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O JOGO DA MINHA VIDA

RIXON RAIDERS 3
L A COTTON
CONTENTS

Rixon Raiders
Sinopse:

Chapter 1
Chapter 2
Chapter 3
Chapter 4
Chapter 5
Chapter 6
Chapter 7
Chapter 8
Chapter 9
Chapter 10
Chapter 11
Chapter 12
Chapter 13
Chapter 14
Chapter 15
Chapter 16
Chapter 17
Chapter 18
Chapter 19
Chapter 20
Chapter 21
Chapter 22
Chapter 23
Chapter 24
Chapter 25
Chapter 26
Chapter 27
Chapter 28
Chapter 29
Chapter 30
Chapter 31
Chapter 32
Chapter 33
Chapter 34
Chapter 35
Chapter 36
Chapter 37
Chapter 38
Epilogue

Playlist
Agradecimentos
About the Author
O Jogo da Minha Vida
L. A. Cotton

Copyright de The Harder You Fall © L. A. Cotton, 2019.


Tradução: Andreia Barboza (L.A Serviços Editoriais)
Copidesque da tradução: Luizyana Poletto (L.A Serviços Editoriais)

Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são produtos da
imaginação do autor ou foram usados de forma fictícia e não devem ser interpretados como
reais. Qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, eventos reais, localidades ou
organizações é inteiramente coincidência.

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9610 de 19/02/1998. Exceto para o uso
de pequenos trechos em resenhas, é proibida a reprodução ou utilização deste livro, no todo
ou em parte, de qualquer forma, sem a permissão prévia por escrito do detentor dos direitos
autorais deste livro.
RIXON RAIDERS

O problema com você


O amor está em jogo
O jogo da minha vida
The end game is you
SINOPSE:

A série bestseller Rixon Raiders continua. Jogadores de futebol


arrogantes, rivalidade escolar e garotas que aparecem no caminho deles.
Prepare-se... Os Raiders vem aí para uma jogada final!

Mya Hernandez tem cicatrizes.


Daquelas profundas que deixa marcas.
Rixon deveria ser apenas um lugar temporário para se esconder, mas está
se tornando algo mais.
Ela tem quase certeza de que não tem nada a ver com o jogador de futebol
de cabelos loiros e olhos azuis que a faz rir. Que a faz acreditar em contos de
fadas novamente. Mesmo que ela saiba que sua vida está destinada a ser uma
tragédia.

Asher Bennet tem segredos.


Não os do tipo escandalosos, mas daqueles que vão apodrecendo e
devorando lentamente sua alma.
Por fora, ele é o sr. Popular, sempre pronto para uma festa e causando um
pouco de confusão. Mas por dentro, ele só quer que alguém o enxergue de
verdade.
Pena que a única garota que vê além de sua fachada já o tenha colocado
na friendzone.
Provavelmente, é melhor assim.
Ela é diferente.
Uma lutadora.
Ela é tudo que ele quer, mas nunca pôde ter.
Até que o passado de Mya e o presente de Asher colidem de uma forma
que nenhum deles imaginou.
E de repente, o que você mais precisa é exatamente o que você deveria
odiar.
Para os meus leitores.
Obrigada por amarem tanto os Raiders quanto eu!
UM
Mya
ACORDEI ASSUSTADA, segurando os lençóis pouco familiares enquanto
tentava regular a respiração.
Foi só um sonho, sussurrei.
Apenas uma versão confusa e distorcida das coisas. Não era real.
— Não é real — minhas palavras trêmulas quebraram o silêncio.
Quando me mudei da Filadélfia para Rixon, os pesadelos aconteciam
todas as noites. Minha tia queria que eu fosse a um terapeuta, mas eu não ia
me sentar na frente de alguém e deixá-lo dissecar meus sonhos. Eu sabia o
que me assombrava. Não precisava dar um nome, motivo ou desculpa.
Às vezes, as pessoas vivenciam coisas ruins e isso deixa marcas.
Cicatrizes invisíveis por fora, mas tão reais por dentro que você nunca se
esquece. No fim das contas, a pessoa aprende como lidar. Como se levantar a
cada dia, colocar um sorriso no rosto e sobreviver.
Sobreviver em um lugar como Rixon podia não ser uma questão de vida
ou morte, mas ainda tinha seus momentos.
Eu finalmente empurrei a coberta e saí da cama, tentando domar os
cachos escuros e rebeldes que caíam no meu rosto. Meu quarto na casa da
minha tia era pequeno, mas aconchegante. Ela não teve filhos, mas fez o
possível para torná-la acolhedora para uma garota de dezoito anos que era
mais estranha do que família. Lilás não era minha cor favorita, mas gostei do
esforço.
Minha coisa favorita no novo espaço era o pequeno banheiro contíguo. O
quarto de tia Ciara era adjacente à suíte master, o que significava que não
tínhamos que compartilhar. Um luxo que não tinha na Filadélfia.
Depois de lavar o rosto e escovar os dentes, vesti roupas limpas e fiz uma
segunda tentativa de arrumar o cabelo, eventualmente resolvendo prendê-lo
em um rabo de cavalo. A garota no espelho se parecia comigo, mas não se
sentia como eu há muito tempo. Acho que era isso o que acontecia quando
você era forçada a deixar sua casa, sua vida, e era mandada para viver no
meio do nada. Se eu não tivesse feito amizade com Felicity Giles no primeiro
dia na nova escola, Rixon High, não duvidava que minha existência aqui
seria quase intolerável.
No entanto, rapidamente me tornei amiga de Felicity e de sua melhor
amiga, Hailee Raine. Essas meninas eram incríveis. Elas se recusavam a se
conformar com o estilo Rixon de respirar futebol. Decidi ignorar o pequeno
detalhe de que as duas estavam namorando jogadores agora. E não qualquer
jogador, mas a Realeza de Rixon Raider para ser exata. A ironia não passou
despercebida por mim e nem para elas. Mas não se pode escolher por quem
se apaixona. Eu sabia disso melhor do que ninguém.
Meu celular vibrou e eu o peguei da mesa, lendo a mensagem de Felicity.

Flick: Estou atrasada... parei no Ford.

REVIRANDO OS OLHOS, digitei uma resposta rápida.

Eu: Não diga mais nada. Te vejo em alguns instantes.

ERA isso o que eu amava em Felicity. Apesar de estar em um relacionamento


com um dos caras mais taciturnos, maldosos e arrogantes que já conheci, ela
não vacilava em sua amizade. Todas as manhãs, mesmo que às vezes
chegasse um pouco atrasada, Felicity me buscava para ir à escola. E todos os
dias conversávamos sobre tudo.
Meu celular vibrou de novo e eu sorri, ansiosa para ver qualquer resposta
maluca que Flick tinha inventado. Mas quando passei os olhos pela tela,
paralisei.

J: Preciso de você, Mya. Por favor...


RAPIDAMENTE APAGUEI a mensagem e coloquei o celular no bolso do
jeans. Tentando ignorar o incômodo que ele causava. Se eu respondesse,
daríamos voltas e mais voltas como sempre.
Jermaine podia precisar de mim.
Mas não foi o suficiente.
Eu não fui o suficiente.
Eu nunca seria.
Então, fiz o que fazia todos os dias desde que cheguei aqui. Peguei a
mochila, desci as escadas e esperei pela minha carona.
Porque às vezes, fingir era melhor que enfrentar a verdade.

— MYA, entre — a srta. Hampstead, orientadora da escola, sorriu para mim.


— Como você está?
— Bem, eu acho.
— Acha?
— É segunda-feira de manhã — respondi. — As coisas podem mesmo
ficar bem em uma manhã de segunda-feira? — Curvei os lábios em um
sorriso tenso.
— Ah, não sei. — Ela riu baixinho. — Eu gosto muito das segundas-
feiras. O início de uma nova semana, as possibilidades infinitas e a chance de
ser melhor.
— Falou como uma verdadeira orientadora.
Nós duas rimos.
— Bem, só queria verificar como você está. Seus professores estão muito
satisfeitos com seu progresso e suas notas estão ótimas. Já pensou na
faculdade?
— Na verdade, já. — Abri a bolsa, retirando uma pilha de papéis.
Entregando-os a ela, me recostei e esperei. A srta. Hampstead leu devagar,
passando os olhos pelas minhas anotações.
— Excelente. Podemos reservar algum tempo antes do feriado para enviá-
los se você desejar.
— Por mim, tudo bem.
— Percebi que você escolheu duas escolas estaduais e a Temple
University.
Assenti, sentindo a garganta se fechar.
— Quero manter minhas opções em aberto.
— Ter opções é bom. Não que eu suspeite que você terá problema, pois
seus relatórios estão muito fortes.
Bati o joelho de forma rítmica, forçando um sorriso.
— Ótimo. Eu posso... — Me virei para a porta.
— Antes de você ir, só queria perguntar como as coisas estão...
socialmente.
— Socialmente? — Franzi o cenho.
— Sim. Sei que você fez boas amizades com Hailee Raine e Felicity
Giles.
— Verdade.
— E elas estão namorando Cameron Chase e Jason Ford.
— Srta. Hampstead, se você tem algo a dizer, vá em frente.
Ela soltou um pequeno suspiro, sua expressão suavizando.
— Tenho certeza de que você está mais do que ciente dos recentes
problemas entre Jason e Lewis Thatcher, da Rixon East High.
— É difícil não estar ciente. — O futebol era para Rixon o que o oxigênio
era para a raça humana.
— Só quero que você tome cuidado, está bem? Você é nova aqui e é... —
Ela engoliu em seco.
— Pode falar, estou plenamente ciente de que sou a estranha.
— Rixon é uma boa cidade com muitas pessoas boas, Mya. Mas cidades
pequenas como esta também podem ser lugares difíceis para... pessoas de
fora.
— Você quer dizer negros? — Arqueei as sobrancelha com sarcasmo.
Ela suspirou.
— A Rixon High se orgulha por ser inclusiva, Mya, mas a realidade é que
mais de noventa e seis por cento dos nossos alunos são americanos brancos.
— Estou no grupo dos quatro por cento, entendo.
— Mya, sei que esta não é uma conversa fácil de se ter, mas eu só queria
que você soubesse que estou aqui se precisar de alguma coisa para tornar seu
tempo conosco mais fácil, ou se surgir algum problema.
— Claro, Srta. Hampstead. Eu agradeço. — Mas o que eu realmente
queria era dar o fora de seu escritório.
— Certo, bem, acho que é isso por agora. Minha porta está sempre aberta.
Assentindo, eu a deixei, dando de cara com outro rosto preocupado.
— Ei, está tudo bem? — Felicity estava esperando por mim.
— Sim, apenas o de costume. Novidade: sabia que noventa e seis por
cento do corpo discente da Rixon High é de brancos?
— Ela disse isso?
— Sim.
— Uau, isso é... eu realmente não tenho palavras.
— Bem-vinda ao meu mundo — resmunguei enquanto seguíamos para a
aula.
— Então, eu e a Hailee estávamos conversando no fim de semana e
achamos que deveríamos fazer algo épico para o Ano Novo. — Felicity
entrelaçou o braço no meu.
— Épico como? — Dei a ela um olhar de soslaio. — Pois da última vez
que você quis fazer algo épico, fez uma tatuagem muito real, muito
permanente.
Suas bochechas coraram.
— Não tão épico. Mas Rixon na véspera de Ano Novo dificilmente é
empolgante. Normalmente, o Asher dá uma grande festa e todo mundo fica
tão bêbado que nem consegue se lembrar que ano é na manhã seguinte.
— Pensei que você nunca tivesse ido às festas dele.
— Não fui. Mas as pessoas falam. — Ela deu de ombros. — De qualquer
forma, eu te contei sobre a vez em que fomos para Nova York com os caras?
— Você quer dizer quando você se rendeu ao Jason?
— Ssh! — Ela me abraçou mais forte. — Esse não é o ponto agora. Os
primos de Asher são super ricos e conhecem os melhores clubes. E desta vez,
você pode vir conosco.
— Humm, não tenho certeza. Isso parece meio...
— Você tem que vir. Mesmo se não formos a uma discoteca, podemos
ficar na cobertura chique de novo e fazer nossa própria festa. É nosso último
ano novo antes da faculdade. Precisamos torná-lo inesquecível.
— Parece meio caro.
— Ah, me poupe, provavelmente vamos dividir o valor da gasolina. O pai
do Asher vai cuidar da cobertura e os caras vão comprar as bebidas. A única
coisa que você realmente precisa é de uma roupa matadora.
— Seríamos apenas nós seis?
Ela deu de ombros de novo.
— Acho que sim, a menos que Vaughn e Riley se juntem a nós de novo.
Mas não tenho certeza de como me sinto sobre ela perto do Jason.
Segurei sua mão, inspecionando as unhas.
— São suas garras que vejo saindo?
— Ah, Mya, você não a viu. Ela parecia a porcaria de uma modelo.
— Humm, tem se olhado no espelho ultimamente? Você é linda, garota.
Além disso, o Jason te ama. — Nem eu podia negar que o quarterback astro
de Rixon amava minha amiga de uma maneira feroz. Ele suavizou muito
desde que conseguiram se entender.
Uma onda de dor atravessou meu coração, mas eu ignorei.
— Sim você está certa. Está certa mesmo. — Ela me deu um sorriso
caloroso. — Ah, olhe, está na hora da aula. Te vejo no almoço?
— Sim, se eu sobreviver a duas horas de biologia.
— Boa sorte com isso. — Ela deu uma risadinha.
Nos separamos e fui para a aula. Felicity sabia algumas coisas sobre meu
passado, sobre Jermaine. Mas ela não conhecia todos os detalhes difíceis e
dolorosos.
Ninguém conhecia.
E eu esperava que jamais conhecessem.

ANTES DE ME juntar a Felicity e Hailee no refeitório para o almoço, fui ao


armário para trocar alguns livros. Assim que terminei, finalmente cedi e
verifiquei o celular, me arrependendo no mesmo instante. Quatro mensagens.
Três de Jermaine e uma de Shona, minha amiga.

J: Me ligue, eu preciso de você.


J: Por que você tem que ser assim, Mya? Sinto sua falta. Eu te amo.
Preciso de você... não sou nada sem você, garota.
J: Sério, vai ser assim? Sua mãe não me diz onde você está.

Shona: As coisas não estão bem, garota. Me liga. Bjs


MEU ESTÔMAGO SE APERTOU, minhas entranhas rasgaram enquanto
minha cabeça e meu coração lutavam sobre o que fazer. Parte de mim, a parte
que sempre seria uma jovem ingênua e apaixonada, queria ligar para Shona e
ver o que estava acontecendo. Mas a outra parte, a que sabia que fazer aquela
ligação apenas levaria a mais dor e sofrimento, apagou as quatro mensagens
de texto.
Quando saí de Fallowfield Heights, nosso pequeno bairro no coração de
Badlands, minha mãe queria que eu trocasse de número, mas não consegui.
Eu não conseguia me desligar completamente. Talvez um dia fosse possível.
Mas hoje, não era esse dia.
Afastando a preocupação, fui para o refeitório ciente dos olhares
estranhos enquanto eu serpenteava pelas mesas para chegar até Felicity e
Hailee. Mas deixei para lá. Logo se acostuma a ser um dos quatro por cento –
uma das únicas garotas negras e latinas em uma escola predominantemente
branca. Mesmo que os olhares de curiosidade, cautela e desaprovação fossem
como mil lâminas minúsculas sobre minha pele.
Mas Rixon High não amava apenas uma história de minoria. Os alunos
adoravam qualquer tipo de fofoca e, apesar de serem namoradas de dois dos
caras mais populares da escola, minhas amigas não eram imunes ao
escrutínio de seus colegas. Claro, elas não tiveram que lidar com insultos ou
rumores baseados na cor de sua pele ou de onde vieram, mas tiveram que
lidar com sua cota de besteiras. E assim como eu, elas lidaram com isso com
a graça e a atenção que merecia.
— Ei — Felicity me chamou. — Estávamos falando sobre você.
— Espero que bem.
Duas garotas me observavam, me olhando com discrição enquanto
fingiam conversar quando me sentei e peguei o almoço.
— Mya, o que... oh.— A expressão de Hailee endureceu. — Ignore-as, é
o que costumo fazer.
— Tenho certeza de que elas não falam sobre você pelos mesmos
motivos que falam sobre mim. — A irritação percorreu meu corpo enquanto
eu retribuía o olhar, desafiando-os a dizer algo. Como isso não aconteceu,
mostrei o dedo do meio para elas com bastante calma.
Hailee riu enquanto Felicity virava a cabeça na direção delas.
— Você realmente acha que elas estão incomodadas por causa da sua
origem?
— Ah, sei que estão. — Me recostei na cadeira, dando uma mordida na
maçã.
— É tão... tão pobre de espírito. Tivemos um presidente negro, pelo amor
de Deus.
— As pessoas se sentem ameaçadas por aquilo que não conhecem. E não
preciso apontar o óbvio. Rixon é o epítome da cidade do interior.
— Nós não somos... tudo bem — Felicity voltou atrás. — Talvez
sejamos, só um pouco.
— Eu quase queria que você não tivesse ficado com o Jason só para que
eu pudesse dar em cima dele e realmente dar ao povo de Rixon algo para
falar.
— Você pode dar em cima de outro jogador de futebol. — Hailee sorriu,
sem dizer as palavras que nós sabíamos que ela estava pensando.
— Eu e o Asher somos amigos. Apenas amigos.
— Mas poderiam ser mais. Poderiam ser amigos que...
— Não termine essa frase.
— O que foi? — Ela ergueu as mãos. — Só estou dizendo que tenho
sentido vibrações de mais do que amigos de vocês dois.
Fiz uma careta para ela. Claro, Asher e eu saímos algumas vezes com
Felicity, Hailee e os caras, mas isso era inevitável. Nossos melhores amigos
estavam se relacionando.
Nossas vidas estavam entrelaçadas quer quiséssemos ou não.
— Eu não vim aqui para conhecer ninguém. Vim para evitar os caras.
Ponto final.
— Sim, mas vamos lá, Mya, é o último ano. — Felicity me olhou daquele
mesmo jeito que nos colocou em problemas mais de uma vez desde que
cheguei aqui.
— Exatamente.
As duas reviraram os olhos, rindo do meu raciocínio. Mas elas não
entendiam. Não sabiam que ainda que eu tivesse escapado para Rixon, parte
de mim ainda estava em Fallowfield Heights com Jermaine. Elas não
conseguiam entender como era saber que deixei a única pessoa que prometi
estar sempre ao lado sozinho. Elas não conseguiam avaliar o que era sentir
medo pela vida de alguém. Por sua própria vida.
Elas não podiam saber.
Porque embora eu estivesse sentada à mesa deles, compartilhando, rindo
e brincando sobre nossas vidas e amigos e o que íamos fazer no fim de
semana, o fato é que elas pertenciam a este lugar.
E eu, não.
Independentemente do quanto eu fingisse.
DOIS
Asher
— O QUE VOCÊ acha que ele quer? — perguntei ao meu melhor amigo,
Jase, enquanto caminhávamos para o vestiário. O treinador enviou uma
mensagem de texto logo cedo, insistindo que a equipe deveria estar lá às oito
e meia em ponto. Era estranho. Especialmente porque a temporada tinha
acabado e éramos campeões estaduais.
Apenas por associação.
— Obrigado pelo lembrete — resmunguei para mim mesmo.
Eu não joguei a final do campeonato, ou qualquer um dos play-offs. Em
vez disso, fiquei sentado em um canto, torcendo pelo meu time, por meus
irmãos, pela vitória, tudo para que meu melhor amigo e capitão, Jason Ford,
pudesse jogar.
— Uma merda, eu sei — ele falou, empurrando a porta. No segundo em
que entramos, o resto do time aplaudiu, gritando o nome de Jason como se
ele fosse um Rei.
Talvez para os caras, ele era mesmo.
Ele os levou ao estadual. Em um lugar como Rixon, isso significava algo.
Significava tudo.
Alguns caras chamaram minha atenção, me dando um aceno de
apreciação. Alguns sabiam a verdade – sabiam que a única razão pela qual
Jason pôde jogar nos play-offs era porque assumi a responsabilidade por ele
há algumas semanas.
Rixon High tinha uma rivalidade de longa data com a Rixon East, a outra
escola da cidade, e as coisas ficaram feias entre Jason e o capitão do outro
time, Lewis Thatcher. Tudo veio à tona há algumas semanas, quando Lewis
atraiu Jason para uma briga. O treinador e o diretor Finnigan ficaram sabendo
disso e ameaçaram expulsá-lo do time. Mas não chegou a esse ponto.
Assumi a responsabilidade. As pessoas sabiam que eu sempre estava
metido em confusão e que eu era estúpido o suficiente para fazer algo como
tentar proteger Jason. E embora lá no fundo eu tivesse certeza de que o
treinador sabia a verdade, ele me deixou levar a culpa. Porque Jason era o
melhor. Era o jogador que a equipe precisava para ir até o fim.
E eu?
Bem, acho que eu era dispensável.
Foi horrível ver meu time lutar pela vitória nos play-offs. Me partiu o
coração quando Jase me chamou para o campo durante a final, contrariando
as ordens do treinador e do diretor Finnigan para que eu permanecesse no
banco o tempo todo. Mas aceitei como o homem que sou. O futebol era tudo
para Jason. Mas nunca foi o objetivo final para mim. E eu não conseguia ver
seus sonhos de se tornar profissional virarem fumaça por causa de alguma
rivalidade estúpida que deu errado.
— Garotos, quietos — o treinador Hasson gritou, entrando no vestiário
alerta demais para uma manhã de terça-feira. — Sei que vocês não esperavam
estar aqui hoje. A temporada acabou, é quase feriado, e só Deus sabe que
todos vocês merecem algum tempo de descanso após os play-offs. — Outro
coro de vivas retumbou pela sala. — Certo, certo, fiquem quietos.
— Gente, vamos lá — Jason gritou quando não mostraram sinais de se
acalmar.
O silêncio caiu sobre nós e o treinador deu a Jase um aceno de
apreciação.
— Vou sentir falta disso, filho — ele comentou, acariciando o queixo.
Não dizendo as palavras que sabíamos que ele estava pensando.
Nunca haveria outro Jason.
Alguém para liderar a equipe do jeito que ele fez.
Jason era o tipo de cara que se tornava uma lenda e não havia uma única
pessoa na sala que não acreditasse que ele iria para a NFL.
— Gostaria de poder dizer que são boas notícias, mas, honestamente,
depois dos últimos meses, não tenho certeza se vocês vão concordar.
Jase enrijeceu ao meu lado e Cameron me olhou carrancudo.
— A notícia só vai sair oficialmente hoje à tarde, mas recebi permissão
para contar a vocês primeiro. — O treinador fez uma pausa e linhas de
estresse enrugaram seus olhos. O que quer que ele estivesse prestes a dizer
não era bom. O que significava que só poderia ser sobre uma coisa.
Lewis Thatcher e os Rixon East Eagles.
— Estão sendo feitas acusações formais contra Lewis Thatcher. Também
soube esta manhã que Washington retirou a bolsa de estudos dele.
— Puta merda, sim — alguém gritou quando os caras começaram a
debater o anúncio do treinador.
— Você sabia? — sussurrei para Jase, que ainda parecia uma estátua ao
meu lado.
— Não — ele retrucou com a expressão tensa.
— Ei, cara — era Cameron. — Isso é uma coisa boa.
— Eles provavelmente vão querer que a Hailee testemunhe.
— Merda, eu não...
— Quietos — o treinador gritou. — Ainda não terminei.
Havia mais?
Eu não tinha certeza se Jason aguentaria mais, já que a energia volátil saía
dele quase que de forma tátil. Mas não poderia culpá-lo. Se Thatcher tivesse
vindo atrás da minha irmã e colocado as mãos na minha garota, eu também
teria desejado sangue.
— Sempre houve uma rivalidade amarga entre Rixon e Rixon East. É
mais antigo do que eu ou vocês. Mas o diretor Finnigan e o diretor Castrol da
East, decidiram que está na hora de deixar o passado descansar e dar exemplo
pelo que aconteceu neste semestre. Rivalidade no campo é uma coisa, mas
quando se espalha para a comunidade e começa a afetar pessoas inocentes, é
inaceitável. — Seu olhar duro encontrou a nós três. — Estou sendo claro?
— Sim, senhor — todos resmungaram ao mesmo tempo.
O treinador continuou.
— Os dois diretores decidiram que, em uma demonstração de boa-fé, será
realizado um jogo de exibição no ano novo para arrecadar fundos para uma
instituição de caridade local que apoia a saúde mental e o bem-estar dos
jovens.
— Você espera que joguemos de novo? — alguém perguntou, mas o
treinador não teve a chance de responder, porque Jason saiu do vestiário,
deixando a porta bater atrás de si.
O treinador deixou escapar um suspiro resignado.
— Posso confiar em vocês dois para lidar com isso? — ele perguntou
para mim e Cameron, e nós concordamos. — Este não é um cenário opcional.
O diretor Finnigan deixou bem claro que espera que todos joguem,
especialmente os mais antigos.
— Deixe isso conosco, treinador — Cameron falou, indo atrás dele. Eu
hesitei, confuso com o que ele estava dizendo.
— Você também, Bennet. O diretor Finnigan concordou que você
cumpriu sua punição.
— Vou jogar? — Eu não sabia como me sentia sobre isso.
— Você ainda é um Raider, não é?
— Sim, senhor.
— Então, sim. Agora vá, se certifique de que ele não faça nada estúpido.
— Assentindo com firmeza, o treinador Hasson me dispensou, e eu saí atrás
dos meus melhores amigos.

NÃO DEMOROU MUITO PARA ENCONTRÁ-LOS. Só tive que seguir o


som de vozes gritando fora do ginásio.
— Você está brincando comigo? — Jase gritou, de costas para mim. —
Você está do lado dele?
— Não estou do lado de ninguém — Cameron rebateu. — Mas você quer
mesmo irritar o Finnigan quando estamos tão perto de terminar o último ano?
É um jogo. E talvez eles tenham razão, talvez depois de tudo, isso seja uma
coisa boa. Dar um bom exemplo para os jogadores mais jovens que estão
subindo na hierarquia.
Enfiei as mãos nos bolsos, observando os dois. Cameron sempre foi a voz
da razão, a pessoa que convencia Jason a não fazer coisas idiotas mais vezes
do que eu poderia contar. E eu? Geralmente agia como o diabo em seu
ombro, incitando-o a alguma brincadeira ou briga estúpida pelo rio no
território de Rixon East.
Porém, hoje eu permaneci quieto.
— Se algum dia eu tiver que olhar para um daqueles jogadores de novo,
será muito cedo — Jase grunhiu, passando a mão pelo cabelo.
— Vamos lá, cara, o Thatcher está fora do time. Sem ele, será diferente.
— Como você pode ficar tão... calmo sabendo o que eles fizeram com a
Hailee? — Ele estava fervendo agora, com a mandíbula cerrada de raiva.
Cam soltou um suspiro pesado, inclinando o rosto para o ar fresco da
manhã. Sua respiração leve como nuvem de fumaça subiu para o céu.
— Acabou. — Ele encarou Jason. — A Hailee está bem. Nós também
estamos. E quero me concentrar em nossos últimos meses como veteranos. O
Thatcher vai ter o que merece, prometo.
Eu esperava, pelo bem de todos, que ele tivesse mesmo. Porque pelo
brilho assassino nos olhos de Jason cada vez que alguém mencionava seu
arquirrival, suspeitei que nosso melhor amigo não seria capaz de desistir se a
lei não considerasse Lewis Thatcher culpado.
— O que foi? — Jase finalmente percebeu que eu estava ali. — Você não
tem nada a dizer?
— O Cameron está certo. — Dei um passo à frente. — Vamos lá, uma
jogada final. Sair por cima.
— Somos campeões estaduais. Não há como sair mais por cima que isso.
Estremecendo, fechei os olhos. Jason não falou como um insulto. Mas
com certeza parecia, sendo merecido ou não.
— Jase — Cam advertiu, notando minha expressão cabisbaixa.
— Merda, Ash, eu não quis dizer isso. — Jason praguejou baixinho. —
Eu só queria aproveitar as férias. Não queria outro jogo com os Eagles
pairando sobre nós.
— Uma jogada final — Cam reiterou. — O Ash está certo. Faremos isso
juntos. Uma última vez. Depois seguimos em frente, sem arrependimentos.
— Tudo bem — Jase grunhiu. — Mas se algo der errado, vou culpar
vocês dois. — Ele disse as palavras para nós dois, mas seus olhos estavam
em mim, algo se passando entre nós. Eu queria acreditar que era gratidão,
mas não tinha certeza. Jason não era muito bom com seus sentimentos.
— Eu aguento a pressão se tudo der errado, sem problemas. É o que faço
de melhor. — Era uma piada, mas nenhum dos dois riu.
Jason gemeu e então olhou para Cameron.
— Uma condição.
— Diga — Cam respondeu.
— Você fala com as garotas.
Soltei uma risada e os dois me olharam como se eu tivesse uma segunda
cabeça.
— Tudo o que vou dizer é: boa sorte com isso. Foi bom conhecer vocês
dois. — Dei um tapinha nas costas de Jason e os deixei discutindo quem
contaria a Hailee e sua melhor amiga, Felicity, a namorada de Jason, sobre o
jogo.
Dizendo a mim mesmo que não estava amargo.
Mesmo que fosse uma grande mentira.

— HERNANDEZ — gritei, avistando Mya Hernandez, minha mais nova


amiga, cortesia de Hailee e Felicity.
— Vá embora, Asher — ela respondeu por cima do ombro, mas comecei
a correr, interrompendo-a antes que ela pudesse sair do prédio.
— Por que o desprezo?
— Não é desprezo, é só... afastamento. — Mya sorriu e me senti afogar
em seus grandes olhos castanhos. — Asher? — ela retrucou.
— Ah, sim?
— Imagino que você não me perseguiu só para me encarar como se eu
tivesse algo no rosto. — Se inclinando, ela corou um pouco. — Não tenho,
não é?
— Não. — Eu ri. — Você está ótima.
Ótima demais, se a forma como meu corpo se moveu mais perto fosse
alguma coisa a se considerar.
— O que você quer?
— Você me magoa, Hernandez. Achei que éramos amigos.
— Não, você decidiu isso depois que perdeu a Felicity para o Jason.
— Eu não perdi... — Ela me deu um olhar penetrante e mudei o rumo. —
Tudo bem, achei que eu e a Felicity podíamos ser mais que amigos, com
certeza. Mas o que posso dizer? Ela não sabe o que está perdendo.
Meu peito se apertou. Não porque eu queria Felicity. Não queria. Ela era
a namorada do meu melhor amigo. Mas houve um tempo, quando Hailee e
Flick começaram a andar com nosso grupo, que achei que talvez... argh, a
quem eu estava tentando enganar? Ela sempre teve olhos apenas para Jason.
Eu era só o amigo engraçado. O cara que fazia as garotas rirem.
— Adeus, Asher. — Mya tentou se mover ao meu redor, mas entrei em
seu caminho.
— Não tão rápido.
— Asher, vamos lá. — Ela deu um tapa no meu peito. — Tenho o que
fazer.
— Sim, tipo o quê? — Sorri.
— Lição de casa e essas coisas.
— Posso ir junto?
— Você quer fazer lição de casa comigo? Humm, que tal é claro que não?
— Qual é, Mya, não seria a primeira vez que sairíamos juntos.
— Isso é diferente. — Suas sobrancelhas se juntaram. — Saímos com o
grupo.
— E este poderia ser o nosso grupo.
— Duas pessoas conversando não é um grupo, é um par. É estranho.
— Mas eu nunca estive na casa da sua tia.
— Porque não somos amigos. — Mya Passou por mim, correndo para
fora do prédio, mas fui atrás dela.
Eu precisava dela.
— Mya, espere. — Ela já estava ziguezagueando entre os carros no
estacionamento. — Como você vai para casa? — Eu sabia que Felicity
geralmente lhe dava carona e que ela estava com Jason.
— Chamamos isso de pernas — ela gritou por cima do ombro. — Você
deveria tentar usá-las algum dia. — Ela teve a coragem de piscar para mim.
Merda, essa garota. Ela não era como ninguém que já conheci. Desde que
Mya Hernandez havia chegado à Rixon High há alguns meses, ela entrou
direto para o nosso grupo. Flick recebeu a tarefa de cuidar dela, que veio
transferida da Filadélfia, mas Mya não precisava de babá. Ela provou isso
mais de uma vez.
Mya Hernandez era uma lutadora. Não tinha medo de entrar em uma
briga para proteger aqueles com quem ela se importava. Mas não foi sua
força que me intrigou. Foram suas cicatrizes. As que ela achava que mantinha
escondidas.
Amaldiçoando a garota teimosa, um novo plano eclodiu quando um
trovão ribombou no céu. Corri para o jipe e entrei no momento em que as
primeiras gotas de chuva começaram a cair. Dando marcha ré, saí do
estacionamento e segui Mya enquanto ela puxava o capuz e corria pela
calçada.
Diminuindo a velocidade, abaixei a janela do passageiro.
— Entre — gritei.
— O quê? — Ela olhou para mim. — Não. Não!
— Uma carona — expliquei. — Isso é tudo que estou oferecendo.
— Só uma carona? Porque se isso for um estratagema para conseguir um
convite para entrar na casa da minha tia, não vai funcionar. — A chuva caía
sobre Mya, pingando da ponta do capuz e sobre seus cílios grossos.
— Você precisa de mim, Hernandez, admita. — Me inclinei e abri a
porta, esperando. — Entre.
Para minha surpresa e alívio, Mya entrou, sacudindo o capuz antes de
tirá-lo. Seus cachos pareciam mais selvagens, emoldurando seu rosto.
— Obrigada. — Ela colocou o cinto e apoiou as mãos debaixo das pernas.
— Tem medo de não conseguir manter as mãos longe de mim? —
provoquei, esperando alguma resposta atrevida. Mas Mya estava quieta. Até
demais.
— Mya? — chamei,.
— Apenas dirija, Asher. — Ela deu um suspiro resignado, como se
tivesse quebrado sua regra fundamental ao aceitar minha carona para casa.
E eu não sabia o que me fazia sentir pior.
Que ela estava desapontada consigo mesma por ceder a mim, ou o fato de
que ela sentia necessidade de resistir a mim.
TRÊS
Mya
— BEM, aqui estamos. — O jipe de Asher desacelerou até parar em frente à
casa da minha tia Ciara. O lugar era no estilo de uma antiga casa de fazenda
na periferia da cidade. Um mundo bem distante do de Asher e sua casa, com
um enorme quintal, garagem dupla e cenário à beira do lago. A casa dele era
uma das maiores da cidade, um lembrete constante de que eu e meu novo
amigo – e usei o termo de forma vaga – tínhamos vidas completamente
diferentes.
Eu era a garota do bairro, fugindo de seu passado e tentando me segurar
por tempo suficiente para terminar o último ano. Enquanto Asher era... bem,
ele era o típico garoto americano. Popular, atlético e lindo de morrer – se
você gosta desse tipo de coisa. Cabelo loiro bagunçado, olhos azuis que
derretiam calcinhas e um sorriso tão charmoso que fazia com que metade da
cidade caísse a seus pés.
Ele também era um pé no saco gigante.
Para minha sorte, eu era a escolhida do momento.
— Obrigada pela carona. — Comecei a empurrar a porta, mas ele segurou
meu pulso. Olhei depressa para onde seus dedos me tocavam. Sua pele
bronzeada ainda era três tons mais clara que a minha.
Apenas mais um lembrete de tudo o que era diferente entre nós.
— Me convide para entrar, Hernandez. Aposto que sua tia adoraria me
conhecer. — Ele teve a audácia de piscar. Sufoquei um gemido.
— Minha tia não é exatamente uma fã. — Arqueei a sobrancelha,
voltando a olhar para onde ele estava me segurando. Asher soltou meu pulso
e passou a mão pelo cabelo.
— Me deixe adivinhar, ela não quer um Raider farejando sua sobrinha?
— Tente o fato de você ser um garoto branco — murmurei baixinho.
— O que você acabou de dizer? — Asher questionou. — Porque eu sei
que você não falou o que estou achando.
— Nada — retruquei. — Eu não disse nada.
Ele semicerrou os olhos, procurando a verdade em minha expressão
endurecida.
— Sua tia tem um problema com a cor da minha pele, Hernandez? — Ele
realmente parecia ofendido. — Ela nem me conhece.
— Bem-vindo ao meu mundo.
— Ninguém liga para essa merda, Mya. Caso você não tenha notado,
estamos no século XXI.
— E o fato de você ter acabado de falar isso me diz tudo o que preciso
saber. — Senti a indignação me atingir. — Obrigada mais uma vez pela
carona. Te vejo na escola amanhã. — Saí depressa do Jeep, com o peito
apertado de frustração.
Claro que Asher não entendia o que um lugar como Rixon significava
para mim. Por que ele entenderia? Ele era um cara. Um branco privilegiado,
nascido e criado aqui.
Também era um Rixon Raider.
Algo que aprendi que tinha um grande significado por aqui.
Não olhei para trás enquanto corria em direção à varanda da casa minha
tia. Ela não estava em casa, raramente estava graças ao seu trabalho no
Seven-Eleven, uma loja de conveniência na cidade vizinha. Mas eu não
queria dizer isso a Asher. Ele era pior do que um cachorro com um osso, e eu
sabia que se percebesse que eu estava sozinha em casa, encontraria uma
maneira de entrar, e então eu nunca me livraria dele.
Quase em casa, deixei escapar um pequeno suspiro de alívio, mas então
sua voz fez todos os músculos do meu corpo travarem.
— O que foi que aconteceu?
Eu me virei para encontrar Asher parado, com os olhos cheios de
desculpas e confusão. Ele parecia adorável como um cachorrinho, de um jeito
irritante e fofo.
— Vá para casa, Asher. — Permaneci cautelosa. Porque ao dar a Asher
Bennet pelo menos meio centímetro, ele não hesitaria em percorrer um
quilômetro.
— Mya, vamos lá. O que foi tudo isso?
— Você não entenderia — sussurrei, odiando os dedos gelados da
vulnerabilidade envolvendo minha garganta.
— Tente. — Ele deu um passo à frente, levando o ar com ele. O que era
ridículo, já que estávamos do lado de fora, cercados por nada além do ar frio
da Pensilvânia.
— Asher... por favor... — Eu não queria fazer isso. Não aqui. Nem agora.
Muito menos na varanda da minha tia.
— Mya... — ele rebateu e ouvi a determinação cintilar em seus olhos
azuis.
— Trinta minutos e depois você vai embora.
— Se essa é sua tentativa de oferecer um convite, devo dizer que você
precisa melhorar suas maneiras, Hernandez.
Revirando os olhos, peguei a chave e abri a porta, não esperando por
Asher enquanto entrava. Eu morava aqui há quase três meses, mas ainda não
me sentia em casa.
Eu não tinha certeza se um dia isso aconteceria.
— Lugar legal — Asher comentou, fechando a porta com cuidado. A
maneira como soou me pareceu um tiro no coração. Me deixando
dolorosamente consciente de que estávamos sozinhos. Em meu território.
O único lugar que eu tinha em Rixon para chamar de meu.
— Posso pegar algo para você beber?
— Tem algum lanche aí? — Asher esticou o pescoço, passando o olhar
divertido por cima do meu ombro.
— Vamos lá — resmunguei —, vou ver o que posso encontrar. — Se
havia uma coisa que aprendi sobre Asher Bennet desde que cheguei a Rixon
High, era que o garoto podia comer. Às vezes, eu não tinha certeza de onde
ele colocava tudo. Não havia um grama de gordura nele, nada além de
músculos sólidos esticados sobre ombros largos e quadris estreitos.
Ele me seguiu até a cozinha e se sentou no balcão.
— Sua tia não está aqui, está?
— Você percebeu, hein?
— Estava mentindo para mim, Hernandez?
— Eu estava... talvez. — Suspirei, começando a fazer um sanduíche para
ele. — Só temos peru, queijo e picles questionáveis.
— Vai servir. — Ele se acomodou. — Então, há quanto tempo a sua tia
mora em Rixon?
— Desde que eu era pequena. Eu nunca a visitei. — Ela sempre ia até
nós. Minha mãe nunca falou muito sobre o motivo pelo qual sua única irmã
se mudou da Filadélfia, mas, à medida que cresci, fui montando a história.
Tia Ciara havia fugido. Fugiu do bairro em busca de uma vida melhor. Ela
era quase uma década mais velha que minha mãe e assim que se formou no
ensino médio, fez as malas e deu o fora.
— O que você disse antes, sobre eu ser branco, isso seria realmente um
problema para ela?
Feito o sanduíche, empurrei o prato para Asher e fiz uma careta.
— Sim e não. Minha tia conheceu um homem aqui. Um homem branco.
Não sei a história toda, mas ouvi a minha mãe falar uma vez e o que
aconteceu entre eles não foi bom.
— Uau, certo. — Asher deu uma enorme mordida no sanduíche, mal
mastigando antes de engolir. — Então serei julgado com base nas ações de
um homem. Que progressista da parte dela.
— Caso você não tenha notado, Rixon não é exatamente diverso.
Ele deu de ombros, dando outra mordida.
— Mas também não somos os racistas que você pinta.
— Você percebe o quanto soou preconceituoso agora?
— Eu não...
— Deixei a minha casa, meu bairro muito diverso, e me mudei para o
meio do nada, onde futebol é religião e sou uma das poucas alunas que
andam pelos corredores da escola que não se encaixam no perfil de branco.
Asher se endireitou, endurecendo a expressão. Se eu não o conhecesse,
teria dito que ele parecia possessivo. Mas isso abriria uma outra hipótese que
eu não estava pronta para encarar.
— Alguém disse algo para você? — ele perguntou. — Porque se foi
isso...
Me inclinando contra o balcão, soltei um suspiro exasperado.
— Asher, ouça o que estou dizendo. Não se trata do que as pessoas estão
ou não fazendo ou dizendo... — Era, mas não era esse o ponto agora. — É
sobre como pode ser alienante para alguém que não nasceu aqui e que não é
branco tentar assimilar enquanto permanece fiel às suas raízes.
Asher franziu o cenho enquanto processava minhas palavras em silêncio.
Não queria ter essa conversa, especialmente com ele. Mas nas últimas
semanas, ele havia se infiltrado em minha vida. Quer eu quisesse ou não.
— Acho que não pensei... — Ele passou a mão pelo rosto.
— Tudo bem. É difícil ser um Raider. — Provoquei, querendo desviar os
holofotes de mim.
— Você me diria se alguém dissesse algo a você sobre... você sabe?
— Sobre o fato de eu ser a garota negra da vizinhança?
— Você é muito mais que isso, Mya. — Seus olhos queimaram com algo
que eu já tinha visto antes. No início, isso acontecia quando ele olhava para
Felicity. Mas então sua visão mudou para mim, bem quando ela e Jason se
tornaram mais do que duas pessoas que gostavam de enlouquecer um ao
outro.
Eu ainda não sabia como me sentia sobre isso.
Baixando o olhar, passei o dedo sobre a bancada de madeira gasta. Minha
tia me recebeu sem questionar, me dando boas-vindas em sua casa e coração.
Ela não disse nada, mas acho que viu muito de seu eu mais jovem em mim.
Uma garota desesperada para escapar. Só que eu nunca quis escapar. Eu só
sabia que não poderia ficar mais lá sem perder uma parte de mim.
Então, aqui estava eu, em Rixon. Me escondendo. Fingindo que estava
tudo bem. Tentando fugir de um passado que eu sabia que um dia me
alcançaria.
— Você é tão linda que dói.
Olhei para os olhos de Asher e ele xingou baixinho.
— Merda, Mya, eu não... quero dizer, eu quero, mas não quero. Merda.
— Acho que você deveria ir — falei em tom calmo, sem dar nenhuma
pista sobre o bando de cavalos galopando em meu peito.
— Escapou. Eu não... vamos voltar. Finja que eu nunca disse isso.
— Asher. — Dei um olhar penetrante a ele, lutando contra um sorriso. —
Você não me acha bonita?
— O quê? Não, eu acho. Claro que sim, mas achei... — Asher praguejou
novamente. — Você está me sacaneando, não está?
Meu lábio se curvou em um sorriso fraco.
— Te vejo amanhã, tá?
Ele se levantou e um pedido de desculpas brilhou em seus olhos.
— Não deixe que isso torne as coisas estranhas entre nós, Hernandez.
Posso apreciar uma mulher bonita, mesmo sabendo que ela pertence a outra
pessoa.
— Eu não...
— Está escrito em seu rosto. Além disso, a Hailee e a Flick conversam.
Muito.
— Elas falaram sobre...
— Elas não fariam isso, não. Mas às vezes, eu ouço coisas... vejo coisas
— ele disse de forma enigmática. — Quem quer que seja, ele não te merece.
— E o que te faz dizer isso? — Levantei o queixo pronta para defender
Jermaine. Acho que alguns hábitos são mais difíceis de abandonar do que
outros.
— Porque ele deixou você fugir. E se você fosse minha, eu iria atrás de
você até os confins da Terra antes de desistir.
Meu.
Coração.
Parou.
De bater.
— E dito isso — Asher sorriu, com um traço de vulnerabilidade em sua
expressão. — Eu vou sair sozinho. Até amanhã, Mya Hernandez.
Observei enquanto Asher se afastava, tentando descobrir com o que eu
me sentia mais confusa: que Asher me chamou de bonita, ou que suas
palavras de despedida soaram muito como uma promessa.

UMA HORA DEPOIS, eu estava ocupada no fogão quando a porta da frente


bateu.
— Mya? — A voz da minha tia soou pelo corredor.
— Na cozinha — gritei em resposta, mexendo a panela com o molho de
tomate.
— Aah, estou sentindo um cheiro gostoso.
— É espaguete. — Olhando para trás, sorri. — Como foi seu dia?
— Meus pés estão dez graus mais quentes do que o inferno, mas vou
sobreviver. Você colocou um pouco daqueles pimentões que eu gosto?
— Sim.
— Boa menina. Eu te ensinei bem.
Fazer o molho de tomate extra picante foi uma das primeiras coisas que
tia Ciara me ensinou quando cheguei. Tudo sobre minha tia, seu um metro e
cinquenta e sete, seu corpo pequeno e olhos brilhantes gritavam doçura. Mas
Ciara Hernandez gostava de sua comida picante.
— Encontrei a sra. Clements. Ela disse que você recebeu uma visita.
Minha coluna endureceu com a desaprovação em sua voz.
— Um amigo me deu uma carona para casa, sim.
— E esse amigo também entrou?
— Tia C, tenho dezoito anos. — Mantive a calma, oferecendo a ela um
sorriso apaziguador. — Não pensei que seria um problema.
— Ela também disse que achava que ele era um jogador de futebol. —
Ela ergueu a sobrancelha, com a voz repleta de acusação.
— Asher joga pelo time, sim.
— Mya, garota, não me diga que você trouxe aquele menino Bennet para
minha casa.
— Ele é só um amigo.
— Sim, e foi sua amizade com Jermaine que te trouxe aqui. Você
realmente quer...
— Isso não é justo — falei, mas senti o peso de suas palavras pesar no
meu peito.
Ela estalou a língua.
— Esses Raiders são problema. Andam por esta cidade como se fossem
donos do lugar. Não tenho certeza se gosto da ideia de você ficar com um
deles.
— Não estou namorando ninguém. Caiu uma tempestade. Ele me
ofereceu uma carona para casa e pareceu rude simplesmente mandá-lo
embora, então eu o convidei para entrar. Não é grande coisa.
A expressão de tia Ciara suavizou quando ela olhou para o teto, sem
dúvida pedindo ao Senhor por orientação. Quando ela pousou os grandes
olhos em mim, disse:
— Sei como é difícil para você, Mya. Já passei por isso, se lembra? Já
percorri o caminho que você anda agora, só que eu não tinha ninguém para
me apoiar ou me guiar. Você está aqui para terminar o último ano, tirar seu
diploma e entrar em uma boa faculdade. Para deixar sua vida em Fallowfield
Heights para trás. Você é uma jovem brilhante e tem um futuro igualmente
brilhante pela frente, mas precisa se manter no caminho certo.
— Foi só uma carona para casa, tia.
— Uma carona para casa com um atleta branco que pensa que pode ter o
que quiser, quando quiser, sem consequências.
— Tia, isso não é...
— Eu sei o que parece. — Ela suspirou. — Mas é a verdade, quer você
queira ouvir ou não.
Não adiantava discutir com ela. Tia Ciara era uma mulher desprezada,
com o coração ainda ferido pelo jovem que lhe prometeu o mundo e não lhe
deu nada além de mágoa.
— Não escolho meus amigos com base na cor da pele deles, tia C. Não
sou assim.
— E eu não gostaria que você fizesse tal coisa. Você é melhor que isso.
Mas as linhas se borram muito facilmente, Mya. E garotos como aquele
Asher Bennet e seus amigos do futebol estão acostumados com as pessoas
caindo aos pés deles.
Voltei a mexer o molho de tomate.
— Somos apenas amigos — repeti.
Mas cada vez que eu dizia essas palavras, a mentira se enrolava um pouco
mais forte em meu coração. Porque eu não tinha certeza se Asher e eu éramos
apenas amigos. No entanto, eu sabia que nunca poderíamos ser mais.
Então, onde isso nos deixava?
QUATRO
Asher
— FEE, baby, podemos conversar? — Corri ao lado de Felicity, rindo quando
ela arregalou os olhos para mim. — Calma, o Jase está no ginásio. Ele nem
precisa saber. — Com uma piscadela, coloquei o braço em volta do ombro
dela.
— Asher! Você não pode fazer isso. Se o Jason vir... você sabe como ele
fica com ciúmes. — Ela bateu no meu braço e ele caiu, bem como minha
bravata.
— Então é assim, hein? — Fiz beicinho de forma dramática. — Tudo
bem. Vou ter que assediar a Hailee. Pelo menos, ela não vai...
— Eu não disse que não podíamos conversar. — Felicity sorriu. — É só
que o Jason está realmente preocupado com o jogo. Estou preocupada com
ele.
— Thatcher está fora do time. Não há nada com que se preocupar.
— Eu sei disso, e você também, mas o Jason é...
— Jason — completei, sem precisar de mais explicações. — Vou falar
com ele.
— Obrigada. Tentei ajudá-lo ontem à noite, mas ele não queria saber.
— Tem certeza de que estava fazendo certo? — Fiz uma careta, lutando
contra um sorriso. — Porque não é tão difícil, Fee, baby. Você só coloca o
p...
— Asher, pare! — ela gritou, batendo no meu peito e sua risada baixa me
atingiu. Há pouco tempo, eu me esforçava muito para ouvir aquele som. Mas
isso foi antes de perceber que ela estava destinada a ficar com meu melhor
amigo. Agora, eu a amava como uma irmã.
E eu precisava de um favor de irmã.
— O que você quer? — ela perguntou, trocando alguns livros em seu
armário.
— Bem, isso vai soar estranho, mas não tenho ninguém para perguntar.
— Certo. — Ela franziu o cenho enquanto olhava para mim.
— É sobre a Mya.
— Ah, não, não, nada disso. — Ela fechou o armário. — Não vou entrar
no meio de qualquer coisa esquisita que esteja acontecendo com vocês.
Coisa esquisita?
— A Mya disse algo para você sobre mim?
— Eu não te contaria se ela tivesse dito. Ela é minha amiga. E você é... —
Felicity hesitou.
— Seu amigo também? — Sorri.
— Bem, sim, mas é diferente. Você é o melhor amigo do meu namorado.
E a Mya é uma das minhas melhores amigas. Não posso ficar no meio disso.
Seja o que for.
— Eu preciso saber o que aconteceu com o ex dela.
— Ah, droga, não, Asher Bennet — sua voz se elevou novamente, mas
Felicity controlou seu pânico rapidamente. — Você não pode me perguntar
isso. — Ela segurou meu braço, me puxando para o armário e buscando um
pouco de privacidade no corredor vazio. — Que tipo de pergunta é essa?
— Bem, achei que era uma pergunta perfeitamente razoável até que você
ficou louca comigo. — Sorri, porque deixar as coisas leves era meu
comportamento padrão. Mesmo que eu quisesse sequestrar Felicity e mantê-
la como refém até que ela me contasse todos os pequenos detalhes sobre Mya
e seu ex.
Ela recuou, me observando.
— Aconteceu alguma coisa entre vocês dois?
— Não tenho ideia do que você está falando.
— Asher...
— Tudo bem. Posso ter deixado escapar que a achei linda. Sim, posso ter
dito isso.
Puta merda.
Me senti como um idiota admitindo isso. Mas se alguém iria entender, era
Felicity Giles.
— Entendo.
Semicerrei os olhos.
— O que isso significa?
— Eu, humm, nada. Não significa nada. — Ela apertou os lábios e não
gostei do olhar cauteloso em seus olhos. — O que ela disse?
— Ela me expulsou da casa de sua tia mais rápido do que você pode dizer
“Vai, Raiders”.
— Isso é a cara da Mya.
— Então — me joguei contra o armário —, preciso saber o que aconteceu
entre eles.
— Por quê?
— Porque preciso saber o que estou enfrentando aqui.
— Você gosta dela — ela brincou. — Gosta mesmo dela.
— Você está surpresa? — Arqueei a sobrancelha.
— Não, quero dizer, a Mya é linda e você é... bem, você é você. —
Felicity arregalou os olhos e olhou ao redor como se estivesse preocupada
que Jase pudesse aparecer a qualquer segundo. — Mas não achei que fosse
nada sério.
Ignorando suas palavras, eu disse:
— Estou lisonjeado por você pensar que sou lindo, Fee, mas esse navio
partiu.— Meu sorriso se desfez e meu coração foi junto com ele.
Jesus, eu estava confuso.
Eu gostava da Mya, não havia como negar.
Mas meu coração não conseguia se esquecer da primeira garota por quem
senti algo.
Algo real.
— Asher... — A tristeza tomou conta dela.
— Ei, está tudo bem, certo? — Dei a ela um sorriso tranquilizador,
voltando meu charme fácil. — Somos amigos e você está com o Jason agora.
Tudo aconteceu como deveria, mas preciso que você me ajude.
— Com a Mya.
Assenti.
— Não tenho certeza se ela está procurando algo agora. As coisas com o
ex terminaram mal e... — A culpa brilhou nos olhos de Flick. — Já falei
demais.
Na verdade, ela não disse o suficiente.
— Ouça, você pode me ajudar ou posso descobrir sozinho.
— Por que isso é tão importante para você? — Felicity olhou para mim
como se eu tivesse perdido a cabeça.
E me ocorreu que talvez eu tivesse mesmo.
Mas vi algo em Mya, sentia toda vez que estava perto dela. Não
conseguia explicar, mas também não podia simplesmente ignorar.
Especialmente depois que meus dois melhores amigos se apaixonaram.
— Você gosta mesmo dela, ou isso é só um jogo, porque eu não...
— Vamos, Flick, você me conhece. Eu gosto dela, tá? Há algo nos olhos
dela... — Eu engoli as palavras, percebendo o quão estúpido soei. — Ela
alguma vez falou sobre mim?
— Eu...
— Merda, não responda a isso. — Eu obviamente interpretei mal a
situação. Muito bem, idiota.
— Quer meu conselho? — Felicity perguntou.
— Sempre.
— Não force. Se for para ser, as coisas vão encontrar um jeito de se
resolver. E se não for para ser, vocês ainda podem ser amigos. Além disso,
não é como se a Mya fosse ficar aqui para sempre. Em algum momento, ela
vai ter que ir para casa e depois vai para a faculdade.
Meu peito se apertou com isso. Eu realmente não tinha pensado muito no
que aconteceria no futuro. Estava focando só no que aconteceria agora.
Ou no que eu queria que acontecesse.
— Você não pode escapar do destino — falei com convicção arrogante,
ganhando uma risadinha de Flick.
— E você e a Mya estão destinados a ficarem juntos?
— Está escrito nas estrelas, baby. Ela está fugindo de seu passado. Eu
estou... — Merda. Engoli as palavras, mas não havia como evitar o olhar
questionador de Felicity.
— Você está o quê?
— Nada. Obrigado pela ajuda. Te vejo mais tarde?
— Mais tarde? — Seu rosto empalideceu.
— Sim, vocês ainda vão vir, certo? Achei que íamos ter uma noite de
cinema. — E como eu era o único que tinha um cinema, geralmente íamos
para a minha casa.
— Eu...
— Vocês têm outros planos. — Meu peito se apertou.
— É só que com este jogo de exibição e Jason andando por aí como um
urso com dor de cabeça, eu queria fazer algo para animá-lo.
— Ei, você pode se animar na minha casa... eeee você não quer dizer esse
tipo de animação. Você quer dizer transar para se animar.
— Asher! — A pele ao longo de seu pescoço ficou rosa.
— Tudo bem. Vá animar o seu cara. Acho que vou me contentar com a
Hailee e o Cameron.
— Humm... — A culpa brilhou em seus olhos, e eu gemi.
— Me deixe adivinhar. A coisa da transa para se animar vem depois de
um encontro duplo?
— Simplesmente não pensamos que você gostaria...
— Entendo. Ninguém gosta de segurar vela. Bem, divirtam-se. — Eu não
queria soar tão amargo quanto soei. Mas, puta merda, doía ser deixado por
seus melhores amigos na noite de casais.
— Tenho certeza de que estaria tudo bem se você viesse conosco.
— E atrapalhar vocês? Não, tudo bem. — Forcei um sorriso. — Vão se
divertir. Eu vou ficar bem.
— Tem certeza? Fiz reservas naquele novo restaurante na periferia da
cidade. O pai do Jason recomendou.
— O Jason sabe disso?
— Pode ser o nosso segredo.
— Certo. — Eu já tinha o suficiente disso, o que era mais um?
— Vamos sair amanhã?
— Sim, claro. — Saiu tenso. — Divirtam-se esta noite. — Dei a ela uma
saudação de dois dedos e caminhei pelo corredor, me perguntando quando a
vida ficou tão complicada.
Tudo mudou no início do último ano quando Hailee e Cameron
começaram a se comer com os olhos no refeitório. Mas a verdade é que as
coisas já andavam mal para mim há um tempo. Antes mesmo que as garotas
virassem nosso mundo de cabeça para baixo.
O último ano deveria ser a melhor época de nossas vidas. Mas às vezes,
parecia um laço em volta do meu pescoço.
Empurrei a porta com o ombro e saí para o ar frio e turvo quando avistei
um borrão de cachos, jeans rasgados e botas militares.
— Ah, merda, não — murmurei enquanto cruzava o estacionamento. —
Mya, espere — gritei.
Eu não a tinha visto o dia todo e tinha certeza de que era porque ela
estava me evitando.
— Precisa de uma carona?— Eu perguntei, diminuindo o ritmo dela.
— Não, mas obrigado pela oferta. — Ela colocou os braços em volta da
cintura, apertando a jaqueta contra o corpo.
— Vamos, parece que outra tempestade está prestes a cair e sua tia mora
a cinco quilômetros daqui.
— Não sei...
— Vou me comportar da melhor maneira. Palavra de escoteiro.
— Você espera que eu acredite que você era escoteiro.
— Tudo bem, você me pegou, mas juro que não tenho nenhum motivo
oculto neste momento.
Seus olhos escuros procuraram os meus, suavizando em seguida.
— Eu não diria não para uma carona até o centro.
— Você não vai para casa?
Mya deu de ombros.
— A minha tia tem muitos amigos de olho e não estou com muita
vontade de ouvi-los fofocar. E a Flick e a Hailee vão... — ela parou.
— Tudo bem, acabei de saber. É chato sermos nós, hein?
— Melhor do que eles tentando nos levar a um encontro triplo.
— Ai! — Uma risada estrangulada retumbou em meu peito, apesar do
quanto suas palavras machucaram.
— Merda, Asher, eu não quis dizer...
— Não se preocupe. Tenho uma carcaça dura, Hernandez. Mas, uma vez
que nós fomos surpreendidos pelos nossos supostos amigos, poderíamos, não
sei, sair? — Eu me preparei para sua rejeição.
Então, quando a palavra sim escapou de seus lábios rosados macios, eu
me surpreendi.
— Sim? — Arregalei os olhos.
— Sim, contanto que você não faça disso mais do que é.
— E o que é? — provoquei.
— Dois amigos indo tomar milkshakes no The Alley?
— Você tem um acordo, amiga.
Mya revirou os olhos como se soubesse o que se passava na minha
cabeça. Mas não havia como.
Porque se ela soubesse, eu tinha certeza de que estaria correndo para as
colinas.

— EU ADORAVA ESTE LUGAR. — Olhei ao redor do The Alley,


observando as mesas de fórmica familiares, o tilintar da máquina de
fliperama e o cheiro de comida frita.
— Por que parou de vir?
— Depois que entramos para a liga, ficou meio fora dos limites. Todo
mundo sabia que Tate, o proprietário, não suportava nenhuma besteira de
rivalidade do futebol, então evitamos.
— Por que você queria causar problemas?
— Na verdade não, mas vir aqui significava tirar a camisa e, caso você
não tenha notado, não é assim que agimos.
Ela olhou para mim. Eu tinha certeza de que seus olhos permaneceram
em meu peito um pouco mais do que o necessário.
— Você não está usando sua camisa hoje.
— As coisas estão diferentes agora que a temporada acabou. — As
palavras saíram tensas enquanto conduzia Mya até uma mesa.
— Mas tem o jogo.
— Sim, mas não é como o Estadual. Havia muito em jogo antes.
Tínhamos muito a provar. Este jogo é só uma maneira de o diretor Finnigan e
o diretor Castrol parecerem bem na frente da imprensa. Finnigan quer limpar
nossa reputação desde que foi transferido para cá e isso lhe dá uma
plataforma para executar seu plano.
— Acho que nunca vou entender como uma cidade pode ser tão obcecada
por futebol. — Mya pegou um cardápio e me vi perdido na maneira como ela
o analisava enquanto seus grandes olhos castanhos corriam pelo cartão
laminado, brilhando de interesse.
— Pare. — Ela soltou um pequeno suspiro.
— Parar o quê? Eu não estou fazendo...
— Posso sentir você me observando. — Seus olhos se voltaram para os
meus. Tão escuros, intensos... e irritados.
— Tudo bem. Me desculpe.
— Você prometeu, Asher. — Mya colocou o cardápio na horizontal,
pressionando as mãos contra ele. — Amigos, se lembra?
— Amigos, eu sei... e por que isso de novo?
Ela soltou outro suspiro exasperado.
— Porque não estou procurando um relacionamento. E você é... — Mya
balançou a cabeça. — Simplesmente não somos compatíveis.
— Você nem me deu uma chance. Faz sentido. Você é amiga da Hailee e
da Felicity e sempre estamos saindo juntos.
— O que é só mais um motivo pelo qual não faz sentido. A Flick e a
Hailee são minhas únicas... — Mya apertou os lábios.
— Suas únicas o quê?
Inclinando-se um pouco sobre a mesa, ela sussurrou:
— Minhas únicas amigas aqui. Se tentássemos namorar, o que não
estamos fazendo, e desse errado, eu as perderia.
— Elas não me escolheriam em vez de você.
— Não, mas escolheriam os namorados. — Algo cintilou em seus olhos.
— Você está tão certa de que não daríamos certo. Por quê? — Esfreguei o
queixo, meio surpreso, meio aliviado por ela não estar encerrando a conversa.
— Olhe ao seu redor, Asher.
Franzindo a testa, olhei pela lanchonete. Alguns jovens nos observavam,
a curiosidade brilhando em seus olhos. Mas não era nada fora do normal. As
pessoas tendem a saber quando um Raider está por perto. É assim que as
coisas são em Rixon. Vinha com a responsabilidade de vestir a camisa azul e
branca.
— Caso você não tenha notado, ter um público vem com o território.
— Uau, quanta arrogância.
A risada retumbou em meu peito.
— Só estou dizendo como as coisas são. Eu não poderia me importar
menos se tivermos uma audiência. Eu só vejo você, Mya.
Seus lábios se entreabriram em um suspiro baixo.
— O quê, sem uma resposta atrevida?
— Eu não sou atrevida.
— Claro que não. — Sorri, amando nossa interação brincalhona. Mas
acabou quando o sorriso de Mya sumiu.
— Você não acha que eles estão olhando para nós e se perguntando o que
alguém como você está fazendo aqui com alguém como eu?
— Não dou a mínima para o que os outros pensam, e você também não
deveria.
— É fácil para você dizer — ela retrucou, e eu puxei o cabelo em
frustração. Mya era uma garota complicada. Tinha paredes tão altas e
reforçadas que eu não tinha certeza se conseguiria passar por elas. Mas às
vezes, ela me dava um olhar que dizia, não desista.
— Vamos, Hernandez, trabalhe comigo aqui. Não vou deixar que me
incomodem, se você não permitir que incomodem a você. Ou eu devo ir até
lá e perguntar qual é o problema deles? — Fui me levantar, mas a mão de
Mya segurou meu pulso sobre a mesa.
— Não — ela disse depressa. — Não, por favor.
— Então você vai ignorá-los?
— Eles quem? — Sua voz estava repleta de sarcasmo, mas eu aceitaria.
— Essa é minha garota — eu disse, sorrindo como o gato de Cheshire. Os
olhos de Mya se arregalaram de surpresa com meu lapso de linguagem.
Se ela soubesse a verdade. Aquilo não era um lapso. Era um teste. Uma
promessa do que estava por vir. Porque um dia, Mya Hernandez seria minha.
Ela só não sabia ainda.
CINCO
Mya
TODAS AS TERÇAS-FEIRAS, sem falta, eu falava com a minha mãe. Às
vezes, conversávamos por horas, outras, era mais rápido e se ela estivesse
chateada, normalmente encerrávamos a ligação e prometíamos conversar
novamente em breve. Mas hoje, pela primeira vez em quase doze semanas,
ela não atendeu.
— Vamos, mãe — murmurei, apertando o botão de chamada novamente.
O telefone tocou e o zumbido do tom de discagem ecoou na minha cabeça. —
Tia C, você teve notícias da minha mãe hoje?
Ela apareceu na porta.
— Ela me mandou uma mensagem há alguns dias. Não está atendendo?
— Tia Ciara olhou para o telefone na minha mão.
— Não. É terça-feira. Sempre conversamos às terças-feiras. — O pânico
me atingiu. — E se algo aconteceu...
— Respire, Mya. Respire. — Minha tia correu para o meu lado. — Tenho
certeza de que não é nada.
Então meu celular tocou.
— Viu? Não há nada para se preocupar.
— Mãe?
— Mya, mi pequeña. Lamento ter perdido sua ligação. Eu estava lavando
o cabelo e não ouvi o celular.
— Tudo bem. — Senti o alívio me envolver. Tia Ciara deu um beijo na
minha cabeça antes de me deixar sozinha. — Como você está?
— Você sabe como é, baby. Tenho que continuar trabalhando.
Enrijeci.
— Eu sei, mãe.
— Mas chega de falar de mim, me conte tudo sobre você. Como está a
escola? Você já escolheu uma faculdade?
— Ainda estou avaliando minhas opções, mas minha orientadora vai me
ajudar antes do fim das aulas.
— Isso é bom, baby, muito bom. Mi pequeña se formando no ensino
médio e indo para a faculdade. Eu não poderia estar mais orgulhosa.
— Ainda não fui aceita, mãe.
Ela grunhiu.
— Eles seriam tolos em recusar você, baby. Sempre foi inteligente.
— Então eu estava pensando... — hesitei, me preparando para sua
resposta. — Talvez eu pudesse te visitar durante as férias. Só por alguns dias?
— Mya, baby, você sabe que não é uma boa ideia.
— Não falei com ele. Ignorei todas as mensagens, assim como prometi.
Mas sinto sua falta. Sinto muito a sua falta, mãe. E de Shona e das meninas.
— Ele ainda está ligando para você?
— Manda mensagem.
— Não gosto disso, Mya. Não gosto nada disso. Talvez eu devesse falar
com o Keelan e...
— Não, mãe. Você prometeu — afirmei, o medo aparecendo em minha
voz.
— Ssh, baby. Você está certa, isso não iria acabar bem. Mas gostaria que
você mudasse o número. Terminasse com ele de uma vez por todas.
— Terminei. Acabou. — Meu peito doeu.
O silêncio se seguiu.
Um instante.
Outro.
Até que minha mãe soltou um suspiro pesado.
— Eu não queria te contar, mas você deve saber: o Jermaine largou a
escola.
— Não!
A escola era sua última esperança. O único lugar onde ele tinha pessoas
que o prendiam a algo mais que uma vida de drogas, gangues e uma morte
prematura.
Não é a única coisa. Desliguei a vozinha. Eu tentei... e falhei. Me afastar
de Jermaine foi a coisa mais difícil que já fiz, mas não era mais apenas sobre
ele. Era sobre mim também. Minha vida, meus sonhos.
Minha segurança.
— Ele está trabalhando oficialmente para Diaz.
É isso o que Shona devia ter ligado para me dizer. Jermaine estava
profundamente envolvido com Diaz e sua equipe agora.
A culpa me atingiu. Quando eu fui embora, Jermaine ainda estava na
escola. Ele ainda tinha uma chance. Mas se ele havia se envolvido com a
equipe de Diaz, não haveria saída fácil agora. Meus olhos se encheram de
lágrimas quando me lembrei de nossa última conversa, logo antes de minha
mãe me mandar para Rixon.
— Puta merda, Mya, você não deveria estar lá... você não deveria se
machucar. — Ele tentou segurar meu rosto, mas recuei, protegendo minha
bochecha machucada com a mão.
— Não me toque — gritei trêmula, sentindo a dor irradiar de várias
partes do meu corpo.
— Mas eu preciso de você... preciso de você, Mya. Eu sempre preciso de
você.
— Então pare — chorei. — Saia antes que seja tarde demais. Keelan
disse que lhe daria um emprego.
— Recolhendo copos no bar? — ele zombou. — Não posso fazer isso,
Mya. Eu tenho uma reputação para proteger.
— Faça isso por mim, J. Por nós. Não posso ficar parada vendo você
fazer isso consigo mesmo, não mais. Olhe para você. Olhe para mim. O que
acontecerá na próxima vez que der errado? O que acontecerá quando não
for o punho de alguém, mas um taco ou... arma.
— Não, baby. Isso não é uma merda, é só um pequeno aviso.
— Um pequeno aviso? — ofeguei, sentindo o ar deixando meus pulmões
em uma respiração dolorosa. — Eles me seguraram enquanto batiam em
você. E depois...
— Mya, mi pequena? — A voz de minha mãe me tirou dos meus
pensamentos e eu limpei os olhos, tentando me recompor.
— Ainda estou aqui. — Forcei as memórias de volta em sua caixa,
fechando-a com força. — Pense nas férias, está bem, mãe? Eu poderia passar
alguns dias e ficar em casa. A Shona poderia ir me visitar. Ou talvez você
pudesse vir aqui?
— Você sabe que não posso, baby. — A tristeza soou em sua voz.
— A Tia Ciara não se importaria. Na verdade, tenho certeza de que ela
adoraria te ver...
— Mya, chega. O Keelan está me ligando na outra linha, preciso desligar,
baby. Mas se cuide, está bem? Nos falamos em breve. Eu te amo.
— Também te amo, mãe. — Disfarçando o desânimo, encerrei a ligação e
apertei o celular contra o peito.
As coisas estavam péssimas. Tudo porque me apaixonei pelo garoto
errado. As pessoas diziam que a gente só precisa de amor. Mas estavam
errados.
Muito errados.
O amor nem sempre era o suficiente para salvar alguém. Duas pessoas
podem se amar de todo o coração e ainda assim pode não ser o suficiente para
fazer seu relacionamento dar certo.
Jermaine Kingston pegou meu coração e prometeu mantê-lo seguro. Mas
ele falhou comigo. E algo me disse que se eu desse uma chance para Asher,
ele também me machucaria. Mesmo que não quisesse.
Meu coração foi despedaçado uma vez.
Eu não tinha certeza de que sobreviveria a outro desgosto.

