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Kate Palace
Copyright © 2019 Kate Palace
Tradução: Hugo Teixeira
Imagem: Canva
Capa: Hashtags
Edição: Hashtags
Reservados todos os direitos desta produção
+ 18 anos: cenas de sexo, e linguajar inapropriado para menores
de idade.
Sinopse
Sam
Logo notei que ela dirigia bem devagar. Estava com vontade de
ultrapassá-la, para obrigá-la a parar e falar comigo, quando entendi por
que era tão lenta ao volante: Sam claramente não tinha muita experiência
em dirigir na chuva.
Na verdade, ela não parecia ter muito jeito ao conduzir um carro.
Ponto.
Não sou um daqueles babacas que acham que mulher não sabe
dirigir. Contudo, Sam parece uma adolescente que roubou os carros dos
pais para ir a uma festa sem ter ideia do que fazer na direção.
Fico na dúvida se devo dar algum alerta para ela parar no
acostamento; posso assustá-la e causar um acidente.
Por outro lado, tenho que fazê-la parar o carro de algum jeito; se
ela continuar dirigindo, vai bater em alguém, mais cedo ou mais tarde.
Além disso, quero aproveitar esse encontro (ou melhor, minha
perseguição) para convidá-la para jantar. Decerto, depois de salvá-la de um
acidente bem provável, ela com certeza se sentirá agradecida.
No fim das contas, eu não precisei fazer nada; em um trecho onde a
estrada estava mais escorregadia, ela perdeu o controle do carro, e subiu
na calçada, que estava felizmente vazia.
Por sorte, como ela estava dirigindo tão rápido quanto uma
tartaruga, a colisão não foi forte. Mal amassou a frente do veículo.
Estaciono na frente do carro dela, respiro fundo, e saio da caminhonete.
Ela está tentando sair do carro, aos tropeços, tentando verificar o
estrago. Seus saltos não são muito altos, mas Sam não me passou a
imagem de ser uma mulher acostumada a andar de saltos. Ou com
vestidos.
Seu vestido branco, que estava bem discreto na festa, está quase
transparente na chuva. Engulo em seco, tentando suprimir a imagem das
coisas que quero fazer com ela naquele vestido, e caminho até seu carro.
— Sam? Está bem?
Ela me encara como se eu fosse o monstro do Lago Ness. Olhos
grandes como os dela deveriam ser proibidos; por um momento, esqueço
que estou na chuva, e me perco neles.
— Oi — ela diz baixinho, e eu só consigo ouvi-la porque estou
bem próximo.
Algumas pessoas passam por nós de carro, perguntando se
precisamos de ajuda, mas eu lhes garanto que está tudo sob controle.
— Você saiu apressada da festa — digo com um sorriso. — Espero
que não tenha sido por minha causa.
Sim, ainda estamos na chuva. Sim, seu vestido está ficando cada
vez mais transparente. Precisamos sair agora daqui, senão não responderei
pelos meus atos.
Tiro meu casaco e o coloco em volta de seus ombros trêmulos.
Ajudou um pouco, mas não o suficiente. Ainda consigo ver as longas
pernas sob a saia molhada.
— Eu... É que... — ela começa a gaguejar, suas bochechas
adquirindo um tom rosado adorável. — Encontrei uma pessoa na festa que
eu não via há muito tempo, e...
Ela se interrompe, olhando para os pés.
— Ficou nervosa e teve que ir embora?
— Por aí.
— É ex-namorado?
— Não.
— É algum cara que vai brigar comigo por você?
Os olhos dela arregalam de surpresa na direção dos meus, e minha
respiração fica acelerada.
— Hã... Não — um mínimo sorriso contorna seus lábios carnudos.
Que lábios beijáveis.
— Que bom. Então, que tal irmos até meu carro ligar para o
guincho? Está bem frio aqui fora, você vai pegar pneumonia.
— Tudo bem.
Ofereço meu braço para ela poder se apoiar e Sam caminha ao meu
lado, cabisbaixa. Depois de meia dúzia de passos, ela já tropeçou duas
vezes.
Na terceira, eu preciso segurá-la pela cintura para evitar que caia, e
nossos corpos acabam colados. E molhados.
As pupilas de Sam dilatam, e sinto sua respiração ofegante contra
minha face.
Ela tem cheiro de hortelã. Inspiro profundamente, mas, sentindo
seu corpo esguio ficar tenso nos meus braços, acho mais prudente me
afastar um pouco.
— Esses sapatos são péssimos — comento. — Posso levá-la até o
carro no colo?
Ela nem responde, apenas acena. É mais que o suficiente para mim.
Eu a pego no colo sem dificuldade, e tenho uma sensação bizarra de que
seu corpo elegante e esguio, com curvas nos lugares certos, foi feito para
se encaixar nos meus braços.
Rapidamente, agora que ela não está mais tropeçando a cada dez
centímetros, alcanço meu carro e a coloco no banco do carona, dou a volta
e, quando entro do lado do motorista, ela já está falando com seu seguro.
— Obrigada por me carregar — ela comenta timidamente ao
encerrar a ligação. — Uma amiga minha insistiu que eu usasse saltos. E
esse vestido.
Quando ela olha para o vestido, arregala os olhos e começa a tentar
esconder as belas pernas sob a saia encharcada com as pequenas mãos.
Apesar de adorar a vista das longas pernas, quero deixá-la
confortável. Ligo o aquecedor do carro e direciono as saídas para ela, para
ela secar mais rápido, e pego outro casaco que está no banco de trás, e lhe
entrego.
— Você está linda, mas realmente não está preparada para uma
chuva dessas.
— Ah. Obrigada.
— Então, vamos esperar aqui ou posso te levar para Notting Hill?
— Eles já estão chegando — ela comenta, olhando pelo retrovisor,
e noto um guincho se aproximando.
Ela baixa a janela para entregar as chaves do seu carro e, em
poucos minutos, eles arrumam tudo e o levam para a oficina.
— Notting Hill? — questiono, e ela responde com um leve
balançar de cabeça.
Volto a olhar para seu rosto, que está pálido. E seu lábio inferior
está tremendo. Droga.
— Você está tremendo, Sam.
— S-sim. Um pouco.
Aumento o aquecedor, até me dar conta de que, como um idiota, eu
lhe dei um casaco para cobri-la, mas ela precisa se livrar das roupas
molhadas.
— Espera um segundo. Tenho algumas roupas secas no porta-
malas.
— Não precisa e... — saio antes que ela termine a frase.
Retorno com algumas roupas nas mãos.
— São grandes para você, mas são quentes.
Entrego uma calça de moletom e uma camisa velha de algodão
para ela e me viro de costas no banco para lhe dar privacidade.
Sinto ela me tocar no ombro segundos depois, e, ao me virar, fico
meio zonzo com o sorriso que ela me dirige.
— Obrigada — o sorriso dela se alarga quando ela inspira
profundamente. — Já estou melhor.
— Que bom, Sam — sorrio de volta.
Pego o casaco extra que trouxe do porta-malas, tiro a minha camisa
social encharcada e coloco o casaco seco. Ela está me olhando com olhos
esbugalhados.
Sorrio por dentro. Não sou só eu que estou atraído por ela. O
sentimento é mútuo. Espero só que ela esteja atraída o suficiente para
passar mais tempo comigo.
— Você está morando na casa dos Carmichael? — questiono só
para confirmar.
— Sim, no terceiro andar. Transformamos os dois últimos andares
em apartamentos independentes.
Ligo o carro e saio pelas ruas londrinas. A essa hora, devemos
chegar rápido em Notting Hill, e quero aproveitar cada segundo em sua
companhia. Então, dirijo quase tão lentamente quanto ela estava dirigindo
antes do acidente.
Se ela reclamar, dou a chuva como desculpa. Sam, porém, parece
bem mais confortável agora que está de roupas secas, e se acomoda no
assento de couro.
— O Zack, o filho mais velho dos Carmichael, comentou comigo
sobre a reforma, mas não tinha comentado quais eram os planos. Achei
que a Sra. Carmicheal passasse alguns dias da semana em Londres para
cuidar da livraria.
— Até alguns meses atrás, era assim mesmo. Agora, ela só vem a
Londres para entregar os livros que encontrou em suas viagens.
— Nunca imaginei que a Sra. Carmichael deixaria outra pessoa
cuidar da livraria dela.
— Ah, mas ela ainda controla bastante.
Rimos juntos do comentário dela. Sim, a Sra. Carmichael é uma
mulher gentil e adorável, mas é bem controladora e paranoica quando o
assunto é sua querida livraria de obras raras.
— Eu imagino. Ainda assim, ela deve confiar muito em você. Qual
é a sua formação?
— Fiz graduação e mestrado em Literatura Inglesa em Oxford.
— Uau. É uma universidade excelente. Você tem cara de quem
conseguiu bolsa.
— Consegui. Integral.
Ela fica vermelha de vergonha, o que eu acho absolutamente fofo.
Outras pessoas no lugar dela seriam arrogantes, mas não Sam. É como se
ela tivesse vergonha por ser inteligente.
— A minha primeira impressão de você foi que se tratava de uma
mulher tão inteligente quanto era bonita. Pelo visto, eu estava certo.
— E você? — ela tenta mudar o foco da conversa, o que só pode
significar uma coisa.
— Já vi que você é do tipo de pessoa que fica desconfortável com
elogios...
— Não... É que... Já sei muito sobre mim mesma. Gostaria de saber
mais sobre você.
Uau. Uma pessoa que não quer ficar tagarelando sobre si própria,
seus sucessos e fracassos, seus problemas e gostos?
Realmente gosto desta garota.
Sempre achei que relacionamentos fossem uma via de mão dupla.
Duas pessoas que gostam de conversar com a outra, mas também gostam
de escutar a outra.
Nos dias de hoje, as pessoas ou estão falando, ou fingem que estão
escutando quando, na realidade, estão checando as redes sociais no celular.
— Eu digo o mesmo, Sam. Já sei muito sobre mim, e quero saber
mais sobre você — tomo coragem e decido que chegou a hora de fazer o
convite. — Que tal assim: a gente janta e reveza nas perguntas sobre o
outro?
— Agora?
Olho para o painel. Já passou das dez da noite, mas é sexta, então
não é muito tarde.
— Sim — respondo com um misto de gentileza e insegurança.
Engraçado; nunca tive tanto medo de ser rejeitado antes. Assim
como nunca quis tanto receber um “sim”. Em menos de vinte e quatro
horas, essa garota já bateu vários recordes comigo.
— Os restaurantes estão fechados em Notting Hill a esta hora.
Ela tem razão. Notting Hill não é como o Soho, ou outras partes
mais agitadas de Londres.
— Verdade... — fico desanimado por um instante, até me lembrar
de uma coisa. — Minha irmã comprou bastante comida assim que chegou
em Londres, porque vai fazer um jantar na semana que vem para alguns
amigos. Posso cozinhar um jantar para a gente e reponho o que usar
amanhã.
— Hã... Eu...
— Não se preocupe, Sam. Não vou forçar nada. É só um jantar.
Assim que quiser, pode sair, e estará bem ao lado da sua casa. Somos
vizinhos, lembre-se.
Ela abre a boca dela para responder, mas seu celular nos
interrompe. Sam olha para a tela e um sorriso aparece em seus lábios.
Devo admitir que fiquei com ciúmes. Será que algum cara mandou
mensagem para ela? Não resisto e acabo me intrometendo, mesmo
sabendo que estou agindo feito um adolescente inseguro e babaca:
— É a pessoa do seu passado que estava na festa?
— Não... Não é nada.
— O seu sorriso me diz que é alguma coisa, sim — insisto, já me
sentindo melhor que, pelo menos, não é do tal cara que mexeu com ela a
ponto de fazê-la sair às pressas da festa.
— Ah... É que é besteira. Minha série favorita estreou hoje, e eu
pedi para receber notificação.
Ela realmente é uma nerd. Uma nerd linda e adorável.
— Me conta, Sam.
— É de ficção científica... Meio nerd, mas...
Ela me mostra o celular. Não, não é possível. Como que ela foi me
mostrar justamente essa série? Também estava ansioso pela estreia da
nova temporada!
— É a minha série favorita! — digo, e o sorriso dela em resposta
quase me faz bater a maldita caminhonete. — Já disponibilizaram todos os
episódios?
— Sim.
— Melhor ainda. Que tal eu preparar nosso jantar enquanto
assistimos ao primeiro episódio juntos?
— Eu adoraria.
— Nem acredito que você curte essa série, Sam. Nenhum dos meus
amigos assiste, e nunca tenho com quem comentar.
— Nem me fale... Minha melhor amiga vive reclamando que sou
viciada. Adoro conversar sobre as teorias da conspiração envolvendo as
origens da protagonista.
— Qual é a sua teoria favorita?
Continuamos conversando até chegarmos em Notting Hill, e, juro,
apesar de ser um papo tolo sobre um seriado, é a conversa mais divertida
que tenho em muito tempo.
Gosto bastante de Sam.
8
Sam
— Como assim, você não deu pra ele? — Zoey praticamente berra.
