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RAVES FOR

RUNNING WITH LIONS


“Engraçado, sábio e ridiculamente romântico. Isso me atingiu bem no
coração.”
—Becky Albertalli, autora de Simon vs. A Agenda Homo Sapiens
“Um romance de calouros comovente de um autor prestes a ser um Matt
Christopher moderno para um público mais velho.”
—Kirkus Reviews
“Uma estreia calorosa, divertida, inteligente e comovente, cheia de coração e
cheia de esperança. Adorei a relação adoravelmente fofa que surge entre
Sebastian e Emir, adorei o humor e adorei ser lembrada de como é ser
adolescente durante um verão longo, quente e bagunçado, quando tudo é
novo e emocionante, tudo parece possível, e o mundo está se abrindo na sua
frente. Eu gostei muito e espero que receba todos os elogios e elogios que
merece.”
—Simon James Green, autor de Noah Can’t Even
Traduzido, revisado e diagramado por chaoticslates no twitter. Todos os
direitos à sua editora e autora, apenas traduzimos a fim de levar
reconhecimento para os livros no Brasil para que assim, possam ser
publicados. Todos devem ter acesso à literatura, mas se você tem condições,
por favor, apoie os autores e leia o original.
Para cada pessoa LGBTQIA + que questionou seu lugar na vida: Você é forte. Você é
importante. Você é um leão. Deixe o mundo ouvir você rugir.
Alguns leitores podem achar algumas das cenas deste livro difíceis de ler.
Compilamos uma lista de avisos de conteúdo, que você pode acessar em
www.interludepress.com/content-warnings
CONTEÚDO

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Agradecimentos
Sobre o autor
Q&A with Julian
1

— TEM CERTEZA DE QUE PEGOU tudo?


Sebastian sorri para sua mãe do último degrau de sua modesta casa de dois
andares. — Claro, mãe, — ele responde. A pintura desbotada na cerca de cedro
atrás dela chama sua atenção. Um raio de sol forte dá ao orvalho fresco na grama
um efeito de brilho. O verão está em plena floração, envolvendo um pesado
cobertor de calor em volta dele.
— Eu só não quero que você esqueça de nada, — ela sussurra. A luz do sol
acentua as rugas suaves ao redor de seus olhos e seu cabelo loiro grisalho. O
sorriso de Lily Hughes ainda tem um toque de juventude quando ela arruma os
zíperes de sua mochila – pela quinta vez esta manhã.
— Eu não vou.
— Como uma escova de dentes ou um suéter, para o caso de esfriar.
O surto de crescimento que Sebastian experienciou no primeiro ano o torna
um gigante quando a encara. Três anos depois, ele tem uns bons quinze
centímetros a mais que ela. Ela fica na ponta dos pés para abraçá-lo, pela terceira
vez em dez minutos.
Sebastian revira os olhos castanhos claros, mas a aperta com força.
— Você trouxe bastante cueca? Eu não posso deixar você andar de bunda de
fora por um mês...
Sebastian geme, incapaz de esconder o quão mortificado ele está.
— Eu tenho tudo, mãe, — ele insiste.
— Pares extras de meias? Seu short para o lago?
— Não teremos tempo...
— Calma, — ela diz, dando um tapa em seu peito. — Todos os anos você
jura que não terá tempo para se divertir. Mas então você chega em casa com um
bronzeado lindo. Você desenvolve todos esses músculos e recita todas as letras da
trilha sonora de Dirty Dancing.
— Isso não é verdade.
Sebastian só conhece a letra dessas canções por causa da obsessão de sua irmã
mais velha, Carly, por filmes cafonas dos anos 80.
— E você está naquela idade em que… — Lily faz uma pausa com uma
expressão perceptiva. — Se você precisar de preservativos...
Ele engasga; seus traços imediatamente se transformam naquele olhar
mortificado que vem com conversas sobre sexo com seus pais.
Quem inventou as conversas sexuais com os pais, afinal? Sebastian pensa. Elas
deviam ser queimadas, enterradas, desenterradas e incendiadas novamente.
— Jesus, mãe. — Sebastian arrastou a ponta de seu Converse gasto na calçada.
Ele está sufocando de humilhação, seu pescoço quente e seu colarinho apertado.
— Não comece, Bastian.
Sebastian fica tenso quando ela aperta os olhos acusadoramente. Era tão ruim
quanto aquela vez em que ela o pegou beijando Julie Hammonds na oitava série.
Ele não ia ganhar este argumento.
Evite, evite, evite.
Seus dedos penteiam seu cabelo; geralmente ele é marrom-casca-de-árvore,
mas horas cortando a grama ao sol o iluminaram para um tom fulvo, como a
juba de um leão. — Mãe, — ele diz com um suspiro. Ela sorri de volta. — Eu
não vou para a guerra. É apenas um acampamento de futebol. Eu e o time e
muita prática.
É mais do que isso. Desde que Willie o arrastou para as eliminatórias de
futebol no primeiro ano, tem sido muito mais.
Todo verão, depois de entrar no time, ele pulava os dias de glória da
adolescência prometidos a ele em todas as músicas punk desde a existência do
Blink-182. Ano após ano, ele viajou para o acampamento da escola ao norte de
Bloomington. Ele aprendeu a amar a doce mancha verde em tudo o que possui e
uma segunda pele feita de puro suor.
Sebastian adora isso: um mês longe da família, e existência e liberdade,
músculos doloridos após horas de exercícios de corrida, sua pele queimando sob
o sol forte, meias fedorentas e camisetas de treino sujas, o simbolismo de estar
com seus rapazes por semanas.
— Claro, Bastian. Você não tem tempo para garotas, certo? — Lily não é
condescendente. — É tudo futebol e dever de casa, desde que Samantha foi para
a faculdade.
Sebastian tenta não recuar. Sam, não Samantha. Ela gostava quando os
meninos a chamavam assim. Sam era corajosa e linda e quase um felizes para
sempre para ele – um "quase" que veio com um asterisco e uma nota de rodapé e
uma pilha de decepção quando ela foi para a faculdade no ano passado. Dois
meses depois, ela o trocou por um assistente de educação física. Ela estava se
formando em dança. Vai saber.
— Claro, mãe. — Ele sorri, mas está morrendo de vontade de fugir dessa
conversa.
Ele não amava Sam. Sebastian não tem certeza de como o amor se parece,
sente ou soa. Ultimamente, ele tem imaginado que é algo estúpido, ridículo e
totalmente confuso, como as músicas da Katy Perry. Ele não está pronto para se
aventurar no lado sombrio de comparar seus sentimentos com músicas da Katy
Perry.
O que aconteceu com Sam é outra conversa que ele não teve com seus pais,
junto com: — Ei, mamãe e papai, eu gosto de meninos também — e — Eu fico
excitado assistindo Chris Evans em qualquer coisa, — embora ele tenha certeza
de que vai manter esse último para si mesmo – não que quem ele é ou por quem
ele se apaixona importe ultimamente. Sebastian Hughes nada mais é do que
futebol e agradar a todos, nem sempre nessa ordem.
Lily o encara como se já tivesse lido sua mente. Antes que ele possa obter a
coragem de dizer qualquer coisa, um sistema de som barato tocando a forte e
estridente bateria do Imagine Dragons chama sua atenção.
Mason para no meio-fio em um Ford Mustang vintage pintado de vermelho-
maçã. Seu para-choque está enferrujado. O teto de lona está descascando, os
bancos de couro branco manchados pelo tempo.
— Bem, Sra. Hughes! — A boca de Mason se curva maliciosamente.
Inclinando-se sobre Willie no banco do passageiro, ele desliga o rádio. — Você
está linda esta manhã, — diz ele. Seu cabelo castanho café cai em olhos verde-
azulados.
— Ah, Mason, fique quieto, — diz ela com uma risadinha. — Você provoca
demais.
— Perdedor, — Sebastian tosse em seus dedos.
Willie se dobra de rir. Ele tem olhos azuis frios, pele clara e cabelo louro-claro.
Ele parece exótico e intimidante, mas está sempre feliz, e isso, é claro, o torna o
favorito de Sebastian. Os óculos de sol néon baratos de Willie caem em seu nariz
enquanto ele diz — Puxa-saco — para Mason.
Mason está muito ocupado balançando as sobrancelhas para Lily para notar.
— Eu já disse uma dúzia de vezes para, por favor, me chamar de Lily, — ela
diz a Mason.
Ele sorri. — Lily.
Sebastian prefere Mason Riley como um aliado ao invés de um inimigo. Tem
sido assim desde que eles tinham doze anos, depois que o pai de Mason deixou
sua mãe. Mason nunca admitiu, mas precisava de um amigo. Entra Sebastian
Hughes. Eles eram dois opostos completos que se encaixam.
— Pronto, Hughes? — Mason pergunta, afundando de volta no banco do
motorista. Ele tamborila os dedos no volante. — A estrada está chamando.
Sebastian concorda. Ele joga sua mochila no banco de trás, onde Willie se
afastou. É um privilégio Willie oferecer a você o assento do passageiro.
— Meninos, — diz Lily com a voz superprotetora que Sebastian ouve há três
verões, — Por favor, cuidem do meu doce Bumble...
— Mãe, — Sebastian lamenta.
Lily bufa, bagunçando seu cabelo. Normalmente, Sebastian usa o cabelo com
um corte curto, mas ele o transformou em um degradê. Ele acha que é épico.
Mason chama de cabelo de idiota, mas Mason usa o mesmo estilo comprido e
fica constantemente tirando o cabelo para fora do rosto desde o ensino médio,
então tanto faz.
Sam adorava seu cabelo bagunçado. Esse foi o melhor motivo para uma
mudança.
— Desculpa. — O sorriso nervoso de Lily o lembra de ter cinco anos de
idade, marchando para o primeiro dia do jardim de infância. — Você sabe que
eu me preocupo.
— Eu sei, — ele murmura e mostra seu melhor sorriso de "eu vou ficar bem".
— Ligue para mim todos os dias.
— Todo fim de semana, — Sebastian diz.
— Qualquer outro dia. E use FaceTime com a gente aos domingos.
— Três vezes por semana e um texto rápido após os treinos, — Sebastian
barganha. Ela cede com um pequeno aceno de cabeça e um beijo maternal em
sua testa.
— Ah, meu coração, — brinca Mason baixinho.
Sebastian espera até que Lily seja distraída por Willie prometendo ligar
também antes de socar Mason no ombro. — Idiota.
Mason liga o rádio; a cantoria pop-punk de Fall Out Boy ecoa nos alto-
falantes enquanto o carro se aproxima do meio-fio. Ele diz: — Prontos, caras?
Sebastian sorri como se pudesse sentir o gosto – liberdade. Nada impede uma
perfeita escapadela de verão com seus companheiros de equipe, nada exceto
aquele rumorzinho desagradável de alguns dias atrás: — Você ouviu? Emir Shah
entrou para o time de futebol. Os treinadores o convidaram para o
acampamento.
Ele não tem ideia de como isso vai ser. Emir vai falar com ele? Dar um soco
nele? A violência nunca foi coisa de Emir, mas Sebastian não o conhece mais.
Não é como se ele ainda andasse com Emir, não desde que eram crianças.
Se há uma pessoa que pode virar o verão de cabeça para baixo, é um ex-melhor
amigo que Sebastian ainda não superou.
Sebastian se encolhe, escondendo seu rosto enrugado de Mason e Willie.
Verão perfeito? Não existe tal coisa para Sebastian Hughes.

SEBASTIAN PERCORRE AS ESTRADAS DE TERRA e a vegetação no caminho. É uma hora


de Bloomington para Oakville. Ele revira os olhos quando Mason reclama: —
Eu vou vomitar, — com um cigarro pendurado nos lábios. Mason falha em
apreciar a natureza. Ele é um cara da cidade, um amante de edifícios altos, clima
úmido e o cheiro de ozônio.
— Você vai ficar bem.
— Tanto faz, — resmunga Mason. Ele dá outra tragada, saboreando-o.
Oakville tem apenas um mercado decente, então eles pararam para comprar
suprimentos. Mason usou uma identidade falsa para comprar sua marca favorita
de cigarros e comprou salgadinhos de queijo para Willie. Um pequeno trecho de
estrada o aguarda. — É o nosso último ano, rapazes!
Willie uiva ao vento. Suas mãos tamborilam no encosto de cabeça de
Sebastian ao mais recente vício de Mason, The 1975.
Sebastian bate o pé junto com o baixo mudo. É melhor do que o zumbido
constante de club beats e músicas do Bruno Mars que eles ouviram muitas vezes.
Adiante, conjuntos de dentes-de-leão passam; nuvens caem em um céu
centáurea-azul. — Ainda pensando em viajar? — ele pergunta sobre os ventos
fortes.
Mason acena com a cabeça antes de dizer: — Que tal, Will? No próximo
verão, no exterior? — Ele verifica Willie pelo espelho retrovisor. — Assistir a
alguns jogos do Real Madrid?
Willie ri. — Ficar com algumas garotas em Barcelona.
A fumaça embaça ao redor da boca de Mason quando ele diz: — Com certeza!
— Vocês dois nunca vão conseguir, — Sebastian brinca.
Mason revira os olhos. — Nós poderíamos vagar pela Grécia, certo, Will?
— Viver como reis?
— Isso aí!
— Mais como camponeses, — Sebastian murmura, mas seu sorriso desmente
suas palavras.
— E você, Bastian? — Mason pergunta. — Ainda vai ficar pela cidade?
Trabalhando para seus pais?
Sebastian dá de ombros. Oliver Hughes trabalha na construção. Não é
exatamente a carreira dos sonhos de Sebastian. Ele se encolhe, fecha os olhos e
apoia o pé no painel. — Não pensei sobre isso, — ele responde, mas é mentira.
A vida após o ensino médio é o sonho de todo adolescente, e de Sebastian
também: estar fora da casa dos pais, fazer as coisas do jeito dele. E este grande
mundo está pronto para engoli-lo inteiro.
— É o dinheiro? — Willie pergunta.
— Não exatamente, — ele diz.
Os pais de Sebastian não podem pagar uma escola da Ivy League com um
bom programa atlético, onde ele possa fortalecer suas habilidades no futebol. E
Sebastian não é o melhor na área; esse é Mason, de longe. Bolsas de estudos
esportivos não são fáceis. Não é como se caçadores de talentos lotassem as
arquibancadas para fazer anotações sobre ele. Todas as esperanças de jogar na
Premier League e vestir a camisa do Manchester United, o time favorito de
Oliver, são apenas sonhos impossíveis. Essas são as fantasias que você tem
quando criança, não quando você é um goleiro em uma cidade pequena. As
manchetes do jornal da escola nunca perguntavam: — Quem é Sebastian
Hughes?
— Ouvi dizer que Sebastian será o capitão este ano.
Sebastian dá uma cotovelada em Willie. — Não vai acontecer, cara.
— É verdade, mano, — diz Mason; os cantos de sua boca se erguem enquanto
a fumaça sai. — Eu ouvi pessoas conversando...
— Ninguém fala sobre mim.
— ...E dizem que você, Hughes, vai ser...
— Eles vão escolher você, — interrompe Sebastian rapidamente.
— De jeito nenhum. — Mason balança a cabeça para tirar o cabelo dos olhos.
Ele cai de volta. — Os treinadores amam você, cara. Eu sou imprudente.
Ele é, mas Sebastian diz: — Você não é, — para agradá-lo.
— Cara, eu tenho um representante. — Mason ri.
— Você teria um foco melhor se parasse de perseguir todas aquelas garotas.
— Ei! — Mason franze a testa. — Eu expandi meus horizontes. Os caras da
equipe de natação...
Ok, então Mason flertou e conseguiu o número de um cara da equipe de
natação.
— E o amigo de Willie...
— Miguel. — Willie suspira, enrugando o nariz.
— Miguel! — Mason solta um sorriso satisfeito. — Eu fiquei com ele na
última festa de Carl.
Willie joga um salgadinho de queijo no cabelo de Mason. Eles brigavam como
irmãos menores constantemente; Sebastian desempenha o papel de mediador.
Em menos de um ano, ele não os separará mais.
Quando Mason vira o carro por um longo trecho de estrada familiar, a
vertigem lateja dentro de Sebastian. O ar puro do campo enche seus pulmões.
Ele mal pode esperar para cair em sua cama na cabana, correr ao redor do campo
e se divertir com seus companheiros do time.
Mas esse boato do Emir é um zumbi se banqueteando com seu cérebro. A
chance de Emir Shah aparecer em seu acampamento em qualquer universo
alternativo é zero. Por que ele iria? Emir é um solitário que não pratica nenhum
esporte, inclusive futebol.
— Você não pensou sobre isso? — Willie pergunta.
Sebastian se assusta. Não pensou sobre o quê? Emir estando no acampamento?
O fato de sua amizade de infância ter sido descartada sem cerimônia quando eles
se tornaram adolescentes?
— Ser capitão, — diz Willie, o rosto contorcido.
Ele pensou. Às vezes, ele sonha acordado em ser o líder que ganha um troféu
para o time. Seria incrível. Mas também é uma responsabilidade incrível. É
como flutuar no oceano, não ter peso e ser consumido ao mesmo tempo. — Eu
não sei, — ele finalmente diz.
Sebastian fecha os olhos. O sol queima lindas cores por trás de suas pálpebras:
a centáurea do céu se mistura com o rosa nas bochechas de Willie e um tom de
verde da grama que passa. A facilidade do verão abafa tudo mais.
2

OAKVILLE NÃO É OFICIALMENTE UMA CIDADE. É um pequeno trecho de estrada


estreita com um posto de gasolina, um único semáforo e algumas atrações para
os turistas no verão, como uma lanchonete cafona no estilo dos anos 50 com ar-
condicionado instável, mas tem os melhores hambúrgueres que Sebastian já
comeu. A sorveteria tem mesas ao ar livre, e um antigo drive-in na periferia da
cidade atrai um punhado de moradores à noite. Mas o resto é principalmente
lojas antigas que vendem "Saudações de Oakville!" postais ou antiguidades, que é
propriedade de pessoas que se recusam a se mudar.
— Aqui está, crianças! — Mason diz em uma voz cafona de locutor de TV.
A um quilômetro e meio da estrada principal, um acampamento de verão foi
reformado em seu centro de treinamento. Uma placa de madeira antiga está
pendurada na ponte de entrada: "Acampamento Haven". Costumava ser o
Acampamento Heaven, um acampamento de jovens cristãos, mas um dos "Es"
caiu há uma década.
— Bem-vindos ao inferno, — diz Mason enquanto eles passam pela ponte.
Willie ri do banco de trás enquanto Sebastian absorve tudo mais uma vez.
As cabanas modernizadas cabem dois meninos, uma regra estúpida de acordo
com Willie, mas isso é porque ele quer que eles três compartilhem uma cabana.
Atrás das cabanas fica um enorme lago que brilha como diamantes pretos após o
pôr do sol. Perto está o antigo pavilhão principal, agora uma cafeteria. Pessoas
usam a área de piquenique para roubar cigarros à noite. Na curva está um
enorme galpão usado para armazenamento de equipamentos, carinhosamente
chamado de "caixa quente" porque não há ventilação, uma lição difícil que
Sebastian aprendeu em seu primeiro ano. O vestiário é banhado por um fedor
eterno de suor e coquilhas, mas a pressão da água nos chuveiros é incrível.
A vibe lembra a Sebastian de Jason Voorhees, Camp Crystal Lake e todos
aqueles filmes de terror dos anos 80 que Willie ama.
Mason sorri e salta para fora do carro. — E olha, a maioria dos diabos já
chegou!
Willie diz: — Pare com isso, Mace, — enquanto puxa sua mochila. — Este
lugar é um santuário, — anuncia. — Uma terra de ninguém, cara. Sagrado.
Sebastian bufa, colocando um braço em volta dos ombros de Willie e uma
mão em seu cabelo suado.
— Muito poético, Will, — zomba Mason. — Continue recitando doces
haicais assim e eu vou me casar com você. — Claramente, Mason não tem ideia
do que é um haicai.
— E não é porque eu beijo bem?
Mason franze o rosto. — Cara, vou acreditar na sua palavra.
— Você deveria. — Willie sorri ironicamente. — Dou uns amassos melhor do
que cozinho.
Sim, estes são os melhores amigos de Sebastian.

NÃO MUITO DEPOIS, O resto do time chega. Os olhos de Sebastian examinam os


rostos habituais junto com os novatos que treinaram com eles durante a
primavera. Ele não está procurando por ninguém...
Capitão Óbvio, frente e centro.
Cumprimentos e batidas de punhos são passados ao redor. Os caras maiores
brigam, dão cascudos e mata-leão, discutem como o inferno.
Mason ri e diz: — Eles não fazem ideia, — para Willie.
— Melhor chamar as ambulâncias agora.
O problema do futebol é que é um esporte violento, onde o objetivo principal
não é apenas colocar a bola no gol. Trata-se de manobrar a bola em direção aos
postes sem ser abatido no caminho. Todos eles acumularam ferimentos graves ao
longo dos anos. Tudo vale a pena.
A irmandade dentro da equipe foi o que atraiu Sebastian e Willie. Esta equipe
quebrou todas as regras. Ele se lembra do discurso do treinador Patrick naquele
primeiro dia: — Sem exclusões por aqui, meninos! Seja quem você é! Tenha
orgulho! Tratem uns aos outros como família.
O boato era que o sobrinho do treinador, Xander, foi para uma daquelas
escolas católicas de blazer e gravata e foi expulso do time de beisebol quando se
assumiu. O treinador decidiu mudar o sistema: a sexualidade nos esportes
tornou-se um fator sem importância. Não importava por quem você for atraído
fora do campo. Se você pudesse levar a bola ao gol sem cair, você estava dentro
do time.
— No final do dia, vocês são um bando de garotos perdidos com grandes
sonhos, de qualquer maneira. Dane-se os outros merdinhas!
E foi isso. Ninguém se importou quando Willie se assumiu, porque ele era o
melhor zagueiro que eles tinham. A sessão de amassos de Mason com Miguel foi
esquecida na segunda-feira seguinte. A aceitação foi enorme para Sebastian. Ele
tinha um lugar onde estava seguro e era desejado. Não havia como voltar atrás.
— Sangue fresco! — Mason uiva como um lobo faminto.
— Sem trotes, — Willie avisa.
— E sem brincadeiras, — Sebastian diz, as sobrancelhas unidas. — Lembra o
que aconteceu no ano passado?
Mason gargalha; orgulho brilha em seus olhos com a memória. A Grande
Inundação de Riley, em maiúsculo, itálico e super enfatizado, quase fez com que
Mason fosse expulso da equipe. Alguns dos jogadores que voltaram ainda estão
magoados com isso.
— Isso era coisa de criança, Hughes. Eles foram dramáticos demais.
— Você inundou metade das cabanas, e nossos pais tiveram que pagar a conta
para ficarmos fora de vista até uma semana depois, — diz Sebastian.
Mason dá de ombros, como quem diz "não é grande coisa". Ele inclina a
cabeça para olhar os caras menores. — Terminou a falação?
Sebastian dá uma cotovelada nele, então avalia seus companheiros de equipe.
Zach, Robbie e Giovanni ficam juntos, contando piadas. Jack está tentando se
infiltrar no grupo, enquanto Charlie pratica embaixadinhas com sua nova bola.
E então há...
— Aquele é Shah? — Mason sibila.
Sim! Emir.
Talvez Sebastian devesse ter falado sobre isso na viagem para Oakville? Ele é
amigo de Willie e Mason há anos. Eles teriam entendido as preocupações de
Sebastian. Segredos não são permitidos em seu pequeno círculo. Mas Sebastian
não teve coragem de discutir sobre Emir com seus amigos, ainda não.
— Eu ouvi… — Willie começa. Sebastian perde tudo depois de "Ele se
inscreveu para os testes alguns meses atrás" porque ele está olhando para Emir
enquanto seu coração afunda no abismo ácido de seu estômago.
Já se passaram anos desde que Sebastian e Emir Shah trocaram mais de cinco
palavras, desde que eram garotos magricelas de dez anos jogando videogame e
lendo gibis – quando Sebastian só tinha um amigo.
Emir fica de lado. Ele ainda mastiga o lábio nervosamente. Sebastian se lembra
das maçãs do rosto, macias e distintas, mas a barba por fazer em sua mandíbula é
nova, assim como o gorro de tricô cobrindo seu cabelo escuro. Ele está vestindo
um moletom grande do Bloomington Lions que engole seu corpo magro, shorts
esportivos e meias que quase tocam seus joelhos nodosos.
Jesus, ele está usando chuteiras!
Mason bufa. — Isso é uma piada horrível, cara. — Sai um pouco áspero.
Sebastian suspeita que isso não seja porque Mason tem uma queda por novatos,
mas porque Emir não é exatamente amigo de ninguém do time. — Shah está
tentando ser um de nós?
Sebastian sibila, — Merda, — baixinho quando, em um momento elétrico e
muito estranho, os olhos de Emir encontram os dele.
— É verdade, cara. — A boca de Willie se curva em um sorriso parcial. — Os
treinadores dizem que ele tem potencial.
— Sim, o potencial de destruir toda a nossa última temporada, mano. —
Mason dá um mata-leão em Willie. Eles lutam. Emir é esquecido
momentaneamente, mas não por Sebastian. E então seu pensamento excessivo
leva a uma das piores ideias já concebidas.
Sebastian tenta jogá-la fora quando ele corre para os outros jogadores. Ele dá
cumprimentos rápidos ou pancadas no peito, nivelando os jogadores com o
olhar apenas para irritá-los. — Calma, não vou morder, — ele brinca. Eles riem
com cautela. — Cuidado com o Riley, no entanto.
Um garoto, olhando para Mason, fica branco como um fantasma, então
Sebastian diz: — Apenas alimente o ego dele e você ficará bem.
Quando Sebastian chega ao fim da linha, seu coração disparado bate contra
suas costelas. Onde está o botão de desligar para todas essas memórias de
infância malditas que inundam sua mente? O olhar de Emir de "que diabos,
cara!" brilha e resolve rapidamente esse problema.
— Ei. — Sebastian sorri nervosamente. — Emir?
Emir faz uma careta para ele. Seus olhos são hipnóticos – cinzas, como uma
nuvem de tempestade. De perto, o verde musgo envolve suas íris.
— Quer dizer, eu sei que é você! — Sebastian ri nervosamente, mas Emir não
faz mais do que levantar uma sobrancelha exasperado. — É – é você. Aqui, no
acampamento. E eu não esperava por isso. — Ele avalia Emir. No ano passado,
Emir era um skatista punk com cabelo alto e ceroso e jeans rasgados, fã de
camisetas de bandas e Vans. Este não é aquele cara.
— Sim, — diz Emir.
Com as palmas das mãos suadas, Sebastian tenta outra tática: sorrir como um
psicopata. Ele é pego por Emir. Ele está acostumado a sair com idiotas: caras que
assistem, jogam e respiram o jogo. Estereótipos são uma merda, mas a maioria
dos companheiros de time de Sebastian se encaixam no molde.
— É bom te ver? — Não era para sair como uma pergunta. — Eu me lembro,
hum, quando éramos mais jovens...
— Nós praticamente aprendemos a usar o penico juntos. Que bom que você
se lembrou, — diz Emir, secamente. Seus olhos voam ao redor como se
quisessem ter certeza de que ninguém os percebe interagindo.
É tão horrível ser visto comigo?
— Sim, — Sebastian diz. — Nós nos conhecemos há muito tempo, não é?
— Mmhm.
Sebastian se distrai com a forma como os raios de sol se espalham sobre Emir,
destacando a maciez de sua pele negra. Sua aparência madura é diferente no bom
sentido. Mas sua carranca soca Sebastian de volta à realidade.
— Seus pais – são de Yorkshire, certo? — Sebastian estremece. Manter uma
conversa inútil não é um bom quebra-gelo, mas ele só quer que Emir se anime.
— Sua família se mudou para cá quando você tinha quatro anos. Nossas mães
almoçavam juntas.
Emir concorda, mas não diz muito mais.
Sebastian tenta novamente. — Meu pai é de...
— Sheffield, — Emir interrompe.
A boca de Sebastian quase divide seu rosto – Emir se lembra – mas seu deleite
se dissolve com a expressão irritada de Emir.
— Então, você está aqui. No acampamento. E, hum, por quê?
Bom trabalho, babaca, Sebastian pensa.
— O que há com você, cara? — Emir sibila. Sua mandíbula aperta. — Eu não
deveria estar aqui? Você não quer que eu atrapalhe sua pequena equipe? Estou
estragando as coisas, certo?
Sebastian engasga, aumentando o constrangimento absoluto que ele acumula.
— Espera, o quê?
— Não se preocupe, — Emir diz enquanto balança a cabeça. — Não estarei
no caminho por muito tempo. Eu não sou nada bom. Os treinadores vão me
colocar no banco ou apenas me expulsar do time. Você não precisa fingir que
sou um dos rapazes. — Ele caminha em direção às cabanas, murmurando "eu
pensei que você fosse melhor do que isso," apenas alto o suficiente para Sebastian
ouvir.
Uma pequena supernova explode no cérebro de Sebastian, deixando-o tonto.
Isso acabou de acontecer?
Willie e Mason o flanqueiam com sorrisos simpáticos. Eles tinham uma visão
clara de Sebastian, o Idiota. Como todos os seus fracassos anteriores, ele nunca
esquecerá este.
— Aquele cara é tão idiota que deveria ser estudado pela Nasa, — resmunga
Mason. Ele passa o braço em volta dos ombros extremamente tensos de
Sebastian.
— Ele é novo, — diz Willie.
— Tanto faz.
— Dê uma chance a ele.
Mason geme. — Não, sério, Will. Todos nós sabemos que Shah é um solitário
que nunca quis sair com nenhum de nós. Este não é o seu grupo.
Quando ele era amigo de Emir, essa não era a turma de Sebastian também.
Naquela época, os caras da vizinhança zombavam dele por ser baixo, gordinho e
muito desajeitado para jogar bola na rua. "Bastian, o cesto de lixo" era o apelido
favorito deles para ele, em todos os lugares que ele ia. O apelido ficou por muito
tempo e o assombrou no espelho do quarto. Sua mãe o deixou ficar dentro de
casa para jogar FIFA no Xbox, em vez de ser provocado. Isso colocou um alvo
em suas costas na escola. Os valentões adoram aterrorizar crianças que se isolam;
Sebastian não foi exceção.
— Tenho certeza de que ele vai mudar de ideia, — diz Willie. Seu otimismo
lembra Sebastian como os esportes o tiraram de sua concha. Ele jogou basquete,
nadou e depois mergulhou de cabeça no futebol.
— Ou ele vai embora, o que for. — Mason muda de assunto. — Vou morar
com Charlie este ano.
— De novo, — Sebastian e Willie dizem, sincronizados, então riem de si
mesmos.
Mason diz, com um grunhido e zero de raiva: — Arrumem uma vida. — Ele
toma o caminho em direção às cabanas.
Willie, um favorito entre os treinadores, marcou sua cabana habitual para o
verão. Ele fica orgulhoso e envergonhado quando Sebastian diz: — Legal,
Willster.
— Vai ser um verão de matar, não é?
Sebastian cutuca Willie. — Nosso último verão aqui.
— Nosso melhor verão! — grita Mason, e Sebastian dá seu melhor sorriso
falso. Até agora, com certeza não parece o melhor verão deles.
3

— É BOM ESTAR DE VOLTA. — As memórias atingem Sebastian no segundo em


que ele entra na cabana.
A luz do sol entra pela janela próxima; pinheiros altos emolduram uma bela
vista de seu campo de prática. Ele caminha para uma cama de solteiro que está
estranhamente angulada em um canto. Um pôster esfarrapado de Keira Knightly
está pendurado sobre ela desde seu primeiro verão.
— Ainda fede, no entanto, — Sebastian zomba; o fedor de sujeira e suor
enruga seu nariz. Ele se joga na cama. A poeira brilha no ar como o resultado de
uma guerra de duendes. — Cheira como você, Willster.
— Tanto faz, — Willie diz do outro lado do quarto.
Sebastian passa os dedos pelas iniciais gravadas na parede acima da cabeceira
da cama. Ele pega sua camisa do primeiro ano da bolsa e a enfia embaixo do
travesseiro, como faz todo verão.
— É uma pena que eles não vão nos dar uma TV, — diz Willie. Apenas o
treinador Patrick e a sala de recreação, onde examinam as filmagens, têm
televisores. Sebastian não se importa. Ele e Willie podem assistir às maratonas de
The Walking Dead em seu laptop.
— Quanto tempo antes do primeiro treino?
— Meia hora? — Willie já está desempacotando. Ele sorri maliciosamente,
fazendo um movimento sugestivo com a mão. — Você precisa de um pouco de
tempo sozinho?
— Não! — Sebastian ri até seus olhos lacrimejarem. — E é melhor eu não te
pegar!
Willie está com as roupas de treino arrumadas. Ele mostra a Sebastian e diz:
— Você conhece as regras. — Seu jeans está puxado para baixo, proporcionando
a Sebastian um vislumbre de bunda pálida que ele realmente não precisava ver.
— Meia na porta.
Sebastian olha para o teto em vez da nudez desavergonhada de Willie.
— O que há com Mace e qual-é-o-nome-dela?
— Valerie, — Sebastian diz a ele.
— Sim. Val! — Willie sorri lascivamente. Para um cara gay, Willie mantém
uma paixão ridícula pela ex-namorada de Mason.
Espera – ela é uma ex? Sebastian não sabe. A vida amorosa de Mason é muito
confusa, o que Willie decidiu que precisa de atenção imediata.
— Eu não entendo eles, — diz ele, colocando um boné. Ele é um típico
garoto de fraternidade em treinamento, e Sebastian não consegue decidir se ele
gosta ou não. — Eles estão sempre terminando. Ele vai terminar com ela de
novo antes da faculdade?
— Você nunca sabe com Mace, — Sebastian responde, virando-se de lado.
Ele olha para as marcas de desgaste de suas travas no piso de madeira. — Nunca
é um término de verdade. Ponto.
Suas experiências com romance têm sido como lutar boxe com Floyd
Mayweather, Jr. – você nunca ganha.
— Ela é uma garota doce, — diz Willie.
— É por isso que Mason se apaixonou por ela.
Pode não ser o único motivo, já que Val também é linda. Ela entrou na vida de
Mason vestindo shorts jeans, cabelo castanho ondulado em um rabo de cavalo e
um pirulito de cereja entre os lábios rosados e carnudos. Ela deveria ser uma
paixão de verão, mas se transformou em quatro anos de confusão.
Por que ninguém supera uma paixão de verão?
Willie sonha acordado enquanto Sebastian tira uma muda de roupa. O
silêncio com Willie nunca é estranho. Mason fala muito, mas Willie observa
friamente o resto do mundo.
— Mal posso esperar pelos fins de semana por aqui, — diz Willie.
Sim, os fins de semana são ótimos. Quase quarenta e oito horas livres do
futebol, disciplina e todas as citações do filme do treinador Patrick sobre
trabalho em equipe. Existe uma regra universal de coaching que diz que todas as
lições de vida devem vir de Rudy ou Hoosiers ou Remember the Titans?
Sebastian ansia por nadar no lago e fazer fogueiras crepitantes, onde eles vão
falar sobre como o time vai finalmente obter uma vitória sobre todos os seus
oponentes nesta temporada. Bloomington High é uma escola intermediária
quando se trata de esportes: eles são péssimos em futebol. O basquete é mais ou
menos. A equipe de natação é boa quando estão animados. O futebol atrai a
maior torcida, sendo o único esporte que chega perto de colocar um troféu na
caixa estéril do saguão de entrada da escola. — E você? — Sebastian volta o
assunto para Willie. — Vai finalmente conseguir um namorado?
Dos três, Willie é o que mais evita relacionamentos. Ele não deu uma razão
real. Bloomington não é o lugar mais fácil para ser um adolescente fora do
armário.
— Você quer dizer além da minha mão? — Willie diz, seus lábios provocados
por um sorriso.
Sebastian revira os olhos. — É, cara. Embora tenha sido uma relação bastante
sólida, certo?
Willie balança as sobrancelhas. — Não sei. Com você e Mace por perto, estou
bem. Certo?
— Sim, você tem a gente, cara. Quem precisa de mais alguma coisa?
— Exatamente! — Willie caminha em direção à porta. — Agora levante sua
bunda preguiçosa antes que nos atrasemos, — ele diz enquanto caminha.
Ele tem razão; eles não podem se atrasar para o treino. Sebastian sai da cama e
estica os braços sobre a cabeça até ouvir algo estalar de forma satisfatória. Ele
troca de roupa, sentindo falta da maciez de seu velho uniforme que ficou
guardado em seu armário em casa por muito tempo.
Quando eles saem, o sol cobre todo o acampamento, tornando-o um sonho
dourado. Willie resmunga: — É hora de morrer, — e isso significa uma coisa: o
treinamento vai ser uma merda.

***

DEPOIS DE TRINTA MINUTOS DE TREINAMENTO, os músculos de Sebastian latejam e


sua pele escorre camadas de suor. Ele não tinha sofrido tanto com a vida de
jogador desde o treinamento de primavera. O sol vertiginoso bate nele enquanto
a equipe dá voltas. Seus pés se arrastaram durante os exercícios básicos. Este é o
seu castigo.
— Como o time dos lions pode ser tão fodido? — O treinador Patrick
vocifera. Ele tem um amor perpétuo por bonés. Eles escondem um pouco de seu
rosto, mas Sebastian pode imaginar aqueles olhos castanhos profundos
pensativos olhando para baixo. O sol de verão deixou-o ligeiramente bronzeado,
mas suas bochechas estão vermelhas de frustração. Ele é ameaçador o suficiente,
com quase um metro e oitenta e cinco de altura, com uma construção
musculosa, mas a rigidez de sua mandíbula redonda contribui para o efeito. —
O que vocês fizeram durante o período de baixa temporada?
— Bom, eu não fodi ninguém. — Mason está respirando com dificuldade
desde a metade do treinamento.
— Cara, que desnecessário. — Sebastian usa o colarinho para esconder o
sorriso dos treinadores.
— Outro abatido! — Zach anuncia, cacarejando quando um calouro de rosto
verde passa correndo por ele para se curvar sobre uma lata de lixo. A maioria dos
jogadores novatos mal sobreviveu à primeira hora, ou está desabando nas laterais
ou vomitando Gatorade atrás das arquibancadas. Os veteranos os separam como
necrófagos e ganham voltas extras por sua falta de simpatia.
— Patético, — diz Gio. Ele desenvolveu o hábito de alternar entre os idiomas,
já que seus pais, originalmente de Puebla, falam exclusivamente espanhol em
casa. Seu insulto atraiu a atenção do treinador Patrick. Gio luta para alcançar o
resto do bando.
— Não pense que não sei o que isso significa, Sanchez! — O treinador grita.
Sebastian estudou cada jogador; ele pode prever os sobreviventes. Gio vai
conseguir. Hunter, um defensor cujo tom de pele é pardo, como uma bolota,
também conseguirá. Ele não tem certeza sobre Charlie, que está mais fora de
forma do que qualquer pessoa, ou Smith, cujo cabelo suado e tingido está colado
em sua testa.
— Kyle, — Sebastian diz, bufando. — Tente com mais afinco.
O cabelo loiro de Kyle cai em olhos azuis oceânicos. Sua fadiga diminui sua
constituição totalmente americana; sua pele cremosa foi substituída por uma
queimadura de sol escaldante. Ainda assim, ele se esforça um pouco mais.
Todos eles são pedaços de argila dura, esperando para serem amolecidos e
então moldados.
— Você vai sofrer mais tarde, Hughes! — Mason chora quando Sebastian
passa por ele pela segunda vez hoje. Ele está equilibrando uma bola entre os pés,
nunca perdendo o ritmo, mesmo quando Mason o empurra.
— Vai se ferrar!
— Você é um idiota.
Sebastian dá de ombros. Ele diz: — Você me ensinou, — antes de dar outra
volta.
Durante o tempo de espera, Willie rouba uma bola de Zach. Ele desfila pelo
campo como um atacante. — Mano, você torna isso muito fácil! — Willie
gargalha. Os exercícios são uma piada para Willie; ele afirma que é a metade
irlandesa de sua linhagem. Por três temporadas, ele jogou como libero, a última
linha de defesa entre um atacante e o goleiro.
— Ótimos movimentos, Willster! — Sebastian grita.
— Não encoraje o idiota. — Mason está dobrado, as mãos nos joelhos.
Quando ele consegue inspirar, ele diz: — Eu sou o único que pode ter um ego
por aqui.
— Claro, — responde Sebastian, quicando uma bola da ponta do sapato até o
joelho, depois o peito. Repetindo e repetindo. — Ninguém pode superar você.
— Ele ignora a resposta sarcástica de Mason. Como Mason, ele quer ser o
melhor. O futebol é sua vida; é onde ele pertence.
Zach acena para ele, gritando: — Atenção! — enquanto espera que Sebastian
lhe passe a bola.
Sebastian diz: — Acompanhe dessa vez, ok? — antes de jogar a bola com a
cabeça em Zach.
— Cuidado! — Zach grita. Ele se esquiva dos treinadores que carregam Tom
para fora do campo.
— Outro abatido. — Mason suspira. — Amadores.
— Apenas dê uma chance a eles, Mace, — Willie lamenta.
— Para quê?
— Porque nós precisamos deles. Eles estão tentando.
— Sério, você está usando seu cérebro agora? — Mason pergunta.
Willie resmunga algo de volta.
Eventualmente, Sebastian vai intervir antes que saia do controle. Ele não é o
capitão deles, mas Sebastian passou a maior parte de sua vida sendo chamado de
"Super Pai" e "O Responsável". Este traço particular foi herdado de seu pai, o
filho do meio de seis anos, que cuidava de seus irmãos mais novos enquanto
também protegia suas irmãs mais velhas quando elas escapavam para festas com
seus namorados. Apesar de ser o filho mais novo, Sebastian tem necessidade de
proteger seus amigos e companheiros de time.
— Um bom coração não precisa de um motivo; trate as pessoas como você
gostaria de ser tratado — sua mãe sempre diz.
Sim, ele é duplamente responsável, e este é Sebastian Hughes: o primeiro cara
a cuidar de um colega de equipe doente, garantir que todos façam suas tarefas e
evitar que os mais selvagens, principalmente Zach e Mason, sejam presos. Ele é o
pacificador. Este bando de desajustados são os desajustados dele.
— Está tudo bem se eles forem ruins agora. Você também era, — Willie diz a
Mason.
Mason foi um desastre em seus primeiros jogos. Ele errou mais passes do que
chegou perto de acertar, e um forte ataque de nervosismo o deixou no banco
durante o segundo tempo de um grande jogo. Agora, Mason é seu melhor
atacante, o que justifica o ego incluído dele.
Enxugando o suor, Sebastian passa o pulso pela testa. — Vamos ser campeões
este ano, lembra?
— Você vai ser um grande capitão.
Sebastian estremece e gagueja quando diz: — Eu sou apenas um goleiro
decente, cara.
— Vai arranjar uma vida, perdedor.
— Você primeiro.
Rindo, eles fingem que vão dar um soco no outro.
— Por que sou amigo de vocês dois? — Willie pergunta, mancando.
Uma lesão de skate machucou o joelho de Willie alguns anos atrás. Fica pior a
cada temporada, mas Willie se recusa a ficar de fora, não importa o quanto o
treinador Patrick implore. Willie acredita que o futebol é sua grande
contribuição na vida, um pensamento que todos os jogadores compartilham.
Nenhum deles é super inteligente, descartando o pessoal de direito ou medicina.
Isso é o que eles podem oferecer a este mundo: arrebentar no futebol. Ninguém
quer perder essa oportunidade.
— É isso? Isso é tudo que você tem? — Jack provoca alguém na grande área.
É o Emir.
Jack é o segundo goleiro. Ele é adequado na melhor das hipóteses. A falta de
habilidade de Emir fica clara quando ele luta para contornar a defesa mediana de
Jack.
Com o gorro puxado para trás e a franja escura presa nos cílios, Emir diz: —
Cale a boca. — Seu chute informe envia a bola para longe.
Jack grasna.
As sobrancelhas de Emir se franzem. Exausto, ele franze o rosto. A tensão
mantém seus ombros tensos como um cabide de arame. Ele prepara a próxima
bola. Ele franze a testa, respirando com dificuldade. Ele tenta novamente. E erra.
Jack não se esforça muito para bloquear porque a bola nunca chega perto. —
Devo tirar uma soneca? — ele pergunta.
Sebastian cruza os braços sobre o peito e inclina a cabeça. Emir tem muita
força em seus chutes. Ele está muito focado; seus movimentos não são naturais e
erráticos.
Ele tem potencial, Sebastian diz para si mesmo, enquanto Emir resmunga para
a próxima bola. — Vamos lá! Entra desta vez.
— Esse garoto está brincando? — Smith pergunta.
— Ele vai precisar de muita ajuda, — Hunter murmura depois de um gole de
água. — Algum voluntário?
— Não conte comigo, — Zach diz, o cabelo comprido e suado caindo como
uma cortina sobre seus olhos. — Ele age como um idiota na escola. Nunca nos
demos bem.
— Você já tentou falar com ele? — Hunter pergunta. — Ou isso é algo do
qual você apenas lamenta, como pegar mulheres?
Zach arrasta Hunter para um mata-leão. Zach não é um idiota nato. Sua mãe
abandonou ele e seu pai anos atrás. Desde então, ele não joga bem com ninguém
que ele não pode garantir que ficará por perto.
Jogar bem não é coisa de Emir. Ele xinga enquanto se afasta.
— Ei! Shah! Não terminamos. — A voz do treinador O'Brien estrondeia
como um megafone. Ele é o técnico defensivo e um homem forte e atarracado.
Ele passou três anos em uma liga profissional antes que muitas lesões o
colocassem no banco para sempre.
— Eu terminei.
— Shah!
Emir se afasta como um homem em uma missão.
Sebastian ignora o sussurro de Mason, — Ele meio que parece que não quer
estar aqui, Bastian, — se vira e dá outra volta. Ele diz a si mesmo que é para
soltar os músculos, mas a verdade é que quer uma visão melhor de Emir antes de
marchar para sua cabana.
A atitude de "foda-se" de Emir fervilha em derrota.
Sebastian desiste no meio do caminho. É apenas o cansaço do primeiro dia, só
isso. Não tem nada a ver com o Emir.
4

— TROCO SUAS ERVILHAS POR PÃO de alho, — oferece Willie.


— Claro, — diz Sebastian, passando o pão enquanto Willie coloca suas
ervilhas no prato de Sebastian. As ervilhas estão moles, mas o pão de alho está
cozido demais e gorduroso, então é uma troca justa. A comida no refeitório são
pedaços secos de frango grelhado ou massa encharcada no discutível "molho de
tomate", mas é melhor do que comida de lanchonete escolar.
Todo mundo segue com as mesmas pessoas com quem conversam no colégio.
Sebastian divide a mesa com Willie e Mason; geralmente Zach ou Hunter ou
Charlie se juntam a eles. Espalhados como faróis pela costa está o resto da
equipe. A comissão técnica se acomoda em uma mesa no canto, onde conversam
entre bocados de comida sobre estratégia, seus adversários e as ligas profissionais.
— E quanto a Montreal este ano? Eles serão bons?
— Provavelmente, — Kyle diz a Charlie depois de engolir um bocado de
frango.
Os caras sempre brincam sobre as mesmas coisas: seus times favoritos, piadas
inadequadas e garotas. Normalmente, os dois últimos andam de mãos dadas. Às
vezes, as discussões se voltam para o primeiro jogo de cada temporada – uma
partida contra seus rivais, St. Catherine.
— Espartanos idiotas, — alguém dirá, e todo o time grunhirá.
Esta noite, o time está bastante quieto; eles foram bem ferrados durante o
treino. Com as cabeças baixas, eles murmuram durante a refeição.
Charlie joga um pãozinho para Smith. Ele pergunta: — Quem vai ganhar a
Conferência Oeste? — e grita quando Smith pega o pãozinho com uma mão.
— Eu aposto em Seattle.
— Isso é porque você é um idiota. — Zach sorri presunçosamente para Jack.
Eles batem com os punhos na mesa.
Gio os evita. — Vete al infierno. — Ele adora mandar os outros para o
inferno durante os torneios da liga fantasia. Este ano, ele está preso com um
grupo de jogadores atormentados por lesões em Seattle.
Sebastian olha pela janela. O sol é um forte clarão caindo atrás das árvores.
Zach fala sobre uma garota bonita que ele está namorando. Parece promissor,
de acordo com os padrões de Zach. Ele acerta Sebastian com o cotovelo e diz: —
Ela tem uma amiga para você, mano. Lembra da Amelia?
Sebastian dá de ombros. Ele se lembra vagamente de ter compartilhado uma
aula com ela, não que eles conversassem. Ele coloca ervilhas na boca para evitar
responder.
— Ela é bonita, — Willie menciona.
Sim, obrigado, Will!
— Veja, — Zach diz, apontando o garfo para Sebastian, — os gays aprovam.
— Sua voz não está zombando, e Willie se senta ereto como se tivesse
conquistado algo. Ele é um traidor, e Sebastian pensa em roubar de volta seu pão
de alho.
— Quem tem tempo para romances dramáticos? — Mason tamborila com as
mãos na mesa. — Definitivamente, não eu.
Sebastian está grato que a atenção está longe dele e de sua vida romântica
inexistente.
Desta vez, Zach zomba de Mason, perguntando: — Então você e Val não
estão namorando este ano? — Quando Mason hesita, Zach levanta as
sobrancelhas. Ele bebe seu Red Bull.
Mason argumenta: — Eu não disse isso...
— Calma, Zach, — Carl, outro homem da defesa com olhos de chacal e
cabelo louro, zomba. — Ele está se guardando para a filha do treinador, lembra?
Zach e metade da equipe riem. Ele estala os dedos; seus olhos estão
iluminados. — Isso mesmo! Você e Grey?
Mason faz uma careta, coçando o nariz. — Pare com isso, cara. Eu não tenho
interesse em...
— Onde está a pirralha, afinal? — Smith pergunta a Mason.
— Como eu vou saber? — Mason quase grita, mas sua garganta aperta com a
última palavra. Ele encara Willie, que engasga e ri ao mesmo tempo. Mason
provavelmente não é contra enterrar o corpo de Willie em algum lugar na
floresta neste momento.
Sebastian está prestes a interferir, mas...
— Estou aqui! Estou aqui! Desculpe, estou atrasada!
Bem, lá se vai a ideia de salvar a bunda de Mason.
Uma menina com cachos bronzeados, bochechas rosadas e olhos esmeralda
brilhantes corre sem fôlego para a mesa dos treinadores. Ela está vestindo uma
camiseta do BHS Lions amassada, shorts jeans e um Chuck Taylor All Stars
sujo.
O treinador Patrick olha para ela com um sorriso. — Está tudo bem, — diz
ele rispidamente.
— Oi, treinador, — ela diz com uma piscadela. Ela dá um beijo na bochecha
dele. Ele dá a ela um daqueles meio abraços com um braço só. Quando ela se
afasta, Sebastian pode ver que todo o time está assistindo.
Sebastian não consegue controlar seu próprio sorriso quando ele a avalia. A
maldita Grace Patrick, a enteada do treinador, não parece muito diferente da
torcedora de futebol de doze anos que costumava acompanhar o time de partida
a partida. Naquela época, ela carregava uma mini-prancheta em seus braços
magros, tentando jogar como general de campo como seu padrasto.
— Você tem um público, Grace, — o treinador Patrick diz com uma risada.
Ela torce o nariz. Ninguém a chama de Grace, exceto o Treinador. O último
cara que o fez levou uma joelhada nas bolas. Ela atende por Grey. — Grace é
para princesas, — disse ela a Sebastian uma vez, — e eu sou uma amante do
futebol, por completo. Nada de vestidos rosa e tiaras para mim.
Sebastian respeitou seus desejos porque, além de ser uma aspirante a
treinadora, Grey é uma jogadora de futebol fenomenal. Mas ela não está
interessada em jogar. Grey prefere observar do lado de fora, e ter uma queda por
Mason.
— Grey, — ela murmura baixinho.
O treinador dá a ela um olhar significativo e dá um tapinha em seu quadril.
Quando ela vê Sebastian, suas covinhas aparecem. Ela está mais alta, mais
escultural do que quando tinha doze anos. Então ela encontra Mason, que está
visivelmente tenso.
— Love is in the air, — Zach canta suavemente.
— Vá se ferrar, — sussurra Mason.
— Ok, rapazes, vamos dar as boas-vindas à Grace… — o treinador bufa
quando Grey bate em seu ombro. — Quero dizer, Grey, para o acampamento.
— Está mais para como bem-vindo ao meu inferno, — Mason diz a
Sebastian.
— Vocês conhecem as regras, — diz o treinador.
Todos eles conhecem. É suicídio no futebol fazer algo ruim para a Grey, o que
alguns de seus melhores jogadores aprenderam da maneira mais difícil. Mas Grey
é uma garota legal, então não há razão real para mexer com ela.
Grey, ainda rosada e tímida, respira fundo antes de gritar: — Vamos arrasar
este ano, Lions!
O time ecoa sua aprovação, mas algo mais se segue. Alguns jogadores
cantarolam baixinho. O som aumenta e aumenta como uma abelha no ouvido
de Sebastian, até que todos estejam olhando diretamente para Mason.
Em seu primeiro ano no acampamento, quando Grey deixou sua paixão muito
aparente ao usar o número da camisa de Mason em todos os jogos, os veteranos
zombaram de Mason. Nos chuveiros, um coro de "Build Me Up, Buttercup" e
imitações de beijo apareciam diariamente. É uma tradição histórica agora.
— Parem com isso, — resmunga Mason, incapaz de encontrar os olhos de
ninguém.
— Mano, ela está apaixonada por você desde os doze anos, — Zach diz,
gargalhando enquanto empurra o ombro de Mason.
Mason mostra para ele o dedo médio e empurra o prato de comida para longe.
Ele relaxa em sua cadeira. — Ela é um saco.
Sebastian permite que Zach e Charlie perturbem Mason, em parte porque
Mason vai fazer uma pegadinha com eles antes do verão acabar. Sebastian se
distrai observando seus arredores. Ele não está procurando ativamente por
ninguém...
O que é uma mentira totalmente idiota, então ele não pode culpar seus olhos
quando eles se fixam em uma mesa no canto.
Com a cabeça baixa, Emir está sentado sozinho, remexendo a comida no
prato. Ele está sem seu gorro; seu cabelo escuro despenteado combina com a cor
de seus cílios grossos. Sua mandíbula se projeta enquanto ele range os dentes.
Uma de suas pernas treme embaixo da mesa. Rapidamente, ele examina a sala.
Ele parece dolorosamente desconfortável, uma peça quadrada para um buraco
redondo. Todos os outros têm um lugar, incluindo os calouros amontoados em
uma mesa.
— Alguém vai ter que ajudar aquele cara a se encaixar, — Charlie diz, tirando
Sebastian de seu olhar culpado. Ele perdeu a noção de quanto tempo o estava
observando, mas a maioria dos caras terminou a comida e saiu do refeitório.
— Não vai ser eu, — diz Mason, erguendo as duas mãos como se estivesse se
rendendo. — Nós não somos amigos.
Willie revira os olhos. — Ele não é amigo de ninguém, Mace. Essa não é a
questão.
— Não é minha culpa.
— Talvez ele não esteja interessado em amigos? — Zach sugere, coçando a
sombra de sua barba por fazer. Zach foi construído mais como um calouro da
faculdade do que um veterano do ensino médio. Ele sempre foi maduro
fisicamente.
— Ou ele não gosta de nenhum de nós, — diz Charlie.
— Eu duvido disso, — Hunter diz com um tom calmo. — Quer ele goste de
nós ou não, alguém tem que ajudá-lo a melhorar em campo, ou estaremos todos
ferrados se precisarmos que ele jogue.
Sebastian, em uma vã tentativa de se tornar invisível, se inclina sobre a mesa e
cobre o rosto com as mãos. Isso vai apenas para um lado. Alguém – Willie – vai
sugerir que Sebastian convença Emir a deixá-los ajudar, e então Sebastian – o
cara eternamente submisso que é – será o herói ao reunir o time para Emir.
Já não existem filmes adolescentes da Disney suficientes como esse?
Mas enquanto Sebastian espera o inevitável, Mason diz: — Vamos deixá-lo
sozinho. Sua má atitude não nos fará nenhum bem.
Ninguém discute com ele. É como se todos eles já tivessem desistido do Emir.
Sebastian quer dizer a eles como isso é errado. É um time, não uma panelinha.
Eles não deixam ninguém descobrir por conta própria.
No momento em que ele tem coragem de enfrentar qualquer um, os caras já se
foram, incluindo Emir. É apenas Sebastian, macarrão comido pela metade
esfriando em seu prato, pensamentos fervilhando em sua cabeça. Ele empurra o
prato e bate com a cabeça na mesa.
Sim, ele vai ser um capitão horrível.

***

QUANDO SEBASTIAN FINALMENTE SAI, o céu está manchado com as cores de uma
tenda de circo: vermelho, amarelo canário e redemoinhos de azul. Atrás das
árvores, o sol está se pondo. O ar do verão está calmo, não muito longe de
abafado.
O suor brilha na pele de Sebastian enquanto ele arrasta o equipamento pelo
gramado em direção ao galpão. Tradicionalmente, é função da equipe preservar
o campo. Sebastian não se importa, porque ele tem uma bela vista das estrelas
espelhadas no lago.
— Cristo, — ele sibila, enxugando o suor na testa com a camiseta. Ele enfia a
camiseta no bolso de trás da calça jeans. Ele andaria por aí apenas com sua
maldita cueca boxer se tivesse coragem, mas ele está constrangido apenas por
estar sem camisa. Ultimamente, palavras familiares continuam girando em sua
cabeça: Bastian, o cesto de lixo. Depois de meses evitando sua rotina de exercícios,
ele não está ostentando o corpo de um modelo da Hollister. Sua confiança está
acabada. Os pacotes de salgadinho enquanto assistia Netflix também não
ajudaram.
Ele encara o bucho pós-jantar de seu estômago. — Você vai voltar,
eventualmente, — diz ele com um suspiro. Com os músculos lutando contra a
carga de uma bolsa pesada como se tivesse tijolos, ele começa a caminhar
novamente.
— Quer ajuda com isso? — Grey pergunta. O carro esporte preto no qual ela
se inclina é elegante. Sebastian não consegue identificar a marca e o modelo, mas
a tinta é brilhante, então deve ser novo.
— Parece que você tem o suficiente para carregar. — Sebastian sorri,
acenando com a cabeça em direção às sacolas aos pés de Grey.
— Possivelmente, — ela diz, sorrindo. — Talvez você possa me ajudar?
Sebastian estica os lábios. — Agora, Grey, você não se transformou em uma
garota rica e mimada que espera que caras grandes e fortes como eu resgatem
você, não é?
Grey revira os olhos. Além do time, Grey é tudo o que o treinador tem, então
talvez ela seja um pouco mimada. Mas Grey é muito legal e pateta para adotar
uma atitude de diva.
Ela aponta para o carro e diz: — Foi um presente de dezesseis anos do
treinador. — Ela nunca o chama de pai. Sebastian não tem certeza se é porque o
treinador se casou com a mãe dela quando Grey tinha idade suficiente para saber
a verdade ou porque ela está presa em um esporte o tempo todo. — Eu disse a
ele para não fazer isso.
Sebastian assobia, impressionado. — Muito chamativo?
— Muito feminino. — Ela mostra a língua. — Eu queria um com um motor
mais potente.
Sebastian bufa. Bem-vinda de volta, Grey de doze anos!
— O treinador está tentando me subornar para entrar no time de futebol
feminino, — diz ela secamente, soprando para cima para tirar os cachos do
rosto. Eles caem de volta. — Eu não estou interessada, no entanto.
— Por que não?
— Porque não, — ela lamenta, fazendo beicinho. Pelo menos isso também
não mudou. Ela cava as pontas de seu Chuck Taylors na terra. Ela pergunta,
com as bochechas vermelhas, — Então, hum, como está Mace? — Os cachos
cobrem seu rosto enquanto ela olha para seus sapatos.
— Ainda gosta dele?
— Não.
Sebastian não acredita nela, mas tanto faz. Ele entendeu. Ele não se apaixonou
por ninguém desde os onze anos talvez? Ele conheceu Sam em uma festa, eles
trocaram números e ficaram no cinema, e foi isso. A fase de paixão não
correspondida nunca aconteceu.
— Olhe para você! — Ele ajusta o equilíbrio do equipamento em seus
ombros. — Ele fez você ficar doente de amor agora, não é?
— Cale a boca, eu não gosto… — Ela faz uma pausa, mais envergonhada do
que com raiva. Seus olhos encontram os de Sebastian, e ele a encara com seu
melhor olhar incrédulo. — Mace é apenas um cara legal, ok? — ela diz. — Um
jogador incrível. Isso é tudo.
— Isso é tudo?
— Exato.
Sebastian espera que ela bata o pé. Quando ela não o faz, ele a considera com
um pouco mais de cuidado. — Ele trata você como lixo, pelo amor de Deus.
Seus ombros caem. — Nem sempre.
É um esforço fraco, mas Sebastian empatiza. Sam não era a melhor em
alimentar a confiança dele.
— Ok, — ele finalmente diz. — Então convide-o para sair.
Grey congela, a tensão apertando sua boca. Em voz baixa, ela implora: — Eu
não posso. Você sabe como o Treinador é sobre qualquer pessoa tentando
namorar comigo. Ele expulsaria Mace do time.
Sim, isso seria uma merda. Estar apaixonado é uma merda, na verdade! Como
é que alguém faz isso?
— Além disso, — Grey suspira, colocando os cachos atrás da orelha, — Mace
não estaria interessado, de qualquer maneira. — Ela está tentando sorrir com as
palavras, mas todas as rachaduras em sua armadura geralmente pesada são
visíveis.
Sebastian diz: — Você é a maldita Grace Patrick, cara. Eu nunca vi você
desistir de uma luta. — Certa vez, ele testemunhou Grey enfrentar um homem
da defesa com o dobro do seu tamanho por um ataque ilegal contra Mason. Ela
não piscou quando ele rosnou para ela. — Pense nisso, ok?
Grey sorri como se Sebastian fosse um gladiador vitorioso. Sempre que ela
sorri, ele fica tão emocionado como se acabasse de matar Godzilla.
— Amo você, Bastian.
— Também te amo, princesa mimada. — O canto de sua boca levanta
quando ela torce o nariz. Ele reajusta o equipamento. — Agora carregue suas
próprias malas. Eu tenho que terminar isso e ir para a cama porque seu pai...
— Padrasto, — ela corrige.
— ...vai virar o General Zod pra cima da gente amanhã, se não resolvermos
isso.
— General quem?
— Oh meu Deus. — Sebastian geme para o céu. — Nunca fale comigo
novamente. Nunca.
A gargalhada de Grey desaparece conforme ele se afasta. Deixe para ela tirar a
mente dele de tudo. No que diz respeito aos amigos, na maioria dos dias Grey é
classificada ao lado de Willie. Ele esquece o peso do equipamento e o suor
escorrendo de seu nariz enquanto caminha em direção à Caixa Quente.