— AÍ ESTÁ VOCÊ — Felicity disse na manhã de sexta-feira enquanto eu


entrava no prédio. — Eu estava começando a pensar que você estava me
evitando.
— Eu só precisava de um pouco de espaço.
— Posso ajudar em alguma coisa? Porque se o Asher...
— Não é o Asher — falei um pouco rápido demais. — Acho que estou
com saudades de casa, já que estamos quase nos feriados.
— Você vai ver sua mãe?
— Eu quero, mas ela não quer que eu volte.
— Por causa do Jermaine?
Assentindo, tirei meu boné e coloquei-o na mochila.
— Ela está preocupada que eu volte aos velhos hábitos.
— Mas você não faria isso, certo?
— Eu e o Jermaine terminamos, mas os sentimentos não se apagam
simplesmente, Flick. Não posso dizer com certeza como eu agiria se o visse
novamente. Eu descobri que ele largou a escola.
— Sinto muito.
— Tudo bem. Isso significa que ele está ainda mais envolvido com o
bando agora. Acho que ele estava esperando que eu partisse... — parei,
avistando Asher e os caras do outro lado do corredor.
— Conversamos depois. — Ela deu um pequeno aperto na minha mão,
sorrindo enquanto Jason caminhava em sua direção.
— Oi. — Ele a beijou profundamente, pressionando as costas dela nos
armários.
— Mya — Cameron me cumprimentou. — Como vão as coisas?
— Bem, obrigada. E você?
— Não posso reclamar.
— Asher — falei, percebendo que ele não fez nenhum esforço para dizer
olá.
— Oi. — Ele mal olhou para mim.
Felicity e Jason finalmente se separaram, e ela me lançou um olhar de o
que houve? Dei de ombros.
— Felicity disse que você não veio com ela de novo. — Jason olhou para
mim.
— Ela disse, não é?
Minha amiga arregalou os olhos e a culpa brilhou nos olhos castanhos.
— Eu... ops.
— Não é grande coisa.
— O tempo está piorando. Você não pode confiar no ônibus escolar e não
gosto da ideia de você andar todo esse caminho sozinha.
— Eu... agradeço sua preocupação. — Isso era muito estranho. — Mas
sou uma garota crescida, posso cuidar de mim mesma.
— Ah, eu não duvido. — Jason deu uma risadinha. — Mas isso está
preocupando minha garota, então vá com ela ou encontre outra carona.
— Jason! — Felicity gritou, murmurando um pedido de desculpas
silencioso para mim.
— Vamos ficar na sua casa hoje à noite? — Jason perguntou a Asher.
— Pode ser — ele resmungou.
— O que há de errado com você?
— Nada. — Ele sorriu, mas não atingiu seus olhos.
— As aulas estão quase acabando e você está agindo como um idiota.
— Sabe de uma coisa? Vá se foder, Jase. — Asher se virou e saiu pelo
corredor.
— Legal, cara, muito bom. — Cameron olhou de soslaio para Jason, que
franziu a testa.
— Estou me esquecendo de algo? Porque fiz uma pergunta simples.
— Jason — Felicity colocou a mão no peito do namorado. — Vá com
calma com ele. Foram semanas difíceis e acho que ele ficou magoado porque
não o convidamos na outra noite.
— Humm, vocês também não me convidaram — falei.
— Bem, sim — Felicity disse. — Não queríamos que vocês achassem
que estávamos tentando empurrar um para o outro.
— Eu entendo e, honestamente, não me importo. — Eu me importava um
pouco. Mas nunca iria admitir isso para eles. — Mas o Asher, sim. Ele
perdeu os dois melhores amigos e a garota que ele queria, então sim, dê uma
folga para ele.
Jason grunhiu enquanto Felicity ofegou. Mas foi Cameron quem falou.
— Você realmente acha que ele está chateado?
— Ele está chateado com alguma coisa, e aposto que ele se sente
excluído.
— Mas nós não...
— Se você vai tentar dizer que não o excluiu, está mentindo para si
mesmo. E eu te entendo, entendo mesmo. Mas se coloque no lugar dele.
Os três olharam para mim como se eu tivesse uma segunda cabeça.
— Certo, o papo foi bom. Te vejo na hora do almoço? — perguntei a
Felicity, que assentiu com a boca ainda aberta.
Eu não tinha a intenção de defender Asher, mas algo no desânimo
gravado em sua expressão me atingiu bem no peito. Ele se perdeu de repente,
tentando encontrar seu novo lugar no mundo. Algo com que eu podia sentir
empatia.
Mas eu não queria ter um terreno comum com o jogador de futebol com
um sorriso perigoso. Porque isso nos conectava. Eu tinha certeza de que ele
sentia o mesmo. Mas se soubesse que eu também me sentia assim, usaria isso
contra mim.
E eu não tinha certeza se poderia continuar a resistir ao seu ataque.
Não o procurei de propósito, mas quando entrei na biblioteca onde estive
escondida nos últimos dias, lá estava ele.
— Que bom ver você aqui — sussurrei, me sentando no assento ao seu
lado.
— Precisava de um pouco de espaço e pareceu uma boa opção.
Sufoquei uma risada.
— O que é engraçado? — Seus olhos se viraram para os meus.
— Onde você acha que estive escondida nos últimos dois dias?
— Aqui?
Assenti.
— Não me diga. Acho que somos mais parecidos do que você acredita.
Nos sentamos em um canto isolado da biblioteca em um silêncio
confortável. Depois de alguns minutos, peguei meu bloco de notas e comecei
a rabiscar.
— O que está fazendo? — Asher se inclinou, a cabeça quase tocando a
minha enquanto me observava esboçar.
— Nada demais. Só acho isso reconfortante.
— Você é uma artista?
— Deus, não. A Hailee é. Eu só gosto de rabiscar.
— É legal — ele disse. — Me lembra arte de rua. Você sabe, o tipo de
grafite em prédios abandonados e placas de trânsito?
Minha pulsação disparou.
— Sei.
— Ele te ensinou, não é? — ele perguntou baixinho.
Levantei os olhos.
— Como você faz isso? Sabe o que estou pensando sem nem mesmo
falar?
— Eu te conheço, Mya, mesmo que você ache que não.
O ar ao nosso redor crepitava, espesso, pesado e vivo.
— Asher, eu... — Engoli o nó na minha garganta.
— Qual o nome dele?
— Jermaine — resmunguei.
— Está tudo acabado entre vocês?
Assenti.
— Você ainda o ama?
— Amo. — Um suspiro de dor saiu dos meus lábios. — Acho que uma
parte de mim sempre vai amá-lo.
— Mas não está apaixonada por ele?
— N-não.
Asher se aproximou mais. Tanto que pude sentir o calor de sua
respiração.
— Posso trabalhar com isso.
Ele passou a mão ao longo do meu pescoço, provocando meus cachos.
Minha cabeça sabia que era uma má ideia e estava gritando para que eu o
detivesse. Mas meu coração machucado e maltratado, ansiava por atenção.
Ansiava por sua atenção.
Os lábios de Asher pairaram sobre os meus e senti meu coração batendo
forte no peito. Tum. Tum. Tum.
— Mal posso esperar para te provar, Mya. — Sua voz estava cheia de
luxúria, suas palavras misturadas com intenção.
— Asher — curvei os dedos em seu moletom. — Beijar...
— Sr. Bennet — a bibliotecária, sra. Hegarty, o chamou. — Esta é uma
biblioteca, não a sua cabana de paquera pessoal.
Ele afundou na cadeira, apertando a ponte do nariz enquanto soltava um
longo suspiro.
— Srta. Hernandez, estou muito surpresa — ela disse como se não tivesse
percebido que era eu quando se aproximou de nós.
— Sinto muito, sra. Hegarty. Não vai acontecer de novo.
— Sim, sinto muito, sra. H. A culpa foi minha, não da Mya.
— Ah, eu não duvido, sr. Bennet. Agora, se você não está aqui para
estudar... — Seu olhar desanimado se voltou para as portas atrás de nós.
— Estaremos fora de seu caminho em um minuto.
— Ótimo. — Ela se virou e desapareceu atrás das pilhas de livros.
— Bem, não foi assim que imaginei — Asher falou, mas eu estava muito
obcecada pelas palavras da bibliotecária.
— O que ela quis dizer? Sua própria cabana de paquera pessoal?
— Foi nisso que você focou? — Asher me olhou boquiaberto.
— Você traz muitas garotas aqui?
— Está brincando comigo? Você me seguiu até aqui.
— Eu não... não importa. — Peguei a mochila. — Tenho que ir.
— Mya vamos lá, vamos conversar sobre o que acabou de acontecer.
— Nada aconteceu. — Eu me levantei, mas Asher segurou minha mão.
— Vou deixar você fugir... por enquanto. — Ele alisou a curva de meus
dedos com o polegar, e eu suprimi um arrepio. — Mas essa coisa entre nós
dois é só uma questão de tempo.
Eu me afastei e não olhei para trás. Mesmo que sentisse seus olhos
queimando em mim a cada passo do caminho.
SEIS
Asher
— POR QUE É que a sua casa está cheia de gente? — Jason questionou.
— É bom te ver também, cara.
— Achei que seríamos só nós seis.
Meus olhos foram para onde Hailee e Cameron estavam cumprimentando
Felicity, que parecia muito confusa.
— Era, mas então meu pai ligou e disse que eles não poderiam vir para
casa, então... central de festas ao seu serviço.
— Você está bem? — Ele me olhou com atenção. — Você parece...
nervoso.
— Eu? Estou bem. Nada que uma pequena dose de tequila não consiga
resolver. Estou certo? — gritei e a casa explodiu em aplausos enquanto as
pessoas erguiam seus copos e garrafas de cervejas, balançando as mãos como
se estivessem em um show do Black Hearts Still Beat.
— Poderia ter nos avisado. Prefiro não entreter as massas esta noite.
— Ainda está chateado com o jogo de exibição?
— Só achei que seria algo tranquilo. Nós três e as garotas. — Seus olhos
se voltaram para onde Flick estava.
— Está acontecendo algo com vocês dois? — perguntei. Ele parecia
desligado e se não fosse o jogo, restava poucas coisas. Felicity estava no topo
da lista.
— Nada, estamos bem.
Como se tivesse ouvido seu nome, Flick veio até nós, acomodando-se ao
lado de Jason.
— Isso é... uau. Eu não esperava isso hoje.
— As aulas pararam para as festas. É quase ano novo. A formatura está
chegando. O que não há para comemorar? — Dei de ombros.
— Você está bem? — ela semicerrou os olhos para mim.
— Caramba, o que está acontecendo com vocês? Um cara não pode ficar
empolgado com as férias?
— Asher — Felicity se aproximou de mim, colocando a mão no meu
braço. — Você pode falar conosco se houver algo errado.
Só então a porta da frente se abriu e outro grupo de pessoas entrou.
Estava ficando turbulento, mas eu não tinha considerado as consequências
após a conversa tensa com meu pai. Suas palavras de despedida foram para
manter as coisas respeitáveis se eu fosse receber amigos em casa. Mas tudo
que ouvi foi, “dê a maior festa que você puder”. Porque isso – me rebelar
contra suas ordens – era a única maneira de manter um mínimo de controle
sobre a minha vida. Mas ninguém sabia disso. Porque eu era a porra do Asher
Bennet.
Sr. Popular.
Atleta habilidoso.
Paquerador notório.
E brincalhão persistente.
Eu era a vida e a alma da festa. Não a esponja divertida, absorvendo os
bons momentos e deixando o clima para baixo.
— O dever me chama — eu disse aos meus amigos, incapaz de suportar
seus olhares de preocupação por mais um segundo.
Esta noite era para comemorar.
Tratava-se de ficar bêbado e me divertir.
Mas, acima de tudo, era sobre me comprometer com o homem que eu
chamava de pai e o futuro que ele havia planejado para mim.

— VOCÊ NÃO ACHA que já bebeu o suficiente?


Cameron olhou para o copo em minha mão, e eu o levantei. Álcool caía
pelas laterais. Vodca, tequila, uísque... já não sabia o que estava bebendo.
— Oops — solucei antes de engolir o resto. — Agora bebi o suficiente.
— Limpando a boca com as costas da mão, forcei os olhos para ver melhor.
Tudo estava girando.
Uau.
Por que é que tudo estava girando?
— Talvez seja hora de...
— Festa! — gritei, agarrando a pessoa mais próxima a mim e levantando
os braço. A risada de uma garota soou bem perto.
— Oi, Asher — ela falou.
— Oi... ah...
— Lucy.
— Lucy, oi. —Sorri, ativando o encanto Asher Bennet. — Que tal eu e
você...
— Certo, isso é o suficiente. — Um braço pesado pousou no meu ombro,
me puxando para longe da bela loira e me levando pelo corredor.
— Ei, cara, eu estava prestes a...
— Dar em cima da namorada do seu companheiro de equipe?
— Merda, era a Felicity? Eu não...
— Jesus, quanto você bebeu? Não era Felicity, era a Lucy, namorada do
Peterman.
— Puta merda — murmurei.
— Sim, puta merda. — Cameron me empurrou para o banheiro nos
fundos da casa. Tropecei e coloquei as mãos na cabeça.
— Está tudo girando.
— Não estou surpreso. Pronto para me dizer o que está acontecendo?
— O que você quer dizer?
— A festa. Você está bebendo o que tem no armário do seu pai como se
estivesse em uma missão unilateral para fazer uma lavagem estomacal.
— Estamos comemorando.
— Você realmente espera que eu acredite nisso? Eu te conheço, Asher, e
alguma coisa está acontecendo.
— Você acha que conhece... — resmunguei, balançando de leve. Apoiei a
mão na parede, me firmando. — Você não tem ideia de como é às vezes.
— Então fale comigo, cara. Estou bem aqui.
— É meu... — Fui até o vaso sanitário e levantei a tampa bem a tempo de
esvaziar o conteúdo do meu estômago.
— Vou pegar um pouco de água para você. — A porta se abriu e fechou
conforme Cam me deixou cuidando do enjoo e do meu orgulho no piso caro.
Depois de dar descarga, consegui pegar uma toalha do suporte e abrir a
torneira. Limpei o rosto e me deitei enquanto o cômodo girava ao meu redor.
Quando a porta se abriu novamente, estendi a mão, sem me preocupar em
abrir os olhos.
— Aqui.
Merda.
Não era Cameron.
— Obrigado. — Peguei a garrafa de Mya e me sentei. A água tinha um
gosto horrível, mas acalmou minha garganta.
— Quando você chegou? — Mya não veio com Felicity e eu não a vi a
noite toda. A não ser que...
— Já estou aqui há muito tempo.
Puta merda.
— Quer falar a respeito?
— É por isso que o Cameron te mandou aqui? — Olhei para ela. — Para
tentar arrancar a verdade de mim?
— Não, eu me ofereci para vir.
— Por quê? Não sou nada para você, certo?
— Asher, isso não é justo. — Mya se sentou na beirada da banheira.
Meus amigos não moravam em casas como a minha. Casas com excesso
de banheiros, quartos de hóspedes e jet skis no lago. Mas a inveja deles era
besteira, porque não sabiam que tudo tinha um preço.
Algo que nunca pedi para pagar, mas fui obrigado.
— Não? Bem, a vida não é justa. — Fechei os olhos, levando a mão à
cabeça e esperando que o lugar parasse de girar.
— O que vou fazer com você? — Mya parecia estar mais perto. Senti
seus dedos na minha testa, afastando o cabelo do meu rosto.
Abri os olhos e segurei seus dedos.
— O que você está fazendo? — gritei, odiando que soasse como um
cretino ingrato. Mas seu toque era como criptonita, me acertando bem onde
doía mais: meu coração.
— Só porque não podemos ficar juntos, não significa que não me importo
com você. Agora pare de ser um idiota teimoso e me deixe te ajudar.
Mya me puxou com gentileza até que eu me sentasse. Eu ainda estava
enjoado, mas pelo menos o banheiro não estava mais rodando.
— O Cameron e o Jason devem me odiar, hein?
— Te odiar? — Seus olhos castanhos suavizaram. — Esses caras te
amam como um irmão. Você tem sorte de tê-los.
— Certo, esse sou eu, Asher Sortudo Bennet.
Merda, eu já tinha ouvido isso muitas vezes ao longo dos anos.
Você tem sorte de ter essa vida. Essa casa e tudo o que vem com ela.
Não seja tão sensível, Asher, você tem sorte de ter pais que podem cuidar
de você.
Você tem sorte de eu permitir que você jogue futebol.
— Aconteceu alguma coisa, Asher? Porque as coisas que você está
dizendo não estão fazendo nenhum sentido.
— Bebi a maior parte do que tinha no armário bar do meu velho. Eu nem
sei que dia é hoje.
Mentiras.
Era tudo mentira. Eu sabia exatamente onde estava, que dia era e quem
estava aqui comigo. Mas não queria que Mya visse através da minha fachada.
Que visse além do cara que todos amavam.
Porque eu sabia que ela poderia não gostar do que encontraria.
— Vamos, acho que a festa acabou. — Mya se levantou e estendeu a
mão, esperando que eu a pegasse.
No segundo em que nossa pele se uniu, eu senti. A eletricidade. A
conexão. Ela fervia entre nós. Enganchando meu braço em volta de sua
cintura, eu a puxei em minha direção e pressionei a cabeça na dela.
— Me diga que você não sente isso.
— Asher... — Mya fechou os olhos enquanto respirava fundo.
— Me diga.
— Eu... eu sinto. — Ela parecia muito resignada. Muito triste. — Mas
isso não muda nada.
— Porque eu sou branco? Porque você acha que eu ligo para isso?
— Não é só isso, não. Viemos de mundos diferentes, Asher. Eu não
tenho... nada, e você tem tudo.
Fechei os olhos, engolindo a amargura. Ela não entendia. Ninguém
entendida. Porque, aparentemente, eu tinha uma bela casa, pais ricos e a
camisa dos Raiders nas costas. Eu deveria ser grato. Não poderia conhecer as
dificuldades.
Recuando para olhá-la nos olhos, soltei um suspiro pesado.
— Achei que você, dentre todas as pessoas, poderia ignorar essas coisas.
Achei que você pudesse me ver.
— Você está falando em enigmas, Asher, e seu hálito está podre. — Mya
pressionou as mãos no meu peito enquanto o canto de sua boca se curvava
em um sorrisinho. Mas eu sabia que ela não estava me afastando porque eu
estava com bafo de vômito, ela estava me mantendo a uma distância segura.
— Não estou — sussurrei. — Você só precisa olhar com mais atenção.
— Você acha que pode ficar de pé? — Mya me perguntou, e eu sorri.
— Não estou caindo aos seus pés... ainda.
— Mesmo bêbado, você é insuportável. Espere aqui, tá? Volto já.
Satisfeita por eu estar encostado na bancada, Mya abriu a porta e saiu
para o corredor. Parte de mim se perguntou se ela estava fugindo, ficando o
mais longe possível de mim. Mas a outra parte, a que se apegou à ideia de
haver um nós um dia, dificilmente se surpreendeu quando ela reapareceu.
Ela sentia nossa conexão.
Mya sentia essa coisa crescendo entre nós.
Eu só precisava fazer com que ela visse que valia a pena apostar.
— Jason e Cameron vão acabar com a festa. Vamos...
— Está tentando entrar no meu quarto, Hernandez? — Olhei para ela com
um sorriso preguiçoso. Ela revirou os olhos sem me dar uma resposta.
Achei que era melhor do que uma rejeição.
Com a mão em volta da minha, Mya nos levou para o corredor vazio.
Felizmente para mim, conseguimos subir o segundo lance de escada menos
usado sem que ninguém percebesse.
— Qual é o seu quarto?
— Mya, sou perfeitamente capaz de chegar ao meu próprio quarto.
Ela soltou minha mão e me lançou um olhar penetrante. Dei alguns
passos, mas antes que percebesse, cambaleei e quase bati na parede.
Mas Mya amorteceu minha queda.
— O que você estava dizendo? — Havia um tom de provocação em sua
voz, mas seus olhos tinham um brilho de preocupação que eu não queria ver.
— Você nunca vai se esquecer disso, não é?
— Ah, não sei, sr. Astro do Futebol. Vamos. — Ela estendeu a mão de
novo, e eu a segurei, saboreando a sensação de sua pele contra a minha. Tão
quente. Tão macia e suave.
Tão certo que me deixou um pouco sem fôlego.
— Vou te colocar na cama — Mya falou por cima do ombro. — Portanto,
não tenha ideias.
Fazendo beicinho, eu a deixei me puxar pelo corredor até o meu quarto.
— Sabe — ela disse —, acho que nunca estive em uma casa tão grande.
— Como é a sua casa na Filadélfia?
— Não é assim, com certeza.
Mya empurrou a porta e encontrou o interruptor, mas eu falei:
— Não. Eu só quero ir para a cama e esquecer que isso aconteceu.
Ela me guiou, e eu me joguei no colchão. Sua risada divertida ecoou em
meu crânio.
— Vou pegar um pouco de água e Advil para você.
Não sei quantos minutos se passaram antes que ela voltasse, a névoa da
bebida me deixando pesado, me empurrando para a beira do esquecimento.
— Asher? — Sua voz me trouxe de volta à consciência, e eu rolei,
abrindo um olho.
— Obrigado — disse, olhando para a garrafa de água, caixa de
comprimidos e chiclete.
— Você deveria descansar. Eu vou...
— Fique, você deveria ficar.
— Asher, não acho que seja uma boa ideia.
— Você está certa, não é. Provavelmente é a pior ideia que já tive. — Eu
me apoiei nos cotovelos, tirando meus tênis.
Mya hesitou, com os olhos brilhando de indecisão. Ela queria ir, isso era
óbvio. Mas algo a fez ficar.
Caminhando até a porta, ela a fechou antes de ir para o sofá de dois
lugares encostado na parede.
— Você não vai dormir aí — eu disse, de repente me sentindo muito
acordado.
— Quem falou em dormir? Vou me sentar um pouco e verificar se você
está bem.
— Acho que as chances de eu me machucar durante o sono são muito
pequenas.
— Você pode se engasgar com o próprio vômito.
Meu estômago embrulhou, e eu fiz uma careta.
— Isso é...
— Repugnante? — Mya sorriu.
— Podemos fingir que você não me viu abraçando o vaso sanitário?
— Tarde demais — ela respondeu.
— Você está amando isso, não é? — gemi, inclinando a cabeça para trás
e respirando fundo. — Não foi assim que imaginei tudo. — As palavras
saíram baixas.
A cama afundou ao meu lado e a mão de Mya repousou no meu braço.
— O que aconteceu hoje, Asher?
Nossos olhos se encontraram.
O tempo parou.
Teria sido tão fácil dizer a ela e deixá-la ver o interior do cara com o
mundo a seus pés.
— Eu... meu pai ligou, foi uma conversa difícil.
Ela franziu o cenho.
— Você deu uma festa improvisada e ficou bêbado por causa de uma
discussão com seu pai?
— Bem, quando você diz assim... — Uma risada estrangulada saiu de
mim, mas morreu quando senti meu estômago revirar novamente. — Merda.
— Pulei para fora da cama, correndo para o banheiro adjacente ao meu
quarto, deixando Mya e todos os pensamentos sobre meu pai para trás.
SETE
Mya
— COMO ELE ESTÁ? — Felicity perguntou quando entrei na cozinha.
Jason e Cameron limparam a casa em menos de trinta minutos e agora
estavam ensacando todas as garrafas vazias enquanto Hailee e Felicity
limpavam os balcões.
— Está dormindo.
— Acho que nunca o vi assim — ela comentou.
— Vou ajudar os rapazes. — Hailee sorriu para mim antes de nos deixar
sozinhas.
— O que você sabe sobre os pais do Asher?
— Os pais dele? — Flick franziu a testa. — Eles são mega ricos. — Ela
olhou ao redor da enorme cozinha como se o valor de uma pessoa equivalesse
a eletrodomésticos de última geração e balcões de mármore novos.
— Sim, mas o que você sabe sobre eles? Tipo, por que eles nunca estão
por perto?
— O pai dele trabalha no ramo de tecnologia. Desenvolveu algum
sistema de segurança para ricos e celebridades. Acho que ele viaja muito para
fazer reuniões.
— Você realmente não sabe?
— Eu... eu nunca pensei sobre isso. As coisas sempre foram assim. Mas
eles são boas pessoas. Eles deram um quarto ao Cameron para quando ele
precisasse se afastar da família. E a sra. Bennet costumava ajudar a mãe dele
com o Xander.
Xander, o irmão mais novo de Cameron, era o garoto mais fofo que já vi,
mas não explicava nada sobre o sr. e a sra. Bennet.
— Então eles estavam por perto quando Asher era mais novo?
— Eles iam aos jogos quando podiam, mas sempre viajaram muito.
— Os dois? Isso não parece um pouco estranho para você?
— De onde vem tudo isso, Mya? O Jason e o Cameron parecem respeitar
o sr. e a sra. Bennet. Eles são pais muito legais. Se você me perguntar, Asher
tem sorte de tê-los.
Sorte em tê-los.
Asher murmurou algo semelhante. Mas ele estava tão bêbado que era
difícil decifrar o que era real e o que era conversa de bêbado.
Alguns segundos se passaram antes que Flick dissesse:
— Você acha que aconteceu alguma coisa com o pai dele?
— Não tenho certeza. O que ele falou não fez muito sentido. Ei, não diga
nada disso ao Jason, certo? Não tenho certeza se Asher vai se lembrar de algo
desta noite e não quero que pareça que estou me metendo onde não fui
chamada.
— Eu nunca...
— Eu sei.
— O que você vai fazer?
— Ainda não tenho certeza. Parte de mim quer investigar e descobrir o
que está acontecendo com ele, mas a outra parte...
— Está assustada? — Ela arqueou a sobrancelha.
— Eu não estou...
— Você gosta dele, não é?
— Felicity, vamos. Você sabe que não estou procurando por isso.
— Eu sei, mas às vezes acontece, quer você queira ou não.
— Eu não quero dar a ele uma ideia errada sobre nós.
— O Asher é um cara legal, Mya. Ele nunca iria machucar você. — As
palavras não ditas brilharam em seus olhos.
— Isso nunca poderia dar certo — falei, repassando mentalmente todas as
razões pelas quais não era uma boa ideia nos envolvermos.
— Houve um tempo em que eu teria dito a mesma coisa sobre mim e
Jason — Felicity observou.
— Sim, mas é diferente.
— É mesmo? Sei que você acha que são de mundos diferentes, mas e
quanto ao que costumam dizer, que os opostos se atraem? Quem sabe?
Talvez vocês sejam exatamente o que o outro precisa.
Olhei depressa para a porta.
— Acho que eu preciso ir para casa, minha tia deve...
— Quer um conselho? Não fuja. Esses garotos costumam conseguir o que
querem. E quer você queira ou não, acho que o Asher quer você.
Eu a olhei boquiaberta, sentindo o ar ser sugado de meus pulmões. Ele
não fez segredo do fato de que sentia algo por mim. Até me fez admitir que
também sentia. Mas tudo era muito fácil para ele ou, pelo menos, achei que
era antes desta noite. Mas agora eu não sabia o que pensar. Eu não tinha
ouvido nada a respeito do pai dele. Nada que me fizesse questionar o tipo de
infância que ele teve.
Do lado de fora, Asher Bennet tinha tudo.
Dinheiro.
Beleza.
Um futuro brilhante pela frente.
Mas todo mundo sabia que as aparências enganavam, e eu não conseguia
afastar a sensação de que havia mais nele.
Eu sabia que deveria ir embora. Me afastar e esquecer tudo sobre o
jogador de futebol com um sorriso fácil e brilho nos olhos. Mas meu desejo
de resolver as coisas conseguia deixar pra lá.
Minha mãe sempre disse que eu era atraída por coisas quebradas. Desde
que eu era uma garotinha e costumava alimentar os gatos de rua da
vizinhança. Então Jermaine apareceu com seu sorriso torto e faro para
problemas. E eu nunca quis resolver a vida de alguém tanto quanto a dele.
— Mya? — A voz de Flick me tirou dos meus pensamentos, e eu pisquei
para ela.
— Sim?
— Você está bem?
— Só estou cansada. Preciso ir.
— Você pode ficar aqui. Está tarde e não gosto da ideia de você voltar
para casa sozinha.
— Não é tão longe. — E eu já caminhei por bairros muito piores à noite.
— Me deixe perguntar ao Jason...
— Me perguntar o quê? — Ele apareceu na porta com as sobrancelhas
franzidas.
— Você pode levar a Mya até a casa dela?
— Eu posso ir andando.
— Vamos, garota durona — ele provocou. — Eu só bebi uma cerveja.
Pegar uma carona sozinha com Jason era a última coisa que eu queria
fazer, mas Flick me deu um aceno de encorajamento antes de olhar de
maneira apaixonada para ele.
— Obrigada, baby — ela disse. — Vou terminar de limpar aqui. Te ligo
amanhã. — Isso foi para mim.
Dei a ela um sorriso tenso antes de seguir Jason para fora da casa. Seu
Dodge Charger restaurado brilhava ao luar.
— Vai ficar aí a noite toda ou vai entrar? — ele perguntou.
— Você não precisava fazer isso.
— Você é uma das melhores amigas da Felicity, o que te torna minha
amiga. Agora entre no carro.
Sentindo a mandíbula apertar, abri a porta e me sentei.
— Pronto — Jason sorriu —, não foi tão difícil, foi?
Lancei um olhar penetrante, mas ele apenas riu.
O silêncio caiu sobre nós quando Jason saiu da grande entrada de carros
dos Bennet e pegou a estrada para fora da cidade.
— Presumo que a Felicity te disse onde eu moro.
— Não há muito que ela não me diga — ele falou, seco.
— Vou manter isso em mente.
— Como o Ash estava quando você o deixou?
— Desmaiou abraçando um travesseiro.
— Ele te disse alguma coisa?
— Um monte de bobagens confusas. O que você acha que aconteceu? —
Olhei para ele, me perguntando se Jason tinha suas próprias teorias e se as
compartilharia ou não comigo.
— Ele está agindo estranho há um tempo. No início, achei que fosse por
causa da Felicity. Ele gosta... gostava dela. — Jason pigarreou. — Por um
segundo, pensei que ela realmente ia ficar entre nós.
Eu me mexi de forma desconfortável no assento de couro, sentindo o
ciúme invadir meus pensamentos.
— Mas agora estou achando que não tem nada a ver com ela. — Seu
olhar duro queimou na lateral do meu rosto. — Ele gosta de você, sabia?
— É o que todo mundo fica me dizendo.
— Você não sente o mesmo?
— Eu... é complicado.
— Por causa do seu ex?
— Deixe-me adivinhar, a Felicity te disse...
— Ela não disse nada. Mas não sou idiota, Mya. Sei que você está
fugindo de alguma coisa.
Não era como se eu tentasse esconder quem eu era e de onde vim, mas
me enervava que Jason visse através de mim com tanta facilidade.
— Olha, algo me diz que o Ash não vai contar para mim ou Cam o que
está acontecendo com ele. Mas talvez ele se abra para você.
— Você quer que eu use os sentimentos dele por mim contra ele?
— Isso não é... — ele soltou um suspiro pesado. — Estou preocupado
com ele. Eu nunca o vi tão fora de controle. O Asher é como o sol em um dia
chuvoso ou algo assim. Mas hoje foi diferente. Ele estava...
— Sombrio — sussurrei.
— Sim. Não sei o que está acontecendo com ele, mas seja o que for, ele
precisa de alguém ao seu lado.
— Ele tem amigos. Tem você, o Cameron, a Felicity e o resto da equipe.
Jason resmungou:
— Mas ele sabe disso?
— Só não quero que ele tenha uma ideia errada. — Fechei as mãos,
pressionando-as na coxa.
— Não estou pedindo para você se casar com o cara. Basta ser um ombro
amigo para ele se apoiar e um ouvido para ouvi-lo. As coisas não têm sido as
mesmas entre nós e sei que ele se excluído porque o Cam está com a Hailee e
eu estou com a Felicity.
Como não respondi, ele acrescentou:
— Ele é um cara bom, Mya.
Mas esse era o problema. Asher era bom. Ele merecia uma garota que
pudesse estar cem por cento com ele. Eu não tinha certeza se poderia.
Eu não tinha certeza se queria estar.
— Você não acha que isso só pioraria as coisas para ele? — perguntei.
— O que você quer dizer?
— Não importa — bufei, indignada e irritada comigo mesma por ter
tocado no assunto. Talvez Flick estivesse certa, talvez eu estivesse fazendo
uma tempestade em um copo d’água.
Percorremos o resto do caminho em silêncio. Era uma coisa de que
gostava em Jason. Ele não sentia a necessidade de preencher silêncios
constrangedores. Também não pressionava. Ele disse o que queria e agora a
bola estava do meu lado.
Só que eu não sabia o que faria com ela.

— CARAMBA, garota, parece que um pássaro está fazendo ninho aí. — Tia
Ciara olhou meus cachos selvagens com diversão.
Ajeitei o cabelo bagunçado do sono e acenei para ela, indo direto para a
cafeteira. Tive uma noite agitada, repassando coisas na minha cabeça. A
conversa com Asher. O conselho amigável de Felicity e a estranha viagem de
volta para casa com Jason.
— Noite difícil? — minha tia perguntou.
— Algo assim. — Fiz uma xícara de café para mim e me sentei à mesa da
cozinha.
— Eu estava conversando com a Maeve ontem e ela me deu ótimas
notícias. Seu neto, Tyrese, está vindo para passar as férias. Não é ótimo?
Franzi o cenho, sentindo o sangue latejar entre minhas orelhas.
— Tyrese?
— Ele é um bom menino. Está estudando administração na UPenn. Visita
a avó sempre que pode. Estou surpresa que ele ainda esteja solteiro.
— Tia C — gemi, sem gostar de para onde a conversa estava nos
levando.
— Ah, não vá ficar todo irritada. Nós sabemos que não devemos nos
intrometer. Mas te faria algum mal vir visitá-los comigo?
Sim, faria. Já era ruim o suficiente ela ter uma opinião sobre tudo, mas
agora ela estava tentando me empurrar para o neto de sua amiga. Não poderia
ficar muito pior.
— Não vai doer para você ter outro amigo aqui, Mya — ela disse quando
não respondi.
— Eu tenho amigos.
— E tenho certeza de que eles são ótimos. Mas Tyrese é... — ela hesitou.
— Negro? — questionei, sentindo a decepção ecoar em minha voz.
— Não era isso que eu ia dizer. Mas agora que você tocou no assunto,
sim, ele é. É um bom homem afro-americano que foi criado para respeitar as
mulheres. Depois de Jermaine, ele pode ser exatamente o que você precisa.
— Tenho certeza de que ele é um bom homem. — Me levantei da mesa
devagar, deixando a cadeira arranhar os ladrilhos. — Mas não estou
interessada. — Colocando a caneca no escorredor, saí sem me preocupar em
parar ao som da voz da minha tia.
Ela foi longe demais desta vez.
Pensando que eu precisava que ela se envolvesse em minha vida.
Jermaine não era apenas um cara por quem eu me apaixonei. Ele era meu
melhor amigo desde sempre. Tínhamos uma história e nossas vidas estavam
entrelaçadas. Ele era um cara bom, mas como tantos antes dele, foi tentado
pelo dinheiro fácil que a equipe de Diaz poderia lhe dar. As oportunidades
não apareciam em nosso bairro.
Drogas, gangues e crimes, sim.
Bati a porta do quarto e fui até a cama, sendo interrompida pelo barulho
do celular. Ignorei quando vi o nome de Shona e me deitei na cama com um
travesseiro no peito. Minha mãe estava certa. A menos que eu fizesse um
rompimento total, nunca escaparia de meus laços com Fallowfield Heights.
Mas lá era a minha casa. Sem mencionar o fato de que minha mãe nunca iria
embora. Como eu poderia simplesmente esquecê-los? Dar as costas às
minhas raízes?
A resposta era que eu não poderia.
Ainda não.
OITO
Asher
— VOCÊ ESTÁ ACABADO. — Jason sorriu para mim enquanto eu entrava
na cozinha, o cheiro de bacon revirando meu estômago.
— Fee, baby, não que eu não ame te ver na minha cozinha...
— Você precisa comer — ela me cortou, pegando a panela e jogando o
conteúdo em um prato. Normalmente, eu seria o primeiro a comer, mas mal
conseguia olhar para aquilo sem ficar enjoado.
— Não preciso, não — resmunguei. — Preciso de água e Advil. Muito
Advil.
Não era incomum vê-los na minha cozinha em um fim de semana,
especialmente depois de uma festa. Mas hoje eu não queria companhia.
Minha cabeça latejava, meu corpo parecia ter sido atropelado por um trem, e
eu tinha memórias obscuras da noite anterior... memórias que preferia
esquecer.
— Qual de vocês me colocou na cama? — perguntei a Jason e Cam, que
estava terrivelmente quieto. Eles olharam um para o outro e depois para mim.
— Você não se lembra? — Cameron perguntou.
— De pouca coisa.
— Nós não te colocamos na cama, cara. Foi a Mya.
— O que foi que você disse? A Mya nem estava na festa. — Eu sabia,
tinha procurado por ela. Mas isso foi antes de toda a tequila... e Jack... e
shots.
Shots. Pra. Caramba.
— Ela apareceu — Flick acrescentou, empurrando o prato de café da
manhã para mim. Fiquei olhando para ele, tentando afastar a névoa de ressaca
que nublava minha mente.
— Ela estava aqui?
— Sim. — Jason mordeu um pedaço de bacon crocante.
— Merda. — Uma coisa era meus amigos me verem destruído, mas Mya?
Isso não deveria acontecer.
Merda.
— Ela... disse alguma coisa?
— Depois de ver você vomitar por uma hora? A garota ficou
traumatizada.
— Eu não... — Uma memória nebulosa me veio à cabeça. A mão de Mya
na minha pele. Era difícil dizer se era real ou só minha imaginação. Acho que
beber metade do que havia no bar do meu velho faz isso.
— Pronto para nos dizer o que foi que aconteceu? — Jason olhou para
mim.
— Não foi nada. — Dei de ombros com desdém, empurrando ovos pelo
prato.
— Ash, se tem alguma coisa acontecendo...
— Não está acontecendo nada. Estou bem, juro. As semanas têm sido
loucas, e eu fiquei tenso. — Eu mal conseguia olhar para eles, mesmo
sentindo que todos me olhavam.
— Não faça disso um hábito. Podemos ter uma pausa durante os feriados,
mas ainda precisamos de você em forma e pronto para o jogo da exibição.
— Achei que você ainda estava chateado com isso. — Arqueei a
sobrancelha e Jason deu de ombros.
— Estarei presente em qualquer chance de mostrar a Rixon East quem
está no topo. Além disso, a Felicity me convenceu. — Seus olhos pousaram
nos dela, que corou.
— Acho que você descobriu como...
— Asher!
Rindo, fui pegar outro copo d'água.
— Então a Mya não ficou? — Finalmente perguntei o que queria saber
desde que ouvi o nome dela.
— Jason a levou para casa depois que ela se certificou de que todos
estavam acomodados. — As palavras de Cam soaram divertidas, mas não dei
importância.
— Sei — grunhi.
— Essa merda deve estar te matando. Saber que ela estava aqui, mas não
ser capaz de se lembrar do que você disse.
— Jason — Flick me lançou um olhar de desculpas.
— Vou acertar as coisas com ela — falei com convicção.
Se ela me daria uma chance ou não, era outro assunto totalmente
diferente.
— VOCÊ DEVE SER a tia da Mya. Prazer em conhecê-la. Eu sou o Asher,
Asher Bennet. — Estendi o ramo de flores, percebendo que havia
subestimado o aviso de Mya quando a mulher pequena olhou para mim.
— Sei quem você é. O que quer?
— Eu... ah, a Mya está em casa? — Cocei o queixo, sentindo o peso de
seu olhar me pressionando.
— Ela está ocupada.
— Senhora, não quero desrespeitá-la, mas eu realmente gostaria de...
— Asher? — Mya apareceu com os olhos arregalados e uma expressão
indecifrável. — Eu não estava esperando por você.
— Eu sei. Só quis passar por aqui e dar isso à sua tia. Espero poder falar
com você.
— Mya — sua tia avisou.
— Você deveria colocar as flores na água, tia. Eu já vou, tá?
Fiquei um pouco mais ereto ao ouvi-la me defender, mas enquanto as
duas se encaravam, presas em uma conversa silenciosa, eu soube que havia
muito mais nisso do que a tia não gostar de caras brancos.
Merda.
— Cinco minutos — a mulher disse antes de arrancar as flores da minha
mão e sair pelo corredor.
— O que você está fazendo aqui? — Mya sibilou ao sair para a varanda,
fechando a porta atrás de si.
— Eu queria te ver.
— Você poderia ter ligado ou enviado uma mensagem de texto.
— Eu queria te ver, Mya. Depois da noite passada...
— Você se lembra de tudo?
— Eu não disse ou fiz nada impróprio, certo?
— Você estava completamente fora de si. — Ela sorriu, mas não atingiu
seus olhos.
— O quê? — perguntei, sentindo que ela estava escondendo algo de mim.
Achei que ela ia me contar, mas não disse nada. Em vez disso, soltou um
suspiro de cansaço.
— Você realmente não deveria ter vindo aqui.
— Eu só queria te agradecer. Os caras me disseram o que você fez. —
Estendi a mão, puxando um cacho de seu cabelo entre meus dedos. — Eu
teria preferido que você não tivesse me visto assim, mas estou feliz por ter
cuidado de mim.
— Asher, o que aconteceu ontem?
Foi como se o chão se movesse debaixo de mim.
— O que você quer dizer? — ofeguei. — Nada aconteceu.
Mas vi em seus olhos.
Mya sabia.
Talvez ela não soubesse de tudo, mas sabia o suficiente.
Sabia que eu estava mentindo.
Olhando para a casa, Mya contraiu os lábios em uma linha reta.
— Não posso falar agora. Mas eu poderia... aparecer mais tarde?
— Sim! — Meu peito quase explodiu.
— Bem, o cinema da sua casa é incrível.
— Ah, vai ser assim, hein?
— De que outra forma seria?
Ela estava flertando comigo? Porque parecia estar. Lutei contra um
sorriso.
— Pego você às seis?
— Eu posso ir sozinha até lá.
— Tudo bem. — Eu não queria pressioná-la. Ainda não. — Devo
convidar os outros? — perguntei.
— Eles não vão estar ocupados? É sábado, noite de encontros e todas as
outras coisas que os casais normais fazem.
— Então seremos só nós dois? — esclareci, porque minha cabeça estava
girando em uma centena de direções diferentes.
— Asher? — ela me chamou, sua voz sedosa me firmando.
— Sim, Hernandez?— Eu não conseguia tirar o sorriso do rosto.
— Te vejo mais tarde.
Recuando lentamente, mantive os olhos nela. Mya era linda. O macacão
jeans escuro moldava suas curvas. A camiseta preta por baixo destacava o
tom de sua pele. Tudo em Mya me atraía. Ela era feroz, decidida e autêntica.
E eu queria conhecê-la.
Por inteiro.
— Não se atrase — murmurei e ela riu, esperando até que eu estivesse na
calçada.
— Ah, Asher? — ela gritou.
— Sim?
— Não tenha ideias quanto a isso.
— Você quer dizer um filme com uma amiga? — Eu sorri. — Como se
eu pudesse me esquecer.
Mas dessa vez parecia diferente. Ela podia querer agir como se não fosse
nada mais do que uma saída entre amigos, mas havia um brilho em seus olhos
que eu não tinha visto antes.
Um brilho que de repente eu queria ver o tempo todo.

QUANDO MYA CHEGOU, eu não estava mais de ressaca. O que era uma
coisa boa, considerando a quantidade de lanches que preparei. Tudo, de
nachos a pipoca, pretzels a doces. Talvez eu tivesse exagerado um pouco.
— Jason, Cameron, Hailee e Flick fizeram um bom trabalho na limpeza.
— Ela fingiu passar o dedo pelo aparador, inspecionando em busca de poeira.
— Espero que você tenha dado uma boa gorjeta a eles. Estou surpresa por
você não ter uma governanta.
— Costumávamos ter uma quando eu era mais novo — admiti. — Mas
assim que fiz quatorze anos, ela foi embora.
— Não consigo imaginar como é ter alguém para fazer tudo por você. —
Os olhos de Mya nublaram.
— Você é filha única?
— Sim, sou só eu e minha mãe.
— O que aconteceu com o seu pai?
— Achei que íamos assistir a um filme. — Ela mudou de assunto, e eu
não podia culpá-la. Eu também não gostava de falar sobre minha família.
— Podemos fazer isso. — Levei Mya até os fundos da casa, abrindo a
porta do cinema no subsolo.
— Comprei um monte de coisas. Espero que você esteja com fome.
Ela me lançou um sorriso incerto.
— Não precisava fazer isso, Asher.
— Eu sei, mas eu quis. Sinto que depois de ontem à noite, eu te devo
uma. — Passando a mão pelo cabelo, eu me joguei em um dos sofás, rindo
quando Mya se sentou no que estava mais longe de mim.
— Ainda estou com o hálito podre?
— Você se lembra. — Ela ofegou.
— Algumas coisas. É muito nebuloso. O que preciso fazer para que você
me tire do meu sofrimento e me conte se eu disse algo impróprio?
Mya hesitou por um segundo, como se refletisse sobre sua resposta, então
abriu um sorrisinho.
— Você foi um cavalheiro o tempo todo.
— Duvido muito disso. — Mas eu aceitaria qualquer coisa que ela tivesse
para me oferecer.
Jesus, eu era patético, implorando por restos de atenção de uma garota
que deixou claro em mais de uma ocasião que não iria cruzar qualquer linha
invisível que havia traçado entre nós.
Mas ela está aqui. E flertando.
— Ouça, sinto muito pelo que aconteceu com sua tia. Acho que não
acreditei muito quando você disse que ela tinha problemas com garotos
brancos.
— Ela não tem problemas com garotos brancos, Asher. Ela tem um
problema comigo namorando um garoto branco.
— Que bom que você não está namorando um. — Lutei contra um
sorriso, observando sua reação. Mas Mya não era como a maioria das garotas.
Era preciso se esforçar para conquistar seus rubores e pequenas expressões de
surpresa.
Era uma das coisas que eu mais gostava nela.
— Que filme você tem em mente? — Ela mudou de assunto.
— Pode escolher. — Indiquei uma pilha de DVDs. Enquanto ela estava
decidindo, fui buscar os lanches, colocando tigela após tigela na mesinha de
centro.
— Uau. — Mya observou. — É muita comida.
— Você me viu comer, certo?
Ela riu, se sentando no outro sofá.
Que se dane isso.
Eu me levantei e caminhei em sua direção. Ela arregalou os olhos,
observando meus movimentos até que fiquei parado na sua frente.
— Asher, o que você...
— Batata — falei, impassível. — Preciso de batatas. — Enfiando a mão
na tigela, peguei um punhado, pisquei para ela e me sentei na ponta do sofá.
Ela semicerrou os olhos para mim, pressionando os lábios carnudos em uma
linha fina.
— Algum problema? — Arqueei as sobrancelhas.
— Coloca logo a porcaria do filme — ela resmungou.
Mas o filme não foi distração suficiente. Não me impediu de observá-la
com o canto do olho, roubando olhares discretos enquanto ela ria, ofegava e
enterrava as mãos no rosto. Havia algo puro em ver Mya desse jeito.
Completamente desinibida e livre. Isso provocou todo tipo de coisas malucas
comigo. Fez meu coração disparar e minhas mãos suarem. Também me fez
agir como um idiota, porque antes de saber o que estava fazendo, cheguei
perto dela e segurei sua mão. Eu meio que esperava que ela se afastasse e me
repreendesse. Mas Mya estava cheia de surpresas, deixando que nossas mãos
descansassem entre nós como se fosse a coisa mais simples do mundo.
Então as estrelas se alinharam.
Mya se assustou quando o bandido apareceu das sombras, brandindo uma
faca e pronto para matar.
— Puta merda — ela gritou, se levantando pelo menos uns cinco
centímetros do sofá. A risada retumbou no fundo do meu peito enquanto eu
passava o braço em volta de seu ombro e a puxava para o meu lado.
— Está tudo bem — provoquei. — Eu vou te proteger.
— Asher... — Ela apoiou a mão no meu estômago, e meus músculos se
contraíram sob seu toque, abrindo um caminho de calor para baixo, para
baixo, para baixo. Meus olhos encontraram os dela, nublados e famintos.
— Asher, o que você...
— Só uma prova — implorei, precisando tanto beijá-la que doía.
— Eu... — ela começou, mas levei a mão ao seu cabelo, inclinando seu
rosto para o meu. — Não deveríamos... — Foi um sussurro, seus olhos me
dizendo algo diferente. Me dando permissão silenciosa.
O filme continuou, com as explosões e gritos do sistema de som surround
se tornando nada além de ruído branco enquanto eu gentilmente roçava os
lábios nos dela. Mya soltou um gemido baixo e segurou minha camiseta com
a ponta dos dedos. Minha pulsação acelerou e meu corpo queimou pela
garota que tinha gosto de beijos de morango.
— Asher, isso é uma má ideia. — Suas palavras deveriam ser como um
banho água fria, mas isso não aconteceu. Porque Mya não se afastou. Ela não
me empurrou e fugiu. Em vez disso, ela pressionou os lábios nos meus
novamente, puxando meu corpo para o seu. Fui de boa vontade, pressionando
Mya no encosto do sofá, conhecendo o formato de sua boca e as curvas de
seu corpo.
Eu não falei sério quando disse a Flick que achava que Mya e eu
estávamos destinados um ao outro, mas ao beijá-la, senti uma mudança
cósmica. Talvez isso – nós – não fosse o destino, mas éramos tão perfeitos
um para o outro que eu queria gritar dos telhados.
Então ela sussurrou:
— Pare, Asher. Você tem que parar — como se estivéssemos fazendo
algo errado, eu sabia que era um erro.
Porque não havia nada de errado nisso.
Nada mesmo.
Eu só tinha que fazê-la ver.
NOVE
Mya
ASHER ME BEIJOU.
Ele não deveria me beijar.
Eu não deveria deixá-lo me beijar.
Mas o jeito como ele olhou para mim, com tanto anseio e esperança,
rachou a última das minhas defesas. Me deixou desprotegida e impotente
contra seus encantos.
Não me senti vulnerável quando seus lábios tocaram os meus. Me senti
viva. O calor percorreu meu corpo como um incêndio. Seu peso contra mim
era opressor da melhor maneira.
Sempre tive que lutar pelo que queria. Fui uma menina que cresceu em
um mundo patriarcal devastado pelas drogas e pelo crime. Por muitos anos,
estive ao lado de Jermaine, defendendo-o e me recusando a deixá-lo cair
ainda mais fundo naquela armadilha. Cuidei dele desde que éramos crianças
enquanto nunca tive ninguém cuidando de mim. Mas aqui na casa de Asher,
encaixada em seus braços, com seus lábios pairando sobre os meus, me senti
segura. Senti que ele não deixaria nada me machucar.
Deveria ser um alívio. Aqui, com ele, pude finalmente respirar. Mas a
força de meus sentimentos me assustou. Porque aqui, éramos apenas nós
dois. Não havia julgamento ou estereótipos, sussurros ou olhares. Nem negro
ou branco. Nada de rico e pobre. Havia apenas luxúria, desejo e uma conexão
que eu não tinha mais certeza se poderia evitar.
— Por que você gosta de mim? — perguntei, interrompendo o momento.
Mas o medo era um forte motivador.
Asher me olhou e a confusão franziu seus olhos.
— Nunca conheci ninguém como você, Mya — disse. — Você é forte,
bonita e leal. Você não se intimida ou se amedronta com o time, e você é tão
bonita que dói.
— Você já disse isso. — Meu lábio se curvou.
— Já? — Seus olhos brilharam com humor. — Sua beleza merece
repetição.
— Você não é nada original.
— Não? — Ele sorriu. — Tenho certeza de que posso pensar em alguns
outros adjetivos...
— Não. — Passei os dedos pelo seu peito, encontrando sua mandíbula. —
Acho que já entendi.
Asher cobriu minha boca com a sua novamente, deslizando a língua entre
meus lábios. Minha vozinha da razão gritou para que eu parasse, mas a cada
toque de sua língua, cada pressão de seus lábios, ela ficava mais e mais
silenciosa até que todas as razões pelas quais isso era uma má ideia
desapareceram.
Passei as mãos sobre seus ombros, entrelaçando os dedos em sua nuca.
Asher interrompeu o beijo, roçando o nariz no meu antes de traçar os lábios
sobre minha mandíbula e descer pela curva do meu pescoço. Chupando,
mordiscando e roçando os dentes contra a pele sensível, provocando milhares
de pequenos arrepios através de mim.
— Eu te quero, Mya — ele murmurou. — Preciso de você.
O puro desespero em sua voz me fez segurar seu queixo e levantar seu
rosto para o meu.
— O que aconteceu ontem, Asher?
A indecisão cintilou em seus olhos. Ele queria me dizer, mas algo o
impedia.
— O que aconteceu com o seu ex? — ele rebateu.
Filho da mãe.
Estávamos de volta a isso. Os dois precisavam de mais, mas nenhum de
nós queria compartilhar. Mas alguém tinha que fazer um movimento, ceder
um pouco.
Algo me disse que não seria ele.
Respirando fundo, comecei.
— Jermaine é... era o meu melhor amigo. — Empurrei Asher de leve,
precisando de ar.
Ele se recostou, passando a mão pelo cabelo perfeitamente bagunçado.
— Nós crescemos juntos, estávamos na mesma classe na escola. Nossas
mães costumavam brincar que éramos duas metades de um todo. — Asher
soltou um suspiro baixo, e eu encontrei seu olhar. — Não vou mentir para
você, Asher. Ele era tudo para mim.
— O que mudou? — Sua voz estava tensa.
— Não preciso dizer que de onde venho não é como Rixon. Quando você
é criança, é mais fácil ignorar o que acontece nas esquinas, mas quando se
chega ao ensino médio, isso se torna realidade. Drogas, gangues... — Hesitei,
sem saber o que dizer. Não porque eu estivesse protegendo Jermaine, aquele
navio havia partido há muito tempo, mas porque eu estava me protegendo.
Se eu contasse a Asher, se eu o deixasse entrar nessa parte da minha vida,
não havia como desfazer. Eu sempre seria a garota pobre do lado errado dos
trilhos.
— Ele se envolveu com algumas pessoas ruins. As coisas saíram do
controle, e ele se machucou. — Eu me machuquei, as palavras chegaram na
ponta da minha língua.
Asher franziu o cenho enquanto me observava, vendo através das minhas
defesas.
— E...
— E eu sabia que o tinha perdido. Da próxima vez, não seria uma gangue
pulando sobre ele, machucando-o. Seria um carro passando com uma arma.
Minha mãe queria que eu saísse de lá e minha tia estava disposta a me deixar
ficar com ela. Sua vez — falei, vacilando sob a intensidade de seu olhar.
Asher, assim como Felicity, Hailee e todos os outros em Rixon High,
conheciam uma versão de Mya. Claro que eles viam as botas militares, o
macacão jeans e as camisas xadrez, mas ela ainda era uma versão
domesticada de si mesma. Porque eu conhecia a outra versão da Mya, a
versão real, e este lugar, essas pessoas, não combinariam com ela.
— Meu pai é um idiota — Asher brincou, com o rosto desprovido de
emoção.
— Ceertoo. Eu realmente não sei o que dizer sobre isso.
— Todo mundo acha que ele é um homem incrível que se fez sozinho,
que sustenta a família, mas ele é um filho da puta malvado. Um verdadeiro
lobo em pele de cordeiro.
— Ninguém mais sabe disso?
Ele deu de ombros, sem encontrar meus olhos.
— O dinheiro fala, eu acho. E não me interprete mal, aparentemente, ele é
generoso. Ele doa para instituições de caridade, ajuda as famílias dos meus
amigos. Apoia o time. Mas tudo tem um preço no que se refere a Andrew
Bennet.
— E você tem que pagar — sussurrei.
— Quatro anos. — Asher puxou as pontas do cabelo. — Ele me deu
quatro anos de ensino médio, mas o último está quase acabando.
— O que vai acontecer depois do ensino médio? — O medo subiu pela
minha espinha.
Asher passou a mão pelo rosto, com a expressão contorcida de dor.
— Eu me torno sua marionete.
Eu não sabia o que isso significava, mas podia sentir o tormento
irradiando dele.
— Meu pai nunca foi do tipo atlético. Ele não jogava futebol, não corria,
nem nada parecido. Seu talento era computadores e tecnologia. Descobrir
como as coisas funcionam e fazer com que funcionem melhor. Nunca me
interessei por essas coisas e sempre fui uma grande decepção para ele.
Futebol... essa era a minha paixão, e eu era bom nisso. Não tão bom quanto
Jason — ele me deu um sorriso irônico —, mas eu poderia ter uma boa
carreira no futebol americano universitário. O acordo era que eu jogaria em
Rixon se largasse o futebol na faculdade e me concentrasse nos estudos.
— Asher, isso não é...
— Justo? — ele zombou. — Meu velho não se importa com isso. Ele só
se preocupa com seus negócios e com a certeza de que esteja pronto para
ocupar seu lugar para, finalmente, me tornar o filho que ele sempre desejou
ter.
— E quanto à sua mãe? Como ela se comporta com tudo isso?
Sua expressão ficou sombria, e eu soube que tinha acertado outro ponto
fraco.
— Ela é a razão de eu ter quatro anos.
— O que você quer dizer?
— Antes do colégio, meu pai tentou me fazer largar o futebol. Disse que
isso não era apropriado para um Bennet. Ele nunca escondeu o fato de que eu
não era o filho que sempre sonhou ter. Quando eu era criança, minha mãe me
protegia disso, mas não percebi o quanto até que fiquei mais velho. — Seus
olhos pousaram em um ponto do chão, e ele esfregou as mãos fechadas nas
coxas.
Estendi a mão para ele, abrindo seus dedos e os entrelaçando nos meus.
Asher olhou para mim, e eu sorri.
— Estou bem aqui — sussurrei.
— Ela sabia como era importante para mim jogar com o Jason e o Cam.
Então ela se sacrificou — ele quase ofegou com as palavras.
— Eu não... o que você quer dizer?
Era seu marido, não parecia grande coisa para uma esposa apoiar o
marido, a menos que...
— Asher? — perguntei quando ele não respondeu. Seus olhos estavam
fechados, seu peito subindo e descendo com a respiração irregular.
— Quando eu digo que ele é mau, Mya. — Os olhos de Asher se abriram.
Ele parecia arrasado e isso fez meu coração doer. — Ele não é mau apenas
com as palavras.
— Oh. — As palavras não ditas pairaram entre nós.
— Ele alguma vez... te machucou?
— Quando eu era mais novo, ele ficava muito bravo comigo. Minha mãe
sempre interferiu. Achei que ela moderava a raiva, mas ele descontava nela
quando eu não estava por perto. Ela era boa em esconder, mas não é tudo que
a maquiagem pode disfarçar. Felizmente, ele se ausentava muito para
trabalhar, então éramos apenas nós dois e Serena, a governanta. Mas então,
no verão antes do ensino médio, ele começou a falar sobre como era a hora
de eu aprender o negócio e mostrar mais interesse no meu futuro. Nós
tivemos uma grande briga quando ele disse que eu não poderia jogar no time
de futebol no colégio, mas minha mãe interveio, me fazendo sair de casa.
Quando finalmente voltei, eles me chamaram e disseram que haviam chegado
a um acordo. Minha mãe começou a acompanhá-lo em suas viagens de
negócios, e eu tive quatro anos de futebol com meus amigos. Ele sempre quis
que ela se envolvesse mais, mas ela queria me criar.
Havia muita coisa que eu queria perguntar. Tanto que não fazia sentido.
Mas eu podia ver o preço emocional que Asher estava pagando por
finalmente contar a verdade a alguém.
Por me contar.
Então, em vez de questionar mais do que ele estava pronto para me dar,
me aproximei e passei os braços em volta de seu pescoço.
— Sinto muito — falei baixinho.
— É a primeira vez que digo a verdade a alguém. — Asher recuou para
olhar para mim. — Estou feliz que tenha sido você, Mya.
— Não vou contar a ninguém.
— Eu sei — ele disse. — Tenho que contar aos caras em algum
momento. Eles já estão me perguntando por que não me comprometi
formalmente com os Panters de Pittsburgh para o outono. Eles não sabem que
é porque meu futuro já está selado em Pittsburgh e não envolve futebol.
— Eles entenderiam.
— Talvez. Mas não quero que isso fique entre nós, não quando temos
apenas alguns meses do último ano. Além disso, você sabe como o Jason é.
Se ele descobrisse a verdade...
Ele não seria capaz de se segurar. Porque apesar de todas as suas falhas,
Jason Ford protegia aqueles com quem se importava, e Asher era como parte
da família para ele.
— Tem mais, não tem? — Não consegui evitar que as palavras saíssem.
Mas algo sobre a coisa toda não parecia bom.
— Sim — Asher soltou um suspiro cansado. — Se eu não cumprir minha
parte no trato e for para Pittsburgh como um bom cachorrinho, meu pai vai
me cortar de tudo. Sem fundo fiduciário, sem faculdade, sem futuro.
— Existem outras maneiras, Asher. Bolsas de estudo. — Eu soube por
Felicity que ele tinha recebido uma oferta de pelo menos duas bolsas de
estudo pelo futebol.
— Não é tão simples assim — ele disse. — Eu não vou ser o único a
sofrer. Tenho que pensar na minha mãe. Somos tudo o que ela tem.
— Só estou dizendo...
— Podemos não fazer isso agora? — Seus olhos eram suaves, apesar de
seu tom insensível. — Foram dias difíceis e estou exausto.
— Você tem razão. Sinto muito. Eu deveria ir... — Comecei a me
levantar, mas Asher segurou minha mão.
— Não quero que você vá.
— Não?
Ele balançou a cabeça.
— Fique.
— Asher, não tenho certeza...
— Olha, sei que você não quer nada sério e que ainda está presa ao seu
ex, mas eu gosto de você. Gosto muito de você. Posso ir devagar, se é isso
que você precisa.
Ele estava tão adorável olhando para mim com seus grandes olhos azuis.
— Me dê uma chance, Mya, por favor. Isso é tudo que estou pedindo.
Havia tantos motivos pelos quais isso era uma má ideia.
Muitos.
Mas como eu poderia negar quando ele confiou em mim com algo que
nunca confiou a ninguém?
— Vou ficar, mas não vou fazer nenhuma promessa. Nossas vidas são
complicadas e ser mais do que apenas amigos só vai complicá-las ainda mais.
— Posso viver com isso. — Ele se levantou e passou o braço em volta da
minha cintura, me puxando em sua direção. Seus olhos pousaram em meus
lábios e ele começou a se inclinar.
— Asher, amigos não se beijam.
— Talvez possamos ser a exceção à regra — ele disse com um sorriso
irresistível.
Um sorriso perigoso.
Algo que eu sabia que nos colocaria em um monte de problemas.
DEZ
Asher
MYA OLHOU para mim com luxúria e indecisão brilhando em seus olhos.
Ela me queria. Mas ainda estava lutando contra.
— Prometo que não vou me apaixonar por você, se é com isso que você
está preocupada — as palavras foram apenas um sussurro no canto de sua
boca. — Sei que estamos indo em direções diferentes. Que isso é apenas
temporário, mas você faz tudo de ruim desaparecer.
— Asher — ela sussurrou, pressionando sua testa na minha.
— Não vou te magoar, eu prometo. — Mas você pode me destruir.
Porque embora eu tivesse prometido a ela que não iria me apaixonar, eu já
podia me sentir fazendo exatamente isso. No entanto, era um pequeno preço a
pagar, se isso significasse tê-la em minha vida.
Mya agarrou minha camiseta, lutando contra o que quer que estivesse
acontecendo dentro dela. Talvez fossem os sentimentos persistentes por seu
ex, ou o fato de que ele a magoou e ela não queria confiar em outro cara tão
cedo. Seja lá o que fosse, eu queria provar que ela estava errada, mostrar que
nada mais importava, exceto a maneira como fazíamos um ao outro se sentir.
Desta vez, quando toquei os lábios nos dela, Mya não resistiu. Ela me
puxou para mais perto, aprofundando o beijo. Nossas línguas se enredaram
em lambidas suaves, o que deixou meu corpo em chamas. Passei as mãos por
suas costas, encontrando sua bunda perfeita e pressionando-a no meu pau
duro como pedra.
— Veja o que você faz comigo — eu disse contra seus lábios inchados.
— Veja o quanto eu quero você.
Mya gemeu baixinho, se esfregando em mim e me deixando me mover
contra ela no ângulo perfeito. Eu queria despi-la e tomá-la bem aqui no sofá,
mas sabia que ela não estava pronta. Ela estava começando a aceitar o que
estava acontecendo entre nós.
— Vamos — eu disse, me afastando e sorrindo da forma como ela estava
corada e sem fôlego. Levando-a de volta ao primeiro andar, caminhamos em
um silêncio confortável até o meu quarto. — Pelo menos posso andar em
linha reta esta noite — brinquei.
— Acho que eu deveria mandar uma mensagem para minha tia — ela
falou.
— O que você vai dizer a ela?
— Que vou ficar com as garotas.
Assenti. Não esperava que ela contasse a verdade para a tia, mas ainda
doía saber que eu era um segredo.
— É mais fácil assim, Asher — Mya acrescentou, sentindo minha
mudança de humor.
— Está tudo bem — falei com um sorriso fácil quando entramos no meu
quarto. — Pelo menos, ela se importa com o que você está fazendo e com
quem você está.
Meu pai não se importava há muito tempo. Contanto que eu mantivesse
sua boa reputação, ele lavou as mãos no que dizia respeito a mim. A maioria
dos jovens esperava ansiosamente o dia em que seus pais saíam da cidade e
os deixavam em casa sozinhos, mas eu estava acostumado com minha própria
companhia desde a nona série.
— Quer uma camiseta para dormir?
— Eu... ah... — Mya baixou os olhos, brincando com a bainha da blusa.
— Acho que sim.
Com uma risada baixa, fui até a cômoda e peguei uma camisa limpa dos
Raiders.
— Ah, droga, não, não vou usar isso. — Ela torceu o nariz em desgosto.
— Por favor. — Fiz beicinho. — Por mim?
— Asher, vamos... não há algum tipo de ritual de camisa em que você só
deve deixar sua namorada usar o seu número?
— Existe isso? — provoquei. — Eu nunca soube.
— Prefiro dormir nua a usar essa coisa.
— Mesmo? Porque isso pode ser arranjado.
Balançando a cabeça, Mya lutou contra um sorriso.
— Tudo bem, me dê aqui.
— O banheiro é por ali. — Apontei para a porta.
— Ah, eu me lembro. — Ela me deu um olhar perplexo enquanto passava
por mim, segurando a camisa em um aperto mortal. — Espero que você tenha
se limpado depois de ontem à noite — ela falou, e eu sufoquei uma risada.
Enquanto Mya se trocava, tirei as roupas e as joguei na cadeira. Eu não
esperava me virar e vê-la parada na porta me observando com os olhos
semicerrados.
— Vê algo de que gosta? — Arqueei a sobrancelha enquanto acariciava
meu abdômen.
O calor brilhou em seus olhos enquanto ela deixava o olhar correr pelo
meu corpo.
— Tatuagem legal. — Ela sorriu.
Dei um passo em sua direção.
— Nós dois sabemos que você não estava olhando para minha tatuagem,
Hernandez. — Foi a minha vez de deixar meus olhos traçarem seu corpo. —
Puta merda, você fica linda na minha camisa. — A peça se agarrou a suas
curvas, mostrando seu corpo incrível por baixo.
— Pelo menos cobre a minha bunda — ela respondeu, tocando a bainha
que quase alcançava seus joelhos.
— Acho que eu deveria verificar. — Girei um dedo e murmurei: — Vire-
se.
Ela revirou os olhos.
— Como desejar.
Ah, como eu desejava.
— Você não vai dormir assim, vai?
— Sempre durmo assim — falei. — Mas se você acha que não consegue
resistir a me tocar, posso colocar algo.
— Eu... — Mya engoliu em seco. — Acho que sou capaz de resistir.
— Quer apostar?
— Estou começando a achar que foi uma ideia muito ruim ficar aqui. —
Mya me olhou com olhos arregalados novamente. Antes que ela pudesse
fugir, coloquei a mão em volta de sua cintura e a puxei para mais perto.
— Vou me comportar, prometo. — Abaixando a cabeça, beijei a ponta de
seu nariz. — Obrigado por concordar em ficar comigo.
Eu não diria a ela, mas significou muito ela ter concordado em ficar. Não
só porque eu a queria ferozmente, mas porque eu me sentia sozinho dormindo
em uma casa vazia todos os dias.
— Só não se acostume com isso — ela respondeu, com os olhos
brilhando com diversão. — É só por uma noite.
— Melhor aproveitar ao máximo então. — Sem dar a ela qualquer aviso,
a peguei no colo.
— Asher, o que é isso? — ela gritou, agarrando-se a mim. Eu nos levei
até a cama e a coloquei no colchão, sua risada enchendo meu quarto.
— Não pude resistir. Você fica linda na minha cama. — Linda demais.
Principalmente usando meu número. Seus olhos caíram para a cueca boxer
preta, e eu levantei uma sobrancelha com a forma como seu olhar
permaneceu no contorno do meu pau.
— Você está tornando isso muito duro para mim — eu a avisei, sorrindo
do duplo sentido.
— Não tenho ideia do que você está falando. — A inocência apareceu em
sua expressão, mas eu não seria enganado.
Mya era tudo, menos inocente.
Me ajoelhando na cama, rastejei em sua direção, envolvendo a mão em
um de seus tornozelos. Sua pele era muito macia e suave. Eu queria me
familiarizar com cada centímetro de seu corpo. Passei a palma da mão por
sua perna, roçando a parte interna de sua coxa. Os olhos de Mya brilharam,
prendendo a respiração.
— Asher...
— Um dia — eu disse com voz rouca. — Você vai gemer meu nome.
— Você está se achando muito.
— Oh, você acha?
Era isso o que eu precisava de Mya. As brincadeiras, os jogos e as
provocações. Ela tornava tudo tão fácil e dava o melhor que conseguia. E eu
adorava isso.
Tracei o contorno de sua perna novamente, avançando cada vez mais,
desaparecendo sob o tecido azul e branco.
— Asher. — Foi um aviso desta vez. — Não concordei com isso.
— É só um beijo entre amigos, certo? Então, que tal se eu te beijar bem...
— abaixando a cabeça, passei a língua sobre sua pele quente — aqui.
Não beijei sua calcinha, mas deixei a boca ficar lá o suficiente para que
ela movesse a mão e agarrasse meu ombro.
— Você não está jogando limpo.
— Não? — Observei seu corpo, encontrando seus olhos enquanto soprava
suaves lufadas de ar contra ela. Mya abafou um gemido, e senti suas pernas
tensas.
Tudo o que eu queria era empurrar o tecido rendado para o lado e prová-
la, mas eu não faria, não sem sua permissão explícita. Me movi sobre ela,
levando meus olhos ao nível dos seus.
— Oi — eu disse.
— Oi. — Mya sorriu, com os olhos brilhando de desejo.
— Não vou te beijar lá. Não até que você me implore.
— Asher... — saiu como um gemido de dor.
— Sim, Hernandez?
— Tenho pensado em nossa situação.
— Situação, é assim que vamos chamar?
— Sim, e acho que beijar é permitido. Talvez dar amassos vestidos.
— Então posso fazer isso. — Passei a mão em sua barriga, sobre a
camisa, e a descansei contra a protuberância de seus seios. — E você não vai
me dar uma joelhada nas bolas?
— Suas bolas estão seguras. — Ela riu. — Mas eu falei sério. Precisamos
levar isso devagar. Amigos... que se beijam.
— Não se esqueça dos amassos vestidos.
— Isso também. — Mya se inclinou, me beijando lenta e profundamente,
explorando cada centímetro da minha boca com a língua. Meu pau
endureceu, empurrando contra ela.
— Merda, isso é bom — murmurei, certo de que se eu criasse atrito
suficiente, eu poderia satisfazer a nós dois. Interrompi o beijo, movendo os
quadris, observando seus olhos se fecharem. — Que tal isso? Está tudo bem?
— Humm-humm — ela murmurou, mordiscando o lábio inferior, se
impedindo de dizer o que estava na sua cabeça.
— E isto? — Levei a mão entre nós, acariciando-a através da calcinha
úmida.
— Asher, não...
— Não o que, Mya?
— Não pare — ela ofegou as palavras, inclinando a cabeça para trás
enquanto meus dedos continuavam se movendo sobre ela.
— Me deixe te tocar. Eu preciso te tocar. — Eu estava tão excitado por
ela. Queria sentir o quanto ela estava molhada, deslizar meus dedos dentro
dela e fazê-la gozar.
— N-não. — Sua voz estremeceu, assim como seu corpo. — Ainda não.
O que isso significava?
Ainda não como agora?
Ou ainda não como em uma semana... um mês... nunca?
Afastei a mão, acariciando a lateral de seu pescoço enquanto a beijava
profundamente. Era intenso, só dentes, língua e doce desespero. Mas eu não
conseguia o suficiente dela.
Mya prendeu as pernas em volta da minha cintura, me deixando
pressioná-la mais profundamente. Se não fosse pelo tecido fino da boxer e da
calcinha, eu estaria enterrado bem no fundo dela. Mas do jeito que estava, eu
quase podia imaginar.
— Um dia — repeti as palavras sem parar. Contra sua boca e sua pele
úmida enquanto eu me movia mais forte e mais rápido, levando nós dois em
direção ao clímax.
— Parece... — Mya respirou fundo, estremecendo.
— Eu sei. — Não deveria ter sido tão bom, mas era. E ainda tínhamos
uma camada de roupas entre nós.
— Ah, caramba — ela gritou. — Mais, eu preciso de mais. — Mya
segurou minha mão e a empurrou entre nós. Entendi a dica, acariciando-a
novamente, mas ela sussurrou: — Me toque, Asher.
Eu me afastei, olhando para ela com surpresa.
— Posso?
Ela assentiu, capturando meus lábios novamente, me beijando como se
estivesse se afogando e eu fosse a última fonte de ar.
Devagar, enfiei um dedo dentro de sua calcinha. Mya soltou um gemido
baixo, cravando as unhas em meu ombro. Adicionei outro dedo, deixando-os
deslizar entre sua umidade e a penetrei.
— Está tudo bem?
Suprimindo outro gemido, Mya assentiu. Meu polegar encontrou seu
clitóris, fazendo círculos lentos e tortuosos.
— Nossa, isso é... — As palavras ficaram presas em sua garganta quando
seu corpo começou a tremer. — Asher...
— Estou com você, Mya. — Penetrei os dedos mais profundamente,
beijando seu pescoço, sugando a pele macia. Passei a outra mão por seu
estômago, por baixo da camisa desta vez. Encontrei a taça de seu sutiã e
puxei para baixo, provocando o mamilo com meus dedos.
— Ah, caramba — ela gritou. — Eu vou... — Mya enterrou o rosto no
meu ombro enquanto se estilhaçava em torno dos meus dedos. Retardando o
ritmo, estendi seu orgasmo, segurando-a enquanto ela estremecia com as
ondas de prazer.
— Você está bem? — perguntei, afastando-a de leve do meu peito.
— Estou. — Ela sorriu para mim, mas vi a hesitação ali. Mya já estava
repensando o que havia acabado de acontecer entre nós. Mas não queria que
ela se arrependesse. Não queria que ela se arrependesse de um único segundo
comigo.
— Venha aqui. — Enganchando um braço na cintura dela, puxei-a para
mim, de costas para o meu peito.
— O que você está fazendo?
— Conchinha. Amigos podem fazer conchinha, não podem? — Apoiei a
mão em seu estômago enquanto eu a respirava.
— Sim — ela riu baixinho. — Podem, sim
— Boa noite, Mya.
— Boa noite, Asher.
O silêncio nos envolveu e não demorou muito para que a respiração de
Mya se estabilizasse. Eu também estava cansado, mas não queria dormir.
Ainda não. Eu queria absorver sua presença aqui em meus braços. Ela podia
precisar usar o rótulo de amiga, mas enquanto eu estava lá, ouvindo sua
respiração, fiz uma promessa silenciosa para mim mesmo.
Um dia, Mya me consideraria mais do que apenas amigo.
Acordei com a cama vazia. Com os membros pesados e o rastro
persistente de sono, me apoiei em um cotovelo.
— Mya?
Nada.
Rolando, me inclinei na mesa de cabeceira e peguei o celular. Meu
coração afundou com a mensagem de texto na tela.

Mya: Me desculpe por ter ido embora. Precisei voltar... te vejo em breve.
Bj.

Eu: Você fugiu.