A livraria inteira olha na nossa direção.
— Cala. A. Boca. — Sussurro de volta, enquanto aceno para o Jack,
nosso leiloeiro, continuar.
Felizmente, como o ótimo profissional que é, Jack consegue dar
continuidade ao leilão como se nada tivesse acontecido.
Acho que, mesmo se Zoey começasse a falar de seu vibrador roxo
de vinte e cinco centímetros, Jack conseguiria finalizar o leilão sem
dificuldade.
Até o momento, ele vendeu três dos livros que colocamos no leilão
de hoje. E já nos ajudou a lucrar mais do que eu consegui durante a
semana inteira.
— Gente, você consegue ser mais difícil do que uma freira — Zoey
continua reclamando. — O que eu vou ter que fazer para você perder a
virgindade? Vou ter que te trancar pelada em um quarto com ele?
— Eu...
— Vocês ao menos se pegaram?
— Eu...
— Jesus Cristo — ela olha para o teto —, ela nem pegou o cara?
— Não é assim — tento me defender. — Foi romântico.
— Diga-me exatamente o que aconteceu.
À medida que vou contando, ela vai ficando mais impressionada.
— Nossa, foi bem romântico mesmo.
Em seguida, me dá um tapa na nuca.
— Ai! Por que essa violência toda?
— Porque você é uma retardada!
— Eu sei, mas...
— Mas nada! Eu ouço você falar desse cara a minha maldita vida
inteira, e agora, que você finalmente tem uma chance com ele, nem dá uns
pegas no gato?
— Não gosto de mentir para ele, Zoey!
— Você não está mentindo, está omitindo!
Aí vem ela, dando uma de advogada.
— Mesma coisa.
— Não é! — ela insiste. — Além disso, homens vivem mentindo
para pegarem mulheres, então, em nome de todas nós, você poderia dar o
troco. Dax nunca vai descobrir.
— Como pode ter tanta certeza, Zoey?
Não sei o que é pior: mentir para levá-lo para a cama ou ser pega
na mentira. Imagina se ele descobrir? Vai me odiar! E não quero que Dax
me odeie.
— Dax mesmo disse que está indo para Surrey na segunda — ela
argumenta. — Depois disso, aposto que ele vai voltar para os Estados
Unidos.
— Mas em dois meses ele retornará a Londres no Natal!
— E ficará na casa dos pais em Surrey, onde fica todos os anos.
Enquanto isso, seus pais ficarão em Notting Hill contigo, onde passam
todos os Natais.
— Verdade.
Em geral, nossos pais, os Tuckers, os Caden e os Carmichael,
passam a virada de ano juntos, mas cada um faz sua própria ceia de Natal.
— Provavelmente, vai levar mais dez anos para vocês se verem de
novo — Zoey continua — e, com sorte, você já vai ter ficado uma baranga
e ele nem vai te reconhecer. De novo.
— Obrigada pela confiança.
— Você se guardou a vida inteira para este cara, Sam. Agora, tem a
chance de perder a virgindade com Dax, como sempre sonhou. Não
desperdice esse sonho, por favor!
— Meu irmão disse que, se eu algum dia ficasse com Dax, ele
ficaria contigo.
Ela fica boquiaberta. Eu nunca contei para a Zoey sobre o acordo
que fiz com ele. No início, foi porque não queria que ela me odiasse; ela
tinha uma queda do tamanho do Niágara Falls pelo Zack.
Depois, quando eles se mudaram para os Estados Unidos, nem
pensei muito mais no pacto que fiz com Zack.
— Pois Zack pode continuar sonhando — ela diz de um jeito
esquisito, sem me olhar nos olhos.
— Aconteceu alguma coisa entre você e o Zack? — eles vêm
brigando há algum tempo, mas, mesmo antes dele começar a namorar a
Gisele, havia um clima meio estranho entre eles.
— Já pensou no que vai vestir esta noite?
Mais uma vez, ela foge do assunto. Sim, tem alguma fofoca bem
cabeluda aí. Eu vou descobrir. Na hora certa. Uma advogada como Zoey
sabe evitar assuntos como ninguém.
— Não.
Por que ela tinha que me lembrar disso? Agora fiquei ansiosa de
novo. Dax está acostumado a sair com modelos lindas e mulheres
elegantes, não com uma garota que nem sabe andar direito de salto alto!
Se bem que ele não pareceu se importar muito com o fato de eu
estar vestida com calça de moletom e camisa velha ontem.
— Como será um jantar em casa, não pode ser nada muito chique
— Zoey tagarela. — Mas podemos dar um jeito de colocar algo
confortável em você, mas que ele consiga tirar com rapidez.
— Ai, meu pai eterno.
Acho que prefiro quando ela fala do seu vibrador favorito.
— E é melhor você perder a virgindade hoje, Samantha Rose
Carmichael.
Alguns olhares se voltam para nós duas. Obrigada por espalhar por
toda Londres minha situação sexual, Zoey Tucker. Dirijo um olhar bem
feio para ela, quando somos interrompidas por uma senhora.
— Gostaria de levar essa edição especial de Orgulho e Preconceito,
por favor.
Pela cara dela, com certeza escutou o comentário de Zoey.
— Ah, claro — dou um sorriso amarelo.
Quando finalizo a venda, comento com Zoey:
— Acho melhor você parar de conversar comigo quando eu estiver
trabalhando, senão vão achar que isso aqui é um sex shop.
10
Dax
Nem acredito que consegui dizer tudo aquilo. Não tenho ideia de
onde veio toda aquela ousadia, aquela coragem, mas funcionou. Sei que o
convenci quando ele me puxa para um novo beijo.
Desta vez, o beijo é sedutor, quase agressivo, como se ele mal
pudesse se conter de desejo. Dou um beliscão na perna, apenas para me
certificar de que estou acordada enquanto Dax Caden me beija
enlouquecidamente.
Ele estica o braço e tenta alcançar a carteira que está em cima da
mesa de centro da sala. Sabendo o que ele quer pegar, eu seguro sua mão e
o interrompo.
— Não quero usar preservativo na minha primeira vez, Dax.
Nossa, estou corajosa mesmo. Se Zoey estivesse aqui, ela estaria
gritando: “Vai, Sam! Vai, Sam! Vai, Sam!”.
Dax me observa com admiração nos olhos. Quantas vezes sonhei
quem ele me olharia assim, não como uma garotinha boba, mas como uma
mulher que deseja?
— Tudo bem — ele segura meu rosto, usando os dedos para
acariciar minhas bochechas. — Você estará segura comigo. Sempre uso
preservativos e faço exames regularmente.
Sorrio para ele, roçando nossos lábios.
— E eu tomo pílula há anos.
Gosto de ter o ciclo regulado.
Ele se levanta e me ajeita em seu colo como se eu fosse tão leve
quanto uma pena, e me carrega até a mesa da cozinha.
Que bom, porque não sei se iria aguentar esperar que ele me
carregasse até o terceiro andar.
Não há mais palavras a serem trocadas, apenas instinto, desejo, e
atração. Nem estou nervosa. Achei que ficaria ansiosa na minha primeira
vez, mas eu me sinto perfeita, como se fosse a coisa certa a fazer.
Como se ele fosse o homem certo. O único homem.
Ele me coloca sentada sobre o tampo da mesa, e me observa com
as pupilas dilatadas, que quase escondem por completo o azul dos seus
olhos.
— Dax... — Eu suspiro quando ele morde levemente minha orelha,
virando a cabeça para o lado, oferecendo meu pescoço para ele, fechando
os olhos para aproveitar seu toque.
Uma das minhas músicas favoritas, de Sade, começa a tocar, Your
Love is King. Abro as pernas para permitir que ele se acomode entre elas, e
ele se esfrega em mim, deixando eu sentir sua ereção.
— Será que o brownie já esfriou? — Ele pergunta de repente,
afastando-se de mim.
Meus olhos arregalam-se de choque.
— Você quer comer brownies agora?
Eu amo brownies, mas tem hora para tudo!
— Quero comer muitas coisas agora, Sam.
Dax responde com uma voz rouca de desejo, seus lábios formando
um sorriso safado e sedutor que deixa cada pelo do meu corpo arrepiado.
Ai. Meu. Deus.
Ele começa tirando a minha roupa. Peça a peça, ele vai me
deixando mais exposta a ele, a seus olhos escuros de paixão.
Dax não diz nada enquanto me despe, apenas me encara, com
aqueles olhos lascivos, examinando cada centímetro do meu corpo.
Estranhamente, não fiquei tímida. Não tentei me cobrir. Queria
apenas que ele me tocasse com a mesma intensidade com a qual me
encara.
Quando estou completamente nua, ele me deita sobre a mesa,
afasta-se, e pega a bandeja de brownies que deixou sobre a ilha, tudo sem
tirar os olhos de mim.
Partindo um pequeno pedaço, ele coloca sobre meu pescoço. Dax o
lambe diretamente do meu corpo, e continua provando a minha pele,
lambendo cada centímetro do meu pescoço.
Estou pegando fogo, como se meu sangue tivesse sido substituído
por lava. E quero mais, muito mais. Apenas suas carícias não são mais
suficientes.
Preciso de Dax, em cima de mim, ao meu redor, dentro de mim.
Anos atrás, quando ele foi embora para os Estados Unidos, deixou um
vazio em mim que apenas ele poderá preencher.
Ele pega mais dois pedaços de brownie, e os coloca sobre cada um
dos meus seios. Imediatamente, meus mamilos endurecem e ficam
sensíveis, apenas com a expectativa de sentir a boca dele sobre eles.
Dax os come lentamente, o maldito. Tão lentamente que eu chego à
beira do precipício, mas não consigo alcançar o clímax. Estou lá, perto do
ápice, e Dax, só para me torturar, não me deixa alcançá-lo.
— Por favor! — Eu imploro, e ele solta uma gargalhada.
Dax Caden está rindo de mim, uma mistura de desejo, paixão e
divertimento, e eu não posso fazer absolutamente nada para me vingar
dele. Ainda.
Seus dedos descem lentamente pela minha barriga enquanto ele
continua sua degustação sobre meus mamilos, um de cada vez, tomando
todo o tempo do mundo, me levando à loucura.
Quando seus dedos chegam à minha abertura, eles me invadem,
bem devagar também, para eu me acostumar à intrusão sem sentir dor, e
saem de novo.
Durante todo o processo, ele me observa atentamente, preocupado
com o meu prazer, o que apenas me deixa mais excitada.
Ele repete o movimento; enfia e tira. Cada vez mais rápido. Cada
vez mais profundo. Enfia e tira. De novo e outra vez.
Minhas costas arqueiam, minha respiração acelera, meu coração
bate tão forte que temo que vá explodir.
Enquanto estou prestes a ser consumida pelo torpor, Dax
acompanha cada uma das minhas reações e, quando nota que estou
chegando no clímax, puxa um dos meus mamilos entre seus dentes e enfia
dois longos dedos de uma vez.
Meu corpo reage violentamente; grito alto o seu nome, começo a
me contrair, apertando seus dedos, meus músculos e ossos virando
mingau.
— Não aguento mais, Sam — ele comenta com a voz trêmula,
afastando-se de mim, tirando a roupa.
Estou anestesiada, mas não o suficiente para não observar o strip
tease com o qual sonhei a vida inteira. Dax não é só bonito; ele é sexy. O
corpo dele não é simplesmente atraente; é gostoso, forte, másculo.
Ele é o típico macho alfa, que me faz sentir totalmente fêmea,
totalmente feminina.
Só de ver o torso dele nu e seus braços musculosos, meu corpo
começa a queimar de novo de desejo por ele, e a sensação de vazio que
precisa ser preenchido retorna com ainda mais força.
Eu acabei de gozar, e já estou a caminho do segundo ápice apenas
de observá-lo.
Assim como fez enquanto tirava minha roupa, Dax não deixou de
me encarar enquanto se despia, nem quando eu arregalei os olhos ao
encarar sua ereção.
Ele me dirige um sorriso que é pura malícia e sensualidade,
aproxima-se novamente, apoia minhas costas com seu braço, e me puxa
para ele, até me deixar sentada, com as pernas para fora da mesa.
— Tem certeza disso, Sam?
— Eu te quero dentro de mim — respondo, minha voz tão rouca
que eu mal reconheço. — Agora.
Quem é essa mulher que tomou posse da minha boca? Pode ficar
no meu corpo, amiga, porque gostei de você!
Time Sam! Time Sam! Time Sam!
Dax solta um grunhido com a minha resposta e afasta minhas coxas
com seu corpo. Ele fica entre minhas pernas, e sinto sua cabeça latejante
aproximando-se da minha abertura, brincando comigo, me provocando.
Não consigo parar de olhar para seu corpo, admirar cada detalhe
seu, como se tentasse gravar cada segundo que estamos juntos para sempre
na memória.
— Olhe para mim, Sam. — Ele coloca o dedo sob meu queixo,
inclinando meu rosto para cima, até estar no mesmo nível do dele. —
Quero que olhe nos meus olhos enquanto eu estiver entrando em você.
