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morais da autora foram preservados. Plágio é crime e punível com prisão de acordo com o artigo 184
do Código Penal Brasileiro.
Para mim gratidão e humildade são uma das principais chaves para o sucesso. Só sei ser grata a cada
um que leu ou irá ler Depois das 23, jamais imaginei que essa história tocaria vários corações.
Agradeço ao meu marido que tem grande participação na inspiração dessa história, em vários níveis
pessoais vocês nos encontrarão durante a leitura. Queria agradecer ao BTS, sem eles provavelmente
mais esse sonho não seria possível, uma vez que é inspiração diária para mim e em especial a Kim
Taehyung, para quem reservei lindas palavras.
Por que você tem que ser tão fofo?
Goodnight n go - Ariana Grande Call of me nome - The Wkeend Bound to You - Cristina Aguilera
Dark Cloud - Younha Move You - Kelly Clarkson
17 - Pink Sweet
Classudo e Vintage
— Mete tudo! — A voz feminina, que devia ser apenas mais uma
aventura de muitas, exigiu com urgência. E eu ri, balançando minha cabeça
negativamente.
dele.
Levantei de minha cama e caminhei preguiçosamente até a cozinha,
essa era a hora em que eu fugia da constrangedora rotina de ouvir tudo o
que meu vizinho fazia entre as quatro paredes do quarto ao lado. Maldito
apartamento que era dividido apenas por uma parede e não tinha nenhum
isolamento acústico.
Ele sempre era muito rápido, chegava e logo estava na cama com a
pessoa e, bom, se eu estivesse em meu quarto ouviria absolutamente tudo, e
eu sempre estava, não que não tivesse para onde ir... Quem eu estava
tentando enganar? Eu estava sempre no meu quarto porque não tinha para
onde ir e nem queria, ou tinha disposição. Estava na casa dos vinte e quatro
anos com disposição de cinquenta anos e coluna de oitenta, acreditando que
haviam oitentões por aí mais dispostos que eu.
No começo, quando mudei para cá, achava ultrajante os sons que
eram emitidos no quarto do meu vizinho, era simplesmente a minha
primeira vez morando sozinha, a tão sonhada liberdade, sem precisar
depender da mesada dos meus pais, pagando aluguel do meu próprio
salário, mas com o passar do tempo passei a achar excitante ouvir os
gemidos do meu vizinho e de suas companheiras de cama, o som do ranger
de molas da cama, o gemido rouco e contido que dava quando chegava em
seu orgasmo, cheguei a me tocar ouvindo os sons, confesso, e não tinha
vergonha nenhuma de confessar isso, para mim mesma, claro. Não era
como se fosse crime, afinal, eu estava dentro da minha casa.
Todos os dias.
Meu queixo encontrou o chão frio nesse dia. E eu acho que nunca
vou esquecer da imagem.
Ele era jovem. Meu vizinho era muito jovem, não devia ter mais que
vinte e cinco anos, era alto, bonito, tinha um cabelo escuro com um corte de
mullet, que eu achava feio nos outros, porém nele ficou impecável. Usava
umas estampas estranhas e roupas folgadas que lembravam pijamas de grife
e andava com um cachorrinho pequeno e peludo.
Por Deus!
Era o tipo de homem que levou apenas dois segundos olhando para
ele, para que me ocorresse que ele era perfeito para
casar. Sua figura exalava seguridade, ele por si só era o próprio convite para
se iludir pensando que você seria feliz ao lado dele para sempre.
Só que...
Ele não era perfeito para casar. Não, um cara que não quer
compromisso com ninguém, um cara que toda noite fode uma mulher
diferente, não pode ser o tipo que gosta de casar. Foi um baque quando eu o
vi pela primeira vez.
Desde aquele dia do porteiro onde ele passou a acordar cedo e sair
com o cachorro, comecei a pensar que tinha sido porque ele adotou o
peludo, que o ouvia chamar de Morris. Muitas vezes, nós cruzamos no hall
do prédio, porém tinha convicção de que ele não sabia quem eu era, afinal
nós nunca tínhamos trocado nenhuma palavra.
Soltei o ar, que nem sabia que tinha prendido. Cruzes, que homem
bonito, como era alto e esguio, mas com ombros largos e bonitos!
Corri para o meu quarto para ver se ainda ouvia algo. Ele não era de
falar alto, quase nunca o ouvia conversando, mas curiosamente esperei
ouvir hoje. Recostei-me na parede com o ouvido atento.
Será que aquela história do copo era verdade? Corri na ponta dos pés
para a cozinha, catei um copo de vidro e coloquei na parede quando voltei
para o meu quarto. No início, apenas ouvi um ruído parecido com água do
chuveiro caindo.
Ok, eles estavam tendo uma espécie de D.R, mas um caso de um dia
podia falar esse tipo de coisa? Ou estava errada esse
tempo todo e não eram casos? Mas seria possível uma mesma mulher
gemer de diferentes maneiras todos os dias?
Uma pessoa que busca a paz estará satisfeita quando alcançar seu
objetivo? Quero dizer, a paz é o alvo, mas quando não se tem mais alvo,
talvez torne-se normal sentir saudade da guerra, certo? Porque ao menos, na
guerra, você tinha um sonho/objetivo,
mas agora que a paz está alcançada, não há mais nada para se apegar.
Suspirei.
Sem gemidos.
Como ainda não tinha decidido se era sonho ou realidade, ficava com
a opção: existem momentos na vida em que você quer estar nesse momento
e existem momentos em que você deseja mais do que tudo não estar.
Pois bem.
— Você achava que minha casa era a sua e digitou a senha até que a porta
bloqueasse e estava chorando irritada com isso. — Apontei para mim
mesma perplexa, mas veja bem, apesar disso ser ridículo e eu estar com
vergonha, ele ainda não tinha explicado como eu tinha vindo parar na cama
dele.
tudo?
Ele pôs as mãos nos bolsos da calça que usava e me encarou com os
olhos semicerrados, umedeceu os lábios com a língua novamente e apontou
para mim.
— Quê? — perguntou.
Suspirei.
Parecia aquelas cenas de dramas bem clichês, sabe? Porém não era,
eu tinha mesmo caído por cima dele de uma forma ridiculamente
desastrosa. Olhei para meu vizinho assustada por um momento, não
conseguia descrever o meu nível de constrangimento, ele me olhou de volta
sério, quase como se não acreditasse nas coisas que estavam acontecendo.
Tamo junto! Foi o que pensei. Também não acreditava no que estava
acontecendo. Em nada.
Como não sabia o que fazer, muito menos o que falar, apenas fugi
dali. Corri para fora do quarto dele, o layout do apartamento era idêntico ao
do meu, então achar a saída não foi problema e eu acho que, no processo de
fugir, bati o recorde mundial de digitar a senha na porta. Em questão de
segundos, eu já estava dentro da minha casa, escorregando pela porta,
deixando que meu corpo encontrasse o chão.
Meu coração batia tão rápido que mal cabia dentro do peito, minha
respiração era irregular e queria chorar. Não queria, eu estava chorando já!
De vergonha principalmente, enterrei meu rosto entre minhas mãos, minha
vida estava acabada, tinha sido humilhação demais para um vizinho só, eu
teria que me mudar do país, talvez de planeta depois da vergonha que tinha
passado, seria uma boa hora para me voluntariar para ir viver em Marte?
