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Presents

Staff

Tradução: Selene
Revisão Inicial: Diana
Revisão Final: Perséfone
Formatação: Lanynha
Disponibilização: Cibele
Grupo Rhealeza Traduções
Spectacular RASCAL
Lili Valente
Sexy Flirty Dirty #2

SINOPSE
Quando você foi enganada pelo Sr. Errado, deixe um Patife Espetacular te
mostrar como é bom ser má.

Você conhece o típico calmo e bem-sucedido de empresário de Nova York?


Bem, eu sou o outro cara, aquele que você não leva para casa para conhecer
sua mãe. O cara tatuado, áspero em todos seus aspectos, 100% primitivo e
fodão.

Como o bad boy fixo da Magnífico Bastardo Consultoria, eu tenho o que é


preciso para garantir que seu ex idiota pense duas vezes antes de bater à sua
porta novamente.

Ou eu pensei que tinha, até conhecer minha última cliente...

Agora a minha selvagem, sexy, e-que-deu-o fora está olhando para mim com os
seus grandes olhos verdes, me desafiando a enfrentar tanto quanto ela, um ex
idiota e perigoso. Mas tudo que quero fazer é possuí-la de novo e de novo.

Logo Cat e eu estamos batendo recordes de maratona de sexo e medalhando


nos Jogos Olímpicos dos orgasmos, tudo enquanto estamos um passo à frente
de seu antigo Sr. Errado. Tudo é perfeito, exceto pelo fato de que estou me
apaixonando perdidamente por essa mulher e tudo que ela mais quer é: Curvar
para o seu prazer (confie em mim, o apelido combina).

Agora tenho que provar a Cat que não sou nada parecido com o homem que
ela abandonou, e fazer tudo isso antes que nosso tempo acabe. Considerando
que seu ex faz parte da máfia, senão

formos cuidadosos, isso pode ser mais cedo do que qualquer um de nós
imagina...

Aviso: SPECTACULAR RASCAL é uma comédia romântica sexy e independente


contada pelo ponto de vista do herói. Sem suspense. Muita conversa sacana.
PRÓLOGO

E aí, princesa.

Sim, você. Você com a cópia de Faça Acontecer: Mulheres, Trabalho e a


Vontade de Liderar!1 Agarrada ao peito.

Você com o batom rosa, cinta modeladora dividindo-a ao meio, embaixo


de sua saia lápis na altura do joelho e com o olhar: “Isso não pode estar
acontecendo comigo, comigo não”. Você passou sua vida inteira se retraindo para
ser todas as coisas que deveria ser: inteligente, ter boas maneiras, elegante,
refinada; uma seguidora de regras que nunca deixa um “i” sem o pingo ou um “t”
sem o traço, e olha para onde isso te levou.

Para problemas. Para fuga. Olhando por cima dos ombros e se


perguntando como diabos vai passar por isso, porque todas as aulas de etiquetas
e diplomas da Ivy League no mundo não podem protegê-la quando você acaba no
lado errado do alter ego do Dr. Perfeito, Sr. Alto, Sombrio e Psicopata.

Ir até à polícia não adianta e você sabe disso.

Você não é só bem-educada, você é bem informada. Você está por dentro
dos acontecimentos atuais e está ciente das estatísticas deprimentes sobre a
violência doméstica. Você sabe que a cada nove segundos uma mulher nos EUA é
espancada por seu companheiro. Você sabe que três ou mais mulheres são
assassinadas por seus maridos ou namorados todos os dias e que uma ordem de
restrição não vai parar um homem determinado a provar que ninguém o deixa.

Pelo menos, não sem algumas cicatrizes para se lembrar dele...

Eu não vou dourar a pílula, docinho. Você está certa por temer, mas você

1
Livro de grande sucesso de Sheryl Sandberg que acabou gerando uma infinidade de outros títulos com o mesmo
esquema: o que as mulheres devem fazer para se destacarem no mercado de trabalho competitivo e machista. O
termo Leaning in foi cunhado por essa autora em 2013.
não deve. Não mais. Você veio para o lugar certo, para o homem que sabe como
combater fogo com fogo.

Juntos, nós vamos convencer o seu ex-idiota e perigoso que você tem um
novo homem, um homem mais alto, mais forte e mais malvado, que te fode com
tanta frequência e tão bem que não te resta nenhuma energia para se preocupar
com as ameaças do Babaca. Na realidade, nossa relação nunca irá mais longe do
que um beijo, mas ele não saberá disso. Ele vai presumir que você foi reivindicada
por um macho alfa com faixa preta em detonar ex-namorados e com bíceps do
tamanho daqueles cortes de presunto que a mãe dele compra para o jantar de
Páscoa e perceber que a melhor opção dele é começar a andar e nunca mais olhar
para trás.

Fui contratado pela Magnifico Bastardo Consultoria para casos como o


seu, para ex’s que precisam de mais do que uma grande injeção de ciúme em suas
vidas. Para o cara que precisa de um lembrete de que há mais criaturas selvagens
rondando a floresta, e que aterrorizar uma mulher com a metade do tamanho
dele é uma péssima ideia.

Mas vai precisar mais do que eu a escoltando pela cidade no meu braço
tatuado, ou te beijar como se eu possuísse sua boceta doce todas as noites. Eu
posso bancar o Grande, Mau e Possessivo como o melhor de todos eles, mas você
também tem o seu papel a desempenhar. Um papel tão importante que não há
como eu poder fazer isso sem você.

Então vá em frente e feche os olhos, princesa.

Isso aí. Feche-os.

Deite-se. Relaxe. Abra o zíper da sua saia lápis, deslize dessa cinta e deixe
sua respiração vir lenta e profundamente enquanto eu a levo para um lugar que
eu gosto de chamar: Vila Do Não Me Importo Com Nada.

Agora, não fique tensa. Me ouça.

Eu sei o que você está pensando, Mas Aidan, tudo que eu faço é me
importar com as coisas.
Eu me importo muito, importo com tudo.

Eu me importo tanto que, às vezes, no final do dia, eu sinto que estou


desmoronando em todos os lugares onde eu me importei muito, tentei tanto, dei
tudo o que eu poderia dar para ser a melhor que eu poderia ser. Para ser a
mudança que quero ver no mundo, para inspirar e liderar como um exemplo, e me
erguer, meu caro amigo, e todos esses outros clichês que posto nas redes sociais
durante minha hora de almoço para evitar falar com o babaca do cubículo ao
lado…

Sim, eu te ouço. Entendo. Você se importa.

Mas quando foi a última vez que todo esse “importar” te levou a algum
lugar? Quando foi a última vez que o mundo mudou porque você estava se
importando muito?

Provavelmente, nunca, suponho. E isso é porque ligar é diferente de se


importar. Ligar é algo que você faz sem se preocupar com o fim do jogo. Ligar
torna o mundo um lugar melhor, enquanto não lhe custa nada.

Se importar é outra história.

É assim que é: você tem tanto medo de perder o controle de sua vida, ou
do seu destino, ou do que quer que você esteja estressada, que você surta com as
coisas que não importam, se importando com as coisas por aí como uma barata
tonta, como uma cabeça oca. Você luta para controlar e convencer, mas no final a
luta controla você. Você dá o seu poder para as pessoas que te enfurecem ou te
entendem mal, pessoas que você nunca vai mudar não importa o quanto você
ligue.

E mais cedo ou mais tarde, você vai ter se importado muito com tantas
coisas estúpidas que você não terá nenhuma energia para as coisas que
realmente importam.

Sem energia para a amiga que precisa conversar sobre o post de sua
depressão pós-separação. Sem energia para notar a mulher lutando para descer
seu carrinho de bebê pelas escadas do metrô no dia em que o elevador está
quebrado, enquanto o resto do mundo passa por ela. Sem paixão para as coisas
que você realmente quer fazer com a sua vida, para a arte, a música, as risadas de
doer a barriga e o resto das coisas realmente boas.

Talvez isso não seja o que você esperava ouvir de um cara barbudo e com
um braço coberto de tatuagens usando uma camisa marcando os músculos e uma
corrente na carteira. Mas eu não me importo se não sou seu estereótipo de
tatuador de Nova York.

É isso aí, eu não ligo.

Eu tenho sido um habitante da Vila Do Não Me Importo Com Nada há


anos, e isso me tornou uma pessoa mais feliz e mais bem ajustada do que quase
todo mundo que conheço. Isso me deu liberdade para ser quem eu sou, para ir
atrás do que quero e curtir as coisas que gosto, porque a vida é curta demais para
deixar outra pessoa me dizer quem eu deveria ser.

Eu que dou as ordens. Não a sociedade ou a religião, nem as expectativas


dos meus pais, ou a pressão dos meus amigos, ou todas as regras não escritas e
mensagens não ditas empurradas goela abaixo umas cem vezes por dia por
pessoas que tentam me vender algo.

E é isso que estou aqui para te dar, princesa, o que você mais precisa
numa hora dessas. Poder.

Vou te mostrar o caminho, e pouco a pouco, você vai recuperar o poder


que o mundo te roubou, o poder que precisa para convencer o seu grande e
malvado ex de que não há nenhum sentindo em continuar a sacanear com uma
vadia durona e fria como você. Sim, isso vai levar tempo e sim, seu ex pode usar
as táticas habituais: ameaças, violência, intimidação. Mas vou estar lá para apoiá-
la, para provar para ele que você é muito bem-amada, muito bem fodida e está
completamente satisfeita com o seu “novo homem” que a luta dele é inútil.

Você é um cavalo selvagem que ele nunca vai domar, um pássaro livre que
ele nunca vai apanhar, e mais cedo ou mais tarde ele vai se cansar e ir embora. E
nesse dia, você não estará apenas livre do Sr. Errado; você estará livre para ser o
que quiser ser.

Agora, isso não soa bom?


Nunca ir para a cama preocupada se você é boa o suficiente ou inteligente
o suficiente ou bonita o suficiente ou bem-sucedida o suficiente para os padrões
de qualquer pessoa além dos seus próprios padrões, nunca mais? Eu posso dizer
que você está curtindo o quanto é mais fácil respirar sem a cinta...

O que é? Você não está convencida que a Vila Do Não Me Importo Com
Nada é para você?

Você precisa de mais persuasão?

Então segure a minha mão, linda, e deixe-me te mostrar como pode ser
bom para uma boa garota ficar má.
CAPÍTULO 1

É uma manhã linda de verão na cidade e já está quente pra caramba, um


fato que posso verificar já que atualmente estou segurando minhas bolas “e meu
pau” em uma das mãos enquanto corro pelado pelo Parque Prospect, sendo
perseguido por um policial com um apito que ele soa a cada segundo, garantindo
que ninguém perca a minha corrida solitária ao redor do lago. Minhas bolas estão
quentes e suadas, minhas botas-não-apropriadas-para-corrida estão roçando
dolorosamente em minhas panturrilhas, e um grupo de vovós passeando com
seus cães assobiaram e gritaram: “Bela bunda, cowboy, vamos ver o resto do que
você tem!” enquanto eu corria.

Senhoras. Elas não são mais o que costumavam ser, isso é certeza.

E esta corrida suada é bem menos divertida do que da última vez que saí
correndo pelado com o meu clube de corredores, quando estávamos tão bêbados
que, correr pela ponte do Brooklyn, soou como uma ideia maravilhosa. Pelo
menos naquele dia estava escuro, eu estava bêbado e uma brisa fresca do Rio
East manteve as bolas suando ao mínimo.

Mas correr foi a única maneira que arranjei para distrair o policial que
estava prestes a prender meus amigos. Melhor eu ser acusado de indecência
pública do que Bash e Penny serem presos por transarem no lago do Parque
Prospect.

Eu ainda não consigo acreditar que os dois decidiram que transar em


público era uma boa ideia. Mas acho que o amor verdadeiro faz coisas loucas ao
juízo de uma pessoa. Eu não saberia, pessoalmente. Eu nunca estive apaixonado
assim, mas a julgar pelo que isso fez ao meu melhor amigo e a sua assistente
geralmente doce, sensata, que mantém-sua-calça-em-público, aparentemente é
uma merda.

Enquanto espreito sob galhos baixos perto da beira do lago, mirando a


estação de aluguel de canoas, decido que estou bem em continuar solteiro pelo
futuro próximo. Planejar que o meu melhor amigo e sua garota reatassem para
que os dois parassem de lamentar, chorar e de matar a diversão do verão antes
que sequer começasse, esgotou o meu entusiasmo já limitado para o romance.

Além do mais, tenho um trabalho a começar amanhã. Uma namorada


falsa com quem, em troca de dez mil dólares, vou fingir ser completamente
apaixonado pelo próximo mês. Bash estava muito preso em celebrar sua piedade
em tempo integral para enviar o arquivo completo sobre a mulher, mas eu sei o
seu nome e ocupação: Beth Jones, uma advogada que está tendo dificuldade em
convencer seu ex-assustador de que o relacionamento deles acabou para sempre.

Meu instinto diz que Bash seria o melhor para este trabalho. Ele é o tipo
de empresário calmo e bem-sucedido que parece que deveria namorar uma
advogada, mas Beth me solicitou. Ela deu uma olhada nas fotos no meu arquivo
“Patife Espetacular”, não me julgue, Bash escolheu o nome; às vezes ele é muito
engraçadinho para o seu próprio bem, e insistiu que eu era o cara que ela
precisava.

Aparentemente, ela quer um homem que seja “um pouco perigoso”.

É claro que, na realidade, o meu fator de perigo é apenas superficial. Sou


coberto de tatuagens, tenho uma barba cheia que acentua a minha cara de “não
mexa comigo”, e atualmente estou correndo risco de ser preso por um amigo,
mas eu não sou perigoso, nem um pouco. Nunca bati em um homem que não
tenha dado o primeiro soco, nunca tomei uma decisão arriscada pela raiva e
nunca bati numa mulher que não tenha me implorado para mostrar à sua bunda
bonita quem é o chefe.

Eu gosto do meu sexo quente, duro e o mais safado que puder, prefiro
ficar no topo na maioria das situações, e me recuso a ser fodido por qualquer um
ou qualquer coisa. Mas quando se trata do que realmente importa, eu sou
inofensivo. Eu tenho literalmente tatuado no meu antebraço esquerdo “Não faço
mal”, ao lado do diabo dançando ao luar que tatuei na minha primeira
convenção. Eu não machuco pessoas inocentes, não incito conflitos e não misturo
as minhas besteiras pessoais em meus relacionamentos. Eu guardo isso para a
sala de musculação.

Lá, é aonde vou para purgar os meus demônios e recuperar o meu foco. E
sim, eu sou musculoso, e tenho que me alongar por uns bons vinte minutos
depois de levantar peso para manter uma gama completa de movimentos. Não
estou dizendo que não tenho meus problemas, só que eu lido com eles de uma
forma sã, saudável e que aumenta-a-massa-muscular.

Agradeço por essa massa muscular enquanto salto em uma canoa vazia,
libertando o capitão e sua tripulação para baterem em minha coxa enquanto
pego o remo e vou em direção ao centro do lago.

— Cara, você tem que pagar por isso! —O garoto magro com a camisa do
Departamento de Parques na estação de aluguel grita para mim. Mas seu tom é
mais entediado do que indignado. Aparentemente, o fato de eu estar nu não é
suficiente para compensar o fato de que ele está preso trabalhando aqui sem
sequer um guarda-chuva para proteger do sol a sua cabeça oleosa de
adolescente.

— Eu vou pagar quando a trouxer de volta, cara. Eu juro. —Digo, olhando


por cima do meu ombro, respirando com mais facilidade enquanto vejo o policial
com apito e com o rosto vermelho parado a uns sessenta metros de distância.

Resistindo à vontade de dar ao policial um sorrisinho, não preciso esfregar


sal na ferida, ou dar motivo ao homem para pedir reforços se já não tiver pedido,
inclino meu queixo e puxo com força, fazendo a canoa estreita deslizar
rapidamente pela água. Com alguns minutos, eu voltei pela curva na margem, na
enseada isolada onde aconteceu a cena do crime de paixão de Bash e Penny.

Literalmente.

A saia de Penny tinha coberto as partes mais pertinentes da equação, mas


não havia dúvida do que eles estavam fazendo quando o policial de rosto
vermelho e eu aparecemos na cena. Suponho que alguns caras iriam se excitar
com esse tipo de coisa, mas eu não sou do tipo voyeur, especialmente quando se
trata de assistir ao meu melhor amigo e seu amor com um pateta a um
quilômetro e meio de pegá-los. Penny é como uma irmãzinha para mim e eu
pagaria um bom dinheiro para apagar da minha cabeça a imagem do seu rosto de
boa menina retorcido em êxtase.

Enquanto puxo a canoa para a margem gramada e rapidamente recolho as


roupas que escondi atrás de uma árvore, perto da beira da água, permito que os
meus pensamentos voltem às minhas próprias aventuras-sexuais, procurando
algo para banir Penny no-meio-de-um-orgasmo do meu banco de memória. Eu
tive um excelente começo para a temporada de verão, ficadas sexuais e sem
compromisso e passei um tempo com algumas mulheres muito bonitas e
dispostas a tudo, que me forneceram uma vasta inspiração erótica.

Mas por alguma razão o meu cérebro ignora toda essa sacanagem que fiz
ultimamente e faz um atalho para uma noite a onze anos atrás: a formatura da
faculdade. Foi a minha última corrida com os Corredores da Universidade da
Pensilvânia, a noite em que eu entreguei a tocha como corredor líder e cheguei
muito perto de tirar a virgindade da Calcinha de bolinhas 2 em uma pilha de folhas.

Eu nunca tinha transado com uma virgem, nem mesmo quando eu era
virgem, e não tinha intenção de ficar sério assim com nenhuma garota, que dirá
com a Calcinha, uma das minhas melhores amigas e uma garota que eu conhecia
só por seu nome de corredora.

Todos éramos conhecidos por apelidos, quanto mais vulgar melhor, na


pista de corrida.

Calcinha de Bolinhas começou seu primeiro ano como Maria, como a


Virgem Maria, do jeito que todas as novatas do estilo de vida de corredora dura e
bebedeira pesada começam. Mais tarde, após uma corrida na chuva que tornou
transparente o seu short rosa choque de corrida, ela tornou-se a Calcinha de
Bolinhas. Eu era o Curvado para o seu prazer, exatamente o que você está
pensando.

Ela me chamava de Curvado. Eu a chamava de Calcinha, CDB, ou, às vezes,


apenas... Ruiva.

Ruiva por causa do cabelo vermelho sedoso que caía até sua bunda, por
causa do batom que ela usava nas fogueiras de sábado à noite após nossas
corridas esgotantes da tarde. Por causa da caneta que ela usava para escrever os
bilhetes que trocávamos e por causa da cor que ela me fazia ver cada vez que me
xingava por escolher uma trilha fácil ou não ter incluído ziguezagues suficientes
ou qualquer erro que ela encontrasse no meu trabalho como “raposa”.

2
Apesar de tradicionalmente não se traduzir nomes, achamos por bem colocar em português para não perder a
graça contida nesses apelidos.
A raposa (o corredor líder) estabelece a trilha, e os cães de caça (todos os
outros corredores) correm atrás dele, seguindo as marcações ultrassecretas do
nosso clube, lutando para encontrar o caminho verdadeiro e ser o primeiro na
linha de chegada. Desde o dia de sua primeira corrida, Ruiva era uma força a ser
reconhecida. No seu segundo ano, ela chegou em primeiro lugar em todas as
corridas, não deixando dúvidas a respeito de quem deveria ocupar o meu lugar
quando eu me formasse, embora a honra do corredor líder fosse geralmente
dada a um estudante do último ano.

Na noite em que eu deveria passar a posição de raposa, as ferramentas de


marcação da trilha e o moletom com “Calcinha de Bolinhas, Aqui Para Te Foder”
escrito nas costas que eu tinha feito para ela como minha maneira de agradecer
por acabar comigo e ser uma das minhas melhores amigas. Eu não deveria ter
fumado um baseado com ela, ou puxá-la para os meus braços para dançar no
escuro, ou beijá-la até que seu doce e intrépido sabor estivesse
permanentemente impresso na minha língua.

E certamente não deveria ter deslizado minha mão na frente de sua


calcinha e sentir o quanto ela estava molhada para mim.

Molhada, quente e tão pronta que ela se balançou contra a minha mão
com esse gemido sexy e me implorou para ser seu primeiro. Me implorou para
levá-la, ali mesmo, no chão, nas folhas ou contra uma árvore, onde eu quisesse,
desde que eu não parasse até dar um jeito na sua maldita virgindade de uma vez
por todas.

—Eu não me importo se esse não é o jeito que deveria ser. —Ela disse, os
dedos enroscando no meu cabelo. —Eu quero você. E confio em você. E não há
outra pessoa no mundo com quem queira fazer isso. —Seu hálito roçando meus
lábios, me fazendo ansiar por outro gosto dela. —Por favor, Curvado. Fique
comigo. Agora. Esta noite. Antes de você ir embora.

—Eu não estou pronto para isso, Calcinha. Não posso. —Gemo enquanto
ela encontra a minha ereção, me esfregando através do tecido fino do meu short
de corrida.

—Você parece pronto. —Seus dedos envolvem a cabeça inchada do meu


pau e apertam. Seu toque é excepcional, uma energia potencial tão perigosa
quanto sedutora.

Isto é tão errado, porra. Ruiva é uma amiga e apenas uma amiga.

Mas merda, eu quero mais do que meus dedos em sua bocetinha quente.
Eu a quero debaixo de mim, se contorcendo enquanto mostro para ela o quanto
estou pronto para fodê-la. Mas ela não mentiria sobre ser virgem. Ou qualquer
outra coisa. Calcinha é uma ferrenha defensora da verdade. Se ela diz que esta é
sua primeira vez, então é.

O que significa que se eu transar com ela, vou machucá-la. Eu sou do


tamanho grande acima da média e correspondo ao meu apelido honestamente.
Quando estou duro, meu pau curva-se para apontar para o meu próprio umbigo,
perfeito para atingir o Ponto G em uma garota que já tenha dado umas voltas,
mas com certeza não para uma Iniciante em Paus.

Mesmo assim, não é com a dor física que eu causaria que estou mais
preocupado.

Ruiva é durona e joga duro, mas ela tem a sua quota de problemas. Ela
tem um pai insensível e egoísta, nunca conheceu a mãe e está lidando com uma
série de outras coisas que ela mantém hermeticamente guardadas. Ela é durona,
mas ela também é mais vulnerável do que ela deixa transparecer, e não é a
pessoa mais emocionalmente estável.

Ter seu primeiro amante num caso de uma só noite não é o tipo de coisa
que vai ajudá-la a ser mais estável. E não quero tirá-la de seu jogo. Eu gosto da
Ruiva.

Talvez até mais do que só gostar dela, eu percebo, meu coração se


contorcendo no meu peito quando ela começa a desvanecer em meus braços,
sucumbindo à pressão lenta e constante dos meus dedos deslizando sobre seu
clitóris.

—Oh, Deus. —Ela diz, a voz presa enquanto treme contra mim. — Eu
nunca... oh Deus, não posso, eu vou cair.

— Não, você não vai. —Envolvo meu braço livre ao redor da cintura dela e
seguro firme. —Estou te segurando. Agora goze para mim. Eu quero sentir você
gozar, Ruiva. Eu quero você em meus dedos, linda.

Sua respiração acelera e um segundo depois ela está chamando meu nome
enquanto goza, mas não é meu nome verdadeiro. Ela não sabe que meu nome é
Aidan e eu não tenho ideia de como seus amigos da vida real a chamam.

Nós somos tão próximos e compartilhamos uma centena de piadas


internas, mas não somos próximos o bastante para isso. Não tão próximos quanto
eu gostaria que fôssemos se eu fosse ser o homem que faria amor com ela pela
primeira vez.

E ela merece alguém que faça amor com ela, não que apenas transe e tire
a sua virgindade. Ela merece alguém em que ela possa confiar seu coração, seu
corpo e seus segredos bem guardados, mas eu vou sair do país amanhã. Mesmo
se eu quisesse, mesmo se eu estivesse pronto para algo tão intenso como o que
suspeito que eu poderia ter com Ruiva, eu não posso ser esse alguém.

Com uma pontada de arrependimento profundamente no meu coração, no


meu interior e nas minhas bolas doloridas, percebo que não posso deixar isso ir
mais longe. Não importa quão gostosa Ruiva está hoje à noite, ou quão
desesperadamente quero dar tudo o que ela está pedindo.
CAPÍTULO 2

Eu saio da memória com um arrepio... e uma ereção que não irá embora.

É sério não irá. Vinte minutos mais tarde, depois de passar pelo caminho
oposto ao redor do lago para evitar quaisquer agentes da lei persistentes na área,
ainda estou lutando contra um pau duro. Enquanto pago o garoto ranzinza pelo
aluguel da canoa e um pouco mais para ir buscá-la na enseada, escondo a
situação com minha camiseta e depois vou em direção ao metrô, sentindo-me
estranhamente um idiota, considerando que eu fiz minha boa ação do dia.

Bash e Penny estão juntos novamente, meu melhor amigo saiu de seu
abismo de desespero e ninguém foi acusado de um crime.

Pelo menos acho que eles não tenham sido acusados.

Para ter certeza, pego meu celular e mando uma mensagem para Bash:

Tudo bem com vocês dois? Nenhuma prisão?

Depois de um momento Bash manda uma mensagem de volta:

Não, estamos a salvo e já voltámos para a casa da


Penny. E quanto a você?

Eu: Tudo limpo. Embora tenha sido um pouco tenso por


um tempo lá.

Olho por cima do meu ombro para me certificar de que não tenha
ninguém na minha cola. Mas a coisa mais ameaçadora na calçada atrás de mim é
uma menina com um sotaque de Long Island falando muito alto em seu celular.
Com sorte, se alguns policiais aparecerem, vão prendê-la por se recusar a mandar
mensagens como um ser humano decente, e me deixarão em paz.

Aposto que sim. Bash responde. Penny quer que eu lhe diga
obrigado, a propósito. Ela diz que você tem coragem.
Eu: Ha. Ha. Muito engraçado.

Não mesmo. Nunca fique nu na frente da minha


namorada novamente.

Eu sorrio. Por quê? Preocupado que ela possa ver algo que
ela goste? Eu observo as bolinhas pontilharem minha tela, antecipando uma
resposta espertinha, mas Bash me surpreende.

Que nada. Penny é minha. Eu sou dela. E eu agora sou


provavelmente o bastardo mais feliz em Nova York, então...
Obrigado. Sério. Eu te devo uma. Uma grande.

Humm, uma grande, hein? Eu me pergunto quão grande... isso


significa que você vai lidar com Beth amanhã? Eu sei que
ela queria que eu lidasse com a sua intervenção, mas eu não
namoro advogadas, cara. Nós vamos parecer ridículos juntos.
Ela estaria melhor com um Bastardo Magnífico.

Sem chance. Você não pode desistir disso, Aidan. Bash


responde imediatamente. Mesmo que eu não tivesse planejado ficar
com a Penny e mantê-la na cama pelos próximos quatro
dias, eu não poderia trocar isso. Beth precisa de alguém para
assustar de verdade o seu ex. Eu não tenho isso em mim, e
você sabe disso. Eu sou excelente no que faço, mas não
inspiro medo à primeira vista.

Eu suspiro. É verdade. Bash pode ser um filho da puta frio e duro quando
precisa ser, mas à primeira vista, ele parece o tipo de cara que vai apertar sua
mão e pedir a localização do bar mais próximo, não caçar e cortar o seu coração
por foder com a garota dele.
Embora ele faria isso. Eu sei que se alguém ameaçasse Penny, Bash faria o
que fosse necessário para mantê-la segura. Ele provou isso quando roubou um
cavalo e montou atrás dela como se estivesse incorporando o ator de faroeste
John Wayne. Mas sua valentia não passa da superfície, o que significa que estou
preso com Beth pelo próximo mês, ou o tempo que levar para convencer seu ex a
recuar.

Paro perto da entrada do metrô e digito um rápido: Entendi, vou


cuidar da Beth. Aproveite o seu tempo com a Penny, enquanto
outra onda de mal-estar passa pelo meu peito e se estabelece pesadamente no
meu estômago.

Uma parte de mim quer culpar a senhorita advogada e suas necessidades


especiais de intervenção por essa merda de sensação. Não gosto de tirar uma
semana de folga do meu trabalho de verdade para a orientação de uma nova
cliente. Tatuar é minha paixão; este trabalho para Bash é apenas uma maneira de
acelerar o dinheiro que preciso para abrir uma segunda filial da Ink Addicts. Mas
essa mulher que nunca conheci não é o problema.

O problema é o olhar no rosto de Bash quando ele viu Penny hoje. Eu


nunca vi essa expressão antes, nesses quase vinte anos de amizade. Todo aquele
Bash presunçoso e espertinho sumiu e não havia nada em seus olhos além de
pura felicidade. Naquele momento, não havia mais ninguém no mundo além de
Penny, a mulher que é o seu tudo, a amiga que conhece todos os seus segredos, a
pessoa que ele precisa mais do que o ar para respirar.

Bash nunca esteve apaixonado antes, e eu saí com ele e sua última
namorada, mas nunca o vi olhar para ninguém como ele olha para Penny. É como
se a resposta para cada pergunta estivesse bem ali, naquele corpinho cheio de
curvas. Naqueles grandes olhos castanhos. Nos braços da pessoa que tem
provado a ele quem ele realmente é, no íntimo por baixo de todas as besteiras, é
o suficiente.

Mais do que o suficiente.

Faz um longo tempo desde que eu estive com alguém que me fez querer
mostrar o meu íntimo. Faz ainda mais tempo desde que eu me permiti começar a
colecionar esses momentos, essas memórias, essas partes de uma pessoa que,
pouco a pouco, faz você se perguntar se é realmente isso. Se esta é sua chance de
algo mais do que uma conexão casual. Se esta é a pessoa que provará que o amor
não é uma mentira ou um conto de fadas ou algo que começa a morrer no
momento em que nasce. Que o amor é real e que pode durar, embora todos os
casais que você conhece estão vacilando, enfraquecendo ou quebrados além do
reparo.

Não mais. Não há nada quebrando ou enfraquecendo entre Bash e Penny.

Eu dou um grunhido enquanto enfio meu celular em meu bolso de trás,


lembrando-me que é muito cedo para chamar a atenção de Bash e Penny. Eles
podem ter tido um relacionamento funcionando bem por dois anos, mas o amor é
um bicho completamente diferente.

Sempre que ouço sobre um domador de leões dilacerado pelos felinos que
treinou desde o nascimento, ou um homem barbaramente assassinado pelo
chimpanzé que ele salvou de caçadores ilegais, eu penso sobre o amor. O amor é
uma criatura selvagem e indomada. E não importa o quanto seja bonito ou
sedutor, não se pode confiar que não vá acordar com uma bola de pelo na sua
bunda e decidir arrancar seu rosto.

Na viagem de metrô a caminho de casa, eu me seguro a essa verdade, e


quando chego ao meu apartamento no West Village, a sensação melancólica “e se
você estiver perdendo todas as coisas boas” desapareceu, e eu sou meu antigo eu
novamente.

Eu permaneço assim até as dez horas da manhã seguinte, quando entro


no restaurante Buvette para o meu primeiro encontro com Beth Jones e vejo uma
mulher sentada em uma mesa de canto, tomando um cappuccino, me olhando
com plácidos olhos verdes que são bem familiares.
CAPÍTULO 3

Da coleção de bilhetes de: Curvado para o seu prazer e Calcinha de


bolinhas

Caro Curvado,

Eu não tenho certeza se você vai ler este bilhete, como


uma humilde caloura, eu não tenho como saber se o buraco
na rachadura da estátua do soldado da união é realmente
onde os Corredores colocam as mensagens ultrassecretas ou se
você está só tirando um sarro, mas decidi que vou dar uma
chance.

Se você estiver se escondendo nos arbustos, me filmando


enquanto eu escalo a estátua e tiro a virgindade da bunda
com este pedaço de papel, só posso esperar que você não vá
mostrar as imagens a ninguém de fora do clube. Eu aceitei
esse constrangimento como parte da minha nova vida,
juntamente com o meu apelido de Calcinha de bolinhas,
mas há pessoas no meu mundo que NÃO se divertiriam com
qualquer coisa que envolva eu e a bunda de um homem.

Mesmo que o homem em questão seja uma estátua.

De qualquer forma, só pensei que você gostaria de saber


por que foi tão fácil para mim encontrar a trilha verdadeira
hoje. Seus marcadores de trilha de corrida são ótimos, mas
cada vez que você arma uma pista falsa, suas pegadas ficam
profundas e mais próximas. Qualquer pessoa que saiba o
básico sobre rastreamento pode dar uma olhada nos
primeiros metros do caminho e dizer se é uma trilha
verdadeira ou um truque para um beco sem saída.

Então basicamente, você vai ter que aprimorar o seu


jogo de raposa se quiser enganar este cão de caça. ;)

Obrigada mais uma vez por me deixar entrar no grupo.


Não me lembro da última vez em que me diverti tanto.

Com os cumprimentos,

Calcinha de Bolinhas

Querida Calcinha,

Então o que você está dizendo é que você é uma


escoteira indígena presa no corpo de uma branquela magra.
É bom saber disso, e vou fazer o meu melhor para parar de
facilitar as coisas para o seu traseiro de bolinhas.

Obrigado pelo alerta e não se preocupe com nada


relacionado sobre os Corredores sendo compartilhado fora do
clube. Como você provavelmente já pôde notar, somos
impiedosos quando se trata de falar besteiras, mas nós sempre
cuidamos um dos outros.

Sua reputação está segura conosco.

Bem-vindo ao clube,
Curvado (C para os amigos)

PS: O soldado perdeu a virgindade da bunda há muito


tempo, mas foi gentil da sua parte se preocupar.

Muito gentil.

Você precisa acabar com essa merda ou o resto dos cães


vão te comer no café da manhã.

Caro Curvado,

Entendi.

Obrigada pelo bilhete, a confiança e o aviso. Mas não


se preocupe com ninguém me comendo no café da manhã.
Minha bunda de bolinhas e eu somos mais resistentes do que
parecemos.

Vejo você na trilha.

Tente me fazer trabalhar desta vez?

Atenciosamente,

Calcinha.
Querida Calcinha,

Vou lembrá-la do seu bilhete espertinho quando você


estiver me pedindo misericórdia no sábado. Eu vou elaborar
algo com sete níveis de sofrimento só para você.

Prepare-se para chorar como uma caloura,

Curvado.
CAPÍTULO 4

Beth Jones é Calcinha.

Calcinha é Beth Jones.

Minha mente faz a conexão rapidamente, percebendo que qualquer outra


explicação para a Ruiva estar sentada na mesa do canto que eu tinha reservado
para atender a minha cliente, usando o vestido verde que minha cliente disse que
estaria usando, é improvável.

Por anos, pensei sobre a verdadeira identidade de Calcinha. Mas resisti à


vontade de pesquisar no Google um nome para à memória da garota que me
impulsionou a me tornar a raposa mais astuta que os Corredores da Universidade
da Pensilvânia já teve. A garota que foi uma das minhas melhores amigas da
faculdade, e que assombrou meus sonhos por meses depois daquela noite na
floresta quando quase a fiz minha.

Eu não queria um nome ou quaisquer detalhes mais íntimos. Eu queria


deixá-la no passado e esquecer que quase cancelei meus planos de estudar com
um mestre artista da tatuagem para passar o verão profundamente enterrado na
ruiva. Esquecer que demorou muito tempo para tirá-la da minha cabeça, ou que
ainda há noites em que estou tão sozinho e nada que a Internet tem para
oferecer em termos de estimulação erótica funcionará.

Noites em que eu me masturbo com a memória de seu cheiro, seu gosto e


o som da sua voz quando ela sussurrou que eu era o único que ela queria. Noites
em que eu me pergunto se era por que nós éramos jovens e estúpidos e
aconteceu de sermos tolos juntos que me faz lembrar dela com uma sensação de
aperto no peito, ou se é algo mais, algo que deixei passar, algo que talvez nunca
possa encontrar novamente se não mudar o meu estilo.

E agora ela está aqui, encontrando meu olhar através do Café Francês
lotado-para-uma-segunda-feira-de-manhã com uma expressão calma e cautelosa
que não é nada como a Calcinha confiante e secretamente vulnerável que me
lembro, e tudo o que quero fazer é virar e ir embora.
Dói vê-la assim, com sua linda boca muito apertada nos cantos, com os
olhos entrecerrados e com uma curva de tensão em seus ombros que está se
tornando muito familiar. Minhas duas primeiras clientes tinham a mesma curva
no topo de suas colunas, como se estivessem perpetuamente prontas para se
enrolarem em uma bola e se esconderem. Essa curva me garante que Ruiva não
reservou uma intervenção do Patife Espetacular como uma desculpa para se
conectar com um velho amigo da faculdade. Ela está aqui porque ela é Beth
Jones, uma advogada bem versada na lei, que ainda é incapaz de proteger-se de
um ex-namorado que se recusa a aceitar um não como resposta.

Graças a Bash muito distraído nas duas últimas semanas, eu não sei muito
sobre a situação de Beth, apenas que ela está sendo perseguida por um ex que a
quer de volta e que ela precisa de alguém “perigoso” ao seu lado para convencer
o cara a ir embora.

Não, eu não sei muito, mas posso dizer que ela está enrascada. Ela está
com problemas e por algum motivo pensa que eu sou a pessoa que pode ajudá-la
com isso. Mas eu não sou. Bash foi claro sobre as regras desde o início: não
confundir fantasia com realidade, nunca desenvolver um relacionamento pessoal
com uma cliente e nunca deixar as coisas irem mais longe do que um beijo.

Calcinha e eu já tínhamos ido mais longe do que um beijo. Bem mais


longe. Eu conheço os sons que ela faz quando goza e a forma como os dedos
ficam em volta do meu pau.

O que significa que esta intervenção está encerrada antes de começar.

— Eu sei que isso parece estranho. —Ela diz quando paro na frente de sua
mesa. Sua voz é tão rouca e confiante segundo me lembro, me fazendo desejar
que a sua situação não tenha atingido o nível Terrível. Pode levar algum tempo
para reservá-la com Bash e não quero que ela fique estressada ou em perigo
enquanto fica à espera de ajuda.

—Mas eu realmente não tinha ideia que você trabalhava para esta
empresa quando entrei em contato com o seu chefe. —Ela continua, os dedos
enrolando em volta de sua caneca. — É apenas uma louca coincidência.

— Você está brincando. —Minha testa enruga. Ruiva nunca foi uma
mentirosa, mas as chances de que alguém que conheço acidentalmente se
tornasse a minha terceira cliente são bem poucas.

Ela balança a cabeça. — Não, não estou. Bash ajudou uma amiga a mandar
seu ex para a prisão por fraude de títulos no ano passado. Ela me encaminhou
para a Magnífico Bastardo Consultoria, e quando Bash ouviu os detalhes da minha
situação, ele sugeriu que eu desse uma olhada no arquivo do seu associado. Eu
não tinha ideia que era você até que vi as fotos. —Os lábios dela arqueiam de um
lado. —Belo portfólio, aliás. Eu gosto da foto nos trilhos de trem, aquela onde
você está olhando para a câmera com as veias do seu pescoço saltando.

Eu estreito meus olhos. — Você está curtindo com a minha cara?

Ela vê os meus olhos apertados e me levanta uma sobrancelha. — Você


passou maquiagem na sua barriga naquelas fotos?

— A maquiadora me atacou com sombra de olho. —Admito dando de


ombros, sorrindo enquanto a risada rouca da Ruiva enche nosso cantinho no
Café.

—Então, sim, eu estou curtindo com a sua cara. Só um pouquinho. —Seu


sorriso expulsa a tensão dos cantos de seus lábios e retira os anos de seu rosto,
fazendo-a parecer a Calcinha que eu conheci, a garota que sempre me apoiava,
não importando o quê. —Como você está, Curvado? —Ela pergunta em uma voz
mais suave. —Já faz um longo tempo.

—Faz. E eu estou bem. Muito bem. —Digo, meu sorriso desaparecendo à


medida que o sentimento triste de ontem volta à tona.

Eu não gosto de encontrar a Ruiva dessa maneira.

E vou aproveitar para lhe dizer que não posso ajudá-la.


CAPÍTULO 5

—Então, você vai se sentar? —O olhar de Ruiva desloca da cadeira vazia à


sua frente, e volta para mim. —Ou o Patife Espetacular é uma coisa que você só
faz de pé?

— Eu não escolhi o nome. —Digo, em vez da dúzia de outras coisas que eu


deveria dizer. Eu puxo a cadeira e me sento, prometendo a mim mesmo que só
vou ficar tempo suficiente para pôr a conversa em dia e dispensá-la calmamente.
—Bash comanda o marketing, o trabalho de detetive e todo o resto. Eu sou
apenas o músculo.

—Duvido disso. Mas você está empenhado nessa coisa de músculos, não
é? —Seus olhos descem pelo meu peito, onde eu sei que a minha camiseta preta
apertada exibi meu peitoral da melhor maneira possível. —Quando vi pela
primeira vez as fotos, eu não estava completamente certa de que era você. O
rosto era o mesmo, mas o Curvado que eu conheci se parecia mais com um
jogador de futebol do que com um gladiador.

—Fiz levantamento de peso após a faculdade. —Resisti ao desejo de me


flexionar sob seu olhar. Eu não sou um vaidoso cabeça oca, mas algo primitivo
dentro de mim quer lhe dar uma razão para continuar me olhando.

—Você certamente levantou. —Sua atenção volta para o meu rosto, a


incerteza brilhando em seus olhos verdes. —Desculpe eu ter surgido assim de
repente. Deveria ter dito a Bash que nos conhecíamos. Mas eu tinha medo de que
se eu dissesse, você não viria. E realmente preciso de alguém como você.

—Alguém meio perigoso? —As palavras me atingiram de um jeito


diferente agora que eu sabia quem as tinha dito. Cruzo meus braços em cima da
mesa de madeira e inclino-me para mais perto. —Certamente você deveria ter
mais cuidado, Beth.

—Cat, por favor. —Ela diz. — Meu nome completo é Catherine Elizabeth,
mas sempre uso só Cat.
Cat3. Concordo. Cai bem melhor do que um nome doce à moda antiga
como Beth. É leve, divertido e malicioso, como a garota que eu conheci, a menina
que ainda está dentro da mulher que ela se tornou, embora ela só pareça como
uma advogada poderosa. Do seu brilhante cabelo ruivo sem um fio fora do lugar à
sua unha francesinha e o vestido de designer, Cat parece bem cara.

É difícil acreditar que esta é a mesma garota que eu via constantemente


coberta de lama e suor. Olhando para ela agora, eu não acreditaria que ela já
suou alguma vez em sua vida, muito menos teve interações significativas com
sujeira.

—Então, Cat... —Eu me movo desconfortavelmente na minha cadeira


quando percebo que não somos tão incompatíveis como eu pensei quando Beth
Jones era apenas um nome em um arquivo. —Posso ter criado alguns músculos,
mas o material assustador é só uma atuação. O especial de carne daqui é mais
perigoso do que eu.

Ela levanta a sobrancelha perfeitamente alinhada. — É mesmo?

Eu abaixo a minha voz para não ofender o chef francês irritadiço que faz o
meu Pain Suisse favorito na cidade. — Eu não me importo com o quanto eles são
cuidadosos com o corte e o manuseio, comer carne crua é uma má ideia.
Acrescente um ovo cru em cima e você está pedindo por um encontro com E.coli.
Mas eu? Eu sou inofensivo. Você sabe disso.

Ela segura o meu olhar, sem piscar. — Você realmente acredita nisso, não
é?

—Acredito. —Começo a sorrir, mas sua expressão séria corta meu sorriso.
—Você não?

—Não, eu não acredito. —Ela imita a minha pose sobre a mesa, me


encontra no meio do caminho, até que só haja alguns centímetros entre os
nossos rostos, e o cheiro familiar de limão e gengibre alcança o meu nariz. —
Porque eu conheço você, Aidan. Eu poderia não saber o seu nome até alguns dias
atrás, mas eu sei que você é destemido e sem limites, e não está nem aí para o
que as pessoas pensam de você que está a cerca de duas paradas para ser um

3
Cat em inglês também é gato, daí a analogia que ele faz.
sociopata.

O sulco na minha testa se aprofunda, mas ela fala antes que eu possa
insistir que sou muito mais um gatinho do que um psicopata.

—E é por isso que preciso de você. —Ela engole, a garganta pálida dela
trabalhando, deixando claro que este discurso não foi fácil para ela. —
Recentemente eu estive envolvida com um homem que também é destemido e
sem limites. Mas acontece que ele não está a duas paradas de ser perigoso. Ele
está guiando o trem louco até a última estação, e ele me quer no assento ao lado
dele. —Ela pisca rapidamente antes de continuar em voz baixa: —E se eu não
estiver onde ele quer que eu esteja, ele prefere que eu não esteja em lugar
algum. Se é que me entende.

Eu aceno, odiando o homem que colocou o medo em seus olhos,


desejando que houvesse uma maneira de voltar no tempo e impedi-la de se
envolver com um porco para começo de conversa.

—A única maneira de ele me deixar é se eu puder convencê-lo de que me


juntei com alguém que nem mesmo ele vai querer mexer. —Ela continua
mantendo o meu olhar. —Alguém que não tem nada a perder e nenhum motivo
para não brigar mais do que Nico queira.

Eu balanço minha cabeça. — Eu não sei de onde tirou a ideia de que eu


não tenho nada a perder. Eu tenho um negócio, mas mesmo se não tivesse, eu
não posso...

