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Tudo começou com um anúncio...

“Precisa-se de babá para o verão, quarto e alimentação


fornecidos."

Acho que perdi a parte sobre o jogador de basquete


arrogante dormindo no corredor.

Finn Richards é gostoso, cruel, quebrado além do reparo.


Ah, e eu mencionei que estava determinado a me fazer
desistir?

Que que seja. Não é como se seus encantos funcionassem


em mim. Sou imune a seus profundos olhos castanhos e
não estou nem um pouco curiosa sobre o que aconteceu
naquela noite.

São apenas dois meses.

Eu definitivamente posso passar dois meses sem


arrancar a cabeça dele.

O único problema é,

Não tenho certeza se o mesmo vale para suas roupas…


Para as pessoas que salvam a todos...

Espero que se lembre de se salvar.

Aviso: Este livro contém tópicos que podem ser


desencadeantes para alguns leitores (abuso de substâncias,
linguagem chula, tristeza, cenas gráficas maduras,
violência). Por favor, prossiga com cautela.
Pretty Poison – Nessa Barrett

Dark Side – Bispo Briggs

As The World Caves In – a versão de Sarah Cothran

Habits - Plested

I Don’t Believe In Satan - Aron Wright


Querida mãe,

Não preciso de terapia...

Eu gostaria que pudesse dizer isso ao papai.

E a senhora de bigode.

Já agora, diga-lhe que cheira a meias de vagabundo e pergunte o


que está escrevendo naquele seu maldito caderno, aposto que
está desenhando coelhinhos e merdas assim.

Atualmente estou preso em algum escritório estúpido, em algum


estúpido sofá verde, escrevendo cartas estúpidas que nunca
receberá.
Tentei dizer a Hobo Socks1 que se foi, mas ela diz que esse é o
objetivo do exercício.

Para fingir.

Falar com você como se ainda estivesse aqui e não passeando


com os peixes no fundo do Lago Belmont…

E dizem que estou fora de contato com a realidade.

Não perdeu muito, caso esteja se perguntando. Papai ainda


pensa que sou um maluco, e ainda deseja secretamente que
Xavier fosse seu filho em vez de mim.

Aparentemente, meu melhor amigo é um "bom garoto" porque não


sai, e cito - rouba o carro do vizinho e bate em um poste.

Grande. Coisa. Porra.

Ele não entende.

Xavier não perdeu você, mãe.

Se a tivesse perdido, também iria querer incendiar o mundo.

Hobo Socks continua dizendo que estou no caminho da


"autodestruição", seja lá o que isso signifique. Parece divertido, se
me perguntar.

1
- Meias sem a parte dos dedos.
Inscreva-me.

Não ajuda o fato de que eu deveria estar no reformatório agora. A


coisa do carro teria sido gravidade três. Ainda bem que papai
subornou o vizinho, hein? Acho que o dinheiro realmente pode
comprar tudo.

Espere, retiro o que disse.

O dinheiro pode comprar tudo, exceto o que importa.

Não me deu super força naquele dia, não é?

Não impediu sua mão de escorregar.

Porque os ricos não flutuam.

Nem mesmo pessoas com corações tão grandes quanto o oceano.

— Olhe, mas não toque — costumava dizer sobre coisas


dolorosas. Disse que só dói se você deixar. Que a chama só
queima se chegar perto o suficiente.

E eu prometo a você, mãe...

Nunca mais me queimarei.

- Finley
Uma vez fui a um encontro com um cachorro.

Isso mesmo... um cachorro.

É uma daquelas coisas que acha que nunca acontecerá com


você. Até aparecer na porta da sua paquera e descobrir que sua
namorado é um border collie que não sabe a diferença entre sua
perna e um brinquedo de mastigar. Sei o que está pensando. Quão
diabos confunde uma oferta de emprego com alguém te
convidando para sair?

Bem, é simples, realmente. Seja uma idiota desmaiada.

No dia em que Everest Cahill veio até mim, minhas células


cerebrais cagaram em tudo - pura e simplesmente. Fiquei tão
chocada ao saber que o Hottie Cahill2 sabia que habitávamos o
mesmo planeta que eu poderia ter perdido algumas frases, ou
cinco.

Passei a maior parte da nossa conversa planejando


mentalmente nosso casamento antes que ele dissesse — Então,

2
- Hottie é gostoso.
vamos no sábado? — Muito envergonhada para fazê-lo repetir,
assumi que tinha ganhado a sorte grande.

Rapaz, estava errada.

Ainda posso ver o sorriso confuso de sua mãe quando apareci


na sua varanda parecendo um milhão de dólares. Foi rápida em
me dizer que seu filho estava fora da cidade e o resto da família
estava viajando no fim de semana. Então me apresentou ao seu
cachorrinho de seis meses, Rio. Adivinhou - não estava lá para um
encontro com o Everest, mas para cuidar do seu cachorro.

E a parte louca? Eu concordei.

Acontece que meu pai disse aos pais de Everest que eu estava
procurando trabalho quando pararam em seu restaurante uma
semana antes. Não podia acreditar. Meu próprio pai foi o culpado
pelo encontro mais embaraçoso da minha vida, mas precisava do
dinheiro, então engoli meu orgulho, dei um sorriso e me joguei
nele. Mal sabia que a façanha do meu pai levaria a mais
oportunidades de trabalho que jamais poderia querer…

A notícia se espalhou e, uma semana depois, mais donos de


amigos peludos começaram a solicitar meus serviços. Antes que
percebesse, eu era a babá de cães "oficial" da cidade – sim, as
pessoas me pagam para sair com seus cães – e fiquei emocionada.
Nunca consegui convencer meus pais a terem um animal de
estimação devido às alergias do meu pai.

Para encurtar a história, estava vivendo o sonho. Até que... não


estava.

— Fique de joelhos, rainha do baile — diz uma voz profunda,


me acordando.
Desorientada, pisco uma vez. Duas vezes. Onde já ouvi essa
voz antes?

— Prometa-me que ele não descobrirá — uma mulher


resmunga do corredor, e me sento na cama, segurando o cobertor
no meu peito.

Eu não estou sonhando. Isso é real.

Tem gente na casa. E estão bem do lado de fora do meu quarto.

— Eu já disse que não direi merda nenhuma a ele — a voz


masculina bufa, e fecho meus olhos, me preparando para a morte
iminente - o quê? Só porque as pessoas que invadiram a casa do
meu chefe às 3 da manhã estão discutindo como um casal, não
significa que não sejam assassinos em série.

— Apenas me prometa, Finn — a menina insiste.

É quando tudo se encaixa. Tremendo, afrouxo meu aperto no


cobertor.

Ela acabou de dizer... Finn?

— Não, não prometo. Fique de joelhos, ou dê o fora — Mystery


Guy3 estala, seu tom vazio de emoção.

Sim, esse é Finn Richards, tudo bem.

Boas notícias: Mystery Guy não é um serial killer.

Más notícias: é um idiota vaidoso.

3
- Garoto Misterioso.
— Quer que eu vá embora? — A garota parece indignada.

— Quero que escolha, Randall.

Meu estômago cai. Randall?

Como... a clichê líder de torcida Brielle Randall?

Nem sequer tenho a chance de deixá-lo afundar antes de ouvir


o que soa como um corpo sendo empurrado contra a parede.

— Então, o que será princesa? Fica... — O silêncio paira no ar,


a tensão é palpável. — … ou vai embora?

— Eu só... me sinto tão mal — Brielle choraminga. — Acha que


ele algum dia perdoaria...

Tenho certeza de que ele acabou de bater a mão na boca dela


quando rangeu um irritado — Não fale isso porra. Meu pai
contratou uma vadia para cuidar da casa no verão. Ela
provavelmente está desmaiada em algum lugar.

Serei amaldiçoada. Ele sabe. Sabia que eu começaria o


trabalho hoje, e ainda trouxe seu encontro para casa no meio da
noite.

Vê? Idiota vaidoso.

— E eu deveria me importar por quê? — Brie zomba.

— Porque não preciso dela me delatando quando meu pai está


chateado com o acampamento de basquete, porra. Agora escolha.
— Finn volta ao ponto. — Dentro ou fora?

— Eu... — Brie vacila.


— Talvez isso ajude.

O som de um zíper é a única pista de que preciso.

— Foda-se. — Um gemido rouco sai da garganta de Brielle,


abafado pela palma de Finn, e me encolho até os ossos.

— Ouviu isso, trapaceira? — Finn provoca, sua voz baixa e


grave. — Sua boceta está implorando para ficar.

Minha garganta se fecha com sua excitação.

Alguém pegue um esfregão porque não estou limpando isso.

— É... não é trapaça se ele não descobrir — Brielle chia entre


gemidos.

Eu quase rio.

A garota está namorando Xavier Emery, o jogador de basquete


estrela da escola, há mais de um ano. Esses dois não são apenas
o casal IT4 da Easton High, mas também é do conhecimento geral
que seu namorado e Finn Richards são praticamente irmãos.
Cresceram juntos. Inferno, compartilham tudo – o mesmo time de
basquete, os mesmos objetivos, a mesma beleza desumana.

Mesma menina…

Isso é o que ganho por tentar algo novo. Poderia ter ficado de
babá de cachorro nos fins de semana neste verão, mas não, só tive
que aceitar um emprego de babá para a família mais fodida de
Silver Springs.

4
- Casal IT é um casal extremamente popular e o centro das atenções, todos querem ser como eles, ou
terem o que tem.
Em minha defesa, o show parecia bom demais para ser
verdade – muito dinheiro, quarto e alimentação, dois meses
morando em uma mansão. Sem mencionar que o anúncio dizia
que não haveria hóspedes, exceto uma golden retriever chamada
Lexie. Meu chefe me garantiu que seu filho mais velho, Brody,
havia se mudado e seu mais novo, Finn, estava fora no
acampamento de basquete durante o verão.

Fora para o verão, minha bunda.

— Quarto. Agora — Brie insiste.

Garras de pavor em mim.

O Sr. Richards me disse para ir ao maior cômodo da casa


enquanto estivesse fora, mas... há apenas um problema. Escolhi o
quarto de Finn.

Merda.

Considero me esgueirar pela janela aberta antes de lembrar


que estou no segundo andar e tenho tanta discrição quanto minha
avó surda tentando ouvir números de bingo.

Um plano. Preciso de um plano.

A porta do quarto se abre no segundo seguinte, e opto pelo


único curso de ação que posso pensar: me esconder debaixo do
cobertor e fingir que não existo.

Os trapaceiros tropeçam no quarto, nenhum deles percebendo


minha presença enquanto se despem. Levo um segundo para
perceber que poderia passar despercebida a noite toda. O quarto
está escuro como breu, e esta cama poderia caber todos os meus
namorados imaginários combinados.
Não sei o que é pior: ser pega seminua na cama do filho do
meu chefe... ou ser forçada a ouvir as crianças legais fazendo sexo
escandaloso.

Não deveria ter tirado meu short mais cedo, mas estava tão
quente quanto os poços de fogo do inferno. É seguro dizer que
minha blusa transparente e calcinha de renda não causariam a
melhor primeira impressão? Eu me preocupo que meu coração vá
rasgar meu peito quando dois corpos emaranhados afundam ao
meu lado.

É isso. Testemunharei uma líder de torcida fazer um boquete


em um atleta.

Pior. Primeiro. Dia. Sempre.

Cortando o beijo, Brie engasga com um fraco — I-Isso nunca


mais acontecerá.

Finn solta uma risada baixa e zombeteira. — Certo.

— Quero dizer isso, idiota.

— Quis dizer isso da última vez, também.

Espere aí… Não é a primeira vez que ficam juntos?

Minha garganta dói.

Pobre Xavier.

Segue-se um longo momento de silêncio. Normalmente, isso


seria quando se afunda.
O auto-ódio iminente que vem com a traição de seu amigo mais
antigo. Se esse Finn tiver um pingo de humanidade, virá antes de
trair Xavier.

Novamente.

— Foda-se o boquete. Levante sua saia — Finn comanda.

Não, ainda um sociopata.

— Deus, você é tão sexy. Amo um cara que assume o coman…

— Devo ter esquecido — Finn a corta.

— Esqueceu o quê? — Questiona.

— A parte em que digo para falar, porra.

Puta merda… Não posso deixar de rir na minha cabeça.

— Que porra é essa?

É quando percebo que sou uma idiota. E o que fiz agora?

Definitivamente não está na minha cabeça.

As luzes se acendem imediatamente, e me pergunto se poderia


fingir estar dormindo. Então decido que, se falar durante o sono é
estranho, rir durante o sono é absolutamente aterrorizante.

A partir do momento que minha visão se ajusta à luz, vejo Brie


se levantar, seu cabelo ruivo escuro emaranhado, seguido por
Finn, que salta da cama em um reflexo instintivo.

Nenhuma palavra é pronunciada pelos próximos cinco


segundos, mas parecem trinta. Brie e Finn não movem um
músculo enquanto me encaram como se eu fosse uma criatura
selvagem esperando para atacar. Brie está vestindo um sutiã
push-up preto e uma saia jeans curta enquanto Finn…

Finn é apenas irritante.

Sabia que Finn Richards era gostoso por vê-lo na escola, mas
não sabia que Finn Richards sem camisa era o tipo de lindo que
quer dar um soco na cara em nome de homens de aparência
comum em todos os lugares.

Eu o examino da cabeça aos pés, começando com a corrente


de prata pendurada em seu pescoço, o jeans preto caindo um
centímetro muito baixo em torno de seus quadris, e a linha em V
profunda apontando para seu vizinho de baixo.

E esses abdominais... Senhor tenha piedade.

O cabelo castanho desgrenhado cai sobre sua testa,


escondendo olhos castanhos afiados onde poços de escuridão
estão se formando. Mangas de tatuagens serpenteiam por seus
braços, a tinta cobrindo cada centímetro de seus bíceps. Cubra
isso com uma mandíbula tão afiada que poderia tirar sangue e terá
uma tentação suja e cruel com um arco no topo.

O grandalhão definitivamente trabalhou nos fins de semana


fazendo-o.

— Quem diabos é esta? — Brie me encara, dando uma


cotovelada nas costelas de Finn. Finn não diz uma palavra, boca
pendurada enquanto me encara de cima a baixo.

Qualquer pessoa em sã consciência pediria desculpas neste


cenário. Qualquer babá inteligente chuparia o filho de seu
empregador.
Então, pode imaginar minha surpresa quando minha boca
forma as palavras — Oi, sou Dia, a vaca que seu pai contratou
para o verão. Prazer em conhecê-lo.

As sobrancelhas de Finn levantam para a testa com a minha


resposta. O choque em seu olhar rapidamente se transforma em
algo tão frio que me dá arrepios na espinha.

Em seus olhos... vejo ódio. Não apenas sua antipatia


cotidiana.

O verdadeiro ódio.

Sabe, do tipo que guarda para alguém que lhe deu uma DST
incurável?

Então, por que está dirigindo isso a mim? Seu olhar de ódio
me deixa tão desconfortável que levanto o cobertor mais alto no
meu peito como se quisesse me proteger. Ele está prestes a falar
quando Brie bate nele.

— Você... eu... há quanto tempo ela está ouvindo?

Alguém está preocupada com isso voltando para o seu


namorado.

— Acordei quando entrou no quarto — minto.

— Saia. — A voz áspera de Finn rouba minha respiração.

Pisco para ele.

— Cai fora — repete, desta vez mais alto.

Brie solta uma risadinha. — Você o ouviu, vaca.


— Estava falando com você — Finn a choca dizendo.

— Você o quê? — Grita.

— Apenas vá embora, Randall. Eu lidarei com ela.

Lidarei com ela? O que ele fará? Vender os meus órgãos ao


licitante mais alto?

Brie pega sua blusa da cama, a coloca de volta e vai direto para
a porta, apenas parando para dizer — Certifique-se de que ela
mantenha a porra da boca fechada, ou voltarei e grampearei suas
bolas na parede, estamos claros?

— Eu disse para sair. — Finn nem sequer lhe dá um olhar,


seu foco perfurado na minha testa. Ofendida, Brie bate a porta
intencionalmente. Seus passos desaparecem no corredor até que
não há um som a ser ouvido.

Isso me atinge um segundo tarde demais. Estou sozinha. No


meio da noite. Com o delinquente de Easton High – sério, o cara foi
votado como “mais provável de acabar na cadeia” por seus próprios
amigos – sem testemunhas por perto, exceto um golden retriever
que está dormindo no andar de baixo.

— Que porra está fazendo na minha cama? — Finn acusa


assim que Brie se foi, e amaldiçoo cada decisão que tomei por me
levar até aqui.

— Dormindo. Seu pai disse...

Ele me interrompe. — Meu pai é um idiota por tê-la contratado


em primeiro lugar.

Atordoada, olho para ele. Parece que está esperando por algo.
— Tradução, está demitida. Desapareça. — Sacode a cabeça
em direção à porta.

— D-Desculpe-me? — Sai como um sussurro, e detesto o


tremor na minha voz.

— Você. Está. Demitida. — Soletra como se eu tivesse um


pedaço de bolas de algodão no lugar do cérebro. — Não
precisaremos mais de seus serviços. Arrume suas coisas e saia. —
Dá um chute descuidado no saco de dormir que deixei no fundo
da cama.

A raiva ruge dentro de mim. Quem esse cara pensa que é?

— Da última vez que verifiquei, não é você que está me


pagando. Não vou a lugar nenhum a menos que seu pai me diga.
— Direciono toda a minha energia para parecer confiante.

Finn pensa em sua resposta por um longo momento antes de


dizer — Faça como quiser. Ele demitirá seu traseiro amanhã, de
qualquer maneira. Melhor ainda, vou assistir.

Surpresa com sua crueldade, mantenho nossa competição de


olhares.

— Tenho certeza que disse a você para dar o fora da minha


cama — persegue quando não me movo rápido o suficiente, e saio
dela, começando a levantar o cobertor do meu corpo.

Então me lembro… Ainda estou quase nua.

— Desculpe, mas não sairei desta cama…

Até você se virar, pretendo dizer, mas ouviu o suficiente, e ele


não está tendo isso. Deixo escapar um pequeno ganido quando
Finn arranca o cobertor de cima de mim em um único movimento
e envolve a mão em volta do meu tornozelo esquerdo.

Eu me pergunto se estou imaginando a coisa toda quando usa


o aperto que tem no meu tornozelo para me puxar para a beirada
da cama. Lá, de calcinha, com a bunda pendurada para fora da
cama, percebo algo para o qual não estou preparada.

Estou com medo desse menino. Talvez seja a maneira como se


porta.

O nada vazando dele. Não há calor, bondade, fraqueza para


pegar. Geralmente sou boa em ler as pessoas, mas não conseguiria
nem uma dica sobre esse filho da puta se tentasse.

Planto meus pés no chão frio de madeira e estremeço quando


se inclina sobre mim, nivelando seu olhar duro com o meu e
colocando seus braços em cada lado do meu corpo.

Ele é... de tirar o fôlego. E não no bom sentido.

— Não sairá desta cama, hein? — Pergunta, olhos vagando


pelo meu peito. Devagar. Descaradamente.

Eu não posso me mover. Por que não posso me mover?

Seu foco trava na minha regata, e fico mortificada quando


sinto meus mamilos endurecendo sob seu olhar.

E a pior parte? Ele parece notar porque sorri.

A parte lógica de mim quer desaparecer, correr de volta para


casa e nunca mais pisar nesta casa, mas a outra... A outra sente
um aperto no estômago. O tipo que não deveria.
— Então o quê? Qual é o plano, babá? Ficar na minha cama
enquanto bato uma?

Minha boca se abre.

— Ver-me terminar o que interrompeu tão rudemente? —


Apresenta-me um monte de ameaças vazias.

Só que não soam vazias.

Ele se aproxima ainda mais e sussurra — Porque é exatamente


isso que acontecerá se não tirar sua bunda apertada da minha
cama nos próximos cinco segundos.

Pensaria que o bastardo está acumulando cada pedaço de


oxigênio na sala.

— Ou... quer usar essa boca carnuda? — Para, seu foco


voltado para meus lábios. — Não posso prometê-la um aumento,
mas com certeza pode conseguir um de mim.

Seus olhos vão para sua virilha para esclarecimento, e minhas


bochechas esquentam. Está apenas dando um show agora.
Tentando me enviar a fazer as malas. Para me enojar deste
trabalho. O que quer que funcione. Pena que preciso mais do
dinheiro do que esse garoto precisa de terapia.

Meu próximo movimento tão claro quanto seu complexo de


superioridade, é me levantar da cama, guio minhas mãos para
seus ombros largos e sorrio para os pontos de interrogação que
atormentam seus olhos. Sua pele está ardentemente quente;
também suave. E cheira bem, mas prefiro beber água do banheiro
do que reconhecer isso.

Então... dou uma joelhada nas suas bolas. Com força.


Seu gemido de dor não é nem de longe tão satisfatório quanto
o olhar em seu rosto quando o empurro de cima de mim e enfio
minhas pernas no short do pijama. Ele se inclina para frente,
segurando sua virilha e perfurando balas através do meu crânio
enquanto pego minha bolsa de roupas.

— Vamos deixar algo claro. — Eu o olho morto nos olhos. — A


única coisa que essa boca fará por você é mandá-lo ir se foder.

Com isso dito, pego meu telefone na mesa de cabeceira e saio


de lá. Estou indo para um dos muitos quartos de hóspedes na casa
dos Richards quando percebo…

Acabei de fazer isso. Acabei de dar uma joelhada no filho do


meu chefe no meu primeiro dia de trabalho. Minhas mãos
tremendo, me tranco em um quarto vazio três portas abaixo e
penso no ódio em seus olhos quando saí.

Não tenho dúvidas de que posso dar adeus ao meu verão


tranquilo à beira da piscina. Não acho que Finn Richards não me
ajudará a recuperar assim que baixar a guarda. Porque não
coloquei um idiota no lugar dele.

Não, o que fiz lá...

…foi declarar guerra.


Uma babá.

A. Porra. Da. Babá.

Meu velho teve seu quinhão de ideias ruins em seus dias, mas
esta? Esta leva o prêmio de longe. Estou fora uma semana, e deixa
uma completa estranha entrar em casa para cuidar de Lexie
enquanto está bebendo coquetéis com alguma garimpeira em
Santa Monica.

— Cara, vai tirar essa vassoura da sua bunda? — Axel, meu


amigo idiota, dá um trago no baseado na mão. — Na pior das
hipóteses, a garota fica e ganha um brinquedo para o verão. Boo-
fucking-hoo5.

— Esse não é o ponto, cabeça de merda. — Eu me inclino para


trás no banco do motorista, chutando meus pés no painel. — A
questão é que meu pai fugiu para a casa de praia e deixou Lexie
sozinha com alguém aleatório na primeira chance que teve.

5
- Boo hoo é imitação de choro de criança, o que seria semelhante a “unhééé foda-se unhééé”.
— Mano, realmente precisa ver alguém por sua obsessão por
aquele cachorro. Essa merda não pode ser saudável. — Axel bufa,
guiando seu isqueiro para o cachimbo em seu colo.

Ele sela a abertura com a boca e inala uma lufada de fumaça.


Dou um tapa na parte de trás da sua cabeça, fazendo-o ter um
ataque de tosse. Os caras adoram dizer que sou muito apegado ao
meu cachorro para mexer comigo e, tudo bem, talvez seja
superprotetor com Lexie. E daí? Não é como se a mamãe estivesse
por perto para cuidar dela.

Ignorando o engasgo de Axel, abro a janela do seu lado para


liberar a fumaça que irrita meus pulmões. Examino o
estacionamento junto às fontes da cidade. Está vazio. Nenhuma
surpresa.

Silver Springs não é exatamente famosa por seu


entretenimento, e sim, essa é apenas uma boa maneira de dizer
que minha cidade natal é chata pra caralho. É ainda pior agora
que Xavier, o idiota que chamo de meu melhor amigo, está no
acampamento de basquete no verão. Admito que também deveria
estar lá. Pena que me expulsaram.

Acontece que dar cuecas6 a outros jogadores não é a definição


do acampamento de espírito de equipe. Eh, é provavelmente o
melhor. Se eu soubesse que Lexie ficaria presa com a psicopata em
minha casa durante todo o verão, teria arrancado a cueca de Ridge
Garcia desde o início.

Deixando minha cabeça cair contra o encosto de cabeça, tiro


meu telefone do bolso e seleciono o número do meu pai. Quanto
mais rápido chutar essa garota Gemstone7 – ou qualquer que seja

6
- Brincadeira juvenil de puxar a cueca do outro para cima. No Brasil chama-se “cuecão”.
7
- Pedra Preciosa.
o seu nome – para o meio-fio, melhor. O telefone toca cinco vezes
antes de ele atender.

— Telefone de Hank.

Ou papai fez um transplante de voz, ou estou falando com a


sanguessuga parasita loira.

Fui direto ao ponto. — Preciso falar com meu pai.

— Oh, oi, Xavier, não é? Sou Sônia. Seu pai me falou muito
sobre você.

Gostaria de estar um pouquinho chocado, mas não estou. Meu


pai falando sem parar sobre meu melhor amigo em vez de seu
próprio filho? Parece correto.

— Pessoa errada.

— Merda, Brody, então? — Diz nervosa.

Isso está ficando ridículo.

— Eu sou Finn. Brody é meu irmão mais velho.

A linha fica quieta por um momento.

— Finn. Claro. Seu pai fala de você o tempo todo...

Interrompi. — Selma, apenas dê a porra do telefone para ele,


sim?

— É Sonia — corrige.

— A qualquer momento.
Ofendida, solta um amargo — Só um minuto.

A confusão irrompe na linha, seguida por um conjunto de


vozes distantes. Ouço o que soa como água, ondas...

O mar? Ele está em um iate, não está? Em algum novo barco


com uma nova garota? Qual é o próximo?

Renomear o barco da mamãe com o nome de uma de suas


prostitutas?

— Ei, garoto. Desculpe, estava nadando — papai diz do outro


lado. — Tudo bem em casa?

— Quer dizer, além da cadela furiosa que vive lá?

Um suspiro profundo surge na linha.

— Eu te falei sobre a babá da casa.

— Falou, e foi bom quando eu não estava em casa, mas estou


de volta agora. Sinta-se à vontade para demiti-la.

Há uma batida de silêncio.

— Isso não está acontecendo.

Ele acabou de dizer... — Perdão?

— Não vou demiti-la, Finley.

— Não precisa dela, porra. Eu cuido da casa. Como sempre fiz.

— E permitir que o que aconteceu no verão passado aconteça


novamente?
Aqui vamos nós.

— Foi uma festa!

Dispensando-me, continua — Garoto… não conseguiu nem


uma semana no acampamento de basquete antes de começar a
merda. O que devo fazer com isso?

Raiva fervendo no meu estômago, murmuro — Tudo bem. E


quanto a Brody?

— Seu irmão está tendo aulas de verão.

— Então, não pode voltar nos fins de semana? Besteira.

— E deixar Lexie sozinha cinco dias por semana?

— Não estará sozinha. Ela me terá — argumento.

— Olha, filho, sem ofensa, mas não tem exatamente o melhor


histórico hoje em dia. Talvez se fosse melhor como Xavier, eu...

Esse é o meu ponto de encaixe. — Quando a porra, isso se


tornou sobre Xavier?

— Não é. — Papai suspira novamente. — É sobre você não


estar pronto para assumir responsabilidades.

— Então, não confia em mim — presumo.

— Não foi isso que eu disse.

— Isso é o que quis dizer.

Minhas acusações não o perturbam.


— Ouça, os Mitchells são boas pessoas. Criaram a filha direito.
E você terá alguém para cuidar de tudo, para poder sair com os
rapazes sem ter que se preocupar com Lexie. É um ganha-ganha.

— Então, está decido?

— Decidido. Sinto muito, amigo, mas ela não vai a lugar


nenhum. Não, a menos que ela desista.

Jogo suas palavras em um loop, meu cérebro inundado com


as mil maneiras que poderia fazê-la sofrer.

— Muito bem.

Assim que estou prestes a desligar, papai me para.

— Finn?

— O quê? — Cuspo.

— Você foi vê-la?

Eu imediatamente sei o que quer dizer.

— Meus rapazes disseram que é novinha em folha —


acrescenta.

Um fogo devasta minhas entranhas, queimando o pouco


respeito que tinha por meu pai. Algumas coisas nunca mudam.

Mesmo quando deveriam.

Aperto os punhos com tanta força que perco a sensibilidade


nas articulações.
— Eu disse a você que a única maneira de entrar naquele
maldito barco de novo é afundá-lo.

Então desligo.

O silêncio enche o carro, e me congratulo com a distração das


molas borbulhando à distância. Qualquer coisa para abafar o
garotinho ferido na minha cabeça. Ele se lembra de coisas que
prefiro esquecer. Como uma época em que seu próprio pai não
confiava em uma completa estranha sobre ele…

Quero quebrar alguma coisa. De preferência, algo que o papai


não quer que seja quebrado. E acho que sei exatamente por onde
começar…

— Bem, isso foi intenso — brinca Axel do meu banco do


passageiro.

— Fora do carro. — Nem sequer lhe dou um olhar.

— Está falando comigo?

— Com certeza não estava falando com sua mãe.

— Cara, você é minha carona — Axel ri nervosamente como se


estivesse esperando que eu começasse a rir.

— É uma merda ser você, então. Saia. Há algo que tenho que
fazer.

Irritado, Axel abre a porta do carro e sai.

— Leve sua merda com você. — Jogo para ele o cachimbo e o


saco de maconha que deixou para trás.
— Vai me deixar aqui? Com um cachimbo de pau no meio de
um estacionamento? Sério, cara?

Em resposta, engato a marcha à ré, saio do espaço e dirijo a


toda velocidade. Pego suas últimas palavras pela janela aberta
enquanto estou decolando.

— O que poderia ser tão importante que tem que ir agora?

Axel não passa de uma pequena silhueta segurando um


cachimbo em forma de pau no meu espelho retrovisor quando a
resposta vem a mim. Papai não demitirá a cadela Gemstone?

Muito bem, mas isso não significa que não possa fazê-la
desistir.

Avenna: Como está indo o primeiro dia?

Rapidamente leio a mensagem da minha melhor amiga


enquanto corro pela calçada com Lexie. Mais uma caminhada por
este quarteirão e a avó do outro lado da rua pode estourar um vaso
sanguíneo.

Há duas horas que ela me dá o mau-olhar de sua varanda.


Duas horas. É definitivamente uma daquelas pessoas que pensam
que os cães só existem para mijar no gramado.
Tudo bem, estou protelando.

Desci as escadas na ponta dos pés esta manhã, com medo de


encontrar meu companheiro de casa esperando por mim na
cozinha.

Com um machado, ou uma barra de ouro, ou qualquer arma


que os ricos usem.

Eu me senti bem em me defender ontem à noite, mas a luz da


manhã, Dia? Não é tão confiante. Especialmente depois do meu
telefonema com o Sr. Richards esta manhã.

Ele se desculpou por não ter me avisado sobre o retorno de


seu filho, então me ofereceu mais dinheiro para continuar
trabalhando para ele, sem fazer perguntas. Sabe que terá um verão
infernal quando até seu chefe sabe que o seu filho é um pesadelo.
Não poderia recusá-lo. Preciso de um carro antes do início do
último ano - menção especial ao meu irmão mais velho, Jesse, por
atropelar meu antigo enquanto estava bêbado.

Eu já tenho o carro perfeito alinhado.

Brenda, uma garçonete que trabalha no restaurante do meu


pai, está vendendo seu bug car8 e prometeu guardá-lo para mim se
conseguir pagar antes do final do verão. Espero que o Sr. Richards
continue aumentando meu salário toda vez que se sentir culpado
por sua cria do mal.

Percebendo que não enviei uma mensagem de volta para


minha melhor amiga, mando uma mensagem para Aveena
enquanto Lexie faz seus negócios na calçada.

8-Carro pequeno semelhante ao fusca.


Dia: vamos ver. Ainda não chutei as bolas de ninguém, então… está
melhor do que ontem?

Meu telefone toca com a sua resposta um nanossegundo


depois.

Aveena: Isso foi estranhamente específico?

Aveena: vou precisar de uma história completa com detalhes e


recibos, obrigada.

Eu solto uma risada. Minha melhor amiga nunca se interessou


por teatro escolar. Aveena é tímida, guarda para si mesma, e não
seria pega nem morta fofocando sobre alguma líder de torcida
dormindo com o melhor amigo de seu namorado – estou olhando
para você, Brielle Randall – mas quando se trata do meu drama?

Aveena Harper se transforma em detetive.

Dia: Lembra quando disse que deveria ficar sozinha com o cachorro
dos Richards no verão?

Ela sabe imediatamente.


Aveena: está brincando.

Dia: Não estou.

Aveena: Por favor, não me diga que vai passar o verão com Finn
Richards.

Dia: Quer que eu minta para você?

Aveena: Menina, corra! Eles não te pagam o suficiente para essa


merda!

Dia: Na verdade, meu chefe acabou de me dar um aumento…

Aveena: Viu? Até ele sabe que seu filho é louco. O que seus pais
disseram?

Dia: Eu disse ao Sr. Richards que perguntaria se estava tudo bem,


mas meio que... não perguntei.

Aveena: Acha que eles deixariam você trabalhar lá?

Dia: E deixar sua filhinha sozinha com um menino por dois meses?
Está chapada?

Aveena: Merda, D, o que vai fazer?

Dia: Não faço ideia. Apenas evitá-lo por dois meses, acho?

Lexie se aconchega na minha perna antes que Aveena me envie


uma mensagem de volta. Não consigo conter um sorriso, tentando
acariciar o topo de sua cabeça e rindo quando lambe minha mão.
Já adoro Lexie. Ela é doce, amorosa, protetora.

Nem estava aqui um dia antes do golden retriever de nove anos


começar a me seguir em todos os lugares. É a única esperança
para este trabalho até agora.

Eu limpo a sujeira de Lexie e chego à conclusão de que não


posso evitar Finn para sempre. Eu terei que voltar para casa
eventualmente. Poderia até tentar fazer as pazes com ele se deixar.

A caminhada de volta à propriedade de Richards é rápida. Eu


me pego arrastando meus pés a cada dois passos, mas Lexie não
me deixa escapar, puxando sua coleira quando me sente
desacelerando. Preparo um discurso enquanto caminho pela longa
entrada, ensaiando um falso pedido de desculpas na esperança de
restaurar alguma civilidade entre Finn e eu. Até chegar ao topo...

E percebo que “restaurar a civilidade” nunca foi uma opção.

A primeira coisa que vejo é a mochila que uso como mala


jogada na fonte de água no centro da entrada.

Então vejo minhas camisetas, sapatos, maiôs, shorts – até


minha maldita calcinha – espalhadas no gramado da mansão de
um milhão de dólares. Estão por toda parte, cada peça de roupa
que trouxe comigo, jogada fora como lixo.

Minha maquiagem está espalhada por todo o concreto,


incluindo os batons líquidos que ganhei de aniversário e a paleta
de sombras de noventa dólares que peguei emprestada da minha
irmã.

Meu carregador de celular e meu e-reader Kindle também


foram jogados no fundo da fonte de água, mas o que realmente me
enfurece... é a visão da única camisa que corri no fogo para salvar.
Minha camiseta do Radiohead.

Finn a deixou em uma poça de base, o líquido derramando da


garrafa no tecido. Nunca fui uma pessoa violenta, mas quando vejo
Finn saindo de casa, com um sorriso irritante no rosto, quero
começar uma petição para incendiar seu lixo.

Cega para minhas roupas destruídas no chão, Lexie corre em


direção a Finn, o rabo balançando enquanto ladra.

— Abaixa, garota — Finn ordena, e Lexie para na hora. —


Senta. — Lexie obedece, e Finn se ajoelha para acariciá-la. Lexie
aproveita a chance de passar a língua pela sua bochecha.

Como pode um cachorro tão doce... amar um garoto tão cruel?

— Venha aqui. — Finn coça Lexie embaixo do queixo e acaricia


sua barriga quando rola de costas para cumprimentá-lo.

Só assim entendo. Ele não é cruel. Pelo menos, não para ela.

Fico ali por um momento, observando-os se reunirem, até que


Finn abre a porta da frente para deixar seu cachorro entrar. Assim
que Lexie entra em casa, a capacidade de manter a calma deixa
meu corpo.

— Que diabos? — Quase grito. — Está louco pra caralho?

Acelero até ele. Despreocupado, Finn me olha e cruza os


braços sobre o peito.

— Ah, isso? — Ele me dá um sorriso de comedor de merda. —


Espero que não se importe. Meu pai disse que eu era irresponsável,
então pensei em provar que estava errado e tirar o lixo.
Meu queixo cai no chão. Este filho da puta.

— Está muito além da linha!

Seu sorriso não vacila nem um pouco.

— Oh, baby — Ele me surpreende ao se aproximar e inclinar


meu queixo para cima com seu indicador. — Tenho dançado com
a linha desde antes de ter peitos. Morda-me.

Engulo em seco, mergulhando fundo em seus olhos em busca


de uma pitada de humanidade. Para o que vale a pena, está certo
sobre essa última parte. Todo mundo sabe que Finn Richards foi
forçado a lidar com a realidade adulta muito antes de seu tempo.

Ele tinha oito anos quando perdeu a mãe.

Minha família nem morava em Silver Springs naquele dia


fatídico, mas uma semana aqui e sabíamos tudo sobre o que
aconteceu no Lago Belmont. Os detalhes da morte da Sra. Richards
são escassos em todos os artigos que pesquisei antes de aceitar o
emprego – não concorda em trabalhar para um milionário viúvo
sem fazer alguma pesquisa primeiro.

A maioria das notícias na web afirmam que houve um acidente


de barco que acabou levando a mãe de Finn a se afogar no lago,
mas nada específico. Pelo que pude perceber, o barco também
recebeu o seu nome, o que torna tudo muito pior.

O mergulho para recuperar seu corpo durou uma eternidade,


mas mesmo depois de meses de esforços incansáveis, nunca
apareceu. Seu corpo permanece desaparecido até hoje.

— O que diz, Gemstone? — Finn me puxa de volta para a terra,


seu olhar queimando com ódio. — Pronta para sair?
Dando um tapa na sua mão, empurro até a ponta dos dedos
dos pés para fins de credibilidade, parecendo uma anã ao seu lado.

Sério? Quem lhe deu permissão para ser essa porra alta?

— Primeiro, o nome é Diamond. E segundo... realmente achou


que destruir minhas roupas seria o suficiente para me fazer
desistir? — Zombo. — Oh querido, é embaraçoso.

O sorriso derrete direto de seu rosto.

— Acha que tenho medo de você, garoto rico? Cresci com um


irmão mais velho cuja paixão era fazer da minha vida um inferno,
então, isso? — Gesticulo para a bagunça que fez. — Isso é a porra
de uma terça-feira para mim.

Em resposta, Finn dá um passo à frente, seu corpo imponente


se elevando sobre mim como se não fosse da conta de ninguém. É
um mestre tão impassível que mal noto os cantos de seus lábios
se curvando de raiva. Estou confiante de que há algo errado com
meus pulmões quando inclina a cabeça para o lado, estreita os
olhos para mim e solta um ameaçador — Isso é um desafio?

Inspira… expira.

— Isso é um aviso. — Eu me aproximo. Se esse idiota acha que


sua mandíbula esculpida, corpo ridículo e olhos castanhos
profundos são suficientes para me tirar do jogo, está...

Absolutamente certo. Abortar a missão.

Eu me distancio dele tão rápido quanto me aproximei,


limpando minha garganta e dando zoom na camiseta manchada
do Radiohead aos meus pés.
— Está pagando pela lavagem a seco — digo com naturalidade.

Ele solta uma zombaria. — O diabo que estou.

Não tenho como comprar tudo de novo ou limpar minha


camiseta do Radiohead.

— Como está Xavier, a propósito? — Eu me rebaixo ao seu


nível. — Ouvi dizer que esta fora da cidade durante o verão. Deve
ser muito difícil para Brie. Com certeza faz você se perguntar como
ela passa o tempo.

Seu rosto desmorona. Surpresa, idiota. Eu também posso jogar


sujo.

Tenho certeza que aquele truque de roupas teria funcionado


em muitas garotas, mas eu? Sem chance. Sou parte espanhola e
indonésia. Passei toda a minha infância sendo zombada pelos
meus cachos pretos como carvão e pele mais escura. Acontece que
as crianças podem ser verdadeiras idiotas quando querem. Nem
me fale sobre ter dois pais e todos os meus irmãos sendo adotados
– inclusive eu. Estarei aqui até que Finn cresça uma alma, e não
tenho tanto tempo.

Nós nos encaramos nos olhos por alguns segundos, sua


mandíbula se contraindo enquanto resiste à pressão das paredes
se fechando sobre ele. Eu tenho-o, está preso, e sabe disso.

— Tenaz, não é? — Concede.

— Já era hora de notar.

Sei pelo estremecimento em seu rosto que não suporta o gosto


de seu próprio remédio.
— Eu terei o dinheiro amanhã — cospe, mandíbula apertada,
e volta para dentro da casa.

Eu deveria estar feliz. Fico de pé quando tudo que queria fazer


era desmaiar, mas não sou nem um pouco estúpida o suficiente
para pensar que o diabo acabou comigo.

Posso ter vencido esta rodada... Mas a luta está apenas


começando.
— Sete semanas — resmungo baixinho enquanto desço as
escadas correndo com a bolsa que fiz com minhas roupas – e por
“roupas” - quero dizer as poucas roupas que consegui salvar
depois da façanha de Finn na semana passada.

Meu companheiro de casa demoníaco permaneceu fiel à sua


palavra e pagou pelo dano que causou, mas ainda tenho que ir às
compras e substituir tudo o que sua lavanderia chique não
conseguiu salvar.

Felizmente para as genitais de Finn, minha camiseta do


Radiohead se recuperou totalmente. O bastardo não tem ideia de
quão perto cheguei de despejar pó de mico em sua gaveta de roupas
íntimas.

O latido percorre o primeiro andar da casa quando chego ao


pé da escada. Lexie vem correndo em minha direção com uma
cauda balançando. Está me cumprimentando assim há cinco dias
seguidos.

Posso ter tido a primeira semana mais estranha em um novo


emprego na história, mas ainda sentirei sua falta correndo para
mim todas as manhãs.
— Bom dia para você também. — Eu rio, acariciando-a atrás
das orelhas. — Quem é uma boa garota?

Como se estivesse tentando provar a si mesma, Lexie se senta


e estende a pata. Tenho praticado truques com ela a semana toda.
Com certeza não demorou muito para entender que apertar as
mãos é igual a guloseimas.

— Boa tentativa. — Olho para ela, mas não se mexe, me


olhando com aqueles grandes e adoráveis olhos castanhos.

Odeio bancar o policial mau, mas prefiro que o Sr. Richards


não volte para casa e descubra que seu cachorro ganhou quinze
quilos.

Fique forte, Dia.

Resista.

Resista.

Res…

Res…

Re… Corro para a cozinha e lhe dou um deleite.

Estou de pé em um instante e manobrando meu caminho para


a cozinha para dar a ela um presente de despedida. O Sr. Richards
sugeriu que eu tirasse meus fins de semana pelo resto do verão.
Disse que seu filho poderia segurar o forte por dois dias da
semana, e merecia uma folga de Finn. Tudo bem, não disse que eu
merecia uma pausa “de Finn”, mas posso ler nas entrelinhas.
Ele está checando sem parar, me perguntando como as coisas
estão indo, como se esperasse que eu chorasse um rio sobre seu
filho horrível. A pior parte é que, mesmo que quisesse delatar, não
posso. Meu silêncio é a única coisa que me protege da crueldade
de Finn. Ele me leu alto e claro quando insinuei que contaria a
Xavier sobre sua traição.

Finn ficou quieto pelo resto da semana, ficando fora a noite


toda, então grunhindo de desgosto sempre que eu entrava no
cômodo. Está me evitando como uma praga, mas não houve mais
esquemas de “arruinar sua vida”… Ainda.

Coloco o café e pego as guloseimas de Lexie no armário acima


da geladeira.

— Último. Estou falando sério — finjo repreender, e Lexie


devora a guloseima na palma da minha mão.

— Uma pedra de estimação tem mais autoridade do que você.

Viro a cabeça para ver o desmancha-prazeres de Silver Springs


parado na porta. Finn está sem camisa, vestindo shorts cinza e
equilibrando uma bola de basquete contra o quadril. Fazemos
contato visual por um segundo longo demais, e abaixo meu olhar,
focando em seu abdômen trincado e seus dedos grandes em volta
da bola de basquete.

Ele tem mãos grandes. Dia, pare.

Ele não vale nem as calorias que está queimando olhando para
ele.

— Ei, colega de quarto. — Abro um sorriso que, para minha


descrença, não é forçado. Saber que não terei que vê-lo por dois
dias inteiros me deixa de bom humor. Estranho, Finn arqueia uma
sobrancelha enquanto tenta calcular minha gentileza.

Processando, leio em seus olhos. Em seguida, Falha no


sistema, tente novamente.

— Não faça isso — diz, frio como gelo.

— Fazer o quê? — Jogo de estúpida.

— Seja lá o que for, é nauseante. — Finn se move ao meu redor,


pega a dose de café expresso que fiz para mim e toma um longo
gole. — Merda, ia beber isso?

Sei pelo jeito que olha que anseia por uma reação. Ele quer me
ver ficar brava, mesmo que seja apenas para alimentar seu ego.

— Estava, na verdade.

— Foi mal, mas não se importa se eu terminar? — Termina a


coisa toda antes que possa responder.

Aborrecimento se mistura com o sangue em minhas veias. Não


lhe dê o que ele quer.

— Não, claro que não. Aproveite.

Ele me olha como se eu tivesse crescido um terceiro seio, e


mastigo o interior da minha bochecha para enterrar meu sorriso
enquanto verifico meu telefone. Minha melhor amiga deve estar
aqui a qualquer minuto para me pegar. Estaremos almoçando com
minha família.

A mensagem de texto de Aveena chega no segundo seguinte.


Aveena: Estou aqui fora.

Enfiando meu telefone no bolso de trás da minha calça jeans,


caminho em direção à porta da frente com minha bolsa pendurada
no meu ombro. O olhar de Finn me acompanha pela sala.

— Tenha um bom fim de semana — digo e abro a porta. Mal


dei um passo antes que sua voz cortasse o ar.

— Espere.

Olho de volta para ele. Largou a dose de café expresso e agora


está girando sua bola de basquete no dedo indicador sem suar a
camisa.

Exibido.

— Vai voltar na próxima semana? — Pergunta.

Estou atordoada, bastante certa de que alucinei a pergunta.


Por que me perguntaria isso? Ele quer que eu volte? Está
finalmente abaixando as armas e permitindo que sejamos
civilizados?

— Sim?

Então mata minhas tolas esperanças com uma frase. — Então


não terei um bom fim de semana.

Idiota.
— Uma semana inteira? Não achei que duraria tanto. Droga,
mana — meu irmão, Jesse, comenta enquanto coloca o prato de
salada de batata na mesa da cozinha. Tola eu, pensando que
poderia passar por uma refeição sem ser perseguida com
perguntas.

— Droga? — Charlie, meu irmão de três anos, repete,


saboreando a palavra um pouco antes de decidir que gosta. —
Droga, droga, droga.

— Não diga isso, querido. É uma palavra ruim — Gaten, meu


pai, repreende, jogando a Jesse um olhar assassino. Aveena ri na
cadeira, inclinando a cabeça para a frente e se escondendo atrás
do cabelo castanho caramelo.

— Querido, dê um pouco de leite a Charles, sim? — Gaten


pergunta ao meu outro pai, Dave - fica confuso, então os chamo
pelos nomes para diferenciá-los. Dave acena com a cabeça,
levanta-se da cadeira e vai até a geladeira.

— Não é leite, é suco — Charlie protesta.

Dave lança um olhar por cima do ombro para o marido para


confirmação. É assim que esses dois tomam decisões parentais
hoje em dia. Não podia ter mais de cinco anos quando percebi que
Dave era meu pai, sim - enquanto Gaten era meu pai — inferno
para o não. Meus irmãos mais velhos, Jesse e Catalina,
perceberam isso logo de cara. Esses idiotas passaram a maior
parte do ensino médio enganando meus pais para que
discordassem um do outro.

Quando o Pai Sim concordava com alguma coisa, estavam fora


da porta, e era tarde demais para o Pai Não pisar no freio – o truque
mais antigo do livro, sabe o que fazer.
— Mais açúcar e será impossível de se entregar para uma
soneca. — Gaten balança a cabeça, e Dave acena com a cabeça em
aprovação, tirando o leite e enchendo o copo à prova de
derramamento de Charlie.

— Suco — Charlie insiste.

— Eu disse não, Charles — declara Gaten.

— Droga — Charlie deixa escapar, reciclando sua nova palavra


favorita, e Jesse morde o lábio inferior para não rir.

— Jesse, não o encoraje — Gaten repreende.

— Ele tem razão. Isso não é engraçado — Dave entra na


conversa.

Jesse ri em seu punho. — É um pouco engraçado.

Sou a próxima na fila, meu bufo alto ondulando pela sala.

— Diamond! — Gaten repreende.

Minha fraqueza é o dominó final para uma longa fila de risos


abafados, enviando uma cadeia de risos pela cozinha. Não há um
único rosto sério para ser visto enquanto meus pais tentam
repreender meu irmãozinho por sua boca suja.

— A Catalina não estava voltando para casa? — Mudo de


assunto assim que a ordem foi restabelecida. Estaria mentindo se
dissesse que não estou aliviada por ver que minha irmã mais velha
está desaparecida hoje.

A maior parte da maquiagem que Finn arruinou era dela, e


não há dúvida de que me esfolará viva quando descobrir. Finn me
enviou o dinheiro para substituí-la, mas ainda não tive a chance
de ir ao shopping.

— Ela não conseguiu. Algo a ver com o seu namorado —


explica Dave.

— Qual deles? — Jesse zomba em um sussurro que só Aveena


e eu entendemos.

Minha melhor amiga e eu trocamos olhares. Ele não está


mentindo.

Catalina está em todos os lugares desde que terminou com seu


namorado de longa data, Mal. Estavam juntos há anos. Malek foi
seu primeiro tudo. Até que desapareceu durante a noite, deixando
o país sem deixar rastro apenas algumas semanas depois que a
pediu em casamento.

O cara levou o ghosting9 a um nível totalmente novo. Desativou


todas as suas redes sociais, largou o emprego, limpou seu
apartamento e sumiu da face da terra. A pior parte é que Cat e Mal
eram o casal de quem se tem inveja. O casal que te irrita pra
caralho porque são tão perfeitos. Era apenas algo sobre a maneira
como ele olhava para ela. Como se Cat fosse a única mulher cuja
linguagem Mal entendia e seus olhos o único lugar onde se sentia
em casa.

Cada pista que Catalina seguiu acabou sendo um beco sem


saída. A polícia lhe disse que ele provavelmente tenha feito um
trezentos e sessanta e começou uma nova vida. Esteve em terapia
por meses depois. Com o tempo, ela encontrou conforto na única
pessoa que também foi deixada para trás depois que Mal
desapareceu. Seu melhor amigo, River.

9
- O efeito “fantasma”.
Está junto e separado dele há meses. A verdade é que ainda
não superou Mal, e tenho a sensação de que nenhum rebote
poderia fazê-la esquecer o cara com quem deveria envelhecer.

— Como foi sua primeira semana de trabalho, querida? —


Dave segue.

Está tudo bem, você tem isso. Só não diga a eles que mora com
um menino.

— Foi…

Horrível. Infernal. Definitivamente não recomendaria.

— Diferente. — Deslizo em torno da verdade. — Muito mais


trabalho do que apenas cuidar de cachorros nos fins de semana.
Pelo menos, o cachorro que estou cuidando é ótimo. — Dou uma
grande mordida na minha comida, rezando para que a entrevista
termine ali.

— Não é estranho viver sozinha? — Gaten questiona, e arrasto


minha mordida.

— Você tinha pavor do escuro quando era criança. De jeito


nenhum moraria sozinha em uma mansão — Jesse zomba.

Essa e a coisa. Não moro sozinha, diz a Dia interior. Moro com
um jogador de basquete arrogante com uma aparência estúpida e
uma atitude ruim.

— Eu dou um jeito. — Dou de ombros.

— O muro é tão grande que algum idiota pode invadir a casa


no meio da noite sem você saber. Isso não te assusta? — Jesse diz
com o único propósito de me assustar.
Estive lá, fiz isso. Exceto que o idiota é filho do meu chefe, e
não estou nem de longe tão assustada com o pensamento de uma
pessoa aleatória invadindo a casa quanto estou com aqueles olhos
cruéis.

— Não. — Agarro a chance de dar outra mordida e noto Gaten


me olhando desconfiado. Felizmente, Aveena percebe o pânico
florescendo em meus olhos.

— Então, Gaten — Aveena entra em cena. — Percebi que a


promoção de dois por um está de volta ao restaurante. Como vão
as coisas? Parece que o negócio está bom. — Vee bate seu joelho
contra o meu debaixo da mesa em sinal de apoio.

Aveena sabe que o restaurante do papai é seu ponto de


encontro. Não pode resistir a falar sobre seu quinto filho e
realização mais orgulhosa. Como esperado, papai não perde um
segundo compartilhando as últimas com ela, e meu corpo relaxa
enquanto a conversa muda para tópicos mais seguros.

Se você já se perguntou se Aveena Harper é uma boa amiga,


aqui está sua resposta. Vee e eu estamos em mundos separados
às vezes, e sim, ultimamente, sinto que temos opiniões diferentes
– ela não tem absolutamente nenhum interesse na população
masculina, para começar – mas sua lealdade?

Isso nunca mudará. A garota é praticamente uma reparadora


profissional, tanto em casa quanto na vida social. Atua como
assistente de Ashley, sua irmã prodígio da música, há anos. Estou
surpresa que sua mãe tenha permitido que almoçasse conosco. A
agenda de Ashley é tão cheia nos fins de semana quanto nos dias
de semana, e Aveena raramente tem uma pausa. Apenas uma das
desvantagens de ter uma irmã vencedora de um show de talentos.
Gaten fala sobre como a promoção está atraindo mais clientes
do que nunca por dez minutos, e Aveena ouve com um sorriso no
rosto, concordando com sua história.

— Ah, quase esqueci — lembra Gaten ao começar a limpar a


mesa. — Diamond, Jesse vai levá-la de volta ao trabalho amanhã.

Minha boca se abre. — Ele o quê? — Desabafo.

— Vou o quê? — Meu irmão diz ao mesmo tempo.

Jesse e eu trocamos olhares do outro lado da mesa.

— Na verdade, ele vai levá-la todos os domingos até conseguir


um carro — Dave entra na conversa.

— Domingo é meu único dia de folga. Não pode simplesmente


andar? — Jesse conta.

— Poderia, mas ela não precisaria se não tivesse destruído o


seu carro — Dave interrompe. — Já é hora de aprender que suas
ações têm consequências, não acha?

Um silêncio pesado nos envolve. Não é nenhum segredo que


meus pais estão fartos da merda de Jesse.

Meu irmão mais velho sempre foi imprudente – perdendo sua


carteira de motorista, abandonando a escola, dormindo com
garotas que não tem intenção de ligar – mas seu atropelamento na
traseira do meu carro no final do meu primeiro ano foi a gota
d'água. Jesse gosta de dizer que, se pudessem, nossos pais
viajariam no tempo e o deixariam em um orfanato, na casa barata
onde Jess e eu acabamos quando nos encontraram.

Obter um reembolso em sua bunda rebelde - suas palavras.


Não me lembro da minha vida pré-adoção, mas acho que ser
criança na época me deu um passe. Tudo o que sei, meus pais me
contaram. A história diz que Jesse e eu morávamos em um lar
adotivo de merda, com uma família adotiva ainda pior.

Como eu acabei lá em primeiro lugar, pode perguntar?

Veja a trágica história de fundo. Minha mãe biológica morreu


ao me dar à luz, não tinha parentes para cuidar de um bebê, e meu
pai não compareceu. Fim.

Não sei quantos anos tinha quando me teve, ou de onde era,


mas meus pais me disseram que era uma alma bondosa presa em
uma vida que não merecia. Alguém perseguindo uma segunda
chance que ela nunca poderia pegar.

Eu só tenho uma coisa dela. Uma camiseta do Radiohead.

E uma letra, rabiscada na etiqueta dentro da gola. B.

— Está tudo bem, juro. Não me importo de andar — asseguro


a eles.

O que me importa é a possibilidade de Jesse ver Finn quando


me deixar e contar aos meus pais que moro com um menino.

— Veja? Ela não se importa — Jesse implora.

— Não importa. — Dave não cederá.

— Sério? Não pode me obrigar a levá-la no meu único dia de


liberdade.
— Vai se quiser viver sob o meu teto sem pagar aluguel até
encontrar um novo lugar. — Dave balança a situação de vida
bagunçada do meu irmão na sua cara.

Jesse foi expulso de seu antigo apartamento por seu senhorio


por não pagar o aluguel um mês atrás. Basta dizer que meus pais
não ficaram muito felizes com o fato de seu filho de 29 anos voltar
para casa.

Concedido, sempre foram mais duros com ele do que com Cat
e eu. Provavelmente porque Jesse é o mais velho. Cada decisão que
meu irmão toma, meus pais analisam cuidadosamente. Eles têm
uma opinião sobre tudo que faz, incluindo as pessoas que Jess
escolhe para se cercar.

Ele e o irmão mais velho de Finn, Brody Richards, foram


amigos por um tempo quando Brody ainda estava no ensino médio
e Jesse estava na faculdade. Meus pais achavam que Jesse ter
amigos mais novos significava que não estava pronto para a vida
adulta.

Em sua defesa, Jesse nunca chegou a ser criança. Ele teve que
cuidar de si mesmo por quase treze anos, constantemente saltando
de lar adotivo para lar adotivo antes de acabarmos no mesmo lugar
e encontrarmos nossa família para sempre.

— Desculpe, garoto, isso não está em discussão. Destruiu o


carro da sua irmã, você dá a carona — Dave afirma.

Jesse afunda em sua cadeira, derrota estampada em seu


rosto.

É oficial… estou ferrada.


— Deve ser bom ser a favorita do papai — Jesse resmunga
baixinho quando viramos na Paxton Ave., a estrada principal que
separa os ricos de Silver Springs e o resto de nós camponeses.

Normalmente, ficaria muito feliz por meu irmão me poupar


uma longa caminhada, então tenho fingido que não estou com
medo de ele dizer aos meus pais que a sua filha é uma grande e
gorda mentirosa.

— Eu sou a favorita? — Zombo. — Por favor. Papai vendeu


parte do restaurante para que pudesse ir para a faculdade. Se
alguém é o favorito do papai, é você.

— Decisão ruim favorita, talvez — Jesse murmura, sua voz tão


fraca que quase não o ouço.

Suas palavras levam um momento para afundar.

— Não está brincando, está?

Jesse balança a cabeça para me olhar em uma luz vermelha.

— Quando diz que eles nunca deveriam tê-lo adotado —


elaboro — realmente acredita nisso.

O silêncio fica entre nós como uma parede que não podemos
derrubar. Jesse segura meu olhar por um segundo como se
quisesse dizer algo, mas não sabe como.

— Só estou dizendo que poderiam ter pensado duas vezes se


soubessem na merda em que estavam se metendo.
Aí está. Desde que me lembro, Jesse se sentiu indigno.

Quando era criança, olhava para meus pais como se tivessem


movido céus e terras no dia em que o levaram para casa. Como se
ele não entendesse como eles poderiam escolhê-lo.

As pessoas diziam que era muito velho, que as famílias


queriam bebês. Não adolescentes com trauma correndo em suas
veias, mas meus pais discordaram. E Jesse passou todos os dias
desde então tentando provar que estavam errados.

Jesse prossegue assim que o semáforo fica verde. Está


parando na garagem de Finn menos de um minuto depois. Aperto
meu telefone com firmeza para acalmar meus nervos.

Se ele vir Finn, acabou.

Por favor, não esteja em casa. Por favor, não esteja em casa.

Por favor, não esteja...

Foda-se. A. Minha. Vida.

— Que diabos? — Ouço meu irmão sussurrar para si mesmo


quando chega a uma parada completa na garagem. Dois carros -
um preto, um vermelho - estão estacionados perto da fonte de
pedra.

Estou supondo que Finn tem um amigo?

— Obrigada pela carona. — Agarro a maçaneta da porta,


preparada para correr, mas Jesse me tranca por dentro com um
clique de um botão.
— De quem são esses carros? — Jesse aperta os olhos. —
Pensei que tinha dito que era a única lá?

Invente uma história, Dia. Qualquer coisa.

— Oh aquilo. É apenas o jardineiro. E a empregada. Eles vêm


todos os domingos.

A atenção de Jesse flutua entre mim e os carros.

— Você fica sozinha o resto do tempo? — Pergunta.

— Fico. — A mentira dói na minha garganta.

Ele acena com a cabeça, não completamente convencido, mas


não tão inseguro quanto estava um momento atrás. Quase posso
sentir o gosto do sucesso. Visualizo Jesse dirigindo para muito,
muito longe daqui, permitindo-me manter este emprego e
continuar economizando para comprar um carro. Então, tudo
desmorona.

A porta de vidro da mansão se abre, e meu pior pesadelo sai


de casa, seguido por Theodore Cox, um jogador de basquete de
cabelos pretos que conheço da escola.

Finn vê o carro do meu irmão instantaneamente e para. Olha


um pouco, e então segue para o carro vermelho estacionado na
frente. Ambos se inclinam contra o capô enquanto Theo leva um
cigarro aos lábios para dar um golpe.

O rosto do meu irmão se decompõe em câmera lenta. Não é o


primeiro rodeio de Jesse com os Richards.

Ele passou a maior parte da faculdade com o irmão mais velho


de Finn, Brody, e quando pararam de se falar anos atrás – se
recusou a nos dizer o porquê – nunca conseguiu engolir o gosto
amargo que a família deixou em sua boca.

— Importa-se em me dizer o que diabos ele está fazendo aqui?


Achei que deveria passar todo o verão fora? Jesse pergunta.

Junte-se ao clube.

Chegando a um acordo com meu destino, gerencio um fraco


— Planos alterados.

— Os planos mudaram? — Jess desabafa. — É isso? Isso é


tudo que tem a me dizer? Vou precisar de um pouco mais do que
isso, mana.

Expiro um suspiro profundo.

— Ele foi expulso do acampamento de basquete e apareceu do


nada há uma semana. O que eu deveria fazer?

— Bem, com certeza não deveria mentir para todo mundo


sobre isso. Que diabos, Dia?

Tremo. — Coloque-se no meu lugar. Sabia que se contasse aos


nossos pais, me diriam para desistir.

— Como deveriam! Tem a porra de alguma ideia do tipo de


pessoas que esses caras são?

— Não preciso saber — estalo. — São dois meses, Jess. Dois


meses e vou embora. Posso até sair mais cedo se puder comprar
um carro antes disso.

— De jeito nenhum. Eu tenho essa família reduzida à merda


de uma ciência do caralho neste momento, e o irmão de Brody...
— Jesse olha para Finn, que ainda está nos olhando de longe. —
Ele é fodido.

Diga-me algo que não saiba.

— Que tipo de irmão eu seria se deixasse minha irmã sozinha


com algum masoquista durante todo o verão?

Abro a boca para falar, mas me vejo agarrada ao substantivo


que escolheu.

— Masoquista? — Repito.

— Isso é o melhor. Prometo que vai me agradecer um dia.

— O que quer dizer com masoquista? — Pergunto. — Como...


quer machucar as pessoas?

Sei que ele gostaria de não ter dito isso pelo jeito que cerra os
dentes e sopra um baixo — Não importa. Esqueça.

Eu levanto uma sobrancelha para ele. Nós nos conhecemos?

— Jess, ele é um perigo para os outros, sim ou não?

— Não — meu irmão admite com relutância.

Uma onda de perguntas me submerge.

— Então, é um perigo para si mesmo?

Está prestes a responder quando um conjunto alto de batidas


sacode a janela do lado do motorista. Jesse e eu viramos nossas
cabeças para a esquerda para ver Finn a centímetros de distância
do vidro.
Furioso, Jesse me olha de lado e abaixa a janela para encarar
meu colega de casa. Mal tive tempo de me preparar para qualquer
merda estúpida que está prestes a sair da boca de Finn quando diz
— Desculpe interromper, senhor. Só pensei em vir e me
apresentar. Sou Finn. Sua filha trabalha para meu pai.

Entendo quando estende a mão para Jesse com um sorriso


malicioso que só veio porque viu que estávamos em uma briga e
pensou consigo mesmo — Ei, deveria ir piorar a merda.

Jesse nem pisca para a mão de Finn estendida para ele,


colocando balas em sua cabeça. Um silêncio de quinhentos quilos
me pesa, e sinto a necessidade de falar antes de Jesse pular na
garganta de Finn.

— Ele não é meu pai — corrijo.

— Não finja que não se lembra de mim, filho da puta — Jesse


acusa, e Finn recua um centímetro, avaliando meu irmão
completamente.

Seus olhos se iluminam alguns segundos depois.

— Puta merda, Jesse?

Meu irmão não confirma sua identidade, mas seu olhar fala
por ele.

— Muito tempo, cara — Finn acrescenta.

— Não o suficiente — Jesse diz sem rodeios.

Ignorando o comentário do meu irmão, Finn se inclina para


frente para apoiar seus antebraços no batente da janela. Um
lampejo familiar de ódio atravessa seu olhar quando me vê no
banco do passageiro.

— Um pouco jovem para você, não acha? — Finn faz uma


suposição indutora de vômito.

Jess compartilha meu desgosto. — Ah, foda-se. Ela é minha


irmã.

Choque se funde com a arrogância nos olhos de Finn. — Sua


irmã, hein?

— É tão difícil de acreditar? — Jesse cospe.

— Não, mundo pequeno, isso é tudo. — Finn faz o papel de


cara legal para um T. — Bem, não são necessárias apresentações,
então. Vou deixá-los terminarem sua... conversa. — Não consegue
esconder o sorriso, sabendo muito bem que a palavra apropriada
aqui é – uma briga.