Era nisso que dava se preocupar mais com a vida dos outros do que
com a sua própria vida.
Bebi demais, falei besteira, fiquei sem roupa, vomitei na casa dele e
ainda caí por cima do meu vizinho. Não podendo tudo isso ser muito ruim,
tinha mais uma coisa que eu tinha percebido no decorrer de tudo isso, mas
tinha ignorado apenas porque tudo era absurdo demais para ainda pensar
nisso: eu muito provavelmente estava apaixonada pelo meu vizinho Kim
TaeHo.
TaeHo era exatamente o que
transparecia
"Nunca ande sem suas chaves, se faltar energia você fica trancada
do lado de fora."
sentar aqui e esperar. Não tinha ninguém por perto mesmo, então...
Uma...
Duas...
Ergui meu olhar para ele, que tinha parado bem na minha frente.
Meu vizinho, Kim TaeHo, vestido em uma calça social e
com uma camisa cheia de corações, usava um óculos de grau retangular e
me encarava de volta.
— Nunca ande sem suas chaves, se faltar energia você fica trancada
do lado de fora — repetiu sistematicamente e rolei os olhos. — Minha avó
sempre dizia isso para mim. — Sorriu simpaticamente. — Agradeço a ela
sempre por isso. — Permanecia calada, não sabia o que dizer, meu
constrangimento como sempre era maior do que qualquer coisa que já tenha
vivido na vida.
Tendo visto que eu não falava nada, o Kim apenas pôs a mão no
bolso da calça e seguiu para a porta do seu apartamento, segui-o com os
olhos, TaeHo tirou a chave do bolso, colocou na fechadura da porta e a
destravou, abrindo-a na sequência.
— Sabe, você não recebeu a notificação de que hoje eles iam cortar
a energia para manutenção? — perguntou, se voltando para mim de novo.
Arregalei os olhos, semana passada eu tinha recebido uma carta amarela,
mas esqueci de abrir, teria sido isso?
Não posso dizer que foi um jantar confortável, o único som que
ecoava pelo apartamento escuro era o de nós dois comendo e bebendo
nossas cervejas, que só depois percebi não ser uma boa ideia. Eu estava
diante do meu vizinho, bebendo uma bebida com álcool, o que significava
que eu poderia fazer ou falar besteiras, por isso larguei a bebida na metade
por medo de ficar influenciável. Não queria ter que passar por mais
constrangimento.
— Achei que você tinha dito que ouvia o que eu e ela fazíamos no
meu quarto. — Ótimo, graças a mim, o assunto que não deveria ser falado
veio à tona. Baixei minha cabeça extremamente envergonhada.
Imaginei que o seu silêncio significasse que ele não queria falar
sobre o assunto, então não insisti.
E percebi que Kim TaeHo era uma versão masculina e mais bonita
de mim mesma. Eu gosto de ficar em casa, quase não bebo, adoro os
clássicos e até me arrisco nos jogos online. Suspirei ao perceber o quanto
ele era o homem dos meus sonhos, em todos os sentidos, apesar do defeito
de ser mulherengo.
Aposto que TaeHo queria ter uns cinco filhos da mesma mulher e
envelhecer ao lado dela, em uma fazenda nas montanhas do sul. Kim
TaeHo era muito diferente do que eu tinha idealizado e estava um pouco
mais apaixonada por essa versão dele, que era a versão dos meus sonhos.
Totalmente.
Mas minha curiosidade sobre algo que sentia que estava faltando
acabava sendo maior que todo o resto e então tive que perguntar:
— Onde está o seu cachorro? — Sim, eu senti falta do pequeno de
pelos negros.
Passei por ele catando minha bolsa em cima do sofá e caminhei para
a porta, TaeHo estava em meu encalço e se adiantou, abrindo a porta para
mim.
— Obrigada... — falei, mas não consegui olhar para ele. — Por hoje.
Real de fato ou não, uma coisa era certa, eu tinha acabado de perder
a oportunidade da minha vida com meu vizinho.
TaeHo era perigoso
Inicialmente a tela ficou toda escura e pensei que tinha dado erro,
mas, na sequência, a mão que tapava a câmera foi retirada e o belo rosto
dourado do meu vizinho preencheu a tela. Saltei, sentando no sofá com o
susto.
Eu juro, juro que pensei que nunca mais ele ia querer me ver e já até
tinha me conformado com isso, afinal tinha rejeitado um beijo dele, tinha
feito a merda de rejeitar um beijo dele, se o Kim nunca mais quisesse me
ver, eu super entenderia e nos últimos dias divaguei na paranoia de que meu
vizinho realmente não queria mais ver minha cara, mas, contrariando a
todas as minhas mais pessimistas expectativas, lá estava TaeHo me
chamando para sair com um lindo sorriso no rosto.
— Sair? — perguntei.
— Sim, jantar em algum lugar legal, conversar, aproveitar a noite —
disse, deu para perceber que ele não estava em casa, parecia caminhar
enquanto falávamos.
A áurea misteriosa que envolvia Kim TaeHo não mudava e, por mais
de uma vez, vi mulheres dentro do ônibus olhando para ele de forma quase
indiscreta. Ele era bonito e chamava a atenção, não era de se espantar que
ficassem babando na beleza dele, eu mesma babava na beleza dele, ainda
mais porque ele parecia um modelo saído de revistas e que não combinava
nada com o ambiente pateticamente normal de uma condução pública.
Tomei coragem e ergui minha cabeça para olhá-lo. Ele encarava a
janela do ônibus, observando o lado de fora de forma muito aérea a tudo,
mas duvido que ele estivesse mesmo aéreo e minha dúvida se concretizou
realmente quando seus olhos se voltaram para mim. Ruborizei
envergonhada por ser pega fitando ele, que abriu um sorriso caloroso para
mim, mostrando todos os seus dentes e ergueu as sobrancelhas, fazendo
uma espécie de careta fofa.
Voltei meu olhar para a janela, vendo Seoul passar rapidamente, tudo
parecia tão surreal que nem queria raciocinar muito sobre.
— Deu de ombros.
— Você fez isso? — perguntei, Tae meneou a cabeça confirmando.
— Quando? Achei que você nem estivesse no prédio esses dias.
— Por que diz isso? — Tentei não deixar claro o meu nervosismo,
mas eu falhei, claro.
"Foi sexy".
Kim TaeHo tinha falado que tinha sido sexy me ver fazer strip-tease
na casa dele completamente bêbada e com aquela lingerie bege da vovó, o
que ele tinha na cabeça? Meu vizinho era realmente diferente. Eu estava tão
envergonhada que não sabia onde enfiar minha cabeça, talvez fosse uma
boa ideia enfiar na tigela de lamen quente.
— Você não atende minhas ligações, sai com outra, você estava me
traindo com essa daí? — Foi então que eu reconheci a voz, a garota por trás
do fetiche estranho de se passar por várias pessoas diferentes, a garota que
não continha os gemidos e que sempre pedia por mais, era a namorada dele.
