Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
Agradecimentos
Sobre o autor
Q&A with Julian
1
***
***
QUANDO SEBASTIAN FINALMENTE SAI, o céu está manchado com as cores de uma
tenda de circo: vermelho, amarelo canário e redemoinhos de azul. Atrás das
árvores, o sol está se pondo. O ar do verão está calmo, não muito longe de
abafado.
O suor brilha na pele de Sebastian enquanto ele arrasta o equipamento pelo
gramado em direção ao galpão. Tradicionalmente, é função da equipe preservar
o campo. Sebastian não se importa, porque ele tem uma bela vista das estrelas
espelhadas no lago.
— Cristo, — ele sibila, enxugando o suor na testa com a camiseta. Ele enfia a
camiseta no bolso de trás da calça jeans. Ele andaria por aí apenas com sua
maldita cueca boxer se tivesse coragem, mas ele está constrangido apenas por
estar sem camisa. Ultimamente, palavras familiares continuam girando em sua
cabeça: Bastian, o cesto de lixo. Depois de meses evitando sua rotina de exercícios,
ele não está ostentando o corpo de um modelo da Hollister. Sua confiança está
acabada. Os pacotes de salgadinho enquanto assistia Netflix também não
ajudaram.
Ele encara o bucho pós-jantar de seu estômago. — Você vai voltar,
eventualmente, — diz ele com um suspiro. Com os músculos lutando contra a
carga de uma bolsa pesada como se tivesse tijolos, ele começa a caminhar
novamente.
— Quer ajuda com isso? — Grey pergunta. O carro esporte preto no qual ela
se inclina é elegante. Sebastian não consegue identificar a marca e o modelo, mas
a tinta é brilhante, então deve ser novo.
— Parece que você tem o suficiente para carregar. — Sebastian sorri,
acenando com a cabeça em direção às sacolas aos pés de Grey.
— Possivelmente, — ela diz, sorrindo. — Talvez você possa me ajudar?
Sebastian estica os lábios. — Agora, Grey, você não se transformou em uma
garota rica e mimada que espera que caras grandes e fortes como eu resgatem
você, não é?
Grey revira os olhos. Além do time, Grey é tudo o que o treinador tem, então
talvez ela seja um pouco mimada. Mas Grey é muito legal e pateta para adotar
uma atitude de diva.
Ela aponta para o carro e diz: — Foi um presente de dezesseis anos do
treinador. — Ela nunca o chama de pai. Sebastian não tem certeza se é porque o
treinador se casou com a mãe dela quando Grey tinha idade suficiente para saber
a verdade ou porque ela está presa em um esporte o tempo todo. — Eu disse a
ele para não fazer isso.
Sebastian assobia, impressionado. — Muito chamativo?
— Muito feminino. — Ela mostra a língua. — Eu queria um com um motor
mais potente.
Sebastian bufa. Bem-vinda de volta, Grey de doze anos!
— O treinador está tentando me subornar para entrar no time de futebol
feminino, — diz ela secamente, soprando para cima para tirar os cachos do
rosto. Eles caem de volta. — Eu não estou interessada, no entanto.
— Por que não?
— Porque não, — ela lamenta, fazendo beicinho. Pelo menos isso também
não mudou. Ela cava as pontas de seu Chuck Taylors na terra. Ela pergunta,
com as bochechas vermelhas, — Então, hum, como está Mace? — Os cachos
cobrem seu rosto enquanto ela olha para seus sapatos.
— Ainda gosta dele?
— Não.
Sebastian não acredita nela, mas tanto faz. Ele entendeu. Ele não se apaixonou
por ninguém desde os onze anos talvez? Ele conheceu Sam em uma festa, eles
trocaram números e ficaram no cinema, e foi isso. A fase de paixão não
correspondida nunca aconteceu.
— Olhe para você! — Ele ajusta o equilíbrio do equipamento em seus
ombros. — Ele fez você ficar doente de amor agora, não é?
— Cale a boca, eu não gosto… — Ela faz uma pausa, mais envergonhada do
que com raiva. Seus olhos encontram os de Sebastian, e ele a encara com seu
melhor olhar incrédulo. — Mace é apenas um cara legal, ok? — ela diz. — Um
jogador incrível. Isso é tudo.
— Isso é tudo?
— Exato.
Sebastian espera que ela bata o pé. Quando ela não o faz, ele a considera com
um pouco mais de cuidado. — Ele trata você como lixo, pelo amor de Deus.
Seus ombros caem. — Nem sempre.
É um esforço fraco, mas Sebastian empatiza. Sam não era a melhor em
alimentar a confiança dele.
— Ok, — ele finalmente diz. — Então convide-o para sair.
Grey congela, a tensão apertando sua boca. Em voz baixa, ela implora: — Eu
não posso. Você sabe como o Treinador é sobre qualquer pessoa tentando
namorar comigo. Ele expulsaria Mace do time.
Sim, isso seria uma merda. Estar apaixonado é uma merda, na verdade! Como
é que alguém faz isso?
— Além disso, — Grey suspira, colocando os cachos atrás da orelha, — Mace
não estaria interessado, de qualquer maneira. — Ela está tentando sorrir com as
palavras, mas todas as rachaduras em sua armadura geralmente pesada são
visíveis.
Sebastian diz: — Você é a maldita Grace Patrick, cara. Eu nunca vi você
desistir de uma luta. — Certa vez, ele testemunhou Grey enfrentar um homem
da defesa com o dobro do seu tamanho por um ataque ilegal contra Mason. Ela
não piscou quando ele rosnou para ela. — Pense nisso, ok?
Grey sorri como se Sebastian fosse um gladiador vitorioso. Sempre que ela
sorri, ele fica tão emocionado como se acabasse de matar Godzilla.
— Amo você, Bastian.
— Também te amo, princesa mimada. — O canto de sua boca levanta
quando ela torce o nariz. Ele reajusta o equipamento. — Agora carregue suas
próprias malas. Eu tenho que terminar isso e ir para a cama porque seu pai...
— Padrasto, — ela corrige.
— ...vai virar o General Zod pra cima da gente amanhã, se não resolvermos
isso.
— General quem?
— Oh meu Deus. — Sebastian geme para o céu. — Nunca fale comigo
novamente. Nunca.
A gargalhada de Grey desaparece conforme ele se afasta. Deixe para ela tirar a
mente dele de tudo. No que diz respeito aos amigos, na maioria dos dias Grey é
classificada ao lado de Willie. Ele esquece o peso do equipamento e o suor
escorrendo de seu nariz enquanto caminha em direção à Caixa Quente.
A ÚLTIMA COISA QUE SEBASTIAN PRECISA É DE INSÔNIA. ÓTIMO, AGORA MEU LUGAR
SEGURO ESTÁ ARRUINADO!
O ronco de Willie ruge como um cortador de grama levantado, mas não é isso
que mantém Sebastian acordado. O suor gruda em sua testa, mas não é o calor
também. Não, são seus pensamentos – e a voz derrotada de Emir em sua cabeça,
para ser mais exato.
— Você não consegue fazer melhor?
Sebastian é bastante íntimo daquela voz e essas palavras. São as mesmas
palavras que Sebastian ouviu quando era mais jovem e o mundo desistiu dele,
quando ele não era bom em nada, até que o futebol apareceu.
Talvez ele possa fazer por Emir o que o futebol fez por ele?
Sebastian se vira de lado. Os malditos números vermelhos do despertador
atacam sua visão. 03:36 A.M. Merda. Ele precisa dormir e parar de pensamentos
tolos de salvar a bunda de outra pessoa quando ele ainda não tem certeza de
como se salvar.
5
— TRAIDOR!
Sebastian não está chocado que a única resposta de seu celular a essa acusação
seja continuar com o despertador estridente. Ele o silencia e é recompensado
quando a tela escurece.
Willie, imune a ruídos indesejados, continua a roncar e resmungar sobre a
jogabilidade traiçoeira de Mason em Mario Kart. "Vai se ferrar, seu traidor" é
abafado por um travesseiro.
Sebastian rola para fora da cama. Ele se estica até o pescoço estalar. Ele se
prepara para mais um dia: veste roupas largas e confortáveis, depois os tênis;
arrastando a mão pelo cabelo castanho dourado até que fique artisticamente
bagunçado; roubando o iPod de Willie.
Bocejando, ele entra em uma manhã de verão ainda fria. O sol baixo cria um
efeito de fogueira no céu: laranja e amarelo lambem o índigo para fora de vista.
— Bom dia, Oakville, — ele resmunga, os lábios se contraindo enquanto os
pássaros gorjeiam uma resposta.
O caminho de terra entre a cabana de Emir e a dele parece uma armadilha.
Apesar da conversa da noite passada, Sebastian está apreensivo. Isso poderia ser
uma brincadeira elaborada de Emir, sua vingança sombria pelo que quer que
tenha acontecido entre eles que deixou sua amizade torrada – bem, não torrada
de um lado, mas de ambos os lados.
— Levante, homem, — ele murmura, levantando o queixo. Ele pode fazer
isso. Mas quando ele bate na porta de Emir, ninguém responde. — Perfeito.
Sebastian bate um pé impaciente na varanda de madeira. Uma ideia brilhante
que também poderia ser terrivelmente idiota o atinge. Correndo para o lado da
cabana, Sebastian encontra a janela. Ele cutuca e – crack! — Incrível, — ele
sussurra. As fechaduras das janelas, como tudo no acampamento, são velhas e
sem valor. A janela desliza para cima com um estremecimento.
Ele não é um futuro atleta olímpico, mas Sebastian tem panturrilhas fortes
que ganhou do futebol. O dia de perna finalmente compensa quando ele pula
para dentro.
— Ah, Merda.
Sebastian cai no chão de madeira. Não é natural para seu corpo fazer isso. Ele
não quebra nenhum membro, então é uma vitória.
Do ângulo atual de Sebastian, parece que Emir tem um quarto só para ele. —
Huh, — ele sussurra. Examinando todo o espaço extra na sala, ele se levanta e se
limpa.
O ar está carregado de incenso e cigarros. Emir criou uma cama gigante
juntando as camas de solteiro. Sebastian esqueceu como Emir gosta de tudo
arrumado. Tudo está em seu lugar, limpo e organizado, exceto um pequeno
tapete vermelho com acabamento em ouro no qual Sebastian tropeça.
— Porcaria.
Emir continua dormindo pacificamente sob um emaranhado de lençóis.
Sebastian quase pensa em deixar Emir com seus sonhos. Então ele se lembra
da cara amarrada e das sobrancelhas franzidas de Emir, e sua culpa se dissolve.
Ele se arrasta até a cama e repete: — Ei, — até Emir se mexer.
Emir, gloriosamente teimoso, vira e afaga um travesseiro.
— Tá brincando né? — Sebastian reclama, mas Emir simplesmente se encolhe
em posição fetal. Sua respiração ainda está uniforme. — Você é parente de Will?
A resposta de Emir é uma exalação suave e fácil.
— Cara, — geme Sebastian, jogando-se na beirada da cama. Ele considera
Emir. Contra uma fronha branca, cabelos escuros caem como tinta derramada.
Raios de sol bronzeiam sua pele marrom. A barba por fazer espinhosa brota de
seu queixo.
Sebastian decide seguir o Plano B. Quando eles eram mais jovens, entrar
furtivamente no quarto um do outro enquanto o outro dormia era normal.
Penas sobressalentes de travesseiros velhos eram usados para fazer cócegas uns
nos outros, ou às vezes um dedo, como o que Sebastian usa agora para roçar a
bochecha de Emir e a pele macia sob sua mandíbula.
O nariz de Emir se contorce.
— Fofo. — Sebastian ri, roçando o queixo de Emir. — Você não parece tão
mal dormindo. — Ele está prestes a escovar o lábio inferior de Emir quando um
par de olhos prateados se abre e se fixa nele. Sebastian recua ante o brilho da
morte certa. Seu braço puxa sua mão para fora do caminho do perigo.
— Mas que merda? — O sol brilha para destacar a carranca de Emir. — Isso é
um pesadelo.
Sebastian diz: — É hora de praticar, — como se isso fosse normal.
— Seu idiota, — Emir diz, a voz rachada de sono. Ele se vira e tenta enterrar a
cabeça debaixo de um travesseiro, mas Sebastian o arranca.
Ele já está provocando o tigre; ele pode muito bem ver até onde pode chegar.
— Vá embora!
Uma resposta espirituosa está na ponta da língua de Sebastian, até que ele
percebe que Emir está sem camisa. Um falcão doente com asas abertas e garras
afiadas está tatuado centímetros abaixo de sua nuca, entre as omoplatas. O
cérebro de Sebastian tem um curto-circuito, distraído pelos belos detalhes.
Ele balbuciou: — O que… — mas para de repente, horrorizado por olhar
para Emir daquele jeito. — Cara, — ele suspira, perdendo uma batalha com sua
boca estúpida. Ele fica emocionado quando Emir se vira e o encara. — Hum,
Emi...
Os olhos de Emir ficam imensos.
Sebastian não usava esse apelido desde antes de serem adolescentes. Agora, ele
deixou escapar como se eles ainda estivessem matando duendes e ogros em seu
sofá de volta em casa.
— Você acabou...
Frenético, Sebastian interrompe Emir. — Estou aqui para ajudar, lembra! —
Era para ser uma pergunta, mas a voz de Sebastian saiu estridente no final,
tornando-se uma declaração gritada. Ele deveria ter desistido enquanto estava
ganhando.
Emir levanta uma sobrancelha grossa. — Me ajudar ou me torturar?
— Ambos? — Não é a sua melhor resposta, mas ele está preso na tatuagem e
em como o vinco do travesseiro na bochecha de Emir o torna adorável.
— Você é perturbador.
— Isso significa que podemos começar?
Emir olha para o teto. Seus olhos cinzentos taciturnos brilham. Sua mandíbula
está tensa, como se ele estivesse inventando maneiras criativas de matar
Sebastian.
Sebastian acha a atuação exagerada mais divertida do que intimidante. — Não
vou embora, cara, — diz ele ao Emir.
Emir solta um suspiro. — Percebi, cara.
Sebastian sai da cama e bagunça o cabelo. Ele fica de lado e espera que Emir o
siga. Se for preciso, Sebastian vai arrastar a bunda de Emir para o campo. Sua
mente está decidida e Sebastian não desiste. — Emir, — ele diz, a voz beirando a
frustração.
— Maldito idiota. — Emir finalmente arranca os lençóis e rasteja para fora da
cama. Ele parece pequeno usando nada além de cuecas boxer vermelhas. — Eu
mal consegui dormir.
— Por quê?
— Eu só… — Emir faz uma pausa, a língua rosa roçando seus lábios. — Este
lugar me assusta, ok? Eu nunca estive longe da minha família...
— Mas você costumava dormir na minha casa.
— Aquilo era diferente, — disse Emir, com as sobrancelhas franzidas. Seus
músculos tensos se contraem sob sua pele.
— Como?
Emir franze a testa antes de balançar a cabeça. — Você não entende, — ele
murmura. "Isso é quando éramos amigos" está implícito. Sebastian se considera
um idiota por abordar o assunto quando Emir diz: — Deixa para lá.
Sebastian entende. Ele não está aqui para colocar curativos sobre feridas que
ainda não cicatrizaram. — Tudo bem, — ele sussurra, passando a mão pelo
cabelo novamente. — Você está pronto para praticar, então?
Emir suspira. — Tanto faz, — ele diz entre os dentes. — Você poderia, hum,
parar de olhar?
A pele de Sebastian se arrepia. Emir está ali, com membros magros e músculos
compactos, pernas cabeludas e barriga lisa. Sebastian está confiante em sua
bissexualidade; como ele deveria desviar o olhar de um cara seminu? Mas este é
Emir, que tem uma antipatia muito forte por Sebastian.
— Desculpe, — ele gagueja, girando sobre os calcanhares de modo que fique
de costas para Emir. — Realmente, realmente não pretendia fazer isso.
Emir ri. — Tudo bem. Estou acostumado com as pessoas me olhando. — Sua
voz está rouca. — Eles dizem algumas coisas muito ruins.
— O que eles dizem?
Emir ri amargamente. — Você não quer saber. Eles não elogiam meus olhos
ou a suavidade da minha pele.
Sebastian pode imaginar as palavras cruéis de crianças que não entendem
alguém que se apega a si mesmo. Eles não compartilham nenhuma aula; a
sabedoria de Emir provém dos livros, ao contrário de Sebastian, que preferia ler
quadrinhos a aprender trigonometria. Mas Sebastian sabe que a recusa de Emir
em se socializar convida à conversa. Sobreviver ao colégio é ter duas coisas:
confiança e amigos.
Emir não tem nenhum dos dois.
— Se vale alguma coisa, acho que você está ótimo, — Sebastian diz enquanto
Emir localiza roupas, pulando atrás das costas de Sebastian em busca de sapatos.
— Você não me conhece.
Uma ruga se forma entre as sobrancelhas de Sebastian; seus ombros enrijecem.
Ele precisa mudar de assunto antes que Emir lhe diga para ir para o inferno. —
Para que serve o tapete? — Ele esfrega o dedo indicador na sobrancelha.
— Não é da sua conta.
Má ideia, certo.
— Podemos simplesmente acabar com isso? — A respiração de Emir atinge a
lateral do pescoço de Sebastian antes que ele dê a volta para encará-lo. Suas
roupas são semelhantes às de Sebastian, mas mais folgadas em seu corpo esguio.
Sebastian força um sorriso tenso. — Se nos apressarmos, podemos tomar um
café da manhã tardio.
— Tanto faz, Bastian. — Emir já está na metade do caminho.
***
— VOCÊ NÃO PRECISA EXIGIR TANTO de si mesmo, — diz Sebastian, enquanto
Emir tropeça para acompanhá-lo.
Ofegante, Emir o evita. Um animal atropelado soa mais vivo do que Emir.
Sebastian está correndo na metade de seu ritmo normal, mas ele dará crédito a
Emir por tentar. Ele não é um idiota total; ele simplesmente não é uma pessoa
matinal. O sol cai sobre eles em ondas de néon de laranja e amarelo. As roupas
de Sebastian estão pegajosas de suor. A adrenalina atua em seu sangue como
eletricidade, e ele se alimenta disso.
É um bom dia.
— Você é um masoquista, — diz Emir.
— Pausa? — Sebastian oferece, então bufa quando Emir acena com a cabeça
furiosamente. Ele chia quando eles diminuem a velocidade.
A camisa encharcada de Emir gruda em seu peito e estômago. Em seu rosto, o
suor brilha como estrelas ao sol. — Eu te odeio neste momento.
— Eu aguento. — Sebastian empurra o ombro de Emir. Emir rebate com um
soco falso que lembra Sebastian de quando eram crianças.
— O que correr tem a ver com minha falta de habilidade com o futebol? —
Emir pergunta.
— Energia.
— Não tive nenhum problema com isso antes.
Emir está insinuando...? Sebastian explica apressadamente: — Você não é bom
em campo se estiver deitado, com falta de ar.
— Eu odeio isso. — Emir resmunga, levantando a bainha da camiseta para
limpar o suor do rosto. A camiseta está levantada, revelando um pneuzinho.
Sebastian se diverte, mas também fica horrorizado com o estúpido canto de ele
é adoravel soando em sua cabeça do mesmo jeito que uma bola atingida por uma
raquete faria contra o acrílico. Talvez ele tenha uma insolação? É uma explicação
viável e muito mais legal do que a verdade: hormônios.
— Bebidas, — Sebastian sugere. O desejo de ir para longe de Emir é forte. Ele
vai até um posto de gasolina próximo para comprar dois Gatorades com alguns
dólares enfiados no sapato.
Um líquido vermelho cereja escorre pelo queixo de Emir enquanto ele engole.
Depois de respirar, ele diz: — Obrigado.
É uma manhã quente; rajadas de brisa circundam sua caminhada
estranhamente silenciosa até o acampamento. Durante a corrida, Emir parecia
quase pronto para iniciar uma conversa, mas eles tiveram apenas bufadas e
grunhidos com pouco contato visual.
A estrada de terra tritura sob seus tênis. Eles bebem seu Gatorade como se
fosse a coisa mais fascinante de todos os tempos. Sebastian perdeu a vontade de
fazer outra coisa senão brigar até que Emir perguntou: — Por que futebol?
— O quê?
A pele ao redor dos olhos de Emir fica rígida. — Por que futebol, cara?