A penetração é lenta, alucinante. Nossa, como ele é grande. E como
é paciente também. Pelas suas feições, sei que está se controlando ao
máximo para ir devagar, para não me machucar.
Eu me estico por dentro para acomodá-lo, como se meus músculos
estivessem despertando. Minhas coxas se abrem ainda mais, permitindo
que ele me penetre mais profundamente, e sinto quando ele se torna,
oficialmente, o meu primeiro.
E o último.
Que pensamento mais estúpido! Comecei isso sabendo que não há
futuro, que nem estaríamos aqui se ele soubesse quem eu sou.
Pelo menos, ele será meu primeiro. E isso precisa ser suficiente.
Quando ele está completamente dentro, sussurra no meu ouvido:
— Respire, Sam.
Eu tinha realmente esquecido de respirar, meu corpo estava
completamente focado na ligação entre nós dois, naquela parte deliciosa
dele que está completamente introduzida em mim, ajustando-se dentro de
mim.
— Você está bem, Sam? — seu tom é gentil e, por mais que esteja
excitado, sei que ele pararia agora mesmo se eu assim pedisse.
Há dor, mas o prazer é infinitamente maior.
Seguro seu rosto e, com os lábios roçando nos dele, respondo:
— Estou perfeita, Dax. Você é perfeito.
— Você que é. Nunca conheci alguém que me fizesse sentir como
você, Sam — ele diz e me beija profundamente.
Aí ele lentamente de mim, para entrar no mesmo ritmo. Ele quer o
que, me levar à loucura?
Repete o movimento, sempre devagar, sempre paciente. Eu sei que
esse ritmo é difícil para ele; sua face está coberta por uma camada de suor,
sua mandíbula está tensa, seus olhos estão pegando fogo com desejo
reprimido.
— Caralho, Sam. Você é tão apertada — a voz dele soa rouca como
um trovão. — Tão perfeita.
— Mais, Dax. Mais forte. Mais rápido. — Eu imploro.
— Não quero te machucar, Sam.
— Não vai. Juro.
Finalmente, ele vai aumentando a cadência aos poucos, mas sem
ser no ritmo dele, sem a força que o faria chegar no ápice.
Não, Dax Caden, o homem dos meus sonhos, está focado em meu
prazer, por mais difícil que seja para ele.
Quando ele segura minha bunda e se enfia ainda mais em mim,
mais profundamente, eu chego ao ápice outra vez.
Desta vez é tão violento, tão carnal, que eu me jogo para trás,
deitando-me na mesa novamente. Ele coloca minhas pernas para cima,
apoiando-as com seus ombros, e enterra-se em mim com força.
— Eu te machuquei?
— Não, Dax. Muito pelo contrário.
— Então agora é a minha vez, Sam. — Ele avisa.
E é mesmo.
Dax me segurou pelo quadril, e começa a me penetrar mais rápido,
mais fundo. Meu gozo me deixou encharcada, facilitando suas estocadas.
Como se já não tivesse me enlouquecido o suficiente, ele continua
me provocando, tirando sua ereção por completo, para enfiar com força
logo em seguida.
— Mais, Dax — imploro, sentindo-me contorcendo por dentro. —
Mais.
— Gulosa — ele diz, e me come com força.
Cada vez que ele saía, eu sentia o vazio desesperador, e, quando ele
entrava, nunca era suficiente. Inacreditavelmente, eu cheguei ao ápice pela
terceira vez, junto com ele.
***
Desperto sentindo meu corpo cansado, com um dolorido prazeroso
entre as pernas, e um sentimento de satisfação que deixa minha alma leve.
O braço de Dax está em volta da minha cintura, com a mão sobre
meu estômago, que me dá uma sensação de paz e segurança.
Minha primeira vez foi infinitamente melhor do que eu imaginei
durante todos esses anos.
Estamos de lado, eu na frente, enclausurada por seu corpo, na cama
dele, para onde ele me carregou assim que conseguiu controlar a
respiração.
Dax está tão sintonizado comigo que desperta logo depois de mim,
apesar de eu ter feito meu máximo para não me mexer, não incomodá-lo.
— Que fome... — ele sussurra no meu ouvido, mordiscando o
lóbulo. — A lasanha cairia tão bem agora...
— Pena que estamos aqui em cima... — concordo com ele. —
Alguém poderia ir lá embaixo e preparar uma bandeja para a gente comer
na cama, não é?
— E esse alguém sou eu, né?
Dou uma risadinha.
— Juro que te dou uma sobremesa depois.
— Trato feito — Dax grunhe, enfiando o rosto em meus cabelos,
sua mão subindo até meu seio, sua ereção se esfregando entre minhas
nádegas.
— Se você continuar assim, não é comida que vai comer, Dax. —
Digo, meio rindo, meio arfando.
Com resistência, a mão dele deixa meu seio.
— Você será meu fim, Sam. — ele comenta ao se levantar. — O
meu fim.
E você é o meu tudo, Dax Caden. Sempre foi, e sempre será.
12
Dax
Estou com meia dúzia de livros nos braços quando ouço o sino
indicando que alguém entrou na loja. Com dificuldade, coloco os livros
em cima do aparador.
— Só um segundo e... — viro-me para cumprimentar o cliente e
dou de cara com os olhos azuis que não saem da minha cabeça. — Ah,
Dax. Oi.
— Não terminamos nossa conversa desta manhã, achei melhor
falarmos pessoalmente.
Por que ele precisa ter um sorriso tão lindo? É muito injusto. Ele
poderia ter ficado um pouquinho menos charmoso e irresistível nos
últimos dois dias.
Ao invés disso, o olhar dele parece estar mais intenso, como se ele
conseguisse me ver nua. Ah, claro. Ele já me viu nua. Em várias posições.
Droga. Começou a ficar quente aqui dentro.
— Desculpa, realmente não quis desligar na sua cara.
— Nunca se desculpe por fazer bem o seu trabalho. Você foi
atender um cliente.
Isso que é pior. Nem fui. Estou ficando profissional em mentiras.
— Já enviei os convites para os meus... Hum... Para os Carmichael.
Ele acena, olha em volta, e, verificando que estamos sozinhos,
desembucha:
— Quer sair comigo hoje à noite?
Sim.
Não.
Não sei.
Só sei que não quero mais mentir.
Só sei que sonho com você todas as noites.
Só sei que, depois de tantos anos apaixonada por você, descobri
que o Dax da minha realidade é ainda melhor que o Dax dos meus sonhos.
E eu vou acabar te machucando se continuarmos juntos. E você
também vai me magoar, se descobrir quem eu sou, porque não vai mais
querer saber de mim.
E eu tenho que responder algo. Logo.
Fala, Samantha!
— Dax, eu...
— Por favor, Sam — ele me interrompe ao notar minha dúvida, e
segura minhas mãos frias com as suas quentes, aquecendo-me por dentro e
por fora. — Nem precisamos passar a noite juntos, só queria conversar um
pouco com você. Podemos passear pelo Hyde Park.
— Eu adoro o Hyde Park.
— E precisamos aproveitar, porque logo vai ficar frio demais para
passear lá.
Nossa, ele é tão bom em argumentos quanto Zoey. Realmente, por
isso é um excelente homem de negócios: não aceita “não” como resposta e
sabe te convencer a seguir o desejo dele.
— Você não desiste, né?
— De você? — ele beija cada um dos meus dedos, me deixando
arrepiada. — De jeito nenhum.
— Eu realmente queria ir, mas acabei acumulando trabalho — sei
que pode soar como desculpa, mas essa parte é verdade. Mostro uma caixa
de papelão atrás do balcão. — Depois que fechar a livraria, ainda preciso
registrar esta caixa inteira de livros e as cento e cinquenta e duas vendas
que fizemos no sábado.
— Uau — ele parece verdadeiramente impressionado. E é
impressionante mesmo, para uma livraria do tamanho da nossa. — Foi
bem cheio.
— Sim, e minha amiga estava aqui – supostamente para me ajudar
–, mas não me deixou trabalhar.
Percebo que ele está segurando a gargalhada.
— Imagino que seja a sua amiga da ligação — ele levanta uma
sobrancelha, e eu aceno para ele. — Zoey. Eu a conheço, sabia?
Claro que sei, Dax. Você conhece nós duas. Desde sempre.
Diga, Sam. Admita. Por favor. Sou Samantha Rose Carmichael, a
irmã de Zack.
— Não queria que você ligasse o tema da ligação à pessoa — é o
que eu acabo dizendo, porque sou uma tonta medrosa.
Ele faz algumas perguntas sobre o leilão do sábado e conversamos
um pouco sobre os livros que vendemos com os melhores valores. Três
clientes aparecem nesse período e ele me ajuda bastante com as vendas.
Uau. Dax é um excelente vendedor, e não é só com as mulheres.
Ele convence um dos meus clientes habituais mais difíceis, o Sr. Walters, a
levar sete livros raros.
Quando estamos sozinhos de novo, ele retorna ao passeio de Hyde
Park esta noite.
— E se eu te ajudar? Digo, te ajudar de verdade?
— Como assim?
— Eu fico de olho na livraria enquanto você faz... Tudo isso aí que
você precisa fazer.
— Dax Caden, o queridinho de Wall Street, vai trabalhar como
vendedor aqui na livraria?
— Sim. Sempre quis entrar no negócio de livros. E, pela última
venda que eu fiz praticamente sozinho — claro que ele joga isso na minha
cara — acho que tenho jeito para a coisa.
Ele pisca. Eu rio.
— Você é impossível, Dax.
— Não, Sam. Sou insistente. Quando sei o que quero.
Ele me olha com tanta admiração que quase me faz dar um tapa no
meu próprio rosto. Como eu pude mentir para ele? É tão injusto, porque
ele não tem sido nada além de sincero comigo.
— Dax, preciso te explicar uma coisa...
— Eu sei o que vai dizer. Toda aquela história de “eu sou um
milionário em Nova Iorque, você é uma livreira em Notting Hill” e tudo o
mais.
— Está mais para o tudo o mais.
Tipo, eu sou a irmã do seu melhor amigo, a garota com quem você
prometeu nunca se envolver e de quem você tirou a virgindade no último
final de semana.
Esse tipo de “tudo o mais”.
— Também quero te explicar uma coisa, Sam. Eu estou aqui, não
como o milionário, não como um dos cem solteiros mais cobiçados...
— Do mundo — complemento para ele.
— Do mundo. Estou aqui como um cara que acabou de ter o
melhor final de semana da vida dele ao lado de uma garota, e quer que ela
aceite sair mais uma vez com ele.
Oh, ele adaptou o discurso do filme Notting Hill! Ainnnn.... Só
matando esse homem de beijos.
— Você está dando uma de Julia Roberts para cima de mim? Jogou
baixo, Caden.
— Você não me deixou qualquer alternativa.
Mordo o lábio inferior com força, para segurar o desejo de beijá-lo.
Ele me segura pelo queixo e, com o indicador, solta meu lábio.
— Mal posso esperar para te beijar de novo, Sam.
Rosto queimando. Bolo na garganta. Coração parecendo que está
participando da Fórmula 1. Sintomas básicos da Síndrome Dax Caden.
— Desculpa — ele pede, interpretando completamente errado meu
silêncio. Ele acha que fiquei chateada com seu comentário, mas fiquei foi
excitada mesmo. — Nada vai rolar se você não quiser, Sam. Saia comigo.
Por favor. Só um passeio no parque.
Ele não vai parar até eu dizer sim. E eu não quero mais negar.
— É melhor que faça um bom trabalho aqui em cima, Caden.
— Juro que vou. Sei como a Sra. Carmichael fica quando alguém
faz besteira em sua livraria.
— Qualquer coisa, estarei no quarto dos fundos, onde fica o
escritório.
— Tudo bem.
— E mais uma coisa, Dax.
Dou a volta no balcão, o puxo pela nuca e dou um beijo nele. Sim,
é um beijo quente, de língua, daqueles que nos fazem sentir como se
estivéssemos sozinhos no planeta.
Eu termino com o beijo antes que comecemos a tirar a roupa no
meio da livraria.
— Eu também estava com saudade da sua boca, Dax.
— Depois você diz que eu sou impossível.
18
Sam
Oi, Dax.
Está tudo bem?
Ele é tão fofo que dá raiva. De mim mesma, digo. Não quero
magoá-lo, mas tampouco quero continuar fingindo ser alguém que não
sou.
Alguém que ele conheceu dias atrás.
Alguém que ele nunca tinha visto antes.
Alguém que não quer ir ao casamento com ele por medo de ir
rápido demais, e não por medo de ser descoberta.
Alguém que ele poderia amar.
O que responder nesses casos? O Google deveria ter respostas para
esse tipo de coisa...
Ah.
Ah?
Mereço algo mais que “ah”, não?
Depois do final de semana, das flores, do Hyde Park, e das últimas
noites, achei que receberia pelo menos um UAU.
Engraçadinha.
Não é legal fazer piada com dinheiro.
Dax...
Sam...
Quero muito te ver hoje...
Se você acha que estamos indo rápido demais, nem sei o que acharia
se soubesse o que planejo para a gente.