Ex, para ser mais exata. Eu nunca tinha visto o rosto dela, e ela era mesmo
muito bonita, parecia uma modelo de revista, super magra e de cabelos bem
cuidados. Senti-me ínfima, não tinha como o TaeHo me achar sexy quando
tinha deitado com alguém como ela.
Kim TaeHo tinha o olhar mais distante que eu já tinha visto. Ele
sorriu de forma sádica na sequência parecendo incrédulo. A blusa social
que usava estava molhada e grudava na pele de seu peitoral.
— Tudo bem. Você não poderia prever isso — tentei acalentá-lo. Ele
jogou o guardanapo na mesa, parecia realmente chateado com o ocorrido.
Ouvi um suspiro vindo dele e não me contive, tive que olhá-lo, tão
próximo de mim que emanava calor, ele me olhou de volta, mas não disse
nada.
— Obri...
noite?
— Definitivamente não, isso estragou meu humor. — Sorriu
tristonho.
— Não sei, na verdade. — Ser sonsa era a minha profissão nas horas
vagas e eu utilizei disso para fugir da pergunta. — Eu só...
— Só...? — incitou-me, mostrando que não desistiria da verdade
facilmente.
certa.
— Mas esqueceu de uma coisa — disse, encarei-o por um momento,
não entendendo nada.
A mão que estava na minha nuca escorregou pelo meu rosto até
chegar em minha clavícula, apertando meu ombro com uma intensidade que
fazia meus ossos derreterem e então seu lábio roçou no meu de novo.
Kim TaeHo esperava que eu não fugisse, que ficasse, que atendesse a
sua expectativa e, sinceramente, a vida já tinha me dado oportunidades
demais para que eu desperdiçasse todas elas sem aproveitar. Passei meu
braço em volta do pescoço dele e acabei com a droga da distância que ainda
existia entre nós, com fome de Kim TaeHo, o beijei, deixei tudo de mim
para ele, sugando sua língua com vontade enquanto sentia seus dedos
apertarem as carnes da minha cintura.
— Acho que agora é a hora do boa noite — disse. Sorri para ele de
volta. Kim TaeHo não tinha pressa e ia jogar comigo
um jogo baixo e cruel, estava na cara, ele não ia me dar tudo o que eu
queria de uma vez só.
Seus lábios se uniram uma vez mais aos meus, antes que ele pudesse
me soltar de vez e suspirar.
"E quem foi que disse que eu vou conseguir dormir essa noite?"
à sua forma, ninguém te mandando lavar a louça, tudo isso era bom, era vantajoso,
porém morar sozinha significa estar sempre sozinha.
Pagar as contas por exemplo, ter que lavar a louça ou elas apodreceriam na
pia, eram momentos de desvantagem e, claro, o momento onde mais precisava ter
alguém comigo era quando adoecia (coisa rara). Nesses momentos, era quando mais
lembrava de como era bom ter o conforto do lar e dos pais, fazendo sopa quente para
aquecer a garganta inflamada, trazendo remédio na cama e dando amor para que
fiquemos melhor mais rápido.
à casa esse tempo todo. Eu ri, o cachorro era tão folgado quanto o dono.
— Me desculpe...
— Ah, não, tudo bem. Não peça desculpas, eu sei que você não
estava bem — disse. — Não era o que eu tinha planejado para ontem à
noite, mas tudo bem. — Lançou uma piscadela na sequência, dando uma
mordida de sua torrada. — Coma, sua sopa vai esfriar.
— Por que você disse que fiz você dormir no sofá pela segunda vez?
— Precisava perguntar algo, qualquer coisa para não deixar o silêncio se
instalar entre nós dois.
— No dia em que você dormiu na minha casa, não achei que fosse
apropriado dormir na cama com você só de calcinha e sutiã, bêbada, depois
de ter feito um streaptease...
— explicou.
— Não queria sufocar você — tendo dito isso, seu dedo indicador
encontrou minha costela, fazendo cócegas em mim e, com o susto, afastei a
mão dele. — Você tem cócegas? — perguntou rindo. — Desculpa, mas... —
Meu vizinho ficou de pé, colocando as duas mãos na minha cintura,
causando-me mais cócegas. Tentei me esquivar dele inutilmente,
começando a rir no processo. — Eu adoro fazer cócegas — falou ao me
liberar de sua tortura, dando um beijo no alto da minha cabeça de uma
forma fofa. Que saco! Por que ele fazia essas coisas fofas que me faziam
querê-lo mais ainda?
— Talvez — falei.
Realmente cheguei a pensar que tudo sobre ele fosse apenas sexo,
tensão, nervosismo e transpiração excessiva, mas novamente estava muito
enganada. Como julgava mal um homem que amava A Noite Estrelada e
jazz? Estava bem na cara que ele era mais que apenas um cara para fazer
sexo.
— Acredita se eu disser que senti a sua falta? — Sua voz já não era
mais tão doce e acolhedora ao pé do meu ouvido e, mesmo tendo acabado
de comer, senti-me fraca, ainda bem que me
segurava forte junto a ele. Dessa vez não contive o riso frouxo que sempre
se formava em meu rosto quando estava com meu vizinho.
— Não sei quanto a você, mas eu estava com muita saudade. Como posso
estar tão apegado a você em tão pouco tempo? Não entendo! — suspirei,
deixando que cada palavra penetrasse em mim e fizesse meu coração inflar
ainda mais, era revigorante imaginar Kim TaeHo sofrendo de saudades por
mim. Eu que não entendia como conseguia gostar ainda mais dele. Sem
muito esforço, afrouxei seu aperto em volta da minha cintura e girei meu
corpo para ficar de frente para ele.
O subconsciente de um ser humano podia ser bem irônico, quero dizer, com ele
somos capazes de enxergar o que os nossos olhos não alcançam e de criar imagens, sons e
cheiros que talvez nunca sequer tenhamos sentido, visto ou ouvido, através de sonhos ou
até mesmo estando acordado. Nosso subconsciente é traiçoeiro e, ao mesmo tempo,
benévolo conosco. Ele nos dá exatamente o que queremos, o que depois se torna
justamente a causa da nossa angústia. Nosso subconsciente é capaz de criar o paraíso que
sempre sonhamos, mesmo que seja apenas na nossa cabeça.
A minha sorte é que eu não era tão crente assim na capacidade do meu
subconsciente. Não acho que poderia ser capaz de imaginar determinados toques, cheiros
ou sabores, meu QI não era tão alto (na verdade, bem mediano), mesmo nem sabendo se
QI tem a ver com capacidade de criatividade do subconsciente.
O fato era Kim TaeHo. Não podia ter imaginado a voz dele ao meu ouvido
sussurrando de forma grave as palavras quando queria falar algo comigo, não podia ter
imaginado que o cheiro dele que era tão marcante em um perfume bem masculino, não
podia ter imaginado as mãos espertas dele passeando pelo meu corpo enquanto nos
beijávamos em cima do meu sofá com uma intensidade que me tirava o fôlego em poucos
segundos e me aquecia inteira apenas com a lembrança. E, o melhor de tudo, eu
não era capaz de acreditar que eu estava sentada, assistindo a um filme com
ele enquanto seu braço estava envolto sobre meus ombros e sua mão livre
brincando com meus dedos em cima da minha perna; era impossível que
isso fosse mero fruto da minha imaginação. Não tinha chance de ser tudo
fruto do meu subconsciente. Kim TaeHo era real demais e intenso demais,
de uma forma que nunca nem imaginei ser possível, sua presença era forte e
marcante em tudo o que ele tocava, inclusive na minha pele.