AS POUCAS ÁRVORES QUE CIRCUNDAM o campo de prática permitem uma excelente


visão das estrelas florescendo. Sebastian encontrou um local próximo à borda do
campo. A poluição e as luzes da cidade escondem as estrelas em Bloomington.
Mas aqui fora? As estrelas são faróis de marfim gigantes, lançando seu brilho em
uma mancha de índigo.
Sentado com os joelhos puxados para o peito, Sebastian engole uma
quantidade saudável de Gatorade emprestado. Ok, ele roubou, mas ele mereceu.
Além disso, ninguém vai sentir falta. Depois de mover o equipamento, os
músculos de Sebastian ficaram dormentes. Ele tem que mexer os dedos das mãos
e dos pés apenas para garantir que funcionem. Mas principalmente, sua mente o
esgota.
Quando Sebastian começou a jogar, ele se esforçou para sobreviver. Horas
extras em campo antes e depois do treino eram uma necessidade. Ele fez mais
repetições na sala de musculação do que qualquer outra pessoa. Exercícios
aeróbicos se tornaram seu inimigo e amigo. O que quer que fosse necessário para
se manter capaz de jogar, Sebastian o fez.
Sebastian está determinado a tornar este ano memorável. É um desejo, um
vício. Ele carrega o peso de ser uma âncora da equipe, dentro e fora do campo.
Quem quer ter essa responsabilidade aos dezessete anos? É confuso, mas a
verdade nem sempre é uma montagem bonita e sonhadora. Às vezes, Sebastian
preferia que a vida lhe vendesse uma mentira sobre seu propósito.
Rastejando para fora de seus pensamentos, ele engole mais Gatorade. Seus
olhos se concentram diretamente no campo. A esta hora, deveria estar vazio, mas
não está. Sebastian tem uma visão clara dos ombros caídos, um gorro de malha e
uma carranca perpétua.
É ele.
Emir se alinha antes de correr em direção a uma bola de futebol em uma
fileira. Seu pé acerta uma bola em um dos postes. Ele erra, e Emir grita: — Está
de brincadeira? — enquanto marcha para sua próxima bola. Emir chuta um
monte de grama e perde a bola. Sua cabeça inclina-se quando ele diz: — Pedaço
estúpido de...
Sebastian estremece.
Emir percorre sozinho todos os passos, recitando dicas que os treinadores dão
aos jogadores amadores: — Um pé na frente do outro... Veja seu alvo… — Mas
não funciona. Emir espreita as bolas como se estivesse estrelando um especial da
National Geographic sobre bestas enjauladas deixadas na selva.
Sebastian diz: — Acalme-se, — tão baixinho que mal consegue se ouvir.
Emir entoa: — Controle-se, Shah, — mas todos os seus movimentos são
rígidos.
— Você consegue, — disse Sebastian. Espere, esta é uma experiência
totalmente fora de seu corpo. Ele está realmente torcendo pelo Emir?
Os dedos de Emir se fecham em punhos ao lado do corpo enquanto ele olha
para outra bola. Seu gorro é empurrado para trás, expondo o cabelo suado
grudado na testa. — Entre ou morra, — ele rosna para seu inimigo mortal: a
bola. Ele corre para a frente, pegando a bola com o lado avesso do pé. Ele navega
pelos postes. — Que idiota! — ele uiva para o céu.
Este é um massacre, e não de uma forma hilária como os vídeos Funny or Die
no YouTube. Mas Sebastian não consegue desviar os olhos. Talvez seja empatia?
Ele não tem certeza.
Emir esfrega os punhos nos olhos. Ele gagueja: — Você não consegue fazer
melhor? — Lágrimas brilham em suas bochechas. Ele as enxuga. — Abbu seria
tão… — Suas palavras morrem na garganta.
— Merda. — A culpa pesa sobre o peito de Sebastian. O herói de todos,
certo?
Emir desaba em uma pilha de exaustão irregular no meio do campo perto de
seu moletom descartado. Ele está aqui desde depois do jantar? Ele está estendido
como uma estrela do mar morta, recitando: — Desista, cara, isso foi um erro, —
para as estrelas.
Sebastian já viu o suficiente. Ele se levanta e tira o pó da grama espinhosa de
suas roupas. Seu estômago embrulha quando Emir cruza sua visão novamente;
aquela voz na parte de trás de sua cabeça precisa se calar. O que ele está tentando
mostrar é simples. Eles não desistem nesse time. Sebastian não desiste de nada.
— Eu gostaria de ter uma capa legal para isso, — ele resmunga, se virando. Ele
caminha em direção a sua cabana. Resumidamente, ele gostaria de ter a
capacidade de Mason de se afastar das pessoas sem culpa.

A ÚLTIMA COISA QUE SEBASTIAN PRECISA É DE INSÔNIA. ÓTIMO, AGORA MEU LUGAR
SEGURO ESTÁ ARRUINADO!
O ronco de Willie ruge como um cortador de grama levantado, mas não é isso
que mantém Sebastian acordado. O suor gruda em sua testa, mas não é o calor
também. Não, são seus pensamentos – e a voz derrotada de Emir em sua cabeça,
para ser mais exato.
— Você não consegue fazer melhor?
Sebastian é bastante íntimo daquela voz e essas palavras. São as mesmas
palavras que Sebastian ouviu quando era mais jovem e o mundo desistiu dele,
quando ele não era bom em nada, até que o futebol apareceu.
Talvez ele possa fazer por Emir o que o futebol fez por ele?
Sebastian se vira de lado. Os malditos números vermelhos do despertador
atacam sua visão. 03:36 A.M. Merda. Ele precisa dormir e parar de pensamentos
tolos de salvar a bunda de outra pessoa quando ele ainda não tem certeza de
como se salvar.
5

— ESTÁ FELIZ? — SEBASTIAN PERGUNTA ao celular quando o despertador grita com


ele. Seu corpo dói como se ele tivesse sido atropelado duas vezes, mas tudo bem.
O céu se abriu para um nascer do sol épico e isso significa uma coisa gloriosa:
hora para uma corrida matinal.
— Você é irritante, — Sebastian diz ao celular. Ele geme quando seu celular
responde voltando ao modo de repouso. Depois de bocejar e se espreguiçar,
Sebastian puxa rapidamente um moletom confortável e um short largo. Ele
rouba o iPod de Willie da mesa entre suas camas.
Willie está roncando, morto para o mundo.
— Sorte sua, — Sebastian resmunga, e Willie responde fungando em seu
travesseiro.
Sebastian pega seus tênis. Ele corre para a despensa para pegar uma garrafa
d'água antes de pegar a trilha de caminhada.
Bloomington é muito legal, mas Oakville é uma versão diferente de incrível. É
a vibração da natureza que ele gosta: orvalho cintilante nas folhas verdes, ar
inebriante e limpo, tudo dourado e heras em vez de cinza e opaco.
Ele corre ao redor da borda do acampamento, perto do lago, seguindo um
caminho sinuoso de terra que leva à cidade. Nenhum dos outros caras quer
qualquer parte de acordar antes do raiar do dia para se juntar a ele. As manhãs
são seu santuário particular.
— Olá, Sr. Walsh! — Sebastian grita quando está passando por uma loja de
automóveis na cidade. O proprietário, um homem corpulento, está parado no
estacionamento examinando seus carros com motores mais potentes e pneus
usados.
O Sr. Walsh acena de volta, sorrindo com seu jeito rude e gentil. — De volta
para outro verão, Bastian?
— Sempre!
Sebastian gosta de conferir as pequenas lojas. Suas placas de "VENDA" estão
penduradas nas janelas e os proprietários varrem as calçadas em frente de suas
portas, se preparando para mais um dia de vida entediante de cidade pequena.
Nunca diminuindo a velocidade, ele acena com a cabeça para todos eles. Ele
gosta de correr alguns quilômetros em menos de uma hora, acompanhando as
playlists realmente ruins de Willie. Quantos covers acústicos uma pessoa pode
baixar?
Daft Punk vem e Sebastian diz: — Finalmente, — antes de correr de volta
para o acampamento para o café da manhã.

MASON GRUNHE E DEPOIS DIZ: — VOCÊ fede, — quando Sebastian se joga em


uma cadeira da mesa. Mason é inútil sem cafeína pela manhã. Ele já está
tomando café em um copo descartável.
— Bom dia, Mace, — Sebastian diz em uma voz cantada ao invés de ignorá-
lo.
Uma bandeja de comida é empurrada para ele. — O de sempre? — Willie
oferece. Sua calma pela manhã lembra Sebastian que a vida é boa.
Na bandeja está tudo o que Sebastian adora: torrada de trigo coberta com
Nutella, frutas frescas, bananas picadas em iogurte grego. Essas são as três razões
pelas quais Willie está anos-luz à frente de Mason no departamento de amizade.
— Que cruel. Obrigado, Willster.
Acenando como se não fosse nada, Willie fica rosa e abaixa a cabeça. Mas
Sebastian fica curioso. Quando Willie ficou tímido?
— Ô oferecido. — Mason cutuca Willie com uma colher de plástico. — Você
nunca me traz café da manhã.
Willie responde, indignado: — Porque você não toma café da manhã.
— Café...
— Não é café da manhã, — Willie diz a ele.
Mason bebe alto seu café em resposta. Willie revira os olhos e come sua tigela
de Cheerios.
Um dia, Sebastian vai deixá-los atacar um ao outro e parabenizar o vencedor.
Claro, ele vai ficar sem um melhor amigo, mas isso está fadado a acontecer
eventualmente.
— Eu odeio vocês dois, — Mason resmunga na boca de sua xícara. — Vocês
são como um bromance horrível.
— Ei! — Willie protesta. — Você queria se casar comigo ontem.
— Eu estava errado.
— Tanto faz.
Inclinando-se para trás, Sebastian morde o lábio. Mason é territorial quando
se trata de amizades, mas ele vai superar isso. O que acontece com esse time é
que sempre houve uma festa de amor entre os jogadores. Toda a testosterona e o
machismo existem no campo e no vestiário, onde podem agarrar a virilha e fazer
disputas de urina. Mas esta equipe também tem uma queda poética sobre seu
amor eterno.
Mason afasta o cabelo da testa. — Arrumem um quarto.
— Você é nojento. — Sebastian balança a cabeça para ele.
— E você é apenas um virgem chato.
A boca de Sebastian aperta quando ele sussurra: — Eu não sou virgem, idiota.
— É, isso mesmo. Só com rapazes, certo? — Mason é muito presunçoso,
como se tivesse terminado o assunto com Sebastian.
Sebastian suspira pelo nariz. Este é um excelente momento para ele reavaliar
suas razões para ser o melhor amigo de Mason Riley.
O refeitório fede a jogadores de futebol suados, mas é o cheiro de todas as
comidas que Sebastian costumava adorar que ele luta contra: bacon queimado,
ovos fritos, pilhas de panquecas borrachudas. Ele franze a testa para seu
estômago. Se não fosse por aqueles gritos na parte de trás de sua cabeça, as vozes
ecoantes de seus valentões, ele estaria enchendo a cara do jeito que Charlie está.
Controle-se, vamos. Ele cautelosamente observa a sala.
Grey sorri para ele da mesa dos treinadores. Está vazia, porém, como os olhos
dela. Ela quer pertencer a eles, mas ninguém a acolhe.
— Você vai se incomodar em falar com ela? — Willie pergunta a Mason.
— Talvez. — Mason faz uma pausa dramática. — Eu ainda não decidi.
— Espera, o quê? Cara, você é um idiota com as garotas.
— Cale a boca, Will, — Mason responde.
Hoje, Sebastian não está com humor para brincar de pai e separá-los. Ele
acena para Grey – maldito Mason – e ela se ilumina como as luzes de néon da
Times Square.
— Você é um monte de merda, Riley, — Willie diz, apontando a colher para
Mason.
— Porque eu não fodo a filha do treinador para conseguir uma posição
melhor no jogo?
— Não sou amigo dela por causa disso.
— Não? — Mason pergunta. — Oh, eu esqueci. Você tem que ser amigo de
todos.
É verdade. Um mundo onde Mason Riley está realmente certo é simplesmente
ridículo, mas Willie tem o coração de um maldito cachorro. Algumas pessoas são
idiotas. Eles não merecem Willie.
— Então é isso? — Willie pergunta, incrédulo com o encolher de ombros
descuidado de Mason.
— Eu ainda não decidi.
— Idiota.
Mason diz arrogantemente: — Com orgulho, — apenas para irritar ainda
mais Willie.
Eles ficaram nisso por horas. Sebastian se vira para conversar com seus
companheiros. Entre as piadas repetitivas "isso é o que ela disse" e se gabando de
uma vitória do campeonato, Sebastian consegue se encaixar. Os caras discutem
sobre os melhores jogadores da liga, a guerra sem fim de Seattle ou Dallas. Eles
riem com Sebastian em vez de olhar para ele quando ele fala.
Popularidade não é a coisa dele, mas, com esses meninos desordeiros, é bom
saber que ele é importante. Também o assusta que a vida se tornou apenas duas
coisas nos últimos quatro anos: se graduar e futebol. Não deveria haver outra
coisa?
Emir entra no refeitório, arrastando os pés. Ele equilibra uma bandeja em uma
mão e uma lata de Red Bull na outra. Sua aparência é sonâmbula: cabelo
espetado para cima, as mangas de sua camisa puxadas sobre os nós dos dedos, sua
carranca indiferente. Ele quase parece calmo e convidativo.
Isso é um grande quase.
Sebastian quer se chutar. Ele não deveria estar olhando para Emir. E ele com
certeza não vai admitir para si mesmo os motivos.
Emir está perdido. Seus olhos examinam a sala em busca de um lugar para
sentar. Assim como com Grey, ninguém se esforça para ajudar.
No maior erro do mundo, Sebastian diz: — Ei, — circulando os dedos em
torno de um dos pulsos finos de Emir.
Emir congela, olhando para a mão de Sebastian, depois para os olhos. Um
silêncio assustador cai sobre eles.
Sebastian tenta travar sua bravura. Ele quase consegue, mas então Emir sibila.
— O quê? — com uma voz hostil, e Sebastian vacila.
Ele luta contra a rocha em sua garganta. — Hum, — ele tenta com os olhos
de toda a equipe sobre eles.
Ele entende. Willie, Mason e ele são praticamente Os Três Amigos por aqui.
Não é um clube exclusivo. Zach e Sebastian se conhecem desde sempre. E
Charlie e Mason são terrores juntos desde do prézinho. Mas sempre há espaço
para mais. Sebastian conhece Emir. Bom, ele conseguiu, então Emir também
pode se encaixar, certo?
Sebastian timidamente oferece: — Você pode sentar-se conosco se quiser, —
quando o rosto de Emir suaviza um pouco. Tolamente, Sebastian entende isso
como o universo dando a ele um sinal de positivo.
Emir, acabando com a teoria de Sebastian, sussurra: — Não vai acontecer,
cara. — Ele torce o braço e sai pisando duro.
— Rejeitado, — alguém sibila por perto.
Sebastian limpa a expressão ferida de seu rosto. Mas seu coração martela como
uma bateria de cinquenta instrumentos em um desfile enquanto Emir se senta
em sua mesa no canto. Sebastian se vira e olha para sua comida intocada.
— O que há com ele?
— Ele realmente ama futebol, como todos nós? — Jack diz para Gio.
Mason diz: — Eu te disse, mano. Ele não gosta de nós.
Sebastian quer que Mason cale a boca, mas ele mexe na comida para ter algo
para fazer. Não prende sua atenção por muito tempo. Como ele é um idiota
épico, seus olhos encontram Emir olhando para ele. Lágrimas ardem em seus
olhos por causa da competição de encarar, mas Sebastian mantém o olhar fixo
até que algo calmo substitua a raiva no rosto de Emir. É um começo.
Emir olha para baixo primeiro. Sua colher desenha círculos preguiçosos em
seu cereal. Ele parece tão tenso e pequeno. Durante toda a vida, Emir foi menor,
mas mais rápido que Sebastian. Ele poderia ultrapassar Sebastian em qualquer
dia da semana.
É como se eles ainda estivessem fugindo de algo.
— Depressa, preguiçosos! Partida em campo em quinze minutos! — O
treinador Patrick late da porta. O gemido coletivo apenas intensifica a alegria em
seus olhos.
Mason limpa a garganta. Ele diz: — Não acho que Shah vá durar muito.
Sebastian é um idiota total por não dizer nada de volta. Ele espera que desta
vez Mason esteja errado.

A PRESSA DE UMA PARTIDA suada e bronzeada é exatamente o que Sebastian


precisa. Seus companheiros de equipe exibem suas novas habilidades, que são
imitações terríveis de dribles que eles viram no último videogame FIFA. É
clássico. A maioria deles cai de cara no chão.
Os treinos depois são piores. Mais uma vez, eles são um bando desorganizado
de filhotes raivosos, e a comissão técnica os faz sofrer. Essa forma de tortura
deveria ser ilegal.
O treinador O’Brien grita na linha defensiva: — De joelhos! Olhos para a
frente! Como você espera vencer os espartanos se não consegue acompanhar a
bola?
— Vamos, hombre! É o melhor que você pode fazer? — O treinador Rivera
grita. — Quer mais trinta minutos de exercícios aeróbicos adicionados à prática
de amanhã? — Seus olhos escuros se estreitam para Smith, que está lutando para
acompanhar. — Smith! Onde está o seu corpo em forma? — ele pergunta depois
de um gole de seu café com canela.
— Na casa da sua esposa, — murmura Smith.
— Eu ouvi isso! Meu marido apreciaria se você pegasse o lixo um dia desses.
— Sorrisos são raros para Rivera, mas seus lábios se contraem quando Smith
tropeça em seus próprios pés. Seu sorriso nascente desaparece tão rapidamente
quanto veio quando ele começou a latir com Jack e Robbie por terem ficado para
trás.
O treinador Patrick anda pelo campo de ponta a ponta. — Vocês todos jogam
como se nunca tivessem visto uma bola de futebol! Isto não é um teste. — Seus
pés deixam rastros na grama. — Menos de dois meses, — ele grita. Sem o
chapéu, sua carranca é visível e exige uma coisa de cada jogador: gratidão. Ele
espera nada menos do que disciplina no campo. — Esse é todo o tempo que
vocês tem até encontrarmos os espartanos em casa. Se vamos ganhar algum jogo,
é melhor vocês sobreviverem trabalhando como uma unidade. Não vejo nenhum
herói por aqui.
— Riley discordaria, senhor, — Zach diz, entrecortado. Ele ainda está sem
fôlego por causa dos exercícios suicídas.
Mason responde com: — Estou apenas repetindo o que sua namorada me diz.
— Ele está tão sem fôlego quanto Zach. Eles se empurram, ganhando outra volta
do treinador.
Sim, eles estão condenados. Poderiam muito bem perder o troféu agora.
O time passa por exercícios básicos e técnicas de controle de bola. Um zigue-
zague de cones laranja é montado para a passagem dos exercícios. Os veteranos
treinam o bloqueio no meio-campo. Paralelamente, os calouros competem por
quem consegue vomitar mais riachos coloridos de Gatorade. Sebastian não pula
para eles como os outros veteranos fazem. Ele era idiota igualzinho e chegou ao
time do colégio. Eles também podem!
A tarde é passada na casa dele, na área do pênalti, defendendo os chutes da
linha ofensiva.
— Força demais! — Ele rebate outra bola de Kyle. Ele é uma transferência de
Bloomington West com muita confiança em seus chutes. Cada tiro é previsível,
e Sebastian mal se esforça.
Kyle responde, — Dane-se, — mas Sebastian dá de ombros. Com o tempo,
Kyle encontrará seu rumo.
Não ajuda que Willie esteja gritando do lado de fora. Ele grita: — Já vai a
bomba! — quando outro cara erra.
Sebastian ignora o senso de humor maníaco de seu amigo para observar o
óbvio: o joelho machucado de Willie, enfaixado e coberto com gelo, está apoiado
em uma arquibancada abaixo dele. É um sinal claro de que ele já exagerou.
Sebastian tenta soar repreensivo quando diz — Willster, — mas não funciona.
— Você não pode vencer Hughes! Ele é como o castelo Eyrie em Game of
Thrones! — Willie grita. Ele é um ativo inestimável, tanto como o líder de
torcida do time quanto o seu melhor defensor.
— William! — O técnico Rivera vocifera no meio-campo. — Hughes não
precisa de ego, pare com isso!
Willie se esquiva de Rivera. O brilho maroto em seus olhos indica que esse
silêncio é temporário.
Grey, ao lado dele com sua prancheta no colo, mastiga a ponta de sua caneta
sem piedade. Ela faz anotações sobre cada jogador como se esperasse que
houvesse um teste. Sebastian gosta que ela tenha uma boa cabeça sobre os
ombros. Ele poderia encorajá-la a prosseguir com o negócio de ser Treinadora se
ela conseguisse tirar Mason de sua mente, o motivo por trás de seu lábio
mordido e sua postura fria como pedra.
Mason afunda bola após bola no gol que Jack está protegendo do outro lado
do campo. — Ding-dong! — Ele uiva, sorrindo como um lobo para a defesa
patética de Jack.
Grey lança um punho no ar, gritando, — Sim! — ela se encolhe, vermelha
como um morango maduro, enquanto os outros rapazes piam para ela.
Mason geme, — Cristo, — e dá a ela um olhar sujo. Zach está mandando
beijos para ele do lado de fora, então Mason murmura, — Vai se ferrar, — mas
o treinador Patrick o pega. Ele volta para a posição para se preparar para o
próximo chute.
Sebastian não tem interesse em se envolver naquele barco do amor. Ele
tropeça para fora do campo para cair ao lado de Willie na arquibancada, onde
Willie brandia um Gatorade. — Alguma coisa boa aconteceu? — Sebastian
pergunta uma vez que ele abriu o Gatorade e tomou um gole.
Willie aponta para o lado do campo de Jack. — Emir tem potencial. —
Sebastian encolhe os ombros ligeiramente e permanece quieto. Willie continua:
— Ele seria um bom lateral.
Sebastian estuda o campo; suas sobrancelhas se franzem com a dispersão de
Emir. Ele parece determinado, mas nada mais.
— Precisamos de um, — diz Grey. — Para substituir Kendrick. — Ela é nada
mais do que positiva sobre as perspectivas do time.
Sebastian encolhe os ombros novamente. Kendrick era decente, mas
completamente substituível, na temporada passada. Emir é mais rápido e tem
potencial para ser melhor. — Sweeper, — ele sugere, batendo um dedo no
queixo. Willie fica boquiaberto. — Com prática, quero dizer. Me lembra
Cameron.
— Geoff Cameron? — Grey pergunta.
— Espere, o Geoff Cameron, — diz Willie, muito cético.
Sebastian concorda. — Potencial, certo?
Willie fica mais pálido, como se não pudesse dizer se Sebastian finalmente
levou uma bola de futebol a mais na cabeça, mas Emir é rápido. Ele rouba a bola
sem suar. É a falta de coordenação posterior que o derruba.
Willie xinga, condenando a própria existência de Sebastian. Isso não é
surpresa. Geoff Cameron é uma lenda para Willie, e Sebastian disse isso
principalmente para irritá-lo.
Ele ignora Willie ao observar Emir tirando a bola para longe para vencer outra
batalha um contra um contra Smith. Ele é fascinante. Sua postura orgulhosa é
mantida o tempo todo enquanto o treinador O'Brien late para ele por causa do
trabalho de pés desleixado ou enquanto Carl aponta e ri.
Abaixando seu Gatorade para tomar outro gole, Sebastian sussurra, —
Incrível. — Ele quase engasga enquanto engole, no entanto. Emir está de olho
nele. Te peguei! Espere – Emir acabou de sorrir? Não. Sebastian deve ter tido
uma concussão. Emir se virou, então ele nunca saberá.
— Cuidado! — Grey grita. Kyle está subindo no campo rápido demais.
Wham! Emir está dobrado na grama. Merda, isso vai deixar uma marca. Estar
disposto a proteger o objetivo com demasiada frequência ensinou isso a
Sebastian.
— Olhos à sua frente, Shah! — O treinador O'Brien intervém, enquanto
Hunter corre para ajudar Emir a se levantar.
— Estou bem, — murmura Emir, ficando de pé sem a ajuda de Hunter.
A expressão de afronta de Hunter dura um pouco demais antes dele balançar a
cabeça.
— Vamos, garoto, — diz o treinador Patrick, severo, mas paternal. —
Esqueça isso, Shah. Não deixe abater você.
Kyle balbucia desculpas, mas Emir não faz contato visual. Ele agarra suas
costelas e recua antes de mancar de volta à posição. Ele não diz uma palavra, mas
encara uma bola.
— Uau, cara, isso não é legal, — diz Zach, esticado algumas arquibancadas
abaixo deles. — Ele ignorou totalmente Hunter, o idiota.
Sebastian esfrega a palma da mão suada sobre a boca, para não dizer a coisa
errada. Emir não está sendo um idiota de propósito. Descobrir o porquê vai levar
tempo.
— Não sei, Bastian, — Willie diz, seus ombros se tocando. — Ele não se
parece muito com Cameron para mim, mano.
Sebastian ignora um desejo incondicional de revirar os olhos. Willie é legal,
mas às vezes ele lembra Sebastian de Mason. Sebastian não quer que digam que
está errado de novo.
O treinador Patrick tem um braço em volta dos ombros de Emir. Ele está
dando bronca em Emir, uma das conversas paternais notórias do treinador, mas
Emir não parece muito interessado. Ele está carrancudo; seu peito está pesado.
— Talvez ele não queira estar aqui? — Grey sugere.
— Huh, talvez. — Sebastian diz; sua garganta está presa nas palavras — Ele
precisa de um amigo — porque ele é uma ferramenta importante.
— Você vai conseguir, Emir, — grita Grey, batendo palmas. Ela recebe um
aceno esperançoso de Emir e, de repente, Sebastian quer isso para si mesmo. Só
há uma maneira de fazer isso.
6

— O QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ fazendo aqui?


Bem, definitivamente não é a reação que Sebastian esperava, mas ele não sabia
o que esperar quando encontrou Emir.
O fim precoce da prática significava que o jantar seria enfadonho e
barulhento. Depois disso, Sebastian se esquivou de Willie e Hunter, que
imploraram para que ele fosse até a sala de recreação para tomarem vaca-preta, a
favorita de Sebastian, e terem algum tempo de conexão com o time. Ele não
estava com humor para arrotos, piadas cafonas e caras agindo como alunos do
jardim de infância. Sebastian não precisa tomar aquilo, de qualquer maneira.
Mas ele se arrepende de não ter andado com Willie e Hunter, que o lembram
dos caras de Penetras Bons de Bico. Com certeza seria melhor do que ficar ao lado
de uma cabana sob o brilho mortal do olhar de Emir.
— Hum, olá? — Sebastian tenta.
Emir estreita os olhos. Ele leva toda essa coisa de "ser um idiota" a sério
demais. — O que você está fazendo aqui? — Ele repete.
— Tá. — Sebastian arrasta todas as letras. — Então, ainda não passamos dessa
parte?
Um cigarro meio queimado pende dos lábios de Emir. Seu nariz libera uma
nuvem de fumaça cinza-azulada. — Não, — ele grunhe, inclinando a cabeça
para trás, os olhos fechados.
As sombras cobrem o espaço confinado entre as cabanas aqui, um local óbvio
para Emir fumar um cigarro. Sebastian teve sorte ao encontrá-lo. Ok, ele
realmente deu uma de stalker, parando na varanda de sua cabana para ver se
Emir escaparia para o campo para praticar novamente.
— Você não vai embora, cara? — pergunta Emir, o dedo indicador batendo a
cinza da ponta do cigarro. Flocos de neve cinzentos pegam na brisa.
— Não é provável, — Sebastian diz com a garganta apertada.
Ele é ousado o suficiente para se aproximar; folhas caídas rangem sob seus
sapatos. Carly fuma, então ele está acostumado com o fedor, mas isso não
impede seu nariz de enrugar. — Nojento, — ele diz.
— Tanto faz. — Emir não se incomoda.
Sebastian está satisfeito por ter recebido uma resposta. O céu é um carvão pré-
trovoada. Ele esconde uma lua cheia, que dói terrivelmente, porque elimina a
única desculpa de Sebastian para agir de forma estranha sobre esta situação com
Emir.
— Então. — Sebastian para quando sua voz falha. Olá, puberdade! Ele
rapidamente se recompõe. — Você está bem?
Emir bufa; rastros de fumaça escapam do canto de sua boca. — Com certeza.
Agora você vai embora?
— Aparentemente não, — Sebastian provoca, muito esperançoso de que Emir
abrirá um sorriso. Ele não abre, mas sua carranca suaviza, encorajando Sebastian.
Emir está vestindo uma camiseta cortada que expõe seus braços e o hematoma
roxo do golpe que levou durante o treino. — Isso parece doloroso.
— Não é nada.
Sebastian quer lembrar a Emir sobre suas besteiras. Seu polegar pressiona
contra a marca para provar seu ponto. É a coisa mais estúpida que ele poderia
fazer. Que tipo de idiota provoca um touro já irritado?
— Caramba, cara! — Emir sibila, recuando. — Você está com morte cerebral?
Sebastian dá de ombros e se inclina preguiçosamente contra o revestimento da
cabana. Ele gosta do sotaque britânico de Emir. Quando criança, irritado com as
provocações que recebia, Emir tentava disfarçar.
— Está péssimo.
— Você é um maldito médico agora?
— Você não tem que bancar o durão.
Emir dá outra tragada antes de dizer: — Não é nada, ok? — Sua voz está
implorando, como se ele já tivesse o suficiente do mundo em seus ombros e
Sebastian não estivesse ajudando.
— Ok, — Sebastian diz.
Ele se vira e é saudado pelo menino de sua infância, aquele que odiava perder
para Sebastian nos videogames, mas nunca conseguia ficar com raiva dele.
"Vamos jogar de novo e eu vou te mostrar", ele exigia até que começassem de
novo por horas. Sebastian não tinha uma memória tão divertida de sua amizade
desde que ele e Emir deixaram de ser amigos. É um soco na garganta.
— Merdas acontecem. — Emir apaga o cigarro nas agulhas de pinheiro sob
seus pés. Ele funga, cruzando os braços. — O que isso tem a ver com você?
— É meu trabalho, — Sebastian se sente compelido a dizer. Antes que ele
possa explicar, Emir bufa.
— Isso mesmo. Capitão, certo? — Ele está zombando de Sebastian. Ele foi
revertido para qualquer versão bagunçada do ex-melhor amigo de Sebastian que
ele se tornou.
— Colega de time. E nós cuidamos dos nossos por aqui.
— Eu não sou colega de time de ninguém.
Sebastian ativa o charme, sorrindo. — Você poderia ser.
Emir o encara, levando-os de volta ao zero. — Você honestamente acredita
que eles me querem por perto? Nós não somos amigos.
— Eu acredito… — Sebastian toma seu tempo porque ele está caminhando
sobre uma linha tênue. — Você precisa conhecê-los e vice-versa.
Emir diz: — Isso é difícil de fazer quando estou muito ocupado sendo ruim
no campo para prestar atenção a qualquer um deles. — Ele empurra o gorro para
trás. Cabelo macio cai sobre sua testa. — Eu sou um lixo.
— Você não é, — Sebastian diz muito rapidamente, pego olhando para os
lábios rosados e muito beijáveis de Emir...
Uau. De jeito nenhum. Absolutamente não em um milhão de anos.
— Cara? — Emir parece confuso.
Sebastian, corando febrilmente, se vira. Em busca de palavras, ele tosse na
mão. — Éramos amigos, — diz, porque seu timing é atroz.
— O quê?
Sebastian quer vetar qualquer outra forma de discurso. — Desculpe, eu quis
dizer, — ele diz e então solta uma respiração profunda. — Você quer ir embora?
— Sebastian olha para seus sapatos. Os cadarços velhos e descoloridos são uma
distração temporária.
O silêncio espesso e pegajoso força Sebastian a erguer o queixo. Ao redor deles,
grilos cantam uma ode à sua estupidez.
Emir, mordendo o lábio, responde: — Não.
Sebastian se afunda feliz na cabana. Ele deixa escapar: — Eu posso ajudar, —
como um adolescente animado para conhecer Shawn Mendes. O que diabos ele
está fazendo? — Quer dizer, eu não sou o melhor...
Emir gargalha. — Besteira.
— Eu gostaria de ajudá-lo.
— Por quê?
Sebastian não está ofendido, especialmente porque os olhos de Emir parecem
sinceros em vez de agitados. — Eu não sei, — Sebastian responde. É óbvio que
não é como nos velhos tempos e Emir não quer reacender sua amizade. Ele está
fazendo isso pelo time.
— Eu não sou um caso de caridade, cara. — Emir começa a se afastar.
Sebastian deveria deixá-lo ir. O bom senso não é seu forte, entretanto, e ele
agarra o pulso de Emir antes que ele possa ir muito longe. — Sinto muito, — sai
de sua boca. Ele está grato por Emir não se afastar. Tudo o que ele quer são
trinta segundos inteiros da confiança de Emir, em vez do olhar desconfiado.
Sebastian diz: — Eu quero ajudar, ok?
A garganta de Emir faz um barulho quando ele engole. Seus olhos brilham no
escuro; sua respiração é lenta.
Sebastian espera.
— E se eles não me quiserem aqui? — O tom de Emir é hesitante; seus olhos
voam para as árvores ao invés do rosto de Sebastian.
Sebastian poderia facilmente fazer um discurso como os pais da televisão
costumam fazer sobre ser uma família, união e a beleza do time trabalhando em
unidade, mas este é Emir. Sebastian desenrola os dedos do pulso de Emir. Ele
fica envergonhado com o tempo que leva para a pele de Emir voltar à cor
normal.
— Você tem que tentar, — diz ele, colocando confiança em sua voz. — Eu
não estou lhe dando uma opção.
— Isso é uma ameaça? — Um canto da boca de Emir se levanta. — Não vai
funcionar.
Sebastian acena para ele, rindo. — Vejo você pela manhã! — Ele gosta que,
temporariamente, Emir não esteja carrancudo ou aparentemente pronto para
socá-lo na nuca. Ele se afasta excepcionalmente rápido. Saia antes de estragar
tudo.
— Você vai se arrepender!
— Eu duvido! — Sebastian espera cinco segundos inteiros antes de girar a
cabeça. Um leve sorriso enfeitou os lábios de Emir. Talvez este seja o início de
algo incrível.
7

— TRAIDOR!
Sebastian não está chocado que a única resposta de seu celular a essa acusação
seja continuar com o despertador estridente. Ele o silencia e é recompensado
quando a tela escurece.
Willie, imune a ruídos indesejados, continua a roncar e resmungar sobre a
jogabilidade traiçoeira de Mason em Mario Kart. "Vai se ferrar, seu traidor" é
abafado por um travesseiro.
Sebastian rola para fora da cama. Ele se estica até o pescoço estalar. Ele se
prepara para mais um dia: veste roupas largas e confortáveis, depois os tênis;
arrastando a mão pelo cabelo castanho dourado até que fique artisticamente
bagunçado; roubando o iPod de Willie.
Bocejando, ele entra em uma manhã de verão ainda fria. O sol baixo cria um
efeito de fogueira no céu: laranja e amarelo lambem o índigo para fora de vista.
— Bom dia, Oakville, — ele resmunga, os lábios se contraindo enquanto os
pássaros gorjeiam uma resposta.
O caminho de terra entre a cabana de Emir e a dele parece uma armadilha.
Apesar da conversa da noite passada, Sebastian está apreensivo. Isso poderia ser
uma brincadeira elaborada de Emir, sua vingança sombria pelo que quer que
tenha acontecido entre eles que deixou sua amizade torrada – bem, não torrada
de um lado, mas de ambos os lados.
— Levante, homem, — ele murmura, levantando o queixo. Ele pode fazer
isso. Mas quando ele bate na porta de Emir, ninguém responde. — Perfeito.
Sebastian bate um pé impaciente na varanda de madeira. Uma ideia brilhante
que também poderia ser terrivelmente idiota o atinge. Correndo para o lado da
cabana, Sebastian encontra a janela. Ele cutuca e – crack! — Incrível, — ele
sussurra. As fechaduras das janelas, como tudo no acampamento, são velhas e
sem valor. A janela desliza para cima com um estremecimento.
Ele não é um futuro atleta olímpico, mas Sebastian tem panturrilhas fortes
que ganhou do futebol. O dia de perna finalmente compensa quando ele pula
para dentro.
— Ah, Merda.
Sebastian cai no chão de madeira. Não é natural para seu corpo fazer isso. Ele
não quebra nenhum membro, então é uma vitória.
Do ângulo atual de Sebastian, parece que Emir tem um quarto só para ele. —
Huh, — ele sussurra. Examinando todo o espaço extra na sala, ele se levanta e se
limpa.
O ar está carregado de incenso e cigarros. Emir criou uma cama gigante
juntando as camas de solteiro. Sebastian esqueceu como Emir gosta de tudo
arrumado. Tudo está em seu lugar, limpo e organizado, exceto um pequeno
tapete vermelho com acabamento em ouro no qual Sebastian tropeça.
— Porcaria.
Emir continua dormindo pacificamente sob um emaranhado de lençóis.
Sebastian quase pensa em deixar Emir com seus sonhos. Então ele se lembra
da cara amarrada e das sobrancelhas franzidas de Emir, e sua culpa se dissolve.
Ele se arrasta até a cama e repete: — Ei, — até Emir se mexer.
Emir, gloriosamente teimoso, vira e afaga um travesseiro.
— Tá brincando né? — Sebastian reclama, mas Emir simplesmente se encolhe
em posição fetal. Sua respiração ainda está uniforme. — Você é parente de Will?
A resposta de Emir é uma exalação suave e fácil.
— Cara, — geme Sebastian, jogando-se na beirada da cama. Ele considera
Emir. Contra uma fronha branca, cabelos escuros caem como tinta derramada.
Raios de sol bronzeiam sua pele marrom. A barba por fazer espinhosa brota de
seu queixo.
Sebastian decide seguir o Plano B. Quando eles eram mais jovens, entrar
furtivamente no quarto um do outro enquanto o outro dormia era normal.
Penas sobressalentes de travesseiros velhos eram usados para fazer cócegas uns
nos outros, ou às vezes um dedo, como o que Sebastian usa agora para roçar a
bochecha de Emir e a pele macia sob sua mandíbula.
O nariz de Emir se contorce.
— Fofo. — Sebastian ri, roçando o queixo de Emir. — Você não parece tão
mal dormindo. — Ele está prestes a escovar o lábio inferior de Emir quando um
par de olhos prateados se abre e se fixa nele. Sebastian recua ante o brilho da
morte certa. Seu braço puxa sua mão para fora do caminho do perigo.
— Mas que merda? — O sol brilha para destacar a carranca de Emir. — Isso é
um pesadelo.
Sebastian diz: — É hora de praticar, — como se isso fosse normal.
— Seu idiota, — Emir diz, a voz rachada de sono. Ele se vira e tenta enterrar a
cabeça debaixo de um travesseiro, mas Sebastian o arranca.
Ele já está provocando o tigre; ele pode muito bem ver até onde pode chegar.
— Vá embora!
Uma resposta espirituosa está na ponta da língua de Sebastian, até que ele
percebe que Emir está sem camisa. Um falcão doente com asas abertas e garras
afiadas está tatuado centímetros abaixo de sua nuca, entre as omoplatas. O
cérebro de Sebastian tem um curto-circuito, distraído pelos belos detalhes.
Ele balbuciou: — O que… — mas para de repente, horrorizado por olhar
para Emir daquele jeito. — Cara, — ele suspira, perdendo uma batalha com sua
boca estúpida. Ele fica emocionado quando Emir se vira e o encara. — Hum,
Emi...
Os olhos de Emir ficam imensos.
Sebastian não usava esse apelido desde antes de serem adolescentes. Agora, ele
deixou escapar como se eles ainda estivessem matando duendes e ogros em seu
sofá de volta em casa.
— Você acabou...
Frenético, Sebastian interrompe Emir. — Estou aqui para ajudar, lembra! —
Era para ser uma pergunta, mas a voz de Sebastian saiu estridente no final,
tornando-se uma declaração gritada. Ele deveria ter desistido enquanto estava
ganhando.
Emir levanta uma sobrancelha grossa. — Me ajudar ou me torturar?
— Ambos? — Não é a sua melhor resposta, mas ele está preso na tatuagem e
em como o vinco do travesseiro na bochecha de Emir o torna adorável.
— Você é perturbador.
— Isso significa que podemos começar?
Emir olha para o teto. Seus olhos cinzentos taciturnos brilham. Sua mandíbula
está tensa, como se ele estivesse inventando maneiras criativas de matar
Sebastian.
Sebastian acha a atuação exagerada mais divertida do que intimidante. — Não
vou embora, cara, — diz ele ao Emir.
Emir solta um suspiro. — Percebi, cara.
Sebastian sai da cama e bagunça o cabelo. Ele fica de lado e espera que Emir o
siga. Se for preciso, Sebastian vai arrastar a bunda de Emir para o campo. Sua
mente está decidida e Sebastian não desiste. — Emir, — ele diz, a voz beirando a
frustração.
— Maldito idiota. — Emir finalmente arranca os lençóis e rasteja para fora da
cama. Ele parece pequeno usando nada além de cuecas boxer vermelhas. — Eu
mal consegui dormir.
— Por quê?
— Eu só… — Emir faz uma pausa, a língua rosa roçando seus lábios. — Este
lugar me assusta, ok? Eu nunca estive longe da minha família...
— Mas você costumava dormir na minha casa.
— Aquilo era diferente, — disse Emir, com as sobrancelhas franzidas. Seus
músculos tensos se contraem sob sua pele.
— Como?
Emir franze a testa antes de balançar a cabeça. — Você não entende, — ele
murmura. "Isso é quando éramos amigos" está implícito. Sebastian se considera
um idiota por abordar o assunto quando Emir diz: — Deixa para lá.
Sebastian entende. Ele não está aqui para colocar curativos sobre feridas que
ainda não cicatrizaram. — Tudo bem, — ele sussurra, passando a mão pelo
cabelo novamente. — Você está pronto para praticar, então?
Emir suspira. — Tanto faz, — ele diz entre os dentes. — Você poderia, hum,
parar de olhar?
A pele de Sebastian se arrepia. Emir está ali, com membros magros e músculos
compactos, pernas cabeludas e barriga lisa. Sebastian está confiante em sua
bissexualidade; como ele deveria desviar o olhar de um cara seminu? Mas este é
Emir, que tem uma antipatia muito forte por Sebastian.
— Desculpe, — ele gagueja, girando sobre os calcanhares de modo que fique
de costas para Emir. — Realmente, realmente não pretendia fazer isso.
Emir ri. — Tudo bem. Estou acostumado com as pessoas me olhando. — Sua
voz está rouca. — Eles dizem algumas coisas muito ruins.
— O que eles dizem?
Emir ri amargamente. — Você não quer saber. Eles não elogiam meus olhos
ou a suavidade da minha pele.
Sebastian pode imaginar as palavras cruéis de crianças que não entendem
alguém que se apega a si mesmo. Eles não compartilham nenhuma aula; a
sabedoria de Emir provém dos livros, ao contrário de Sebastian, que preferia ler
quadrinhos a aprender trigonometria. Mas Sebastian sabe que a recusa de Emir
em se socializar convida à conversa. Sobreviver ao colégio é ter duas coisas:
confiança e amigos.
Emir não tem nenhum dos dois.
— Se vale alguma coisa, acho que você está ótimo, — Sebastian diz enquanto
Emir localiza roupas, pulando atrás das costas de Sebastian em busca de sapatos.
— Você não me conhece.
Uma ruga se forma entre as sobrancelhas de Sebastian; seus ombros enrijecem.
Ele precisa mudar de assunto antes que Emir lhe diga para ir para o inferno. —
Para que serve o tapete? — Ele esfrega o dedo indicador na sobrancelha.
— Não é da sua conta.
Má ideia, certo.
— Podemos simplesmente acabar com isso? — A respiração de Emir atinge a
lateral do pescoço de Sebastian antes que ele dê a volta para encará-lo. Suas
roupas são semelhantes às de Sebastian, mas mais folgadas em seu corpo esguio.
Sebastian força um sorriso tenso. — Se nos apressarmos, podemos tomar um
café da manhã tardio.
— Tanto faz, Bastian. — Emir já está na metade do caminho.

***
— VOCÊ NÃO PRECISA EXIGIR TANTO de si mesmo, — diz Sebastian, enquanto
Emir tropeça para acompanhá-lo.
Ofegante, Emir o evita. Um animal atropelado soa mais vivo do que Emir.
Sebastian está correndo na metade de seu ritmo normal, mas ele dará crédito a
Emir por tentar. Ele não é um idiota total; ele simplesmente não é uma pessoa
matinal. O sol cai sobre eles em ondas de néon de laranja e amarelo. As roupas
de Sebastian estão pegajosas de suor. A adrenalina atua em seu sangue como
eletricidade, e ele se alimenta disso.
É um bom dia.
— Você é um masoquista, — diz Emir.
— Pausa? — Sebastian oferece, então bufa quando Emir acena com a cabeça
furiosamente. Ele chia quando eles diminuem a velocidade.
A camisa encharcada de Emir gruda em seu peito e estômago. Em seu rosto, o
suor brilha como estrelas ao sol. — Eu te odeio neste momento.
— Eu aguento. — Sebastian empurra o ombro de Emir. Emir rebate com um
soco falso que lembra Sebastian de quando eram crianças.
— O que correr tem a ver com minha falta de habilidade com o futebol? —
Emir pergunta.
— Energia.
— Não tive nenhum problema com isso antes.
Emir está insinuando...? Sebastian explica apressadamente: — Você não é bom
em campo se estiver deitado, com falta de ar.
— Eu odeio isso. — Emir resmunga, levantando a bainha da camiseta para
limpar o suor do rosto. A camiseta está levantada, revelando um pneuzinho.
Sebastian se diverte, mas também fica horrorizado com o estúpido canto de ele
é adoravel soando em sua cabeça do mesmo jeito que uma bola atingida por uma
raquete faria contra o acrílico. Talvez ele tenha uma insolação? É uma explicação
viável e muito mais legal do que a verdade: hormônios.
— Bebidas, — Sebastian sugere. O desejo de ir para longe de Emir é forte. Ele
vai até um posto de gasolina próximo para comprar dois Gatorades com alguns
dólares enfiados no sapato.
Um líquido vermelho cereja escorre pelo queixo de Emir enquanto ele engole.
Depois de respirar, ele diz: — Obrigado.
É uma manhã quente; rajadas de brisa circundam sua caminhada
estranhamente silenciosa até o acampamento. Durante a corrida, Emir parecia
quase pronto para iniciar uma conversa, mas eles tiveram apenas bufadas e
grunhidos com pouco contato visual.
A estrada de terra tritura sob seus tênis. Eles bebem seu Gatorade como se
fosse a coisa mais fascinante de todos os tempos. Sebastian perdeu a vontade de
fazer outra coisa senão brigar até que Emir perguntou: — Por que futebol?
— O quê?
A pele ao redor dos olhos de Emir fica rígida. — Por que futebol, cara?
— Ah. — Sebastian tira o cabelo da testa. — É uma boa história.
Emir levanta as sobrancelhas.
— Por causa do treinador Patrick, — Sebastian diz. — Ele é durão, né? Uma
peça rara realmente. Mas ele fez questão de que para ser parte do time você tinha
que se encontrar primeiro. Ganhar e ser o melhor cara em campo ficou em
segundo lugar. — Ele sorri torto para o céu, onde nuvens fofas passam.
— Sério?
— Você sabe que Willie é gay, certo? — Sebastian procura um aceno de Emir.
— E Mason está...
— Passando o rodo? — provoca Emir.
— Gostamos de usar o termo ‘experimentando’, cara.
Os olhos de Emir rolam dramaticamente.
— De qualquer forma, — Sebastian continua com uma risada pendurada em
sua garganta. — O treinador não se preocupa com essas coisas. Um quarto da
nossa equipe é gay, bi ou curioso, mas ainda assim recebemos o respeito dos
outros. Pela primeira vez, a orientação sexual nos esportes não é algo negativo.
Emir coça a barba por fazer. — Muito legal.
— É mesmo!
Sebastian nunca teve que colocar nada disso em palavras, mas, agora que eles
estão discutindo, ele quer pegar um megafone e gritar para quem ele passar o
quão epicamente incrível o treinador Patrick é por lhe dar este presente.
À frente, a estrada fica estreita, sinalizando sua proximidade com o
acampamento. As sombras das copas espessas de esmeralda os esfriam. Sebastian
está calmo com o zumbido silencioso de insetos ao redor.
— E você é…? — Emir deixa espaço para Sebastian preencher.
Está esquentando, e Sebastian usa isso como uma desculpa perfeita para si
mesmo por sua pele corada. Ele diz: — Eu sou bi. Eu gosto de caras e garotas.
— Eu sei o que bi significa.
Sebastian, nervoso, rapidamente diz: — Legal. Sim, eu sou bi. — O aceno
imperturbável de Emir o alivia. Apesar das regras da equipe, Sebastian não está
agitando as bandeiras do arco-íris e anunciando sua sexualidade na escola. É
sempre complicado se assumir para um cara novo. Emir não é exceção. — Tudo
bem com isso?
— Sim, — Emir responde com olhos tímidos. — Gay. Eu. Isso é o que... eu
sou gay.
— Legal.
A nostalgia, junto com Emir se aproximando, está fazendo a pele de Sebastian
arrepiar. Ele faz uma aposta. — Então, por que futebol, para você?
— Não é minha praia, certo?
— Não — sai da língua de Sebastian, mas seu cérebro grita Sim.
— Simplesmente aconteceu, — diz Emir, com uma expressão de dor. — Mais
ou menos. — Ele esfrega a mão no rosto e Sebastian está preparado para que
Emir diga a ele que ele está fazendo isso pelos motivos errados. — É o meu
abbu.
— Seu pai, certo?
Emir diz, exasperado: — Desculpe. Deixa pra lá.
— Espere. Eu não quis ser rude. — Já faz muito tempo que Sebastian ouviu
Emir falar em Urdu. Os Shahs são britânicos do Paquistão. Sebastian esqueceu a
maioria das palavras que ouviu tantas vezes na casa de Emir. Ele diz: — Abbu.
Isso é pai em Urdu.
— Sim, — diz Emir, profundamente impressionado. — Não consigo me
desligar disso às vezes.
Sebastian admira o queixo e as maçãs do rosto de Emir. Ele se parece com sua
mãe, de quem Sebastian se lembra de ser adorável e cheirar a verão. O nariz de
Emir e sua disposição tranquila vêm de seu pai. O Sr. Shah sempre dizia coisas
boas para Sebastian.
— Foi uma merda quando me assumi no colégio. As coisas que as pessoas
dizem. Eles falam sobre meu sotaque, meus pais, minha pele… — A voz de
Emir some; seus olhos estreitados olham para o chão. — Só porque falo
engraçado ou não me pareço com eles.
— Sim, — sussurra Sebastian.
Emir torce a tampa de seu Gatorade para frente e para trás. — De qualquer
forma, meu pai é um grande fã de futebol. Desde sempre, ele passa os sábados no
sofá assistindo jogos na televisão. Premier League, MLS, tudo o que ele puder
encontrar.
Sebastian bufa. Com Oliver é a mesma coisa. E Sebastian está sempre bem ao
lado dele; eles são dois viciados em televisão e discutir sobre seus jogadores
favoritos, enquanto Lily traz lanches e cervejas. — Meninos são meninos, — ela
dirá para avisá-los antes de deixá-los ir em montanhas-russas.
— Estou aqui porque ele ama o esporte tanto quanto ama a família e, — Emir
faz uma pausa para respirar fundo, como se estivesse prestes a revelar os segredos
de sua alma, — Eu quero impressioná-lo.
Sebastian gosta da variedade de tons de rosa nas bochechas de Emir.
Pensamentos muito irracionais sobre como Emir pode ser fofo fazem seu
estômago embrulhar. Sebastian não deveria pensar nisso quando Emir está
vulnerável.
— Isso é estúpido? — Emir pergunta, mordendo o lábio.
— Não.
— É meu último ano antes da faculdade, e Abbu tem feito tanto pela minha
família que sinto que devo isso a ele.
Emir anda como se o mundo inteiro o empurrasse. Sebastian entende isso. O
fardo de deixar seus pais orgulhosos e ao mesmo tempo não ter noção do que
você está fazendo com sua própria vida é uma luta e tanto.
— Você não está fazendo isso por você?
— Não, — Emir sibila. — Estou aqui para deixar Abbu orgulhoso. Eu posso
fazer isso sem a piedade dos outros, ok?
Sebastian para no meio de um passo, atordoado.
— Obrigado pela corrida, — Emir cospe. Ele joga sua garrafa de Gatorade e
se afasta. Por cima do ombro, ele diz: — Que tal não fazermos mais isso.
— "Isso" o quê?
É como se o som da voz de Sebastian deixasse Emir ainda mais carrancudo. —
Você está fingindo que não dá a mínima se eu consigo ou não.
Sebastian pisca com força, querendo gritar: "Que diabos?" ou dar um soco em
Emir ou ir embora.
Emir vai embora primeiro.
E Sebastian precisa questionar sua própria racionalidade, porque ainda quer
ajudar Emir – se não pelo time, por tudo o que ele deve ter feito para estragar o
que ele e Emir tinham.
8

NO FINAL DA TARDE, O APITO do treinador O'Brien soou uma última vez.