—Mas você não é um advogado que trabalha para algumas das pessoas
mais sórdidas e ricas em Nova York. —Ela corta suavemente. —Você não está
planejando uma campanha para prefeito, ou planejando o quão rápido você pode
fazer o seu caminho para a Casa Branca. Tirando a parte de garantir que ninguém
pegue uma infecção de uma pistola de tatuagem contaminada, você não precisa
se preocupar com a sua reputação.

O pensamento faz minhas mãos se fecharem em punhos em cima da


mesa. —Nem sequer mencione pistolas de tatuagem contaminadas e a minha loja
na mesma frase. Você poderia realizar uma cirurgia em minhas cadeiras. Elas são
limpas.
Seus lábios se curvam novamente, mas apenas por um momento. —
Tenho certeza que são. Mas você sabe o que quero dizer. Você não tem que se
preocupar com uma eleição.

Sua mão se estica para cobrir a minha, enviando uma onda de calor que se
espalha pelo meu corpo, fazendo-me pensar quando foi a última vez que um
simples toque me fez sentir quente por toda parte. — É por isso que você é
perfeito para este trabalho. Nós apenas temos que descobrir como organizar
nosso relacionamento falso para que Nico entenda rapidamente e sem dor. Para
todos os envolvidos.

Eu puxo minha mão da sua e a ergo no ar, sinalizando para a garçonete


que vinha em nossa direção de que precisamos de mais tempo. Não precisamos
fazer um pedido. Eu não vou ficar tempo suficiente para beber uma xícara de café
e muito menos para comer o longo brunch que tinha planejado.

Apesar do que Ruiva pensa, eu não sou perfeito para este trabalho, e não
importa o quanto eu queira ajudar uma velha amiga, me envolver com Calcinha
quebraria muitas regras. Prometi a Bash que manteria as coisas profissionalmente
com as nossas clientes. E prometi a mim mesmo que não me envolveria com
mulheres que estão vulneráveis pelo fim de um relacionamento longo, do tipo
que termina de forma amigável, sem drama nem ressentimentos, quando um
deles não está bem.

Dez minutos aqui com Ruiva e já existe drama. Ela insultou minha
sanidade, minha profissão e até o meu abdômen. Mas não importa o quanto
estou incomodado por ser chamado de sociopata, eu também estou interessado
nela de uma maneira que não deveria me interessar por uma cliente.

Os últimos onze anos foram bons para ela. Ela ainda é alta e magra com
pernas esculpidas de corredora que aparecem na pequena fenda do vestido, mas
ela também é preenchida em todos os lugares certos. Seus traços se tornaram
uma versão mais suave e bonita do rosto que eu me lembrava, e pelo que posso
ver, estou supondo que sua bunda é ainda mais fenomenal do que era.

Houve uma época, quando os Corredores organizavam corridas depois da


aula, que a bunda redonda, firme, perfeita para morder, bater e amassar era a
única coisa que me fazia aguentar os seis ou sete quilômetros. Mesmo quando
éramos amigos e só amigos, eu não conseguia evitar ter uma fantasia ou outra
com essa sua bunda e a menina ligada a ela.

Sobre como seria cavar meus dedos em sua carne firme enquanto nós nos
beijávamos, moldar as minhas palmas na sua bunda incomparável enquanto a
pegava por trás, colocá-la sob o meu joelho e avermelhar sua bunda bonita até
que ela não pudesse pensar em nada espertinho para dizer. Até que seu sangue
estivesse bombeando forte e rápido entre suas coxas, fazendo-a se contorcer,
gemer e implorar para que eu deslizasse os dedos entre suas pernas e cuidar dela.

Cuidar dela.

Eu não posso cuidar dela. Não da maneira que eu gostaria. Não é o meu
lugar. Nunca foi e nunca será, e a melhor coisa que posso fazer pela Ruiva é dar
um fim rápido e indolor nesta reunião e encaminhá-la a alguém que realmente
possa ser capaz de ajudá-la.

—Escute, eu quero ajudar. —Começo, minha mandíbula apertada. — Eu


realmente quero, mas...

—Não. Nada de mas. —Ela balança a cabeça, fazendo seu sedoso cabelo
vermelho deslizar sobre um ombro. —Você não pode voltar atrás. Temos um
contrato, e eu já paguei um depósito insano.

—E se Bash não estiver disponível para lidar com o seu caso, o depósito
será devolvido integralmente. —Empurro minha cadeira para longe da mesa,
precisando de distância física para resistir ao olhar suplicante nos seus olhos. —
Mas tenho certeza que quando eu explicar a ele que tenho um conflito de
interesses, ele vai ficar feliz em...

—Qual conflito de interesses? —Suas palmas das suas mãos viram de


frente para o teto, com os dedos bem abertos. —Você quer dizer por que nós
quase fizemos sexo onze anos atrás? Quando éramos praticamente crianças?

Dou uma tossezinha, mais perturbado por sua avaliação franca da situação
do que eu esperava.

—Isso é loucura, Aidan. —Ela diz apressadamente. —Você me rejeitou e


deixou o país no dia seguinte. Nada aconteceu.
Minha mandíbula aperta. —Não é assim que eu me lembro.

Como eu me lembro, ela gozou na minha mão e em seguida, de alguma


forma, acabamos no chão, eu com minhas costas nas folhas e ela em cima de
mim, roçando sua boceta escorregadia contra o meu pau, me implorando para
pegá-la. E se o nosso amigo, Caixa de Ferramentas Vazia, não tivesse gritado para
eu ir ajudá-lo a apagar a fogueira antes que queimasse toda a floresta, eu a teria
pego.

Eu teria transado com ela nua ali na terra porque eu estava tão louco de
desejo por ela. Eu não estava preocupado em encontrar um preservativo, ou com
a responsabilidade de tirar a sua virgindade, ou com qualquer coisa além do
quanto eu precisava desesperadamente estar dentro dela. Até as bolas, enterrado
em seu doce e apertado corpo, acariciando-a até que ela fizesse os sons mais
sexys de orgasmo, enquanto sua boceta ordenhava o meu pau.

Ruiva, felizmente alheia às memórias dançando na minha cabeça, bufa


irritada. —Bem, então sua memória está prejudicada. Nada aconteceu e nada vai
acontecer, exceto que vamos trabalhar bem juntos, do jeito que sempre
trabalhamos.

Ela cruza os dedos entre as mãos e seu tom assume um toque vulnerável
que me faz sentir ainda pior por estar ficando excitado enquanto a coloco para
baixo. —Éramos um bom time na faculdade, Aidan. Você tem que admitir. Nós
cuidávamos um do outro, nos preocupávamos um com o outro e...

—Nós éramos, mas...

—E isso não é diferente de correr uma trilha assassina ou de garantir que


ninguém seja expulso da faculdade por brigar no campus. —Ela insiste. —Nós
vamos fazer o trabalho, você vai receber o pagamento, eu vou ter minha vida de
volta, todo mundo ganha. Não é?

Minhas rodas mentais começam a girar, procurando as palavras certas


para sair daqui sem machucá-la. Mas antes que eu possa prometer falar com Bash
e fazer tudo o que puder para convencê-lo a pegar esse caso, não importa o
quanto eu não goste da ideia do meu melhor amigo trabalhando sua falsa magia
do amor nesta mulher em particular, ela funga com força.
—Ok. —Ela se atrapalha com sua bolsa, tirando algumas notas amassadas
que joga na mesa. —Entendi. Vou ligar para o seu chefe, cancelar o contrato e...
pensar em outra coisa. Não se preocupe.

—Espere Cat. Você não quer pelo menos encontrar com o Bash? —Puxo
minha carteira e jogo mais dez na mesa como um pedido de desculpas por causar
uma cena e fico de frente dela. —Eu sei que ele não é exatamente o que você
tinha em mente, mas ele é muito bom em...

—Não faça isso. Apenas... não. —Ela para do outro lado da mesa e me dar
um olhar que faz minha respiração parar. Ela está com raiva, mas não é a raiva
que me faz tremer. É o medo, o terror espreitando por trás de seus lindos olhos
que me atinge como um soco na barriga.

—Sinto muito. —Digo baixinho. —Eu não quero que...

— Você sabe como foi difícil eu te pedir ajuda?

Meus lábios abrem, mas ela não espera a minha resposta.

—Loucamente difícil. Eu estava tão envergonhada por você saber o


quanto a minha vida é bagunçada, mas eu vim aqui mesmo assim. Eu apareci
porque realmente acredito que você é a única pessoa que pode me ajudar. — Ela
respira fundo, apertando os lábios. —Mas talvez você tenha razão. Talvez você
não seja o homem certo para o trabalho.

Ela segura o meu olhar com uma intensidade que me faz sentir como se
ela estivesse olhando através de mim, chamando minha atenção para coisas
desagradáveis logo abaixo da superfície. Me lembrando do olhar que minha
madrasta costumava me atirar da porta do meu quarto, o olhar que desanuviava
a minha cabeça fodida de adolescente e me fazia perceber que a minha caverna
estava a dois passos de se tornar um depósito de lixo tóxico.

—Você sempre fugia quando as coisas ficavam pesadas. —Ela continua. —


Eu não sei por que pensei que desta vez seria diferente.

Eu estendo a mão para agarrar seu braço, mantê-la perto o suficiente para
mostrar para a sua cabeça dura que comentários como esse são a razão pela qual
não posso ser seu cavaleiro de armadura brilhante, nós temos bagagem e um
passado que claramente está pesando em nossas mentes, mas ela é mais rápida
como sempre foi. Antes que meus dedos pudessem capturar seu cotovelo, ela
escapa e foge do restaurante. Ela corre pela calçada, fazendo os sinos acima da
porta soarem e deixando um sopro de ar quente com cheiro de lixo entrar e se
misturar com os cheiros de torradas e omeletes com ervas que borbulhavam nas
frigideiras de aço-fundido.

Está começando a cheirar como verão em Nova York. No início de julho, o


cheiro vai ser tão ruim que qualquer pessoa com um lugar melhor para estar
fugirá da cidade para passar os fins de semana com parentes ao norte do estado
ou sul, na costa de Jersey.

Por um momento, imagino onde Cat passa seus fins de semana


prolongados de verão e como ter um ex-namorado psicopata afeta seus planos. E
então penso em Kayla, minha primeira cliente, uma dançarina que foi até Bash
para pedir ajuda após seu ex-namorado emboscá-la em seu apartamento e
amarrá-la a uma cama por quase uma semana.

Quando ela escapou, ela puxou as cordas que a amarravam na cama com
tanta força que elas cortaram a sua pele. As queimaduras em torno de seus
tornozelos infectaram e ela teve que ficar um tempo afastada de sua companhia
de dança, perdendo seu primeiro papel como solista. Mas não foi perder esse
trabalho que convenceu Kayla de que medidas drásticas tinham que ser tomadas
para tirar o seu ex do caminho; foi a promessa dele de cortar seus pés na próxima
vez que ela tentasse deixá-lo, garantindo que ela nunca dançaria novamente.

Há homens assim. Homens preparados para destruir as mulheres com as


quais afirmam se preocupar, tudo para garantir que eles não serão os perdedores
no jogo do amor. Eles querem o controle, e querem tanto que estão dispostos a
incendiar o mundo para poder mandar na pilha de cinzas que restar.

E um desses homens decidiu que Cat pertence a ele, e que vai fazer o que
for preciso para tê-la sob seu poder, ou morrer tentando.

Não, ele não vai morrer.

Mas ela talvez.

Você entende isso, idiota? Que este Nico pode fazer mais do que assustá-la
e intimidá-la? Ele pode machucá-la. Talvez até mesmo matá-la.

E se isso acontecer, você pode dar uma longa olhada no espelho e ver
exatamente de quem é a merda da culpa.

Eu praguejo baixinho e começo a andar para a porta.

Ignorando os olhares curiosos do grupo de mulheres com tapetes de yoga,


em uma cabine no canto oposto e o brilho no olhar do homem mais velho
comprando pão no balcão, me apresso para a porta.

Tenho que fazer o que for preciso para convencer Cat de que Bash pode
ajudá-la a acabar com Nico. Eu vou prendê-la e me sentar em cima até que ela
ouça a razão, se for preciso. Sua vida é preciosa demais para fazer qualquer coisa
menos que isso.
CAPÍTULO 6

Do lado de fora no calor da manhã, olho na calçada em ambos os sentidos,


mas não há nenhum sinal de uma mulher com cabelo ruivo sedoso. Cat se foi,
desapareceu na multidão de pessoas apressadas ao redor de West Village, e não
tenho nenhuma ideia de onde começar a procurar por ela.

Puxo meu celular do bolso da minha calça jeans, com a intenção de ligar
para Bash e conseguir o endereço dela, mas antes que possa discar, vejo um flash
de verde com o canto do meu olho. É Ruiva, correndo de volta para o restaurante,
com o queixo para baixo, ombros curvados e o cabelo caindo em volta do rosto.

O olhar dela está colado à calçada à sua frente e seus dedos estão
segurando a alça de sua bolsa com tanta força que as juntas estão brancas. Ela
parece não tentar chamar a atenção, mas ela é tranquilamente a mulher mais
deslumbrante na rua. Mesmo que eu não estivesse procurando, ela ainda
chamaria a minha atenção.

Há algo em Cat que me faz querer dar uma segunda olhada e depois uma
terceira. Sempre houve. Ela não é tipicamente linda, seu rosto é um pouco
estreito demais, a boca muito grande e quando mais jovem, havia momentos em
que ela era só cotovelos e joelhos, mas ela se destaca na multidão. É como se a
luz dentro dela fosse mais brilhante do que a de todos os outros.

E eu não sou o único que notou.

Um momento após avistar Ruiva, meu olhar é atraído para um homem de


cabelos escuros atrás dela. Ele está a cerca de um quarteirão e meio de distância,
usando óculos de sol espelhados e um terno cinza que se encaixa no seu longo e
largo corpo como nada mais se encaixaria. Caminhando com um passo rápido e
confiante, ele não parece ter pressa, mas ele está diminuindo constantemente a
distância entre ele e Ruiva, e não há dúvida de que é ela a razão pela qual ele
corre para atravessar a rua antes de um táxi dobrar na esquina, quase o
atropelando.

Eu não posso ver seus olhos por trás dos óculos, mas posso dizer que ele
está olhando para ela. É como se raios lasers disparassem de sua testa para os
ombros dela. Ele está quase alcançando e ela continua tentando se afastar dele o
mais rápido que pode, sem correr.

O que significa que esse idiota em um terno de mil dólares deve ser Nico,
o homem que não recebe um não como resposta, o homem que insiste que ele e
Red estão juntos e que experimenta perda auditiva temporária cada vez que ela
lhe diz que o sentimento acabou. O homem que tem assustado uma mulher que
eu sei de certeza que não se assusta facilmente.

Eu estava lá na maratona de Death Valley quando a Ruiva chutou uma


cascavel para fora da pista e em seguida, quando a coisa teve a má ideia de
deslizar de volta para o segundo round, ela a espantou atirando uma pedra na
cabeça. Eu estava lá quando uma parte de nossa trilha habitual cedeu após uma
semana de chuva forte, e a Ruiva e outro calouro deslizaram em um barranco.
Quando uma equipe foi lá para baixo para tirá-los da lama, o novato estava
ofegante e teve que ser levado de volta para seu quarto do dormitório.

A Ruiva não. Ela estava pálida e suja, mas depois de um copo de água e
um minuto para retirar a lama de seu cabelo, ela correu para a trilha e ficou até à
meia-noite bebendo cerveja com o resto de nós. Se ela já não tivesse sido
apelidada de Calcinha de Bolinha, naquele dia ela teria ganho um nome de corrida
muito mais durão.

Ela é osso duro de roer, mas este arrogante, denominado sociopata


perseguidor a está fazendo correr. Ele é o responsável pelo medo em seus olhos e
ele é tão louco que descobriu que ela estava em um brunch que ela insistiu que
faria tudo para manter em segredo.

No segundo em que fiz a conexão, tudo mudou. Agora que coloquei os


olhos em Nico, não há como passar o caso de Cat para Bash.

Mesmo um quarteirão distante, posso dizer que esse cara é mais do que
Bash pode lidar. Meu melhor amigo pensa que é um coração de pedra durão, mas
no fundo ele acredita que a maioria das pessoas no mundo estão do lado do bem.
Ele espera um determinado nível de decência e não estaria preparado para um
homem como Nico. Um homem que pensa que é aceitável tratar uma mulher
independente, inteligente e talentosa como um animal que comprou em uma
loja.

Ou pior. Já conheci homens como Nico. Eles vão bater em suas esposas
sem pensar duas vezes, mas a maioria deles não sonharia em encostar um dedo
em um de seus cães.

O pensamento desse babaca sentar a mão em Ruiva me faz ver a mesma


cor. Antes que eu tivesse tempo para pensar nisso, vou até o caminho dela,
parando-a com um braço em volta da sua cintura e puxando-a contra mim.

Seus lábios abrem e as palmas das suas mãos pressionam contra o meu
peito, mas quando ela vê meu rosto, ela para de lutar.

— Olhe para mim, nenhum outro lugar. —Digo, passando uma mão em
seu cabelo sedoso. —Vamos dar um show para esse bode sem saco que ele não
vai esquecer.
CAPÍTULO 7

Apoio minha mão livre contra a lateral de um grande carro preto


estacionado no meio-fio, inclino Cat contra o metal aquecido pelo sol e aproximo
meu rosto do dela.

—É isso mesmo. —Sussurro a centímetros de seus lábios enquanto enfio


uma perna entre as dela, obrigando a saia a subir em suas coxas. Deslizo uma
mão do seu quadril até moldar em suas costelas, logo abaixo dos seus seios,
sentindo a batida forte do seu coração sob meus dedos. —Olhe para mim.
Concentre-se no som da minha voz enquanto conto uma história sobre todas as
coisas que vou fazer com você assim que estivermos sozinhos.

—Que tipo de coisas? —Ela pergunta, o peito subindo e descendo mais


rápido.

Tenho certeza que é o medo do psicopata que se aproxima que está lhe
fazendo perder o fôlego, mas não importa. A excitação faz com que a sua
respiração fique mais rápida também, e vou fazer o meu melhor para garantir que
Nico acredite que estamos excitados um pelo o outro.

—Primeiro, vou beijar seus lábios. Lentamente, profundamente,


atenciosamente para provar o quanto amo passar meu tempo com você. —Meu
polegar vai para frente e para trás, acariciando levemente a curva inferior do seio
através do seu vestido, observando seus olhos escurecem enquanto mantenho o
seu olhar. —E então vou te beijar forte e profundamente. Vou te dar um gosto do
que vou fazer com você quando chegarmos em casa.

—O que você vai fazer? —A língua dela desliza para umedecer os lábios.
—Conte-me. Quero ouvir você dizer isso.

—Vou possuir sua boceta. —O cabelo na minha nuca se levanta, alguma


parte instintiva me avisando que um predador está se aproximando enquanto
meu pau engrossa dentro do meu jeans assim mesmo. —Vou te foder até você
saber a quem você pertence, e então vou te foder novamente apenas pelo puro
prazer de ver você desmoronar quando gozar.
Eu me inclino, pressionando meus quadris contra os dela, prendendo-a
contra o carro. Apesar de consciente da nossa plateia, estou duro como rocha, e
sei que não tem como Cat não notar. Ainda assim, quando sua respiração mistura
com a minha e sua pélvis roça em mim, envia um raio de luxúria através de mim.
É intenso, alucinante e poderoso o bastante para deixar meus joelhos bambos.

Sou grato pelo apoio do carro quando trago minha boca a dela e murmuro
contra seus lábios. —Vou te foder até que você não consiga ficar de pé e eu tenha
que carregá-la até o telhado para o terceiro round. E então vou te ter lá em cima,
enquanto as estrelas brilham, e vou fazer você chamar meu nome tão alto que as
pessoas a três quarteirões de distância vão ouvir você gritar quando tiver outro
orgasmo.

—Eu quero isso. —As palmas das mãos descem por minhas costas para
agarrar minha bunda, fazendo meu pau inchar ainda mais. —Eu quero você. Eu te
quero tanto que gostaria que você pudesse me levar aqui mesmo. Agora mesmo.
Apenas me virar, levantar a minha...

Eu a silencio com um beijo, e não um beijo suave e sensual como havia


prometido. Esse beijo vai de zero a sessenta em três segundos. Em um momento
nós somos duas pessoas de pé perto uma da outra, no próximo minha língua está
em sua boca, e sua perna está enroscada ao redor da minha panturrilha, e a mão
que tive o cuidado de manter sob seu peito sobe o suficiente para acariciar seu
mamilo através do fino tecido do seu vestido.

Ela geme na minha boca e arqueia na minha mão, enquanto seus dedos
passam suavemente pelo meu corpo, explorando com apreciação febril que me
deixa ainda mais duro. Quando uma risada soa atrás de nós, eu já quase tinha
esquecido que tudo isto era para outra pessoa.

Mas aquela risada, baixa, profunda e aparentemente divertida, foi como


um balde de água fria nas minhas costas. Ou algo pior. Um balde de peixes
estragados há uma semana, talvez. Ou um balde de amendoins com lâminas
escondidas dentro4.

É uma risada que diz que não estamos enganando ninguém com nosso

4
Nos anos 80 e 90 na época de Halloween, os pais se preocupavam com doces que vinham envenenados, ou com
agulhas contaminadas e lâminas.
beijo quente, e posso dizer que Cat escuta isso também pela forma como
endurece sob o meu toque, mas não vou desistir tão facilmente. Continuo
beijando-a, acariciando a minha língua contra a dela, esperando até que o
bastardo de pé atrás de nós tenha a coragem de fazer algo além de rir.

Não tenho que esperar muito. Poucos segundos depois o idiota fala com
uma voz rica e com um leve sotaque que me dói admitir que é bom de ouvir.

—Que surpresa vê-la aqui, Catherine. —Ele diz. —Uma surpresa


inesperada.

Eu me viro para enfrentar Nico, que tirou os óculos, para olhar mais
condescendentemente de Cat para mim e de volta para ela, e praguejar
silenciosamente. Não sou daqueles caras que finge não saber dizer quando um
outro cara é atraente, e este monte de merda é um cara com uma puta boa
aparência. E um com a aparência perigosa.

Entrelaço os dedos com mais força nos de Cat, silenciosamente


oferecendo o meu apoio.

É melhor se ela marcar um ponto agora. Eu não sei o suficiente da


situação para decidir se Nico levará mais a sério a mensagem de que ela terminou
com ele se ela estiver vindo dela ou de mim. Mas a julgar pela maneira como seus
olhos escuros estão fixos no rosto dela, aposto que a voz dela é o que mais
importa.

—O que você está fazendo aqui, Nico? —O tom de Cat é calmo, mas não
frio, o que é estranho considerando que sei que ela não tem interesse em falar
com esse homem.

Mas provavelmente ela está fazendo um esforço para não ofendê-lo, o


que é uma boa ideia, embora eu odeie que ela esteja sendo forçada a agradar
este grande idiota fodido e assustador.

Quase tão alto quanto os meus 1,98m, Nico era bem amplo nos ombros e
peito, embora mais estreito nos outros lugares. Ainda assim, não há dúvida que
ele seria um cara mau para se encontrar em um beco escuro. Ele se mantém com
a graça dos lutadores profissionais que já conheci. Eu sou maior, mas ele seria
mais rápido e mais cruel. Sem dúvida alguma sobre a parte de ser mais cruel.
Olhar em seus olhos castanhos escuros é suficiente para me dar
queimaduras de frio. Ele está sorrindo, mas não há nada de divertido em sua
expressão, e não há absolutamente nada em seus olhos. Ele é vazio, sem alma,
até o interior, uma daquelas pessoas que nascem desprovidas de qualquer
consciência.

Ruiva estava certa. Este cara está guiando o trem louco até à última
estação. Graças a Deus ela teve o bom senso de sair e procurar a ajuda de alguém
que vai garantir que não seja atirada nos trilhos.

—Uma pergunta melhor é por que você está beijando outro homem
encostada no meu carro. —Nico diz, seu sorriso nunca vacilando.

Cat olha por cima do ombro antes de voltar para seu ex com os olhos
esbugalhados. —Meu Deus. Eu sinto muito. Eu não percebi. Eu nunca tive a
intenção...

—Está tudo bem. —Ele aproxima mais seu corpo do dela, deixando claro
que não me considera uma parte desta equação. —Eu conheço você, Catherine.
Eu sei quem você é e a maneira como se comporta quando está sendo fiel a si
mesma. Eu não estou preocupado.

Cat empalidece, engolindo em seco. —Por favor, Nico. Eu só quero seguir


em frente. Aidan e eu somos amigos há muito tempo e agora, humm... estamos
virando algo mais. —Ela se inclina para mim até suas costelas baterem no meu
lado, como se para provar que somos literalmente inseparáveis. —Eu sinto muito
se isso te machuca. Nunca tive a intenção de esfregar na sua cara o nosso
relacionamento. Eu honestamente não tinha percebido que este era o seu carro
até você...

—Não há nenhum relacionamento. —Nico ainda se recusa a olhar para


mim, mesmo quando aperto meu braço em volta da cintura de Cat e o encaro. —
Você pode transar com todos os homens desta cidade, mas em seu coração, em
sua alma, você pertence a mim, e você sempre pertencerá. Nada que você diga
ou faça mudará isso.

—O coração e alma dela pertencem a ela. —Estalo, decidindo que Cat


precisa de apoio. —E não significa não, amigo. Ela não tem interesse em você. É
hora de seguir em frente e deixá-la em paz.

—Conversaremos mais tarde. —Nico me ignora, mas o músculo em sua


mandíbula aperta, provando que ouviu cada palavra que eu disse. —Quando você
estiver sozinha e não estiver coberta com o suor de outro homem.

—Você não vai falar com ela mais tarde e especialmente, não com ela
sozinha. —Deixo cair a falsa civilidade, permitindo que a ameaça de violência
rasteje em meu tom. —Você vai perder o seu número e esquecer o nome dela.

—Por favor, tome banho assim que chegar em casa. —Ele continua. —Não
quero sentir o cheiro dele em sua pele. —Os olhos de Nico estreitam, e posso
sentir o quanto é difícil para ele não olhar em minha direção. —O fedor é horrível.

Eu dou uma risada, não consigo evitar. —Você realmente acabou de me


insultar dizendo que eu cheiro mal? O que é isso, a terceira série?

—Tenha cuidado, amor. —Ele diz com uma voz entrecortada. —Eu odiaria
que algo acontecesse com você enquanto você anda com más companhias.

—Eu posso tomar um banho. —Continuo suavemente. —O mau cheiro


some ao se lavar. Loucura é muito mais difícil de se livrar.

Cat aperta meu lado em um aviso silencioso, mas não olho para ela. Eu
mantenho meus olhos em Nico, pronto para encontrar seu Psicopata com meu
Filho da Puta durão quando ele finalmente corta o contato visual, e olha por cima
do ombro em vez disso. —Vamos para a parte alta da cidade, Petey. Preciso estar
no escritório o mais tardar até o meio-dia. Tenha cuidado, Catherine.
Conversaremos em breve. —Ele fala por cima do ombro enquanto circula em
torno de Cat e sai do meio-fio.

Viro-me, Cat ainda por perto, para ver um cara musculoso com no máximo
1,70m de altura, com um terno escuro e de pé do outro lado do carro, que agora
percebo ser uma limusine. Isso explica o chapéu de motorista do cara baixinho,
mas não o olhar de ódio em seu rosto. O homem atira-me um olhar que deixa
claro que gostaria de me estripar pelo meu nariz e então muda sua atenção para
Cat, quem ele claramente também não ama.

O seu nível de raiva parece aumentar quando olho em seu rosto, e quando
ele fecha a porta de Nico e abre a sua, suas bochechas estão vermelhas e seus
olhos castanhos parecem estar prestes a saltar de seu rosto.

—Primo de Nico, Petey. —Cat sussurra com os dentes entrecerrados. —


Eu tenho certeza que ele é o encarregado de fazer desaparecer as pessoas que
irritam Nico.

—Pequeno, mas valente, então.

—Pequeno, mas mortal. —Ela corrige.

Eu aceno devagar, sabendo que a discussão de habilidades de


“desaparecimento” de Petey terá de esperar até que estejamos sozinhos, mas por
dentro estou juntando as peças desse quebra-cabeça e montando uma imagem
horrível. Cat não só caiu ao lado errado de um homem muito mau. Ela caiu no
lado errado de um homem muito mau, dos seus amigos muito maus, e talvez até
mesmo de um ramo do crime organizado.

Embora, acho que não deveria me surpreender.

Cat nunca fazia as coisas pela metade. Por que a sua situação com um ex-
amante-psicopata seria diferente?
CAPÍTULO 8

Da coleção de bilhetes de: Curvado para o seu prazer e Calcinha de


bolinha

Caro Curvado,

Eu hesitei em escrever porque sei que você não é do tipo


sentimental, mas então eu bebi outra cerveja e decidi que se
dane. Você só vive uma vez!

Então, estou escrevendo para agradecer por calar aquele


merdinha chorão do Marty esta tarde. Como você sabe, eu me
orgulho muito em vencer corridas justas, com uma
combinação de habilidades superiores e intelecto aguçado.

Ser acusada de te beijar por onde você faz xixi, a fim


de obter as especificações das trilhas antes do tempo foi um
insulto, não só para mim, mas para todo o meu gênero. A
suposição do calouro idiota de que a única maneira de uma
garota poder ganhar tão frequentemente quanto eu ganho é se
ela estiver recebendo tratamento preferencial do homem no
comando é uma enorme pilha de merda.

Se você não o tivesse corrigido, eu teria que chutar a


bunda dele, e isso teria sido péssimo, porque estou
comprometida com a resolução de não-violência desde
aquela época em que quase matei um homem em
Kathmandu.
Então, basicamente, você é incrível, e te respeito pra
porra por fazer um clube que poderia ter se tornado um
enorme não-permitido-para-garotas-e-outras-pessoas-
decentes festa de testosterona em um clube que é um lugar
agradável para pessoas de todos os sexos, raças e orientações
sexuais.

Continue com esse lado mau,

CDB

Cara CDB,

A frase “te beijar onde você faz xixi” é provavelmente a


coisa mais fofa que já li. Eu debati a sensatez de lhe dizer
que você é fofa, porque sei que você provavelmente é uma
super-soldado espiã que vai enlouquecer com um flashback
um dia e matar qualquer um que a lembrasse que você
também é uma adorável ruiva, mas não pude me conter.

Eu bebi algumas cervejas também.

Aviso: Escrever bilhetes bêbado é muito mais trabalhoso


que mandar mensagens bêbado.

Talvez devêssemos trocar números para que eu possa te


mandar mensagens quando você estiver sendo fofa? Avise-me
se quiser. Eu gostaria de experimentar em tempo real suas
respostas irritadas às coisas que escrevo.
Continuarei sendo mau,

Curvado.

PS: Não se preocupe com aquele duende imundo.


Ninguém fode com você no meu turno, garota.

Caro Curvado,

Algumas observações:

Um: Eu não sou uma garota. Sou dois anos mais nova
do que você e eu vou ser capaz de comprar a minha própria
cerveja em menos de um ano, então você deve respeitar a
minha quase idade adulta.

Dois: Eu não sou uma super-soldado espiã. (Ou talvez


isso seja só o que eu tenho que dizer para preservar a minha
identidade. Boom. Só explodi a sua mente.)

Três: Não tenho certeza de que seja bom trocarmos os


números. Não deveríamos respeitar a santidade do clube?
Está escrito no livro das regras: todas as comunicações de
Corredores fora das horas de corridas devem ser realizadas
através de pedaços de papel colocados no buraco da estátua
do Soldado da União. Respeite o clube.

Quatro: Eu não sou fofa ou adorável, mas é fofo e


adorável que você ache que eu seja. Mas não se preocupe, não
vou contar a ninguém que, sob a sua dura fachada de não
tomar prisioneiros, você é composto basicamente por bordado
de rosas, bigodes de gatinhos e loção facial para senhora.

Estou respeitando o clube não lhe dando o meu


número, mas se você quiser me dar o seu, eu poderia fazer
uso dele.

Algum dia.

Se você tiver sorte.

Sua adorável,

Calcinha.

Querida Calcinha,

Loção facial de senhora? Eu preciso conhecer...

C, também conhecido como: Gotas de Chuva em Rosas e


Bigodes de Gatinhos.

555-3826.
Mensagem de Calcinha para Curvado: Meu número está
bloqueado tão fortemente que você nunca vai descobrir qual
é, por isso nem sequer tente, mas aqui é a Calcinha.

Curvado: Então você realmente é uma espiã? Ou está no


programa de proteção a testemunhas?

Ou é uma ex-rainha do tráfico de drogas se passando


por uma inocente companheira de equipe enquanto se
esconde de um cartel rival e arma a sua queda?

Isso explicaria um monte de coisas sobre você,


Calcinha.

Calcinha: KKK O quê? Eu não uso drogas. Se usasse, o meu


pai me mataria e depois me ressuscitaria através de magia
negra só para me matar outra vez.

Eu nem mesmo bebo algo mais pesado do que uma


cervejinha.

Curvado: Sim, mas para uma pessoa magra, você consegue


beber uma quantidade insana de cervejinha sem ficar louca.

Mas você está certa. Você não é o tipo de rainha do


tráfico.

Estou apostando em espiã. Quando os federais vierem


farejando e de repente você sumir, eu não ficarei surpreso.

Calcinha: Não seja bobo. Se eu estiver espionando para


qualquer pessoa, é para o Tio Sam. Eu sou patriota. Eu
sangro vermelho, branco e azul.

Agora, você quer saber por que você é feito de loção


facial de senhora, ou não?

Curvado: Sim. Desesperadamente. Diga.

Bordar rosas e bigodes de gatinhos parecia ok, mas não


sei o que fiz para merecer ser comparado a loção de senhora.

Calcinha: Eu não quis dizer do tipo fedido. Eu quis dizer


do tipo bom que cheira a pepinos e sal marinho. Como a que
minha avó costumava usar.

Eu vivi com ela quando era pequena. Ela era muito


legal e divertida e me deixava comer biscoitos todos os dias
depois da escola. Então, para mim, o cheiro de loção facial
de senhora é o cheiro de um lugar seguro, divertido onde há
biscoitos.

Então... é isso aí...

Curvado: Uau...

Isso é doce, Calcinha. Obrigado.

Fico feliz que o clube é um lugar seguro e do tipo com


biscoitos para você.

Calcinha: Sim, bem. Tanto faz.

Não leve nada disso muito a sério.

Eu bebi quatro cervejas e minha colega de quarto está


assistindo Razão e Sensibilidade e o Coronel Brandon
acabou de confessar seu amor de soldado para Marianne. A
combinação está me deixando estranhamente sentimental.

Curvado: Às vezes eu me pergunto se você não bebe


demais, Ruiva. E se a culpa é nossa por lhe dar cerveja
quando você era caloura.

Calcinha: Nhain. Eu já bebia antes de vir para a


faculdade.

É a minha maneira lidar com os flashbacks depois de


Kathmandu.

Curvado: Às vezes eu não sei quando você está brincando.

Calcinha: E é assim que eu gosto. ;)

Bons sonhos, C.

Curvado: Durma bem, Calcinha. Não deixe os bichinhos


da loucura te morderem.

Calcinha: Tarde demais.

Curvado: Para você e para mim, garota.


CAPÍTULO 9

Eu quero socar o capô do carro desse psicopata do Nico e gritar que ele
nunca encostará na Ruiva outra vez. Ao invés disso, fico na calçada com os braços
cruzados, dando o meu melhor olhar entediado até que a limusine esteja fora da
minha vista.

Idiotas como Nico amam bater no vidro para enlouquecer os animais e se


atirarem contra as grades, mas eu me recuso a lhe dar este prazer.

Então me viro para sentir o cheiro do shampoo e sol no cabelo de Cat,


pensando como claramente ela se excitou enquanto eu a beijava e como é
gratificante que Nico ouviu pelo menos uma parte da nossa conversa indecente.
Mas no segundo em que a elegante Mercedes preta dobra a esquina, eu libero
Cat com um grunhido e aponto o dedo em direção à entrada do metrô.

— Metrô. Agora, Catherine.

Ela franze o nariz com tanta força que a ponta fica branca. — É Cat. Ruiva
ou Calcinha se você quiser o meu lado bonzinho. Ou Senhorita Legend se estiver
querendo o meu lado mau.

—Obrigado, Janet. —Digo, revirando os olhos. —Pensei que seu


sobrenome fosse Jones.

Seu olhar se desloca para a direita, ao mesmo tempo em que pega


nervosamente a alça de sua bolsa que estava solta. —Bem, não é. Eu dei a Bash
um sobrenome falso. Por mim, e por causa de Nico.

—E por que isso? —Passo a mão no meu cabelo. —Só para ferrar tudo
antes mesmo de começar? Ou mentir é algo que você faz para se divertir quando
o lance de ser perseguida por um psicopata se torna chato?

—Nada disso é divertido. —Ela se encolhe, e suas bochechas coram antes


dela soltar uma gargalhada inesperada. —Ok, talvez a parte em que você sugeriu
que Nico fosse um bode sem saco foi um pouco divertida. Mas só isso.

—Bash e eu competimos para ver quem cria os melhores xingamentos


para os Ex’s de nossas clientes. —Eu me concentro para manter a cara de bravo
no lugar, recusando-me a deixar que a sua risada rouca me distraia. — Então, por
que o nome falso, Cat?

Esse apelido realmente combina com ela, e não apenas por causa dos
olhos verdes e da malícia. Ele se encaixa porque ela é sorrateira e diabolicamente
imprevisível, assim como um felino.

—Eu fiz isso para o seu próprio bem. —Ela diz. — Para proteger você e
Bash. —Ela olha por cima do meu ombro antes de se virar, e depois de volta para
o café onde uma fila já se formou enquanto as mesas se enchem para o almoço.
Finalmente, quando ela tem certeza que est[a tudo bem, ela acrescenta com uma
voz suave. — Eu não queria nada por escrito, apenas no caso dele ainda estar
lendo o meu e-mail.

—Nico?

Ela acena, puxando ainda mais forte a alça de sua bolsa. —Eu altero a
minha senha de e-mail todos os dias, mas não tenho certeza que seja o suficiente
para impedi-lo, e eu não... —Ela para, estremecendo quando a alça se desprende
de sua mão. Ela estremece e respira fundo. — Não devemos falar sobre isso aqui,
e não devemos discutir em público também. Há uma chance de estarmos sendo
observados. Só porque Nico foi embora não significa que ele não deixou alguém
para trás para me vigiar.

Endireitei meu corpo, lutando contra a vontade de me virar e olhar a


multidão que começa a entupir as ruas à medida que as pessoas saem de seus
escritórios para a hora do almoço. —Tem certeza de que não está sendo
paranoica? —Pergunto, embora meu instinto diga que não. Nico é claramente
louco e tem os meios necessários para pagar alguém para seguir a sua ex e
assustá-la.

—Eu tenho certeza. —Diz Cat, mordendo seu lábio inferior. —Ele enviou
fotos para o meu escritório na semana passada. Ele disse que seu “associado”
estava me seguindo para me manter segura até que ele mesmo pudesse me
proteger, mas a verdadeira mensagem estava bem clara.

Meu queixo enrijece. —Que você está sendo vigiada.


Ela acena a cabeça. —Não, significa que Nico pode me pegar em qualquer
lugar. Havia fotos minhas em um tribunal fechado onde eu estava representando
um cliente e no restaurante de um amigo onde se precisa de um código secreto
para passar pela porta. —Ela cruza os braços, com os ombros curvados como se
estivesse se protegendo do frio, mas está fazendo pelo menos vinte e nove graus
aqui fora. —Até mesmo uma foto de dentro do vestiário da minha academia. Eu
estava saindo do chuveiro. A julgar pelo ângulo, suponho que o cara estava
escondido entre os armários. Mas eu não tinha ideia de que não estava sozinha,
até que vi as imagens. Se ele quisesse fazer mais do que tirar uma foto eu teria
sido morta antes que tivesse qualquer chance para fugir.

Meu instinto aperta. —Me fode.

—Eu não sabia que era permitido. —Diz ela, zombando, enquanto coloca
alça maior da bolsa em seu ombro. —O contrato que assinei diz que as coisas
entre nós nunca passariam de um beijo.

—E não irão. —Ignorei a dor nas minhas bolas que comprovavam que eu
estava mais do que disposto a beijar a Ruiva há poucos minutos.

Ela estala a língua conforme balança a cabeça. —Eu não sei. Acho que já
posso ter violado essa regra. Tenho certeza que você chegou a segunda base, e
que este tipo de conversa sacana conta como, pelo menos como a terceira base.
Talvez terceira e meia.

—Terceira base e meia. —Repito, fingindo tédio, não surpreso por ela me
chamar de mão boba.

Claro que ela chamou. Ela pode parecer uma princesa sofisticada, mas
ainda é a Ruiva, um fato que me deixa mais feliz do que provavelmente deveria.
Ruiva era um problema, mas Ruiva toda educada, equilibrada e adulta é mais do
que perigosa.

—Não que eu esteja reclamando. —Ela levanta as mãos no que seria um


gesto apaziguador, isso se ela não tivesse um sorrisinho em seu rosto. —Quero
dizer, você claramente marcou seu território e Nico não vai esquecer, mas não
quero incorrer em custos extras mais na frente, sem ter consciência disso. Vocês
cobram taxa extra por essa conversa indecente e amassos? E como é a cobrança?
Por palavra ou por frases?

—Vamos, engraçadinha. —Estendo a mão para ela, os dedos fechando em


seu braço para descermos a rua.

—Para onde estamos indo? —Ela pergunta, permitindo que eu a leve em


direção ao metrô.

—Para um lugar onde podemos conversar e que eu sei com certeza


nenhum dos malditos espiões de Nico será capaz de nos seguir.

—Tudo bem. —A tensão desaparece de seu braço enquanto seus


músculos relaxam. —Eu estava começando a pensar que não haveria mais lugares
assim. —Ela se aproxima mais, batendo os nós dos dedos levemente contra meu
peito. —Então isso significa que você vai me ajudar. Certo, Curvado?

—Aidan. —Corrijo, decidindo quanto mais cedo nós voltarmos para o


terreno do profissional será melhor. —Sr. Knight5, se você for má.

—Aidan. —Ela diz baixinho, e o som do meu nome em seus lábios torna
isto mais íntimo, provando que meus instintos são nada quando se trata desta
mulher. —Então você vai me ajudar? Vamos cuidar disso juntos?

—Sim, vamos cuidar disso. Juntos. —Faço uma pausa perto de um


carrinho de comidas 6 e viro o rosto para ela, esperando que o guarda-sol nos
desse cobertura de quaisquer olhares indiscretos. —Mas isso significa que não há
mais mentiras. Você me diz toda a verdade e nada além da verdade. Eu preciso
estar preparado para qualquer surpresa vinda de Nico, e não posso fazer isso se
você não for honesta comigo.

Ela acena seriamente. —Toda a verdade. Prometo. Mesmo que seja


embaraçoso. Vou falar tudo, assim que estivermos em algum lugar seguro.

—Bom. —Deixei meus dedos percorrerem o seu braço para pegar a mão
dela e dar um aperto. —E não perca tempo sentindo vergonha. Todos nós já

5
Personagem da Marvel, seu nome verdadeiro é Marc Spector, embora ele se disfarce de outras pessoas para
melhor investigar os casos que lhe interessa.

6
fizemos coisas que não nos orgulhamos.

—Sério? —Sua cabeça pende para um lado. — Até você? Sr. Sou honrado
o tempo todo?

—Você precisa se decidir. —Digo com a voz baixa. —Sou honrado? Ou um


sociopata?

Seus cílios abaixam, chamando minha atenção para os lábios, lembrando-


me como foi bom senti-los pressionados contra os meus. —Eu nunca disse que
você era um sociopata. Eu disse que você estava a duas estações de ser um
sociopata. Há uma diferença.

—Corta essa, Cat.

—Ei, muita coisa pode acontecer entre duas estações de metrô! E até
mesmo sociopatas podem ter códigos de honra. —Ela insiste teimosamente,
porque ela se formou em teimosia e se pós graduou em ser um pé no meu saco.
—É só que seus códigos não são necessariamente iguais aos códigos de honra
tradicionais da maioria das pessoas. —Ela revira os olhos e acena com a mão livre
no ar. —E quem quer ser tradicional, né? Pessoas tradicionais são chatas e
previsíveis e quase nunca têm empregos interessantes como um patife
espetacular profissional.

—Sério, Ruiva. Basta retirar essa besteira sobre eu ser um sociopata e


podemos continuar o nosso negócio.

—Falando de negócios. —Ela diz com um sorriso brilhante. —Você tem


cartões de visita escrito patife espetacular? Se for assim, eu gostaria que me
desse um para que eu possa colocar no meu álbum de recortes com a legenda
“Naquela época eu era perseguida e tive que contratar um Patife Profissional” Ou
estou trabalhando no meu...

—Estou falando sério, Catherine. —Aperto a mão o suficiente para que ela
saiba que não estou de brincadeira. —Olhe para mim. Agora mesmo.

Ela revira os olhos novamente antes de seu olhar encontrar o meu. —


Certo, tudo bem. Você não é um sociopata.

—Obrigado. Agora isso foi tão difícil?