Finn se dá um empurrão e começa a se afastar, mas para dois


passos.

— Ah, e babá?

Nossos olhos cruzam a calçada.

— Bem-vinda de volta. — Termina com um sorriso cheio de


segundas intenções.

— Sim, está voltando para casa — Jesse declara no instante


em que Finn está a uma distância aceitável.
Como se ele pudesse sentir seu plano mestre funcionando,
Finn olha para nós por cima do ombro, dá um sorriso conivente e
gesticula para Theo segui-lo para dentro.

— Percebe que ele fez isso precisamente para irritá-lo? —


Aponto uma vez que os rapazes estão fora de vista.

— Bem, funcionou. Vamos lá. — Jesse liga o carro, e minha


mão puxa para a ignição.

— Jess, por favor, realmente preciso desse emprego.

Ele dá de ombros. — Pode pegar outro.

— Não um que pague tão bem — argumento.

— Não confio nele, Dia. Ele quer entrar em suas calças.

Preferiria morrer.

— Pense? Mesmo que quisesse, realmente acha que eu


deixaria alguma coisa acontecer? Vamos, Jesse, você me conhece
melhor do que isso.

Os músculos de sua mandíbula se contraem, Jesse se afunda


no banco do motorista e pensa muito em sua resposta.

— Só quero passar o verão, comprar um carro e esquecer que


tudo isso aconteceu. Por favor.

Silencioso, meu irmão passa a mão pelo cabelo escuro e


desarrumado antes de soltar um de seus suspiros de vou me
arrepender disso.

— Porra, tudo bem — cede.


Ele apenas... concordou?

— Espere, então, não vai me dedurar? — Cubro minhas bases.

Uma eternidade depois, diz — Não.

Tudo o que posso fazer em resposta é estender meu braço ao


redor do meu irmão para um breve abraço de lado.

— Obrigado, Jess. Eu te devo uma.

— Mantém-me atualizado, entendeu? Você me liga se ele


tentar alguma coisa e voltará para casa todo fim de semana, sem
exceção.

— Sim, pai — brinco enquanto me afasto, mas Jesse não ri, as


paredes de gelo ao seu redor voltam em um instante. — Quero
dizer, sim.

— Agora, saia daqui antes que eu mude de ideia.

— Entendido. — Aceno e corro para fora do veículo.

Jesse me observa como um falcão enquanto pego minha


bagagem do banco de trás, jogo a alça da minha bolsa por cima do
ombro e ando rapidamente em direção à mansão. Ele não vai
embora até o momento exato em que a porta da frente se fecha
atrás de mim.

Latidos é a primeira coisa que ouço quando entro em casa.


Localizo Lexie em sua cama de cachorro e sorrio. Ela se senta,
abanando o rabo, e corre pelo corredor para me encontrar. Está
tão animada que quase escorrega no chão de madeira no processo.
Largando minha bolsa, me ajoelho para cumprimentá-la
adequadamente, e Lexie joga as patas por cima do meu ombro. Seu
corpo balançando da esquerda para a direita, alterna entre lamber
meu rosto e latir.

— Alguém sentiu minha falta? — Eu rio. Ela é tão hiperativa


que mal posso acariciá-la, e meu coração incha.

Não demora muito para Lexie se cansar do nosso reencontro e


se retirar para a sala para tirar uma soneca. Circula várias vezes
antes de cair em sua cama de cachorro.

Ordenhando cada gota de coragem em meu corpo, tiro meus


sapatos no tapete de boas-vindas, pego minha bolsa e caminho em
direção à cozinha. Posso ouvir os rapazes rindo lá dentro, mas não
almocei hoje, e nada – nem mesmo Assface10 Richards – ficará no
meu caminho e da caçarola de atum que deixei na geladeira na
semana passada.

A conversa fica seca no momento em que entro na sala, e olho


para Finn bem a tempo de ver seu sorriso com covinhas
desaparecer de seu rosto. Ele começa a me encarar como se
esperasse me olhar pela porta. Estamos a cerca de dois segundos
de alcançar um dez sólido na escala Inábil quando Theodore Cox,
apelidado de Theo por todos na escola, abre um sorriso.

— Eu te disse. — Theo bufa, desdobrando a mão na frente de


Finn. — Entregue, filho da puta.

Xingando baixinho, Finn enfia a mão no bolso e joga algo no


rosto do amigo.

Uma nota de vinte dólares. Esses idiotas…

Apostaram que eu desistiria, não apostaram?

10
- Cara de bunda.
Eles provavelmente pensaram que o golpe de Finn para
enfurecer Jesse selaria o acordo, ou talvez pensaram que eu não
apareceria hoje depois de tudo que Finn me fez passar na semana
passada.

Para ser justa, a maioria das garotas não teriam voltado para
a segunda rodada, mas a maioria das garotas não precisam
desesperadamente de um carro. Eu levaria mais cinco verões como
este para ter que pedir carona para meus pais em todos os lugares
até eu ir para a faculdade.

— Clássico — murmuro baixinho e caminho até a geladeira


para pegar um prato de comida.

O bipe do micro-ondas corta a cozinha no momento em que


abro a porta da geladeira. Finn levanta da cadeira para pegar
qualquer merda não saudável que estão comendo, mas não penso
muito nisso. Até que vasculho a geladeira atrás da minha caçarola
e percebo... Não é a comida deles que está pronta.

É a minha.

— Que diabos... — digo e me viro para ver os rapazes inalando


a caçarola de atum, revirando seus pratos como se não tivessem
comido em décadas.

Vejo o recipiente de vidro sujo jogado na pia.

Passei uma hora fazendo isso antes de ir para casa no fim de


semana, para não ter que me preocupar em preparar as refeições
por pelo menos alguns dias.

E agora? Tudo se foi.


Foram pelo menos seis porções. Quer me dizer que Finn
passou por tudo em apenas dois dias?

Como? Talvez ele não estivesse sozinho?

— Quem disse que pode comer minhas coisas? — Estou


fumegando enquanto vejo os jogadores de basquete mastigando
minha comida.

Nenhum dos garotos me responde - ou mesmo olha para mim,


por falar nisso - demorando seu doce tempo terminando a comida
que estive pensando durante todo o fim de semana.

Irritada, marcho até a ilha da cozinha e bato as palmas das


mãos no balcão. Finalmente, os olhos de Finn saltam para os
meus, seu rosto ainda é um enigma insolúvel.

— Quem disse para você voltar aqui? — Finge suspirar. — Ah,


isso mesmo, ninguém.

Engolindo a raiva entupindo minha garganta, inalo uma


respiração lenta para manter a faminta Dia na coleira - qualquer
um que valoriza suas vidas não quer me ver com fome. A pior parte
é que não é nem o fato de ele ter comido minha comida, mas o
preço dessa comida.

Eu tive que usar o cartão de crédito de emergência que meu


pai me deu para pagar os ingredientes porque o Sr. Richards ainda
não me deu o dinheiro da mercearia. Graças a Deus o trabalho
inclui quarto e alimentação porque tenho cerca de dez dólares em
meu nome agora.

O telefone de Theo toca no segundo seguinte.


Sua risada profunda viaja pela cozinha. — Sim, esta por sua
conta. — Ele levanta do banco e caminha até a porta de vidro
deslizante na sala de jantar. — Não se matem antes de eu voltar.

Com isso dito, Theo sai para o pátio. O silêncio envolve a


cozinha, e enquanto Finn e eu não dizemos uma palavra por um
breve momento, nossos olhos dizem muito.

Nenhum de nós está recuando. Eu sou a primeira a falar.

— Você vai me pagar de volta ou…

— Ou o quê? — Finn me tira o fôlego ao ficar de pé. — Porra,


garota babá? Vai me chantagear de novo?

Ele está atravessando para o meu lado da cozinha antes que


possa piscar. Está se aproximando. E mais perto. Está bem, isso é
perto o suficiente, quero dizer, mas meu companheiro de casa
claramente não dá a mínima para o espaço pessoal porque ainda
está correndo em minha direção. Tenho o reflexo de me afastar,
mas não sou rápida o suficiente. Ele me apoia contra a despensa
fechada no segundo seguinte, as palmas das mãos apoiadas em
cada lado da minha cabeça.

— Deixe-me dizer o que não vamos fazer. — Suas palavras não


guardam nenhum traço de ameaça. Não está tentando me
assustar mais. Está relatando fatos. — Não vamos fingir que tem
alguma porra de vantagem sobre mim quando está claro como a
merda que seu irmão não tinha ideia de que eu estava de volta do
acampamento.

Porra.
— Aposto também um rim que seus pais não sabem que sua
filhinha está morando sozinha com um menino, não é? — Sua
respiração faz cócegas na minha bochecha.

Minha boca se abre com sua suposição, mas a fecho, me


recusando a lhe dar uma resposta. Só que ele não parece precisar
de uma porque zomba.

— Foi o que pensei.

— Isso não muda nada — resmungo.

— Quer saber o que eu acho? — Ele torce uma mecha do meu


cabelo preto em torno de seu indicador. — Acho que muda tudo.
Acho que isso significa que não tenho que ser legal com você ou
fingir por um maldito segundo que a quero aqui. Na verdade, nem
preciso me preocupar com o seu dedo-duro me dedurando mais.

Eu tento chegar a uma centena de contrapontos, mas não


consigo encontrar um único. Porque ele está certo. Ele me
encurralou em um canto – metafórica e literalmente. A
possibilidade de eu contar a Xavier Emery sobre Finn ficar com
sua namorada era minha única vantagem. Sem isso, Finn está
livre para voltar aos seus velhos hábitos.

— Então, por que não fazemos um acordo? — Ele solta meu


cabelo.

Desisti de respirar como uma pessoa normal neste momento.

— Você não diz ao meu melhor amigo que sei qual é o gosto da
boceta da sua garota, e eu não digo aos seus pais que a sua filha
é uma mentirosa, como é?
Não falo por um longo momento, tentando e falhando em
acalmar meu coração acelerado.

— Combinado? Ou preciso ligar para o seu pai?

Finjo pensar sobre isso, bem ciente de que tenho zero munição
agora.

Ele fica impaciente. — Última chance, Gem11.

Com o coração pulsando em meu cérebro, quebro uma das


maiores regras de Hollywood: nunca negocie com terroristas. É
verdade, Finn não é um terrorista, mas juro, agora, com a maneira
como aqueles olhos impiedosos me observam, como se tivesse toda
a intenção de incendiar meu mundo e dançar sobre as cinzas...
com certeza se sente como um.

— Fechado — engasgo e o empurro para longe.

Mal tropeça um passo para trás, e me espremo passando por


ele para chegar às escadas, o estômago roncando que se dane.

— Ah, e Gem? — Diz um segundo depois.

Ele nunca se lembrará de qual pedra preciosa eu tenho o


nome, não é? Paro meu caminho, mas não olho para ele.

— Meu amigo Theo ficará conosco por um tempo.

Eu não faço um som.

— A menos que... tenha algum problema com isso? — Diz.

11 - Joia.
Ele está me testando. Certificando-me de que sei onde é o meu
lugar.

Quero chover o inferno sobre ele, mas sei que não posso
recusar. Bem, poderia, mas ele não faria nada. Eu tenho a ponta
curta do bastão agora. Se eu delatá-lo, pode perder seu melhor
amigo - isso o irritaria, mas o cara claramente não ama ninguém,
então superaria isso - mas se ele contar sobre mim? Poderia perder
a confiança dos meus pais, e depois de tudo que meus pais fizeram
por mim, desde me tirar de um lar terrível quando bebê até me dar
uma ótima vida, não aguentaria isso.

— Tudo bem — resmungo.

É quando me dá um olhar. Um que troca o sangue em minhas


veias por gelo. Seus olhos ainda estão cheios de ódio, desdém e
ressentimento, mas desta vez... Desta vez, há também um
vislumbre de interesse.

Uma gota de curiosidade que não existia antes. Ele me olha


como se eu fosse uma bomba-relógio que finalmente sabe como
detonar. E quando subo as escadas com minha bagagem, eu sei...

Estou no pior verão da minha vida.


Frio.

Estou com frio.

Não, não frio — congelante.

Meio adormecida, puxo o cobertor para tentar cobrir meus


ombros. Isso não ajuda a me aquecer, e gemo de aborrecimento,
colocando o cobertor sobre minha cabeça.

— Que diabos? — Meus dentes batem, e abro meus olhos,


analisando meus arredores para ter certeza de que não me
teletransportei magicamente para a Antártida.

Estou exatamente no mesmo lugar em que adormeci, enrolada


na cama queen-size do quarto de hóspedes, mas há uma grande
diferença.

A temperatura.

Pego meu telefone na mesa de cabeceira. São 8h05. Ajustei


meu despertador para as 8h15 para levar Lexie em sua caminhada
matinal, mas não consigo dormir mais dez minutos nesta era
glacial. Verifico o aplicativo do tempo no meu telefone e franzo a
testa para os dígitos na minha tela. Está vinte seis graus lá fora.
Um dia quente e lindo que tenho toda a intenção de passar na
piscina com Lexie. Então, por que está tão frio aqui?

Saio da cama e estremeço quando meu dedão do pé encontra


o chão de madeira frio. O termostato do meu quarto marca quinze
graus quando sei com certeza que ajustei para vinte na noite
passada. Talvez seja uma falha? Faria sentido, já que a casa está
cheia de dispositivos inteligentes – termostato, persianas, luzes e
até fechaduras.

— Estranho — digo baixinho antes de pressionar a tela de


toque para aumentar a temperatura.

Um som alto de bipe me assusta, e uma mensagem aparece


no termostato sofisticado.

BLOQUEADO. POR FAVOR, DIGITE O CÓDIGO DE ACESSO PARA


AJUSTAR A TEMPERATURA.

Eu sei que estava errada instantaneamente. Não é uma falha.

É ele.

— Deve estar brincando comigo. — Disco um punhado de


combinações de números, todas seguidas da mesma mensagem.

Bloqueado. Bloqueado. Bloqueado.


— Juro que este menino tem um desejo de morte — digo com
os dentes cerrados. Coloco um moletom enorme que para logo
acima dos meus joelhos e saio do meu quarto.

Desço as escada correndo, pronta para matar o Finn. Pensei


que talvez ele só tivesse mudado a temperatura no andar de cima,
já que tem acesso a todos os cômodos do painel de controle na
cozinha, mas o resto da casa está tão frio quanto.

O filho da puta está tentando me forçar a sair pela porta me


fazendo congelar até a morte.

Estou surpresa ao ver que Lexie não está lá embaixo


esperando por mim quando chego à sala. Pobre querida, também
deve estar congelando. Entendo que ele gostaria que eu
congelasse, mas o seu cachorro? Que tipo de monstro faz isso com
seu próprio animal de estimação?

Virando o corredor com pressa, procuro por Lexie, mas não


consigo encontrá-la. A preocupação rasteja sob minha pele
enquanto ando até a cozinha e chamo seu nome algumas vezes,
sem resultado.

Paro com o som de seu latido familiar. Está vindo do quintal.

Esfregando os arrepios em meus braços, corro em direção às


grandes janelas e solto o maior suspiro de alívio quando vejo Lexie
correndo pelo gramado. Está perseguindo Finn, brincando de
buscar e vivendo sua melhor vida.

Pelo menos teve a decência de não deixá-la congelar.

Olho para a rede de corda perto da casa da piscina e vejo Theo


cochilando nela. Está tomando banho de sol com o antebraço e o
cabelo escuro cobrindo os olhos.
Certo, esqueci. Ele mora aqui agora.

Calafrios percorrem minhas costas, um lembrete de que ainda


estou congelando meus seios, e abro a porta de vidro para sair. Sei
que ouviu a porta fechar, mas Finn não olha na minha direção,
jogando um osso de cachorro para Lexie.

Ah, acha que pode me ignorar.

Fofo.

— Reverta isso. — Atravesso o pátio em poucos passos.

A corrente de prata que sempre usa está presa em volta do


pescoço, e está sem camisa, vestindo um moletom preto com um
boné de beisebol virado para trás que o faz parecer tão bom que é
enfurecedor. Seu corpo estúpido e glorioso se aquece ao sol, seus
antebraços cheios de veias e tatuagens prendendo meus olhos.

Seus olhos também são pequenos. Como se ele tivesse


acabado de sair da cama.

Ele nunca acorda tão cedo.

Tudo isso fazia parte do seu plano, não era? Levantar-se antes
de mim, mexer na temperatura e sair para não ter que congelar?
Não me dá atenção, para surpresa de ninguém.

— Ei, Satanás — grito. — Estou falando com você.

Chego ao seu lado um momento depois e espio Lexie


mastigando seu osso de cachorro a alguns passos de distância.

— Você é a porra de uma criança, sabe disso? — Estouro.


— E você é um pé no saco. Algo mais? — Finn fala como se
estivesse ansioso para que essa interação acabe.

— Uma senha? Sério? — Repreendo, mas ele me nega contato


visual. Irritada, pulo na sua frente, não lhe dando escolha a não
ser olhar para mim. — Está frio como a porra do gelo lá dentro.

— Mesmo? — Inclina a cabeça para o lado, os cantos dos lábios


se curvando em um sorriso malicioso. — Não percebi.

Estou furiosa — Reverta isso.

Finn não responde por longos segundos, apenas me olhando


sem vacilar. Engulo em seco quando percebe meu traje. Seus olhos
percorrem meu corpo, demorando-se em minhas coxas nuas por
muito tempo, e minhas bochechas esquentam. Este moletom faz
pouco para cobrir minhas pernas. Apenas dois centímetros mais
curto, e poderia ver minhas nádegas saindo do meu minishort.
Estava tão chateada que nem pensei em tirar meu pijama.

— Odeio dizer isso a você, raio de sol, mas não pode me dizer
o que fazer. — Seus olhos voltam para os meus.

Nossa conversa da noite anterior surge em minha mente. Ele


guarda o meu segredo, e eu o dele.

Esse era o acordo. Estava louca para pensar que isso poderia
ser o início de uma trégua?

— Então faça isso por Lexie — estalo. — Sabe muito bem que
ela vai congelar lá.

— Desculpe, não sei do que está falando. — Ele mantém a


farsa, e luto contra a vontade de enfiar o osso de cachorro de Lexie
em sua garganta.
— Não acredito — gritei e me aproximei dele no meio da minha
fúria.

Estando tão perto de Finn, a diferença de altura é altamente


perceptível, e tenho que esticar meu pescoço para encontrar seus
olhos. Quero me afastar assim que percebo que minha confiança
desapareceu quando a diferença entre nós desapareceu, mas
também não quero que pense que me afeta. Porque não afeta.

Ele é apenas um garoto rude apodrecendo por dentro. Não


importa que o lado de fora seja a coisa mais linda que já vi…

— Não pode mantê-la assim para sempre — aponto.

Vejo os músculos de sua mandíbula tremerem. Estamos muito


perto um do outro agora, e tento segurar a respiração para não
sentir o cheiro daquela colônia deliciosa e terrosa que usa. Então
ele abandona o ato.

— Observe-me. — Sua voz é mais escura, mais áspera, e meu


coração traidor sobe pela minha garganta.

— Coma minha bunda, Richards. — Eu me afasto.

— O prazer é meu. Curve-se — chama atrás de mim.

Inacreditável. Não me incomodo em responder e dou o dedo


médio por cima do meu ombro. Eu o ouço rir do meu presente de
despedida antes de voltar para dentro do freezer que chama de
casa. Há um buraco no meu estômago.

Um grande.
Não me disse nada que eu não soubesse, mas estou mais
preocupada do que nunca. Porque agora, sei que nosso acordo não
mudou nada...

Ele ainda quer que eu vá. E não vai parar até eu partir.

— A fita era realmente necessária? — Theo zomba da cozinha,


sua cabeça dentro da minha geladeira enquanto a examina.
Jogando o controle de videogame na minha mão sobre a mesa da
sala, me afundo no sofá que não deixamos a manhã toda.

— Considerando que a garota não pode dar uma dica de


merda? Sim, é.

Passei a maior parte da noite passada rotulando quase tudo


na casa, incluindo a comida na geladeira, como minha. Não
consegui encontrar notas adesivas, então optei por fita adesiva. A
babá da casa estava ficando muito confortável para o meu gosto, e
se meu nome Sharpie em preto em todos os lugares não lembrá-la
que está na porra da minha casa, não sei o que irá.

Esperava que o truque do termostato de ontem resolvesse o


problema, mas a garota estava certa sobre uma coisa. Não poderia
mantê-la assim para sempre. Estava frio pra caralho na casa, e
quando começou a chover à tarde, fomos forçados a voltar para
dentro.
Devo ter durado duas horas antes de desistir e remover o
código de acesso. Poderia lidar com o frio, e não poderia me
importar menos com Theo reclamando que suas bolas estavam se
transformando em pingentes de gelo, mas então vi Lexie tremendo
em sua cama de cachorro, e sabia que tinha acabado.

Nenhuma brincadeira vale a Lexie se sentir assim. Nenhuma.

— Você não tem merda nenhuma aí, Richards. Estou


morrendo de fome — Theo reclama pela terceira vez hoje.

— Está dormindo na minha casa sem pagar aluguel, idiota.


Agora, tenho que alimentá-lo também? — Zombo, mas no fundo,
estou bem ali com ele.

A última vez que tive uma refeição aceitável foi quando a babá
cozinhou aquela caçarola – a melhor comida que comi em um
minuto quente, mas morrerei antes de dizer isso a ela.

Gastei todo o dinheiro que tinha para este mês há alguns dias.
Mal podia me ver dizendo ao meu pai que desperdicei minha
mesada em uma única noite. Ainda bem que tinha o suficiente
para comprar a comida de Lexie. Sei que Theo pensa que porque
meu pai possui toneladas de shopping centers em cima de sua
empresa, estou nadando em dinheiro, mas meu pai acredita
firmemente em seus filhos aprendendo o valor do dinheiro.

Brody, meu irmão mais velho, teve que começar a trabalhar


aos treze anos para pagar sua merda. Foi diferente para mim, no
entanto. Papai não me deixou arrumar um emprego. Disse que
queria que eu direcionasse todo o meu foco para o basquete. Ele
provavelmente achava que seu filho delinquente não conseguiria
se concentrar em esportes, conseguir um emprego e se manter em
paz.
Theo e eu temos comido macarrão instantâneo e todos os
petiscos que encontramos na despensa desde que chegou aqui.
Não que Theo se importe. Contanto que houvesse algo
remotamente comestível na casa, não disse merda nenhuma –
qualquer coisa é melhor do que morar com seus pais – mas agora
estamos até mesmo sem as coisas mais básicas. Espero que a
garota Gem compre mais comida antes de morrermos de fome.

Theo volta da geladeira de mãos vazias, se jogando no sofá de


couro. — Qual é o próximo?

Arqueio uma sobrancelha para ele.

— Suponho que está trabalhando em seu próximo passo para


se livrar da babá da casa? — Zomba.

Ele acha que estou perdendo meu tempo. Diz que ela não
parece ser do tipo que desiste, e as chances são de que, se ainda
não jogou a toalha, nunca o fará. Segundo ele, a garota não vai a
lugar nenhum.

Eu terei o tempo da minha vida provando que está errado.

— Jesus, está quente aqui. — Theo, que está vestindo uma


regata de ginástica, tira o bíceps do sofá, sua pele grudada no
couro.

Ele tem razão. Eu me convenço de que tem algo a ver com


minha confusão com o termostato ontem e dou de ombros. Jogo o
controle de videogame para ele para retomar o jogo que
abandonamos. Mal jogamos por dez minutos antes de se tornar
insuportável.

— Tudo bem, estou derretendo, porra. Faça alguma coisa —


Theo pede.
— Notícias, Cox, você tem pernas.

— Não sei como funciona seu termostato de gente rica, merda


— argumenta Theo.

Irritado, me levanto do sofá e vou até a cozinha para ajustar a


temperatura.

32 graus.

Eu quebrei alguma coisa ontem? Por que está tão quente?

Está um calor infernal lá fora, com certeza, mas o ar


condicionado deveria funcionar. Pressiono o botão para reduzi-lo
de volta aos níveis normais, mas uma mensagem de alerta aparece
na tela de toque.

BLOQUEADO. POR FAVOR, DIGITE O CÓDIGO DE ACESSO PARA


AJUSTAR A TEMPERATURA.

Minha boca cai. Ela não fez isso. Ouço passos e as patas de
Lexie chacoalhando o chão.

— Bom dia, rapazes. — A voz alegre de Gem me alerta


instantaneamente.

Parece que ela acabou de virar o jogo contra mim. Giro no meu
eixo e odeio a rapidez com que o ódio que se agita em meu
estômago morre.

Foda-me.
A babá está parada na porta da sala com Lexie, vestindo shorts
brancos e um top de biquíni verde neon que faz seus seios
parecerem... Não posso mentir, ela é a porra de um dez.

Sabia que ela era meu tipo desde o segundo em que a peguei
na minha cama de calcinha naquela noite, mas estava muito
chateado com meu pai para me importar. É curvilínea em todos os
lugares certos, com lábios carnudos e cheios que quero foder e
uma marca de nascença perceptível acima de um de seus seios.
Seu cabelo preto longo e encaracolado está jogado por cima do
ombro, caindo em cascata por sua barriga bronzeada. Meu pau
estremece em minhas calças enquanto me imagino agarrando
aquela cintura e me enfiando dentro dela por trás.

Porra, Finn, pare.

Eu a odeio. Realmente a odeio. Só queria que meu pau também


a odiasse.

— Lindo dia, não está? — Gem vai até a mesa da sala para
pegar as poucas latas de cerveja que não conseguimos jogar fora.
Não consigo tirar os olhos dela enquanto aconchega as latas vazias
em seus braços.

Ainda na cozinha, olho para Theo no sofá, e sei que está tendo
exatamente os mesmos pensamentos pela forma como seus olhos
brilham. Gem olha para Theo suando como um porco, e sua boca
carnuda se curva em um sorriso. Ela está gostando muito disso.

Seu olhar muda para mim, mas imediatamente desvia os olhos


quando percebe que eu estava olhando. Evitando meu olhar,
caminha até a mesa da sala de jantar.
— Estava pensando em dar um mergulho e depois correr para
o supermercado esta tarde. Querem alguma coisa? — Puxa uma
lista de compras do bolso.

— Claro que sim. — Theo se levanta do sofá e se senta na mesa


da sala de jantar com ela. Começa a levá-la através de todos os
itens que quer, e não posso nem culpá-lo.

Theo está quebrado. Nem um dólar em seu nome quebrado.

Ele trabalhou para seus pais toda a sua vida, mas decidiu sair
pouco antes do verão começar. Disse que precisava de uma pausa.
E não apenas de seu trabalho. De toda a sua família. Não é
nenhum segredo que a dinâmica da família Cox é uma merda. Theo
é expulso de sua casa por seus pais regularmente por não ser a
história de sucesso acadêmico que esperavam.

E enquanto todo mundo em Silver Springs é obcecado por


basquete, o pessoal de Theo acha que basquete é lixo e uma
completa perda de tempo. Aos seus olhos, o filho está se
preparando para o fracasso ao pensar que jogar uma bola em um
aro é mais importante do que suas notas. Também não ajuda que
os pais de Theo tenham estado na garganta um do outro desde que
conseguia se lembrar. Neste ponto, está apenas esperando que um
deles cresça algumas bolas e puxe a ficha do casamento.

Apoiando meus cotovelos na ilha da cozinha, rolo no meu


telefone, ouvindo Theo flertar com a babá tão descaradamente que
reviro os olhos ao ponto de cansar os olhos. Vou vomitar.

— Excelente. Tudo pronto, então. — Gem se levanta e caminha


até a porta de vidro deslizante que leva para fora, nos dando uma
imagem de sua bunda perfeita no processo.
Ela empurra a porta aberta, Lexie não muito atrás. Assim que
está prestes a entrar no pátio, me lembro de algo.

— Ei, babá?

Ela para.

— Dê-me o código primeiro. — Não preciso explicar para que


saiba que estou falando do termostato. Em resposta, me olha nos
olhos, afasta uma mecha de seu cabelo encaracolado do rosto e
abre um sorriso inocente.

— Desculpe, não sei do que está falando.

Então, sai porta afora.

Sem chão, a vejo caminhar até a piscina com Lexie e percebo


que há uma sugestão de sorriso em meus lábios. Ela acabou de
usar minhas próprias palavras contra mim, e o que é pior? Não
posso nem ficar bravo.

Ela pode ter acabado de me vencer no meu próprio jogo...

Mas a ensinei a jogar.


Quem quer que tenha inventado a abordagem, “mate-os com
gentileza”, é um gênio.

É verdade, ser legal não funcionou com meus valentões do


jardim de infância, mas funciona com crianças ricas narcisistas e
pecaminosamente gostosas, e isso é bom o suficiente para mim.

Três dias inteiros se passaram desde que mudei a narrativa de


Finn e me tornei Little Mary Sunshine12. Por mais que adorasse ver
os garotos suando, não aguentei mais um segundo desse calor e,
eventualmente, removi o código.

O resultado? Não há mais brincadeiras. Nem mesmo um


comentário sarcástico.

Bem, Finn marcou tudo na casa com seu nome em fita adesiva
– porque todo mundo sabe que Finn Richards é a imagem da
sanidade – e os olhares desagradáveis ainda são uma coisa
cotidiana, mas posso lidar com alguns olhares se isso significar
que me deixará fazer o meu trabalho em paz.

12
-É um musical de 1959, que parodia operetas e músicas à moda antiga. O livro, a música e as letras são
de Rick Besoyan.
Estou surpreendentemente grata por Theo morar conosco.
Não consigo me imaginar sozinha com Finn em tempo integral, e
Theo me diz palavras reais, em vez de revirar os olhos e sair toda
vez que entro na sala. Estou ciente de que há uma boa chance de
Theo só ser legal comigo porque o alimento, mas tenho que admitir
que nossa pequena rotina está crescendo em mim.

É um processo de enxaguar e repetir: cozinho para mim


enquanto me certifico de ter toneladas de sobras, coloco-as na
geladeira e, quando volto, a comida acabou. Theo é decente o
suficiente para me agradecer de vez em quando, mas Finn? Estarei
no meu leito de morte antes que consiga dizer a palavra obrigado.

Passa das 9h quando Lexie e eu descemos as escadas juntas.


Era muito difícil ignorá-la chorando na minha porta todas as
noites, então cedi e a deixei entrar. Ela dorme na minha cama
agora, só sai do meu lado quando abro a porta pela manhã. Ouço
um som que parece ser de embaralhar na geladeira assim que
meus pés se conectam com o piso principal. Deve ser Theo
comendo as sobras da noite passada.

— Droga, Richard. Você comeu a última fatia de pizza. —


Reconheço a voz de Theo e paro para pensar.

Não estava com vontade de cozinhar ontem, e o Sr. Richards


finalmente me mandou o dinheiro para a comida, então pedi uma
pizza grande para o jantar com azeitonas extras para irritar Finn.

Ele me disse que odiava azeitonas quando estava pedindo


porque sabia que ele e Theo acabariam terminando-a; até chegou
a dizer que se houvesse uma azeitona na pizza, não tocaria nessa
merda com um pedaço de pau, mas aparentemente, ele comeu?

Em que mundo isso faz sentido? Empurrando o pensamento


para o canto de trás da minha mente, ando para a cozinha com
uma excitada Lexie no meu encalço. A primeira coisa que vejo
quando entro é Theo vasculhando a geladeira, então Finn em uma
camiseta preta e jeans, encostado no balcão da cozinha com os
braços cruzados. Ele parece ridiculamente gostoso, quando não é,
mas não lhe dou outro olhar, focando no único cara nesta sala que
me trata como uma pessoa real.

— Bom dia — digo a Theo e vejo Lexie correr em direção a Finn,


buscando um bom afago, que Finn lhe dá sem pensar duas vezes.

Pode gostar de mim agora porque a levo em várias caminhadas


por dia, mas sei de fato que nunca poderia superar Finn em seus
olhos. Ela só veio chorando a minha porta algumas noites atrás
porque Finn não a deixou entrar em seu próprio quarto.

É a forma como seu rosto se ilumina quando a vê, quando está


hiperfocado nas necessidades dela. Não há como negar que ele a
ama.

Theo me cumprimenta com um movimento do queixo, e Lexie


se separa de Finn para encontrar sua tigela de comida na entrada.
Caminho até a máquina de café expresso. O problema é que Finn
deslizou de volta para sua posição anterior - braços cruzados,
encostado no balcão - e está bloqueando o acesso como a porra de
uma parede de tijolos.

— Mova-se — digo sem rodeios, mas sinto minha confiança


diminuir quando seus olhos frios se aproximam dos meus.

— Oh, estou no seu caminho? — Provoca com um pequeno e


diabólico sorriso que quero dar um soco em seu rosto.

— Sim. — Engulo meus nervos e espero que se afaste.


Em vez disso, olha para o meu rosto, posiciona os lábios ao
lado do meu ouvido e diz um satisfeito Bom.

Deveria estar irritada, brava até, mas tudo que consigo pensar
é o quão perto está de mim agora. Sua respiração batendo contra
o lóbulo da minha orelha e os arrepios subindo pela minha
espinha. Eu me pergunto como seria sua boca chupando meu
pescoço, me marcando toda… Que diabos foi isso?

Saio dele e me afasto um centímetro para recuperar a


compostura. É louco se acha que pode ficar no caminho entre mim
e o meu café da manhã.

— Mova-se. Não pedirei de novo.

Ele me ignora, molhando a boca ao passar a língua pelo lábio


inferior, e meus olhos seguem o movimento.

— Bem. — Bufo, decidindo que é muito cedo para planejar um


assassinato.

Um alarme me arranca dos meus pensamentos. Theo tira o


telefone do bolso.

— Porra, tenho uma entrevista de emprego em dez minutos.


Até mais tarde.

Sai porta afora antes que eu perceba. Ouvimos seu carro


vermelho sair da garagem alguns segundos depois. É quando uma
mensagem chega no telefone de Finn, e o tira do bolso. Pego seu
sorriso quando vê o remetente.

Alerta de chamada da ficante. É Brie de novo?

Não é da sua conta, Dia.


Ele é rápido para pegar as chaves do bolso e caminhar até a
porta.

— Ei? — Eu o acompanho até a entrada.

Abrindo a porta, ele me olha.

— Por que comeu? — Pergunto.

Ele franze a testa. — Comeu o quê?

— A pizza. Disse que odiava azeitonas.

Ele reprime um sorriso no momento em que as palavras


escapam da minha boca.

— Eu menti. Sabia que se dissesse que odiava azeitonas, seria


exatamente isso que pediria.

Fico boquiaberta, mas ele sai da casa antes que eu tenha a


chance de reagir. O garoto me jogou como a porra de uma
marionete.

Bastardo esperto.

A língua de Lexie varrendo minha palma me traz de volta à


realidade, e acaricio o topo de sua cabeça enquanto pressiona sua
bochecha na minha perna.

— Vou tomar banho. Então vamos dar uma volta, tudo bem?
— Pergunto como se ela me entendesse. Estou a meio caminho do
banheiro do andar de cima que é ligado ao meu quarto quando
meu próprio telefone toca com uma mensagem de texto.

De um número desconhecido.
Número Desconhecido: reorganizei um pouco o seu banheiro. Pensei
que poderia usar mais espaço no balcão. De nada.

É Finn. Tem que ser.

E de acordo com as sirenes estridentes na minha cabeça? Ele


fez muito mais do que apenas reorganizar meu banheiro. Meu
pulso acelera, subo as escadas e abro a porta do meu banheiro.
Encontro o balcão onde minhas coisas estavam ontem
completamente esvaziado. Como pude perder isso? Espere, usei o
banheiro do andar de baixo esta manhã, não usei? Eu me encolho
quando percebo que o assento do vaso está levantado e corro para
ele.

Está tudo lá. Sentado no fundo do vaso sanitário. Minha bolsa


de maquiagem, meu alisador de cabelo, laços de cabelo, creme
facial caro, até mesmo minha maldita escova de dentes. A raiva
agita meu estômago enquanto arregaço as mangas para pescar
minhas coisas.

Ah, luta começa agora.

Há nove quartos na casa dos Richards. Nove quartos, e estive


dentro de todos eles. Todos menos um.
— O que está errado? — Pergunto a Lexie, que está chorando
na frente das portas envidraçadas do segundo andar nos últimos
dez minutos. Eu a encontrei aqui duas vezes nos últimos três dias,
choramingando na porta por horas a fio.

Este é o único quarto em que não entrei quando fiz um tour


pela casa. Finn tinha colado uma placa menos acolhedora na
porta, e não estava provovando sua ira depois que usou minhas
roupas como fertilizante.

Curiosidade me agarrando, arranco a folha de papel que meu


adorável colega de casa prendeu na porta.

Como entrar neste quarto em um passo fácil.

Primeiro passo: não entre.

Em qualquer outro dia, daria atenção ao seu aviso, mas acabei


de passar uma hora limpando minhas coisas depois de tirá-las do
banheiro, e estou me sentindo vingativa. Hesitante, puxo as
maçanetas pretas, sugando uma respiração quando as portas se
abrem. Lexie corre para dentro da sala, e os milhões de cenários
que inventei param bruscamente.

Estava errada. Não é um quarto.

Uma impressionante mesa de carvalho fica no centro da sala,


uma máquina de costura e um punhado de caixas de
armazenamento empilháveis sobre ela. A parede de frente para a
entrada é pintada de uma linda cor creme, e um organizador de
joias rústicas está sobre. Colares, pulseiras e anéis coloridos estão
pendurados nos ganchos do organizador, e um cabideiro de tecido
está fixado na parede à minha direita.

A sala de costura e de joias é iluminada pelos raios de sol do


fim do dia que espreitam pela janela, as partículas de poeira no ar
visíveis a olho nu. Posso dizer pela aparência das coisas que o
quarto foi mantido limpo ao longo dos anos, mas não ficaria
surpresa se a empregada fosse a última pessoa aqui.

Eu me aventuro mais fundo no quarto, absorvendo uma


memória que sei que não me pertence, e passo a ponta dos meus
dedos sobre os rolos de tecido na parede. Uma pequena letra está
gravada em cada rolo. N.

N como em… Nora Richards?

Sei que não deveria estar aqui. As probabilidades são, se Finn


me encontrar no escritório de sua mãe, estou praticamente morta,
mas há algo fascinante sobre um momento congelado no tempo.
Uma história que ainda se pode ler muito depois de terminar.

Eu me pergunto que tipo de mãe era, se esse era o seu trabalho


ou apenas um hobby, se foi ela quem fez a corrente de prata que
seu filho nunca tira. As caixas de armazenamento em sua mesa
contêm alicates, fechos, pedras preciosas e semipreciosas. Todas
as ferramentas que se precisaria para fazer joias.

Olho para ver Lexie encolhida em uma cama de veludo para


cachorro perto da janela. Parece natural para ela, como um hábito
que nunca abandonou. O pensamento dela deitada ali enquanto a
mãe de Finn trabalhava há tantos anos faz meu peito apertar.
Sinto-me uma impostora quando me sento na cadeira de couro do
escritório. Como se estivesse presa em um sonho do qual nunca
conseguiu acordar.
Meus pais sempre me disseram que pode criar algo bonito até
mesmo das histórias mais devastadoras. Então, com o coração na
garganta, alcanço as caixas de armazenamento na mesa da Sra.
Richards, removo as tampas uma a uma...

E crio.

O relógio marca 23h20 quando saio do chuveiro de Finn.

Estou sozinha em casa desde que os rapazes foram embora


esta manhã, e não perderia a oportunidade de tomar banho no
maior e melhor chuveiro da casa. Quem se importa que o chuveiro
esteja conectado ao quarto de Finn?

Com pressa, seco meu corpo e cabelo com uma toalha, depois
coloco um short de seda e uma camiseta folgada. Estou prestes a
sair do banheiro quando vejo o bracelete de ônix preto que passei
horas fazendo no balcão do banheiro. Estou carregando-o desde
que o terminei mais cedo. Não tinha muita certeza do que fazer
com isso no começo. Mal podia me ver usando, sabendo que
nenhum dos materiais era meu. Então percebi que só fazia sentido
para Finn tê-lo.

Ele é o único que perdeu sua mãe. Talvez assim, possa


carregar um pedaço dela com ele? Nem sei por que fiz aquele
bracelete.

Entrei no escritório de Nora Richards com a intenção de


machucar Finn e saí com uma tristeza avassaladora por ele. Além
disso, não seria tão absurdo para mim lhe dar um presente
considerando o meu novo mantra - mate-os com gentileza.

Deslizo o bracelete no meu pulso para me lembrar de entregá-


lo a Finn na próxima vez que o ver e começo a me virar…

— Que porra pensa que está fazendo?

Grito de surpresa, deixando cair a toalha molhada da minha


mão nos azulejos do banheiro. Um Finn mal-humorado está na
porta do banheiro, seu olhar duro cheio de punhais e balas
envenenadas.

— Eu... — As palavras não cooperam.

— Você o quê? — Diz secamente.

Recomponha-se.

— O que parece, espertinho? Estava tomando banho — atiro


de volta. Familiarizada com nossas brigas, Finn ergue uma
sobrancelha para mim e pisca com um pequeno sorriso “aqui
vamos nós de novo”.

— Eu sei o que estava fazendo, Gem. O que quero saber é o


porquê.

Gem…

Gostaria que ele parasse de me chamar assim. Às vezes, como


agora, soa bem.

Afetuoso, até. Como se pudesse ser “nossa coisa” em vez do


que realmente é. Um lembrete de que não se daria ao trabalho de
lembrar meu nome.
Coloco minhas mãos para cima. — Você tem o melhor chuveiro
da casa. Processe-me.

Apoiando seu ombro contra a porta, Finn me dá uma olhada,


e meus braços irrompem em arrepios. Suponho que está
procurando o insulto perfeito para jogar na minha cara até que dá
de ombros.

— Que seja.

Que seja? Não me permito pensar demais e me espremer por


seu corpo largo para sair do banheiro. Mal dei dois passos e lembro
que deixei a toalha no chão e me virei.

Finn parece ter tido o mesmo reflexo porque ambos pegamos


a toalha ao mesmo tempo, nossos dedos se tocando por uma fração
de segundo. Meu pulso acelera, retiro minha mão, levando a toalha
usada comigo e piscando para ele.

Ele também está me olhando. Firmemente. Apenas…

Não é para o meu rosto que está olhando, mas o bracelete


preto ao redor do meu pulso.

Sempre soube que faltava bom senso a babá.


Quer dizer, vamos lá, qualquer um com metade de um cérebro
teria corrido para as colinas no dia em que joguei sua bagagem no
chafariz, mas quando vejo as pedras pretas presas em seu pulso,
o olhar inocente em seus profundos olhos castanhos...

Percebo que é pior do que eu pensava. Não só falta bom senso,


também carece de decência humana básica.

— Que porra é essa? — Minha voz falha em uma mistura de


raiva e nojo, mas também há uma pitada de dor que quero sufocar
até a morte.

Gem cambaleia um passo para trás com minhas palavras e


vejo isso afundar. A percepção de que quebrou todas as minhas
regras e limites. E não há como voltar atrás.

— Certo, eu... tropecei no escritório da sua mãe hoje, e... eu


fiz isso para você. — Com a voz trêmula, tira o bracelete do pulso
e me entrega.

Vejo vermelho instantaneamente.

— Tocou nas coisas dela? — Grito, mas sai como uma


pergunta. Estou chocado, incrédulo. Sinto que ela acabou de soltar
uma bomba enorme do caralho em mim.

Tocou. Nas. Coisas. Dela.

Eu mudo para o piloto automático, meus dedos agarrando o


bracelete e o arrancando de sua mão violentamente. Jogo-o no
corredor com tanta força que a babá grita.

Seu peito arfando para cima e para baixo, luta para falar. —
Eu só... pensei que seria bom para você ter algo dela.
Eu quase rio. Minha mãe me deixou muitas coisas quando
morreu.

TEPT13, pesadelos, culpa sem fim, mas com certeza não preciso
de um bracelete feito por uma estranha.

Ela começa a se afastar, mas a paro, pegando seu pulso e


puxando seu corpo para o meu. A pior parte é que sei que ela teve
boas intenções. É tão cheia de luz, bondade, boas intenções, ams
agora, com seu peito pressionado contra o meu, quero sugá-la até
secar.

Por isso, mau pra caralho.

Quero dobrá-la e mergulhar dentro dela até que me diga o


quanto está arrependida, fazê-la implorar, chorar de prazer
enquanto goza e se odeia por isso. Mexo meus quadris um pouco
para que não sinta o quão duro estou, mas tenho certeza que sente
de qualquer maneira porque para de respirar por um segundo.

Porra. Essa garota é meu pior pesadelo. Algo que odeio tanto
quanto desejo.

— Acha que fui malvado com você? — Eu a choco dizendo.

Ela engole em seco. — Acha? — Insisto.

Exala irregularmente, assente.

— Então marque minhas palavras, se pisar naquele escritório


de novo, farei tudo o que fiz para você desde que chegou aqui
parecer brincadeira de criança.

13 - Síndrome de Estresse Pós-Traumático.


Não está mais olhando para mim, e preciso desses olhos.
Preciso saber o que se passa na sua cabeça.

— Entendeu? — Cerro os dentes e levanto seu queixo com meu


indicador. Algumas lágrimas estão começando a se formar nos
cantos de seus olhos, e isso me deixa ainda mais duro.

Porra, não há como ela não sentir isso. Ficamos assim por
longos segundos, olhando para a alma um do outro. Até que,
finalmente, engasga com um fraco e quase inaudível “Entendido”.

A próxima coisa que sei, é que me empurrou para longe dela.

Eu a ouço correr pelo corredor, então a porta do quarto bate


ao longe. Por um momento hoje, pensei que talvez, com o tempo,
poderia desenvolver uma tolerância por ter essa garota em minha
casa, afinal...

Alerta de spoiler?

Estava errado.
Desde o dia em que me mudei para esta casa, ouvi Lexie chorar
três vezes. A primeira foi quando chorou na porta do quarto de
Finn, depois no meu à noite para poder entrar.

A segunda foi quando parou em frente ao escritório de Nora


Richards por horas, e a terceira...

A terceira é agora.

Sonolência me pesando, gemo e bato no colchão embaixo de


mim em busca de Lexie. Ela não está aqui.

Esquisito? Ela sempre dorme na minha cama.

Meus olhos estão fechados, e é preciso força sobre-humana


para abrir minhas pálpebras. O quarto está escuro, e verifico meu
telefone para ver que são 3:00 da manhã. A casa está silenciosa,
com exceção de Lexie chorando ao longe.

Esfregando os olhos, sento na cama e escuto.

Nunca ouvi Lexie chorar assim. Há desespero, angústia, na


forma como uiva, e sei que algo está errado quando vejo a pequena
abertura na porta do meu quarto. Ela escapou por conta própria.
Por quê?

Preocupada, arrasto minha bunda para fora da cama, deslizo


meus pés em meus chinelos e me aventuro no corredor. Devo
acreditar que ninguém mais ouviu isso?

Theo, posso acreditar. Ele dorme em um dos quartos de


hóspedes do primeiro andar, longe o suficiente para não ser
acordado, mas Finn deveria estar procurando por ela. Onde diabos
está?

Minha visão ainda está embaçada, sigo o barulho. Suspiro de


alívio quando viro o corredor e localizo Lexie nas portas duplas de
madeira no final do corredor. Sei onde essas portas levam, e não
consigo entender o seu choro na frente de uma biblioteca vazia.

— Lexie, o que há de errado? — Digo baixinho e me aproximo


dela.

Ela corre para mim no momento em que me vê. Acaricio o topo


de sua cabeça, o que mal me deixa fazer, e seus uivos ficam mais
altos quando me leva de volta para a porta e late novamente. Está
tentando me dizer algo. A questão é o quê?

— Está tudo bem, querida. Você está bem — digo, esperando


que não seja uma mentira, e alcanço a maçaneta.

Acho que terei um ataque cardíaco quando abrir a porta...

Meu primeiro instinto é gritar quando o vejo, mas uma voz na


minha cabeça me instrui a não fazer barulho. Ele está de pé na
janela aberta com uma garrafa de bebida na mão, olhando para o
vazio abaixo dele em completo silêncio. Estamos no andar mais
alto. E se ele cair? Ou pior, e se pular?
Lexie corre para seu dono para ver como está. Como ela sabia
que ele estava em apuros, nunca entenderei. Ele não dá um olhar
para Lexie, ignorando seus latidos enquanto olha fixamente para
a noite.

Dia, diga alguma coisa!

— Finn? — Minha voz quebra em torno de seu nome. — O


que... O que está fazendo?

Estas são as primeiras palavras que falo com ele desde a noite
em que jogou fora meu bracelete.

Dois dias se passaram depois que ficou louco comigo, e


fizemos de tudo ignorando um ao outro. Não consegui parar de
pensar em sua mão segurando meu pulso, aqueles olhos
profundos e sem alma mergulhados nos meus. E o quão duro
estava contra a minha coxa.

Deus...

— Finn? — Repito quando não responde. — Responda-me, ou


chamarei a polícia.

Então, ele ri. Ele ri, porra.

Parecia real também, e não sei o que fazer com isso até que
joga a cabeça para trás e me olha por cima do ombro. Há um
sorriso quase imperceptível naquela boca perversa.

— Relaxe, não vou pular — é tudo o que diz antes de voltar a


observar as estrelas.

— Ótimo, então não se importará de sair da janela. — Vou


direto ao ponto, mas ele não reage.
Eu tento novamente alguns segundos depois. — Saia da
janela, Finn.

Desta vez, ele me olha, e nossos olhos se cruzam pela sala.

— Por favor — imploro, minha garganta doendo terrivelmente.

Ele pensa sobre isso por um momento e dá de ombros. — Bem.

Não consigo respirar, pensar ou falar enquanto o observo se


sentar onde estava, com os pés pendurados no vazio.

— Estou lhe dizendo, não sabe o que é respirar ar fresco até


tentar isso — diz, como se encontrá-lo de pé em uma janela aberta
às 3:00 da manhã é normal.

Lexie, que ainda está observando seu dono como um falcão,


parece decidir que a situação está sob controle porque se deita no
chão ao seu lado. Quanto a mim, estou sem palavras.

— Vai dizer alguma coisa ou me vigiar a noite toda? — Zomba


quando meu silêncio se torna alto demais para o seu gosto.

— Pode cair. — Afirmo o óbvio.

Em resposta, zomba. — E isso seria trágico, certo?

— Simplesmente saia da porra da janela? — Reclamo.

Irritado, Finn bufa. — Venha aqui.

Meu coração começa a acelerar, mas prefiro fazer um maldito


eletrocardiograma do que admitir que ele é o motivo.

— O-o quê?
— Venha aqui. — Gesticula para me aproximar.

Então, vou, meus passos hesitantes e minhas pernas bambas.


Estremeço quando chego ao seu lado, uma rajada de vento
ondulante no interior das minhas roupas.

— Olhe — ordena. — Não é tão alto quanto pensa que é. —


Aponta para o vazio sob seus pés. Sua colônia inebriante enche
minhas narinas enquanto me aproximo dele para espiar por cima
do ombro.

Uma onda de náusea imediatamente toma conta de mim. Não


sei em que diabos pensa, mas temos definições muito diferentes de
“não tão alto”.

— Percebe que não vou sair até saia desta janela?

Ele dá um sorriso preguiçoso. — Então puxe uma cadeira


porque não vai para a cama tão cedo.

Dito isso, aponta para o sofá de couro ao lado de uma das


estantes altas da biblioteca. Com o gosto da derrota fresco na
minha língua, vou até o sofá e me jogo na almofada.

Não sei como pode simplesmente sentar lá em uma camiseta,


com a brisa da noite soprando em cima dele. Estou vestindo calça
de moletom e um suéter de manga comprida da Duke University
que roubei do meu irmão e estou congelando. Mil perguntas
inundam minha mente quando o vejo virar a garrafa de bebida que
colocou no batente da janela.

— Você está bêbado? — Pergunto.

— Não.
— É estúpido?

Ele ri. — Provavelmente.

O silêncio desce sobre nós.

— Eu queria me desculpar. — Sua voz profunda corta o ar.

Ouvi isso certo? Meu olhar se levanta para ele, mas não está
me olhando, seu foco perfurado na noite.

— Pode dizer isso de novo? Não gravei — provoco.

— Queria me desculpar. — Fica inexpressivo e olha para mim.


— Você conseguiu?

Uma risada sobe pela minha garganta, mas fico quieta por
respeito próprio. Não deveria estar rindo de suas piadas. Não
esqueci o que fez comigo depois que lhe dei o bracelete.

— Não deveria ter perdido a porra da cabeça dois dias atrás.


Sinto muito. — Expira.

— Por todos os meios, continue — incito.

Ele reprime um sorriso. — Receio que isso seja tudo o que terá.

Sei que estamos brincando, mas naquele momento, quase


desejei tê-lo gravado. Ninguém nunca acreditará que Finn
Richards se desculpou comigo, a babá de quem está tentando se
livrar desde o primeiro dia.

— Sinto muito, também — confesso. — Minha mãe biológica


morreu quando eu era bebê e só me resta uma coisa dela. Se
alguém tocasse, enlouqueceria…
Observo enquanto joga as pernas para dentro. Ele se recosta
no batente da janela, um dos braços apoiado no joelho e a perna
direita dobrada contra o peito, conforme a outra pende de lado.

Porra, ele é lindo.

Com o luar batendo no lado direito de seu rosto, delineando


seus bíceps tatuados e feições impecáveis. Seu cabelo castanho
escuro é uma bagunça eterna, fios caindo em cascata na frente de
seus olhos.

— O que é isso? — Pergunta. — A coisa que tem da sua mãe?

— Uma camiseta velha do Radiohead com a letra de Creep


nela.

Finn dá um pequeno aceno de cabeça.

— Isso nunca vai embora, não é? — Voltou a olhar para nada


em particular.

— O quê?

Seus olhos castanhos voltam para os meus. — Esse maldito


vazio.

Percebo instantaneamente. — Vai — discordo. — Só quando


estiver pronto para deixar ir.

Ele não diz nada.

— Você está? — Pergunto e instantaneamente gostaria de


poder voltar atrás. É como se minhas palavras o tivessem estripado
no estômago. Vejo uma pontada de raiva em seu olhar, e ele olha
para baixo.
— Alguém está? — Murmura.

Seu telefone apita com uma mensagem antes que possa


responder, e o tira do bolso. Já passa das 3:00 da manhã. Quem
poderia estar enviando mensagens para ele às 3:00 da manhã?

Isso vem a mim. Uma garota, quem mais? Talvez a mesma


garota da última vez? Seu olhar percorre a tela brevemente, e enfia
o telefone de volta no bolso sem responder.

— Chamada para uma rapidinha? — Questiono.

Ele dá de ombros. — Não tenho certeza se ela conta como uma


chamada de sexo.

O que ela é, então? Sua amiga especial?

— Suponho que esteja falando sobre Brie?

— Muito intrometida? — Provoca.

— Muito. — Assumo isso.

Ele abre um pequeno sorriso, aparentemente surpreso com a


minha honestidade.

— Não fique aqui por minha causa. Por todos os meios, vá vê-
la.

Ele faz uma pausa. — O que a faz pensar que quero foder Brie
de novo?

Além do fato de que ela é uma deusa ruiva linda e magrinha?


Nossa, Finn, não sei.
— Ei, não estou julgando. — Bufo, meu estômago revirando.
— É só que... Da última vez que verifiquei, tomar boas decisões
não é exatamente o seu forte.

Espero que ele me coloque no meu lugar, do jeito que fez dois
dias atrás, mas em vez disso, pega a garrafa de uísque que
provavelmente encontrou no estoque de seu pai e toma um longo
gole. Ele me confronta assim que coloca a garrafa no chão.

— Por que não diz o que realmente quer dizer?

Eu forço uma risada. — O que exatamente seria isso?

— Quer saber por que eu fiz isso.

E a cereja no topo? Ele está certo.

— Vá em frente, me pergunte — desafia, nunca tirando os


olhos de mim. Meus pensamentos completamente fora de controle,
limpo minha garganta e cedo ao seu pedido.

— Tudo bem. Por que dormiu com Brie?

Ele não fala por alguns segundos. — Porque eu podia.

Minha respiração fica presa na garganta.

— Fiz porque se não posso ter o respeito do meu próprio pai e


ele pode, é melhor acreditar que levarei todo o resto.

Está falando sobre Xavier Emery, não é? Algo quebra em seus


olhos naquele momento. Algo que nunca quis que eu visse. Estou
sem palavras, tentando desesperadamente processar sua
admissão. Felizmente, não parece esperar por uma resposta
porque toma outro gole de uísque e seca a boca com as costas da
mão.

— Dormi com a namorada do meu melhor amigo para me


vingar de algo que ele nem queria fazer — acrescenta. — Agora, me
diga que essa não é a coisa mais fodida que já ouviu…

É uma das coisas mais fodidas que já ouvi.

É vil. E horrível. E imperdoável. Então, por que não estou


repelida?

Por que não estou horrorizada?

Se alguma coisa, sua traição sem coração o torna ainda mais


intrigante para mim. Quero saber como funciona o seu cérebro, o
que aconteceu com ele naquele dia no lago. Por que sente a
necessidade de se convencer de que é uma causa perdida, mas
principalmente, quero ver até onde ele pode ir…

Antes que o mundo inteiro também acredite.

— A pior parte é que eu levaria a porra de um tiro por esse


cara. — Finn bufa uma risada amarga. — Morreria por ele. É como
meu irmão. E, no entanto... há uma parte de mim que o odeia.

A vontade de fazer uma pergunta a ele me consome, mas estou


com medo de sua resposta.

Eu mantenho meus olhos no teto, com o objetivo de me encher


de coragem até perceber que posso não ter escolha a não ser obtê-
lo em forma líquida.

— Foda-se — sussurro para mim mesma e me levanto.


Vou direto para Finn sentado na janela e arranco a garrafa de
uísque de suas mãos. Seus olhos crescem com a minha iniciativa,
mas não fala, me observando voltar para o sofá de couro. Nunca
bebi licor forte antes. Bebi vinho frutado no casamento da minha
tia uma vez, mas isso é o máximo. Não é que não queira beber. A
oportunidade simplesmente nunca se apresentou.

Aveena não é exatamente grande em beber por causa do


trauma que experimentou quando criança, e mal podia me ver
esfregando sal em sua ferida.

O uísque parece lava descendo pela minha garganta, e meu


reflexo de vômito entra em ação. Uma gota de licor escapa da
garrafa e rola pela minha boca. Finn a observa acontecer, seus
olhos seguindo meu polegar enquanto limpo o excesso de álcool do
meu lábio inferior. Então prende o próprio lábio entre os dentes.

E paro de respirar. Não, provavelmente estou louca.

— E eu? — Reúno coragem para dizer.

Ele arqueia uma sobrancelha, querendo que eu continue.

— Por que me odeia? Apague isso, por que odeia tudo?

Sua resposta é imediata. — Eu não odeio tudo.

Eu bufo. — Diga-me uma coisa que não odeia.

Ele não responde imediatamente, empurrando o parapeito da


janela e me roubando a garrafa de vidro. Só fala após recuperar
seu lugar na janela.

— Eu terei que voltar a falar com você sobre isso.


Suspiro. — Chocante.

Presumo que nossa conversa tenha atingido seu declínio


natural até que acrescenta — E não, a propósito.

— Não o quê?

— Odeio você. Não odeio — esclarece.

Suas brincadeiras, palavras duras e olhares desagradáveis


imploram para diferir.

— Então por que é tão horrível comigo?

O silêncio que se segue é mais espesso, mais pesado do que


qualquer silêncio pelo qual já sofri. Finn vira a cabeça para olhar
pela janela aberta, perdendo-se no céu noturno antes de sussurrar
uma verdade que pensei que nunca ouviria.

— Porque você é tudo o que ela gostaria que eu fosse.

Estou confusa por um momento, mas rapidamente fica claro.

Ele está falando sobre sua mãe, não está?

— Inferno, você é tudo o que ela era... — Finn zomba e vira a


garrafa de volta para outro gole. — Confiável, compreensiva, gentil.
Deus, é tão gentil, porra, que me deixa doente.

Para minha própria descrença, rio. Não é particularmente


legal, mas ainda encontro humor no elogio indireto. — Obrigada?
— Não tenho certeza do que dizer.

Contra todas as expectativas, Finn ri também. Esta deve ser a


primeira vez que realmente rimos juntos. Esta é definitivamente a
nossa primeira conversa genuína também. Poderia me acostumar
com isso, mas sei que não deveria pensar que Finn decente jamais
será a norma.

Não falamos novamente depois disso. Finn volta a olhar para


a noite, e volto a esperar que ele saia da janela. Não me importo
com o silêncio. Quero lembrar desse momento.

Quero recordar, uma vez que o sol nascerá e ele


inevitavelmente voltará ao seu eu cruel, que por aquele momento
fugaz, as paredes que construiu em torno de si não existiam mais.
Por aquele momento fugaz, foi real.

E talvez… Apenas talvez…

Finn Richards não é o monstro que o fiz parecer.


— Gem?

A voz masculina é apenas um eco na minha cabeça.

— Gem? — Alguém está me sacudindo.

Meus olhos estão pesados, quase fechados, e não consigo


juntar energia para abri-los.

— Gem, acorde. — Sua voz tem uma certa urgência.

Meu cérebro preso em uma névoa espessa, abro meus olhos


um pouco para ver Finn inclinado sobre mim na escuridão da
biblioteca, sua mão plantada no meu ombro.

Merda, desmaiei, não foi? Há quanto tempo estou dormindo?

— Que horas são? — Sento-me ereta e percebo que um


cobertor está me cobrindo.

Adormeci com um cobertor? Não consigo me lembrar.

— Quase cinco — responde Finn.


Não acho que eu tinha um cobertor antes. Isso significa... que
Finn colocou em mim?

— Foi divertido tê-la como guarda-costas e tudo, mas vou cair


na cama. Achei que gostaria de passar o resto da noite em sua
cama — Finn acrescenta.

Sua bondade é nada menos que um milagre. Quer me dizer


que ele foi legal comigo por duas horas consecutivas? Deveria
comprar um bilhete de loteria.

— Eu... obrigada — digo, ainda fora de mim, e começo a me


levantar do sofá. Minha pressão arterial cai no momento em que
meus pés tocam o chão, e uma súbita onda de tontura me
repreende por me levantar rápido demais.

Felizmente, Finn me pega no último minuto, suas mãos


flanqueando minha cintura com um aperto tão forte que meus
joelhos se dobram por um motivo totalmente diferente. Ficamos ali
por longos segundos, suas mãos em meus quadris, nossos olhares
fundidos e nossos corpos muito próximos para meu cérebro
compreender. Estamos ambos respirando mais forte do que
estávamos um segundo antes, e me pego focando em sua boca. Ele
geralmente é desprezível, mas agora, é legal, e odeio que isso esteja
me deixando cega para todas as vezes que não foi.

— Pode me soltar agora — digo, mesmo que meu corpo esteja


morrendo de vontade de que me segure assim por mais dois
minutos. Espero que escute e se afaste, mas só segura mais forte,
direcionando seu foco para os meus lábios.

— Poderia. — Dá de ombros sem dar a mínima, e tenho certeza


que meu coração pula uma batida para cada segundo extra que
mantém meu peito nivelado com o dele.
É a escuridão da noite. O silêncio de uma cidade que dorme
enquanto estamos acordados. É perigoso. Sozinha nesta
biblioteca, é fácil esquecer que temos que acordar amanhã e voltar
a nos odiar.

— Por que não? — A resposta me apavora.

Ele geralmente tem uma resposta para tudo, mas desta vez,
parece hesitante em compartilhar. Espero e espero que jogue em
mim, mas nunca o faz. Em vez disso, solta o aperto na minha
cintura e começa a sair.

— Não faça perguntas para as quais não pode lidar com as


respostas. — Está de volta ao seu eu frio em um piscar de olhos.

Cada fibra do meu ser grita para que eu faça algo quando se
aproxima da porta.

— Quem disse que não posso lidar com isso? — Eu chamo


atrás dele.

Porra, o que estou fazendo? Deveria deixá-lo sair.

Deveria nos deixar esquecer que por uma noite, não estávamos
completamente infelizes na presença um do outro, mas ele sair, a
trégua estará oficialmente acabada, e isso me assusta muito.

Finn para, mas não olha para mim imediatamente. Está


parado na porta quando solta um zombeteiro “não posso acreditar
nessa garota” e se vira.

— Você realmente quer saber?

Considero retirar minha pergunta, mas é tarde demais. Ele


está correndo em minha direção.
Estou encostada na grande estante atrás de mim em questão
de segundos. O espaço entre nós é de apenas alguns centímetros
agora, e meu foco mergulha em sua boca. Sua língua cobre seu
lábio inferior enquanto olha através da minha alma. Seus lábios
são sensuais, e merda, parecem macios. Só queria que as palavras
que saíram deles não fossem tão brutais o tempo todo.

— Realmente quer saber o que estou pensando agora? — Finn


avisa como se estivesse tentando me preparar para a desgraça
iminente. Engulo em seco e consigo um pequeno aceno de cabeça.

Minha resposta silenciosa faz com que se aproxime ainda


mais, nossas bocas quase se tocando enquanto destrói a parede
de ódio que construí cuidadosamente entre nós.

— Estou pensando nas mil maneiras que poderia fazê-la gozar


bem ali naquele tapete.

Assim, não há mais ar na sala. Não há mais trégua, nem oferta


de paz, nem aceno de uma bandeira branca. Ele está pronto para
a batalha, e estou com medo de ter que me render.

— Estou pensando nas mil vezes que quis encurralá-la em um


canto e comer sua boceta até que esteja encharcando a porra do
meu rosto inteiro. — Ele nem se mexe.

Oh. Meu. Deus.

Minha boca se abre com a sua admissão, e ele sorri, passando


o polegar sobre meu lábio inferior e empurrando qualquer
resistência que tinha para esta atração no chão.

— Penso em você me implorando para não dizer ao seu chefe


que gosta do que o seu filho fodido faz contigo com a língua.
O silêncio que se segue me faz reconsiderar tudo o que achava
que sabia. Ele ainda está olhando para minha boca – risque isso,
está devorando minha boca com os olhos – e me odeio por isso,
mas…

Se ele quisesse meu primeiro beijo agora? Daria a ele.

