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Sinopse

Passei toda a minha vida apaixonada por Landon Miller.

Estou cansada de fingir que sou imune àquela mandíbula larga, corpo tenso e
cheiro amadeirado.

Estou apaixonada por ele?

Claro, mas ele está feliz por ser pai solteiro e me tratar como um dos caras.

Eu, por outro lado…

Estou me preparando para deixar Kentbury para uma nova vida.

Um novo começo: é o meu presente de Natal para mim mesma.

Isso até que meu melhor amigo e sua adorável filha decidam que não podem me
deixar ir…

Agora tenho que escolher entre uma nova vida promissora e as duas pessoas pelas
quais anseio durante toda a minha vida.
Prólogo

Landon

Odeio surpresas quase tanto quanto odeio o brunch de domingo com


meus pais. Minha família e eu não nos damos bem. É um clichê, mas somos
como água e óleo. Tornei-me tudo o que eles odeiam e odeio tudo o que
eles representam. Meus pais são críticos. No final da minha adolescência e
até alguns meses atrás, eu brincava – muito – em todos os sentidos.

Fui para o MIT, mas durante meu segundo ano perdi minha bolsa. O
reitor me chamou de irresponsável. Meus pais me consideraram um
fracasso, até que voltei para Kentbury para assumir a oficina mecânica de
meu tio depois que ele morreu. Tento me manter longe de problemas e fora
do radar da cidade. Eu me afasto das mulheres da cidade. Mas me divirto
com as turistas que ficam na pousada. É simples. Elas estão aqui por uma
semana ou um fim de semana. Então elas se foram para sempre.

— Parece que fiquei sem sorte. — Suspiro e olho para baixo.


Na cadeira inflável está Cassie, minha bebê de um mês. A penugem do
cabelo preto é coberta por um chapéu rosa. Seus braços erguidos como se
sonhasse em abraçar sua mãe. Deslizo meu dedo mindinho em sua mão
aberta e observo enquanto seus dedos se enrolam em torno dele. Sinto sua
respiração suave nas costas da minha mão. A tensão já está desaparecendo
enquanto vejo minha doce garotinha dormir em paz. Ela é tão inocente que
não sabe que nossas vidas mudaram para sempre.

— Talvez eu tenha tido sorte, — sussurro perto de seu ouvido. — Você


e eu vamos fazer isso funcionar. Vou deixar você orgulhosa, pequenina.

Há uma leve batida na porta.

— Deve ser Knightly vindo para salvar o dia, — sussurro para Cassie e
beijo sua mãozinha antes de abrir a porta.

Há tanta coisa que eu poderia contar a ela sobre minha melhor amiga,
mas não há tempo suficiente. Só digo a Cassie o que é importante. — Ela
vai se tornar sua pessoa favorita. Nós a chamamos de Lee, abreviadamente.

Quando abro a porta, finalmente relaxo. Lee está aqui.

Seus olhos castanhos se estreitam, fixando seu olhar em mim. — Preciso


de uma grande explicação, — diz ela, entregando-me as sacolas de compras
que carrega consigo.

— Olá, Lee, — eu a cumprimento e olho para todas as sacolas que ela


trouxe enquanto ela abre o zíper de sua parca azul.

— Recebi tudo o que você pediu, — diz ela. — Bishop está trazendo os
itens grandes. Para que você precisa deles?
Sua voz é neutra, mas eu a conheço bem. Ela é fácil de ler. A expressão
em seu rosto combina com seu humor. Eu sei quando ela está animada com
alguma coisa. Posso dizer quando ela está cansada ou irritada. Ou, como
agora, quando ela está chateada por eu mantê-la no escuro. Enquanto ela
tira todo o equipamento de inverno e coloca as botas de neve na bandeja de
plástico, fecho a porta, evitando ver seu corpo.

Gosto de pensar em Lee Harris como meu melhor amigo. Um dos


meninos. Ela é a criança com quem tenho saído desde que começou a
andar. Eu pratico incessantemente não notar suas curvas doces ou a
maneira como seu cabelo longo, escuro e encaracolado cai sobre seus
ombros quando ela tira o gorro. Sou uma pessoa de merda e não consigo
ter relacionamentos. Eu nunca faria nada que pudesse comprometer meu
relacionamento com Lee. Nunca.

Inclino minha cabeça em direção à sala de estar. — Me siga.

Lee segue. — Oh meu Deus, o Papai Noel me trouxe um bebê? — Ela


bate palmas uma vez e tira o tubo de desinfetante para as mãos que sempre
carrega consigo.

Sem perguntar, ela desfaz o cinto da cadeira inflável e pega Cassie nos
braços.

— Ei, linda, bem-vinda a Kentbury. Você vai adorar este lugar.

Cassie se aconchega mais perto de Lee, que está linda segurando meu
bebê. Engulo em seco e me lembro que ela é uma amiga que merece muito
mais do que um cara que é péssimo na vida.
— Você não vai perguntar nada?

— A mãe veio ao alojamento mais cedo, perguntando por você. — Ela


varre meu corpo com seu olhar. — Alta, cabelo escuro, olhos azuis claros e
era amiga do dono da pousada. — Lee revira os olhos e suspira.

— Você e Damian precisam parar de dormir por aí ou... — Lee toca sua
boca levemente com as pontas dos dedos. — Ops, aconteceu.

— Você poderia ter me avisado que ela estava aqui. — Eu cerro os


dentes.

— Eu poderia ter. — Ela dá de ombros. — Talvez na próxima vez.

Eu olho para ela. Ela não é engraçada, mas não tenho energia para lidar
com suas brincadeiras. Porém, talvez ela também não tenha muita energia
porque não é tão espirituosa como sempre.

— Como você está lidando com as notícias? — ela pergunta com um


tom sério, embora seu olhar permaneça em Cassie.

— Estou negociando, eu acho. — Fecho os olhos brevemente,


respirando fundo. — Você consegue me imaginar como pai?

Faço um gesto para mim mesmo, mostrando a ela a bagunça que sou,
depois aponto para o apartamento onde moro, que fica em cima da oficina.

— Sou um cara fodido que não consegue terminar nada. Não consigo
nem me dar bem com meus pais. O que devo fazer com um bebê?
— Ame-a, — ela responde. — Você deveria se dar algum crédito,
Landon. Ela tem o melhor pai do mundo, e vocês dois têm eu e minha
família.

Sorrio para ela e digo o óbvio: — Sempre posso contar com você.

Lee estuda Cassie. Ela sorri para ela, mas seu rosto parece um pouco
triste. Seus olhos castanhos estão ligeiramente vermelhos e lacrimejantes.
Ela estava chorando? Tenho certeza que não é nada. Mais tarde, quando
não estiver ocupada com meu bebê, perguntarei a ela o que há de errado.
Enquanto isso, tenho que aprender a ser pai.

Talvez eu possa encontrar um livro sobre como ser pai online.


Funcionou com a oficina e, até agora, consegui muito bem.
Capítulo Um

Knightly

— Alguém fez check-in ontem à noite? — Marcy pergunta enquanto


espiamos pela fresta da porta, olhando para o corpo inconsciente estendido
sobre o edredom de algodão egípcio.

Eu olho para ela com um olhar questionador. — Não, este quarto


deveria estar vazio.

— Bem, diga isso para a bunda daquele cara, — ela diz.

Alguns dizem que crise é meu nome do meio. Na verdade, é Rose. Mas
se alguém está em crise, sou a garota certa para resolver a maioria dos
problemas. Moro em uma cidade pequena onde todo mundo conhece...
bem, todo mundo. Não trancamos as portas da frente, e isso inclui a porta
principal do Bed & Breakfast. Para começar, é um hotel, então temos que
manter as portas abertas. Além disso, ninguém invade Kentbury.
— Devíamos ligar para o xerife, ou talvez para seus irmãos, — sugere
Marcy, a governanta.

Chamar as autoridades iniciará um boato e, antes que eu perceba,


haverá uma multidão do lado de fora da minha empresa. Não tenho tempo
para lidar com essas consequências. Meus irmãos nunca aparecem quando
preciso deles, então também não vou me preocupar em ligar para eles.

— Landon está vindo, — digo, segurando com as duas mãos a chave


inglesa que encontrei na garagem no caminho para cá.

Quando abro totalmente a porta do quarto real, vejo o intruso,


exatamente como Marcy o descreveu.

Roupas espalhadas descuidadamente pelo quarto. Quem é ele? Um


serial killer, um viajante perdido ou apenas um bêbado que decidiu dormir
na minha pousada para evitar uma esposa furiosa.

Meus ombros ficam tensos e prendo a respiração. Talvez eu devesse


ligar para a polícia. O terror percorre meu corpo, mas relaxo quando sinto
uma mão grande apertando meu ombro.

— Está tudo bem, — Landon, meu melhor amigo, sussurra atrás de


mim.

— É isso? — Eu bufo, chateado comigo mesmo por ter uma imaginação


tão hiperativa.

— Você teve um caso de uma noite e quer que eu o expulse? — Seus


olhos azuis claros brilham com humor.
— Ah, ele se acha engraçado. — Eu gemo enquanto meus olhos
percorrem sua figura alta e musculosa.

As pessoas me ligam para resolver suas crises e eu ligo para ele para
resolver as minhas – não para o xerife, que por acaso é meu primo, ou para
meus irmãos, que nunca respondem na hora certa.

Landon Miller e eu nos conhecemos desde antes de eu aprender a


andar. Há rumores de que nossas mães eram melhores amigas desde
crianças. Eu não saberia, a minha morreu logo depois que eu nasci. Ele é o
melhor amigo do meu irmão e também meu. Embora, às vezes, como
agora, ele possa ser um pouco obtuso. E se eu não o impedir, ele vai contar
mais algumas piadas antes de realmente fazer algo a respeito do intruso.

— Ei, não atire em mim, Lee. Só estou tentando entender a grande


emergência, — diz ele. — Presumo que ele não é um convidado. Então,
quem é ele?

— Não temos ideia de quem ele é. Marcy veio verificar se o quarto está
pronto porque temos convidados chegando mais tarde hoje. Ela o encontrou
assim.

Eu torço o nariz e olho para a cama. O cara está deitado de bruços. Seus
braços estavam acima do cabelo castanho escuro.

Landon franze a testa, tirando a chave inglesa de mim. — Quantas


vezes eu já disse que são ferramentas, não armas?

Recuso-me a explicar-lhe como a chave inglesa poderia causar sérios


danos. Landon sempre consegue me deixar nervosa. Enquanto a frustração
ferve na minha barriga, concentro-me em suas botas industriais e prendo a
respiração, tentando evitar seu cheiro inebriante. É aquela loção pós-barba
amadeirada que ele tanto adora e vestígios de óleo de motor. É tão ele. Eu
gostaria de não estar tão atraída por esse homem. Fechando os olhos
brevemente, reúno todas as minhas forças para fingir que ele não está me
afetando. Que meu intestino não está apertando porque meus ovários estão
prestes a explodir.

Há um ditado que diz que a prática leva à perfeição. Continuo


praticando e ainda assim fica mais difícil fingir que não estou apaixonada
por Landon Miller. Dezoito anos fingindo que sou imune ao maxilar largo,
maçãs do rosto fortes, sobrancelhas escuras e lábios carnudos não podem
ser desperdiçados.

Eu me importo com a maneira como sua camiseta branca se estende no


peito?

Não. Eu não me importo com seu corpo tenso.

Recuso-me a reconhecer qualquer atração emocional ou física por este


homem. Não importa que toda vez que seus olhos azuis claros focam em
mim, meu coração bate forte dentro do peito.

— Hmm, — diz ele, ao entrar na sala e eu o sigo com os olhos. — Traga


um balde cheio de água fria e gelo.

— Porque eu faria isso? — Eu zombei. — Isso vai estragar a cama.

— Você não gostaria de ver Bishop chorar como uma garotinha? — Ele
cutuca o cara com a chave inglesa.
— Acorde, Harris. — A voz áspera de Landon ecoa pela sala. — Por
quê você está aqui?

— Ugh, Hops? — Eu me viro, enojada ao ver o corpo nu do meu irmão.

Perfeito, simplesmente ótimo. Acabei de ver a bunda nua do meu irmão


e se isso é alguma indicação, ele deve ter sido expulso de seu lugar.

— Mais cinco minutos, querida, — Bishop resmunga.

— Cuide do seu amigo, — digo a Landon enquanto me afasto. — Eu


preciso deste quarto, agora. Temos hóspedes pagantes chegando em breve.

— Você me deve, Lee, — Landon grita atrás de mim.

— Eu não te devo merda nenhuma, — murmuro, mas tenho certeza que


ele não me ouve já que estou quase no final da escada.

— Você disse um palavrão, — Cassie, que está sentada no sofá da


entrada, me repreende.

— Limpe essas orelhas, — eu digo brincando. — Sua audição está com


defeito.

— Ha, eu ouvi você bem. Você disse merda, — ela repete, me dando um
sorriso travesso muito parecido com o de seu pai.

— O que nós te dissemos? Essa não é uma palavra elegante, Cassandra,


— Landon repreende a filha.

— Acabei de repetir o que Lee disse, papai, — Cassie me conta.


— Eu não sabia que você a trouxe junto. — Ou eu teria observado a porra da
minha língua.

— É sábado e não posso ficar sozinha em casa. — Ela revira os olhos. —


Eu não tenho idade suficiente. Ele vai me fazer fazer a lição de casa em seu
escritório enquanto ele trabalha em um carro.

— Você sempre pode sair comigo, — sugiro.

— Você é uma influência tão ruim que não tenho certeza se é uma boa
ideia, — brinca Landon.

— Ela não fala muita merda, só fala muito, — diz Cassie.

Eu olho para ela. — Eu pensei que éramos amigas.

— Ele também diz palavrões. Você deveria fazer com que ele colocasse
cem dólares no pote de palavrões toda semana, — ela acusa o pai, e tenho
certeza de que ela está se divertindo muito conosco.

— Nós precisamos conversar. — A voz de Landon está um pouco mais


severa que o normal.

Não posso deixar de rir quando percebo que ele está reprimindo um
sorriso.

— Oh meu Deus, — eu digo, segurando meu colar. — Você está


terminando comigo? Achei que tínhamos uma coisa boa acontecendo entre
nós. Foram meus scones? Achei que você adorasse scones de bordo.

— Você tem algum? — Ele me dá um sorriso infantil.


— Não, hoje temos scones de cranberry. Posso preparar um café para
você e você poderá contar a querida Knightly o que está incomodando.

— Posso comer panquecas no café da manhã, por favor? — Cassie


pede.

— Você não tomou café da manhã? — Eu franzir a testa.

— São quase oito horas e você ligou com uma emergência. Claro, ela
ainda não tomou café da manhã.

Cassie aponta para o pai. — Ele prometeu que você faria panquecas
para nós.

— Ele fez, hein? — Pego a mão dela do mesmo jeito que fazia quando
ela era uma criança cambaleante. — Mas você vai me ajudar, — eu digo. —
Se tivermos sorte, o vovô poderá compartilhar um pouco do seu ouro
líquido conosco.

Seus olhos azuis claros se arregalam e depois se enrugam de excitação.


— Você acha que podemos fazer doce de bordo?

— Que tal amanhã? — Eu ofereço. — Hoje é um dia bastante agitado.

— Como assim? — Landon olha ao redor da sala de jantar vazia.

— Tem uma noiva vindo conhecer o lugar com os pais e os sogros.

— Aqui? Não é a pousada?

— Estação de esqui, — eu o corrijo.


No ano passado, Damian, meu irmão mais velho, decidiu reformular o
nome de nossos negócios e começou com a pousada. Agora a chamamos de
Estação de Esqui em Harris Estate. Ele também trocou os móveis e renovou
todo o prédio.

Damian gostaria de poder reformar a casa vitoriana onde


administramos o B&B, mas não vou deixar. É um edifício histórico que
pertence à família Harris há cinco gerações. Somos proprietários do terreno
onde ficam a fazenda, o pomar, a loja de presentes, a casa e a pousada,
desde o final do século XIX.

— Esta noiva quer encontrar o local perfeito para o casamento. Um


hóspede referiu o B&B e a fazenda. Não que papai vá deixar isso acontecer.

— A fazenda não é um destino para casamentos, — a voz do meu pai


ressoa pela cozinha antes mesmo de ele pisar dentro dela. — É para isso
que serve a pousada.

— Estação de esqui, — eu o corrijo, cerrando os dentes.

— Sr. Harris. — Landon assente.

— Vovô Harry, — Cassie diz enquanto corre para o papai.

— Eu não sabia que minha garotinha estava aqui. — Ele a abraça e a


gira pela cozinha.

— Podemos fazer doces de bordo? — ela pergunta.

Eu olho para Landon por causa disso. Ela é tão teimosa quanto o pai.
Eles consideram a palavra não um desafio. O lema deles é eu farei acontecer.
— Desculpe, querida, mas não podemos hoje. Estamos com a casa cheia
e temos que escassear nas instalações. — Papai franze a testa, está bastante
chateado com a possibilidade de oferecer novos locais.

Financeiramente, significa que podemos reservar dois ou três eventos


ao mesmo tempo. Se Damian comprar o vinhedo vizinho, as possibilidades
continuarão crescendo. Papai não vê dessa forma.

— Posso ir com você? — Cassie sorri para ele.

— Estarei na estação de esqui, — diz papai, orgulhoso por ter dito o


nome certo desta vez. — Se seu pai permitir, podemos esquiar a manhã
toda. Depois, levarei você à sala de jantar para almoçar e talvez tomar um
chocolate quente. Podemos passar o resto da tarde assistindo filmes.

— E comendo pipoca? — ela sugere, planejando toda a sua agenda para


o fim de semana. Tenho quase certeza de que mais tarde ela vai perguntar
se pode ficar na minha casa para que amanhã de manhã possa esquiar
novamente depois do brunch.

— Se estiver tudo bem para você, senhor, — Landon concorda.

— Ela é sempre bem-vinda para ficar conosco. Vocês são como parte da
família, Landon, — papai menciona e olha para mim. — O que há para o
café da manhã?

Eles não são da família, quero esclarecer. Não porque eu não queira que
eles sejam, mas porque, bem, eles são apenas amigos. Esse é o tipo de
situação que odeio, quando me sinto confortável demais com Cassie e
Landon. Eu quero que eles sejam minha família. Meu marido, minha filha e
meu futuro. Às vezes parece que significo muito mais para Landon e outras
vezes ele me lembra que sou apenas um dos caras.

Bishop me encorajou a conversar com Landon e descobrir minha


posição. Damian insiste que eu deveria seguir em frente com minha vida.
Eles são os melhores amigos de Landon e o conhecem tão bem quanto eu.
Talvez eles estejam certos. De qualquer forma, sei que Landon e eu nunca
seremos um casal. Eu tenho que superar minha paixão adolescente e
encontrar uma maneira de deixar de amar. Se eu soubesse como.

Eu olho para Landon, que está olhando para seu telefone. Sua covinha
profunda aparece quando ele sorri para o que quer que esteja assistindo.
Talvez ele esteja marcando um encontro para esta noite. Meu coração
encolhe de decepção. No entanto, meu pulso acelera quando seus olhos
azuis claros me encontram. Eu derreto quando ele pisca.

— Aquela nova foto que você adicionou ao seu Instagram, sua e de Bob
durante a corrida matinal, é fofa.

Mordo meu lábio, olhando para sua boca, querendo e desejando saber
como ele beija. Meu olhar desce para seu peito esculpido e braços tatuados.
Ele é um sonho. Não admira que as mulheres se juntem a ele como as
abelhas às flores. Eu sei de uma coisa que elas não sabem: Landon Miller
não tem relacionamentos.

Landon olha ao redor da cozinha. — Onde está o vira-lata?

— Bob não é um vira-lata, papai. Ele é um Terra Nova. Demoramos


muito para encontrá-lo, lembra? — Cassie o corrige.
Eles me presentearam com ele há alguns anos, no meu trigésimo
aniversário.

— Ele está no celeiro com as Alpacas, — respondo.

— Lee, o que vamos comer no café da manhã? — Papai repete.

— Cereal?

— Panquecas, — diz Cassie, franzindo a testa para mim. — Estamos


fazendo panquecas, ovos mexidos e bacon, — Cassie lista, parecendo que já
está planejando uma grande refeição.

— Parece uma delícia, — diz papai, sorrindo para mim.

— Não é feriado, pessoal, — reclamo.

Minha família não entende que este lugar tem que estar pronto para os
convidados em algumas horas. Terei que assar vários biscoitos de chocolate
para substituir o cheiro de bacon. Por que eles não vão ao resort tomar café
da manhã? Eu olho para eles, mas a raiva diminui quando Landon estende
a mão e aperta minha mão.

Está tudo bem, ele murmura.

— Vamos, vou te ajudar, — oferece Landon, indo até a geladeira


industrial.
Capítulo Dois

Knightly

Tentar apagar a imagem de um bom café da manhã em família é


impossível enquanto observo Landon caminhando em direção ao seu carro.
Olho para seus ombros largos e poderosos. Eu me pego amando-o e
odiando-o ao mesmo tempo. Maldito seja esse idiota e seus gestos
amigáveis.

— Você gostaria que eu fizesse o jantar para você esta noite? — ele
perguntou depois que Cassie e papai foram para o celeiro.

Seriamente? Ele deveria manter suas ofertas e gentileza longe de mim.


É difícil para mim lembrar que ele é apenas um amigo. Então por que
tenho vontade de pegar meu casaco, sair na tundra gelada e beijá-lo?

— Feche a boca e pare de salivar por Landon Miller, — ordena Damian,


meu irmão mais velho.
— Você é irritante, — reclamo. — Por que você está aqui? Você não
contratou um chef reconhecido internacionalmente para o resort? Você
deveria pedir para ele cozinhar para você.

Assim que o café da manhã ficou pronto, ele simplesmente entrou em


casa e sentou-se à mesa como se tivesse sido convidado.

— Estou apenas apontando o óbvio. — Ele ignora minha pergunta. —


Todo mundo sabe que você está apaixonada por ele.

— Eu. Não. Estou.

— Você deveria contar a ele, — diz Bishop, que passou a manhã


pensando.

— Por que eu faria algo tão estúpido? — Eu olho para meus irmãos
que, por alguma razão esquecida, ainda estão por aí. — Você não tem
trabalho para fazer?

— Olha, você não tem mais quatorze anos, — explica Bishop. — Diga a
ele como você se sente e se ele não sentir o mesmo, siga em frente.

Minha garganta está entupida, minhas pernas estão tremendo. Isto é


uma intervenção? Não tenho tempo para eles ou para uma intervenção.

— Não se torture assim, — diz Damian. — Apenas pare de cobiçá-lo.

Relaxo. É apenas mais um dia na casa dos Harris.

— Mas você tem que parar de brincar de casinha com ele e a filha. Não
me entenda mal, eu amo Cassie como minha sobrinha, mas você... você a
ama como se ela fosse sua. — Damian só vai na jugular e acaba comigo. —
Ela não é.

A ponta afiada de suas palavras me apunhala bem no peito. Abro a


boca para me defender, mas é inútil. Mesmo que suas palavras destruam
meu interior, ele está certo. Eu sempre soube disso. Simplesmente não
consigo parar de acreditar em milagres ou de amá-los do jeito que amo.

Se eu quiser sobreviver a este dia com o coração inteiro, tenho que


mudar de assunto rapidamente. Nada diz etiqueta, você é melhor do que o
que há de errado com você, Bishop?

— Você está traindo Chloe? — Redireciono a conversa para Bishop.

— Por que você perguntaria isso? — Damian encara Bishop, esperando


por uma resposta.