—Não. —Seus lábios formam uma linha. —Em primeiro lugar eu nem sei
por que disse isso. Acabou saindo e então senti que tinha que sustentar isso até a
morte. Eu sempre fui assim, e isso só piorou depois de ter um emprego onde eu
basicamente vivo para defender, então... —Sua respiração sai rápida. —Então, eu
sinto muito. Você não é um sociopata. Você é uma das pessoas mais honradas
que já conheci, e sou incrivelmente grata de você aceitar o meu caso.

—Obrigado. Desculpas aceitas. —Eu a observo corar, vendo um pouco


mais da garota que conheço, já que agora que ela baixou a guarda. —E para
responder sua pergunta, sim, eu fiz coisas que não me orgulho. Muitas coisas, e
quase aumento mais a lista quando disse que não poderia ajudá-la.

—Desculpas aceitas. Obrigada. —Seus lábios curvam em um sorriso


verdadeiro, caloroso, sincero, um sorriso de iluminar o mundo que me fez querer
poder tocá-la. Ninguém pode ser mais irritante do que Ruiva, mas também
ninguém sorri como ela.

— Sim, bem. —Digo rispidamente. —Espero que você ainda agradeça


quando chegar a conta extra da conversa sacana.

Ela dá de ombros. —Tanto faz. Enquanto a conversa é boa, eu não me


importo quanto custa.

Estou tentado a lhe dizer que neste caso é por conta da casa, mas acho
melhor não. Este negócio é do Bash. Só ele pode decidir sobre se um caso deve
ser gratuito, e provavelmente é melhor se mantermos o dinheiro envolvido.
Dinheiro vai me lembrar de que, por enquanto, sou empregado de Cat, não seu
amigo, e certamente nada mais.

Mas à medida que caminhamos de mãos dadas para o metrô, não sinto
que estou no trabalho. Parece que estou voltando em uma memória antiga
maravilhosa e me reconectando com uma menina que eu nunca deveria ter
abandonado.
CAPÍTULO 10

A Cave Fitness fica a poucos quarteirões do meu local de trabalho e está


aberta vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, tornando-a perfeita
para um levantamento de peso na hora do almoço ou um treino rápido tarde da
noite depois de encerrar o expediente.

Mas mesmo que fosse do outro lado de Manhattan, Cave valeria a viagem.
É uma volta ao básico mentalmente, combinada com um compromisso firme para
aumentar a massa sem produtos químicos ou suplementos artificiais, é uma
raridade. Acrescente a isso uma vibração boêmia que acolhe levantadores de
peso de todas as classes sociais, independentemente de sexo, gênero, cor ou
credo e você tem uma receita garantida para me fazer feliz.

E não conte aos outros levantadores de peso, mas o fato de que minha
academia fica bem ao lado da Doce Vingança, uma padaria especializada em uns
malditos biscoitos que são incrivelmente deliciosos, não é algo para me queixar,
pelo menos não como o resto dos bebês chorões reclamando sobre o açúcar que
vai impregnar em suas formas e acabar com seus abdomens definidos. Abdômen
definido é muito bom, e eu gosto do meu abdômen, plano, sarado, mas se um
cupcake pós-treino é errado, eu não quero estar certo.

Conforme Cat e eu saímos do metrô, nos dirigimos para a Cave e seu salão
de vitaminas a prova de espiões, onde tenho certeza que não seremos
perturbados, Os Cavers dão boas-vindas a todos, mas ninguém que não seja
sócio, ou um membro com carteirinha, será barrado por Reba na recepção, estou
tentado a ir primeiramente para a Doce Vingança para uma terapia com açúcar.
Mas, graças ao relaxamento de Bash e das meias verdades de Cat, já estamos
atrasados, uns bons cinco passos atrás. E com um cara como Nico, prefiro estar
dez passos à frente, esperando com algo pesado que eu possa usar como arma
em caso de necessidade.

Portanto, eu heroicamente ignoro os cheiros sedutores de croissants


encharcados de manteiga crepitando no forno, açúcar e farinha se unindo em
combinações capazes de induzir um orgasmo na boca, e escolto Cat para dentro
da Cave.

—Indo para o bar de vitaminas. —Digo a Reba, mostrando meu cartão de


sócio. —Knight e convidada.

Reba, parece uma Betty Davis bombada, com seus olhos esfumaçados e
lábios em um bico feio de poucos amigos, me dá um joinha, enquanto lança a
Ruiva um olhar de avaliação. Eu nunca trouxe uma mulher para a Cave antes. É o
meu refúgio do mundo exterior. Eu não considero namorar uma atividade
estressante, mas prefiro não arriscar correr para amantes, atuais ou ex, quando
tudo o que quero fazer é suar e descontrair.

Mas Ruiva não é minha amante, e duvido que ela vá olhar para a Cave e
solicitar adesão. Eu aprecio a sensação de prisão que a sala de musculação
oferece com suas paredes de blocos de concreto, piso de concreto e pequenas
janelas retangulares perto do teto, mas a maioria das pessoas está à procura de
algo um pouco mais luxuoso em uma academia.

—Entendo por que você escolheu este lugar. —Cat diz, erguendo a voz
para ser ouvida sobre o barulho de pesos, os grunhidos e gemidos emitidos na
seção de supino. Ela observa a multidão de levantadores de peso, a maioria do
sexo masculino, avaliando-os com seu olhar. —A maioria desses caras parecem
muito mais assustadores do que os capangas de Nico.

—As aparências enganam. A maioria dos Cavers são inofensivos. —Aceno


uma mão para alguns rostos familiares à medida que caminhamos da sala de peso
para a o bar de vitaminas e sucos. —Eu raramente encontro um cara aqui que não
borde rosas e que não sorria ao ver um gatinho.

Ela ri. —E cheiro de loção de senhora? Não pode esquecer isso.

—Claro que não. Essa é a melhor parte. — Eu pisco enquanto abro a porta
para ela, deixando-a entrar primeiro na masmorra da vitamina.

No interior, quem decorou a Cave abraçou mais plenamente a sensação


prisão-chique, com barras que cercam o bar, luzes fluorescentes dolorosamente
brilhantes, e mesas de metal parafusadas no chão. Ruiva e eu fizemos nossos
pedidos: um Monstro Verde extra grande para mim, e uma explosão de nozes e
Whey Protein para ela e ficamos em uma mesa junto à parede com uma visão
clara da porta.

Exceto pelo cara que está preparando nossos pedidos e duas mulheres
que eu já havia visto na Cave antes, estamos sozinhos. O cara do liquidificador
está ocupado e as mulheres estão se debruçando sobre suas Explosões de
morango, fofocando em voz baixa sobre alguém de seu prédio. Eles estão nos
ignorando completamente, e vamos ser os primeiros a ver quem entra no bar.
Nós estamos em um ambiente seguro e controlado, e não há tempo a perder. O
inimigo está adiantado, e nós ainda nem sequer começamos a elaborar um plano
de batalha. Eu deveria ir a fundo, logo nos detalhes sórdidos.

Em vez disso, hesito, uma parte minha querendo adiar a conversa sobre
este homem que Ruiva amava antes de tudo dar em merda.

Bash pode ter deixado seu trabalho de lado desde que ele e Penny se
separaram no mês passado, graças a Deus ela está de volta e as coisas na
Bastardo Magnífico Consultoria em breve voltarão a seu estado obsessivo
compulsivo de organização, mas o formulário inicial de Cat até que tinha algumas
informações úteis. Evidentemente, os sentimentos entre ela e Nico nem sempre
foram unilaterais. Ela estava bem envolvida com ele e foi “carregada pela
intensidade” de seu relacionamento.

Lembro-me que essa foi a frase exata que ela usou, mas é difícil imaginar
Cat sendo carregada por qualquer coisa.

Ela não é desse tipo de pessoa. Ela é sensata, lógica, apaixonada, mas uma
mulher que reserva o fogo dela para as injustiças sociais, mas relações
interpessoais não. Na verdade, com exceção daquela noite, quando ela parecia
tão envolvida pela química entre nós quanto eu, eu nunca vi Ruiva perder o
controle. Ficar com raiva, falar alto, ficar mal-humorada, sim. Mas nunca perder o
controle.

Mesmo naquela noite na floresta, o lapso em sua contenção foi físico, não
emocional. Ela não estava apaixonada por mim; ela só queria se livrar de sua
virgindade com um amigo em quem confiasse.

Então o que aconteceu?

O que fez uma mulher prática como Cat ficar devastada com esse tipo de
amor desajustado?

—Isso é meio estranho, não é? —Ela remexe o canudo em sua vitamina


grossa.

—Como assim? —Tomo uma grande parte da minha bebida, aprovando o


sabor do limão em proporção ao pepino e couve.

Ela dá de ombros, uma incerteza no gesto que também não é da Cat que
me lembro. —Quero dizer, de certa forma somos velhos amigos, mas por outro
lado somos estranhos. Eu sei o que vai fazer você rir, mas até hoje nem sabia o
seu nome, muito menos qualquer coisa sobre seu passado ou o que você andou
fazendo durante os últimos onze anos.

—É meio estranho, eu acho. Mas isso é o que faz com que os clubes de
corridas sejam tão legais. Você tem toda a diversão de um grupo fechado de
amigos sem o drama da vida real.

— Você está certo. —Ela diz, com um sorriso melancólico. —Nós tivemos
muita diversão. Talvez eu volte para aquele estilo de vida quando tudo isso
acabar.

—Eu corro com os Corredores da baixa Manhattan. Nós nos divertimos


bastante.

Ela balança a cabeça, lançando o olhar para a sua bebida. —Isso é um


pouco longe para mim, mas já ouvi falar que o clube Brooklyn é bom.

—Se você gosta de hipsters com camisa vintage falsa intoxicados por
álcool.

—E quem não gosta? —Ela brinca. —Embora eu prefira os tipos


gladiadores com camisetas orgânicas absurdamente caras.

Eu sorrio. —Como você sabe que a minha camisa era orgânica?

—Eu sou uma escoteira Apache, lembra? —Ela aponta dois dedos em
direção a seus olhos antes de virá-los em minha direção. —Eu não deixo nada
passar. —Seu sorriso congela. —Exceto tudo que me aconteceu durante os
últimos seis meses. Como por exemplo o meu ex, atolado em dinheiro sujo e com
conexões com a máfia que remontam a cinco gerações.

Suspiro, não gostando que as minhas suspeitas do crime organizado se


confirmaram. —A máfia. Não brinca? O que te entregou? Os capangas
assustadores que trabalham para ele ou o terno de milhares de dólares?

—Touché. —Ela diz ironicamente. —Mas em minha defesa, Nico era bom
em esconder as coisas que ele não queria que eu visse. Pelo menos no começo. —
Ela passa a mão pelo cabelo dando um longo suspiro. —Que é por onde eu
deveria começar. Ou talvez até um pouco antes.

—Vá em frente. —Eu me ajeito na minha cadeira o mais confortável que


posso sobre o duro metal. —Vou lhe interromper se precisar de esclarecimentos,
mas por outro lado, fale tudo que consiga lembrar e depois podemos voltar e
preencher os espaços.

Ela acena com a cabeça novamente. —Tudo começou quando meu pai
morreu. Foi logo depois da grande tempestade de neve do ano passado, aquela
que nos deixou sem energia elétrica por quase uma semana.

—Eu lembro. E eu sinto muito. —Digo automaticamente, embora sua voz


seja firme, ela realmente parece menos perturbada do que há poucos minutos.

—Não sinta. —Ela diz, antes de acrescentar com um aceno de cabeça. —


Quero dizer, você pode sentir muito. Isso é bom. Lamentar, também, mas não
pelas razões óbvias. Eu respeitava meu pai, e sempre serei grata a ele por muitas
coisas, mas a nossa relação nunca foi o que você chamaria de fácil.

Ela suspira novamente. —Passei os primeiros quinze anos da minha vida


tentando ser como ele e os últimos quinze oscilando entre estar com muito medo
de mostrar quem eu realmente era, e tentando de todas as formas irritá-lo. E... —
Ela revira os olhos enquanto franze os lábios. —De qualquer forma, vou guardar
essa porcaria para o meu terapeuta, mas o ponto é que ele morreu antes que
pudéssemos encontrar o nosso caminho para algo parecido com um
relacionamento saudável. Ou conseguir o encerramento. Ou qualquer uma dessas
coisas.

—Os pais podem ser difíceis. —Cruzo meus braços, pensando em meu
próprio pai. Nós nos damos melhor do que antes, mas sempre vou ser uma
decepção para meu querido e velho pai. Eu escolhi a paixão invés da centena de
anos de tradição familiar, e ele nunca me perdoou por isso, não importa o quanto
ele é orgulhoso de mim pelo meu negócio bem-sucedido desde o início.

Ruiva concorda com a cabeça. —Sim, eles podem ser. E meu pai era. Até o
fim.

Eu estremeço. —Sem uma boa despedida?

—Sem uma boa despedida, e eu pensei que estava bem com isso. Mas se
fosse verdade, eu não teria me envolvido com Nico. Eu sabia desde o segundo em
que o conheci que ele era problema. Embora, nunca imaginei que ele estivesse
envolvido com algo ilegal. —Ela ri ofegando. —Nós nos conhecemos em uma
conferência em um bar, pelo amor de Deus. Até onde eu sabia ele era apenas
mais um previsível diretor do setor jurídico de alguma das 500 empresas da lista
da revista Fortune.

—Então ele é advogado, também? —Relembro a eloquência


condescendente de Nico e em seu terno vistoso e aceno. —Eu posso imaginar.

—Ele é, mas ele não é apenas um CEO do mal. —Ela se inclina baixando a
voz. —Ele também é um consigliere7, assessor jurídico de uma das últimas
famílias da máfia de Nova York, e terceiro na linha para ser o grande chefe da
máfia da próxima geração. E, considerando o volume de negócios, faz sua
ascensão para a classe do tipo do Al Capone bastante provável.

—Bem, que merda, Ruiva. —Droga. Isto é ainda pior do que eu pensava.
Nico não é apenas uma peça de uma máquina perigosa; ele é uma das pessoas
que dá as ordens.

E programa os golpes.

7
Conselheiro: uma alta posição na liderança da máfia siciliana nos EUA.
CAPÍTULO 11

Eu assobio. —Você não brinca quando se trata de fazer inimigos, não é?

Cat estremece. —Eu sei. Mas honestamente não acho que ele quer ser um
senhor do crime. Como eu disse, ele tem aspirações políticas, até mesmo fantasia
com a Casa Branca. Ele tem tentado se distanciar desse mundo.

Eu bufo. —Não importa. Um cara com laços com a máfia, mesmo os mais
distantes, nunca vai ser presidente.

Seus lábios retorcem. —Eu não sei. Quando Trump ganhou para as
eleições primárias todas as minhas noções pré-concebidas de que o povo
americano não aguentaria um cara grosso, louco e estranhamente laranja foram
jogadas pela janela.

Concordo com a cabeça, entendendo o ponto.

—E Nico realmente sabe esconder muito bem o que ele é. Quando eu o


conheci, eu não tinha ideia que ele era parte do crime organizado. —Ela diz,
amassando a embalagem do canudo em uma pequena bola. —Eu só sabia que ele
era um idiota arrogante e que o meu pai teria o odiado com toda força e paixão e
isso por si só era suficiente para me fazer dizer sim a um primeiro encontro.

Eu levanto uma sobrancelha. —E o segundo encontro?

—Bem, ele era encantador da sua maneira. —Ela diz, jogando a bola de
papel no centro da mesa. — E o sexo era fenomenal, porra.

Eu assisto a bolinha de papel rolar sobre o metal, ignorando os


sentimentos inspirados pela imaginação de Nico e Cat na cama juntos e a voz na
minha cabeça que insiste que ela só pensa que o que teve foi “fenomenal”,
porque eu ainda não tive minha chance com ela. Isto são pensamentos e
sentimentos impróprios para se ter por uma cliente, eu deveria me concentrar em
sua história, e não na minha reação a ela.

—Mas eu não tenho a mínima ideia do porquê deixei que as coisas fossem
tão longe. —Ela agarra sua bebida da mesa e suga vigorosamente o canudo,
drenando-o. —Talvez eu tenha um tumor cerebral ou algo assim. —Ela coloca o
canudo de volta em sua boca e toma outro gole gigante.

—Esperemos que não, mas você vai congelar o cérebro se não for
cuidadosa.

—Eu não congelarei o cérebro. —Ela coloca a bebida de volta na mesa. —


Eu sou uma super-soldado, lembra?

—Lembro, e é por isso que não entendo. —Digo, balançando a cabeça. —


Meu detector de “este cara não presta” começou a apitar no segundo que
coloquei os olhos nesse cara. As luzes estão acesas, mas ninguém está em casa.
Pelo menos, não alguém que eu queira conhecer.

—Ele costumava disfarçar melhor, eu juro. —Ela diz, um olhar assombrado


deformando suas feições. —Só quando lhe disse que estava cancelando o noivado
foi que sua máscara começou a cair. Eu nunca vi o Nico como você viu hoje antes
disso. Ele fingia muito bem ter uma alma.

—Você estava noiva? —Luto para esconder a surpresa no meu tom. Eu


não tinha ideia que tinha chegado tão longe, que ela realmente concordou em
casar com aquela escória antes de mudar de ideia.

—Só por algumas semanas. —Ela olha para as mãos, sem encontrar meus
olhos. —Assim que eu disse sim, o nosso relacionamento mudou. Ele começou a
ficar mandão comigo fora do quarto e presumiu que teria um nível de controle
sobre a minha vida que eu nunca aceitaria. Ele queria que eu saísse do meu
emprego e que lhe mandasse mensagens cada vez que deixasse seu edifício. Ele
ainda falou sobre colocar um dispositivo de rastreamento no meu carro... —Ela
balança a cabeça. —Todas essas loucuras. Mas ele insistia que era para minha
própria segurança, o que me fez questionar o que eu deveria ter perguntado no
início.

Ela olha novamente ao redor da sala. Somos agora os únicos ocupando


alguma mesa, as duas mulheres terminaram suas vitaminas e saíram há um
tempo, mas ela ainda se inclina para sussurrar suas próximas palavras. —Foi
quando descobri que ele tem ajudado a lavar dinheiro para a família Mancuso por
anos e que seu avô praticamente possuía Brooklyn nos anos cinquenta.
Eu me afundei forte o suficiente para levantar do chão as pernas da frente
da minha cadeira.

Mancuso.

Isso está ficando cada vez melhor.

Eu não estou a par dos eventos atuais, prefiro ver as notícias pelo Onion 8 e
dos ativistas políticos bêbados que vão na loja se tatuar, mas até eu sei sobre os
Mancuso. Eles são a família criminosa mais intocável de Nova York, um grupo de
criminosos altamente inteligentes e perigosos que conseguiram evitar processos
por décadas, tudo ao mesmo tempo governando um império construído sobre
sangue e medo. Os procuradores federais tentaram levar os chefões dessa
organização a julgamento duas vezes, mas cada vez que tentaram testemunhas-
chave desapareceram antes que pudessem testemunhar, e os chefes da máfia
foram soltos.

As pessoas que sabem as sujeiras dos Mancuso acabam desaparecendo de


uma forma assustadora.

Desaparecendo...

A frase não é nada engraçada, e o fato de que Petey, o especialista em


“fazer desaparecer”, estava olhando para Ruiva menos de uma hora atrás me
deixa determinado a não deixá-la longe da minha vista. Ninguém vai desaparecer
sob a minha proteção. Mesmo se eu tiver que quebrar cada uma das regras de
Bash, eu manterei Ruiva viva até que possamos dar um jeito de sair dessa
bagunça em que nos metemos.

8
Jornal humorístico dos EUA.
CAPÍTULO 12

Das mensagens de Aidan Knight e Sebastian “Bash” Prince, com o celular


de Penny Pickett.

De Bash: Acabe com isso, Aidan. Agora mesmo.

Ela mentiu quando preencheu a ficha de solicitação, o


que torna o nosso contrato nulo e sem efeito.

Vá para casa, tranque a porta e em seguida, me ligue


de volta. Nós juntos vamos descobrir o que fazer a seguir. Você
tem um amigo no departamento de polícia de Nova Iorque,
não é?

Aidan: Sim, Lipman que foi promovido a Detetive ano


passado. Mas...

Bash: Nada de mas. Chegue em casa e ligue para Lipman.


Veja se ele pode indicar alguém que possa ajudar Catherine.
E se isso for uma cilada, Penny conhece um cara que é ex-
FBI.

Aidan: Eu vou ligar para Lipman assim que puder, mas


não posso desistir desse caso. O ex de Cat já nos viu juntos
esta manhã.

Bash: E daí? Você disse a ele seu nome?

Aidan: Não o meu nome completo, mas Cat mencionou o


meu nome, e eu já ouvi falar que mafiosos são muito bons
em obter informações quando querem. E ele vai querer isso.
Cat diz que ele é muito ciumento.

Bash: O que há para ter ciúmes? Até onde ele sabe você e
Catherine tiveram um brunch.

Aidan: Houve o Brunch, e então nos agarramos no seu


carro.

Bash: Foda! Não, não foda!

E daí? Brunch e se agarrar no carro. Não é suficiente


para ele por preço pela sua cabeça. Eu sei que você gosta de
ser o herói, mas não foi para isso que você foi pago. Nós
vamos atrás de loucos inofensivos e idiotas. A BMC não está
preparada para enfrentar a máfia.

Aidan: Eu sei, mas eu...

Bash: Saia. Daí.

Agora. Dez minutos atrás, se possível. Você vai acabar


no programa de proteção a testemunhas, cara.

Aidan: Você não está ouvindo.

Bash: ou morto. Mafiosos matam pessoas, Aidan!

É Penny, por falar nisso. Peguei o telefone de Bash


porque digito mais rápido do que ele, mas falo por nós dois
quando digo que isto é loucura. Nós sentimos muito por essa
mulher, nós realmente sentimos, mas nós amamos você, e nós
não queremos vê-lo ferido ou morto por qualquer motivo.
Mas especialmente por causa do BMC.

Este nem mesmo é o trabalho que ama. Isso é algo que


está fazendo para ganhar um extra, por um dinheiro extra
não vale a pena pôr em perigo um único fio de cabelo do seu
precioso rosto de lenhador. Então venha para o lado de Bash
agora, vamos chamar o meu amigo que já foi do FBI e
conseguir alguns conselhos sobre como acabar com isso o
mais rápido possível.

Bash quer que eu devolva seu telefone, porque ele acha


que eu estou exagerando chamando o cara do FBI
imediatamente, mas não estou.

Confie em mim, eu sei tudo sobre psicopatas.

Minha mãe saiu com muitos psicopatas, incluindo um


cara que era da máfia croata. E Ivan era assustador pra
caramba, e ninguém nunca sequer tinha ouvido falar da
máfia croata. Ivan era um mafioso “ursinhos carinhosos” se
comparado com esse Nico. Esse cara é selvagem, irritado,
comedor de bebês, mafioso italiano garanhão maluco que é
plenamente capaz de contratar pessoas para lhe por uns
sapatos de concreto e se certificar que seu corpo nunca seja
encontrado.

Portanto, traga sua bunda aqui agora.

Aidan?

Aidan você ainda está aí?


Aidan se você não me mandar mensagem de volta
agora, Bash e eu vamos encontrá-lo e te sequestrar. Estou
falando sério!

Aidan, aqui é Bash novamente. Por favor, não me faça


vestir roupas e ir ter uma conversa séria com você. Apenas
saia, vá para casa, tranque a porta e me ligue.

Nós podemos resolver isso sem perder a calma ou


qualquer um ter que se vestir.

Aidan: Eu vou ficar com Catherine em sua casa.

Ela não está muito empolgada com isso, também, mas


não posso deixá-la sozinha. Nós fomos seguidos quando
saímos da minha academia hoje, eu apostaria nisso. Minha
pele se arrepiou durante todo o caminho de volta para a loja.

Tentei convencer Cat a ficar comigo na minha casa,


mas ela não iria. Ela acha que uma noite fora de casa pode
irritar Nico ao ponto de levá-lo a fazer algo perigoso. Mas eu
disse para deixá-lo vir. Quanto mais cedo ele fizer algo
louco o suficiente para ser preso, mais cedo ele estará
confinado a uma cela onde não poderá por suas mãos em sua
ex-namorada.

Bash: Ele pode não ser capaz de chegar a ela, mas


mafiosos tem pessoas para fazer essas coisas para eles.

Ele provavelmente vai enviar um para te esfaquear em


seu sono e então, você vai estar morto porque não é um
policial, ou um ex-fuzileiro e nem sabe aplicar as técnicas
de ressuscitação, um descuido na excelência e preparação
que quero que você mude assim que tiver um fim de semana
livre para fazer o curso.

Não posso acreditar que mandei você sem ser


certificado.

Penny ameaçou me processar apenas para me ensinar


uma lição sobre não ser responsável pelas mortes
perfeitamente evitáveis.

Aidan: Eu estou feliz que Penny voltou a chicotear seu


traseiro.

O que me leva a outro ponto importante: se eu tivesse


uma foto de antemão de nossa cliente, como eu deveria, isso
nunca teria acontecido. Eu teria visto que ela era alguém
com quem tenho uma história, e poderia ter recusado o
trabalho antes de começar.

Mas agora é tarde demais e vou ter que passar por isso
da melhor forma possível.

Bash: O quê?! Que tipo de história? Quem é essa mulher?

Aidan: Não importa. O que importa é que isto é sua


culpa, Bash, o que significa que agora é comigo.

Se você fez a bagunça, você não pode me dizer como


limpar.
Bash: Agora espere um segundo, porra.

Aidan: Não se preocupe com mensagens novamente. Vou


desligar meu celular. Vou ligar quando Catherine e eu
tivermos algo planejado.
CAPÍTULO 13

Ruiva lutou para se livrar de mim, parando para pegar o primeiro trem
para o Bronx e voltando, depois tentando me deixar em Times Square, movendo-
se entre os trens. Mas teimosamente continuo ao seu lado, ignorando seus
protestos de que passar a noite na casa dela é a ideia mais estúpida que já foi
concebida pelo homem.

Finalmente, por volta das sete horas, ela desiste, desembarca na estação
da rua 14, e me leva para a silenciosa e clara superfície do entardecer.

Saímos nos arredores do tranquilo bairro Chelsea e viramos à esquerda


em uma rua arborizada, afastando-nos do zumbido do tráfego na Avenida e dos
vendedores de cachorro-quente e churrasco grego que vendem uma refeição
rápida à noite para as pessoas vindo do trabalho.

—Você quer um cachorro-quente? —Aponto o polegar por sobre meu


ombro. —Posso voltar e pegar alguns. Não estou esperando que me alimente.

—Prefiro pegar algo do lixo. —Ela diz, com a voz rouca depois de horas se
esforçando para ser ouvida sobre o barulho dos trens subterrâneos.

—Entregas, então. —Sorrio, sorvendo uma profunda respiração do ar


refrigerado. —Vejo que você mentiu sobre os Corredores da baixa Manhattan
serem muito longe para você. Estou começando a pensar que não posso confiar
em uma palavra que sai de sua boca.

—Mais uma vez, eu estava mentindo para protegê-lo. —Ela diz, cansada.
—Não quero que você se sinta obrigado a me convidar para o seu clube e depois
ficar todo estranho. Eu estava tentando manter secreto o seu lugar seguro,
amigo.

—Bem, essa foi uma boa razão para mentir, pelo menos. —Digo,
apreciando a forma como a luz da noite ilumina os tijolos vermelhos que
revestem as casas. —Bairro agradável. Você vive aqui há muito tempo?

—Três anos. —Ela suspira pesadamente, claramente determinada a não


ter conversa fiada comigo.

—Eu estou aqui há cinco anos. É louco não termos nos cruzados antes. Eu
corro por aqui o tempo todo depois que termino de correr por High Line.

—Falando de louco... —Ela para ao lado de um canteiro cheio com


petúnias, em uma varanda com tantos vasos com flores que resta pouco espaço
para subir os degraus. —Pela última vez, tenho que repetir que acho que isso é
uma má ideia. Podemos, por favor, por favor, por favor, nos encontrarmos
amanhã de manhã em vez disso? Podemos passar a noite elaborando ideias e
começar de novo com café e rosquinhas. Eu pago.

Enfio as mãos nos bolsos e inclino a cabeça para trás, admirando a


moldura antiga nas janelas, respondendo a seus apelos como tenho feito nas
últimas dezesseis vezes que ela me pediu para ir para casa, mudando de assunto.
—Em que andar você mora? —Meu olhar segue e vai do sexto andar para o
primeiro. —Suponho que seja o primeiro ou... o terceiro.

—Por que esses? —Seus ombros abaixam em derrota enquanto apanha as


chaves de sua bolsa.

—Você parece do tipo que tem cortinas de gaze branca. —Eu a sigo
subindo os degraus. —Embora eu ache que poderia vê-la com flores azuis, ou que
“quem-se-importa-como-a-minha-janela-parece” com um leve bege. Mas não o
com cortina de super-heróis, a menos que haja algo que você não me disse.

—Os super-heróis pertencem a Milo, que tem sete anos e é adorável. E


você, meu amigo, está errado, muito errado. —Um sorriso malicioso curva os
lábios enquanto ela coloca a chave na fechadura. —Eu estou no segundo andar.

Minhas sobrancelhas levantam. —Sem cortinas.

—Sem cortinas. —Ela ergue a cabeça, olhando para mim através das
pálpebras entreabertas. —Gosto de andar nua após o banho e dar aos bombeiros
que vivem do outro lado da rua um show gratuito. Eu sinto que é o mínimo que
posso fazer para mostrar o meu apreço pelo Batalhão Doze.

Eu engulo, tentando não imaginar Cat nua e fresca do banho, e falho


miseravelmente. Passar as últimas horas andando de metrô e travando uma
batalha de vontades com a mulher mais teimosa no universo, tinha conseguido
empurrar a atração que sinto por ela para o fundo da minha mente. Agora, isso
voltou correndo, atingindo-me com força suficiente para fazer o meu sangue
correr e minha cabeça flutuar, por razões que nada têm a ver com a falta do meu
lanchinho da tarde.

—Não é muito esperto. —Digo, com a voz rouca, a irritação cobrindo o


raio de consciência. —Considerando que você está sendo perseguida por um
verme com uma câmera, o uso de cortinas provavelmente seria uma boa ideia.

—Relaxe, estou brincando. —Ela revira os olhos enquanto abre a porta. —


Eu tenho persianas. Eu abaixo durante a noite ou quando estou em casa e quero
privacidade, mas deixo tudo aberto durante o dia. Fang gosta de pular em cima
do sofá e manter um olho no que está acontecendo na rua.

— Fang? —Eu a sigo através de uma entrada arrumada onde um carrinho


dobrado está encostado contra uma parede, fazendo-me pensar que Milo não é a
única criança no prédio.

—Meu cão de guarda. —Ela diz à medida que sobe a escada estreita. —
Ele é muito cruel. Na verdade, é melhor me deixar entrar primeiro e acalmá-lo
antes de entrar.

—E te dar a chance de me trancar do lado de fora? —Giro ao redor dela e


encosto-me à porta. —Não, obrigado. Vou correr o risco com Fang.

Ela faz um biquinho. —Você se acha muito inteligente, não é?

—Nah. —Digo, dando de ombros. —Só inteligente o suficiente, eu acho.

—Bem, se sua bunda espertinha for mordida, não venha chorar para mim.
Venho treinando Fang para atacar sob ordens. —Seus olhos estreitam
perigosamente. —Às vezes, ele aguarda meu comando; outras vezes não.

Eu concordo. —Entendi. Nada de chorar para você. Mas sou bom com
cães. Tenho certeza de que Fang e eu, nos daremos muito bem.

Ela murmura algo ininteligível, e então, com um último suspiro de


resignação, abre a porta com tudo. —Fang! Estou em casa! —Grita enquanto se
aproxima para marcar um código no painel do sistema de segurança na parede.
Suas palavras são respondidas pelo latir estridente e pelo raspar leve de
garras na madeira. Um segundo depois, um Chihuahua castanho patina ao virar
da esquina para o hall de entrada com um grande sorriso em seu rosto, suas
pernas finas balançando enquanto se esforça para mudar a direção no chão liso.

Um momento depois, o terrível cão de guarda colide com os pés da sua


dona e começa a sacudir o corpo inteiro com força suficiente para levantar as
patas do chão.
CAPÍTULO 14

O cão provavelmente pesa cerca de três quilos e meio molhado e, além de


cheirar rapidamente os meus sapatos e dar uma lambida na bainha da minha
calça jeans, parece não ter o menor interesse em proteger sua dona do estranho
que acabou de entrar em sua casa.
—Fang, presumo. —Digo secamente, fechando a porta atrás de mim.
—O Terrível Fang, na verdade. —Cat fica de joelhos para pegar o cachorro
radiante em seus braços. —Fifi para abreviar.
—Ele é terrível.
—Ele é ela. —Ela diz. —Existe uma maneira de distinguir meninos de
meninas, Aidan. Podemos falar sobre isso mais tarde, depois que o animal tiver
ido para a cama, se você quiser. Estou esperando para falar com ela sobre os
passarinhos, mas somente depois de castrá-la.
—Obrigado, aprecio isso. Você precisa sair com o matador? —Eu vejo a
espertinha com um osso de plástico, apontando para a coleira e uma minúscula
guia de couro vermelha pendurada no cabide perto da porta. —E, para sua
informação, se eu soubesse que você tinha um animal esperando em casa e que
precisava sair, eu teria insistido em acabar com a sua teimosia mais cedo.
—Fang está bem. —Ela me olha enquanto acaricia o pescoço de Fifi até
que a língua da cachorra fica pendurada com prazer. —Tenho amigos que a levam
ao meio-dia e as cinco durante a semana, enquanto estou no trabalho. Eu nunca
deixaria minha cachorrinha sofrer por causa de algum idiota insistindo que sabe
como lidar com a minha vida melhor do que eu.
Meu queixo tensiona, suas palavras me tocando de uma maneira que não
tocaram durante todo o dia. Mas até mesmo o santo padroeiro da paciência
provavelmente tinha um ponto de ruptura.
—Você veio me pedir ajuda. —Digo, a voz tão baixa que vibra nas minhas
costelas. —Presumo que isso significava que você tinha alguma fé no meu
julgamento.
—Como você pode julgar qualquer coisa quando nem ouve o que estou
dizendo? —Ela pergunta, as sobrancelhas franzindo. —Você costumava ouvir.
—Eu ouvi. —Chego mais perto, provocando um leve grunhido de Fang que
é quase tão assustador quanto uma caixa cheia de cupcakes. —E avaliei suas
apreensões contra a minha própria preocupação com o seu bem-estar, e fiz um
julgamento.

Seus lábios se separam, mas eu a corto antes que ela possa começar a
discutir comigo novamente.

—E essa é a maneira que vai ser pelo resto da nossa relação de trabalho.
Vou ouvir e respeitar a sua opinião, mas no final eu vou escolher o curso de ação
mais adequado para que você permaneça inteira. Esse é o trabalho que você me
contratou para fazer, e eu vou fazê-lo.

Seus olhos piscam, raiva e algo mais íntimo cintila em suas profundezas
verdes. —Você simplesmente não aguenta deixar qualquer outra pessoa assumir
a liderança, não é?

Eu luto contra a vontade de revirar os olhos. —Dá um tempo, Ruiva.

—Eu adoraria. —Ela explode. —Vá para casa. Pegue um tempo. Volte
amanhã. Eu vou estar com o humor melhor depois de não ter andado de metrô
por quatro horas.

—Isso foi sua culpa, Catherine. —Forço um sorriso, mesmo que minha
mandíbula esteja tão tensa que parece estar prestes a quebrar em duas. —Se
você não tivesse continuado a forçar a barra, poderíamos estar cozinhando e
bebendo uma cerveja horas atrás e talvez fazendo algum progresso na resolução
de seu problema com o mafioso.

Ela faz um som engasgado. —Isso foi uma piada de O Poderoso Chefão?
Você está brincando sobre isso?

— Não, não estou brincando. —Reafirmo. —Estou aqui para mantê-la


viva, querida, não para entretê-la.

Fang rosna de novo, mas desta vez tenho a impressão que tem mais a ver
com os dedos de Cat apertando no minúsculo peito do cão do que eu estar muito
perto para seu conforto.

Eu tiro sua mão com um olhar penetrante antes de arquear uma


sobrancelha. —Você está bem?

— Eu estou fantástica, droga. —Ela se abaixa para colocar Fifi no chão


antes de pisar perto o suficiente de mim para que as pontas afiadas de suas
sandálias fiquem na frente dos meus sapatos. —Mas não se atreva a me chamar
de querida. Nunca. Eu sei tudo sobre a sua história com essa palavra, e não quero
fazer parte dela.

—Tem certeza? —Não resisto a irritá-la, mesmo que eu saiba que não é
inteligente. Eu deveria ser pacífico com ela e me comportar profissionalmente,
nos colocar de volta no caminho certo para resolver o problema com Nico.

Mas droga, ela me toca como ela sempre tocou. Como nenhuma outra
mulher jamais conseguiu. E foi ela quem nos conduziu por este caminho pouco
profissional quando mentiu na sua inscrição e em seguida, deu-me horas de
irritação pelo pecado de fazer o meu melhor para protegê-la. Agora é a minha vez
de ser um pé no saco.

Eu levanto o braço, apoiando a mão na parede atrás dela, trazendo o meu


rosto para mais perto dela. —Eu não tenho certeza se acredito em você, Cat. Você
parecia muito bem em relação a isso esta manhã, quando eu a peguei contra a
limusine e você não conseguia tirar suas mãos de mim.

—Aquilo foi uma encenação. —Ela diz com os dentes cerrados. —


Infelizmente para você, esse navio já zarpou há onze anos.

—Será mesmo? —Eu me inclino ainda mais perto, continuando com uma
voz suave e rouca. —Então, se eu deslizasse a minha mão por sua coxa esta
manhã, sua calcinha não teria ficado molhada? Nem um pouco?

Seus olhos estreitam, mas ela não responde. Pelo menos não
verbalmente. Mas a respiração fica mais rápida e as pupilas dilatam, me dando
incentivo suficiente para continuar em um sussurro. —Você não estava molhada,
Ruiva? Para mim? Porque mesmo que você estivesse preocupada com o homem
te seguindo, tudo o que podia pensar era em minhas mãos em você e minha boca
em você e qual de todos os itens acima você mais queria?

Sua pele fica um tom de rosa tão profundo que é quase fúcsia, uma cor
que eu só vi em ruivos e somente quando ele ou ela estavam profundamente
mortificados.

Mas conheço suficientemente bem esta ruiva para saber que o seu rubor
não é um rubor envergonhado. É o seu rubor: Eu estou a ponto de te derrubar. E
droga, uma parte de mim espera que ela me ataque. Agora, existem algumas
coisas que eu desfrutaria mais do que ficar lutando com Ruiva até estarmos
ambos quentes e incomodados.

Até ter as suas mãos presas acima de sua cabeça, seu corpo preso sob o
meu e as pernas em volta da minha cintura apertando tão firme que eu possa
sentir a sua boceta pulsar entre suas coxas. Sentir sua pulsação contra meu pau,
deixando-me saber que ela está tão excitada quanto eu.

E ela estará excitada. Ela já está.

Ela pode bufar, zombar e cuspir insultos o quanto quiser, mas seus
mamilos estão duros debaixo desse vestidinho sexy, seus lábios estão separados,
e cada sopro quente de sua respiração contra a minha boca é um desafio que
estou morrendo de vontade de aceitar. Estou prestes a beijá-la, disposto a
arriscar um tapa no meu rosto por um outro gostinho de sua boca doce quando
ela levanta a mão entre nós e diz: —Eu invoco o Conselho Religioso. —E eu não
tenho escolha, senão ficar parado.

Uma vez um corredor, sempre um corredor, e quando um colega pede o


Conselho Religioso, também conhecido por: Ultrassecreto, Sem Mentira, Honesto
até demais para uma reunião de mentes (geralmente envolvendo pelo menos
uma caixa de cerveja), só há uma coisa fazer: ter uma bebida em sua mão e
preparar-se para ouvir algo que seu amigo nunca disse a mais ninguém. Algo tão
secreto e assustador que ela teve que invocar o espaço sagrado para tirá-lo do
peito.

Assim, enquanto olho para baixo para seus grandes olhos preocupados,
tenho a sensação que não vou gostar do que ela tem a dizer.

Mas qual é a novidade?


CAPÍTULO 15

Dos arquivos de mensagens de: Curvado para o seu prazer e

Calcinha de bolinhas

Para Curvado de Calcinha: Ok, desembucha. Eu tenho que


saber como você fez isso.

Curvado: fiz o quê? Finalmente fui capaz de criar uma


trilha que você não conseguiu terminar em menos de noventa
minutos?

Habilidade, Calcinha.

Habilidade, técnica e um compromisso com a


excelência.

E chequei um livro sobre rastreamento de animais em


estado selvagem e tentei ser mais esperto do que um animal
selvagem. Foi difícil, mas consegui.

Calcinha: Não, não é isso, embora tenha sido uma


agradável surpresa. Eu gosto quando você me desafia.

A excelência vem tão facilmente que às vezes fico


entediada, você sabia?

Curvado: 👃🍺 💦

Calcinha: Você acabou de bufar cerveja pelo nariz? Boa.


Espero que a Santa Gail esteja lá para vê-lo e agora entenda
que você é um mero mortal e no limite da grosseria como o
resto dos rapazes no campus.

Curvado: Gail tem um teste de certificação de socorrista


amanhã. Ela está em casa estudando e descansando, mas me
mandou várias mensagens.

Eu não sou de transar por mensagens e dizer, Ruiva,


mas acho que o quão “grosso” eu sou é a última coisa em sua
mente...

Calcinha: Foi o que eu ouvi. Então, como você fez isso?

Cada cara nesta faculdade tentou pegar Gail


Goodnight, mas durante três anos, ela derrubou cada um
deles. A Santa Gail, como seu homônimo Santo Graal, é
inatingível, misteriosa e provavelmente, o segredo da vida
eterna e felicidade. Mas todos nós assumimos que ninguém
nunca saberia com certeza por causa da parte inatingível.

Agora você foi e provou que todos estavam errados.

Como? Eu tenho que saber.

Qual é o seu truque secreto?

Curvado: Tem que haver um truque? O fato de que sou


um cara legal com um sentido decente de humor que é
agradável para os olhos não é suficiente?

Calcinha: Desculpe, mas não, não é. Há homens melhores


do que você, Curvado, que invadiram o Castelo Goodnight
apenas para serem desmembrados em sua ponte levadiça.

Curvado: 😪 Eu não falo palavras tão grandes e boas.

Calcinha: kkk. Você fala, também.

Você apenas não está em sua armadura de batalha


medieval.

A ponte levadiça era um mecanismo de defesa de


resposta rápida em castelos medievais, portas extremamente
pesadas com pontas de ferro na parte inferior. Então, quando
caíam sobre os invasores inimigos, tendiam a levar as pessoas
à morte.

Membros se perdiam. Lágrimas se derramavam. Sonhos


eram frustrados.

Muito parecido com a situação com a bela e bunduda


Gail e os meninos excitados e inconsoláveis da Penn U 9.

Curvado: Você não está bem, Calcinha.

Há algo seriamente confuso nesse seu cérebro esquisito.

Calcinha: Muito bem. Se você não quer me contar, basta


dizer.

Mas, como alguém que tem uma queda pelo Inatingível,


eu poderia aproveitar alguns conselhos práticos, e você
provavelmente é a única pessoa que pode me dizer o que
estou fazendo de errado.

9
Abreviatura para Universidade da Pensilvânia.
Curvado: Ah! Calcinha tem um crush! Isso é tão fofo.

Calcinha: Cale a boca! Eu não sou fofa.

Curvado: A Pequena Calcinha Preciosa, está


apaixonaaaada! Então, quem é ele?

Um super-secreto soldado espião?

Um ex-fuzileiro da Marinha que estuda física nuclear


com apoio do governo?

O cara assustador com a cabeça raspada que dirige o


Clube dos Militares da Reserva na faculdade?

Calcinha: Argh... Não. Ele anda como se tivesse um pau na


bunda.

O Sr. Inatingível não estuda aqui. Nós nos conhecemos


em nosso último ano de colégio, antes de ele ser aceito em
West Point. Temos tentado ter um tempo a sós desde então,
mas nunca é possível. E antes disso, eu nunca tive problemas
para ter pelo menos um primeiro encontro com alguém que
me interessasse.

Eu sei que não sou a mais sexy, mas compenso isso com
um bom entretenimento e geralmente, basta um primeiro
encontro para perceberem se têm ou não interesse no meu
tipo particular de loucura.

Curvado: Você é muito divertida.

Então, o que há de errado com esse cara? Por que ele é


muito burro para não estar a fim de você?

E já que ele é, obviamente, burro, você tem certeza que


quer se preocupar com esse idiota?

Calcinha: Tenho. Há alguma coisa nele...

Mas eu já tentei todos os meus métodos habituais:


insultar, ignorar, sentar em seu colo quando ele menos
espera, provocá-lo até ele rir tanto que vomita, mas nada
está funcionando.

Ele é impenetrável, o Archie da Aliança para a sua


Santa Gail.

Curvado: Mas seu nome não é Archie?

Calcinha: Deus, não. Isso arruinaria todo o clima.

Curvado: Ok, então...

Apesar de concordar que insultar as pessoas e ignorá-


las depois sejam geralmente excelentes maneiras de
demonstrar que você está interessada em uma conexão
significativa, eu vou sugerir um rumo um pouco diferente.

Calcinha: 😪 Obrigada. Eu não sou boa em flertar.

