente me enganar, precisarei quebrar a cara sozinha para
aprender a me defender, né?
Ele me puxa em um abraço, e sinto o desespero por ele, enfim,
perceber que sua irmãzinha já não é mais um bebê que ele pode isolar do
mundo.
— Não quero que você quebre a cara, minha pequena rosa.
— Faz parte da vida, Zack. Não pode sempre me proteger.
— Posso tentar.
Afasto-me do abraço dele para encará-lo.
— Eu te amo, mas quero tomar minhas próprias decisões com base
no meu próprio julgamento.
— Eu entendo, Rose. Mas...
— Não tem “mas”. Você precisa aceitar que eu cresci. Para o bem
ou para o mal, tenho que lidar com as minhas escolhas.
32
Dax

Encaro a Zoey por alguns segundos, sem saber ao certo o que lhe
dizer, enquanto ela parece entretida com os dedos da mão.
O que dizer à mulher que se deu um choque anafilático para evitar
que meu melhor amigo descobrisse o traidor de merda que eu sou?
E tudo por causa de um milésimo de segundo, no qual eu joguei o
bom senso ao vento e esqueci todas as razões pelas quais deveria ficar
longe da Sam.
Claro que o milésimo de segundo esticou-se por minutos, e teria se
esticado por horas, se Zoey não tivesse nos interrompido.
Só de pensar nos sons que Sam fez enquanto eu a penetrava com os
dedos, no gosto doce de seus lábios e na sensação deliciosa dela apertando
meus dedos enquanto chegava ao ápice, fico com uma ereção.
Zoey parece sentir que o ar no quarto ficou mais quente, porque, do
nada, sua atenção deixa seus dedos e se foca completamente em mim.
Preciso distraí-la, antes que ela perceba o inchaço entre as minhas
pernas.
— Zoey, queria te agradecer por...
— Por quase me matar para evitar que o imbecil do seu melhor
amigo te pegasse no flagra com a língua enfiada na goela da irmãzinha
caçula dele? — ela me interrompe.
— Não precisava ser tão gráfica, mas... Sim, obrigado por isso.
Sento-me na poltrona ao lado da cama estreita onde ela está
deitada, tentando organizar meus pensamentos.
Se, por um lado, eu não consigo manter o bom senso quando chego
a menos de um metro de Sam, por outro, não consigo imaginar uma forma
de ficarmos juntos.
Não do jeito que ela merece.
Zoey parece ler meus pensamentos confusos, e, depois de me
observar atentamente por longos minutos (apesar de seus olhos parecerem
um pouco perdidos), ela pergunta:
— Você nunca vai contar para o Zack sobre vocês dois?
— Ainda não sei — eu me vejo respondendo honestamente.
O que a gente fez está feito. Não posso desfazer nossos dias – e
noites – juntos. E, mesmo que pudesse, não faria isso. Os momentos que
passei com Sam foram, sem sombra de dúvida, alguns dos melhores da
minha vida.
Se eu não puder tê-la, pelo menos terei essas lembranças. Talvez,
tenha que me contentar com isso, apesar de não chegar nem perto de sentir
sua pele sob minhas mãos, ou da sensação de estar em sua companhia,
dentro dela, sobre ela e...
Preciso pensar em outra coisa. Cruzo as pernas para tentar disfarçar
como as coisas ficaram duras. De novo.
— Mas vai continuar com a Sam? — Zoey insiste.
A enfermeira mencionou que ela está meio alta por causa da
medicação, mas ela está parecendo mais uma agente da CIA em um
interrogatório.
Seco a testa e respondo com a cabeça, não com o coração.
— Não, Zoey. É impossível.
— Impossível? — ela grita, batendo as mãos contra o colchão. —
Não parecia impossível quando vocês estavam fodendo como coelhinhos
na última semana.
Uma enfermeira entra naquele preciso momento, encarando-nos
boquiaberta. Pelo menos, não foi o Zack com Sam.
— Boa noite. Trouxe o jantar.
A mulher coloca a bandeja sobre uma mesa suspensa e a aproxima
na cama. Zoey pega um pouco da comida no garfo e, depois de cheirar e
fazer uma careta, ela experimenta.
Aí cospe a comida de volta no prato.
— Eca, comida mais sem gosto! — reclama, com um tom de
Rainha da Inglaterra. — Pode levar essa gosma para longe daqui, meus
pais vão trazer comida de verdade quando vierem.
— Ah. Desculpa pela intromissão — a enfermeira diz, sem graça,
enquanto carrega a bandeja para fora do quarto.
— Nenhum problema, querida — Zoey responde em um tom mais
meigo. Mas eu sei que não há qualquer meiguice nessa criatura, apesar de
amá-la como se fôssemos irmãos. — Só estava dando uma bronca nesse
idiota que não consegue enxergar o que está bem debaixo do nariz dele.
— Quê? — questiono, e a enfermeira aproveita para fugir.
— E se tivermos pequenos coelhinhos saltitando por Notting Hill
em alguns meses? — ela volta a me interrogar, com os braços cruzados. —
Vai continuar fingindo que não há nada entre vocês dois?
Nem tinha pensado nessa possibilidade. Quando começamos a
ficar, eu mal conseguia me conter perto da Sam. E, quando terminamos, eu
mal consigo parar de pensar nela.
Nem considerei a possibilidade do nosso.... Hã... Caso... Ter
consequências mais sérias, como gerar uma criança.
Parece loucura, mas a possibilidade enche meu coração de
esperança.
Qual é o meu maldito problema? Eu deveria pensar em formas de
me manter afastado de Sam, não de garantir que estaremos ligados por um
filho pelo resto de nossas vidas.
Apesar da minha razão gritar que este seria um péssimo cenário,
minha mente forma o rosto rechonchudo de um bebê com os cachinhos de
Sam, minhas feições, e os grandes olhos dela.
Pare com isso, Caden!
Zoey limpa a garganta ruidosamente, trazendo-me de volta para o
agora.
— Eu... Ela... — começo a gaguejar, respiro fundo e junto coragem
para responder direito. — Se isso acontecer, vou assumir a
responsabilidade.
Ela ri, e volta a encarar seus dedos. Ela parecia sóbria há dois
segundos, e agora voltou ao reino mágico da medicação para dor.
— Eu adoro coelhinhos, sabia? — Zoey comenta, movendo os
dedos como se eles pudessem dançar. — Queria fazer um coelhinho com o
Zack, mas ele é idiota demais para me merecer.
— Como é que é?
Do que ela está falando?
— Ele não tem a sua energia, Dax — ela dá outra gargalhada
infantil. Está meio psicótica. Será que eu deveria chamar o médico? —
Soube que você ficou a noite inteirinha sem deixar a Sam dormir...
A Sam conversou sobre nossas relações sexuais com Zoey? De
repente, quero aproveitar que Zoey está no Universo Paralelo dos Segredos
Revelados, e perguntar sobre o que mais Sam e ela conversaram.
— O que mais a Sam disse de mim?
Ela ignora a minha pergunta.
— Mas Zack até daria pro gasto. Se ele não fosse...
Ela me olha como se esperasse pelo meu comentário.
— Se ele não fosse um idiota? — chuto, imaginando que ela queira
que eu diga algo ofensivo.
— Exatamente, meu caro Caden. Está começando a entender.
— O que exatamente deram para você, Zoey?
— O soro da verdade, bonitão — ela diz com um sorriso bêbado.
— E estou pegando fogo!
— Foi por causa desse soro da verdade que a Sam arrancou o irmão
do quarto?
Talvez, ela temesse que Zoey acabasse revelando o que rolou entre
nós dois.
— Ela quer te proteger, Dax — Zoey confirma as minhas suspeitas.
— Não que você mereça. Se não quer ficar com a minha amiga, merece
muita porrada mesmo.
— Eu não disse que não quero — esclareço.
— Claro, só que é impossível.
— Isso.
— Por que é impossível, Dax?
— Porque é.
Ela revira os olhos para mim e me mostra o dedo do meio.
Eu sei, eu sei. Vocês também devem estar me xingando de todos os
nomes e com vontade de jogarem o kindle contra o ventilador. Por favor,
não façam isso. eu tenho minhas razões.
Uma delas é o Zack. Esse é o tipo de coisa que poderia fazê-lo
nunca mais me perdoar. Sei que parece exagero, mas Zack sempre foi
extremamente protetor e irracional quando o assunto é sua pequena Rose.
Eu sei que ela já cresceu, mas não sei se meu amigo um dia vai se
dar conta disso.
Porém, não é só o medo de perder meu melhor amigo. Se fosse
isso, eu buscaria seu perdão, não importa por quanto tempo. Poderia durar
meses, anos, décadas, mas eu nunca desistiria de Zack.
Sei que há o risco de perder sua amizade para sempre, mas acho
que esse risco é menor se comparado ao que sinto por Sam, uma
combinação de sentimentos que jamais senti por outra mulher e
provavelmente não sentirei de novo.
O que me deixa inseguro de verdade, com um medo descomunal do
qual não consigo me livrar, é se Sam de fato me quer, ou se ela quer uma
versão idealizada de Dax Caden.
Sei muito bem o que sinto pela Sam, mas tenho sérias dúvidas se o
que ela sente por mim é real. Ela acha que é apaixonada por mim desde
que era criança, mas, às vezes, nós amamos heróis, não pessoas.
Sam nunca teve qualquer chance de conhecer outro cara. Ela me
colocou no pedestal, e se apaixonou pela ideia que tem de mim.
Ela me considerava seu herói, seu príncipe encantado, e eu
definitivamente não sou nenhum dos dois.
Será que ela ainda vai me querer se souber o que fiz com a Jenna?
Se souber como tratei tantas outras mulheres ao longo dos anos, como se
elas fossem descartáveis, objetos sexuais?
Prefiro perdê-la agora do que magoá-la depois. Eu jamais
conseguiria atender às expectativas dela.
Zoey me olha com desconfiança enquanto todos esses pensamentos
passam pela minha mente confusa.
— Você a ama, não ama?
Está tão óbvio assim?
— Como sabe?
— Eu te conheço desde que nasci, Dax Caden. Engraçado, em
muitos sentidos você é completamente diferente do seu melhor amigo, em
outros, você é igualzinho.
— Como assim?
— Você e ele são dois imbecis.
— Ah. Obrigado — agradeço sarcasticamente.
Sempre posso contar com Zoey para inflar meu ego.
— É verdade — ela continua. — Você e Zack simplesmente não
conseguem enfiar nessa cabeça dura de vocês que eu e Sam não somos
mais as garotinhas tolas que éramos.
Ela está falando demais do Zack. O que está rolando?
Eu tenho algumas suspeitas desde que Zack praticamente me
atacou quando achou que a Zoey estava a fim de mim, mas preferi não
acreditar que eram verdade.
Se algo tivesse rolado entre esses dois, ele teria me contado. Não
teria?
Bem, eu não contei para ele sobre meu rolo com Sam. Mas é
diferente. Não é?
Porra, sempre fui seguro de mim, sempre fui um cara de certezas,
não dúvidas, mas essa situação está me tirando dos eixos.
Sam está me tirando dos eixos.
— O que Zack e você têm a ver com essa história? — acho que a
hora de descobrir é esta. Se o efeito do remédio passar, não conseguirei
arrancar a verdade de Zoey.
— Zack nunca te contou? — ela levanta a sobrancelha, parecendo
surpresa.
Isso está fedendo.
— Não. Ele não me contou.
— Hum... Interessante. Deixa que ele te conte então.
— E o soro da verdade? — questiono.
— Já está passando o efeito, querido. O que me lembra: tenho que
chamar a enfermeira e pedir para ela me drogar mais.
— Acho que já tivemos emoções o suficiente por hoje, Zoe.
— Então, o que planeja fazer em relação a Sam, já que sabemos
que a ama, mas é imbecil demais para assumir isso para os Carmichael?
Ela acha que isso é apenas sobre os Carmichael, e não vou
desmenti-la.
— Sei que a machuquei quando a comparei com uma garotinha.
— Fez isso porque sabe que é a única forma de ela partir para outra
— por isso Zoey é uma excelente advogada: a capacidade dela de ler as
pessoas chega a ser assustadora. — Só não entendo por que está tão
desesperado para se livrar dela agora, se estava louco para vê-la o tempo
inteiro.
— Às vezes, quando amamos demais uma pessoa, temos que deixá-
la ir.
— Como é que é? — ela se senta na cama.
— Especialmente se achamos que não somos bons o bastante para
elas.
Ela revira os olhos de forma teatral.
— Isso tá parecendo frase de biscoito da sorte chinês. Desculpa
mais esfarrapada.
— Não é desculpa esfarrapada, Zoey. Eu acabo machucando as
pessoas com quem me importo.
— Gente, isso agora está parecendo novela mexicana. Chama o
Carlos Daniel para dar umas porradas no Dax.
Quem diabos é Carlos Daniel? Acho melhor fingir que não escutei.
— Sam merece um cara melhor, Zoey. Da idade dela. Que não
tenha uma bagagem do tamanho do Reino Unido.
— Acho que isso deveria ser uma escolha dela, e não sua, Dax.
Ela tem um ponto. Maldita advogada, sempre ganha as discussões.
Não posso deixar a Zoey me encher de dúvidas de novo.
Ficar longe de Sam é a coisa certa a fazer. É o melhor para ela.
— Sam vem nutrindo uma paixão irracional por mim há tempo
demais para se dar conta de que pode achar alguém... Mais adequado.
Só de pensar em Sam com outro cara me faz querer destruir coisas,
jogar vasos pelas paredes, chutar portas e quebrar garrafas nas cabeças de
desgraçados que possam estar interessados nela.
Engulo a raiva, e todos os sentimentos de possessividade em
relação a Sam. Preciso deixá-la ir, mesmo que isso signifique saber que
ela ficará nos braços de outro homem.
Mas que eu vou querer matar esse outro homem com resquícios de
crueldade, isso eu vou.
— Toda paixão é irracional, Dax — Zoey rebate. — Meu Senhor,
sua irmã Anne era fã de Jane Austen. Nunca aprendeu nada de bom com
ela?
Agora sou eu que quero revirar os olhos.
— Aprendi sobre o Mr. Darcy — digo entredentes. — O ser mais
perfeito da terra.
— Mr. Darcy? Perfeito? Se acha que ele é perfeito, então não
conhece Jane Austen.
— Como assim? Minha irmã sempre falou dele como se fosse o
último chocolate do Reino Unido.
Zoey me fuzila com o olhar, como se eu tivesse dito algo muito
ofensivo. Qual é a droga do problema das mulheres com esse idiota do Mr.
Darcy?
— Mr. Darcy é o único chocolate do Reino Unido, querido — ela
diz. — Mas não é porque ele era perfeito. E sim porque ele se tornou
perfeito para Lizzie, por causa do amor que sentia por ela.
— Hã...
Não sei se entendi.
— No começo da história, ele era um homem arrogante e
preconceituoso, mas superou muitas de suas noções pré-concebidas por
causa de seu amor por Elizabeth Bennet — Zoey explica.
— Do que vocês estão falando?
Graças aos céus. A Sra. Tucker chegou com o marido. Poderei sair
desta sala de tortura e acabar com o interrogatório de Zoey.
— Estamos falando de Orgulho e Preconceito — Zoey responde,
animada.
— Ah, como eu amo esse livro — A Sra. Tucker coloca as mãos
sobre o peito, como uma adolescente apaixonada. — Que tal assistirmos
ao filme juntas?
— É aquela história do tal de Percy? — O Sr. Tucker sussurra no
meu ouvido.
— Darcy — corrijo-o automaticamente.
— Argh. Não aguento mais ouvir falar desse homem. Quer tomar
um café comigo?
Com certeza.
33
Sam

Depois de gastar quase uma hora tentando convencê-lo de que


ficarei com minha melhor amiga e seus pais até ela receber alta, Zack só
aceita ir embora depois de ser expulso por Zoey.
Os Tuckers foram muito gentis em trazer roupas e itens de higiene
pessoal para mim também. Eles já imaginavam que eu teria dificuldade
em deixar minha melhor amiga no hospital, mesmo sabendo que ela está
fora de perigo.
Quando enfim consigo convencer Zack a ir embora, decido comer
um sanduíche, porque meu estômago está há horas reclamando. Não como
desde o café da manhã; mal tive tempo de beliscar algum salgado no
casamento.
Enquanto como lentamente o sanduíche sem gosto com pão
passado, pego-me pensando nos momentos que tive com Dax antes de
sermos interrompidos por Zoey.
Por um lado, ele disse coisas que me machucaram, e não sei se
estava sendo sincero ou se queria apenas me afastar. Por outro, ele parece
me desejar, mal conseguiu conter a atração que sente por mim.
Mas será que isso é suficiente? Será que quero lutar por um homem
que amo, quando ele apenas me deseja?
Quando eu era criança, ser desejada por Dax seria mais do que eu
poderia sonhar. Agora, sinto que uma relação carnal não será suficiente. Eu
quero mais do que sexo. Eu mereço mais do que sexo.
E não ficarei satisfeita com menos do que um homem que me ame
de verdade.
Como se tivesse sido atraído pelos meus pensamentos, Dax senta-
se de frente para mim. Eu nem sabia que ele ainda estava no hospital.
Seu semblante está sério, e já imagino o que ele quer. Falar de
todas aquelas besteiras que ele mencionou na festa, antes de eu beijá-lo.
Só falta ele ter a cara de pau de dizer que me vê como a sua irmã
mais nova.
Aí eu serei obrigada a fazer alguma loucura, como agarrá-lo no
meio do refeitório do hospital, levá-lo até um quarto vazio, e fazer todas
as safadezas que rolam em Grey’s Anatomy.
— Precisamos conversar — ele anuncia, quando fico calada.
— Tentamos conversar no casamento. Veja como acabou. Se
tentarmos de novo, podemos ter que lidar com o Fim dos Tempos — deixo
o sarcasmo colorir meu tom à vontade.
Será que ele já esqueceu o que quase aconteceu à minha melhor
amiga por causa da última vez que ele quis falar comigo em público?
Por outro lado, não descarto a hipótese de encontrarmos um quarto
vazio e brincarmos de médico e paciente. Nossa, eu estou soando como a
Zoey!
— Desta vez, nem Zoey nem seu irmão estão por perto — Dax
sussurra, seus olhos observando meus lábios. — Acho que estaremos
seguros.
— Ainda há nós dois — eu o recordo e um canto de seus lábios
curva-se para cima.
Ele sabe que estou falando da nossa atração irresistível. Afinal de
contas, Zoey não teria precisado nos interromper se estivéssemos
conversando. Não haveria nenhum problema se Zack nos flagrasse apenas
conversando.
Toda essa confusão foi gerada pelo fato de não conseguirmos ficar
perto um do outro sem estarmos, bem... Colados um ao outro.
Ele afasta a cadeira de plástico para trás, colocando mais espaço
entre a gente. Dax pode se afastar o quanto quiser; mesmo a um metro de
distância, consigo ver suas pupilas ficando dilatadas, e seus olhos
simplesmente não desgrudam da minha boca.
Sua boca abre várias vezes, ele limpa a garganta, mas parece que
sua voz foi embora. Nem consigo acreditar que eu, a garotinha
desengonçada na qual ele nem reparava, estou causando tantas reações em
Dax.
Meus pensamentos voam para as noites que passamos juntos, para
as tardes que ficamos sob os lençóis e, pela expressão dele, posso apostar
até a gata do Dave que a mente dele está na mesma direção.
Finalmente, Dax parece recuperar a voz.
— Estamos em um local público, então prometo que me
comportarei.
— E se eu não quiser que se comporte?
Sério, acho que fui possuída pelo espírito da Zoey.
Nem acredito que eu disse isso. Sinto meu rosto queimando de
vergonha, enquanto os olhos de Dax escurecem, baixando para meus
lábios.
Nossa, ficou quente aqui, não é? Acho que o termostato do hospital
está quebrado.
— Sam, isso é sério — ele diz em um tom paternal que me atinge
direto no coração.
Por que ele precisa jogar tão baixo? Por que ele precisa sempre
esfregar na minha cara nossa diferença de idade?
— E eu sou só uma garotinha boba que não leva nada a sério —
respondo secamente.
Vejo a dor em sua expressão. Não queria ser tão ácida, mas
tampouco quero ouvir as palavras que sei que ele está prestes a dizer.
— Você é a mulher mais inteligente que já conheci.
— Mas...
— Mas é impossível — ele me interrompe. — Eu e você, digo.
— É impossível para você — eu o corrijo. — Não para mim.
Quem é ele para achar que sabe mais do que eu o que eu quero? O
que é ou não possível para mim?
Até alguns dias atrás, eu achava que Dax Caden estava fora do meu
alcance, que ele jamais me olharia como mulher.
O fato de ele parecer estar se controlando para não subir na mesa e
me agarrar estava na minha categoria de situações impossíveis, só que está
acontecendo neste exato momento.
Por isso, hoje, no meu mundo, nada é impossível.
— Você é a irmã mais nova do meu melhor amigo, Sam — ele diz
como se explicasse tudo, me machucando ainda mais.
— Engraçado. O fato de você ser o melhor amigo do meu irmão é
apenas um detalhe sem importância para mim. Se gostasse de mim de
verdade, seria apenas um detalhe para você também, Dax.
Ele segura as pontas da mesa até os nós das suas mãos ficarem
brancos.
— Não é só um detalhe, você sabe muito bem disso. Senão teria
dito a verdade sobre quem é desde o início, Sam.
Claro que ele vai me dar um golpe baixo e esfregar a mentira –
digo, omissão – na minha cara. Ele está esfregando muita coisa na minha
cara nesta conversa. Estou ficando farta disso.
— Se eu dissesse desde o início, você nem me daria uma chance,
Dax. Porque eu não sou sua prioridade. Zack que é.
Ele balança a cabeça ferozmente.
— Não é uma questão de prioridade...
— É, sim — insisto. — Você vê apenas obstáculos. Quando há
amor, não há obstáculos, há soluções.
Saio da mesa sem olhar para trás. Cansei. Sofri a vida inteira por
Dax, não vou me humilhar por ele. Não vou mais chorar por causa dele.
Essa é uma promessa vazia porque, quando alcanço o quarto de
Zoey, já estou aos prantos.
Quando vejo que os pais dela estão lá dentro, seco as lágrimas, mas
claro que minha amiga percebe que há algo de errado assim que entro.
Delicadamente – ou nem tanto – Zoey pede aos pais para darem
uma volta no hospital enquanto ela conversa comigo.
— Mas não há nada a fazer no hospital — o Sr. Tucker reclama,
sem perceber que Zoey quer um pouco de privacidade. — E não me
importo se conversarem.
— Ah, pelo amor, vai fazer um check up, pai — ela insiste,
expulsando-os com um movimento da mão, como se ela fosse a rainha e
seus pobres pais, os serviçais do castelo.
Gente, vergonha alheia da minha amiga. Sei que ela está fazendo
isso para que eu possa lhe contar o que aconteceu, mas mesmo assim...
— Fiz check up dois meses atrás e estou perfeitamente bem — o
Sr. Tucker anuncia, todo orgulhoso.
Sua mãe, por outro lado, olha de mim para Zoey, parecendo
calcular o que está acontecendo. Pela minha cara inchada e olhos
vermelhos, ela com certeza vai chegar à conclusão que eu estava chorando.
Pelo menos, ela é mais discreta que a filha e não pergunta nada
para mim, fingindo que nem notou que estou mal. No caso do seu marido,
ele não reparou mesmo.
Zoey me contou que uma vez a mãe mudou a cor do cabelo – tipo,
de preto para louro platinado – e ele levou uns três dias para perceber que
havia algo de diferente nela.
— Duvido que sua saúde esteja tão boa assim, pai! — Zoey
reclama. — Velhos sempre têm alguma coisa de errado.
Gente, ela está praticamente dizendo que o pai está com o pé na
cova. Claro que o Sr. Tucker se zanga.
— Está me chamando de velho, mocinha?
— Vamos querido — a Sra. Tucker levanta-se, puxando o marido
pelo pulso —, vi que tem um café bem ao lado do hospital.
— Quero ficar aqui — ele reclama e cruza os braços, fazendo
beicinho como se fosse uma criança de dez anos que acabou de perder o
brinquedo favorito.
Agora vejo de quem Zoey puxou sua personalidade insolente.
— Acho que vi bolo de chocolate na vitrine do café — a Sra.
Tucker, santa que é, não desiste.
O pai da Zoey é vidrado em bolo de chocolate.
— Vamos dar uma passada nesse café, meninas.
Quando estamos a sós, Zoey bate na cama para eu me sentar ao seu
lado, e eu já estou chorando como uma tonta de novo.
— O idiota fez idiotice — ela comenta, já imaginando a causa das
minhas lágrimas.
Zoey é casca grossa, às vezes rude, e sempre brutalmente honesta,
mas ela sabe como me fazer rir. Um minúsculo sorriso surge em meus
lábios, e ela seca minhas lágrimas com as pontas dos dedos.
Não há nada mais valioso no mundo do que uma amiga que sabe
como oferecer o ombro.
— Dax não quer nada comigo.
— Ah, mas ele quer, sim — ela segura minha mão.
— Zoey, ele só me quer para sexo.
— Pois eu discordo. Tenho certeza que ele te ama, Sam. Só é um
completo idiota que apenas vai se dar conta da importância do que sente
quando te perder.
— Então estou ferrada, porque acho que ele nunca vai me perder.
Claro que, depois dessa, eu choro tanto que chego a soluçar. Não
acredito que, depois de tantos anos, tantas decepções, eu ainda sofro desse
jeito por causa do Dax.
Será que estou amaldiçoada a amá-lo para sempre,
independentemente de ele merecer ou não o meu amor?
— O Dax não precisa te perder para te valorizar, amiga — não
entendo nada. Zoey não acabou de dizer exatamente o contrário? Aí ela
sorri, um de seus sorrisos perversos, e sei que está aprontando alguma. —
Basta o Dax achar que te perdeu. O mesmo vale para o babaca do seu
irmão.
— Do que você está falando, Zoe?
Às vezes, parece que nós duas falamos idiomas diferentes.
— A gente mostra para eles, Sam.
— Mostra o que para eles, amiga?
O sorriso dela se alarga, e fica meio assustador. Senhor, ela está
aparecendo o Coringa de novo. Será que devo chamar a enfermeira? O
Batman? Socorro, o que esta mulher está aprontando agora?
Começo a me afastar da cama, mas ela me puxa pelo pulso até meu
nariz estar a milímetros de distância do dela.
— Eu e você vamos mostrar para os dois imbecis que não somos
mais duas garotinhas que vão correr atrás deles como cachorrinhos
perdidos.
34
Duas semanas mais tarde...

