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Por L. C. Almeida
Sinopse
Você acredita em ódio à primeira vista?!
As únicas coisas que esse par improvável tem em comum são ódio
mútuo, as brigas em que se enfiam, o quarto que dividem e a vontade de se
verem livres um do outro.
Até que começam a se conhecer melhor...
Talvez as diferenças não sejam tão grandes assim. Talvez exista muito
mais por trás da Princesa e do Babaca do que eles imaginavam.
Acompanhe as aventuras desse casal cheio de química, antes que
eles se matem. Ou se apaixonem.
Ou os dois ao mesmo tempo.
Quando amo
Eu devoro
Todo o meu coração
Eu odeio
Eu adoro
Numa mesma oração
Chico Buarque
Capítulo 01 - Você me deve uma
Drake
- Não.
- Drake, você nem ouviu o resto da minha proposta ainda...
- Você chama isso de proposta?! - Aponto para a capa do jornal que
- Não estou te pedindo para ser babá, estou te pedindo para ser o
guarda-costas dela. - Fala como se fizesse muita diferença.
Nada como a boa e velha semântica: salvando políticos, advogados e
empresários desde o início dos tempos.
- Você está esquecendo de um pequeno detalhe, Jus. - Jogo o jornal na
mesa e cruzo os braços. - Não tenho experiência. Eu nunca fui guarda-costas.
- Não, mas foi um agente especial por 12 anos. O melhor de todos,
pelo que eu sei. E é por isso que preciso de você para esse trabalho. Não
consigo pensar em ninguém mais que conseguiria dar conta de Roxy. - Paro
para examiná-lo com calma pela primeira vez, desde que pisei no seu
escritório e ele jogou essa "bomba atômica seminua" em cima de mim.
Parece aparentar bem mais que os nossos 30 anos, suas têmporas começando
a ficar grisalhas e as rugas aparecendo embaixo dos seus olhos. Consigo
- Tive de demiti-lo depois que Roxy conseguiu fugir pela sétima vez e
acabou nessa situação. - Ele aponta para o jornal e eu olho para a sua foto
mais uma vez.
O rosto da garota está banhado de diversão e eu me pego a invejando
por alguns segundos. Não lembro quando foi a última vez que me diverti.
Nem sei se já me diverti assim, nem quando tinha a sua idade. Pelo menos,
tenho certeza de que nunca tirei a roupa no meio de um bar de motoqueiros.
- Como uma coisinha desse tamanho conseguiu fugir SETE VEZES
de um agente treinado?! - A garota deve ter 1m50, 1m60 no máximo, e pesa
uns cinco quilos molhada. Não é possível que cause tanto estrago.
- Ele, e todos os outros que vieram antes, cometeram o mesmo erro
que você está cometendo agora. Subestimaram Rox. Escuta, Drake. - Ele se
inclina por cima da sua mesa para me olhar com a expressão grave. - Alguém
mimada. Boa sorte para você e me liga quando puder tomar uma cerveja, sem
trazer estrelas pop de brinde. - Bato com as mãos nos joelhos e me levanto,
indo em direção à porta aberta o mais rápido que a etiqueta social me
permite.
Como você espera que eu proteja alguém que não quer ser protegida?
- PIOR! COMO ELE ESPERA QUE EU SEJA PROTEGIDA POR
ALGUÉM QUE NÃO QUER ME PROTEGER?
O objeto da nossa discussão entra na sala como um pequeno furacão e
se posta na minha frente, me encarando com o queixo erguido e os braços
cruzados numa postura desafiadora.
Ótimo, era só o que me faltava.
A fedelha não parece nem um pouco intimidada por eu ser bem uns
30 centímetros mais alto do que ela, e nem que seu corpo inteiro seja da
grossura de um braço meu. Fúria pura brilha nos seus olhos castanhos,
marcados com uma maquiagem preta carregada. Fúria dirigida a MIM, o que
é o melhor de tudo.
Bufo e encaro Justin, apontando para o poodle Fifi raivoso parado
entre nós. - Está vendo?! Esse é o problema. A Tampinha não tem um pingo
de senso de autopreservação.
- Ah! Evoluí de criança mimada para Tampinha? Nossa. Vou ficar
emocionada com tantas palavras doces assim. - Se vira e esbarra no meu
ombro de propósito, com toda a força do seu pequeno corpo.
Além de tudo, a garota ainda estava ouvindo nossa conversa atrás da
porta. Consigo sentir uma enxaqueca começando a subir pela minha testa e
fecho os olhos por alguns segundos, respirando fundo. Esse dia só melhora...
"boboca-cara-de-paçoca".
Jus se reclina para trás na sua cadeira e fecha os olhos, massageando
as têmporas com as pontas dos dedos. - Eu não estou dando opção para
nenhum de vocês. Você... - Volta a nos encarar e aponta para mim. - Me deve
nariz. Algo suave e delicado como... lavanda?! Não, isso não combina em
nada com ela. Não pode ser o seu perfume. Ela deve usar algo como "Chanel
No 666".
- Eu posso fazer da sua vida um inferno, Senhor Hill. - Ela fala isso
como uma ameaça real! Não é bonitinho?! Essa garota não sabe mesmo com
quem está lidando.
Não sou um dos cachorrinhos que saíram correndo no instante em que
a gatinha colocou as garras de fora.
Muito pelo contrário.
Dou um passo para frente, me aproximando ainda mais e quase
tocando seu nariz com o meu, deixando meus olhos passarem tudo que estou
sentindo.
tinha me chamado até lá para um inofensivo Happy Hour, não para cobrar
uma maldita promessa de bêbados feita doze anos atrás.
Tudo culpa da "Senhorita-Livin-La-Vida-Loca-Princesa-do-Pop".
A fúria nos seus olhos castanhos naquele dia me volta à mente e eu
dou um sorriso meio incrédulo, balançando a cabeça, enquanto procuro pela
minha carteira entre as bagunças da mudança. Ela merece ganhar alguns
poucos pontos pela coragem, tenho de admitir. Homens mais velhos, maiores
e mais fortes vacilaram por muito menos na minha presença.
O que só torna meu novo "trabalho" quase suicida, claro.
comprar esse lugar. E nem vou ter pelo próximo mês, de acordo com o
cronograma que recebi junto com o meu contrato.
Eu ia criar raízes pela primeira vez...
Ao invés disso, vou criar uma úlcera.
Mais uma prova de que a vida tem mesmo o senso de humor de um
garoto da 5ª série, "The Worst Day Ever" começa a tocar assim que entro no
meu carro. Pior dia de todos? Jura? Se você não tivesse me contado, eu nem
teria percebido, Simple Plan.
usando o que parece ser um coturno, mas numa versão cheia de brilhos, uma
calça rasgada e algo como uma blusa preta recortada na barriga. Diria que
está pronta para subir ao palco, se não tivesse visto o que ela usa de fato no
palco. Essa é quase uma roupinha de fazer faxina para os seus padrões.
desprezo em 0.3 segundos. - Olá para você também, Senhor Hill. Nossa,
como estou feliz em vê-lo aqui. Meu dia acabou de ficar ainda melhor e mais
reluzente.
Sarcasmo nível hard.
- Achei que estávamos indo para uma turnê, não que fosse fazer sua
mudança hoje, Senhorita Reed.
- O dia em que você for a maior estrela pop do mundo, você pode
opinar sobre a minha quantidade de bagagens. Até lá, mantenha suas valiosas
e queridas opiniões para você mesmo. Obrigada, de nada.
- Manterei com prazer. Só por garantia, podemos não falar mais nada,
inclusive. - Cruzo os braços. - Por que não espera no carro, enquanto eu
carrego todas essas suas pequenas e singelas malas?
Ela se vira para trancar a porta e joga a chave dentro da sua mochila
respiração...
- Acredite, se tivesse de apostar em alguém para ganhar essa batalha,
apostaria em mim. - Falo baixo e com o mesmo tom de voz que usava para
coagir suspeitos em interrogatório. - Então, poupe os nervos de nós dois e
ENTRE. NO. CARRO.
Ela simplesmente me ignora e pega uma das malas, arrastando com o
queixo erguido pelo caminho de pedras da entrada, tentando esconder o
esforço que está fazendo. Reviro os olhos e pego duas numa mão, uma na
outra, e passo por ela com a maior tranquilidade, a ouvindo murmurar alto o
tentando encaixar todas no pequeno espaço. Só então ela chega com a última,
limpando o suor da testa e fazendo questão de apoiá-la com tudo bem em
cima do meu pé.
- Oh! Que desastrada! - Faz uma expressão doce, mas seu sorriso de
escárnio e o brilho diabólico no seu olhar a entregam. - Me desculpe.
- Não. Foi. Nada. - Rosno entredentes, enquanto conto mentalmente
até dez em alemão.
Eins... Zwei... Drei... Vier...
explicar.
Quem deu esse título de Princesa do Pop para ela, afinal?
Sério. Queria saber o que se passou na cabeça dessa pessoa.
“Tampinha Mimada do Pop” combinaria muito mais.
Dá outro sorriso maligno e bate a porta com toda a sua força, fazendo
o carro estremecer e eu fechar os olhos, só de imaginar o sofrimento que ela
acabou de infligir ao meu pobre bebê.
- Oh, me desculpe mais uma vez. Como eu estou desastrada hoje.
Neun... Zehn... Elf...
Respiro fundo, coloco a marcha no Drive e saio em direção ao
aeroporto.
São só 3 km, Drake. Só 3 km.
Espera. Isso não foi uma piada? - Seus olhos são só duas fendas agora. - Por
qual motivo eu teria você no meu rádio, se eu já tenho que te aturar no mundo
real? Não curto essa parada de masoquismo, mulher.
Ela não responde nada, só pega o seu celular e faz alguma
do Pop
Drake
ficarem brancos.
Raiva não é um sentimento saudável, Drake.
Úlcera é uma doença séria, Drake.
Não enfarte antes de comprar a sua fazenda, Drake.
- Eu nunca encostaria em uma mulher, Tampinha. NUNCA. Então,
fique à vontade para tentar me matar. Se eu posso dar uma sugestão, basta
continuar tocando Britney Spears que eu mesmo faço o serviço por você.
Pelo canto do olho, vejo seus lábios tremerem um milímetro. Ou está
fazendo uma careta de desgosto, ou está tentando segurar o riso, das duas
uma. - Você é sempre tão bem-humorado assim, Senhor Hill?
- Você é sempre tão sarcástica assim, Senhorita Reed? - Retribuo no
mesmo tom debochado.
- O que eu posso dizer?! Você desperta o melhor de mim.
- Se esse é o seu melhor, mal posso esperar para conhecer o seu pior. -
O celular pula para outra música da boa e velha Britney e eu consigo apertar
ainda mais o volante. Se começar a tocar Mariah Carey, eu não respondo por
mim.
Tinha gostado dessa ideia. Na verdade, de todas as coisas que falou até agora,
essa foi a única que eu gostei.
Antes que possa ralhar com ela por estar sujando meu carro e pelo
comentário espertinho, dou um suspiro resignado e me controlo, engolindo
em seco. Tecnicamente, apenas tecnicamente ela é a minha "chefe", e numa
coisa a Tampinha tem razão. Não falar, nem ter de ouvi-la falando, são
ótimas ideias.
Vamos todos ficar em silêncio e relaxar ao som maravilhoso da nossa
amiga Britoca.
Me concentro no tráfego a minha frente e, para o meu alívio, o
aeroporto surge no horizonte antes que mais uma canção "inesquecível"
comece. Paro na guarita de segurança em um dos portões laterais, como Jus
orientou, e passo as informações do voo para o guarda de plantão. O homem
desaparece por alguns segundos, provavelmente checando se nossa entrada
está liberada e eu tamborilo os dedos no volante, evitando encarar você-sabe-
quem.
- Tudo certo, senhor? - Pergunto quando ele volta para perto da minha
janela.
- Sim, tudo certo. Eu só... - Parece encabulado e eu ergo uma
sobrancelha.
- Você só...?
para você, garota. Continue arrasando! - Pisca para a tela e devolve o celular.
- Espero que ela goste.
- Gostar?! Ela vai amar e gritar por uns cinco minutos. Muito
obrigado, senhorita. Obrigado mesmo.
te vejo. - Aperto sua mão e sorrio. Gostei do homem desde a primeira vez que
o vi. Ele já merece ser canonizado só por aguentar Jus em tempo integral. E
ainda faz isso por vontade própria.
- Confesso que quando meu Tuquinho contou quem seria o novo
segurança, eu gargalhei por uma boa meia hora. O infame Drake Hill se
juntando ao nosso Bonde do Pop! Quem diria?
Jogo meu corpo para trás e dou uma gargalhada. Bonde do Pop... já
imagino uma versão da "Carreta Furacão" com Roxy Reed vestida de
Homem-Aranha. Ai, ai. Acho que é isso que as pessoas querem dizer com
"ver o lado bom das coisas".
- Seu marido tem um certo prazer doentio em me ver sofrer, Johnny.
Tem sido assim desde que eu ganhei o posto de representante da classe na
tão jovem quanto a Tampinha, mas não tem a nuvem de ódio pairando em
cima da sua cabeça.
- Obrigado, senhorita. Acho que vou precisar de toda sorte que puder
mesmo. - Não preciso nem olhar para Roxy. Sei que está revirando os olhos
e todos olham para a dona do “Bonde” com caretas que misturam espanto e
diversão. - Que foi?! Já estamos atrasados!
- Desde quando você liga para horários? E pior, desde quando você
tem pressa para DECOLAR?! - Jus revira os olhos para ela, mas vai para a
sua poltrona ao lado de John. - Sente-se, Drake. Como Roxy lembrou tão
docemente, precisamos decolar.
- Ok. - Olho ao redor, procurando uma poltrona vaga, até que meus
olhos caem no fundo do avião.
Eu dou um beijo em quem adivinhar qual o único lugar vazio.
O ÚNICO.
Droga de dia nublado.
Ando até o fundo do pequeno avião, resmungando xingamentos em
Braços.
Eu sempre tive uma coisa com braços masculinos.
As ondulações da pele, as veias, a força que eles representam... Não é
Jus e John mais cedo. Até sorriu um pouco... Nunca imaginaria que os
músculos da face dele seriam capazes de fazer esse movimento!
Ok, já estou ficando obsessiva.
Me forço a parar de encará-lo e olho para o teto do meu jato. Meu
jato... Os tons suaves de bege e off-white que eu tanto gosto, os mesmos que
decoram a minha casa e me ajudam a sentir como se tivesse um pedacinho do
meu lar, mesmo estando longe.
Imagino o que meus fãs diriam se conhecessem minha casa de
vejo que meu novo segurança ligou seu Kindle, colocou óculos de grau e está
lendo compenetrado, com fones nos ouvidos.
Ok. Braços, óculos e livros são demais para mim. Até se o cara em
questão for - ECA! - Drake Hill.
está limpa, isso quer dizer que ela não está limpa, né?!
Quando sinto meu estômago subir e descer de volta para o lugar,
percebo que estamos no ar e relaxo um pouco. Acho que o pior já passou.
Abro os olhos e encontro Drake me encarando com o cenho franzido.
- Você está bem?
Inferno. Por que não continuou prestando atenção no seu livro?!
Tinha de presenciar isso?!
- Nunca estive melhor. E você, como está? A família vai bem?
Sua expressão preocupada se transforma em uma de impaciência. Ele
Drake essa noite. Algo me diz que não vai bastar piscar os meus olhinhos
para ele, como fazia com os outros.
Uma aposta que você perde, uma única dança inofensiva de topless e
pronto, já mandam o James Bond para ser sua babá.
Já perdi as contas de quantas vezes tentei explicar para Jus o porquê
de eu fazer tudo isso. Eu só quero...
Um solavanco no avião me faz perder a linha de raciocínio e eu
agarro os braços da poltrona com todas as minhas forças. Ok, foi só uma
e ele sente meu desespero, me apertando mais forte. - Não no meu turno.
Se não estivesse totalmente em estado de choque, teria rido.
- Eu não quero morrer antes de realizar meu maior sonho... - Soluço e
mais lágrimas correm livres pela minha bochecha. - Eu não posso... Eu...
Sinto o avião dar outro pulo, mas ele me ergue bem na hora, me
ajudando a não sentir quase nada do movimento e começando a fazer carinho
nos meus cabelos, num movimento suave de vai e vem. - Qual é o seu maior
sonho? Me matar?
"Eu não posso morrer antes de cantar com o Justin Direction, ou o One
Bieber. Ou seja lá de quem as pirralhas gostam hoje em dia."
"Eu não posso morrer antes de acabar com todo o estoque de glitter do
mundo."
Qualquer coisa serviria, menos isso. Eu... Eu... Não sei como
respondê-la.
Eu nem sei o que pensar.
Na verdade, eu sei.
Eu entendo perfeitamente o que está sentindo agora, mas não esperava
que isso viesse DELA. A Tampinha conseguiu me deixar ainda mais confuso.
O que tem por baixo de toda essa maquiagem pesada, afinal? Numa hora,
parece que tortura filhotinhos de coala por diversão. No segundo seguinte, ela
mesma parece um filhotinho de coala assustado.
achasse cuecas no chão e pratos na pia. Aposto que iria até o inferno me
caçar, só para puxar minha orelha.
Espero que ela deduza que o testamento está no cofre e que a senha é
a data do seu aniversário. E por que eu estou pensando nessas coisas?
Deveria estar pedindo perdão pelos meus pecados, isso sim. Pedindo para que
meu coração pare de bater tão acelerado, quanto está batendo agora. Pedindo
para que essa maldita turbulência acabe e Roxy volte a torturar filhotinhos de
coala em paz.
fazer... O dia em que Paul morreu... O casamento de Jus... A fama que ganhei
na CIA... O dia em que finalmente tomei coragem de pedir minha
aposentadoria... Os olhos castanhos de Roxy me encarando desafiadores...
Engraçado como dizem sempre que você só tem uma vida.
Não concordo com isso.
Cada dia é uma nova vida que se inicia, uma nova chance de
recomeçar e fazer diferente. O momento em que compreendi todo esse
conceito, foi o momento em que pedi minha aposentadoria.
não imagina que seria assim. Nem que seria tão rápido.