Mya: Juro que não. Eu só... preciso de tempo. Você disse que poderia me
dar isso.

EU QUERIA DIZER a ela para parar de lutar contra o que estava


acontecendo, mas não queria afastá-la. Já era ruim o suficiente ela ter
escapado de mim esta manhã.

Eu: Não vou deixar você fugir, Mya...


Mya: Te vejo em breve, tá?

Eu: Sim, tudo bem.

DEIXEI o celular sobre a cama e me joguei contra os travesseiros. A noite


passada parecia um avanço. Mya finalmente deixou cair suas paredes o
suficiente para que eu pulasse para o outro lado. Mas eu deveria saber que era
temporário. Ela estava muito preocupada com o ex, com todos os motivos
pelos quais não podíamos ficar juntos. Eu não queria ser a segunda opção...
de novo, não.
Vi Flick se apaixonar perdidamente pelo meu melhor amigo. A primeira
garota por quem senti algo real, embora eu soubesse que qualquer esperança
de existir algo entre nós estava condenada desde o início. Mas Mya era
diferente. Claro, havia obstáculos, mas nada que valesse a pena era fácil.
Eu estava preparado para lutar por ela.
Mas não poderia ser o único disposto a apostar tudo.
ONZE
Mya
EU FUGI.
De novo.
Desta vez, não estava fugindo de pessoas que tinham o poder de me
machucar. Estava fugindo da única pessoa que queria me curar.
Acordar nos braços de Asher foi uma dura realidade. Eu não podia
continuar fugindo. Estava na hora de seguir em frente. Deixar o passado para
trás e encerrar essa parte da minha vida. O único problema era que eu sabia
que isso significava que eu tinha que ir para casa.
— Estive pensando — falei enquanto tia Ciara servia bacon e ovos. —
Quero ir para casa no Natal.
Ela estalou a língua.
— Mya, você sabe que não é...
— Me ouça, tá? — Peguei o copo de suco e tomei um grande gole. —
Terminei com o Jermaine e com aquela vida. Mas preciso de um
encerramento, tia. Preciso que ele saiba que acabou, de uma vez por todas.
— Sua mãe não vai gostar.
— Ela vai entender. Preciso voltar e resolver as coisas. — Porque,
embora Jermaine tivesse sido a razão de eu ter fugido, não duvido que ele
achasse que eu o traí.
Afinal, eu simplesmente fui embora. Se nossos papéis fossem invertidos,
eu também gostaria de respostas.
— Eu pediria que você viesse, mas...
— Nunca mais vou pisar naquele lugar, e você também não deveria,
garota. Você está livre dessa vida agora. — Sua expressão suavizou e seus
olhos estavam vidrados com lágrimas não derramadas. — Sei que acha que
tem que fazer isso, Mya, mas você não deve nada àquele garoto.
Ela estava errada. Eu podia não ter ficado em dívida com ele, mas devia
isso a mim mesma.
Jermaine já foi tudo para mim. Melhor amigo. Protetor. Amante. Não se
supera o tipo de história que compartilhamos. E se eu realmente fosse dar a
Asher uma chance, dar a qualquer outra pessoa uma chance, eu precisava
colocar Jermaine no passado de uma vez por todas.
Primeira parada: trocar o número do meu celular. Segunda parada: visitar
minha mãe e dar adeus aos meus amigos.
— Isso não é sobre ele, tia C. É sobre mim. Minha vida está aqui agora.
Mas se vou realmente seguir em frente, preciso fazer isso.
— Sua mãe já deve ter planos com Keelan.
— Eu sei. Estava pensando em ir o mais rápido possível. Assim, não devo
atrapalhar os planos dela e vou estar aqui com você no dia de Natal.
O relacionamento de minha mãe e Keelan era complicado. Ele nunca
morou com a gente, mas fazia minha mãe comer na palma da sua mão desde
que eu conseguia me lembrar. Eles se conheceram quando ela começou a
trabalhar em seu clube, o The Diamond. Todos na nossa vizinhança
conheciam Keelan King. Ele já havia comandado as ruas até que finalmente
se transferiu para negócios mais legítimos. Ele ainda comandava seu clube
com mãos de ferro. Nada de gangues. Sem drogas. E sem toques em suas
dançarinas.
Para um bairro como o nosso, minha mãe poderia ter ficado muito pior.
Mas ainda assim, eu não gostava dele. Não gostava da maneira como ele
tinha tanto poder sobre ela. Mas o dinheiro tinha importância e era algo que
não tínhamos. Minha mãe gostava de pensar que era sua rainha, mas eu via o
que ele realmente era: um homem se aproveitando da situação. Não dá para
se afastar de alguém como Keelan. Era ele quem decidia quando terminava.
— Não gosto disso — tia Ciara disse. — Mas não vou te impedir. Só
tenha cuidado. Depois do que aconteceu antes...
— Vou ter, prometo. — Seriam só alguns dias. Eu visitaria minha mãe,
veria meus amigos e tentaria falar com Jermaine antes de ir embora. Se eu
ligasse para Shona e pedisse a ela para manter minha ida em segredo, não
haveria razão para que todos descobrissem que eu estava de volta, a menos
que eu quisesse.
— Estou orgulhosa de você, sabe?
— Está? — perguntei.
— Isso mesmo, estou. As pessoas acham que ir embora é a saída mais
fácil, mas é o contrário. Ficar é fácil, é difícil ir embora. Sei que você se
preocupa profundamente com aquele garoto, mas às vezes, o amor não é
suficiente.
Ela não precisava me dizer isso.
Não era o suficiente para Keelan assumir um compromisso real com a
minha mãe, e não era o suficiente para que Jermaine fizesse melhores
escolhas de vida. Não era o suficiente para o sr. Bennet respeitar as
esperanças e sonhos de seu filho, e não era o suficiente para me fazer ficar
parada e ver Jermaine jogar sua vida fora.
Mas ao vir para Rixon, também vi vislumbres de quando era o suficiente.
Era o suficiente para minha tia me acolher sem fazer perguntas. Era o
suficiente para Jason colocar seu futuro em jogo por Felicity e era o
suficiente para Asher tentar proteger sua mãe.
Às vezes, o amor era o suficiente.
Eu simplesmente não tive a sorte de experimentar muito disso ainda.
Mas se eu deixasse Jermaine para trás de uma vez por todas, eu poderia
trilhar meu próprio caminho, decidir quem era digno de meu amor.
— Mya?
— S-sim? — Pisquei para minha tia.
— Aonde você foi agora?
— A lugar nenhum, tia. — Forçando um sorriso, coloquei um pedaço de
bacon na boca, engolindo a mentira. Porque eu estive em algum lugar.
Estive nos braços de Asher Bennet. Contente. Feliz.
Segura.

— NÃO ACREDITO que você está indo embora. — Flick franziu a testa,
observando enquanto eu colocava um par de jeans limpo em uma mochila.
— Não vou embora — falei. — Só vou fazer um encerramento.
— Encerramento, certo. E esse encerramento não teria nada a ver com um
certo Raider com quem eu sei que você passou a noite, teria?
— Ele contou ao Jason? — Meus olhos quase saltaram, e senti meu
estômago dar um nó em uma bola apertada.
— Não, ele não disse ao Jason. O Asher não faria isso com você. Sua tia
me perguntou como foi a festa do pijama na minha casa ontem à noite. Eu
juntei os pontos.
— Merda, você não...
— Te deixei na mão? Claro que não. Eu disse a ela que nos divertimos
muito trançando o cabelo uma da outra e assando biscoitos.
— Muito engraçado. — Embolei uma camiseta e joguei nela. Flick
pegou, com os ombros tremendo de tanto rir.
— Então o que aconteceu?
— Não quero falar sobre isso.
— Tão ruim assim, é?
Soltando um suspiro exasperado, me sentei na cadeira.
— Não foi ruim... foi...
— Aah, algo aconteceu. — Ela bateu palmas e seus olhos brilharam de
animação. — Me conte o que aconteceu.
— Não é grande coisa.
Felicity franziu o cenho.
— Se não fosse grande coisa, você não estaria agindo de forma tão
suspeita. Desembucha...
— Nós nos beijamos e então ele... ah, demos uns amassos. Vestidos.
— Isso faz toda a diferença. — Ela revirou os olhos. — Você... você
sabe...?
— Gozei? Talvez... possivelmente... — Calor invadiu minhas bochechas.
Minha amiga soltou um grito de alegria.
— Isso é tão emocionante. Espere — sua carranca reapareceu —, por que
você não parece tão animada com este desenvolvimento quanto eu?
— Porque é complicado.
— Por causa do seu ex?
— Entre outras coisas.
— Você ainda está obcecada com a questão da raça? Porque estou te
dizendo, ninguém vai falar nada se vocês dois ficarem juntos.
Mas eles falariam.
Asher era um atleta branco privilegiado, com boas notas e um futuro
brilhante pela frente. Um futuro que eu tinha quase certeza de que a cidade
não gostaria que fosse manchado com seu amado Raider ficando com a pobre
garota negra.
— Não vou entrar nisso de novo. — Suspirei, voltando a arrumar a bolsa.
— Vou passar alguns dias em casa para ver minha mãe e amigos. Um pouco
de espaço pode nos fazer bem.
— O Asher sabe disso?
— Não preciso da permissão dele, Flick. — Meu tom era defensivo.
— Não estou sugerindo que você peça. Mas precisa ver do ponto de vista
dele. Parece que você está fugindo.
— Ele disse a mesma coisa. — Pressionei os lábios um no outro.
— Pelo menos explique para ele. Caso contrário, é provável que ele ache
que você está voltando para o seu ex.
— Eu nunca...
— Eu sei disso e você também, mas ele não sabe.
— Tudo bem — admiti. — Vou mandar uma mensagem para ele.
— Ótimo. Se apresse e faça o que for necessário para que possa voltar
logo e a gente possa comemorar.
— Vamos comemorar?
— Caramba, sim — ela gritou. — Isso é demais. E perfeito. Todos nós
podemos sair sem que ninguém se sinta excluído e Nova York será ainda
melhor quando você e o Asher...
— Uau, vá devagar aí. Eu não tenho certeza para onde essa coisa com o
Asher vai, Flick.
— Ah, cale a boca. Você o quer. Ele quer você. O que falta?
Se a vida fosse tão fácil.
— Por favor, não diga nada a ninguém, ainda não. — Minha expressão
ficou séria. — Não estou pronta para que as pessoas saibam. Inclusive o
Jason.
— Posso, pelo menos, contar a Hailee? Ela vai ficar muito feliz por você.
— Felicity — gemi.
— Tudo bem. — Ela ergueu as mãos. — Os meus lábios estão selados.
Você merece ser feliz com alguém que vai te tratar bem.
Suas palavras me atingiram bem no meio do peito, mas eu as afastei.
— Preciso terminar de arrumar a mala. Você vai me ajudar ou vai
continuar bancando a terapeuta? — Arqueei a sobrancelha.
— Ei, eu só me importo com você.
Parei de repente com sua admissão, e dei a ela um sorriso triste.
— Eu sei, me desculpe. Acho que estou mais nervosa em ir para casa do
que achei que estaria.
— Então não vá.
— Tenho que ir — falei em tom de desafio. — É algo que tenho que
fazer.

DEMOROU MAIS de uma hora de viagem até a cidade. Enfiei os fones de


ouvido e apertei o play em uma das minhas playlists favoritas. Mas isso não
me distraiu o suficiente , antes que eu percebesse, abri o histórico de
mensagens com Asher, relendo nossa conversa mais recente.
Assim como Felicity me avisou, ele não recebeu bem a notícia de que eu
voltaria para casa por alguns dias.

Asher: Que merda é essa, Mya? Achei que você tinha terminado com ele.

Eu: Terminei. É por isso que tenho que ir. Não estou tentando te
magoar, nem vou voltar lá para consertar as coisas com ele. Mas preciso
de um encerramento. Imagino que você possa entender isso.

Asher: Não sei o que pensar agora. Acordei depois de uma das melhores
noites da minha vida e descobri que você tinha ido embora. Agora
descubro que você está saindo da cidade. Parece que você está fugindo de
mim.

AQUILO DOEU.
Porque embora eu não tivesse dito a ele ainda, a noite passada também
significou muito para mim. Mais do que jamais pensei que significaria. É por
isso que eu tinha que fazer isso.
Uma ruptura limpa.
Rolei as mensagens até a minha última mensagem, aquela que ficou sem
resposta.

Eu: Você disse que esperaria por mim... Estou pedindo que mantenha
sua palavra.

INCLINANDO A CABEÇA PARA TRÁS, fechei os olhos e absorvi a letra


de Rihanna. Era apropriado que ela estivesse cantando para mim sobre amar
alguém, embora você odiasse isso. O tempo e a distância me fizeram perceber
que eu me sentia assim por Jermaine. Quando éramos mais novos, eu o
amava como uma irmã ama um irmão. Então, à medida que crescíamos,
passei a vê-lo de forma diferente. Eu o vi mudar de criança para jovem, e
meu amor evoluiu. Eu o queria com cada fibra do meu ser. Mas amar
Jermaine tinha um preço. Algo que pareceu valer a pena no início, mas com o
passar do tempo, se tornou muito alto. E lentamente, meu amor por ele se
transformou em algo sombrio e feio. Muito parecido com o amor sobre o qual
Rihanna e Eminem começaram a cantar.
A única diferença entre o meu relacionamento com Jermaine e o da
música? Eu nunca amei a maneira como ele mentia. Eu simplesmente o
amava. Deixei meu amor por ele me cegar para a verdade.
Jermaine nunca iria me escolher em vez de sua reputação. Era a única
batalha que não consegui vencer, não importa o quanto eu lutasse.
Meu celular tocou e meu coração acelerou, na esperança de ver o nome de
Asher piscar na tela. Mas ele se apertou quando vi que não era.

Shona: Onde você está?

Eu: Perto de Kessington. Chego em breve. Bj.

Shona: Temos que colocar a conversa em dia, garota. Festa na minha


casa hoje à noite?

Eu: Shona, vamos lá... você sabe que não posso ficar desfilando por aí
assim.

Shona: Vai ser na minha casa. Vamos manter isso em segredo. Além
disso, o Jesse está em casa. Ele vai cuidar de nós. Pfvrrr. Estou com
saudades, garota.

Eu: Eu também. Bjs.


SILENCIEI as notificações recebidas e observei enquanto as ruas familiares
passavam por mim. Eu não tinha pensado muito em como seria a sensação de
voltar, mas agora que estava aqui, percebi como era estranho.
Como eu não me sentia mais em casa, nem um pouco.
DOZE
Asher
— FILHO — a voz profunda de meu pai ecoou na linha.
— Pai — respondi, girando a bola de futebol com uma mão.
— Estaremos de volta à cidade em alguns dias. Sua mãe quer decorar a
casa para o Natal e jantar como nos velhos tempos. — Havia um tom de
sarcasmo em suas palavras.
— Velhos tempos, certo.
— Asher, você poderia ficar um pouco mais interessado, por favor? É
importante para ela.
— Claro, pai. Tudo o que a minha mãe desejar.
— Estaremos na cidade pelo resto dos feriados. Eu não preciso estar de
volta na cidade até quatro de janeiro.
— Tanto tempo?
Isso levaria pouco mais de duas semanas. Eu não sobreviveria todo esse
tempo com meus pais.
— Sua mãe esperava que pudéssemos passar o Ano Novo juntos.
— Quanto a isso, os caras querem ir para Nova York. Vaughn e Riley nos
convidaram. Achei que nós poderíamos...
— Muito bem, vou organizar a cobertura. Só vocês cinco?
— Seis, eu acho.
— Seis?
— A amiga da Felicity, Mya, virá conosco.
— Ah, sim, a que se transferiu há pouco tempo. Você está de olho nela?
— Ele foi direto ao ponto no verdadeiro estilo Andrew Bennet.
— Podemos não fazer isso, pai, por favor?
Ele zombou.
— É uma pergunta perfeitamente razoável, Asher. Você tem dezoito
anos, é jovem e ainda não trouxe nenhuma garota para casa para
conhecermos.
Porque você nunca está em casa e eu nunca apresentaria minha
namorada a você de bom grado.
— Isso porque ainda não encontrei ninguém que queira levar para casa.
— Então você e a srta... — ele hesitou.
— Hernandez.
— Hernandez? A família dela é imigrante?
— O quê? — ofeguei.
— É um nome sul-americano, não é?
— Ah, meu Deus — resmunguei. — Você está falando sério.
— É um questão perfeitamente razoável e...
— Não é, pai. É presunçoso e irrelevante.
— Não é irrelevante se você tem planos de sair com a garota — seu tom
era mordaz.
Meu sangue ferveu. Durante todo esse tempo, assegurei a Mya que sua
origem não era um problema, sem perceber que poderia ser para meu pai e
suas ideias sobre o meu futuro.
— E se eu quiser sair com ela?
O silêncio preencheu a linha, fazendo meu corpo ficar tenso. Finalmente,
meu velho respirou fundo.
— Sou um homem de palavra, filho — ele disse. — Você ainda tem até o
final do ano. Mas lembre-se, Asher, os erros que você cometer agora o
seguirão até a idade adulta.
Eu queria perguntar o que isso queria dizer, mas não queria enfurecê-lo.
Não quando ele e minha mãe pareciam estar passando por um período de
calma. O fato de ela querer decorar a casa para as festas era um sinal
revelador de que as coisas estavam bem entre eles.
— Não precisa se preocupar, pai — eu disse na tentativa de acalmá-lo e
encerrar a chamada. Já era ruim o suficiente que eles voltassem para casa e
que eu não passasse meus últimos dias de liberdade discutindo com ele.
— Muito bem, nos veremos em breve. Convide os rapazes para jantarem
conosco, se quiser.
— Talvez. — Embora depois de confessar tudo para Mya, eu não tinha
certeza de quanto tempo eu poderia continuar mentindo para eles.

— EI, Ash, você está aí? — A voz de Jase ecoou pela casa, e eu soltei os
pesos, pegando uma toalha para me secar. Eu mal tinha conseguido sair do
banco quando ele e Cam apareceram na porta.
— Há quanto tempo você está aqui embaixo? Te ligamos.
— Um tempo. — Peguei a garrafa de água que Cam me jogou, destampei
e dei um longo gole. — Obrigado.
— Você está péssimo — Jase comentou, cruzando os braços e
semicerrando os olhos.
— Estou bem. — Depois da conversa com meu pai e de descobrir que
Mya tinha voltado para casa por alguns dias, fui para a academia. Levei meu
corpo até o limite físico. A adrenalina não apagava as memórias, mas ajudava
a moderar a frustração que eu sentia.
Como meus amigos não responderam, me olhando como se eu fosse um
show de horrores, acrescentei:
— É preciso muito esforço para ficar lindo como eu. — Sorri de forma
convincente.
— Isso não tem nada a ver com o fato de a Mya ter voltado para a
Filadélfia?
— Não. — Eu disse, caindo de volta no banco e olhando para o teto.
— Aconteceu alguma coisa entre vocês dois? — Cam perguntou.
— Sim — Jason respondeu. — Porque eu tentei arrancar da Felicity, mas
ela não falou. Nem mesmo depois que eu fiz aquela coisa que ela ama com a
líng...
— Opa, muita informação — protestei, apoiando um braço sobre meus
olhos.
Quando eu estava malhando, a dor e a resistência exigiam minha total
atenção, mas agora que terminei, meus músculos começaram a se contrair e
relaxar lentamente, deixando entrar a torrente de pensamentos que eu preferia
manter afastados.
— E aí, você e a Mya?
— Não existe Mya e eu — resmunguei.
Ela fugiu.
Na minha cabeça, ela estava voltando para os braços do ex.
Cerrei a mão contra a coxa.
Merda.
— Mas algo aconteceu?
Olhei para eles.
— Achei que sim, mas entendi errado.
— Ela vai mudar de ideia — Jason disse como se fosse algo certo, mas eu
não tinha tanta certeza. Mya passou a noite na minha cama, nos meus braços,
e então literalmente correu para casa, se afastando de mim. Não podia ficar
muito pior que isso.
— De toda forma, temos alguns lugares para ir.
— É? — Arqueei a sobrancelha.
— É. — Ele sorriu. — Se tivesse olhado seu telefone, você saberia. Se
arrume e nos encontre lá na frente em cinco minutos.
Eles se viraram e se afastaram, mas eu os chamei:
— Para onde vamos?
— Iniciar a próxima geração.
Isso chamou minha atenção. Dominamos a equipe por tanto tempo que
não houve necessidade de fazer iniciação com jogadores que subiriam na
hierarquia. Claro, cuidávamos dos jogadores mais jovens, mas todos sabiam
como as coisas funcionavam. Você era selecionado ou não, e se era, se
tornava parte da família. Mas este ano era diferente. Estávamos entregando as
rédeas a eles. Tirando o jogo de exibição no próximo mês, nosso tempo como
Raiders estava oficialmente encerrado.
Eu deveria saber que Jason não iria embora sem colocar os novatos à
prova.
E de mau humor ou não, esse era um show que eu não queria perder.

UMA HORA DEPOIS, Cam, eu e o resto dos jogadores seniores estávamos


atrás de Jason com os jogadores juniores e calouros amontoados na nossa
frente. A linha havia sido traçada, mas nós tínhamos duas coisas em comum:
éramos Raiders e estávamos congelando.
— Ouçam bem. Só porque nosso tempo no Rixon está quase acabando,
não significa que vou embora sem saber que estamos deixando o time em
boas mãos.
Alguns caras resmungaram com as palavras severas de Jase. Levantei
uma sobrancelha para Mackey, um dos jogadores mais jovens do time. Ele
apertou os lábios e baixou os olhos para o chão.
— Está na hora de provarem a si mesmo. De mostrar a mim e ao resto dos
jogadores seniores que você têm o que é preciso para liderar o time na
próxima temporada e defender o campeonato. Temos o jogo com os Eagles
chegando e, embora alguns de vocês possam achar que é só um amistoso, não
é. É uma chance de colocar essa rivalidade de merda para trás. É hora de
mostrar a todos quem realmente somos. — Ele olhou para mim. — Ash, faça
as honras.
Avancei, segurando o capacete ao lado do corpo.
— Quem somos?
— Raiders. — Foi como um rugido gutural que quase me derrubou no
chão. Um sorriso apareceu em meus lábios. Jason não precisava se preocupar
em deixar os jogadores mais jovens no comando do time. Eles eram
lutadores. Estavam famintos por isso. Eles estavam mais do que prontos para
ocupar nossos lugares.
Inclinando a cabeça para trás, batendo a mão fechada no peito, gritei:
— Eu perguntei quem somos?
— RAIDERS.
— E o que somos?
— Família.
— Puta merda, é isso aí — acrescentei, saindo do roteiro. Enganchando o
braço em volta dos pescoços de Jase e Cam, eu os puxei na minha direção. —
E o que vamos fazer?
— Vencer. — As palavras reverberaram por mim, acendendo o fogo
familiar em meu peito.
— Eu perguntei o que vamos fazer?
— VENCER!
Puta merda, eu ia sentir falta disso. Sentiria falta deles. Eu não me
permitia pensar nisso com frequência. Pensar que não teria mais meus
rapazes – meus irmãos – ao meu lado. O futebol, jogar com Cam e Jason nas
últimas quatro temporadas, era tudo para mim. Um presente. Algo que
apreciei e do qual me ressenti.
— Ei, você está bem? — Cam sussurrou enquanto o resto dos caras se
preparavam para provar seu valor para Jason.
— Sim, é que tudo está mudando. — Nós dois observamos nosso melhor
amigo gritar ordens para seus sucessores enquanto Grady e Merrick, além de
alguns dos outros veteranos, o ajudavam a prepará-los para o primeiro
exercício.
— Mudança nem sempre é uma coisa ruim.
— Não é? — Dei um olhar incerto a ele.
— O Panthers não é a única equipe interessada em você. Se estiver com
dúvidas, você pode ir para outro lugar. — Cam tinha boas intenções, mas não
conhecia todos os fatos. Ele não sabia que, apesar dos Pittsburgh Panthers me
quererem, eu já tinha recusado a oferta deles.
Agora não era a hora de contar isso a ele.
Batendo em suas costas, forcei o sorriso que era minha marca registrada.
— Vamos, temos alguns novatos para aterrorizar.
Por mais agridoce que fosse, fazer exercícios com minha equipe
novamente era exatamente o que eu precisava. A queimação inicial de ar
gelado enchendo meus pulmões, o zumbido dos meus músculos enquanto eu
corria no campo, a emoção de jogar nossos jogadores ofensivos no chão. O
futebol podia não ser meu destino, mas seria para sempre uma parte de mim.
Um dia, no futuro, quando eu estivesse preso em alguma aula chata de
informática, ou acompanhando meu velho em uma reunião com alguma
celebridade arrogante, eu me lembraria desses momentos.
Quando o futebol era como uma religião e as pessoas veneravam o chão
que caminhávamos.
— Ei, capitão — gritei para Jason. — Estou pensando que precisamos
colocar a ofensiva à prova, eles estão um pouco desleixados.
— Gosto do seu estilo, Bennet — Grady disse, correndo ao meu lado. —
O que você está pensando?
— Touro no ringue.
Ele uivou de tanto rir enquanto alguns dos jogadores mais jovens
empalideciam. O touro no ringue era um exercício antigo que na maioria das
vezes era considerado muito agressivo para a prática nos dias de hoje.
— Ste, você primeiro.
— Eu? — Ele empalideceu. — Por que tenho que ir primeiro?
— Porque você tem um grande cargo para preencher no próximo ano,
QB1— provoquei. Ste era um bom garoto. Mostrou potencial de liderança,
mas ele não era Jason Ford.
Eu duvidava que Rixon High veria outro Jason Ford por muito tempo.
— Merda — Ste xingou baixinho.
— Ei, capitão, já cagou nas calças antes de um joguinho de touro no
ringue?
Jason caminhou até mim, com os braços cruzados e dirigiu o olhar para
Ste.
— Você quer levar esta equipe até o fim, Kinnicky?
— S-sim, você sabe que sim, cara.
— Então levanta a cabeça e entre na porra do ringue — Jason grunhiu as
palavras, olhando para mim e para o resto dos veteranos com um sorriso
divertido.
— Vai, Kinnicky — Mackey gritou. — Você consegue. — O resto dos
jogadores calouros e juniores começaram a torcer por seu futuro quarterback
enquanto nós nos posicionávamos, prontos para acabar com ele. Nove
veteranos contra um júnior. Normalmente, eram os jogadores de defesa que
formavam o ringue, mas não se tratava de força física, e sim de força mental.
Ste Kinnicky, futuro quarterback e líder dos Rixon Raiders estava prestes a
nos mostrar sua força.
— Você está pronto, Kinnicky? — Jason perguntou e o júnior baixou o
capacete e assentiu de forma brusca.
— Muito bem, na minha contagem. Um... dois... vai.

— VOCÊS ACHAM que eles têm o que é preciso? — perguntei aos meus
melhores amigos, inclinando a cerveja em direção à mesa dos Raiders mais
jovens. Encerramos os exercícios quando uma tempestade veio e grossas
gotas de chuva começaram a cair. No verdadeiro espírito de capitão, Jase
disse a todos para irem ao Bell’s, acrescentando que as bebidas eram por sua
conta.
— Kinnicky tem a habilidade, mas não sei se ele tem coração. — Ele
passou a mão pela mandíbula. — Por outro lado, Mackey está faminto por
isso.
— Com certeza está faminto por alguma coisa. — Cam riu. — Dê uma
olhada nele, tentando a sorte com a Sara de novo.
A garçonete do Bell’s, Sara, estava acostumada com nossas brincadeiras:
os assovios e insinuações sexuais. Mas Mackey era como um cachorro com
um osso e não importava quantas vezes ela o derrubasse, ele se levantava e
tentava de novo.
— Ei, Jase, você já ficou com ela? Pode nos contar. — Grady apareceu e
ganhou um tapa na cabeça de Cam. — O que foi? — ele gemeu. — É só uma
pergunta.
— Estou com a Felicity agora, filho da puta. Mostre algum respeito.
— Caramba, não é como se ela estivesse aqui. Só estou jogando conversa
fora.
— Não. — Jase resmungou, recostando-se na cabine.
— Você mudou, cara. E se isso significa ser dominado por uma garota,
não contem comigo.
— Ahhh, Grady, você parece enciumado — provoquei.
— De jeito nenhum. Vocês dois não estão mais divertidos. Quer dizer,
não me entendam mal, eu gosto da Hailee e da Felicity, gosto muito delas.
Mas puta merda, tem muitas bocetas por aí para se acomodarem antes de
irmos para a faculdade.
— Você vai ver — Jase respondeu em voz baixa. — Um dia, quando
você menos esperar, alguma garota vai aparecer e te derrubar.
— Não, não é meu estilo. Prefiro transar e seguir em frente. Estou certo,
sim ou com certeza, Bennet?
— Ele está certo, Bennet? — Jason levantou uma sobrancelha se
divertindo.
Filho da puta presunçoso.
— O que foi? — Grady percebeu a conversa silenciosa acontecendo entre
mim e meu melhor amigo.
— Nada. Não é nada, certo, Ash?
— Espere um minuto. — Grady endireitou o corpo. — Você está
comendo a negra bonita?
— Grady — avisei, encarando-o com um olhar duro.
— O quê? Por mim, tá ótimo. Ela parece a Rihanna. Você sabe, como na
capa do álbum Talk that talk.
Ficamos pasmos com ele e seus olhos se arregalaram.
— O que foi? Ela é gostosa e essa música é demais.
— Quem é você? — A risada retumbou em meu peito, mas saiu
estrangulada. Não gostei de ouvir Grady falar sobre Mya. Mesmo que fosse
uma tentativa de elogio.
— E aí, está?
— Estou o quê? — perguntei.
— Transando com a Mya.
— Grady?
— Sim? — Ele sorriu.
— Cale a porra da boca.
Antes que eu te faça calar.
TREZE
Mya
— ACHEI que você tinha dito que ia ser discreto — gritei por cima da música
para Shona, mas ela estava muito ocupada comendo um dos amigos do seu
irmão com os olhos.
— Ei, Mya, venha aqui e me mostre seus atributos. — Um cara que
reconheci da escola apontou o dedo para mim com um sorriso preguiçoso
estampado no rosto.
— Em seus sonhos, Diego. Você não sabe que a Mya ainda é a garota do
J?
Eu me arrepiei. Shona finalmente virou a cabeça, me dando sua atenção.
— Ah, caramba. Não, Kris, você não acabou de dizer o que acho que
disse.
— Shona — resmunguei, segurando a mão dela. — Deixa pra lá, não
importa.
— Importa, sim. — Ela deu ao cara um olhar sério. Ele ergueu as mãos,
murmurando um pedido de desculpas. — Isso mesmo, rapaz, é melhor você
se desculpar com a minha amiga.
— Precisa que eu o expulse daqui? — o irmão de Shona perguntou ao
aparecer com seu amigo Leroy.
— Tudo bem. — Ela mal olhou para Jesse, concentrando sua atenção em
Leroy. — Mas você pode pegar uma bebida para mim e para minha amiga.
— Shona, não dê em cima dos meus amigos. — Ele franziu a testa,
olhando para mim com uma expressão que dizia “ajude um cara”. Dei de
ombros. Nós dois sabíamos que não havia como parar Shona quando ela
colocava os olhos em algo ou alguém.
— O que você quer, Mya? — Leroy perguntou.
— Só um refrigerante por...
— Ela vai tomar uma bebida adequada, assim como eu.
— Shona, não acho que seja uma boa ideia. — Olhei ao redor de sua
casa. Cada centímetro do espaço estava abarrotado de pessoas e não pude
deixar de notar que não havia uma única pessoa branca.
Não era algo que eu já tinha notado.
Mas isso foi antes. Quando eu vivia para as festas da minha melhor amiga
e ainda me sentia em casa em Fallowfield Heights. Quando eu não sentia a
necessidade de vigiar por qualquer sinal de problema.
— Ei — Jesse apoiou a mão em meu ombro. — Você está segura aqui. O
Jermaine sabe que não pode aparecer aqui criando problemas.
— Eu sei. — Dei a ele um sorriso tenso. — Estou bem.
— Bom. Então, como é viver no campo? A Shona disse que você está em
uma escola chique focada em futebol.
— Não é exatamente chique, mas eles adoram futebol.
— Eles estão te tratando bem? Ou tenho que bater um papo com seus
novos colegas de classe e dar a eles um aviso no estilo Jesse Byrd?
Lutando contra o sorriso, respondi:
— Na maior parte do tempo, tudo vai bem.
— Maior parte do tempo? — ele arqueou a sobrancelha.
— Sou parte de quatro por cento.
— Hã? — Ele franziu os olhos em confusão, mas Leroy voltou com as
bebidas, me poupando de ter que dar uma explicação. Tomando um gole,
fiquei aliviada ao não encontrar vestígio de bebida alcoólica. A última coisa
que eu precisava era acabar bêbada.
As batidas da música mais recente do Drake explodiram nos alto-falantes,
fazendo Shona dançar.
— Dance comigo. — Ela segurou a mão de Leroy e quase o arrastou para
o meio da sala.
— Droga, ela nunca ouve. — Jesse balançou a cabeça em leve desgosto.
— Ela já ouviu alguma vez? — Ri vendo-a gritar com o amigo de Jesse.
Ele pareceu confuso no início, mas não demorou muito para que suas ações
refletissem as dela, passando as mãos para cima e para baixo em seu corpo
enquanto se moviam com a batida sensual.
— Ela te contou que o Jermaine foi expulso da escola?
Balancei a cabeça, pressionando os lábios para me impedir de falar.
— Ele está profundamente envolvido com o Diaz. Tenha cuidado, Mya.
— Sou uma garota crescida, Jesse. — Olhei para ele. — Posso cuidar de
mim mesma.
— Ah, não duvido. — Seus olhos brilharam com diversão. — Mas você é
como parte da família para mim, sempre será, e eu odiaria ver você se
machucar de novo.
Minha respiração ficou presa na garganta. Nunca conversamos sobre o
que aconteceu, mas Jesse estava lá quando Shona me encontrou. Ele nos
levou ao pronto-socorro. Quase perdeu o controle naquela noite, querendo
encontrar Jermaine e bater nele por ter me colocado em perigo. Shona e eu
conseguimos convencê-lo a não fazer nada imprudente. Jesse Byrd poderia
ter um metro e noventa de músculos e força, mas não era páreo para Diaz e
sua gangue.
— Vou ficar bem, prometo.
Ele não parecia convencido, mas me conhecia bem o suficiente para
desistir. Vimos Shona e Leroy praticamente transarem até que Jesse
finalmente explodiu. Grunhindo baixinho, ele avançou em direção aos dois,
arrancando sua irmãzinha de perto de seu amigo. Ela veio até mim e pegou
sua bebida, quase sem se intimidar.
— Ele precisa parar de encher o saco.
— As coisas entre vocês dois estavam ficando muito quentes.
— Nós estávamos dançando.
— Então eu não o vi se esfregando em você?
Shona sufocou uma risadinha e revirei os olhos.
— Você precisa encontrar um cara decente em vez de agir como se
estivesse sedenta toda vez que um cara olha em sua direção.
Ela fingiu se engasgar.
— Eu não ajo como se estivesse sedenta.
— Você sabe que é verdade. Mas você vale mais, Shona.
— Olhe só para você, agindo toda elegante agora que mora naquela
cidade caipira.
— Você percebe que isso é uma contradição completa, certo? Você não
pode ser elegante e caipira.
— Que seja. — Ela empinou o nariz, empurrando as tranças do ombro. —
Tudo o que estou dizendo é que você não me liga mais, muito ocupada com
seus novos amigos.
— Você sabe que não é isso. — A culpa me envolveu. — Eu só...
— Sim, eu sei. — Shona me olhou. — Estou brincando.
— Estou com um número novo. Portanto, agora podemos conversar o
tempo todo. Você vai ter que salvar meu contato como “vadia elegante” ou
algo assim. — Eu sorri.
— Você realmente acha que eu deixaria o Jermaine olhar meu celular?
Mal falei com ele desde que você foi embora.
O silêncio preencheu o espaço enquanto nós duas olhamos para o mar de
pessoas. Havia uma fina camada de fumaça, o cheiro mordaz de erva
permeando o ar.
— Shona — eu disse, finalmente quebrando a tensão entre nós. — Você
entende por que fui embora, certo?
— Claro, eu entendo. Parte de mim ficou aliviada quando a sua mãe disse
para você fazer as malas. Mas a outra parte, a egoísta, não consegue te
perdoar por me deixar para trás. Sei que isso me torna uma vadia, mas não
posso evitar.
— Eu sei. — Passei os braços em volta dela e a abracei com força. —
Também lamento ter que ir embora.
— Você deve aproveitar ao máximo e se lembrar que partiu, Mya. Você
escapou deste lugar. — Ela recuou, me dando um sorriso enorme. — Agora,
me fale sobre aqueles garotos brancos com quem você anda. — Seu sorriso
se tornou sugestivo.
— Eles são só... caras.
— Você gosta de um deles.
— Não gosto, não. — Mentirosa.
— Ah, sim, está escrito em seu rosto. Me deixe adivinhar, ele é como
Justin Timberlake. Você sempre teve uma queda por JT.
— Ele não é... — Uma comoção perto da porta chamou minha atenção.
— Mya, ei, Mya, você está aqui? — A voz de Jermaine ecoou pela casa e
minha coluna enrijeceu.
— Puta merda — Shona sussurrou. — Não se preocupe, querida, vou
pedir ao Jesse e ao Leroy para lidarem com ele.
— E provocar a Terceira Guerra Mundial? — Olhei para ela. — Sabia
que ele iria me encontrar. Eu só achei que seria nos meus termos. —
Colocando a bebida na mesa, comecei a passar por ela.
— Espere, você tem certeza disso? — ela me perguntou.
— É melhor que seja assim. — Um entendimento silencioso passou entre
nós. Se eu não fosse até ele, Jermaine e seus rapazes causariam problemas
para Shona e o irmão. Algo que eu não podia deixar acontecer.
— Se ele colocar um único dedo em você, me chame, tá? — Jesse me deu
um aceno tranquilizador.
A energia nervosa vibrou através de mim enquanto eu cortava o mar de
pessoas e seguia para a frente da casa de Shona. Jermaine estava na porta,
com os olhos duros e frios. Fazia três meses desde que eu o vi. Três meses
em que ele ficou mais forte e cobriu mais de sua pele escura com tatuagens.
Três meses para deixar seu amor por mim se transformar em ódio.
— Baby, você está linda — ele falou baixinho, deixando seu olhar correr
pelo meu corpo. Estremeci, sua atenção não era mais familiar e segura.
— J. — falei com frieza. — Faz algum tempo.
— Ei, Shawn, saia daqui. Eu e a minha garota temos que conversar. —
Vacilei por dentro.
Sua garota.
Ele ainda pensava em mim como sua garota. Mas eu não era mais sua
namorada desde o dia em que deixei Fallowfield Heights.
Seus rapazes se moveram, prontos para se dispersar na festa, mas eu falei:
— Eles têm que ir embora. Vou falar com você se eles saírem.
Jermaine arqueou a sobrancelha.
— Vai ser assim, é?
— Vai — falei impassível, cruzando os braços e olhando para ele.
— Tudo bem. Vou encontrar vocês mais tarde — ele falou aos caras e
todos saíram da casa.
— Vejo que você arranjou uns cachorrinhos. — Eu não queria pensar no
que ele havia feito para ganhar o respeito deles.
— Meu Deus, por que você tem que ser assim? Achei que poderíamos
conversar. — Ele caminhou em minha direção. — Conversar, nos beijar...
fazer as pazes. Você me deve, garota. — Ele estendeu a mão para mim, mas
eu a afastei.
— Não te devo nada mais do que uma explicação.
— Então vai ser assim? — Jermaine esfregou o queixo.
— Vamos lá fora, preciso de um pouco de ar. — Eu não conseguia
respirar com ele me olhando assim.
Passando por ele, saí para a noite fria. Shona morava em uma das partes
mais agradáveis do bairro, então tínhamos um pouco de privacidade. Fui para
a lateral da casa, onde eu sabia que havia um banco e me sentei. Jermaine me
seguiu, mas não se sentou. Parecia mais alto. Com a expressão um pouco
mais velha de alguma forma. Não havia nenhum sinal do jovem que deixei
para trás.
— Como está sua mãe? — perguntei, quebrando o silêncio. — Aposto
que ela ficou muito desapontada por você ter abandonado a escola.
Ele estalou a língua, dando de ombros.
— Eu fiz o que tinha que fazer.
— Besteira. A escola era a única coisa que dava certo para você.
— E daí? O máximo que eu poderia esperar da vida era trabalhar em uma
loja de conveniência ou servir bebidas no bar do Keelan. Que se foda isso.
— Pelo menos você estaria em segurança. Pelo menos seria um trabalho
honesto.
— Merda, Mya, você esteve três meses em sei lá onde e já está falando
bobagem. Fizeram uma lavagem cerebral em você? Encheram sua cabeça
com sonhos de uma vida melhor? — Ele bufou. — Tenho novidades para
você, garota. Isso é tudo que temos. A vida nunca será diferente.
Meu coração doeu com suas palavras. Pelo garoto que conheci. Jermaine
foi cegado pela promessa de dinheiro e status. Ele não conseguia ver que
havia outra maneira, como muitos homens em nossa vizinhança.
— Não precisava ser assim — sussurrei, inclinando a cabeça para trás
contra o revestimento.
Jermaine segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos do jeito que ele
fez tantas vezes. O que no passado me trouxe paz, parecia errado agora.
— Foi sempre você, Mya. Você era minha âncora neste lugar fodido que
chamamos de lar. Contanto que eu tivesse você, nada mais importava.
Os cantos dos meus olhos se encheram de lágrimas.
— Nós dois sabemos que isso não é verdade. Eu nunca fui o suficiente.
Se eu fosse, você teria parado.
— Você me deixou. Você me deixou, merda — ele repetiu, várias e
várias vezes, com a voz embargada de dor. Eu queria consolá-lo, dar-lhe
conforto do jeito que havia feito tantas vezes antes. Mas não fiz.
Eu não podia.
— Fui embora porque sabia que se ficasse, nunca sairia daqui. E eu quero
mais, J. Quero ir para a faculdade e me formar. Quero uma casa, uma família
e um emprego. Eu quero mais do que... do que isso.
— Você sempre foi boa demais para este lugar. — Ele olhou para a
escuridão.
— Lamento ter fugido, lamento mesmo. Mas não tive outra escolha. Vi
você ser espancado até apagar e então fui agredida. Eles me agrediram com o
seu sangue nas mãos. Tem alguma ideia de como foi? Achei que eles iam...
— As palavras se alojaram na minha garganta enquanto as memórias
nebulosas inundavam minha mente.
A dor.
A trituração de osso com osso.
As risadas.
Muitas risadas.
Sangue. Em todos os lugares.
— É a vida, Mya.
— Ah, Deus. — Puxei a mão e fiquei de pé. — Ouça o que você está
dizendo. Mesmo agora, mesmo sentado aqui me ouvindo dizer por que fui
embora, ainda não é o suficiente. Você deveria ir.
— Baby, não faça isso. — Ele se levantou, tentando me puxar para seus
braços, mas resisti, me afastando de seu aperto. — Você faz parecer que tudo
depende de mim, mas sabia quem eu era. Você sabia para onde minha vida
estava indo e me amava mesmo assim. E agora você acha que pode fugir e
fingir que não somos nada um para o outro? Que se foda. Você é minha,
Mya. Você sempre vai ser minha. Você não pode fugir para sempre. — Seus
olhos ficaram duros. — Um dia, você vai voltar correndo. Não dá para fugir
do gueto, baby. Você sabe disso.
Essa era uma coisa boba que dizíamos um para o outro. Eu implorava a
Jermaine para não sair com a gangue de Diaz, e ele me dizia que era o
destino. Mas nunca foi o destino. Era uma escolha, e ele já havia feito a
errada.
— Adeus, Jermaine — falei, me afastando devagar.
— Você está cometendo um erro, Mya — ele grunhiu, com um brilho de
raiva e tristeza nos olhos. Doía fisicamente me afastar dele. Mas eu tinha que
fazer isso. Eu tinha que colocá-lo no passado. Porque o amor não era
suficiente. Não para nós.
— Isso não é o fim — ele gritou atrás de mim enquanto eu me virava e
saía correndo pelos fundos da casa de Shona. Não olhei para trás. Não me
permiti chorar, gritar ou desmoronar.
Não até chegar à porta dos fundos e cair nos braços de Jesse, que estava à
espera.
CATORZE
Asher
— SOUBE que o treinador Hasson prendeu vocês em um jogo de exibição no
mês que vem. — Meu velho falava em tom calmo, mas ouvi a desaprovação
em sua voz. Não foi o que ele disse, mas como disse.
Meus amigos não sabiam disso enquanto comiam a lasanha da minha mãe
e tomavam o uísque de vinte e um anos do meu pai como se tudo estivesse
bem.
— Sim, foi meio que inesperado — Jason comentou. — Mas se significar
que vou jogar uma última vez com o time e arrecadar dinheiro para uma boa
causa, conte comigo.
— É melhor eu abrir meu talão de cheques então. — Meu pai sorriu, mas
isso só me fez lembrar de uma raposa astuta.
Todos riram, mas a mistura de risada tensa da minha mãe com a
exagerada do meu pai era quase insuportável.
Esta não era a primeira vez que bancava a família feliz com meus pais e
melhores amigos. Meu pai gostava do exibicionismo. Ele gostava de
apresentar uma frente unida e forte, e normalmente eu jogava junto sem
muita dificuldade. Mas isso era diferente. Parecia a última ceia antes de
caminhar para uma sentença de morte em sistemas de segurança e reuniões de
negócios, gravatas coloridas e ternos executivos.
— Isso seria muito gentil, sr. Bennet.
— Por favor, Jason, já falamos sobre isso. Me chame de Andrew.
Meu melhor amigo assentiu e tenho certeza de que o peguei com os olhos
brilhantes enquanto observava meu pai comandar a mesa. Jason e seu pai,
Kent Ford, não eram exatamente próximos. Havia muito ressentimento e
amargura ali, mas ainda parecia irônico que ele respeitasse tanto meu pai. Se
ele soubesse...
Afastando os pensamentos, coloquei mais lasanha na boca. Minha mãe
me lançou olhares apreciativos de vez em quando. Isso era tudo para ela.
Jantar. A conversa falsa. Meu pai podia ser um filho da puta frio e cruel, mas
em sua própria maneira distorcida, ele a amava. E se havia uma coisa que
Andrew Bennet nunca fazia, era romper um acordo comercial.
Casamento.
Paternidade.
Os negócios.
Era tudo a mesma coisa para ele. Uma série de transações em que as
pessoas trocavam dinheiro e serviços, promessas e sacrifícios para seguir em
frente e melhorar.
Meu pai teve a garantia de que seu filho seguiria seus passos. Minha mãe
conseguiu a imagem de uma boa família.
E eu ganhei quatro anos de futebol com meus amigos.
— Asher, filho, está ouvindo?
Falando no diabo... Meu pai olhou para mim.
— Eu, ah, desculpe.
— Eu estava dizendo aos caras como estamos entusiasmados por você
manter a tradição dos Bennet de ir a Pittsburgh no outono.
O sangue latejava nas minhas orelhas. Ele podia falar sobre qualquer
coisa, mas escolheu a única sobre a qual eu não queria falar.
— Andrew, não vamos aborrecê-los com histórias de como estamos
orgulhosos. Ainda há muita comida e fiz a sobremesa também.
— Está tudo bem, sra. Bennet — Cam falou. — Sempre podemos
reservar alguns minutos para conversar sobre faculdade, certo, Jase?
— Claro. Mal posso esperar o verão chegar.
— Seu pai me disse que a srta. Giles vai segui-lo até a Penn.
— Ela não o está seguindo, pai — resmunguei. — Ela já ia para lá.
— É mesmo? — Ele parecia genuinamente surpreso. — Não imaginei
que ela fosse tão inteligente. Está na hora de você encontrar uma boa...
— Andrew, por favor. Não vamos envergonhar o Asher na frente dos
amigos.
— Só estou dizendo, Julia, que uma boa mulher pode fazer um homem.
Quero dizer, olhe para nós. — Ele deu um tapinha na mão da minha mãe,
com os olhos brilhando com uma possessividade feroz que poderia
facilmente ser confundida com adoração.
Mas eu o conhecia bem.
Sabia que minha mãe era um peão em seus jogos, assim como eu.
— Na verdade, sr... quero dizer, Andrew, o Asher está de olho em uma
garota.
Virei a cabeça para Jason e arrastei o dedo no meu pescoço. Ele sorriu
enquanto Cam quase cuspia o uísque.
— Ah, sim, a garota Hernandez. — O sorriso de meu pai ficou mais
tenso. — Bem, acho que é melhor ele se divertir antes de se estabelecer e se
concentrar no futuro.
Meus amigos franziram a testa com isso. Jase pigarreou, sem dúvida
pronto para vir em minha defesa, mas Cam o cutucou de forma discreta,
balançando a cabeça de leve.
Caramba. Isso estava se transformando em um show de horrores. Eu não
queria convidá-los, mas sabia que minha mãe ficava feliz com isso. E meus
amigos pareciam uma escolha segura.
Agora eu estava pensando seriamente se havia algo errado comigo.
Isso não era seguro. Tê-los aqui não era reconfortante.
Era doloroso. Me cortava por dentro como se eu tivesse engolido
pequenos cacos de vidro.
Deixei cair os talheres no prato e o barulho cortou o silêncio tenso.
Passando a mão pelo cabelo, dei a Jase um olhar suplicante. Eu nunca tinha
pedido a ele para me ajudar a escapar de um dos jantares de meus pais. Mas
esta noite era diferente.
Esta noite eu precisava de meus amigos.
Jase pigarreou.
— Isso estava ótimo, sra. Bennet. Mal posso esperar para ver o que tem
para a sobremesa. Depois temos que ir. Vamos nos encontrar com o resto do
time no Bell’s para o nosso evento anual pré-natal.
— É mesmo? — A expressão de meu pai ficou mais dura. — Você não
mencionou isso, filho.
— Acho que me esqueci — resmunguei.
— Bem, isso é ótimo — minha mãe acrescentou. — Espírito de equipe é
muito importante hoje em dia. Vou tirar os pratos e servir a sobremesa para
que vocês possam seguir o seu caminho. Asher, pode me dar uma ajudinha?
— Claro, mãe. — Eu me levantei e comecei a retirar os pratos. Eu sabia
que Jason e Cam não entendiam a atmosfera estranha no jantar, mas era
melhor assim.
Por enquanto, era melhor que eles não soubessem de toda a história.
Pelo menos, era o que eu dizia a mim mesmo.

— QUER nos dizer o que é que foi isso? — Jase manteve os olhos na estrada
enquanto nos afastávamos de minha casa. Só quando ela desapareceu no
espelho retrovisor que finalmente senti o peso do meu peito aliviar.
— Apenas o meu velho agindo como um babaca como sempre.
Ele me olhou de soslaio, apertando o volante.
— Tem alguma coisa acontecendo e você não quer nos contar, isso é fato.
Mas pare de besteira. Nós já passamos por isso. Eu com meu pai. Cam com a
mãe. Não há problema em deixar as pessoas entrarem, Ash. Você não tem
que lidar o que quer que esteja te deixando tão nervoso sozinho.
— A Fee é boa para você, cara. — Ignorei seu grande discurso e desviei
os holofotes para ele. — E apesar de tudo o que aconteceu, estou feliz. Vocês
dois se merecem.
— Então é assim que vai ser? — ele perguntou.
— Por enquanto, sim. Mas avisarei quando estiver pronto para conversar.
— Estaremos aqui, sabe disso. — Cam se inclinou para frente no banco
de trás e apertou meu ombro.
As ruas de nossa pequena cidade passaram. Eu não conseguia me
imaginar mudando para Pittsburgh e vivendo em um lugar estranho com
pessoas estranhas. Mas acho que meu futuro estava manchado pelo fato de
não ser realmente o meu futuro.
— Ei — protestei depois de um tempo. — Este não é o caminho para o
Bell’s.
— Você percebeu, hein? — Ele sorriu, sinalizando para a esquerda e
entrando na rua onde Felicity morava.
— Se essa é a sua tentativa de me animar, não estou com vontade de
brincar de vela. — Já tinha feito muito disso nos últimos tempos.
Ele riu, sem dizer outra palavra enquanto entrava na garagem de Flick e
desligava o motor.
— Confie em mim — ele falou em tom enigmático. — Acho que você vai
gostar desta surpresa.
Surpresa?
Que merda era essa?
Saímos e segui Jason e Cam com relutância até a casa dos Giles. A última
coisa que eu queria fazer era sair e vê-los com suas namoradas. Eles
geralmente tentavam manter os toques e carícias ao mínimo perto de mim.
Tentavam e falhavam.
E eu entendia, de verdade. Eles estavam apaixonados. Tão profundamente
apaixonado que não conseguiam tirar as mãos delas. Mas essa merda era
nauseante em um dia bom, imagine em um dia em que tudo parecia horrível.
Jason não bateu. Ele simplesmente entrou como se fosse o dono do lugar.
Não me surpreendia. Ele já tinha o sr. e a sra. Giles na palma da mão, apesar
de suas preocupações iniciais sobre sua filha namorar o garoto de ouro do
futebol de Rixon.
Seguimos a risada feminina até a sala de estar e arregalei os olhos.
— Mya? — ofeguei. — O que você está...?
Ela se levantou, afastando os cachos selvagens do rosto.
— Oi.
Percebi Fee e Hailee sorrindo para nós pelo canto do olho.
— Podemos conversar?
— Eu... ah... claro — falei.
Jase me deu um tapinha nas costas, passando por mim enquanto eu ficava
preso no lugar, olhando para Mya.
— Vamos — ela disse, segurando minha mão e me levando para longe de
nossos amigos.
Fiquei tão surpreso e confuso que me arrastei atrás dela como um
cachorrinho perdido.
Mya continuou até chegarmos à porta dos fundos.
— Está frio — ela disse. — Mas achei que teríamos mais privacidade lá
fora. — Ela olhou para mim e esperou.
— Certo.
Soltando um pequeno suspiro, Mya assentiu antes de sair. Ela não estava
errada. O ar frio nos envolveu como dedos gelados. Ou talvez fosse apenas
apreensão com o que quer que ela queria falar.
— Puta merda — murmurei, enfiando as mãos nos bolsos da jaqueta.
Mya escolheu o balanço. Era grande o suficiente para dois, mas eu ainda
estava tão surpreso ao vê-la que optei por ficar de pé.
— Bem — ela começou —, tenho algo para você.
— É?
— Sim. — Um sorriso hesitante apareceu em sua boca quando ela enfiou
a mão no bolso e tirou um pedacinho de papel. — Aqui.
Peguei o papel com as sobrancelhas franzidas em confusão enquanto li o
número escrito nele.
— Não estou...
— É o número do meu celular. Meu novo número de celular.
— Não entendi. — Cocei a bochecha.
— Acabou, Asher. Voltei lá e vi Jermaine por achar que precisava de um
encerramento, mas percebi uma coisa. Essa parte da minha vida acabou no
segundo em que fiz a mala e parti. Então, está acabado.
— Acabado? — Eu parecia um papagaio, mas não consegui processar o
que ela estava dizendo.
— Ainda quero levar as coisas devagar, mas o que estou dizendo é: se
você ainda me quiser, sou sua.
Sua.
Ela disse: “Sou sua”.
As palavras giraram na minha cabeça até que finalmente se estabeleceram
em cinco letrinhas.
Minha.
Minha.
Minha.
Mya estava dizendo que era minha... se eu ainda a quisesse.
Eu caí de joelhos na frente dela e deixei o pedaço de papel escapar de
minhas mãos enquanto segurava seu rosto.
— Você terminou com ele?
— Definitivamente. — Ela sorriu, com os olhos cheios de promessa.
— Você realmente quer ser minha, Hernandez? Porque vou ser carente.
Carente pra cacete. — Admiti. — Acordar e descobrir que você tinha ido
embora doeu. Mais do que jamais achei que doeria. — Me inclinando, apoiei
a cabeça na dela. — Mas descobrir que você voltou para casa, imaginar você
com ele, quase me matou.
— Sinto muito. Eu só... fiquei com medo, Asher. O que sinto por você me
assusta.
— É? — Me afastando, olhei nos olhos de Mya, precisando ver a verdade
ali. — Como você se sente sobre mim?
— Como se eu pudesse me perder.
— Eu nunca vou deixar isso acontecer — falei. — Sabe por quê?
— Por quê?
— Porque eu sempre vou te encontrar, Mya. — Entrelaçando os dedos
em seus cabelos, me inclinei e provei seus lábios. Uma. Duas. Três vezes. Só
para ter certeza de que isso era real.
Que ela era real.
Mya passou os braços em volta do meu pescoço, me puxando para mais
perto. Fiquei de joelhos, pressionando-a de volta no balanço dos Giles. Ela
disse que queria ir devagar, mas não pude resistir a prender sua perna em
volta do meu quadril e me esfregar contra ela.
— Asher. — Ela segurou minha jaqueta. — Nós provavelmente
deveríamos...
Não diga isso.
Não diga essa merda.
— Desacelerar.
Um gemido de frustração subiu pela minha garganta, mas sorri para ela
enquanto relaxava.
— Você vai me deixar louco, Hernandez.
Mya sorriu. E era tão puro e honesto que me senti me apaixonar ainda
mais por ela.
— Sinto muito.
— Não se desculpe comigo. Nunca. Se gostar de algo que estamos
fazendo, me diga. Se não gostar, também. Se precisar que eu diminua a
velocidade, me fale. Se precisar que eu acelere... — arqueei a sobrancelha de
forma sugestiva — definitivamente me fale.
Ela bateu no meu peito, olhando para mim como se eu tivesse perdido a
cabeça.
— É uma das coisas que mais amo em você, Mya. Você não tem medo de
falar. Eu não quero silenciar você. Não importa o quanto as minhas bolas se
tornem azuis.
— Ah, por favor, pare. — Ela estava rindo. — Você mãos. Use-as.
Me inclinei novamente, beijando um caminho de seus lábios até sua
orelha.
— Ah, eu uso — sussurrei. — E sempre penso em você.
— Asher... — Meu nome em seus lábios era como música para meus
ouvidos.
— Vamos lá, vamos sair com os outros.
— Sério? — A surpresa no rosto de Mya era adorável. Como se parte
dela realmente esperasse que eu a jogasse por cima do ombro e fosse até a
minha caverna para fazer o que queria com ela.
Quer dizer, pensar não era a mesma coisa que fazer. Certo?
Dei um beijo no topo de sua cabeça antes de puxá-la e passar o braço em
volta de seu ombro.
— Você e eu, Mya. Em nossos termos, certo?
— Certo. — Ela engoliu em seco, nervosa.
Eu ri, levando-a de volta para dentro para nos juntarmos aos nossos
amigos, me sentindo como o rei do mundo.
QUINZE
Mya
NO SEGUNDO EM que entramos na sala de estar da casa de Felicity, o
silêncio caiu sobre os quatro. Jason sorriu, resmungando algo que soou como
já estava na hora. Flick lhe deu uma cotovelada nas costelas, fazendo-o
grunhir de dor. Asher riu, segurando minha mão e me levando para o sofá
vazio. Ele se sentou primeiro, me puxando para o seu lado e passou braço ao
meu redor como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— Então — Flick falou, olhando de mim para Asher e vice-versa —, isso
significa que vocês dois estão juntos agora? — Ela lutou contra um sorriso.
— Estamos... — Olhei para Asher, sem saber se queria definir ou colocar
um rótulo quando tudo ainda parecia tão novo.
— Indo devagar — ele respondeu por mim. — Mas, só para esclarecer,
não pretendo olhar para outra garota, muito menos tocar. — Ele não estava
olhando para mim, mas eu senti as palavras alcançando minha alma. Era sua
maneira não tão discreta de me deixar saber que estava envolvido, e eu não
podia negar que suavizou algo dentro de mim.
— Isso é tão fofo. — Flick estava sorrindo.
— Enjoativo pra cacete, se você me perguntar. — Jason gemeu.
— Acha que me importo? — Asher me puxou para mais perto, dando um
beijo na minha cabeça. — Eu finalmente consegui a garota. Acho que isso me
dá um passe livre para esta noite, pelo menos. Além disso, tenho que assistir
você limpar os dentes da Fee regularmente — ele resmungou para Jason.
— Apenas agradeça por não ter que me ver limpar a bo...
— JASON! — Felicity gritou, tapando sua boca com a mão. — Isso é
nojento.
— Não, baby, é delicioso — ele murmurou contra a palma da mão dela.
— Sério, cara, estamos felizes por vocês. — Cam nos deu um pequeno
aceno de cabeça, movendo Hailee, que estava enrolada em seu colo, com a
cabeça apoiada em seu peito. — Pelo menos agora podemos sair sem você
reclamar — ele provocou.
— Vá se foder. Sou uma vela incrível.
— Ei. — Eu belisquei sua costela. — O que você está tentando dizer?
Os olhos de Asher encontraram os meus, brilhando com luxúria e outras
coisas que eu não estava pronta para reconhecer.
— Você sabe que eu quero você, Hernandez. É você quem nos faz andar
a passo de caracol.
— Ash... — Minhas bochechas queimaram quando senti todos nos
observando, sem dúvida imaginando do que ele estava falando.
— Diga isso de novo — ele murmurou, com os olhos arregalados de
admiração.
— Dizer o quê? — Franzi o cenho.
— Ash. Você me chamou de Ash.
— Chamei? — Eu nem tinha percebido.
— Chamou, sim. Sabe o que isso significa, Hernandez?
— Não, mas tenho a sensação de que você vai me contar.
Ele se inclinou, roçando o nariz no meu, esquecendo completamente que
tínhamos uma audiência.
— Isso significa que você deve realmente gostar de mim.
— Você está certo. — Sufoquei o aumento das risadas.
— Diga, Mya. Admita que gosta de mim.
— Você realmente precisa me ouvir dizer isso? — Ele me puxou para sua
bolha e eu não poderia negar, mesmo se quisesse.
Ele assentiu, com os olhos implorando por mim.
— Gosto de você. — Foi um sussurro destinado apenas aos seus ouvidos.
Mas no verdadeiro estilo Asher Bennet, ele inclinou a cabeça para trás e
rugiu: — Ela gosta de mim. Mya Hernandez gosta de mim.
A risada ecoou ao nosso redor e nossos amigos contagiados com sua
empolgação.
— Você é louco — falei, agarrando sua jaqueta, persuadindo-o a voltar
para mim.
— Sim, tem razão, sou mesmo. Sou louco por você. — Ele cobriu minha
boca com a sua, me beijando de forma desajeitada. Ávida. Empurrando a
língua em minha boca e enredando-a com a minha.
Não parecia que estávamos indo devagar. Parecia que estávamos nos
jogando de forma imprudente um no outro, sem pensar na força com que
poderíamos colidir.
— Asher — seu nome era um sussurro sem fôlego enquanto eu tentava
segurar meu último fragmento de defesa contra ele.
Mas era inútil.
Asher era a minha fraqueza.
— O QUE ESTÁ te deixando tão feliz? — Tia Ciara me olhou na manhã
seguinte.
— Nada — falei, desviando os olhos.
— Não pense que sou idiota. Você está com aquele olhar jovem e
apaixonado. Por favor, me diga que não caiu no charme daquele atleta?
— Asher, tia, o nome dele é Asher.
— Não preciso saber o nome dele. Ele é encrenca, e eu achei que você
fosse mais esperta, minha garota.
— Tia, por favor. — A culpa envolveu meu coração. Eu não queria
desapontá-la. Não quando ela era uma das últimas pessoas na minha vida que
se importava.
Meu retorno à minha casa foi um desastre em mais de um aspecto. Minha
mãe mal esteve por perto, ocupada no The Diamond com o trabalho. Ela me
convidou para ir com ela, mas eu não conseguia ficar naquele lugar. Vê-la
envolta em Keelan, esperando para atender todas as suas necessidades, ou
ainda pior, no palco dançando para ele e seus amigos.
Um estremecimento doloroso passou por mim.
Quando dei a ela meu novo número de celular, ela me abraçou com força
e me disse que essa era a coisa certa. Que ela estava realmente aliviada por eu
finalmente deixar Jermaine e minha vida em Fallowfield Heights para trás.
Uma vida que a incluía.
— Agora você está carrancuda como se todo o seu mundo tivesse
acabado. O que está acontecendo com você, Mya?
— A minha mãe simplesmente me deixou ir embora. — Não falei muito
sobre a viagem e tia Ciara não perguntou. Ela sabia o quanto sua irmã podia
ser inconstante. Essa era uma das razões pelas quais ela mal nos visitou
quando eu era mais jovem.
— Porque ela sabe que você terá uma vida melhor e melhores
oportunidades fora daquele lugar.
— Sim, mas ela é minha mãe. Achei que pelo menos ficaria triste.
— Mya, ela te ama muito, mas ela também é diferente de mim e de você.
A Sofia precisa se sentir necessária. Ela precisa da validação que o amor de
um homem lhe dá. Depois que seu pai foi embora... — Tia Ciara hesitou.
Meu pai nunca esteve por perto. Ele foi embora antes mesmo de eu
nascer. Demorou um pouco para aceitar que eu nunca o conheceria, mas fiz
as pazes com isso há muito tempo.
— Ele arruinou algo dentro dela — ela continuou. — Algo que o Keelan
recuperou. Ele pode não ser quem você ou eu escolheríamos, mas ele sempre
cuidou dela. Manteve um teto sobre sua cabeça e comida na mesa.
— Eu sei — sussurrei.
Mas tinha um preço. E esse preço era seu amor. Ele exigia isso ao
máximo. E em algum lugar ao longo do tempo, tive que competir por sua
atenção.
Até que eu parei.
— Agora me fale sobre esse menino Bennet.
— Mesmo? — Meu rosto se iluminou e parte de mim odiava o quanto eu
já tinha deixado Asher me envolver. — Você quer saber?
Ela estalou a língua.
— Se colocar um sorriso em seu rosto, acho que posso ouvir por cinco
minutos. Mas não fique com a ideia errada, Mya. Ainda acho que é encrenca.
Esta cidade é mais atrasada do que você pensa. Não é fácil aceitar que um de
seus astros do futebol saia com uma de nós.
— Não existe eles e nós, tia.
Ela franziu o cenho e eu soube que ela via através de mim. Porque
embora eu quisesse acreditar em minhas próprias palavras, parte de mim
sabia que ela estava certa. Mas já era tarde demais. Asher não me deixaria
mais fugir.
E eu não queria.
Queria fazer o que eu fazia de melhor por algo que desejava. Pelas
pessoas com quem eu me importava.
Lutar.

— VOCÊ VAI DAR um presente para o Asher?


Oito palavrinhas que eu nunca esperei ouvir. Mas eu deveria saber que
Felicity já estaria planejando nosso casamento. Ela não tinha parado de sorrir
desde que Asher e eu entramos na sala de estar juntos, há dois dias. Agora era
um dia antes da véspera de Natal e ela estava me perguntando sobre os
presentes.
— Não, não vou comprar nada para ele. Não estamos...
— Ah, meu Deus — ela gemeu. — Se você disser que não estão juntos
mais uma vez, vou explodir. Você já viu vocês dois? Vocês mal conseguem
manter as mãos longe um do outro. — Um sorriso curvou o canto de sua
boca.
— Não estamos assim.
— Tente dizer isso para outra pessoa. Você está caidinha, garota. Quase
tanto quanto o Asher.
— Eu só... merda, não era para acontecer tão rápido.
Ela tinha razão.
Asher e eu estávamos inseparáveis nas últimas quarenta e oito horas. Foi
só quando Flick insistiu que eu a ajudasse com algumas compras de última
hora, e a mãe de Asher precisou de sua ajuda com os preparativos para a festa
de véspera de Natal que eles estavam promovendo, que deixamos um ao
outro.
— Você deveria comprar algo para ele.
— Não acha que é um pouco cedo para presentes? Não somos nem
oficiais.
Flick me lançou um olhar penetrante enquanto inspecionava algumas
carteiras na seção masculina.
— Você planeja ficar com outros caras?
— Você sabe que não. — Revirei os olhos.
Eu não tinha planejado ficar com nenhum cara quando fui morar com
minha tia. Mas aqui estava eu, a garota não oficial de Asher Bennet.
— O Asher deixou bem claro que só tem olhos para você. — Felicity
interrompeu meu devaneio. — Com rótulo ou não, vocês estão juntos. Não
sei qual é o grande problema. Isso é uma coisa boa, Mya. Esse garoto é louco
por você. — Ela trocou uma carteira por outra. — Você vem amanhã, certo?
Para a festa nos Bennet?
— Não sei. — Asher disse que me queria lá, mas depois de tudo que ele
me disse sobre seu pai, eu não tinha certeza se era uma boa ideia.
— Você tem que vir. Todos nós vamos. Significaria muito para ele se
você estivesse lá.
Meu coração se apertou. Eu queria estar lá ao lado dele, queria mesmo.
Mas não queria piorar as coisas.
— Você está preocupada que os pais dele não aprovem? — Flick baixou
a voz.
— Se as pessoas não podem me aceitar por causa de onde eu venho ou da
cor da minha pele, é problema delas — respondi, a meia verdade azedando
em minha língua. — Só não quero... — Apertando os lábios, engoli o segredo
de Asher. Aquele que prometi não contar.
— Você está agindo de forma estranha. — Felicity franziu a testa para
mim.
— Está tudo bem para você — me desviei. — Toda a família do Jason te
ama.
— E o sr. e a sra. Bennet também vão te adorar. Você só precisa dar a
eles a chance de ver o quanto é boa para o filho deles.
Fingi olhar para alguns suéteres próximos, passando os dedos sobre o
material macio.
— Todos nós sabemos que te algo acontecendo com o Asher — Flick
veio atrás de mim. — Sei que o Jason falou com você sobre estar lá para
apoiá-lo.
— Não é isso. — Me afastei depressa, olhando para ela.
— Mya, eu nunca pensaria isso. Tudo o que estou tentando dizer é que, se
você precisar falar sobre qualquer coisa, estou aqui.
— Obrigada, eu agradeço.
Ela sorriu, com travessura brilhando em seus olhos.
— Agora, sobre seu presente. Tenho uma ideia.
Segui Felicity enquanto ela andava pela loja como uma garota em uma
missão. Mas não alcançamos nosso destino porque ela parou no meio do
caminho, cheia de raiva.
Meus olhos as encontrou de imediato: um grupo de garotas da escola,
falando em sussurros abafados, com olhares de julgamento em nossa direção.
— Acho que deveríamos ir — Flick disse. As palavras delas soaram
entrecortadas, mas uma delas chegou até mim.
— Não sei o que ele vê nela. Acho que ele conseguiria coisa muito
melhor.
As palavras reverberaram dentro de mim e algo explodiu. Antes que eu
soubesse o que estava fazendo, marchei até elas.
— Algum problema? — Arqueei a sobrancelha e cruzei os braços. Mas
me deparei com uma parede de resistência gelada. — Então você pode dizer
nas minhas costas — zombei —, mas não na minha cara?
— Mya. — Felicity segurou minha mão. — Vamos lá, elas não valem a
pena.
— Você está certa, não valem mesmo. — Fechei as mãos ao lado do
corpo enquanto eu olhava para a garota que tinha falado alto o suficiente para
eu ouvir. Em Fallowfield Heights, se alguém zombava daquele jeito, havia
confronto, e oito em cada dez vezes geralmente resultava em agressão. Mas
este não era meu antigo bairro e a última coisa que eu queria fazer era viver
de acordo com o estereótipo que eles tinham de mim.
Quase me matou ir embora, mesmo que Felicity estivesse certa. Elas não
valiam a pena. A fofoca cruel não era novidade. Eu ouvia sussurros e olhares
de desaprovação desde que cheguei a Rixon e me tornei membro dos quatro
por cento.
— Ignore-a — Felicity insistiu enquanto me conduzia para fora da loja.
— Kellie Ginly é só uma vadia ciumenta.
— Ela é do time de ginástica, certo?
Flick assentiu. Eu tinha ouvido as histórias. Sabia tudo sobre a
preferência de Asher por ginastas flexíveis que pareciam cópias umas das
outras. Loiras. Peitos grandes. Pernas bronzeadas que se estendiam por
quilômetros.
Preferência do passado, eu me lembrei.
— O Asher não tocou em nenhuma delas por meses — ela me assegurou.
— Não importa.
— Claro que importa. Você nem sempre tem que ser tão dura perto de
mim. Você é uma das minhas melhores amigas, Mya.
— Eu odeio isso, sabe? Deixei Fallowfield Heights porque sabia que o
Jermaine só me arrastaria para baixo. Mas estando aqui, os olhares e
sussurros são como um lembrete permanente do que estou tentando escapar.
— Você não pode deixá-las vencer. As pessoas que gostam de você, que
te conhecem, não se importam com nada disso. O Asher não se importa com
nada disso. Além do mais, onde está a garota que me disse para defender meu
homem?
— Ah, ela está aqui em algum lugar — respondi.
— Bem, está na hora de reencontrá-la, porque os Ginley são bons amigos
do sr. Bennet, o que significa que a Kellie provavelmente estará lá amanhã à
noite. E se você não reivindicar o Asher, ela não terá nenhum problema em
assumir a função por você.
Meu peito se apertou quando a imaginei tentando dar em cima de Asher.
— Agora tenho certeza de que devo evitar a festa.
— O quê? — Felicity me olhou boquiaberta. — Por que você faria isso?
Você não ouviu nada do que acabei de dizer?
— Ah, ouvi muito bem — gritei, incapaz de pensar em qualquer coisa,
exceto no quanto eu bateria nela se ela sequer olhasse para Asher amanhã à
noite.
Porque oficial ou não, ele era meu.
Assim como eu era dele.
DEZESSEIS
Asher
A CASA PARECIA como se o elfo de Um duende em Nova York tivesse
feito uma visita durante a noite, isso se ele usasse enfeites e guirlandas de alta
qualidade para adornar cada prateleira e superfície plana.
— O que você acha? — minha mãe perguntou, dando os toques finais na
árvore principal. Havia pelo menos mais três espalhadas pela casa, mas essa...
essa era o grande destaque.
— Está ótimo, mãe. — Fiz uma careta.
— Puxa, pense só, este é o último Natal em que você estará aqui. — Sua
voz falhou, e eu me senti um merda absoluto. Meu pai e eu éramos tudo que a
minha mãe tinha, e ela estava certa, eu iria embora no próximo outono.
— Não fique chateada. Virei te visitar. Ainda vamos comemorar os
feriados juntos.
— Você é um bom garoto, Asher. — Ela deu um passo para trás para
admirar seu trabalho, envolvendo o braço na minha cintura. — Obrigada por
fazer isso.
— Mãe, vamos lá...
— Não, filho. Sei que não é fácil para você e sei que não entende por que
tolero seu pai. Mas ele é tudo o que tenho.
— Ei — dei a ela um sorriso fácil, apesar do nó no estômago —, não
vamos fazer isso agora. É a sua grande noite. Seus convidados chegarão em
breve.
— Como tive tanta sorte com você, meu doce menino? — Ela apoiou a
cabeça no meu ombro enquanto nós dois ficamos ali olhando para a árvore de
Natal tão perfeitamente arrumada que era impossível ver as imperfeições.
Muito parecida com a nossa família.
Para o mundo exterior, tínhamos tudo. Dinheiro. A casa grande com o
quintal ostentoso. Uma carreira de sucesso em que meus pais conviviam com
celebridades e gente tão ricas que nos fazia parecer muito pobres. Mas era
tudo uma fachada. A vida perfeita e brilhante escondendo uma verdade
sombria.
— Sua amiga ainda virá?
Mais cedo, não resisti e contei a minha mãe tudo sobre Mya depois que
ela me pegou checando o celular várias vezes. Hesitei no começo, mas depois
do jantar desastroso no outro dia, eu precisava tê-la ao meu lado.
— Espero que sim.
— Se ela for tão especial quanto você diz, tenho certeza de que ela virá.
Meus olhos se voltaram para a porta da frente. Os convidados chegariam
a qualquer segundo e na próxima hora, nossa casa se tornaria lotada com as
pessoas mais importantes de Rixon.
A campainha tocou e minha mãe levou a mão ao coração, assustada.
— Meu Deus, está na hora do show.
Hora do show.
A palavra ecoou em minha cabeça, quase tão familiar quanto meu próprio
nome. Ela me dizia sempre as duas coisas enquanto eu crescia.
É hora de dar um show.
É hora do show, meu doce menino.
Vamos tomar nossos lugares.
O roteiro era a nossa vida, nossa casa, o palco, e sempre nos
apresentávamos da melhor maneira. Mas, ultimamente, as rachaduras
começaram a aparecer. Minha mãe ficava mais emotiva e eu me sentia cair
cada vez mais no buraco cavernoso e sombrio dentro de mim.
— Clark, Karen, que bom ver vocês dois. — Minha mãe abraçou a mãe
de Cam. —Puxa, você está radiante.
— Eu me sinto bem, obrigada, Julia.
— E o Xander — minha mãe esticou a cabeça em volta do ombro de
Karen. — Ele está aqui?
— Na verdade, contratamos uma babá. Pensei em aproveitar uma noite
rara sem criança grudada ao meu lado como cola. Ele está dormindo à espera
do Papai Noel.
Minha mãe me lançou um olhar melancólico.
— Me lembro dessas coisas como se fosse ontem. Bem, estou feliz que
vocês dois estejam aqui. O Andrew está por aqui em algum lugar. Venha,
vamos pegar algo para vocês dois beberem.
Meus amigos vieram atrás deles, carregando uma variedade de presentes
e sacolas.
— O que é tudo isso?
— Pergunte a Felicity — Jason resmungou. — Ela insistiu em trazer
presentes para todos.
— É educado.
— É um exagero, baby. — Jason beijou a ponta do nariz dela. — Onde
fica o bar? Preciso de uma bebida.
— E a Mya? — perguntei a Flick.
— Ela virá.
Mas ela não tinha vindo com eles. Meu estômago se apertou. Cameron
deve ter notado minha carranca, porque apertou meu ombro ao passar por
mim.
— Ela vem. Tenha paciência.
— O pai do Jase não vem?
Hailee empalideceu.
— Ele e a minha mãe tiveram uma briga. Eles disseram que virão, mas
foi péssimo. Eu não os via discutir assim há muito tempo.
— Que droga — Acho que não éramos os únicos que estavam
escondendo segredos de família. — Parece que todos nós precisamos de uma
bebida forte então. Me sigam.