Temo que meu coração possa estourar como um balão inflado


demais quando Finn agarra minhas bochechas com uma mão,
apertando meu rosto e me trazendo para mais perto até que sua
boca esteja pairando perto da minha.

— E isso, Gem... — faz uma pausa. — É a razão pela qual não


pode lidar com isso.

Então vai embora. Nenhuma explicação adicional, nenhum


pedido de desculpas por sua franqueza. Nenhuma coisa.

Ele simplesmente me deixa lá. No meio de quatro paredes que


ouviram uma confissão que nunca poderei esquecer.

Passei o fim de semana seguinte tentando reprogramar meu


cérebro.

Não foi fácil, mas os artigos on-line me avisaram que seria


preciso uma boa dose de disciplina. O objetivo principal? Pare de
pensar em Finn. Ainda não cheguei lá, mas as suas palavras não
estão mais tocando na minha cabeça, então... pequenos passos?
Fiquei estranhamente aliviada ao encontrar o andar principal
vazio depois que Jesse me deixou em casa ontem.

Finn não estava em casa. Nem Theo. Éramos apenas Lexie e


eu.

Agarrei a chance de assistir a um filme brega na tela plana da


sala de estar enquanto os rapazes não estavam por perto para me
irritar. Então fiquei e não saí do meu quarto novamente até esta
manhã, quando me levantei da cama para fazer o café da manhã.

— Por favor, diga que há um pouco para mim. — A voz de Theo


ecoa pelo primeiro andar, e giro minha cabeça para ver o jogador
de basquete alto arrastando os pés para a cozinha.

Parece uma merda. Seu cabelo preto está uma bagunça


emaranhada, seus olhos verdes estão rodeados por círculos tão
escuros que posso vê-los daqui, e sua pele está pálida, beirando o
fantasma.

Alguém bebeu demais ontem à noite.

Engulo uma risada, me afastando da omelete que estou


cozinhando. — Droga, Theo, parece...

— Bom para um cara morto? — Termina e se senta em um dos


bancos ao redor da ilha da cozinha.

Eu rio e me concentro em virar minha omelete. — Eu diria sob


o clima.

Em resposta, apoia os cotovelos no balcão de mármore,


entrelaça os dedos em cima da cabeça e solta um gemido irritado
com o que parece ser uma dor de cabeça assassina.
— Quando acabou dormindo na noite passada?

— Tarde. — Zomba. — Notícias de última hora: duas horas de


sono? Definitivamente não é suficiente.

Eu rio. — Deve ter sido muito agitada, hein?

— Primeira festa do verão, sabe como é. Se todo mundo não


estiver vomitando até o final da noite, qual seria a porra do
objetivo? — Theo zomba da mentalidade dos garotos populares, e
me abstenho de persegui-lo com perguntas.

A verdade é que não sei como é, e acredite, não é por falta de


tentativa. Nunca conseguiria um convite para uma dessas coisas.

Theo esfrega as têmporas. — Finn estava tão fodido, que


precisará de um transplante de fígado inteiro.

Finn também estava na festa? Isso explicaria por que não


estava em casa ontem à noite.

— Ele veio para casa com você? Prefiro não ter que dizer ao
meu chefe que o seu filho pode estar deitado em uma vala em
algum lugar. — Engasgo com minha desculpa. Nunca admitirei,
mas estou curiosa. Inferno, estou até um pouco preocupada com
sua bunda imprudente.

Por que. Eu. Me. Importo.

— Não, ele saiu com uma garota no meio da festa.

Oh. Não respondo, pego um prato do armário da cozinha e


coloco minha omelete nele. Mal me acomodo na ilha da cozinha
com Theo antes de pegá-lo olhando minha comida.
A próxima coisa que sei, é que estou pulando do meu banco e
pegando outro prato e garfo. Alimentar esses rapazes está se
tornando um ritual neste momento.

— Pode ter metade. Só isso — repreendo.

Os olhos de Theo se iluminam.

— Eu lhe disse que é minha babá favorita? — Sorri,


observando enquanto parto a omelete com um garfo e a transfiro
para o prato dele.

— Coma antes que eu mude de ideia.

Dito isso, coloco café e encontro meu lugar ao redor da ilha da


cozinha. Theo não pensa duas vezes, dando uma grande mordida
e me oferecendo um sinal de positivo. Estou prestes a ter um
gostinho quando Finn entra na sala de moletom. Não está vestindo
uma camisa, como o exibicionista compulsivo que é, e enquanto
parece que a festa da noite passada chutou sua bunda, não parece
tão de ressaca quanto Theo.

— O que tem para o café da manhã? — Finn diz, sua voz rouca,
provavelmente de tanto beber até o túmulo, e passa a mão pelo
cabelo matinal. Está de ressaca e ainda parece impecável. Estou
começando a pensar que a única maneira de sobreviver a este
verão é se eu jogar um saco de papel na cabeça desse garoto.

— Tarde demais, irmão. Peguei metade da omelete dela — Theo


se gaba, e reprimo um sorriso.

Finn me encara morto nos olhos. — Droga... Acho que terei


que encontrar outra coisa para comer.
Sinto minha garganta apertar, memórias da noite na biblioteca
piscando em minha mente.

— Quer saber no que estou pensando? Estou pensando nas mil


vezes que quis encurralá-la em um canto e comer sua boceta até que
esteja encharcando a porra do meu rosto inteiro.

Cada terminação nervosa do meu corpo estimulando a vida,


interrompo o contato visual e enfio o garfo na minha boca.

Ele fez isso de propósito? Está ciente da referência?

Dia, está pensando demais.

— Cara, parece um saco de paus — Finn comenta sobre a


aparência de Theo, e paro de prestar atenção, cuidando da minha
vida.

Até…

Finn vem até nós e se inclina contra a ilha da cozinha


enquanto fala com seu amigo. É quando vejo as pedras pretas ao
redor de seu pulso.

Ele está usando meu bracelete? Está.

Está usando a porra do meu bracelete.

Não tenho coragem de interromper a conversa, então


mantenho um zilhão de perguntas na minha cabeça na coleira e
lavo meu prato quando termino. Theo segue o exemplo, guardando
seu prato.

— Onde vai? — Finn pergunta quando Theo caminha até a


porta dos fundos.
— Tentar recuperar vinte horas de sono. Adeus. — Theo leva
a mão à testa em uma saudação e sai.

Eu o vejo ir direto para a rede. As palavras saem da minha


boca no segundo em que Theo está fora de alcance.

— Está usando meu bracelete.

Finn balança a cabeça para olhar para mim.

— Bom olho — zomba e vai até a geladeira.

— Por quê? — Eu o confronto.

Ele ficou puto comigo por fazer a coisa estúpida, e agora está
usando?

— Por que não? — Esquiva-se da minha pergunta, pegando


uma garrafa de água da porta da geladeira e destampando-a.

— Pensei que tinha se livrado dele?

Lembro-me distintamente de não ser capaz de encontrar o


bracelete quando tentei procurá-lo no corredor depois que ele o
jogou fora. Presumi que a empregada o tivesse jogado fora.

Ele dá de ombros. — Sim, bem, também achou que aceitar


esse emprego era uma boa ideia, não é?

Wow. Pensei que talvez pudéssemos deixar a rivalidade para


trás depois de nossa sessão de terapia na biblioteca, mas
claramente, isso foi uma ilusão. Meu rosto deve revelar o quão
estranho acho sua mudança de opinião sobre o bracelete, porque
solta uma risada silenciosa.

— O quê? — Levanta as mãos. — Isso realça meus olhos!


Eu tenho que me forçar a não rir. Uma mensagem aparece no
meu telefone no balcão da cozinha, e o pego.

Aveena : Que horas nos encontramos hoje à noite? Minha irmã gosta
de música, então não posso chegar antes das seis.

Vee e eu temos o hábito de comer no restaurante do meu pai


todo ano no seu aniversário. Isso mesmo, hoje é seu aniversário, e
ainda está presa dirigindo sua irmã superstar como uma Cinderela
do mundo moderno.

— A propósito, vou sair hoje à noite. — Mudo de assunto. —


Já perguntei ao seu pai, e ele disse que estava tudo bem, mas
pensei em avisá-lo.

Finn leva a garrafa de água à boca para um gole e faz uma


pausa, olhando para mim em silêncio absoluto.

— Por quê? — Não poderia ser mais direto se tentasse.

— Porque o quê?

— Por que está saindo? — Interroga.

— Por que não? — Eu lhe dou a mesma resposta que me deu


um momento atrás, e dá um sorriso de derreter o coração com a
ironia.

— Posso confiar em você para não queimar a casa enquanto


estiver fora? — Estou apenas meio brincando.
— Sem promessas. — Dá de ombros. — Eu meio que gosto da
ideia de meu pai ser forçado a voltar para a cidade.

— E por que isto?

Seu sorriso se expande em tamanho. — Porque assim não


precisaríamos mais de você. Duh!

— Aquele chuveiro foi incrível. A propósito, está sem toalhas


no banheiro do andar de cima. — Uma mulher ri no corredor.

Leva apenas um segundo… Mas é o suficiente para que toda


esperança tola de um Finn mudado seja drenada do meu sistema.
Ele trouxe a garota da festa para casa.

Típico.

— Merda, me esconda — Finn murmura.

Mesmo que eu quisesse – o que não quero – não poderia.

A Garota Misteriosa está explodindo pela porta um segundo


depois, sua mão bem cuidada segurando uma toalha enquanto
seca seu cabelo loiro descolorido. Instantaneamente a reconheço
como Louise “Lou” Bennett, base na torcida e exatamente o tipo de
garota que imaginaria terminando com Finn Richards.

Esses dois juntos fariam sentido – o atleta de basquete


conhece a princesa líder de torcida, sabe como é – mas isso não
para o tumulto no meu estômago quando bebo cada centímetro
dela.
Ela é linda e esbelta, com cerca de 1,70m. Está vestindo shorts
jeans rasgados e um top cropped tie-dye14 que acentua seus
músculos magros do abdômen e piercing no umbigo. Devo ter dito
uma palavra para essa garota desde que me mudei para Silver
Springs no meu primeiro ano, e tenho certeza de que foi “desculpe”
quando fizemos contato visual no dia da orientação. Sim, como
pedi desculpas por acidentalmente fazer contato visual com ela.

É o olhar que ela me deu. Como se eu devesse pagar uma


multa por ousar estar na sua linha de visão.

Finn não parece particularmente satisfeito com a sua


presença. Completamente sem noção, Louise deixa cair a toalha
na mesa da cozinha e corre até Finn, um sorriso branco perolado
no rosto.

— Ei, bonito.

Estremeço.

Finn não diz uma palavra, mas isso não parece afastá-la nem
um pouco, porque ela enlaça os braços em volta do seu pescoço,
esmagando os seios com o peitoral dele e bate a boca sobre a dele.

Ele não a beija de volta no começo, mas depois... beija.

Vejo como seus lábios se movem lentamente com os dela, o


jeito que ela geme contra a boca imunda e tentadora que
sussurrou coisas sujas para mim na biblioteca apenas três dias
atrás. Por um segundo, me pergunto se ele disse as mesmas coisas
para ela na noite passada. O que fizeram, como fizeram, onde
fizeram.

14- É técnica de tingimento atemportal, descolado, trendy e irreverente. Desde os modelos confortáveis

até as peças de moda com modelagens inovadoras e mistura de outras tendências.


— Pensei que tinha ido embora. — Finn a empurra um
momento depois.

— Bem, obviamente não fui. — Vai de excitada a ofendida em


uma fração de segundo. — Por quê? Queria que eu fosse?

Finn começa a responder, apenas parando para me lançar um


olhar que claramente significa “por que ainda está aqui?”

Eu me levanto do banquinho. — Deixe-me pegar meu café,


então o deixarei em paz.

Minha intervenção me rende um dos olhares


extradesagradáveis de Louise, como se ela tivesse acabado de
perceber que eu estava aqui. Estou pegando minha caneca cheia
debaixo da máquina de café quando a sua voz chega aos meus
ouvidos.

— E você é? — Pergunta.

Giro lentamente, me perguntando por que ela se importa.

— Dia? — Sai como uma pergunta, como se eu não tivesse


certeza do meu próprio nome.

Então seu rosto cai. Olho para meu companheiro de casa,


cujos punhos estão tão cerrados que os nós dos dedos estão
brancos.

— Algo está errado? — Questiono.

— Pensei que tinha imaginado isso — Louise sussurra para si


mesma.

— O que quer dizer? — Pergunto.


— Cai fora — Finn rosna para mim antes que Louise possa
esclarecer as coisas, e olho para ele como se estivesse chapado,
mas obedeço mesmo assim.

Abro a porta do pátio e Lexie salta de sua cama de cachorro


para me seguir. Saímos para o pátio, mas segundos antes de
fechar a porta, ouço Louise dizer — Ela sabe?

O que é isso tudo? Sei o quê?

Perguntas girando na minha cabeça, caminho para o pátio


com Lexie, nunca tirando meus olhos de Finn e sua conquista
através das grandes janelas da cozinha. Não consigo mais ouvir o
que estão dizendo, e porra, gostaria de ter uma superaudição
agora. Eu me sento no pátio seccional em forma de L, Lex pulando
ao meu lado, e vejo Louise jogar os braços ao redor e gritar com
Finn.

— Cinco dólares em como ela lhe dará uma bofetada. — A voz


de Theo me assusta, e grito, torcendo meu pescoço para vê-lo
deitado na rede atrás de mim – esqueci que ele estava cochilando
aqui.

— Meu Deus, Theo. — Levo minha mão ao meu coração


acelerado.

— Desculpa, interrompi sua vigia? — Theo bufa, e o


constrangimento mancha minha pele.

Pega.

— O que acha que estão dizendo? — Pergunto, e Theo se senta


na rede para ter uma visão melhor.
— Eca, Finn, não posso acreditar que usou uma meia suja
quando ficamos sem preservativos — Theo diz em uma voz aguda
para imitar a de Louise, e uma risada sai da minha garganta.

— Prefere que eu use papel alumínio da próxima vez? —


Respondo com uma voz tensa e profunda para imitar Finn.
Ironicamente, nosso tempo está certo, e rimos como crianças do
jardim de infância.

Ocorre-me, enquanto observo a cena se desenrolar, que


apenas alguns dias atrás, Finn estava brincando com Lexie neste
mesmo quintal, deitado com ela ao sol, tratando-a como todo o seu
maldito universo.

E agora? Está pisando no coração de uma líder de torcida.

— Como diabos vai de rolar na grama com seu cachorro para


chutar uma garota na calçada? — Eu me pergunto em voz alta, e
Theo cai de volta na rede com uma risada ofegante.

— Sim, bem, esse é Finn Richards para você. A única coisa


que ele ama neste mundo é seu cachorro. Ah, e Remy.

Minha respiração fica presa em meus pulmões.

— R-Remy? — Minha voz falha, e limpo minha garganta. —


Quem é este?

Uma garota? Um menino?

Theo bufa. — O que acha? O carro dele, é claro.

Ah. — Por que ele nomeou seu carro de Remy?


— Acho que Remy é um amigo dele. Não tenho certeza de
quem. Quem quer que seja deve ser importante, no entanto. —
Theo dá de ombros, levando a mão à testa para bloquear o sol.

— E Lexie? Qual é a história aí?

— A sua mãe lhe deu de presente para ele quando era criança.
Na mesma época deu a ele aquela corrente que sempre usa... sabe,
antes dela... — Theo faz uma pausa, o termo o deixando inquieto.

— Afogar? — Completo.

— Sim, isso.

Então, Lexie é a única lembrança viva que tem de sua mãe?


Sem mencionar que ela fez as correntes combinando que ele e
Xavier Emery usaram tanto quanto me lembro?

— Ele... alguma vez falou sobre isso? — Questiono.

— Não, mas quem faria? O corpo de sua mãe está apodrecendo


no fundo de um lago, e ele acha que é sua culpa. Não é exatamente
um material de conversa fiada.

— Por que seria culpa dele? — Empurro minha sorte.

Theo abre a boca para responder, mas fecha de novo quase


imediatamente, olhando para a luta que ficou muito pior desde a
última vez que verificamos. Louise está em lágrimas agora,
batendo as palmas das mãos no peito duro de Finn para empurrá-
lo.

Theo e eu trocamos olhares.

— Oh, é ruim — declaro. — Realmente ruim.


— Aí vem o tapa. — Theo leva o punho à boca como se estivesse
se preparando. — Três, dois, um…

Como se estivesse esperando a deixa de Theo, Louise dá um


golpe e atinge Finn no rosto. Finn leva isso como um campeão,
mantendo qualquer dor que está sentindo trancada e olhando para
ela até que se afaste.

— Ai — comenta Theo.

— Meh. Ele teve o que mereceu.

Parte de mim se sente mal pela pobre Louise. A garota pode


não ser um raio de sol, mas ninguém merece ter seus sentimentos
esmagados em mil pedaços. Finn marcha para o pátio no minuto
seguinte, interrompendo nossas fofocas.

— Droga, cara, o que disse para ela? — Theo o chama.

Finn vai até a rede e gesticula para que Theo se mova com o
queixo. Theo arqueia uma sobrancelha, mas não se mexe, o que
resulta em Finn sentado em cima de seu amigo sem se importar.

Theo geme quando o cotovelo de Finn bate direto em seu


abdômen. — Não tenho certeza se está ciente, Richards, mas você
não é nada leve.

— Não me diga. — Finn deixa claro que está aqui para ficar, e
Theo começa a tentar empurrá-lo. Estão lutando como crianças
antes que eu perceba, e não posso evitar o sorriso se formando em
meus lábios.

Sem fôlego de tanto rir, Theo desaba, levantando-se da rede e


jogando Finn. Theo se joga no seccional comigo, e Finn deita de
volta na rede, apoiando um de seus braços sob a cabeça.
— Eu te fiz uma pergunta, cara de merda — Theo o lembra. —
O que disse a ela?

— Eu disse a ela o que já sabe. — Finn dá de ombros, olhos


fixos no céu claro acima de sua cabeça. — O café da manhã é
proibido, e não quero a sua bunda por perto, a menos que esteja
no meu rosto.

Meu estômago caiu.

Eu tomo um gole do meu café que está ficando mais frio a cada
segundo e lanço um olhar em sua direção. Percebo, quando vejo o
quão sem remorso está sobre o que acabou de fazer Louise passar,
que eu precisava desse lembrete.

Precisei ver que ele transou com alguma líder de torcida depois
de me fazer acreditar que tinha um coração em algum lugar
naquela gaiola de gelo…

Finn Richards não é capaz de mudar.

E nunca será.
— O que posso pegar para vocês, senhoritas? — Uma voz
masculina, mas suave, surge no meio da nossa conversa, fazendo
com que eu e Aveena olhássemos para o funcionário do meu pai.

Parker Haynes está ao lado de nossa mesa, exibindo seu


sorriso comercial da Colgate e as covinhas pelas quais passei a
maior parte do ano de caloura obcecada.

Aveena me lança um olhar de lado sugestivo antes de pedir a


refeição que sempre recebe em seu aniversário. Ela gosta de me
lembrar a cada chance que tem, da minha grande e gorda paixão
embaraçosa por um dos garçons do meu pai.

Eu costumava pensar que me casaria com esse garoto.

Jurei pela minha vida que Parker acabaria me notando e


correríamos para o pôr do sol juntos. Fui uma acéfala. O doce e
bonito de Parker - de um jeito menino de ouro - tem os cachos
mais brilhantes que já vi, e o mais importante, sabia que eu existia.
Com certeza, mal podia vê-lo ignorando a filha e colega de trabalho
de seu chefe.
Se não fosse eu marcando meu primeiro trabalho como babá
de cachorro e largar meu emprego no restaurante, provavelmente
ainda estaria fantasiando sobre como seriam nossos filhos.

Para minha surpresa, quando dou meu pedido a Parker e espio


aqueles olhos azuis com manchas douradas, não sinto nada. Sem
borboletas, sem calor correndo para minhas bochechas, sem uma
lasca de atração. Parker nunca seria o tipo de cara que me apoiaria
contra a parede e descreveria as mil maneiras que gostaria de me
levar. Nunca ficaria em uma janela aberta e arriscaria sua vida
apenas por uma lufada de ar fresco.

Ele não é como Finn. Não que Finn Richards seja o que quero
em um homem.

Foda-se não. Ouviu isso, eu? Eu não o quero.

Agora, pare de me dar pensamentos sujos sobre ele agarrando


minha garganta e me beijando até meus lábios machucarem.

— Incrível — diz Parker quando terminamos de fazer o pedido.


— Voltarei com suas bebidas. — Ele nos deixa com um sorriso
encantador, tenho certeza que lhe rende muitas gorjetas.

Vejo minha irmã andando rapidamente pelo restaurante assim


que ele sai. Círculos escuros sob seus olhos enquanto abre
caminho pela multidão, provavelmente está atrasada para seu
turno. Novamente.

Catalina anda relaxada no trabalho ultimamente. Entre seu


novo relacionamento com o melhor amigo de seu ex, seu trabalho
em tempo integral no restaurante do meu pai e seus estudos, está
andando, falando como prova de que pode parecer fisicamente bem
e ser uma bagunça completa por dentro.
Em sua defesa, todos nós estivemos lá. E por nós, quero dizer
todos os meus irmãos.

Todos nós trabalhamos no restaurante do meu pai pelo menos


uma vez – bem, exceto Charlie, mas a sua hora chegará. Todos já
chegamos tarde antes, quebramos um monte de pratos e levamos
uma bronca do meu pai, que não dá tratamento especial aos filhos.

— Merda. — A voz de Aveena me traz de volta à realidade, e


olho para minha melhor amiga do outro lado da cabine. Está com
os olhos fixos no telefone, e uma carranca preocupada no rosto.

— Algo errado? — Questiono, e Vee deixa seu telefone cair


sobre a mesa.

— Ashley precisa que eu pegue um chá de ervas para sua voz.


Ela tem uma apresentação amanhã.

Oh infernos, não.

— E não podia esperar até depois do seu aniversário?

— Minha mãe diz que é urgente — explica Aveena.

— Não, não está acontecendo. Dê-me isso. — Pego seu telefone


da mesa e o desligo.

— Dia... — Vee solta um suspiro, mas não soa genuíno. Soa


como aliviada, quase feliz com a minha intervenção.

— Podem ficar sem você por uma noite — argumento. — Olha,


seu telefone ficará no meu bolso pelo resto da noite, e pode pegá-
lo de volta quando sairmos, combinado?
Vee afunda seus dentes no interior de sua bochecha,
considerando suas opções. Posso dizer que está tão acostumada a
bancar a garota de recados para sua irmã que deixá-la em “espera”
não parece natural.

Aveena pausou todos os aspectos de sua vida depois que seu


pai faleceu quando tinha nove anos, desde ir a festas e namorar,
até experimentar as coisas mais mundanas da vida de uma
adolescente. Continuo me agarrando à esperança de que um dia
encontre alguém para colocá-la em primeiro lugar. Alguém para
lembrá-la de perseguir seus próprios sonhos. Espero que, antes de
irmos para a faculdade, ela se transforme em uma “gata sem sexo”.

— Feito — Aveena não tem escolha a não ser dizer quando


coloco o telefone no bolso de trás.

Devo ter desejado um feliz aniversário cem vezes durante


noite.

Conversamos, comemos, fofocamos e rimos enquanto o


restaurante esvaziava gradualmente; também tomei cuidado para
não mencionar Finn querendo me comer no tapete da biblioteca.

Eventualmente, migramos para o bar para continuar


conversando enquanto a equipe limpava. Gaten's, é o único
restaurante em Silver Springs com uma seção de bar, fecha por
volta das duas da madrugada, e contanto que não bebamos, meu
pai não se importa de ficarmos até o fechamento. O restaurante
está deserto, com exceção dos funcionários e de nós, quando
damos uma olhada ao redor. O relógio marca 1:49, e a exaustão
está começando a aparecer.

Esfrego meus olhos. — Vou encerrar a noite.


Meu telefone toca no meu jeans, me lembrando que ainda
tenho o telefone de Aveena no meu bolso. Devolvo a ela antes de
verificar minha tela. Tenho duas mensagens de texto.

De Theo.

Dei a ele meu número em caso de emergência depois que


encontrei Finn na biblioteca naquela noite, mas não achei que
fosse realmente usá-lo. Meu pulso acelerou, desbloqueei meu
telefone e senti minha garganta fechar.

Theo: Você precisa voltar para casa.

Theo: AGORA.

— Apenas me deixe aqui. Vou a pé — asseguro a Aveena


quando viramos na rua dos Richards, vinte minutos depois.

Nunca vi minha melhor amiga tão nervosa antes. Não disse


uma palavra desde que saímos do restaurante, mordendo o lábio
inferior do jeito que faz sempre que a ansiedade toma conta dela.

E a pior parte? É minha culpa.

Assim que Vee ligou seu telefone novamente, percebeu que sua
mãe estava ligando para ela há horas. E pelo olhar em seu rosto
enquanto folheava suas mensagens, será bem-vinda quando
chegar em casa. Acontece que sua filha comemorando seu
aniversário não era uma razão boa o suficiente para a Sra. Harper
lhe dar a noite de folga.

— Tem certeza? — Aveena se preocupa, mas está diminuindo


a velocidade para me deixar a um quarteirão de distância da casa.
Sua mãe deixou claro que a quer em sua casa agora.

— Tenho certeza. — Desafivelo o cinto de segurança e abro os


braços para abraçá-la. — Feliz aniversário, Vee — digo novamente
e saio de seu carro.

Ela me oferece um sorriso fraco pela janela e sai na noite.


Puxando meu telefone do bolso, revivo o medo absoluto de ler as
mensagens de Theo e saio em direção à casa. Quanto mais me
aproximo, maior fica o buraco na minha garganta.

Eventualmente vejo o portão de metal da mansão aberto para


qualquer um passar e saber…

Algo está errado. Muito errado.

O Sr. Richards foi cuidadoso com suas palavras quando


consegui o emprego. O portão deveria permanecer fechado o tempo
todo, sem exceção. Não estaria aberto a menos que as pessoas
precisassem entrar e sair quando quisessem.

Meu coração sobe pela garganta enquanto acelero o ritmo. E


se Finn realmente incendiou a casa?

É quando os ouço. A música. O baixo. As vozes.

Os cenários apocalípticos na minha cabeça se transformam


em fumaça, e percebo que mesmo que Finn não tenha incendiado
a casa, ainda será destruída antes que a noite acabe.
Finalmente, chego ao topo da garagem e me xingo por pensar
que poderia confiar em Finn Richards.

O bastardo deu uma festa. E não me refiro a uma pequena


reunião com alguns amigos. Quero dizer, a mãe de todas as festas.

Há carros em todos os lugares da propriedade. Estão quase se


empilhando na garagem, e não há um centímetro de espaço
disponível no gramado da frente. O mesmo vale para os bêbados,
a maioria dos quais entra e sai de casa aos tropeços com uma
bebida na mão, procurando um lugar para vomitar. Copos
vermelhos e todo tipo de lixo se espalham pelo quintal, e a música
está tão alta que não ficaria surpresa se fosse dormir surda esta
noite.

Mais. Que. Porra.

Meus pensamentos giram fora de controle, seleciono o nome


de Theo em minhas mensagens e mando uma mensagem de volta.

Dia: acabei de chegar em casa. Que porra está acontecendo?

Sei o que está acontecendo, mas ainda pergunto a ele,


esperando que possa me ajudar a entender esse show de merda.
Como Finn conseguiu que tantas pessoas aparecessem? Além
disso, quem diabos são todas essas pessoas?

Não reconheço a maioria dos convidados do lado de fora,


embora aviste Lacey Mattson, uma das amigas líderes de torcida
de Brielle, flertando com um cara na porta da frente.
Um cara mais velho. Muito mais velho.

O cara tem que ter mais de vinte e dois. Por que os estudantes
universitários estão aparecendo em uma festa do ensino médio?
As perguntas que monopolizam minha mente desaparecem
quando me atingem.

Lexie. Meu Deus.

Ela odeia barulhos altos. Deve estar morrendo de medo em


algum lugar. Isso é tudo o que preciso para invadir a casa lotada
em busca dela. Se eu achava que o lado de fora da casa estava
ruim, não estava pronta para a merda que é o primeiro andar. Há
vidro por toda parte na entrada, provavelmente de algum perdedor
bêbado derrubando sua cerveja, e lixo cobrindo todas as
superfícies planas da sala de estar.

As pessoas estão dançando, dando uns amassos, tirando fotos


na ilha da cozinha. Não consigo ver Finn em lugar nenhum, mas
tenho certeza que se o visse, não sairia vivo.

Estou rasgando a multidão em direção à escada em pouco


tempo, empurrando idiotas bêbados para fora do meu caminho.
Chego ao segundo andar e vou direto para o meu quarto para ver
se ela está lá.

Dois caras passam por mim no corredor quando me aproximo


do meu quarto. Estão rindo, ambos segurando sacos de lixo nas
mãos. Fazemos contato visual por uma fração de segundo, e o mais
alto sorri, mas estou tão focada em chegar até Lexie que só percebo
como é o esboço da coisa toda quando os rapzes desaparecem
pelas escadas.

Paro no meu caminho, repetindo o que acabou de acontecer


em um loop até que tudo fique claro. Meu quarto fica no final do
corredor. A única maneira de eles estarem andando na direção
oposta à minha era se...

Era de lá que vinham.

Não consigo ver meus pés tocando o chão enquanto corro pelo
corredor e abro a porta do meu quarto. Como esperava, tudo está
destruído…

Minhas roupas estão espalhadas pelo chão, minha bagagem


esvaziada por toda a minha cama, mas são as gavetas abertas da
minha mesa de cabeceira que me mandam em espiral. Estou de
joelhos na frente da minha mesa de cabeceira em um piscar de
olhos, vasculhando as gavetas com a garganta dolorida e lágrimas
queimando minhas pálpebras.

— Não. — Minha voz se quebra em mil fragmentos. — Não,


não, não.

Procuro e procuro, mas a caixa em que deixei meus eletrônicos


sumiu. Achei que seria estúpido deixar meu caro Kindle e-reader
e AirPods ao ar livre depois do ataque de Finn aos meus pertences
na minha primeira semana aqui. Então, joguei tudo em uma caixa
trancada e escondi na minha mesa de cabeceira.

E nela… Estava minha camiseta do Radiohead.

A única coisa que realmente valorizo. A camisa da minha mãe


biológica.

Foi-se.

Quero gritar, arrasar o que sobrou do meu quarto, queimar a


casa até o chão, mas tudo o que posso fazer é ficar sentada em
silêncio com a boca aberta e lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
Nesse momento, me deparo com uma escolha: vasculhar a casa na
esperança de encontrar os dois idiotas que roubaram minha merda
antes que nunca mais sejam vistos ou ir encontrar Lexie e tirá-la
daqui.

A escolha é fácil.

Meu coração doendo a cada batida miserável, concentro todas


as minhas forças em atrasar meu colapso e saio do meu quarto.
Abro todas as portas que vejo e chamo o nome de Lexie, nem
mesmo piscando quando pego Axel Fletcher, um cara que conheço
da escola, e uma garota fodendo estilo cachorrinho na cama de
Finn.

Boa. Fin merece. Um soluço me escapa quando finalmente a


encontro.

Lexie está encolhida em um canto da biblioteca, sozinha no


escuro. Suas tigelas de comida e água foram jogadas ao seu lado,
junto com um brinquedo que nem gosta.

— Lex? — Murmuro. — Lexie, querida, sou eu.

Ela não vem até mim, seu corpo inteiro tremendo enquanto
me encara com total terror. — Oh meu Deus, Lexie, sinto muito —
sussurro, correndo para ela e caindo ao seu lado.

Instantaneamente sinto a poça debaixo de mim. O chão está


molhado.

Merda, ela... fez xixi em si mesma.

Estava tão assustada que fez xixi em si mesma.

Sim, ele está morto. Finn Richards está morrendo esta noite.
Meus dedos estão tremendo quando estendo a mão para
acariciá-la, hesito, mas ela parece notar porque preenche o espaço
entre nós e esfrega o rosto na minha palma. Devo me desculpar
mais cinco vezes antes de tomar a decisão de ligar para meu irmão.
Já passa das 2:00 da manhã, mas ele atende imediatamente.

— Dia? — Sua voz é áspera por ter sido acordada, mas ele não
parece irritado. Ele parece preocupado. — Você está bem?

Não sabia o quão quebrada realmente estava até tentar falar


entre soluços.

— Você pode... pode vir me pegar? Por favor?

A linha fica quieta por um segundo.

— Estou a caminho.

Jesse: estou aqui.

Leio a mensagem do meu irmão e pego a sacola cheia de coisas


da Lexie.

Ela veio para casa comigo esta noite. Meu irmão mais novo
está na casa dos meus avós, e meus pais estão voltando de uma
escapadela romântica amanhã, então não é como se tivessem algo
a dizer sobre o assunto. E mesmo que o fizessem, não me
importaria.
Não vou deixá-la aqui. Só terei que tomar cuidado para levar
Lexie direto para o meu quarto para evitar provocar as alergias do
meu pai.

— Vem cá, querida. Estamos indo para casa. — Praticamente


tenho que carregá-la para fora da biblioteca porque se recusa a se
mover. Com pressa, prendo a coleira e enfrento a tempestade de
merda que nos espera lá fora.

Mantenho minha mão no topo de sua cabeça conforme nos


esprememos no meio da multidão e a acaricio para tranquilizá-la.
Cabeças se voltam enquanto caminhamos, mas não dou a mínima,
determinada a alcançar o carro do meu irmão. Sinto que posso
respirar de novo quando saio de casa e vejo a batida do meu irmão
na garagem. Está sentado lá dentro, o motor ligado. Imediatamente
sai ao me ver, e levo Lexie para o veículo.

— O que ele fez? — Os olhos de Jesse estão queimando de


ódio.

— Agora não — engasgo e gesticulo para ele deixar Lexie no


banco de trás. — Abra a porta.

Ele me olha com pontos de interrogação nos olhos.

— Ela vem para casa conosco — elaboro.

Ele não discute. Jesse mal deixou Lexie pular no banco de trás
antes que a voz de Finn cortasse a noite.

— Lexie? — Ele tem a audácia de parecer preocupado. — Que


porra está acontecendo? Para onde está levando-a?
Ele deixou sua cachorrinha de quase dez anos sozinha no
escuro sem nem mesmo um cobertor enquanto está ficando na
merda, e acha que vou deixá-la para trás?

Ele é um idiota ainda maior do que eu pensava.

Ouço passos correndo em nossa direção e giro para ver Finn


saindo de um monte de caras que não reconheço. Estão
encostados no capô de um carro, fumando e bebendo, envoltos em
uma fumaça tão espessa que não entendo como ainda estão
respirando.

Meu olhar se prende a um dos caras. Eu o reconheço pelas


fotos de família penduradas por toda a casa. Irmão de Finn. Brody,
acho?

Nunca o conheci antes, Sr. Richards disse que raramente volta


para casa da Duke University – mas sua presença explica por que
tantas pessoas mais velhas apareceram em uma festa em uma
cidade pequena. Os caras da faculdade estão olhando para nós,
testemunhando a cena à distância. A partir do momento em que
olho para Finn, sinto meu coração sendo arrancado do meu peito
novamente.

Ele a tirou de mim. Minha mãe biológica. A única coisa que


me restava.

Como pode?

— Está louca pra caralho se pensa que vai levá-la — Finn


declara enquanto avança em minha direção.

Click. Meu interruptor foi invertido. E não há como voltar


atrás.
— Eles a levaram! — Grito a plenos pulmões, colocando meu
peito inteiro nele, e Finn para, choque claro em seu olhar.

Posso dizer que está confuso, mas aqueles olhos castanhos


profundos e torturados não fazem nada por mim.

— A camisa da minha mãe. — Minha raiva morre na minha


língua, minha garganta doendo como uma cadela. — Eles a
roubaram.

Então, começo a chorar. Chorando na sua frente. E nem me


importo.

— Porque não pode ser responsável por uma noite. Foi-se. A


única coisa que eu tinha dela. Porque não poderia ser atencioso
com ninguém além de seu maldito eu por um segundo. — Bato seu
ombro com golpes fortes, e ele tropeça para trás.

— E Lexie? Eu a encontrei apavorada em um canto da


biblioteca, tomando banho em seu próprio xixi, então sim, vou
levá-la. E não, não dou a mínima para o que tem a dizer.

Sua mandíbula fica frouxa com o meu anúncio, mas não dou
a ele outro olhar, virando e indo para o carro de Jesse. Acho que
com certeza o pior já passou... até que outra voz profunda corta a
música ensurdecedora.

— Droga, mano, você estava certo. A garota tem coragem.

Deve estar brincando comigo. Eu me viro para ver o irmão de


Finn, Brody, empurrando o capô do carro para nos encontrar.

— Embora tenha que discordar de você por sua bunda. Ela é


meio chata.
Click. O interruptor acabou de virar. Só que desta vez, não é o
meu.

— Porra, o que acabou de dizer para minha irmã? — Jesse me


cutuca atrás dele.

Brody para perto de Finn e passa o braço em volta do pescoço


de seu irmão. — Jesse, ei. Já faz um tempo, cara.

Jesse aperta a mandíbula, lançando punhais no crânio de


Brody. Sabia que esses dois não se separaram em bons termos,
mas não achei que fosse tão ruim assim. Olhos tão escuros quanto
o céu, Finn desembaraça o braço de Brody de seu ombro.

— Não comece, Brody — Finn avisa.

— O quê? Apenas sendo honesto. — Brody faz uma pausa. —


Merda, Jesse, foi mal. Esqueci que você não sabe o que significa
ser honesto.

Espere o quê? Atordoada, olho Jesse para encontrar sua


mandíbula travada e uma raiva que nunca vi nele nublando suas
feições.

— O que isto quer dizer? — Questiono, esperando meu irmão


negar as alegações de Brody.

— Por que não pergunta ao seu irmão? — Brody lança a Jesse


um olhar cruel que cheira a chantagem.

Tenho a sensação de que ele sabe algo que Jesse não contou
a ninguém. É por isso que deixaram de ser amigos?

— Brody, não estou brincando — Finn repete, e seu irmão


entende a dica.
— Tudo bem, tudo bem.Relaxe. — Brody levanta as mãos e se
vira, apenas para me dar um olhar de despedida por cima do
ombro. — Foi um prazer conhecê-la, Dia. Talvez deva fazer alguns
agachamentos. Sabe, para o seu... problema.

Eu tenho que segurar Jesse para não bater o rosto de Brody


contra seu para-brisa. As pessoas começaram a se acumular do
lado de fora, atraídas pelo caos. Reconheço Theo na multidão.

— Jesse, vamos. Por favor. — Puxo as roupas do meu irmão.


— Tire-me daqui.

Jesse não ouve até meu terceiro apelo, olhando para Brody de
longe. Por fim, consigo arrastá-lo para o carro. Olho para o espelho
retrovisor enquanto nos afastamos e vejo a silhueta de Finn
completamente imóvel no meio da entrada, nos observando sair.

Dando uma espiada em Lexie no banco de trás, sinto o peso


do mundo saindo dos meus ombros com o pensamento de acordar
na minha própria cama de manhã. Não há dúvida em minha
mente.

Amanhã, desisto.
Nunca tive medo de fazer ligações.

Embora a maioria das crianças da minha idade tenha


vergonha de fazer consultas ao dentista sozinhas, nunca me
ocorreu pedir meus pais. Não entendia como uma pequena
conversa poderia deixar alguém tão nervoso.

Até que tive que largar meu emprego em uma mensagem de


voz de dez segundos…

Sentada no balanço estridente da minha varanda com Lexie,


mexo no meu telefone, tentando fazer o discurso de demissão
perfeito. Recebi a mensagem de voz do Sr. Richards a manhã toda,
mas não consegui deixar uma mensagem.

Lexie não saiu do meu lado desde que entramos na minha casa
ontem à noite. Estava nervosa - como poderia não estar em um
novo ambiente - mas posso dizer pelo jeito que se agarra a mim
por toda a vida que confia em mim para protegê-la. Sabe que
nunca faria nada para machucá-la.

Não posso deixar de pensar que se eu desistir deste trabalho,


estarei traindo essa confiança. Abandonando-a.
Como se pudesse sentir meu conflito interno, Lexie descansa
o queixo no meu ombro e dá uma lambida grande e molhada na
minha bochecha. Uma pequena risada escapa dos meus lábios, e
envolvo meu braço ao redor dela para um longo abraço de lado.
Ela apoia o queixo na minha coxa assim que a solto, e coço atrás
das orelhas, minha garganta dolorosamente apertada.

— Deus, não posso — sussurro. — Não posso deixá-la.

Você pensaria que ela me entendeu pela rapidez com que


inclina a cabeça para olhar para mim, seus adoráveis olhos
castanhos puxando as cordas do meu coração. Se ontem à noite é
algo para se pensar, não se pode ser confiar em Finn para cuidar
de seu cachorro, e não posso me imaginar deixando Lexie em casa
e voltando para minha vida como se nada tivesse acontecido.

Meu telefone acende com uma chamada recebida. Do Sr.


Richards.

Olho para minha tela longa e duramente, acariciando Lexie


com uma mão e segurando meu telefone até minhas articulações
doerem com a outra.

Parece um teste. Um que gostaria de não ter que passar, mas


minha decisão está tomada.

Por isso, deixei tocar.

— Está cometendo um erro. — Meu irmão faz um tsk enquanto


dirige pela garagem de Finn, sua voz acusadora me atormentando
com dúvidas. Ele passou a viagem inteira me dizendo como estou
errada por voltar.
Que eu deveria correr enquanto ainda tenho chance.

Ele também não se dignou a responder uma das minhas


perguntas sobre sua briga suspeita com o irmão de Finn na noite
passada. Tudo o que disse foi que Brody é um profissional em
mexer com merda, e nada disso era verdade. Sei melhor do que
apenas acreditar na sua palavra, mas pensei em ficar de fora
dessa.

— Por que iria querer voltar aqui de qualquer maneira… — A


voz de Jesse vagueia quando chegamos ao topo da calçada.

Confusa, olho para meu irmão, depois na direção da mansão


para ver o que ele está olhando. Ligo os pontos imediatamente.

O estacionamento está vazio, exceto pelo carro vermelho de


Theo, e o gramado da frente que era um mar de lixo horas atrás
agora está perfeitamente limpo. Jesse e eu vasculhamos a
propriedade em busca de qualquer sinal da festa furiosa que
aconteceu neste mesmo local, mas não encontramos nada.

— O que... — Jesse fala o que penso.

— Ele deve ter contratado uma equipe de limpeza — deduzo.

— São oito da manhã — rebate.

Dou de ombros. — Acho que os ricos não se importam com as


regras.

O silêncio desce sobre o carro enquanto Jesse continua sua


análise cuidadosa do gramado da frente de Finn.
— De qualquer forma, obrigada por... sabe, tudo. Eu ficarei
bem. — Alcanço a maçaneta do carro, mas antes de abrir a porta,
Jesse estende o braço para me parar.

— Dia, espere.

Travo o olhar com meu irmão e vejo preocupação brilhando em


seus olhos amendoados. Está com medo por mim.
Verdadeiramente assustado, ou... está com medo de si mesmo?

Com medo de descobrir algo que não deveria, se ficar?

— Você me chamou aqui por uma razão na noite passada. Não


se esqueça disso.

Ele tem razão. Liguei para ele porque estava emocionada, com
raiva e com o coração partido por perder a camisa da minha mãe
biológica, mas nada disso importa tanto quanto a segurança de
Lexie. Não vou abandoná-la. Mesmo que isso signifique viver com
um monstro por mais algum tempo.

— Não vou, prometo — o tranquilizo. — Obrigada novamente.

Com isso dito, saio do seu carro, abro a porta de Lexie, e a


introduzo na casa para avaliar os danos internos. Não consigo ver
muito da casa através da porta de vidro devido aos raios de sol
refletidos nela.

O que estará esperando do outro lado?

Pessoas bêbadas no chão? Garrafas quebradas em todos os


lugares? Móveis estragados?

Só há uma maneira de descobrir.


— Agora ou nunca. — Empurro a porta aberta.

A primeira coisa que noto é o silêncio. A casa está silenciosa,


parecendo quase deserta. Entro na entrada que foi pavimentada
com vidro e bebida ontem à noite e engulo um suspiro.

Está limpo. Assim como a calçada. Assim como o jardim da


frente.

Se eu não soubesse melhor, me perguntaria se houve mesmo


uma festa. Solto a coleira de Lexie e sorrio enquanto sai correndo
pelo corredor.

Ando atrás dela, me aventurando mais para dentro da casa e


examinando a cozinha. Não há um único copo vermelho à vista e
nem mesmo uma líder de torcida desmaiada em seu próprio
vômito. Os pisos de madeira parecem ter sido esfregados. Na
verdade, toda a casa está impecável. Finn contratou uma equipe
de limpeza noturna? Lexie latindo na sala chama minha atenção.

Ela para no sofá seccional, e a ouço lamber alguma coisa.


Então aquela “alguam coisa” geme, e percebo que não sou a única
aqui. Pronta para chutar o retardatário do sofá, corro para a sala
e encontro Theo dormindo. Está sem camisa, deitado de bruços
sem cobertor, suas costas musculosas e músculos tensos à
mostra. Seu cabelo escuro cai em cascata na frente de seus olhos
verdes, sua bochecha esmagada contra a almofada.

— Lexie, pare — Theo geme, meio adormecido.

Alguns segundos passam. Então a realização parece surgir


sobre ele porque seus olhos se abrem.

— Espera, Lexie?
Theo vira de costas, depois se senta ereto. Ah. Finn deve ter
lhe dito que a levei para minha casa, o que explica sua surpresa
por ela estar em casa.

— Dia, você está... aqui — diz quando me vê. — Não achei que
fosse voltar.

Eu também não achava que voltaria.

— Por que não atendeu o telefone? — Pulo a conversa fiada. —


Poderia ter me dito que Lex estava sozinha...

— Não, eu não podia — interrompe. — Não posso atender meu


telefone sem um telefone.

Franzo meus lábios. — O que aconteceu?

— Foda-se, se eu sei. Larguei por um segundo, depois sumiu.

Então, ele também foi roubado. Aposto que foram os mesmos


idiotas que roubaram a camisa da minha mãe.

Minha raiva diminui. — Ainda assim, poderia ter esperado que


eu chegasse em casa. Não consegui te encontrar.

— Eu estava… ocupado. — Passa a mão pelo cabelo preto


como carvão, um pequeno sorriso estica seus lábios.

— Traduzindo, estava fodendo uma garota.

— Avisei sobre a festa, não avisei? — Esfregando os olhos,


Theo planta os pés no chão e se senta com as pernas separadas,
cotovelos apoiados nos joelhos. — Isso não conta para alguma
coisa?
Sou rápida em entender que é a coisa mais próxima de um
pedido de desculpas que receberei desse cara. Soltando um
suspiro, sento-me no braço do sofá.

— Deveria ter me contado sobre Lexie em sua primeira


mensagem — repreendo enquanto Theo acaricia a animada golden
retriever ao seu lado.

— Eu não sabia — diz, aparentemente sincero. — Ninguém


sabia.

— Finn tinha que saber — respondo.

— Como ele poderia? Não foi ele que a colocou lá.

O quê? Volte.

— Não foi ele? — Não compro.

— Foda-se não. Conhece o cara? — Theo bufa. — Brody lhe


disse algumas bobagens sobre ter deixado Lexie na casa da
vizinha. A senhora é uma viúva que cuidou de Lexie no passado.

Espere... Finn não teve nada a ver com isso?

Bem, tecnicamente, os únicos erros que cometeu foram confiar


em seu irmão e não se preocupar em verificar todos os cômodos de
sua mansão de um milhão de dólares. Ainda assim, isso pode ter
sido uma boa informação para ter antes que eu caísse sobre ele.

Não, Dia, ainda é a razão pela qual a camisa da sua mãe sumiu.
É a sua casa. Ele deu a festa.

— Ele mesmo teria chamado a polícia para a festa se soubesse


sobre Lexie — Theo me assegura. — Inferno, ele quase fez.
— O que isso significa? — Questiono.

— Ele expulsou todo mundo. O cara estava dizendo aos


convidados que chamaria a polícia se não saíssem.

— Deveria acreditar que ele expulsou os convidados que


convidou? Que tipo de idiota me considera?

— Na verdade, ele não convidou ninguém — Theo corrige.

Oh, pelo amor de Deus, Theo, deixe-me odiá-lo. Deixe-me


convencer de que não há nada de bom ou resgatável sobre esse
cara.

— Então como as pessoas sabiam que deveriam aparecer? —


A resposta vem a mim assim que termino de falar.

Brody. Claro que é Brody.

Vi o suficiente dele ontem à noite para acreditar que poderia


fazer algo assim.

— Você tem que agradecer a Brody por isso — Theo confirma.


— Ele e uns sete de seus colegas de faculdade apareceram ao
mesmo tempo que estávamos fora. Brody disse a Finn que chamou
algumas pessoas para sair enquanto estava na cidade, mas
“algumas” pessoas se transformaram em trinta, depois quarenta,
e bem... entendeu a essência.

Estava tão certa de que Finn era o culpado. Nem sequer


considerei por um segundo que ele poderia ser o cara enganado.

— Obrigada por tudo isso. — Gesticulo para a casa impecável.

— Eu não limpei. — Theo se levanta do sofá e se espreguiça.


— Então quem fez?

Os olhos de Theo se conectam com os meus. — Quem você


acha?

A fúria e o ressentimento causando estragos no meu peito


diminuem em um estalar de dedos.

— Finn começou assim que as pessoas saíram. Não parou até


terminar.

Isso deve tê-lo levado a noite toda.

— Não sei o que você e seu irmão disseram a ele, mas estava
furioso com Brody.

Lembro-me de Theo tropeçando para fora da casa quando a


discussão estava chegando ao fim.

— Como sabia que ele era meu irmão?

Theo solta uma zombaria baixa enquanto se dirige para a


cozinha. — Finn me disse. Sem mencionar que seu irmão quase
rasgou Brody em pedaços por falar merda sobre você. Vocês dois
parecem próximos.

— Somos — sussurro.

Sempre me senti mais próxima de Jesse do que do resto dos


meus irmãos. Não é surpreendente, considerando que conhecia
Jesse antes mesmo de conhecer meus pais. Meus pais afirmam
que Jesse era meu favorito absoluto quando criança.

Tudo isso mudou quando chegou a puberdade e Jesse


começou a agir. Passou de me proteger de valentões para me
intimidar ele mesmo. Não me suportou por anos – para ser justo,
era a irmãzinha chata que o seguia. Podemos brigar e xingar, mas
no final do dia, faríamos qualquer coisa um pelo outro. Tenho sorte
de ter uma família tão boa. Só queria não me perguntar sobre
minha outra família...

Meus pais se recusam estritamente a me dizer qualquer coisa


sobre meus pais biológicos. Eles me disseram que minha mãe
biológica está morta, mas mantiveram a conversa sobre meu pai
no mínimo. Toda vez que pergunto sobre ele, mudam de assunto
ou se esquivam da pergunta.

Não me é estranho que Finn incendiaria o mundo por mais um


minuto com sua mãe enquanto meu próprio pai poderia estar
vivendo sua vida em algum lugar, apenas esperando para ser
encontrado, e não estou me incomodando com isso.

Será que meu pai biológico não queria saber sobre mim? Ou
que não saiba sobre mim? E se não faz ideia de que tem uma filha
por aí? Certamente, este é o único cenário que poderia justificar
sua ausência, mas talvez…

É um pelo qual valesse a pena lutar.

A hora no fogão mostra 2h25 quando arrasto meus pés até a


cozinha para tomar um copo de água. Não dormi nada, esperando
o som dos pneus de Finn cantando contra a calçada.
Está desaparecido o dia todo. Theo diz que também não ouviu
um pio dele.

Meu quarto fica de frente para o jardim da frente, por isso abri
uma janela para ter certeza de ouvi-lo chegar em casa, apenas para
acabar acordada, ouvindo minhas persianas batendo no vento com
Lexie roncando ao meu lado. Quero pedir desculpas a ele.

Finn Richards pode ser um idiota às vezes – tudo bem, o tempo


todo – mas ontem à noite? Foi apenas um dano colateral do
egoísmo de seu irmão. Ele se desculpou por me atacar uma vez. O
mínimo que posso fazer é retribuir o favor.

Os sons de chaves tilintando e sendo inseridas na fechadura


me assustam um minuto depois. Endureço com o pensamento de
Finn irrompendo pela porta da frente.

Exceto... não há explosão. Acontece lentamente.

Ouço um gemido. Um baixo e grave “merda” que está


manchado de dor e a porta se fechando com um baque. Não mexo
um músculo, esperando que chegue à cozinha e me veja, mas
demora um pouco e mais alguns gemidos para atravessar o
corredor.

Ele está... mancando?

Todos os pelos do meu corpo se arrepiam quando vira o


corredor e ficamos cara a cara.

Finn me vê encostada no balcão da cozinha, segurando minha


água para salvar minha vida. Meus pés afundam no chão quando
fazemos contato visual. Choque colore os olhos castanhos de Finn
por uma fração de segundo, suas sobrancelhas se erguendo como
se não esperasse me encontrar em sua cozinha nunca mais.
E, no entanto, permanece quieto. Deixo escapar um pequeno
suspiro quando dou uma olhada melhor nele. Está sangrando.

Do vinco de sua sobrancelha até sua bochecha e lábio inferior,


nada foi poupado. Uma ferida arroxeada colore a borda de sua
mandíbula, e a pior parte? Nada disso chega nem perto de diminuir
sua beleza. Mesmo com uma camisa rasgada coberta de sangue e
sujeira, parece uma obra de arte.

Percebo que tem uma mochila cinza pendurada no ombro, mas


não questiono, horrorizada demais com seus hematomas para
pensar duas vezes sobre isso.

Apenas ficamos ali, olhando um para o outro do outro lado da


cozinha. Então, sem dizer uma palavra, ele se vira, sua dor tornada
óbvia pela tensão em seus movimentos, e desaparece escada
acima.

Caio na minha cama ao lado de uma Lexie adormecida logo


depois. Olho para o teto pelo que parece uma eternidade até que
ouço a porta de Finn se abrindo no corredor.

O piso de madeira range enquanto Finn caminha pelo corredor


em direção... Meu quarto?

Espere, por que está vindo em direção ao meu quarto?

Passo de respirar rapidamente para não respirar nada, seus


passos me provando quando param na frente do meu quarto.
Posso ver a sombra de seus pés pela fresta abaixo da porta. Ele
fica lá por longos segundos, como se estivesse debatendo seu
próximo movimento.

Finalmente, ele bate. E vai embora.


Afasta-se?

Eu o ouço voltando para seu quarto e fechando a porta


novamente. Não tenho certeza do que fazer com isso, mas cada
nervo do meu corpo está me dizendo para abrir aquela porta.
Saindo da cama para não acordar Lexie, abro a porta lentamente,
mas não há nada lá.

Meu olhar mergulha para baixo, e aperto os olhos para


encontrar a mochila cinza que Finn estava carregando quando
entrou.

Minha mente correndo a mil quilômetros por hora, caio de


joelhos, abrindo o zíper da bolsa. Nesse momento, tudo faz sentido
– os misteriosos hematomas em sua pele, seu desaparecimento
hoje, o sangue em suas roupas. Dentro da bolsa estão três itens
que pensei que nunca mais veria.

Meu Kindle e-reader.

Meus AirPods.

E minha camiseta do Radiohead.


— Lexie, não!

Sei que meus gritos foram inúteis desde o momento em que a


piscina engole a golden retriever inteiro. Deveria ter previsto isso.
É claro que nosso jogo espontâneo de busca resultaria em Lexie
pulando de cabeça na água.

O vento derrubou o Frisbee com o qual estávamos jogando


direto na piscina, e Lexie não pensou duas vezes.

— Lex, o que fez? — Finjo repreender, o riso na minha


garganta abafando meu sermão.

Lex rema em minha direção com o Frisbee na boca, rápida


para pular para fora da piscina e correr para mim com o rabo
abanando. Encharcada, deixa cair o Frisbee aos meus pés, em
seguida, sacode a água de sua pele vigorosamente. Grito entre
risos, nem mesmo vacilando com a água voando sobre mim.

— Olhe para você. — Caio de joelhos para acariciá-la. Lexie


levanta a pata como se quisesse me mostrar que espera um deleite,
e rio ainda mais forte. Passamos a maior parte da manhã no pátio.
Fui dar um mergulho rápido, depois brinquei com Lexie para
cansá-la.
— Venha aqui. — Dou um beijo no topo de sua cabeça, e ela
retribui o gesto carinhoso plantando beijos desleixados por toda a
minha boca.

— Vamos secá-la para o veterinário. — Eu a coço sob o queixo


e me levanto. — Voltarei com algumas toalhas.

Ela tem uma consulta no veterinário em uma hora para um


check-up regular, e prefiro que não levasse aquele cheiro de
cachorro molhado com ela. Lexie late enquanto caminho até a
porta de vidro, me seguindo, e tenho que lhe dizer para ficar
algumas vezes para que não inunde o primeiro andar. Não tenho
o hábito de andar de biquíni – a única vez que fiz isso, os rapazes
me olharam como se eu tivesse duas cabeças – mas a casa estava
vazia quando acordei, então pensei que se dane.

A parte louca é que estava um pouco chateada por Finn não


estar em lugar nenhum esta manhã. Queria falar com ele.
Agradecer por devolver a única coisa que tenho da minha mãe.

Acabei de sair do banheiro do andar de baixo com duas toalhas


em meus braços quando ouço a porta da frente bater. O som de
passos percorre o andar principal, e a ansiedade arranha meu
estômago.

Retiro o que disse. Não quero falar com ele. Por favor, que seja
Theo.

Considero me esgueirar para o banheiro para evitá-lo, então


lembro que o relógio está correndo, e o veterinário está na próxima
cidade. Pedi a Vee para nos levar, e deve chegar a qualquer
momento. Para piorar, ainda nem me troquei.

Seja corajosa, Dia.


Agarrando as toalhas em meus braços um pouco mais
apertado, viro o corredor e vejo Finn enviando mensagens de texto
na cozinha. Está vestindo uma regata preta decotada, as curvas
de seus bíceps e antebraços com veias chamando minha atenção.
As lacunas sob seus braços me dão uma visão clara de seus
músculos oblíquos definidos, e engulo em seco. Posso dizer que ele
acabou de malhar pelo quão suado está.

Pelo amor de Deus, está brilhando de suor, e ainda o acho


incrivelmente atraente. Ele também tem uma alça de bolsa de
ginástica pendurada no ombro e uma garrafa de água na outra
mão. Ele me nota no segundo seguinte, seus olhos levantando de
seu telefone e pegando os meus. Não falamos ou reconhecemos a
presença um do outro, da mesma forma que fizemos na cozinha
ontem à noite.

Dando-me vibrações desinteressadas, começa a desviar o


olhar, apenas para dar uma segunda olhada quase imediatamente.
Cada centímetro da minha pele formiga quando me bebe.

Ainda estou vestindo nada além de meu biquíni, mas encontro


conforto nas toalhas em meus braços. Estão cobrindo parte do
meu corpo, me protegendo de olhares que não consigo traduzir.

Ele gosta do que vê? Odeia? Não sei.

— Ei — consigo dizer.

Não gosto desse silêncio. Aceitaria que ele fosse um idiota


comigo por causa dessa tensão estranha.

— Ei — responde, sua voz baixa, e dirige seu foco de volta para


o telefone, ou realmente o irritei quando perdi a cabeça na festa,
ou ele simplesmente não se importou com a minha existência.
Não sei por que a opção dois me incomoda tanto.

— Sabe quando Theo voltará para casa esta noite? Cozinhei


uma tonelada de comida. — Digo para conversar.

Sem nem mesmo me dar um olhar, Finn fala lentamente —


Theo não morará mais conosco.

Estou atordoada. — Espere o quê? Por que não?

Não é que considere Theo um amigo, mas ele era a coisa mais
próxima que tinha de um nesta casa. Sem mencionar que sua
ausência implica que ficarei sozinha com Finn pelo resto do verão,
e não estou nem perto de estar preparada para isso.

Finn dá de ombros. — Ele voltou para casa. Algo sobre tentar


consertar as coisas com os seus pais.

— Oh. — Dou um pequeno aceno. — Tudo bem.

Sem resposta. Eu me viro para sair e secar Lexie antes que Vee
chegue aqui, mas paro antes de sair para o pátio.

— Eu... queria agradecê-lo — confesso.

Leva-me uma respiração profunda e uma conversa interior


para me virar e encará-lo. Meu comentário parece ter sido
suficiente para ganhar toda a sua atenção porque está me
encarando com uma sobrancelha arqueada.

— Pelo quê? — Pergunta.

Lentamente, contorno e vou até a cozinha para encontrá-lo, e


parando sutilmente a sua frente limpo minha garganta.

— O que fez por mim, isso... significou muito.


Estou sobrecarregada com o desejo de rastejar sob uma pedra
quando ele ri na minha cara.

— O que é tão engraçado? — A pergunta sai como defensiva.

— Acha que eu fiz isso por você.

Ouch. Espero que elabore, mas ele leva seu doce tempo,
guiando sua garrafa de água aos lábios e tomando um gole.
Observo enquanto uma gota de água escorre por sua mandíbula e
garganta.

— Não foi a única roubada naquela noite. — Ele coloca sua


garrafa de água no balcão. — Um cara do time viu os perdedores
que fizeram isso. Ele me deu um endereço, e apareci para pegar de
volta o que tinham roubado. Guardaram tudo em um saco, então
peguei e puxei o traseiro para fora de lá. Estava pegando minhas
próprias coisas de volta, Gem. — Faz uma pausa. — Aconteceu que
a sua estava lá dentro.

Não sei o que esperava, mas não era isso.

— Realmente achou que eu entraria em uma briga por você?

Eu mastigo meu lábio inferior com mais força do que o


pretendido, o gosto metálico de sangue escorrendo em minha boca.

Estou brava. Envergonhada, mas principalmente, estou


decepcionada.

Por que estou tão desapontada ao saber que ele é o bastardo


sem coração que todos me disseram que seria?

— Ah, não faça beicinho. — Finn preeenche meu espaço,


esticando o braço para empurrar uma mecha solta do meu cabelo
atrás da minha orelha. — Você ainda tem suas coisas de volta no
final, não é?

Por mais que o despreze neste momento, odeio ter parado de


odiá-lo ainda mais. Por um momento, pensei que tinha chegado
até ele, mas agora?

Eu sei, sem sombra de dúvida...

A única maneira de sobreviver a este verão é odiando-o tanto


quanto ele me odeia.

Estou amaldiçoada. Nenhuma outra explicação.

Pode pensar que eu estaria acostumada com isso agora – ser


acordada no meio da noite, apenas para algo dar terrivelmente
errado – mas não – estou tão chocada quanto na noite em que
encontrei Finn parado na janela da biblioteca.

Lexie latindo é minha primeira pista.

O som de uma chave sendo inserida na fechadura da frente é


o meu segundo. Deitada no sofá com os olhos arregalados, agarro
o cobertor que está enrolado ao meu redor. O que estava pensando,
adormecendo no sofá?

Sei que não é Finn. Ele chegou em casa e subiu para o quarto
muito antes de eu colocar uma comédia romântica e desmaiar.
Também não pode ser Theo. Apareceu para juntar o resto de suas
coisas na hora do jantar.

Quem mais poderia ter uma chave? Brody, talvez?

Lexie late mais alto quando a porta da frente se abre e duas


vozes desconhecidas invadem a entrada. Os latidos de Lexie
rapidamente se transformam em rosnados.

— Puta merda — uma voz masculina bufa. — Faça-a calar a


boca.

Outra voz profunda e rouca, interrompe. — Lexie, venha aqui,


garota.

O rosnado para instantaneamente. Ouço as patas de Lexie


chacoalhar chão de madeira enquanto corre para o estranho sem
pensar duas vezes, e entendo... Não há nenhuma maneira de ser
um estranho.

Ela o conhece.

Está lambendo seu rosto, pulando em cima dele – toda a


conversa – enquanto deito ali, rígida como uma tábua. Não podem
me ver já que o sofá está virado para longe da cozinha, mas não
correrei nenhum risco.

— Eu sei, eu sei. Estive fora por um longo tempo, hein?

— Jesus, Emery, como faz isso? Não posso acariciá-la sem ela
tentar morder meu pau — o outro cara comenta.

Meu cérebro entra em curto-circuito com a menção de seu


nome.
Emery. Como... Xavier Emery, o melhor amigo de Finn?

É assim que Lexie o conhece. Pensei que estivesse no


acampamento de basquete?

— E isso seria uma coisa ruim porquê? — Xavier solta uma


zombaria amarga, ganhando um “foda-se” de seu companheiro.

Mal deram alguns passos para a cozinha antes que o Cara


Misterioso perguntasse — Onde Finn disse que estava de novo?

— Adega. Está esperando por nós — Xavier responde.

É disso que se trata? Finn dizendo a seus amigos para invadir


a adega de seu pai no meio da noite? Por que estou mesmo
surpresa?

— A escada fica no corredor — instrui Xavier, e os passos


desaparecem gradualmente. Ouço a porta que leva ao porão se
abrindo e fechando ao longe.

Então, nada. Esta foi por pouco.

Lexie está de volta ao sofá em um instante, preparada para


cochilar, mas não consigo fazer o mesmo. Devo olhar para o teto
por mais de cinco minutos antes de tomar a terrível decisão de
segui-los. Olho para Lexie, que está roncando, e então me levanto
do sofá. O chão está gelado sob meus pés descalços enquanto
caminho na ponta dos pés em direção à escada que acabaram de
descer.

Esta é uma má ideia. Uma ideia muito ruim.

Ainda assim, me encontro na porta do porão, minha mão


pairando perto da maçaneta. Com a respiração presa na garganta,
abro a porta lentamente, tomando cuidado para não fazer barulho.
Só estive no porão uma vez, mas lembro como as escadas são
barulhentas.