Do mesmo modo como tudo começou, tudo cessa. Sinto o exato
momento em que deixamos para trás a zona de turbulência e a aeronave se
estabiliza.
tivesse entendido onde estava, e o que estava fazendo. Seus olhos estão
vermelhos, assim como suas bochechas, o desafio da sua expressão perdeu
espaço para a confusão. Ela olha para a mancha na minha camisa, depois para
o meu rosto e deixa escapar um suspiro.
- Obrigada por... isso. - Aponta para o meu colo, toda constrangida.
Ok, agora estou assustado para valer. Será que está em choque ainda? - Mas
se disser uma palavra sobre isso para alguém, eu faço steak tartare com uma
parte bem específica da sua anatomia, usando só o meu alicate de unha.
trabalho, Princesa.
- Eu quase morri dois minutos atrás, não estou disposto a lidar com
vocês dois agora. - Nosso chefe volta para a frente do avião balançando a
cabeça e nos deixando a sós.
Roxy tira os maiores óculos de sol que já vi e coloca no rosto, junto
com fones de ouvido também de glitter, numa clara mensagem de que quer
ignorar o mundo.
Tudo bem por mim.
Pego meu Kindle que acabou caindo no chão quando ela veio se jogar
Que droga.
Que droga, que droga, que droga.
Eu e minha boca grande!
de verdade.
Só acho que seria um pouco mais fácil me concentrar no trabalho se
não sentisse um certo olhar de águia sobre mim, me queimando de dois em
dois minutos.
Estou começando a achar que fugir dele hoje vai ser mais difícil do
que pensava.
Tudo bem. Se tem alguém que dá conta, esse alguém sou eu.
Retribuo seu olhar com uma expressão que diz claramente “Desafio
aceito, Babaca”.
**
Troco minha roupa do voo por um vestido curto e preto, coloco botas sem
salto que vão até o meio das minhas coxas e retoco minha maquiagem. Meus
olhos ainda estão inchados da minha crise de mais cedo, mas não quero
pensar nisso agora.
Ligo a TV no Disney Channel, deixo todas as luzes do quarto acesas e
coloco para rodar no sistema de som uma gravação da minha última ligação
com a minha mãe, seguida por uma gravação do meu secador de cabelo
funcionando e depois outra ensaiando com o violão.
Pego meu celular, meu cartão e escondo os dois no meu decote. Com
cegando por alguns segundos... Mas eu não preciso enxergar para reconhecer
a voz rouca que me recebe.
- Boa tentativa, Princesa.
- Ah, você só pode estar de brincadeira comigo. - Vejo Drake cruzar
aquelas toras que chama de braços e estreitar os olhos para mim.
- Eu avisei. Seus dias de bares de motoqueiros, capas de tabloide e
terrorismo contra pobres seguranças inocentes acabaram.
Dou um suspiro resignado e me jogo na cama macia, sentindo o meu
cheiro da liberdade voar para fora da sacada aberta, carregado pelo meu
caminhar combinando com o tom das suas palavras. - Imagina qual foi a
minha surpresa quando encontrei uma reserva em nome de uma Senhorita
Mulan?!
Pronto! Seu tom de deboche apaga as calças de moletom da minha
cabeça e eu consigo voltar a encará-lo com raiva, sustentando seu olhar e
erguendo o meu queixo. - Isso não quer dizer nada, Hill.
- Quer dizer tudo. Quando você dá uma olhadinha na planta do hotel e
repara na coincidência do quarto da Senhorita Mulan ser ao lado da escada de
Me levanto e paro na sua frente, cruzando os braços para imitar sua pose de
durão. - E para deixar claro, essa sua carinha de lobo mau não vai me parar.
A impaciência dos seus olhos perde espaço para outra coisa...
Curiosidade talvez? - Por que você faz essas coisas, Princesa? Por que essa
a porta do meu quarto. O quarto real dessa vez. Me tranco e olho ao redor,
imaginando o Babaca dormindo no pequeno sofá ao lado da janela, usando
uma camiseta regata que deixe ver seus braços...
NÃO.
PÉSSIMA IDEIA.
PÉSSIMA. IDEIA.
Desligo a gravação do meu secador de cabelo e pego o cardápio do
serviço de quarto, me conformando com a noite enfadonha que terei pela
frente. Sei que não adianta tentar sair hoje de novo, mas amanhã é dia de
show.
Muita gente, muita muvuca, muitas distrações.
E muita liberdade para a Roxy.
Capítulo 07 - Você está tendo um aneurisma?
Drake
para mim, antes de voltarem a conversar com as cabeças unidas. Gosto dessas
duas, parecem tranquilas. Não exalam cheiro de problema, como todas as
outras. - Bom dia, Justin. E John, você está radiante essa manhã. - Escolho
justo o lugar ao seu lado para me sentar, só pelo prazer de ouvir Jus rosnando.
levar o café da manhã para ela? Preciso definir o setlist com a banda antes de
irmos para a gravação.
Ergo uma sobrancelha para ele. - Além de babá, eu sou garçonete
agora? Qual vai ser a minha próxima atribuição adorável? Manicure?
- Desde que você tenha esmaltes de glitter em algum dos bolsos do
seu terno, não vejo porque não. - Seu sorrisinho de deboche é irritante.
Eu sei que seria besteira Roxanne descer aqui, com todas essas
meninas que obviamente descobriram onde a Tampinha está hospedada e
lotam as mesas do restaurante, mas não consigo evitar a frustração por ter me
menos, um aumento por isso, Justin. - Termino o meu expresso preto num
gole só e saio da mesa, não sem antes dar uma piscadinha para John, que sorri
para mim.
- E eu espero que você se comporte, mas nenhum de nós pode ter o
que quer, aparentemente. - Ele grita para mim e eu sorrio.
Olha aí o "lado bom" atacando de novo. É “bom” poder passar um
tempinho de qualidade com Jus e toda sua rabugice. Senti falta mesmo desse
cara nos últimos anos.
...
Linda.
- Você está tendo um aneurisma? - Ela pergunta com uma careta, me
arrancando à força dos meus pensamentos totalmente errados.
E assustadores.
E preocupantes.
Não, camarada. Não vá por esse caminho.
- Eu quase ficaria mais tranquilo se esse fosse o caso mesmo. -
Balanço a cabeça, tentando colocar meus pensamentos de volta num lugar
seguro. - Por que não queria abrir para mim? O que está escondendo aí?
- Não é óbvio, Babaca? - Ela abre os braços e dá um passo para mais
perto da porta, me deixando vê-la melhor e me obrigando a sufocar um
gemido de sofrimento. Ok, não adianta negar. Ela é linda e não tem nada que
eu possa fazer quanto a isso, além de reclamar. - Eu não estou pronta ainda.
- Realmente, foi até um pouco difícil te reconhecer sem a nuvem de
glitter ao redor. - E, pelo bem de todo mundo, espero nunca mais vê-la
assim. - Vamos sair em meia hora.
- Eu sei, mal posso esperar para passar meu dia todinho com você ao
meu lado. - Me dá um falso sorriso doce. - Nem sei como vou aguentar viver
essa meia hora, sem deixar a saudade me consumir.
Decido ignorar sua atitude, pego a bandeja do chão e entro sem dar a
- Não posso prometer nada. Ter você invadindo meu espaço pessoal é
tudo que eu preciso para começar bem um dia. - Outro sorriso de escárnio e a
porta bate na minha cara, não atingindo meu nariz por milímetros.
MILÍMETROS!
Volto para a sala de café da manhã precisando urgente de mais uma
dose de cafeína. Uma dose cavalar de preferência.
Tudo bem. Eu sabia que Roxanne não era feia, mas nada poderia ter
me preparado para o que estava realmente por baixo da maquiagem pesada e
das roupas chamativas. É quase como se ela se escondesse... Ou usasse um
disfarce...
- E ele voltou inteiro. Aleluia, irmãos! - A mesa está vazia agora, a
não ser por Justin com seu notebook na frente e sua vitamina de frutas ao
lado.
silenciosa.
"Sim, eu sou incrível. De nada. Também te amo."
- Tá, tá. Chega de melação. - Quebro nosso momento voltando a
mastigar meu bacon feliz e espetando algumas salsichas de brinde. - Você
sabe que se Roxy me matar, vai ter de acertar as contas com a minha mãe.
- É uma sorte que ela goste mais de mim do que de você então. -
Droga, Jus tem sempre resposta para tudo. Mostro o dedo do meio para ele,
que sai da sala gargalhando e balançando a cabeça.
Idiota.
Termino meu café, meus bacons, como uma banana e olho no relógio
pendurado na parede do restaurante. Está na hora de mais um pouco de
tortura. Levanto e aliso meu paletó, sentindo os olhares de todas as fêmeas
em mim.
resolvido.
Na entrada do hotel, suspiro ao ver que a multidão só aumentou e nem
consigo enxergar o final da aglomeração, que dirá a van que deveria estar nos
esperando. - Excelente, simplesmente excelente.
Ao meu lado, sinto o corpo de Roxy ficar tenso. - Não imaginava que
teriam tantas pessoas.
- Vamos lá. Quanto mais cedo começarmos, mais cedo terminamos. -
Tiro a mochila dos seus ombros e coloco nos meus, me postando bem ao seu
no meu peito. Eu só consigo pensar em chegar a esse bendito carro logo, não
me sinto no controle da situação aqui e não tem nada que eu odeie mais.
Gritos, flashes e mais pessoas nos jogando de um lado para o outro,
como se estivéssemos nos afogando em um mar de gente.
ainda consigo ver o pavor brilhando por trás do seu olhar desafiador e o jeito
como seus dedos estão trêmulos.
- Porque já que estou aqui, vou levar esse Karma até o final. Não
quero correr o risco de te encontrar na próxima vida. Você, provavelmente,
vai voltar como barata e eu teria que voltar também.
Ela estreita os olhos para mim até virarem fendas. - Eu te odeio,
Drake Hill. - Sorrio feliz e aliviado, sentindo meu corpo relaxar. Agora sei
que está tudo bem. Então, se vira para Justin, que acabou de desligar o celular
depois de gritar a plenos pulmões com o gerente do hotel sobre as óbvias
- Ele não pode. - Roxy interrompe, se esticando por cima de mim para
lançar um olhar duro para a sua guitarrista. - Temos um compromisso.
Tento segurar uma gargalhada que está prestes a explodir da minha
garganta. - Nós temos?
- Sim, nós temos. - Ela fala com firmeza e minha diversão só
aumenta.
Ah, Tampinha. Se nós tivermos algum compromisso de verdade, eu
juro que uso tutu de balé por uma semana.
- Que compromisso vocês dois têm? - Grace pergunta desconfiada.
Fick Dich!
Acho que nunca quis tanto rir na vida!
- Lembro, claro que lembro. É minha cara insistir para dar... aulas
para você. - Viro para a pobre Grace, que está fazendo um biquinho de
decepção. - Podemos malhar amanhã.
- Combinado! - Ela responde antes que a Princesa consiga inventar
qualquer outro compromisso fictício e volta para o seu banco.
A van estaciona e eu desço na frente, estendendo minha mão e
sussurrando quando ela passa. - Você vai me explicar essa mais tarde,
Tampinha. Durante a nossa... "aula".
Ao invés de me responder, ela só crava suas unhas na palma da minha
mão, me fazendo sorrir ainda mais. Oh, cara. Esse papo vai ser, no mínimo,
divertido.
Para a minha sorte e para o bem da minha sanidade, a entrevista
transcorre sem percalços. Roxy sorri, é simpática com todos e não há
ninguém com atitude suspeita no estúdio. Antes dela começar a cantar com a
banda, eu me dou alguns minutos de sossego e tranquilidade no camarim
- Estou pronta para ir, Babaca. - Ela joga algo em cima de mim, que
eu descubro ser sua mochila.
O tempo passa mais rápido aqui na glitterlândia? Parece que faz dois
segundos que Jus saiu. Eles deveriam mandar todos os agentes especiais
Pensa só, em último caso, eles podem seguir seu rastro de glitter e nos achar.
Dou um gemido de sofrimento, me viro de costas para ele e começo a
bater com a testa na parede. - Eu preciso sair daqui! - Outra batida. - Eu
preciso sair daqui. - E mais uma, só para eu ter certeza de que isso não é um
pesadelo. - Não quero ir para cadeia por homicídio. Sempre pensei que minha
primeira passagem seria por "Atentado Leve ao Pudor".
- Tudo bem, eu deixo você alegar legítima defesa.
- Você não tem que deixar nada. Você vai estar morto, camarada.
- A previsão é de uma hora para tirarem a gente. - É... Ainda bem que
fiz xixi antes de entrar aqui. - A luz precisou ser cortada de emergência por
uma suspeita de curto circuito. Não podem ligar o gerador, para não gerar
faíscas. Como sempre, a vida fazendo o que sabe fazer de melhor.
Se divertir às nossas custas.
É isso aí.
Bom, fazer o quê?! Sento no chão e cruzo as pernas, me conformando
com o fato de ter de esperar.
eu me controlo ao máximo para não rir. - Por que não canta um pouco de
Britney Spears para o tempo passar mais rápido?
- Cuidado com o que deseja. Posso fazer todos os seus pesadelos
virarem realidade, Babaca.
Ele coloca minha mochila no chão com cuidado e tira seu paletó,
dobrando-o com perfeição. Não, o homem nem é metódico. Imagina.
- Mais alguns dias e vou acabar acreditando que meu nome é Babaca
mesmo, sabia?
- O que te faz pensar que ainda estará aqui daqui alguns dias?
- Aceita que dói menos, Princesa. Eu não vou a lugar nenhum. - Me
encara com seus intensos olhos verdes e a expressão grave. - Não sem você.
- Isso é o que nós vamos ver...
Ele senta na minha frente, encosta na parede e estica suas pernas
longas, que atravessam todo o espaço, chegando até o meu lado. Reparo nos
seus sapatos sociais caros, de bom gosto e, de brinde, consigo ver que calça
44.
Prometo para mim mesma que não vou pensar no que isso significa
Britney Spears.
O homem tem um caso sério de aversão à Santa Brit, coitada. - Não.
A minha música preferida é Iris, do Goo Goo Dolls. - Ele estreita os olhos
para mim, como se estivesse tentando me decifrar. Não vai achar nada aqui,
amigo. Falei a verdade dessa vez. - Me conta, por que Nothing Else Matters é
sua música preferida?
- Gosto da letra. A parte da confiança, de não se importar com o que
os outros dizem, de não se abrir e de se sentir perto das pessoas que gosta,
sobre você.
Ok. Ainda bem que não apostei meu coturno preferido.
Como ele faz essas bruxarias de sempre descobrir TUDO sobre mim,
inferno?!
algum joguinho bem de gente velha, tipo Mahjong ou Paciência. E sabe o que
é pior? - Ergue uma sobrancelha para mim. - Nem seu papel de parede deve
ser de glitter.
Não é.
É a foto de um coala bebê e ele nunca vai saber disso.
- Você é uma pessoa estranha e perturbada. Para de usar tóxicos, cara.
Vão acabar com a sua vida.
- Vamos tirar a prova então. - Ele se estica por cima de mim e pega o
aparelho do meu lado num movimento ágil, antes mesmo que eu pense em
impedi-lo.
- O quê?! Não! Me devolve isso, Hill. - Me jogo por cima do seu
corpo gigante e tento recuperar o pobre IPhone. - ME DÁ AGORA.
- Só depois que eu jogar algumas partidinhas de Paciência. - Ele
continua se esquivando e eu continuo atacando, sem sucesso.
- ME DÁ LOGO, IMBECIL!
Rolamos juntos pelo pequeno espaço por alguns segundos, até que eu
acabo embaixo do seu corpo, nossos rostos próximos e as respirações
traços fortes...
Ele é lindo.
Droga...
Ele é MUITO lindo.
O ar fica pesado entre nós e eu o sinto se inclinar mais em minha
direção. - Roxy... - Meu nome sai da sua boca em um sussurro fraco, que
reverbera dentro do meu corpo na forma de um arrepio.
Levanto um pouco a minha cabeça, sentindo alguma força me puxar
Eu quero beijá-la.
Com Roxy assim, embaixo de mim, de olhos fechados, totalmente
entregue, só consigo pensar em como eu queria muito beijá-la. Descobrir se é
tão doce quanto acho que é... Ouvi-la sussurrar meu nome... Sentir seu corpo
reagir ao meu toque...
Me inclino mais para perto do seu rosto, esquecendo de todos os meus
motivos, todos os meus argumentos, todos os meus poréns.
Eu vou beijá-la.
Minha boca resvala de leve nos seus lábios, sinto sua respiração fazer
cócegas no meu nariz e quase consigo sentir seu gosto... quando a luz volta
com tudo e um solavanco coloca o elevador para funcionar.
não seria uma decisão inteligente para nenhum de nós. - Continuo minha
exploração e dou um beijo no seu pescoço, sentindo o cheiro de lavanda
concentrado ali por alguns segundos e vendo sua pele se arrepiar.
Linda...
Antes que eu continue com essa loucura, saio de cima dela e fico em
pé, alisando as minhas roupas. Enquanto trabalho na minha respiração e
coloco meu cérebro de volta dentro da minha cabeça, Roxy continua deitada,
de olhos fechados. - A gente quase se beijou. - Não sei se falou comigo, ou
com ela mesmo.
- Sim. Acho que esse é um bom resumo da situação. - Já estamos no
oitavo andar, é bom que decida se levantar num futuro breve.
- Por que, Babaca? - Não, ela ainda não se mexeu. Acho que quebrei a
meio nublados. - Nada aconteceu. Nada, Princesa. Não tem porque sofrer
com isso. Podemos voltar ao normal agora? Chega de trégua. Esse negócio
não é para a gente.
Me encara de volta de um jeito engraçado, como se estivesse me
vendo pela primeira vez. - Nós dois separados já somos estranhos, mas juntos
é quase como assistir um acidente de carro daqueles bem feios.
- E tem quem diga que você não é fofa ainda. - Tento segurar uma
gargalhada e ela faz o mesmo, o ar entre nós voltando a ficar pesado, meus
olhos caindo para os seus lábios... até as portas do elevador se abrirem e ela
sair andando sem olhar para trás, o celular orgulhosamente firme em uma das
mãos.
Tampinha esperta.
Balanço a cabeça, pego sua mochila, meu paletó e me viro para sair,
dando de cara com Justin me olhando com um sorrisinho esperto. - Eu queria
ser uma mosquinha para ver o que aconteceu aí dentro nos últimos minutos.