— Nós o encontramos pelado no quarto real, — eu digo, sorrindo de


satisfação.

— Sozinho, — ele se defende.

— Você mora a alguns quilômetros daqui, — argumento. — E daí?


Você bebeu demais, deu uma festa e depois de transar com outra pessoa
veio aqui?

Sim, eu sei que estou sendo mal, mas com meus irmãos tenho que estar
à frente do jogo.

— Por que você veio aqui? — Cruzo os braços.

Ele suspira, passando a mão pelos cabelos. — Ela me expulsou de casa.


— O que você fez? — — pergunto, tamborilando os dedos no braço
oposto.

— Por que você sempre presume que fui eu? Você nem gosta dela, —
ele protesta.

— Isso não é verdade.

— Por favor, Lee. Você odeia Chloe, — Bishop insiste.

— Ódio é uma palavra muito forte. Eu simplesmente não a entendo.


Mas esse não é o ponto. O que aconteceu entre vocês dois?

— Ela insiste em deixar Kentbury.

— Vou dar uma carona para ela até a rodoviária, — Damian, que
realmente odeia Chloe, oferece.

— Nós. Ela quer que a gente vá embora, — corrige Bishop.

Damian e eu nos entreolhamos. Que porra é essa?

— Tipo, nas férias ou ela quer sair da cidade? — Tento esclarecer isso
porque ela não o está tirando da vida dele.

Bishop adora cuidar da fazenda. Sua vida é o pomar, a cidra e o


mercado atacadista. Ela não pode simplesmente arrastá-lo para longe
daqui.

— Mudando para fora da cidade. — Ele inclina o queixo em direção à


janela. — Mas não se preocupe, não vou. Minha vida está aqui.

Estou muito confuso. — Por que ela proporia ir embora?


— Bem, ela disse que isso não é Los Angeles

— Ela acabou de perceber isso? — Damian, que se acha mais burro que
um saco de pedras, bufa.

— Pelo amor de Deus, ela é de Swanton, Vermont. Não em Santa


Bárbara, Califórnia, — digo, frustrado e triste por estar certo.

Ela é uma interesseira que estava apenas tentando pegar o “cara rico”.
Não somos ricos. Na verdade, temos que trabalhar duro o ano todo para
conseguirmos arcar com nossas despesas.

— Acabou, — diz ele com um encolher de ombros. — Ela quer que eu a


escolha em vez da minha família e da minha vida.

— Sinto muito por isso. — Aproximo-me dele e aperto seu braço.

— Tudo bem. Ela está ficando pegajosa e falou sobre casamento. — Ele
franze o rosto.

— Ela mencionou a palavra com C? — Eu suspiro, fingindo horror. —


Que ridículo da parte dela. Ela deveria saber melhor. Você não se
compromete.

— Sim, sou muito jovem para isso, — ele diz ignorando meu tom
sarcástico.

— Você tem trinta e três anos, — eu o lembro.

— Como eu disse, muito jovem, — ele repete, balançando a cabeça


algumas vezes.
Damian finge arrepios e me lança um olhar que diz: ele está certo. Tenho trinta
e cinco anos e ainda não estou pronto para um compromisso.

O que há na água de Kentbury? A maioria dos homens – incluindo


meus irmãos - não consegue dizer a palavra compromisso sem ter urticária.

— Nunca chegaremos a um acordo sobre este assunto. — Eu suspiro. —


Estou olhando para o calendário enquanto ouço o tique-taque do meu
relógio biológico e vocês dois juram que não estão 'prontos' para um
compromisso.

— Que relógio biológico? — Damian franze a testa.

— Aquele que diz que não poderei ter filhos quando atingir uma certa
idade, — respondo.

O que, eu nem tenho certeza de quando será. Outro dia, eu estava


lendo um artigo sobre uma mulher de cinquenta anos que deu à luz –
gêmeos. Mas e se, mesmo aos cinquenta anos, eu não conseguir encontrar
um cara com quem começar uma família?

— Fale com Landon, — Bishop insiste, e voltamos à conversa que estou


tentando evitar.

— E então o que, tornar as coisas estranhas entre nós? — Eu pergunto


com uma voz irritada. — Eu sei que ele não retribui meus sentimentos.

Como posso saber disso? Estou irrevogavelmente apaixonada por


Landon Miller desde os quatorze anos.
— Talvez eu devesse ir a um banco de esperma e fazer uma
inseminação, — murmuro.

— Por que você faria isso? — Damian diz. — Você não pode ter um
filho sozinha.

— Porque quero ter uma família, — refuto.

Eu não posso nem discutir o assunto. Seria estúpido dizer a ele que
Cassie já tem oito anos e sinto falta de ter um filho por perto. Quero uma
família com três ou quatro filhos. Quero uma criança que possa perseguir
pela casa. Sinto falta de construir bonecos de neve do tamanho de Cassie
durante o inverno. Quero ter muitas meias na chaminé e uma árvore
especial onde penduro os enfeites caseiros dos meus filhos.

É tão ruim desejar o que não posso ter? Cassie adorava passar tempo
comigo. Agora, ela está em busca da próxima grande aventura. A pior
parte é que Cassie nem é minha.

— O que aconteceu com a oferta de emprego? — Damian dispara a


pergunta com um tom áspero. Ele está no modo irmão mais velho e eu
odeio que eles estejam se concentrando em mim.

— É apenas uma entrevista. Você precisa de mim aqui.

— Podemos contratar alguém para cuidar dos casamentos e do B&B, —


sugere Damian.

Devo lembrá-lo de que temos um planejador de eventos competente.


Eu escolho não fazer isso.
— Vou encontrar um gerente para a loja de presentes, — oferece
Bishop.

— Nunca me senti tão... tão... substituível, — digo.

A frustração e a raiva estão apertando minha garganta. Meu estômago


endurece e só quero voltar para casa e me esconder debaixo da cama.

— Em menos de cinco minutos você acabou de me dizer uma coisa: que


sou dispensável. — Mostro meu dedo indicador para ele e começo a contar.
— Dois, que ninguém poderia estar apaixonado por mim, e três, que não
sou adequada para ser mãe.

— Porra, Lee, não foi isso que quisemos dizer, — Damian rosna.

— Então você gostaria de esclarecer?

— Só estamos dizendo que você parece inquieta. Você merece mais do


que esta cidade pode oferecer. Não somos um hotel chique no meio de uma
das maiores cidades do mundo. Landon Miller não merece você. Ele já se
acomodou com a filha. Se você quer ter um filho, você seria uma ótima
mãe. Olhe para Cassie. Você fez um trabalho incrível com ela, mas ela não é
sua. Você merece o melhor.

— Um trabalho que você ama, um homem que te adora, uma família


com esse homem, é isso que você merece. Não se contente com os negócios
da família, com as migalhas de amor que você recebe dos Miller ou com
um banco de esperma. Queremos o melhor para você. Eu contrataria
pessoas para cobrir você. Não porque não precisamos de você. Deus sabe
que esta família precisa de você mais do que nós precisamos de árvores,
neve e maçãs.

Eu relaxo meus ombros. Ok, então eles estão preocupados. Eles querem
o que é melhor para mim. Eles sabem o que é isso? Eu não. Honestamente,
não tenho ideia se Nova York é melhor que Kentbury.

Nasci e cresci nesta cidade pitoresca. Fui para a faculdade em Boston.


Levei algum tempo para me acostumar com a cidade grande. No início, o
cheiro forte de fumaça e poluição sonora estridente 24 horas por dia, sete
dias por semana, me deixou nervosa. Senti falta da quietude e da paz da
minha cidade natal durante o verão e do pó branco que cobria tudo
durante o inverno.

Prefiro passear na cidade pequena onde todos se conhecem. As pessoas


passeiam pela praça da cidade para ir do banco à lavanderia, à lanchonete
ou ao cinema. Se quisermos um jantar chique, fazemos reserva na estação
de esqui. Para uma sexta-feira casual, há uma pizzaria na Main Street.

Gosto do aroma do inverno, quando o ar está frio e cheio de umidade.


Na faculdade, me acostumei com a fumaça dos veículos arrotando. Eu
poderia fazer isso de novo. Mudar-se para Nova York não será ruim, mas
sei em meu coração que nunca me sentirei em casa.

No entanto, meus irmãos estão certos. O recrutador que me contatou


está me proporcionando uma oportunidade única na vida.
Financeiramente, profissionalmente e, acima de tudo, pessoalmente. Tenho
que colocar alguma distância entre Landon e eu. Se eu tiver sorte, vou me
apaixonar – isso é mesmo uma palavra? Se não for, eu simplesmente
inventei. Chamaremos esta próxima etapa da minha vida de operação
desapaixonar-se.

— Então, eu apenas arrumo minhas coisas e vou embora? — Eu


pergunto.

— Por que não? Você pode fazer isso pelo menos por alguns anos, —
concorda Damian. — Sua experiência pode ajudar o resort, até mesmo a
loja de presentes.

— Há muitos bancos de esperma na cidade, — menciono depois.

— Encontre um homem, apaixone-se, — diz Damian.

— Porque é muito fácil. — Reviro os olhos.

— Não nesta cidade, — diz Bishop. — Todo mundo conhece você. Eles
sabem que você está apaixonada por Landon.

— Ele sabe? — Eu pergunto enquanto meu pulso dispara.

— Acho que não, mas esse não é o ponto, — diz Bishop, lançando um
olhar exasperado para Damian.

Seriamente? Eles são irritantes. Não só isso, eles estão se unindo contra
mim. Tenho trabalho a fazer. Eles estão protelando me dando conselhos
sobre relacionamentos. Quão ridículo é isso? Damian dorme com suas
convidadas – solteira ou casada, ele não faz discriminação. Bishop é um
monogâmico em série. Ele escolhe mulheres que sabe que não ficarão por
tempo suficiente e, quando elas vão embora, ele joga alguém novo em sua
cama.
— Eu não vou falar com ele. Se ele descobrir meus sentimentos, as
coisas vão mudar entre nós, e eu simplesmente não posso perder Cassie.

Eu ouço a mim mesma e, Deus, pareço patética, desesperada e


estúpida. Eles estão certos, tenho que fazer um plano, fazer as malas e ir
embora. Kentbury pode ser minha casa. Mas se eu não for embora,
morrerei sozinha e infeliz. Sinto uma pontada de tristeza ao me lembrar de
como me senti feliz há poucos minutos, de volta à cozinha, cozinhando
para todos, fingindo que éramos uma família grande e feliz. Minhas
emoções invadem meu corpo. De alguma forma, entre o que meus irmãos
acabaram de dizer e o momento que compartilhei anteriormente, fico mais
consciente do que está faltando em minha vida.

A única coisa que mais desejo, mas que estaria faltando na minha vida
se não fizesse algo agora. Mando uma mensagem para Landon, cancelando
o jantar desta noite. Farei uma pizza congelada e assistirei Netflix com Bob.

É hora de seguir em frente.


Capítulo Três

Landon

Enquanto dirijo para minha loja, tento apagar a imagem mental de Lee
enquanto estava saindo da pousada. Suas curvas perfeitas moldadas por
aquele vestido suéter justo que ela usava. Seu cabelo avelã preso em um
coque bagunçado. Suas botas até o joelho me convidando a fazer coisas
muito perversas com a única amiga que tenho. Meu desejo para este Natal
é poder dobrá-la sobre o balcão da cozinha, abrir as pernas - enquanto ela
calça aquelas botas - e comê-la.

Pare, Miller.

Essa amizade entre Lee e eu fica mais complicada à medida que


envelhecemos. Desde que Cassie chegou na minha vida, não namorei. Nem
tenho qualquer interesse em estar com uma mulher. Cassie se tornou
minha vida e Lee, minha âncora. Só tenho tempo para minhas meninas.
Quem diabos estou enganando? Não quero olhar para mais ninguém,
apenas para Lee. Ela é perfeita. Eu simplesmente não consigo descobrir
como fazer as coisas funcionarem entre nós.

Ela merece muito mais do que um mecânico desbotado com uma


criança. Na verdade, a única coisa boa que tenho a meu favor é minha filha.
Ela é a melhor parte de mim. Estou feliz do jeito que minha vida é. Sinto
falta de ter alguém ao meu lado? Não, nunca tive um relacionamento antes.
Não posso sentir falta do que nunca tive. Estragar meu relacionamento com
Lee porque estou atraído por ela não vale a pena. Eu não apenas perderia
uma amiga, mas minha filha também perderia Lee.

Knightly não é a mãe dela, mas desde que Cassie entrou na minha vida,
ela tem sido muito parecida com a mãe dela. Elas têm um vínculo especial.
Minha filha pode se parecer comigo, mas ela age como Lee.

Só não sei como me livrar de todas as emoções que Lee provoca. Mais
cedo, quando vi o intruso nu na pousada, tive vontade de matá-lo porque
tive visões dele sendo um caso de uma noite dela que não iria embora; não
suporto a ideia de alguém estar com ela.

Brinquei com a ideia de ser o cara que merece o coração dela. Não sinto
falta do que nunca tive, mas anseio pelo que poderia ter com ela. Quero-a
em meus braços, na minha cama e na minha casa. Todos os dias tento
encontrar tempo para estar com ela. À noite, gostaria de ter coragem de
beijar Lee, devorar sua boca enquanto toco cada centímetro de seu corpo.

Eu simplesmente não posso arruinar nosso relacionamento. Talvez um


dia eu fique grato por não estragar nossa amizade perfeita agindo de
acordo com meus desejos. Se ao menos eu soubesse como ter um
relacionamento amoroso. Estaciono em frente à minha loja, respirando
fundo enquanto enterro profundamente minhas emoções. Fico lá por muito
tempo, observando moradores e turistas passearem pela praça da cidade. A
pequena pista de gelo que os comerciantes locais montam todos os anos já
está lotada e ainda não são nem dez da manhã.

Cassie é velha demais para andar de patins lá. Ela afirma que o lugar é
para bebês e está pronta para ir ao lago. Nunca pensei que sentiria falta de
ter um bebê ou uma criança pequena em casa. Foi muito divertido brincar
com ela.

Lembro-me do dia em que ela aprendeu a andar de patins. Estava no


lago. Lee segurou as mãos dela enquanto eu patinava para trás, dizendo-
lhe como deslizar um pé na frente do outro.

Droga, a imagem de Lee está de volta, mas desta vez o bebê que ela
segura é nosso – um garotinho. Isso é tão ruim.

Eu me recomponho e saio da caminhonete e marcho em direção à


garagem.

A oficina mecânica de Jared pertence à minha família há algumas


gerações. Foi meu avô, Jared, quem a fundou há mais de sessenta anos. Ele
adorava carros e podia passar horas ajustando um motor até que
funcionasse como novo. Herdei sua paixão por consertar coisas. Quando eu
era jovem, desmontava os eletrodomésticos da cozinha só para ver como
funcionavam.
Mamãe fez o possível para quebrar esse hábito, me castigando e me
inscrevendo em todos os esportes imagináveis. Esqui, snowboard,
patinação, hóquei no gelo, hóquei em campo no verão e até futebol. Meu
irmão Holden e eu nunca ganhamos uma medalha, mas se houvesse
alguma competição para ver quem praticava os esportes mais competitivos
em Kentbury, teríamos vencido.

Desnecessário dizer que, nos momentos em que não estava praticando,


estava com meu tio na loja. Meus pais não gostaram, mas estavam
ocupados demais com suas próprias vidas para me impedir de visitar meu
tio.

Ao contrário do vovô Jared ou do tio Gerry, papai odeia a oficina, os


motores e as manchas de graxa. Segundo meu tio, ele mal podia esperar
para sair da cidade e se tornar algo melhor. Papai, porém, nunca foi
embora. Ele trabalha para o Main Street Bank desde que me lembro. Eu,
por outro lado, adoro ficar embaixo ou em cima de um carro e passar horas
ajustando-o.

Minha maior paixão é pegar um velho clássico surrado e restaurá-lo à


sua antiga glória.

Papai e eu não temos nada em comum. Meus pais nunca entenderam


Holden e eu. A única vez que ficaram orgulhosos de mim foi quando recebi
a carta de aceitação no MIT e uma bolsa integral. Eles me odiaram quando
fui expulso da escola.

Tenho trabalho a fazer e sem Cassie posso fazer mais. Meu coração para
quando entro na loja e vejo uma mensagem de Lee no meu celular.
Lee: Obrigada por se oferecer para me preparar o jantar, mas tenho planos.

Planos? Eu gemo.

Landon: Você precisa que eu passe por aí mais tarde?

Lee: Não, estou ocupada esta noite.

Isso é besteira. Ela me disse que estava livre esta noite e que, se eu
quisesse, poderia deixar Cassie com ela. Embora o pai dela tenha se
oferecido para passar a noite com minha filha. Elas fizeram planos para
amanhã de manhã. Eu gostaria que meus pais fossem mais parecidos com
Steve Harris. Ele sempre me tratava como filho e ama Cassie como neta.
Vendo que eu estava livre à noite, pensei que seria uma boa ideia passar a
noite com Lee. Poderíamos jantar, talvez ir ao lago e talvez ver um filme
perto da lareira depois.

Mas ela não tem mais tempo. Porra, eu juro baixinho.

Isso não é possível, algo aconteceu. Relembro toda a manhã e nossa


conversa depois que o pai dela saiu com Cassie. Meu estômago se aperta
quando descubro a resposta: seus irmãos.

Bishop e Damian ficaram para discutir um assunto com ela. Tem que
ser isso. Ou eles a irritaram ou ela tem que ajudá-los com o resort ou com a
fazenda. Talvez Chloe esteja saindo da casa de Bishop e Lee tenha que estar
por perto. Não, se for esse o caso, Bishop me ligaria para ajudar na
mudança.

Tenho uma sensação incômoda de que ela está cancelando por causa
deles. Juro que aqueles dois a tratam como a mais velha dos irmãos, em vez
de como a caçula da família. Eles estariam perdidos sem ela – assim como
eu estaria.

Landon: O que posso fazer para ajudar a liberar seu tempo?

Lee: Nada.

Nada?

Ela está me dispensando?

Se ela estiver chateada comigo, ela me contará. Ela sempre faz isso.
Então por que ela de repente está dizendo que está ocupada? Isso é tão
diferente dela. Lee é uma pessoa muito tranquila. Ela é uma lutadora, uma
daquelas pessoas que tornaria o impossível possível. Mesmo que tivesse
que apagar um incêndio, estaria livre à noite. Ela me ligaria para ajudá-la
com isso.

Talvez seja esse o problema. Ela está sempre cuidando de todos. Tento
ficar de olho nela. Seja a pessoa que ela precisa quando ela estiver caindo e
não houver mais ninguém por perto para segurá-la. Com as férias, há uma
série de emergências com as quais ela precisa lidar. Tento estar ao lado dela
e encontrar maneiras de lhe dar um tempo. Achei que cozinhar para ela
seria bom. Ela sorriu quando eu ofereci. Deve haver uma boa razão pela
qual ela de repente cancelou comigo.

Landon: Ocupada como?

Lee: Você não entenderia.

Landon: Por que você está cancelando comigo?

Lee: Como eu disse, tenho coisas para fazer. E sábado. Eu tenho uma vida, você
sabe.

Olho para o texto, analisando cada palavra. O que ter uma vida tem a
ver com eu preparar o jantar para ela?

Eu a irritei?

Eu trabalho duro para ficar longe do lado ruim dela. Esse é um lugar
onde apenas seus irmãos pertencem. Eu não. Em vez de responder, ligo
para ela, mas recebo sua mensagem de voz – três vezes.

Olhando para o relógio, decido começar a trabalhar e deixá-la em paz


por enquanto. Ela está ocupada e eu tenho um lindo Corvette 1963
esperando para ganhar vida. Esperançosamente, as peças de reposição de
que preciso chegarão hoje porque haverá uma grande tempestade na
próxima semana. Os serviços de entrega não irão para Kentbury até que as
estradas estejam livres.

Depois de vestir minhas roupas de trabalho, tento ligar para Lee mais
uma vez, sem sucesso.

— O que está acontecendo com você, Knightly Rose Harris, — digo em


voz alta, olhando para o telefone.

Desisto e mando para ela uma última mensagem.

Landon: Me desculpe se te chateei. Deixe-me compensar você.


Capítulo Quatro

Landon

O lobby do Harris Ski Resort é como uma confortável e acolhedora sala


de estar de uma cabana. Possui uma lareira central a gás abrigada em uma
caixa tubular de vidro, divisórias de parede feitas de corrimãos de ferro
unidos como portões de ferro forjado e adornados com folhas de bordo de
ferro. À esquerda, há uma janela do chão ao teto onde podemos admirar as
encostas. Está mais sofisticado do que há um ano, mas o arquiteto que
renovou o local fez questão de manter a atmosfera singular e aconchegante
do estabelecimento.

— O que está acontecendo, Miller? — Damian me cumprimenta.

— Onde está Lee?

— Você não consegue encontrá-la na pousada, na casa dela ou com o


papai? — ele pergunta confuso.
— Você se importaria de rastrear sua irmã, por favor? — Eu mostro a
ele meu telefone. — Tenho tentado o dia todo e ela tem ignorado minhas
mensagens e me mandado para o correio de voz.

— Lee? — Ele franze a testa. — Se você está procurando por Cassie, ela
já está na casa do papai. Eles saíram depois de jantar cedo. André preparou
alguns lanches para eles levarem para casa.

Cassie tem André, o chef da pousada, enrolado no dedo mínimo como


todo mundo. Nós o contratamos há um ano para tornar o restaurante um
dos melhores da região, não para atender minha filha.

— Não, estou procurando por Lee, — falo lentamente, tentando chamar


sua atenção de volta, já que ele já está olhando para a recepção.

— O quê, Lee? — Ele pergunta sem sequer olhar para mim.

Ótimo, eu perdi o filho da puta.

— Sim, ela tem um metro e setenta e três, cabelo cor de avelã, olhos
escuros e se parece com você de alguma forma, mas bonita. Ela atende pelo
nome de Knightly. Nós a chamamos de Lee, e ela geralmente quer matar
você porque você a chateou.

Ele concentra sua atenção de volta em mim. — Miller, eu amo minha


irmã, mas não a acompanho. Já que você está livre, por que não vamos ao
restaurante? — Ele me convida como costumava fazer quando tínhamos
vinte e cinco anos. Foi quando ele começou a trabalhar na pousada e eu
voltei de Boston para assumir a loja.

— Eu vi um grupo de convidadas que poderia fazer isso esta noite.


— Você não tem mais vinte anos, Damian, — eu digo baixinho, já que
há convidados por perto.

Ele ri. — Devo me acalmar, Miller?

— Não, mas pelo menos não brinque com suas convidadas. Foi
divertido há dez anos. Mas você tem trinta e cinco anos.

— Devo começar a me comportar como você? — Ele olha para minhas


mãos. — Eu não vejo você se acomodando. Se você está me avisando
porque acha que posso engravidar uma garota, eu uso camisinha.

— Eu também fiz isso, e porra, elas nem sempre funcionam, — eu digo.


— Pense na reputação do resort. Por que eu iria querer ficar no lugar onde
o dono pode ou não foder minha esposa ou namorada?

Ele dá um passo para trás como se eu tivesse dado um soco na cara


dele. Em algum lugar ao longo do caminho, Damien perdeu a noção do que
importa. Ele vive em sua própria realidade, onde mantém o negócio
funcionando e tenta torná-lo o melhor. Às vezes parece que ele perdeu sua
humanidade.

— Entendi, manter o negócio da família funcionando é importante.