Meu coração acelera a cada passo que desço a escada, uma


rajada de ar fresco engole meu corpo assim que meus pés tocam o
chão.

Está frio aqui embaixo, e o top curto e as leggings em que


adormeci não estão fazendo muito para me aquecer. Vire-se, não
deveria estar aqui, uma voz na minha cabeça avisa, mas não me
importo, esgueirando-me para a adega. A porta está aberta um
centímetro, mas é mais do que suficiente para ouvir a conversa do
outro lado.

Pego os rapazes sentados no chão da adega pela pequena


abertura. Estão bebendo vinho, rindo, passando um baseado.
Congelando meus seios, me escondo no canto atrás da porta para
ouvir.

— Pare de monopolizar o baseado, Richards.

— Fodeu Lou Bennett na minha cama, Fletcher. Eu


monopolizarar o baseado se quiser — Finn retruca.

Só assim consigo identificar o cara que veio com Xavier. Seu


nome é Axel Fletcher. É um jogador de basquete, um porco
absoluto com as mulheres e uma pessoa de baixa qualidade. Eu o
vi com uma garota na cama de Finn na noite da festa. Era Louise?
Ela dormiu com Axel na cama de Finn? Apenas alguns dias depois
que Finn a recusou?

Difícil.

— Ele tem você lá, cara. — Xavier ri.


— Pelo amor de Deus, não é como se estivesse namorando a
garota — argumenta Axel. A ironia de Finn ter dormido com a
namorada de seu melhor amigo não me passou despercebida.
Pensar que Xavier não tem ideia. O pobre coitado nem faz ideia do
que aconteceu enquanto esteve fora.

— Não dou a mínima para quem fez isso, idiota. É aí que está
o problema. — Finn deixa claro que não poderia se importar menos
com Lou.

Lou, que me olhou como se eu tivesse cagado em sua cama na


manhã em que lhe disse meu nome. Ainda não sei por que isso a
desencadeou tanto.

— Olhe por este lado, seu cachorro estúpido nos emboscou


quando entramos. — Axel bufa.

Segue-se um longo momento de silêncio.

— Chame meu cachorro de estúpido mais uma vez, Fletcher


— Finn avisa.

— Cara, relaxa, estava brincando. — Axel solta uma risada


nervosa. — É apenas a porra de um cachorro. Jesus.

— O que acabou de dizer? — Finn estala.

— Ei, idiotas. Não voltei do acampamento para levar suas


bundas ao hospital. Jogue bem — Xavier intervém.

Algo me diz que esta não é a primeira vez que Xavier teve que
bancar o mediador.

— Há quanto tempo está de volta na cidade? — Axel muda de


assunto.
— Dois dias — responde Xavier. — Vou embora amanhã à
noite.

— Conheceu a cuidadora da Casa Richards? — A pergunta de


Axel me pega de surpresa.

Merda, está falando de mim. Talvez isso tenha sido um erro.

Acho que meu ego não aguenta mais golpes. Ainda está se
recuperando de Finn rindo na minha cara esta manhã.

— A babá da casa, não é? — Xavier soa como se não se


importasse.

— Droga, certo. Coisinha sexy, ela. — A risada gutural de Axel


envia uma onda de desgosto pela minha espinha. — Eu a vi na
festa, e pode apostar que se ela estivesse morando na minha casa,
estaria em cima daquela bunda. Não posso acreditar que ainda
não atingiu isso — diz a Finn.

Apenas vá embora, Dia. Não precisa ouvir isso.

— Bem, acredite — Finn diz.

— Sério, cara, é cego ou apenas jogando para o outro time? —


Axel despreza.

Finn zomba. — Sou mais ereto que o poste em que sua mãe
dança.

— E daí? Ela não é seu tipo? Ajude um irmão. Se ela for um


jogo justo, é só dizer.

O silêncio sobrecarrega o porão escuro.

— Então, ela é? — Axel não vai deixá-lo ir.


— Ela é o quê? — Finn sibila.

Axel não entende a dica. — Seu tipo?

— Claro que ela é meu tipo. Viu a maldita garota? Agora, foda-
se — Finn estala.

Eu tensiono. Então... não era tudo coisa da minha cabeça?

Os olhares demorados, os comentários sarcásticos cheios de


insinuações. Pode me odiar, mas está atraído por mim, e o
pensamento me faz sentir dez por cento menos estúpida por sentir
o mesmo. A conversa deriva para tópicos aleatórios até que um
telefone toca na sombria adega.

— É o meu — Xavier informa seus amigos. Presumo que esteja


verificando a mensagem, pois não fala por alguns segundos. Então
deixa escapar — Sério, Richards?

— O quê? — Pergunta Finn.

— Você realmente invadiu a casa de Ben Aster e o espancou


por roubar uma camisa?

Isso é tudo o que preciso para meus pulmões falharem.

Finn zomba. — Eu bati no irmão dele também, mas continue.

Está falando da minha camisa? Não, não pode estar.

Xavier suspira. — Sabe que os Asters enfiam merda nos bolsos


nas festas. Você nunca deu a mínima antes.

— Seu ponto? — Finn fala arrastado.


— Theo disse que os encontrou no Lacey's, e estão pensando
em ir à polícia. Isso não é a porra de uma brincadeira, Finn. Você
tem dezoito anos. Pode esquecer o reformatório se a merda der
errado. Agora, é direto para a cadeia.

É óbvio que Xavier é o cara sensato aqui. O menino de ouro


que dá tudo de si para o basquete e seus sonhos enquanto seu
melhor amigo está se autodestruindo e incendiando a merda.

— Eu tenho imagens de segurança deles saindo da minha casa


com três sacos de lixo cheios de nossa merda. Deixe-os ir a porra
da polícia — Finn rebate.

— Claro, roubaram de você. Isso não lhe dá o direito de invadir


a casa de alguém e espancá-lo. Quem se importa com uma camisa?

Finn faz uma pausa por longos segundos.

— Era uma camisa importante.

Minha palma voa para minha boca. Ele mentiu na minha cara
mais cedo.

Todas as coisas que ele disse sobre pegar suas próprias coisas
de volta eram besteiras. Por quê? Por que está tão desesperado
para me impedir de ver o que há de bom nele?

— Seu pai enlouquecerá se você for preso novamente. O que


diabos estava pensando? — Xavier repreende.

— É a porra da minha cueca? — Finn diz impassível.

Xavier fica surpreso com a pergunta.

— Então não preciso de você na porra da minha bunda.


É quando sei que já ouvi o suficiente. Giro, prestes a me
afastar, e acidentalmente bato meu joelho contra a planta atrás de
mim.

Porra. Porra. Porra.

— O que é que foi isso? — Xavier questiona.

— Acha que a babá acordou? — Axel adivinha.

— Nah, isso provavelmente é apenas Lexie — Finn garante. —


Não se preocupe com isso.

Felizmente, seus amigos compram e retomam a conversa. A


pressão em meus ombros se dissipa, meu peito inchando de alívio.
Fico ali por mais de dez minutos enquanto os rapazes conversam,
apavorada por fazer outro movimento.

— Certo. Estou exausto. Podem sair — diz Finn.

— Está falando sério agora? Você nos chamou até aqui para
dez minutos de fumar? — Reclama Axel. — Estou chapado como a
porra de uma girafa. O que eu deveria fazer? Ir para casa e olhar
para o teto?

— Foda-se se eu sei. Vá arranjar um hobby ou algo assim —


Finn sugere.

Xavier zomba. — Diz o idiota que não tem nenhum.

— Eu tenho hobbies — Finn discorda.

— Masturbar-se com fotos de sua babá em casa não é um


hobby — Xavier dispara de volta, e os três riem.
Sei que ele está brincando, mas o calor explode no meu
estômago só de pensar nisso. Imagens inundam minha mente.
Vejo Finn sem camisa, deitado na cama no escuro, sua mandíbula
apertada enquanto fecha seus punhos...

— Fora. Os dois. — Finn me tira disso, e os rapazes obedecem.

Enrijeço quando saem da adega um por um. O suave rangido


das escadas enche meus ouvidos, junto com Axel reclamando
sobre não ser capaz de ver merda alguma. Então a porta no topo
da escada se fecha.

Não há um som a ser ouvido no porão escuro como breu.

Meu batimento cardíaco alarmantemente rápido diminui, e


solto um suspiro profundo de alívio. Finn disse que estava
cansado, o que significa que provavelmente foi para a cama. Tudo
o que me resta fazer é entrar sorrateiramente no meu quarto e
fingir que isso nunca aconteceu...

— Que porra é essa?

Eu reconheceria sua voz grave em qualquer lugar. Não.

Isso está tudo na minha cabeça. Finn não pode estar aqui.

Não pode estar bem a minha frente, mas está.

Está parado a alguns passos de mim, o contorno de seu corpo


largo tudo o que posso ver. Não que precise ver sua expressão para
saber que está prestes a me rasgar ao meio.

— O que é? Está me espionando agora, porra — Rosna a


centímetros do meu rosto.
— O quê? N-Não — começo a dizer, mas Finn me interrompe,
batendo a palma da mão na minha boca para me calar. A próxima
coisa que sei é que capturou meu antebraço e me arrastou para a
adega.

Grito quando me prende contra uma das prateleiras de vinho,


seu peito duro se encaixando tão perto do meu que posso sentir o
calor do seu corpo envolvendo a pele que minha blusa não cobre.

A pequena janela da adega emite luar apenas o suficiente para


eu distinguir seus olhos castanhos desarmantes. Entendo quando
aponta para o teto com a outra mão – mais precisamente, para o
teto acima de nossas cabeças – que está esperando por algo.

Ficamos nessa posição, seu torso alinhado com o meu, sua


palma sobre minha boca, até ouvirmos a porta da frente bater ao
longe. Essa parece ser a deixa de Finn porque se afasta, me
roubando um calor que anseio instantaneamente.

Sou rápida em entender que estava esperando que seus


amigos saíssem antes de chover o inferno sobre mim.

Que atencioso.

— Você tem cinco segundos para se explicar. — Cruza os


braços tatuados sobre o peito.

— Eu... ouvi vozes e desci para verificar — improviso.

Uma zombaria irada deixa sua garganta. Não está comprando,


mas não discute.

— Quanto ouviu? — Pergunta.


É uma pergunta simples, mas segredos e mentiras
atormentam cada palavra. Vejo isso em seus olhos. Está esperando
que eu não tenha ouvido sobre o que fez para pegar minhas coisas
de volta. Esperando manter a farsa por mais um tempo.

— Tudo — admito.

Sua mandíbula fica frouxa por um momento.

— Eu deveria tê-los deixado pegarem você — cospe e vai


embora.

Espere, ele sabia? Sabia que eu estava aqui esse tempo todo?

Não, isso não é possível. Deve ter tido a sensação de que eu


estava aqui quando bati meu joelho naquela planta estúpida. Se
não fosse por ele dizendo aos rapazes que seu cachorro era o
culpado, poderiam ter me pego espionando. E ele definitivamente
fingiu sair com seus amigos só para que pudesse arrebentar minha
bunda.

Agindo por impulso, dou um soco nele. — Aquele era Xavier


Emery, não era?

Finn para, olhando para mim por cima do ombro.

— E daí se fosse?

Parece um aviso. Como se estivesse me dizendo para cuidar


da porra da minha boca.

— Ele não tem ideia do que fez, não é? — Provoco, sabendo


muito bem que estou apenas jogando gasolina no fogo.

Eu não posso evitar. Esse cara me enfurece.


Odeio que não possa entendê-lo. Que está tão longe de ser uma
pessoa normal, minhas habilidades pessoais são inúteis com ele.
Finn Richards não mente para encobrir seus pecados, como
qualquer um de nós faria. Mente para encobrir suas boas ações. E
preciso entender o porquê.

— Maldição, ele não sabe. — Ele se vira para me encarar. — E


continuará assim.

— Poderia delatá-lo assim que o verão acabar, já pensou


nisso? — Ameaço.

Ele solta uma zombaria silenciosa. — Sim, mas não vai.

— Como sabe? — Anseio por algum tipo de fraqueza. Aceito


qualquer coisa, só quero vê-lo se encolher uma vez. Finn dá alguns
passos ameaçadores à frente, e sou eu quem recua.

— Porque conheço você, Gem. Fala um bom jogo, mas ambos


sabemos que não faria nada para realmente machucar alguém.

É verdade, mas ele não pode saber disso.

— Como ela me reconheceu? — Mudo de assunto.

Ele franze a testa. — Quem?

— Louise. Ela me olhou como... — faço uma pausa. — Como


se eu tivesse feito algo com ela no outro dia. Disse a ela meu nome,
e seu rosto mudou. Por quê?

— Eu lhe disse para não fazer perguntas que não pode lidar
com as respostas. — Ele me alimenta com a mesma porcaria que
fez naquela noite na biblioteca.
— E eu lhe disse que não tem a mínima ideia do que posso
lidar. — Eu mantenho minha posição. — Responda-me. Como ela
me reconheceu?

— Ela não conhecia você — cede. — Sabia seu nome.

Huh?

— Por que diria a ela meu nome?

Ele abre uma sugestão de um sorriso. — Não disse nada a ela.

— Então, como ela…

Meu coração faz um trezentos e sessanta quando Finn


preenche o espaço entre nós e empurra meu corpo contra a
prateleira de vinho novamente, desta vez com intenções totalmente
diferentes. Calor corre para minhas bochechas, a sensação de
afundamento no meu estômago me paralisa. Isso parece definitivo.
Como qualquer rota de fuga que tinha antes, acabou pegando fogo.

Finn me choca agarrando um punhado do meu cabelo e


puxando - não forte o suficiente para doer, mas forte o suficiente
para empurrar minha cabeça para frente. Então se posiciona perto
do lóbulo da minha orelha, seu hálito quente fazendo cócegas na
minha pele, e sussurra — Ela sabia seu nome porque o gemi, porra.

Tenho certeza que minha alma deixa meu corpo naquele


momento.

— Você o quê?

Não tem jeito. De jeito nenhum Finn realmente disse isso para
mim.
Será que imaginei?

A resposta fica clara quando se afasta.

— Você me ouviu — Finn range os dentes. Parece zangado


consigo mesmo. Como se estivesse cansado de lutar em uma
guerra que está fadado a perder. — Você, estava na porra da minha
cabeça enquanto fodia outra garota.

Minha mandíbula cai aos meus pés.

— Foi a porra da sua boca perfeita em volta do meu pau, seus


olhos inocentes me olhando. Porque é sempre você hoje em dia.
Sempre. Você. Porra. — Enfatiza cada palavra, me encarando nos
olhos antes de dizer — É isso que queria ouvir?

Estou sem chão. Não há palavra melhor para isso.

— Você é nojento. — A mentira faz minhas cordas vocais


doerem.

— Eu lhe fiz uma pergunta. — Finn solta meu cabelo, apoiando


a palma da mão contra a prateleira de vinho atrás de mim e me
prendendo.

Estamos tão perto que seus lábios roçariam os meus se apenas


empurrasse minha cabeça para frente. Ele cheira tão bem quanto
na noite em que me encontrou em sua cama, e é tão
devastadoramente lindo, mas há uma grande diferença.

Ele não é o único de quem tenho mais medo. Eu também tenho


medo de mim.
— Eu disse, é isso que queria ouvir? — Insiste, seu olhar
caindo em meus lábios por um momento que me empurra
perigosamente perto da borda.

Deus, quero beijá-lo. Quero tanto beijá-lo. O que há de errado


comigo?

— É, posso dizer. — Finn dá um sorriso satisfeito, e meu ego


pisa no freio.

— Como pode ter tanta certeza?

Sua confiança não vacila nem um pouco. Então, ele acaba


comigo.

— Porque está separando suas malditas pernas para mim.

Estou mortificada quando olho para as minhas coxas. Ele tem


razão.

Estou abrindo minhas pernas para ele. Marcando-me como


“aberta para negócios" sem perceber. Atrevo-me a esperar que me
poupe de mais humilhações, mas, é claro, não termina aí.

— E porque, se eu fosse beijá-la agora mesmo... você não me


impediria.

Eu deveria correr. Por que não estou correndo?

— Você esquece que eu te odeio.

Ele dá uma risada amarga e sussurra — Você esquece que


posso ouvir sua respiração.

Mate. Me. Agora. Mais uma vez, ele está certo. Ele me deixa
toda ardente e incomodada.
— Você me deixaria beijá-la, Gem. E o que é pior, gostaria.

Quero puxá-lo para mim e descobrir.

— Você é louco se acha que não iria impedi-lo.

— Mesmo? — Finn zomba.

Por um milésimo de segundo, o tempo pára. Até Finn tirar tudo


com três pequenas palavras.

— Então, me pare.

Sua boca desce sobre a minha tão rápido e forte que perco todo
o equilíbrio. Finn envolve o braço em volta da minha cintura antes
que caia, mas minhas costas ainda batem contra a prateleira de
vinho atrás de mim, o impacto chacoalhando as garrafas de vinho
como um terremoto.

Imaginei meu primeiro beijo muitas vezes antes. O beijo


perfeito com o cara perfeito.

Príncipe Encantado deveria ser gentil, atencioso, gentil, mas o


menino devastando minha boca? O diabo destruindo cada uma
das minhas expectativas?

É tudo menos isso.

Finn está faminto, exigente, possessivo na forma como


reivindica minha boca, e estou feliz em deixá-lo liderar, apesar dos
alarmes ensurdecedores soando na minha cabeça. Sei que não
deveria ser ele. Não deveria ser meu primeiro beijo.

Ele não é o cara que vi em meus sonhos.


E ainda assim... quando sua língua abre caminho entre meus
dentes e sua mão circunda minha garganta grosseiramente, quero
que o Príncipe Encantado se foda para que possa segurar meu
vilão um pouco mais.

Meus joelhos quase cedem quando chupo seu lábio inferior,


mordiscando-o desajeitadamente, e um gemido primitivo sai de
algum lugar no fundo de sua garganta.

Diga-lhe para parar. O que está esperando?

Meu corpo rebaixa meu cérebro para o lado, e abraço as mil


maneiras pelas quais inevitavelmente nos espatifaremos e
queimaremos, mas nada, nem mesmo as imagens horríveis de
nossos corações em chamas explodindo em mil pedaços, é
suficiente para me repelir.

Deus, ele beija tão bem.

Sinto como se pudesse desmaiar a qualquer momento, como


se meu corpo não pudesse sustentar seu beijo, e acabo agarrando
sua camisa de garoto rico como se fosse um bote salva-vidas.
Estamos agarrando os cabelos, roupas, rostos um do outro,
perseguindo uma solução que está nos iludindo, e nem reagimos
quando uma garrafa de vinho escorrega da prateleira e bate no
chão. Mal ouço a garrafa quebrar.

Eu mal noto o líquido se acumulando aos meus pés. Tudo o


que posso sentir é Finn interrompendo o beijo por um momento,
em seguida, colocando as mãos em volta das minhas coxas para
me levantar em seus braços.

Minhas pernas envolvem sua cintura enquanto Finn bate


nossos corpos contra a prateleria mais uma vez, suas palmas
segurando minhas nádegas em busca de apoio. Então está me
beijando novamente. E de novo. Sempre pensei que meu primeiro
“namorado” iria devagar, mas agora que estou dando meu primeiro
beijo no monstro dormindo no corredor…

Eu não quero — lento. Quero bruto. Quero rude. Quero tudo


o que não deveria.

Não consigo parar de choramingar em desaprovação no


segundo em que seus lábios se desconectam dos meus para
arrastar beijos torturantes por todo o meu queixo. Eu o ouço dar
uma risada rouca do meu desespero antes de correr a língua pelo
meu pescoço lentamente, até o lóbulo da minha orelha.

Maldito inferno.

Eu tremo profundamente em meus ossos quando seus dentes


afundam no lóbulo da minha orelha, e puxa com força, atraindo
um gemido tímido da minha garganta.

Um gemido. É isso. Um gemido e o sinto endurecer contra


minha legging.

Antes que perceba, ele está se esforçando contra o tecido de


seu moletom, e abro minhas pernas como se fosse seu próprio
brinquedo de foda pessoal. Eu me odeio por isso, mas isso não me
impede de apertar meus tornozelos atrás de suas costas. Sei que o
atrito que procuro nos colocará em rota de colisão com o desastre,
mas não poderia me importar menos.

— Porra, Dia — Finn sussurra por entre os dentes.

Ele acabou de… Ele disse meu nome pela primeira vez.

Ele. Disse. Meu. Nome.


Não “Gem”; não “garota babá”.

Dia.

Por que soa tão bem saindo de sua língua?

Operando na luxúria, começo a me mover para frente e para


trás, me esfregando contra ele até...

Puta merda.

Minha boca se abre com o prazer passando pelo meu


estômago. Ele está duro como pedra agora, seu eixo coberto
atingindo cada terminação nervosa no meu clitóris com cada
impulso dos meus quadris.

Isso não pode estar acontecendo.

Eu travo os olhos com Finn na escuridão da adega. Só então,


quando o bebo, sua boca aberta, seus olhos castanhos brilhando
com más intenções, percebo o que estou fazendo... Estou
transando a seco com ele.

Estou transando com o filho do meu chefe em uma adega às


três da manhã.

Com um sorriso malicioso nos lábios, observa seu


comprimento deslizar para cima e para baixo na minha fenda
sobre o tecido da minha legging, então pega um punhado do meu
cabelo novamente, causando um pouco mais de dor do que antes.
— Gosta de me usar, não é, Gem? — Sua voz é profunda e carnal.
— Gosta de usar o pau do filho do seu chefe para gozar. Diga.

Meus mamilos endurecem com suas reivindicações.


— Eu... gosto de usá-lo. — Vacilo. Minhas bochechas ficam
vermelhas quando a pressão entre minhas pernas se torna
insuportável, e jogo minha cabeça para trás com um gemido tão
cru e sem filtro que Finn solta uma maldição estrangulada.

— A coisa toda. Diga — insiste.

Eu hesito. — Eu…

— Porra, diga isso ou vou parar.

É tudo que preciso para ceder. — Gosto de usar o pau do filho


do meu chefe para gozar — admito com vergonha.

— Essa é a minha garota. — Finn grunhe em agradecimento.

O. Que. Eu. Me. Tornei.

Como se para me recompensar, Finn se agarra na base e


desliza a cabeça de seu pau cada vez mais rápido contra meu
clitóris por vários minutos até minhas coxas apertarem. Começo a
balançar em seu abraço.

Merda, eu estou... Estou prestes a gozar?

Ele nem me tocou. Bem, na verdade não. Ainda estamos


completamente vestidos, pelo amor de Deus. Não há nenhuma
maneira de eu estar prestes a…

— Finn. — Minha boca cai aberta.

Soa como um pedido de ajuda, como se não soubesse o que


fazer comigo mesma ou com esse prazer, e ele me lê alto e claro.
— Vai gozar, não é? — Rosna, aproveitando o aperto que tem
no meu cabelo para me forçar a olhar para ele e apertando minha
garganta. — Vai gozar para mim como uma boa garota do caralho?

Sua conversa suja me leva ao limite, mas assim que o prazer


avassalador toma conta de mim... A culpa também.

A realidade me alcança, o medo de perder não apenas o


emprego, mas também o coração disparado no peito. Finn percebe
minha angústia imediatamente, batendo seus lábios sobre os
meus e sussurrando em minha boca.

— Fique comigo.

Respire, Dia. Porra respira.

— Aqui e agora, Dia. Nada mais — acrescenta, perfurando


suas palavras em meu cérebro e observando enquanto chego ao
ponto sem retorno.

— Aqui e agora — resmungo, me rendendo ao orgasmo e os


arrependimentos que sei que certamente seguirão. Estou a
segundos de me desfazer quando a boca pecaminosa de Finn
também se abre.

— Ah, foda-se. — Sua mandíbula flexiona enquanto acelera


seu impulso. — Foda-se, Dia — chama novamente, seu corpo
empurrando contra o meu. — De jeito nenhum, porra.

Ele soa como se não pudesse acreditar no que está


acontecendo. Como se o pensamento de ele derramando em seu
moletom sem ter sido tocado diretamente é inconcebível para ele.
Sou um caso perdido antes que possa pensar demais.
Finn aninha seu rosto no meu pescoço, respirando mais
rápido enquanto cavalgamos as ondas de nossos orgasmos juntos,
sabendo muito bem que assim que despencarmos de volta à terra,
tudo mudará.

E com certeza, a partir do momento em que nossa respiração


se estabiliza e as consequências do que fizemos afundam, a
distância metafórica entre nós cresce oitocentos quilômetros.

Ele ainda tem o nariz enterrado no meu pescoço, mas está


longe agora. Meu estômago se contorce em um nó enquanto
lutamos para recuperar o fôlego. Finn desata minhas pernas de
sua cintura e me coloca no chão no segundo seguinte.

Espero que me congele como fez com Louise, mas... inclina


meu queixo para frente e me beija em vez disso.

Ele me beija com tanta força que suspiro.

Sua língua desliza dentro da minha boca, e embora não


entenda nada sobre o que está acontecendo, acolho seus lábios
sem pensar duas vezes.

É quando o feitiço se quebra. Ele se afasta como se tivesse


acabado de ser eletrocutado.

Como se tivesse acabado de perceber o que estava fazendo, e


não fazia parte do plano. Lentamente, o ódio volta para seus olhos
afiados, e suas feições regressam para a carranca que passei a
odiar.

— Finn — sussurro, tola o suficiente para esperar que


possamos conversar sobre o que aconteceu, mas ele não está
aceitando.
Sem me poupar um olhar, ajusta suas calças – mais
precisamente, o que sobrou de sua ereção – e se vira para ir
embora.

— Não me siga — cospe.

Então ele desaparece.


Quantas bolhas pode ter antes que seus pés parem de
funcionar?

Meu primeiro palpite era oito, mas estou chegando ao dez, e


bem, ainda estou andando. Duas semanas inteiras se passaram
desde que meu irmão decidiu que não me levaria mais para o
trabalho.

Surgiu do nada. Jesse entrou na cozinha em um fim de


semana e me disse que estava farto de entreter minha “bobagem”.
Algo sobre recusar a fazer parte da minha horrível decisão de
concluir este trabalho. Disse que se eu quisesse continuar
trabalhando para o Sr. Richards, teria que encontrar uma maneira
de chegar lá sozinha.

Pensei em contar aos meus pais, mas estava nervosa que Jesse
fosse retaliar e me delatar por viver com um menino. Então,
concordei em fingir que meu irmão ainda estava me levando
quando, na verdade, ando por uma hora toda sexta e domingo.

Não é a caminhada de uma hora que está me matando. São os


sapatos de má qualidade. Devem ter pertencido à minha irmã por
cinco anos antes de serem passados para mim, mas cada centavo
que ganhei até aqui foi para comprar meu carro. Os sapatos terão
que esperar.

São quase 21:00 quando caminho pela entrada da mansão dos


Richards com minha bagagem. Diminuo a velocidade ao ver o carro
de Finn estacionado na entrada, minhas costelas comprimindo o
tambor alto onde meu coração deveria estar.

Merda, ele está aqui.

Não o vi muito desde a incidente na adega… estava grata por


sua ausência, em primeiro lugar. Finn ficando fora o tempo todo
significava que não haveria risco de o fiasco da transa seca
acontecer novamente, mas ficou claro que ele está me evitando.

Ele nem vem para casa para dormir na maioria dos dias. E
quando vem, sai antes de eu acordar. Sabia que nos
arrependeríamos do beijo e bem... as outras coisas, mas não achei
que ele fosse sumir da face da terra.

Tem estado quieto ao redor da casa. Tão quieto que me peguei


desejando que Theo brigasse com seus pais e voltasse algumas
vezes. Respiro fundo enquanto destranco a porta da frente e a
abro.

Percebo que as luzes estão acesas na cozinha e reconheço o


som da geladeira fechando.

Lexie corre para mim na hora, sua recepção calorosa é uma


cura temporária para minha ansiedade. Eu a acaricio por alguns
minutos antes de marchar direto para a cova dos leões.

Todos os músculos do meu corpo estão tensos quando agarro


a alça da minha bolsa e viro o corredor. Encontro Finn na pia,
servindo-se de uma tigela de cereal. Seus olhos castanhos piscam
para mim quando entro, uma pitada de desejo percorrendo todo o
meu corpo.

Sim, ele ainda é bonito. Esperava que ficar longe dele por um
tempo acabasse com essa atração, mas assim que nossos olhos se
encontram, minha mente abre a porta para uma memória sombria
e distorcida.

Vai gozar, não é? Sua voz ecoa na minha cabeça


repetidamente. Vai gozar para mim como uma boa garota?

— Por que demorou tanto? — Sua pergunta rude me choca.

Pisco de volta à realidade. — Não é da sua conta.

Não afetado pela minha resposta mordaz, Finn morde de volta


uma zombaria. — Precisa de alguma ajuda com isso?

— Com o quê?

— Tirar esse pau da sua bunda.

Não deixo seu comentário sobre meu mau humor me


perturbar, e dou um sorriso cheio de ódio estampado em meu
rosto. — Lembre-me novamente por que eu aguento você?

Parecendo mais divertido do que irritado, Finn se senta em um


dos bancos ao redor da ilha da cozinha e levanta as mãos. — Não
posso ajudá-la com isso. Estou tentando descobrir isso desde o dia
em que chegou aqui.

— Não que isso lhe diga respeito, mas estou economizando


para um carro — eu o ilumino.
Ele não responde, comendo seu cereal como se eu fosse um
fantasma tentando me comunicar com os vivos.

Tudo bem então.

Eu viro para sair, pronta para correr pelas escadas.

— Gem? — Chama atrás de mim.

Viro para olhar para ele, e sua boca se abre por um segundo.
Tenho a sensação de que quer dizer algo importante e, por um
momento, sou burra o suficiente para pensar que pode estar
pronto para reconhecer o que aconteceu.

— Deixe-me saber se planeja aparecer tão tarde todos os


domingos. Prefiro não passar fome.

Dito isso, continua a comer seu cereal e me trata como um


móvel. Claro. Chegar aqui tarde aos domingos significa que não há
mais preparação de refeições para a semana, portanto, não há
mais comida para Sua Majestade.

Irritada, não perco o fôlego respondendo e subo as escadas


correndo. Estou irrompendo pelo meu quarto e despejando meus
pertences na minha cama alguns segundos depois. Tudo está
oficialmente de volta ao normal.

E o garoto que sussurrou segredinhos sujos no meu ouvido...?

Ele não voltará.


Sou a pior babá de cachorro de todos os tempos.

Sério, que tipo de babá de cachorro leva um cachorro de nove


anos para passear no meio de uma onda de calor? Para ser justa,
não sabia quando decidi levar Lexie para passear esta manhã que
Silver Springs se transformaria em uma fornalha.

Estamos andando pela cidade há quase duas horas. Tivemos


que fazer várias pausas para não morrer de sede, e estou
começando a me perguntar se deveria ligar para Aveena e implorar
por uma carona.

Estamos sem água também, e estamos a trinta minutos a pé


de casa.

Não é meu momento mais brilhante.

Sei que é o suficiente quando Lexie começa a ofegar ao meu


lado. Estou vestindo shorts e uma regata, e estou praticamente
derretendo. Não posso imaginar o quão quente ela deve estar com
todo aquele pêlo.

Pego meu telefone do bolso, pronta para discar o número de


Aveena, quando uma mensagem aparece na minha tela. Uma
mensagem de Finn.

Nós o encontramos em nosso caminho mais cedo. Ele tinha


acabado de sair da cama, parecendo a porra de um deus, como
sempre.

Clico em sua mensagem instantaneamente.

Finn : Você se foi há quase duas horas.


Outra mensagem chega um segundo depois.

Finn : Lexie está bem?

Engulo uma zombaria de sua franqueza. Nós duas estamos


bem. Obrigada por perguntar.

Envio uma mensagem de volta rapidamente.

Dia : Está quente pra caralho, e estamos sem água. Podemos demorar
um pouco.

Sei que ele viu a mensagem quando o recibo de leitura aparece


na minha tela, mas não responde. Eu tento Aveena e Jesse
algumas vezes, mas nenhum deles atende.

Merda, ligo para meus pais?

Se me deixarem em casa e descobrirem que moro com um


rapaz, estou acabada. Antes que perceba, dez minutos se
passaram. Lexie diminui a velocidade quando lutamos para subir
uma colina íngreme, sua respiração ofegante se tornando mais
óbvia e superficial.

Foda-se, estou ligando para meus pais.

Uma gota de suor rola pela minha testa quando desbloqueio


meu telefone para discar o número do meu pai. Só que um carro
vira a esquina com um guincho alto antes que possa pressionar
Ligar. Eu o reconheço instantaneamente.

Ele buzina para nós no momento em que nos nota,


desacelerando ao nosso lado, então parando completamente. Ele
abaixa a janela e destranca as portas com um clique de um botão.

— Entre. — Finn gesticula com o queixo e, por mais irritada


que esteja com ele ultimamente, nunca fiquei tão feliz em vê-lo.

É por isso que ele não me respondeu antes? Porque entrou em


seu carro assim que eu disse a ele que estávamos morrendo de
calor? Não penso duas vezes, abrindo a porta traseira e ajudando
Lexie a sentar no banco de trás. Subo no banco do passageiro de
Finn e aperto o cinto.

— Acabou de dirigir por toda a cidade para nos encontrar? —


Pergunto enquanto pisa no acelerador.

— Lexie tem um rastreador GPS na coleira. — Finn dá de


ombros, seu bíceps tatuado é tudo que posso ver enquanto segura
o volante com um braço.

— Oh. — Concordo. — Obrigada, de qualquer maneira.

— Não fiz isso por você — diz secamente.

Se eu ganhasse um dólar para cada vez que esse cara se


esforça para me lembrar que não se importa, poderia comprar uma
consciência para ele.

— Tanto faz — murmuro e olho pela janela, ainda suando pra


caramba. Os assentos de couro escaldante de Finn não estão
ajudando exatamente. — Pode ligar o AC?
— Está ligado.

— Não está funcionando — cuspo. Se ele será um idiota


comigo, também posso ser uma. Eu tento abrir minha janela, mas
Finn trancou todos do seu lado.

— Destranque as janelas — ordeno.

— O ar condicionado vai entrar em ação. Espere um minuto


— Finn argumenta, mas não aguento mais um segundo desse
calor.

— Pelo amor de Deus — bufo e desafivelo meu cinto de


segurança.

Estou me inclinando sobre ele antes que possa reagir, meus


seios roçando seu braço. Ouço sua respiração ficar presa em sua
garganta, mas não me empurra. Não posso acreditar em minhas
próprias ações quando coloco minha mão em sua coxa, não muito
longe de sua virilha, agindo como se não percebesse o que estou
fazendo. Estico meu braço e destranco as janelas.

Percebo seu aperto no volante cada vez mais forte quando me


afasto.

Eu sabia. Ele também sente.

E pode fingir que não se lembra daquela noite na adega o


quanto quiser, mas seu corpo não esqueceu. Tirando minha mão
de sua perna, me recosto no meu assento e aperto o cinto. Abro a
janela para aproveitar a brisa e, para minha surpresa, Finn não
diz nada.

Nem uma palavra.


Alguns minutos se passam antes de eu reunir coragem para
falar novamente.

— Por que chamou seu carro de Remy? — Pergunto,


intrometida como sempre.

Eu praticamente desisti de todas as maneiras quando se trata


desse cara. De agora em diante, só o tratarei tão bem quanto me
trata.

Finn pressiona os lábios em uma linha apertada com a minha


pergunta. — Você já sabe que carro vai comprar?

Sua mudança repentina de assunto não passa despercebida


por mim, mas escolho não apontar isso.

— Eu sei. Está na garagem do empregado do meu pai, apenas


esperando que eu o compre.

— Tem alguma foto? — Finn pergunta.

Estou bem ciente de que está apenas tentando evitar discutir


o misterioso Remy, mas jogo junto, vasculhando meu telefone para
uma foto enquanto dirige. Encontro uma bem a tempo para a
próxima luz vermelha e coloco minha tela em seu rosto.

Finn avalia meu carro verde por longos segundos antes de


reprimir uma risada.

— O quê? — Eu o chamo.

— Isso é... uma escolha interessante.

— Está chamando meu carro dos sonhos de feio?


Finn sorri, vira a cabeça na minha direção e me dá uma olhada
no banco do passageiro.

— Pode apostar sua bunda doce que eu estou.

Ele acabou de dizer que tenho uma bunda doce? Oh meu Deus,
Dia, pare.

— Como eu disse, odeia tudo. Falando nisso, você ainda me


deve uma coisa que não odeie.

Ele dá de ombros. — Só porque seu carro é feio não significa


que eu odeie tudo.

Um suspiro alto sai dos meus lábios no segundo seguinte,


assustando-o.

— Viu aquilo? — Pergunto.

— Ver o quê? — Diz.

— Minha última foda acabou de sair voando pela janela. —


Gesticulo, e Finn dá uma risada que me faz querer procurar em
cada canto do meu cérebro por outra piada.

Qualquer coisa para ouvir aquela risada novamente.

— Quanto tempo até que possa comprá-lo? — Revive a


conversa quando paramos em sua garagem, e diminui a velocidade
no chafariz.

— Estou com quinhentos a menos. Quinhentos, e depois você


se livrará de mim. Feliz? — Provoco, convencida de que ele só está
interessado porque quer que eu vá embora.

Sua resposta me deixa sem fôlego.


— Não é por isso que estava perguntando. — Ele mantém o
contato visual.

Incapaz de pensar em uma única resposta, fecho minha boca,


rapidamente compreendendo que ele está apenas nos deixando
quando não desliga o motor.

— Você não vem? — Desafivelo meu cinto de segurança.

— Não, alguém está me esperando.

Estou louca para perguntar quem é esse alguém, mas decido


não, saindo do carro e abrindo a porta de Lexie.

— Ei, Gem? — Finn chama enquanto estamos indo para a


casa.

Eu paro para olhar de volta para ele. Está com a janela


abaixada, esse sorriso de cair a calcinha no rosto e um mundo de
segundas intenções em seus olhos.

— Não se esqueça de cobrá-lo.

Então, sem mais explicações, vai embora.

Espere o quê?
Brody: A garota com a bunda chata já desistiu?

O céu está escuro como breu quando estaciono na garagem e


leio a mensagem do meu irmão. Brody Richards é um idiota. É de
conhecimento geral neste momento. Só não percebi que era um
idiota cego. A babá da casa é um monte de coisas – teimosa, astuta,
mal-humorada – mas não é chata. Não por qualquer extensão da
imaginação.

Meus dedos digitam uma resposta rápido demais para eu


acompanhar.

Finn: Não. Ainda aqui.

A resposta do meu irmão aparece no meu telefone


imediatamente.
Brody: Sei de algo que a faria correr para casa do seu irmão
mentiroso, se estiver interessado...

Duas semanas atrás, teria aproveitado a oportunidade para


descobrir qualquer segredo fodido que meu irmão está guardando.
Qualquer coisa para tirar essa garota da porta, mas agora... nem
tenho certeza se vale a pena o esforço.

Estou começando a me acostumar a tê-la por perto, e ninguém


está mais chocado do que eu, mas meu pai pode ter percebido
alguma coisa quando a contratou.

A sua presença me permite fazer o que eu quiser sem ter que


me preocupar com Lexie. Não poderia ficado na casa de Theo até a
meia-noite de hoje se não fosse por ela.

O idiota precisava de mim – bem, precisava de alguém – mesmo


que nunca admitisse isso. A merda está ficando muito ruim na
casa dos Coxes. Sei que Theo só me convidou para ser enforcado
porque esperava que seus pais parassem comigo lá. E ele estava
certo.

Eles morderam a língua durante a maior parte da noite, e Theo


fez um trabalho maravilhoso em fingir que seu relacionamento com
seus pais não era um incêndio no lixo.

Deixando a mensagem do meu irmão sem resposta, enfio meu


telefone no bolso de trás e me arrasto para fora do carro. Lexie me
cumprimenta na porta da frente, e estou um pouco surpresa ao
vê-la lá. Já passa da meia-noite e sempre dorme na cama de Gem.
Geralmente está dormindo lá em cima agora.
A menos que... Gem a expulsou? Quase deixo cair minhas
chaves quando ouço.

O som fraco e distante de… Zumbindo? Estou alucinando?

Percebo minha respiração acelerando enquanto subo as


escadas, rastreando o barulho até o segundo andar. Estou na
porta da babá um segundo depois, o zumbido mais claro do que
nunca.

A porta do seu quarto está entreaberta e, sob o luar, a vejo


deitada na cama, usando um sutiã de renda, a parte inferior do
corpo escondida sob as cobertas e a boca carnuda aberta.

Santo inferno. Ela está usando. Está usando o brinquedo


sexual que dei a ela.

Embalei um vibrador em uma caixa hoje e deixei em sua cama


com uma nota dizendo para esfregar um e corrigir suas mudanças
de humor. Só estava tentando mexer com ela - tem estado irritada
a semana toda - mas não achei que realmente tocaria nisso.

Bem, tocar-se. Porra, eu deveria ir embora, mas estou duro.

Estou tão duro, porra, que meu pau aperta contra minhas
calças, ansiando por liberdade. Sua respiração está pesada, seu
peito subindo e descendo enquanto gira o brinquedo sob o cobertor
e engasga com um gemido que temo que possa me matar.

O corredor está encharcado de escuridão, e não pode me ver


olhando para ela. Nem pode me ver deslizando minha mão dentro
da minha cueca como um maldito idiota.

Jesus, Finn, pare.


Não posso. Eu não posso parar.

Inspiro uma respiração afiada quando coloca a mão esquerda


sobre o sutiã. Ela é impecável. À queima-roupa. Ela é aquilo que
meus pesadelos mais doces são feitos. Uma coisinha inocente e
astuta que faria qualquer coisa para provar, mas é quando desliza
a mão dentro de seu sutiã e aparece um de seus seios que
estrangulo meu pau. Seu seio é lindo, grande o suficiente para
caber na palma da minha mão, e seu mamilo... quero chupar esse
mamilo na minha boca.

Porra, me sinto como um criminoso.

Como se estivesse assistindo a um show para o qual não tenho


ingressos, mas sou incapaz de desviar o olhar. Eu me perco em
seu corpo. Aqueles seios redondos e empinados, seus cachos
pretos fluindo pelo ombro e aquela barriga apertada. Está suada,
o formato de suas pernas abertas é evidente através do cobertor.
Essa porra de garota. Eu me agarro lentamente, a princípio. Então
me imagino gozando em sua boceta, sua língua saindo, me
implorando para encher sua garganta, e sou um caso perdido.

A próxima coisa que sei, estou me masturbando com ela,


guiando minha mão para cima e para baixo no meu eixo mais
rápido a cada golpe. Roubando-lhe um momento que pensa ser
privado, e a pior parte? Estou muito envolvido na sua visão para
me importar.

Ela empurra o cobertor mais abaixo em seu estômago, apenas


o suficiente para eu ver o formato de sua mão enquanto acelera
seus círculos e agarra seu seio novamente, suas costas arqueando
um pouco.

Foda-se.
Eu levanto minha palma para minha boca e cuspo nela, então
envolvo minha mão em volta do meu pau novamente, ganhando
velocidade. Se ela empurrasse aquele cobertor mais um
centímetro, gozaria em dois segundos. Meu pau estremece quando
joga a cabeça para trás com um rosnado irritado.

Ela perdeu. O ponto G. E não está feliz com isso.

— Vamos. — Ela parece dolorida.

Eu venderia a porra da minha alma para ajudá-la a encontrá-


lo novamente.

— Vamos — repete, sua respiração difícil, e minha mandíbula


flexiona. Se eu continuar assim, vou explodir, e está se tornando
mais difícil ficar quieto.

— Sério? — Bufa um momento depois.

Qualquer controle que pudesse ter sobre meu corpo é drenado


de mim quando abafo um gemido e retiro minha mão do meu pau.

Eu me surpreendo ao abrir a porta do seu quarto e pegá-la em


flagrante. Posso não saber nada sobre o meu próximo passo, mas
sei de uma coisa…

Terminarei a noite com as suas pernas em volta do meu


pescoço.
Prezada Gem,

Receio ter que insistir que use este presente nos


menores atrasos e corrija suas mudanças de humor.

Urgentemente,

Do Seu companheiro de casa que não aguenta mais


passar mais um dia com seu rabo mal-humorado.

Era o que dizia a nota. Bem direto, certo? Errado.

Veja bem, o que a nota não mencionou é que o filho do meu


chefe acabaria indo para cima de mim com um vibrador entre
minhas pernas...

Encontrei o brinquedo logo depois que Finn nos deixou e, a


princípio, não tinha intenção de usar a maldita coisa. Até que saí
do chuveiro de camisola por volta das onze e vi a caixa na minha
mesa de cabeceira.

Era óbvio que Finn estava apenas brincando comigo e não


esperava que o usasse, o que, por algum motivo, me fez querer
usá-lo ainda mais. Decidi que não faria mal experimentar um
brinquedo pela primeira vez, o que nos leva ao momento mais
mortificante da minha vida.

— Finn, que porra é essa? — Minha voz sai como um grito


estridente e em pânico.
Sento-me e puxo o cobertor sobre o meu corpo. Estou vestindo
nada além de um sutiã e um roupão aberto, mas não quero correr
o risco de exibi-lo fechando-o. E o que é pior, estava tão focada em
não mostrar a ele as mercadorias que não tive a chance de desligar
o brinquedo. Ainda está vibrando e pulsando entre minhas pernas,
e o ângulo recém-descoberto é, bem, uma revelação.

Porra. Agora não.

— Precisa de ajuda com isso? — Finn está na minha porta,


seus braços cruzados sobre o peito e seu ombro apoiado contra a
soleira.

Quero me desintegrar quando me dá uma varredura lenta do


corpo.

Merda. Este olhar.

Está olhando para mim como um animal contemplando sua


próxima refeição. Como um monstro esperando para rastejar
debaixo da minha cama e me assustar pelo resto da vida. Sem
mencionar que viu meu peito.

Que horror.

Mesmo que fosse apenas por alguns segundos, ele... Espera.

Meus olhos disparam para suas calças, para a protuberância


empurrando contra o tecido, rasgando as costuras. Está duro
como aço e nem um pouco envergonhado por isso. Meus lábios se
abrem quando percebo...

Ele não me viu por apenas um segundo, não é?


— Esteve assistindo a coisa toda? — Digo, e minhas bochechas
queimam com uma mistura de raiva e vergonha.

— Eh, mais como testemunhar. — Finn dá de ombros, frio


como um pepino, e a pressão entre minhas pernas decide que
agora é um bom momento para desafiar meu cérebro. Um gemido
silencioso escapa dos meus lábios, cortando o ar.

Seus olhos imediatamente brilham.

— Acha que isso é bom, Mitchell? — Finn despreza, seu uso


do meu sobrenome e as bandeiras vermelhas em sua voz
alimentando minha vulnerabilidade. — Acha que isso é algo
comparado ao que eu faria com você? Alguma coisa comparada à
minha língua e meus dedos? Adorável.

Oh meu…

— Está fazendo isso errado, a propósito — acrescenta,


perfurando seu foco no brinquedo trabalhando meu ponto doce
sob o cobertor.

Ele está falando sério?

— Não preciso de suas dicas. Caia fora! — Atiro de volta.

— Oh, baby... eu te daria mais do que a gorjeta.

Minha boca vai de ligeiramente entreaberta para escancarada,


e me sinto tão impotente que é vertiginoso. Não posso deixá-lo ter
todo o poder aqui. Não fiz nada além de sofrer em suas mãos nas
últimas semanas – tecnicamente, o tempo na adega tinha a ver
com outra parte de seu corpo – e estou farta.
Cansei de me sentir prisioneira de um príncipe cruel. Deveria
ser aquela que o mantém em cativeiro.

Na tentativa de virar o jogo contra ele, faço a única coisa que


consigo pensar: ignoro-o. Desvio meus olhos, e depois de me
certificar de que o cobertor está escondendo meu corpo, me deito
na cama, de costas.

Então guio minha mão debaixo do cobertor sob o escrutínio de


Finn, a barraca em suas calças fazendo pouco para esconder os
pensamentos profanos em sua cabeça. Aperto meus olhos
fechados e despejo toda a minha energia no clímax.

Só que eu perdi o lugar. Novamente.

— Cai. Fora. — Meus dentes batem enquanto brinco comigo


mesma na frente do filho do meu chefe como um doente privado
de sexo.

— E perder o show? Foda-se — Finn grita, milhares de fogos


acendendo em seu olhar.

E ele não está brincando. Encosta-se na beira da minha cama,


me observando perseguir um orgasmo que não está em lugar
algum. Vou ter que expulsá-lo eu mesma, não vou?

— Saia. — Repito, mas a desonestidade escorre da minha voz.

Há uma parte de mim, enterrada no fundo, que quer que ele


ignore meu pedido. Uma parte de mim que quer que ele fique. Sou
rápida para fechar meu roupão debaixo do cobertor e remover o
brinquedo do meio das minhas pernas. Desligo-o e o jogo na cama.
Então corro em direção a ele, pronta para abrir a porta e chutá-lo
para fora.
Eu mal abro a porta um centímetro antes de sua mão pegar
meu pulso e bater a porta fechada novamente. Deixo escapar um
grito quando meu peito fica nivelado com a porta gelada. Finn
agarra meu outro pulso e junta minhas mãos atrás das costas
como se fosse me algemar e me jogar na traseira de um carro da
polícia. Estou à sua mercê, presa contra a porta, e mexo para a
esquerda e para a direita para me libertar.

— Saia de cima de mim — esbravejo por cima do meu ombro,


e Finn solta uma risada baixa e implacável que me faz tremer em
todos os lugares.

Estou presa.

Ele me enroscou em sua teia, e de jeito nenhum vai me deixar


ir. Inspiro quando ele fecha o espaço entre nós, pressionando seu
peito duro nas minhas costas para me manter firmemente no
lugar.

— Saia — repito em uma tentativa orgulhosa de salvar a cara.


A respiração de Finn desliza pela minha espinha enquanto
posiciona sua boca ao lado da minha orelha.

— Faça-me.

Obedeço, contorcendo-me contra ele, procurando uma saída,


mas não se mexe. Sinto cada centímetro da ereção de Finn contra
minha bunda. Quanto mais me contorço, mais duro ele fica, e fico
apavorada...

Porque não me sinto de todo presa. Eu me sinto viva, excitada


e, principalmente, envergonhada pelo quanto amo ouvir seus
gemidos enquanto “acidentalmente” me esfrego em sua virilha.
— Olhe para você, esfregando sua bunda em todo o meu pau
como a mentirosa imunda que é. — Finn grunhe no meu pescoço,
apertando meus cachos. — Diga-me que não quer que faça você
gozar bem aqui contra esta porta, eu te desafio.

— Como se você pudesse — digo para provocá-lo.

Ele não fala por um tempo.

— Isso foi consentimento? — Brinca, e mordo meu lábio. Não


tenho coragem de dizer isso em voz alta, então opto por uma
abordagem silenciosa, acariciando-o com mais força com minha
bunda.

— Porra, Dia. — Ele parece aflito, como se não pudesse


aguentar mais um minuto disso. Balanço para frente e para trás
contra ele, silenciosamente dizendo a ele o que já sabe.

Eu, Diamond Mitchell, quero que o filho do meu chefe faça coisas
profanas comigo contra a porta do meu quarto - vamos apenas dizer
que não prenderei a respiração por ser a Funcionária do Mês.

— Porra, aposto que também está encharcada. — Finn acerta,


e respondo abrindo minhas pernas para ele.

É isso, devo estar possuída.

Outra risada sai de sua língua. — Dê-me um sim, Gem.

Dia, não vá lá. Não vá por esse caminho com ele. Não

— S-Sim — sufoco.

Muito tarde.
— É uma boa menina — expira e arrasta um dedo pela minha
coxa. Não consigo suprimir um suspiro quando levanta meu
roupão, parando a centímetros de um lugar que ninguém jamais
tocou antes.

— Mais largo — instrui, e obedeço, oferecendo mais de mim e


tremendo de antecipação. Quase desmorono quando Finn puxa
meu roupão para fora do caminho e desliza um dedo dentro da
minha fenda.

Está acontecendo. Um cara está me tocando pela primeira vez.


E não é qualquer cara.

É a porra do Finn Richards.

— Tão molhada, porra. — Geme, e meus olhos reviram


enquanto guia seu indicador mais fundo para testar a água. Ele
corre o dedo para cima e para baixo no meu vinco lentamente.
Prazer troveja através de mim toda vez que roça meu clitóris, mas
nunca fica lá tempo suficiente para apagar o fogo.

— Venha aqui — resmunga, a palma da mão direita


envolvendo minha garganta por trás. Meu coração quase explode
no meu peito quando seus lábios batem nos meus. Eu o beijo de
volta por cima do ombro em um instante, a sensação de sua língua
se misturando com a minha substituindo meus sentidos.

Jesus, é sempre assim? Todo garoto beija assim, ou é só ele?

Minhas perguntas desmoronam quando Finn enfia um dedo


dentro de mim. Assim, toma outro dos meus primeiros, me
enchendo não com um, mas dois dedos e me fazendo suspirar em
sua boca. A sensação de plenitude é avassaladora, e está me
esticando até o limite, mas seu polegar encontrando meu clitóris e
girando forte e rápido supera a dor em nenhum momento. Posso
ouvir minha própria excitação à medida que nos beijamos, sinto o
resultado de seus dedos bombeando dentro e fora de mim cobrindo
o interior das minhas coxas. Menos de dois minutos depois, estou
recuando em sua mão para mais. Não reconheço a garota gemendo
no escuro. É uma estranha para mim.

Perigosa. Impulsiva. Imprudente. Ela não pensa, apenas


sente.

E se eu não estivesse tão ocupada montando a mão do meu


colega de casa e me odiando por isso, estaria tentando exorcizá-lo
de mim.

— O que quer? — Finn insiste. — Quer que eu estique mais


essa boceta apertada? Conte-me.

A promessa que fiz ao meu irmão de nunca se envolver com


Finn naquela primeira semana me vem à mente, e minha
consciência desafia meu coração para um duelo…

— Você sabe o que quero — choramingo.

Novidades: meu coração ganhou.

— Foda-se, sim, eu sei.

Essa é a deixa para parar de pegar leve comigo.

Eu bato as palmas das mãos na porta como se estivesse me


preparando para um prazer alucinante, e, com certeza, ele começa
a me foder com os dedos e esfregar meu clitóris com tanta
intensidade que grito, abafando meus gemidos com a mão. Suspiro
quando sua palma deixa minha garganta, e puxa meu roupão para
baixo completamente. O tecido cai em cascata até meus pés, e Finn
planta uma trilha de beijos para cima e para baixo em minhas
omoplatas. Arrepios imediatamente se juntam à festa. A próxima
coisa que sei, está segurando meu seio dentro do meu sutiã,
pegando um punhado e girando a ponta do dedo ao redor do meu
mamilo apertado.

A boca de Finn batendo na minha novamente


temporariamente me faz esquecer que esta é a primeira vez que
fico nua na frente de um cara – bem, quase nua. Ainda estou de
sutiã.

As coisas estão indo rápido demais, mas a última coisa que


quero é que ele pare. Meu gemido é impedido quando envolve a
mão em volta do meu pulso e me gira, minhas costas batendo
contra a porta com um baque. Seus dedos deslizam de volta para
a posição, e aperto meus olhos instintivamente. Não tenho
coragem de olhar para ele.

Uma coisa é ter o filho do seu chefe apalpando você por trás;
outra é ter que olhá-lo nos olhos enquanto incendeia todas as
promessas que você mesma fez.

Desde a primeira vez que o vi, sabia que estava atraída por ele,
e enquanto uma parte de mim iria até o fim do mundo para fingir
que tudo isso é... uma atração estúpida e sem sentido... vou olhá-
lo nos olhos e descobrir que é mais. Mesmo que seja apenas mais
para mim.

Mantenho meus olhos fechados por um tempo,


choramingando e me contorcendo enquanto o polegar de Finn
trabalha meu clitóris na velocidade máxima. Então, minutos
depois, o prazer atinge seu ápice e começo a tremer. Fogos de
artifício explodem em meus dedos dos pés, subindo pelas minhas
pernas, e meus gemidos crescentes falam por mim.
— Sim. Oh Deus. Sim. — Agarro seu peito, cravando minhas
unhas em seus ombros tatuados.

— Não. — A voz firme de Finn me assusta.

O que ele quer dizer, não? — O quê? — Meus olhos se abrem.

— Eu disse não. Você não goza.

Segundos antes do meu orgasmo, Finn para. Ele simplesmente


para.

Ele retira os dedos e sai, caminhando em direção à minha


cama. O prazer morre instantaneamente, e meu corpo se sacode
algumas vezes, o espaço entre minhas pernas parecendo
terrivelmente vazio.

— Que diabos? — Lamento. — O que está fazendo?

Ele não responde.

— Você é tão idiota.

— Huh-huh. — Finn dá uma risada.

Ele está de volta antes que eu perceba, mas... está segurando


o brinquedo sexual agora.

Isso é o que ele estava fazendo?

O zumbido do brinquedo me informa que acabou de ligá-lo.


Minhas costas se arqueiam fora da porta quando o posiciona no
meu clitóris e seleciona a configuração mais alta. Ainda por cima
com seus dedos mergulhados profundamente dentro de mim, e sei
que qualquer orgasmo que pensei que viria antes vai parecer
maçante em comparação.
Estou de volta para onde comecei um minuto depois.

— Finn! — Parece que estou implorando a ele, e odeio isso.

— Agora. — Ele me concede permissão. — Goze para mim, Dia.


Goze na porra da minha mão.

Aperto os olhos novamente, mas minha tentativa de proteger


meu coração sai pela culatra porque ele me beija rudemente e diz
— Abra os olhos.

Eu finjo que não entendi.

— Olhe para mim — Finn pede. — Porra, olhe para mim


quando gozar.

Então olho. Eu forço meus olhos a abrirem e absorvo tudo.

Aqueles olhos cheios de demônios, aquela boca suja e


malvada. A aura escura ao seu redor colidindo com a luz na minha.
E meu coração grita ao perceber quando gozo em seus dedos. Ele
não para de empurrar até que eu esteja desossada contra a porta.

Finn me dá um momento para recuperar o fôlego e abre um


pequeno sorriso, olhando direto para minha alma antes de dizer —
É assim que faz.

Ele termina com um impulso que tira um gemido estridente


da minha boca e puxa os dedos para fora de mim. Então gesticula
para que me mova, abre a porta e me deixa lá.

Bem desse jeito.

Minhas coxas cobertas com meus próprios sucos, pego meu


roupão que está acumulando poeira no chão e o coloco de volta.
Minhas pernas ainda estão tremendo quando me jogo na ponta da
minha cama, me perdendo no veredicto que li em seus olhos.

É apenas uma atração por enquanto, mas se me permitir cavar


mais fundo, verei uma boa pessoa onde todo mundo vê um
monstro, e que pode se tornar mais. E só há uma solução.

Assim que eu tiver o suficiente para um carro...

Estou fora desta casa.


Meus pais sempre me disseram para ter cuidado com o que
deseja. Que às vezes, conseguir o que quer é a pior coisa que
poderia acontecer com você…

Pensei que estavam exagerando, mas posso praticamente ouvir


os números no meu telefone rindo de mim enquanto ando pela
calçada com Lexie na coleira.

Meu extrato bancário diz que estou cerca de duzentos a menos


do meu objetivo. Mais alguns dias trabalhando para o Sr. Richards
e terei mais do que o suficiente para um carro.

E isso é uma coisa boa. Deveria estar feliz.

Afinal, prometi a mim mesma, quando Finn estava tomando


outro dos meus primeiros, que sairia desta casa assim que minha
carteira permitisse.

Entretanto... partir agora significaria dizer adeus a Lexie três


semanas antes. Fazer as malas seria igual a nunca mais vê-la.
Duvido que o Sr. Richards me queira por perto quando voltar de
suas férias.
A casa está estranhamente silenciosa quando marchamos
para dentro depois de nossa caminhada da tarde. Só vi dois carros
estacionados no estacionamento no meu caminho - um vermelho
que sei de fato pertence a Theo e um prata que nunca vi antes.

Theo está de volta para sempre? Ou apenas visitando?

Eu mal libertei Lexie antes que fosse para sua cama de


cachorro. Ela se joga na almofada e cochila quase imediatamente.
Parece cansada esses dias, o que não é surpreendente
considerando sua idade, mas sua queda de energia está se
tornando mais difícil de ignorar. Ela também está respirando mais
pesadamente em nossas caminhadas. Como se estivesse lutando.
A primeira vez que aconteceu foi no dia em que ficamos presos no
calor, então não pensei muito nisso, mas está acontecendo cada
vez mais. O veterinário fez alguns exames para seu check-up
anual, e ainda estamos aguardando os resultados.

Espero que tudo volte ao normal.

Caminho até a geladeira para pegar uma garrafa de água e


desacelero quando vejo três pedaços de fita adesiva em cima da
porta – sem dúvida cortesia de Finn. Palavras estão rabiscadas
sobre ela, e reconheço sua caligrafia pelo bilhete que prendeu no
vibrador três dias atrás.

Theo está voltando, achei que deveria saber.

PS.: Se ele disser que comi todos os biscoitos que


fez, está mentindo.

PPS.: Tudo bem, eu os comi.


Uma zombaria sai de mim, e pressiono meus lábios como se
para impedir que evolua para uma risada. Prefiro não estar bem
com ele quando for embora. Não conseguiria lidar com minha
última lembrança dele sendo aquele maldito sorriso de parar o
coração.

Não ajuda que tenha sido surpreendentemente decente comigo


desde que tivemos preliminares sexuais. Trocamos conversa fiada
e saudações quando nos encontramos, para não mencionar a
excelência em fingir que nunca me fodeu com o dedo para o céu.

Empurrando Finn para fora da minha mente, pego minha


água e fecho a geladeira. Estou vagando pelo pátio com a intenção
de me aquecer um pouco ao sol quando percebo que alguém
chegou antes de mim.

Lacey Mattson, para ser exata. A garota é bem conhecida na


escola como capitã da torcida, “amiga” de Brielle Randall – todo
mundo sabe que elas se odeiam secretamente – e, por último, mas
não menos importante… a peguete do Theo.

Há rumores de que ela e Theo eram amigos com benefícios


durante a maior parte do primeiro ano até que uma gravidez
assutou Theo, literalmente. Ele surtou, distanciou-se, e desde
então estão indo e vindo, ocasionalmente terminando juntos na
cama em festas.

Aveena, que mora em Silver Springs há muito mais tempo do


que eu, diz que Lacey é obcecada por Theo desde a terceira série,
mas depois da puberdade, Theo nunca poderia vê-la como mais do
que um acessório conveniente. Agora que penso nisso, aposto um
bom dinheiro que foi com ela que Theo fugiu na noite da festa de
Brody. A sua relação de foda também explicaria a presença dela
aqui.
Em um biquíni roxo, Lacey relaxa na piscina em uma
espreguiçadeira. Um coque bagunçado está em cima de sua
cabeça, seu telefone ao seu lado na espreguiçadeira. Abre os olhos
quando ouve a porta de vidro se fechar. Lacey pisca para mim por
um momento, seu rosto bronzeado indecifrável. Eu não tenho
certeza do que fazer.

Eu me apresento? Pergunto a ela o que está fazendo aqui? Se


minhas interações com Brielle e Louise são algo para se passar, as
líderes de torcida da Easton High não são grandes humanos com
não populares. Suponho que vai me ignorar do jeito que todos os
membros da torcida fariam, mas então...

— Oi, sou Lacey.

Imediatamente examino o quintal como se quisesse ter certeza


de que está falando comigo. Ela ri do meu comportamento,
sentando-se ereta.

— Sim você. — Ela ri novamente. — Deve ser a babá da casa -


Diana, não é?

Se fosse qualquer outra líder de torcida, sua pergunta seria


um insulto. Uma maneira doentia e distorcida de me fazer sentir
inferior me chamando pelo nome errado, mas essa não é a vibração
que sinto aqui. Parece um erro honesto, e decido tratá-lo como tal.

— Diamond — corrijo-a com um sorriso. — A maioria das


pessoas, contudo, me chama de Dia.

— Merda, desculpe. — Gesticula para que me aproxime. —


Venha pra cá. Serei amaldiçoada se pelo menos não conhecer a
super-humana que está aturando Finn Richards todo o verão.

Eu rio, caminhando em direção à espreguiçadeira ao seu lado.


— Sente-se. — Dá um tapinha na cadeira vazia, e obedeço, o
buraco na minha garganta me alertando para ficar alerta. Como se
pudesse me ligar e revelar suas verdadeiras cores a qualquer
momento.

Porque uma garota que tem absolutamente tudo na vida não


pode ser tão legal, pode?

— Garota, como faz isso? Eu tenho que saber. — Ela me


cutuca com o cotovelo.

— Eu preciso de um carro. É isso — admito.

Ela sorri. — Pelo que vale, tem todo o meu respeito. Theo me
disse que Finn tem sido um grande idiota com você.

— Falando nisso, sabe onde os rapazes estão? — Sento-me de


pernas cruzadas na espreguiçadeira.

— Não. — Lacey se reclina e abaixa os óculos de sol na frente


dos olhos. — Theo me disse para encontrá-lo aqui, então saiu com
Finn dois minutos depois. Não voltaram desde então.

— Espere, ele pediu para que viesse, então simplesmente a


deixou?

Ela acena.

— Golpe baixo — comento, e ela ri.

— Acredite, ficaria muito ofendida se Finn não tivesse uma


piscina aquecida.

Eu rio. — Alguma ideia para onde foram?


Encolhe os ombros. — Acho que os ouvi dizer algo sobre
liquidar uma dívida. Não faço ideia do que isso significa, no
entanto.

Liquidar uma dívida? Deve ser dívida de Theo. Grande chance


de o filho de um milionário se contentar com qualquer coisa.

— Seu cabelo é lindo, a propósito. — Ela me espia. — Sério,


morreria por esses cachos.

— Oh, uau, eu... obrigada — gaguejo, surpresa com o elogio.

Espero a conversa morrer. Só que não.