- Acredite em mim. Você não ia querer ver NADA que aconteceu
aqui nos últimos minutos. - Passo reto por ele, em direção às saídas do fundo
calma.
Hora de deixar o que aconteceu para trás.
Pego a sua mochila, andando em direção ao saguão e a encontro
entrando na porta que leva para as escadas. Acho que alguém ficou
rosto com desdém, depois deixa seu olhar descer para o meu peito e sua
expressão de desprezo dá uma deslizada sutil.
- Por que você não veste uma camiseta? - Dou um sorriso. Ela pode
até estar rosnando, mas ainda não desviou o olhar.
- Porque estou com calor. - Aproveito para tomar um gole da minha
garrafa de água. - Algum problema com isso?
- Se você não colocar sua camiseta, eu vou tirar a minha. - Os olhos
estão se estreitando de novo... Isso vai ser divertido.
Pensamento errado.
SE eu a beijasse, não QUANDO a beijar.
SE. Apenas um SE.
Acho que já corri demais, está faltando oxigenação no meu cérebro.
continuar olhando nos meus olhos. - O que está falando? Não vejo nenhuma
tatuagem em você também.
- Tenho medo de agulhas. - Dou de ombro e respondo sem me abalar.
- Está falando sério?! - Agora parece um misto de chocada, com
incrédula.
- Talvez sim, talvez não. Viva com esse mistério. - Saio andando para
o grande tatame no centro do espaço. - Então, vamos começar com alguns
alongamentos. Se puder se deitar no chão, eu vou esticar seus músculos da
perna.
"Teremos de descobrir".
Não, não teremos.
Por mais reações estranhas que eu tenha quando ele me olha assim,
sei que a última coisa que quero é descobrir qualquer coisa envolvendo Drake
Hill.
Acho que foi pensando em nós que inventaram aquela expressão
"Deus me livre, mas quem me dera."
Vamos focar no Deus Me Livre.
- Há-há. Muito engraçado, Babaca. - Ele segura minha perna e a força
para trás, esticando os músculos por alguns segundos. Outch!
- Me dê a outra, de preferência sem me deixar estéril no caminho. -
Ufa.
Que calor...
Onde será que eu ligo o ar condicionado desse lugar?
- Não me importaria nem um pouco. Saia com quem quiser, se case e
peça demissão. É um plano perfeito, todo mundo sai feliz. Pense com carinho
na ideia, querido.
Isso aí.
Ele que se ocupe com Grace e me dê sossego.
Me sento de costas para o imbecil, aliviada por não ter de encará-lo e
alongando meus braços com tranquilidade.
- Muito bem, então. Vou falar com ela no show de hoje.
- Está falando sério? - Viro para encará-lo de volta, esperando ver o
que eu faça um dos seus testículos subirem até a sua garganta. Por acidente,
claro.
Fico em pé, sendo imitada por ele, que está ocupado rindo da minha
ameaça e balançando a cabeça.
Idiota.
Se coloca bem na minha frente com toda a sua altura e apoia as duas
mãos na cintura, mudando sua expressão para uma versão séria. Lá vem... Ou
vai brigar comigo, ou reclamar de algo.
- Você já assistiu Miss Simpatia?
Mas hein?! Definitivamente não era isso que estava esperando.
- Acho que não entendi a sua pergunta.
- Além de tudo é surda. - Usa minhas próprias palavras contra mim e
começa a gritar como seu eu tivesse 97 anos. - VOCÊ. JÁ. ASSISTIU. MISS.
SIMPATIA?
Sim, eu sei.
Vou ter que estrangular esse cara.
Mas antes, preciso entender qual o seu ponto aqui.
- Claro que eu já assisti Miss Simpatia. O chocante é você ter
assistido, cara.
- Minha irmã, lembra? Já te contei sobre isso. Acompanha o
raciocínio, mulher! - Estala os dedos no meu rosto e eu avanço, quase
do pé, nariz e... virilha. - Dou um sorriso maligno e ele engole em seco.
- Exato. Gracie Hart estava certa em tudo que ensinou. Vou
demonstrar em você para que entenda os pontos, e depois pode repetir em
mim.
- Você vai me agredir? - Faço uma careta.
- Não, Tampinha. Vou demonstrar. Tem uma grande diferença aí.
- E eu vou poder te agredir? - Fico subitamente animada com essa
história.
- Claro. Vamos ver quanto estrago seus cinco quilos podem causar. -
Com um alicate de unha na mão? Muito estrago. - Para começar, me dá um
enforca leão.
- Muito engraçado. Qual a chance de eu alcançar o seu pescoço?!
- Tá boooooooom. - Vira de costas e se abaixa um pouquinho, me
deixando enrolar o braço na sua nuca. Acho que é mais larga do que as
minhas coxas...
- Muito bem. Agora precisa bater com o cotovelo aqui. - Toca de leve
minha barriga, na linha do umbigo. - Com o pé aqui... - Pisa com suavidade
mira para acertá-lo bem na parte interna da coxa. Só que ele decide se mexer
exatamente nesse momento e eu acabo acertando em cheio os seus...
babaquinhas.
Vejo seu corpo gigante cair no tatame com um estrondo e ele começa
a se contorcer de dor.
Oh-oh.
Acho que alguém não vai ficar muito feliz comigo...
Capítulo 11 - QUERO MORFINA E VINGANÇA
Drake
- FICK DICH!
Essa mulher está decidida a me matar.
No começo, até achei que estava blefando. Aquele história de "cão
que ladra, não morde", sabe? Igualzinho ao poodle da minha mãe, Fifi. Ele
até tentou me morder um dia, mas só o que conseguiu foi quebrar seu dente e
causar um micro arranhão nas minhas juntas.
Foi bonitinho vê-lo tentar se defender com tanta bravura.
Nunca mais vou comparar o pobre Fifi com essa criatura sem
coração.
Fifi lutava justo, mas Roxanne Reed joga sujo e tenho certeza de que
não vai descansar até me ver estéril e morto. Não necessariamente nessa
ordem.
Rolo pelo chão, tentando achar uma posição em que a dor me permita
respirar pelo menos. Aquela vez em que fui torturado pelos mafiosos na
Itália? Fichinha perto disso aqui... Maldita guarda baixa. Nunca subestime
um oponente numa luta, Drake. Nem que esse oponente seja a Tampinha.
- Me desculpa, Babaca. Juro que não era a minha intenção. - Roxy se
desculpando? Agora tenho certeza de que morri e já fui direto para o inferno.
Pelo menos, eu a trouxe para cá comigo.
Não consigo responder nada, só continuo rolando no chão e
- Estou com medo de que você acabe com o que sobrou aqui, isso
sim. Me joga esse gelo e some daqui. Rápido, de preferência.
Para a minha surpresa, ela me obedece e joga o saco no meu peito, só
vejo as luzinhas dos seus tênis piscando em direção à saída. Rox para quando
**
uma espécie de macacão dourado e decotado, com brilhos da cabeça aos pés,
os cabelos castanhos arrumados em cachos, os retornos nos ouvidos e uma
atitude de quem está prestes a dominar o mundo.
Enquanto a escolto até o palco, ouvindo a multidão gritar seu nome,
sinto algo se revirar dentro de mim. Tem alguma coisa diferente emanando ao
seu redor, alguma aura de poder hipnotizante.
Paramos lado a lado na coxia, olhando para a frente, enquanto sua
banda toca a música de introdução. Eu estaria uma pilha de nervos se fosse
ela, mas Roxy parece calma, só observando sua banda com tranquilidade.
Grace anda até perto de nós, piscando para mim e dando uma rebolada na
minha direção, enquanto toca sua guitarra com destreza.
Escuto Roxy bufar e me viro para encará-la, com um sorriso de
deboche ao ver seu biquinho de birra.
carinho. Sai correndo e se joga nos braços de Jus, que a abraça comemorando
pelo sucesso da apresentação. A alegria dos dois é palpável e acaba me
contagiando.
Na verdade, todos estão eufóricos.
Os roadies a cumprimentam com grandes sorrisos, enquanto lhe
entregam toalhas, garrafas e um roupão branco macio. A multidão continua
gritando e a banda também está com a adrenalina a mil, todos se abraçando
alegres.
Gosto dessa sensação... Será que vai ser assim todas as noites?
Poderia me acostumar com as boas vibrações.
Só depois de uns quinze minutos é que consigo acompanhá-la de volta
para o camarim. Nós dois estamos "sozinhos" e eu realmente queria falar
alguma coisa, algo como o quanto ela me impressionou dessa vez.
Paro na porta e abro a boca, só para fechá-la em seguida. Ela olha
para mim com expectativa, acho que também esperando que eu diga algo.
Quando as palavras fogem uma segunda vez, Rox perde a paciência e entra
no seu camarim, batendo a porta na minha cara.
tranquilidade...
Cinco minutos se passam.
Depois dez.
Quinze.
Estou escutando sua voz "cantando" lá dentro, mas todos sabemos que
isso não significa nada no universo da Glitterlândia. Algo não está cheirando
bem aqui.
Ao invés de entrar para confrontá-la, chamo um dos roadies e mando
até Mulan.
- Sim, Madeinusa. É como em Made In Usa, só que tudo junto. Fui
concebida durante uma viagem deles aos Estados Unidos.
- Scheibe, senhorita. Que falta de sorte! - Tem mãe que gosta de
sacanear o filho, não é possível. Por isso, se tiver uma bebê um dia, ela vai
chamar Violet. Delicado, forte e NORMAL. Se for menino, Drake Júnior
resolve bem.
Rimos juntos por uns bons momentos, até que a porta de trás se abre e
Roxy entra. Agora está usando uma peruca loira platinada, o traje chamativo
trocado por calças e blusas pretas, junto com seus infames coturnos de glitter.
- Que bom que chegou, amorzinho. - Seu queixo cai quando percebe
que estou ali, sentadinho esperando por ela e seus olhos se estreitam até
virarem fendas, daquele jeito que eu adoro.
vitória.
- Como você sabia? - Rosna entredentes.
Balanço a cabeça. - Não importa como, só espero que se lembre do
que eu disse que faria, se você tentasse fugir de novo.
Ela fica pálida na hora. - Você não pode estar falando sério.
- Oh, mas eu estou. - Deixo meu sorriso ficar gigante... - Vamos ser
colegas de quarto. Não é incrível?!
Capítulo 12 - Eu não vou dormir no chão
Roxy
- Ah, vai ser ótimo... Podemos mesmo assistir Keeping Up With the
Kardashians, enquanto eu faço tranças no seu cabelo e comemos sorvete de
abacaxi direto do pote. - Ele bate palmas animado, fingindo uma voz afetada.
se tornarem realidade.
- Usando minhas próprias palavras contra mim? Muito maduro, Hill.
- Você está atualizando com sucesso o meu repertório de birras. Valeu
por isso, a propósito. - Murmura de volta, deixando seus lábios resvalarem no
meu ouvido. Ignoro o arrepio que subiu pela minha espinha e dou uma
cotovelada nas suas costelas para afastá-lo.
- O próximo passo é atualizar a sua carteira profissional. - Me afasto
ainda mais, indo para a outra ponta do banco. - Vou te mandar uns avisos de
emprego com vagas para “Babaca Profissional Com Experiência”.
- Você é tão boa para mim, Princesa. O que seria da minha vida sem
você? - Ele só sorri mais e se inclina para falar com a motorista. - Pode parar
na entrada de trás, por favor? Tem algum famoso hospedado no hotel e está
frente do carro, abrindo a porta para mim e estendendo a mão para me ajudar
a sair. Eu pego seus dedos nos meus e ele aperta com força, encaixando meu
braço na dobra do seu cotovelo, como um cavalheiro antigo.
- Com medo que eu fuja de novo? - Pergunto em tom de deboche.
- Não. Apenas desfrutando da agradável sensação de ter você ao meu
lado. - Dá um sorrisinho espertinho e eu cravo as unhas na sua pele. Mesmo
por cima do terno, ele faz uma careta.
Ótimo.
Não vou me abalar. Não vou dar esse gostinho a ele. Continuo
comendo sem encará-lo e SEM OLHAR PARA OS SEUS BRAÇOS.
Eu NÃO estou olhando para os seus braços pelo canto da minha visão
periférica.
Não estou.
Ele começa a comer com calma, mastigando devagar, também sem
me encarar. Ok, acho que estamos mais estranhos do que o “normal”.
Nenhum risoto e nenhuma salada são tão interessantes assim...
estou parecendo mais “blé” ainda. Bom, é o único pijama que eu tenho.
Paciência.
Volto para o quarto e o encontro já na cama. Deitado. De óculos de
grau. Lendo seu Kindle. AINDA SEM CAMISA. AH, QUAL É?! Deuses dos
Roxanne. - Ele fecha os olhos e parece começar a contar em... Isso é alemão?
Não importa.
- EU DORMIRIA COM DOZE PESSOAS TRANQUILAMENTE
AQUI, MAS NÃO DORMIRIA COM VOCÊ. - Ando até o seu lado, o pego
desprevenido e puxo sua coberta com todas as minhas forças, o fazendo rolar
para o chão com tudo. No meio do caminho, acabo tropeçando nas cobertas
também e me desequilibro. Ao invés de me deixar cair de cara no chão, ele
rola seu corpo e se coloca embaixo de mim, amparando a minha queda.
Sentindo os pelos do seu peito embaixo das minhas mãos, seu coração
acelerado, seu cheiro de banho recém tomado... tomo mais uma das minhas
decisões impulsivas. Aquelas pelas quais eu sou tão famosa...
Eu o beijo.
Capítulo 13 - Esses-dois-estão-ainda-mais-estranhos-que-o-
normal
Drake
obriga a sair rolando pelo chão para evitar que sua Alteza Real quebre o
pescoço. Seu corpo pequeno cai em cima do meu peito, me fazendo perder o
ar por um segundo. Ugh!
Eu a seguro pela cintura e seu rosto paira a milímetros do meu, sua
respiração fazendo cócegas nos meus lábios, meu olhar caindo para a sua
boca de cereja. Oh-oh... Isso não vai acabar bem.
Engulo em seco e sinto um calor subir pelo meu peito, enquanto
examino seus traços delicados.
Linda.
Tão linda.
E assim, sem me preparar antes e sem aviso prévio, me atropelando
como faz desde o dia que a conheci... ela me beija.
Ela me beija com a mesma intensidade com que faz tudo na vida.
Segura meu rosto com as duas mãos, crava suas unhas na minha pele e me
reivindica com a sua língua. Não é só a cor, seus lábios têm gosto de cereja e
eu estou no paraíso. Bem aqui e bem agora, estou na minha própria versão
particular de paraíso. Meus dedos apertam a carne macia da sua barriga,
como sonhei fazer tantas vezes, e a puxo mais contra mim, querendo senti-la
por completo. Querendo matar uma fome que nem sabia que tinha. Um
desespero que nem imaginei que sofria.
Rox passa uma das mãos para a base do meu pescoço, como se todo o
contato ainda não fosse suficiente, e enrosca suas pernas entre as minhas.
Não é só sua boca que está me beijando - é o seu corpo todo.
Scheibe, a garota tem pegada.
E esse cheiro de lavanda... Esqueço de todo o resto e só retribuo com a
mesma paixão. Retiro o que disse antes, eu não estou no paraíso. Estou no
inferno e quero ficar aqui para sempre.
Eu poderia ficar aqui para sempre.
Eu poderia...
Isso foi a campainha?
FOI!
Melhor dizendo, foi a realidade dando um tapa na nossa cara.
Fick Dich...
Roxy se levanta de um pulo e me olha assustada, seu peito subindo e
amasso, e ela abaixa meu cabelo com uma mão, a outra esfregando minha
bochecha como se quisesse apagar alguma marca ali.
Nos encaramos, respiramos fundo e um entendimento mútuo flui por
nós.
para... isso. - Faz um gesto mostrando nós dois e nossos trajes precários.
Dou de ombros. - Ela tentou fugir de novo, então decidi aplicar uma
estratégia mais “próxima” de vigilância, digamos assim. - Bem próxima. Tão
próxima que sua língua se apresentou pessoalmente às minhas amigdalas.
Roxy engasga um pouco, sacando o duplo sentido nas minhas palavras.
Garota esperta.
- Entendo. - Não. Pelo seu tom e sua expressão “esses-dois-estão-ainda-
mais-estranhos-que-o-normal”, ele não entende nada. - E você está sem
maquiagem? Na frente de alguém? - Franze o cenho ao examinar o rosto da
- Você esganaria esse cara, certo Jus? - Ela pergunta dando um passo
para fora do corredor e eu sorrio com a sua ousadia.
- Claro, Roxy. Mas sempre dou um beijinho para sarar depois. -
Responde sem se virar e continua seu caminho, sua risada ruidosa ecoando
pelas paredes.
Ponto para ele. Sacou na hora que alguma coisa rolou...
Acho que teremos uma conversinha particular amanhã.
Roxy fecha a porta com uma batida e se vira já cutucando meu peito
com o dedo, seus olhos em fendas. Antes que ela fale qualquer coisa, eu a
corto. - “Uma palavra sobre isso e dou um jeito de encontrarem esse seu
corpinho musculoso afogado numa poça de glitter. Blá-blá-blá meu alicate
de unhas. Blá-blá-blá steake tartare.” Já sei. Já sei de tudo. - Pego seu dedo
com os meus dentes e dou uma mordidinha de leve, seguida por um sorriso,
antes de dar as costas para ela e voltar para a cama. - Rosne o quanto quiser,
Princesa. Nada vai mudar o fato de que você me beijou. E estaria me beijando
até agora, se Justin não tivesse interrompido tão rudemente.
- ARGH! EU TE ODEIO. - Quase posso ver a fumaça saindo pelas suas
orelhas. - Com todas as minhas forças!
- Pode me odiar, mas adorou me beijar.
- Cale a boca. Só cale a boca. - Começo a responder, mas agora é ela
que me corta. - SE VOCÊ DISSER “VEM CALAR”, JURO QUE TE
minha cabeça, junto com mais mil comentários e mais mil apertos no meu
coração, mas eu decido ignorar tudo e continuo fingindo que estou dormindo.
Drake gostou...
Eu também gostei.
Muito.
Nunca vou ter coragem de admitir o quanto esse maldito beijo mexeu
comigo, nem para mim mesma e MUITO MENOS PARA ELE. Mas sim, eu
senti tudo o que sempre quis sentir e tudo que sempre tive curiosidade para
saber se era real mesmo. Ficar sem chão, arrepios, fogos de artifício, estrelas,
o mundo se encaixando...