Curvado: Não, você é. Mas você só paquera de uma


maneira. Você tem o método Ruiva ligado, mas as pessoas têm
necessidades diferentes, propensões diferentes, botões
diferentes que precisam ser apertados, para começarem a
pensar em um amigo como algo mais.
Calcinha: Propensões. Bom.

Você está tentando se aparecer porque você não sabe o


que é uma ponte levadiça?

Curvado: Você quer uma resposta ou não? Porque eu


tenho um jogo para assistir e mais cerveja para beber, e eu
estava pensando seriamente em pegar alguns nachos
vegetarianos.

Calcinha: Desculpe, desculpe. Quero uma resposta, mas


estou confusa...

Então você está dizendo que preciso mudar meu estilo


de paquera para agradar esse cara? Não é um contra
intuitivo? Quer dizer, eu quero que ele goste de mim, não de
alguém que estou fingindo ser.

Curvado: Você não vai fingir ser outra pessoa.

Você vai ser Ruiva, apenas uma Ruiva focada em


atender as necessidades do seu parceiro, em vez de
impressioná-lo com seu conhecimento de armamentos de
batalha medieval ou foder com a cabeça dele mudando entre
quente e frio e entre os insultos e sentar no seu colo.

Calcinha: Aii.

Ok, em primeiro lugar, eu estava brincando sobre o


meu estilo de paquera. E em segundo, eu só penso na
satisfação das necessidades das pessoas. Diabos, eu geralmente
sei o que a pessoa que está comigo quer, antes dela mesma,
um efeito colateral de ter sido criada por um pai que me
repreendia primeiro por estragar tudo e me explicava depois,
como evitar estragar tudo.

Eu sei como não estragar as coisas, Curvado.

E, tanto quanto sei, estou dando ao Sr. Inatingível


exatamente o que ele precisa.

Curvado: Que é?

Calcinha: Alguém que se recusa a aceitar as merdas dele


ou agradá-lo, só porque ele é lindo. Alguém que o elogia
quando ele dá a versão mais maravilhosa de si mesmo, o que
já é maravilhoso, e se recusa a ignorá-lo quando ele telefona.

Alguém que o faz rir, o quanto ele precisa. Posso dizer


que ele tem algumas coisas tristes em seu passado, mesmo ele
nunca tendo falado sobre isso.

E eu sei que ele gosta de mim. Um bocado.

Mas apenas como amigo...

Então talvez seja apenas... eu? Talvez eu não tenha


nenhuma vibração sexual?

Ai meu deus, não posso acreditar que acabei de enviar


essa mensagem. Exclua-a e esqueça. Ou se você não puder
apagar e esquecer, pelo menos, por favor, abstenha-se de me
provocar. Eu não posso lidar com isso sendo o principal
motivo do Sr. Inatingível me ignorar.
É por isso que deveríamos ter mantido os bilhetes no
buraco da estátua! Eu nunca teria escrito algo assim e
colocado no buraco.

Por que não respeitamos o buraco?!

Curvado: kkk. Relaxe, psicopata. Eu não vou te provocar.

Você definitivamente tem uma vibração sexual. Você é


meio ferinha, às vezes, mas totalmente gostosa, e pelo que
ouço de alguns caras, você é a garota-selvagem-que-precisa-
ser-domada.

Calcinha: Obrigada. E acho que ele gostaria. Se tentasse...

Curvado: Ótimo. Então, presumindo que o cara está aberto


para o que você tem a oferecer, você só precisa descobrir o
que está o segurando, do jeito que eu fiz com Gail.

Então vou compartilhar meu truque mágico, mas você


tem que jurar nunca contar a ninguém. Juramento de honra
dos corredores, cuspa na sua cerveja e jure por deus.

Calcinha: � 🍺 ☠️ Feito.

Curvado: Ok, então... eu a chamo de querida.

Calcinha: Desculpe-me?

Curvado: Eu a chamo de querida. E "doce" às vezes,


quando o momento é certo. Ela gosta dessas bobagens
românticas, então eu lhe dou bobagens românticas. Eu acho
que ela gosta que eu exponha o jeito que me sinto sobre ela.
Você sabe?

Olá?

Calcinha…

Você ainda está aí?

Se você me disser que está vomitando no vaso sanitário,


porque a minha doçura te fez vomitar, eu nunca mais vou
compartilhar nada íntimo com você. Nunca. Então, escolha
suas próximas palavras com cuidado, garota...

Calcinha: Ainda estou aqui. Desculpa. Minha colega de


quarto teve o seu grande orgasmo do mês, e eu tive que descer
para o salão de estudo.

Então, você a chama por apelidos carinhosos? É isso?

Você jogou um ou dois querida, e ela caiu em seus


braços viris?

Curvado: Não. Eu não apenas joguei. Eu quis dizer isso.

Ela é uma querida e eu me importo com ela, e estou


feliz em fazer o que é preciso para fazê-la se sentir especial.

Calcinha: Isso é... tão doce.

Então acho que você é um querido também.

O querido mais doce, um docinho doce.

Curvado: Pare.
Calcinha: Mas estou falando sério, doce. Você ganhou. Você
é mais doce do que doce de batata doce.

Feito. Arrasou. Jogou o microfone no chão.

Curvado: É isso. Você acabou de ser retirada da lista Sem


Bobagens.

Agora você só terá conversas superficiais e insultos. E


vou apresentar uma moção para seu nome de corredora ser
alterado para Peidos com Lobos 10.

Calcinha: NÃO! Eu sinto muito. Eu realmente sinto. Eu


não pude evitar. Você sabe que eu não podia. Era uma
oportunidade perfeita demais.

Mas estou realmente grata pelo conselho e feliz por você


e Gail. Vocês dois vão ter bebês incrivelmente lindos e tornar
o mundo um lugar melhor. Ou pelo menos um mais bonito.

Por favor, me perdoa?

Curvado: �

Calcinha: Por favor. Eu juro que sinto muito, e prometo


que vou levar a conversa de querida para a sepultura.

Curvado: É melhor. Ou vou encontrar uma maneira de


fazer você pagar, esquilo feroz.

Calcinha: Entendi. Os meus lábios estão selados.

Mas se quer saber, se você fosse meu homem, eu

10
Trocadilho com o filme de Kevin Costner, Dança com Lobos.
preferiria ser chamada de esquilo feroz do que querida.
Demonstra uma originalidade, sabe?

E não me faz querer vomitar. Então, isso é uma


vantagem.

Curvado: Eu vou manter isso em mente se um dia


perceber que tenho, secretamente, um sentimento por sua
calcinha de bolinhas.

Calcinha: Faça isso, Curvado. Faça isso.

E talvez, se você tiver sorte, eu chegue à mesma


conclusão.

Curvado: Só nos resta esperar...


CAPÍTULO 16

Cat e eu nos encaramos por sobre a ilha da sua cozinha, que é grande para
os padrões da cidade, como o resto de seu apartamento, fazendo-me pensar que
ela deve estar indo muito bem, qual seja o seu ramo de advocacia.

Não estou surpreso, é claro. Era evidente, quando a conheci que Ruiva
poderia fazer qualquer coisa que ela quisesse.

E isso é provavelmente porque esta coisa com Nico seja tão difícil para ela.
Ela é o tipo de pessoa acostumada a tomar as decisões e resolver seus próprios
problemas. O fato de ela ter contratado alguém para ajudá-la a sair de uma
confusão, está completamente fora do seu elemento. Ela está em território
desconhecido, algo que eu deveria ter lembrado antes de perder a paciência e o
controle da minha boca.

—Você está pronta? —Pergunto, fazendo o possível para esquecer que


estava falando sacanagem com ela a menos de dez minutos atrás.

Mas meu pau não quer esquecer. Ele não dá a mínima para como é
antiprofissional dar em cima da minha cliente. Ele só quer ficar nu com Cat e
compensar todos aqueles anos atrás.

—Pronta como nunca vou estar. —Sua língua desliza para molhar seu
lábio inferior, e eu finjo que não estou pensando em mordê-lo.

Há seis doses de tequila e duas cervejas em copos alinhados entre nós e a


julgar pela expressão intensa no rosto de Cat ela está pronta para abrir o
confessionário.

—Você se lembra de como isso funciona, não é? —Ela leva a mão à boca e
lambe as costas, segurando meu olhar quando pega o saleiro. —Depois de cada
confissão, bebemos. E tudo o que dissermos desde o momento que abrirmos o
Conselho Religioso até as palavras finais da cerimônia é secreto, nunca será
repetido para outra alma viva.

Eu concordo. —Abro este Conselho Religioso em nome da raposa, do


caçador, e da cerveja que nunca nos decepcionará. Deixando a verdade ser
derramada, mas nunca a cerveja. Hu ha, hu ha ha.

—Hu ha, hu ha ha. —Ela repete, pegando sua cerveja.

Estendo a mão para a minha e bebemos nossos copos foscos. Eu tomo


goles profundos, até o frio fazer a minha cabeça doer, antes de colocar o meu
copo meio vazio de volta sobre o tampo de mármore. Nenhum de nós comeu
nada desde o saquinho de pretzels que pegamos entre a troca de trens mais cedo,
e beber com o estômago vazio nunca é uma ideia sábia. Mas um zumbido vai
bem. Preciso de algo para me acalmar, para me fazer esquecer que estou
quebrando todas as regras e arriscando minha vida por uma mulher que me
enlouquece.

Aparentemente, Cat sente o mesmo. Quando ela emerge de seu copo de


cerveja com uma respiração profunda, apenas alguns centímetros do líquido
âmbar permanecem no fundo do copo. —Lembra-se da última noite, antes de
você ir para o Japão?

—Lembro. —Digo, grato pelo zumbido que já sinto rastejar para


entorpecer as bordas afiadas de suas palavras. Se vamos falar sobre aquela noite
na floresta, eu vou precisar de todas as três doses de tequila e mais algumas.

Ela passa uma mão sobre seu lábio superior antes de apoiar as palmas
sobre o balcão. —Depois que você foi apagar a fogueira, eu fui dar uma
caminhada ao redor do lago com o que você abandonou. Fumei tudo. Sozinha.

—Provavelmente não foi a melhor ideia. Foi a primeira vez, não?

Ela acena a cabeça. —Sim, e foi uma ideia completamente errada. Eu


acabei vagando perto do centro estudantil, alta como uma pipa, gritando citações
de A Arte da Guerra para as estátuas de corujas no topo do edifício. Eu fui pega
por um policial que fazia sua ronda pelo campus e passei a noite em uma cela,
chorando compulsivamente, porque parecia que meus intestinos estavam
tentando escapar pela minha garganta.

Eu estremeço. —Aquela não era uma erva boa. Sinto muito que a sua
primeira experiência tenha sido horrível.
—Ela realmente era horrível. Foi tão horrível que pensei que morreria. E
se eu soubesse o seu nome, eu teria te entregue para os policiais num piscar de
olhos. Porque até às duas horas da manhã eu estava tão alta que via gremlins no
teto e estava convencida de que você estava tentando me matar. —Ela pega a
primeira dose de tequila. —Perdoe-me, amigo, pois eu pequei.

Seguindo sua liderança, e as regras da nossa cerimônia de Conselho


Religioso, pego meu próprio copo. —Eu te absolvo em nome da raposa e do
caçador e da cerveja que nunca nos decepcionará.

Nós lambemos o sal de nossas mãos, tomamos nossa dose, e pegamos


fatias de limão no tabuleiro, ao mesmo tempo, os nossos dedos roçando. Cat
recua, observando enquanto espremo a fatia entre meus lábios antes de pegar a
dela.

—Qualquer coisa a dizer? —Ela pergunta, chupando a fatia.

—Não. Só que sinto muito, e tenho certeza de que não foi uma ótima
maneira de terminar o seu segundo ano.

—Não, não foi. —Ela balança a cabeça vagamente, sua linguagem corporal
já mais relaxada do que esteve durante todo o dia. Eu não sei se foi a confissão ou
o álcool, mas é bom ver seus ombros relaxarem. —E isso só piorou. Meu pai
descobriu, porque é claro que ele descobriria, ele sempre sabia exatamente o que
eu fazia, especialmente quando eu fazia algo que não deveria e ele agiu como se
eu tivesse assassinado um rebanho de ovelhinhas por diversão.

Eu rio, mas Cat não dá um sorriso.

—Eu tinha guardado dinheiro que era suficiente para pagar minha classe
de reabilitação para voltar às boas graças com a faculdade. —Ela continua. —Mas
meu pai sabia que prisão por porte de maconha poderia me impedir de entrar na
academia de treinamento do FBI. Que sempre foi seu sonho, não o meu, mas ele
lamentou a morte da minha carreira como Agente Federal com força suficiente
por nós dois.

—Desculpe de novo. Verdadeiramente. Lamento por você. —Penso em


lhe dizer que sei tudo sobre matar os sonhos dos pais, mas essa não é a minha
confissão.
—Ele nunca me perdoou. —Ela continua. —Nem mesmo no leito de
morte. Suas últimas palavras para mim foram um apelo deprimente para que eu
não estragasse minha vida mais do que eu já tinha.

Eu praguejo, e ela finalmente sorri, mas é mais triste do que divertido.

—Não estragar mais do que eu já tinha. —Ela repete suavemente. —


Mesmo que eu não tivesse dado um passo errado por onze anos. Nem um único
passo. Eu nunca menti, nem sobre o meu peso em minha carteira de motorista. —
Ela ri. —Mas um erro foi o suficiente para me fazer uma fodida para a vida toda.
Pelo menos no que diz respeito ao meu pai.

Eu me estico para pegar a segunda dose, mas ela estende a mão. —


Desculpe essa não foi a minha segunda confissão. Foi apenas informação
adicional, coisas que deixei de fora da história esta tarde quando disse que as
coisas não terminaram bem com meu pai.

Eu assinto. —Você deixou de fora o fato de que a culpa pela destruição do


relacionamento com seu pai foi minha.

Ela balança a cabeça, fazendo seu cabelo sedoso deslizar nos ombros.
Tenho um súbito e poderoso desejo de passar a minha mão por todo o vermelho
e deixar deslizar por entre meus dedos. Eu sei que vai parecer como seda, mas
mais vivo, uma entidade com uma vontade própria que quer tocar e ser tocado.

O toque seria muito menos doloroso do que ouvir como uma noite
estúpida quando erámos praticamente crianças destruiu a vida dela por mais de
uma década.

—Não, não foi sua culpa. —Ela diz. —Foi culpa do meu pai, mas toda essa
merda com ele complicou a maneira como eu me senti em relação a você por um
tempo.

—Você estava com raiva. —Emendo.

Ela desliza os dedos através do sal sobre o balcão. —Eu estava. Foi por isso
que não enviei nenhum e-mail, mesmo tendo falado que manteríamos contato.
—Ela inclina a cabeça no ombro com um sorrisinho. —Bem, isso e o fato de que
você nunca enviou um e-mail. Ou mensagens. Ou qualquer outra coisa. Que foi
como uma pista, você sabe, e eu sou boa com pistas.

—No começo eu não tinha acesso à internet. E quando eu tive... —Dou de


ombros, não querendo dizer mais, mas sentindo como se devesse a ela a verdade,
especialmente quando estamos sob Conselho Religioso. —Eu achei que uma
ruptura seria o melhor. Para nós dois. Nessa altura, tive algum tempo para pensar
sobre as coisas e parecia como se talvez eu tivesse enviado alguns... sinais mistos
ao longo dos anos.

Um bufo de risada escapa de seus lábios. —Você pensou? Com todos os


bilhetes e mensagens de flerte e olhar para minha bunda como se fosse o seu
trabalho cada vez que corríamos?

Eu luto contra um sorriso. —Sim, bem, sua bunda era e é uma coisa difícil
de afastar o olhar. Sou apenas mortal.

Ela revira os olhos. —Sim, bem, você definitivamente enviou sinais mistos,
e uma ruptura limpa, provavelmente, era o melhor. —Seu sorriso desaparece
quando ela estende a mão para pegar sua próxima dose em um círculo lento no
balcão. —Mas também foi estranho. E triste. Você era como uma grande parte da
minha vida, e então de repente você se foi. Como se você nunca tivesse estado lá
para começar.

—Eu estive lá. —Digo, me sentindo um bostinha. —Mas eu também tinha


vinte e dois anos e cheio de mim mesmo e morrendo de vontade de sair pelo
mundo e fazer coisas.

Ela gira o copo mais rápido. — E eu era apenas mais uma garota.

—Não. Você não era. —Quero levantar e pegar sua mão, agarrar seus
dedos e passá-los entre os meus, mas ainda não ganhei o direito de tocá-la assim.
Não em particular, quando isso significaria algo mais do que montar uma cena
para deixar outro homem com ciúmes.

—Você era apenas... complicada, e eu queria o simples. Eu precisava


disso. —Continuo com uma voz mais firme, quando seus lábios se curvam em um
sorriso cúmplice. —As coisas não estavam muito bem comigo e meu pai nesse
ponto também. Ele ficou realmente muito desapontado, e cada vez que eu ligava
para saber notícias, ele me deixava saber isso. Então parei de ligar para ele ou
qualquer outra pessoa. Abandonei meu celular e viajei ao redor da Ásia
estudando com artistas que eu respeitava, e quando voltei para casa, a faculdade
parecia outro mundo. Um mundo do qual me lembrava com um sorriso, mas...

Eu mordo meu lábio inferior, caçando as palavras certas. —Nessa época


eu aprendi a dar menos importância a tudo, e isso significava não chafurdar no
arrependimento por merdas que eu não podia mudar.

—Então você se arrependeu de como as coisas terminaram? —Seus dedos


pararam de girar incontroláveis.

—Sim. —Coloco minhas mãos no balcão perto dela, quase perto o


suficiente para tocar. —Eu deveria ter ligado. Ou mandado uma mensagem. Ou,
pelo menos, escrito um e-mail para que você soubesse que minha decisão
naquela noite realmente não tinha nada a ver com você. Era tudo sobre mim.

Ela ri, uma risada alegre que me surpreende, apesar do tom pesado da
conversa. —Bem, droga. Isso é péssimo, Aidan. Estou feliz que você não ligou,
então.

—Obrigado. —Digo, coçando a barba.

—Sério, isso seria pior. A única vez que um cara me disse isso, eu quase
dei um soco na cara dele. Então decidi despejar uma taça de vinho em seu colo e
lhe dizer que a minha decisão de fazer isso tinha tudo a ver com ele.

Eu dou de ombros. —Então acho que tudo foi para o melhor.

—Acho que sim. —Ela levanta o queixo, encontrando meu olhar frio com
um mais frio ainda. —Mas vou fazer a minha segunda confissão de qualquer
maneira. Nunca houve qualquer Sr. Inatingível. Bem, havia, mas ele não era um
amigo do colégio interno. Ele era você. Você era meu Archie da Aliança. —Ela
aperta os lábios, mudando o riso para um irônico. —Eu estava caidinha por você,
cara. Muito. Que beirava ao ridículo.

—Porque foi...

—Perdoe-me, amigo, pois eu pequei. —Ela pega seu copo do balcão,


segurando-o entre nós.
—Não há nada a perdoar. —Digo, meu estômago embrulhando. Sinto-me
mal por meu papel nisso quando éramos mais jovens, mas não é por isso que
pareço ter engolido um quilo de chumbo. Há algo mais, algo que paira no ar entre
nós, ela leva o copo aos lábios, algo que me lembra boa comida sendo
desperdiçada e crianças sendo diagnosticadas com câncer.

—Diga a sua parte. —Ela diz com uma voz rouca. — E beba.

Eu pego meu copo, encontrando seu olhar por cima da borda. —Eu te
absolvo em nome da raposa, do caçador e da cerveja que nunca nos
decepcionará. —Bebemos, nenhum de nós afastando o olhar, mesmo quando
batemos com força os copos na mesa.

Desta vez, nós não buscamos o sal.

—Sério, Ruiva, eu não sou tão idiota quanto pareço. Após aquilo na
floresta, eu descobri que você sentia algo por mim. Embora, sim, eu deveria ter
descoberto isso muito mais cedo.

—Você deveria. —O sorriso dela é duro, pesado. —Você foi um idiota,


mas eu era idiota, também. Eu deveria ter desistido e namorado alguém que
estava interessado em vez de ter uma quedinha por você durante dois anos.

Ela remexe seu pescoço, um movimento sensual que é tão sexy, que tudo
o que posso pensar é o quanto quero meus lábios em sua garganta, sentir o seu
sangue pulsar sob a pele pálida. Mas entre o passado fodido e o presente fodido,
esta ilha da cozinha entre nós poderia muito bem ser como um oceano.

—Mas ainda estou feliz por ter confessado. —Ela joga seu cabelo sobre o
ombro com um movimento gracioso de seu pulso. —Essa é uma informação que
eu queria ter certeza de que você tivesse antes de você começar a falar comigo
sobre minha calcinha novamente.

Foda.

Foda-me. Foda-me no lugar que dói sem lubrificante.

—Sinto muito. —Digo, embora saiba que não é o suficiente. —Eu sou um
idiota. Eu nem sequer pensei sobre...
—Não, você não é um idiota. Você estava certo. —Ela pisca, seus olhos
verdes estão claros e focados. —Minha calcinha estava molhada. —Ela diz com
uma voz que vai direto para o meu pau, fazendo minha ereção voltar à vida. —
Um beijo e eu estava pronta para ir contra a limusine do meu ex-namorado.

—Cat... —O nome dela é um aviso, embora eu não saiba se o aviso é para


ela ou para mim ou para nós dois.

Ou o que vou fazer se ela o ignorar.

—Eu queria que você me fodesse, tanto quanto antes. —Ela continua
apoiando as mãos sobre a ilha da cozinha. Ela se inclina para frente, concedendo-
me uma visão do decote de seu vestido e um vislumbre de renda macia contra a
pele mais macia, fazendo minha pressão subir rapidamente. —Talvez mais. Você
sempre foi bom com as mãos e a boca, mas você é ainda melhor agora. Você me
fez sentir como se eu estivesse em chamas. Por toda parte. Da melhor maneira.

Eu aperto minha mandíbula e luto contra o impulso de derrubar tudo do


balcão com a minha mão e jogar os copos no chão quando arrastar Cat por sobre
o mármore e fodê-la bem aqui na ilha da cozinha.

—Então, sim, Aidan, eu estava molhada esta manhã. —O brilho em seus


olhos é diabólico, fazendo-me suspeitar de que ela poderia estar
deliberadamente tentando me fazer ter um ataque cardíaco. —E eu estava
molhada enquanto você falava sacanagem comigo há poucos minutos. E eu
poderia ficar novamente molhada em um segundo, se você disser que gostaria de
beber a próxima dose direto nos meus seios e me foder no chão.

Fecho minhas mãos em punhos tão apertados que minhas juntas doem.
Suor escorre entre meus ombros e uma veia no pescoço começa a pulsar. Estou
tão perto de perder o controle, mas forço minhas mãos a permanecerem no
balcão.

Ela ainda não acabou de me torturar, percebo pela cadência de sua voz. E,
esfomeado como sou, tenho que ouvir o que ela vai dizer em seguida.

—Mas eu sei que há um conflito de interesses para você. —Seu olhar


percorre meu rosto, se fixando em minha boca, fazendo-me pensar que ela quer
ser beijada, tanto quanto quero beijá-la. —No entanto, você não pareceu muito
enfático em manter as coisas profissionalmente até agora. Então, talvez todo esse
papo de “nada mais que um beijo” seja apenas uma fachada para ficar do lado
certo da lei. Talvez você sempre transe com as suas clientes.

—Nunca. Nem uma única vez. —Digo em uma voz muito rouca pela
luxúria para soar convincente, mesmo que eu esteja dizendo a verdade.

Eu quero muito abrir uma filial da minha loja, o suficiente para bancar o
Cavaleiro11 Assustador com tatuagens para as mulheres necessitadas, mas não o
suficiente para transar por dinheiro. Eu sou tão descarado quanto qualquer
solteirão convicto quando se trata de sexo, mas transo com quem quero, quando
quero. Porque o sexo deve ser sobre o que duas pessoas querem fazer um ao
outro, não o que um deles tenha comprado e pago.

Estou prestes a dizer isso a Cat, mas ela acena a mão no ar. —Sério. Não é
grande coisa. Mesmo se você tiver relações sexuais com mulheres por dinheiro,
eu não me importo. —Ela pega outra dose. —O que me leva a minha terceira
confissão. Você está pronto?

—Manda. —Digo, decidindo que convencê-la que não sou um mulherengo


vai ter que esperar até eu não ter uma ereção.

Ela respira fundo, mas quando fala, suas palavras são um sussurro. —Eu
ainda quero você. Eu quero você mais do que eu nunca quis ninguém, até mesmo
Nico. E eu quero resolver isso.

—Resolver como... o quê? —Pergunto, embora eu tenha uma boa ideia.

—Acho que devemos fazer isso. —Ela diz com um sorriso que é metade
mau e metade nervoso. —Vamos fazer isso. Vamos transar e fazer disso uma
parte do nosso acordo idiota.

11
Knight, trocadilho com seu sobrenome, infelizmente perdido na tradução.
CAPÍTULO 17

Antes que eu pudesse garantir que não vou transar com ela
absolutamente por nenhum dinheiro estúpido, vou transar com ela de graça por
que não sou um gigolô, e estou puto que ela ache que meu pau está à venda, ela
continua.

—Tenho que saber se você realmente será o melhor que eu já tive. —Ela
balança sua bebida, fazendo o líquido deslizar de um lado para o outro. —Ou se é
como Gail disse, que com você é tudo preliminares, jogos mentais e colônia
agradável, mas nada de especial entre os lençóis.

Minhas sobrancelhas arqueiam. — O que? Quando ela disse isso?

—No meu primeiro ano. —Ela diz, seu sorriso ficando ainda mais perverso.
—Depois que você partiu para o Japão. Acho que ela estava apenas tentando me
fazer sentir melhor, mas quem sabe? Ela poderia estar sendo direta. Era sempre
difícil saber com ela. A Santa Gail mantinha seus segredos no coração. Você sabe
que ela acabou se tornando uma freira, não é?

Eu pisco. —Não, eu não.

—Ela se tornou. Então, Santa Gail realmente encaixou. —Sua testa franze.
—Embora eu ache que o nome dela agora é Irmã Maria Faustus ou Maria Faustina
ou algo assim. Algo que me lembrou do Inferno de Dante quando ouvi a novidade.

—Bem, bom para ela. Espero que ela esteja feliz. —Digo, não realmente
surpreso em saber que a vida de Gail foi nessa direção. De todas as meninas que
namorei na faculdade, ela era a mais doce e a mais bonita, mas também a mais
devotada e a menos interessada em saber se minha reputação de entregar
múltiplos orgasmos no quarto era verdade ou ficção.

E uma menina que não tem interesse em múltiplos orgasmos tem


claramente uma vocação superior.

Uma que eu pessoalmente não consigo entender, mas...

—Não se preocupe. —Cat diz, o olhar em seu rosto, era como se ela
pudesse ler cada pensamento na minha mente. —Tenho certeza que não foi sua
falta de habilidade entre os lençóis que a levou para uma vida de celibato.

Eu me curvo mais, colocando meu cotovelo no balcão para apoiar o meu


queixo com um sorriso irônico. —Obrigado. Tenho certeza também.
Especialmente se considerar que nunca dormimos juntos...

Seus olhos se arregalam ligeiramente. —Sério?

—Sério. Nunca pareceu certo. Para nenhum dos dois.

Ela murmura. —Então ela estava apenas tentando me fazer sentir melhor.
—Ela dá de ombros, servindo a tequila no copo para rodopiar novamente. —
Bem, isso foi legal da parte dela. Nesse ponto, todos sabiam que eu implorei para
você tirar a minha virgindade, e os Corredores fizeram como sua missão de vida
me sacanearem sobre isso, então eu estava bastante desmoralizada. Foi bom ter
uma palavra gentil de alguém que supostamente esteve lá, fez isso e não ficou
impressionada.

—Como todos descobriram? —Perguntei, incomodado com essa parte da


história. —Eu não contei a ninguém.

Ela dá de ombros novamente. —Eu acho que o Caixa de Ferramentas


Vazia ouviu algo quando veio buscar sua ajuda com a fogueira. Mas ele nunca
admitiu, nem mesmo quando eu o deixei fazer as honras e tirar a minha
virgindade.

—O Caixa de Ferramentas? —Pergunto, franzindo os lábios. —Deus, Cat,


por quê? Por que fazer isso consigo mesma? Ele é mais burro do que uma porta.

—Eu te disse, eu estava desmoralizada, droga! E você não pode me julgar.


—Ela aponta um dedo no meu peito, fazendo um rosnando que faz Fifi, que
estava descansando em sua cama no sofá na sala ao lado, cuidando de sua
própria vida, levantar a cabeça e soltar um estranho latido tipo “você está bem?”

—Estou bem. —Cat responde, fazendo-me sorrir apesar dela ainda estar
me olhando como se quisesse causar danos terríveis as partes do meu corpo. — O
que é tão engraçado?

—Nada. Antes de você responder, eu estava pensando que Fang parecia


estar perguntando se você estava bem.

O rosto de Cat amolece. Só um pouco. —Sim, bem. Ela tem latidos muito
expressivos. Desde que era filhote.

—Ela realmente tem. —Olho de relance para o copo de tequila na sua


mão. —Então, isso é tudo? Você já terminou a sua terceira confissão?

Ela olha para o teto, parecendo organizar seus pensamentos enquanto


estala os dedos. — Hum, eu quero você, quero que ficar nus faça parte do nosso
acordo... sim. —Ela continua com uma voz ofegante, balançando um pouco
demais a sua cabeça antes de clarear a garganta. —Acho que isso cobre tudo.

—Tudo bem.

Seus olhos voltam para os meus. Desta vez não tento esconder o quanto
suas palavras me afetam. Seguro seu olhar, esperando que ela realmente possa
ler cada pensamento na minha mente. Porque eles são todos sacanas, e todos são
sobre explodir sua mente enquanto faço coisas perversas e maravilhosas a seu
belo corpo.

—Tudo bem? —Ela diz, com a voz um pouco mais alta do que antes.

—Então diga sua parte. —Reivindico meu copo.

— Oh, claro. —Ela engole em seco. —Absolva-me, amigo, pois eu pequei.

—Eu te absolvo em nome da raposa, do caçador e da cerveja que nunca os


desaponta, o Conselho Religioso está concluído. —Digo, acrescentando antes que
ela possa beber. —Com uma condição.

Ela faz uma pausa com o copo a um centímetro de seus lábios. —Que
condição?

— Nós temos algumas regras no jogo, e isso deixará claro quando estou
no comando e quando não estou.

Ela acena a cabeça ligeiramente. —OK. Então... quando você está no


comando?

—Beba primeiro. Em seguida, as regras. —Tomo a minha dose, a tequila


desce muito mais fácil agora que já estou meio alto e coloco o copo
cuidadosamente sobre o balcão.

Depois de um momento, ela bebe, soprando entre os lábios franzidos


enquanto coloca o copo ao lado do meu. —Da próxima vez, me faça pegar as
bebidas boas do meu armário em vez da marca barata que uso para preparar
drinques.

—Regra número um. —Dou a volta no balcão em direção a ela, recusando-


me a ser distraído sobre a tequila ou próximas vezes ou qualquer outra coisa. —
Isso não faz parte do nosso acordo profissional. Você não mencionará novamente
me pagar por sexo. Eu não sou um gigolô, ou um garoto de programa, ou
qualquer outro tipo de prostituto, e não ganho dinheiro com o meu pau.

Seus lábios se abrem, mas não lhe dou chance de falar.

—Quando eu transar com você será porque quero te foder. —Continuo


andando na direção dela. Ela começa lentamente a recuar para a sala escura,
aparentemente não tão segura de si, agora que o tempo estipulado pelo conselho
religioso acabou. —Será porque preciso enterrar meu pau dentro de você.

Seus olhos se arregalam enquanto ela acena com a cabeça. —Entendido. E


eu sinto muito se eu...

—Regra número dois: Nós mantemos nossa relação de trabalho e nossa


relação sexual separadas. Quando estamos trabalhando, estamos trabalhando, e
nada que eu diga ou faça pode ser tirado do contexto.

Sua bunda colide com o encosto do sofá, e ela solta uma risada trêmula.

—Entendido? —Eu paro perto, dando-lhe espaço para respirar, mas não
muito. Estou apreciando ver Cat sem fôlego.

Ela balança a cabeça. —Então, se estivermos em uma festa e você me


disser que mal pode esperar para me levar para casa e me amarrar na cama,
porque você sabe que Nico está perto o suficiente para ouvir, isso não significa
que você realmente me amarrará em uma cama.

—Exatamente. —Chego mais perto até que um pulso de calor fique entre
nós, e a energia potencial do momento faz minhas terminações nervosas
zumbirem. —Embora, eu possa amarrá-la, se achar que isso é o que você precisa.

—O que eu preciso. —Ela murmura, como se tivesse escutado algo


familiar, mas esquecido até agora.

—Você se lembra daquela vez que me perguntou sobre o meu segredo


para o sucesso com Gail? —Pergunto. —A conversa que tivemos sobre dar às
pessoas o que elas precisam?

Ela balança a cabeça novamente, me olhando meio amedrontada e meio


hipnotizada que me faz querer tê-la debaixo de mim neste exato momento. Mas
isso é importante.

— Eu me lembro. —Ela diz.

—Você disse que você era boa em intuir o que as pessoas precisavam. —
Eu me estico, enfiando a mão em seu cabelo sedoso e o enrolo em meus dedos.
—Eu sou bom nisso também. E quando estivermos juntos, as portas fechadas, eu
vou te dar exatamente o que você precisa.

Seus lábios se curvam de um lado. —E o que é que eu preciso, por favor


diga?

—No momento, acho que é de uma boa transa. —Puxo seu cabelo em
meu punho, provocando um grito suave e faminto de seus lábios, que vai direto
para o meu pau, fazendo os 22 centímetros lutarem para arrebentar meu zíper só
com a força da luxúria. —Uma transa que vai te tirar de sua cabeça e de seu
corpo. —Mergulho minha cabeça até meus lábios roçarem a pele macia de sua
garganta abaixo da orelha, inalando o cheiro gostoso dela enquanto acrescento:
—E fazer você esquecer o quanto você acha importante manter o controle.

—Falando de controle. —Ela diz, o pulso acelerado debaixo da minha


boca. —Você nunca disse quando estará no comando e quando não estará.

—Porque essa é a parte mais fácil, Ruiva. —Abro a boca, passando meus
dentes levemente sobre sua pele fresca e doce. Ela estremece contra mim,
fazendo minha ereção inchar em proporções épicas. —Eu estou sempre no
comando.

—É mesmo? —Ela sussurra.


—É. —Eu lambo um caminho da base do pescoço até o queixo, e seu leve
tremor torna-se um tremor continuo. —Quando eu estiver trabalhando para
mantê-la segura, estarei no comando. E quando estiver trabalhando para fazer
você gozar, estarei no comando. Porque esse é o jeito que você gosta, não é? —
Deixo minha mão seguir até a sua bunda, puxando-a contra mim até não haver
nenhuma dúvida do quanto eu a quero.

Ela geme, arqueando para mim até que seus seios estão alinhados contra
o meu peito e seu osso púbico contra onde eu estou tão duro que é doloroso. —
Eu não sei se vou dizer sim, ou te mandar ir se foder, então você deixará de ser
um bastardo presunçoso.

—Você vai dizer sim. —Eu a afasto para olhar o seu rosto corado. Merda,
ela é linda, com seus olhos brilhando e seus lábios carnudos separados em um
convite silencioso para reivindicar a sua boca. —Diga sim, Cat. Diga sim, e eu vou
te dar tudo o que quiser. Tudo que você precisa.

Seus olhos vibram fechados. —Droga, Aidan.

—Diga sim. —Sussurro pertinho de seus lábios. —Diga sim, e eu vou te


beijar do jeito que você sempre quis ser beijada.

—É? E como é que eu sempre quis ser beijada?

—Como se você pertencesse a alguém. —Digo, sem um segundo de


hesitação, agarrando com mais firmeza a carne musculosa de sua bunda. Seus
olhos abertos, seu olhar colidindo com o meu enquanto prometo. —Vou te beijar
até que sua boca saiba a quem ela pertence, Ruiva. E então vou repetir o
processo até que cada centímetro de seu corpo saiba que esta noite você é
minha. Cada beijo, cada gemido, cada vez que você gozar em meus dedos ou na
minha boca ou no meu pau, cada minuto de seu prazer pertence a mim.

Uma expressão de dor aparece em suas feições. —Vai ser uma decepção
se você for só conversa. Porque a sua conversa é realmente boa, porra.

—Eu ainda preciso ouvir um sim. —Coloco sua perna em volta da minha
cintura e me aperto contra ela, fazendo-a gemer quando minha ereção esfrega
contra ela através do fino tecido de sua calcinha. Ela é branca. De renda. E eu mal
posso esperar para tirá-la, mas nós dois precisamos de sua permissão primeiro.
Ela precisa de alguém para aliviar o peso de seus ombros, e eu preciso de
permissão para fazer isso, tomá-la, fodê-la do jeito que ela precisa ser fodida, sem
se conter.

—Sim Cat. Diga sim. —Murmuro enquanto continuo a transar com ela
através de nossas roupas e sua respiração acelera e eu juro que posso sentir o seu
calor úmido através do meu jeans. —Diga sim. Por favor, diga sim.

Eu não sei se é a súplica ou a fome na minha voz ou a fricção erótica do


pau contra o seu clitóris que finalmente a convenceu, mas seus braços rodearam
o meu pescoço e as unhas cravaram em minha pele como se ela nunca fosse me
soltar. —Sim. Sim, foda-se. Faça-me sua. Mostre-me, Aidan. Agora. Por favor.

Eu pretendo ir devagar, descobrir uma direção, mas no momento em


meus lábios tocam os de Cat, o mundo pega fogo novamente. O nosso segundo
beijo é ainda mais quente do que o primeiro, uma batalha erótica de lábios,
dentes e língua que faz meu pulso trovejar. Em segundos estou bêbado com seu
cheiro, seu gosto, atingido pela eletricidade entre nós, como se fossemos feitos
para completar um circuito. Seus dedos cravam mais profundo em meus ombros
e eu gemo, um som que ela ecoa, vibrando nos meus lábios, um zumbido que eu
sinto em cada centímetro da minha pele.

E porque eu nunca fui do tipo que faz uma senhora esperar, eu começo a
baixá-la para o tapete macio, tão desesperado para ter sua pele nua na minha
boca que não posso imaginar dar mais um passo sem antes tirar seu vestido. Mas
antes que eu possa sequer dobrar meus joelhos, um rosnado baixo soa a minha
esquerda.

Eu olho para cima, vejo Fifi, ainda em sua cama, observando Cat e eu com
uma intensidade que é desconcertante.

Quando meus olhos se encontram com os da cachorrinha, ela solta um


latido entusiasmado.

—Não, você não pode assistir. —Eu inverto a direção, levanto e pego Cat
em meus braços com uma carranca para seu animal de estimação pervertido. —
Onde é o quarto?

—Por ali. —Cat diz, apontando para os fundos do apartamento. Eu ando


para lá, mas Fifi salta do sofá. —Fique, Fifi. Fique! —Cat acrescenta com o riso em
sua voz. —Volte para a sua cama. Para a sua cama, agora!

A cachorra late, três vezes em rápida sucessão, um claro apelo “vamos,


mamãe, deixe-me ir”, que faz Cat rir novamente.

Um homem menos confiante teria amaldiçoado a cachorra e arruinado o


clima, mas eu não tinha dúvida de que teria Cat implorando novamente em algum
momento.

A única coisa que me preocupava era quanto tempo vou aguentar antes
de tê-la. Eu quero que a nossa primeira vez dure, tornar esta uma noite que ela
nunca vai esquecer, mas já estou tão desesperado, tão louco, tão duro que parece
que vou me machucar se não entrar em breve nela.

Ela me deixa louco, esta mulher, mas quando fecho a porta do quarto, a
coloco sobre seus pés, e tiro seu vestido pela cabeça, expondo-a para o meu olhar
pela primeira vez, eu decido que a sanidade é superestimada.

Eu não preciso de sanidade.

Eu só preciso de Cat, em meus braços, pele contra pele.

Agora mesmo, porra.


CAPÍTULO 18

O meu olhar desliza de seus lábios levemente abertos para seus seios, em
renda branca, até a calcinha combinando e pernas incrivelmente longas e
lindamente fortes. Por um longo tempo, luto contra o desejo de ir até ela, dando
o meu melhor para imprimir este momento em minha memória.

Quero me lembrar dela assim, com sua pele pálida arredondada em todos
os lugares certos e sardas espalhadas por todo o peito como uma constelação de
estrelas.

Ela é perfeita. Mais do que perfeita. Ela é completamente estonteante.

Terrena e celestial, familiar e exótica, e tão sexy que mal posso acreditar
que mesmo com tanta integridade e uma dose substancial de estupidez dos meus
vinte anos foi o suficiente para me fazer rejeitá-la na primeira vez que a tive em
meus braços. Eu quero beijá-la em todos os lugares. Quero marcar cada sarda,
enquanto brinco com seus mamilos através do sutiã, deixando-a louca até que ela
esteja tremendo em meus braços e tão molhada que eu possa sentir o doce
cheiro enchendo o ar.

Mas me concentrar em suas sardas iria fazê-la rir, e eu não quero sua
risada. Quero seus engasgos, seus suspiros e gemidos. Quero sua voz rouca no
meu ouvido me implorando para tê-la, gritando que eu sou o melhor que ela já
teve.

Mas primeiro preciso ter certeza que desta vez estamos mais preparados
do que estávamos no passado.

—Estou limpo. Eu fiz uns exames mês passado. —Tiro minha camisa
lentamente sobre minha cabeça e jogo no chão, sem perder a forma como o seu
olhar vai para meu peito, e desce pelo meu estômago até o início do meu jeans,
fazendo meu pau derramar uma lágrima solitária de dor pela tragédia de ainda
estar separado desta mulher. —E você?

—Eu não fiz exames recentemente. —Ela parece faminta, morrendo de


fome, como se quisesse mordiscar uma trilha do meu pescoço até meu umbigo, e
percebo que venderia órgãos semi-vitais pelo prazer de ser a sua próxima
refeição. —Mas eu nunca tive relações sexuais sem preservativo.

Eu mordo meu lábio enquanto alcanço o meu jeans, lentamente abrindo o


botão e pegando o zíper entre meus dedos. —Nunca?

Ela balança a cabeça de um lado para o outro com ar sonhador, sua


atenção fixa no zíper da minha calça. —Nunca. Nico queria, mas...

—Não quero ouvir sobre Nico. —Abro o zíper, deixando o som preencher
o silêncio entre as minhas palavras. —Eu quero saber se você toma pílula. E, em
caso afirmativo, se você quer que eu te coma sem nada. Ou se prefere que eu use
um preservativo. O que você quiser Ruiva, eu só quero saber antes de começar.
Se bem me lembro, a última vez que toquei em você eu me descontrolei e estava
pronto para te comer primeiro e fazer perguntas importantes depois.

—Eu tenho um DIU. —Seus seios sobem e descem enquanto largo meu
jeans no chão, deixando meu pau livre para esticar a frente da minha cueca boxer
em uma jogada desesperada para chegar mais perto de Cat. —E nenhum
preservativo. Você pode ser a minha primeira vez sem um. Eu... eu ainda confio
em você.

—Fico feliz. E eu queria ter sido o seu primeiro em todos os sentidos. Você
merecia muito mais do que o Caixa de Ferramentas. —Eu a puxo em meus braços
e a apoio contra a cama, um raio de luxúria pura me atravessa quando percebo
que estou a poucos segundos de tê-la debaixo de mim.

Eu abaixo o meu rosto para o dela, beijando sua bochecha antes de


sussurrar. —Eu gostaria de ter tido você naquela noite na floresta, e todas as
noites do verão. Eu gostaria de ter feito amor com você até que fazer você gozar
fosse a habilidade especial no meu currículo. Até que eu pudesse fazer você gozar
tantas vezes seguidas, que você imploraria para eu parar, para que pudesse
recuperar o fôlego.

—Não, você não pararia. —Ela diz, com a respiração acelerada quando as
coxas batem no colchão. —E eu nunca teria lhe pedido para parar. Como a minha
tolerância à cerveja, a minha tolerância para orgasmos é excepcionalmente alta.

—Eu não disse que você teria me pedido para parar. —Eu a coloco de
costa na cama, alongando meu corpo sobre o dela, cada lugar que tocamos
pegando fogo. A química entre nós é tão quente que é quase dolorosa, mas não
posso esperar para ver o quanto as coisas podem ficar mais quentes.

Envolvo seu seio em uma das mãos, deixando o polegar acariciar seu
mamilo já duro, minhas bolas pulsam quando ela geme baixinho em resposta. —
Eu disse que imploraria. —Coloco a minha boca em seu seio, roçando meus lábios
no mamilo através da renda. —Eu preciso ensiná-la a implorar Ruiva?

—Sim, acho que precisa. —Ela prende meu olhar enquanto pego seu
mamilo entre os dentes, mordendo gentilmente. Seus olhos escurecem com uma
mistura de fome e vulnerabilidade que me deixa ainda mais desesperado para
estar dentro dela. —Ensine-me, Aidan. Faça-me implorar para que você me coma.
—Eu mordo seu mamilo, e ela suspira. —Quebre-me só um pouco.

—Eu vou, eu prometo. —Eu juro, afastando a boca do seu mamilo e


enfiando meus dedos no tecido rendado. —Eu vou te quebrar, Ruiva. Vou fazer
você implorar, chorar e achar que vai morrer se não gozar. Mas então vou te colar
novamente, querida. Eu juro.