Discutimos sobre Finn sendo um idiota um pouco mais, então


os pais de Theo sendo valentões assediadores que chutam seu filho
para o meio-fio regularmente. Rimos e conversamos por mais de
quinze minutos, e chego à conclusão de que Lacey Mattson é uma
pessoa decente. Pode ser uma garota branca privilegiada com um
corpo perfeito e pais perfeitos e ricos, mas é legal.

Um alarme em seu telefone marca o fim de nossa conversa.

— Ah, merda. — Verifica seu telefone. — Eu tenho que chegar


em casa. Estou dando uma festa e minhas garotas virão para que
possamos nos arrumar juntas.

— Vá. Direi a Theo que teve que correr. — Eu sorrio.

— Você é um anjo. — Desativa o alarme, empurrando a


espreguiçadeira.

Ela mal dá dois passos em direção à casa antes de parar. Meu


primeiro pensamento é que esqueceu alguma coisa até que se vira,
seus olhos claros brilhando com uma ideia.
— Quer vir? — Ela não parece estar brincando.

Minhas funções cerebrais me abandonam. — P…Para a festa?

— Não, para a Disneylândia – sim para a festa, tonta. — Dá


uma risada. — Será muito divertido. Vou apresentá-la ao meu
povo, vamos dançar e nos divertir. O que diz?

Ela está tentando me convencer. Repito, Lacey Mattson, capitã


do time de líderes de torcida, está tentando me convencer, sua
mais nova amiga, Diamond Mitchell, a ir à sua festa. Não é como
se eu tivesse passado todos os meus anos de ensino médio
desejando conseguir um convite ou algo assim.

— Claro, por que não?

— Ótimo — grita. — Dê-me seu número. Vou enviar o


endereço. Embora provavelmente possa pegar uma carona com
Theo mais tarde.

A mensagem contendo o seu endereço aparece no meu telefone


um minuto depois.

— Vejo você à noite. — Lacey me oferece um sorriso de


despedida e desaparece. Não consigo mover um músculo, vendo-a
sair e me perguntando se imaginei tudo isso...

Exceto, que eu não imaginei. Não imaginei nada.

E hoje à noite?

Vou à minha primeira festa.


— Espere por mim! — Minha voz percorre toda a casa
enquanto desço as escadas correndo com o coração na garganta.
Theo me enviou uma mensagem que estão saindo em breve, e com
certeza não gastei três horas me preparando para perder minha
carona.

Vejo meu reflexo no espelho do corredor. Estou confiante o


suficiente para dizer que estou bem. Ajeitei meu cabelo, que graças
aos meus cachos grossos levou uma década, e usei toda a
maquiagem – rímel, delineador, batom, tudo.

Estou invadindo a cozinha um momento depois, vestindo


jeans de cintura alta e um top que perdi quarenta minutos
escolhendo. Finn e Theo cercam a ilha da cozinha, os olhos
apontados para seus telefones. Theo é o único a olhar para cima
quando entro.

— Droga, Dia. É uma festa. Não no baile — Theo provoca, e o


afasto, alimentando seu sorriso. O olhar de Finn se encaixa no
meu com a observação de Theo, e vejo sua garganta balançar
enquanto me dá uma olhada.

Quase espero um elogio até que suas feições endurecem.

— Você não vem.

É fofo que acredite nisso.

— Tente me impedir.
Finn me choca ao esmagar o seu telefone no balcão. — Eu
gaguejei, porra? Você não vem.

— Sim, eu vou. — Combino com o seu tom. — Lacey me


convidou.

Ele zomba. — Isso se chama pena. Ninguém quer você lá.

Meu estômago afunda com sua crueldade.

— Percebe que saber que não me quer lá me faz querer ir ainda


mais, certo?

Furioso, Finn não discute, enrolando os punhos em bolas


firmes e soltando um irritado — Estarei no carro.

A porta da frente bate atrás dele, e Theo e eu trocamos olhares,


assustados com sua explosão. Ele me deixou um bilhete engraçado
na geladeira apenas algumas horas atrás, e agora está fazendo
uma cena porque quero ir a uma festa para a qual fui convidada?

Por que está tão determinado a me manter longe dessa festa?

Theo tira as chaves do bolso e gesticulando para a porta


interrompe minha espiral. Não tenho ideia do que esta noite tem
reservado para mim, mas ei, não pode ser pior do que o jeito que
começou...

Pode?
Lacey: Envie-me uma mensagem quando estiver aqui.

Agarrando meu telefone em meu punho, sigo Theo e Finn


dentro da casa de Lacey e considero duas possibilidades
igualmente plausíveis.

Um: Lacey me convidou aqui porque realmente gosta da minha


companhia e quer ser minha amiga. Dois: minha vida acabou de
se transformar em um remake ruim de Carrie e Lacey me convidou
com o único propósito de me humilhar.

Talvez Brie a tenha feito me convidar? Ou poderia ser Louise?

Da última vez que verifiquei, nenhuma das duas me amam


muito, e considerando que Finn gemeu meu nome enquanto estava
na cama com Lou e que bloqueei Brie e Finn no meu primeiro dia
de trabalho, também não gostaria de mim. Tudo o que sei é que
não pertenço a este lugar, e precisei entrar na festa mais caótica
da história para perceber isso.

A casa está lotada, fumaça densa e uma mistura de suor e


vômito desencadeando meu reflexo de vômito enquanto passamos
pela multidão. A música também é ensurdecedora, mas não estou
tão incomodada com isso quanto estou com o calor sufocante.

— Cox, Richards, tragam seus traseiros aqui. Precisamos de


vocês. — Um jogador de basquete no meio de um jogo de beer
pong15 chama Theo e Finn desde o momento em que entramos na
sala.

— Vou enviar uma mensagem para você quando estivermos


saindo — Theo, sendo o motorista designado, me diz antes de sair

15- Comumente jogado em festas americanas, coloca-se uma fileira de copos e o participante tem que

jogar uma bolinha de Ping Pong acertando-os, a cada copo acertado uma dose de bebida alcoólica, ganhando
quem acaba primeiro.
para encontrar seus amigos. Finn segue o exemplo sem sequer
olhar em minha direção.

Vejo os amigos de Finn animar sua chegada, batendo em seu


ombro como se fosse um deus entre os homens. É quando percebo
que prefiro arriscar ser humilhada por Lacey e suas amigas
malvadas do que passar a noite inteira sozinha. Eu teria convidado
Aveena, já que é minha única amiga no mundo, mas sei que Vee
preferiria engasgar com cada refeição pelo resto de sua vida do que
aparecer em uma festa. Isso, e o cheiro de álcool a deixa enjoada.
Estou sozinha, para o bem ou para o mal.

Dia: Estou aqui,

Envio uma mensagem para Lacey, meu estômago se


contorcendo em um nó apertado. A sua resposta vem
imediatamente.

Lacy: Onde?

Envio-lhe uma mensagem de volta.

Dia: Cozinha.
Menos de um minuto se passa antes que sua voz atravesse a
música.

— Dia! — Eu a vejo acenando para mim na porta, uma garrafa


de rosé na mão direita. Dou um sorriso, empurrando minhas
preocupações de lado e indo até ela.

— Estava na hora. — Ela ri bêbada, me dando uma pista de


quanto bebeu.

Resposta curta? Muito.

Estou surpresa quando passa os braços em volta do meu


pescoço para um abraço. Talvez estivesse paranoica? Lacey não é
Brie, ou Louise. Pelo que posso dizer, a garota tem mais bondade
em seu dedo mindinho do que suas amigas líderes de torcida
jamais terão em todo o corpo. Não estou dizendo que ela não tem
seus momentos – é conhecida por se envolver com Brie uma ou
duas vezes – mas é como uma lufada de ar fresco do estereótipo de
garota má.

— Vamos pegar uma bebida para você. — Agarra meu


antebraço para me guiar até o refrigerador de vinho que está cheio
de bebidas aleatórias na cozinha.

— Gosta de vodca? — Lacey pega uma garrafa de vodca do


refrigerador e me entrega. Tenho o reflexo de destampar a garrafa
e cheirá-la. Minhas narinas queimam com o cheiro.

Jesus.

— Acho…? — Eu me encolho, e Lacey ri.

— O olhar em seu rosto. Não farei você beber puro.


Não vai?

— Vamos. — Ela se levanta e vai para a geladeira. — Blood


Mary16 tudo bem?

Esta é uma acéfala desde que tive esta bebida virgem no


restaurante do meu pai mais vezes do que posso contar.

— Absolutamente. — Aceno, e Lacey tira suco de tomate da


porta da geladeira. Eu a observo enquanto começa a trabalhar,
mordendo minha língua quando derrama um pouco de vodca
demais para o meu gosto.

Ela termina com um talo de aipo, prendendo-o na borda do


copo, e me entrega a bebida.

Isso é estranho. Estar aqui.

Ser oferecida meu primeiro drinque de verdade por Lacey


Mattson.

Não posso deixar de sentir que deveria estar fazendo isso com
Aveena... mas, novamente, minha melhor amiga prometeu a si
mesma nunca beber depois de testemunhar as lutas de seu pai
com a bebida.

Costumava elogiá-la por isso, admirá-la como se recusava a


cometer os mesmos erros que seu pai, mas agora? Percebo que
tenho me martirizado por querer coisas diferentes. Pensei que se
ela não precisasse de álcool, ou meninos, ou festas em sua vida,
eu também não deveria, mas... Talvez eu deveria ser livre para
decidir o que faço e o que não gosto por mim mesma. Livre para
cometer meus próprios erros e aprender com eles.

16 - Mistura de tomate, limão, pimenta e vodca gerou uma bebida exótica e cercada de lendas.
Lacey aplaude animada e canta — Experimente. Tente.

Cedo ao seu pedido e trazendo a bebida aos meus lábios. O


primeiro gole é esmagador, o sabor subjacente da vodca mais forte
do que o previsto, mas rapidamente me adapto.

— Isso é bom? — Pergunta.

— Delicioso. Você tem habilidades — elogio, e ela joga o cabelo


por cima do ombro para causar efeito, me fazendo rir.

— Vamos, vou apresentá-la às minhas meninas. — Lacey pega


meu braço novamente, me conduzindo para a sala de estar, onde
as pessoas estão dançando descuidadamente. Minhas pernas
pesam mil quilos quando vejo Brielle, Louise e outra líder de
torcida chamada Hadley conversando de longe.

É isso, não é? A parte em que me humilham na frente de todo


mundo?

— Encontrei-a — Lacey informa as meninas.

Brielle e Louise transferem seu foco para mim, o choque em


seus olhares um sinal claro de que não esperavam me ver aqui.

— Pessoal, aqui está Diamond. — Lacey tira um gole de rosé


direto da garrafa. — Ela prefere que a chamem de Dia.

A zombaria de Louise leva meu coração ao estômago. — E eu


prefiro beber cuspe do que fazer parte dessa conversa.

Depois vai embora. Então... é seguro dizer que não é do tipo


que perdoa? Ninguém fala por longos segundos.

Até Hadley entrar na conversa.


— Não se importe com ela. É uma vadia quando bebe. — O
sorriso de Hadley está cheio de desculpas, mas estou muito focada
em seu lindo cabelo ruivo natural para responder.

— Por favor, ela é uma cadela quando respira — conta Lacey,


e Hadley e eu rimos. Sempre pensei que Hadley Queen estava entre
as líderes de torcida mais simples e um tanto “normais” de Easton
High.

A sua mãe é dona de uma loja de conveniência no centro da


cidade. Estão confortáveis, mas não ricos como Lacey ou Brie. E
definitivamente não são muito ricos como Finn. Ela deixou a
equipe de líderes de torcida no ano passado para ajudar sua mãe
depois que seu irmão gêmeo faleceu no primeiro e único assalto
que Silver Springs já teve. A notícia na rua é que ela não estará
aqui por muito mais tempo, no entanto. Sua mãe colocou a loja à
venda após o incidente. Não aguentava mais trabalhar onde seu
filho morreu.

— Você vai para Easton, certo? — Hadley pergunta.

Concordo.

— Não cresceu por aqui, cresceu? — Diz isso como um fato.


Aposto que conhece todas as pessoas com quem foi ao jardim de
infância como a palma da mão. Vantagens de cidade pequena.

— Sim, minha família se mudou para cá no primeiro ano.

— Fascinante — Brie bufa.

Pensei que talvez Brie se abstivesse de me tratar como merda,


já que conheço seu segredo mais sombrio e poderia arruinar sua
vida, mas não. Ainda uma cadela.
— Querem doses? — Lacey ignora Brie.

Sem esperar nossa resposta, Lacey nos leva a uma sala que
parece uma típica caverna masculina - TV de tela plana, cadeiras
de couro reclináveis, pôsteres esportivos e frigobar no canto.

— Acho que deixei algumas doses de gelatina aqui. — Lacey


abre a geladeira e pega uma bandeja de doses com sabor de cereja.
— Merda, perdemos um. — Distribui as doses entre nós até
chegarmos à última. — Vá em frente. — Lacey aproxima a bandeja
de mim.

— Você não quer?

— Não, você mora com Finn. Confie em mim, precisa mais do


que eu. — Ela ri, e pisco algumas vezes, a sala girando.

Cara, minha tolerância é uma porcaria.

— Na verdade, estou bem. — Forço um sorriso.

— Está acima de beber ou alguma merda? — Brie solta


defensivamente.

— O quê? Não, eu...

— Jesus, Lace, onde encontrou essa garota? — Brie solta uma


risada desdenhosa, o que resulta em todas as garotas do círculo
olhando para mim. Por que sinto que estou falhando em algum
tipo de teste agora?

— Eu…

— Vamos lá, não seja uma puritana — Brie me empurra, e


sinto que estão decidindo se eu posso ou não sentar com elas
novamente. Você pensaria que minha armadura é feita de vidro
pela rapidez com que desmorona sob seu escrutínio.

Num estalar de dedos, abandono minhas convicções e pego a


dose de gelatina. As meninas me animam enquanto inclino minha
cabeça para trás e para baixo de uma só vez.

— É disso que estou falando — Lacey zomba, jogando o braço


em volta do meu ombro para um abraço.

Axel Fletcher abre a porta no segundo seguinte. — Porra,


finalmente — diz quando nos vê. — Randall, Queen, estão a fim de
beer pong. Última chance.

— Merda, vamos. — Hadley arrasta Brie com ela, seguindo


Axel de volta à cozinha.

— Quero dançar! — Lacey diz assim que as meninas saem e


me guia de volta para a sala. Dançamos na hora seguinte,
passando sua garrafa de rosé para frente e para trás e fazendo
movimentos de dança tão ridículos que meu estômago
eventualmente começa a doer de tanto rir.

— Eu tenho que fazer xixi — confesso, meu olhar vasculhando


o quarto para o banheiro. Vejo uma longa fila de garotos bêbados
se espalhando pelo corredor e gemo. — Ugh, isso vai levar uma
eternidadeeee.

Caso não tenha ficado claro, o navio embriagado partiu para


mim.

Mais um gole e estou entrando oficialmente em território —


bêbado.
— Venha... — Soluço. — …aqui. — Lacey me atrai para mais
perto, sua respiração espessa com álcool. — Temos uma casa de
hóspedes nos fundos. A chave está debaixo do tapete. Use o
banheiro de lá.

— Você é a melhor. — Imediatamente atravesso a multidão em


busca da porta que leva ao quintal. Acho rápido o suficiente, mas
gasto cinco minutos procurando a maldita chave debaixo do tapete
para a luxuosa casa de hóspedes.

Está quase escuro com breu lá fora. A casa de Lacey é isolada


das outras, localizada perto da floresta e de uma trilha
assustadora que sei que as crianças adoram andar à noite para
assustar umas às outras. Há também ferrovias antigas e
abandonadas por aqui. Eventualmente encontro a chave da casa
de hóspedes dentro de uma planta decorativa e saio quando
termino, certificando-me de trancar a porta. Acabei de colocar a
chave debaixo do tapete quando ouço duas pessoas discutindo.

— Um plano de pagamento? Quem diabos pensa que sou? Um


banco? Uma maldita caridade? — um homem cospe
agressivamente e, em quaquer outro cenário, voltaria correndo
para a festa, mas…

A voz que ouço em seguida me enraíza no lugar.

— Eu disse que lhe darei a porra do seu dinheiro.

Aquela voz. Pertence ao Finn.

O que diabos ele está fazendo aqui atrás?

Foi isso que Lacey quis dizer, não foi? Quando disse que os
rapazes foram liquidar uma dívida? Finn deve dinheiro a alguém.
Deve ter ido e tentado convencer esse alguém mais cedo. Acho que
o homem voltando para o segundo round significa que não foi tão
bom.

Finn está comprando drogas? E como diabos o filho de um


milionário está endividado?

Hesitante, espio pelo canto da casa de hóspedes para ver


melhor. Vejo duas silhuetas sob o luar, uma que reconheço como
sendo de Finn e outra pertencente ao cara mais esboçado que já
vi. O estranho está vestindo jeans surrados, um moletom preto e
um boné de beisebol. É mais baixo que Finn em pelo menos dez
centímetros e parece que não toma banho há meses.

— Acha que não sei onde você mora? — O cara suspeito


ameaça. — Que não sei que papai está nadando em dinheiro?

Finn parece decidir que a conversa acabou porque joga a


cerveja em sua mão de volta para um gole e se vira para sair.

O cara suspeito não está tendo isso. — Ela é bonita. A garota


com quem entrou – cabelo preto, corpinho apertado. Boa escolha.

Ele me viu? Isso me atinge instantaneamente. É por isso que


Finn não me queria nessa festa?

Porque ele sabia que teria... companhia?

— Ela é sua garota? — O cara suspeito persegue, mas Finn


continua andando. — O que acha de eu fazer uma visita a ela e
pegar o que me deve?

Finn para instantaneamente.


A próxima coisa que sei, ele está jogando sua cerveja na grama
e correndo de volta para o cara com tanta velocidade que seu
“negociante” recua em uma árvore.

— Cuidado com a porra da boca — Finn grita, a escuridão em


sua voz me sacudindo até o meu núcleo.

— Droga, atingiu um nervo, não foi? — Cara suspeito bufa. —


Então é sua garota?

Finn fica quieto por um momento. — A babá da casa — admite.

O cara gargalha. — Funcionária do papai, hein? Cara, isso


deve ser chato. Viver com uma garota assim e não poder fazer nada
sobre isso.

Exceto... ele fez algo sobre isso. Na adega. Contra a porta do


meu quarto.

— É o seguinte. — O cara se aproxima. — Quer que eu


considere seu plano de pagamento? Volta lá, traz a babá para a
floresta, e destruirei aquele cuzinho apertado para você.

Isso é o que faz Finn explodir. Eu tenho que cobrir minha


própria boca quando a mão de Finn circunda a garganta do cara e
bate de costas na árvore, levantando-o alguns centímetros no ar
sem suar a camisa.

— Quer dizer isso de novo? — Finn se levanta na cara dele. —


Vamos, experimente-me. Fale sobre ela novamente, veja o que
acontece.

O Cara suspeito tenta arranhar a camisa, o rosto, a garganta


de Finn, ofegante. Finn não poderia dar um soco como uma pessoa
normal.
Ele o está estrangulando.

— Se você colocar um dedo nela... — Finn aperta a garganta


do cara com tanta força que faz um som sibilante perturbador que
faz minha pele arrepiar. — Se você sequer pensar em chegar perto
dela, ou olhar para ela, ou respirar em sua direção, vou matá-lo
com minhas mãos nuas, entendeu?

Os suspiros do cara suspeito se tornam cada vez mais


desesperados, suas tentativas de se libertar carecem de força
enquanto sufoca.

Ele vai matá-lo.

Eu não penso, pulando de trás da casa de hóspedes e gritando


o nome de Finn a plenos pulmões. Sua cabeça bate por cima do
ombro ao som da minha voz, e solta o cara. Não posso dizer o que
está pensando quando me vê ali, observando o seu lado mais
sombrio assumir.

Tossindo os pulmões, o cara supeito aproveita a oportunidade


para entrar na floresta. Está tão escuro que quase imediatamente
o perdemos de vista.

— Foda -se! — Finn estala e me encara como se isso fosse


minha culpa.

Como se estivesse bravo comigo por impedi-lo de sufocar


alguém até a morte. Não fala por longos segundos, arrastando as
palmas das mãos sobre o rosto com um suspiro.

— O que diabos foi aquilo? — Grito.

— Cuide da sua maldita vida. — Finn pega sua cerveja da


grama antes de desaparecer na floresta.
Eu não tenho ideia se ele está perseguindo o cara suspeito ou
apenas com vontade de um passeio à meia-noite, mas enquanto
meu companheiro de casa mergulha mais fundo na floresta perto
da casa de Lacey, não há dúvida em minha mente.

Onde quer que ele vá...

Eu também vou.
Sempre tive pavor de filmes de terror.

Cresci admirando as garotas que podem passar por eles sem


cagar nas calças, mas eu? Não sou corajosa. O que sou, porém...
é estúpida.

O tipo de estúpida que segue o filho de seu chefe em uma


floresta no meio da noite, apenas para perdê-lo dois minutos
depois, sem serviço em seu telefone.

Pelo lado positivo, não há necessidade de assistir a filmes de


terror se estiver vivendo um.

Estou vagando pela trilha perto da casa de Lacey há trinta


minutos., constantemente olhando por cima do ombro, meio que
esperando que um assassino de machado salte de um arbusto e
me corte em pedaços. Percebo que estava andando em círculo
quando reconheço o bordo17 à minha esquerda - é a terceira vez
que o vejo.

Duas iniciais estão esculpidas no tronco. H + N.

17 - Árvore que dá origem ao xarope de bordo muito usado pelos americanos em cima de suas panquecas
doces.
Então, não só perdi Finn, mas também perdi meu caminho.

Muito bom, Dia.

Eu me recuso a me desviar da trilha com medo de ser devorada


por algum animal da floresta, mas não posso continuar andando
em círculos. Talvez a única saída seja através? Saindo do caminho,
pego minhas chaves de casa do bolso e prendo uma em meu
punho. Não que eu espere que uma chave impeça um urso de me
comer viva, mas é a melhor defesa que tenho. Além disso, os
animais selvagens não são a única coisa que me preocupa. O
“amigo” suspeito de Finn também pode estar vagando por essas
florestas.

Lágrimas se formando nos cantos dos meus olhos, ando pela


floresta com a lanterna do meu celular ligada. Sei que cheguei à
ferrovia abandonada da cidade quando quase tropeço nos trilhos,
raízes grossas e ervas daninhas se enrolando no aço enferrujado.
Não tenho ideia onde isso me leva.

As probabilidades são de que, seguindo esta trilha, só me


arrastarei para dentro da floresta, mas não vejo uma alternativa
melhor para encontrar serviço de celular. Ando por quinze minutos
e paro quando saio da floresta e avisto a ponte de madeira da
cidade à minha frente.

Silver Bridge.

Foi nomeada após a cidade. Quando as pessoas ainda


achavam que as ferrovias eram uma boa ideia. O trem era para ser
uma maneira rápida e acessível de chegar às cidades vizinhas. Um
sinal de crescimento para Silver Springs. Mal sabíamos que nosso
número anual de mortos também começariam a crescer. Silver
Bridge rapidamente se tornou um ponto de encontro para os
jovens, que se reuniam lá à noite para observar as luzes da cidade,
que, reconhecidamente, são de tirar o fôlego daqui de cima. Saíam,
ficavam bêbados e depois saíam correndo quando ouviam o trem
chegando.

Trinta e sete jovens morreram em Silver Bridge no primeiro


ano. Alguns caíram da ponte nas rochas; outros foram esmagados
pelos trens. Colocaram inúmeros sinais de alerta, mas os
adolescentes seguiam em frente mesmo assim, convencidos de que
isso não aconteceria com eles.

Até hoje, centenas de pessoas morreram aqui – a maioria


menores. A cidade encerrou o projeto depois que a ponte tirou a
vida do filho do prefeito.

Ninguém realmente vem aqui mais...

Espere.

Isso é uma sombra? Sim, é.

Tem alguém aqui. Um homem.

De pé, perturbadoramente imóvel na ponte.

A lua, o mar de estrelas e as luzes distantes da cidade me


permitem ver os pés do estranho se estendendo além da borda da
estrutura, os olhos fixos no horizonte. Enrijeço quando o foco do
homem se desvia para o abismo abaixo dele e avalia as rochas
compactadas responsáveis por vários funerais.

Está olhando para uma queda de 90 metros. Noventa. Metros,


mas não recua. Ele nem se mexe.

Estou sozinha com esse estranho na floresta, sem sinal de


celular e absolutamente sem como pedir ajuda se for necessário,
mas não posso simplesmente deixar esse cara aqui. Tenho que
fazer alguma coisa.

— Hm, desculpe-me? — Chamo.

Parece que o ar foi sugado dos meus pulmões quando o


estranho vira a cabeça na minha direção, e percebo que o garoto
na ponte não é um estranho.

— F-Finn? — Minha voz falha.

Vi muitas emoções no rosto de Finn Richards desde o dia em


que me mudei para sua casa – raiva, ódio, desejo – mas essa? Essa,
nunca tinha visto. Nunca o vi ferido. Está nos seus olhos.

No modo como sua boca se abre por um breve momento. Ele


parece chocado, um pouco bêbado, mas principalmente, parece
triste.

Destruído.

Não sei nada quando se trata de ler esse rapaz, mas sei que
não esperava me ver aqui. E com certeza não esperava que eu o
seguisse até o local mais mortal da cidade. Finn usa uma cara de
pôquer impenetrável, toma um gole da cerveja que segurava
quando saiu mais cedo e desvia sua atenção para as luzes
cintilantes à sua frente.

Este momento. Esta cena.

Isso me traz de volta àquela noite na biblioteca. De volta a


implorar a Finn para sair da janela, imaginando por que diabos se
colocaria em perigo assim. Essa é a peça que faltava no meu
quebra-cabeça.
Tudo começa a fazer sentido a partir daí.

A superproteção do meu irmão. As coisas que me disse no


carro todas aquelas semanas atrás. Disse que Finn era um
masoquista fodido. Que era perigoso, mas não para os outros.

Para si mesmo. Foi isso que ele quis dizer, não é?

Esta não é a primeira vez que Finn brinca com fogo assim.
Ouvi as histórias, mas nunca acreditei nelas. Finn era o assunto
do segundo ano. A notícia na rua era que Finn havia sido preso
por roubo de carro, consumo de bebida alcoólica para menores de
idade, vandalismo – tudo antes dos dezessete anos; tmbém foi dito
que ele acabaria no hospital semanalmente…

Se os rumores fossem verdadeiros, esse garoto esteve cavando


sua própria cova a vida inteira.

— Que diabos está fazendo? — Estava buscando uma voz


firme, mas sai como um apelo. Ele não responde, mantendo os
olhos grudados no horizonte.

Estou preocupada que esteja me dando o tratamento do


silêncio até que bebe o que sobrou de sua cerveja e me choque com
uma pergunta simples.

— Gosta do oceano?

Tento me convencer de que fiquei com deficiência auditiva nos


últimos dois minutos. Isso faria muito mais sentido do que meu
colega de casa me perguntando se eu gosto do maldito oceano
agora. Finn espera uma batida pela minha resposta, então
continua quando fica óbvio que não vem.

— Ela não gostava — diz, sua voz quase um sussurro.


Juntei as peças imediatamente. Disse ela. E há apenas uma
mulher que foi importante para esse cara.

A sua mãe.

— Estava apavorada com isso, na verdade. — Faz uma pausa.


— Ela mal conseguia entrar na piscina comigo.

Sei que ele provavelmente está apenas compartilhando porque


está bêbado, mas serei amaldiçoada se não aprender o que puder
enquanto durar.

— Ela odiava barcos também. Mesmo depois que meu pai


tentou batizar um com o seu nome. — Uma risada profunda sai de
sua garganta, e o som por si só faz meus ossos tremerem. — Deus,
ela odiava essa porra.

Prendo a respiração com todas as minhas forças, com medo


de dizer a coisa errada e o feitiço se quebrar.

— Demorei um ano para convencê-la a aceitar.

Meu coração imediatamente se parte ao meio.

— Pensei... — A dor em sua voz me despedaça. — Pensei que


se ela tentasse apenas uma vez...

Ele nunca olha para mim enquanto divulga seus segredos


mais sombrios, olhando fixamente para a noite como se estivesse
em outro lugar. Fora de seu corpo; fora de sua cabeça.

Fora desta cidade de merda.

— Uma vez. — Prova que estou certa. — Uma fodida vez. Isso
é tudo o que precisou.
Meu Deus.

A única vez que entrou no barco, ela se afogou? Eu me assusto


quando joga sua cerveja pela ponte com toda a força. Ouço o vidro
se estilhaçar contra as rochas, e tudo o que consigo pensar é...

Poderia ser o seu crânio. Apenas um movimento errado e


estará morto.

E a pior parte? Acho que ele não quer morrer.

Aposto minha alma que nunca pularia daquela ponte.

Está tentando o destino. Dando ao universo uma chance de


fazer isso por ele. Esperando para ver se o carma morderá a isca e
o punirá pelo que fez. Porque no fundo…

Ele acha que é isso que merece.

Eu paro alguns centímetros antes da ponte começar.

— Não foi sua culpa — resmungo.

Os olhos de Finn cortam para os meus, e posso praticamente


ver suas paredes voltando.

— Não faça isso porra — estala.

— Fazer o quê?

— Olhar-me como se eu fosse um cachorrinho ferido que quer


cuidar de volta à saúde.

Eu o ignoro. — Saia da ponte.


— Apenas vá, Dia. — Ele me dispensa, desviando seu foco para
o vazio abaixo.

Passo os próximos cinco segundos procurando uma maneira


de fazê-lo se abrir de novo, depois mais alguns segundos
desaprovando o único plano que criei.

Ele ficou bravo antes. Não, ele se tornou um assassino.

Quando o cara suspeito falou sobre me tocar, ele ficou louco.


Parte de mim gostaria de acreditar que fez isso porque se importa
comigo. Mesmo que um pouco…

Então, uso a única alavanca que tenho. Eu mesma.

Meu coração batendo em meus ouvidos, piso na ponte.

Não olhe para baixo. Não olhe para baixo.

A voz áspera de Finn corta o ar instantaneamente.

— Dia, que porra é essa?

Bingo.

Mantenho minha cabeça erguida, travando os olhos com ele


do outro lado da ponte.

— Que porra está fazendo? Afaste-se — ladra, estendendo um


braço como se isso fosse me impedir de chegar mais perto.

— O quê? Então, está perfeitamente bem quando você está em


uma ponte mortal, mas eu não posso? — Informo.

Furioso, ele me olha irritado.


— Por que está fazendo isso com você mesmo? — Questiono.

— Dia, juro por Deus, se não virar a bunda agora…

Interrompo. — Responda a pergunta. Por que está fazendo isso


consigo mesmo?

— Dia, pare! — Grita, medo brilhando em seus olhos, mas não


presto atenção ao seu aviso.

— Diga-me o porquê!

Esse é o seu ponto de encaixe. — Porque deveria ter sido eu.

Sua voz é tão penetrante que paro. Simples assim, o menino


que afirma não sentir nada deixa o coração cair aos meus pés.

— Ela me salvou. — Soa como se estivesse perto de


desmoronar, e todo o meu ser dói para colocá-lo de volta no lugar.
— Ela salvou a porra da minha vida, e não…

Vale a pena?

Quero terminar por ele, mas decido contra. Um milhão de


perguntas se chocam na minha cabeça, sendo a óbvia o que
exatamente aconteceu naquele dia? Quero saber como ela o
salvou, o que causou o acidente, mas também sei que a última
coisa que Finn precisa agora é uma entrevista no pior dia de sua
vida.

— E sei que é fodido… — enfia a mão pelo cabelo despenteado,


segurando um punhado como se estivesse tentando colocar sua
cabeça no lugar. — mas preciso saber como ela se sentiu.
Machucou? Estava com medo? Ela... me odiou?
Meu primeiro instinto é abraçá-lo. O problema é que minha
pena não vai ajudá-lo. Tenho certeza de que o menino que viu sua
mãe morrer teve mais do que o suficiente de pessoas com pena
dele em sua vida. O que realmente precisa é que alguém abra seus
olhos.

— Você está cheio de merda, sabe disso?

Ele olha para mim, choque por todo o rosto.

— Você age como se não quisesse isso, mas gosta de se sentir


assim, não é? — Eu me aproximo dele e vejo seus ombros
afundarem sob o peso da verdade. Ele não fala, mas o
ressentimento em seus olhos transmite o impacto das minhas
palavras.

— Por que mais continuaria se colocando nessas situações? —


Paro diante dele. — Gosta de se punir. Você se excita com isso.

Ele suga uma respiração quando atravesso o vazio entre nós e


pressiono minha mão em seu torso. Sinto seu peito subindo e
descendo, seu coração martelando contra minha palma. A
proximidade o força a abaixar a cabeça para olhar para mim, as
linhas que desenhei entre nós ficando cada vez mais borradas. O
luar brilha em seus olhos e, por um breve momento, quase esqueço
que estamos a cem metros da morte iminente.

— Sente isto? — Aplico pressão em seu peito. — O ar enchendo


seus pulmões?

Ele espera que eu continue.

— Isso é privilégio... E o que está fazendo agora? Está


desperdiçando esse privilégio.
Há lágrimas em meus olhos, mas de alguma forma, parecem
estranhas.

Como se não me pertencessem. Como se eu estivesse sentindo


tudo o que ele se recusa.

— O que aconteceu com sua mãe…

A partir do momento que falo sobre sua mãe, afasta-se.


Emocionalmente, fisicamente – de todas as maneiras que
importam.

Ele começa a se fechar. Olhando para longe. Começa a correr.

Porque é isso que sempre fez.

— Ei, fique comigo. — Reciclo a linha que usou em mim na


noite em que deu meu primeiro beijo e me surpreendo quando
agarro seu rosto entre as mãos. — O que aconteceu com sua mãe
não foi culpa sua. Você me ouviu? Não foi.

Ele não quer ouvir isso, mas precisa. Precisa ouvir antes que
faça algo estúpido de novo e seja morto. Não sou tola o suficiente
para acreditar que posso salvar Finn Richards de seus demônios,
mas talvez, se tiver sorte...

Posso fazer com que ele se salve.

— Não entende? Toda vez que se coloca em perigo assim. —


Não consigo engolir o caroço na minha garganta. — Toda vez que
se pune porque acha que é isso que merece… corre o risco de jogar
fora a única coisa que ela morreu para salvar.

Sei que estou conseguindo chegar até ele quando fecha os


olhos como se quisesse se impedir de mostrar vulnerabilidade.
— Não se atreva a jogá-lo fora — ofego.

Ele abre as pálpebras com as minhas palavras, e estremeço.


Seus olhos... estão injetados de sangue, lutando contra as
lágrimas. Vê-lo tão vulnerável, tão magoado, parece um golpe
violento no estômago. Poderia desejar a cada maldita estrela do
céu um coração mais frio, uma alma que não sofresse quanto a
dele sofre, mas isso não mudaria o fato de que me importo.

Em algum lugar ao longo do caminho, comecei a me importar


com esse idiota. Apesar de tudo. Apesar do mundo inteiro me
dizendo que ele é um monstro.

Não nos separamos por longos segundos, minhas mãos


segurando seu rosto na escuridão, sua respiração batendo contra
minha boca enquanto me encara nos olhos. O alívio surge quando
Finn pressiona sua testa na minha e sussurra um pequeno e
comovente — Vamos.

Saindo disso, aceno em concordância e lentamente retiro


minhas mãos de seu rosto. Minha respiração instável, giro e
começo a liderar o caminho de volta para terra firme.

Estou dois passos à frente dele quando ouço.

O ranger alto da madeira atrás de mim. O diabo rindo no meu


ombro quando parte da ponte desmorona sob ele, mas o som que
ouço na repetição? O barulho que conheço vai me assombrar para
sempre? É o grito deixando meus lábios...

Quando ele cai.


Não saberia dizer quantas vezes quis matar Finn Richards…

Quantas vezes me imaginei empurrando-o de uma ponte por


causa de suas brincadeiras cruéism, mas agora que ele está
realmente pendurado em uma ponte, segurando a borda com seu
corpo suspenso sobre um enorme vazio?

Sei que meus pais estavam certos.

Cuidado com o que deseja.

Meus gritos soam como ecos distantes quando me ajoelho na


parte restante da ponte. Os sons de estalo em erupção ao meu
redor deixam claro que a ponte é uma bomba-relógio, mas tudo em
que consigo pensar é no garoto rude segurando uma vida que não
tinha certeza se queria dois minutos atrás…

Há medo em seus olhos. Pânico. Arrependimento.

Parte de mim se pergunta se este é o castigo final para ele.


Dando uma espiada na morte depois de flertar com ela por anos,
apenas para perceber que é a pior prévia que já teve.
Uma onda de náusea percorre meu estômago quando vejo o
vazio embaixo dele, as rochas afiadas esperando para esmagar
cada osso de seu corpo. Se ele não tivesse se agarrado, agora
estaria morto.

Ambas as mãos agarram a estrutura, mas parece


escorregadia. A partir do momento que retirar uma mão, terei
tempo limitado para trazê-lo à tona.

— Dê-me sua mão — grito, esticando meu braço o mais longe


que posso. Tenho que deitar de bruços para alcançá-lo. Finn fica
petrificado. Ele nem pisca.

— Finn! — Grito, engasgando com o caroço na minha


garganta. — Finn! Dê-me sua mão. Por favor.

Seus braços começam a tremer sob o peso de seu corpo, e o


pouco autocontrole que me resta se derrama em forma de
lágrimas. Ele precisa sair disso.

— Confie em mim. Por favor. Você tem que confiar em mim. —


Libero o apelo mais penetrante da minha vida.

Seus olhos se abrem com o grito saindo da minha boca. Nunca


confiou totalmente em ninguém, ou confiou na vida, já que levou
sua mãe embora, mas tem que acreditar que nem todo mundo vai
decepcioná-lo. Ele tem que acreditar em mim.

— Finn! — Um soluço escapa da minha garganta, chutando-o


em velocidade, fecha os olhos por um segundo. Tenho esperança
novamente quando ele joga o braço na minha direção, apontando
para a minha mão.

Meu grito ecoa na noite. Ele errou. Está pendurado em uma


mão agora, seu outro braço solto ao seu lado.
— Novamente! — Estico meu braço até a ponta dos dedos. Finn
balança a cabeça e arremessa seu braço disponível para cima com
toda a sua força, deixando escapar um gemido profundo de raiva,
medo e dor que me faz doer até os ossos.

É quando sua mão trava com a minha. E sei que tudo se


resume a este momento.

A adrenalina fazendo efeito, despejo tudo o que tenho para


puxá-lo para cima e grito de dor quando destroços cortam meu
braço. Ainda assim, não o solto, ignorando o sangue escorrendo
pela minha pele. Engasgo com um soluço quando caímos para trás
na ponte e ele cai em cima de mim.

Conseguimos.

A ponte treme com o impacto de nossos corpos colidindo, e os


ruídos se multiplicam em uma velocidade alarmante.

Temos que dar o fora desta ponte.

Não perco um segundo me levantando, prendendo a mão de


Finn na minha e arrastando-o de volta para terra firme. Mal saímos
da ponte e metade da estrutura desmorona. A coisa toda se desfaz
e bate contra as rochas afiadas abaixo. Sinto a mão de Finn
estrangulando a minha quando vemos uma das pontes mais
mortíferas da Carolina do Norte cair.

Então começa a se infiltrar. Isso realmente aconteceu.

Meus joelhos se atrapalham com o pensamento, e meu corpo


inteiro começa a tremer. Giro para olhar para Finn, e o olhar em
seu rosto… Essa merda rasga meu coração em um milhão de
pedaços.
Ele está pálido, sua mão frouxa na minha, com a boca aberta
enquanto olha para o enorme buraco onde a ponte ficava.

Está batendo nele também. Ele quase morreu.

De verdade, desta vez.

Depois de brincar com a morte por dez anos, finalmente


conseguiu seu desejo.

Estou furiosa com ele por se colocar nessa situação em


primeiro lugar, mas não chega nem perto da preocupação que
sinto por ele.

— Você está bem? — Ainda estou soluçando à medida que


agarro seu rosto entre as mãos e procuro um ferimento; enquanto
isso, o corte no meu braço está sangrando e ardendo como um
filho da puta, mas não consigo me importar.

Como se estivesse em algum tipo de transe, Finn não fala ou


me reconhece, olhando fixamente para a sua frente. Então cai de
joelhos na terra.

Eu me pergunto o que fazer um pouco, mas rapidamente caio


de joelhos também, me posicionando na sua frente para que ele
tenha uma visão clara de mim e não do que resta da ponte.

Sob a lua e as luzes da cidade distante, juro que posso ver


parte de seus demônios explodindo em chamas. Minhas lágrimas
se acumulam novamente, meu corpo tomando uma decisão que
meu cérebro não teve a chance de vetar. Sem um aviso, jogo meus
braços ao redor de seu pescoço, enlaço meu corpo ao dele e o
abraço. Eu o abraço com tanta força que estou surpresa que ele
seja capaz de respirar, mas não me afasta, rígido em meus braços.
Não estou nem um pouco ofendida por ele não retribuir o
abraço. Se alguma coisa, apenas o abraço mais forte, abrindo mão
do meu orgulho inteiramente para que saiba que não está sozinho.
Não aceita meu abraço, e eventualmente entendo a dica, mas
assim que começo a me afastar, seus braços se fecham ao meu
redor e ele me abraça de volta.

Ele me segura em seu peito para salvar sua vida, uma de suas
mãos correndo para a parte de trás da minha cabeça enquanto
aninha seu nariz na curva do meu pescoço e inala bruscamente.
Ficamos nessa posição por longos segundos - duas crianças se
abraçando na terra ao lado de uma ponte desmoronada no meio
da noite.

Sim, sei que vai demorar muito mais do que uma experiência
de quase morte para curar completamente esse cara. Para pôr fim
ao seu comportamento autodestrutivo, mas esta noite, ele
escolheu segurar em vez de deixar ir. Esta noite, escolheu viver em
um mundo onde sua mãe não está.

E não é perfeito… Mas é um começo.

A grama está molhada quando caio no chão do meu quintal.


Normalmente, passaria congelando minhas bolas, mas minhas
roupas estão encharcadas de serem pegas pela chuva.
Na pior das hipóteses, a gripe me derrubará por alguns dias,
e faço uma pausa do acidente de trem que está em minha própria
cabeça.

Soa como uma vitória para mim.

Deve ter começado a chover menos de dois minutos depois que


nos levantamos do chão e decidimos voltar para a casa de Lacey.
A floresta estava fria e sombria, mas preferia a escuridão a ter que
olhar Dia nos olhos.

Ela me salvou. Salvou a porra da minha vida. Enquanto isso,


não fiz nada além de tentar arruinar a dela.

Ela desapareceu escada acima para tomar banho no momento


em que entramos na casa. Estava tão fria que seus dentes batiam,
seu corpo delicado tremendo como uma folha.

Eu? Estava entorpecido. Tragicamente e milagrosamente


entorpecido.

Ela provavelmente está na cama agora. Deveria fazer o mesmo,


mas duvido que durma muito, de qualquer maneira. E mesmo que
dormisse, teria pesadelos com o olhar em seu rosto quando a ponte
desabou.

O relógio marcava 5:00 da manhã quando conseguimos


encontrar Theo desmaiado com Lacey em seu quarto. Acontece que
perdi meu telefone enquanto lutava pela minha vida, e o telefone
de Gem estava morto. Lacey disse que Theo estava embriagado e
que podíamos levar seu carro, que ela o deixaria amanhã.

Logo será de manhã, e saber que este dia terminará em alguns


minutos me traz uma estranha quantidade de alívio. Apoio uma
perna no meu peito, a outra deitada na grama, e olho para o
horizonte por pelo menos dez minutos antes que a porta do pátio
se abra.

Acho que não está na cama, afinal.

Eu mantenho meu foco no céu, desejando que o sol faça seu


maldito trabalho e marque o início de um novo dia. Passos
hesitantes se aproximam de mim, e um pequeno suspiro escapa
dos lábios de Gem quando se senta na grama molhada ao meu
lado. Percebo que seus ombros estão envoltos em um cobertor
grosso, seus cachos ainda úmidos do banho.

— Vou levar Lexie ao banho tosa. — Ela tenta puxar conversa.

Aceno em resposta. Eu não sei mais como falar com ela. Uma
pessoa normal optaria por - obrigado por salvar minha vida - mas
não parece certo. Não parece suficiente.

Eu deveria odiar a porra desta garota. Deveria mandá-la fazer


as malas, e agora?

Agora estou feliz que meu pai medíocre a contratou para o


verão. Isso mesmo, estou feliz.

O que diabos aconteceu comigo?

Quando não respondo, ela pega um dente-de-leão saindo da


grama recém-cortada e me oferece.

— Um dente-de-leão por seus pensamentos — diz baixinho.

Abro um sorriso e viro minha cabeça em sua direção. Seus


grandes olhos castanhos ainda estão um pouco vermelhos e
inchados de tanto chorar. Sua boca está rosada, inchada por seu
lábio nervoso que mordeu no caminho para casa. Ela me olha
através de uma cortina de cílios grossos, e cerro os punhos para
manter meus impulsos sob controle.

Porra, as coisas que quero fazer com essa garota...

Pena que nunca mais poderei tocá-la.

Vejo agora. Ela é pura demais, boa demais - muito inocente.

Pelo amor de Deus, ela arriscou sua vida por mim. Quando a
ponte cedeu, poderia ter me deixado lá. Eu, o filho idiota do seu
chefe, que adora tornar a sua vida miserável. Ela poderia ter
fugido, ninguém jamais saberia. Eu seria apenas mais uma
história triste em um jornal de cidade pequena.

Ela, contudo, não fugiu.

Ela ficou, sabendo muito bem que a ponte não duraria muito
mais tempo. E pode agir com firmeza, mas não há nada além de
luz no coração de Diamond Mitchell. Eu a quebraria em um
segundo se colocasse minhas mãos nela novamente. E ela não
merece ser quebrada.

Ela não.

— Desculpe, vou deixá-lo com isso — murmura após a minha


falta de resposta.

Empurra para ficar de pé, pronta para voltar para a casa,


quando minha mão dispara para cima e pego seu pulso no ar. Eu
nem queria fazer isso. Nem queria soar como um filho da puta de
classe mundial enquanto murmuro — Obrigado.

Ela está atordoada, mas se recupera rápido o suficiente.


— Pelo quê? — Questiona como se realmente não soubesse.

— Salvar a minha vida — esclareço.

Posso sentir meus dedos puxando seu pulso, desejando que


ela se sente novamente, e me pergunto por que meu corpo é um
idiota desafiador que não ouve meu cérebro. Surpresa com meu
pedido silencioso, obedece, recuperando seu assento ao meu lado.
Ela abre um sorriso quando se senta na grama molhada.

— O que mais eu faria? Deixá-lo cair?

— Poderia — indico. — Depois de tudo que fiz com você, não


iria culpá-la.

Espero que ela me dê outra linha nauseantemente agradável,


mas em vez disso, me dá um tapa na parte de trás da cabeça.
Chocado, pisco para ela. Ela acabou de me bater?

— É isso que merece por tudo que fez comigo. — Encolhe os


ombros. — Não a morte.

Com isso dito, direciona seu foco para a luz distante e as cores
rosadas lançadas sobre a colina. O sol deverá nascer a qualquer
momento agora.

Ela me bateu, me acertou na porra da cabeça, e estou sorrindo.

Essa garota é um maldito mistério para mim.

Eu zombo. — Você é alguma coisa, Mitchell.

Ela vira a cabeça para olhar para mim. — Uma coisa boa ou
uma coisa ruim?

O tipo de coisa que quero quebrar e proteger de uma vez.


— O júri ainda está discutindo. — Gentilmente bato meu
ombro no dela.

— Não me faça me arrepender de ter arrastado sua bunda


daquela ponte, Richards — brinca.

Não falamos por alguns segundos, olhando para longe.

Ela quebra o silêncio. — Eu tenho uma pergunta.

— Diga.

— O que foi aquela reunião sombria na floresta?

— Eu devia dinheiro ao canalha — digo.

— Não me diga. — Bufa. — O que quis dizer é por quê? Você


não é rico?

Meu corpo inteiro se contrai com a sua pergunta. Não posso


ser honesto. Eu quero, mas não posso.

Ela pode pensar que viu o pior de mim com o termostato e


brincadeiras de roupas na fonte, mas não tem ideia. Deus, ela não
tem ideia de quão longe estava disposto a ir para me livrar dela.

Tudo o que fiz foi para machucá-la, mas isso foi antes de ela
salvar minha vida. Ela nunca poderá saber o que fiz com aquele
dinheiro.

— Eu não sou rico. Meu pai é — explico.

Ela acena. — Para que era o dinheiro, afinal?

— Acho que foi para maconha? Honestamente não consigo me


lembrar — minto por entre os dentes.
— Além disso, por que estava naquela ponte?

Eu rio de sua franqueza. — Você disse uma pergunta.

— As pessoas mentem. Deixe isso para trás. — Ela sorri,


felizmente inconsciente da ironia da situação.

— O que posso dizer? — Dou de ombros, deitado de costas na


grama. — A merda não é divertida, a menos que quase me mate.

Ela segue minha liderança, deitando-se ao meu lado e virando


a cabeça para o lado para me olhar. — Sim, mas por que Silver
Bridge? Era como se soubesse para onde ia. Andou para a floresta
e foi direto para lá.

— Foi onde meus pais se conheceram — admito, colocando


meu braço debaixo da minha cabeça para me apoiar.

Silêncio.

Ela não sabe o que dizer, então a poupo do trabalho de


inventar uma versão malfeita de “Sinto muito, sua vida é tão ruim”.

— Aqueles bosques, a ponte – foi ali que tudo começou. — Eu


rio. — Engraçado, não é? Tudo o que as pessoas fazem são falar
sobre outras pessoas morrendo naquela ponte. Enquanto isso, é a
única razão pela qual nasci.

Qualquer outra garota teria pena de mim, mas estamos


falando sobre a garota que me chamou de merda quando estava a
beira da porra de uma ponte, então não estou surpreso quando
pula na festa da pena.

— Como isso aconteceu? O primeiro encontro deles?


Eu sorrio. — Era quatro de julho. Todos os anos, as pessoas
se reuniam na Silver Bridge para assistir aos fogos de artifício.
Melhor vista da cidade.

Ela ouve com atenção.

— Ela tinha acabado de se mudar para cá. Meu pai passou a


noite ficando bêbado para ter coragem de convidá-la para sair. E
quando finalmente teve coragem de caminhar até ela, acabou
vomitando projéteis em toda a sua camisa.

Uma pequena risada desliza por seus lábios. — Uma forma de


causar uma boa impressão.

— Ei, ele deve ter feito algo certo, ou eu não estaria aqui. —
Zombo e mexo com a corrente de prata em volta do meu pescoço.
Está torcida e desconfortável como a merda.

Gem me observa lutar por um momento antes de ajudar.

— Deixe-me fazê-lo.

Aproxima-se, pressionando seus seios no meu braço, e começa


a desembaraçar a corrente que nunca tiro. Meu olhar encontra sua
boca instantaneamente. Ela afunda os dentes em seu lábio inferior
carnudo enquanto se concentra na tarefa em mãos.

Não vou mentir, ela é fofa pra caralho quando está


concentrada.

Que porra acabei de pensar?

— Sua mãe fez isso? — Ela se afasta, me tirando dele.

Não tenho certeza se quero ir lá com ela, ou com qualquer um.


Não respondo imediatamente, debatendo sobre deixá-la ver
ainda mais da minha escuridão. Para ser justo, já viu mais em
uma única noite do que a maioria dos meus amigos jamais verá.

— Percebi que Xavier também tem uma — acrescenta.

— Sim. Ela nos deu correntes combinando no meu aniversário


de oito anos. — Faço uma pausa, uma zombaria amarga surgindo
na minha garganta. — Logo antes de ela entrar em um barco para
a morte.

Meu humor negro parece assustá-la porque não ri. Em vez


disso, ela me olha com uma pena que murcha a alma, o olhar em
seus olhos me fazendo querer tirar uma página do manual do meu
velho e vomitar em todos os lugares.

— No seu aniversário? — Resmunga.

Eu tremo. Não estou surpreso. Essa é a reação comum quando


digo às pessoas que minha mãe entrou no barco como presente de
aniversário para mim. Não é como se também pudesse culpá-los.
Imagine sua mãe morrendo no seu aniversário porque concordou
em pegar um barco com você.

Inferno, teria pena de mim mesmo.

— Foi nesse dia que ela te deu Lexie? — Dia pergunta.

Arqueio uma sobrancelha.

— Theo me disse que ela foi um presente da sua mãe — diz.

Aquele tagarela. — Foi no dia anterior, na verdade.


Um sorriso se estende sobre seus lábios. — Deve ter ficado tão
feliz.

Concordo. — Radiante. Eu implorava aos meus pais por um


cachorro desde que tinha idade suficiente para saber o que era um
cachorro.

— Como contaram?

Sou eu que estou sorrindo agora.

— Minha mãe disse que uma surpresa estava esperando por


mim no quintal. Estava excitado pra caralho. Eles deixaram Lexie
no pátio, mas enquanto estavam fora, ela começou a perseguir um
esquilo e se afastou. Saí correndo de casa e encontrei um esquilo
morto. Feliz aniversário para mim.

Ela ri. — Como você reagiu?

Eu rio. — Definitivamente me perguntei se minha mãe estava


me dando um animal morto por um segundo.

Memórias fluem através de mim. — Então, eu a vi.

Nunca esquecerei de ver Lexie correndo em minha direção


naquele dia. Imediatamente soube que essa adorável assassina de
esquilos se tornaria minha melhor amiga.

— É por isso que é tão protetor com ela. Porque sua mãe a deu
para você — reúne.

— Difícil não ser. Prometi à minha mãe que cuidaria dela, não
importa o quê. Jurei que a protegeria. Sempre.

Há um momento de silêncio.
— O nome do seu pai é Hank. — Não parece uma pergunta,
mas uma afirmação.

— Sim?

— E o nome da sua mãe era Nora, certo?

Concordo. Instantaneamente, seus olhos se iluminam. Ela viu


a árvore deles, não viu?

Aquele com suas iniciais gravadas nele? Essa é a única coisa


que faz sentido.

— Sabe que as pessoas dizem que a ponte está amaldiçoada.


— Mudo de assunto antes que comece a me interrogar novamente.
— A lenda diz que cada alma perdida que passar pela ponte terá
um fim trágico.

— O que você acha? — Pergunta.

Dou de ombros. — Normalmente, diria que é um monte de


merda, mas... depois do que aconteceu esta noite, uma maldição
não é tão absurda.

— Essa é a coisa com maldições. — Rola para o lado, dando-


me toda a sua atenção. — Podem ser quebradas.

Eu faço o mesmo.

— Somente heróis quebram maldições, Gem. E não sou


nenhum herói.

Nossos olhos se encontram, e procuro seu rosto por um


vislumbre de dúvida. Não há nada.
Todos nesta cidade esquecida me olham como se estivesse
danificado; além da ajuda. Todos menos ela.

— Você não aprendeu nada com os contos de fadas, Richards?


Raramente nos tornamos heróis até o final da história.

Minha boca se abre.

Ela teve que puxar minha bunda para cima de uma ponte que
entrei voluntariamente, e ainda tem fé em mim. Vê algo que não
está lá. Cara, vai doer quando ela cair de sua nuvem.

— Minha vez — falo. — Por que me seguiu?

Ela faz uma pausa por um segundo, manchas de medo


flutuando em seus olhos castanhos.

— Só estava curiosa.

Eu bufo. — Besteira.

— Não estou mentindo. — Ela vira de costas.

— Resposta errada. Tente novamente. — Eu tiro a verdade


dela.

— Jesus Cristo, tudo bem. Estava preocupada com você. Eu


me preocupo com sua bunda imprudente - grande coisa.

Eu já sabia disso, mas com certeza é bom ouvi-la dizer isso.

— Olha, Gem... Se você está obcecada por mim, é só dizer.

Ela solta uma risada amarga.


— Oh, isso é ótimo vindo do cara que quase sufocou alguém
até a morte por falar sobre mim.

Merda. Ela me pegou lá.

Finn, 0.

Gem, 1.

— Eu não o teria matado.

Isso é uma mentira. Eu não o teria matado intencionalmente,


mas o desmaiado quando falou sobre fazer essas coisas com ela.
Quem sabe o que teria acontecido se ela não tivesse aparecido.

— Se você está obcecado por mim, é só dizer. — Ela me dá um


gostinho do meu próprio remédio.

Estou preparado para responder quando ela empurra uma


mecha de seu cabelo atrás da orelha.

Meus punhos imediatamente se fecham em bolas apertadas.


Que porra? O que é isso?

Há um corte no seu braço. Uma longa e profunda lesão


vermelha que se estende desde o pulso até o cotovelo.

— Quem fez isso com você? — As palavras saem da minha


boca antes que possa piscar.

Ela olha para o braço, sentando-se instantaneamente e


cobrindo o ferimento com a palma da mão. — Oh isso? Não é nada.
Tenho isso desde sempre.

Ela está cheia de merda. Parece fresco.


Deus, eu fiz isso com ela, não foi?

Ela deve ter se machucado quando estava tentando me


levantar. Sou rápido para sentar e pegar seu braço em minhas
mãos para dar uma olhada mais de perto.

— Não minta para mim, porra — grito.

Ela entende que está presa imediatamente. — Nem dói.

Em resposta, aperto levemente seu braço perto de sua ferida,


e ela se encolhe.

Mentirosa.

— Nunca deveria ter ido para aquela porra de ponte. — Caio


de volta na grama com um suspiro.

Por que diabos estou tão louco? Por que diabos eu me importo?

— Não faça isso. — Ela se deita de volta, guiando meu rosto


para o lado. Nossos olhos se encontram novamente, mas os meus
estão queimando de raiva.

— Não se culpe. Se eu conhecesse o lugar onde meus pais


biológicos se conheceram, estaria lá em um piscar de olhos —
confessa.

Agarro a chance de mudar de assunto para tirar minha mente


de seu braço ferido. Antes que saia e estrangule outra pessoa.

— Você não sabe muito sobre eles, hein? — Pergunto.

— Que tal nada — corrige. — Não me entenda mal, amo meus


pais até a morte, mas ainda me pergunto, sabe?
— Por que simplesmente não pergunta a eles?

— Acho que não quero parecer uma idiota? Eles fizeram tudo
por mim, e aqui estou eu, querendo saber mais sobre os sacanas
que me entregaram. — Faz uma pausa. — Bem, tecnicamente,
minha mãe morreu, então não podia cuidar de mim, mas meu pai
não vasculhou o planeta para me encontrar.

— Talvez ele não saiba.

— É ruim que eu espere que esteja certo? — Ela morde o lábio


inferior, e meu pau estremece na minha calça.

Porra, pensei que tinha toda essa coisa de pare de imaginar os


seus peitos saltando na minha cara contido.

Claramente, eu estava errado.

— Não. Se ele sabia, é um merda que abandonou sua filha. Se


não sabia, há esperança — eu a tranquilizo.

Ela dá um sorriso agradecido, como se precisasse da


confirmação de que não é uma pessoa terrível. O engraçado é que
é a pessoa menos terrível que já conheci.

O sol está quase nascendo, o céu uma mistura de rosa, laranja


e vermelho. Passamos o minuto seguinte assistindo a Mãe
Natureza fazer suas coisas.

— Você disse algo mais cedo... — Sua voz está trêmula, como
se o que está prestes a dizer a assustasse. — Essa merda não é
divertida, a menos que quase te mate?

Eu concordo.
Ela inala uma respiração afiada para manter sua ansiedade
na linha. — É por isso que me beijou? Aquela noite na adega?
Porque gosto de veneno?

Pergunta justa, mas estou um pouco chocado que ela teve a


coragem de trazer isso à tona.

— Eu te beijei porque você é a única coisa que não...

Sua boca se abre com a minha admissão.

— Espere, está dizendo que absolutamente nada lhe traz


alegria?

— Estou dizendo que as coisas que me trazem alegria também


me trazem culpa.

Presumo que sua coragem recém-descoberta acabou até que


coloca a mão trêmula no meu estômago e suga uma respiração
trêmula.

— Mesmo isso?

Tenho certeza de que estou sonhando quando seus dedos


deslizam em direção à minha virilha. Meu olhar se conecta com o
dela, as promessas que fiz a mim mesmo de nunca mais tocá-la
explodindo em chamas.

Tecnicamente, é ela quem me toca. Isso não conta, não é?

Suas bochechas estão vermelhas brilhantes, suas pupilas


dilatadas e seu peito está se movendo para cima e para baixo em
um ritmo alarmante.
Ela quer isso. Meu pau incha quando começa a brincar com o
cós da minha calça.

Nenhuma. Porra. Maneira.

Eu disse que tinha acabado. Que ela era boa demais, pura
demais para mim. Que ela não merecia ser quebrada.

— Dia — aviso em uma tentativa fraca de assustá-la, mas ela


pisca para mim, tão dolorosamente sem noção da estrada perigosa
em que está se aventurando.

— O-o que tem isso? — Gagueja, deslizando a mão dentro da


minha calça e atraindo um gemido de algum lugar no fundo da
minha garganta. — Isso faz você se sentir culpado?

Baby, você não faz ideia...

Todas as apostas estão canceladas quando segura meu pau


sobre minha cueca e aperta. Seu toque é tímido e gentil. Ela me
apalpa tão suavemente que é enlouquecedor. Não faça isso com
ela, grita minha consciência, mas meu corpo se recusa a puxar o
cordão do pânico.

E minha boca? Minha boca é uma traidora.

— Porra, você está me matando. — Jogo minha cabeça para


trás, me odiando porque sei como essa história termina. Vou pegar
tudo que essa garota tem para dar.

Até não sobrar nada. Até que esteja tão vazia quanto eu.

Ela puxa a mão para fora da minha calça, descansando os


dedos no meu abdômen. — Está tudo bem? Posso parar, eu…
Não penso em meu próximo passo, agarro seu punho e o
empurro dentro da minha cueca. Sua mãozinha desajeitada
envolve meu pau instantaneamente, meus quadris empurrando
para frente com o contato. Ela começa a me esfregar para cima e
para baixo, seu aperto ficando cada vez mais apertado enquanto
guia o punho para a cabeça do meu pau, depois de volta para a
base.

— Oh, porra — gemo com os dentes cerrados. Ela não parece


saber o que está fazendo - deve ter se passado um tempo desde
que esteve com um cara - e isso me excita ainda mais. Estremeço
quando me aperta um pouco forte demais.

— Machuquei você? — Ela entra em pânico, a garota forte e


atrevida cuja boca barulhenta aprendi a apreciar enterrada
profundamente sob uma montanha de insegurança.

Ela começa a tirar a mão da minha calça, mas posso morrer


de um sério caso de bolas azuis se ela parar agora.

— Não pare, porra. — Estou praticamente lhe implorando


neste momento, e talvez desse a mínima se a sua mão não
estivesse tão boa.

A pior parte é que é bom porque é ela. Ela continua sua


masturbação francamente desajeitada por alguns minutos, e se
fosse qualquer outra garota me tocando, provavelmente acharia
sua técnica meh.

Ela está se segurando, prisioneira de sua própria cabeça.


Precisa parar de pensar demais nisso.

Ela engasga quando alcanço a parte de trás de seu cabelo e


esmago minha boca contra a dela. Há um desespero na maneira
como a beijo, e parece um pecado. Como se estivesse corrompendo
um anjo, garantindo a ela um lugar no inferno. Arrastando-a
comigo...

Mordo seu lábio inferior um pouco, massageando seu crânio


para ajudá-la a relaxar, e gradualmente alivia seu aperto no meu
pau. Minha língua sai para lamber a costura de sua boca enquanto
se abre para mim, gemendo contra meus lábios conforme puxo seu
pulso e a puxo para mais perto. Eu a tenho presa a mim em um
instante, sua perna direita dobrada sobre minhas coxas à medida
que continua tentando me masturbar em minha cueca.

— Diga-me o que fazer — resmunga dentro da minha boca.

Eu poderia gozar apenas com isso. Foda-se sim, vou mostrá-la


o que fazer.

Ainda beijando-a, empurro minhas calças para baixo com uma


mão, a outra perdida em seus cachos. Meu pau balança contra
meu estômago, a ponta batendo no meu abdômen quando minha
cueca desliza.

Estou tão duro que é uma tortura.

Ela interrompe o beijo no segundo seguinte, me olhando com


um olhar curioso em seus olhos. Sei muito bem que não é por
causa do meu tamanho – vamos apenas dizer que nunca tive um
problema nesse departamento – o que me leva a acreditar que o
meu é o primeiro pau que ela já viu.

Merda, ela é virgem? Não. Não é possivel.

Eu sempre assumi que ela tinha estado com pelo menos um


cara. Quero dizer, pelo amor de Deus, olhe para ela, mas sua
masturbação desajeitada e o jeito que está devorando meu pau
com os olhos? Estou começando a pensar que não está apenas
enferrujada.

Espere… e se a adega fosse…

Não, de jeito nenhum esse foi o seu primeiro beijo.

As perguntas escapam da minha mente quando ela engole em


seco e circunda meu eixo com o punho.

— O que agora? — Pergunta.

— Cuspa na sua mão — instruo, e suas bochechas queimam,


mas obedece, cuspindo dentro de sua palma e baixando seu punho
de volta para mim. Gemo enquanto acelera e diminui no meu
comprimento, a sensação é cem vezes melhor do que quando
estava preso dentro da minha cueca.

Eu me imagino fodendo cada um de seus buracos,


mergulhando em sua boceta possivelmente virgem, e merda...
começo a tremer. Pulsando entre seus dedos.

— Porra, Dia. Preciso da sua boca. Dê-me sua boca, baby. —


Pareço uma putinha em agonia para meus próprios ouvidos e não
tenho dúvidas de que devo soar ainda pior para ela. Realmente não
espero que ela faça isso. Se eu estiver certo e ela for virgem, pode
não estar pronta para um boquete.