Respira, Sam. Isso é o tipo de coisa que homem diz para mulher
com quem está saindo.
Ainda assim, significa o mundo ouvir isso dele. Sonhei em escutar
essas palavras durante longos anos, e, agora que ele as diz, nem posso
curti-las.
A cada segundo que passa, eu sinto uma necessidade maior de
contar quem sou de verdade. Ao mesmo tempo, o medo de perdê-lo
aumenta.
Quero ser honesta com ele, porque Dax é um cara bacana que
merece a verdade, mas meu lado egoísta quer curtir esse Dax mais um
pouquinho.
O Dax que me deseja, que não me vê como a irmã caçula – e
proibida – de seu melhor amigo.
Eu te assustei, né?
Sei que deveria dar espaço a ela. Anne vem repetindo isso sem
parar. Ainda assim, não consigo resistir à tentação de lhe enviar uma
mensagem dizendo que estou com saudade.
Apesar de Sam estar assustada, sei que me deseja. Sei que está
sentindo o que eu sinto. Porém, talvez por ela ser tão inexperiente, esteja
muito insegura.
Eu, por outro lado, nunca tive tanta certeza do que quero. Ela. Sam.
Porra, nem sei seu sobrenome, e já estou me imaginando tendo
algo sério com ela. Posso perguntar para a Sra. Carmichael quem é a sua
funcionária.
Não, não é legal fazer isso. Sam disse que quer me contar algo
sobre ela mesma, e tenho que respeitar seu desejo. Vou esperar até
segunda-feira para perguntar tudo que desejo sobre ela.
Quem sabe, até lá, ela já tenha se dado conta que nosso caso não
envolve apenas sexo casual? Claro, o sexo é sensacional, mas está longe de
ser tudo. Na verdade, acho que curto sua companhia tanto quanto curto
estar dentro dela.
Preciso enviar uma mensagem agora mesmo.
Quando admito que estou com saudades e quero vê-la hoje, ela fica
nervosa.
Eu te assustei, né?
Claro que estou tremendo que nem uma folha ao vento quando
chegamos ao restaurante. Encontro Dax sem dificuldade.
Tento me esconder do fotógrafo que está tirando fotos dos
convidados e caminho até um canto discreto do ambiente, onde Zoey está
parada, evitando Dax ao máximo.
— O que você está fazendo aqui? — ela arregala os olhos ao me
ver, e me empurra contra uma pilastra, para me esconder por completo do
campo de visão do Dax.
— Oi, Zoey — meu irmão diz atrás de mim, atraindo a atenção
dela.
Seus olhos escurecem de raiva.
— Zack. Gisele — ela pronuncia o nome como se quisesse vomitá-
lo.
— Você engordou, Zoey? — Gisele pergunta com maldade.
Cruela é uma santa perto dela. Mulher venenosa. Ela sabe que Zoey
sempre foi insegura quando o assunto é a balança.
Eu, meu irmão e ela ficamos paralisados, porque é um assunto bem
desconfortável. Dave, porém, aproxima-se com um sorriso que me diz que
ele não vai deixar barato.
— Na verdade, acho que ela nunca esteve tão linda — ele dá um
tapa na bunda nela, e juro que o rosto de meu irmão começa a se contorcer
de dor, enquanto eu seguro a gargalhada. — Adoro essas curvas dela.
Gisele fica boquiaberta, e não é pelo tapa na bunda. David é gato.
Eu disse gato? Quis dizer lindo. Tipo, uma mistura de Brad Pitt jovem
com o cara que faz o Thor, Chris Hemsworth.
Quando ele veio falar comigo pela primeira vez em Oxford, eu
fiquei uns bons dois minutos encarando-o sem saber o que responder. Ele é
definitivamente um dos homens mais bonitos que eu já vi.
E soube deixar Gisele morrendo de inveja de Zoey.
— E quem é você? — meu irmão questiona de um jeito nada
educado.
Por que ele está tão agressivo com o Dave?
— David Dare. Fotógrafo da Vogue.
Quero gargalhar de novo; de fato, Dave já esteve na Vogue, mas
como modelo, não fotógrafo. Inclusive, foi como ele pagou pela graduação
e mestrado em Oxford.
— Ah, é? — Meu irmão infla como um pavão.
Gente, esses homens parecem um bando de neandertais. Só falta
ele bater no peito e chamar Dave para um duelo.
Dave, por outro lado, finge nem perceber a reação de Zack e
Gisele. Ele olha apenas para Zoey; se eu não o conhecesse, e soubesse que
ela nunca será um interesse romântico dele, eu juraria que está apaixonado
por ela.
Dave a segura pela cintura e, sem tirar os olhos dela, diz:
— Estava tirando umas fotos no Hyde Park e vi a Zoey... Ela é a
mulher mais fotogênica que já conheci.
— Mesmo? — A Gisele não sabe quando calar a boca e deixar de
ser uma babaca.
Sério, como diabos meu irmão aguenta essa mulher? Nunca fui
uma pessoa violenta, mas minha vontade é quebrar a garrafa de
champanhe na cabeça dela.
Como ela pode ser tão cruel, sem qualquer motivo?
Para variar, Dave sabe muito bem dar o troco. O olhar dele desvia,
e foca na Gisele. Ela faz pose de modelo, até ele examiná-la com um olhar
de pura reprovação.
— É, a indústria da moda só gosta do mesmo tipo de mulher, as
magricelas com peitos de silicone e cabelos platinados — ele faz uma cara
de nojo ao olhar para os seios (bastante siliconados) da Gisele. — Mas,
homem com bom gosto curte é mulher diferente e com belas curvas. Sabe,
mulher de verdade.
— Eu bem sei... — meu irmão comenta, os olhos colados em Zoey.
Quê? O que diabos está acontecendo?
— O que você disse, Zack? — questiono, porque não acredito no
que ouvi.
E no que isso significa. De repente, as peças começam a se
encaixar. Zack... Zack está atraído pela Zoey? Enquanto namora sua maior
inimiga?
Olho para a minha melhor amiga. E os olhos dela também estão
colados nele. Hã? Os dois foram raptados por alienígenas e sofreram
lavagem cerebral, só pode.
Até ontem eles se odiavam. Não é?
NÃO É?
Agora, estou na dúvida se havia apenas ódio entre eles mesmo.
— Hã... Vamos para a mesa? — Gisele pergunta em tom de
reclamação, e se afasta sem esperar por Zack.
— Preciso falar contigo a sós, Sam — Zoey diz.
— Sobre o quê? — Zack, o intrometido, pergunta.
— Sobre sexo tântrico. Estou pensando em experimentar — ela
responde ironicamente, e me puxa para os fundos do cômodo. Será que há
uma outra saída lá? Espero que sim, porque quero fugir daqui antes que
Dax me veja.
Assim que nos afastamos de Zack e Dave, eu me viro para ela.
— O que está acontecendo, Zoey?
— Eu ia perguntar o mesmo a você. Dax já está aqui.
— Droga. Meu irmão apareceu de surpresa, e não consegui fingir
que estava passando mal.
— Cara, você é a pior cliente que eu tenho.
— Não sou sua cliente, sou sua melhor amiga! — eu a recordo.
— Estou pensando seriamente em começar a te cobrar honorários
advocatícios.
— E que história é essa do Zack estar todo interessado no Dave?
— Como assim? Seu irmão mudou de time? — ela tenta se fazer de
inocente, mas eu a conheço muito bem.
— Não muda o tema, Zoey! Ele veio até minha casa perguntar se
você está namorando. O que está rolando entre vocês?
— NADA! — Zack, o intrometido, se intromete de novo em uma
conversa que não o interessa. Não acredito que ele nos seguiu.
— Vamos sair? — Zoey sugere, olhando para Zack com um olhar
ameaçador. — Já que não conseguimos privacidade aqui dentro.
— Já vou, já vou — a contragosto, Zack caminha até a mesa no
centro do cômodo, onde os convidados começam a se acomodar.
Felizmente, Zoey arranjou um cantinho ótimo. É difícil alguém
conseguir nos ver do salão principal.
— Preciso contar para o Dax, Zoe. Isso chegou longe demais. Não
quero ficar me escondendo assim no casamento também. É loucura.
— Não combinamos que você ia contar depois do casamento, logo
antes dele voltar para os Estados Unidos?
— Ele vai querer saber por que eu estou no casamento, Zoe. Isso se
ele não me vir aqui.
— Você pode continuar escondida — Zoey diz como se fosse a
coisa mais lógica do mundo.
— O resto da noite? Como vou me esconder na hora que todos se
sentarem à mesa?
— Você fica na cozinha.
Chego a considerar esse plano. Por um segundo. No seguinte, eu
me dou conta de que é uma loucura.
Mesmo que Zack não note minha ausência – o que será bem difícil
– há ainda o fato de que precisarei passar pelo salão principal na hora de ir
embora.
Além disso, depois de tudo que me escreveu hoje, não consigo
mais esconder quem eu sou de verdade. Dax se declarou para mim, não é
justo!
— Chega disso, Zoey. Preciso contar agora para o Dax.
— Imagina o clima que vai ficar no casamento, Sam.
— Eu sei... Eu... Preciso contar.
Localizo Dax com facilidade; ele está agora em frente à porta
principal, recebendo convidados recém-chegados.
Seco as mãos na saia do vestido, respiro fundo, e começo a
caminhar na direção dele. Quando estou no meio do caminho, Zoey me
joga atrás de outra pilastra, corre até Dax e dá um beijo.
Na. Boca. Dele.
O que diabos...
— Zoey! — meu irmão berra do lado oposto do salão, e corre até
os dois. — Que porra é essa?
— Qual é o problema, Zack? Ele é gato, eu estou solteira, e é isso.
— Meu senhor — estou tendo uma arritmia cardíaca. Vou infartar a
qualquer instante.
— Você não estava aqui com um cara? — meu irmão questiona,
desconfiado.
Dave aparece logo atrás de mim, mas, tendo em vista a discussão,
ele se esconde atrás da pilastra junto comigo.
— Dave já foi embora. Tinha um compromisso na Vogue.
— O que está rolando entre vocês dois? — desta vez, Zack
pergunta a Dax. — É ela que você está pegando, Caden?
— Quê? — Dax obviamente não tem ideia do que está rolando.
Pelo olhar de Zack, sei que as coisas vão ficar feias.
— Vou te matar, seu desgraçado!
Zack pula em cima de Dax, e os dois começam a brigar, rolando
pelo chão do restaurante.
— De que porra você está falando? — Dax diz, entre um soco e
outro. — Não estou saindo com a Zoey!
— Você não está pegando a Zoey? — meu irmão para de desferir
golpes, mas os narizes de ambos já estão sangrando.
Sem contar que os dois terão olhos roxos amanhã, no casamento.
Jim aproveita que eles pararam de brigar para separá-los, e meu pai
empurra Zack para a direção oposta. Mas eles continuam discutindo.
— Claro que não estou saindo com a Zoey, Zack — Dax se
defende, parecendo ofendido com a acusação. — Ela é só uma criança.
Sinto meu coração despedaçando.
Zoey é só uma criança? Mas ela tem a minha idade!
— Não sou criança nada! — Zoey bate os pés no chão, como fazia
desde que era... Bem, uma criança.
Às vezes minha amiga pode ser bastante infantil.
Gisele, enquanto isso, observa os três com uma expressão
desconfiada.
— Você sabe do que estou falando, Zoe — Dax tenta acalmá-la. —
Fomos criados juntos. Você é como a minha irmã mais nova. Assim como
a Rose.
Eu me sinto um lixo. Ele sempre vai me ver como a irmã mais
nova de seu melhor amigo. Assim que descobrir, não vai querer mais nada
comigo.
— Ah. Merda — Zoey coloca a mão na testa, e olha na direção da
pilastra atrás da qual eu e Dave estamos.
Ela sabe. Sabe muito bem o que essa fala de Dax está fazendo
comigo, com o meu coração.
— Merda o que? — Zack questiona, e caminha até ela, segurando-a
pelos ombros. — Você está a fim de Dax mesmo?
Meu Deus, meu irmão pode ser um idiota.
— Isso não é da sua conta! — ela se defende.
— Zoe, eu gosto muito de você, mas não desse jeito — Dax insiste.
— Também não gosto de você desse jeito — ela faz uma careta. —
Que nojo!
— Então por que me beijou?
— Queria... Hã... — Todos os convidados da festa estão olhando
para ela. Zoey levanta os ombros e ergue o queixo, com sua famosa
expressão de escárnio. — Fiquei curiosa para saber como é beijar um dos
solteiros mais desejados de Wall Street.
Jim e Anne começam a gargalhar, e os outros convidados fazem os
mesmos, mas Gisele e Zack continuam sérios.
A expressão de Dax relaxa, e um sorriso irônico curva seus lábios.
— E o que achou, Zoe?
— Mais ou menos — ela responde no mesmo tom de brincadeira.
— Esses coroas já não sabem mais como tratar uma garota.
— Coroas? — ele questiona, arrancando mais gargalhadas dos
convidados.
— Sei que somos mais velhos que você — meu irmão comenta,
parecendo verdadeiramente ofendido. Nossa, ele está bem sensível hoje.