—Não me chame de querida. —Ela diz, com um brilho no olhar que me


garante que a batalha começou.

—Eu te chamo do que eu quiser, querida. —Com um puxão forte da minha


mão eu retiro o sutiã dos seus seios, guiando-os para a minha boca, e começo a
mostrar o quanto eu posso ser impiedoso.

Inclinado sobre seu belo corpo, coloco a minha língua sobre um mamilo
enquanto brinco com o outro entre os meus dedos, aumentando gradualmente a
pressão até que sua respiração fique mais rápida e os quadris balancem contra o
meu, buscando alívio para essa doce tortura. Mas o alívio não faz parte do meu
plano de ação, não agora ou em breve. E então, espero até que seus impulsos se
tornem urgentes, exigentes, quase frenéticos. Aperto meu maxilar e a deixo moer
contra meu pau através do que resta das nossas roupas até sentir que poderia
morrer de tanto que a quero.

Eu estou sofrendo, doendo, desesperado. A fenda na ponta do meu pau


está vazando, e minhas bolas pulsam, e cada célula do meu corpo está clamando
para eu comer a Cat agora, fodê-la com força, fodê-la até que ela entenda que
ninguém nunca vai satisfazê-la como eu, mas eu me nego. Eu me nego, porque
isto não é apenas sobre quebrá-la; é sobre me quebrar também.

É sobre nós dois mergulharmos na escuridão que estamos perdidos.


Perdidos, enlouquecidos e tão desesperados para acabar com o sofrimento que o
prazer que encontraremos no final da longa e cansativa estrada, será a porra mais
doce.

—Tão doce. —Murmuro contra seu mamilo enquanto deslizo minha língua
ao redor da sua ponta lisa e inchada. —Você é tão doce, porra.

—Eu amo a sua barba contra a minha pele. Eu amo que cada parte sua é
tão máscula. —Ela enfia os dedos no meu cabelo e puxa, com força suficiente
para enviar um raio de dor bem-vindo na minha nuca. Um pouco de dor é
perfeito, apenas o que preciso para me dar forças para continuar a nos empurrar
para mais perto do limite da razão.

—Eu te quero tanto. —Ela geme. —Dentro de mim, Aidan. Por favor, eu
preciso te sentir dentro de mim.

Ela pressiona contra meu pau, e eu deixo, permito ela esfregar o clitóris
contra o meu comprimento até que ela está trêmula e agarrando-se aos meus
ombros e muito perto de gozar só com o atrito dos nossos corpos deslizando um
contra o outro. Então, e só então, quando sinto que ela está realmente prestes a
pegar fogo, eu me afasto.

Corto completamente o contato entre nós, enviando um jato frio de ar


entre nós enquanto eu me sento em meus calcanhares, lutando contra a vontade
de sorrir quando seus olhos se arregalam em choque, e depois com indignação.

Agora, a batalha realmente começou, e eu vou aproveitar cada torturante


e maravilhoso segundo disso.
CAPÍTULO 19

Cat se apoia nos cotovelos, olhando para mim com os olhos


entrecerrados. —Isso não é legal. Volte aqui. Agora mesmo.

Eu murmuro suavemente. —Mandona, mandona.

—Volte, por favor. —Ela diz, os dentes cavando em seu lábio inferior com
força suficiente para deixá-lo branco.

—Por favor, é bom. —Empurro minha boxer pelos meus quadris,


liberando meu pênis e deixando cair uma mão no meu comprimento inchado.
Aperto a base do meu eixo com firmeza, forte o suficiente para doer, usando essa
dor para recuperar o controle e continuar nos empurrando ainda mais. —Mas eu
quero que você implore, Cat. Você nem está perto.

—Foda-se. Estou sim, bem perto. —Ela franze o cenho, fazendo um som
baixo e rosnando de frustração quando seu olhar para no meu pau. —Você é
menor do que eu me lembro.

Eu sorrio. —Se fosse maior, e eu realmente te quebraria, querida.

—Você é um filho da mãe. —Seus quadris se mexem inquietos contra o


colchão e seus olhos piscam, mas posso dizer que ela está lutando contra um
sorriso. —Você sabe que eu odeio ser chamada de querida. —Ela suspira. —Mas
eu realmente gosto de você.

—Eu realmente gosto de você, também. —Digo, surpreso de como é


verdade as palavras que digo.

Eu realmente gosto dela. Eu gosto da sua mente, do seu corpo e do seu


senso de humor perverso, e eu realmente amo vê-la se contorcer. Amo ver esta
força da natureza se desvendar e saber que eu sou a razão para a fome em seus
olhos e para o rubor colorindo seus peitos em um rosa pálido.

—Por favor, Aidan. —Ela sussurra, segurando meu olhar. —Eu te quero
tanto. Eu sinto que sempre estive esperando você. Não me faça esperar mais.
—Eu não quero fazer você esperar, Cat, mas ainda não ouvi você implorar.
—Eu alcanço o topo de sua calcinha, deixando meus dedos ligeiramente
provocarem seu clitóris enquanto me movo.

Ela recua e se afasta da minha mão com um suspiro, e eu tenho que lutar
contra a vontade de rasgar a renda. Estou pronto para eliminar a barreira entre a
sua boceta quente sob o tecido encharcado, e minha mão, minha boca, meu
pobre pau em sofrimento. Em vez disso, retiro a renda lentamente pelas pernas
agitadas e em seguida, trago de volta as palmas das mãos para suas coxas,
espalhando-as mais, gemendo com apreciação quando eu a vejo.

Ela é uma ruiva verdadeira, com um tufo de cachos castanhos claros


úmidos, em cima de sua boceta lisa como um pêssego, e ela está tão excitada,
como nunca vi uma mulher antes. Ela está inchada, molhada e tão bonita que,
tudo o que quero fazer, é colocar meu rosto entre suas coxas e devorá-la até
deixá-la ainda mais úmida e mais quente.

Mas ainda não é hora da satisfação.

—Linda. —Suspiro, usando os polegares para separar seus lábios, dando-


me uma visão melhor do clitóris inchado. —Menor do que eu me lembro, mais
linda.

Ela bufa. —Bem, estava escuro naquela época. Meu clitóris é mais ousado
no escuro.

—E éramos jovens. —Eu me abaixo na cama para me ajeitar entre suas


coxas. —Tudo parece maior e melhor quando se é jovem.

—Maior, talvez. —Ela diz. —Mas não melhor.

—Concordo. Acho que é melhor agora. —Eu trago minha boca para mais
perto de sua umidade, enquanto coloco minhas mãos por trás de suas coxas e
afundo meus dedos em seus quadris. Faço uma pausa, inalando o cheiro dela,
decidindo que nunca cheirei nada mais quente do que o quanto ela me quer. —
Agora, eu tenho idade suficiente para apreciar o momento. E eu gosto de você
mais suave, mais doce.

Ela morde o lábio. —Então, este não é o momento para lhe dizer que há
melhores usos para a sua língua do que me fazer elogios?

Eu sorrio. —Não, este é o momento perfeito. Continue usando sua boca


bonita para ser uma espertinha e vamos ficar assim a noite toda. —Acaricio sua
coxa com o meu nariz, deixando minha respiração esquentar ainda mais a sua
boceta quente. —No limbo, um suspiro perto da satisfação que poderia ser nossa,
se você apenas me dissesse que morrerá se eu não colocar meu pau em sua
boceta.

—Seria preciso mais do que isso para me matar. —Ela diz, sua respiração
sibilando enquanto minha língua faz uma trilha de sua bunda até seu clitóris. Seu
traseiro remexe, seus seios se erguem mais enquanto ela engasga. —Droga, eu
imaginei isso tantas vezes. Mas isso foi muito rápido. Vá mais devagar, por favor.
Eu quero tempo para memorizar como eu me sinto com a sua boca em mim.

—Eu vou te dar tempo. Muito tempo. Todo o tempo do mundo. —Eu levo
a ponta da minha língua para o clitóris e levemente circulo a saliência rosa
inchada. —Eu poderia comer sua boceta toda a noite, porra.

—Oh, Deus, isso é tão bom. —Ela ofega, suas coxas remexendo inquietas
nas laterais do meu rosto enquanto continuo o meu assalto gentil, calculado. Ao
redor, para trás e para frente, para cima e para baixo, eu exploro cada centímetro
de sua doçura com a mesma pressão não-forte-o-suficiente até que ela esteja
balançando e choramingando, enquanto seus dedos dos pés se enrolam em cima
do colchão.

—Por favor, Aidan, merda! Por favor! —Ela arqueia em minha boca,
tentando intensificar a força da pressão da minha língua contra sua carne
inchada, mas eu seguro seus quadris com força, imobilizando-a no colchão. —
Você não pode fazer isso!

—Mas eu posso. E vou. —Pressiono um beijo suave em sua coxa, fingindo


que não estou tão no limite quanto ela. —Eu estou no comando, e não vou te dar
o que você quer, até que receba o que preciso, Ruiva. Até que eu ouça você
implorar. Vamos lá, querida. Me implore para te comer. Deixe-me ouvi-la perder
o controle.

—Foda-se. —Ela suspira, suas palavras se transformando em um gemido


torturado quando retomo meu ataque suave em seu corpo.

Minhas mãos deslizam em sua pele úmida de suor para cobrir seus seios,
rolando seus mamilos entre meus dedos enquanto continuo a lamber, provocar e
chupar, levando a minha língua para dentro dela o suficiente para deixá-la louca,
mas não muito. Seguro suas pernas no colchão com os meus braços, saboreando
a sensação de seus músculos lutando contra os meus enquanto ela se retorce e
tenta cada truque para me ter dando mais. Mas eu me recuso a ceder. Concentro-
me em seu gosto em seu calor e no quanto é perfeito tê-la presa embaixo de
mim, bem aberta para a minha boca, minha para torturar, dar prazer e venerar.

Eu ignoro a minha pulsação, o peso de chumbo em minhas bolas e meu


pau latejante, miserável e incrivelmente duro. Cada célula do meu corpo está
berrando que isso é loucura, que jogos de poder com Cat não vale a pena este
nível de dor e sofrimento, mas eu calo a voz da fraqueza e luto para permanecer
firme. Concentro-me no seu corpo desabrochando debaixo do meu, o rubor entre
as pernas escurecendo o seu sexo, os seios inchando nas minhas mãos, enquanto
faço amor com ela. Minha atenção vai para o deslizar de sua pele suave contra
meus braços enquanto pressiono as coxas ritmicamente, imitando a maneira
como meu corpo vai empurrá-la no colchão quando finalmente for capaz de
transar com ela.

Deus, eu tenho que comê-la logo.

Eu preciso tanto dela. Estou tão desesperado, tão pronto, tão louco por
ela que leva alguns minutos para perceber que ela está soltando um fluxo suave e
constante de palavrões, chamando-me de todo o nome feio que existe e alguns
que tenho certeza que ela está inventando agora.

Mas nesse momento, mal consigo entender suas palavras. Eu não posso
notar mais nada a não ser seu aroma, seu sabor e a felicidade de suas mãos
puxando meu cabelo com um desespero que ecoa por todo meu corpo. Tudo o
que posso pensar é o quanto preciso substituir a minha boca pelo meu pau e
montá-la em orgasmo após orgasmo, transar com ela até que nós dois estejamos
machucados com a força do nosso prazer. Mas eu não cheguei até aqui para
voltar atrás agora. Eu vou ter o que preciso, o que nós precisamos, mesmo que
uma parte de mim, que certamente é o meu pau, caia se continuar assim por
muito mais tempo.

Ruiva não é a única pessoa teimosa neste quarto. Sou tão teimoso,
determinado e insano quanto ela. Então espero, sofro e retorço na quentura de
um desejo diferente de tudo que já experimentei em toda a minha vida esquecida
por Deus, até que finalmente ouço Cat começar a soluçar.

—Por favor, Aidan, por favor. —Ela implora, sorvendo uma respiração
irregular. —Eu vou fazer o que quiser, dizer o que quiser. Eu vou ficar de joelhos e
implorar se isso é o que é preciso, mas, por favor, me fode. Por favor!

Eu enfio a minha língua profundamente em sua boceta inchada e


pingando, gemendo com o calor salgado que me envolve, enquanto percebo que
estou a poucos segundos de tê-la, de me enterrar até as bolas bem no fundo
deste paraíso entre suas pernas.

—Eu vou morrer se você não o fizer. —Ela fala enquanto a fodo com a
minha língua, dirigindo o músculo rígido mais profundo com cada subida e
descida da minha cabeça. —Eu vou morrer, e não quero morrer, não sem ter você
dentro de mim. É tudo o que quero, Aidan, por favor! Deus por favor!

Sua voz se quebra quando ela começa a soluçar e uma parte primitiva
minha percebe que é a minha deixa. Eu subo nela, batendo a minha boca contra a
dela, beijando-a com o sabor de sua excitação ainda na minha língua, quando
meu pau encontra sua entrada e desliza para casa, dirigindo para frente todo o
caminho até o fim dela sem uma única parada.

E é tão perfeito, tão certo, como se tivéssemos feito amor uma centena de
vezes. Mil. É como se a fechadura de uma sala secreta, no fundo de mim, tivesse
clicado, a porta se abrindo para revelar meu verdadeiro propósito.

Todo esse tempo que meu pau passou fodendo outras mulheres,
pendurado entre minhas coxas, ou suando ao lado de minhas bolas enquanto eu
faço coisas idiotas como correr pelado na ponte do Brooklyn, tem sido apenas
uma forma de passar o tempo até que ele encontrasse o lugar ao qual ele sempre
pertenceu: entre as coxas de Ruiva. Envolto dentro dela. Retido no mais perfeito
abraço já inventado por qualquer força benevolente, que tenha dado aos seres
humanos a capacidade para sentir um prazer como este.
Ela é tão boa. Boa pra caralho, porra.

E esta é a coisa mais certa que eu já fiz sem roupas. Eu quero abrandar e
fazer isso durar, mas nós dois estamos tão loucos que não posso fazer nada, a não
ser levá-la. Levá-la com força, fodê-la profundamente, sem um pensamento mais
eloquente do que: sim, minha, agora, minha, minha, porra, sim, minha, enquanto
ela bate de encontro a meus impulsos, dando tudo que pode de si.

Eu não penso sobre mostrar os truques que aprendi com outras amantes,
eu não penso em todas as coisas que queria provar para ela quando começamos
isso. Tudo o que penso é em chegar mais perto, mais perto, até que não exista
nada entre a sua alma e a minha, a não ser algumas camadas de pele pulsante.

E quando olho em seus olhos, percebo o quanto eu estava sendo estúpido


ao afastá-la. Passei anos teimosamente me recusando a reconhecer que a garota
perfeita para mim estava bem debaixo do meu nariz e, mais anos me
convencendo de que a lembrança que eu tinha de me sentir em casa na
companhia de certa ruiva eram apenas memórias idealizadas. Eram momentos
congelados no tempo que minha mente insistia que eram perfeitos porque
estavam no passado, que nunca mais seriam recapturados.

Mas talvez eu estivesse errado.

—Sim. —Ela diz, como se pudesse ler minha mente, olhando para mim
com lágrimas em seus olhos enquanto ela entoa: —Sim, sim. Ai sim.

E eu sei exatamente o que ela quer dizer.

Sim, para mais deste prazer inacreditável. Sim, para momentos de guarda
baixa, quando não há nada a temer e nada a provar.

Sim, para longos dias e noites ainda mais longas, meses e anos ou o tempo
que pudermos nos agarrar a isto, porque não há nada melhor do que perceber
que tudo o que você realmente precisa já está em seus braços.

—Você parece tão bem, Aidan. —Ela sussurra contra meus lábios, unhas
afundando na minha bunda, enquanto ela me pede mais perto, mais profundo,
mais rápido. —Estou tão perto. Tão perto.

—Sim, goze para mim. Goze para mim. —Eu arquejo, a respiração presa
enquanto sua boceta se encaixa no meu pau, apertando-me tão forte que meu
coração pula uma batida.

Eu luto para me segurar, para continuar para que possa fazê-la gozar de
novo, mas o seu calor agarrando-me apertado é mais do que posso suportar. E
gozo com um grito profundo vindo do centro do meu peito, um som dolorido e
prazeroso que ecoa pelo quarto enquanto minhas bolas se apertam e meu pau
empurra duro dentro de sua boceta.

—Deus! —Ela grita, seus quadris resistindo com força suficiente para me
levantar uns centímetros no ar. —De novo. Oh Deus, estou gozando de novo.

—Porra, eu posso te sentir. Você é tão apertada. —Gemo, balançando os


quadris, deixando a curva fazer o seu trabalho contra seu ponto G enquanto
continuo a gozar tão forte que parece que os músculos da parte inferior do meu
corpo estão sendo destruídos pela força do meu orgasmo.

Mas não vou reclamar. Se eu tiver uma distensão muscular por foder
Ruiva, será a melhor lesão, pela qual me orgulharei nos próximos anos.

Finalmente, depois de navegar na onda, gozando tanto e por mais tempo


do que eu sabia que o orgasmo masculino poderia durar, Cat e eu finalmente
ficamos parados, nossas barrigas pulsando uma contra a outra, enquanto
recuperamos o fôlego. Nós rolamos para o canto da cama onde começamos,
empurramos o edredom para o outro lado, e conseguimos atirar cada travesseiro
no chão, mas não lembro quando isso aconteceu.

Eu estava muito perdido nela. Encontrado nela.

O nível de breguice desse pensamento normalmente daria um gosto


amargo em minha boca, mas agora só parecia verdadeiro. Há anos eu não me
senti tão bem depois do sexo. Não há constrangimento ou distância, apenas a
sensação de estar onde deveria estar, com alguém em quem posso confiar. É
fantástico, e finalmente entendo por que alguns dos meus amigos pregam o
evangelho santo da transa entre amigos. Há muito a ser dito sobre o sexo quente
com uma boa amiga. Muito.

—Droga. —Ela sussurra enquanto rolo para um lado e fico de frente para
ela sobre o colchão, admirando o quanto ela é bonita com seu rosto vermelho,
corada por me foder. —Merda.

Meus lábios curvam enquanto afasto o cabelo de seu rosto. —Droga e


merda?

—Droga e merda. —Ela diz, a respiração rápida, enquanto sorri. —Isso foi
incrível. Eu gozei tão forte que meus dedos ainda estão dormentes.

Meu sorriso amplia. —E isso é algo para xingar?

—Sim! Absolutamente. —Ela balança a cabeça seriamente. —Porque


agora que você sabe que é o melhor que eu já tive, você ficará mais cabeçudo do
que já é. Você vai ficar completamente insuportável. —Ela suspira. —Eu estava
realmente esperando que você fosse como queijo fedido.

—Queijo fedido. —Repito, porque meu cérebro ainda não está nem perto
de voltar totalmente ao normal. Talvez eu tenha realmente fodido os meus
miolos. E valeu a pena, cem por cento.

Sua língua desliza para umedecer os lábios. —Você sabe. Aquele super
valorizado e superestimado, que deixa um sabor desagradável, a menos que seja
consumido com um vinho ridiculamente caro.

Deixo minha mão deslizar por suas costelas até à cintura e pressiono os
dedos sobre a curva de seu quadril. —Você não esperava que eu fosse um queijo
fedido. Você queria que eu fosse um bom. Mas foi muito melhor do que bom.

—Foi. —Ela diz com um suspiro feliz.

—Isso foi o melhor que já tive, também. —Estou tranquilo em ser aberto e
indefeso que nem sequer penso em me segurar. —Eu não tinha ideia de que
poderia ser assim.

—Bem, obrigada. —Seus músculos se contraem sob meus dedos. —Eu


faço muito Kegel.

Eu levanto o meu olhar para o dela, piscando rapidamente assim que vejo
que a Cat vulnerável com quem eu estava fazendo amor alguns minutos atrás,
desapareceu, dando lugar a uma Cat que me observa com um olhar cauteloso,
ainda que seus lábios se curvem em um outro sorriso.
—Você conhece Kegels, não é? Os exercícios que fazem seu...

—Eu sei o que é. —Corto. —Eu não estava falando sobre isso. Quero dizer,
sim, sua boceta é incrível, mas...

—E seu pau é uma revelação. —Ela diz com um entusiasmo que deveria
ser lisonjeiro, mas por alguma razão não é. —Agora posso testemunhar que
Curvado Para O Seu Prazer não é apenas um excelente apelido de Corredor. Está
cientificamente comprovado. Eu não tinha certeza se eu tinha um ponto G até
poucos minutos atrás, mas isso foi... totalmente incrível. —Ela vira de costas,
olhando para o teto, como se esperasse que os segredos para o ponto G
estivessem escritos nas palhetas de seu ventilador. —Eu não sabia que um
orgasmo podia ser assim, como se virasse você de dentro para fora, mas com
você amando cada minuto disso.

—Bem, que bom. —Eu me sento, deslizando minhas mãos pelo meu rosto,
domando minha barba em algo que lembra a submissão. —Estou contente que
tenha sido bom para você, também.

E estou. Eu não preciso que ela me diga que se sentiu em segurança, como
estar em casa, o sentimento de que isto-é-tão-certo também. Eu tenho certeza
que ela sentiu, mesmo que nunca admita, mas isso já é o suficiente.

É mesmo? Sério?

Como isso será se ela não estiver disposta a falar sobre nada, a não ser
enfiar o parafuso na rosca?

Talvez ela não tenha sentido porra nenhuma, idiota. Talvez você seja o
único flutuando em um grande tanque, cheio de seus próprios sentimentos.

—Posso usar seu chuveiro? —Limpo minha garganta, decidindo que é


hora de colocar as emoções de volta debaixo da capa, onde elas pertencem. —De
acordo com um cara mal que conheci hoje, eu aparentemente cheiro
terrivelmente.

Ela bufa enquanto estende a mão para apertar meu braço. —Claro que
você pode, mas você não tem um cheiro terrível. Você tem um cheiro
maravilhoso, como um Aidan que esteve comendo boceta, que é provavelmente
um dos cheiros mais incríveis do mundo.

Olho por cima do ombro para ela, sorrindo para sua expressão severa. —
Estou feliz que você esteja levando isso a sério.

—Eu levo cheiro muito a sério. —Ela diz com uma cara séria. —Sempre
amei o seu cheiro.

—Obrigado. —Eu me inclino para beijar sua bochecha. —Eu já volto. —


Deslizo para fora da cama e atravesso pelado o quarto, em direção a porta do
banheiro.

Ela adora o meu cheiro e confessou que sou o melhor que já teve. O que
mais um homem pode esperar de uma velha amiga que não vê há anos e só
voltou a entrar em contato por um dia estranho e estressante?

Nada.

Eu não tenho direito de esperar ou querer nada mais, mas quando entro
no chuveiro e abro a água, não posso deixar de desejar que nossas paredes
tivessem caído o tempo suficiente para eu descobrir se Ruiva pode considerar que
isto entre nós seja mais do que sexo quente e negócios. Talvez pudéssemos nos
tornar amigos de transa, o caminho que deveríamos ter seguido anos atrás.
Talvez até mesmo algo mais...

—Ela está saindo de um relacionamento terrível com um psicopata, e você


nunca teve um relacionamento que durasse mais do que alguns meses. —
Murmuro para a água caindo sobre o meu rosto. —Soa como uma receita para o
desastre.

Soa. Mas isso não me faz querer menos isto, ou a ela.


CAPÍTULO 20
Dos bilhetes e mensagens arquivadas de

Curvado Para O Seu Prazer e calcinha De Bolinhas

Querida Calcinha,

Vamos falar sobre seu traseiro, e como ele não estava


condicionado nas duas últimas semanas, ou no nosso último
percurso no sábado. Adicione a isso o fato de que você não
respondeu aos meus bilhetes, ou foi vista bancando a nerd
na biblioteca, ou carregando uma tigela gigante na máquina
de iogurte congelado no refeitório, e deixou alguns de nós
preocupados.

Se eu estiver em sua lista, por algum motivo, por favor,


faça contato com outra pessoa do clube o mais rápido possível
e deixe-nos saber que você está bem.

Dedões dos Pés e De volta ao Fim estão particularmente


preocupados, pois também não ouviram sobre você, e
aparentemente, à revelia dos membros com pau do clube,
vocês três tem um segredo, coisas-só-de-garotas toda segunda
à noite, seguido de cerveja, pizza e filmes de mulherzinhas.

Grupinhos dentro do clube e corridas privadas,


especialmente as divididas por gênero, são contra as regras,
flw. Mas estou disposto a fingir que não sei sobre os seus
encontros proibidos de mulherzinhas desde que você me
mande uma mensagem assim que puxar este bilhete do rabo
do soldado.

Enquanto suas nádegas ainda estiverem vermelhas,


calcinha. Ainda. Vermelhas!

Brincadeiras à parte, não sou fã do ato de desaparecer.


Realmente não sou fã.

Se eu não ouvir de você ou sobre você até o domingo,


vou tomar todas as medidas necessárias para me certificar de
que está tudo bem. Se isso significa descobrir o seu
verdadeiro nome, onde você mora e fazer contato com seu pai
ou quem mais você tem em casa, eu vou fazer.

Eu prefiro que você fique puta comigo por invadir sua


privacidade do que você estar com problemas em algum lugar
e ninguém saber.

Esperando que você esteja bem,

Curvado.

Mensagem de Calcinha para Curvado: Acabei de pegar o seu


bilhete. Estou bem. De volta ao campus e pronta para correr
amanhã.

Curvado: Onde diabos você estava? Nós estávamos


preocupados.
De Volta Ao Final passou por seu quarto no dormitório,
e sua companheira de quarto disse que você não dormiu lá
por uma semana. Eu ia para o escritório dos Assuntos
Estudantis amanhã cedo para relatar seu traseiro
desaparecido.

Calcinha: Estou surpresa que minha companheira de


quarto percebeu que eu não estava lá, considerando que
passo quase todas as noites no sofá da sala de estudos,
enquanto ela tem os orgasmos mais altos do mundo.

Vou comprar uma mordaça e dá-la ao seu namorado.


Dizer que é para ajudar a protegê-lo de perda auditiva a
longo prazo. Não pode ser seguro para ele estar tão perto de
sua boca quando ela começa a gozar.

Curvado: Mais uma vez, vou perguntar: onde você estava e


por que não me avisou? Você leu as vinte mensagens que
enviei perguntando se você estava bem, não é?

Calcinha: Deixe-me ver...

Sim. Aqui estão elas.

Eu gosto daquela que você fingiu estar preso no


banheiro com uma aranha gigante do lado de fora da porta
e precisava de mim para vir matá-la.
Eu quase respondi essa mensagem...

Calcinha está desaparecida. Eu a comi. Você é o


próximo. Amor, Aranha.

Mas pensei que se fizesse isso, então eu teria que


continuar com as mensagens ou você ficaria com raiva de
mim. Então eu não respondi.

Curvado: Sim, eu teria ficado louco, mas pelo menos não


teria ficado com medo por você. Ou chateado como estou
agora, porra.

Desaparecer por uma semana e não dizer a uma viva


alma que você está bem é bem idiota, Calcinha. Pensei que
você tivesse sido sequestrada, porra. Ou algo pior.

Calcinha: Se eu tivesse sido sequestrada eles teriam me


devolvido. Eu sou muito pé no saco para me comprometer
com uma tortura a longo prazo ou cárcere.

Curvado: Isso não é engraçado.

No meu primeiro ano, uma menina da minha aula de


sociologia pegou uma carona para casa ao sair de um bar no
centro. Seus amigos a viram entrar em uma caminhonete
branca, e ninguém nunca mais a viu.

Você percebe que poderia ter sido você, não é? Porque


eu percebo, porra.

E eu estava sentado aqui enviando mensagens para você


e escrevendo bilhetes e tentando não surtar porque eu sei que
geralmente você pode cuidar de si mesma, mas uma voz na
minha cabeça não parava de dizer, mas e se desta vez ela
não pode?

E se desta vez ela está em apuros e você está perdendo


tempo tentando agir com calma e não irritá-la e na verdade,
ela está amarrada no porão de um psicopata?

Calcinha: Eu realmente sou boa em me livrar de cordas,


também. Você teria que me amarrar com um nó constritor
para ter uma chance de me manter enfiada em um porão ou
em qualquer outro lugar.

Curvado: Legal.

Foda-se você também.

Que bom que você acha divertido o fato de que assustou


as pessoas que se preocupam com você.

Calcinha: Espere! Eu sinto muito. Realmente sinto. Ou


sentirei.

Honestamente, estou meio bêbada agora.


Provavelmente mais do que meio bêbada. Depois de seis
dias com o meu pai, eu precisava de todas as cervejas para
me acalmar. Agora não estou sentindo nenhuma dor e tudo
parece engraçado, mas eu sei que não está tudo bem.

Curvado: O que você estava fazendo com o seu pai?

Calcinha: Ajudando a pegar o corpo de minha mãe na


Irlanda do Norte e trazê-lo de volta para Washington para
ser enterrado. Por alguma razão ele pensou que seria uma
ótima maneira de me apresentar para a mãe que eu nunca
conheci, me dando o privilégio de escoltar o cadáver dela
através de um oceano e pela alfândega e para uma casa
funerária deprimente longe de Washington.

Curvado: Que merda. Eu sinto muito. Se eu fosse você, eu


estaria bêbado, também.

Calcinha: Obrigada. No entanto, aparentemente minha


mãe era alcoólatra. Uma alcoólatra chique, mas ela
realmente amava seu uísque irlandês. Então acho que
deveria cortar a cerveja a menos que eu queira morrer antes
que chegue aos cinquenta e cinco anos.

Porém, ela não morreu por excesso de álcool ou


hepatite, ela morreu atropelada ao atravessar a rua
enquanto estava cem por cento sóbria, de modo que
realmente não faz muito sentido.

Como eu disse, eu estou bêbada.

Mas estou fazendo muitas coisas. Entre as paradas do


trem, eu consegui fazer o meu dever de casa de todas as aulas
que perdi. Calcinha bêbada é incrível em fazer lição de
casa. Ela também é ótima em mensagens sem cometer erros de
ortografia.

Você está impressionado por quão rápido eu estou


mandando mensagens agora, ou o quê?

É como se meus polegares tivessem uma mente própria.

Polegares mentais. Mente. Polegares. Mentes do polegar.


Mente sobre o polegar.

Eu não sei o que estou dizendo, mas as palavras


“polegar” e “mente” em conjunto estão me fazendo rir muito
agora.

Curvado: Onde você está? Vou te levar um burrito para


ajudá-la a ficar sóbria e podemos falar sobre sua mãe.

Calcinha: Eu não quero falar sobre mãe. Não me importo


com a minha mãe.
Eu acho que isso soa horrível, mas é a verdade. Ela
partiu antes que eu soubesse caminhar, porque ela queria ser
uma espiã e uma bêbada mais do que queria ser mãe.

E isso é bom. Tanto faz. Eu já superei há muito tempo.

Estou mais chateada com meu pai por me fazer ir com


ele pegá-la. Ele deveria ter deixado seus amigos cremar seu
corpo do jeito que ela queria, porque eu nunca vou visitar
aquela sepultura.

Nunca. Prefiro comer aranhas. Aranhas vivas.

Curvado: Tem certeza? Eu sou um bom ouvinte.

E eu tenho drama com os pais em meu passado. Nada


como o que você passou, mas o suficiente para que eu
definitivamente possa emprestar um ouvido atento.

Calcinha: Obrigada, mas não. Eu também prefiro comer


aranhas a chorar em seu ombro sobre a minha merda de
vida.

Você realmente tem medo de aranhas? Um pouco ao


menos? Ou foi uma besteira inventada para conseguir que eu
te mandasse uma mensagem?

Curvado: Eu não tenho medo de aranhas. As pessoas são os


únicos animais que me assustam.

Calcinha: Eu também. Muito.

Eu tenho uma faixa preta em jiu-jitsu e treinamento


com os melhores especialistas em autodefesa do mundo, mas
as pessoas ainda me assustam. Elas simplesmente não fazem
qualquer sentido, você sabe? Quero dizer, eu posso derrotar
alguém em uma luta, mas se algum psicopata decidir
amarrar uma bomba no peito e sentar-se ao meu lado no
trem, o que diabos eu posso fazer? Como devo me preparar
para isso?

Eu não posso. Então passar dez anos da minha vida


aprendendo a bater em homens com o dobro do meu
tamanho em um tatame foi um enorme desperdício do meu
tempo.

Eu quase disse isso ao meu pai este fim de semana. Eu


quase disse a ele que eu queria que ele me deixasse ficar com
minha avó, em vez de me levar com ele e me transformar em
um monstro tão grande quanto ele é. Mas eu não disse.

Porque aprender a lutar pode ter me feito forte, mas


não me deu coragem.

Curvado: Onde você está? Você não deveria ficar sozinha


agora.
Calcinha: Eu sou uma covarde. Eu realmente sou.

Mas Calcinha bêbada é menos covarde do que a


Calcinha sóbria, então eu vou te perguntar por que você
pensou que eu estava com raiva de você.

Curvado: Eu não achei que você estava com raiva de mim.

Calcinha: Sim, você achou. Você escreveu em seu bilhete.


Que se estivesse na minha lista por algum motivo eu deveria
entrar em contato com uma das meninas. Você não teria
escrito isso, a menos que tivesse algum palpite de por que eu
poderia estar com raiva de você.

Curvado: Eu não sei. Você parecia estranha na última


festa.

Calcinha: Estranha, como?

Curvado: Você não queria tomar a minha cerveja. Você


sempre quer tomar a minha cerveja.
Calcinha: Bem, sim, porque você leva a melhor cerveja. Eu
nunca soube que cerveja poderia ter tantos gostos até que
conheci você.

Curvado: Então? O que estava acontecendo?

Calcinha: Eu pensei que eu poderia estar resfriada. Eu


não queria te infectar. Mas não queria te dizer que eu
poderia estar doente, porque sabia que você ia me fazer ir
para casa e descansar.

Você é muito mandão.

Curvado: Mas você gosta disso. Admita. Você gosta que eu a


guie de vez em quando.

Calcinha: Eu acho que gosto. Como Calcinha bêbada posso


admitir isso, mesmo que a Calcinha de amanhã fique
chateada por isso.

Mas gosto disso. Isso significa que você se importa, que


sou especial o suficiente para que você perca seu tempo
tentando me dizer o que fazer.

Curvado: Eu me importo. Então me deixe te levar burritos


e ser o tipo de irmão mais velho mandão que insiste que você
precisa de comida em sua barriga para acompanhar essa
cerveja.

Calcinha: Uísque, na verdade. Em homenagem a minha


mãe. Que ela descanse em ervilhas 12.

Curvado: E cenouras.

Calcinha: Obrigada por isso. Piadas bobas são... Boas.

Merda, agora estou chorando...

Curvado: Diga-me onde você está. Agora mesmo.

Calcinha: Não posso. Não quero que você me veja assim. Eu


poderia dizer mais coisas que vou me arrepender amanhã.

Curvado: Você não tem que se arrepender de nada do que


disser. Você ganha um passe livre “minha mãe acabou de
morrer” para agir como uma completa idiota. Eu só preciso
ter certeza de que você não vai desmaiar, vomitar e sufocar
em seu próprio vômito.

12
Trocadilho com a palavra peas que é ervilha e a palavra Peace que é paz.
Você é boa demais para morrer dessa forma, esquilo
louco.

Calcinha: Ah, você lembrou o meu apelido carinhoso.

Eu amo você também, Curvado.

Vejo você na corrida de amanhã. Vou ser aquela com


ressaca, vomitando em seus tênis nas trilhas.

Curvado: Cuide-se Calcinha. E me chame se decidir que


prefere que eu cuide de você, em vez disso. Não há vergonha
em precisar das pessoas de vez em quando, sabe.

Calcinha: Assim ouvi dizer. Assim ouvi dizer...


CAPÍTULO 21

Eu acordei um pouco depois das três da madrugada, indo de dormir


profundamente e sem sonhos, para muito bem acordado e ouvido atento, sem
saber por quê.

Empurrando-me sobre um braço, olho para Cat, que está enrolada em


uma bola com sua bochecha descansando em suas mãos dobradas e um meio
sorriso no rosto que me faz pensar que ela está sonhando e espero que seja
comigo.

Ou pelo menos com o meu pau.

Ela parece uma gata bonita, e meu coração faz coisas estranhas no meu
peito quando meus olhos pousam em seu rosto. Mas não cedo à tentação de
enrolar meu corpo em torno dela e voltar a dormir, ou beijá-la até que ela acorde
e me dê uma segunda chance de encontrar seu ponto G.

Algo me acordou, sou um dorminhoco a menos que seja perturbado, e


preciso descobrir o que foi isso.

Cat armou seu sistema de segurança antes de irmos dormir e ela me


garantiu que Nico não sabia o código para desarmar. As chances de que alguém
esteja no apartamento são pequenas e após vários momentos de escuta, o ar
ainda é tão tranquilo como sempre é na cidade, com apenas o zumbido do
tráfego noturno na Avenida perturbando a paz. Não há bêbados mexendo o lixo
nas calçadas, ou casais gritando xingamentos um para o outro em línguas que não
consigo entender, provando que o bairro de Cat é significativamente mais chique
que o meu.

Ela tem um apartamento bem agradável e protegido por um sistema de


segurança em uma parte ainda mais agradável da cidade, e com todo o direito ela
deve se sentir segura. Mas ela não se sente, e isso é motivo suficiente para eu sair
debaixo das cobertas e pegar minhas roupas. Visto minha cueca e calça jeans e
olho o quarto escuro por qualquer coisa que possa servir como uma arma.

Meus olhos se ajustam às sombras, e a luz que se infiltra através das


cortinas abaixadas, mas não há muito para ver. Além do abajur cromado na mesa
de cabeceira, não há nada remotamente perigoso no espaço bem organizado. O
estilo de decoração de Cat é contemporâneo e minimalista. É claro, eficiente e
sexy, como ela própria, mas extremamente carente de objetos pesados bons para
bater na cabeça de intrusos.

—Serão os punhos, então. —Sussurro enquanto ando silenciosamente no


quarto em meus pés descalços. Eu seguro a maçaneta com cuidado, abrindo a
porta sem fazer barulho.

Sou igualmente cuidadoso quando saio no corredor pequeno, verificando


o banheiro à minha esquerda para me certificar de que ninguém esteja escondido
no chuveiro. Meu coração está batendo mais rápido do que o habitual, e os meus
sentidos estão em alerta máximo, mas no fundo não acho que vou encontrar
alguém bisbilhotando na sala ou na cozinha.

Se alguém tivesse arrombado o alarme teria soado. E mesmo que Nico de


alguma forma tivesse conseguido desligar o sistema de segurança, ele teria
apitado quando fosse desarmado. Não foi nada assim de assustador que me tirou
do meu sono. Foi algo mais suave, o ruído abafado de alguém bêbado chegando
em casa no corredor do lado de fora, talvez. Ou os pés da pessoa no apartamento
de cima batendo no chão enquanto ia para o banheiro para urinar.

Ou talvez a cachorra. Fang poderia estar na sala massacrando a mobília


por seus problemas de abandono. De acordo com Cat, a cachorra geralmente
dorme com ela, então a pequena pervertida provavelmente não está muito feliz
por ter sido expulsa da sua cama esta noite.

Eu já estou planejando levar Fang de volta para a cama comigo se ela


estiver acordada, eu cresci dormindo com cães, e sei que não serei capaz de
resistir aos olhinhos de “por que não posso me aconchegar?” se estiverem fixos
em mim, quando vejo a forma minúscula esparramada no chão da cozinha na
frente da geladeira.

Minha mente registra que é Fang, mas algo sobre a cena imediatamente
me parece errado. Leva um momento para perceber que é a sua posição. Eu
nunca vi um cão dormir de lado, com a cabeça caída assim desajeitadamente em
direção ao chão. Dali, minha mente vai de um pensamento para o próximo muito
rapidamente. Pulo de perceber que Fang está ferida, para o que poderia tê-la
machucado, para entender que isso poderia muito bem ser uma intenção humana
de me ferir também, em apenas alguns segundos.

Mas meu processo mental não é rápido o suficiente.

Acabei de pegar a garrafa de tequila, planejando me armar antes de


verificar o cão, quando sou duramente atingido por trás. O passo que eu dei para
a cozinha fez com que o objeto pesado atingisse o meu ombro, em vez da minha
cabeça. Não estou inconsciente, mas ainda assim dói pra caramba.

Eu grito e giro com um punho fechado, decidido a socar primeiro e


descobrir quem estou socando depois. Meu punho se conecta com o estômago
tonificado de um homem mais baixo, mas o cara claramente não estava
esperando o meu golpe. Ele não tem tempo para tensionar os músculos, o que
significa que meu punho entra duro e fundo.

Ele se dobra engasgando, bem quando a porta do quarto de Cat se abre.

—Volte para dentro e tranque a porta! —Ordeno, distraído por tempo


suficiente para o intruso me acertar.

Ele bate a cabeça na minha barriga como um aríete13, me fazendo


cambalear para trás. Minha costa atinge a borda da ilha da cozinha, enviando um
raio de dor pela minha coluna. Tento dar uma joelhada em seu tórax, mas ele
ainda está vindo, me acertando com a cabeça, enquanto acerta minhas costelas
com os punhos. Eu firmo meus músculos do abdômen e pego seus ombros,
tentando tirá-lo de cima de mim. Mas antes que eu possa ter um controle
razoável sobre o bastardo, o pé de Cat atinge o quadril dele com força suficiente
para mandá-lo ao chão.

—Encontre um lugar seguro e ligue para o 911. —Grito me afastando da


ilha da cozinha, pegando o cara enquanto ele salta e se levanta.

—Deixe-me ajudá-lo. —Cat diz, mas já estou jogando o homem mais baixo
no chão. Nós rolamos um por cima do outro, caindo em uma réstia de luz

13
irradiando através das persianas semicerradas, me dando a primeira visão boa de
seu rosto. Reconheço Petey, o motorista de Nico, o homem responsável por fazer
os inimigos de seu chefe desaparecerem e meu sangue gela.

Gela e em seguida ferve, minha visão borra pela raiva quando percebo
que este homem entrou aqui para machucar Cat, talvez até matá-la.

Eu soco o seu rosto, totalmente preparado para quebrar alguns ossos, mas
o merdinha me atinge primeiro. Ele é pequeno, mas é incrivelmente rápido, e
forte pra caramba. Eu mal pego o seu movimento com o canto do meu olho,
quando o punho atinge minha bochecha direita, fazendo estrelas iguais dos
desenhos animados dançarem na minha visão. O golpe me acerta com força
suficiente para atirar o meu peso para a esquerda. Antes que eu possa mudar
para a direita e devolver o soco, a doninha escorrega debaixo de mim e corre para
a porta da frente.

Com um palavrão, eu salto para correr atrás dele, apenas para bater em
Cat, que aparentemente teve a mesma ideia. Nós saltamos para longe com sons
de dor e surpresa. Eu bato na parede e recupero o meu equilíbrio rapidamente,
mas Cat, depois de ter colidido com alguém quase o dobro de seu tamanho, cai
estatelada no chão.

Eu me movo para ajudá-la, mas antes que eu possa dar um passo, ela
levanta com algum movimento ninja que me lembra de que ela é faixa preta em
artes marciais.

—Detenha-o! —Ela grita, correndo para a porta da frente.

Eu me jogo no corredor logo à frente dela, correndo rápido, mas a porta


da frente já está fechando atrás de Petey, o Executor. Deslizando para conseguir
parar no tapete do corredor, abro a porta a tempo de ouvir a porta que dá para a
rua bater com força e passos se afastando do lado de fora.

—Espere. —Agarro o braço de Cat enquanto ela tenta me empurrar e


passar.

—Eu tenho que pegá-lo. —Ela diz. —Se eu puder provar que Nico enviou
alguém para invadir minha casa, a polícia vai ter que me levar a sério.
—Ele está muito à frente. —Digo, segurando firme enquanto ela tenta se
afastar. —E nós temos que verificar Fang. Ele a machucou. Ela está inconsciente...
Talvez pior.

O rosto de Cat empalidece, e a luta some. — Oh, não. —Sua mão voa para
cobrir a boca. —Porra, Aidan. Se ele matou Fifi, eu não sei o que vou fazer. —
Seus olhos começam a brilhar. —Eu vou ter que matá-lo. Caçá-lo e matá-lo com
minhas próprias mãos.

—Eu vou ajudá-la. —Prometo, colocando um braço apertado ao redor de


seus ombros. —Vamos lá, vamos ver como ela está, e então vou começar a
pesquisar consultórios de veterinários que atenda vinte e quatro horas.
—Não, eu tenho uma amiga. —Cat fecha a porta e aperta a mão por um
momento, como se estivesse preparando-se para o que encontraria na cozinha.
—Se Fifi ainda estiver viva, Shane vai cuidar dela, a qualquer hora do dia ou da
noite.
—Então vamos pegar e levá-la para sua amiga. —Pego a mão de Cat,
segurando firme à medida que caminhamos de volta para o apartamento,
rezando para que Fang não esteja morta.
Felizmente, quando Cat e eu nos ajoelhamos ao lado do cão de guarda
caído, é imediatamente óbvio que ela ainda está respirando.
—Graças a Deus. —Cat solta à respiração enquanto pega Fifi suavemente
em seus braços. —Vem cá neném. Vamos fazer com que você melhore.
—Vou pegar a cama dela e a coleira apenas no caso. —Digo, desejando
poder fazer mais.
Ajudar a cuidar dos danos que Petey causou é muito pouco, muito tarde.
Quando Cat troca rapidamente seu pijama por uma calça de yoga preta e uma
camisa cinza, não posso deixar de pensar que poderia ser ela deitada no chão.
Poderia ser ela inconsciente em meus braços e eu tentando encontrar maneiras
de matar a pessoa que a machucou.
Estamos atolados até o pescoço. É hora de fazer contato com Bash e
conseguir uma ajuda profissional antes que alguém que não seja Fang se
machuque.
CAPÍTULO 22

Quando saímos do táxi perto do edifício da amiga de Cat no Upper West


Side, a madrugada tingiu o céu acima do Central Park de amarelo brilhante com
listras laranjas, e Fang está começando a choramingar no colo de Cat. É um sinal
encorajador, mas sei que Cat não vai se sentir melhor até ouvirmos de um
profissional licenciado que sua bebê vai ficar bem.