— Ah. — Sebastian tira o cabelo da testa. — É uma boa história.
Emir levanta as sobrancelhas.
— Por causa do treinador Patrick, — Sebastian diz. — Ele é durão, né? Uma
peça rara realmente. Mas ele fez questão de que para ser parte do time você tinha
que se encontrar primeiro. Ganhar e ser o melhor cara em campo ficou em
segundo lugar. — Ele sorri torto para o céu, onde nuvens fofas passam.
— Sério?
— Você sabe que Willie é gay, certo? — Sebastian procura um aceno de Emir.
— E Mason está...
— Passando o rodo? — provoca Emir.
— Gostamos de usar o termo ‘experimentando’, cara.
Os olhos de Emir rolam dramaticamente.
— De qualquer forma, — Sebastian continua com uma risada pendurada em
sua garganta. — O treinador não se preocupa com essas coisas. Um quarto da
nossa equipe é gay, bi ou curioso, mas ainda assim recebemos o respeito dos
outros. Pela primeira vez, a orientação sexual nos esportes não é algo negativo.
Emir coça a barba por fazer. — Muito legal.
— É mesmo!
Sebastian nunca teve que colocar nada disso em palavras, mas, agora que eles
estão discutindo, ele quer pegar um megafone e gritar para quem ele passar o
quão epicamente incrível o treinador Patrick é por lhe dar este presente.
À frente, a estrada fica estreita, sinalizando sua proximidade com o
acampamento. As sombras das copas espessas de esmeralda os esfriam. Sebastian
está calmo com o zumbido silencioso de insetos ao redor.
— E você é…? — Emir deixa espaço para Sebastian preencher.
Está esquentando, e Sebastian usa isso como uma desculpa perfeita para si
mesmo por sua pele corada. Ele diz: — Eu sou bi. Eu gosto de caras e garotas.
— Eu sei o que bi significa.
Sebastian, nervoso, rapidamente diz: — Legal. Sim, eu sou bi. — O aceno
imperturbável de Emir o alivia. Apesar das regras da equipe, Sebastian não está
agitando as bandeiras do arco-íris e anunciando sua sexualidade na escola. É
sempre complicado se assumir para um cara novo. Emir não é exceção. — Tudo
bem com isso?
— Sim, — Emir responde com olhos tímidos. — Gay. Eu. Isso é o que... eu
sou gay.
— Legal.
A nostalgia, junto com Emir se aproximando, está fazendo a pele de Sebastian
arrepiar. Ele faz uma aposta. — Então, por que futebol, para você?
— Não é minha praia, certo?
— Não — sai da língua de Sebastian, mas seu cérebro grita Sim.
— Simplesmente aconteceu, — diz Emir, com uma expressão de dor. — Mais
ou menos. — Ele esfrega a mão no rosto e Sebastian está preparado para que
Emir diga a ele que ele está fazendo isso pelos motivos errados. — É o meu
abbu.
— Seu pai, certo?
Emir diz, exasperado: — Desculpe. Deixa pra lá.
— Espere. Eu não quis ser rude. — Já faz muito tempo que Sebastian ouviu
Emir falar em Urdu. Os Shahs são britânicos do Paquistão. Sebastian esqueceu a
maioria das palavras que ouviu tantas vezes na casa de Emir. Ele diz: — Abbu.
Isso é pai em Urdu.
— Sim, — diz Emir, profundamente impressionado. — Não consigo me
desligar disso às vezes.
Sebastian admira o queixo e as maçãs do rosto de Emir. Ele se parece com sua
mãe, de quem Sebastian se lembra de ser adorável e cheirar a verão. O nariz de
Emir e sua disposição tranquila vêm de seu pai. O Sr. Shah sempre dizia coisas
boas para Sebastian.
— Foi uma merda quando me assumi no colégio. As coisas que as pessoas
dizem. Eles falam sobre meu sotaque, meus pais, minha pele… — A voz de
Emir some; seus olhos estreitados olham para o chão. — Só porque falo
engraçado ou não me pareço com eles.
— Sim, — sussurra Sebastian.
Emir torce a tampa de seu Gatorade para frente e para trás. — De qualquer
forma, meu pai é um grande fã de futebol. Desde sempre, ele passa os sábados no
sofá assistindo jogos na televisão. Premier League, MLS, tudo o que ele puder
encontrar.
Sebastian bufa. Com Oliver é a mesma coisa. E Sebastian está sempre bem ao
lado dele; eles são dois viciados em televisão e discutir sobre seus jogadores
favoritos, enquanto Lily traz lanches e cervejas. — Meninos são meninos, — ela
dirá para avisá-los antes de deixá-los ir em montanhas-russas.
— Estou aqui porque ele ama o esporte tanto quanto ama a família e, — Emir
faz uma pausa para respirar fundo, como se estivesse prestes a revelar os segredos
de sua alma, — Eu quero impressioná-lo.
Sebastian gosta da variedade de tons de rosa nas bochechas de Emir.
Pensamentos muito irracionais sobre como Emir pode ser fofo fazem seu
estômago embrulhar. Sebastian não deveria pensar nisso quando Emir está
vulnerável.
— Isso é estúpido? — Emir pergunta, mordendo o lábio.
— Não.
— É meu último ano antes da faculdade, e Abbu tem feito tanto pela minha
família que sinto que devo isso a ele.
Emir anda como se o mundo inteiro o empurrasse. Sebastian entende isso. O
fardo de deixar seus pais orgulhosos e ao mesmo tempo não ter noção do que
você está fazendo com sua própria vida é uma luta e tanto.
— Você não está fazendo isso por você?
— Não, — Emir sibila. — Estou aqui para deixar Abbu orgulhoso. Eu posso
fazer isso sem a piedade dos outros, ok?
Sebastian para no meio de um passo, atordoado.
— Obrigado pela corrida, — Emir cospe. Ele joga sua garrafa de Gatorade e
se afasta. Por cima do ombro, ele diz: — Que tal não fazermos mais isso.
— "Isso" o quê?
É como se o som da voz de Sebastian deixasse Emir ainda mais carrancudo. —
Você está fingindo que não dá a mínima se eu consigo ou não.
Sebastian pisca com força, querendo gritar: "Que diabos?" ou dar um soco em
Emir ou ir embora.
Emir vai embora primeiro.
E Sebastian precisa questionar sua própria racionalidade, porque ainda quer
ajudar Emir – se não pelo time, por tudo o que ele deve ter feito para estragar o
que ele e Emir tinham.
8
DO LIMITE DO CAMPO, o sol desliza pelo céu como uma bola de canhão vermelha
rolando em direção ao nada. Ele deixa apenas hematomas roxos e laranja de uma
guerra entre o claro e o escuro. No brilho da noite, Emir é calmo, acessível. Sem
um gorro, seu cabelo é fofo. Uma camiseta de brechó e calças de moletom
folgadas complementam sua aparência aconchegante. Certo, a visão de Sebastian
sobre Emir ultimamente não tem sido nada além de difícil, então talvez ele esteja
simplesmente apreciando o momento.
Emir, cantarolando para si mesmo, faz malabarismos com uma bola entre os
pés. Ela escapa, mas ele a persegue, finalmente se movendo livremente. Quando
ninguém está olhando, a pressão não existe; é como dançar no escuro. Mas Emir
não consegue controlar a bola por muito tempo.
As cigarras cantam seus hinos noturnos, mas por baixo delas Emir canta
Michael Jackson. A música sempre foi mágica para Emir. Oito anos atrás, era
tudo que Emir precisava para ser ele mesmo perto de Sebastian.
— Merda.
A bola oscila entre os pés de Emir. No meio do campo, Sebastian sem esforço
para com um pé. Ele diz: — Foi bom, — com muita alegria em sua voz.
Emir se encolhe ao ser pego. — Foi o mínimo.
— Dê a si mesmo um pouco de crédito, — Sebastian diz, usando a ponta do
pé para lançar a bola no ar e depois rebatê-la com um joelho. — Apenas
continue.
— E se eu desistir primeiro?
— É esse o plano?
O encolher de ombros de Emir é tão convincente quanto o rosnado de um
cachorrinho. — Ainda não decidi, — diz ele, quando Sebastian devolve a bola
para ele. Ele finge que vai para a esquerda, vai para a direita, mas Sebastian está
bem na cara dele, sorrindo.
— Está esperando que eu te convença?
Emir diz: — Esperando que você falhe, — mas seus lábios se contraem.
— Não vai acontecer.
Emir revira os olhos, tentando contornar Sebastian. Ele passa a bola por
Sebastian, correndo para ela. Sebastian o alcança, mas por pouco.
— Nada mal, — diz ele, girando em torno do Emir.
— Mal estou tentando, — diz Emir, sem fôlego.
Sebastian relaxa. Bem, ele tenta relaxar, mas seu pulso bate nos ouvidos. Eles
estão cara a cara, esperando o próximo movimento. E Sebastian, tendo outro
momento idiota de proporções épicas, tira o cabelo suado da testa de Emir com
os dedos.
Emir, que é três ou cinco centímetros mais baixo que Sebastian, espia por
entre os cílios. Ele não diz nada, mas parece pronto para falar.
— Um, sim. — Sebastian superaquece.
Emir diz: — Claro, — e deixa por isso mesmo.
Eles passam a bola para frente e para trás; o sol se põe atrás das árvores. Às oito
para as oito, os holofotes de halogéneo que cercam o campo acendem,
iluminando os verdes em prata brilhante.
— Para que estamos aqui? — Emir pergunta.
— Para te deixar melhor. — Sebastian está tentando permanecer focado nos
benefícios para o time, não em seus hormônios.
Emir murmura: — Plano horrível, cara.
— Apenas me dê uma chance, — Sebastian insiste.
Emir morde o lábio. Ele estende a mão para tirar o cabelo da testa, mas
Sebastian já fez isso. A mão de Emir balança no ar; um rubor toma conta de seu
rosto. — Então, — ele começa e depois faz uma pausa, como se o mundo o
ancorasse no chão quando ele queria voar. — Vamos fazer isso?
Sob o céu nebuloso de tempestade de fogo, eles praticam. Sebastian ensina
Emir a passar primeiro. — Assim é melhor. — Ele aplaude a capacidade de Emir
de controlar a posse de bola por mais de três metros. Claro, Emir ainda mantém
a cabeça baixa, olhando para a bola como se quisesse que ela seguisse seus
comandos. Mas Sebastian está satisfeito com sua coordenação crescente.
Eventualmente, ele avançará seu treinamento para marcar um atacante, como
dar carrinho e truques complicados, como acertar uma cabeçada para que a bola
voe para seu companheiro de equipe.
O céu cospe estrelas à medida que o tempo passa entre eles.
Sebastian empurra o cabelo da testa e diz: — Você acha que pode devolvê-la
aqui para mim?
Emir geme baixinho, girando na grama. — Idiota exigente. — Ele
desajeitadamente trabalha a bola de volta para o campo.
— Eu ouvi isso!
— Bom mesmo! — Emir reclama, mas sua risada o trai.
Sebastian esfrega as mãos suadas em seu short. Ele geralmente usa luvas
quando está protegendo o gol. Ele está antecipando uma tentativa de chute de
Emir, mas isso nunca acontece porque Emir perde o controle da bola.
— Droga. — Emir faz uma careta. — Veja o que você fez e me obrigou a
fazer.
Sebastian bufa, apontando o dedo para Emir. — Você só precisa de mais
ajuda.
Com total falta de bom senso, Sebastian corre até Emir, então dá a volta por
suas costas para alinhar seu peito com a coluna de Emir. Ele ajusta os braços ao
redor do corpo esguio de Emir; suas mãos alisam a cintura de Emir. "Espaço
pessoal" escapou do seu vocabulário.
— Está tudo bem? — Sebastian pergunta.
Emir recua e acena com a cabeça.
Em sua cabeça, Sebastian definiu isso como um "método de ensino", embora
ninguém nunca tenha dado a ele esse tipo de atenção. — Me imita. — Os
músculos de Emir estão contraídos, mas quando Sebastian sussurra: — Eu posso
ajudar, — ele se inclina contra o peito de Sebastian.
Sebastian coloca o queixo sobre o ombro de Emir. — Menos foco no que você
quer que a bola faça, — diz ele, movendo-os em conjunto em direção à bola. —
Mais sobre como a bola quer que você se mova.
Emir vira a cabeça apenas um milímetro e pergunta: — Como faço isso?
Sebastian limpa a garganta, seu fluxo ligeiramente interrompido pelo toque da
bochecha macia, mas ainda barbuda de Emir. — Pare de se forçar.
— Não é tão fácil.
Sebastian aperta os dedos nos quadris de Emir. — Relaxe, — diz ele, seus
lábios roçando a orelha de Emir. Os pés conduzem a bola para mais perto da
grande área.
— Não consigo relaxar com a sua, — diz Emir, parecendo presunçoso e com
um arco deliberado na coluna, — bunda perto da minha bunda, camarada.
Sebastian ofega e se afasta de Emir para perseguir a bola que está perdida entre
eles. Sua personificação desagradável e atrapalhadamente legal falha
miseravelmente. O que ele esperava? Ele não estava tentando fazer isso de
propósito.
— Cale a boca, — ele diz desanimado.
— Tudo bem, Bastian.
Não, não está tudo bem, já que Sebastian tem que se virar e ajeitar tudo sob o
short.
Sebastian fica desarmado com o sorriso fácil de Emir quando eles ficam cara a
cara novamente. Emir balança as sobrancelhas e diz: — Não me importo com
um cara circulando… — Ele acena com a mão na cintura de Sebastian. — perto
da minha bunda, mas eu geralmente não misturo esportes estúpidos e sexo. É
uma regra.
— Não é estúpido, — Sebastian diz, irritado. — Esportes, quero dizer, ok?
Não largue o futebol, porque é tudo o que tenho hoje em dia.
A boca de Emir cai. — Eu não queria… — Ele passa a mão nervosa pelo
cabelo.
Sebastian dá de ombros. Não é como se Emir soubesse ou entendesse o quão
bom o futebol tem sido para ele, como isso deu a ele algo de que se orgulhar. É
um propósito. O que é difícil de explicar para alguém que age como se o ensino
médio fosse apenas um diploma. Para quê? Assim que o futebol acabar, Sebastian
tem certeza de que seu futuro está morto.
— Talvez devêssemos encerrar a noite? — ele sugere.
— Espere, não podemos, hum… — A voz de Emir está quebrada e pequena
quando ele diz: — Isso é importante para mim, Bastian.
Sebastian odeia perceber que ele é a última chance do Emir. — Vamos, — ele
diz, acenando para Emir. Ele está na frente dos postes e instintivamente se
posicionando. — Arrisque.
— Sim? — Emir não espera pela resposta de Sebastian; ele se alinha para um
chute.
Sebastian chuta a bola para longe. — De novo.
O próximo chute de Emir é mais fácil de bloquear; o que vem depois também.
Sebastian joga a bola de volta para Emir. Ele está puto com o mundo, não com o
Emir, e desconta na bola.
— Melhor.
— Não sei dizer. — Emir dá outro golpe na bola.
Concentrando-se na abordagem aprimorada de Emir, Sebastian perde a noção
do tempo. O arrastar gaguejante de Emir em direção à bola se transforma em um
deslizamento rígido. Isso encoraja Sebastian a lutar mais para proteger os postes.
Ele não se divertia tanto desde que era um novato.
— Por que goleiro? — Emir pergunta.
Sebastian chuta a bola para longe. Ele fica impressionado quando Emir usa a
parte interna do pé para segurá-lo. — Você não quer saber, — diz ele a Emir.
— Quero sim, — Emir argumenta.
— Tentei todas as posições no meu primeiro ano. A glória está em ser um
atacante, — explica Sebastian, inclinando-se para recuperar o fôlego. — É por
isso que todo mundo adora Mason.
A boca de Emir torce, mas ele fica quieto.
— Não sou tão bom quanto ele, — diz Sebastian.
Desta vez, Emir bufa em desaprovação.
Sebastian aperta sua camisa encharcada de suor para puxá-la para longe de sua
pele. — Eu não era exatamente o defensor, como Willie, — ele continua. Ele
pula para parar a bola, depois a enrola e a envolve em seus braços. — Eu era um
aquecedor de banco com certificado e tudo.
— Um dos garotos da água?
Sebastian joga a bola de volta, divertido. — Eu não era legal o suficiente para
isso.
Ele está hipnotizado pela nova capacidade do Emir de manter o foco e driblar
a bola. O rosto de Emir está brilhando de suor, suas sobrancelhas estão baixas e
sua boca está comprimida. Mas ele está focado nisso.
— Eu era ruim. — Sebastian ri, autodepreciativo.
— Ha! Não poderia ser pior do que eu.
— De qualquer forma, — Sebastian diz, esfregando o dedo sobre uma
sobrancelha pegajosa de suor. — No final da primeira temporada, nosso goleiro
se formou. Eu fui ser goleiro porque, bem, por que não? Jack era um pirralho
chorão. Achei que poderia ser tão bom quanto ele.
A bola voa alto e Sebastian a encontra no ar com as duas mãos. Emir
resmunga: — Obrigado, idiota, — quando Sebastian joga de volta.
Sebastian volta ao lugar. — Fiz tudo o que pude para melhorar. Tempo extra
em casa ou no acampamento, onde quer que fosse.
— E?
Sebastian balança os braços em um gesto de "aqui estamos". — Meu primeiro
jogo foi contra os espartanos, — diz Sebastian, olhando para a distância.
Demorou um pouco antes de eles arrastarem aqueles idiotas pretensiosos para
o chão. O placar foi de dois a zero, e a multidão enlouqueceu quando Mason
marcou o gol da vitória. Mas o treinador Patrick cravou os dedos na gola da
camiseta de Sebastian e puxou-o para a frente do time para que ele pudesse
absorver o fato de que ele excluiu seus rivais. Esse sentimento ainda o atinge com
ondas estremecedoras de calor.
Emir o encara como se Sebastian tivesse acabado de ter um flashback da
guerra. Sebastian não se importa. Memórias como essa são difíceis de acontecer.
Na maioria das vezes, é sobre o colégio ou relacionamentos ou tentar não
estragar tudo e ficar de castigo antes da próxima festa – e o constrangimento sem
fim.
Sebastian está determinado a manter essas memórias.
Emir diz: — Nunca serei como você.
Sebastian cegamente pega a bola que Emir arremessa contra ele. — Ei, você
está tentando desistir de novo, Shah? Guarde para você, não estou interessado.
Emir ri, depois lambe os lábios secos.
Sebastian fica preso em como ele realmente gostaria de chupar o lábio inferior
de Emir, estremece e se inclina para esconder sua emoção.
— Obrigado, capitão.
Sebastian fica tão impressionado com as palavras de Emir que não presta
atenção até que a bola passe direto pela lateral da cabeça de Sebastian.
— Goool! — Emir uiva como um locutor do Telemundo. Ele corre de forma
maníaca, torcendo e cumprimentando colegas de equipe imaginários. Se ele não
se acalmar, ele vai acordar um treinador, mas Sebastian permite que ele tenha
esse momento. Talvez ele reflita com carinho sobre isso em alguns anos.
A felicidade de Sebastian, por Emir, pela noite, pelas pequenas vitórias, é
inesperada. Ele espera até que Emir diminua a velocidade, sem fôlego, antes de
jogar outra bola nele. — De novo? — ele diz.
Emir diz alegremente: — Sim, de novo.
Eles continuam por mais uma hora. Emir não consegue acertar outro gol, mas
não importa. Ele está animado com o último. É o suficiente para manter um
sorriso torto na boca de Sebastian.
— Eu matei o gigante, — Emir continua dizendo. Sebastian revira os olhos
toda vez.
Ele ensina Emir como fazer embaixadinhas. Eles riem e se empurram até
ficarem com muito sono para continuar.
***
OS FINS DE SEMANA NÃO SÃO LIVRES PARA TODOS, MAS um treinador só pode enfiar
tantas práticas e referências de Hoosiers na garganta dos adolescentes antes que
eles se rebelem. Os treinadores dão misericórdia a eles, com limitações. Primeiro,
um toque de recolher, também respeitável, porque qual adolescente vai para a
cama antes da meia-noite de um sábado? Em segundo lugar, uma verificação da
cama pela manhã para ter certeza de que ninguém sumiu ou fugiu para se casar
com um morador da cidade à noite. Isso é tudo.