Dax

Sim, ainda estou em Londres.


Poderia dizer que é por causa de um projeto que estamos avaliando
investir. Pelo menos, é a desculpa que ofereço a todos que me perguntam
sobre a minha permanência incomum em Londres.
Eu poderia fazer a avaliação de Nova Iorque mesmo. Até de
Tóquio. Já fiz as reuniões presenciais que precisava, e agora falta estudar
os números, que é a parte mais longa, mas que pode ser executada
basicamente de qualquer lugar.
Usei também a desculpa de que, já que precisaria ficar algumas
semanas a mais, valeria a pena permanecer no Reino Unido até o Natal.
Tudo para não admitir a verdade que me bate na cara toda vez que
penso em Sam. Que é praticamente dez vezes por minuto.
Ela não me ligou.
Ela não me procurou.
Ela sequer parece estar chateada.
Como eu sei que ela não está com cara de quem tem chorado todas
as noites no travesseiro sentindo a minha falta? Porque, durante as duas
últimas semanas, eu me transformei em um verdadeiro stalker.
Em geral, quando venho ao Reino Unido a trabalho, eu fico
hospedado com Zack ou, mais recentemente, depois que Gisele foi morar
com ele, tenho alugado um apartamento no prédio dele.
No entanto, inventei uma desculpa qualquer para meus pais a fim
de ficar mais tempo em Notting Hill.
Sempre que estou em casa, ou eu a observo trabalhar na livraria, ou
eu fico tentando localizá-la no seu apartamento. Sim, eu sei que é doentio.
Sei também que estou sendo um hipócrita: fui eu quem disse que não
haveria futuro entre nós.
O que eu esperava? Que ela voltasse se rastejando para mim?
Sam estava certa: ela não é mais aquela garotinha inocente que me
seguia para todo lugar. Ela é uma mulher inexperiente, isso eu sei muito
bem, mas não quer dizer que ela não seja independente.
Na realidade, estou sentindo na maldita pele o quanto ela é
independente.
Eu deveria estar contente que ela não está atrás de mim. Assim,
não preciso mais mentir para Zack, não há necessidade de tentar me
segurar perto dela, e não vamos arriscar causar uma briga horrorosa entre
nossas famílias.
Tudo vai acabar bem.
Além disso, o fato de Sam estar aceitando tão bem o término do
nosso... O que quer que fosse, indica que eu estava certo: seus sentimentos
por mim não passavam de uma paixonite infantil.
Por que então eu estou me comportando como um adolescente
obcecado?
Deixo uma reunião no nosso escritório londrino ansioso para voltar
para casa. Quando o meu motorista londrino encosta o carro, noto que já
chegamos ao meu destino: Notting Hill. Que o martírio comece.
Dou boa noite a ele, e saio quase que correndo do carro, subindo os
degraus da casa triplex dos meus pais de dois em dois degraus, até chegar,
esbaforido, na minha suíte.
A suíte cuja janela tem vista para o quarto de Sam.
Eu sei, olhar assim deve ser até crime em alguns lugares. Além de
ser uma quebra de privacidade injustificável.
Eu digo para mim mesmo que, se não a admirar pelo menos alguns
minutos por dia, não conseguirei ficar longe de Sam.
Por isso, todos os dias, às sete da noite, eu aguardo ansiosamente
para ver Sam fazer o show mais sensual da minha vida.
Meu coração acelera quando a vejo aparecer em meu campo de
visão, de roupão, com os cabelos enrolados em uma toalha.
Estou tão doente que já deixei minha poltrona posicionada de
frente para a janela, mas de um jeito que praticamente todo meu corpo está
escondido pelas sombras da noite.
Deixo todas as luzes do quarto apagadas, e apenas a do banheiro
fica acesa, praticamente me tornando invisível aos olhos de Sam.
Provavelmente, ela deve achar que estou de volta aos Estados
Unidos. Evito ligar as luzes da casa enquanto estou aqui. Nos primeiros
dias, insistia em mentir para mim mesmo e fingia que fazia isso para que
ela não viesse me procurar.
Agora, sei que ela não está mais interessada, então mantenho a casa
fechada, com as luzes apagadas para que ela não descubra que ainda estou
aqui e pare de fazer os shows noturnos particulares.
Sam tira a toalha da cabeça, deixando os cabelos encaracolados e
molhados caírem em ondas pelas suas costas. Tira também o roupão,
exibindo mais um conjunto de renda que me deixa imediatamente duro. O
conjunto sexy de hoje é azul marinho.
Como ela fica linda de azul; contrasta perfeitamente com o tom
pálido de sua pele de seda. Sem perceber que tem um lunático a
observando da casa vizinha, ela pega o pote de hidratante que deixa em
cima de sua penteadeira, e o show começa.
Ela começa passando o hidratante pelas longas pernas. Claro que
eu logo imagino como aquelas pernas ficavam perfeitas em volta da minha
cintura, enquanto eu estava dentro dela, fazendo-a minha.
Só minha.
O que ela faria se eu cruzasse os metros entre nossas casas e
batesse em sua porta? O que ela faria se eu passasse o hidratante em seu
corpo? Se eu deslizasse as mãos sob seu sutiã, seus mamilos ficariam
duros sob meus dedos? Ela me deixaria chupá-los até eles encostarem no
céu da minha boca?
Se eu a tocasse, ela estaria molhada? Ela gemeria do jeito que fazia
quando estávamos juntos, ou se afastaria e me mandaria à merda?
Eu teria que ser silencioso. Se ela notasse a minha presença, me
expulsaria de casa. Mas, se eu conseguisse entrar em seu quarto sem ser
notado, eu teria uma chance.
Fecho os olhos, baixo a mão até a ereção, e começo a imaginar
como seria se eu tivesse coragem de ir até a casa dela.
Se eu chegasse silenciosamente, por trás dela, e a surpreendesse
com um braço em volta de sua cintura, colando seu corpo delicioso ao meu
fronte.
— Sam — eu diria no seu ouvido — deixa eu te ajudar com esse
hidratante.
— O que você está fazendo aqui? — o tom dela seria um misto de
raiva, surpresa e desejo.
Sim, haveria desejo, por mais que ela não quisesse demonstrá-lo ou
senti-lo.
— Deixa que eu passo esse hidratante — eu sussurraria contra seu
pescoço, ao tomar o frasco da mão dela.
— Saia daqui, Dax! — ela exigiria, mas sua pele estaria arrepiada
por conta do toque dos meus lábios.
— Que tal uma aposta?
— A-aposta? — por mais que ela quisesse me expulsar, ela ficaria
interessada no que eu teria a dizer.
— Sim, Sam. Vamos fazer uma aposta. Se eu conseguir fazê-la
gozar nos próximos cinco minutos, passaremos a noite juntos. A partir daí
o futuro do nosso relacionamento estará em suas mãos.
Claro que ela ia querer recusar; depois de tudo que eu lhe disse,
depois de alegar que nosso relacionamento é impossível. Por outro lado,
Sam ficaria curiosa, excitada. Ela ficaria interessada.
Só não admitira, claro.
— Você é convencido, Dax — ela responderia, mas seu pescoço se
jogaria para trás, de encontro ao meu peito, e sua bunda durinha ficaria
empinada, provocando meu pau, que, a esta altura, já estaria praticamente
destruindo o zíper.
— Se não acredita em mim, então aceite a minha proposta — eu a
provocaria. — Me dê cinco minutos, Sam.
Eu encharcaria minhas mãos com o hidratante, e o passaria pelo
seu estômago liso, pelos seus braços, pelo pescoço elegante.
— Você é cara de pau, Dax Caden — ela estaria praticamente
arfando.
— Não, eu sou é desesperado, Sam. Por você. Me dê cinco minutos.
E eu prometo que lhe darei a melhor gozada da sua vida.
— Babaca — ela suspiraria, ainda tentando me evitar, apesar de
ser inevitável.
Nossa atração foi inevitável desde o primeiro momento na livraria.
Tomando sua tentativa de ofensa como aceitação da minha
proposta, eu colocaria a mão na parte interior da coxa dela, enquanto o
outro braço ficaria em volta de sua cintura.
Eu subiria a mão em sua coxa, e ela me encararia por cima do
ombro, com um misto de timidez, desejo, descrença, safadeza, tudo junto,
o que me daria ainda mais tesão.
Ela não tentaria parar, apenas arfaria e separaria mais as coxas, me
dando acesso.
Minha outra mão começaria a explorar seus seios por cima do
sutiã, e eu sentiria seus mamilos endurecendo mesmo com a camada de
tecido entre nós.
Deixaria meus dedos brincarem com o elástico de sua calcinha, e
ela morderia o lábio inferior.
— Chegando lá, Sam? — eu perguntaria para provocá-la.
— Você já gastou dois minutos, Dax — ela me provocaria de volta.
Sam sempre foi tímida, mas, na cama, ela é sexy pra cacete.
— Que bom que tenho mais três — eu provocaria também, sabendo
que, dentro de três minutos, a bocetinha dela apertaria meus dedos em um
orgasmo intenso.
Afastaria a calcinha com meus dedos e, quando minha mão
chegasse em seu centro, eu a sentiria úmida e quente.
Nós soltaríamos um gemido alto e gutural juntos. Um dedo entraria
nela, enquanto o outro brincaria com seu clitóris.
— Oh! — ela soltaria um gritinho, e taparia a boca.
— Já está quase lá? Mas eu mal comecei... — continuaria a
provocá-la.
Orgulhosa que é, Sam tentaria se recompor, mas eu enfiaria um
segundo dedo e acabaria com sua tentativa de ser forte, de me resistir.
Quando a sentisse molhada o suficiente, e acostumada à minha
intrusão, passaria a comê-la com os dedos.
— Oh! — ela gritaria alto, encharcando meus dedos, apertando-os
dentro dela.
Abro os olhos, e gozo na minha mão, passando longos segundos
com a respiração entrecortada e o coração acelerado.
Eu virei um adolescente cheio de hormônios e com pouca
racionalidade. É a este ponto que eu cheguei. Estou tão louco pela Sam que
virei um stalker sem qualquer pudor, e um adolescente sem qualquer
neurônio.
Olho pela janela e noto que ela apagou a luz do quarto dela.
Provavelmente, já foi dormir.
Vou até o banheiro, me limpo e me encaro durante um longo tempo
no espelho, já imaginando qual será o conjunto de renda que ela vai usar
amanhã.
Merda. O que eu estou fazendo?
35
Sam

Sinto o corpo inteiro ficando quente enquanto eu passo hidratante.


A conjunto de renda azul marinho me pinica e me deixa com ainda
mais vergonha, mas Zoey insistiu que eram peças essenciais para nosso
plano de sedução.
Quando eu perguntei por que não poderia seduzi-lo com meu
pijama de unicórnios, que é bem mais confortável, ela me deu um safanão
na cabeça com sua bolsa de grife e mandou a vendedora da loja de lingerie
trazer vários conjuntos do meu tamanho.
Na verdade, suas palavras exatas para a vendedora foram:
“conjuntos de renda que deixem minha amiga no limite entre mulher
piranha e femme fatale”.
O problema? Não sou nenhuma das duas coisas. Antes disso, eu
nunca sequer tive lingerie de renda. Foi assim que este plano louco de
sedução começou, duas semanas atrás. Até agora, o resultado foi Z.E.R.O.
Dax não fez nada.
Nadica de nada. Nenhuma reação dele. Nenhuma ligação, nenhuma
explicação por que ele ainda está no Reino Unido.
Dax sequer se dá ao trabalho de me procurar na livraria, sendo que
ele está literalmente morando ao meu lado. De novo.
Se eu não tivesse visto o carro de Dax chegando esta noite, se não
tivesse observado uma sombra se movendo em sua suíte, juraria que estou
seduzindo apenas o bulldog do Sr. Jones, que sempre parece ficar na
varanda quando estou passando hidratante.
Às vezes ele uiva, o que eu não sei se é bom ou mau sinal.
Depois de passar longos minutos me banhando com hidratante com
as mãos trêmulas e a testa suada de nervoso, meu telefone toca.
Fecho as cortinas, desligo a luz, deixando apenas meu abajur
lateral aceso, que tem uma luz bem fraquinha, e, enquanto atendo a
ligação, troco a lingerie piranha/mulher fatal por pijamas de girafas.
— E aí, amiga?
Todos os dias, Zoey me liga no mesmo horário, para saber se Dax
já deu as caras depois do meu show noturno.
— Esse seu plano não está funcionando, Zoey.
— Dax está em casa?
— Sim.
Pelo menos, acho que está.
— Com todas as luzes apagadas? — ela insiste, apesar de não
saber o motivo dessas perguntas.
Se está com as luzes apagadas, quer dizer que está dormindo e
ignorando solenemente o meu show privativo! Nem acredito que até um
cachorro se importa mais com meu show do que o Dax.
— Sim — respondo de novo, começando a ficar irritada.
— Ele está na suíte dele?
Olho discretamente pela cortina e vejo um vulto movendo-se na
suíte do Dax, antes da cortina dele também ser fechada.
— Está.
— Então está funcionando — ela diz com animação.
— Como pode saber disso, Zoey?
— Às vezes eu esqueço como seu coração inocente acha que o
mundo é feito de unicórnios e arco-íris. — Ei! Não sou tão ridícula assim!
Apesar de que, meu pijama favorito é de unicórnio. Acho que vou jogá-lo
fora depois dessa. — Vá por mim, Sam: Dax está assistindo. E não quer
que você saiba que ele está assistindo.
— Mas ele ainda não fez nada! — rebato, porque não faz qualquer
sentido a conclusão dela. — Duas semanas e nada!
— Dax é meio devagar, devo admitir, mas não é pior do que seu
irmão — seu tom muda de animado para triste.
Assim como Zoey criou um plano para fazer Dax vir correndo atrás
de mim – o que ainda não ocorreu, óbvio – ela também pensou um plano
para, segundo ela mesma disse, dar uma última chance para o imbecil do
meu irmão perceber o que ele está perdendo.
Infelizmente, até onde sei, o plano dela também está sendo um
fracasso.
— Como assim, Zoe?
— Zack já teria se mudado para a lua se eu oferecesse esses shows
noturnos.
— Que nada.
— Teria sim. Porque ele prefere não ver do que admitir que... Ah,
deixa pra lá.
— Como anda o seu plano? — questiono, porque algo deve ter
acontecido entre ontem e hoje para ela estar falando desse jeito.
Zoey elaborou a ideia do show diário para mim, mas, no caso dela,
sua ideia foi bem diferente. Ela está sendo gentil com meu irmão.
E com a Miniatura da Cruela.
Sim, Zoey está tão desesperada para acabar logo com essa
palhaçada do Zack que ela está se obrigando a ser simpática com a Cruela.
Claro que eu tenho que ouvi-la reclamando da mulher toda noite
quando chega do escritório.
— Meu plano anda a passos de tartaruga — ela resmunga.
— Pelo menos o seu plano está andando, amiga.
O meu plano está afundando, que nem o Titanic ao encontrar seu
amigo iceberg.
— Sim, mas seu irmão é tão lerdo que é capaz de estarmos
aposentadas quando ele finalmente decidir fazer algo a respeito.
— Estou com a mesma sensação a respeito do Dax — comento, me
sentindo desmotivada.
— Acho que precisamos passar para a Fase 2 do plano.
Ai, meu senhor. A Fase 2, não. A Fase 2 é bem... Agressiva. Na fase
2 do plano, Zoey quer que a gente demonstre para Dax e Zack, com
bastante entusiasmo, que nós já os superamos.
Tipo, sair com outros caras, cair na noitada, postar tudo nas redes
sociais. Sabe? Exatamente o tipo de coisa que não tem NADA A VER
COMIGO!
— Não sei, Zoe.
Mentira. Eu sei, sim: sei que detesto a Fase 2.
— Amiga, vá por mim: vai funcionar.
— Eu não sei dançar, tenho dois pés esquerdos, não bebo e... Ah, é!
Tem aquele pequeno detalhe que EU DETESTO BOATES!
— Todos têm defeitos, amiga, tenho certeza de que Dax não vai se
importar que você é tão aventureira quanto um monge.
Zoey, sempre uma fofa, sempre me confortando quando eu mais
preciso e me deixando com o ego do tamanho de um amendoim.
Sério, às vezes tenho vontade de enviá-la a Marte no foguete do
Elon Musk.
— Essa é uma péssima ideia, Zoey.
— É uma ótima ideia — claro que ela vai ignorar a minha opinião.
— Na realidade, acho que precisamos colocá-la em prática amanhã
mesmo.
— Amanhã é quarta-feira.
Zoey sabe muito bem que não saio durante a semana, por causa do
trabalho! No máximo, aceito tomar uns drinques em casa, ou assistir
algum filme no Netflix, como fiz com Dax...
Foca, Sam!
— Ah, você e suas manias de freira — Zoey reclama, como sempre
faz quando quer festejar alguma coisa no meio da semana. — Pessoas vão
a boates às quartas-feiras, Samantha Rose Carmichael!
— Eu não vou! Só no sábado!
— Que saco, Samantha! Eu...
Felizmente, o telefone vibra com outra ligação. Dou uma olhada no
visor e verifico que é o Zack. Obrigada, irmão, por me ajudar a me livrar
de Zoey!
— Meu irmão está ligando — eu a interrompo. — Preciso falar
com ele.
— Não ouse desligar na minha cara, sua...
Desligo.
— Oi, Zack.
— Que bom ouvir sua voz, Rose! — Droga! Por que ele insiste em
me chamar de Rose? Como ele acabou de me salvar de uma conversa nada
confortável com a Zoey, decido lhe dar um desconto. — Estou com
saudade de você.
Hum... Estranho. Não é que meu irmão nunca ligue. Ele até liga.
Mas, geralmente, ou é para me pedir um favor ou... Bem, é sempre para
pedir algum favor.
Acho que ele nunca me disse que estava com saudades de mim,
nem na época que morou nos Estados Unidos.
Ah, não! Será que o Zack está com alguma doença terminal?
— Você está doente, Zack?
— Não. Por que eu estaria?
— Você não me liga para dizer que está com saudades de mim —
eu o acuso.
Se ele não está doente, ele está aprontando alguma. Provavelmente,
quer um favor gigantesco desta vez.
— Claro que ligo! — ele insiste, parecendo ofendido.
— Qual foi a última vez que me ligou para dizer que estava com
saudades, Zack?
— Hã... Não importa. Também te liguei para te convidar para
jantar aqui em casa.
— Como é que é?
Sei que nunca disse isso em voz alta para o Zack, e que não
conversamos sobre o namoro dele, mas ele sabe que eu não gosto da
Gisele!
Assim como mamãe e papai, eu a tolero por causa dele. Por esse
motivo, eu apenas lido com ela quando é absolutamente necessário.
E jantar na casa do meu irmão porque ele está – supostamente –
com saudades não se qualifica como “absolutamente necessário”.
— Percebei que você não janta aqui há muito tempo, Rose.
Claro. Desde que ele começou a namorar com a chata da Gisele.
Quero dizer “não”, quero mandá-lo ir pastar, quero dizer a ele que
teria o maior prazer de passar muito mais tempo na casa dele se Zack
estivesse namorando com alguém de quem eu gosto, como a Zoey.
Na verdade, seria perfeito se eu dissesse isso.
Porém, algo em seu tom me diz para eu não provocá-lo. Talvez ele
esteja doente mesmo, apenas não quer me contar pelo telefone.
Por causa disso, decido que a minha melhor estratégia será me
comportar e engolir os mil sapos que a Gisele jogar na minha direção.
— Quando seria o jantar?
— Amanhã.
Meu senhor das livreiras responsáveis, por que todo mundo está
querendo me tirar do sério hoje?
— Mas amanhã é quarta-feira! — grito ao telefone.
Todo mundo sabe da minha regra sobre sair durante a maldita
semana!
Uma coisa é fazer uma exceção (ou algumas) e sair durante a
semana para passar a noite em claro com o cara por quem fui apaixonada a
minha vida inteira, mas posso jantar com meu irmão no final de semana,
quando não preciso acordar cedo para estar na livraria.
Detesto trabalhar cansada ou, pior: de ressaca.
— Eu vou garantir que esteja em casa bem cedo, juro — ele
insiste, novamente, com aquele tom de desespero que atinge meu coração,
porque é raro meu irmão ficar desesperado com alguma coisa. — E Gisele
nem estará aqui, ela volta apenas na quinta de uma viagem de negócios.
É melhor do que nada, devo admitir. Ter que sair à noite durante a
semana e precisar lidar com Gisele seria demais. Ainda assim...
— Eu...
— E não vou permitir que beba mais do que uma taça de vinho!
— Bem... Acho que então...
— Obrigado, Rose! Te aguardo amanhã!
Isso só pode ser carma da Zoey por ter desligado o telefone na cara
dela.
36
Dax

Não esperava um convite para jantar na casa de Zack hoje.