O TILINTAR de talheres contra o vidro deixou a sala em silêncio. Só havia


lugar para ficar de pé na festa. Vi o mar de rostos familiares, todos
observando meu pai enquanto ele tomava o centro do palco para dar o que eu
só poderia supor que seria outra performance estelar.
Avistei o treinador Hasson e sua esposa, Sandra. Em seguida, o pai de
Jason, Kent e a mãe de Hailee, Denise. Eles finalmente chegaram, embora eu
tenha percebido que não haviam trocado uma única palavra desde a chegada.
Aparentemente, os Bennet eram melhores atores do que os Ford-Raine.
Mas um rosto estava faltando.
Enquanto meus amigos estavam de mãos dadas com suas namoradas, eu
estava sozinho.
Verifiquei o celular pelo menos cinquenta vezes, me perguntando onde
Mya poderia estar, não querendo acreditar que ela realmente tinha me dado
um bolo no que estava provando ser uma das noites mais merdas da minha
vida.
— Bem-vindos à nossa celebração anual de Natal — meu pai começou.
— Acho que digo isso todos os anos, mas a chance de passar um bom tempo
com aqueles que amamos é algo que não considero garantido. Obrigado por
escolherem passar a noite conosco. Esperamos que vocês gostem das
comidas, bebidas e conversas questionáveis. Feliz Natal a todos.
— Feliz Natal. — O brinde da multidão vibrou em meu peito e tive
vontade de erguer a taça e declarar minha própria versão de Feliz Natal.
Porque ver meus amigos e suas famílias se agarrarem a cada palavra do
discurso de meu pai não me deixou nada feliz.
— Isso foi meio rápido — Jason sussurrou com o canto da boca. — Eu
estava esperando um discurso do tipo uma ode a Asher, o garoto dos meus
olhos.
— Vá se foder — murmurei, abrindo sorrisinho. Meu pai não estava
errado, as bebidas estavam boas, o calor persistente do uísque corria em
minhas veias me dando um leve zumbido.
— Filho — uma mão pesada pousou em meu ombro. — Posso pegar você
emprestado por um segundo?
— Claro, pai. — Não é como se eu tivesse escolha.
— Vou devolvê-lo inteiro — ele disse aos meus amigos.
Era uma piada
A porra de uma piada.
E ainda assim, parecia um tiro no meu peito.
— E aí, pai? — Limpei a garganta, ciente da ligeira tensão em minhas
palavras.
— Você conhece os Ginly, não é? — Ele me guiou até um homem alto
com cabelos grisalhos ralos. — Malcolm, você se lembra do meu filho,
Asher.
O homem estendeu a mão.
— Como eu poderia me esquecer? Parabéns pela ótima temporada, filho.
— Obrigado — grunhi. É claro que ele se lembrava de mim. Eu estava na
classe da filha dele desde a escola primária. Sem mencionar o fato que que eu
sabia que ele era um ávido fã dos Raiders.
O que meu pai estava jogando?
— Malcolm estava me contando antes que a Kellie acabou de aceitar uma
bolsa de estudos integral para atletas em Pittsburgh. Não é ótimo?
— Sim. — O sangue drenou do meu rosto quando a realização me
ocorreu. Isso era uma armação. A tentativa de meu pai de ficar de olho em
seu futuro e evitar distrações.
Distrações como Mya.
Meu coração se apertou. Ele nunca iria aceitar que eu namorasse com ela.
Não importava o quanto ela fosse brilhante, inteligente ou bonita.
Mya não se encaixava no plano.
Seu plano.
Portanto, esta era a tentativa idiota de meu pai de redirecionar as coisas.
— Ah, falando no diabo. Olá, docinho. — Malcolm colocou o braço em
volta do ombro de Kellie e puxou-a para a conversa. Ela piscou os olhos
diretamente para mim, sorrindo com timidez. — Oi, Asher.
— Kellie. — Dei a ela um aceno de desdém.
— Você soube? — Ela colocou uma mecha de cabelo loiro atrás da
orelha. — Seremos Panthers juntos, não é ótimo?
— É...
— Asher?
Minha pulsação acelerou com o som da voz de Mya, mas não foi nada
comparado à maneira como meu coração acelerou quando me virei e coloquei
os olhos nela. Não, isso não fazia justiça à maneira como eu a absorvi. Puta
merda... ela parecia... engoli em seco tentando organizar meus pensamentos.
Mas tudo o que pude ver foi a seda preta deslizando sobre seu corpo como
uma cachoeira, terminando logo acima do joelho, justo em sua cintura e
fluindo sobre os quadris. Seus cachos selvagens estavam com uma grande
presilha de cabelo e os sapatos... puta merda, seus sapatos tinham quinze
centímetros de pura luxúria.
— Você veio. — O canto da minha boca se ergueu quando passei a mão
pelo cabelo.
— Sim. — Mya sorriu de volta. — Esses saltos estão me matando e eu
realmente gostaria de uma bebida.
— Vamos pegar uma bebida para você. — Dei um passo em direção a ela
quando a tosse do meu pai me puxou de volta.
— Não vai nos apresentar, filho?
— Claro. — Dei a Mya um sorriso tenso, esperando que ela pudesse ver o
pedido de desculpas em meus olhos por qualquer merda que estava prestes a
sair da boca do homem. Com um passo para o lado dela, dei ao meu pai toda
a atenção, implorando em silêncio para que ele não fosse um idiota.
— Você deve ser a Mia — ele disse. — A amiga do Asher da escola.
— É My... — Ela segurou minha mão e a apertou de leve.
— É Mya — ela falou em tom educado. — Você tem uma casa adorável,
senhor.
— Obrigado. Tenho certeza de que deve ser muito para você absorver.
Ela ficou rígida ao meu lado e eu tive vontade de atacar meu pai e
perguntar a ele qual era o problema. Mas se eu queria que Mya ficasse por
perto, sabia que era o movimento errado.
— Bem, se você nos der licença. Sr. Ginly, Kellie — falei com o máximo
de entusiasmo que consegui. — Aproveitem o resto da festa.
Meu pai me deu um breve aceno de cabeça e seus olhos se encheram de
um aviso silencioso. Mas nada poderia acabar com meu humor agora que
Mya estava aqui.
Ela me fazia voar alto.
E quanto mais rápido eu a afastasse da toxicidade dele, melhor.
Segurando sua mão, eu a guiei pela casa até a cozinha, nem um pouco
surpreso quando encontrei meus amigos amontoados ao redor da enorme ilha,
tomando cerveja.
— Mya, você veio. — Flick foi a primeiro a nos ver. Ela se aproximou e
segurou a mão da minha garota. — Você está maravilhosa. Não me admira
que esteja atrasada. Venha, vou pegar uma bebida para você.
Eu a deixei ir, vagando até os caras.
— Eu te disse, você não tinha nada com que se preocupar — Jase falou
em tom presunçoso. — Ela está bem.
— Não sei — comentei. — Ela parece... diferente.— Claro, Mya estava
sexy e sedutora esta noite, mas não pude deixar de me perguntar se sua
transformação radical era só para exibição.
— Você está cego? Ela está sexy pra caramba.
No entanto, era exatamente isso. Para mim, Mya sempre foi sexy. Foi seu
estilo particular e decidido que chamou minha atenção em primeiro lugar. A
maneira como ela se portava, como parecia estar bem consigo mesma. Mas
hoje, ela se parecia com todas as outras mulheres na sala, muito bem-vestida,
usando muita maquiagem e até mesmo sorrisos falsos.
— Sério? Você está de mau humor porque ela se arrumou?
— Não é isso. É que não posso deixar de pensar que ela fez tudo isso para
se encaixar.
— Ela parece feliz. — Cam balançou a cabeça em direção às meninas que
estavam bebendo e conversando. Mya parecia à vontade, com o sorriso
caloroso e os olhos brilhando com interesse.
— Bem, isso foi esclarecedor e tudo mais — declarei. — Mas preciso de
um tempo com a minha garota.
Jase me deu um sorriso malicioso. A risada silenciosa do meu amigo me
seguiu enquanto eu me aproximava das garotas. Felicity me viu primeiro e
seus olhos brilharam de aprovação enquanto eu passava os braços ao redor de
Mya e a puxava contra meu peito.
— Oi — sussurrei em seu ouvido, desesperado para beijá-la ali.
Sua respiração ficou presa quando ela se virou para me ver.
— Oi. — Havia algo em seus olhos, uma possessividade feroz que eu
nunca tinha visto antes.
— Você está bem?
— Estou. E você? — ela respondeu em tom frio.
Sim, algo estava errado com ela.
— Vamos. — Segurei sua mão e a conduzi para fora da cozinha até o
segundo lance de escadas. Era mais quieto aqui. A área geralmente ficava
fora dos limites para as visitas.
— Asher, onde você está...
— Você vai ver. — Empurrei a porta do banheiro e a puxei para dentro.
Mya me observou com atenção enquanto eu caminhava em sua direção. Ela
apoiou as mãos no balcão. Caramba, ela estava linda. Não havia como negar
isso. Eu queria desembrulhá-la como um presente e explorar cada centímetro
de seu corpo.
— Você está... merda, Mya, eu nem tenho palavras.
Bela.
Sedutora.
Minha.
Tracei a mão na curva de seu pescoço.
— Você não precisava fazer tudo isso.
— Você não gostou? — A mágoa brilhou em seus olhos e eu apoiei a
testa em seu ombro.
— Você está me matando aqui, Hernandez. Da maneira mais doce
possível. Mas parece que...
Mya recuou, passando o dedo por baixo do meu queixo e erguendo meu
rosto para o dela.
— Como se eu tivesse tentado muito?
O silêncio passou entre nós.
— Tentou? — perguntei.
Ela segurou minha camisa, nos mantendo unidos.
— Isso é tudo para você. Juro. É o primeiro estágio do seu presente.
— Primeiro estágio? — Isso chamou minha atenção. — Gostei.
— Que bom. — Ela sorriu, brincando com minhas lapelas. Nossos corpos
estavam corados. A subida e descida de nossos peitos sincronizados. — O
que seu pai queria agora?
Enrijeci, sentindo a frieza em suas palavras novamente.
— Esqueça-o, Mya. — Meus lábios roçaram nos dela. — É só você e eu.
Ninguém mais importa.
— Ele quer que você esteja com alguém como ela, certo? Alguém como a
Kellie?
Merda.
Não era o rumo que eu queria para essa conversa. Mas eu sabia que não
devia mentir para ela.
— Acho que foi uma tentativa idiota de nos juntar.
— Ela vai para Pittsburgh no próximo outono? — Suas palavras estavam
repletas de possessividade, e eu gostei.
Gostei muito.
Mya estava com ciúmes. Normalmente era uma emoção feia. Eu sabia, já
havia sentido o suficiente no passado. Mas saber que Mya se importava o
suficiente para ficar com ciúmes... bem, isso me excitou.
— Você parece estar com ciúme. — Toquei seu pescoço novamente,
incapaz de resistir a inclinar a cabeça e passar a língua em sua clavícula,
sugando a pele de leve entre meus dentes. Mya gemeu baixinho, seu aperto
cada vez mais forte.
— A Kellie pode me querer, mas não é a pele dela que vou provar esta
noite. — Beijei e suguei seu pescoço, passando as mãos para cima e para
baixo em seu corpo coberto pela seda. — Não são as curvas dela que vou
tocar. Não é ela que eu quero... Caramba, você tem alguma ideia do quanto
eu quero estar dentro de você? — Me movendo contra Mya, me certifiquei de
que ela pudesse sentir exatamente o quanto eu a queria.
— Ash... — ela murmurou.
— Sempre haverá outras garotas esperando nos bastidores — falei, mal
tocando o canto dos lábios dela com os meus —, mas nenhuma delas é você.
E você, Mya Hernandez, é tudo que eu quero.
— Quero te dar o seu presente de Natal agora — Mya disse, um pouco
ofegante. — Mas acho que devemos voltar para a festa antes que alguém
perceba que saímos.— Ela endireitou o vestido, alisando o tecido sobre os
quadris. — Vamos? — Seus olhos se voltaram para a porta, mas tudo que
pude fazer foi ficar lá e observá-la.
Ela era hipnotizante.
Forte.
Bela.
Minha.
— Você realmente me trouxe um presente? — Comprei uma coisinha
para ela, mas não esperava nada em troca. Fiquei surpreso quando o canto de
sua boca se ergueu em um sorriso sedutor.
— Sim, trouxe um presente para você. Eu. — Ela umedeceu os lábios
enquanto observava meu corpo de cima a baixo. Quando seus olhos
encontraram os meus novamente, ela sorriu. — Feliz Natal, Ash.
DEZESSETE
Mya
— MYA, é muito bom conhecê-la. — A mãe de Asher sorriu para mim. —
Você está deslumbrante, querida.
— Obrigada, sra. Bennet. — Corei sob seu olhar. — Você também.
— Fiquei muito animada quando o Asher me disse que tinha convidado
alguém. Ele nunca trouxe uma garota para casa antes.
Asher segurou meu quadril, e eu não tinha certeza se ele estava me
tranquilizando ou se encolhendo com a confissão da mãe.
— Eu amei a árvore. Está linda.
Os olhos da sra. Bennet se arregalaram de alegria.
— É mesmo? Passamos a tarde inteira dando os retoques finais. Sempre
adorei as festas de fim de ano. — A expressão dela ficou triste. — Bem,
divirtam-se, pombinhos. E espero que tenhamos a chance de conversar mais
em breve.
Quando a sra. Bennet se desculpou, não pude deixar de sorrir. Ela foi
muito legal comigo. Mas não era por conhecer a mãe dele que estava
preocupada. Era pelo sr. Bennet.
Ele passou a maior parte da noite nos observando. Não acho que Asher
percebeu, feliz demais por estarmos juntos. Ele mal me deixou sair de sua
vista, completamente alheio à maneira como as pessoas nos observavam
enquanto ria com nossos amigos. Mas eu vi. Senti os olhares de desaprovação
roçarem minha pele como minúsculos cacos de vidro. Mesmo vestida com
esmero, usando um vestido que eu não podia pagar, ainda não era bom o
suficiente. Claro, em uma cidade como Rixon, as pessoas falavam. Todos
sabiam que eu era transferida da Filadélfia. Eles sabiam que uma garota como
eu não pertencia realmente a uma cidade como esta. No entanto, com a
atenção constante de Asher e a presença de nossos amigos, era fácil fingir
que sim. Fingir que eles estavam apenas olhando porque invejavam a mim e a
maneira como Asher tocava minhas costas ou beijava meu ombro. Ele era
muito atencioso e fofo. Eu estava determinada a não permitir que as opiniões
tacanhas dos amigos de seus pais estragassem a noite. Além disso, eu ainda
tinha que dar a Asher seu presente. Se eu pudesse descobrir como ficar
sozinha com ele mais tarde.
Voltamos para nossos amigos. As garotas estavam ocupadas preparando
coquetéis, então me sentei no balcão.
— A casa de barcos.
— O quê? — perguntei a Jason, que estava me observando com um
brilho conhecedor nos olhos.
— Você está tentando descobrir como ficar cinco minutos a sós com ele.
— Eu não estou... tudo bem... estou, sim. Eles têm uma casa de barcos?
Claro que tinham. Não havia nada que esta casa não tivesse.
— Ela não é mais usada — ele falou. — Mas é quente e fora de vista.
Você não será incomodada lá.
Franzi o cenho.
— Certo, isso é estranho.
Ele deu de ombros.
— Não há nada que não saibamos um sobre o outro, Mya, é assim que as
coisas são. — Jason balançou a cabeça para Asher e Cam enquanto eles
brincavam. — Ele está se apaixonando, você sabe.
— Eu sei — sussurrei.
Se aprendi alguma coisa sobre Asher em meu curto período em Rixon,
era que ele era um cara sentimental. Claro, geralmente era disfarçado em
camadas de piadas e humor, mas se procurasse com atenção, era possível
encontrar. Vulnerável e indefeso.
Eu sabia que o que ele sentia por mim era mais do que apenas uma
paixão. Porque eu também sentia.
— Só tome cuidado e se certifique de não magoá-lo.
Cobrindo a boca, sufoquei uma risada suave.
— O que foi?— Jason perguntou.
— Nada. — Todos pareciam muito certos de que seria eu quem o
machucaria.
Eu não sabia o que pensar sobre isso.
— Estou feliz por ele ter encontrado você, Mya.
— Do que vocês estão falando? — Asher apareceu ao meu lado. Ele
girou o banquinho e segurou minha mão, me levantando e levando a dele
para curva da minha bunda.
— Ah, você sabe... a vida, o universo e todas aquelas outras merdas
chatas — Jason grunhiu, me dando um último olhar penetrante. — Vejo
vocês dois mais tarde.
Os caras trocaram um aceno de cabeça antes de Asher apoiar as mãos na
minha cintura.
— Se divertindo?
— Surpreendentemente, sim.
— Você me diria se algo acontecesse, certo? Se alguém dissesse alguma
coisa para você?
— Pare. — Eu o beijei. — Não se preocupe. Estou bem, está tudo bem.
Na verdade, eu esperava que pudéssemos ir a algum lugar...
— Algum lugar? — Ele franziu o cenho em confusão, mas os arregalou
rapidamente. — Ah, você quer dizer... — Ele engoliu em seco. — Puta
merda, Mya. — Asher me puxou para mais perto, tirando os cachos perdidos
do meu rosto e aproximando os lábios da minha orelha. — Está falando
sério?
— Sei que disse que queria ir devagar, mas não se trata de ir devagar ou
muito rápido, é sobre o que eu sinto. O que sentimos. — Recuei para olhar
para ele. — Quero você, Asher.
A admiração brilhou em seus olhos quando ele baixou a cabeça e me
beijou de leve.
— Não acredito que estou dizendo isso — ele gemeu. — Mas precisamos
esperar. Pelo menos, até que os adultos tenham esvaziado o bar.
— Ah, tudo bem. — O desânimo apertou meu peito e eu baixei os olhos
para o chão.
— Ei, ei. — Asher inclinou meu rosto de volta para o seu. — Eu te quero.
Quero tanto que dói. Mas as coisas que quero fazer com você exigem tempo.
Não quero estragar tudo.
— Alguém já lhe disse que você fala muito bem, Asher Bennet?
— Talvez. — Ele me beijou de novo, forte e demorado, fazendo disso
uma cena total. Ouvi alguns suspiros de espanto, mas me recusei a dar-lhes
crédito. Eu não estava aqui por eles e sim por Asher.
Por nós.
— Então, Mya Hernandez — Asher ergueu a cabeça, sorrindo para mim.
— Você acha que pode esperar um pouco mais?
Dei a ele um sorriso malicioso.
— Se você prometer fazer valer a pena.
— Puta merda, eu mereço uma medalha por isso. — Seu olhar passou por
mim pela centésima vez esta noite. Amei sua atenção. Seu olhar aquecido me
fez ficar mais excitada.
Me inclinando, mordisquei o lóbulo de sua orelha.
— Talvez devêssemos servir mais bebidas e acelerar as coisas?
Asher riu, deixando seu olhar desviar de mim para a festa acontecendo
atrás de nós. Ele ficou rígido, e eu sabia que tinha visto o nosso público.
— Ou talvez eu devesse transar com você bem aqui contra o balcão e dar
a eles algo para realmente ficarem loucos.
Eu me afastei, envolvendo os braços na minha cintura, olhando para o
chão. Asher soltou um suspiro pesado, deslizando os dedos por baixo do meu
queixo e inclinando meu rosto de volta para o seu.
— Merda, Mya, eu não quis dizer... eu os vejo, você sabe. Eu os vi a
porra da noite toda.
— Ignore-os. — Segurei sua bochecha. — É o que estou fazendo. — Ele
permaneceu imóvel, seus olhos duros ainda olhando além de mim. — Ash,
olhe para mim. Ninguém mais importa além de nós.
Mesmo que eu não acreditasse totalmente em minhas próprias palavras,
eu acreditaria nelas esta noite por ele.
— Trinta minutos. Vou dar-lhes mais trinta minutos e depois vou levá-la
até a casa de barcos e me enterrar tão profundamente dentro de você que tudo
o que poderei ver será você, Mya.
— Trinta minutos — repeti, sentindo meu corpo em chamas com suas
palavras.
Não era muito tempo para esperar, mas já parecia uma eternidade.

ESPERAMOS QUASE UMA HORA. Provocando um ao outro com toques


e olhares fugazes enquanto a festa continuava ao nosso redor. Jason e
Cameron nos provocavam, fingindo engasgos e revirando os olhos cada vez
que caíamos em nossa própria pequena bolha.
— Seu pai bebeu demais — Asher disse a Jase enquanto permanecíamos
na cozinha. Foi nosso porto seguro durante a maior parte da noite. Os adultos
preferiam ficar na enorme sala de recepção, deixando a equipe do bufê
atendê-los com bandejas de canapés e taças de champanhe caro.
— Minha mãe não está muito melhor — Hailee comentou, parecendo
estar com os olhos um pouco vidrados. — Mas pelo menos eles fizeram as
pazes.
— Isso é uma coisa que nunca mais quero ver. Ainda não consigo
acreditar que os peguei quase... puta merda, nem quero me lembrar. — Jason
estremeceu, engolindo o resto da cerveja. — Certo. — Ele a colocou sobre a
bancada. — Não sei dos outros, mas nós estamos encerrando a noite.
— Estamos? — Felicity arqueou uma sobrancelha.
Ele passou um braço em volta do pescoço dela e puxou-a para perto.
— Você quer transar antes de apagar ou não?
— Jason!
— Cara, há algumas coisas que não preciso ouvir — Cam protestou.
A risada retumbou no peito de Jason.
— Como se você não fosse trepar com a minha irmã daqui uns vinte
minutos.
— Cara! — Todos nós gritamos desta vez.
— Acho que essa é a nossa deixa — Asher sussurrou em meu ouvido,
provocando um arrepio delicioso pela minha espinha.
— Feliz Natal, Mya. — Flick se lançou para mim, me abraçando com
tanta força que eu mal conseguia respirar.
— Feliz Natal. — Ri de seu entusiasmo.
— Estou tão feliz que vocês se encontraram — ela sussurrou. — Só tome
cuidado com o coração dele.
— Baby, vamos embora — Jason falou, puxando-a para longe. — Feliz
Natal, Mya e Asher. Veremos vocês em alguns dias.
— Feliz Natal, cara. — O punho de Ash bateu no dele, e depois no de
Cam antes de ele enterrar o rosto no meu cabelo.
— Ash? — sussurrei. — O que você está fazendo?
— Te cheirando. Você é tão cheirosa que eu poderia te comer.
— O que você está esperando então?
Ele se afastou, com os olhos semicerrados e as narinas dilatadas.
— Tem certeza disso?
— Você quer desembrulhar seu presente ou não?
Asher inclinou a cabeça para trás e gemeu, o som reverberando no fundo
de seu peito. Eu ri baixinho, gostando de provocá-lo. O ar crepitava ao nosso
redor, carregado de antecipação.
Meus pelos se arrepiaram quando ele segurou minha mão e me levou até
a porta.
— E se alguém vir?
— Neste ponto, eu não dou a mínima.
A casa estava esvaziando e a música, suavizando.
— É quase meia-noite — comentei, observando a hora no relógio de
parede quando saímos da casa e pisamos no ar frio de dezembro.
Asher estava quieto enquanto caminhávamos pelo vasto quintal em
direção ao lago. Só estive aqui algumas vezes, mas o quintal dos Bennet
nunca deixava de me tirar o fôlego. Era coisa de cinema. Uma enorme
piscina, espreguiçadeiras espalhadas ao redor e uma enorme área coberta para
o verão. Além disso, havia um gramado bem aparado que descia até o
pequeno lago onde eles tinham seu próprio cais e, como Jason havia dito,
uma casa de barcos.
— Parece... abandonado — apontei, observando a construção escura
escondida além de algumas árvores.
— Não é muito usada atualmente, mas quando eu era criança, vinha
sempre aqui. Meu avô por parte de mãe adorava mexer no barco. Eu passava
horas observando-o do mezanino.
Chegamos à porta e Asher fez uma pausa, curvando a mão no meu
pescoço e me puxando para perto. Seus lábios encontraram os meus em um
beijo urgente.
— Obrigado — ele murmurou. — Por estar aqui hoje.
— Estou feliz por ter vindo. Seu pai pode ser um idiota completo, mas
sua mãe é um doce.
Ele estremeceu.
— Ei — eu disse. — Só porque ela toma algumas decisões que você não
entende ou com as quais concorda, não significa que ela não te ama.
— Por mais que eu queira confessar todos os meus segredos mais
profundos e sombrios para você, prefiro outras coisas. — Asher me beijou
novamente, empurrando a língua profundamente em minha boca, seu corpo
me prendendo contra a porta. Eu o senti duro.
— Feliz Natal, Mya — ele sussurrou.
— Feliz Natal. — Eu me afastei para olhar para ele. A luz da lua refletia
em seu perfil, fazendo-o parecer etéreo. Um anjo preso em algum lugar entre
a luz e as trevas.
Asher sorriu antes de me puxar para dentro e me empurrar contra a parede
revestida.
— Eu tinha tudo planejado — ele falou. — Há velas e um cobertor no
andar de cima, mas não tenho certeza se posso esperar. Preciso de você, Mya.
Preciso tanto que dói.
Passei o dedo por sua testa, estudando seu rosto. Asher Bennet era lindo.
De seus penetrantes olhos azuis a seu sorriso brincalhão e cabelos loiros
despenteados. Em face disso, ele era perfeito. Mas não foram seus olhos,
sorriso ou dentes perfeitos que me atraíram, foram suas imperfeições. Sua
persistência enlouquecedora. A sombra que às vezes envolvia sua expressão.
A maneira como ele se importava com os outros.
No papel, éramos completamente opostos, mas quando se retirava nosso
exterior, ficavam duas pessoas traídas por aqueles em quem deveriam confiar.
Duas pessoas completamente erradas uma para a outra.
Mas como eu estava aprendendo rapidamente, às vezes, o errado era
perfeitamente certo.
DEZOITO
Asher
EU ME AFASTEI DE MYA, desabotoando lentamente a camisa. Seus olhos
seguiram meus movimentos com as pálpebras pesadas de luxúria. Dançamos
em torno um do outro a noite toda. Foi o mais doce tipo de tortura tê-la bem
ali, à vista de todos, mas ser incapaz de tocá-la do jeito que eu queria.
Do jeito que eu precisava.
— Viu algo de que gostou, Hernandez? — perguntei de forma presunçosa
enquanto tirava a camisa azul marinho. O tecido caiu no chão quando
comecei a tirar o cinto e desabotoar minhas calças. Mya engoliu em seco,
passando a mão pela lateral do pescoço. Ela era sexy demais.
— Venha aqui. — Inclinei o dedo para ela, que veio de boa vontade,
caindo em meus braços. Passou as mãos pelo meu peito nu. Seu toque era
como criptonita, fazendo meu coração disparar e meus joelhos fraquejarem.
— Caramba — sussurrei, respirando fundo enquanto ela rolava
suavemente um dos meus mamilos entre os dedos.
— Você está com muita roupa. — Subi a mão por sua espinha,
localizando o zíper delicado escondido sob a costura do vestido. Ele desceu
com facilidade, e Mya deixou o tecido sedoso cair por seus braços, revelando
um sutiã preto rendado.
— Viu algo de que gostou, campeão? — Mya sorriu, para baixo até estar
diante de mim só de calcinha.
— Acho que acabei de morrer e fui para o céu.— Eu não sabia para onde
olhar primeiro. O volume de seus seios perfeitos, a curva de sua cintura e
seus quadris. Sua bunda perfeita.
— Me beije — ela sussurrou, olhando para mim com antecipação.
— Beijar você? — perguntei, passando um braço em sua cintura,
acabando com o espaço entre nós. Até que estivámos tão grudados que podia
sentir seu coração.
— Vou beijar cada centímetro seu, Mya. E quando terminar, vou começar
tudo de novo.
Ela estremeceu com minhas palavras, com a respiração ofegante enquanto
eu passava os dedos em sua clavícula.
— Me diga o que você quer — sussurrei contra no de sua boca.
— Você, Ash... eu só quero você. — Mya se contorceu, roçando em meu
pau duro como pedra. Nós dois gememos. Coloquei minhas mãos no jeans,
pronto para tirá-lo, mas Mya chegou antes de mim. Suas mãos gananciosas
me alcançaram, me acariciando através da cueca boxer.
— Puta merda — murmurei.
Não sei como isso aconteceu, mas Mya assumiu o controle. Me apoiando
na parede oposta, ela passou uma das mãos no meu abdômen, inclinando a
cabeça para mordiscar e chupar meu pescoço enquanto me acariciava através
do tecido fino.
— Mya, espere... — Mas antes que eu pudesse impedi-la, ela se ajoelhou,
tirou minha calça jeans e boxer e me tomou em sua boca. — Puta merda. —
A sensação explodiu na minha espinha enquanto ela corria a língua no meu
comprimento, me acariciando com a mão. Toques lentos e tortuosos que
quase me deixaram louco.
Caramba, não queria que ela parasse, mas o foco aqui não deveria ser eu.
Deveria ser ela. Era eu quem deveria mostrar como me sentia.
— Mya, baby, pare. — Enrolei a mão em seus cachos e puxei de leve. Ela
olhou para mim com os olhos vidrados de desejo.
— Tem algo de errado?
— Tem, sim. — Eu a coloquei de pé, girando-nos para que suas costas
ficassem contra a parede. — Isso é para você, não para mim. — Desci a mão
por sua barriga lisa até alcançar a calcinha rendada. — Quero ver você gozar.
— Sem aviso, penetrei um dedo dentro dela.
Mya ofegou, fechando os olhos enquanto seu corpo arqueava ao meu
toque.
— Olhos abertos, Mya.
Ela me encarou com um olhar acalorado enquanto eu a acariciava com
meus dedos. Nenhuma palavra foi trocada entre nós, apenas os sons de seus
gemidos baixos e minha respiração ofegante. Foi intenso. Nós dois sentimos
a mudança. A corda que nos unia.
— Asher — foi um murmúrio trêmulo, mas era como se ela tivesse
enfiado a mão em meu peito e arrancado meu coração.
Era dela agora.
Quer ela quisesse ou não.
Não dei chance a Mya de recuperar o fôlego. Passando as mãos sob suas
pernas, eu a peguei e a carreguei para o velho barco. Estava coberto por uma
capa protetora que se enrugou e amassou quando a coloquei diante de mim.
— Merda — falei em tom rouco. — Preservativo.
— Não. — Ela balançou a cabeça, mordendo o lábio inferior. — Estou
usando anticoncepcional e não tenho doenças. Preciso sentir você por inteiro.
Obrigado pelas pequenas vitórias.
Então me acariciei algumas vezes antes de me inclinar sobre ela e cobrir
seu corpo com o meu. Mya envolveu as pernas em meus quadris, se firmando
com uma mão no meu ombro enquanto eu a provocava com a ponta do pau,
deixando-o penetrar através de sua umidade.
— Mais — ela implorou, com a voz grossa pela necessidade.
Lentamente, centímetro a centímetro, me empurrei para dentro dela.
— Caramba, Mya, você é... — As palavras ficaram presas em minha
garganta enquanto eu ia mais fundo, me esfregando nela de uma forma que
nos fez gemer de prazer.
Pressionando as mãos na capa protetora, olhei para ela. Observei
enquanto seus olhos reviravam toda vez que eu me aproximava. Vi a maneira
como seus seios balançavam.
— Você é tão perfeita — murmurei, estocando mais forte, precisando de
mais. Precisando me enterrar o mais fundo que pudesse dentro dela.
Mas não era o suficiente. Eu precisava consumi-la. Me imprimir nela do
jeito que ela já tinha se impresso em mim.
Eu precisava marcá-la.
Para torná-la minha em todos os sentidos da palavra.
Passando a mão em seu estômago, brinquei com a taça rendada de seu
sutiã antes de puxá-lo para baixo. Lambi seu peito antes de capturar o
mamilo, chupando suavemente.
— Caramba... Ash...
Soltei-o, me movendo para a curva de seu seio. Desta vez, chupei com
mais força até que o sangue subiu à superfície, machucando sua pele.
— Você me mordeu? — Mya perguntou sem fôlego enquanto gotas de
suor se formavam em sua pele macia e sedosa.
— Está reclamando? — Arqueei a sobrancelha, sentindo o formigamento
familiar na parte inferior da minha coluna crescer.
— Nossa, Asher — ela gemeu meu nome. — Por que isso parece tão
certo?
— Porque é certo. — Abaixei a cabeça, colando todo meu corpo ao dela.
— Você não pode me dizer que não sente isso. — Puxando uma das mãos de
Mya do meu ombro, entrelacei meus dedos nos dela, prendendo-a ao lado de
sua cabeça. Eu me movi mais devagar... mais forte... mais fundo, nos levando
em direção ao clímax.
— Goze comigo, Mya. Goze comigo.
Suas paredes se fecharam ao meu redor, fazendo com que gritássemos
quando ela gozou. Outra estocada e eu a segui, gozando dentro dela.
— Isso foi... — ela tentou recuperar o fôlego.
— Épico... de balançar a Terra... o melhor que você já teve — eu disse
com um sorriso arrogante.
Mya riu, tirando o cabelo úmido do meu rosto.
— Eu ia dizer intenso.
— Não é bem o que eu queria, mas podemos praticar. — Beijei seus
lábios. — Praticar muito. — Meu pau ganhou vida novamente, mas eu o
ignorei, focando na garota abaixo de mim.
A minha garota.
— Eu gostaria que você pudesse passar a noite.
— Asher...
— Eu sei, eu sei. Mas isso significa algo para mim, Mya. — Significa
tudo. Rocei o polegar em seus lábios enquanto as palavras não ditas se
repetiam na minha cabeça.
— Significa algo para mim também. — Seus olhos ardiam de
possessividade.
— Vamos mesmo fazer isso?
Ela já sabia que eu estava dentro, mas eu precisava ouvi-la dizer as
palavras também.
— Vamos, sim.
— Você sabe que nunca mais vou te deixar, certo?
— Asher... — Mya olhou para mim, deixando escapar um suspiro
resignado. — Estamos no último ano. A faculdade está logo aí...
— E daí? Temos tempo, baby. — Eu a beijei de leve, deixando meus
lábios permanecerem nos seus. Mya não disse mais nada sobre o assunto e eu
não queria manchar aquele que foi um dos melhores momentos da minha
vida.
Me desvencilhando dela, estendi a mão. Mya olhou para ela com a
confusão nublando seus olhos.
— A noite ainda não acabou — falei.
Ela entrelaçou a mão na minha, e eu a conduzi para dentro da casa de
barcos onde as escadas levavam ao mezanino.
— Cuidado onde pisa.
— Você poderia ter pelo menos me deixado vestir uma roupa.
— Espere aqui. — Deixei Mya no degrau superior e localizei a caixa de
fósforos que havia colocado ali. Depois de acender as velas, chamei-a para a
cama improvisada.
— Você fez tudo isso?
— Se você está impressionada com uns cobertores e velas, eu realmente
preciso melhorar meu jogo. Vem se deitar comigo?
— Asher, se adormecermos...
— Não vamos, prometo. Só não estou pronto para me despedir ainda.
Puxei o cobertor sobre nós e passei um braço em volta da cintura de Mya,
me aconchegando o mais perto possível. Foi perfeito. Nossas pernas estavam
entrelaçadas, nossos corpos escorregadios unidos como duas peças de um
quebra-cabeça.
— Sabe — Mya quebrou o silêncio, sua voz quase um sussurro. —
Quando cheguei a Rixon e descobri como a cidade era obcecada por futebol,
fiquei com medo. Eu deixei minha casa, minha mãe, meus amigos e... — ela
parou.
— Está tudo bem, você pode dizer o nome dele. — Por mais que eu
odiasse, Jermaine era uma parte de seu passado. Uma parte do que a fez ser
quem era neste momento. Não queria imaginá-los juntos. Ele a amando,
machucando-a. Mas também não podia fingir que ele não existia.
Ajudava saber que era eu quem estava aqui com ela agora. Deitado ao seu
lado, meus beijos em seus lábios, meu toque em toda a sua pele.
— Eu me senti uma estranha. Parte de mim ainda se sente. Mas desde que
te conheci, você me fez sentir parte de algo.
Meu peito se apertou com suas palavras e senti a emoção obstruir minha
garganta. Eu estava me apaixonando, mas não queria dizer as três palavrinhas
que sabia que seriam demais para ela ouvir agora. Então eu as engoli,
guardando-as para outro dia.
— Seus pais vão se perguntar onde você foi parar? — Mya perguntou,
mudando de assunto.
— Meu pai deve estar caído sobre um copo de uísque agora, se
perguntando onde ele errou na vida para acabar comigo como seu filho, e
minha mãe deve estar chorando sobre os álbuns de família.
Ela se virou em meus braços para me encarar com as mãos pressionadas
no meu peito enquanto olhava para mim.
— Eu odeio que você carregue isso por tanto tempo.
— As coisas são como são.
— Você merece mais, Asher. Merece um pai que te ame e te veja como
você é. Não pelo que ele quer que você seja.
— Nem sempre podemos conseguir o que queremos.
— Às vezes, acontece. — Ela sorriu, dando um beijo em meus lábios. —
Às vezes, recebemos exatamente o que precisamos quando nem mesmo
sabíamos disso.
— Você está dizendo que precisa de mim, Hernandez?
— Talvez um pouquinho.
Eu a puxei para mais perto, determinado a aproveitar ao máximo cada
segundo que passamos juntos. Mas a realidade era uma vadia cruel e muito
em breve, Mya estava me dizendo para acordar.
— Eu realmente deveria ir — ela disse.
Não queria adormecer. Mas tudo estava muito quieto com ela. Pacífico
demais.
Perto de Mya, eu conseguia respirar. Eu poderia esquecer todas as outras
merdas e imaginar um futuro onde eu pudesse escolher meu próprio caminho.
Relutante, ajudei-a a se levantar. Dei um beijo na ponta do seu nariz e
disse a ela para esperar enquanto eu descia as escadas e pegava nossas
roupas, vestindo a calça antes de ajudá-la a colocar o vestido. Quando
estávamos prontos, eu a puxei para meus braços. — Melhor. Natal. De todos.
— Preciso ir...
— Espere, tenho algo para você. — Quase me esqueci da bolsinha de
veludo em meu bolso. Eu a peguei e coloquei na mão dela. — Feliz Natal,
Mya.
Me olhando com atenção, ela franziu o cenho com força e abriu a bolsa,
despejando o conteúdo na palma da mão.
— É uma pulseira — acrescentei, sentindo a energia nervosa irradiar por
mim.
— É linda. — Delicados fios de couro entrelaçados para criar uma trança
que segurava um pingente oval de prata. — O que está escrito? — Mya o
ergueu para ver melhor a pequena gravação.
— Quarenta e dois. — Dissemos juntos, olhando um para o outro.
— É o seu número.
— Você não gostou da ideia de usar minha camisa, então achei que talvez
fosse um bom compromisso. — Como ela não disse nada, meu peito se
apertou. Passei a mão pelo rosto e acrescentei: — Era para ser uma piada
interna.
— Seu...
Puta merda. Era cedo demais.
— Ouça, esqueça. — Fui pegá-la de volta, mas Mya fechou os dedos em
torno dela.
— Asher, é perfeita. É só que... bem, me sinto mal agora. Não comprei
nada para você.
Passando os braços ao redor dela, puxei-a para mais perto.
— Você me deu tudo esta noite. — Beijei a ponta de seu nariz. — Posso
fazer as honras? — Olhei para a pulseira, e ela assentiu.
Coube em seu pulso com perfeição. Segurei sua mão, acariciando-a.
— Você sabe o que isso significa, certo?
— Que te devo um presente?
— Não. — Eu sorri. — Você está usando meu número, o que significa
que você é minha agora.
— Acho melhor não perder isso. — Mya roçou meu queixo antes de me
beijar de leve. Eu queria aprofundar, empurrar a língua em sua boca e
explorar cada lugar sombrio e profundo dentro dela.
Queria ficar aqui para sempre.
Porque assim que saíssemos daqui, nossa bolha perfeita estouraria e a
realidade desabaria ao nosso redor.
DEZENOVE
Mya
— EU SABIA. — Flick deu um gritinho na linha. — Como foi? Quero
detalhes, todos os detalhes gloriosos. Ele é bem-dotado? Sempre imaginei
que fosse...
Limpei a garganta.
— Você acabou de perguntar o tamanho do meu... — hesitei.
— Acho que a palavra que você está procurando é namorado. — Ela
sufocou uma risada.
— Meu namorado... uau, vou levar algum tempo para me acostumar.
— Sim, sim, mas voltando ao tamanho do seu...
— Felicity!
— O que foi? — Eu poderia imaginá-la fazendo beicinho. — É conversa
de garotas. Eu conto a você tudo sobre as habilidades de Jason no quarto.
— Mas eu nunca pergunto. Você simplesmente joga essa merda em mim
sem avisar.
Ela riu.
— Não é como se eu pudesse contar a Hailee. Ela enlouquece porque é da
família. De qualquer forma, não quero falar sobre o Jason agora. Quero falar
sobre você e o Asher. Foi mágico? Ele te fez ver estrelas?
— Quem é você? — Meu rosto se contraiu.
— Uma garota que precisa de detalhes. Ainda não consigo acreditar que
você fez isso na antiga casa de barcos deles.
— Não é como se tivéssemos opções. Além disso, havia algo
emocionante. — Saber que poderíamos ser pegos a qualquer momento.
— E ele te deu um presente. Tão romântico. — Ela suspirou e eu sabia
que a tinha perdido para sinos de casamento e vestidos brancos.
— Terra para Felicity, ainda é cedo. — Meus olhos caíram para a pulseira
enrolada em meu pulso. — Ele ainda precisa contar aos pais e eu ainda
preciso contar à minha tia.
— Acha mesmo que ela vai ficar chateada?
— Chateada, não. Decepcionada, com certeza. Ela me alertou sobre os
garotos brancos várias vezes desde que cheguei aqui.
— Mas o Asher não é qualquer garoto branco, ele é...
— Diferente — falei baixinho, sentindo meu coração apertar.
— Você já contou sobre nossa viagem a Nova York? — ela perguntou, e
eu pressionei os lábios, o silêncio se tornando ensurdecedor. — Mya, você
tem que contar a ela. Partimos em dois dias.
— Eu sei, estou trabalhando nisso. — Tia Ciara e eu estávamos em um
bom lugar. Tínhamos passado o dia de Natal juntas e eu até fui à igreja com
ela e seus amigos. Eu não queria balançar o barco, não quando as coisas
estavam tão boas. Mas Felicity estava certa, eu precisava contar a ela.
Sobre Nova York...
Sobre Asher.
— Apenas conte. Rápido e direto como arrancar um Band-Aid.
— Fácil para você dizer — resmunguei.
— Você acha que foi fácil anunciar ao meu pai que eu estava namorando
com Jason Ford? De jeito nenhum. Mas temos que tomar nossas próprias
decisões, Mya. Mesmo que sejam erros.
— Obrigada pelo voto de confiança. — Meu estômago revirou.
— Não quero dizer que acho que o Asher é um erro. Na verdade, acho
que você finalmente está pensando direito. Eu quis dizer que sua tia tem que
deixar você seguir seu próprio caminho.
— Espero que você esteja certa. — Porque eu só podia imaginar quanta
dor ela iria me causar quando eu contasse para ela.
— De qualquer forma, você ainda quer vir mais tarde? Os caras vão ter a
noite dos garotos no Bell’s, então pensei que eu, você e a Hailee poderíamos
ter uma noite das garotas na minha casa.
— Você vai parar de perguntar sobre o tamanho do pau do meu
namorado?
Nós duas explodimos em gargalhadas. Foi bom aliviar o peso que se
instalou em meu peito enquanto conversávamos sobre minha tia.
— Só me dar um tamanho aproximado e podemos seguir em frente.
— Vou desligar.
— Vinte e três centímetros — ela bufou na linha. — Deve ter pelo menos
vinte e...
— Adeus, Felicity.
— Vinte e quatro?
Sua voz sumiu quando desliguei, ainda rindo de sua explosão. Antes de
Jason, Felicity era reprimida sexualmente. Ou, pelo menos, foi a impressão
que tive. Mas agora ela estava muito disposta a compartilhar. Ainda assim, eu
a amava de uma maneira que não esperava. Ela nunca substituiria meus
amigos de infância de Fallowfield Heights, mas Felicity tinha feito um ótimo
trabalho em preencher o vazio que ficou quando me mudei para Rixon.
Contra todo o meu bom senso e expectativas equivocadas, eu estava
construindo uma vida para mim aqui. Eu tinha amigos verdadeiros. Estava
fazendo um bom progresso nas aulas. E tinha Asher.
O namorado que eu nunca soube que queria.
Eu estava me apaixonando muito rápido por ele. Não era para acontecer,
mas estava cansada de lutar contra meus sentimentos. De sempre ser a garota
durona.
Eu estava cansada de deixar outras pessoas ditarem minha vida.
E daí se eu e Asher viéssemos de lados diferentes dos trilhos? A atração
não discrimina com base na cor, circunstâncias ou experiência de vida. Não
era preto ou branco, mas vários tons de cinza. Eram prismas de cor. Meu
mundo estava sombrio quando me mudei para Rixon. Triste e desolado. Toda
a dor e raiva que senti sangrava em uma mancha negra em minha alma. Mas
Asher, minhas amigas e até mesmo alguns dos professores na escola eram
respingos de vibração que se recusaram a me deixar viver nas sombras.
E se eu admitisse para mim mesma, meio que gostava de viver na luz
novamente.

— MYA, é tão bom ver você de novo. Entre.


— Obrigada, sra. Bennet.
— Julia, por favor, me chame de Julia. Asher — ela gritou por cima do
ombro — sua amiga está aqui.
Asher correu para a cozinha, parando na minha frente.
— Amiga, mãe? — Ele sorriu para mim. — A Mya é minha namorada.
A palavra fez todo tipo de coisa no meu estômago.
Cruzando a distância entre nós, ele me beijou de leve, não se importando
que sua mãe estivesse ali, fingindo não ver. Soltei um suspiro de satisfação e
olhei para ele.
— Oi.
— Oi — Asher respondeu. — Estou feliz que você veio.
Quase disse não quando ele me convidou, mas antes que eu pudesse dar
desculpas, Asher disse que seu pai estava fazendo uma viagem de negócios
de última hora. Ele disse que a mãe estava animada para me encontrar
novamente, em circunstâncias menos caóticas, e eu não tive coragem de
acabar com seu entusiasmo.
— Espero que você esteja com fome, Mya. Tomei a liberdade de preparar
o almoço para todos nós.
— Ah, não precisava fazer isso, sra... Julia.
Asher veio para o meu lado, segurando minha mão enquanto seguíamos
sua mãe na casa enorme.
— Trinta minutos — ele sussurrou em meu ouvido. — Ela vai ficar com
você por trinta minutos e então você é toda minha.
O desejo arrepiou espinha, mas não foi nada comparado a como meu
coração ficou descontrolado quando ele beijou a pele sensível abaixo da
minha orelha.
— Ash...— murmurei, olhando para ele de um jeito que dizia: comporte-
se.
Ele diminuiu um pouco o nosso ritmo, esperando a mãe desaparecer na
cozinha. Quando isso aconteceu, ele me pressionou contra a parede,
prendendo minhas mãos nas laterais da minha cabeça.
— Você quer que eu me comporte quando tudo em que consigo pensar é
estar dentro de você de novo? — Os olhos de Asher ficaram escuros como a
noite. — Você me deixa louco, Mya. — Ele se inclinou, passando a língua na
minha pele úmida e arrastando-a em direção ao meu queixo, desencadeando
um frio no meu estômago.
— Ash, nós deveríamos...
Sua boca cobriu a minha, dura e exigente. Me derreti contra ele,
entreabrindo meus lábios de surpresa e deixando sua língua invadir minha
boca. Asher moveu seus quadris contra mim, engolindo meus gemidos
suaves.
— Asher? Mya?
— Merda — ele murmurou enquanto eu o empurrava, tentando recuperar
o fôlego.
— Trinta minutos — eu disse, desejando que meu coração se acalmasse.
— Trinta minutos — ele repetiu, dando um suspiro profundo, seus olhos
ainda queimando nos meus. Me prometendo tantas coisas em silêncio. Coisas
que achei que não queria, mas ansiava tão intensamente que me senti um
pouco tonta.
Poderíamos passar trinta minutos sem rasgar a roupa um do outro, não é?
Mas quando Asher segurou minha mão de novo, roçando seus dedos nos
meus, eu sabia que ele não era o único que sofreria durante o almoço.
Eu já sentia falta de seu toque intenso.
— Aí estão os dois pombinhos. — A sra. Bennet nos deu um sorriso
melancólico quando entramos na cozinha. — Sentem-se. Temos muita
comida.
— Está com uma cara incrível, muito obrigada — falei, deixando Asher
puxar minha cadeira e me ajudar a sentar. Algo que não tinha certeza de que
já havia acontecido em toda a minha vida.
Assim que servimos nossos pratos, a sra. Bennet começou com as
perguntas.
— Então, Mya, para quais faculdades você está se candidatando?
Meus olhos desviaram para Asher e de volta para ela.
— Eu me inscrevi na Temple University e em duas escolas estaduais.
Michigan e Cleveland. — Eu sabia que Asher deveria ir para Pittsburgh.
Também sabia que Cleveland ficava a apenas duas horas de carro de lá.
Eu também sabia que era muito cedo para pensar nisso.
— Cleveland, que lindo — ela disse, sorrindo com ar de conhecedor,
como se soubesse exatamente o que eu estava pensando. — Pittsburgh fica a
apenas duas horas de viagem de Cleveland, se não me engano. — A sra.
Bennet deu ao filho um olhar significativo, mas Asher não compartilhou seu
entusiasmo.
Meu coração se apertou.
— Mãe — ele grunhiu, esfregando a mão no rosto. — Podemos não fazer
isso?
— O que foi? Só estou tendo uma conversa educada.
— Não tomei nenhuma decisão — falei depressa, perdendo a fome. Os
olhos de Asher queimaram na lateral da minha cabeça, mas eu não conseguia
olhar para ele.
— Claro — a sra. Bennet acrescentou, sentindo a repentina tensão se
instalando sobre nós. — É uma grande decisão e você tem muito tempo. Ao
contrário de Asher, que foi destinado a Pittsburgh durante toda a sua vida.
Me preparando, finalmente encontrei seus olhos. Seu rosto estava pálido,
sem sangue e humor. Seus olhos estavam tão cheios de dor que meu coração
doeu por ele.
— Sim — a derrota ecoava em sua voz —, Pittsburgh, aqui vou eu. Vai,
Panthers.
A sra. Bennet fungou, limpando a garganta.
— Com licença, preciso usar o banheiro. — Ela correu para longe da
mesa, nos deixando sentados lá, olhando um para o outro e nenhum de nós
foi capaz de encontrar as palavras para preencher o silêncio.
— Você realmente se inscreveu para Cleveland? — ele finalmente
perguntou, me surpreendendo.
— Sim, é uma das minhas escolhas.
— Você nunca disse nada.
— Você nunca perguntou. — Não tínhamos chegado tão longe ainda.
Mas acho que era isso que acontecia quando se estava tão empenhado em
defender seu presente para todos ao seu redor.
O silêncio preencheu o espaço entre nós novamente. Eu realmente não
entendia o que estava acontecendo, mas tudo parecia errado. A realidade
forçando seu caminho nas fissuras de nosso novo relacionamento, nos
separando ainda mais.
— Sinto muito — a voz de Asher pontuou o ar. — Eu não quis dizer...
merda, Mya, não sei o que estou fazendo aqui. Achei que poderíamos
almoçar com minha mãe e tudo ficaria bem. Mas ele está sempre presente,
parado no meu ombro, me empurrando em direção ao futuro que ele quer
para mim.
— Tudo bem. — Estendi o braço por cima da mesa e a mão. Asher
deslizou sua palma contra a minha, exalando uma respiração instável e
fechando os olhos.
— Eu deveria deixar você ir. — Era como se ele tivesse alcançado dentro
de mim e agarrado meu coração. — Eu não deveria arrastar você para essa
merda com meu pai. Isso só vai piorar. — Os olhos de Asher se voltaram
para a porta pela qual sua mãe havia desaparecido.
— Estou bem aqui — falei. — Não vou a lugar nenhum.
— Mya, eu disse que deveria deixar você ir, não que quero que vá. Sou
muito egoísta para desistir dessa coisa. Preciso de você.
Preciso de você.
Três palavrinhas que eu tinha ouvido antes. Três palavrinhas que, no
final, não foram suficientes. Mas desta vez, era. Eu tinha que acreditar que
agora seria diferente. Que essas três palavrinhas eram suficientes.
Que eu era o suficiente.
Que o que sentíamos um pelo outro seria o suficiente.
O QUARTO de Asher parecia diferente à luz do dia. Era tão grande quanto
eu me lembrava, mas agora eu podia dar uma olhada adequada em seu espaço
enquanto ele se acomodava na cama.
— Estou aqui e você aí. — Asher esticou o lábio, fazendo beicinho de um
jeito dramático.
— Quero conhecer você.
— Você pode descobrir tudo o que precisa aqui. — Sua sobrancelha
balançou de forma sugestiva enquanto ele batia de leve no espaço ao seu
lado. Eu o ignorei, passando os dedos sobre uma prateleira cheia de troféus e
prêmios de futebol.
— O futebol realmente está no coração de Rixon, não é? — Pegando uma
pequena estátua de bronze, aproximei-a para inspecionar a placa gravada.
— Jogador mais valioso da equipe de juniores. Eu tinha doze anos. —
Seu hálito quente tocou em minha pele, me fazendo estremecer.
— Achei que você fosse ficar ali. — Meu olhar foi para a cama.
— Por que eu estaria lá quando você está aqui? — Asher beijou a faixa de
pele nua ao longo do meu ombro. — O futebol é meu passado. Acho que
finalmente aceitei isso. — Ele tirou a estátua de mim. — Vou jogar uma
última vez com meu time e depois vou me concentrar em outras coisas.
Como em você. — Se inclinando ao meu redor, ele colocou o troféu de volta
em seu devido lugar antes de me virar em seus braços.
— Mas você adora o futebol — eu disse. — Talvez pudesse haver um
acordo? Você poderia ter os dois. Futebol e...
Ele franziu o cenho enquanto esfregava o queixo.
— Para alguém que não gostava de futebol, você parece desapontada
porque seu namorado pode nunca mais jogar de novo.
— Não posso negar que havia algo atraente nessas calças brancas justas.
— Passei as mãos por seus braços, amando como seus músculos se
contraíram sob meu toque.
— Vou guardar um par só para você. — Ele piscou, mas vi a tristeza
persistente em seus olhos.
— É provável que sua mãe suba?
— Não, acho que estamos seguros.
— Que bom. — Afastei o cabelo de seu rosto, me aproximando.
— Ah, é? — Os olhos de Asher se iluminaram. — É essa a sua tentativa
de me seduzir, Hernandez?
— Está funcionando?
Ele se inclinou até que nossos narizes se tocassem.
— Você não precisa me seduzir, Mya. Eu já sou seu.
Suas palavras afundaram em mim, me suavizando.
— Você está falando sério, não é? — perguntei, realmente não querendo
ser esse tipo de garota. A garota insegura sobre tudo, que constantemente
precisava ser tranquilizada pelo namorado. Mas depois de Jermaine, depois
de todas as promessas quebradas e mentiras, era difícil confiar.
— Estou sim, baby. Cada palavra. Mas talvez eu deva mostrar a você. —
Asher baixou a cabeça, pressionando os lábios no meu pescoço. — Talvez
você precise de um lembrete.
VINTE
Asher
— VAI FICAR SENTADO AÍ a noite toda com um sorriso idiota? — Jason
grunhiu enquanto entrava na cabine com nossas cervejas.
Estávamos em nossa mesa no Bell’s. Estava mais silencioso do que o
normal, pois ainda havia pessoas visitando a família e amigos durante os
feriados. Depois de dois dias de refeições tensas e conversas estranhas, foi
um grande alívio quando meu pai anunciou que precisava viajar para tratar de
negócios urgentes. O cretino presunçoso simplesmente sorriu quando me
perguntou se eu tinha gostado dos meus presentes. Como se não tivesse sido
um tapa gigante na cara. Todos os presentes, cada peça de roupa, vinha com a
marca dos Panther ou um acessório de faculdade. Como se eu precisasse de
mais um lembrete de que, em agosto, eu estaria indo para a alma mater do
meu pai para me tornar seu fantoche.
Sem surpresa, não havia uma camisa de futebol americano do Panther à
vista.
Então o que fiz? Convidei Mya para almoçar, pensando que seria bom
para ela e minha mãe passarem algum tempo juntas sem a sombra de meu pai
pairando sobre elas. Grande engano. Minha mãe no assunto faculdade e
rapidamente a conversa ficou péssima. Eu meio que esperava que Mya se
desculpasse e desse o fora de lá.
Mas ela não fez isso.
Minha garota ficou sentada lá com minha mãe, que mal conseguia olhar
para mim enquanto fingíamos que estava tudo bem. Foi um grande alívio
quando finalmente subimos para o meu quarto. Mya tinha deixado eu me
perder nela sem questionar. Eu precisei e ela estava lá. Ainda podia senti-la,
enrolada em meu pau, seus gemidos ofegantes em meu ouvido. A maneira
como ela gritou meu nome sem parar, como se eu fosse sua salvação.
Porque eu estava começando a pensar que ela era minha.
— Jase, acalme-se. — Cam veio em minha defesa. — Nós éramos iguais.
— Eram? — Bufei. — Ele é pior do que um cachorro no cio. — Meus
olhos foram para Jase.
— Vá se foder — ele murmurou. — Não estamos falando sobre mim e
Felicity, estamos falando sobre você e a Mya. Embora eu não ache que
preciso perguntar como é a sensação agora que você finalmente conseguiu a
garota.
— O que é isso que estou ouvindo, filhos da puta? — Grady se juntou a
nós, se sentando ao lado de Jase. Sufoquei um gemido. Não esperava que ele
estivesse aqui. — Você e a Mya estão firmes? — ele perguntou.
— Estamos... ficando. Ela conheceu meus pais na véspera de Natal e veio
almoçar com minha mãe mais cedo.
— Puta merda, isso é... bom para você, mano. O que eles acharam? —
Recuei, com os olhos fixos nele. — Uau, eu não estava dando indireta — ele
deixou escapar. — Eu só quis dizer se eles gostaram dela...
Um silêncio constrangedor caiu sobre nossa cabine enquanto eu repetia a
desaprovação flagrante de meu pai, sem mencionar sua arrogância quando ele
conheceu Mya.
— Minha mãe a adorou — eu finalmente disse, sentindo as palavras
como uma lixa na garganta. — Meu pai, nem tanto. Ele tentou me arrumar
com Kellie. Acontece que ela também vai para Pittsburgh no próximo ano.
— Merda, cara, isso é difícil. Como a Mya recebeu essa notícia? Você
sabe o quanto a Kellie pode ser persistente.
— Não estou preocupado com a Kellie. — Ela nem estava no meu radar.
— Deveria estar. Ela e aquelas ginastas podem ser loucas. Olhe para a
Jenna. — Os olhos de Grady se voltaram para Jase, que tinha ficado
estranhamente quieto.
— Não vamos falar sobre a Jenna. — Ela já havia causado problemas
suficientes entre ele e Felicity sem ter que relembrar tudo.
— Então, qual é o problema? Por que essa cara? Ela não quis te dar?
— Grady, juro que se você não calar a boca...
— Jesus, Bennet, relaxe. Vou jogar sinuca com o Merrick e os caras. Te
vejo mais tarde.
Jase e Cam deram a ele um aceno, mas eu encarei o nada, segurando o
gargalo da garrafa como um torno.
Quando Jase voltou sua atenção para mim, ele ergueu a sobrancelha.
— Fale.
— Mais tarde — eu disse sem me comprometer. — Precisamos fazer
planos para Nova York. Riley e Vaughn planejaram toda essa coisa de ir em
bares, mas parece um pouco demais.
— Não podemos começar na cobertura e acabar em um clube? — Cam
perguntou.
— É o que eu estava pensando. Podemos conseguir comprar umas
bebidas, lanches e a cobertura tem um sistema de som incrível. Eu poderia
perguntar a Riley e Vaughn se eles querem levar alguns amigos.
Jase passou a mão pelo rosto.
— Tudo bem, mas não deixe Riley e Vaughn transformem isso em algo
enorme. Não quero passar a noite com um bando de garotos ricos da cidade.
— Vou dizer a eles. — Peguei o celular para enviar uma mensagem de
texto para Vaughn, já que ela era mais provável de responder do que Riley.
— Uma noite inteira de liberdade — Jase resmungou. — Mal posso
esperar. Estamos ficando sem lugares para transar.
— Sério, cara? — Cam balançou a cabeça. — Você tem que fazer isso?
— O quê? Como se você e a Hailee não...
— Cara! — Encarei Jase com um olhar severo. — Há um limite. Não o
cruze.
— Bando de maricas. — Ele sorriu, dando um longo gole em sua cerveja.
— Nem mesmo tente agir como se a Fee não tivesse colocado você
exatamente onde ela quer. Você está derrotado, mano, admita.
Sua expressão ficou séria, então derreteu, transformando-se em um
sorriso orgulhoso.
— Eu posso admitir essa merda. Eu, Jason Ford, sou caidinho pela minha
namorada e eu amo isso.
— Diga um pouco mais alto para as pessoas ouvirem nos fundos —
Grady gritou, e Jason o mostrou o dedo do meio, ganhando uma rodada de
risos e aplausos.
— Quando é o casamento? — alguém perguntou e ele ficou pálido.
— Ah, agora ele se cala. — Cam bufou. — Você tinha que ver sua cara.
— Vá se foder, Chase. Todos nós sabemos que você será o primeiro a
chegar ao altar com a Hailee.
Ele deu de ombros.
— Um dia.
— E você, Ash? Acha que pode se casar com a Mya?
Minha garganta ficou seca e apertei os dedos em torno da garrafa.
— Ei, Cap — Grady gritou do outro lado do bar, me salvando da
pergunta de Jason. — Está a fim de ser derrotado no bilhar?
— Como se isso fosse acontecer. — Jase se levantou, a arrogância
emanando dele. — Prepare-se, Grady, e prepare-se para comer merda. — Ele
saiu me deixando com Cameron.
Ele semicerrou os olhos para mim e disse:
— Estou aqui.
— Eu sei. — Levantei meu rosto para ele.
— Quando você estiver pronto.
Balancei a cabeça.
O tempo estava se esgotando.
Mas eu ainda não estava pronto.