Eu não vou, também.

Isso nunca deveria ter acontecido. Eu deveria ter impedido que isso
acontecesse. Ou pelo menos ter impedido Petey de se aproximar.

Estou me revelando um guarda-costas.

Eu sigo Cat para o grande edifício antigo, na esquina da rua 72 e Central


Park West, tentando não parecer ameaçador enquanto o homem da recepção
observa a contusão na minha bochecha. Finalmente, depois que ele interfona
para garantir que Shane está esperando um “homem grande, com várias
tatuagens”, ele anota nossos nomes no registro de visitantes e nos faz um gesto
para os elevadores. Eu posso ter ganho uma cicatriz de batalha e causado pelo
menos um pouco de dano ao capanga de Nico, mas nunca deveria ter chegado a
isto.

Nem minha cliente, nem ninguém próxima e querida a ela deveria ser
ferido sob minha responsabilidade. Isso é minha culpa. Se eu não tivesse
subestimado o sistema de segurança e as habilidades do mafioso hacker, e
ignorado o aviso de Cat que seu ex perderia o juízo, se descobrisse que eu estava
passando a noite na casa dela, Fifi não estaria tremendo e chorando, e Cat não
estaria tão pálida que se mesclaria com as paredes brancas do elevador quando
ele se fechou.

Estou tão ocupado me condenando mentalmente, e pensando em todas


as coisas que eu poderia ter feito melhor, que não percebo que paramos na
cobertura até sair em um apartamento tão grande que me faz lembrar o museu
do outro lado do parque. O Met é o único outro lugar que eu já estive que tem
salas com tetos a seis metros e pinturas nas paredes artisticamente iluminadas.

O estilo de museu continua no resto do espaço. Sofás pesados com braços


de madeira entalhada, coberto com mantas de pelo menos uma dúzia de países
diferentes, criam uma área acolhedora no centro, enquanto estantes do chão ao
teto com uma escada deslizante emprestam seriedade ao outro lado da sala. À
nossa esquerda, uma cozinha estilo naval, extensa o suficiente para caber em um
navio cruzeiro de luxo, cheia de utensílios de aço inoxidável e dominada por uma
ilha maior do que o meu apartamento inteiro, brilhando na luz do amanhecer.

Sentada de pernas cruzadas em cima da ilha está uma mulher com uma
confortável calça rosa e um top preto apertado com uma toalha branca dobrada
ao meio na frente dela. Assim que passamos pelas portas do elevador, ela faz um
gesto de urgência para Cat com as duas mãos.

—Traga a amadinha aqui, ervilha doce. —Ela diz, seus olhos azuis gentis e
compassivos por trás de seus óculos de aro de tartaruga. —Nós vamos deixar
tudo melhor, eu prometo.

—Muito obrigada. —Cat funga enquanto coloca a trêmula Fang deitada na


toalha em frente à mulher que só posso supor que seja Shane. As maneiras gentis
que seus dedos sondam a barriga de Fang mostram o carinho de um veterinário
pelos animais. —Ela parece estar querendo retornar. —Cat diz, se aproximando.
—Mas ela não abriu os olhos ainda.

Shane solta alguns humms pensativa, com o olhar fixo em algum lugar
distante, enquanto continua a passar as mãos na cachorrinha. —Bem, isso faz
sentido. —Ela diz suavemente. —Ela é tão pequena. Mesmo que esse verme só
tenha dado a ela um pouco de sedativo, isso a manteria desligada por um longo
tempo. Eu poderia dar algo para ajudá-la a acordar. Mas considerando que não
sei o que foi usado para sedá-la, prefiro esperar e deixar que ela acorde sozinha.

—Mas ela vai acordar. —Cat morde ansiosamente seu polegar,


claramente necessitando de confirmação. —É apenas o sedativo que a mantém
nocauteada, não é? Eles não a machucaram?

—Não estou vendo nenhuma evidência de que ela esteja ferida. —Shane
levanta a cabeça de Fang e gentilmente examina os dentes. —Eu imagino que o
arrombador covarde entrou em seu apartamento com algum petisco, Fang o
comeu como o terrível cão de guarda que ela é e em seguida, caiu em uma longa
e profunda soneca.

Com um aceno final, ela coloca o filhote para baixo e dobra a toalha ao
meio, cobrindo Fang com o algodão branco macio. Só quando ela termina o
exame ela pega a mão de Cat e olha sua amiga diretamente nos olhos. —Feefs vai
ficar bem. E, graças a Deus, assim como você! —Shane se vira, esticando sua mão
livre em minha direção. —Você deve ser Aidan. Eu sou Shane. Muito obrigada por
manter minha teimosa amiga em segurança.

—Prazer em conhecê-la. —Pego a mão dela, surpreso com a força de seu


aperto.

Agora que olhei diretamente em seu rosto, estou impressionado com o


quanto ela se parece com uma daquelas modelos inglesas da Victoria Secret, ou
talvez um gato persa. Ela se parece com uma criatura acostumada a ser
acariciada, mimada e tendo iguarias servidas em bandejas de prata. Mesmo sem
maquiagem, ela tem uma beleza top de linha que é um pouco paralisante, à
primeira vista. Mas ela também tem uma mão firme e não falta fogo em seu
corpo quando se trata de defender uma amiga.

Shane solta minha mão e se vira para Ruiva com um olhar aguçado. —
Talvez agora a Senhorita Catherine finalmente ouça a razão e venha morar
comigo até que o pesadelo em forma humana possa ser convencido a deixá-la em
paz.

—É estranho quando você fala de mim na terceira pessoa quando eu


estou bem aqui. —Cat soa tão cansada quanto parece, e seu habitual tom alegre
está visivelmente ausente.

—Bem, se uma menina não fosse tão teimosa... —Shane diz com um
perfeito sotaque Inglês acentuado. —Uma menina não levaria seus amigos a
apelar ajuda para estranhos para fazê-la ser sensata.

—Game of Thrones. —Cat diz, vendo meu olhar confuso. —Ela vê muito
isso.

—Não existe tal coisa como ver muito Game of Thrones. É como gatos,
chocolate e orgasmos. —Shane sorri para mim, aparentemente divertida com a
minha confusão. —Coisas que são melhores em massa. Eu tinha dez gatos antes
de me mudar para a cidade. E tão logo eu possa convencer o comitê de
condôminos para permitir animais de estimação no prédio, eu pretendo trazer
todos eles para viver comigo e adquirir mais três então vou ter a dúzia dos
padeiros14.

Shane dá a mão de Cat um aperto final e em seguida, se afasta da ilha


pousando levemente no chão da cozinha. —Vou colocar a chaleira no fogo e usar
uma bolsa de água quente para ajudar a manter Fang calma quando ela começar
a acordar. Alguém quer chá? Café? Morfina mastigável para crianças para o
hematoma enorme no rosto?

—Agora ela está falando sobre você na terceira pessoa. —Cat se inclina
cansada contra mim. — Isso significa que ela gosta de você.

—Será que ela realmente tem morfina mastigável? —Sussurro.

—Provavelmente. Ela tem uma surpreendente coleção de coisas


estranhas.

—É por isso que gosto tanto de você. —Shane diz, voltando da pia com
uma chaleira vermelha na mão. —Mas, infelizmente, não, não tenho morfina. Eu
tenho ibuprofeno e aquele Tylenol gigantesco que me dão sono, mas sempre
acabam com minhas dores nas costas. Um desses soa bem?

—Obrigado, mas estou bem. —Digo. A dor latejante no lado direito do


meu rosto é o mínimo que mereço por fazer um péssimo trabalho em lidar com a
situação de Cat até agora.

—Absurdo. Claro que soa bem. —Shane coloca a chaleira no aparador ao


lado da pia, em oposto ao outro aparador localizado na ilha perto de Fang,
fazendo-me perguntar se eu já estive em uma cozinha com dois fogões. —Vou
trazer os dois, e você pode decidir qual prefere. Não há necessidade de sofrer. E
se você ficar com sono, fique à vontade para tirar um cochilo aqui. Tenho dois
quartos, embora eu suponha que você dois prefiram compartilhar.
14
a baker’s dozen: uma expressão britânica da época medieval, quando os padeiros ameaçados pelos reis
começaram a acrescentar um número á mais a dúzia de pães. Até hoje se usa essa expressão quando se quer
referir ao número 13, que para os padeiros é a dúzia dos padeiros.
Cat endireita o corpo, tirando meu braço que estava em seu ombro. —Eu
não sei do que você está falando.

—Certo. —Os lábios cheios de Shane se abrem em um sorriso enquanto


ela dá uma volta na ilha. —Por que você não vem comigo até o meu quarto
enquanto pego os analgésicos, Catherine Elizabeth e vamos ver quanto tempo
você pode manter essa história.

—Eu não posso deixar Feefs. —Cat diz, se mantendo firme quando Shane
enlaça seu braço com o dela. —Sério. Alguém precisa manter um olho na minha
cachorra.

—Felizmente Aidan parece ser alguém. —Shane diz. —Você é alguém


Aidan?

—Da última vez em que verifiquei. —Respondo secamente, imaginando


quanto tempo vou ser capaz de aguentar estas duas.

—Perfeito. —O sorriso de Shane se amplia. —E a doce bebê Fifi não vai


acordar por mais meia hora, pelo menos. Agora que ela está quentinha, ela voltou
a dormir, o que provavelmente é o melhor. Quanto mais ela dorme, menos
desorientada vai estar quando acordar. Mas você vai manter um olhar atento
sobre a Preciosa, apenas no caso. Não é, Aidan?

—Claro. Eu estarei bem aqui.

—Perfeito. —Shane pisca para mim como se fossemos conspiradores em


alguma missão que eu não entendo enquanto ela puxa Cat para o outro lado da
sala. —Nós estaremos de volta com as pílulas. Depois que eu fizer Cat confessar
quanto tempo vocês dois estão dormindo juntos e compartilhar os detalhes mais
interessantes.

—Jesus Cristo, pare com isso. —Cat sussurra enquanto assume a


liderança, puxando Shane mais rapidamente em direção as portas duplas
emolduradas pelas estantes. —Como você é tão intrometida às seis e meia da
manhã?

—Sou uma pessoa da manhã. —Shane cantarola. —Eu já tinha feito yoga,
regado às orquídeas e estava sentada para fazer a minha lista do dia quando você
ligou.

—Aposto que você colocou yoga e regar as orquídeas na lista de qualquer


maneira, não é?

—Absolutamente. —Shane estica seus braços por sobre a cabeça,


balançando os dedos, feliz quando Ruiva abre a porta para o que parece ser um
quarto obscenamente enorme. —Não há absolutamente nada no mundo mais
gratificante do que riscar as coisas das listas.

—Então você não precisará ouvir todos os detalhes do que Aidan e eu


fizemos. —Cat diz com um sorriso maroto. —Nós ainda não riscamos um único
item de uma lista. Nós nem sequer fizemos uma lista.

Shane agita uma mão no ar, ignorando o braço de Cat que se estende
intencionalmente entre elas, estimulando sua amiga a acompanhá-la para o outro
quarto. —Tudo bem. Eu posso fazer uma lista das coisas que acho que você
andou fazendo, e então eu vou riscar as suposições corretas. Como alguém que
não tem encontros em mais de um ano, preciso viver através de minhas amigas, e
nenhuma das minhas outras amigas têm namorados sensuais estilo lenhador. —
A chaleira começa a assobiar e Shane caminha na direção do fogão apenas para
ser parada pelo braço de Cat.

—Ele não é meu namorado. —Cat enfatiza quando eu desligo o fogão e


mudo a chaleira para o outro lado. —Somos velhos amigos, e ele é atualmente o
meu empregado. Aidan é um tipo de guarda-costas que eu disse que contrataria
para ajudar a passar a mensagem para Nico de que as coisas acabaram entre nós.

Shane franze seu nariz. —Bem, ele claramente não recebeu a mensagem.

—Eu sei. —Cat diz entre dentes.

—E você provavelmente não deveria estar dormindo com seus


empregados. —Shane acrescenta me enviando um olhar: “Desculpe por isso”.

Os braços de Cat balançam ao seu redor. —Eu nunca disse que estava
dormindo com alguém, sua louca!

—Isso não precisa ser dito. Vocês têm “recentemente fodidos” escrito na
testa. Poderiam muito bem combinar camisetas “acabamos de foder e tudo o que
tivemos foram alguns orgasmos” e usá-las pela cidade. Quer dizer, eu espero que
ambos tenham tido orgasmos. Eu não gosto de presumir, mas ambos emitem
uma vibração “Eu sei o que faço no quarto”.

—Entre. —Cat aponta um dedo para o quarto. —Agora, antes de dizer


qualquer outra coisa que me faça querer corar ou te amordaçar.

Shane ri. Cat empurra-a para o quarto antes de se virar para mim com
uma expressão de dor. —Eu sinto muito.

Eu forço um sorriso. —Não é grande coisa.

—É sim. Eu não quero que você se sinta desconfortável. —Cat diz. —Vou
explicar tudo e voltar em poucos minutos. Eu prometo que vou fazê-la voltar à
ameaça de constrangimento para o nível baixo.

—Boa sorte, ervilha doce. —Shane grita de dentro do quarto. —Mulheres


melhores que você, tentaram e falharam.

Cat bufa e revira os olhos antes de fechar as portas com um firme


propósito.

E então estou sozinho com apenas uma fêmea tagarela que está
atualmente, ainda dormindo.

Imaginando que poderia ser o único momento de paz que vou ter por um
tempo, retiro o meu celular do bolso e o ligo. Eu respiro fundo, me preparando
para um ataque textual de Bash e a desagradável tarefa de dizer ao meu melhor
amigo que sou o primeiro consultor na história da Bastardo Magnífico a sustentar
um hematoma em serviço.
CAPÍTULO 23

Como esperado, o momento em que meu celular fica on-line, as


mensagens começam a despejar em minha tela.

Há uma da minha madrasta oferecendo o chalé de hóspede mais bonito se


eu tiver tempo para uma visita de verão, uma de uma garota que levei para
comer hambúrgueres de tofu na semana passada e decidi não chamar novamente
devido a diferenças irreconciliáveis, eu-me-recuso-a-virar-vegetariano, e duas do
meu recepcionista na loja, Gus, me avisando que um dos meus compromissos
para a próxima semana teve que cancelar, mas que ele já colocou um cliente da
lista de espera em seu lugar.

O restante é do meu muito irado melhor amigo/chefe

Não ouse desligar o celular, Aidan! Você não tem essa


opção agora. Nós temos coisas que precisamos discutir.

Ligue o seu celular novamente, idiota!

Seu arrogante, fodido, estúpido, passivo-agressivo do


caralho...

Bem, foda-se também, pau de merda. Foda-se muito.


Ou me foda, eu acho, desde que sou o único que,
aparentemente, é culpado por você decidir arriscar sua vida
por uma garota com quem teve uma história de duas
semanas.

Estou presumindo que foi uma história de duas


semanas, desde que eu nunca vi você manter uma menina
por mais tempo que isso ultimamente. Mas talvez essa
mulher seja do seu passado?
De qualquer maneira, por que ela não mencionou que
você dois tiveram uma história, Aidan? Por que ser
sorrateira e me dar um nome falso e me enganar com uma
mentira?

Vou lhe dizer por que, porque ela está tendo um prazer
perverso e vingativo, em colocar sua vida em perigo. Ela está
se vingando de Nico e de você, ao mesmo tempo, amigo, e você
está caindo no plano maligno dela direitinho. E, com
certeza, você vai receber o pagamento se concluir o trabalho,
mas você pode estar morto ou na prisão preventiva quando o
dia do pagamento chegar.

E talvez isso seja exatamente o que esta cadela louca


queria desde o início, você morto ou com a sua vida
permanentemente fodida além do reconhecimento.

Pense nisso, idiota.

Pense bastante e firme nisso, e depois me ligue. De.


Volta

Solto um suspiro, determinado a não deixar Bash me irritar. Ele diz, ou


escreve, qualquer coisa quando está com raiva. Eu sei. Sei isto desde a sexta série,
quando entramos em uma briga e ele disse para todas as crianças no parque de
skate perto da casa de sua avó, que eu pensei que tinha crescido um fio de cabelo
“lá embaixo”, mas depois eu me mijei e percebi que era apenas a minha bem
pequenina, minúscula desculpa, de pau.

Em sua defesa, eu tinha acabado de vencê-lo com um braço só em um


desafio de outro idiota pré-adolescente, Bash não cresceu muito até a oitava
série, e eu já tinha quase um metro e oitenta quando completei treze anos, mas
naquela tarde aprendi que o meu melhor amigo não é ele mesmo quando
irritado. Na verdade, ele não acredita em uma palavra que ele mandou na
mensagem sobre Catherine e seus planos de vingança.

Mas mesmo que ele acredite, não importa. Eu sei a verdade. Eu sei que
Cat é uma velha amiga que está perdendo o juízo, que me procurou, porque sou
uma das poucas pessoas em sua vida que nunca vai decepcioná-la. Ou que não vai
decepcioná-la mais uma vez. E espero que eu a tenha compensado por aquela
péssima ação na floresta, entregando vários orgasmos de abalar a mente esta
noite.

Minha irritação se acalmou com esse pensamento, e retorno as


mensagens de Bash que eu não li ainda. Há várias, continuando as críticas e
abusivas para mim, Cat e para si mesmo por deixar as coisas deslizarem, quando
Penny se foi.

Há também algumas de Penny se desculpando em nome de Bash...

Não preste muita atenção a essas últimas mensagens,


Aidan. (Aqui é Penny, aliás).

Bash diz coisas que ele não quer dizer quando está
chateado, mas ele fica chateado porque ele te ama e está com
medo por você. Então, por favor, nos ligue ok?

Você pode ligar para o meu celular se você sentir que


Bash levou a coisa longe demais com os xingamentos. Ele
sente muito por isso, no entanto. Eu posso dizer.

E depois há mais algumas linhas mais complicadas de Bash não se


desculpando...

Eu não sinto, porra.

Eu estou fodido pra caralho, com raiva pra caralho, e


nunca vou te perdoar se você não ME LIGAR ANTES DO SOL
SE PÔR SEU FILHO DA PUTA DO CARALHO, JESUS CRISTO
DO CARALHO APENAS ME LIGUE JÁ!

Depois disso, há uma calmaria de várias horas sem nenhuma mensagem


antes da sequência final, enviada por volta das dez horas na noite passada.

Eu acabei de voltar de uma reunião com a sua amiga


detetive, Lip, e eu tenho uma notícia surpreendente. Sério,
meu coração saiu da minha garganta, pela primeira vez
hoje.

Tudo vai ficar bem.

Catherine vai ficar segura, você vai ficar seguro, eu não


vou ter um acidente vascular cerebral induzido pelo estresse,
Penny não terá que seguir com a palmada que ela ameaçou
me dar se eu não parar de mandar mensagens para você a
todo instante, e todo mundo vai ser capaz de voltar para suas
vidas chatas.

Chame-me assim que ler isto. Eu não estou mais louco,


mas tenho coisas para lhe dizer que prometi que não
enviaria por mensagem ou diria através de um celular.

Merda está acontecendo, Aidan. Merda das grandes.

Consiga um telefone fixo e ligue para o telefone do


escritório. Eu irei esperar sua ligação.

Nem precisa dizer que estou intrigado.

Isto tudo pode ser uma manobra do Bash para que eu ligue, ele é
inteligente e muito bom em manipular as pessoas quando não está muito
zangado para controlar a boca e os polegares, mas meu instinto diz que ele
descobriu alguma coisa com Lipman, ou Lip, meu amigo da delegacia. Eu tatuei
pelo menos um terço do corpo de Lipman e conversei sobre seu divórcio, sobre a
morte de seu parceiro, e um susto de câncer. Eu sou praticamente seu terapeuta
a esta altura, e sei que se há algo que ele pode fazer para me ajudar a sair de uma
situação complicada, ele vai fazer.

Eu pretendia chamá-lo ontem à noite, logo que Cat e eu chegamos em seu


apartamento, mas as bebidas, as confissões e sexo ficaram no caminho. Mais um
sinal de que eu não tinha a minha cabeça no jogo da maneira que eu deveria. Mas
tudo isso acabou. De agora em diante, vou estar cem por cento focado na
segurança de Cat até esta confusão terminar.

Então, veremos...

Talvez ela esteja interessada em explorar algo mais além da intervenção;


talvez não. De qualquer forma, isso não é algo que posso me dar ao luxo de me
preocupar agora.

Após uma verificação rápida em Fang, que ainda está dormindo e


roncando um muito bonito ronco de Chihuahua, e um olhar para a porta do
quarto de Shane, ainda fechada, eu procuro por um telefone. Eu vejo um do outro
lado da cozinha, perto de uma despensa grande o suficiente para guardar alguns
jogadores de futebol americano e seus mantimentos por uma semana.

Apesar de cedo, Bash responde após o primeiro toque. —Você está bem?
Diga-me que está tudo bem.

—Eu estou bem, e Cat está bem. —Digo baixinho, não querendo perturbar
o cão ou as mulheres no outro quarto. —Mas um homem invadiu o seu
apartamento na noite passada. Lutei com ele que fugiu, mas não antes dele
drogar a cachorrinha e usar meu rosto como um saco de pancadas.

Bash suspira pesado antes de repetir tudo o que eu disse a alguém do


outro lado da linha que eu só posso presumir que seja Penny. —Então, você não
está bem é o que você está dizendo. —Diz ele, com a voz abafada.

—Não, eu estou bem. Apenas alguns hematomas e costelas doloridas.

—E a cachorrinha? —Pergunta Bash. —Penny parece a ponto de chorar,


então é melhor a cachorrinha estar bem.
—Fang está bem. Ela foi examinada por uma veterinária e deve ficar como
nova depois de dormir até eliminar a droga que o idiota lhe deu. Mas esse cara,
Petey, que trabalha para Nico, é um filho da puta assustador. Ele luta como um
animal. —Digo, enrolando a mão em um punho ao meu lado. —Eu não quero
pensar em como as coisas poderiam ter acabado se Cat estivesse sozinha. Ela
sabe como se defender em uma briga, mas esse cara estava jogando sujo. Ele
teria me batido até desmaiar se o seu primeiro golpe tivesse acertado minha
cabeça em vez do meu ombro.

Bash pragueja baixa.

—Exatamente. —Concordo. Foi muito perto, e eu me culpo por isso. Eu


subestimei o ex dela e seus capangas, mas não vou cometer o mesmo erro
novamente. Se eu não conseguir descobrir uma maneira de manter Cat segura, eu
vou convencê-la a ir à polícia. Eu sei que proteção a testemunhas não é o ideal de
ninguém, mas pelo menos ela vai estar viva para se sentir mal sobre isso.

O pensamento de Cat no programa de proteção à testemunha, forçada a


desistir da carreira que ela trabalhou tanto para construir, e se esconder de todas
as pessoas que ama, me faz sentir como se eu tivesse engolido algo podre. Dizer
que sou grato quando Bash fala. —Ninguém vai para proteção a testemunhas.
Nico e seu povo irão aquecer as camas da prisão até o final da semana. —É um
eufemismo.

—Você está falando sério? —Digo, garganta apertada com esperança. —


Eles têm o suficiente para prendê-lo?

—Por toda a vida e, mais um pouco. —Bash confirma, fazendo a tensão


nas minhas costas liberar com um espasmo de alívio que é quase doloroso. —
Lipman disse que na manhã de sexta-feira Cat não deve ter mais nada para se
preocupar. Ele não me deu os detalhes sobre quando a prisão ou o que está
acontecendo, mas me prometeu que, enquanto Cat ficar longe de seu ex por mais
quarenta e oito horas mais ou menos, ela estará segura. Ele está esperando sua
ligação para lhe dar instruções sobre para onde levá-la. Ele vai colocá-la em uma
casa segura com um guarda armado a protegendo.

—Graças a Deus. —Deixei escapar uma respiração. —Ela vai ficar tão
aliviada. Isso é como acordar de um pesadelo para mim, e eu só estive na vila da
loucura por um dia.

—Bom. Estou feliz. —Bash diz. —Mas, falando na vila da loucura, Lip disse
que acha que você deve se afastar por um tempo também, já que você pode estar
no radar de Nico. Ele se ofereceu para colocá-lo na casa segura, mas se você
quiser esperar na minha casa, sinta-se à vontade. Eu posso ficar com Penny assim
você terá o apartamento todo para si mesmo. Eu tenho um sistema de segurança
e Bob no andar de baixo trabalhando na recepção para mantê-lo seguro.

Penny diz algo no fundo que não consigo entender, ao que Bash responde.
—Não, ele não é um preguiçoso. Bob é ótimo. Ele não vai deixar ninguém entrar
que não esteja na lista. Penny murmura algo novamente, e Bash grunhe. —Você
passou por ele com uma mistura de graça diabólica e peitos. Os vilões que
trabalham para a máfia não são conhecidos por graça ou peitos.

—Obrigado pela oferta do apartamento. —Digo, sabiamente não


comentando sobre a graça de Penny ou seus peitos. —Mas se Cat não quiser que
eu fique na casa segura com ela até sexta-feira, eu posso sair da cidade por um
tempo. —Olho por cima do ombro, certificando-me de que ainda estou sozinho e
a temível Fang está adormecida. Felizmente, ambas as coisas ainda estão valendo.
—Sinto que eu poderia aproveitar algum tempo para pensar.

—Ah é? Pensar em que?

Estico minha cabeça para um lado, fazendo uma careta quando meu
ombro dolorido envia um raio de dor para o meu pescoço. —Você sabe, só... a
vida.

—Vida. Sim. Isso é uma boa coisa para se pensar. E talvez pensar sobre o
quanto é chato desligar o celular e ignorar seus amigos quando eles estão
preocupados com você. Isso é uma boa coisa para pensar.

—Isso vindo do cara que me ignorou pela maior parte dos últimos dois
meses?

—Faça o que eu digo, não o que eu faço. —Bash diz. —Além disso, você
deveria ser o mais sensato. Esse é o arranjo que fizemos na quinta série, e você
sabe que eu não aceito mudanças.
Eu murmuro, um som que é imitado pelo filhote agasalhado no balcão
atrás de mim. Eu me viro para ver Fang se contorcendo sob a toalha. —Eu tenho
que ir. A cachorrinha está acordando.

—OK. Chame-me quando decidir o que você vai fazer. —Bash diz. —E
apague as minhas mensagens de ontem. Eu vou apagar as suas também, e nós
podemos começar nosso novo bromance, sem merdas no meio dele.

—Eu vou ligar. —Prometo e desligo.

Sem chance que eu vá excluir alguma de suas mensagens, no entanto. Vou


salvar como evidência no caso de precisar convencê-lo a assistir uma aula de
gerenciamento da raiva. Embora, agora que Penny voltou, duvido que esteja
muito alto o lado irritadiço de Bash. Ele é um homem melhor com ela em sua
vida.

Faz-me perguntar como eu mudaria se eu tivesse alguém como Penny,


alguém que trouxesse o melhor em mim e silenciasse o pior.

Enquanto descubro Fifi, que me cumprimenta com um abanar de cauda


sonolento e algumas lambidas exploratórias na mão sinto que eu poderia gostar
dessa pessoa, um homem melhor do que eu tenho sido ultimamente, um homem
que dominou a arte de desculpar sua própria besteira e fugidas enquanto fica
perfeitamente imóvel.

—Vem cá, feroz. Que boa garota você é. —Levanto a cachorrinha em


meus braços, sorrindo enquanto ela fuça mais perto do meu peito e sua cauda
abana mais rápido. —Sim, você é uma boa menina. Tão boa menina. Quem é mais
doce que eu conheço?

—Acho que você ganha esse prêmio. —Uma voz feminina diz por trás de
mim. —Na moleza.
CAPÍTULO 24

Com meu rosto vermelho me viro para ver Shane e Cat paradas na porta
do quarto me observando conversar com Fang.

Graças a Deus eu não fiz voz de bebê, nunca falei com um cachorro, ou um
bebê, assim em toda minha vida. Mas com toda a sorte que tenho tido
ultimamente, a primeira vez tinha que ser na frente de duas mulheres
perfeitamente capazes de acabar comigo com suas línguas e mentes.

Mas Shane e Cat pareciam estar mais tocadas pela situação do que
inclinadas a implicar comigo, provando como nós estávamos agradecidos por ver
Fang acordada, como se nada tivesse acontecido.

—Sério. —Shane continua, entrelaçando seus dedos embaixo do queixo.


—Vocês dois são muito fofos, acho que meus ovários explodiram. —Ela deu uma
leve cotovelada nas costelas de Cat. —E o que você acha?

—Meus ovários estão intactos por enquanto. —Os olhos de Cat


encontram os meus antes dela piscar e abaixar o olhar para a cachorrinha.

Shane suspira melancolicamente. —Bem, homens grandes segurando


cachorrinhos são como kriptonita para o meu ovário. E Aidan acaba de entrar na
minha lista. Vou pegar um pouco de água para Fifi e examiná-la novamente, mas
pelo brilho desses doces olhos acredito que alguém vai ficar novinha em folha.

—Graças a Deus —Cat atravessa a sala em minha direção com sua atenção
voltada para Fang. —Estou louca para segurar essa menina. —Ela foi até a cadela
e fez um som suave que com certeza é a minha kriptonita pessoal. Existe alguma
coisa completamente atraente sobre ver uma das pessoas mais duronas que
conheço se derreter em uma poça de amor por seu bebê peludo. —Como você
está Feefs? Como você está se sentindo querida?

Fang se jogou ansiosamente para os braços de sua dona, levantando seu


rosto para lamber a bochecha de Cat como se fosse seu trabalho e esse é o tipo
de coisa para lembrar mais tarde, faço uma nota mental. Eu gosto de cachorros
como qualquer outra pessoa, mas não vou ficar com os restos de Fang.
Eu vou beijar a outra bochecha de Cat. Ou sua boca. Ou qualquer outra
parte de seu corpo que ela me deixar colocar meus lábios.

Eu não quero que isso seja um adeus. Eu quero ficar com ela, me
desculpar quando a deixar triste e convencê-la a se derreter por mim também. Eu
sei que não sou fofinho como a Fifi, mas me importo com Cat e gostaria de voltar
ao momento que estávamos nus na noite passada, momento no qual parecia que
tudo que eu precisava estava nos meus braços.

Talvez passar alguns dias escondidos do mundo seja a forma perfeita de


mostrar, que ela não precisa se esconder quando está comigo.

—Obrigado. —Aceno para Shane enquanto ela colocava dois frascos de


remédio perto de mim. conto as boas notícias sobre o acordo que fecharia a
organização de Nico e a oferta de Lipman de oferecer proteção, então acrescento
em tom casual. —Eu gostaria de ir com você para a casa segura, se estiver tudo
bem. Você sabe, continuar trabalhando e a postos até saber que Nico e seu
pessoal não são mais uma ameaça.

—Eu adoraria isso. —Cat diz esboçando alívio em seu rosto, fazendo
parecer ter retirado alguns milhares de quilos de mafiosos de seus ombros. —Se
eu fosse para casa de proteção, você com certeza poderia ir. Mas eu não vou.

Seu sorriso brilhante me confundiu por um momento. Eu experimentei a


estranha sensação de sorrir com metade do rosto e franzir a outra metade até
que processei o que ela disse. —Você quer dizer que não pretende ir? —
Pergunto, franzindo todo o meu rosto.

—Ela irá ficar aqui comigo. —Shane diz enquanto anda perto pegando
uma vasilha de cachorro debaixo da pia. —E ficaremos de pijamas até sexta-feira,
pedir toneladas de comida e assistir todas as comédias românticas e...

—Eu também não posso ficar com você. —Cat beija a cabeça de Fifi, suas
palavras seguintes ficaram abafadas contra o pelo de Fifi. —Eu nunca a colocaria
em risco assim. Eu nunca teria vindo até aqui esta manhã se não tivesse uma
emergência canina. Eu apenas não sabia onde mais poderia encontrar um
veterinário às 6 da manhã.

Shane franze a testa, enquanto apoia uma das mãos em seu quadril, mas
antes que pudesse dizer a Cat o que estava pensando eu falei na sua frente:

—Você vai para a casa segura. Eu não vou arriscar sua vida novamente.

—Eu não vou. —Cat insiste em uma voz calma que de alguma forma é
mais irritante do que a voz de quando ela está irritada.

A raiva força meu rosto. — Sim, você vai.

—Não Aidan, eu não vou. —Ela olha para cima encontrando meus olhos
fixos em sua expressão de “Eu vou fazer o que eu quiser”. —Eu sei tudo sobre
essas armadilhas mortais. A maioria das “casas” de proteção da cidade são na
verdade hotéis antigos infestados com insetos na cama e mofo. A polícia de Nova
York providencia para que um andar seja reservado para seu uso e então coloca
apenas um guarda no final do corredor. —Ela me mostra um dedo para enfatizar.
—Um guarda. Apenas um guarda para garantir a segurança de todas as dez ou
vinte pessoas traumatizadas que estão sob custódia de proteção ao mesmo
tempo.

Estou prestes a convencê-la de que vou usar meus recursos na polícia para
colocá-la na casa segura menos nojenta disponível, mas ela não tinha terminado
seu discurso. —E noventa por cento dos guardas são os recrutas novos e ingênuos
que passam a maior parte do tempo flertando com a equipe de limpeza ou vendo
vídeos pornôs no celular. —Ela diz revirando os olhos. —Quando na verdade eles
deveriam estar vigiando as pessoas para não sofrerem overdose em seus quartos
ou saírem para comprar uma pizza e nunca voltarem ou caírem em uma
armadilha das pessoas que os fizeram procurar o programa de proteção.

Shane bufa. —Cat, por favor, eles não podem...

—Sim, eles podem. —Cat corta Shane. —Eu visitei clientes nesse tipo de
lugar em trabalhos gratuito. Eles são grosseiros, doentes e o mais importante,
perigosos. Se Petey pode desarmar meu sistema de segurança, drogar meu
cachorro sem me acordar ou a Aidan e entrar no meu apartamento, ele vai acabar
com o policial novato antes mesmo que ele possa tirar seus olhos do pornô.

A boca de Shane se achata em uma linha fina. —Duvido. Homens olham


para cima muito rápido quando estão vendo pornô enquanto deveriam estar
trabalhando. —Suas palavras são brincalhonas, mas seu tom é tenso e quando ela
se vira para mim fica claro que ela está tão preocupada quanto eu. —Converse
com ela Aidan. Diga a ela que se esconder em uma casa de proteção com um
homem grande, forte, gostosão, tatuado que deu a ela o melhor sexo de toda sua
vida é onde ela precisa estar.

—Shane, você prometeu! —Cat ladra, inspirando um arrepio furioso de


indignação de Fifi, que aparentemente concorda que todo mundo deveria se
afastar e deixar Cat fazer o que quiser.

—Quieta. —Aponto um dedo para Fang. —Você não esteve acordada


tempo suficiente para opinar nesta situação.

—Sim. —Shane diz, balançando seu dedo pra cadela. —E você não tem
idade suficiente para ouvir sobre a vida sexual da sua mamãe, cubra seus ouvidos.

—E você, se comporte. —Direciono meu dedo para Shane. —Sem mais


conversas sobre o que eu e Cat fizemos ou vamos fazer quando estivermos
sozinhos à portas fechadas. Acredite ou não, nós dois somos pessoas discretas e
nos constranger não vai ajudar em nada agora.

Shane morde seu lábio, parecendo legitimamente culpada.

—Desculpe. Provocar é minha forma de lidar com o estresse. E já estou


estressada. Eu não quero perder minha melhor amiga porque ela é muito teimosa
para deixar você ajudá-la a se manter viva até sexta-feira.

—Eu não sou teimosa. —Cat diz, inspirando um: “Sim, claro!” meu e de
Shane. —Eu não sou. —Ela insiste. —Estou disposta a deixar Aidan me ajudar,
apenas não em uma casa de proteção ou na casa de uma amiga. Talvez nós
possamos nos hospedar em um hotel ou algum outro lugar?

—Lip não vai gostar disso. —Coloco minha mão sob meu queixo, coçando
minha barba enquanto penso. —Bash também não vai gostar nadinha. Mas talvez
eu tenha uma ideia.

—Qual? —Cat coloca Fifi no chão enquanto Shane coloca um pote com
água debaixo da pia. A cadela corre até o pote e mergulha sua cabeça para beber.

—Por que não saímos da cidade por alguns dias? —Digo, pensando na
mensagem da minha madrasta, oferecendo um de seus chalés. —Ir para algum
lugar que Nico não esperaria que você fosse.

Os olhos de Ruiva se iluminam. —Você quer dizer uma viagem de carro?


Você sabe que eu amo viagens de carro.

—Uma curta viagem de carro. —Explico. —Apenas cinco ou seis horas.

Cat pula, aparentemente só a ideia de viajar de carro a enche de energia.

—Cinco ou seis horas são mais do que suficiente para comer um pacote
inteiro de alcaçuz e ter uma overdose de refrigerante. E onde vamos parar no
final desta jornada?

—Eu estava pensando no chalé dos meus pais em Finger Lakes. —Sorrio
enquanto Fang termina de beber sua água e vem farejar a minha mão e não a de
Cat. —Minha madrasta tem uma vinícola e uma pousada. Ela usa seu nome de
solteira, então não tem chance do Nico descobrir quem é mesmo procurando por
conexões pelo nome da família, não tem como ele nos encontrar através de Julie.
Nós devemos ficar a salvo se ficarmos lá por alguns dias e eu sei que ela ficará
encantada de conhecê-la. Eu costumava falar muito de você quando estávamos
de férias da faculdade.

Os olhos de Cat se fixam em Fifi enquanto ela pressiona seus lábios e


pensa. —Esse é um plano excelente, mas acredito que Fang deva ficar aqui com a
tia Shane. Se estiver tudo bem para você, Shane.

—Claro que sim. —Shane diz batendo as mãos levemente.

—Mas pensei que você não podia ter bichinhos de estimação no seu
prédio. —Coço a minha nova melhor amiga atrás das orelhas até ela parecer bem
relaxada. —Não tem problema levar Fang conosco. Meus pais amam cachorros e
eu...

—Não, isso não vai acontecer. —Ruiva diz balançando a cabeça


firmemente. —Preciso que ela me ame mais. E ela já está começando a gostar
mais de você. Se a levarmos conosco, ela vai terminar comigo e convencer você a
comprar uma bolsa de homem para poder carregá-la por Manhattan na sua moto
e deixá-la ser a mascote da sua loja de tatuagem.

—Apenas cachorros em serviço são permitidos na loja. —Digo.


—Mas você ainda está pensando na bolsa para carregá-la? —Cat pergunta
com surpresa em sua voz.

Eu dou de ombros. —Um homem precisa carregar suas coisas e algumas


vezes minha carteira me incomoda na bunda se o meu jeans for muito justo.

—Shane, me ajuda! —Cat se inclina em cima do balcão para apertar a mão


da amiga. —Você tem que ficar de olho em Fang para que ela possa continuar me
amando quando tudo acabar.

Shane ri. —Ela vai sempre te amar, sua louca, mas sim eu posso esconder
Feefs da malvada e velha associação de moradores por uma semana ou mais. Ela
é uma cachorrinha muito boa. Ela vai saber não latir quando o meu vizinho mal-
humorado estiver em casa. Nós vamos passar um ótimo tempo juntas e vamos
descansar bastante para poder celebrar sua nova vida quando voltar para casa.

—Perfeito. —Cat diz virando para mim. —Espero que você não fique
muito triste por sermos só eu e você.

Eu balanço minha cabeça negativamente. —De jeito nenhum. Eu gosto


quando somos só eu e você.

E eu gosto. Na verdade, eu mal posso esperar para estar na estrada,


sumindo desses homens perigosos, memórias sombrias e maus hábitos da cidade,
ansioso para passar uns dias com Cat toda para mim.
CAPÍTULO 25

Do arquivo de mensagens de Curvado Para O Seu Prazer

e Calcinha De Bolinhas

Calcinha: Onde ele está, Curvado? Onde você o está


escondendo?

Curvado: Ruiva! Bom ouvi-la. Eu ia te ligar para contar


sobre isso. Eu estou...

Calcinha: Não tente me enganar, Curvado. Diga-me onde o


Buraco No Chão está. Eu sei que você está com ele. Eu acabei
de passar pelo dormitório dele e o seu colega de quarto disse
que você esteve lá uns minutos atrás.

Curvado: Isso não significa…

Calcinha: O colega de quarto também disse que ouviu algo


sobre a vida de Buraco estar em perigo. Ele não pareceu
muito impressionado quando eu disse que chutaria a bunda
de Buraco tão forte que seu ânus sairia pela sua narina
esquerda.
Então ele mencionou que eu parecia familiar.

Se ele tivesse dito algo sobre a foto, eu teria chutado a


bunda dele apenas por estar no lugar errado na hora errada
e ter olhos.

Você precisa entregar o Buraco antes que eu descarregue


minha raiva em pessoas inocentes.

Curvado: Onde você está?

Calcinha: Atravessando o campus, escaneando cantos


escuros por sinais de uma cobra e seu protetor escondidos na
grama. Onde diabos você e aquele medroso de merda estão é
uma pergunta melhor, porra.

Curvado: Eu quero que você respire fundo, Calcinha. Tire


suas luvas da morte e encontre um lugar para se sentar sob a
sombra. Está um dia lindo.

Calcinha: Não é um lindo dia. É um dia de merda! Esse


dia é uma fralda cheia de diarreia verde de bebê.

Curvado: Que tal eu te mandar algumas daquelas músicas


calmantes a base de flautas que você gosta de ouvir? Eu vou
colocar isso na sua conta no Music Monster agora mesmo.
Você pode colocar seus fones e relaxar sob as sombras, e se
acalmar pela música flauta do pan por quinze minutos
enquanto eu lido com o Buraco. E logo que eu acabar vou te
encontrar.

Calcinha: Não, você não vai lidar com o Buraco! EU VOU


lidar com o Buraco. Foi a minha bunda que ele colocou na
internet, então é a minha bunda que vai fazer a bunda dele
se desculpar por ter nascido.

Curvado: Eu fiz ele retirar, Ruiva. Foi a primeira coisa


que fiz quando cheguei ao quarto dele. Ele já apagou todas
as postagens, e me certifiquei de que ele apagasse todas as
fotos de seu celular e do computador também.

Calcinha: Isso não é suficiente!

Curvado: Ele também ficará em licença disciplinar dos


Corredores pelo próximo mês e terá que realizar uma prova
de fogo para poder retornar ao clube.

E você poderá escolher essa prova de fogo. Isso parece


justo para você?

Eu estava pensando em fazê-lo correr pela rua de


cima a baixo em uma noite que o pub estivesse cheio,
usando só uma calcinha de bolinhas. Isso seria uma boa
vingança, certo?

Calcinha: Não, não seria. Porque ele gosta de correr por aí


seminu se fazendo de idiota. Lembra-se da lingerie que ele
usou no evento de travestismo no ano passado?

Todo mundo já viu suas partes. Mas ninguém tinha


visto as minhas.

Mas agora toda a faculdade me viu agachando pra


fazer xixi na grama e a única forma de me vingar é matar o
Buraco com as minhas próprias mãos.

Curvado: Primeiro, nem todo mundo viu você se


agachando para fazer xixi. A postagem só teve quinhentas
visualizações até a hora que eu soube e fiz ele retirar da
internet.

Calcinha: Quinhentas visualizações! Isso deveria fazer eu


me sentir melhor?

Que apenas quinhentas pessoas me viram fazer xixi


com uma cara de idiota?!

Oh, meu Deus, nunca mais vou ser capaz de andar


pelo campus novamente, ou na Pensilvânia, ou em qualquer
outro lugar pelo resto da minha vida!

Curvado: Segundo, as suas “partes” como você tão


delicadamente colocou, não estão visíveis na foto, apenas sua
bunda. Suas partes continuam sendo privadas e sua bunda é
completamente maravilhosa.

Sim, eu entendo que essa foto foi tirada e


compartilhada sem seu conhecimento ou permissão, e
acredite em mim, isso me deixa com tanta raiva quanto você.

Calcinha: Eu sinceramente duvido disso, seu idiota


paternalista.

Curvado: Mas você não tem nada do que se envergonhar,


isso é o que eu ia dizer. E eu não sou um idiota paternalista!
Eu estou tentando te fazer se sentir melhor e ao mesmo tempo
garantindo que não seja expulsa da faculdade.

Se você bater nele, vai ser expulsa da faculdade,


Calcinha. Agressão é motivo para expulsão imediata.