Em geral, quando quer jantar comigo, é porque ele deseja fugir de
Gisele, então sempre marca em algum restaurante bem longe de seu
apartamento.
Quando eu chego, nem tenho a oportunidade de tocar a campainha,
porque Zack me aguarda do lado de fora do apartamento.
Ele me puxa para dentro, e ficamos no hall de entrada, que é
separado da sala de estar.
Noto que ele está pálido, com olhos assustados e uma camada de
suor cobrindo seu rosto. Será que Gisele finalmente cansou-se de esperar
pelo pedido de casamento e o ameaçou de morte?
— Preciso que me ajude — ele exige em desespero.
Só falta ele querer que eu invente alguma desculpa para a Gisele
por que ele não pode se casar. Não gosto nem um pouco da escolhida dele,
mas isso não quer dizer que eu mentiria, nem mesmo pelo Zack.
Já é ruim o suficiente eu estar mentindo para ele.
Zack começa a tremer e me dá um abraço. Hum... Eu conheço o
Zack desde sempre, e nunca o vi assim. Ah, merda. Será que ele está com
uma doença terminal?
— Que foi, cara? — eu pergunto, abraçando-o de volta.
O que quer que seja, é muito importante para ele.
— Eu achei que Gisele voltaria apenas amanhã de viagem, mas ela
acabou antecipando o voo — ele sussurra, como se estivesse me contando
que o mundo está prestes a acabar. — Porra, às vezes acho que ela faz
essas coisas só para me irritar.
Sério que ele está assim só por causa disso? Eu me afasto dele,
minha empatia desaparecendo, e digo, sem conseguir tirar o sarcasmo do
tom:
— Em geral, namorados curtem quando namoradas fazem esse tipo
de surpresa — eu o provoco, sabendo que ele detesta quando dou indiretas
de que ele não suporta a mulher com quem vive.
Se eu vivesse com Gisele, provavelmente já estaria em estágio de
depressão profunda.
Mas Zack está com ela porque quer. Não sei exatamente por que
ele quer estar com ela, só sei que ninguém o obrigou a nada.
— Cala a boca, cara — ele passa a mão pelo rosto, parecendo
verdadeiramente preocupado. — Isso é sério. Eu preparei tudo achando
que ela não viria.
— Relaxa, Zack. Podemos dizer que vamos jantar em outro lugar.
Ele balança a cabeça furiosamente.
O que diabos está acontecendo? O Zack é estourado, irritadiço, e
até mesmo cabeça dura. Mas desesperado? Inseguro? Essas são
características que definitivamente não pertencem a ele.
Se eu não o conhecesse tão bem, diria que ele está... Apaixonado.
Não, não pode ser. Ele não pode estar apaixonado de verdade pela Gisele.
Nem se ela tiver dado uma poção do amor para ele.
— Não podemos ir para outro lugar, porque a Gisele já viu a mesa
posta — ele começa a andar de um lado para o outro. Observação: ainda
estamos no foyer do apartamento. — Vai ficar desconfiada se sairmos
agora.
— Entendi.
Não entendi absolutamente nada.
Por que a Gisele ficaria desconfiada se ele saísse para jantar com
seu melhor amigo? É o tipo de coisa que fazemos quando eu estou em
Londres.
— Quero que distraia Gisele esta noite.
— Como é que é?
— Rose já está chegando, e tenho que conversar com ela sobre um
tema que não quero que a Gisele saiba.
Meu coração acelera. Um bolo se forma na minha garganta. Eu suo
que nem um porco. Sim, estou me transformando, cada vez mais, em um
maldito adolescente descontrolado.
Como vou encarar a Sam depois de passar as últimas duas semanas
admirando-a secretamente, como um stalker profissional? Se Zack
mencionar que estou em Notting Hill, ela vai desconfiar.
— Zack, esta não é uma boa ideia.
— A Gisele te adora. Rose detesta a Gisele — claro que a detesta,
Sam tem bom gosto. — Eu preciso falar com Rose. Ou seja, faz todo o
sentido você distrair a Gisele enquanto eu converso com a minha irmã.
Não faz qualquer sentido.
— O que faz sentido é que você está falando como um sociopata.
— Por favor, Dax — ele implora.
Zack Carmichael está implorando? Não, este não pode ser meu
melhor amigo. Zack não implora, não pede ajuda, não reclama de dor. Por
um motivo muito simples: ele é um poço de orgulho.
Uma vez, quando tínhamos dez anos, ele caiu de uma árvore e
torceu o braço.
Porém, orgulhoso como sempre, passou duas semanas morrendo de
dor sem reclamar, porque era orgulhoso demais para admitir para a Sra.
Carmichael que ele a havia desobedecido e tinha se machucado, como ela
previu.
Meu ponto é: Zack é o tipo de cara que prefere cortar o próprio
mindinho do que dar o braço a torcer. Às vezes, isso faz dele um babaca.
Mas, pelo menos, é o meu melhor amigo babaca.
Não tenho ideia de quem seja esse cara que diz coisas como “por
favor”. Ele está me assustando, mas acho que posso gostar desse novo
Zack.
Considero o pedido que ele acabou de fazer, e me dou conta de que
Zack está fazendo tempestade em copo d’água (o que tampouco é típico
dele).
— Por que não pode conversar com a sua irmã por telefone? —
sugiro.
— Não é o tipo de assunto que quero discutir no telefone.
Ah, não. Será que ele desconfia? Que Sam e eu estamos
envolvidos? Não, se ele soubesse não teria me convidado para jantar, a não
ser que quisesse me matar.
Talvez, ele tenha descoberto que ela se envolveu com alguém,
apenas não sabe quem é. Ainda. Engulo em seco, tentando juntar coragem
para fazer a pergunta presa na minha garganta.
— Está acontecendo alguma coisa, Zack?
A campainha toca, fazendo Zack pular e meu coração acelerar de
novo.
— Depois eu te explico — ele diz rapidamente e vai até a porta.
Eu aproveito os poucos segundos que tenho para me preparar e vou
até a sala de estar, que é um amplo espaço com sala de jantar também.
Conforme Zack disse, ele já deixou tudo pronto. Sem conseguir me
acalmar o suficiente para me sentar à mesa ou no sofá, só me resta ficar
em pé ao lado da porta, escutando à conversa dos irmãos Carmichael no
foyer.
— Obrigado por vir, Rose — ouço a voz de Zack. — Já estão nos
esperando.
— Quem está nos esperando? — ela questiona, desconfiada —
Achei que seríamos só nós dois.
Daí, tudo acontece de uma vez: os irmãos entram na sala de estar
ao mesmo tempo que Gisele deixa a área dos quartos.
Pelo menos, a expressão de nojo de Sam é dirigida a Gisele, não a
mim. Ainda. Não tenho ideia de como ela vai reagir quando eu for falar
com ela.
Será que consigo ficar escondido neste cantinho da sala o resto da
noite?
Que droga, Caden! Qual é o seu problema? Seja um homem e vá
falar com Sam!
— Oi, querida! — Gisele diz com seu tom falso. —Quis fazer uma
surpresa para o Zack, mas acabei te pegando de surpresa também!
Gisele a agarra e a abraça com força, e a cara de Sam quase me faz
soltar uma gargalhada.
— Ah. A Gisele já voltou de viagem? — apesar da mulher em
questão estar bem na frente dela, Sam pergunta ao irmão, com um tom de
ameaça que apenas quem a conhece há muito tempo entende.
— P-pois é — Zack responde, com a voz trêmula. — Surpresa!
Aí, o olhar de Sam se dirige diretamente para a minha direção.
— E Dax também está aqui.
O rosto dela fica vermelho, as pupilas dilatando até deixar seus
olhos quase negros.
Pelo menos, o nojo desapareceu da sua expressão. Infelizmente,
sua reação me faz lembrar do show que assisti na noite passada. Digo, dos
shows que venho assistindo todas as noites nas últimas semanas.
Fico imediatamente duro. Droga. Uso o casaco para cobrir a parte
inchada das calças, e vou cumprimenta-la com um beijo no rosto.
Claro que demoro uns segundos a mais que o normal, aproveitando
a proximidade para inspirar seu perfume, seu cheiro feminino que é capaz
de me fazer dissolver por dentro.
Como eu senti saudade do cheiro dela; como desejei sentir sua pele
de seda sob meus lábios de novo.
Quando me afasto, a contragosto, da sua bochecha, noto que a
respiração dela está acelerada. Devo admitir que é bom demais saber que
nossa proximidade também a afeta.
— Oi, Sam — digo baixinho, e um dos cantos de sua boca se curva
levemente para cima.
— Desde quando a chama de Sam? — Zack quebra o encanto, e é
uma daquelas vezes que tenho vontade de quebrar a cara dele.
— Parece que nosso querido Dax aprendeu a escutar Samantha e
chamá-la pelo apelido de que tanto gosta — Gisele comenta em um tom
venenoso, observando nós dois com desconfiança.
— Ah — Zack diz.
— Só não entendo por que gosta tanto desse apelido, Samantha —
Gisele continua, e, pela sua expressão maldosa, sei que vai dizer algo
muito venenoso.
Os ombros de Sam ficam tensos, e sei que ela pressente o mesmo.
Infelizmente, Zack parece não perceber o que é tão óbvio para sua
irmã e seu melhor amigo: sua namorada se encaixaria perfeitamente em
um papel de vilã de desenho animado.
— O que quer dizer, Gisele? — Zack pergunta inocentemente.
— Sam é um apelido masculino, e ela já se veste como um garoto
— minha mão se fecha em um punho, e preciso usar todo meu
autocontrole para não quebrar o nariz da vadia. Sorte dela que eu jamais
bateria em uma mulher. — Não tem medo que alguém a confunda com um
garoto, Samantha?
Os olhos de Sam baixam, como se o comentário a machucasse. Ah,
não. Nem morto deixarei a vaca da Gisele magoar a minha Sam. Digo,
magoar a Sam.
— Sam é uma das mulheres mais lindas que conheço — comento, e
logo noto que a expressão de vitória da Gisele se torna uma de pura inveja.
— Mesmo um cego perceberia isso a quilômetros de distância.
Sam me olha com surpresa, e morde o lábio inferior. Como eu
queria morder esse lábio suculento dela.
— Uma das mais bonitas? E quem é a mais bonita? — Gisele
comenta, um sorriso maldoso contornando sua boca pintada de vermelho
sangue, como se quisesse que eu dissesse que ela era a mulher mais bonita
que conheço.
Mas nem se ela fosse a última mulher do planeta e a humanidade
dependesse dela para continuar existindo.
— Eu disse uma das mais bonitas? Quis dizer que Sam é a mulher
mais linda que conheço.
— Eu também acho — Zack abraça a irmã de lado, e o bolo na
minha garganta praticamente dobra de tamanho ao ver um pequeno sorriso
curvar os lábios de Sam.
Lábios esses que eu morreria para beijar agora.
O sorriso de Gisele é substituído por uma carranca. Ela cruza os
braços e questiona, com veneno no tom:
— Achei que diria que era a mulher mais bonita que conhece é
aquela com quem anda saindo, Dax.
— O que disse? — pergunto automaticamente, mas logo me
arrependo: era exatamente isso que essa mocreia desejava desde o início.
Toda a cor do rosto de Sam desaparece instantaneamente.
— Anne comentou, na despedida de solteira, que você está bem
interessado em alguém — Gisele diz sorridente, passando a língua
venenosa pelos lábios.
— Ah, ela disse?
Preciso me lembrar de matar a minha irmã e depois avisá-la para
ser mais discreta sobre meus assuntos particulares.
— Sim. Achei, inclusive, que você tinha ficado na Inglaterra para
continuar se encontrando com ela.
— Não, amor — Zack responde em meu lugar. Que bom, porque
acho que não conseguiria ser educado se eu falasse com Gisele agora. —
Dax está avaliando um potencial investimento de uma empresa londrina.
Não é isso, Dax?
— Sim. Isso mesmo.
Antes que vocês me julguem: não é uma mentira.
Eu estou avaliando um potencial investimento. E, de fato, a
empresa em que pretendo investir é baseada em Londres. Zack não disse
que eu estava aqui por isso, não é mesmo? Então, tecnicamente, eu não
menti.
Claro que, se ele perguntasse por que eu ainda estou aqui, então eu
teria que mentir descaradamente. Porque a razão para eu não conseguir
deixar Londres está bem do meu lado, e ela é proibida.
— Engraçado — a minha razão de continuar no Reino Unido
comenta sarcasticamente.
— O que é engraçado, Sam? — Zack pergunta.
— Quando você e Dax trabalhavam juntos, eu me lembro como
você dizia que não era necessário passar toda a fase de avaliação no local
onde está a empresa que precisa do investimento.
Ah, ferrou. Eu estava preparado para eventuais ataques da Gisele,
mas não da Sam.
Devo admitir, entretanto, que eu mereço essa. Depois de todas as
besteiras que eu lhe disse, deveria ter esperado essa reação dela.
— É verdade — Zack concorda com Sam. — Você ainda não
conseguiu todas as informações de que precisa, Dax?
Considero mentir. Mas aí eu decido que dá para dizer a verdade
sem revelar... Toda a verdade. Por isso, respondo ao irmão, mas sem tirar
os olhos da irmã.
— Já consegui todas as informações, Zack. Mas tinha... Assuntos
inacabados aqui.
37
Sam

— Já consegui todas as informações, Zack — ele responde ao meu


irmão, porém, seus olhos estão focados em mim. — Mas tinha... Assuntos
inacabados aqui.
Este homem está querendo me dar um aneurisma cerebral ou o
quê?
Primeiro, ele aparece aqui sem avisar. Se bem que, pela cara que
fez ao me ver, é capaz do Zack ter esquecido de avisá-lo também que eu
vinha.
Depois, a babaca da Cruela fala mal do meu jeito de vestir, eu me
sinto uma droga, porque, comparada às roupas de grife que ela está
vestindo, o seu rosto perfeitamente maquiado, e o cabelo elegantemente
feito, eu pareço mesmo um moleque indo jogar vídeo game.
Eu achava que ia jantar a sós com meu irmão, e nem pensei em me
arrumar. Vim com uma camiseta velha e jeans surrado mesmo.
Se a Zoey sonha que o Dax me viu assim, depois de planejar com
tanto cuidado como ele me observaria com aqueles conjuntos sensuais e
rendados, ela me mataria.
Aí Dax me atinge em cheio no coração, e me confunde mais do que
os finais dos filmes de Christopher Nolan (o que aconteceu com Leo Di
Caprio em A Origem, afinal de contas?). Dax me defende da bruxa, e diz
que eu sou a mulher mais linda que ele conhece.
Será que eu deixei a minha vida e entrei em um mundo paralelo
quando cheguei ao apartamento do Zack?
Só assim para explicar como um homem que alegou que a nossa
relação era impossível semanas atrás praticamente faria uma declaração
bem na frente do meu irmão – e seu melhor amigo – agora.
Para finalizar, ele diz que está no Reino Unido por conta de
assuntos inacabados. E me encara com seus olhos de meia-noite, com uma
cara de que está morrendo de fome, e eu sou o jantar.
Estou com a boca seca. Preciso de álcool. Agora. Caminho até a
mesa de jantar, me sirvo do vinho caro de Zack que ele já deixou no
decantador, e viro a taça em um gole.
— Opa — Zack junta as mãos. — Alguém está animada. Não acha
melhor comermos antes, Rose?
— Já disse que é Sam. — Respondo automaticamente ao
comentário ridículo do meu irmão.
Se eu quiser virar a porcaria do vinho direto do decantador, assim o
farei. Seria interessante ver a cara de nojinho e choque da Cruela.
Provavelmente, estragaria o Botox dela.
Sirvo-me de mais vinho e viro outra taça. Sinto o sangue voltar ao
meu rosto, e a coragem surge como mágica. Viro-me para Dax, que me
encara com tensão nos ombros.
Por que ele precisava ser tão lindo? Não poderia ter ficado com
nem um pouquinho de barriga? Não poderia ter perdido seu cabelo sedoso?
Não poderia ter se tornado um babaca machista que todos no colégio
acharam que ele seria quando virasse adulto?
Engulo todo o meu desejo de correr até seus braços e beijá-lo
enlouquecidamente.
— Vai ficar até quando? — questiono, meu tom mais rouco do que
eu desejava.
Ei, pelo menos eu não gaguejei.
Vai, Sam!
Arrasa, garota!
— Ficarei até o Natal — ele informa.
— Uau. Que bom, cara! — Zack sorri e lhe dá uns tapinhas no
ombro.
Pois eu ainda não estou pronta para comemorar. Nem para deixá-lo
em paz.
— Por que vai ficar tanto tempo, Dax?
— Nossa, Samantha, parece até que você não quer Dax por perto —
Gisele comenta com sua dose normal de veneno. — Sua mãe não te
ensinou boas maneiras? Não é assim que se trata um convidado.
Os lábios de Dax ficam finos, meu irmão revira os olhos, e eu viro
mais uma taça de vinho.
— Gisele, isso não foi muito legal da sua parte — Zack finalmente
demonstra que ele não é completamente alheio às babaquices da idiota da
namorada dele.
— O que quer dizer, querido? — ela questiona com seu falso ar de
doçura.
Desta vez, sou eu que respondo:
— Meu irmão quis dizer que você não tem o direito de falar mal
dos meus pais ou da criação que eles nos deram, não se quiser que eles
virem seus sogros algum dia.
— E ainda tem a Rose — Zack me defende. — Não é legal falar
desse jeito da minha irmã.
— Não se preocupe comigo, Zack. Mesmo que Gisele me recebesse
com pétalas de rosas espalhadas pelo chão e canções de Sinatra sendo
tocadas por uma orquestra sinfônica, eu ainda a acharia uma vaca falsa que
nunca vai merecer o apoio da nossa família.
Eu. Disse. Isso?
Eu disse isso!
Time Sam! Uhuuuuuuuu!
Gente, mal posso esperar para contar para a Zoey! Ela vai morrer
quando souber que eu chamei a Cruela de vaca falsa e ela nem estava aqui
para filmar.
— Rose! — meu irmão me olha como se não me reconhecesse.
Pois é, mano. Eu não tenho sangue de barata. Acabou a paciência
com a Miniatura da Cruela. Se Zack quer continuar fingindo que ela é uma
mulher legal, é problema dele.
Cansei de fingimento na minha vida. Falando em fingimentos...
— Com licença, acho que estou com dor de cabeça — Gisele
comenta. Fingindo, claro.
Dois minutos atrás, ela estava super bem, tentando me humilhar e
colocar o Dax contra a parede. É engraçado como cobras se escondem em
seus buracos quando percebem que há águias por perto, não?
Cansei de ser a presa. Hoje, serei a predadora.
Gisele sai teatralmente, como se fosse uma prisioneira de guerra se
preparando para ser levada para o campo de concentração.
— Por que você a tratou assim? — Zack reclama.
— Por que você namora essa vaca falsa? — eu replico, sentindo-
me imbatível.
Como eu amo chamá-la de Vaca Falsa.
Acho que esse será o novo apelido dela. Não, não. Eu gosto de
vacas. E detesto Gisele. Melhor deixar Cruela mesmo.
— Por que estamos brigando? — Dax se intromete.
Sabe de uma coisa? Cansei do Dax também. Dane-se o Dax e sua
indecisão. Ou ele me quer, ou não. Ou ele conta tudo para o Zack e fica ao
meu lado, ou finge que nada aconteceu e se mantém BEM LONGE de
mim.
— Por que vai ficar aqui até o Natal? — Pergunto por cima.
Preciso saber. Mereço saber. Se ele realmente ficou em Londres por
minha causa. Ou se ele realmente está aqui por negócios, e me ver todas as
noites de calcinha e sutiã do conforto de seu quarto é apenas um bônus.
— Eu... Eu preciso....
Dax está sem palavras?
— Vamos nos sentar? — Zack oferece.
— Só quando Dax responder à pergunta — cruzo os braços e o
encaro.
Dax fica pálido. Meu irmão fica desconfiado.
— Por que é tão urgente? — Zack quer saber.
— Porque estou curiosa, Zack. Nunca ouvi falar do Dax ficar tanto
tempo na Inglaterra desde que se mudou para os Estados Unidos.
Eu e Dax nos encaramos por longos momentos. Encho mais uma
taça de vinho; Dax a toma da minha mão e engole todo o líquido.
— Eu conheci alguém aqui — ele finalmente responde.
Claro que meu coração acelera tanto que parece prestes a explodir.
Não era isso que eu queria? Que ele dissesse a verdade?
Agora, que ele finalmente admitiu a verdadeira razão para
continuar em Londres, parece que toda a coragem que eu senti com o
vinho se esvaiu do meu corpo.
Por que eu fico travada exatamente nos momentos mais
importantes? Sério, parece que minha língua inchou e está impedindo que
eu pronuncie palavras.
Diga alguma coisa, Sam!
— Ah, então Gisele estava certa? — é meu irmão quem fala, no
fim das contas.
Porque eu voltei a ser uma garotinha tímida e atrapalhada,
aparentemente.
— Mais ou menos. Nós terminamos — os olhos dele não deixam
os meus.
Na verdade, foi você quem terminou, Dax. Mas eu deixo esta
passar, até porque minha garganta continua paralisada.
— Sinto muito, cara — meu irmão comenta. — Sei que você
estava levando ela a sério.
Ah, ele estava? Que interessante...
— Pois é... Mas não deu para ficarmos juntos. Só que... Eu estou
tendo sérias dificuldades em desapegar.
Sei o que tenho que perguntar, porém, preciso de mais uma dose de
coragem. Ainda não estou bêbada o suficiente. Mais um gole de vinho, e aí
vai:
— Acha que ainda tem chance de vocês voltarem? — finalmente
consigo voltar a falar.
— Infelizmente, não.
Soco no estômago.
Então, depois de todos os shows noturnos, depois de taças de vinho
para ganhar coragem para perguntar as questões que estavam queimando a
minha garganta há semanas, eu acabo levando outro pé na bunda.
Desta vez, entretanto, o fora do Dax não me deixa triste. Não, o que
sinto, neste exato momento, é fúria.
Mais um gole de vinho, mais coragem.
— Então você deveria deixá-la partir para outra o quanto antes —
digo secamente.
— Eu deveria — a dor nos seus olhos me daria pena. Se eu não
estivesse tão furiosa. Dane-se Dax e essa carinha de cachorro perdido. —
Estou tentando, juro. Na verdade, acho que a melhor coisa para ela seria
partir para outra.
— Vamos sentar? — Zack convida de novo.
— Na verdade, eu passei aqui para dizer que tenho outro
compromisso, Zack — informo ao meu irmão.
A Fase 2 do Plano Vingança dos Idiotas que não nos Valorizam vai
começar agora. E vou colocá-lo em prática por mim e pela Zoey.
Mal posso esperar para ela descobrir o que fiz. Ela ficará tão
orgulhosa!
Bebo mais um gole de vinho, e sei que terei que aguentar uma
ressaca daquelas amanhã. Pelo menos, valeu a pena.
— Outro compromisso? — Zack fica com uma carranca. — Você
me disse que nem queria vir jantar hoje para chegar cedo em casa, Rose.
Claro que eu sabia que meu irmão diria isso. Claro que eu previa
que os dois ficariam loucos de curiosidade para saber que compromisso é
esse.
— Pois é, mas isso foi antes da Zoey me ligar.
— Z-Zoey? — Zack fica pálido.
— Sim, ela decidiu desistir de vez de um cara de quem ela estava a
fim, e queria começar a procurar um substituto ainda hoje.
— S-substituto? — meu irmão está quase desmaiando.
Oh, será que eu tenho pena?
NÃO! Ele merece.
— Na verdade, ela já até marcou com uns caras da academia que
viviam nos convidando para sair.
— E por que você vai junto? — Dax pergunta, mal contendo o
ciúme — Se eles são amigos dela, Zoey deveria encontrá-los, você não
precisa ir.
Dax está praticamente cuspindo fogo. Zoey tinha razão: a vingança
é doce, com toques de pimenta e muita satisfação.
— É que a Zoey mostrou minha foto e um deles ficou bem
interessado. Para falar a verdade, ela também me mostrou a foto dele e
gostei do que vi. Alguém da minha idade, sabe?
Sorrio animadamente, fingindo estar muito interessada nesse cara
que não existe. Deus me livre sair com homem que eu nem conheço. Mas
eles não precisam saber disso.
Os dois me encaram boquiabertos, como se estivessem sofrendo
um derrame.
— Hã... — Dax resmunga.
— Eu... — Zack balbucia.
— Realmente preciso ir e me trocar. Espero que curtam o jantar! —
saio antes que eles consigam responder.
38
Dax