Ainda bem, porque Sebastian está exausto e exercícios aeróbicos são péssimos,
especialmente no calor do verão em um campo verde sem fim e sem sombra.
Sebastian definitivamente poderia viver sem isso. Ele corre para fora do campo,
desvia dos outros jogadores para pegar um copo de papel com água gelada e
então encontra Willie.
— Eu estava pensando, — Willie começa, e os lábios de Sebastian se curvam
com o brilho em seus olhos. No ano passado, quando ele compartilhou uma aula
de ciências com Willie e Mason, todas as suas piores ideias começaram com:
"Então, eu estava pensando" ou "Prometo que não vamos ser presos desta vez", o
que era uma indicação clara que, sim, eles seriam presos ou pelo menos
cumpririam algum tempo na detenção. E, no entanto, Sebastian sempre
concordava com qualquer ideia ridícula que eles sugerissem.
Willie diz: — Faculdade de Música de Jacobs.
— Para a faculdade? — pergunta Sebastian depois de um gole de água.
Willie acena com a cabeça, ajustando a bolsa de gelo em seu joelho. Sebastian
leva a mão à boca. Os olhos azuis de Willie estão confusos, como uma criança
fantasiando sobre a manhã de Natal.
— Por quê?
— Não fica longe de Bloomington. Paps pode me visitar, e música é o curso
perfeito para mim. — Willie é viciado em música; seus fins de semana são
passados tocando baixo em uma banda que faz covers de punk. Sebastian esteve
em alguns de seus shows. Willie tem talento. — Ou eu poderia simplesmente ir
para uma faculdade na cidade.
Sebastian faz uma careta. Eles concordaram em não fazer uma coisa:
Universidade Estadual. É uma faculdade técnica ou dar o fora de Bloomington,
começando do zero.
— E quanto a Nova York?
Willie, com um sotaque perfeito do Brooklyn, repete: — Nova Yawk?
— Eles têm a equipe profissional dos Red Bulls. E as faculdades são boas.
Uma vida fácil, sabe?
— Pode ser, mas que tal algo mais perto? Algum lugar que nós dois possamos
ir?
Sebastian joga um braço em volta do ombro de Willie, puxando-o para
dentro. — Mas imagine isso: um apartamento de baixa qualidade na cidade,
passeios de táxi todas as manhãs, ir com o time para...
Willie limpa a garganta. — Desculpe desapontá-lo, Bastian, mas… — Ele
aponta para o joelho. — Não imagino que tudo vá acontecer do jeito que
planejamos.
Willie está acabado após esta temporada. Ele tem duas opções: cirurgia ou
reabilitação vitalícia. Uma cirurgia antes da faculdade é uma sentença de morte
para um atleta. Os recrutadores não recrutam caras com lesões.
— Sim, — Sebastian murmura. — Acho que sim.
Willie sorri apenas o suficiente para esconder o luto em seus olhos.
— Bloomington é legal, — Sebastian diz com um encolher de ombros. —
Mamãe não reclamaria. — Mas os devaneios de Sebastian sobre dividir um
dormitório de merda na Universidade de Bloomington com Willie e ir aos bares
para assistir a jogos universitários de fim de semana em uma TV widescreen não
são atraentes o suficiente. Ele quer sair de casa. A vida após o colégio é um
mistério, mas Sebastian não o resolverá em Bloomington.
Hunter se senta ao lado de Willie. Ele anuncia: — Macarrão e salada para o
almoço hoje, — com todo o pavor de um prisioneiro prestes a ser executado. —
Não sofremos o suficiente?
Willie ri. — Não.
— Bem, então. — Hunter se apoia em Willie. — Pelo menos você tem que
morrer comigo.
Hunter e Willie entram em uma conversa particular. Sebastian não se
importa. Ele está perdido, de qualquer maneira. Em campo, o treinador Patrick
e O’Brien discutem estratégia. A linha defensiva está se encaixando bem, exceto
por Emir.
Ele não consegue passar com precisão e tem coordenação zero. É como se seu
pé fosse alérgico à bola. Mas ele ultrapassa todos os atacantes, vencendo-os até o
próximo movimento. Se ele puder controlar isso, talvez Sebastian possa dar um
jeito no resto.
— Continue assim, Shah! — O treinador Patrick grita, olhando para sua
prancheta.
Quando Emir tropeça novamente, o treinador O'Brien joga seu boné no
gramado. Seu cabelo está caindo; a luz do sol brilha em seu crânio. — Por que
você tem dois pés esquerdos? Isso é possível? Jesus, Maria, e tenha piedade,
garoto, onde está sua cabeça?
Carl grita: — No cu! — enquanto perseguia uma bola.
— Ei! — Gio grita, apontando para Carl. — Não atrapalhe a concentração
dele.
Mas é muito tarde. A bola rolou longe demais na frente de Emir, permitindo
que Kyle o evitasse e fizesse uma jogada.
O'Brien se queixa: — Carl, você quer dar mais algumas voltas? Podemos pular
o almoço, se você quiser.
— Não, obrigado!
— Então dê um tempo para o rapaz, — rebate O’Brien. Sua carranca exagera
suas rugas. — Tente de novo, Shah.
Os cotovelos ossudos de Sebastian descansam em seus joelhos. Ele esvaziou sua
xícara, mas a mantém perto de sua boca, escondendo o quão intensamente ele
está estudando Emir.
A expressão de Emir é como se ele fosse marchar para fora do campo e sair.
Então, algo pisca em seus olhos, um lembrete, antes que ele marque outro
jogador para roubar a posse da bola.
Isso!
Sebastian não grita, mas ele pode fazer um pequeno movimento de punho fora
de vista. Ele é um idiota, ok, mas Emir conseguiu. Claro, ele não mantém o
controle da bola. Robbie se lança como um assassino contratado para pegá-lo de
volta, mas é o suficiente para o treinador Patrick acenar em aprovação quando
Emir passa.
— E quanto ao zagueiro?
Sebastian se assusta. Hunter e Willie pararam com sua discussão geeky
aleatória para voltar sua atenção para ele. O rosto expectante de Willie significa
que a pergunta era obviamente para Sebastian.
— Emir?
Willie revira os olhos. — Bem, não para eles. — Ele aponta para o bando de
calouros fazendo exercícios de aprovação – e indo mal. Eles estão, sem dúvida,
indo para a equipe reserva no final do acampamento. Ou, como Mason
apropriadamente chama, limbo do futebol.
Hunter diz: — Eu não sei se ele tem isso nele. Mas a defesa é definitivamente
seu ponto forte.
— Sim, — Willie admite. — Definitivamente defesa.
Sebastian pode ensinar Emir a ser um grande defensor. Eu sou o goleiro do
time; a defesa está em meu sangue. E ele confia no julgamento de Willie e Hunter,
mesmo que eles estejam discutindo sobre quem seria o melhor jogador de
futebol, Mario ou Luigi. Pelo menos eles estão interessados no sucesso de Emir.
Agora, se ao menos Sebastian pudesse convencer Emir de que ele não está
ajudando porque Emir é um caso de caridade.
Paralelamente, o técnico Patrick está conversando com Emir; sua mão grossa
aperta o ombro ossudo de Emir. A julgar por sua postura, o treinador está dando
um de seus famosos discursos estimulantes, algo que ele não costuma fazer
publicamente. Quando um jogador está lutando, o treinador o puxa para o
escritório, fecha a porta e recita todas as citações de Rocky possíveis. É repetitivo,
mas o treinador nunca deixa ninguém se sentir um fracasso.
Quando o treinador se afasta, Emir chuta a grama e resmunga. A maioria dos
caras fica longe dele. Seus ombros tensos não convidam a companhia; nem sua
carranca sobrenatural.
Sebastian desce as arquibancadas barulhentas. Seu coração bate o triplo; um
buraco negro se abre em seu estômago. Willie o chama, mas os pés de Sebastian
continuam batendo na madeira que com certeza vai quebrar. Os outros caras
podem atacá-lo mais tarde, mas ele não para.
— Espere.
Emir se vira com um suspiro irritado. — Por favor, não faça isso.
— Mas...
— Não faça isso.
Sebastian sacode o frio se espalhando por seu corpo. Ele esfrega o ombro de
Emir; o suor faz a camisa de Emir grudar em sua pele. Estranhamente, não é
nojento.
Emir baixa os olhos. — Você não precisa...
Sebastian o interrompe com: — Encontre-me aqui depois do jantar, — como
se Emir não estivesse falando.
— Para que?
Sebastian levanta a sobrancelha. — Faça-me um favor e me encontre aqui, ok?
Emir acena com a cabeça, sussurrando, — Ok. — com pouca luta em sua voz.
É um progresso.
O sol, quente e brilhante, bate implacavelmente. Emir é uma sereia atraindo
Sebastian com seu rosto em vez de sua voz. Sebastian, percebendo que está
condenado, puxa sua mão para se livrar do que quer que seja.
A boca de Emir fica mole. Sebastian é atingido pela ideia de beijar Emir, o que
é simplesmente horrível. É difícil ficar ressentido com alguém enquanto deseja
algo mais.
— Hughes, almoço! Estou morrendo de fome, mano!
A apreciação de Sebastian pela voz chorona de Mason é incomensurável. Ele
dá um passo para trás, ainda sem fôlego, precisando se afastar de Emir e inseguro
de que está tudo bem com isso. — Ok, — ele diz, baixo demais, então corre em
direção a seus amigos. Eles estão atrasados o suficiente para que Sebastian não
precise correr.
— Hora da massa, — Hunter diz, pegando carona em Willie com Mason à
sua esquerda. Sebastian flanqueia o outro lado de Mason, mantendo a cabeça
baixa. Ele não diz nada.
Pelo menos no refeitório, Sebastian pode escapar de Emir. Que pena que não
há nenhum lugar em sua cabeça para fugir da ideia de deslizar a sua boca sobre a
de Emir.
Uma verdadeira tragédia.
9

DO LIMITE DO CAMPO, o sol desliza pelo céu como uma bola de canhão vermelha
rolando em direção ao nada. Ele deixa apenas hematomas roxos e laranja de uma
guerra entre o claro e o escuro. No brilho da noite, Emir é calmo, acessível. Sem
um gorro, seu cabelo é fofo. Uma camiseta de brechó e calças de moletom
folgadas complementam sua aparência aconchegante. Certo, a visão de Sebastian
sobre Emir ultimamente não tem sido nada além de difícil, então talvez ele esteja
simplesmente apreciando o momento.
Emir, cantarolando para si mesmo, faz malabarismos com uma bola entre os
pés. Ela escapa, mas ele a persegue, finalmente se movendo livremente. Quando
ninguém está olhando, a pressão não existe; é como dançar no escuro. Mas Emir
não consegue controlar a bola por muito tempo.
As cigarras cantam seus hinos noturnos, mas por baixo delas Emir canta
Michael Jackson. A música sempre foi mágica para Emir. Oito anos atrás, era
tudo que Emir precisava para ser ele mesmo perto de Sebastian.
— Merda.
A bola oscila entre os pés de Emir. No meio do campo, Sebastian sem esforço
para com um pé. Ele diz: — Foi bom, — com muita alegria em sua voz.
Emir se encolhe ao ser pego. — Foi o mínimo.
— Dê a si mesmo um pouco de crédito, — Sebastian diz, usando a ponta do
pé para lançar a bola no ar e depois rebatê-la com um joelho. — Apenas
continue.
— E se eu desistir primeiro?
— É esse o plano?
O encolher de ombros de Emir é tão convincente quanto o rosnado de um
cachorrinho. — Ainda não decidi, — diz ele, quando Sebastian devolve a bola
para ele. Ele finge que vai para a esquerda, vai para a direita, mas Sebastian está
bem na cara dele, sorrindo.
— Está esperando que eu te convença?
Emir diz: — Esperando que você falhe, — mas seus lábios se contraem.
— Não vai acontecer.
Emir revira os olhos, tentando contornar Sebastian. Ele passa a bola por
Sebastian, correndo para ela. Sebastian o alcança, mas por pouco.
— Nada mal, — diz ele, girando em torno do Emir.
— Mal estou tentando, — diz Emir, sem fôlego.
Sebastian relaxa. Bem, ele tenta relaxar, mas seu pulso bate nos ouvidos. Eles
estão cara a cara, esperando o próximo movimento. E Sebastian, tendo outro
momento idiota de proporções épicas, tira o cabelo suado da testa de Emir com
os dedos.
Emir, que é três ou cinco centímetros mais baixo que Sebastian, espia por
entre os cílios. Ele não diz nada, mas parece pronto para falar.
— Um, sim. — Sebastian superaquece.
Emir diz: — Claro, — e deixa por isso mesmo.
Eles passam a bola para frente e para trás; o sol se põe atrás das árvores. Às oito
para as oito, os holofotes de halogéneo que cercam o campo acendem,
iluminando os verdes em prata brilhante.
— Para que estamos aqui? — Emir pergunta.
— Para te deixar melhor. — Sebastian está tentando permanecer focado nos
benefícios para o time, não em seus hormônios.
Emir murmura: — Plano horrível, cara.
— Apenas me dê uma chance, — Sebastian insiste.
Emir morde o lábio. Ele estende a mão para tirar o cabelo da testa, mas
Sebastian já fez isso. A mão de Emir balança no ar; um rubor toma conta de seu
rosto. — Então, — ele começa e depois faz uma pausa, como se o mundo o
ancorasse no chão quando ele queria voar. — Vamos fazer isso?
Sob o céu nebuloso de tempestade de fogo, eles praticam. Sebastian ensina
Emir a passar primeiro. — Assim é melhor. — Ele aplaude a capacidade de Emir
de controlar a posse de bola por mais de três metros. Claro, Emir ainda mantém
a cabeça baixa, olhando para a bola como se quisesse que ela seguisse seus
comandos. Mas Sebastian está satisfeito com sua coordenação crescente.
Eventualmente, ele avançará seu treinamento para marcar um atacante, como
dar carrinho e truques complicados, como acertar uma cabeçada para que a bola
voe para seu companheiro de equipe.
O céu cospe estrelas à medida que o tempo passa entre eles.
Sebastian empurra o cabelo da testa e diz: — Você acha que pode devolvê-la
aqui para mim?
Emir geme baixinho, girando na grama. — Idiota exigente. — Ele
desajeitadamente trabalha a bola de volta para o campo.
— Eu ouvi isso!
— Bom mesmo! — Emir reclama, mas sua risada o trai.
Sebastian esfrega as mãos suadas em seu short. Ele geralmente usa luvas
quando está protegendo o gol. Ele está antecipando uma tentativa de chute de
Emir, mas isso nunca acontece porque Emir perde o controle da bola.
— Droga. — Emir faz uma careta. — Veja o que você fez e me obrigou a
fazer.
Sebastian bufa, apontando o dedo para Emir. — Você só precisa de mais
ajuda.
Com total falta de bom senso, Sebastian corre até Emir, então dá a volta por
suas costas para alinhar seu peito com a coluna de Emir. Ele ajusta os braços ao
redor do corpo esguio de Emir; suas mãos alisam a cintura de Emir. "Espaço
pessoal" escapou do seu vocabulário.
— Está tudo bem? — Sebastian pergunta.
Emir recua e acena com a cabeça.
Em sua cabeça, Sebastian definiu isso como um "método de ensino", embora
ninguém nunca tenha dado a ele esse tipo de atenção. — Me imita. — Os
músculos de Emir estão contraídos, mas quando Sebastian sussurra: — Eu posso
ajudar, — ele se inclina contra o peito de Sebastian.
Sebastian coloca o queixo sobre o ombro de Emir. — Menos foco no que você
quer que a bola faça, — diz ele, movendo-os em conjunto em direção à bola. —
Mais sobre como a bola quer que você se mova.
Emir vira a cabeça apenas um milímetro e pergunta: — Como faço isso?
Sebastian limpa a garganta, seu fluxo ligeiramente interrompido pelo toque da
bochecha macia, mas ainda barbuda de Emir. — Pare de se forçar.
— Não é tão fácil.
Sebastian aperta os dedos nos quadris de Emir. — Relaxe, — diz ele, seus
lábios roçando a orelha de Emir. Os pés conduzem a bola para mais perto da
grande área.
— Não consigo relaxar com a sua, — diz Emir, parecendo presunçoso e com
um arco deliberado na coluna, — bunda perto da minha bunda, camarada.
Sebastian ofega e se afasta de Emir para perseguir a bola que está perdida entre
eles. Sua personificação desagradável e atrapalhadamente legal falha
miseravelmente. O que ele esperava? Ele não estava tentando fazer isso de
propósito.
— Cale a boca, — ele diz desanimado.
— Tudo bem, Bastian.
Não, não está tudo bem, já que Sebastian tem que se virar e ajeitar tudo sob o
short.
Sebastian fica desarmado com o sorriso fácil de Emir quando eles ficam cara a
cara novamente. Emir balança as sobrancelhas e diz: — Não me importo com
um cara circulando… — Ele acena com a mão na cintura de Sebastian. — perto
da minha bunda, mas eu geralmente não misturo esportes estúpidos e sexo. É
uma regra.
— Não é estúpido, — Sebastian diz, irritado. — Esportes, quero dizer, ok?
Não largue o futebol, porque é tudo o que tenho hoje em dia.
A boca de Emir cai. — Eu não queria… — Ele passa a mão nervosa pelo
cabelo.
Sebastian dá de ombros. Não é como se Emir soubesse ou entendesse o quão
bom o futebol tem sido para ele, como isso deu a ele algo de que se orgulhar. É
um propósito. O que é difícil de explicar para alguém que age como se o ensino
médio fosse apenas um diploma. Para quê? Assim que o futebol acabar, Sebastian
tem certeza de que seu futuro está morto.
— Talvez devêssemos encerrar a noite? — ele sugere.
— Espere, não podemos, hum… — A voz de Emir está quebrada e pequena
quando ele diz: — Isso é importante para mim, Bastian.
Sebastian odeia perceber que ele é a última chance do Emir. — Vamos, — ele
diz, acenando para Emir. Ele está na frente dos postes e instintivamente se
posicionando. — Arrisque.
— Sim? — Emir não espera pela resposta de Sebastian; ele se alinha para um
chute.
Sebastian chuta a bola para longe. — De novo.
O próximo chute de Emir é mais fácil de bloquear; o que vem depois também.
Sebastian joga a bola de volta para Emir. Ele está puto com o mundo, não com o
Emir, e desconta na bola.
— Melhor.
— Não sei dizer. — Emir dá outro golpe na bola.
Concentrando-se na abordagem aprimorada de Emir, Sebastian perde a noção
do tempo. O arrastar gaguejante de Emir em direção à bola se transforma em um
deslizamento rígido. Isso encoraja Sebastian a lutar mais para proteger os postes.
Ele não se divertia tanto desde que era um novato.
— Por que goleiro? — Emir pergunta.
Sebastian chuta a bola para longe. Ele fica impressionado quando Emir usa a
parte interna do pé para segurá-lo. — Você não quer saber, — diz ele a Emir.
— Quero sim, — Emir argumenta.
— Tentei todas as posições no meu primeiro ano. A glória está em ser um
atacante, — explica Sebastian, inclinando-se para recuperar o fôlego. — É por
isso que todo mundo adora Mason.
A boca de Emir torce, mas ele fica quieto.
— Não sou tão bom quanto ele, — diz Sebastian.
Desta vez, Emir bufa em desaprovação.
Sebastian aperta sua camisa encharcada de suor para puxá-la para longe de sua
pele. — Eu não era exatamente o defensor, como Willie, — ele continua. Ele
pula para parar a bola, depois a enrola e a envolve em seus braços. — Eu era um
aquecedor de banco com certificado e tudo.
— Um dos garotos da água?
Sebastian joga a bola de volta, divertido. — Eu não era legal o suficiente para
isso.
Ele está hipnotizado pela nova capacidade do Emir de manter o foco e driblar
a bola. O rosto de Emir está brilhando de suor, suas sobrancelhas estão baixas e
sua boca está comprimida. Mas ele está focado nisso.
— Eu era ruim. — Sebastian ri, autodepreciativo.
— Ha! Não poderia ser pior do que eu.
— De qualquer forma, — Sebastian diz, esfregando o dedo sobre uma
sobrancelha pegajosa de suor. — No final da primeira temporada, nosso goleiro
se formou. Eu fui ser goleiro porque, bem, por que não? Jack era um pirralho
chorão. Achei que poderia ser tão bom quanto ele.
A bola voa alto e Sebastian a encontra no ar com as duas mãos. Emir
resmunga: — Obrigado, idiota, — quando Sebastian joga de volta.
Sebastian volta ao lugar. — Fiz tudo o que pude para melhorar. Tempo extra
em casa ou no acampamento, onde quer que fosse.
— E?
Sebastian balança os braços em um gesto de "aqui estamos". — Meu primeiro
jogo foi contra os espartanos, — diz Sebastian, olhando para a distância.
Demorou um pouco antes de eles arrastarem aqueles idiotas pretensiosos para
o chão. O placar foi de dois a zero, e a multidão enlouqueceu quando Mason
marcou o gol da vitória. Mas o treinador Patrick cravou os dedos na gola da
camiseta de Sebastian e puxou-o para a frente do time para que ele pudesse
absorver o fato de que ele excluiu seus rivais. Esse sentimento ainda o atinge com
ondas estremecedoras de calor.
Emir o encara como se Sebastian tivesse acabado de ter um flashback da
guerra. Sebastian não se importa. Memórias como essa são difíceis de acontecer.
Na maioria das vezes, é sobre o colégio ou relacionamentos ou tentar não
estragar tudo e ficar de castigo antes da próxima festa – e o constrangimento sem
fim.
Sebastian está determinado a manter essas memórias.
Emir diz: — Nunca serei como você.
Sebastian cegamente pega a bola que Emir arremessa contra ele. — Ei, você
está tentando desistir de novo, Shah? Guarde para você, não estou interessado.
Emir ri, depois lambe os lábios secos.
Sebastian fica preso em como ele realmente gostaria de chupar o lábio inferior
de Emir, estremece e se inclina para esconder sua emoção.
— Obrigado, capitão.
Sebastian fica tão impressionado com as palavras de Emir que não presta
atenção até que a bola passe direto pela lateral da cabeça de Sebastian.
— Goool! — Emir uiva como um locutor do Telemundo. Ele corre de forma
maníaca, torcendo e cumprimentando colegas de equipe imaginários. Se ele não
se acalmar, ele vai acordar um treinador, mas Sebastian permite que ele tenha
esse momento. Talvez ele reflita com carinho sobre isso em alguns anos.
A felicidade de Sebastian, por Emir, pela noite, pelas pequenas vitórias, é
inesperada. Ele espera até que Emir diminua a velocidade, sem fôlego, antes de
jogar outra bola nele. — De novo? — ele diz.
Emir diz alegremente: — Sim, de novo.
Eles continuam por mais uma hora. Emir não consegue acertar outro gol, mas
não importa. Ele está animado com o último. É o suficiente para manter um
sorriso torto na boca de Sebastian.
— Eu matei o gigante, — Emir continua dizendo. Sebastian revira os olhos
toda vez.
Ele ensina Emir como fazer embaixadinhas. Eles riem e se empurram até
ficarem com muito sono para continuar.

***

OS FINS DE SEMANA NÃO SÃO LIVRES PARA TODOS, MAS um treinador só pode enfiar
tantas práticas e referências de Hoosiers na garganta dos adolescentes antes que
eles se rebelem. Os treinadores dão misericórdia a eles, com limitações. Primeiro,
um toque de recolher, também respeitável, porque qual adolescente vai para a
cama antes da meia-noite de um sábado? Em segundo lugar, uma verificação da
cama pela manhã para ter certeza de que ninguém sumiu ou fugiu para se casar
com um morador da cidade à noite. Isso é tudo.
Depois do almoço obrigatório da tarde de sábado, o hospício se abre.
Metade da equipe se amontoa no primeiro carro disponível ou caminha até a
cidade. Os mais velhos costumam buscar cerveja ou rum barato, o que nem
sempre acaba bem. Sebastian e alguns outros mantêm todos sob controle,
principalmente.
— Eles precisam de acompanhantes? — O treinador Rivera pergunta.
— Deixa eles irem. — O treinador Patrick sorri. Eles estão parados perto da
área de piquenique, observando. — Não é como se tivéssemos dinheiro para
fiança, de qualquer maneira. — O treinador está antecipando sua própria rotina
de fim de semana: cerveja, pizza e uma maratona de filmes de Rocky. Todos os
seus melhores discursos vêm de citações de Sylvester Stallone.
Um conversível, com a capota abaixada, sai veloz com Jack sentado em um
encosto de cabeça. — Que Dios nos ayude, — diz Rivera. "Deus nos ajude". Ele
é um católico devoto e frequentemente invoca sua religião em momentos como
este.
Mason está empoleirado no capô de seu carro. Caras gritam para ele se
apressar. Os pneus giram, criando uma névoa de sujeira. Mas Mason não se
move. Seu cabelo está penteado para trás; ele está vestindo uma blusa larga e
jeans skinny verdes. Óculos escuros escorregam de sua testa até o nariz. Ele pisca
para Sebastian. — Pronto para destruir este lugar?
— Hum, não, — Sebastian diz com uma risada. — Eu não quero saber como
é o interior do reformatório, mano.
— Chato. — Mason inclina a cabeça para trás. Uma noite na detenção juvenil
seria um sonho se tornando realidade para Mason. — Will está cuidando da
minha retaguarda.
Willie sobe no banco de trás. Com sua pele pálida e cabelo coberto de gel, ele
ficaria ridículo em um macacão laranja.
O velho Civic de Charlie passa por eles. "I Love It" de Icona Pop sacode no
interior. No ano passado, os veteranos fizeram dessa música seu hino, cantando-a
interminavelmente nos chuveiros. Esses caras estavam ridiculamente confortáveis
com sua sexualidade, então ninguém deu a mínima para eles.
— Cinquenta dólares que Zach é abordado por um policial primeiro, — diz
Hunter.
Mason assobia sua aprovação. — Eu vou aceitar essa aposta. — Ele é o rei da
selva em seu trono de carro; todos os seus súditos leais o saúdam em seu
caminho para Oakville. Ele diz a Sebastian: — Isto é, se Bastian não salvar suas
bundas primeiro.
— Ei, — Sebastian protesta. — Não fui eu quem garantiu que você não fosse
preso há dois anos por posse de maconha?
— Touché. — Mason acena com a cabeça, parecendo grato pelo lembrete.
— Cara, você deveria ter uma capa, — Hunter diz. Sebastian sorri – ele está
pensando a mesma coisa. — E um uniforme, — acrescenta ele, e então Sebastian
perde a fé na sanidade de Hunter.
Ele olha para a estrada. Seu propósito de ficar junto com os caras é simples:
protegê-los. Os treinadores não insistem em prender a equipe no acampamento
por causa de Sebastian; a expectativa não dita é que Sebastian fará com que todos
façam a coisa certa.
Sebastian quer perguntar a eles: — Que garoto de dezessete anos sabe o que é
isso ?
Ele tenta não se deixar incomodar muito, no entanto. Ele se diverte com os
caras, então é uma troca justa. Bem, na maior parte é. Além disso, ele precisa de
uma pausa do treinamento e da comida no refeitório.
— Devemos convidá-lo? — Willie aponta para uma cabana, onde Emir está
sentado do lado de fora.
Mason responde apressadamente: — Não.
— A sério? — Hunter pergunta.
— Muito sério, cara. Ele não gosta de nós. Se ele gostasse, ele se sentaria
conosco durante as refeições. Ou, você sabe, falaria conosco.
Sebastian não entende por que Mason detesta Emir, mas ele tem seus próprios
problemas para resolver. Ele manteve as sessões de treinamento em segredo, e
Emir nunca diz uma palavra a ele em público.
Além disso, há aquela pequena coisa de querer beijar Emir.
Emir está na escada com um livro aberto no colo e um cigarro apagado atrás
da orelha esquerda. Ele parece desinteressado em seu entorno. Mas seus olhos
estão cautelosos, não deixando ninguém entrar.
— O que você disse, Bastian? — Willie pergunta.
Sebastian olha seus pés e encolhe os ombros.
— Vamos indo, — Mason insiste, saindo do capô para sentar no banco do
motorista. — Estamos perdendo a diversão.
— Eu chamaria de caos, — brinca Hunter.
Os olhos de Emir encontram os de Sebastian, e Sebastian está prestes a dizer
algo, indo contra a atitude malcriada de Mason e o convidando para ir junto,
mas Emir balança a cabeça. Ele e Emir podem parecer amigos longe de todos,
então por que não perto dos amigos de Sebastian?
— Ei, Bastian, — Mason grita.
Sebastian vacila. Que se dane Mason e Emir. Ele quer dizer a Emir para parar
com essa atitude dele e vir junto, mas Grey pula e se estatela ao lado de Emir.
— Você não vai? — ela pergunta.
Emir olha para Sebastian antes de baixar os olhos. — Não, esse não é o meu
grupo.
Ao fundo, Mason estala.
— Bem, — diz Grey, empurrando os cachos de seu rosto, — Eles nunca me
deixam ir junto.
— Porque você tem doze anos!
— Willie quer que eu vá junto, — ela diz a Mason.
Willie se abaixa quando Mason se vira. Ele corta um dedo na garganta como
se Willie estivesse morto para ele, pelo menos pela próxima hora ou assim. —
De jeito nenhum, Patrick, — Mason diz a Grey. — As crianças ficam em casa.
— Eu sou aquela que salva sua bunda quando você volta, bêbado e louco. —
O olhar feroz de Grey imobiliza Mason. — Eu nunca delato você. Isso não
conta para alguma coisa?
Mason resmunga: — Obrigado, mas não, — com uma carranca.
A vibração usual néon de Grey começa a enfraquecer.
É assim que é ter uma queda por alguém que não quer você de volta? Isso
rouba sua luz?
— Tanto faz, Mace. — Grey revira os olhos, mas a mágoa inclina os lábios
para baixo. Ela se volta para o Emir. — Não tenho doze anos e sou divertida. —
Ela se senta mais ereta, como se isso a deixasse com mais de dezesseis anos e mais
fria também.
Emir morde seu sorriso torto. — Você acha?
— Oh, eu sei, — Grey garante de uma forma que pode ser mal interpretada,
mas então ela ri tanto que fica toda vermelha, arruinando o efeito.
— Eu não, — diz Emir, levantando seu livro. — Mas você pode relaxar se
quiser. Eu tenho irmãs em casa, então tenho certeza que posso lidar com você.
— Ele aponta o dedo em seu rosto, avisando: — Mas não tente trançar meu
cabelo.
Grey levanta a mão para jurar com o dedo mínimo. O vínculo fácil entre Emir
e Grey intimida Sebastian. Eles mal se conhecem. Ele não merece isso? Por que
Sebastian ficou com Emir, o Idiota, com acessos de raiva?
— Tanto faz, — Sebastian sussurra. E ele certamente não faz beicinho ou sai
pisando duro como uma criança, mas sobe no banco do passageiro com um
pouco menos de brilho.
Willie tenta dar um soco nele. Sebastian devolve, com um pouco menos de
força. Ele põe os pés no painel enquanto Mason dá a partida no carro.
— Eu não queria dizer isso — Mason quer totalmente, — mas ele não gosta
de nós.
Sebastian o ignora. Emir acabou de dar um duro golpe em Mason tirando
Grey de suas mãos, e ele está cego para isso. Ele fecha os olhos enquanto Mason
os dirige para longe.
10

— ENTÃO, O QUE VOCÊ VAI QUERER PARA beber, docinho? — Liza, com seu cabelo
tingido de azul, rosto gentil e rugas suaves ao redor dos olhos e da boca,
pergunta. Ela estala o chiclete, esperando pacientemente.
Sebastian não sabe por que se incomoda em correr os olhos pelo menu de
plástico. Ele já esteve no restaurante o suficiente nos últimos três verões. Nada
mudou, nem o fedor de hambúrgueres gotejantes ou a coleção de fotos vintage
emolduradas de Marilyn Monroe, James Dean e Audrey Hepburn de Breakfast
at Tiffany’s revestindo as paredes em azul pastel. Os banquinhos de vinil de néon
completam a saudação à nostalgia dos anos 50.
Sebastian está sentado sozinho. Ele sorri para Liza. — Posso ter uma...?
— Cerveja de raiz, certo?
— Valerie Jones, — Sebastian diz, sua boca se curvando maliciosamente. Val
é outra garota que adora apelidos e nunca esquece um rosto. É irônico, porque
Sebastian não consegue esquecer seus olhos castanhos, bochechas rosadas
esculpidas e sorriso sarcástico.
Ela provoca Sebastian com uma sobrancelha levantada antes de abraçá-lo. Ele
retribui com um braço, respirando a loção bronzeadora de coco dela.
— Ainda é cerveja de raiz, certo? — Val pergunta.
Sebastian acena em confirmação para ela, então para Liza.
Liza revira os olhos. Ele pede a mesma coisa sempre, incluindo a fatia de torta
grátis que Liza desliza para ele após cada refeição. — Eu vou deixar vocês dois se
atualizarem, — diz ela, estalando o chiclete. — Apenas me chame quando estiver
pronto para pedir o de costume. — Ela sai mancando como uma avó que está de
pé há muito tempo.
Val espia ao redor dele, inclinando a cabeça. — Sozinho?
Sebastian não se importa em ficar sozinho. É mais fácil acompanhar o time,
que reserva as cabines dentro da lanchonete. Eles são magros, mas grandes,
ocupando o máximo de espaço possível. E eles são caras estrondosos e
barulhentos, tomando milkshakes e limpando os pratos como se estivessem
morrendo de fome. A sujeira aqui supera qualquer coisa que o refeitório produz.
A mente de Sebastian está presa em Emir. Essa não é uma boa conversa para se
ter com este bando de selvagens. Não é que ele não possa falar sobre sua atração
por caras, é só que – bem, o time ainda não se decidiu sobre Emir.
Nem Sebastian.
— Apenas relaxando, — diz ele com seu encolher de ombros mais
descontraído.
— Ainda é a babá?
— Prefiro o termo "Irmão mais velho".
— Bastian, — diz Val, ceticamente, — você tem metade do tamanho de
algumas dessas bestas. — Seu nariz se enruga para ele de uma forma
intensamente adorável.
— Aproveite, — Liza diz, deslizando sua bebida para ele. Uma colher extra de
sorvete faz com que a cerveja de raiz borbulhe pela borda e uma cereja fique por
cima. — Ei! Você fez uma bagunça, você está estragando tudo! — Ela corre para
uma mesa cheia de jogadores de defesa.
O queixo de Val está sobre os nós dos dedos. Ela preenche o silêncio com
meneios de sobrancelhas e sorrisos. Eles sempre foram bons em substituir
palavras inúteis por expressões faciais bobas.
— Você está sozinha? — ele pergunta.
Val aponta com o polegar em direção a uma mesa de canto onde três lindas
garotas compartilham um prato de batatas fritas encharcadas de ketchup. Suas
maçãs do rosto finas e cabelos brilhantes gritam "estudei a vida toda em escolas
particulares". — Amigas da escola, — Val explica.
Sebastian faz uma cara de horror.
Val revira os olhos. — Elas estão visitando no fim de semana. Almoço com
meus pais amanhã, porque minha vida é tão glamorosa. — Ela gira um dedo em
volta da cabeça. Val não leva nada muito a sério, exceto Mason Riley. Bem, ela o
levava a sério, mas uma vida inteira acontece entre os verões.
— Elas parecem divertidas, — provoca Sebastian.
— Ah, sim, — Val diz, brincando junto. — Tanto quanto futuras esposas-
troféu em treinamento podem ser.
Sebastian deixa Val roubar um gole de sua bebida. Ela enruga o nariz, engasga
e devolve. — Horrível. — Então, séria, ela perguntou: — Você ainda está com
Sam?
Em algum lugar entre o término e perceber que não amava Sam, Sebastian
desenvolveu um certo rosto que vinha com a menção dela. Mason disse que a
expressão o fazia parecer um zumbi, o que é justo, já que ele estava bem morto
durante a última metade do relacionamento deles.
— Ai, — Val diz, segurando uma risada. — Tão ruim assim?
— Mais ou menos.
Atrás de Sebastian, Mason está escondido em uma mesa com Willie, Hunter e
Charlie. A julgar por todos os gestos com as mãos e reconstituições do tipo
Macbeth, é óbvio que Mason está falando sobre a viagem da família à Califórnia,
três anos atrás.
Val dá a ele um olhar igualmente morto-vivo quando Sebastian se vira para
ela, então ele evita tocar no assunto. Ela suspira. — Aconteceu o mesmo
conosco, — Ela abaixa o queixo.
— Sério?
— É para o melhor. É meu último ano do ensino médio. — Os lábios de Val
se torceram em um sorriso malicioso. — Carpe diem e toda aquela merda que
eles nos ensinam.
Sebastian ri e dá um gole em sua bebida.
— Vou para a faculdade de design em Paris.
Os olhos de Sebastian se arregalam. A voz de Val parece certa enquanto ela
explica seus planos; seus próximos quatro anos estão planejados. Ele está
maravilhado, principalmente porque Sebastian não tem ideia do que vai fazer
nos próximos quatro meses além de jogar futebol. Ele tem ciúme das pessoas que
têm certeza de seu futuro antes que aconteça. Como alguém pode saber o que
eles farão com suas vidas inteiras, quando ele não consegue descobrir onde ou
mesmo se ele vai para a faculdade? Mas aqui está Val, não tendo um único
ataque de pânico sobre a vida após o colégio.
— É ótimo, — Val continua, como se ele não estivesse perdido no espaço. Ela
enfia uma mecha de cabelo cor de avelã atrás da orelha. — Estou no controle de
como será minha vida após a formatura. Posso decidir quando quiser.
Tudo parece tão fácil. Quando ela estiver longe do colégio e não se preocupar
com romances bobos, ela terá tudo sob controle. Sebastian não acredita que seja
tão simples, mas ele gosta do sonho que ela está vendendo.
Além disso, Mason é um grande babaca por deixá-la. Sebastian não diz a ela,
porque está claro que ela já teve aquela epifania.
— Então é isso?
— A vida continua depois do colégio, Bastian. — A mão dela cobre a dele no
balcão. — Todos nós seguimos em frente.
Sebastian quer dizer que com a vida dela, é impossível de descobrir. Como ele
silencia todos os enormes e monstruosos medos que atormentam sua mente?
— Bem, bem, — Mason interrompe, deslizando entre eles antes que Sebastian
pudesse dizer uma palavra. Suas costas e cotovelos descansam contra o balcão
enquanto ele olha Val como um lobo. — Está ótima, Jones.
— É bom saber, — ela diz.
O rosto de Mason fica pálido e depois confuso.
— Bem, — Val diz, pulando de seu banquinho. Ela se inclina sobre Mason
para beijar a bochecha de Sebastian. — É sempre bom ver você, Bastian. — Ela
passeia de volta para sua mesa.
A mandíbula de Mason aperta; seus dedos se enrolam e se desenrolam ao lado
do corpo.
— Mace, você...
— Vamos sair daqui, mano, — diz Mason com um rosnado, respirando
pesadamente. Ele olha para o banco vazio como se Val fosse reaparecer
magicamente, e então empurra a cabeça em direção à porta. — Ouvi dizer que
Zach encontrou um morador da cidade para comprar cerveja.
Mason e Willie são opostos quando se trata de discutir sobre a palavra com S:
sentimentos. Isso não é coisa de Mason. Quando Sam terminou com Sebastian,
Mason deu um soco no ombro dele e passou uma Heineken. "Beba tudo" é o
lema de Mason, seu mecanismo de enfrentamento. Sebastian culpa o pai de
Mason por abandonar ele e suas cinco irmãs mais novas. A reivindicação de fama
de Mason é ser um deus do futebol em Bloomington e um fodão. O álcool
camufla as cicatrizes de sua juventude, mas a força não é medida pela capacidade
de um cara de drenar um pacote de seis e não chorar.
Mason parece pronto para abrir um buraco no peito de alguém quando ele
responde: — Vamos logo, cara.
Sebastian suspira. Mason reúne os outros jogadores enquanto Sebastian
verifica com Liza para ter certeza de que todos os problemas foram resolvidos.
Ele nem mesmo ganha sua fatia de torta de graça.

***

TRÊS HORAS E QUATRO CERVEJINHAS depois, Sebastian se pergunta se a noite inteira


foi uma ideia espetacularmente horrível.
Ele ainda está muito sóbrio, então não entende por que andar em linha reta
deve ser tão difícil, a menos que seja porque ele tem uma lesma de quase noventa
quilos chamada Zach pendurada nele. Eles estão lutando para chegar à cabana de
Zach por dez minutos. Carregando a maior parte do peso de Zach, Sebastian
antecipa seu eventual colapso na terra.
— Mano, o chão está… — Zach faz uma pausa para soluçar, depois ri e diz:
— se movendo.
Decisão tomada: esta noite é a pior.
A maior parte da equipe conseguiu voltar antes do toque de recolher, embora
alguns estivessem tombando como blocos de construção. Os sóbrios, calouros
rabugentos, tentam ajudar no que podem. "Nenhum irmão é deixado para trás"
é a regra de ouro entre os Lions, uma regra que Sebastian está morrendo de
vontade de quebrar porque o hálito de cerveja de porão de Zach está exalando
em seu rosto.
— Você vê? Estamos, tipo, pairando.
— Nós não estamos, — Sebastian tenta, mas Zach já está em outra tangente.
Os amigos de Sebastian não ajudam. Mason está mijando em um arbusto.
Hunter está esparramado no banco de trás do carro de Mason com a cabeça no
colo de Willie enquanto Willie destrói uma música de John Mayer com sua voz
desafinada. Não, Willie, seu corpo não é um país das maravilhas. Sebastian está
sozinho, fazendo uma contagem mental enquanto arrasta Zach sobre a terra e
seixos.
— Eu posso voar!
— Cala a boca. — Sebastian tem um braço em volta das costas de Zach. Zach
é assustadoramente alto, algo de que Sebastian não tem ciúme. Mas isso torna
toda essa coisa de andar tão estranho. — Você vai acordar os treinadores, — ele
avisa, como se isso pudesse funcionar.
— Então eles verão que eu posso voar! — Os olhos de Zach estão sombreados
por seu cabelo despenteado, mas a lua brilha em sua cor avelã.
— Perfeito.
A este ritmo, o treinamento com pesos no outono não será necessário.
— Eu te amo, cara, — Zach diz, pendurado para um lado. — Tipo, você é
meu irmão e meu capitão e…
— Ok, entendi. — Sebastian cuidadosamente evita que Zach cambaleie. Se
ele conseguir que Zach se concentre um pouco, eles chegarão à porta antes que
ele faça 21 anos.
Sebastian deixa Zach falar, porque Zach pode se concentrar em seus membros
enquanto está tagarelando sobre o que quer que esteja em sua mente. Zach o
atormenta sobre estar sempre sóbrio, algo que Sebastian faz para seu benefício. E,
para constar, a cerveja tem gosto de enxaguante bucal ácido e bile. Ninguém está
convencendo Sebastian do contrário, nem mesmo os caras.
— Não estou bêbado, — declara Zach.
— Nem um pouco, — Sebastian mente. Zach tropeça e os reflexos lendários
de Sebastian surgem. Ele impede Zach de plantar o rosto em um arbusto.
Zach murmura obrigado antes de começar uma história sobre aquela época em
que Sebastian se soltou com os caras. Na última festa de Carl. Sebastian estava
tão farto da merda que era seu relacionamento com Sam, ele tomou uma tragada
suave do baseado de Mason, tossindo violentamente antes de suavizar com a
vodca. Ele era um campeão por não desmaiar ou flertar com uma parede, como
Jack fez.
— Cara! — Zach engasga como se tivesse levado um chute no rosto. — Eu fiz
algo totalmente estúpido, não fiz?
— Bem. — Sebastian considera listar todas as coisas que Zach fez. Ele não
consegue segurar — Você quase vomitou em cima da amiga de Val.
Zach fica pálido. — Ela era bonita?
— Elas eram todas bonitas.
E elas eram, não que Sebastian flertasse com alguma delas. Uma garota, com
olhos como os de uma criatura da floresta da Disney e um sorriso irregular, era
bonita. Ele normalmente teria pelo menos feito uma tentativa de flertar, com
suas piadas cafonas, mas esta noite ele não conseguia superar ou parar de pensar
em como os olhos dela eram verdes em vez de cinza, como nuvens de
tempestade. Muito deprimente.
— Então, — Zach diz, inclinando-se para a frente, — não peguei o número
dela?
— Não.
Zach e aquela garota teriam uma história adorável para contar aos netos sobre
como eles se conheceram: — Sim, eu quase vomitei no cabelo dela e a convidei
para ir ao cinema! — Mais comédias românticas deveriam começar assim.
— Ela não estava interessada de qualquer maneira. — Zach tenta em vão ficar
ereto. — Ela tinha objetivos, e um perdedor do ensino médio como eu não era
bom o suficiente.
— Ei, — Sebastian diz. — Você não é um perdedor, Zach. Detestável quando
bêbado? Com certeza. Mas não um perdedor.
Zach sorri torto, como se quase acreditasse em Sebastian. Caras como ele –
Zach mora em uma casa decadente com um pai fumante inveterado que prefere
gritar com a TV a ir a qualquer um dos jogos de Zach – nem sempre ganham
todos os tipos de líderes de torcida. Zach não é o que Sebastian chamaria de
frágil, mas o universo inteiro de qualquer pessoa pode ser destruído quando
envolve a aprovação da família ou de alguém por quem você se sente atraído.
— Talvez ela tenha ouvido que você era virgem, — Sebastian diz com uma
risada forçada. O humor é sempre um bom remédio para pensamentos
mórbidos.
Zach, com cara de merda e vacilante, zomba. — Eu não sou. Eu recebo
muitos rabos.
— Isso não é o que as garotas em Bloomington dizem.
— Mentiroso! — Zach bate a mão nos olhos, cuspindo. — Você é um idiota,
Hughes.
Sebastian faz uma pausa para que Zach possa recuperar o fôlego. Ele se inclina
como se fosse finalmente vomitar. Sebastian espera que não. Estes são seus
favoritos Chuck Taylors; o tecido está gasto e desbotado.
— Tá melhor?
Demora um segundo antes de Zach concordar, puxando um sorriso do ar. —
Você deveria ter marcado com alguém esta noite. Superar toda essa coisa da
Sam, sabe?
Isso é tudo que Sebastian era, certo? Futebol, graduação e Sam. Hoje em dia,
Sebastian quer que sua vida seja feita de futebol, futebol e mais futebol. Mas ele
superou isso, a parte de Sam. Alguns ex são apenas uma frase na história da vida,
não o capítulo definidor com todo o drama e clímax incrível.
— Talvez na próxima vez? — Sebastian oferece.
— Sim! Da próxima vez, eu vou fazer você transar, — diz Zach. — Isso são
objetivos de vida, mano.
Ótimo. Isso é tudo culpa de Mason, como tantas coisas na vida de Sebastian, e
ele vai fazer Mason sofrer por não ajudá-lo a arrastar Zach.
Zach boceja. Sebastian faz uma careta porque, realmente? Zach tem a coragem
de ficar cansado quando é Sebastian quem tem o monte Olimpo pendurado em
seus ombros?
— Já estamos lá?
— Cara, você está me zoando, tipo...
— Ei.
Sebastian mal reconhece a voz suave e grogue antes de outro braço passar pelas
costas de Zach. Ele se inclina para frente, uma tarefa difícil considerando o quão
corpulento Zach é. O cabelo despenteado de Emir e os olhos cinza cansados
aumentam sua expressão mal-humorada.
— O que você está...?
Emir grunhe para Sebastian. — Você parecia que estava prestes a morrer.
Eu estou. Sebastian sorri.
Emir boceja e depois faz uma cara de nojo. — Ele fede.
Sebastian, não mais carregando o peso de Godzilla sozinho, ri até que o nó de
frustração se desfaz em sua barriga. Ele não se importa se Zach hesitar porque,
pela primeira vez, ele não está tentando salvar a bunda de um de seus
companheiros de time sozinho. Quando ele se esforça para olhar ao redor de
Zach, a expressão divertida de Emir o cumprimenta.
— Então, — Emir diz enquanto se aproxima da cabana de Zach, — você faz
isso com frequência?
Sebastian diz: — Não, mas... eu sou o único que cuida deles, — para seus pés.
Ele não fica envergonhado, mas às vezes dizer a verdade em voz alta faz com que
pareça pior do que realmente é.
— Hã.
— E eu poderia ter feito isso sozinho, — Sebastian diz apressadamente, mas
ele não está sendo defensivo. Ele simplesmente não quer que ninguém o chame
de vítima.
— Você acha?
— Talvez? — Sebastian não tem certeza. — Eu estava quase lá.
Emir bufa, e isso força Sebastian a aceitar que, não, ele não estava tão perto
assim.
Nas costas de Zach, suas mãos se tocam ocasionalmente, os dedos quase se
unindo enquanto tentam realinhá-lo. Arrepios se espalharam do pescoço de
Sebastian até o peito. O toque da mão macia de Emir o deixa tonto, um
problema que ele nunca teve com outros caras. É assustador, porque isso coloca
Emir na pequena categoria de Caras Pelos Quais Sebastian Se Sentiu Atraído.
— Nós acordamos você? — O estrangulamento de sua garganta em torno de
suas palavras o mortifica.
Ele não consegue dizer se Emir está concordando ou balançando a cabeça até
que Emir diz: — Ainda não consigo dormir direito por aqui.
Sebastian murmura. A noite inteira, incluindo este momento, é um desastre
de trem.
E para adicionar a isso, Zach diz: — Bem, se não é o grande Emir Shah, —
como se tivesse acabado de notar que Emir está sob a asa de seu braço. — Então,
qual é a sua história?
— Minha o quê? — Emir grunhe de volta.
Puxando Zach em sua direção, Sebastian tenta desesperadamente se certificar
de que todos eles não comam terra.
— Sua história, cara, — Zach diz, exasperado. — Ninguém conhece você.
— Eu prefiro assim.
A testa de Sebastian franze. Não é a resposta que ele esperava. Então,
novamente, nada sobre o Emir é previsível.
— Ah, vamos lá, cara, — Zach diz. — Todo mundo precisa de uma história.
— Ele para, fazendo Sebastian gemer, antes de pensar em Emir. — O que você
é? Cdf? Geek de banda? Geek de arte? Emo? Você definitivamente não faz parte
do grupo de atletas.
— Eu não sou um estereótipo. — Emir encara como se pudesse simplesmente
largar Zach, mas não o faz, e Sebastian fica aliviado.
— Ok, mas você é, — Zach diz, em seguida, respira fundo, — quieto. É
assustador. Como você vai fazer amizade conosco?
— Não estou aqui para fazer amigos.
As coisas estão a segundos de se tornarem uma catástrofe nuclear. Sebastian
tenta andar um pouco mais rápido, mas é difícil, pois nem Zach nem Emir estão
cooperando. Ele está cansado e confuso com a atitude instável de Emir. Ele só
quer sua cama e que todos se calem.
— Você está interpretando o adolescente estranho? — pergunta Zach, rindo
da carranca de Emir.
— Eu não estou interpretando nada...
— Quando éramos crianças, — Zach continua, — você não dizia uma palavra
a menos que Bastian estivesse por perto.
— Zach, — avisa Sebastian, porque ele não precisa disso agora.
— Não, não, — Zach diz. — O que há de errado com o resto de nós? Eu não
entendo. Eu não entendo você, Shah.
Sebastian quase derruba Zach tentando ler o rosto de Emir. Ele está todo
vermelho e respirando com dificuldade; seus olhos estão vidrados. Sua
mandíbula flexiona como se uma boca cheia de palavrões fosse explodir, mas ele
não diz nada. Ele olha para a frente. Ele adquire uma vibe de garota-do-
Exorcista.
Zach tira os braços de ambos. Ele tropeça, então recupera o equilíbrio. Com
um hálito embriagado, ele sorri por cima do ombro para Emir. — Aqui vai uma
dica, Shah: somos uma família neste time...
— Zach, cara, por favor, — Sebastian implora.
Mas Zach continua: — Se você quiser entrar, é melhor aprender que há mais
caras do que seu super-herói Bastian.
Zach oscila de um lado para o outro, então tropeça na varanda. Ele bate com o
ombro na porta algumas vezes antes que ela se abra. Então, ela se fecha.
Sebastian se vira, sussurrando, — Emir, — mas é inútil.
Destacando seus ombros trêmulos e rosto vermelho, a luz da lua faz auréolas
em Emir. As lágrimas não afogaram seus cílios, mas são ameaçadoras. — Eu
preciso ir para a cama, — ele diz em uma voz quebrada.
— Espere, deixa eu...
— Aqui está um fato engraçado: todo mundo no ensino médio é um idiota,
— disse Emir. Ele acena com a mão. — Seus amigos não são exceções. — Ele
limpa um dedo na bochecha esquerda, dando a Sebastian tempo suficiente para
puxar algo comovente de sua bunda.
As palavras nunca vêm. Pelo menos, não até Emir ir embora, com a cabeça
baixa e os punhos balançando.
— Obrigado.
11

O ACAMPAMENTO HAVEN É UMA CIDADE fantasma na manhã seguinte. A maior


parte do time dorme durante o café da manhã. Seus zumbidos dão lugar a dores
de cabeça, exaustão e acessos de náusea. Os caras se arrastam como zumbis para a
sala de recreação para um torneio de monstros da FIFA no Xbox. Um punhado
se esconde contra qualquer ameaça de luz atrás de óculos escuros.
Sebastian pula sua corrida matinal. Ele quase não dormiu na noite passada.
Ele recusa o convite de Kyle e Gio para uma partida de pingue-pongue. Ele não
é bom para ninguém quando sua mente está à deriva, perdido no mar sem uma
bóia. Ele está se afogando pensando em Val e Mason, na atitude de Zach, no
time e em Emir Shah.
Por que é tão difícil tirar do seu cérebro aquela pessoa que teme vê-lo? Devia
ser moleza.
O cérebro de Sebastian está tão cheio de merda que Emir simplesmente
circula pela superfície como restos em um ralo entupido.
O lago é um bom lugar para libertar seus pensamentos. A luz do sol reflete na
água, ouro contra azul. Tordos e pardais cantam seus doces hinos. Ele pressiona
o telefone no ouvido, cai na doca de madeira que se estende alguns metros para
dentro do lago e mergulha os dedos dos pés na água fria.
— Bumble Bee!
Sebastian estremece. Um dia Lily vai perceber que o apelido é infantil e trágico
e finalmente vai parar de chamá-lo assim.
Eles passam pelo seu acompanhamento dos acontecimentos como sempre; Lily
conduz a maior parte da conversa. Ele não tem muito a dizer. Sua voz é o
suficiente até que ela diz: — Algo está em sua mente, Bastian, — e ele se
considera cair de barriga no lago e se afogar, então ele nunca teria que admitir
para ela o quão ferrado está.
— Não é nada.
— Sebastian William...
Ah merda.. Lily só usa o nome do meio dele quando ele está prestes a irritá-la
além do possível.
— Não é nada demais, mãe. É só... nosso primeiro jogo contra os espartanos é
tão cedo.
Ela cantarola. — Seus inimigos mortais.
Sebastian faz um ótimo trabalho em segurar o suspiro. — Eu estou nervoso; é
um grande jogo. Precisamos vencê-los. — Seus pés fazem barulho; gotículas
douradas iluminadas pelo sol ondulam a superfície do lago.
— Bem, querido, — diz Lily, — ganhar ou perder, qual é a parte mais
importante?
— Acabar com eles e ganhar o campeonato.
Lily sempre foi indiferente a seus palavrões, graças a Carly, que fez acrobacias
ultrajantes o suficiente e trouxe namorados questionáveis o suficiente para
Sebastian conseguir um passe livre. — É sobre você, — diz ela, seu tom sério.
Sebastian rapidamente fica sério. — Este tem sido o seu sonho, certo? Entrar no
time. Ter esta jornada.
— Sim.
— E agora você é o melhor goleiro da conferência...
— Eu não sou o melhor.
— Tanto faz, — diz Lily com um sorriso quase audível. — É normal estar
nervoso.
Mas e quanto à pressão para manter todos na linha? Descobrir as aspirações de
sua vida? Além disso, esses sentimentos estranhos e espinhosos sobre seu ex-
melhor amigo? Claro, ele não menciona nada disso para ela, mas são pesadelos
recorrentes.
Talvez alguém devesse criar uma nova hashtag: "A vida é complicada, mas
matemática também."
Lily fala aleatoriamente sobre seu pai, o cachorro da família, Thor, e seu
jardim. Ela fala sobre o colégio e ele furtivamente evita o assunto porque, de jeito
nenhum, ele não tem forças para uma discussão sobre a faculdade. Sebastian não
está pronto para a realidade de ser um adulto: ganhar um diploma, começar uma
família e viver os sonhos que seus pais têm para ele.
Lily diz: — Vai dar tudo certo.
Ele não pode deixar de responder: — Isso é o que você deve dizer.
— Bom, é verdade!
— Você não pode provar isso.
— Eu não preciso, Sebastian William, eu sou sua mãe.
Sebastian deixa o assunto morrer. Ele já a empurrou longe o suficiente e não
quer estragar o momento.
— Talvez se você encontrar uma garota legal, que não seja Sam, pare de ser
uma praga, — diz Lily, meio rindo, meio esperançosa.
Ele deveria contar a ela. Sem dúvida, ser bissexual é a única parte de sua vida
em que Sebastian não teve que pensar sobre. É também a única coisa em que ele
não precisava ser ótimo, não do jeito que tinha que tentar ser um bom amigo, ou
ser um perfeccionista em campo, para causar um impacto.
É assustador confessar isso aos seus pais. Quando se trata de ser outra coisa
que não hétero, parece que há uma cláusula de letras miúdas: uma penalidade
para divulgação total quando você pertence à comunidade LGBTQ. Sebastian
não entende. Não deveria importar por quem seu filho se apaixona. O amor é
considerado uma emoção feliz e reconfortante, mas sempre vem com conflito. E
ser tudo menos honesto significa fazer essas declarações enormes para as pessoas
mais próximas de você.
Por que assumir para seus entes queridos é como fazer um discurso em sua
campanha para presidente?
— Bastian?
Ele engasga. Seus pais não o odiarão pelo que ele é, mas ele não tem certeza de
que eles vão entendê-lo também. — Sim, mãe, — Sebastian gagueja. — Talvez
eu encontre alguém. — E o resto, ele guarda para si mesmo.
Sebastian olha para a tela depois que eles desligam. Ele se levanta, sentindo-se
mais leve do que antes. Ele corre de volta para sua cabana.
OS ESPELHOS NÃO SÃO OS OBJETOS MAIS amigáveis. Sebastian decidiu isso anos
atrás, mas está inescapavelmente claro agora que ele está sem camisa,
inspecionando seu corpo.
Em sua cabeça, ao repetindo, ele ouve: — Bastian, o cesto de lixo, Bastian, o
cesto de lixo...
Atrás dele, Willie e Hunter estão enrolados sob uma manta na cama de Willie,
roncando e mortos para o mundo. O rosto de Willie está esmagado no pescoço
de Hunter. Os dedos de Hunter estão enroscados no cabelo de Willie; suas
metades inferiores estão emaranhadas. Um par de irmãos carinhosos.
Sebastian percebeu que ficariam assim por mais uma hora, que foi todo o
incentivo de que ele precisava para trocar de roupa para uma corrida tardia.
Então ele teve um vislumbre de si mesmo. Agora, ele não consegue mover os pés.
Ele está reposicionando seu corpo para parecer normal. Sim, ele gosta de
algumas coisas em si mesmo: sua pele tem um bronzeado cremoso e natural e ele
tem um peito largo e quadris estreitos. Mas as falhas aparecem. Ele perdeu a
definição em seus braços. Seu metabolismo finalmente acompanhou seus surtos
de crescimento, então sua barriga está mais macia. Ele puxa o tecido extra acima
de seu quadril e sibila: — Que diabos, — quando se estica dolorosamente.
Sebastian tentou mudar sua dieta, mais tempo na sala de musculação,
perdendo calorias, qualquer coisa para fazer a diferença, para acabar com aquelas
provocações em seu cérebro. Mas no reflexo, uma versão mais velha daquele
garoto intimidado o encara.
— Merda.
O nó em seu peito se expande. Emir nunca iria atrás dele. Não que Emir o
queira, mas por que ele iria? Sebastian não está na liga de Emir, pelo menos
fisicamente.
— E estes são os dias de nossas vidas… — Willie resmunga em seu sono; uma
perna pende para fora da cama. Hunter está apertando um braço em volta dele
para que os dois não rolem. Seria um sucesso viral se Sebastian gravasse em seu
telefone, mas ele decide não o fazer.
Código dos Bro's.
Sebastian olha seu reflexo uma última vez. "Dane-se, espelho maldito" está
implícito quando ele mostra o dedo do meio. Ele puxa uma blusa, rouba o iPod
de Willie e se dirige para a porta.
Ele ainda pode correr antes do almoço se se apressar.
12

— BECKHAM É UMA LENDA.


Jack está apontando um garfo de plástico acusador para Gio. Ele tem uma cara
de rato pálida e sardenta que lentamente fica vermelha enquanto Gio zomba.
Seus olhos estão inflamados, o que aumenta sua aparência perturbada.
Gio diz: — Ele não aguenta nada contra Ryan Giggs, amigo.
Gemendo, Jack solta o garfo e joga as mãos para cima.
É final de tarde e o time finalmente entrou no refeitório como um tornado de
categoria cinco. Este argumento, e alguns outros, é proeminente entre jogadores
de futebol da Bloomington High. Sebastian pulou a fila do almoço depois de sua
corrida e se estatelou na mesa deles com um shake de proteína para se sentar na
primeira fila.
Ele está apostando no favoritismo usual de Kyle com Ronaldo ou...
— E o Rooney?
Bingo! Sebastian ri para si mesmo. Ele se volta para Mason, que parece ter uma
ressaca horrível e está debruçado sobre uma xícara de café.
— Isso parece nojento, — diz Mason, os olhos mal abertos. Sebastian dá um
grande gole em seu shake. Mason ainda está usando a calça do pijama e seu
cabelo está solto, como se fosse necessário um exército apenas para tirá-lo da
cama.
Sebastian limpa a boca com a mão. — A sua cara também, — diz ele, e é
recompensado com uma saudação com o dedo do meio. Ele relaxa em sua
cadeira. É plástico e desconfortável, mas ele se vira apoiando os pés em um
assento vazio ao lado de Willie.
Willie e Hunter estão encostados um no outro. Eles sussurram como se
estivessem planejando um assalto a banco. Isso não acabará bem.
— O que tem aí? — Mason acena com a mão para a bebida de Sebastian.
— Whey, coisas verdes, bananas, mais coisas verdes.
Mason estremece. — Vou vomitar na sua boca, cara.
Sebastian foge de Mason. Vômito de projétil não estava no menu de almoço
de hoje.
— Aqui.
Sebastian nem sempre é a pessoa mais observadora. Ele está, no entanto,
congelado e em choque ao ver Grey sentada em frente a eles em sua mesa. Ela
acena dedos delicados; seus cachos estão amarrados em um rabo de cavalo.
Sebastian arqueia uma sobrancelha.
— Tome dois, — diz ela a Mason, empurrando um frasco de comprimidos
para ele. — Eles são para enjôo, mas devem resolver o problema. E são à base de
ervas.
— Quem e o que está acontecendo? — Mason pergunta. — Willie, cara, você
fez isso?
Willie está vermelho brilhante, rindo de algo que Hunter diz e sem saber da
existência de Mason.
— Não seja um idiota, — murmura Grey.
Mason agarra a garrafa; comprimidos chocalham dentro. Ele abre a boca e
joga dois, fazendo uma careta. Por cima da xícara de café, ele a encara
fracamente.
— Isso vai me matar, não é? Esse é o seu plano?
— Você acha que eu quero te matar? — Grey pergunta.
— Acho que você quer fazer muitas coisas comigo. — Mason deixa sua
declaração aberta para interpretação.
— Ouça. — Grey suspira, esfregando as têmporas. — Eu peguei Charlie
vomitando as tripas nos arbustos e protegendo vocês quando Rivera veio
perguntar sobre. Eu mereço pelo menos um "Obrigado, Grey".
Mason levanta o polegar antes de voltar ao café.
Levantando uma sobrancelha, Sebastian se vira para Grey. — Sério? Ele? —
ele pergunta, apontando para Mason, que encontrou uma conversa com Charlie
para mantê-lo distraído de Grey.
Willie olha para eles. Sebastian sabe que ele convidou Grey para sua mesa.
Willie é aquele cara amigo de todos. Toda a turma do último ano em
Bloomington recebe um high-five ou um "Oi, linda" para as meninas.
Popularidade é fácil para Willie. Sebastian está apostando em Willie para o Rei
do Baile.
Perto de Sebastian, os rapazes falam sobre os resultados do SAT, aulas
avançadas e o baile. Willie levanta uma sobrancelha dramaticamente quando
Hunter menciona que frequentou a UCLA. Mason ainda está indeciso.
Sebastian relaxa, esperando uma mudança de assunto, e o treinador Patrick a
fornece.
— Rapazes, rapazes! — ele grita da frente da sala. — Descansem hoje.
Amanhã começaremos a praticar para os espartanos. Eu tenho algumas filmagens
de seus treinos de primavera. Estamos prontos?
Grunhidos irrompem pela sala, constantes como o ritmo de uma bateria.
— Vocês vão derrubá-los este ano, certo?
Agora as mesas chacoalham; alguns caras batem suas bandejas.
— Nós somos Lions, certo?
Rosnados e rugidos ecoam nas paredes. Jack tenta maltratar Smith. O
treinador é ótimo em irritar os caras. Sebastian mastiga a unha do polegar. O
treinador Patrick sempre será o seu favorito.
— Ele está estressado com o primeiro jogo, — Grey confessa quando a sala
começa a esvaziar. Ela brinca com um cacho. — Nosso ataque é bom, mas a
defesa precisa ser trabalhada.
Sebastian concorda; ele tem os cotovelos na mesa com o queixo nas mãos.
À sua esquerda, Mason diz: — Então, acho melhor Willie voltar ao campo.
Olhando para a mesa, Willie passa a mão pelo cabelo. Sua boca é desenhada
em uma linha branca e fina. Hunter puxa a orelha de Willie até ele levantar o
queixo. Eles se perdem em uma conversa sobre videogames.
Sebastian não descobriu como tirar Willie de seu medo, mas pelo menos
Hunter está por perto.
— Vai, Bloomington! — alguém grita no caminho para fora da porta.
— Vai, Lions, — Sebastian sussurra.
O conjunto de janelas na lateral da sala deixa entrar rajadas de sol e calor que
fazem Sebastian querer dar um mergulho. Na mesa sob as janelas, Emir está
dobrado desajeitadamente com um gibi equilibrado sobre os joelhos. Uma tigela
de frutas quase intocada está ao lado de seu cotovelo. Traços de franja escura
caem sobre sua testa, ajudando a esconder seus olhos. Mas sua boca está aberta;
ele deve ser cativado por tudo o que está lendo. Sebastian encara seus lábios,
escorregadios com saliva de uma língua rosa, e...
— Bastian, mano.
Mason estala os dedos para ele. Sebastian quase cai da cadeira, mas recupera o
equilíbrio batendo as mãos na mesa. Quase tomba. Quatro pares de olhos
arregalados o encaram, e suas bochechas queimam. Sem fôlego, ele tenta falar,
mas apenas sai: — Hum, sim, nadar parece uma ótima ideia! — Ele tem certeza
de que ninguém estava falando sobre nadar.
— Ok, — Mason fala arrastado com uma sobrancelha levantada. — Eu
preciso de um cochilo, mas sim. Vá. Nade pra longe.
Sebastian quer bater a cabeça na mesa.
— Legal, — Willie diz, porque ele é uma dádiva de Deus. — Eu poderia
aproveitar um mergulho.
— Eu também. — Assentindo, Hunter coloca um braço em volta do pescoço
de Willie.
Sebastian afunda em sua cadeira; seu queixo quase bate na mesa. Ele espia a
mesa de Emir, rezando para que sua exibição idiota tenha passado despercebida,
mas Emir não se moveu um centímetro. Obviamente, Sebastian não vale a pena
notar.