Depois do almoço obrigatório da tarde de sábado, o hospício se abre.
Metade da equipe se amontoa no primeiro carro disponível ou caminha até a
cidade. Os mais velhos costumam buscar cerveja ou rum barato, o que nem
sempre acaba bem. Sebastian e alguns outros mantêm todos sob controle,
principalmente.
— Eles precisam de acompanhantes? — O treinador Rivera pergunta.
— Deixa eles irem. — O treinador Patrick sorri. Eles estão parados perto da
área de piquenique, observando. — Não é como se tivéssemos dinheiro para
fiança, de qualquer maneira. — O treinador está antecipando sua própria rotina
de fim de semana: cerveja, pizza e uma maratona de filmes de Rocky. Todos os
seus melhores discursos vêm de citações de Sylvester Stallone.
Um conversível, com a capota abaixada, sai veloz com Jack sentado em um
encosto de cabeça. — Que Dios nos ayude, — diz Rivera. "Deus nos ajude". Ele
é um católico devoto e frequentemente invoca sua religião em momentos como
este.
Mason está empoleirado no capô de seu carro. Caras gritam para ele se
apressar. Os pneus giram, criando uma névoa de sujeira. Mas Mason não se
move. Seu cabelo está penteado para trás; ele está vestindo uma blusa larga e
jeans skinny verdes. Óculos escuros escorregam de sua testa até o nariz. Ele pisca
para Sebastian. — Pronto para destruir este lugar?
— Hum, não, — Sebastian diz com uma risada. — Eu não quero saber como
é o interior do reformatório, mano.
— Chato. — Mason inclina a cabeça para trás. Uma noite na detenção juvenil
seria um sonho se tornando realidade para Mason. — Will está cuidando da
minha retaguarda.
Willie sobe no banco de trás. Com sua pele pálida e cabelo coberto de gel, ele
ficaria ridículo em um macacão laranja.
O velho Civic de Charlie passa por eles. "I Love It" de Icona Pop sacode no
interior. No ano passado, os veteranos fizeram dessa música seu hino, cantando-a
interminavelmente nos chuveiros. Esses caras estavam ridiculamente confortáveis
com sua sexualidade, então ninguém deu a mínima para eles.
— Cinquenta dólares que Zach é abordado por um policial primeiro, — diz
Hunter.
Mason assobia sua aprovação. — Eu vou aceitar essa aposta. — Ele é o rei da
selva em seu trono de carro; todos os seus súditos leais o saúdam em seu
caminho para Oakville. Ele diz a Sebastian: — Isto é, se Bastian não salvar suas
bundas primeiro.
— Ei, — Sebastian protesta. — Não fui eu quem garantiu que você não fosse
preso há dois anos por posse de maconha?
— Touché. — Mason acena com a cabeça, parecendo grato pelo lembrete.
— Cara, você deveria ter uma capa, — Hunter diz. Sebastian sorri – ele está
pensando a mesma coisa. — E um uniforme, — acrescenta ele, e então Sebastian
perde a fé na sanidade de Hunter.
Ele olha para a estrada. Seu propósito de ficar junto com os caras é simples:
protegê-los. Os treinadores não insistem em prender a equipe no acampamento
por causa de Sebastian; a expectativa não dita é que Sebastian fará com que todos
façam a coisa certa.
Sebastian quer perguntar a eles: — Que garoto de dezessete anos sabe o que é
isso ?
Ele tenta não se deixar incomodar muito, no entanto. Ele se diverte com os
caras, então é uma troca justa. Bem, na maior parte é. Além disso, ele precisa de
uma pausa do treinamento e da comida no refeitório.
— Devemos convidá-lo? — Willie aponta para uma cabana, onde Emir está
sentado do lado de fora.
Mason responde apressadamente: — Não.
— A sério? — Hunter pergunta.
— Muito sério, cara. Ele não gosta de nós. Se ele gostasse, ele se sentaria
conosco durante as refeições. Ou, você sabe, falaria conosco.
Sebastian não entende por que Mason detesta Emir, mas ele tem seus próprios
problemas para resolver. Ele manteve as sessões de treinamento em segredo, e
Emir nunca diz uma palavra a ele em público.
Além disso, há aquela pequena coisa de querer beijar Emir.
Emir está na escada com um livro aberto no colo e um cigarro apagado atrás
da orelha esquerda. Ele parece desinteressado em seu entorno. Mas seus olhos
estão cautelosos, não deixando ninguém entrar.
— O que você disse, Bastian? — Willie pergunta.
Sebastian olha seus pés e encolhe os ombros.
— Vamos indo, — Mason insiste, saindo do capô para sentar no banco do
motorista. — Estamos perdendo a diversão.
— Eu chamaria de caos, — brinca Hunter.
Os olhos de Emir encontram os de Sebastian, e Sebastian está prestes a dizer
algo, indo contra a atitude malcriada de Mason e o convidando para ir junto,
mas Emir balança a cabeça. Ele e Emir podem parecer amigos longe de todos,
então por que não perto dos amigos de Sebastian?
— Ei, Bastian, — Mason grita.
Sebastian vacila. Que se dane Mason e Emir. Ele quer dizer a Emir para parar
com essa atitude dele e vir junto, mas Grey pula e se estatela ao lado de Emir.
— Você não vai? — ela pergunta.
Emir olha para Sebastian antes de baixar os olhos. — Não, esse não é o meu
grupo.
Ao fundo, Mason estala.
— Bem, — diz Grey, empurrando os cachos de seu rosto, — Eles nunca me
deixam ir junto.
— Porque você tem doze anos!
— Willie quer que eu vá junto, — ela diz a Mason.
Willie se abaixa quando Mason se vira. Ele corta um dedo na garganta como
se Willie estivesse morto para ele, pelo menos pela próxima hora ou assim. —
De jeito nenhum, Patrick, — Mason diz a Grey. — As crianças ficam em casa.
— Eu sou aquela que salva sua bunda quando você volta, bêbado e louco. —
O olhar feroz de Grey imobiliza Mason. — Eu nunca delato você. Isso não
conta para alguma coisa?
Mason resmunga: — Obrigado, mas não, — com uma carranca.
A vibração usual néon de Grey começa a enfraquecer.
É assim que é ter uma queda por alguém que não quer você de volta? Isso
rouba sua luz?
— Tanto faz, Mace. — Grey revira os olhos, mas a mágoa inclina os lábios
para baixo. Ela se volta para o Emir. — Não tenho doze anos e sou divertida. —
Ela se senta mais ereta, como se isso a deixasse com mais de dezesseis anos e mais
fria também.
Emir morde seu sorriso torto. — Você acha?
— Oh, eu sei, — Grey garante de uma forma que pode ser mal interpretada,
mas então ela ri tanto que fica toda vermelha, arruinando o efeito.
— Eu não, — diz Emir, levantando seu livro. — Mas você pode relaxar se
quiser. Eu tenho irmãs em casa, então tenho certeza que posso lidar com você.
— Ele aponta o dedo em seu rosto, avisando: — Mas não tente trançar meu
cabelo.
Grey levanta a mão para jurar com o dedo mínimo. O vínculo fácil entre Emir
e Grey intimida Sebastian. Eles mal se conhecem. Ele não merece isso? Por que
Sebastian ficou com Emir, o Idiota, com acessos de raiva?
— Tanto faz, — Sebastian sussurra. E ele certamente não faz beicinho ou sai
pisando duro como uma criança, mas sobe no banco do passageiro com um
pouco menos de brilho.
Willie tenta dar um soco nele. Sebastian devolve, com um pouco menos de
força. Ele põe os pés no painel enquanto Mason dá a partida no carro.
— Eu não queria dizer isso — Mason quer totalmente, — mas ele não gosta
de nós.
Sebastian o ignora. Emir acabou de dar um duro golpe em Mason tirando
Grey de suas mãos, e ele está cego para isso. Ele fecha os olhos enquanto Mason
os dirige para longe.
10
— ENTÃO, O QUE VOCÊ VAI QUERER PARA beber, docinho? — Liza, com seu cabelo
tingido de azul, rosto gentil e rugas suaves ao redor dos olhos e da boca,
pergunta. Ela estala o chiclete, esperando pacientemente.
Sebastian não sabe por que se incomoda em correr os olhos pelo menu de
plástico. Ele já esteve no restaurante o suficiente nos últimos três verões. Nada
mudou, nem o fedor de hambúrgueres gotejantes ou a coleção de fotos vintage
emolduradas de Marilyn Monroe, James Dean e Audrey Hepburn de Breakfast
at Tiffany’s revestindo as paredes em azul pastel. Os banquinhos de vinil de néon
completam a saudação à nostalgia dos anos 50.
Sebastian está sentado sozinho. Ele sorri para Liza. — Posso ter uma...?
— Cerveja de raiz, certo?
— Valerie Jones, — Sebastian diz, sua boca se curvando maliciosamente. Val
é outra garota que adora apelidos e nunca esquece um rosto. É irônico, porque
Sebastian não consegue esquecer seus olhos castanhos, bochechas rosadas
esculpidas e sorriso sarcástico.
Ela provoca Sebastian com uma sobrancelha levantada antes de abraçá-lo. Ele
retribui com um braço, respirando a loção bronzeadora de coco dela.
— Ainda é cerveja de raiz, certo? — Val pergunta.
Sebastian acena em confirmação para ela, então para Liza.
Liza revira os olhos. Ele pede a mesma coisa sempre, incluindo a fatia de torta
grátis que Liza desliza para ele após cada refeição. — Eu vou deixar vocês dois se
atualizarem, — diz ela, estalando o chiclete. — Apenas me chame quando estiver
pronto para pedir o de costume. — Ela sai mancando como uma avó que está de
pé há muito tempo.
Val espia ao redor dele, inclinando a cabeça. — Sozinho?
Sebastian não se importa em ficar sozinho. É mais fácil acompanhar o time,
que reserva as cabines dentro da lanchonete. Eles são magros, mas grandes,
ocupando o máximo de espaço possível. E eles são caras estrondosos e
barulhentos, tomando milkshakes e limpando os pratos como se estivessem
morrendo de fome. A sujeira aqui supera qualquer coisa que o refeitório produz.
A mente de Sebastian está presa em Emir. Essa não é uma boa conversa para se
ter com este bando de selvagens. Não é que ele não possa falar sobre sua atração
por caras, é só que – bem, o time ainda não se decidiu sobre Emir.
Nem Sebastian.
— Apenas relaxando, — diz ele com seu encolher de ombros mais
descontraído.
— Ainda é a babá?
— Prefiro o termo "Irmão mais velho".
— Bastian, — diz Val, ceticamente, — você tem metade do tamanho de
algumas dessas bestas. — Seu nariz se enruga para ele de uma forma
intensamente adorável.
— Aproveite, — Liza diz, deslizando sua bebida para ele. Uma colher extra de
sorvete faz com que a cerveja de raiz borbulhe pela borda e uma cereja fique por
cima. — Ei! Você fez uma bagunça, você está estragando tudo! — Ela corre para
uma mesa cheia de jogadores de defesa.
O queixo de Val está sobre os nós dos dedos. Ela preenche o silêncio com
meneios de sobrancelhas e sorrisos. Eles sempre foram bons em substituir
palavras inúteis por expressões faciais bobas.
— Você está sozinha? — ele pergunta.
Val aponta com o polegar em direção a uma mesa de canto onde três lindas
garotas compartilham um prato de batatas fritas encharcadas de ketchup. Suas
maçãs do rosto finas e cabelos brilhantes gritam "estudei a vida toda em escolas
particulares". — Amigas da escola, — Val explica.
Sebastian faz uma cara de horror.
Val revira os olhos. — Elas estão visitando no fim de semana. Almoço com
meus pais amanhã, porque minha vida é tão glamorosa. — Ela gira um dedo em
volta da cabeça. Val não leva nada muito a sério, exceto Mason Riley. Bem, ela o
levava a sério, mas uma vida inteira acontece entre os verões.
— Elas parecem divertidas, — provoca Sebastian.
— Ah, sim, — Val diz, brincando junto. — Tanto quanto futuras esposas-
troféu em treinamento podem ser.
Sebastian deixa Val roubar um gole de sua bebida. Ela enruga o nariz, engasga
e devolve. — Horrível. — Então, séria, ela perguntou: — Você ainda está com
Sam?
Em algum lugar entre o término e perceber que não amava Sam, Sebastian
desenvolveu um certo rosto que vinha com a menção dela. Mason disse que a
expressão o fazia parecer um zumbi, o que é justo, já que ele estava bem morto
durante a última metade do relacionamento deles.
— Ai, — Val diz, segurando uma risada. — Tão ruim assim?
— Mais ou menos.
Atrás de Sebastian, Mason está escondido em uma mesa com Willie, Hunter e
Charlie. A julgar por todos os gestos com as mãos e reconstituições do tipo
Macbeth, é óbvio que Mason está falando sobre a viagem da família à Califórnia,
três anos atrás.
Val dá a ele um olhar igualmente morto-vivo quando Sebastian se vira para
ela, então ele evita tocar no assunto. Ela suspira. — Aconteceu o mesmo
conosco, — Ela abaixa o queixo.
— Sério?
— É para o melhor. É meu último ano do ensino médio. — Os lábios de Val
se torceram em um sorriso malicioso. — Carpe diem e toda aquela merda que
eles nos ensinam.
Sebastian ri e dá um gole em sua bebida.
— Vou para a faculdade de design em Paris.
Os olhos de Sebastian se arregalam. A voz de Val parece certa enquanto ela
explica seus planos; seus próximos quatro anos estão planejados. Ele está
maravilhado, principalmente porque Sebastian não tem ideia do que vai fazer
nos próximos quatro meses além de jogar futebol. Ele tem ciúme das pessoas que
têm certeza de seu futuro antes que aconteça. Como alguém pode saber o que
eles farão com suas vidas inteiras, quando ele não consegue descobrir onde ou
mesmo se ele vai para a faculdade? Mas aqui está Val, não tendo um único
ataque de pânico sobre a vida após o colégio.
— É ótimo, — Val continua, como se ele não estivesse perdido no espaço. Ela
enfia uma mecha de cabelo cor de avelã atrás da orelha. — Estou no controle de
como será minha vida após a formatura. Posso decidir quando quiser.
Tudo parece tão fácil. Quando ela estiver longe do colégio e não se preocupar
com romances bobos, ela terá tudo sob controle. Sebastian não acredita que seja
tão simples, mas ele gosta do sonho que ela está vendendo.
Além disso, Mason é um grande babaca por deixá-la. Sebastian não diz a ela,
porque está claro que ela já teve aquela epifania.
— Então é isso?
— A vida continua depois do colégio, Bastian. — A mão dela cobre a dele no
balcão. — Todos nós seguimos em frente.
Sebastian quer dizer que com a vida dela, é impossível de descobrir. Como ele
silencia todos os enormes e monstruosos medos que atormentam sua mente?
— Bem, bem, — Mason interrompe, deslizando entre eles antes que Sebastian
pudesse dizer uma palavra. Suas costas e cotovelos descansam contra o balcão
enquanto ele olha Val como um lobo. — Está ótima, Jones.
— É bom saber, — ela diz.
O rosto de Mason fica pálido e depois confuso.
— Bem, — Val diz, pulando de seu banquinho. Ela se inclina sobre Mason
para beijar a bochecha de Sebastian. — É sempre bom ver você, Bastian. — Ela
passeia de volta para sua mesa.
A mandíbula de Mason aperta; seus dedos se enrolam e se desenrolam ao lado
do corpo.
— Mace, você...
— Vamos sair daqui, mano, — diz Mason com um rosnado, respirando
pesadamente. Ele olha para o banco vazio como se Val fosse reaparecer
magicamente, e então empurra a cabeça em direção à porta. — Ouvi dizer que
Zach encontrou um morador da cidade para comprar cerveja.
Mason e Willie são opostos quando se trata de discutir sobre a palavra com S:
sentimentos. Isso não é coisa de Mason. Quando Sam terminou com Sebastian,
Mason deu um soco no ombro dele e passou uma Heineken. "Beba tudo" é o
lema de Mason, seu mecanismo de enfrentamento. Sebastian culpa o pai de
Mason por abandonar ele e suas cinco irmãs mais novas. A reivindicação de fama
de Mason é ser um deus do futebol em Bloomington e um fodão. O álcool
camufla as cicatrizes de sua juventude, mas a força não é medida pela capacidade
de um cara de drenar um pacote de seis e não chorar.
Mason parece pronto para abrir um buraco no peito de alguém quando ele
responde: — Vamos logo, cara.
Sebastian suspira. Mason reúne os outros jogadores enquanto Sebastian
verifica com Liza para ter certeza de que todos os problemas foram resolvidos.
Ele nem mesmo ganha sua fatia de torta de graça.
***
***
***
***
— ME DEIXA GANHAR!
— Por quê?
— Porque eu disse!
Gotas de chuva escorrem da ponta do nariz de Sebastian, sobre o lábio
superior e seu sorriso indisciplinado. Suas roupas estão encharcadas pela
tempestade.
— Eu não faço caridade, Emir, — ele grita sobre o trovão. — Manda brasa!
O vento uivante leva embora o grito de Emir, — Babaca!
A risada de Sebastian ecoa em seus ouvidos. Ele lambe o sabor metálico da
chuva de seus lábios. Emir tira a franja úmida da testa e se concentra na bola.
Eles contornaram os treinos hoje e começaram a manhã com uma luta épica que
acabou sem gols.
— Vamos, novato.
— Novato? — A voz de Emir range.
— Sim, você me ouviu. — É uma distração; Sebastian vai para a bola. Emir o
ultrapassa, girando enquanto a parte interna do pé mantém a bola perto. Sua
velocidade é um bom contra-ataque, mas a grama é lisa. É impossível para ele ir
longe sem tropeçar.
Emir cai com força em um pedaço de lama, gritando: — Vai se ferrar!
Sebastian se dobra, mãos nos joelhos, cortando uma risada no frio. O cabelo
dele ficou mais comprido no verão; pinga em seus olhos quando Emir faz uma
saudação com o dedo médio do chão.
Ok, então não é exatamente Godzilla contra King Kong, mas Sebastian tem
certeza de que Hughes contra Shah ainda é lendário.
Emir resmunga: — Eu peguei você, — enquanto Sebastian o ajuda a se
levantar. Ele tem uma mancha marrom feia da axila até a coxa. Seu cabelo fica
monótono e achatado na testa.
Sebastian tenta, e falha, não rir desdenhosamente, segurando a mão de Emir
até que esteja em pé firme. Então sua mão permanece na de Emir. Seus dedos se
entrelaçam entre os de Emir como se pertencessem a esse lugar.
— Você está ficando lento.
— Vai pro inferno, Emi.
— Ou eu poderia te beijar.
— Espera, o quê? — desliza para fora da boca de Sebastian, mas ele é muito
demorado para reconhecer a distração. Emir passa o pé entre eles. Ele agarra a
bola, e Sebastian fica pasmo quando um novato coberto de lama leva a bola por
todo o campo para um gol.
Emir o encontra no meio-campo, sorrindo ironicamente. Sebastian se levanta,
com as mãos nos quadris, carrancudo, mas está impressionado.
— Pronto?
Emir deixa cair a bola entre eles. — Você está pronto, Hughes? — ele
pergunta, balançando as sobrancelhas.
— Acho que você está prestes a descobrir, cara.
A boca de Emir se abre para replicar. Sebastian usa a vantagem para atacar e
roubar a bola. Emir grita atrás dele quando ele já está no campo fazendo um gol.
É um movimento idiota total, mas ele bombeia o ar quando Emir finalmente o
alcança.
— De novo, — exige Emir.
Eles trocam metas, para frente e para trás. Suas chuteiras estão cobertas de
lama; marrom e verde são as novas cores de suas roupas. O trovão explode para a
esquerda. A chuva se transforma em névoa. A batalha continua sem interrupção.
Sem fôlego e com o rosto vermelho, eles continuam.
— Você está trapaceando! — Emir lamenta.
— Você chutou minha canela na última jogada, Emi, — Sebastian argumenta.
Seus pés tentam acompanhar os de Emir e não conseguem. Emir o contorna,
mas Sebastian consegue enganchar alguns dedos no moletom de Emir para
arrastá-lo de volta.
— Trapaceiro! — grita Emir. Seus dedos finos enrolam em torno dos quadris
de Sebastian, puxando. A bola salta para fora e rola, mas eles ainda lutam pelo
controle.