Desconfiei que uma bomba explodiria no instante em que Sam


comentou que tinha outro compromisso. Já passava das oito da noite, e ela
não costumava sair durante a semana.
Digo, Sam não costuma sair durante a semana, a não ser comigo.
Sinto uma pontada de ciúme quando imagino se ela não marcou um
encontro com outro cara.
Sei que acabei de dizer que ela deveria partir para outra, mas não
estava falando que seria neste exato momento! Ainda não estou pronto
para vê-la com outro.
Para falar a verdade, não sei se algum dia estarei.
Quando ela diz que o compromisso é com Zoey, sinto como se
toneladas tivessem sido arrancadas dos meus ombros. Pelo menos, ela não
vai sair com outro homem. Isso é o que eu acredito, até Sam anunciar:
— Na verdade, ela já até marcou com uns caras da academia que
viviam convidando para sair.
Quero morrer. Não, quero é matar os desgraçados da academia.
Respiro fundo, tentando controlar o ciúme. Não consigo me segurar.
— E por que você vai junto? — pergunto a Sam, apesar de não ter
o direito de fazê-lo. — Se eles são amigos dela, Zoey deveria encontrá-los,
você não precisa ir.
— Ela mostrou a minha foto e um deles ficou bem interessado —
Sam quer fazer o que, me dar um maldito ataque cardíaco? Claro que o
idiota ficou interessado. Quem não ficaria? — Para falar a verdade, ela
também me mostrou a foto dele e gostei do que vi. Alguém da minha
idade, sabe?
Eu mereci essa. Depois de chamá-la de garota, e esfregar na cara
dela que é a irmã caçula do meu melhor amigo, eu mereci ser chamado de
velho.
— Hã... — tenho mil coisas a dizer, mas nenhuma palavra se
forma.
— Eu... — Zack também parece ter perdido a habilidade de formar
frases.
— Realmente preciso ir e me trocar. Espero que curtam o jantar!
Ela sai sem olhar de novo para mim.
Mas que porra...
— O que acabou de acontecer aqui? — grito, me sentindo um
completo idiota por não tê-la interrompido.
Deveria ter assumido meu papel de hipócrita e tê-la amarrado à
cama para impedir que saísse. Dane-se a promessa que fiz ao Zack.
Só sobre meu maldito cadáver deixarei um idiota malhado colocar
as mãos na MINHA Sam!
— Zoey... — Zack balbucia, ainda paralisado.
— O que andou rolando entre vocês dois, Zack? — eu o sacudo.
Desta vez, ele vai ter que esclarecer. Não vou aceitar mais
desculpas. Sam disse que iria a uma boate para me atingir.
Mas ela fez questão de frisar que Zoey iria com ela para atingir o
Zack, isso não poderia ter sido mais óbvio.
Juntando isso ao fato de que ele quase cortou meus testículos
quando achou que Zoey estava a fim de mim, a única conclusão possível é
que algo está rolando entre eles.
— Nada... — ele está mentindo.
— Não adianta negar, Zack. Eu sei que tem alguma coisa
acontecendo.
Ele volta a dar voltas pela sala. Finalmente, depois do que parecem
horas, ele se senta à mesa.
— Tudo bem. Já está na hora de te contar.
E ele conta mesmo. Tudo. Muito mais do que eu poderia imaginar.
Assim como eu me apaixonei por Sam no instante que a vi adulta,
linda, inteligente, e sensual, ele também ficou encantado quando reviu
Zoey ao retornar dos Estados Unidos.
E, assim como eu, ele também guarda uma culpa gigante por ter
ficado com Zoey. A diferença é que, ao contrário de mim, ele jamais
prometeu a seu melhor amigo que nunca ficaria com ela.
— Mas ainda não entendo por que vocês não ficam juntos — digo,
quando ele para de falar.
— O pai dela é o melhor amigo do meu, Dax!
Sim, eu sei.
— E? — questiono.
— E ele é o meu mentor, o cara que está me preparando para
substituí-lo. Desde que meu coroa se aposentou, é o Sr. Tucker quem está
preparando, sozinho, eu e a filha dele para ficarmos à frente da companhia.
— E? — pergunto de novo, porque ainda não entendi que é o
problema.
Seria estranho se ele e Zoey assumissem um namoro, considerando
a diferença de idade e que foram criados como irmãos? Talvez.
Mas, a diferença de idade nem é tão grande, não chega a dez anos,
e acho que os Tucker até gostariam da ideia, já que Zoey nunca escondeu,
quando era criança, que queria crescer, ser uma empresária de sucesso e
ter filhos com o Zack.
Claro que ela também dizia que desejava que Zack ficasse em casa
para cuidar dos cinco filhos que teriam juntos, mas o importante é que não
chocaria os pais se a filha dissesse que ainda gosta do meu amigo.
E, considerando que Zoey se tornou uma mulher linda, bem-
sucedida e muito competente (apesar de sua língua estar mais afiada do
que nunca), não sei se seria tamanho choque para os Tucker imaginarem
que Zack acabou se apaixonando por ela também.
— Eu conheço o Sr. Tucker, Dax. Ele é extremamente protetor com
Zoey, e confia plenamente em mim com ela — Essa história está soando
parecida demais com a minha. — Ele se sentiria traído se descobrisse que
eu... Eu fiz uma merda enorme!
Finalmente, concordo com algo que ele disse. Apesar de que ele
não fez uma merda. Fez muitas. Começo a me questionar se estou
seguindo os passos dele.
Não, este não é o momento de pensar sobre minha história com
Sam. É hora de focar na história de Zack com Zoey.
— Por “merda”, você está se referindo ao fato de ter tirado a
virgindade dela ou ao fato de ter ficado com a mulher que ela mais odeia
no mundo apenas para afastá-la?
Mal consegui acreditar que Zack seria tão babaca ao ponto de ficar
com a Gisele apenas para afastar a Zoey de uma vez.
Ao menos, agora eu tenho certeza de que Gisele não deu uma poção
do amor para garantir a afeição do meu melhor amigo.
Ele não a detesta, mas deixou claro que nunca namorariam sério se
não fosse pela Zoey. Aparentemente, eles começaram a transar quando o
Zack estava para baixo por causa do namoro de Zoey com Henry.
Depois, percebendo que só a companhia de Gisele manteria Zoey a
uma distância segura dele, Zack começou a namorar com ela.
E eu achei que a minha relação com Sam estava complicada...
— Estou me referindo ao fato de ter traído o pai da Zoey, Dax. Um
homem que confia em mim completamente. E, de uma certa forma, traí a
Zoey também. Eu deveria ter me controlado melhor.
Eu sei que o comentário não foi dirigido a mim, mas é como se
tivesse sido. Eu também carrego esta culpa: a de ser o cara mais velho que
se aproveitou da virgem indefesa.
Mas eu jamais quis me aproveitar. Eu tirei a virgindade de Sam
porque acreditei verdadeiramente que era o que ela queria. E, para ser
sincero comigo mesmo, jamais desejei alguém com a força que a desejo.
Sei que o mesmo aconteceu com Zack. Eu e ele podemos ter um
histórico péssimo, podemos ter uma lista de conquistas mais comprida que
o tapete vermelho do Oscar, mas ele a ama de verdade.
Posso ver em seus olhos, posso ver em sua dor por não estar ao
lado dela. Por achar que é impossível ficar com ela.
— A gente não controla essas coisas — digo, tanto para ele quanto
para mim mesmo.
— Você disse que acha Rose a mulher mais bonita do mundo.
Por que ele está dizendo isso? Estávamos falando dele e da Zoey.
Bem, o que será, será.
— Sim, eu acho.
— E não é por isso que você ficaria com ela, não é? Para não
perder a minha amizade.
Merda.
Eu poderia contar tudo para ele. Poderia explicar como me
apaixonei pela Sam antes de descobrir que ela era Rose.
Não, seria hipócrita da minha parte. A verdade é que eu me
apaixonei pela Sam apesar de ela ser a Rose. Eu não quis saber quem ela
era de verdade para justificar meus sentimentos.
Porém, as palavras que deixam meus lábios são outras:
— Precisamos ir atrás delas. — Zack me olha como se eu tivesse
criado chifres e um rabo. — Apenas para verificarmos se elas estão bem,
Zack.
— E a Gisele? — ele finalmente se lembra que ainda tem uma
namorada.
Que ele não ama, por sinal. O que ele precisa fazer não poderia ser
mais óbvio.
— Você termina com ela depois — digo.
— Terminar? Com a Gisele?
Acho que Zack caiu algumas vezes do berço quando era bebê. Só
assim para explicar por que o óbvio parece não entrar na cabeça dele.
— Sim, Zack, você precisa terminar com a Gisele. Você claramente
está com alguém de quem não gosta. Se não vai ficar com a Zoey de
qualquer forma, não precisa ficar com Gisele.
— Como. É. Que. É????? — a voz fina da Gisele grita atrás de nós.
Ah, merda.
39
Sam

Assim que coloquei o pé para fora do apartamento de Zack,


comecei a tremer violentamente. O que aconteceu comigo? Nunca tinha
me comportado assim, dando respostas atravessadas para pessoas, fazendo
ciúmes em ninguém menos que Dax Caden!
— Você finalmente deixou de ser a Taylor Swift e virou Lady Gaga,
amiga!
Foi a resposta sem qualquer sentido de Zoey quando lhe contei
sobre o ocorrido pelo telefone. O motorista do Uber estava – literalmente
– boquiaberto com tudo que eu disse. Espero que ele não me dê uma nota
ruim por causa disso.
— Do que você está falando, Zoey?
— Você cresceu e virou a Lady Godiva, Sam! —Continuo sem
entender, mas, em geral, eu entendo por volta de metade das metáforas da
Zoey, então deixo para lá. — Vá logo se aprontar que vamos ao Lights.
— Mas eu estava blefando, Zoey!
— Não estava, não — ela responde, toda séria. — Você acabou de
iniciar a Fase 2 do nosso plano.
— Eu sei que quer fazer ciúmes neles, mas não basta eles acharem
que estamos em uma boate cercada por caras malhados?
— Homens são seres visuais, amiga — ela responde com
impaciência. — Eles precisam nos ver dançando com gatos gostosos se
esfregando na gente.
— E onde arranjaremos esses “gatos gostosos”?
Além disso, não quero estranhos se esfregando em mim. Podem me
chamar de freira, chata ou pudica: não acho que vale a pena deixar caras
que não conheço passarem a mão em mim. Nem mesmo pelo Dax.
Seco minhas mãos no jeans surrado. Além de nervosa, eu tenho
quase certeza que nenhuma das minhas roupas será considerada pela Zoey
como adequada para ir ao Lights.
Pronto. Mais um motivo para não irmos. Não tenho vestimentas
para esse tipo de boate. Não tenho vestimentas para boates, ponto.
— Pode deixar que arranjo os gatos gostosos, amiga. Você já fez a
parte principal.
Ela desliga. E eu praticamente piro no Uber. Onde diabos ela vai
arranjar gatos gostosos? E eu quero conhecer gatos gostosos? Se eu já fico
nervosa na presença de Dax, que conheço a VIDA INTEIRA, imagina
gatos que eu nunca vi?
Mal consigo olhar para o motorista quando desço do carro, entro
em casa sem olhar para os lados, e corro até meu quarto.
Esvazio o armário e basicamente piro de novo quando me certifico
que, de fato, não tenho NADA para vestir que seria considerado adequado
pela Zoey.
Ela foi bem específica: eu precisava vestir algo sexy, sem ser
vulgar. Algo que deixasse minhas curvas em evidência, mas sem muitos
decotes. Algo que deixe Dax com água na boca e com ciúmes, mas sem me
expor demais.
Céus, essa história de seduzir é mais difícil do que astrofísica!
Acho que prefiro voltar a ser virgem.
Aí eu me lembro das noites que passei nos braços do Dax e penso
que prefiro passar pela dificuldade que é o jogo da sedução.
Infelizmente, sou péssima nesse jogo, mas fazer o quê? Eu sabia
que seria difícil conquistar o homem que amo desde... Ah, desde que me
entendo por gente.
Espero apenas que Dax goste de mim o suficiente. Não sei se eu
aguentaria passar por tudo isso e ficar sem ele no final.
Com mãos trêmulas, acabo escolhendo um jeans que Zoey me deu
de presente no aniversário, dizendo que deixa minha bunda bonita. Claro
que eu acabei vestindo só umas duas vezes, sempre com camisas longas
para cobrir a tal “bunda bonita”.
Sim, minha autoestima sempre foi um problema, especialmente em
relação ao meu corpo. Esta noite, entretanto, com o vinho ainda pulsando
em minhas veias, decido que quero Dax admirando a minha bunda.
Em seguida, começo a procurar alguma camisa para vestir. É o que
mais demora.
Depois do que parecem ser horas, eu descubro, enterrado no fundo
do meu closet, um top justo e com um tecido brilhante que comprei
quando era adolescente e a péssima autoestima nunca permitiu que eu
usasse.
Pois hoje eu vou estreá-lo.
Ele está mais justo do que eu lembro; claro, eu ganhei várias
curvas ao longo dos últimos anos. Sou daquelas mulheres que só
desenvolveu o corpo depois de adulta.
Quando termino de me vestir, verifico-me no espelho e mal
reconheço a mulher que me encara. Gente, eu tenho muito mais curvas do
que achava!
Time Sam! Time Sam! Time Sam!
Começo a saltitar pelo quarto, até escutar alguém batendo à porta
do meu apartamento, que fica no terceiro andar da casa. Meio desconfiada,
caminho até a porta.
— Quem é?
Só quem tem as chaves para a casa sou eu, Dave, meus pais e o
Zack. Porém, nenhum deles me avisou que estava vindo.
— Aqui é o Lucas, foi o Dave quem me enviou! — uma voz
masculina – e bem sexy, por sinal – grita animadamente do outro lado da
porta.
Reconheço o nome de imediato: Lucas é um dos melhores amigos
do Dave. E ele é um G-A-T-O. Daqueles caras que as mulheres consideram
um grande desperdício porque jogam para o outro time.
Abro a porta e, mesmo sabendo que vou dar de cara com um
homem lindo, fico boquiaberta com o que vejo. Lucas está parecendo um
ator de Hollywood.
Ele usa jeans escuro, justo no ponto certo, combinando com uma
camiseta preta estilosa que deixa os músculos de seus braços à mostra,
além de botas de couro.
Lucas segura um casaco combinando em uma das mãos, e uma
pequena maleta em outra.
Seus cabelos louros escuros e olhos de um tom azul piscina que
parecem brilhar no escuro finalizam o visual com perfeição. Ah, e tem o
sorriso perfeito e quase dois metros de pura gostosura, claro.
— Amiga, você tá linda! — ele grita com um sorriso gigante no
rosto, larga a maleta e o casaco no chão, me pega no colo e começa a me
girar pela pequena sala.
— Você também está um gato, Lu — replico, e gargalhamos
juntos.
— Que bom que gostou do meu visual macho alfa — ele comenta,
ao me colocar de volta no chão. — Peguei com o meu irmão motoqueiro.
Preciso conhecer esse irmão dele.
— Vai para onde assim? — questiono.
Em geral, Lucas prefere camisas coloridas e mais gel no cabelo.
— Zoey não te contou? — Balanço a cabeça. — Sou seu date hoje,
Sam!
Gente, tenho que admitir: minha melhor amiga é um GÊNIO! Time
Sam! Uhuuuuu! Time Zoey! Uhuuuu!
Dax vai MORRER quando me vir dançando com o Lucas.
E eu não tenho qualquer problema em dançar me esfregando nele.
Na realidade, as raras vezes em que fui para boate foi a casas LGBT, onde
me sinto mais confortável para dançar livremente com o sexo oposto.
— Isso é perfeito, Lu! Obrigada! — Dou mais um abraço apertado
nele.
— Está brincando? Seu boy vai ter um ataque cardíaco quando te
vir vestida assim agarrada comigo! Adoro os planos diabólicos da Zoey.
Gargalhamos de novo, e ele começa a me puxar em direção ao
quarto, segurando a maleta.
— O que está fazendo?
— Vou completar seu visual, gata! Já te disse que sou maquiador
profissional?
Isso não poderia ser mais perfeito. Eu sou péssima com
maquiagem.
Ele abre a maleta e é como se um Universo Glitter abrisse as portas
para mim. Há todo tipo de maquiagem, coisas que nem sei para que
servem e, para melhorar, há também um par de sapatos altos.
Não entendo nada de marca, mas até eu conheço os sapatos
estilosos de sola vermelha: são Louboutins. Vou ficar uns dez centímetros
mais alta e muito diva!!!
Time Sam! Time Sam! Time Sam!
Lucas me maquia enquanto me conta sobre um novo paquera, me
fazendo rir sem parar. Nossa, Zoey acertou tanto ao chamá-lo: mesmo que
nosso plano não funcione, pelo menos eu conseguirei me divertir em uma
boate, graças ao meu date.
Estamos nos divertindo tanto que nem noto o tempo passar. Quando
ele me avisa que terminou, eu volto a ficar nervosa, porque sei que está
chegando a hora de ir ao Lights e começar oficialmente a Fase 2.
— Como estou, Lu? — estou tão ansiosa que nem tenho coragem
de me olhar no espelho.
— Pronta para partir corações, Sam — ele sorri para mim, me
dando forças para sair de casa.
40
Dax

— E quero que saia desta propriedade agora! — Gisele grita.


Na verdade, ela está berrando sem parar há uma hora. Ela já fez
algumas malas com as roupas dela, já quebrou vasos, copos e pratos, e,
agora, fez uma mala com roupas do Zack e a jogou contra ele.
— Gisele, sei que está chateada, mas não posso sair do
apartamento da empresa — Zack tenta explicar.
— Então eu vou embora, e não ouse vir atrás de mim! — ela junta
suas coisas e caminha na direção da saída.
Juro que vejo uma sombra de sorriso contornar os lábios de Zack.
Eu, enquanto isso, estou contando os minutos para sair daqui e ir atrás de
Sam.
A cada minuto que passa, mais próxima ela fica dos braços de
algum idiota de academia.
Por que Gisele e Zack não terminam de uma vez?
— Hã... Tudo bem — Zack concorda, parecendo tão aliviado
quando eu que a Megera Insuportável está saindo.
Sim, agora que eles terminaram eu posso parar de pensar nela
como Gisele e posso pensar nela como a Megera que ela é e sempre foi.
— Adeus! — ela diz, parecendo esperar que ele vá impedi-la.
Zack senta-se à mesa, e ela finalmente se dá conta de que ele não
vai atrás dela. A Megera bate a porta do apartamento com tamanha força
que derruba dois quadros naquela parede.
Eu e Zack ignoramos o show dela solenemente.
— Cara, você está bem? — pergunto, enquanto ele se serve de uma
taça de vinho.
Ele olha para mim e abre um sorriso. Um dos primeiros sorrisos
sinceros que vejo há algum tempo.
— Estou ótimo, Dax. Você mesmo disse que eu estava com ela
pelos motivos errados. E ela estava comigo por interesse. Ou seja...
Ele se interrompe quando vê algo no celular. Seu sorriso é
imediatamente substituído por uma carranca, e uma linha profunda se
forma entre seus olhos.
Gisele mal saiu e já está ameaçando o Zack? Ou é outra coisa?
— O que tanto olha no celular?
— Precisamos ir ao Lights agora.
Lights é uma das boates mais conhecidas de Londres. Vive lotada, e
tem festa de segunda a segunda. Eu ia para lá quando era mais novo, até
cansar de conhecer mulheres superficiais para passar a noite.
— Lights? Por que quer ir à uma boate?
Achei que iríamos atrás de Zoey e Sam.
— Porque é onde Sam e Zoey estão — ele diz. — Precisamos ficar
de olho nelas.
— Você está dando uma de sociopata de novo, Carmichael —
comento, mas a verdade é que quero fazer a mesma coisa: ficar de olho na
minha Sam.
Por mais que ela não seja mais a minha Sam.
— Olha como elas estão dançando, Caden.
Ele vira o celular para mim, e reparo que está na página do
Instagram da Zoey. Há um vídeo no stories dela, e eu clico para assisti-lo.
Quase tenho um ataque cardíaco com a cena. A Zoey está no vídeo
com um cara, mas não é para ela que eu olho. É para a mulher linda que
está ao seu lado.
Sam, a minha Sam, está foda de linda. Não, ela está é perfeita,
parecendo uma modelo da Victoria’s Secret, seu jeitinho inocente e sensual
ao mesmo tempo.
E tem um babaca malhado, que parece ser um jogador de futebol
americano saído de um maldito filme de comédia romântica
hollywoodiano, agarrando a minha Sam enquanto eles dançam juntos.
A partir deste momento: Eu. Odeio. Futebol. Americano. Vou
matar esse desgraçado.
— Vamos agora, Carmichael.
***
A primeira pessoa que vejo ao entrar no Lights é a Sam. Ela está
linda, com uma roupa que contorna suas curvas, sem revelar demais.
Zack comenta que viu a Zoey e vai atrás dela, e eu caminho na
direção da minha garota, que está dançando de forma sensual com o
desgraçado que parece modelo da Abercrombie.
Sam está sorridente, mas seu olhar está perdido, e noto o motivo
assim que olho para a sua mão. Nela, há um copo vazio de tequila.
Ou seja, não só ela está dançando com um cara que mal conhece,
como está se embebedando com ele? Ela não sabe como é perigoso ficar
alcoolizada em uma boate cercada de lobos famintos, que apenas esperam
pela sua próxima vítima?
E Sam é o cordeiro perfeito: linda, mas inexperiente; sexy, mas
com um ar inocente. Nem ferrando vou permitir que façam mal a ela.
Estou vendo vermelho quando a alcanço, tamanho meu ódio do
idiota que a agarra. Eu a arranco dos braços dele, e ela arregala os olhos
por um segundo, até me reconhecer. Estranho, ela não parece surpresa em
me ver.
— Já chega, Sam — digo em tom de aviso.
— Quem é esse? — o idiota da Abercrombie questiona.
Quem diabos ele pensa que é para dizer uma merda dessas? Eu
sou... Eu sou o... O que exatamente eu sou para Sam?
— É o melhor amigo do meu irmão — ela responde secamente, e a
resposta me incomoda, porque não quero que a nossa conexão mais
próxima seja Zack. — Mas ele acha que é meu pai.
Ela finaliza, só para me atingir direto no coração.
Achei que o Sr. Abercrombie faria alguma besteira, como me
mandar à merda e voltar a dançar com ela, mas ele me observa com
curiosidade, e noto que ele tem divertimento nos olhos, o que apenas me
deixa mais irritado.
— Sam, vamos — eu a seguro pela mão.
— Ela vai se quiser, amigo — Abercrombie decide dar uma de
macho alfa.
Pois eu vou limpar o chão da boate com a cara dele se precisar.
Aqui Sam não fica. Não com ele.
— Fique longe dela, babaca — aviso.
— Calma aí — Sam se coloca entre nós. — Estamos apenas nos
divertindo, Dax.
O desgraçado mauricinho tem a ousadia de segurar a outra mão
dela, e me dirige um sorriso cheio de sarcasmo. Ah, mas eu vou arrancar o
sorrisinho escroto desse babaca.
— Tire suas mãos sujas dela — estou praticamente rosnando a esta
altura.
— Me dá um minuto, Lu — ela diz para o babaca Abercrombie.
— Claro. Me avise se tiver problemas, Sam.
Sam? Lu? Por que eles estão se falando como se já se conhecessem
há tempos? Por que eles estão usando apelidos?
Tenho mil perguntas, mas precisamos conversar em particular.
Eu a puxo pela mão e a levo até uma das cabines VIPs da boate. A
Lights tem algumas pequenas salas para quem quer buscar um pouco de
privacidade. E é exatamente disso que preciso agora.
Coloco uma nota de cem libras nas mãos de um segurança
corpulento, avisando que preciso de privacidade, e ele abre a porta da
cabine para nós. Assim que ele fecha a porta atrás de nós, voltamos a
discutir.
— Mal conhece o cara e já está se agarrando com ele? — digo as
palavras mais machistas que já saíram da minha boca.
Sei que estou agindo como um neandertal territorialista, mas é o
efeito de ver Sam se agarrando com aquele otário.
Ela cruza os braços, seus lábios carnudos virando uma linha.
Nossa, como ela fica linda, toda irritada.
— Foi você quem disse que não queria nada comigo, Dax! — ela
acusa, com razão.
Mesmo assim, não posso recuar nem um milímetro.
— Não disse isso para você se agarrar com o primeiro idiota
musculoso que vê pela frente!
— Eu me agarro com quem eu quiser! — ela rebate, ficando
vermelha e mais sexy ainda.
— Porra, Sam, você não percebe?
— Pelo visto, você me considera uma garotinha inocente demais
para escolher meus parceiros, então eu provavelmente não percebi.
O que ela diz me machuca profundamente, mas não está distante do
que eu disse a ela.
O que Sam não sabe, é que eu não acredito em uma palavra sequer
do que eu disse ao chamá-la de garota, ao dizer que ela é como minha irmã
mais nova.
A verdade é que, se ela não fosse Samantha Rose Carmichael, eu
provavelmente já estaria escolhendo um anel de noivado para ela, mesmo
nosso relacionamento sendo tão recente.
Sempre achei isso frase clichê de livros de romance bregas, mas a
verdade é que, pouco tempo depois que a conheci, eu sabia que Sam era a
mulher que passei a vida procurando.
O problema é que ela é exatamente a única mulher que não posso
me permitir ter.
— Não diga isso, Sam! — eu a agarro pelos ombros. — Você
merece mais do que um cara que te agarra numa boate!
— O que eu mereço então? — uma lágrima cai do seu olho, e eu a
seco com as pontas dos dedos.
Mesmo sendo um toque mínimo, ele é elétrico, reverberando pelo
meu corpo.
— Você merece um homem que te valorize, Sam. Que te ame de
verdade. Que se dedique completa e inteiramente a você.
Eu.
Só não posso dizer isso para ela.
— Pena que você não me valoriza, não me ama e não quer se
dedicar a mim. Só quer saber da promessa ridícula que fez ao Zack quando
eram dois adolescentes idiotas.
Não é verdade; talvez, se eu não a amasse tanto, eu seria egoísta o
suficiente para ficar com ela.
Mal estou conseguindo conter o desejo de tocá-la, de tomá-la em
meus braços, de consolá-la. O esforço de manter a distância é tão grande
que chega a doer fisicamente.
— Vamos embora, Sam.
Tento segurar sua mão, mas ela a puxa, sua expressão de tristeza
sendo rapidamente substituída por irritação.
— Não.
— Vou te tirar daqui mesmo que tenha que te colocar em cima do
ombro e te levar à força.
Sim, eu sei. Estou dando uma de neandertal territorialista de novo.
Já é difícil o suficiente ficar confinado em um pequeno quarto com Sam e
não fazer nada, mas deixá-la aqui para os urubus sobrevoarem?
Nem ferrando.
— Cuidado que as coisas não funcionam mais assim, Dax. Se fizer
isso aqui, é capaz de virar saco de pancadas dos seguranças.
— O que preciso fazer para você ir embora comigo?
Ela me observa por um longo momento, como se estivesse
considerando minha proposta.
Fico imaginando o que ela vai me pedir em troca de voltar para
casa comigo, e meu maior medo é que ela exija que eu fique longe dela.
No entanto, como só ela é capaz de fazer, Sam me surpreende.
— Me faça gozar, Dax.
41
Dax