***

SEBASTIAN ACORDA NA SEGUNDA-FEIRA com o sol laranja batendo em suas


pálpebras. Seu celular, ainda determinado a trair seu descanso, grita. Sebastian
quase o joga do outro lado da sala, mas ele lembra que sua mãe não vai comprar
outro para ele, então ele revira os olhos para ele.
Ele supera sua rotina matinal de roupas, tênis e roubo do iPod de Willie: uma
grande conquista que Sebastian consegue com um olho aberto. Ele grava um
vídeo de Willie beijando seu travesseiro. Ele vai usar para chantagem se Willie
contar a alguém que Sebastian comeu um grilo por causa de um desafio.
O Acampamento Haven é silencioso, os tons matinais de tangerina e azul
oceano pintados nas cabines e árvores. Sebastian aperta os olhos contra o sol
forte. Ele está naquele espaço nebuloso onde não está dormindo, mas ainda
sonhando, e esse é o único motivo para tropeçar na cabana de Emir depois de
escovar os dentes.
A janela já está aberta. A sensação de conforto de Sebastian desaparece
rapidamente. Isso pode ser uma armadilha. Talvez tachinhas estejam esperando
do outro lado da janela.
— Nah. — Ele ri para si mesmo, pressionando os braços na borda da janela
para saltar para dentro.
A luz solar desenha bordas nítidas na cabine. Emir está enrolado em uma
pequena bola, enterrado sob montes de cobertores. Sua cabeça está para fora. Ele
está chupando o lábio inferior como uma criança.
As aparências enganam definitivamente.
Emir rola para longe da luz do sol, expondo suas costas sem camisa quando os
cobertores escorregam para baixo. Olhando para a tatuagem de falcão entre as
omoplatas de Emir, Sebastian morde o próprio lábio com força. Ele sempre quis
uma tatuagem própria, mas esta doce obra de arte faz o pensamento parecer mais
sério. Sua mente começa a divagar em um devaneio perverso de rastrear toda a
tinta sob a ponta de seus dedos enquanto Emir ofega e – todo o seu cérebro
desvia.
— Ok, — ele sussurra. — Isso não é nada saudável.
As tábuas do assoalho rangem em seu caminho para a cama. Sebastian faz uma
pausa. Os ombros de Emir sobem e descem; o lado de seu rosto revela uma
máscara de paz. Sua mão se fecha em punho no travesseiro.
O desejo de deixar Emir ali quase acaba com os planos de Sebastian de acordá-
lo.
A mão de Sebastian está fria contra as costas quentes de Emir. Arrepios sobem
pela pele de Emir. Os dedos de Sebastian delineiam cada saliência em sua
coluna. — Emir, — ele sussurra. Emir é gelado e petulante, então palavras como
fofo e adorável não deveriam passar pela cabeça de Sebastian. — Vamos lá cara.
Levante-se, Emir.
Emir acorda como um cachorrinho, tremendo o nariz e o corpo em convulsão.
Seus olhos se abrem, então brilham. — Que diabos, Bastian?
Sebastian quer ressaltar que Emir estava esperando por ele, já que a janela
estava aberta, mas ele diz: — Eu...
— Não. De jeito nenhum, cara. Vá embora. — Emir se vira para fungar no
travesseiro. — Não vai acontecer.
— Emir...
Emir, destruindo completamente todos aqueles pensamentos "inocentes" que
cruzaram a mente de Sebastian, começa a murmurar. Ele se enrola para dentro
como se pudesse desaparecer.
Sebastian caminha até a cama com os joelhos. Ele enfia a mão sob os
cobertores e faz cócegas nas costelas de Emir até que ele estremece e grita. É uma
pequena vitória. — Você sabe que você quer...
— Acabar com você?
Sebastian não consegue descobrir como o Emir pode ser tão diabolicamente
bonito enquanto espia por entre os cílios. — Engraçado, — ele diz.
Emir fecha os olhos com força. Ele tenta se esquivar, murmurando: — Vá se
ferrar, — mas sua expressão é suave, como um gatinho mal-humorado saindo do
efeito de um catnip.
Poser. — Hora de correr. Todos os especialistas, e Oprah, dizem que exercício
é bom para você.
— Eles mentiram, todos eles. Mentiras horríveis e desrespeitosas, — diz Emir.
— Agora vaza.
Sebastian grasna pateticamente antes de bater na espinha de Emir. — Não seja
um idiota, — diz ele, em seguida, puxa o ombro resistente de Emir. Sebastian é
mais forte do que Emir, o que agrada seu ego. — Vamos. Você vai melhorar.
Emir rosna como um leão adormecido. Não ajuda que tudo o que está
acontecendo abaixo da barriga de Sebastian goste desse barulho. Horrorizado, ele
se vira para respirar fundo e se acalmar. Ele está desapontado com seu corpo,
porque ficar excitado enquanto tenta acordar um companheiro de time é tão
inapropriado.
Ele imagina bebês chorando, a aula chata de história do Sr. Drake, qualquer
coisa para impedir imagens de Emir, beijos no pescoço e seus corpos
emaranhados. Ele está fritando suas células cerebrais. Emir não está ajudando
nem um pouco reclamando: — Você não vai embora, vai? — com uma voz
rouca.
— Quer dizer… — Sebastian está suando. Seus dedos estão enrolados nos
lençóis de Emir. — Não é como se você tivesse pedido minha ajuda, então, tanto
faz. Eu posso largar, se você quiser. — Ele não quis dizer isso como uma
pergunta desesperada, mas sai dessa forma. Seu constrangimento está em níveis
nucleares.
Emir suspira. — Não, está tudo bem. — Ele se vira para trás de Sebastian e se
apoia nos cotovelos. Lentamente, Emir rasteja para fora dos cobertores. Ele se
senta ao lado de Sebastian. A linha de frustração entre suas sobrancelhas é
substituída por um sorriso sonolento, e ele empurra o ombro de Sebastian
quando ele se levanta. — Eu realmente te odeio.
— Bem, graças ao bebê Jesus, o sentimento é mútuo! — Sebastian provoca.
Então, sério, ele diz: — Você realmente me odeia?
— Não, — Emir diz em meio a um bocejo, ficando na ponta dos pés com as
mãos estendidas em direção ao teto. — Mas você é chato de manhã.
Sebastian aguenta isso. Mas seu cérebro só aceita a atitude de Emir porque
seus olhos estão ocupados olhando para o corpo de Emir. Com apenas um par
de cuecas e meias, a pele marrom de Emir torna-se dourada sob a luz do sol. Ele
é magro, mas pequenos músculos são definidos em todos os lugares. Não ajuda
que seu cabelo se arrepie em uma penugem alta. E então há seus quadris
estreitos, ângulos escondidos atrás do cós de sua cueca, o material esticado...
— Hum.
Sebastian levanta a cabeça.
O movimento de cabeça de Emir é seguido por risadas. Ele diz: — Ei, tá legal.
Você nunca teve ereção matinal?
Se houvesse uma sinopse na biografia da vida de Sebastian, essas duas últimas
palavras estariam em negrito e itálico. Ele limpa a garganta, então encolhe os
ombros, jogando-os suavemente. Ele se concentra na parede próxima, estudando
sua madeira dourada com acabamento fosco...
Cristo, sua mente está seriamente confusa e a parede não é mais uma boa
distração.
— Cara. — Emir dá um soco no braço de Sebastian. — É coisa de homem,
eu entendo. Você está apenas avaliando a competição, certo? — Na cômoda de
mogno no canto, ele puxa as roupas. Com uma voz levemente depreciativa, ele
diz: — Eu não sou tão impressionante.
Em que universo alternativo? Todos os hexágonos de ouro que o sol cria sobre a
pele de Emir acentuam suas incríveis características. Seu cabelo bagunçado é
uma espiral escura. E justo quando Sebastian consegue superar o apelo de Emir
porque ele é um idiota desnecessário, Emir vira a cabeça e seus olhos cinza-claros
piscando atacam Sebastian.
É um uso injusto de bons genes.
— Bastian?
Sebastian levanta a mão como na chamada durante a aula.
— Que horas são?
Sebastian pega seu telefone. — Um pouco depois das sete.
— Que merda! — Lamenta Emir enquanto veste um moletom.
Obviamente, as orelhas de Sebastian queimam de amor com o sotaque
britânico de Emir enrolado em seu nome. É tudo uma ladeira abaixo a partir
daqui. Quando ele para de se dispersar e babar, Emir está na porta, totalmente
vestido, carranca incluída.
— Você vem?
Sebastian repreende seu cérebro por pensar ainda não.
Emir bate o pé. Ele se transformou de ninfa matinal sonolenta em demônio
furioso em apenas cinco minutos. — Vamos acabar com isso.
Sebastian não poderia concordar mais. Então ele pode correr para sua cabana,
colocar uma meia na porta e rezar para que Willie tome um café da manhã extra-
longo.
13

SEBASTIAN ESTÁ PRONTO PARA ENFRENTAR gigantes.


A corrida por Oakville foi tranquila. Sebastian passou a maior parte do tempo
vasculhando as playlists. Emir acompanhou o passo enquanto ofegava como um
cão asmático. Sebastian estava correndo na metade de sua velocidade, mas ele
dará o crédito a Emir por seus esforços. Foi uma visão igualmente brutal e
divertida.
E agora um monstro muito determinado está olhando para ele da metade do
campo, reclamando: — Isso é inútil! — como um Godzilla descontente.
— Emir, — diz Sebastian, enquanto Emir olha resolutamente para a bola à
sua frente, — Não vou deixar você desistir, ok?
— Não, — diz Emir, irritado como sempre. — É estúpido.
— Não é. Você consegue, cara. — Esperando pelo ataque de Emir, Sebastian
se posiciona.
Emir dribla a bola. Ele melhorou. Ele não é um jogador iniciante, mas se
mostra promissor. E sua confiança quando ele não perde o controle da bola com
frequência lhe dá presença. Ele é um filhote se transformando em lobo.
— Eu não deveria estar treinando para ser meio-campista? — ele diz,
ganhando alcance conforme ele dribla mais perto.
Sebastian desocupa sua área para tirar a bola de Emir. — Você será melhor
como um líbero. — Sebastian gira em torno de Emir apenas para ser pego no
meio de um movimento. Ele sorri. — Você me lembra Piqué.
— Quem?
Sebastian ziguezagueia, mas Emir está em seus calcanhares. O céu está com
um tom de azul caribenho hoje; nuvens esparsas abrem espaço para o pesado sol
dourado. Os cheiros de grama de verão enchem o nariz de Sebastian, mas, com
Emir tão perto, almíscar, suor e algo picante estão por trás de tudo.
— Ele é um profissional – quer saber, não importa. — Ele recua, mas Emir
não se deixa enganar e mete o pé dentro para roubar a bola. — Precisamos de
um líbero, — diz Sebastian.
— Não é isso que Will é?
Sebastian faz uma pausa, apoiando as mãos nos quadris. — Ele está fora,
joelho machucado. — Eles terão sorte se Willie ainda puder jogar um punhado
de jogos. Quase todos os médicos em todo o estado alertaram Willie que ele
corre o risco de estourar a rótula se jogar. Seus olhos se encontram, e Sebastian
diz: — Precisamos de um substituto.
Emir para, apoiando o pé na bola. — Então, eu sou um Plano B. — Em voz
alta, é áspero, mas Sebastian não pode discutir com ele.
— Você seria o jogador mais importante em campo.
— Esse é você, — Emir diz com o canto da boca levantado. É uma jogada
inteligente, e dá a Emir apenas o tempo suficiente para manobrar a bola ao redor
de Sebastian. O objetivo está a poucos metros de distância. Mas Emir se entrega
ao se inclinar muito para a esquerda.
Sebastian finge com ele antes de deslizar um pé para dentro para tirar a bola.
— Otário.
Emir tem uma mão frustrada no cabelo. — Eu não sei se eu conseguiria.
Sebastian mantém o meio-campo animado. Sua língua está pendurada para
fora da boca. — Tente, — diz ele, meio para Emir, mas também para si mesmo,
porque ele quer acreditar que pode fazer de Emir o jogador que ele tem potencial
para ser.
Emir exala trêmulo, provando que não se convenceu da ideia.
— Pense nisso. Você poderia fazer uma grande diferença e mostrar ao seu pai
o quão incrível você é.
Emir oscila de um pé para o outro. Seu pequeno e satisfeito sorriso choca o
estômago de Sebastian.
— Sim? — As sobrancelhas e a boca de Emir estão mais altas. — Ok.
— Ok, então vamos fazer isso, idiota.
Sebastian espera até que Emir esteja agachado na defensiva, levando a bola
pela grama até se encontrar perto do gol. Emir empurra. Sebastian puxa. Seus
pés lutam pela bola. Futebol é um esporte de contato, então não é como se
Sebastian estivesse fora de linha para agarrar a camisa de Emir. Emir é tão rápido
que precisa de uma forma de contra-atacar.
— É minha!
— Não tão rápido.
A bola está batendo como um jogo de fliperama. Seus contatos se tornaram
mais agressivos. Emir trapaceia, agarrando o cós da bermuda de Sebastian. A
mão de Sebastian empurra o quadril de Emir. Eles estão quase nariz com nariz,
lutando para não perder o equilíbrio.
— Perdedor, — diz Emir, afastando a bola de Sebastian. Ele dribla em campo.
Suado e ofegante, ele se vira para acenar com a mão para Sebastian como Neo
em Matrix. — Vamos, — ele provoca.
Sebastian está gostando da explosão de ego de Emir. Ele não se importará em
esvaziá-lo em alguns segundos.
Emir imita certo dessa vez. Sebastian avança para tentar tirar a bola, mas Emir
é empurrado contra Sebastian. Ele é uma tocha contra a pele exposta de
Sebastian.
Sebastian tropeça na bola, pronto para comer grama ao descer. Emir segura
seu cotovelo. Sebastian coloca a mão em volta do pescoço de Emir, puxando até
que colidam.
Eles caíram na gargalhada. E então Sebastian o beija.
É tão rápido que suas bocas estalam.
Sebastian deveria considerar um erro; não é um beijo de verdade, em que você
fica tonto depois ou enfia a língua na boca de um cara gostoso para sentir o
sabor.
Isso não é nada.
Sebastian mal se impede de cair de bunda. — Merda. — Ele pretendia manter
isso em sua boca, a mesma boca que está zumbindo com eletricidade.
Emir está pálido, piscando. Perfeito. Eu acidentalmente, repito, acidentalmente,
acabei de beijá-lo e ele está pronto para vomitar. Ele não queria isso, não do jeito
que Sebastian queria, de acordo com sua metade inferior.
— Ok. — Emir tira o cabelo da testa e olha em volta.
— Ok, — Sebastian repete em uma voz trêmula.
Se esta é a hora em que Emir o rejeita, Sebastian está completamente tranquilo
com isso. Foi um erro: nenhuma infração, nenhum dano causado. Ele pode
superar isso. Ele espera que possa.
— Então, — Emir sussurra. Ele localiza a bola e chuta para Sebastian. — Boa
prática.
— Sim, — Sebastian diz, distraidamente pegando a bola com o pé.
— Mas a coisa toda do líbero, — Emir está acenando com a mão; seu rosto
está enrugado, — Eu não sei sobre isso. Apenas – vamos nos concentrar em
outras coisas. — Ele balança a cabeça e sai correndo antes que Sebastian possa
engolir o enorme caroço que está obstruindo sua garganta.
Ele deveria se desculpar por beijar Emir? Pedir a ele para continuar
praticando? Sebastian não sabe. Ele não sabe de nada, e essa não é a pior parte.
Ele range os dentes e olha para o sol. Ele está esperando por clareza, mas a luz
apenas o faz ver manchas. Eventualmente, ele dribla a bola de volta para a Caixa
Quente. Ele se inclina contra ela, o rosto contraído. Está quente, mas o cérebro
de Sebastian insiste em como ficou mais quente com seus dedos segurando a
nuca de Emir quando se beijaram.

***

NO JANTAR, SEBASTIAN ESTÁ INQUIETO e sem fome. Ele aparece no refeitório, no


entanto. Se ele não aparecesse, Willie ou um dos caras iria persegui-lo até que ele
o faça. Com o passar dos anos, ele se tornou a "cola" do time e, geralmente, é
uma sensação incrível. Esta noite, ele não consegue sair de sua cabeça o suficiente
para saborear sua calma.
— Baile, sim ou não? — Jack, que tem olhos castanho-escuros como contas,
pergunta a Gio enquanto aponta uma faca de plástico para ele. O jantar é frango
seco, de novo, e tudo que Sebastian conseguiu fazer foi cortá-lo em pedaços
como se ele fosse o cara do Massacre da Serra Elétrica.
Gio dá de ombros, mastigando cenouras. — Se eu conseguir encontrar a
garota certa...
— Nenhuma delas quer você. — Jack resmunga com sua própria piada.
Gio mostra o dedo do meio para ele e diz: — Eu poderia levar sua mãe. Ela é
muito gostosa.
— Cristo, cara, — Kyle engasga, leite esguichando de sua boca. — O
desrespeito.
Gio dá um gole em sua Coca. Sebastian sempre fica surpreso ao ver como Gio
possui sua presunção sem ser um idiota. Ele lembra a Sebastian um super jovem
Benicio del Toro.
Sebastian se recosta na cadeira, fascinado por como seus companheiros
carregam seus próprios sentidos de autoconsciência, como se a vida fosse tão fácil
apesar de seus contratempos. Todos eles tiveram merda jogada em seus sonhos.
Alguns deles não terão dinheiro suficiente para frequentar uma faculdade
comunitária quando se formarem. Mas nada disso pesa para eles. Eles
continuam, contando piadas e vivendo cada dia como se estivessem no alto das
nuvens. Sebastian não tem ideia de como ganhar, muito menos manter essa
confiança impenetrável em seu futuro. Em vez disso, uma pilha gigante de
opções espera a seus pés.
— Ok, — diz Mason, roubando o copo de gelatina da bandeja de Sebastian e
de Willie também. Ele enfia uma colher cheia na boca. — Quem quer me
explicar como a júnior voltou à nossa mesa?
Os ombros de Grey caem com a referência insensível de Mason. — Eu me
convidei.
— Você tem coragem, — diz Mason, fazendo uma careta. — Ok, talvez não
tenha, mas você sabe o que quero dizer.
— Audácia, — Grey esclarece. — E sim, eu tenho. Por que, você se sente
atraído por mulheres ousadas? — Ela pisca os cílios.
— Um, — Mason levanta um dedo, — você é uma menina, não uma mulher.
E dois, — um segundo dedo aparece, — Eu não entendo você o suficiente para
me sentir atraído por você.
— Então, há esperança?
Willie engasga com uma risada e bate no peito repetidamente. Isso é tudo
culpa dele.
Mason olha furiosamente para ele e depois inclina a cabeça para Grey. Seu
brilho é intenso, como se ele estivesse tentando disparar lasers e evaporá-la. —
Você se acha fofa, não é?
A boca de Grey faz uma pequena peculiaridade que é mais tímida do que
confiante. — Às vezes, — ela diz, mal levantando os ombros.
Mason a ignora ao colocar gelatina em sua boca antes de começar a provocar
Willie sobre o que ele está vestindo: uma blusa Barbie verde neon com um arco-
íris que diz "California Dream", simultaneamente declarando sua sexualidade e
sua grandiosidade.
Sebastian relaxa, examinando Grey. Covinhas suaves em meia-lua se formam
ao redor de sua boca. Seus cachos caem ao redor de seus olhos brilhantes,
castanhos contra verdes. É como se...
— Você está usando delineador? — Ele a inspeciona. Ela chuta sua canela por
baixo da mesa e Sebastian dá um solavanco, quase derrubando tudo.
— Cara! — Mason franze a testa e protege sua gelatina. — Você precisa ter o
que quer seja sob controle.
Sebastian franze a testa, esfregando a canela. Grey olha fixamente, olhos
semicerrados avisando vou garantir que você nunca tenha filhos enquanto ela faz
beicinho. Sebastian revira os olhos. Foi uma observação, não uma tentativa de
arruinar todo o seu plano para cortejar Mason. Ela não estava fazendo muito
progresso, mas ele não queria estourar sua bolha.
— Ok, — diz Hunter, sentando-se ao lado de Willie. Ele passa a mão pelo
cabelo. Durante o ano letivo, ele o usa perto do couro cabeludo, mas ele tem
cachos naturalmente escuros e elásticos para o verão. Parece bom com seus traços
suaves. — Alguém tem que sentar com ele. — Hunter está se referindo à mesa
no canto.
Sebastian não faz contato visual com ninguém, incluindo Emir.
Grey se senta mais ereta para uma visão melhor. — Ele pode não querer ser
incomodado.
— Ele nunca quer ser incomodado, — reclama Mason. Ele lambe a colher e
mantém a carranca.
— Essa é a questão! — Hunter diz. — Ele precisa de um jeito de entrar.
Sebastian aperta o queixo. Ele não pode dizer a eles que ele é o jeito de entrar
de Emir, se apenas Emir parasse de agir como se ele não existisse quando o time
estivesse por perto. Além disso, se Sebastian superar o que aconteceu antes, o que
é impossível, já que ele não parou de repetir em sua cabeça.
— Não acho que ele goste de mim. — Willie faz beicinho.
— Todo mundo gosta de você, Willster, — Sebastian diz.
Hunter balança a cabeça, passando a mão de seu próprio cabelo para o
esfregão loiro fofo de Willie. Willie se inclina contra Hunter como um
cachorrinho satisfeito.
— Sim, — suspira Mason, os cotovelos na mesa. — De alguma forma, eu
também tenho uma estranha paixão por você.
Grey ri. Willie fica vermelho, mostrando a língua para Mason. Algo frio passa
pelos olhos de Hunter, mas ele o esconde com uma risada preguiçosa. Isso é
definitivamente novo.
— Então. — Grey se agacha, como se estivesse planejando uma grande missão
secreta para ajudar Emir. — Quem vai?
— Eu não, — Mason insiste.
Willie encolhe os ombros. — Estou fora.
O gemido frustrado de Hunter impede que a atenção recaia sobre Sebastian.
Ele é grato. Ele está à beira de um ataque cardíaco, suando como se tivesse
acabado de dar uma volta no campo.
— Vocês todos são péssimos, — anuncia Hunter. Sua cadeira range quando ele
pega seu prato de comida.
Sebastian ainda está aprendendo coisas sobre Hunter. Seus pais são
intensamente religiosos. Ele é um estudante aplicado e se senta com o time geek
durante o almoço. Mas ele é amigo de Willie desde o segundo ano. Além disso,
ele está em boa situação com Zach e seus comparsas. Na verdade, Hunter é
muito querido por muitos alunos; uma vez ele teve seu nome na cédula para
presidente de classe.
Hunter também é ousado, fato comprovado quando ele atravessa a sala e
estaciona em uma cadeira vazia à mesa de Emir.
— Oh, merda, — sussurra Mason. — Ele vai morrer.
— Eu realmente gostava dele. — Grey suspira, como se ela tivesse imaginado
um conjunto preto para usar no funeral de Hunter. Ela descansa a bochecha nos
nós dos dedos.
Sebastian está sentado muito quieto. Ele está tentando manter o rosto
inexpressivo. Isso poderia dar certo ou terminar em sangue. Ele não sabe. Mas
ele não quer ninguém conectando ele e Emir.
Emir se assusta, então franze a testa com a presença de Hunter. Hunter, com
seu sorriso vencedor e olhos elétricos, fala como se eles se conhecessem há anos.
Talvez eles compartilhem as aulas avançadas, já que Emir também é bem
inteligente. Talvez eles simplesmente não tenham sido parceiros do projeto ou
discutido sobre Big Bang Theory – coisas de gênios.
— Aí está, — Mason sibila.
Emir aperta os olhos para Hunter, depois volta sua atenção para o livro que
estava lendo. O rosto de Hunter se fecha. Outra pessoa que Emir excluiu.
— Ok, rapazes, se preparem! Amanhã bem cedo! — O treinador Patrick berra
na entrada e bate palmas.
Resmungando, o time ganha energia durante as refeições.
Na mesa de Emir, Hunter está sentado sozinho, carrancudo. Sebastian mal
consegue reagir quando Mason sussurra: — Total perda de tempo, — em uma
voz estranhamente semelhante à da cabeça de Sebastian.
14

SEBASTIAN ESTÁ COM UM HUMOR epicamente doce na manhã seguinte, apesar de


doer como um saco de pancadas após o treino de futebol da faculdade. Na noite
passada, ele invadiu a Caixa Quente em busca de uma bola a mais, sacos de areia
e alguns cones para passar horas fazendo exercícios até que suas pernas cedessem.
Ele precisava de uma distração e agora seu corpo está pagando por isso.
— Eu te odeio, — ele murmura para seu celular enquanto o alarme toca. Está
zombando dele, então ele o enfia embaixo do travesseiro, esperando que isso o
sufoque. Ele pensa em dormir até tarde. O terrível sol laranja está entrando pela
janela, e Sebastian simplesmente não consegue aguentar.
— Sol, rotina e vida estúpidos, — diz ele, pulando da cama. Ele estremece – o
chão está abaixo de zero assim tão cedo – e dança ao redor da sala para encontrar
as meias. Ele as encontra no lado de Willie da cabana.
Então ele se dá conta: ninguém está roncando, beijando um travesseiro ou
falando dormindo.
A cama intocada de Willie indica que ele dormiu na cabana de Hunter. E
então, outra epifania atinge Sebastian: Hunter está se apaixonando por Willie.
Isso explicaria seu olhar de eu-vou-destruir-você quando Mason insinuou que
gosta de Willie de uma forma sexual, bem como porque ele é tão pegajoso.
Mason e Willie formariam um casal horrível.
Hunter não demonstrou interesse em ninguém. Ele sempre foi solteiro e
nunca falou sobre uma garota ou um cara por quem ele pudesse ter uma queda.
Sebastian percebeu que era porque os pais de Hunter eram totalmente religiosos
e constantemente insistiam em seus estudos. Mas talvez seja porque ele não está
muito confortável sobre sua sexualidade?
Sebastian toca seu queixo. Ele não deveria estar tão preocupado com a vida
amorosa de seus amigos quando a sua própria está arruinada. — Tanto faz, —
diz ele com um suspiro, arrastando a mão pelo cabelo. Hunter é um cara legal e
Willie ganhou o status de "irmão mais novo" no livro de Sebastian. Ele só pode
esperar pelo melhor.
Mas, por enquanto, Sebastian tem uma cabana inteira para ele.
O que fazer?
Ele é um adolescente, então suas opções são sempre dormir, comer ou transar.
Sebastian está inclinado para a última opção, mas ele tem uma missão em mente:
Emir Shah.
O momento sozinho não é um total desperdício, no entanto. Ele está vestindo
nada além de sua boxer, meias puxadas até as canelas e um par de óculos de sol
baratos de Willie. Sebastian desliza pelo piso de madeira ao som de "Old Time
Rock and Roll" tocando em seu celular, à la Risky Business, como um garoto
crescido.
Mais tarde, depois de encontrar seus tênis debaixo da cama e um par de shorts
de corrida, ele para na porta de sua cabana. As folhas estão verde brilhantes; raios
de sol rompem as brechas. A brisa da manhã sacode os galhos das árvores.
Sebastian tem uma visão clara da cabana de Emir no final de uma fileira. Ele está
procrastinando. Sebastian queria que ontem fosse um borrão, um sonho ruim,
mas não é. É vívido, em cores, e o assombra como uma viagem ruim.
Eu beijei Emir.
Ele não consegue esquecer as pequenas coisas sobre Emir: seus olhos
arregalados e nublados, sua respiração atordoada, sua língua roçando seus lábios.
A cabeça de Sebastian está repleta de canções pop felizes de amor da Taylor
Swift, em vez de hinos de rock radicais, canções que não evocam a mágica
paixão.
Não é grande coisa. Ele esfrega as têmporas. Emir é apenas um garoto.
Ele não é apenas um garoto. Ele é Emir Shah, que já foi o melhor amigo de
Sebastian Hughes. Zangado, de olhos cinzentos, perversamente bonito quando
ele faz uma carranca…
Sebastian geme. — Ah, o que… — Ele está condenado.
Marchando para a cabana de Emir com as mãos enfiadas nos bolsos, Sebastian
decide que, se ele não mencionar o beijo, ele nunca aconteceu. O que ele não
consegue decidir é se quer esquecer o que aconteceu. Mas antes que ele possa
descobrir como vai superar essa parte, ele vê um Post-It preso na janela de Emir:
"Dormindo! Não me acorde! – Em."
Sebastian o encara. Ele o arranca, amassa e joga no chão. Tudo bem, tanto faz.
Ele não tem uma única célula em seu corpo que se importe se Emir quer
melhorar ou não. Emir é frustrante. E ele está deixando Sebastian miserável.
— Idiota. — Sebastian corre em direção às trilhas de caminhada. Ele não
precisa de Emir para ter uma boa corrida. Ele vai apenas atrasar Sebastian, de
qualquer maneira.
Sebastian para a alguns metros da trilha. Em uma nuvem de fumaça azul,
Emir anda em um círculo preguiçoso. Ele está vestindo shorts, seu moletom
BHS e um gorro puxado perto de seus olhos. Seus dedos longos e finos seguram
preguiçosamente um cigarro com um monte de cinzas na ponta, como se ele
tivesse se esquecido disso.
Um nó de confusão se espalha do peito de Sebastian até seus membros, como
uma infecção. Ele limpa a garganta. Emir fica paralisado quando Sebastian diz:
— O que você...? — mas o resto da pergunta nunca sai de sua boca.
— Bom dia, — diz Emir, a voz rouca de cansaço e fumaça.
Sebastian cruza os braços sobre o peito. Ele está se esforçando para não perder
a cabeça sobre como a boca de Emir fica macia e rosada quando ela se enrola na
ponta do cigarro.
Jesus, eu preciso de ajuda profissional.
— Eu não conseguia dormir. — Emir larga o cigarro e o apaga. — Eu culpo
você por isso.
— Feliz por ajudar.
— Eu estava esperando por você.
— Por quê?
— Porque sim, — diz Emir.
— Isso não é uma resposta, Emi, — Sebastian diz, hesitando, porque, merda,
ele não queria que aquele apelido bobo de infância escapasse. Ele se encolhe
quando os olhos de Emir se arregalam, apenas momentaneamente.
— Depois de fazer minha oração Fajr...
— Desculpa, o quê?
Uma ruga aparece entre as sobrancelhas de Emir. Ele diz, exasperado: — O
Fajr, a oração do amanhecer que fazemos como muçulmanos. Você não se
lembra? — Ele espera.
Sebastian balança a cabeça lentamente porque ele se lembra, vagamente. Ele só
viu os pais de Emir orando nas manhãs em que ele apareceu para acordar Emir.
Mas eles eram tão jovens, e Sebastian não fazia ideia dos termos religiosos usados
pelos Shas.
— Estou acostumado a ter que explicar minha religião para todo mundo, —
continua Emir. — As pessoas falam sobre minha cor de pele, meu sotaque,
minha fé. — Seu tom frio e frágil treme.
Sebastian dá um passo à frente. Ele bate em seus ombros e levanta as
sobrancelhas. É uma tentativa fraca de comunicar que ele se lembra. Ele ainda
gosta de Emir pelo que ele é, em todas as partes.
Emir cede. — A fé é importante para o Abbu, então tento não desapontá-lo.
— Isso é legal, — Sebastian diz, porque ele não pensou em algo melhor para
dizer.
Sua leve vantagem de altura significa que Emir levanta o queixo para sorrir
para ele. Isso abre o cérebro de Sebastian; velhas memórias vêm à tona: jogar
videogame, almoçar lado a lado no parquinho, corridas no quintal, as constantes
tentativas de Sebastian para impressionar porque Emir era tão épico.
— Nós deveríamos, hum, — Sebastian gagueja, esfregando a palma da mão
no olho.
— Hora de correr?
— Sim!
Sebastian poderia apontar que correr depois de fumar não é sensato, mas ele
não está aqui para destacar os maus hábitos de Emir. Além disso, ele pode
totalmente usar isso mais tarde, quando Emir estiver sendo um idiota porque
Sebastian quer adicionar um quilômetro extra à corrida.
— Além disso, — Sebastian agarra o pulso de Emir, seu polegar pressionado
no ponto de pulso do lado de dentro. — Hunter é um cara legal.
— O que isso significa? — Emir pergunta, com a testa franzida.
Não seja um idiota com ele, Sebastian quer dizer. Em vez disso, ele diz: — Eu
vi o que aconteceu ontem. Ele é um cara legal, Emir.
Emir o considera com olhos semicerrados. Então, depois de respirar fundo,
Emir concorda. — Hora de correr, — ele sussurra, libertando o pulso do aperto
de Sebastian.
Sebastian não discute. Ele dá a Emir uma vantagem e o alcança quando a dor
em seu peito diminui. É um alívio quando nenhum deles menciona o beijo
estúpido ou não serem mais amigos.

***

O REFEITÓRIO FICA VAZIO após o treino. Isso lembra Sebastian de um pós-


apocalipse zumbi. O treinador O’Brien confiscou metade do time, incluindo
Willie e Mason, para reproduzir as imagens dos meninos de St. Catherine na sala
de recreação. Todos agem como se a tensão que vinha da comissão técnica sobre
o jogo dos espartanos fosse normal.
Sebastian teme que, desta vez, eles vão se perder em suas próprias cabeças. Ele
sabe que vai jogar com calma, porém, estacionando seu corpo exausto na mesa
sozinho. O verão está no auge; uma onda de calor moderado só é tolerável
porque eles estão muito perto do lago. Ele põe o pé em uma cadeira, estudando
o almoço de hoje: iogurte, uma barra de granola e um shake de proteína
especialmente verde.
É assim que a faculdade vai ser? A menos que ele esteja disposto a ter uma
morte chata ficando em Bloomington, ele estará sozinho enquanto Mason vai
para Michigan, onde seu tio está bem com alguns dos treinadores, e Willie
trabalha por perto.
Sebastian franze a testa para seu iogurte.
— Você fica engraçado quando está pensando.
Quando Emir se joga na mesa, os olhos de Sebastian se arregalam.
Emir diz: — É perturbador. — Ele faz uma careta que Sebastian supõe ser a
que ele estava fazendo um minuto atrás. Parece um cachorro quando o aspirador
de pó liga.
Sebastian, seu corpo o traindo, estremece. Ele responde: — Eu não faço isso,
— sem a convicção que deseja.
— Sim, você faz! — Os pés de Emir repousam em uma cadeira, a cadeira de
Willie, enquanto ele se inclina para roubar a barra de granola da bandeja de
Sebastian. Não fará falta. — Na verdade, — Emir continua enquanto aponta o
dedo para Sebastian, mastigando granola, — você costumava fazer a mesma cara
quando a Sra. Callaway nos fazia ler My Side of the Mountain.
A Sra. Callaway era uma tirana, sempre os fazendo ler livros que colocavam
Sebastian para dormir. O Hobbit é uma incrível exceção. — Literatura era chata,
— Sebastian murmura.
— Se você estivesse tendo alguma dificuldade, eu o teria ajudado. — A boca
de Emir se inclina e sua sobrancelha se enruga quando ele acrescenta: —
Naquela época.
A pele de Sebastian arrepia do peito para cima. Ele mastiga a unha do polegar;
confusão e conflito se manifestam em seu sistema.
Emir se senta, inescrutável, como se eles não estivessem caminhando nesta fina
camada de gelo.
A tensão e seu senso distorcido de tempo fazem Sebastian perguntar: — O que
aconteceu? — antes que ele perceba o que está saindo de sua boca.
Emir mastiga a granola lentamente. — Lembra quando fui para a Inglaterra
passar o verão?
Sebastian concorda. Após a quinta série, a família de Emir foi embora e ele
não teve mais notícias de Emir. Era o primeiro quatro de julho sem ver os fogos
de artifício de uma árvore no quintal de Sebastian enquanto vaga-lumes
pairavam em torno de seus tornozelos. Ninguém explicou a ele o que aconteceu.
A vida simplesmente arrancou o braço esquerdo de Sebastian e disse que ele não
precisava disso. E, claro, Sebastian poderia ter tentado encontrar Emir, mas ele
tinha dez anos. Ele sabia como operar seu Xbox, não como configurar uma conta
no Facebook.
— Minha avó, minha nani, ficou doente por muito tempo. Então, ela morreu,
— diz Emir, o rosto contraído como se a memória ainda estivesse fresca. — Nós
ficamos em Londres porque minha mãe estava muito abalada para trabalhar.
Sebastian morde o lábio, querendo dizer algo, mas sem saber o quê.
— E então eu voltei.
Ele voltou no meio do ano letivo, quando Sebastian preencheu o vazio
deixado por Emir com Willie, Mason e Zach, e estava vivendo em um universo
alternativo onde seus novos melhores amigos eram Mason e Willie. Então, de
um buraco de minhoca, Emir voltou com uma visão diferente de Sebastian,
como se Sebastian fosse um alienígena e não o garoto que sentou sozinho em um
sofá, sentindo falta de um garoto magrelo de sorriso bobo que não estava mais lá
para ajudá-lo a bombardear zumbis.
Sebastian manteve distância. Emir também. A amizade perdida tornou-se um
pensamento passageiro.
— Fico nervoso com as pessoas, — diz Emir, olhando para os joelhos. — As
pessoas me chamam de estranho o tempo todo, mas eu sou extremamente
tímido. É mais fácil para mim ficar sozinho. — Ele se curva para frente, ficando
menor.
Sebastian distraidamente coloca a mão no joelho de Emir.
Os topos das bochechas de Emir ficam rosados. — Então, não, eu não queria
ser um idiota com Hunter. Eu só não sou bom com as pessoas. A única pessoa
com quem nunca tive que tentar foi você. Nós nos dávamos bem, e então você se
foi.
Sebastian afunda em sua cadeira. Não é um golpe de sorte que o pega
desprevenido, mas dói. Ele ficaria feliz em abrir espaço para Emir em seu grupo
se eles realmente tivessem conversado assim que Emir voltou. Isso também é
principalmente culpa de Sebastian. Por que diabos trabalhar seus sentimentos
não é uma aula oferecida a alunos do ensino médio? Assim que se chega a
puberdade, de repente as pessoas encontram motivos para não gostar de você:
peso, altura, acne, sexualidade, raça, renda dos pais, o que for. A confiança é
conquistada por quantas falhas iguais às suas você pode encontrar em outra
pessoa.
— Assim que o ensino médio começou… — Emir parou por um momento.
— É muito fácil não querer fazer amizade com as pessoas quando elas ficam te
encarando, — Emir suspira. — A timidez severa é apenas um bônus.
— Eu também passei por isso.
Sebastian está impressionado com a realidade de que o que arruinou sua
amizade com Emir foi um mal-entendido. Eles não são inimigos mortais, mas
cada um tem alguns problemas importantes de auto-estima para resolver.
— Nunca percebi o que as pessoas falavam sobre mim quando você estava por
perto. — Emir sorri para os joelhos. — Essa é a coisa. Passei tanto tempo me
preocupando com você, não sabia que mais ninguém existia.
Sebastian acredita, mas ele não está disposto a admitir que a confissão de Emir
o tenha derrubado.
A sala de jantar está lentamente começando a encher. Os jogadores entram
rindo; conversas em voz alta são pontuadas por bandejas deixadas nas mesas.
Emir fica tenso sob a mão de Sebastian em seu joelho.
— Desculpe, — Sebastian diz, nervosamente, se afastando.
— Vou indo. — Emir se levanta da mesa com uma das mãos. Seus olhos
cautelosos olham ao redor. O barulho está ficando mais alto. Sua boca se abre e
seus olhos examinam Sebastian como se ele estivesse prestes a dizer outra coisa.
Em vez disso, ele atravessa o congestionamento na entrada para sair.
— Mano, — diz Mason, batendo a bandeja na mesa. Willie segue; Hunter e
Grey se espremem do outro lado. — O que foi aquilo?
Sebastian franze a testa. — Nada. — Mas é algo muito grande que ele não
tem ideia de como explicar.
— Mas aquele era Shah, na nossa mesa, — diz Mason, irritado.
— Supera. — O rosto de Sebastian está quente, seus ombros estão muito
tensos e ele não teve tempo de processar nos últimos dez minutos. Explicar tudo
isso para Mason é uma tarefa desnecessária.
— Mas ele nos odeia.
— Você, — Hunter corrige, mordendo seu sanduíche de presunto. — Ele
odeia você, Riley.
— Tanto faz. — Mason revira os olhos.
As mãos de Sebastian tremem e um fogo crepitante lambe seu peito. Ele não é
uma pessoa violenta, mas, inferno, ele quer dar um soco em algo ou alguém.
Além disso, ele quer perguntar a Mason se ele alguma vez deixaria Emir se sentar
com eles. Se, fora do acampamento, Mason tivesse uma conversa civilizada com
Emir da mesma forma que fala com todos aqueles idiotas da escola que fingem
ser seus amigos? Mas ele não pode, porque Mason tem sido um bom amigo.
Junto com Willie, ele preencheu a lacuna na vida de Sebastian onde Emir
costumava estar. Por isso, Sebastian é grato.
— Então, vocês não são amigos? — Willie pergunta, confuso.
— Não, — Sebastian diz, mas a mentira gruda em sua garganta. — Eu não
sei. Vamos apenas conversar sobre outra coisa. — Sua linha do cabelo está suada;
seu estômago rói seu peito.
Depois de uma conversa silenciosa com seus olhos, Willie e Mason dão de
ombros. Mason fala sobre os planos do treinador para o primeiro jogo. Willie
reclama do calor. Sebastian pode lidar com seu estômago nauseado, desde que
não tenha que falar sobre Emir.
Ele rouba olhares para o canto vazio de Emir.
O assunto se volta para as ligas profissionais. Grey diz: — Eu acho...
Mas Mason limpa a garganta, — Levantem as mãos para quem não se importa
com o que a pirralha pensa?
Claro, Mason é o único com a mão levantada, mas é o suficiente para
despertar um pouco de dor nos olhos de Grey. Ela abaixa o queixo.
Sebastian desliza o braço em volta dos ombros dela. — Não se preocupe com
isso, — ele sussurra. Ele quer dizer a ela que Mason é um idiota com um bom
coração, que seu único exemplo para tratar de alguém que ele pudesse se
importar era seu pai, o bastardo caloteiro que abandonou sua mãe enquanto ela
estava grávida da irmã mais nova de Mason, mas isso não é sua bagagem para
desempacotar.
O orgulho invade Sebastian quando Grey sorri com os olhos. Talvez ele não
seja tão ruim nessa coisa de amizade.
15

A CHUVA BATE CONSTANTEMENTE NO telhado da cabana enquanto o trovão


ribomba à distância. Nuvens grossas, pesadas e cinzentas pousam no céu como
uma frota de navios de guerra fazendo um porto. Uma tempestade se aproxima.
Tão cedo, a chuva está tão fria quanto irritante.
Sebastian sacode o cabelo; seu moletom de Bloomington faz pouco para
manter a chuva longe de sua cabeça. Por que eu simplesmente não fiquei
dormindo? Este é um clima preguiçoso, clima para ficar debaixo das cobertas.
Agora ele arruinou seu próprio dia lutando por dez minutos para arrastar Emir
de baixo de seus cobertores.
— Você é louco!
— Você vai se levantar agora?
Sebastian é inteligente o suficiente para saber que se alguém os visse agora,
com Sebastian escarranchado nos quadris de Emir, os pulsos de Emir presos à
cama por uma das mãos de Sebastian e as pernas de Emir chutando loucamente
enquanto ele tenta se contorcer, isso pareceria bem suspeito. Mas no momento
em que — Você parece um cachorro molhado e patético, — saiu da boca de
Emir, estava valendo.
— Te odeio! — Emir diz entre risos, liberando um braço.
Os reflexos rápidos de Sebastian impedem Emir de socá-lo no queixo. Emir é
assustadoramente forte para alguém tão magro. — Já ouvi isso antes, — diz ele a
Emir, travando os pulsos acima da cabeça.
— Desgraçado!
Sebastian murmura para Emir quase adoravelmente. Ele nunca será adorável,
no entanto. Nunca. Ele é implacável e astuto e um Lion de Bloomington!
Um lion muito desajeitado e preocupado que percebe três segundos depois
que Emir soltou um braço e está fazendo cócegas nas costelas de Sebastian. Tudo
acaba em um grito quando os membros batem no chão. Sebastian tem uma visão
de cabeça para baixo do sorriso presunçoso de Emir enquanto espia pela beirada
da cama. Ele vai matar Emir, ou pelo menos mutilar seu rosto estúpido, assim
que descobrir se é clinicamente apropriado que sua orelha beije seu joelho.
— Idiota, — Sebastian resmunga, se torcendo até ter certeza de que não
quebrou nada. Ele levanta e se limpa. Emir dá de ombros com um sorriso
tímido, como se não tivesse a intenção de quase paralisar Sebastian.
Sebastian aceita o pedido de desculpas meia-boca.
— Está chovendo, — Emir reclama quando Sebastian insiste para que
pratiquem. É difícil levar Emir a sério com seu cabelo em pé em alturas absurdas.
— Faça chuva ou faça sol, o time joga.
Emir cai de costas na cama; seu rosto está coberto por um travesseiro.
Sebastian não consegue entender tudo o que ele está dizendo, mas ele ouviu
algumas das palavras usadas nos filmes de Judd Apatow. Ele espera,
impressionado com o tempo que Emir grita em seu travesseiro. O frio úmido faz
Sebastian ansiar desesperadamente por sua cama.
Finalmente, Emir sai da cama. Isso é bom, porque Sebastian ficou tentado a
arrastá-lo, seminu, chutando e gritando, para a chuva. Emir pisca como uma das
irmãzinhas de Mason quando ela fica chateada por ele não brincar com Barbies.
— Você vai sofrer, — sussurra Emir, perto demais para seu conforto. Uma
respiração quente roça o rosto de Sebastian antes que Emir continue gritando
sobre como o futebol é uma merda.
Sebastian, hábil como um ninja, puxa o capuz sobre a cabeça para esconder
sua expressão mortificada.
— Você se parece com o seu pai, — diz Emir enquanto destrói sua cabana em
busca de roupas.
— Eu?
— Ah, meu Deus, você é um fã do Manchester como ele, não é?
— Claro!
Emir joga uma camiseta pela sala; um beicinho enruga seus lábios. — Sim,
tanto faz. Você já fez a aula de história da Sra. Haverly? É terrível demais, mano.
— Sério?
— A pior.
Eles têm uma conversa fácil sobre mais professores que odeiam. É estranho, no
início, mas Sebastian não quer dar um motivo para Emir se fechar novamente.
Então ele muda o assunto para a temporada passada e os caras. No meio do
discurso de Sebastian, Emir diz: — Zach é muito bom. — Sua cabeça está presa
na gola de sua camiseta, por isso está abafada.
Sebastian dá um passo à frente e puxa para baixo a camiseta. — Ele percorreu
um longo caminho, — diz ele a Emir, tentando não rir dos cabelos despenteados
de Emir. Mas então seus olhos caem. Emir está sem calças em cuecas boxer
justas. Sebastian fica tenso.
— Que pena que ele é um idiota, — disse Emir com um bocejo.
— Foi uma noite difícil para ele, só isso.
— Se você diz.
— Você tem que tentar conhecê-lo.
Emir murmura, passando os dedos pelos cabelos. — Talvez eu vá, se eu estiver
no time por tempo suficiente.
— Você vai ficar bem, cara.
— Pare de ser legal, — Emir diz com uma bufada negada por seu pequeno
sorriso.
— É o meu trabalho, — Sebastian diz, gentilmente socando o ombro de
Emir.
As nuvens pesadas cobrem a cabine de Emir em sombras dramáticas. Seus
olhos brilham como prata e musgo no escuro. A cabana está estranhamente
silenciosa com apenas o eco de um trovão e o constante plink-plunk da chuva no
telhado.
Finalmente, Emir diz: — Não vou sair assim, — franzindo a testa. Agora os
olhos de Emir lembram a Sebastian um céu frio e cinza de novembro. Tudo isso
não é saudável para seu cérebro superlotado.
— O que é um pouco de chuva? — Ele pergunta, fingindo que não engasgou
com as palavras.
— Isso é muita chuva, idiota.
Sebastian nem mesmo recua. Os insultos de Emir mordem com menos
veneno agora. Ele retalia socando o braço de Emir; Emir retruca com uma risada
estridente. Sebastian sente vontade de jogar Emir na cama para uma luta corpo-
a-corpo. Mas isso poderia levar a – não, levaria a – algo envolvendo muito
menos roupas.
E aí está, como um chute na cabeça. Emir o beijaria de volta? Sebastian quer
que Emir o beije de volta?
— Vamos acabar com isso. — Emir suspira.
Sebastian segue Emir até a porta. No fundo de sua mente, ele está preso em
como seu breve beijo parecia um verão selvagem no meio de uma tempestade de
gelo.

— ME DEIXA GANHAR!
— Por quê?
— Porque eu disse!
Gotas de chuva escorrem da ponta do nariz de Sebastian, sobre o lábio
superior e seu sorriso indisciplinado. Suas roupas estão encharcadas pela
tempestade.
— Eu não faço caridade, Emir, — ele grita sobre o trovão. — Manda brasa!
O vento uivante leva embora o grito de Emir, — Babaca!
A risada de Sebastian ecoa em seus ouvidos. Ele lambe o sabor metálico da
chuva de seus lábios. Emir tira a franja úmida da testa e se concentra na bola.
Eles contornaram os treinos hoje e começaram a manhã com uma luta épica que
acabou sem gols.
— Vamos, novato.
— Novato? — A voz de Emir range.
— Sim, você me ouviu. — É uma distração; Sebastian vai para a bola. Emir o
ultrapassa, girando enquanto a parte interna do pé mantém a bola perto. Sua
velocidade é um bom contra-ataque, mas a grama é lisa. É impossível para ele ir
longe sem tropeçar.
Emir cai com força em um pedaço de lama, gritando: — Vai se ferrar!
Sebastian se dobra, mãos nos joelhos, cortando uma risada no frio. O cabelo
dele ficou mais comprido no verão; pinga em seus olhos quando Emir faz uma
saudação com o dedo médio do chão.
Ok, então não é exatamente Godzilla contra King Kong, mas Sebastian tem
certeza de que Hughes contra Shah ainda é lendário.
Emir resmunga: — Eu peguei você, — enquanto Sebastian o ajuda a se
levantar. Ele tem uma mancha marrom feia da axila até a coxa. Seu cabelo fica
monótono e achatado na testa.
Sebastian tenta, e falha, não rir desdenhosamente, segurando a mão de Emir
até que esteja em pé firme. Então sua mão permanece na de Emir. Seus dedos se
entrelaçam entre os de Emir como se pertencessem a esse lugar.
— Você está ficando lento.
— Vai pro inferno, Emi.
— Ou eu poderia te beijar.
— Espera, o quê? — desliza para fora da boca de Sebastian, mas ele é muito
demorado para reconhecer a distração. Emir passa o pé entre eles. Ele agarra a
bola, e Sebastian fica pasmo quando um novato coberto de lama leva a bola por
todo o campo para um gol.
Emir o encontra no meio-campo, sorrindo ironicamente. Sebastian se levanta,
com as mãos nos quadris, carrancudo, mas está impressionado.
— Pronto?
Emir deixa cair a bola entre eles. — Você está pronto, Hughes? — ele
pergunta, balançando as sobrancelhas.
— Acho que você está prestes a descobrir, cara.
A boca de Emir se abre para replicar. Sebastian usa a vantagem para atacar e
roubar a bola. Emir grita atrás dele quando ele já está no campo fazendo um gol.
É um movimento idiota total, mas ele bombeia o ar quando Emir finalmente o
alcança.
— De novo, — exige Emir.
Eles trocam metas, para frente e para trás. Suas chuteiras estão cobertas de
lama; marrom e verde são as novas cores de suas roupas. O trovão explode para a
esquerda. A chuva se transforma em névoa. A batalha continua sem interrupção.
Sem fôlego e com o rosto vermelho, eles continuam.
— Você está trapaceando! — Emir lamenta.
— Você chutou minha canela na última jogada, Emi, — Sebastian argumenta.
Seus pés tentam acompanhar os de Emir e não conseguem. Emir o contorna,
mas Sebastian consegue enganchar alguns dedos no moletom de Emir para
arrastá-lo de volta.
— Trapaceiro! — grita Emir. Seus dedos finos enrolam em torno dos quadris
de Sebastian, puxando. A bola salta para fora e rola, mas eles ainda lutam pelo
controle.
Emir tem a nuca de Sebastian em uma mão fria. Sebastian está enfiando a mão
sob a bainha do moletom de Emir quando Emir diz: — Você perdeu, — com
uma risada trêmula.
— Não.
— Você me deixou vencer?
— Talvez.
Eles estão tão próximos que suas testas estão a um pouquinho de se tocar. As
gotas de chuva são pérolas translúcidas nas pontas dos cílios de Emir. A
respiração fraca de Sebastian é irregular. Seu peito aperta com força ao ver o
sorriso malicioso de Emir. Abandonar navio! berra em sua mente, mas ele não
pode.
Seus quadris pressionam juntos. Emir cora; o mundo ao redor deles fica turvo.
Sebastian não tem ideia de por que está recostado até que a leve pressão do
polegar de Emir é registrada. Ele traça círculos preguiçosos na sua nuca.
Sebastian morde o lábio, inseguro.
E então, a respiração de Emir engata e isso é tudo o que preciso.
Simplesmente acontece.
Este beijo não é nada como o primeiro. É mútuo. É deliberado. Emir empurra
tanto quanto Sebastian puxa. É carente. Bocas úmidas se movem como se não
houvesse um segundo a perder. Eles nunca seriam capazes de evitar este beijo.
Sebastian gosta disso; ele também está meio em pânico.
Emir faz um barulho sufocado. Ele pressiona ainda mais, como se nunca
tivesse sido beijado tão perfeitamente, e o cérebro de Sebastian fica offline.
Bem, não, ele tem um pensamento muito claro: Emir Shah, Emir Shah, com
mais Emir Shah.
Com o polegar no queixo de Emir, Sebastian leva seu tempo. Ele nunca beijou
um garoto. Puta merda, Sebastian está beijando seu primeiro garoto, e é Emir
Shah.
A boca de Emir é algo de que Sebastian precisa mais. Sam era de beijos
preguiçosos; sua boca tinha sabor de chiclete rosa. Eles compartilharam beijos
agradáveis, mas sem emoção. Com Emir é diferente. Ele tem um gosto amargo e
frio da chuva.
Um lapso de língua pega Sebastian desprevenido, mas ele segue em frente. Sua
palma é aquecida pela bochecha de Emir.
Emir recua, murmurando: — O que você está fazendo, Bastian?
A chuva gruda os cílios de Sebastian quando ele pisca. Ele dá de ombros, a
mão ainda na bochecha de Emir. Ele diz suavemente: — O que eu quero.
É difícil ler a expressão de Emir com as testas pressionadas. Sebastian vê mais
choque do que raiva, mas está preparado para que Emir o afaste ou dê um soco.
Seu ego ficará ferido, mas Sebastian pode aguentar.
Inferno, quais são as chances de eu ser o tipo de Emir?
— Eu… — As pupilas negras se expandem, diminuindo as íris cinzas. Emir
avança, beijando Sebastian novamente.
— Oksim, — Sebastian murmura contra a boca de Emir. Ele sucumbe à fome
em seu estômago. Ele agarra o moletom de Emir e o puxa para mais perto. Sua
coxa se encaixa entre eles, e Emir a usa como um gato se esfregando em um
poste para coçar. Sebastian está bem com isso.
A chuva cai sobre eles. Silencia os ruídos estranhos que Sebastian faz,
poupando-o de constrangimento. Ele revisará como ele é chorão enquanto se
beijam depois. Muito depois. Agora, a língua de Emir explora seus dentes,
enquanto suas próprias mãos examinam os músculos magros e musculosos do
corpo de Emir. Nada o fará se afastar.
Claro, ele está tão errado.
No início, é apenas um grito. Então eles ouvem um uivo, vozes ficando mais
altas e mais próximas.
Emir se afasta, empurrando Sebastian para trás com uma força recém-
descoberta.
— O que… — Sebastian tropeça; seus olhos são do tamanho da lua.
Emir esfrega as costas da mão sobre a boca.
O time entra em foco. A chuva se transforma em uma névoa leve, mas
Sebastian tem certeza de que ninguém os viu se beijando. Ele engole qualquer nó
que esteja preso na parte de trás de sua garganta quando vê Mason liderando o
grupo.
Emir se afasta ainda mais.
— Quem não ama uma boa prática na chuva? — Mason, com olhos de lobo,
esfrega as mãos.
Jack dá uma cotovelada nele. — Vamos ver do que são feitos esses calouros.
— Eles são todos melhores do que você, — diz Hunter. O céu cinza e
nublado lava sua pele geralmente ocre. Atrás dele, os jogadores cantam.
A chegada do time chuta Sebastian nos dentes. Se ele quer ser capitão, não
pode sair por aí beijando colegas de time.
— Meninos, jogo amistoso! — O treinador Patrick apita. — Hughes, Drews,
escolham seus esquadrões!
Sebastian faz uma contagem rápida dos jogadores. Willie está faltando. Ele
está sentado na arquibancada ao lado de Grey.
— Ele está descansando o joelho, — sussurra Hunter.
Sebastian não diz a Hunter que não estava procurando por Willie. Seus olhos
encontram Emir, que está encarando a lama em seus sapatos, em vez de
Sebastian.
— Eu quero Riley, — Jack diz, assustando Sebastian.
— Merda, — sai da boca de Sebastian. Escolher Mason deveria ser
automático.
Mason pisa ao lado de Jack.
— Tudo bem, — Sebastian diz, olhando para as sobras. E então ele diz, com
orgulho: — Vou levar Emir.
Os suspiros são audíveis. Emir está de pé, com os olhos arregalados, as mãos
enfiadas nos bolsos, as sobrancelhas erguidas. Ele se esconde, ombros tensos.
Carl sussurra: — Isso vai ser bom, — alto demais.
— Cale a boca, — Sebastian diz. — Encare isso, Mason é nosso atacante mais
forte. Se ele está no outro time, quero um bom zagueiro, como o Emir. Isso se
chama estratégia. — Ele não vacila quando Jack suga o ar por entre os dentes,
como se Sebastian estivesse cavando sua própria cova. Jack é um idiota
intolerável e sua opinião não importa.
O treinador limpa a garganta. — Chega, — ele avisa, quando alguns caras
riem. Ele não tolera essa besteira; ele sempre prega sobre cada membro da equipe
ser inestimável. Todos eles têm um papel a cumprir. Sebastian não tem certeza se
é de Remember the Titans ou Any Given Sunday, mas ele concorda. Emir é tão
importante quanto Mason.
— Muito bem, Bastian, — diz Hunter.
— Jesus, — Carl responde, rindo.
Hunter olha para Carl. — Esperemos que Deus me abençoe para não
humilhar sua bunda em todo o campo hoje. — Ele inclina a cabeça. — Amém.
À esquerda de Sebastian, o treinador sorri, como se estivesse impressionado
com o discurso de Sebastian ou suas habilidades de tomada de decisão, ou talvez
ele apenas esteja tentando não rir de Sebastian por escolher o novato do Emir.
Tudo isso poderia dar terrivelmente errado em cerca de cinco minutos. Mas
primeiro, eles terminam de dividir os jogadores restantes. Sebastian rouba
Hunter e Smith, porque Jack é muito egoísta sobre escolher Mason para se
lembrar que ele precisa construir uma ofensiva em torno dele. Jack pega Gio e
Zach também. Sebastian se contenta com dois calouros em vez de um Kyle
trêmulo.
— Vamos, — o treinador vocifera. — Se algum de vocês pegar gripe porque a
escolha de lados demorou muito, Drews e Hughes vão limpar o vômito.
O campo é uma superfície feita para o desastre. Jack montou seu time
ofensivamente, mas o elenco de Sebastian é equilibrado com jogadores
intercambiáveis por posição. É uma pequena vantagem. Eles não vão parar
Mason, mas podem atrasá-lo.
— Ei, — ele grita para um Emir mal-humorado. — Nós vamos vencer.
Emir inclina a cabeça para o céu. — Vamos perder, — diz ele fracamente.
Sebastian diz: — E se você estiver errado, correremos um quilômetro a mais
amanhã, — antes de dar um tapa na bunda de Emir; ele coloca a mão sobre a
boca para conter uma risada.
Emir estreita os olhos como se não estivesse convencido. No último segundo,
ele sorri. Sebastian relaxa, satisfeito com sua pequena vitória.
Os olhos de Mason estão cercados de mágoa ou raiva. — Boa sorte, — ele
zomba, e caminha até o final do campo.
Sebastian dá de ombros. Sua mente está em uma coisa: esmagar a equipe de
Jack.