Encontrar uma saída ajuda você a abandonar sua vida. Mas tenha cuidado
com o que você está fazendo. Lee sabia que você estava planejando vender
a pousada dela?

— Isso foi há alguns anos e não fui eu, — ele rosna.

— Porque eu parei você, — eu o lembro. — Até que você me pague, eu


possuo metade deste lugar. Seus irmãos sabem disso?
Seus olhos se arregalam. Claro que eles não sabem merda nenhuma. Ele
gosta de saber tudo o que está acontecendo na fazenda e no B&B, mas
nunca conta o que está acontecendo no resort.

— Agora, encontre sua irmã. Ela atenderá sua ligação.

Ele bufa, mas envia uma mensagem. Não falamos enquanto esperamos
pela resposta dela.

Onde você está, Knightly Rose?

— Ela está na confeitaria tomando sorvete antes de ir para casa.

— Que porra é essa? — Eu olho para ele. — Ela está fazendo


exatamente o que eu disse a ela que deveríamos fazer hoje mais cedo. Por
que ela cancelaria comigo?

— Talvez ela tivesse coisas para fazer e terminou mais cedo. Quem se
importa?

Eu faço, filho da puta. Eu olho para ele. Nunca conversamos sobre Lee e
eu nos tornarmos outra coisa, mas acho que há um entendimento mútuo de
que não posso quebrar o código do bro. O que ele faria se eu fizesse isso?

— Vou ao restaurante. Vou pedir ao André que faça algo para ela.
Talvez peça um bolo de chocolate para acompanhar o creme.

— Por que você faria isso?

Ele pode ter se formado na porra de Harvard, mas seu crânio é muito
grosso para compreender o comportamento e as emoções humanas.
— Porque é isso que você faz pelas pessoas de quem você gosta. Você
faz coisas que vão animá-los, — respondo, exasperado.

— Você gosta de Lee? — ele pergunta, confuso.

Eu mostro o dedo para ele e saio. Não adianta explicar a um homem


emocionalmente constipado como funcionam os relacionamentos.

Não que eu esteja em um relacionamento.


Capítulo Cinco

Knightly

Hoje foi um dos dias mais movimentados do ano. Estou exausta, mas
também satisfeita com os resultados. Depois da manhã louca com minha
família, tive bastante tempo para garantir que o B&B parecesse um lar
longe de casa para os hóspedes. Também consegui embalar os biscoitos de
chocolate e colocá-los à venda na loja de presentes. Reservar o fim de
semana para a festa nupcial foi arriscado, mas valeu a pena. Gloria, a
noiva, adorava Kentbury, o B&B e o resort.

Gloria encontrou alguns lugares onde seu casamento poderia ser


espetacular. Felizmente, Bethany, a coordenadora do evento, a convenceu a
manter a cerimônia e a celebração dentro do resort. Não podemos prever o
tempo e durante o inverno faz sempre frio. Ela teria que usar um casaco
por cima do lindo vestido.
Ela está reservando o B&B para ela e suas damas de honra. Ela então se
mudará para a suíte de lua de mel do resort para a noite de núpcias,
deixando sua festa nupcial no B&B.

Bethany é um gênio. É uma pena que meu irmão não consiga entender
que temos um diamante em nossa equipe. Um diamante que acho que tem
tesão pelo nosso chef André. Não que eu deva ficar bisbilhotando os
negócios deles, só estou com inveja deles. É sábado e não tenho nada nem
ninguém para fazer esta noite. A menos que meus vibradores contem.

Isso parece terrível, mas eu daria qualquer coisa para fazer sexo com
um homem e não com um dos meus brinquedos sexuais, enquanto penso
em Landon Miller e suas mãos grandes e calejadas me fazendo gozar.

Resignada a passar a noite sozinha com uma pizza e Netflix, dirijo para
casa. No entanto, faço um desvio em direção ao centro da cidade e
estaciono perto da fábrica de laticínios. Posso não ter um encontro, mas
posso dar uma festa de pena cheia de carboidratos. A vida fica melhor com
creme de baunilha misturado com frutas frescas, e tenho muitas frutas em
casa. Eu gostaria de ter pensado nisso antes de sair do resort. O bolo de
chocolate do André combina perfeitamente.

Ugh, por que não me apaixonei por ele? Eu estaria fazendo sexo quente
esta noite, e ele me alimentaria com todas as minhas comidas favoritas.

Respiro fundo e decido comprar meio galão de creme para poder


guardar um pouco para amanhã. Terei que correr um quilômetro a mais
nas próximas duas semanas, mas quem se importa? Vou me deliciar com
bolo de chocolate e creme amanhã.
Quando estou prestes a jogar meu telefone dentro da bolsa, noto uma
mensagem de Damian.

Damian: Onde você está?

Ele não é do tipo que se preocupa com meu paradeiro. Ele só se


importa quando precisa de mim. Eu respondo e pergunto por quê?
Enquanto espero pela resposta dele, olho para a pequena pista de gelo no
meio da praça da cidade. Meus pais e alguns empresários da região deram
início à tradição. Atrai turistas. Este lugar e a estação me lembram muito a
Cassie quando ela era apenas um bebê e a trouxemos para tirar sua
primeira foto com o Papai Noel.

A nostalgia está me matando esta noite.

Quando entro na fábrica de laticínios, a campainha acima da porta de


vidro toca. O local está lotado de turistas. Estou feliz por não ter que lidar
com pessoas me perguntando onde Cassie ou Landon estão.

— Onde está Cassie? — Sra. Bowman, a dona da fábrica de laticínios,


pergunta.

Engulo o grunhido e sorrio para ela.

— Hoje fiz sabor de cacau quente, — diz ela. — Eu estava esperando


que você a trouxesse, já que é sábado e a pista de gelo está aberta.

— Ela está com meu pai esta noite, — respondo, suspirando.


— Estou feliz. Você e Landon precisam de um tempo a sós. Quer levar
uma cerveja para casa amanhã?

Muda, fico olhando para a Sra. Bowman. Há tantas coisas que eu


deveria contar a ela. Como Landon e eu não precisamos de tempo
sozinhos. Que não compartilhamos uma casa. Não somos um casal. Eu não
sei, porque e se ela disser que eu sei, mas você está apaixonada por ele.

Todo mundo me vê como a perdedora patética apaixonada por seu


melhor amigo?

Eu não digo nada. Mesmo querendo ir embora, peço meio litro de


chocolate quente e meio litro de marshmallow arco-íris porque é novo e
sempre experimentamos os novos sabores juntos. Pego meio galão de
creme de baunilha e, como não consigo evitar, também peço meio litro de
sorvete de menta para Landon, porque adoro aquele homem.

Deus, preciso de outra intervenção. Uma verdadeira intervenção, não


uma conversa com meus irmãos enquanto eles tentam me dizer o que
fazer.

— Diga oi para Cassie e Landon por mim, — diz a Sra. Bowman


quando entrega o saco com o sorvete.

— Claro, Sra. Bowman. — Finjo um sorriso, percebendo que ela


realmente pensa que sou uma extensão deles.

Não somos uma família feliz.


— Diga ao Landon que acrescentei a caixa de cestas de chocolate e
hortelã que ele encomendou. Você acha que ele gostaria de experimentar os
granulados de marshmallow?

O que são granulados de marshmallow?

Ela não espera pela minha resposta e me deixa parada na frente da


caixa registradora.

— Aqui. — Ela me entrega um pote de pequenos marshmallows em


forma de floco de neve.

Eu franzir a testa. Onde ela consegue essas novidades?

— Quanto eu te devo?

Ela acena com a mão e balança a cabeça. — É por conta da casa. Landon
nunca me cobra quando preciso trocar o óleo. Ele sempre me ajuda quando
meu carro, os eletrodomésticos ou minha fornalha quebram.

Isso é muito gentil da parte dele. Ele está sempre cuidando de todo
mundo e às vezes não cobra. Eu gostaria que todos pudessem ser mais
parecidos com ele.

— Obrigada, — digo porque a segunda opção é pegar minha carteira e


explicar a ela que não estamos juntos.

Tirar os favores do meu melhor amigo não é muito amigável da minha


parte. Geralmente sou verbal, mas hoje tenho me impedido de esclarecer
meu relacionamento com Landon muitas vezes. Mais cedo, enquanto eu
conversava com Bethany, ela me perguntou se eu iria me casar na fazenda
quando Landon e eu finalmente decidimos dar esse passo.

Não estamos juntos.

— Dirija com cuidado, querida, — ela diz, acenando para mim. — As


estradas estão começando a ficar cobertas de neve. Vou ligar para Landon
para avisar que você está voltando para casa e para cuidar de você.

Eu pressiono meus lábios e aceno. Se eu conseguir o emprego em Nova


York, vou garantir que todos saibam que Landon e eu não estamos juntos.
Caso contrário, eles podem espalhar o boato de que eu abandonei ele e sua
filha.
Capítulo Seis

Knightly

Leva o dobro do tempo normal para chegar em casa. Há neve preta na


maioria dos cruzamentos, e alguns motoristas estão derrapando ao frearem
abruptamente ao chegarem a um sinal de parada ou sinal vermelho.

Assim que viro para a minha rua, relaxo um pouco. Não há mais carros
circulando ao meu redor como se estivessem na Daytona 500.

Esta não é a ensolarada Flórida, é a gelada Vermont.

Abro a porta da garagem, entro com o carro e o vejo encostado no


batente da entrada. Ele está vestindo uma camisa Henley cinza, com as
mangas já enroladas sobre os braços tatuados e musculosos.

— Oi, — eu o cumprimento, saindo do carro com a pequena caixa de


pizza e o saco de sorvete.
— As estradas estão terríveis, — diz ele, pegando-me nos braços e
dando-me um abraço. — Você deveria ter me ligado para ir buscá-la.

— Posso dirigir em estradas com neve.

— Não se trata de você, mas dos outros motoristas. — Ele pega a sacola
de compras de mim. — Você foi à fábrica de laticínios para se abastecer
para o inverno?

— Não, acabei de comprar alguns sabores que podem não estar lá


amanhã. — Suspiro e abro o zíper da minha jaqueta. — Por quê você está
aqui? — Eu pergunto, o que é melhor do que você não entendeu que não posso
mais sair com você?

— Você tem evitado minhas ligações e mensagens o dia todo. Achei


que seria melhor verificar o que está acontecendo com você. Como estava
muito frio para esperar lá fora, entrei. Espero que isso não seja um
problema.

— Não é. É por isso que você tem uma chave.

Tiro o casaco, tiro as botas de neve e olho para a mesa da sala de jantar.
— Eu tenho pizza.

— Você só comprou uma pizza de tamanho pessoal, — diz ele.

— Como você sabe disso?

— É Kentbury. Temos um sistema de comunicação muito bom – é


melhor que o Twitter. — Ele pisca. — Quase tão eficaz quanto o Instagram
ou mensagens de texto. A Sra. Bowman ligou para me avisar que você
estava voltando para casa. Ela me repreendeu por deixar você dirigir no
gelo.

Eu zombei. — Eu. Posso. Dirigir.

— Essa não é a questão. Ela me contou que você foi comprar pizza logo
depois, mas uma pizza pequena.

— É por isso que você trouxe o jantar?

— Não, eu já tinha – e ela também sabia disso. — Ele ri. — Ela acha que
sou um cara muito atencioso.

— Como ela sabe que você jantou? — Eu gemo. Isso não estaria
acontecendo em Nova York.

— É Kentbury, — ele repete, e deve ser por isso que todo mundo na
cidade sabe que há um grande jantar na minha mesa – para nós dois.

— Vamos sentar, a comida está esfriando.

— Eu cancelei, — murmuro, olhando para minha mesa.

— Lee, o que eu fiz? — ele pergunta, a frustração escorrendo de cada


palavra.

— Nada, — digo secamente, mantendo-me forte porque meu coração


está derretendo ao ver o jantar chique que ele trouxe.

Tudo o que adoro da culinária do André está aqui. Salmão defumado,


bolinhos de batata com crème fraîche com ervas, macarrão com camarão e
salada farro de pepino. Há uma garrafa de vinho e taças, e ele arrumou a
mesa. Com algumas velas, este seria considerado um jantar romântico. Esta
é a parte da noite em que meu coração bate rápido de esperança.

Em algumas horas, quando Landon me lembrar que sou apenas um dos


caras, vou chorar, quebrar e me magoar. Assim como eu, meu coração
simplesmente não entende. É exatamente por isso que estou na rotina.
Landon faz algo fofo, eu me apaixono um pouco mais e então ele pisoteia
todos os meus sonhos.

— Eu irritei você. Apenas me diga o que fiz para que eu possa


consertar.

— Por que você assumiria isso?

— Eu conheço você, — ele diz calmamente.

— Você faz? — Pergunto cético, rindo por dentro.

Amigo, você não sabe de nada.

— O que há com vocês, Harris? Claro que eu faço. Conheço vocês


desde que éramos crianças.

Acho que é isso. Ele me conhece tão bem quanto conhece meus irmãos.
Eu sou apenas um dos caras. Uma parte do grupo. Sua amiga.

— Deixe-me colocar isso no freezer e lavar as mãos, — diz ele. — Onde


está Bob?

— Na casa do papai, Cassie convenceu papai a levá-lo com eles. Ela


precisa de um animal de estimação, — eu digo casualmente.
Esperançosamente, ele lhe dará um cachorro neste Natal.
Ela implora por um desde os seis anos. Eu compraria um para ela, mas
Landon insiste que eles não estão prontos para ter um cachorro. Ele deveria
começar comprando uma casa e saindo do apartamento acima de sua
garagem.

— Você comprou muito sorvete. Espero que você compartilhe um


pouco do sorvete de hortelã comigo.

— É seu, ela simplesmente presumiu. — Dou de ombros e me impedi


de dizer que toda a cidade presume que estamos juntos e que talvez ele
devesse fazer algo para esclarecer nossa situação. Porque até eu acredito
nisso às vezes.

— A propósito, ela não me cobrou. — Menciono o sorvete grátis antes


que ele me agradeça por comprá-lo. — Ela mencionou algo sobre suas
trocas de óleo.

— Às vezes eu cuido do carro dela ou dos eletrodomésticos da fábrica


de laticínios, — ele diz casualmente, como se isso não fosse grande coisa.

— Você é um cara legal.

Ele dá de ombros. — Eu apenas ajudo meus vizinhos.

Ele puxa a cadeira para mim. Assim que me sento, ele coloca um
guardanapo no meu colo.

— Da próxima vez, prometo cozinhar.

— Cassie está com meu pai, você poderia ir ao resort e encontrar um


encontro quente, — sugiro enquanto ele serve o vinho.
— Eu prefiro estar aqui, com você. — Sua voz baixa ressoa dentro do
meu peito e meu coração palpita.

Oh, como eu gostaria que isso fosse verdade, e ele quisesse estar
comigo. Não com sua amiga Lee.

— Você vai me contar o que aconteceu? — ele pergunta.

Ele realmente não está deixando isso passar, não é?

— Tem sido um dia agitado. Bishop, Damian e eu estávamos


discutindo o negócio.

— Está tudo bem? — Ele estreita o olhar. — Ele está planejando vender
algum hectare ou parte da fazenda?

— Não. — Eu engasgo com o vinho. — Ele não ousaria. Você sabia que
ele está pensando na possibilidade de comprar o vinhedo ao lado?

— Seria uma aquisição interessante. — Ele acena com a cabeça algumas


vezes. — Holden consideraria a ideia.

Landon está perdido em pensamentos enquanto comemos. Depois de


alguns minutos, ele balança a cabeça e diz: — Desculpe, não deveria estar
pensando no vinhedo. Vou me preocupar com isso outro dia.

— Isso soa tão diferente de você, algo que você gostaria de


compartilhar?

— Na verdade não, — diz ele, afastando a conversa. — Por que você


não me conta o que aconteceu hoje? Eu vi um grupo grande no B&B
quando passei.
Conversamos sobre o meu dia e os convidados com quem passei a
maior parte do dia. Conto a ele tudo sobre Glória, como ela é descontraída,
diferente da mãe e da futura sogra. Elas vieram com ela, junto com suas
irmãs e as damas de honra. O noivo foi incrível. Ele participou e, ainda
assim, ficou fora do caminho. Quando as mães se tornaram opressoras, ele
as interrompeu educadamente. Eu gostei do casal. Tenho certeza que eles
conseguirão no longo prazo.

— Vai ser um ótimo casamento, — continuo, animado com a


perspectiva. — Eles assinaram o contrato e nos deram o depósito inicial. —
Explico como Bethany vai definir o local e como o B&B vai entrar na
equação.

Reservamos o B&B e eles reservaram vinte quartos no resort. Eles


podem bloquear mais quartos quando as confirmações de presença
começarem a chegar em julho próximo.

— Bethany é um grande trunfo, — ele concorda comigo. — Só


precisamos mantê-la longe de Damian.

— Oh, eu não acho que Damian faria qualquer movimento contra ela,
— eu asseguro a ele.

— Ele não faria isso, mas gosta de microgerenciar todo mundo, —


explica ele. — Bethany odeia isso.

Eu me inclino para frente e olho em volta antes de sussurrar: — Acho


que Bethany e André estão juntos.

Ele sorri e revira os olhos.


— O que?

— Deixe-os em paz, ok?

— Você sabia! Não acredito que você não me contou — digo, olhando
para ele.

— O que eu te contei sobre fofoca?

— Não é fofoca. É manter-nos informados sobre os acontecimentos em


curso na nossa preciosa cidade.

Ele revira os olhos.

— Eu os peguei há algumas semanas, — ele confessa. — Por que você


acha que o André não protestou por causa desse jantar? Ele não gostou da
combinação dos pratos. Ele disse que eles brigaram e tenho certeza que ele
disse foda-se algumas vezes em francês. Ainda assim, usarei essas
informações para garantir que você obtenha seus favoritos.

Ele pisca para mim e não posso deixar de suspirar.

Então, quando ele pensa que estou relaxada o suficiente, ele faz a
pergunta: — Você vai me contar o que está acontecendo?

Sua voz preocupada e aqueles olhos azuis claros cheios de medo me


convencem a dizer pelo menos alguma coisa para ele.

— Meus irmãos me convenceram a ir para Nova York.

— Você está tirando férias durante a temporada mais movimentada?


Seu olhar se concentra em mim, segurando-o. Então, seus olhos se
arregalam ao perceber o que há na cidade de Nova York.

— Você disse que não estava interessada naquele trabalho. — Ele nem
me deixa responder antes de continuar falando, com aborrecimento claro
em seu tom. — Por que você se mudaria? A pousada está aqui. É sua. Você
adora trabalhar lá. Esta cidade é a sua vida, você a ama.

É minha. Há um ano, papai me entregou a escritura. Os lucros


permanecem na família, assim como tudo o que possuímos. No entanto, a
casa vitoriana é minha.

— Não há nada de errado em tentar coisas novas. — Explico pelo


menos parte do motivo pelo qual estou pensando em sair.

Bishop me diria que este é o momento certo para iniciar a conversa.


Confesse meus sentimentos, para que Landon possa me decepcionar
gentilmente e eu possa seguir em frente.

Não estou pronta para fazer algo assim. Muito provavelmente nossa
troca ficaria assim:

— Landon, estou apaixonada por você.

Ele vai engasgar com a própria saliva e cuspir algumas palavras como — Com
licença?

Ele vai parecer um cervo pego de surpresa e fugirá ou fingirá ignorância. Eu


esclareceria: — Tenho sentimentos por você.
Com toda a paciência do mundo e a voz mais doce, ele dizia: — Lee, eu também
me importo com você. Você é como uma irmã, bem, mais como um irmão.

— Mas eu amo você, — eu insistia.

— Isso é fofo, obrigado, — ele terminava e simplesmente ia embora.

Ou isso ou ele pode simplesmente me dizer: — Você está falando sério, Lee? Eu
quero dizer, olhe pra você. Somos apenas amigos, não tem como eu te levar a sério.

Seja como for, suas palavras vão despedaçar meu coração, que ele
jogará na fogueira. Observarei enquanto eles se transformam em cinzas que
o vento leva embora. Nunca os encontrarei e, claro, nunca serei capaz de
me recompor.

Meu caminho é muito mais fácil: seguir em frente, engolir meus


sentimentos e aprender a viver sem ele.

— Esta é a sua casa, — ele insiste. Eu olho para ele, magoada. —


Desculpe, simplesmente não entendi. — Ele passa a mão pelo cabelo e
começa a recolher a louça suja.

— Cada vez que você faz algo, estou lá para apoiá-lo. Eu esperaria o
mesmo vindo de você, — eu digo amargamente.

— Você está dizendo que eu não apoio você? — Ele não está
levantando a voz, mas parece desapontado. — Normalmente, eu não dou a
mínima para o que as pessoas dizem ou deixam de dizer. Eu não poderia
me importar menos com o que eles pensam de mim, mas de você. — Ele
bufa. — Você, eu me importo. Eu me importo com o que você pensa ou
como você me percebe. Não acredito que você duvida de mim.
— Ei, não estou duvidando de você. Mas agora, eu adoraria que você
dissesse algo como: Lee, vá conseguir o emprego. Você vai arrasar em
Nova York.

Landon aperta os lábios. Seu olhar se concentra na garrafa de vinho


vazia. — Achei que esta cidade fosse suficiente para você. Acho que você
quer mais da vida. Se é isso que você quer, então eu te apoiarei.

— Por favor, não me sufoque com sua excitação.

— O que você quer de mim, Lee? — Seus olhos encontram os meus. —


É como se você estivesse chateada com alguma coisa, mas não quer me
contar. Eu fiz algo com você que o perturbou profundamente. Você mal
consegue olhar para mim. Não posso consertar nada se você não me contar
o que está incomodando.

— Há coisas que você não consegue recompor ou resolver.

— Sempre posso tentar, — ele insiste.

— Kentbury não tem tudo que preciso. Olhe para mim. Tenho trinta e
dois anos, sou solteira e estou sozinha.

Ele grunhe. — Você não está sozinha. Você tem seu pai, seus irmãos,
Cassie e eu.

— Sim, mas seria bom ter um namorado, um parceiro. Talvez até um


marido. Quando eu estava fazendo um tour hoje cedo, pensei comigo
mesma: quero isso.

— Um casamento?
— Um homem que me vê como se não houvesse mais ninguém no
mundo além de mim. Ele sabia o que ela precisava antes mesmo de ela
falar. É sobre as carícias roubadas, as conversas que tiveram sem palavras.
Ela estava dizendo a ele que em alguns anos eles trariam os filhos para ver
onde se casaram.

— Você quer filhos.

— Meu tempo está acabando. Dirijo um negócio de sucesso, mas o


sucesso não é tudo. — Eu bato no meu pulso. — Quero filhos, um marido e
minha própria família. Amo papai e meus irmãos, Kentbury e minha
pousada. Mas eu quero amar alguém. — Faço uma pausa e olho para ele
brevemente porque amo alguém, é apenas um amor não correspondido. —
Eu quero um homem que me ame de volta.

— Nós amamos você, Lee.

Eu suspiro. — Papai pode ser solteiro, mas ele nos tem. Você tem
Cassie. Se você olhar de perto, não tenho ninguém. Nova York pode abrir
as possibilidades.

Ele olha para mim por um longo tempo e acena com a cabeça. —
Entendo. Não há nada aqui para você.

— Eu sei. — Engulo as lágrimas e vou até a pia lavar a louça.

Ele não poderia ter dito melhor: não estou interessado em fazer parte
da sua felicidade.
— A entrevista é terça-feira, — digo enquanto coloco os talheres na
máquina de lavar louça. — Meus irmãos disseram que têm tudo sob
controle.

— Você comprou uma passagem de avião?