Emir tem a nuca de Sebastian em uma mão fria. Sebastian está enfiando a mão
sob a bainha do moletom de Emir quando Emir diz: — Você perdeu, — com
uma risada trêmula.
— Não.
— Você me deixou vencer?
— Talvez.
Eles estão tão próximos que suas testas estão a um pouquinho de se tocar. As
gotas de chuva são pérolas translúcidas nas pontas dos cílios de Emir. A
respiração fraca de Sebastian é irregular. Seu peito aperta com força ao ver o
sorriso malicioso de Emir. Abandonar navio! berra em sua mente, mas ele não
pode.
Seus quadris pressionam juntos. Emir cora; o mundo ao redor deles fica turvo.
Sebastian não tem ideia de por que está recostado até que a leve pressão do
polegar de Emir é registrada. Ele traça círculos preguiçosos na sua nuca.
Sebastian morde o lábio, inseguro.
E então, a respiração de Emir engata e isso é tudo o que preciso.
Simplesmente acontece.
Este beijo não é nada como o primeiro. É mútuo. É deliberado. Emir empurra
tanto quanto Sebastian puxa. É carente. Bocas úmidas se movem como se não
houvesse um segundo a perder. Eles nunca seriam capazes de evitar este beijo.
Sebastian gosta disso; ele também está meio em pânico.
Emir faz um barulho sufocado. Ele pressiona ainda mais, como se nunca
tivesse sido beijado tão perfeitamente, e o cérebro de Sebastian fica offline.
Bem, não, ele tem um pensamento muito claro: Emir Shah, Emir Shah, com
mais Emir Shah.
Com o polegar no queixo de Emir, Sebastian leva seu tempo. Ele nunca beijou
um garoto. Puta merda, Sebastian está beijando seu primeiro garoto, e é Emir
Shah.
A boca de Emir é algo de que Sebastian precisa mais. Sam era de beijos
preguiçosos; sua boca tinha sabor de chiclete rosa. Eles compartilharam beijos
agradáveis, mas sem emoção. Com Emir é diferente. Ele tem um gosto amargo e
frio da chuva.
Um lapso de língua pega Sebastian desprevenido, mas ele segue em frente. Sua
palma é aquecida pela bochecha de Emir.
Emir recua, murmurando: — O que você está fazendo, Bastian?
A chuva gruda os cílios de Sebastian quando ele pisca. Ele dá de ombros, a
mão ainda na bochecha de Emir. Ele diz suavemente: — O que eu quero.
É difícil ler a expressão de Emir com as testas pressionadas. Sebastian vê mais
choque do que raiva, mas está preparado para que Emir o afaste ou dê um soco.
Seu ego ficará ferido, mas Sebastian pode aguentar.
Inferno, quais são as chances de eu ser o tipo de Emir?
— Eu… — As pupilas negras se expandem, diminuindo as íris cinzas. Emir
avança, beijando Sebastian novamente.
— Oksim, — Sebastian murmura contra a boca de Emir. Ele sucumbe à fome
em seu estômago. Ele agarra o moletom de Emir e o puxa para mais perto. Sua
coxa se encaixa entre eles, e Emir a usa como um gato se esfregando em um
poste para coçar. Sebastian está bem com isso.
A chuva cai sobre eles. Silencia os ruídos estranhos que Sebastian faz,
poupando-o de constrangimento. Ele revisará como ele é chorão enquanto se
beijam depois. Muito depois. Agora, a língua de Emir explora seus dentes,
enquanto suas próprias mãos examinam os músculos magros e musculosos do
corpo de Emir. Nada o fará se afastar.
Claro, ele está tão errado.
No início, é apenas um grito. Então eles ouvem um uivo, vozes ficando mais
altas e mais próximas.
Emir se afasta, empurrando Sebastian para trás com uma força recém-
descoberta.
— O que… — Sebastian tropeça; seus olhos são do tamanho da lua.
Emir esfrega as costas da mão sobre a boca.
O time entra em foco. A chuva se transforma em uma névoa leve, mas
Sebastian tem certeza de que ninguém os viu se beijando. Ele engole qualquer nó
que esteja preso na parte de trás de sua garganta quando vê Mason liderando o
grupo.
Emir se afasta ainda mais.
— Quem não ama uma boa prática na chuva? — Mason, com olhos de lobo,
esfrega as mãos.
Jack dá uma cotovelada nele. — Vamos ver do que são feitos esses calouros.
— Eles são todos melhores do que você, — diz Hunter. O céu cinza e
nublado lava sua pele geralmente ocre. Atrás dele, os jogadores cantam.
A chegada do time chuta Sebastian nos dentes. Se ele quer ser capitão, não
pode sair por aí beijando colegas de time.
— Meninos, jogo amistoso! — O treinador Patrick apita. — Hughes, Drews,
escolham seus esquadrões!
Sebastian faz uma contagem rápida dos jogadores. Willie está faltando. Ele
está sentado na arquibancada ao lado de Grey.
— Ele está descansando o joelho, — sussurra Hunter.
Sebastian não diz a Hunter que não estava procurando por Willie. Seus olhos
encontram Emir, que está encarando a lama em seus sapatos, em vez de
Sebastian.
— Eu quero Riley, — Jack diz, assustando Sebastian.
— Merda, — sai da boca de Sebastian. Escolher Mason deveria ser
automático.
Mason pisa ao lado de Jack.
— Tudo bem, — Sebastian diz, olhando para as sobras. E então ele diz, com
orgulho: — Vou levar Emir.
Os suspiros são audíveis. Emir está de pé, com os olhos arregalados, as mãos
enfiadas nos bolsos, as sobrancelhas erguidas. Ele se esconde, ombros tensos.
Carl sussurra: — Isso vai ser bom, — alto demais.
— Cale a boca, — Sebastian diz. — Encare isso, Mason é nosso atacante mais
forte. Se ele está no outro time, quero um bom zagueiro, como o Emir. Isso se
chama estratégia. — Ele não vacila quando Jack suga o ar por entre os dentes,
como se Sebastian estivesse cavando sua própria cova. Jack é um idiota
intolerável e sua opinião não importa.
O treinador limpa a garganta. — Chega, — ele avisa, quando alguns caras
riem. Ele não tolera essa besteira; ele sempre prega sobre cada membro da equipe
ser inestimável. Todos eles têm um papel a cumprir. Sebastian não tem certeza se
é de Remember the Titans ou Any Given Sunday, mas ele concorda. Emir é tão
importante quanto Mason.
— Muito bem, Bastian, — diz Hunter.
— Jesus, — Carl responde, rindo.
Hunter olha para Carl. — Esperemos que Deus me abençoe para não
humilhar sua bunda em todo o campo hoje. — Ele inclina a cabeça. — Amém.
À esquerda de Sebastian, o treinador sorri, como se estivesse impressionado
com o discurso de Sebastian ou suas habilidades de tomada de decisão, ou talvez
ele apenas esteja tentando não rir de Sebastian por escolher o novato do Emir.
Tudo isso poderia dar terrivelmente errado em cerca de cinco minutos. Mas
primeiro, eles terminam de dividir os jogadores restantes. Sebastian rouba
Hunter e Smith, porque Jack é muito egoísta sobre escolher Mason para se
lembrar que ele precisa construir uma ofensiva em torno dele. Jack pega Gio e
Zach também. Sebastian se contenta com dois calouros em vez de um Kyle
trêmulo.
— Vamos, — o treinador vocifera. — Se algum de vocês pegar gripe porque a
escolha de lados demorou muito, Drews e Hughes vão limpar o vômito.
O campo é uma superfície feita para o desastre. Jack montou seu time
ofensivamente, mas o elenco de Sebastian é equilibrado com jogadores
intercambiáveis por posição. É uma pequena vantagem. Eles não vão parar
Mason, mas podem atrasá-lo.
— Ei, — ele grita para um Emir mal-humorado. — Nós vamos vencer.
Emir inclina a cabeça para o céu. — Vamos perder, — diz ele fracamente.
Sebastian diz: — E se você estiver errado, correremos um quilômetro a mais
amanhã, — antes de dar um tapa na bunda de Emir; ele coloca a mão sobre a
boca para conter uma risada.
Emir estreita os olhos como se não estivesse convencido. No último segundo,
ele sorri. Sebastian relaxa, satisfeito com sua pequena vitória.
Os olhos de Mason estão cercados de mágoa ou raiva. — Boa sorte, — ele
zomba, e caminha até o final do campo.
Sebastian dá de ombros. Sua mente está em uma coisa: esmagar a equipe de
Jack.
ELES PERDEM, RAPIDAMENTE, MAS PARA o Santo Graal do deleite de Sebastian, não
é por causa de Emir, que se mantém firme contra o time de Jack. Ele defende o
time de Sebastian da mesma forma que um cavaleiro defende seu castelo. No
meio do jogo, Emir fica cara a cara com Mason, dando um show épico de passos
rápidos. Seus nervos são visíveis: ombros rígidos, pernas trêmulas, uma expressão
pálida toda vez que Mason não está olhando.
Sebastian está orgulhoso dele ter sobrevivido.
Eles perdem por falta de um time ofensivo. Smith é muito arrogante para um
cara do segundo ano. Kyle está em todo o lugar. E Mikey, um calouro que tem
mais ossos do que músculos, acerta um pênalti nos primeiros cinco minutos.
O treinador, enojado, grita: — Quem te ensinou a jogar, filho? — enquanto
puxa a aba de seu boné dos BHS Lions surrado o suficiente para esconder sua
carranca.
Gio rouba a bola quando algo dá errado em um passe fácil entre Smith e Kyle
e acerta a bola no caminho de Mason.
Sebastian não tem vergonha de admitir que ele e Willie passaram as férias de
inverno inteira repetidamente vendo a trilogia original de Star Wars. A corrida
de defesa da equipe atrás de Mason é como uma frota de caças TIE tentando
perseguir o Millennium Falcon; não é possível.
Mason grita: — Até o fim, Hughes!
Então Emir entra em seu caminho.
Mason tem muitos truques em seu arsenal. Ele tem pés rápidos, mas não
supera a alta velocidade de Emir. Mason gira. Emir o contorna. Lama e grama
voam enquanto lutam pela bola.
Kyle grita: — Pega a maldita bola, Shah!
— Não vai acontecer. — Mason dá um puxão para a esquerda. Ofegante,
Emir cambaleia com ele. Sebastian se curva na posição. Ele está preparado para
tudo. Mas Mason cai para marcar uma falta contra Emir. É uma façanha que ele
viu Neymar fazer quando preso em uma baita defesa.
— Merda! Vamos, Shah. Mantenha suas mãos e pés para você! — geme
Mikey, batendo no ombro de Emir quando ele passa.
Rivera fica ao lado de Mason. — Está tudo bem, Riley?
Mason agarra sua canela. Ele faz uma atuação cafona: gemendo, rolando na
lama. Sua façanha dramática lhe dá pontos de simpatia.
— Eu não fiz isso, — Emir diz, em seguida, faz uma pausa, um quadril
esticado, as mãos tremendo ao esfregar em seu rosto. Ele exala. — É mentira, —
diz ele, olhando para Mason como se fosse socá-lo.
Sebastian concorda com essa ideia. Ele também quer alisar o cabelo de Emir e
dizer a ele que não é nada sério. Mas não o faz.
— Rapazes, vocês sabem o que fazer. — O treinador afasta os jogadores para
ajudar Mason a se levantar. — Pênalti para Riley.
— Tudo bem, Shah, — diz Hunter, suavemente, dando um tapinha no
ombro rígido de Emir.
Emir não se afasta. Ele acena com os olhos derrotados e seus punhos cerrados.
A frustração contorce o rosto de Sebastian. Seu foco ficou confuso. Ele encara
Mason enquanto ele se alinha com a bola. Mason levanta as sobrancelhas. Sua
boca se curva presunçosamente.
Eles perdem por causa de Sebastian. Um pênalti, ele errou um pênalti
estúpido.
Após a luta, do centro das arquibancadas, Willie grita: — Ótimas jogadas,
Hughes!
Sebastian dá um sorriso falso. Ele saúda Willie e Grey enquanto se afasta. Ele
está encharcado, a lama espreme em lugares desconfortáveis e estava
ridiculamente desleixado. Eles nunca vão derrotar os espartanos, ou qualquer um
na conferência, jogando assim.
Zach passa o braço em volta dos ombros caídos. — Você fez bem, capitão. —
Ele está sorrindo; seu cabelo bagunçado cai sobre os olhos.
O resto dos caras gritam em concordância, algo que Sebastian aprecia, mas ele
não está mentalmente pronto para responder. Ele, no entanto, espia Mason
mancando para fora do campo. Um sorriso maroto domina seu rosto; ele não se
importa como ele conseguiu a vitória.
Sebastian teve o suficiente.
— Que diabos, Mace?
Mason se vira, as sobrancelhas levantadas. — E aí?
— E aí? — Sebastian repete, agitado. Ele cutuca o peito de Mason com um
dedo sujo. — Você fez aquela merda de falta de propósito.
Mason funga, olhando para o dedo de Sebastian. — Isso acontece o tempo
todo, Bastian.
Sebastian quer dar um soco nele. Ele quer dar um soco em seu melhor amigo.
Por causa do Emir. — Isso não significa que seja certo.
— E não significa que você seja pró-Shah também.
O lábio superior de Sebastian se curva. — Você está falando sério?
Mason responde: — Muito, cara.
— Então é isso? Você está com ciúmes do Emir? — A voz de Sebastian
aumenta. Ele está incrédulo. Sua cabeça lateja. — Ele é bom, como eu poderia
não escolhê-lo? — Ele não se preocupa com a expressão cética de Mason, porque
ele está molhado e com frio e então superou toda essa coisa de escolher Emir.
O cabelo castanho gotejante de Mason cai em seus olhos quando ele os revira.
— Você está sendo um idiota, Bastian.
— Você fez Emir ficar mal lá atrás.
— E daí? — Mason joga os braços para cima. — De repente você se preocupa
com Shah? As pessoas acham que ele é uma piada.
Sebastian diz: — Você é a piada aqui, cara, — com mais frustração do que ele
já dirigiu a Mason. Suas brigas são brutalmente curtas, terminando com pizza e
risos. Depois que o pai de Mason foi embora, Sebastian inconscientemente
adotou Mason em sua vida, e um motivo para expulsá-lo nunca existiu.
— Não seja um joguete, — diz Mason entre dentes. Ele pisca muito,
Sebastian não tem certeza se é chuva ou lágrimas molhando seu rosto.
— Você não precisava fazer isso, Mace. Ele não merecia isso.
— Aconteceu o que aconteceu. Deixe isso para trás. — O pescoço de Mason
está esticado; sua andorinha reprimida é visível. Olhos frios verde-azulados
combinam com a protuberância teimosa de seu queixo. — Eu não entendo você,
mano. Desde que ele apareceu, você tem escolhido lados e... eu simplesmente
não entendo você.
Nem eu. Se os papéis tivessem sido invertidos, Emir o teria defendido se
alguém estivesse sendo um idiota. Pelo menos, o Emir mais jovem teria.
— Não é legal, Bastian. — Mason bate seu ombro contra o de Sebastian
enquanto ele se afasta.
Sebastian não diz uma palavra para impedi-lo.
Quando ele se vira, Sebastian pega Emir tremendo e sorrindo timidamente
com a representação de Hunter de uma grande jogada que Emir fez durante o
jogo. — Cara, foi tipo, épico! — Hunter grita, pulando para cima e para baixo.
Emir levanta o queixo. Ele morde o lábio, deixando-o vermelho e inchado, de
aparência suave.
Uma fome que não tem absolutamente nada a ver com comida irrompe no
estômago de Sebastian. Ela se espalha para seu peito. Seu coração bate nas
costelas como um gorila tentando se livrar de uma gaiola. Emir parece com a
mesma fome. — Puta merda, — Sebastian diz baixinho.
Emir atravessa o campo em direção a sua cabana rapidamente, como se
estivesse tentando não ser pego.
E Sebastian, confuso mas animado, usa a tempestade que retorna como
camuflagem. Ele puxa o capuz e se abraça contra o aguaceiro pulsante. Ele se
abaixa entre as árvores como um soldado de operações especiais. Nada pode
atrapalhar o que ele deseja mais do que tudo: Emir.
16
EMIR ESTÁ SENTADO NA BEIRA da cama no escuro quando Sebastian entra pela
porta. Pela primeira vez, estava entreaberta, como se Emir estivesse esperando
por Sebastian. Ele não está esperando velas e uma canção de amor de Ed Sheeran
quando fecha a porta. Coisas assim acontecem nos filmes de Anne Hathaway.
Mas ele não sabe o que fazer porque as sombras escondem a expressão de Emir.
— Você está pensando demais.
Talvez seja a voz de Sebastian quebrando o silêncio ou estar ensopado até os
ossos após o confronto, mas Emir diz: — Agora você sabe o que estou pensando?
— com um tom acusatório.
— Possivelmente. — Sebastian agita os braços. — Se você me der a chance de,
eu não sei, te conhecer mais.
— Você me conheceu antes.
Sebastian range os dentes. Ele entende. Ele bagunçou tudo há muito tempo,
mas Emir também. Isso não é tudo culpa dele. Sebastian era – Sebastian é um
bom amigo, mas Emir não vai lhe dar uma maldita chance...
Agora, as malditas vozes em sua cabeça reproduziram o sotaque de Emir!
— Eu estava vindo te dizer, — Sebastian suspira e passa a mão nervosa pelo
cabelo úmido, — que você se saiu muito bem, Em.
— Isso é tudo?
Não. Sebastian não disse isso. Ele simplesmente não entende quando
simplesmente falar com um amigo, ou o que quer que Emir seja, se torna um
exercício de rasgar seu coração para permitir que suas emoções se espalhem por
todo o lugar.
— Eu não sou o inimigo, — diz ele, dando um passo à frente. — Eu não sou.
— Não. — A boca de Emir se contrai gradualmente para baixo. — Você é
apenas o cara que não me deixa em paz.
Sebastian estremece. A fúria borbulha em sua garganta. Emir está sendo um
idiota absoluto. Então, não, Sebastian não vai embora até que ele descubra o que
diabos está acontecendo dentro dele que o atrai para alguém que parece odiar
suas entranhas.
— Então é isso? — Ele está gritando, mas tanto faz. — Você quer que eu vá
embora? — Sebastian vai até o Emir. — Apenas diga alguma coisa!
Emir não o faz, mas ele se levanta e diminui a distância entre eles.
Sebastian está pronto para tudo o que Emir fizer. Ele está tão exausto,
tentando consertar relacionamentos rompidos enquanto outras amizades
acabam. Ele está cansado de tentar ser essa versão incrível de um cara que todo
mundo vê, mas Sebastian não consegue encontrar quando ele se olha no espelho.
Se Emir der um soco nele, ele derrubará Sebastian desse pedestal que ele nunca
pediu para subir.
— Faça. — Emir agarra a frente do moletom encharcado de Sebastian e puxa
o tecido. — Faça alguma coisa, — ele rosna. Os olhos cinza dançam no escuro,
mas as bochechas de Emir estão vermelhas e seu nariz está franzido.
— O que?
— Pare… — a voz de Emir morre. Sebastian olha para os cantos úmidos de
seus olhos. A respiração de Emir para antes de ele dizer, exasperado: — Pare e
faça algo comigo.
Os reflexos de Sebastian funcionam mais rápido que seu cérebro. Ele quer
algo, quer isso. Então ele toca o pescoço de Emir. Ele deixa cair beijos sob o
queixo de Emir. Sebastian espera. Emir sufoca um suspiro, e então os dedos de
Sebastian se apertam rudemente nos quadris de Emir, levantando-o em um
movimento rápido. Ele empurra Emir contra a parede mais próxima. Seus lábios
estão perto dos de Emir, mas nunca fecham a distância.
— Que tesão.
Emir beija Sebastian. Ele treme. Suas pernas enrolam em torno dos quadris de
Sebastian.
Sebastian é forte o suficiente para segurá-lo. — Está bom assim? — ele
pergunta, um pouco feliz, mas também nervoso.
Emir concorda, ainda beijando.
Uma mão no cabelo de Sebastian puxa bruscamente. Sebastian segue; a tensão
escoa de seus músculos. Seus dedos cavam nas coxas de Emir. Isso sem dúvida
terminará em fogo e desespero e – bem, ele não tem certeza do que mais, ou se
ele está preparado para isso.