— Mas não precisa exagerar, Zoe.
— Enfim, Dax já foi testado e reprovado.
— Assim você parte meu coração, Zoe — Dax brinca, colocando as
mãos sobre o peito.
— Quer me testar também, Zoey? — Meu irmão provoca,
recebendo um olhar assassino de sua namorada.
Qual é o problema dele hoje?
— Deus me livre! Prefiro beijar um zumbi.
Agora os convidados vão à loucura. Papai está dobrando ao meio
de tanto rir.
— Ah, é? — Zack questiona, irritado.
— Um zumbi com bafo de cocô de vaca. — ela o provoca.
— O que está acontecendo? — Dave sussurra no meu ouvido.
Ele também sentiu que há algo rolando entre meu irmão e Zoey.
Algo que ela nunca contou para a gente.
— De tudo e mais um pouco — respondo. — Me tira daqui, por
favor?
— Isso — Dave concorda. — Antes que Dax te veja.
Estamos chegando à porta de entrada, tentando caminhar pelos
cantos e nas sombras, quando Zoey nos alcança. Saímos juntos e, assim
que chegamos ao carro de Dave, ela se vira para mim:
— Sam, preciso que você durma na minha casa hoje — ela diz. —
Eu menti para você. Na verdade, eu venho mentindo para você há bastante
tempo.
25
Dax
Quando chego em Notting Hill, meu olho já está roxo e meu nariz,
bastante dolorido. Tomo remédio para dor e um anti-inflamatório, e olho
pela janela do meu quarto.
Tudo está escuro no quarto de Sam. Ou ela está dormindo, ou ainda
não chegou em casa. Coloco gelo no olho direito, o que foi atingido pelo
punho de Zack, enquanto escrevo uma mensagem para Sam.
Sim, consegui pegar meu celular de volta enquanto Anne buscava
curativos para colocar na ferida acima da minha sobrancelha.
O Zack fez um belo de um estrago, e é melhor ele explicar
direitinho por que ele fez isso. Não quis falar do assunto na frente dos
convidados, mas está claro para mim que há algo rolando entre ele e Zoey.
A cara que ele fez quando mencionei que ela é nova demais para a
gente, que ela é como nossa irmã mais nova... Sério, parecia que ele ia
morrer ali mesmo de remorso.
Sei...
Hoje terá que encontrar outro.
O que aconteceu?
Sempre soube que Sam era mais nova que eu, mas nunca a vi na
mesma categoria que Zoey. Sim, homens têm, muitas vezes, o mau hábito
de separar mulheres em categorias.
Zoey, desde sempre, fica em uma categoria muito semelhante à de
Anne, bem distante da categoria de Sam. Apesar de compartilharem a
mesma idade e uma amizade, elas representam coisas bem distintas para
mim.
Enquanto eu sempre enxergarei Zoey como parte da família, quase
como uma irmã mais nova, ou uma prima por quem tenho um imenso
carinho, Sam é a mulher que me enlouquece na cama e me surpreende fora
dela.
Sam me encanta, me seduz, me excita. Zoey, assim como irmãs
mais novas geralmente o fazem, me irrita e me faz sorrir ao mesmo
tempo.
Por isso, achei bizarro quando ela me beijou; entretanto, quando
ela explicou o motivo – mais bizarro ainda – por ter me beijado, foi uma
das coisas mais engraçadas que ouvi.
Como uma irmã que aprontou feio, mas a gente não consegue não
achar bonitinho.
Porém, como consigo explicar tudo isso para Sam?
E se eu fosse a Zoey?
Ou a Rose?
Se eu fosse a irmã do seu melhor amigo?
Digamos que é melhor que você não seja a irmã caçula do meu melhor
amigo.
Muitos anos atrás, Zack Carmichael me fez prometer que nunca sairia
com a irmã dele.
De jeito nenhum.
Ainda não entendi essas perguntas de Sam sobre Rose, mas vou
continuar oferecendo o que ela deseja.
Se Anne estivesse aqui, ela estaria orgulhosa de mim. Sei que não
cumpri minha promessa de dar espaço a Sam, mas, pelo menos, estou
deixando que ela guie a conversa, para que fique à vontade.
Se ela precisa perguntar cem questões estranhas para se convencer
de que temos um futuro juntos, então eu vou responder a todas as cem
questões sem reclamar.
Vai ver, a nossa diferença de idade é algo que a incomoda. Se for
assim, vamos conversar até essa diferença deixar de ser um obstáculo.
Anne tem razão: até o momento, eu agi de acordo com as minhas
necessidades e o meu ritmo. Está na hora de fazer as coisas do jeito de
Sam.
Leio sua próxima pergunta, e respiro fundo antes de responder.
Gostaria de falar de nós, não de Rose.
Ah, é mesmo?
Como sua irmã mais nova?
Apesar das minhas boas intenções, minha paciência foi para o ralo.
Quero falar de Sam, não de Rose. Quero falar do meu futuro com ela, do
meu futuro em Londres.
Rose sempre teve uma queda fofa por mim, mas não é nada sério.
De qualquer forma, quero falar da gente.
Estou pensando em ficar aqui em Londres mais tempo.
Sam. Eu estou me apaixonando por você.
Mentira.
Eu já estou apaixonado por você.
Okay, talvez minha irmã não ficasse tão orgulhosa assim de mim
com essa última mensagem. Eu mesmo me arrependi assim que apertei o
botão enviar.
Não que eu me arrependa de falar dos meus sentimentos para ela,
mas sim do timing. Talvez, ela ainda não esteja pronta para ouvir que eu a
amo.
Agora já era.
Pode falar.
Rose Carmichael?
Você é a Rose?
Sim.
Exatamente.
Sim.
Euzinha.
Aquela que você considera como uma irmã mais nova.
Aquela por quem você jamais sentiria nada.
Aquela que você prometeu não se envolver quase treze anos atrás.
Aquela com quem você tem dormido na última semana.
Aquela de quem você tirou a virgindade.
Nem sei há quanto tempo eu sou apaixonada pelo Dax. Acho que,
desde que o vi a primeira vez, quando ele sorriu para mim e me deu um
beijo casto na testa, eu passei a enxergá-lo como um príncipe encantado de
um conto de fadas.
Claro que, com o tempo, meus sonhos inocentes de menina viraram
sonhos safados de adulta. No fim das contas, o destino nos uniu – na cama,
inclusive –, mas, do jeito que as coisas estão indo, não ficaremos unidos
muito tempo...
Quanto mais tempo eu passo com ele, mais eu entendo que ele
ainda não compreende que a Rose, a pequena garotinha que ele conheceu,
com quem ele jurou jamais se envolver, cresceu e agora usa o nome
Samantha.
Estou falando com Dax por mensagens e, apesar de não querer
fazer isso pelo telefone, de ter planejado ter uma conversa pessoalmente
com ele sobre o assunto, preciso arrancar isso do meu peito.
Preciso saber se ele ainda enxerga a Rose (ou seja, a minha antiga
versão) apenas como a irmã caçula do seu melhor amigo.
Por isso, eu pergunto, apesar de temer a resposta:
Eu menti sobre quem eu era por mim. Mas vou dizer a verdade por
Dax.
Ele precisa saber quem eu sou antes de decidir ficar em Londres.
Eu decidi por nós dois que ele tiraria a minha virgindade. Agora, Dax
precisa decidir se vamos ou não ter um futuro.
Se ele realmente está apaixonado por mim, o fato de eu ser a irmã
de seu melhor amigo não fará diferença. Se ele me ama de verdade, vai
superar qualquer obstáculo entre nós.
Pode falar.
Rose Carmichael?
Você é a Rose?
Sim.
Exatamente.
Sim.
Euzinha.
Aquela que você considera como uma irmã mais nova.
Aquela por quem você jamais sentiria nada.
Aquela que você prometeu não se envolver quase treze anos atrás.
Aquela com quem você tem dormido na última semana.
Aquela de quem você tirou a virgindade.
Gente, o que eu estou fazendo? Qual é o meu maldito problema?
Por que estou enviando mensagens com a mesma sutileza de balas de
canhão?
Nada disso é culpa do Dax, mesmo que ele tenha sido cego em
determinados momentos. Na verdade, nem eu sou totalmente responsável,
apesar de sentir uma raiva enorme de mim mesma.
No fundo, o que estamos passando é uma soma de diversas coisas
que deram errado, e tudo começou com a minha obsessão bizarra pelo
melhor amigo do meu irmão e piorou com a promessa ridícula que Zack
obrigou o Dax a fazer, de nunca sair comigo.
Respiro fundo, e decido encerrar essa conversa antes que eu diga
mais besteira. Não quero machucá-lo. Nem sei mais o que eu quero.
Claro que você sabe, Sam. Você quer Dax. Sempre o quis. Sempre
vai querê-lo.
Droga. Preciso realmente encerrar esta conversa.
Olho para meu irmão, e quase sinto pena dele. Foco no quase.
Depois de tudo que ele fez com a Zoey, será difícil sentir qualquer empatia
por Zack de novo.
Ainda assim, está na cara que ele está sofrendo. Zack está pálido,
aguardando notícias de Zoey. Assim que chegamos ao hospital, ela já
estava bem melhor, mas, pela quantidade absurda de amêndoas que tinha
comido, tiveram que fazer lavagem estomacal.
Também tiveram que fazer uma pequena cirurgia na mão dela.
Parece que vários pedaços de vidro entraram em sua mão, e precisaram ser
retirados.
Por conta do ferimento da palma da mão, que foi ainda mais
profundo do que eu imaginei, ela perdeu bastante sangue mas, felizmente,
não foi o suficiente para ela precisar de transfusão.
Os pais de Zoey vieram assim que souberam do incidente; quando
souberam da cirurgia e que ela teria que passar a noite em observação,
saíram para pegar algumas coisas de que precisariam.
Eu prometi que ficaria até eles voltarem. Zack apenas olhou para
mim como se nada nem ninguém fosse capaz de arrancá-lo do hospital.
Se, por um lado, ele parece bem preocupado com ela, por outro,
isso não combina com tudo que Zoey me contou da história deles.
Por que ele estaria tão aflito se teve não apenas uma, como duas
chances com ela, e desperdiçou as duas, tratando-a como se ela fosse uma
camisinha usada?
Se eu não soubesse do que aconteceu entre eles, e como Zack a
abandonou, apesar de Zoey demonstrar o quanto estava interessada em ter
um futuro com ele, eu juraria que ele estava perdidamente apaixonado pela
minha melhor amiga.
Não, não faz qualquer sentido. Provavelmente, ele a enxerga como
parte da família, por conhecê-la desde nova. O problema é que o olhar dele
quando a pegou no colo definitivamente não era fraternal.
Ah, sei lá. Assim como eu me surpreendi com a história de Zoey,
talvez tenha uma versão de Zack que me surpreenda também.
Agora, tenho outras preocupações na cabeça, como o bem-estar da
minha melhor amiga.
— Ela já voltou para o quarto — uma enfermeira nos avisa, e Zack
parece o The Flash, praticamente voa até a suíte da Zoey.
Quando eu chego, Zack está sentado ao lado da cama estreita,
segurando a mão boa de Zoey, e ela está olhando para o teto como se fosse
uma obra de arte do Van Gogh.
Isso será interessante.
Eu me aproximo da cama, e os olhos dela movem-se calmamente
até mim, meio etéreos, meio alegres demais para alguém que quase
morreu algumas horas atrás.
— Amiga, como você está? — pergunto, e ela abre um sorriso
preguiçoso, como se estivesse bêbada.
— DI-VI-NA.
— O que aconteceu? — pergunto à enfermeira, que está cuidando
do soro dela.
— A Srta. Tucker estava muito nervosa, e reclamando bastante de
dor, então acabamos dando mais... Remédios.
O que ela quis dizer é que drogaram a minha amiga e ela está tão
alta quanto um balão meteorológico.
— Entendi — respondo secamente.
— Zoey, como se sente? — Zack questiona, parecendo aflito.
— Você é tão bonito...
— Ah, sou? — meu irmão infla de orgulho.
Nossa, o ego dele é maior que o quarto. É um milagre que ele caiba
aqui dentro.
— Mas é tão babaca — Ela o faz desinflar tão rápido quanto inflou.
Seguro a gargalhada, sabendo que ele mereceu esse comentário.
Depois do que ele aprontou com Zoey, vou levar bastante tempo para
perdoá-lo.
Ainda não entra na minha cabeça como ele não correu atrás de
Zoey, que é linda, inteligente e interessante, para ficar com a Miniatura da
Cruela.
— Eu sinto muito, Zoe — ele comenta, e noto seus olhos ficarem
marejados.
Mais uma vez, a reação dele me deixa completa e absolutamente
perdida.
Meu irmão não é de ficar emocionado. A última vez que o vi com
lágrimas nos olhos foi quando o Manchester venceu a Copa do Mundo de
Clubes da FIFA em 2008.
— Foda-se você e seu “sinto muito” — ela afasta a mão do toque
dele.
— Zoe — ele tenta pegar a mão dela de novo, mas ela a tira de
forma teatral.