Devo estar sonhando, só pode. Belisco a coxa e verifico que estou


bem acordado. O inchaço entre as minhas pernas também comprova que
não apenas estou desperto, como excitado.
Sam acabou de dizer o que eu ouvi?
— Como é que é? — questiono, imaginando que é coisa da minha
cabeça.
Ela deve ter me mandado pastar e eu, louco que estava para agarrá-
la, ouvi o que quis.
Sam dá alguns passos para trás, senta-se na ponta da mesa redonda
da cabine VIP, e, sem tirar os olhos de mim, repete, bem lentamente:
— Me. Faça. Gozar.
Minha boca fica seca, o coração martela enlouquecidamente, e o
amigo de baixo está quase estourando o zíper.
Essa mulher é o meu fim. Ela, que era virgem até pouco tempo
atrás, me faz me sentir como um adolescente desajeitado e inexperiente.
Parece que eu sou o virgem, e ela, a mulher com experiência de
sedução.
— Aqui?
— Agora. Senão faço a mesma proposta ao Lucas.
Com essas últimas palavras, ela derrubou os últimos resquícios de
autocontrole que eu tinha. E Sam percebeu. Claro que ela percebeu.
Neste momento, esqueci das promessas que eu fiz a mim mesmo,
de ficar bem longe de Samantha Rose Carmichael. Estou enxergando
vermelho; não de raiva, mas de desejo, de paixão.
Atravesso o pequeno espaço, até minhas pernas encostarem nos
joelhos dela. Aproximo meu rosto do seu, e os olhos dela fecham. Sigo seu
exemplo e fecho os meus também.
Meu zíper está prestes a explodir, e é bem provável que eu goze no
momento que meus lábios tocarem os dela.
Sinto a respiração de Sam na minha boca. Abro os lábios e, bem de
leve, lambo os dela. O gosto dela é doce, delicioso, mas o mais gostoso é
ouvi-la gemendo.
Uma das minhas mãos agarra-a pela cintura, enquanto a outra
afasta suas pernas, para que eu me aproxime o máximo possível de seu
corpo.
Subo a mão e acaricio um seio macio e firme sobre seu top justo,
sentindo o mamilo ficando duro sob meus dedos.
Afasto o decote e libero um seio firme e redondo. Meus lábios
atacam seu mamilo, e Sam não geme; ela grita.
Puxo sua pele entre meus dentes. As pernas dela arreganham-se
ainda mais, acomodando melhor meus quadris, até estarem colados aos
dela.
Sam coloca as longas pernas em volta da minha cintura, e me puxa
até seus seios estarem achatados contra o meu abdômen.
— Você tem gosto de pecado, Sam — sussurro contra o mamilo
durinho, com a voz rouca de tesão, e ela responde com uma risadinha
safada.
Afasto nossos corpos só um pouco, apenas para ter espaço
suficiente para colocar minha mão entre nós.
Desabotoo o jeans dela, e começo a passar os dedos pelo elástico
de sua calcinha, ao mesmo tempo que dou mordidas leves no mamilo.
Sinto os pelos do seio de Sam eriçarem sob meus lábios quando
meus dedos passam por dentro da calcinha e começo a massagear seu
montinho com meu polegar.
Ela está encharcada, pronta para mim. Enfio dois dedos de uma
vez, do jeito que ela gosta. Afasto o rosto do seu seio e cravo o olhar no
seu.
Uma fina camada de suor surge na sua testa, e sei que ela está
chegando perto do ápice.
Começo a comê-la com os dedos, sabendo que ela ama quando eu o
faço. Cada vez que eu retiro e enfio os dedos de novo, faço o movimento
mais rápido, e Sam deixa tudo mais intenso ao rebolar nos meus dedos.
Continuo acariciando seu clitóris, enquanto a fodo com os dedos,
até senti-la estremecendo nos meus braços, suas paredes praticamente
esmagando meus dedos.
Como eu sou apaixonado por esta mulher.
Depois de alguns segundos, ela recupera a respiração e me olha de
um jeito safado. O que ela vai aprontar agora?
— É a minha vez, Dax — ela informa.
— Como assim?
Ela não me responde. Ao invés disso, ela se levanta da mesa, fecha
o jeans, e me empurra contra a parede. Ajoelha-se na minha frente, e,
quando eu finalmente percebo o que a diabinha está aprontando, ela já
abriu minhas calças.
O olhar dela sobe para o meu, apenas por um segundo. Mas esse
segundo foi suficiente para ver sua expressão vitoriosa que – se possível –
me deixou ainda mais duro.
Aí ela me abocanha de uma vez, engolindo toda a minha extensão
em sua boquinha perfeita.
— CARALHO, SAM! — grito, cada nervo do meu corpo parecendo
que vai ser eletrocutado. — Você quer me matar?
Os ombros dela vibram, como se quisesse gargalhar, mas a
boquinha de veludo continua me chupando.
Se eu não tivesse certeza de que, até semanas atrás, Sam era
virgem e nunca tinha recebido – ou oferecido – sexo oral, eu acreditaria
que se tratava de uma mulher muito experiente.
Ao invés disso, ela tem um talento natural, só para me ferrar ainda
mais.
Ela o tira lentamente da boca, massageando-o com a língua, me
enlouquecendo.
Depois, a tortura deliciosa recomeça; Sam passa a lambê-lo,
enquanto suas mãos fazem carinho na minha virilha; mordisca a cabeça
lentamente, para depois me chupar inteiro de novo e de novo, em um ritmo
que vai se intensificando, até ficar frenético.
— Sam, se você continuar me chupando assim, eu vou gozar — eu
a encaro para avisar, porque não quero ser o tipo de babaca que se despeja
na boca sem deixar a mulher preparada.
Claro que, internamente, estou rezando para ela não parar, para ela
engolir meu gozo.
Minhas preces são realizadas quando ela me engole por inteiro, até
jatos quentes jorrarem em sua garganta, sem que a gente quebre o contato
do olhar.
Provavelmente a cena mais sexy da minha vida.
— SAM! — grito enquanto eu me alivio dentro da boca dela.
Aí, para finalizar e me matar de vez, ela afasta o rosto do meu pau,
levanta-se, dá um sorrisinho safado, e engole o prazer que acabei de
despejar nela.
Encaro seus lábios como se fossem o bem mais precioso do mundo.
E, neste momento, são mesmo. Ainda sem conseguir me mover, sem
conseguir pensar em nada, ela ajeita a cueca e fecha as minhas calças.
— Dax? Você está aqui? — a voz de Zack, do lado de fora da
cabine VIP, me traz de volta à realidade.
— Merda — solto.
Mal me recuperei do prazer incrível que Sam me proporcionou, e
Zack já está me atormentando com a culpa com sua mera presença.
Eu realmente preciso trabalhar meu autocontrole com Sam. Não é
culpa dela se eu digo que não há nada entre nós em um minuto, e a agarro
no seguinte.
— O você vai fazer, Dax? — ela pergunta, e sei a que está se
referindo.
Ela quer saber se vou contar a verdade para o Zack agora. Só que...
Eu não posso. Preciso pensar melhor em tudo, preciso decidir o que fazer a
seguir, porque Sam não merece toda essa indecisão.
— Preciso de mais tempo, Sam.
— Você está falando sério? — ela pergunta, seus olhos se enchendo
de lágrimas. Quando eu não digo nada, ela agarra meu braço. — Dax, você
está falando sério?
— Sam, por enquanto é impossível.
— Só é impossível porque você escolhe que seja.
— Não é assim.
— Cansei dessa sua indecisão. Vai ou não lutar por mim?
Como eu quero, Sam. Como eu quero lutar contra tudo e contra
todos por você. Mas não é a coisa certa a se fazer, nem por você nem pelo
seu irmão.
— Dax? — Zack insiste.
— Vai ou não contar para ele de nós dois?
De repente, começo a ouvir as coisas que Zack me disse naquela
mesma noite.
Como ele se sentia um traidor por ter ficado com a Zoey, como ele
estava seguro de que, mesmo achando a Sam a mulher mais bonita do
mundo, eu jamais ficaria com ela.
— Vai lutar por mim, Dax? — ela pergunta de novo, e eu quero
dizer que sim.
Vejo o rosto de Jenna no hospital, logo depois do acidente, quando
soube que perdera o movimento das pernas, e não sabia se iria recuperá-lo.
— Você é podre por dentro, Dax. Ninguém vai te amar de verdade
— Jenna me disse na ocasião, com um ódio nos olhos que me fez mudar
completamente a minha percepção de mim mesmo.
Fecho os olhos, porque sei o que tenho a fazer, por mais que não
queira. Tudo que eu quero é Sam. Tudo o que quero é ficar com ela.
Pela primeira vez na minha vida, não vou fazer o que eu desejo,
mas o que é melhor para a outra pessoa.
Eu te amo, Sam.
— Eu... Eu sinto muito, Sam — abro a porta da cabine. — Estamos
aqui, Zack.
42
Sam

Dax foi embora.


Depois de tudo que rolou entre a gente, depois de ele me fazer
gozar, depois que eu o fiz gozar, ele simplesmente se mandou.
E me deixou pra trás.
Não sei onde Zoey está, não sei para onde Zack foi, depois de me
dar uma bronca – ridícula e homérica – sobre sair com caras que mal
conhecemos, então volto cabisbaixa para a mesa que Lucas reservou para a
gente.
— O que houve? — Lucas me olha como se eu fosse um
extraterrestre. — A última vez que te vi, você estava sendo arrastada pelo
bonitão para uma das cabines. Achei que vocês estariam se agarrando a
esta altura.
Estávamos. Já nos agarramos, já fizemos o outro gozar, aí, depois
de me usar, ele foi embora. Cansei. Dax está acostumado com esses
joguinhos, mas eu não sei jogá-los.
Se continuar com esse plano da Zoey, quem vai acabar se
machucando sou eu. Em pouco tempo, Dax já estará com uma nova lista
de conquistas, e eu ainda estarei esperando por ele com uma tola.
Chega de esperar.
— Por favor, não me diga que decidiu fazer doce para aquele gato
— Mike, o amigo de Dave que veio como “acompanhante” de Zoey,
reclama comigo.
Estou tão desapontada quem nem tenho energia para explicar.
Eles se entreolham, me oferecem uma taça de champanhe e me
abraçam, passando a força deles para mim.
— Se você não quiser, eu vou tentar minha sorte com o bonitão —
Lucas me ameaça na brincadeira, e não consigo segurar um sorriso.
— Queria eu que fosse uma questão de doce da minha parte —
finalmente consigo voltar a falar.
— O bonitão está fazendo doce contigo, Sam? — Mike pergunta,
me ajudando a sentar em uma das cadeiras.
Cada um deles se senta de um lado, segurando minhas mãos. Sério,
eles poderiam ser mais fofos?
— Dax disse que nosso relacionamento é impossível por causa do
meu irmão.
— RI-DI-CU-LO — Lucas reclama com seu jeito afetado que
sempre me faz sorrir.
— Não acredito que ele não vai ficar contigo por causa de outro
bofe — Mike diz com ironia, e o sorriso vira uma gargalhada.
Só esses dois para me fazerem rir em um momento desses.
Esses caras... Realmente, Dave e seu grupo são anjos da guarda na
minha vida. Digo, se anjos viessem cobertos de glitter.
Eles não me julgam, me entendem, me animam e me fazem sentir
linda, sexy e poderosa. Sentimentos que Dax destruiu quando saiu daquela
maldita cabine.
— Ele e meu irmão meio que estavam fadados a serem melhores
amigos mesmo antes de nascerem.
Jamais desejei que a amizade deles se acabasse por minha causa.
Porém, um amigo de verdade não deveria ficar no caminho do amor.
Eu, por exemplo, achei a história entre a Zoey e meu irmão
chocante, absurda e até um pouco (ou muito) nojenta, mas jamais a
desencorajaria a ficar com o cara por quem ela é apaixonada simplesmente
pelo fato de ser meu irmão.
Apesar de ser nojento. Tipo, muito nojento. Gente, a Zoey viu meu
irmão pelado. Argh! Pior: meu irmão viu a minha melhor amiga pelada!
Nojo!
Okay, pula essa parte. Isso é problema deles, não meu. E eu já
tenho os meus problemas.
Na verdade, um problema, que tem quase dois metros de altura,
tem olhos lindos, um sorriso de fazer as pernas virarem geleia e uma boca
capaz de dar prazer como ninguém.
Não, eu tenho que parar de pensar no Dax. Chega. Acabou. The
End. Pode passar os créditos.
Estou decidida a encerrar esse assunto, quando Lucas insiste em
continuar falando dele.
— Vocês não podem acabar assim! — ele comenta, indignado. —
Você e ele estão destinados a ficarem juntos desde que se apaixonou por
ele. Quantos anos você tinha?
— Quando me apaixonei pelo Dax? — levanto os ombros. — Não
tenho certeza. Mas eu comecei a sonhar em me casar com ele desde que
tinha uns onze.
— Ain! — Mike junta as mãos.
— Que fofura! — Lucas dá palminhas.
Okay, eu não preciso que eles fiquem animados com essa história.
Esse filme já acabou. É passado. Preciso me concentrar no futuro.
Porém, depois de uma vida inteira sonhando com um homem, será
bem difícil passar para o próximo. Eu nunca tive um “próximo cara” antes.
— Não acredito que o bofe te deixou aqui.
Nem eu, Lucas. Nem eu... Especialmente depois que eu me ajoelhei
e... Ah, deixa pra lá.
Acho melhor não dizer nada sobre o que rolou entre a gente, senão
é capaz desses dois explodirem de animação e virarem purpurina.
— E a Zoey? — questiono, tentando mudar de assunto.
— Ah, o teu irmão – outro bofe L-I-N-D-O por sinal – ficou uma
fera quando nos viu dançando juntos — Mike explica.
— E aí? — eu o incentivo a contar o restante da história.
— Ele a arrastou daqui, Zoey deu um tabefe nele, aí ele foi
procurar por vocês e, depois disso, os dois sumiram de novo.
— Espero que ela não tenha castrado ele — comento.
— Isso ou eles dois estão se agarrando em algum lugar — Lucas
sugere, e isso faz mais sentido.
— Espero que seja a segunda opção — digo.
— Eu também — Lucas concorda comigo.
— Eu não — Mike diz, chamando a minha atenção e do Lucas. —
Gosto de uma boa briga de amor.
Okay, gosto não se discute.
— De qualquer forma, pelo menos a noite vai terminar bem para
uma de nós duas.
Acabo de dizer as palavras, quando vejo Zack caminhando na nossa
direção. E ele está com um olho roxo.
Ouço um risinho abafado do Mike, e concluo que foi minha melhor
amiga quem deixou essa marca no rosto do meu irmão.
Pelo visto, eles tiveram uma briga, só não sei dizer se foi de amor.
— O que houve? — pergunto quando ele está próximo o suficiente
para me escutar por cima da música.
— Sua amiga é uma louca! — ele esbraveja. Ah, então não foi uma
briga de amor. —Vamos embora, Rose!
Ah, que saco. Agora o Zack também vai se comportar que nem um
babaca que quer mandar em mim?
— Não, Zack. Eu vou embora com os meus amigos.
— Não é hora para brincadeira.
— E não é hora para bancar meu pai! Se enxerga!
— Se quiser, posso acompanhá-lo até em casa, bonitão — Lucas
convida de forma sensual. Ele está praticamente ronronando.
Zack encara Lucas como se ele tivesse duas cabeças, enquanto eu
seguro a gargalhada.
Meu irmão não deve estar entendendo nada. Minutos atrás, ele me
viu dançando de uma forma bem sensual com Lucas, que agora está dando
em cima dele.
Zack balança a cabeça, como se ainda não tivesse conseguido sacar
que nós trouxemos dois gays para fazer ciúmes nele e no pateta do melhor
amigo dele, e volta a reclamar.
— Vamos logo, Sam.
— Não vou — Só para não irritá-lo mais, maneiro no tom, tentando
ser mais diplomática. — Vou ficar bem, Zack. Juro.
Ele olha de novo para os caras e parece concluir que são, no fim
das contas, inofensivos. Além do que, ele não pode me obrigar a sair, já
que sou maior de idade.
— Tudo bem então. Me liga se precisar de alguma coisa?
— Juro que sim, Zack.
— O que você ainda está fazendo aqui? — Zoey aparece do nada,
aos berros — Eu mandei você ir embora, Zack Carmichael!
Meu irmão a encara com tristeza no olhar, e vai embora
cabisbaixo. Nossa, então essa briga foi ainda pior do que eu imaginei.
Geralmente, quando a Zoey estoura com o Zack, ele briga de volta.
Se ele não disse nada, é porque algo sério aconteceu.
— O que houve, Zoey?
— Acabei de descobrir que Zack namorou a vaca da Cruela só para
me afastar dele.
— Como é que é? — ficamos os três boquiabertos e, como fizeram
comigo, Lucas e Mike oferecem uma taça de champanhe para a Zoey e a
consolam.
— Pois é. Isso depois dele me dizer que nunca ficaremos juntos
porque ele não quer machucar os sentimentos do papai.
Os sentimentos do pai dela? E os sentimentos da minha melhor
amiga, como ficam?
Como ela está chateada o suficiente, sei que o melhor a fazer não é
sair correndo, pegar um Uber e pagá-lo uma alta quantia para atropelar o
idiota do meu irmão.
Preciso ficar aqui e consolar a minha amiga.
— Zoe, eu sinto muito.
— E os meus malditos sentimentos? Por que Zack não se importa
com eles?
— Eu sei, amiga. Sinto o mesmo.
— Eles são dois idiotas, para não escolherem vocês duas acima de
tudo e de todos — Lucas diz, perplexo com toda a situação.
— Eles se merecem como melhores amigos — Mike diz
secamente.
— Obrigada, Lu — Agradeço.
— Valeu, Mike — Zoey diz.
— Sabe o que acho? — Lucas pergunta — Que vocês precisam de
novos bofes na vida de vocês.
— Não quero pensar em homens por algum tempo — digo,
revirando os olhos.
Homens dão muita dor de cabeça, Deus me livre.
— Nem em nós dois? — Mike questiona, com uma sobrancelha
levantada. — Somos divertidos.
— E ótimas companhias — Lucas complementa. — Sem falar que
dançamos como divas.
— E não vamos ficar olhando para outras mulheres enquanto
estamos com vocês — Mike comenta, mas aí ele parece parar para pensar
no que acabou de dizer. — A não ser que passe algum bofe gatinho e...
— Cala a boca, Mike — Lucas dá um tapa no pescoço do amigo, e
eu e a Zoey não seguramos a gargalhada.
— O que me diz, Sam? — Zoey questiona, com o rosto mais
relaxado. —Vamos dançar e esquecer os dois patetas?
— Sim. Eles já tiveram a chance deles. Cansei desse chove não
molha.
Ela levanta a taça e eu levanto a minha em um brinde.
— Bola pra frente, Sam?
— Bola pra frente, Zoey.
43
Duas semanas depois