— Nada o quê? Não aconteceu nada ou não tem nada para comer?
— questionou-me e eu ri.
— Então é isso o que você está fazendo aqui? Está atrás de uma
cozinheira? — brinquei, colocando um tom de desconfiança exagerada em
minha voz.
— Eu não vou dizer aquilo que você quer ouvir — rebati, desviando
o olhar.
— Por que bem a minha cara? — debochei da forma como ele falou
as últimas palavras.
Talvez quando algo fosse para ser, fosse bem assim. Não precisava
de protocolos ou anúncios, não precisava ser previamente avisado ou de
permissão. Precisava apenas acontecer naturalmente. Éramos para ser, isso
estava muito na cara.
Será que era mesmo verdade que, quanto mais você convive com alguém,
mais você adquire hábitos e manias dessa pessoa? Porque não havia tanto tempo
assim que eu e TaeHo estávamos juntos, tínhamos menos de um hora de namoro e
eu já sentia os efeitos de conviver com ele. A sua dualidade comportamental estava
afetando meu psicológico e emocional de uma forma que estava começando a achar
que era irreversível.
TaeHo fazia com que me sentisse em uma zona de guerra infinita, cruzando a
linha entre o imaginário e o real, experimentando a sensação de morrer e de estar
mais viva do que nunca, era como cair em queda livre, mas flutuar no céu. Era
chama queimando por dentro das veias e gelo suando minhas mãos com suor gelado
e pegajoso. Era calmaria e tormenta. Leveza e peso. Nítido e embaçado.
Definitivamente não seria mais a mesma. Não precisava conviver com ele
por anos para saber disso, só precisava experimentar dele.
Sinceramente, estar em seus braços fazia com que meus pensamentos mais
sujos, avassaladores e animalescos tomassem conta de mim e, ao mesmo tempo,
com que os sentimentos mais puros e verdadeiros aflorassem. Como isso era
possível? Como
alguém podia estar tão irreversivelmente apaixonado por alguém como eu
estava por ele? Existia mesmo esse tipo de devoção suicida ou eu que
estava sendo exagerada demais?
Totalmente.
Era o mesmo para mim. Não era brincadeira, éramos para ser de uma
forma irrevogável, uma paixão fatal e inevitável nos enlaçou de uma forma
que parecia irreversível.
Era isso.
Era irreversível.
Nosso beijo tornou-se uma luta entre quem podia aguentar mais sem
fôlego, quem aguentava mais a pressão do coração na caixa torácica.
Eu estava em chamas.
Deixei que minhas mãos passeassem livremente pela sua pele como
se descobrissem ouro, meus dedos formigavam atrás de mais contato. Desci
minha mão e apertei sua nádega, o fazendo rir entre nosso beijo.
Meu vizinho tarado subiu uma das mãos pela lateral do meu corpo
por baixo da blusa de algodão que eu usava e, chegando ao seu destino,
apertou a base do meu seio, gemi em protesto com o contato. Estava muito
sensível, mas ele pareceu apenas gostar
disso, pois usou dois dedos para brincar com meu mamilo rígido. Arfei,
tentando me desvencilhar do contato devido a sensibilidade, o que pareceu
despertar nele seu lado dominador, me prendendo junto ao seu corpo com a
outra mão. O Kim acariciou meu seio com mais intensidade e soltei mais
gemidos e arfares com o prazer agonizante, ele me torturava sem dó e,
quando abri os olhos, pude ver a forma como gostava disso. Seu olhar era
carregado de lascívia e um sorriso cruel e demoníaco era formado em seus
lábios.
Kim TaeHo impulsionou seu corpo sobre o meu usando o seu peso
para que eu me deitasse na cama, meu vizinho voltou a beijar-me e a
acariciar o meu corpo em preliminares agonizantes e viciantes, tudo ardia e
pulsava. Vi-me envolta em uma espiral de umidade e desejo, anuviada pelo
tesão e ensandecida pelo moreno de mullet.
Senti sua ereção roçar em minha perna e não contive meus gemidos
em protesto, era um desperdício ainda não estar tocando nele. Tateei seu
corpo despudoradamente enfiando minha mão por
dentro da calça que ele ainda usava para tocar seu falo enrijecido. Minha
boca salivou, era impossível não salivar diante da espessura e dilatação
dele. Meus pensamentos mais lascivos voltando com força. Eu só queria
logo ele dentro de mim, não queria mais saber dessa história de devagar, só
queria logo Kim TaeHo.
Minha ação teve a reação esperada, com certo desespero ele tratou
de se livrar das próprias calças e, sinceramente? Eu estava tão tomada pela
excitação que nem tomei nota de sua atitude, pois eu mesma estava ocupada
em me livrar das minhas roupas.
— Ah... — ele sussurrou com a voz grave, parecia querer dizer algo
que não saía. Sua respiração era pesada e audível. — Que boca gostosa!
Caralho... — Um tapa estalou em minha nádega e aumentei a velocidade
dos movimentos, fazendo-o gemer mais alto; sua hipersensibilidade estava
me levando ao extremo. Eu não conseguia mais aguentar minha própria
urgência.
— Não vejo motivos para não ser assim — disse e saiu da cama,
caminhando completamente nu em direção ao banheiro, sem nenhum
pudor. Acompanhei sua imagem de costas, até mesmo as nádegas do
desgraçado eram bonitas e redondas. Bufei para ele, rolando os olhos.
E assim era decidida a nossa vida, depois das vinte e três horas,
dentro de um banheiro, depois do sexo, decidimos sermos a vitima um do
outro e nos unir de uma vez por todas, porque acho que é assim mesmo que
acontece, quando duas pessoas que nasceram para ficar juntas se
encontram, flui facilmente.
Principalmente os sentimentos.
Enraizado em mim
Quando uma pessoa decide viver e dividir a vida com outra pessoa,
provavelmente não tem ideia das coisas que vai enfrentar, das escolhas que vai
precisar fazer, do tanto que esse relacionamento vai exigir. Ao longo dos anos
dividindo a vida ao lado de alguém, você aprende e descobre limites seus
inimagináveis, coisas que você entendia como imperdoáveis por amor tornam-se
intoleráveis, coisas que antes eram pequenas e ínfimas tornam-se significativas e
movedoras de montanhas.
Relacionar-se com alguém é literalmente aceitar que você vai mudar, não
porque é obrigada ou porque te exigem, mas porque verdadeiramente você precisa
fazer ajustes para estar ao lado desse alguém.
É inevitável.
Dois anos desde a noite em que dormimos juntos pela primeira vez
haviam se passado. Dois bons anos ao lado dele. A vida não era fácil, havia
dias ruins, mas poder contar com ele quando eu precisava chorar, poder
contar com seu ombro quando eu estava triste e estar ali por ele quando o
próprio chegava
cansado, era o que nos tornava fortes. Nós éramos um time. O alicerce um
do outro. Sentia que ele me amava da mesma forma como eu o amava e era
lindo viver isso.