Gente, isso está parecendo cena de novela mexicana. Olho para a
enfermeira, que me encara como se perguntasse: “o que diabos está
acontecendo aqui?”.
Levanto os ombros, respondendo, com o gesto “estou tão perdida
quanto você, minha nova companheira de novela mexicana”.
Zoey coloca a mão para cima, em sinal para Zack deixá-la em paz,
e volta a olhar para o teto.
A aguardar as cenas dos próximos capítulos.
De repente, o olhar da Zoey cruza com o meu, e sua carranca
rapidamente se transforma em um sorriso perdido, como se ela tivesse se
esquecido do meu irmão e eu fosse um unicórnio cor de rosa feito de
algodão-doce.
— Sam. Fico tão feliz que você não seja mais uma freira.
Ah, merda. A enfermeira e Zack me olham com curiosidade.
— O que ela quis dizer, Sam? — Zack questiona.
Ah, merda ao cubo.
— Zoey, chega — digo entredentes.
— Chega mesmo. Chega de dar mole para aquele idiota que não te
merece.
— Que idiota? — meu irmão insiste, seu tom ficando mais irritado.
A enfermeira, por outro lado, está enrolando para sair, já deve ter
checado o soro da Zoey meia dúzia de vezes. De repente ficou interessada
na novela para a qual eu acabei de ser puxada.
— Quem é ele, para tirar a virgindade de minha melhor amiga e
depois dizer que você é como sua irmã mais nova?
Se eu desmaiar agora, será que a Zoey para de falar?
— Quem é esse pedófilo? — meu irmão acusa.
— Pedófilo? Eu sou adulta, Zack!
— Hã... Oi, pessoal. Vim ver a Zoey — quase tenho um ataque
cardíaco ao ouvir a voz de Dax atrás de mim. — Interrompo alguma coisa?
— SIM! — Zack grita.
— Não! — grito de volta, caminho até meu irmão e o puxo pelo
braço. — Vamos terminar esta conversa lá fora. Você fica um pouco com a
Zoey, Dax?
— Mas eu... — Zack se segura na cama, até ver meu olhar
assassino.
— Vamos agora, Zack!
Não foi ele quem fez perguntas indiscretas? Pois agora vai ter que
me escutar. Cansei dele agindo como se fosse meu pai e eu ainda tivesse
dez anos de idade!
Saímos juntos do quarto, enquanto Zoey nos observa com um
sorriso divertido no rosto, e Dax nos encara como se estivéssemos
caminhando para o corredor da morte.
— O que está acontecendo, Rose? — ele pergunta quando estamos
lá fora.
— Você tem que entender que eu cresci. Minha vida sexual
realmente não é da sua conta, Zack.
— É, sim.
— Não, não é. — Respiro fundo, e decido ser mais gentil. O que
estou prestes a dizer é duro, mas ele precisa me ouvir. — Sei que você
sempre foi um irmão protetor, e te agradeço por isso. Mas eu já sou uma
adulta, Zack, responsável pelas minhas decisões e suas consequências.
— Mas... Não quero que um homem se aproveite de você, minha
Pequena Rose. Homens são muito safados.
— Homens como você, quer dizer?
— Rose... — ele comenta em tom de aviso.
Como se esse tom dele ainda fosse capaz de me assustar.
— Zack... — seguro suas mãos. — Mesmo que eu encontre um
homem que tente me enganar, precisarei quebrar a cara sozinha para
aprender a me defender, né?
Ele me puxa em um abraço, e sinto o desespero por ele, enfim,
perceber que sua irmãzinha já não é mais um bebê que ele pode isolar do
mundo.
— Não quero que você quebre a cara, minha pequena rosa.
— Faz parte da vida, Zack. Não pode sempre me proteger.
— Posso tentar.
Afasto-me do abraço dele para encará-lo.
— Eu te amo, mas quero tomar minhas próprias decisões com base
no meu próprio julgamento.
— Eu entendo, Rose. Mas...
— Não tem “mas”. Você precisa aceitar que eu cresci. Para o bem
ou para o mal, tenho que lidar com as minhas escolhas.
32
Dax
Encaro a Zoey por alguns segundos, sem saber ao certo o que lhe
dizer, enquanto ela parece entretida com os dedos da mão.
O que dizer à mulher que se deu um choque anafilático para evitar
que meu melhor amigo descobrisse o traidor de merda que eu sou?
E tudo por causa de um milésimo de segundo, no qual eu joguei o
bom senso ao vento e esqueci todas as razões pelas quais deveria ficar
longe da Sam.
Claro que o milésimo de segundo esticou-se por minutos, e teria se
esticado por horas, se Zoey não tivesse nos interrompido.
Só de pensar nos sons que Sam fez enquanto eu a penetrava com os
dedos, no gosto doce de seus lábios e na sensação deliciosa dela apertando
meus dedos enquanto chegava ao ápice, fico com uma ereção.
Zoey parece sentir que o ar no quarto ficou mais quente, porque, do
nada, sua atenção deixa seus dedos e se foca completamente em mim.
Preciso distraí-la, antes que ela perceba o inchaço entre as minhas
pernas.
— Zoey, queria te agradecer por...
— Por quase me matar para evitar que o imbecil do seu melhor
amigo te pegasse no flagra com a língua enfiada na goela da irmãzinha
caçula dele? — ela me interrompe.
— Não precisava ser tão gráfica, mas... Sim, obrigado por isso.
Sento-me na poltrona ao lado da cama estreita onde ela está
deitada, tentando organizar meus pensamentos.
Se, por um lado, eu não consigo manter o bom senso quando chego
a menos de um metro de Sam, por outro, não consigo imaginar uma forma
de ficarmos juntos.
Não do jeito que ela merece.
Zoey parece ler meus pensamentos confusos, e, depois de me
observar atentamente por longos minutos (apesar de seus olhos parecerem
um pouco perdidos), ela pergunta:
— Você nunca vai contar para o Zack sobre vocês dois?
— Ainda não sei — eu me vejo respondendo honestamente.
O que a gente fez está feito. Não posso desfazer nossos dias – e
noites – juntos. E, mesmo que pudesse, não faria isso. Os momentos que
passei com Sam foram, sem sombra de dúvida, alguns dos melhores da
minha vida.
Se eu não puder tê-la, pelo menos terei essas lembranças. Talvez,
tenha que me contentar com isso, apesar de não chegar nem perto de sentir
sua pele sob minhas mãos, ou da sensação de estar em sua companhia,
dentro dela, sobre ela e...
Preciso pensar em outra coisa. Cruzo as pernas para tentar disfarçar
como as coisas ficaram duras. De novo.
— Mas vai continuar com a Sam? — Zoey insiste.
A enfermeira mencionou que ela está meio alta por causa da
medicação, mas ela está parecendo mais uma agente da CIA em um
interrogatório.
Seco a testa e respondo com a cabeça, não com o coração.
— Não, Zoey. É impossível.
— Impossível? — ela grita, batendo as mãos contra o colchão. —
Não parecia impossível quando vocês estavam fodendo como coelhinhos
na última semana.
Uma enfermeira entra naquele preciso momento, encarando-nos
boquiaberta. Pelo menos, não foi o Zack com Sam.
— Boa noite. Trouxe o jantar.
A mulher coloca a bandeja sobre uma mesa suspensa e a aproxima
na cama. Zoey pega um pouco da comida no garfo e, depois de cheirar e
fazer uma careta, ela experimenta.
Aí cospe a comida de volta no prato.
— Eca, comida mais sem gosto! — reclama, com um tom de
Rainha da Inglaterra. — Pode levar essa gosma para longe daqui, meus
pais vão trazer comida de verdade quando vierem.
— Ah. Desculpa pela intromissão — a enfermeira diz, sem graça,
enquanto carrega a bandeja para fora do quarto.
— Nenhum problema, querida — Zoey responde em um tom mais
meigo. Mas eu sei que não há qualquer meiguice nessa criatura, apesar de
amá-la como se fôssemos irmãos. — Só estava dando uma bronca nesse
idiota que não consegue enxergar o que está bem debaixo do nariz dele.
— Quê? — questiono, e a enfermeira aproveita para fugir.
— E se tivermos pequenos coelhinhos saltitando por Notting Hill
em alguns meses? — ela volta a me interrogar, com os braços cruzados. —
Vai continuar fingindo que não há nada entre vocês dois?
Nem tinha pensado nessa possibilidade. Quando começamos a
ficar, eu mal conseguia me conter perto da Sam. E, quando terminamos, eu
mal consigo parar de pensar nela.
Nem considerei a possibilidade do nosso.... Hã... Caso... Ter
consequências mais sérias, como gerar uma criança.
Parece loucura, mas a possibilidade enche meu coração de
esperança.
Qual é o meu maldito problema? Eu deveria pensar em formas de
me manter afastado de Sam, não de garantir que estaremos ligados por um
filho pelo resto de nossas vidas.
Apesar da minha razão gritar que este seria um péssimo cenário,
minha mente forma o rosto rechonchudo de um bebê com os cachinhos de
Sam, minhas feições, e os grandes olhos dela.
Pare com isso, Caden!
Zoey limpa a garganta ruidosamente, trazendo-me de volta para o
agora.
— Eu... Ela... — começo a gaguejar, respiro fundo e junto coragem
para responder direito. — Se isso acontecer, vou assumir a
responsabilidade.
Ela ri, e volta a encarar seus dedos. Ela parecia sóbria há dois
segundos, e agora voltou ao reino mágico da medicação para dor.
— Eu adoro coelhinhos, sabia? — Zoey comenta, movendo os
dedos como se eles pudessem dançar. — Queria fazer um coelhinho com o
Zack, mas ele é idiota demais para me merecer.
— Como é que é?
Do que ela está falando?
— Ele não tem a sua energia, Dax — ela dá outra gargalhada
infantil. Está meio psicótica. Será que eu deveria chamar o médico? —
Soube que você ficou a noite inteirinha sem deixar a Sam dormir...
A Sam conversou sobre nossas relações sexuais com Zoey? De
repente, quero aproveitar que Zoey está no Universo Paralelo dos Segredos
Revelados, e perguntar sobre o que mais Sam e ela conversaram.
— O que mais a Sam disse de mim?
Ela ignora a minha pergunta.
— Mas Zack até daria pro gasto. Se ele não fosse...
Ela me olha como se esperasse pelo meu comentário.
— Se ele não fosse um idiota? — chuto, imaginando que ela queira
que eu diga algo ofensivo.
— Exatamente, meu caro Caden. Está começando a entender.
— O que exatamente deram para você, Zoey?
— O soro da verdade, bonitão — ela diz com um sorriso bêbado.
— E estou pegando fogo!
— Foi por causa desse soro da verdade que a Sam arrancou o irmão
do quarto?
Talvez, ela temesse que Zoey acabasse revelando o que rolou entre
nós dois.
— Ela quer te proteger, Dax — Zoey confirma as minhas suspeitas.
— Não que você mereça. Se não quer ficar com a minha amiga, merece
muita porrada mesmo.
— Eu não disse que não quero — esclareço.
— Claro, só que é impossível.
— Isso.
— Por que é impossível, Dax?
— Porque é.
Ela revira os olhos para mim e me mostra o dedo do meio.
Eu sei, eu sei. Vocês também devem estar me xingando de todos os
nomes e com vontade de jogarem o kindle contra o ventilador. Por favor,
não façam isso. eu tenho minhas razões.
Uma delas é o Zack. Esse é o tipo de coisa que poderia fazê-lo
nunca mais me perdoar. Sei que parece exagero, mas Zack sempre foi
extremamente protetor e irracional quando o assunto é sua pequena Rose.
Eu sei que ela já cresceu, mas não sei se meu amigo um dia vai se
dar conta disso.
Porém, não é só o medo de perder meu melhor amigo. Se fosse
isso, eu buscaria seu perdão, não importa por quanto tempo. Poderia durar
meses, anos, décadas, mas eu nunca desistiria de Zack.
Sei que há o risco de perder sua amizade para sempre, mas acho
que esse risco é menor se comparado ao que sinto por Sam, uma
combinação de sentimentos que jamais senti por outra mulher e
provavelmente não sentirei de novo.
O que me deixa inseguro de verdade, com um medo descomunal do
qual não consigo me livrar, é se Sam de fato me quer, ou se ela quer uma
versão idealizada de Dax Caden.
Sei muito bem o que sinto pela Sam, mas tenho sérias dúvidas se o
que ela sente por mim é real. Ela acha que é apaixonada por mim desde
que era criança, mas, às vezes, nós amamos heróis, não pessoas.
Sam nunca teve qualquer chance de conhecer outro cara. Ela me
colocou no pedestal, e se apaixonou pela ideia que tem de mim.
Ela me considerava seu herói, seu príncipe encantado, e eu
definitivamente não sou nenhum dos dois.
Será que ela ainda vai me querer se souber o que fiz com a Jenna?
Se souber como tratei tantas outras mulheres ao longo dos anos, como se
elas fossem descartáveis, objetos sexuais?