ELES PERDEM, RAPIDAMENTE, MAS PARA o Santo Graal do deleite de Sebastian, não
é por causa de Emir, que se mantém firme contra o time de Jack. Ele defende o
time de Sebastian da mesma forma que um cavaleiro defende seu castelo. No
meio do jogo, Emir fica cara a cara com Mason, dando um show épico de passos
rápidos. Seus nervos são visíveis: ombros rígidos, pernas trêmulas, uma expressão
pálida toda vez que Mason não está olhando.
Sebastian está orgulhoso dele ter sobrevivido.
Eles perdem por falta de um time ofensivo. Smith é muito arrogante para um
cara do segundo ano. Kyle está em todo o lugar. E Mikey, um calouro que tem
mais ossos do que músculos, acerta um pênalti nos primeiros cinco minutos.
O treinador, enojado, grita: — Quem te ensinou a jogar, filho? — enquanto
puxa a aba de seu boné dos BHS Lions surrado o suficiente para esconder sua
carranca.
Gio rouba a bola quando algo dá errado em um passe fácil entre Smith e Kyle
e acerta a bola no caminho de Mason.
Sebastian não tem vergonha de admitir que ele e Willie passaram as férias de
inverno inteira repetidamente vendo a trilogia original de Star Wars. A corrida
de defesa da equipe atrás de Mason é como uma frota de caças TIE tentando
perseguir o Millennium Falcon; não é possível.
Mason grita: — Até o fim, Hughes!
Então Emir entra em seu caminho.
Mason tem muitos truques em seu arsenal. Ele tem pés rápidos, mas não
supera a alta velocidade de Emir. Mason gira. Emir o contorna. Lama e grama
voam enquanto lutam pela bola.
Kyle grita: — Pega a maldita bola, Shah!
— Não vai acontecer. — Mason dá um puxão para a esquerda. Ofegante,
Emir cambaleia com ele. Sebastian se curva na posição. Ele está preparado para
tudo. Mas Mason cai para marcar uma falta contra Emir. É uma façanha que ele
viu Neymar fazer quando preso em uma baita defesa.
— Merda! Vamos, Shah. Mantenha suas mãos e pés para você! — geme
Mikey, batendo no ombro de Emir quando ele passa.
Rivera fica ao lado de Mason. — Está tudo bem, Riley?
Mason agarra sua canela. Ele faz uma atuação cafona: gemendo, rolando na
lama. Sua façanha dramática lhe dá pontos de simpatia.
— Eu não fiz isso, — Emir diz, em seguida, faz uma pausa, um quadril
esticado, as mãos tremendo ao esfregar em seu rosto. Ele exala. — É mentira, —
diz ele, olhando para Mason como se fosse socá-lo.
Sebastian concorda com essa ideia. Ele também quer alisar o cabelo de Emir e
dizer a ele que não é nada sério. Mas não o faz.
— Rapazes, vocês sabem o que fazer. — O treinador afasta os jogadores para
ajudar Mason a se levantar. — Pênalti para Riley.
— Tudo bem, Shah, — diz Hunter, suavemente, dando um tapinha no
ombro rígido de Emir.
Emir não se afasta. Ele acena com os olhos derrotados e seus punhos cerrados.
A frustração contorce o rosto de Sebastian. Seu foco ficou confuso. Ele encara
Mason enquanto ele se alinha com a bola. Mason levanta as sobrancelhas. Sua
boca se curva presunçosamente.
Eles perdem por causa de Sebastian. Um pênalti, ele errou um pênalti
estúpido.
Após a luta, do centro das arquibancadas, Willie grita: — Ótimas jogadas,
Hughes!
Sebastian dá um sorriso falso. Ele saúda Willie e Grey enquanto se afasta. Ele
está encharcado, a lama espreme em lugares desconfortáveis e estava
ridiculamente desleixado. Eles nunca vão derrotar os espartanos, ou qualquer um
na conferência, jogando assim.
Zach passa o braço em volta dos ombros caídos. — Você fez bem, capitão. —
Ele está sorrindo; seu cabelo bagunçado cai sobre os olhos.
O resto dos caras gritam em concordância, algo que Sebastian aprecia, mas ele
não está mentalmente pronto para responder. Ele, no entanto, espia Mason
mancando para fora do campo. Um sorriso maroto domina seu rosto; ele não se
importa como ele conseguiu a vitória.
Sebastian teve o suficiente.
— Que diabos, Mace?
Mason se vira, as sobrancelhas levantadas. — E aí?
— E aí? — Sebastian repete, agitado. Ele cutuca o peito de Mason com um
dedo sujo. — Você fez aquela merda de falta de propósito.
Mason funga, olhando para o dedo de Sebastian. — Isso acontece o tempo
todo, Bastian.
Sebastian quer dar um soco nele. Ele quer dar um soco em seu melhor amigo.
Por causa do Emir. — Isso não significa que seja certo.
— E não significa que você seja pró-Shah também.
O lábio superior de Sebastian se curva. — Você está falando sério?
Mason responde: — Muito, cara.
— Então é isso? Você está com ciúmes do Emir? — A voz de Sebastian
aumenta. Ele está incrédulo. Sua cabeça lateja. — Ele é bom, como eu poderia
não escolhê-lo? — Ele não se preocupa com a expressão cética de Mason, porque
ele está molhado e com frio e então superou toda essa coisa de escolher Emir.
O cabelo castanho gotejante de Mason cai em seus olhos quando ele os revira.
— Você está sendo um idiota, Bastian.
— Você fez Emir ficar mal lá atrás.
— E daí? — Mason joga os braços para cima. — De repente você se preocupa
com Shah? As pessoas acham que ele é uma piada.
Sebastian diz: — Você é a piada aqui, cara, — com mais frustração do que ele
já dirigiu a Mason. Suas brigas são brutalmente curtas, terminando com pizza e
risos. Depois que o pai de Mason foi embora, Sebastian inconscientemente
adotou Mason em sua vida, e um motivo para expulsá-lo nunca existiu.
— Não seja um joguete, — diz Mason entre dentes. Ele pisca muito,
Sebastian não tem certeza se é chuva ou lágrimas molhando seu rosto.
— Você não precisava fazer isso, Mace. Ele não merecia isso.
— Aconteceu o que aconteceu. Deixe isso para trás. — O pescoço de Mason
está esticado; sua andorinha reprimida é visível. Olhos frios verde-azulados
combinam com a protuberância teimosa de seu queixo. — Eu não entendo você,
mano. Desde que ele apareceu, você tem escolhido lados e... eu simplesmente
não entendo você.
Nem eu. Se os papéis tivessem sido invertidos, Emir o teria defendido se
alguém estivesse sendo um idiota. Pelo menos, o Emir mais jovem teria.
— Não é legal, Bastian. — Mason bate seu ombro contra o de Sebastian
enquanto ele se afasta.
Sebastian não diz uma palavra para impedi-lo.
Quando ele se vira, Sebastian pega Emir tremendo e sorrindo timidamente
com a representação de Hunter de uma grande jogada que Emir fez durante o
jogo. — Cara, foi tipo, épico! — Hunter grita, pulando para cima e para baixo.
Emir levanta o queixo. Ele morde o lábio, deixando-o vermelho e inchado, de
aparência suave.
Uma fome que não tem absolutamente nada a ver com comida irrompe no
estômago de Sebastian. Ela se espalha para seu peito. Seu coração bate nas
costelas como um gorila tentando se livrar de uma gaiola. Emir parece com a
mesma fome. — Puta merda, — Sebastian diz baixinho.
Emir atravessa o campo em direção a sua cabana rapidamente, como se
estivesse tentando não ser pego.
E Sebastian, confuso mas animado, usa a tempestade que retorna como
camuflagem. Ele puxa o capuz e se abraça contra o aguaceiro pulsante. Ele se
abaixa entre as árvores como um soldado de operações especiais. Nada pode
atrapalhar o que ele deseja mais do que tudo: Emir.
16

EMIR ESTÁ SENTADO NA BEIRA da cama no escuro quando Sebastian entra pela
porta. Pela primeira vez, estava entreaberta, como se Emir estivesse esperando
por Sebastian. Ele não está esperando velas e uma canção de amor de Ed Sheeran
quando fecha a porta. Coisas assim acontecem nos filmes de Anne Hathaway.
Mas ele não sabe o que fazer porque as sombras escondem a expressão de Emir.
— Você está pensando demais.
Talvez seja a voz de Sebastian quebrando o silêncio ou estar ensopado até os
ossos após o confronto, mas Emir diz: — Agora você sabe o que estou pensando?
— com um tom acusatório.
— Possivelmente. — Sebastian agita os braços. — Se você me der a chance de,
eu não sei, te conhecer mais.
— Você me conheceu antes.
Sebastian range os dentes. Ele entende. Ele bagunçou tudo há muito tempo,
mas Emir também. Isso não é tudo culpa dele. Sebastian era – Sebastian é um
bom amigo, mas Emir não vai lhe dar uma maldita chance...
Agora, as malditas vozes em sua cabeça reproduziram o sotaque de Emir!
— Eu estava vindo te dizer, — Sebastian suspira e passa a mão nervosa pelo
cabelo úmido, — que você se saiu muito bem, Em.
— Isso é tudo?
Não. Sebastian não disse isso. Ele simplesmente não entende quando
simplesmente falar com um amigo, ou o que quer que Emir seja, se torna um
exercício de rasgar seu coração para permitir que suas emoções se espalhem por
todo o lugar.
— Eu não sou o inimigo, — diz ele, dando um passo à frente. — Eu não sou.
— Não. — A boca de Emir se contrai gradualmente para baixo. — Você é
apenas o cara que não me deixa em paz.
Sebastian estremece. A fúria borbulha em sua garganta. Emir está sendo um
idiota absoluto. Então, não, Sebastian não vai embora até que ele descubra o que
diabos está acontecendo dentro dele que o atrai para alguém que parece odiar
suas entranhas.
— Então é isso? — Ele está gritando, mas tanto faz. — Você quer que eu vá
embora? — Sebastian vai até o Emir. — Apenas diga alguma coisa!
Emir não o faz, mas ele se levanta e diminui a distância entre eles.
Sebastian está pronto para tudo o que Emir fizer. Ele está tão exausto,
tentando consertar relacionamentos rompidos enquanto outras amizades
acabam. Ele está cansado de tentar ser essa versão incrível de um cara que todo
mundo vê, mas Sebastian não consegue encontrar quando ele se olha no espelho.
Se Emir der um soco nele, ele derrubará Sebastian desse pedestal que ele nunca
pediu para subir.
— Faça. — Emir agarra a frente do moletom encharcado de Sebastian e puxa
o tecido. — Faça alguma coisa, — ele rosna. Os olhos cinza dançam no escuro,
mas as bochechas de Emir estão vermelhas e seu nariz está franzido.
— O que?
— Pare… — a voz de Emir morre. Sebastian olha para os cantos úmidos de
seus olhos. A respiração de Emir para antes de ele dizer, exasperado: — Pare e
faça algo comigo.
Os reflexos de Sebastian funcionam mais rápido que seu cérebro. Ele quer
algo, quer isso. Então ele toca o pescoço de Emir. Ele deixa cair beijos sob o
queixo de Emir. Sebastian espera. Emir sufoca um suspiro, e então os dedos de
Sebastian se apertam rudemente nos quadris de Emir, levantando-o em um
movimento rápido. Ele empurra Emir contra a parede mais próxima. Seus lábios
estão perto dos de Emir, mas nunca fecham a distância.
— Que tesão.
Emir beija Sebastian. Ele treme. Suas pernas enrolam em torno dos quadris de
Sebastian.
Sebastian é forte o suficiente para segurá-lo. — Está bom assim? — ele
pergunta, um pouco feliz, mas também nervoso.
Emir concorda, ainda beijando.
Uma mão no cabelo de Sebastian puxa bruscamente. Sebastian segue; a tensão
escoa de seus músculos. Seus dedos cavam nas coxas de Emir. Isso sem dúvida
terminará em fogo e desespero e – bem, ele não tem certeza do que mais, ou se
ele está preparado para isso.
Então, novamente, Sebastian nunca está preparado para Emir Shah.
Um suspiro se transforma em uma risada. Emir morde seu queixo, depois
abaixa, em direção à pele sensível ao longo do pescoço. Ninguém nunca fez isso.
Sebastian está excitado, respirando como se tivesse corrido um quilômetro e
meio.
— Puta merda.
Nada mais criativo sai da boca de Sebastian. Principalmente porque sua mente
está em como ele tinha certeza de que Emir queria assassiná-lo cinco minutos
atrás. Talvez ele ainda vá – depois que eles terminarem de se beijar, é claro.
Suas testas se encostam. A língua de Emir encontra os lábios de Sebastian. —
Cala a boca.
— Não aguentei.
Os beijos, suas mãos lutando por novas áreas para tocar, Sebastian prendendo
Emir na parede – é tudo ridículo.
— Só cala a boca, Bastian.
Sebastian não consegue levá-lo a sério, não com o nariz enrugado e os cantos
da boca arqueados. Ele diz, respirando devagar: — Você tem algo para me calar,
Emi?
Emir treme; suas pupilas explodem em buracos negros envolvidos em prata.
Sebastian quer tocar o lábio inferior vermelho e inchado de Emir. Ele também
quer suavizar essa ruga entre as sobrancelhas de Emir. — Pare de pensar.
— Não estou pensando.
— Você é um péssimo mentiroso.
Os quadris de Sebastian encontram os de Emir. Ele teme que Emir possa não
querer isso, mas o tom de voz de Emir responde a essas preocupações.
— Esta é uma má ideia. — Os dedos de Emir se enrolam no cabelo de
Sebastian. Seu polegar esfrega a pele atrás do lóbulo da orelha de Sebastian. — O
que quer que estejamos prestes a fazer.
— Estamos prestes a fazer alguma coisa?
Eles riram juntos. É tão óbvio. Cada músculo tenso dos ombros de Sebastian
relaxa. A pele ao redor dos olhos de Emir é suave. É terrivelmente difícil não
apreciar todo o atrito acontecendo abaixo de seu umbigo.
— Então?
Sebastian pergunta: — Devo tomar uma decisão sobre para onde isso vai dar?
Os dedos de Emir estão em sua mandíbula, esfregando uma mancha de sujeira
de um tombo que ele tomou durante a partida. — Até onde vai? — ele sussurra.
Sebastian não tem ideia. Como será a vida daqui a trinta segundos? Em vinte
minutos? Uma semana? Para onde vai sua vida e quanto tempo ele tem para
decidir?
A excitação vence o pensamento analítico. Sebastian só quer beijar Emir
novamente.
Sendo um leitor de mentes perverso, Emir levanta a cabeça e se inclina para a
frente. O beijo é imperfeito, narizes batendo, dentes batendo, mas funciona.
— Vamos só, — Sebastian faz uma pausa para beijar as palavras dos lábios de
Emir, — ver o que acontece.

SEBASTIAN ESTÁ SEM PESO; SUA CABEÇA ESTÁ nas nuvens. Ele não sabe se é assim que
se pegar com um cara deve ser, mas é um bom começo.
Ele está olhando para o teto da cama de Emir. Eles estão sem fôlego e
rançosos. A confusão em sua cabeça o mantém olhando para os fantoches de
sombra criados pelo céu escuro. Ele deve sair? Isso pode só acontecer uma vez,
certo?
Emir passa o braço em volta do torso nu de Sebastian, puxando-o para mais
perto. Sebastian não resiste. Ele tem que admitir: ele está desesperado por
atenção.
— Ei.
Ele se vira, erguendo uma sobrancelha para Emir. Sebastian está esperando
que esse momento meloso termine, porque ele está a dois segundos de enterrar o
rosto na lateral do pescoço de Emir. Os olhos enrugados de Emir são tudo que
Sebastian precisa.
Esta é uma cena de um filme de romance horrivelmente clichê, estrelado por
um cara que é mais gostoso do que Sebastian. Ele diz isso a Emir, depois
estremece quando Emir começa a rir. — Não é engraçado, — Sebastian diz, mas
na verdade é.
Lá fora, a chuva cai em um drip-drop-plop constante no telhado. Isso torna seu
silêncio assustador. A respiração deles ainda está pesada. Sebastian deveria dizer
algo. — Devo ir? — ele pergunta enquanto o dedo de Emir arrasta e desenha o
número oito ao longo de sua nuca. Não é seu momento mais brilhante. Seu
cérebro ainda está congelado no que acabou de acontecer, então ele se debate.
O silêncio de Emir é uma indicação de confusão.
Sebastian puxa os lençóis e começa a se mover até que Emir diz: — Espera. —
A boca de Emir está aberta sem que nada saia, mas seus olhos dizem cada palavra
que ele é teimoso demais para pronunciar.
— Ok.
O peito de Emir é um travesseiro bem achatado, mas Sebastian apoia a cabeça
nele. Ele está curtindo o murmúrio dos batimentos cardíacos de Emir. É suave,
como aquela parte em "Bohemian Rhapsody", quando tudo vai desde um solo
de guitarra incrível até um final melancólico de Freddie Mercury. Os dedos de
Emir movendo-se sobre o couro cabeludo também ajudam. A cabeça de
Sebastian está limpa de toda a gosma que a obstruí.
— Talvez nós devêssemos...
— Fica quieto.
O tom de Emir é traído por um sorriso perdido. Isso confirma uma coisa para
Sebastian: se Emir não vai expulsá-lo, Sebastian não planeja dizer nada sobre
isso.
O resto, bem, ele não se importa agora.
17

— ESTÁ TARDE.
Sebastian se assusta; seu coração quase dá um tapinha nas amígdalas quando
ele gira. Willie está parado em sua cama, olhando para ele com olhos grogues.
— Hum.
Willie boceja. Ele está sentado com um pé embaixo dele. Seus dedos pálidos
mexem em fiapos invisíveis de sua calça de moletom. Seus lábios estão puxados
em uma linha fina. — Você perdeu o jantar, — diz ele, penteando
distraidamente o cabelo desgrenhado.
O gorgolejo do estômago de Sebastian confirma sua fome. — Sim. —
Sebastian está esfregando a nuca, sem saber o que ele deveria dizer. Ele deve se
explicar? Importará que ele estivesse com o Emir? — Eu fui...
— Shah, certo? — As sobrancelhas escuras de Willie formam rugas em sua
testa.
Sebastian para na entrada. A tempestade diminuiu, deixando para trás um céu
negro sem nuvens e uma brisa inebriante. Tudo cheira a pinho. Sebastian já
estava experimentando uma sobrecarga sensorial com os aromas da cabana de
Emir; terroso de lama, azedo de suor; mel do almíscar juvenil de Emir.
— Eu sinto muito.
Willie inclina a cabeça.
— Que foi? Quero dizer, — Sebastian faz uma pausa, olhando para suas
chuteiras sujas. — Eu deveria sentir?
— Você está prestando atenção nisso?
Sebastian sabe o que é "isso", mas ele quer que Willie diga em voz alta.
Sebastian está prestando atenção em Emir? No lugar dele no time? No que ele
quer fazer depois do colégio? Talvez ele possa aceitar que não tem ideia do que
fazer com as coisas que estão sob seu controle. Por enquanto, ele está preso em
um ciclo de indecisão.
Parte dele só quer voltar para a cabana de Emir, para onde eles falaram
baixinho sobre as coisas mais aleatórias, como o anime que Emir gosta. — É
legal, — Emir insistiu. Sebastian, fazendo caretas para as imagens que Emir
passou para seu telefone, pensou o contrário. Mas deitar em uma cama com
Emir meio enroscado em torno dele compensava isso.
A lua ilumina o céu pela janela atrás do ombro de Willie. O acampamento
está escuro e sem vida. Era perfeito para voltar aqui furtivamente enquanto
rezava para que nenhum dos treinadores o pegasse. Estar na reserva valeria
totalmente a pena pelas coisas que ele fez com Emir.
Agora, o céu está assustador, assim como ter que "se confessar" para Willie.
— Bastian?
— Não sei, — Sebastian disse, encolhendo os ombros.
Se assumir para Willie foi uma das coisas mais fáceis que ele já fez. — Ei, você
sabe que gosta de caras e essas coisas? Sim, bem, eu também. Caras e garotas, eu
acho. Não, eu sei. Eu gosto de garotas e garotos, — ele divagou, enquanto Willie
assentia com um sorriso preguiçoso. Então Willie o abraçou, afagou sua cabeça e
sussurrou: — Ok, pepperoni ou pizza vegetariana esta noite?
Sebastian não tem ideia de por que dizer a Willie que ele está começando a
gostar de verdade – o que parece bobo e juvenil em sua cabeça – de Emir é tão
importante.
— Então ele é como… — Willie faz gestos estranhos e convulsivos com as
mãos que Sebastian não consegue interpretar, mas ele entende a essência: ele é seu
namorado?
— Nada, — Sebastian diz, baixando a cabeça. — Ele não é nada.
Ele fecha a porta com um chute e vai até a cama. Ele se senta suavemente,
embora todo o seu corpo esteja exausto. Seus dedos se enrolam sobre os joelhos.
A mentira provoca náusea em seu estômago. Ele não pode falar com Mason
sobre isso, não sem revirar os olhos de julgamento e respostas azedas. E Grey,
bem, eles nunca tiveram a versão de uma conversa franca que inclui discutir os
problemas românticos de Sebastian.
Willie deve ser sua rocha. Ele é tudo sobre emoções e tirar sarro de situações
sérias.
Sebastian está ciente de que ele é péssimo em classificar seus sentimentos o
suficiente para falar sobre eles. Ele fica em silêncio. Willie lança um olhar longo
e ilegível para ele. Isso faz com que a nuca de Sebastian fique fria.
— Eu gosto dele, — Willie finalmente diz com um bocejo. Ele afofa um
travesseiro e se deita. — Emir, quero dizer. — Ele fecha os olhos; lentamente,
sua respiração se equilibra.
Sebastian não quer se preocupar com a opinião de ninguém. É a amizade dele,
não deles. Mas ser um adolescente é um bom dia para ser um super-herói,
seguido por cem dias de autoconsciência sobre cada maldita coisa. É um grande
momento egoísta quando você não dá a mínima para a opinião das outras
pessoas, mas ainda quer que seus amigos amem quem você é e o que você faz.
Sebastian cai de volta em sua cama. O zumbido das cigarras e o ronco de
Willie enche a cabine. Seu estômago se revira. Por que a vida não é como ter dez
anos de novo, quando se formar no ensino fundamental e pegar um Pokémon
era tão importante?

***

POR TRADIÇÃO, AS NOITES DE FOGUEIRA acontecem apenas algumas vezes.


Sebastian precisa de mais delas. É uma noite de sábado em meados de agosto e
Oakville está abafada. Seus companheiros jogam pilhas de madeira no centro de
uma cova que Charlie e Gio cavaram há uma hora. Céus rosa claro emolduram
as árvores.
Zach sorri, os braços cheios de cerveja barata. — Cervejas e melodias, caras.
Hunter traz suprimentos de um ataque à despensa: biscoitos amanteigados,
chocolate, marshmallows e refrigerantes.
— Legal, — diz Mikey, as mãos os agarrando já estendidas.
— O que, espere. — Zach suspira. — Quem convidou o novato? Dissemos
sem calouros, caras.
As regras da noite da fogueira são bem simples: bebida, se conectar com o
time, e sem calouros. A última parte é para a segurança dos calouros. Eles ainda
são novos, e é difícil o suficiente impedir os veteranos de ficarem pelados quando
eles estão bem excitados, quanto mais um novato de quatorze anos.
O local escolhido é onde a floresta se estende contra a costa do lago. É em
torno de um ponto do acampamento, escondido dos treinadores. É perfeito para
reflexão enquanto o verão dança ao redor deles em suas últimas pernas.
— Eu sou legal, cara, — Mikey diz a Zach: código para eu não sou um
narcisista. Desde a partida, Sebastian não se importou com as tentativas de
Mikey de se encaixar.
— Tanto faz. — Zach abre uma cerveja e passa para Mikey enquanto finge
que ele não existe.
Sebastian se inclina preguiçosamente contra um bordo vermelho. O time
preenche o círculo ao redor do fogo. Todos estão vestindo um suéter ou
moletom do BHS Lions. A luz do fogo contorna as árvores em laranja
queimado.
Foi uma semana de exercícios constantes e o treinador gritando "Eu vou
colocar todos vocês em forma para que possamos esmagar aqueles espartanos"
sempre que pôde. No refeitório, um dos calouros desabou de cara no macarrão.
Mas nenhum jogador desistiu.
Smith diz: — Você é péssimo para lidar com madeira, Keating. — Ele passa
hambúrgueres da lanchonete. Seu cabelo é uma explosão de algodão doce, rosa,
azul e loiro. É incrível ou um experimento da aula de cosmetologia de sua irmã
mais velha que deu errado.
— Sim? Não é isso que sua mãe diz.
Uma gargalhada irrompe. Com os cantos da boca erguidos, Smith saúda Zach
com sua cerveja. É claro que o time precisava de uma boa risada para espremer
toda a sua energia nervosa.
Mikey, já chapado de muito açúcar e bebida, pergunta: — Você honestamente
tem certeza que vamos vencer os espartanos este ano?
Zach, limpando a garganta, estreita os olhos para Mikey. — Tenho. — Ele
toma um gole de cerveja. — Você sabe por quê, garoto?
Mikey balança a cabeça, longe de estar ofendido.
Zach aponta para o mascote desbotado no moletom obviamente de segunda
mão de Mikey. — Porque somos um bando. Temos orgulho.
— Orgulho, — ri Gio, empurrando Willie com o cotovelo.
Willie revira os olhos.
— Somos uma família, — diz Zach, sério como um ataque cardíaco. — Esse
bando de idiotas são minha família, então vou me certificar de que nós vamos
fazer picadinho deles. — Ele levanta sua lata de cerveja. O fogo cospe e estala
um ritmo sobre o silêncio.
Charlie sussurra: — Inferno, sim. — Ele bate sua lata com a de Zach. Isso é
tudo que os outros precisam antes de rosnar e rir, deixando o momento de
vulnerabilidade de Zach passar sem zombarias. Alguns dias, Zach é um líder
melhor do que Sebastian jamais será.
Zach vira a cabeça e arrasta os nós dos dedos sobre os olhos.
Os líderes também podem ser vulneráveis. Sebastian não está sozinho em sua
incerteza sobre o futuro. E ele não está sozinho ao se encostar em uma árvore.
— Ei.
O sol sai de vista. Ao lado de Sebastian, Mason bebe uma cerveja. Com as
sobrancelhas levantadas, ele inclina a cabeça.
Sebastian não tem ideia do que dizer, já que esta é a primeira palavra real que
Mason disse a ele desde sua briga no campo. Sua boca fica seca. A língua de
Sebastian pesa por trás dos dentes. Ele quer que o constrangimento vá para que
possa ter seu amigo de volta.
Mason o considera. Ele diz: — Tudo bem, — como se tudo estivesse
perdoado.
É isso, então? O ombro de Sebastian com o de Mason. O clima entre eles não
está completamente claro, mas Sebastian se contenta com o sorriso fora do
centro de Mason e o cheiro de fumaça flutuando em direção a eles. Esta é a sua
marca de normalidade. Não é confuso, cheio de confissões exageradas.
— Você está sendo um solitário. — Mason olha rapidamente para a equipe.
— Eu não estou.
— Está totalmente, mano. E aí?
Sebastian esfrega os olhos com a mão. Ele quer contar a Mason sobre Emir,
sobre como as coisas estão boas, ou como ele está enlouquecendo sobre sua
amizade recém-reformada e como ele está esperando que tudo acabe.
Ele diz: — Estou bem, cara, — porque ele não está pronto para essa conversa
chegar lá.
Mason está. — Então, — Mason abaixa sua cerveja. — Onde está Shah? Você
não o convidou?
— Ele não viria.
É outra coisa que Sebastian não consegue entender: como Emir pode ser
diferente quando são apenas os dois. Não é mais rude ou abrasivo, ele ainda é
muito tímido com os caras, mas ele pode rir no ouvido de Sebastian todas as
manhãs após sua corrida.
— Ele precisa se envolver mais com o time.
— Por que, para você poder ser um idiota com ele?
— Você está realmente irritado com o que aconteceu, hein? — Mason parece
exasperado, mas Sebastian não se importa.
A frustação vem crescendo, porque Willie, que é um inacreditável leitor de
mentes sobre essas coisas, entende, mas Mason simplesmente não. Hoje,
Sebastian é um super-herói. Ele diz: — Sim, estou, Mace. Emir é um cara muito
legal e, uma vez, ele foi meu amigo. Você é meu amigo também, mas tem sido
um idiota por semanas com ele. — Ele exala, a mandíbula tensa. — Eu cansei.
As rugas na testa de Mason são o que ele diz. Ele está processando.
Sebastian o bate com uma resposta.
— Você é incrível, cara; tipo, eu não conheço nenhum outro cara como você,
dentro ou fora do campo, — diz ele. — Quando eu disse que era bi, pensei que
você me abandonaria, mas você não o fez. — Agora suas bochechas estão
coradas, mas Sebastian tem que tirar isso de dentro dele. — Você é tão legal com
tudo, então preciso que você deixe dessa atitude com Emir porque gosto dele. Eu
quero vocês dois por perto, mas não assim.
— Então, — Mason diz, sorrindo, — Eu sou incrível?
É claro que Mason só ouve essa parte. — Cale a boca, — diz Sebastian,
socando o braço de Mason.
— É difícil. — Mason arranha a ponta do sapato. — Fora a minha mãe e
irmãs, tudo o que tenho é você e Will. — Ele pressiona o cotovelo contra o de
Sebastian. — Eu nunca odiei Shah, mas ele é tão fechado que suspeito que ele
tenha más intenções. Saiu da maneira errada.
Sebastian bufa. — Definitivamente.
— Cale a boca, estou tentando.
— Isso é você tentando?
— Isso sou eu tentando.
— Eu odeio ter que dizer isso a você, mas você é péssimo nisso.
Mason ri. Sebastian também. E talvez não seja o melhor "Sinto muito" ou "Eu
também acho que você é incrível" que Mason pode oferecer, mas de qualquer
forma, é muito legal.
Perto do fogo, Willie os estuda. A culpa cai no estômago de Sebastian como
uma pedra. Ele deveria falar com Willie. Eles não se afastaram inteiramente,
porque ficam acordados para maratonas de filmes no laptop de Willie ou para
conversar. O que eles não falam é sobre Emir, que se tornou esse grande e feio
segredo entre eles. E Sebastian é um idiota, porque Willie não o delatou para o
time. Sebastian não consegue descobrir como abordar Willie sobre o que quer
que ele esteja ou não fazendo com Emir.
— Pobre Hunter. — Mason abre outra cerveja; bolhas espumam no topo. Ele
engole, então diz: — O cara tem sido fofo com Will há meses.
O fogo lança uma luz laranja na lateral do rosto de Hunter, em seus dentes
brancos e olhos franzidos. Ele passa um braço em volta dos ombros de Willie.
Ele não é distante, mas Hunter não é afetuoso com um monte de gente, não
assim.
Willie afina o violão surrado de alguém. Ele se lança em "Creep" do
Radiohead como todos os caras bons fazem.
Antes que Sebastian pudesse perguntar, Mason bebeu mais um gole de cerveja
e disse: — No fim de semana passado, depois que percebi que ele parecia prestes
a desabar quando Willie estava flertando com Kyle, ele me disse.
Sebastian tem certeza de que não há nada com que se preocupar. Kyle está
namorando a mesma garota, Lisa Kowalski, desde a sexta série.
“— É uma pena que ele não tenha coragem de dizer nada para Will. —
Mason está triste, como se esperasse por um final feliz mágico, ou alguma fada-
madrinha. Seria horrível.
Sebastian se abraça contra a corrente de ar fresco do lago. A brisa carrega um
cheiro de fumaça, como bafo de dragão, da fogueira. Deste ponto de vista, as
bochechas de Willie estão rosadas. Ele solta as letras enquanto ri de Hunter. Seu
corpo está enrolado sobre o corpo do violão. Sebastian consegue uma visão clara
do brilho familiar de desejo nos olhos de Hunter.
— Agora que Will acabou com essa história de se apaixonar por você, talvez
ele dê uma chance a Hunter.
Sebastian balança a cabeça, então – espera, o quê? Sua cabeça vira na direção de
Mason. Ele murmura "Ah, porra" ao mesmo tempo que Mason se encolhe,
sussurrando "Merda".
— O que você quer dizer...?
Mason o interrompe. — Nada, cara, nada mesmo. Estou perdido; tipo, Jesus,
quantas cervejas eu bebi?
— Duas.
— Só duas?
— Sim, Mace, apenas duas.
— Duas a mais então. — Mason dá a Sebastian um olhar de "Você realmente
não sabia?", isso faz o estômago de Sebastian cair. Ele está suando, pronto para
vomitar. De jeito nenhum Willie teria uma queda por ele.
Mason está levantando a mão, o sinal universal para se acalma pelo amor de
Deus. Ele suspira, como se estivesse em grandes apuros. — Tudo bem, — ele
resmunga, projetando o queixo para apontar para Willie. — Sim, Willie tem
sido incrivelmente doce com você por cerca de um ano e meio. Na época em que
você começou a namorar...
— Samantha.
A cabeça de Sebastian lateja. A epifania é um canhão explodindo confete roxo
em seu cérebro. Tudo faz sentido. Willie nunca se sentiu confortável com Sam.
Naquela primeira noite, na festa de aniversário de Val, Willie ficava nervoso toda
vez que Sebastian dançava com Sam. Sebastian achou que era Willie fazendo o
papel do "bom irmão" por ser superprotetor. Essa teoria foi oficialmente
descartada.
Como eu pude não ver?
— Não é para ser ela, — Willie dizia, repetidas vezes, depois que Sebastian
brigou com Sam ou quando ela ignorou suas ligações. Mas, inferno, Lily disse a
mesma coisa, então não era nada que ele não tivesse ouvido antes.
Mas Willie achava que era para ser ele.
— Ah, merda, — Sebastian diz, batendo a mão sobre os olhos.
Mason diz rapidamente: — Não dê muita importância a isso, ok? Sério, não
dá uma de Riverdale comigo.
Sebastian está atordoado. A culpa acaba de dar um soco nele. Enquanto
Mason dá de ombros, bebendo cerveja, Sebastian se joga contra a árvore.
— O que eu não consigo descobrir, — Mason faz uma pausa para esfregar o
queixo, — é o que o tornou tão interessado em você? — Com a cabeça
desconfortavelmente inclinada perto da virilha de Sebastian, ele diz: — Você está
escondendo algo incrível em suas coquilhas, Hughes?
Sebastian estala e empurra a cabeça de Mason para trás. Mason tropeça
bêbado. Jesus, estes são seus amigos?
Mason diz: — Eu já vi, mano. No banho. Você tem o martelo de Thor aí
embaixo.
Sebastian fica vermelho dos pés aos fios de cabelo. Ele se vira; seus olhos
piscam para Willie, cuja cabeça está no colo de Hunter. Hunter alisa o cabelo de
Willie para trás. Willie tenta uma versão acústica de "Uma Thurman".
— Desculpe. Tenho tentado fazer toda essa coisa de "ser legal'', mas como
diabos as pessoas fazem isso? — Mason geme, os olhos turvos olhando para o
fogo.
— Grey está influenciando você?
Mason revira os olhos. Obviamente não. Mason bebe o resto de sua cerveja.
— Ela faz parte do time ou algo assim, então não posso ficar com raiva dela. Às
vezes, ela diz coisas legais. É estranho.
Sebastian está maravilhado. Em que realidade Mason se refere a Grey Patrick
como legal? Bem, "quase legal".
Todo aquele bom carma que Mason acabou de ganhar voa para longe quando
alguém grita: — Quem convidou a filha do treinador? — e, bem na hora, Grey
sorri nervosamente enquanto passeia pelos caras inclinados na linha das árvores.
— Puta merda… — Mason empurra mechas soltas de cabelo castanho para
fora de seus olhos azuis de alga marinha protuberantes. Arisca como um
peixinho dourado nadando entre tubarões, Grey se senta ao lado de Hunter.
Mason diz: — Estamos oficialmente indo para o inferno. Todos nós vamos ser
expulsos do time.
Sebastian pergunta: — Você quer que eu cuide dela?
Mason esmaga sua lata vazia. — Ela é problema meu, não é?
Ele pode negar o quanto quiser, mas Mason tem um fraquinho por ela. Ser
um idiota é apenas sua maneira de mostrar isso.
Mason caminha em direção ao fogo, gritando: "Ei, dê um pouco de espaço à
pirralha!" e, “Grace, tire suas mãos dessa cerveja!"
— Meu Deus, você parece o treinador!
Os ombros de Mason estão tensos. — E vou ficar bravo como ele se você
beber isso. — Quando ela o ignora, ele engasga como se estivesse escandalizado.
— Você tem dezesseis anos, sua pequena encrenqueira, então venha se sentar
aqui – não, não perto de mim! — Mason quase grita.
Sebastian considera se juntar ao caos. Ele poderia cair ao lado de Zach e cantar
a versão desafinada do time dos "Young Volcanoes", liderada por dedilhados
muito respeitáveis de Willie. O calor da fogueira o atinge. Estrelas piscam no céu
índigo claro. O sabor azedo da cerveja barata se acumula em sua garganta.
Que tipo de futuro capitão não gostaria de sentar-se ombro a ombro com suas
tropas? Sebastian não sabe. Todos os adolescentes são tão emo e indecisos?
Sebastian fica para trás, deixando sua mente esfriar antes de se virar e
desaparecer entre as árvores.
18

SEBASTIAN PRECISA DE UM LUGAR PARA PENSAR, e a doca do lago é o lugar perfeito.


Durante o dia, o lago além das árvores e da grama é calmo, azul claro sob um
céu claro e ensolarado. Ao anoitecer, é tudo índigo marcado com roxos e com
cheiro de pinheiro e musgo. Todos os ruídos normais do acampamento são
silenciados pelo barulho da água cantante. É o único lugar que Sebastian pode
ter para si esta noite.
A vida decide atingir Sebastian, negando aquele momento.
Cercado por um fino recife de fumaça, Emir está encolhido no final do cais.
Sebastian não está desapontado; ele está confuso, mas não desapontado. Os
últimos raios de sol tornam o perfil de Emir confuso. Sua boca está
pensativamente carnuda. Sebastian ignora seu estômago agitado e deixa sua
vertigem levá-lo até as pranchas de madeira.
Enquanto ele tira os tênis, Sebastian percebe que seu bom senso morreu como
um orgulhoso samurai. Avisos retumbam em sua cabeça: você vai ser pego pelo
time!
Emir atira para ele uma expressão vazia por cima do ombro. Sebastian não
consegue superar o quão inacreditavelmente bonito Emir é.
— Você não deveria estar com os adolescentes legais? — Emir pergunta
quando Sebastian se senta ao lado dele; seus ombros se roçam.
Sebastian imita Emir, mergulhando os pés na água. — Não estou de bom
humor. — Sua mão limpa a fumaça. Emir inclina a cabeça para trás e quase sorri
quando Sebastian diz: — Além disso, não sou legal o suficiente para essa plateia,
de qualquer maneira.
Emir bufa. Seu cotovelo esbarra no de Sebastian cada vez que ele sopra uma
nuvem de fumaça. A desordem da água do lago preenche seu silêncio.
Sebastian não tem absolutamente nenhuma ideia de onde vem a memória,
mas ele pergunta: — Ei, você ainda gosta de leite de amêndoa?
Os olhos de Emir se iluminam. Seus pés roçam na água, os tornozelos se
tocando. Emir diz suavemente: — Um pouco, sim, mas não tanto quanto eu
costumava quando sua mãe nos fez uma monte de...
— Biscoitos, — Sebastian, queixo erguido com orgulho, dá sua melhor
impressão do sotaque de Emir.
— Você lembra?
— Claro.
Emir joga o cigarro no lago, depois se reclina sobre os cotovelos para olhar
para o céu. Ele diz: — Você costumava trapacear no Mario Kart.
Sebastian engasga, escandalizado. — Eu não fazia isso, você que era péssimo.
— Os olhos de Emir se estreitam; seu nariz está franzido. — Quem escolhe
Yoshi, afinal? Escolhas ruins, Emir, escolhas ruins.
— Tanto faz. — Uma risada sai do peito de Emir. É o novo som favorito de
Sebastian. — Sua mãe sempre foi… — As sobrancelhas de Emir caem. Ele tenta
novamente. — Ela sempre foi tão legal comigo.
— Ela gostava de você. — Refletindo, Lily ficou terrivelmente triste quando
Emir parou de aparecer. Talvez ela tenha parado de falar sobre ele por algum
motivo? Talvez lembrar dele a tenha deixado triste também?
— Você ainda fica acordado a noite toda lendo quadrinhos?
Sebastian balança a cabeça, tamborilando as mãos nos joelhos.
— Eu também.
Insetos noturnos zumbem ao redor da doca. O tornozelo de Emir roça o de
Sebastian. — De volta a Londres, eu deixava espaço na minha cama... para você.
— Um rubor se espalha pelas bochechas de Emir. Sebastian tenta imaginar o
minúsculo Emir espremido contra uma parede. — Você ocupava muito espaço.
— Não posso evitar já que você era um graveto!
Emir enfia o dedo nas costelas de Sebastian. — Muito triste, certo, esperar que
você ocupasse todo aquele espaço da minha cama? — Ele morde o lábio. — Foi
estranho não ter você por perto.
Sebastian muda a mão desajeitada para o joelho esquerdo de Emir. — Não era
triste.
— Então, o que era?
Sebastian não sabe. É a coisa mais legal que alguém já disse, ele pensa – não que
ele vá dizer a Emir. Mas seus dedos apertam o joelho de Emir, o que não é sua
melhor resposta.
A expressão de Emir se suaviza.
Okay.
À distância, à esquerda, o time está destruindo "We Are Young". A palma da
mão de Emir desliza pelas costas da mão de Sebastian para entrelaçar seus dedos.
O coração de Sebastian suaviza. Ele nunca imaginou, no início do verão, que eles
estariam aqui.
A antecipação nervosa agitando no corpo de Sebastian o faz dizer: — É uma
boa noite para um mergulho. — Ele retira timidamente sua mão da de Emir. A
adrenalina vibra em suas células. Ele se levanta e arranca o moletom. Seus dedos
trabalham para puxar sua calça jeans em seguida.
— O que você está fazendo?
Sebastian dá de ombros. Ele não tem noção, mas está acompanhando a
inflamação em sua barriga que se move em direção ao peito. É o último verão
dele aqui, então perder tempo não é uma opção.
— Eu nunca faço nada divertido.
— E ficar nu é divertido? — Emir se encolhe no segundo em que as palavras
saem de sua boca.
Enganchando seus polegares no elástico de sua boxer, Sebastian puxa, estala
contra sua pele e levanta as sobrancelhas sugestivamente.
Emir diz: — Uau. Isso está acontecendo mesmo.
Sebastian, a definição viva de irracional, puxa sua boxer para baixo e a chuta
para longe. — Então, você vem ou o quê?
— Onde? — Emir engasga.
Sebastian aponta para o lago. — Vamos lá. Nadar pelados. Agora mesmo.
— Não.
— Sim.
— Isso é loucura, como... você está pelado!
— Não é como se você nunca tivesse me visto nu antes.
Emir, ficando mais vermelho do que parece possível, diz: — Aquilo foi
diferente.
— É, hum, não foi.
O pomo de adão do Emir balança quando ele engole. Sua boca é uma linha
branca e fina, mas seus olhos são piscinas negras, olhando fixamente sem vacilar.
Sebastian estende a mão. — Vamos. — Ele quase murcha quando Emir
hesita. Então Emir estende a mão e os ombros de Sebastian relaxam. Ele puxa
Emir para ficar de pé. Sua mão livre brinca com a bainha do moletom de Emir e
seus olhos estão procurando.
Emir exala e acena com a cabeça.
Juntos, eles arrancam Emir de seu moletom e de sua camiseta. As mãos não
cooperativas de Sebastian tremem quando os dois alcançam o botão da calça
jeans de Emir. Sebastian é uma grande bola de energia nervosa, então Emir cuida
disso sozinho.
— Hora de viver um pouco, Emi, — sussurra Sebastian, os lábios contra a
orelha de Emir.
Emir faz um barulho exasperado no fundo da garganta. Sebastian está
interessado nisso, mas seu cérebro congela quando Emir finalmente tira a cueca.
Uma trilha de cabelo felpuda ao redor do umbigo de Emir distrai Sebastian o
suficiente para que ele consiga não babar.
Sebastian dá alguns passos para trás. Emir tem os braços cruzados
desafiadoramente sobre o peito, mas Sebastian ignora a atitude falsa. Ele se vira,
diz por cima do ombro: — Encontro você na água, — e mergulha.
A água está chocantemente fria, então mais quente quando ele chega à
superfície, ainda submerso até os ombros.
Emir anda pela doca.
— Fica pior quanto mais você pensa sobre isso, — Sebastian diz a ele.
— Sim, bem – está muito ruim agora.
Sebastian sacode o cabelo. O canto do time é mais suave enquanto ele está na
água. É a trilha sonora brega que acompanha este momento do filme da Disney,
mas ele concorda com essa vibe. Ele diz: — Pula, ou vou te puxar.
Emir encara como se estivesse diante do Darth Vader dos lagos.
Sebastian grita: — Pula!
Emir dispara sobre a cabeça de Sebastian, criando uma onda épica que quase
afunda Sebastian. Sua cabeça escura emerge. — Vou morrer! — Claro que é um
exagero – o lago é bem raso – mas Sebastian deixa Emir choramingar enquanto
se aproxima.
Uma risada se transforma em um concurso de mergulho. Isso leva a respingos,
e tudo fica em declive a partir daí. Sebastian engole a água do lago enquanto
Emir se debate.
É uma noite fria e fresca de verão com um céu roxo e machucado, e o
estômago de Sebastian está quente. Ele nada para Emir. Suas mãos cavam sob as
coxas de Emir, levantando-o. As pernas de Emir embalam a cintura de Sebastian.
Sebastian chuta para mantê-los na superfície.
Emir avisa: — Não me deixe cair.
— Eu não vou, — Sebastian promete.
Eles não se movem muito. Emir passa os braços em volta do pescoço de
Sebastian. Seu queixo está abaixado, dando a Sebastian uma boa visão do lábio
inferior vermelho mastigado de Emir e sua mandíbula com a barba por fazer.
Os dedos de Sebastian esfregam distraidamente a tensão da parte inferior das
costas de Emir. Um zumbido escapa de Emir. É a deixa para Sebastian começar a
falar. — Qual sua banda favorita? — e — Você gosta de museus? — e, — Como
estão suas irmãs? — voar para fora de sua boca.
— Você faz muitas perguntas. — A cabeça de Emir tomba para trás de tanto
rir, expondo uma paisagem de pescoço muito atraente. Sua mão passa pelo
cabelo de Sebastian.
Sebastian engole e faz outra pergunta. — Isso é ruim?
— Às vezes.
— Mesmo? — Sebastian está se esforçando para não parecer desapontado.
— Não. — Emir traça a água descendo da linha do cabelo de Sebastian até o
nariz com o polegar. — Kendrick Lamar é a minha favorita. Museus são legais.
Minhas irmãs são irritantes, mas adoráveis demais para odiar.
— Posso perguntar mais um pouco?
Emir concorda.
Eles acabam em uma conversa sem direção, terminando em como eles nunca
visitaram a cidade de Nova York, mas querem ir. — E Sheffield, — Sebastian
diz, apertando os olhos contra a água pingando de seu cabelo. — Para ver a
família do meu pai.
— Eu sinto falta da Inglaterra, um pouco. — Mais suavemente, Emir
acrescenta: — Mas eu gosto daqui.
— Daqui? — Sebastian está pescando e esperançoso.
Emir torce o nariz e diz: — Os Estados Unidos, Bastian, não aqui.
Sebastian pode viver com isso. Além disso, é óbvio para ele que Emir ama
secretamente o Acampamento Haven.
A conversa casual continua. Emir quer estudar design gráfico. Ele está
considerando escolas no exterior. Ele ainda não encontrou nenhum lugar nos
Estados Unidos.
— E quanto a Nova York? — Sebastian oferece.
— Pensei sobre isso.
— E… — Sebastian não está tentando esconder o sorriso.
Emir funga, encolhendo os ombros. Por mais que Sebastian queira fazer mais
perguntas, é incrivelmente bom estar perto de alguém que não planejou todo o
seu futuro. Ele está perto de se abrir sobre sua própria falta de direção.
Na fogueira, "Uptown Funk" irrompe. Sebastian levanta a mão para curvar a
nuca de Emir. Gradualmente, suas testas se encontram.
Os olhos de Emir dançam. — Você vai me beijar ou o quê?
Os dedos de Sebastian tocam a percussão da música ao longo do pescoço de
Emir. — Hum, — ele diz, incapaz de compreender sua dinâmica e todos os
loops, voltas e áreas cinzentas indefinidas onde "sim" e "não" nunca significam
nada. Mas os lábios de Emir se abrem. Dane-se. Sebastian finalmente diz: —
Tudo bem.
— Tudo bem, — Emir repete.
O desconforto em sua barriga se dissolve quando Emir inclina a cabeça.
Sebastian, tentando não empurrá-los muito, encontra-o no meio do caminho.
O beijo não é frenético, mas é febril. As mãos de Emir estão em seus ombros.
A boca de Sebastian, ofegante, provocada pela língua de Emir. É emocionante e
significativo, e o coração de Sebastian está errático. Os lábios de Emir podem
convencer alguém a matar dragões. Eles estão se inclinando para isso, tão
dispostos. Seus dedos esfregam a nuca de Emir, de forma constante e segura.
Emir suspira; os olhos de Sebastian se abrem. Seus narizes batem enquanto
caminham entre beijar e respirar. E então Sebastian diz, — Mais, — e Emir
concorda. Sua respiração entrecortada é sufocada pela boca de Sebastian.
Deveria ser assustador, flutuar em um lago escuro com seus companheiros de
time não tão longe. Sebastian não consegue imaginar um momento em que ele
esteja mais confortável.

APÓS UMA HORA DE BEIJOS flutuantes e épicos, eles correm para vestir as roupas.
Mergulhar nu é ótimo até a hora de colocar a roupa de volta, Sebastian aprende.
Ele quase cai do cais puxando jeans duros para cima de suas pernas molhadas. A
brisa noturna roça suas costas.
Quando eles estão quase terminados, Sebastian pega a mão de Emir,
vagamente, no caso de Emir se afastar agora que eles estão fora da água.
Emir levanta uma sobrancelha. — Você já pensou…?
— Não sou bom nessa coisa de pensar.
Emir revira os olhos e ri. Sebastian ri também.
Suas mãos balançam entre eles enquanto Sebastian navega por entre as árvores,
em direção ao vestiário. Ele está espiando. O barulho da fogueira acabou.
Qualquer um dos jogadores pode estar à espreita, ou os treinadores podem estar
patrulhando depois de outra maratona de Rocky. A costa parece limpa.
— Você faz muito isso?
— Na verdade, — Sebastian diz, tirando o cabelo da testa, — eu nunca fiz
isso, jamais.
Três verões no acampamento e amigos como Mason e Willie, que gostam de
quebrar o toque de recolher, tornam a caminhada pelo acampamento depois de
horas uma coisa natural. Ajuda o fato de Sebastian sentir o cheiro dos vestiários,
repletos de suor e almíscar, a dez metros de distância.
Seu nariz enruga quando eles entram. — Vai amar. — Ele não sabe por que,
mas fica de costas para Emir enquanto se despe. Ele diz a Emir para pegar
toalhas enquanto ele liga o chuveiro.
Sebastian ouve um pigarro e se vira para uma cena. Banhado por uma luz
fluorescente bruxuleante, Emir abraça timidamente seu corpo magro. Seu cabelo
cai sobre a testa.
— Vamos entrar ou não? — Emir pergunta.
Sebastian pensa: Emir, comigo, no chuveiro. A hesitação foge e eles tropeçam
no vapor.
O spray está quente, batendo ruidosamente nos ladrilhos. Isso dá a Sebastian
uma desculpa para mudar para mais perto de Emir. Ele está esfregando sabão
sobre a tatuagem de falcão enquanto Emir conta a ele sobre seu ex-colega de
quarto, um calouro chamado Connelly, que deixou o acampamento no primeiro
dia. Sebastian não se lembra dele.
— Ficar com um muçulmano ofendeu sua família, — confessa Emir.
— Ele é um idiota, — diz Sebastian, carrancudo para as omoplatas de Emir.
— E os pais dele também.
Emir diz, com os ombros tensos: — Ele não era. Você faria a mesma coisa se
estivesse preso a alguém que fosse contra as coisas em que você foi criado para
acreditar.
— Eu não faria.
— Estou bem, cara. — Emir suspira. — As pessoas podem ter sua ignorância.
— Não é legal.
— Não é para ser.
Sebastian descansa sua testa enrugada na coluna de Emir. — Isso é besteira, —
ele sussurra.
— As pessoas não gostam de outras pessoas pelos motivos errados, — diz
Emir. — Não significa que devemos agir como eles.
Sebastian não tem um argumento para isso.
De olhos fechados, Emir tira o cabelo da testa, deixando o queixo de Sebastian
pendurado em seu ombro. — Eu lido com isso há muito tempo, você sabe.
Connelly não foi o primeiro e não será o último.
O mundo não deveria ser assim; as pessoas não deveriam ser irracionalmente
inaceitáveis. Mas é uma discussão pela qual pessoas como Emir lutaram por
muito mais tempo do que Sebastian percebeu. Ele não ignora seus próprios
privilégios. Ele nunca enfrentou qualquer preconceito por sua cor de pele, seu
cabelo castanho-alourado, o relacionamento casual de seus pais com a religião.
Sua sexualidade é protegida por seus companheiros de time e treinadores. Mas
Sebastian está ciente de que odiar cegamente uma raça, religião, sexualidade,
gênero ou o que quer que seja é a forma mais pura de preconceito.
Sebastian precisa mudar de assunto: — Eu já te contei como eu mal cheguei
ao time?
Emir inclina a cabeça para mostrar um sorriso.
— Oh, sim, história super chata, mas...
Emir descansa a cabeça no ombro de Sebastian enquanto Sebastian narra seu
primeiro ano como Lion. Gotas d'água caem no rosto de Emir, como estrelas
quentes e úmidas. Seus olhos se fecham; seus cílios vibram a cada poucas
palavras. Sebastian verifica ocasionalmente as reações faciais de Emir, mas ele
está em paz.
— Eu não deveria te dizer isso, — diz Emir. Eles estão cara a cara agora. Ele
sussurra: — Vim a alguns jogos para assistir você.
A água ainda está quente, o que poderia explicar as bochechas coradas de
Emir, mas Sebastian está apostando que é um motivo diferente.
— Você é incrível. Se eu pudesse ser metade do jogador que você é, então
impressionaria Abbu.
Sebastian tenta engolir o fato de que passou a infância lendo sobre heróis e
aqui está ele, um herói para Emir. Suas mãos nervosas repousam nos quadris de
Emir. — Você veio aos meus jogos?
Emir acena com a cabeça, timidamente, mas não está encontrando o olhar de
Sebastian.
— Emi...
— Eu nunca te odiei, mas ver você seguir em frente foi difícil.
Palavras estão amarradas na garganta de Sebastian. Ele nunca vai dizer a coisa
certa, então ele dá um beijo na ponta do nariz de Emir.
Os olhos de Emir ficam assustadoramente arregalados; suas sobrancelhas quase
tocam a linha do cabelo. — Hum, o quê?
— O quê?
— Você só, — Emir faz uma pausa, engasgando com a risada. — O beijo no
nariz?
— Que beijo?
A boca de Emir se torce ironicamente, mas ele sussurra: — Ok, Bastian, —
em um tom que diz que aceita completamente o status de perdedor de Sebastian,
e sua incapacidade de ser calmo sobre qualquer coisa.
Sebastian tenta quebrar o gelo, passando um dedo sob o queixo de Emir e
angulando seu rosto para que possa dar um beijo suave na boca de Emir. Emir
beija de volta. Eles estão aprendendo como fazer isso sem se atrapalhar.
Emir se afasta. — Não podemos ficar aqui para sempre, — diz ele.
— De acordo com quem?
Mais palavras quase escapam da boca de Emir, mas Sebastian se precipita para
outro beijo. A água está ficando fria e Emir pode estar certo.
Depois do banho, Sebastian está em seu armário, arrancando sem sucesso as
coisas que quer, enquanto Emir se enxuga. Ele foi distraído pelo falcão com tinta
entre as asas dos ombros de Emir. Ele quer uma tatuagem. Mas a vozinha no
fundo de sua cabeça grita permanente, e ele se apavora. E, ele viu um vídeo no
YouTube chamado "Piores Tatuagens do Mundo", e isso levou a um vórtice
sombrio do YouTube do qual ele ainda não se recuperou.
Ele finalmente puxa o moletom do time de seu armário. — Aqui. — Sebastian
empurra para Emir. Está enrugado, mas limpo, ao contrário de algumas das
outras roupas em seu armário.
— Para mim?
Os dedos de Sebastian se fecham no algodão macio enquanto ele sacode o
moletom para Emir. — Só pega, cara, — ele diz, exasperado. Ele não tem
certeza se é uma torção estética ou simplesmente sentimental, mas Sebastian quer
ver Emir em seu moletom.
Emir coloca o moletom. — É meio grande. — É verdade. As mangas são
muito longas; o material extra se enruga em sua cintura. Mas Emir é irresistível
ao morder o lábio inferior.
Nas costas do moletom está HUGHES em letras douradas. Sebastian gosta.
Ele reúne as roupas e toalhas fedorentas do lago em sua bolsa de roupa suja
antes de jogá-la no carrinho perto da entrada. Emir calça os tênis, depois mexe
nas mangas do moletom, puxando-as sobre os nós dos dedos. Ele desfaz seu
penteado perfeitamente bagunçado com uma mão.
— Pronto? — Sebastian pergunta.
— Eu acho que sim.
— Não podemos ficar aqui para sempre, — Sebastian diz a ele.
Emir esfrega a barba por fazer. Ele diz: — De acordo com quem? — com a
língua presa entre os dentes brancos.
Eles ainda estão úmidos do chuveiro. Sebastian mexe os dedos ao lado do
corpo. Ele está tendo um momento de "devo ou não devo". Suas mãos se roçam.
Ele suspira.
— Basta fazer, — diz Emir. O mundo fora dos vestiários está escuro, mas o
céu está cinza com o luar.
Sebastian segura a mão de Emir.
19

SEBASTIAN ESTÁ TENTANDO PROCESSAR sua habilidade incrivelmente ruim de


dissolver a estranheza entre eles de uma forma poética ou romântica, provando
que não aprendeu nada com o amor insuportável de Sam por Diário de Uma
Paixão. Suas mãos balançam entre eles como se isso não fosse estranho, como se
eles não estivessem na garganta um do outro naquela primeira manhã na cabana
de Emir. Ele tem medo de ficar muito confortável.
— Você está quieto, — diz Emir.
Os grilos cantam seus hinos noturnos. Uma coruja pia para as estrelas.
Sebastian está conduzindo-os pela escuridão em direção à cabana de Emir. Ele
quer dizer algo impressionante.
Emir sussurra: — Merda, — e, bem, isso definitivamente não é um bom
começo, mas...
Sebastian aperta os olhos para uma lanterna piscando à frente. Alguém se
atrapalha com as árvores e arbustos, movendo-se na direção deles. Ele consegue
distinguir o suficiente da forma do homem; é o treinador Rivera.
O coração de Sebastian está tentando beijar sua traqueia. Ele esquece que
Emir está segurando sua mão até que os dedos de Emir se apertam
desconfortavelmente em torno dos seus. Emir está tendo um ataque de pânico
silencioso, mas Sebastian pode lidar com isso. É como estar em campo,
antecipando o próximo movimento do outro jogador.
— Nós vamos morrer.
— Emir, — Sebastian diz.
Mas Emir já está resmungando: — Vamos ser expulsos do acampamento, do
time, não consigo acreditar.
A luz está se aproximando.
Sebastian sussurra: — Olhe, vá para trás dessas árvores. Você é magro o
suficiente; ele não vai te ver.
— Ei, eu não sou...
— Cara. — Sebastian já está virando Emir com uma das mãos e a outra nas
costas dele, empurrando-o. — Agora não é hora de discutir. — Rivera está
fixado nos arbustos. Ele não localizou os dois ainda, mas Sebastian não gosta de
arriscar. — Vá, — diz ele com um assobio.
Emir tropeça em algumas pedras a caminho das árvores.
Sebastian deveria estar preocupado com a segurança de Emir, mas ele está à
beira de sua própria mini-avalanche de ansiedade. Então, ele endireita os
ombros, protege os olhos contra o brilho da lanterna de Rivera e aceita que ele
passou de "responsável" a completo delinquente.
— Hughes? — Rivera faz uma pausa no meio da etapa e grita: — Hughes! —
enquanto tropeça até ele.
Sebastian dá um aceno despreocupado; sua outra mão está tremendo. Ele sorri
seu melhor sorriso de eu sou inocente para Rivera. — E aí, treinador? — ele diz
com o nó na garganta. — Noite agradável, não é?
As sobrancelhas grossas de Rivera descem. — Já passou do toque de recolher,
Hughes.
— Eu não tinha percebido.
— O que você está fazendo aqui fora assim? — Rivera funga, como se fosse
pegar álcool com o hálito de Sebastian ou, pior, uma pitada de maconha.
Sebastian não está ofendido; ele fica lisonjeado que Rivera o classifique como esse
cara. Ele empina o queixo com orgulho quando Rivera dá um passo para trás.
— Está tarde, Hughes.
Sebastian concorda.
— Por que você, de todos os chicos, está aqui fora depois do toque de
recolher? — Quando Rivera está cansado ou exasperado, suas palavras variam
entre o inglês e o espanhol.
Sebastian esfrega seu abdômen. — Jantei bastante esta noite, então eu
precisava correr para queimar as calorias. — Ele está surpreso com o quão bem
ele está mantendo sua voz casual, especialmente porque seu estômago está dando
cambalhotas.
— Sí, — diz Rivera, balançando a cabeça, — Entiendo.
Sebastian relaxa, o alívio dando a ele um motivo para sorrir genuinamente.
Isso, é claro, até Rivera colocar a mão pesada em seu ombro e apertar.
— É difícil, mijo, ser tão bom quanto você, — diz ele, rude e sério, mas
também gentil. — Eu odeio ser o cara mau, mas dependemos de você. Seus
companheiros de time, os treinadores, todos nós. Você é o nosso cara.
Sebastian sabe. — Sim. — Ele raspa um de seus Converse em uma pedra
próxima. Uma lista corrente de pessoas que dependem de Sebastian Hughes
existe em algum lugar. É composto por Willie, Mason, sua irmã Carly, Emir e
seus companheiros de time.
Pelo menos Rivera não o adoça, ao contrário de todos os outros. Mas sem
pressão, certo?
— Ei, — Rivera diz, ainda apertando o ombro de Sebastian, — Você viu
Shah em algum lugar? Estamos fazendo checagens na cama, garantindo que
vocês não estejam saindo do controle.
Sebastian se inquieta.
Rivera é mais baixo do que Sebastian, mas ainda consegue olhar para ele. —
Desista, Hughes, — ele diz. — Alguns alunos do segundo ano estavam
vomitando nos arbustos há uma hora.
Merda. Sebastian não quer detalhes sobre quem foi pego. Ele está dominado
pela culpa. Ele deveria ter ficado por perto, garantido que todos os caras fossem
direto para suas cabanas após a fogueira.
Em vez disso, ele estava nadando nu, beijando e sendo imprudente.
Rivera espera.
— Talvez ele esteja dando uma caminhada? — Balançando sobre os
calcanhares, Sebastian esfrega o lado do pescoço. — Ele é do tipo que tem
saudades de casa. Ouvi dizer que é a primeira vez que ele está fora de casa. Isso é
sempre estranho para as pessoas.
Rivera parece longe de estar convencido. Sebastian não culpa ele.
— Crescemos juntos, — explica Sebastian. — Ele enlouquece em novos
lugares. Fazê-lo relaxar durante a festa do pijama sempre foi um inferno.
— Ele vai ser bom para o nosso time?
Sebastian odeia a alegria estridente em sua voz quando diz: — Ele vai ser
ótimo, se conseguirmos controlar sua atitude.
A risada de Rivera é rouca, como a de um urso. Ele diz: — Confio no seu
julgamento, Hughes. Você vai nos ajudar a transformá-lo em algo, certo?
— Sim, senhor.
— Bom, — diz Rivera. Ele aponta sua lanterna para o rosto de Sebastian,
então o branco forte o cega. — Agora vá para a sua cabana e não vou relatar a
Patrick sobre você violar o toque de recolher.
Quando Rivera ameaça substituí-lo por Jack se ele for pego novamente,
Sebastian acena com a cabeça. Por cima do meu cadáver! Jack não poderia me
substituir. Ele não diz isso; o gelo que ele está pisando já é fino.
— Ok, — diz ele. Seu coração finalmente retorna à posição anterior quando
Rivera se afasta.
— A barra tá limpa?
Sebastian espia ao redor antes de assentir.
— Você estava com medo? — pergunta Emir, pegando folhas e gravetos de
suas roupas enquanto sobe.
— De ser pego?
— Não, do escuro, seu covarde de merda.
Sebastian ri. Esta noite inteira foi muito estranha para seu pobre coração
adolescente. Primeiro Mason, depois Emir, agora treinador Rivera. Se algo mais
acontecer, eles vão ter que transportá-lo de avião para o Bloomington Medical
Hospital.
— Tanto faz, — diz ele, automaticamente pegando a mão de Emir nas suas.
— Eu ouvi você, Bastian, — Emir diz. Sua voz é uma boa interrupção do
silêncio durante a caminhada até a cabana de Emir. — Você disse a Rivera que
eu estava com saudades de casa. E que você costumava cuidar de mim.
Sebastian murmura. Ele não se arrepende, mas diz: — Isso te deixou bravo?
— porque ele não vai ser um idiota sobre isso.
— Sim, — diz Emir. Então ele balança a cabeça. — Não deixou. É só que…
Esperando, Sebastian pisa sobre uma rocha marrom robusta. Mas Emir não
termina. Ele aperta a mão de Sebastian, como se estivesse fazendo código Morse.
Se Emir não disser nada, Sebastian está bem com isso. Obviamente, cada um
deles tem seus próprios problemas com toda a coisa de "palavras certas a dizer".