— VOCÊ ACHA que isso é uma boa ideia? — Cam sussurrou enquanto
caminhávamos pelo quintal dos Giles, seguindo pelos arbustos que revestiam
a casa. — Não poderíamos simplesmente ter batido?
— Já faz muito tempo desde que pregamos uma peça em Hailee — Jase
balbuciou. — Ela precisa de um pequeno lembrete de quem é o melhor
irmão.
— Meio-irmão — corrigi.
— Ela me deve uma já que se aproximou do Chase.
— Estou bem aqui — Cam protestou.
— Sim, cara. Você me deve também. Minha meia irmã. Sério, cara, você
tinha que fazer isso?
— Quantas bebidas você tomou esta noite? — perguntei a ele.
— Estou bem.
— Você está bêbado e quando a Felicity vir o que você fez com as
plantas da mãe dela, vai enlouquecer.
— Só porque a Hailee tem suas bolas na bolsa, não significa que o resto
de nós deixe nossas mulheres comandarem o show.
Cam se deixou cair em uma das cadeiras do jardim.
— Só vou me sentar aqui e assistir você mostrar a sua mulher quem
manda.
— Estou com ele — recuei, deixando Jase tentar escalar a parede
sozinho.
— Bando de idiotas — ele murmurou, tentando conseguir um apoio para
os pés na treliça de madeira. — Precisamos recuperar nossas bolas, estou
dizendo. Essas garotas acham que podem simplesmente aparecer, virar nossas
vidas de cabeça para baixo e nos ver correndo atrás delas. Sou um Raider,
pelo amor de Deus. E os Raiders nunca... — ele parou quando percebeu que
estávamos olhando para ele. — O que foi?
Balancei a cabeça por cima do seu ombro para onde as garotas estavam
paradas não parecendo nada divertidas.
— Jason Gary Ford, o que é que você pensa que está fazendo com as
hortênsias da minha mãe?
— Baby, posso explicar... — Jase passou a mão pelo cabelo, se
aproximando delas. — Achamos que seria engraçado.
— Ele — Cam tossiu — ele achou que seria engraçado.
— Filho da puta traidor.
— Por favor, não me diga que você ia tentar escalar a parede. — Flick se
aproximou dele, pressionando as mãos em seu peito com força.
Jase abriu um sorrisinho.
— Eu queria te ver.
— Poderia ter ligado ou batido. Deus, você está fedendo. Quanto vocês o
deixaram beber? — Seus olhos foram para mim.
— Não olhe para mim. Não sou o segurança dele.
— Nem eu — Cam acrescentou. — Culpe o Grady.
— Grady? O Grady, que não está aqui agora pisoteando as plantas da
minha mãe e tentando escalar a treliça.
— Não fique chateada, baby. — Jason enganchou o braço em volta da
cintura de Felicity, puxando-a para mais perto. — Senti a sua falta. — Ele
enterrou o rosto em seu pescoço, e ela gritou.
— Me solta, você está bêbado.
— Talvez você devesse nos convidar para entrar — sugeri —, antes que
ele realmente faça uma cena.
Mya balançou a cabeça para mim, com um sorrisinho. Sem dizer uma
palavra, me levantei da cadeira e fiz o meu melhor para caminhar em linha
reta até ela.
— Oi.
— Oi — ela disse, seu sorriso crescendo. — Você está bêbado?
— Não tanto quanto ele. — Apontei para onde Jason estava quebrando a
determinação de Flick, tentando beijá-la enquanto ela reclamava. — Mas um
pouco mais bêbado do que o Cam.
— Parece mesmo — Hailee falou enquanto passava por mim para ir
buscar seu cara.
— Sentiu saudades?
— Saudades? — Mya riu, passando as mãos pelos meus ombros. — Faz
apenas algumas horas desde a última vez que te vi.
— Admita, você sentiu minha falta.
— Ash... — Ela baixou os olhos, encostando a cabeça na minha.
— Está tudo bem, Mya — Jase gritou. — Somos todos escravos do amor
aqui.
— Ah, Deus, pare — Flick sufocou uma risada. — Você está aqui agora.
Acho que também pode entrar.
— Podemos? — perguntei a Mya. Ela pegou uma das minhas mãos e se
virou para voltar para dentro. Mas parei, observando seu corpo. — Belo
pijama.
— Comporte-se — ela me repreendeu. — Ou eu chamo um táxi para
você.
Jase riu, mas minha namorada lhe deu um olhar severo.
— Você também, Ford. Pode ser a casa da sua namorada, mas você
interrompeu a noite das garotas e não tenho medo de mandá-la te colocar para
fora.
— Aviso recebido alto e claro.
— Você realmente mostrou a ela, Jase — provoquei.
— Vá se foder — ele murmurou enquanto todos nós entrávamos. Já era
tarde e eu e Cam tentamos convencer Jason a não vir aqui para sabotar a noite
das garotas. Mas eu não ia deixá-lo sozinho. Além disso, a chance de passar
mais tempo com Mya era boa demais para recusar.
As garotas nos conduziram para a sala de estar, praticamente nos
empurrando para o sofá.
— Agora — Felicity começou —, o que fazer com vocês três.
— Você pode fazer o que quiser, querida — Jason sorriu, deixando sua
mão descer até a virilha.
— Cara, estamos bem aqui — eu o lembrei.
— Talvez você devesse se foder então.
— Que tal um jogo de verdade ou desafio? — Hailee sugeriu. — Jason
vai primeiro, já que ele é o cérebro por trás de tudo isso.
— Verdade ou desafio é para idiotas — ele grunhiu, com os olhos
famintos fixos em Flick como um predador perseguindo sua presa.
— Faremos valer a pena. — Mya se colocou entre Hailee e Felicity,
passando o braço em volta de seus ombros. Me sentei um pouco mais reto,
carrancudo.
— Ah, é, Hernandez — Jason falou. — E como exatamente você planeja
fazer isso?
— Eu te desafio a beijar o Asher...
— Que merda é essa? — Nós dois gritamos. — De jeito nenhum!
— Beije o Asher — minha garota se manteve firme — e eu vou beijar a
Felicity.
Puta merda.
Meu queixo quase bateu no chão quando Flick assentiu.
— Aah, boa. O que acha?
— Baby, não sou um cara na puberdade que fica olhando duas garotas...
— Suas palavras foram sumindo enquanto Felicity passava um dedo pelo
pescoço de Mya, brincando com o decote do pijama.
— O que você estava dizendo? — Ela tinha toda a atenção de Jase agora.
Ele semicerrou os olhos e dilatou as narinas.
— De verdade, você quer fazer isso? — Seu olhar duro me encontrou ao
redor de Cameron. — Você quer me ver beijar o Asher?
— Cara — interrompi. — Você não está realmente considerando isso,
não é? — Ver Mya beijar Felicity seria muito sexy, mas de jeito nenhum eu
queria beijar meu melhor amigo – um cara – por isso.
Sem chance.
— Estou dentro, se você estiver.
Parecia que éramos espectadores de algum desafio particular entre Jase e
Felicity. O desafio brilhou nos olhos deles e o ar ficou denso com a tensão.
— Você realmente vai fazer valer a pena?
Ela assentiu e eu tentei chamar a atenção de Mya, mas ela estava muito
ocupada observando Jason e Felicity.
— Certo. Ash, venha aqui.
— Não vou beijar você, Jase. De jeito nenhum.
— Não seja tão maricas. Já vi seu pau mais vezes do que posso contar. O
que é um beijinho entre amigos?
— Você ficou louco — gritei enquanto Jason se levantava, contornando o
sofá e vinha em minha direção. — Mantenha seu traseiro bêbado longe de
mim.
— Você sabe que ele vai ganhar — Cam falou. — É melhor acabar logo
com isso.
— Obrigado pela ajuda, cara. Muito obrigado. — Apontei um dedo para
Jase, avisando-o para ficar longe, mas o enorme idiota bêbado se lançou em
cima de mim, me prendendo no sofá.
A risada explodiu ao nosso redor enquanto eu tentava lutar com ele, mas
o filho da puta era muito forte. Ele prendeu meu corpo, usando uma das mãos
para segurar meu rosto.
— Só um beijinho, faça biquinho.
— Jason, dê o fora... — Sua boca cobriu a minha, dura e úmida e
estranha. Pra. Cacete, Fiquei imóvel, apertando os lábios para evitar um
deslize acidental da língua. Com todas as minhas forças, empurrei meu corpo
para frente, fazendo Jase cair de bunda no chão.
— Nunca mais faça isso. — Limpei seu beijo dos meus lábios com as
costas da mão. Ele se levantou com dificuldade, com um sorriso idiota
estampado em seu rosto.
— Ahhh, não seja tão sensível. Você tem lábios muito bonitos para um
cara.
Cam bufou ao meu lado e eu o encarei com um olhar que dizia, você é o
próximo.
— Isso foi... uau, não esperava que isso acontecesse. — Flick parecia um
pouco corada. Seus olhos cintilaram com uma mistura de surpresa e
curiosidade. — Certo, acho que é a nossa vez. Mya...
— Felicity. — Ela sorriu para a amiga, segurando gentilmente seu rosto.
As duas se aproximaram, e eu me vi sentado mais reto novamente. Elas
estavam quase nariz com nariz, lábios com lábios quando as duas viraram a
cabeça no último segundo e sorriram. — Peguei vocês.
— Não posso acreditar que você realmente achou que faríamos isso —
Felicity acrescentou com um sorriso maroto.
— Você nos enganou? — Jase grunhiu.
— E você caiu como um patinho. Quer suas bolas de volta agora?
— Você está bem encrencada, baby. — Ele avançou em sua direção, mas
ela recuou.
— Foi uma piada, Jase. Não seja assim...
— É melhor você correr.
— Ah, merda. — Flick se virou e saiu pela porta. O riso ecoou ao nosso
redor quando Jason saiu atrás dela.
— Acho que não os veremos novamente esta noite — Mya falou, olhando
para mim. — Também estou encrencada?
O calor escorreu pela minha espinha.
— Você quer estar?
Ela se aproximou e subiu no meu colo, colocando seu corpo firmemente
no meu.
— Você ficaria desapontado se eu dissesse que quero sair com o Cam e a
Hailee e apenas desfrutar de ser um casal normal?
— Na verdade — dei um beijinho na ponta de seu nariz —, isso parece
perfeito para mim.
VINTE E UM
Mya
— MYA, estou em casa — a voz da minha tia soou, me assustando.
Soltei um suspiro pesado. Esta seria uma conversa da qual eu sabia que
não poderia escapar. O que foi que Felicity disse sobre arrancar como um
band-aid? Mas eu tinha certeza de que esse band-aid deixaria um corte mais
profundo.
Encontrei tia Ciara na cozinha, desempacotando uma pequena sacola de
mantimentos.
— Pode me ajudar? — Seus olhos se arregalaram com significado e eu ri,
começando a trabalhar ao lado dela.
Depois de alguns minutos de silêncio, ela bufou:
— Pelo amor de Jesus, Mya, desembucha logo.
— Como você faz isso? — perguntei.
— Você acha que eu não vejo a maneira como você está segurando tudo
isso? — Ela ergueu a sobrancelha.
— A Felicity e a Hailee me convidaram para ir a Nova York com elas no
Ano Novo.
— Nova York, é? Parece chique. Extravagante e caro. Você sabe que não
temos dinheiro sobrando para...
— Na verdade, está tudo resolvido.
Ela parou o que estava fazendo, fixando seu olhar desconfiado em mim.
— Deixe-me adivinhar, aqueles meninos Raiders vão pagar a conta.
— A família do Asher tem uma cobertura onde podemos ficar. Não vai
custar um centavo. Só vou precisar de um pouco de dinheiro para gasolina e
uma roupa, mas a Felicity já disse que posso pegar algo dela emprestado para
usar.
— A família do Asher — ela repetiu e sua expressão tensa me disse tudo
que eu precisava saber.
— Não é grande coisa, tia — falei, pegando o resto dos mantimentos e
guardando-os.
— O fato de você estar dizendo que não é grande coisa, me diz que é.
Achei que você fosse ser cautelosa no que se referia ao menino Bennet.
— Asher, o nome dele é Asher, tia C. Além disso, doeria muito se você
ficasse feliz por mim? Tenho amigos, tia, bons amigos. E o Asher é, bem, ele
é uma boa pessoa.
Ele era bom, gentil e gostava de mim.
Ele não viu Mya, a garota do gueto. Ele viu Mya, a garota que havia
deixado sua casa e vida por algo melhor.
— E o que os pais dele pensam sobre você ir para Nova York com o filho
no Ano Novo?
— Eu... não sei. — A verdade oscilou na ponta da minha língua. — Mas
Asher não se importa com o que eles pensam. Ele está falando sério sobre
essa coisa entre nós. Eu também.
— Mya, Mya, Mya — ela fez um gemido prolongado. — Achei que você
fosse mais sensata do que isso.
— Nós gostamos um do outro — falei e minha voz falhou de frustração.
— Não é o suficiente?
— Por enquanto, talvez. Mas e depois da formatura? O que vai ser?
Vocês vão para faculdades diferentes e ele vai o quê, esperar por você? — ela
perguntou incrédula. — Ouvi rumores sobre aquela família, sobre as
conexões do pai dele. Você acha que ele vai ficar sentado vendo seu único
filho namorar você? — Seu tom era quase mordaz, como se eu fosse a vilã
aqui. Não o sr. Bennet e seus ideais preconceituosos.
A necessidade de defender Asher, de defender nosso relacionamento
queimou dentro de mim.
— Asher é...
— Vai partir seu coração. Sinto muito, Mya, sei que você não quer ouvir
isso, mas ele vai para a faculdade, vai conhecer uma garota rica e branca que
seus pais aprovam e vai te deixar na mão.
— Você está errada. — Senti a raiva me tomar, fazendo meu corpo
tremer e as lágrimas arderem em meus olhos. — Sei que você só quer me
proteger, tia. Mas conheço o Asher e você está errada sobre ele.
Talvez essa coisa entre nós estivesse fadada ao fracasso. Talvez estivesse
destinada a não ser nada além do que um pequeno turbilhão de beijos
roubados e toques secretos. Mas no fundo do meu coração, eu sabia que
Asher nunca me magoaria propositalmente. Ele não era esse tipo de pessoa.
— Eu te amo — falei baixinho, sentindo meu coração doer pela rachadura
que se formava em nosso relacionamento. — Mas eu fiz minha escolha.
Escolhi o Asher.
A expressão de tia Ciara endureceu e seus lábios se estreitaram com
desaprovação. Ela não disse nada, não precisava. Senti sua decepção. Ela
permeou o ar, tornando-o denso e opressor. Mas então meu celular tocou,
abafando nossa tensão. Ignorei, tentando pensar em como suavizar a
rachadura que se formava entre nós.
— Você deveria atender — ela retrucou quando tocou de novo.
— Tudo bem, estarei no meu quarto. — Saí da cozinha, desesperada para
ouvir a voz de Asher, mas fiquei desapontada quando vi o nome de Shona na
tela.
— Ei, isso é inesperado.
— Uma garota não pode mais ligar para a amiga?
— Claro que pode, Shona. — Fechando a porta, me sentei na beirada da
cama. — Como as coisas estão?
— Como você acha que estão? O Jermaine quase ficou louco quando
descobriu que você tinha ido embora... de novo.
— Eu disse a ele...
— Não importa o que você disse a ele. Ele não vai deixar essa coisa de
lado.
— Ele tem que deixar. Terminei. Segui em frente. Eu... — O sorriso
contagiante de Asher surgiu na minha cabeça, — Estou saindo com alguém.
— O garoto branco que parece com Timberlake?
— E ele joga futebol — provoquei, tentando aliviar o clima tenso.
— Droga, garota, é como se eu nem soubesse mais quem você é. — O
silêncio pairou sobre a linha.
— Ele é um cara bom, Shona.
— Tudo bem. Só não quero ver você se machucar de novo. — Ela soltou
um suspiro pesado. — Ouça, te liguei para dizer que o Jermaine apareceu
perguntando sobre você. Eu não disse nada, mas não acho que ele não vai te
esquecer tão cedo.
— Ele tem que me esquecer — repeti sem saber a quem eu estava
tentando convencer.
A ela.
Ou a mim mesma.
— Minha vida é aqui agora, Shona. Ele não sabe que estou em Rixon. Ele
não pode saber.
— Calma, garota. Não vou dizer nada. Mas não posso garantir que Jesse
não se envolva se ele continuar aparecendo por aqui.
— Sinto muito.
— Não, você não sente. Mas eu entendo. Você tinha que partir. Se cuide,
garota.
— Você também — sussurrei. Shona desligou e eu apertei o telefone
contra o peito. Jermaine não havia partido. Mesmo que eu tivesse trocado
meu número e dito a ele que tínhamos terminado, ele ainda estava lá. Me
assombrando como um fantasma.
Eu não esperava que tia Ciara e Shona entendessem meu relacionamento
com Asher, mas era uma merda que eu tivesse que defendê-lo
constantemente para as pessoas mais próximas a mim. Tia Ciara tinha seus
motivos, mas Asher não era seu ex. Ele não ia fazer falsas promessas para
depois partir meu coração e me deixar sangrando, machucada e sozinha. E
Shona... bem, ela não entendia. De onde viemos, não se namorava meninos
brancos.
Mesmo que sua desaprovação não me surpreendesse, uma pequena parte
de mim esperava que elas vissem as coisas da minha perspectiva. Que pelo
menos tentariam entender o que era ser uma garota de dezoito anos se
apaixonando por um cara que a fazia rir e se sentir segura e querida. Um cara
que não traria dor, perigo e dor de cabeça à minha porta. Mas quanto mais
alto seus avisos ficavam, mais silenciosa minha convicção se tornava, e as
duas metades de mim ficavam em guerra.
Asher não me machucaria. Eu não tinha dúvidas disso.
Mas tentar viver no mundo de Asher com ele poderia me destruir.

— ESSE NÃO — eu disse, me encolhendo ao pensar em usar um vestido


estampa floral que Felicity estava segurando.
— Você está certa, é muito... feliz.
— Feliz? Você está dizendo que não sou feliz?
Ela olhou para mim, lutando contra um sorriso enquanto eu relaxava em
sua cama, cercada por roupas.
— Você acha que está feliz?
— Estou feliz com o Asher. Ele me faz feliz.
— Você foi tão fofa. Ele adoraria.
— Não se atreva a dizer a ele que eu estava sentada aqui me declarando.
Tenho uma reputação para proteger. Uma tempestuosa, pelo que me parece.
— Eu não disse que você era tempestuosa, mas definitivamente não é um
raio do sol.
Coloquei a língua para fora para ela e peguei o vestido de seda que eu
usei na festa dos Bennet.
— Eu poderia usar esse de novo.
— Não, ele já te viu com isso. Além do mais, foi aprovado pelos pais.
Agora, vamos para Nova York. Você precisa de algo... mais.
— Mais, certo. — Revirei os olhos, deixando o tecido macio deslizar
através dos meus dedos, me lembrando de como os olhos de Asher se
arregalaram quando ele me viu nele. A maneira como sua respiração havia
ofegado. A fome em sua expressão.
— Me mostre de novo o que você trouxe. — Flick acenou para mim.
Tirando da bolsa saias jeans, shorts e tops, fiz uma careta.
— Isso definitivamente não vai servir.
— Está tudo bem, ainda temos tempo. Devo ter algo aqui. — Ela
começou a vasculhar seu guarda-roupa de novo.
Olhei para o vestido que Flick planejava usar. Era de um tom de verde
profundo, decotado na frente e ainda mais nas costas. Sua mãe o comprou
especialmente para ela, querendo que a filha estivesse vestida de forma
adequada em nossa grande viagem a Nova York.
Eu não podia negar que a inveja fervilhava em minhas veias quando ela
me contou. Eu não tinha inveja dela, nem mesmo do vestido, mas não
conseguia me lembrar de uma vez em que minha mãe me levou às compras.
E por mais forte que eu tentasse ser, não podia fingir que o vestido novo e
brilhante da minha amiga não era uma lembrança de tudo que perdi.
De tudo que nunca tive.
— Certo, já sei. Me mostre de novo aquele short jeans. O que tem a
lavagem escura.
— Essa coisa velha? — Peguei um short antigo, mas que dificilmente
parecia adequado para ser usado em um clube de Nova York.
— Acho que pode combinar com isso. — Ela se virou, me apresentando
uma camiseta preta de lantejoulas que era muito curta para ser um vestido,
mas longa o suficiente para que minha barriga não ficasse à mostra. — A
parte de trás é decotada, então você não poderá usar sutiã. — Flick virou o
cabide para que eu pudesse dar uma olhada.
— Tudo bem. — Desci da cama. — Posso experimentar?
— Ah, sim! Eu preciso ver. Experimente com as botas de salto.
— Tem certeza de que não se importa que eu pegue emprestado todas
essas coisas?
Ela me lançou um olhar penetrante.
— Como se você ainda precisasse perguntar.
— Obrigada. — Pegando o short e as botas, fui para o banheiro, tirei
minhas roupas e vesti as outras. A garota que olhava para mim era mais alta,
graças aos saltos, mas também era mais velha de alguma forma. Mais sábia.
Felicity estava certa. Eu não parecia a imagem de felicidade, meu rosto
tornava minha expressão muito séria. Mas vi a mudança sutil em meus olhos.
O pequeno brilho. E eu conhecia a raiz disso. A garota atrás da porta,
determinada a me fazer ficar bonita para nossa grande noite fora. O garoto
com quem eu estaria andando de mãos dadas a caminho do clube. Rixon
estava me mudando e não era de todo ruim. Na verdade, algumas coisas eram
boas.
Muito boas.
— O suspense está me matando — Flick falou. — Terminou?
Respirando fundo, ajeitei o tecido, para que ficasse perfeito.
— Certo — voltei para o quarto. — O que acha?
Ela arregalou os olhos e bateu palmas, deixando escapar um gritinho de
aprovação.
— Perfeito. O Asher vai morrer quando vir você.
— Bem, espero que ele não morra. Eu meio que gosto de tê-lo por perto.
— Esta viagem vai ser a melhor. — Felicity sorriu. — Só me prometa
que vai me defender se a Vaughn der em cima do Jason.
— Pode deixar. — Dei uma piscada brincalhona. — O Asher é próximo
dos primos?
— Não muito. Quero dizer, eles pareciam amigáveis o suficiente quando
fomos para lá, mas não mantêm contato regular nem nada. Por que você
pergunta?
— Sem motivo. — A mentira azedou na minha língua. Mas eu não
poderia dizer a ela como a vozinha na minha cabeça estava sussurrando todo
tipo de coisa para mim.
— Eles vão adorar você, Mya — ela disse tentando me tranquilizar. —
Você não tem nada com o que se preocupar.
— Sim. — Forcei um sorriso, dizendo a mim mesma que não importava o
que eles pensassem.
Mesmo que no fundo eu soubesse que importava, sim.
VINTE E DOIS
Asher
NOSSA VIAGEM A NOVA YORK estava em andamento. Quanto mais
longe Rixon ficava, mais eu conseguia respirar. Apertei o braço de Mya, e ela
olhou para mim.
— Mal posso esperar para ver o horizonte. — Seu sorriso foi fácil, suas
palavras leves, mas senti a tensão persistente entre nós.
Fui um idiota outro dia no almoço com minha mãe. Mas quando ela falou
da faculdade, eu imediatamente fui para um lugar sombrio. Eu sabia que Mya
pensava que isso tinha algo a ver com sua candidatura a Cleveland, mas ela
estava muito errada. Essa foi a única coisa boa que saiu dessa conversa.
Cleveland não era Pittsburgh, mas era perto o suficiente. Duas horas não
eram nada. Poderíamos passar os fins de semana juntos, até nos ver dia sim,
dia não, se quiséssemos.
Mas esse era o sonho.
A realidade era muito diferente.
A realidade era que meu pai não queria que eu fosse para Pittsburgh
namorando Mya. Ele me queria solteiro e disponível para namorar uma longa
lista de garotas adequadas.
Garotas como Kellie Ginly.
Pittsburgh ficava muito longe de Rixon, mas perto o suficiente para que
pudéssemos manter nosso relacionamento em segredo se fosse necessário.
Porque eu não poderia perdê-la.
— Aonde você foi? — Mya roçou o nariz no meu queixo, chamando
minha atenção.
— Só estava pensando.
Ela segurou meu rosto, me fazendo olhar para ela.
— Nada de pensar. Hoje, não. — Mya manteve a voz baixa, suas palavras
focadas só em mim. — Vamos para Nova York comemorar o ano novo e nos
divertir muito com nossos amigos. O resto pode esperar, certo?
Assentindo, apoiei a cabeça na de Mya, deixando meus lábios roçarem os
seus. Ela apertou os dedos em meu moletom enquanto se inclinava para mais
perto, me deixando aprofundar o beijo.
Isso.
Era isso que eu precisava.
Seus beijos.
Seu toque.
Somente ela.
Alguém pigarreou, Jason, acho. Mas não me importei e não parei.
Continuei beijando Mya, deixando a língua deslizar e se enredar na dela.
Acendendo uma tempestade de fogo dentro de mim, enquanto as chamas me
queimavam de dentro para fora.
Eu queimaria feliz por esta garota.
— Espero que eles não façam isso durante todo o trajeto. — Não havia
dúvida de que era Jase dessa vez. Mya riu contra minha boca e o som
envolveu meu coração como um torno.
— Devemos parar — ela murmurou.
— Não — entrelacei a mão em seu cabelo, apoiando seu rosto no meu —,
devemos continuar.
— Ash...
— Mya... — Ela não resistiu quando capturei seus lábios novamente,
beijando-a com mais força. Mais profundamente. Beijando-a com tudo que
eu tinha.
— Querido, se eles continuarem — Flick falou —, talvez tenhamos que
parar.
Finalmente interrompi o beijo, olhando para onde Felicity estava sentada,
na frente da minivan que alugamos. Ela se inclinou mais perto, sussurrando
algo para ele.
— Puta merda — ele murmurou, com os olhos fixos na estrada.
— Está tudo bem aí?
Seus olhos encontraram os meus no espelho, e ele resmungou:
— Não sei se devo te dar um tapa ou te jogar para fora da van.
— Eu? O que foi que eu fiz? — Sufoquei um sorriso, me recostando no
assento com Mya apoiada ao meu lado.
Rixon estava quilômetros atrás de nós agora. Exatamente onde eu queria
deixá-la. Porque minha garota estava certa: este era o nosso fim de semana.
E nada iria estragá-lo.

— PUTA MERDA — Mya ofegou quando saímos do elevador e entramos no


saguão da cobertura. Era toda de vidro e cromo, e com uma decoração
sofisticada. Completamente exagerada e provavelmente indigna de seu preço
de mil dólares por noite, mas o irmão do meu pai, tio Mich, estava muito
disposto a acomodar a mim e aos meus amigos. Eles estavam constantemente
tentando se enfrentar. Deixe as crianças pegarem a cobertura emprestada.
Deixe as crianças passarem férias nos Hamptons. Riley e Vaughn
trabalhavam isso mais a seu favor mais do que eu. Provavelmente porque o
pai deles se importava ainda menos do que o meu.
Bem, o meu se importava... mas com as coisas erradas.
— É demais, não é? — Flick passou por nós como se fosse a dona do
lugar, com Jason seguindo atrás dela.
— Eu não posso... uau. — Os olhos de Mya estavam arregalados e o
espanto brilhava em suas íris escuras. — Seu tio é o dono daqui?
— Sim. Meu pai usa para negócios às vezes. — Me movi por trás dela,
envolvendo os braços em sua cintura. — É só um apartamento.— Minha
respiração roçou sua orelha.
— Realmente não é. É muito. Eu sabia que você era rico, Asher, mas isso
é... uau.
Eu ri, mas saiu tenso porque eu sabia o que ela estava pensando.
— O seu lugar é aqui, comigo — eu disse.
Não queria que ela duvidasse de nós. Nem em Rixon, nem aqui, nem em
lugar nenhum. Mas tentei me colocar em seu lugar, imaginar como deveria
ser para uma garota ser arrancada de uma vizinhança ruim e jogada na minha
vida.
Mya passou a mão sobre meus braços, retribuindo o abraço.
— Quantos quartos têm?
— O suficiente. — Minha voz ficou rouca quando a imaginei diante de
mim com nada além de um sorriso e luxúria em seus olhos. — Mas se não
nos apressarmos, Flick e Hailee vão pegar os melhores.
Ela se virou em meus braços.
— Por mim, tudo bem. Tenho tudo de que preciso bem aqui. — Mya se
inclinou, passando a língua pela minha boca. Abri de boa vontade,
desesperado para prová-la novamente. Tínhamos praticamente nos beijado a
viagem inteira e ainda não era o suficiente.
Eu ainda precisava de mais.
— Bem, é verdade.— A voz do meu primo Riley era como um balde de
água fria. Soltando um suspiro pesado, apoiei a cabeça na de Mya, me dando
um segundo.
— Você deve ser Mya — ele disse, se aproximando.
— Oi, é um prazer conhecê-lo.
— Eu sou o Riley e essa vaca temperamental é a minha irmã, Vaughn. —
Ele balançou a cabeça para a garota carrancuda de pé ao seu lado.
— Oi — ela falou com frieza, dando uma olhada em Mya antes de
levantar uma sobrancelha para mim. — Primo.
— Vaughn, é bom te ver — falei, deixando-a passar os braços esguios em
volta do meu ombro em um abraço estranho.
— Trouxemos suprimentos, estão no carro — Riley avisou. — Onde
estão os caras? Pensei que vocês três poderiam vir me dar uma mão e deixar
as garotas colocarem a conversa em dia.
Vaughn olhou para mim mais uma vez antes de voltar a se concentrar em
Mya. Me aproximei da minha garota, envolvendo o braço com mais força em
sua cintura, não gostando da maneira como minha prima estava olhando para
ela.
— Na verdade — eu disse, me sentindo protetor —, por que vocês dois
não pegam os suprimentos e vou pedir aos caras para descerem em um
segundo?
— Sim, tanto faz. — Riley me deu um sorriso, mas vi a tensão em seus
olhos. — Vamos, irmã. — Ele saiu da cobertura, com Vaughn seguindo atrás.
— Então, eles são seus primos — Mya falou, com os olhos ainda fixos na
porta. — Posso ver a semelhança entre você e o Riley, e a Vaughn parece...
legal.
Eu me irritei com a tensão em sua voz.
— Não se preocupe com a Vaughn.
— Ah, não estou preocupada — Mya se endireitou um pouco mais, me
olhando com perplexidade. — Ela não foi a primeira garota branca que me
olhou como se eu fosse sujeira em seu sapato, e não será a última. — Ela se
desvencilhou do meu aperto e se afastou.
Xingando baixinho, passei a mão pelo rosto. Esta viagem era para ser
uma chance de nos divertirmos, de sermos um casal normal, longe do
julgamento das pessoas.
Mas já estava se transformando em um desastre.
— VOCÊ ESTÁ BEM? — Cam me perguntou enquanto nos encostávamos
na varanda, observando as garotas dançarem no andar de baixo. O clube que
Riley e Vaughn nos trouxeram estava lotado. Mas no andar de cima, na área
VIP, estava mais tranquilo, e era por isso que estávamos aqui enquanto as
meninas estavam lá embaixo.
— Sim, estou bem.
— A Mya parece estar se divertindo.
Soltei um suspiro pesado.
— Quando estamos só nós, ou estamos com vocês, as coisas ficam
ótimas.
— Mas?
— Mas nem todo mundo está feliz com a gente. Você sabe como é Rixon,
como são os garotos na escola. Caramba, até mesmo alguns dos caras da
equipe me enchem o saco por eu gostar da Mya.
— Eles não querem dizer nada com isso.
— Não? Você acha que não vejo como as pessoas olham para nós?
— Eles só estão curiosos, cara. Não é nada pessoal.
— Parece pessoal pra cacete. — Esfreguei o queixo, olhando de volta
para as garotas. — Você viu como o Riley e a Vaughn ficaram surpresos? E
eles moram aqui.
Nova York não era como a cidade da diversidade ou algo assim?
— Eles te disseram alguma coisa?
— Riley? Não, ele só ficou surpreso. Sei que ele não dá a mínima para
com quem eu estou. Mas a Vaughn deixou óbvio que não aprovava. — Cerrei
a mandíbula. Ela até se desculpou por sua reação inicial a Mya, mas o estrago
já estava feito, e as duas se mantiveram longe uma da outra durante os drinks
pré-clube na cobertura.
— Eu só achei que poderíamos vir aqui e deixar toda a merda em Rixon.
Mas isso nunca vai acabar, certo? Sempre haverá pessoas que vão nos ver
juntos e desaprovar.
— Eles que se fodam. As pessoas não têm importância — Cam falou. —
Alguém sempre vai fazer julgamentos. Mas você é melhor do que isso.
Mantenha sua cabeça erguida. — Ele me deu um tapinha no ombro. — Vejo
a maneira como você olha para a Mya, você está profundamente envolvido.
— Não — falei. — Estou totalmente apaixonado por ela.
Era assustador a força dos meus sentimentos. Eu queria
desesperadamente fazer essa coisa entre nós funcionar.
Apesar de todos os obstáculos.
— Então isso é tudo que importa. O resto é apenas ruído branco.
Mas não era. Era uma tagarelice incessante, um zumbido constante ao
fundo que, por mais que eu tentasse, não conseguia ignorar.
— Ela disse a Hailee e a Flick que se candidatou a Cleveland — Cam
continuou. — Você sabe, fica a apenas algumas horas de Pittsburgh.
— Eu sei. — Apertei as mãos em torno da grade.
— Então, como você se sente sobre isso?
— Aliviado. — Aliviado pra caramba. — Mas meu velho não vai ficar
impressionado.
— O que isso tem a ver com o seu pai?
— Eu... — As palavras estavam bem ali. Diga a ele. É só arrancar o
Band-Aid e contar.
Antes que eu pudesse fazer isso, a expressão de Cam mudou. Ele
semicerrou os olhos passando por mim.
— Puta merda — resmungou.
— O que foi... — Me virei a tempo de ver algum idiota colocar as mãos
em Mya.
Saí correndo, passando por algumas pessoas e ignorando os gritos de
Cam enquanto corria escada abaixo e para a pista de dança. Eu tinha perdido
Mya e as garotas na multidão, mas pude distinguir o filho da puta alto que
colocou as mãos na minha garota.
A raiva corria em minhas veias enquanto eu empurrava as pessoas para
fora do caminho, explodindo no meio da multidão.
— Toque na minha garota de novo e você... — As palavras pausara, na
minha língua enquanto eu observava a cena diante de mim. Mya estava
olhando irritada para o cara enquanto ele agarrava seu pau, com os olhos
lacrimejando e o rosto contorcido em agonia.
— Sua vadia de merda — ele fervia.
Eu me coloquei entre os dois, com uma expressão assassina.
— O que é que você acabou de dizer?
— É melhor você colocar uma coleira em sua cadela ou...
Antes que eu soubesse o que estava acontecendo, Mya disparou ao meu
redor e deu um soco no rosto do cara.
— Ei, Rocky. — Jase apareceu do nada e a pegou pela cintura puxando-a
para trás antes que ela pudesse causar algum dano real.
— É melhor você cuidar disso — o cara murmurou, já recuando. — Uma
garota como essa vai te causar todos os tipos de problemas.
— Dê o fora daqui. — Jase me deu um tapinha nas costas, com um
sorriso idiota estampado no rosto. Fiquei feliz que alguém achou a situação
engraçada, porque eu com certeza não achava. Mas respirei com mais
facilidade quando encontrei Mya seguramente aninhada entre Flick e Hailee.
Com a ajuda de seus amigos, o cara saiu mancando, levando consigo seu
orgulho ferido.
— Você está bem? — Jase perguntou a Mya e às garotas enquanto eu
estava lá, tentando controlar a raiva que ainda vibrava em mim. Eu queria ir
atrás do cara, queria...
— Ele tocou na minha bunda. — Mya estava na minha frente agora,
tocando meu braço. Ela me deu um sorriso fraco. — Posso ter exagerado um
pouco. Me desculpe, eu não tive a intenção de causar uma cena.
Merda. Ela achou que eu estava constrangido?
Cobrindo a distância entre nós, coloquei um braço em volta de sua cintura
e a puxei contra meu peito.
— Nunca se desculpe por se defender.
— Ele mal estava me atacando, Asher — ela falou, revirando os olhos.
— Não, mas colocou as mãos em você sem sua permissão. Se você não
tivesse dado uma joelhada nas bolas dele, eu teria. — Teria feito muito pior.
— Quer dizer que você irrompeu do meio da multidão, pronto para
defender minha honra?
— Mya, tenha certeza de que eu andaria por cima de brasas por você. —
Olhei para ela, tentando mostrar o quanto ela significava para mim. Mas às
vezes as ações não eram suficientes. Às vezes, era preciso adotar a
abordagem mais simples e dizer a alguém como realmente se sentia.
Puxando-a para fora do alcance da voz de nossos amigos, tirei um cacho
de seu rosto e me inclinei, respirando fundo.
— Sei que oficialmente só se passaram alguns dias, que é complicado e
não sabemos o que o futuro reserva, mas tenho quase certeza de que estou me
apaixonando por você, Mya Hernandez.
Seus lábios se entreabriram em um suspiro suave que só eu ouvi.
— Você não deveria se apaixonar por mim, Asher — ela sussurrou. Meu
coração bateu com violência contra minha caixa torácica, esperando que ela
me tirasse da minha miséria. — Mas estou feliz por isso.
— É, e por quê? — Eu estava flertando, mas precisava ouvi-la dizer as
palavras também.
Precisava que ela sentisse o mesmo.
— Porque — ela respirou fundo — eu... — Mya engoliu as palavras que
eu queria tão desesperadamente ouvir. Mas ela não estava enganando
ninguém. Vi a verdade brilhando bem ali em seus olhos.
Ela sentia o mesmo, eu sabia que sim.
— Está tudo bem — as palavras saíram tensas. — Você não precisa falar
isso ainda.
— Ash... — Mya fechou os olhos no momento em que no momento em
que Khalid’s Better explodiu pelo sistema de som. Virei-a em meus braços,
colocando seu corpo perto do meu e comecei a dançar. Ela podia não estar
pronta para dizer as palavras, mas estava aqui comigo. Por enquanto, era o
suficiente.
Nos movemos juntos, Mya girando e movendo os quadris, se esfregando
em mim de um jeito que fez meu pau se esticar contra a calça jeans. Passei as
mãos até a curva de sua cintura, apreciando o quanto ela estava linda de top e
short, como sua pele escura brilhava sob a iluminação do clube. Mya inclinou
a cabeça para trás no meu ombro, segurando uma das minhas mãos e
pressionando-a em seu estômago enquanto nos balançávamos em sincronia.
A letra nos fez uma serenata como se fosse nossa música particular.
Eu não tinha certeza sobre muitas coisas. Meu futuro. Como eu deveria
sacrificar tudo que amava para manter meu pai feliz e minha mãe segura. Mas
isso, estar aqui com Mya, sabendo que ela estaria na minha cama no final da
noite, eu tinha certeza.
Naquele momento, nada parecia melhor.
Até que ela desceu a mão em suas costas e a deixou deslizar pela frente
da minha calça jeans.
— Você está jogando um jogo perigoso, baby — sussurrei contra seu
ouvido enquanto me movia em sua mão, gemendo na curva de seu pescoço.
— Talvez eu goste do perigo. — Ela empurrou nossas mãos sob a faixa
de tecido de lantejoulas cobrindo sua barriga e o cós de seu short.
Uma rápida olhada ao redor me disse que ninguém estava prestando
atenção em nós. Éramos apenas mais um casal curtindo a noite. Mya deslizou
sua mão sobre a minha, movendo meus dedos cada vez mais alto até que
roçaram a curva de seu seio.
Seu seio muito liso e muito nu.
Puta merda.
Presumi que ela estava usando um daqueles sutiãs sem alças.
— Está tentando me matar? — gemi novamente, ganhando uma risada
suave.
— É quase meia-noite — ela falou, inclinando o rosto para que seus
lábios quase tocassem os meus. — Quero você dentro de mim quando o ano
virar.
Puta merda.
Puta, puta merda.
Quase explodi ali mesmo. Olhei de forma frenética ao redor, procurando
desesperadamente por algum lugar – qualquer lugar – que eu pudesse realizar
seu desejo e tornar todos os seus sonhos realidade. Porque ainda que eu só
quisesse me afundar profundamente dentro de Mya, eu não cruzaria a linha
de transar com ela em público.
Meus olhos encontraram Jase sobre a multidão e ele sorriu, como se
aquele filho da puta pudesse ler minha mente. Mostrei o dedo do meio para
ele. que pegou o celular e digitou algo, e meu próprio celular vibrou segundos
depois. Discretamente, tirei-o do bolso.

Jase: O carro está lá atrás. Pode me agradecer mais tarde.

Eu: Vou querer saber como você sabe disso?


Jase: Gosto de estar preparado.

EU RI. Cretino presunçoso. Antes que eu pudesse digitar uma resposta, a tela
acendeu novamente.

Jase: Sei que estou te incomodando, mas estou feliz por você, cara. Agora
vá antes que eu repense minha oferta... feliz ano novo!

Eu: Obrigado, te devo uma.


MYA ROÇOU minha bochecha com o nariz enquanto eu colocava o celular
no bolso.
— Por favor, me diga que aquela era a nossa fada madrinha do sexo?
Fada madrinha do sexo?
— Quem é você? — Eu a encarei com uma mistura potente de admiração
e luxúria.
— Sou só uma garota que precisa do namorado.
— Vamos. — Entrelaçando nossos dedos, levei Mya para longe da pista
de dança. Não paramos para nossos amigos ou para o DJ quando ele
anunciou o aviso de cinco minutos para a contagem regressiva oficial, e com
certeza não paramos para a segurança enquanto gritavam para não passarmos
pela saída de emergência.
Saímos noite adentro e a limusine preta que nos trouxe para o clube
estava exatamente onde Jase disse que estaria.
— Sério? — Mya disse, com a sobrancelha arqueada. — Pensei em irmos
ao banheiro ou algo assim.
Sorri com malícia.
— Considere isso um presente de sua fada madrinha do sexo. Agora —
abri a porta para ela —, entre antes que eu te coma no capô.
VINTE E TRÊS
Mya
ASHER ME SEGUIU ATÉ A LIMUSINE, fechando a porta atrás de si e
trancando-a. Seus olhos queimavam de fome e seu olhar quente deixava
minha pele em chamas.
— Dois minutos — ele murmurou quando me sentei em um dos bancos
de couro que havia no veículo.
— O-o quê?
— Dois minutos até o relógio soar meia-noite.
— Oh. — A palavra deixou meus lábios em um pequeno suspiro, me
fazendo lembrar como eu disse a ele que queria dar as boas-vindas ao ano
novo.
Eu não pretendia dizer as palavras, mas dançar com ele foi tão sexy, com
suas mãos traçando uma trilha de calor sobre minha pele. Me provocando.
Me torturando a ponto de precisar tanto dele que não conseguia pensar em
mais nada.
Eu nunca esqueceria a maneira como ele irrompeu no meio da multidão,
como um cavaleiro de armadura cheio de possessividade brilhando em seus
olhos.
— Quero ir devagar, sem pressa... — Asher rastejou sobre mim, me
pressionando no banco de couro macio, passando a mão no meu peito e
espalmando meu pescoço suavemente. — Mas não acho que posso.
— Então, não faça isso. — Arrastei os dentes sobre o lóbulo de sua
orelha, mordendo com força. Um gemido retumbou em seu peito quando ele
passou a mão por minhas coxas, encontrando o cós do meu jeans.
— Isso precisa sair agora — ele disse contra o canto da minha boca.
Asher se moveu, e eu levantei a bunda do banco, deixando-o puxar o
short. Seus olhos foram para a calcinha preta rendada, e outro gemido
escapou de sua garganta.
— Sua vez — ofeguei, tentando alcançá-lo. Asher riu, ficando fora do
alcance do braço enquanto desabotoava o jeans e libertava seu pau,
empurrando a cueca boxer e o jeans para baixo em seus quadris em um
movimento rápido.
— O que você está esperando? — Eu precisava dele.
Precisava que ele aliviasse a dor profunda dentro de mim.
Ele sorriu, se acariciando, me mantendo no lugar com seus olhos.
Estávamos meio vestidos, dentro de uma limusine, em algum beco em Nova
York, mas não importava.
Se inclinando para frente de joelhos, Asher segurou meus tornozelos e os
envolveu em sua cintura, me puxando para que ele pudesse se aninhar entre
as minhas pernas. Seu comprimento duro se encaixou em mim, fazendo com
que faíscas disparassem pelo meu corpo. Tentei chegar entre nós para guiá-lo
até onde eu precisava dele, mas Asher segurou minha mão, balançando a
cabeça com um sorriso malicioso.
— Dez — ele disse, empurrando contra mim novamente, deixando a
ponta de seu pau atingir meu feixe de nervos. — Nove. — Asher se inclinou,
capturando meus lábios em um beijo lento. — Oito. — Movendo os quadris,
ele se apertou contra mim, mas não me deu o que eu mais precisava.
— Sete — eu disse, a compreensão surgindo em mim enquanto o beijava,
quase frenética. Enfiei as mãos debaixo de sua camiseta e passei as unhas por
seu peito, provocando um grunhido baixo.
— Seis. — Foi um ruído confuso em sua garganta enquanto ele
continuava se arrastando pela minha umidade, me provocando.
— Cinco. — Cobri sua mão com a minha, sentindo-o duro, pesado e
úmido entre nós.
— Quatro — nós dois ofegamos, nossas respirações misturadas com
luxúria crua. — Três... — Foi um gemido ofegante quando ele se aproximou
ainda mais, mas não o suficiente. — Dois... — Asher me beijou mais uma
vez, roubando minha respiração.
— Um. — Ele penetrou em mim com suavidade. Inclinei a cabeça no
banco e segurei seus bíceps com força.
— Puta merda, Mya — ele grunhiu, saindo e estocando dentro de mim.
Mais forte.
Mais profundamente.
Enganchei os tornozelos, com cuidado para não cravar os saltos das botas
em suas costas.
— É como se você tivesse sido feita para mim. — Asher beijou o canto
da minha boca, passando a língua sobre meus lábios enquanto continuava
estocando em mim, movendo os quadris daquela forma perfeita que me fez
arquear para fora do banco.
— Ah... Ash... é... — Não queria que ele parasse nunca mais. A maneira
como seu corpo se moveu sobre o meu, forte, seguro e tão certo. Foi o sexo
mais intenso que já tive.
— Diga — ele sussurrou contra meus lábios. — Me diga que você é
minha, Mya. Diga que não vai deixar nada se interpor entre nós.
— Sou sua. — As palavras foram capturadas em algum lugar entre uma
promessa e um gemido ofegante enquanto eu sentia as ondas de prazer
começarem a crescer dentro de mim.
— Eu e você, baby. — Ele empurrou o corpo contra o meu, pressionando
mais profundamente. Tanto que eu podia senti-lo em todos os lugares. —
Somos você e eu.
Asher ergueu mais a minha perna, diminuindo os movimentos enquanto
traçava letras de amor em minha pele. — Ash... o que você...? — Olhei para
ele, corada, sem fôlego e dolorida.
— Eu menti — ele sussurrou. — Preciso que você diga, Mya. Preciso
ouvir as palavras. — Ele roubou meu ar enquanto saia lentamente de mim.
— Eu... — Faíscas de prazer percorreram meu corpo enquanto ele se
movia em movimentos lentos que fizeram meu estômago se apertar e minhas
pernas tremerem.
— Mais — implorei, agarrando seus ombros, arqueando meu corpo
contra ele, desesperada por mais.
— Me diga o que você sente — Asher beijou meus lábios, antes de passar
a língua na curva do meu pescoço. Repetidamente, lambendo e beliscando.
Provocação e degustação.
— Eu sinto. — Minha cabeça estava nublada com sensações, tonta de
necessidade.
— Mya... — Meu nome soou como uma oração em seus lábios enquanto
ele me enchia de novo com uma estocada suave. — Nossa, você é gostosa pra
cacete.
— Mais forte, preciso que você vá mais forte. — Gotas de suor
escorreram pelo vale de meus seios. A pele de Asher lisa contra a minha, seu
corpo pesando demais e não o suficiente ao mesmo tempo.
A limusine balançou embaixo de nós. O estrondo de fogos de artifício
explodiu no alto. Até que vi minhas próprias explosões. Meu corpo
estremeceu enquanto o nome de Asher escava dos meus lábios repetidamente.
— Puta merda, Mya — ele soltou um gemido gutural, levantando a
cabeça para encontrar meu olhar saciado. — Eu te amo. Sabe disso, certo?
Apertando os lábios, engolindo a emoção que obstruía minha garganta,
assenti. Asher baixou a cabeça para a minha.
— Você é tudo que eu preciso.— Seus lábios encontraram os meus. —
Você, Mya. Feliz Ano Novo.
Era um novo ano.

NOVAS POSSIBILIDADES E NOVOS COMEÇOS.


Uma chance de construir um futuro melhor para mim.
Mas não podia pensar só em mim agora.
Eu tinha que pensar em Ash.
O cara que estava me ensinando aos poucos que o amor não conhecia
limites.
— Eu te amo. — As palavras escaparam de meus lábios em um sussurro.
— Você me ama, Hernandez? — Asher perguntou com um sorriso antes
de roçar os lábios nos meus. Uma vez. Duas vezes. Três vezes. Como se ele
precisasse de garantias de que isso era real – que eu era real.
— Eu te amo, Asher — repeti as palavras. — Estou apaixonada por você.
Eu deveria ter dito isso antes, mas acho que estava com medo.
— Você não precisa ter medo de mim, Mya. — Asher apoiou a cabeça
contra a minha novamente, respirando fundo.
— Eu sei. — Um arrepio percorreu meu corpo quando o peso de nossa
declaração caiu sobre nós. — Só me prometa uma coisa, tá?
— Qualquer coisa.
— Me prometa que você não vai partir meu coração.
— Nunca.
Nossas vidas estavam entrelaçadas agora, os laços entre nós ficando mais
e mais forte a cada momento que passávamos juntos. Até que eu não sabia
onde eu terminava e ele começava.
Isso me apavorou e me alegrou. A maneira como nos apaixonamos tão
rápido, atraídos pelo fascínio um do outro.
Mas eu não era idiota.
Mesmo agora, deitada ali embaixo dele, com seu gosto em meus lábios,
seu amor em meu coração, eu sabia que depois da bonança, vinha a
tempestade.
Eu só esperava que meu coração sobrevivesse.
— QUE HORAS SÃO? — Ash puxou meu corpo de volta para ele.
— Pouco depois das nove.
— Puta merda, minha cabeça...
— É? — Bufei. — Eu te falei para parar com os shots. — Depois que
finalmente deixamos a limusine, voltamos ao clube e comemoramos o ano
novo com nossos amigos. De forma um pouco intensa demais se a pulsação
em meu crânio fosse alguma indicação.
Me inclinando, peguei uma garrafa de água da mesa de cabeceira e
destampei.
— Aqui. — Tomei um grande gole antes de passar para Asher. Ele abriu
um olho, sorrindo para mim.
— Oi — ele disse.
— Oi.
— A noite passada foi meio louca, hein? — Seu olhar acalorado passou
por mim e um formigamento delicioso percorreu minha espinha.
— Foi...
— Olá, pombinhos. — Alguém bateu na porta. — O café da manhã está
aqui.
O estômago de Asher roncou como se fosse uma deixa.
— Está com fome? — perguntei incrédula.
— Sim, mas não de comida. — Ele tentou me puxar para cima dele, mas
resisti, apoiando as mãos com firmeza em seu peito.
— Devíamos nos juntar a eles. Não quero que seus primos pensem que
sou rude.
— Meus primos que se fodam. Eles ao menos voltaram conosco?
— Você não se lembra?
— Não vou mentir: está tudo um pouco nebuloso. Mas não a limusine. Eu
me lembro disso. — Seus olhos brilharam novamente, e eu sabia que ele
estava pensando sobre o que fizemos lá.
— A Vaughn trouxe um cara com ela. Mas o Riley veio sozinho.
— Hum. — Ele esfregou a mão no rosto. — Acho que bebi mais do que
pensava.
— Pelo menos você não vomitou dessa vez. — O canto da minha boca se
inclinou enquanto eu o provocava.
— Eu não disse nada ontem à noite, disse?
Meu coração parou. Senti o sangue pulsar entre minhas orelhas.
— O que você lembra? — Saiu tenso.
— Eu me lembro de um filho da puta colocando as mãos em você... a
limusine... os shots. Mas definitivamente tenho alguns pontos nebulosos.
Senti decepção e pavor dar um nó na boca do meu estômago.
Ele não se lembrava.
Asher não se lembrava da nossa confissão um ao outro.
— Mya, o que foi? — Ele se inclinou, roçando meu rosto.
— N-nada. Eu deveria tomar um banho. — Comecei a descer da cama,
mas antes de colocar o pé no chão, meu corpo foi puxado para trás e Asher
estava pairando sobre mim.
— Eu te amo — ele disse, e vi o pedido de desculpas brilhando em seus
olhos.
— Você se lembra? — A confusão apertou meu peito, dificultando a
respiração.
— É claro que eu me lembro. Eu estava brincando. Era para ser uma
piada para ver se você confessaria.
— Um teste. — Franzi o cenho. — Você quer dizer que foi um teste? —
Bati em seu peito. Com força.
— Não... — O sangue foi drenado de seu rosto. — Merda. Estraguei tudo,
baby. Me perdoa? — Seus olhos ficaram suaves, seu lábio inferior saliente.
— Não faça isso comigo, Asher. Não faça um jogo de como nos sentimos
um pelo outro. — Passei as mãos por sua clavícula. — Posso ser forte, mas
isso não significa que você não pode me machucar.
— Sinto muito. — Ele cobriu meu rosto com beijos. — Sou um idiota
que não pensa. Me lembro de tudo sobre a noite passada. Bem, as partes
importantes. — Asher se inclinou, passando o nariz ao longo da minha
bochecha, sua boca se demorando no meu ouvido. — Me lembro como foi
estar dentro de você na limusine.
Seus dentes roçaram meu lóbulo e eu o senti ficar duro.
— Ash... — Umedeci os lábios. — Talvez tenhamos tempo para...
— Levantem-se, pombinhos. Se vocês não estiverem aqui em cinco
minutos, eu vou entrar — Jason gritou. — Considerem-se avisados.
— Argh. — Asher rolou de cima de mim e se jogou na cama. Eu ri em
seu braço.
— Deveríamos nos vestir.
— Ele é um empata foda.
— Temos tempo — falei, passando o dedo pelas linhas de peito.
— Tempo, você acha que temos tempo? — Seus olhos fervilhavam de
possessividade. — Eu não quero tempo, Mya. Quero para sempre.
Engoli em seco. O peso de suas palavras pesando sobre mim.
Em nós.
Mas, mais uma vez, fui salva por outra batida na porta.
— Pessoal. — Foi Hailee desta vez. — Não tenho certeza se posso
manter Jason fora por mais tempo.
— Estamos indo — falei.
Antes que Asher pudesse me agarrar novamente, escapei da cama e
peguei algumas roupas, desaparecendo no banheiro. A porta se fechou e o
som ricocheteou em mim. Uma coisa era declarar nossos sentimentos um
pelo outro... mas para sempre... isso era algo totalmente diferente.
Parte de mim queria acreditar que Asher estava brincando e fazendo
algum comentário petulante no momento. Mas a outra parte sabia que não.
Asher Bennet não deixava as pessoas entrarem. Ele guardava seu coração
– suas verdades – com inteligência e humor. Mesmo seus melhores amigos
não sabiam sobre seu pai.
Mas eu sabia.
Asher tinha confiado em mim com seus segredos mais sombrios e
profundos. Então, quando ele me olhou nos olhos e disse que me queria para
sempre, acreditei nele.
Mesmo que fosse uma loucura.

— FEE, baby, isso parece muito bom, mas não tenho certeza se posso
aguentar. — Asher gemeu, afastando o prato de comida e apoiando a cabeça
no balcão.
— Não é como se eu tivesse cozinhado. — Ela deu uma risadinha. —
Tudo que eu fiz foi servi-lo.
— Ainda assim, parece ótimo — falei, remexendo em meu prato de
bacon e panquecas. Um copo d'água e dois Advils fizeram maravilhas na
minha ressaca.
— Ash, sei que você está sofrendo agora, mas por favor, pare de chamar
minha garota de Fee, baby.
— Não seja um homem das cavernas, — Flick revirou os olhos para ele.
— Sim, Jase — Asher murmurou. — Não seja um homem das cavernas.
— Certo, então vamos ver se você gosta. — Jason voltou sua atenção
para mim e eu fiz uma careta para ele do outro lado do balcão. — Ei, Mya,
baby — ele falou com a voz rouca — como estão suas panquecas?
— Humm, boas, obrigada. — Olhei para Asher, que ficou tenso.
Jason sorriu.
— Você tem um pouco de xarope bem aí. — Ele se levantou e se inclinou
sobre o balcão, esticando o braço em minha direção. — Aqui, me deixe ver...
— Nem pense nisso. — Asher envolveu a mão no pulso de Jason,
semicerrando os olhos de forma mortal.
— Agora você sabe como é.
— Não é a mesma coisa e você sabe disso.
— Sim. — Jason sorriu. — Foi muito tentador implicar com você. Agora
coma alguma coisa, vai fazer você se sentir melhor.
— Ele é tão mandão com você? — Asher olhou para Felicity, que corou
em um tom profundo de vermelho.
— Ah, você não tem ideia.
— Você ama isso — Jason falou com a boca cheia de bacon.
— Talvez. — Minha amiga estava vermelha como um pimentão. — Só
um pouco.
— Não consigo acreditar que é primeiro de janeiro — Hailee disse. — A
formatura chegará mais cedo que a gente imagina.
— Por mim, pode chegar. Mal posso esperar para dar o fora de Rixon.
— Jason! — Felicity o repreendeu.
Eles começaram a discutir, mas Asher tinha toda a minha atenção. Ele
ainda estava enrolado em si mesmo, o rosto escondido na curva de seu braço.
Apoiei a mão em sua coxa, apertando-a suavemente. Foi uma demonstração
de apoio, uma maneira de deixá-lo saber que estou aqui para ele.
Eu não esperava que ele se endireitasse, limpasse a garganta e dissesse:
— Bom, tenho algo a dizer e preciso que vocês me deixem falar, tá? —
Seus olhos pousaram nos meus e perguntei em silêncio se ele tinha certeza.
— Está na hora — ele sussurrou.
A antecipação ondulou ao nosso redor, deixando o ar denso e pesado.
— Seja o que for, estamos com você — Cam quebrou o silêncio
constrangedor enquanto Asher tentava encontrar as palavras.
— Estamos sim, cara — Jase acrescentou. — Cem por cento.
— Eu sei e agradeço. Mais do que vocês imaginam. — Asher empurrou
seu banquinho e se levantou, passando a mão pelo cabelo despenteado. —
Puta merda, eu nem sei como dizer isso.
— Ash... — Comecei, mas seus olhos cortaram para os meus e a dor por
trás deles fez com que eu me calasse.
— Asher, está tudo bem — Felicity disse baixinho, passando por mim. —
Estamos todos aqui.
— Ah, foda-se — ele soltou um longo suspiro e, em seguida, fixou os
olhos em seus dois melhores amigos e disse as palavras que eu sabia que o
mataria dizer. — Não vou jogar futebol universitário.
VINTE E QUATRO
Asher
OS DOIS CARAS que me conheciam melhor do que ninguém me encararam
como se não soubessem mais quem eu era.
— Você está brincando. — Jase riu, mas foi um tipo de som estrangulado
que me fez estremecer internamente. — É uma piada.
— Não é uma piada, Jase — respondi de forma severa. — Não vou jogar
pelos Panthers.
Ele se endireitou, passando uma mão enérgica pelo rosto.
— Você ficou louco.
— Jason. — Felicity lançou a ele um olhar severo antes de fixar os olhos
em mim. — Mas você adora futebol — ela disse.
— Sim, bem, o futebol não vai garantir meu futuro. E nem todos
podemos ser como você, cara, que tem uma chance de se tornar profissional.
Jason estremeceu com a amargura em meu tom. Eu queria dizer que não
tinha nada a ver com ele e tudo a ver com a merda do meu pai, mas não
conseguia encontrar as palavras.
Eu ainda estava surpreso por ter contado a eles a verdade sobre a
faculdade.
— Então, se você não vai jogar futebol, o que é que você vai fazer?
— Você sabe que Pittsburgh é a alma mater do meu pai. Vou estudar
administração e quando me formar... — as palavras se alojaram na minha
garganta — vou ajudar meu pai a expandir sua empresa de tecnologia.
— Se é isso que você quer, cara — Cam sorriu, mas não atingiu seus
olhos. — Então, bom para você.
— Ainda não entendi — Jase semicerrou o olhar, me examinando como
se visse através das palavras. — Você pode estudar e jogar futebol. Por que
você...
— Tenho que crescer um dia, certo? Achei melhor começar agora. Além
disso, não será a mesma coisa sem vocês.
— Ash, isso não faz sentido. — Eu esperava por isso, esperava que Jase
fosse aquele que não desistiria. — Você é um Raider — ele disse. — O sonho
sempre foi o futebol universitário.
— Sim, bem, os sonhos mudam — falei, exalando uma respiração
instável enquanto fechava os olhos. Jase não entendia. Como poderia? O
futebol sempre foi tudo para ele, o sonho e o objetivo final. E apesar de seu
relacionamento difícil com o pai, pelo menos o sr. Ford entendia o que era
querer algo tão desesperadamente que consumia cada minuto de sua vida.
Desde a primeira vez que segurou uma bola de futebol, Jason se tornou
um astro aos olhos de seu pai. Eu não era nada além de uma amarga decepção
para o meu.
E agora decepcionei meu melhor amigo. O cara que foi meu capitão e
quarterback desde que eu conseguia me lembrar.
Estávamos presos em um impasse. Jason queria dizer mais. Estava bem
ali em seus olhos. A necessidade de desenterrar meus motivos, de saber por
que tinha que ser assim. E eu estava silenciosamente implorando para que ele
deixasse isso de lado.
No final, não fui eu que desisti, como eu esperava. Foi Jason.
— Puta merda — murmurei, cerrando o punho contra a minha coxa. Mya
se levantou e veio até mim, envolvendo os braços em minha cintura.
— Ele vai mudar de ideia.
— Com licença — Felicity se levantou de um salto. — Enquanto eu
coloco algum juízo no meu namorado.
— Acho que deveríamos começar a arrumar as malas — Hailee disse a
Cameron, que estava olhando para mim com uma expressão de desculpas.
— Ele vai se acalmar. Esta decisão é sua, não dele.
— Obrigado. — Assenti para ele, não querendo oferecer-lhe qualquer
explicação adicional.
— Eu não deveria ter dito nada — falei no segundo em que Mya e eu
ficamos sozinhos.
Ela esticou o pescoço para olhar para mim.
— Talvez toda a verdade tivesse sido melhor.
— Eu tentei, mas não estou pronto. Se você acha que isso muda as coisas,
eles saberem de toda a história vai realmente bagunçar as coisas.
— Eles são seus amigos, Ash, eles vão entender.
Envolvendo-a, segurei Mya com força contra o peito.
— Não estou preparado.
Eu não sabia se algum dia estaria. Vivi com essa mentira por tanto tempo
que ela se tornou uma extensão de mim. Uma parede de três metros erguida
com piadas ruins e falsos sorrisos. Contar a eles seria como me expor ao
mundo, o meu verdadeiro eu. Não a versão que as pessoas conheciam e
amavam. Mas a outra.
A obscura e contaminada que tinha raiva fervendo em suas veias e dor
inflamada em seu coração.
— Tudo bem — ela sussurrou. — Vai dar tudo certo.
— Enquanto eu tiver você, vai ficar tudo bem. — Meus lábios cobriram
os dela, encontrando consolo em sua suavidade, nos sons baixos que ela fazia
quando minha língua acariciava a sua. Estar com Mya ia ser complicado. Mas
toda a minha vida era assim.
Pelo menos, com ela ao meu lado, eu não tinha que enfrentar a
tempestade de merda sozinho.

DEPOIS DE DEIXAR todos em casa, devolvi a minivan à locadora e peguei


meu Jeep. Mya se ofereceu para ir comigo, mas eu precisava de espaço.
Precisava esfriar a cabeça e me preparar para lidar com as besteiras do meu
pai quando chegasse em casa.
Empurrando a porta, eu me preparei quando sua voz soou pelo corredor.
— Asher, filho, estamos na cozinha.
Esperando para atacar, sem dúvida.
Larguei s malas na escada e segui em direção aos fundos da casa.
— Feliz Ano Novo, querido — minha mãe me cumprimentou primeiro,
com um sorriso muito largo, mas os olhos vermelhos e inchados.
Ela estava chorando.
O que significava que ele a aborreceu.
A raiva ferveu em meu sangue.
— Feliz Ano Novo, mãe. Pai. — Acenei para ele enquanto abraçava
minha mãe.
— Você se divertiu? — ela perguntou, sua voz muito mais baixa do que o
normal.
— Nova York foi ótimo, obrigado. — Forcei um sorriso. — Você teve
uma boa noite?
Todos os anos, os dois passavam no Danforth, o único hotel e restaurante
cinco estrelas em um raio de quarenta quilômetros. Eles sempre ofereciam
um jantar extravagante e exclusivo. Era o lugar perfeito para ele ficar lado a
lado com outros empresários e pessoas ricas que moravam na região.
— Foi... — Ela hesitou, me dizendo tudo que eu precisava saber —
adorável.
Meu pai resmungou.
— Os Ginly estavam lá. Pessoas boas. Eu e o Malcolm esperávamos que,
uma vez que você e a Kellie vão estudar juntos em Pittsburgh no outono,
talvez vocês pudessem...
— O resto do ano é meu — eu grunhi. — Não foi isso que você disse?
— Foi. Mas eu não esperava que você estivesse vagando pela cidade com
a garota Hernandez.
— Mya. O nome dela é Mya.
— Sei muito bem qual é o nome dela, filho. O que não consigo entender é
se você está namorando com ela para me afrontar ou porque você realmente
se importa com a garota.
— Me importo com ela? — retruquei. — Eu não me importo com ela. Eu
a amo. Estou apaixonado por ela. — Meu peito arfou com o peso das
palavras.
— Ama? — Ele riu de forma sombria, o som deixando meus músculos
tensos. — Você tem dezoito anos, filho. O amor é para tolos.
Minha mãe soltou um suspiro de dor atrás de mim e então fugiu da
cozinha.
— Legal, pai. Muito bom.
— Sua mãe sabe o que sinto por ela.
Eu não tinha certeza se ser um idiota ciumento possessivo se traduzia em
amor, mas o que é que eu sabia?
— A Mya não vai a lugar nenhum — falei de forma resoluta. — Então
você precisa se acostumar com isso. Mantive minha parte do trato. Ainda vou
para Pittsburgh. Vou me concentrar na graduação e deixar o futebol para trás.
— Filho. — Meu pai esfregou a testa. — A Mya não é... adequada para o
nosso mundo. Tenho certeza de que ela é uma garota adorável, mas...
— Guarde suas merdas racistas condescendente para alguém que se
importa. Ainda faltam cinco meses para a formatura. Cinco meses onde posso
dizer como vivo minha vida.
Ele se eriçou e a irritação brilhou em seus olhos.
— Cuidado com o seu tom, Asher. Você ainda pode ter cinco meses, mas
se pensa por um segundo que vou ficar parado assistindo você bagunçar sua
vida por uma garota que provavelmente só te vê como seu vale-refeição, pode
esquecer.
Ele estava enganado.
Completa e totalmente enganado.
Mya não me amava por causa da riqueza da minha família. Ela me amava
apesar disso.
Mas ele via todos os relacionamentos como transações comerciais. O que
uma pessoa podia fazer pela outra. Na verdade, eu tinha certeza de que havia
um cifrão bem onde seu coração deveria estar.
— Chega — falei, me movendo em direção à porta.
— Você está cometendo um erro terrível, filho. Guarde minhas palavras,
de uma forma ou de outra, aquela garota vai te arruinar.
Com um aceno, me afastei dele. Do único homem que eu deveria ter sido
capaz de admirar e pedir conselhos. Mas Andrew Bennet não era mais pai
para mim do que o pai de Cam ou o pai de Jason foram. Não era de se
admirar, eu ansiava pelo carinho que ele nunca me proporcionou. E agora que
tive um gostinho disso, eu não tinha certeza se poderia desistir.
Os avisos de meu pai que se danassem.

— TEM certeza de que está bem? — Mya me perguntou pela terceira vez
desde que a busquei. Como se meu humor não estivesse ruim o suficiente
depois da minha conversa com meu pai, sua tia fez uma careta para mim da
janela, demonstrando sua desaprovação.
— Estou bem — falei com firmeza, colocando outra batata frita na boca.
Eu a trouxe ao Bell’s para comer alguma coisa e depois os caras iriam se
juntar a nós com Hailee e Felicity.
— Ash... se algo aconteceu quando você chegou em casa...
— Eu disse que estou bem — retruquei, em seguida, soltei um suspiro
pesado, passando a mão pelo rosto. — Desculpe, isso foi desnecessário. Meu
pai me emboscou. Não foi bonito.
— Me deixe adivinhar — sua expressão se desfez. — Ele não está feliz
com a gente?
— Não dou a mínima se ele está feliz ou não. Eu estou feliz, você me faz
feliz. — Estendi a mão para ela e Mya a pegou. — Cinco meses — falei em
tom ríspido, sentindo seu toque acalmar a tensão em meu peito. — Só
precisamos sobreviver a mais cinco meses e então podemos escapar para a
faculdade e não ter todo mundo respirando em nossos pescoços.
— Asher, ainda não decidi para qual faculdade eu vou...
— Asher, meu caro. — Grady e Merrick se aproximaram de nós quando
tudo que eu realmente queria fazer era mandá-los se foder para que eu
pudesse implorar a Mya para que ela escolhesse Cleveland.
Eu precisava que ela escolhesse uma faculdade perto de mim.
— Não esperava ver vocês por aqui. — Seus olhos se voltaram para Mya.
— Vamos encontrar os caras — falei. — Eles vão chegar aqui em breve.
— Jerry vai precisar pendurar uma placa logo. — Grady bufou. —
Primeiro Cam, então Jase, e agora você. Merda, cara, essas garotas devem ter
bocetas de ouro ou...
Eu estava de pé e fora da cabine em um segundo, com as mãos agarradas
no suéter de Grady.
— Qual é o seu problema?
— Uau, Bennet, relaxe — Merrick veio em defesa do nosso companheiro
de equipe. — Ele só está brincando.
— Sim, bem, estou farto disso.
Grady me empurrou para longe dele e nós dois nos enfrentamos, olhos
semicerrados, mandíbulas tensas.
— Asher... — Mya havia se levantado também. Eu a senti se mover para
o meu lado. — Ele não vale a pena.
— Você acha que só porque o Bennet está te dando alguma atenção, você
é especial? — A risada retumbou no peito de Grady enquanto ele falava.
Tínhamos uma audiência agora, todos assistiam, inclusive Jerry.
Mya avançou, com os lábios pressionados em uma linha fina enquanto
ficava cara a cara com a extremidade defensiva dos Raiders.
— Com inveja, Grady?
— Inveja? — ele gaguejou. — Por que eu ficaria com inveja?
Mya arqueou a sobrancelha, abrindo um sorriso presunçoso.
— Porque você nunca chegará perto de conseguir uma gostosa como eu.
— Ela soprou um beijo para ele antes de caminhar em direção aos banheiros
como se nada tivesse acontecido.
Nós três assistimos de bocas abertas.
— Puta merda, Bennet. Aquilo foi...
— Sexy pra cacete. — Merrick terminou por ele.
— Não tenha ideias — falei, sentindo meu peito apertar novamente. —
Ela é minha.
— Sim, mas quanto ela é sua?
— Grady.
— Sim.
Não era uma pergunta, mas respondi mesmo assim.
— Cale a boca.
O atrito entre nós havia se dissipado, substituído por uma tensão
diferente. Vi a fome em seus olhos, mas não tinha certeza se era Mya que ele
queria, não de verdade. Minha garota acertou. Ele estava com inveja e em vez
de ficar feliz por nós, ele atacou.
Como eu sabia tudo sobre isso, decidi dar uma folga ao cara.
— Jesus, Bennet, ela é um foguete — Merrick acrescentou.
— Sim, mas ela é um foguete na...
Encarei Grady com um olhar duro, e ele engoliu as palavras.
— Chega de falar merda perto da Mya, entendeu?
— Sim, entendi — ele resmungou, esfregando o queixo.
Mya voltou alguns minutos depois, passando o braço em volta de mim.
— Sentiu minha falta?
— Sempre.
Ela sorriu para Grady e Merrick, que haviam estabelecido residência na
cabine ao lado da nossa.
— Acha que ele entendeu a mensagem?
— Ah, ele entendeu, sim. Mas agora ele quer sua própria boneca Mya.
— Quer?
Assenti, lutando contra um sorriso.
— Acho que você tem um novo fã-clube.
— Grady? — Mya estremeceu, com expressão de descrença. — Mas ele é
tão... Grady.
Eu ri.
— Me desculpe por agir como um homem das cavernas. Ultimamente,
minha postura padrão é atacar.
— Sei exatamente como você se sente — ela sussurrou. — Quando seus
pais vão embora?
— Amanhã, graças a Deus.
— E eles vão ficar longe por quanto tempo? — Seus dedos brincaram
com minha gola e eu me esforcei para pensar direito, mas meus pensamentos
dispararam em uma centena de direções diferentes, todas terminando com ela.
Nua. Debaixo de mim.
— Não tenho certeza. Pode ser quatro dias, pode ser uma semana. Por
quê?
Os olhos de Mya escureceram, e ela mordeu o lábio inferior.
— Sem motivo.
— Quer brincar de casinha comigo, baby?
— Eu não diria não. — Ela me deu um sorriso tímido, e assim todos os
pensamentos sobre meu pai, Grady e sua tia desapareceram.
VINTE E CINCO
Mya
O RESTO das férias transcorreu sem problemas. Os pais de Asher acabaram
ficando longe por quase uma semana. Deveriam voltar hoje, mas a escola já
estava para voltar.
— Não quero voltar à realidade — eu disse a Asher enquanto nos
deitávamos enrolados em sua cama.
Passei quase todos os minutos acordada em sua casa. Às vezes só nós
dois, às vezes com nossos amigos. Tia Ciara e eu mal estávamos
conversando, a facilidade com que dei meu coração a Asher era demais para
ela aceitar.
Mas eu estava feliz.
Asher me fazia feliz.
Eu sabia que a estrada à frente seria cheia de solavancos e obstáculos,
mas estar com ele era bom demais para me preocupar.
Ele encheu meu rosto de grandes beijos molhados.
— Não acho que posso deixar você ir.
— Você precisa. — Eu ri, pressionando as mãos em seu peito, fingindo
resistir.
Asher nos rolou para que eu ficasse embaixo dele. Passando o nariz como
uma pluma pela minha mandíbula e bochecha, ele beijou o canto da minha
boca.
— Gostaria que eles não tivessem que voltar para casa e estragar isso.
— Não, você não gostaria. — Suspirei, passando os braços ao redor de
seu pescoço. — Você ama a sua mãe.
— Você está certa, eu amo. Mas puta merda, Mya. Às vezes gostaria que
ela o enfrentasse. O dinheiro não é tudo. Faríamos as coisas darem certo de
alguma forma. Odeio a ideia de que ela esteja em dívida com uma vida de
miséria com ele.
Tirando os fios dourados de cabelo de seus olhos, dei um sorrisinho a ele.
— Ele é o marido dela e, apesar de todos os seus defeitos, ela o ama.
Ficar nem sempre é a saída mais fácil, Ash.
Eu sabia disso em primeira mão.
— Sim, é só que... o preço parece muito alto, sabe?
— Eu sei. Mas ela tem que seguir seu coração e cometer os próprios
erros. Caso contrário, ela vai acabar se ressentindo com você.
Eu odiava que, à sua maneira, os pais de Asher o tivessem decepcionado.
Ele merecia muito mais. Merecia que todos os seus sonhos se tornassem
realidade. Mas foi meu passado e seu presente que nos trouxer aqui, a este
exato momento, e eu não poderia me arrepender ou sentir pena por isso.
Nossas experiências nos moldaram nas pessoas que éramos hoje. Dor,
tristeza, felicidade e esperança, tudo contribuiu para quem nos tornamos.
Então, embora eu desejasse que as coisas fossem diferentes para nós dois, eu
também sabia que se não fosse por tudo que passamos, não seríamos nós
mesmos.
Enterrei o rosto no peito de Asher, saboreando a sensação de estar em
seus braços.
— Sei que há um milhão de razões pelas quais eu provavelmente não
deveria dizer isso — ele sussurrou em meu cabelo. — Mas escolha
Cleveland, Mya. Me escolha.
— Ash... — Apertei as mãos ao redor dele.
— Ainda não preciso de uma resposta — ele disse. — Eu só queria que
você soubesse, não me importo com quanto tempo já se passou ou não, ou o
que os próximos cinco meses podem trazer. Sei o que quero e quero você,
Mya. Para sempre.
Não respondi.
Não consegui, pois o nó na minha garganta era muito grande.
Mas se eu tivesse sido corajosa o suficiente para lhe dar uma resposta, eu
tinha certeza de que teria sido sim.

A MANHÃ de segunda-feira chegou rápido demais. Asher insistiu em me dar


uma carona, usando a desculpa de que era meu namorado. Era uma coisa
normal para um casal. Mas no segundo em que descemos do jipe, me lembrei
de que nada em nosso relacionamento era normal. Pelo menos, não aos olhos
da maioria de nossos colegas de classe.
— Ignore-os — ele disse, segurando minha mão em uma demonstração
de solidariedade. Asher levou-a à boca e beijou meus dedos. Algumas garotas
zombaram de minha direção. Eu zombei de volta.
— Ei, aí está você. — Felicity veio até nós. — Vejo que vocês tem um
público. — Ela olhou para outro grupo de garotas que fingiam não nos
observar. — Sabe que elas estão com inveja porque Asher está oficialmente
fora do mercado.
— Talvez eu deva fazer xixi nele para passar a mensagem.
— Eu me animo com a maioria das coisas — Asher sorriu para mim —,
mas isso é um limite para mim.
— Onde estão os caras? — ele perguntou a Flick.
— Jason disse algo sobre ir à academia.
— Ele está levando o jogo de exibição a sério, hein?
— Acho que sim.
— Pode ir — falei. — Posso ir para a aula com a Felicity.
Ele olhou para onde as meninas ainda estavam amontoadas e me olhando.
— Vá — Flick o encorajou. — Está tudo bem.
— Te vejo no almoço?
Assenti, me inclinando para beijá-lo. Felicity gritou baixinho, mas mal
registrou quando os lábios dele tocaram os meus.
— Tente ignorá-las — ele sussurrou.
— Elas quem? — Fiz uma careta.
— Essa é a minha garota.
— Vá, antes que eu implore para você ficar.
Asher seguiu em direção ao ginásio, deixando a mim e Felicity indo para
a aula juntas. Ela entrelaçou o braço no meu.
— Vocês dois são tão fofos que mal consigo aguentar.
— Elas ainda estão olhando, certo? — perguntei com os dentes cerrados.
Ela olhou para trás e soltou um suspiro irritado.
— Sim.
— Acho melhor me acostumar com isso.
— Elas vão superar. Até o almoço, haverá algum novo drama ou
escândalo para elas salivarem.
— Espero que você esteja certa, porque estamos aqui há apenas dez
minutos e já quero dar um soco em algo.
Mal havíamos chegado ao prédio quando uma doce voz melosa disse:
— Oi, Mya.
— Humm, oi, Kellie, certo? — Meu radar de garota má entrou em alerta
máximo.
— Sim, nos conhecemos na festa dos Bennet.
— Sim, eu me lembro — falei com frieza.
— Bem, de qualquer maneira, só queria dizer oi. Devíamos sair algum
dia. Você também, Fee.
— Felicity — ela corrigiu. — Meu nome é Felicity.
— Ah, me desculpe.— Kellie riu, o som era como o de unhas raspando
em um quadro-negro. — Ouvi o Asher chamar você de Fee uma vez e achei
que...
— É um apelido que meus amigos usam.
Sufoquei uma risadinha.
Os olhos de Kellie se arregalaram de surpresa, mas ela se recuperou
rapidamente, colando um sorriso falso no rosto.
— Preciso ir, mas não se esqueçam do que eu disse sobre sairmos.
— Como se isso fosse acontecer — Felicity murmurou baixinho.
Quando Kellie foi embora, me virei para ela, com as sobrancelhas
franzidas.
— O que é que foi aquilo?
— Acho que foi um exemplo perfeito de como manter seus amigos por
perto e seus inimigos ainda mais perto.
— Exatamente o que preciso — gemi. — Mais inimigos.
— Você não precisa se preocupar com a Kellie, ela não importa.
Mas até eu sabia que quem não importa eram as pessoas com quem se
tinha que se preocupar.