Sim, se você contar ao conselho disciplinar sobre a foto,


o Buraco provavelmente vai ser expulso também. Mas isso
realmente vai valer a pena? Eu sei que você adora estudar
aqui e o seu pai é foda e não vai ficar feliz em saber que sua
filha foi expulsa da universidade por agressão. Você
realmente quer foder com toda a sua vida por causa de um
babaca que pensou que seria engraçado tirar uma foto sua
enquanto você fazia xixi?

E o Buraco está arrependido, aliás. Ele realmente está.

Eu acho que ele não pensou nas consequências que isso


teria para você. Ele quis fazer uma pegadinha com você, não
te envergonhar ou te irritar. Ele é um bobo, mas não é cruel.
Você sabe disso. Se ele fosse, eu mesmo teria batido nele.

Mas você deveria vê-lo. Ele se sente horrível. Ele está


triste e tão assustado que está prestes a cagar nas calças.

Calcinha: Então ele deveria.

Curvado: Deveria o que?

Calcinha: Cagar nas calças. Diga a ele para cagar nas


calças e depois dar uma longa caminhada pelo campus para
eu poder ver a cara das pessoas enquanto ele passa.

Curvado: Você está falando sério?

Calcinha: A caminhada deve durar pelo menos quinze


minutos.
O campus está cheio, então deve ser suficiente para
garantir que quinhentas pessoas o vejam com as calças cheias
de suas próprias merdas.

Curvado: Jesus Cristo! Isso é muito cruel, Ruiva.

Calcinha: Essas são as minhas condições.

Comunique ao Buraco. Se ele aceitar a minha oferta,


prometo não sentar à mão nele.

Curvado: Tudo bem.

Calcinha: Tudo bem, você vai comunicar minhas


condições? Ou tudo bem, ele vai fazer isso?

Curvado: Ele vai fazer isso. Ele já fez na verdade já está


cheirando à merda. Imagine isso!

Nós vamos começar a andar pelo campus agora. Ele


quer que eu diga a você que ele sente muito e que isso vale a
pena para ter o seu perdão.

Calcinha: Eu não ofereci meu perdão. Eu ofereci a ele a


chance de não ter a cara esmagada pelo meu pé.

Se ele quiser o meu perdão ele vai ter que mudar o


nome dele no Corredores para “calças cagadas na cabeça” e
escrever Calcinha é minha mestra com tinta permanente na
parte traseira do seu boné da sorte.

Curvado: Feito. Nome oficialmente mudado a partir de


agora, e ele vai escrever no boné assim que acabar sua
caminhada da vergonha.

Mas se você tiver mais alguma mensagem para ele, você


terá que transmitir pessoalmente. Ele está sozinho daqui pra
frente. Eu não posso suportar o cheiro dele por nenhum
segundo mais. Ele fede como se ele tivesse comido tacos podres
no café da manhã.

Eu consigo te ver, aliás. Posso ir até aí e assistir isso


com você?

Estou perdoado do pecado de tentar evitar que você


fosse expulsa da faculdade?

Calcinha: Sim, você está perdoado.

E sim, você pode vir assistir comigo. Vexames públicos


são sempre mais divertidos quando compartilhados com um
amigo. Até os peregrinos sabiam disso.
Eu ainda estou chateada demais para te agradecer, mas
provavelmente mais tarde irei. Algumas vezes minha raiva
contra a injustiça do mundo ganha de mim.

Curvado: Como daquela vez em Kathmandu?

Calcinha: Você sabe que nós não falamos sobre


Kathmandu.

Curvado: Algum dia você vai me contar se algo realmente


aconteceu em Kathmandu, ou se você está apenas sacaneando
comigo por quase dois anos?

Calcinha: Provavelmente não. Nós mulheres temos que


manter uma aura de mistério. E eu tenho que trabalhar
mais duro para manter a minha agora que você já viu
minha bunda.

Curvado: Eu não vi. Uma foto não é o mesmo que ver a


coisa real. Eu considero que nós ainda estamos na parte de
não compartilharmos informações sobre bundas.

Mas se isso realmente te incomoda, posso te mostrar


uma foto da minha bunda mais tarde e então ficaremos
quites.
Calcinha: Me ofereça isso mais tarde, quando eu estiver
bêbada o suficiente para aceitar sem ficar vermelha.

Curvado: Vou oferecer. ;)

Calcinha: Agora se apresse e venha para cá. As pessoas


estão começando a notar que o Calça Cagada Na Cabeça tem
merda nas calças também. Eu quero rir das expressões
horrorizadas junto com você.

Curvado: 📱 🏃�
CAPÍTULO 26

Chegamos rapidamente à estrada, e no meio da manhã Manhattan já era


uma memória distante enquanto passamos por colinas verdes em direção à
região de Finger Lakes. Nós só paramos para abastecer e comprar alguns petiscos,
e em um acordo tácito, evitamos falar sobre qualquer coisa que nos lembrasse do
motivo de estarmos fazendo esta viagem improvisada.

E eventualmente, minha mandíbula relaxa e posso curtir o passeio e claro,


a companhia.

—Por que você comprou isso? —Cat puxou um pacote de bolinhas de


coco azul brilhantes que comprei no último posto que paramos. —Argh. Você
sabe que isso é feito com cocô de rato, corante alimentar radioativo e pelos da
axila, não é?

Tiro meu pacote de balas Glo Balls de seus dedos e solto-o entre minhas
coxas antes de retornar as mãos ao volante.

—Devolve! Eu não terminei de ler todos os ingredientes nojentos. —Cat


tenta pegar o pacote, mas afasto sua mão e aponto um dedo em sua direção
como um aviso.

—Pare. Agora mesmo. Não mexa comigo enquanto estou dirigindo.

Ela bufa. —Mas eu não tinha terminado de examinar suas bolas 15!

—Eu nunca deixo mulheres examinarem minhas bolas no primeiro


encontro.

—Que mentira! —Ela diz, passando os dedos pelo console entre nós. —Eu
examinei suas bolas na noite passada. E foi praticamente nosso primeiro
encontro. Um primeiro encontro estranho, mas ainda assim...

—Nós somos amigos há anos, então a noite passada não foi nada como
um primeiro encontro. E você não examinou minhas bolas. Você nem as rolou em

15
Trocadilho com o nome da bala e a parte anatômica dele.
seus dedos, nem ao menos chegou perto e ficou íntima.

Ela murmura. —Tudo bem. Ponto marcado. —Ela retorna seus dedos para
o seu banco e começa a mexer na sacola de lanches de novo. —Vou me lembrar
de fazer um exame minucioso quando me for oportuno.

—Você não quer dizer quando for oportuno para mim? —Ignoro meu pau
no meu jeans, insistindo que ele é mais interessante do que minhas bolas e
deveria ser examinado assim que eu encontrasse um lugar agradável para parar.
—Quero dizer, sou eu que vou ter que ficar pelado.

—Não necessariamente. —Ela diz com um tom rouco que não ajuda em
nada na situação desconfortável sob meu jeans. —Eu poderia me inclinar e fazer
um exame aqui mesmo. Eu nunca fiz um boquete na estrada antes, mas estou
disposta a experimentar.

Meu pau estica contra o tecido do meu jeans, insistindo que essa ideia é
maravilhosa, mas balanço minha cabeça e aviso Cat “se comporte”, enquanto
abro meu pacote de Glo Balls.

Shane não parecia preocupada em emprestar o Rolls Royce 1960 vintage


da sua tia, mas estou determinado a evitar qualquer arranhão, o que significa não
parar em nenhum acostamento só porque estou ficando duro enquanto dirijo.

Embora agora, graças a Cat, eu não consiga tirar da cabeça a imagem dela
ajoelhando aos meus pés, seus olhos fixos nos meus enquanto passa sua língua ao
redor do meu pau. Tento pensar em outra coisa, mas nem mesmo imaginar que
minhas bolinhas brilhantes são realmente feitas das coisas nojentas que Cat disse
foi suficiente para matar a minha fantasia.

Eu preciso conversar e rápido.

—Lembra da viagem para a maratona no vale da morte? –Pergunto,


incitando um gemido faminto de Cat.

—Sim. Ai meu Deus. Eu comi tantas balas de limão naquela viagem. —Ela
suspira enquanto morde um pedaço de seu alcaçuz. —Doces são bons, mas não
conseguem superar as balas de limão. Eu comi daquelas balas até ter
queimaduras de primeiro grau na língua pela acidez e doía engolir.
Eu concordo. —Eu não acredito que as lojas pararam de vendê-las. Elas
são tão boas.

—Boas mesmo. —Ela murmura de novo, acenando com o doce para o


meu lado. —Mas aquelas balas me faziam beber uma tonelada de água, eu tinha
que fazer xixi toda hora, o que nos levou a parar no lugar mais repugnante que já
estive.

—Lembro. —Como outra bolinha, falando com o doce esponjoso


desmanchando na minha boca. —Foi nesse lugar que você disse que parecia que
uma bunda gigante tinha sido assassinada no banheiro feminino?

—Sim! —Ela me bate na perna, claramente impressionada com minha


lembrança. —Aquele foi o lugar mais nojento que já vi. Tinha coco por toda a
parede. Sério, até no teto. Foi como se uma bunda gigante tivesse entrado lá e
sido morta espalhando coco por todo o banheiro feminino, em cada reservado,
em cada pia. Uma bunda muito nojenta morta aonde os olhos podiam ver.

Uma gargalhada explode, me fazendo lutar para não cuspir minha última
bolinha. Quando finalmente consigo engolir, digo: —Você é muito nojenta às
vezes.

—Não sou. —Ela diz, mas posso ouvir o sorriso em sua voz e sei que ela
está satisfeita consigo mesma. —Estou apenas tentando descrever com precisão
uma situação terrível, Aidan. Isso se chama compromisso com a comunicação.

—Eu percebi que deveria ser realmente muito ruim pois você decidiu
mijar atrás de um arbusto.

Cat assopra pelo nariz. —É verdade. Foi quando o Buraco tirou a foto
infame. Eu tinha me esquecido disso.

—Como você pôde esquecer? —Lancei um olhar surpreso para ela


voltando meus olhos para estrada. —Você quase matou o menino.

Ela inclina seu banco para trás apoiando seus pés no painel. —Eu não. Eu
estava irritada, mas superei. O Buraco na verdade era um grande e doce bobão.
Burro como uma pedra, mas doce. —Ela morde outro pedaço de seu doce. — E
coisas muito piores aconteceram comigo desde então.
Essas palavras matam meu sorriso, me fazendo lembrar porque nós
saímos de Manhattan tão rápido quanto o Rolls de Shane poderia nos levar. Nós
sequer tivemos tempo de passar em casa e fazer as malas. Shane emprestou
umas roupas para Cat, eu convenci que poderia comprar alguns jeans e algumas
camisetas no caminho e nós compramos escovas de dente no último posto de
gasolina que paramos.

Nós não estamos em uma aventura. Estamos em fuga e eu não posso me


esquecer disso nem por um segundo.

Eu conversei com Lip por alguns minutos antes de sairmos, ele estava de
plantão e com muito serviço), mas nossa conversa deixou claro que Cat não
estava fora de perigo. Existe uma preocupação de que Nico possa ter descoberto
sobre a operação para capturá-lo e tenha feito planos para deixar o país. Também
há rumores que ele se recusa a ir embora sem uma tal ruiva, um fato que
enfureceu a metade de sua família, alguns dos quais podem estar dispostos a
tomar medidas drásticas para remover o que eles veem como uma ameaça à
segurança de seu menino de ouro.

Quando contei a Lipman sobre a invasão na casa de Cat, ele insistiu que
fôssemos à polícia prestar queixa e queria também nos escoltar pessoalmente
depois disso. Ele não ficou nada feliz quando lhe expliquei nosso plano
alternativo, mas assim que lhe assegurei que ninguém sabia para onde íamos, eu
não contei nem para Shane o nome da pousada da minha madrasta, ele
relutantemente admitiu que provavelmente estaríamos a salvo. Ele se recusou a
nos dar sua bênção, mas nos desejou sorte e assegurou a Cat que iria contatá-la
assim que o perigo acabasse.

Ele também nos pediu para desligar nossos celulares pelos próximos dias,
insinuando que talvez possam ter sido modificados. Tudo isso pode acabar em
menos de quarenta e oito horas, fato que ao mesmo tempo me deixa aliviado e
estranhamente... triste.

—Vai ser estranho. —Cat diz levemente, deixando cair seu doce meio
comido no pacote.

—O que? —Checo nosso retrovisor pela décima vez, mas a estrada atrás
de nós está vazia desde que saímos da rodovia para seguir a rota para Ithaca,
Nova York.

—Não estar preocupada o tempo todo. —Ela diz, colocando o pacote de


balas perto de seus pés. —Poder rir com um amigo ou amigo de foda sem me
preocupar que Nico esteja me espiando e enlouquecendo com isso. É
impressionante como viver com medo pode se tornar rapidamente o novo
normal.

Minha mandíbula aperta. —Eu gostaria que você nunca tivesse conhecido
esse filho da mãe.

—Eu não. Eu estou grata por tê-lo conhecido. —Ela encolhe as pernas e
vira seu rosto para o meu lado do carro. —Por mais assustadora que seja essa
situação, também é um alerta. Eu nunca tinha entendido como a estatística é
horrível, até estar nela. Quero dizer, um terço das mulheres assassinadas nos
Estados Unidos são mortas pelos seus parceiros. Isso significa que mais de mil
mulheres por ano estão perdendo suas vidas para homens que supostamente
deveriam amá-las.

—Isso é loucura. —Pisco firme enquanto penso sobre esse número. —


Quero dizer, eu sabia que os números eram ruins, mas não tanto.

—Eu sei. —Cat diz. —E em nível nacional nós não estamos fazendo nada
para as coisas melhorarem. Na verdade, a maioria dos estados está cortando
recursos para abrigos e programas de assistência mesmo com o aumento da
demanda desse tipo de programa. —Ela cruza seus braços contra seu peito. —
Então sim, estou feliz por ter conhecido Nico. E assim que estiver livre disso tudo,
vou encontrar uma forma de melhorar as coisas para mulheres que não têm
dinheiro para contratar um patife espetacular para cuidar delas.

—Você deveria começar uma instituição de caridade, ou ajudar a angariar


fundos para uma. Vocês advogados são ótimos na angariação de fundos, não é?

—Estou farta de arrecadação de fundos. —Ela diz acenando a cabeça


pensativamente. —Mas Shane é melhor nessa parte. É o trabalho dela. Ela
administra as obras de caridade de sua tia.

—Ou você poderia concorrer a um cargo político. —Digo. —Eu votaria em


você.
Ela grunhe. —Se você prometer não contar a ninguém que eu inalei.

—Minha boca está selada. —Juro, pegando sua mão.

Seus dedos se entrelaçam aos meus. —Por que?

—Por ser você. Por você ser forte e receber uma merda e transformá-la na
necessidade de tornar o mundo um lugar melhor.

—Como ter um assassino na minha bunda e transformá-lo em um alvo? —


Ela me pergunta rindo.

Eu aperto sua mão. —Você pode brincar, mas eu falo sério. Estou
orgulhoso de você, e muito feliz por sermos amigos de novo.

—Eu também. —Ela murmura apertando minha mão. —Eu senti a sua
falta.

—Eu também senti a sua falta. —Respiro fundo, tentando não interpretar
demais as suas palavras. Estive num inferno essas vinte e quatro horas. Nós
estamos exaustos e se levarmos à sério algo que seja dito aqui pode ser um erro
gigantesco. Mas não posso evitar de ter esperanças de que isso signifique que ela
está disposta a ter algo mais do que amizade no futuro.

—E falei sério sobre concorrer à um cargo político. —Continuo. —Embora


você provavelmente terá que melhorar seu vocabulário. Você tem uma boca
muito suja para ser uma política.

Ela sorri. —Novamente, devo te lembrar do orangotango doente com


aplique de Bombril que se tornou representante do Partido Republicano.

Eu aceno, aceitando minha derrota. —Novamente, você está certa.

—Normalmente estou. —Ela diz bocejando. —Deus, estou cansada. Posso


cochilar ou você vai encarar isso como um abandono? Eu sei que como eu, você
dormiu muito pouco na noite passada.

—Não, pode tirar um cochilo. —Libero sua mão, mas não resisto e antes
de retornar minha mão para o volante, dou um aperto firme em sua coxa. A
necessidade de tocá-la é maior a cada minuto. —Eu te acordo se precisar.
—Tem certeza? —Ela boceja tão forte que sua mandíbula estala antes de
acrescentar. —Por que posso ficar acordada e cutucar você com o doce.

—Tenho certeza. —Insisto. —Um de nós precisa estar descansado e


pronto para fofocar com Julie. Meu pai não é muito de falar, então minha
madrasta fica muito feliz quando tem companhia.

Eu espero um momento, mas Cat não responde. Quando olho novamente,


ela já está dormindo, seus cílios sobre suas bochechas pálidas e seus lábios
ligeiramente separados, toda a doçura que ela tenta tanto esconder quando está
acordada fica evidente agora. Ela é linda, tão linda que uma parte minha quer
parar o carro só para ficar olhando por um momento.

Mas nós ainda temos algumas horas até chegar à pousada dos meus pais.
E espero, que se jogar minhas cartas direito, eu terei a chance de assistir Cat
dormir novamente, em um futuro não tão distante.
CAPÍTULO 27

Cat acordou quando paramos para abastecer perto de Ithaca e insistiu em


me arrastar para uma loja na Interestadual para comprar algumas roupas e
encher a mochila que Shane me emprestou.

Enquanto andávamos pelo departamento masculino de uma loja com um


forte cheiro, ela enfiou seu braço no meu. Juntos nós escolhemos dois jeans, duas
camisetas e uma camisa no caso de Julie insistir em um de seus jantares chiques,
além de dois pacotes de cuecas boxers por que: —Você pode usar o jeans mais de
uma vez, mas definitivamente não pode querer fazer isso com uma cueca usada.

—Meus pais têm máquina de lavar. —Eu disse, mesmo deixando Cat pegar
um terceiro pacote de cuecas e colocar debaixo do braço.

—Nós não queremos desperdiçar tempo lavando roupa. —Ela diz,


liderando o caminho até o caixa. —Estaremos muito ocupados bebendo. E não
tenho um porre de vinho no meio do dia há muito tempo, sem contar que amo
degustação de vinhos. E isso combina três das minhas coisas favoritas: beber
durante o dia, natureza e comprar coisas artesanais feitas com rolhas usadas.

—Devemos ser discretos, vamos ter que manter a degustação de vinhos


em um cômodo privado na casa dos meus pais.

Ela sorri e arqueia as sobrancelhas. —Talvez não. Podemos ser autorizados


a voltar para nossas vidas a qualquer minuto, Aidan. E no momento que
estivermos livres, alugarei uma limusine e te levarei a uma degustação de vinhos
para comemorar.

—Soa bem. —Digo, embora a minha parte egoísta goste da ideia de ter
Cat só para mim por alguns dias antes que o mundo real nos alcance. Mas ela está
certa, quanto mais cedo Nico estiver atrás das grades e estivermos livres para
voltarmos para nossas vidas, melhor.

Pego minha carteira fazendo o meu melhor para ignorar a angústia em


meu peito, mas ela é mais rápida e já colocou seu cartão de crédito em cima de
minhas roupas.
—Não brigue comigo. —Ela avisa —Eu te devo depois de quase te fazer
ser morto na noite passada. Eu te devo mais que roupas, mas isso já é um
começo.

Relutante, guardo minha carteira, guardando também minha resposta até


que ela termine de assinar o recibo do cartão e tenhamos saído da névoa de
perfume em direção ao sol além das portas de vidro duplo.

—Você não me deve nada. Fui eu quem te decepcionou. —Digo


suavemente. —Eu deveria ter ficado vigiando em vez de ter ido dormir. Ou
deveria ter insistido para que encontrássemos outro lugar para nos esconder,
onde Nico não conseguisse te encontrar. Se eu tivesse levado mais a sério a
ameaça...

—Se você tivesse levado a ameaça mais a sério você não teria aceitado
esse trabalho. —Ela me corta. —E novamente, estou feliz pelas coisas terem sido
assim e estou feliz por estar aqui com você. —Enquanto saíamos do shopping ela
ergueu a cabeça para o sol e suspirou: —Sinto como se eu pudesse finalmente
respirar pela primeira vez em semanas! Essa viagem talvez seja a melhor ideia que
você já teve.

—Eu não sei. —Digo abrindo a porta do carona para ela. —Tenho um
histórico de boas ideias... Teve a festa do ônibus e você se lembra do concurso de
camiseta dos Corredores?

—Aquilo foi brilhante! Eu fiquei tão triste quando a minha se apagou na


lavagem!

—Qual desenho você fez mesmo? —Pergunto sorrindo, porque ela está
sorrindo e quando ela está feliz o sorriso dela é completamente contagiante.

— “Corra como se estivesse sendo perseguido por um tiranossauro Rex


chamado Kevin” —Ela diz rindo. Mas seu sorriso some enquanto passa os seus
braços por minha cintura e se apoia em mim. Quando o corpo dela se encaixa no
meu eu instantaneamente fico quente, o que faz com que eu me pergunte se
sempre vai ser assim, se Cat e eu somos como faísca e combustível destinados a
inflamar sempre que nos tocarmos. —Então o que vamos dizer aos seus pais? Eles
sabem que você é um Patife espetacular?
—Não, eles não sabem. —Coloco a sacola com as roupas no assento,
assim posso abraçá-la apropriadamente. Eu não tive essa chance desde que tudo
aconteceu e eu quero apreciar o milagre dela: quente, segura e perto, olhando
para mim como se estivesse pensando sobre me deixar entrar.

Presumindo que eu não vá estragar tudo, é claro.

Eu procuro seus olhos escolhendo cuidadosamente minhas próximas


palavras. —Eu poderia dizer a eles sobre o negócio e que você é minha cliente,
mas posso te garantir que meu pai vai pensar que ou estou brincando com ele ou
louco, ou ambos.

Ela estremece. —Nossos pais teriam se dado muito bem, ambos são
antiquados, não?

—Meu pai devotou toda a sua vida a fazer barris de vinho exatamente do
jeito que seus ancestrais faziam na era medieval na França, então sim, ele é bem
antiquado. Ele ainda usa uma navalha para se barbear e não consegue responder
uma mensagem de celular. —Eu dou de ombros. —Eu realmente não me
incomodo que ele ache que sou louco. Já estou acostumado. Mas pensei, talvez,
se estiver tudo bem para você, nós podemos apenas dizer aos meus pais que
estamos... namorando.

—Namorando. —Ela vira a cabeça me estudando pelo canto dos olhos. —


Teria que ser um namoro sério para você me trazer para casa, não? Eu sei que as
pessoas mudam, mas você nunca foi desse tipo de cara “que as trás para casa
para apresentar a família”.

—Eu sou ainda menos agora do que era na época da faculdade. —


Confesso. —Mas não acho que vamos ter problema para convencê-los de que
estamos falando a verdade.

—E por quê? —Ela continua sem demonstrar reações, mesmo que seu
olhar esteja afiado. Esse olhar é perigoso, capaz de quebrar minha conexão com
Cat com apenas um golpe e minha única defesa é a verdade.

—Eu gosto de você. Eu sempre gostei de você. —Paro reunindo coragem


para colocar tudo para fora, arriscando dela me dizer que esse navio já zarpou há
muito tempo. —Eu pensava que você era apenas uma daquelas amigas que ficam
com você mesmo que não façam mais parte da sua vida, mas agora que não sou
mais um idiota de vinte e dois anos eu percebi que é mais do que isso, sempre foi
mais do que isso.

—Mais? —Ela pergunta suavemente.

—Mais que amigos. —Digo. —E gostaria de descobrir o quanto mais. E


você?

Eu pensei que seu olhar estava afiado antes, mas agora ele se tornou um
bisturi. Eu juro que consigo sentir esse olhar sondando minhas entranhas,
procurando por erros do meu passado, mas ela não se afasta do nosso abraço.

—Se é muito cedo depois de tudo isso com o seu ex, eu entendo. —Digo.
—Isso não vai fazer o meu dia, logicamente, mas... —Prendo a respiração, não é
fácil porque acabei de perceber o quanto eu ficaria infeliz ao perder o direito de
tocá-la assim. —Mas vou esperar até que você esteja pronta, se você achar que
está interessada, é claro.

Ela fica congelada por um longo tempo e nesse estranho momento as


minhas mãos começam a suar, me fazendo sentir como se tivesse quinze anos e
não trinta e dois, porra. Estou pronto para tirar minhas mãos suadas de sua
cintura para secá-las discretamente em meu jeans quando ela diz: —Eu estou
interessada e não é muito cedo. Onze anos é tempo demais para esperar, você
não acha?

—Acho. —Um enorme sorriso surge em meu rosto como um ovo rachado
ao meio, transbordando toda a minha felicidade em uma confusão, nada legal.

Mas Ruiva nunca ligou para o legal, na verdade, acho que ela gosta de
mim assim.

Ela confirma essa suspeita quando sorri e diz: —Estou com tanta fome que
poderia comer o seu rosto sem me incomodar em raspar a barba antes.

Eu a abraço mais perto. —Eu te disse que nós precisávamos de mais do


que apenas doces no café da manhã.

—Você estava certo. —Ela diz. —Me leve para algum lugar bonito e me
alimente? Você ganha um bônus se lá tiver comida gordurosa.
Pressionando meus lábios, olho para o céu. —Bonito e gorduroso... é uma
combinação complicada, mas acho que há um lugar na praça da cidade que se
encaixa, tem panquecas de batatas enormes e sopa de matzá 16.

—Perfeito.

E então, antes que eu perceba o que está acontecendo, ela fica nas pontas
do pé, envolve seus braços no meu pescoço e me beija.

Imediatamente posso dizer que este beijo é diferente. Ainda é inflamável,


mas também é doce, desprotegido e tão viciante que não posso parar de beijá-la.
Então não paro.

Fico no meio do estacionamento de um shopping, fazendo amor com a


linda boca de Ruiva até perder toda a noção de tempo e espaço, até que não haja
nada, além de seus lábios, seu gosto, seu calor e a sensação de estar exatamente
aonde eu deveria estar.

16
Típica comida judaica. Matzá é um pão simples sem fermento.
CAPÍTULO 28

Depois do almoço, andamos pela praça comprando mais alguns itens


importantes para a noite como desodorante, enxaguante bucal e um rímel
marrom claro que Cat insistiu que precisava para impedir que seus cílios
sumissem. Eu disse que ela fica perfeita com ou sem eles e ela me disse que eu
sou um baita de um mentiroso e me fez esperar do lado de fora da farmácia
enquanto ela terminava de comprar coisas de garota. Eu fico na calçada e sorrio
como um idiota porque, acontece que gosto de ser chamado de “baita
mentiroso” quando Cat é que me chama assim.

Nós finalmente saímos da cidade por volta de uma e trinta e alcançamos


os vinhedos das colinas de Ithaca, um pouco depois das duas, rodando
lentamente pela estrada de cascalho para evitar levantar poeira nas videiras
crescendo em ambos os lados da estrada. Eu mantenho um olho na estrada e
outro em Cat não querendo perder o momento que ela terá: A Visão.

Mesmo quando aos dezesseis anos e obcecado com a cultura de bikes e


puto com o meu pai por ter se casado de novo, eu estava secretamente grato
quando nós nos mudamos para cá com Julie, eu nunca pude resistir a essa visão.

Quase toda tarde de verão eu pegava meu bloco de desenho e meus lápis
e ia para o campo a beira das vinhas, escalar uma árvore e passar horas
esboçando as curvas das colinas até o Lago Cayuga, os veleiros na água e o pôr do
sol cobrindo tudo com um brilho leve, como um sonho, o que me fazia lembrar as
pinturas italianas que eu tinha visto nos museus.

Antes da Visão, eu não era alguém que apreciava muito a paisagem, mas
aquelas tardes que passei capturando traços da magia cotidiana me ajudou a
definir o curso do resto da minha vida.

Aos dezesseis, eu não tinha certeza se queria ser um pintor, um ciclista


profissional ou um fabricante de vinhos e barris como todo Knight é desde a
época em que os Knights realmente eram cavaleiros, bem como fabricantes de
barris. Mas depois de alguns verões na minha árvore, percebi que aquelas horas
que eu passava sozinho, crescendo como um artista foram as que significaram
mais para mim. Esses foram os momentos em que eu me sentia mais vivo, mais
em sintonia comigo e satisfeito com o meu lugar no mundo.

Depois do colegial, convenci meu pai a me deixar buscar um diploma em


belas artes, com o acordo subentendido que eu voltaria a Ithaca quando
terminasse meus quatro anos e aperfeiçoaria o meu treinamento na antiga arte
de moldar barris de carvalho. Em vez disso, no meu segundo ano na Penn U
quando eu realmente estava considerando uma carreira de tatuador eu consegui
um emprego de meio período em uma equipe de construção que apreciava o
meu trabalho com a madeira. Eu guardei meu dinheiro e no meu último ano eu
tinha o suficiente para pagar uma passagem para o Japão para ser aprendiz de
uma das lendas vivas no mundo da tatuagem.

Dizer que meu pai ficou irritado com a minha decisão seria o eufemismo
do milênio.

Ele era uma mistura devastadora de desapontamento e raiva. Nós não nos
falamos por dois anos. Ele me odiou por traí-lo, e eu o odiei por não deixar que eu
escolhesse meu próprio caminho e ambos odiávamos demais pedir desculpas
para fazer um esforço significativo em reparar a distância entre nós.

Nós provavelmente ficaríamos afastados para sempre, ou pelo menos


uma década ou duas, se Julie não tivesse sido diagnosticada com câncer de
mama. Ser confrontado com a ideia de perder alguém que ambos amávamos foi o
que nos fez deixar de ser tão idiotas e voltarmos a ser uma família. Eu estava lá
para ele, ele estava lá para Julie e um novo normal, onde apreciávamos a
companhia um do outro, onde nunca discutir sobre construir barris ou tatuagens,
foi estabelecido.

O que me lembra...

—Apenas para a sua informação, eu e meu pai nunca falamos da profissão


um do outro. —Digo dando vez para um ônibus cheio de turistas bêbados. —É
parte da nossa trégua. Então se a conversa virar para coisas profissionais não se
surpreenda por eu não entrar no meio.

—Entendo. —Ela assente se inclinando para a janela e inalando


profundamente. —Isso cheira tão bem.
—Sim. —Estudo sua expressão deliciada e não sei se ela me entendeu. —
Mas estou falando sério Ruiva, eu não falo sobre trabalho com meu pai. Nunca.
As coisas ficam feias se começarmos.

Ela assentiu novamente. —Entendo. Meu pai e eu nunca discutimos


religião, gays no exército, Ronald Reagan, minha mãe, a família do meu pai do
lado do pai dele, sexo, controle de armas, higiene feminina ou Elvis Presley. Eu
sou muito boa em evitar assuntos perigosos em reuniões de família.

—Por que Elvis? O que ele fez? —Volto para a estrada, satisfeito que ela
realmente me entendeu, eu nunca deveria ter duvidado dela.

—Eu tinha uma queda por ele quando era criança. —Ela diz brincando
com os dedos no vento enquanto dirigimos. —Eu fiz meu pai realizar um
casamento na praia entre mim e meu ursinho de pelúcia que estava fazendo o
papel de Elvis em Blue Havaí. Papai fez um de seus amigos filmar e todo Natal ele
me torturava com isso. —Seu tom de voz fica melancólico. —Na verdade era uma
das nossas épocas favoritas do ano, mas eu fingia odiar, porque era uma
adolescente e é isso que os adolescentes fazem, você sabe...

—Eu sei. —Digo —Eu fingia odiar o vinhedo no início, quando nos
mudamos, mas é o lugar mais bonito em que já morei. Inferno, na verdade, um
dos lugares mais bonitos que já vi.

—Eu que o diga. —O queixo de Cat cai quando faço a curva e o vinhedo
entra em nossa visão. —Uau Aidan é maravilhoso. É o paraíso com um toque da
paisagem campestre da Toscana.

E embora eu tenha visto este lugar um milhão de vezes antes, o panorama


das colinas com o lago ao longe e as videiras enfileiradas próximas ao grande
celeiro vermelho que serve como local para degustação, isso me enche com um
imenso prazer. Mas não é a paisagem que rouba meu fôlego. É a ruiva ao meu
lado se inclinando para frente com as mãos no painel para ver melhor, com uma
expressão maravilhada em seu rosto que faz com que eu tenha vontade de
surpreendê-la pelo menos uma vez por semana.

O olhar dela ainda está grudado à cena se desenrolando diante dela


enquanto descemos em direção ao celeiro de degustação e ela pega minha mão e
diz: — Obrigada por me trazer aqui. Eu já amo.

—O prazer é meu. —Digo entrelaçando meus dedos nos dela. —Tomara


que meus pais não te façam mudar de ideia.

—Não se preocupe, eu amo pais e eles me amam. Eu sei como me


comportar da melhore maneira, eu fui criada por um general, lembra?

—Apenas saiba que minha madrasta fala o tempo todo e meu pai mal fala,
não é nada pessoal. Ela nunca ouve o que as outras pessoas dizem e meu pai dá a
todos um tratamento frio, isso é o comum por aqui.

Ela inclina a cabeça para a entrada do celeiro, onde os troféus de pescaria


do meu pai e a coleção de antigos sinais de trânsito da minha madrasta servem de
decoração. —Eu não estou preocupada.

—Quem bom, você não deveria estar. —Digo, tentando esconder que eu
estou preocupado por ela, quanto mais perto chegamos do meu pai mais certeza
eu tenho de que ele vai ser um idiota com Cat e me fazer querer esmagar minha
mão na sua cara ranzinza pela primeira vez em anos. Eu já estou acostumado com
seu mau humor, mas Cat já passou pelo suficiente. Ela não merece ser forçada a
lidar com o mau humor de um velho.

Mas não há como voltar agora. Quando circulamos o celeiro e paro na


entrada de automóveis em frente à casa de estilo Mediterrâneo com vista para o
lago, Julie e meu pai já estão saindo dos canteiros sujos de terra até os cotovelos.

Julie se levanta assim que nos vê, dando um aceno entusiasmado e ela
está falando antes mesmo que eu possa desligar o motor.

—Aí esta você! —Ela tira as luvas e as joga na garagem, a pele em volta de
seus olhos enrugando enquanto sorrir. —Olhe para você Aidan! Eu juro que você
está ainda mais alto do que eu me lembro! E você dever ser Cat! Olhe para esse
cabelo! Meu deus, você é como uma modelo de uma pintura pré-rafaelita. Não é
Jim?

Meu pai, como o previsto, não diz nada, mas se levanta e sai do canteiro
dando um aceno formal em direção a Cat. Ele está vestindo calça caqui e camisa
de botão porque Jim Knight se recusa a vestir jeans mesmo para jardinar, porque
jeans são indignos.

—Linda e uma pele tão perfeita. —Julie vai até Cat com os braços abertos.
—Estou tão feliz que você está aqui, você é muito bem-vinda. —Ela puxa Cat para
um abraço um pouco longo demais, porque os abraços de Julie sempre duram
muito, mas Cat parece não se importar.

Ela devolve o abraço com um sorriso: —Muito obrigada por me receber,


eu mal posso esperar para ver onde Aidan passou sua adolescência rebelde.

Julie assente libertando Cat de seu abraço, mas ainda segurando sua mão.
— Você ouviu isso Jim?

Meu pai grunhe em resposta, o que é muito vindo dele. Mas ele sempre
gosta quando as pessoas pegam no meu pé.

—Ele foi meio rebelde, principalmente no começo. —Julie sussurra para


Cat piscando para mim. —Mas ele também era um doce. Há um coração de ouro
escondido nesse corpo peludo. Vou te contar todas as histórias embaraçosas
entre uma taça de vinho ou três. Você bebe?

—Sim. —Cat diz sorrindo. —Quanto mais cedo melhor. Mal posso esperar
para ouvir as histórias embaraçosas do Aidan, você me conta as suas e eu conto
as minhas!

Julie ri. —Ai que bom! Finalmente alguém para falar de você, Aidan! Eu já
amo essa garota.

—Agora venha aqui, Ruiva. —Digo abrindo o porta malas para pegar nossa
bagagem. —Eu nunca contei suas histórias embaraçosas para ninguém.

—Porque você é um cavalheiro. —Cat sai de perto de minha madrasta e


pega a mala que Shane lhe emprestou essa manhã. —E eu realmente gosto disso
em você.

—Bem, vamos apenas lembrar quantas histórias sei sobre você, Calcinha.
—Murmuro enquanto andamos até a porta da frente. —Me pressione e eu posso
esquecer minhas boas maneiras.

—Eu espero que sim. —Ela diz baixinho para que somente eu possa ouvir.
—Eu também gosto desse seu lado, também.

A sugestão sexy em sua voz normalmente seria o suficiente para meu


sangue bombear mais rápido, mas naquele momento afundou porque meu pai
estava perto da gente.

—Como está o jardim? —Pergunto indicando os repolhos decorativos,


uma das muitas coisas estranhas que meu pai cultiva. —Eles parecem bons.

Ele resmunga de novo: —Bons o suficiente.

—São seus peixes emoldurados acima da porta do celeiro? —Cat pergunta


agradavelmente ignorando o fato de que meu pai é um péssimo anfitrião e não
disse mais do que um olá para ela. Sorte a dele que Julie lida com tudo em relação
aos hóspedes dos chalés do outro lado da propriedade ou o negócio teria falido
há anos. —Aquele peixe tigre é impressionante, eu peguei um de quase um metro
em uma viagem de pesca com meu pai ao Lago Tanganyika, mas nunca vi um tão
grande.

Enquanto às palavras deixam sua boca, meu pai se ilumina. Ele


literalmente vira uma sombra mais leve do homem mal-humorado que costuma
ser e suas características se tornam realmente alegres em encontrar um pescador
e aficionado em peixes. De todas as coisas que Cat poderia ter dito a esse
homem, ela escolheu a coisa perfeita para garantir que o mau humor suavize.

—Um metro e vinte e cinco e quase quarenta quilos. —Meu pai diz, seu
peito inchando de orgulho. —E isso não é história de pescador. Foi o maior peixe
dessa espécie que nosso guia de pesca já viu que não fosse um Golias.

—Jesus. —Cat suspira com o grau certo de reverência em seu tom. —


Deve ter sido uma luta e tanto! Que tipo de equipamento você estava usando?

Meu pai mergulha na história da guerra de Jim contra o peixe tigre


listrado, com dentes do tamanho de dedos humanos, uma de suas histórias
favoritas e quando nós, depois de colocarmos nossas malas dentro do quarto nos
juntamos a Julie no pátio para degustar vinhos, meu pai decide roubar o assento
ao lado de Cat. Mas não me importo.

Eu só trouxe três mulheres aqui em toda a minha vida e nunca nesse


tempo eu liguei para o que meu pai achava sobre a garota com quem eu estava.
Meu pai não se importa muito comigo, seu próprio filho, e eu aprendi a não me
importar com isso. Não estou nem aí com o que meu pai pensa sobre minhas
parceiras o que é até cômico.

Ou pelo menos eu pensei...

Mas quando vejo meu pai sorrir, como um ser humano normal, capaz de
ser divertido e não rabugento e assustador, com Ruiva, eu não posso deixar de
esperar que o efeito não passe. Eu gosto que Jim perceba que ela é especial. Eu
gosto de ouvir Cat falando sobre peixes, safáris africanos e carros velhos com meu
pai, percebo que é assim que ela deve falar com o próprio pai. É uma parte dela
que eu nunca vi, e isso me faz gostar ainda mais.

—Bom trabalho, garotão. —Julie sussurra para mim enquanto enche de


novo minha taça com o seu mais recente pinot noir. —Estou tão feliz por você
querido, você merece uma garota maravilhosa.

Ela aperta meu ombro e sai para encher as outras taças antes que eu
possa responder. E fico feliz. Pois não sei o que dizer.

Eu não estou pronto para nomear o que sinto por Cat, certamente não é
algo tão grande como o amor, mas quando seus olhos presunçosos e triunfantes
encontram os meus, do outro lado da mesa, eles me dizem claramente: Viu
Curvado, eu disse que faria eles me amarem, não posso evitar de sorrir.

Ela é um pé no saco.

Ela sempre foi um pé no meu saco.

Mas estou começando a pensar que é um pé que seria horrível viver sem.
CAPÍTULO 29

Enquanto tomamos vinho, jantamos e tomamos mais vinho e assistimos


ao pôr do sol sobre o Lago Cayuga, já eram quase nove horas e eu não estava
mais sentindo dor nenhuma e Cat estava toda corada e risonha.

—Estou cansado. —Finalmente sussurro pouco depois das nove e meia. —


Se não formos logo para o chalé, vou desmaiar em uma poltrona.

—Oh graças a Deus! —Ela ri de novo, um som rico e gostoso que me deixa
ainda mais feliz. —Estou tão bêbada e cansada que vou desmaiar no segundo em
que minha cabeça encostar no travesseiro. Eu não sei como você ainda está
acordado, eu pelo menos tirei uma soneca no carro.

—Maravilha. —Digo ou pelo menos tento. A palavra sai tão arrastada que
faz Cat rir novamente, atraindo a atenção de Julie.

—Vocês já estão prontos para irem? —Ela pergunta. —Eu preparei o


quarto de hospedes para você no andar de cima.

—Achei que você tivesse um chalé vazio. —Digo, o pensamento de dormir


sob o mesmo teto que meu pai e minha madrasta, onde eles poderiam ouvir tudo
que eu dissesse ou fizesse com Cat é o suficiente para me deixar sóbrio
rapidamente.

—Eu tenho. —Julie diz. —Mas isso foi antes de saber que a amiga que
você estava trazendo era na verdade uma namorada. Eu tinha colocado vocês em
um chalé com beliches, era o único livre.

—Ah tudo bem. —Cat diz, claramente não gostando da ideia de ficar sob o
mesmo teto que meus pais tanto quanto eu. —Nós amamos beliches, vai ser
como os albergues que ficamos na época da faculdade.

—Sim vai ser ótimo. —Concordo entusiasticamente, feliz que meu pai foi
tomar banho a uma hora atrás, pois com o tanto que ele gostou de Cat, com
certeza ele tentaria nos fazer ficar para que pudesse conversar sobre peixes no
café da manhã.
Julie balança a cabeça: —Vocês têm certeza? Quero dizer, esses colchões
são estreitos e vocês...

—Nós temos certeza. —Cat e eu dizemos ao mesmo tempo antes de


acrescentar: —Sim senhora, temos certeza e se não for muito rude, adoraria ir
para o chalé agora, porque estou começando a me sentir como um zumbi.

—Claro. —Julie coloca seu copo de água na mesa do deck, a mulher


esperta parou de beber depois de duas taças de vinho, como a profissional que é.
—Vou dar uma carona para vocês no carrinho de golfe. É do outro lado do vale,
então vocês terão privacidade, os outros chalés estão cheios, mas são hóspedes
tranquilos, dormem cedo, mas acordam cedo também, então é melhor vocês
irem descansar.

Eu a puxo para um abraço bem apertado de agradecimento. — Nós


vamos.

Quinze minutos depois de dirigir até o nosso chalé e de nos dar um rápido
passeio, nos mostrando a cozinha, o banheiro, a sala e o aconchegante quarto
com dois conjuntos de beliche, Julie se despede e sobe a colina.

Cat e eu ficamos na porta, observando-a ir, em silêncio por um momento.

Um momento em que meu cansaço some com o conhecimento de que eu


estou sozinho. Com Cat. E há uma cama a três metros de distância.

Ela olha para mim, seus olhos brilhando sob a luz suave. —Você está
pensando o mesmo que eu?

Eu a puxo para dentro, trancando a porta antes de segurar seu rosto em


minhas mãos. —Se você estiver pensando que não está pronta para ir dormir,
então sim, estou.

—Mesmo? —Seus lábios se abrem enquanto suas mãos vão para minha
cintura e sobem por dentro da minha camisa. No segundo em que seus dedos
frios se encostam a minha pele quente, eu fico duro, dolorido e desesperado para
tê-la. —Como posso pensar em dormir sem antes tomar um banho?

—Um banho? —Mordo meu lábio e suas mãos continuam a subir se


moldando ao meu peito. —Você tem certeza de que um banho é tudo o que
quer?

—Faz mais de um dia que não tomo um, Aidan. —Ela diz simulando horror
enquanto circula um dedo no meu mamilo, adicionando outro item as partes do
meu corpo que estão duras por ela. —Isso é nojento, eu sou uma pessoa nojenta.

—Essa não é a palavra que eu teria usado. —Eu me aproximo mais e desço
minhas mãos por sua cintura.

Seus olhos escurecem e seus dedos se curvam até que suas unhas cravam
em meu peito. —Não é?

Eu abaixo a cabeça, deixando meus lábios pertinho dos dela: —Eu estava
pensando... deliciosa. Essa é a palavra que vem a minha mente quando penso em
você.

—O que faz de você o nojento. —Ela sussurra em uma voz rouca que me
arrepia em todos os lugares que quero que ela me toque. —Você não consegue
sentir o cheiro?

—Consigo. —Inalo com apreciação enquanto suas mãos passeiam pelas


minhas costas me trazendo ainda mais para perto. —Você cheira a luz do sol e
aquele vinho branco que derramou em sua camisa e... pipoca com manteiga. —
Meus lábios se curvam com surpresa. —Quando você comeu pipoca com
manteiga?

—Eu não comi. —Suas mãos encontram minha bunda e eu flexiono meus
músculos, amando como ela me toca, sem hesitação, sem nenhuma dúvida de
que cada parte minha é dela para explorar. —É assim que meu suor cheira no
começo, até se transformar em um fedor de pipoca.