Dax

Eu estou um lixo. Mas nem me comparo com Zack. Ele mal sai de
casa, a não ser para trabalhar. Não atende as ligações de Gisele, não topa
nem mesmo sair comigo.
Assim que soube que ele pediu a semana de folga, decidi ir visitá-
lo. Claro que não vou de mão vazias: tenho um plano, para nós dois. Só
não sei se Zack estará pronto para ele.
O fedor do seu apartamento dá a impressão de que cadáveres estão
enterrados dentro das paredes. A mesa da sala de jantar está coberta por
pratos com resto de comida, e moscas sobrevoam os arredores.
Zack nunca foi organizado, mas sempre manteve seu apartamento
extremamente limpo. Por isso sei que seu comportamento não é apenas o
de um cara que acabou de terminar um relacionamento e levou um fora da
mulher por quem é apaixonado há anos.
Ele está verdadeiramente deprimido, e precisa de ajuda. Preciso
engolir meu próprio sentimento e ficar forte para o meu melhor amigo, por
pior que eu esteja me sentindo no momento.
Sinto tanta falta de Sam que passo horas rolando na cama todas as
noites, sem conseguir dormir. Os shows noturnos dela terminaram,
provavelmente porque ela descobriu, no jantar do Zack, que eu estou em
Notting Hill.
Retiro os pratos da mesa, jogo fora os restos de comida, coloco a
louça na lava-louça, junto o lixo que se acumulou nas lixeiras e coloco
tudo para fora.
Quando retorno à sala, noto uma forma no sofá. Ligo um abajur, e
percebo que essa forma é, na verdade, meu melhor amigo. Ou uma sombra
bem fedorenta dele.
Há uma garrafa quase vazia de uísque em sua mão, e outras duas
garrafas vazias no chão.
Ele está com o olhar perdido, e assim continua enquanto eu jogo as
três garrafas fora e coloco os lençóis encardidos que ele trouxe para o sofá
na máquina de lavar.
Volto para a sala, onde Zack continua com o olhar perdido em
algum ponto da parede, ligo o som bem alto, e ele finalmente parece sair
de seu coma.
— E aí, cara? — cumprimento-o, tentando parecer animado.
— E aí — sua voz está rouca, como se ele não a usasse há dias.
Agora, que tirei os lençóis nojentos de cima dele, noto que Zack
está sem camisa, vestindo apenas calças de moletom. E eu reconheço essas
calças da última vez que vim visitá-lo, na semana passada.
— Você ainda está vestindo essas calças de moletom?
— E daí? Estou de férias. Não saio daqui desde segunda — ele
comenta sem olhar nos meus olhos, dando tapinhas sobre o sofá.
Não, não acredito no que meus ouvidos escutaram.
— Você está neste sofá desde segunda?
Hoje é sábado.
Agora entendo por que o sofá, que era creme até a semana passada,
está quase marrom. E o cheiro também: não há cadáveres nas paredes, é
apenas o fedor de Zack por não tomar banho há quase uma semana.
Chega dessa merda.
Eu o puxo pelo braço e o encaminho até o banheiro de sua suíte. Eu
o jogo dentro do box e ligo o chuveiro.
— Mas que porra, Dax!
— Estou sendo seu parceiro, cara! — grito de volta. — Você tá
fedendo que nem um porco.
— Ei! Estou sendo ecológico e tomando banhos apenas quando
necessário — ele reclama, mas, pelo menos, parece desperto.
— E está afastando todos os seres humanos deste quarteirão.
— Foda-se, Dax — ele xinga, mas não sai do chuveiro.
Ele tira as calças de moletom e a cueca e toma banho. Eu coloco as
calças e a cueca em sacos plásticos e jogo fora. Nem uma máquina do
mundo será capaz de lavar a podridão dessas roupas.
Em seguida, ligo para Jane, uma faxineira que faz a limpeza
semanal da nossa casa em Notting Hill, e imploro que ela venha amanhã
dar uma geral no apartamento.
Termino a ligação no mesmo instante em que Zack sai do banheiro
com uma toalha (limpa) em volta da cintura.
— Feliz agora? — ele resmunga.
— Não estou feliz, mas, pelo menos, você não está mais cheirando
a cadáver.
Ele me mostra o dedo do meio, e um sorriso curva seus lábios. Pois
é: banhos e melhores amigos fazem pequenos milagres. Zack já está com
uma expressão mais lúcida.
Decido que ele está, no fim das contas, pronto para escutar meu
plano. Desde que eu vá contando aos poucos, claro.
— Acho que essa sua ideia de não ficar com a Zoey é péssima,
Zack — comento enquanto ele coloca roupas limpas.
— Não é uma ideia, Dax. É uma necessidade.
— Eu sei, eu digo a mesma coisa para mim mesmo.
— Como assim?
Passo as mãos pelos cabelos, sentindo-me em um beco sem saída.
Não quero contar para Zack da Sam, ainda não, mas ele é a única pessoa
com quem eu converso sobre esse tipo de coisa.
O Jim se tornou um dos meus melhores amigos, mas ele não é o
Zack, que é meu irmão de criação. Ninguém me conhece com ele, essa é a
verdade.
Não sei o que está me matando mais: não falar sobre isso com o
meu melhor amigo, ou ficar longe da irmã dele.
Ah, tenho que parar de ser hipócrita. Ficar longe de Sam é
infinitamente pior. Até porque, posso falar dela para Zack, sem identificá-
la.
— É que... Eu também tomei a decisão de não ficar com aquela
garota sobre quem eu falei e... Porra, tô meio arrependido.
— Só meio arrependido? — ele questiona ironicamente, uma
sobrancelha levantada.
Como eu disse, Zack me conhece muito bem.
— Estou completamente arrependido, cara. Não consigo mais ficar
longe dela.
— Eu te entendo. Não paro de pensar na Zoey, Dax. Passei os
últimos dias seguindo o perfil dela e o de Sam no Insta que nem um
stalker — Eu também. — Estou ficando louco, cara.
— Sei qual é a sensação, Zack.
Ele não tem ideia o quanto minha situação é parecida com a dele.
Eu realmente entendo como ele está se sentindo, entre a mulher que ele
ama e a traição que ele acredita ter cometido.
— Será que a Zoey me aceita de volta?
Passei as últimas duas semanas pensando o mesmo de Sam.
O que eu poderia fazer para tê-la de volta, depois de todas as
burradas que cometi, depois de tudo que eu a fiz sofrer, depois das minhas
incertezas idiotas.
Também passei bastante tempo pensando no que a Zoey falou sobre
o tal do Mr. Darcy. Fato é: eu posso não ser o homem que merece a Sam,
mas eu definitivamente quero me tornar esse cara.
Por ela, vale a pena o esforço. Por ela, vale a pena mudar, ser um
cara melhor. Por ela, vale a pena a briga que terei com Zack e,
provavelmente, com os Carmichael.
Nem sei se meus pais me perdoarão, mas preciso lutar, quero
brigar por Sam.
Porém, tenho que fazer as coisas do jeito certo desta vez.
— Elas podem nos aceitar de volta, mas temos que fazer uma
loucura.
— Que tipo de loucura, Dax?
— Anunciar a todos que somos apaixonados por elas — sugiro, e
os olhos dele se arregalam. — Você faz isso com a Zoey e eu... Faço isso
com a minha garota.
É apenas isso que elas quiseram desde o começo: que nós as
amássemos o suficiente para sermos sinceros em relação aos nossos
sentimentos.
— Como faremos isso, Dax?
— O aniversário da sua mãe é neste final de semana, não é?
Pra falar a verdade, eu vim ao apartamento do Dax com esse
intuído. Já havia ligado para a minha mãe a fim de confirmar a data do
aniversário de Mary Carmichael.
— Verdade! É amanhã.
— Então, vamos aparecer de surpresa em Surrey. Organizamos um
jantar para ela esta noite e um churrasco amanhã, ou algo assim.
— E acha que Zoey vai topar? — há insegurança em seu tom, mas
seus olhos estão repletos de esperança.
— A gente organiza de tal forma que elas não vão poder negar.
— Elas?
— Ah, sua irmã tem que vir também.
Quero lhe contar, Zack, mas ainda não é o momento. Você vai
descobrir junto com a sua família.
— Claro — Zack diz, e estende a mão para eu apertá-la. — Topo.
Nós nos abraçamos, e eu fico agradecido que ele me abraçou
depois do banho. Sou amigo dele para todas as horas, mas Zack estava
fedendo tanto quanto um zumbi que tomou banho no esgoto.
— Então eu vou confirmar a festa surpresa com minha mãe, e vou
atrás da Zoey — proponho, já juntando as minhas coisas. — Você fala com
a sua irmã.
— Combinado. — Ele calça os sapatos, pega a carteira e as chaves
do carro. — Vou até a livraria de Notting Hill. Ela deve estar lá.
Sim, ela está. Pelo menos estava quando eu saí de casa, uma hora
atrás. Zack não é o único stalker dessa relação.
Quase duas horas mais tarde, estou a caminho de Surrey, com tudo
combinado com meus pais, porém, sem a Zoey. Eu a procurei em seu
apartamento, tentei ligar para ela inúmeras vezes, e nada.
Até mesmo falei com os pais dela, mas eles tampouco conseguiram
contatá-la. Pedi que eles me ajudassem a localizá-la, e até agora, nada.
Meu celular toca quando estou chegando na fazenda dos
Carmichael em Surrey. Acreditando que possa ser novidades de Zoey, eu
coloco no viva voz.
— Dax? — a voz de Zack surge.
— Conseguiu encontrar a Sam?
— Sim, estamos todos a caminho.
— Perfeito — temi que Sam pudesse ter saído com Zoey no tempo
que levei para convencer Zack a tomar banho e seguir meu plano — Já
falei com a minha mãe e ela e o pai estão terminando de preparar o jantar
e o bolo de aniversário.
— Eu e Sam também avisamos sobre a festa surpresa para meu pai.
Ele adorou a ideia, especialmente porque seremos só nós. Minha mãe não
gosta de multidões.
— Tem como você descobrir com a Sam onde está Zoey? Ela não
está em casa e os Tucker comentaram que ela poderia ter ido visitar a
Sam.
Só espero que ela não tenha mentido para os pais para sair com
outro cara, senão é capaz de Zack se mudar para uma caverna e nunca mais
sair de lá.
— Zoey está aqui — ele informa, mas seu tom é tenso.
— E aí, babaca nº 2! — Zoey grita, falando enrolado.
— Hã... Ela está meio bêbada.
Percebi.
— Bêbado está seu peru que não consegue reconhecer uma mulher
maravilhosa nem quando ela o estapeia — Zoey diz para o Zack (pelo
menos, espero que tenha dito isso para ele).
— Ela está bastante bêbada — Zack complementa.
Também percebi.
— Isso pode ser um problema — comento, torcendo para que ele
entenda que me refiro aos nossos planos.
Se ele se declarar para a Zoey nesse estado, não há como saber
como ela vai reagir. Zoey já é bem imprevisível sóbria, embriagada
então...
É quase como conseguir prever o que uma tsunami vai destruir.
— Zoey, por favor não vá vomitar... — Zack grita e se interrompe.
— Merda! Segura aqui, Sam!
— Hã... Oi — a voz angelical de Sam soa do outro lado da linha, e
meu peito aperta de imediato.
Como eu senti saudade desse som.
— Sam.
— Zack comentou que a ideia de um jantar surpresa para mamãe
foi sua. Obrigada, Dax.
— De nada. Ela sempre foi ótima comigo.
Mas não foi por ela que fiz isso, Sam. Foi por você. Foi por nós
dois. Em pouco tempo, você vai descobrir. E espero que me perdoe.
— Eu estava tão distraída nessas últimas semanas que quase
esqueci o aniversário dela — ela comenta, soando nervosa.
— Distraída? Com o quê?
Diga que estava distraída comigo, por favor diga que sentiu a
minha falta como eu senti a sua, Sam.
— Hã... ZOEY!
Ela grita, e desliga.
44
Sam

Enquanto não consigo esquecer o Dax, encontro outras formas de


afogar minhas mágoas. Hoje, por exemplo, fechei a livraria mais cedo para
fazer com a Zoey e o Dave a noite de sábado das margaritas.
Na verdade, nosso plano é ainda melhor. Dave prepara as bebidas
enquanto eu e Zoey as tomamos. Para ser mais precisa, Zoey tomou
noventa por cento das margaritas servidas até agora.
E Dave já fez bastante margarita.
Serei justa com ela: a Zoey começou a beber umas duas horas antes
de mim, porque eu ainda estava na livraria quando ela e o Dave
começaram o Sábado das Margaritas.
Ainda assim: ela está tomando margaritas como se fosse água no
meio do deserto do Saara.
— O que você colocou nessa bebida, Dave? — Zoey reclama de
repente, olhando na direção da porta. — Estou alucinando com o imbecil
do irmão da Sam.
Quê? Zack não me avisou que vinha! Ainda assim, ele está em pé,
parado à minha porta, a chave do meu apartamento na mão. Chave esta que
eu lhe dei para caso de emergências.
— Não está alucinando, Zoey. Meu irmão está aqui.
Ele dá um passo para dentro da sala, mas Zoey levanta a mão.
— Você não é bem-vindo aqui — como ela não resiste falar com o
Zack sem xingá-lo nos últimos tempos, ela conclui, — babaca.
— Esta é a casa dos meus pais, Zoey — ele a recorda, e com razão,
devo admitir.
Porém, ele está na minha parte da casa, então posso muito bem
expulsá-lo. Estou prestes a fazê-lo, quando algo em seu olhar me faz parar.
É tristeza. Das mais profundas.
Depois de alguns segundos, Zoey se zanga com minha falta de
atitude, levanta-se (ou tenta se levantar, porque ela não consegue se
equilibrar em pé), e esbraveja:
— Então eu não sou bem-vinda aqui!
— Não estou te expulsando, Zoey! — Zack se defende, e quando
ela está prestes a tombar com a cara no chão, ele a segura pela cintura.
Ela o chuta entre as pernas para afastá-lo e se segura no aparador
da sala. Zack se agacha para segurar seu amigo ferido, e Dave senta-se ao
meu lado, com uma margarita na mão, assistindo a cena como se fosse o
episódio final de Game of Thrones.
Eu fico completamente sem reação. Já aprendi a não me meter nas
brigas entre Zoey e meu irmão.
— E eu vou lá ser expulsa por algum homem, seu palerma? Eu
estou me expulsando! — ela anuncia, e volta a caminhar, toda
cambaleante, na direção da porta.
— Espere, Zoey — meu irmão a segura pelo braço. — Isso não tem
nada a ver com... Com a nossa briga. É sobre a minha mãe.
— Mamãe? — agora eu fiquei preocupada. Vai ver, ele usou a
chave para uma emergência mesmo. — Ela está bem?
Ele explica sobre o plano de fazermos um jantar surpresa para
mamãe. Achei meio em cima da hora, mas, segundo ele, Dax já combinou
tudo com a Sra. Caden.
Saímos em meia hora, aos trancos e barrancos. Eu com uma mala
com objetos aleatórios que fui jogando enquanto Zack me pressionava.
Meu irmão, por sua vez, está com a minha amiga no colo, que parece
desacordada.
Eu disse desacordada? Quis dizer em coma.
Dave se despede de nós enquanto bebe a margarita direto do
liquidificador. Se Sex and the City fosse feito em Londres, eles
provavelmente nos contratariam para escrever o roteiro.
Quando já estamos a caminho de Surrey, Zack comenta que precisa
falar com o Dax. Aparentemente, Dax foi quem ficou responsável por
procurar a Zoey, porque não sabia que ela estava comigo.
Como Zack está dirigindo, sou eu que faço a ligação, coloco o
aparelho no colo do meu irmão, e ele pluga os fones no ouvido.
Assim que escuta Zack mencionar o nome do Dax, Zoey desperta
no banco do carona.
Ah, não. Ah, não.
— Zoey está aqui — meu irmão informa.
— E aí, babaca nº 2! — Zoey grita para garantir que Dax escutará a
ofensa.
— Hã. Ela está meio bêbada — Zack diz o óbvio.
— Bêbado está seu peru que não consegue reconhecer uma mulher
maravilhosa nem quando ela o estapeia.
Ah, meu senhor das melhores amigas bêbadas que só falam
besteira. Não deixe a Zoey contar sobre meu caso com o Dax, não agora!
— Ela está bastante bêbada — Zack volta a dizer o óbvio para Dax.
Aí, Zoey começa a fazer uma cara estranha, coloca a mão em cima
da boca e... Ferrou. Ela vai colocar toda a margarita para fora.
Meu irmão percebe o mesmo, porque lhe dirige um olhar
preocupado.
— Zoey, por favor não vá vomitar... — ela vomita nele, é claro. —
Merda! Segura aqui, Sam!
Ele joga o telefone no banco de trás e entra no primeiro posto de
conveniência pelo qual passamos.
Droga. Droga, droga e droga. Não sei o que fazer. Se eu me recusar
a falar com o Dax, Zack vai estranhar. Então eu pego o telefone.
— Hã... Oi.
Pra variar, perco a capacidade de pronunciar frases com Dax.
Parece que voltei à estaca zero, de quando eu era uma adolescente
insegura.
É difícil não ficar com a autoestima no fundo do poço quando o
cara que você ama a vida inteira literalmente foge de você depois de
momentos absolutamente perfeitos.
Pelo menos, eu adorei o que rolou entre a gente na cabine do
Lights. Pelo visto, não foi recíproco.
— Sam — o tom dele é gentil, mas não posso me deixar amolecer
por ele.
Esse foi o cara que tirou minha virgindade, que teve diversas
chances de lutar por mim, e ele escolheu me deixar.
Dax está sendo gentil por pena, nada mais. Como eu detesto isso:
preferiria que ele sentisse qualquer coisa por mim, até mesmo indiferença,
exceto pena.
Apesar de estar quebrando por dentro, eu inspiro fundo e junto
coragem para agir como uma adulta independente que já se recuperou da
nossa separação.
— Zack comentou que a ideia de um jantar surpresa para mamãe
foi sua — minha voz está um pouco tensa, mas, pelo menos, está firme. —
Obrigada.
Pronto.
Uma resposta educada, sem demonstrar que eu estou morrendo de
saudades, que eu amo escutar a sua voz dizendo meu nome, que eu
desejava que ele estivesse aqui sussurrando essas palavras no meu ouvido.
Para de ser ridícula, Sam!
— De nada. Ela sempre foi ótima comigo — Ele responde no
mesmo tom educado, que me deixa mais aliviada.
Se ele continuasse com aquele tom triste, de pena, teria que jogar o
celular pela janela, e tenho certeza de que Zack não ficaria muito contente
com isso.
Eu acabo relaxando demais, porque digo a coisa mais estúpida que
poderia dizer ao Dax neste momento:
— Eu estava tão distraída essas últimas semanas que quase esqueci
o aniversário dela.
Espero que ele não repare no que eu acabei de dizer.
— Distraída? Com o quê?
Droga! Claro que ele reparou! Desde que nos reencontramos,
semanas atrás, Dax parece reparar em absolutamente TUDO que eu faço e
digo!
— Hã... — O que eu vou dizer agora? Que desculpa inventaria?
Zoey nem me dá a oportunidade de criar alguma história, porque, depois
de vomitar no Zack, ela se vira para falar comigo e... — ZOEY!
Ela vomita em mim.
***
Demoramos uns quinze minutos para conseguirmos limpar toda a
sujeirada. Tudo meu ficou coberto de vômito fedendo a margaritas: os
tênis, o jeans, a camiseta... Ugh.
Felizmente, a loja de conveniência do posto vendia algumas
roupas, então Zack comprou tudo para nós. Depois de nos trocarmos, e de
Zoey tomar uns dois litros de água, ainda tivemos que limpar o carro da
melhor forma possível.
Pelo menos, estamos chegando na fazenda. Mais uns dez minutos
de estrada.
— Você me sujou todo — Zack reclama quando volta a dirigir.
— Você mereceu, seu imbecil — ela replica, enfiando balas na
boca. — Queria que seu melhor amigo estivesse aqui também, para eu
vomitar nele.
Ah, não. Era para ela já estar sóbria, depois de tudo o que vomitou!
Pelo jeito, continua embriagada. E, quando Zoey está embriagada, ela fala
que nem uma matraca, como se tivesse tomado o soro da verdade.
— Meu melhor amigo?
— Cala a boca, Zoey — aviso.
— Não, não vão mais me calar! — ela esbraveja, ainda falando
enrolado. Isso mesmo: estou completamente ferrada, porque a Zoey
continua alcoolizada. — Seu irmão é um merda e o melhor amigo dele é
um imbecil!
É agora. Estou sentindo. Desta vez, terei um ataque cardíaco. Pelo
menos, não morrerei uma virgem.
— Por que está falando assim do Dax? — Zack questiona, confuso.
— Porque o seu melhor amigo de merda fez a minha melhor amiga
do mundo sofrer.
Okay, preciso bolar um plano. E se eu colocar o dedo na garganta
para vomitar em cima do Dax e da Zoey? Assim, consigo distraí-los.
— Você sofreu por causa do Dax, Sam? — Zack pergunta,
perplexo.
Coloco o dedo na goela, mas nada acontece. Também, Zoey bebeu
por mim e por ela. O jeito é lidar com meu irmão.
— Zack, deixa pra lá — eu peço. — Depois a gente conversa.
Ele ignora meu comentário, balançando a cabeça, como se
estivesse calculando uma fórmula matemática impossível.
— Isso quer dizer que você e o Dax....
— Chega! — ordeno desta vez.
— Não — ele chegou à única conclusão possível.
— Esquece, Zack!
— NÃO! — Ele berra, dando-se conta do que as palavras de Zoey
significam.
Claro que, do jeito que minha sorte anda, é neste exato momento
que chegamos à fazenda.
O carro de Dax está estacionado ao lado da caminhonete dos nossos
pais.
Zack sai do carro, mas eu sou mais rápida e o seguro pelos ombros.
— Pare, Zack!
— É você, Sam? A garota de quem o Dax não se desgrudou antes
do casamento da Anne? — ele pergunta, mesmo sabendo qual é a resposta.
Ele está com o olhar do assassino de O Massacre da Serra Elétrica.
— Calma, Zack, por favor, me deixa explicar.
— Eu vou cortar os testículos do desgraçado!
Zack corre para dentro da casa, enquanto Zoey caminha aos trancos
e barrancos. Corro atrás do meu irmão. Desta vez, vou deixar Zoey lidar
com sua bebedeira.
— Zack, peraí!
Quando chego à sala de estar, parece que tudo acontece em câmera
lenta.
Sabe, naqueles filmes de ação, quando os protagonistas se mexem
com uma lerdeza surreal, e somos obrigados a passar longos segundos
aflitos, sabendo que a merda será jogada no ventilador e não há nada a
fazer?
— Zaaaack! Nãoooooo! — até minha voz parece sair em câmera
lenta, enquanto meu irmão avança na direção de Dax, que conversava
pacificamente com os meus pais e os dele em frente à lareira.
Vejo o rosto de Dax se fechar em uma expressão confusa. Em
milésimos de segundos, sua expressão se transforma em uma de
compreensão. Ele sabe o que está acontecendo. Ele entendeu que meu
irmão descobriu a verdade sobre nós dois.
Dax se levanta, quase no mesmo instante em que meu irmão se
joga no ar e cai em cima dele, e os dois se espatifam juntos no chão.
45
Dax