Sorri para mim mesma ao lembrar do dia em que eu mesma tive que
descolorir o cabelo dele. O mullet negro que tanto amei deu lugar a um
corte mais curto e com mechas coloridas, ele já teve rosa, laranja e azul, até
que, por fim (graças a Deus), decidiu voltar para o meu tão amado tom
natural. Era a vida que vivíamos e era uma boa vida.
— Oi, querido — falei para ele, vendo-o ainda apenas com meio
corpo para dentro de casa, logo na sequência adentrou à sala carregando
consigo um buquê de flores brancas muito bonitas. Sua expressão era séria
e cansada ao mesmo tempo em que olhava com
certa ternura. — Como foi o seu dia hoje? Foi tudo bem no trabalho? — ele
suspirou com a minha pergunta, dando a entender que não e estendeu as
flores para mim. — Hoje é algum dia especial e eu esqueci?
— Um cliente reclamou com algo que eu não tinha culpa e por causa
dele vai ser descontado no meu salário. De novo! Isso é muito injusto —
disse indignado. Seus olhos grandes e cansados me encararam. — A
propósito eu vi essas flores e pensei em você. Então comprei.
Somente ele.
— Tudo bem. Você vai lá, se inscreve e vê no que dá. Vai ser demais
se você puder fazer o que realmente ama! — Não era novidade para
ninguém na Coreia do Sul inteira que Kim TaeHo era amante das artes.
Pinturas, esculturas, música, dança, tudo ele apreciava, já tínhamos ido em
todos os museus e exposições gratuitas de Seoul nesses últimos meses, mas
o que ele amava fazer, o que lhe causava sorrisos bobos, era fotografar.
Quando ele estava com a sua câmera vintage fotografando, o mundo
parecia pequeno demais para ele. Tudo virava frame artístico, era lindo de
ver, eu sempre babava no portfólio apaixonante dele. Definitivamente era a
sua fã número um e obviamente a maior incentivadora de todas. Eu sentia o
amor e o cuidado intimido e minucioso em cada foto dele. Emocionava-me
acima de tudo.
De repente me senti feliz, uma luz no final do túnel para tirar ele
desse ciclo tóxico de não ter futuro algum naquele trabalho miserável como
garçom. Kim TaeHo estava recebendo uma chance de mostrar o seu valor e
eu o apoiaria fidedignamente, porque não havia ninguém nesse mundo
inteiro que desejaria a felicidade dele mais do que eu.
— Meu Deus, Kim TaeHo, essa bolsa é uma oportunidade dos céus!
— enfatizei.
Aquela frase que ele sempre falava para mim agora gritava em letras
garrafais bem diante de meus olhos, trazendo-me uma percepção
completamente diferente de tudo.
Não era justo que, por causa de mim, ele não pudesse realizar os
sonhos dele, não era justo que ele continuasse naquele emprego horrível,
sofrendo abusos e sem perspectiva nenhuma apenas porque eu não poderia
ir com ele. Kim TaeHo merecia muito mais do que o que ele tinha aqui,
merecia o mundo, merecia ser feliz e claramente não seria ficando aqui que
isso aconteceria.
repeti.
— Não é possível! Eu tenho uma vida aqui, eu tenho você aqui, não
posso simplesmente ir pra lá e deixar você aqui. — Acho que em dois anos
de namoro, nós dois nunca havíamos discutido antes assim, eu nunca tinha
visto essa expressão seca e sem vida no olhar dele. Algo o incomodava
profundamente e eu sabia exatamente o que era.
— concluí, decidida.
Achei que poderia escolher o pior momento da minha vida, mas, depois de
algum tempo, percebi que o pior momento não pode ser escolhido, ele acontece, te
persegue e te torna uma escrava da dor antes de acontecer, durante o acontecimento e
após. O pior momento da sua vida é justamente aquele que você jamais imaginou que
fosse acontecer, aquele que você não está pronto para lidar, aquele que te pega de
guarda baixa e, mesmo que você veja o pior momento da sua vida na espreita para
acontecer, ainda assim você nunca vai estar preparado o suficiente para viver ele.
Nunca pensei que viveria os piores últimos dois meses junto ao TaeHo, a gente
brigou nesse tempo tudo o que não brigamos nos últimos dois anos. Não era uma
decisão fácil e eu sabia que ele oscilava entre querer e não querer ir, sabia que ele
estava confuso e me dei o direito de escolher por ele.
Tornei-me irredutível.
Eu estava decidida, ele tinha que partir. Não conseguiria viver uma vida
sabendo que ele abriu mão do grande sonho por medo de viver longe do nosso
relacionamento, sua felicidade e a minha própria, transcendia a nossa vida juntos, não
estávamos completos na vida porque haviam partes que faltavam, só nós dois
não éramos suficientes para suportar a vida dura como ela era. TaeHo não
parecia conseguir enxergar que ele não era feliz sendo escravizado em seu
trabalho que o desvalorizava e, se ele não tomasse um passo à diante,
ficaria assim para sempre. Não podia suportar a ideia de vivermos uma vida
mais ou menos só porque não queríamos nos separar. Não era saudável
pensar assim.
Para ele, não pareceu fazer tanto sentido como para mim. TaeHo era
do tipo que questionava e não se conformava com as coisas, perguntou-me
diversas vezes o porquê de eu estar decidindo por ele, mas no final ele
entendeu. Talvez o cansaço e o inconformismo fossem mesmo reais, chegou
o momento que eu queria e temia, quando ele chegou dizendo que iria
embora, que se tornaria alguém maior, realizaria os seus sonhos,
experimentaria viver o que sempre sonhou para saber se realmente valeria a
pena.
Essa estava sendo a parte mais difícil: manter-me forte perto dele.
— Mas você não vai fazer. — Não era uma pergunta, ele também
sabia, sabia que eu não faria isso. Porque se ele quisesse realmente ficar,
simplesmente ficaria. No fundo, nós dois sabíamos que a partida dele era
inevitável porque, lá no âmago, era o que Kim TaeHo queria.
— O que vou fazer mesmo é escolher algo pra comer, que estou com
fome — suspirei logo depois de falar isso. Não queria mais ficar nesse
clima estranho. Seria a nossa última noite juntos e não era hora de estragar
o momento com discussões sobre o que já havia sido silenciosamente
decidido. Ele sorriu ladino, rendendo-se. Essa noite seria tudo o que restaria
de nós.
Não sei se foi a comida ou o momento. Só sei que não foi o melhor
jantar da minha vida. O bolo formado em minha garganta estava entalado,
não descia nem saía de mim, causando-me um desconforto e uma vontade
enorme de chorar. A cada novo minuto que se passava, eu entendia mais o
peso das últimas decisões e sentia, encrespado em minha pele, a dor que me
tomaria quando o fim fosse consumado.
Deixar alguém que a gente ama sem querer deixar, talvez fosse a
coisa mais difícil de se fazer na vida. A parte mais difícil de tudo, no final,
não foi decidir e, sim, sobreviver à decisão. Sobreviver a essa dor que já me
tomava mesmo que ele ainda estivesse aqui, bem diante dos meus olhos,
porque eu já conhecia o fim. Saber que não acordaríamos mais juntos, não
começaríamos mais nenhuma refeição, não dividiríamos mais sonhos, não
faríamos mais amor...