Então, novamente, Sebastian nunca está preparado para Emir Shah.
Um suspiro se transforma em uma risada. Emir morde seu queixo, depois
abaixa, em direção à pele sensível ao longo do pescoço. Ninguém nunca fez isso.
Sebastian está excitado, respirando como se tivesse corrido um quilômetro e
meio.
— Puta merda.
Nada mais criativo sai da boca de Sebastian. Principalmente porque sua mente
está em como ele tinha certeza de que Emir queria assassiná-lo cinco minutos
atrás. Talvez ele ainda vá – depois que eles terminarem de se beijar, é claro.
Suas testas se encostam. A língua de Emir encontra os lábios de Sebastian. —
Cala a boca.
— Não aguentei.
Os beijos, suas mãos lutando por novas áreas para tocar, Sebastian prendendo
Emir na parede – é tudo ridículo.
— Só cala a boca, Bastian.
Sebastian não consegue levá-lo a sério, não com o nariz enrugado e os cantos
da boca arqueados. Ele diz, respirando devagar: — Você tem algo para me calar,
Emi?
Emir treme; suas pupilas explodem em buracos negros envolvidos em prata.
Sebastian quer tocar o lábio inferior vermelho e inchado de Emir. Ele também
quer suavizar essa ruga entre as sobrancelhas de Emir. — Pare de pensar.
— Não estou pensando.
— Você é um péssimo mentiroso.
Os quadris de Sebastian encontram os de Emir. Ele teme que Emir possa não
querer isso, mas o tom de voz de Emir responde a essas preocupações.
— Esta é uma má ideia. — Os dedos de Emir se enrolam no cabelo de
Sebastian. Seu polegar esfrega a pele atrás do lóbulo da orelha de Sebastian. — O
que quer que estejamos prestes a fazer.
— Estamos prestes a fazer alguma coisa?
Eles riram juntos. É tão óbvio. Cada músculo tenso dos ombros de Sebastian
relaxa. A pele ao redor dos olhos de Emir é suave. É terrivelmente difícil não
apreciar todo o atrito acontecendo abaixo de seu umbigo.
— Então?
Sebastian pergunta: — Devo tomar uma decisão sobre para onde isso vai dar?
Os dedos de Emir estão em sua mandíbula, esfregando uma mancha de sujeira
de um tombo que ele tomou durante a partida. — Até onde vai? — ele sussurra.
Sebastian não tem ideia. Como será a vida daqui a trinta segundos? Em vinte
minutos? Uma semana? Para onde vai sua vida e quanto tempo ele tem para
decidir?
A excitação vence o pensamento analítico. Sebastian só quer beijar Emir
novamente.
Sendo um leitor de mentes perverso, Emir levanta a cabeça e se inclina para a
frente. O beijo é imperfeito, narizes batendo, dentes batendo, mas funciona.
— Vamos só, — Sebastian faz uma pausa para beijar as palavras dos lábios de
Emir, — ver o que acontece.
SEBASTIAN ESTÁ SEM PESO; SUA CABEÇA ESTÁ nas nuvens. Ele não sabe se é assim que
se pegar com um cara deve ser, mas é um bom começo.
Ele está olhando para o teto da cama de Emir. Eles estão sem fôlego e
rançosos. A confusão em sua cabeça o mantém olhando para os fantoches de
sombra criados pelo céu escuro. Ele deve sair? Isso pode só acontecer uma vez,
certo?
Emir passa o braço em volta do torso nu de Sebastian, puxando-o para mais
perto. Sebastian não resiste. Ele tem que admitir: ele está desesperado por
atenção.
— Ei.
Ele se vira, erguendo uma sobrancelha para Emir. Sebastian está esperando
que esse momento meloso termine, porque ele está a dois segundos de enterrar o
rosto na lateral do pescoço de Emir. Os olhos enrugados de Emir são tudo que
Sebastian precisa.
Esta é uma cena de um filme de romance horrivelmente clichê, estrelado por
um cara que é mais gostoso do que Sebastian. Ele diz isso a Emir, depois
estremece quando Emir começa a rir. — Não é engraçado, — Sebastian diz, mas
na verdade é.
Lá fora, a chuva cai em um drip-drop-plop constante no telhado. Isso torna seu
silêncio assustador. A respiração deles ainda está pesada. Sebastian deveria dizer
algo. — Devo ir? — ele pergunta enquanto o dedo de Emir arrasta e desenha o
número oito ao longo de sua nuca. Não é seu momento mais brilhante. Seu
cérebro ainda está congelado no que acabou de acontecer, então ele se debate.
O silêncio de Emir é uma indicação de confusão.
Sebastian puxa os lençóis e começa a se mover até que Emir diz: — Espera. —
A boca de Emir está aberta sem que nada saia, mas seus olhos dizem cada palavra
que ele é teimoso demais para pronunciar.
— Ok.
O peito de Emir é um travesseiro bem achatado, mas Sebastian apoia a cabeça
nele. Ele está curtindo o murmúrio dos batimentos cardíacos de Emir. É suave,
como aquela parte em "Bohemian Rhapsody", quando tudo vai desde um solo
de guitarra incrível até um final melancólico de Freddie Mercury. Os dedos de
Emir movendo-se sobre o couro cabeludo também ajudam. A cabeça de
Sebastian está limpa de toda a gosma que a obstruí.
— Talvez nós devêssemos...
— Fica quieto.
O tom de Emir é traído por um sorriso perdido. Isso confirma uma coisa para
Sebastian: se Emir não vai expulsá-lo, Sebastian não planeja dizer nada sobre
isso.
O resto, bem, ele não se importa agora.
17
— ESTÁ TARDE.
Sebastian se assusta; seu coração quase dá um tapinha nas amígdalas quando
ele gira. Willie está parado em sua cama, olhando para ele com olhos grogues.
— Hum.
Willie boceja. Ele está sentado com um pé embaixo dele. Seus dedos pálidos
mexem em fiapos invisíveis de sua calça de moletom. Seus lábios estão puxados
em uma linha fina. — Você perdeu o jantar, — diz ele, penteando
distraidamente o cabelo desgrenhado.
O gorgolejo do estômago de Sebastian confirma sua fome. — Sim. —
Sebastian está esfregando a nuca, sem saber o que ele deveria dizer. Ele deve se
explicar? Importará que ele estivesse com o Emir? — Eu fui...
— Shah, certo? — As sobrancelhas escuras de Willie formam rugas em sua
testa.
Sebastian para na entrada. A tempestade diminuiu, deixando para trás um céu
negro sem nuvens e uma brisa inebriante. Tudo cheira a pinho. Sebastian já
estava experimentando uma sobrecarga sensorial com os aromas da cabana de
Emir; terroso de lama, azedo de suor; mel do almíscar juvenil de Emir.
— Eu sinto muito.
Willie inclina a cabeça.
— Que foi? Quero dizer, — Sebastian faz uma pausa, olhando para suas
chuteiras sujas. — Eu deveria sentir?
— Você está prestando atenção nisso?
Sebastian sabe o que é "isso", mas ele quer que Willie diga em voz alta.
Sebastian está prestando atenção em Emir? No lugar dele no time? No que ele
quer fazer depois do colégio? Talvez ele possa aceitar que não tem ideia do que
fazer com as coisas que estão sob seu controle. Por enquanto, ele está preso em
um ciclo de indecisão.
Parte dele só quer voltar para a cabana de Emir, para onde eles falaram
baixinho sobre as coisas mais aleatórias, como o anime que Emir gosta. — É
legal, — Emir insistiu. Sebastian, fazendo caretas para as imagens que Emir
passou para seu telefone, pensou o contrário. Mas deitar em uma cama com
Emir meio enroscado em torno dele compensava isso.
A lua ilumina o céu pela janela atrás do ombro de Willie. O acampamento
está escuro e sem vida. Era perfeito para voltar aqui furtivamente enquanto
rezava para que nenhum dos treinadores o pegasse. Estar na reserva valeria
totalmente a pena pelas coisas que ele fez com Emir.
Agora, o céu está assustador, assim como ter que "se confessar" para Willie.
— Bastian?
— Não sei, — Sebastian disse, encolhendo os ombros.
Se assumir para Willie foi uma das coisas mais fáceis que ele já fez. — Ei, você
sabe que gosta de caras e essas coisas? Sim, bem, eu também. Caras e garotas, eu
acho. Não, eu sei. Eu gosto de garotas e garotos, — ele divagou, enquanto Willie
assentia com um sorriso preguiçoso. Então Willie o abraçou, afagou sua cabeça e
sussurrou: — Ok, pepperoni ou pizza vegetariana esta noite?
Sebastian não tem ideia de por que dizer a Willie que ele está começando a
gostar de verdade – o que parece bobo e juvenil em sua cabeça – de Emir é tão
importante.
— Então ele é como… — Willie faz gestos estranhos e convulsivos com as
mãos que Sebastian não consegue interpretar, mas ele entende a essência: ele é seu
namorado?
— Nada, — Sebastian diz, baixando a cabeça. — Ele não é nada.
Ele fecha a porta com um chute e vai até a cama. Ele se senta suavemente,
embora todo o seu corpo esteja exausto. Seus dedos se enrolam sobre os joelhos.
A mentira provoca náusea em seu estômago. Ele não pode falar com Mason
sobre isso, não sem revirar os olhos de julgamento e respostas azedas. E Grey,
bem, eles nunca tiveram a versão de uma conversa franca que inclui discutir os
problemas românticos de Sebastian.
Willie deve ser sua rocha. Ele é tudo sobre emoções e tirar sarro de situações
sérias.
Sebastian está ciente de que ele é péssimo em classificar seus sentimentos o
suficiente para falar sobre eles. Ele fica em silêncio. Willie lança um olhar longo
e ilegível para ele. Isso faz com que a nuca de Sebastian fique fria.
— Eu gosto dele, — Willie finalmente diz com um bocejo. Ele afofa um
travesseiro e se deita. — Emir, quero dizer. — Ele fecha os olhos; lentamente,
sua respiração se equilibra.
Sebastian não quer se preocupar com a opinião de ninguém. É a amizade dele,
não deles. Mas ser um adolescente é um bom dia para ser um super-herói,
seguido por cem dias de autoconsciência sobre cada maldita coisa. É um grande
momento egoísta quando você não dá a mínima para a opinião das outras
pessoas, mas ainda quer que seus amigos amem quem você é e o que você faz.
Sebastian cai de volta em sua cama. O zumbido das cigarras e o ronco de
Willie enche a cabine. Seu estômago se revira. Por que a vida não é como ter dez
anos de novo, quando se formar no ensino fundamental e pegar um Pokémon
era tão importante?
***
APÓS UMA HORA DE BEIJOS flutuantes e épicos, eles correm para vestir as roupas.
Mergulhar nu é ótimo até a hora de colocar a roupa de volta, Sebastian aprende.
Ele quase cai do cais puxando jeans duros para cima de suas pernas molhadas. A
brisa noturna roça suas costas.
Quando eles estão quase terminados, Sebastian pega a mão de Emir,
vagamente, no caso de Emir se afastar agora que eles estão fora da água.
Emir levanta uma sobrancelha. — Você já pensou…?
— Não sou bom nessa coisa de pensar.
Emir revira os olhos e ri. Sebastian ri também.
Suas mãos balançam entre eles enquanto Sebastian navega por entre as árvores,
em direção ao vestiário. Ele está espiando. O barulho da fogueira acabou.
Qualquer um dos jogadores pode estar à espreita, ou os treinadores podem estar
patrulhando depois de outra maratona de Rocky. A costa parece limpa.
— Você faz muito isso?
— Na verdade, — Sebastian diz, tirando o cabelo da testa, — eu nunca fiz
isso, jamais.
Três verões no acampamento e amigos como Mason e Willie, que gostam de
quebrar o toque de recolher, tornam a caminhada pelo acampamento depois de
horas uma coisa natural. Ajuda o fato de Sebastian sentir o cheiro dos vestiários,
repletos de suor e almíscar, a dez metros de distância.
Seu nariz enruga quando eles entram. — Vai amar. — Ele não sabe por que,
mas fica de costas para Emir enquanto se despe. Ele diz a Emir para pegar
toalhas enquanto ele liga o chuveiro.
Sebastian ouve um pigarro e se vira para uma cena. Banhado por uma luz
fluorescente bruxuleante, Emir abraça timidamente seu corpo magro. Seu cabelo
cai sobre a testa.
— Vamos entrar ou não? — Emir pergunta.
Sebastian pensa: Emir, comigo, no chuveiro. A hesitação foge e eles tropeçam
no vapor.
O spray está quente, batendo ruidosamente nos ladrilhos. Isso dá a Sebastian
uma desculpa para mudar para mais perto de Emir. Ele está esfregando sabão
sobre a tatuagem de falcão enquanto Emir conta a ele sobre seu ex-colega de
quarto, um calouro chamado Connelly, que deixou o acampamento no primeiro
dia. Sebastian não se lembra dele.
— Ficar com um muçulmano ofendeu sua família, — confessa Emir.
— Ele é um idiota, — diz Sebastian, carrancudo para as omoplatas de Emir.
— E os pais dele também.
Emir diz, com os ombros tensos: — Ele não era. Você faria a mesma coisa se
estivesse preso a alguém que fosse contra as coisas em que você foi criado para
acreditar.
— Eu não faria.
— Estou bem, cara. — Emir suspira. — As pessoas podem ter sua ignorância.
— Não é legal.
— Não é para ser.
Sebastian descansa sua testa enrugada na coluna de Emir. — Isso é besteira, —
ele sussurra.
— As pessoas não gostam de outras pessoas pelos motivos errados, — diz
Emir. — Não significa que devemos agir como eles.
Sebastian não tem um argumento para isso.
De olhos fechados, Emir tira o cabelo da testa, deixando o queixo de Sebastian
pendurado em seu ombro. — Eu lido com isso há muito tempo, você sabe.
Connelly não foi o primeiro e não será o último.
O mundo não deveria ser assim; as pessoas não deveriam ser irracionalmente
inaceitáveis. Mas é uma discussão pela qual pessoas como Emir lutaram por
muito mais tempo do que Sebastian percebeu. Ele não ignora seus próprios
privilégios. Ele nunca enfrentou qualquer preconceito por sua cor de pele, seu
cabelo castanho-alourado, o relacionamento casual de seus pais com a religião.
Sua sexualidade é protegida por seus companheiros de time e treinadores. Mas
Sebastian está ciente de que odiar cegamente uma raça, religião, sexualidade,
gênero ou o que quer que seja é a forma mais pura de preconceito.
Sebastian precisa mudar de assunto: — Eu já te contei como eu mal cheguei
ao time?
Emir inclina a cabeça para mostrar um sorriso.
— Oh, sim, história super chata, mas...
Emir descansa a cabeça no ombro de Sebastian enquanto Sebastian narra seu
primeiro ano como Lion. Gotas d'água caem no rosto de Emir, como estrelas
quentes e úmidas. Seus olhos se fecham; seus cílios vibram a cada poucas
palavras. Sebastian verifica ocasionalmente as reações faciais de Emir, mas ele
está em paz.
— Eu não deveria te dizer isso, — diz Emir. Eles estão cara a cara agora. Ele
sussurra: — Vim a alguns jogos para assistir você.
A água ainda está quente, o que poderia explicar as bochechas coradas de
Emir, mas Sebastian está apostando que é um motivo diferente.
— Você é incrível. Se eu pudesse ser metade do jogador que você é, então
impressionaria Abbu.
Sebastian tenta engolir o fato de que passou a infância lendo sobre heróis e
aqui está ele, um herói para Emir. Suas mãos nervosas repousam nos quadris de
Emir. — Você veio aos meus jogos?
Emir acena com a cabeça, timidamente, mas não está encontrando o olhar de
Sebastian.
— Emi...
— Eu nunca te odiei, mas ver você seguir em frente foi difícil.
Palavras estão amarradas na garganta de Sebastian. Ele nunca vai dizer a coisa
certa, então ele dá um beijo na ponta do nariz de Emir.
Os olhos de Emir ficam assustadoramente arregalados; suas sobrancelhas quase
tocam a linha do cabelo. — Hum, o quê?
— O quê?
— Você só, — Emir faz uma pausa, engasgando com a risada. — O beijo no
nariz?
— Que beijo?
A boca de Emir se torce ironicamente, mas ele sussurra: — Ok, Bastian, —
em um tom que diz que aceita completamente o status de perdedor de Sebastian,
e sua incapacidade de ser calmo sobre qualquer coisa.
Sebastian tenta quebrar o gelo, passando um dedo sob o queixo de Emir e
angulando seu rosto para que possa dar um beijo suave na boca de Emir. Emir
beija de volta. Eles estão aprendendo como fazer isso sem se atrapalhar.
Emir se afasta. — Não podemos ficar aqui para sempre, — diz ele.
— De acordo com quem?
Mais palavras quase escapam da boca de Emir, mas Sebastian se precipita para
outro beijo. A água está ficando fria e Emir pode estar certo.
Depois do banho, Sebastian está em seu armário, arrancando sem sucesso as
coisas que quer, enquanto Emir se enxuga. Ele foi distraído pelo falcão com tinta
entre as asas dos ombros de Emir. Ele quer uma tatuagem. Mas a vozinha no
fundo de sua cabeça grita permanente, e ele se apavora. E, ele viu um vídeo no
YouTube chamado "Piores Tatuagens do Mundo", e isso levou a um vórtice
sombrio do YouTube do qual ele ainda não se recuperou.
Ele finalmente puxa o moletom do time de seu armário. — Aqui. — Sebastian
empurra para Emir. Está enrugado, mas limpo, ao contrário de algumas das
outras roupas em seu armário.
— Para mim?
Os dedos de Sebastian se fecham no algodão macio enquanto ele sacode o
moletom para Emir. — Só pega, cara, — ele diz, exasperado. Ele não tem
certeza se é uma torção estética ou simplesmente sentimental, mas Sebastian quer
ver Emir em seu moletom.
Emir coloca o moletom. — É meio grande. — É verdade. As mangas são
muito longas; o material extra se enruga em sua cintura. Mas Emir é irresistível
ao morder o lábio inferior.
Nas costas do moletom está HUGHES em letras douradas. Sebastian gosta.
Ele reúne as roupas e toalhas fedorentas do lago em sua bolsa de roupa suja
antes de jogá-la no carrinho perto da entrada. Emir calça os tênis, depois mexe
nas mangas do moletom, puxando-as sobre os nós dos dedos. Ele desfaz seu
penteado perfeitamente bagunçado com uma mão.
— Pronto? — Sebastian pergunta.
— Eu acho que sim.
— Não podemos ficar aqui para sempre, — Sebastian diz a ele.
Emir esfrega a barba por fazer. Ele diz: — De acordo com quem? — com a
língua presa entre os dentes brancos.
Eles ainda estão úmidos do chuveiro. Sebastian mexe os dedos ao lado do
corpo. Ele está tendo um momento de "devo ou não devo". Suas mãos se roçam.
Ele suspira.
— Basta fazer, — diz Emir. O mundo fora dos vestiários está escuro, mas o
céu está cinza com o luar.
Sebastian segura a mão de Emir.
19
SEBASTIAN TEM QUASE NOVENTA E OITO POR CENTO de certeza de que adolescentes
deveriam ser proibidos de tomar decisões durante o verão, especialmente
adolescentes entediados à noite, como ele. O verão deve ser uma zona livre de
pensamentos. Sem colégio. Sem uso extra do cérebro. Ele deveria estar em prisão
domiciliar, não escalando a janela de Emir em uma quarta-feira à noite.
Claro, a maior parte disso é culpa de Willie. Eles estavam em sua cabana,
maratonando Stranger Things na Netflix. Pizza grátis para todos era o jantar,
então Willie desmaiou após o segundo episódio. O cara pode pôr de lado um
pouco de pizza havaiana.
Sebastian também pode culpar algumas de suas más decisões pelo fato de que
o verão está chegando ao fim. Seu tempo no acampamento está quase acabando;
faltam menos de duas semanas.
O salto para dentro é quase perfeito, mas Sebastian bate com o ombro no
chão. Não dói, mas é constrangedor. — Então, então, — ele gagueja. O sangue
corre para sua cabeça. Sua visão de Emir empoleirado em sua cama está de
cabeça para baixo. Ele rola, rindo. — Você não estava dormindo, né?