— Não, estou dirigindo.

— Você não pode dirigir enquanto houver uma tempestade atingindo a


Costa Leste, — ele me avisa.

— Você vai reclamar das minhas habilidades de direção? Acho que sou uma
boa motorista, Landon, — digo, contendo as palavras, vá se foder, dirigi durante
uma nevasca para levar sua filha ao hospital quando ela estava com febre alta e
você estava preso em Burlington.

Eu não digo uma palavra.

— Você está, mas não é seguro. Pegue o trem ou o avião amanhã à


noite, eu pago se precisar.

— Não posso sair amanhã. Partirei na segunda-feira e ainda tenho


bastante tempo, — protesto.

— E você diz que Cassie é teimosa por minha causa, — ele diz, irritado.
— Ela herdou isso de você.

Desligo a torneira e me viro para olhar para ele. — Veja, há outra coisa
positiva sobre eu ir embora. Não serei uma má influência para sua filha.

— Ela admira você, Lee. Não quero jogar a carta de Cassie, mas você já
pensou no que sua partida fará com ela?
Suas palavras me dão um soco no estômago. Já pensei no que isso fará
com Cassie? Ele já pensou no que Cassie fez comigo? Por favor, não me
entenda mal, adoro aquela criança desde a primeira vez que a segurei nos
braços. Mas antes disso chorei três horas seguidas enquanto comprava
tudo que ela precisava.

Ele teve uma filha com outra mulher.

Eu permaneceria Lee para sempre.

Eu ainda sou apenas fodida Lee.

— Ela vai ficar bem. Sou apenas Lee, a amiga da família. Eu tomo conta
dela quando você precisa. Meu pai ficará feliz em assumir o papel.

Ele balança a cabeça. — Você é mais do que apenas Lee para Cassie e
para mim.

— O que você quer que eu faça, Landon? Ficar por causa de Cassie?
Terei cinquenta anos, sozinha, e a única foto com uma criança que terei em
cima da minha lareira será a da filha do meu amigo que me manda um
cartão de Natal, se ela se lembrar.

É um milagre que eu esteja me segurando. Eu amo aquela garotinha


como se ela fosse minha. Ela nunca será mais do que Cassie. Pelo menos ela
chama meus irmãos de tios. Para ela, eu sou Lee. Eu nunca serei mãe.

— Eu... — Ele passa a mão pelo cabelo e solta um suspiro. — Você tem
razão. Avise-me se precisar de alguma coisa enquanto estiver fora.

— Você está indo?


— Está ficando tarde e as estradas estão ruins. A empresa de guinchos
pode ficar mais ocupada do que o normal. Se for esse o caso, os caras vão
precisar de mim.

— OK.

Quando chega à porta, ele para e abaixa a cabeça. — Eu gostaria de


poder oferecer o que você precisa, porque odeio perder você.

Depois que ele vai embora, as lágrimas começam a cair uma após a
outra. Meu coração está partido porque suas palavras apenas solidificam o
que eu sempre soube. Ele nunca vai se sentir como eu. Durante horas, fico
olhando para a porta fechada, desejando que ele tivesse ficado e me dado
pelo menos um beijo antes de nos despedirmos.
Capítulo Sete

Landon

Enquanto Lee descrevia seu futuro, senti uma sensação familiar de


consternação. Estou tão acostumado a ouvir que sou apenas um mecânico
que não pode oferecer mais a única filha que tive acidentalmente. Não que
eu considere Cassie um acidente. Ela é meu amuleto da sorte. Até agora,
tenho-me saído suficientemente bem por ela, mas não consegui ser tudo o
que Knightly Rose deseja.

Um marido que atenderia a tudo que ela precisa. Alguém que possa
dar a ela o que ela merece. Nada que eu faça se compara a um diploma
universitário e a um emprego em um escritório chique no meio de
Manhattan. Ela namorou um cara assim quando estava na faculdade.
Mark, Zack ou foi Sam? Não consigo lembrar o nome dele, mas ela parecia
feliz com ele. Eles terminaram quando ela decidiu voltar para Kentbury.
Assim que ela se estabelecer em Nova York, ela encontrará alguém
como ele. Definitivamente, não eu. Eu gostaria de ter dito a ela o quanto
preciso dela. Que talvez minha filha não seja dela, mas Cassie a ama tanto –
como uma mãe. Odeio aceitar que minha mãe está certa sobre mim. Pelo
menos eu tenho minha Cassie.

Quando chego em casa, vou para a garagem. Carson, um dos caras que
trabalha para nós desde que meu tio era dono do lugar, está sentado na
mesa em frente à antiga mesa telefônica.

— Por que você está aqui, chefe?

— Caso vocês precisem de mim, — respondo enquanto visto minhas


roupas de trabalho.

Eu poderia muito bem fazer algo esta noite.

— Está muito frio, você não deveria estar em casa com Lee? Você
trouxe para ela um jantar chique. — Ele pega seu telefone. — Na sua idade,
prefiro estar em minha casa com minha mulher.

— Vá para casa, para sua esposa, eu cuidarei de tudo, — digo.

— Você deveria estar em casa com a senhorita Lee. Por que trazer um
jantar chique para ela se você vai sair mais cedo? Vocês, crianças, não
sabem como cortejar uma mulher.

Carson é uma grande ajuda na oficina, mas irritante quando se trata da


minha vida pessoal.
— Eu não entendo por que você não está reivindicando sua
reivindicação. Ela é bonita, inteligente e doce. Assim como a mãe dela.
Todo mundo era apaixonado por Rosie. — Carson se recompõe. — Bem, eu
não. Eu amo minha Diane.

— Lee precisa de um cara da cidade. Alguém que lhe dará o que ela
merece. Sou apenas um mecânico.

Ele ri. — Você parece sua mãe quando ela partiu o coração de Gerry.

Paro no meio do caminho e me viro para olhar para ele. — O que você
acabou de dizer? — Estreito meu olhar para ele.

— Gerry e sua mãe namoraram quando ela se mudou de Connecticut


para cá com o pai. Eles ficaram juntos por um ou dois anos, mas como ele
escolheu ficar em Kentbury para assumir o negócio, ela seguiu em frente
com seu pai.

— Minha mãe e tio Gerry? — Repito, surpreso.

— Bem, eu não deveria estar lhe contando isso, mas você parece estar
pensando menos em si mesmo. Você é um bom homem, Landon. Veja o
que você fez com o lugar. Seu avô ficaria orgulhoso de você, e Gerry
também. Ele sabia que você iria salvá-lo e torná-lo melhor.

Meu tio era divertido. Aprendi muito com ele. Consertar carros, cuidar
dos meus amigos e nunca desistir. Quando perdi minha bolsa, ele se
ofereceu para pagar a escola, se isso fosse o que eu realmente queria, mas
duvidou que eu quisesse. Ele estava certo. Eu estava apenas fazendo tudo
pelos meus pais.
— Ele me ensinou tudo que sei, — digo, olhando ao redor da garagem.

A maioria de seus pôsteres havia sumido, junto com o equipamento


antigo. Renovei todo o lugar e certifiquei-me de que meus funcionários
fossem treinados para lidar com todos os tipos de carros e tecnologia.

— Ele te ensinou como consertar um carro. Você aprendeu como


administrar o negócio. Ele não poderia fazer as duas coisas. Este lugar é
muito mais do que seu avô ou Gerry tinham em mente. É ótimo.

— Eu acho que você está lendo muito sobre isso.

— Não, estou dizendo a verdade. Você é um bom pai. Um bom amigo.


Diane diz que você é um bom partido, — ele continua. — Eu não saberia,
mas acredito na esposa. Ela é a inteligente.

Ele toca o calendário na parede. — Estamos sempre ocupados porque


todas as mulheres de Kentbury e das cidades vizinhas trazem seus carros
aqui – só para ver você. Elas matariam para ser a senhorita Lee. Ela é quem
chama sua atenção.

— Ela é apenas uma amiga. — Eu mantenho minha linha padrão. Nesta


cidade, qualquer informação se espalha como um incêndio. Ele dirá a
Diane quem ligará para a Sra. Bowman e, assim que ela souber de alguma
coisa, a cidade inteira saberá de tudo – com um giro, é claro.

— Eu não quero estragar nosso relacionamento.

— Você já está estragando tudo, garoto. Ela vai se cansar de esperar.


Em breve ela deixará você para trás. Como você vai se sentir ao vê-la com
outro homem?
Meu coração começa a bater mais rápido quando ele diz as palavras em
voz alta.

Quando Lee listou o que ela estava perdendo e o que estava


procurando, simplesmente parei de tentar convencê-la a ficar. Não sinto
que posso competir com o homem que ela merece. Quando ouço Carson
me contando sobre esse outro homem fictício ao lado dela, parece uma
facada no peito.

Perdê-la é inevitável, a menos que eu faça algo drástico.

Mas ela poderia me ver como outra coisa?

Algo mais?

Ela se importaria com o que eu faço?

Estou perdido. Ir à biblioteca para comprar um livro sobre como


administrar uma empresa foi fácil. Comprei O que esperar durante os
primeiros dois anos quando Cassie chegou à minha porta. Ela sobreviveu
oito anos e eu não sou mais uma merda nessa merda de ser pai.

Haveria algo disponível que pudesse me dizer como fazer essa dor
desaparecer após um desgosto?

Carson me encara como se estivesse esperando minha reação.

Eu apenas digo: — Ela é apenas uma amiga.

— Você deveria assistir Dr. Phil, — diz ele. — Minha esposa faz isso
religiosamente. Ele sabe muito sobre pessoas e relacionamentos.

— Carson, eu não preciso do Dr. Phil.


— Ele diria que você está em negação, meu amigo. — Ele me ignora. —
Você está apaixonado por aquela garota desde que ela tinha a idade de
Cassie. Não há nada que você não faça por ela. Faça um favor a si mesmo e
tire a cabeça da bunda antes de perdê-la.

— Eu deveria demitir você.

— Minha esposa ainda me mandaria trabalhar, — diz ele, sem prestar


atenção à minha ameaça. — Ela acha que você é uma boa pessoa que
precisa de ajuda para administrar este lugar.

Verifico o relógio e pergunto: — Quando você vai embora?

— Vou ficar até as seis da manhã. A cama do escritório está pronta,


você deveria ir para a cama, — sugere. — Pense no que você está fazendo.
Gerry perdeu sua mãe porque ela não era adequada para ele. Mas a
senhorita Lee é perfeita para você, todo mundo na cidade sabe disso.

Esfrego minha nuca e aceno com a cabeça. — Se precisar de mim, me


chame. Estarei lá em cima.

— Você deveria estar com a Srta. Lee, — ele me chama quando estou
saindo.
Capítulo Oito

Landon

Passei muitas noites sem dormir pensando em Lee. Sonhando com ela.
Me masturbando enquanto a imagino debaixo de mim, gemendo enquanto
enfio dentro de seu doce corpo. Nada acalma a sede. Esta noite está pior.
Estou inquieto enquanto o medo de perdê-la me aperta pela garganta.

Apesar de todos os meus esforços, meu coração só pertenceu a uma


pessoa, Knightly Rose. Desnecessário dizer que fico acordado a noite toda
pensando no que Carson me contou e em como estou prestes a perdê-la.

A notícia de que mamãe namorou meu tio me surpreendeu. Não estou


surpreso que ela o tenha deixado por causa de quem ele era. Meus pais
sempre se certificaram de que, a menos que sigamos seus conselhos, tudo o
que fazemos não será digno de sua aprovação.

Ouvimos repetidamente que meu tio era apenas mecânico. Um


ninguém que nunca teria o que é necessário para ser feliz. Acho que,
inconscientemente, continuo pensando o mesmo sobre mim mesmo. Se
meus pais não conseguem me ver como mais do que um cara sujo que
ganha a vida entrando sob o capô dos carros, como alguém me veria como
algo mais?

Lee sempre acreditou em mim. Quando ela veio para Boston para fazer
faculdade, eu tinha acabado de perder minha bolsa e ela perguntou: — O
que você vai fazer?

— Por enquanto, estou trabalhando na garagem da Avenida


Commonwealth, consertando carros e restaurando motocicletas, —
respondi. — É um bom dinheiro, mas não o suficiente. É por isso que
trabalho como garçom na O'Riley's Tavern.

— Veja, o mundo não acabou. O MIT não era o que você queria, era?

Eu balancei minha cabeça.

— Você vai ficar bem, Miller. Eu tenho fé em você.

A única coisa que perdi quando tive que deixar o MIT foi o respeito dos
meus pais. O que eu só tive por cerca de um ano ou mais, de qualquer
maneira. É ruim que eu ainda sorria quando me lembro daqueles anos de
festa? Aproveitei cada momento. Finalmente estava livre dos meus pais e
de Kentbury. Havia tanta coisa para fazer e experimentar que a sala de aula
se tornou secundária para mim. Não me arrependo de ter perdido minha
bolsa de estudos, nem de ter voltado para Kentbury e assumido a loja. Eu
amo o que eu faço.
Mas não é isso que me define, quem eu sou ou o que mais prezo no
mundo. Cassie e Lee são tudo para mim. Trabalhar duro para não arruinar
minha amizade com Lee não foi suficiente. Ela está indo embora porque fui
um covarde e nunca dei a ela o que é dela por direito: meu coração.

Por volta das cinco da manhã, volto para a oficina para trabalhar no
Corvette e nos carros que devo entregar esta semana. Assim que terminar,
estabeleço um cronograma para Carson. Envio por e-mail uma lista das
tarefas que preciso que todos façam na loja, caso eu fique fora a semana
inteira. Lee é uma pessoa simples e gentil. Tenho certeza de que se
sentarmos e conversarmos, resolveremos nosso relacionamento no final do
dia.

Quando termino, dirijo até a casa de Steve com outra muda de roupa
para Cassie. Tenho esperança de que ela concorde em ficar com ele por
mais uma noite. Preciso ter uma longa conversa com Lee e não quero
ninguém por perto enquanto isso acontece.

— Entre antes que Bob escape, — ele ordena enquanto abre a porta. —
Lee levou Cassie com ela, junto com alguns litros de xarope de bordo.

Abro um sorriso. Minha filha realizou seu desejo, fazendo doces neste
fim de semana. Ela sempre encontra uma maneira de persuadir Lee.
Distraído com a notícia, não percebo quando Bob dispara em minha
direção.

— Não pule, — eu o aviso, mas é tarde demais, ele salta em cima de


mim. Suas patas pousam em meu peito.
— Como você está garoto? — Esfrego suas orelhas suavemente.

Ele responde lambendo meu rosto. — Sim, é bom ver você também.

— Acho que elas o deixaram porque ele não pode ficar por perto
enquanto elas fazem os doces? — Eu acho, empurrando Bob suavemente.

— Sim, a cozinha de Lee já deve ser uma fábrica de doces. — Ele ri. —
Você deveria ir e alcançá-las. Damian e Hops também estão lá.

Antes de ir para a casa de Lee, decido verificar os fatos de Carson e


pergunto: — Carson me contou sobre Gerry e minha mãe. Ninguém nunca
disse nada sobre isso antes.

Espero que ele me dê outra versão. Talvez não haja nenhuma versão.

— É como tudo nesta cidade. Todo mundo fala sobre isso enquanto
acontece, — diz ele e encolhe os ombros. — A próxima coisa que você
percebe é que há algo novo para manter a atenção da cidade e você esquece
tudo.

— Então é verdade?

Ele assente e se senta na sala. — Gerry sempre quis trabalhar na loja.


Ele não amava sua mãe o suficiente para desistir e fazer algo diferente.
Assim como ela não o amava o suficiente para entender que os carros eram
sua paixão. Você é muito parecido com ele. Você tem um dom com carros.
Por que você desperdiçaria seu talento fazendo outra coisa?

— Não é um talento, — eu o corrijo. — É apenas uma troca.


— Só conheci duas pessoas que conseguem dizer o que há de errado
com um motor apenas ouvindo-o funcionar. Isso é um dom, — ele insiste.
— Assim como Lee. Ela sabe como fazer as pessoas se sentirem em casa.
Cada pessoa tem um talento e deve adotá-lo.

— O que você acha da partida dela para Nova York?

Ele inclina a cabeça no sofá e respira fundo. — O que há para pensar?


Você é um pai. Você aprenderá que, à medida que seus filhos crescem, você
só poderá estar presente para orientá-los, apoiá-los e amá-los.

— Eu gostaria que ela ficasse, — eu suspiro as palavras. — Só não sei


como convencê-la de que ela pode ter tudo o que quiser aqui. Eu
trabalharia duro para dar isso a ela.

— Finalmente. Por que demorou tanto? — Sua voz frustrada e seu rosto
irritado me lembram da atitude de Carson na noite passada.

— Você não gostaria de alguém melhor para ela? Eu conserto carros


para viver, Steve. Ela merece muito mais do que eu. Mamãe não se cansa
de dizer que não sou nada enquanto trabalhar na loja.

Ele balança a cabeça e faz uma careta.

— Gerry era um homem notável. Um dos meus melhores amigos. Não


há nada que ele não faria por sua família, seus amigos e sua comunidade.
Você é muito parecido com ele, — ele continua. — Ele não era apenas um
mecânico. Posso ver por que você se vê dessa maneira. A única falha dele
era amar sua mãe — e ouvi-la.
Steve endireita as costas e pigarreia. — Ele poderia ter deixado sua
mãe, mas ela o fez se sentir indigno. Na minha opinião pessoal, ela não
consegue ver ninguém feliz – nem mesmo os filhos. Minha Rosie foi a única
pessoa que a tolerou. Ela costumava dizer que todo mundo é especial.

— Você conserta tudo nesta cidade, não apenas carros. Sem você, a
fazenda não funcionaria tão bem, nem a loja, nem a pousada. Você criou
novos empregos em nossa comunidade quando assumiu a loja. Os caras
que chegam até você pedindo emprego não sabem muito, mas você ensina
tudo o que sabe. Quer eles fiquem ou não, você lhes dá um futuro.

— Eu apenas faço o que Gerry costumava fazer, — digo, ignorando o


que ele está dizendo.

De repente, isso me atinge. É como se eu visse tudo sob uma luz


diferente. Steve está certo, sempre foco no que minha mãe diz. Eu admirei
Gerry porque o amo. Todos o respeitavam. Tento seguir seus passos. Isso
não significa que eu deva continuar solteiro porque ele não era bom o
suficiente para a mulher que amava – minha mãe.

Lee não se parece em nada com ela.

— Todos são importantes neste mundo e certamente nesta cidade.


Somos parte do motor. Se faltasse uma peça, mesmo que pequena, o que
aconteceria?

— Vai funcionar, mas não corretamente, — ele me responde com um


sorriso. — Anteriormente, eu disse a Lee algo semelhante. Podemos
contratar novas pessoas para ocupar o lugar dela, mas ela é o coração da
nossa família. Ela é importante em todos os sentidos. Nada funcionará tão
bem, mas podemos funcionar.

— Você disse a ela para ficar? — Eu pergunto esperançosamente.

— Você pediu a ela para não ir embora? — ele retruca, me dando um


olhar desafiador.

— Eu gostaria de ter feito isso antes. Parece que é tarde demais. Ainda
não tenho certeza se sou quem ela precisa.

Ele suspira, exasperado. — Podemos passar um dia inteiro


conversando em círculos e nunca chegar a um entendimento. Seus pais não
dão muito apoio. É difícil ver as coisas como elas são quando elas fazem
você se sentir um fracasso. Você não está. Todos nesta cidade admiram
você e cuidam de você. Lee merece grandeza. Um homem que a apoia, a
protege e a ama. Se você não pode oferecer isso a ela, então você está
fazendo a coisa certa ao deixá-la ir. Não tente segurá-la só porque ela foi
gentil com Cassie. Faça isso porque é com ela que você deseja passar o
resto da vida. A vida é curta, — diz Steve. — Muito curta, filho.

Ele fica com uma aparência distante. Eu não sei o que dizer. Ele suspira
e continua.

— Você nunca pensa que a última vez que beija alguém pode ser a
última vez, — diz ele, com os olhos escurecendo. Ele segura a cabeça e
balança. — Um dia eu tinha tudo e no outro recebi uma ligação. Rosalinda
morreu em um acidente de carro. Fiquei com uma menina e nossos dois
meninos. Sinto falta dela todos os dias, mas tivemos uma vida boa
enquanto estávamos juntos. Dez anos de felicidade.

— Se você continuar se questionando, poderá estar perdendo um


tempo precioso. — Ele olha para mim e diz: — Quando você tiver a chance,
nunca perca a oportunidade de lembrar aos seus entes queridos o que você
sente por eles. Não perca a chance de beijar o amor da sua vida. Sempre
beije mais fundo, mais forte e mais ferozmente do que você pensa que
pode.

— Você está me dando sua bênção? — Eu me pergunto.

— Bem, ninguém será bom o suficiente para ela, mas você está perto o
suficiente. — Ele sorri para mim. — Então o que você vai fazer?
Capítulo Nove

Landon

Cassie sempre foi independente. A menos que ela não esteja se sentindo
bem ou esteja triste. É quando ela segue Lee ou a mim como um patinho
atrás de seus pais. Hoje é definitivamente um daqueles dias. Ela está
agarrada a Lee como se ela fosse sua tábua de salvação. De todos os dias
em que preciso que ela nos ignore e implore para sair.

— Querida, por que você não sai e brinca? — Eu sugiro.

Ela olha para mim, mas não diz uma palavra.

— Há muita neve para fazer bonecos de neve, — tento convencê-la.

— Já fizemos alguns na casa do vovô, — Cassie responde, severamente.

— Devemos ir para casa? — pergunto, já que a cozinha parece limpa e


não parece que estejam fazendo doces.
— Não, eu quero ficar com Lee, — ela insiste, passando os braços em
volta da cintura de Knightly.

Garota, você está me matando. Não nos resta muito tempo antes que
Lee nos deixe. Tenho um relacionamento não estabelecido para salvar.
Olho para Damian e Bishop, que também estão aqui.

— O que você está fazendo aqui, Hops? — Eu pergunto exasperado.

É como se todo o universo decidisse foder comigo neste fim de semana.

— Chloe está arrumando suas coisas. Não quero estar lá, — explica.

Ótimo, ótimo pra caralho. — Você não deveria estar no seu


apartamento, certificando-se de que ela só sairá com as coisas dela?

— Lee fez questão de rotular tudo hoje cedo, — explica ele. — Os


transportadores sabem que não devem levar minhas coisas.

Será que algum dia ele crescerá e deixará de depender de sua irmã mais
nova? Eu olho para ele.

— Você parece nervoso, quer ir para a academia? — Damian propõe.

— Papai, quando podemos ir ao bosque escolher as árvores de Natal?


— Cassie olha para mim. — O Natal é daqui a duas semanas.

Arqueio uma sobrancelha e expiro alto, olhando para Lee. —


Provavelmente no próximo fim de semana. Teremos que coordenar com o
vovô e seus tios.

— Sexta-feira é bom para mim, — diz Bishop, verificando seu telefone.


— Podemos discutir isso mais tarde, — Damian oferece.

— Lee? — Eu a trago para a conversa porque ela não disse uma palavra
desde que cheguei.

Ela encolhe um ombro e evita meu olhar. Porra, se ela estava chateada
ontem, hoje ela nem me suporta. Estreito meu olhar quando noto seus
olhos manchados. Ela está chorando?

Se Cassie não estivesse literalmente presa ao quadril, eu pediria a


Bishop que a levasse para tomar sorvete para que eu pudesse ficar sozinho
com sua irmã. Eu conheço minha filha, ela não vai sair do lado do Lee. Se
eu tentar, posso piorar as coisas. Esse é um risco que não correrei hoje.