Eu não medi o peso das consequência até estar aqui e não poder
mais voltar atrás.
Cada toque.
Eu o amava.
Não demorou muito para que nosso beijo banhado por minhas
lágrimas se transformasse em fogo puro em combustão, chamas de desejos
nos levavam a nos despirmos com pressa sem separar nossas bocas. As
mãos sempre tão atrevidas dele logo apalparam minhas nádegas, puxando-
me para si com mais intensidade e fome. Talvez fosse a última vez, mas
pelo menos faríamos valer a pena. Arranhei as costas dele, solvando sua
língua, descontando minha dor em nosso desejo. Ele gemeu rouco em
protesto e estapeou minha nádega com certa força. Estaria ele também
descontando sua dor?
Ele deitou todo seu corpo sobre o meu e, com uma mão, secou
algumas lágrimas que me escapavam com delicadeza, mas logo novas
tomavam o lugar das que já haviam rolado. Eu não
conseguia parar de chorar, não conseguia parar de sentir, meu coração não
parava de doer.
De repente, percebi que eu gostaria que ele tivesse sido tocado por
mim tão profundamente como eu fui por ele. Como aqueles amores
avassaladores de filmes, como a chama que me queimava todos os dias por
ele, como a sensação dos pelos encrespados na pele após seu toque, como
quando meus olhos o viram pela primeira vez, como a primeira vez que a
gente sente a chuva na pele, como a beleza da primeira neve, queria ter o
tocado profundamente como os pequenos momentos ao lado dele me
tocaram, queria estar enraizada nele como ele estava em mim.
Queria que cada canto ermo da vida dele estivesse preenchido com a minha
presença assim como a presença dele havia tomado posse de tudo o que era
meu, queria ser tudo para ele como ele era tudo para mim.
Provavelmente para ele não era tão intenso, nem tão complexo, nem
tão confuso como era para mim.
Era bem penoso pensar nos filhos que nunca teríamos, nas juras de
amor que nunca concretizaríamos, nos filmes que não assistiríamos, nas
músicas que não ouviríamos juntos e me perguntei se ainda dava tempo de
me arrepender, de implorar para que ele ficasse, de pedir para que essa dor
acabasse. Peguei-me chorando de novo. Mas era tarde demais, a decisão já
havia sido tomada e tudo já havia sido preparado para a sua partida, prometi
a mim mesma que não seria egoísta, não iria fraquejar, mas era quase
impossível sobreviver a essa dor.
— Eu pensei muito sobre tudo isso e não acho justo ficarmos presos
nisso. Você vai para muito longe e nem sabemos quando poderemos nos ver
de novo ou se iremos nos ver de novo. Os melhores dias da minha vida
foram ao seu lado. Graças a você, eu fui capaz de crescer, me descobrir,
nunca senti um amor tão forte como o que vivemos, nossa história foi
perfeita, e como foi, e por isso devemos deixar assim. Eu gostaria que
respeitássemos a nossa história. — Não consegui manter a calma que eu
desejava, minha voz tremia embargada pelas lágrimas e eu não sentia as
minhas pernas.
Era o fim.
A porta então fechou e já não havia mais Kim TaeHo nem sua
presença marcante.
Respirei o ar outubril da manhã gélida de mais uma quarta-feira. Segurei mais firme
meu copo de café quente, afim de esquentar os nós dos meus dedos. Não dava para negar que o
inverno já se aproximava, as folhas das árvores de Seoul já estavam todas queimadas pelo frio
e muitas já encontraram o chão. Guardei uma nota mental para me informar no setor de
meteorologia para quando estava previsto a primeira neve, queria escolher um bom lugar para
passar a primeira neve do ano.
Após minha breve caminhada pelas ruas, sentei em minha, não muito aconchegante,
cadeira, para mais um dia de trabalho. Liguei o computador e suspirei, precisava terminar o
artigo sobre a galeria de artes de Seoul e seus atuais investimentos em arte moderna, como
exposições apenas de fotógrafos coreanos, elevando o renome de seus artistas.
Era um artigo para a coluna da semana que vem e ainda estava faltando um grande
artista para completar a ilustração com uma boa entrevista que valorizasse meu artigo.
Meu telefone tocou no exato momento em que pensei em pedir dicas para meu redator
chefe, e era justamente ele no ramal.
— Já tenho uma pessoa para você entrevistar. — Ele nem sequer me
desejou bom dia.
— Ótimo, venha aqui na minha sala e trás um café, por favor. — Ele
desligou e eu suspirei. Chefes e suas manias de tratar estagiários como se
fossem faz tudo.
— Exclusiva é quando…
— Eu sei o que é uma exclusiva — interrompi-o. — Só não entendi
o porquê de ser uma exclusiva — expliquei.
— Esse cara, ele não dá entrevistas, se sabe muito pouco sobre ele,
seu nome, origens. Coisas assim todos temos, mas uma entrevista com ele
não. E quero essa entrevista no nosso jornal — explicou.
— Quero — respondi.
Eu teria que começar por algum lugar, então, após queimar meus
neurônios pensando em uma solução que me colocasse diante do tal artista
super difícil, simplesmente decidi pesquisar sobre ele no Google, qualquer
coisa que me ajudasse a saber como chegar nele. Digitei VanTae na barra de
pesquisas e me deparei com um pequeno artigo falando apenas sobre a
exposição do grande fotógrafo, algumas matérias sobre a fama internacional
dele e os famosos mundo afora que compraram seus quadros de fotografias,
a lista incluía nomes de peso o que imediatamente o tornou famoso. Por que
gostavam tanto dos quadros de fotografia
dele? A matéria perguntava, mas não li a resposta para essa pergunta
descrita no site, resolvi que tinha que ver por mim mesma as obras e tentar
entender a fama deste artista.
Não era um espaço muito grande para um artista famoso, era até
mesmo uma exposição bem tímida, porém mesmo não sendo um horário de
grande movimentação, tinha bastante gente vendo as obras e tirando fotos.
Comecei a olhar as fotografias expostas e parei diante da segunda da
primeira fileira, era uma tartaruga sobre pedras com o mar atrás. Uma foto
muito bonita, mas bem simples, bem intimista, como se fosse uma
fotografia tirada por um amigo. Analisei o ambiente em volta com todas
aquelas pessoas vendo fotografias intimistas, marketing era mesmo
impressionante.
— Era uma senhora de boa aparência, andava com uma bolsa da Prada e
logo dava para saber que tinha dinheiro.
Eu não falava sobre Kim TaeHo com ninguém, tentava evitar pensar
o máximo que dava e assim acabei conseguindo sobreviver a nossa dolorosa
separação, porém, somente o fato de vê-lo bem diante de mim, causou-me
estranheza e me senti confusa sobre o que vi, sobre como estava me
sentindo e principalmente como lidaria com isso. Depois de cinco anos, eu
realmente achei que nunca mais o veria, o mundo é enorme e, mesmo
morando em um país minúsculo, ainda somos cinquenta milhões de
habitantes, não era como se fosse fácil nos esbarrarmos por aí, então eu
realmente achei que nunca mais o veria pessoalmente, mas, não, como tudo
sobre mim e TaeHo, o destino resolveu nos pôr frente a frente totalmente ao
acaso. Meu Deus, por que meu chefe me mandou entrevistar o VanTae?