Tenho SÉRIOS problemas, não é possível.
Como eu posso inventar de sentir tudo isso justo com Drake Hill?! O
cara que mais me deixa doida, que mais desperta meus instintos assassinos e
que parece gostar ainda menos de mim, do que eu dele. Com todos os
homens do mundo - todos os quatro bilhões ou sei lá - tinha que ser ele?
Devo estar sofrendo um caso grave de carência aguda, só pode.
Ele nem é TÃO atraente assim.
olhos caem sobre ele. Pensei que iria encontrá-lo de costas para mim e não
com o seu rosto a milímetros do meu.
Droga, ele é atraente para danar.
Acho que é a primeira vez que o vejo de perto e sem ter vontade de
agredi-lo. Fica tão jovem assim... Algumas pequenas cicatrizes marcam seu
rosto e vejo alguns pelos já nascendo na sua mandíbula. Deve ter que raspar
todo dia. Sua barba selvagem foi uma das primeiras coisas que reparei
naquela primeira manhã no escritório de Jus. Ele deveria deixar crescer de
Eu juro.
Com meu rosto encostado de leve na sua pele quente, consigo relaxar e
pego no sono na hora...
**
escalei o homem. Não tem uma parte do meu corpo que esteja tocando o
colchão. Estou toda e inteirinha em cima de Drake Hill.
Volto a fechar os olhos. - Por favor, que isso seja um pesadelo. Por
favor, que isso seja um pesadelo. Por favor, que isso seja um pesadelo.
- Bom, acho que não deixa de ser um tipo de pesadelo. Estou sofrendo
aqui, Princesa. Isso eu te garanto. - Se mexe um pouco embaixo de mim e eu
sinto exatamente o tamanho do seu sofrimento.
- Oh, eu quero morrer. - Escondo meu rosto na primeira coisa que
vai.
Acho que nunca falei tão sério na minha vida.
Ele dá um sorriso de canto e ajeita um fio de cabelo atrás da minha
orelha. - Eu aceito “fingir que nada aconteceu” com uma condição.
jeito, antes que essas vontades que estão crescendo dentro de mim saiam para
fora do meu corpo e eu acabe fazendo outra loucura... como beijá-lo de novo.
Eu posso mentir na minha resposta e ele nunca saberia.
- Eu vou saber se você mentir. - Estreita seus olhos para mim. Droga,
eu esqueci desse pequeno detalhe. O homem consegue me ler como se eu
fosse um livro aberto.
- Não vou mentir. Não mais. - Abre um sorriso torto. Quero só ver
como vou escapar dessa agora.
- Muito bem então. “A Saga da Tampinha Em Fuga” vai ser a nossa
planeja sair de cima de mim em algum momento do dia? Achei que tínhamos
uma avião para pegar.
MERDA! Eu ainda estou em cima dele mesmo!
QUAL É O MEU PROBLEMA?!
Jogo as cobertas de lado e levanto de um pulo. - Eu só me distraí. Não
fique pensando coisas. Isso quer dizer, no máximo, que você é confortável.
Só isso. Mais nada.
- Concordo com você. - Cruza os braço atrás da cabeça, exibindo todos,
todos, todos os seus músculos. Bíceps, trapézios e mais alguns que eu não sei
como se chamam, porque eu nem sabia que existiam. ME INTERNEM. - Não
pensei nem por um segundo que você estava adorando ficar deitada em cima
de mim, toda aconchegada feito uma gatinha, se esfregando no meu pescoço
e ronronando. Como isso passaria pela minha cabeça?
Raiva nubla minha visão e só consigo pensar que preciso tirar o
sorrisinho esperto da cara desse imbecil. Pego um travesseiro e jogo bem no
seu rosto, subindo em cima do seu corpo e tentando sufocá-lo. Só tentando
mesmo, porque ele está rindo sem parar da minha tentativa de babaquicídio. -
EU. TE. ODEIO. EU. TE. ODEIO. EU. TE. ODEIO. - E só ri mais e mais.
Desisto do sufocamento e começo a bater nele com o travesseiro, em
todas as partes que consigo alcançar. - HEY! Cuidado com os babaquinhas. -
Ele coloca as duas mãos na frente do corpo, parecendo assustado. Paro o meu
impressionantes ao vivo.
- Você... comprou? Por quê? - Esqueço até da minha vontade de matá-
lo.
- Porque meu trabalho não é só proteger seu corpinho coberto de glitter,
Tampinha. Meu trabalho é me certificar que você seja tratada com o respeito
que merece e que se sinta segura, de todas as formas. - Seus olhos queimam
com determinação e meu coração queima com alguma coisa que eu nem sei o
que é.
Fico olhando para ele, sentindo minha cabeça rodar. - Foi Justin quem
te pediu para fazer isso?
- Justin não sabe e agradeceria se continuasse assim, ou vou ter que
ouvir três horas de sermão sobre tomar “decisões conjuntas”. Só te contei
PAGE CARDIO!
PAGE CARDIO!
Então, anda até sua mala, veste uma camiseta preta, calça seus tênis de
corrida e sai do quarto, me deixando sozinha para digerir essa avalanche de
informações.
E de sensações.
Capítulo 15 - HÁ! Como eu queria acreditar nisso
Drake
naturalmente contra mim, como se meu peito fosse o seu lugar no mundo.
Balanço a cabeça e aumento mais a velocidade da esteira, passando para uma
corrida quase desumana.
Um pouco de atração física é normal, somos os dois jovens e atraentes,
convivendo 24 horas por dia. Vai ser só uma questão de tempo até
aprendermos a controlar esses “impulsos carnais”. Eu sei tudo sobre
autocontrole, fui treinado para isso e sou conhecido por ser perfeito nisso.
Caramba, eu ganhei um apelido que me persegue faz doze anos por conta
toda maquiada, cheia dos glitters e gritando comigo, vai ser mais fácil colocar
minha cabeça no lugar.
Preciso bolar uma estratégia... Nada mais de beijos, nem na bochecha.
Nada mais de mordidas. Nada mais de desejar vê-la sorrindo. E sair correndo
também.
- Vai me contar o que está acontecendo entre vocês, ou prefere que a
minha imaginação criativa continue funcionando a pleno vapor?
- Acredite, nem a mais criativa das imaginações daria conta de criar as
situações que eu e Roxy nos enfiamos nos últimos dias. - Ainda bem que tudo
ficou no passado. Daqui para frente, seremos estritamente profissionais,
cordiais e educados.
HÁ! Como eu queria acreditar nisso.
- Drake... - Sua voz tem um tom de aviso.
- Eu sei, eu sei. Não precisa dizer nada. - “Você trabalha para ela. É
pago para protegê-la. Mantenha os limites”. Meu cérebro sabe de tudo isso,
só precisa se lembrar de explicar para o resto do meu corpo.
- Ótimo. Saímos em quinze minutos. O café da manhã será servido no
Meu movimento chama a sua atenção e ela abre os olhos. Encara meus
pés sem falar nada e a vejo engolir em seco. Visto a meia em um e a
Tampinha acompanha o movimento sem nem piscar. Essa é a mesma
expressão que estava em seu rosto ontem, antes de me atacar.
Scheibe, isso é sexy.
Alguém tem uma coisa com pés...
Fazendo mais devagar dessa vez, cruzo a perna e apoio meu tornozelo
no joelho, massageando meu pé por alguns segundos e a vendo morder os
para manter o seu orgulho intacto. E, droga, eu a respeito ainda mais por isso.
- DRAKE! - Nem piso no corredor e Grace se materializa na minha
frente, se jogando no meu pescoço. - Como está o meu segurança preferido
nessa manhã?!
- Certo. - Descendo com a mala pela escada... essa garota não tem jeito.
Só falta cair e quebrar o pescoço. Tenho certeza que alguma cláusula no meu
contrato me culparia, se isso acontecesse.
Chamo o elevador e espero que todos estejam dentro para entrar
no dia.
- Achei que isso fosse importante para você. - Ergo uma sobrancelha. -
Não seja confusa uma hora dessas da manhã, Roxanne. E desde quando eu
tenho o poder de “deixar” ou “não deixar” você fazer qualquer coisa?
- Desde que se mudou para o meu quarto contra a minha vontade. - Ela
fala entredentes, me dando um olhar ameaçador de quem poderia me rasgar
em pedacinhos. - Não seja irritante uma hora dessas da manhã, Drake.
- Eles são tão fofinhos juntos. Awnt! - John aperta as minhas
bochechas. - Poderia passar o dia todo vendo essa novela.
- E eu poderia passar o dia todo com essas suas mãos em mim. - Faço
minha melhor expressão maliciosa e ele gargalha, ao mesmo tempo em que
Jus me dá uma cotovelada.
- Juro que eu entendo a parte do “Eu Odeio Esse Cara” às vezes, Roxy.
minha bola de glitter, a van é a linha do Touch Down e nada vai me impedir
de chegar até lá.
Só quando já está acomodada com segurança no banco e eu passo o
cinto pelo seu corpo é que volto a respirar. - Não foi tão ruim dessa vez.
- Não é ruim quando tem só fãs. O problema é a imprensa. - Ela alonga
os músculos do seu pescoço e meus dedos coçam de vontade de apertar os
nervos ali.
Uma olhadinha para o céu e eu entendo tudo. Outro dia nublado... outro
dia que não tem como dar certo. - Podemos malhar juntos hoje, Drake?
Ok.
Eu poderia ter vivido sem essa informação.
Capítulo 16 - Não do jeito que você espera que seja esse negócio
de amor
Roxy
- Então, qual deles é o seu ex? - Drake me pergunta assim que paramos
ao lado do palco, vendo a Four Dragons arrasar com seu som pop puro. Eles
ficam melhores a cada dia e estão bem mais maduros do que a última vez que
os vi se apresentando. - Não, não precisa me dizer. Você não namoraria o
baterista, então só pode ser o cara do baixo.
- Por que eu não namoraria o baterista? - Viro para encará-lo com
curiosidade e dou uma risadinha ao ver a sua pose contrariada. Braços
cruzados, sobrancelhas franzidas e a expressão de quem preferia estar em
qualquer lugar do mundo, menos aqui.
- Porque ele não faz seu estilo. É parecido demais com essa sua versão
tresloucada que usa quando está em público. - Dá um passo para o meu lado e
se inclina para falar próximo ao meu ouvido. - Digamos que existam a Rox e
a Anne. A Rox, sua personagem, sairia com aquele cara. Mas a Anne, você
de verdade, escolheria exatamente um mauricinho como o baixista de camisa
rosa. Estou certo?
- Você e todas essas teorias da conspiração - Reviro os olhos, afogando
toda a verdade das suas palavras bem fundo no meu peito. Babaca maldito. -
Eu pegaria Nico fácil, ele parece que sabe exatamente o que fazer com uma
mulher. - Parece mesmo. O olhar malicioso com que encara a multidão
gritando seu nome, ao mesmo tempo em que castiga sua bateria com força,
tudo isso sem uma camisa... Começo a me abanar. - UFA!
- Ah, por favor. Se é para escolher alguém, fique com seu ex. -
Examina Guy com atenção. - Ele parece um cara decente.
- Sim, ele é um cara muito decente mesmo. - Sorrio com carinho para o
meu ex preferido. Terminar com esse lindo foi uma das coisas mais difíceis
que já fiz na vida, mas não tínhamos como continuar do jeito que estávamos.
Não era justo para nenhum de nós... - Foi um grande namorado.
- E por que terminou então? - Mais uma vez não parece estar me
julgando, só parece curioso. Não sei porquê, mas isso só me deu vontade de
arrancar um sapato e tacar na sua cabeça, mandando que seja pelo menos um
pouco desagradável.
esperar para ouvir outra teoria adorável e nada fantasiosa. - Me inclino mais,
sem me deixar abalar pela sua proximidade, erguendo o queixo para encará-
lo.
- Você não estava apaixonada pelo cara. Não o amava. Não do jeito que
você espera que seja esse negócio de amor.
Bingo.
Para a minha sorte, o show acaba e os quatro integrantes da banda
começam a sair do palco, justamente para o lado onde estamos. Quando me
vê, Guy amplia ainda mais o seu sorriso doce e corre na minha direção,
passando seu baixo para trás do corpo e me pegando num abraço de urso.
- Ora, se não é a minha ex-namorada preferida. - Me aperto mais contra
ele, sentindo seu cheiro familiar... o cheiro que já foi meu num passado
distante.
- Olha se não é o meu ex-namorado preferido. - Me afasto apenas o
suficiente para olhá-lo. - Você está lindo.
- E você está maravilhosa, como sempre.
- TAMBÉM QUERO ABRAÇO. - Lexy, a vocalista deslumbrante e
seu cabelo pink chegam ao nosso lado, envolvendo nós dois nos seus braços.
- SANDUÍCHE DE ROXY!
Nunca conheci alguém com uma energia tão boa quanto ela. A não ser
talvez...
de cachorro.
- Me diga uma coisa, Princesa do Pop, Rainha do Glitter e Soberana do
meu Coração. Por que tem um cara gigante ali me olhando como se quisesse
usar minha pele perfeita para fazer um tapete de sala?
- Porque ele é o meu segurança e você acabou de me atacar, homem. -
Nem imagino a expressão assassina que deve estar no rostinho feio de Drake
agora.
- Ops! Foi mal. A Lexy já me explicou que eu preciso avisar antes de
atacar as pessoas. - Ele sai de cima de mim e Guy me ajuda a levantar,
tapa na cabeça ruiva dele, antes de vir me abraçar também. - Roxy, estou
apaixonada pelo seu novo álbum.
Nico concorda entusiasmado, se postando ao seu lado e enxugando o
rosto perfeito com uma das toalhas que os roadies estão distribuindo. -
Estávamos ouvindo juntos ontem à noite e caramba, mulher, você está
mandando muito bem nos vocais.
- Ouvindo juntos, hein? Contem-nos mais sobre isso. - Dan desvia a
atenção do grupo para os dois e todos saem numa discussão sobre o fato de
intensa.
- Intenso é o “Jeito Guy” de dizer que alguém é louco. Aposto que
chama Dan de intenso também. - Dou um beijo na sua bochecha macia,
sentindo uma avalanche de recordações. Não do tipo que dá vontade de
reviver, só do tipo que deixam o coração quentinho. - Deus abençoe a sua
fofura.
Drake franze as sobrancelhas para nossa intimidade natural. Sempre foi
assim entre nós, desde que nos conhecemos quatro anos atrás em uma
premiação. Ele deu seu sorriso de bom-moço para mim e eu soube que queria
tê-lo. Guy pediu meu número de telefone e foi questão de dias até o pedido
de namoro.
Depois, levamos um ano para perceber que funcionávamos muito
melhor como amigos, do que como amantes. Ele sempre me tratou bem, mas
nunca me fez ver estrelas. Compartilhávamos a mesma vontade de nos
apaixonar, só não foi um com o outro, então conversamos e decidimos
terminar. Como é cavalheiro demais, fez questão de dizer que eu tinha
acabado tudo.
Logo depois, sua antiga banda acabou... Ainda bem que a Four Dragons
surgiu porque se tem alguém que merece ser feliz nesse mundo, esse alguém
é Guy Forrester.
- Guy! Te achei. O Josef está te procurando e... - Uma mulher de cabelo
- Não. Sei que foram próximos, mas não rola tesão mais.
- E como você observou isso? - Ignoro a malícia nos seus olhos e a
reação do meu corpo quando ele disse “tesão”.
- Simples. Você não olha para ele como olha para mim. - Dessa vez,
decidiu dar uma mordida no meu ombro, deixando seus dentes passarem de
leve pela minha pele, deixando um rastro de arrepios.
- E depois sou eu que não tenho um pingo de autopreservação no corpo.
- Dou uma cotovelada no seu diafragma, como ele mesmo ensinou e o
Babaca dá um passo para trás, como se tivesse perdido o ar. Bem feito. -
Claro que não olho para você do mesmo jeito que olho para ele. Eu não quero
matá-lo.
Drake dá uma gargalhada, balançando seu grande corpo. - Ah, Princesa.
mente.
- E como eu me encaixo nessa história?
- Vamos fazer com que ele venha ao meu camarim depois do show e
você vai se certificar de que Lizzie veja. - Drake ergue uma sobrancelha.
- Não tem alguém para fazer isso por você, não? - Claro que precisa
reclamar, ou não seria o bom e velho Drake.
- Sua mão não vai cair, Babaca. Anda logo, tenho cinco minutos para
estar no palco. - Ele prende do jeito que pedi e, sem aviso, se inclina para me
dar outra mordida suave, agora na curva lateral da minha barriga. Ao invés de
me afastar, fecho os olhos e suspiro, sentindo a pressão aumentar um pouco,
sua língua fazendo uma carícia suave...
- E mais essa agora?! - Justin entra bem nesse momento, flagrando meu
É oficial.
Eu perdi o juízo.
Completamente.
Eu mordi a Tampinha mais uma vez, mesmo depois de todo aquele blá-
blá-blá de autocontrole. Tudo culpa dessa maldita curvinha na barriga. Solto
sua pele devagar e encaro meu melhor amigo. Pelo seu olhar, acho que
concorda plenamente com a minha conclusão de que enlouqueci de vez.
- Não é nada do que está pensando, Jus.
- Oh, eu aposto que não mesmo. Porque não consigo pensar em nada
que explique isso. - Aponta com o dedo para nós. Ficamos os dois em
silêncio, mil histórias passando pela minha cabeça, uma menos plausível que
a outra. “Tropecei e cai de cara na cintura gostosa dela” não me parece muito
realístico. - Caramba, seja lá o que for, se fez os dois ficarem quietos,
continuem fazendo pelo tempo que for preciso. Mas agora, preciso que vão
para o palco. A banda já está entrando.
Sem falar mais nada e sem nos olharmos, saímos do camarim e
andamos pelos corredores escuros até as coxias. Um roadie entrega o
microfone para a Tampinha e ela agradece com um sorriso doce.
Do tipo que nunca daria para mim.
A multidão começa a gritar assim que a banda toca os primeiros
redor não escutem e entro na sua frente, desviando sua atenção da plateia
gigantesca.
- Porque não tem só fãs meus ali fora. Tem fãs da Carcass, que se
apresentou mais cedo. E eles são uma banda de metal, Drake! - Esses eu
conheço. Grande som, mas acho que não seria esperto da minha parte falar
isso para ela agora. - Depois de mim vem a Black Road, rock puro. E se me
vaiarem? E se jogarem coisas em mim?