O que aconteceu com Cassie?

— Domingo, — ela murmura. — Acho que domingo pode funcionar.

— Qual é o plano para hoje?

— Vou para a academia, — diz Damian, levantando-se. — Você quer


vir?

— Você deveria ir com o tio Damian, — sugere Cassie. — Lee pode me


levar para casa e me colocar na cama quando chegar a hora. Ela prometeu
me ler uma história.

— O que dissemos a você, Cassie? — Lee aperta os lábios e lhe lança


um olhar de repreensão.
Minha filha é tão independente que às vezes pensa que já tem idade
suficiente para tomar suas próprias decisões. Lee e eu continuamos
lembrando a ela que ela ainda é uma criança e precisa seguir as regras.

— Certo, desculpe, — ela se desculpa e faz beicinho. — Papai, posso


ficar com Lee, para que possamos fazer doces? Se você quiser, ela pode me
levar para casa depois do jantar.

Lee beija o topo de sua cabeça. — Muito melhor, querida.

— Se estiver tudo bem para você, — Lee diz, casualmente.

Minhas duas meninas parecem estar de bom humor. Embora eu queira


ficar e ter certeza de que elas estão bem, vou embora porque está claro que
nenhuma delas quer fazer nada comigo. Damian e eu fomos à academia do
resort. Treinamos por cerca de uma hora. Tomo um banho e depois vou
para o escritório dele jantar com ele.

— Knightly mencionou que você está pensando em comprar o vinhedo.

— É uma ideia, — diz ele com indiferença, como se estivéssemos


jogando pôquer e ele tivesse um ás na manga. — Os McCalls querem
mudar-se para o sul. Eles trouxeram isso para nós, caso quiséssemos fazer
uma oferta.

— Você não tem fluxo de caixa, — lembro a ele. — O resort está apenas
começando a pagar o que investimos.

— Você quer desistir do nosso acordo? — Suas narinas se dilatam.


— Não, nós temos um acordo. Na verdade, quero continuar
trabalhando juntos por mais dez anos, conforme nosso contrato atual. —
Paro de dançar em torno do assunto. — Mas discutiremos isso mais tarde.

Há alguns anos, ele me procurou porque a pousada estava perdendo


muito dinheiro. O restante dos negócios familiares era sólido, mas o hotel
não atraía hóspedes suficientes. Se ele a reformasse e a comercializasse
como uma estação de esqui, seria capaz de reverter a situação. Para fazer
isso, ele precisava da minha ajuda. Tive que convencer Lee a vender a
pousada e que ela se concentrasse em outros negócios.

Eu não apenas odiava seu plano, mas também queria quebrar todos os
ossos de seu corpo por sequer pensar em tirar a casa vitoriana de Lee. Em
vez disso, emprestei-lhe o dinheiro para reformar a pousada. Eu seria seu
parceiro silencioso pelos próximos dez anos. Assim que o contrato
expirasse, ele me pagaria — com juros.

A longo prazo, seria mais útil para minha família se eu mantivesse os


cinquenta por cento da propriedade que passaria diretamente para meus
filhos. Afinal, não quebraríamos a tradição, tudo ficaria dentro da família.

— O que aconteceu com ‘serei um investidor silencioso’? — Ele olha


para mim.

— Estou guardando seu segredo, não estou?

— Você ainda está se intrometendo nos meus negócios e agora quer


ficar com o vinhedo.
— Holden está se aposentando da Força Aérea, ele pode querer investir
nisso – e eu o ajudaria. Você não está financeiramente estável o suficiente
para fazer esse tipo de movimento.

Ele engole em seco e me encara por alguns segundos. — Eu vejo. O


herói volta para casa e você terá um lugar aconchegante para seu irmão
mais velho.

Eu aceno e olho para ele. Qual é o problema dele?

— Se eu adquirir a vinha, ela fará parte do negócio da família, —


explica ele, como se tentasse me convencer a não fazê-lo.

— Bishop e Lee fariam parte disso. O lúpulo parece gostar da ideia,


pois seria um complemento perfeito para o negócio da sidra, — diz ele
cautelosamente. — Teríamos que solicitar um empréstimo. Harris Estate
está em situação regular. Temos ativos.

— Você não pode oferecer o resort como garantia, nem o B&B, —


lembro a ele.

— Isso impulsionará nossos negócios. Podemos vender cidra às lojas de


bebidas que compram o vinho, — explica, agitado. — Esse é outro esforço
para ajudar não apenas o nome Harris, mas também a cidade. O que você
quer de mim, Miller?

— Para sequer considerar incluí-lo na transação do vinhedo, — digo,


sorrindo, — você teria que mudar algumas coisas. Eu não seria mais um
parceiro silencioso. Você terá que contar aos seus irmãos sobre meu papel
no resort. Por último, mas não menos importante, se, e somente se, Holden
concordar com isso, faremos de você um parceiro no vinhedo.

— Desde quando você se tornou um idiota?

Eu me levanto, me preparando para sair. — O dia em que você tentou


foder com Lee. Eles são sua família, não peões para se movimentar.

— Você está apoiando o Harris errado. Ela está indo embora. — Ele
sorri com satisfação.

Estreito meu olhar, minha boca tem gosto de bile.

— Foi você quem a empurrou para ir embora? — Eu disparo a


pergunta, me segurando porque quero arrancar o sorriso da porra do seu
rosto. — Você fez isso para poder ficar com a parte dela na propriedade?

— Não, mas a saída dela nos ajuda, — ele responde com um sorriso
vitorioso. — Posso fazer algumas mudanças na casa. Você só pode
acomodar tantos convidados quanto agora.

O filho da puta vai adicionar quartos e tirar o elemento histórico do


lugar.

— Enquanto estiver em Nova York, ela aprenderá como administrar


um grande hotel. Quero que ela administre o resort.

Ah, porra. Por que não vi isso ontem? O que quer que ele tenha usado
para brincar com a mente dela e tirá-la daqui deve estar consumindo-a por
dentro. Damian não é uma pessoa má, ele está muito focado em seus
objetivos para prestar atenção nos outros.
Eu rio, revirando os olhos. — Aproveite sua pequena dança da vitória
enquanto dura.

— O que você quer dizer?

— Lee está certa, você pode ser tão obtuso.


Capítulo Dez

Landon

No caminho para a casa de Lee, passo na casa de Carson para lhe dar
instruções para a próxima semana. Não há como convencer Lee a ficar hoje.
Primeiro, tenho que descobrir o que aconteceu no sábado. Então, tenho que
convencê-la a ficar comigo. Terceiro, preciso fazer tudo isso longe da
família.

Quando chego em casa, Bishop e Lee estão na sala.

— Desculpe por voltar tão tarde, — peço desculpas, tirando meu


casaco.

Está frio lá fora. O serviço meteorológico nacional relatou um alerta de


congelamento. Às vezes eles estão errados, mas se a umidade persistente
no ar frio servir de indicação, teremos uma tempestade maior do que eles
preveem.
Isso se traduz em receita para todos na cidade. As reservas na estação
de esqui vão triplicar até quarta-feira. O mesmo acontecerá com o Bed &
Breakfast. Minha maior preocupação é Lee, já que ela quer ir de carro até
Manhattan amanhã de manhã.

— Você demorou muito. — Bishop me lança um olhar de


desaprovação. — Vocês dois estavam brincando com os convidados?

Eu suspiro, sério, ele tem que falar disso na frente da irmã?

— Claro que não, fui pego em uma reunião.

Lee franze a testa e me encara por um longo tempo. Está na ponta da


língua perguntar que tipo de reunião, mas ela apenas diz: — Está tudo
bem, Cassie já está na cama.

— Obrigado, o que estava acontecendo com ela hoje cedo?

Lee dá de ombros.

Ela não responde e volta sua atenção para Bishop. — Você está pronto
para ir?

Hops acena com a cabeça, olhando para mim.

Que porra eu fiz com ele?

— A que horas você planeja partir amanhã, Lee? — pergunto enquanto


ela calça as botas de neve.

— Por volta das cinco da manhã, — ela responde, procurando o


chapéu. — Se Cassie precisar de alguma coisa, ligue para o papai ou para
os meus irmãos.
Concordo com a cabeça e vou para o meu quarto pegar o gorro que ela
esqueceu na semana passada.

— Aqui. — Coloco nela e acaricio seu rosto delicado com as costas da


mão. — Tenho certeza de que o outro gorro aparecerá ainda esta semana.

— Cassie pode não ter aula amanhã, — Lee continua, se afastando de


mim. — Verifique com papai ou Hops se precisar de ajuda.

— Por favor, não se preocupe com isso. Eu tenho tudo sob controle.
Obrigado por hoje.

— A qualquer momento.

— Dirija-a com cuidado, Bishop, — peço enquanto eles sobem em sua


caminhonete.

Vou ao quarto de Cassie para ver como ela está. Ela não está na cama,
mas dentro da barraca com um livro e uma lanterna.

— Você não deveria estar na cama, mocinha? — Tento fingir raiva, mas
adoro quando ela se esconde em seu lugar secreto para ler.

— Por que Lee está saindo da cidade? — Ela olha para mim.

— Onde você ouviu isso? — Eu suspiro.

Não estou pronto para esta conversa.

— Vovô Harry e tio Hops estavam conversando sobre isso, — explica


ela. — Eu não quero que ela vá.
— É apenas uma entrevista, — eu digo, tentando manter as coisas reais,
mas sem lhe dar nenhuma esperança ainda.

— Eu sei, com o hospital infantil, — diz ela em tom adulto.

Pisco duas vezes e olho para Cassie. — O que você quer dizer?

— Tio Hops disse que ela iria comprar lixo de um cara e ter um filho
em Nova York, — ela explica e levanta as mãos enquanto dá de ombros. —
Qual é o lixo do cara?

Maldito Bishop, quantas vezes precisamos dizer a ele para ter cuidado
com o que diz perto de Cassie?

— Tenho certeza de que ele não quis dizer isso, — murmuro, surpresa
com a notícia.

Minha mente trabalha duro tentando acompanhar tudo o que está


acontecendo neste fim de semana. E de repente, ele congela e eu
simplesmente não consigo pensar mais. Lee mencionou uma família. Um
cara, filhos e uma casa.

Por que ela planejaria engravidar?

— Então o que eles queriam dizer? — Cassie me encara com um olhar


desafiador.

Sua audição é perfeita, assim como sua compreensão. Ela ouve todas as
conversas e aprende muito rápido. Não quero que ela aprenda ainda o que
é “lixo de cara”. Certamente, quando ela aprender, quero que ela saiba as
palavras certas. Não é a versão de Bishop.
— Por que não perguntamos a Lee na próxima vez que você a vir? —
ofereço.

— Isso não será até o próximo sábado. Ela vai sair por uma semana. —
Seu lábio inferior treme quando ela diz: — Pai, podemos convencê-la a
ficar?

— Eu posso tentar. — Eu minimizo isso. — Você tem que ir para a


cama.

— Vovô Harry disse que não haverá aula amanhã, — ela protesta. —
Ele sabe muito sobre o clima.

Steve não deveria ter mencionado o tempo para Cassie. Ele terá que
lidar com a garota sonolenta e mal-humorado amanhã.

— Não temos certeza, querida, você tem que ir para a cama. — Eu não
me mexo.

Ela revira os olhos e finalmente sai da tenda e sobe na cama.

— Talvez possamos comprar uma casa grande, — sugere ela. — Lee


pode morar conosco.

Ótimo, ela já está planejando nosso futuro, e não consigo nem pensar
em como vou convencer Lee a me deixar levá-la para um encontro.

Cassie aperta os lábios e move a boca de um lado para o outro. — Bob


pode dormir comigo todas as noites.

Há um pequeno bônus em seu plano: ela também vai ganhar um


animal de estimação.
— Ouvi o tio Hops dizer que ela quer um lar e uma família, — ela
continua.

Pelo menos agora entendo por que Cassie ficou chateada o dia todo. Ela
ouviu que Knightly pode deixar Kentbury e quer que eu resolva isso.

— Lee é nossa família, não é, pai? — ela pergunta com olhos


esperançosos. — Você sempre diz isso. Todos nós podemos viver juntos. —
Então, ela me dá um sorriso travesso. — Vocês dois podem ter um bebê.
Lembra do que você me contou?

Prendo a respiração porque simplesmente não consigo lidar com essa


criança e suas ideias.

— Quando uma mãe e um pai se amam, eles fazem bebês. Você ama
Lee, não é? Ela é nossa Lee, — ela continua.

Essa garota está em alta.

— E se ela for mãe... — Ela faz uma pausa, olhando para mim
seriamente. — Bem, ela pode ser minha mãe também.

Ela me dá um aceno afiado e sorri amplamente. É como se ela


resolvesse a crise. Ela parou o fim do mundo.

— É isso que vou pedir ao Papai Noel. Para manter Lee conosco e
torná-la minha mãe.

Pego um dos porta-retratos que ela tem na mesa de cabeceira. É uma


foto de Lee segurando Cassie quando ela tinha apenas um mês de idade.
Ela fica bem ao lado da árvore de Natal na casa de seu pai. No dia em que
minha filha entrou em nossas vidas, Lee não apenas a acolheu, ela a amou
desde o primeiro momento em que a abraçou.

— Deixe-me me preocupar com isso, ok? — Eu beijo sua testa. — Seu


trabalho esta semana é se comportar da melhor maneira possível.
Promessa?

Ela se levanta e pula em meus braços, abraçando meu pescoço. — Eu


prometo, mas por favor, não a deixe ir. Nem sempre o Papai Noel me traz o
que eu quero, eu confio mais em você.
Capítulo Onze

Knightly

Bishop e Damian têm uma lista de instruções sobre o que fazer


enquanto eu estiver fora. É apenas uma semana, mas é todo o tempo que
eles precisam para acabar com meus convidados, minha loja de presentes e
suas vidas. Não que eu deva me importar.

Quando me tornei a mais velha dos três?

Eu juro, eu era o bebê. Agora, eles precisam que eu segure suas mãos
todos os dias. De agora em diante, vou me concentrar apenas em mim
mesma – bem, pelo menos até o próximo sábado. Tenho certeza de que
enquanto estiver em Kentbury, eles não me deixarão em paz.

Se tudo correr como planejado, chegarei a Nova York por volta das dez
ou onze. Isso deve me dar bastante tempo para encontrar um salão para
arrumar meu cabelo bagunçado e talvez fazer as unhas. Às três horas tenho
consulta na clínica de fertilidade. É apenas uma consulta onde o médico
explicará o processo e o custo da inseminação artificial.

Na terça-feira, tenho uma entrevista que dura o dia todo. Se tudo correr
bem, na quarta-feira terei outra rodada de entrevistas.

Damian não gosta da ideia de ter um filho sem pai, mas quero saber
minhas opções. Idealmente, eu adoraria conhecer um cara e me apaixonar.
Mas se isso não funcionar, posso adotar ou simplesmente ter um filho.

— Você consegue, Lee, quem precisa do maldito Landon Miller? — Eu


digo, arrastando minhas malas para a sala.

— Espero que sim, — ele responde.

O próprio homem está parado junto à porta, vestindo seu traje de


inverno.

Preciso começar a trancar minha porta.

Onde ele está indo?

— Por quê você está aqui?

— Há uma grande tempestade chegando. Já está nevando. Mas se


partirmos agora, poderemos chegar a Manhattan antes que as estradas
fechem.

— Nós? — Cruzo os braços, olhando para ele desafiadoramente. —


Você não vem comigo.
— Lee, você dirige como uma profissional. No entanto, uma nevasca
está prestes a nos atingir. As estradas vão ser ruins, e nem seu pai nem eu
conseguiríamos respirar sabendo que você está lá sozinha.

Ele usa um truque sujo. Meu pai e a tempestade de neve. Mamãe


morreu nessas mesmas condições. Eu tinha apenas três meses. Eu poderia
lutar com ele, mas isso não é sobre ele ou eu. É sobre papai.

— Tudo bem, — eu me rendo.

Ele acena com a cabeça e caminha em minha direção, pegando minhas


malas. — Vou carregá-las para minha caminhonete. Vamos.

Mas quando estou prestes a sair de casa, de repente me lembro da filha


dele. — Espere, e Cassie?

— Seu pai já está na minha casa. Ele vai ficar com ela durante a semana,
— diz ele de forma tranquilizadora. — Tudo está sob controle. Estaremos
fora, aproveitando Nova York por uma semana, e Kentbury permanecerá
inteira.

— Isto não são férias, Miller, — eu o aviso.

Ele me dá um sorriso presunçoso e inclina a cabeça. — Veremos.

Eu gemo, ele é tão irritante.


As estradas estão cobertas de neve quando cruzamos a divisa estadual
entre Vermont e Massachusetts. A maioria dos carros está desacelerando.
Não nós. Landon Miller não acredita em desacelerar durante uma
tempestade. Não devemos ficar perto de motoristas que duvidam de si
mesmos, são eles que causam acidentes.

Para mim, é enervante sentar ao lado dele enquanto ele dirige porque
tenho que ficar quieta. O silêncio está me matando lentamente. Ele tem
uma regra. Não conversamos quando ele está dirigindo durante uma
tempestade. Isso o distrai. Vendo que ainda faltam três ou quatro horas,
fecho os olhos, na esperança de dormir o resto da viagem. É quase
impossível. Quando chegamos em Hartford, Landon me acorda gritando:
— Idiota de merda, saia da estrada.

— Adorável, — eu resmungo. — Bom dia para você também.

— Desculpe, tenho tentado me controlar, mas esses filhos da puta estão


apenas me irritando.

Desnecessário dizer que os próximos cem quilômetros serão parados e


andados. Rastejamos junto com o tráfego. A regra de não falar muda para
palavrões até Manhattan. São vinte minutos depois da uma da tarde
quando finalmente chegamos ao Hotel Ambassador. É novo, está na moda
e não tenho certeza de como me sinto sobre tudo isso, mas ainda estou
animado por estar aqui. Tenho menos de duas horas para almoçar e
encontrar uma barra de secagem para o meu cabelo.

Se tiver sorte, posso aproveitar a ida ao salão de beleza depois da


consulta na clínica de fertilidade. Se não... olho para minhas unhas lascadas
e irregulares. Minhas unhas vão ter que fazer um belo corte e uma camada
do esmalte transparente que tenho na bolsa.

— Onde você vai ficar? — — pergunto a Landon.

— Espero que eles tenham um quarto ao lado do seu, — diz ele,


entregando as malas ao mensageiro. — Eu solicitei isso quando fiz minhas
reservas.

— Você planejou isso?

— Eu chamaria isso de improvisação, — ele me corrige e pega a


passagem do manobrista. — Cuidado agora, eu conheço cada centímetro
da minha caminhonete, Frey.

Os olhos do garoto se arregalam quando Landon diz seu nome. É


engraçado ver a reação das pessoas quando ele fala com elas como se
fossem velhos amigos. A maioria das pessoas esquece que está usando um
crachá.

— Certifique-se de que não tem nenhum arranhão, e eu lhe darei uma


boa gorjeta até o final da semana, — ele avisa no tom mais amigável que
pode usar.

Landon é muito exigente com seus carros. Deus não permita que
alguém veja seu Porsche Carrera. Essa coisa é tão antiga quanto meu pai,
mas segundo Landon, é um tesouro.

Olho para o garoto que lança um olhar de desdém para Landon.

— Sério, não arranhe meu carro?


Landon dá de ombros. — Eles precisam aprender a ter cuidado com as
coisas dos outros. Além disso, talvez eu possa contratá-lo para trabalhar no
Jared's.

Eu dou a ele um olhar irritante para Landon e continuo andando em


direção à entrada. Ele segue bem ao meu lado.

— Obrigado por me levar embora não fosse necessário. Tenho certeza


de que papai aprecia o gesto. — Eu o dispenso quando entramos no
luxuoso hotel.

Há uma grande árvore de Natal bem ao nosso lado, o que me lembra


que no próximo fim de semana vamos montar as árvores. Será a última vez
que passarei isso com os Millers. Papai terá que dirigir de Vermont para
passar as férias comigo. Não tenho certeza se Bishop seguiria. Damian não
vai aceitar a ideia.

É alta temporada, por que ele perderia tempo comemorando algo que
se baseia em mercadorias comercializadas? Temos sorte de ele morar perto
e levar algumas horas para estar conosco. Ele é uma combinação entre o Sr.
Scrooge e o Grinch. Às vezes ele pode ser tão obtuso, frio e sem coração.

— Você vai me dizer por que estou na sua lista de merda desde
sábado?

— Essa lista não existe, e se eu existisse uma, você saberia por que está
nela, — digo, e depois o aviso: — Espero que você tenha planos para a
semana. Estarei muito ocupada para passar tempo com você.
Sério, como posso encontrar encontros se esse cara me segue? Verifico
meu telefone novamente para verificar se meu perfil está visível no Tinder.
Bishop me ajudou a abrir uma conta ontem à noite.

Quando faço o check-in, o funcionário me pede meu cartão de crédito.


Apenas duas das cinco noites em que estou hospedado são pagas pelo
hotel onde estou sendo entrevistada. Landon entrega o dele.

— Basta colocar tudo no meu cartão.

Estou grata por não ser Kentbury ou todos na cidade saberiam que
Landon Miller está pagando pelo meu quarto. Eu gemo. Eles já sabem que
Landon e eu estamos em Nova York, não é?

— O que está errado? — Landon pergunta enquanto caminhamos em


direção ao elevador.

— Todo mundo em Kentbury sabe que estamos em Nova York, —


murmuro. — Posso ouvir a Sra. Bowman dizer: 'Cassie é adorável, mas
estou feliz que vocês dois tenham passado algum tempo a sós, querida.'

Bato a palma da mão na testa. Isso não pode estar acontecendo.

— Deixe-os falar, por que você se importaria?

Eu aperto o número vinte várias vezes até que as portas se fechem


enquanto olho para ele.

— Você está com fome. Por que não trocamos de roupa e almoçamos?
Quero que conversemos, — ele sugere.

Comida, sim, comida parece certa.


Eu verifico a hora no meu telefone. São quase duas. Mal tenho tempo
de me trocar e sair para minha consulta.

— Como eu disse, tenho planos. Minha consulta é às três. — Eu


procuro no Google restaurantes perto de mim.

Tudo o que aparece parece sofisticado. Eu só quero uma fatia de pizza.


Quando as portas do elevador se abrem, ele me leva até meu quarto, onde
o mensageiro já está arrumando nossas malas.

— Estarei pronto em cinco minutos, — diz ele, dando uma gorjeta ao


cara que ajudou com nossa bagagem. — Podemos encontrar um lugar para
fazer uma refeição rápida e eu levarei você para sua consulta na hora certa.

— Você não vem comigo, — eu digo, mas é tarde demais, ele já se foi.
Capítulo Doze

Knightly

Quando chego ao saguão, Landon já está me esperando, segurando um


saco plástico.

— Aqui, não encontrei muita coisa, mas isso deve servir, — diz ele,
entregando-me.

— O que é?

— Sanduíche de presunto com maionese extra e queijo provolone, —


anuncia.

Quando abro a sacola, há apenas um sanduíche e uma caixa de suco de


maçã.

— E você?
— Eu comi o meu enquanto voltava para o hotel, — ele diz casualmente
antes de pedir ao mensageiro para nos pegar um táxi. — Podemos
conseguir algo mais animador depois da sua consulta.

— Onde você está indo? — Eu olho para ele enquanto entro na cabine e
ele faz o mesmo.

— Vou com você, é claro, — explica ele. — Nós precisamos conversar.