Quase perco a cabeça quando ela se ajoelha ao meu lado e


chupa a cabeça do meu pau em sua boca.

Sim, acabei. RIP, minhas bolas.

Ela é tímida no jeito que me chupa, me levando mais fundo


centímetro por centímetro até que acidentalmente engasga.
— Isso mesmo, baby — grunho, torcendo seu cabelo
ligeiramente molhado em volta do meu punho.

Ela geme com o meu comentário, e tenho que aproveitar cada


gota de autocontrole do meu corpo para não foder sua boca.
Mentalmente retiro tudo o que disse sobre ela ser virgem quando
gira a língua ao meu redor.

Não tem como ela chupar meu pau assim. Esta não pode ser
a sua primeira vez.

Vejo o sol nascendo ao fundo enquanto sua cabeça balança


para cima e para baixo com cada golpe de sua língua. Quero me
dar um tapa quando empurro com força para baixo em sua cabeça
e a faço engasgar.

Que porra estou fazendo?

Ela imediatamente se afasta, seu olhar sugerindo que fui longe


demais. — Faça isso de novo e vou morder.

Eu retiro minha mão de seu cabelo na hora. — Merda, me


desculpe. Quer parar?

Espero que ela me deixe esperando ou cumpra sua promessa


e morda meu pau, mas não o faz, hesitante em aceitar minhas
desculpas, mas já estou perdendo minha ereção. Saber que a forcei
a algo que não gosta é suficiente para matar o clima, e ela percebe
meu pau encolhendo.

— Não disse que queria parar. Só não empurre minha cabeça


novamente. — Desenha a linha e guia sua língua de volta para a
cabeça do meu pau.
Minha ereção está de volta em um microssegundo, e porra,
nunca pensei que poderia ficar tão excitado por uma garota me
repreendendo. A maioria das garotas com quem estive não
estabeleceu limites. Olhavam para mim com minhas bolas na
boca, engasgando com todos os tipos de problemas de papai,
praticamente implorando por um pedaço do meu afeto, mas ela
não dobraria sua moral para a minha aprovação, e essa merda ali
é a porra mais sexy que vi na minha vida. Jogo minha cabeça para
trás quando ela faz a única coisa que não esperava.

Ela me enterra na garganta de bom grado.

É quando entendo. Não é que ela não quisesse fazer isso; só


não queria sentir que isso foi tirado dela. Estremeço quando ela
me olha, um fogo furioso e essa satisfação imperdível em seu olhar.

Está se divertindo com essa merda. Ela adora me ter à sua


mercê.

Sei que estou a segundos de explodir quando seu punho se


junta a sua língua.

— Porra, Dia, vou explodir na porra da sua garganta. — Aperto


minha mandíbula, dando a ela a chance de se afastar antes que
seja tarde demais. Achei que o mínimo que poderia fazer era avisá-
la para que pudesse tomar a decisão por si mesma, mas não se
mexeu.

Em vez disso, engasga com meu pau novamente. — Então


faça.

Piedosa. Porra. Merda.

A próxima coisa que sei é que estou descarregando em sua


boca, bombeando meus quadris com impulsos gananciosos e
sujando a inocência que jurei proteger há menos de uma hora.
Acho que nunca gozei tanto na minha vida. Sério. O “coronel” pode
entrar em greve depois disso. Ainda estou convulsionando quando
libera a boca da minha ponta com um estalo. Eu a vejo engolir meu
esperma enquanto limpa uma gota de sua boca com o indicador.

Meu Deus, onde estava escondendo essa garota?

De joelhos, ela se senta sobre os calcanhares, seus cachos


pretos uma bagunça linda e seus lábios carnudos brilhando com
a necessidade. Trocamos olhares, e o medo cortando seus olhos
me diz tudo o que preciso saber.

Ela não é a única que se desconectou da realidade por um


momento. Nenhum de nós fala por um tempo, e esse silêncio
parece decisivo. Mal enfiei meu pau semiduro de volta em minhas
calças antes que ela soltasse — Esta é a parte em que você corre.

E ela está certa. Eu sempre corro.

Corri no dia da adega. Corri no dia em que a encostei na porta


do quarto.

Se os últimos dez anos me ensinaram alguma coisa, é que sou


muito bom em fugir sempre que se torna real, mas não há um osso
no meu corpo que queira fugir agora.

Sem um aviso, agarro seu pulso e a puxo de volta para a grama


comigo. Ela cai no meu peito, sua cabeça pressionada contra meu
peitoral à medida que coloco meu braço tatuado em volta de sua
cintura. Nenhuma palavra é dita pelos próximos trinta minutos.
Então noto que sua respiração se torna regular. Está com o nariz
enfiado no meu pescoço ao mesmo tempo que dorme pacificamente
em meus braços como um cordeiro para o matadouro. Ela diz que
eu deveria correr, mas esta noite provou que estou disposto a
manchar até as almas mais gentis e virtuosas apenas para obter
minha dose…

E se alguém deveria estar correndo?

É ela.
Há algo molhado na minha bochecha.

Eu tento abrir meus olhos, mas a luz é ofuscante, e me


pergunto como consegui dormir em primeiro lugar.

Merda, minhas costas doem.

Meus olhos se abrem quando me sento ereta, meus sentidos


lentamente se reconectando com meu corpo. A primeira coisa que
vejo é Lexie inclinando a cabeça para o lado antes de passar a
língua pela minha bochecha. Estou surpresa por me encontrar
sentada na grama do quintal, mas não tão surpresa quando olho
para baixo e vejo Finn dormindo profundamente ao meu lado.

Tudo volta correndo.

A Ponte. Finn caindo. A... outra coisa.

Puta merda.

Parte do cobertor que tinha enrolado em meus ombros na noite


passada cobre Finn, a outra metade espalhada sobre meu colo.
Nós caímos no sono, mas por que Lexie está no quintal?
Alguém teve que deixá-la sair

— Que porra é essa? — Uma voz masculina me leva a uma


parada cardíaca. Viro minha cabeça para trás para ver um Theo
de ressaca avançando em nossa direção. Parece que se arrastou
para fora dos poços de fogo do inferno.

Deve ter acabado de chegar em casa. Lacey disse que o


deixaria de manhã. Dou uma cotovelada nas costelas de Finn como
se tivéssemos sido pegos em flagrante, quando na verdade, ambos
estamos completamente vestidos. Ele geme e se mexe um pouco,
ainda meio adormecido.

— Finn! — Dou a seu ombro uma sacudida vigorosa. Ele abre


os olhos e estremece ao sol, bloqueando a luz com a palma da mão.

Percebe Theo alguns segundos depois, mas não reage, sua


expressão um enigma frustrante. Tirando o cobertor de seu corpo,
Finn boceja, se alongando como se não tivesse nenhuma
preocupação no mundo. Fomos pegos abraçados no quintal, o que
não é grande coisa em si, então por que sinto que Theo sabe tudo?

Ironicamente, Theo parece sem noção.

Eu pensei que talvez Finn tivesse dito a ele que tínhamos feito
coisas antes – não é nenhum segredo que os caras gostam de falar
mal – mas Theo não parece estar envolvido nisso.

Se alguma coisa, parece que não tinha ideia de que Finn e eu


poderíamos suportar estar na presença um do outro por alguns
minutos, muito menos uma noite inteira. Vermelho arde em
minhas bochechas quando o choque de Theo se transforma em um
sorriso suspeito.
— Ora, ora, o que vocês dois estavam fazendo? — Faz a
pergunta ardente, e espio Finn, temendo sua resposta.

Gostaria de dizer que não espero que a noite passada tenha


significado algo, mas salvando a vida de Finn, revelando segredos
no escuro, para o boquete particularmente imundo, foi muito
intenso. Finn me pega olhando para ele, mas não me dá atenção,
levantando-se.

Então dá um sorriso arrogante para Theo e diz — Tente


adivinhar porra.

Os olhos de Theo transmitem sua compreensão. E minha


garganta dói pra caralho. Claro que sim, era tudo para ele.

— Vou para a academia. Você vem? — Finn caminha até a


casa sem me dar um olhar, e Theo segue o exemplo.

— São oito horas da porra da manhã do dia seguinte a uma


festa e quer malhar? Cara, você precisa de ajuda — Theo zomba.

Ainda estou sentada na grama, observando-os ir embora,


quando Finn para na porta de correr e me lança um olhar por cima
do ombro. Sou quase tola o suficiente para acreditar que vai me
compensar de alguma forma.

Talvez sorria. Qualquer coisa para ajudar a me livrar da


sensação de ser usada e jogada fora, mas suas feições
permanecem tão frias quanto possível.

— Não se esqueça de levar Lexie ao banho tosa — ele me


lembra.

Depois de deixar claro que nunca fui nada mais para ele do
que sua garota de recados, volta para dentro.
Estou atordoada, envergonhada, mas principalmente... Estou
furiosa.

Não posso acreditar que dei a esse idiota tantas das minhas
estreias, e para quê? Ele não poderia se importar menos comigo. A
triste verdade surge em mim quando me levanto e enrolo o cobertor
em meus braços.

Eu tenho que ir embora. Fiquei por Lexie antes quando achava


que Finn era um dono terrível, mas Theo estava certo – a única
coisa que Finn Richards ama neste mundo é seu cachorro.

Ela está segura com ele.

Meu coração, no entanto?

Não muito.

Uma semana depois

Eu fiz a coisa certa.

Palavras que tenho me alimentado à força desde o dia em que


arrumei minhas malas às pressas e saí da casa dos Richards.
Liguei para o pai de Finn para desistir quando estava voltando
para casa. Exceto, não tive coragem de entregar minha demissão
e acabei fingindo um resfriado forte.
Minha performance me rendeu sete dias inteiros deitada na
cama sem fazer absolutamente nada. Disse aos meus pais que
também estava doente. Sabia que meus pais ficariam desconfiados
se eu desistisse agora com apenas duas semanas de trabalho, e
não conseguia lidar com as perguntas. Tive muito tempo para
pensar enquanto prisioneira do meu próprio quarto, e cheguei à
conclusão de que não consigo suportar a ideia de nunca mais ver
Lexie.

Eu sinto falta dela. Sinto tanto a sua falta que dói.

Vou me oferecer para cuidar dela de graça assim que o Sr.


Richards voltar para a cidade. As chances são de que Finn esteja
muito ocupado com o basquete assim que a escola começar. Tenho
certeza que posso descobrir uma maneira de vê-la sem esbarrar
nele.

Certamente, duvido que seja capaz de evitá-lo agora.

Sr. Richards me ligou esta manhã para me dizer que um amigo


dele estava na cidade e poderia tirar uma licença antecipada se
quisesse. No começo, estava preocupada que talvez ele quisesse se
livrar de mim e não estivesse satisfeito com meus serviços de babá
na sua casa, mas então ele me deu um bônus enorme pelo trabalho
bem feito.

Decidi voltar para casa para pegar o resto das minhas coisas
e ver Lexie novamente antes de fechar oficialmente o livro neste
verão. Ei, Finn pode não ser o único, mas pelo menos me ajudou
a ganhar um pouco mais de experiência. E pode ter tirado a
maioria dos meus primeiros, mas nunca conseguirá o grande V.

Meu carro novo ruge alto enquanto dirijo até a casa pela última
vez. Eu finalmente tive o suficiente para comprar meu carro de
Brenda alguns dias atrás, e meus pais o levaram para casa para
me surpreender. É um pouco barulhento, mas só tem que durar
até o último ano – o plano é abandonar as despesas do carro
quando eu for para a faculdade.

Duke será caro o suficiente como é.

A casa está silenciosa quando cruzo a soleira. Nenhum sinal


de Finn ou Theo. Não poderia estar mais animada com a recepção
calorosa de Lexie, mas ela não corre para a porta como sempre faz.
Lutando para se levantar da cama, se arrasta pelo corredor com
óbvia dificuldade. Parece exausta. Está cada vez mais cansada
ultimamente.

— Venha aqui. — Eu a encontro no meio do caminho e me


ajoelho na sua frente. Ela coloca todo o seu peso em mim quando
estendo meus braços ao seu redor, e ela descansa a cabeça no meu
ombro.

Algo está errado.

— Lex, você está bem? — Pergunto como se esperasse que ela


me respondesse.

Percebo algum tipo de secreção ao redor dos seus olhos, e é


preciso tudo o que tenho para não pular na internet e me assustar
até a morte procurando a causa. Não tivemos notícias do
veterinário após seus testes anuais, e assumi que estava tudo bem,
mas estou começando a me preocupar que os testes ainda não
chegaram.

Passo a maior parte do dia deitada no sofá com Lexie, tentando


ligar para sua veterinária ridiculamente cara – tentando a palavra-
chave aqui. A linha está sempre ocupada e devo deixar mais de
sete mensagens de voz pedindo um retorno de chamada.
Lexie sai para fazer seus negócios uma ou duas vezes,
recuando para o sofá como um relógio. Ela também não come nada
ao longo do dia. Por volta da hora do jantar, começo a me
perguntar se deveria simplesmente pegar meu carro e dirigir até
todos os veterinários em um raio de 300 quilômetros até que
alguém concorde em vê-la.

Estou me empurrando do sofá, preparada para pegar Lexie e


carregá-la para o meu banco de trás, quando ouço a porta da frente
bater. Uma voz masculina irrompe no corredor, e fico tensa,
rezando para que o recém-chegado seja Theo ao invés de Finn.
Lexie mal abre os olhos, cansada demais para reconhecer a
companhia.

— Com certeza, estaremos lá. Obrigado. — Reconheço sua voz


antes mesmo de ele pisar na cozinha.

Finn entra bem a tempo de eu vê-lo desligar o telefone. Vai


direto para a cozinha, absorto demais em seus próprios
pensamentos para me notar de pé na sala de estar, e planta as
palmas das mãos na ilha da cozinha. Com a cabeça baixa, solta
um suspiro profundo e pesado como se estivesse prestes a perdê-
lo e aperta os olhos fechados para se manter sob controle.

Só... ele falha.

Todos os pelos do meu corpo se arrepiam quando solta um


rosnado áspero e frustrado e joga o telefone contra a parede da
cozinha com toda a força. A tela de seu telefone se quebra com o
impacto, pedaços de vidro voando por toda parte. Ele acabou de
receber esse telefone alguns dias atrás, depois de perder o primeiro
na ponte.

Sua explosão contém raiva, desespero, medo, e basta um olhar


na direção de Lexie para eu entender a raiz de seu colapso.
É ela. Tem que ser.

Estou ciente de que deveria dizer alguma coisa, tornar minha


presença conhecida, mas parte de mim tem medo de falar com ele
quando está nesse estado. Dediquei a última semana a me
convencer de que Finn Richards é um canalha sem coração que só
se importa consigo mesmo, e não sei se consigo lidar com ele
provando que estou errada.

A escolha é tirada de mim quando inclina a cabeça em direção


à sala e me nota. A cor se esvai de sua pele.

— Você está de volta — diz, sua voz rouca, mas tenho a


sensação de que já sabia disso. Ele provavelmente viu meu carro
estacionado na frente, mas não achou que eu estaria na sala para
testemunhar seu colapso.

— Estou.

— Por quê? — Imediatamente pergunta como se não pudesse


entender meu retorno. Talvez, no fundo, saiba que a maneira como
me tratou há uma semana foi inaceitável.

— Para pegar minhas coisas — admito.

Ele acena com a cabeça, mas não responde, abrindo um


armário e pegando uma vassoura para consertar a bagunça. Estou
furiosa, detestando meu coração tolo por desejar que me peça para
ficar ou peça desculpas enquanto limpa o vidro.

— Há algo errado com Lexie — informo a ele. Talvez uma


mudança de assunto me impeça de desmoronar.
— Eu sei. — Suspira. — Estou tentando uma consulta com
seu veterinário habitual há dois dias. Encontrei outro veterinário
disposto a vê-la amanhã à tarde.

Era com quem ele estava ao telefone quando entrou.

— Graças a Deus — expiro.

Finn vai até o sofá para acariciar Lexie. — Ela dormiu o dia
todo?

— Sim. Não saí do lado dela.

— Vá. Eu fico ela a noite. — Ele gesticula para as escadas.

Não quero deixá-la, mas também estou desesperada por um


banho.

— Tem certeza?

— Dormi com ela no sofá a semana toda. Sim, tenho certeza.

Relutante, me aproximo das escadas em passo de caracol, seu


silêncio quando lhe disse que voltei para pegar minhas coisas
atormentando minha cabeça.

Ele realmente não se importa, não é?

— Vou embora amanhã à noite, a propósito — explico,


apontando para provocar uma reação. — Seu pai me disse que um
amigo dele estava na cidade e eu poderia ir mais cedo se quisesse.

Acho que vejo um traço de dor rasgar seus olhos cor de avelã.

— Tudo bem. — Ele dá de ombros.


Tudo bem. É assim que a história termina? Tudo-merda-bem?

As palavras saem da minha boca segundos antes de meu dedo


do pé encontrar o primeiro degrau. — Tudo bem? Isso é tudo que
tem a me dizer?

Viro para encontrá-lo olhando para mim, uma pitada de


choque em seu olhar.

Eu pareço patética, carente até, mas não consigo evitar... Foi


real.

A noite na biblioteca, na adega, no quintal. Foi tudo real.

Houve uma ligação. E não, não era amor. Não, não era um
conto de fadas, mas era algo. Meu pulso acelera no meu pescoço,
dou a ele uma última chance de fazer isso direito.

Ele passa a mão pelo cabelo, olhando para os pés enquanto


exala. — O que quer que eu diga, Dia? É chamado de emprego de
verão por um motivo.

Então, enfia uma estaca no peito com a gota d'água.

— Depois do verão… acaba.

Há muitas coisas que não sentirei falta em trabalhar para o


Sr. Richards. Para começar, sempre odiei ter que caminhar até a
mercearia próxima quando não tinha carro.
Claro, é apenas uma caminhada de dez minutos, mas carregar
aquelas sacolas pesadas parecia um maldito treino. Lembro-me de
pensar que nunca mais voltaria a andar por lá depois de comprar
meu carro e, no entanto, aqui estou, enfrentando o calor
escaldante para uma última ida ao supermercado.

Eu precisava sair de casa. Fazer algo produtivo e mover meu


corpo em vez de ficar sentada no sofá me preocupando com a
consulta de Lexie esta tarde.

Sem mencionar que eu estava sozinha e entediada. Finn me


enviou uma mensagem dizendo que estava levando Lexie para
passear um pouco antes de eu acordar, e Theo está desaparecido
desde ontem – provavelmente está com Lacey trabalhando em
outro susto de gravidez.

Olhando para as sacolas de compras em minhas mãos, tento


arranjar uma desculpa para minha boa ação. Não viverei com Finn
por muito mais tempo. Realisticamente, nem estarei lá para comer
a comida que comprei, mas não poderia ir embora sabendo que os
rapazes estão duas semanas de macarrão de morrer de fome. Até
fiz algumas caçarolas e as deixei na geladeira esta manhã.

Estou a um minuto de casa quando verifico a tela do meu


telefone e percebo que tenho um novo correio de voz.

Do veterinário de Lexie.

Merda, como pude ter perdido isso?

Não perco um segundo desbloqueando meu correio de voz e


pressionando o telefone no ouvido.

Estático. Um bipe. Então a voz de uma mulher.


— Oi, esta mensagem é para Diamond Mitchell. Este é o
Centro Veterinário de Charlotte. Temos você como contato de
emergência de Finn Richards.

Espere o quê? Finn me escolheu como seu contato de


emergência?

— Não conseguimos alcançá-lo. Estamos ligando para dar


seguimento aos exames de sangue de Lexie e dizer que
encontramos um... — faz uma pausa. — Quantidade anormal de
glóbulos brancos em seu hemograma, o que pode sugerir que algo
está errado. Mais testes são necessários para saber exatamente o
que está acontecendo. Por favor, entre em contato conosco o mais
rápido possível em…

Não ouço uma palavra do que diz em seguida, meus olhos


grudados na mansão dos Richards do outro lado da rua.

O portão da frente está bem aberto. E há uma poça de alguma


coisa espalhada por toda a rua, cobrindo a maior parte da calçada
e serpenteando pelo caminho de asfalto que leva à casa.

Uma das sacolas de compras escorrega das minhas mãos, seu


conteúdo se chocando contra o concreto com um barulho alto.

Porque a poça não é água... Ou lama...

É sangue.
Um milhão de cenários se aglomeram na minha cabeça
enquanto sigo o rastro de sangue na entrada da garagem. Há
apenas um veículo no estacionamento, do Finn. O carro preto está
exatamente onde estava quando saí para o supermercado.

Ele está em casa. Esteve em casa esse tempo todo.

Deus, e se este sangue for dele?

O pânico queima todo o meu corpo como lava quando chego


ao topo da colina, a cena horrível diante dos meus olhos
comprimindo o oxigênio dos meus pulmões.

Está em toda parte. Nas escadas. No alpendre. No capacho.

Sangue cria um caminho em direção à porta da frente, uma


marca de mão sangrenta no centro do vidro.

Entro? Chamo a polícia?

E se alguém estiver ferido lá dentro?

Oh Deus. Lexie.

Ela já está tão fraca e vulnerável.


Meu pulso dispara a cada passo, alcanço a maçaneta,
tomando cuidado para não tocar nas manchas de sangue na porta,
e a abro. A casa está em um silêncio mortal enquanto me aventuro
no corredor e sigo o rastro de sangue contínuo nas áreas
principais.

Quero chamar o nome de Finn, ou de Lexie, mas não consigo


decidir se tornar minha presença conhecida para um possível
serial killer é o movimento certo. Mal entrei na cozinha para pegar
uma faca quando olho pela janela e os vejo no quintal.

Então minha alma deixa meu corpo.

Vejo Finn de joelhos no pátio, sua camisa, mãos e antebraços


cobertos de sangue, mas a pior parte é...

Lexie está deitada em seus braços.

Ela não está se movendo, sangue escorrendo de seu estômago.


Não.

Oh Deus não.

— Lexie! — Estou correndo para o lado de Finn em um piscar


de olhos, caindo no chão e raspando meus joelhos contra o
concreto. Meu vestido branco imediatamente absorve o sangue que
se acumula aos meus pés.

— Onde estão suas chaves? — É a primeira coisa que Finn me


diz.

Sua pele está pálida e seus olhos estão vermelhos. Ele está em
choque.
Meu silêncio o enfurece. — Eu disse, onde estão suas malditas
chaves? Não consigo encontrar as minhas. Não consigo encontrar
minhas chaves. Dê-me suas chaves — repete como um louco.

Lexie ainda está respirando, mas mal.

— O que aconteceu? — Grito, o gosto das minhas lágrimas


cobrindo minha garganta, e removo a jaqueta que joguei em cima
do meu vestido mais cedo.

Aplico pressão no ferimento de Lexie com minha jaqueta,


incapaz de respirar de tanto chorar. Ela geme de dor com o
contato, cada uma exalada uma luta. Enquanto isso, Finn está
completamente fora si.

— Dê-me suas chaves. Precisamos levá-la ao veterinário de


emergência. Precisamos…

— Finn! O que diabos aconteceu? — Eu o tiro disso.

— Eu... eu não sei. Estávamos voltando de nossa caminhada,


e algum babaca bateu nela — diz freneticamente.

— Ela foi atropelada por um carro? — Deixo escapar no topo


dos meus pulmões.

Finn dá um pequeno aceno de cabeça, o trauma em seus olhos


deixando claro que esta é a quantidade máxima absoluta de dor
que um ser humano pode suportar.

— Então ele simplesmente fugiu — acrescenta.

Minha palma voa para minha boca com a realização…

Este foi um atropelamento.


Finn teve que arrastá-la de volta para a casa em seus braços
depois que ela foi atingida na sua frente. Ele provavelmente correu
para dentro de casa, procurando ajuda quando não conseguia
encontrar suas chaves.

— Você chamou a polícia?

— Eles já estão a caminho — confirma. — Dê-me suas


malditas chaves, Dia!

Meu choro se torna histérico quando Lexie fica com frio, seus
olhos castanhos cheios de lágrimas. Seus gemidos diminuem de
volume, e agarro seu rosto entre minhas mãos por um momento.
Ela está com medo. Olhando para mim como se estivesse
esperando por mim para salvá-la. Para aliviar sua dor. Ela não vai
conseguir. E definitivamente não temos trinta minutos para chegar
ao veterinário.

O pânico toma conta de Finn completamente. — Dia, pelo


amor de Deus, estamos perdendo tempo.

— Finn. — Aperto seu rosto. — Olhe para mim. Ela estará


morta quando chegarmos lá.

Ele não gosta da minha resposta.

— Não. Não. Está mentindo. — Balança a cabeça. — Ela ficará


bem. Você ficará bem, querida. Ela ficará bem, certo? — Está me
implorando para mentir para ele.

Percebo que o tempo está se esgotando quando sua respiração


se torna superficial e desesperada, seu corpo tremendo. Uma
lágrima escapa de seus olhos, e a acaricio em uma tentativa de lhe
trazer um pouco de conforto. Ela lambe uma lágrima da minha
bochecha para me confortar, o que só me faz chorar mais.
Memórias das vezes que se aconchegou ao meu lado quando estava
triste torcem meu coração no meu peito. Todas as noites que
passou dormindo ao meu lado. Todas as risadas, os passeios, os
sorrisos.

Esta cachorra é a razão pela qual consegui passar o verão.

Uivando com soluços, beijo o golden retriever no topo da


cabeça e sussurro — Adeus, doce menina.

— Não, ela não está morrendo — Finn retruca.

Não quero nada mais do que passar os últimos momentos de


Lexie segurando-a, mas olhando para Finn? Vendo o desgosto em
seus olhos? Sei que ele precisa dizer adeus mais do que eu. Precisa
ficar com Lexie enquanto ainda pode.

— Você tem que dizer adeus! — Grito, e Finn pisca para mim,
lutando contra as lágrimas com todas as suas forças.

— Pare! Pare de dizer isso, porra. Ela ficará bem. Ela... não
pode morrer.

Nunca vi esse menino chorar antes - inferno, quase nunca o


vi sentir - mas seu orgulho não importa agora.

— Finn, não a deixe ir assim — insisto, sabendo que estaremos


sem tempo em breve. — Ela precisa de você.

Isso é o que faz o truque.

Emoções voltam aos olhos de Finn em questão de segundos,


as paredes que construiu em torno de si se desfazendo tijolo por
tijolo. É como se dez anos reprimindo seus sentimentos chegassem
ao fim quando olha para mim e a verdade bate nele.
A sua filha morrerá. A cachorra que sua mãe lhe deu quando
tinha oito anos. Ela morrerá.

O medo afunda suas garras nele assim que é empurrado de


volta ao mundo real. Então ele perde.

Solta um grito de agonia de cortar o coração, lágrimas


escorrendo pelo rosto enquanto aninha o rosto no pescoço de
Lexie.

— Por favor, não a leve embora. Por favor... — soluça em sua


pele, segurando-a com tudo que tem. — Eu sinto muito, Lex. Deus
me perdoe.

Ele diz como se tudo isso fosse culpa dele. Como se tivesse
falhado com ela de alguma forma. O pânico o domina quando os
olhos dela começam a se fechar, sua respiração desacelera
conforme ela solta um gemido final.

— Não! — Finn embala a sua cabeça em seu peito. — Não, não,


não. Não me deixe, Lex. Por favor.

Então ela se vai. Simplesmente... morrendo em seus braços.

E enquanto as sirenes da polícia ecoam à distância,


aumentando lentamente de volume, sei de fato…

Uma parte de Finn também acabou de morrer.


— Eles terminaram. — Minha voz é apenas um sussurro
quando desligo o telefone com os limpadores de cena do crime que
o Sr. Richards contratou - tragicamente, havia sangue suficiente
para se qualificar para seus serviços.

Finn não se move um centímetro, seus olhos perfurados para


o tempo no painel do carro enquanto murmura algo baixinho.

Acho que está contando? Acompanhando quantas horas se


passaram desde que ela nos deixou?

A resposta é quinze.

Quinze horas desde que um serviço de eliminação de animais


de estimação carregou o corpo de Lexie na traseira de um carro e
a levou embora. Vão cremá-la na primeira hora amanhã.

Finn não derramou uma lágrima desde que a polícia o


arrancou de seu cadáver. É como se mudasse para o piloto
automático, desligando permanentemente qualquer válvula que
estivesse aberta quando desmoronou no quintal.

A cidade inteira sabia do atropelamento na hora do almoço.


Começou com alguns vizinhos intrometidos, depois se
transformou em uma fofoca calorosa para viúvas e vovós
dissecarem durante o chá.

Meus pais estávam explodindo meu telefone, me perguntando


por que há rumores de que Finn testemunhou a atrocidade quando
deveria estar fora no verão. Acabei lhes dizendo que ele voltou para
a cidade no dia anterior, o que acharam aceitável, considerando
que amanhã é meu último dia, de qualquer maneira. Sei que terei
que confessar, eventualmente, mas não posso lidar com eles agora.
A propriedade Richards foi cercada pela polícia menos de um
minuto depois que Lexie deu seu último suspiro. Pensaria que o
Departamento de Polícia de Silver Springs enviou todos os malditos
carros que tinham de uma só vez. E a pior parte? Nem era sobre
Lexie.

Eles não podiam dar a mínima para o cachorro da família


sangrando a nossa frente. A razão pela qual tantos deles
apareceram é porque o “acidente” parecia pessoal.

Calculado.

Finn disse que notou um carro cinza com vidros escuros


seguindo-os durante a maior parte da caminhada. Para piorar,
Lexie não estava em sua melhor forma, então ele não podia fazer
exatamente uma parada na rua para perdê-la. Tinha acabado de
se convencer de que estava sendo paranoico quando ele e Lexie
começaram a atravessar a rua para chegar à casa. Em seguida, o
motorista acelerou e os atacou a toda velocidade.

Finn mal conseguiu sair do caminho.

O xerife Daniels deixou escapar que esta não é a primeira vez


que a família de Finn é alvo. Aparentemente, houve alguns
incidentes após o desaparecimento de Nora Richards – danos
causados à propriedade, tentativas de arrombamentos, até
ameaças de sequestro às crianças. Algo sobre o Sr. Richards
oferecendo uma recompensa de um milhão de dólares para quem
encontrasse sua esposa, quando ainda tinham esperança de que
ela fosse encontrada viva. Seu corpo não apareceu, e pensaram
que talvez, por algum milagre, ela tivesse nadado para a segurança
ou foi arrastada para a praia pela corrente.

A cobertura massiva da mídia e grandes somas de dinheiro


sendo penduradas na frente de pessoas menos afortunadas
acabaram ganhando um pouco de atenção a mais para a família.
Alguns acreditaram que a família tinha a recompensa escondida
em algum lugar da mansão. Outros pensaram que ganhariam
dinheiro arrombando e roubando qualquer merda cara que
pudessem colocar em suas mãos - ainda melhor se essa merda
cara acabasse por ser uma das crianças... Não é de admirar que a
polícia resolveu dar atenção redobrada a este caso.

O Sr. Richards ficou furioso quando soube. Reservou um voo


para casa assim que os policiais o contataram. Pelo que pude
perceber, está disposto a mover céus e terra para encontrar o
bastardo que fez isso com Lexie.

— Finn? Ouviu-me? Podemos ir para casa. — A mentira


imediatamente implora para morrer na minha língua.

Casa.

Não tenho certeza se esta casa voltará a se sentir como sua


casa.

— É quase meia-noite. Precisa descansar um pouco. — Apoio


uma mão em seu ombro, e ele se encolhe, me lançando um olhar
acusador que implica que o tirei de seu lugar seguro.

Aquele lugar em sua cabeça onde gosta de se esconder.

O canto escuro onde nada dói, nada sangra e nada morre.

Ele não quer voltar, mas está escondido naquele mesmo lugar
desde o acidente de sua mãe. Consegui puxá-lo para fora naquele
dia na ponte. Então, novamente esta manhã, quando se despediu
de Lexie.

Não vou deixá-lo ir novamente.


— Finn? — Sussurro, forçando minha sorte e alcançando sua
mão que está nervosamente inquieta em seu colo. — Pode me levar
para casa? Por favor?

Eu o convenci a dar uma volta enquanto os faxineiros


trabalhavam, e estamos estacionados no estacionamento das
nascentes há horas. Pensar que a cidade deve seu nome a essas
nascentes. Inferno, são famosas na Carolina do Norte, mas apenas
duas horas aqui e já vi o suficiente delas para uma vida inteira.

A mão de Finn está gelada, e envolvo seus dedos com meus


dedos, com o objetivo de transferir um pouco do meu calor para
ele. Não reage ou retribui o gesto, mas parece vivo novamente,
como se tivesse acabado de mergulhar de volta à terra, o que é
mais do que poderia dizer um minuto atrás.

Por fim, dá um pequeno aceno de cabeça, retornando a um


mundo que mataria para escapar, e liga o motor. A volta para casa
é tão estressante quanto silenciosa.

Nenhum de nós diz uma palavra, mas o medo que


compartilhamos é palpável. Nós dois estamos apavorados de
entrar na casa e perceber que hoje foi real. Que Lexie não virá
correndo até nós no momento em que entrarmos pela porta.

Porque ela se foi. Porque está morta.

Devemos ter ficado na entrada por mais de cinco minutos,


ambos sem forças para dar o primeiro passo. Até que a vontade de
fazer xixi me obriga a agir, e abro a porta do carro. Finn não segue,
mas não pressiono.

Ele entrará quando estiver pronto.


O sangue na maçaneta desapareceu. Assim como a marca de
mão sangrenta, mas as imagens na minha cabeça são frescas
demais para serem apagadas.

O ar fica preso em meus pulmões quando entro na casa escura


como breu. O cheiro de alvejante queima minhas narinas quando
me aventuro no corredor e acendo a luz. Concentro-me à minha
frente, indo direto para a cozinha.

Estou com medo de ver algo de Lexie. Com medo de


desmoronar sob minha dor.

Sua cama cheia de seus brinquedos favoritos me chama a


atenção quando viro o corredor.

Ainda posso vê-la, me olhando com seus grandes olhos


castanhos e língua de fora. Vejo seu rabo balançando enquanto
corre até mim e lambe meu rosto, sobrecarregada de alegria. Meus
olhos imediatamente embaçam com lágrimas, e corro em direção
ao banheiro para evitar que Finn me encontre no meio do colapso.

Devo ficar lá, chorando em minhas mãos, por mais de cinco


minutos. Até ouvir a porta da frente fechar.

Finn encontrou coragem para sair do carro. Isso é um começo,


mas sei que a parte difícil é o que vem a seguir – ver suas coisas,
sentir sua ausência, coabitar com seu fantasma.

Eu começo a limpar o rímel e maquiagem manchando minhas


bochechas, mas paro ao som de passos rápidos rasgando o
primeiro andar. O que o deixou com tanta pressa?

Há barulho. Mobília em movimento.


Por mais que queira ir lá, prefiro não ser uma bagunça esnobe
e chorona na sua frente novamente. Eu preciso ser forte.

Um de nós precisa.

Consigo controlar meus sentimentos alguns minutos depois,


saindo do banheiro e indo para a cozinha. Ele não está aqui.
Olhando ao redor da sala, me aventuro na cozinha.

— Finn?

Nenhuma resposta. Meu queixo quase bate no chão quando


olho pela janela e o encontro parado no quintal, uma pilha de
coisas não identificadas a seus pés. Percebo que está segurando
alguma coisa.

Uma lata vermelha. Meu coração para.

Isso é... gasolina?

Em alerta máximo, abro a porta do pátio e corro até ele, nem


um pouco surpresa com a falta de emoção em seu rosto. Seus
olhos cor de avelã estão vazios, frios, assustadores enquanto olha
à sua frente e pondera seu próximo passo.

— Finn, o que está fazendo? — Uma mistura de pânico e


choque rouba minha voz. Ele não me reconhece nem um pouco,
como se estivesse em algum tipo de transe, e começa a derramar
gasolina em toda a pilha de coisas à sua frente.

É quando percebo… São coisas da Lexie.

Sua cama de cachorro, seus brinquedos favoritos, seus


cobertores. Tudo o que sempre compraram para ela.
— Finn. — Puxo sua camisa. — Finn, não faça isso.

Nada parece ser suficiente para ganhar sua atenção. — Finn,


porra.

Só então ele olha para mim, a dor que vi em seus olhos quando
Lexie deu seu último suspiro nada mais do que uma memória vaga
e distante.

— Ela não vai precisar mais — diz.

Então gira e corre de volta para a casa. Acompanho cada


movimento dele, implorando para sair dessa à medida que começa
a procurar na cozinha obsessivamente.

— O que está procurando? — Grito mesmo que, no fundo, já


saiba a resposta. Encontra o que estava procurando segundos
depois. Pulo em seu caminho enquanto corre em direção à porta
do quintal com uma caixa de fósforos na mão.

Está tão fora de si que não ficaria surpresa se ele


acidentalmente incendiasse a casa.

— Olhe para mim. — Agarro seu colarinho, tropeçando para


trás quando tenta continuar andando. Um vislumbre de esperança
sobe no meu peito quando sua mão voa para a parte inferior das
minhas costas para me impedir de cair. Ainda há humanidade
nele. Mesmo que seja apenas uma gota.

Ele mantém os olhos fixos na pilha de coisas no quintal,


desviando do meu olhar como se fosse uma arma carregada.

— Olhe para mim! — Grito antes de segurar seu rosto com


ambas as minhas mãos e permitir que nossos olhos se encontrem.
— Isso não vai trazê-la de volta.
Ele engole em seco.

Vejo-o. Ainda está aí. Volte.

— Nem manter a sua merda em casa — diz, sua voz ríspida, e


separa minhas mãos de sua mandíbula.

Eu o impeço de abrir a porta dos fundos.

— Finn, por favor. Isso é uma loucura.

— Saia do meu caminho — avisa com os dentes cerrados.

— Não! — Meu grito é estridente, quase ensurdecedor. — Esta


não é a maneira certa de lidar, e sabe disso.

— Então como? — Grita, o desespero cru e a miséria em sua


voz me apunhalando no coração. — Como vou continuar? Porra
como? Ela está morta, Dia. Deveria protegê-la. Eu... eu prometi a
minha mãe...

Com isso dito, me pega do chão pela cintura e me move para


fora do caminho como se eu não tivesse peso. Está porta afora
antes que perceba.

Sigo-o em direção à pilha de memórias no chão, minha visão


embaçada pelas minhas lágrimas enquanto abre a caixa e acende
um fósforo. A partir daí, espero. É tudo o que posso fazer. Prendo
a respiração e aperto os olhos, esperando que destrua uma grande
parte de sua vida para evitar lidar com isso.

Só que ele nunca faz.


Abro meus olhos para ver Finn com os braços pendurados
para baixo de seu corpo frouxamente, o fósforo aceso preso dentro
de seu punho trêmulo. Ele não consegue fazer isso.

— Pooorra — grita.

Está bravo consigo mesmo. É como se ele pensasse que sua


incapacidade de apagá-la o tornasse fraco. Então, em uma raiva
cega, apaga o fósforo e o joga na grama. Mal tive a chance de
recuperar o fôlego antes que partisse em direção à casa
novamente.

Não perco uma batida, seguindo-o até as escadas – juro que a


descrição do meu trabalho deveria ser Perseguir Finn Richards. Eu
o sigo até seu quarto, onde abre o armário e tira um taco de
beisebol.

Nós travamos os olhos, mas ele está longe demais para ver o
apelo no meu.

Grito quando ele dá um soco na sua foto emoldurada e de seu


time de basquete na parede. A imagem se quebra em mil pedaços,
vidros voando por toda parte, e tenho o bom senso de me afastar
para evitar as consequências.

Ele está operando loucamente enquanto quebra tudo à vista –


móveis, lâmpadas, você escolhe. Antes que possa piscar, Finn está
correndo para fora de seu quarto na direção das portas duplas no
corredor. A biblioteca.

Arruinar suas próprias coisas não foi suficiente.

Ele também precisa arruinar as do seu pai.


Fiquei parada e o deixei fazer merda em seu quarto porque
sabia que se ele não deixasse sair agora, se afogaria em dor, mas
não posso deixá-lo perder o que resta da confiança de seu pai.

Há livros lá de primeiras edições. Peças de arte e itens de


colecionador de valor inestimável, Sr. Richards deve ter gasto uma
fortuna e anos de sua vida acumulando. Finn pode não ver através
do véu de raiva que o cega, mas me disse uma vez que tudo o que
sempre quis foi o respeito de seu pai...

Não posso deixá-lo fazer isso.

Eu acelero o passo atrás dele, quase tropeçando nos meus


próprios pés para chegar à biblioteca antes que cause danos
irreversíveis. Ele está explodindo pelas portas no segundo
seguinte, já destruindo as posses de seu pai quando chego lá. Eu
tentei implorar a ele, gritar seu nome, ficar em seu caminho mais
cedo. Nada funcionou. Não, se vou impedi-lo de rasgar todos os
livros aqui em pedaços, preciso fazer algo drástico.

Eu fico tensa quando leva o bastão para uma garrafa de cristal


de licor em um carrinho dourado, o cheiro de bebida fluindo para
a entrada da sala. Entendo que encontrou sua próxima vítima
quando caminha rapidamente para um vaso de porcelana exposto
em um pedestal ao lado da lareira.

Assim que ele está dando um golpe, solto um estridente e


gutural — Pare! — do tipo que poderia quebrar janelas – e tomo
uma decisão que sei que de fato não será meu melhor momento.
Tudo acontece em questão de segundos.

Eu pulo na frente do vaso em uma tentativa desesperada e


impulsiva de trazê-lo de volta. Vejo medo em seus olhos quando
percebe que seu alvo não é mais o vaso.
Sou eu.

Amaldiçoo meu lapso de julgamento assim que percebo que


pode não ser capaz de se conter e fecho meus olhos, preparando-
me para o impacto. Espero e espero, mas nada acontece. Meu
corpo inteiro tremendo de medo, forço minhas pálpebras abertas,
apenas para ver Finn segurando o taco no ar a menos de um
centímetro de distância do meu crânio. Sua boca está aberta, uma
expressão de puro horror estampada em seu rosto.

Ele quase me acertou.

O pensamento deve ser demais para suportar porque tropeça


um passo para trás, um milhão de desculpas em seu olhar. Posso
dizer que está se tornando cada vez mais difícil para ele se retirar
para seu lugar seguro. Em breve, não será capaz de enterrar suas
emoções.

— Eu sinto muito — ofega, abaixando o bastão.

Lutando para recuperar o fôlego, levanto a mão ao peito para


acalmar meu coração acelerado.

— Está tudo bem — prometo e me aproximo dele lentamente,


nunca desconectando meu olhar dele enquanto alcanço o bastão
em sua mão.

Ele o solta sem lutar, e o jogo para o lado.

— Não, não, não está tudo bem. Eu quase... — tropeça para


trás novamente, os olhos queimando de dor, e examina a biblioteca
com uma expressão de descrença.

É como se ele não acreditasse que fez tudo isso. Suas mãos
voam em seu cabelo, e ele segura mechas entre os dedos antes de
cair de joelhos no tapete da biblioteca. Esta é a terceira vez que
vejo esse menino de joelhos desde que o conheci.

Uma vez foi na ponte depois que ele quase morreu.

A segunda vez foi hoje cedo, quando Lexie desvanecia em seus


braços; mas de alguma forma, desta vez parece diferente.

Desta vez, parece que está se rendendo. Para a sua dor, a dor,
a mim.

Então ele começa a hiperventilar, a dor escorrendo por seu


lindo rosto, encharcando suas bochechas, sua mandíbula, sua
boca. Estou de joelhos ao seu lado em segundos, levando sua testa
ao meu peito e segurando-o mais apertado do que nunca. Ele
começa a tremer em meus braços, seu corpo uivando com anos de
trauma ignorado. Como se tudo tivesse voltado de uma só vez, e
pela primeira vez desde o acidente, a verdade o alcançou.

Ele perdeu a mãe. E Lexie.

E não acho que ele realmente se permitiu sentir isso até agora.

Seu desespero molha minha camisa, mas não mexo um


músculo. Não que pudesse fugir mesmo que quisesse. Ele me
abraça como se sua vida dependesse disso, seu rosto aninhado
profundamente em meu pescoço e seus braços tatuados
estrangulando minha cintura. A tempestade desaparece
gradualmente à medida que sua respiração se estabiliza.

— Estou aqui — sussurro em meio às minhas próprias


lágrimas.

— Você não deveria estar — diz sem rodeios.


Chocada, me afasto um centímetro, e ele olha para mim com
os olhos injetados de sangue. Não consigo responder, mas lê
minha confusão em alto e bom som, escorregando dos meus
braços.

— Você não deveria ter voltado.

Suas palavras parecem facas. Mesmo depois de tudo isso,


ainda está me afastando?

— Por quê? — Dor escorre da minha voz.

Em resposta, Finn prende meu rosto nas palmas das mãos e


me encara morto nos olhos, algo escuro e possessivo piscando para
a vida nas costas de sua íris.

— Porque agora, nunca mais vou deixá-la ir embora.

Sua boca bate na minha tão rápido e forte que perco o controle
dos meus próprios pensamentos. Finn não me dá a chance de
assinar na linha pontilhada, concluindo nossa transação com um
beijo. A maneira como devasta minha boca é definitiva.

Vinculativo.

Seus lábios deslizando contra os meus parecem letais, como a


primeira bebida de um alcoólatra depois de anos de sobriedade,
mas quero – preciso mais – e o deixo saber com um gemido
involuntário. Ele me faz implorar por seu toque enquanto roça meu
lábio inferior e separa meus dentes com a língua.

Jurei pela minha vida que estava desistindo desse garoto, mas
seu beijo é como pomada para uma ferida infectada, uma distração
que ambos precisamos desesperadamente depois do inferno que
passamos hoje. Isso é inofensivo. Estamos apenas nos beijando.
Contanto que não dê a ele o grande V, não precisa significar nada…

Certo?

Minha paciência me escapa quando lambe a costura da minha


boca, roçando minha língua com a dele até que estou segurando a
parte de trás de sua cabeça para aprofundar nossa conexão. Finn
geme em minha boca, entregando-me a liderança enquanto nossas
línguas se misturam.

Suas palavras soam na minha cabeça como um disco


quebrado.

Porque agora, nunca mais vou deixá-la ir embora.

Ele quer dizer isso? Está apenas me usando para superar sua
dor? Encontro conforto em saber que, não importa o que aconteça
aqui esta noite, vou embora amanhã.

Ofego quando Finn me puxa para seu corpo com um puxão e


me prende embaixo dele, seu peito duro me prendendo, neste
tapete. E aqui estamos nós agora, nos beijando como animais
exatamente no mesmo lugar.

— Faz alguma porra de ideia de como a semana passada foi


excruciante? — Parece irritado. — Quantas vezes quase entrei no
meu carro para arrastar sua bunda teimosa de volta para casa?

Minha mente começa a correr. Ele sentiu minha falta. Sentiu


a minha falta.

Mesmo sendo muito teimoso para admitir isso. Está se


aproximando, procurando outro beijo, quando estico meu braço
para afastá-lo.
— Então por que tão idiota? — Digo, jogando seu
comportamento em seu rosto. — Fez tudo que podia para me
convencer de que não se importava. Por quê?

— Porque não queria me importar — retruca, arrependido em


cada palavra. Estou perplexa com o seu raciocínio. É por isso que
me afastou todas as chances que teve?

Para se convencer de que não se importava?

— Deus, Dia, você me deixa louco pra caralho. — Ele se


inclina, guiando seus lábios para o meu pescoço e chupando o
ponto sensível abaixo da minha clavícula. — Não consigo dormir.
Não posso comer. Tudo o que posso fazer é pensar em você. E foda-
se, estou cansado. Estou cansado de me esconder. — Minha
cabeça cai para trás com a sensação, e é preciso toda a força de
vontade que tenho para não me render a ele novamente.

Memórias das palavras vis que me disse invadem meu cérebro,


as incontáveis adagas que enfiou no meu peito difíceis de ignorar.

— Não esta bom o suficiente. — Eu tento sair debaixo dele,


mas não está deixando, prendendo meus braços em cada lado da
minha cabeça e me mantendo ancorada no tapete.

— O que quer que eu diga? — O desespero em seu tom me


deixa tão feliz que deveria ser ilegal. — Que sou um idiota? Que
não mereço você? Tudo bem, não mereço. — Descansa sua testa
contra a minha, respirando pesadamente. — Não mereço você,
Diamond Mitchell. Não mereço sua compaixão. Não mereço estes
grandes olhos castanhos, ou esta boca inteligente. Não mereço
nenhum de vocês.

— Não, não merece. — Engasgo, me mexendo para me libertar


novamente, o que resulta em Finn me apertando mais forte.
— Quero contudo tentar! — Desabafa.

Eu pisco para ele em choque.

— Quero tentar ser digno de você. Eu... Porra, deixe-me tentar.

Sua boca está na minha antes que possa argumentar, sua


língua espreitando entre meus dentes e me tirando de todas as
minhas defesas. Ele me beija como se estivesse fazendo um
juramento, me fazendo uma promessa com a boca.

Eu me afasto. — São apenas palavras, Finn.

— Então me deixe mostrá-la. — Há algo sobre a maneira como


diz isso. Um indício de perigo. Tensiono quando seus dedos viajam
pelo meu estômago, deixando um rastro de arrepios para trás e
parando perto do botão do meu jeans.

Ele está abrindo meu zíper em um momento, arrastando beijos


lentos por todo o meu estômago e ossos do quadril. Ofego quando
puxa meu jeans, arrastando-o pelas minhas pernas rapidamente.

— Desculpe-me, sinto muito — diz, repetindo seu apelo várias


vezes enquanto seus dedos serpenteiam pela minha coxa em
direção à minha calcinha vermelha. Arrepios se espalham pela
minha espinha quando abre minhas pernas e pressiona sua boca
no meu centro.

Sua boca é quente, celestial, enquanto me lambe para cima e


para baixo sobre o tecido, aplicando mais e mais pressão no meu
clitóris e encharcando minha calcinha. A partir daí, estou perdida.

— Quer meu perdão? — Solto um gemido.

Seus olhos saltam para mim.


— Então mereça-o.

A princípio, ele fica chocado, mas sua surpresa é rapidamente


substituída por um sorriso malicioso. Sei que me ouviu alto e claro
no segundo em que olho para baixo e vejo um desejo bruto
determinação me olhando.

— Sim, senhora.

No que acabei de me meter?

Estou confiante de que os vizinhos me ouviram gemer quando


empurra minha calcinha pelas minhas pernas de uma só vez e me
lambe para cima e para baixo, sem a barreira. Ele começa devagar,
mal acariciando meu clitóris com a língua, e gemo, meu corpo se
contraindo com a necessidade.

Ele ri.

— Quer mais, baby? — Sussurra, sua respiração soprando em


meu centro, e me contorço.

— Foda-se — tremo.

— Você primeiro — dispara de volta.

Filho da puta.

— Se você quer mais, pegue. — Sua língua roça meu clitóris


novamente.

Por isso, eu quero.

Solto uma maldição, agarro a parte de trás de sua cabeça e


enterro seu rosto profundamente na minha fenda. Ele responde
com um gemido carnal que sinto em meus ossos. Entendo que não
estava brincando sobre ganhar meu perdão quando desliza as
palmas das mãos sob minha bunda, seus dedos cavando na minha
carne possessivamente, e suga meu clitóris em sua boca com tanta
força que meus quadris balançam para frente.

Bom Deus.

É puro, bagunçado e sujo, mas não consigo ter o suficiente.


Estou segurando seu cabelo entre meus dedos antes que possa me
impedir, empurrando meus quadris novamente para lhe dar
melhor acesso.

— É isso, baby. Foda meu rosto — rosna, lambendo-me tão


rápido e implacavelmente que meus olhos reviram. Meu orgulho
chuta alguns segundos depois, e mordo meu lábio para abafar
meus gemidos.

Ele percebe instantaneamente.

— Nem pense nisso. Quero ouvi-la. — A voz de Finn é baixa,


grave enquanto me tira a escolha e aperta dois dedos dentro de
mim, esticando-me como punição.

Quanto mais tento lutar, mais forte ele vai, bombeando seus
dedos dentro e fora de mim e puxando meu clitóris com os dentes.
Posso sentir seus dedos afundando em minha cintura, marcando-
me como sua propriedade enquanto me devora sem um pingo de
restrição.

— Perdoe-me. Por favor, perdoe-me. — Gira sua língua ao meu


redor de novo e de novo, mas não consigo responder.

Meu gemido evolui para uma reclamação quando usa seu


aperto na minha cintura para me girar e me prender de bruços
contra o tapete. Sinto o comichão na minha pele nua, mas meu
foco rapidamente se desvia para as mãos de Finn deslizando entre
o tapete e meu corpo para inclinar minha bunda para cima.
Começo a entrar em pânico quando o ouço puxar o zíper para
baixo.

— Finn — aviso.

— Apenas confie em mim.

Nessa nota, dá um tapa na minha bunda, tirando-me um


gemido, e guia a cabeça de seu pau para o meu núcleo por trás. É
quente e latejante e merda, quase desejo que ele empurrasse
dentro de mim. Só que não empurra; apenas usa seu pau para me
esfregar em círculos rápidos e ásperos. Lanço um olhar por cima
do meu ombro e encontro seu jeans em volta dos joelhos à medida
que se levanta com força e rápido, olhos luxuriosos colados no
show entre minhas pernas. Seus gemidos de prazer são a melhor
parte. Um sentimento indescritível sobe a vida no meu estômago
conforme o vejo trabalhar em nós dois.

Merda, eu vou. Rolo meus quadris avidamente, querendo mais


fricção. Sua ponta se aproxima perigosamente da minha entrada
com cada inda e vinda de seu pau contra meu clitóris.

Finn joga a cabeça para trás com um rosnado.

— Porra, Dia, quanto autocontrole acha que eu tenho?

Entretanto, não consigo me conter.

— Oh, Deus, sim! — Grito, o prazer atingindo seu ápice. Eu o


sinto se inclinar sobre mim no segundo seguinte, seu peito
cobrindo minhas costas enquanto range em meus ouvidos,

— Diga que me perdoa.


Eu não digo uma palavra. A verdade é que não posso perdoá-
lo até ver quem ele é quando o sol nascer amanhã. Voltará ao seu
eu cruel? Ele me afastará como se eu fosse uma praga?

— Diga. — Está me implorando.

Eu mantenho minha boca fechada. E em resposta? Ele para.

Afasta-se, me deixando pendurada com um orgasmo


incompleto causando estragos na minha sanidade. Meu corpo
inteiro tremendo em antecipação, cedo ao seu pedido, saboreando
a amargura da derrota.

— Perdôo você. — Sai como um gemido.

Meu coração se enche de vergonha desde o momento em que


o liberei. Gemendo de satisfação, Finn não perde um segundo me
virando de costas e se acomodando entre minhas pernas
novamente.

Receio que a pressão me rasgará ao meio quando fecha a boca


no meu clitóris mais uma vez, mordiscando, lambendo,
provocando até que esteja de volta onde comecei. Minha boca se
abre quando gozo, prisioneira de sua língua e braços tatuados.
Estou estremecendo com espasmos, quase me desconectando do
meu corpo quando meu orgasmo atinge a plena capacidade. Finn
não deixa minha convulsão perturbá-lo, comendo e dedilhando o
inferno fora de mim até que me deixa ofegante no tapete da
biblioteca. Levo mais de cinco segundos para parar de tremer.

Assim que posso respirar novamente, Finn sobe no meu corpo,


inclina meu queixo para frente e bate sua boca na minha. Sou
rápida em puxar sua camisa sobre sua cabeça, explorando seus
peitorais e abdominais com meus dedos. Seu pau nu vem nivelado
com a minha entrada, nossos peitos arfando em harmonia. Ele
poderia empurrar dentro de mim tão facilmente agora, e estou
apavorada...

Porque quero que ele faça. Isso pode ser um grande erro. Posso
me arrepender de ter dado meu cartão V para um garoto tão
quebrado quanto ele, mas quero senti-lo dentro de mim. Quero
senti-lo todo antes de deixar esta casa para trás.

Há uma chance de voltarmos a ser estranhos depois disso.


Apenas dois rostos em um salão lotado – eu, a garota invisível
observando do lado de fora, e ele, a estrela do basquete, no alto de
seu trono. Pode não haver um amanhã para nós.

E eu estou bem com isso. Desde que o tenha agora.

— Foda-me — resmungo em sua boca.

Finn para de me beijar na hora. Ele recua, olhando para o meu


rosto para me entender.

— Jesus Cristo, Dia, não brinque comigo.

— Não estou.

— O quê? — Ainda não acredita.

— Você me ouviu. — Agarro seu rosto e o beijo novamente. —


Quero que me foda. Bem aqui, agora mesmo. E depois podemos
seguir nossos caminhos separados.

A luxúria em seus olhos imediatamente se transforma em uma


combinação de choque e irritação.

— É isso que acha que eu quero? — Diz baixinho.

Meus lábios se separam.


— Para fodê-la e ir embora?

Não posso falar, mas não espera que eu fale, batendo sua boca
na minha novamente. Só percebo o que está acontecendo quando
se afasta e pega seu jeans no chão; tirando uma camisinha do
bolso e, embora odeie que ele seja o tipo de cara que carrega
proteção o tempo todo, engulo a pílula o melhor que posso.

Ele mal rolou o látex para baixo de seu eixo antes de posicionar
seu pau duro e cheio de veias entre as minhas pernas.

— Eu quis dizer o que disse — Finn fala a centímetros de


distância da minha boca. — Você selou seu destino desde o
momento em que caminhou com sua bunda bonitinha de volta
para minha casa.

Depois, empurra em mim.

E uma lágrima rola pelo meu rosto. Não porque dói, ou porque
estou triste, mas porque isso... nós... é demais para o meu coração.

— Ah, foda-se. — Finn se acalma, pura agonia em seus olhos


enquanto os músculos de sua mandíbula tremem. — Porra, Dia,
não posso...

Ele me estica dolorosamente, enterrando-se ao máximo, e me


contorço debaixo dele em um esforço para me ajustar ao seu
tamanho.

Merda, ele é grande.

— Não se mova — ordena.

Ficamos nessa posição por um tempo, seu pau


insuportavelmente duro dentro de mim até que não aguento mais.
— Finn, por favor — gemo.

Sua boca desce sobre a minha, provavelmente para lavar a dor


e, felizmente, funciona. Eu me perco em seu beijo, mordiscando
seu lábio inferior. Sua respiração é profunda, instável, como se
estivesse despejando cada gota de seu foco em segurá-la.
Finalmente, depois de alguns segundos de beijos intensos, separa-
se de mim.

— Estamos bem — diz.

Ele puxa para fora completamente e empurra de volta sem


aviso prévio. Seu pau me corta como uma faca, e estremeço, meu
corpo fica tenso.

Isso dói.

Não quero que machuque, mas dói. Esta ainda é minha


primeira vez, e Finn não é exatamente de tamanho médio.

Pensaria que meus pensamentos estão estampados na minha


testa pela rapidez com que para novamente.

— Estou machucando você, não estou? — Sabe


imediatamente.

Estou tentada a mentir, mas decido contra. Não quero que


minha primeira vez consista em me esforçar para esconder minha
dor, implorando mentalmente para ir mais devagar. Seus olhos se
iluminam em compreensão antes que tenha a chance de confessar.

— Diga-me que não…

Deu-me a sua virgindade, é o que queria dizer, mas posso ler


nas entrelinhas.
— Sim — murmuro.

Ele não fala por um tempo.

— Porra, Dia, deveria ter me contado. — Pressiona sua testa


na minha.

— Como lhe disse quando você deu meu primeiro beijo?

Não acredito que acabei de dizer isso.

Seus olhos se arregalam com a minha confissão.

Ele permanece em silêncio por um tempo, as memórias


colidindo no fundo de seus olhos até que sussurra — Todos eles?

Sei o que quer dizer sem maiores explicações. — Todos eles —


admito.

O meu primeiro beijo. Meu primeiro boquete.

Eu lhe dei meu primeiro tudo, e ele nem sabia disso.

Temo sua reação, esperando que me repreenda por minha


falta de comunicação, mas vai direto os meus lábios, me beijando
sem sentido.

— Sou o primeiro cara que esteve dentro de você? — Pergunta


apesar de saber a resposta. Ele só quer me ouvir dizer isso.

— É.

Ele olha tão profundamente nos meus olhos que tenho medo
que possa ver através das minhas mentiras. A verdade é que não
quero que isso acabe amanhã. Eu tenho sentimentos por ele. E
isso está me matando.
Ele me tira disso, circulando minha garganta com a mão e se
inclinando para sussurrar em meu ouvido — Marque minhas
malditas palavras, eu também serei o último.

Enrola os dedos sob a bainha da minha camiseta do


Radiohead e a coloca sobre minha cabeça – vesti a primeira roupa
que encontrei mais cedo. Ele está soltando o ímã do meu sutiã,
que está convenientemente colocado na frente, um batimento
cardíaco depois. Esta não é a primeira vez que Finn vê meus seios,
se contarmos o tempo que me observou como uma trepadeira à
medida que usava o brinquedo sexual que me deu, mas ainda luto
contra a vontade de me esconder.

Eu tenho uma grande marca de nascença acima do meu seio


direito e sempre me senti insegura com isso. Estou a segundos de
me cobrir quando Finn bane minhas preocupações com um
movimento de sua língua. Sua boca trava no meu mamilo,
sugando, puxando, mordendo suavemente até que meu corpo
relaxe.

— Sua marca de nascença é tão sexy. — A ponta de seus dedos


desliza sobre a marca que passei tanto da minha vida
desprezando.

Ele começa a me foder novamente, com mais força, mais


rápido.

A sensação de sua boca em meus mamilos porém, supera o


desconforto que sentia um momento antes.

Muito bem, estou começando a me sentir bem. Muito bom.

E a julgar pelo olhar em seu rosto, a maneira como aperta a


mandíbula enquanto se move para dentro e para fora de mim, não
sou a única. Mal estou ciente das minhas pernas envolvendo sua
cintura, segurando-o o mais perto possível de mim.

— Como é saber que ninguém nunca mais vai fodê-la além de


mim? — Murmura conforme pega o ritmo, bombeando seus
quadris mais rápido. — Todos os seus primeiros são meus, ouviu-
me? Todos. Porra. Meus.

Quero discutir e lhe dizer que já tem todos eles, mas seu dedo
mergulhando para baixo para esfregar pequenos círculos ao redor
do meu cu prova que estou errada. A sensação faz meu estômago
se contrair apesar de uma voz na minha cabeça me alertando sobre
suas intenções.

— Nunca vai acontecer, Richards.

Ele sorri. — Veremos.

Meus seios saltando com cada um de seus impulsos rápidos,


cavo os calcanhares dos meus pés em suas costas. Ele atende ao
meu pedido silencioso, fodendo-me mais forte.

— Merda, isso é tão bom — gemo.

Finn geme enquanto bate em mim por vários minutos como se


estivesse tentando foder qualquer garoto que já olhei fora da minha
cabeça. Ele levanta minha perna em seu ombro para se enfiar mais
fundo dentro de mim, desencadeando sua própria ruína no
processo.

— Ah, foda-se. — Sua mandíbula se contrai enquanto seu


impulso fica mais irregular, irregular. — Porra, Dia.

Ver o êxtase puro em seu rosto me eleva mais do que nunca.


É inebriante, dez vezes melhor do que experimentá-lo eu mesma,
e aperto à sua volta, empurrando-o sobre a borda. Sua boca desce
na minha à medida que atinge o pico, bombeando em mim uma
última vez antes de derramar no preservativo com um grunhido.
Ele cai em cima de mim alguns segundos depois, e suas palavras
correm para a frente da minha mente, torcendo meu coração em
meu peito.

Ele diz que ninguém mais me tocará. Que sou dele.

E nesse momento, como o menino que tenho medo de amar,


planta beijos deliciosos por todo o meu pescoço, marcando-me com
promessas de um amanhã…

Quase acredito nele.


O dia seguinte chega mais rápido do que gostaria.

A sala está silenciosa quando começo a me mexer, os raios do


sol da manhã acariciando meu rosto e me tirando do sono, mas há
algo no ar.

Alguma coisa... fora.

Parece que uma pilha de tijolos está no meu peito quando abro
os olhos, sentando na cama e examinando o quarto.

O quarto de Finn.

Parece que apenas duas horas atrás, Finn e eu estávamos nus


no tapete da biblioteca, seu comprimento ainda dentro de mim.
Lembro-me do medo subindo na minha garganta quando
derramou no preservativo e puxou.

Eu tive que aproveitar cada gota de coragem do meu corpo


para olhá-lo nos olhos depois disso. Pensei que esta era a parte em
que ele pegaria seu taco de beisebol e esmagaria meu coração em
mil pedaços. Em vez disso, pegou minha mão, me pôs de pé e me
jogou por cima do ombro para me levar para sua cama.
Ficamos abraçados o resto da noite.

Da mesma forma que fizemos quando adormecemos no seu


quintal. Devemos ter passado três horas nos beijando e brigando
– ele se recusou terminantemente a me deixar sair de sua cama
para me vestir – antes de desmaiarmos por volta das sete. Foi
ótimo, mas... me deixar sozinha para acordar em sua cama depois
que estourou minha cereja?

Não tão fantástico.

Ele se livrou. Fizemos sexo e foi embora.

Como se não bastasse, seu lado da cama está arrumado.


Quase como se acordasse, me visse dormindo e pensasse — Eh.
Vamos apenas fingir que ela não está lá.

Não sei o que devo fazer daqui. Só sair? Eu disse que ia


embora, não importa o quê. Sou estúpida o suficiente para
procurar nos lençóis e no criado-mudo um bilhete; até verifico meu
telefone por uma mensagem de texto de desculpas.

Nada.

Estou prestes a vasculhar a biblioteca em busca de minhas


roupas quando ouço passos pesados subindo as escadas. Ele
voltou?

Consigo me convencer de que não fugiu de mim. Talvez tenha


surgido uma emergência, ou talvez tenha se acovardado, mas
depois voltou a si. Tudo isso desaparece ao som de uma voz
profunda e rouca.