A lâmpada ainda está acesa. Um livro aberto está no colo de Emir. Cabelo
escuro como tinta cai em torno de suas têmporas em vez de ficar em pé em seu
desastre de sono bagunçado de costume.
— Não. Acabei de terminar meu Isha’a.
Sebastian se levanta. Ele tira o pó da calça jeans rasgada, arruma a camisa de
flanela xadrez. — Ish- o quê, agora?
— Isha’a, — Emir repete. — É o último dos salats, orações diárias que
fazemos como muçulmanos.
Esses lembretes sobre a religião de Emir e sua vida em casa iluminam
memórias que piscam no cérebro de Sebastian como minúsculas lanternas de
papel ao vento. Ele se lembra dos adultos da família de Emir jejuando durante o
Ramadã e de uma pequena reunião no quintal para comemorar um dia de festa
que Sebastian não lembrava o nome, mas lembra das roupas bonitas, da música e
dos pais de Emir distribuindo presentes para as crianças. E ele se lembra do
sorriso gigante e cheio de dentes que Emir exibiu enquanto estava apoiado ao
lado de Sebastian em uma noite pegajosa de junho.
— Momento ruim? Devo ir embora?
— Não. — Emir fecha o livro, colocando-o com cuidado sobre a mesa ao lado
da cama. — Está tudo bem.
— Ok.
Sebastian entrou aqui todas as noites ultimamente. Depois do jantar, ele se
arrasta para encontrar um espaço deixado para ele na cama de Emir. Sebastian
fala sem parar com a cabeça no peito de Emir. Seus dedos traçam o formato da
boca de Emir. Às vezes, Emir fala, livrando-se da timidez. Eventualmente,
conversas enfadonhas se transformam em beijos.
— Ei! — Esta noite Sebastian veio com um plano. Ele joga as chaves de
Mason para o alto e as pega. Ele não as roubou; Mason sempre os entrega
durante a semana para que ele não os perca. Ser o símbolo de "mocinho" tem
suas vantagens. — Você quer sair daqui?
— Podemos sair? — Emir pergunta.
— Não perdi tempo verificando o livro de regras.
Emir passa a mão pelo cabelo; seus dedos se agarram a nós. Ele diz: — Você
escreveu o livro de regras.
Não é um ataque a Sebastian, mas ele ainda ignora o comentário de Emir. Ele
culpa sua falta de um retorno sólido na forma como a ponte do nariz de Emir se
enruga quando ele bufa.
— O que está errado?
— Nada, — Sebastian diz. Sua mente tem vagado ultimamente, mais do que
o normal, se perguntando o que essa coisa com Emir é ou não é. — Eu não sei,
eu só quero sair daqui. Só eu e você.
— Ok.
— Você tem certeza? — Sebastian chia com uma voz estranhamente alta.
Emir dá de ombros e se levanta. — Sim, Bastian, — ele diz. Ele pega seu
gorro, veste um par de skinnies pretos ligeiramente enrugados, pega um
moletom.
A visão do sobrenome de Sebastian em letras douradas em blocos nas costas de
Emir é fascinante.
Emir se aproxima dele, cutucando o peito de Sebastian com o dedo. Com a
testa franzida, ele diz: — E se eu for expulso do time, você vai falar com Abbu
sobre por que seu precioso único filho não está mais se profissionalizando.
— Profissionalizando?
— Semi-profissionalizando então. — Com um sorriso torto, Emir diz: — Ok,
depois do colégio, nunca mais vou jogar. Mas ele não precisa saber disso. Além
disso, vai soar melhor vindo de um cara verdadeiro como você.
— Obviamente. — Sebastian revira os olhos. Ele circula o pulso fino de Emir
com os dedos. Emir gira sua mão e entrelaça seus dedos. Isso ajuda a desatar o
nó no estômago de Sebastian. — Agora, vamos sair daqui antes que você mude
de ideia.
— E perder a oportunidade de ver você tentar quebrar as regras? Eu não
ousaria.
— Tanto faz.
MASON DEIXOU SEU IPOD CONECTADO ao cabo auxiliar e The 1975 zumbe nos
alto-falantes quando Sebastian aumenta a velocidade do carro. Ele reduz o
volume. — Mason é viciado neles, — explica ele.
— Hã. — Emir está com os pés no painel, curvado no assento com uma
expressão meio impressionada. — Não pensei que isso fosse coisa de Riley.
— Mace com toda certeza teria uns amassos com Matt Healy se pudesse.
— Faz sentido.
Sebastian morde o interior do lábio. Mason é um daqueles caras urbanos, que
bebe café e diz não-sou, mas-sou descolado. Sebastian não tem problemas com
esses caras, mas é hilário, considerando que Mason costumava usar coletes de lã e
Vans quando eles estavam no ensino médio.
Emir pergunta: — Para onde?
— Para a terra de Oz, — Sebastian diz. Ou simplesmente a velha e chata
Oakville. Ir muito longe do acampamento é arriscado. Ao redor deles, uma noite
sem nuvens mostra o céu negro índigo e estrelas gigantes penduradas como
diamantes. Sebastian poderia ficar olhando para ele por horas.
Emir bate as mãos nos joelhos. — Legal.
Sim, é.
Ninguém está à vista quando Sebastian sai em direção à estrada principal. Seus
nervos ainda estão à flor da pele; seus dedos estão brancos ao redor do volante
enquanto os pneus se arrastam sobre a sujeira e as pedras. Ele está observando
Emir sutilmente com sua visão periférica.
Emir coloca a mão na coxa de Sebastian, apertando. Sebastian não vacila.
Legal. Pelo menos seu corpo sabe como agir perto de Emir.
Emir diz: — Somos só você e eu, certo? Então só dirige.
Então Sebastian dirige ao som da melodia e Matt Healy cantando sobre como
seu carro cheira a chocolate.
NO VERÃO PASSADO, MASON RILEY ESTAVA no topo do mundo. Ele tem sido o
melhor atacante de modo indiscutível do time do Lions desde o segundo ano; ele
começou todos os jogos. Suas notas eram o suficiente apenas para passar de ano,
os alunos o adoravam e os olheiros alinhavam-se com panfletos explicando por
que suas escolas eram as mais adequadas para ele. Seu relacionamento com Val
era normal; normal para eles. Além disso, ele não estava louco por ficadas
durante o ano letivo. Mason nunca se sentiu sozinho.
Alguma coisa mudou.
Mason sussurra: — Ela terminou comigo.
É uma noite de sábado especialmente tranquila, então Sebastian não precisa se
esforçar para ouvi-lo. Eles estão animados em um banco do lado de fora da
sorveteria. Mason não estava com humor para hambúrgueres com os caras, e
Sebastian não tinha interesse em assistir ao filme de Will Smith passando no
drive-in. São momentos como esse que ele sente falta durante o ano letivo.
Mason trabalha em meio período no shopping quando é fora de temporada. A
maior parte de seu dinheiro vai para ajudar sua mãe com as contas. Um
preguiçoso durante a temporada de futebol, Sebastian passa seu tempo livre
atualizando as aulas. Eles compartilham os sábados no Starbucks e o ocasional
churrasco da família Hughes; Lily Hughes é uma boa mãe do tipo que tem uma
boa relação com professores, que vende bolos, e é a alma da festa.
Noites como essa, falando merda e falando sobre futebol, música, o que quer
que seja, sob um céu rosa e azul brilhante, são importantes para Sebastian.
Sebastian cutuca o tênis na calçada. — Ela fez mesmo isso?
Mason encara Val, que está perto da lanchonete com suas amigas e um
punhado de universitários visitantes. — Não contei a ninguém, — diz ele. Suas
mãos estão cerradas no colo.
— Sim, tudo bem.
Uma regra tácita existe entre parceiros: nenhuma pergunta sobre merda de
vida amorosa a menos que solicitado. Sebastian respeita a regra, mas está curioso
sobre o que diabos aconteceu entre Mason e Val. Ele tem deixado Mason se
desviar de suas perguntas por semanas, mas agora as rachaduras silenciosas em
sua armadura são perceptíveis.
— Ela terminou comigo depois da última temporada. — A boca de Mason
fica apertada. — Ela achou que era hora de levar a vida a sério e que eu nunca
levo nada a sério. Foi meio ruim.
Sebastian coça a têmpora, dando a Mason espaço para falar.
— Mas ela está certa. — Mason estremece e Sebastian também. Ele está
prestes a protestar, mas Mason ri secamente. — Tá legal; eu posso aguentar. Eu
deveria estar sendo sério com ela, mas não estava.
Sebastian conheceu Mason um mês antes de conhecer Willie, uma semana
depois da partida de Emir, e isso criou um sentimento de lealdade. Mas ele ainda
diz: — Ela é uma garota muito boa, Mace, — porque ele acredita, porque ela
merecia mais do que Mason deu a ela.
Mason concorda. — Parte de mim superou isso, — diz ele, franzindo a testa
agora. — Mas isso bagunça minha cabeça, mano, como um dano cerebral total.
Sebastian tem medo de que Mason se feche se ele o abraçar. Ele dá um soco
no braço de Mason.
— Não sou tão bom quanto gostaria de ser, — diz Mason, se curvando. —
Mamãe vive me dizendo que ela vai ficar bem, que, quando eu for para a
faculdade, ela vai ficar bem. Mas eu não posso.
— Bem-vindo ao clube, — diz Sebastian, curvando para frente. Seus cotovelos
cravam nos joelhos. — Somos uma bagunça.
Mason dá uma cotovelada nele e diz: — Você vai se sair bem, cara. Você foi
construído para ser maravilhoso.
Se ao menos você soubesse…
— Eu geralmente estou bem com isso, ser uma bagunça, — diz Mason.
Sebastian acredita nele, na maioria das vezes.
Na fila da sorveteria, Willie e Grey discutem como um casal sobre sabores.
Sebastian está grato por aqueles dois terem se tornado inseparáveis durante o
verão. Grey tem sido uma distração crucial, mantendo a mente de Willie longe
do fato de que ele está afastado por causa do joelho.
O que realmente confunde Sebastian é o quão legal Mason tem sido com
Grey. Ele não a enxota da mesa todos os dias; ele diz algumas palavras educadas
entre zombar ou falar dela e sorri. Como agora, quando ele diz: — Quem
convidou a pirralha?
O céu está mudando das cores do algodão doce para o índigo. O vento sopra
fraco em seus rostos. Sebastian sussurra, — Willster para o resgate.
Mason diz: — Ele adora me ver sofrer, — e encara Willie, como se estivesse
tentando incendiá-lo com sua mente.
— Ainda não gosta dela?
— Ela é tolerável. — Mason Riley é um poser. Um lado de sua boca se
contrai. — Ela fala muito. E ela olha para mim, como... — Mason acena com a
mão, e Sebastian diz: — Como se ela estivesse caidinha por você.
A familiaridade de Sebastian com as expressões de Mason diz a ele uma coisa:
Mason está apaixonado. Ele passa o braço em volta dos ombros de Mason e o
puxa. — Não é tão ruim, — ele insiste. — Vocês dois são meio amigos agora,
certo?
— Tanto quanto você e Shah são, — Mason diz, tão casual quanto pode ser.
Sebastian quer vomitar por todo o seu tênis favorito. Ele engasga, — Ele é
legal. — Mason é o cara que Sebastian conhece que faz coisas irracionais e
estúpidas, e vive a vida como se arrependimento fosse uma palavra estrangeira.
Sebastian não deveria esconder Emir e sua confusão dele.
— Uh huh.
— As coisas são, — Sebastian pausa, — interessantes.
Mason levanta as sobrancelhas, mas não interroga Sebastian. Ele respeita o
código dos Bro's.
Bom, porque Sebastian não queria ter que contratar assassinos para tirar
Mason de sua miséria. Então, com quem ele absorveria os últimos resíduos do
verão?
A sorveteria tem alto-falantes tipo megafone da velha guarda nas laterais que
tocam música que os pais de Sebastian dançaram. Eles estão tocando uma
música estridente de Elvis Bishop. Sebastian teve um flashback daquela cena em
Guardiões da Galáxia. Ele adora esse filme. Ele adora a nostalgia que a música
evoca, a maneira como ela se encaixa nesta pequena cidade perfeitamente
estranha. Ao lado dele, Mason cantarola, batendo um pé.
Essa distração os impede de perceber Grey. Ela parece uma ninja, de repente
jogando uma casquinha em Mason. Seus grandes olhos verdes refletem os
últimos indícios do pôr do sol. — Menta. — Ela balança a casquinha no rosto
de Mason. — Seu favorito, certo?
— Jesus, — diz Mason, quase em um grito.
Willie coloca o queixo sobre o ombro de Grey. Ele diz, zombeteiro: — Ela
sabia, cara, quão incrível é isso?
— Tão incrível quanto alguém enfiando aquela colher de plástico em seu...
— Isso é um agradecimento? — Grey interrompe Mason. Ela tem uma
sobrancelha levantada.
Mason resmunga, mudando de posição até que sua coxa esteja pressionada
firmemente contra a de Sebastian. — Sente-se, Patrick. — Baixando as
sobrancelhas, ele rosna: — Silenciosamente.
Grey desaba no banco. Ela entrega a casquinha a Mason. Uma curva de
satisfação aparece em seus lábios quando ele lambe violentamente o sorvete
derretido.
— Pequenas vitórias, — Willie sussurra para ela.
Mason o ignora.
Sebastian cruza as mãos atrás da cabeça, fazendo o possível para se esticar
enquanto se espreme no banco. Ele canta "Blister in the Sun" enquanto Mason e
Willie continuam sua discussão fraternal. Grey tenta participar da conversa. Ela
não está irritada. Talvez seja porque Mason não a cala cada vez que ela abre a
boca.
Ao redor deles, o time enche as ruas: brigando com armas de água, olhando
vitrines, desfilando como um bando de adolescentes bêbados com o clima bom e
liberdade.
Sebastian deveria se juntar a eles.
— Não é o Shah? — Mason aponta para a sorveteria.
A respiração de Sebastian para. Ele espia por entre os cílios, fingindo que
Mason está errado. É simplesmente um cara magrelo aleatório com ombros
tensos que é extremamente tímido em ambientes públicos e tem Síndrome de
Carranca Permanente. Esse cara pode parecer Emir, se a pessoa apertar os olhos.
A ilusão de Sebastian dura cinco segundos, até que o cara começa a se virar...
— Sim, — Grey diz, beijando sorvete de morango. — É ele. — Ela agora é
inimiga de Sebastian.
— Hã. — Willie tem o cuidado de não encontrar os olhos de Sebastian, mas
ele sorri como se tivesse um segredo. — Ele nunca vem para a cidade conosco.
Todos os amigos de Sebastian estão mortos para ele. Ele vai começar sua busca
por novos amanhã, mas primeiro...
Grey pergunta: — Devemos convidá-lo?
Sebastian estuda seus sapatos. Suas bochechas estão quentes. Ele se recusa a
fazer contato visual ou dizer a coisa errada.
— Ele não gosta de nós, — diz Mason.
— Ele não gosta de você, — Willie e Grey dizem juntos, rindo.
Mason finge uma risada enquanto faz uma saudação com dois dedos. — Isso
não é humanamente possível. Eu sou muito simpático. — Seu peito está inchado
e seu queixo se projeta. — Não é mesmo, Patrick?
Grey dá um soco na coxa dele. O pânico invade a vida de Sebastian quando
Grey diz: — Vou fazer ele vir.
Ele consegue dizer um "Não" que soa estrangulado e ansioso.
Três cabeças se viram lentamente em sua direção.
Suspirando, Sebastian se contorce para fora do banco. Ele tira o pó da calça
jeans. Ele está lutando contra uma carranca. — Eu vou buscá-lo. — Os olhos
estreitos de seus amigos confirmam que eles estão juntando tudo.
Se ele contasse a eles, seria tão ruim? Mason e Willie nunca julgaram
Sebastian, não quando ele não parava um gol durante um jogo, ou quando
chorava por Sam. Ter uma relação com Emir deveria ser inofensivo.
Limpando a garganta, Sebastian diz: — Talvez ele fique um pouco menos
ansioso se eu for aquele que o convide. Nós somos, hum, amigos. De novo. —
Ele deixa de fora e acho que estou me apaixonando por ele porque esse é um
momento puramente embaraçoso que ele não consegue dizer em voz alta.
— Tudo bem, — diz Mason. Os olhos sorridentes de Grey confirmam as
palavras de Mason. Willie parece cético.
Sebastian gira sobre os calcanhares. Ele respira fundo, enfia as mãos nos bolsos
e vai até a loja.
***
***
***
OS DIAS AINDA SÃO ÚMIDOS e quentes, mas o céu fica rosa-claro e, mais cedo,
cinza-azulado profundo. O pôr do sol traz um frio confortável, um sinal seguro
do início do outono. O acampamento acabou, mas ainda há fogueira esta noite.
Sebastian conseguiu sobreviver aos últimos dias apenas seguindo sua rotina, algo
em que ele é bom. Amanhã à tarde, eles se amontoarão no carro de Mason para
voltar para Bloomington.
Então é colégio e uma longa contagem regressiva para a formatura.
Sebastian tem evitado pensamentos motivados pela ansiedade sobre a vida
após o colégio. Ele absorve o sol baixo, laranja como a ponta de um pirulito
laranja, e aprecia o calor constante.
A boa e velha Oakville. No próximo verão, quem sabe onde ele estará, como o
tempo estará, ou se ele vai se sentir assim novamente.
Sebastian quer se perder, não com cerveja barata, mas com a agitação do
verão. Talvez ele possa ficar tão agitado que não terá que acordar amanhã de
ressaca com a realidade.
O campo é verde e espinhoso sob as mãos de Sebastian. — Que mundo, —
ele diz suavemente. Aromas terrosos e calor úmido enchem seu nariz. Úmida de
suor, sua camiseta gruda no peito. Ele está vagando pelas horas que lhe restam
até o jantar.
O treino de hoje foi longo e cansativo, mas não foi uma merda. O time estava
em sincronia. Sebastian agradece a Grey por isso.
Ele puxa os joelhos perto do peito. Distraidamente, seus dedos percorrem um
curto comprimento na parte interna de seu antebraço. Ele vai ter um hematoma
feio amanhã após bloquear um ataque de Robbie, mas, tanto faz. Valeu a pena.
Na verdade, o dia todo foi lindo.
— Achei que você brincava com bolas nas horas vagas? Você é um merda!
Willie diz, sem fôlego: — Tanto faz, Riley. Não recebo queixas sobre a forma
como lido com as bolas, obrigado.
Mason e Willie estão tendo seu desafio anual de embaixadinhas. O concurso é
uma desculpa para Mason se exibir e para Willie provar seu valor. Ele tem
guardado toda a força que lhe resta no joelho para este dia. Sebastian
normalmente é bom com ambos, mas hoje ele não consegue nem fazer isso. Em
vez disso, ele observa com carinho.
Ele nunca teria conseguido entrar no time sem eles. Ele não teria sobrevivido
ao ensino médio sem eles. Talvez se ele e Emir tivessem continuado amigos...
Sebastian geme. Ele passou três dias – três dias inteiros – evitando Emir. É mais
fácil durante as refeições, já que Emir nunca se sentou com eles de qualquer
maneira, mas as corridas matinais solo, as noites passadas em sua própria cama e,
especialmente, os treinos são tediosos e cansativos.
O que incomoda Sebastian é, ele acha que deveria se desculpar. Isso vai
importar? As coisas continuariam desse jeito assim que a temporada acabasse e
Emir não quisesse impressionar seu pai? Sebastian não sabe.
E aqui está ele de novo, sem saber o que acontecerá com sua vida depois do
futebol. Sebastian só precisa de alguém para lhe dar uma resposta.
Uma prancheta bate na grama ao lado de Sebastian, seguida por um
resmungão e descontente Treinador Patrick. — Muito velho para isso, — diz o
treinador, com as pernas cabeludas esticadas à sua frente e a aba do boné puxada
para baixo para fazer sombra.
Sebastian levanta uma sobrancelha curiosa.
— Não consigo entender por que você sempre faz isso. — O treinador se
apoia nas mãos. — Que jovem de dezessete anos tem tantos momentos de
autorreflexão?
O treinador lembra a Sebastian um pai da TV, é tudo discursos profundos,
depois um abraço de urso. Ele passa de Wolverine cruel em campo para o Sr.
Rogers sem piscar.
— Uh, eu...