— Sobre o que? — Eu bufo e dou ao taxista o endereço da clínica de


fertilidade.

— Você não pode simplesmente abandonar sua vida em busca de algo


que já tem em Kentbury.

— Precisamos refazer a conversa de sábado, Miller?

— Olha, Cassie está arrasada.

Eu sabia. Cassie não iria desistir. Ela disse ontem à noite que entendia.
Em vez de me permitir conversar sobre o assunto com ela, ela decidiu
pedir ao pai que me impedisse. Eu amo aquela garota, mas sério? Por mais
doce que seja saber que esse homem faria qualquer coisa por sua filha,
estou furiosa. Ele simplesmente não pode deixar as coisas acontecerem, não
é?

— Porra, — ele amaldiçoa baixinho. — Eu te chateei mais, não foi?

— Landon, tenho certeza que suas intenções são nobres, mas eu


agradeceria se você parasse agora. — Eu verifico a hora. — Esta semana é
crucial para mim. Obrigada por me conduzir, sei que sem você talvez não
tivesse conseguido, mas sinceramente não estou com disposição para outra
intervenção.

Ele balança a cabeça e fica quieto durante a viagem. Assim que


chegamos, ele paga o táxi e me ajuda a sair do carro. O homem continua
me seguindo, mesmo quando estou olhando para ele.

— Você não pode entrar comigo.

— Por que não?

— Esta é uma consulta privada, — explico.

— Sobre o que é isso?

Eu o ignoro e saio do elevador. A área da recepção fica bem em frente a


nós.

— Knightly Harris, — anuncio à recepcionista. — Tenho uma consulta


às três horas com a Dra. Gonzalez.

Ela me entrega uma prancheta. — Se você não se importa em preencher


essas informações. A maioria dos seguros não cobre os procedimentos, mas
teremos prazer em enviar uma reclamação em seu nome. Posso ter seu
cartão de seguro e carteira de motorista?

Dou a ela o que ela pede e me sento para preencher meu histórico
médico. Claro, Landon simplesmente não pode deixar as coisas
acontecerem.

— Como você sabe que tem problemas de fertilidade? — Ele se atreve a


perguntar.
— Não vou ter essa conversa com você, Miller, — digo com uma voz de
advertência.

A porta de aço ao lado da recepção se abre e uma enfermeira chama


meu nome: — Knightly Harris.

Eu me levanto e a sigo. O homem irritante que decidiu tornar minha


vida miserável caminha logo atrás de mim.

— Depois que terminar de preencher seus dados, entregue a prancheta


para a recepcionista, — diz a enfermeira, parando bem em frente a um
consultório.

— Por favor, sente-se. Dra. Gonzalez estará com você em breve.

Ela tira um copo de plástico do bolso e o entrega a Landon. — Se você


decidir deixar uma amostra na saída, há uma sala ao lado da recepção.
Temos revistas e filmes se você precisar deles.

Landon move o copo, olhando para ele como se fosse um objeto


estranho e alienígena.

— Escreva seu nome, sobrenome e data de nascimento antes de usar, —


enfatiza. — Quando terminar, certifique-se de fechá-lo bem.

Sua boca aberta e seus olhos arregalados me tiram do meu mau humor.
Nunca pensei que veria Landon sem palavras.

— Você sempre pode ser pago se decidir fazer uma doação, — digo
sorrindo.

— Você está se divertindo às minhas custas, Harris?


— Eu poderia, — digo, sentando-me. — Não é tarde demais para você
ir embora. As coisas podem ficar mais interessantes.

A médica entra vestindo um uniforme azul, o cabelo castanho preso em


um rabo de cavalo e a máscara cirúrgica pendurada no pescoço.

— Sra. Harris, é um prazer conhecê-lo. Peço desculpas pelo meu traje,


mas uma de minhas pacientes acabou de entrar em trabalho de parto e não
tive tempo de me trocar, — diz ela, apertando minha mão e depois
oferecendo-a a Landon. — Você deve ser o Sr. Harris. É um prazer
conhecer você.

— Não se preocupe, obrigado por me receber em tão pouco tempo, —


eu digo.

— Como minha enfermeira deve ter explicado para você, as consultas


são apenas conversas casuais. Embora adoraríamos ajudá-la a realizar seus
sonhos, às vezes não somos a pessoa certa, — ela explica e mexe com o
mouse, depois olha para nós.

Ela nos estuda com calma e pergunta: — Há quanto tempo você está
tentando engravidar?

— Engravidar? — Eu franzir a testa.

— Engravidar é diferente para cada pessoa. Para alguns casais, podem


ser necessárias apenas algumas tentativas, enquanto para outros, é
necessário seguir alguns passos. Que tipo de controle de natalidade você
tomou no passado?
Aperto os olhos e paro de responder ao questionário que me deram na
entrada. — Não tomei nada nos últimos cinco anos.

Ela assente. — E você está tentando engravidar há cinco anos?

— Não, isso é novo.

Ela sorri. — Eu vejo. Sr. Harris, quantos anos você tem e já verificaram
sua contagem de esperma?

— Eu não sou…

— Ele tem trinta e quatro anos, — interrompo, aproveitando esse


pequeno interrogatório para fazê-lo se contorcer ou ir embora. — Mas... as
coisas não funcionam bem com ele, se é que você me entende, — murmuro.

Ah, ele vai pagar.

— Quais são os seus sintomas? — Ela é super profissional nisso. Droga,


tenho que deixar isso mais desconfortável para ele.

— Você está tendo problemas para conseguir uma ereção ou está


mantendo-a? — ela pergunta, pegando um caderno e uma caneta. — Como
está o seu desejo sexual?

— Eu não tenho nenhum. Isso não é…

— Bem, ele não gosta de falar sobre seu... problema, — continuo.

— Posso garantir que ouvimos tudo. — Ela sorri de orgulho. —


Podemos encontrar o problema e trabalhar para corrigi-lo.
— Dra. Gonzalez, sem ofensa, mas aposto que você não encontrou um
problema como o nosso, — ele afirma e me dá um aperto suave.

— Não há problema em ser tímido em relação à sua vida sexual. A


infertilidade acontece com todos. Mas nesta clínica temos uma solução para
isso, — continua ela. Nada que Landon diga a ela vai impedir seu objetivo:
conseguir um bebê para nós. — Assim que encontrarmos a raiz do seu
problema, estabeleceremos uma rotina. Talvez vocês estejam muito
estressados por ter esse bebê. Acontece. Seja qual for o seu problema, nós
podemos resolvê-lo.

— Talvez você esteja certa, — diz ele, lançando seu sorriso travesso
para mim. — Que tipo de rotina você recomenda? Terapia sexual?

O que ele está tentando fazer?

Ele coloca a xícara sobre a mesa. — Eu sei que não sou o problema.
Tenho uma filha, talvez não tenhamos nos esforçado o suficiente.

Ela pega minha mão e diz gentilmente: — Você já tentou relaxar,


querida? Acho que vocês dois precisam conversar sobre isso e concordar
sobre como irão proceder.

A Dra. Gonzalez se levanta e vai até seu gabinete.

— Existem muitos mitos por aí, por exemplo, Sr. Harris, você se
masturba?

— Você faz, Landon? — Eu olho para ele com interesse. — Porque você
pode ficar sem esperma antes que eu possa usá-lo.
Ela ri. — Não seja bobo. Na verdade, se você não fizer isso, comece a
fazer com frequência. A maneira como seu corpo produz o esperma é
baseada na demanda.

— Você pode ajudá-lo, — diz ela. E juro que não consigo entender
como ela consegue manter a cara séria quando diz: — A masturbação é
uma atividade saudável e, quando feita com um parceiro, ajuda vocês a
crescerem como casal.

— Você não deveria estar tomando notas, Lee? — Landon pisca para
mim. — Quanto mais cedo começarmos, mais rápido poderemos chegar a
um final feliz.

— Como estão seus hábitos de consumo? — ela continua ignorando


meu amigo chato. — Eu recomendo que você limite sua ingestão a não
mais do que duas porções por dia.

— Preciso que você pare de fumar, de usar esteroides, faça exames de


DST e não use jeans skinny. — Ela entrega a ele alguns livretos.

— Aqui está a lista completa de recomendações para vocês dois. Você


também deveria consultar um conselheiro matrimonial. A terapia faz
maravilhas quando você está muito estressado com a ideia de ter um filho.
— A Dra. Gonzalez olha para mim com uma cara séria e diz: — A terapia
sexual é uma ótima ideia.

— Olhe para isso, querida. — Ele me mostra a ilustração de um casal


tendo relações sexuais. — O Kamasutra, quinze posições para engravidar.
Hum. Nunca pensei nisso, estilo cachorrinho. Poderíamos fazer isso na
cozinha.

Minhas bochechas esquentam quando penso em fazer sexo na minha


cozinha. Mas eu paro porque ele está apenas me provocando.

— Landon, — eu o aviso.

— A posição da bigorna, — ele continua. — Estou feliz que você faça


ioga. Com a sua elasticidade, podemos ser muito criativos.

— Parece que há coisas que vocês dois ainda não tentaram, — continua
a Dra. Gonzalez. — Sexo pode ser divertido. Não se trata apenas de ter um
cronograma definido.

— Querida, vamos tornar isso divertido, — Landon promete, pegando


minha mão e beijando minha palma. — Não precisamos de médicos ou de
tubos de ensaio para fazer um bebê. Apenas duas partes dispostas.

Ele pisca. — Eu estou disposto.

Não tenho certeza se ele está zombando de mim, mas fico tentada a
pedir para ele fazer isso no copo para que eu possa ter um filho. Isso me
pouparia vinte mil dólares e eu saberia de onde veio o garoto.

— Estou aqui para ajudar no que vocês precisarem, mas acho


importante vocês dois relaxarem. Lembre-se do amor que vocês têm um
pelo outro. Não se trata apenas de conceber, mas de amar um ao outro.
— Vamos tentar suas técnicas, — diz Landon enquanto continua a
olhar o livreto que ela nos deu. — Talvez lhe enviemos um cartão de Natal
com a foto de Júnior e Cassie.

— Isso seria ótimo, — ela diz satisfeita, pensando que acabou de


resolver nossos problemas.

Senhora, você nem consegue ver a ponta do iceberg.

— Permita-se os próximos quatro ciclos, se ainda não tiver concebido,


recomendo que comece visitando seu obstetra – somos seu último recurso.

Landon suspira e abre os livrinhos que ela lhe deu. — Meus meninos
saberão como fazer o trabalho, doutora, mas obrigado pela informação.
Podemos começar a praticar agora.

— Obrigada, doutora, — eu digo, perdida em pensamentos, me


perguntando como exatamente vou pedir a ele para fazer isso em um copo
para que eu possa engravidar.
Capítulo Treze

Landon

Saímos do consultório médico em silêncio. Espero não tê-la irritado


mais do que ela já estava.

— Aqui estão meus formulários, — Lee murmura para a recepcionista.

— Quanto devemos a você? — Eu pergunto, puxando minha carteira.

— A primeira consulta é gratuita, — explica a recepcionista. — Gostaria


de agendar outra consulta?

— No momento não, — diz Lee, perdido em pensamentos.

Ela está chateada porque seu joguinho de — vamos fazer Landon se


contorcer na cadeira— não funcionou, ou ela não gostou que a médica não
lhe deu as informações que ela queria.

Entramos no elevador e, quando as portas se fecham, eu digo: — Saia


comigo.
Enquanto ela pergunta simultaneamente: — Você se importaria de ser
meu doador de esperma?

— Eu faria qualquer coisa por você, Lee. Dar para você um bebê seria
uma honra, mas porque não começamos com um encontro?

— Por que você iria querer sair comigo? — Ela me dá um olhar


desafiador.

— Porque eu acho você atraente, me importo com você e acho que nos
divertiríamos, — digo, esperando estar dizendo as palavras certas, porque
um deslize e estarei fora da vida dela.

Ela me estuda, me olha de cima a baixo e diz: — Por que agora?

— O que você quer dizer com por que agora? — Eu olho para ela em
confusão.

— Nós nos conhecemos há muito tempo, — explica ela. — Anos. Por


que você iria querer mudar a dinâmica agora?

— Por que não?

— Qual é o objetivo?

— Quero mudar nosso relacionamento, — confesso. — Você é minha


melhor amiga, mas não quero ser apenas seu amigo.

Lee balança a cabeça. — Você quer que eu acredite que você quer mais.

— Não, não se trata de acreditar, mas apenas de seguir em frente, —


digo com convicção.
— Por que você está fazendo isso?

Convidá-la para sair não é suficiente. Eu a estudo, tentando entender


seu olhar cauteloso.

— Porque quero sair com você, — explico, escolhendo a resposta


simples. — Quero que sejamos um casal de verdade, que briga por causa
da pasta de dente, da tampa do vaso sanitário e de quem dá comida ao
cachorro de manhã cedo.

— Bem desse jeito? — Ela olha para mim. — Você quer que sejamos um
casal? Isso tem alguma coisa a ver com Cassie não querer que eu deixe
Kentbury?

— O que você quer dizer? — Eu franzo a testa confuso.

— Ela me ofereceu seu quarto se eu quisesse me mudar para um novo


lugar.

— Bem, obviamente teremos que comprar uma casa. — Concordo com


a avaliação de Cassie. — Seu cachorro ocupa uma sala inteira.

— Então deixe-me ver se entendi. Cassie disse que estou indo embora.
Ela não gosta e você está tentando consertar isso para ela, — diz ela, com as
mãos nos quadris e o queixo inclinado. — Mas aposto que isso é apenas a
ponta do problema. Você não gosta da ideia de que a ajuda está indo
embora. Meu pai deve ter lhe contado alguma história triste sobre minha
casa em Kentbury e como você deveria parar com isso.

— Você está errada, — eu protesto.


— Então, Cassie não pediu para você me impedir de me mudar para
Nova York?

Engulo em seco e olho para ela. Como posso explicar a ela que, embora
Cassie não queira que Lee vá embora, estou aqui por minha causa?

— Ela fez ou não? — Ela bate o sapato no chão de madeira.

— Não é por isso que estou aqui.

Ela bufa. — Você é um dos melhores pais do mundo. É fofo ver você
trabalhando com ela na garagem, explicando como funciona cada chave
inglesa. Não vamos esquecer como é comovente ver vocês saindo em
encontros entre papai e eu. Não há nada que você não faria por ela,
inclusive tentar me impedir de ir embora.

— Podemos esquecer Cassie por um momento e falar sobre nós?

— Landon, não posso brincar com a possibilidade de namorar você.


Isso nunca vai funcionar. Sou apenas Lee, sua amiga.

Ela arruma o cachecol e sai do prédio. Eu sigo logo atrás.

— Droga, Lee. Você não é só isso. Você pode me ouvir, por favor? —
Chamo um táxi antes que ela comece a voltar para o hotel ou me deixe para
trás.

Durante a viagem, ela permanece em silêncio. Assim que o motorista


para, ela sai voando enquanto eu pago. Eu tenho que correr para alcançá-
la. Ela está tentando me perder, mas não vou deixar. Eu tenho que
defender meu caso e implorar a ela por uma chance.
— Podemos, por favor, conversar sobre nossa situação? — Eu insisto.

— Não temos nenhuma situação, Landon, — ela esclarece.

— Porque você está eliminando todas as possibilidades, — eu a culpo.

— Você vai me dizer que desenvolveu sentimentos por mim durante a


noite? — Ela revira os olhos.

— Os sentimentos não crescem da noite para o dia, mas posso escondê-


los por anos, — digo a ela.

— Olha, eu tive meu coração partido quase todos os dias durante os


últimos dezoito anos. Primeiro, foi Márcia Newton.

— E Márcia Newton?

— Ela foi seu primeiro beijo, não eu. — Sua voz baixa falha.

— Então, foi a série de garotas com quem você namorou enquanto


estava no ensino médio, — ela continua, curvando-se, quase sufocando um
soluço.

Meu coração desacelera ao testemunhar a dor que a fiz passar. Se eu


soubesse que a estava machucando, juro por Deus que teria parado.

— Mudei-me para Boston e o que descobri? Uma porta giratória de


mulheres sem nome. Justamente quando pensei que as coisas poderiam dar
certo entre nós, porque ambos iríamos morar em Kentbury, descobri que
você tinha um novo hobby: as hóspedes da pousada. Era impossível. Eu
deveria ter seguido em frente, mas há oito anos você me encontrou sozinha
na fábrica de laticínios. Fiquei um pouco deprimida. Mark ia se casar.
— Você disse que não o amava, — eu rosno, e até agora eu nunca me
deixei ficar chateada por causa daquele bastardo.

— Eu não fiz. Fiquei triste porque ele me pediu em casamento primeiro.


Doeu que ele seguiu em frente. Doía não poder amar alguém que quisesse
um futuro comigo, e ansiava por um cara que nunca me veria. Naquela
noite, você disse que eu merecia mais do que Mark. Eu era inteligente,
bonita e tinha um bom coração.

Ela olha para a mão esquerda e depois para mim. — Por um momento,
pensei que você finalmente poderia me ver. Algumas semanas depois,
Cassie chegou e eu continuei sendo sua amiga.

— Lee, sinto muito, — peço desculpas, mas as palavras não são


suficientes.

— Você está aqui porque Cassie acredita que você pode consertar tudo.
Papai acha que você pode me convencer a voltar se disser as palavras
certas.

— Eles não têm nada a ver com a minha presença aqui, — asseguro a
ela.

— Bishop continua me dizendo para confessar meus sentimentos para


que eu possa seguir em frente com minha vida, — ela continua. — Bem,
aqui estão eles, em claro.

Ela puxa os ombros para trás e me olha nos olhos. — Estou apaixonado
por você desde os quatorze anos. Esperei por você porque pensei que um
dia você me veria. Você me notaria e me amaria tanto quanto eu amo você.
Mas você não precisa se preocupar comigo. Depois de quase dezoito anos,
cansei desse amor não correspondido.

— Lee. — Engulo em seco ao perceber quanta dor infligi a ela, quando


tudo que tentei fazer foi protegê-la.

— Está tudo bem, sou uma menina crescida, — ela diz, me


dispensando. — Eu me decidi. Se não for este trabalho, encontrarei outra
coisa. Eu não vou voltar. A única coisa que preciso é ter um bebê. Olhe
para você, você se saiu bem como pai solteiro.

Knightly é uma mulher paciente. Ela é uma santa quando se trata de


esperar que as coisas aconteçam. Mas quando ela fica sem paciência, ela
está pronta. Nada nem ninguém a fará mudar de ideia. Obrigado, maldito
Damian. Ele apertou os botões certos para tirá-la de Kentbury. Será
necessário um milagre para convencê-la de que talvez ela esteja esperando
desde os quatorze anos, mas eu a amo há mais tempo.

Claro, parece que sou um ótimo pai. Todos elogiam minhas


habilidades, mas nenhum deles olha com atenção o suficiente para
perceber que minha filha também está sendo criada por Lee. Ela não sente
falta de ter uma mãe porque teve Knightly a vida toda. Somos uma equipe.
Somos uma equipe desde a primeira noite em que Cassie entrou em nossas
vidas. E quando estamos perdidos, a família dela está ao nosso lado.

Fiquei com tanto medo de bagunçar o que tenho com Lee, que não fiz a
coisa certa desde o início. Seguindo em frente, tenho que deixar claro meus
sentimentos, o que é muito difícil. Como faço isso?
Lembro-me da primeira noite com Cassie, quando não tinha ideia do que fazer
com ela. Lee disse, apenas ame-a. Apenas mostre a ela o quanto ela significa para
você. Enquanto ela se sentir amada, todo o resto será secundário.

É o mesmo conceito, certo?

— Eu posso ver por que você não acredita em mim. — Eu teço minhas
palavras com sabedoria. — Qualquer coisa que eu diga pode parecer vazia.
Você vai pensar que Cassie, Steve ou seus irmãos me pressionaram para
segui-la e arrastá-la de volta para casa.

— Não foi?

Posso contar a ela os planos de Damian, e ela estará em um avião para


Kentbury para chutar a bunda dele. Isso não resolverá nossas vidas.

— Estou aqui por mim mesmo. No último sábado à noite, tive


dificuldade para respirar quando você disse que estava indo embora.
Parecia que alguém estava arrancando meu coração do peito. Preciso de
você ao meu lado para me sentir vivo. Minha vida gira em torno de você e
Cassie. Vocês duas são meu mundo. Dê-me uma semana para mostrar que
posso ser o homem que você merece.

— O que o homem que você merece significa?

— Você é a Knightly Harris. Uma das garotas mais bonitas de


Kentbury. Você é inteligente, fez faculdade e é filha de Rosalinda Kentbury
– a última Kentbury. Simplificando, você é inatingível.
Damian e Knightly têm algumas coisas em comum. Como os olhos
escurecidos, as narinas dilatadas e a mandíbula contraída quando ficam
chateados.

— Trabalhei horas extras para esconder quaisquer emoções que você


provoca. Todos os dias, lembro-me que você é minha amiga, minha melhor
amiga. Ultrapassar só colocaria nosso relacionamento em risco. É muito
difícil, mas não posso perder você. Você é muito importante para mim.

— Eu gostaria de poder acreditar em você, — diz ela.

— Uma semana, — eu imploro. — Dê-me esta semana. Se, até sexta-


feira à noite, eu não conseguir fazer você mudar de ideia, desistirei e lhe
darei o que você quer. Um bebê.

— Você vai me dar um bebê e vai embora? — Ela aperta os olhos e


cruza os braços.

— Bem, mais ou menos, — eu digo honestamente. — Eu gostaria de


fazer parte da vida dele. Quero dizer, porra, Lee, ele seria nosso. Não posso
simplesmente me afastar dele, e Cassie quer um irmão. — E você como mãe
dela.

— Eu estaria morando em Nova York.

— Sua vida está em Kentbury.

— Estava lá. Se vou me apaixonar, tenho que ficar longe de você.


Finalmente respiro. A boa notícia é que ela ainda está apaixonada por
mim. A má notícia é que ela está inventando merda. O que diabos significa
cair? Isso não é nem uma palavra.

— Uma semana, — repito, ignorando a palavra ridícula que ela


inventou. — Apenas me dê até sexta à noite, por favor. Você derruba essas
paredes. Não nos escondemos um do outro.

— Você não tem medo de que depois as coisas fiquem estranhas entre
nós?

— Mais estranho do que nos últimos três dias? Isso é impossível, —


afirmo e pego a mão dela. — Você está determinada a sair e seguir em
frente, só tenho um pedido. Na próxima semana, deixe-me mostrar o que
podemos ser.

Não tenho certeza se o que estou dizendo é romântico ou mesmo faz


sentido. Ela pode estar querendo ouvir algo mais emocionante.

Ela olha para mim, atordoada. — Cinco dias?

Eu aceno e espero. O silêncio se estende de segundos a talvez minutos.

A espera parece eterna.

Então, ela inclina a cabeça e estreita o olhar.

— Se não funcionar, você me dá um bebê?

Eu folheio os livrinhos que nos deram na clínica. — Eu leria todo o


Kamasutra para você. Mas gostaria de explicar que quando você estiver
pronta, não precisaremos de posições extravagantes para engravidar. Eu
não bebo muito. Estou limpo, mas se quiser posso fazer o teste.

Eu acaricio seu rosto, me aproximando dela. Eu me abaixo e beijo sua


bochecha levemente. Meu olhar se volta para seus lábios carnudos e
entreabertos, me puxando para ela.

— Dê-me tempo para conquistar seu coração, Lee, — eu imploro.

— Landon. — Meu nome soa como um suspiro fraco enquanto acaricio


minha boca com a dela.