— VOCÊ ESTÁ VIBRANDO. — Asher baixou o olhar para o meu bolso,


mas cutuquei seu rosto com o meu, persuadindo-o de volta para mim.
Era horário de almoço e estávamos sentados com os rapazes e o resto do
time. Era estranho ficar sentada aqui como sua namorada em vez de como
amiga das namoradas de seus melhores amigos. Mas ninguém nos deu a
mínima. Na verdade, ninguém contou uma única piada.
O fato não passou despercebido.
— Você orquestrou isso? — perguntei a ele, ignorando as vibrações no
meu bolso.
— Não tenho ideia do que você está falando.
Semicerrei os olhos enquanto eu observava ao redor da mesa. Alguns
caras sorriram, mas ninguém fez uma única observação. Nem mesmo Grady,
que sempre tinha algo a dizer.
— Está querendo dizer que eles estão se comportando assim por vontade
própria?
O canto da boca de Asher se inclinou.
— Eu disse que eu não fiz nada... — ele deixou as palavras pairarem, mas
foi quando seus olhos encontraram os de Jason é que percebi.
— Você fez isso? — perguntei ao quarterback taciturno.
— Posso ter dito algo.
Não sabia se deveria ficar lisonjeada ou ofendida. Meu instinto natural foi
dizer a Jason que não precisava da ajuda dele, que eu poderia lutar minhas
próprias batalhas. Mas como eu estava aprendendo lentamente sobre meus
amigos, não precisava lutar sozinha.
— Obrigada — eu disse, oferecendo a ele um aceno de apreciação.
Ele deu de ombros como se não fosse nada.
Asher passou o braço em volta da minha cintura e me puxou para o seu
lado.
— Você é uma de nós agora — ele sussurrou em meu ouvido.
Não pude deixar de sorrir. Mas se desfez rapidamente quando senti
alguém me observando. Meus olhos procuraram no refeitório, pousando em
Kellie Ginly na mesa das ginastas. Sua boca se curvou quando ela percebeu
que eu a tinha notado.
— O que há de errado? — Asher perguntou, chamando minha atenção.
Eu nem mesmo senti que havia ficado tensa.
— Nada — menti, olhando de volta para Kellie. Ela não estava me
olhando agora, ocupada conversando com suas amigas.
Asher brincou com a pulseira em meu pulso.
— Sei que tecnicamente você já está usando meu número — ele disse. —
Mas o jogo de exibição é meu último jogo e bem, eu realmente gostaria que...
— Sim — sussurrei, me inclinando para trás para beijá-lo.
Ele deu uma risadinha.
— Você nem sabe a pergunta ainda.
— Você vai me pedir para usar sua camisa no jogo.
— Na verdade, eu ia perguntar se você usaria um daqueles chapéus do
Vinnie, o Viking.
— Mentiroso.
Seus braços me envolveram com mais força.
— Então você vai fazer isso? Vai usar minha camisa?
Assenti, sentindo meu coração palpitar no meu peito.
— Todos saberão que você é minha. — Eu o senti sorrir contra meu
cabelo.
— Não é esse o ponto? — Olhei para ele, nossos olhos fixos um no outro.
O olhar de Asher cintilou com orgulho.
— Eu não esperava que você dissesse sim.
— Não tenho vergonha de você, Asher. Nem de nós. E cansei de me
esconder.
A forma como a fofoca voou pelos corredores de Rixon significava que
todos provavelmente já sabiam sobre nós, e se não soubessem, saberiam no
dia do jogo.
— Minha mãe e meu pai estarão lá... — Ele deixou as palavras pairarem.
— Que bom — eu disse. — Eles deveriam estar.
— Acho que gosto desse seu lado. — Ele deu um beijo na ponta do meu
nariz.
— O ciúme e a possessividade não deveriam ser desestimulantes? —
Arqueei a sobrancelha.
— Talvez, mas está tendo o efeito oposto em mim. — Seus olhos
escureceram e eu me inclinei, roçando os lábios nos seus.
— Quer matar o quinto período? — perguntei.
— Puta merda, sim, eu...
— Muito bem, vocês dois — a voz de Jason cortou o ar. — Parem com
isso antes que todos nós vejamos algo que nunca poderemos deixar de ver.
Asher não deu atenção a Jason, mas a risada retumbou em seu peito.
— Esta noite — ele sussurrou de volta para mim.
Assenti e meu estômago se apertou com sua promessa.
Eu já estava contando as horas.

QUANDO O SINAL FINAL TOCOU, eu estava mais do que pronta para


dar o fora da escola. Ser a namorada de Asher Bennet teria elevado qualquer
uma ao status de celebridade nos corredores da Rixon High, mas ser sua
namorada e a negra transferida de Fallowfield Heights... bem, essa merda me
tornou infame.
Passei a tarde inteira ouvindo meu nome em conversas abafadas.
Algumas eram simples curiosidade pela forasteira que conseguiu se juntar a
um dos caras mais cobiçados da escola. Mas outras eram tão afetadas que
meus olhos doíam de tanto se revirar. E alguns estavam muito próximos da
verdade que me sentei e ouvi, sentindo meu coração batendo forte em meu
peito.
Aparentemente, todos tinham uma história sobre mim, e se não tivessem,
conheciam alguém que tinha.
Mas me forcei a deixar suas palavras de lado. Asher me amava.
A mim.
Ele sabia sobre Jermaine e minha vida em Fallowfield Heights e me
amava mesmo assim.
Pelo menos, foi isso que disse a mim mesma enquanto saía da aula para
encontrá-lo.
Mas quando virei o corredor e o encontrei falando com ninguém menos
que Kellie Ginly, paralisei, sentindo minha decisão desmoronar. Ela me viu
por cima do ombro, e seu sorriso doce e açucarado se tornou retorcido, feio e
grande demais para seu rosto em forma de coração. Ela riu de algo que Asher
disse, fazendo um show ao colocar uma mecha de cabelo loiro liso atrás da
orelha.
E então ela o tocou.
Colocou uma de suas mãos perfeitamente cuidadas em seu ombro e se
inclinou, como se fossem dois velhos amigos compartilhando uma piada
particular.
O corredor já estava se esvaziando, mas Asher não tinha ideia que eu
estava ali, observando-os. Como eles pareciam perfeitos juntos. Sua beleza
totalmente americana e sua tez de concurso de beleza.
Mas ela sabia.
Seus olhos pousaram nos meus mais de uma vez, com um brilho
perverso.
Um aviso.
Ela poderia ter mijado na perna dele e reivindicado seu território.
Mas ele não é dela, ele é seu, uma vozinha me lembrou.
Me recusando a ser a garota que era intimidada por alguém como ela, eu
me preparei e fui até eles.
— Oi — falei e minha voz soou mais fraca do que eu queria.
— Ah, Mya, oi. — Kellie tirou o cabelo do ombro e sorriu. — Eu estava
compartilhando minhas anotações de aula com o Asher, já que ele a perdeu.
— Que gentil. — Forcei as palavras.
O olhar de Asher queimou na lateral do meu rosto, mas não conseguia
olhar para ele. Não até que eu tivesse contido a raiva e o ciúme que corria em
minhas veias. Porém, me surpreendendo, ele passou o braço em volta da
minha cintura e beijou minha bochecha.
— Senti sua falta — ele disse como se Kellie não estivesse ali.
— Ahhh, vocês são muito fofos. Fiquei tão surpresa quando meu pai
disse que você estava namorando alguém. Eu disse a ele, o Asher não
namora, papai, mas então eu vi vocês na festa e bem, eu estava errada. Você
é uma garota de muita sorte, Mya.
Eu mal consegui sufocar um sim.
— Obrigado pelas anotações, Kellie. Te vejo por aí — Asher a dispensou,
com os olhos apenas em mim.
— Ah, sim, claro. A gente se vê.
Ela saiu.
— Ela está errada, sabe? — ele disse antes que eu pudesse formular
palavras.
— Errada?
— Você não é a sortuda. Eu sou. — Asher me pressionou contra o
armário, apoiando as mãos nas laterais da minha cabeça.
— Vocês dois ficam bem juntos — eu disse, deixando as palavras
escaparem dos meus lábios em uma explosão de ciúme.
— Não vou deixar você fazer isso, Mya.
Apertei os lábios em desafio, odiando a maneira como ele via através de
mim.
— É você quem eu quero, você quem amo. — Ele se inclinou, roçando os
lábios em minha orelha. — Estarei enterrado bem fundo em você mais tarde.
Kellie Ginly não é nada para mim. Nada. Como posso vê-la quando tudo o
que vejo é você?
Ele se afastou para me olhar mim, sua expressão suavizando.
— Melhor?
— Um pouco — eu disse, sentindo um pouco da raiva diminuir. — Mas
você deveria continuar. Só pra ter certeza.
Eu estava brincando, mas o desafio brilhou nos olhos de Asher.
Um desafio que eu teria o prazer de deixá-lo vencer.
VINTE E SEIS
Asher
— OUÇAM BEM, rapazes — o treinador Hasson gritou ao entrar no
vestiário. — A casa está cheia e os Eagles estão procurando por sangue. —
Uma onda de resmungos soou ao meu redor. — Quero um jogo limpo,
entenderam?
— Sim, senhor. — Nossa resposta coletiva ecoou nas paredes.
— Isso marca um recomeço. Vamos até lá e venceremos da maneira que
sabemos, com muito trabalho de equipe e dando tudo de nós. Jase, filho, quer
dizer algumas palavras?
Meu melhor amigo entrou no centro da sala, com o capacete pendurado
ao lado do corpo e a fome brilhando em seus olhos.
— Ser um Raider, liderar esta equipe, tem sido um privilégio e algo que
nunca me esquecerei. Mas o treinador está certo. Este jogo é uma chance de
colocar todas as besteiras de Rixon East para trás. Uma chance de mostrar a
eles de uma vez por todas quem é o melhor time dentro e fora do campo.
Kinnicky, estou esperando que você assuma a responsabilidade e prove que
tem o que é preciso para liderar depois que eu partir.
Meu olhar se voltou para Cam, que parecia tão confuso quanto eu.
— Treinador, vou liderar a equipe no jogo — ele disse —, mas acho que
Kinnicky deveria tomar meu lugar no terceiro tempo.
— Você tem certeza de que é...
— É a decisão certa. — Jase acenou para Kinnicky. O garoto parecia
pronto para mijar nas calças, mas conseguiu se erguer e retribuir o aceno de
seu quarterback.
— Bem, tudo bem então. — O treinador olhou para mim. — Asher, que
tal, filho? Uma última vez.
Meu peito se apertou e as palavras do treinador pareceram um torno em
volta da minha garganta.
Era isso.
A última vez que colocaria minha camisa e jogaria com meus
companheiros de equipe. Meus melhores amigos e irmãos, para todos os
efeitos e propósitos.
— Asher...
Todo mundo estava me olhando, esperando que eu entrasse em ação e os
animasse. Mas havia algo tão agridoce nisso que mal consegui encontrar as
palavras.
Até que Jase chamou minha atenção e disse:
— Juntos, vamos fazer isso juntos.
Com um sorriso tenso, fui para o centro com ele. Ele passou o braço em
volta do meu ombro e gritou:
— Quem somos?
— Raiders — o time respondeu.
— Perguntei quem somos? — Minha voz soou forte e clara, estimulada
pelo apoio do meu melhor amigo.
— RAIDERS. — A equipe ecoou de volta para nós, seu rugido coletivo
enviando uma onda de energia em mim.
— E o que somos?
— Família. — Jase apertou meu ombro, seus olhos encontrando os meus,
me dizendo uma centena de coisas que eu sabia que nunca ouviria. Desta vez,
em campo como equipe, e fora de equipe como irmãos, isso era tudo.
— E o que vamos fazer? — Sorri para ele, assumindo em meu papel com
muita facilidade, apesar da dor profunda em meu coração.
— Vencer.
— Perguntei o que vamos fazer?
— VENCER!
A adrenalina passou por mim, o tipo que só poderia vir de estar cercado
por meus companheiros de equipe. Os caras que tinham me visto no meu
melhor, pior, até mesmo minha nudez. Quatro anos da minha vida foram
dedicados a eles. Para a equipe. Quatro anos que passaram rápido demais.
E agora estava acabando e eu nunca mais teria isso de novo.
— Mais uma vez — Jase disse baixinho, apertando meu ombro, e eu
sabia que suas palavras eram para mim e apenas para mim. Ele pode não ter
entendido minha decisão de desistir do futebol universitário, mas agora, não
importava. Tudo o que importava era ir lá e jogar o melhor jogo que
poderíamos.
Derrubando os Eagles no processo.

A ADRENALINA CORRIA ATRAVÉS de mim enquanto empurrava minhas


pernas com mais força, diminuindo a distância entre mim e meu alvo. De
cabeça baixa, ombros retos, fui direto para o lado do jogador ofensivo,
derrubando-o no chão. Ele caiu com um baque forte, atrapalhando a bola.
— Legal, Bennet — alguém gritou enquanto o resto de nossos jogadores
se aproximava.
Estávamos vencendo confortavelmente no quarto tempo, os Eagles
estavam desorganizados e desleixados, sem nenhum Lewis Thatcher para
liderá-los. Isso não nos impediu de ir com tudo. A fome de vitória nos
incentivava, nos empurrando com mais força, mais rápido.
Eu estava preparado para não jogar com meu time de novo, mas agora
que estava aqui, o rugido da multidão me alimentou. E saber que Mya estava
lá me observando só me fez ficar mais animado.
Deus, eu ia sentir falta disso. Eu estava mentindo para mim mesmo,
pensando que poderia ir para a faculdade e me concentrar na escola em vez
de no futebol. Mas estar aqui, vestindo a camisa azul e branca, significava
algo.
Algo que eu não poderia simplesmente esquecer.
— Belo golpe, filho — o treinador disse, me oferecendo um aceno rígido
enquanto eu corria para fora do campo para deixar o ataque fazer o seu
trabalho.
— Este é para você — Jase me deu um tapinha nas costas enquanto corria
para o amontoado, pronto para dar a partida.
— Qual é a sensação de estar de volta? — o treinador me perguntou,
mantendo os olhos à frente.
— É uma sensação boa, senhor.
— Os Panthers terão sorte de ter você na próxima temporada, filho. — As
palavras ficaram entre nós, e eu meio que esperava que ele reclamasse porque
eu ainda não tinha me comprometido com a equipe.
Mas ele não fez isso. Jason jogou uma bola perfeita para Cameron, que
disparou para o campo, com todos os fãs dos Raiders correndo com ele.
— Vá, vá — o treinador gritou, jogando a prancheta no ar, como se fosse
a última jogada do jogo do campeonato.
— Touchdoooooown! — o locutor gritou no sistema de som, deixando o
estádio em um frenesi.
Jase chamou minha atenção do outro lado do campo, a compreensão
passando entre nós. O futebol sempre seria uma grande parte de nós, da nossa
amizade. Eu não tinha dúvidas disso. Mas ele estava apenas começando sua
jornada. Enquanto a minha... a minha acabava aqui.
E eu tinha que estar bem com isso.

— VOCÊS CONSEGUIRAM — Felicity e Hailee correram para nós. Jason


pegou sua garota, puxando-a para um beijo.
— Nós nunca duvidamos de vocês por um segundo. — Hailee sorriu,
aninhando-se ao lado de Cam.
— Onde está a Mya? — Procurei na multidão por sua camisa, mas não
consegui encontrá-la entre os amigos e familiares que inundaram o campo
para comemorar nossa vitória.
— Ela recebeu uma ligação — Flick disse, se afastando para respirar. —
Tenho certeza de que não é nada.
— Filho — a voz do meu pai cortou o ar como uma faca e minha coluna
endireitou.
— Sr. Bennet — Jase disse com frieza. — É bom vê-lo.
O ar ficou tenso enquanto meus amigos observavam a interação. Eles
ainda não sabiam de toda a história, mas percebi que eles começaram a
lentamente juntar as peças.
— Queria estar aqui para mostrar o meu apoio à equipe. Doei um cheque
considerável para a instituição de caridade.
— Isso é ótimo, senhor — Cam falou, sempre o pacificador.
— Onde está minha mãe? — perguntei a ele.
— Ela está falando com os pais do Cameron. Você sabe como ele fica
sempre que o Xander está por perto.
Ela amava aquela criança quase tanto quanto me amava.
— Eu provavelmente deveria ir até lá dizer olá. — Cameron me deu um
aceno de cabeça. — Vejo você mais tarde no Bell’s?
Mas assim que ele se virou para ir para as arquibancadas, algo chamou
minha atenção.
— Aquela é...
— Ah, Deus — Felicity murmurou enquanto corria em direção a Mya e o
cara alto e negro com quem ela estava conversando.
— Que merda é essa? — Jason resmungou.
— Acho que é o ex da Mya.
— Merda.
Eu já estava me movendo, mas a voz do meu pai me fez parar.
— Eu realmente não acho que agora é a hora para isso, filho. A srta.
Hernandez e seu amigo obviamente têm algumas coisas para conversar.
Eles estavam além do perímetro do estádio, perto da cerca. Estava muito
longe para ler a expressão de Mya, mas meu instinto me disse que não era
uma visita amigável. E se meu pai achou por um segundo que eu ia deixar
Mya – a garota que possuía minha porra de coração e alma – sozinha com o
ex, ele estava redondamente enganado.
— Devemos ir e nos certificar de que ela está bem, sr. Bennet — Jase
disse, batendo em minhas costas. — Vamos.
Começamos a correr.
— Acho que isso é uma surpresa? — Jase me olhou de soslaio enquanto
reduzíamos nossa aproximação.
— Ele não deveria saber que ela está em Rixon. — Um turbilhão de
emoções se agitou dentro de mim. Eu não sabia o que pensar, o que sentir. Eu
tinha muitas perguntas, mas nada superava minha necessidade de chegar até
Mya e me certificar de que ela estava bem.
Felicity já os havia alcançado, parando ao lado de Mya enquanto ela
continuava a falar com Jermaine. Embora agora estivéssemos mais perto,
pude ver que eles não estavam conversando – ela estava implorando para ele
ir embora.
— Baby, está tudo bem? — o tom de Jason foi frio enquanto caminhava
até Flick.
— Está, sim. A Mya estava me apresentando a seu amigo, Jermaine. —
Seus olhos se voltaram para os meus. Mas eu estava muito ocupado vendo
minha namorada lidar com seu ex.
— Eu sou o Jason — ele estendeu a mão para Jermaine. Mas o cara
apenas olhou para ele. — E este é o Asher.
Seus olhos encontraram os meus, duros e avaliadores, mesmo que sua
postura ainda estivesse relaxada e tranquila.
— Asher — ele falou meu nome. — É você o cara que está tentando dar
em cima da minha garota?
— J — Mya falou. — Não sou mais a sua garota.
Seus olhos finalmente encontraram os meus, emanando muitas coisas.
— Não faça assim. Você me conhece e temos uma história. Sempre
teremos.
— Exatamente. História. Temos história, Jermaine, no passado. — Ela
soltou um suspiro tenso. — Você deveria ir.
— Viemos até aqui para te ver e você vai me dispensar, simples assim?
— Jermaine, por favor. — A voz de Mya falhou.
— Acho que você deveria ir — Jason disse. Eu ainda estava preso no
lugar, com a cabeça girando, tentando descobrir por que ele estava aqui.
Como ele tinha vindo para cá.
— Sério, você vai escolher esses garotos brancos em vez de mim? Eu vim
por você, garota. Vim para acertar as coisas entre nós.
— Não deveria ter vindo — Mya quase se engasgou com as palavras, e
pude ver que ela estava por um fio. — Eu te ligo mais tarde, tá?— As
palavras saíram de seus lábios em uma confusão apressada. — Me deixe
terminar aqui e depois eu te ligo.
— Tudo bem. Podemos ficar um pouco mais.
O que é que estava acontecendo?
Ela estava tendo dúvidas depois de vê-lo novamente?
Jason olhou para mim, seu olhar pesado me incentivando a fazer algo.
Dizer algo. Mas fiquei paralisado com a situação. Pela ideia de que Mya tinha
algo a ver com o fato de Jermaine estar aqui em Rixon.
— Vamos — Felicity pediu a Mya que começasse a andar. — Devemos
voltar para o grupo.
Mas eu não conseguia me mover. Mya chamou minha atenção, me
implorando em silêncio para ir com eles.
— Vá em frente — falei com firmeza. — Já encontro vocês.
Um sorriso malicioso curvou a boca de Jermaine, como se ele soubesse
exatamente o que eu estava pensando. Jason me deu um aceno de
compreensão, conduzindo as garotas, apesar dos protestos de Mya. Quando
eles estavam fora do alcance da voz, eu me aproximei, fixando os olhos nos
dele. Ele era cerca de três centímetros mais alto do que eu, mas eu era mais
forte.
— Você é o cara com quem minha garota tem saído? — Ele foi direto ao
ponto.
— Ela não é sua garota e isso não é da sua conta.
— Você acha que um idiota como você vai ficar com ela? — Ele arqueou
uma sobrancelha escura e espessa. — Mya não pertence ao seu mundo. Ela
me pertence.
— Deve ser por isso que ela está aqui comigo e não na Filadélfia com
você.
Tínhamos nos aproximado, ficando quase nariz com nariz. Minha raiva e
possessividade refletiam em seus olhos.
— Eu fui o primeiro — ele falou, e eu tinha quase certeza de que o cara
estava chapado. — Seu primeiro beijo, sua primeira foda, seu primeiro tudo.
Você acha que ela vai se esquecer disso? Se esquecer do que tivemos? Por
que você acha que ela voltou para casa? Porque ela precisava de um pouco do
que só eu posso dar a ela.
Não deixe-o te provocar. Me obriguei a dar um passo para trás, cerrando
os punhos com força ao meu lado.
— A Mya terminou as coisas com você. Se você se preocupa com ela,
precisa deixá-la em paz.
— Deixá-la? — ele zombou, estalando a língua. — Eu nunca vou deixá-
la, ela está no meu sangue. Eu preciso dela.
— Asher — a voz dela reverberou dentro de mim e fechei meus olhos,
respirando fundo. — Vamos, por favor.
Nossos olhos se encontraram e não pude fazer nada além de ir até ela.
— Bem, olha só isso — Jermaine zombou. — Você está correndo atrás
dela como um garotinho.
Meu corpo travou enquanto eu olhava para trás, mas Mya entrelaçou a
mão na minha e me puxou para longe.
— Não faça isso — ela disse. — Ele não vale a pena.
Ele não valia.
Mas Mya valia.
Enquanto nos afastávamos, não pude evitar de pensar que cometi um erro
facilitando demais com o cara.
VINTE E SETE
Mya
O CLIMA ESTAVA TENSO enquanto seguíamos para o Bell’s. Os pais de
Asher insistiram em nos levar para jantar.
Todos nós.
Jason e Felicity estavam indo juntos, e Cam e Hailee estavam indo com
seus pais. O que me deixou com os Bennet. Depois de me virem discutindo
com Jermaine, fiquei surpresa por meu convite não ter sido revogado.
Asher estava quieto, muito quieto, mas seu pai... bem, seu pai estava
mortalmente silencioso.
Felizmente, entramos no estacionamento em minutos e o sr. Bennet
desligou o motor.
— Veremos vocês dois lá dentro — ele falou, gesticulando para que sua
esposa se juntasse a ele. Eles desapareceram dentro me deixando com Asher.
— Me diga que há uma explicação razoável para ele estar aqui.
— O que isso quer dizer? — falei, não gostando da acusação em sua voz.
— Você me disse que ele não sabia onde você estava. Você me olhou nos
olhos e me disse...
— Não contei a ele. — Meu sangue gelou. — Ele convenceu minha
amiga, Shona, a contar. Ela tentou me ligar, mas era tarde demais.
Asher passou a mão pelo rosto, xingando baixinho.
— Ash... — Coloquei a mão em seu braço, odiando a distância entre nós.
— Vê-lo me surpreendeu tanto quanto a você.
— Então aquele é o seu ex?— Um sorriso triste apareceu no canto de
seus lábios. — Achei que ele seria... mais alto.
Consegui dar uma risada.
— Quando falar com ele mais tarde, direi que ele não pode ficar aqui.
Isso acabou. Eu vou fazer com que ele...
A cor sumiu de seu rosto, e eu sabia que tinha estragado tudo.
— Você não vai encontrá-lo.
A culpa deslizou em volta do meu coração.
— Eu preciso. Se eu não... — Não gostei de pensar no que Jermaine faria.
Não, o único plano lógico era me encontrar, conversar com ele e esperar que
eu pudesse fazer com que ele entendesse.
— Vou com você — Asher disse e vi o desafio queimando em seus olhos.
— Não acho que seja uma boa ideia.
Puxando o braço, Asher se inclinou.
— Você ainda o quer? — Seus olhos encontraram os meus, e a
vulnerabilidade em sua expressão foi como um martelo em meu peito,
quebrando minhas costelas e deixando meu coração sangrando no chão.
— Não. Não, Asher. Eu te amo. Estou apaixonada por você. Mas o
Jermaine é... complicado. Tenho que falar com ele. — Eu me arrastei no
assento e segurei seu rosto, apoiando de leve minha testa na sua. — Lamento
muito que ele esteja aqui. Mas ele é parte do meu passado, parte de quem
sou. Achei que você aceitasse isso.
Ele levou a mão à minha bochecha.
— Aceito. Eu só... merda, Mya. Ver vocês dois assim. Minha vontade era
de matá-lo.
Fechei os olhos enquanto respirei fundo. Não queria Asher perto de
Jermaine. Foi difícil o suficiente ver os dois se enfrentando enquanto Jason e
Felicity praticamente me arrastavam para longe.
— Deveríamos entrar — ele disse, quebrando o silêncio pesado. — Todo
mundo está nos esperando.
Me inclinei para beijá-lo, mas Asher virou a cabeça, e meus lábios
roçaram sua mandíbula. Sua rejeição me queimou como ácido. Mas eu não
poderia culpá-lo. Saber sobre meu passado com Jermaine era uma coisa, ter
isso enfiado em seu rosto era outra.
Saímos do carro de seu pai e entramos no Bell’s juntos, apesar da
distância crescente entre nós. Felicity e Hailee vieram direto para mim
enquanto Asher desaparecia no mar de pessoas reunidas para comemorar a
vitória dos Raider.
— Você está bem? — Flick perguntou com os olhos brilhando de
preocupação.
— Não acredito que ele está aqui. — Engoli em seco. — Ele não deveria
estar aqui.
No segundo em que liguei o celular e vi todas as chamadas perdidas de
Shona, eu soube que algo estava errado. Mas foi a única mensagem de Jesse
que confirmou isso. Jermaine e seus rapazes seguiram Shona até uma casa
vazia e ameaçaram destruir o lugar se ela não contasse onde eu estava. Eu
conhecia minha melhor amiga e sabia como ela era agressiva e, no fundo,
sabia que ela não teria revelado meu paradeiro a menos que sentisse que não
tinha outra escolha.
— Onde ele está agora? — Hailee perguntou.
— Eu disse a ele que o encontraria mais tarde para conversar.
— Que merda é essa, Mya? — Flick arregalou os olhos. — Você sabe
que é uma má ideia. O Asher vai...
— O que mais você gostaria que eu fizesse? — questionei, tentando
esconder a energia nervosa correndo por mim.
Ela olhou além de mim e não precisei me virar para saber quem estava me
observando.
— Certo — ela deixou escapar um suspiro de cansaço —, vamos tentar
terminar o jantar e então podemos descobrir o que fazer.
Assentindo, eu as segui até a longa mesa que Jerry havia arrumado para
nós. O sr. Bennet estava sentado à cabeceira, com Asher à sua esquerda e sua
esposa à sua direita. Seu olhar frio encontrou o meu quando ele disse:
— Jason, filho, por que você não pula uma cadeira e deixa as meninas se
sentarem juntas?
Ele não precisava dizer as palavras para eu saber que estava sendo
cortada. Olhei para Asher, meio que esperando que ele viesse em minha
defesa, mas ele não veio, não desta vez.
Meu sangue gelou.
O que começou como um dos melhores dias da minha vida, ficar de pé na
arquibancada usando o número do meu namorado enquanto eu torcia para ele
e sua equipe, estava se transformando no meu pior pesadelo.
Quando me sentei entre Felicity e Hailee, nunca me senti mais estranha.
Felicity segurou minha mão por baixo da mesa e a apertou.
— Apenas respire — ela sussurrou.
A mãe de Cameron se sentou à minha frente, uma imagem de felicidade
enquanto ela brincava com Xander, que estava sentado entre ela e o sr.
Chase.
— Qual o seu nome? — ele me perguntou.
— Oi, eu sou a Mya.
— É um prazer conhecê-la, Mya — a mãe de Cameron sorriu. — Eu sou
a mãe do Cameron e desse monstrinho. Você é a namorada do Asher, certo?
Assenti, muito emocionado para responder.
— Asher tem uma molada.— Xander pegou seu copo com canudinho e o
empurrou, fazendo o suco voar por toda parte. — Asher beijou sua molada.
Cameron, Hailee e seus pais sufocaram o riso enquanto a outra ponta da
mesa permaneceu em silêncio. Era como estar presa entre o sol e uma
tempestade.
— Xander, se lembra do que conversamos, amigo? — Cameron deu a seu
irmão mais novo seu melhor olhar sério.
— Eu tenho que me comportar se quiser ser um menino grande.
— Isso mesmo, amigo.
— Cam? — Um sorrisinho surgiu em sua boca.
— Sim, Xan?—
— Você ainda beija a Ailee?
Uma risada baixa soou da extremidade sombria da mesa e eu olhei
Felicity e Jason para Asher. Um meio sorriso mal escondeu sua diversão.
Mas quando seus olhos encontraram os meus, ele se derreteu com
arrependimento.
Deus, eu odiava isso.
Eu odiava que Jermaine, seu pai e minha tia tivessem o poder de ficar
entre nós tão facilmente.
Odiava que não importava o quanto tentássemos ser fortes, sempre
haveria algo – ou alguém – tentando ficar entre nós.
Asher desviou o olhar primeiro, dando ao garçom toda a sua atenção. A
mãe de Cameron me ofereceu um sorriso, mas fez pouco para aliviar o aperto
em meu peito, porque eu não tinha só que sobreviver a este jantar.
Também tinha que sobreviver a ver Jermaine novamente.

DURANTE A PRÓXIMA HORA, comi, sorri e fingi que por dentro não
estava me matando sentar lá e agir como se tudo estivesse bem.
De certa forma, foi um alívio não estar sentada perto de Asher e seus pais.
Xander nos divertia constantemente, nos entretendo com suas explosões
aleatórias infantis, e o sr. e a sra. Chase eram calorosos e amigáveis, me
tratando com o respeito que o sr. Bennet não tinha me concedido. Mas
mantive um ouvido na conversa entre os pais de Asher e Jason.
Surpreendentemente, o sr. Ford não mencionou o futebol, e me perguntei se
Jason o havia alertado para não mencionar isso.
— Um brinde — a voz profunda do sr. Bennet chamou nossa atenção. Ele
se levantou, com o copo erguido. — Aos bons amigos e aventuras futuras.
Todos levantaram suas bebidas e um coro coletivo de “aos bons amigos e
aventuras futuras” ecoou ao nosso redor.
Ele era um bom ator, não dando nenhuma pista sobre o homem real
escondido debaixo do terno caro e um talão de cheques gordo.
— Vocês todos são bem-vindos para se juntarem a nós em nossa casa
para uma bebida antes de dormir.
— Ah, não poderemos — a mãe de Cameron falou. — Temos que levar
esse monstrinho para dormir.
— Claro — a sra. Bennet deu a amiga um sorriso fraco.
— Kent e Denise?
— Hoje não, Andrew. Me levanto bem cedo. Mas obrigado pelo jantar.
Você não precisava pagar a conta.
— Não seja bobo, Kent. O que é um pequeno jantar entre amigos? —
Eles apertaram as mãos e o pai de Jason ajudou a sra. Raine-Ford a vestir o
casaco.
Também me levantei.
— Estou indo — eu disse a Hailee e Felicity. Quanto mais cedo me
encontrasse com Jermaine, mais cedo poderia tentar deixar o dia de hoje para
trás. — Obrigada pelo jantar adorável. — Me obriguei a olhar para o sr.
Bennet. Sua mandíbula cerrou quando ele me deu um breve aceno.
— Boa noite, Mya. — A Sra. Bennet se levantou, acenando para mim ao
redor da mesa. Fui até ela, que envolveu os braços finos em volta de mim. —
Sinto muito — ela sussurrou. — Mas, por favor, não desista do meu filho.
Ele precisa de você, mais do que você imagina.
Me afastando, dei a ela um sorriso tenso. Asher se levantou e por um
segundo meu coração disparou. Ele ia dizer algo, ia me dar um sinal de que
ainda estávamos bem. Mas ele não estava olhando para mim, seus olhos
semicerraram perigosamente. Me virei lentamente e perdi o ar com a visão de
Jermaine e dois de seus caras parados na porta do Bell’s.
Senti o peso dos olhares de meus amigos e suas famílias enquanto meu
passado e presente colidiam de uma forma que nunca imaginei.
— O que é que você está fazendo aqui? — Corri até Jermaine, olhando
carrancuda para ele.
— Cansei de esperar, garota. — Ele passou o polegar sobre o lábio
inferior, sorrindo.
— Você precisa sair agora.
— O quê? Não teremos as boas-vindas ou algo assim?
— Jermaine, por favor. — Soltei um suspiro exasperado, percebendo o
quanto ele parecia fora do lugar, parado ali usando jeans largos e moletom,
com o cabelo trançado.
— Mya — não era a voz que eu queria ouvir. Na verdade, o sr. Bennet
era a última pessoa que eu queria em qualquer lugar perto de Jermaine e seus
amigos. — Você deveria pedir aos seus amigos para irem embora. Não
queremos problemas.
— E quem é você, meu velho? — Um dos caras de Jermaine deu um
passo à frente.
— Calma, Shawn. — Jermaine ergueu a mão. — Eu só quero conversar.
— Você deveria ter esperado — falei.
— Bem, estou aqui agora. Vamos, a menos que você queira me
apresentar a seus amigos.
Este não era o garoto que eu conhecia. Jermaine estava crescido, dando
ordens com uma arrogância que me assustou. Eu sabia o que significava se
juntar a alguém como Diaz. É por isso que deixei meus olhos correrem para o
cós de sua calça jeans, em busca do contorno de uma faca. Ou pior ainda,
uma arma.
Quando meu olhar voltou para seu rosto, seu sorriso se desfez, e por um
segundo vi um vislumbre do menino que amei.
— Sério, Mya, você acha que vim aqui carregado?
O sr. Bennet pigarreou, pairando precariamente perto de nós.
— Vamos sair e conversar — eu disse, desesperada para levá-los para o
mais longe possível de meus amigos e suas famílias.
— Vou com você. — Felicity apareceu do nada ao meu lado em
solidariedade. Aqueceu meu coração saber que ela estava disposta a tomar
uma posição por mim, mas me recusei a arrastá-la para isso.
— Espere por mim, está bem? — Encontrei seus olhos preocupados. —
Volto já.
Não procurei por Asher.
Eu não poderia.
Mas enquanto eu seguia Jermaine para fora do Bell’s, tive certeza de ter
ouvido seu pai dizer:
— Ela não pertence a este lugar, filho, deixe-a ir.
— QUE MERDA É ESSA, Jermaine? — Bati minhas mãos contra seu peito
no segundo em que estávamos do lado de fora. — O que é que você pensa
que está fazendo?
— Calma, garota. — Ele riu. Ele realmente riu de mim como se não
estivesse aqui para estragar tudo. — Eu precisava te ver.
— Me ver? Você precisava me ver? — gritei, ciente de que estava
perdendo o controle. — Esta é a minha vida, Jermaine. Minha vida, e você
não deveria estar aqui.
— Vamos dar a vocês dois um pouco de espaço — um de seus amigos
disse, me dando um olhar divertido.
— Vá se foder — grunhi, sentindo o controle me deixar. Eu conhecia
pessoas como ele. Garotos de gangue que pensavam que não tinham que
viver de acordo com as regras da sociedade.
Era difícil acreditar que Jermaine era um deles agora, que ele os escolheu
em vez de mim.
— Tenha cuidado, garota. — Jermaine se aproximou, pairando sobre mim
de uma forma que uma vez me fez sentir segura e protegida.
— Diga a seus garotos para recuar. Você quer falar, eu falo. Mas não com
eles me olhando com malícia.
Ele deu a eles um breve olhar. Algo que os fez se afastar sem protestar.
— Quem é você? — sussurrei.
— Eu cresci, Mya. Encontrei meu lugar no mundo. — Ele tentou tocar
minha bochecha, mas eu me afastei. — É hora de você voltar para casa. Eu
posso mantê-la segura agora.
— Porque você está na equipe de Diaz? Ele não pode te manter em
segurança — bufei. — Ele vai te matar. — Forcei as palavras sobre o nó
gigante na minha garganta.
Mesmo agora, apesar de tudo o que tinha acontecido entre nós, eu não
queria ver o garoto com quem cresci se machucar.
Estávamos em um impasse novamente, o mesmo em que estivemos
muitas vezes antes. Jermaine não acreditava que merecia uma vida melhor e
nada que eu pudesse dizer ou fazer mudaria isso. Ele estava vinculado ao
bando de Diaz agora.
— Terminamos — falei, me lembrando de toda a dor e sofrimento que ele
causou. — Nada do que você diga ou faça vai mudar isso. — Recuando, me
abracei com força, criando uma parede entre nós.
Jermaine se aproximou para diminuir a distância, mas estendi a mão.
— Chegue mais perto e eu grito. Alguém vai chamar a polícia.— Fiquei
surpresa que o sr. Bennet ainda não tinha feito isso.
— Você não faria isso — ele falou, mas a surpresa em seus olhos
contradisse suas palavras.
— Me teste.
— Merda, Mya, você mudou.
— Sim. — Levantei meu queixo em desafio. — Bem, você também. —
Me virando para sair, avistei minhas amigas na janela do Bell’s olhando pelas
cortinas. Eu não esperava vê-las paradas ali. Não esperava que Jermaine
agarrasse meu pulso com força e me puxasse de volta.
E eu não esperava que o amigo do meu namorado voasse para fora do bar
e jogasse Jermaine no chão.
Mas se aprendi alguma coisa sobre Asher e seus amigos em meu curto
período em Rixon, era esperar o inesperado.
VINTE E OITO
Asher
FUI ATRÁS DE JASON, mas ele saiu muito rápido. Ele bateu em Jermaine
antes que eu pudesse alcançá-los. Os dois começaram a se atacar, com socos
e ossos se quebrando. Cameron apareceu no momento em que os outros dois
caras atacaram. Não deu tempo para pensar. Já tive brigas suficientes dentro e
fora do campo para saber que se um soco viesse em seu rosto, você ou se
abaixava e tentava fugir ou revidava. Enfiei os dedos direto no rosto de um
cara, e ele inclinou a cabeça para trás enquanto eu sentia a dor estilhaçando
meu pulso.
— Filho da puta — ele grunhiu, tentando me agarrar. Me desviei de seu
alcance e tentei chegar até Jason, que ainda estava lutando com Jermaine, os
dois trocando insultos e socos. Felicity estava com os braços em volta de
Mya, que parecia desesperada para entrar na briga e lancei a ela um olhar
suplicante para ficar parada.
— A polícia está vindo — alguém gritou, mas não éramos nós três que
precisávamos nos preocupar. Éramos de Rixon e eu sabia que os oficiais
presentes olhariam para nós e saberiam quem éramos.
— Você precisa ir embora, filho — meu pai ordenou, mas eu o ignorei,
correndo até Jason. O sangue escorria de um corte profundo em seu lábio,
mas ele não parecia preocupado. Há um tempo atrás, ele viveria para essa
merda.
— Você deve ir antes que os tiras cheguem — grunhi. Jermaine me deu
um sorriso de lobo.
— Eu e você, mauricinho, vamos lá. — Ele saltou na ponta dos pés, me
provocando com os olhos e inclinando o dedo. — Vamos lá, você sabe que
quer.
— Jermaine — Mya gritou enquanto Hailee e Felicity tentavam puxá-la
para longe. — Vá embora.
— Você deveria ouvi-la, cara — Jason falou com a boca cheia de sangue
e cuspiu a seus pés. — Este é o nosso território. Território Raider.
Mas os olhos de Jermaine estavam fixos em mim, o ciúme gravado em
sua expressão.
— Aposto que te mata saber que eu a tive primeiro. Depois de provar o
preto, você nunca vai...
Várias pessoas gritaram quando bati em seu nariz. Jermaine cambaleou
para trás e o sangue respingou no rosto e no moletom.
— Você está morto, filho da puta. — Ele apontou dois dedos para mim e
puxou o gatilho. Mya correu para o meu lado, me puxando para trás no
momento em que as sirenes soaram no final da rua.
— J, vamos embora — disse um de seus caras.
— Sim. — Ele coçou o queixo, mas a indecisão cintilou em seus olhos.
Ele não queria deixar Mya, nem ir embora. Mas para o alívio de todos, ele o
fez. Os três se amontoaram em um Chevy surrado e saíram correndo do
estacionamento.
— O que é que você estava pensando, Jason? — Felicity gritou, se
jogando em seus braços. Ele inclinou a cabeça para mim, a compreensão
passando entre nós.
Ele me ajudou.
O que significava que ele protegeu Mya.
— Você está bem? — ela me perguntou, embalando minha mão
gentilmente na sua. Minhas juntas estavam abertas e o sangue escorria pelos
meus dedos. — Você precisa ver isso.
Os adultos nos cercaram, as mães se preocupando conosco como se
fôssemos crianças precisando de cuidado enquanto os pais observavam em
silêncio, esperando pela oportunidade de atacar.
Meu pai nunca me deixaria esquecer disso. Ele me disse isso lá dentro,
quando Mya saiu para falar com Jermaine. É por isso que Jason os alcançou
primeiro. Algo pelo que eu não me perdoaria tão rapidamente.
— Ash... por favor, diga alguma coisa.
Mas eu não conseguia olhar para ela. Eu estava com raiva e confuso, e
minha mão doía pra caramba.
— Oh, Asher, que confusão. — Minha mãe me ofereceu um sorriso triste.
— Acho que deveríamos levá-lo para casa e cuidar disso.
Mya soltou minha mão devagar e seus dedos se demoraram como se
doesse me deixar ir.
— Acho que eu deveria ir — ela disse tão baixinho que me doeu.
— Provavelmente é uma boa ideia — minha mãe respondeu, parecendo
mais com meu pai do que antes.
— Nunca quis que isso acontecesse, sra. Bennet. — A vulnerabilidade na
voz de Mya me persuadiu a olhar para ela, que parecia arrasada... Derrotada.
Eu queria envolver os braços ao seu redor e dizer que tudo ficaria bem. Mas
antes que eu pudesse dizer as palavras, minha mãe me conduziu para longe.
— Agora você acredita em mim? — meu pai perguntou quando nos
aproximamos dele.
— Agora não, Andrew. — Minha mãe passou por ele, me levando para o
carro. Notei o pai de Jason conversando com os policiais, sem dúvida
acertando as coisas com eles.
Minha mãe entrou no carro, mas Jason correu até mim, empurrando a
mão contra a porta.
— O que você está fazendo? — ele perguntou com as sobrancelhas
franzidas em confusão.
— Deixe isso para lá, Jase.
— De jeito nenhum, cara. Não briguei com aquele imbecil para que você
pudesse se afastar de Mya com o rabo entre as pernas.
— É complicado. — Eu cerrei os dentes.
— Parece muito simples para mim. Ela está abalada e você está fugindo.
— Eu não estou... — Soltei um suspiro cansado. — Jase, por favor, pare
com isso. — Meus olhos foram para meu pai e então encontrei Mya do outro
lado do estacionamento. Sua respiração estava ofegante e havia lágrimas não
derramadas brilhando em seus olhos.
— Asher, filho, está na hora de ir. — O tom de meu pai foi definitivo e a
frieza em sua voz me fez estremecer.
— Há algo que você não está me dizendo, não é? — Jase perguntou.
— Falo com você mais tarde, tá? — Abri a porta e entrei no carro,
batendo-a atrás de mim, o som reverberando bem no fundo do meu peito.
Meu pai entrou um segundo depois, deixando a temperatura abaixo de
zero.
— Como está sua mão, querido?
— Estou bem, mãe. — Apertei a mão ensanguentada no peito, olhando
pela janela enquanto o Bell’s ficava menor atrás de nós.
— Aqueles garotos eram...
— De uma gangue, Julia. Esses jovens eram de uma gangue e, graças a
amiga do Asher, eles mancharam a vitória do time e a reputação de nosso
filho.
— Pare com isso, pai — eu grunhi, sentindo a adrenalina finalmente
diminuindo, dando lugar à dor que irradiava no fundo dos meus metacarpos.
— Vou parar quando você fizer a coisa certa e terminar com a garota
Hernandez. Ela não é nada além de problemas. Você a viu. Ela conhece um
deles. Intimamente, devo acrescentar.
— Asher — minha mãe olhou para trás. — É verdade? Ela... teve um
relacionamento com um daqueles... daqueles homens?
Minha mãe ficou visivelmente abalada com os acontecimentos da noite,
mas não gostei da facilidade com que ela foi persuadida por meu pai.
— Jermaine é o ex da Mya. O relacionamento acabou mal — admiti,
odiando provar que meu pai estava certo. — Mas acabou, e ela está aqui para
escapar dessa vida. Ele não deveria saber que ela estava em Rixon.
— Veja, Julia. Ela arrastou seus amigos de uma gangue para nossas vidas
e agora nenhum de nós está seguro.
— Sério, pai? Não seja tão melodramático. Foi uma briga. Não foi uma
guerra de gangues.
— Não. — Ele chamou minha atenção pelo espelho retrovisor. — Mas o
que acontece agora? Você acha que ele simplesmente seguirá seu caminho?
Eu não queria pensar sobre isso. Queria voltar ao passado, antes mesmo
de colocar os olhos nele. Quando eu estava pensando no quanto eu queria
Mya. Quando eu estava fazendo planos inúteis para o nosso futuro, uma vez
que a formatura estava chegando.
Mas por mais que eu quisesse ignorar suas palavras, a realidade era que
meu pai estava certo. Mesmo que fosse difícil de admitir. Jermaine não era
nada mais do que um nome sem rosto, um cara imaginário que não poderia
afetar nosso relacionamento. Um cara com quem eu não tive que competir.
Mas agora, ele era real.
Agora, eu sabia que ele tinha um brilho perverso nos olhos, uma
arrogância malvada e um gancho de esquerda muito forte.
E o pior de tudo, eu sabia que ele não ia desaparecer. A menos que Mya
conhecesse alguma maneira mágica de mandar seu ex embora.
Merda.
Cerrei o punho involuntariamente, me esquecendo completamente que
meus dedos estavam machucados. Mas a dor era boa. A dor entorpecia todos
os outros pensamentos que apodreciam em minha cabeça.
Logo, meu pai saiu da estrada e entrou na garagem. Sem dizer uma
palavra, desci e fui para casa. Não queria ouvir mais suas besteiras e
certamente não queria ver a expressão de decepção nos olhos de minha mãe.
— Asher, espere — ela chamou. — Eu deveria ver o seu...
— Está tudo bem, mãe. — Pegando a chave, destranquei a porta e entrei.
Eu precisava de espaço. Precisava ficar sozinho. Mas o som de pneus me fez
olhar para trás.
Faróis iluminaram a calçada e minha mãe gritou. Saindo de casa, parei
quando meus olhos pousaram em Jermaine.
— Onde ela está? — ele gritou, com os olhos selvagens.
— Você precisa ir embora, filho. — Meu pai se moveu em direção a ele,
protegendo minha mãe.
— Ela não está aqui — acrescentei, me aproximando de Jermaine, que
estava agindo como um animal enjaulado.
— Ela não saiu com você? — Ele vacilou apenas por um segundo, e meu
pai pegou o celular, ligando para a polícia. Mas antes que completasse a
ligação, Jermaine puxou uma arma e apontou diretamente para ele. — Você
não quer fazer isso, meu velho — ele disse.
Tudo ficou mais lento.
O baque da minha pulsação na cabeça.
A batida do meu coração.
Meu pai largou o celular e ergueu as mãos.
Lentamente.
Lentamente.
Lentamente.
— Você não quer fazer isso. — Ele parecia muito calmo, muito
composto. Como se tivessem apontado uma arma para ele uma centena de
vezes.
— A-Andrew. — O choro de minha mãe cortou o silêncio e Jermaine
balançou a arma. Mergulhei na frente dela, erguendo as mãos também.
— A Mya me contou sobre você, sabia? — eu disse, esperando manter
seus pensamentos em mim e fora do gatilho. — Ela disse que vocês eram
melhores amigos. Cresceram juntos e tudo mais.
— Ela falou sobre mim?
— Sim, cara. Você foi o primeiro em tudo, lembra?
— Então por que ela está fugindo de mim?
— Não posso responder a isso. Mas por que não ligamos para ela? — Fui
abaixar a mão, mas ele apontou a arma para mim. — Uau, calma. — Meu
coração estava na garganta. — Vou ligar para Mya e dizer que você está
procurando por ela.
Eu não queria esse psicopata perto dela, mas não sabia o que fazer.
Ele tinha uma arma.
A porra de uma arma carregada apontada diretamente para mim. Talvez
se eu pudesse ligar para ela ou enviar uma mensagem de texto, eu poderia
avisá-la. Eu poderia fazer com que ela alertasse as autoridades.
Pense, Asher, pense! Avancei com cuidado para manter minha mãe atrás
de mim.
— Asher, filho...
— Shhh, pai, eu cuido disso.
— Jermaine, você não quer fazer isso. Imagine o que Mya fará quando
descobrir...
— Não fale como se a conhecesse. Você não a conhece, eu a conheço. —
Ele virou a arma para si mesmo, batendo-a contra o peito.
— Por que você não deixa meus pais entrarem e podemos conversar? De
homem para homem.
Minha mãe choramingou, e ouvi meu pai tentando confortá-la. Eu
precisava deles fora daqui, em algum lugar seguro. Em algum lugar onde ele
não pudesse tocá-los.
Merda. Eu estava ficando louco.
— Ligue para ela — ele exigiu. — Diga a ela para vir aqui.
O mais devagar possível, tirei o celular do bolso da calça jeans e liguei
para Mya, mantendo um olho em Jermaine.
— Asher — ela murmurou. — Graças a Deus. Eu pensei...
— Preciso que você venha à minha casa.
— Asher, o que foi? O que há de errado?
— O Jermaine está aqui. — Mantive a voz o mais uniforme possível. —
Ele quer falar com você.
— E-ele está aí? — Vozes abafadas soaram através da linha. Eu poderia
distinguir Jason e Felicity ao fundo.
— Depressa — acrescentei, antes de desligar. — Vai levar pelo menos
uns dez minutos.
— Eu tenho tempo. Tenho todo o tempo do mundo.

MYA CHEGOU em menos de sete minutos, mas pareceu um ano. No


segundo em que ela saiu do Dodge Charger de Jason, Jermaine pareceu
relaxar.
— Você veio.
— O que está acontecendo, J? — Seu tom era baixo, mas não perdi o
puro horror em seus olhos quando ela percebeu a arma na mão dele. — O que
você fez?
— Nada. Eu não fiz nada ainda. Eu só precisava que você me ouvisse.
— E você pensou que seguir meu namorado e ameaçar a ele e seus pais
com uma arma era a forma certa de chamar minha atenção?
— Eu não estava pensando. Merda, Mya, está tudo tão fodido.
— Posso ver — ela fervia, e eu tentei chamar sua atenção para perguntar
o que é que ela estava fazendo. Mas então me ocorreu. Ela não estava
tentando irritá-lo, estava tentando desviar sua atenção de nós para ela.
— Asher, filho, devemos entrar e chamar a polícia — meu pai sussurrou.
— Vocês vão. — Fiquei de olho em Mya. — Não vou deixá-la.
— Asher — meu pai sibilou. — Agora não é hora para atos heroicos.
— Vou ficar.
Ele e minha mãe se moveram em direção à casa assim que Jermaine
avançou sobre Mya. Não tive tempo para pensar enquanto corria. Ele estava
tão focado nela que não me viu até que fosse tarde demais. Meu corpo bateu
no dele e caímos no chão.
— NÃO! — alguém gritou quando um tiro disparou. A arma caiu no
chão, e Mya chutou para longe de Jermaine.
— Você está bem? — murmurei, um pouco sem fôlego por causa da
queda.
Sirenes soaram ao longe, e Mya me ajudou a ficar de pé.
— O que você estava pensando? — ela me repreendeu antes de cair em
meus braços. Eu a segurei com força enquanto procurava meus pais para
verificar se eles estavam bem. Mas algo estava errado.
Meu pai segurou minha mãe nos braços, seu rosto estava pálido e sua
camisa branca manchada de vermelho.
— Pai? — resmunguei, empurrando Mya para longe e correndo para o
lado dele. — O que aconteceu?
Eu vi meu pai usar muitas expressões. Raiva. Indiferença. Arrogância.
Mas nunca o tinha visto com medo até aquele momento.
— A bala... — foi tudo o que ele conseguiu dizer.
Duas palavrinhas.
Palavras que nunca deveriam ter saído de seus lábios.
Duas palavrinhas que eu sabia que mudariam tudo.
VINTE E NOVE
Mya
— O QUE VOCÊ FEZ? — Me lancei para Jermaine quando ele cambaleou
para ficar de pé. — Que merda você fez? — Bati em seu peito e rosto.
Minhas unhas o arranharam, rasgando carne e tirando sangue enquanto eu
gritava com ele repetidamente até meus pulmões queimarem e as lágrimas
arderem em meus olhos.
Eventualmente, braços fortes envolveram minha cintura, me puxando de
cima dele.
— Calma, Mya. — Era Jason. — Calma.
— Eu... puta merda. — Os olhos de Jermaine estavam arregalados e
nervosos enquanto o zumbido das sirenes se aproximava. — Eu não queria...
foder com tudo! — Ele esfregou as palmas das mãos contra a testa.
— Ei, J, precisamos dar o fora — um de seus capangas gritou, mas era
tarde demais. O flash azul e vermelho iluminou o céu escuro. O Chevy
ganhou vida, acelerando enquanto os amigos de Jermaine o abandonavam.
— Você está morto. — Asher correu para o meu ex, derrubando-o no
chão, os dois um borrão de membros.
— Asher, não! — As palavras saíram da minha garganta enquanto eu
observava o cara que eu amo despejar fogo e fúria contra o cara que amei.
Jermaine não revidou. Ele apenas ficou lá, deixando Asher bater nele até que
o sangue em suas mãos se misturasse com o sangue de Jermaine.
— Faça alguma coisa — implorei quase sem perceber que Jason estava
me segurando.
Alguns policiais chegaram, tirando Asher de cima de Jermaine. Ele lutou
contra eles, se debatendo e gritando enquanto as lágrimas escorriam por seu
rosto. Foi só quando os paramédicos chegaram e começaram a cuidar da sra.
Bennet que ele finalmente se acalmou.
— Preciso ir até ele — sussurrei, sentindo uma dor tão forte em volta do
meu coração que eu mal conseguia respirar.
— Não acho que seja uma boa ideia. Me deixe falar com ele. — Jason me
entregou para Felicity, que eu nem tinha percebido que estava lá.
— Shhh — ela me abraçou —, vai ficar tudo bem.
Mas nada estava bem.
A sra. Bennet estava sangrando no chão enquanto seu filho permanecia
imóvel, com os olhos completamente desprovidos de emoção e com as mãos,
o rosto e as roupas sujas de sangue. De sua mãe. De Jermaine.
Dele mesmo.
— Isso é culpa minha. — Solucei no ombro da minha amiga, segurando
seu braço como se fosse a única coisa que me prendia à Terra.
— Não diga isso, você não poderia saber que ele faria uma coisa dessas.
Mas ela estava errada.
Eu deveria saber que Jermaine não me deixaria ir embora.
Mas eu estava cega demais pelo amor. Fiquei muito confortável em
Rixon, com Asher e meus novos amigos. Me permiti acreditar que as coisas
poderiam ser diferentes, que eu merecia mais da vida.
Os paramédicos prenderam a sra. Bennet na maca e me afastei do aperto
de Flick, correndo até eles.
— Sinto muito. — Estendi a mão para ela. — Sinto muito.
— Espero que você esteja feliz — o sr. Bennet falou com frieza. — Nada
disso teria acontecido se não fosse por você.
— Eu não.. eu não... — As desculpas esfarrapadas secaram na minha
língua e um som distorcido escapou da minha garganta conforme os sussurros
e boatos sobre mim se tornavam realidade.
— Mãe. — A dor na voz de Asher fez minhas pernas cederem, a pura
força de sua agonia me atingindo como um tsunami. Felicity me segurou
enquanto pai e filho caminhavam ao lado do corpo sem vida da sra. Bennet.
— Precisamos ir — um dos paramédicos disse, gesticulando para que
todos dessem espaço.
Jason se aproximou de nós, e eu segurei sua mão.
— O que ele disse?
O breve balançar de sua cabeça me disse tudo que eu precisava saber, e
uma nova onda de lágrimas veio à tona.
— Asher — gritei, minha voz cortando o ar como uma faca. Ele diminuiu
a velocidade, se movendo para o lado para permitir que os médicos
carregassem sua mãe para dentro da ambulância. Seus olhos encontraram os
meus, mas não era o meu Asher olhando para mim.
— Ah, Deus — sufoquei, mal conseguindo respirar através das lágrimas.
— Ela vai ficar bem — Felicity disse, incapaz de disfarçar o tremor em
sua voz. — Eles vão salvá-la.
— Eu deveria ir junto, ele precisa de mim. — Tentei me libertar, mas
Jason enganchou seu braço em volta da minha cintura, me segurando.
— Deixe-o — ele sussurrou. — Agora ele precisa estar com a família.
— Srta. Hernandez? — uma voz profunda disse, e eu olhei para um
oficial me encarando com simpatia. — Vou precisar que você venha comigo.
— Ir com você? — Flick parou na minha frente, me protegendo. — Ir
aonde?
— Gostaríamos que a srta. Hernandez fosse até a delegacia e respondesse
a algumas perguntas.
— Ela pode dar sua declaração aqui. Ela não está em condições de ir a
lugar nenhum agora.
— Está tudo bem — eu disse, me desvencilhando dos meus amigos.
— Mya, você não precisa fazer isso. Não agora.
Meu olhar foi para a ambulância saindo da garagem dos Bennet, e senti
uma estranha dormência passar por mim.
— Srta. Hernandez, por aqui, por favor. — O policial segurou meu braço,
me levando em direção ao carro da polícia.
— Jason — ouvi Flick murmurar —, faça alguma coisa.
— Aguente firme, Mya, vamos resolver tudo isso — Jason gritou atrás de
mim.
Mas era tarde demais.
O estrago estava feito.
A sra. Bennet estava saindo em uma ambulância, e eu em uma viatura da
polícia.
E meu passado... meu passado finalmente me alcançou.

— GRAÇAS A DEUS VOCÊ ESTÁ BEM. — Felicity ignorou o policial na


mesa e me abraçou.
— Ei — murmurei. — Obrigada por esperar.
— Você está brincando comigo? Eles te levaram para longe como se você
fosse de alguma forma responsável por tudo isso. Não está certo.
Eu a abracei novamente, sentindo uma onda de emoção.
— Como ele está? — Minha voz estava embargada, minha garganta
áspera por causa de todas as lágrimas. De reviver o que aconteceu.
— A sra. Bennet ainda está em cirurgia. Eles não sabem de nada.
Fechei os olhos conforme respirei fundo.
— Mas e ele?
Flick apertou os lábios, balançando um pouco a cabeça.
— Ele está... arrasado. O Jase e o Cam estão com ele.
— Pode me levar lá?
— Mya, ouça... — ela hesitou. — Não tenho certeza se é uma boa ideia.
O sr. Bennet...
— Preciso vê-lo, Felicity, por favor.
— Certo. Me deixe fazer uma ligação rápida. Vou te encontrar lá fora. —
Ela saiu correndo antes que eu pudesse argumentar. Eu sabia que ela ia ligar
para Jason para saber como estavam as coisas no hospital e também sabia que
não me importava. Eu tinha que ver o Asher.
Foram os noventa minutos mais longos e nebulosos da minha vida. Os
policiais prenderam Jermaine e queriam meu depoimento. Mas eu não tinha
previsto como seria difícil lembrar de tudo.
Depois que fui interrogada, fui em busca de Felicity. Ela estava ao
telefone, andando de um lado para o outro na frente do carro.
— Ela tem o direito de estar aí — eu a ouvi dizer. — Não, Jason, eu...
está bem, está bem. Tenho que ir. — Ela me notou parada ali. — Também te
amo, tchau.
— Alguma notícia? — Passei os braços em volta do corpo, sentindo um
calafrio subir pela minha espinha.
— Ainda não. Ouça, por que eu não te levo para casa? Foi uma noite
traumática para todos e tenho certeza de que a sua tia vai...
— Sei que você está cuidando de mim, mas tenho que vê-lo, Felicity. Se
coloque no meu lugar.
— Certo — ela falou em voz baixa. — Vou te dar uma carona.
— Obrigada.
— Acho que você precisa saber que a história já apareceu nos canais de
notícias locais — ela disse enquanto subíamos em seu Beetle amarelo. O
carro sempre me fez sorrir, mas não hoje.
— Eu só posso imaginar o que estão dizendo. — Pressionei a cabeça
contra a janela enquanto a cidade que passei chamar de lar passava.
— Não preste atenção.
— Fácil para você dizer. Não foi o seu ex membro de uma gangue que
atirou na esposa de um dos empresários mais respeitados da cidade. — A bile
subiu pela minha garganta e senti ânsia.
— Merda! Aqui. — Flick me entregou uma garrafa de água do console
central.
— Obrigada. — Apoiei a cabeça no encosto enquanto tomava um grande
gole, deixando o líquido frio apagar as chamas na minha garganta.
— O que vai acontecer com ele? Jermaine, quero dizer?
— Eles vão fazer a acusação por agressão agravada com arma mortal. Se
ela... morrer... — As palavras ficaram presas na minha garganta enquanto
lágrimas silenciosas rolaram pelo meu rosto.
Felicity esticou o braço e segurou minha mão.
— Não pense assim. Ela vai ficar bem. Ela tem que ficar bem.

O CHEIRO enjoativo de desinfetante atingiu meus sentidos no segundo em


que pisei no hospital. Eu odiava esses lugares. Claro, eram um lugar de ajuda
e cura, mas a maioria das minhas experiências era envolvida em tragédias e
traumas. Sem mencionar que a última vez em que estive em uma cama de
hospital foi porque os inimigos do meu namorado me deixaram espancada e
ensanguentada no chão. Eu ainda podia me lembrar de estar deitada ali,
tentando ignorar a dor que irradiava pelo meu corpo. Ainda podia ouvir suas
provocações, ver a sede de sangue em seus olhos enquanto me faziam ver
enquanto batiam em Jermaine, antes de se virarem contra mim. Eu ainda
conseguia me lembrar de orar para encontrar uma saída de uma vida que eu
tinha certeza que o mataria. Se não matasse a nós dois.
Parecia algum tipo de carma o fato de eu estar aqui, esperando para saber
se a mãe do meu namorado sobreviveria.
— O Jason disse que eles estão no terceiro andar, vamos. — Felicity
segurou a minha mão e fiquei muito grata por tê-la ao meu lado.
As pessoas observavam enquanto nos aproximamos do elevador, os
olhares curiosos focando em mim. Eu sabia que já havia sido noticiado sobre
o tiroteio, mas o hospital ficava numa cidade próxima. As pessoas não
sabiam que eu era a garota do incidente. Mas só precisavam dar uma olhada
na minha pele e minha aparência desgrenhada para tirarem suas próprias
conclusões.
Parecia muito mesquinho me preocupar com suas visões limitadas quando
a sra. Bennet estava deitada em uma mesa de cirurgia enquanto os cirurgiões
tentavam salvar sua vida.
As portas do elevador se abriram, me afastando da minha turbulência
interna e Flick me conduziu para dentro.
— Como você está? — ela me perguntou.
— Sinto que estou no meio de um pesadelo — falei baixinho. — Como se
a qualquer momento eu fosse acordar e perceber que nada disso é real.
Mas era real e não ia desaparecer.
— Pelo menos pegaram o Jermaine. Você não precisa mais se preocupar
com ele.
Estranhamente, isso não me fez sentir melhor.
Saímos do elevador alguns segundos depois, e eu o vi imediatamente.
— Asher... — sussurrei. Seu nome era como um suspiro de dor em meus
lábios. Ele estava encostado na parede, a cabeça inclinada para trás e os olhos
fechados. Alguém tentou limpar o sangue de suas mãos e rosto, deixando
manchas vermelhas no pescoço e nos braços.
Jason nos viu primeiro e seus olhos escureceram quando pousaram em
mim.
— Oi — ele disse se aproximando de nós. — Achei que tinha te dito...
— Jason — Flick avisou. — Ela tem todo o direito de estar aqui.
— Eu só quero vê-lo — funguei. — Quero saber como ele está.
— A mãe dele está na sala de cirurgia. Como você acha que ele está?
A culpa atingiu meu peito enquanto eu olhava boquiaberta para ele. Este
não era o cara que me abraçou, me oferecendo conforto e segurança. Este era
o formidável Jason Ford sobre o qual eu tanto ouvi falar. O cara que protegia
a si mesmo e guardava seu coração. O cara que não tinha medo de desenhar
linhas na areia entre ele e seus inimigos.
Eu estive do mesmo lado que ele até agora.
— Eu... — As lágrimas obstruíram minha garganta.
— Jason, isso não é justo.
— Justo? — Ele segurou Flick. — Nada disso é justo, baby. Tive que
segurar meu melhor amigo enquanto ele vomitava porque acha a mãe vai
morrer. Sabe como é isso?
Eles começaram a discutir, com as vozes abafadas e palavras ásperas
vindas do medo e da frustração. Avancei pelo corredor, desesperada para que
Asher olhasse para mim. Precisando que ele reconhecesse que eu estava aqui.
Mas quando seus olhos finalmente encontraram os meus, não havia nada
além de dor.
Ele se afastou da parede e começou a se mover em minha direção. Eu
queria correr para ele, me jogar em seus braços e implorar para que ele nunca
mais me largasse. Mas não movi um músculo.
— Oi — eu disse ao mesmo tempo em que ele falou:
— Mya.
Dei um sorriso, sentindo o alivio em cada fibra do meu ser por ele estar
aqui comigo.
— Vim imediatamente — as palavras saíram de forma precipitada. — Há
alguma novidade?
Asher engoliu em seco, passando a mão pelo cabelo sujo de sangue.
— Ainda não.
— Sinto muito — sussurrei, dando um passo à frente para abraçá-lo.
Eu precisava tocá-lo para saber que ele estava bem.
— Mya. — Asher deu um passo para trás. — Você não deveria ter vindo.
— O quê? — Envolvi minha cintura com os braços, mas não estava me
protegendo desta vez, eu estava me segurando.
— Você não pode ficar aqui.
— Mas eu vim... por você. Quero estar aqui com você, Ash... estou aqui
para te apoiar. — Eu estava divagando, mas tudo estava escorregando pelos
meus dedos.
— Você deveria ir.
Ir?
Ele queria que eu fosse embora?
Não fazia sentido.
Ele precisava de mim.
Precisávamos um do outro.
— Mya, por que não descemos para o café e tomamos uma bebida? —
Felicity segurou meu braço com gentileza.
— Asher? — sussurrei quando seu olhar arrasado se desviou para o chão.
— Você já fez o suficiente, Mya — ele falou de forma categórica, ainda
se recusando a olhar para mim. — Você deveria ir.
— Vamos lá, vamos ver se há alguma novidade. — Jason passou o braço
em volta do ombro de Asher e começou a conduzi-lo de volta para a área de
espera.
— Asher, espere... — implorei.
— Mya, não faça isso, não aqui — minha melhor amiga falou baixinho.
— Vamos. — Ela passou o braço em volta de mim e me levou para o
elevador.
— O-o que aconteceu? — perguntei no segundo que as portas fecharam,
sentindo meu coração se partir.
— Ele está confuso, Mya. Dê-lhe tempo.
— Tempo — repeti, entorpecida.
Eu poderia dar-lhe tempo.
Daria a ele todo o tempo do mundo se achasse que isso resolveria alguma
coisa.
Mas vi o vazio em seus olhos. Nenhuma quantidade de tempo iria
consertar isso.
Nada resolveria.
Dei meu coração para o garoto com um sorriso encantador. Mas Asher
não estava mais sorrindo.
E meu coração não estava mais completo.
TRINTA
Asher
— ELA ESTÁ ESTÁVEL.
Três palavrinhas que pareciam tudo e nada ao mesmo tempo. Os
cirurgiões operaram minha mãe por mais de três horas, removendo uma única
bala de seu pescoço. Ela havia se alojado em sua garganta, causando grave
perda de sangue. Depois que ela teve uma parada cardíaca na mesa de
operação, decidiram induzir ao coma para tentar minimizar os danos ao seu
cérebro. Não era uma boa notícia, mas ela estava viva, e isso era tudo que
importava.
— Gostariam de vir vê-la? — A enfermeira com olhos bondosos olhou
entre mim e meu pai. Ele assentiu. — Me sigam.
Meus amigos sussurraram palavras de encorajamento enquanto eu seguia
a enfermeira e meu pai pelo corredor. Cada músculo do meu corpo doía e
meu peito estava pesado. Meus olhos estavam secos e doloridos por todas as
lágrimas. Mas quando a enfermeira parou do lado de fora de uma sala
privada, com as cortinas fechadas, respirei fundo, me preparando para o que
quer que encontrássemos do outro lado da porta.
— Antes de entrarmos — ela disse —, vocês devem se preparar. A sra.
Bennet foi submetida a uma cirurgia de emergência. Haverá muitos fios e
tubos, mas estão todos lá para ajudá-la, certo?
— Gostaria de ver a minha esposa agora. — Estremeci com a frieza do
meu pai, mas se isso afetou a enfermeira, ela não demonstrou.
Achei que ela estava acostumada a ver as pessoas no seu pior em um
lugar como este.
Ela empurrou a porta e nos levou para dentro.
— Ela parece mais em paz do que eu esperava — as palavras saíram
sufocadas enquanto eu me movia para ficar ao lado dela. — Oi, mãe, estou
bem aqui. — Fui segurar sua mão, hesitando quando percebi o cateter
desaparecendo em sua pele.
— Está tudo bem, Asher, vá em frente.
Segurando suavemente sua mão na minha, deixei meus olhos percorrerem
seu rosto, engolindo o enorme soluço que se formou na minha garganta.
— Vou dar um tempo a vocês. Se precisarem de alguma coisa, basta
apertar a campainha.
— Obrigado — eu disse, ciente de como meu pai estava quieto.
A enfermeira nos deixou em silêncio. Nada além do zumbido suave e bip
constante das máquinas ajudando a manter minha mãe estável.
— Isso é culpa sua, filho — a voz de meu pai não vacilou. Ele não gritou,
desabou e chorou. Ele estava completa e totalmente desprovido de qualquer
emoção.
No entanto, eu sabia que era uma atuação. Outra apresentação em que ele
se recusava a me deixar ver seus verdadeiros sentimentos.
— Pai, eu...
— Você trouxe aquela garota e o namorado bandido para nossas vidas.
Eu disse a você... disse que ela iria arruiná-lo.
A culpa me atingiu, apertando meu coração.
— Isso não era para acontecer.
— Mas aconteceu. — Suas palavras soaram repletas de decepção. — Sua
mãe pode nunca se recuperar, e para quê? Porque você queria provar um
ponto e sair com a garota Hernandez.
Não era nada disso. Mas as palavras me faltaram. Era difícil discutir com
ele quando minha mãe estava deitada lá, conectada a máquinas por causa de
Jermaine. Um cara que nunca teria entrado em nossas vidas se não fosse por
Mya.
A dor me estilhaçou. Não achei que fosse possível me sentir mais
magoado do que quando vi meu pai embalando o corpo de minha mãe,
coberta de sangue e com o medo brilhando em seus olhos. Mas eu estava
percebendo que não havia um limite para quanta agonia uma pessoa poderia
sentir. Não só quase perdi minha mãe esta noite, como também perdi Mya. A
única pessoa que fazia tudo parecer mais brilhante agora era a única pessoa
que seria para sempre uma lembrança desse momento. De ficar aqui olhando
minha mãe sem vida e pálida em uma cama de hospital.
Afastei todos esses pensamentos da minha cabeça. Agora, eu precisava
me concentrar na minha família.
— Preciso fazer uma ligação — meu pai disse de repente, andando pelo
quarto. — Vai ficar com ela?
— Claro.
— Já volto. — Seu tom era frio, provocando calafrios na minha espinha.
Eu me deixei cair na cadeira ao lado dela e inclinei a cabeça para trás,
fechando os olhos. As últimas quatro horas pareceram um pesadelo. Pessoas
em Rixon não eram baleadas. Mas não foi um sonho, e minha mãe foi
baleada pelo ex da minha namorada. Era difícil de acreditar que há apenas
alguns dias eu estava planejando nosso futuro e agora não conseguia pensar
além da próxima hora ou depois disso.
Meu celular vibrou, e eu o tirei do bolso, estremecendo com o sangue
ainda em minhas mãos.
Sangue da minha mãe.

MYA: A Felicity me disse que sua mãe está estável. Isso é bom, Ash... muito
bom. Estou pensando em vocês dois. Você sabe onde estou se precisar de
mim. Bjo.

FIQUEI OLHANDO para a tela por alguns segundos, antes de desligá-la e


colocá-la na mesinha de cabeceira. Minha cabeça não estava no lugar para
lidar com Mya, ainda não. As coisas eram diferentes agora, eu sabia disso.
Ela também precisava saber. Mas eu não queria dizer algo de que pudesse me
arrepender mais tarde.
Passando a mão pelo rosto, voltei o olhar cansado para minha mãe
novamente. Era inconcebível como alguém que parecia tão em paz pudesse
estar caminhando na linha tênue entre a vida e a morte.
— Você tem que se recuperar — sussurrei, as palavras rasgando meu
coração. — Preciso de você, mãe. Eu preciso de você.
Ela era a única coisa redentora em nossa família, a cola que unia nosso
estado frágil. Sem ela, não seríamos nada.
As lágrimas rolaram pelo meu rosto enquanto deixei meus piores medos
tomarem conta.
Ela tinha que sobreviver.
Porque se não, o buraco que ela deixaria para trás seria irreparável.