- Princesa, eu não sou seu fã, nem fã do seu tipo de música.
voz rouca de Rox. E assim, ela tem todas as 50 mil pessoas na palma da sua
mão.
**
- Hora de colocar nosso plano em ação. - Ela murmura para mim assim
que volta para a coxia, toda ofegante e suada. Ainda estou sentindo minha
cabeça girar por assistir à mais esse show. Droga, a Tampinha é boa. Como
pôde duvidar do seu talento, por um segundo que seja, é um mistério para
mim.
- Tem certeza de que quer fazer isso? - Roubo sua garrafa de água e
tomo um longo gole. Um banho frio também viria bem a calhar agora.
- Tenho. Guy merece um final feliz. Das duas últimas garotas de quem
gostou, uma disse que não o amava e a outra se casou com um dos melhores
amigos dele. - Ela aponta sua unha cheia de glitter para o outro lado do palco,
onde uma ruiva estonteante este ajeitando um retorno na cintura de um cara
que está... usando saia?! Legal.
- Aquela é Chloe Hunter, ao seu lado está Axl, seu marido e baixista da
Black Road. Guy era alucinado por ela e acho que teve uma quedinha por
Lexy também, sem contar o fiasco que eu fui. Acho que todas as mulheres de
quem gosta, acabam não ficando com ele. Se existe uma chance de ajudá-lo a
desenrolar as coisas com Lizzie, eu vou ajudar, Drake.
dá uma olhada na nossa direção que poderia fazer alguns dos meus imediatos
mais experientes se encolherem no lugar. Desaparece nas sombras por alguns
segundos e volta com Daniel - o baterista insano que atacou Rox mais cedo.
Juntos, começam a conversar e gesticular com Lizzie.
Perfeito.
Eles conversam por um tempo até que o ruivo a empurra - empurra de
verdade - para o palco, ao mesmo tempo em que grita. - VAI BUSCAR O
QUE É SEU, MULHER
Talvez ser segurança de Roxy não seja a pior coisa do mundo.
refém.”
Lizzie chega ao meu lado, mas não me encara, só sussurra olhando para
baixo, torcendo os dedos na frente do corpo. - Preciso falar com o Guy, por
favor.
- Acho que não será possível. - Cruzo os braços. - Ele está ocupado.
- Eu preciso mesmo falar com ele. - Sua voz se eleva um pouco e me
encara com chamas nos olhos azuis. Boa menina! Isso aí! Não deixe nenhum
Babaca como eu dizer que não pode fazer algo que quer fazer.
E desculpe pelo que virá pela frente, mas é para o seu próprio bem.
- Olha, moça. Eu não quero ficar traumatizado com seja lá o que os dois
estiverem fazendo lá dentro. Se eu bem conheço minha patroa, uma hora
dessas ninguém tem roupa mais. Ouvi dizer que ela gosta de... - Abaixo
minha voz e sussurro como se fosse um absurdo. - ...morder!
Agora consigo ver o fogo crepitando por baixo da sua superfície
contida. Sem se importar com o fato de que eu poderia impedi-la mesmo se
estivesse com as mãos amarradas nas costas, ela passa por mim e segue reto
para o camarim.
uma desculpa para mandá-la até aqui, eu mudo meu nome para Babaca Hill.
Ele franze o cenho para a expressão irritada da garota, ainda sem fazer
ideia do que está acontecendo. - Está tudo bem com você?
Eu reviro os olhos e vejo Roxy fazer o mesmo. Lerdinhos, dois
lerdinhos.
- Estou bem. Só preocupada porque o show já vai começar e nós ainda
estamos aqui, sabe?!
- Claro, claro. - Parece convencido de que é só isso mesmo. Como
podem não enxergar o que está bem debaixo do nariz deles?! - Gatinha, foi
bom te ver.
- O prazer foi todo meu, gatinho.
Tenho que admirar a classe de Lizzie agora. Ela está vendo uma mulher
sensual ronronando para o seu homem e consegue manter a fachada calma.
ao mesmo tempo em que pega uma almofada do sofá e joga direto na minha
cara.
Nem me dou ao trabalho de desviar, só a pego com uma mão e atiro de
volta, errando seu corpo de propósito, mas ganhando um franzir de
sobrancelhas como resposta.
- Não pode deixar a paz durar cinco minutos, não é? Tem que despertar
minha vontade de te fazer acordar com a boca cheia de formigas.
- Gosto de viver perigosamente, Princesa. Podemos ir? - Pego seu
Ela se apoia no meu ombro e gargalha, gargalha para valer, fazendo seu
cheiro de lavanda flutuar até o meu nariz.
- Primeiro a mordida e agora isso? Devo ter acordado em uma realidade
paralela hoje. - Justin balança a cabeça e segue pelo corredor sem dar uma
Mais uma noite com Drake Hill... que Santa Mariah Carey me proteja.
Meta para a Roxanne: manter minha boca longe do Babaca e manter meu
corpo longe dos dentes desse canibal tarado.
Com esse pensamento firme na mente, destranco a porta com o cartão
que John entregou - não sem antes me dar um sorrisinho malicioso - e jogo
minha mochila num canto, vendo nossas malas já nos esperando lado a lado,
cuidadosamente arrumadas na frente da cama de casal. A única cama de
casal.
- Se Jus sabe que nós estamos ficando no mesmo quarto, porque
DIABOS ele não pediu um com camas separadas? - Drake rosna atrás de
mim.
- Das duas uma. Ou ele esqueceu de alterar a reserva, ou quer botar
Obrigado.
- Você entende de vinhos? - A minha curiosidade leva a melhor sobre
mim.
- Sim. - É a sua resposta simples e objetiva, enquanto caminha até o
armário para pendurar seu paletó em um dos cabides. - Tem muitas coisas
sobre mim que você não sabe, Tampinha.
- Vamos torcer para que continue assim, não é?! - Abro minha mala,
pego meu pijama e faço uma careta para todas as recordações que ele traz.
Mais uma meta para a minha lista: ter certeza de que as duas “princesinhas”
estão bem guardadas onde deveriam. - Não se importa se eu tomar banho
primeiro, não é?! Não?! Obrigada, muito gentil da sua parte.
Entro e bato a porta, sem esperá-lo responder. Quando saio, depois de
Ele também vai para o seu lugar e eu tomo um longo gole do meu vinho, me
deliciando com o sabor da uva que escolheu, junto com uma mordida do filé
macio. Estou no paraíso... - Ok, te odeio um pouco menos agora. - Falo ainda
de boca cheia e o vejo rir, antes de dar a sua primeira garfada.
alguém. Já passeou o suficiente pelo mundo dos famosos para saber que o seu
Príncipe não está lá, então decidiu buscar no mundo dos reles mortais. Tudo
parte do plano “não morrer antes de se apaixonar”.
Continuo mastigando e olhando para baixo, incapaz de encará-lo. Eu
odeio essa sua capacidade bizarra de me decifrar, eu odeio que tenha deixado
escapar essa informação naquele dia do avião, eu odeio que preste tanta
atenção em mim, EU ODEIO ESSE CARA.
- E então? Estou certo? Pelo silêncio, pela força com que está
segurando o garfo e pela expressão de quem está imaginando minha boca
cheia de formigas, eu diria que acertei em cheio. - Drake pega meu rosto nas
mãos e me obriga a encará-lo. - É um ótimo motivo, Anne. Não se
envergonhe dele.
- Uhum. Porque todos os homens vão querer falar com uma garota
acompanhada por um cara de três metros de altura, estalando as juntas e
rosnando para qualquer um que se aproxime.
- Eu me disfarço também e prometo que estarei no meu melhor
comportamento.
Reviro os olhos, escapo do seu toque e me afasto, tentando controlar
meus nervos e começando a andar de um lado para o outro do quarto para me
acalmar.
Eu não acredito que ele entendeu e não me julgou.
Mais do que isso! Ele vai me ajudar...
- Por que, Drake? Por que você me ajudaria?
- Porque sei que fará isso de qualquer forma. Então, vai facilitar minha
desagradável que puder. Seja 100% “Rox”, nada “Anne” e ficaremos bem.
Sim, totalmente pirados.
Faço uma careta e tomo outro longo gole. - Você me prefere sem
maquiagem?
- Não sei. Preciso testar sua teoria antes. - Pego a garrafa da sua mão e
encosto nos seus lábios carnudos, deixando que beba devagar. Seus olhos
assumem um brilho predatório e não desviam de mim nem por um segundo.
Do mesmo jeito que aconteceu comigo, uma gota escorre pelo seu queixo e
sério. Minha vida não deu nenhum espaço para isso até agora. Eu entendi
quando me contou sobre o seu sonho. Eu realmente entendi.
Esse era um dos motivos pelos quais a aposentadoria era tão
importante. Eu vi como a minha mãe sofreu por ser casada com alguém que
tinha essa carreira e eu não teria coragem de fazer o mesmo. Mas agora, nada
me impede de deixar para trás tudo que me prendia, toda a minha fama, e só
me abrir para o que a vida tem de melhor. Encontrar a garota certa e sossegar
o facho - uma mulher inteligente, divertida, sexy e autêntica, com quem eu
me sinta bem.
Ela parece pensar no que falei, me encarando de um jeito engraçado,
como se estivesse me vendo pela primeira vez. Me remexo no lugar,
desconfortável com toda a atenção. Acho que é hora de desviar o assunto... -
Uma pergunta por uma resposta. Me conta como seria o seu “Príncipe” dos
sonhos? O seu “Senhor Tampinha”? O “Rei do Glitter”?
- Te garanto que ele não seria um Babaca. - Minha tática funciona e ela
parece voltar ao normal, revirando os olhos e fazendo sua expressão de tédio
para mim. - O “Rei do Glitter” seria alguém sólido e confiável, mas que ao
mesmo tempo faça meu coração bater acelerado. Que não se sinta intimidado
por quem eu sou e com quem eu possa conversar sobre tudo.
- É uma boa lista. - Sempre me surpreendendo. Bem melhor do que o
“AIN. QUERO UM GATINHO IGUAL AO JUSTIN DIRECTION” que eu
e balança a cabeça. - Mas essa parte da lista tem uma certa lógica. Quais
tópicos será que as pessoas escolheriam para mim?
- Eu diria que Rox é Sensual e Divertida, enquanto Anne é Fofa e
Inteligente. Então, pode dizer que é tudo no fim das contas. - Dou de ombros.
Estranho pensar nisso, mas ela é mesmo. - E quanto a mim? O que acha que
eu sou?
Fica em silêncio mais uma vez, só me encarando com uma expressão
que poderia significar tanto que quer me matar, quanto me beijar. É sempre
difícil saber quando se trata dela.
eu preciso admitir que é inteligente e acho que poderia ser fofo, se quisesse.
Com pitadas de sarcasmo e altas doses de “ser irritante”, claro.
- Se esse é o seu jeito de tentar ser agradável, obrigado.
- Sempre que precisar de alguém para ser agradável, pode contar
comigo. - Pisca marota.
- E depois eu que sou o cara do “pitadas de sarcasmo”. - Deito para trás
no tapete, encarando o teto. Por incrível que pareça, estou me sentindo
relaxado, bem, tranquilo... Deve ser o vinho. Sim, sim. Só pode ser o vinho. -
Uma pergunta por uma resposta. Por que o topless naquele bar?
- Perdi uma aposta com Grace e me odiei logo em seguida, mas não
poderia deixar de cumprir. Sou uma mulher de palavra. - Ela me imita e deita
também, ficando cara a cara comigo. - Por que topou esse emprego?
- Justin cobrou uma dívida antiga. Por que ser cantora?
- Cantar é parte de mim, nunca pensei em fazer outra coisa. Por que ser
agente secreto?
- Porque era o que o meu pai fazia e eu sempre quis seguir seus passos.
Queria deixá-lo orgulhoso e terminar sua missão. Ele morreu em serviço.
- Sinto muito, Drake. - Ela resvala seus dedos de leve nos meus, a
expressão de pesar nublando seus belos traços. Como se viesse junto com a
brisa da noite, o ar começa a ficar pesado ao nosso redor. A conexão que flui
entre nossos corpos dando as caras mais uma vez, querendo nos arrastar para
gostosão Babaca. - Ela anda até o banheiro, mas deixa a porta a aberta
enquanto escova os dentes. Aproveito a deixa e entro atrás para escovar os
meus também.
- Tudo isso é medo que eu vá usar o banheiro da Grace de novo? Vai
que eu acabo não voltando, não é?! Fick Dich, Rox. Isso dói mesmo, sua
doida. - Dessa vez, ela achou que seria uma boa ideia pisar com tudo no meu
pé.
- Foi você quem quis me ensinar auto defesa. Não tenho culpa de nada.
- Fala com a boca cheia de pasta, numa fingida expressão de inocência, me
fazendo sorrir.
Começo a escovar os meus também e a intimidade do momento é, no
mínimo, enervante. Enquanto eu enxaguo a boca, ela passa um creme com
cheiro de lavanda no rosto e... acho melhor sair daqui antes que meu cérebro
**
Acordo no momento exato em que a Tampinha se mexe, tentando
escapar do meu corpo. - Acho que alguém não resistiu a minha deliciosidade
de novo. - Falo com a voz rouca e recebo apenas um gesto obsceno como
resposta, enquanto se levanta e se tranca no banheiro.
Antes que eu consiga pensar em levantar também, ela já sai. - Liberado.
- Pega sua nécessaire e senta na escrivaninha, começando a se maquiar.
curto e seus coturnos indefectíveis. Dessa vez, escolheu usar os cabelos numa
espécie de trança que sai do alto da sua cabeça.
Parabéns para nós, estamos todos cumprindo nossas partes no trato.
Ainda em silêncio, terminamos de arrumar as nossas coisas e descemos
para o hall, encontrando os outros membros da equipe já prontos. Grace abre
um sorriso gigante ao me ver, mas Just pula na sua frente. - Não, não. Nem
comecem com essa coisa estranha de triângulo entre os três. A situação não
está tão caótica lá fora, Rox. Tem uns 30 fãs e nada de imprensa. Quer
atendê-los?
- YAY! - Joga sua mochila na minha barriga e sai correndo porta afora.
Reviro os olhos para Jus, passo a bolsa para ele e a sigo de perto.
Espero pacientemente ela tirar selfies com todas as garotas, conversar,
autografar e tudo mais. Tinha razão no que me disse aquela vez - quando são
apenas fãs de verdade é bem mais tranquilo.
Já sentado dentro da van, Justin faz um sinal indicando seu relógio.
Peço desculpas para as meninas e escolto a Tampinha até o carro. No
caminho, engato um papo animado com Emma e Sara sobre os lugares que
elas conhecem da Itália, já que estou proibido de tirar meu Kindle para ler.
Enquanto isso, Rox fica de fones o tempo todo, depois continua do
mesmo jeito no jato. Até consegue manter sua poker face durante a
decolagem e o pouso suave. Me pergunto se trocamos de piloto depois
daquele dia fatídico. Parece que sim, tudo está mais suave agora.
Continuando nossa maré de sorte, acho que não descobriram o hotel
onde está hospedada, porque a entrada está totalmente livre quando
chegamos. Deus abençoe a privacidade.
- Aproveitem o dia de folga. - John mal acaba sua frase e todo mundo já
entra, só para parar em seguida. Mais uma vez, o quarto só tem uma cama... -
É. Jus quer mesmo tacar fogo no parquinho.
Outra noite de overdose de lavanda para o Drake.
Oba! Mal posso esperar!
como vê-la com uma roupa minha está me afetando. - Cara estranho. -
Murmura baixinho quando entramos no elevador.
- Sim, eu normalmente sou. Mas vou adorar saber qual motivo em
específico chamou sua atenção nesse momento.
Ela arregala os olhos, acho que não estava contando que eu fosse
escutar. Ouvidos treinados, Tampinha. Consigo captar qualquer murmúrio
num raio de 20 metros.
- Nada demais, deixa para lá.
Espero o elevador se fechar e paro na sua frente, colocando um braço
Eu quero mais.
Muito mais.
Deixo meu rosto se abaixar um pouco mais... depois mais... meus lábios
quase encostando nos seus... até que o elevador se abre e ela passa por baixo
dos meus braços, saindo pisando duro.
Scheibe, Roxanne.
Essa mulher vai enlouquecer e não vai demorar nada.
Subo na esteira ao lado dela e começo uma caminhada rápida, pensando
nas suas palavras. Essa fragilidade que mostra de vez em quando é... UGH.
Enlouquecedora.
Mantemos distância o resto do tempo, os dois evitando olhar um para o
outro, uma tensão estranha entre nós. Depois de uma hora, voltamos suados e
em silêncio para o quarto. Vou direto para o frigobar e tomo uma garrafa de
Eu quero mais.
De onde veio isso?!
Saio uns minutos depois enrolado no roupão e sinto seu olhar sobre o
meu corpo, quando pensa que não posso ver sua inspecionada nada discreta.
Viro para pegá-la no flagra e ela se atrapalha toda, antes de murmurar que vai
tomar banho.
Confuso... Tudo está tão confuso...
Pego os únicos jeans eu trouxe, preto com rasgados nos joelhos, uma
camiseta preta justa nos braços e meus adidas brancos. Ao invés de pentear
meu cabelo para o lado como todo dia, esfrego a toalha e deixo que fique do
jeito que quiser.
Sento na cama e começo a assistir a um jogo de futebol, enquanto a
espero, sentindo essa sensação de agonia crescer dentro de mim. Ela sai do
Scheibe.
- O disfarce está bom. - Engulo em seco e olho para baixo, querendo
desviar do seu rosto, mas acabo reparando nas sandálias de tiras que são tão
sensuais quanto todo o resto.
Limpo a garganta e ando para o frigobar, precisando de outra água. Ou
de uma dose de absinto. O mais forte que encontro é uma cerveja, então abro
a latinha e tomo um longo gole. Depois de respirar mais um pouco, acho que
já é seguro voltar a olhar para ela, que está jogando algumas coisas numa
pequena bolsa.
Pior seria eu fazer tudo que está passando pela minha mente agora,
Anne.
Não.
Pior é eu saber tudo que está passando pela sua mente, sem que ele
precise me dizer. Por quê?! Porque eu estou pensando as mesmas coisas.