Nossos olhos se travam e nossas almas se fundem.

— É assim que faremos. Entrego-lhe meu coração, — sussurro. Nossos


lábios estão tão próximos que posso senti-la tremer de saudade. — Eu
cuidarei do resto, — termino, saboreando seus lábios enquanto seguro sua
nuca.

Ela passa as mãos pelo meu cabelo.

Eu a beijo gentilmente, profundamente, possessivamente, com um


desejo fervoroso. Meu coração bate mais rápido. Sempre soube que se
algum dia a beijasse, seria como tocar o céu. Mas a realidade está além dos
meus sonhos mais loucos. — Cinco dias, por favor, — peço novamente,
apoiando minha testa na dela e tentando recuperar o fôlego.

Ela não responde, mas me dá um leve aceno de cabeça. Eu odeio que


ela não esteja confiando em mim.
Capítulo Quatorze

Knightly

Ele me beija como se eu nunca tivesse sido beijada antes. Como se toda
a sua vida dependesse apenas deste momento. Quero que ele pare porque
seu gosto é inebriante. Se isso continuar, ficarei viciada nisso. Uma coisa
que aprendi depois de todo esse tempo é que não há sentimento pior do
que não saber se devo esperar ou esquecê-lo.

— Cinco dias, por favor, — ele insiste enquanto sua testa descansa em
cima da minha.

Meu peito está apertado e minha garganta parece que está se fechando.

É apenas ansiedade, Lee, respire.

Ha!

Como se fosse tão fácil respirar durante uma grande mudança na vida
quando nem se sabe exatamente o que está prestes a mudar. Gostaria de
zerar o cronômetro, voltar para sexta ou sábado e reiniciá-los. Começar de
novo e ignorar meus irmãos. Não, eu deveria voltar trinta e cinco anos no
tempo e garantir que Damian e Bishop não batessem a cabeça tantas vezes.

Isso é tudo culpa deles.

Espere, se eu voltar tão longe, talvez consiga conhecer minha mãe. Ao


pensar em minha mãe, lembro-me de minha doce Cassie. Como ela se
sentirá se eu namorar o pai dela? Se as coisas não derem certo, ela ficará
arrasada. Se Landon me der alguns de seus filhos e eu tiver um filho... Eles
não podem viver separados. Ela já está crescendo sem mãe.

— Lee, o que está acontecendo nessa sua cabeça?

— Isso não vai funcionar, — concluo. — Você já pensou em Cassie?

— Nos próximos cinco dias, seremos apenas nós dois. Não vamos
pensar em Cassie, na sua família ou na cidade, — diz ele, agarrando meus
dois braços suavemente enquanto seus olhos azuis claros se conectam aos
meus. — Você está com medo, eu entendo.

— Você? — Eu o desafio. — Porque eu não me entendo mais. E depois


há as consequências. É mais fácil se eu simplesmente me mudar e encontrar
uma nova vida. O que você está propondo muda a vida de muitas pessoas.

— Mudar-se para cá muda toda a paisagem de Kentbury. Sua partida


alteraria minha vida, quem eu sou e meu futuro, — diz ele em tom
desesperado. — Eu ficaria vazio pelo resto da minha vida.

— Você vai ficar bem, — eu o tranquilizo com as mesmas palavras que


venho repetindo na minha cabeça desde que decidi vir para Nova York.
— Você sabe que eu sou péssimo em relacionamentos. Você viu meus
modelos. Ambos parecem estar faltando emoções e um coração. Tenho
medo de perder o que temos, por isso nunca ousei pensar além da nossa
amizade, — explica ele, no que parece uma tentativa desesperada de me
convencer de que o que ele fez no passado foi para nos salvar. — Eu não
posso me dar ao luxo de perder você.

— Porque agora?

— Não consigo lidar com a ideia de não ver você todos os dias, de não
ouvir sua voz ou de olhar seu lindo rosto. Você tem esse poder mágico de
fazer com que todos se sintam especiais. Quando você está ao meu lado,
me sinto invencível.

— Você ainda pode me perder, — digo, cético sobre a situação e sua


mudança de opinião.

Ele concorda. — Daqui a alguns anos, pelo menos, quando você visitar
Kentbury com sua nova família, poderei dizer que dei o meu melhor – e
estou feliz porque você está feliz.

Suas palavras me tiram o fôlego. Elas são perfeitas. Cada um cheio de


tristeza e, ainda assim, um toque de esperança.

— Esta semana será uma das minhas lembranças mais queridas, —


conclui.

Luto contra as lágrimas, mas algumas escapam. Ele os limpa com o


polegar e pergunta: — Qual é o problema?
— O que você disse me lembra papai. Ele ama tanto a mamãe que
nunca mudou. Quando perguntamos a ele, ele sempre diz que nos tem.
Somos a melhor parte dos dois. Ele não precisa de mais. Um dia, eles se
encontrarão no céu, onde poderão ficar juntos novamente – para sempre.

Uso as mangas da minha camisa para enxugar os olhos. — Esse é o tipo


de amor que eu quero.

Ele me pega em seus braços, me balançando de um lado para o outro.


— Fique comigo, Lee. Sejamos o que deveríamos ser. Não lute contra nós.

Namorar Landon parece um sonho. Sonhos podem se tornar realidade,


mas e se eu acordar no meio de um beijo perfeito e for atingida pela crueza
da realidade? Ele é apenas um amigo.

Quero acreditar na magia do amor, nas almas gêmeas e em Landon


Miller.

Talvez devesse, mas é difícil de acreditar depois de tantos anos. Landon


nunca me decepcionou. Eu deveria confiar nele. Ele nunca prometeu mais
do que estar lá para mim quando eu precisar dele. E ele está sempre lá. Sol,
chuva ou, neste caso, neve.

Ele pediu cinco dias, e quando eu disse que teria entrevista amanhã, ele
não gostou. Ele sentiu como se eu já estivesse desistindo.
A entrevista de emprego não é sobre ele. É sobre mim. Não quero olhar
para trás, para minha vida daqui a vinte anos, e me perguntar sobre as
coisas que evitei ou deixei de lado porque parei de me colocar em primeiro
lugar. Como conseguir este emprego no The Ambassador. Vou continuar o
processo porque quero opções. Ou, pelo menos, vou mostrar a mim mesma
que sou capaz de fazer mais do que administrar a pousada e a loja de
presentes, ao mesmo tempo em que me certifico de que meus irmãos não
estraguem nosso legado.

Landon não está entusiasmado com minha decisão, mas me entende e


me apoia. Hoje à noite, vamos sair para nosso primeiro encontro – depois
de eu arrumar meu cabelo e, quem sabe, minhas unhas. Assim que ele sai
do quarto, ligo para a recepção para ver se há algum horário aberto no spa
e salão. Enquanto espero a resposta deles, navego pelo menu de serviços.
Posso pedir uma massagem envolvente com lavanda e pepino ainda esta
semana. Felizmente, eles podem me apertar para arrumar o cabelo, mas
não as unhas.

Enquanto estou a caminho da consulta, mando uma mensagem para


Damian.

Lee: Deveríamos adicionar um spa no resort e deixar Karla Olson administrá-


lo.
Ele não responde. Eu esqueço dele enquanto sou mimada. Podemos
conversar sobre os negócios da família no próximo fim de semana. Depois
de algumas horas, me sinto como uma modelo. Já faz muito tempo desde a
última vez que cortei o cabelo, muito menos fiz meu cabelo por um
profissional. Karla, a estilista da cidade, apenas corta e me manda embora.
Quando chego ao elevador, meu telefone vibra dentro da minha bolsa.

Damian: Ela tem seu próprio salão, por que ela iria querer fazer isso?

Ugh, por que ele não pode responder minhas mensagens quando eu as
envio?

Lee: Estaríamos oferecendo serviços que ela não oferece em seu salão, como
massagens, tratamentos faciais, envolvimentos corporais e muito mais. Teremos o
cardápio em nossa página. Combine-os com fins de semana de casais no B&B.

Damian: Não gosto da ideia, não do resort. Podemos renovar o B&B e


adicionar uma ala com alguns quartos extras.

Lee: Não tocamos na casa vitoriana – é um edifício histórico.

Eu bufo e aperto o botão do elevador. Então mando uma mensagem


para Landon.
Lee: Estou quase pronta.

Landon: Não tenha pressa, me mande uma mensagem quando quiser que eu vá
buscá-la. Nossa reserva é às sete. Você quer andar de patins no Rockefeller Center
amanhã?

Lee: Talvez, podemos decidir isso amanhã?

Landon: Eles têm atendimento VIP; teríamos que comprar os ingressos hoje.

Lee: Sim, eu adoraria. Talvez da próxima vez possamos trazer Cassie conosco.

A mensagem de Damian chega logo depois que eu envio para Landon.

Damian: O spa não trará novos clientes.

Claro que vai. Quem não gostaria de reservar um fim de semana para
meninas em Vermont e ser mimado em nosso spa de última geração?

Lee: Podemos discutir isso quando eu voltar. Isso não aconteceria da noite para
o dia, mas deveríamos começar a planejar.

Damian: Você está indo embora, lembra?

Lee: Bishop, você pode entrar na conversa quando quiser.


Damian: Ele está na casa do papai, ajudando-o com Cassie. Deixe as coisas
acontecerem.

Lee: Você não é o único que pode decidir o que fazer com o resort. Cada um de
nós possui um quarto disso.

Se eu conseguir convencer papai e Bishop, tudo o que Damian pensa é


obsoleto.

Damian: É mais provável que você e papai sejam donos de um quarto e os


outros cinquenta decidam o que faremos, mas podemos conversar sobre isso mais
tarde. Estou em uma teleconferência.

Espere, falta um quarto nessa equação…

Lee: BISHOP, você vendeu sua parte do resort para Damian?

Eu juro, vou matá-los.

Hops: Eu não vendi, troquei pela parte dele na cidra. É apenas um contrato de
dez anos para que ele possa renová-lo. Todos nós vencemos.
Lee: Você é o único que ganha. Não admira que ele não tenha voz no pomar e
na cidra. E a vinha?

Hops: Estamos comprando? Seria perfeito comercializar a cidra.

Lee: Podemos fazer passeios, degustações de vinhos e casamentos. O spa se


beneficiaria com isso. Existe um lugar perfeito onde podemos construir o spa em
vez de adicioná-lo ao resort.

Damian: Pare, vocês dois. Não temos condições de comprar o vinhedo.

Lee: É uma boa jogada, há muito que podemos fazer durante o verão. Você
disse que isso poderia acontecer.

Damian: Não podemos pagar no momento e não acho que possamos conseguir
um empréstimo. A casa vitoriana está em seu nome e o resort não pode ser usado
como garantia.

Lee: Então não podemos adicionar um spa e o vinhedo é proibido? Exijo ver os
livros do resort. Tenho certeza de que papai também gostaria disso.

Damian: Eu salvei o lugar, você não tem o direito de exigir os livros porque
acha que estamos com problemas.

Lee: Quando tivemos problemas?

Damian: Lee, pare de microgerenciar. Quando você voltar, poderemos sentar e


discutir tudo o que tive que fazer para reformar o lugar. Talvez você concorde em
restaurar a pousada.

Lee: Por cima do meu cadáver, Damian. Isso é um pedaço da história, deixe-o
em paz.
Quando chego ao meu andar, Landon está encostado na porta do seu
quarto. Meu estômago dá um grande nó, e a corrida frenética do meu
coração mal me permite ouvir quando ele pergunta: — Você está bem?

A necessidade de um beijo cessa enquanto me pergunto como ele sabe


que não estou.

Meu telefone vibra novamente e decido enfiá-lo de volta na bolsa.

Suspiro e balanço minha cabeça. — Assim que eu descobrir o que


Damian fez com o resort, vou matá-lo – e a quem o ajudou.

— Você está linda, — diz ele, segurando meu rosto e beijando meus
lábios. — Vamos jantar antes de você começar a pensar em nossos funerais.

— Nosso? — Eu estreito meu olhar. — Você o ajudou?

— Gosto de pensar que ajudei você, não apenas ele. Podemos sentar e
discutir isso quando voltarmos para casa. Esta semana é toda sobre prazer,
sem negócios. Prepare-se. — Ele beija meu nariz e vai para seu quarto.
Capítulo Quinze

Landon

Quando Lee abre a porta do quarto dela, todos os pensamentos em meu


cérebro pegam fogo. O calor dispara através de mim. Estou dominado pela
luxúria crua. Lee é uma das mulheres mais bonitas que já vi. Esta noite ela
está ainda mais bonita. Ela está usando um vestidinho preto ajustado
perfeitamente às suas curvas femininas. Ela usa um par de saltos de dez
centímetros que acentuam suas pernas incríveis, longas e bem torneadas.

Cada pensamento coerente sai voando do meu cérebro.

Seu cabelo sedoso e avelã flui sobre seus ombros. Quero estender a mão
e deslizar minhas mãos nele. Só por uma vez, não quero fazer a coisa certa
quando se trata de Lee. Em vez de levá-la para um encontro, quero passar
meu tempo explorando seu corpo nu. Não consigo me conter, passo um
braço em volta de sua cintura e a pressiono contra meu corpo. Eu me
abaixo e pego sua boca.
— Você está ótima, — eu digo, ofegante enquanto afasto meus lábios
dos dela. — Na verdade, mais do que ótima. Surpreendente.

— Você também não parece tão mal, senhor, — ela diz brincando. —
Você tinha aquelas roupas escondidas na sua mochila?

— Eu improvisei, — explico. — O restaurante onde encontrei a reserva


tem um código de vestimenta obrigatório. — Há algumas lojas no
mezanino do hotel onde encontrei uma calça, uma camisa social e um
blazer.

— Esta é a segunda vez na minha vida que vejo você vestindo algo
formal, — diz ela, cobrindo a boca enquanto tenta reprimir uma risada. —
A primeira vez foi na minha formatura.

— Você está brincando?

— Só lembrando daquele dia. Você parecia elegante, exceto pelos tênis.

— Ei, eu tentei o meu melhor, — digo olhando para os meus sapatos.

Pelo menos estou usando um par de botas hoje. Eles não combinam
como os tênis azul royal que usei naquele dia.

— Então, para onde estamos indo? — ela pergunta enquanto


marchamos em direção aos elevadores.

— O Sky Riser, — eu a informo.

— O restaurante no topo? — ela pergunta com olhos estrelados.

Como está nevando forte, solicitei uma mesa em um dos restaurantes


do hotel. O Sky Riser é o único que teve disponibilidade em tão pouco
tempo. Se puder escolher, prefiro pedir serviço de quarto, champanhe,
morangos e sorvete. Eu começaria a noite tirando o vestidinho preto que
ela está usando. Eu quero saber o que há por baixo disso. Um pouco de
renda e seda, ou apenas sua pele sedosa?

Hoje não, Miller.

A excitação palpável de Lee me impede de estragar o encontro perfeito.

— O que você está pensando? — Ela me olha com desconfiança. — Sou


muito boa em ler você, mas nunca vi esse rosto.

— Você não quer saber, — digo, puxando-a para dentro do carro


enquanto as portas do elevador se abrem.

Eu a empurro em direção à parede de metal, pressionando meu corpo


contra o dela. — Pelo menos ainda não.

Eu pego sua boca e a beijo com força. Porra, eu nunca vou me cansar
dela. Estou perdido nela, querendo fazer mais, mas consigo parar. Eu tenho
que estabelecer limites. Porém, não sei onde vou encontrar forças para
conter o desejo de arrastá-la para o meu quarto e torná-la minha.

— Temos que parar. — Eu gemo, mal me lembrando do meu próprio


nome e fico surpresa com a aspereza da minha voz.

Por um longo momento, olhamos um para o outro. Ela está respirando


tão rapidamente quanto eu. Seus olhos estão tão escuros que não consigo
ver suas pupilas.
— De alguma forma, não acho que você acredite em suas próprias
palavras, Sr. Miller. — Ela me dá um sorriso atrevido.

Eu acaricio sua bochecha com meu polegar. — Eu já disse que você é


linda?

— Não, — ela diz, seu rosto suavizando. — Podemos solicitar serviço


de quarto, — ela propõe com uma voz sugestiva.

— Talvez na quarta-feira. Hoje vou levar você para um encontro de


verdade, — digo, ajeitando meu blazer e minha calça enquanto o elevador
chega ao último andar.
Capítulo Dezesseis

Knightly

Faíscas voam ao nosso redor. É como se fogos de artifício explodissem


entre nós. O desejo de ter as mãos em cima de mim aumenta. Dane-se o
jantar; me leve para o meu quarto. O desejo que sinto me aproxima dele.

— Um centavo pelos seus pensamentos? — ele pergunta.

Landon olha para mim enquanto esperamos a recepcionista nos


mostrar nossos lugares.

— Apenas um centavo por todos eles? — Eu digo, ainda recuperando o


fôlego do nosso beijo. — Há muita coisa acontecendo em minha mente.

Especialmente como não consigo entender esse momento. Meu


estômago está amarrado em um grande nó e meu coração dispara
freneticamente. Estou em um encontro com Landon Miller e, em vez de ter
algo inteligente para dizer, estou apenas me concentrando em suas mãos
fortes e braços musculosos. Olho para seus ombros largos e poderosos
envoltos por um blazer formal. Ele é sempre atraente, mas agora vê-lo
vestido formalmente é perturbador.

— Isso é muita energia desperdiçada, — diz ele com uma voz baixa,
escura e aveludada, que desliza pelas minhas orelhas e atinge bem entre as
minhas pernas.

E ele tem que me lançar aquele sorriso sexy e estúpido que faz meu
interior se contorcer e meus ovários explodirem. É a curva sensual de sua
boca e as coisas que aposto que ele pode fazer com esses lábios.

— O que posso fazer para fazer você esquecer de casa? — Ele


interrompe meus devaneios com sua voz áspera. — Se você quiser
conversar sobre o que está acontecendo com o resort, posso lhe contar o
que sei. Contanto que você prometa colocá-lo em banho-maria pelo resto
da viagem.

Fico sóbria com a menção do resort. Por que diabos meu irmão iria me
querer longe quando está em apuros?

— Por que ele foi até você? — Começo com a pergunta básica. — Não
me entenda mal, eu entendo. Você é o melhor amigo dele. Assim como
Hops e eu, preferimos ligar para você primeiro do que para nossos irmãos.

Ele pega minha mão, seus dedos calejados acariciando a parte interna
do meu pulso, me fazendo estremecer.

— Entre o resort de última geração que abriram em Stowe e o Airbnb,


as reservas caíram drasticamente, — explica.

— Por que ele não nos contou?


— Você terá que discutir isso com ele, — ele diz, mas tenho certeza de
que ele sabe a resposta.

— Como se ele fosse responder. Ele acha que sabe tudo. Cada vez que
faço uma sugestão, ele a rejeita, como no spa, — protesto. — E agora ele é
dono de cinquenta por cento do lugar, o que significa que ele vai ignorar
qualquer ideia que eu traga para a mesa.

Ele balança a cabeça. — Eu possuo cinquenta por cento do resort.

Meus olhos se arregalam e esqueço como respirar. Damian não se


atreveu a vender o resort. Temos regras, uma tradição a seguir.

— Como? — Eu pergunto com raiva. — Ele vendeu para você?

— Sim, mas em dez anos ele poderá me comprar pagando o


empréstimo com juros, — explica.

Endireito as costas, coloco as mãos sobre a mesa e falo com minha


melhor voz profissional. — As mudanças que fizemos até agora estão
funcionando. Se somarmos o spa, ele trará hóspedes o ano todo. Podemos
vendê-lo como um fim de semana para casais, um fim de semana para
meninas, o que você quiser. E a vinha ao lado é a cereja do bolo.

— Você é adorável, — ele diz, ambas as sobrancelhas escuras franzidas


bem no meio. — Não estamos falando de negócios, Knightly Rose.

— Lançar nomes completos e severos não fica bem em você, lindo. —


Tento suavizar as coisas. — Pense nisso como um investimento. Tenho
certeza de que você está obtendo algum tipo de receita enquanto é dono do
lugar.
— Amanhã tenho uma teleconferência com Holden sobre o vinhedo.
Vou ver meu consultor financeiro e meu advogado também, — continua
ele. — Não digo sim a nada, mas saiba que estará à mesa quando
começarmos a tomar decisões sobre o futuro da vinha e tudo será tido em
conta.

— Não entendo por que Damian faria isso, venderia parte de nosso
patrimônio. — Tento não parecer irritado ou ressentido. É impossível.

— Estava com sérios problemas. — Ele parece magoado. — Ele estava


num ponto em que se não fizesse algo drástico, perderia a loja. No
esquema mais amplo, essa é a parte do patrimônio dos Harris que
costumava gerar mais receita. Você perde, e os outros dois não ficam tão
atrás.

— Damian estava olhando para o panorama geral, — diz ele. — Se algo


tiver que desaparecer, será o B&B.

Meu sangue congela quando ele me diz que Damian queria vendê-lo,
mas uma onda de alívio e conforto me aquece quando percebo o que
Landon fez.

— Você salvou minha pousada, — afirmo, olhando em seus olhos


azuis. — É por isso que a escritura está agora em meu nome?

Ele concorda. — Ninguém pode tocá-lo. É a sua vida.

Desde que Cassie entrou em sua vida, ele tem trabalhado duro e
encontrado maneiras de ganhar a vida para os dois enquanto faz o negócio
crescer. Ele tem um planejador financeiro — um de seus clientes que mora
em Nova York — que o ajudou a diversificar seu portfólio e a garantir que
Cassie tivesse um futuro confortável.

— Estou emocionada, mas você tem que pensar em Cassie e em seu


futuro. Por que você arriscaria seu dinheiro em um lugar que poderia falir?

— Porque o B&B é seu. Esse é o seu sonho desde que você era pequena.
De jeito nenhum eu deixaria algo acontecer com isso. Eu sempre cuido das
minhas meninas.

As ações, palavras e gestos de Landon estão derretendo meu coração. É


verdade, ele sempre cuidou das meninas. É assim que ele chama Cassie e
eu.

— Por favor, me diga que isso não atrapalhou nosso relacionamento, —


diz ele com um tom urgente e desesperado.

Landon é um homem confiante. As poucas vezes em que ele mostra sua


vulnerabilidade acontecem perto de mim, e geralmente é por causa de
Cassie.

— Eu juro que fiz isso porque...

— Você não gosta quando ele tenta se aproveitar de mim, — eu o


interrompo.

É como quando eu tinha dez anos e voltei de uma brincadeira de doces


ou travessuras com meus amigos, e Damian confiscou meus doces. Mais
tarde naquela noite, Landon trouxe de volta não apenas a maior parte do
saque que Damian havia tirado de mim, mas também foi com Holden de
porta em porta para conseguir mais para mim.
E se possível, me apaixono ainda mais.

— Nossos cinco dias ainda estão em vigor? — ele pergunta hesitante.

— Deslumbra-me, nobre senhor.


Capítulo Dezessete

Knightly

É tão fácil perder o controle do que temos quando está na palma da


nossa mão. Em apenas alguns dias, lembrei-me que moro no paraíso. Está
mais frio em Vermont do que em Manhattan. Esse é um ponto para Nova
York. Mas nada se compara às montanhas nevadas, ao céu azul e às vistas
pitorescas da cidade aninhada entre uma cortina de abetos.

Os edifícios que se erguem à nossa volta não são tão atraentes. Aceito
que me deixe levar pelas luzes brilhantes que adornam as ruas. Há uma
sensação de férias, mas não é tão intensa ou convidativa como a que temos
em Kentbury.