QUATRO DIAS.
Me sentei ao lado da minha mãe por quatro dias, esperando, torcendo e
rezando para que os médicos nos dessem as notícias que queríamos ouvir.
Mas quatro dias se passaram e nada mudou.
Sua condição era estável, mas os médicos não queriam acordá-la de
forma prematura por medo de danos em seu cérebro devido à severa perda de
sangue.
— Ei, cara — Cam entrou no quarto, me trazendo um café fresco. Eu
vivia disso, uma vez que ninguém aprovaria se eu me sentasse aqui com uma
garrafa de uísque.
— Obrigado. — Tomei um gole, mal sentindo o gosto.
— Como ela está?
— Na mesma. — Esfreguei o rosto. — É estranho, sabia? Estou
acostumado a não tê-la por perto. Mas isso é uma tortura do caramba. Saber
que ela está bem ali, mas talvez nunca... — Engoli a onda de lágrimas.
— Ela vai superar isso, Ash.
— Sim, talvez. — Eu podia sentir a tristeza invadir meus pensamentos.
Eu queria ser positivo e ouvir quando os médicos diziam que era o melhor
cenário agora. Mas era muito difícil quando ela estava deitada ali, parada.
Sem vida.
— O time todo mandou boas vibrações. Eles querem vir mostrar seu
apoio, mas o treinador disse para esperarem até que você esteja pronto.
— Eu não estou — falei depressa. — Agradeço, mas não estou pronto
para eles estarem aqui. Você e o Jase são diferentes, mas não o resto da
equipe, ainda não.
— Entendo. Mas saiba que ela está nos pensamentos de todos. Vocês dois
estão.
— Obrigado, cara.
— Como seu pai está lidando com isso?
— Você teria que perguntar a ele — resmunguei.
— Tão ruim assim, é?
— Nós não conversamos muito. Ele me culpa.
— Vamos, Ash, isso... não foi sua culpa.
— Não? — Arqueei a sobrancelha. — Se eu não tivesse ficado com a
Mya, o Jermaine nunca teria...
— Você não pode pensar assim e nem mudar o passado. — Ele me
lançou um olhar penetrante, mas não pude suportar sua simpatia. A pena em
seus olhos. — Você falou com ela? — ele perguntou.
— Ela me mandou mensagens de texto algumas vezes, mas,
honestamente, ela é a última das minhas preocupações agora.
— Asher — ele soltou um suspiro pesado. — Isso não é justo e você
sabe.
— Justo?— Eu zombei, fazendo um som estrangulado na minha garganta.
— Nada disso é justo. A minha mãe era inocente, Cam. Ela não deveria ter
sido atingida.
— Ninguém deveria ter sido atingido — ele disse. — E sinto muito que
tenha acontecido, sinto muito mesmo. Mas você a ama, cara. O que
aconteceu não muda isso.
— Não?
— A Mya te ama, e ela está se escondendo na casa da tia... — ele hesitou,
deixando suas palavras sumirem.
— Se escondendo?
— Não é nada, esqueça. — Cam esfregou o rosto, mas vi um lampejo de
culpa em seus olhos. — Você precisa se concentrar na sua mãe. Nós podemos
cuidar do resto.
— Cuidar do quê?— Eu o encarei com um olhar duro. — O que você não
está me dizendo?
— Sério, cara, eu não deveria ter dito nada. Esqueça.
— Cameron...
Ele soltou um suspiro exasperado.
— Você sabe como as pessoas podem ser por aqui. Sua mãe e seu pai são
como celebridades de Rixon.
— Cam, o que foi que aconteceu? — Um grunhido retumbou em meu
peito.
— A Felicity e a Hailee levaram a Mya para tomar sorvete no Ice-T’s.
Houve um incidente.
— Com a Mya? — Meu peito se apertou, e esfreguei o esterno.
— Algumas garotas falaram merda para ela. Ficou feio. Tim não queria
problemas, então pediu a Mya para ir embora.
— Puta merda. — Bati com a mão do outro lado da cama, sentindo a dor
irradiando pelos nós dos dedos. Felizmente, não era a mão já estourada.
— Felicity e Hailee discutiram com ele, mas ela está com a tia desde
então.
— Talvez seja o melhor — murmurei, embalando minha mão. — Talvez
ela devesse simplesmente voltar para Fallowfield Heights.
— Sério? Você quer que ela vá embora?
— Como vou resolver isso, Cam? Me diga o que eu devo fazer aqui? —
Minha voz estava estridente, repleta de desespero. — Porque, pelo que
aconteceu, minha mãe fica boa e não vai querer nada com a garota que trouxe
isso até a nossa porta, ou ela não fica e... — Eu não conseguia nem dizer as
palavras, sentindo o caroço na minha garganta ficar muito grande.
Engolindo, respirei fundo algumas vezes.
— Não é fácil, eu sei...
— É impossível. — A frustração cresceu dentro de mim. — Se tento
consertar as coisas com a Mya, é como se estivesse escolhendo a ela em vez
de minha mãe. E se eu simplesmente terminar as coisas com ela, sou como
qualquer pessoa que a decepcionou. Mas é a minha mãe, Cam. A única
pessoa na minha vida que se sacrificou por mim.
Uma carranca cruzou sua expressão.
— O que você quer dizer?
— Não importa — falei, repleto de tristeza. — Odeio que a Mya esteja
passando por isso, mas não posso ser quem ela precisa agora. Não até minha
mãe acordar.
E talvez nem quando isso acontecer, as palavras estavam na ponta da
minha língua.
Cam se levantou, me oferecendo um sorriso triste.
— Sabe, amo você como um irmão, Ash, amo mesmo, e odeio que isso
esteja acontecendo. Mas sei o que é quase perder alguém que você ama,
sentir que ela está escorregando por seus dedos, e sei o que é querer e
precisar, ter alguém para culpar. Mas isso não é culpa da Mya. Ela veio para
Rixon para escapar do ex psicopata. Coloque-se no lugar dela por um
segundo...
— Cameron, eu não...
— Não, mano, você precisa ouvir. Algo está acontecendo com você, algo
grande. Você acha que não, mas percebemos. E vou arriscar e dizer que tem
algo a ver com o seu velho. Ele deixou bem claro que não aprova a Mya. Mas
não deixe isso — seus olhos se voltaram para minha mãe — dar a munição de
que ele precisa para fazer você terminar as coisas com ela. Você encontrou
sua garota, Asher. Não a deixe escapar só porque as coisas ficaram difíceis de
repente. Você precisa dela assim como ela precisa de você. E se não tentar
consertar as coisas com ela, no futuro, quando sua mãe estiver melhor e isso
não passar de um pesadelo, você vai se arrepender.
— Cam?
— Sim?
— Pode ir agora — eu disse.
Ele hesitou, e o desapontamento apareceu em sua expressão. Parte de
mim queria que ele me pressionasse, que me fizesse ouvir suas palavras.
Afinal, ele estava apenas me dizendo a verdade.
Mas havia um grande problema com isso.
A verdade doía
E eu estava no limite da minha dose diária de dor.
TRINTA E UM
Mya
— CHEGA — minha tia irrompeu em meu quarto. — Você vai sair dessa
cama, nem que eu tenha que te arrastar. — Ela veio em minha direção como
um touro, e eu me endireitei, estendendo as mãos.
— Tudo bem, tudo bem, estou me levantando.
— Graças ao Senhor.— Ela recuou. — Estou quase enlouquecendo de
preocupação com você.
— Sinto muito, tia — sussurrei. — Eu só... — As lágrimas escorreram
dos meus olhos, e eu agarrei um travesseiro, enterrando o rosto nele.
Eu odiava isso.
O buraco permanente no meu estômago, as lágrimas intermináveis e uma
dor avassaladora no coração.
Quase uma semana se passou.
Sete dias sem Asher ao meu lado, me garantindo que poderíamos superar
isso. Sete dias sem saber se ele falaria comigo novamente, muito menos se
me perdoaria.
Sete dias miseráveis sem o cara que passei a amar mais do que tudo.
Se não fosse por Felicity e Hailee, eu poderia ter enlouquecido de
preocupação. Elas me mantiveram informada sobre a condição de sua mãe. O
que não mudou desde que ela saiu da cirurgia.
No início, tentei me manter ocupada. Continuar com a vida normalmente.
Consegui por quatro dias. Quatro dias até que Kellie Ginly e suas amigas da
ginástica me encurralaram no Ice-T’s e me atacaram como se fosse eu quem
tivesse puxado o gatilho. A escola foi difícil o suficiente naquele dia, com um
ataque de sussurros e olhares. Mas não foi nada comparado a ter Kellie na
minha cara, me dizendo que arruinei a vida de Asher.
Eu não conseguia me lembrar de uma vez em que deixei alguém me
menosprezar como ela fez. Mas fiquei lá, aceitando seus abusos e insultos,
deixando-os penetrar em meu coração. Porque me senti parcialmente
responsável. Parte de mim, não importava o quanto fosse equivocado ou
irracional, parecia acreditar que merecia sua ira. Ela era do grupo de Asher
muito antes de eu chegar a Rixon.
E eu?
Eu era apenas a garota negra que veio do gueto e arruinou a vida dele.
— Eu sei, criança, eu sei. — Minha tia se sentou na minha cama,
envolvendo seus braços esguios ao meu redor. — O amor é uma coisa cruel e
perversa. Mas isso não é sua culpa, Mya, está me ouvindo? — Passando os
dedos por baixo de minha mandíbula, ela inclinou meu rosto para cima. —
Me diga que você sabe disso.
— Eu... eu sei.
— Você precisa acreditar também. O que aconteceu com a sra. Bennet
não foi nada além de um trágico acidente. Eu e as senhoras da igreja temos
orado por ela.
— T-têm?
Ela estalou a língua.
— Não pareça tão surpresa. Só porque esta cidade nunca me recebeu de
braços abertos, não significa que eu desejaria mal a alguém. Somos todos
filhos de Deus, Mya. Um fato que algumas das boas pessoas de Rixon
parecem se esquecer. Ele já ligou?
— Não. — Balancei a cabeça, sentindo a vergonha e o constrangimento
queimarem em mim.
— Se ele vale o seu amor, ele vai ligar. E se ele não ligar, você vai saber
que ele não vale.
— Ele me culpa.
— Não, ele não culpa. Mas às vezes, culpar alguém é mais fácil do que
aceitar a verdade.
— Acho que isso é um castigo. Que estou pagando o preço por deixar
Fallowfield Heights e abandonar o Jermaine.
— Mya, Mya, Mya, para uma garota brilhante e inteligente, você
realmente é uma idiota às vezes. Isso não é castigo. É a vida. E a vida pode
ser difícil, confusa e dolorosa. Você saiu de Fallowfield Heights porque sabia
que se ficasse, acabaria se machucando de novo, ou coisa pior. Não há vida
para uma garota como você lá. Sua mãe sabia disso. Keelan também. E, no
fundo, Jermaine também sabia. Nunca se sinta culpada por ter ido embora.
Porque você tomou a decisão difícil e partiu.
— Por que ele simplesmente não me deixou ir? — Chorei, me agarrando
a ela. — Por que ele teve que voltar?
— Porque embora você fosse forte o suficiente para deixá-lo, ele era
fraco. Jermaine vai pagar por seus pecados, Mya. De uma forma ou de outra,
ele vai pagar.
Mesmo agora, isso não me fez sentir melhor. Havia muita dor e
sofrimento.
— Sua orientadora telefonou — tia Ciara disse. — Ela gostaria de ver
você amanhã, se você quiser.
Secando os olhos, eu assenti.
— Eu deveria voltar para a escola de qualquer maneira.
— Essa é a minha garota. Nunca se esqueça de quem você é e de onde
veio, Mya. Nascer e ser criada em Fallowfield Heights faz parte de quem
você é, mas não te define.
— Obrigada por tudo.
— Para minha sobrinha favorita, a qualquer hora. — Sua risada me fez
sorrir. Tivemos um período difícil recentemente, mas éramos uma família, e
não importa o que acontecesse, eu sabia que ela estaria lá para mim.

— OI — eu disse enquanto caminhava até Felicity, Hailee e os caras.


— Mya, graças a Deus. — Felicity me envolveu em um abraço. — Eu
estava tão preocupada.
— Estou bem. — Eu não estava, mas ficaria.
Tinha que ficar.
— Oi, Mya. — Hailee me abraçou, parecendo preocupada.
— Como ele está? — perguntei, meus olhos encontrando as duas pessoas
que o conheciam melhor do que ninguém. Mas fui saudada com silêncio.
Eventualmente, Jason pigarreou.
— Tenho que ir, te vejo mais tarde. — Ele beijou Flick antes de entrar no
prédio.
— Fiz algo de errado? — Segurei a alça da mochila.
— Não é você. — Felicity me deu um sorriso caloroso, mas eu sabia que
ela estava mentindo. Jason me culpava. Como todo mundo na cidade.
— Tenho uma reunião com a srta. Hampstead, vejo você mais tarde. —
Me afastando delas, mantive os olhos baixos, tentando bloquear o zumbido
de sussurros me seguindo.
Ouvi dizer que ela está em uma gangue.
A bala era destinada a Asher.
Ela deveria voltar para o lugar de onde veio antes que mais alguém
acabe se machucando.
Mas minha casca grossa estava desgastada e não importava o quanto eu
tentasse ignorá-los, suas vozes soavam mais alto.

— MYA, entre.
A srta. Hampstead gostava de prestar serviços com um sorriso e hoje,
apesar das circunstâncias, não foi diferente. Acho que esse era um pré-
requisito para ser orientadora escolar. Era preciso sorrir de qualquer maneira.
— Como você está?
— Estou aguentando, se é isso que você quer saber.
— E o Asher, ele está...
— O Asher está se concentrando em sua mãe.
Ela se encolheu.
— Claro. Bem, eu só queria ter certeza de que você estava bem. Sei com
que rapidez os boatos circulam pelos corredores da escola, quanto mais pela
cidade.
— Não é nada que eu não possa suportar.
Há quatro meses, eu teria acreditado nisso. Mas foi antes do Asher
derrubar minhas paredes e se enterrar no fundo do meu coração.
— Quer falar sobre isso? — A expressão dela suavizou enquanto ela
relaxava na cadeira.
— O que há para dizer?
— Ah, não sei. Muitas coisas, devo imaginar. Como você se sentiu ao ver
Jermaine novamente? Como você se sente agora que ele foi preso com a
probabilidade de passar muito tempo atrás das grades? Acredito que isso
colocou uma grande pressão em seu relacionamento com o Asher. Talvez
devêssemos começar por aí?
— Quer saber como me sinto? — A srta. Hampstead assentiu, e eu
suspirei. — Estou cansada. — Apertei os lábios enquanto um vórtice de
emoção girava dentro de mim. — Estou cansada das pessoas pensando que
sabem tudo sobre mim e sobre a minha vida. Estou cansada de ser julgada
pela cor da minha pele e não pelo que está por baixo dela. Estou cansada de
ouvir as pessoas me perguntando como estou, sabendo que provavelmente
não vão gostar da minha resposta. Mas, acima de tudo, estou com medo.
Estou com tanto medo que a Juli... a sra. Bennet não fique boa, que eu perca
o Asher para sempre e que eu nunca mais seja capaz de andar na rua sem que
as pessoas olhem para mim como se eu tivesse puxado o gatilho. Então, sim,
é assim que estou me sentindo.
O silêncio nos envolveu enquanto minhas palavras e minha dor pesavam
no espaço entre nós.
— Isso é... muito para você carregar.
Tamborilei os dedos na coxa, desesperada para escapar de seu escritório,
mesmo que parte de mim quisesse ficar aqui para sempre.
— Talvez algum tempo de folga...
— Você acha que eu deveria me esconder? — zombei, me sentindo
indignada. — Essa é a sua solução?
— Mya, acalme-se.
Fiquei louca.
— Não me diga para me acalmar. Meu ex-namorado apareceu e ameaçou
meu namorado atual e sua família com uma arma. Com uma arma, srta.
Hampstead. A sra. Bennet foi baleada, tudo está desmoronando ao meu redor
e não sei como devo lidar com isso. — Meu peito arfou enquanto eu colocava
para fora toda a frustração, raiva, medo e dor de cabeça.
Asher não precisava me dizer o que, no fundo, eu já sabia.
Independentemente do que acontecesse com sua mãe, nosso
relacionamento havia acabado.
Sempre haveria uma parte dele que me culparia, assim como sempre
haveria uma parte de mim que me culpava. Não poderíamos seguir em frente
com isso. Mesmo que conseguíssemos lidar com isso e encontrássemos nosso
caminho de volta um para o outro, isso sempre estaria lá. Apodrecendo ao
fundo como uma ferida que se recusava a cicatrizar. Se espalhando ainda
mais com o tempo. Seu veneno sangrando lentamente em tudo ao seu redor.
— Aqui. — Ela empurrou a caixa de lenços em minha direção. — Se
sente melhor?
— Um pouco, eu acho. — Dei de ombros, indiferente, surpresa com o
quanto meu peito parecia mais leve.
— Você precisa falar, Mya. Se não for comigo, então com uma amiga ou
sua tia. Você já passou por muita coisa e ainda não acabou.
— Eu sei.
A polícia gostaria que eu testemunhasse contra Jermaine. Eu era uma
testemunha crucial. Mas testemunhar contra ele poderia me tornar um alvo
novamente. Especialmente se a polícia usasse suas relações com gangues
para construir o caso.
— Minha porta está sempre aberta, seja lá o que você decida. E tente se
lembrar que quando as pessoas te julgam, isso diz mais sobre o caráter delas
do que do seu.
— É essa a sua maneira de dizer que terminamos? — Consegui dar um
sorriso hesitante e a srta. Hampstead deu uma risadinha.
— Tenho a sensação de que já nos aprofundamos o suficiente hoje. Sei
que isso é difícil e as coisas parecem que nunca vão se resolver, mas você vai
superar.
— Obrigada. — Pegando minha mochila, me levantei e me preparei para
a aula. Porque algo me dizia que se eu quisesse sobreviver nas próximas
semanas na escola, precisaria de toda a força que pudesse conseguir.

— EI, Mya — Cameron correu ao meu lado quando eu estava saindo da


escola. Foi um alívio quando o sinal final tocou e pude escapar dos
constantes sussurros e olhares.
— Oi. — Isso não foi estranho, de jeito nenhum.
— Podemos conversar? — ele perguntou.
— Eu estava indo para casa a pé, mas não recusaria uma carona. —
Estava frio e graças a uma dieta de biscoitos salgados e leite, meus níveis de
energia estavam baixos.
— Vamos. — Cameron sorriu, liderando o caminho para seu carro. —
Damas primeiro. — A porta do passageiro se abriu, e ele fez sinal para que eu
entrasse.
— Posso ver por que a Hailee te ama.
— Eu tento. — Ele riu, indo para o lado do motorista. — Como você
está? — Cameron perguntou enquanto dirigia para fora do estacionamento.
— Não vou mentir. Tem sido dias difíceis.
— Sabe, conversei com ele e tentei fazê-lo ver que não é sua culpa.
— Você não precisava fazer isso. — Minha voz tremeu, mas me forcei a
afastar as lágrimas. Já chorei o suficiente.
— Sim, eu precisava. O Asher precisa de você, Mya. Mais do que ele
imagina. Algo está diferente com ele neste semestre. Ele está... distante e
fechado, e sinto a tensão crescente entre ele e o pai. No início, pensei que o
problema fosse você. Mas então ele nos disse que não iria se comprometer
com os Panthers e algo não se encaixa. Jason está certo, o futebol sempre foi
o sonho dele. Talvez eu e o Ash não tenhamos chance de nos tornarmos
profissionais como Jase, mas ainda está em nosso sangue.
— Por que você está me contando tudo isso, Cameron?
— Porque eu sei que ele está te afastando e sei que você vai deixar. E eu
entendo, entendo de verdade. Mas o que vocês dois têm, é algo pelo que vale
a pena lutar.
— Não posso ser a única a lutar. — Inclinei a cabeça para trás e uma
respiração brusca deixou meus lábios. — Todo mundo me disse que ele me
machucaria. Minha tia, meus amigos em casa, até mesmo a srta. Hampstead
me avisou sobre me envolver com um Raider.
— Você está falando como se já tivesse desistido. — Seu olhar pesado
queimou na lateral do meu rosto, mas não olhei para ele.
Eu não poderia.
— Ele nem sequer responde às minhas mensagens, o que você quer que
eu faça?
— Ações falam mais alto que palavras, Mya. Ele está em uma situação
ruim, e estou preocupado que se alguém não o tirar dela logo, vamos perdê-
lo.
Suas palavras foram como uma faca em meu coração. Já me afastei de um
garoto que amava para me salvar, mas será que posso fazer isso de novo?
Asher não era Jermaine. Ele nunca me machucaria de propósito, mas o
universo era cruel e implacável, e aqui estávamos nós, enfrentando o teste
final.
Um teste do qual eu não tinha certeza se sobreviveria.
Mas se isso significasse salvar Asher...
— Vou pensar a respeito — falei, antes que pudesse conter as palavras.
— Isso é tudo que eu peço. — Cameron me deu um aceno gentil. — Isso
é tudo que qualquer um de nós pode pedir.
TRINTA E DOIS
Asher
— OUTRO, J. — Bati no copo vazio e o empurrei na direção dele.
— Chega, filho. Já deixei você beber mais do que deveria.
— Vamos, Jerry. Você sabe o que aconteceu. Você sabe que a minha mãe
está... puta merda. — Passei os dedos em meu cabelo, puxando as pontas em
frustração. A dor foi um alívio bem-vindo da dormência constante em meu
peito.
— Eu realmente sinto muito, garoto, mas você não receberá mais bebidas
de mim. Você deveria ir para casa, filho, tomar um banho frio e...
— Quer saber, J, vá se foder. — Empurrei o banco para trás e me
levantei, cambaleando.
— Opa. — Jase agarrou meu braço me firmando. — Está tudo bem aqui?
— Ele me olhou e depois olhou para Jerry.
— Se certifique de que ele chegue em casa, tá?
— Pode deixar. — Passando o braço em volta da minha cintura, Jason
começou a me arrastar em direção à porta, mas parei no último segundo,
olhando por cima do ombro. A sala inteira estava girando, mas eu podia ver
Jerry. Dois Jerry, na verdade. — Sinto muito — gritei — sobre antes.
Ele acenou para mim como se não fosse nada. Mas era.
Era muita coisa.
Era a escuridão roendo minha alma. O buraco crescendo no meu
estômago a cada dia que passava e minha mãe não acordava.
— Vamos lá, cara, estou com você. — Jason me ajudou a sair do bar e
entrar em seu carro. Me sentei com um baque, apoiando a cabeça contra o
assento de couro. — Você não ligou — ele disse ao entrar. Ele e Cameron
estavam por perto o máximo que podiam, mas também tinham suas vidas.
Escola, namoradas e família para se preocuparem. Além disso, eu sabia que
era uma péssima companhia, caindo cada vez mais no buraco que tentava
desesperadamente me engolir.
— Eu só precisava de um pouco de espaço, sabe?
— Vou te levar para casa.
— Não, não. — Minha voz falhou. — Qualquer lugar menos lá, por
favor. Não posso ficar lá.
Ele soltou um suspiro pesado, passando a mão pelo rosto.
— Poderíamos ir para a minha, mas a Denise está lá com algumas amigas
enquanto meu pai está fora da cidade.
— Me leve a qualquer lugar. Não me importo. — Apoiei a cabeça contra
a janela e fechei os olhos. O álcool parecia uma boa ideia quando eu apareci
no Bell’s há quase duas horas. Mas, à medida que o zumbido passava, tudo
parecia se multiplicar. Era demais para um cérebro aguentar e eu queria
arrancar minha pele apenas para poder respirar.
— Estou perdendo o controle — murmurei, apertando os olhos com tanta
força que a pele ao redor do meu rosto se comprimiu.
— Você não está perdendo o controle. Você está sob uma quantidade
imensa de estresse.
— Não paro de sonhar que ela se foi. Acordo e vou para o quarto dela,
encontrando a cama recém-feita.
— Ela não se foi, Asher. E você não vai perdê-la. Sua mãe vai melhorar,
eu realmente acredito nisso.
Depois disso, dirigimos em silêncio. Eu sabia que Jason tinha um monte
de outras coisas que queria dizer, mas eu não estava com um humor
receptivo.
Quando paramos na casa de Felicity, finalmente quebrei o silêncio.
— Que merda é essa?
— É a casa da minha namorada — ele brincou.
— Eu sei, mas o que estamos fazendo aqui?
— Você não queria ir para casa e não podíamos ir para a minha com a
Denise e as amigas dela lá, então eu te trouxe para a opção C.
— Não posso entrar aí. — Balancei a cabeça.
— Fique tranquilo. Os pais dela estão fora, e ela está sozinha em casa
estudando.
— Tem certeza disso? — Eu não poderia perguntar o que estava na ponta
da minha língua. Mas ele sabia.
Claro que ele sabia.
— Ela não está aqui, não precisa se preocupar.
Voltei a olhar para a casa. Parte de mim odiava ter me sentido aliviado
por Mya não estar aqui, mas eu não conseguia lidar com ela. Ainda não.
— Tem bebida alcoólica? — perguntei, já sentindo os efeitos
entorpecentes do uísque passando.
— O pai dela pode ter uma ou duas cervejas na geladeira, mas acho que
você já bebeu o suficiente.
— Terei bebido o suficiente quando desmaiar e esquecer o show de
merda que é a minha vida.
Ele revirou os olhos, abriu a porta do carro e saiu. Eu realmente não
queria ver Felicity. Mas era melhor do que ficar em casa ouvindo o som do
relógio, o zumbido da geladeira. Ouvindo tudo que não era o telefone
tocando com notícias da minha mãe.
Xingando baixinho, saí do Dodge Charger e segui Jase até a garagem dos
Giles. Ele bateu e segundos depois, a porta se abriu.
— Você está péssimo — ela me disse, e a pena em seus olhos era demais
para suportar.
— Olá para você também — respondi, de repente muito mais sóbrio do
que há dois minutos.
— Bem, não fique aí a noite toda. Os vizinhos vão falar. — Ela me
chamou para entrar. Jason recuou, encostado na parede. Sem dúvida,
assistindo com diversão enquanto Flick me tratava como um aluno
desobediente.
No segundo em que entrei, ela me puxou para seus braços, me abraçando.
— Vai ficar tudo bem — ela sussurrou. — Você vai ficar bem. — Eu me
permiti aceitar sua oferta de conforto. Era estúpido, mas eu precisava do
toque de uma mulher.
Eu precisava da minha mãe.
A bile subiu pela minha garganta, mas eu a engoli.
— Obrigado — consegui grunhir, finalmente me soltando dos braços de
Felicity.
— Eu teria ido ao hospital de novo, mas o Jason disse...
— Sim, desculpe por isso. Eu só... é difícil.
— Eu sei. — Ela me deu um sorriso triste. — Mas se precisar de mim,
tudo o que você precisa fazer é ligar.
— Acho que o Jase pode ter algo a dizer sobre isso. — Inclinei o canto da
minha boca. Foi a primeira piada que contei em dias.
— Nada, cara. — Jase fechou a porta e deu a volta para ficar ao lado de
Flick. — Estamos aqui para ajudá-lo, no que você precisar.
— Seu pai tem uísque? — perguntei a Felicity. — Eu realmente gostaria
de uma dose agora.
— Asher, isso não vai ajudar. — Ela franziu o cenho. — Mas tenho uns
biscoitos caseiros.
Meu estômago roncou.
— Aqueles com gotas de chocolate?
— Venha, vamos ver o que posso encontrar.
Jase se aproximou e colocou o braço em volta do meu ombro.
— Tudo vai ficar bem, Ash — ele disse como se realmente acreditasse
nas palavras.
Eu só queria poder acreditar nelas também.

— ONDE VOCÊ ESTEVE? — grunhi para o meu pai quando ele entrou no
quarto da minha mãe. Parecia mais familiar do que nossa casa ultimamente,
mas eu passava cada minuto acordado aqui. Até as enfermeiras começarem a
insistir que eu saísse para tomar banho, comer e fazer todas as coisas que
precisava para cuidar de mim mesmo. Mas eu não me importava comigo
mesmo.
Eu me preocupava com a mulher dormindo na cama. Só que ela não
estava dormindo, não realmente.
Meu pai mexeu na gravata e eu soube exatamente onde ele estava.
— Trabalho — rebati. — Você tem trabalhado.
— Cuidado com o tom, filho — ele disse. — Os negócios não param
apenas porque... — Ele olhou para minha mãe, empalidecendo. — Como ela
está?
Surpreso com sua relutância em discutir comigo, respondi:
— A mesma coisa. Os médicos disseram que estão pensando em acordá-
la em breve, mas ainda é muito cedo para saber quais são os danos sofridos.
— Você falou com os médicos? — Foi a vez dele de parecer surpreso.
— Bem, eles não podiam falar com você porque você não estava aqui.
— Asher, por favor. — Ele deu a volta na cama e se inclinou para dar um
beijo na cabeça de minha mãe. Era engraçado vê-lo tratá-la como algo frágil e
precioso. Se sentando na cadeira à minha frente, ele segurou a mão da minha
mãe. — É este lugar... eu não posso...
— Eu sei. — Mas enquanto meu pai escolheu fugir, eu escolhi ficar.
Eu sempre ficaria.
É o que nos tornava tão diferentes.
— Como você faz isso? Se senta aqui, dia após dia, observando-a como
se ela pudesse acordar a qualquer segundo, sabendo que não vai?
— Ela desistiu de tudo por mim — retruquei. — É o mínimo que posso
fazer por ela.
— Filho, quero que você saiba...
A porta se abriu e olhamos para ver quem estava entrando.
— Mya — o nome dela saiu dos meus lábios em uma lufada de ar.
— Você. — Meu pai saltou da cadeira. — Você não tem o direito de estar
aqui — ele gritou.
Mya arregalou os olhos, encarando a nós dois.
— Eu-eu vou embora. Isso foi um erro.
— Foi mesmo. Você já causou dor suficiente — meu pai fervia de raiva.
Mas não se aproximou dela. Graças a Deus, ele não se aproximou dela. Eu
não conseguia suportar a ideia de ele colocar uma das mãos sobre ela.
Ofegando, me movi ao redor da cama, me colocando entre ele e Mya.
— Me dê um minuto, pai — eu disse, mantendo meus olhos fixos nela.
Ela saiu do quarto e eu a segui, ignorando os resmungos de desaprovação
dele.
Mya não esperou. Ela continuou andando, quase correndo pelo corredor.
— Espere. — Segurei seu braço, puxando-a. — O que você está fazendo
aqui?
— Eu vim... — Sua voz vacilou e lágrimas não derramadas brilharam em
seus olhos. — Por você, Asher. Você não retornar minhas ligações ou
mensagens de texto. Não te vejo há dias. Eu só precisava saber que você
estava bem.
— Você não pode ficar — eu disse, ainda chocado por ela estar aqui
depois da maneira como eu a dispensei. Eu a ignorei por quase duas semanas.
No entanto, ela estava aqui. Parada na minha frente, me implorando em
silêncio para deixá-la entrar.
Puta merda.
Segurei minha coxa.
Ela sufocou um soluço, se virando para ir embora, mas agarrei seu braço
novamente, puxando-a para o lado.
— Eu não quis dizer... — Merda, o que eu quis dizer?
— Eu só precisava saber a verdade. — A expressão de Mya estava
desanimada.
— A verdade? Não entendi.
— Eu só precisava olhar nos seus olhos e ver. — Lágrimas silenciosas
escorriam por seu rosto, me destruindo de uma forma que eu não estava
preparado. — Você costumava me olhar com tanta adoração. Mas agora me
olha como se não aguentasse ficar perto de mim... como se me culpasse. E eu
entendo, entendo mesmo. Não há nada que eu queira mais do que tomar o
lugar da sua mãe. Mas não posso mudar o que aconteceu. Não posso fazer
nada. Então, ao invés de me sentar na casa da minha tia, louca de
preocupação com você, tive que vir e ver por mim mesma.
— Mya, isso não é justo...
— Nada disso é justo. — Ela deu de ombros. — Vou testemunhar, Asher.
Quero que saiba que farei tudo o que puder para garantir que você e sua
família tenham justiça pelo que aconteceu. Mas não vou me agarrar à
esperança de que as coisas entre nós um dia se resolvam. Não posso.
Passei a mão pelo rosto, tentando processar tudo o que ela estava dizendo.
— Você está terminando comigo? — Minhas palavras estavam repletas
de descrença.
— Não se pode terminar com alguém que você já perdeu, e eu perdi você
no segundo em que a arma disparou. — A dor brilhou em seus olhos, e eu
queria fazer algo – qualquer coisa – para tirá-la dali. Mas era como se minha
cabeça e meu coração estivessem em guerra. Meu coração sabia o quanto ela
era especial, o quanto precisávamos dela. Mas minha cabeça estúpida e
temerária olhou para Mya e viu Jermaine apontando uma arma para meus
pais e para mim. Vi minha mãe sangrando, aninhada nos braços do meu pai.
Era como se não importasse o quanto tentasse, eu não conseguia separar
os dois.
— Eu ia fazer isso, sabe? Ia aceitar uma vaga em Cleveland. Quero que
você saiba disso, Asher. Quero que saiba que eu ia escolher você. — Mya
afastou os cachos úmidos dos olhos e respirou fundo. — Eu realmente espero
que sua mãe tenha uma recuperação completa. Adeus, Asher.
Eu deveria ter ido atrás dela. Deveria ter dito a ela que poderíamos
resolver as coisas, que eu só precisava de um tempo para colocar a cabeça no
lugar.
Mas não fiz isso.
Fui covarde.
Fiquei lá enquanto Mya se afastava de mim pela última vez, sentindo meu
coração se partir novamente.
TRINTA E TRÊS
Mya
— AH, meu Deus, você soube? A mãe do Asher finalmente acordou. —
Kellie Ginly fixou os olhos em mim enquanto eu tentava me afastar dela e de
suas amigas, curvando a boca. — Ele ligou para me contar ontem à noite.
Vacilei por um segundo. Ele ligou para ela? Mas rapidamente afastei a
dor. Não era a informação importante que ouvi. A sra. Bennet estava
acordada e isso era tudo que importava.
— Isso é incrível, aposto que ele está muito aliviado. — Suas amigas
rapidamente explodiram em perguntas.
Como ela está?
Qual é o dano a longo prazo?
Ele vai voltar para a escola em breve?
Apoiei a mochila no ombro e segui pelo corredor. Três semanas se
passaram desde aquele dia no hospital quando Asher me deixou ir embora.
Eu não tinha ido até lá com a intenção de terminar as coisas entre nós, mas no
segundo que o sr. Bennet me viu ali, eu sabia que tinha que deixar Asher ir.
Eu já havia causado dor e sofrimento suficientes para sua família, e não ia
piorar as coisas.
O encerramento foi uma coisa boa. A notícia de que eu não era mais a
garota de Asher se espalhou rapidamente e dentro de alguns dias o interesse
das pessoas em mim diminuiu. Ainda havia sussurros e olhares, mas não era
nada a que eu não estava acostumada. Eu enchia meus dias com aulas e meu
novo emprego de meio expediente, repondo mercadorias nas prateleiras da
loja de conveniência onde minha tia trabalhava. Felicity e Hailee
permaneceram leais em sua amizade, mas não era o mesmo agora que eu e
Asher não estávamos mais juntos.
Para o mundo exterior, eu havia mudado. Mas eu não esperava superá-lo
tão cedo. Asher Bennet havia se impresso em minha alma de uma forma que
eu não tinha certeza se algum dia iria me recuperar. Para lidar com a dor,
mantive a cabeça baixa e meu foco na faculdade. Decidi aceitar uma oferta da
Temple University para estudar serviço social. Se crescer em Fallowfield
Heights me ensinou alguma coisa, foi que mais ajuda era necessária em
comunidades onde homens e mulheres jovens sentiam que não tinham
escolha a não ser recorrer a gangues, drogas e uma vida de crime. Parecia que
o círculo se fechava de alguma forma, e eu estava contando os dias até a
formatura.
— Aí está você. — Felicity me encontrou perto do meu armário. —
Tenho te enviado mensagens.
— Acho que meu celular está no modo silencioso.
Ela revirou os olhos. Era uma ocorrência comum hoje em dia.
— O Asher ligou para Jason mais cedo, a mãe dele...
— Acordou, eu sei.
Flick franziu o cenho.
— Sabe? Ele...
— Ouvi a Kellie Ginly contando para as amigas.
— Kellie... mas como ela sabe?
Dei de ombros, trocando alguns livros.
— Parece que o Asher ligou para ela ontem à noite.
— Mas isso não faz sentido. Ele não....
O som do meu armário se fechando a cortou.
— Não quero falar sobre ele.
— Mas...
— Felicity, você prometeu.
— Eu sei, eu sei, é só que ela está acordada. Isso é uma coisa boa. — Ela
parecia muito esperançosa. Não tive coragem de dizer que algumas coisas
não podiam ser consertadas. Só porque a sra. Bennet estava acordada não
significava que eu e Asher voltaríamos a ficar juntos.
— Você está certa, é uma ótima notícia. Estou feliz por eles. —
Empurrando os livros em minha mochila, coloquei-a no ombro e saí depressa
pelo corredor.
— É isso? — Flick correu atrás de mim. — Isso é tudo que você tem a
dizer?
— O que mais você quer que eu diga?
— Não sei. Acho que pensei...
— A vida não é um conto de fadas, Felicity. Nem todas as histórias têm
um final feliz.
— Mas...
Soltei um suspiro exasperado e a encarei com um olhar duro.
— Você é minha melhor amiga, e eu não teria conseguido passar essas
últimas semanas sem você, mas precisa deixar isso para trás. Aceitei que tudo
acabou entre mim e Asher. Você também deveria.
EU TINHA ACABADO de passar pela porta após um longo turno na loja
quando meu celular tocou.
— Oi, Shona — eu disse, tirando os sapatos e deixando os ladrilhos frios
acalmarem meus pés em chamas.
— Ei, garota. Como vai'?
— Tudo indo. Como você está? Como vão as coisas em casa? — Depois
que Jermaine a forçou a revelar minha localização, Shona se sentiu
responsável por tudo que havia acontecido. Mas eu não a culpava. Pedi a ela
para guardar segredo. Eu a sobrecarreguei com isso.
Eu.
— Diaz está agindo como se tudo estivesse normal, mas desde a prisão de
Jermaine, as coisas parecem... diferentes.
— Se cuida, tá? — pedi.
— Pode deixar. O Jesse e o Leroy me observam como um falcão.
— O Leroy, é? Você conseguiu o que queria então? — Eu sorri.
— Ele acabou cedendo. — Ela deu uma risadinha. — Jesse o deixou com
um olho roxo por isso.
— Estou feliz que ele esteja cuidando de você.
— Alguma novidade quanto ao JT?
— Terminamos. — As palavras apertaram meu peito. — Mas descobri
que a mãe dele finalmente acordou.
— Isso é uma boa notícia, certo?
— Sim. — Eu não conseguia esconder a dor na minha voz.
— Ei, estamos quase nas férias da primavera. Deveríamos fazer uma
viagem de garotas. Faltam apenas algumas semanas para a formatura e então
a faculdade estará chamando seu nome e eu nunca mais vou te ver.
— Shona...
— Sim, sim, eu sei. Nem todos somos inteligentes como você. Mas estou
orgulhosa, Mya. Estou muito orgulhosa de você ter saído e construído uma
vida para si, mesmo que more em alguma cidade caipira no meio do nada. —
Sua risada acalmou a dor em meu peito. — Sei que as coisas estão uma
merda agora, mas logo tudo isso vai ficar para trás.
— Eu sei. — Mas a ideia de deixar Rixon, de deixar minha tia, e o lugar
que passei a chamar de lar, não me encheu de alegria. Porque o Asher está
aqui, uma vozinha sussurrou. Mas quando chegasse o verão, ele não estaria
mais. Ele estaria em Pittsburgh, seguindo em frente com sua vida.
Longe de mim.
— Escute, Shon, preciso começar o jantar. Mas eu te ligo em breve.
— É bom mesmo — ela avisou.
Colocando o celular no bolso, me levantei para ir para a cozinha, mas
uma batida na porta me fez parar. Caminhando de volta para o corredor,
verifiquei o olho mágico antes de abrir a porta.
— Isso é uma surpresa — eu disse a Felicity, que estava na varanda da
casa da minha tia.
— Vamos sair.
— Vamos? — Arqueei as sobrancelhas.
— Sim. Sinto falta de sair com você. Sei que as coisas estão estranhas,
mas você ainda é uma das minhas melhores amigas, então se arrume e vamos.
— Flick, não tenho certeza... — Não saíamos desde o incidente no Ice-
T’s.
— Dez minutos. Você tem dez minutos e depois temos que pegar Hailee.
— Aonde vamos?
— Se preocupe menos com isso e mais com o que você vai vestir. — Ela
franziu a testa para o meu uniforme de trabalho. — É cheiro de atum que
estou sentindo?
Eu me cheirei e percebi que ela estava certa, eu estava fedendo. Devia ter
sido quando limpei um derramamento no corredor três.
— Vou precisar tomar um banho rápido — falei.
— O tempo está passando. — A malícia brilhou em seus olhos.
— É como nos velhos tempos — eu disse, zombando. Quando cheguei
em Rixon e ela me colocou sob sua proteção, nós nos metemos em todos os
tipos de problemas juntas. Era reconfortante saber que depois de tudo, ela
ainda estava aqui.
— Oito minutos e meio — ela resmungou. — Vamos, Hernandez.
Mas quando ela começou a me fazer subir as escadas, fiquei arrasada por
suas palavras.
Hernandez.
Ninguém me chamava assim.
Ninguém, exceto Asher.
O BELL’S ESTAVA LOTADO. Eu não conseguia acreditar que deixei
Felicity me convencer a vir aqui. Mas não podia negar que havia uma parte
de mim que queria ver Asher. Para ver seu sorriso fácil mais uma vez e saber
que ele estava bem.
Isso era tudo que eu sempre quis.
— Respire — Flick sussurrou para mim enquanto nos movíamos mais
para os fundos do bar. O time todo estava aqui com seus amigos e
namoradas. Avistei Kellie e as ginastas imediatamente, e as líderes de torcida
do outro lado do salão. Parecia que toda a classe sênior tinha vindo para
comemorar as boas novas dos Bennet, e meu coração inchou por Asher.
— Olha, o Cam guardou lugar. — Hailee apontou para uma cabine longe
do time de futebol.
— Espero que você se case com ele um dia — falei, nada surpresa que ele
fizesse uma coisa tão boa por mim.
Felicity se ofereceu para ir buscar nossas bebidas enquanto passávamos
por entre o amontoado de pessoas para chegar a Cameron.
Ele se levantou, deixando Hailee entrar. Fui para o outro lado.
— Obrigada por isso — eu disse, tamborilando os dedos contra a mesa.
— É o mínimo que posso fazer. Estou feliz que você veio. — Seus olhos
se desviaram de mim para Hailee. — Vou sair com os caras, mas venho ver
você mais tarde, certo?
Ela assentiu, se inclinando para beijá-lo. Meu coração doeu ao vê-los.
Mas se duas pessoas mereciam felicidade, eram eles.
— Isso é bobagem — eu disse quando ele saiu. — Você não tem que se
sentar aqui comigo. Vou me levantar e você pode...
— Se você acha que vamos abandoná-la, realmente não nos conhece —
Hailee respondeu com um sorrisinho. Flick apareceu segundos depois,
empurrando uma bandeja com bebidas sobre a mesa. — Estamos
comemorando. Por minha conta. — Ela me entregou um coquetel rosa
brilhante.
— O que é? — Cheirei o conteúdo.
— Felicidade e sol em um copo. Beba.
— Jerry não terá problemas por servir bebida a todos?
— A mãe do Asher está acordada. É uma celebração privada. — Ela
piscou para mim, tomando sua própria bebida.
— Você viu...
As palavras morreram na minha língua enquanto Asher aparecia em
minha linha de visão. Ele estava brincando com alguns de seus companheiros
de time, seu cabelo estava para trás naquele seu estilo bagunçado, seu sorriso
fácil e olhos brilhantes.
Engoli em seco, sentindo as lágrimas se formarem em meus olhos.
— Ele parece feliz — sussurrei. Então, Kellie Ginly caminhou até ele e o
abraçou, dando um show ao beijá-lo na bochecha.
— Isso não significa nada — Felicity disse em voz baixa, com uma
pontada de desaprovação.
— Não importa. Ele é livre.
— Mya, você não está falando sério.
— E aí, vocês têm planos para as férias de primavera? — Mudei de
assunto, me forçando a desviar o olhar de Asher e Kellie. Ele não era mais
meu. Poderia abraçar e beijar quem quisesse. Era algo com o qual eu
simplesmente teria que me acostumar.
— Acho que o Cameron e o Jason querem levar o Asher para viajar por
alguns dias. Talvez para a casa do pai nos Hamptons.
Era como se eu não pudesse escapar dele.
Mas, lentamente, eu estava ficando bem. Olhei para trás e encontrei Asher
me observando. Nossos olhares se cruzaram e muito se passou entre nós.
Meu pulso acelerou. Sua boca se curvou em um sorriso, e ele me deu um
pequeno aceno antes de se virar.
Sorri para mim mesma. As coisas entre nós nunca seriam as mesmas, mas
talvez, apenas talvez, pudéssemos encontrar paz depois de tudo.

— VENHA DANÇAR COM A GENTE. — Felicity fez beicinho, com os


olhos vidrados pelo efeito de todos os coquetéis açucarados que ela consumiu
desde que chegamos à casa de Asher.
Eu não queria ir quando anunciaram que a festa estava se mudando para a
casa dos Bennet. Não parecia certo. Mas a necessidade de estar perto de
Asher, de vê-lo feliz, era uma tentação muito grande, além disso, ela não
aceitaria um não como resposta e ninguém mais parecia se importar se eu
estava lá ou não. As pessoas estavam muito felizes e aliviadas por ter seu
adorável e divertido anfitrião de volta. E Asher desempenhou o papel
perfeitamente. Mas não pude deixar de me perguntar o quanto era real ou se
ele se sentia forçado a obedecê-los. Não era minha função perguntar a ele, e
apesar de ceder à insistência de Felicity e Hailee de ir com elas para a festa,
mantive distância.
— Eu te devo desculpas. — Jason parou ao meu lado enquanto eu
observava as garotas girarem e dançarem sem nenhuma preocupação no
mundo.
— Estou ouvindo — falei, passando o polegar pela borda do copo. Era
tentador ficar bêbada e participar das comemorações, mas eu não queria
perder o controle, não enquanto estava cercada por Asher e seus fãs.
Especialmente não com Kellie Ginly me lançando olhares gelados como
se fôssemos inimigas mortais.
— Asher é como alguém da família, e você...
— Não sou? — Arqueei a sobrancelha.
— Me desculpe, tá? Eu não deveria ter te tratado como se você tivesse
culpa em tudo isso. Porque, para que fique registrado, eu sei que você não
tem. O que aconteceu foi por causa do idiota do seu ex. Mas está tudo bem
entre a gente.
— No que diz respeito às desculpas, isso foi uma merda. — Eu sorri. —
Mas eu aceito.
Ele soltou uma risada, balançando a cabeça em descrença.
— Estou feliz que você esteja aqui, Mya. Todos nós estamos. — Jason
me lançou um olhar que não entendi muito bem antes de se aproximar de
Felicity, enganchando o braço em sua cintura. Os dois começaram a dançar
como se fossem os únicos na sala, e tive que me afastar. O amor deles era
demais para suportar.
— Estou surpresa em ver você aqui — disse outra voz, desta vez uma que
eu nunca mais queria ouvir.
— É uma festa.
— Sim, na casa do seu ex. Não imaginei que você pudesse ser tão
patética. — Kellie Ginly olhou furiosa para mim, tirando o cabelo do ombro.
Ela estava bonita com um vestido de tricô colado ao corpo e decotado na
frente, terminando logo abaixo do joelho. Era recatado, mas sexy.
Ela parecia uma garota que queria impressionar.
Meu estômago deu um nó.
— O que você quer de mim, Kellie? Caso você não saiba, eu e Asher
terminamos. Estou aqui apenas para comemorar, como todo mundo. — Me
movi em torno dela para sair antes de dizer ou fazer algo de que me
arrependeria. Mas ela segurou meu pulso, exigindo minha atenção.
— Você deveria fazer um favor ao Asher e ir embora. Ele não precisa
mais de você, não agora que ele me tem.
Arregalei os olhos apenas por um segundo antes de controlar minha
expressão. Mas ela viu e estava prestes a ir para a jugular.
— Ah, você não sabia? Eu o tenho ajudado neste momento difícil. Até
passei algum tempo com ele e o pai. Andrew é um homem adorável. De bom
gosto também. — Ela sorriu, mas parecia mais um rosnado. — Ele está muito
aliviado que Asher decidiu se livrar do lixo.
— Do que é que você acabou de me chamar? — Entrei em seu espaço,
todos os pensamentos racionais escapando da minha cabeça.
— Você me ouviu, favelada. Lixo.
Cerrando os punhos ao lado do corpo, usei todo o meu autocontrole para
ir embora quando tudo que eu queria fazer era bater em seu rosto bonito e
perfeito.
— Isso mesmo — ela gritou atrás de mim. — Volte para o gueto de onde
você veio.
Corri pela casa dos Bennet, desesperada para ficar longe de Kellie e de
suas palavras venenosas. Eu precisava de ar. Eu precisava...
— Mya? — Colidi com uma parede de músculos sólidos e as mãos de
Asher me firmaram. — O que aconteceu? — Sua mandíbula se apertou.
— Estou bem, só preciso... de ar, preciso de ar. Tenho que ir, mas estou
muito feliz por sua mãe. É uma ótima notícia. — As palavras saíram de meus
lábios enquanto eu tentava gentilmente soltar meus braços. Eu não suportava
ele me tocando, me segurando todo preocupado.
Não éramos mais importantes um para o outro.

ME VIRANDO, corri novamente, empurrando todos do meu do caminho.


— Mya, espere — Asher chamou, me fazendo correr ainda mais. Eu não
poderia fazer isso com ele. Não aqui, não agora.
Eu não deveria ter vindo aqui. Sabia disso agora. Sempre haveria pessoas
como Kellie Ginly esperando para atacar, para agir como se seu privilégio
branco os tornasse melhores do que eu. Mais dignos.
Mais adequado para estar ao lado de Asher, vivendo em seu mundo.
TRINTA E QUATRO
Asher
— MYA, espere um segundo, por favor — falei, segurando seu pulso. Meu
toque a parou e seu olhar foi direto para onde nossa pele se encontrava. O
calor fluiu entre nós e tudo que eu queria era puxá-la para meus braços e
abraçá-la. Sentir seu corpo pressionado contra o meu.
Mas eu tinha perdido esse direito e doía muito.
Ela se virou devagar, deixando seus olhos encontrarem os meus.
— Por favor, me deixe ir — suas palavras saíram em um sussurro tenso,
como se dizer as palavras lhe causassem dor física.
Soltando-a imediatamente, dei um passo para trás, passando a mão pelo
cabelo.
— Sinto muito. Eu não... você veio.
— Você sabe como a Felicity pode ser persistente. — Ela me deu um
sorriso fraco. — Estou muito feliz por você e sua mãe.
— Obrigado. Ela tem um longo caminho para se recuperar, mas os
médicos estão satisfeitos com o progresso dela até agora.
Eu não conseguia nem começar a descrever a sensação de alívio que me
atingiu quando os olhos da minha mãe finalmente se abriram. Como foi bom
sentir seus dedos apertando os meus. Ela estava desorientada, grogue e mal
conseguia juntar uma sílaba, mas estava acordada.
Era como se todas as minhas orações tivessem sido respondidas.
Todas, menos uma.
Meu pai foi a maior surpresa de todas. Ele começou a chorar, desabando
ao lado da cama quando entrou no quarto e a viu. Em toda a minha vida, acho
que nunca o vi chorar ou mostrar uma pontada de emoção por nós. Sua
mudança repentina não apagou o passado, mas me deu um pouco de
esperança de que talvez, apenas talvez, eles pudessem encontrar o que
mereciam. O fato de quase perder minha mãe talvez o fizesse perceber que
precisava reparar os pecados do passado. Mesmo que nunca mais
encontrássemos um terreno sólido, eu respiraria melhor sabendo que ela
estava feliz, saudável e sendo cuidada.
— Estou muito feliz por você. — Mya sorriu de novo, um sorriso sincero
e bondoso. Aquele que não era contaminado por toda a dor e sofrimento entre
nós. Significava muito.
Significava tudo para mim que ela estivesse aqui.
Mesmo depois da maneira como eu e meu pai a tratamos, além de Kellie,
Vaughn e os outros alunos na escola, ela ainda se importava o suficiente para
vir comemorar nossas boas novas.
Mas seu sorriso desapareceu rapidamente quando algo chamou sua
atenção atrás de mim. Olhei para trás, semicerrando o olhar enquanto Kellie
pairava nas proximidades, nos observando como um falcão.
— O que ela...
— Eu deveria ir — Mya falou depressa. — Mande lembranças para sua
mãe. — Ela se virou e saiu pelo corredor em direção à porta da frente
Senti como se os olhos de Kellie fizessem buracos na parte de trás da
minha cabeça enquanto eu tentava juntar as peças do que tinha acabado de
acontecer. Mya estava fugindo, mas eu não tinha certeza se era de mim. E se
não fosse de mim...
Fui até Kellie e perguntei.
— Aconteceu alguma coisa entre você e a Mya?
— Estou surpresa por ela estar aqui. — Kellie enrolou uma mecha de
cabelo em no dedo enquanto um lampejo de desprezo cruzava sua expressão.
— Quero dizer, ela não percebe como isso a faz parecer patética? Sem falar
desesperada.
— O quê? — Cerrei a mandíbula e os dentes.
— Bem, é óbvio que ela só está aqui porque ainda quer você. Como se
isso fosse acontecer. — Sua risada estridente encheu o ar, me fazendo
estremecer.
— Vou perguntar mais uma vez, Kellie. O que foi que você disse a ela?
— Asher, eu... — O pânico flamejou em seus olhos, mas ela se recuperou
rapidamente, sorrindo para mim como se eu estivesse segurando a lua. — Eu
só queria ter certeza de que ela soubesse que não era mais bem-vinda por
aqui. Seu pai...
— Meu pai... o que é que meu pai tem a ver com isso? — Ele estava no
hospital com a minha mãe. Ele mal saiu do lado dela desde que ela acordou
ontem.
— Ele veio jantar na outra semana, se lembra? Começamos a conversar, e
ele disse que estava feliz por você ter finalmente percebido isso.
— Foi tudo o que ele disse? — Dei a ela um olhar penetrante.
— Bem, sim, quero dizer, ele estava chateado, e você sabe como os
homens ficam quando tomam um ou dois drinques. — Sua risada estava
tensa.
— Kellie... — Minha paciência estava se esgotando e meu humor ficou
sombrio.
— Certo. — Ela bufou como se eu a estivesse incomodando. — Ele disse
ao meu pai que estava feliz por você ter finalmente jogado o lixo para fora,
tá?
A raiva subiu pela minha espinha, e eu fechei as mãos com força.
— E me deixe adivinhar: você pensou em repassar a mensagem?
— Eu não... só estava tentando ajudar. Você não pode querer ter nada a
ver com ela depois do que ela fez.
— A Mya não fez nada. — Meus olhos procuraram freneticamente pelo
corredor, mas ela já havia sumido.
Lixo.
Ele a chamou de lixo, e Kellie reiterou as palavras como uma marionete
estúpida.
No fundo, isso não me surpreendeu, mas não tornou mais fácil de ouvir.
— Você deveria ir embora — explodi.
— I-ir embora? — Ela empalideceu. — Não entendo. Achei que...
— Você achou o quê? Que agora que eu e Mya não estamos mais juntos,
eu ficaria com você? — Uma risada sombria saiu de meus lábios. — Eu não
tocaria em você nem se fosse a última garota do planeta.
Lágrimas brilharam em seus olhos.
— Mas nós...
— O quê? Somos parecidos? Adequados um ao outro? Destinados a ficar
juntos? — zombei. — Você não sabe nada sobre mim!
As pessoas estavam assistindo agora. Jason e Cameron se aproximaram
de nós, com preocupação em suas expressões.
— Asher, acalme-se. — Kellie tentou me conter. — Você está fazendo
uma cena. — Ela afofou o cabelo como se isso tivesse o poder de consertar a
bagunça que havia criado.
Não funcionou.
— Dê o fora da minha casa e nunca mais volte. — Meus melhores amigos
vieram para o meu lado, e Hailee e Flick assistiam do outro lado da porta.
— Você o ouviu — Jase falou com frieza. Ninguém ignorava suas
palavras. Em Rixon High, a palavra de Jason Ford era definitiva. Kellie
fungou e se virou antes de correr para fora de casa.
— E não deixe a porta bater em você no caminho para fora — gritei, com
meu peito arfando.
— O que foi aquilo? — ele perguntou.
— Quanto você ouviu?
— O suficiente para saber que ela te irritou pra cacete.
— Ela estava sacaneando a Mya. — Fui tomado pela vergonha. A culpa
era minha. Dei às pessoas a impressão de que a culpava.
Eu alimentei as chamas.
— Puta merda. Acho que estraguei tudo, pessoal.
— Não brinca. — Cam cruzou os braços, me encarando com um olhar
duro.
— Todos nós erramos — Jase acrescentou. — Somos humanos, é o que
fazemos. Mas a questão é: como você planeja resolver isso?
— Não sei — admiti.
Mas eu descobriria.
Eu precisava.
Porque perder Mya para sempre não era uma opção.
Nunca foi
Eu estava cego demais pela dor e tristeza para ver isso.

— VOCÊ NÃO CONSEGUE DIRIGIR MAIS rápido? — Bati a mão no


joelho, procurando Mya nas ruas escuras e vazias.
Ela não estava atendendo o celular. Merda, eu já tinha ligado o suficiente.
Eu sabia que Mya provavelmente me ignoraria, então usei o telefone de
Felicity. Mas ainda assim, ela não atendeu.
— Lá. — Vi a silhueta de Mya à frente. — Pare o carro.
— Asher, me dê um...
— Pare a porcaria do carro — falei depressa, já segurando a maçaneta,
pronto para empurrar. O carro parou e eu saltei. — Mya, espere — eu
chamei.
— Vá embora, Asher. — Ela acelerou o passo, mas não havia como não
alcançá-la.
Comecei a correr, disparando pela rua e acertando o passo ao lado dela.
— Você não sabe que não é seguro andar sozinha para casa?
— O único perigo que vejo aqui é você. — Seus olhos brilhavam de
emoção quando ela olhou para mim.
— Me deixe te acompanhar pelo resto do caminho para casa, por favor?
— Estamos em um país livre, você pode fazer o que quiser — ela rebateu,
mas não havia a quantidade usual de luta em suas palavras.
Eu sabia que tinha feito isso. Eu havia diminuído sua centelha.
E me odiei por isso.
Olhei para trás, mas Felicity já havia feito meia-volta e desaparecido. Eu
devia muito a ela, não apenas por me trazer aqui, mas por confiar em mim o
suficiente para ficar sozinho com Mya.
— Expulsei Kellie da minha casa — falei.
— É mesmo? — Seus olhos estavam fixos à frente, mas eu não conseguia
tirar os olhos dela.
— Eu sei o que ela disse para você, o que meu pai disse sobre você. E me
deixa enjoado pensar que você possa achar que concordo com eles sobre
qualquer coisa.
— Asher — ela suspirou, parando. — Não faça isso, por favor.
— Fazer o quê? O que estou fazendo, Mya? — Nos viramos um para o
outro, como ímãs.
Vi meus dois melhores amigos se apaixonarem perdidamente. E eu quis
isso também... merda, eu quis demais. Ter aquela pessoa especial que me
amasse incondicionalmente. Mas eu não sabia o quanto poderia ser poderoso
quando a encontrasse. Como algo dentro de mim mudaria, abrindo espaço
para os laços que nos uniriam.
— Você está agindo como se tudo estivesse bem entre nós.
— Eu não estou... puta merda, Mya. Sinto muito.
— Asher... — ela sussurrou meu nome. — Não torne isso mais difícil do
que já é. Estou muito feliz por sua mãe estar acordada, mas isso entre nós
acabou.
Acabou.
A palavra me atingiu como uma faca no estômago.
Nós não terminamos.
Nós não poderíamos ter terminado.
— Eu mereço isso, sei que mereço. Mereço que você vá embora e não
olhe mais para trás. Mas você não pode me olhar nos olhos e dizer que não
sente mais isso. — Me aproximei mais, levando a mão à sua bochecha. Mya
se aproximou de mim, pressionando a pele contra a minha, seus ombros
baixando de leve como se meu toque derretesse algo dentro dela.
— Você sente isso — sussurrei, minha boca pairando perto da sua. Eu
não tinha planejado persegui-la e beijá-la. Havia muito que eu precisava dizer
primeiro. Mas agora que eu estava de pé aqui, com ela tão perto, era
impossível não ser arrastado pela atração.
— Asher, por favor... — A voz de Mya falhou e seus olhos se fecharam
enquanto eu beijava o canto de sua boca.
— Sinto muito. Sinto muito por ter te afastado. Sinto por tratá-la como se
você fosse a culpada. Mas acima de tudo, sinto muito por deixar você pensar
que eu não te queria mais. — Passei a mão em volta da sua nuca, puxando-a
para mais perto e encostando minha cabeça na sua. — Eu sempre vou te
querer, Mya. Você é a dona do meu coração e eu não o quero de volta.
Recuei para olhar para ela. Lágrimas escorriam por seu rosto e seus olhos
brilhavam com tanta emoção que tirou o ar dos meus pulmões.
— Quero acreditar em você — ela sussurrou. — Quero acreditar que
podemos superar isso. Mas seu pai...
— Não é importante. — Capturei seus lábios novamente, beijando-a de
leve e com cautela. A última coisa que eu queria era assustá-la, mas eu
precisava disso. Precisava prová-la.
— Achei que ela fosse morrer. — Minha confissão perfurou a noite
silenciosa. — Eu a vi deitada ali e pensei que ela fosse me deixar. Não é
desculpa para nada que eu tenha feito ou dito para você, mas eu estava com
medo. Eu estava com muito medo, Mya. — Segurei seu rosto. — Parecia que
eu tinha que escolher. Você ou ela. É uma merda, eu sei, mas você merece a
verdade.
— Você me culpou.
— Não culpei, não de verdade. Mas não posso negar que foi difícil
separar meus pensamentos sobre você dos meus pensamentos sobre Jermaine.
Muitas vezes, eu quis te ligar, enviar uma mensagem de texto ou apenas ouvir
sua voz, mas quanto mais o tempo passava, mais a escuridão me consumia.
Mya passou a mão pelo meu suéter, se enrolando no tecido.
— E se ela não tivesse acordado?
Deus, eu não queria pensar sobre isso. Mas eu sabia por que Mya estava
fazendo a pergunta, e ela merecia uma resposta.
— Se a minha mãe não tivesse acordado, eu teria precisado de você mais
do que nunca. Mesmo que eu não pudesse ver na hora.
— Acho que seus amigos te conhecem melhor do que você mesmo.
— É mesmo? — Eu não ficaria surpreso que Cameron tivesse dito algo
para ela, já que me deu uma bronca também.
— Você tem sorte de tê-los. Já contou a verdade a eles?
— Não, mas vou. Tudo está diferente agora. Mas não vim aqui para falar
sobre eles, Mya. Vim aqui por você. — A indecisão cintilou em seus olhos, e
eu me apressei: — O que você disse antes, sobre aceitar uma vaga em
Cleveland...
— Eu mudei de ideia — ela disse um pouco rápido demais. — Vou para a
Temple University. Eles têm um ótimo programa de serviço social e quero
ajudar as comunidades que mais precisam.
— Entendo. — Meu coração não apenas afundou, ele definhou e morreu
no peito. Ela realmente mudou de ideia. Eu não poderia culpá-la, mas
caramba, doeu.
— É algo que preciso fazer. Para mim, Asher. Passei a maior parte da
vida cuidando do Jermaine e depois vim para cá e te conheci. Mesmo quando
eu disse que não me deixaria apaixonar de novo, você roubou meu coração.
Não posso ser a garota que está sempre lutando para que alguém a ame.
Jermaine. Minha mãe. Você. Estou cansada de lutar. Pela primeira vez, quero
que alguém lute por mim. Que me escolha. Mas até então, vou lutar por mim
mesma, voou atrás do que eu quero.
Mya emoldurou minha bochecha, roçando a ponta do nariz no meu. A
ação íntima provocou um arrepio na minha espinha. Mas foi agridoce.
Mesmo quando ela colou a boca na minha, me beijando com força e deixando
a língua deslizar entre meus lábios e acariciar minha língua, eu sabia que não
era o fim que eu esperava.
Era a maneira de Mya se despedir.
Mas que se dane.
Ela não podia ir embora, não de novo. Não quando abri minha alma para
ela e coloquei todas as minhas cartas na mesa.
— Não vou deixar você ir embora — murmurei contra ela, aprofundando
o beijo. — Não vou te perder de novo, Mya. — A emoção obstruiu minha
garganta, e eu finalmente me afastei, inalando uma respiração irregular. —
Eu não posso te perder.
Mya abaixou o rosto e olhou para mim.
— Então lute por mim, Asher — ela falou antes de se virar e ir embora.
TRINTA E CINCO
Mya
— ELE ESTÁ te observando de novo — Felicity sussurrou, não sendo nada
discreta sobre o fato de que ela estava vendo Asher me observando.
Ele finalmente estava de volta à escola, embora eu tivesse ouvido que não
estava fazendo todas as aulas. As coisas estavam relativamente normais
novamente nos corredores da Rixon High. Eu mal tinha ouvido meu nome ser
sussurrado na aula e se eu entrasse em uma sala, as pessoas desviavam o
olhar ao invés de olharem para mim como se eu estivesse prestes a apontar
uma arma para elas e cumprir o estereótipo.
Era quase como se alguém tivesse dito a eles para recuarem, mas eu não
queria fazer suposições.
— Pare com isso. — Cutuquei Felicity nas costelas, e ela derrubou um
pouco de refrigerante.
— O que foi? — Ela se fez de boba. — Eu não estava fazendo nada.
— Você está olhando para ele.
— Mas ele parece tão... tão...
— Desesperado?
— Eu ia dizer perdido.
— Flick... — Não era como se eu não pudesse sentir Asher assistindo.
Seu olhar era como um laser, queimando o topo da minha cabeça enquanto eu
fingia comer meu almoço.
— Você deveria falar com ele.
— Estou bem, obrigada. — Surpreendentemente, era verdade. Sentia
saudade dele. Sentia falta de fazer parte do grupo. Mas não podia negar que,
desde que me afastei, também me senti fortalecida.
Embora eu tivesse aceitado seu pedido de desculpas, não rolei e cedi a
ele. Eu me ergui e me coloquei em primeiro lugar pela primeira vez. De certa
forma, eu tinha que agradecer a ele por me dar o empurrão que eu precisava
para abraçar meu futuro na Temple University. Sair do estado para a
faculdade seria apenas fugir para mais longe e, no fundo, eu não queria isso.
Eu precisava possuir todas as partes de mim: a garota do gueto. A garota
tentando se encontrar em uma cidade que não a aceitava e a garota que eu
sabia que poderia me tornar. Eu era todas essas partes e se alguém quisesse
me amar, teria que aceitar tudo de mim.
— Você realmente vai fazer isso, é? — Felicity me tirou dos meus
pensamentos. — Vai mesmo fazê-lo sofrer?
— Eu não estou fazendo-o sofrer, Flick. Mas não vou simplesmente
baixar a cabeça também. Ele me magoou de verdade. Parte de mim entende,
depois do que aconteceu com a mãe dele. Mas tive uma vida inteira de dor
para lidar. Da próxima vez que eu confiar em alguém com meu coração, será
porque a pessoa mereceu.
— Mas olhe para ele... quero dizer, ele está tão... triste.
Antes que eu pudesse me conter, olhei para a mesa de Asher. Ele estava
cercado por seus companheiros de equipe, a conversa e as risadas
acontecendo ao seu redor, mas seus olhos estavam fixos em mim.
Respirei de forma instável. Claro, não foi a primeira vez que roubei
olhares dele pela escola. Sempre soube quando ele estava por perto. Só
porque não estávamos mais juntos, não significava que a conexão entre nós
havia sido cortada. Na verdade, parecia mais forte, estalando sempre que
nossos caminhos se cruzavam. Mas era mais fácil resistir agora. Mais fácil de
ignorar.
Pelo menos, é o que eu dizia a mim mesma.
Com aquele olhar simples, Asher foi capaz de me dizer tudo que eu não
queria ouvir.
Ele estava arrependido.
Ele me amava.
Ele me queria de volta.
Mas as palavras não eram suficientes, não desta vez.
Fui eu quem interrompeu nossa conexão, baixei os olhos e me concentrei
na comida à minha frente. Felicity resmungou baixinho, claramente frustrada
com meu comportamento. Mas isso era uma coisa que ela não conseguiria
consertar.
A única pessoa que podia estava sentada do outro lado do refeitório.
E mesmo assim, eu não tinha certeza se havia algo que ele pudesse fazer
para que eu mudasse de ideia.

— ESTA FOI UMA ÓTIMA IDEIA — eu disse a Felicity enquanto a


ajudava a colocar os últimos dois filhotes na banheira. — Já me sinto melhor.
— É impossível não amar esses pequeninos, mesmo que eles fiquem
superexcitados na hora do banho. — Ela esfregou a orelha de um spaniel,
deixando a pequena bola de pelos em um frenesi de excitação. — Rápido —
ela gritou — pegue uma toalha.
Rindo, me inclinei e peguei uma toalha recém-dobrada. Era a segunda vez
que eu ajudava Felicity na The Brand New Tail, o abrigo local para animais
onde ela trabalhava como voluntária algumas noites por semana, mas eu não
vinha aqui desde antes de Asher.
Eu tinha me esquecido de como as bolinhas de pelo podiam ser boas para
a alma.
— Vamos para o The Alley depois de terminarmos? — perguntei,
secando Maximus enquanto ela lidava com seu irmão, Caesar.
— Na verdade — ela olhou para mim —, nós vamos... encontrar os caras
na minha casa.
— Felicity, sério?
— Sinto muito, mas quando eu disse ao Jason que íamos sair com a
Hailee, ele ficou todo carente e enciumado e quis vir conosco. Achei que
seria menos estranho se todos nós ficássemos na minha...
Encarando-a com um olhar duro, deixei escapar um suspiro pesado.
— Isso não faz sentido. Você sabe disso, certo?
— Achei que você ficaria bem com isso, já que está jogando duro e tudo
mais.
— Eu não estou jogando... — Parei. — Tudo bem, tudo bem. — Eram
apenas seis amigos se encontrando, eu poderia lidar com isso.
— Asher se ofereceu para não vir — ela acrescentou, me lançando um
olhar furtivo.
— É?
Eu não sabia como me sentir sobre isso.
— Sim, disse que não queria fazer você se sentir desconfortável, mas
como eu disse a ele, você está bem com tudo. — Ela sorriu e um brilho
familiar apareceu em seus olhos. — Você está bem com tudo, certo?
— Quem, eu? — Sorri com doçura.
— Não sei como você faz isso.
— Faço o quê? — Terminamos de secar os filhotes antes de colocá-los de
volta nas caixas.
— Finge que o superou.
— Eu não estou fingindo. Sobre ele, quero dizer.
— Bem, dã, você demorou o suficiente para admitir. — Ela sorriu.
— Ah, fique quieta. — Enrolei uma toalha e chicoteei seu braço com a
peça. — Você sabe o que eu quero dizer. Só porque não estou caindo aos pés
dele, não significa que não me importo.
Eu ainda me importava.
Me importava muito e isso era metade do problema.
— Então por que se colocarem nisso? Não entendo.
Dando de ombros, deixei meus olhos vagarem para qualquer lugar, menos
para ela.
— Porque estou cansada de ser sempre posta de lado quando as coisas
ficam difíceis. Eu não fui o suficiente para Jermaine, e Asher me fez sentir
isso de novo.
— Ah, Mya, você sabe que não era assim. Ele te ama, mas ele é um cara e
todas nós sabemos como eles podem ser emocionalmente atrofiados.
— Não é bom o suficiente — eu disse com um sorriso triste. — Eu o
escolhi, Flick. Eu o coloquei em primeiro lugar. Ele me pediu para escolher
Cleveland, e eu ia fazer isso. Mas cansei de ser aquela garota.
Felicity olhou para mim, mas não vi julgamento em seus olhos desta vez.
— Tudo bem — ela disse calmamente. — Se é isso que você precisa
fazer, então tudo bem, eu te apoio.
— Obrigada.
— Ei, é para isso que servem as melhores amigas. Agora vamos nos
limpar para que possamos fazer seu cara sofrer.
Revirei os olhos, sufocando uma risada. Não foi bem o que eu quis dizer,
mas eu aceitaria.
Porque era melhor do que ela tentar bancar o Cupido.