HÁ UM MOMENTO MUITO ESTRANHO na porta de Emir. Ele deveria abraçar Emir e


ir embora? Deve haver um beijo de boa noite? Sebastian aplicou essas regras e
protocolos principalmente às garotas com quem ele namorou. Ele e Emir não
estão namorando, não fizeram toda essa coisa de "namoro", mas uma coisa é
certa: largar a mão de Emir não está no topo de sua lista de prioridades.
Sebastian desiste, entretanto, por causa das palmas das mãos úmidas e da falta
de circulação em seus dedos. Agora sua mão está fria. E ele não fez menção de
fazer nada.
Emir dá um beijo seco na sua bochecha. Bem, isso foi muito simples.
— Obrigado, — Emir diz, seu quadril inclinado contra a porta.
— Pelo quê?
— Não sei. — Emir olha para os pés. — Mas obrigado.
O peito de Sebastian está rapidamente se enchendo de calor. Ele diz
apressadamente, — Boa noite, — e se afasta antes de fazer papel de idiota
completo. Então ele tropeça em uma pequena pedra. A tentação de espiar por
cima do ombro, apenas no caso de Emir estar olhando para ele, é diluída por sua
força de vontade surpreendentemente forte – ou por sua mortificação absoluta.
Assim que ele chega em sua cabana, Sebastian está sorrindo tão bobo que está
considerando a reconstrução facial.
Willie está deitado como uma estrela do mar preguiçosa, a cabeça inclinada
para trás, a boca aberta e roncando com baba seca no queixo. Sebastian tira os
sapatos no momento em que Willie murmura: — Você sempre será meu
favorito, Bastian.
Aquele lembrete da fogueira reaparece – ele era apenas uma ferramenta para a
paixão de Willie.
Willie se vira, abraçando seu travesseiro. Como eu o ignorei? Willie, altruísta e
idiota sem noção, que não se importava do fato de Sebastian estar com Emir.
Willie manteve seu segredo. Ele nunca apontou os erros de Sebastian. E ele fez
tudo isso enquanto se apaixonava por Sebastian de longe.
Willie é perfeito. Perfeito para Hunter, não Sebastian, mas isso também é
ótimo.
Sebastian sussurra: — Você sempre será meu favorito também, — e algo em
seu peito relaxa quando Willie responde: — Mace diz que não podemos escolher
favoritos.
— Isso porque Mason não é o favorito de ninguém.
— Verdade.
A voz de Willie é sonhadora em vez de rouca, como se ele estivesse falando
durante o sono. É uma boa conversa de qualquer maneira. Sebastian tira a
camisa, mas deixa o short. Ele sobe na cama.
Demora um pouco para ele adormecer, e essa é a única coisa que é rotina nesta
noite.
20

A TARDE SEGUINTE NÃO É UM dos melhores momentos de Sebastian. Não é ruim,


mas também não está entre as dez primeiras.
O acampamento de treinamento tem seus benefícios. Práticas extras produzem
panturrilhas mal definidas. O sol deixa sua pele mais bronzeada: não exatamente
dourada pelo sol, mas de modo aceitável. Ele não tem mais ombros desajeitados
também. Existem momentos honestos e reais em que parece que ele está se
tornando alguém.
Mas agora, Sebastian não está apaixonado por seu reflexo. Suas bochechas
ainda estão cheias e redondas como as de uma criança. No halo do sol, as
manchas sob seus olhos lhe dão a aparência de um zumbi. Sua mandíbula não é
quadrada ou redonda, apenas estranha. Ah, e seu nariz tem um formato
estranho.
— Você é bom o suficiente para eles.
É seu mantra, junto com "Você é bom o suficiente para o time, para seus
colegas, para ele" e "Esses dias ficaram para trás." É normal dar a si mesmo uma
conversa estimulante, pelo bem da auto-estima. Além disso, alivia a pressão em
seu peito apenas o suficiente para que Sebastian possa respirar.
Até, é claro, seus olhos perceberem como a pele ao redor de sua barriga é
macia. Suas mãos trêmulas a agarram. Cristo. A picada familiar no canto dos
olhos apenas exacerba sua hiperventilação. Um balão está se expandindo em seu
peito.
Cada palavra em sua cabeça é "Bastian, o cesto de lixo" nas vozes daqueles
agressores assustadores. Por quê?
— O que você está fazendo?
Sebastian congela, no meio da respiração, com as mãos na barriga. Ele pensou
que tinha trancado a porta. Emir está olhando para Sebastian – não, olhando
para as mãos de Sebastian em sua barriga nua.
Sebastian diz: — Nada, — com uma voz firme. Ele não tem ideia de há
quanto tempo Emir está parado ali: o que ele viu, o que ouviu. As defesas de
Sebastian estão erguidas; seu corpo está meio inclinado para longe da vista de
Emir. — Não é nada.
— Nada, — Emir repete. Ele entra, fechando a porta.
O suor se acumula na testa de Sebastian. Ele está assustado. Sebastian é um
milhão de coisas, mas medo é o único rótulo que ele consegue encontrar.
— O que está errado? — Emir chega mais perto e Sebastian quer recuar. Mas
os olhos dilatados e preocupados de Emir forçam Sebastian a respirar fundo e
ficar parado.
— Não se preocupe com isso, ok? — Sebastian torce a mão no cabelo. — Eu
não deveria ter pulado nossa corrida matinal para deixar você, hum...
— Você quer dizer quando eu...
— Sim, — Sebastian interrompe, estremecendo. Seus olhos estão
lacrimejantes e ele não entende como Emir consegue ser tão confiante. Ele não é
arrogante, mas age como se não desse a mínima. E Sebastian apenas – lhe falta
isso.
O que é realmente chato é que agora ele está estragando o que aconteceu entre
eles esta manhã. O céu ainda estava rosa brilhante quando ele rastejou pela janela
e deixou Emir arrastá-lo para a cama para beijos matinais. As mãos desajeitadas
de Sebastian destacaram sua falta de experiência sexual com rapazes, mas Emir
não pareceu se importar. E agora ele está destruindo tudo.
— Estou bem.
Emir pressiona as costas de Sebastian e o circunda com os braços. Seus olhos
fixos fixam-se nos de Sebastian no espelho. — Bastian.
— Vamos apenas deixar...
— Sebastian William Hughes, — diz Emir em uma voz estranhamente
parecida com a de Lily.
Sebastian estremece. Ele permite que Emir mova as mãos frias e trêmulas de
Sebastian e as substitua pelas suas. As mãos de Emir são quentes e afetuosas,
alisando o centro nervoso de Sebastian.
Sebastian engasga, — Eu não estou...
Lutando contra isso não sai de sua boca. Ele não permite que as pessoas o vejam
assim. — Estou bem.
— Isso não parece bem.
— Sim, bem.
As mãos de Sebastian estão cerradas em punhos. Não é o fim do mundo.
Então, por que as lágrimas estão grudadas em seus cílios?
A mão de Emir segura seu queixo. Seu polegar cutuca o queixo de Sebastian
até que seus olhos se encontrem. Emir sorri. Sebastian faz beicinho, mas ele
pressiona com o toque.
— Você é lindo.
Sebastian revira os olhos. — Caras não...
— Ei, — Emir interrompe. — Caras são lindos. E as meninas são lindas. As
palavras não são específicas de tal gênero. Não seja idiota.
Sebastian é pego pela respiração quente de Emir passando ao lado de seu
pescoço.
Emir diz: — Seu corpo é incrível, — enquanto suas mãos esfregam as costelas
de Sebastian.
Um protesto estala no fundo da garganta de Sebastian.
A falta de altura de Emir significa que ele tem que ficar na ponta dos pés para
apoiar o queixo no ombro de Sebastian. Isso também significa que sua excitação
cutuca a parte inferior das costas de Sebastian. Ele está nervoso de uma maneira
muito diferente.
Emir sussurrou: — E você é incrível, — e a maneira como ele encara
Sebastian, como se ele fosse inquebrável, vibra por todo o seu corpo.
— Todos nós fazemos isso, camarada. Todos nós temos coisas em nosso corpo
que odiamos.
Sebastian responde, sim, mas você é tão perfeito que chega a ser ridículo.
Emir diz: — Não consigo achar nenhuma definição em meus braços e minha
bunda é plana. — Ele mal está segurando uma risada.
Sebastian está desamparado sobre a rapidez com que sua boca se curva em um
sorriso.
— Está tudo bem, — diz Emir, alisando a barriga de Sebastian com as mãos
até que ele possa tolerar a sensação. — Somos todos imperfeitos.
Sebastian lambe os lábios e lágrimas salgadas atingem suas papilas gustativas.
— Fale por você mesmo.
— Eu estou, idiota, — Emir diz, mordendo o ombro de Sebastian. — E você
também. Todo o time é uma bagunça, mas esse é o ponto, certo?
— Sim.
E ele está bem. As mãos de Emir continuam mapeando seu corpo e ele está
bem. Ele está aprendendo.
— Agora, — diz Emir, — podemos ir almoçar? Riley está sendo uma diva
porque você não está por perto.
— Ele vai superar.
Os ombros de Sebastian lentamente perdem a tensão e seu peito infla
livremente. Ao seu lado, seus dedos se mexem. É como se Emir estivesse no
centro de todo o seu mundo, ampliando as fronteiras.
Antes que Emir possa ir longe demais, Sebastian se vira e o beija.
— Você é previsível, — diz Emir com uma pitada de presunção.
Sebastian sabe disso. Mas só porque o beijo não foi longo o suficiente, ele
desliza a mão para o pescoço de Emir, coloca o polegar atrás da orelha de Emir e
puxa até que suas bocas se encontrem novamente.
— Eu não me importo.
Impelido por uma ousadia incomum, Sebastian entrelaça os dedos. Suas mãos
balançam quando eles saem. Ele nunca anda de mãos dadas com um garoto no
meio do dia. Ele seria corajoso o suficiente para fazer isso nos corredores da
Bloomington High? Emir não mencionou se ainda está no colégio. Ele deixaria
Sebastian segurar sua mão? São coisas sérias com as quais Sebastian sonhou, mas
com as quais nunca chegou a se preocupar antes de hoje.
Mas ele não sabe se essa coisa com Emir vai passar do verão. Talvez seja como
Clube dos Cinco. Talvez quando setembro chegar, eles não se reconheçam.
Sebastian não teria nenhum problema em entrar no baile de braços dados com
Emir.
— Você está sorrindo, — diz Emir enquanto caminham. O sol está alto,
batendo em seus olhos. Emir coloca a mão livre sobre a testa enquanto encara
Sebastian.
— Sim, acho que estou.
Sebastian mantém seus outros pensamentos para si mesmo, por enquanto.
21

SEBASTIAN TEM QUASE NOVENTA E OITO POR CENTO de certeza de que adolescentes
deveriam ser proibidos de tomar decisões durante o verão, especialmente
adolescentes entediados à noite, como ele. O verão deve ser uma zona livre de
pensamentos. Sem colégio. Sem uso extra do cérebro. Ele deveria estar em prisão
domiciliar, não escalando a janela de Emir em uma quarta-feira à noite.
Claro, a maior parte disso é culpa de Willie. Eles estavam em sua cabana,
maratonando Stranger Things na Netflix. Pizza grátis para todos era o jantar,
então Willie desmaiou após o segundo episódio. O cara pode pôr de lado um
pouco de pizza havaiana.
Sebastian também pode culpar algumas de suas más decisões pelo fato de que
o verão está chegando ao fim. Seu tempo no acampamento está quase acabando;
faltam menos de duas semanas.
O salto para dentro é quase perfeito, mas Sebastian bate com o ombro no
chão. Não dói, mas é constrangedor. — Então, então, — ele gagueja. O sangue
corre para sua cabeça. Sua visão de Emir empoleirado em sua cama está de
cabeça para baixo. Ele rola, rindo. — Você não estava dormindo, né?
A lâmpada ainda está acesa. Um livro aberto está no colo de Emir. Cabelo
escuro como tinta cai em torno de suas têmporas em vez de ficar em pé em seu
desastre de sono bagunçado de costume.
— Não. Acabei de terminar meu Isha’a.
Sebastian se levanta. Ele tira o pó da calça jeans rasgada, arruma a camisa de
flanela xadrez. — Ish- o quê, agora?
— Isha’a, — Emir repete. — É o último dos salats, orações diárias que
fazemos como muçulmanos.
Esses lembretes sobre a religião de Emir e sua vida em casa iluminam
memórias que piscam no cérebro de Sebastian como minúsculas lanternas de
papel ao vento. Ele se lembra dos adultos da família de Emir jejuando durante o
Ramadã e de uma pequena reunião no quintal para comemorar um dia de festa
que Sebastian não lembrava o nome, mas lembra das roupas bonitas, da música e
dos pais de Emir distribuindo presentes para as crianças. E ele se lembra do
sorriso gigante e cheio de dentes que Emir exibiu enquanto estava apoiado ao
lado de Sebastian em uma noite pegajosa de junho.
— Momento ruim? Devo ir embora?
— Não. — Emir fecha o livro, colocando-o com cuidado sobre a mesa ao lado
da cama. — Está tudo bem.
— Ok.
Sebastian entrou aqui todas as noites ultimamente. Depois do jantar, ele se
arrasta para encontrar um espaço deixado para ele na cama de Emir. Sebastian
fala sem parar com a cabeça no peito de Emir. Seus dedos traçam o formato da
boca de Emir. Às vezes, Emir fala, livrando-se da timidez. Eventualmente,
conversas enfadonhas se transformam em beijos.
— Ei! — Esta noite Sebastian veio com um plano. Ele joga as chaves de
Mason para o alto e as pega. Ele não as roubou; Mason sempre os entrega
durante a semana para que ele não os perca. Ser o símbolo de "mocinho" tem
suas vantagens. — Você quer sair daqui?
— Podemos sair? — Emir pergunta.
— Não perdi tempo verificando o livro de regras.
Emir passa a mão pelo cabelo; seus dedos se agarram a nós. Ele diz: — Você
escreveu o livro de regras.
Não é um ataque a Sebastian, mas ele ainda ignora o comentário de Emir. Ele
culpa sua falta de um retorno sólido na forma como a ponte do nariz de Emir se
enruga quando ele bufa.
— O que está errado?
— Nada, — Sebastian diz. Sua mente tem vagado ultimamente, mais do que
o normal, se perguntando o que essa coisa com Emir é ou não é. — Eu não sei,
eu só quero sair daqui. Só eu e você.
— Ok.
— Você tem certeza? — Sebastian chia com uma voz estranhamente alta.
Emir dá de ombros e se levanta. — Sim, Bastian, — ele diz. Ele pega seu
gorro, veste um par de skinnies pretos ligeiramente enrugados, pega um
moletom.
A visão do sobrenome de Sebastian em letras douradas em blocos nas costas de
Emir é fascinante.
Emir se aproxima dele, cutucando o peito de Sebastian com o dedo. Com a
testa franzida, ele diz: — E se eu for expulso do time, você vai falar com Abbu
sobre por que seu precioso único filho não está mais se profissionalizando.
— Profissionalizando?
— Semi-profissionalizando então. — Com um sorriso torto, Emir diz: — Ok,
depois do colégio, nunca mais vou jogar. Mas ele não precisa saber disso. Além
disso, vai soar melhor vindo de um cara verdadeiro como você.
— Obviamente. — Sebastian revira os olhos. Ele circula o pulso fino de Emir
com os dedos. Emir gira sua mão e entrelaça seus dedos. Isso ajuda a desatar o
nó no estômago de Sebastian. — Agora, vamos sair daqui antes que você mude
de ideia.
— E perder a oportunidade de ver você tentar quebrar as regras? Eu não
ousaria.
— Tanto faz.

MASON DEIXOU SEU IPOD CONECTADO ao cabo auxiliar e The 1975 zumbe nos
alto-falantes quando Sebastian aumenta a velocidade do carro. Ele reduz o
volume. — Mason é viciado neles, — explica ele.
— Hã. — Emir está com os pés no painel, curvado no assento com uma
expressão meio impressionada. — Não pensei que isso fosse coisa de Riley.
— Mace com toda certeza teria uns amassos com Matt Healy se pudesse.
— Faz sentido.
Sebastian morde o interior do lábio. Mason é um daqueles caras urbanos, que
bebe café e diz não-sou, mas-sou descolado. Sebastian não tem problemas com
esses caras, mas é hilário, considerando que Mason costumava usar coletes de lã e
Vans quando eles estavam no ensino médio.
Emir pergunta: — Para onde?
— Para a terra de Oz, — Sebastian diz. Ou simplesmente a velha e chata
Oakville. Ir muito longe do acampamento é arriscado. Ao redor deles, uma noite
sem nuvens mostra o céu negro índigo e estrelas gigantes penduradas como
diamantes. Sebastian poderia ficar olhando para ele por horas.
Emir bate as mãos nos joelhos. — Legal.
Sim, é.
Ninguém está à vista quando Sebastian sai em direção à estrada principal. Seus
nervos ainda estão à flor da pele; seus dedos estão brancos ao redor do volante
enquanto os pneus se arrastam sobre a sujeira e as pedras. Ele está observando
Emir sutilmente com sua visão periférica.
Emir coloca a mão na coxa de Sebastian, apertando. Sebastian não vacila.
Legal. Pelo menos seu corpo sabe como agir perto de Emir.
Emir diz: — Somos só você e eu, certo? Então só dirige.
Então Sebastian dirige ao som da melodia e Matt Healy cantando sobre como
seu carro cheira a chocolate.

NOS LIMITES DA CIDADE, um antigo milharal foi ceifado, destruído e transformado


em um drive-in chamado Oakville '76, no ano em que foi construído. Esta
cidade vive e respira criatividade. Um enorme espaço foi liberado para carros
estacionarem; uma tela colossal exibe filmes desatualizados. Pelo menos eles
exibem um filme diferente todas as noites. Durante a semana, ninguém aparece,
exceto os preguiçosos, os idosos e os pais excitados que procuram um lugar para,
bem, você sabe.
Está quase vazio esta noite. Sebastian silenciosamente fala sobre a apresentação
do filme: o primeiro Homem de Ferro. O filme é apenas um pano para uma
pequena fila de carros com vidros embaçados, balançando para frente e para trás.
Fluxos ocasionais de palavrões podem ser ouvidos.
— Desculpe, — Sebastian diz por cima do ombro para Emir.
Eles estão caminhando lentamente para a lanchonete. Sua equipe é composta
por universitários que vão passar o verão em casa ou moradores da cidade que
não têm nada melhor para fazer. A seleção é uma merda: pipoca com excesso de
manteiga, Fini's e M&M’s.
Emir cai no passo ao lado dele. — Não é tão ruim.
Um homem mais velho que o pai de Sebastian emerge de um Cadillac
enferrujado. Ele sorri presunçosamente com uma mão firmemente pressionada
na bunda de sua esposa. Sebastian espera que seja sua esposa.
— Não, — diz Emir entre risadas, — é definitivamente legal.
— Legal, — Sebastian repete.
— Está muito vazio.
— É, — diz Sebastian, observando a sugestão na voz de Emir. Então ele
percebe. Emir gosta que este lugar esteja deserto. Ele está totalmente de acordo
com uma noite, apenas os dois, sem ninguém olhando. — Legal, certo?
Emir bufa, balançando a cabeça.
Se Sebastian fosse mais ousado, poderia beijar Emir em público. É um
território novo e desconhecido, no entanto. Toda essa "primeira vez para tudo" é
muito mais pressão do que as pessoas fazem parecer. Isso não impede sua mente
de dar voltas patéticas em torno da ideia de segurar a mão de Emir durante todos
os quarenta passos até a lanchonete.
Eles se separam quando chegam à fila. Emir fica de lado, folheando aplicativos
em seu telefone. Sebastian gradualmente se aproxima da frente do balcão. Ele
pondera o que pedir. O que impressionaria Emir? Sebastian está tentando provar
que não é coxo, mas não consegue encontrar exemplos para apoiar essa teoria.
— Temos que parar de nos encontrar assim.
Sebastian fica grato, quando ele se vira, para encontrar Val atrás dele.
Ela está vestida como uma garota de colégio preparatório esta noite: cardigã
sobre uma camisa branca, shorts cáqui, cabelo preso em um rabo de cavalo
frouxo. Mas ela faz uma saudação com o dedo médio para um certo colégio
particular com um botão brilhante de Marilyn Manson em seu suéter.
Sebastian levanta uma sobrancelha. — O que você está fazendo aqui?
— Estou aqui com Maggie. — Val aponta para alguns metros de distância. —
Você se lembra dela, certo?
Embora a lanchonete seja apenas uma cabana destruída pintada em tons
pastéis feios, tem iluminação fluorescente suprema. Sebastian tem uma vista
privilegiada de uma garota baixa passando as unhas bem cuidadas no antebraço
de Emir. Seus jeans estão do lado obsceno do apertado. Sua cabeça inclinada
revela um sorriso torto, mas atraente. Sebastian se lembra dela flertando
agressivamente com Zach na sorveteria no verão passado. Ele se concentra nas
sardas e no nariz franzido dela quando ela ri de Emir. Sebastian não está suando
muito, não tem os punhos cerrados ao lado do corpo ou um coração batendo
forte como uma caixa em seu peito – pelo menos não muito.
— Ela é legal, — diz ele com firmeza.
Val levanta uma sobrancelha. — E ela é solteira. — Val está se divertindo
muito provocando-o.
— Sim, bem. Homens solteiros estão por toda parte, certo?
Homens solteiros que não são Emir. Além disso, Emir é gay. Gay e está
sussurrando algo para Maggie com um sorriso irônico.
O que quer que esteja acontecendo no peito de Sebastian é novo. Ele não está
chamando de ciúme. Sebastian estava acostumado com caras checando Sam.
Aconteceu muito; era algo de que ele se orgulhava. Ele tinha uma linda garota
em seu braço, e ela só tinha olhos para ele.
Claro, essa história não inclui um final feliz. Mas ele não está nutrindo
ressentimentos sobre isso. Pelo menos, não mais.
Val sussurra: — Quem é esse?
— Emir, — Sebastian diz. — Meu colega de time. — Ele quase diz amigo,
mas isso é presunçoso. Ele definitivamente não vai chamar Emir de namorado. A
palavra fica estranha em sua boca. Ele está bem em namorar um cara, mas ele
não trabalhou para se referir a ele como seu "namorado", não que ele tenha algo
com que se preocupar, já que eles não estão nem perto de usar esse termo.
Ainda, ele diz a si mesmo.
— Fofo, — diz Val, enganchando um braço no de Sebastian. — Solteiro?
Maggie se inclina enquanto Emir se afasta, rindo. — Sim, — Sebastian diz,
responde de volta e gay!
— Não acho que ele esteja interessado. Talvez outra pessoa tenha sua atenção?
Sebastian está olhando para um buraco através do sorriso bonito e com
covinhas de Maggie. Ela é peculiarmente fofa. Ele sairia com ela, se não estivesse
completamente interessado...
Sua boca se abre e Val pisca. Ela sabe!
Claro, o time e os treinadores estão cientes da sexualidade de Sebastian, mas
essa é sua segunda família. Ele não tem razão para esconder isso deles. Ele nunca
disse a Sam, no entanto. E ele confia em Mason com seus segredos, então Val
definitivamente não sabia. Pelo menos, ele achava que ela não sabia.
— Você olha para ele como… — Val faz uma pausa, coçando a bochecha. —
Como eu costumava olhar para Mace, só isso. — Ela sorri tristemente.
Maggie está cobiçando Emir como se fosse comê-lo. Ela está lambendo os
lábios manchados de brilho labial. Um monstro intensamente verde está
devorando as entranhas de Sebastian. Ele não tem vergonha. Demorou, mas ele
está começando a reconhecer sua bissexualidade.
— Não é... Tudo bem, certo? — Sebastian admira seus Chuck Taylors em vez
de encontrar os olhos de Val. — Que eu sou bi?
Val belisca o antebraço de Sebastian. — Totalmente.
Passou pela cabeça de Sebastian que Val também sabia sobre Mason. Ele disse
a ela que estava curioso? Talvez ela apenas soubesse, como um sexto sentido.
Emir gargalha. Maggie está muito satisfeita com alguma coisa. Ela é astuta e
nervosa perto de Emir: sinais de um péssimo primeiro encontro. Sebastian não
gosta disso.
— Eu acho que ele gosta de você também.
Sebastian diz: — Como você pode saber? — O rosto de Emir está escondido
atrás de Maggie enquanto ele sussurra em seu ouvido. Seu rosto cai e Emir dá de
ombros.
Val sussurra: — Uma garota sabe, — e deixa por isso mesmo.
Maggie se aproxima deles. — Ele é gay, — ela diz a Val, ignorando Sebastian.
Ela faz uma careta, não como se estivesse ofendida pela sexualidade de Emir, mas
por sua rejeição.
Internamente, Sebastian está dando uma festa de arromba. A música que toca
em sua cabeça é: "He is mine, pint-sized!"
— Sinto muito, — diz Val, mas ela não parece sentir.
Maggie joga seu cabelo castanho encaracolado sobre um ombro. Perto está um
cara magro, magro como um jogador de basquete, com um corte curto e
cavanhaque. Simples assim, ela já superou.
Sebastian não entende as pessoas de jeito nenhum.
— Então, tipo, — O cabelo loiro do cara atrás do balcão cai sobre seus olhos
inflamados. Seu crachá diz Capitão Mary Jane. — Eu tenho meio baseado nos
fundos e estou morrendo de vontade de terminar. Vocês podem fazer o pedido?
Val bufa em sua mão. Maggie revira os olhos. Sebastian não tem certeza do
que fazer com esse cara. As luzes acima zumbem como coletores de insetos
elétricos. Está quente esta noite, mas o calor nas costas de Sebastian é Emir.
— Vamos perder o início, — diz ele, o queixo pendurado sobre o ombro de
Sebastian, os dedos enroscados nas presilhas do cinto da calça jeans de Sebastian.
Sebastian vira a cabeça. Emir está se divertindo com o olhar de olhos
arregalados de Maggie. Dane-se. Mesmo na pequena Oakville, Sebastian pode
estar um pouquinho fora do armário. Ele responde: — Ok. — Ele está viciado
nos polegares de Emir traçando seus quadris.
— Então, hum, pipoca? — Cap. Mary Jane pergunta.
Sebastian não exatamente rosna para ele, mas resmunga o pedido deles
enquanto Emir se afasta. Val ainda está rindo como se não pudesse acreditar no
que acabou de acontecer. Sebastian também não pode. Ele, no entanto, paga por
seus lanches e refrigerantes, dando a Val um encolher de ombros de "o que você
pode fazer?" antes de ir até Emir.
— Sebastian Hughes desafiador, — Val chama. O sorriso dela parece
orgulhoso. Ela grita: — Eu gosto, — levantando a mão para dar a ele chifres de
diabo, o sinal universal para "Continue assim.”
Sebastian bufa.
— Não fique fora até muito tarde ou você será colocado no banco, Capitão
Hughes!
Sebastian faz uma continência com um dedo. Ele está magoado. O toque
"casual" da mão de Emir enquanto caminham está longe de ser acidental, e toda
essa coisa de "danem-se as regras" é bom demais para ser verdade.
No carro, Emir diz: — Ainda não consigo acreditar que você se lembrou.
Seus pés estão de volta ao painel. Ele está relaxado em seu assento. Seu queixo
está contra o peito, e o brilho azul da tela grande brilha em suas bochechas. Ele
coloca um punhado de M&M de manteiga de amendoim na boca.
A parte superior do Mustang está puxada para trás. Já passa das dez, mas a
noite de verão ainda é inebriante com o calor. Sebastian sorri para suas mãos.
Seu peito ferve com um fogo confiante. Ele fez outra coisa para limpar aquela
carranca recorrente de início de verão do rosto de Emir.
Emir diz: — Sua mãe não costumava guardar uma tigela dessas... — Ele
sacode o saco de doces. — …na cozinha?
— E você não costumava embolsar um punhado antes de ir para casa?
Emir balança as sobrancelhas, sem vergonha. No fundo, Tony Stark está
construindo uma armadura de ferro com sucata; o diálogo é silenciado pela
parede de som que o iPod de Mason fornece.
"Anna Sun" começa e Emir se posiciona de lado se inclinando em Sebastian.
— Isto é um encontro?
Sebastian inclina a cabeça na direção de Emir. Uma velha picape Ford ao lado
deles balança para a frente e para trás. No rádio, o vocalista principal canta sobre
uma casa caindo aos pedaços. Sebastian comprou Ice Cola para eles e ele engole
um pouco para ganhar tempo.
É um encontro?
— Não sei, — diz ele. Sebastian queria fugir do acampamento. Mas ficar
sozinho com Emir em um drive-in enquanto ele lambe o chocolate derretido dos
dedos é simplesmente incrível. Uma dor difusa começa abaixo do umbigo. — Eu
nunca estive em um encontro, — diz ele, engolindo em seco, — com um cara,
oficialmente.
Emir tamborila os dedos nos joelhos.
— Espere, você esteve em um encontro com um cara?
— Havia esse cara. — Emir puxa um fio solto do joelho de sua calça jeans. —
Nós nos conhecemos em uma amostra de arte. Ele não era de Bloomington. Nos
fins de semana, ele me levava a uma pizzaria cafona fora da cidade.
Sebastian controla seu rosto. Mas o ciúme borbulha no fundo de sua mente.
Que diabos, é claro que Emir se sentia atraído por outros caras.
Emir diz: — Não deu certo porque ele não queria que ninguém soubesse
sobre nós. Na época, eu também não queria me assumir, mas ele era um idiota
de carteirinha sobre isso.
Sua cabeça se inclina para longe, então Sebastian não pode ver sua expressão.
Mas sua mandíbula fica tensa. Sebastian suspeita que está mais magoado do que
com raiva. — Parece complicado.
Emir ri, mas parece melancólico. — Eu tinha dezesseis anos, Bastian, então eu
queria um namorado. Mas a coisa toda me deixou desconfortável com minha
sexualidade, com estar fora do armário.
— Ele ainda está, hum… — Sebastian olha para as explosões na tela. — Ele
ainda está por perto? — Ele não pergunta porque está intimidado, não tanto
assim, mas o cara é um idiota por fazer Emir hesitar em se abrir consigo mesmo e
com os outros. A falta de apoio, especialmente de alguém em quem você está
interessado, é destrutiva.
— Não, — responde Emir. — Você ficaria com ciúme?
— Não, — Sebastian diz, como o maior mentiroso que já abriu a boca.
Os olhos cinza de Emir refletem a luz da tela grande.
Sebastian dá um gole no Ice Cola; a carbonatação faz cócegas em seu nariz. É
uma coisa boa que ele viu esse filme uma dúzia de vezes, porque ele está olhando
para Emir, hipnotizado. Ele pensa em usar o truque – bocejar, esticar-se, colocar
um braço em volta do ombro do seu par –, mas não é tão bom assim. Mason
poderia conseguir. Sebastian imagina que Mason já conseguiu.
Mordendo o lábio, Emir diz: — Você nunca respondeu minha primeira
pergunta.
— Hã. — Sebastian bate o dedo indicador no queixo. Seus lábios estão
separados, mas Emir não fecha a distância. Sebastian sussurra: — Ok, sim, um
encontro. Certo.
Os olhos de Emir vão para a boca de Sebastian. Ele diz: — Eu assisti a este
filme uma centena de vezes, — e sua mão passa do lado do pescoço de Sebastian
em seu cabelo.
— Eu também.
Eles estão quase se beijando.
— Um… — Sebastian se interrompe e avança. Seus narizes batem. Ele ajusta
o ângulo. A boca de Emir tem gosto de Ice Cola e manteiga de amendoim e
verão. Seus beijos têm o gosto da mesma coisa que Sebastian não sabia que estava
perdendo.
Com cócegas pela barba por fazer, os dedos de Sebastian se espalharam ao
longo da bochecha de Emir. Ele sente mais do que ouve Emir respirar fundo. Ele
não sabe quem dá o primeiro passo, mas Sebastian coloca a mão na coxa de Emir
e Emir rasteja – sobe no colo de Sebastian com o volante enfiado na parte inferior
de suas costas.
— Emir, — Sebastian suspira, suas mãos espalmando jeans.
— Cala a boca.
Sebastian certamente não deixou escapar um suspiro sonhador quando os
dentes de Emir beliscaram seu lábio inferior. Ele não é um adolescente de
romance clichê.
Emir está equilibrado sobre os joelhos que prendem os quadris de Sebastian.
Sua mão esquerda segura a nuca de Sebastian. Um suspiro suave rompe seus
lábios, a centímetros dos de Sebastian, enquanto ele abaixa os quadris.
E Sebastian está fazendo o possível para ignorar a explosão se espalhando
como uma supernova em sua barriga. Ele tem uma mão quente no moletom de
Emir e outra provocando um botão em sua calça jeans.
Emir ri em sua boca. — Curioso?
Sebastian é um adolescente, virgem quando se trata de rapazes e ficou preso no
acampamento de verão por trinta dias com muito pouco tempo sozinho.
Curioso é um eufemismo. Todas as suas brincadeiras nunca chegaram lá.
— Um pouco.
O pânico toma conta de Sebastian quando Emir fica quieto. Ele está
preparado para recuar, mas então Emir diz: — Eu também. Só não aqui, ok?
— Ok.
Sebastian ainda está nervoso, no entanto. Ele não está pirando, mas a pressão é
real. Não é como tentar resolver um problema de matemática, mas ele quer
acertar. Isso não é apenas sexo. Sebastian não vai jogar isso na pilha de "caso de
verão". Isso é muito mais importante do que estar com Sam ou qualquer outra
pessoa.
Eles se beijam novamente e Sebastian saboreia o arrepio de Emir quando ele se
afasta.
— Uau. — Emir exala.
Sebastian encara os olhos de Emir. Eles são escuros, escondidos por sombras, e
isso torna um pouco mais fácil para Sebastian perguntar: — Você já...?
— Sim.
Sebastian está imaginando um cara sem rosto, mas muito atraente, tocando
em Emir. Seu estômago se agita com ácido. Ele diz: — Legal.
— Vamos arrumar um jeito, — diz Emir, como se pudesse ler cada
pensamento de Sebastian.
Os lábios de Sebastian estão em carne viva. Ele os lambe enquanto seus dedos
traçam padrões na pele de Emir. Tony Stark está explodindo coisas por trás dos
ombros de Emir.
— Vamos arrumar um jeito, — disse Sebastian, porque esta noite não é o fim
do acampamento ou o fim do mundo. Ele estica o pescoço para outro beijo.
22

NO VERÃO PASSADO, MASON RILEY ESTAVA no topo do mundo. Ele tem sido o
melhor atacante de modo indiscutível do time do Lions desde o segundo ano; ele
começou todos os jogos. Suas notas eram o suficiente apenas para passar de ano,
os alunos o adoravam e os olheiros alinhavam-se com panfletos explicando por
que suas escolas eram as mais adequadas para ele. Seu relacionamento com Val
era normal; normal para eles. Além disso, ele não estava louco por ficadas
durante o ano letivo. Mason nunca se sentiu sozinho.
Alguma coisa mudou.
Mason sussurra: — Ela terminou comigo.
É uma noite de sábado especialmente tranquila, então Sebastian não precisa se
esforçar para ouvi-lo. Eles estão animados em um banco do lado de fora da
sorveteria. Mason não estava com humor para hambúrgueres com os caras, e
Sebastian não tinha interesse em assistir ao filme de Will Smith passando no
drive-in. São momentos como esse que ele sente falta durante o ano letivo.
Mason trabalha em meio período no shopping quando é fora de temporada. A
maior parte de seu dinheiro vai para ajudar sua mãe com as contas. Um
preguiçoso durante a temporada de futebol, Sebastian passa seu tempo livre
atualizando as aulas. Eles compartilham os sábados no Starbucks e o ocasional
churrasco da família Hughes; Lily Hughes é uma boa mãe do tipo que tem uma
boa relação com professores, que vende bolos, e é a alma da festa.
Noites como essa, falando merda e falando sobre futebol, música, o que quer
que seja, sob um céu rosa e azul brilhante, são importantes para Sebastian.
Sebastian cutuca o tênis na calçada. — Ela fez mesmo isso?
Mason encara Val, que está perto da lanchonete com suas amigas e um
punhado de universitários visitantes. — Não contei a ninguém, — diz ele. Suas
mãos estão cerradas no colo.
— Sim, tudo bem.
Uma regra tácita existe entre parceiros: nenhuma pergunta sobre merda de
vida amorosa a menos que solicitado. Sebastian respeita a regra, mas está curioso
sobre o que diabos aconteceu entre Mason e Val. Ele tem deixado Mason se
desviar de suas perguntas por semanas, mas agora as rachaduras silenciosas em
sua armadura são perceptíveis.
— Ela terminou comigo depois da última temporada. — A boca de Mason
fica apertada. — Ela achou que era hora de levar a vida a sério e que eu nunca
levo nada a sério. Foi meio ruim.
Sebastian coça a têmpora, dando a Mason espaço para falar.
— Mas ela está certa. — Mason estremece e Sebastian também. Ele está
prestes a protestar, mas Mason ri secamente. — Tá legal; eu posso aguentar. Eu
deveria estar sendo sério com ela, mas não estava.
Sebastian conheceu Mason um mês antes de conhecer Willie, uma semana
depois da partida de Emir, e isso criou um sentimento de lealdade. Mas ele ainda
diz: — Ela é uma garota muito boa, Mace, — porque ele acredita, porque ela
merecia mais do que Mason deu a ela.
Mason concorda. — Parte de mim superou isso, — diz ele, franzindo a testa
agora. — Mas isso bagunça minha cabeça, mano, como um dano cerebral total.
Sebastian tem medo de que Mason se feche se ele o abraçar. Ele dá um soco
no braço de Mason.
— Não sou tão bom quanto gostaria de ser, — diz Mason, se curvando. —
Mamãe vive me dizendo que ela vai ficar bem, que, quando eu for para a
faculdade, ela vai ficar bem. Mas eu não posso.
— Bem-vindo ao clube, — diz Sebastian, curvando para frente. Seus cotovelos
cravam nos joelhos. — Somos uma bagunça.
Mason dá uma cotovelada nele e diz: — Você vai se sair bem, cara. Você foi
construído para ser maravilhoso.
Se ao menos você soubesse…
— Eu geralmente estou bem com isso, ser uma bagunça, — diz Mason.
Sebastian acredita nele, na maioria das vezes.
Na fila da sorveteria, Willie e Grey discutem como um casal sobre sabores.
Sebastian está grato por aqueles dois terem se tornado inseparáveis durante o
verão. Grey tem sido uma distração crucial, mantendo a mente de Willie longe
do fato de que ele está afastado por causa do joelho.
O que realmente confunde Sebastian é o quão legal Mason tem sido com
Grey. Ele não a enxota da mesa todos os dias; ele diz algumas palavras educadas
entre zombar ou falar dela e sorri. Como agora, quando ele diz: — Quem
convidou a pirralha?
O céu está mudando das cores do algodão doce para o índigo. O vento sopra
fraco em seus rostos. Sebastian sussurra, — Willster para o resgate.
Mason diz: — Ele adora me ver sofrer, — e encara Willie, como se estivesse
tentando incendiá-lo com sua mente.
— Ainda não gosta dela?
— Ela é tolerável. — Mason Riley é um poser. Um lado de sua boca se
contrai. — Ela fala muito. E ela olha para mim, como... — Mason acena com a
mão, e Sebastian diz: — Como se ela estivesse caidinha por você.
A familiaridade de Sebastian com as expressões de Mason diz a ele uma coisa:
Mason está apaixonado. Ele passa o braço em volta dos ombros de Mason e o
puxa. — Não é tão ruim, — ele insiste. — Vocês dois são meio amigos agora,
certo?
— Tanto quanto você e Shah são, — Mason diz, tão casual quanto pode ser.
Sebastian quer vomitar por todo o seu tênis favorito. Ele engasga, — Ele é
legal. — Mason é o cara que Sebastian conhece que faz coisas irracionais e
estúpidas, e vive a vida como se arrependimento fosse uma palavra estrangeira.
Sebastian não deveria esconder Emir e sua confusão dele.
— Uh huh.
— As coisas são, — Sebastian pausa, — interessantes.
Mason levanta as sobrancelhas, mas não interroga Sebastian. Ele respeita o
código dos Bro's.
Bom, porque Sebastian não queria ter que contratar assassinos para tirar
Mason de sua miséria. Então, com quem ele absorveria os últimos resíduos do
verão?
A sorveteria tem alto-falantes tipo megafone da velha guarda nas laterais que
tocam música que os pais de Sebastian dançaram. Eles estão tocando uma
música estridente de Elvis Bishop. Sebastian teve um flashback daquela cena em
Guardiões da Galáxia. Ele adora esse filme. Ele adora a nostalgia que a música
evoca, a maneira como ela se encaixa nesta pequena cidade perfeitamente
estranha. Ao lado dele, Mason cantarola, batendo um pé.
Essa distração os impede de perceber Grey. Ela parece uma ninja, de repente
jogando uma casquinha em Mason. Seus grandes olhos verdes refletem os
últimos indícios do pôr do sol. — Menta. — Ela balança a casquinha no rosto
de Mason. — Seu favorito, certo?
— Jesus, — diz Mason, quase em um grito.
Willie coloca o queixo sobre o ombro de Grey. Ele diz, zombeteiro: — Ela
sabia, cara, quão incrível é isso?
— Tão incrível quanto alguém enfiando aquela colher de plástico em seu...
— Isso é um agradecimento? — Grey interrompe Mason. Ela tem uma
sobrancelha levantada.
Mason resmunga, mudando de posição até que sua coxa esteja pressionada
firmemente contra a de Sebastian. — Sente-se, Patrick. — Baixando as
sobrancelhas, ele rosna: — Silenciosamente.
Grey desaba no banco. Ela entrega a casquinha a Mason. Uma curva de
satisfação aparece em seus lábios quando ele lambe violentamente o sorvete
derretido.
— Pequenas vitórias, — Willie sussurra para ela.
Mason o ignora.
Sebastian cruza as mãos atrás da cabeça, fazendo o possível para se esticar
enquanto se espreme no banco. Ele canta "Blister in the Sun" enquanto Mason e
Willie continuam sua discussão fraternal. Grey tenta participar da conversa. Ela
não está irritada. Talvez seja porque Mason não a cala cada vez que ela abre a
boca.
Ao redor deles, o time enche as ruas: brigando com armas de água, olhando
vitrines, desfilando como um bando de adolescentes bêbados com o clima bom e
liberdade.
Sebastian deveria se juntar a eles.
— Não é o Shah? — Mason aponta para a sorveteria.
A respiração de Sebastian para. Ele espia por entre os cílios, fingindo que
Mason está errado. É simplesmente um cara magrelo aleatório com ombros
tensos que é extremamente tímido em ambientes públicos e tem Síndrome de
Carranca Permanente. Esse cara pode parecer Emir, se a pessoa apertar os olhos.
A ilusão de Sebastian dura cinco segundos, até que o cara começa a se virar...
— Sim, — Grey diz, beijando sorvete de morango. — É ele. — Ela agora é
inimiga de Sebastian.
— Hã. — Willie tem o cuidado de não encontrar os olhos de Sebastian, mas
ele sorri como se tivesse um segredo. — Ele nunca vem para a cidade conosco.
Todos os amigos de Sebastian estão mortos para ele. Ele vai começar sua busca
por novos amanhã, mas primeiro...
Grey pergunta: — Devemos convidá-lo?
Sebastian estuda seus sapatos. Suas bochechas estão quentes. Ele se recusa a
fazer contato visual ou dizer a coisa errada.
— Ele não gosta de nós, — diz Mason.
— Ele não gosta de você, — Willie e Grey dizem juntos, rindo.
Mason finge uma risada enquanto faz uma saudação com dois dedos. — Isso
não é humanamente possível. Eu sou muito simpático. — Seu peito está inchado
e seu queixo se projeta. — Não é mesmo, Patrick?
Grey dá um soco na coxa dele. O pânico invade a vida de Sebastian quando
Grey diz: — Vou fazer ele vir.
Ele consegue dizer um "Não" que soa estrangulado e ansioso.
Três cabeças se viram lentamente em sua direção.
Suspirando, Sebastian se contorce para fora do banco. Ele tira o pó da calça
jeans. Ele está lutando contra uma carranca. — Eu vou buscá-lo. — Os olhos
estreitos de seus amigos confirmam que eles estão juntando tudo.
Se ele contasse a eles, seria tão ruim? Mason e Willie nunca julgaram
Sebastian, não quando ele não parava um gol durante um jogo, ou quando
chorava por Sam. Ter uma relação com Emir deveria ser inofensivo.
Limpando a garganta, Sebastian diz: — Talvez ele fique um pouco menos
ansioso se eu for aquele que o convide. Nós somos, hum, amigos. De novo. —
Ele deixa de fora e acho que estou me apaixonando por ele porque esse é um
momento puramente embaraçoso que ele não consegue dizer em voz alta.
— Tudo bem, — diz Mason. Os olhos sorridentes de Grey confirmam as
palavras de Mason. Willie parece cético.
Sebastian gira sobre os calcanhares. Ele respira fundo, enfia as mãos nos bolsos
e vai até a loja.

— POSSO TER UM...?


— Casquinha de baunilha e chocolate, certo? — Sebastian apoia o quadril no
balcão da janela de pedidos como um criminoso astuto. Emir o avalia. Sebastian
lambe os lábios. Emir levanta a sobrancelha.
— Uh…
— Ainda é sua favorita, certo? — Sebastian está tentando não parecer muito
esperançoso.
— Não. — Emir se volta para Barb e diz: — Na verdade, posso comer uma
casquinha de noz-pecã?
Barb, junto com seu marido Shea, é dona da Clovers and Sprinkles. Eles têm
um acordo: Barb, com seu rosto doce, gentil e enrugado, maneja o caixa
enquanto Shea, que tem uma tendência a murmurar palavras de quatro letras em
seu sotaque irlandês, pega o sorvete. Sebastian tem certeza de que Barb usa as
calças no relacionamento deles.
Sebastian é um idiota total. Depois de todos esses anos, Emir não poderia
gostar dos mesmos sabores de sorvete. Ele quase se perde quando Barb pergunta:
— Alguma coisa para você, Bastian?
— Ele vai comer duas bolas de sorvete de massa de biscoito em uma tigela de
waffle, — diz Emir antes que a língua de Sebastian se lembre das habilidades
motoras. Emir mexe dois dedos com confiança. — Por minha conta.
Sebastian dá uma segunda olhada. Claro que Sebastian ainda é o mesmo cara
chato de quando eles eram crianças, enquanto Emir, que não gosta dos mesmos
sabores de sorvete, que está semi-namorando um cara, que fez sexo com um cara,
mudou.
Emir pergunta: — Ei, você está bem?
Não. Sebastian enxuga o suor formigante na linha do cabelo. Eventualmente,
ele se lembra por que está na fila com o Emir. — Você geralmente não vem para
a cidade.
Emir dá de ombros, um rubor vermelho-maçã florescendo em suas bochechas.
— Sim, minha mãe diz que preciso me esforçar mais para me socializar, — diz
ele. — E eu pensei, bem, era hora de estar por perto. Para pelo menos tentar,
como Zach disse.
Sebastian balança a cabeça como um chapado feliz. Ele gosta que cada
momento com Emir é como estar em uma montanha-russa pela primeira vez,
sem a parte de querer vomitar um pouco. — Legal, — ele diz.
Dez metros de distância, Grey limpa a garganta.
— Hum, meus amigos, — Sebastian sacode a cabeça para onde Grey está
acenando como um fã enlouquecido de Nick Jonas, — gostariam que você se
juntasse a nós.
Emir empalidece.
A realidade se instala. O coração de Sebastian dá um salto mortal. — Ei, —
diz ele, os dedos agarrando o cotovelo de Emir, — vai ficar tudo bem, ok? Eles
são inofensivos.
A boca de Emir se torce com ceticismo.
— Ok, Mason é um pouco demais. Mas Willie e Grey são legais. E… —
Sebastian faz uma pausa, ciente de que suas próximas palavras serão patéticas
demais. — Eu adoraria se você viesse.
10cc está cantando sobre não estar apaixonado pelos alto-falantes enquanto
Emir sussurra: — Ok.
— Ok, — Sebastian repete. Ele pode estar com morte cerebral. Seus dedos
roçam a carne da palma da mão de Emir. Ele quase agarra a mão de Emir.
— Obrigado, — diz Emir. Ele pega os sorvetes de Barb. Suas sobrancelhas
silenciosamente direcionam para Sebastian liderar o caminho.
Sebastian faz isso, os dedos formigando o tempo todo.
— Shah, você anda entre os vivos. — Mason os cumprimenta com os braços
abertos e um sorriso provocador.
Olhos baixos, Emir fica perto de Sebastian. Sebastian esconde a mão atrás dele
e esfrega círculos nas costas de Emir.
Willie os olha. — Bem-vindo ao inferno, Emir.
Sebastian diz: — Mais conhecido como os geeks do time, — enquanto seus
amigos se mexem e se espremem para abrir espaço para eles no banco.
— Fale por você mesmo! — grita Mason. — Eu sou o topo da cadeia
alimentar por aqui.
Grey suspira. — Se enxerga, você é um habitante do fundo agora que está
comigo.
Mason zomba dela, mostrando a língua. Ela joga salpicos de arco-íris em seu
cabelo. Willie ergue as pernas; as costas de seus joelhos cruzam o colo de Grey e
seus Vans descansam nas coxas de Mason, enquanto Mason e Grey brigam.
Sebastian considera renegar todos eles.
Mas então Emir diz: — Bem, eu obviamente levo o nível de perdedor do
grupo para cima em cinco pontos por ter um cabelo melhor do que o de Riley.
— Grey quase derrama seu sorvete rindo.
Apertando os olhos, Mason aponta a colher para Emir. Ele sorri. — Você
pode ficar. Eu gosto de você.
Emir relaxa ao lado de Sebastian.
Bem, está decidido então. Esta não é a pior ideia que Grey teve.
É um ajuste difícil, cinco adolescentes se lambuzando com sorvete em um
banco, mas eles fazem funcionar, em grande parte. São necessárias algumas
manobras do Cirque du Soleil, com Willie estendido no colo de Grey e
Sebastian espremido no meio, a coxa de Emir pressionada firmemente contra a
dele, mas Sebastian não está reclamando.
Ele está dominado pelo riso.
É culpa de Willie. Por meia hora, ele tem contado grandes histórias de suas
aventuras, cada uma mais embaraçosa do que a anterior. Sebastian não precisava
se lembrar daquela vez em que bebeu muitas cervejas e aceitou o desafio de fazer
embaixadinhas pelado. Mas o rosto de Grey está manchado de lágrimas. Mason
está sufocando. Emir está gargalhando, seu rosto pressionado contra o ombro de
Sebastian. Sebastian pode lidar com isso.
Mason e Willie discutem sobre seus respectivos times. Willie continua
gostando do FC Dallas e Mason tem uma queda por Beckham desde a
puberdade, então as coisas esquentam rapidamente.
— Vocês dois estão errados, — diz Grey. — É tudo sobre Kansas City.
Willie zomba dela. — Quem fez de você a autoridade?
Grey diz, como um fodão, — Eu simplesmente sou.
— Cale a boca, — diz Mason, sem calor em sua voz. Ele a cutuca, e ela
rapidamente fica rosa. Mason revira os olhos quando percebe.
Sebastian se apoia em Emir enquanto Willie continua com outra história.
— …e então, como Charlie Brown vai chutar uma bola de futebol, o idiota
erra um tiro livre. Foi épico. — Willie está dobrado, ofegando enquanto fala. —
Ele foi, quase voou, mas a bola não se moveu.
Sebastian nunca se cansa de ouvir sobre o primeiro jogo de Mason,
especialmente da maneira como Willie o conta.
— O Treinador não colocou ele no banco? — Grey pergunta.
— Duas vezes! — Willie uiva. — Não sei por que o treinador continuou
colocando ele de volta.
Mason diz, presunçosamente: — Ele sabia que eu era uma estrela desde então.
— Ou, — Willie arrasta o 'o' enquanto dá uma cotovelada no lado de Mason,
— tivemos três jogadores com mononucleosi graças à adorável Cara Beckman.
Sebastian e Mason fazem uma careta. Cara Beckman era uma líder de torcida
júnior com cabelo excessivamente bagunçado e uma queda por atletas. Ela
tentou flertar com Sebastian algumas vezes, algo que ele achou divertido.
É quente e pegajoso. Mason sacode as mechas escuras e suadas dos olhos. Ele
diz, irritado: — Ok, chega disso, William.
O rosto de Willie está escandalizado. — Nada legal, Riley.
A lua apareceu. Um punhado de estrelas a acompanha, mas dificilmente há luz
suficiente para Sebastian realmente apreciar o rosto de Emir enquanto ele ri. Ele
gosta dos pés de galinha ao redor dos olhos de Emir. A barba escura faz com que
o rosa de sua boca se destaque.
— Hum, encarando, — Emir sussurra. Sua língua tem um monte de sorvete
quando ele a mostra para Sebastian.
— Desculpe.
Emir diz: — Eu não disse que tinha um problema com isso, — e Sebastian
cede – ele não sabe. Ele ainda não percebeu. Eles são amigos, pelo que ele pode
dizer, mas também há mais. Possivelmente. Sebastian quer que tenha mais.
Sam deu o primeiro passo para ele. Sam disse a ele que ela era sua namorada.
Sam disse: "Eu te amo" primeiro, palavras que ele não quis dizer. Sam terminou
com ele. Primeiro por mensagem e depois pessoalmente. Seus pontos de
referência quando se trata de namoro são muito confusos, então ele não tem
certeza de como discutir isso com Emir.
Mas agora não é a hora. Não com Emir se divertindo com algo que Willie está
explicando animadamente, rindo das piadas de Mason ou colocando a mão no
joelho de Grey. Este é Emir, como ele mesmo. Sebastian tem medo de estragar
isso.
Ele espera o momento de chamar a atenção de Emir para ele. Acontece
quando seus amigos falam sobre faculdade, uma conversa que Sebastian está
evitando, como a gripe aviária. Sebastian pega uma colher de sorvete e bate o
joelho no de Emir. Quando Emir olha para ele, Sebastian estende a colher. Emir
sorri lentamente.
— Ei, — Sebastian diz, suavemente, enquanto alimenta Emir, — Eles gostam
de você.
Emir amassa sorvete com a língua. — Como você sabe?
— Eu só sei.
É uma razão boa o suficiente. Ele pega mais sorvete. Cantarolando e
balançando a cabeça, Emir abre a boca. Sebastian tem motivos melhores, como
por exemplo, como Mason não foi desnecessariamente sarcástico com Emir, ou
como Willie está vociferando como se houvesse uma liquidação de todos os seus
segredos de alta prioridade, mas ele está gostando do brilho que irradia de Emir.
A aceitação tem um efeito incrível nas pessoas que fingem que não precisam
dela.
Emir diz: — Eles são muito legais.
— É?
Emir dá de ombros e acena com a cabeça.
— Que merda, Shah, você já ouviu falar sobre quando nosso garoto Hughes
estava tão nervoso dançando com essa garota que vomitou em todo o vestido
dela, na festa de aniversário dela?
Correção: os amigos de Sebastian são os piores.
23

SEBASTIAN ESTÁ ESPARRAMADO de costas na cama, jogando uma bola de futebol no


ar e depois a pegando. É o último domingo no acampamento, mas ele está
ausente desde o jantar. Algo sobre uma boa refeição e um monte de ansiedade o
deixa mal. Resta apenas uma semana de acampamento e as aulas começam em
duas semanas. Sebastian não está pronto para o fim do acampamento.
Ele não está pronto para enfrentar seu futuro, seja qual for.
A janela está aberta. Está abafado esta noite e o interior da cabana cheira a
meias sujas de Willie. São as meias da "sorte" dele, então Sebastian está abrindo
uma exceção, mas elas têm mau cheiro. Ele tolera muito em nome da amizade.
Lá fora, Willie e Hunter lideram um ataque em direção ao lago; seus uivos são
mais altos do que a sinfonia de grilos e pios assustadores de coruja.
— Nada de nadar nu! — grita Hunter.
— Boo, Hunter, você é um idiota com a nudez, — reclama Jack.
— Na verdade, — Hunter diz, sem fôlego, — eu só não quero mais ver sua
bunda lisa e pálida. Eu consigo ver o suficiente nos chuveiros.
A risada de Willie é ecoada pelos outros antes que suas vozes saiam do alcance
da voz.
A última noite da fogueira tradicional será sexta-feira, um dia antes de
voltarem para casa. Será monumental, mas também significa que Sebastian ainda
tem tempo para camaradagem. É por isso que ele não está se pressionando para
tirar sua bunda da cama e se juntar à cavalaria.
Ele respira fundo. Joga a bola para cima. Pega e repete.
Sebastian se recusa a chamar isso de mau humor, apesar de cantarolar Bon Iver
e Crowded House, a música do povo rabugento. É introspecção. Um pouco de
reflexão é bom, em doses. Além disso, Sebastian percebe que quanto mais ele faz
isso, mais rápido ele adormece. Os treinos estão mais cansativos perto do fim, e
ele poderia usar o descanso extra.
— Filho de uma...!
A cabeça de Sebastian vira em direção à janela, onde Emir está entrando – e
depois caindo no chão.
Emir é uma pilha de membros magros de cabeça para baixo, resmungando
"Janela estúpida, acampamento estúpido" enquanto rola de barriga para baixo.
Ele se levanta e tira a poeira do short. Pelo menos a carranca de Emir não é
dirigida a Sebastian. Desta vez, ele lembra a si mesmo.
Emir para de endireitar sua camisa com um sorriso tímido. — Bem, ei.
A sobrancelha de Sebastian se levanta. — E aí? — Ele está paralisado pelo
cabelo fofo de Emir. A lâmpada espalha a luz doce sobre a pele marrom de Emir
e suaviza a linha tensa de seus ombros. Sebastian gira a bola de futebol como um
globo entre as mãos. — Tudo certo?
— Você quer dizer além da sua janela tentar me matar? — Emir acena um
braço atrás de si. — Sim, eu só...
Quando a voz de Emir se afasta, Sebastian aperta os olhos para a camisa que é
grande demais para o corpo esguio de Emir, e então a realidade o atinge. Emir
está vestindo a camiseta de Sebastian, aquela que ele mantém pendurada em seu
armário. Nada jamais foi tão mal ajustado e excitante ao mesmo tempo.
— Peguei emprestado, — diz Emir, com um dedo preso na gola, puxando.
Sebastian resiste em dizer que você a roubou porque seu peito está apertado,
metade com orgulho, o resto com um carinho confuso. — Legal. — Sua boca se
levanta alegremente. — As pessoas podem falar se virem você usando.
— Estou acostumado com as pessoas falando sobre mim.
Sebastian bufa. Emir não está rejeitando a ideia de as pessoas presumirem que
algo está acontecendo entre eles. Isso ameaça fazer Sebastian dobrar os joelhos
por mais de um motivo.
Emir balança nos calcanhares e puxa a bainha da camisa. Ele está inquieto
como uma criança que precisa usar o banheiro. Ele parece como Sebastian se
sente. — Então. Você está ocupado?
— Muito desocupado, — Sebastian diz. Ele solta a bola para fazer uma grande
varredura da sala com os braços.
Os olhos de Emir estão pretos com um toque de cinza remanescente. Ele dá a
Sebastian um olhar carregado, uma daquelas expressões de "precisamos
conversar".
O peito de Sebastian aperta. Talvez seja isso. Talvez Emir não esteja
confortável com a forma como Grey parece estar entendendo tudo sobre eles.
Ou como Sebastian ficou um pouco ousado na outra noite depois do sorvete,
descaradamente dispensando seus amigos para acompanhar Emir de volta à sua
cabana.
Emir está desistindo do não relacionamento ou seja lá o que for?
— O que foi?
Emir encara suas mãos. Seus olhos se erguem gradualmente. Os cantos
comprimidos de sua boca relaxam. Ele diz: — Eu estava pensando em algo. —
Luz artificial dança sobre seus olhos suavemente dilatados.
— Sim, claro. — Sebastian espera, prendendo a respiração.
Emir enfia a mão no bolso. Ele puxa algo; seu punho de nós dos dedos
brancos está fechado. Ele joga um objeto na cama perto do quadril de Sebastian.
Uma dor se espalha pela barriga de Sebastian, mas não é pânico, não quando
ele identifica o objeto como um preservativo. Ele está no piloto automático,
trocando olhares entre a folha enrugada e os olhos de Emir. Ele acreditava que
Emir queria terminar, mas Emir está nervoso com a abordagem do tema sexo
com Sebastian. Vai saber.
Timidamente, Emir diz: — Então, o que você acha?
— Tipo agora mesmo?
Emir dá de ombros, sem fazer barulho. Mas é um grande negócio para
Sebastian. Ele está quase sufocando com sua própria saliva.
Emir diz: — Se você estiver interessado.
Sebastian tem dezessete anos, está sempre com tesão, e este é Emir; claro que
ele está interessado! Expressar isso de maneira inteligente é uma questão
completamente diferente. Ele balança a cabeça e mastiga forte o suficiente no
lábio inferior para tirar sangue. Ele dá um tapinha em um lugar vazio na cama.
— Agora é bom.
O calor passa pelas bochechas de Emir. É a primeira vez que Emir fica tão
tímido perto dele desde sempre. Ele se contorce, os polegares enganchados no
cós do short e – Ok, isso está acontecendo.
Sebastian está tenso. Seu cérebro está fritando. Seus dedos envolvem o pulso
de Emir e dão um pequeno puxão até Emir cair para frente.
— Uau. — Emir tem as palmas das mãos espalmadas em cada lado da cabeça
de Sebastian, meio escarranchado sobre ele, e suas sobrancelhas tocam a linha do
cabelo de Sebastian.
— Eu sinto muito.
— Não, você não sente, — Emir acusa, divertido.
— Você está certo.
Sebastian não sabe onde colocar as mãos. Ótimo. Ele é exatamente o virgem
que Mason que o provoca ser. Uma ruga de frustração aparece entre as
sobrancelhas de Emir antes de ele se inclinar até que estejam peito a peito, seus
narizes quase se tocando. Sebastian vai para os quadris, uma aposta segura.
— Não consigo parar de pensar em você. O tempo todo, — sussurra Emir
com a voz rouca. Ele coloca a mão sob a gola da camisa de Sebastian; seu polegar
reflete a curva da clavícula de Sebastian. — É realmente irritante.
— Isso é um elogio ou um insulto?
— Ambos, — Emir sai áspera. Ele estremece quando os dedos de Sebastian se
enrolam na cintura de seu short.
— Bom. — Sebastian puxa. — Eu odiaria pensar que você estava perdendo o
controle.
Algo escuro e faminto ilumina os olhos de Emir. — Como isso aconteceu?
— Não tenho certeza.
Os lábios de Emir se abrem. Sebastian segura a bochecha; a barba por fazer é
irregular e áspera contra sua pele. Emir vira a cabeça o suficiente para que o
polegar de Sebastian cutuque seus lábios. Seus olhos se fecham.
Sebastian sussurra: — Você está bravo que aconteceu?
— Sim. Não. Como diabos eu vou saber?
Sebastian não tem ideia. Mas ele percebeu que Emir tem mais bom senso do
que ele. Talvez eles sejam dois adolescentes extremamente perdidos? Talvez,
quando forem mais velhos, ainda não tenham tudo planejado. Não é algo que
Sebastian precisa se preocupar, porque ele está na cama, com um cara.
Não se trata de reflexão. Isso é como coçar uma coceira. É sexo, e Sebastian
não precisa pensar muito sobre isso.
Eles se beijam. Leva um momento para encontrar um ritmo entre bocas e
corpos. A mão de Emir está apoiada no peito de Sebastian. Sebastian tem dedos
no cabelo de Emir. Suas testas batem em um ângulo errado. Emir sibila — Ai,
— mas então Sebastian ataca sua boca, e eles estão bem de novo.
Não é perfeito, mas imperfeitamente incrível.
Sebastian está perdido em felicidade. Suas pernas ficam presas em seus jeans
idiotas. Emir se reclina, mordendo o lábio, e enfia a camisinha na palma da mão
aberta de Sebastian.
Não tem como voltar agora.
Ele olha nos olhos vidrados de Emir, que são brilhantes como estrelas. Emir
está certo. As meninas podem ser lindas e os caras – caras como Emir – também
podem ser lindos.
Sebastian tira a camiseta e vai para a camiseta de Emir – não, sua – em
seguida, mas Emir afasta suas mãos. — Posso… — Emir faz uma pausa,
inalando. — Eu quero continuar com ela.
Sebastian pisca com tanta força que pontos efervescentes nublam sua visão.
Seus dedos soltam a bainha da camiseta; suas mãos caem sobre a barriga. Emir
está curvado; a lâmpada projeta uma luz pálida em suas feições. Sua respiração
vem em rajadas curtas. Sebastian concorda. — Sim, isso é – isso é excitante.
Cílios trêmulos e lábios tortos são a única resposta de Emir.
— Eu nunca fiz isso, — diz Sebastian. Deixar isso de lado era uma opção,
mas, se ele for ruim nisso, pelo menos deve a verdade ao Emir. — Não com um
cara ou uma garota, então isso tem grandes chances de eu estragar tudo. —
Sebastian estremece com suas próprias palavras.
Os olhos de Emir estão divertidos.
Perfeito, Sebastian é uma piada.
Chegando mais perto, Emir diz na boca de Sebastian: — Você não vai. —
Antes que Sebastian possa protestar, ele sussurra: — Confia em mim; não é
difícil de descobrir.
Sebastian está mais calmo, algo que ele nunca imaginou depois de sua última
admissão. Mas isso é culpa de Emir. Ele odeia Emir Shah por deixá-lo com tanta
fome por qualquer um, para sempre. Ele vai escrever uma lista de todas as
maneiras pelas quais Emir estragou sua vida, começando com este momento.
Sebastian dormiu durante a aula de educação sexual em seu segundo ano. Ele
fica tenso tentando descobrir como usar o preservativo. Emir não comenta.
— Pronto?
Emir revira os olhos como se não pudesse acreditar em Sebastian. Sebastian
não se importa. Isso é tudo que ele sempre quis.