Corri para abrir a porta faminta depois de não ter comido nada o dia
inteiro. Minha pretensão era ter uma overdose de pizza hoje, comeria os
oito pedaços sozinha.
— Está tudo bem? — Foi preciso apenas alguns segundos para ele entender
que eu era uma total confusão nesse momento. Kim TaeHo sempre soube
que causava uma avalanche de sentimentos em mim e, nesse momento, eu
estava sendo tragada pela bola de neve sem conseguir dar nome aos
sentimentos.
— Tudo bem, eu deveria ter dado um jeito de avisar, mas se não foi
uma boa ideia eu posso simplesmente ir…
Senti falta desse meu eu que foi enterrado pela dor de sua partida.
— Você nunca vai perder a mania de usar esses pijamas surrados que
são a sua cara, né? — Kim TaeHo comentou de repente enquanto eu
começava a me servir de pizza. Encarei-o, depois olhei para meu próprio
estado. Droga! Nem tinha me tocado que estava usando uma blusa surrada
de um candidato à prefeitura de Seoul das eleições passadas; peguei a blusa
não pelo candidato, mas porque era de um tamanho perfeito para um
vestido para ficar dentro de casa. Abri a boca para falar, mas o que eu iria
dizer? Estava descabelada e com aquela roupa, não tinha jeito mais
desarrumado de recebê-lo. — Senti a sua falta. — Soltou aleatoriamente e
eu não estava preparada mesmo. — Desculpa ter aparecido assim do nada, é
só que eu queria te ver, mas não tive coragem antes. Só queria saber se
estava tudo bem com você, jamais imaginei que te veria hoje lá no
escritório, fiquei meio sem reação, desculpe por isso também — falou tudo
rapidamente, mas eu ainda estava processando o "Senti a sua falta" que ele
soltou. — O que foi fazer lá no escritório hoje? Você pareceu surpresa em
me ver, então não entendi nada…
— Minha vida mudou muito desde a sua partida, mas tenho vivido
bem, já você não preciso nem perguntar, em pouco tempo se transformou
em um artista conhecido. Como isso aconteceu? — Talvez se eu
perguntasse sorrateiramente as coisas que precisava saber, ele me contasse e
eu pudesse fazer uma boa matéria sobre, mesmo que, no momento, ele
ainda não soubesse do meu emprego e das minhas intenções.
— Então…
23h01.
Sorri para mim mesma, lembrando como eu odiava aquele cara que
agora estava na minha sala, todas as noites, depois das vinte e três, ele
inundava meu quarto com seus gemidos em uma transa nada sigilosa e
esquisita até.
Por um breve momento, não pude crer que vivi uma linda história de
amor com ele que fora interrompida por sonhos que
precisavam ser realizados acima do nosso amor. Virei-me para voltar para a
sala inundada de sentimentos antigos e dolorosos, mas esbarrei em Kim
TaeHo, que estava atrás de mim.
Era como se tivéssemos voltado no tempo, ele não tinha ido embora,
eu não tinha sofrido e me machucado profundamente com isso e eu o tinha
em meus braços nesse momento. Suas mãos seguravam meu rosto, tentando
dar alguma ordem ao nosso beijo afobado, mas eu estava com saudade dele,
uma saudade maior do
que eu mesma, que transcendia a razão e a emoção, era muito maior que
nós dois. Saudade de ser um dia quem fui, ser a mulher dele. Eu queria isso.
Precisava disso.
Gostaria de não pensar nas dores do amanhã, pelo menos por esse
momento. Assenti, afirmando meu desejo. Ele, por sua vez, sorriu ladino e
em seguida mordeu o lábio inferior, soltando um suspiro longo e profundo,
fez um movimento de negação lento com a cabeça e então me puxou para
que pudéssemos retomar nosso beijo.
Suspirei.
A quem eu estava querendo enganar? Eu sabia exatamente para onde
essa noite e esses sentimentos nos levariam. Sabia que não adiantava me
sentir dividida entre sentimentos, eu não era mais aquela garota que virava
um tormento diante dele, não era mais a garota que cedia a tudo o que
sentia sem medo, sem reservas. Eu fiz isso na noite passada porque queria
me sentir assim uma vez mais, mas a verdade era que encarar os fatos me
trazia de volta para quem eu sou hoje, para quem a dor me tornou.
— Bom dia. Que horas são? — Ele não parecia perguntar para mim,
parecia mais para si mesmo.
assim.
— Tenho que ir, preciso estar no escritório às oito — disse o que eu
já imaginava que ia dizer.
— Se veste e vem comer, fiz para nós dois. — Ele olhou para a mesa
em sua frente e pareceu ponderar se deveria ou não ficar. Deu de ombros e
deu meia volta para o quarto, voltando em segundos com a camisa já sobre
o corpo, abotoando os botões.
— Veio se livrar da culpa por ter me deixado para trás anos atrás e
saber se ficou tudo bem? — O Kim pareceu surpreso com minha direta.
— Não, eu só…
— Me desculpa, eu…
— Claro, podemos ser amigos e não perder o contato. Torço pela sua
felicidade e pelo seu sucesso. Eu tô com o seu e-mail, te mando depois —
falei. — Te mando também o link do artigo com a sua entrevista. Não se
preocupe, vou falar muito bem de você.
E tudo bem.
Não é porque acabou que não foi amor. Não é porque não estamos
mais juntos que não foi verdadeiro. A gente se pertenceu e se deixou, e não
foi um final feliz para nós dois juntos como casal, mas também não foi um
final triste para nós dois como pessoas.
Escolhas são feitas e com elas vêm as consequências. Eu fiz uma escolha,
ele fez a dele e hoje provei do gosto mais amargo e mais real dessas
consequências, mas não doía, porque eu já sabia que seria assim.
Sentia-me na bad.
Esse era meu segundo Natal aqui. Talvez fosse isso que estivesse me
incomodando, o fato de estar fora do meu país, das minhas tradições, das
pessoas que amo. Esse vazio que me tomava, talvez fosse falta de
familiaridade.
Acho que já tive tudo e não fui capaz de reconhecer isso. Meus
próprios desejos e sonhos não pareciam ter sido suficiente para aplacar o
sentimento que me tomava agora, aquela velha pergunta "poderia um
homem ter tudo e ainda assim não ser feliz?" nunca fizera tanto sentido
para mim. Não que eu tivesse tudo, mas tinha em minhas mãos todas as
coisas que sempre desejei.
Dinheiro, sucesso, conforto e comodidade. Todas as coisas que me
faltavam em tempos passados e que me causavam uma sensação de
incompleto, agora estavam em minhas mãos e ainda assim não me
completavam, uma perfeita ironia da vida. Se tais coisas quando me
faltavam me deixavam incompleto, como tê-las agora não me completava?
Será que sempre estive errado?
Será que fui um cara bom o suficiente para que o papai Noel me
concedesse um presente essa noite? Mesmo que eu soubesse que era
praticamente impossível, intimamente desejei de modo egoísta que um
milagre acontecesse e a pessoa que tanto me fazia falta nesse momento se
materializasse em minha frente. Diziam que milagres de Natal existiam, né?