A Sra. Carmichael ficou extremamente grata e surpresa com o


jantar de aniversário. Mais animada ainda ela ficou ao descobrir que todos
nós passaríamos o final de semana em Surrey.
Enquanto batia papo com os coroas, eu ia ficando mais inquieto e
ansioso à medida que o tempo passava, porque eu sabia que Sam chegaria
a qualquer instante.
Nós estávamos sentados na sala de estar dos Carmichael, em frente
à lareira acesa, quando ouvimos o som do carro de Zack.
Meu coração acelerou ao saber que, em alguns segundos, Sam
entraria por aquela porta. Muito em breve, eu revelaria tudo para nossas
famílias. Em breve, não haveria mais obstáculos entre nós.
Pelo menos, era o que eu havia planejado fazer. Até ver Zack correr
em minha direção, e Sam atrás dele.
— Zaaaack! Nãoooooo!
Nesse instante, percebo o que está acontecendo. Ele descobriu.
Antes que eu tivesse a chance de contá-lo. Nem preciso de dois neurônios
para imaginar o que aconteceu: Zoey está bêbada e irritada, e deve ter
falado tudo na viagem até aqui.
Levanto-me para encará-lo de frente, e Zack me derruba no chão,
caindo por cima de mim.
— Como pôde fazer isso? — Ele diz, usando as mãos para me
enforcar. — Ela é a minha irmã caçula! É o bebê da família!
Ouço meus pais e os Carmichael gritando com Zack, implorando
que ele pare, que se acalme, mas eu o conheço. Quando Zack estoura, ele
precisa extravasar.
Não bato de volta enquanto ele desfere socos. Porque, se eu quero
que um dia Zack me perdoe, então é melhor ele entender, desde agora, que
eu não escolhi amar a irmã dele, não fiz isso para traí-lo.
Mas eu a amo e não vou deixá-la por causa dele. Isso também
precisa entrar na cabeça dura dele.
— Pare com isso, Zack! Pare, por favor! — Sam diz, e vejo
lágrimas rolando pelo seu rosto.
O resquício de culpa que eu ainda sinto fala alto ao vê-la, mais uma
vez, sofrendo por minha causa. Nada vai apagar o fato de que eu me
aproveitei dela, porque sabia que ela era virgem e inexperiente.
Porém, o que eu jamais esperaria era que aquela mulher tímida e
inteligente caberia tão perfeitamente nos meus braços, como nossa
química – na cama e fora dela – seria avassaladora.
Não há como viver sem Sam, não depois de saber que eu só me
sinto completo, que eu só sou a melhor versão de mim mesmo, na
companhia dela.
Já dormi com dezenas de mulheres. Dezenas não, quis dizer
centenas. Ela só dormiu com um cara na vida, e eu sou o sortudo. E vou
passar o resto da vida lutando para continuar sendo o único sortudo.
— Chega! — O pai de Zack e o meu o afastam de mim, e minha
mãe e Mary me ajudam a levantar.
Somos levados a sofás que ficam frente a frente na sala de estar,
nossas mães se revezando para fazerem curativos. Zack me encara com um
ódio assassino nos olhos, e Sam continua chorando, encolhida na poltrona.
Zoey apenas nos observa de longe, com o olhar culpado. A briga
deve tê-la deixado mais sóbria, e ela está claramente arrependida do que
quer que tenha dito a Zack sobre a minha relação com a melhor amiga
dela.
— Você é um mentiroso desgraçado, Caden — Zack tenta se
levantar, mas os homens o seguram no sofá. — Como ousou me trair
assim?
— Eu sinto muito, Zack. Sinto mesmo.
E é a verdade. Sam chora mais, sem conseguir me olhar nos olhos,
e eu sei bem qual é o motivo: ela ainda acha que eu considero nossa
relação impossível.
Eu já abri os olhos, Sam. Mas ainda não é o momento de dizer que
vou lutar por você. Preciso deixar seu irmão se acalmar um pouco.
— É melhor que sinta muito mesmo, seu pedófilo! — Zack me
xinga.
Nossos pais, estranhamente, não fazem qualquer pergunta. A não
ser para nos separar, eles não se metem na discussão.
Será que estão tão chocados com a briga que nem conseguiram
entender o que está acontecendo?
Sam, por outro lado, parece sair do estado de tristeza e entrar em
um estado de fúria. Ela levanta-se, pega um livro em cima da mesa de
centro e o joga contra o irmão.
— Como você ousa chamá-lo de pedófilo se tirou a virgindade da
Zoey quando ela era muito mais nova que eu quando perdi a minha? — ela
grita.
Tenho que admitir que o ponto dela é válido. No fim das contas,
Zack está me julgando por algo que ele também fez com Zoey.
Se somos culpados, vamos para a forca juntos, irmão.
Nossos pais continuam calados, mas eu vejo uma sombra de sorriso
no rosto de minha mãe, e Mary e o Sr. Carmichael se entreolham com
divertimento nos olhos.
Como diabos eles podem achar esta situação divertida? Como não
estão chocados com a explicação – bem gráfica, por sinal – do que rolou
entre todos nós?
— Isso não tem qualquer relevância! — Zack esbraveja, mais uma
vez precisando ser contido pelos nossos pais. — As situações são
completamente diferentes!
— Ah, é? — Sam cruza os braços, e devo admitir que sua
expressão irritada me deixa um tanto quanto excitado, o que é
extremamente inadequado, tendo em vista as circunstâncias. — Me diga
como são diferentes? Ela também era uma garota inocente, e muito mais
inocente do que eu, porque era bem mais nova!
— Ela não tem irmão mais velho, Rose.
— É SAM! PARE DE ME CHAMAR DE ROSE!
Sam grita, mas ela não é a única a perder a paciência. Zoey cruza o
cômodo e dá um tapa na cara de Zack, pegando todos de surpresa.
— Seu imbecil machista! — ela o acusa. Agora, posso jurar que
minha mãe está segurando a gargalhada. — Quer dizer que apenas
mulheres com irmãos mais velhos devem ser respeitadas?
Imediatamente, Sam dá um sorrisinho vencedor e se senta de volta
na poltrona ao meu lado, ainda sem olhar para mim.
Agora, que Zoey entrou no ringue, Sam vai deixá-la lidar com
Zack. E eu também. Minha prioridade é acertar as coisas com Sam, não
Zack.
— Zoey, eu não quis dizer isso e...
— ENTÃO O QUE VOCÊ QUIS DIZER, SEU TROGLODITA? —
ela o interrompe, apontando o dedo na cara dele. — Porque, até agora,
você está se comportando como um machista babaca!
A Sra. Carmichael solta uma gargalhada, e disfarça com tosse.
Como nossos pais podem estar tão tranquilos numa situação dessas?
Minha mãe me olha de soslaio, deve notar que meu olho está
ficando roxo, porque sai rapidamente da sala para pegar um saco de
ervilhas congeladas e volta correndo, para não perder a cena.
— M-machista? Zoey, eu...
— Quem é você para acusar o Dax por coisas que você também
fez? — Desta vez, Zack não responde, apenas fica pálido.
— Zoey tem razão, Zack — Sam volta para a arena. — Você não
tem o direito de acusar o Dax de te trair quando fui eu que escolhi ficar
com ele! Sou uma mulher, sabia? Ou não recebeu os avisos de mamãe
avisando dos meus aniversários?
— Ros... Digo, Sam, eu sei que você é uma mulher, mas você
sempre será minha garotinha e...
— NÃO SOU SUA GAROTINHA! Sou uma mulher, e tenho direito
de tomar as minhas decisões! Eu decidi mentir – digo, omitir – sobre a
minha identidade para o Dax, que não me reconheceu.
Todos os olhos da sala se voltam para mim.
— Isso é verdade, Dax? — Zack pergunta, e seu olhar não é mais
assassino. — Você ficou com a minha irmã sem saber quem ela era?
— Sim, mas eu quero esclarecer que...
Não consigo revelar o que vim aqui para revelar porque meu
melhor amigo – que está, de fato, se comportando como um verdadeiro
idiota – volta a gritar, me interrompendo.
— Não acredito que fez isso! — agora a raiva dele se volta para
Sam. — Nós tínhamos um acordo, Rose... Sam!
— Então você pode sair tirando a virgindade das minhas amigas,
mas eu não posso ficar com o cara por quem sou apaixonada, que eu amo a
minha vida inteira?
Meu coração incha. Não apenas ela acabou de admitir que ainda me
ama, como acabou de dar abertura para eu acreditar que ainda tenho uma
chance.
É só não fazer cagada, Caden. Diga o que tenha a dizer. Isto é, se
Zack O Pentelho me deixar falar.
— Minha história com Zoey é diferente da sua com Dax! — Zack
acusa.
— Você fica repetindo que é diferente. O que há de diferente?
— A diferença é que eu amo a Zoey!
Okay, então ele finalmente conseguiu admitir seus sentimentos.
Não foi nada como havíamos planejado. Ele disse que a ama com ódio
mortal nos olhos e encarando sua irmã, não a mulher que ele de fato ama.
Zoey, por sua vez, o encara boquiaberta com a revelação. Isso aqui
está virando uma verdadeira novela.
— E como sabe que o Dax não me ama?
Todos na sala voltam a olhar para mim. Finalmente. Vão me dar
uma chance de me redimir com Sam.
— Você ama a minha irmã, Dax? Isso não é só mais um dos seus
casos?
Olho para a mulher que eu amo. Mesmo agora, no meio desta
confusão maluca, sinto um desejo incontrolável de beijá-la, penso em seu
corpo nu sob o meu, em como é bom estar dentro dela.
Penso em nossos beijos, em como eu nunca consegui resisti-la, em
nossas conversas, nas risadas que dividimos e nos momentos que
compartilhamos, em como ela é perfeita para mim.
— O que eu sinto pela sua irmã é entre nós dois, Carmichael. Lide
com isso ou perca a minha amizade, a escolha é sua. — Digo secamente, e
me viro para Sam, que está com os olhos cheios de lágrimas de novo, mas,
desta vez, não é tristeza, pois um sorriso curva seus lábios carnudos. —
Vamos conversar a sós, Sam?
Levanto-me e ofereço a minha mão para ela, que aceita.
— Nem ferrando! — Zack berra.
— Se quiser nunca mais olhar para a minha cara, isso é direito seu,
Zack — digo, sem tirar os olhos de Sam. — Eu sinto muito por não ter te
contado antes, mas não vou desistir dela. Nem por você, nem por ninguém.
Eu a puxo pelas escadas, dirigindo-me ao quarto dela aqui na
fazenda, mas paro ao escutar uma última acusação de Zack.
— Seu desgraçado. Você é um traidor.
Não resisto, e me viro para responder. Apesar do que eu disse, eu
realmente não quero perder o meu melhor amigo. Eu quero que ele
entenda que, se eu pudesse, não ficaria com a irmã dele.
Mas é impossível ficar longe da mulher da sua vida.
— Eu passei as últimas semanas enlouquecendo de saudades dela,
pensando em Sam cada milésimo de segundo de cada hora do maldito dia,
sonhando com ela todas as noites. Eu tentei ficar longe dela, Zack. E não
consegui.
Sam aperta a minha mão, e seu sorriso se alarga. Preciso sair daqui
e conversar a sós com ela. Agora.
— Algumas semanas? — Zack questiona com ironia no tom. —
Isso não é nada. Sabe há quanto tempo eu sofro por não estar com a
mulher que eu amo?
— Exatamente meu ponto, Carmichael — rebato. — Você está
disposto a passar o resto da sua vida infeliz por orgulho. Pois eu prefiro
ser o Mr. Darcy desta história. Mesmo que isso me custe a sua amizade.
As mulheres estão praticamente arfando a esta altura. Eu já deveria
ter imaginando que mencionar o nome de Darcy seria como fazer um
feitiço do amor.
— Filho...
— Não, pai — eu o interrompo, já imaginando o que ele vai dizer.
— Não foi como você pensa. Sam não é um caso. Sr. Carmichael, Sra.
Carmichael, vocês se incomodariam se eu falasse com a Sam a sós?
Esse pedido é uma mera formalidade, porque, mesmo que eles
negassem, eu a carregaria no colo e me trancaria com ela no quarto.
Além do que, depois dessa confusão, quero que meus futuros
sogros não fiquem com uma má impressão de mim. Quero que eles saibam
que minhas intenções com Sam são as mais sérias possíveis.
— Fique à vontade, querido — Mary responde com um sorriso.
Terminamos de subir as escadas, e, quando estamos no segundo
andar, Sam puxa a minha mão.
— Não estamos em um romance do século XIX, Dax — ela
sussurra, provavelmente achando que eu exagerei com o pedido para ficar
a sós com ela.
— Fiz todas as cagadas que poderia da última vez, Sam. Dessa vez,
quero fazer tudo direitinho.
46
Sam

Minhas mãos estão trêmulas ao entramos no quarto que eu uso


quando visito meus pais em Surrey. Ele sente o meu nervosismo, e dá um
beijo sobre cada um dos meus dedos.
Sei que fez para me deixar relaxada, mas o toque de seus lábios,
apesar de inocente e simples, faz meu corpo estremecer.
Ele me lança um olhar de compreensão, e um sorriso diabólico
surge em seus lábios. Sua língua deixa a boca e passa entre cada um dos
meus dedos, transformando o gesto romântico em um sensual.
Aperto as coxas e mordo o lábio inferior, mas engulo o gemido. Já
estou facilitando o suficiente para ele. O gesto de Dax foi lindo, mas,
como eu já disse antes, não vou mais me satisfazer apenas com gestos.
Quero o pacote completo. Não, não estou falando de casamento.
Pelo menos, não por enquanto.
Mas quero sair com ele sem precisar esconder o fato de ninguém,
quero que ele não saia com outras mulheres, assim como não sairei com
outros homens.
Finalmente, quero que a gente tenha uma chance de verdade. Ou
prefiro nem tentar mais.
Puxo a minha mão presa na dele, porque desse jeito estaremos na
cama antes que consigamos conversar e acertar alguns pontos.
Meu coração continua acelerado enquanto eu encaro seus lábios,
então fecho os olhos. Melhor.
Digo, não tão melhor. Agora, sem a visão, meu olfato ficou mais
aguçado, e seu cheiro delicioso e masculino invade as minhas narinas.
É melhor eu iniciar logo essa conversa.
— O que você queria conversar comigo, Dax?
Não o escuto, mas eu o sinto se aproximando. Sinto seu calor
emanando do seu corpo, sinto sua respiração contra a minha face, sinto seu
rosto a milímetros do meu.
— Olhe para mim, Sam. Por favor.
Não consigo abrir os olhos, por medo do que virá a seguir. Parece
que minhas pálpebras se recusam a funcionar, parece que meu corpo
entrou em modo de sobrevivência no que se refere a Dax.
Quase tenho um ataque cardíaco quando sinto seus dedos
acariciando levemente meu rosto. Ele se aproxima ainda mais, até sua
testa colar na minha.
— Sam. Por favor.
Abro os olhos. Grande erro. O que quer que ele tenha a dizer, não
sei se terei forças de recusar. Não quando ele me olha com tamanha
intensidade.
— Sobre o que queria conversar, Dax? — minha voz sai levemente
trêmula; ainda assim, está infinitamente mais calma do que eu me sinto
por dentro.
— Eu te amo — ele diz as três palavras que achei que nunca fosse
ouvir de seus lábios. Ao menos, não direcionadas a mim.
Calma, Sam, Controle-se.
— Se me ama, por que me fez sofrer tanto? Por que me disse que
nossa relação era impossível?
Ainda com a testa colada na minha, ele me abraça forte, e inspira
profundamente, como se estivesse se esforçando ao máximo para não me
beijar.
Conheço o sentimento, Caden. Mas é melhor você se controlar,
porque eu quero algumas respostas.
— Fui um completo idiota. Não sei como não enxerguei antes o
quanto você é importante para mim.
— E meu irmão?
— Se eu precisar passar o resto da minha vida brigando com ele,
assim será. Vai valer a pena. Por você, tudo vale a pena.
— Não quero que briguem.
— Depois do seu discurso e o da Zoey lá embaixo, acho que ele
nem vai se achar no direito de reclamar contigo.
Reviro os olhos, porque não acredito nem um pouco que algumas
palavras duras sejam capazes de mudarem o senso protetor de Zack.
Dax ri, provavelmente pensando que meu irmão nos dará muito
mais trabalho do que ele supõe.
— Meus pais... Eles podem ser contra nosso relacionamento —
comento. — Os seus também.
Quero que Dax saiba de todos os riscos, quero que entenda que
obstáculos podem estar à nossa frente.
Preciso saber que ele está disposto a superar todos os desafios ao
meu lado. Se não, nem vou me esforçar mais.
— A gente dá um jeito, Sam. Juntos, conseguiremos superar
qualquer coisa.
— Não é tão fácil assim.
— Eu sei que não. Nenhum relacionamento é. Você... Está
desistindo de mim?
Nunca. Mesmo quando achei que havia desistido dele, lá no fundo,
a esperança continuava viva, insistindo que ainda havia uma chance de eu
conseguir ficar com o homem que sempre amei.
Finalmente.
— Não estou desistindo de você, Dax. Só queria ter certeza se está
verdadeiramente disposto a lutar por mim.
Ele baixa a cabeça, e sua expressão fica aflita.
— Sei por que tem dúvidas. Eu não deveria ter sido tão covarde. —
Ele volta a me encarar, e com um fogo que me aquece por completo. — Eu
juro para você que vou compensar por ter agido como um idiota.
— E eu sinto muito por ter mentido para você.
— Você não teria mentido sobre quem é se eu não fosse um
covarde.
Meus lábios se curvam levemente para cima, em um pequeno
sorriso. Ele segura meu rosto e me dá um beijo leve na boca, que é
suficiente para fazer meu coração voltar a acelerar como um carro de
Fórmula 1.
Em seguida, Dax se ajoelha em frente a mim.
Quê?
Como?
O que ele pensa que está fazendo?
— Dax... Você não...
— Eu tenho um pedido a fazer, Sam.
— Rápido demais, Dax. Rápido demais.
— Nem disse ainda o que era...
— Dax...
— Samantha Rose Carmichael, você me daria a honra de ser minha
namorada?
Sinto o alívio percorrer meu corpo.
— Dax, não estamos em um romance do século XIX, eu já disse!
— E eu já expliquei que não vou fazer mais nada de errado.
— Sim. Aceito ser a sua namorada.
Ele se levanta e me segura no colo, desta vez, me dando um
daqueles beijos de cinema que nos fazem ficar sem respirar. Quando,
enfim, nossos lábios se separam, ele diz, com uma voz rouca e pupilas
dilatadas.
— Chegou a hora de encarar nossas famílias, Sam.
— Tudo bem.
— Está pronta?
— Para encará-los com você? Sempre estive, Dax.
— Porra, sou muito sortudo.
***
Quando descemos de volta para a sala de estar, nossos pais estão
discutindo com ar preocupado. Não é bom sinal.
— Precisamos conversar — Dax anuncia, de mãos dadas comigo.
— Ah, precisam? — papai questiona, com um meio sorriso
travesso.
A reação deles não faz sentido. Eu esperava sermões, reclamações,
acusações, não sorrisos. Na verdade, eles tampouco reagiram da forma que
eu esperava durante a discussão.
Em um dos momentos, eu podia jurar que mamãe estava segurando
a gargalhada, assim como a Sra. Caden.
Eu e o Dax nos entreolhamos, meio na dúvida de como reagir.
— Achamos que vocês iriam querer conversar conosco, depois de
toda... A briga — eu digo.
— Querem conversar sobre o namoro de vocês? — mamãe cruza os
braços e levanta uma sobrancelha, abrindo um sorriso gigante.
— Ficamos muito felizes quando descobrimos — o Sr. Caden
comenta.
Como assim quando eles descobriram? Eu acabei de descobrir que
namoraria com o Dax, oras!
— E achamos que devem fazer o que os deixar felizes — A Sra.
Caden diz com uma gentileza que me emociona.
— Independentemente do que os outros acharem — O Sr. Caden
completa.
— Eu... — nós nos entreolhamos de novo. — Nós não esperávamos
essa reação.
— Vocês nem parecem surpresos — Dax diz em tom de acusação.
— Não estamos surpresos — mamãe solta uma gargalhada. — Nós
já sabemos há algum tempo.
— Desde o dia seguinte ao casamento de Anne — a mãe do Dax
admite. — Zoey tomou mais “remédios” e acabou contando tudo para os
pais naquela noite no hospital.
Ah, não. Esta é uma péssima notícia. Se Zoey contou coisas
enquanto estava alta da medicação, deve ter sito bastante literal sobre o
que estava rolando.
— Ela contou tudo? — questiono, temendo a resposta.
— Sim — minha mãe responde, revirando os olhos. — Até mais do
que gostaríamos de saber. Sobre vocês e especialmente sobre ela e Zack.
Nossa, só falta ela ter falado das coisas que eu e o Dax fizemos nas
noites – e dias – que passamos juntos.
Eu. Vou. Matar. A. Zoey!
— Os Tucker nos reuniram em um jantar para nos contar, e
decidimos, em conjunto, que não iríamos interferir — papai revela. Gente,
quem imaginaria que os nossos pais seriam tão discretos assim? — Você
tem razão, Sam: são todos adultos.
— Queremos o melhor para vocês, mas a decisão precisa ser de
vocês, não nossa — a mãe do Dax concorda.
— Não que isso vá fazer diferença — Dax diz, me abraçando de
lado —, mas o que acham de nós dois juntos?
Todos sorriem e parecem muito animados.
— Ficamos tão felizes! — o pai do Dax responde com animação.
— Sempre quisemos que nossos filhos ficassem juntos.
— Estávamos bem preocupados quando os Tucker nos informaram
que vocês pareciam estar brigados — mamãe admite.
— Como eles sabiam que estávamos brigados? — pergunto.
— Zoey não é a pessoa mais discreta ao telefone. — mamãe
explica, e eu penso que realmente preciso matar a Zoey. — Nem nas redes
sociais.
Bem, no caso das redes sociais, eu posso perdoá-la, porque a
indiscrição fazia parte do plano. Nós queríamos deixar Zack e Dax com
ciúmes, apenas não imaginamos que nossos pais acompanhariam nossas
vidas amorosas.
— E o Zack e a Zoey? — Dax pergunta.
Enquanto conversávamos lá em cima, não ouvi os gritos deles, o
que provavelmente significa que não estão mais na casa.
— Depois que contamos para eles o mesmo que revelamos a vocês,
eles começaram a discutir, saíram da casa e, entre a entrada e o carro
começaram a se beijar — papai explica.
— Eles estão agora na nossa casa — mamãe revela.
Ela nem precisa detalhar onde e o que imagina que eles estejam
fazendo. Bom para eles.
— Vamos todos dormir aqui esta noite — papai informa.
— Definitivamente mais informação do que eu precisava — Dax
expressa o que eu estou sentindo. — Bem, eu e Sam vamos subir.
Quando estamos no topo da escada, escutamos a minha mãe gritar
lá de baixo:
— Ah, e crianças? Na próxima vez que quiserem guardar um
segredo dos seus coroas... Desistam.
— Nós sempre descobrimos — papai diz.
— Sempre — a mãe do Dax concorda.
— Toda vez — o pai dele também.
Okay, entendemos o recado.
47
Dax

Um ano e meio mais tarde...

A decisão mais importante da minha vida foi tomada.