***

SEBASTIAN ESTÁ SORRINDO INCONDICIONALMENTE.


É um feito incrível, já que ele está respirando com tanta dificuldade que parece
asmático. Emir está rindo em um travesseiro ao lado dele. Felizmente,
considerando que Sebastian já não tem ego, Emir não está rindo dele. Seu rubor
é apenas um efeito colateral do que acabou de acontecer. A coisa incrível, e
embaraçosa que acabou de acontecer. E, não, ele não vai contar a ninguém que
pensou isso, nunca.
Sebastian está esparramado de costas. Emir está de bruços. O braço de
Sebastian ainda está preso sob ele, e há uma linha de calor abrasadora onde suas
coxas se tocam sob os lençóis. A janela aberta fornece uma circulação mínima
sem a corrente de ar noturno usual. Seu nariz enruga com o novo cheiro da
cabana: suor e um cheiro de garoto, de terra.
— Você está bem?
Emir se vira o suficiente para que Sebastian tenha uma bela visão de seus olhos
exultantes.
Sim, Sebastian também se sente assim. Como se alguém tivesse acabado de
abrir todo o seu mundo, despejado uma montanha de doces em seus pés e lhe
dito para comer. Ele está chapado de como foram ótimos os últimos vinte
minutos de sua vida. Ele nega isso a Emir, no entanto.
— Fica aqui?
— Tem certeza? — Os olhos de Emir estão hesitantes.
Sebastian pigarreia. — Positivo. — Quando os lábios de Emir se abrem para
protestar, Sebastian diz, com mais firmeza, — Emi, fique aqui.
Emir concorda; seus olhos começam a enrugar. Ele hesitantemente se
aproxima. Sebastian o puxa pelo resto do caminho. O rosto de Emir se afunda
em seu pescoço. Sebastian ignora seu leve constrangimento e pressiona um beijo
no topo da cabeça de Emir.
Demora cinco minutos para que a respiração de Emir se equilibre. Sebastian
sorri, presunçoso; Emir não tem problemas em adormecer quando está nos
braços de Sebastian.
Um bocejo estridente escapa de Sebastian. O sono não segue. Seus olhos
seguem as sombras assustadoras que os galhos das árvores criam em seu teto. A
respiração de Emir faz cócegas em sua mandíbula. Sua mente está atualmente
envolvida em um jogo de pingue-pongue de alta velocidade de nível olímpico.
Há quanto tempo ele queria isso: um cara que fizesse seu coração disparar e se
mover devagar ao mesmo tempo? Sexo com Emir foi... bem, ele simplesmente
embarcou nessa. Nenhum pensamento excessivo envolvido. É uma peça que
faltava em si mesmo, finalmente colocada no lugar.
A névoa de Emir na visão periférica de Sebastian: uma mistura de pele
marrom e cabelo escuro. Sebastian se esforça para ter uma visão melhor. Os
cílios de Emir vibram a cada poucas respirações, mas ele está quase totalmente
imóvel e contente. Obviamente, Emir não é afetado pelo fato de que eles
acabaram de fazer sexo. Então, por que Sebastian está se preocupando sobre as
pequenas coisas?
E assim, a apreensão diminui e Sebastian está bem. Ele está mais do que bem.
Emir ainda está aqui, em seus braços. Sebastian pode não ser uma autoridade em
grandes atos de intimidade, mas eles fizeram algo incrível esta noite. E daí se um
pouquinho de vulnerabilidade está arranhando sua pele? Ele está bem em entrar
em pânico. Emir, que é o maior teimoso e está a um fio de cabelo de ser um
idiota, às vezes também entra em pânico.
Está tudo bem. Ele aperta os braços em torno de Emir. É normal que todos
tenham seus momentos de reflexão.
***

SEBASTIAN SALTA DE UM sonho sobre bolas de futebol e biscoitos, dançando ao


som da música de Grease, senta-se e olha para a porta da cabana.
Especificamente, em Willie encostado ali.
A lua mal é uma meia-lua esta noite. A silhueta de Willie é banhada pela luz
das estrelas prateadas. Sebastian engole; sua boca é felpuda e sua garganta está
apertada. Cruzando os braços, ele puxa os joelhos contra o peito.
Willie inclina a cabeça apenas o suficiente para destacar sua expressão em
branco. Seus curiosos olhos azuis pousam em Emir. Ele ainda está inconsciente,
enrolado em torno de um dos travesseiros de Sebastian.
— Eu, uh...
Sebastian é um joguete. Seu rosto está quente; os nervos sobem em seus
braços. Willie, seu melhor amigo que lutaria contra uma invasão alienígena por
ele, está olhando para um garoto quase nu na cama de Sebastian. Willie, que é
muito mais sensato do que Mason, não vai pirar. Ele só vai piscar os olhos e me
encarar.
— Will… — Sebastian engasga com o resto. O que ele vai dizer? Que ele
gostaria que Mason nunca tivesse revelado a "queda" de Willie por ele? Que ele
só quer que as coisas voltem ao normal? Sebastian não tem mais ideia do que
"normal" deveria ser.
O que quer que esteja acontecendo entre Hunter e Willie agora não elimina o
que Willie sentia por Sebastian, não é? As pessoas simplesmente superam as
quedas por seus melhores amigos estalando os dedos? Não pode ser tão fácil.
Willie oblitera a maior parte da ansiedade de Sebastian sorrindo. Ele diz: —
Eu vou dormir na cabana do Hunter hoje à noite. Tudo bem?
Sebastian concorda.
— Parece que você precisa de um pouco de privacidade, mano.
Ao lado de Sebastian, a boca de Emir está aberta; pequenas respirações saem.
Seus dedos estão enrolados contra os lençóis. Sebastian levanta os olhos. —
Tudo bem, né?
— Definitivamente.
Willie anda silenciosamente pela sala. Ele pega seu laptop, deixa seu iPod.
— Então. — Sebastian está sendo um idiota. Ele está prestes a abrir um livro
grande e feio de tópicos sobre os quais eles andam evitando. — Estamos bem? —
desliza para fora de sua boca antes que ele possa se conter.
Willie gira sobre os calcanhares. Ele caminha até a cama de Sebastian. O medo
destrói o estômago de Sebastian. É quando Willie finalmente está se tornando
Incrível Hulk.
Em vez disso, ele bagunça o cabelo de Sebastian e diz: — Com certeza, mano.
Estou feliz por você.
Lutando contra a necessidade de vomitar, Sebastian sussurra: — Bom.
Antes de ir embora, Willie dá um tapinha na testa de Sebastian. — Mas da
próxima vez, coloque uma meia na porta. Você conhece as regras, cara. — Ele
acena com a mão para Emir. — Sério, as coisas poderiam realmente ter ficado
muito estranhas se eu entrasse no meio disso.
Sebastian sorri tanto que sua visão fica embaçada. Willie não o odeia. Eles são
amigos. Não importa as decisões ultrajantes que ele tome na vida, ainda há
pessoas que sempre o aceitarão: aquelas que vão socá-lo, abraçá-lo e contar piadas
ridículas.
Willie o saúda na porta, depois encolhe os ombros com a bolsa.
A porta se fecha e Sebastian sussurra, — Obrigado, Willster, — para as
sombras.
24

SEBASTIAN APRENDEU NO PRIMEIRO ANO QUE nem todas as melhores provocações


acontecem em campo.
Elas acontecem no vestiário.
As maiores conversas de merda, chicotadas com toalhas, pegadinhas, histórias
sobre transar e piadas de mau gosto sobre o pau de um cara, todas acontecem em
torno de chuveiros e armários fechados. Ocasionalmente, um jogador consegue
entrar na cabeça de outro jogador, usando palavras para tirá-lo do jogo a fim de
roubar seu primeiro movimento. É um esporte de equipe, mas todo mundo quer
ser a estrela algum dia.
Sebastian aceita isso. Mas hoje, por qualquer motivo, ele simplesmente não
está tão bem com isso.
Ele arranca a camiseta. Está suja de grama, sujeira e suor, uma combinação
muito forte. Ele puxa uma nova de seu armário e cheira a axila. Limpa. Ele está
entre os treinos, então ele não se preocupa em tomar um banho. O treinador
Patrick os está fazendo dormir, comer e beber grama durante seus últimos dias
no acampamento.
— Se você quer ganhar um campeonato, você tem que sacrificar um cochilo
ou dois, — o treinador grita todas as manhãs durante as voltas. Depois do
almoço é a mesma coisa. Ele não é nenhum Alex Fergusson, mas inspira a
maioria dos caras a ganhar força por meio de exercícios.
Willie está distribuindo garrafas de água gelada. Sebastian agarra uma com um
aceno de apreciação. A expressão de Willie é tranquila. Ele diz: — Não se
engasgue, — quando Sebastian abre a boca e bebe como se estivesse no deserto.
Ele adiciona um gesto rude que Sebastian supõe ser uma referência ao sexo oral.
Sebastian está muito zoneado para dar uma resposta decente, mas Willie acena
com olhos desapontados.
Sebastian não pode evitar; ele está péssimo hoje. Ele não conseguiu bloquear
nenhum dos chutes de Mason. Os calouros são um bando de lacaios
descoordenados e os passes de Gio são um lixo. Sebastian está estragando toda
essa coisa de "futuro capitão". Ele não se incomoda com isso; a náusea surge toda
vez que ele pensa muito nisso. Sebastian não está pronto.
À sua esquerda, os defensores estão amontoados em torno de um dos bancos.
Sebastian bebe sua água. Carl, com feições duras acentuadas por seu corte
militar, está liderando a conversa.
— Com Will fora para a temporada por causa do joelho, estamos ferrados, —
diz Carl, curvado para a frente. Ele está suado e com queimaduras de sol no
nariz.
— Merda. — Gio se apoia em um armário.
Rollins, um lateral calouro, pergunta: — Ele não consegue aguentar alguns
jogos? — Ele coloca o cabelo preto úmido atrás da orelha.
— De jeito nenhum. — O rosto de Carl está mais contraído do que o normal.
— O cara está ferrado. Acabado. O corpo esfriou, meu irmão. — O cara gosta
de sua hipérbole, algo que Sebastian aprendeu no colégio no primeiro ano
quando acertou Carl durante um amistoso jogo de beisebol. Carl rolou pelo
campo por meia hora, ficando com um ombro deslocado.
Rollins suspira. — Droga.
Essa é a coisa sobre Willie; ele é amado pelos novatos também.
Pressionando a sobrancelha em seu antebraço, Sebastian descansa contra um
armário fechado. O treinador Rivera foi quem contou a ele, não Willie.
Sebastian não culpa Willie, no entanto. Ouvir que sua carreira esportiva no
colégio e quaisquer planos futuros de jogar viraram fumaça é muito pesado.
Sebastian estaria em muito pior estado; ele elogia a atitude otimista de Willie.
Hunter se aproxima com a toalha pendurada no pescoço. — Temos um bom
substituto, — diz ele.
Carl rosna baixinho. — Você só pode estar louco.
— Quem?
Hunter se vira para Gio. — Emir.
— Shah, — Carl diz, incrédulo. — Você pode acreditar nessa merda? Você
não pode substituir Will por aquele cara.
— Por que não? Ele tem habilidade.
Sebastian espia por cima do ombro. O lábio superior de Carl está curvado. Ele
quer socar o rosto de Carl, mas ele está tentando ficar fora disso. Carl é um
idiota. Pelo menos todo o time não está do lado dele.
— Não sei, — diz Rollins. — Eu o vi acompanhando Zach. Ele é legal.
Carl aponta um dedo grosso no rosto de Rollins. — Ninguém perguntou a
você, calouro. — Ele se vira para Hunter. — Ele é um furão. A maioria de nós
não anda com ele no colégio, de qualquer maneira.
A mão esquerda de Sebastian se fecha em um punho. Carl ainda está falando
mal, e Hunter está argumentando, mas com menos intensidade. Carl precisa
calar sua boca estúpida. E então atinge Sebastian: Carl é o segundo líbero, e o
próximo na fila para a posição de Willie. Emir no time significa menos tempo de
jogo para ele. E isso é tão feio, porque eles são um time. Um por todos e toda
essa merda.
— E você, Hughes? — Carl funga; seu rosto parece distorcido quando
Sebastian se vira. — Podemos sobreviver sem Shah, certo?
Os olhos de Sebastian se estreitam.
E é como se Carl soubesse que atingiu um ponto nevrálgico, porque diz: —
Shah não é meu companheiro de time, — com um sorriso malicioso.
Com o coração martelando em seus ouvidos, Sebastian se aproxima de Carl.
Ele cospe, — Eu acho que você deveria calar a boca e parar de falar mal dele.
— Por quê? — Carl não é tão alto quanto Sebastian. Ele tem que inclinar o
queixo para encarar Sebastian nos olhos. — Você se apaixonou por Shah ou algo
assim?
— Não, eu sou durão com meu time. Ele é um de nós.
— Parece que ele é durão por você.
É difícil para Sebastian ignorar os assobios ao redor deles. Suas unhas estão
cravando na palma da mão. Ele imagina seus nós dos dedos ensanguentados e
Carl deitado no cimento.
Faça.
Carl mostra os dentes. — Ele não é um de nós, Hughes. — Ele dá um
pequeno passo mais perto de Sebastian. — Ele nunca foi como nós.
Para a alegria absoluta de Lily, Sebastian nunca esteve em uma briga de
verdade, apenas obteve alguns arranhões e machucados como todas as crianças,
nada sério. Ele está disposto a quebrar o pobre coração dela para fraturar a
mandíbula de Carl.
— O que isso significa?
— Ele não nos entende e nós não o entendemos. Dois lados totalmente
diferentes do mundo.
— Então, ser diferente não é mais permitido neste time? — Sebastian diz,
carrancudo. — Porque Hunter é negro. Gio é hispânico. Ah, e Emir é
paquistanês. — Ele dá um passo à frente, inclinando-se no rosto de Carl. — E
Willie é gay, se isso for um problema.
— Não.
Sebastian acena com a cabeça, uma vez. — Então cale a boca, porque esta é
uma família. Não somos idiotas ou superiores a ninguém, entendeu?
— Eu não quero ele nesta família.
Aquela voz na parte de trás da cabeça de Sebastian fica mais alta: faça. Suas
mãos estão dormentes, com os nós dos dedos brancos. Alguns outros jogadores
se juntam à multidão ao redor deles. Mason está empurrando através da massa
de corpos. À sua direita, Emir está rígido; seus olhos são fendas escuras.
Sebastian volta seu olhar para Carl. — Vá se ferrar, Tiller, — ele diz, fervendo
de raiva. — Você não o conhece.
— O quê, você quer que todos nós tenhamos um abraço coletivo e finjamos
que não é assim que acontece? Só porque é um esporte de time não significa que
todos cheguem bem no final do dia. Então agora estamos deixando novatos
jogarem como iniciantes só porque querem? Eu não estou gostando disso,
Hughes.
Bater em Carl seria um acordo misericordioso. O cara não tem muitos aliados,
e Sebastian não pode ser o único farto de suas reclamações incansáveis. Ele não
tem simpatia por Carl, ou sua incapacidade de definir uma posição inicial. Isso
não é desculpa para ser um idiota.
Nem toda a raiva de Sebastian é dirigida a Carl ou a Emir. É dirigida para
todos os caras que empurraram Sebastian. Para aqueles que o faziam não gostar
de sua aparência. As crianças gritando "Bastian, o cesto de lixo". Para cada idiota
que zombou dele, de seus amigos.
— Seu amigo, — diz Carl, sorrindo, — pode ficar no banco sozinho como faz
durante o almoço.
A atenção da sala está voltada para Emir agora. Ele desvia o olhar. A raiva de
Sebastian finalmente atinge um novo pico.
— Foda-se.
Sebastian não sabe de onde veio isso. Seu peito se abre com orgulho. É como
se ele cuspisse essas duas palavras em todos que são idiotas como Carl.
— Sim, foda-se você também, Hughes. Você não é o capitão, — Carl late.
Os punhos de Sebastian tremem ao lado do corpo. O treinador Patrick não
tolera violência, a menos que seja no campo. Tudo é justo no campo. Sebastian
só precisa de algo para bater. Uma parede, uma porta, qualquer coisa.
Ele está cedendo ao cântico em sua cabeça: faça, faça, faça...
— Se mexam! — O treinador Patrick late como um cachorro raivoso. Os
jogadores são empurrados. Uma mão sua pressiona o peito de Sebastian. Sua
outra mão agarra a camisa de Carl. Ele lança um olhar furioso para Sebastian. —
Já que vocês estúpidos querem esquecer que temos um jogo em algumas
semanas, vamos pular o almoço para outra rodada em campo! Vocês querem
brigar? Briguem com a exaustão, porque vou desgastar suas bundas até que vocês
estejam cansados. — Quando ninguém se move, o treinador late: — Agora!
Preparem-se.
Um êxodo em massa irrompe. Sebastian não consegue identificar quem está
encarando ele e quem está olhando para ele com compaixão. Respirando com
dificuldade, ele cai em um armário.
O treinador ferve. — Espero mais de você, Hughes, muito mais. — Ele se
afasta, e Sebastian quase desmorona sob o peso daquele último olhar penetrante.
Sebastian passa a mão pelo rosto. Ele inclina a cabeça até que as luzes
fluorescentes se borrem em seus olhos úmidos. O treinador não fica chateado
com ele há muito tempo. Sebastian não deixa um cara entrar em sua cabeça
assim desde a infância. Lidar com valentões era mais fácil quando ele era
pequeno. Ele não podia revidar.
Hoje, Sebastian estava pronto para esmagar Carl. Que tipo de candidato a
capitão ele é?
— Cara, — diz Zach, dando um tapinha no ombro de Sebastian. Sebastian
não consegue olhar para ele, mas ele parece chocado. Junte-se ao clube.
— Vamos, Bastian, — sussurra Mason. — Deixe pra lá.
O barulho de chuteiras no chão sinaliza a saída de Mason. Um por um,
Sebastian está falhando com seus amigos. Quando ele finalmente levanta os
olhos, Emir está na frente dele. Seus braços estão cruzados e ele não diz uma
palavra.
— O quê?
A boca de Emir se abre, mas ele apenas suspira. Seus olhos estão sem brilho.
Sem dizer uma palavra, ele sai do vestiário.
Sim, eu tinha previsto isso vindo também.
Quando a sala está vazia, Sebastian empurra seu armário. Ele se vira, gira os
ombros e, em seguida, bate o punho na porta de um armário. Seus dedos
latejam, mas pelo menos sua raiva está centrada na dor. É uma pena, no entanto.
O alívio não vem.

***

— É ISSO QUE VOCÊ É?


Não.
— Este é o tipo de jogador ou pessoa que você quer ser?
De jeito nenhum.
— Eu não entendo. Onde está o verdadeiro Sebastian Hughes?
Eu não faço ideia.
Sebastian não está respondendo ao treinador O'Brien. Ele está deixando
O'Brien gritar com ele há dez minutos. Está quente, o vômito de um dia atrás
parece melhor do que ele e, para piorar, eles tiveram outra partida. Foi uma
repetição do Time Drews contra o Time Hughes, mas desta vez eles perderam
epicamente. Inferno, ele deixou Robbie fazer dois gols nele. Robbie. Ele nunca
deixa Robbie sequer pensar nisso. Sebastian não tem uma explicação para isso.
O trabalho duro deles durante o verão foi completamente jogado pelo ralo.
Seu cérebro não consegue pensar em nada para dizer a O’Brien ou Rivera para
que pareça melhor.
O’Brien suspira. — Não podemos derrotar os espartanos assim. — Ele aperta
o ombro de Sebastian, em seguida, diz, com cuidado: — E você está apenas –
isso não é bom para você.
Obviamente. Sebastian endurece a linha da boca e encara o campo. Ele não
quer ter essa conversa. — Sinto muito, — ele sussurra.
— Ok. — O’Brien o encara. — Você consegue, Sebastian. Eu sei que
consegue.
Sebastian não concorda. Ele finge um sorriso e se afasta. Cimento está em seus
sapatos enquanto ele sobe as arquibancadas. Willie passa para ele uma garrafa de
água. Sebastian cai e tenta absorver a positividade genuína de Willie enquanto
seus ombros batem.
— Já está sentindo queimar?
Sufocando em seu primeiro gole de água, Sebastian mostra o dedo do meio
para ele. O humor de Willie pode curar a praga zumbi que se instalou nele.
Sebastian limpa a boca com o pulso. — E quanto a você? — Seus olhos caem
para o joelho de Willie.
— O melhor que posso estar.
Sebastian não vai se intrometer, porque é da conta de Willie e porque
Sebastian não é o melhor em contar às pessoas seus próprios segredos.
A coluna de Willie está curvada nas arquibancadas vazias atrás dele. — É
besteira, mas estou bem. — O céu sem nuvens de Oakville significa que o sol
embeleza o azul de seus olhos, como as pétalas dos miosótis. — O treinador diz
que ainda posso preparar todos os jogos, torcer para vocês do banco.
Sebastian aperta o joelho bom de Willie.
— É uma merda, — diz Willie, — mas não é o fim do mundo.
Sebastian inveja a confiança de Willie. É o fim do mundo ter algo que você
ama tirado de você. Sebastian está sufocando o tempo todo, tentando entender o
que vai acontecer em alguns meses, quando o futebol acabar. Ele não tem ideia
de quem é sem esse esporte.
Requer algum esforço, mas Sebastian consegue não franzir a testa. O talento
de leitura de mente de Willie provavelmente já o descobriu. Ele pergunta: —
Quando?
— Mamãe vai tentar agendar a operação antes do início das aulas.
Sebastian está maduro de suor, mas ele não se importa; ele coloca o braço em
volta dos ombros de Willie. — Nós vamos resolver isso.
— Você vai trazer minha lição de casa enquanto eu me recupero?
— Sim. Contanto que você não me peça para ajudá-lo com Shakespeare.
— Porque você é péssimo em Shakespeare.
— Nós dois somos péssimos em Shakespeare, Willster.
O sorriso de Willie aparece em seus olhos, vincando os cantos. — Verdade.
Sebastian apoia o queixo no topo do cabelo de Willie para que Willie esteja
meio dobrado em um abraço fraternal. Deixe para Willie distrair Sebastian de
um dia de merda.

***

— MASON RILEY, NA FRENTE E NO CENTRO!


Grey está no centro do campo. Ela está vestindo um uniforme da equipe mal
ajustado, cachos macios em um rabo de cavalo bagunçado, chuteiras e rosto de
guerreiro. É muito foda.
A maior parte do time está espalhada nas arquibancadas, ainda lambendo as
feridas da prática. Eles levantam a cabeça assim que ela chama. Gio sussurra: —
¡Qué mierda! — e Rivera aponta um dedo de advertência para ele com olhos
semicerrados.
Grey não se move. Suas mãos estão nos quadris, e uma bola de futebol está
aninhada na curva de seu braço.
— Ela parece assustadora. — Willie está pasmo.
— Ela é assustadora, — Sebastian sussurra.
Mason está sentado de pernas cruzadas na grama, de costas para Sebastian,
mas ele tem os olhos esbugalhados, o queixo caído e pálido. Pelo menos, é assim
que Sebastian o imagina.
Os olhos de Grey encolhem até que Sebastian não consiga encontrar o verde
neles.
— Doce menino Jesus, Maria e todos os malditos santos, — diz Mason. Ele
joga sua garrafa de água e se levanta com dificuldade. Sua cabeça vira na direção
de Zach quando ele e alguns outros murmuram "Build Me Up, Buttercup", e
eles rapidamente ficam quietos. Se seus ombros rígidos dizem alguma coisa,
Sebastian concluiria que Mason está chateado e com um pouco de medo
também.
— O que ela vai fazer?
— Eu não sei, — Sebastian diz para Willie. — Mas eu vou gostar.
— Que diabos… — Mason para perto de Grey. — …você está fazendo?
Os lábios de Grey se contraem. Ela não se incomoda com os braços sibilantes
ou agitados de Mason. Ela atingiu níveis de super-heróis hardcore de grandeza.
— Grace...
— Eu cansei das suas besteiras, Riley.
— Uh, modos. — Kyle gargalha três níveis abaixo de Sebastian, que joga sua
garrafa de água vazia na nuca de Kyle. Ele fica satisfeito quando Willie ri.
— Está bem, está bem. — Mason levanta as mãos, as palmas voltadas para
fora, como se ele estivesse se rendendo. — Ponto entendido. Você é uma garota
crescida e eu sou...
— Você vai ter uma partida comigo, aqui e agora. Um a um. — Grey gira a
bola com um dedo. — O primeiro gol vence e o vencedor paga o prêmio.
Mason joga os braços para cima como um Muppet e grita incrédulo: — Você
é tão estranha!
— Se eu ganhar, nós vamos a um encontro.
Alguns assobios e alguns gritos lupinos de "Vai, garota" escapam dos
jogadores. Willie torce, com dedos espirituais e tudo. Sim, isso vai ser incrível e
ruim.
— Você perdeu a cabeça? Seu pai é… — Mason acena com a mão atrás dele.
Inclinado para a frente, os cotovelos sobre os joelhos, o treinador Patrick está na
arquibancada inferior.
Grey limpa a garganta. — Treinador – meu pai não tem sido nada além de
apoiador desde que eu era criança. — Sua voz começou a aumentar. — Ele
sempre se certificou de que eu tinha o que precisava e me diz o tempo todo para
ir atrás do que eu quero, não importa o custo.
O treinador endireita os ombros.
— Adivinha o que eu quero?
Mason resmunga: — Uma lobotomia.
Sua maldade desliza de suas costas. Ela evoluiu para Grey-dois-ponto-zero.
Sebastian tenta não gemer com sua própria nerdice.
— Um encontro, Riley.
— Oh, uau, isso é não tão romântico, — zomba Mason. Ele arranca a bola
dela. Sua cabeça se inclina para mais perto. — Mas quando você perder, você
recua. De vez. Chega de olhares apaixonados, flertes, ser toda estranha quando
estou por perto. Eu recebo o mesmo tratamento que os outros caras, entendeu?
Grey se encolhe. Então ela aperta a boca, balança a cabeça e se afasta. Ela está
realmente indo preparada para isso.
— Cinquenta dólares que ele a fará chorar. — Jack ri.
Gio revira os olhos. — Vinte diz que então o treinador o mata e joga o corpo
no lago.
Mason e Grey se afastam um do outro. O treinador O'Brien entra em campo,
soprando seu apito. Ele estabelece as regras. — Jogo limpo, — diz ele, olhando
para Mason. A boca de Grey está desenhada em uma linha fina; seus olhos ainda
estão estreitos para Mason.
Sebastian aposta que ela chutará Mason no saco. Ele pode rir disso. Na
verdade, ele está se inclinando a favor que isso aconteça.
O'Brien sai do caminho. Mason se move como se estivesse jogando um
esquadrão de treino. Ele é preguiçoso. Ele tenta enganá-la indo para a esquerda,
depois para a direita. — Venha pegar, Patrick.
Grey morde o lábio dela, olhando para ele.
— Garota boba, — brinca Mason. — Aqui o nível é outro.
Grey rosna e vai atrás dele.
Mason tem truques doentios e dribles incríveis. Ele está no topo da
conferência por um motivo. Mas Grey se opõe a tudo. Ela está sobre ele como
um puma perseguindo sua presa. O time faz ooh quando Mason não consegue
contorná-la, e Mason diz: — Você não é tão boa assim.
Grey desliza um pé entre eles, fazendo-o tropeçar. É legal, então O'Brien não a
questiona. Mas Mason está despreparado.
— Não me diga, — diz Smith, assobiando.
Antes que Mason possa reagir, Grey coloca o pé na bola e corre na direção
oposta.
Zach coloca as mãos em volta da boca. — Vai perder Riley!
Sebastian morde os nós dos dedos. Ok, ele é um idiota por torcer
silenciosamente por Grey e não por seu melhor amigo, mas Sebastian sempre
teve um fraco pelos subestimados. Grey o está tornando um crente.
— Sua pirralha! — Mason grita, seguindo atrás de Grey, mas é tarde demais.
Ele está derrotado e Grey está indo, indo, indo.
Os caras estão meio atordoados enquanto Grey comemora. Eles a ovacionam
de pé. Deixe para Grey unificar este time novamente.
Sebastian diz: — Grey Patrick é uma lenda. — Hoje é um dia para ser
marcado na história. Ele mentalmente o chama de O Dia em que Mason Riley foi
colocado em seu lugar por Grey Patrick. É longo, mas cativante.
No momento em que Mason a alcança, ele está ofegante. Ele cai na grama,
esparramado como uma estrela do mar paralisada. Seu cabelo está espalhado de
suor na testa; suas bochechas estão vermelhas. As nuvens circundam Mason,
zombando dele.
— Então é assim que a derrota se parece. — Rachando de rir, Willie dá uma
cotovelada nas costelas de Sebastian.
Grey se levanta, mãos na cintura, elevando-se sobre Mason. — Eu vi você
jogar por anos, Riley. — Cachos escorregam de seu rabo de cavalo, emoldurando
suas bochechas. — Eu o conheço melhor do que você mesmo como jogador.
Mason raspa a grama com o sapato.
— Você está fraco do seu lado esquerdo e muito confiante.
— Cala a boca.
— Você é incrível, mas não perfeito.
Na arquibancada abaixo de Sebastian, Rollins e Mikey estão um pouco mais
eretos. Poucas pessoas colocaram Mason Riley em seu lugar com sucesso. No
início da temporada, Sebastian aposta que os calouros usarão camisetas com o
rosto de Grey estampado.
A leve virada de cabeça de Mason revela uma boca se contorcendo em um
sorriso. Ele se contorce, colocando os cotovelos embaixo dele para se apoiar. —
Então, a que horas você quer que eu pegue você?
— Nunca. — Grey ignora seu colapso melodramático no gramado. — Por
anos, deixei você ser um idiota porque sou mais jovem. E porque estou
apaixonada por você. — Sua voz endurece. — É uma pena ser eu às vezes, então
não preciso que você esfregue isso na minha cara.
Mason fala cuspindo.
Grey levanta o pé e o pressiona levemente contra o peito de Mason. — Eu não
quero um encontro, Mason. Eu só quero que você saiba que eu aceito que sou
jovem e uma garota estranha. — Então, ela se aproxima. — Além disso, você
acabou de perder porque sou jovem e uma garota estranha.
Mason bate com a cabeça na grama. — Espere, o quê?
Grey já está passando por cima dele. Ela pega a bola e a gira entre as mãos.
Uma verdadeira fodona. Afinal, Grey simplesmente jogou a reputação de Mason
no vaso sanitário. Seus olhos encontram os de Sebastian, e ela murmura — Grey
fodona Patrick.
Os lábios de Sebastian se abriram em um sorriso.
— É isso rapazes, tomem banho! O jantar é em alguns minutos. — A voz do
treinador é severa. Grey se aproxima dele. O treinador passa um grande braço
em volta de seus ombros pequenos. Ele sussurra para ela, e Grey estremece de
tanto rir quando eles deixam o campo. O time segue.
— Épico, — Willie diz, se levantando com cuidado.
— Um clássico! — Hunter surge do nada para ajudar Willie.
Sebastian começa a descer as arquibancadas. Seus pés lentos quando seus olhos
encontram Emir, esperando: corpo bem encurvado, ombros curvados, mãos
enfiadas nos bolsos da bermuda. O aperto de sua boca puxa suas bochechas para
dentro. Seu queixo está abaixado em desafio, mas seus olhos ainda se encontram.
— O que está errado?
— Não faça isso de novo, — diz Emir, com a voz rouca, zangada. — Eu não
preciso de ninguém me salvando.
— Eu não...
Emir interrompe Sebastian. — Eu lidei com isso há anos, ok? Quem se
importa se as pessoas não gostam de mim ou querem estar perto de mim?
Sebastian não estava esperando por isso. Ele ainda não sabe o que esperar dele.
Será um Emir carrancudo ou talvez um Emir que ri de todas as piadas estúpidas
de Sebastian?
— Não estou aqui para fazer amigos, — diz Emir rispidamente; as bordas de
sua boca estão apertadas. Obviamente, Sebastian não fez nada além de irritar
Emir desde o primeiro dia. — Estou aqui pelo meu pai, é isso. Se você se sente
culpado pelo que aconteceu há muito tempo, não me arraste para isso. Deixamos
de ser amigos e eu sobrevivi.
Tentando diminuir sua raiva para um fogo brando, Sebastian flexiona os
dedos.
— Não seja um herói.
E é isso que faz seu sangue ferver. Isso não é tudo culpa dele. Emir não
entende isso? É trabalho de Sebastian bancar o pacificador. Ele tem feito isso
desde muito antes de Emir decidir tentar. Não mudou. Sebastian não mudou.
— Bem. — Uma dor lateja das têmporas de Sebastian até as órbitas dos olhos.
— Faça o que quiser, camarada, porque eu só – eu não sei o que diabos eu estava
fazendo. Não é como se eu fosse seu… — Sebastian não consegue se esforçar o
suficiente para dizer a palavra que deveria.
Emir levanta o queixo. — Sim, você não é.
Nuvens enxameiam acima, escondendo um pouco da luz do sol. Esta é a parte
em que Sebastian deve dizer a Emir que espera que eles ainda sejam amigos
quando o acampamento acabar e as aulas começarem. Que ele espera que sejam
muito mais que isso também. Que isso não é uma aventura de verão, uma
conexão casual, e que ele está cansado de Emir ser indiferente, tão ilegível que
Sebastian fica confuso e desesperado. Mas ele está tão exausto que não consegue
descobrir por onde começar.
A mão de Emir passa pelo rosto e passa pelos cabelos. Quando ele desaparece,
seu rosto está inexpressivo. Ele vai embora sem dizer uma palavra.
25

OS DIAS AINDA SÃO ÚMIDOS e quentes, mas o céu fica rosa-claro e, mais cedo,
cinza-azulado profundo. O pôr do sol traz um frio confortável, um sinal seguro
do início do outono. O acampamento acabou, mas ainda há fogueira esta noite.
Sebastian conseguiu sobreviver aos últimos dias apenas seguindo sua rotina, algo
em que ele é bom. Amanhã à tarde, eles se amontoarão no carro de Mason para
voltar para Bloomington.
Então é colégio e uma longa contagem regressiva para a formatura.
Sebastian tem evitado pensamentos motivados pela ansiedade sobre a vida
após o colégio. Ele absorve o sol baixo, laranja como a ponta de um pirulito
laranja, e aprecia o calor constante.
A boa e velha Oakville. No próximo verão, quem sabe onde ele estará, como o
tempo estará, ou se ele vai se sentir assim novamente.
Sebastian quer se perder, não com cerveja barata, mas com a agitação do
verão. Talvez ele possa ficar tão agitado que não terá que acordar amanhã de
ressaca com a realidade.
O campo é verde e espinhoso sob as mãos de Sebastian. — Que mundo, —
ele diz suavemente. Aromas terrosos e calor úmido enchem seu nariz. Úmida de
suor, sua camiseta gruda no peito. Ele está vagando pelas horas que lhe restam
até o jantar.
O treino de hoje foi longo e cansativo, mas não foi uma merda. O time estava
em sincronia. Sebastian agradece a Grey por isso.
Ele puxa os joelhos perto do peito. Distraidamente, seus dedos percorrem um
curto comprimento na parte interna de seu antebraço. Ele vai ter um hematoma
feio amanhã após bloquear um ataque de Robbie, mas, tanto faz. Valeu a pena.
Na verdade, o dia todo foi lindo.
— Achei que você brincava com bolas nas horas vagas? Você é um merda!
Willie diz, sem fôlego: — Tanto faz, Riley. Não recebo queixas sobre a forma
como lido com as bolas, obrigado.
Mason e Willie estão tendo seu desafio anual de embaixadinhas. O concurso é
uma desculpa para Mason se exibir e para Willie provar seu valor. Ele tem
guardado toda a força que lhe resta no joelho para este dia. Sebastian
normalmente é bom com ambos, mas hoje ele não consegue nem fazer isso. Em
vez disso, ele observa com carinho.
Ele nunca teria conseguido entrar no time sem eles. Ele não teria sobrevivido
ao ensino médio sem eles. Talvez se ele e Emir tivessem continuado amigos...
Sebastian geme. Ele passou três dias – três dias inteiros – evitando Emir. É mais
fácil durante as refeições, já que Emir nunca se sentou com eles de qualquer
maneira, mas as corridas matinais solo, as noites passadas em sua própria cama e,
especialmente, os treinos são tediosos e cansativos.
O que incomoda Sebastian é, ele acha que deveria se desculpar. Isso vai
importar? As coisas continuariam desse jeito assim que a temporada acabasse e
Emir não quisesse impressionar seu pai? Sebastian não sabe.
E aqui está ele de novo, sem saber o que acontecerá com sua vida depois do
futebol. Sebastian só precisa de alguém para lhe dar uma resposta.
Uma prancheta bate na grama ao lado de Sebastian, seguida por um
resmungão e descontente Treinador Patrick. — Muito velho para isso, — diz o
treinador, com as pernas cabeludas esticadas à sua frente e a aba do boné puxada
para baixo para fazer sombra.
Sebastian levanta uma sobrancelha curiosa.
— Não consigo entender por que você sempre faz isso. — O treinador se
apoia nas mãos. — Que jovem de dezessete anos tem tantos momentos de
autorreflexão?
O treinador lembra a Sebastian um pai da TV, é tudo discursos profundos,
depois um abraço de urso. Ele passa de Wolverine cruel em campo para o Sr.
Rogers sem piscar.
— Uh, eu...
O treinador levanta um dedo. — Não é ruim, Sebastian, exceto que só
acontece depois de um treinamento ruim ou um jogo difícil. — O sorriso do
treinador aprofunda seus pés de galinha. — Lembra quando jogamos naquele
colégio incrível de Chicago?
Sebastian nunca vai esquecer.
Após a perda desastrosa que os Lions sofreram, Sebastian passou uma hora
despejando suas tripas nas baias. Em seguida, ele marcou um lugar nas
arquibancadas vazias do estádio e ficou horas sentado com seus fones de ouvido,
emburrado. Ele não disse uma palavra por vinte e quatro horas.
— Você é bom em se punir, garoto. — O treinador coloca um braço carnudo
em volta dos ombros de Sebastian. — Mas chega.
Sebastian balança a cabeça, soltando um suspiro para tirar o cabelo da testa.
— Os outros treinadores e eu temos conversado. — O treinador faz uma
pausa, olhando para Mason. O estômago de Sebastian aperta. O treinador
balança a cabeça e diz: — Você cresceu, garoto. Há um alvo em você na
conferência; todo mundo está falando sobre o goleiro da BHS.
A garganta de Sebastian está seca. Ele diz: — Uau! — mas é rouco.
— Você está melhor do que Riley, — o treinador diz sem leviandade. — Não
esperávamos isso depois do primeiro ano.
Sebastian diz: — Eu não estou, — por instinto, mas o treinador faz um tsks
para ele, então ele cala a boca.
— Foi uma votação unânime. Você é o capitão.
Não penetra imediatamente. Capitão. Então, os arrepios aparecem como uma
erupção na pele. Dormência e alívio atingiram Sebastian de uma vez. Ele coça a
têmpora, tentando juntar as partes de um "obrigado", mas o treinador o adianta.
— Eles seguem você, — diz ele, acenando com a cabeça em direção a Mason e
Willie. — Você é o único líder que eles querem.
Carl definitivamente não concordaria.
O treinador o considera. — Olheiros universitários querem ver você, Bastian.
Jogue bem esta temporada e você pode ter uma bolsa de estudos onde quiser.
Sebastian quebra o contato visual para olhar o sol poente. O céu está ficando
rosa. Seus dedos se enrolam em torno da grama espinhosa. O calor minguante
esfria em seu pescoço.
O time de futebol de Bloomington High tem um novo capitão. Capitão
Hughes.
Uma respiração forte finalmente escapa dele. — Obrigado, treinador.
O treinador grunhe; seu braço fica frouxo nos ombros de Sebastian. Ele é
áspero, intimidante, mas o treinador considera cada um dos jogadores seu filho,
incluindo brincalhões como Mason. Sebastian tem orgulho de fazer parte disso.
O treinador muda de assunto. — Então. — Os cabelos do pescoço de
Sebastian se arrepiam com o olhar perspicaz do Treinador. — Shah, hein?
Nunca suspeitei dele como seu tipo.
Este momento seria muito mais engraçado se Sebastian não tivesse certeza de
que está a um segundo de um ataque cardíaco. Ele foi arruinado, estremecendo
com sua risada patética de "nem eu" e com o olhar especulativo, mas divertido
do Treinador. Ele não sabe o que é pior, ser pego por sua mãe beijando uma
garota ou a consciência do treinador sobre sua saudade do cara que o odeia.
Ambos?
E ele sente falta dele? Jesus, Sebastian odeia como seu cérebro funciona.
— Ele é meu, — Sebastian engasga, depois tenta novamente. — Ele é meu
amigo. — E ele é meu tipo também. Talvez não fosse aparente quando ele
percebeu que gostava de caras, mas essas memórias de infância fazem Sebastian
pensar que algo estava lá, adormecido.
O treinador cantarola.
Sebastian diz, com urgência: — Eu me importo com ele, mas nada está
acontecendo. — Não mais. Ele despeja meio quilo de arrependimento em cima
dessa palavra.
O treinador balança no lugar, chocando Sebastian. Ele diz: — O'Brien está
convencido de que ele fará um líbero cruel se conseguir manter a calma. — A
maior falha de Emir. — Mantenha-o na linha.
Sebastian estala. Suas mãos arranham a grama. Ele mal consegue manter seus
próprios sentimentos sob controle. O que o treinador está pensando? Ele
guincha, — Ok. — O treinador olha para ele e as próximas palavras quase
arrancam a mandíbula de Sebastian ao tentar sair. — Mas e se... e se eu estiver
meio apaixonado?
— Meio?
Sebastian fecha os olhos com força. Ele está tonto e obviamente prestes a
cometer um grande erro. — Eu acho que estou.
É a primeira vez que Sebastian diz isso em voz alta para alguém, incluindo ele
mesmo. Ele ainda está descobrindo sua própria definição de amor. Você não
deveria acordar querendo nada mais do que o sorriso do seu parceiro ou olhos
afetuosos ou voz afetuosa? Para uma emoção tão procurada, o amor certamente
vem com muitas perguntas sem resposta.
Sebastian abaixa a cabeça. — Eu deveria liderar esse time, mas não consigo
nem convencê-los a gostar de Emir. Não posso dizer a eles que eu gosto de Emir.
— Ele olha para a grama esmagada perto de suas chuteiras. — Falamos sobre
aceitação, mas é diferente quando você está na posição de dizer a esses caras
como ser homens.
— Você não está ensinando a ninguém sobre a masculinidade, — diz o
treinador. Então, com uma voz calma e firme, — E você com certeza é mais do
que apenas sua sexualidade para eles.
Sebastian ignora seu batimento cardíaco irregular. Ele se concentra nas
palavras do treinador e na expressão serena, mas séria em seu rosto.
Isso é mais do que um discurso.
— Quando Xander foi expulso… — o treinador fez uma longa pausa. Ele
nunca fala sobre seu sobrinho. — Xander é tão inteligente e um Patrick, o que o
torna ainda mais bonito.
A risada de Sebastian vibra profundamente em seu peito.
O treinador olha o pôr do sol. Ele sempre tem um monólogo ou pelo menos
uma citação no bolso de trás para qualquer ocasião. Mas agora ele está
procurando por algo. — As coisas não abalam Xander. Ele sabe quem é, sempre
soube. Quando ele decide algo, ele o faz porque está em cada pedaço de sua
alma.
A grama espinhosa desliza entre os dedos de Sebastian enquanto suas mãos
percorrem o campo. Ele mataria por um pouco dessa certeza.
— Ele sabia que era gay. Não foi uma pergunta ou uma decisão, — diz o
treinador. — E ele não escondeu isso do meu irmão, da mãe dele ou de mim.
— Uau.
O treinador ri, melancólico, e então ele fica sério novamente. — Ele se
questionou quando foi expulso do time. Ele se escondeu. Ele não queria se
assumir e ter orgulho disso ou mesmo reconhecer sua sexualidade. — O
treinador funga, e Sebastian dá a ele privacidade por não encontrar seu olhar. —
Pela primeira vez, meu sobrinho não tinha certeza de quem ele era.
Um mal-estar familiar aperta o estômago de Sebastian. Está quente, mas um
suor frio está se aproximando. Ele não sabe como o treinador consegue
continuar.
— Devo dizer a todos vocês com mais frequência porque faço deste time um
lugar seguro para qualquer pessoa considerada diferente.
— Nós sabemos.
O Treinador inclina a cabeça. Ele está falando sobre mais do que apenas
Sebastian, mais do que Willie e Mason. É qualquer um que recebe um rótulo,
que está previsto para falhar por causa das regras da sociedade, por causa de um
estereótipo.
— Não é fácil ser o único treinador no distrito que defende caras como
Xander, — diz o treinador, queixo erguido. — Eu não deixo um garoto sair do
meu time sem a chance de ser ele mesmo, seja ele gay ou bi ou trans ou qualquer
outra coisa. Eu também ouço merda por isso.
Sebastian ouviu falar dos treinadores que se recusam a olhar o treinador
Patrick nos olhos e os pais e professores que chamam o treinador de "um
apoiador dos pecadores que queimará no inferno."
— Fiz uma mudança, garoto, — diz o treinador, suspirando. — Eu não estava
fazendo o suficiente para garantir que meu sobrinho, ou qualquer pessoa,
soubesse que esta vida não é definida por quem você se apaixona.
Sebastian quer cair de costas, olhar para o céu que escurece e digerir tudo isso.
Você não é definido por quem você se apaixona. É um slogan para um pôster ou
uma camiseta, mas, puta merda, diz muito. Sebastian pode ver, em um
Technicolor vibrante, a única coisa que falta para ele: respeito. Não aceitação.
Porque isso significaria que Sebastian quer que as pessoas o aprovem. Aprovem
sua afeição pelo Emir. Ele não está procurando por essa marca de
reconhecimento.
Ele quer que as pessoas o respeitem, independentemente de por quem ele se
apaixone.
— Eu faço isso por Xander. É a coisa certa a fazer. — O braço do treinador
cai dos ombros de Sebastian. Ele se reclina, com as mãos apoiando-o e diz: —
Não estou procurando por santidade. Isso é sobre pessoas como você, que
precisam saber que você é muito mais do que imagina.
Sebastian apoia o queixo nos antebraços. O treinador está certo. Ele não diz a
eles com frequência suficiente por que faz isso.
— Como está Xander agora?
O treinador sorri amplamente. — Ele tem namorado e está na faculdade
pública. O melhor da classe, no time de basquete. — Ele ri. — Eu não consegui
fazê-lo se transferir para a BHS, no entanto.
— Claro.
O treinador geme, senta-se corretamente e agarra sua prancheta. — Você
conquistou o respeito e o apoio deles; essa é a menor das suas preocupações. —
Ele fica de joelhos, depois de pé. — Mas se você não for honesto com eles e nem
consigo mesmo sobre Shah, perderá o respeito deles.
Sebastian fica tenso.
— Eu não tolero relacionamentos românticos no time. — O treinador tem
aquela expressão firme, "Eu sou o adulto" novamente. Em seguida, ele suaviza
quando ele diz: — Mas se você se preocupa com alguém, siga seu instinto.
Sebastian mastiga um sorriso estranho. Ok, falar sobre Emir com o treinador é
muito estranho, mas não supera ser pego pela mãe dele. Nada supera ser pego
por seus pais fazendo alguma coisa.
— Ok, treinador.
O treinador tira a poeira do short e vai embora. Quando ele está fora de vista,
os ombros de Sebastian caem e ele solta um longo suspiro.
— Ok, fale.
Sebastian esfrega a mão no rosto. Willie e Mason pairam sobre ele, tontos
como crianças no Natal. Sebastian não sabe se deve desmoronar ou acabar com
sua miséria. Ele opta pelo último.
— Eu sou o capitão, — diz ele, e não consegue fazer isso sem arrepios nos
braços.
— Mentira, — diz Mason, acusador. — Capitão Hughes?
Sebastian balança a cabeça, e então grita de tanto rir quando eles o perseguem.
O cotovelo de Mason bate em suas costelas. Willie ajoelhou-o na coxa. Sem
fôlego e suados de tanto lutar, eles se deitam na grama que coça.
— Ai.
— Vocês são péssimos, — reclama Willie. — Piores amigos de todos os
tempos.
O céu está em chamas, todo carmesim e laranja. A respiração deles não está
sincronizada, mas pode muito bem ser. Mason está à sua esquerda, Willie à sua
direita. Finalmente bêbado no verão, Sebastian enfia as mãos atrás da cabeça.
Depois de muito silêncio, conversas aleatórias acontecem, começando com a
admissão grosseira de Willie sobre sua paixão por Hunter. Ok, é
repugnantemente fofo. E é o segredo mais mal guardado do mundo agora.
— Duh. — Mason revira os olhos. — Vai pedir a ele para ser seu namorado?
Willie fica vermelho, mas ele já está queimado de sol, então é quase
imperceptível. Ele sussurra: — Talvez.
Sebastian pode imaginar Willie e Hunter sendo aquele casal no baile:
combinando cartazes de campanha, carinhas se beijando para a coroação, um
momento iluminado de última dança no final da noite. Ele diz: — Will vai ter
um namorado do ensino médio.
— Tanto faz, — diz Willie, rindo como se estivesse apaixonado. Ele muda de
assunto: a vida após a formatura, a favorita de Sebastian! Mason ainda está no
barco de Michigan, possivelmente adiando seus sonhos de *MLS por alguns
anos. Willie está inclinado para uma faculdade técnica.
Sebastian olha para as nuvens que se desvanecem. Ele pode dizer a eles, mas
não o faz.
— Eu acho que, — Mason para, coçando o nariz. — Eu quero convidar
Patrick para sair.
— Patrick Wiggins, do time de atletismo? — pergunta Sebastian.
Willie engasga, — Espere, o treinador Patrick?
Mason bate a palma da mão na grama. — Não, idiota, Grace.
O queixo de Willie cai, e Sebastian tem que lhe dar uma cotovelada antes que
Willie se recomponha e diga: — Oh, sim. Certo. Grey Patrick... a garota que
você odeia?
— Eu não a odeio.
— Hum, odeio te dizer isso, cara, mas...
Mason o interrompe. — Eu gosto dela e sou um idiota, ok?
— Gosta mesmo dela? — pergunta Sebastian, para confirmação.
Mason vira a cabeça, olhando feio. Ele pode socar Sebastian, mas não antes de
dizer: — Eu errei. Mamãe me mataria se soubesse que agi assim com uma doce
garota. — Ele baixa os olhos. — Acho que sou como meu pai.
— Você não é, — diz Sebastian. O ombro de Mason relaxa contra o dele. —
Todos nós erramos, mas você não é ele.
— Palavras sábias de Sebastian, o Grande.
Deixando os apelidos legais de lado, Sebastian não hesita em dar um soco no
ombro de Mason. Ele é um idiota, mas está melhorando. Talvez Grey lhe faça
algum bem?
Willie, por outro lado, é um traidor de sua espécie. Sebastian sente que o
próximo tópico chega como o assassino em um filme de terror. Willie abre sua
boca grande. — Então, o que há com você e Shah?
Sebastian aperta os olhos com tanta força que pode atirar lasers.
— Sim, — Mason diz, sorriso tortuoso em seu rosto, — vocês dois estão
namorando? Não minta para mim, cara.
Sebastian vira sua cabeça para o céu. Ele não pode mentir para eles. Willie
testemunhou um Emir seminu em sua cama. Mason está por perto há tanto
tempo que se tornou mais perceptivo sobre as besteiras de Sebastian do que ele
mesmo. Eles são seus irmãos, e esse peso que ele carrega apenas o deixa exausto.
As nuvens começam a se dissolver, deixando o céu um livro aberto, e Sebastian
pensa: por que não?
— Sim. Não. — Sebastian balança a cabeça; seus pensamentos são como um
trem descarrilado. — Fomos. Eu estraguei tudo, pra caramba. Eu só... — Ele
suga uma respiração ruidosa. — Não sei, mas tenho certeza de que não vai
acabar do jeito que eu queria.
Mason diz: — Você quer que eu bata nele?
Sebastian engasga com sua própria saliva antes de rir. Lágrimas mordem seus
olhos. Ele não tem certeza se é por causa da oferta de Mason ou do alívio.
Contar aos amigos sobre Emir é como se assumir. Como ficou tão pesado? Por
que as pessoas permitem que coisas tão preciosas para elas se transformem em
segredos sombrios e insuportáveis?
Os dedos de Willie são simultaneamente frios e perfeitos quando apertam o
cotovelo de Sebastian. — Quer que ajudemos? Podemos falar com Emir ou
Hunter pode.
— Não. — É um acidente quando as lágrimas escorrem dos cílios de
Sebastian. Quando ele se tornou uma rainha do drama? — Eu posso lidar com
isso.
— Olha pra você. — Mason assobia. — Você veio para o acampamento como
um perdedor e está deixando como um homem. Anota aí, Will.
Willie se estende por toda a extensão de Sebastian para socar o ombro de
Mason. Eles brigam como crianças brigando por um brinquedo, e Sebastian
suspira. Parte dele está submerso em culpa. Seus dois melhores amigos estão
dispostos a sequestrar e torturar Emir por ele. O que ele fez por eles? Ele não tem
sido um grande amigo enquanto eles lidam com suas próprias vidas românticas.
Mas então Willie diz: — Se você diz. Mas nós protegemos você, Bastian, — e
a realidade afunda seus dentes no cérebro de Sebastian. Às vezes, não há
problema em não ser o melhor amigo perfeito. Às vezes, seus amigos podem
cuidar de você.
Qualquer que seja a mola perversa que estava apertando seu peito, finalmente
se desenrola. Então seus olhos ficam um pouco turvos, mas ele não enxuga as
lágrimas. Estas são felizes, então está tudo bem. Ele não se importa se chorar não
é considerado viril. Quem escreve essas definições estúpidas de viril, feminino,
linda ou bonito, afinal?
— Bastian, cara, — diz Mason, como se tivesse sido atingido por uma
epifania. — Você gosta de Emir.
— Cale a boca, Mace.
— Emir Shah magro, quieto e descoordenado.
— OK. Ponto feito.
— Puta merda! Eu não vi isso vindo.
Mason está condenado a não ter amigos antes de se formar.
A fogueira é em algumas horas, e então eles farão as malas para voltar para casa
amanhã. Sebastian não quer se mover, e seus amigos também não fazem esforço
para se mover.
— Estamos perdendo o jantar, rapazes, — diz Mason em um sotaque lento e
preguiçoso.
— Sim, — sussurra Willie. Ele aponta para cima. O céu se estende até o
infinito, uma tapeçaria de todos os tons de roxo e azul, pontilhada por estrelas
fracas. — Mas não estamos perdendo isso.
As bochechas de Sebastian pressionam seus olhos.
Carinhosamente, Mason diz: — Maldito seja, Will, e sua boca poética.
26

AGOSTO PASSA NÃO OFICIALMENTE DEPOIS DE alguns dias passados preguiçosamente


em casa. Sebastian cria uma depressão confortável no sofá da sala e, sem pensar,
folheia os programas de TV enquanto seus pais vêm e vão. Lily faz Sebastian
ajudá-la no jardim ou assar biscoitos, qualquer coisa para passar mais tempo com
ele. Oliver dá um tapinha no ombro de Sebastian, fala sobre as negociações em
andamento na Premier League e o coloca em dia sobre as coisas que ele perdeu
enquanto estava no acampamento.
Carly o chama de vagabundo e empurra suas pernas para fora do sofá para
abrir espaço para ela. Ela sempre passa a mão pelo cabelo dele antes de roubar o
controle remoto. Hoje à noite, eles assistem Food Network. Carly pergunta: —
Tudo bem, filhote?
Sebastian dá de ombros.
— Como vai o aconselhamento?
Sebastian pisca e diz: — Muito bem.
Após o incidente de Carl e o discurso do treinador, Sebastian sabia que era
hora de falar com seus pais. Talvez não sobre tudo, mas alguns de seus fantasmas.
Não foi fácil. Quando é fácil contar a seus pais sobre suas inseguranças? Mas eles
foram pacientes, compreensivos; isso ajudou. As ligações de Carly ajudaram. E o
aconselhamento também ajuda.
— Foi bem. Muito bem, — ele repete.
— Algo mais?
Durante os telefonemas, Sebastian pensou em contar a ela sobre ser bi, sobre
Emir, sobre pirar totalmente com a formatura e o fim previsível de toda a sua
felicidade. Carly não é brilhante com conselhos, mas é sensata. Então, também,
ela vai chamar Sebastian de idiota da maneira mais adorável. Eles sempre foram
próximos.
— Último ano de colégio, — ele diz com um grunhido, e ela acena com a
cabeça conscientemente.
Carly passa para ele a tigela de pipoca e o controle remoto. — É só isso?
Sebastian hesita. Seu telefone vibra em seu bolso, mas ele não atende. Deve ser
Mason ou Willie. Carly o encara com olhos suaves e um sorriso torto como o de
seu pai. A respiração de Sebastian falha. Desde que chegou em casa, ele anda por
aí como um zumbi de Meu Namorado é Um Zumbi, e agora está finalmente
acordado.
— É sobre um menino? — Carly diz isso como se não fosse nada, como se
estivesse esperando.
E Sebastian apenas estremece e acena com a cabeça.
Carly acena também. Ela aperta a planta do pé dele e agarra um punhado de
pipoca com a outra mão. — Sim, isso é uma merda, — diz ela, voltando-se para
a TV. — Se você quiser conversar, sabe. Me liga, filhote.
Ela deixa por isso mesmo. Nada de sermões, nada de irmã de cara feia por ele
ser bi, ou por ser um idiota total sobre um garoto que não ligou ou mandou
mensagem desde o fim do acampamento. Emir nem mesmo tem o número do
celular de Sebastian. Ele nunca perguntou e Sebastian nunca deu.
— Mamãe e papai...? — Sebastian para, mal conseguindo dizer uma palavra.
— Não sabem. Mas me diga quando você for contar a eles. — Carly inclina a
cabeça, expondo sua expressão tortuosa. — Quero gravar e postar no Snapchat.
Sebastian joga uma almofada em sua cabeça. Ele se inclina, os pés apoiados na
mesa de centro, e finge que não está pensando em Emir.
Mas é tudo o que ele pensa.