Bendita hora que ele decidiu usar esse “disfarce”. Tem braços para
todos os lados, caramba! E esse cabelo?! ARGH! E os jeans então... Ele
parece quase “normal” agora. Parece um cara que eu paqueraria. Quero só ver
como vou conseguir olhar para os outros homens que chegarem em mim essa
noite.
- Pare de pensar essas coisas, pare de olhar para mim assim e queime
essa camiseta assim que chegarmos no hotel de volta. Vamos lá, antes que o
seu “pior” aconteça mesmo e eu seja cúmplice ainda. - Passo reto por ele,
ouvindo sua gargalhada ruidosa e um cheiro de perfume masculino nubla
ainda mais meu cérebro já confuso.
Ao invés de descer pelo elevador, vamos pelas escadas, saindo pela
porta dos fundos, onde um esportivo vermelho nos espera. O homem tem
uma coisa com esses carros sem banco de trás. Pelo menos, não tem ninguém
a vista e isso me deixa mais tranquila.
- Sua carruagem real para hoje, Princesa. - Ele faz um gesto galante e
abre a porta para mim, parecendo muito mais animado do que eu esperava.
Prendo a respiração para não ter perigo de sentir o seu perfume de novo e me
acomodo no banco de couro, sem encará-lo.
O Babaca contorna a frente do carro assobiando e sobe no lado do
mundo, parece que as paredes são pintadas com história. Como seria poder
andar por essas ruas de mãos dadas com alguém, tomar um gelatto numa
tarde quente, passear pelo Duomo...
Quando decidi que seria cantora e bati na porta da minha gravadora,
sabia que teria de abrir mão de algumas coisas, mas não fazia ideia de que
teria de abrir mão de tudo. Tudo mesmo. Por mais que eu faça o possível para
ainda manter uma parte de mim preservada...
- Você ficou quieta de repente. - Sua voz suave faz uma sensação
engraçada percorrer meu estômago.
- E isso é uma coisa ruim? - Pergunto, ainda olhando para fora.
- É uma coisa estranha, rara e preocupante. Se for fome, pode relaxar.
Nós já chegamos. - Ele vira o carro e entra em uma ruela de pedras, toda
Conversamos o jantar todo e ele me fez rir mais vezes do que poderia
contar. Deve ser culpa do Carménère. Só pode ser culpa do Carménère.
Além de tudo, nem me deixou pagar a conta e ainda fez questão de me
comprar um pequeno bombom de cereja. Devo estar ficando doida, porque
ainda o ouvi murmurar algo como “cerejas me lembram você.”
Se tivesse que chutar algo que o faz se lembrar de mim, chutaria
sessões de tortura, Britney Spears, ou uma overdose de glitter nas veias. Não
cerejas.
Ótimo.
Eu não queria que ele viesse dançar comigo. Não mesmo.
Decido esquecer do Babaca e me jogo pela próxima meia hora,
mexendo meu corpo música atrás de música, sentindo a energia das pessoas
ao meu redor, todos deixando o som levá-los para um lugar melhor. Lembro
de todas as vezes que invejei meus fãs por estarem “do outro lado”. Agora
aqui, consigo sentir um gostinho disso.
Sinto o suor escorrendo pelas minhas costas e decido que é hora de dar
uma pausa e tomar uma água. Nada mais de álcool para a Roxy por hoje. Vou
desviando das pessoas em direção ao bar e logo avisto Drake no mesmo lugar
em que o deixei, com os olhos pregados em mim. Ao seu redor, uma mini
plateia feminina tenta chamar sua atenção de todas as maneiras possíveis.
Uma está molestando o morango do seu drink, numa tentativa de fazer um
biquinho sensual. Outra dança como se tivesse sido possuída pelo espírito de
uma Shakira bêbada. Fora as que estão ao seu redor como urubus farejando
carniça da melhor qualidade.
Reviro os olhos e ando direto até ele, parando ao seu lado e fazendo um
beber mais por hoje. Dou meu assobio mais alto, chamando a atenção do
atendente. - Eu quero uma dose de whisky. Sem gelo.
Sinto seu olhar questionador ao meu lado. - Whisky?
- Me deixa.
- Alguém está tentando afogar as mágoas. - Cantarola, dando mais um
gole na sua garrafa de água.
ARGH!
Eu odeio esse cara.
Pego o copo que o garçom colocou na minha frente e tomo tudo de uma
vez, sentindo o líquido descer queimando a minha garganta, me fazendo
engasgar um pouco. - Afogue as mágoas sem se matar, por favor?!
Antes que eu consiga respondê-lo, um homem lindo para ao meu lado
no bar, desviando das “Drakettes” e sorrindo para mim. - Com licença,
senhorita. Posso te oferecer outra dose?
Uma inspeção rápida desde os seus sapatos sociais de sola de madeira,
passando pelas camisas com os primeiros botões abertos, chegando até os
seus olhos azuis, me diz que ele é exatamente o meu tipo.
Encantado da Mulan.
- Ah, por favor. - Drake murmura alto o bastante para eu ouvir e dou
uma cotovelada nas suas costelas, enquanto finjo estar me ajeitando no lugar.
- Príncipe encantado, que tal nós dançarmos um pouco antes da nossa
bebida?
- Acho ótimo. - Me oferece o braço e eu saio com ele, sentindo o aperto
no meu peito aumentar, como se tivesse algo errado.
Só não sei o quê.
Capítulo 21 - Quanta bagunça eu faria aqui se decidisse matá-
lo?
Drake
Mi mi mi Eu sou Mulan.
Mi mi mi Eu sou o Príncipe Encantado.
Maluca cachaceira...
Decido confiar que ela pode se cuidar por alguns minutos e me levanto
para ir ao banheiro, desviando do bando de corpos suados. Nessas horas eu
lembro BEM porque nunca vim numa balada antes.
O pior é essa sensação de que estou sempre vivendo no meio de uma
multidão - mais um dos “lados bons” de ter me mudado para a Glitterlândia.
Penso na imagem de uma fazenda afastada, calma e tranquila que tinha
sonhado para a minha aposentadoria. Um apartamento na cidade só para
quando precisasse resolver alguma coisa e, no resto do tempo, uma vida
simples e ISOLADA.
Sim, sim. Idêntica à que eu tenho agora.
Uma última olhada por cima do ombro e confiro que a Tampinha ainda
está dançando com seu novo Toy Boy, então entro correndo no banheiro,
torcendo para que ela não exploda tudo na minha ausência. Nem dê um jeito
de fazer outro topless.
Já estou lavando as mãos quando vejo o próprio Príncipe Encantado
entrar com um amigo, parecendo nem notar a minha presença.
- Estou falando, cara. É ela mesmo. Roxanne Reed em pessoa. - Eu
congelo com as mãos embaixo da torneira, olhando para os dois pelo espelho.
- Mandou bem, cara. - Eles trocam uma espécie de cumprimentos com
uma dancinha, que faz a minha vontade de vomitar voltar com tudo. - O que
Preciso sair daqui, antes que acabe mesmo tendo de limpar sangue de
imbecil dos meus tênis. Uso todo o meu autocontrole para contornar o
desgraçado e voltar para o corredor. Me permito pensar um pouco na
satisfação que teria em fazê-lo engolir todos os dentes e depois obrigá-lo a se
arrastar para pedir perdão por ter ousado pensar em fazer algum mal para a
minha Princesa.
Marcho direto para onde está, parada no bar tomando outra dose de
whisky como se fosse Toddynho. - Estamos indo embora. - Eu praticamente
cuspo as palavras.
- Não, não estamos. - Ela bate seu copo, cruza os braços e ergue o
queixo para mim.
- Nós estamos sim. Agora. - Tento puxá-la pelo braço, mas a Tampinha
se solta e desvia das minhas mãos.
- Me larga, Drake! Você prometeu que teríamos uma noite boa!
Prometeu que estaria no seu melhor comportamento! - Ela cutuca o meu peito
com seu dedo e parece mais brava do que nunca, seus olhos virando fendas. -
Agora quer ir embora justo quando eu encontro um cara legal?! Típico! Não
claramente “estou planejando qual será a morte mais dolorida possível para
você.” - Tudo isso por ciúmes, Drake? Sério?
Aperto o volante até meus dedos doerem, mas não a respondo. Não vou
contar a verdade. Ela não precisa saber que o “cara legal” só queria se
para descer batendo a porta com toda sua força. Eu a sigo correndo e puxo
sua mão indicando a escada de serviço. Não seria inteligente da minha parte
deixar que fosse vista em público assim, tão abalada.
Ela solta o seu braço num movimento brusco, mas me obedece e sobe
os degraus.
- Roxanne, acredite em mim. - Dou um suspiro frustrado. - Foi
necessário.
Rox não reponde, só continua subindo com seus saltos ecoando na
escada. Acelero o passo e entro na sua frente, bloqueando sua passagem. - Dá
para me ouvir por um segundo?
- NÃO! Não dá! Você me envergonhou, me carregou como uma
criança mimada e nem me deu um motivo para isso! - Seus olhos têm um
brilho quase demoníaco. - Pode ter certeza de que isso vai ter volta. Ninguém
trata Roxanne Reed assim e sai ileso.
A Tampinha desvia de mim e sai para o corredor de braços cruzados,
andando até o nosso quarto. Destranco a porta e a deixo entrar primeiro,
fechando todas as travas com cuidado atrás de mim.
Roxy entra direto para o banheiro e eu suspiro, passando ao mãos pelo
cabelo exasperado. Talvez eu devesse ter contado para ela e conversado como
os dois adultos que somos... Só não quero mesmo ver a tristeza nos seus
olhos que a verdade traria. Sai do banheiro já de pijamas e passa por mim
**
tanto para pegar no sono noite passada que devo ter perdido a hora. Só então
reparo que o lugar ao meu lado está vazio e olho preocupado ao meu redor,
procurando pela Tampinha.
Para o meu alívio, ela está sentada na escrivaninha, se maquiando. -
Bom dia, Roxanne.
- Bom dia, Drake! - Me responde com um sorriso animado e um arrepio
percorre a minha espinha. Oh-oh. Algo não cheira bem.
Olhando desconfiado para ela, entro no banheiro correndo, sem nem
lembrar de separar a minha roupa, tomo um banho rápido e faço minha barba.
Pego a minha loção, esfrego na pele como faço todos os dias e só depois que
espalho uma quantidade generosa é que percebo que está com uma textura
diferente.
Olho para as minhas mãos e as encontro cheias de glitter colorido,
armário e suspiro com o que vejo, precisando fechar os olhos por alguns
segundos para não surtar. Todas as minhas camisas brancas foram
substituídas por camisas cor de rosa e todas as minhas gravatas foram
trocadas por gravatas douradas de brilho.
- Bem jogado, Princesa.
Capítulo 22 - Diablo
Roxy
Na noite anterior...
Ufa!
Estou sozinha, finalmente.
suspeitava... fãs amam falar sobre os seus ídolos. Mesmo que o ídolo em
questão seja um Babaca completo. - Todos queríamos ser como ele e todos
nos mandavam ser como ele. Drake é uma inspiração.
- Como assim? O que ele tinha de tão especial? De tão diferente? - Ele
faz a melhor cara de ameaçador? Rosna mais alto? Fica melhor de terno?
Ugh. Esse prêmio ele levaria mesmo. E com louvor.
- Sabe como o cara era conhecido, senhorita?! Drake Diablo Hill. Seu
parceiro foi morto na bem sua frente, logo na primeira missão. Desde então,
começou a trabalhar sozinho e ganhou fama pelo seu autocontrole perfeito,
por nunca se deixar abalar com nada. - Sussurra baixinho, como se estivesse
contando um segredo. - Por esse motivo ele acabou condecorado tantas vezes.
Era o único que topava as missões mais perigosas, era o único a quem
algumas facções temiam. Ele não tem coração, como o próprio Diabo.
“Eu conheço o inferno como a palma da minha mão, Tampinha.”
Foi uma das primeiras coisas que ele me disse.
Caramba, isso é loucura!
- Ele basicamente bloqueou todas as suas emoções?
- Exato! - Matt está quase saltitando no lugar de tanta empolgação. -
Não é incrível?!
- É... é... assombroso. - Viro meu copo todo de uma vez, chocada com
essa história. - Acho que preciso de mais uma dose. Foi um prazer mais uma
vez, querido. Obrigada pela história. - Tento manter a pose blasé enquanto
me despeço e espero que tenha conseguido disfarçar um pouco do meu
espanto.
Ando desnorteada até o bar, sentindo minha cabeça girar.
olhos. Como ele se preocupa, como ele cuida de mim... Uma imagem de um
coração envolto numa grossa camada de gelo me vem à mente, com uma
pequena chama brilhando dentro. Ele já se aposentou, precisa deixar essa
vida para trás... Deixar os fantasmas para trás...
Alguém precisa incendiar essa faísca, antes que ela perca a batalha para
o gelo.
Incendiar...
O fogo e a palha.
Eu posso ajudá-lo com isso!
frente e estou pronta para começar a colocar meu plano em prática. Como se
tivesse ouvido meus pensamentos, o Diablo em pessoa se materializa ao meu
lado, os olhos em chamas e a expressão mais grave do que nunca.
Começamos bem de novo.
- Estamos indo embora.
Ufa! Mais cinco minutos com aquele “Príncipe da Mulan” paraguaio,
com suas tentativas ridículas de sedução e eu acabaria nas manchetes de
todos os jornais amanhã.
paciência.
Enquanto dou socos no seu bumbum durinho, aproveitando para tirar
uma casquinha, me pergunto o que o “Príncipe Paraguaio” fez para irritar
tanto Drake. Provavelmente algo relacionado a mim...
Sim, sim. Com certeza foi isso. Percebi que ficou ainda mais sério
quando joguei verde sobre ele ter ficado com ciúmes. Preciso lembrar de
explorar mais essa opção.
Enquanto seguimos pelas ruas da cidade, eu tento de tudo. Grito, xingo,
bato nele, faço bico, finjo chorar, o acuso de ciúmes de novo e o máximo de
reação que consigo é um apertar de volante. Bato a porta do carro, faço mais
um pouco de chilique nas escadas e nada!
ELE NÃO REVIDA, ELE NÃO GRITA COMIGO, ELE NÃO XINGA
**
A manhã seguinte
Fico o observando dormir por um bom tempo e pensando como deveria
ser quando ainda era agente... Concentrado, feroz, letal. Sim, posso imaginá-
lo sendo assim. Esses músculos todos não foram parar aí só para abrir potes
de palmito.
Me pergunto quantas pessoas ele teve de matar ao longo dos anos. Por
incrível que pareça, não me afeto com esse pensamento. Tenho certeza de que
todas foram necessárias. Já o conheço bem o suficiente para saber que nunca
Também é diferente perto de mim. Pode rosnar, reclamar e causar, mas tenho
certeza de ter visto algo mais por baixo dessa superfície toda.
Quando nos beijamos... definitivamente ele sentiu.
Que contradição! Que peça rara Justin trouxe para minha vida. Me
pergunto se ele sabe sobre a fama do seu melhor amigo e... Sento na cama
com tudo, a verdade caindo como uma bigorna na minha testa.
DROGA.
Como não percebi isso antes?
está me encarando com os olhos meio abertos, meio fechados, parecendo não
saber nem em que planeta está. - Por que você trouxe Drake para trabalhar
para mim, Justin?
- Ahn. - Passa as mãos pelo cabelo e pelo rosto, tentando acordar. - Por
sido. Você precisava de ordem para o seu caos, ele precisava de caos na sua
ordem. Os dois estavam desesperados para sentir alguma coisa, cada um do
seu jeito. Eu só dei uma forcinha extra... - Dá de ombros.
- Quando você diz forcinha extra, você diz só ter contratado ele, certo?
- John começa a rir e eu vejo que a história é ainda pior do que eu imaginava.
- Quero saber de tudo, Justin Rezzo. TUDO.
- Tá bom, tá bom. - Ele começa a contar nos dedos. - Talvez eu tenha
parado o elevador naquele dia, ou talvez eu tenha convencido Grace a fazer
cabelo num rabo de cavalo alto e o encaro pelo espelho, dando outro sorriso
inocente.
- Tem certeza de que quer jogar esse jogo? - Ele ergue uma sobrancelha
para mim e cruza os malditos bíceps gigantescos, como se me desafiasse.
Levanto e cruzo os braços também, erguendo o queixo. - Faça suas
melhores jogadas, Drake Hill.
- Lembre-se que foi você quem pediu. - Ele aponta o dedo para mim. -
Bom, não me resta outra opção, além de me trocar.
Como se não bastasse o espetáculo até agora, ele pega a calça do seu
terno e veste.
SEM A PORR* DE UMA CUECA.
Meu corpo reage de um jeito que eu não estava preparada. Caramba,
essa é a coisa mais sexy que já presenciei nos meus 22 anos de vida. Uma
necessidade começa a crescer dentro de mim, quase um desespero, que me
faz levantar e andar até onde está.
Preciso fazê-lo sentir coisas...
dedos.
- Anne... - Minha imagem mental muda para um coração congelado
começando a derreter, gotas pingando levemente. - Por que tudo tem que ser
tão intenso entre nós? Eu não... Eu não sei lidar com isso. - Ele fala baixinho
e eu suspiro.
Maldita hora que Jus falou sobre a história de sermos um casal.
Estou começando a achar que isso poderia dar tão errado, quanto
poderia dar certo.
- Porque nós dois somos intensos, acho. Eu também não sei como lidar
com isso, Drake. Com nada disso. Então, vamos simplesmente não fazer
nada. Que tal? - Pelo menos por enquanto, essa é a única opção.
Ele suspira e deixa seus braços caírem. - Tem razão. Acho melhor nós
descermos e darmos a chance de Justin e John tiraram sarro do meu novo
visual glitterizado, tendência do verão.
- Mal posso esperar. - Dou um sorriso sincero e meu olhar cai para a
frente da sua calça... Uow. - Acho que é melhor você... ahn... dar um
tempinho aqui antes.
Ele olha para sua virilha e ri. - Você vai ser a minha morte, Roxanne
Reed.
De certa forma, espero que eu seja mesmo.
- Essa é minha missão de vida, Babaca. - Pisco para ele e pego minha
descontrolados, até saírem lágrimas dos seus olhos. - Eu sei que deveria pedir
uma explicação, mas acho que não tenho forças para isso. - Nosso chefe não
faz nenhum esforço para se controlar e só continua rindo. - Ai, ai. Você se
superou dessa vez, Roxy. E você está um arraso, Drake. Acho que
melhor esforço para não rir também e vários pares de olhos me encaram em
choque. - Que foi agora?