O treinador levanta um dedo. — Não é ruim, Sebastian, exceto que só
acontece depois de um treinamento ruim ou um jogo difícil. — O sorriso do
treinador aprofunda seus pés de galinha. — Lembra quando jogamos naquele
colégio incrível de Chicago?
Sebastian nunca vai esquecer.
Após a perda desastrosa que os Lions sofreram, Sebastian passou uma hora
despejando suas tripas nas baias. Em seguida, ele marcou um lugar nas
arquibancadas vazias do estádio e ficou horas sentado com seus fones de ouvido,
emburrado. Ele não disse uma palavra por vinte e quatro horas.
— Você é bom em se punir, garoto. — O treinador coloca um braço carnudo
em volta dos ombros de Sebastian. — Mas chega.
Sebastian balança a cabeça, soltando um suspiro para tirar o cabelo da testa.
— Os outros treinadores e eu temos conversado. — O treinador faz uma
pausa, olhando para Mason. O estômago de Sebastian aperta. O treinador
balança a cabeça e diz: — Você cresceu, garoto. Há um alvo em você na
conferência; todo mundo está falando sobre o goleiro da BHS.
A garganta de Sebastian está seca. Ele diz: — Uau! — mas é rouco.
— Você está melhor do que Riley, — o treinador diz sem leviandade. — Não
esperávamos isso depois do primeiro ano.
Sebastian diz: — Eu não estou, — por instinto, mas o treinador faz um tsks
para ele, então ele cala a boca.
— Foi uma votação unânime. Você é o capitão.
Não penetra imediatamente. Capitão. Então, os arrepios aparecem como uma
erupção na pele. Dormência e alívio atingiram Sebastian de uma vez. Ele coça a
têmpora, tentando juntar as partes de um "obrigado", mas o treinador o adianta.
— Eles seguem você, — diz ele, acenando com a cabeça em direção a Mason e
Willie. — Você é o único líder que eles querem.
Carl definitivamente não concordaria.
O treinador o considera. — Olheiros universitários querem ver você, Bastian.
Jogue bem esta temporada e você pode ter uma bolsa de estudos onde quiser.
Sebastian quebra o contato visual para olhar o sol poente. O céu está ficando
rosa. Seus dedos se enrolam em torno da grama espinhosa. O calor minguante
esfria em seu pescoço.
O time de futebol de Bloomington High tem um novo capitão. Capitão
Hughes.
Uma respiração forte finalmente escapa dele. — Obrigado, treinador.
O treinador grunhe; seu braço fica frouxo nos ombros de Sebastian. Ele é
áspero, intimidante, mas o treinador considera cada um dos jogadores seu filho,
incluindo brincalhões como Mason. Sebastian tem orgulho de fazer parte disso.
O treinador muda de assunto. — Então. — Os cabelos do pescoço de
Sebastian se arrepiam com o olhar perspicaz do Treinador. — Shah, hein?
Nunca suspeitei dele como seu tipo.
Este momento seria muito mais engraçado se Sebastian não tivesse certeza de
que está a um segundo de um ataque cardíaco. Ele foi arruinado, estremecendo
com sua risada patética de "nem eu" e com o olhar especulativo, mas divertido
do Treinador. Ele não sabe o que é pior, ser pego por sua mãe beijando uma
garota ou a consciência do treinador sobre sua saudade do cara que o odeia.
Ambos?
E ele sente falta dele? Jesus, Sebastian odeia como seu cérebro funciona.
— Ele é meu, — Sebastian engasga, depois tenta novamente. — Ele é meu
amigo. — E ele é meu tipo também. Talvez não fosse aparente quando ele
percebeu que gostava de caras, mas essas memórias de infância fazem Sebastian
pensar que algo estava lá, adormecido.
O treinador cantarola.
Sebastian diz, com urgência: — Eu me importo com ele, mas nada está
acontecendo. — Não mais. Ele despeja meio quilo de arrependimento em cima
dessa palavra.
O treinador balança no lugar, chocando Sebastian. Ele diz: — O'Brien está
convencido de que ele fará um líbero cruel se conseguir manter a calma. — A
maior falha de Emir. — Mantenha-o na linha.
Sebastian estala. Suas mãos arranham a grama. Ele mal consegue manter seus
próprios sentimentos sob controle. O que o treinador está pensando? Ele
guincha, — Ok. — O treinador olha para ele e as próximas palavras quase
arrancam a mandíbula de Sebastian ao tentar sair. — Mas e se... e se eu estiver
meio apaixonado?
— Meio?
Sebastian fecha os olhos com força. Ele está tonto e obviamente prestes a
cometer um grande erro. — Eu acho que estou.
É a primeira vez que Sebastian diz isso em voz alta para alguém, incluindo ele
mesmo. Ele ainda está descobrindo sua própria definição de amor. Você não
deveria acordar querendo nada mais do que o sorriso do seu parceiro ou olhos
afetuosos ou voz afetuosa? Para uma emoção tão procurada, o amor certamente
vem com muitas perguntas sem resposta.
Sebastian abaixa a cabeça. — Eu deveria liderar esse time, mas não consigo
nem convencê-los a gostar de Emir. Não posso dizer a eles que eu gosto de Emir.
— Ele olha para a grama esmagada perto de suas chuteiras. — Falamos sobre
aceitação, mas é diferente quando você está na posição de dizer a esses caras
como ser homens.
— Você não está ensinando a ninguém sobre a masculinidade, — diz o
treinador. Então, com uma voz calma e firme, — E você com certeza é mais do
que apenas sua sexualidade para eles.
Sebastian ignora seu batimento cardíaco irregular. Ele se concentra nas
palavras do treinador e na expressão serena, mas séria em seu rosto.
Isso é mais do que um discurso.
— Quando Xander foi expulso… — o treinador fez uma longa pausa. Ele
nunca fala sobre seu sobrinho. — Xander é tão inteligente e um Patrick, o que o
torna ainda mais bonito.
A risada de Sebastian vibra profundamente em seu peito.
O treinador olha o pôr do sol. Ele sempre tem um monólogo ou pelo menos
uma citação no bolso de trás para qualquer ocasião. Mas agora ele está
procurando por algo. — As coisas não abalam Xander. Ele sabe quem é, sempre
soube. Quando ele decide algo, ele o faz porque está em cada pedaço de sua
alma.
A grama espinhosa desliza entre os dedos de Sebastian enquanto suas mãos
percorrem o campo. Ele mataria por um pouco dessa certeza.
— Ele sabia que era gay. Não foi uma pergunta ou uma decisão, — diz o
treinador. — E ele não escondeu isso do meu irmão, da mãe dele ou de mim.
— Uau.
O treinador ri, melancólico, e então ele fica sério novamente. — Ele se
questionou quando foi expulso do time. Ele se escondeu. Ele não queria se
assumir e ter orgulho disso ou mesmo reconhecer sua sexualidade. — O
treinador funga, e Sebastian dá a ele privacidade por não encontrar seu olhar. —
Pela primeira vez, meu sobrinho não tinha certeza de quem ele era.
Um mal-estar familiar aperta o estômago de Sebastian. Está quente, mas um
suor frio está se aproximando. Ele não sabe como o treinador consegue
continuar.
— Devo dizer a todos vocês com mais frequência porque faço deste time um
lugar seguro para qualquer pessoa considerada diferente.
— Nós sabemos.
O Treinador inclina a cabeça. Ele está falando sobre mais do que apenas
Sebastian, mais do que Willie e Mason. É qualquer um que recebe um rótulo,
que está previsto para falhar por causa das regras da sociedade, por causa de um
estereótipo.
— Não é fácil ser o único treinador no distrito que defende caras como
Xander, — diz o treinador, queixo erguido. — Eu não deixo um garoto sair do
meu time sem a chance de ser ele mesmo, seja ele gay ou bi ou trans ou qualquer
outra coisa. Eu também ouço merda por isso.
Sebastian ouviu falar dos treinadores que se recusam a olhar o treinador
Patrick nos olhos e os pais e professores que chamam o treinador de "um
apoiador dos pecadores que queimará no inferno."
— Fiz uma mudança, garoto, — diz o treinador, suspirando. — Eu não estava
fazendo o suficiente para garantir que meu sobrinho, ou qualquer pessoa,
soubesse que esta vida não é definida por quem você se apaixona.
Sebastian quer cair de costas, olhar para o céu que escurece e digerir tudo isso.
Você não é definido por quem você se apaixona. É um slogan para um pôster ou
uma camiseta, mas, puta merda, diz muito. Sebastian pode ver, em um
Technicolor vibrante, a única coisa que falta para ele: respeito. Não aceitação.
Porque isso significaria que Sebastian quer que as pessoas o aprovem. Aprovem
sua afeição pelo Emir. Ele não está procurando por essa marca de
reconhecimento.
Ele quer que as pessoas o respeitem, independentemente de por quem ele se
apaixone.
— Eu faço isso por Xander. É a coisa certa a fazer. — O braço do treinador
cai dos ombros de Sebastian. Ele se reclina, com as mãos apoiando-o e diz: —
Não estou procurando por santidade. Isso é sobre pessoas como você, que
precisam saber que você é muito mais do que imagina.
Sebastian apoia o queixo nos antebraços. O treinador está certo. Ele não diz a
eles com frequência suficiente por que faz isso.
— Como está Xander agora?
O treinador sorri amplamente. — Ele tem namorado e está na faculdade
pública. O melhor da classe, no time de basquete. — Ele ri. — Eu não consegui
fazê-lo se transferir para a BHS, no entanto.
— Claro.
O treinador geme, senta-se corretamente e agarra sua prancheta. — Você
conquistou o respeito e o apoio deles; essa é a menor das suas preocupações. —
Ele fica de joelhos, depois de pé. — Mas se você não for honesto com eles e nem
consigo mesmo sobre Shah, perderá o respeito deles.
Sebastian fica tenso.
— Eu não tolero relacionamentos românticos no time. — O treinador tem
aquela expressão firme, "Eu sou o adulto" novamente. Em seguida, ele suaviza
quando ele diz: — Mas se você se preocupa com alguém, siga seu instinto.
Sebastian mastiga um sorriso estranho. Ok, falar sobre Emir com o treinador é
muito estranho, mas não supera ser pego pela mãe dele. Nada supera ser pego
por seus pais fazendo alguma coisa.
— Ok, treinador.
O treinador tira a poeira do short e vai embora. Quando ele está fora de vista,
os ombros de Sebastian caem e ele solta um longo suspiro.
— Ok, fale.
Sebastian esfrega a mão no rosto. Willie e Mason pairam sobre ele, tontos
como crianças no Natal. Sebastian não sabe se deve desmoronar ou acabar com
sua miséria. Ele opta pelo último.
— Eu sou o capitão, — diz ele, e não consegue fazer isso sem arrepios nos
braços.
— Mentira, — diz Mason, acusador. — Capitão Hughes?
Sebastian balança a cabeça, e então grita de tanto rir quando eles o perseguem.
O cotovelo de Mason bate em suas costelas. Willie ajoelhou-o na coxa. Sem
fôlego e suados de tanto lutar, eles se deitam na grama que coça.
— Ai.
— Vocês são péssimos, — reclama Willie. — Piores amigos de todos os
tempos.
O céu está em chamas, todo carmesim e laranja. A respiração deles não está
sincronizada, mas pode muito bem ser. Mason está à sua esquerda, Willie à sua
direita. Finalmente bêbado no verão, Sebastian enfia as mãos atrás da cabeça.
Depois de muito silêncio, conversas aleatórias acontecem, começando com a
admissão grosseira de Willie sobre sua paixão por Hunter. Ok, é
repugnantemente fofo. E é o segredo mais mal guardado do mundo agora.
— Duh. — Mason revira os olhos. — Vai pedir a ele para ser seu namorado?
Willie fica vermelho, mas ele já está queimado de sol, então é quase
imperceptível. Ele sussurra: — Talvez.
Sebastian pode imaginar Willie e Hunter sendo aquele casal no baile:
combinando cartazes de campanha, carinhas se beijando para a coroação, um
momento iluminado de última dança no final da noite. Ele diz: — Will vai ter
um namorado do ensino médio.
— Tanto faz, — diz Willie, rindo como se estivesse apaixonado. Ele muda de
assunto: a vida após a formatura, a favorita de Sebastian! Mason ainda está no
barco de Michigan, possivelmente adiando seus sonhos de *MLS por alguns
anos. Willie está inclinado para uma faculdade técnica.
Sebastian olha para as nuvens que se desvanecem. Ele pode dizer a eles, mas
não o faz.
— Eu acho que, — Mason para, coçando o nariz. — Eu quero convidar
Patrick para sair.
— Patrick Wiggins, do time de atletismo? — pergunta Sebastian.
Willie engasga, — Espere, o treinador Patrick?
Mason bate a palma da mão na grama. — Não, idiota, Grace.
O queixo de Willie cai, e Sebastian tem que lhe dar uma cotovelada antes que
Willie se recomponha e diga: — Oh, sim. Certo. Grey Patrick... a garota que
você odeia?
— Eu não a odeio.
— Hum, odeio te dizer isso, cara, mas...
Mason o interrompe. — Eu gosto dela e sou um idiota, ok?
— Gosta mesmo dela? — pergunta Sebastian, para confirmação.
Mason vira a cabeça, olhando feio. Ele pode socar Sebastian, mas não antes de
dizer: — Eu errei. Mamãe me mataria se soubesse que agi assim com uma doce
garota. — Ele baixa os olhos. — Acho que sou como meu pai.
— Você não é, — diz Sebastian. O ombro de Mason relaxa contra o dele. —
Todos nós erramos, mas você não é ele.
— Palavras sábias de Sebastian, o Grande.
Deixando os apelidos legais de lado, Sebastian não hesita em dar um soco no
ombro de Mason. Ele é um idiota, mas está melhorando. Talvez Grey lhe faça
algum bem?
Willie, por outro lado, é um traidor de sua espécie. Sebastian sente que o
próximo tópico chega como o assassino em um filme de terror. Willie abre sua
boca grande. — Então, o que há com você e Shah?
Sebastian aperta os olhos com tanta força que pode atirar lasers.
— Sim, — Mason diz, sorriso tortuoso em seu rosto, — vocês dois estão
namorando? Não minta para mim, cara.
Sebastian vira sua cabeça para o céu. Ele não pode mentir para eles. Willie
testemunhou um Emir seminu em sua cama. Mason está por perto há tanto
tempo que se tornou mais perceptivo sobre as besteiras de Sebastian do que ele
mesmo. Eles são seus irmãos, e esse peso que ele carrega apenas o deixa exausto.
As nuvens começam a se dissolver, deixando o céu um livro aberto, e Sebastian
pensa: por que não?
— Sim. Não. — Sebastian balança a cabeça; seus pensamentos são como um
trem descarrilado. — Fomos. Eu estraguei tudo, pra caramba. Eu só... — Ele
suga uma respiração ruidosa. — Não sei, mas tenho certeza de que não vai
acabar do jeito que eu queria.
Mason diz: — Você quer que eu bata nele?
Sebastian engasga com sua própria saliva antes de rir. Lágrimas mordem seus
olhos. Ele não tem certeza se é por causa da oferta de Mason ou do alívio.
Contar aos amigos sobre Emir é como se assumir. Como ficou tão pesado? Por
que as pessoas permitem que coisas tão preciosas para elas se transformem em
segredos sombrios e insuportáveis?
Os dedos de Willie são simultaneamente frios e perfeitos quando apertam o
cotovelo de Sebastian. — Quer que ajudemos? Podemos falar com Emir ou
Hunter pode.
— Não. — É um acidente quando as lágrimas escorrem dos cílios de
Sebastian. Quando ele se tornou uma rainha do drama? — Eu posso lidar com
isso.
— Olha pra você. — Mason assobia. — Você veio para o acampamento como
um perdedor e está deixando como um homem. Anota aí, Will.
Willie se estende por toda a extensão de Sebastian para socar o ombro de
Mason. Eles brigam como crianças brigando por um brinquedo, e Sebastian
suspira. Parte dele está submerso em culpa. Seus dois melhores amigos estão
dispostos a sequestrar e torturar Emir por ele. O que ele fez por eles? Ele não tem
sido um grande amigo enquanto eles lidam com suas próprias vidas românticas.
Mas então Willie diz: — Se você diz. Mas nós protegemos você, Bastian, — e
a realidade afunda seus dentes no cérebro de Sebastian. Às vezes, não há
problema em não ser o melhor amigo perfeito. Às vezes, seus amigos podem
cuidar de você.
Qualquer que seja a mola perversa que estava apertando seu peito, finalmente
se desenrola. Então seus olhos ficam um pouco turvos, mas ele não enxuga as
lágrimas. Estas são felizes, então está tudo bem. Ele não se importa se chorar não
é considerado viril. Quem escreve essas definições estúpidas de viril, feminino,
linda ou bonito, afinal?
— Bastian, cara, — diz Mason, como se tivesse sido atingido por uma
epifania. — Você gosta de Emir.
— Cale a boca, Mace.
— Emir Shah magro, quieto e descoordenado.
— OK. Ponto feito.
— Puta merda! Eu não vi isso vindo.
Mason está condenado a não ter amigos antes de se formar.
A fogueira é em algumas horas, e então eles farão as malas para voltar para casa
amanhã. Sebastian não quer se mover, e seus amigos também não fazem esforço
para se mover.
— Estamos perdendo o jantar, rapazes, — diz Mason em um sotaque lento e
preguiçoso.
— Sim, — sussurra Willie. Ele aponta para cima. O céu se estende até o
infinito, uma tapeçaria de todos os tons de roxo e azul, pontilhada por estrelas
fracas. — Mas não estamos perdendo isso.
As bochechas de Sebastian pressionam seus olhos.
Carinhosamente, Mason diz: — Maldito seja, Will, e sua boca poética.
26
***
***
— BEM, ESSA COISA DE CAPITÃO COMBINA muito bem com você, — Zach diz
depois de outra prática exaustiva.
Sebastian mal consegue manter os olhos abertos. — Você acha?
Zach desaba ao lado de Sebastian na área do pênalti e lhe dá uma garrafa de
água antes de abrir a sua.
Sebastian arrasta a garrafa no rosto. O alívio que vem da condensação fria
misturada com suor pegajoso é grande.
— Você certamente está causando uma boa impressão, — diz Zach. —
Rollins tem uma queda por você.
Sebastian praticamente engasga com seu primeiro gole de água. — Ele não
tem! — Ele espera que Rollins realmente não tenha. Rollins é um calouro e ele
fica embaraçado quando chega a hora de manter uma conversa.
Zach dá de ombros. — Talvez não. — Ele bebe mais água e diz: — De
qualquer forma, estamos parecendo muito bons.
E eles estão mesmo. É seu último treino antes do grande jogo de sexta-feira e,
embora já se tenham passado três semanas do ano letivo, o time está arrasando
com tudo que o treinador Patrick joga neles. A defesa ainda tem alguns buracos
– seus laterais tiveram oportunidades – mas nada com que Sebastian não possa
viver. A sinergia deles está no ponto.
— Nós somos aceitáveis, — Sebastian diz, secamente. Zach o empurra.
Sebastian se inclina, se segura com o cotovelo e ri.
— Dê uma olhada naquele cara, — diz Zach, apontando com a cabeça para a
lateral onde Willie, de muletas, carranca e tudo mais, ensaia o ataque. — Ele está
se recuperando bem.
Sebastian tem certeza de que é principalmente por causa de Hunter. Mas
também é porque o treinador tem incentivado o envolvimento de Willie nos
bastidores. Ele não está deixando Willie se afogar em autocomiseração, não do
jeito que ele fez naqueles primeiros dias. Eles chamam de depressão pós-operação,
e Willie teve bastante disso. Ele se isolou, fechou o mundo para fora e não olhou
nos olhos de Sebastian quando ele o visitou.
Agora ele está de volta, e todos os treinadores o tratam como se ele fosse um
membro do time em vez de um jogador no banco. É óbvio que o time o respeita.
E ele tem dominado essa coisa de ser treinador.
— É melhor não deixar subir para a cabeça dele.
— Mas vai. — Suprimindo uma risada, Sebastian sacode a água. Mason vai
ser o primeiro a estourar a bolha de Willie. Sebastian está ansioso por isso.
— Cara. — Zach cutuca Sebastian com o cotovelo. — Emir é uma fera.
Sebastian cruza os tornozelos e coloca as mãos no colo. Ele sussurra: — Sim.