***

NA PRIMEIRA SEGUNDA-FEIRA DE aula, Willie faz sua cirurgia. A última aula de


Sebastian é uma disciplina eletiva. Seu professor, um instrutor de ginástica idoso,
não se preocupa com a lista de chamada, então ele foge para pular no Honda
Accord de Hunter. Eles ultrapassam a rodovia em direção ao hospital, tocando as
listas de reprodução aleatórias de Hunter.
Hunter tem um sorriso trêmulo; ele é muito tímido para admitir que está
chateado com a forma como Willie está. Sebastian se sente da mesma maneira.
Mas ele conta piadas e Hunter ri. Suas mãos bateram no painel para que os
Fugees acompanhassem o início do iPod de Hunter.
— Boa escolha, mano, — diz ele, maravilhado.
Os dedos de Hunter eventualmente relaxam no volante, criando um estranho
efeito de borboleta em Sebastian até que ele fique maduro nele também. Por que
ele e Hunter não saíram antes?
— Se importa se eu entrar primeiro?
Eles estão no saguão principal, de costas para a enfermeira mal-humorada que
lhes deu a mesma conversa de merda sobre não serem "familiares ou entes
queridos". Hunter é encantador quando se trata de falar com adultos. E
Sebastian, em sua roupa esportiva de Bloomington, consegue dar um grande
sorriso de escoteiro.
— Não. — Ele bate no braço de Hunter, empurrando-o, mas ganhando um
sorriso. — Ele é todo seu.
A pele de Hunter está um pouco mais escura graças ao verão, mas o leve rubor
florescendo em suas bochechas se destaca. — Tudo bem, — ele diz, esfregando a
nuca. — Não vou demorar.
Sebastian mexe as sobrancelhas sugestivamente, diz: — Não tenha pressa, — e
é repreendido pela enfermeira por rir muito alto quando Hunter tropeça durante
a fuga.
Cadeiras confortáveis laranja-abóbora estão colocadas em um canto da sala de
espera. Sebastian põe os pés em uma mesa cheia de revistas de celebridades
enfadonhas. Ele puxa o laptop e os fones de ouvido da mochila e assiste a vídeos
no YouTube.
De acordo com uma confissão muito tímida no elevador, Hunter e Willie são
namorados agora. Sebastian não consegue esconder seu orgulho.
Willie está feliz que ele achou uma onda que quer surfar ao longo da vida. Sua
autoconfiança se mostra na maneira como ele ignora qualquer pessoa que o olhe
de soslaio por ser um garoto branco muito loiro namorando um negro muito
fofo. Willie não dá a mínima. Ele dá um dedo médio para qualquer um que exija
que ele seja do jeito deles. Talvez ele possa ensinar a Sebastian como ser fodão
assim?
— Ele está pronto para ver você, — diz Hunter. Ele está amassando um texto
no celular, com as sobrancelhas franzidas. Ele coloca o telefone no bolso. —
Desculpe. Meus pais ainda não sabem tudo sobre Willie.
— Ah.
— Eu vou dizer a eles, — diz Hunter rapidamente.
Sebastian levanta as mãos, as sobrancelhas levantadas. — Tá legal. — Na
verdade, é um alívio que ele não seja o único que carrega segredos por aí.
Sebastian se levanta e arruma suas coisas. — Eu prometo ser rápido, — diz ele,
dando tapinhas no ombro de Hunter.
Hunter cede, mas sorri. Ele agarra o cotovelo de Sebastian antes que ele possa
ir muito longe. — Escuta, — ele diz sério. — Eu tenho algumas aulas com Emir
e… — Hunter está protelando. — Eu sei o que é se apaixonar por alguém, e é
tudo confuso.
Sebastian murcha. Willie contou a Hunter sobre sua paixão por Sebastian?
Isso é outra coisa? Talvez Hunter sempre esperou para Willie notá-lo.
O telefone de Hunter vibra e o coração de Sebastian bate com seu barulho.
Ele diz: — Não sei como é, Hunter, estar apaixonado.
— Você sabe que não é fácil descobrir, certo? Não é durante uma noite. E isso
não acontece só porque você está com alguém há anos. É somente esse
sentimento. Eu não acho que o amor é algo que se saiba como funciona. — O
polegar de Hunter esfrega a curva do cotovelo de Sebastian.
— Então o que é o amor?
Os olhos de Hunter brilham. — Se você está assistindo Scooby Doo e pensa em
alguém porque é seu desenho animado favorito. Se você é alérgico a farinha, mas
ainda come panquecas queimadas de alguém. Ou se você odeia a cor verde, mas
a usa porque ela lembra os olhos de uma pessoa antes de beijá-la – bem, isso
pode ser amor.
Sebastian sorri impotente. Hunter é mesmo um jovem de dezessete anos?
— E se você algum dia contar a Will sobre isso, vou usar seus testículos para a
prática de embaixadinhas, — avisa Hunter. Ele dá um aperto amigável no braço
de Sebastian.
— Entendi.
Sebastian vai embora com um pensamento: Willie e Hunter são perfeitos um
para o outro.

***

— BEM, ESSA COISA DE CAPITÃO COMBINA muito bem com você, — Zach diz
depois de outra prática exaustiva.
Sebastian mal consegue manter os olhos abertos. — Você acha?
Zach desaba ao lado de Sebastian na área do pênalti e lhe dá uma garrafa de
água antes de abrir a sua.
Sebastian arrasta a garrafa no rosto. O alívio que vem da condensação fria
misturada com suor pegajoso é grande.
— Você certamente está causando uma boa impressão, — diz Zach. —
Rollins tem uma queda por você.
Sebastian praticamente engasga com seu primeiro gole de água. — Ele não
tem! — Ele espera que Rollins realmente não tenha. Rollins é um calouro e ele
fica embaraçado quando chega a hora de manter uma conversa.
Zach dá de ombros. — Talvez não. — Ele bebe mais água e diz: — De
qualquer forma, estamos parecendo muito bons.
E eles estão mesmo. É seu último treino antes do grande jogo de sexta-feira e,
embora já se tenham passado três semanas do ano letivo, o time está arrasando
com tudo que o treinador Patrick joga neles. A defesa ainda tem alguns buracos
– seus laterais tiveram oportunidades – mas nada com que Sebastian não possa
viver. A sinergia deles está no ponto.
— Nós somos aceitáveis, — Sebastian diz, secamente. Zach o empurra.
Sebastian se inclina, se segura com o cotovelo e ri.
— Dê uma olhada naquele cara, — diz Zach, apontando com a cabeça para a
lateral onde Willie, de muletas, carranca e tudo mais, ensaia o ataque. — Ele está
se recuperando bem.
Sebastian tem certeza de que é principalmente por causa de Hunter. Mas
também é porque o treinador tem incentivado o envolvimento de Willie nos
bastidores. Ele não está deixando Willie se afogar em autocomiseração, não do
jeito que ele fez naqueles primeiros dias. Eles chamam de depressão pós-operação,
e Willie teve bastante disso. Ele se isolou, fechou o mundo para fora e não olhou
nos olhos de Sebastian quando ele o visitou.
Agora ele está de volta, e todos os treinadores o tratam como se ele fosse um
membro do time em vez de um jogador no banco. É óbvio que o time o respeita.
E ele tem dominado essa coisa de ser treinador.
— É melhor não deixar subir para a cabeça dele.
— Mas vai. — Suprimindo uma risada, Sebastian sacode a água. Mason vai
ser o primeiro a estourar a bolha de Willie. Sebastian está ansioso por isso.
— Cara. — Zach cutuca Sebastian com o cotovelo. — Emir é uma fera.
Sebastian cruza os tornozelos e coloca as mãos no colo. Ele sussurra: — Sim.
Emir se tornou um monstro no arremesso. Ele é o pior pesadelo de todos os
atacantes, incluindo Mason. Ele ultrapassa todos e tem uma boa leitura do
próximo movimento de um jogador. Ele protege o gol como se fosse seu, como
se estivesse determinado a manter as pessoas longe de Sebastian. Seria lisonjeiro,
mas eles ainda não estão se falando.
Zach bate em seus ombros. — Eles estão dando crédito a você por essa
reviravolta. Isso te dá muito respeito, Bastian.
Sebastian levanta as sobrancelhas. Ele fez alguma coisa por Emir? Hoje em dia,
tudo que ele faz é dar um sinal de positivo para Emir toda vez que faz uma boa
jogada em campo. Sebastian é um covarde. Ele deveria estar gritando "Eu te
amo" como exige um bom filme dos anos 80. Sebastian não é Jake Ryan.
Mesmo agora, Sebastian está mal, olhando para Emir em seu uniforme de
treino enquanto Emir se apoia em Hunter ou conversa com Gio. Seus olhos
examinam as panturrilhas tonificadas de Emir, sua cintura estreita, seus ombros
largos e aquele pescoço longo e magro.
Que perdedor apaixonado! Tudo o que ele precisa fazer é parar de ficar tão
mal-humorado e dizer tudo isso ao Emir. Ele termina sua água.
— Nós vamos conseguir, cara, — diz Zach, oferecendo a Sebastian um soco
no punho. Ele retribui e se concentra no que está por vir.
Os espartanos vão virar pó.
27

SEBASTIAN NÃO ESTÁ SE ESCONDENDO.


Ele está chamando isso de meditação, encolhido em seu velho moletom do
Lions, que agora cheira a Emir, com os joelhos puxados contra o peito. Sua
bunda está dormente por estar sentado nas arquibancadas de pedra fria do
estádio.
O John P. McKee Stadium, em frente a Bloomington High, pertence à
faculdade comunitária local. É um coliseu construído para gladiadores. E porque
o time de futebol do BHS é péssimo, a faculdade aluga o estádio para os jogos
em casa do time de futebol. Possui campo de atuação de nível universitário,
vestiários reformados e espaço suficiente para acomodar toda a cidade nas
arquibancadas.
É legal o suficiente para que a respiração de Sebastian seja visível quando ele
exala. Ele estuda o campo. Muitos sonhos se tornam realidade naquela faixa de
verde e branco. No ano passado, muitos sonhos foram destruídos lá também.
Sebastian pega seu telefone, digita o código e então olha para ele. Seu papel de
parede é uma foto do perfil de seu inimigo jurado: o atacante estrela de St.
Catherine, Dawson. O cara está definido para os profissionais; ele é tão bom. —
Idiota, — Sebastian sussurra. Ele guarda a foto como um lembrete. Ele não será
derrotado por Dawson este ano.
Sexta-feira, todo mundo vai lembrar seu nome.
— Uau, este lugar com certeza é estranho quando não está cheio de pessoas
torcendo por você. — Lily se acomoda ao lado dele. Suspirando
melancolicamente, ela deixa cair a bolsa no colo.
Sebastian coloca o telefone no bolso. Normalmente, após o treino, ele pega
uma carona com Mason. Hoje, Sebastian precisava ficar sozinho.
Lily cutuca sua bochecha e pergunta: — Ok, o que te deixou triste, Bumble
Bee?
Ninguém está por perto para ouvi-la, mas Sebastian ainda está um pouco
envergonhado. Ela não hesitará em usar o apelido publicamente. Os pais dizem
as piores coisas quando uma multidão está por perto, como se ganhassem pontos
extras de paternidade por humilhar seus filhos.
— Bem, — Sebastian começa, mas Lily está usando sua cara séria, então ele
morde a língua.
O superpoder dela está vendo através de suas besteiras.
Ele diz, timidamente: — Estou com medo, mãe. Quando a temporada acabar,
não tenho ideia do que fazer. — Seu destemor inesperado supera o suor que
brota em seu couro cabeludo. — Não sei se quero ir para a faculdade, muito
menos para onde. Tudo o que tenho é esse esporte e os caras. Depois disso, estou
perdido.
Lily cantarola, e aí vem: a conversa sobre como a faculdade é importante e que
a vida continua depois dos esportes. Mas Lily é uma força imprevisível da
natureza. Ela pergunta: — O que há de errado em estar perdido?
Sebastian ri. Atrás de seus cílios há uma queimadura de agulha. — Está
errado, mãe. Eu deveria estar ansioso para a faculdade, para jogar em um time
profissional.
— Mas por quê?
— Porque...
Lily levanta a mão e a boca de Sebastian se fecha. Ela diz: — Bastian, você
pode fazer o que quiser, quando quiser. A única coisa que você precisa fazer na
vida é vivê-la. — A mão dela cobre a dele, apertando. — Vá para a faculdade,
corra atrás dos seus sonhos de ser um atleta profissional. Ou tire um tempo,
encontre-se e seja um "adulto" mais tarde.
Sebastian pisca com força.
— Só porque as pessoas criam regras não significa que essas sejam as suas
regras. Eu não sigo essas regras; nem seu pai.
Sebastian funga. Uma lágrima escapa, forçando-o a inclinar o queixo.
Lily cacareja para ele. — Você honestamente acredita que Mason e William
não vão te caçar para ter problemas após a formatura? — Ele encolhe os ombros
e ela franze a testa como se não pudesse acreditar nele. — Esses meninos são
implacáveis. Graças aos céus, paramos de ter filhos depois de você, porque agora
tenho três filhos quando só pedi um.
Sebastian sabe que ela está certa. Mason encontrará uma maneira de fazer com
que ele seja preso e Willie vai pagar a fiança.
— Este é o seu último ano. — Lily tem um dedo sob seu queixo; seu polegar
enxuga uma lágrima. — Deixe a vida te levar. Todos os planos que fazemos não
são garantidos.
— Mas...
Ela interrompe. — O colégio é como o céu noturno. É lindo. Em alguns
momentos, você fica pasmo. Mas é escuro e infinito, o que pode ser assustador
também. Quando as estrelas caem, o que resta?
Sebastian encolhe os ombros, sua visão turva.
— O sol, — ela diz, rindo. — A escuridão vai embora, mas o sol aparece e
você começa de novo. Portanto, deixe o ensino médio acontecer e,
eventualmente, você iluminará o resto de sua vida. Queime tão brilhante quanto
você quiser. A coisa maravilhosa sobre o sol é que ele está sempre lá. As pessoas
não precisam ver você para acreditar que você estará lá.
O batimento cardíaco de Sebastian diminui. Ele esfrega a manga sobre os
olhos úmidos. A mãe dele é incrível. O futuro está nebuloso, mas tudo bem. Ele
pode levar a vida onde quiser, e seus pais, Willie e Mason o apoiarão.
— Eu estava pensando em Nova York. — Nova York é enorme e nada como
Bloomington. — O treinador diz que algumas faculdades estão interessadas em
mim e, se isso não der certo, posso conseguir um emprego até resolver isso. —
Ele faz uma pausa, esperando sua desaprovação.
Lily aperta seu ombro. — Perfeito, você pode me levar para fazer compras, e
papai vai adorar os cafés. Estou dentro. — Seus olhos se enrugam; ela está feliz.
— E leve sua irmã com você. Ela está me deixando louca.
Sebastian pode imaginar: um apartamento barato com grandes janelas com
vista para a cidade. Talvez ele faça um teste para os Red Bulls, ou ele pode jogar
para os Ramblers. Ele leu alguns panfletos. Jogar para a International Gay and
Lesbian Football Association, estar envolvido em um time da comunidade
LGBTQ, soa muito bom. O treinador Patrick aprovaria.
Não lhe escapa que Emir quer ir para Nova York também. Então, talvez ele
sonhe acordado com eles morando juntos, compartilhando M&M enquanto
estudam na cama. Isso é apenas uma quimera agora.
— Então, — diz Lily, que também é meio vidente, — aquele era o filho de
Raj Shah que eu vi no estacionamento no caminho?
Oh Deus. O corpo de Sebastian fica tão tenso que seu maxilar estala. A boca de
Lily se torce em um sorriso muito curioso, um sinal de que ela está blefando,
então ele diz timidamente: — Ele está no time este ano.
Lily se anima. Ela bate palmas. Seus olhos estão enrugados, como Sebastian
fica quando está nas nuvens com alguma coisa. — Ah, eu amo aquele menino!
— ela comemora. Então, com uma voz cuidadosa, ela diz: — Sempre achei uma
pena que vocês dois parassem de se ver quando eram mais jovens.
Eu também.
— Vocês dois conversam?
— Sim, mais ou menos. Nós somos amigos.
— E?
— Sobre isso, — Sebastian faz uma pausa, piscando tanto que pode chorar.
Ele está tentando tossir um pouco de bravura, apenas dizer as palavras, e não
surtar.
— Bastian?
Ele respira fundo. Tudo o que ele precisa fazer é revelar para sua mãe. Dizer a
ela o quanto seu coração dói por um cara. Ele sabe que Emir se assumiu para
seus pais. Eles falaram sobre como a família de Emir é solidária e como Emir
teme que sua religião atrapalhe, mas não atrapalhou. Ele ainda é um Shah, tão
importante para eles como sempre.
Os nervos de Sebastian estão em suas amígdalas, mas ele consegue, — Emir é
tudo em que penso. — Quase lá. — Não como um amigo, mãe, mas…
Começamos algo, durante o verão, e não deu certo.
Seu corpo trêmulo quer se enrolar. Lily pousa a mão na nuca dele e diz: —
Você não pode fazer nada para consertar isso?
O coração de Sebastian bate como um animal selvagem. Ela não está
desapontada ou com raiva. Ela está preocupada. O filho dela admitir que é
bissexual não é o apocalipse; não, é o filho dela sem a pessoa, o garoto que ele
ama, que a entristece.
— Talvez. — Ele encolhe os ombros com cansaço. — Espero que sim. Eu não
sei, mãe, mas eu o amo.
E aí está. Ele disse isso em voz alta, e ele realmente quis dizer isso.
O estômago de Sebastian dá um salto mortal. Os olhos de Lily estão
arregalados, como se tudo que ela quisesse fosse ajudar Sebastian a resgatar Emir,
como se ela fosse amá-lo, não importa quem ele ame.
— Oh, Bumble Bee, você é perfeito demais. — Seus dedos enxugam suas
lágrimas. — Eu sabia que o que vocês dois tinham era especial. Quando
crianças, vocês eram inseparáveis. Seja o que for, as coisas têm uma maneira de se
resolver.
Sebastian é contra ter um momento Taylor Swift oh-my-god. Ele esfrega as
costas da mão sobre os olhos e se senta mais ereto. — Você acha?
— Querido, o universo é um lugar bizarro. Naquela época, Emir olhava para
você como se você fosse um sistema solar. Tanto para ver! É o destino.
Sebastian ri. Nada disso é engraçado, mas puta merda, é hilário. Ele acabou de
se assumir para sua mãe. Ele tem marcas de lágrimas em suas bochechas e quer
uma dose enorme de vaca preta. É como se o maldito mundo inteiro soubesse
antes de Sebastian que ele estava sozinho sem seu melhor amigo, que ele está
apaixonado por Emir.
— Bem. — Lily cutuca o lado dele e pergunta: — Ele sabe?
— Acho que não.
— Diga a ele!
Parece fácil. Quão difícil pode ser dizer três palavras quando ele já estragou
tudo por não dizer nada?
— Obrigado, mãe.
Ela o aperta. — Eu amo você, Bastian, e eu realmente amo aquele menino
também. Se recomponha, porque quando eu visitar você em Nova York, espero
que ele se sente bem ao meu lado em todos os seus jogos.
28

PURO, O PÂNICO QUE LHE DEIXA A SEGUNDOS DE VOMITAR atinge Sebastian uma
hora antes do jogo de sexta-feira. O estádio está lotado de ponta a ponta. O
futebol de Bloomington é a verdadeira atração para os locais. Ninguém perde
um jogo em casa.
— Estamos prontos, — ele sussurra para si mesmo, andando pelo túnel fora
dos vestiários. Ele não pode sentar. Ele está muito nervoso, ansioso e delirando.
Este é o seu ritual antes do jogo, e ninguém o perturba, ninguém exceto Grey.
Ela fica enfiando a cabeça para fora do escritório do treinador. Seus grandes
olhos verdes recifenses o encaram; sua boca está franzida como se ela fosse dizer
algo.
— Estou bem.
Ela acena com a cabeça uma vez e depois desaparece.
Sebastian abre as mãos, balança os dedos e volta a andar. Ele não trouxe seus
fones de ouvido, então ele não pode ouvir The Killers e dar a si mesmo algo para
transferir toda sua inquietação. Ele esfrega as chuteiras no cimento e reza para
que seu estômago pare com o bate e volta que esteve acontecendo o dia todo.
— Cara, não acredito que você não sabia a resposta para essa pergunta.
— Não acredito que você não me avisou sobre a prova de hoje.
Sebastian recua com as vozes. É Hunter e Emir. A risada deles precede sua
caminhada lenta no corredor. As sombras criadas pela pouca iluminação tornam
mais fácil para Sebastian ficar para trás, grudando-se na parede. Ele está
trabalhando para dizer algo a Emir. Ele simplesmente não chegou lá ainda. E
ensaiar "Olá" e "Eu te amo" no banheiro todas as manhãs não está ajudando.
Hunter bagunça o cabelo de Emir. — Alguma coisa te distraindo
ultimamente, Shah?
— Sim, fazer você parecer um perdedor em campo!
Sebastian bate com a cabeça na parede. Droga, ele sentiu falta da risada rouca
de Emir. É uma pena ele não ter coragem o suficiente para que ele possa
simplesmente dizer isso a ele.
Mais acima, uma porta se abre e sai da tangente três dos defensores de St.
Catherine. Sebastian só reconhece um: o maior rival de Mason, Cole Henry.
Dois brutamontes o flanqueiam. Um tem cabelo castanho dourado desgrenhado
e um sorriso feio, e o outro, um cara magro, tem a barba por fazer e olhos verdes
como a grama da primavera. Sua camisa diz MICHAELSON, mas sua carranca
diz "Babaca de primeira".
Eles avançam, bloqueando Emir e Hunter.
— Vejam o que temos, rapazes, — diz Cole. — Se não é o time de maricas de
Bloomington.
O vestiário ecoa com suas gargalhadas. Sebastian fica tenso. Seus dedos suados
se fecham em punhos. Ele está acostumado com times trocando provocações. É
tudo estratégia, como qualquer outro esporte. Inferno, Carl ou Zach fazem isso
com os jogadores com frequência. Se você conseguir entrar na cabeça de um
inimigo, a vantagem é toda sua. Mas esses idiotas estão decididos a outra coisa.
Michaelson diz: — Os rebeldes do arco-íris, certo?
Shaggy dá um soco em seu ombro. Ele olha para Emir e depois para Hunter.
— Cuidado, eles podem chamar seu treinador que monta unicórnios para nós.
Todos eles uivam e a mandíbula de Hunter fica tensa. Emir, por outro lado,
está animado, olhos negros com finas bordas cinza. Sebastian tem certeza de que
Emir vai derrubar um deles, e então ele estará fora do jogo, acabando com
qualquer chance que eles tenham na defesa. Claro, Sebastian também vai parar
no banco, se algum desses idiotas levantar um dedo contra Emir.
— Afaste, — diz Hunter, rispidamente.
Cole entra em seu espaço. — Ou o quê? Você sabia que joga por um time de
homossexuais? Sua mãe sabe disso quando você chega em casa coberto de...?
— Cai fora, — Emir rosna. Seus ombros estão rígidos; suas narinas se dilatam.
Michaelson e Shaggy se inclinam para frente, mas Cole abre os braços,
mantendo-os para trás. Ele ri. — Oh, você tem coragem. — Sua cabeça ergue.
— Aposto que você faz bom uso dela, certo?
— Que sotaque adorável, — brinca Michaelson.
Cole lambe os dentes. — Sim, ele tem mesmo. De Londres talvez? — Ele está
na frente de Emir agora. — Você gosta de jogar com um time cheio de fadas?
A pele ao redor dos olhos de Emir fica rígida. Ele solta um longo suspiro, mas
não recua.
O coração de Sebastian está acelerado. Ele poderia aguentar contra Cole.
Talvez os outros dois também. Eles são pura conversa, nada de ação, uma marca
registrada de St. Catherine. Ele só precisa chegar perto o suficiente para...
Outra porta se abre, do vestiário de Bloomington, e sai Zach. Ele para,
avaliando a situação. Então, ele sorri como um lobo. — Bem, o colégio de St.
Catherine para os Pobres e Desavergonhados, — diz ele, e, em dois passos, ele
fica entre Cole e Emir. Depois de um tempo, Cole dá um passo para trás.
Sebastian ainda está tenso, pronto para atacar.
— Isso é uma conversa estimulante antes do jogo? — Zach pergunta. Ele
inclina os olhos para Cole. — Você precisa de alguns conselhos de nosso novo
líbero estrela sobre como fortalecer sua defesa de merda?
Cole faz uma careta. — Você vai perder, Keating.
— Hmm, essas são palavras provocadoras para a partida ou você está
flertando?
As mãos de Cole se fecham em punhos. Michaelson e Shaggy rosnam atrás
dele. Zach se balança nos calcanhares enquanto Cole fica vermelho, bufando.
— Para um colégio cheio de idiotas mauricinhos, você está com certeza
preocupado demais com a vida sexual do meu time. — A postura de Zach está
totalmente rígida. — Quer entrar no time também?
— É melhor seu bando de bichas...
É isso. É tudo que Zach precisa antes de estar no rosto de Cole, peito a peito,
narizes quase se tocando. Ele rosna: — Diga um pouco mais alto, idiota. — Seu
sorriso se inclina para o psicótico. — Isso mesmo, alguns dos meus manos são
gays ou bi, e eles podem acabar com vocês com os olhos vendados.
Cole se encolhe enquanto Michaelson e Shaggy empalidecem e se afastam.
Zach diz: — Da próxima vez que quiser falar merda com meus irmãos, faça-o
com confiança. — Ele aponta para trás de si mesmo. — Shah e Hunter? Eles são
família, e eu vou acabar com qualquer um de vocês bichinhos de colégio
preparatório que mexam com eles, ok?
A boca de Cole está fina, trêmula. Ele lentamente dá um passo para trás. Ele
sinaliza para Michaelson e Shaggy com um movimento de cabeça; seus
resmungos são diminutos no corredor enquanto eles saem pisando duro.
Zach se vira, os olhos brilhando. Ele ainda está se deliciando com a covardia
deles. Ele é tão ameaçador. — Idiotas. — Ele aponta o queixo para Hunter e
Emir. — Ei, da próxima vez que vocês quiserem brigar, me avisem.
— Eu poderia ter lidado com eles, — protesta Emir.
Zach pega a nuca de Emir com uma grande mão e o puxa para frente. — Eu
sei, Shah. — Seu sorriso se contrai. — Mas eu estou morrendo de vontade de
derrubar um desses idiotas desde que era um calouro. Eles me chamaram de
bastardo porque minha mãe deixou meu pai. Isso entrou na minha cabeça, então
eu devia essa a eles.
A boca de Sebastian está seca. Zach simplesmente se abriu para alguém que
não fosse Sebastian, para Emir, de todas as pessoas. Zach nunca fala sobre sua
mãe.
— Obrigado, Keating.
— A qualquer hora, Shah.
Zach arrasta Emir para um mata leão. Emir luta de forma divertida, embora o
tamanho de Zach o domine. Hunter se junta a eles, pulando nas costas de Zach.
Todos eles tropeçam no vestiário com um baque.
Sebastian afunda contra a parede. O concreto está frio contra sua bunda. Ele
puxa os joelhos contra o peito. — Cara, — ele diz baixinho, — essa é a minha
vida?
Ninguém responde, é claro.
O coração de Sebastian finalmente desacelera para um baque letárgico e ele ri.
É uma daquelas gargalhadas de vilões de filmes, reverberando nas paredes. Grey
espreita a cabeça dela, mas ele não se importa. Ele acabou de testemunhar um
milagre assustador.
— Ok, — diz Grey, lentamente. — O jogo começa em vinte minutos.
Sebastian bate com a cabeça na parede para ter certeza de que não é um sonho.
Então ele acena para ela. Ele cantarola "Eye of the Tiger", porque os filmes de
Rocky são realmente mágicos.
Os Lions estão prestes a chutar o traseiro dos espartanos.

O VESTIÁRIO ESTÁ FRENÉTICO. Caras estão cheios de adrenalina, brigando,


empurrando uns aos outros, tirando toalhas. Alguns jogadores estão sendo
enfaixados para proteger contra dores ou ferimentos leves. Gio e Jack estão
envolvidos em um jogo furioso de punhos sangrentos. Rollins está pálido,
encolhido em um canto, dizendo Ave-Marias.
O equipamento de aquecimento é retirado; uniformes são vestidos. É
barulhento e fedorento e exatamente o tipo de atmosfera que Sebastian anseia
antes de um jogo. Ele ainda pode vomitar, mas no bom sentido, como se
estivesse descendo da montanha-russa mais rápida do mundo.
— Delson! Se afaste desse espelho e se vista, — Willie grita, se movendo mais
rápido do que qualquer garoto de muletas deveria.
Kyle o ignora e retorna ao seu reflexo, arrumando seu cabelo. — O treinador
Willie é mais durão do que o Rivera.
— E não se esqueça disso, — diz Willie por cima do ombro.
Mason está curvado, antebraços nas coxas, cabeça balançando, com o fio de
seu fone enrolado em um dedo. Ele tem um banco para si mesmo. Ninguém o
incomoda trinta minutos antes do jogo. Ele não encontra ninguém; ele entra em
uma zona.
Sebastian entende. Tudo sobre hoje é emocionante. É assustador e tão grande
que todos precisam de uma maneira de escapar por apenas alguns minutos. A
vida é assim: os momentos maiores e mais emocionantes podem fazer você
desejar que eles nunca aconteçam.
O treinador entra rapidamente, seguido por Grey, depois Rivera e O’Brien.
Ele diz, com a voz crescendo, — Ok, se juntem, Lions, — antes de voltar ao seu
discurso habitual antes do jogo. É cheio de palavrões e significativo.
Sebastian descansa contra seu armário.
Os olhos dos calouros são largos como um pires. Caras acotovelam para chegar
mais perto. O treinador não fala por nada. Se ele não vai inspirar você, ele fica
em silêncio. Ele não vai citar lendas mortas. Ele berra letras de rap, girando-as de
acordo com seu tipo de motivação. Sebastian nunca ouviu LL Cool J ser usado
de forma tão poética.
O treinador imobiliza Sebastian com os olhos. — Agora, vamos ouvir o
capitão Hughes.
Sebastian não se encolhe, embora seu coração reivindique residência em sua
garganta. Ele não está esperando aplausos ou tapinhas nas costas enquanto abre
caminho para a frente. Eles aumentam seus nervos. Ele sorri trêmulo para Willie,
então evita contato visual com Carl quando ele passa. Carl ainda é uma merda
na sola dos sapatos.
Quando Sebastian sobe em um banco, se elevando sobre seus colegas, as coisas
mudam. Isso o atinge como um choque elétrico. No sábado passado, ele comeu
pizza fria no café da manhã, se entregou a uma temporada inteira de American
Horror Story no sofá, comeu waffles no jantar e era apenas mais um dia. Hoje, ele
está jogando um de seus maiores jogos, testemunhou a reunião de seus amigos e
está olhando o garoto que ama bem nos olhos.
E é isso, a vida às vezes é apenas outro dia, e às vezes é momento após
momento após momento que só paralisa você se você deixar.
Sebastian não está deixando.
Mason diz, sorrindo: — Vamos, Hughes, nos inspire.
Sebastian esfrega a nuca. — Eu sou péssimo em discursos. — Ele faz uma
pausa; um professor certa vez disse a ele que apontar suas fraquezas o deixa
vulnerável ao público. — Todos nós sabemos do que se trata esta temporada,
certo?
— Ganhar o campeonato!
— Bem, sim, isso. — Sebastian pisca para Gio. — Além disso, se trata de
provar a nós mesmos, provar que a vida não é apenas sobre o que você realiza. —
Seus olhos encontram Zach, depois Willie. — Se trata de provar a si mesmo que
você pode fazer o melhor com o que recebeu.
Zach ergue o queixo.
— Não somos mais aqueles caras do acampamento. Esse é o nosso passado. A
última temporada também é nosso passado. Não define quem somos agora. —
Arrepios explodem em seus braços; seus olhos se enchem de lágrimas. Isso não é
apenas para Zach; é para Sebastian também. Ele não é seu passado, sua
juventude. Ele não é mais Bastian, o cesto de lixo. Essa é uma lição que ele
aprendeu com aconselhamento e conversas com sua família. — Nós decidimos
nosso futuro. Ninguém pode nos impedir, especialmente alguns espartanos
patéticos.
— Não precisamos vencer nenhum time, porque nós vencemos a nós mesmos.
Porque somos melhores do que todos eles. — Suas mãos estão trêmulas. Ele
limpa a garganta. O caroço de ansiedade derrete e ele diz: — Agora, quem somos
nós?
— Lions!
Willie é o mais barulhento. Ele manca para frente e se inclina para cima de
Grey.
— E o que vamos fazer?
— Matar os espartanos!
O treinador pigarreou e arrastou o dedo.
Sebastian segura uma risada. — Ok, talvez não matar, mas vocês protegerão
seu irmão. Se alguém machucar sua família, nocauteie ele… — Mais uma vez, o
treinador pigarreou e Sebastian disse, com um sorriso irônico, — ...legalmente,
por favor.
Uma cacofonia de risadas irrompe. A confusão recomeça e Sebastian salta para
o chão. Willie bagunça seu cabelo e Mason está ao seu lado. Ele está respirando
muito rápido, mas a pressa é incrível. Ele espia por cima do ombro.
No canto, Emir está olhando sem expressão. Então ele acena com a cabeça.
Sebastian morde a língua antes de dizer algo ultrajante.

O ESTÁDIO ESTÁ RUIDOSO QUANDO o time entra em campo. Nas arquibancadas,


um mar gigante de preto e ouro é manchado apenas por manchas ocasionais das
cores carmesim e amarelo do time de St. Catherine. Os arrepios de Sebastian
voltam. Os fãs ficam mais animados a cada passo.
Seus pais e Carly estão em seus assentos habituais, logo atrás do banco da casa.
Lily está gritando com tinta preta manchada em seu nariz. Sebastian enrubesce,
depois acena. Ele espera isso dela. O que ele não está pronto para é, duas fileiras
atrás de seu clã, Raj Shah e toda a família de Emir. As irmãs de Emir estão
segurando um enorme lençol branco com "NÓS AMAMOS VOCÊ BHAI!!!"
pintado em preto e dourado.
As bochechas de Emir estão queimando e ele cobre os olhos com a mão.
Quando a mão cai, Sebastian murmura "Bhai" e os lábios de Emir formam
irmão.
O rosto de Raj parece orgulhoso, em êxtase. Emir ainda não jogou um único
segundo e Raj já está nas nuvens.
As apostas atingiram um novo patamar.
29

SEBASTIAN AMA A MITOLOGIA GREGA, TODAS as histórias sobre heróis e lendas,


monstros e tragédias, romance e morte. Ele escreveu um artigo épico sobre Jasão
e os Argonautas. É a única razão pela qual ele passou na classe de literatura do Sr.
Gentry no segundo ano. Ele sabe que este jogo é um confronto entre titãs e
deuses olímpicos desde o primeiro lance.
Três minutos para o primeiro período, um espartano derrota Kyle com um
ataque brutal e ilegal. Kyle é levado embora, e o outro cara, Jeffries, leva um
cartão vermelho e recebe um high-five de Cole em seu caminho para o banco.
Os espartanos não vão cair sem levar metade dos Lions com eles.
Cain, um idiota, vem atrás de Kyle, mas as esperanças de Sebastian diminuem.
Kyle era uma de suas melhores ameaças ofensivas.
O jogo continua com um pouco menos de entusiasmo. Em seguida, Carl
derrota dois espartanos com um empurrão quando os árbitros estão seguindo
Mason em torno do campo. Ele dá um sorriso irônico para Sebastian. — Ops,
não vi eles.
Sebastian morde o lábio para manter o rosto sério. Ele ainda odeia a coragem
de Carl, mas ver o treinador de St. Catherine perdendo a cabeça na linha lateral
é muito engraçado.

É UM JOGO SEM GOLS na metade do primeiro período. Sebastian está tonto por
bloquear cinco das tentativas de St. Catherine. Mason pode não ter acertado um
gol ainda, mas seu ataque é fazer ótimos passes. É tudo de bom.
Sebastian não deixa um único chute livre passar por ele. Entre essas listras e
postes está sua casa. Dawson e todos os seus lacaios não são mais rápidos do que
suas mãos.
Willie está animado na linha lateral. Batendo as mãos em uma prancheta, ele
late: — Execute um quarenta e dois. — Quando Cain tropeça nos próprios pés,
Willie pragueja as nuvens. As mãos de Hunter alisam o ombro de Willie por
trás. Ele se inclina para trás, e Sebastian quase os castiga por estarem
demonstrando seu afeto em público no meio de um jogo muito importante.
O apito soa e Sebastian cai em sua zona. Dez segundos depois, Dawson está
disparando em direção a ele. Sebastian se ajeita na posição. Mas um borrão preto
e dourado rouba a bola. Emir passa para Gio com um "Vai, Gio, vai" antes que
Sebastian recupere o fôlego.
É a décima vez que Emir faz isso. Sim, Sebastian está contando.
O’Brien grita: — Boa jogada, Shah! — e Emir mal reage. Ele mantém o
mesmo rosto: testa franzida, lábios estreitos, olhos de aço. Mas Sebastian tem
essa sinergia com Emir, algo que começou em algum lugar no meio do campo de
Acampamento Haven sob um céu cinza tempestuoso. É apenas o início da
temporada. Sebastian não consegue imaginar como eles ficarão bem, juntos, em
um mês.
Por cima do ombro, o cabelo suado puxado para trás, Emir grita: — Ainda
sou um novato?
Sebastian sorri com os olhos.
No momento em que o árbitro apita para o intervalo, Sebastian não se lembra
dos últimos cinco minutos. Ele desenvolveu uma obsessão pelo SHAH dourado
nas costas da camisa de Emir.

— ELES TÊM MEDO DE NÓS. — O TREINADOR Patrick caminha pelo vestiário. O


time está reunido em torno dele, enxugando o suor, engolindo copos
descartáveis e derramando Gatorade. — No ano passado, perdemos por dois gols
no primeiro tempo. — Seus olhos se concentram em Sebastian. — Agora eles
não podem contornar nossa defesa.
— E eles não vão, — diz Zach, acariciando suavemente a bochecha de Emir.
— Sim, — concorda o treinador. — Então agora...
— Eles são fracos do lado esquerdo.
O treinador murmura: — Sim, estou ciente, Grace. — Ela resmunga de volta.
O treinador aponta para Mason. — Esse é o plano, Riley. Se concentre em levar
a bola para a esquerda. Rivera disse que o goleiro deles está na sua cola, então
podemos usar Robbie como uma isca.
Mason franze o rosto, indignado. Então, com o máximo de modéstia que
consegue reunir, ele murmura: — Sim, claro. Vai, Lions, — Ele faz um sinal de
positivo com o polegar para Robbie.
Robbie está branco como um lençol quando Sebastian dá as mãos em suas
costas. Ele diz, encorajadoramente: — Vamos, novato, — e lidera o ataque de
volta através do túnel.

O SEGUNDO TEMPO TRAZ UM novo burburinho ao estádio. A multidão está


animada o suficiente para abafar qualquer chamada em campo. Sebastian está
curvado, explorando. Ele está de olho em uma coisa. Os espartanos também
mudaram sua formação. Michaelson e Cole mudaram, colocando um obstáculo
gigante no caminho de Mason.
Merda.
O apito soa e Sebastian toma uma decisão de último segundo. Ele grita: —
Em! Emi!
A cabeça de Emir gira ao redor, e Sebastian se encolhe com sua carranca.
Talvez chamá-lo de Emi não tenha sido seu momento mais brilhante, mas tanto
faz. Se eles vão ganhar, ele precisa do Emir do seu lado.
— Se eles conseguirem passar, leve a bola para Smith.
As sobrancelhas de Emir deslizam para dentro. É possível que ele ignore o
conselho de Sebastian. Mas então Emir balança a cabeça ansiosamente. E, não, o
coração estúpido de Sebastian não está tão fundo na garganta que possa explodir
em canções de Charlie Puth.
Ele está certo, no entanto. Cole está em cima de Mason, e Robbie não está se
saindo melhor. Shaggy passa para um lateral espartano, e Sebastian antecipa o
próximo ataque.
Emir, como um raio, acerta o atacante. Ele pega a bola; o outro cara está
muito sem fôlego para persegui-lo.
Rivera está latindo: — Dê para Robbie; Robbie está livre! — Willie roe as
unhas. Grey abaixa a cabeça dela entre os joelhos.
Tudo acontece em câmera lenta de filme de ação. Ignorando Rivera, Emir
passa a bola para Smith, em estado de choque. Ninguém o está cobrindo, então
ele corre. Um espartano acerta Smith, mas ele leva a bola para Zach antes de
comer grama.
Zach dá um golpe na bola.
O apito soa, quinze minutos no relógio, e Sebastian olha para o placar jumbo:
SPARTANS - 0, LIONS - 1
A multidão perde a cabeça. A linha lateral dos espartanos fica péssima. Rivera
vai para dar bronca em Emir por fazer uma jogada tão arriscada, mas Emir
mantém o queixo erguido o tempo todo.
Rivera, com os olhos semicerrados, diz: — Volte lá, garoto, — e Sebastian o
pega sorrindo enquanto Emir corre de volta para o campo.
— Se eu for eliminado no próximo jogo, — Emir faz uma pausa, recuperando
o fôlego, — nunca mais vou falar com você.
— Isso significa que estamos conversando agora? Tipo, estamos bem?
O que quer que Emir esteja prestes a dizer, ele está muito perturbado, então
ele ignora Sebastian enquanto ele caminha de volta à posição. E tudo bem.
Sebastian pode aguentar isso. Hoje em dia, "Eu te odeio" soa muito como "Eu te
amo" vindo de Emir.

MASON MARCA OUTRO GOL na marca de quatro minutos, mas o jogo se torna mais
acadêmico depois do gol de Zach. Sebastian evita gols de Dawson mais cinco
vezes, e os espartanos nunca se recuperam. É uma varredura limpa, dois a zero.
Sebastian não consegue se ouvir respirar por causa da multidão barulhenta.
O céu está quebrado com ouro e marrom. O suor gelou a testa de Sebastian.
Estamos em meados de setembro, então o ar está frio quando o jogo termina ao
pôr do sol. Com as cabeças baixas, os meninos de St. Catherine saem do estádio.
Cole se arrasta, carrancudo, e Sebastian espera que eles se encontrem novamente
no torneio estadual para que ele possa tornar aquela cara permanente.
— Rapazes, rapazes, — grita Zach no vestiário. Sua voz carrega o refrão de
"Immortals" vindo dos chuveiros e todas as risadas enquanto os garotos tiram
seus uniformes úmidos. Willie está em seus ombros, sorrindo de orelha a orelha,
quando Zach diz: — Sergio's Pizzeria para algumas tortas. É uma tradição do
time.
Sebastian está encolhido em um banco, espremido entre Hunter e Mason.
Cabelo molhado e encharcado gruda na testa. Ele se vira para ter uma visão
melhor de toda a ação.
— A primeira rodada, — diz Zach, apontando para Sebastian, — é para nosso
amado capitão.
Hunter grita feliz.
Sebastian afunda quando um grito de "Capitão Hughes" irrompe. Ganhar
nunca foi tão desgastante. Mas a exaustão da partida, o alívio e a alegria são
incríveis, e uma noite de pizza significa menos chances de os caras fazerem algo
que valha a pena ser preso.
— Você vem?
Mason está olhando para ele, observador como um falcão, então Sebastian diz:
— Talvez, mas há algo que eu meio que quero fazer primeiro.
Ele tem planos. Ele não tem certeza se vão dar certo. Talvez esta seja sua pior
ideia, depois de atear fogo no lixo de um vizinho com Mason quando eles
tinham treze anos ou jogar Cara-a-Cara bêbado em um cemitério. Essa também
pode ser ruim, certo?
Sebastian sussurra: — Eu precisaria de sua ajuda, na verdade.
Mason levanta uma sobrancelha. Seu silêncio apenas eleva a batida ridícula
dos batimentos cardíacos de Sebastian. Mas um brilho brilha nos olhos de
Mason. — Tudo o que você precisar, capitão.
30

ESTÁ ESPECIALMENTE ESCURO COM OS holofotes do estádio desligados. O céu é de


um azul escuro sobre o campo deserto. Já se passaram trinta minutos desde que
Sebastian enviou a seus pais uma mensagem dizendo que os encontraria mais
tarde e vinte e cinco minutos desde que ele enviou ao time com a promessa de
passar no Sergio's. Já se passaram vinte e dois minutos desde que ele sequestrou
Grey, sussurrou a ideia em seu ouvido enquanto deslizava algum dinheiro para
comprar suprimentos e arrancou suas mãos de seu antebraço enquanto ela saltava
em êxtase.
Sebastian faz uma careta olhando seu redor.
Duas dúzias de velas acesas estão espalhadas pelo campo. Grey ajudou,
contando piadas sobre a grama pegar fogo. Sim, exatamente o que ele precisa.
Mas, por mais cafona que seja, essas luzes oscilantes aumentam toda a porcaria
de grandioso gesto romântico que ele pretendia fazer.
Sebastian se abraça contra o ar seco e frio. Ele pagou Clark, o cara da
tecnologia do estádio, para criar uma atmosfera. Nada daquela claudicação de
One Republic ou The Fray. Nem mesmo Coldplay. Sebastian é cafona, mas ele
não quer ser tão cafona assim.
Em sua cabeça, a trilha sonora da vida de Sebastian com Emir é vibrante e
alta, como índigo elétrico. É como tempestades sobre uma cidade. É brilhante
como o néon, como vaga-lumes de verão.
O auto-falante de baixa qualidade está tocando M83 e é perfeito.
Sebastian pega seu telefone e verifica a hora. Ele anda em círculos. Ele está
tentando não pensar demais sobre o que está fazendo. As palavras de Lily ecoam:
— Quando as estrelas caem… — Elas evitam que ele tenha um ataque de
pânico. Isto é, até que Emir diga: — O que diabos é isso?
Sebastian estremece, depois se vira lentamente. O suor formiga em seu couro
cabeludo. Leva apenas cinco segundos para perceber que não terá um ataque de
pânico. Não, valeu a espera e as pequenas explosões de ansiedade.
Emir está olhando para Sebastian, imóvel. É desconcertante, mas tanto faz,
certo? Não é a primeira vez de Emir usando o olhar de "que diabos?".
— Bastian?
Sebastian sorri, sem vergonha.
Uma linha de velas os separa. Sebastian estende a mão em direção a Emir.
Após uma longa pausa, a palma da mão de Emir desliza sobre a de Sebastian. Ele
dá um passo à frente, angulando direto no corpo de Sebastian, a hesitação que se
dane.
Sebastian diz: — Sinto muito.
— OK.
— Por muitas coisas, — Sebastian rapidamente acrescenta. Emir entrelaça
seus dedos e isso o firma. — Por anos e anos sendo um idiota total, e pelos
últimos dias no acampamento. — Ele não planejou o que iria dizer. Ele sussurra:
— Além disso, por não lhe contar um monte de coisas.
— Como?
— Eu senti sua falta, desde sempre. Quando você foi para a Inglaterra,
quando o vi pela primeira vez no acampamento, nos últimos dias. — Sua
garganta se aperta. — Antes e depois do jogo de hoje.
Sebastian nunca teve que se expressar para Sam. Com sua falta de
investimento no relacionamento deles, ela não precisava disso. Ou talvez ela
soubesse, mas ele está atribuindo à juventude seu fracasso em reconhecer essas
coisas. Agora, com Emir, ele está aprendendo a tirar seus pensamentos e emoções
e o anonimato, seja lá o que for, de seu sistema.
Emir diz: — Eu também.
— Sim?
— Sim, acho que sim, — diz Emir, sorrindo. — Você sabe muito bem disso.
Sebastian não sabe muitas coisas, mas está descobrindo. Ele está cansado de ser
um covarde. Mas coisas como essa levam tempo. Ele diz, clara e abertamente: —
Eu te amo. Eu não sabia há anos atrás, mas não acho que você entende essas
coisas quando tem dez anos.
— Nem eu.
Sebastian não sabia o quanto queria ouvir essas palavras até agora.
Emir diz: — Você não percebe o quanto fez por mim. Abbu estava muito
orgulhoso de mim hoje. — Pequenas chamas tornam os olhos de Emir um cinza
translúcido. Ele encontra os olhos de Sebastian. — Foi tão difícil estar perto de
você no início. Eu queria ir embora.
Os dedos de Sebastian apertam os de Emir. Emir se contorce, mas não se
afasta. E Sebastian, cheio de calma e compreensão, enfia os dedos no cabelo
úmido de Emir para manter os fios soltos de seu rosto.
— Você está perdendo o controle.
— Seu rosto é insuportável.
— Fraco, — provoca Sebastian.
— E eu quero seu maldito moletom de volta. É meu, — diz Emir. E adiciona
uma carranca.
É o oposto de romântico, e Sebastian ri, repentino e brilhante, até que seu
estômago dá um nó. — Melhor, — diz ele entre respirações.
Linhas divertidas se formam ao redor dos olhos de Emir.
— Então, isto é, hum, eu e você? — Sebastian faz uma pausa. — Estou
autorizado a chamá-lo de meu...
É apenas uma palavra. Seu cérebro não está acostumado a se referir a alguém
como seu namorado. Talvez ele queira ficar bem com isso. Ele já fez a parte
difícil, se assumir para sua família, definindo o que o amor é para ele.
Ele pode fazer isso.
Mas Emir deve sentir sua intenção, porque ele roça a boca sobre a de
Sebastian. Ele sussurra: — Apenas me chame de Emi, ok?
Com os lábios ainda descansando perto do Emir, Sebastian diz: — Emi.
Seu coração faz acrobacias. Emir mostra um sorriso dentuço que tem sido
tudo para Sebastian desde sempre. Então, ele beija Emir.
Cinco minutos depois, ligeiramente sem fôlego, Sebastian diz: — Não tenho
ideia do que quero fazer após a formatura. — Se ele vai fazer isso, ele pode muito
bem revelar todos os seus segredos.
Emir circunda os braços em volta do pescoço de Sebastian. — Faculdade? Ser
profissional? Stripper?
Sebastian bufa. Ele balança as sobrancelhas e Emir rapidamente protesta: —
Não vou compartilhar você com ninguém.
— É bom saber.
As velas de baixa temperatura brilham em seus rostos. Sebastian desliza a mão
pela espinha de Emir. — E quanto a Nova York? — ele pergunta. — Eu não
tenho um plano, mas se ser profissional não der certo, talvez eu seja um
treinador?
— Boa ideia. Você está ficando melhor nisso.
— Eu tenho muita prática com um jogador teimoso.
— Nova York parece bom.
— Sim?
As pontas dos dedos frios de Emir pressionam a nuca de Sebastian. Seu hálito
quente roça a bochecha de Sebastian. — Nós poderíamos fazer isso.
Sebastian quase perde o foco. O polegar de Emir esfrega aquele ponto macio
atrás da orelha e Sebastian vira a cabeça para trás. Nós. Emir disse "nós" e
Sebastian tem que ter certeza. A expressão tímida de Emir é confirmação
suficiente.
— Eu me inscrevi para uma bolsa de estudos e meus pais encontraram alguns
apartamentos com preços bons, — diz Emir. — The Village?
Sebastian leva um segundo para compreender: Emir está perguntando a ele. —
Sim, — escapa de sua boca. E então ele beija Emir, novamente. Não é perfeito.
Sebastian não se importa, porque nada sobre eles nunca foi perfeito. Mas é fofo,
e ele se acomoda na forma da boca de Emir, crescendo lentamente e se tornando
incrível.
— Finalmente!
É Willie gritando, seguido por assobios de lobo e risos. Nas arquibancadas,
toda a equipe está fazendo caretas dramáticas ou gaguejando como idiotas totais.
Sebastian os ama. Ele adora que Emir esconda o rosto na curva do pescoço de
Sebastian, ganhando mais algumas vaias, antes de Emir reconhecer sua vergonha.
Sebastian adora que Zach esteja de braço dado com Jack.
Charlie grita: — Vai, Hughes!
— Eu tenho tudo gravado em vídeo, — grita Grey, sacudindo seu celular no
ar. Ela está lado a lado com Willie, e Mason está se inclinando para ela. Huh.
Talvez aquilo entre os dois funcione, afinal.
Uma calma tranquila se instala em Sebastian. Ele ainda não descobriu tudo.
Mas uma temporada inteira está à sua frente. E então a formatura.
Ainda há tempo.
O futuro só é sombrio porque as pessoas o vêem dessa forma. É imprevisível.
A vida é uma tempestade de verão de pensamentos inseguros. Existe um guarda-
chuva de precauções para evitar a insegurança, mas nem sempre mantém a chuva
longe de seu rosto.
Além disso, durante o verão, Sebastian aprendeu que não se importa com a
chuva. Coisas boas acontecem na chuva. É ótima para jogos, dormir e dar beijos
acidentais com a pessoa que você acha que mais te odeia.
Agora, por Sebastian, o futuro que se foda.
Ele está sob um céu azul-púrpura. O ar cheira a cera queimada, especiarias
moídas e cidra gelada; seus aromas favoritos de outono. E seu time – não, sua
família – está torcendo por ele. O futuro se aproxima, e não está prometendo a
ele uma chance de assistir Mason fazer os profissionais, de ver Zach dar o fora de
Bloomington, de dormir no dormitório de Willie e Hunter. E está tudo bem.
Ele não deixa isso estragar o momento.
Sebastian às vezes fica sem direção. As velhas cicatrizes dos agressores de seu
passado ainda estão se curando. E, sim, ele pode ser maçante e chato, mas ele
está bem com isso. Sua família e amigos também estão bem com isso. Seu
namorado, que parece estranho, mas incrível, está bem com isso também. Não
precisa ficar melhor do que isso. Pode até ficar; ele espera que fique; mas talvez
seja para outro verão.
— Ei, — diz Sebastian, esfregando o polegar nos lábios frios e secos de Emir.
— Você vai acordar cedo e correr comigo amanhã?
— Cale a boca, Bastian, — Emir diz. Ele sorri. — Claro que vou.
AGRADECIMENTOS

ESTE LIVRO FOI UMA JORNADA desde a primeira palavra, mas é uma jornada que eu
nunca teria feito se não fosse por algumas pessoas incríveis.
Obrigado S.A. McAuley por me empurrar para finalmente escrever um livro
em vez de me esconder em um canto. Você viu o primeiro rascunho, a primeira
sinopse e a primeira rejeição. Você nunca me deixou desistir. Você é meu herói,
meu guru da escrita, mas, acima de tudo, você é meu amigo. Eu amo você.
Obrigado a todos na Duet Books e Interlude Press por acreditarem na história
de Sebastian e em mim. Annie, você tem sido uma das minhas maiores líderes de
torcida desde o início. Sebastian é tanto seu quanto meu. Candy, você é uma
estrela do rock. Ainda não tenho certeza de como você faz tudo o que faz, mas
sou grato por você ser sempre o primeiro a entrar e "sujar" as mãos para cada
autor. C.B. Messer, você é um mágico. Você tirou o conceito da capa do livro do
nada! É lindo e tudo que eu não sabia que eu queria, mas sou grato por ter.
Citando Willie, seu talento é “épico”.
Sempre grato a meus editores Annie Harper, Nicki Harper e Zoë Bird. Cada
um de vocês abraçou a história que eu queria contar. Passei por loops e desafios e
alguns momentos com lágrimas nos olhos, mas valeu a pena. Obrigado por pegar
meu pedaço de argila e esculpi-lo em algo lindo.
Para meus leitores beta: Caroline, Gaby, Daniela, Lincoln e Tiffany — as
coisas que cada um de vocês fez para me ajudar a ajustar este livro não podem ser
retribuídas com um simples “obrigado”. Eu amo o vínculo que criamos com os
Lions.
Agradecimentos especiais ao meu leitor sensível, Fadwa. Você ajudou a definir
quem é Emir e me ajudou a entendê-lo sob uma nova luz. Espero que
adolescentes muçulmanos em todos os lugares vejam uma parte dele em si
mesmos.
Jude Sierra, Pene Henson e Ben Monopoli, — obrigado por me encorajar a
enviar este livro! Além disso, obrigado por lidar com meus momentos de dúvida
e puro pânico sobre isso também. C.B. Lee, você é inspirador; eu não posso
começar a agradecer por tudo que você fez por mim. Rebecca Bratton, você me
disse para largar meu emprego e perseguir esse sonho. Você não aceitaria "não"
como resposta. Estou eternamente em dívida com sua bravura, suas palavras de
sabedoria e sua amizade.
Para cada leitor e escritor do fandom que me enviou mensagens ao longo dos
anos: um monte de gratidão e amor por sempre estar ao meu lado. Vocês
acenderam um fogo em mim que espero que nunca se apague. Agradecimentos
especiais a Eszter, Lynn, Jazz, Avery, Rayza, Ashley e Ducky — suas mensagens
de "você pode fazer isso" têm sido incríveis.
Minha família e amigos maravilhosos — Uau! Isso realmente aconteceu.
Obrigado, mãe, por me tirar de um lugar escuro e me dizer que posso perseguir
esse sonho. Obrigado, pai, Sonya, Tamir, Lindsay e todos que me apoiaram.
Tamica, Jason, Ahmad, Angela e Tony, obrigado por sempre me deixar ser eu.
Finalmente, para todos os adolescentes LGBTQIA + em todos os lugares —
vocês são minha inspiração. Vocês são líderes. Vocês são os melhores jogadores.
Vocês são os verdadeiros heróis. O futuro é seu sempre que vocês estiverem
prontos para assumi-lo. Até então, queime tão brilhante quanto você quiser!
SOBRE O AUTOR

JULIAN WINTERS É UM EX-INSTRUTOR de gerenciamento que vive nos arredores de


Atlanta, Geórgia, e cria ficção desde criança, criando comunidades em torno de
seu “pessoal de papel” desenhado à mão. Ele começou a escrever histórias
baseadas em personagens LGBTQ quando era adolescente e desenvolveu
seguidores dedicados de fan fiction. Quando não está escrevendo ou usando seu
senso de humor para entreter seus jovens sobrinhos, Julian gosta de ler, cozinhar
na cozinha experimental e assistir aos únicos esportes que consegue acompanhar:
vôlei e futebol. Running with Lions é seu primeiro romance.

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Q&A WITH JULIAN

P: Como o seu amor por esportes de equipe, cultura e dinâmica inspirou


e influenciou sua escrita?

No centro de qualquer esporte de equipe está um tema subjacente: família. Eu


acredito que temos duas famílias na vida — a que você recebeu e a que você
criou. Essa é a cultura que você testemunha enquanto assiste a esportes coletivos.
É muito inspirador. No mundo do futebol, existem tantas peças móveis —
tantas engrenagens nesta máquina fantástica, e cada peça é importante. Mas o
que eu também adoro são aqueles momentos onde os jogadores estão rindo,
provocando uns aos outros e criando laços. Eles são os primeiros a defender um
dos seus. Eu queria que essa dinâmica se refletisse em Running with Lions. Cada
personagem é uma peça importante da máquina. No final das contas, esse
esporte criou uma segunda família para eles.

P: A representação diversificada presente no livro foi algo que você se


propôs a alcançar?

Sim e não. Vivemos em uma época em que é raro passar pela vida cotidiana sem
interagir com pessoas de origens diversas. É um dos aspectos mais bonitos da
vida: construir conexões com pessoas diferentes de nós. Muitos dos personagens,
suas origens, eram orgânicos para mim. Eu não planejei apresentar personagens
de diferentes raças, crenças religiosas ou origens sociais para que meu livro
atingisse uma referência de diversidade. Não seria realista para mim escrever uma
história que não contivesse personagens que não tivessem origens diferentes
quando, na maior parte da minha vida, meus amigos e colegas de trabalho e de
classe eram de origens diversas.
É hora de normalizarmos a diversidade em livros, filmes e TV. Precisa ser um
padrão e não uma ocasião única.
P: O que o atraiu a escrever um romance Young Adult? Existem temas
específicos de YA que você considera importantes para Running with
Lions?

Quero escrever livros que inspirem ou confortem jovens adultos, porque não tive
essas coisas enquanto crescia. Muito do que me tornei quando adulto se
manifestou naqueles anos. Nem sempre tive lugares onde procurar incentivo ou
compreensão. É uma oportunidade de usar minha voz e alcançar adolescentes
queer, para dizer a eles que eu entendo, para que eles saibam que a vida não é
perfeita, mas realmente chega a um lugar melhor.
Um tema muito importante para mim foi a indecisão de Sebastian sobre seu
futuro. É um tópico que gostaria que fosse mais explorado no YA. Nem todo
adolescente chega ao primeiro dia de ensino médio com o futuro planejado.
Alguns nem têm certeza do que farão no dia da formatura. Esses jovens precisam
saber que está tudo bem. Eles precisam ver seus medos, preocupações ou
indecisões representados na página. O discurso que Lily, a mãe de Sebastian, faz
no final do livro, foi a minha maneira de dizer a esses adolescentes que a vida vai
acontecer quando você estiver pronto para ela acontecer. Até então, prossiga da
melhor maneira que puder.

P: Que livros você amava quando estava crescendo?

Eu gosto de coisas antigas. Eu amei The Outsiders. O aspecto familiar desse


romance realmente ressoa. Outro favorito era The Catcher in the Rye.
Infelizmente, não havia muitos romances LGBTQ + acessíveis para mim, mas
estou emocionado que existem tantas opções agora.

P: Que livros você leu recentemente e gostaria que estivessem disponíveis


quando era adolescente?

Como um geek certificado de quadrinhos, gostaria que Not Your Sidekick de


C.B. Lee existisse quando eu era adolescente — não apenas nos aspectos de
super-herói, mas na narrativa, no cenário e nos personagens diversificados. É
bom me ver em tantos aspectos desse livro. Aristóteles e Dante Descobrem os
Segredos do Universo de Benjamin Alire Sáenz é um livro que teria me ajudado a
lidar com minhas emoções e minha sexualidade de uma forma muito mais
saudável. Eu também adoraria livros como Noah Can’t Even de Simon James
Green, Simon vs. A Agenda Homo Sapiens de Becky Albertalli, Whatever de S.J.
Goslee, e The Rules and Regulations for Mediating Myths & Magic por F.T.
Lukens porque são livros divertidos com personagens principais desajeitados,
cômicos e seriamente confusos, o que me descreve perfeitamente como um
adolescente!
For a reader’s guide to Running with Lions and book club prompts, please
visit duetbooks.com.

@duetbooks
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ALSO BY
DUET BOOKS

The Rules and Regulations for Mediating Myths & Magic


by F.T. Lukens
When Bridger Whitt learns his eccentric employer is actually an intermediary
between the human world and its myths, he finds himself in the center of
chaos: The myth realm is growing unstable, and now he’s responsible for
helping his boss keep the real world from ever finding out.
ISBN (print) 978-1-945053-24-5 | (eBook) 978-1-945053-38-2
Buy Now: Smashwords
Not Your Villain by C.B. Lee
Sidekick Squad series, Book Two
Being a shapeshifter is awesome. That is, until Bells inadvertently becomes
the country’s most wanted villain. He’s discovered a massive government
cover-up, and now it’s up to him and his friends to find the Resistance.
Sometimes, to do a hero’s job, you need to be a villain.
ISBN (print) 978-1-945053-25-2 | (eBook) 978-1-945053-43-6
Buy Now: Smashwords
The Weekend Bucket List by Mia Kerick
Determined to experience the wild things “normal” teenagers do, high
school seniors Cady LaBrie and Cooper Murphy set out to check off items on
their bucket list in the 48 hours before graduation. When high school
dropout Eli Stanley joins them, they all face new questions about love and
friendship.
ISBN (print) 978-1-945053-58-0 | (eBook) 978-1-945053-59-7
Buy Now: Smashwords

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