Prefiro perdê-la agora do que magoá-la depois. Eu jamais
conseguiria atender às expectativas dela.
Zoey me olha com desconfiança enquanto todos esses pensamentos
passam pela minha mente confusa.
— Você a ama, não ama?
Está tão óbvio assim?
— Como sabe?
— Eu te conheço desde que nasci, Dax Caden. Engraçado, em
muitos sentidos você é completamente diferente do seu melhor amigo, em
outros, você é igualzinho.
— Como assim?
— Você e ele são dois imbecis.
— Ah. Obrigado — agradeço sarcasticamente.
Sempre posso contar com Zoey para inflar meu ego.
— É verdade — ela continua. — Você e Zack simplesmente não
conseguem enfiar nessa cabeça dura de vocês que eu e Sam não somos
mais as garotinhas tolas que éramos.
Ela está falando demais do Zack. O que está rolando?
Eu tenho algumas suspeitas desde que Zack praticamente me
atacou quando achou que a Zoey estava a fim de mim, mas preferi não
acreditar que eram verdade.
Se algo tivesse rolado entre esses dois, ele teria me contado. Não
teria?
Bem, eu não contei para ele sobre meu rolo com Sam. Mas é
diferente. Não é?
Porra, sempre fui seguro de mim, sempre fui um cara de certezas,
não dúvidas, mas essa situação está me tirando dos eixos.
Sam está me tirando dos eixos.
— O que Zack e você têm a ver com essa história? — acho que a
hora de descobrir é esta. Se o efeito do remédio passar, não conseguirei
arrancar a verdade de Zoey.
— Zack nunca te contou? — ela levanta a sobrancelha, parecendo
surpresa.
Isso está fedendo.
— Não. Ele não me contou.
— Hum... Interessante. Deixa que ele te conte então.
— E o soro da verdade? — questiono.
— Já está passando o efeito, querido. O que me lembra: tenho que
chamar a enfermeira e pedir para ela me drogar mais.
— Acho que já tivemos emoções o suficiente por hoje, Zoe.
— Então, o que planeja fazer em relação a Sam, já que sabemos
que a ama, mas é imbecil demais para assumir isso para os Carmichael?
Ela acha que isso é apenas sobre os Carmichael, e não vou
desmenti-la.
— Sei que a machuquei quando a comparei com uma garotinha.
— Fez isso porque sabe que é a única forma de ela partir para outra
— por isso Zoey é uma excelente advogada: a capacidade dela de ler as
pessoas chega a ser assustadora. — Só não entendo por que está tão
desesperado para se livrar dela agora, se estava louco para vê-la o tempo
inteiro.
— Às vezes, quando amamos demais uma pessoa, temos que deixá-
la ir.
— Como é que é? — ela se senta na cama.
— Especialmente se achamos que não somos bons o bastante para
elas.
Ela revira os olhos de forma teatral.
— Isso tá parecendo frase de biscoito da sorte chinês. Desculpa
mais esfarrapada.
— Não é desculpa esfarrapada, Zoey. Eu acabo machucando as
pessoas com quem me importo.
— Gente, isso agora está parecendo novela mexicana. Chama o
Carlos Daniel para dar umas porradas no Dax.
Quem diabos é Carlos Daniel? Acho melhor fingir que não escutei.
— Sam merece um cara melhor, Zoey. Da idade dela. Que não
tenha uma bagagem do tamanho do Reino Unido.
— Acho que isso deveria ser uma escolha dela, e não sua, Dax.
Ela tem um ponto. Maldita advogada, sempre ganha as discussões.
Não posso deixar a Zoey me encher de dúvidas de novo.
Ficar longe de Sam é a coisa certa a fazer. É o melhor para ela.
— Sam vem nutrindo uma paixão irracional por mim há tempo
demais para se dar conta de que pode achar alguém... Mais adequado.
Só de pensar em Sam com outro cara me faz querer destruir coisas,
jogar vasos pelas paredes, chutar portas e quebrar garrafas nas cabeças de
desgraçados que possam estar interessados nela.
Engulo a raiva, e todos os sentimentos de possessividade em
relação a Sam. Preciso deixá-la ir, mesmo que isso signifique saber que
ela ficará nos braços de outro homem.
Mas que eu vou querer matar esse outro homem com resquícios de
crueldade, isso eu vou.
— Toda paixão é irracional, Dax — Zoey rebate. — Meu Senhor,
sua irmã Anne era fã de Jane Austen. Nunca aprendeu nada de bom com
ela?
Agora sou eu que quero revirar os olhos.
— Aprendi sobre o Mr. Darcy — digo entredentes. — O ser mais
perfeito da terra.
— Mr. Darcy? Perfeito? Se acha que ele é perfeito, então não
conhece Jane Austen.
— Como assim? Minha irmã sempre falou dele como se fosse o
último chocolate do Reino Unido.
Zoey me fuzila com o olhar, como se eu tivesse dito algo muito
ofensivo. Qual é a droga do problema das mulheres com esse idiota do Mr.
Darcy?
— Mr. Darcy é o único chocolate do Reino Unido, querido — ela
diz. — Mas não é porque ele era perfeito. E sim porque ele se tornou
perfeito para Lizzie, por causa do amor que sentia por ela.
— Hã...
Não sei se entendi.
— No começo da história, ele era um homem arrogante e
preconceituoso, mas superou muitas de suas noções pré-concebidas por
causa de seu amor por Elizabeth Bennet — Zoey explica.
— Do que vocês estão falando?
Graças aos céus. A Sra. Tucker chegou com o marido. Poderei sair
desta sala de tortura e acabar com o interrogatório de Zoey.
— Estamos falando de Orgulho e Preconceito — Zoey responde,
animada.
— Ah, como eu amo esse livro — A Sra. Tucker coloca as mãos
sobre o peito, como uma adolescente apaixonada. — Que tal assistirmos
ao filme juntas?
— É aquela história do tal de Percy? — O Sr. Tucker sussurra no
meu ouvido.
— Darcy — corrijo-o automaticamente.
— Argh. Não aguento mais ouvir falar desse homem. Quer tomar
um café comigo?
Com certeza.
33
Sam
Dax
Dax
Eu estou um lixo. Mas nem me comparo com Zack. Ele mal sai de
casa, a não ser para trabalhar. Não atende as ligações de Gisele, não topa
nem mesmo sair comigo.
Assim que soube que ele pediu a semana de folga, decidi ir visitá-
lo. Claro que não vou de mão vazias: tenho um plano, para nós dois. Só
não sei se Zack estará pronto para ele.
O fedor do seu apartamento dá a impressão de que cadáveres estão
enterrados dentro das paredes. A mesa da sala de jantar está coberta por
pratos com resto de comida, e moscas sobrevoam os arredores.
Zack nunca foi organizado, mas sempre manteve seu apartamento
extremamente limpo. Por isso sei que seu comportamento não é apenas o
de um cara que acabou de terminar um relacionamento e levou um fora da
mulher por quem é apaixonado há anos.
Ele está verdadeiramente deprimido, e precisa de ajuda. Preciso
engolir meu próprio sentimento e ficar forte para o meu melhor amigo, por
pior que eu esteja me sentindo no momento.
Sinto tanta falta de Sam que passo horas rolando na cama todas as
noites, sem conseguir dormir. Os shows noturnos dela terminaram,
provavelmente porque ela descobriu, no jantar do Zack, que eu estou em
Notting Hill.
Retiro os pratos da mesa, jogo fora os restos de comida, coloco a
louça na lava-louça, junto o lixo que se acumulou nas lixeiras e coloco
tudo para fora.
Quando retorno à sala, noto uma forma no sofá. Ligo um abajur, e
percebo que essa forma é, na verdade, meu melhor amigo. Ou uma sombra
bem fedorenta dele.
Há uma garrafa quase vazia de uísque em sua mão, e outras duas
garrafas vazias no chão.
Ele está com o olhar perdido, e assim continua enquanto eu jogo as
três garrafas fora e coloco os lençóis encardidos que ele trouxe para o sofá
na máquina de lavar.
Volto para a sala, onde Zack continua com o olhar perdido em
algum ponto da parede, ligo o som bem alto, e ele finalmente parece sair
de seu coma.
— E aí, cara? — cumprimento-o, tentando parecer animado.
— E aí — sua voz está rouca, como se ele não a usasse há dias.
Agora, que tirei os lençóis nojentos de cima dele, noto que Zack
está sem camisa, vestindo apenas calças de moletom. E eu reconheço essas
calças da última vez que vim visitá-lo, na semana passada.
— Você ainda está vestindo essas calças de moletom?
— E daí? Estou de férias. Não saio daqui desde segunda — ele
comenta sem olhar nos meus olhos, dando tapinhas sobre o sofá.
Não, não acredito no que meus ouvidos escutaram.
— Você está neste sofá desde segunda?
Hoje é sábado.
Agora entendo por que o sofá, que era creme até a semana passada,
está quase marrom. E o cheiro também: não há cadáveres nas paredes, é
apenas o fedor de Zack por não tomar banho há quase uma semana.
Chega dessa merda.
Eu o puxo pelo braço e o encaminho até o banheiro de sua suíte. Eu
o jogo dentro do box e ligo o chuveiro.
— Mas que porra, Dax!
— Estou sendo seu parceiro, cara! — grito de volta. — Você tá
fedendo que nem um porco.
— Ei! Estou sendo ecológico e tomando banhos apenas quando
necessário — ele reclama, mas, pelo menos, parece desperto.
— E está afastando todos os seres humanos deste quarteirão.
— Foda-se, Dax — ele xinga, mas não sai do chuveiro.
Ele tira as calças de moletom e a cueca e toma banho. Eu coloco as
calças e a cueca em sacos plásticos e jogo fora. Nem uma máquina do
mundo será capaz de lavar a podridão dessas roupas.
Em seguida, ligo para Jane, uma faxineira que faz a limpeza
semanal da nossa casa em Notting Hill, e imploro que ela venha amanhã
dar uma geral no apartamento.
Termino a ligação no mesmo instante em que Zack sai do banheiro
com uma toalha (limpa) em volta da cintura.
— Feliz agora? — ele resmunga.
— Não estou feliz, mas, pelo menos, você não está mais cheirando
a cadáver.
Ele me mostra o dedo do meio, e um sorriso curva seus lábios. Pois
é: banhos e melhores amigos fazem pequenos milagres. Zack já está com
uma expressão mais lúcida.
Decido que ele está, no fim das contas, pronto para escutar meu
plano. Desde que eu vá contando aos poucos, claro.
— Acho que essa sua ideia de não ficar com a Zoey é péssima,
Zack — comento enquanto ele coloca roupas limpas.
— Não é uma ideia, Dax. É uma necessidade.
— Eu sei, eu digo a mesma coisa para mim mesmo.
— Como assim?
Passo as mãos pelos cabelos, sentindo-me em um beco sem saída.
Não quero contar para Zack da Sam, ainda não, mas ele é a única pessoa
com quem eu converso sobre esse tipo de coisa.
O Jim se tornou um dos meus melhores amigos, mas ele não é o
Zack, que é meu irmão de criação. Ninguém me conhece com ele, essa é a
verdade.
Não sei o que está me matando mais: não falar sobre isso com o
meu melhor amigo, ou ficar longe da irmã dele.
Ah, tenho que parar de ser hipócrita. Ficar longe de Sam é
infinitamente pior. Até porque, posso falar dela para Zack, sem identificá-
la.
— É que... Eu também tomei a decisão de não ficar com aquela
garota sobre quem eu falei e... Porra, tô meio arrependido.
— Só meio arrependido? — ele questiona ironicamente, uma
sobrancelha levantada.
Como eu disse, Zack me conhece muito bem.
— Estou completamente arrependido, cara. Não consigo mais ficar
longe dela.
— Eu te entendo. Não paro de pensar na Zoey, Dax. Passei os
últimos dias seguindo o perfil dela e o de Sam no Insta que nem um
stalker — Eu também. — Estou ficando louco, cara.
— Sei qual é a sensação, Zack.
Ele não tem ideia o quanto minha situação é parecida com a dele.
Eu realmente entendo como ele está se sentindo, entre a mulher que ele
ama e a traição que ele acredita ter cometido.
— Será que a Zoey me aceita de volta?
Passei as últimas duas semanas pensando o mesmo de Sam.
O que eu poderia fazer para tê-la de volta, depois de todas as
burradas que cometi, depois de tudo que eu a fiz sofrer, depois das minhas
incertezas idiotas.
Também passei bastante tempo pensando no que a Zoey falou sobre
o tal do Mr. Darcy. Fato é: eu posso não ser o homem que merece a Sam,
mas eu definitivamente quero me tornar esse cara.
Por ela, vale a pena o esforço. Por ela, vale a pena mudar, ser um
cara melhor. Por ela, vale a pena a briga que terei com Zack e,
provavelmente, com os Carmichael.
Nem sei se meus pais me perdoarão, mas preciso lutar, quero
brigar por Sam.
Porém, tenho que fazer as coisas do jeito certo desta vez.
— Elas podem nos aceitar de volta, mas temos que fazer uma
loucura.
— Que tipo de loucura, Dax?