Eles se entreolham e é Sara quem responde. - Você não o chamou de
Babaca, o chamou de Drake.
- Nossa. E eu que jurava que esse era o seu nome. - Reviro os olhos e
saio andando em direção à porta sem esperar por uma resposta, cansada de
toda esse auê em volta de nós dois.
Atendo os poucos fãs presentes ali, sentindo o olhar do Babaca em
cima de mim o tempo todo e sigo direto para a van. Sento no último banco e
que descobri toda essa história de Diablo. Será que ele tem consciência de
que é assim?
- Você conseguiu manter muito a calma ontem, apesar do meu chilique.
Como pode?
no setlist.
O que a Tampinha está tramando?!
Ela coloca o microfone dourado no pedestal e eu vejo pelo monitor seus
olhos encararem a multidão com uma expressão meio melancólica, um
sorriso torto se esticando no canto da sua boca.
Começa a dedilhar as cordas, tocando acordes aleatórios. Um arrepio
percorre a minha espinha só de observar a beleza dessa cena. Acho que
poderia ouvi-la tocando pelo resto da vida.
ela?
- Cantem comigo! And I’d give up forever to touch you… - Ah! Iris, do
Goo Goo Dolls, sua música preferida. Acho que nada de grave aconteceu
então.
Puxo uma das caixas de equipamento e me sento, mantendo os olhos
fixos na garota abrindo seu coração na minha frente. Essa versão só com
violão e sua voz suave é demais para mim.
Cause I know that you feel me somehow
Ao invés de cantar junto com ela, a plateia está tão impactada quanto
eu, envolvidos pelo sentimento que Roxanne está derramando bem aqui na
nossa frente.
Não é Roxy quem está no palco.
Estamos todos tendo uma rara visão de Anne, pura e simples...
Maravilhosa.
Me pergunto de quem ela não quer sentir falta essa noite... Será que tem
algo que eu não sei? Algum amor não correspondido?
Essa parte parece que foi escrita por ela. Me lembra que até hoje não
explicou porque criou esse personagem... De algum lugar das profundezas do
meu peito, cresce uma vontade de invadir esse palco, abraçá-la e exigir que
me conte tudo. Os segredos que nunca dividiu com ninguém, suas angústias e
seus sonhos.
Scheibe.
Que besteira piegas.
O que está acontecendo comigo?
Ela continua cantando e eu sinto como se estivesse sendo hipnotizado,
como se suas notas estivessem entrando dentro de mim e aquecendo as
minhas entranhas. Essa garota irritante, mimada, inesperada, corajosa, esperta
porquê ela faz as coisas que faz. - Ainda estou digerindo seu beijo e seu
pedido de desculpas de hoje cedo.
- Sabe uma coisa que vocês têm em comum? - Jus pergunta e eu dou de
ombros.
- Nós dois sempre perdemos a paciência com você?
- Não. - Revira os olhos. - Independente da besteira ou da loucura que
fazem, sempre fazem pelos motivos certos. - Dá tapinhas nas minhas costas e
sai para gritar com um carregador que está quase deixando cair uma guitarra
família.
Enquanto isso, prefere deixar todos achando que é essa garota
inconsequente e louca. Não que ela não seja um pouquinho essas duas coisas
também.
la, ok?!
Mesmo depois de ser atacada, Roxy ainda tem o sangue frio de me
pedir para ser gentil com a insana que está tentando com todas suas forças se
soltar do meu aperto e voltar a agarrá-la?
Tá bom, tá bom.
- Ok.
Me agradece com um sorriso e volta para a frente do palco, acalmando
a todos.
Eu levo a pirralha para o seu camarim, sirvo um copo de água, dou um
dos cartões postais que Roxy sempre escreve para os fãs e uma das suas
toalhinhas com estampa de unicórnios. Pela alegria da menina, parece que
acabou de ganhar seis Lamborghinis e oito Ferraris.
- Ain! Hoje é o melhor dia da minha vida. Posso tirar uma foto com
Melhor eu concordar com essa foto logo, antes que eu me sinta ainda
mais velho. Me abaixo e ela cola o seu rosto no meu para tirar uma selfie -
sim, isso eu sei o que é - e me agradece vinte vezes, antes de sair abraçada
aos seus presentes.
Drake.
- Estávamos falando que você não lidaria bem com ter de ir numa festa
comigo essa noite. - Tento mandar um olhar significativo para ele, usando da
nossa recém descoberta comunicação não-verbal.
“Não é isso, mas entre na minha. Juro que te conto tudo depois.”
Um movimento mínimo no seu queixo e vejo que entendeu na hora, ao
mesmo tempo que Justin suspira aliviado. - Sim, é isso mesmo. Tem razão,
Roxy. Deixa esse negócio de festa para lá. Podem voltar para o hotel e
descansar. Amanhã temos um voo logo cedo mesmo.
- Tem certeza? - Drake consegue deixar de lado sua expressão
desconfiada, entrando no meu jogo com perfeição. - Se faz parte do meu
trabalho, eu posso ir numa... festa. Mesmo que prefira ter toda minha perna
depilada por uma Roxanne bêbada com uma pinça cega.
Eu me seguro muito para não rir da cena que a minha mente imaginou.
Preciso anotar essa para usar contra ele no futuro.
- Claro. Vou mandar as meninas da banda no lugar. Sabem como Grace
adora essas coisas. Bom, então é isso. Boa noite, comportem-se. Amo os
dois, nunca se esqueçam disso. JOHN! ALGUÉM VIU O JOHN? - Sai
gritando pelos corredores, nos deixando a sós.
- No hotel você me conta, vamos lá. - Drake segura o roupão dourado
aberto e eu entro nele. Com carinho, tira meus cabelos para fora e arruma a
gola, deixando seus dedos fazerem uma carícia leve no meu pescoço.
Eu engulo em seco, tentando abafar mais uma vez as reações do meu
corpo à sua presença e tentando abafar o que senti ao vê-lo emocionado com
a minha canção essa noite. Nunca vou esquecer de como me olhou com
admiração pura...
Com sua figura impressionante ao meu lado, saímos para a noite aberta
e eu aceno para os meus fãs, antes de entrar direto no banco da frente do sedã
preto que nos aguarda.
- Eu sempre ando no banco de trás dos carros. - Ele imita meu tom de
voz naquele primeiro dia, subindo no lado do motorista. Parece que já faz
uma eternidade...
assassinar lentamente com o meu alicate, enquanto Britney Spears toca num
repeat eterno. - Faço minha melhor expressão maléfica.
- Você teria de me pegar primeiro. - Ele mostra os dentes e ergue uma
sobrancelha numa pose que deveria ser ameaçadora, mas eu só consigo
enxergar como totalmente sexy. - Para onde vamos então, serial glitter?
- Para o hotel mesmo. - Ele me olha confuso. - Você vai entender.
Conecto meu celular no sistema de bluetooth do carro e passo o dedo
pela minha playlist de Divas Pop. Não... acho que consigo um meio termo
para nós. Escolho o novo CD do Ethan Carter, o astro do rock que faz as
melhores baladas românticas que o mundo já viu. Nada tão pesado quanto seu
Slipknot, nem tão água com açúcar quanto a minha Santa Britney.
- Isso é outra trégua, Roxanne? - Pergunta com um sorriso de canto.
- Tréguas não são para nós. - Tento não pensar em como acabou a
nossa última. - Considere isso como parte do meu pedido de desculpas de
mais cedo. Estou tentando ser uma protegida melhor.
- Ok, estou começando a acreditar mesmo naquela história de
emboscada agora. - Finge uma expressão apavorada.
- Besta! - Dou um soquinho no seu ombro, curtindo o clima leve entre
nós enquanto ele estaciona na frente do hotel. Espera que eu atenda todos
com a maior paciência do mundo e até tira algumas selfies.
DRAKE ESTÁ TIRANDO SELFIES.
ou sei lá. - Balança a cabeça, sem fazer ideia do que está dizendo, enquanto
me escolta até o lobby do hotel.
Até as minhas fãs estão nessa campanha?
Caramba, tem alguém que não está torcendo para gente ficar juntos?
- Crush é sinônimo para “segurança babaca”, não sabia?! Agora me
espere aí, bonitinho e comportadinho. - O empurro pelos ombros com força
para que caia sentado no sofá do hall e vou conversar com o gerente de
plantão.
Ele libera o meu acesso ao terraço do hotel na hora e promete que não
deixará mais ninguém acessar o espaço essa noite. Sorrio em agradecimento,
tiro meu roupão, autografo e entrego para ele, como presente para sua filha de
oito anos.
Uma mão lava a outra.
- O que está tramando? - Me pergunta franzindo os olhos quando volto
para a sua frente usando só a roupa do show.
- Nada que vá me fazer acabar na capa de um tabloide, juro. Só pedi
que a gente possa usar a piscina no terraço sem sermos incomodados.
Também vão entregar nosso jantar lá em cima. Risoto, filé, uma garrafa de
Syrah e uma de Carménère.
- Eu vou morrer mesmo, não vou? - Estreita os olhos desconfiado para
mim. - Preciso ligar para a minha mãe antes. E para a minha irmã. Saiba que
não vai te perdoar por não ter tido a chance de me obrigar a assistir todas as
comédias românticas novas do Netflix com ela.
- Para de ser bobo e anda logo. - Antes que eu comece a pensar muito
em você assistindo comédias românticas mais uma vez.
Pego suas mãos, tentando colocá-lo em pé e saio o arrastando até o
elevador. Só quando as portas se fecham e ele olha para baixo é que percebo
ainda estar segurando seus dedos com firmeza.
Faço menção de soltar, mas ele não me deixa, só segura com mais força
passos para frente, ficando de costas para ele. Tiro meus sapatos, minha blusa
toda bordada, desço minhas calças pelas pernas, ficando apenas com a minha
calcinha simples de algodão e meu top. Prendo o cabelo num coque alto e
saio correndo até o lago, me jogando lá com tudo.
Deixo a água morna me acalmar, enquanto nado de um lado para o
outro, até que trombo em algo sólido no caminho. Volto para a superfície e
dou de cara com um par de olhos verdes, cabelos molhados, um peitoral
musculoso e braços fortes que me pegam pela cintura.
- Estou dentro, Anne.
Capítulo 26 - Você começa ou eu começo?
Drake
do que de dar certo, mas ainda assim eu tiro o meu terno em tempo recorde e
a sigo com um sorriso no rosto.
Só por hoje, vou me permitir fingir que não existe mesmo Babaca e
Princesa.
Somos apenas Drake e Anne.
E Drake pode admitir que sente uma atração do cara*** por Anne.
Ando devagar até a beirada da piscina, a vendo dar braçadas vigorosas
de um lado para o outro. Me jogo no canto oposto ao que está e espero que
chegue até mim. Volta para a superfície sorrindo ao trombar comigo e minhas
mãos vão direto para a parte que mais gosto do seu corpo. Sério, eu tenho
alguma coisa com a sua barriga macia. Aperto com suavidade a pele ali e a
puxo de encontro a mim, sentindo seu corpo quente contra o meu. - O que
estamos fazendo, Anne?
mãos para as suas coxas e enrosco suas pernas ao redor da minha cintura,
deixando nós dois boiando com suavidade pela água morna. - Confortável
assim?
- Mais do que deveria. - Sorri de leve e balança a cabeça, como se não
acreditasse no que está acontecendo entre nós. Tudo bem, eu também não
estou acreditando. - E então? Você começa ou eu começo?
- Pode começar, sou do tipo cavalheiro. - Mordo de leve a curva entre
seu pescoço e seu ombro, para provar o meu ponto.
- Uhum, estou vendo. Um cavalheiro canibal. - Revira os olhos para
mim, mas parece estar feliz. Leve e relaxada, como eu. - Por que você sempre
xinga em alemão?
- Meu pai era alemão e eu cresci sabendo as duas línguas. Meu nome
completo é Drake Hill Schäfer. Antes que pergunte, uso o sobrenome da
minha mãe como uma homenagem, por tudo que fez para nos criar depois
que meu pai morreu. Eu o honrei assumindo sua carreira e a honrei
assumindo seu nome.
Seus olhos castanhos brilham com emoção e vejo algumas lágrimas
começando a se formar. - Isso é lindo, Senhor Schäfer.
- Para resumir, na verdade é só um jeito que encontrei para xingar sem
as pessoas entenderem o que estou dizendo. - Dou de ombros, ansioso para
mudar de assunto e fazer a minha pergunta logo. - Por que criou esse
personagem, Anne?
Suspira e chega mais perto de mim, deitando o rosto no meu ombro. -
Porque eu queria fazer o que amo, mas não queria correr o risco de perder
quem eu sou. Cansamos de ver esses casos de estrelas adolescentes que
cresceram e surtaram. Esse foi o jeito que encontrei para me manter sã. -
Brinca com os cabelos na minha nuca, falando sem me encarar. - Enquanto
estou em público sou uma, mas quando estiver “no mundo real” sou apenas
eu. É mais fácil fazer essa diferenciação quando você tem um uniforme,
quase como o super homem e o Clark Kent. Deixo todos pensarem que sou
- Dei uma suspeitada de leve quando vi sua casa e seu quarto de hotel.
Só Justin sabe sobre esse seu desejo, certo? - Afasto um fio de cabelo do seu
rosto.
- Certo e gostaria muito que continuasse assim. Um pedaço de mim que
ainda é só meu e que eu não tive de abrir mão, junto com a minha privacidade
e a minha liberdade.
- É um pedido justo. - Mesmo que eu já suspeitasse, foi bom ouvir tudo
da sua boca. - Como me contou isso, imagino que precise te contar sobre os
vinhos agora.
- SIM! E vamos aproveitar essa deixa para abrir os trabalhos. - Desce
do meu colo e nada até a borda. Eu a sigo, nem tentando esconder o quanto
estou cobiçando descaradamente seu corpo molhado. - Vê algo de que gosta,
Drake Hill?
Ela se senta numa das espreguiçadeiras e começa a se enxugar,
enquanto ri do meu queixo caído.
- Vejo algo que queria para mim, isso sim. - Meu apoio com um braço e
iço meu corpo para fora num movimento só. Agora é sua vez de ficar de
arrepiar com o meu toque. - Uma das únicas coisas que fiz por mim nos
últimos anos foi um curso de culinária e harmonização de bebidas. Eu só
realmente gosto de cozinhar.
- Então, você é um agente secreto que já deve ter matado algumas
- Não é ruim, só preciso que prometa não ficar bravo com Justin.
- Eu acho que não seria capaz de ficar bravo com Justin. Nem se eu
quisesse.
- Muito bem. - Toma um gole e respira fundo, fazendo seu peito subir e
descer, chamando a minha atenção para o seu sutiã. Engulo em seco e forço
meus olhos a voltarem para o seu rosto, enquanto xingo baixinho pelas
reações do meu corpo. O que eu tenho? Quinze anos? - Jus fez várias coisas
nos últimos tempos para tentar nos juntar como um casal. Um casal do tipo
casal mesmo, beijo na boca, amorzinho, cotchoquinho e cotchoquinha. Esse
fazer tocar no mesmo dia que o Guy e por aí vai. Na cabeça dele, nós somos
alguma espécie de par perfeito.
- Aquele imbecil vive achando que sabe o que é melhor para todos. -
Penso por alguns segundos, olhando para o horizonte de Milão. Fui
descaradamente manipulado e não, eu não gosto nada disso.
Amanhã vou ter uma séria conversinha com o senhor Rezzo.
Muito séria.
- Nem me fale. - Ela volta a se sentar na espreguiçadeira, dessa vez de
frente para mim, me encarando com os seus olhos castanhos gigantes. - Faz
quatro anos que manda e desmanda na minha vida como bem entende.
- Então, ele não queria que você me contasse sobre essas manipulações
todas, mas você insistiu que queria me contar?
Por isso o “Drake não vai lidar bem com isso”.
- Exato. Você não me parece do tipo que toleraria mentiras.
Esvazio o resto da minha taça todo. - Tem razão, ficaria realmente
bravo se tivesse escondido de mim. Acho que você também é boa em me
sacar, Senhorita Reed. - Sorrio para ela. - Como descobriu tudo isso?
- Não, não. Uma pergunta por uma resposta e agora é a minha vez. - Me
entrega a sua taça cheia e se levanta para encher a outra rapidamente. - O que
Justin fez por você que o deixou com essa dívida tão grande a ponto de ter
que me aturar?
Voltando para o meu lado, ela empurra as minhas coxas até que fiquem
juntas e se senta em cima delas. Minha mente já imagina 28737824 cenários
diferentes para essa posição.
- Anne... - Falo em tom de aviso, mas ela só me dá um falso sorriso
inocente e bebe mais do seu vinho, sem fazer menção de se mexer. - Você
está brincando com fogo, garota. - Bato minha taça na dela, como se
brindasse à sua loucura e tomo outro gole. - Depois que meu pai morreu, eu
passei por um período complicado. Uma bela noite, entrei numa briga de bar
nossa infância e adolescência. Scheibe, nunca conseguiria ficar bravo com ele
mesmo. E acho que sabe disso. O que faz a sua reação de hoje com Roxy ser
bem estranha... - Agora posso perguntar como descobriu as armações dele? -
A vejo desviar o olhar, parecendo relutante e quase com medo. Oh-oh. Lá
Visto a camisa rosa de Drake, que cai até o meio das minhas coxas e
corro para pegar os nossos pratos, antes que o entregador possa entrar e
vender a história de que eu estava sozinha com um cara seminu.
Ele ri e se levanta para me ajudar. - Pedi um prato de cada para gente dividir,
espero que não se importe.
- De jeito nenhum. - Destampa as embalagens e minha barriga ronca em
resposta. - Já que estamos nos divertindo com o Syrah, vamos começar com o
filé.
- Acho justíssimo. - Nham, nham! Syrah, filé e Drake.
Nos sentamos lado a lado na pequena mesa, ele corta um pedaço
generoso da carne suculenta, espeta no garfo e oferece para mim. Eu mastigo
feliz enquanto Drake se serve e comemos o prato todo assim, com ele me
alimentando na boca. E quando falei que comida era o maior prazer que a
pessoa poderia ter sem tirar a roupa, nem era nessa cena que estava pensando.