— Pare de foder comigo, Richards. Sei que está aqui — um


homem chama do corredor.
Minha respiração para, meu coração pulsa perigosamente
rápido. Não é Finn. Nunca foi.

Ele não voltará para você, Dia.

Meus instintos de sobrevivência gritam para me esconder,


para vestir qualquer roupa que possa encontrar e sair pela janela.
Quem se importa se eu quebrar minha perna? Não pode ser pior
do que ser emboscada por um estranho enquanto se está nua na
cama de um menino.

— Ei, filho da puta, estou falando com você. — Há raiva na voz


do homem. Quem quer que seja, não é amigo de Finn, e com
certeza não parou para tomar uma xícara de chá.

Vejo a porta fechada de Finn e sinto a adrenalina entrar. Talvez


se eu correr, tenha tempo de trancá-la. Isso deve me dar algum
tempo para que possa descobrir meu próximo passo.

Meu telefone.

Preciso do meu telefone.

A última vez que me lembro, estava no bolso da minha calça


jeans. Exceto... meus jeans estão na biblioteca.

Junto com meu sutiã, calcinha e o que sobrou da minha


dignidade.

Estou tentando ver claramente através da névoa espessa que


nubla meus pensamentos quando as tábuas do assoalho rangem
a alguns metros do corredor. Ele está quase aqui.

Dia, faça alguma coisa!


Não consigo me mexer, o medo me paralisa da cabeça aos pés.
No momento em que saio disso, me preparando para o modo de
luta, minha janela de oportunidade se foi. O oxigênio sai do meu
corpo quando a porta do quarto de Finn se abre...

E um cara estranhamente familiar aparece na porta.

Estou petrificada, incapaz de me mover ou falar, mas minha


memória é tudo que preciso para colocar o homem estranho diante
de mim. É o cara com quem Finn estava falando na noite da festa
de Lacey. O cara que disse a Finn que me estupraria na floresta
antes de quase ser sufocado até a morte.

Não é o seu rosto que o denuncia – estava escuro naquela


noite, e não dei uma boa olhada nele – é sua jaqueta preta surrada
e desgastada. Não está usando um boné de beisebol desta vez, mas
está usando o mesmo odor indutor de vômito. Está parado na
porta, mas sinto seu cheiro daqui.

Estou segurando o cobertor no meu peito com tanta força que


mal consigo sentir meus dedos. Quanto a ele? A única coisa que
parece sentir agora é satisfação.

Seus lábios se contorcem em um sorriso torto enquanto me


olha de cima a baixo, encantado com sua descoberta. O leve tremor
de seu corpo e as olheiras sob seus olhos fazem pouco para
esconder seus demônios. Meu melhor palpite? É um traficante de
drogas, viciado em drogas, e está desesperado por sua próxima
dose. Isso com certeza explicaria por que está incomodando Finn
por seu dinheiro.

— Ora, ora. O que temos aqui? — O idiota, que não pode ter
muito mais de 29 anos, mas parece ter 40 devido ao abuso de
substâncias, solta uma risada ofegante e se aventura mais fundo
no quarto.
Uma sensação de impotência esmaga todos os ossos do meu
corpo quando fecha a porta e a tranca. É o jeito que me olha. Como
se eu fosse um pobre animal indefeso que caiu em sua armadilha.

— A babá virou chupadora de pau. — Gargalha. — É um belo


currículo que tem aí, baby.

Seu comentário faz minha pele arrepiar, e direciono minha


energia para esconder minha angústia dele.

— Onde está seu namorado? — Olha para a janela aberta à


sua esquerda como se quisesse ter certeza de que o carro de Finn
não está estacionando. Se ele realmente conhecesse Finn, saberia
que ele não é o tipo que namora, mas decido usar sua ignorância
a meu favor.

— Está a caminho. Saiu para nos trazer o café da manhã. Deve


estar em casa a qualquer segundo — minto.

— É isso mesmo? — Murmura, seu sorriso tortuoso crescendo


em tamanho.

Ele não está comprando nem um pouco. Estava apenas me


testando?

Não, claramente não sabia que Finn tinha ido embora ou não
teria chamado seu nome antes. É quando percebo que fiz isso
comigo mesma. Sou a culpada por seu ceticismo.

Por quê? Porque estou chorando.

Lágrimas estão escorrendo pelo meu rosto incontrolavelmente,


mas estou tão aleijada pelo medo que nem percebi. Não é à toa que
não acredita em mim. Se Finn realmente estivesse a caminho de
casa, a poucos minutos de irromper pela porta e me resgatar, não
pareceria assustada por minha vida.

— Ouvi dizer que seu menino teve um grande dia ontem. — O


homem começa a andar pelo quarto, analisando as coisas na mesa
de Finn, então pegando a foto emoldurada de sua mãe para olhar
mais de perto. — Que vergonha sobre aquele cachorro - Lexie, não
é?

As palavras mal saem de sua boca antes que intencionalmente


jogue a foto no chão, nem mesmo estremecendo quando explode
em mil pequenos fragmentos. Essa foto deve ser a única coisa que
Finn não quebrou quando teve um acesso de raiva ontem. O resto
do seu quarto parece como se um furacão de categoria quatro
passou por ele.

— Pelo que vale, já não tinha muito tempo, de qualquer


maneira. Ela parecia uma merda — o cara acrescenta, e passo de
aterrorizado para fumegante de raiva.

Primeiro, ele não merece dizer o seu nome. E segundo, não


deveria saber disso. Não deveria saber nada sobre ela. Não é como
se tivessem mencionado seus problemas de saúde no noticiário.

— Deve ter sido uma dor limpar todo aquele sangue. — Ele ri,
torcendo a faca em minha ferida. Minhas emoções estão
claramente estampadas em todo o meu rosto porque zomba.

— Ah, levante a cabeça, baby. Haveria muito mais se eu não


tivesse falhado.

Minha garganta se fecha.

Se ele não tivesse falhado...


Ele está falando sobre Finn, não está? Finn disse aos policiais
que mal teve tempo de sair do caminho antes que o carro batesse
em Lexie, mas ela não era o alvo – Finn era. Lexie era meramente
um dano colateral.

Eu me distraio enquanto revivo os últimos momentos de Lexie.


Ele se desculpou com ela. Quando estava morrendo... Finn
implorou que ela o perdoasse.

Ele sabia? É por isso que estava se culpando, não é? Sabia que
tinha um papel nisso.

— Chega de papo furado. — O cara começa a se aproximar de


mim, cortando meu suprimento de ar no processo. — Seja uma
boa menina e entregue uma mensagem para mim, sim?

Meu olhar percorre o quarto em busca de algum tipo de arma


enquanto ele avança em direção à cama. No piloto automático,
pego o copo vazio de água que Finn me deu quando fiquei com sede
na noite passada, pronto para esmagar sua cabeça, mas seu pulso
voa para pegar o meu. Ele facilmente me domina, arrancando o
copo da minha mão e jogando-o fora. Sua mão envolve minha
garganta antes que possa piscar, me prendendo no colchão.

— Sua puta do caralho — rosna e cospe na minha cara.

Minhas lágrimas encharcam minha boca enquanto sua saliva


rola pelo meu rosto, carregando o cheiro de seu hálito podre.

— Vai dizer ao seu namorado que, se ele não me der meu


dinheiro até o final do dia de amanhã, arranjarei outra pessoa para
saldar sua dívida. — Ele se aproxima, apertando minha garganta
até eu ficar sem ar. — Talvez você.
Ele faz uma pausa, apreciando minha luta enquanto tento
arranhar seu rosto e braços. Afrouxa seu aperto na minha
garganta por alguns segundos, apenas o suficiente para eu inalar
uma respiração superficial, e então faz isso de novo.

— Embora, para ser honesto, não tenho certeza se ele se


importaria. Parece-me que ele conseguiu o que queria, depois a
jogou de lado como lixo.

Nunca recuo, dando a luta da minha vida, mas nada é


suficiente para tirar suas patas sujas do meu pescoço. Lágrimas
lançam uma névoa espessa sobre meus olhos quando uma de suas
mãos cai sobre meus seios cobertos, o cobertor fino é a única coisa
entre ele e meu corpo nu.

Quase desejo que me sufoque enquanto ele geme. — Vamos


ver esses peitos.

Apenas feche seus olhos. Feche os olhos e saia deste lugar, Dia.

Seus dedos se enrolam sob o cobertor, mas assim que começa


a tirá-lo do meu corpo, seu telefone toca.

Nunca acreditei em milagres. Até agora.

Amaldiçoando baixinho, ele usa a mão livre para tirar o


telefone do bolso e pressioná-lo no ouvido. — O quê? — Ladra ao
telefone.

Não consigo entender o que a pessoa do outro lado está


dizendo.

— Agora? — O Cara suspeito se encaixa. — Estou um pouco


ocupado.
Quem quer que esteja falando não parece gostar dessa
resposta porque ouço gritos.

— Não, não ligue para ele. A merda é minha.

Drogas, provavelmente.

A discussão continua por alguns minutos, até que o Cara


suspeito solta um suspiro pesado.

— Porra, tudo bem. Estou a caminho.

Nesse ponto, desliga o telefone.

O monstro olha para mim, sua mandíbula apertada enquanto


dispara — Você me verá de novo.

Ele solta minha garganta e vai embora. Eu mal ouço meus


soluços através da minha tosse excessiva, mas ouço o som do seu
carro lá fora. O rugido do motor diminui pouco depois.

Os próximos minutos são um borrão. Eu me sinto como um


fantasma me observando do lado de fora enquanto corro para a
biblioteca para pegar minhas roupas do chão. Estou soluçando o
tempo todo em que arrumo meus pertences.

Percebo que todas as coisas de Lexie foram deixadas na lixeira


na rua enquanto entro no meu carro. Então, Finn não teve tempo
de me deixar um bilhete, mas encontrou tempo para vasculhar sua
casa inteira para jogar fora os brinquedos de Lexie ao raiar do dia?

Eu me certifico de bloquear o seu número antes de empurrar


a marcha, os inúmeros avisos do meu irmão sobre Finn tocando
em um loop na minha cabeça.
E não escutei antes...

Agora porém estou ouvindo.

Não ligue para ela, não ligue para ela, não ligue para ela.

Não ligue para ela.

Eu mexo com meu telefone por longos segundos, o desejo de


selecionar suas informações de contato rasgando os pontos do
meu ego. Nunca fui de explodir o telefone de uma garota,
implorando por um minuto de seu tempo, e com certeza não estou
prestes a começar agora.

Ei, quem estou enganando?

Estive olhando para o número do seu telefone como uma


putinha delirante por dois dias. Continuo esperando que ela me dê
um sinal de vida, mas ficou em silêncio desde o dia em que a
abandonei enquanto dormia. Ela deve pensar que eu sou um
idiota.

Que eu escolhi deixá-la.

Ela ainda estava nua em meus braços quando recebi a ligação.


O xerife Daniels estava do outro lado, insistindo para que eu fosse
na delegacia para discutir uma pista promissora sobre o bastardo
que assassinou Lexie.

Fui burro o suficiente para pensar que voltaria antes que Dia
acordasse. Na pior das hipóteses, enviaria uma mensagem para
ela e esclareceria as coisas, mas não tinha carregado meu telefone,
e a coisa estúpida morreu assim que cheguei à estação. O
interrogatório durou uma eternidade, e quando cheguei em casa,
ela tinha ido embora.

Arrumou suas coisas e foi embora.

Para ser justo, saí primeiro. Por que não posso simplesmente
enviar uma mensagem para ela? Superar-me o suficiente para me
desculpar? Resposta curta?

O meu orgulho é uma dor de cabeça.

Não vai parar de me chamar de fraco por querer algo que pode
não me querer de volta. Afinal, ela disse que deveríamos seguir
nossos caminhos separados depois que transamos, mas ela acha
realmente que pode simplesmente sair da minha vida?

Depois que me enterrei dentro dela no chão da biblioteca?

Essa garota… Essa porra de garota...

Ela me assombra.

Ainda posso vê-la, pernas abertas, boceta brilhando à medida


que trabalhava nela com meu pau. Seus pequenos gemidos
tímidos enquanto tirava sua virgindade, prometendo nunca deixar
outro cara tocá-la.

E eu quis dizer isso.


Ela está louca se pensa que fingirei que nunca tive seus seios
na minha boca quando vê-la na escola em poucos dias. Qual é o
seu plano? Seguir em frente? Conhecer um cara legal? Dar-lhe o
resto de seus primeiros?

Nem em sonho do caralho, baby.

Meu melhor amigo vai até o meu carro para minha espiral.

Xavier voltou do acampamento menos de vinte e quatro horas,


e já está limpando minha bagunça. Veio até minha casa no
segundo que ouviu falar de Lexie e de alguma forma foi forçado a
tirar minha bunda de problemas – do jeito que sempre faz.

Para ser justo, meu melhor amigo pensa que é o Dr. Phil18 ou
alguma merda. Sabia que algo estava errado assim que entrou.
Acabei cedendo e contei a ele sobre a descoberta da polícia.
Acontece que o carro que estava seguindo Lexie e eu foi roubado.
Foi encontrado abandonado por uma estrada de terra com apenas
uma coisa dentro…

Um boné de beisebol.

O que é pior, já vi esse boné antes. No traficante de merda que


meu irmão me ligou no início do verão. Se eu soubesse que o cara
de Brody era tão maluco, nunca teria pedido dinheiro emprestado
dele em primeiro lugar. Não consegui parar de me perguntar se o
canalha poderia ter algo a ver com o que aconteceu com Lexie. Até
marquei uma reunião para pagá-lo de volta, que na verdade é
apenas um código para descobrir a verdade.

18- Phil McGraw é um psicólogo dos Estados Unidos que se tornou conhecido do grande público ao

participar nos programas de Oprah Winfrey como consultor de comportamento e relações humanas.
Xavier e eu vamos encontrá-lo atrás do cinema abandonado
do outro lado da cidade em dez minutos. O lugar é um lixo.
Ninguém nos verá lá, mas, mais importante…

Ninguém vai ouvi-lo gritar.

Com uma expressão dilacerada em seu rosto, Xavier abre a


porta e desliza para o meu banco do passageiro. Minha boca fica
seca com a pilha de dinheiro em suas mãos. Ele acabou de vender
uma de suas camisas de basquete autografadas por mim – a coisa
valia um belo tostão.

Tudo para que eu pudesse pagar a porra de alguém.

Estou ciente de que há uma boa chance de o dinheiro nunca


chegar às mãos do cara, mas queríamos estar preparados. Apenas
no caso de o bastardo ser genuinamente ignorante e a pessoa
responsável pela morte de Lexie ainda estar por aí.

— Isso é tudo. — Xavier me entrega o dinheiro.

— Obrigado, cara. — Minha voz está cheia de vergonha.

Ele se encolhe em seu assento. — Não mencione isso.

Eu sou bom nisso. Sem mencionar as coisas.

Como o fato de eu ter transado com a sua namorada.

Duas vezes.

E pensar que eu estava tão perto de fazer isso de novo no dia


em que Dia entrou na minha vida. Abro um sorriso lembrando
como ela me deu uma joelhada nas bolas sem piscar, prometendo
que a única coisa que sua boca faria por mim era me dizer para
me foder. Eu a odiava por isso naquela época, mas agora?

Percebo que caí fácil. Se houvesse algo como carma, ela teria
arrancado minhas bolas do meu corpo naquele momento e jogado
pingue-pongue.

Eu sou um amigo terrível.

Xavier Emery não fez nada além de apagar incêndios em


minha vida desde que éramos crianças e, em troca, traí sua
confiança da pior maneira possível. Um dia desses, ficarei limpo.
Vou lhe dizer a verdade e deixar as fichas caírem onde puderem,
mas, por enquanto, preciso dele.

Preciso que ele seja minha consciência - já que a única pessoa


que conseguiu me acalmar está atualmente me dando um
fantasma - e me parar se as coisas forem longe demais. Se eu
descobrir que o filho da puta é responsável pela morte de Lexie,
não serei capaz de me impedir de matá-lo. É aí que Xavier entra.

O caminho para o teatro abandonado é tranquilo. Mal


trocamos olhares, cenários de pior caso vibrando pelo meu
sistema. Estacionamos no beco atrás do teatro decadente e
esperamos que o canalha mostre a cara. Eu alterno entre balançar
minha perna nervosamente e checar meu telefone a cada cinco
segundos, esperando que Dia possa me mostrar alguma porra de
misericórdia e me enviar uma mensagem.

Não precisa ser um romance. Aceito qualquer coisa. Pode me


dizer para me foder por tudo que me importa. Desde que me
escreva.

Jesus, eu sou um covarde.


Xav solta uma zombaria. — Foda-me, Theo estava certo.

Olho para cima do meu telefone.

Eu nem tenho a chance de perguntar o que fumou antes de


ele acrescentar — Cara, apenas ligue para ela já.

Espere, Theo contou a ele sobre mim e Dia? Jesus, sou a única
pessoa neste maldito planeta que não sabia que estava mal por
Diamond Mitchell?

— Ligar para quem? — Ajo sem noção.

Eu sabia desde o momento em que Lexie nos deixou que não


tinha mais forças para afastar Dia, mas admitir que estou
chicoteado a mim mesmo e admitir isso para meus amigos são duas
coisas muito diferentes.

— Oh, pelo amor de Deus. Dê-me isto. — Xav bufa e estende


a mão para o meu lado. Pega meu telefone antes que possa reagir.

No começo, acho que está brincando comigo. Até que segura o


telefone e pressiona o botão de chamada.

Merda.

— Seu desgraçado. — Subo no console central para tentar


roubar meu telefone de volta. Xavier se esquiva do meu braço,
lutando comigo um pouco antes de colocar o telefone no viva-voz e
sufocar uma risada.

— Está tocando. — Aumenta o volume.

E está certo. Toca, mas apenas uma vez.


Em seguida, vai direto para o correio de voz. A secretária
eletrônica nos informa que Dia ainda não gravou sua mensagem
de saída. O bipe alto corta o ar, e já irritei muitas garotas na minha
vida para saber o que essa merda de “toque” significa.

Ela me bloqueou.

E, a julgar pelo olhar nauseante de pena no rosto do meu


melhor amigo, ele também sabe disso. Sou rápido em tirar o
telefone das mãos de Xavier e desligar. Estou quase feliz em ver
dois caras sombrios virarem a esquina no segundo seguinte - sim,
prefiro falar com um possível assassino do que reconhecer que a
única garota por quem me importo acabou de me oferecer um...
bilhete de saída de sua vida.

Eu disse especificamente ao Cara do boné de beisebol para vir


sozinho, mas, novamente, o bastardo não é um gênio.

— Lembra-se do que conversamos? — Gesticulo para o


telefone de Xavier em seu bolso com um movimento do meu queixo.

Xavier acena com a cabeça, rápido para desbloquear seu


telefone enquanto avalio os caras diante de mim. O cara
acompanhando é mais forte e mais imponente do que seu amigo,
mas não tenho dúvidas de que Xavier e eu poderíamos levá-los.
Percebo que ambos estão com as mãos enfiadas nos bolsos, como
se quisessem ter certeza de que têm acesso rápido a alguma coisa.

Não posso dizer o que estão escondendo.

Facas? Armas?

Seja o que for, não estão brincando, e nos têm em séria


desvantagem. Não importa. Vim aqui para obter uma confissão, e
não vou embora sem uma.
Eles param a alguns passos do meu carro, nos observando
atentamente como se estivessem com medo de que pisaremos no
acelerador e atropelar seus malditos crânios vazios.

Meus punhos cerram quando meu foco se volta para o cara


que quase estrangulei até a morte na noite da festa de Lacey. Então
as pequenas dúvidas deixadas em minha mente se transformam
em fumaça.

Ele não está usando seu boné de beisebol.

Dou o primeiro passo, abrindo a porta e saindo do veículo.


Xavier segue minha liderança, não muito atrás de mim enquanto
dou a volta no meu carro e vou direto para eles.

— Vejo que trouxe um amigo — falo lentamente.

O cara do boné de beisebol pisca um sorriso podre. —


Considere-o minha apólice de seguro.

Eu quase rio. Ele é louco se acha que esse cara, ou uma


centena de caras, poderia protegê-lo de mim.

— Onde está a porra do meu dinheiro? — Vai direto ao ponto.

— Admita primeiro.

Minha resposta o joga fora de seu jogo. Ele lança um olhar


para seu amigo, que é tão idiota quanto ele, e levanta uma
sobrancelha.

— Admitir o quê? — Pergunta.

Eu zombo. — Poupe-me da besteira. Sei que matou meu


cachorro. Você realmente achou que eu nunca descobriria?
Esperava muitas, muitas reações dele, mas definitivamente
não esperava que ele risse na minha cara.

Sua gargalhada me irrita. — Isso é uma pegadinha?

Seu amigo ri junto com ele.

— Por que mais eu confessaria para sua prostituta? Queria


que ela lhe dissesse que atropelei a cadela. Não é o giz de cera mais
brilhante da caixa, não é?

Minha puta? O que diabos ele está falando?

O choque em meus olhos deve revelar minha confusão porque


seus lábios se curvam em um sorriso torcido.

— Sua peça lateral não lhe disse? — Percebe.

Minha peça lateral? Espere… está falando sobre Dia?

— Estou supondo que isso significa que ela também não lhe
contou sobre nosso pequeno encontro? — Ele sorri.

Não. Porra.

Eles tiveram um “encontro”?

Quando?

— Deveria tê-la visto. — Dá uma risada ofegante, saboreando


uma memória que quero enfiar na sua bunda. — Nua em sua
cama, indefesa, vulnerável. A coitada ficou com o coração partido,
pensando que você a abandonou.

Não consigo respirar, o sangue fervendo em minhas veias.


— Entendo porque gosta dela. Ela é um pedaço de bunda sexy.
E foda-se, aqueles peitos. Talvez eu tenha que localizá-la e
terminar o que comecei quando terminarmos aqui. — Joga a
cabeça para trás para dizer ao seu amigo — Gostaria de um trio?
A garota tem dois buracos por um motivo.

Então, eu me perco. Claro e simples.

Ele a tocou.

Ele. Tocou. Nela.

Mal estou ciente de quão rápido o derrubo no chão. Não há


nada ao meu redor, nenhuma voz da razão soando dentro da
minha cabeça, nenhum instinto de sobrevivência me alertando
sobre a arma em seu bolso. Só tem vermelho. E sangue.

Seu sangue.

— Seu filho da puta, acha que pode tocá-la? Acha que pode
machucá-la? Você está morto. Está tão morto, porra — grito ao
ponto de forçar minha voz enquanto bato meu punho em sua
mandíbula.

Mais. E mais. E mais.

Até que ele seja apenas uma bagunça sangrenta e em pânico


debaixo de mim. Agarro seu colarinho com tanta força, espremo a
respiração dele, mas nunca paro de esmurrar seu rosto com
golpes. Seus gemidos de dor não fazem nada além de alimentar
minha raiva.

Ele se forçou nela. Porque eu não estava lá.

Porque eu a abandonei.
Imagens dela acordando com o corpo nojento e suado dele
pesando sobre ela se misturam diante dos meus olhos, mas nada
se compara à dor cegante que sinto quando algo cortante acerta
meu antebraço.

Então, não é mais apenas o sangue dele. É meu também.

Muito disso.

Ele me esfaqueou no antebraço.

A dor é suficiente para me tirar de qualquer transe em que


estava. Tenho o reflexo de remover a faca da minha carne – o que,
admito, foi uma ideia estúpida porque o sangramento piora
imediatamente.

Dou uma olhada ao redor para ver Xavier levantando do chão


onde o cara que deveria ser o ajudante do boné de beisebol está
inconsciente. Xav está com a arma do cara nas mãos. Nem os ouvi
lutar. Meu braço dói pra caralho, mas tento ignorá-lo, observando
enquanto o patético pedaço de merda embaixo de mim engasga
com sangue, manchando seus dentes amarelos de vermelho.

Posso ver tudo o que perdi em seus olhos. Lexie. Possivelmente


Dia.

— Finn. — Há uma pitada de preocupação na voz do meu


melhor amigo.

— Qual foi, hein? Qual das suas mãos nojentas a tocou? —


Arremesso a faca para longe e viro o bastardo, sangue escorrendo
pelos meus pulsos. Eu monto em suas costas, prendendo ambos
os braços em cada lado de seu corpo.
Ele começa a implorar, engasgando com as desculpas, o
sangue em sua boca abafando cada palavra.

— Desculpe, o que foi isso? — Tenho prazer em sua miséria.

— Cara, ele teve o suficiente — Xavier intervém.

Eu o ignoro.

— Ah bem. Acho que terei que levar as duas.

Ele está se contorcendo embaixo de mim, tentando escapar de


seu destino, mas o tenho indefeso e vulnerável, assim como ela
estava. Examino meus arredores e vejo um tijolo pesado se
desfazendo do prédio em ruínas a apenas alguns centímetros à
minha esquerda.

Ponto.

— Isto é por Lexie.

O homem adulto grita como uma garotinha quando esmago


seus dedos com o tijolo. Não consigo me conter, devorando sua
agonia, seus gemidos, o som de seus ossos quebrando.

— Isso é por tocá-la — acrescento, e repito minhas ações até


que todos os seus dedos estejam fodidos. Eu me sinto desaparecer
a cada segundo que passa.

É o sangue. Eu perdi muito.

Mesmo assim continuo. Estou prestes a desviar meu foco para


sua outra mão quando sinto Xavier me puxando para fora do corpo
do cara. Estou muito fraco para lutar com ele.
Assim como estava muito fraco para lutar por ela, mas não
mais.

— Você a toca de novo, vou cortá-los. Está me ouvindo, porra?


— Grito quando Xavier me arrasta para o carro contra minha
vontade.

Xavier joga minha bunda no banco de trás do meu carro e se


joga no banco do motorista antes de sair de lá em velocidade
máxima. Meus assentos de couro estão imediatamente cobertos de
sangue, e caio de costas para evitar olhar para a ferida.

— Conseguiu? — Pergunto.

— Sim, consegui, seu maldito psicopata. — Xavier suspira e


tira o telefone do bolso, a outra mão no volante.

Então para a gravação. Sua desaprovação dos meus métodos


me faz rir, mas não diminui nem um pouco meu alívio.

Porque eu ganhei. Consegui minha vingança, e tenho minha


confissão.

E agora?

Agora quero minha garota de volta.


Pensei que estava preparada para voltar para a escola.

Andei por esses corredores muitas vezes antes, então por que
parece a primeira vez? Por que parece tão diferente? Meus pulmões
espremem o ar do meu corpo enquanto empurro a multidão com
Aveena. Graças a Deus pelas pausas. Poderia precisar de um
minuto para me recuperar do primeiro período.

Considerei seriamente dar a volta e dirigir de volta para casa


quando entrei em inglês esta manhã.

Lá estava ele. Sentados no fundo da classe, Theo, Axel e alguns


de seus amigos de basquete se amontoavam ao redor da sua mesa
como groupies. Não tive forças para ver a sua reação quando entrei;
principalmente porque meu coração não aguentaria se ele não
tivesse nenhuma. Quase todas as mesas foram ocupadas, deixando
apenas dois assentos na parte de trás ao lado dos rapazes.

Alguns podem chamar isso de destino. Eu chamo de uma


brincadeira doentia do universo.

Aveena, sendo dolorosamente ignorante sobre o que aconteceu


neste verão, não pensou duas vezes, liderando o caminho em
direção a Finn e seu fã-clube. Sei que deveria ter contado a ela,
mas uma parte minha teme o seu julgamento. Não porque tenha
medo que ela pense menos de mim, mas porque eu penso.

Eu penso menos de mim. Não consigo imaginar como seria


essa conversa. Ei, Vee, lembra do idiota do jogador de basquete
que disse que não tocaria com uma vara de um metro e meio? Bem,
deixei-o me foder no chão da biblioteca. Ah, e lhe dei todas as
minhas estreias.

Não é exatamente uma história lisonjeira.

Passei a aula inteira sentindo esse peso nos ombros. Como se


alguém estivesse me encarando. Queria que fosse Finn, mas
acabei me convencendo de que era tudo coisa da minha cabeça.

Por que estaria me olhando agora? Ele escolheu me deixar ir.


Não tentou entrar em contato comigo por cinco dias depois que
acordei nua em sua cama – certo, bloqueei seu número, mas se ele
realmente quisesse, teria encontrado uma maneira. Sua desculpa
teria que ser hermética para eu sequer considerar perdoá-lo. No
que me diz respeito, é melhor o cara estar sangrando no hospital.

— Quer me dizer o que foi isso? — A voz de Aveena me atrai


de volta à realidade.

— O que quer dizer? — Arqueio uma sobrancelha, indo até o


armário que compartilhamos. Partilhamos uma porta desde o
primeiro ano.

— Entendo que a Sra. Callahan é a encarnação do mal e tudo


mais, mas você fugiu de lá. — Dá uma risada nervosa para
esconder sua preocupação. — E essa nota…

Se ela não tinha certeza de que algo estava acontecendo antes,


definitivamente está agora.
Ela deve ter visto Theo, que estava sentado atrás de mim, bater
no meu ombro no meio do dever de casa. Nem me virei, mas o ouvi
sussurrar — De Finn. — Acredite em mim quando digo que nunca
tive tanto medo de um pedaço de papel.

Estendi a mão por cima do ombro e agarrei o bilhete


amassado. A caligrafia familiar de Finn parecia um soco no
estômago.

Conversar durante o intervalo?

Não sei o que ele tem a me dizer. Provavelmente obrigado pelo


sexo, vamos fingir que nunca aconteceu, mas não estou pronta para
enfrentá-lo. Então, quando a aula acabou, pulei da cadeira e
praticamente corri para a porta.

Eu peguei sentimentos. Não importa o quanto gostaria de não


tê-lo, e prefiro nunca mais falar com ele do que tê-lo me olhando
nos olhos e me dizendo que os últimos dois meses não significaram
nada.

Olho para ela. — Foi apenas uma nota estúpida. Não significa
nada.

Estou ciente de que devo uma explicação a ela, mas o corredor


lotado de Easton High não é o lugar para lhe contar sobre minha
aventura de verão com o delinquente da escola.

— Mesmo? — Aveena desacelera, os olhos grudados em algo


distante. — Então por que Finn Richards está encostado no nosso
armário?
Eu balanço minha cabeça para ver Finn esperando por mim,
ombro apoiado contra o metal, seu cabelo castanho despenteado
uma bagunça e seus lindos olhos castanhos presos em mim.
Parece tenso, segurando a pressão em seus ombros.

Só percebo que minha boca está aberta quando Aveena fecha


minha mandíbula. — Minha casa, esta noite. Eu quero saber tudo.

Eu aceno e expiro uma rajada de ar, partindo para encontrá-


lo. É isso.

Hora de quebrar meu coração.

Cabeças começam a se virar antes mesmo de eu chegar ao lado


de Finn. Paro a sua frente, sussurros subindo nos corredores
quando agarra meu antebraço e começa a me arrastar pela
multidão. Suponho que não queira que as pessoas o vejam pisando
em meu coração enquanto me guia para um canto isolado do
refeitório.

Ficamos ali parados, nos encarando por alguns segundos,


esperando que quem tiver coragem de falar primeiro.

— Vamos acabar logo com isso. — Solto um suspiro.

Os cantos de seus lábios se contorcem em um sorriso.

— Com prazer.

Eu quase deixo cair meu telefone quando sua boca colide com
a minha. Minhas costas batem na parede com um baque, mas tudo
que posso ouvir é o som de anjos cantando enquanto uma de suas
mãos voa para o meu rosto, a outra se espalhando em meu cabelo
para aprofundar o beijo.
Eu suspiro com sua boca se movendo com a minha, e Finn
usa meu choque para deslizar sua língua pelos meus dentes.
Estou brava com ele. Estou furiosa por ele ter me deixado, mas
também estou tragicamente feliz por estar me beijando.

Quão patético é isso?

Minhas mãos estão em seus ombros antes que possa pensar


demais, e sinto seu corpo inteiro relaxar com meu toque. É por isso
que ele parecia tão tenso antes? É como se estivéssemos
prendendo a respiração desde a última vez que nos beijamos, e as
memórias acaloradas dele se movendo dentro de mim
submergiram meu cérebro... Assim como a dor de acordar sozinha.

Não, não, Dia, saia dessa.

Eu bato minhas mãos em seu peito antes que possa me roubar


meu bom senso e afastá-lo. Ele mal dá um passo para trás,
atordoado pela minha rejeição, mas ainda não viu nada. Sem
pensar, dou um golpe e o acerto no rosto.

Com força.

— Você me deixou! — Minha voz falha.

Ele está perturbado com o meu tapa, mas rapidamente


recupera a compostura, suas mãos voando para cada lado do meu
rosto novamente.

— Não, não, não deixei. Olhe para mim. — Ele me prende


contra a parede, não me dando escolha a não ser encontrar seus
olhos. — Não a deixei, porra. Fui à delegacia. Eles me ligaram antes
de você acordar. Eu tinha que ir, Dia. Não tive escolha.
Uma lágrima rola pelo meu rosto. É realmente por isso que ele
saiu?

Porque a polícia pediu?

— Vou provar isso para você. Quer que eu chame o xerife?


Chamarei. — Ele tira o telefone do bolso freneticamente. — Ele lhe
dirá que eu estava lá. Inferno…

Minha palma cobre a dele para impedi-lo de incomodar a


polícia. Não faço ideia do porquê, mas acredito nele. Acredito que
ele não saiu por escolha.

— Então por que não me contou? Por que não me enviou uma
mensagem ou deixou um recado ou...

— Porque eu sou um idiota — corta. — Pensei que estaria de


volta antes de acordar. E então meu telefone morreu, e não
consegui falar com você. Eu sinto muito. — Exala, pressionando
os lábios na minha testa, em seguida, beijando cada centímetro do
meu rosto em um gesto tão perturbadoramente doce que me tira
do sério. — Eu sinto muito.

Se eu não soubesse melhor, diria que o tempo que passamos


separados finalmente o acordou sobre o que ele quer.

— E os cinco dias depois disso? Qual é a sua desculpa?

— Bem, para começar, você bloqueou meu número. E


segundo... — faz uma pausa como se estivesse debatendo sobre
me dizer a verdade.

— O que é isso?

Ele não fala imediatamente. Então joga uma bomba em mim.


— Posso ter sido esfaqueado um pouco…

Sei que disse que ele tinha que ter uma desculpa muito boa
como sangrar no hospital, mas nunca me ocorreu que eu poderia
estar certa.

— Você o quê? — O pânico se apoderendo de mim. — Onde?


Como? Por que não me contou? Por que não...

— Ei, estou bem. — Interrompe minha espiral. — Ele me pegou


no braço. Não atingiu nada vital. Mantiveram-me no hospital por
alguns dias, levei alguns pontos, alguns analgésicos e me
mandaram embora.

— Como é que foi esfaqueado em primeiro lugar? — Não posso


deixar de levantar as mangas de sua jaqueta do time do colégio,
examinando sua pele em busca de algum tipo de ponto de entrada.

Minha garganta queima pra caralho quando encontro uma


ferida suturada com bordas bem cortadas em seu antebraço com
veias.

É verdade. Ele foi esfaqueado. Que. Porra.

Ele exala outro longo suspiro. Por que sinto que está prestes a
piorar?

— Encontrei o assassino de Lexie.

Lembro-me imediatamente do que o idiota me disse no dia em


que fui agredida. Nunca contei a Finn sobre a confissão do cara.
Achei que já soubesse. Pensei que a única razão pela qual Finn se
desculpou com Lexie antes de ela morrer foi porque sabia que
tinha desempenhado um papel na sua morte pegando dinheiro
emprestado quando, na verdade, era tão ignorante quanto eu.
— Finn, eu tenho que te contar uma coisa...

Ele me interrompe. — Sei que era o canalha da festa de Lacey.

Sabe?

— Foi ele que me esfaqueou. Antes disso, contou-me o que fez


com Lexie e... — morde o lábio inferior. — … o que fez com você.

Minhas bochechas ficam vermelhas. — Quanto ele te contou?

— Ele disse que mal podia esperar para terminar o que


começou, então presumi que ele não tinha…

Baixo os olhos aos pés, sentindo-me suja, imunda,


envergonhada. Sei que nada disso foi minha culpa, e poderia ter
sido muito pior, mas não posso deixar de me sentir envergonhada.

— Ele não fez. — Engulo em seco. — Ele ia, mas foi chamado.
Disse que eu o veria novamente, no entanto. Vamos torcer para
que não volte para o segundo round.

Raiva brilha nos olhos de Finn, mas rapidamente consegue


controlar. — Leia a porra dos meus lábios - ele nunca mais tocará
em você.

— Como você sabe? — Mordo meu lábio inferior.

Ele ri. — Meio difícil de fazer com dedos quebrados.

Minha cabeça se levanta. O que ele acabou de dizer?

Jesus, ele disse isso como se estivesse falando sobre o tempo.

— Você quebrou os dedos dele? — Desabafo.


— Droga, com certeza. Então entreguei sua confissão gravada
aos policiais em uma bandeja de prata. As digitais dele estavam
por todo o carro que atingiu Lexie. Acontece que tinham alguns
mandados de prisão contra ele.

— Ele... mas não vai delatá-lo pelo que você fez com ele? —
Digo.

— Bastardo tentou. — Finn dá de ombros. — Passamos por


legítima defesa. Inventei uma história sobre ele vindo até mim para
terminar o que começou. Neste ponto, é a palavra dele contra a
minha. Não sou nenhum santo, mas nunca fui acusado de
tentativa de homicídio.

Não acho que ficaria feliz com um carro tentando atropelar


Finn – tudo bem, talvez estivesse no início do verão. Uma coisa é
matar um cachorro, outra é matar um cachorro enquanto tenta
matar seu dono. Não tenho dúvidas de que os advogados
milionários do Sr. Richards farão tudo o que estiver ao seu alcance
para jogar o monstro na cadeia.

— Ele será preso? — Lágrimas inundam meus olhos ao pensar


no assassino de Lexie apodrecendo em uma cela.

— Nós o pegamos, Dia. Nós o pegamos, porra. — Finn pega


uma lágrima rolando pelo meu rosto com o polegar.

Por um momento, esqueço tudo sobre os cinco dias


excruciantes que passei convencida de que ele não se importava
comigo e me jogo em seus braços. Empurro até a ponta dos meus
pés, esmagando meu peito perto do dele e me deleitando com o
cheiro de sua colônia.

Lexie terá justiça. Este é o melhor resultado que poderíamos


esperar nesta situação.
Finn não perde um segundo envolvendo seus braços à minha
volta, abraçando-me com tanta força que é difícil respirar. Seus
dedos tiram o cabelo do meu pescoço enquanto arrasta alguns
beijos desesperados para cima e para baixo na minha clavícula,
inalando meu cheiro como se estivesse tentando memorizá-lo.

Tudo está perfeito. Até que não.

— Finn?

Finn se afasta de mim como se tivesse sido pego cometendo


um crime federal. Balanço minha cabeça para ver Xavier, Theo e
Axel nos olhando ao virar do corredor.

— Cara, vamos lá, não na propriedade da escola. Pelo menos


leve a garota para casa. — Axel ri em seu punho.

Espero Finn dizer a ele para se foder, mas não reage.

É isso que ele quer que as pessoas pensem, não é? Que sou
uma parceira?

Porque não importa quantas vezes prometa nunca me deixar


ir, Finn Richards ainda tem uma imagem a manter. Ainda está se
escondendo atrás de sua personalidade sem coração, protegido por
uma fachada que pensei ter derrubado.

— Vamos — Xavier intervém antes que se torne estranho. —


Fletcher, vamos, porra — repete e acaba tendo que forçar Axel a se
afastar. O olhar de Finn encontra o meu assim que estamos
sozinhos novamente.

Vejo isso em seus olhos. Ele sabe que se fodeu.


Posso ser capaz de perdoá-lo em circunstâncias incomuns
como ser esfaqueado, mas não acho que posso lidar com um cara
tendo vergonha de mim.

— Dia... — tenta dar um passo à frente, mas eu recuo.

— Não pode nem me abraçar em público — sussurro, mais


para mim do que para ele, e me viro para sair. — Eu... eu tenho
que ir.

Sua mão voa para o meu pulso em uma fração de segundo, e


me gira, me puxando de volta para seu peito.

— Espere um maldito segundo. O que isto significa? —


Implora, procurando meus olhos por uma pista.

— Isso significa que estava certo. — É preciso toda a coragem


do meu corpo para me separar dele. — É chamado de emprego de
verão por um motivo. Depois do verão, acaba.

Então, deixo-o lá.

Enquanto volto para o meu armário com o coração em ruínas,


percebo por que estar de volta entre essas paredes é tão diferente.

Parece diferente porque eu estou diferente.

Este verão me mudou. Finn me mudou.

No final contudo...

Não consegui mudá-lo.


O refeitório é tão barulhento que mal posso me ouvir pensar
enquanto Xavier e eu atravessamos a multidão para encontrar os
rapazes. Theo, Axel e alguns jogadores do time estão sentados em
nossa mesa de sempre, contando piadas sobre pessoas que sei que
de fato não se comparam a mim.

A verdade é que sou a maior piada do mundo. Não, sou um


show de comédia completo por me afastar quando ela me abraçou
esta manhã. Por que diabos me afastei?

É tão fácil quando estamos sozinhos. Quando a coloco em um


canto, grandes olhos castanhos piscando para mim, mas na frente
dos meus amigos? Diante do mundo? Essa merda parece correr
nua em um campo de batalha. É como se eu não quisesse que as
pessoas soubessem que me importo. E não é porque tenho
vergonha dela. Para ser honesto, não é nem mesmo sobre o Dia. É
sobre mim.

Passo os próximos cinco minutos brincando com meu garfo e


olhando para a comida desagradável no meu prato. Sou
brevemente trazido de volta à realidade por Theo se desculpando
por sua ausência no dia da morte de Lexie.

Algo sobre seus pais psicopatas pegando seu telefone e


trancando-o dentro de seu quarto por vinte e quatro horas quando
parou para pegar algumas de suas coisas.

Aceno, aceitando seu pedido de desculpas,


independentemente do fato de que não precisava, e me retiro para
um mundo distante. Quase consigo abafar as piadas sexistas de
Axel quando diz a única coisa que poderia chamar minha atenção.

O nome dela.

— Porra, ela é gostosa. Dia, é?

Meus olhos levantam da minha bandeja de comida para Axel


recostado em seu assento, olhando para a entrada do refeitório.
Sigo seus olhos para as grandes portas de madeira, localizando-a
imediatamente.

Está andando com Aveena Harper, superando todas as fodidas


garotas na sala com sua boca carnuda e cachos lustrosos. Não
sabia que Dia era amiga de Aveena.

A mãe de Aveena e a minha eram amigas quando éramos


crianças. Xavier e eu saíamos com ela todo fim de semana e
pregávamos um monte de brincadeiras doentias com ela para
tornar sua vida miserável. Ele se recusou a dizer isso em voz alta,
mas Xavier tinha a maior paixão por ela. Lembro-me de lhe dar
tanta merda por isso.

Não consigo desviar os olhos enquanto Dia caminha mais para


dentro do refeitório, procurando um lugar para sentar. E não sou
o único olhando. A mesa inteira está.

Inferno, qualquer cara que tenha olhos está olhando.

Devemos ser bastante óbvios porque Aveena dá uma


cotovelada em Dia, gesticulando em nossa direção com o queixo.

A cabeça de Dia se levanta. E nossos olhos cruzam a sala.


Uma pontada de dor colore seus olhos escuros por um
momento fugaz, mas é rápida em enterrá-la, desviando o olhar.
Encontra dois lugares disponíveis logo depois.

— Olha, Richards, é sua namorada. — Axel despreza.

Meus punhos se contraem em bolas apertadas. Era disso que


eu tinha medo. Os caras pensando que estou chicoteado. E
honestamente?

Eles podem estar certos.

— Ela não é minha namorada — resmungo.

Ele bufa uma risada. — Você abraça todos os seus brinquedos


de foda, então?

Meu brinquedo de foda.

Ele acha que ela é meu brinquedo de foda. Se alguém é um


brinquedo, sou eu.

A garota tem me enrolado em torno de seu fodido mindinho


neste momento. Posso não estar pronto para mostrá-la aos meus
amigos, mas o que ela não entende é que nunca conheci ninguém
que quisesse apresentar a eles. Ela pode ter me dado sua primeira
vez, mas ela também é uma primeira vez para mim.

— Ela estava lá quando o cachorro dele morreu. Pegaram o


cara, e ela ficou feliz. Fim da história. — Xavier inventa uma
explicação que com certeza tirará Axel das minhas costas. Parte de
mim quer agradecê-lo enquanto a outra quer quebrar o nariz por
lutar minhas batalhas.
— Certo, seu cachorro. — Axel fecha a boca. — Desculpe-me,
cara.

Não respondo. Axel se levanta da cadeira no segundo seguinte,


e é como se um bilhão de sirenes tivessem soado na minha cabeça.

— Onde vai? — Quaase desabafo.

Ele me olha por cima do ombro. — Falar com ela.

— Por quê? — Não perco uma batida. Posso sentir os olhos de


todos em mim, mas não dou a mínima.

Ele sorri. — Use sua imaginação. — E se vira para ir embora.

— Sente-se, porra, Fletcher — eu o paro novamente.

— Cara, ou ela é sua garota ou não é. Decida-se, porra.

E ele está certo. Não tenho nada que impedir os rapazes de


falar com ela. Não adianta tentar marcar meu território se, no final
do dia, não sou eu quem a leva para casa.

— Então, o que será? — Axel ergue uma sobrancelha, e tenho


a sensação de que está me desafiando ou algo assim.

Não digo nada.

Ele abre um sorriso satisfeito. — Isso foi o que pensei.

Então, ele vai para a sua mesa.

Gostaria que os rapazes começassem a falar sobre alguma


coisa. Qualquer coisa, desde que me distraia, mas ficam de boca
fechada, vendo Axel dar o tiro que eu não consegui.
Pego a faca de plástico à minha direita, fingindo cortar minha
comida, mas não adianta. Meus olhos estão de volta a ela em um
piscar de olhos.

Axel para na sua mesa, plantando as palmas das mãos na


beirada e dizendo a Dia algo que não consigo ouvir. A julgar pelo
olhar de desgosto em seu rosto, ela não está a fim, ou ele.

Até que seus olhos se iluminam e me encontra no meio da


multidão. Ela me pega olhando, e assim... aprende as regras de
um jogo que nem sabia que estávamos jogando.

Ela vai de indiferente ao flerte de Axel para envolvida na


conversa em um instante, piscando-lhe os cílios enquanto ele
vomita o que tenho certeza que é um monte de porcaria.

Nesse momento, não quero nada mais do que levantar do meu


assento, marchar até lá e arrastá-la para um banheiro para
lembrá-la a quem pertence.

Quase fico cego de raiva quando pega o telefone de Axel para


adicionar seu número em seus contatos. Minha mente começa a
correr solta com imagens de Dia espalhadas em sua cama,
gemendo o nome de Axel, seus seios saltando enquanto toma o
resto de seus primeiros beijos.

— Finn, que porra é essa? — Reconheço a voz de Xavier.

Será que vai se lembrar de mim quando ele estiver dentro dela?
Será que ela…

— Merda, cara, está sangrando.

Uma mão sacode meu ombro vigorosamente, me puxando para


fora de um lugar escuro. Estou de volta ao refeitório lotado em um
estalar de dedos. Uma pequena rajada de ar deixa meus lábios
quando olho para baixo e vejo a faca de plástico que estava
segurando um momento antes de enfiar na minha mão. Estava
cerrando meus punhos com tanta força que nem percebi...

Há sangue em todo o meu guardanapo, alguns na minha


comida, alguns na minha bandeja do refeitório. Estou com tanta
inveja que me fiz sangrar.

É quase como se meu corpo estivesse tentando punir meu


cérebro por ser um covarde e deixar isso acontecer. Olho ao redor
da mesa para encontrar os rapazes me observando como se eu
fosse um alienígena. Todos eles, menos Xavier.

Em seus olhos, vejo um vislumbre de compreensão. Então, ele


acena.

E sei que esse aceno de cabeça é o seu jeito de me dizer - Quem


você pensa que está enganando?

Ele está me dizendo para ir em frente, e enquanto vejo Dia se


forçar a rir de uma das piadas de Axel, as palavras que o idiota me
disse se repetem na minha cabeça.

— Cara, ou ela é sua garota ou não é. Decida-se, porra.

Bem, acabei de fazer. Eu me decidi.

E, antes que o dia acabe…

Todos nesta maldita escola saberão que Diamond Mitchell é


minha.
Há apenas vinte e quatro horas em um dia.

Seis das quais o aluno médio gastará na escola, mas enquanto


Aveena e eu saíamos de Easton após o dia mais longo da minha
vida, me pego imaginando se acidentalmente entrei em um loop
temporal. Juro que estou presa neste prédio há séculos, temendo
cada intervalo de aula e me curvando para evitar Finn nos
corredores.

Não foi muito difícil evitá-lo à tarde - não tínhamos aulas


juntos e nossos armários ficam em seções diferentes, mas evitar
minha culpa era uma história muito diferente.

Nunca fui de brincar com os sentimentos de alguém. Até que


Axel Fletcher veio à minha mesa no almoço e começou a me
alimentar com palavras ridículas sobre meus olhos. Estava tão
perto de expulsá-lo quando olhei para Finn e vi a raiva em seus
olhos.

Ele estava chateado. Estava com ciúmes. E eu gostei disso.

Por isso, brinquei. Fingi um sorriso e ouvi as falas de coleta de


lixo de Axel; até adicionei um número falso no telefone de Axel para
fazer parecer que tinha uma chance.

Tudo para que Finn acordasse. Não tenho certeza se gosto


dessa versão minha.
— Minha mãe e minha irmã estão fora a noite toda. Você vem
— Aveena afirma enquanto atravessamos o estacionamento
juntas.

— Eu tenho uma escolha? — Abro um sorriso.

— Não. Garotas que não contam a sua melhor amiga sobre seu
escandaloso romance de verão não têm escolhas — brinca.

Eu verifico meu telefone enquanto ando, esperando a


misericórdia de uma mensagem de Finn.

Nenhuma mensagem nova.

A decepção afunda no meu estômago como uma pedra, mas


não deixo isso me perturbar, atualizando meus textos
obsessivamente. Talvez não saiba que desbloqueei o seu número?
Estou a meio caminho do meu carro quando Aveena agarra meu
braço e para em algo à distância.

Eu olho para cima. E entendo por que não me enviou uma


mensagem.

Não recebi uma mensagem porque estou recebendo o negócio


real.

Finn está encostado no meu carro inseto com a cabeça baixa,


os braços tatuados cruzados sobre o peito e o cabelo castanho
caindo em cascata na frente dos olhos. A alça de sua bolsa
esportiva está pendurada em seu ombro, e presumo que o treino
de basquete comece hoje à noite.

— Minha casa, sete horas. — Aveena abre um sorriso maroto


e sai em direção ao carro.
Você pensaria que Finn tem algum tipo de radar Dia porque
assim que ela sai, ele olha para cima, olhos castanhos capturando
os meus do outro lado do estacionamento.

— Richards! Que porra está esperando? O treinador quer falar


conosco antes do treino — uma voz que tenho certeza que pertence
a Axel chama atrás de nós.

Viro minha cabeça para ver Theo, Xavier e Axel nos


observando das escadas lotadas da escola com suas próprias
mochilas de ginástica e suas costas pressionadas contra o
corrimão.

Quase espero que Finn me abandone novamente – ele provou


ser particularmente habilidoso nesse departamento - mas não
vacila nem um pouco, determinado a manter o contato visual.

— Não mordo, Gem. — Seus lábios se contorcem em um


pequeno sorriso.

Ele contudo está mentindo. Pode não morder, mas temo que
se chegar mais perto, vai afundar suas garras em mim, cumprindo
sua promessa de nunca me deixar ir. Posso sentir mil olhos em
mim, o peso da atenção indesejada me desacelerando enquanto me
aproximo dele. Meu comportamento é cauteloso, apreensivo,
quando paro diante dele.

— O que quer? — Meus ombros encolhem sob a metade do


escrutínio da escola.

Em resposta, ele solta uma zombaria. É baixa, profunda,


cativante, mas também zomba.

Como se ele estivesse surpreso por eu estar perguntando.


— Acho que sabe exatamente o que eu quero.

Meu coração martela no meu peito.

— Só se você puder esconder isso, certo? — Quero soar


confiante, mas sai como um sussurro.

Finn empurra o meu carro, caminhando lentamente em minha


direção. Ele para um fio de cabelo perto demais para o gosto do
meu coração, mas meu orgulho me proíbe de me afastar. Eu tremo
quando coloca um dos meus cachos atrás da minha orelha.

— Parece que estou me escondendo? — Arqueia uma


sobrancelha.

Ele tem um ponto. O estacionamento da escola não é


exatamente privado.

— Você fez mais cedo — eu o lembro.

Eu sei que fiz o meu ponto quando um suspiro deixa seus


lábios.

— Você está certa, isso foi uma merda da minha parte.

Merda? Cara, você rasgou meu coração em pedaços.

— Eu sinto muito. — Segura meu olhar. — E não apenas por


hoje. Estou me escondendo desde a noite em que me deu uma
joelhada nas bolas.

Espero que ele continue.

— Sou um covarde, Dia. — Expira. — Passei dez anos da


minha vida fingindo que meu coração estava apodrecendo no
fundo do Lago Belmont com minha mãe.
Ofego uma respiração em sua admissão. Esta é a primeira vez
que ele a criou enquanto estava sóbrio.

— Fiz tudo o que pude para convencer as pessoas de que se


afogou com ela naquele dia. E funcionou. Muito bem, na verdade.
Porque também comecei a acreditar nisso.

Podia ouvir um alfinete cair no estacionamento da escola.

A maioria dos alunos se dispersou, mas a torcida e o time de


basquete decidiram colocar suas bundas na frente da escola e
aproveitar o show. Finn não fala alto o suficiente para ouvirem,
mas isso não significa que aqueles bastardos intrometidos não
estão tentando.

— Então apareceu um dia, enfiou seu punho no meu peito e


puxou essa merda. Você me lembrou que eu tinha um coração,
Dia, mas não percebi o quanto estava machucado e danificado até
se afastar de mim esta manhã.

Minha garganta parece estar sendo espremida.

— Acho que o que estou tentando dizer é... não será fácil. Eu
provavelmente vou machucá-la, e às vezes você vai me chamar de
idiota e vamos brigar, mas foda-se, pelo menos uma vez na minha
vida, quero brigar. Quero lutar até nos acertarmos.

Eu não posso falar.

— Lute por mim, Gem. E prometo lutar pra caralho por você.

Só percebo que estou chorando quando lágrimas salgadas


deslizam pelos meus lábios.

— O que... O que isso significa? Eu... quer namorar?


Suas mãos agarram meu rosto, e ele perfura seu olhar no meu.

— Não sei como chamar isso. Quero dizer, apenas dois meses
atrás, não conseguia nem imaginar querer estar com alguém. Isso
tudo é tão novo para mim, mas acho... acho que se você me der
tempo, vamos descobrir.

Tantos pensamentos giram em minha cabeça, sendo o


principal que eu realmente não tenho escolha. Não posso me
afastar disso.

Dele. Eu só... não posso.

E pode não ser perfeito, mas ele está tentando, o que é mais
do que fez por qualquer um.

— Espere, então, não estamos namorando? — Pergunto.

— Não tecnicamente, mas se me perguntar, não precisamos


da porra da etiqueta.

— Isso significa que podemos ver outras pessoas?

Ele ri disso.

— Essas palavras acabaram de sair da sua boca? Pelo amor


de Deus, Dia, quase matei um cara por tocá-la.

— Isso é um não, então? — Provoco.

Zomba. Então seus lábios estão nos meus, procurando,


provando, devorando. Ele me beija no meio do estacionamento da
escola sem dar a mínima para o nosso público.

Isso parece mais do que um beijo. Parece que está deixando o


mundo saber o que sabemos o tempo todo. Fico na ponta dos pés
para envolver meus braços ao redor de seu pescoço, e Finn prende
seu bíceps em volta da minha cintura, inclinando-se contra o meu
carro. Ele me puxa com ele, suas mãos deslizando nos bolsos
traseiros do meu jeans possessivamente.

Devemos nos beijar por cinco minutos antes de nos


desconectarmos, igualmente sem fôlego e atordoados com o que
acabou de acontecer. Nós realmente fizemos isso.

Agora todo mundo sabe.

Nossa aventura de verão não foi apenas uma aventura, afinal.


Não consigo tirar o sorriso idiota do meu rosto quando Finn dá um
beijo final na minha boca.

— Eu nunca respondi sua pergunta — roça contra meus


lábios.

Presa em um torpor, eu me esforço para entender suas


palavras.

— Que pergunta?

— Você me pediu uma vez para citar uma coisa que não odeio.

O momento exato que perguntei a ele me lava, a memória se


encravando na vanguarda da minha mente. Foi na noite em que o
encontrei parado na janela. Eu disse que ele odiava tudo.

— Sim? — Sei onde isso dará, mas estaria louca se o impedisse


agora.

— Você estava certa. Eu odeio tudo.

Ele me beija novamente.


Então diz algo que sei que ficará comigo por muito tempo
depois que esse momento se for.

— Tudo menos você.


Fiz um pacto com o diabo sem lê-lo primeiro.

De todas as suas belas mentiras,

Eu te amo foi a pior.


— Você vai para o inferno por isso. — Minha mão cai entre
minhas pernas para agarrar o cabelo de Finn.

— Ainda bem que gardei um lugar para você. — Ele ri contra


o meu núcleo e acaricia meu clitóris com um golpe de sua língua,
abrindo minhas pernas mais largas enquanto me come sem
piedade.

Não tenho certeza de como vim parar aqui. Em nada além de


um sutiã com as pernas abertas no capô do carro de um jogador
de basquete.

Na verdade, isso é mentira. Eu sei exatamente o que me trouxe


aqui.

Um texto.

Finn: Encontre-me no nosso lugar antes da festa do Theo. Estou


morrendo de fome.
Sabia melhor do que pensar que falava de comida. Afinal,
temos vindo a estes bosques todas as semanas nos últimos seis
meses, e nem uma vez comemos algo aqui. Bem, exceto um ao
outro.

— Oh merda, sim. Sim! — Meu estômago aperta à medida que


o prazer atinge níveis insuportáveis. Finn geme, sua língua
substituindo seus dedos na minha entrada e empurrando dentro
de mim.

Em um mundo perfeito, não teríamos que nos esconder assim.


Eu seria capaz de dizer aos meus pais que fiz muito mais do que
cuidar de um cachorro no verão passado, e a casa de Finn não
seria uma maldita fortaleza guardada por segurança vinte e quatro
horas. Não posso culpar o Sr. Richards por ser extremamente
cuidadoso. O assassinato de Lexie realmente fez um estrago nele.
Se meu cachorro tivesse sangrado nos braços do meu filho
enquanto estivesse fora, provavelmente também contrataria uma
segurança pesada.

Alguns argumentaram que ele está fazendo demais.


Especialmente considerando que o sacana que matou Lexie foi
condenado a três anos de prisão por tentativa de homicídio e posse
de drogas com intenção de vender há um mês, mas o pai de Finn
deixou claro que não deixará a história se repetir.

É irônico, realmente.

Finn passou de desejar que seu pai estivesse em casa com


mais frequência para esperar impacientemente que fosse embora
novamente.

Saber que Lexie morreu nos braços de Finn; e Finn nem sequer
pensou em ligar para ele - os policiais tiveram que fazer isso -
pareceu ter acordado o Sr. Richards sobre o quão quebrado seu
relacionamento realmente está.

Ele está de volta à cidade desde então, tentando se reconectar


com seu filho. Vamos apenas dizer que Finn não gosta muito da
ideia de fazer as pazes. Acho que ele culpa o pai pelas milhões de
viagens de negócios e por não ter estado lá naquele verão.

Finn bate as palmas das mãos em seu carro enquanto me


lambe para cima e para baixo. Minhas unhas arranham a pintura,
a sensação de sua língua me rasgando.

— Cuidado, não gostaria que eu arruinasse Remy. — Engasgo


com um gemido, e Finn ri.

— Arruine o que quiser, baby. — Sua boca aperta meu clitóris,


e minhas costas se arqueiam fora do carro.

— Nunca me disse por que chamou seu carro de Remy. Está


atrás de alguém? — Pergunto.

— Não. — Finn dá de ombros. — Não conheço ninguém


chamado Remy. Só gostei do nome.

Finn desliza dois dedos dentro da minha boceta, enrolando


dentro e fora de mim furiosamente. Espero que a próxima vez que
fizermos isso seja em uma cama de verdade, mas entre Finn
praticando basquete quase todos os dias e meus pais não sabendo
sobre nós, momentos roubados como esses são tudo o que temos.

Eles nem sabem que tenho namorado – bem, Finn e eu ainda


não temos exatamente o título, mas todos na escola sabem que
estamos juntos. Se meus pais descobrissem, provavelmente me
deserdariam por mentir para eles, e sei que é errado, mas tenho
fingido que estou saindo com Aveena toda vez que Finn e eu vamos
para a floresta.

— Merda, vou…

— Foda-se sim, baby. Dê-me isto.

E dou. Gozo por todo o seu rosto antes de cair no capô de seu
carro, caindo de volta à terra enquanto meu orgasmo
vagarosamente se afasta. Eu mal tenho a chance de recuperar o
fôlego antes de Finn empurrar seu jeans para baixo, agarrar
minhas coxas e me puxar para mais perto. Minha bunda
pendurada na borda do carro, Finn libera seu pau de sua cueca.
Engulo em como parece bom. Não posso deixar de olhar
embasbacada para seu eixo e as veias subindo por seu
comprimento. Não nos vimos durante toda a semana devido à sua
agenda maluca, e tenho que admitir, tenho fantasiado sobre isso.

— Eles estão esperando por nós. — Mordo meu lábio inferior.


Deveríamos estar na casa de Theo para uma festa na piscina horas
atrás.

Finn sorri e guia seu punho para cima e para baixo em seu
pau rapidamente, posicionando sua ponta na minha entrada. — E
eu estive esperando por este momento toda a porra da semana. A
vida é uma merda.

A primeira estocada me tira o fôlego. Finn joga a cabeça para


trás com um gemido carnal, me enchendo até a borda.

— Senti muita falta disso, porra. — Ele se acalma e agarra a


parte de trás do meu pescoço, forçando minha cabeça para baixo
para garantir que estou assistindo enquanto puxa completamente
e empurra de volta.
Eu gemo, meus olhos se arregalam quando percebo...

Ele não está usando camisinha.

Sabemos há meses que estamos ambos limpos e, embora


esteja tomando pílula, insisti que tomássemos precauções extras.

— Finn — grito quando pega o ritmo, me fodendo cada vez


mais forte. — Preservativo.

Ele para de se mover na hora e se afasta, seus olhos crescendo


em tamanho à medida que se dá conta. Imediatamente estremeço
com a falta da sensação.

— Desculpe-me eu…

Eu me odeio por amarrar minhas pernas ao redor de sua


cintura e puxá-lo para mim. Nós dois engasgamos quando seu pau
desliza de volta para dentro de mim.

— Porra, Dia, não posso... — Impulso. — Não posso parar,


porra. — Impulso. — Faça-me parar.

Meu corpo porém se recusa a ouvir enquanto mudo meus


quadris para aumentar a fricção, desejando que vá mais rápido.
Isso parece mais intenso, mais real, mais pessoal. Estou tão
perdida no momento que quase esqueço as pessoas esperando por
nós na casa de Theo.

Até me lembrar que convidei alguém que não posso


decepcionar.

Aveena.
Implorei a ela par vir à festa de Theo quando passou na minha
casa hoje cedo. A última coisa que quero é que fique sozinha com
os amigos de Finn enquanto faço sexo na floresta.

Não nos vemos com tanta frequência quanto costumávamos,


e sinto sua falta. Só gostaria de não ter que me sentir
envergonhada sempre que quero falar sobre sexo, ou Finn, ou
festas – basicamente coisas normais de adolescente. Ela sempre
me pergunta como as coisas estão indo, mas parece desconfortável
quando lhe digo. Talvez sua falta de experiência a faça se sentir
deslocada? Seja o que for, me fez hesitar em compartilhar com ela.
Estamos nos afastando, e isso me apavora.

— Merda, temos que ir. Convidei a Vee.

A boca de Finn desce sobre a minha.

— Falta pouco. — Ele me beija para me calar.

— Finn, sério, precisamos nos apressar. Não quero que ela


fique sozinha. — Mordo um sorriso, seu corpo quente colidindo
com o meu repetidamente.

— Apenas diga a ela que teve sexo sujo na floresta. Ela


entenderá. — Ele se inclina para frente para morder o lóbulo da
minha orelha. Sabendo que as palavras não me levarão a lugar
nenhum, contraio meus músculos pélvicos e aperto seu pau.

— Ah, foda-se. — Finn fecha os olhos com força, agarrando


minha cintura enquanto se empurra mais rápido dentro de mim.
Normalmente não é um homem de um minuto. Terei que acelerar
o processo.

— Se você gozar agora, vou deixá-lo fazer isso.


Seus olhos se abrem. Ele sabe exatamente o que quero dizer.

Ele queria tentar anal por um tempo, mas eu tinha minhas


reservas.

— Seus dedos, primeiro. Então veremos. Combinado? —


Engulo um gemido.

Posso praticamente ver suas fantasias mais loucas me


olhando. Sim, isso acontecerá. Sua boca se abre quando as
imagens do que quer fazer comigo o empurram para mais perto da
borda.

— Combinado. — Agarra minha garganta para me beijar,


então se afasta, prestando muita atenção no meu rosto enquanto
me dá tudo o que tem. Estava certo sobre uma coisa. Nosso sexo é
sujo e bagunçado, mas também é vulnerável e cruel.

Como se fôssemos as últimas pessoas que restaram nesta


terra.

— Pooorra. — Finn geme, apertando minha garganta com mais


força. Ele bombeia em mim mais três vezes antes de derramar
dentro de mim.

Vou precisar de um baita banho depois disso.