— Anunciar a todos que somos apaixonados por elas — sugiro, e
os olhos dele se arregalam. — Você faz isso com a Zoey e eu... Faço isso
com a minha garota.
É apenas isso que elas quiseram desde o começo: que nós as
amássemos o suficiente para sermos sinceros em relação aos nossos
sentimentos.
— Como faremos isso, Dax?
— O aniversário da sua mãe é neste final de semana, não é?
Pra falar a verdade, eu vim ao apartamento do Dax com esse
intuído. Já havia ligado para a minha mãe a fim de confirmar a data do
aniversário de Mary Carmichael.
— Verdade! É amanhã.
— Então, vamos aparecer de surpresa em Surrey. Organizamos um
jantar para ela esta noite e um churrasco amanhã, ou algo assim.
— E acha que Zoey vai topar? — há insegurança em seu tom, mas
seus olhos estão repletos de esperança.
— A gente organiza de tal forma que elas não vão poder negar.
— Elas?
— Ah, sua irmã tem que vir também.
Quero lhe contar, Zack, mas ainda não é o momento. Você vai
descobrir junto com a sua família.
— Claro — Zack diz, e estende a mão para eu apertá-la. — Topo.
Nós nos abraçamos, e eu fico agradecido que ele me abraçou
depois do banho. Sou amigo dele para todas as horas, mas Zack estava
fedendo tanto quanto um zumbi que tomou banho no esgoto.
— Então eu vou confirmar a festa surpresa com minha mãe, e vou
atrás da Zoey — proponho, já juntando as minhas coisas. — Você fala com
a sua irmã.
— Combinado. — Ele calça os sapatos, pega a carteira e as chaves
do carro. — Vou até a livraria de Notting Hill. Ela deve estar lá.
Sim, ela está. Pelo menos estava quando eu saí de casa, uma hora
atrás. Zack não é o único stalker dessa relação.
Quase duas horas mais tarde, estou a caminho de Surrey, com tudo
combinado com meus pais, porém, sem a Zoey. Eu a procurei em seu
apartamento, tentei ligar para ela inúmeras vezes, e nada.
Até mesmo falei com os pais dela, mas eles tampouco conseguiram
contatá-la. Pedi que eles me ajudassem a localizá-la, e até agora, nada.
Meu celular toca quando estou chegando na fazenda dos
Carmichael em Surrey. Acreditando que possa ser novidades de Zoey, eu
coloco no viva voz.
— Dax? — a voz de Zack surge.
— Conseguiu encontrar a Sam?
— Sim, estamos todos a caminho.
— Perfeito — temi que Sam pudesse ter saído com Zoey no tempo
que levei para convencer Zack a tomar banho e seguir meu plano — Já
falei com a minha mãe e ela e o pai estão terminando de preparar o jantar
e o bolo de aniversário.
— Eu e Sam também avisamos sobre a festa surpresa para meu pai.
Ele adorou a ideia, especialmente porque seremos só nós. Minha mãe não
gosta de multidões.
— Tem como você descobrir com a Sam onde está Zoey? Ela não
está em casa e os Tucker comentaram que ela poderia ter ido visitar a
Sam.
Só espero que ela não tenha mentido para os pais para sair com
outro cara, senão é capaz de Zack se mudar para uma caverna e nunca mais
sair de lá.
— Zoey está aqui — ele informa, mas seu tom é tenso.
— E aí, babaca nº 2! — Zoey grita, falando enrolado.
— Hã... Ela está meio bêbada.
Percebi.
— Bêbado está seu peru que não consegue reconhecer uma mulher
maravilhosa nem quando ela o estapeia — Zoey diz para o Zack (pelo
menos, espero que tenha dito isso para ele).
— Ela está bastante bêbada — Zack complementa.
Também percebi.
— Isso pode ser um problema — comento, torcendo para que ele
entenda que me refiro aos nossos planos.
Se ele se declarar para a Zoey nesse estado, não há como saber
como ela vai reagir. Zoey já é bem imprevisível sóbria, embriagada
então...
É quase como conseguir prever o que uma tsunami vai destruir.
— Zoey, por favor não vá vomitar... — Zack grita e se interrompe.
— Merda! Segura aqui, Sam!
— Hã... Oi — a voz angelical de Sam soa do outro lado da linha, e
meu peito aperta de imediato.
Como eu senti saudade desse som.
— Sam.
— Zack comentou que a ideia de um jantar surpresa para mamãe
foi sua. Obrigada, Dax.
— De nada. Ela sempre foi ótima comigo.
Mas não foi por ela que fiz isso, Sam. Foi por você. Foi por nós
dois. Em pouco tempo, você vai descobrir. E espero que me perdoe.
— Eu estava tão distraída nessas últimas semanas que quase
esqueci o aniversário dela — ela comenta, soando nervosa.
— Distraída? Com o quê?
Diga que estava distraída comigo, por favor diga que sentiu a
minha falta como eu senti a sua, Sam.
— Hã... ZOEY!
Ela grita, e desliga.
44
Sam
Zoey está me ligando tanto nos últimos dias que Sam começou a
desconfiar. Como estamos fechando os detalhes sobre o pedido de
casamento, as ligações são secretas, e eu tenho que atendê-las em segredo.
Claro que, mesmo Sam sendo compreensiva sobre meus horários
de trabalho malucos, já que eu trabalho de Londres com o escritório de
Nova Iorque, ela percebeu que há algo acontecendo.
Quando você mora com alguém com a rotina tão certinha como a
de Sam, é difícil não reparar quando eu comecei a sair da sala para atender
ligações; ou que eu acordo no meio da noite com o celular tocando (sim,
Zoey começou a ter pesadelos sobre o que poderia dar errado e sempre faz
questão de me ligar assim que ela acorda).
Prefiro nem imaginar o que se passa na cabeça de Sam, mas sei que
meu tempo de planejar está se esgotando; preciso fazer logo a proposta.
Estou seguro de que Sam desconfia que algo está acontecendo, e
suas suspeitas, pela expressão triste que ela vem me dirigindo, não são
nada positivas.
Apesar de querer o conselho da Zoey, eu havia decidido comprar o
anel sozinho. Nós já tínhamos ido a várias lojas e eu já tinha uma ideia
bem precisa do tipo de joia que Sam gostaria de receber.
Óbvio que Zoey não permitiu.
— Acha que nasci ontem? Sei como vocês, homens, são! — ela
avisa. — Se deixá-lo ir sozinho, vai comprar uma coisinha sem graça! Ou
pior, vai querer gastar seus infinitos milhões e comprar algo brega de tão
grande, que Sam jamais colocaria no dedo!
Sabendo que Zoey não vai me deixar em paz sobre a escolha do
anel de noivado, e considerando que é bem provável que ela entenda mais
dessas coisas do que eu, decido aceitar sua exigência.
— Claro, Zoey. Eu não tenho seu gosto.
Além disso, se eu não gostar da sugestão dela, é bem simples: é só
comprar o que eu mais gostar.
— Claro que não tem o meu gosto! Mas a culpa não é sua; o
desenvolvimento do cérebro masculino é diferente.
— Ah, é? — Essa eu faço questão de ouvir.
— Claro, Dax. Afinal de contas, vocês têm duas cabeças, mas
apenas sangue suficiente para uma — ela está falando sério. Muito sério.
Seguro a gargalhada, mas com certeza vou sacanear o Zack pelo resto da
vida depois dessa. — Sinto muito por vocês homens.
— Obrigado. — Tento soar como se não estivesse prestes a
explodir na gargalhada.
— De nada, querido — ela responde. — Então, eu tenho um tempo
na minha agenda para amanhã de manhã. Pode passar na minha casa às
oito.
Ela desliga na minha cara, sem perguntar se eu terei
disponibilidade nesse horário.
No dia seguinte, no horário marcado, eu já estou pronto para
comprar o anel. Afinal de contas, todo o resto já está pronto: eu me
organizei para fazer o pedido hoje à noite.
Eu e Zoey concordamos que compraremos o anel de noivado na
joalheria favorita de Sam, uma empresa sustentável, que tenta reutilizar
metais preciosos e apenas usa diamantes de regiões sem conflito, onde
fomos na semana passada.
Pedimos para ver a linha de produtos exclusivos, porque eu queria
algo que fosse especial, que apenas a Sam teria. E, considerando que ela
ama história, pedimos que nos mostrassem seus anéis exclusivos no estilo
vintage.
Para aqueles de vocês que não têm ideia que diabos é vintage, não
se preocupem; eu achava que era um tipo de queijo antes de procurar na
internet.
Essa foi, sem dúvida, a melhor dica da Zoey, porque nunca em
minha vida eu pensaria em entrar em uma joalheria e pedir para olhar a
linha de anéis vintage. E, aparentemente, é o estilo favorito da Sam para
joias.
Por sinal, estilo vintage é quando o objeto é novo, mas parece ser
velho. Mais precisamente, parece ser algo clássico, de outra época.
Enquanto Zoey discute com a vendedora sobre cada modelo, eu
analiso algumas das peças, escolho uma delas e traço um plano para guiar
Zoey até o anel escolhido.
Por sorte, a vendedora me inclui na conversa depois de alguns
minutos.
— O senhor tem alguma sugestão?
Zoey me dirige um olhar confuso e foca a atenção na vendedora.
— Por que está perguntando a opinião dele? — Zoey questiona,
deixando a vendedora branca que nem papel.
Eu estou segurando a gargalhada.
— Eu... — a moça tenta se explicar, mas é interrompida por Zoey.
— Está flertando com o Dax? — Zoey a acusa, e agora a vendedora
fica ruborizada.
— Não! — ela nega, arregalando os olhos castanhos para nós dois e
balançando a cabeça ferozmente. Só a Zoey para dar um ataque cardíaco a
uma mulher de vinte e poucos anos. — Eu...
— Vá procurar outro noivo, porque este aqui tem dona! — ela
avisa.
Não resisto e gargalho. Zoey se ofende e pede, pela quarta vez na
última hora, para usar o banheiro. A vendedora fica visivelmente mais
relaxada.
— Não se preocupe, ela é assim com todo mundo — tento consolar
a pobre vendedora, cujo único erro foi perguntar a opinião do futuro noivo
(assim eu espero). — E ela piorou na gravidez. Não é pessoal.
— Ela é fogo, hein? — a moça pergunta, sorrindo.
— Você não tem ideia.
— Humph... — Zoey resmunga quando volta do banheiro. — Ainda
não escolheu o anel, Dax? Você é um inútil mesmo!
Como se ela fosse aprovar qualquer anel que eu escolhesse
sozinho. Enquanto ela estava fora, pedi à vendedora que colocasse à
disposição alguns anéis com pedras diferentes, além do meu escolhido.
Claro que nós escolhemos anéis enormes e desproporcionais, já
imaginando que, dentre eles, Zoey com certeza indicará aquele que eu já
decidi comprar.
Fiz a mesma coisa com a ideia do pedido. Zoey me deu várias
ideias, que iam da pura loucura ao puro tédio, como um pedido em um
balão sobrevoando Paris com um show da Lady Gaga na Torre Eiffel a um
pedido na livraria.
Eu, entretanto, consegui sugar as melhores ideias da Zoey, e decidi
organizar algo que seria bem a cara de Sam. Na verdade, a nossa cara: um
meio termo entre sexy e romântico, algo íntimo, bem privativo e
extremamente sensual.
— Eu separei alguns anéis de que gostei, mas quero a sua opinião
para a minha palavra final — informo, e ela praticamente me derruba ao
me empurrar um pouco para o lado para poder ver melhor as joias
selecionadas.
— Ah, essa é uma ótima ideia, Dax! Agora, temos menos opções, e
fica mais fácil escolher! Nem acredito que sua presença serviu para
alguma coisa!
Mesmo quando ela tenta elogiar, não dá muito certo.
— Bem, ele é o noivo — a vendedora me defende, e eu lhe ofereço
um discreto sorriso de agradecimento.
— Este aqui. — Ela aponta para o anel que eu escolhi,.
É um anel com uma safira em seu centro, e diversos diamantes
contornando a pedra redonda, em um formato que lembra uma flor. O aro,
de ouro branco, é repleto de detalhes delicados que Sam vai amar.
Entendo muito pouco de joias, mas Sam sempre suspira quando vê
uma peça com safiras.
— O senhor gostou deste anel? — a vendedora questiona,
conforme combinamos.
Precisamos do teatrinho para convencer a Zoey de que a escolha foi
realmente dela.
Já até imagino a cara da Sam quando eu lhe contar a odisseia que
foi a compra do seu anel de noivado com sua futura madrinha de
casamento.
— Como ele não gostaria? — Zoey reclama.
Sim, vai dar tudo certo.
49
Sam
Ela sabia que eles guardavam grandes segredos. Isolada nas Terras
Altas da Escócia, ela não tinha outra opção: Evelyn precisava confiar
naquelas pessoas com costumes estranhos. Enquanto tentava desvendar os
mistérios do clã, um desejo avassalador começava a se desenvolver pelo
seu líder, o chefe Owen, que fazia de tudo para provocá-la.