Emir se tornou um monstro no arremesso. Ele é o pior pesadelo de todos os
atacantes, incluindo Mason. Ele ultrapassa todos e tem uma boa leitura do
próximo movimento de um jogador. Ele protege o gol como se fosse seu, como
se estivesse determinado a manter as pessoas longe de Sebastian. Seria lisonjeiro,
mas eles ainda não estão se falando.
Zach bate em seus ombros. — Eles estão dando crédito a você por essa
reviravolta. Isso te dá muito respeito, Bastian.
Sebastian levanta as sobrancelhas. Ele fez alguma coisa por Emir? Hoje em dia,
tudo que ele faz é dar um sinal de positivo para Emir toda vez que faz uma boa
jogada em campo. Sebastian é um covarde. Ele deveria estar gritando "Eu te
amo" como exige um bom filme dos anos 80. Sebastian não é Jake Ryan.
Mesmo agora, Sebastian está mal, olhando para Emir em seu uniforme de
treino enquanto Emir se apoia em Hunter ou conversa com Gio. Seus olhos
examinam as panturrilhas tonificadas de Emir, sua cintura estreita, seus ombros
largos e aquele pescoço longo e magro.
Que perdedor apaixonado! Tudo o que ele precisa fazer é parar de ficar tão
mal-humorado e dizer tudo isso ao Emir. Ele termina sua água.
— Nós vamos conseguir, cara, — diz Zach, oferecendo a Sebastian um soco
no punho. Ele retribui e se concentra no que está por vir.
Os espartanos vão virar pó.
27
PURO, O PÂNICO QUE LHE DEIXA A SEGUNDOS DE VOMITAR atinge Sebastian uma
hora antes do jogo de sexta-feira. O estádio está lotado de ponta a ponta. O
futebol de Bloomington é a verdadeira atração para os locais. Ninguém perde
um jogo em casa.
— Estamos prontos, — ele sussurra para si mesmo, andando pelo túnel fora
dos vestiários. Ele não pode sentar. Ele está muito nervoso, ansioso e delirando.
Este é o seu ritual antes do jogo, e ninguém o perturba, ninguém exceto Grey.
Ela fica enfiando a cabeça para fora do escritório do treinador. Seus grandes
olhos verdes recifenses o encaram; sua boca está franzida como se ela fosse dizer
algo.
— Estou bem.
Ela acena com a cabeça uma vez e depois desaparece.
Sebastian abre as mãos, balança os dedos e volta a andar. Ele não trouxe seus
fones de ouvido, então ele não pode ouvir The Killers e dar a si mesmo algo para
transferir toda sua inquietação. Ele esfrega as chuteiras no cimento e reza para
que seu estômago pare com o bate e volta que esteve acontecendo o dia todo.
— Cara, não acredito que você não sabia a resposta para essa pergunta.
— Não acredito que você não me avisou sobre a prova de hoje.
Sebastian recua com as vozes. É Hunter e Emir. A risada deles precede sua
caminhada lenta no corredor. As sombras criadas pela pouca iluminação tornam
mais fácil para Sebastian ficar para trás, grudando-se na parede. Ele está
trabalhando para dizer algo a Emir. Ele simplesmente não chegou lá ainda. E
ensaiar "Olá" e "Eu te amo" no banheiro todas as manhãs não está ajudando.
Hunter bagunça o cabelo de Emir. — Alguma coisa te distraindo
ultimamente, Shah?
— Sim, fazer você parecer um perdedor em campo!
Sebastian bate com a cabeça na parede. Droga, ele sentiu falta da risada rouca
de Emir. É uma pena ele não ter coragem o suficiente para que ele possa
simplesmente dizer isso a ele.
Mais acima, uma porta se abre e sai da tangente três dos defensores de St.
Catherine. Sebastian só reconhece um: o maior rival de Mason, Cole Henry.
Dois brutamontes o flanqueiam. Um tem cabelo castanho dourado desgrenhado
e um sorriso feio, e o outro, um cara magro, tem a barba por fazer e olhos verdes
como a grama da primavera. Sua camisa diz MICHAELSON, mas sua carranca
diz "Babaca de primeira".
Eles avançam, bloqueando Emir e Hunter.
— Vejam o que temos, rapazes, — diz Cole. — Se não é o time de maricas de
Bloomington.
O vestiário ecoa com suas gargalhadas. Sebastian fica tenso. Seus dedos suados
se fecham em punhos. Ele está acostumado com times trocando provocações. É
tudo estratégia, como qualquer outro esporte. Inferno, Carl ou Zach fazem isso
com os jogadores com frequência. Se você conseguir entrar na cabeça de um
inimigo, a vantagem é toda sua. Mas esses idiotas estão decididos a outra coisa.
Michaelson diz: — Os rebeldes do arco-íris, certo?
Shaggy dá um soco em seu ombro. Ele olha para Emir e depois para Hunter.
— Cuidado, eles podem chamar seu treinador que monta unicórnios para nós.
Todos eles uivam e a mandíbula de Hunter fica tensa. Emir, por outro lado,
está animado, olhos negros com finas bordas cinza. Sebastian tem certeza de que
Emir vai derrubar um deles, e então ele estará fora do jogo, acabando com
qualquer chance que eles tenham na defesa. Claro, Sebastian também vai parar
no banco, se algum desses idiotas levantar um dedo contra Emir.
— Afaste, — diz Hunter, rispidamente.
Cole entra em seu espaço. — Ou o quê? Você sabia que joga por um time de
homossexuais? Sua mãe sabe disso quando você chega em casa coberto de...?
— Cai fora, — Emir rosna. Seus ombros estão rígidos; suas narinas se dilatam.
Michaelson e Shaggy se inclinam para frente, mas Cole abre os braços,
mantendo-os para trás. Ele ri. — Oh, você tem coragem. — Sua cabeça ergue.
— Aposto que você faz bom uso dela, certo?
— Que sotaque adorável, — brinca Michaelson.
Cole lambe os dentes. — Sim, ele tem mesmo. De Londres talvez? — Ele está
na frente de Emir agora. — Você gosta de jogar com um time cheio de fadas?
A pele ao redor dos olhos de Emir fica rígida. Ele solta um longo suspiro, mas
não recua.
O coração de Sebastian está acelerado. Ele poderia aguentar contra Cole.
Talvez os outros dois também. Eles são pura conversa, nada de ação, uma marca
registrada de St. Catherine. Ele só precisa chegar perto o suficiente para...
Outra porta se abre, do vestiário de Bloomington, e sai Zach. Ele para,
avaliando a situação. Então, ele sorri como um lobo. — Bem, o colégio de St.
Catherine para os Pobres e Desavergonhados, — diz ele, e, em dois passos, ele
fica entre Cole e Emir. Depois de um tempo, Cole dá um passo para trás.
Sebastian ainda está tenso, pronto para atacar.
— Isso é uma conversa estimulante antes do jogo? — Zach pergunta. Ele
inclina os olhos para Cole. — Você precisa de alguns conselhos de nosso novo
líbero estrela sobre como fortalecer sua defesa de merda?
Cole faz uma careta. — Você vai perder, Keating.
— Hmm, essas são palavras provocadoras para a partida ou você está
flertando?
As mãos de Cole se fecham em punhos. Michaelson e Shaggy rosnam atrás
dele. Zach se balança nos calcanhares enquanto Cole fica vermelho, bufando.
— Para um colégio cheio de idiotas mauricinhos, você está com certeza
preocupado demais com a vida sexual do meu time. — A postura de Zach está
totalmente rígida. — Quer entrar no time também?
— É melhor seu bando de bichas...
É isso. É tudo que Zach precisa antes de estar no rosto de Cole, peito a peito,
narizes quase se tocando. Ele rosna: — Diga um pouco mais alto, idiota. — Seu
sorriso se inclina para o psicótico. — Isso mesmo, alguns dos meus manos são
gays ou bi, e eles podem acabar com vocês com os olhos vendados.
Cole se encolhe enquanto Michaelson e Shaggy empalidecem e se afastam.
Zach diz: — Da próxima vez que quiser falar merda com meus irmãos, faça-o
com confiança. — Ele aponta para trás de si mesmo. — Shah e Hunter? Eles são
família, e eu vou acabar com qualquer um de vocês bichinhos de colégio
preparatório que mexam com eles, ok?
A boca de Cole está fina, trêmula. Ele lentamente dá um passo para trás. Ele
sinaliza para Michaelson e Shaggy com um movimento de cabeça; seus
resmungos são diminutos no corredor enquanto eles saem pisando duro.
Zach se vira, os olhos brilhando. Ele ainda está se deliciando com a covardia
deles. Ele é tão ameaçador. — Idiotas. — Ele aponta o queixo para Hunter e
Emir. — Ei, da próxima vez que vocês quiserem brigar, me avisem.
— Eu poderia ter lidado com eles, — protesta Emir.
Zach pega a nuca de Emir com uma grande mão e o puxa para frente. — Eu
sei, Shah. — Seu sorriso se contrai. — Mas eu estou morrendo de vontade de
derrubar um desses idiotas desde que era um calouro. Eles me chamaram de
bastardo porque minha mãe deixou meu pai. Isso entrou na minha cabeça, então
eu devia essa a eles.
A boca de Sebastian está seca. Zach simplesmente se abriu para alguém que
não fosse Sebastian, para Emir, de todas as pessoas. Zach nunca fala sobre sua
mãe.
— Obrigado, Keating.
— A qualquer hora, Shah.
Zach arrasta Emir para um mata leão. Emir luta de forma divertida, embora o
tamanho de Zach o domine. Hunter se junta a eles, pulando nas costas de Zach.
Todos eles tropeçam no vestiário com um baque.
Sebastian afunda contra a parede. O concreto está frio contra sua bunda. Ele
puxa os joelhos contra o peito. — Cara, — ele diz baixinho, — essa é a minha
vida?
Ninguém responde, é claro.
O coração de Sebastian finalmente desacelera para um baque letárgico e ele ri.
É uma daquelas gargalhadas de vilões de filmes, reverberando nas paredes. Grey
espreita a cabeça dela, mas ele não se importa. Ele acabou de testemunhar um
milagre assustador.
— Ok, — diz Grey, lentamente. — O jogo começa em vinte minutos.
Sebastian bate com a cabeça na parede para ter certeza de que não é um sonho.
Então ele acena para ela. Ele cantarola "Eye of the Tiger", porque os filmes de
Rocky são realmente mágicos.
Os Lions estão prestes a chutar o traseiro dos espartanos.
É UM JOGO SEM GOLS na metade do primeiro período. Sebastian está tonto por
bloquear cinco das tentativas de St. Catherine. Mason pode não ter acertado um
gol ainda, mas seu ataque é fazer ótimos passes. É tudo de bom.
Sebastian não deixa um único chute livre passar por ele. Entre essas listras e
postes está sua casa. Dawson e todos os seus lacaios não são mais rápidos do que
suas mãos.
Willie está animado na linha lateral. Batendo as mãos em uma prancheta, ele
late: — Execute um quarenta e dois. — Quando Cain tropeça nos próprios pés,
Willie pragueja as nuvens. As mãos de Hunter alisam o ombro de Willie por
trás. Ele se inclina para trás, e Sebastian quase os castiga por estarem
demonstrando seu afeto em público no meio de um jogo muito importante.
O apito soa e Sebastian cai em sua zona. Dez segundos depois, Dawson está
disparando em direção a ele. Sebastian se ajeita na posição. Mas um borrão preto
e dourado rouba a bola. Emir passa para Gio com um "Vai, Gio, vai" antes que
Sebastian recupere o fôlego.
É a décima vez que Emir faz isso. Sim, Sebastian está contando.
O’Brien grita: — Boa jogada, Shah! — e Emir mal reage. Ele mantém o
mesmo rosto: testa franzida, lábios estreitos, olhos de aço. Mas Sebastian tem
essa sinergia com Emir, algo que começou em algum lugar no meio do campo de
Acampamento Haven sob um céu cinza tempestuoso. É apenas o início da
temporada. Sebastian não consegue imaginar como eles ficarão bem, juntos, em
um mês.
Por cima do ombro, o cabelo suado puxado para trás, Emir grita: — Ainda
sou um novato?
Sebastian sorri com os olhos.
No momento em que o árbitro apita para o intervalo, Sebastian não se lembra
dos últimos cinco minutos. Ele desenvolveu uma obsessão pelo SHAH dourado
nas costas da camisa de Emir.
MASON MARCA OUTRO GOL na marca de quatro minutos, mas o jogo se torna mais
acadêmico depois do gol de Zach. Sebastian evita gols de Dawson mais cinco
vezes, e os espartanos nunca se recuperam. É uma varredura limpa, dois a zero.
Sebastian não consegue se ouvir respirar por causa da multidão barulhenta.
O céu está quebrado com ouro e marrom. O suor gelou a testa de Sebastian.
Estamos em meados de setembro, então o ar está frio quando o jogo termina ao
pôr do sol. Com as cabeças baixas, os meninos de St. Catherine saem do estádio.
Cole se arrasta, carrancudo, e Sebastian espera que eles se encontrem novamente
no torneio estadual para que ele possa tornar aquela cara permanente.
— Rapazes, rapazes, — grita Zach no vestiário. Sua voz carrega o refrão de
"Immortals" vindo dos chuveiros e todas as risadas enquanto os garotos tiram
seus uniformes úmidos. Willie está em seus ombros, sorrindo de orelha a orelha,
quando Zach diz: — Sergio's Pizzeria para algumas tortas. É uma tradição do
time.
Sebastian está encolhido em um banco, espremido entre Hunter e Mason.
Cabelo molhado e encharcado gruda na testa. Ele se vira para ter uma visão
melhor de toda a ação.
— A primeira rodada, — diz Zach, apontando para Sebastian, — é para nosso
amado capitão.
Hunter grita feliz.
Sebastian afunda quando um grito de "Capitão Hughes" irrompe. Ganhar
nunca foi tão desgastante. Mas a exaustão da partida, o alívio e a alegria são
incríveis, e uma noite de pizza significa menos chances de os caras fazerem algo
que valha a pena ser preso.
— Você vem?
Mason está olhando para ele, observador como um falcão, então Sebastian diz:
— Talvez, mas há algo que eu meio que quero fazer primeiro.
Ele tem planos. Ele não tem certeza se vão dar certo. Talvez esta seja sua pior
ideia, depois de atear fogo no lixo de um vizinho com Mason quando eles
tinham treze anos ou jogar Cara-a-Cara bêbado em um cemitério. Essa também
pode ser ruim, certo?
Sebastian sussurra: — Eu precisaria de sua ajuda, na verdade.
Mason levanta uma sobrancelha. Seu silêncio apenas eleva a batida ridícula
dos batimentos cardíacos de Sebastian. Mas um brilho brilha nos olhos de
Mason. — Tudo o que você precisar, capitão.
30
ESTE LIVRO FOI UMA JORNADA desde a primeira palavra, mas é uma jornada que eu
nunca teria feito se não fosse por algumas pessoas incríveis.
Obrigado S.A. McAuley por me empurrar para finalmente escrever um livro
em vez de me esconder em um canto. Você viu o primeiro rascunho, a primeira
sinopse e a primeira rejeição. Você nunca me deixou desistir. Você é meu herói,
meu guru da escrita, mas, acima de tudo, você é meu amigo. Eu amo você.
Obrigado a todos na Duet Books e Interlude Press por acreditarem na história
de Sebastian e em mim. Annie, você tem sido uma das minhas maiores líderes de
torcida desde o início. Sebastian é tanto seu quanto meu. Candy, você é uma
estrela do rock. Ainda não tenho certeza de como você faz tudo o que faz, mas
sou grato por você ser sempre o primeiro a entrar e "sujar" as mãos para cada
autor. C.B. Messer, você é um mágico. Você tirou o conceito da capa do livro do
nada! É lindo e tudo que eu não sabia que eu queria, mas sou grato por ter.
Citando Willie, seu talento é “épico”.
Sempre grato a meus editores Annie Harper, Nicki Harper e Zoë Bird. Cada
um de vocês abraçou a história que eu queria contar. Passei por loops e desafios e
alguns momentos com lágrimas nos olhos, mas valeu a pena. Obrigado por pegar
meu pedaço de argila e esculpi-lo em algo lindo.
Para meus leitores beta: Caroline, Gaby, Daniela, Lincoln e Tiffany — as
coisas que cada um de vocês fez para me ajudar a ajustar este livro não podem ser
retribuídas com um simples “obrigado”. Eu amo o vínculo que criamos com os
Lions.
Agradecimentos especiais ao meu leitor sensível, Fadwa. Você ajudou a definir
quem é Emir e me ajudou a entendê-lo sob uma nova luz. Espero que
adolescentes muçulmanos em todos os lugares vejam uma parte dele em si
mesmos.
Jude Sierra, Pene Henson e Ben Monopoli, — obrigado por me encorajar a
enviar este livro! Além disso, obrigado por lidar com meus momentos de dúvida
e puro pânico sobre isso também. C.B. Lee, você é inspirador; eu não posso
começar a agradecer por tudo que você fez por mim. Rebecca Bratton, você me
disse para largar meu emprego e perseguir esse sonho. Você não aceitaria "não"
como resposta. Estou eternamente em dívida com sua bravura, suas palavras de
sabedoria e sua amizade.
Para cada leitor e escritor do fandom que me enviou mensagens ao longo dos
anos: um monte de gratidão e amor por sempre estar ao meu lado. Vocês
acenderam um fogo em mim que espero que nunca se apague. Agradecimentos
especiais a Eszter, Lynn, Jazz, Avery, Rayza, Ashley e Ducky — suas mensagens
de "você pode fazer isso" têm sido incríveis.
Minha família e amigos maravilhosos — Uau! Isso realmente aconteceu.
Obrigado, mãe, por me tirar de um lugar escuro e me dizer que posso perseguir
esse sonho. Obrigado, pai, Sonya, Tamir, Lindsay e todos que me apoiaram.
Tamica, Jason, Ahmad, Angela e Tony, obrigado por sempre me deixar ser eu.
Finalmente, para todos os adolescentes LGBTQIA + em todos os lugares —
vocês são minha inspiração. Vocês são líderes. Vocês são os melhores jogadores.
Vocês são os verdadeiros heróis. O futuro é seu sempre que vocês estiverem
prontos para assumi-lo. Até então, queime tão brilhante quanto você quiser!
SOBRE O AUTOR
Sim e não. Vivemos em uma época em que é raro passar pela vida cotidiana sem
interagir com pessoas de origens diversas. É um dos aspectos mais bonitos da
vida: construir conexões com pessoas diferentes de nós. Muitos dos personagens,
suas origens, eram orgânicos para mim. Eu não planejei apresentar personagens
de diferentes raças, crenças religiosas ou origens sociais para que meu livro
atingisse uma referência de diversidade. Não seria realista para mim escrever uma
história que não contivesse personagens que não tivessem origens diferentes
quando, na maior parte da minha vida, meus amigos e colegas de trabalho e de
classe eram de origens diversas.
É hora de normalizarmos a diversidade em livros, filmes e TV. Precisa ser um
padrão e não uma ocasião única.
P: O que o atraiu a escrever um romance Young Adult? Existem temas
específicos de YA que você considera importantes para Running with
Lions?
Quero escrever livros que inspirem ou confortem jovens adultos, porque não tive
essas coisas enquanto crescia. Muito do que me tornei quando adulto se
manifestou naqueles anos. Nem sempre tive lugares onde procurar incentivo ou
compreensão. É uma oportunidade de usar minha voz e alcançar adolescentes
queer, para dizer a eles que eu entendo, para que eles saibam que a vida não é
perfeita, mas realmente chega a um lugar melhor.
Um tema muito importante para mim foi a indecisão de Sebastian sobre seu
futuro. É um tópico que gostaria que fosse mais explorado no YA. Nem todo
adolescente chega ao primeiro dia de ensino médio com o futuro planejado.
Alguns nem têm certeza do que farão no dia da formatura. Esses jovens precisam
saber que está tudo bem. Eles precisam ver seus medos, preocupações ou
indecisões representados na página. O discurso que Lily, a mãe de Sebastian, faz
no final do livro, foi a minha maneira de dizer a esses adolescentes que a vida vai
acontecer quando você estiver pronto para ela acontecer. Até então, prossiga da
melhor maneira que puder.
@duetbooks
Twitter | Tumblr
ALSO BY
DUET BOOKS