Estamos ambos sem sem fôlego quando Finn me envolve em


um abraço que nunca quero deixar. Ainda dentro de mim, beija
meu queixo e inclina a cabeça para sussurrar algo no meu ouvido.

— Tudo menos você.

Meu coração incha dolorosamente. Ele me faz tão feliz.


Estamos nos divertindo muito nestes últimos seis meses,
mesmo com todas as espreitadelas. Conversamos todos os dias,
passamos todos os fins de semana juntos, festejamos, rimos.
Tenho vivido em uma nuvem e, embora tenha medo de cair,
quando diz coisas assim, quase acredito que nunca cairei.

Tudo menos você se tornou nossa coisa, a maneira de Finn


dizer eu te amo sem realmente dizer isso.

— Tudo menos você — resmungo, e Finn dá um beijo na ponta


do meu nariz. Minhas pernas estão bambas quando me ajuda a
sair do carro. Felizmente, pega-me antes que meus joelhos cedam
e aproveita a oportunidade para me beijar novamente.

— Muito bem, agora realmente temos que ir — sussurro, e ele


sorri.

Finn relutantemente me libera, então joga minha camisa e


minhas calças que estavam juntando poeira no chão. Ele me dá
todas as minhas roupas, exceto minha calcinha.

— Posso ter isso de volta? — Estico meu braço.

— Acho que ficarei com isso até que cumpra sua parte do
nosso acordo. — Ele sorri, deslizando sua vantagem em seu bolso.

Idiota.

Não me incomodo em discutir enquanto me visto, grata pela


privacidade da floresta. Nosso lugar é no meio da porra de lugar
nenhum, perto da árvore onde os pais de Finn gravaram seus
nomes anos atrás.
— Vou direto para a casa de Theo. Vejo você lá? — Finn me dá
um selinho, e aceno antes de voltar para o meu próprio carro -
meus pais achariam suspeito se Finn me levasse de carro.

O carro de Finn desaparece na estrada de terra perto da


floresta um momento depois, e verifico meu telefone para
mensagens de texto uma vez que afivelo o cinto. Tenho duas
mensagens de Lacey.

E um do meu pai.

Lacey: ONDE VOCÊ ESTÁ?

Lacey: Theo saiu para pegar mais bebida e estou presa com Axel. Se
você me deixar sozinha com Fletcher - O Porco, literalmente nunca mais
falarei com você!

Uma risada me deixa.

É ruim eu estar enviando mensagens para Lacey mais do que


para Aveena desde o começo do último ano? É ruim que tenha me
aproximado muito de Lacey do que da minha melhor amiga? Faço
tudo com Lacey hoje em dia. Festejamos juntas, fazemos compras
juntas, até vamos a shows nos fins de semana.

Vee é tão importante para mim, mas tem muitos gatilhos –


como seu ódio pelo álcool por causa de seu pai alcoólatra – e nem
sempre sei como lidar com eles. Saio da minha conversa com Lacey
e verifico a mensagem do meu pai.
Gaten: Seu irmão está voltando para a cidade amanhã. Estamos
jantando no restaurante. Esteja lá às cinco.

A notícia do retorno do meu irmão deveria me deixar feliz, mas


Jesse voltando depois de desaparecer por meio ano me traz mais
perguntas do que alegria.

Ele acabou de sair do nada seis meses atrás, logo depois que
a escola recomeçou. Nenhuma chamada, nenhuma mensagem,
nem mesmo um adeus. Meus pais disseram que ele precisava de
um tempo para se concentrar em si mesmo e cavar em seu
passado, o que diabos isso significa. Não posso deixar de me
perguntar se seu ato de fantasma poderia ter algo a ver com o
misterioso segredo que Brody Richards disse que estava mantendo
no verão passado?

Estaria mentindo se dissesse que não fiquei aliviada ao


descobrir que Jesse estava desaparecido quando Finn e eu
começamos a ficar “sérios”. Não tenho dúvidas de que Jesse teria
me delatado só por ficar com Finn. Ele pode estar de volta agora,
mas não vou deixá-lo estragar a melhor coisa da minha vida...

Mesmo que isso signifique fazer algumas escavações.

Uma hora depois estou estacionando na garagem de Theo.


Meus pais me emboscaram quando entrei em casa para tomar
banho e lavar o esperma de Finn de mim – não há maneira elegante
de dizer isso. Eles me interrogaram sobre onde eu estava e para
onde ia por quinze minutos. Acabei contando para eles uma
história sobre ter passado o dia com Aveena.

Então lhes disse que encontraria alguns amigos para estudar


esta noite.

Eles acreditaram. Porque confiam em mim. Porque me amam.

Enquanto isso, não fiz nada além de mentir para eles.

Achei que vomitaria quando Gaten me puxou para um abraço


e sussurrou que estava orgulhoso de mim. Aos seus olhos, sou a
boa filha deles. Ao contrário do meu irmão e irmã que tinham um
talento especial para se afundar na merda na minha idade.

Não sei por quanto tempo mais posso manter isso. Quanto
mais enterro a verdade, mais desapontados ficarão quando
descobrirem que sua preciosa garotinha não tem mais medo do
monstro debaixo da cama. Porque o único monstro que ela tem
medo... é o monstro dentro dela.

Estou surpresa ao ver Brielle Randall deitada em uma


espreguiçadeira à beira da piscina quando contorno a casa em
direção ao quintal de Theo. O que ela está fazendo aqui? Pensei
que Xavier a tivesse largado? É tudo sobre o que todo mundo está
falando.

Como Brie acidentalmente expôs seu próprio namorado no


Snapchat alguns dias atrás. Finn e Xavier acharam que seria uma
ideia brilhante detonar uma bomba fedorenta na aula na semana
passada. A sua brincadeira estúpida fez com que toda a escola
fosse evacuada sob a chuva torrencial.
As pessoas suspeitaram de um vazamento de gás. Ficou tão
ruim que a polícia e o corpo de bombeiros apareceram. O desastre
da bomba fedorenta terminou com Finn e Xavier sendo jogados na
traseira de um carro da polícia.

E tudo graças a Brie.

Brie decidiu gravar a si mesma quando a professora saiu da


sala de aula. Estava fazendo caretas para a câmera com um filtro,
sem noção como pode ser. Mal sabia ela que tinha acabado de
pegar Xavier mostrando a Finn a bomba fedorenta em sua mochila
em vídeo.

Finn quase entrou em um mundo de problemas por isso -


queriam cortá-lo do time de basquete - mas Xavier assumiu a
culpa, alegando que foi ideia dele. Surpreendentemente, estava
dizendo a verdade. Xavier Emery, um maldito santo, planejou uma
brincadeira sozinho. Parecia fora do personagem, para dizer o
mínimo.

Aguentei Brie saindo com a gente o ano todo porque namorava


Xavier. Fui tola em pensar que nos livraríamos da cadela depois
do rompimento? Chame-me de territorialista, mas odeio saber que
ela dormiu com Finn.

Vejo Theo, Lacey e Axel na piscina assim que viro o corredor.


Nenhum sinal de Aveena ou Finn.

— Dia! — Lacey grita ao me ver. Ela corre para fora da piscina


antes que possa cumprimentá-la, quase tropeçando em seu
caminho até mim. Posso dizer que está um pouco embriagada por
suas risadas bêbadas, mas não menciono isso. — Onde diabos
estava?
Fazendo sexo na floresta. Mentindo para meus pais. Fazendo
uma bagunça na minha vida.

Lacey não espera minha resposta, me prendendo em um


abraço. Grito quando seu biquíni pingando encharca minhas
roupas. Ela me segura no lugar, voluntariamente encharcando
minha roupa.

— Isso é por me deixar sozinha com Axel — sussurra enquanto


nos abraçamos, uma pitada de humor audível em sua voz.

— É justo. — Eu rio.

— Vá colocar um biquíni. A água está ótima. — Lacey se afasta


para me avaliar. Olha para minhas roupas molhadas e reprime um
sorriso. — Ou fique assim. Mesma coisa.

Estou prestes a perguntar a ela onde Finn está quando braços


fortes circundam minha cintura por trás, me levantando como se
eu não tivesse peso. Lábios quentes espalham beijos por toda a
minha bochecha, e rio, girando para olhar para Finn. Ele devia
estar na casa.

— Ei, idiota, por que demorou tanto? — Theo pergunta a Finn,


nadando mais perto da borda da piscina.

Espere, Finn acabou de chegar?

— Eu me perdi. — Os olhos de Finn permanecem fixos em


mim, e dá um longo beijo em meus lábios.

— Onde? Na boca de Dia? — Axel bufa, e todos riem.


O que ele estava fazendo na última hora? Voltei para minha
casa para tomar banho, o que explica eu estar atrasada, mas ele
disse que vinha diretamente para a casa de Theo?

— Adorei o batom, Richards. Que tom é esse? — Theo não


consegue conter o riso. Meus olhos imediatamente saltam para a
mancha de batom no colarinho de Finn.

Isso seria minha culpa.

Finn ainda está vestindo a mesma roupa que estava antes na


floresta, por isso não foi para casa para tomar banho e se trocar.

— Seu colarinho. — Zombo, mas Finn não parece nem um


pouco incomodado com isso.

— Eu voltarei. — Finn dá um aperto na minha bunda por cima


do meu short e sai em direção à casa para tentar salvar sua
camisa. Ele nem se foi dois segundos antes de Lacey me chamar.

— Você ainda vai à noite das garotas amanhã, certo?

Merda, esqueci-me da noite das meninas.

Lacey está me incomodando com isso há meses. O seu


aniversário está chegando, e ela convidou um monte de amigas
para passar em sua casa amanhã à noite. É uma noite de escola,
o que significa que não há festa do pijama, mas não parou de dizer
o quanto está animada por eu conhecer suas amigas de fora da
cidade.

— Absolutamente. — Eu concordo.

Vou fugir para a casa de Lacey depois do jantar infernal.


E pensar que amanhã a esta hora estarei cara a cara com meu
irmão desonesto pela primeira vez em meio ano. A maioria das
pessoas vão a jantares em família porque querem passar um tempo
de qualidade com os entes queridos.

Eu não.

O que eu quero... é uma confissão.


O jantar é estranho.

Meus pais e eu nos sentamos em uma cabine de couro,


testando nossas habilidades de atuação enquanto fingimos que
não compartilhamos uma refeição com um estranho. A pior parte
é que Jesse não se sente apenas um estranho.

Ele também parece um. Mudou desde a última vez que o vi.

Ele fez um corte de cabelo, novas tatuagens, novos segredos;


também está pálido, a exaustão sugando a vida de seus olhos. Não
sei para onde fugiu nos últimos seis meses, mas com certeza não
foi um resort cinco estrelas.

— Já volto com o menu de sobremesas — nosso garçom diz


antes de ir embora.

O jantar foi repleto de conversas sem sentido e tentativas


desesperadas de evitar confrontar nossos problemas reais. Receio
não conseguir sobreviver à sobremesa a menos que diga alguma
coisa.

— Será que não vamos reconhecer que ele desapareceu por


seis meses? — Dirijo-me ao elefante na sala.
Achei estranho antes. Estava errada. Isto é o que parece
estranho.

Gaten pigarreia, movendo-se na banqueta e apoiando os


antebraços na mesa para juntar as mãos.

— Seu irmão precisava de um tempo para si mesmo.

Aqui vamos nós novamente.

— Afinal, o que isso quer dizer? — Confronto Jesse


diretamente.

Dave interrompe. — É complicado.

Seria bom se o deixassem falar.

— Onde você foi? — Empurro minha sorte.

Gaten abre a boca para falar como se tivesse respostas


ensaiadas, mas Jesse gesticula para meu pai deixá-lo falar.

— Redwater. Eu tenho alguns amigos lá — Jesse diz.

Sua explicação desperta minha memória, abrindo caminho


para uma história sombria e distante escondida no canto mais
profundo da minha mente. Lembro-me de meus pais me dizendo
que Redwater é onde ficava nosso lar adotivo. Onde encontraram
Jesse e eu quando éramos crianças.

Por que Jesse iria querer voltar? Tudo o que esta cidade lhe
trouxe foi sofrimento. Passou toda a sua infância saltando de lar
adotivo para lar adotivo lá. Estou prestes a falar de novo, mas
Jesse chega antes.
— E você, irmã? Como foi esse trabalho de verão? Alguma
coisa que devamos saber? — Abre um sorriso conhecedor.

— Crianças, por favor, podemos desfrutar de um bom jantar?


— Dave entra.

Estão mentindo para mim. Nem piscaram quando Jesse


mencionou no verão passado, o que levanta a questão: por que não
acham o seu comentário suspeito? Eles não teriam perdido isso a
menos que estivessem envolvidos em tentar esconder seus
próprios pecados.

— Eu tenho que ir ao banheiro. — Invento uma desculpa para


fugir antes que fique feio.

Eu me escondo em um banheiro por cinco minutos,


contemplando a merda que minha vida certamente se tornará se
Jesse decidir me delatar. Quase desejo que não tivesse voltado.
Finn e eu estamos felizes.

Não passamos por um inferno real para Jesse aparecer e


estragar tudo.

Acabei de sair do banheiro feminino quando meu telefone toca.


Um sorriso idiota desaloja a carranca no meu rosto quando vejo o
identificador de chamadas.

Finn.

Pressiono o telefone no meu ouvido. — Por favor, me diga que


sua noite está indo melhor que a minha.

Tenho o cuidado de me esconder no corredor isolado do


banheiro para evitar que as pessoas espionem. Finn ri ao telefone,
sua voz baixa e rouca.
— Meh. Está tudo bem. Não está nua no capô do meu carro.
— Eu praticamente posso ouvir seu sorriso.

— Confie em mim, gostaria de estar. — Dou uma risada. — O


que está fazendo?

— Pensando no nosso acordo — brinca, seu tom cheio de


luxúria. Minhas bochechas esquentam na hora. Não tinha ideia no
que estava me metendo quando concordei em tentar anal. Agora,
não estou dizendo que vamos até o fim – as coisas parecem mais
dolorosas do que este jantar, e isso é dizer muito mas concordei
em testar as águas.

— Você nunca deixará isso para lá, não é? — Eu me inclino


contra a parede.

— Sem chance. — Diz. — Deus, mal posso esperar para vê-la


na sexta-feira.

Estremeço com o lembrete. Não poderemos nos ver até o final


da semana - pelo menos, não sozinhos. Há um jogo de basquete
nesta sexta-feira, o que significa que Finn treinará todas as noites.
Estará exausto quando o grande jogo rolar.

— Esta será a semana mais longa da minha vida — reclamo.

— Eu que sei, porra. Lembre-se, vamos todos nos encontrar


na minha casa depois do jogo. Meu pai está dando aos seus
palhaços a noite de folga.

Eu rio baixinho. Já era hora do Sr. Richards perceber que


estava fazendo demais com a segurança 24 horas por dia.

— Estarei lá — asseguro a ele.


— É melhor estar. — Sei que está brincando, mas também não
tenho dúvidas de que me encontraria e me arrastaria para a sua
casa se eu não aparecesse.

O ranger do chão me assusta. Endureço. Veio do corredor.

Eu não estou sozinha, estou?

— Eu tenho que ir. Falo com você em breve.

— Não em breve.

As palavras escapam da minha boca antes que ele desligue. —


Finn?

— Sim, baby?

Meu estômago revira. Sabe que está mal quando um apelido


estúpido nos faz corar.

— Tudo menos você — confesso.

— Tudo menos você — diz de volta.

Então desligo o telefone e saio do meu esconderijo para


investigar meu possível público. Ninguém.

Este lugar é antigo. Pode ser apenas ruídos normais de


construção. Sinto meu sorriso se desintegrar quando volto para o
estande da minha família. Ambos os meus pais se foram,
deixando-me sozinha com a única pessoa com quem não queria
falar.

Jesse.
Considero me esgueirar pela porta dos fundos - já disse aos
meus pais que ia a casa de Lacey depois do jantar - mas é tarde
demais. Jesse me viu, e pode não ser minha pessoa favorita agora,
mas mal consigo me ver andando para o outro lado só de vê-lo.

— Onde estão todos? — Pergunto assim que recupero meu


lugar.

— Gaten foi chamado para a cozinha. Alguma coisa sobre o


subchef ter desistido no último minuto. E Dave saiu para atender
uma ligação da babá de Charlie.

Dou um pequeno aceno de cabeça, mexendo com os dedos


debaixo da mesa. Não digo mais uma palavra e pego meu telefone
do bolso, com a intenção de deixar a conversa morrer.

Pena que Jesse tem outros planos.

— Está namorando com ele? — Ele me choca dizendo.

Olho para cima do meu telefone.

— Quem? — Opto pela minha última linha de defesa.


Ignorância.

— Ah, pare com essa besteira, Dia. Ouvi seu telefonema.

Era ele?

— Eu disse, está namorando com ele? — Jesse se irrita.

Eu tenho duas opções. Fazer de boba e arriscar irritá-lo ainda


mais, ou dizer a verdade.

Para o inferno com isso.


— Então, e se eu estiver? — Minto. Finn e eu não somos
oficiais, não importa o quanto gostaria que fôssemos, mas Jesse
não precisa saber disso.

Jesse se acomoda em seu assento, esfregando as palmas das


mãos no rosto.

— Finn Richards? Sério? Não pode ser tão burra assim, Dia.

É claro que seu objetivo era me fazer sentir culpada, me fazer


duvidar do que Finn e eu temos, mas tudo o que seu discurso está
fazendo é me fazer odiá-lo.

— Esqueceu de tudo que ele fez com você? Porra, acorde. Ele
não dá a mínima para você.

É quando eu sei que já tive o suficiente.

— Ele não dá a mínima? — Estalo um pouco alto demais,


capturando a atenção do casal na mesa ao nosso lado. — E você?
Fugiu da cidade durante a noite e nem se deu ao trabalho de dizer
adeus. Desapareceu, Jess; fugiu. Não pode aparecer do nada e agir
como um irmão preocupado.

A boca de Jesse cai aberta.

Ele está atordoado com a minha reação, e não perco tempo


pulando para os meus pés antes que sua compostura retorne e
comece a fazer ameaças.

— Diga a eles que eu disse obrigada pelo jantar. — Eu me viro


para sair.

Entretanto, não sou rápida o suficiente.


— Dia? — Jesse chama atrás de mim.

Olho por cima do ombro, apesar de cada nervo do meu corpo


me dizer para ir para o meu carro.

— Posso não ser capaz de consertar minha própria vida, mas


guarde minhas palavras, não vou deixá-la arruinar a sua.

Eu tiro meus olhos dele, olhando à minha frente enquanto


procuro minhas chaves nos bolsos. Depois alimentei a distância
crescente entre nós por cem quilômetros.

— É muito difícil para você consertar minha vida se não faz


parte dela.

— Nunca fiz sexo em um lugar público. — Lacey ri, pegando


uma almofada brilhante no sofá e apertando-a contra o peito.

Esse jogo é chato? Sim.

Lacey dá uma foda sobre algo? Não.

Sabia quando apareci na casa de Lacey para encontrá-la


vomitando na pia com Hadley Queen segurando seu cabelo, que
essa noite das garotas seria... bem, memorável.

Eu tenho que tirar o chapéu a Lacey. É preciso muita coragem


para ficar bêbada em uma noite de semana. Meus pais morreriam
antes de me deixar ficar bêbada sob o teto deles.
Com certeza, seus pais parecem ter saído muito. Não fala
muito sobre eles, mas se as festas que constantemente dá são algo
para se passar, ou seus pais não se importam com o que faz ou
não ficam tempo suficiente para notar.

Nós a cortamos há uma hora, e estamos jogando esse jogo


estúpido desde então. É apenas Hadley, uma garota chamada
Astrid, Lacey e eu por enquanto, mas deveria ser cinco de nós esta
noite. Lacey continua falando sobre o quão incrível sua amiga de
infância é e o quanto vamos amá-la quando chegar aqui.

Aparentemente, ela morava em Silver Springs, mas se mudou


há algum tempo. É tarde, e estou começando a me perguntar se
vou ou não conhecê-la. Posso ter passado o verão quebrando todas
as regras dos meus pais, mas estou tentando não incorrer na ira
deles perdendo meu toque de recolher.

— Eu tenho uma para você — Lacey diz a Hadley com um grito,


caindo para trás sobre o cobertor fofo que jogamos no chão da sua
sala. Hadley força um sorriso, mas posso dizer que está temendo
a brilhante ideia de Lacey.

— Eu nunca... — Lacey aponta para Hadley com uma risada.


— …fiquei com uma celebridade.

As bochechas de Hadley ficam escarlates.

Este parece ser um assunto delicado para ela, mas Lacey está
muito fodida para se importar. Desconfortável como pode ser,
Hadley guia o copo de água em sua mão até a boca e toma um gole.

— Espere o quê? — Astrid entra na conversa. — Oh meu Deus,


quem?
— Kane maluco Wilder, cadela. Eles costumavam ser melhores
amigos, — Lacey deixa escapar. Algumas letras surgem na minha
cabeça assim que o nome de Kane Wilder é mencionado.

Minha irmã Catalina e eu éramos obcecadas por esse cara


uma vez. Pelo que vale a pena, nunca conheci uma garota que não
tenha tido uma fase Kane Wilder. Faz sentido. O cara tem voz de
anjo, sem falar que é de outro mundo. Ele faz principalmente
música acústica pop e escreve suas próprias músicas, mas pela
última vez que ouvi, a fama levou o melhor dele no ano passado.
Ouvi rumores de que ele passou algum tempo em Silver Springs
crescendo. Isso explicaria como ele e Hadley se conheceram.

— Quem é a próxima? — Hadley corta o momento de fangirl


de Astrid e Lacey. Não sei qual é a história deles, mas tenho a
sensação de que não tem um final feliz.

— Tenho um. — Astrid olha para Lacey. — Nunca me


apaixonei pelo mesmo cara em toda a minha vida.

— Golpe baixo. — Lacey zomba e toma um gole de seu chá


gelado.

Não estou chocada que tenha surgido. Theo é tudo de que


Lacey fala. Ele é o seu homem ideal, o nome que ela rabisca em
seus cadernos, sua paixão de infância e futuro marido - ou assim
afirma - mas ele não está interessado nela.

Pelo menos, não do jeito que ela quer que ele esteja. Ela quer
café da manhã e romance épico. Ele quer sexo à meia-noite sem
amarras.

— Garota, você tem que superá-lo. — Hadley fala o que penso.


Acionada, Lacey geme e cobre o rosto com as mãos. — Não.
Não falamos sobre ele esta noite. Estou muito bêbada. Vou
começar a chorar.

Ela porém já está se emocionando.

Estou prestes a puxá-la para um abraço quando batidas


chacoalham a porta da frente. Lacey imediatamente seca os olhos
com as costas da mão, levantando-se. Estou surpresa que possa
suportar, considerando que seu sangue é noventa e oito por cento
de vodca.

— Ela está aqui. — Engasga com um soluço meio triste, meio


feliz e tropeça até a porta. Parece que vou conhecer a sua amiga
mais antiga, afinal. Lacey abre a porta, revelando uma das garotas
mais lindas que já vi.

Não estou exagerando.

A amiga de Lacey tem cabelos pretos longos e lisos, pele branca


como porcelana e olhos tão azuis que posso vê-los daqui. Está
vestindo um top de couro preto e seu braço direito está coberto de
tatuagens de rosas. Um anel de lábio fofo acentua seus lábios
vermelho-cereja, a confiança inabalável irradiando dela tornando-
a tão intimidante quanto deslumbrante.

— Não posso acreditar que conseguiu. — Lacey a aperta em


um abraço tão forte que sua amiga bate em seu ombro para que
saiba que a está sufocando.

— Não perderia seu aniversário por nada, Lace. — Ela ri,


retribuindo o entusiasmo de Lacey.

Elas se afastam alguns segundos depois.


— Feliz aniversário, menina rica — brinca a amiga de Lacey, e
presumo que isso tenha a ver com alguma piada interna.

Lacey ri, agarrando o pulso da garota. — Vamos, vou


apresentá-la a todas.

Lacey e sua amiga estão na nossa frente segundos depois.

— Esta é Astrid, Hadley e Dia. — Lacey faz um trabalho rápido


de lhe dizer nossos nomes. Sua amiga faz contato visual com
todas, oferecendo sorrisos educados…

Até que seu olhar para em mim. E seu sorriso escorrega de seu
rosto.

Ela não fala por alguns segundos.

— Diga a eles seu nome, idiota — Lacey ri, cutucando-a com


o cotovelo. Então, sem tirar os olhos de mim, ela diz,

— Oi, sou Remy.


Finn: Onde você está?

Finn: Pare de me torturar e leve sua bunda para a minha casa.

Finn: Finja que eu disse algo menos desesperado.

Finn: Além disso, finja que não te enviei uma mensagem de texto
quatro vezes seguidas.

Nunca fui de desmaiar com as mensagens de um garoto – com


certeza, nunca tive um garoto explodindo meu telefone assim antes
– mas não posso abafar um grito enquanto leio a mensagem de
Finn e desço as escadas com Aveena.

O jogo de basquete terminou horas atrás. Vee e eu decidimos


voltar para minha casa logo depois que Xavier marcou o arremesso
da vitória. Imaginei que Vee seria menos propensa a desistir de
mim se nós saíssemos apenas as duas antes de dirigir até a casa
de Finn.
Vamos dar uma festa do pijama hoje à noite, o que tenho
certeza que tem algo a ver com ela concordar em ir ao jogo e ao
ponto de encontro na casa de Finn depois.

Agradeço-lhe por me encontrar no meio do caminho. Acho que


fez as pazes com o fato de que para podermos passar mais tempo
juntas, ela tem que estar disposta a passar um pouco desse tempo
com os atletas.

Estamos almoçando com Finn e os rapazes todos os dias há


seis meses, e ela ainda não os conheceu. Também não faria mal se
fizesse amizade com Lacey. Mal podia me ver contando a ela sobre
a coisa toda de Remy alguns dias atrás, considerando que não foi
convidada para a noite das garotas.

Estive mordendo minha língua a semana toda, obcecada com


a beleza de olhos azuis e pele pálida que por acaso compartilha um
nome com o carro de Finn.

É uma coincidência?

Eu pensei assim, a princípio, mas eu teria que ser cega para


não notar o jeito que Remy forçou um sorriso sempre que falava
comigo. Ficou claro que não me suportava. Tentei me convencer
de que estava louca até que Lacey olhou para mim com um sorriso
diabólico e balbuciou — Nunca dormi com o filho do meu chefe —
no meio da noite.

O nome de Finn de alguma forma entrou na conversa, e juro


que o rosto de Remy mudou.

Ela tinha aquele olhar em seus olhos. Como se estivesse me


destruindo mentalmente.
A coisa toda me fez perceber que não sei muito sobre o passado
de Finn. O acidente de sua mãe é praticamente a única janela que
tenho para sua vida antes de mim. Como era a sua relação com a
mãe? A inveja de Finn por Xavier é a única razão pela qual ele e
seu pai se separaram?

Com quantas garotas ficou? Amou alguma delas?

Estava querendo perguntar a Finn sobre Remy, mas não


queria mencionar isso na frente de todos no almoço, então decidi
esperar até que ficasse sozinho. Planejava contar a ele ontem à
noite, já que Lacey me disse que o treino terminava cedo – a torcida
e o time de basquete dividem a academia – mas quando enviei uma
mensagem para Finn, disse que tinha uma coisa. Foi muito vago
sobre isso também, mas não insisti.

Confio nele.

Ele se importa comigo. Não me ferraria. Eu rapidamente envio


uma mensagem para Finn antes que Aveena e eu cheguemos ao
primeiro andar.

Dia: Saindo agora.

Meus problemas de confiança evoluem para uma traição fria


quando Aveena e eu entramos na cozinha para encontrar meus
pais e Jesse sentados ao redor da mesa. Não há um som a ser
ouvido, a dura verdade rastejando sob minha peleà medida que me
olham diretamente.
Os olhos de Dave estão injetados de raiva, e os de Gaten estão
cheios de decepção.

Meu olhar dispara para Jesse. Seus olhos estão carregados de


culpa.

Ele me delatou, não foi?

— Aveena, querida, pode nos dar um minuto? — Gaten diz a


minha melhor amiga suavemente.

— Ah, claro. — Vee entende a dica.

Olho para ela por cima do ombro, e dá um pequeno sorriso de


“boa sorte”.

— Estarei no carro — ela me assegura antes de pegar as


chaves do bolso. Está nos levando esta noite. Sei que estarei na
merda desde o momento em que ela sai.

— O que diabos é isso? Algum tipo de intervenção?

Gaten solta um suspiro profundo. — Só vou te perguntar uma


vez, Diamond. Estava ou não estava sozinha neste verão?

Se olhar matasse, Jesse teria um buraco fumegante na testa


agora.

Minha garganta dói. — Eu…

Não adianta mais mentir. — Não — digo a verdade.

Os ombros de Gaten afundam com alívio, como se apreciasse


que eu não menti quando confrontada, mas os olhos de Dave
contam uma história completamente diferente.
Eu perdi a sua confiança. Pior, perdi o seu respeito.

— Você sentou ali. — Dave salta da cadeira e corre em minha


direção. Para a centímetros do meu rosto. — Nesta mesma mesa!
Todos os sábados por dois meses, você se sentava ali e nos olhava
nos olhos sabendo que estava traindo nossa confiança.

Sua raiva me paralisa por um momento.

— Eu... sabia que me diria para desistir. Eu precisava do


emprego e...

— Você tinha um emprego — Dave retruca. — Teve vários


empregos, Dia. Estava cuidando de cachorros a torto e a direito,
mas desistiu de tudo pelo trabalho de cuidadora de casa. Poderia
ter ido embora assim que descobriu que moraria com um garoto,
mas não foi. Por quê?

Ele tem razão. Tenho mentido para eles, mas principalmente,


tenho mentido para mim mesma. Disse à voz irritante na minha
cabeça para calar a boca, que só ficaria porque este trabalho
pagava melhor do que os meus regulares, e era verdade. No inicio.

Eu queria ganhar dinheiro e irritar Finn. Para mostrar a ele


que estava aqui para ficar; depois, tornou-se mais. Tornou-se
sobre entendê-lo. Abrindo o peito e certificando-se de que ele tinha
um coração. Fiquei porque queria ver sua alma. Fiquei até não
querer mais sair.

— Por quê? — Dave insiste alguns segundos depois.

Uma lágrima desce pela minha bochecha e morre na minha


boca enquanto sussurro — Porque eu o amo.
Gaten não consegue falar, mas Dave? Não poderia se importar
menos com a minha confissão. Se alguma coisa, deve achar
engraçado porque solta uma zombaria amarga.

— Passe-me seu telefone. — Estica o braço para mim.

— O-o quê? — Gaguejo.

— Você me ouviu. Dê. Seu. Telefone — enfatiza.

Ele não pode estar falando sério.

— Por quê? — Recuo.

— Porque não pode ser confiável com ele. Assim como não
pode ser confiável para parar de falar com esse garoto. Não está
me dando escolha — insiste, aproximando a palma da mão do meu
rosto.

— O que isso significa? — Cuspo, enfiando a mão no bolso


como se quisesse proteger meu telefone e minha liberdade.

— Significa que estávamos errados — repreende Dave. —


Estamos tratando-a como uma adulta. Temos confiado em você
como uma adulta, mas é apenas uma criança que não sabe o que
é bom para si.

— Quer dizer ele, não é? Ele não é bom para mim?

Eles não sabem nada sobre ele. Não sabem que ele é o tipo de
pessoa que incendeia o mundo para as pessoas que ama. Não
sabem que ele teria dado sua vida de bom grado por Lexie ou sua
mãe, ou que há um coração enorme escondido atrás de anos de
trauma e má atitude.
— Dia, dê a ele a porra do telefone — Jesse ladra, e sua
intervenção me deixa nervosa.

— Você. — Aponto um dedo para ele. — Você tem coragem de


colocá-los contra mim por mentir quando não fez nada além de
guardar segredos. Onde esteve nos últimos seis meses, hein?
Melhor ainda, por que deixou de ser amigo de Brody Richards?
Está cheio de mentiras, Jesse. — Dirijo meu foco para meus pais,
que parecem completamente sem noção de como devem lidar com
essa situação.

— Nem me faça começar com vocês dois. Nunca fala sobre


meus pais biológicos. O que aconteceu com minha mãe? Nunca
me contou como ela morreu. Nunca me disse nada.

Meus pais estão atordoados, mas a culpa que atravessa o olhar


de Gaten confirma meus maiores medos.

Minha palma levanta para minha boca. — Oh, Deus, ela está
mesmo morta?

Os olhos de Gaten brilham com lágrimas, e ele se aproxima de


mim. — Dia, por favor...

— Por favor, o quê? Não faça uma cena? Não pergunte sobre
minha mãe? E meu pai? Posso falar sobre ele, ou está fora dos
limites também?

Ninguém fala por longos segundos.

Até que meu irmão murmura — Pessoal… está na hora.

— Está na hora de quê? — Procuro nos olhos dos meus pais


uma dica.
Gaten e Dave trocam olhares. Então Dave balança a cabeça
em desacordo.

O que acabou de acontecer?

— Não vai me dizer? Bem. Vou descobrir sozinha.

Não consigo controlar meus membros enquanto corro pela


cozinha em fúria. Acabei de colocar minha mão na maçaneta
quando a voz de Dave soa na cozinha.

— Dia, não se atreva a sair por aquela porta…

Já estou fora.

Aveena e eu dirigimos até a garagem de Finn vinte minutos


depois. Não derramei uma lágrima ou disse uma palavra sobre a
briga com meus pais desde que entrei no seu carro.

Ela não suspeita de nada. Não porque é uma amiga ruim, mas
porque sou surpreendentemente boa em fingir que meu mundo
inteiro não está desmoronando.

Como se hoje não fosse horrível o suficiente, acabei de ver Brie


e Xavier se beijando no Feed do Instagram de Lacey. Não posso
acreditar que ele convidou Cruella esta noite quando a largou
publicamente na festa da piscina de Theo alguns dias atrás.
— Sério? — Suspiro com o vídeo nauseante de Brie e Xavier
no meu telefone.

— O quê? — Pergunta Aveena.

— Bem, isso não demorou muito. — Meu primeiro instinto é


enfiar a mão na bolsa e tirar o frasco de álcool em forma de escova
de cabelo que Lacey me fez comprar. Usamos para colocar bebida
em um show alguns meses atrás.

Enchi com tequila do estoque dos meus pais quando não


estavam olhando. Eu me julgo por tentar engolir minha dor desde
o momento em que destampo o fundo. E se o olhar no rosto de
Aveena é alguma pista?

Ela também está me julgando.

Invento alguma desculpa sobre precisar de uma bebida já que


vamos passar a noite com Brie, e ela não discute.

Enquanto isso, estou morrendo por dentro.

Vee estaciona o carro na entrada circular de Finn, sua


desaprovação pelos meus hábitos de bebida estampada em sua
testa. A próxima coisa que sei, estou liderando o caminho para o
quintal de Finn. Ele me enviou uma mensagem que estavam no
trampolim.

Aveena segue o exemplo, seus passos hesitantes e lentos, mas


tudo que posso pensar é me perder nos braços de Finn. Quero que
ele me leve para o seu quarto, me desnude, e foda a culpa. Quero
que me salve, do jeito que o salvei naquela noite na ponte. Finn
Richards é a colina em que quero morrer, para o inferno com as
consequências.
Viramos a esquina para ver Finn, Brie, Lacey, Xavier, Axel e
Theo saindo do trampolim. Os meninos estão bebendo cervejas
enquanto Lacey e Brie riem como crianças de cinco anos.
Nenhuma surpresa ali - podia sentir o cheiro de maconha por todo
o caminho da garagem.

Os olhos de Finn brilham quando me nota.

— Senhoras, bem na hora — comenta Axel enquanto nos


aproximamos deles.

Finn não me dá a chance de ir até ele, imediatamente se


levantando para nos encontrar na piscina. Meus pulmões
encolhem de tamanho e capacidade quando para a centímetros de
mim e se inclina para sussurrar em meu ouvido — Acredito que
temos um acordo para cumprir.

Não sei o que diabos é sobre sua voz, mas arrepios irrompem
por todo o meu corpo, minha frequência cardíaca quadruplica
enquanto sua respiração roça o lóbulo da minha orelha.

Merda, não posso deixar a Vee.

Lanço um olhar para Aveena assim que ele se afasta. Espero


que o olhar nos olhos da minha melhor amiga seja cheio de pânico,
transmitindo um claro - não se atreva a me deixar - mas encontro
um sorriso de aceitação em seu rosto.

— Vá — encoraja.

Avalio suas feições por um momento, um sorriso agradecido


em meu rosto enquanto pondero meu próximo passo, mas Finn
ouviu mais do que o suficiente, pegando minha mão na dele e
partindo na direção de sua casa.
Não tenho certeza de como acabamos em seu quarto, mas
abraço meus pensamentos envoltos, minhas mãos voando para
seu cabelo quando a boca de Finn bate contra a minha.

Porra. Para. O. Sim.

Grito quando minhas costas batem em seu colchão com um


baque, e Finn ri, subindo em cima de mim para abafar meu choque
com um beijo quente. Nunca falamos sobre o que acontecerá,
agarrando as roupas um do outro desesperadamente. Já se passou
uma semana inteira desde a última vez que estivemos sozinhos, e
isso mostra.

Nossas camisas são as primeiras a sair, mas seu pau implora


para ser liberado, saindo de suas calças. Mudo meus quadris
contra os dele, devorando seus gemidos quando seu polegar roça
meu mamilo sobre meu sutiã.

Ele está prestes a jogar meu sutiã sobre minha cabeça quando
seu telefone toca. Esta não é a primeira vez que alguém o chama
enquanto estávamos em ação. Nunca deixou isso nos parar antes,
então pode imaginar minha surpresa quando solta um gemido
irritado e se desconecta da minha boca.

Ele parece estar com dor, como se isso o matasse, enquanto


exala. — Eu tenho que atender.

Estou chocada, para dizer o mínimo, mas digo a mim mesma


que essa ligação deve ser importante para ele me deixar na mão.

— Eu volto já. — Ele ancora beijos torturantes para cima e


para baixo no meu pescoço.

Ele é rápido para pegar seu telefone na mesa de cabeceira e


sair do quarto. Seus passos soam descendo as escadas. Bandeira
vermelha, meu cérebro grita. Por que ele simplesmente não pegou
o telefone na minha frente? Por que precisaria descer?

Minhas dúvidas recuam para o fundo do meu cérebro quando


vejo uma caixa de madeira empoeirada cuidadosamente colocada
na mesa de Finn. Parece velha, uma rachadura visível embutida
na tampa. Estou disposta a apostar que não é aberta há anos.

Está chamando meu nome, tentando-me dar uma olhada.


Pensaria que eu teria aprendido minha lição depois de entrar
furtivamente no escritório da mãe de Finn no verão passado, mas
não, ainda saio da cama e vou direto para a caixa misteriosa. Abro,
esperando encontrar, bem, qualquer coisa menos isso.

Na caixa estão as cartas. Centenas delas. Todos datadas de


três anos atrás.

Finn escreveu isso?

Reconheço sua caligrafia desajeitada pelas muitas notas que


deixou para mim no verão passado. De acordo com as datas, teria
escrito isso quando tinha quinze anos.

Continuo olhando para a porta enquanto pego uma das cartas


amassadas. Então desdobro o pedaço de papel, sento na beirada
da sua cama e começo a ler.

Querido coração...

Você é uma fraude.


Sabe quantos idiotas realmente acreditam que pode
sentir as coisas?

Acham que você é ótimo, no controle de nossas


emoções, mas é apenas um receptáculo. Bombeando
sangue em nossos corpos e monopolizando o crédito por
cada história de amor já escrita.

O cérebro é realmente quem faz todo o trabalho, e a


pior parte? Mesmo sabendo que não se sentiu mal,
quando minha mãe desapareceu debaixo d'água, doeu no
meu peito.

Isso mesmo, no meu peito.

Não meu cérebro.

O que diabos é isso?

Devo lhe dizer que não queria lhe escrever esta


carta. Ainda bem que esta é a última sessão de
terapia para a qual meu pai vai arrastar minha bunda.

A senhora de óculos me declarou oficialmente uma —


causa perdida. — Disse ao papai para ligar para ela
quando eu decidisse me ajudar, e que, até então, não
há nada que possa fazer por mim.

Ela insistiu que eu escrevesse mais uma carta para


minha última sessão, no entanto. (Juro que ela gosta
de me torturar)

Primeiro, tive que escrever uma carta para minha


falecida mãe, e agora estou escrevendo uma carta para
um maldito órgão.
Eu sei o que está pensando. Talvez seja ela quem
precise de ajuda.

De qualquer forma, não sei mais o que dizer, coração.


O objetivo do exercício era identificar como me sinto
em relação a você e acho que fui bem claro.

Entretanto, caso não tenha feito, aqui está uma


recapitulação…

Querido coração,

Eu te odeio.

- Finley

Um sorriso ataca os cantos dos meus lábios enquanto leio as


palavras de Finn de quinze anos repetidamente. Posso não saber
muito sobre sua infância, mas esta... sua carta... me ajuda a ver
um mundo que manteve escondido durante a maior parte do nosso
relacionamento.

Era assim que sua vida se parecia. Depois que sua mãe
morreu, deixou para trás um adolescente quebrado e imprudente
cuja sobrevivência dependia de encontrar alguém para culpar. E
quando não era ele mesmo, era seu próprio coração.

— Estou incomodando você?

Meu coração dá cambalhotas quando a voz profunda de Finn


viaja pelo quarto. As chances são de que esteja me observando
infringir sua privacidade por cinco minutos, mas ainda tento cobrir
meus rastros e esconder sua carta debaixo da minha coxa. Ele
ergue uma sobrancelha para a minha reação, um sorriso esticando
seus lindos lábios.

Ele zomba. — Sutil.

Corada, puxo a carta enrugada de debaixo da minha coxa,


expondo meu pecado com um estremecimento. — Valeu a pena
tentar.

Finn solta uma risada silenciosa em resposta, andando em


minha direção e se jogando na beirada da cama ao meu lado.

— Quanto leu? — Pergunta antes de pegar a carta em minhas


mãos e prendê-la em seu punho.

— Tudo isso — admito com vergonha.

Ele concorda.

— Eu não sabia que seu pai te arrastava para a terapia.

— Sim. — Solta um suspiro. — Toda sexta-feira das quinze às


dezesseis. Pior ano da porra da minha vida.

Eu o vejo ir até a lata de lixo ao lado de sua mesa, amontoar a


carta e jogá-la fora.

— Encontrei a caixa debaixo da minha cama quando estava


limpando meu quarto — explica.

Eu sei exatamente a que ele está se referindo. Não faz muito


tempo que estava destruindo este mesmo quarto com um taco de
beisebol. Lexie tinha acabado de morrer em seus braços algumas
horas antes. Ele levou meses para limpar tudo e substituir o que
quebrou.
— Não sei por que as guardei. — Dá de ombros, pegando a
caixa de sua mesa para olhar mais de perto. — Eu sempre disse a
mim mesmo que queimaria aquelas cartas em cinzas, mas nunca
consegui fazer isso.

Não olha para mim quando diz isso. Ele está mentindo.

Estou disposta a apostar que as cartas o fizeram se sentir


conectado com sua mãe de alguma forma. E nunca vai admitir,
mas as guardou porque se importa. Ele se importava demais
naquela época, e se importa demais agora. Finn era um filhinho
da mamãe por completo. Costumava pensar que meus pais
também eram super-humanos. É triste pensar que meus pais
nunca mais me olharão da mesma maneira…

Minha lembrança das palavras duras que troquei com eles


antes de vir aqui acaba com minha compostura. Não deveria deixar
isso me afetar. Deveria deixar Finn estragar meus miolos e
esquecer os laços que acabei de quebrar, mas meus olhos
embaçam apesar dos meus melhores esforços. Concentro-me em
manter os soluços sob controle e saio da cama, virando as costas
para Finn enquanto finjo andar ao redor do quarto. Visualizando
a decepção brutal nos rostos dos meus pais provocando lágrimas
nos meus olhos, e começo a chorar silenciosamente.

Só que não devo ficar tão calada quanto esperava porque Finn
percebe imediatamente.

— Dia? — Chama.

Pare de chorar porra. Eu não me viro.

— Dia? Fale comigo.


Engasgo com um soluço um momento depois e sinto a
presença imponente de Finn atrás de mim. Ele tenta andar ao meu
redor para dar uma olhada no meu rosto, mas me afasto dele,
agarrando o pouco orgulho que me resta. Finn solta um grunhido
de irritação, agarrando minhas bochechas e dirigindo meu rosto
em sua direção.

Você pensaria que enfiei uma espada em seu peito quando vê


meus olhos brilhantes. Há uma mistura de tristeza e raiva em seu
olhar, e não demora muito para que a raiva vença a guerra.

Os punhos de Finn se fecham em bolas apertadas. — Ele está


morto, porra.

Eu pisco para ele através da confusão e um véu espesso de


lágrimas. — Quem?

— Qualquer merda patética que colocou lágrimas em seus


olhos. — Ele solta minha mandíbula. Abro um pequeno sorriso,
seu lado superprotetor trazendo calor ao meu coração
descongelado. Poderia cantar uma música diferente se soubesse
que os “patéticos fodidos” em questão são meus pais.

— Estes seriam meus pais. — Limpo uma das minhas


bochechas com as costas da minha mão.

As feições de Finn mostram suas preocupações, mas não diz


uma palavra, esperando a conclusão da história.

Inalo uma respiração afiada antes de continuar. — Eles


sabem. Sobre o verão passado. Descobriram que eu estava
mentindo para eles.

— Merda. — Suspira. — Como reagiram?


Eu fungo. — O que acha? Piraram. Eles não querem que nos
vejamos mais.

A cor desaparece do rosto de Finn, seus músculos da


mandíbula se contraem e seus ombros se contraem como se
estivesse avaliando uma ameaça de vida ou morte. Ele não gosta
da ideia de meus pais me manterem longe dele, isso é certo. Prevejo
uma reação precipitada, mas, em vez disso, respiro fundo e
calmante.

— O que disse a eles? — Pergunta, deixando-me admirada com


seu autocontrole. Estou feliz que não fez isso sobre ele.

Naquele momento, enquanto olho para aqueles lindos olhos


cor de avelã, quero dizer a verdade a ele. E a verdade é que… estes
últimos seis meses foram os mais felizes da minha vida.

— Eu disse a eles que estou apaixonada por você.

A boca de Finn cai aberta. Eu disse isso cedo demais, não


disse? E se ele ainda não se sente assim? Merda, merda, merda.

— Oh Deus. — Afasto-me. — Não sei por que disse isso. Eu


acabei de…

Meu coração quase se liquefaz quando os dedos de Finn se


enrolam nas presilhas do meu jeans e me puxa para seu peito. Sua
boca bate contra a minha com tanta pressão que tenho que
segurar sua camisa para me equilibrar.

Ele não diz “eu te amo” de volta. Pelo menos, não com palavras.
Diz isso do jeito que procura minha língua, aprofundando o beijo
até que ambos estamos sem fôlego. Diz isso na maneira como
envolve as mãos em volta da minha cintura, me guiando para seu
colo enquanto se senta na beirada da cama. Estou montando-o
antes que perceba, cravando minhas unhas em seu couro
cabeludo e puxando seu cabelo conforme moo nele
implacavelmente. Seu pau está sólido como uma rocha, latejando
em suas calças, e me sinto empolgada com o olhar em seu rosto.

A luxúria, o desejo, a fome.

Saboreio sua necessidade por mim quando geme dentro da


minha boca, seus dedos soltando meu sutiã. Sua boca trava em
meus mamilos rígidos menos de um segundo depois, suas mãos
viajando pelas minhas costelas e segurando meus seios enquanto
sua língua gira em torno de cada ponta.

— Você é a única coisa que me interessa. — Finn se desconecta


dos meus seios para marcar meu pescoço com feridas arroxeadas.
— Eu morreria por você, Dia. Mataria por você. Diga-me que sabe
disso.

Seus dentes continuam a marcar minha pele com seus traços.


Ele beija meu pescoço como se seus chupões fossem sua apólice
de seguro. Sua maneira de ter certeza de que nunca irei embora.
Que nunca me esquecerei.

Vejo seu pomo de Adão balançar quando me desapego dele e


saio do meu jeans antes de voltar para o seu colo em minha
calcinha. Seus olhos brilham quando começo a brincar com seu
cinto. Sua boca encontra a minha novamente para um beijo
ardente e confuso enquanto estou puxando seu pau para fora de
sua cueca. Cuspo dentro da minha mão e trabalho seu eixo rápido
e duro, olhando-o mortalmente nos olhos à medida que o faço.

— Dia... — fecha os olhos, parecendo irritado.

Apreciá-lo. Pode ser a última vez.


Meus pulmões saltam em mim quando os olhos de Finn se
abrem.

Só percebo que disse isso em voz alta quando vejo o olhar de


raiva em seu rosto. Ele substitui minha mão em seu pau pela sua,
sua mão disponível puxando minha calcinha cinza para fora do
caminho enquanto se posiciona na minha entrada, certificando-se
de que estou pronta com dois dedos. Ele resmunga com o que
encontra entre minhas pernas.

— Não pense por um maldito segundo que dou a mínima para


o que seus pais dizem. Eles teriam que mandá-la para a porra de
uma ilha deserta para me manter longe de você, entendeu? —
Perfura as palavras em meu cérebro. — Mesmo assim, eu
encontraria você. Sempre.

Então ele empurra dentro de mim sem camisinha. Seu


tamanho estica minhas paredes até o limite enquanto minha testa
cai contra a dele. Faz uma semana desde que estava dentro de
mim, e posso estar tomando pílula, mas ainda estamos
incrivelmente inseguros. Não posso deixar de afundar meus dedos
em seus ombros para me levantar e deslizar para baixo novamente.

— Foda-se sim. — Finn bombeia seus quadris em mim,


acompanhando meu ritmo e observando cada movimento meu
conforme pulo para cima e para baixo em seu comprimento. Posso
senti-lo mais profundo com cada golpe, e gemo tão alto que nem
soa como eu.

— Mais — choramingo.

— Pegue, baby. Posso lidar com isso — Finn me assegura,


suas mãos voando para a minha bunda e apertando. Ele me faz
pular em seu pau, nossos esforços mútuos rapidamente se
tornando demais para mim.
— Oh Deus. — Meus dedos mergulham entre minhas pernas,
o prazer alcança níveis incomparáveis enquanto brinco comigo
mesmo sem um pingo de vergonha. Finn não consegue desviar os
olhos, sua mandíbula flexionando conforme movimento meu
clitóris em círculos.

Ele me choca levantando da cama. Minhas pernas se fecham


em torno de sua cintura instantaneamente, meu estômago aperta
enquanto me fode em pé, as mãos batendo na minha bunda para
apoio. Ganho velocidade a cada impulso.

— Foda-se, Dia, vá mais devagar — diz, sua voz um apelo


gutural.

— Pensei que tinha dito que poderia lidar com isso — provoco,
balançando meus quadris com mais força.

Um sorriso perverso brincando em seus lábios, arqueia uma


sobrancelha. — Não tenho certeza se gosto da sua atitude, Gem.

— Sim? — Eu me inclino para morder o lóbulo de sua orelha.


— O que você fará sobre isso?

Eu grito quando Finn sai de mim sem aviso, me carrega para


a cama e me prende de bruços contra o colchão. Minhas unhas
arranham os lençóis quando entra em mim por trás.

— Sim! — Grito, recuando em sua pélvis e fazendo-o gemer.


Finn continua me fodendo no colchão até que mal posso falar.

— O quê? Nenhum comentário sarcástico? — Provoca,


agarrando minha cintura enquanto se enfia dentro de mim. — Para
onde foi essa boca esperta do caralho? — Ele dá um tapa na minha
bunda como punição, me fazendo estremecer, e quase desmorono
quando sinto seu polegar circulando meu cu.
— Finn? — Tensiono.

— Relaxa baby.

Então está empurrando o polegar no meu cu. Apenas um


pouco. Eu nem acho que está totalmente dentro, mas é o suficiente
para me deixar completamente louca.

— Oh Deus. — Choramingo nos lençóis quando começa a tocar


minha bunda. Dói um pouco, mas seu braço serpenteando sob
mim para encontrar meu clitóris inchado permite uma mudança
de sensação. Finn me esfrega em círculos fortes e rápidos por
alguns minutos, seu polegar e pênis esticando os meus dois
buracos repetidamente.

Um orgasmo devastador me atinge em questão de segundos.

— Lá está ela. — Praticamente posso ouvir seu sorriso


vitorioso enquanto me contorço embaixo dele. — Leve meu pau. É
uma boa garota.

Sua conversa suja me leva ao limite, e me desfaço, amarrando


Finn em um orgasmo próprio. Suas estocadas se tornam
desleixadas e exigentes enquanto torce meu cabelo em torno de
seu punho e se move para dentro e para fora de mim furiosamente.
Está descarregando dentro de mim uma fração de segundo depois.
Estou presa em um torpor, em uma terra muito, muito distante,
onde não posso ser alcançada quando puxa para fora, deita na
cama e me leva em seus braços.

Ficamos assim, corpos suados pressionados um no outro, por


mais de trinta minutos. Nós nos beijamos, rimos, saboreamos as
consequências de nossos orgasmos. É quase perfeito.

Quase sendo a palavra-chave aqui.


— Não quero estragar o momento, mas cheiro como sêmen —
sussurro em seu pescoço, e Finn solta uma risada ofegante.

— Vou preparar o nosso banho. — Beija meu nariz e faz uma


pausa. — Tudo menos você — diz antes de se levantar da cama e
vestir uma calça de moletom.

— Tudo menos você — respondo.

Meu olhar o acompanha dentro do banheiro conectado ao seu


quarto, um grande e estúpido sorriso no meu rosto. Ele
simplesmente desapareceu dentro do banheiro quando decido
verificar meu telefone.

Eu o localizo no chão, ao lado de minhas roupas. Tenho três


mensagens de Aveena. E duas de um número que não reconheço.
Curiosa, toco as mensagens do estranho, meus olhos percorrendo
as palavras mais horríveis que já li na minha vida...

Número Desconhecido: Isso aconteceu ontem à noite.

Número Desconhecido: Sinto muito.

Há um vídeo anexado a conversa.

E a imagem?

A imagem é meu pior pesadelo.


A tela está preta, o zumbido distante do silêncio, tudo o que
posso ouvir quando clico no vídeo e espero que algo aconteça.

Não há nada. Nenhum som.

Nenhuma imagem.

Chocante.

Número desconhecido, mensagens incompletas? Sabia que


isso tinha que ser uma brincadeira desde o momento em que
desbloqueei meu telefone, mas poderia jurar que tinha visto um
Finn sem camisa na miniatura do vídeo?

Não. Cai na real, Dia, não pode ser ele. Ele nunca faria isso.

Meu olhar deriva da minha tela para o banheiro. Ouço o


chuveiro ligado e a voz abafada de Finn do outro lado da porta.
Está ao telefone? Este é o segundo telefonema misterioso que
recebe hoje. Quem está ligando para ele o tempo todo?

Meu pensamento excessivo chega a uma parada brusca


quando noto movimento no vídeo. O telefone que grava isso está
apoiado em uma cama, apontando para uma parede. Aperto os
olhos, discernindo o que parece ser uma mesa? Em seguida, um
rangido começa em meus ouvidos.

Parece…

Um colchão barulhento?

A câmera começa a se mover para frente e para trás,


combinando com os ruídos estridentes. Então ouço uma garota
gemer.

Esta é uma fita de sexo.

Estou tão perto de atribuir isso a um incidente de número


errado quando as paredes da ignorância atrás das quais estava me
escondendo desmoronam ao meu redor. Minha palma voa para
minha boca conforme olho à minha frente e percebo…

Eu já vi essa mesa antes.

Tenho medo de vomitar, mas não consigo desviar os olhos da


mesa de madeira ao lado da cama de Finn. Isso foi filmado aqui.

Este é o quarto de Finn.

Dedos com esmalte preto deslizam na moldura, agarrando as


folhas. Os gemidos se intensificam. A mão feminina pega o telefone
e o levanta para revelar uma cena que atinge meu peito e empurra
meu coração para fora do meu corpo.

O vídeo não mostra a ação, mas mostra uma garota presa


debaixo de um torso musculoso, o rosto de um cara enterrado no
pescoço enquanto fodem como animais. Não é qualquer cara.

É o meu cara. Meu Finn…


E a garota? A garota é a amiga de Lacey, Remy.

As almofadas azul marinho no fundo do vídeo me tiram o ar.


Olho para baixo, lágrimas molhando meu rosto em um instante.
Estou sentada exatamente na cama onde fizeram isso. A cama
onde Finn me disse que morreria por mim nem trinta minutos
atrás.

Meu Deus.

Finn foi muito reservado ontem. Não me disse por que não
podíamos nos ver quando o treino de basquete terminou mais
cedo.

Isto… É por isso que…

Ele estava com ela. Provavelmente está ao telefone com ela


agora.

Não conheço ninguém chamado Remy. As palavras que Finn


me disse na floresta me apunhalam no peito. Só gostei do nome.

— Porra, Rem, você é tão apertada — Finn grita.

Estou chorando tanto que mal consigo respirar.

Os olhos azuis penetrantes de Remy se erguem para a câmera,


me encarando nos olhos e me provocando. — Prometa-me que não
se importa com aquela vadia.

Finn dá uma risada grave, tirando a cabeça do seu pescoço


dizendo — Não me importo com aquela vadia. Sempre foi você,
Rem.

Ele faz uma pausa.


— Tudo menos você.

Isso é o que me mata. Três pequenas palavras são suficientes


para matar uma parte da minha alma. Reconheço seus gemidos -
vai gozar. Sei porque costumava ser eu. Fui a garota do vídeo.
Agora sou apenas a idiota que se apaixonou por um monstro.

Finn prende ambos os braços de Remy em cada lado de sua


cabeça quando termina, e as pedras pretas apertadas ao redor de
seu pulso causam danos irreversíveis ao vaso enrugado e frio no
meu peito.

Está usando a pulseira que fiz para ele.

— Pare de me ligar quando ela estiver aqui — cuspo ao


telefone, o barulho do chuveiro à minha esquerda fazendo pouco
para abafar minha voz.

Esta vadia não tem noção de tempo, seja qual for.

Ela fez a mesma merda ontem à noite quando estava saindo


do treino de basquete. Juro que tem algum tipo de sexto sentido
para escolher os piores momentos para ligar.

Acabei de enfiar meu telefone no bolso quando ouço uma


mulher gemer. É fraco o suficiente para me convencer de que
imaginei. Até que aconteça novamente. Mais alto. Mais claro.
Eu me viro, dando uma espiada em direção à porta do
banheiro. Está entreaberta, o barulho vindo do meu quarto. Abro
a porta sem pensar duas vezes. Saio do banheiro e encontro Dia
sentada na beira da minha cama, toda vestida, de costas para
mim.

Escarneço. — Pornô, né? Esta é a sua maneira de me dizer que


está pronta para a segunda rodada?

Dia não ri. Ela nem se mexe, ficando perturbadoramente


quieta com a cabeça baixa. Seu telefone está em seu colo, os olhos
fixos na tela.

— Dia? — Presumo que não me ouviu.

Nada ainda.

— Dia? — Repito.

Tudo bem, isso é estranho.

— Baby, o que há de errado?

Ela não reconhece minha existência, sua falta de resposta


começando a me assustar pra caralho. Minha paciência se esgota
rápido o suficiente, e atravesso o quarto para encontrá-la. Nem
olha para cima quando paro diante dela.

Parece estar em choque, seus olhos fantasmagóricos, sua


maquiagem borrada em seu rosto impecável. Os gemidos ficam
cada vez mais altos quanto mais me aproximo dela.

Que porra?
— O que está assistindo? — O medo aperta minhas entranhas.
Não espero que volte para a terra dos vivos e tiro o telefone do seu
colo para ver por mim mesmo.

Então, imediatamente quero morrer. Quero rasgar minha


própria garganta, arrancar minha própria pele, me fazer sangrar
pela atrocidade na tela dela. O vídeo mostra Remy, arranhando
minhas costas, sua boca aberta enquanto fodo seus miolos. Nunca
acaba; continua e continua, enchendo minha garganta com raiva
e pânico.

— Isso é o que estava fazendo. — A voz rouca de Dia é


estridente. — Noite passada. É por isso que estava ocupado.

Não. Não. Foda-se.

— É ela, não é? A pessoa com quem está sempre ao telefone.

Nem tenho a chance de responder antes que ela esteja se


levantando e pegando o telefone das minhas mãos.

— Dia, espere, por favor — vomito palavras, mas é tarde


demais. Parece que o ar está diminuindo em meus pulmões
enquanto a vejo abrir a porta do meu quarto.

Então, corre. Ela desiste de mim.

Como deveria, porra, mas isso não me impede de colocar a


primeira camiseta que posso encontrar e persegui-la. Corro como
uma maldita estrela do atletismo, seguindo a única coisa boa da
minha vida no corredor e quase quebrando uma perna no
processo.

— Dia, espere!
Patético. Tão patético.

Ela chega às escadas antes de mim e não perde um segundo


correndo para o primeiro andar. Estou tão agitado que quase
considero deslizar pelo corrimão como fazem nos filmes – qualquer
coisa para pegá-la antes que a perca para sempre.

— Ve. Carro. Agora! — Ouço Dia contar para sua melhor


amiga, que está na cozinha. A porta da frente bate, e a perco,
minha visão fica embaçada. Não posso pensar. Não consigo
respirar. A única coisa que importa é impedi-la. Fazer com que me
escute. Todo o resto desaparece, incluindo a verdade.

A verdade é que ela está certa.

Eu a traí; mesmo que não seja do jeito que pensa.

Mal noto Xavier parado na cozinha quando corro para a porta.


Está assistindo a cena se desenrolar com um milhão de pontos de
interrogação em seus olhos, mas não dou a mínima agora.

— Dia! — Engasgo com um apelo embaraçoso assim que saio


de casa.

Foda-se, coração. Sabia que estava certo em odiá-lo.

Vejo Dia subir no banco do passageiro de Aveena à medida que


me aproximo delas como um perseguidor profissional. Aveena
corre para dentro do veículo, e ouço o clique do travamento das
portas assim que paro na sua frente. Trancar as portas foi uma
jogada inteligente. Definitivamente teria aberto a porta e arrastado
a bunda de Dia para fora do carro.

Aveena começa a se afastar.


Então entro em pânico e pulo na frente do carro sem me
importar com a minha sobrevivência. Felizmente, Aveena pisa no
freio no último minuto. Dia pode me ouvir ou mandar sua amiga
me atropelar. A escolha dela.

Minha baby está soluçando no banco do passageiro, e estou


quase tentado a deixar Aveena me bater com seu carro. Eu mereço.
Mereço tudo isso.

— Dia, por favor. — Eu a encaro mortalmente nos olhos


através do para-brisa. A janela do lado de sua amiga está aberta,
e sei que pode me ouvir. — Não faça isso, porra. Apenas me escute.

Em resposta, Dia interrompe o contato visual e olha para


Aveena antes de dizer — Dirija.

Aveena engata a marcha à ré e corro para a janela do banco


do passageiro antes que possam decolar. Bato as palmas das mãos
no vidro, plenamente consciente de que pareço uma psicopata.
Não posso evitar. Não posso simplesmente deixá-la ir.

— Dia, olhe para mim. Apenas olhe para mim, porra. Por favor.
— Começo a chorar, soando como se tivesse engolido um pedaço
de vidro. Ela nem me dá um olhar, evitando meus olhos e cobrindo
parte do rosto como se não suportasse me olhar.

A expressão de Aveena cheira a pena, e me encolho. Isso é o


que me tornei, hein? Um cachorrinho apaixonado pelo qual as
pessoas sentem pena?

Meu cérebro se apega à palavra — amor.

Está certo. Eu a amo “pra” caralho. Estou apaixonado pela


garota que uma vez jurei destruir.
E se ela sair, deve saber disso.

— Diamond, eu te amo — resmungo, pressionando minha


testa na janela. Pela primeira vez desde que entrou no carro, ela
me ouve. Ela me ouve e olha para cima.

— Eu te amo pra caralho, Dia. Amo. Apenas me dê uma chance


de explicar. Por... favor.

Suas feições torcem em choque. Como se não pudesse


acreditar que acabei de dizer isso. Gostaria de ter dito isso antes.
Quando ela me disse pela primeira vez que me amava. Gostaria de
não ter que usar meu amor como uma arma para mantê-la, mas
sou egoísta. Vamos ser realistas, sou um pedaço de merda.

Sou o cara que estraga tudo o que ela possui e mente. Sou o
cara que ela tem que levantar da porra de uma ponte no meio da
noite, mas, principalmente, sou o cara que pega dinheiro
emprestado de um criminoso para contratar um investigador
particular. O cara que cruzaria todas as linhas imagináveis para se
livrar de sua babá...

Que tipo de pessoa contrata um detetive particular para


investigar o passado de alguém e destruir seu futuro? Que tipo de
pessoa recebe telefonemas esquemáticos da mulher que contratou
e esconde isso de sua garota? Não estava com Remy ontem à noite,
mas não posso lhe dizer isso. Não posso dizer a ela sem também
lhe dizer que toda a sua vida é uma mentira. Que sua pequena
família perfeita não a queria. Que nunca confirmaram a morte de
sua mãe ou que seu pai é o tipo de monstro sobre o qual escrevem
nos livros de história…

Não posso dizer a verdade a ela. Não sem expor seus pecados.
E não posso me abrir com ela. Não sem lhe mostrar um boletim de
ocorrência que a destruirá completamente.
Dia não responde por longos segundos. Posso dizer que estou
chegando até ela, mas será o suficiente?

— Diga isso para sua puta! — Dia grita no topo de seus


pulmões.

Aveena acelera antes que eu pudesse piscar, me forçando a


sair do caminho. Axel, Theo, Brie e Lacey vão para a frente da casa
um momento depois, me perguntando o que diabos aconteceu,
mas não consigo formar uma frase.

Tudo o que posso fazer é ficar ali, vendo a garota que amo
desaparecer da minha vida...

Levando um pedaço do meu coração negro e egoísta com ela.

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