Na realidade, eu já estava determinado a seguir naquele caminho
desde que reencontrei Sam, na livraria, conversando com Zoey sobre um
vibrador roxo.
Não sei exatamente quando eu soube que passaria o resto da minha
vida com Samantha Rose Carmichael, ou o momento exato em que meu
coração se tornou dela; o importante é que eu me cansei de esperar para
oficializar o que desejo há muito tempo.
Agora, apenas me resta falar com uma pessoa. Claro que eu vou dar
continuidade ao meu plano com ou sem a aprovação dela, mas sei que Sam
preferiria ter o apoio de sua melhor amiga.
Mesmo que esta amiga seja Zoey Tucker, uma das pessoas mais
difíceis que conheci na vida. Claro que, assim como Sam, aprendi a amá-la
e respeitá-la com o tempo, mas isso não quer dizer que eu não tenha
pensado em esganá-la uma ou meia dúzia de vezes.
— Oi, Zoey.
Esperava que ela estivesse tranquila hoje, porque eu venho
perguntando a Zack sobre o estado emocional dela há algumas semanas.
Desde que ela ficou grávida, sua irritação aumentou uma centena
de vezes, e suas mudanças de humor são tão constantes quanto as chuvas
em Londres.
Ela ainda não aceitou se casar com Zack, apesar de viverem juntos
há quase um ano e ela estar grávida dele de seis meses.
Zoey insiste que não quer qualquer amarra legal com nenhum
homem, nem mesmo o pai de seus filhos. Zack, contudo, não desiste: uma
vez por mês, ele faz o pedido. Ele acha que, uma hora, ela vai mudar de
ideia.
Eu duvido muito.
Apenas torço para que ela mantenha suas ideias sobre casamento
para ela mesma. Espero que ela não tenha a opinião sobre suas amigas se
casarem, em especial a Sam.
Mesmo sabendo que hoje é um dia bom da Zoey, sei que, de um
jeito ou de outro, ela vai começar com suas cobranças. E é nesse momento
que eu anunciarei minha intenção.
Não preciso esperar muito para ela começar com a artilharia
pesada. Ela já atende meu telefonema com desaforos.
— Você e minha melhor amiga já encomendaram meu futuro
afilhado? — ela exige, como vem fazendo desde que descobriu que estava
grávida. — Minha filha vai precisar de namorado, Dax!
No início, ela costumava fazer essa pergunta uma vez por mês,
geralmente na época do período de Sam.
Primeiro, ela me ligava, questionando se eu havia desempenhado
minhas obrigações sexuais com a minha namorada.
Não é nenhum esforço desempenhar essas funções com Sam, mas
Zoey desconsidera o fato de que minha namorada está tomando pílula.
Nos últimos três meses, Zoey tem ficado impaciente, e começou a
nos ligar diariamente para cobrar que a gente gere uma criança para
satisfazer seu desejo de termos filhos da mesma idade.
É nessas horas que tenho vontade de esganá-la. Hoje, porém, vou
usar esse desespero de Zoey ao meu favor: afinal de contas, eu prometi a
Sam que faria tudo direitinho entre a gente, então não vou engravidá-la
enquanto ela não se tornar minha esposa, não é mesmo?
— Ainda não, Zoey — respondo calmamente. — Mas sei uma
maneira de engravidá-la.
— Finalmente — ela soa aliviada — você finalmente decidiu
falsificar as pílulas?
Ah, sim. Essa foi uma das últimas novidades da Zoey: depois de
tentar convencer Sam a parar de tomar a pílula por meses, sem sucesso,
ela decidiu me incentivar a trocar as pílulas de Sam por placebo.
— Tenho uma ideia melhor ainda, Zoe — ela resmunga do outro
lado, afirmando que eu jamais teria inteligência suficiente para ter uma
ideia melhor que a dela. Por sorte, nada do que ela me disser vai me
chatear hoje. — Vou pedir a sua amiga em casamento.
Ela volta a resmungar, mas eu dou as minhas explicações de como,
depois de casados, Sam vai querer ter filhos, como ela já me disse que
quer fazer.
Nós já até pré-combinamos como vai funcionar. Quando
decidirmos engravidar, Dave vai se mudar para meu quarto em Notting
Hill, pagar o mesmo aluguel que paga a Sam, mas vai também administrar
a casa.
Aí, nós reformaremos o segundo andar da casa dos Carmichael
para ficar adequado para crianças, e transformaremos o terceiro em uma
suíte muito confortável – e com bastante privacidade – para nós dois.
— Então está esperando o que, Dax? Fujam logo para casar em
Vegas!
Rio do comentário de Zoey, porque é bem a cara dela querer ser
imediatista. Mas, como eu já disse, quero fazer tudo direitinho, o que
inclui festa de noivado, e uma festa de casamento para a família.
Nada de fuga para Las Vegas.
— Não vamos nos casar em Vegas — meu tom está firme, porém
gentil — Mas tenho certeza de que Sam precisará de sua ajuda com os
preparativos. E eu quero sua ajuda – e benção – para escolher o anel de
noivado e me ajudar a preparar como será feito o pedido.
— Claro que você quer a minha ajuda! Quem melhor para escolher
um anel que a minha melhor amiga vai amar? Quem melhor para saber
exatamente como fazer o pedido?
— Obrigado, Zoey — agradeço, apesar do seu tom antipático.
— Estarei pronta daqui a quinze minutos para visitarmos algumas
joalherias — ela avisa, e desliga na minha cara.
Eu já esperava que ela fosse querer ir logo ver anéis de noivado,
porque, do jeito que anda ansiosa, ela vai insistir que a gente se case o
quanto antes.
E foi exatamente esperando essa reação que eu deixei meu
calendário livre de reuniões hoje.
48
Dax

Uma semana mais tarde...

Zoey está me ligando tanto nos últimos dias que Sam começou a
desconfiar. Como estamos fechando os detalhes sobre o pedido de
casamento, as ligações são secretas, e eu tenho que atendê-las em segredo.
Claro que, mesmo Sam sendo compreensiva sobre meus horários
de trabalho malucos, já que eu trabalho de Londres com o escritório de
Nova Iorque, ela percebeu que há algo acontecendo.
Quando você mora com alguém com a rotina tão certinha como a
de Sam, é difícil não reparar quando eu comecei a sair da sala para atender
ligações; ou que eu acordo no meio da noite com o celular tocando (sim,
Zoey começou a ter pesadelos sobre o que poderia dar errado e sempre faz
questão de me ligar assim que ela acorda).
Prefiro nem imaginar o que se passa na cabeça de Sam, mas sei que
meu tempo de planejar está se esgotando; preciso fazer logo a proposta.
Estou seguro de que Sam desconfia que algo está acontecendo, e
suas suspeitas, pela expressão triste que ela vem me dirigindo, não são
nada positivas.
Apesar de querer o conselho da Zoey, eu havia decidido comprar o
anel sozinho. Nós já tínhamos ido a várias lojas e eu já tinha uma ideia
bem precisa do tipo de joia que Sam gostaria de receber.
Óbvio que Zoey não permitiu.
— Acha que nasci ontem? Sei como vocês, homens, são! — ela
avisa. — Se deixá-lo ir sozinho, vai comprar uma coisinha sem graça! Ou
pior, vai querer gastar seus infinitos milhões e comprar algo brega de tão
grande, que Sam jamais colocaria no dedo!
Sabendo que Zoey não vai me deixar em paz sobre a escolha do
anel de noivado, e considerando que é bem provável que ela entenda mais
dessas coisas do que eu, decido aceitar sua exigência.
— Claro, Zoey. Eu não tenho seu gosto.
Além disso, se eu não gostar da sugestão dela, é bem simples: é só
comprar o que eu mais gostar.
— Claro que não tem o meu gosto! Mas a culpa não é sua; o
desenvolvimento do cérebro masculino é diferente.
— Ah, é? — Essa eu faço questão de ouvir.
— Claro, Dax. Afinal de contas, vocês têm duas cabeças, mas
apenas sangue suficiente para uma — ela está falando sério. Muito sério.
Seguro a gargalhada, mas com certeza vou sacanear o Zack pelo resto da
vida depois dessa. — Sinto muito por vocês homens.
— Obrigado. — Tento soar como se não estivesse prestes a
explodir na gargalhada.
— De nada, querido — ela responde. — Então, eu tenho um tempo
na minha agenda para amanhã de manhã. Pode passar na minha casa às
oito.
Ela desliga na minha cara, sem perguntar se eu terei
disponibilidade nesse horário.
No dia seguinte, no horário marcado, eu já estou pronto para
comprar o anel. Afinal de contas, todo o resto já está pronto: eu me
organizei para fazer o pedido hoje à noite.
Eu e Zoey concordamos que compraremos o anel de noivado na
joalheria favorita de Sam, uma empresa sustentável, que tenta reutilizar
metais preciosos e apenas usa diamantes de regiões sem conflito, onde
fomos na semana passada.
Pedimos para ver a linha de produtos exclusivos, porque eu queria
algo que fosse especial, que apenas a Sam teria. E, considerando que ela
ama história, pedimos que nos mostrassem seus anéis exclusivos no estilo
vintage.
Para aqueles de vocês que não têm ideia que diabos é vintage, não
se preocupem; eu achava que era um tipo de queijo antes de procurar na
internet.
Essa foi, sem dúvida, a melhor dica da Zoey, porque nunca em
minha vida eu pensaria em entrar em uma joalheria e pedir para olhar a
linha de anéis vintage. E, aparentemente, é o estilo favorito da Sam para
joias.
Por sinal, estilo vintage é quando o objeto é novo, mas parece ser
velho. Mais precisamente, parece ser algo clássico, de outra época.
Enquanto Zoey discute com a vendedora sobre cada modelo, eu
analiso algumas das peças, escolho uma delas e traço um plano para guiar
Zoey até o anel escolhido.
Por sorte, a vendedora me inclui na conversa depois de alguns
minutos.
— O senhor tem alguma sugestão?
Zoey me dirige um olhar confuso e foca a atenção na vendedora.
— Por que está perguntando a opinião dele? — Zoey questiona,
deixando a vendedora branca que nem papel.
Eu estou segurando a gargalhada.
— Eu... — a moça tenta se explicar, mas é interrompida por Zoey.
— Está flertando com o Dax? — Zoey a acusa, e agora a vendedora
fica ruborizada.
— Não! — ela nega, arregalando os olhos castanhos para nós dois e
balançando a cabeça ferozmente. Só a Zoey para dar um ataque cardíaco a
uma mulher de vinte e poucos anos. — Eu...
— Vá procurar outro noivo, porque este aqui tem dona! — ela
avisa.
Não resisto e gargalho. Zoey se ofende e pede, pela quarta vez na
última hora, para usar o banheiro. A vendedora fica visivelmente mais
relaxada.
— Não se preocupe, ela é assim com todo mundo — tento consolar
a pobre vendedora, cujo único erro foi perguntar a opinião do futuro noivo
(assim eu espero). — E ela piorou na gravidez. Não é pessoal.
— Ela é fogo, hein? — a moça pergunta, sorrindo.
— Você não tem ideia.
— Humph... — Zoey resmunga quando volta do banheiro. — Ainda
não escolheu o anel, Dax? Você é um inútil mesmo!
Como se ela fosse aprovar qualquer anel que eu escolhesse
sozinho. Enquanto ela estava fora, pedi à vendedora que colocasse à
disposição alguns anéis com pedras diferentes, além do meu escolhido.
Claro que nós escolhemos anéis enormes e desproporcionais, já
imaginando que, dentre eles, Zoey com certeza indicará aquele que eu já
decidi comprar.
Fiz a mesma coisa com a ideia do pedido. Zoey me deu várias
ideias, que iam da pura loucura ao puro tédio, como um pedido em um
balão sobrevoando Paris com um show da Lady Gaga na Torre Eiffel a um
pedido na livraria.
Eu, entretanto, consegui sugar as melhores ideias da Zoey, e decidi
organizar algo que seria bem a cara de Sam. Na verdade, a nossa cara: um
meio termo entre sexy e romântico, algo íntimo, bem privativo e
extremamente sensual.
— Eu separei alguns anéis de que gostei, mas quero a sua opinião
para a minha palavra final — informo, e ela praticamente me derruba ao
me empurrar um pouco para o lado para poder ver melhor as joias
selecionadas.
— Ah, essa é uma ótima ideia, Dax! Agora, temos menos opções, e
fica mais fácil escolher! Nem acredito que sua presença serviu para
alguma coisa!
Mesmo quando ela tenta elogiar, não dá muito certo.
— Bem, ele é o noivo — a vendedora me defende, e eu lhe ofereço
um discreto sorriso de agradecimento.
— Este aqui. — Ela aponta para o anel que eu escolhi,.
É um anel com uma safira em seu centro, e diversos diamantes
contornando a pedra redonda, em um formato que lembra uma flor. O aro,
de ouro branco, é repleto de detalhes delicados que Sam vai amar.
Entendo muito pouco de joias, mas Sam sempre suspira quando vê
uma peça com safiras.
— O senhor gostou deste anel? — a vendedora questiona,
conforme combinamos.
Precisamos do teatrinho para convencer a Zoey de que a escolha foi
realmente dela.
Já até imagino a cara da Sam quando eu lhe contar a odisseia que
foi a compra do seu anel de noivado com sua futura madrinha de
casamento.
— Como ele não gostaria? — Zoey reclama.
Sim, vai dar tudo certo.
49
Sam

Há uma tensão no ar.


Não sei o motivo, ou o que gerou essa tensão, mas está lá, clara
como água, e vem crescendo entre nós dois na última semana.
Quanto mais eu insisto para conversarmos, mais Dax nega que há
algo de errado. E me deixa mais paranoica.
Independentemente do que ele alegue, Dax está
inconfundivelmente nervoso. Eu o flagrei em diversas conversas
sussurradas ao telefone quando ele achava que eu estava no banho, ou
distraída com alguma série no Netflix.
Algo está acontecendo e, hoje à noite, eu vou descobrir exatamente
o quê. Fiz até planos dependendo da resposta que Dax me der.
Se ele estiver me traindo, vou terminar com ele e avisar ao Zack,
que provavelmente vai fraturar o nariz dele (ou outra parte de seu corpo,
mais ao sul). Se ele quiser terminar comigo, eu vou avisar ao Zack e...
Bem, o resultado será praticamente o mesmo.
Oficialmente, estamos morando juntos há seis meses, mas a
verdade é que não dormimos separados uma noite sequer desde que
formalizamos nosso namoro, um ano e meio atrás.
Nesse período, eu me apaixonei ainda mais por ele, mas também
passei a conhecer suas rotinas, seus trejeitos e suas manias, até melhor que
ele mesmo.
Aí, exatamente quando achei que nosso relacionamento estivesse
sólido e maduro, ele começa com os segredos e as esquisitices.
Minhas mãos estão tremendo quando eu abro a porta do meu
apartamento; eu estou tão nervosa com a conversa que planejo ter com o
Dax que levo alguns segundos para notar o que ele preparou.
A luz está fraca, e vem de velas que ele colocou em cima da mesa
de jantar. Pétalas de rosas estão espalhadas pelo chão, e uma dúzia de
vasos com dúzias de rosas vermelhas cobrem os móveis da sala.
E o som toca Ed Sheeran. Eu adoro fazer amor com Dax ao som de
Ed Sheeran. De repente, meu corpo inteiro começa a tremer, mas não é de
nervosismo, e sim de excitação.
Ah, não! Eu sei bem o que o Dax está fazendo! Ele quer me distrair
com sexo para não conversarmos! Golpe mais baixo, ele sabe como eu
NUNCA resisto quando ele coloca Ed Sheeran e me dá rosas.
Preciso me concentrar.
Sigo a trilha de pétalas de rosas, ainda resoluta, ainda decidida a
interrogá-lo. Pouco importa se ele preparou uma noite romântica.
Oh, céus! Esse cuidado todo tem cara de culpa. Dax está me
traindo, e armou isso tudo como um pedido de desculpas. Mas eu não vou
perdoá-lo.
A primeira coisa que noto ao chegar no nosso quarto é o corpo de
Dax deitado de lado sobre a cama. O corpo nu, definido e perfeito do Dax.
Ah, claro, e ele está com uma ereção e um sorriso safado no rosto.
O coração acelera enlouquecidamente, todo meu sangue vai para a
virilha, e a garganta fica seca. O que eu vim fazer mesmo?
Ah, é. Quero saber o que diabos está acontecendo.
É quando eu o noto. Há um anel de safira e diamantes uma caixinha
de veludo que Dax segura em uma das mãos.
— Você estava estranho comigo por causa disso? — Aponto para o
anel, acusando-o.
— Se por isso você quer dizer um pedido de casamento, então sim.
— O tom dele é ainda mais sedutor que o sorriso, mas eu não me deixo
abalar.
Muito.
— As conversinhas sussurradas em segredo ao telefone? —
questiono, dando um passo para frente, com as mãos na cintura.
Ele continua duro e com seu sorriso de homem canalha.
— Falando com a Zoey sobre anéis de noivado e sobre o pedido de
casamento — ele rebate calmamente.
Pulo em cima do Dax, minha irritação tão grande que eu – quase –
esqueci que ele está pelado e com uma situação bem urgente entre as
pernas.
— Seu desgraçado! Você sabe pelo que eu passei nas últimas
semanas? — Gargalhando, ele segura minhas mãos com uma dele, e me
vira, de forma que minhas costas ficam coladas no colchão, e ele fica em
cima de mim. — Eu achei que estava sendo traída! Que você ia terminar
comigo!
Com a mão livre, ele desamarra meu vestido e arranca os dois
botões. É verão, e o dia foi quente, então eu tinha colocado um vestido
fresco nos joelhos, que Dax despe com facilidade.
— Samantha Rose Carmichael — ele começa, enquanto abre o
fecho do meu sutiã —, você me faria o homem mais feliz do mundo?
— Eu vou acabar com você, isso sim! — aviso, enquanto ele
arranca a minha calcinha.
— Aceita passar o resto dos seus dias ao meu lado? — ele
continua, ignorando a minha resposta, encarando meus seios com um olhar
faminto.
— Seus dias acabaram, Dax Maxwell Caden! Você é um homem
morto!
Estou orgulhosa de mim mesma. Posso estar nua e molhada, ele
pode estar nu e excitado, mas consigo resisti-lo com bravura. Até o
diabinho abocanhar o meu seio, fazendo meus músculos amolecerem.
— Você me faria a honra de ser minha esposa? — Ele afasta-se do
meu mamilo para perguntar, o bafo quente deixando-o ainda mais
sensível.
— Eu... Eu...
Ele se encaixa entre minhas pernas e, tarde demais, lembro-me que
não há camadas de tecido entre nós.
Sinto seu membro grosso e duro entrar em mim por completo e,
vergonhosamente, tenho um orgasmo quase que de imediato.
O homem diabólico puxa meu mamilo entre os dentes, enquanto
mexe-se dentro de mim. Quando os espasmos do meu corpo enfim cessam,
Dax me pergunta:
— Então, aceita se tornar a Sra. Caden?
Não respondo (mais por ter perdido a voz no meio daquele
turbilhão de emoções e sensações do que por orgulho) e ele se enterra de
novo dentro de mim, em seguida tira quase tudo, para me invadir de novo,
a boca em meus seios, a mão livre em meu clitóris, a outra segurando
meus pulsos.
— Eu te odeio, Dax Maxwell Caden! — grito, sem qualquer
convicção.
— E eu te amo, Samantha Rose Carmichael — ele rebate, com
tanto carinho e veneração no olhar que eu me desmancho.
O maldito ganha a batalha, no fim das contas.
Eu digo sim.
***
Acordo no dia seguinte com um braço enorme me segurando pela
cintura, um bafo quente na minha nuca, e uma ereção entre minhas
nádegas.
Dax demonstrou o quanto estava contente que eu aceitei sua
proposta de casamento quatro vezes naquela noite e, ainda assim, parece
estar pronto para mais.
Viro o rosto para ele e ofereço um sorriso sensual; ele não é o único
que acordou excitado. Dax levanta a minha mão esquerda e chupa o dedo
onde está o anel, me deixando arrepiada dos pés à cabeça.
Pela milésima vez, olho para o anel lindo que ele e a Zoey
escolheram para mim; tem um estilo vintage, com vários detalhes no aro e
uma safira em seu centro.
— Agora seremos oficialmente um do outro, Sam — ele sussurra
no meu ouvido.
A mão dele fecha-se sobre meu seio, massageando o biquinho
sensível, quando o meu celular começa a tocar. O celular que eu deixei na
sala. Eu ignoro o som, mas ele para o que estava fazendo de imediato.
— Ei! — reclamo.
É domingo, nosso dia de folga.
— Deve ser a Zoey, meu amor — ele sussurra em meu ouvido. —
Ela estava louca para ligar ontem, mas eu pedi que apenas o fizesse hoje
de manhã.
Conhecendo a minha melhor amiga, imagino que ela deve ter
passado a noite em claro, ansiosa para saber como foi o pedido.
E, se eu não atender, ela vai dirigir até aqui e invadir o
apartamento.
— Já volto — prometo.
— Melhor mesmo — ele responde com seu sorriso arrebatador.
Coloco uma camisa dele que estava sobre a cadeira e vou até a sala,
encontrando o celular sem dificuldade em cima do aparador.
— Então, como foi? — Zoey berra de animação do outro lado da
linha.
Vou até a cozinha e coloco o celular em cima da bancada, no viva
voz.
— Eu aceitei! — respondo, enquanto preparo a cafeteira. Mal
dormimos na noite anterior, então vamos precisar de cafeína para a nova
rodada de sexo de celebração. — E amei o anel também! Obrigada por
ajudá-lo a escolher!
Dax tinha me contado como ela “escolheu” o anel, mas,
independentemente de qualquer coisa, Zoey havia, de fato, o ajudado com
dicas preciosas sobre meu gosto para joias, então merecia o elogio.
— Samantha Rose Carmichael — ela usa seu tom de bronca. O que
eu fiz desta vez? —, óbvio que você aceitou e amou o anel! Não liguei
para saber do óbvio!
— Como assim?
— Vocês fizeram muito sexo para celebrar? — ela questiona sem
qualquer pudor. — Parou de tomar a pílula para engravidar o quanto
antes e me dar um afilhado para se casar com a minha filha?
— Zoey! — reclamo e, ao me virar, noto que Dax está atrás de
mim, completamente pelado, e segurando a gargalhada. Ele escutou,
óbvio. — Não é da sua conta!
— Eu sou sua melhor amiga, Samantha! Claro que é da minha
conta!
— Como, mas como, isso pode ser da sua conta? — pergunto,
exasperada.
— Quero saber se vocês já estão praticando para me dar meu
afilhado, Sam!
Dax pega o celular na bancada.
— Zoey, não se preocupe: estamos praticando bastante. — Como
ele podia dizer aquele tipo de coisa à Zoey? Ele não sabe que, quanto mais
der abertura, pior vai ser? — Talvez já tenhamos boas notícias quando a
festa de casamento acontecer.
Ele se despede dela e desliga. Dax me dá um beijo na bochecha,
pega uma xícara de café e liga o som, colocando a playlist do Ed Sheeran,
como se nada tivesse acontecido.
Ah, é. Ele permanece totalmente pelado.
— O que diabos foi isso? — pergunto, enquanto ele toma alguns
goles do café.
— Meu amor, queria alegrar o dia da Zoey. Ela tem estado muito
estressada — ele comenta calmamente, enquanto coloca duas fatias de pão
na torradeira.
— Eu não acredito que você falou da nossa vida sexual com a
Zoey!
— Sam, eu sempre falo da nossa vida sexual com a Zoey. — Ele
me encara como se não tivesse entendido a minha revolta. Eu o encaro
como se ele estivesse louco. — Por que você acha que a gente se dá tão
bem?
É, não dá para resistir a Dax Caden. Gargalho, e os olhos dele
escurecem com o som. Ele me pega no colo para me levar de volta para a
cama.
— Ah, Dax, como eu te amo — suspiro no seu pescoço.
— Para sempre?
— Para sempre.
***
FIM
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Dominik Demidov só conhece um sentimento: o ódio. Traído pelo


próprio pai, decidiu que tem apenas uma missão na vida: vingar-se dele.
Para isso, torna-se um dos principais assassinos da organização criminosa
de sua família. É um homem sem esperança de amar de novo, até ela
entrar em sua vida. A bela e inocente Nat.

Natasha Kunis é apaixonada por Dominik desde que era criança.


Ele, entretanto, sempre a enxergou como sua princesinha. Em um
reencontro após anos separados, ela percebe que terá a chance de
conquistá-lo. Finalmente, Dominik a enxerga como mulher, e Natasha não
desperdiçará a chance de, enfim, tornar-se verdadeiramente dele.

Um homem que não acredita em finais felizes. Uma mulher que


não desistirá do amor da sua vida.
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Depois que perdeu o irmão em um terrível acidente de carro, o


xerife Jack McQueen teve que deixar a vida agitada da SWAT para viver
na pacata cidade de Blue Lake, no interior do Texas, onde se dedica à
criação da pequena sobrinha Mandy. Sua vida é consideravelmente
tranquila, até ele se deparar com uma bela e misteriosa mulher, que alega
não se lembrar sobre seu passado.
Ele quer evitá-la. Ele quer mantê-la à distância. Ele não quer
confiar nela. Porém, pouco a pouco, o xerife vai se dando conta de que não
consegue resisti-la.
Ela poderá ser sua salvação. Ou sua ruína.
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Herdeiros da Lua
Livro 1

Ele não deveria deixar forasteiros entrarem em seu clã, e muito


menos em seu coração. Porém, assim que o chefe Owen pôs os olhos em
Evelyn, ele soube que estava perdido. Como ele continuaria servindo ao
seu povo, quando conseguia apenas pensar na dama da capa vermelha e
dos olhos azuis?

Ela sabia que eles guardavam grandes segredos. Isolada nas Terras
Altas da Escócia, ela não tinha outra opção: Evelyn precisava confiar
naquelas pessoas com costumes estranhos. Enquanto tentava desvendar os
mistérios do clã, um desejo avassalador começava a se desenvolver pelo
seu líder, o chefe Owen, que fazia de tudo para provocá-la.

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