Então só me restava ter fé.
Quando parti a anos atrás, pensei que seria possível amar novamente,
que a forma como ela me fazia feliz, mais alguém conseguiria, mesmo que
nunca tivesse tido a intenção de terminar com ela, aceitei a sua decisão com
respeito, afinal ela aceitou a minha, então pensei que talvez o amor me
encontraria de novo. Infelizmente depois de muito tempo andando de lá
para cá, conhecendo tantas pessoas e saindo com boa parte das mulheres
que eu quis sair, percebi que amor puro, genuíno, selvagem e honesto como
o que ela me deu, eu não encontraria nunca mais. Nenhuma mulher nunca
me olhou como ela, porque nenhuma me conheceu tão fodido e tão sem
nada a oferecer como ela, só tinha amor e isso a bastou.
— Tem duas semanas que me mudei para cá, longa história. Não
esperava encontrar você aqui, ouvi dizer que era um local onde pessoas sem
ninguém vinham para não passarem o Natal sozinhas. — Sua entonação
realmente é de surpresa. Solto um riso muxoxo.
— Não quis passar o Natal com ninguém esse ano, mas queria comer
algo, então tive que vir até aqui — expliquei sem muitos detalhes. Ela fez o
"a" com a boca e o assunto morreu, ficamos em pé olhando em direção
opostas sem dizer nada. —
Você tá sozinha também? — A pergunta é retórica, eu sei, mas não tenho
mais nada para falar.
— Por quê?
— Queria com você, não conheci outro cara que me fizesse pirar o
suficiente para pensar em ter cinco filhos — brinca e sou tomado por uma
imensa satisfação. Então ela também tinha a mesma percepção que eu, de
que uma família não dava pra ser constituída com outra pessoa que não
fosse ela? Solto uma risada em forma de lufada de ar, sinto-me feliz como
em muito tempo não sentia. E agora tinha certeza absoluta de quais as
razões para antes me sentir na bad.
— Não quer ir comigo à minha casa? Queria que você pudesse ver o
Morris, tenho certeza que vocês sentem falta um do outro — sugiro sem
pensar. Ela sorri incrédula.
— Eu tenho que ir. — Espero uma resposta diferente, mas não posso
deixar de concordar que foi tudo muito repentino para ela.
— Fica, eu vou pagar a conta e te levo para casa, o Morris pode ficar
para outro dia — quase suplico e ela, que fazia menção de levantar, arruma
a sua postura, dando-me um tempo para pagar a conta e pensar um pouco.
O caminho de volta para sua casa é silencioso, as únicas palavras
que ela profere são referentes ao seu endereço. Aperto o volante com força,
sabendo que posso ter feito a maior besteira da minha vida e a assustado.
— Realmente…
— Não, pode falar — diz assim que estaciono o carro diante da casa
que ela apontou ser a que está morando, no subúrbio de Nova Iorque.
Suspiro pesado, o aquecedor do carro ligado cria um clima bom e
convidativo entre nós.
— Acho que vim para morar muito tempo aqui, sabia? — pergunta e
resolvo lhe olhar nos olhos. Um sorriso brinca em seus lindos lábios e só
consigo suspirar, de repente tão apaixonado como se fosse ontem a última
vez que nos vimos e nos beijamos.
— Ouvi falar que tem um bar temático que toca jazz às sextas, é
verdade? Queria muito ir lá — diz.
Liguei o carro e dirigi pelas ruas vazias e gélidas da cidade, mas não
me senti mais triste, nem incompleto. Na verdade, estava sendo tomado por
um novo sentimento. Esperança, sabia que a nossa história estava longe do
fim, porque ganhamos a chance de escrever um novo começo.
Extra
Para mim a vida é como uma estrada que você dirige sem saber onde
vai dar. Cheia de curvas íngremes, altos, baixos, retas e até alguns retornos
para voltar e tentar pegar o caminho correto. Em determinados momentos, a
estrada se abre para vários lugares e, em outros momentos, existe apenas a
opção de seguir em frente.
E talvez seja isso o que eu mais gosto, não saber o dia de amanhã,
não saber se as suas decisões foram corretas e onde te levarão.
Particularmente tomei muitas decisões difíceis em minha vida, terminar um
relacionamento perfeito, largar o emprego, começar uma faculdade, largar o
emprego no jornal impresso e ir para a TV, deixar meu país e ser
correspondente em outro país, mudar de estado novamente e, por fim,
decidir abrir meu coração mais uma vez.
Segurei minha cápsula do tempo nas mãos, abri, revi nosso passado,
senti e decidi que, de tudo o que havia acontecido em minha vida, isso foi
umas das poucas coisas que verdadeiramente valeu a pena.
— Não foi nada demais — diz, curvando as pontas dos lábios para
baixo e dando de ombros. — Definitivamente fiquei feliz com a sua
ligação.
Meu coração se agitava. Por anos e anos pensei nas inúmeras coisas
que não conseguimos fazer juntos, nos “e se” que não aconteceram e cá
estávamos nós. De repente, entrei em uma estrada da vida com uma curva
sinuosa e que logo na sequência me apontava para um retorno. Longos anos
se passaram e nenhum retorno apareceu, apenas segui em frente. Seria essa
hora de pegar um?
— Você tem razão, já sou abençoado por ser tão reconhecido pela
minha arte — diz, mudando de assunto, provavelmente percebeu como
fiquei ruborizada com suas palavras.
Não doía mais. Pensar no que poderíamos ser, fazia muito tempo que
não doía mais. Me acostumei a esquecer todos os nossos planos, porque
escolhemos isso. Eu escolhi e ele também. Mas estar diante de algo que
sempre sonhamos despertou gatilhos dolorosos, ao mesmo tempo em que
me sentia feliz por vivermos isso juntos.
Ergui meus olhos lentamente, ainda com meu rosto em sua mão, até
que estivéssemos nos encarando. Sorri para ele como um sinal, eu estava
totalmente pronta para pegar o retorno e seguir a
estrada que me esperava depois dele. Em seus olhos, eu podia ver os
questionamentos se formando, ele queria ter certeza de que era isso mesmo
que eu queria. Concordei silenciosamente, fechando meus olhos e
esperando que ele desse o passo final, conhecendo TaeHo como eu
conhecia, sabia que ele gostaria de ter essa oportunidade.
Li algum lugar que existia amor da sua vida e amor para a sua vida,
mas olhando para mim e TaeHo percebi que somos os dois. Um amor
vulnerável, com cicatrizes do passado que torna tudo carregado a fio como
só o amor da sua vida conseguia ser, algo inesquecível e arrebatador, que
queimava as veias por dentro e agitava o estômago com todas as
possibilidades, mas que doía, amor doloroso e abrasivo. Mas tínhamos
também uma conexão de resistência ímpar, que nos dava força para seguir a
vida, com encontros e desencontros, começos, finais e recomeços que eram
reconfortantes, éramos o lar um do outro como o amor para sua vida deve
ser, confortável, quente, saudoso.
— Eu sei Tae-ah, mas você sabe o quanto eu amo ser jornalista, amo
muito mesmo o que eu faço e faço bem — digo suspirando novamente. —
Não é tão simples largar algo que eu amo assim.
— É sério? — questiono.