A pista de gelo no Rockefeller Center é boa, talvez até fofa. Não se


compara em nada à beleza do nosso grande lago em Kentbury, rodeado
por vinhas e algumas cabanas, e repleto de um silêncio pacífico. Não temos
grandes filas de pessoas esperando a sua vez de patinar por apenas uma
hora no lago.

— Tem certeza de que vai ficar bem? — Landon pergunta enquanto eu


tremo.

O frio escorre pelo suéter de caxemira macio que uso.

Algumas camadas devem ser suficientes, eu disse enquanto me vestia.

Isso não é nada comparado ao inverno de Vermont, assegurei-me ao sair do


quarto do hotel.

Não seja covarde, Lee, repreendo-me quando uma pontada de ar frio


atinge meu rosto.

— Você precisa da minha jaqueta? — Landon oferece, com os olhos


franzidos nos cantos.

— Não, assim que começarmos a patinar, vou me aquecer, — insisto


enquanto entramos na área VIP. — Então por que exatamente pagamos
mais de cem dólares?

— Bem, você não vai ficar congelando lá fora enquanto espera pela sua
vez, — ele explica, me tomando em seu abraço poderoso e esfregando as
mãos nas minhas costas para me aquecer.

Eu olho para ele. Seu olhar de pálpebras pesadas me avalia. — Você


está linda, — ele sussurra.

Landon segura meu rosto com uma das mãos e abaixa a cabeça. Deslizo
meus braços em volta de seu pescoço e me levanto para encontrá-lo. Meus
olhos se fecham quando sua boca captura a minha, sua língua entra. Meus
joelhos enfraquecem. Meu coração galopa no meu peito. O toque provoca
arrepios de desejo pelo meu corpo, substituindo o frio por um incêndio que
aquece cada célula do meu corpo e ameaça derreter a cidade inteira.

Ele me beija suavemente. Devagar. Profundamente.

Acho que nunca vou me cansar disso. Na verdade, eu daria tudo para
ser beijada por Landon Miller pelo resto da minha vida.

— Próximo, — alguém grita, quebrando o feitiço.

Landon abre a boca, gemendo em protesto. Sua respiração está pesada,


assim como seu olhar.

— Quero voltar para o hotel, — peço.

— O que? — ele pergunta com uma voz rouca.

— Senhor, você é o próximo, — alguém continua nos chamando, mas


no momento nada importa.

— Poderíamos estar no meu quarto, pedindo comida, — digo


sugestivamente.

Landon coloca os dedos na minha bochecha, acariciando-a. — Não


podemos pular nenhuma etapa, senhorita Harris. Por mais que eu adorasse
arrastar você de volta para o meu quarto, isso vai acontecer devagar.

— Mesmo que isso nos mate de desejo?


— Onde está sua paciência? — Ele beija minha nuca. — Imagine como
será bom quando finalmente acontecer… Que bom pra caralho. — Ele pisca
para mim.

Durante anos, tive a ilusão de que patinar no Rockefeller Center era


mágico. Culpo John Cusack e Kate Beckinsale por me deixarem acreditar
que o momento mais romântico da minha vida aconteceria em Manhattan
enquanto eu segurava a mão do homem que amo. Mesmo quando percebi
um brilho de desejo nos hipnotizantes olhos azuis de Landon, a hora na
pista de gelo não mudou tanto minha vida quanto eu esperava.

Em Kentbury, à noite temos a luz da lua para iluminar o lago. Estamos


cercados por árvores, montanhas e neve.

— Talvez eu tenha colocado muita pressão na pista de gelo e por isso


ela não correspondeu às expectativas, — concluo ao entrarmos no hotel.

Landon está ocupado com seu telefone. Talvez ele esteja mandando
mensagens para Cassie ou conversando com um de seus funcionários.
Tenho certeza de que ele não está prestando atenção ao meu discurso
retórico. Eu não o culpo. Ele não é do tipo que assiste comédias românticas
e espera que aquele momento especial aconteça.
Eu sou uma história diferente. Nos últimos dezoito anos, esperei que
ele ficasse no final da minha garagem e fizesse uma serenata para mim com
um aparelho de som, como Lloyd fez em Digam o Que Quiserem. Se não for
isso, talvez ele possa cantar “Can't Take My Eyes Off You,” como Patrick
Verona fez em 10 Coisas que Eu Odeio em Você. Ainda tenho esperança de
que ele possa listar todas as razões pelas quais me ama na véspera de Ano
Novo, como Harry fez com Sally.

— É um local turístico, como o lago artificial que temos na Main Street,


— diz Landon enquanto nos dirigimos para o elevador. — Nem tudo que
você assiste nos filmes pode viver na vida real e vice-versa. — Ele abaixa os
ombros e suspira. — Serendipity foi filmado no Wollman Rink, no Central
Park, — diz ele com naturalidade.

— E tem isso. Porém, acho que é romântico para alguém que não tem
um lago congelado no quintal, — digo.

— Há outro ponto de venda. Lembre-me disso na próxima semana, por


favor, — ele pede. — O lago não faz parte da vinha?

— Tecnicamente, mas os McCall sempre deixam todo mundo


aproveitar. Você está planejando torná-lo privado? — Eu olho para
Landon, tentada a fazer perguntas sobre seus planos e querendo lhe dar
ideias.

— Você descobrirá na próxima semana, — diz ele. — Como expliquei


anteriormente, isto são férias. Você está fora do horário. Quando foi a
última vez que você saiu de férias?
Olho para as luzes piscando na grande árvore de Natal. Já se passaram
anos desde que algum de nós fez uma viagem que não envolvesse trabalho.
A única vez que meus irmãos ou eu saímos de casa é para participar de
uma conferência ou para um treinamento. Amamos o que fazemos, mas
somos consumidos pelo trabalho.

— Você também não tira folga, — respondo casualmente, entrando no


elevador e sorrindo para o casal que se junta a nós.

— Quando Cassie e eu visitamos Holden, estamos de férias. Eu finalizo


completamente, — diz ele, apontando o número do nosso andar.

— Você me liga, — eu argumento.

— Isso é porque preciso ouvir sua voz todos os dias, — ele murmura.
— É quase impossível para mim existir quando você não está por perto.

Ele abaixa a testa na minha. Meu coração bate forte nas costelas, e não é
apenas o fato de ele estar no meu espaço pessoal, mas também de admitir
que precisa de mim tanto quanto eu dele. Estico meu pescoço e o beijo
levemente. E odeio que tenhamos outras pessoas no elevador, não há
privacidade.

Assim que chegamos mais perto de nossos quartos, Landon sugere que
vamos para o quarto dele. Quando entramos, minha boca se abre
ligeiramente de admiração.

O quarto dele é maior que o meu. Há uma mesa para duas pessoas do
lado esquerdo, ao lado da varanda. Há uma trilha de pétalas de rosas
vermelhas que leva até lá. Em vez de velas, luzes de Natal estão
penduradas nas paredes. Quando ele fecha a porta, “Brown Eyed Girl” de
Van Morrison começa a tocar.
Capítulo Dezoito

Knightly

— Eu sei que é a música de Peter Gabriel que deveria estar tocando,


mas essa música me lembra você, — diz ele, me observando com cautela,
como se estivesse esperando que eu me movesse.

Landon olha para mim com um olhar predatório que nunca vi nele
antes. O calor em seus olhos me deixa mais quente que o sol em um dia de
verão. Meu batimento cardíaco bate mais rápido e mais forte enquanto ele
diminui a distância entre nós.

— Você quer comer? — Sua voz é profunda e sexy.

— Existe uma segunda opção? — Tento parecer sugestiva, mas minha


voz sai como um coaxar ou um suspiro, não tenho certeza do que é esse
som, mas aperto a boca, nervosa.
— Você é adorável. — Seus olhos brilham com ternura. Sua risada sexy
vibra por todo o meu corpo, e quero me pressionar contra ele e beijá-lo.
Quero sentir sua barba contra minha pele.

Suas mãos deslizam atrás da minha cabeça enquanto ele me observa


com um olhar intenso. Sua boca devora a minha. O beijo está com fome. É
urgente. O gosto dele alimenta minha fome junto com seu cheiro e seu
calor.

— Eu nunca vou me cansar de você, — ele diz com uma voz rouca,
passando sua língua contra a minha.

Nós nos abraçamos enquanto nos beijamos. Suas mãos nas minhas
costas. Seus dedos alcançando a bainha do meu suéter. Deslizo minhas
mãos sob seu suéter, gemendo ao sentir o calor de sua pele e traço as
ondulações de seus músculos.

Ele me puxa para a cama, me puxando para seu colo quando seu
telefone começa a tocar. Nós ignoramos isso. Respirando e ofegando,
enquanto continuamos nos beijando e nos tocando. Então, meu telefone
começa a tocar em vez do dele. Quando reconheço o toque do meu pai,
estremeço.

— Cassie, — eu digo, saindo de seu corpo e tirando meu telefone do


bolso de trás da minha calça jeans.

— Ei, pai, — eu o saúdo entre calças.

— Você está bem, querida? — ele pergunta.


— Sim, claro, — eu digo, recuperando o fôlego. — O que está
acontecendo?

— É hora de Cassie dormir e ela não falou com nenhum de vocês, — ele
me lembra. Verifico a hora e são oito e quinze.

— Ela está bem? — Landon pergunta com uma voz grossa e áspera.

— Sim, esquecemos de ligar para ela, — digo, sentindo-me culpada.

Ele verifica seu telefone e xinga baixinho. Toco meu telefone para
mudar a ligação para FaceTime, e a primeira coisa que papai diz é: — Por
que está tão escuro?

Minhas bochechas esquentam e fico sem palavras. Posso ter trinta e


dois anos, mas não quero contar ao meu pai o que estou prestes a fazer.

— Você nos pegou quando estávamos chegando, — Landon responde e


pega meu telefone enquanto acende as luzes. — Onde está Cassie?

— Ei, papai. — Cassie aparece na tela. — Sinto sua falta.

— Oi, querida, — ele a cumprimenta e seu rosto brilha. — Como foi o


seu dia?

— Lee está com você?

Chego mais perto de Landon e a cumprimento. Ela me dá um grande


sorriso, aquecendo meu coração. — Ei menina.

— Você já me comprou meu presente especial?


— Vou trabalhar nisso amanhã, — informo a ela. — Você tem sido boa
com o vovô?

Ela balança a cabeça com firmeza.

— Você o ajudou com Bob?

— Sim, e ele está dormindo comigo, — ela diz, sorrindo amplamente.

Sentamo-nos à mesa e, enquanto jantamos, ela nos conta como foi seu
dia. Bishop a levou para a escola no snowmobile. Ela ajudou Bethany no
casamento de sábado, já que a florista só chegará na sexta-feira.

— Eu quero ser uma florista, — ela pede.

— Se algum de seus tios se casar, convencerei a noiva a escolher você


como uma das floristas, — ofereço.

— E o seu casamento?

— Cassie, já são nove horas, — Landon interrompe. — É hora de


dormir.

— Não esqueça o que você me prometeu, papai, — ela faz beicinho.

Após a ligação, pergunto curiosamente: — O que você prometeu?

Ele suspira. — Você.

— O que?

— Ouça-me antes de me abandonar, — ele pede, segurando minha


mão. — Já planejei ir com você para Nova York. Eu tinha feito todos os
preparativos com seu pai e Carson. Mais tarde, quando cheguei em casa e
Cassie estava na cama, ela disse que você estava indo embora e me pediu
para lhe dar o que você queria para que você pudesse ser a mãe dela.

Meu coração bate cada vez mais forte contra minha caixa torácica.
Cassie nunca perguntou pela mãe nem teve curiosidade em ter uma mãe.
Ela está contente com Landon. São os dois.

— Olha, não quero pular etapas e falar sobre o futuro quando você
ainda não tem certeza sobre meus sentimentos. Idealmente, um dia eu
adoraria me casar com você, ter filhos com você, e se você decidir adotar
Cassie...

— Ela é minha, — eu suspiro. — Quero dizer, eu sei que ela não é


realmente minha, mas sinto como se ela fosse parte de mim.

Ele balança a cabeça.

— Eu deveria ter agido antes, — diz ele, levantando-se e estendendo a


mão para mim.

— Nunca é tarde demais, — eu o lembro enquanto ele passa os braços


em volta de mim, descansando as mãos entrelaçadas na parte inferior das
minhas costas.

Nossas cabeças balançam ao ritmo de Van Morrison. Minha cabeça


descansa em seu torso e fecho os olhos brevemente, esperando que o que
quer que aconteça a seguir inclua Cassie e Landon.
Capítulo Dezenove

Knightly

Já faz anos, quase duas décadas inteiras, que estou esperando que
Landon me olhe do jeito que tem feito nos últimos dias. Ele é familiar.
Estou acostumada a tê-lo por perto. Meu corpo está treinado para se
manter sob controle quando ele está por perto, mesmo quando meu
coração bate forte como uma britadeira. Eu deveria estar exultante com o
próximo passo. Fico paralisada enquanto a realidade do que está prestes a
acontecer me atinge como um raio.

Tudo entre nós está prestes a mudar.

— Você está bem? — Ele pergunta, deslizando um braço em volta da


minha cintura, prendendo-me contra seu corpo duro e poderoso.

Estremeço quando seus dedos percorrem lentamente meu rosto,


traçando as linhas do meu queixo e a curva dos meus lábios, como se ele
estivesse estudando cada centímetro de mim. Não respiro nem falo, com
medo de acordar desse sonho. Meus olhos se fecham enquanto seus lábios
roçam os meus suavemente. O calor de seu corpo incendeia meu interior.

— Lee, — ele diz meu nome com admiração. — Minha doce Knightly
Rose.

Ele abaixa a testa na minha; Abro meus olhos e nossos olhares se


conectam. — Você é uma das pessoas mais importantes do meu mundo –
da minha vida. Este, nosso relacionamento, é muito importante para mim.
Estou arriscando porque te amo.

— Você faz? — Eu pergunto. Estou tremendo sob seu controle


enquanto espero seu próximo movimento. — É muito cedo, quero dizer,
nós apenas começamos a namorar…

— Eu trabalhei duro para lutar contra minha atração por você. — Seus
olhos se movem em direção à minha boca e depois voltam para os meus
olhos. — Para enterrar meus sentimentos por você. Deus sabe que está
ficando mais difícil com o passar do tempo. À noite, imaginei fazer um
sexo alucinante com você. Pensei em tirar cada peça de roupa que você usa
até que não haja mais nenhuma barreira entre minha boca e sua pele macia.

Sua boca está tão perto da minha que posso sentir o quão inebriante é o
calor de sua respiração. Prendo a respiração esperando que ele me beije
novamente com a fome sensual com que ele tem me beijado nos últimos
dias. Em vez disso, seus lábios deslizam pelo meu queixo, até a parte de
trás da minha orelha. Minha respiração fica irregular enquanto sua língua
traça uma linha até meu pescoço. Tudo dentro de mim derrete. Seguro seus
ombros enquanto ele mordisca a pele sensível na base da minha garganta.
A boca explorando, as mãos descendo pelo meu corpo, e o olhar
intenso me despindo está me levando ao limite, mas não logo o suficiente.

Ele está demorando e estou impaciente por mais. Suas mãos, sua boca,
seu cheiro e a sensação dele. Cada célula do meu corpo treme, esperando
por mais. Eu simplesmente não posso deixar isso para ele. Tiro sua camisa
de manga comprida, expondo seu peito musculoso. Pressiono minhas
mãos sobre seus ombros, passando-as por seu corpo poderoso. Sentindo
cada ondulação, inchaço e inclinação de seus músculos.

Me sentindo ousada, abro o botão de sua calça jeans e lentamente abro


o zíper. Lambo os lábios quando percebo que ele não está usando cueca e
me atrevo a fechar a mão sobre seu comprimento grosso.

— Lee. — Ele estremece enquanto eu o bombeio algumas vezes. — Por


favor, não, — ele geme, puxando-me para um beijo profundo e faminto.

Ele enfia a língua dentro da minha boca, explorando cada centímetro


dela. Eu igualo sua velocidade e exijo mais dele.

Sem dizer uma palavra ou se mover muito, ele tira meu suéter e a gola
alta que estou usando por baixo. Então, ele passa as mãos pelo meu corpo,
tirando minha calça jeans e me deixando com o lindo conjunto de renda
preta que comprei ontem especialmente para ele ver. Ele pressiona a boca
entre meus seios. Lambe um mamilo e depois o outro, molhando o sutiã
rendado. Meus mamilos estão duros como pérolas. Eles estão inchados,
esperando para serem libertados e sugados por ele.
Ele para e agarra meu rosto suavemente entre as duas mãos. — Eu te
quero tanto, você tem certeza disso?

— Eu também quero você, — digo e suspiro quando ele me levanta e


me coloca na cama.

Landon move a mão lentamente, viajando do meu calcanhar, passando


pela parte interna da minha coxa e parando bem no meu centro. Ele passa o
dedo sobre o tecido molhado da minha calcinha e desenha alguns círculos
ao redor com o polegar. Eu gemo.

— Você está me torturando, Miller, — reclamo enquanto ele desliza um


dedo pelo tecido fino e toca meu clitóris.

— Estou gostando de você antes do banquete, — diz ele, reivindicando


minha boca.

Enquanto ele me beija, sua mão desliza pelas minhas costas,


desabotoando meu sutiã e liberando meus seios. Ele continua traçando
minha pele até que seus dedos encontrem meus quadris e empurra o tecido
rendado todo para baixo, me deixando completamente nua e à sua mercê.
Sua boca segue, parando para chupar meus mamilos, alternando-os
enquanto seus dedos acariciam, exploram e esfregam meu calor.

Agarro-me aos lençóis enquanto um milhão de sensações caem em


cascata de todos os lugares. Minha respiração está muito rápida, não
consigo me concentrar em nada e tudo que consigo sentir é o cheiro de sua
loção pós-barba amadeirada. Sinto que não aguento mais, mas ao mesmo
tempo quero que ele continue.
Seus lábios se afastam e eu gemo, mas suspiro quando suas mãos
separam meus lábios e ele me chupa. Sua língua me envolve, enquanto ele
enfia um dedo dentro do meu canal e bombeia rapidamente. Meu corpo
começa a tremer quando ele me empurra até a borda e eu subo. Estou no
pico mais alto de uma montanha, exausto, mas necessitado.

Ele se levanta, pegando a camisinha que colocou na mesa de cabeceira.


Seus olhos estão em chamas, brilhando como uma tocha iluminando o fim
de um túnel. Ele coloca a camisinha, mas seus olhos mal saem do meu
corpo.

— Você está pronta? — ele pergunta com uma voz suave, seu olhar
azul nunca me liberando.

— Nunca tive tanta certeza de alguma coisa.

Lentamente, ele se abaixa. A cabeça do seu pau bem na minha entrada.


Nossas bocas batem uma contra a outra enquanto ele me preenche
lentamente com sua espessura. Ele é cuidadoso enquanto me dá tempo
para me ajustar ao seu comprimento.

Fecho os olhos por alguns instantes e quando os abro, ele está me


observando. — Respire, querida, você está segura comigo.

Eu suspiro, tomando um pouco de ar antes que ele puxe seu eixo para
fora e empurre de volta. Desta vez ele não espera que eu me ajuste. Ele
começa a balançar contra mim mais rápido, movendo-se com urgência.
Mas não é duro, pelo menos, não tão duro quanto acredito que ele poderia
estar fazendo. Ele é gentil, do jeito que sempre foi comigo. Gentil e
amoroso.

— Você é a mulher mais linda do mundo, — ele murmura contra minha


boca.

— Eu te amo, — murmuro, agarrando-me em seus ombros. — Eu te


amo muito, Landon.

Ele bombeia dentro de mim, mais profundo e mais forte. Estamos nos
tornando uma extensão um do outro. Ele não se contém mais. Seus
movimentos são crus, primitivos. Perdemos o controle. Nossa respiração é
irregular. Nossos corpos se fundem assim como nossos corações e nossas
almas se tornam uma.

Eu me viro e me contorço enquanto meus músculos convulsionam e ele


está bem atrás de mim, tremendo em cima de mim. Ele geme e se empurra
ainda mais fundo, me fazendo gozar ainda mais forte. Estamos voando
alto, disparando para o lugar definitivo.

Landon deixa cair a cabeça no meu ombro, ofegante, assim como eu.

— Eu te amo, Lee, — ele murmura, quase exausto, e me vira,


mantendo-me em um abraço apertado. — Eu sou todo seu. Eu te dei meu
coração, agora meu corpo, e você é dona da minha alma.

Enquanto ele me embala em seus braços, olhamos nos olhos um do


outro e sorrimos. Ele beija meu ombro e rola para o outro lado da cama,
alcançando a mesa de cabeceira.
— Knightly Rose. Lee, — diz ele, levantando-se da cama e ajoelhando-
se.

Ele olha para mim, segurando uma caixa vermelha que contém um
lindo anel solitário de diamante.

— Landon, — eu suspiro.

— Adoro que você tome sorvete mesmo quando está menos vinte graus
lá fora. Eu amo que você sempre cuide de todos. Amo que você acolheu
minha filha e a amou como se ela fosse sua. Eu te amei de muitas maneiras
diferentes desde que éramos crianças. Meu amor por você evoluiu à
medida que envelhecemos. Vim para Nova York para te convencer de que
você é o amor da minha vida. Não sou perfeito, mas você me torna
perfeito.

Ele limpa a garganta. — Lee, você quer se casar comigo?

— Sim. — Olho em seus olhos azuis claros antes de me jogar em seus


braços. — Claro que eu vou.
Epílogo

Landon

É dia de Natal. Como todos os anos, estamos na casa do vovô Harris,


tomando brunch e abrindo presentes. Olho pela grande janela, observando
a floresta coberta de neve, os cristais de gelo brilhando na superfície do
lago. É um Natal branco perfeito. Cassie está bem perto da árvore,
desembrulhando caixas e gritando de felicidade. Lee está bem ao lado dela,
tirando fotos de nossa filha. Até que seu olhar encontra o meu.

Como sempre, ela não precisa falar para eu saber do que ela precisa.
Caminho até ela, estendo minha mão e a ajudo a se levantar. Envolvo meus
braços em volta dela, aproveitando a sensação de seu corpo contra o meu,
beijando o topo de sua cabeça.

— Ela está feliz, — Lee sussurra.

— Você está feliz? — Eu pergunto.


— Mãe, podemos fazer biscoitos? — Cassie questiona, mostrando a ela
os cortadores de biscoitos que o Papai Noel trouxe para ela.

O queixo de Lee treme. Seus olhos se enchem de umidade. — Sim, —


ela responde com uma voz calma.

— Tudo bem se eu te chamar de mãe, certo?

Lee se afasta do meu alcance e abre os braços para Cassie. — Claro que
é, querida. Eu te amo muito.

— Eu também te amo, mãe, — diz Cassie antes de ir para a cozinha.

Sorrio para Lee e beijo seu nariz.

Nunca pensei que pudesse amá-la mais, mas estava errado. A cada dia
me apaixono mais e mais por ela. Eu adoro essa mulher de todo o coração.
A mulher que me ama pelo que eu sou. Nossas vidas são perfeitas para
nós.

Vamos nos casar no ano que vem. Os McCall aceitaram minha oferta.
Tomaremos posse da vinha no início de janeiro. Lee e eu planejamos
construir uma casa à beira do lago, grande o suficiente para acomodar
nossa família. Por enquanto, Cassie e eu estamos nos mudando para a casa
de Lee.

— Sim, estou feliz, — Lee finalmente responde, passando os braços em


volta do meu pescoço. — Você e Cassie tornam minha vida mágica,
perfeita.

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