— É MELHOR vocês virem aqui se quiserem pizza — Jason gritou no


segundo em que entramos na casa de Felicity.
— Ele tem a chave agora? — Arqueei a sobrancelha.
— Eu... ah, às vezes ele me espera aqui até que eu termine no abrigo.
— E o que seus pais pensam sobre isso?
— Normalmente, minha mãe tenta alimentá-lo.
— E quando eles não estão aqui?
Ela enrubesceu.
— O que eles não sabem não os machucará.
— Escandaloso.
Nossa risada deixou a sala de estar dos Giles em silêncio.
— Já estava na hora. — Jason resmungou com a boca cheia de pizza. —
Venha pra cá. — Ele deu um tapinha em seu colo, puxando Flick no segundo
em que pôde alcançá-la.
— Oi, Mya, aproveitou a temporada de filhotes no abrigo? — Hailee
perguntou, empurrando uma caixa de pizza meio vazia em minha direção.
— Foi... exatamente o que eu precisava. — Meus olhos encontraram
Asher do outro lado da sala. Ele me ofereceu um pequeno aceno de cabeça
em saudação, mas não disse nada.
— O que vamos assistir? — Me obriguei a desviar o olhar, mesmo que
ainda pudesse sentir seu olhar intenso em meu rosto.
— Sim, Cam, por que você não diz a elas o que vamos assistir? — Jason
brincou, jogando um punhado de pipoca nele.
— Não há nada de errado com A barraca do beijo.
— Virou uma garota durante a noite?
— Jase! — todo mundo gritou.
— Ah, relaxem. Se o Cam quer que a gente entre em contato com nosso
lado feminino, tudo bem. Só não me culpe quando eu invadir o lugar para
tomar sorvete e quiser trançar seu cabelo.
— Você é muito estranho. — Felicity revirou os olhos.
— É mesmo, Giles? — Ele ergueu a sobrancelha. — É preciso um
estranho para conhecer um. — Jason a atacou com a boca, dando beijos
molhados por todo o rosto dela.
— Sai de cima de mim, seu grande idiota. — Ela tentou afastá-lo, mas foi
inútil. Seus braços estavam em volta da cintura dela, os mantendo juntos.
Hailee e Cameron compartilharam um sorriso cúmplice, de forma que
apenas duas pessoas afinadas conseguiriam. E eu e Asher, bem, nos sentamos
lá fingindo que estava tudo bem.
— Gente, sério? — ele finalmente gemeu.
— Desculpe — Jason respondeu. — Faremos melhor. — Ele moveu Flick
de seu colo e a colocou ao seu lado, antes de resmungar. — Vamos assistir ao
filme ou o quê?
Me sentei lá como uma estátua enquanto eu tinha certeza de que Felicity e
Jason passavam mais tempo olhando um para o outro do que assistindo ao
filme. Eles mal conseguiam manter as mãos longe um do outro. Hailee e Cam
não eram muito melhores, e no momento em que os créditos rolaram, me
levantei, desesperada para escapar da tensão sexual avassaladora.
Escapei para o banheiro de Felicity. Foram as duas horas mais longas da
minha vida, meu corpo hiper ciente de Asher sentado do outro lado da sala na
poltrona favorita do sr. Giles. Depois de lavar as mãos, sequei-as em uma
toalha fofa. Eu gostava da casa de Felicity. Não era pequena, mas também
não era enorme. Me sentia à vontade aqui. Confortável. Ao contrário da casa
de Asher, onde sempre me senti deslocada. Como a Cinderela transformada
em um conto de fadas.
Exceto que Cinderela tinha conseguido seu príncipe no final.
Agarrando a borda da cuba, respirei fundo algumas vezes e me olhei no
espelho. Eu poderia fazer isso. Só precisava voltar lá e fingir que estava tudo
bem.
— Asher — ofeguei quando abri a porta e o encontrei ali.
— Você demorou.
— Eu...
— Estou brincando, Mya. — Seu lábio se curvou em um sorriso
hesitante.
— Ah, certo. Bem, acho que vou sair do seu caminho. — Fui passar por
ele, mas ele preencheu o espaço, sem fazer nenhum esforço para se mover.
Nossos peitos roçaram enquanto eu tentava me mexer pelo espaço apertado.
Seu cheiro, a colônia que eu tanto amava, me deu um soco no estômago.
Mas então Asher estava me empurrando para dentro do banheiro sem me
dar escapatória.
— Asher, o que você...
— Eu tentei, Mya. Tentei muito te dar espaço para descobrir como
consertar as coisas. — Ele acenou entre nós. — Então você precisa me
ajudar. Precisa me dizer o que devo fazer.
Recuei enquanto ele avançava com passos lentos e seguros. O ar estalou
ao nosso redor, os laços entre nós torcendo e apertando.
— Me diga o que fazer. — Asher pairou sobre mim enquanto eu sentia a
borda do balcão pressionar minhas costas.
— Asher... — Minhas mãos bateram contra seu peito enquanto eu tentava
desesperadamente resistir a seus encantos. Seu cheiro. A maneira como ele
me olhava com tanto amor e saudade. — Não é tão simples assim.
— É simples assim — ele rebateu. — Eu amo você. Te amo pra caralho,
Mya. — O peito de Asher se ergueu com o peso de suas palavras quando ele
se inclinou para tocar sua cabeça na minha. — Preciso de você, baby. Preciso
de você mais do que preciso de ar. É como se eu não pudesse respirar quando
você não está por perto.
Um tremor atravessou minhas paredes reforçadas, sacudindo suas
fundações. Ele parecia tão desesperado. Tudo o que eu queria era tirar toda a
sua dor. Mesmo agora, eu queria recuperá-lo.
— Asher, não...
— Shhh, não diga isso. Se você não disser, ainda há esperança. — Seus
olhos se fecharam quando ele inspirou, tentando controlar suas emoções.
Ah, Deus. O que eu estava fazendo?
O garoto que eu amava mais do que qualquer coisa estava parado na
minha frente se despedaçando, e eu estava me forçando a não deixá-lo me
convencer. Mas se eu cedesse, se eu aceitasse isso, sabia que seria apenas
temporário. Porque ainda havia seu pai para enfrentar. O julgamento. Sua
mãe e Jermaine. Sem mencionar que viria o outono, nós dois estaríamos em
faculdades muito distantes.
— Asher, olhe para mim. — Ele abriu os olhos, e eu caí de cabeça em
uma piscina de azul cintilante. — Eu te amo, amo mesmo. Mas às vezes, o
amor não é suficiente.
— É, sim. — Suas mãos embalaram meu rosto, roçando seus lábios nos
meus. — É o suficiente, Mya, e vou provar para você. Só preciso que você
espere por mim. Me prometa que vai esperar por mim enquanto eu descubro
como consertar isso.
Soltei um suspiro exasperado.
— Asher, eu não...
— Prometa. — Havia tanta súplica em seus olhos, tanta emoção, que eu
não podia negar.
Mas também não conseguia dizer as palavras que ele queria ouvir.
Então pressionei os lábios e dei a ele um aceno imperceptível enquanto
meu coração gritava: não me decepcione.
TRINTA E SEIS
Asher
NÃO FUI para a escola na segunda-feira. Eu não estava pronto para ver Mya
novamente. Não até que eu descobrisse como consertar tudo. Então passei o
dia no hospital, sentado com minha mãe. Ela dormiu e acordou durante a
maior parte da manhã, mas continuei me lembrando de que os médicos
diziam que era de se esperar.
— A-Ash... — ela gaguejou. Sua voz era um grasnido baixo enquanto ela
curvava um dedo trêmulo em minha direção.
— Ei, mãe — eu me movi para o lado da cama, segurando a sua mão. —
É bom ver você acordada, mas tente não falar, sim?
Ela me deu um sorriso fraco. Sua pele estava pálida e seus olhos, fundos.
Ela definitivamente já havia passado por dias melhores, mas estava aqui.
Estava lúcida e me reconhecia.
Por enquanto, era o suficiente.
— Filho — meu pai entrou no quarto atrás de mim, mas seus olhos
imediatamente foram para minha mãe. — Julia, você está acordada. — A
esperança encheu sua voz.
O homem estava transformado. De empresário taciturno e frio a marido
afetuoso e preocupado. Ele deu a volta na cama e olhou de forma afetuosa
para mamãe, afastando o cabelo de seu rosto.
— Acabei de falar com o seu médico. Ele virá aqui em breve. Posso
pegar alguma coisa para você?
Ela balançou de leve a cabeça, apertando minha mão.
— Eu-eu tenho... tudo... preciso. — A fala dela estava voltando aos
poucos, o que os médicos nos disseram ser um bom sinal, mas levaria tempo.
Muito tempo. Com reabilitação e terapia, eles esperavam uma melhora
significativa, mas dada a natureza da lesão e os danos ao cérebro por causa da
parada cardíaca, eles não sabiam dizer se ela teria uma recuperação completa.
— My-ya... b-bem?
Paralisei com os olhos arregalados enquanto tentava descobrir se tinha
ouvido direito.
— Querida, não acho que agora seja a hora de...
— Shhh. — Seus olhos desviaram dos dele para os meus, com lágrimas
se acumulando no canto. — Sinto muito, A-Ash. S-sinto muito.
— Shhh, mãe, está tudo bem. — Me inclinei para dar um beijo em sua
cabeça, sentindo a culpa me atingir enquanto eu lutava contra minhas
próprias lágrimas. Era a primeira vez que ela ficava lúcida o suficiente para
tentar se envolver em uma conversa e, claro, era sobre isso que ela queria
falar.
— Você não precisa se desculpar por nada — eu disse, dando a ela um
sorriso caloroso.
— N-não é sua culpa — ela murmurou, cada palavra levando pelo menos
o dobro do tempo normal para sair. — N-não é culpa dela.
O quarto parecia estar se fechando ao meu redor. Me levantei e disse:
— Vou tomar um pouco de ar, certo? Volto já.
— A-Ash ... não quis d-deixar chateado...
— Estou bem, mãe. Vou ficar bem. — Encostei a cabeça na dela de leve,
sentindo o alívio me tomar.
Ela estava aqui e estava bem.
Era nisso que eu precisava me agarrar.
Saí do quarto e me sentei em uma das cadeiras do corredor. Inclinando a
cabeça para trás, fechei os olhos e respirei fundo. Já fazia quase uma semana
desde que ela acordou. Uma semana tentando aceitar minha nova realidade.
Mya e eu pisando em ovos um com o outro. De tentar destruir meu cérebro
para encontrar uma maneira de consertar tudo.
Mya estava certa. Eu precisava lutar por ela. Precisava mostrar que a
escolhi, independentemente das consequências. Mas era muito difícil quando
eu estava tão preocupado com minha mãe. Mesmo quando eu ia para a
escola, minha cabeça estava em outro lugar.
Então, todos nós estivemos na casa de Felicity, e eu cedi. Encurralar Mya
no banheiro tinha sido um movimento idiota, mas eu precisava falar com ela,
tocá-la, sentir algo – qualquer coisa – dela. Um pequeno sinal de que
poderíamos encontrar nosso caminho de volta um para o outro.
— Posso me sentar? — A voz profunda do meu pai me tirou de meus
pensamentos, mas ele não esperou pela minha resposta enquanto se
acomodava ao meu lado. — Ela está dormindo. Em um minuto eu estava
falando, no próximo...
— Os médicos disseram que isso é esperado nos primeiros dias.
— Eu sei... eu sei... é só... Jesus, é difícil — ele murmurou. — Nunca
estive mais apavorado do que quando segurei sua mãe coberta de sangue...
— Não, pai, por favor, não. — Eu me lembrava de cada segundo daquela
noite. O sangue estava impresso em minha alma.
Estaria por muito tempo.
— Eu juro que minha vida inteira passou diante dos meus olhos — ele
continuou, e percebi que era a primeira vez que ele queria falar, realmente
falar, sobre o que tinha acontecido.
Acho que simplesmente não esperava que ele quisesse falar comigo sobre
isso.
— Todos os erros, a maneira como tratei vocês dois.
— Se esta é a parte em que você pede desculpas e nos tornamos uma
família feliz e brilhante, você está dez anos atrasado — eu disse com um
suspiro resignado. Eu não conseguia nem achar mais ânimo para ficar com
raiva. Estava exausto demais. Como se eu tivesse finalmente acordado de um
pesadelo de um mês.
De certa forma, acho que sim.
— Acha que eu não sei disso? O dano está feito. Entre nós, pelo menos
— ele parou, o silêncio se estendendo diante de nós. — Não posso mudar o
passado, filho. Mas posso mudar o futuro. Posso tentar mudar quem sou.
Dei a ele um olhar de soslaio, levantando uma sobrancelha.
— Ações falam mais alto que palavras.
— Eu sei disso. — Ele soltou um suspiro trêmulo, como se estivesse
contendo sua necessidade de controlar tudo. Se transformando bem na frente
dos meus olhos. — Vou consertar isso, Asher. Sua mãe sempre esteve ao
meu lado. É uma esposa zelosa e amorosa. Quando penso em como eu a
tratei... tratei vocês dois...
— Pai — avisei, rangendo os dentes.
Eu não queria fazer isso. Não agora.
Nem nunca.
Eu queria que ele estivesse ao lado de minha mãe e consertasse as coisas?
Cem por cento. Mas não queria ouvir suas desculpas idiotas sobre porque ele
tinha sido um cretino de coração frio a maior parte da minha vida.
— Sinto muito. Eu só... — Ele exalou. — Dizem que é preciso perder
tudo para perceber o que se tinha e, bem, quase perder sua mãe foi como se
algo mudasse dentro de mim, Asher. Algo fundamental.
Eu não sabia disso?
Eu tinha perdido Mya, deixei-a escapar por entre meus dedos.
E agora, quando eu precisava lutar por ela, não tinha certeza de como
fazer isso.
Ações falam mais alto que palavras. O pensamento me atingiu como uma
bola de demolição, e eu soltei:
— Você se importa de ficar com minha mãe por um tempo? Há algo que
preciso fazer.
Ele semicerrou os olhos, mas não do jeito frio e avaliador de sempre.
— Devo perguntar para onde você está indo?
— Você pode perguntar, mas não vai gostar da resposta. — Me levantei.
— Você disse que quase perder minha mãe mudou algo dentro de você. Bem,
isso me mudou também, pai. E sabe o quê? A vida é muito curta. É muito
curta para se preocupar com o que as pessoas pensam ou o que podem dizer
se você for contra a corrente.
Fiz uma pausa, respirei fundo e continuei.
— Eu amo a Mya. Eu a amo demais. E eu a afastei porque achei que era o
que eu deveria fazer. O que você e todo mundo achavam que eu deveria
fazer. Mas dane-se. A Mya é uma boa pessoa. Muito melhor do que você ou
eu. Ela é forte, corajosa, bonita por dentro e por fora e tenho muita sorte por
tê-la encontrado. — E fui um idiota por afastá-la.
Meu pai olhou para mim com os lábios pressionados em uma linha fina
de desaprovação. Esta era a parte em que ele brigava comigo sobre
responsabilidade, reputação e todas as outras regras idiotas pelas quais ele
vivia sua vida. Mas percebi que essa não era a vida dele.
Era a minha.
— O quê? — perguntei, desarmado com seu silêncio. — Você não tem
nada a dizer?
— Ah, eu tenho muito a dizer. — Sua expressão suavizou de uma forma
que me deixou sem palavras. — Mas algo me diz que você não vai me ouvir,
então acho que vou economizar meu fôlego.
Minha boca se inclinou em um canto.
— Acho que é a coisa mais verdadeira que você me disse nos últimos
anos.
Ele riu.
Foi estranho.
A coisa toda era estranha.
Estávamos em desacordo por tanto tempo que tinha me esquecido de
como era estar do mesmo lado. Mesmo se ainda estivéssemos sentados em
uma das extremidades, havia um vasto espaço entre nós. Mas não importava.
Ele precisava se concentrar na minha mãe. Se ele ia provar que tinha mudado,
que perder minha mãe o fez perceber o que era importante na vida, então ele
precisava me deixar tomar minhas próprias decisões. Ele precisava me deixar
trilhar meu próprio caminho.
Um caminho que eu esperava me levasse de volta para Mya.

— TEM CERTEZA DISSO? — Jason perguntou enquanto eu dobrava a


última nota e a adicionava à pilha.
— Nunca estive tão certo. — Olhei para meus dois melhores amigos e
sorri. — Mas se isso não der certo, você provavelmente terá que me trancar
em um armário até a formatura, porque não posso prometer que não farei
algo estúpido.
— Não fale assim. — Um olhar sombrio cruzou a expressão de Cameron.
— Estou brincando — eu ri. — Foi uma piada. — Bem, a maior parte.
Embora eu tivesse certeza de que iria para o fundo do poço se Mya não me
aceitasse de volta.
Eu precisava dela de uma maneira que não conseguia explicar.
De um jeito que eu nem queria tentar entender.
— Eu tenho que dizer, cara — Jase falou —, não sabia se você tinha isso
em você.
— Cara — eu grunhi. — Nem todos podemos ser como você.
— O que você acha que ele vai dizer? — Cam me perguntou, cautela em
seus olhos.
— Honestamente, não importa. Não mais. Ele não é meu pai há muito
tempo — hesitei.
— Me diga que não vou ter que chutar a bunda do dr. Bennet por toda a
cidade, porque você sabe que vou fazer isso, mesmo que me coloque em um
mundo inteiro de problemas com a Penn.
— Há algumas coisas que preciso dizer a vocês, sim. — Passei a mão
pelo rosto. — Mas quero que vocês dois saibam que a única razão pela qual
não contei é porque estava com vergonha. Meu pai é um idiota e quase me
chantageou.
— Que merda é essa, cara? — Jase arregalou os olhos e a veia em seu
pescoço latejou.
— Se eu te contar...
— Quando, quando você nos contar. Não estou brincando, Ash, se algo
aconteceu...
— Jase. — Cam colocou a mão em seu ombro. — Deixe-o falar.
— Obrigado. — Dei ao meu amigo mais calmo um aceno apreciativo. —
Se eu contar tudo, quero algo de vocês.
— Qualquer coisa, você sabe disso — Cam disse sem hesitar.
— Morre aqui — eu disse. — Por mais que me doa dizer isso, minha mãe
vai precisar dele. E ele mudou, eu realmente acredito que mudou. Não quero
que o que estou prestes a dizer tenha consequências, combinado?
— Mas a Mya sabe? — Jase esfregou o queixo.
— Sabe.
— Bom — ele disse, seus ombros caindo. — Estou feliz que você a
tenha, cara.
Eu não a tinha ainda, mas se meu plano funcionasse, teria em breve.
Mas primeiro eu precisava contar todos os meus segredos.
Precisava contar a verdade aos meus amigos.
TRINTA E SETE
Mya
NÃO VI ASHER durante toda a semana. Quando a sexta-feira chegou, eu
estava começando a pensar que ele havia desistido de nós.
De mim.
Foi quando encontrei. Um bilhete branco dobrado que saiu voando do
meu armário.

Mya
Pensei muito sobre como consertar as coisas entre nós... no final, percebi
que ações falam mais que palavras.
Eu te amo mais do que palavras podem dizer
E sei que você me ama também
Então, se arrisque comigo hoje
E me deixe mostrar a nossa história.

OLHEI EM VOLTA, meio que esperando Asher pulasse de algum lugar e


dissesse: “te peguei”. Mas ninguém apareceu. Na verdade, ninguém prestou
atenção em mim enquanto eu relia o bilhete, absorvendo cada detalhe. Não
fazia sentido nenhum. Até meu celular vibrar.

Asher: Seu motorista te espera lá fora.

ELE ESTAVA FALANDO SÉRIO? Ele realmente queria que eu matasse


aula?
Eu: Você ficou louco.

Asher: Estou louco. Por você. Agora se apresse ou vai perder seu passeio.

ELE TINHA FICADO LOUCO MESMO. Mas eu não podia negar que uma
emoção passou por mim com sua ousadia. Meu celular vibrou novamente e
sorri ao ler suas palavras.

Asher: O tempo está passando, Hernandez.

HERNANDEZ. Deus, parecia que fazia uma eternidade desde que ele me
chamou assim. Desde que as coisas eram fáceis entre nós.
Antes de eu começar a me questionar. Enfiei os livros de volta no
armário, fechei-o com força e corri pelo corredor. Meus olhos imediatamente
encontraram o elegante Dodge Charger de Jason do outro lado do
estacionamento. Ele estava encostado com um sorriso malicioso estampado
em seu rosto ridiculamente bonito.
— Sua carruagem a espera — ele disse com uma pontada de diversão
quando eu o alcancei.
— Devo saber primeiro para onde estamos indo?
— Sem chance. — Seu sorriso cresceu. — Se quer isso, tem que confiar
em mim.
— É mesmo? — Arqueei a sobrancelha e meu olhar endureceu, apesar do
frio em meu estômago.
— Você quer que ele conserte as coisas ou não?
— Estou com medo — admiti, incapaz de encontrar seus olhos.
— Isso não é uma coisa ruim, Mya — Jason respondeu, e a suavidade em
sua voz me fez olhar para ele novamente. — Se você não estivesse com
medo, significaria que você não se importa. E nós dois sabemos que isso não
é verdade.
— Tudo bem — dei um pequeno sorriso. — Vamos fazer isso.
— Graças a Deus, achei que teria que sequestrar você.
Revirando os olhos, entrei no carro, segurando o bilhete como se fosse
minha tábua de salvação.
— Preparada? — Jason perguntou.
Assenti, nervosa demais para falar.
— Relaxe — meu motorista falou. — Você não tem absolutamente nada
com que se preocupar.
Mas nós dois sabíamos que ele estava mentindo, porque eu tinha.
Este era o momento em que eu e Asher avançaríamos juntos ou nos
afastaríamos para sempre.

— TUDO BEM, isso não era o que eu esperava.


O carro de Jason parou em frente à casa da minha tia.
— Tem certeza de que ele disse para você me trazer aqui?
— Eu sou só o motorista. — Ele balançou a cabeça para a porta. — Mas
pode haver alguém esperando por você lá dentro.
A esperança inchou no meu peito quando pulei para fora do carro e corri
para casa. Mas quando a porta se abriu para revelar tia Ciara parada ali, meu
coração afundou.
— Não fique tão desapontada. — Ela riu, me conduzindo para dentro. —
Seu rapaz deixou algo para você. — Tia Ciara tirou outro bilhete branco do
bolso e me entregou. — Eu te amo, Mya, e tudo que eu quero é que você seja
feliz. Só Deus sabe que você merece. E posso admitir quando estou errada
sobre alguém. Te vejo mais tarde, tá?
Com uma piscada, ela desapareceu no corredor e me deixou ali parada,
sem acreditar. Minhas mãos tremiam quando abri o bilhete e vi a letra de
Asher.

Aqui marca o lugar que eu te chamei de linda pela primeira vez... e é


verdade, Mya. Verdade mesmo. Você é linda por dentro e por fora e estou
tão grato por ter deixado isso escapar naquele dia. Porque se eu não tivesse,
talvez não estaríamos aqui agora.
Mas isso é só o começo...
Agora você deve voltar ao início
Para descobrir quando você roubou meu coração
A pista é o lar de Milton e Shakespeare, Steinbeck também
Mas se apresse, Mya, porque estou esperando por você

ENXUGANDO UMA LÁGRIMA, dobrei o bilhete e o enfiei no bolso.


— Te vejo mais tarde — gritei para minha tia antes de voltar para o lado
de fora, aliviada por encontrar Jason ainda esperando.
— Então? — ele perguntou quando entrei no carro. — O que ele disse?
— Ele não te contou?
— Era uma necessidade conhecer a base — ele resmungou. —
Aparentemente, eu não precisava saber tudo.
Sufocando uma risadinha, entreguei-lhe o bilhete.
— O que isso significa?
— Isso significa que vamos voltar para a escola.
Porque eu sabia exatamente onde estava a próxima pista.

— A BIBLIOTECA? — Jason ficou boquiaberto. — O que é que a biblioteca


tem a ver com qualquer coisa? Espere um minuto... — Seus olhos se
iluminaram. — Vocês dois se pegaram entre as pilhas de livros?
— Jason! — gemi. — Você pode ficar aqui.
— Ah, caramba, não. Tenho direitos de motorista. Vamos lá.
— Tudo bem, mas fique quieto. — A última coisa de que precisávamos
era aborrecer a sra. Hegarty.
A biblioteca estava quase vazia, e não tive problemas em localizar as
cadeiras que eu e Asher sentamos há algumas semanas.
— Merda — sussurrei quando percebi que alguns caras estavam
estudando lá.
— O que foi? — Jason perguntou.
— É aí que a pista está.
Ele estufou o peito de forma dramática.
— Você não aprendeu nada estando com o Asher? Vamos. — Indo até os
caras, Jason olhou para eles.
— Humm, podemos ajudá-lo? — um deles falou baixinho, olhando
nervoso para o amigo.
— Sim, eu preciso que você sai...
— Jason — interrompi, oferecendo aos caras um sorriso de desculpas. —
Lamento pelo meu amigo, ele não tem educação. Estou procurando algo. Por
acaso você não viu um papel branco por aí, viu?
— Este papel branco? — O outro sorriu, arrancando o bilhete de suas
pilhas de livros. — Um amigo nos pediu para cuidar dele.
— Ele pediu, é? Bem, agradeça ao seu amigo. — Peguei o bilhete dele e
me dirigi para a porta.
— Você não é divertida — Jason protestou.
— Eu sou muito divertida. Agora volte para que eu possa ler.

Quis tanto beijar você naquele dia... quase estrangulei a sra. Hegarty
quando ela nos interrompeu! Você se lembra? As palavras estavam bem na
sua língua. Você queria que eu te beijasse, porque sentiu isso, Mya. Você
sentiu a conexão entre nós.

E quando você me perdoar e nós voltarmos, acho que deveríamos revisitar a


biblioteca e compensar por aquele dia.

Mas isso pode esperar, porque está na hora da sua próxima pista...

Bebi muito porque a vida ficou difícil

Mas você estava lá como uma estrela brilhante


Você segurou minha mão e me confortou
E logo se tornou tudo que eu podia ver.

— JÁ SEI — Jason disse, estalando os dedos. — É a casa dele, certo? A


noite em que ele ficou bêbado.
— Cara, sai daqui. — Olhei por cima do ombro, franzindo a testa para
ele.
— Mas estou certo, não estou?
— Você é irritante.
— Mas você precisa de mim, então vamos, Hernandez, vamos colocar
esse show na estrada.

MEU ESTÔMAGO ESTAVA se revirando no momento em que Jason parou


na garagem da casa de Asher. Só estive aqui uma vez desde o incidente: a
noite da festa, quando todas as pessoas estavam comemorando as boas
notícias de Asher. Mas agora, na dura luz do dia, parecia errado estar aqui.
— Ei, você está bem? — Jason perguntou, seus olhos queimando ao lado
do meu rosto.
— Não tenho certeza se posso fazer isso. — As memórias daquela noite
estrangularam minha voz.
— Mya, olhe para mim. — Seu tom de comando me persuadiu a olhar
para ele. — Você precisa. Se não for pelo Asher, então por você mesma. O
que aconteceu aqui não foi sua culpa, certo?
— Certo. — Assenti, sem saber se eu acreditava nele.
Saímos juntos e fiquei aliviada por ter alguém ao meu lado, mesmo que
fosse Jason.
— Você acha que ele está aqui? — perguntei enquanto avançávamos
lentamente na casa.
— Eu não sei...
— Aí está você. — Felicity irrompeu pela porta da frente. — Estive
esperando a manhã toda.
— Humm, oi — falei, com o cenho franzido.
— Ah, não me olhe assim. Como se você não soubesse que eu ajudaria a
fazer isso acontecer.
— O pensamento não passou pela minha cabeça. — Eu estava tão
envolvida com tudo que não parei para pensar sobre o que foi preciso para
fazer algo assim.
— É incrível, não é? Ele pensou muito em tudo. — Ela bateu palmas, a
excitação brilhando em seus olhos. — E os bilhetes. Eu quase morri.
— Espera aí — Jason grunhiu. — Você viu os bilhetes?
— Bem, sim. Por que, você não viu?
— Não, eu não vi a porra dos bilhetes. Inacreditável. — Ele se esgueirou
por nós, entrando na casa.
Felicity riu da birra do namorado.
— Ele vai superar. Como você está indo?
— Eu estou... bem, acho. Isso é tudo... — Engoli. — É muito para
absorver. Ainda não consigo acreditar que ele fez tudo isso.
— Você não viu nada ainda. — Ela piscou. — Vamos. Acho que ele
deixou uma ou duas coisas para você. — Peguei a mão de Flick e a deixei me
puxar para dentro. — Você quer um pouco de espaço?
— Acho que sim. Tudo bem?
— Estaremos na cozinha. Nos encontre quando terminar.
Respirando fundo, fui para a parte de trás da casa, onde o banheiro do
térreo ficava localizado. Dentro, encontrei um papel branco apoiada em um
dos dispensadores de sabonete de mármore da sra. Bennet.

Não sabia se você chegaria a este ponto. Sei que é muito pedir para você
estar aqui, então, obrigado. Obrigado por confiar em mim.
Não me lembro muito daquela noite. Eu tinha bebido muito. Mas tudo
que consigo me lembrar é de você. Sua voz. Seu toque suave e pele macia
contra a minha. Como foi bom. Você era como uma luz brilhante na
escuridão. Minha própria Estrela do Norte em céus escuros. E mesmo que
tudo esteja um pouco nebuloso, me lembro de ser atingido por essa
necessidade irresistível de torná-la minha, de todas as maneiras possíveis.
Eu queria fazer pequenas rimas, mas não vou mentir... nunca fui muito
bom em poesia. Além disso, acho que você conhece o próximo.
Sua próxima pista está onde nós compartilhamos nosso primeiro beijo de
verdade...

CORRI PARA FORA DO BANHEIRO, descendo as escadas direto para o


porão. Parte de mim queria encontrar Asher lá, esperando por mim. Mas eu
sabia que nossa história não estava terminada. No fundo, eu sabia que havia
mais por vir. Então, quando vi o próximo bilhete em uma almofada no sofá
onde nós nos beijamos pela primeira vez, agarrei e bebi avidamente as
palavras.

Você se lembra?
Se lembra de como foi bom ter meu corpo pressionado contra o seu? A
maneira como nos beijamos?
Você se lembra de me dizer para parar?
Eu nunca tiraria vantagem de você ou te pressionaria a fazer algo que
você não queria fazer, mas naquele momento, você realmente testou minha
determinação. Eu queria me afogar em você, Mya. Para nunca subir para
respirar.
Você faz isso comigo.
Sempre, só você.
…você se lembra do que aconteceu a seguir?

AS LÁGRIMAS ESTAVAM ESCORRENDO pelo meu rosto enquanto corri


de volta para cima, subindo as escadas para o segundo andar. No segundo em
que entrei no quarto de Asher, fui assaltada com memórias dele. Nós dois.
Noites emaranhadas em seus lençóis. Manhãs envoltas em seus braços.
Sequei os olhos com as costas das mãos, procurando o próximo bilhete.
Não fiquei surpresa quando o encontrei no meio da cama ao lado de uma
bolsinha de veludo.

Foi aqui que saímos um pouco do curso... mas se isso te trouxer de volta a
mim mais rápido, posso viver com isso.
Abra a bolsa, Mya.
Já abriu? Todos devem fazer sentido, mas caso não façam, aqui está um
pequeno lembrete.
O coração representa a primeira vez que você disse, “sou sua”.
Estávamos na casa da Flick (e embora ela quisesse desesperadamente ser
incluída em nossa pequena viagem pelo caminho da memória, eu precisava
acelerar as coisas. Sou um cara paciente... mas no que diz respeito a você,
não sou TÃO paciente).
O barco representa a primeira vez que você se entregou a mim. Melhor.
Noite. Da. Minha. Vida. Prevejo que os únicos dias que chegarão ao topo
serão aqueles em que você se tornará a minha esposa e o dia em que dará à
luz nosso filho. Porque, baby, eu quero tudo com você. Tudo mesmo.
O Empire State Building representa nossa noite... e que noite incrível
foi... em Nova York. Podemos ter dito as palavras pela primeira vez naquela
noite, mas eu já as havia sentido muito antes disso. Na verdade, tenho quase
certeza de que me apaixonei por você naquela noite em que você me colocou
bêbado na cama.
Já estou te conquistando?
Você provavelmente está ficando com um pouco de fome e sede agora...
acho que você deveria sair para tomar uma bebida.

AS LÁGRIMAS NÃO PARAVAM. Não importava o quanto eu tentasse


engoli-las, elas continuavam caindo.
— Mya? — Felicity entrou no quarto, me envolvendo em seus braços. —
Ah, querida, você não deveria ficar chateada.
— Eu só... Deus, eu tenho sido uma babaca.
— Não, não! — Ela me segurou com o braço esticado. — Você precisava
saber que ele te ama do jeito que você o ama e está tudo bem. Vocês dois
passaram por muita coisa. Mas não há problema em precisar de alguém, Mya.
Tudo bem dar outra chance.
Sequei os olhos, segurando os pingentes da pulseira.
— Posso vê-los? — Flick perguntou, e eu desenrolei meus dedos. —
Devemos adicioná-los à sua pulseira?
— Eu gostaria. — Assenti e a deixei fazer isso. Quando ela terminou, eu
os admirei. — É lindo.
— Ele escolheu bem. Mas você não tem outro lugar para ir? O que a sua
pista diz?
— Bell’s — eu disse com convicção. — Ele quer que eu vá para o Bell’s.
— Era o único lugar que fazia sentido.
— Bem, então, o que estamos esperando?
FELICITY ME LEVOU AO BELL’S. Acho que Jason estava feliz por ficar
para trás, já que eu não conseguia parar de chorar. Asher não apenas brincou
com minhas emoções, ele as destruiu completamente.
— Ei, Jerry — ela disse quando entramos no bar. — Acho que você pode
ter algo para a minha amiga.
— Ei, meninas, porque não se acomodam no bar e eu já estarei com
vocês? — Ele desapareceu nos fundos enquanto nos sentávamos nos
banquinhos.
Felicity se aproximou e pegou minha mão, apertando-a.
— Vai ficar tudo bem, Mya.
Eu estava começando a entender isso.
Não era apenas sobre o grande gesto de Asher, era sobre a forma como
Jason e Cameron vieram cuidar de mim, e a forma como Felicity e Hailee
estavam sempre ao meu lado, sem perguntas. Talvez eu sempre fosse a garota
estranha em Rixon, mas eles só me faziam sentir como se eu pertencesse a
algo. Construí uma família aqui, uma vida, e isso era algo pelo qual sempre
seria grata.
— Lá vamos nós — Jerry reapareceu, carregando uma sacola preta. Ele
jogou no balcão e me entregou um bilhete. — Vou deixar vocês duas com
isso. — Ele me deu uma piscada antes de se ocupar do outro lado do bar.
— Está todo mundo envolvido nisso? — perguntei, incrédula.
— Apenas as pessoas importantes — Flick respondeu. — Bem, não fique
só olhando, abra.— Ela apontou para o bilhete em minha mão.

Sei que o futebol não é seu esporte. Sei que doeu para você usar minha
camisa no jogo de exibição e ficar na arquibancada me apoiando. Mas você
fez isso mesmo assim. Você sempre ultrapassa seus limites... por mim.
Você me escolheu.
Lutou por mim.

Achei que estava lutando também. Achei que porque quase acabei com
Merrick, ou porque mal falei com Vaughn em Nova York, ou porque fui
contra as ordens do meu pai por estar com você, eu estava lutando também.
Mas agora percebo que não foi o suficiente.
Eu não fui o suficiente.
E sinto muito, Mya.
Então, me deixe mostrar que estou pronto.
Me encontre no lugar onde os jovens que pensam ter tudo planejado se
tornam deuses e reis.
Porque este rei está pronto para reivindicar sua rainha.

RESPIREI FUNDO, suas palavras reverberando por mim, me deixando sem


fôlego.
— Esse eu não vi. Puta merda, acho que escolhi o Raider errado.
— Felicity! — Cutuquei seu ombro enquanto nós duas líamos novamente.
— O lugar onde os homens se tornam deuses e reis... o que ele...
— O campo de futebol, onde mais? — ela disse como se não houvesse
nenhuma dúvida.
E ela estava certa.
Claro que estava.
— Você está pronta?
— Acho que sim — ofeguei com o enorme caroço na minha garganta.
— Bem, antes de irmos, você provavelmente deveria olhar isso. — Seus
olhos caíram para a bolsa no balcão. — Você veio até aqui, pode muito bem
ir até o fim.
TRINTA E OITO
Asher
— ELA VAI VIR — Cameron falou enquanto estávamos no centro do campo
esperando por qualquer sinal de Mya e Felicity.
— E se ela não aparecer?
— Ela vai aparecer — ele disse com convicção absoluta.
— Como você pode ter tanta certeza? — perguntei a ele, me remexendo.
Meu coração esteve na garganta a porra do dia todo. Esse parecia o plano
perfeito quando eu estava juntando tudo, mas agora, enquanto eu estava no
campo de futebol, cercado por meus companheiros de equipe, eu não tinha
tanta certeza.
Se ela não viesse... puta merda, eu não queria cair de joelhos e chorar
como uma criança na frente de todos eles, mas tinha certeza de que seria
exatamente isso o que aconteceria.
Cam estava ao telefone quando olhou para cima.
— Hora de começar.
— Elas estão aqui. — Meu pulso disparou.
— Elas estão aqui. — Ele me deu um aceno tranquilizador. Ele foi ótimo
com tudo isso. Jason também. Não foi fácil alinhar todas as peças, mas
cobramos alguns favores aqui e ali, e posso ter citado o nome do meu pai
uma ou duas vezes. Mas era isso, tudo ou nada.
— Certo — eu disse correndo para a posição. — Vejo você do outro lado.
— Era impossível vê-la, minha visão estava bloqueada pela parede de corpos
todos voltados para as arquibancadas onde eu sabia que Hailee e Felicity
tinham feito Mya esperar. Eu podia imaginá-la parada lá, usando minha
camisa e se perguntando o que estava acontecendo.
Pelo menos, eu esperava que ela estivesse.
— Quem somos? — Jason rugiu.
— Raiders — as vozes de meus companheiros ecoaram pelo ar.
— Eu perguntei quem somos?
— RAIDERS.
— E o que somos?
— Família.
— E o que vamos fazer? — Jason olhou para mim, assentindo.
— Pegar a garota — eles gritaram juntos.
— Eu perguntei o que vamos fazer?
— Pegar a garota!
A adrenalina correu através de mim quando os caras começaram a fechar
as fileiras, correndo em duas linhas – ataque e defesa – até que estavam
empilhados na minha frente em uma longa escada vertical levando direto para
Mya.
Grady olhou para trás, me dando um sorriso idiota.
— É isso aí, mano — ele murmurou, e eu assenti.
Fiz algumas coisas questionáveis nos últimos quatro anos. Festejei muito.
Transei com muitas garotas. E festejei mais um pouco. Menti para meus
amigos e desempenhei um papel em um jogo do qual nunca quis participar.
Fiquei amargo e ressentido, e lidei com isso da única maneira que conhecia:
estampando um sorriso falso, fazendo piadas idiotas e levantando o copo para
a vida perfeita que todos pensavam que eu tinha.
Mas esta, parada aqui esperando minha deixa, foi a primeira vez que me
senti em paz. Não havia dúvida de que essa foi a decisão certa.
Agora tudo que eu precisava fazer era convencer Mya.
O som da abertura de Whatever it takes, do Imagine Dragons, ecoou no
sistema de som e, lentamente, par a par, as duas linhas se separaram até que
eu finalmente pudesse vê-la.
Mya.
Minha Mya usando meu número, olhando para mim como se eu estivesse
louco.
Talvez eu estivesse.
Talvez esta fosse uma ação exagerada de proporções épicas. Mas ela
merecia. Mya merecia saber, inequivocamente, que eu a amava e que eu a
escolhi. E que melhor maneira de mostrar do que na presença de meus
companheiros de equipe. Os meus irmãos.
Minha família Raider.
Corri em direção a ela, cumprimentando meus companheiros de equipe
no caminho. Quando pedi pela primeira vez que me ajudassem, todos me
encheram o saco. Mas Jason, sendo Jason, logo insistiu que eles se
alinhassem. Éramos uma equipe. E se um de nós precisava de ajuda, nós
ajudávamos. Ponto final.
Diminuindo meu ritmo, parei bem na frente dela.
— Oi — ela falou baixinho.
— Oi.
— Eu... eu nem sei o que... — Ela arregalou os olhos quando finalmente
me notou. — Asher... — ela resmungou.
— Sim, amor? — Inclinei o canto da boca quando ela começava a
entender.
— Por que você está vestindo isso?
— Isso? — Segurei a camisa vermelha e branca e puxei para longe do
meu peito. — Achei que deveria me acostumar com ela.
— M-mas por quê?
Dei um passo para mais perto.
— Porque no outono, vou jogar pelo Temple Owls.
— Vai? — A expressão de surpresa em seu rosto era adorável.
Assenti, lutando contra um sorriso.
— Ainda não é oficial, mas será em breve. O que você acha? — Dando
uma voltinha, fiz uma pausa longa o suficiente para que ela desse uma boa
olhada no nome impresso no verso.
— Hernandez — ela sussurrou.
— Isso mesmo, baby. — Eu a encarei de novo, cruzando a distância entre
nós. — Você está usando meu nome, e eu estou usando o seu. Sabe o que isso
significa?
Seus lábios se entreabriram, mas as palavras ficaram presas.
— Significa — eu me inclinei, pairando sobre seus lábios — que sou seu
e você é minha.
— Acho que gosto disso. — Sua voz tremeu, mas o sorriso em seu rosto
disse tudo.
— É?
— É — ela murmurou. — Só tem um probleminha.
Recuei, com as sobrancelhas franzidas.
— Não vou para a Temple no outono.
— Não vai?
Que merda era essa?
Mya balançou a cabeça.
— Não vou... porque aceitei a vaga em Cleveland.
— Você o quê? Eu não estou acompanhando.
A culpa brilhou em seus olhos.
— Depois daquela noite na casa da Felicity, eu sabia que não havia como
me afastar de você. Eu só precisava de tempo para lidar com as coisas. Então
aceitei a vaga em Cleveland. Eu estava esperando a hora certa para te contar.
Segurando sua nuca, puxei-a para perto de mim.
— Bem, você vai precisar cancelar. Eu quero a Temple, Mya. Quero ir
para a Temple com você.
— Tem certeza?
— Mais do que tudo. Onde você for, eu vou, Hernandez. — Seu corpo
relaxou contra mim diante de minhas palavras.
— Mas e quanto ao seu pai?
Recuei para olhar para ela.
— Quem você acha que mexeu os pauzinhos com a administração da
Temple?
— Sério?
— Ele me devia uma, e agora — beijei a ponta do seu nariz —, agora
estamos quites.

— NÃO ESTOU CERTA QUANTO A ISSO. — Mya tamborilou com a


mão na coxa enquanto eu estacionava no hospital e desligava o motor.
— Ei — eu disse, me inclinando para segurar suas mãos. — Pare de
pensar demais nisso.
— Eu não sou... é só...
— Você está assustada?
Ela assentiu, seu lábio inferior tremendo. Sem hesitar, cruzei a distância
entre nós e capturei sua boca em um beijo profundo. Entrelacei a mão em seu
cabelo, amando como seus cachos na minha pele.
— Eu te amo, Mya. Nada vai mudar isso.
— Ela realmente quer me ver?
A emoção obstruiu minha garganta. Depois que me sentei e contei a
minha mãe o plano que eu tinha para reconquistar Mya, ela olhou para mim
com tanto orgulho que posso ter derramado uma lágrima ou duas. Então ela
disse que queria ver minha namorada o mais rápido possível.
— Quer — ofeguei, passando o polegar sobre o pescoço de Mya. — Mas
se você não estiver pronta...
— Estou pronta. — A convicção cintilou em seus olhos.
— Essa é minha garota.
Saímos do jipe e entramos. Algumas pessoas olharam, observando para
nossas mãos unidas, com desaprovação brilhando em seus olhos, mas isso só
me fez segurá-la com mais força.
Eu estava cansado de me importar com o que as pessoas pensavam.
— Eu odeio esses lugares. Muito — Mya murmurou enquanto
entrávamos no elevador.
Eu me movi atrás dela, envolvendo os braços em sua cintura e apoiei o
queixo em seu ombro.
— Sim, ficarei feliz quando ela finalmente estiver em casa. — Mas eu
sabia que demoraria um pouco. Minha mãe estava mostrando progresso, mas
os médicos estavam preocupados com a extensão dos danos causados em seu
cérebro.
— Acho que nunca vou me perdoar — Mya sussurrou.
— Ei, não faça isso. Nós prometemos, lembra? Jermaine fez isso, não
você. Se eu não tivesse...
— Ele teria atirado em você ou em mim.
O silêncio nos envolveu enquanto esperávamos que as portas se abrissem.
— Quando sairmos daqui, faremos isso juntos, certo? E deixaremos o
passado onde ele pertence.
Mya se virou em meus braços, olhando para mim com tanto amor que
tirou o ar de meus pulmões.
— Juntos. — Ela se inclinou para me beijar, mas logo as portas se
abriram e o barulho do andar movimentado do hospital interrompeu nosso
momento íntimo.
Caminhamos de mãos dadas para o quarto da minha mãe. Meu pai havia
feito uma doação substancial ao hospital para dar a ela o melhor quarto
disponível. Tinha um sofá e uma cama dobrável onde ele dormia quase todas
as noites. Ele até avisou a todos os clientes que estava tirando uma licença
prolongada para cuidar de minha mãe.
Era mais do que eu esperava, mas não menos do que ela merecia.
Não deveria esperar quase perdê-la para que ele assumisse o controle,
mas eu estava aliviado por ele ter superado quando ela mais precisou dele.
Ela se mexeu no segundo em que entramos no quarto.
— Ei, mãe — falei, soltando Mya para ir para o lado da cama. — Eu
trouxe alguém para te ver.
Os olhos da minha mãe observaram Mya enquanto ela se aproximava de
nós. Meu coração bateu forte em meu peito e minhas mãos ficaram suadas.
Eu sabia que minha mãe queria que eu trouxesse Mya aqui para que minha
namorada soubesse que ela não a culpava. Mas ainda havia uma semente de
dúvida. Uma pequena parte de mim que esperava que nosso tapete fosse
puxado a qualquer momento. Minha mãe não culpava Mya. Meu pai
concordou e me ajudou com a Temple University, embora a contragosto.
Tudo parecia bom demais para ser verdade.
Mas quando minha mãe ergueu a mão trêmula em direção a Mya e minha
garota parou ao lado de sua cama, segurando sua mão com lágrimas rolando
pelo rosto, eu sabia que ficaríamos bem.
O passado machucou a todos nós, mas não nos destruiu.
Observei as duas mulheres mais importantes do mundo para mim
compartilharem um momento íntimo. Minha mãe puxou Mya para perto, mal
dizendo uma palavra, mas não precisava. Seus olhos diziam tudo que ela
ainda não podia dizer.
— A- Ash...
Fui até Mya, cobrindo suas mãos unidas com as minhas.
— Eu amo muito vocês duas. E sei que vamos superar isso, tá? Porque
vamos precisar de você saudável e feliz, mãe.
Seus olhos se arregalaram, e eu ri.
— Não se preocupe, não vamos te dar um neto... ainda. — Pisquei para
ela, mas o cotovelo de Mya me acertou nas costelas.
— Sinto muito, sra... Julia. Você sabe como ele fica quando está animado
com alguma coisa. Mas não precisa se preocupar. Planejamos ir para a
faculdade antes que isso aconteça.
— Veremos — resmunguei, abraçando-a e beijando seu pescoço. Eu
sabia que as pessoas achariam que éramos muito jovens, muito irresponsáveis
para saber o que queríamos da vida. Mas eu estive cuidando de mim mesmo,
ansiando por amor e atenção desde que conseguia me lembrar.
E agora que encontrei?
Não planejava abrir mão.

— VOCÊ ESTÁ MARAVILHOSA — falei ao ver Mya parada usando


apenas a minha camiseta dos Raiders e a calcinha de renda preta.
Depois de passar a tarde com minha mãe, eu a persuadi a voltar para casa
comigo. Descemos para a sala de home theater para assistir a um filme. Foi
bom. Normal.
Foi um pedacinho de paraíso no inferno em que vivemos nas últimas
semanas.
Agora estávamos lá em cima, prontos para dormir. Mas eu não esperava
que ela saísse do banheiro vestindo minha camisa.
— Achei que você gostaria. — Ela brincou com a bainha da blusa, me
mostrando suas coxas suaves.
Eu me apoiei em um cotovelo, olhando-a. Ela era tão linda, e cada
centímetro dela era meu.
Seria por muito tempo, se eu tivesse algo a dizer sobre isso.
— Achei que íamos dormir — comentei, observando seus movimentos
enquanto ela se aproximava da cama.
— Vamos. — Mya sorriu com timidez e o desejo brilhando em seus
olhos.
Movi a perna sobre a cama e curvei a mão em volta de sua cintura,
puxando-a para mais perto, deixando-a se acomodar entre minhas pernas.
— Obrigado por hoje. Sei que não foi fácil.
Ela olhou para mim.
— Estou feliz por ter ido. Acho que, de certa forma, precisava vê-la. Eu
precisava saber que ela não me culpava.
— Ninguém te culpa, Mya. Nem mesmo meu velho. — Sua sobrancelha
se ergueu com isso. — Ele vai mudar de ideia. — E se não mudasse, não
importava. Ele me livrou das obrigações do império Bennet e se aproximou
para cuidar de minha mãe.
Se eu nunca falasse com ele novamente, estávamos quites, e eu poderia
viver com isso.
— Não importa — ela disse. — Não preciso da aprovação dele.
— Essa é minha garota. — Segurei a bainha da camisa e a empurrei por
seu corpo para que pudesse beijar seu umbigo.
— Ash... — ela murmurou, deixando seus dedos brincar com meu cabelo.
— Acho que não quero mais dormir. — Já era tarde e teríamos aula
amanhã, mas tudo em que eu conseguia pensar agora era em estar enterrado
bem fundo nela.
— Nós realmente deveríamos...
— Shhh. — Beijei sua barriga novamente, girando a língua em torno de
seu umbigo. — Eu posso ser rápido.
— Não muito, espero. — Ela puxou meu cabelo, exigindo ver meus
olhos.
Sorri para seu atrevimento.
— Nunca mude, Mya. Não por mim. Nem por ninguém. — Passei as
mãos por suas costas, segurei sua bunda, guiando-a para dentro de mim. Mya
se sentou no meu colo lentamente. Eu a imaginei nua, tomando meu pau duro
como pedra dentro dela.
— Puta merda — falei com a voz rouca enquanto ela se movia de
encontro a mim, fazendo faíscas de prazer subir pela minha espinha. — Não é
suficiente — sussurrei, encontrando a curva de seu pescoço com os lábios
enquanto eu juntava seus cachos selvagens em uma mão e a puxava para mais
perto. Queria provar cada centímetro dela, devorá-la. Queria marcá-la com
beijos e me imprimir em sua alma.
Eu queria nos ligar de todas as maneiras possíveis.
Mas algo me disse que Mya não aceitaria se eu me ajoelhasse e fizesse o
pedido. Então, por enquanto, me conformei em beijá-la. Em deixar minhas
mãos vagarem por baixo da minha camisa, traçando letras de amor em sua
pele.
— O que você quer, Mya? — Beijei o canto de sua boca. — Me diga o
que você quer.
— Você — ela disse baixinho. — Eu só quero você.
— Você me tem, tudo de mim.
— Me mostre. — Seus olhos brilharam de desejo.
— Mostrar para você? — Arqueei uma sobrancelha. — Será um prazer.
— Guiando-a para a cama, me acomodei sobre ela e passei meu nariz sobre o
seu, beijando seus lábios. Deixando a língua deslizar em sua boca,
derramando cada gota de amor que eu sentia. Nós conseguiríamos.
Superaríamos as probabilidades.
Nosso passado e presente colidiram de uma maneira que nenhum de nós
imaginou, mas o futuro?
O futuro era nosso.
EPILOGUE
Mya
TRÊS MESES DEPOIS.

— MYA HERNANDEZ — o Diretor Finnigan chamou meu nome, e eu me


movi pelo palco, o coro de gritos e assobios fazendo minhas bochechas
esquentarem. Meus olhos encontraram Asher do outro lado do palco, onde ele
estava com o resto da nossa turma de formandos, seus olhos brilhando de
felicidade.
— Eu te amo — ele murmurou, e eu sorri. Deus, eu o amava. Amava suas
travessuras exageradas de namorado e a maneira como ele não tinha medo de
me dizer que me amava a cada segundo do dia.
Eu o amava tanto que já estava sonhando com coisas malucas como nos
mudar para nosso primeiro apartamento, me casar e ter bebês bonitos de
olhos azuis, cabelos loiros e pele escura.
Eu era esse tipo de garota agora.
Completamente apaixonada. Totalmente perdida.
Dele. Só dele.
E eu não mudaria isso por nada no mundo.
Depois de tudo o que aconteceu com Jermaine, Julia e o pai de Asher, e
até mesmo Kellie Ginly, eu sabia que poderíamos enfrentar qualquer
tempestade que nos atingisse. Porque eu não era ingênua. Sabia que haveria
outras pessoas por aí que não aprovariam nosso relacionamento.
Por mim, todos poderiam ir à merda.
Asher Bennet era meu e eu era sua.
E nada mudaria isso.

— PUTA MERDA, você estava gostosa. — Asher passou o braço em volta


da minha cintura e cobriu minha boca, dando grandes beijos molhados em
todo o meu rosto.
— Ash... — Eu ri, pressionando as mãos contra seu peito. — Pare, nós
estamos...
— Não se preocupe, baby. — Seu hálito quente fez cócegas em minha
orelha. — Eu não...
Alguém pigarreou e nos viramos lentamente para encontrar o sr. Bennet
parado ali nos encarando.
— Pai — Asher murmurou. — Seu timing é impecável, como sempre.
— Asher — ele olhou para o filho. — Mya.
O sr. Bennet não me olhava mais como se eu fosse a sujeira em seu
sapato, mas também não me recebia exatamente de braços abertos. Ele era
amigável. Polido e educado, mas não fazia nenhum esforço para me
conhecer.
Estranhamente, eu estava bem com isso.
Ele precisava se concentrar em sua esposa e ajudá-la a se curar. Mesmo
que ele ainda tivesse um problema comigo – e parte de mim sabia que ele
provavelmente tinha – Julia era quem dava as cartas agora. E ela me amava
de uma maneira que eu nunca imaginei.
De certa forma, eu não tinha certeza se merecia.
— É a minha mãe...
— A-Ash.
Asher se separou de mim e foi até a mãe, caindo em seus braços abertos.
Não tínhamos certeza de que ela chegaria à formatura, mas Julia desafiava
seus médicos a cada passo. Provando a todos que ela era forte.
— Mya. — Seus olhos encontraram os meus por cima do ombro, com um
leve sorriso curvando seus lábios. — E-estou o-orgulhosa de você. — Ela
tropeçava um pouco nas palavras, mas sua fala melhorava a cada semana.
— Estou muito feliz por você ter vindo sra... Julia.
Ela sorriu, gentilmente empurrando Asher.
— N-não... perderia por nada no mundo.
— Eu te amo, mãe. — A voz de Asher falhou. — Eu te amo demais. —
Ele estendeu a mão para trás, procurando a minha. Entrelacei os dedos nos
dele e seus ombros imediatamente baixaram, cheios de alívio.
— Minhas duas garotas favoritas — ele disse, olhando entre nós com
tanta emoção em seus olhos azuis que minha respiração parou.
— Aí está você. — Felicity veio até nós, radiante em seu vestido. — Olá,
sra. Bennet, é tão bom te ver.
Julia sorriu, a felicidade brilhando em seus olhos.
— Cadê o Jase? — Asher perguntou.
— Conversando com o treinador Hasson. Ele não é mais um Raider, mas
ainda não consegue abrir mão.
— Você já deveria saber, Fee, baby, uma vez Raider, sempre...
— Raider — nós duas respondemos, compartilhando um sorriso.
— É claro que sim.
— Bem, se você não se importa, preciso pegar a Mya emprestada por um
tempo.
Olhei para Asher, que sorriu.
— Por mim, tudo bem.
— Te vejo mais tarde — falei.
Os pais de Asher permitiram que ele fosse o anfitrião de uma festa de
formatura antes de irmos para os Hamptons para as férias de verão e, em
seguida, todos seguiriam caminhos separados para a faculdade. Como os
rapazes tinham treino de verão, sairíamos mais cedo. Era difícil acreditar que
todos estaríamos em faculdades diferentes. Para minha sorte, Jason e Felicity
estariam do outro lado do rio na UPenn, então ainda nos veríamos.
— Vamos. — Felicity segurou minha mão, me dando um sorriso
malicioso. — Eu prometo devolvê-la inteira.
Franzi o cenho, tentando decifrar a intenção em sua expressão, mas antes
que eu pudesse descobrir o que estava acontecendo, ela estava me puxando
para longe de Asher e seus pais, em direção ao seu carro amarelo brilhante.

— DE JEITO NENHUM. — Balancei a cabeça, olhando os restos de renda e


seda. — De jeito nenhum.
— Vamos, ele vai adorar. Diga a ela, Hails. — Ela desviou o olhar para
Hailee, que ergueu as mãos.
— Não me arraste para isso. Além do mais, estou com a Mya nisso. É...
— Obsceno — eu disse.
— É sexy — Flick rebateu. — Jason adora quando eu...
Coloquei a mão sobre sua boca.
— Não precisamos ouvir sobre o quanto Jason ama qualquer coisa. Eu
não vou usar isso. — Asher me amava independentemente do que eu vestia, e
não era como se precisássemos de ajuda no quarto. Ele era insaciável, e eu
estava muito feliz em agradá-lo.
Felicity fez beicinho.
— Ainda acho que você deveria levá-lo.
— É uma festa. Uma festa que Asher está dando. — Dei a ela um olhar
penetrante. — Terei sorte de arrastá-lo para longe dos caras por dez
segundos, quanto mais por tempo suficiente para seduzi-lo com... aquilo. —
Torci o nariz quando olhei para a lingerie novamente. Eu não me opunha a
usar coisas bonitas, mas isso era demais.
— Você não é engraçada.
— Mas você me ama. — Cutuquei o braço de Felicity e sorri para ela.
— Sim. Venha, vamos dar uma olhada na outra seção.
Andamos pela loja, parando para olhar uma prateleira de sutiãs.
— Alguém mais gostaria que estivéssemos fazendo algo discreto para
comemorar? — perguntei, tocando um sutiã preto simples com um pequeno
detalhe de coração na frente.
— Você não está no clima da festa? — Hailee perguntou.
— É legal, eu só... nosso tempo juntos é limitado. Achei que seria bom
sair só nós seis.
— Se você disser isso ao Asher, ele vai cancelar tudo em um piscar de
olhos — ela respondeu.
— Eu sei, mas não quero estragar a diversão dele. — Asher merecia uma
festa. Depois de alguns meses difíceis, ele finalmente estava em um bom
momento. Sua mãe estava fazendo fisioterapia, mas estava em casa e bem.
Seu pai tinha virado uma nova página, sendo o marido que sempre deveria ter
sido. E recentemente tivemos notícias de que Jermaine se confessou culpado
da agressão agravada com arma letal, o que significava que não haveria
julgamento e a promotoria estava confiante de que ele receberia a pena
máxima.
Não foi fácil ouvir que meu amigo de infância passaria muito tempo atrás
das grades, mas não era menos do que ele merecia e fiz as pazes com o fato
de não ter sido capaz de salvá-lo. O amor nem sempre era suficiente, e estava
tudo bem. Para fazer um relacionamento dar certo, é necessário compromisso
e confiança, comunicação e respeito. As duas pessoas tinham que aceitar a
responsabilidade por suas ações e pedir desculpas quando erravam. Tinham
que lutar um pelo outro e defender o que acreditavam. Mas acima de tudo,
tinham que perceber que não se pode mudar alguém que não quer mudar a si
mesmo.
— Sabe o que acho? — Felicity me tirou dos meus pensamentos.
— O quê? — perguntei.
— Acho que esta noite vai ser épica.
— Ah, é — eu ri — e por quê?
— Porque, minha amiga — ela entrelaçou seu braço no meu —, nós
sobrevivemos ao ensino médio. E se podemos sobreviver ao ensino médio,
podemos sobreviver a qualquer coisa.

— ONDE ESTÁ TODO MUNDO? — perguntei enquanto nos


aproximávamos da casa de Asher. Estava mergulhada na escuridão, sem
nenhum sinal de vida quando chegamos à porta.
— Você vai ver — Felicity respondeu de forma enigmática, com um
brilho de sabedoria em seus olhos.
— O que você fez? — Hailee sussurrou.
— Eu? Ah, não fiz nada, isso é tudo...
— Senhoras. — A cadência familiar da voz de Asher me atingiu e meu
estômago se apertou. — Bem-vindas à festa.
— Festa? — Olhei boquiaberta para ele. — Você sabe que a definição de
festa é gente? Barulho e risos. Música. — Meus olhos foram para a casa
novamente enquanto eu me esforçava para ouvir algo – qualquer coisa – que
sugerisse o caos lá dentro.
Felicity me lançou um olhar divertido.
— Não diga que eu não avisei. — Ela desapareceu lá dentro, Hailee a
seguindo.
— O que foi aquilo? — Os olhos de Asher cintilaram intrigados enquanto
ele cruzava a distância entre nós, passando o braço em volta da minha cintura
e me trazendo contra seu corpo.
— Nada — sorri. — O que está acontecendo, Ash? — Arqueei a
sobrancelha enquanto eu alisava seu peito duro.
— Você não confia em mim, Hernandez?
— Sempre — eu disse sem hesitação. — Mas você está tramando algo.
— Pode ser. — Ele beijou a ponta do meu nariz, roçando uma de suas
mãos em meu rosto. — Vamos. Acho que é uma surpresa da qual você vai
gostar.
Segurando minha mão, Asher me levou para dentro de casa. Nunca me
senti confortável aqui, mas nos últimos três meses, tornou-se minha segunda
casa. Com seus pais passando tanto tempo no hospital, nós ficávamos muito
aqui. E mesmo quando sua mãe foi finalmente liberada, eu ainda ia para lá.
Ela adorava passar um tempo conosco.
Uma batida abafada soou pelo corredor mal iluminado, provocou arrepios
na minha coluna. Isso e a visão de Asher em jeans escuros e camisa justa. Ele
sempre foi lindo, mas esta noite ele estava maravilhoso. Sorri para mim
mesma, ainda surpresa em como uma garota como eu havia chamado a
atenção de alguém como ele. Mas Asher me ensinou que o que as pessoas
viam não nos definia. Era o que estava por dentro que contava. E nossas
almas eram uma só.
— Asher, o que é... — As palavras morreram quando entramos na sala de
estar. Jason estava servindo coquetéis para as garotas no bar temporário
instalado no canto da sala enquanto Cam mexia na docking station,
selecionando uma música que ele sabia que amávamos.
— Surpresa. — Asher me puxou para perto, envolvendo os braços na
minha cintura.
— Mas a festa...
— Está bem aqui. Não há mais ninguém com quem eu preferira
comemorar esta noite que com você e meus melhores amigos, Mya.
Parabéns, baby — ele sussurrou contra a minha orelha. — Hoje à noite, nós
iremos celebrar.
Asher
— Como foi que tivemos tanta sorte? — perguntei aos meus dois melhores
amigos.
— É uma pergunta que me faço a cada segundo do dia. Ela é tudo que eu
nunca soube que queria. — Jase deu um longo gole em sua cerveja, sem tirar
os olhos de Felicity nem por um segundo. As garotas dançavam juntas, rindo
e sorrindo, girando sem se importar com o mundo.
— Esta foi uma boa decisão — Cam acrescentou, se inclinando para a
frente enquanto observava os movimentos de Hailee. — Não tenho certeza se
poderia ter sobrevivido a outra festa.
— Ei, minhas festas são épicas pra caramba.
— Sim, mas isso é mil vezes melhor — ele resmungou.
— Você não está errado — Jase concordou enquanto nós três ficamos
sentados observando nossas namoradas. As garotas que vieram do nada e nos
derrubaram tanto que eu não tinha certeza se levantaríamos de novo.
— Se eu morrer esta noite — proclamei, sentindo o zumbido do álcool
fervendo em minhas veias. — Eu morreria feliz.
— Ninguém vai morrer. — Cam deu uma cotovelada em minhas costelas.
— Não diga essa merda.
— Desculpe, cara, eu não estava pensando. — A dor em sua voz me
acalmou. Todos nós tínhamos passado por muito no último ano. Alguns
momentos felizes, outros nem tanto e alguns péssimos. Mas tínhamos
conseguido enfrentar e agora tínhamos nossas vidas inteiras pela frente.
— Tudo bem — ele falou. — Eu só... bem, acho que com a aproximação
da faculdade...
— Nós entendemos. — Jase olhou para ele. — Mas seja o que for que
surja em nosso caminho, lidaremos juntos. Nenhuma distância vai mudar
isso. Vocês ainda são meus melhores amigos. Os meus irmãos. Somos
Raiders e não importa a cor da camisa que você vista, sempre seremos
Raiders.
— Faculdade — murmurei. — Estou muito aliviado pela Mya ir comigo.
— Nem me fala. Achei que tinha tudo planejado — Jase falou. — Pensei
que não precisava de nada, exceto futebol. Mas aquela garota ali — ele
inclinou o gargalo de sua garrafa em direção a Flick —, preciso dela mais do
que de ar, e isso me apavora pra cacete.
— Nunca pensei que veria esse dia. — Cam sorriu para ele.
— Vá se foder.
— Não, cara. Ela combina bem com você.
— Você deveria vê-la quando está cavalgando no meu...
— E aí está o Jase que todos nós conhecemos e amamos. — A risada
retumbou em meu peito. — Você acha que demos a elas tempo suficiente?
— Sim. — Ele bateu a garrafa na mesa de centro. — Acho que elas
terminaram.
— Obrigado por isso — murmurei, sentindo a necessidade pulsar através
de mim.
Cada um de nós se levantou e se aproximou das garotas. Mas não prestei
atenção ao que meus amigos estavam fazendo. Eu só tinha olhos para Mya,
para a forma como o vestido preto na altura dos joelhos moldava suas curvas
como uma segunda pele.
— Ash? — ela olhou para mim enquanto eu a puxava em meus braços.
— Precisava de você, baby — sussurrei em seu ouvido antes de passar a
língua sobre sua pele doce e salgada. Mya segurou minha camisa, me
deixando nos levar ao som da música. — Está gostando da festa?
— Sim. — Ela sorriu para mim, com os olhos vidrados com muitos
coquetéis. Mya não baixava muito a guarda, mas esta noite, com nossos
amigos, foi o que ela fez. Meu coração inchou ao ver minha garota se soltar e
se divertir. Era tudo que eu queria: vê-la feliz.
Depois de tudo, ela merecia.
Eu a virei em meus braços, puxando seu corpo contra o meu, deixando-a
esfregar a bunda contra mim. Levei as mãos aos seus quadris e meus lábios
encontraram seu ombro. Não fiquei surpreso ao ver que Jase já tinha prendido
Felicity contra a parede, beijando-a como se ele achasse que ela poderia
desaparecer a qualquer segundo.
— Asher... preciso de...
— Vamos. — Pegando sua mão, puxei-a para fora da sala e para o
corredor. Mas eu não podia esperar. Precisava prová-la, sentir sua pele na
minha. Empurrando-a contra a parede, me inclinei, beijando-a com força.
Nossas línguas se uniram, se tocando em seu próprio ritmo.
— Sinta o que você faz comigo — sussurrei contra seus lábios. — Sinta o
quanto eu te quero. — Segurando sua mão, eu a pressionei contra a
protuberância crescente em meu jeans.
— O sentimento é inteiramente mútuo — ela murmurou com as pupilas
dilatadas com desejo.
— Ah, é mesmo? — Meu sorriso se tornou malicioso quando passei a
mão por baixo de seu vestido, empurrando o tecido por suas coxas. Deixando
meus dedos provocarem sua pele macia. Eu me movi cada vez mais para
cima até encontrar sua calcinha.
— Ash... — Foi um gemido carente.
— Tão molhada — eu disse, beijando o canto da boca de Mya enquanto a
acariciava sobre o tecido rendado.
— Lembra do que você me disse uma vez? — Suas palavras me
surpreenderam e eu recuei para olhar para ela. — Você disse que me
perseguiria até os confins da Terra antes de desistir de mim.
— Eu me lembro. — As palavras ficaram presas no nó na minha
garganta. Parece que foi há muito tempo, quando estávamos brincando de
gato e rato.
— Prove — ela disse, e antes que eu pudesse registrar suas palavras, Mya
saiu dos meus braços e da parede e disparou escada acima.
— Estou indo atrás de você — gritei, o som suave de sua risada como
música para meus ouvidos.
— Estou contando com isso — ela disse enquanto eu a perseguia, nós
dois correndo pelo corredor em direção ao meu quarto. Ou Mya foi rápida
demais ou eu estava mais tonto do que pensei, porque ela entrou no meu
quarto antes que eu pudesse agarrá-la.
No segundo que irrompi pela porta, eu parei com a boca escancarada com
a visão dela parada lá com nada além de calcinha de renda preta e um sutiã
combinando.
— Acho que devo ter morrido e ido para o céu.
— Eu sou real, Asher. — Ela sorriu, brincando com a alça do sutiã.
— Tem certeza, Hernandez? Porque... você parece um anjo parado aí. —
Passei a mão pelo cabelo, tentando controlar minhas emoções.
— Me toque e descubra. — O desafio brilhou em seus olhos quando ela
começou a recuar, parando apenas quando a cama atingiu a parte de trás de
suas pernas.
— Desafio aceito. — Tirando a camiseta do meu corpo, eu rapidamente
desabotoei o jeans e o empurrei para fora dos meus quadris. O olhar faminto
de Mya me puxou em direção a ela, até que eu estava perto o suficiente para
sentir o calor de seu corpo. — Você é a coisa mais linda que eu já vi. —
Passei um dedo em seu pescoço e entre o vale de seus seios.
— Esta noite foi perfeita — ela disse.
— Você é perfeita.
— Conseguimos, sobrevivemos ao ensino médio.
Me aproximei, enterrando a mão em seus cachos grossos.
— Conseguimos — sussurrei, roçando os lábios contra os dela. — E
agora nós vamos viver, Mya. Podemos correr atrás dos nossos sonhos. Juntos.
Minha mão desceu para a curva de sua bunda, pressionando-a contra meu
pau. Mas não foi o suficiente. Em um movimento rápido, peguei Mya,
puxando suas pernas em volta da minha cintura. Seus gritos de surpresa
encheram o quarto, mas rapidamente se transformaram em risos quando me
virei e caí na cama com ela montada em mim. Ela levou a mão ao meu
queixo, me prendendo no lugar enquanto ela me beijava. Me provocou com
sua língua e dentes. Meus dedos encontraram o fecho do sutiã, puxando-o de
seu corpo enquanto ela movia uma mão entre nós, libertando meu pau dos
limites da cueca boxer. Nossos beijos ficaram frenéticos. Beijos molhados
enquanto explorávamos o corpo um do outro. Eu nunca me cansaria dela.
Mya me segurou e afundou em mim, fazendo meu mundo se despedaçar
com a sensação.
— Juntos — ela repetiu, sufocando um gemido enquanto seus olhos se
fechavam.
— Juntos — eu grunhi, apertando seus quadris. — Para sempre.
Mya começou a se mover, fazendo amor comigo de uma maneira que só
ela podia. Eu não conseguia falar, não conseguia fazer nada além de observar,
sentir e me render completamente à garota que me possuía.
De coração.
Corpo.
E alma.
Eu não poderia me apaixonar mais do que me apaixonei por Mya
Hernandez.
E eu mostraria a ela todos os dias o quanto eu a amava.
Para sempre.
PLAYLIST

Told You So – HRVY


Falling Like The Stars – James Arthur
Close – Nick Jonas, Tove Lo
I’m So Tired – Lauv, Troye Sivan
If I Can’t Have You – Shawn Mendes
I Don’t Care – Ed Sheeran ft. Justin Bieber
Here With Me – Marshmello, CHVRCHES
Talk – Khalid, Disclosure
I Can’t Get Enough – Benny Blanco ft. Selena Gomez
Outnumbered – Dermot Kennedy
Eventually Silence – Tuvaband
What If – Ryan Lewis
Goodbyes – Post Malone ft. Young Thug
Take My Heart – Birdy
Better – Khalid
It’s Not U It’s Me – Bea Miller, 6LACK
Senorita – Shawn Mendes, Camila Cabello
Beautiful People – Ed Sheeran ft. Khalid
Like That – Bea Miller
Treat You Better – Shawn Mendes
Bruises – Lewis Capaldi
Pick Up Your Phone – JC Stewart
Writing On The Wall – French Montana ft. Post Malone
All I Want – Kodaline
Lose You To Love Me – Selena Gomez
Adore You – Harry Styles
AGRADECIMENTOS

Dizer adeus a qualquer série é sempre difícil, mas dizer adeus a uma série que
mudou o jogo é virtualmente impossível. Cam, Jason e Asher não apenas
roubaram meu coração, eles o arrancaram e o mantiveram cativo. E acho que
eles sempre vão possuir um pequeno pedaço da minha alma.
Muitos de vocês me perguntaram se é realmente o fim, e embora seja
definitivamente um adeus a vida deles como Raiders, suas histórias vão
continuar... se vou escrevê-las novamente permanece um mistério (* inserir
emoji de piscada aqui *).
Como sempre, há uma lista enorme de pessoas a quem devo gratidão:
Andie, meu editor astro do rock! Sinto que, neste ponto, não preciso dizer
nada, a não ser que estaria perdida sem você. Nunca me deixe. Por favor.
Obrigada! Para minha leitora alfa e amiga, Nina: você esteve comigo ao
longo de toda esta série e sou muito grata por seu apoio. Minha equipe beta:
Keeana, Bre, Taylor e Ashley, obrigada por lerem a história de Asher e Mya
no último minuto. E finalmente Ginelle, minha extraordinária revisora. Nem
sempre te envio minhas histórias no tempo certo, mas você sempre encontra
aqueles erros de última hora. Você definitivamente está presa a mim para
sempre! E Tammy, do The Graphics Shed, por oferecer uma formatação
simples, mas bonita. Você é demais, garota! À Sarah Puckett e Wen Ross por
darem vida a esses personagens em áudio (no livro em inglês): foi um prazer
trabalhar com vocês.
Para a equipe L A Cotton de divulgação: vocês, garotas, arrasam demais!
Seu apoio constante é incrível e me sinto sortuda por tê-las ao meu lado.
Abraços virtuais para todas! Minhas Indie Girls, vocês sabem quem são.
Obrigada por estarem sempre presente quando preciso desabafar ou apenas
conversar sobre o que está dando certo e o que não está.
Para meus leitores/grupos de spoiler: seu apoio, incentivo e amor por
minhas histórias fazem tudo isso valer a pena, e a resposta a esta série
literalmente me surpreendeu (bem, não literalmente, porque isso seria
estranho). Espero continuar a entretê-los e fornecer uma fuga muito
necessária com os personagens e mundos que eu crio.
E, finalmente, aos blogueiros, resenhistas e bookstagrammers que
apoiaram a série, obrigada não parece o suficiente!

#Raidersparasempre

Até a próxima,
Beijos,
LA
ABOUT THE AUTHOR

Drama. Tensão. Romances viciantes

Autora de romances young adult e new adult, L. A. fica mais feliz escrevendo o tipo de
livro que adora ler: histórias viciantes, cheias de angústia adolescente, tensão, voltas e
reviravoltas.

Sua casa fica em uma pequena cidade no meio da Inglaterra, onde atualmente faz
malabarismos para escrever em tempo integral e ser mãe/árbitra de duas crianças. Em seu
tempo livre (e quando não está acampada na frente do laptop), você provavelmente
encontrará L. A. imersa em um livro, escapando do caos que é a vida.

L. A. adora se conectar com os leitores. Os melhores lugares para encontrá-la são:


www.lacotton.com

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