Um homem desse tamanho, com esses músculos todos, fazendo algo
tão doce, quase foi o meu ponto de ruptura. Quem o vê de fora, nunca
imaginaria... Eu mesma NUNCA imaginaria que poderíamos dividir um
momento tão íntimo.
Pena que logo tudo isso vai por água a baixo, quando eu contar que
andei me intrometendo na sua vida.
- Antes de passarmos para o Carménère e o risoto, você vai me contar
tudo que está te fazendo franzir as sobrancelhas desse jeito. - Coloca um dedo
na minha testa, aliviando as rugas de preocupação que fiz ali.
- Queria que aquele negócio de não conseguir ficar bravo valesse para
mim também. - Faço uma careta, me levanto, viro de costas e decido despejar
tudo de uma vez, sem nem pensar. - Eu aproveitei uns minutos que fiquei
sozinha naquele clube e fui perguntar para Matthew sobre você. Ele me
contou sobre sua fama, sobre a história do Diablo. Então, decidi que queria
arrancar emoções de você, o que levou à toda aquela birra. Desculpa por isso
mais uma vez, a propósito. - Dou uma pausa e respiro fundo. - Enquanto eu
refletia sobre o que descobri na manhã seguinte, me perguntei se Justin sabia
desse seu passado. Se ele sabia, como poderia não ter feito nada para tentar
ajudar? Não é do feitio do Jus não se intrometer. Daí foi só juntar 1+1. Ele
fez algo para te ajudar! Ele te trouxe para perto da pessoa que tinha certeza
que te deixaria insano. Bati na porta do quarto dele enquanto você dormia e o
confrontei. Ele contou tudo. John faturou quarenta pratas. Fim da história.
mais o suspense. Me viro e pego seu rosto nas minhas mãos, o forçando a me
encarar. Os olhos verdes têm uma sombra pesada sobre eles, que faz o meu
coração se rachar um pouquinho. - Eu não sei o que aconteceu, mas tenho
certeza absoluta de que não foi sua culpa. Nem imagino como tenha sido
difícil lidar com tudo isso e você se proteger é uma reação mais que
compreensível. Mas eu realmente gostaria de te ajudar. Você merece mais,
Drake. - Me encara por vários segundos sem dizer nada, só fica me olhando
com toda a sua intensidade. - Fala alguma coisa, por favor. - Peço baixinho.
- Estava nublado no dia em que tudo aconteceu. - Sua voz ainda é só
um fiapo. - Cada dia que amanhece assim, eu me lembro de tudo. Da dor, do
desespero, dos gritos de Paul e do sentimento de impotência. Foi uma
emboscada organizada por um grupo de traficantes e hoje eu consigo ver que
não tinha nada que eu pudesse ter feito. - Balança a cabeça e fecha os olhos. -
Por que foi perguntar para o Matt sobre mim, Anne?
- Porque eu precisava saber mais sobre você, Drake. - Respondo no
mesmo tom baixo, íntimo. É como se uma bolha tivesse se erguido ao nosso
redor e só existíssemos nós dois no mundo naquele momento. Dois
orgulhosos revelando partes que nunca imaginaram que contariam para o
outro.
- Por que, Roxanne? Por que queria saber mais sobre mim? - Dá um
passo para frente, acabando de colar os nossos corpos. - Você nem gosta de
mim.
- Porque estava começando a suspeitar que talvez os meus preconceitos
pudessem estar um pouquinho errados sobre você. - Ugh! Não acredito que
estou admitindo isso em voz alta. - Só um pouquinho.
sua lista de prioridades. Drake é o tipo raro de pessoa 100% altruísta e que
consegue se colocar no lugar do outro. Nem imaginava que ainda fabricassem
seres humanos desse modelo.
Dou um gole no vinho, sentindo o gosto doce descer pela minha
garganta ao mesmo tempo em que engulo uma conclusão inevitável.
Eu gosto desse cara.
Gosto para valer.
Como é que isso foi acontecer, DROGA?!
Ando até a beira da piscina/lago, precisando colocar alguma distância
entre nós e tiro sua camisa pelo caminho, seu cheiro bom começando a me
sufocar. Sento na borda e deixo meu pés balançarem na água calma.
Gostar é uma coisa... Mas não quer dizer que eu esteja apaixonada,
certo?! Ugh, era só o que me faltava. Jogo meu corpo para trás na grama e
que já o vi dar.
- Se eu disser que sim, o que acontece? - Repete minhas palavras de
mais cedo e eu sorrio junto.
- Aí eu vou ser obrigada a te beijar mesmo, oras. - Colo nossas testas,
sentindo meu coração acelerar de ansiedade. Isso aí, Roxy. Se não for para
fazer burrada, você nem sai de casa, né garota?!
- E o que a gente faz amanhã? - Ele resvala seus lábios de leve nos
meus, me provocando.
Drake
Puxo seu lábio inferior entre os meus dentes, ao mesmo tempo em que
ela dá um gemido suave. - Você é um canibal, Drake Hill.
juro que dou um jeito de tirar eu mesma, nem que seja pela sua cabeça.
- Sempre tão mandona. - Desço um pouco mais, até chegar na sua
calcinha e respiro fundo ali. Scheibe. Já não saberia dizer nem o meu nome
mais. Esqueço a minha exploração, prendo o tecido entre os dentes e a rasgo
num puxão.
É hora de descobrir a única coisa que ainda não sei sobre Roxanne
Reed.
Seu gosto.
**
parar.
Respiro seu cheiro de lavanda uma última vez, querendo gravá-lo na
minha mente, e começo a mexer suavemente no seu cabelo. - Anne? - Ela
nem se mexe, só continua com a respiração profunda, alheia a todo drama
que a minha cabeça já criou.
- Anne, Princesa. Está na hora de acordar. - Nada.
Dou um beijo na sua bochecha e começo a me mexer, colocando nós
dois sentados, minhas costas reclamando da noite passada na grama. Estou
Com um raro olhar tímido, ela dá um passo para o lado e enlaça seus
dedos nos meus. Eu controlo o calor que se instalou no meu peito e aperto de
volta.
Estamos juntos nessa. Seja lá o que for "essa".
mão até o banheiro. Tomamos banho em tempo recorde, com apenas uns
beijos roubados e uma pausa muito necessária quando Roxy derrubou seu
sabonete e achou que sairia impune do showzinho particular que fez para
pegá-lo.
enfurecido. - Continue assim e não vamos mesmo sair desse quarto hoje,
Roxanne.
- E isso seria uma coisa ruim, não é? - Nem disfarça a cobiça ao me
encarar colocando a calça justa do terno, sem cueca por baixo.
- Aposto que Justin diria que sim. - Visto outra das minhas novas
camisas rosas e vejo sua expressão mudar de luxúria para deboche total. -
Uma risadinha que seja e eu juro que troco todos esses seus micro vestidos
brilhosos por terninhos cinza sem graça.
- Faça isso e eu troco seus sapatos italianos por coturnos de brilho. -
Responde no mesmo tom, enquanto passa sua maquiagem pesada nos olhos.
- Faça isso e eu troco seu coturno de brilho por sapatos como os meus.
Uma batida na porta interrompe nossa briguinha ridícula e nós
olhamos assustados. - Quem é? - Pergunto, já imaginando a resposta.
- Justin.
- Scheibe!
- Droga!
Xingamos em conjunto, enquanto trocamos olhares culpados e
corremos para bagunçar a cama, fingindo que dormimos ali. Depois de nos
certificamos que estamos minimamente apresentáveis, andamos até a porta e
usamos mais uma vez da nossa comunicação não verbal para trocar um
acordo silencioso.
- Você bateu na nossa porta só para jogar papo fora? - Ela pergunta,
numa tentativa clara de desconversar e desviar sua atenção.
- Me perdoe por querer saber o que está acontecendo com meus
amigos. - Faz uma expressão ofendida, colocando a mão no peito. - Então, o
- Ok. - Ela dá de ombros, pega sua mochila e finge que vai sair, mas
para no batente e aproveita que Jus está de costas para me dar uma piscadinha
sensual, antes de desaparecer pelo corredor.
Meu melhor amigo não percebe nada e se joga sentado no colchão,
me encarando por alguns segundos. Termino de calçar meu sapato e percebo
que o assunto deve ser sério mesmo, pelo tanto de voltas que está dando. -
Desembucha logo, homem.
- Drake, eu estive pensando e essa situação não é justa para você.
- Só agora percebeu isso? - Resmungo de volta, sem entender onde
- Drake e eu decidimos que ele não fará mais parte da equipe Roxanne
Reed. Daqui, ele seguirá direto de volta para casa. Vamos indo? Não quero
atrasar nosso voo. - Meu queixo cai, junto com o de todo o resto da banda.
Até meus roadies que estavam por perto pareceram chocados.
- Como é que é?! - Pergunto com uma voz esganiçada, quase
histérica.
- Achei que estaria dando pulinhos de alegria, não com esse olhar de
quem está a um segundo de atacar a minha jugular. Acabou se afeiçoando ao
"Confie em mim"
O quê? Só isso?
Três palavrinhas?
Três fucking palavrinhas?
Se depender de mim, alguém vai passar o próximo ano usando ternos
cor de rosa, com o cabelo tingido de cor de rosa e com coturnos de brilho de
brinde.
Decido não responder nada e respiro fundo, pensando racionalmente.
Nossa noite foi perfeita e nossa manhã continuou ainda mais perfeita. Achei
que surtaria, mas bastou olhar para aqueles malditos olhos verdes que tudo se
acalmou dentro de mim.
E, caramba, ele me fez sentir coisas. Ele me fez sentir tudo! Tudo que
eu sempre sonhei em viver... Para acabar assim? Não, não, não. Não deixo!
Com quem eu vou implicar? Quem vai rosnar para mim? Quem vai ser meu
parceiro de sarcasmo? Quem vai me chamar de Tampinha?!
Continuo ruminando minhas sofrências ao chegar no aeroporto e
enquanto embarcamos no jatinho com destino a Budapeste. Estou tão
atazanada, que nem consigo ficar nervosa na decolagem.
A gente avançou tanto no nosso relacionamento ontem... Nós tivemos
uma conversa real, do tipo que nem eu, nem ele, temos sempre por aí.
Nós temos uma conexão profunda.
Assim que o avião pousa, eu tento falar com o imbecil pelo telefone,
mas o celular cai direto na caixa postal. Droga! Droga! Droga!
"Precisamos conversar"
Mando pelo WhatsApp, mas a mensagem nem chega para ele. Será
que está no avião voltando para os Estados Unidos? Se for isso, só tem um
coisa que eu posso fazer. Só tem uma decisão digna de Roxanne Reed.
cinza, a camisa com alguns botões abertos, as mãos nos bolsos e encostado
num esportivo laranja... que eu aposto que só tem os bancos da frente.
- Você só pode estar de brincadeira comigo. - Cruzo os braços, mas
não consigo evitar o sorriso gigante que explode no meu rosto.
ELE ESTÁ AQUI.
ELE VEIO ATRÁS DE MIM!
FOI ELE QUEM FEZ O GRANDE GESTO ROMÂNTICO!
Todas as comédias românticas que a irmã fez ele assistir serviram
para perceber que não poderia aceitar essa história de ficar longe de você.
Então, peguei a passagem que tinha me dado e troquei por uma no primeiro
voo para cá. A vida é bem mais rápida quando não se tem centenas de fãs
para atender pelo caminho. - Dá de ombros, seu sorriso charmoso pendurado
no canto da boca. - E meu celular está sem bateria, porque eu fui sequestrado
por uma certa cantora pop noite passada, que me manteve refém para abusar
do meu corpinho.
- Garota esperta essa. Devia fazer isso mais vezes. - Paro na sua
frente, quase encostando no seu corpo. - Então, veio até aqui só porque já
imaginava que eu tentaria fugir?
- Claro. Aqui missão dada é missão cumprida. - Passa as mãos pela
minha cintura, me puxando de encontro ao seu peito. - E para dizer que
percebi que não estou a fim de ir para lugar nenhum sem você. E que eu
passaria o resto da vida sendo irritado por você. E que eu estou apaixonado
por você.
Meu coração se esquenta tanto que eu preciso fechar os olhos por
alguns segundos. Está acontecendo! Está acontecendo mesmo! - Então, o
Babaca se apaixonou pela Princesa?
- E a Princesa se apaixonou pelo Babaca.
Acho que até quem está no inferno viu o sorriso do Diablo.
- E agora, o que fazemos? - Pergunto.
frente ainda.
- Só para constar, você é meu namorado a partir de agora. - Aviso
antes de entrar.
- Acho que estou meio velho para esse negócio de namorado, Anne. -
Faz uma careta adorável para mim.
- O que quer ser então? - Me sento no banco de couro e ele se abaixa
para continuar com o rosto na mesma altura que o meu. Pensa por alguns
segundos na minha pergunta, antes de se inclinar e dar uma mordida de leve
na minha orelha.
- Eu quero ser o homem da sua vida. - Murmura com a sua voz rouca
sensual, antes de bater a porta e ir para o lado do motorista.
Droga.
Eu acho que amo mesmo esse cara.
Capítulo 30 - O felizes para sempre
Drake
Um mês depois
Roxy suspira no meu colo e eu a aperto mais contra mim. Afundo
meu nariz no seu cabelo e sinto seu cheiro de lavanda que me enlouqueceu
desde o primeiro dia. Uma olhadinha pela janela do jato particular, enquanto
iniciamos a descida em Los Angeles, e vejo o céu azul claro, quase sem
nuvens. Engraçado, faz tempo que não temos um dia nublado. Para ser mais
preciso, desde aquela manhã em Budapeste que chocamos NINGUÉM ao
aparecermos juntos.
Quando eu digo ninguém, digo ninguém mesmo. Nem seus fãs, que
de alguma forma já estavam torcendo para ficarmos juntos, nem a banda,
nem a minha própria mãe que só se dignou a falar algo como "Jus me disse
seu cochilo como uma gatinha preguiçosa. - Você ainda me deve uma por
aquelas fotos que eu comprei do paparazzo. O famigerado topless das
princesinhas no bar de motoqueiros.
Ela apoia seu queixo no meu peito e me olha desconfiada. - Eu não
vou usar terninhos cinza sem graça, não adianta nem tentar.
Uma risada escapa de mim só de imaginar a cena e eu mordo a ponta
do seu nariz. - Nunca te pediria para abrir mão do seu glitter, Tampinha.
Passa o dedo pela minha gravata dourada, me puxando para roubar
um beijo rápido. - Eu sei que você tem uma paixão secreta por brilhos
escondida em algum lugar por baixo de todos esses músculos, bonitão.
- Claro, claro. Já encomendei meu coturno de strass, inclusive. Ele
deve chegar a qualquer momento agora. - Reviro os olhos. - Enfim, como eu
ia dizendo, você me deve uma e eu estou pronto para cobrar a minha dívida.
- Vai me pedir para ser segurança de alguma princesa do pop pirralha
mimada tampinha? - Dá um sorrisinho esperto e ergue uma sobrancelha para
mim, deixando claro que está tirando uma com a minha cara.
- Com certeza seria uma ideia genial. Tão genial quanto deixar o lobo
cuidando do galinheiro, ou John vigiando uma caixa de bombons.
- HEY! - O John em questão reclama do banco da frente, me lançando
um olhar aborrecido.
- Contra fatos não há argumentos, querido. - Dou uma piscadinha para
não estaremos mais em turnê, não vamos nos ver todos os dias. Então, como
retribuição pelo que fiz por você, eu queroooo... - Faço uma pausa de
suspense e ela começa a me dar tapinhas no ombro por um lado, enquanto Jus
começa a bater do outro.
fazenda... como eu sempre quis! Nunca tinha comentado isso com ela, nem
com ninguém.
- Muito sério. Imagina que sonho morar num lugar afastado, quieto, o
oposto dessa vida?! Onde eu pudesse recarregar as minhas energias, sem ter
paparazzi acampados na porta... O que me diz? - Pergunta animada.
Difícil acreditar que eu, logo eu, mereço tudo isso que está
acontecendo. Faço um carinho de leve na sua bochecha e olho bem nos seus
olhos castanhos. - Digo que eu te amo, Princesa.
sutileza de um tanque de guerra. Também, tendo pais como a gente, não tinha
como ser diferente. Me desvencilho dos braços do meu marido gato e sorrio
para ela.
- Não seja por isso. Agora, Papai e Mamãe vão beijar a Vi então. -
Drake a pega no colo e nós dois distribuímos beijos pelas suas bochechas
rosadas, todos jogados no sofá da nossa sala aconchegante.
- Chega! Chega! Eu preciso dizer o que quero de aniversário! - Ela se
contorce pedindo para descer e ajeita o seu vestido rosa, com pequenos
mas seus olhos são tão verdes quanto os do pai. É apaixonada por artes
marciais, mas não abre mão de um bom glitter.
Sua presença na nossa vida serviu para nos aproximar ainda mais
como casal e eu nem imaginava que isso fosse possível.
Não estou dizendo que é fácil criar uma criança entre turnês mundiais,
jatinhos e tapetes vermelhos, mas nós estamos fazendo nosso melhor e Vi
está levando uma vida relativamente normal. Quer dizer, o máximo de
normal quando se tem pais como eu e meu Babaca.
brancos daqui alguns anos... - Acho que pode ser legal então.
- Vai ser a escola mais legal de todos, papai promete. Agora, por que
não coloca o seu pijama de brilhos da Barbie e daqui a pouco nós vamos te
contar uma história?
que eu amo. Adoro nossos papos, adoro saber mais sobre vocês, adoro nossas
trocas de livros e adoro cada um, mesmo quando brigam comigo!
Obrigada Ermelinda por ter encontrado uma brechinha nos seus dias
para ler e revisar cada um desses capítulos antes deles irem ao ar. Sei que não
foi fácil e serei eternamente grata pelo seu apoio ao meu trabalho. Ah! E
pelos áudios empolgados também!
Obrigada Alê por ser a maior apoiadora da minha carreira, a maior
amiga que eu poderia ter, a maior companheira de rolês e aquela que eu
nunca vou cansar de dizer que amo com todo o meu coração.
E obrigada a você! Por ter chegado até aqui e por ter dado uma chance
ao meu livro. Espero que tenha passado bons momentos ao lado de Drake e
Roxy. Por favor, venha me contar o que achou. Vou adorar saber! Você me
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Com carinho,
L.
Conheça meus outros livros!