—Isso é o máximo. —Aliso suas costelas até pegar um de seus seios em


minha mão e encontrar seu mamilo duro através de sua camisa. —Seu corpo é
um milagre da evolução sexual, porra.

—Então, pipoca com manteiga te excita. —Sua respiração acelera


enquanto intensifico a pressão em seu mamilo. —Bom saber. Vou investir em
uma máquina de pipoca para a minha sala de estar e ligá-la antes de você chegar.

—Foda-se pipoca com manteiga. Você me excita. Tudo em você. —Levo as


mãos até a gola de sua camisa e abaixo o decote desnudando seus seios,
retirando um suspiro dos seus lábios. —Preciso colocar minha boca em você,
Ruiva. Eu preciso de cada parte sua pressionada contra mim.

Ela se arqueia em minhas mãos e encontro seu mamilo novamente, desta


vez sem nada entre nós para suavizar a eletricidade que percorre pele a pele.

—Então você vai ter que conseguir o que quer no chuveiro Sr. Knight.

—Vou te foder no chuveiro. —Alcanço o botão de sua camisa e tiro junto


com o sutiã em um movimento suave antes de puxá-la de volta para meus braços.
—Vou te foder em qualquer lugar, a qualquer hora. Suja ou limpa, doce ou
pervertida, como você quiser, desde que eu possa sentir você gozar no meu pau.

—Que tal doce e sujo? —Ela pergunta, enquanto a levanto e me viro para
carregá-la até o banheiro, meus braços embaixo de sua fantástica bunda e suas
pernas em torno da minha cintura. —Eu não quero nada muito bizarro essa noite.
Eu só quero fazer amor com você.

Meu coração pula em meu peito, paro na porta do banheiro olhando


profundamente em seus olhos. —Eu também quero fazer amor com você. Então
não se esconda de mim, ok?

Ela pisca, mas não diz que estou louco.

Em vez disso ela se inclina e me beija suave, profundamente. Beijando-me


até meu pulso acelerar e eu começar a me sentir bêbado outra vez. Mas dessa
vez, estou bêbado dela, essa mulher que me faz sentir coisas que nunca senti com
nenhuma outra, que me faz querer parar e ir fundo e dizer a verdade.

—Falo sério. —Murmuro contra seus lábios enquanto a coloco embaixo


do chuveiro. —Você fugiu muito rápido na noite passada.

—Eu estava apenas tomando medidas preventivas. —Ela fala entre beijos
enquanto nos livramos do restante das roupas o mais rápido possível. —Fugindo
antes de você.

—Eu pareço com quem quer fugir? —Estico o braço para abrir o chuveiro,
mas mantenho meus olhos nela. —Mesmo que um pouco?
Ela balança a cabeça lentamente. — Não. Você parece... lindo. Eu já te
disse que só de olhar para você faz com que eu sinta que ganhei em algum tipo de
loteria? Que sortuda eu sou! Que posso ficar com você, mesmo que seja por uma
noite?

—Vai ser muito mais do que uma noite. —Prometo, meu coração pulando
outra batida quando ela se aproxima pressionando sua pele contra a minha. —E
você é a coisa mais linda que eu já vi Ruiva, especialmente assim.

—Assim como? —Sua respiração se acelera. —Nua e disposta?

—Nua e disposta. E olhando para mim como se não houvesse outro lugar
que preferisse estar.

—Não há. —Seu olhar suaviza como suaviza com Fang, mas melhor,
porque ela está me olhando e está excitada, e eu sei que vou esta noite receber
muito mais do que uma caricia atrás das orelhas. —Você não sabe? Que você
sempre foi uma das minhas pessoas favoritas?

—E você é uma das minhas. —Meu pau pulsa, quente e duro, contra sua
barriga e eu a quero tanto quanto a quis ontem à noite, mas não é o meu pau que
a anseia mais e mais. Há uma ânsia mais feroz, dolorosamente doce que se
espalha por meu peito.

Dói, mas é uma dor boa. Uma dor esperançosa.

Talvez sempre tenha existido lá fora uma garota que feita para mim. E
talvez eu a tenha encontrado novamente. E talvez agora eu seja inteligente o
suficiente para me manter firme e dar a esta mulher, que é uma em um milhão,
cem razões diferentes para parar de fugir.

—Então fique comigo. —Sussurro. —Prometo que vou fazer valer a pena,
esquilo feroz.

Ela dá um grande e belo sorriso que se transforma em uma gargalhada


quando pego sua mão e a puxo para debaixo do jato, ela ainda está rindo quando
coloco minhas mãos em sua bunda e a levanto do chão, trazendo para cima até
que nossos lábios estejam no mesmo nível.

—Cuidado Knight. —Ela diz, dando um beijo na ponta de meu nariz. —Ou
talvez eu tenha que começar a me apaixonar por você novamente.

— Bom. — Eu digo grosseiramente. —Já é hora de me acompanhar.

Seu sorriso desaparece, e ela me fita por um longo tempo, enquanto a


água morna cai em nossos ombros e meu coração bate em um ritmo que
provavelmente é o código Morse do nome dela, e rezo para que veja que não há
motivos para me manter distante.

No final, não tenho certeza do que ela vê, mas deve ter gostado, porque
logo em seguida seu sorriso volta, maior e mais radiante do que nunca. —Então
me beije, sexy. E me coma contra a parede do banheiro como você disse que
queria.

—Eu sempre vou querer isso. —Prometo, esmagando meus lábios nos
dela.

Logo a pressiono entre a parede do banheiro fria e meu corpo quente, e


ensaboo seus seios como se fosse a minha vida. Deixo meus dedos provocarem
sua pele lisa uma e outra vez, até que ela tenha os mamilos mais limpos da área
dos três estados e fique tão excitada que posso sentir a diferença entre a água
quente que cai sobre minha coxa e o calor mais quente e pegajoso de sua boceta
enquanto se esfrega no meu pau.

Espero até que sua respiração acelere e ela comece a gemer na minha
boca enquanto nos beijamos, mas não tenho que implorar esta noite. Não quero
esperar e não quero fazê-la esperar. Só quero senti-la apertada e deslizante ao
meu redor, e saber que estou o mais próximo possível da mulher em meus
braços.

—Oh, Deus, Aidan. Eu amo isso, esse momento, aqui, agora. —Sua cabeça
cai contra os azulejos enquanto deslizo dentro dela, empurrando profundamente
até que estou enterrado até o punho e ela pulsa ao meu redor, cada pulsar de sua
boceta me assegurando de que eu sou bem-vindo, querido, maravilhoso.

Eu sou o suficiente, mais do que suficiente e ela é... perfeita.

Eu quero dizer, que ela é perfeita, sem falhas, a melhor coisa que eu já
senti, mas sei que ela não vai acreditar em mim. Porque quando éramos mais
jovens, eu fui um idiota apressa para pegar as bugigangas mais brilhantes da
prateleira, muito estúpido para perceber que estava passando direto por uma
obra de arte sem um segundo olhar.

Cat é uma obra de arte. Ela é a coisa real, o tipo de pessoa que fica
melhor, mais inteligente, mais engraçada, mais fascinante com a idade. E eu perdi
onze anos dela. Onze anos de Ruiva crescendo, aprendendo e mudando, mas
continuando a mesma porque ela é um diamante em um mundo cheio de pessoas
de vidro.

Também quero dizer isso, que ela é um diamante, forte, transparente,


inquebrável, atemporal... mas não digo, porque ela começa a gozar e tudo o que
eu consigo pensar é. —Sim, oh Deus, sim. Mais, mais, por favor, mais, deixe-me
saber que você gosta disso, querida. Minha Cat. Minha Ruiva. Minha, minha,
minha.

Fique comigo. Fique...

E talvez eu tenha dito algumas dessas coisas enquanto gozava dentro dela,
meu pau pulsando tão forte que vejo estrelas. Eu não sei com certeza.

Eu só sei que quando volto para o meu corpo, ela está pegando meu rosto
em suas mãos e me encarando com um olhar tão suave, doce, maravilhado que
me faz sentir como se o mundo todo tivesse desaparecido e que ela é a única
coisa que ainda está de pé.

E por um segundo estou assustado porque, caralho isso está acontecendo


rápido, e nem tenho certeza se sei como fazer essa coisa de casal, pelo menos,
não do jeito que quero poder fazer por ela.

Mas então ela sussurra: —Ei, Aidan. —Enquanto passa seu polegar pelos
meus lábios.

—Sim, Ruiva. —Digo, com a minha voz rouca e a garganta apertada.

—Você quer juntar as camas e fazer uma cabaninha com os cobertores?

Eu sorrio e assinto incapaz de falar por um minuto. Mas quando


finalmente consigo, não pego a saída fácil que ela está me dando. —Como você
sempre sabe o que dizer?
—Porque conheço você. —Ela diz, me beijando suavemente antes de
sussurrar contra meus lábios. —Mas você não precisa ter medo. Acho que
nenhum de nós precisa ter. Não mais.

Eu aceno suavemente. Porque ela tem razão.

O que há para temer enquanto ela estiver aqui? Quando sei que posso
acordar e fazer isso todo o dia e noite com ela novamente amanhã?

—Tudo bem se eu estiver com um pouco de medo de transar na cama de


cima do beliche? —Pergunto sentido que está na hora de aliviar o clima. Pelo
menos um pouco.

Ela se afasta com um brilho perverso em seus olhos enquanto olha para
mim. —Não, não está tudo bem, você vai ser um homem e me comer na cama de
cima essa noite, e vai acordar amanhã sabendo que você fez o que precisa.

—O que preciso fazer? —Pergunto sorrindo.

—Ser um comedor na cama de cima, o melhor tipo que existe. —Ela diz,
pegando o frasco de xampu e colocando um pouco do liquido âmbar no meu
peito. —Agora limpe sua bunda, soldado.

Simulo uma saudação e passo minha mão pelo meu peito levando a
espuma do xampu até meu pau ensaboando as coisas. —Me dê dez minutos e o
capitão e seu batalhão estarão prontos para entrarem em ação.

Ela sorri enquanto assiste minha mão trabalhar em meu pau. —Perfeito.

Como prometido, dez minutos depois eu a ajudei a juntar os beliches e a


amarrar os lençóis extras criando uma cabaninha, me juntando a ela na cama de
cima. Lá eu a faço gozar com a minha boca e a como novamente na cama de cima,
e, em seguida, ameaço tê-la de novo na cama de baixo, mas ela adormece antes
que eu possa convencê-la a descer a escada.

E então, enrolo meu corpo em torno do dela e mergulho no sono,


determinado a descansar para que possa acordar e fazer tudo isso de novo
amanhã.
CAPÍTULO 30

Dos e-mails não enviados de Catherine Elizabeth Legend

Para: Curvado4SeuPrazer

De: CorraCalcinhaCorra

Re: Eu depois de você

Já se passaram seis meses sem uma palavra. De você ou


sobre você.

Eu não sei onde no mundo você está, ou se está vivo,


mas presumo que esteja. Sinto que se estivesse morto eu
saberia. Isso provavelmente é loucura, mas acho que sou um
pouco louca. Ou pelo menos um completo fracasso quando se
trata de ler as pessoas.

É algo com o qual eu tive que me conformar agora


que você se foi e tudo o que tenho são as coisas que você
abandonou.

Estive lendo todos os bilhetes salvos, cada mensagem e


todas as lembranças dos Corredores que já passou pelas suas
mãos, Curvado. Meu dormitório é um parque arqueológico de
palavras e camisetas divertidas e uma coleção variada de
porta copos de cerveja.
Mas principalmente as palavras. Tantas palavras, mas
em nenhuma delas havia uma promessa de algo mais que
amizade. Isso se escondia entre as piadas privadas e os
sussurros das curvas cuidadosas da sua letra nos bilhetes que
li tantas vezes que a tinta está começando a desaparecer, mas
você nunca disse nada diretamente. Nunca deixou a verdade
sair das sombras ou a nomeou.

Mas isso tinha um nome para mim.

Eu estava apaixonada por você.

Talvez isso te faça rir ou revirar os olhos.

Provavelmente isso te faça sentir pena de mim, a


patética novata que levou dois anos de amizade muito a
sério. Mas não me importo. Eu te amei. E não do jeito bobo
que as meninas do meu dormitório “amam” os garotos. Você
não foi uma paixão ou um atleta de boa aparência que eu
coloquei em um pedestal e adorei sem saber quem você era.
Você era de carne e osso, risos e segredos, lindo e confuso de
um jeito que eu sabia que poderia ajudar a consertar se você
me deixasse.

Do jeito que você sempre me consertou. Você me ajudou


e me mudou em uma dúzia de maneiras diferentes desde o
dia do primeiro encontro até o dia em que você se foi sem se
despedir.

E ambos sabemos que eu não sou louca. Você me deu


uma centena de motivos para pensar que talvez você também
me amasse.

No verão passado eu não tinha nenhuma dúvida...

Mas agora que fiquei tanto tempo sem ver seu rosto...

Eu sinto mais falta dos seus olhos, acho. Eu sinto falta


de olhar para eles e ver o mundo desaparecer e embaçar até
que você seja a única coisa em foco.

Ou talvez fosse eu que estivesse em foco.

Você me fez sentir como se alguém finalmente me visse.


Viu e não encontrou nenhuma razão para ficar desapontado.
Quando nós estávamos juntos, eu esquecia que passei a
minha vida toda decepcionando o único homem que já me
amou. Você sabia todos os meus segredos, e mesmo assim
ainda gostava de mim. Você sabia o que era vagar em um
mundo de pessoas idiotas sem nunca encontrar alguém real o
suficiente para se segurar, até uma manhã de setembro dois
anos atrás.

Ou assim eu pensei. Eu sabia que você estava com


medo, eu também estava, ou não teria demorado dois anos
para beijá-lo. Mas eu tinha certeza de que você
eventualmente conseguiria reunir a coragem para admitir
que você me amava.

Eu soo patética, não?

E eu fui. Fiquei triste e patética por muito tempo.


Mas agora há dias que não sinto a sua falta. Dias que
não penso em você, ou imagino onde você está, ou me importo
se você está pensando em mim. E nesses dias sei que eu estou
melhor sem você. Porque eu mereço alguém corajoso o
suficiente para se importar, corajoso o bastante para dar
todos os foda-se, porque é para isso que o foda-se serve. Para
dá-los as pessoas que os valorizem.

Mas agora é tarde demais. Agora sei que estou melhor


sozinha do que perdendo meu tempo tentando convencer um
covarde a ser corajoso. Eu costumava pensar que poderia ser
corajosa o suficiente por nós dois. Mas não existe um
transplante de coragem, e eu preciso da minha para fazer os
meus outros sonhos se realizarem.

E esses sonhos já não incluem você.

Se você estiver pensando em entrar em contato comigo,


não entre. Se não estiver, tome um minuto para se sentir um
bosta, você merece isso, e depois volte a me esquecer.

Eu já voltei a te esquecer.

Adeus e boa sorte,

Catherine Elizabeth Legend

(Porque depois de tudo isso, por alguma razão idiota,


eu ainda quero que você saiba o meu nome).
CAPÍTULO 31

O dia seguinte amanhece ensolarado e lindo, mas Cat e eu fingimos que


está chovendo e ficamos na nossa cabaninha do beliche toda a manhã. Ela
prepara o café da manhã vestindo nada mais do que um avental minúsculo que
encontrou debaixo da pia, enquanto luto para manter minhas mãos quietas
tempo o suficiente para aproveitar o show.

Ela está linda andando pela cozinha, sua pele pálida brilhando na luz da
manhã e o avental com desenhos de morangos vermelhos combinando com seu
cabelo. Eu mantenho o controle até que ela se aproxima e inclina para colocar
açúcar no meu café e um de seus mamilos escapa e depois bem...

Vamos apenas dizer que minha madrasta não ficaria feliz em saber o que
comi no café da manhã em sua mesa.

Mais tarde, depois de ter feito Cat gozar alto o suficiente para irritar um
bando de gansos do lado de fora da nossa janela, eu peguei a comida que o
cozinheiro de Julie deixou no degrau da frente e nós rastejamos para a nossa
cabaninha para comer, porque comer em uma cabana é sempre duas vezes mais
divertido, e muito melhor fazer amor nas migalhas antes de ir para o banho
limpar a bagunça.

Nós pretendíamos tomar banho rapidamente e irmos até a casa principal


cumprimentar os meus pais, mas lavar as migalhas das costas de Cat acabou se
tornando em lavar seu cabelo o que por sua vez acabou se tornando em uma
tarefa inesperadamente sexy que terminou com ela com as palmas das mãos
contra a parede enquanto eu a comia por trás.

Quando finalmente ficamos prontos para interagir com o mundo externo


do nosso amado chalé já era hora do almoço. Fomos até o celeiro e encontramos
Julie almoçando no pátio com dois de seus cinco funcionários da degustação e
meu pai, felizmente, trabalhando na terra. Julie trouxe macarrão extra e salada e
pão para Cat e para mim, apenas no caso, e nos entregou uma cesta de
piquenique sem nem mesmo nos pedir para ficarmos para comer com ela e sua
equipe. Ela apenas nos avisou de que terá um jantar elegante entre as videiras as
oito e que espera que participemos.

Cat e eu levamos nossa cesta de piquenique até a minha árvore favorita, a


escalamos e comemos enquanto assistimos os veleiros à deriva na superfície azul
do lago.

—Esse é o lugar mais mágico. —Ela diz, levantando o rosto para a brisa
jogando seus cabelos para trás. —Acho que quero viver nessa arvore.

—É a melhor. —Concordo. —Eu costumava vir aqui para desenhar quando


criança.

—Então aquelas paisagens no seu dormitório eram suas. —Ela diz com um
sorriso. —Eu sempre me perguntei.

—Não posso acreditar que você se lembra delas. —Pego outro pedaço de
pão e passo para ela.

—Lembro-me de tudo sobre o Curvado. —Ela diz usando o antigo apelido.


—Eu realmente gostava dele, mas tenho que confessar que gosto ainda mais de
Aidan.

—Fico feliz. —Eu me inclino para mais perto dela. —Porque Aidan está
louco por você.

Ela inclina a cabeça para o lado, mas quando tento beijá-la ela se move
para longe do meu alcance. —Isso é verdade Aidan Knight? Porque não consigo
parar de pensar que a qualquer segundo vou acordar e tudo isso será apenas um
sonho bonito induzido pelo vinho e aí ficarei triste.

—Não é um sonho, Catherine Elizabeth. —Digo meio tonto com a ressaca


de sexo e do seu cheiro tão doce e perto. —A única coisa que você tem para se
entristecer é que vou te levar de volta para a cidade fedorenta no domingo. Mas
prometo levar vinho e uma pintura ou duas da paisagem para a sua casa na
segunda à noite se estiver tudo bem para você.

—Eu adoraria isso. —Ela solta a respiração, aquecendo meus lábios. —Eu
mal posso esperar para ter um Knight original pendurado na minha parede. Será a
minha coisa mais preciosa.
—Não, meu pau insiste que ele deveria ser a sua coisa mais preciosa.

Ela ri suavemente. —Então ele me pertence agora?

—Da curva as bolas. —Digo envolvendo meus dedos em seu cabelo. —Ele
é todo seu, linda.

E então a beijo e não leva muito tempo para querer fazer algo mais. Mas
nós estamos em uma árvore, e embora Cat provavelmente tenha coordenação
suficiente para fazer sexo no galho de uma árvore, eu não tenho. Então
arrumamos nossas coisas e corremos para o chalé onde a tenho de volta em
nossa cabaninha de beliche, fazendo amor até que o prazer seja tão intenso que
tenho certeza de que vou morrer.

Mas não morro; eu caio. Caio em seus olhos e em seu coração,


profundamente nessa pessoa que não quero mais viver sem. E enquanto a abraço
e ela dorme em meu peito, eu me pergunto se esse é um momento que
falaremos mais tarde, quando contarmos a nossa história. O momento em que eu
soube que estava apaixonado por Ruiva e ela, espero, soube que estava
apaixonada por mim.

Tudo é perfeito.

Tão perfeito que uma parte de mim se preocupa que algo acontecerá e
estragar tudo. Mas depois de um momento, eu me obrigo a descartar esse
sentimento ameaçador.

Nós estamos seguros na casa de meus pais e logo todas as coisas ruins
estarão no passado.

Eu durmo a tarde inteira e acordo a tempo de me vestir para levar Cat ao


jantar chique de Julie sem uma preocupação. Nós seguimos de mãos dadas pelas
videiras, e finjo não olhar para ela, mas memorizo o quanto ela perece linda ao
pôr do sol, com seu cabelo vermelho ardente, a pele brilhante e seus olhos
faiscando apenas para mim.

Encontramos os amigos de meus pais, ajudamos a abrir muitas garrafas de


vinho e nos sentamos para apreciar os quatro pratos de comida divina. Quando
terminados a nossa salada, estamos em uma conversa profunda com o casal a
nossa frente e a mulher mais velha a minha direita. Cat é tão boa com as pessoas,
charmosa com todos incluindo meu pai, mas ela é apenas Cat comigo, eu a tenho
sem filtro, o que me deixa ridiculamente feliz.

Estou tão feliz que me esqueci de esconder isso.

Eu deixo transparecer em uma dúzia de maneiras, da mão na parte baixa


de suas costas durante o prato principal ao beijo, que não pude deixar de
pressionar em sua bochecha quando ela teve um lapso na fala, que enviou as
pessoas em nossa mesa a risadas incontroláveis. Ela é maravilhosa e minha e eu
estou tão apaixonado por ela que abaixo todas as minhas defesas.

Então quando meu pai me puxa de canto antes da sobremesa, enquanto


alguns aproveitam para usar o banheiro e outros observam o pôr do sol, vou sem
discutir e não só isso, vou sem me preocupar com o que ele quer, sem me
preparar para qualquer discussão.

É idiota. Mas o amor deixa as pessoas idiotas. A loucura de Bash e Penny


no Prospect Park deveria ter me ensinado isso, mas aparentemente não aprendi a
lição.

Então, eu estava totalmente despreparado para o forte abraço que recebi


do meu pai enquanto ele diz: —Isso me deixa feliz, filho.

Eu luto contra a vontade de recuar surpreso e então, desajeitadamente,


fecho meus braços em torno de Jim, não querendo admitir que é bom abraçar o
bastardo rabugento. —Bem, obrigado pai, tem sido uma boa visita.

—Eu não estou falando da visita. —Ele diz sem rodeios. —Estou falando
de Catherine. Eu nunca achei que veria esse dia, mas você fez uma boa escolha
filho. Ela é uma boa pessoa. Ela será uma linda noiva, uma parceira forte para
você e uma mãe maravilhosa para os seus filhos.

Meus olhos se arregalam. Estou tão chocado que não consigo pensar em
nada para dizer. Eu simplesmente fico lá parado e piscando como um idiota,
enquanto meu pai me dá fortes batidinhas de encorajamento no braço.

—Então, quanto tempo você acha? —Ele pergunta com um brilho nos
olhos. —Quanto tempo antes de vocês me darem meu primeiro neto?
CAPÍTULO 32

Um neto.

Um neto, em particular, alguém para continuar o nome Knight, o legado


dos Knights como tanoeiro, e tornar os sonhos do meu pai, aqueles que matei
anos atrás, em realidade.

É por isso que o meu pai está tão feliz. Foi por isso que ele me abraçou
pela primeira vez em anos e sorriu para mim do jeito que sorria antes de eu
cometer o pecado imperdoável de escolher viver a minha vida do meu jeito.

Isso é o suficiente para me deixar doente. Fisicamente doente. Meu


estomago começa a revirar, o ácido sobe pela minha garganta e por um segundo
acho que terei que correr até os arbustos ao lado das árvores.

Mas passei minha vida adulta inteira aprendendo a não me importar com
o que meu pai quer ou com o quanto eu o desapontei. Então engulo o mal-estar e
devolvo as batidinhas no ombro, abafando a faísca da preocupação antes que se
torne uma chama. Vou esclarecer as coisas com ele, voltar para Cat o mais rápido
possível e esquecer que por um momento pensei que Jim e eu poderíamos nos
dar bem novamente.

Não tenho que dar explicação porra nenhuma a Jim, não lhe devo
explicação há anos.

—Julie e eu queremos que se casem na vinícola. —Ele diz, com um brilho


no olhar que não é mais distante. Frio.

E daí que meu pai parece a ponto de chorar de felicidade? Isso é problema
dele, esse é o preço que se paga por passar a vida toda enterrado nos negócios
familiares de trezentos anos.

—Mas se Cat preferir outro lugar tudo bem, também. —Ele continua. —
Vou cobrir os custos de qualquer forma.

—Que gentileza sua, pai. —Digo friamente, colocando minhas mãos nos
bolsos. —Muita gentileza.
Ele dá de ombros descartando minha gratidão. —Eu sei que normalmente
é a família da noiva que paga, mas não parece que ela tenha uma. —Ele olha ao
redor, seu olhar se suavizando. —E isso não importa. Ela logo será parte da nossa
família.

As palavras cortam minhas defesas como uma lâmina afiada que fere
minhas costelas. —Você realmente gosta dela, não é?

Os lábios de Jim se fecham, suas sobrancelhas se juntam. Seu rosto


pensativo. —Catherine?

—Não, a outra mulher com que você acha que eu deveria casar.

Seus olhos se apertam e sua expressão vai de pensativa para a expressão


“não foda comigo”. —Então vocês dois ainda não conversaram sobre isso?

—Não pai. —Digo. —Nós não conversamos. Eu nem sei se ela quer ter
filhos, muito menos se ela...

—Então você deveria descobrir. —Ele diz com frustração em seu tom. —
Você não está ficando mais jovem Aidan. Quando eu tinha a sua idade já estava
casado há seis anos e tinha uma criança de dois anos. Se você não tiver cuidado e
continuar brincando vai desperdiçar sua vida inteira.

—Então a minha vida é um desperdício? —É uma pergunta puramente


retórica. Eu sei exatamente o que meu pai pensa das minhas escolhas de vida. —
Só porque decidi não gastar algumas décadas moldando barris você acha que a
minha vida inteira é um desperdício?

—Não foi isso o que eu disse. Não é sobre o trabalho, é sobre a falta de
respeito com as coisas que realmente importam como a família e a tradição e...

—A família não pareceu importar para você quando voltei do Japão. Você
colocou “devolução ao remetente” no meu cartão de natal pai, pelo amor de
deus. —Digo tentando manter meu tom calmo. —Se Julie não tivesse adoecido
você teria ficado feliz em fingir que nunca teve um filho.

—Você me cortou da sua vida primeiro. —Ele me olha nos olhos. —Você
fugiu para o Japão sem dizer a ninguém onde ia. Durante três dias depois de
chegarmos em casa da cerimônia de formatura, eu não tinha ideia de onde você
estava. Você parou para pensar que sua mãe, Julie e eu ficamos preocupados com
você?

—Enviei um e-mail assim que pude, mas eu...

—Eu chorei, seu bastardo. —Ele diz, me cortando antes que eu possa me
desculpar pelos pecados dos meus vinte e dois anos. —Achei que você tinha se
embebedado e entrado com o carro no lago ou entrado em uma briga e sido
enterrado no quintal de algum psicopata.

—Desculpe, pai. —Digo, a garganta apertada com a raiva e vergonha. —


Eu nunca quis te aborrecer. Mas foi a única maneira que arranjei para sair.

—Besteira. —Ele atira baixinho, obviamente, tentando esconder nossa


discussão do resto da festa. A julgar pelas risadas que cortam a noite, parece que
todos estão se divertindo. —Você foi criado bem. Você pode encontrar todos os
defeitos em mim, mas sua mãe e Julie te ensinaram boas maneiras.

—Sim elas ensinaram. —Cerro meu maxilar e seguro a minha língua


firmemente na parte de trás dos meus dentes, ordenando a minha boca que se
mantenha calada. Mas a maldita, não está para receber ordens. —Mas você me
ensinou a ter medo de te decepcionar, e quando eu estava no caminho para o
Japão essa lição era a única que importava. Eu sabia que se dissesse a você o que
faria, havia uma chance de você me convencer a mudar, e então eu teria te
odiado. E eu não queria te odiar, pai.

Eu engulo e sinto como se estivesse empurrando um punho na minha


garganta em vez da minha própria saliva. Deus, eu só queria poder me calar e ir
embora antes que isso piorasse.

Mas em vez disso digo. —Eu ainda não quero te odiar. E eu não quero que
você me odeie, ou que decida me abraçar pela primeira vez em muito tempo só
porque gostou da minha namorada e acha que ela seria uma boa incubadora para
seus netos.

—Catherine é uma jovem encantadora, eu nunca...

—E mesmo se eu quisesse me casar com Cat. —Corto. —O que


honestamente não passa pela minha cabeça agora, eu...
—Por que não?

—Eu mal a conheço, porra. —Explodo. —E nós não estávamos namorando


oficialmente até ontem, e antes de segunda-feira eu não via essa mulher há onze
anos. Onze anos, porra e voltando no tempo ela era uma maluca na maior parte
do tempo.

—Pare com isso, Aidan. —Meu pai grita e aperta a boca com força. —Não
há necessidade de ofender Cat porque você está com raiva de mim.

—Eu a vi pegar uma cascavel com as próprias mãos, pai! —Atiro. —Duas
vezes! E eu passei várias horas impedindo dela fazer merdas que a levariam direto
para o escritório do reitor ou pior. Eu só quero conhecê-la de novo, ver se ela é o
tipo de louca com quem posso lidar, e se combinamos. Casar-me com ela e
pressioná-la a ter filhos para satisfazer suas expectativas é a última coisa na
minha cabeça.

Meu pai não responde ou encontra meu olhar. Seus olhos estão fixos em
algo atrás de mim. Mesmo antes de falar eu sei o que, ou melhor, quem é.

Eu sinto o cheiro doce, misterioso e picante de Cat um segundo tarde


demais.

Caramba.

—Sinto muito que você teve que ouvir isso. —Meu pai diz a ela com os
olhos tristes. —É minha culpa. Na minha idade eu já deveria saber que não é bom
presumir as coisas. Especialmente se envolve meu filho.

Eu praguejo baixinho enquanto viro, meu estômago se revirando quando


vejo Cat de pé sob a luz fraca das lanternas, me observando com uma expressão
ilegível. Porque ela não quer que eu a leia, porque ela fechou a porta para si
mesma e me deixou do lado de fora.

—Desculpe. —Digo levantando minhas mãos. —Eu não quis...

—Sem problemas. —Ela diz e olha para o meu pai. —E não se desculpe
Jim. É bom ouvir o que as pessoas realmente pensam. Eu era meio louca quando
eu e Aidan nos conhecemos. Eu era uma adolescente, mas ainda assim...
Minha respiração acelera. —Por favor, Cat, me desculpe.

—Vou deixar vocês dois sozinhos. —Meu pai se retira, voltando para a
festa e me deixando sozinho para arrumar a bagunça que eu mesmo fiz.

Coloco as minhas mãos nos meus quadris e deixo minha cabeça pender
enquanto espero que meu pai fique fora do alcance da voz, desejando que eu
pudesse rebobinar o tempo e nunca ter saído da mesa de jantar. Eu estava com
tanta raiva que mal consigo me lembrar do que disse, mas sei que foi uma merda
e não era verdade, e machuquei a única pessoa que eu nunca quis machucar.

E enquanto fico lá, começando a suar porque não sei como tornar isso
melhor, eu percebo nessa hora que “para sempre” com Cat estava nos meus
planos. Eu não pensei em casamento, mesmo porque presumi por anos que
nunca me casaria, mas pensei em como seria bom acordar com ela todas as
manhãs. Fazer amor com ela todas as noites e saber que nunca vou ficar sem
razões para sorrir porque a pessoa que mais me faz feliz aceitou compartilhar sua
vida comigo.

Compartilhar si mesma comigo.

Na noite passada, ela confiou em mim o suficiente para me deixar entrar,


de todas as formas, e eu a recompensei falando besteiras. E agora essa boca, a
mesma que estava tão ansiosa para vomitar besteiras para o mundo há poucos
minutos, não consegue pensar em uma maldita coisa para dizer.

—Recebi uma ligação do detetive Lipman. —Cat diz em meio ao silêncio.


—Mas o sinal estava ruim e a ligação foi cortada. Levantei para ver se o sinal era
melhor aqui na colina, eu não estava te espionando.

—Eu sei que você não estava. —Corro a mão pelo meu cabelo. —Você
deveria ligar para ele, isso pode esperar.

Ela segura o telefone e o balança de um lado para o outro. —Sem sinal


aqui também, vou ligar quando voltar para o chalé, acho que todo mundo já está
terminando a sobremesa.

Novamente, eu gostaria de ter ficado sentado à mesa. Se eu tivesse


estaria comendo outro pedaço de torta de morango em vez de tentar superar a
primeira fase difícil do meu relacionamento de apenas um dia.

—Eu realmente sinto muito. —Repito. —Eu não quis dizer nenhuma das
besteiras que eu disse. Eu estava chateado e acabei falando merda.

—Por que você estava chateado? —Ela cruza os braços se aproximando,


mas não muito. Ela para quando ainda há uma boa distância entre nós, deixando
claro que não está tudo bem.

Eu balanço minha cabeça. —Nada. Eu só esqueci por alguns minutos que


não devo dar a mínima para o que o meu pai pensa, mas estou melhor agora e
estou... —Clareio a minha garganta, procurando algo melhor para dizer do que as
mesmas desculpas esfarrapadas, mas não encontro nada. —Merda, eu sinto
muito.

—Você sente? —Ela pergunta cruzando os braços com mais força.

—Lamento? Sim, muito. Juro que lamento.

—Não, não que lamenta. —Ela fecha os olhos por um segundo e abre
novamente. —Eu me refiro, a você está melhor? É realmente melhor não se
importar com o que o seu pai pensa? Quero dizer, ele é seu pai.

—Sim, é definitivamente melhor não me importar. —Escondo minha


irritação. Cat não tem ideia de como as coisas estavam ruins entre mim e Jim. Eu
deliberadamente lhe dei apenas a versão compacta, para que ela não pensasse
que eu era louco por trazê-la aqui. —Me preocupar com Jim Knight só me leva a
ficar com raiva e a dizer coisas estúpidas. Ele nunca vai mudar de ideia e nem eu.
Seria estupidez investir mais tempo, energia ou preocupação com aquele homem.
Ele escolheu há muito tempo o que importa para ele, e eu com certeza não
importo.

—Isso não é verdade. —Cat diz —Seu pai absolutamente se preocupa com
você. Você deveria ver como ele te olha quando você não está prestando atenção
Aidan. Ele te ama muito.

Eu flexiono meus ombros, mas eles continuam tensos. —Não quero falar
sobre isso.

—Mas, eu quero. —Ela diz. —Acho que é hora de você parar de afastar
seu pai e lhe dar uma segunda chance de verdade.

—Que diabos. —Digo em meio a uma risada tensa. —Vocês dois se


apegaram rápido, não foi? Você percebeu que as pessoas normalmente não
gostam de Jim, não é? Ele não é do tipo caloroso e afetuoso que faz amigos logo
de cara.

—Sim, e nem eu. —Ela diz com a voz mais firme. —Mas você ainda me
trouxe para casa e me comeu meia dúzia de vezes entre ontem à noite e hoje à
tarde. Mesmo eu sendo uma maluca que você começou a namorar ontem.

—Qual é, Cat. Eu já falei que não quis dizer nada daquilo. —Eu me
aproximo dela, que se afasta e seus ombros tensos deixam claro que meu toque
não é bem-vindo.

Eu entrelaço minhas mãos atrás da cabeça e pressiono contra meus


dedos, lutando contra o desejo de puxá-la em meus braços, levá-la de volta para o
nosso chalé e fazê-la gozar até que ela se esqueça de toda essa merda que eu
disse. —Por favor, Ruiva. Nós não podemos esquecer o que aconteceu nos
últimos dez minutos?

—Com certeza. —Ela sorri, com uma curva em seus lábios que faz com
que eu me sinta ainda pior do que a um segundo atrás. —Eu bebi três taças de
vinho, então tenho certeza de que a maior parte desta noite estará um pouco
confusa amanhã. Mas preciso retornar o telefonema do detetive. —Ela se afasta e
aponta para a festa que ainda está acontecendo. —Você pode dizer boa noite a
todos por mim? Acho que vou para a cama depois de fazer a ligação. Não estou
acostumada a tomar vinho duas noites seguidas.

—Deixe-me descer com você. —Avanço em sua direção, mas ela me para
com um aceno de cabeça.

—Não, Aidan. —Ela passa a mão pelo cabelo enrolando os fios de seda em
um punho. —Eu disse que as coisas vão ficar meio nubladas amanhã, mas agora
eu me lembro de cada palavra que você disse. E eu realmente não quero ir a
nenhum lugar com você.

Meus olhos se fecham quando uma onda de arrependimento me golpeia o


estômago, a garganta e mais alguns lugares entre os dois. —Porra, Cat, sinto
muito. —Abro meus olhos à procura dos dela. —Quantas vezes você quer que eu
diga isso? Vou dizer cem vezes se for preciso. Porque é verdade. É a única coisa
verdadeira que eu disse nos últimos...

—Sério, Aidan. —Ela diz, me cortando com um aceno de mão. —Estamos


bem. Eu só quero ficar um pouco sozinha, não preciso de mais desculpas.

—Então vou mantê-las para mim mesmo. —Digo em uma tentativa de


piada, sem sucesso. —Apenas me deixe acompanhá-la, assim eu saberei que você
está segura.

—Eu estou segura. Tenho certeza de que é para isso que Lipman está
ligando. Além disso, não houve nenhum carro na estrada por horas. —Ela dá mais
um passo para trás, lançando suas feições em uma escuridão quase completa. Eu
não tenho ideia de qual é a sua expressão quando ela diz. —Todos os outros
hóspedes já devem estar dormindo profundamente, e logo eu estarei também.
Vejo você pela manhã. Você fica responsável pelo café dessa vez. Mas sem o
avental. Eu não acho que ele chegaria perto de cobrir suas coisas.

—Tudo bem. —Sorrio, mas sinto a tristeza em meus lábios. —Devo ficar
na cama de baixo essa noite? E você na de cima?

Eu aguardo sua resposta, rezando para que ela diga que eu deveria me
juntar a ela na cama de cima para pagar devidamente pelos meus pecados. Mas
em vez disso ela diz: —Isso soa bem. Boa noite Aidan.

—Boa noite. —É apenas um boa noite, mas quando ela se vira e começa a
descer o caminho entre as videiras, indo em direção as luzes que levam aos
chalés, parece que foi um adeus.

Eu deixo minhas mãos cair em punhos ao meu lado e observo-a ir,


odiando ter estragado as coisas. Por que Jim não manteve para si mesmo os seus
planos de transformar o meu futuro filho em seu escravo produtor de barris, por
pelo menos mais uma ou duas semanas? Nesse tempo eu já teria voltado para a
cidade, e nunca atenderia um telefonema dele no mesmo cômodo que Cat.
Porque sou mais esperto que isso. Quando minha guarda está alta, consigo não
deixar nenhuma abertura em minhas defesas, e nem besteiras que me fazem
sentir como um merda rastejarem para dentro.
Mas também não há abertura para as outras coisas. As coisas boas. Para a
esperança e felicidade e todas as coisas que ela te faz sentir.

Isso realmente pode funcionar assim?

Será que você pode se fechar para o mal sem se fechar para o bem
também?

Eu não sei. Mas sei que tenho que concertar as coisas com a Ruiva. Eu não
estou nem perto de ter terminado com ela, conosco, com o que seremos um para
o outro.

—Eu vou consertar as coisas com você. —Sussurro para sua sombra
enquanto ela desaparece, silenciosamente enviando outro pedido de desculpas
para ela antes de voltar para a festa.

De volta à mesa, eu me desculpo com Julie por Cat, ignoro meu pai e
prometo ao adorável casal que trouxe a sobremesa, que irei levar um pedaço do
bolo de morango para o chalé para que Cat possa comê-lo amanhã. Eu ajudo a
terminar uma garrafa de vinho tinto que Julie abriu para harmonizar com os
morangos e depois me encarrego de reunir todo o lixo reciclável no carrinho de
mão e o orgânico em uma tigela de salada vazia para ser adicionado à pilha no
quintal dos fundos.

Eu me esforço para passar pela “festa pós jantar” ignorando os olhares de


Julie me sondando e os ombros rígidos de meu pai, me lembrando de que isso
poderia ser pior.

Cat está ferida e desapontada, mas está sã e salva e vai dormir na cama
acima da minha, perto o suficiente para que eu possa ouvi-la respirar e espero
que minhas vibrações silenciosas de “perdoe-me” possam penetrar a camada
externa de suas defesas. Realmente, apesar de tudo ela está sendo muito calma
em relação a isso.

Calma demais...

—Merda. —Eu xingo, colocando a tigela de salada nas mãos de Julie.

—O que? —Ela pisca sob a luz do holofote do celeiro, ativado por


movimentos. —O que está errado?
—Cat nunca é calma assim quando está chateada. —Eu digo já correndo.

—O que? —Julie fala atrás de mim. —Aidan o que está errado? Você e Jim
brigaram outra vez? Eu disse a ele para não falar nada sobre casamento ainda,
mas ele nunca me escuta.

—Eu explico mais tarde. —Grito sobre meu ombro, sabendo que não há
tempo a perder.

Cat e eu estamos mais velhos, mais sábios e geralmente mais sensatos e


racionais do que quando estávamos na faculdade. Nós crescemos e nos
adaptamos completamente a nossas peles adultas, e aprendemos nossas lições
com os erros que cometemos no passado. Diabos, após onze anos somos
praticamente pessoas diferentes.

Exceto que não somos. Não, na verdade.

Meu pai ainda me irrita mais do que ninguém e aposto todo o meu
dinheiro que a Ruiva ainda finge que está bem quando realmente está devastada.

Corro mais rápido, esperando estar errado, mas quando chego ao chalé,
não fico surpreso em não encontrar nenhum sinal de Cat. Checo a casa principal,
o celeiro e em seguida faço outra verificação na casa e no banco de trás do Rolls
de Shane, só para me certificar, mas Cat está longe de ser encontrada, ela
desapareceu, como um animal que se esconde para lamber suas feridas, do jeito
que ela sempre fez.

Ela ainda é a mesma Calcinha que conheci de muitas maneiras.

Exatamente gênio! É por isso que estar com ela parece tão certo.

Você diz que nunca esteve realmente apaixonado, mas a verdade é que
você nunca deixou de estar. Você esteve apaixonado por essa garota desde que
eram duas crianças e agora em apenas um dia você estragou o resto da sua vida.

Com outro xingamento volto para a casa principal para contar a Julie o
que aconteceu e pedir o seu conselho. Acho que já procurei em todos os lugares
que Cat poderia estar, mas outra mulher pode ter um instinto melhor. E de
qualquer forma preciso que Julie fique de olho em Cat e me prometa que vai
cuidar de Ruiva caso ela apareça em sua porta no meio da noite precisando de um
copo de água e um lugar para ficar.

Cat pode não querer mais nada comigo, mas ainda preciso mantê-la
segura.

Preciso disso como preciso de poucas coisas em minha vida. Enquanto ela
estiver segura há uma chance de me perdoar, que ela vai ver que sou falho e sem
noção às vezes, mas que vou compensar isso por amá-la. Amá-la de todas as
maneiras que ela precisa ser amada, maneiras que só eu posso amá-la porque eu
sou dela e ela é minha.

Mas, mesmo enquanto espero pelo melhor, algo dentro de mim insiste
que Cat se foi. Talvez para sempre.

E então a meio caminho da casa principal, recebo uma chamada de


Lipman, e fico sabendo que Cat nunca retornou sua ligação. Eu fiquei sabendo
que a operação policial foi um sucesso, exceto por uma coisa, um detalhe, uma
pessoa que não estava onde deveria estar essa noite.

Nico Mancuso, que deixou a cidade e suspeita-se de estar a caminho de


Ithaca, Nova York.
CAPÍTULO 33

E agora Catherine Elizabeth Legend solicita um intervalo.

Ei, você. Sim, você.

A que está folheando as páginas deste livro.

Você provavelmente está pensando que esse é o capítulo onde teremos a


visão do ponto de vista da heroína enquanto ela corre de volta para sua casa,
devastada pelas coisas estúpidas e dolorosas que o herói disse. Talvez você esteja
esperando lágrimas ou raiva ou algum tipo de monólogo interior atormentado
sobre o quanto ela foi estúpida por ter esperança por aquele que se há tanto
tempo, quando ela sabe muito bem que o homem em questão não era capaz de
ter um relacionamento duradouro.

Mas isso não vai acontecer.

Eu me recuso. Não vale a pena fazer isso. Aidan é quem ele é e eu sou
quem eu sou, e se nós estivéssemos predestinados, teríamos ficado juntos da
primeira vez.

Mas não estamos. E está tudo bem.

Mais do que bem. Eu gosto de quem sou sem Aidan Knight. Eu tenho um
ótimo trabalho, amigos maravilhosos, a cachorrinha mais adorável do universo, e
o resto da minha vida à frente para superar o pesadelo com Nico e um grande
idiota, estúpido e bonito que me fez pensar que sonhos poderiam se tornar
realidade. Até mesmo os loucos sonhos românticos.

Mas não quero mais brincar de romance.

Eu preferiria estar em uma história de ficção feminina. Talvez Julie e eu


possamos nos unir, expulsar os homens teimosos e obstinados de sua casa, e
administrar a vinícola sozinhas. Ela seria a figura materna que eu sempre quis, eu
seria a filha que ela nunca teve, e nós viveríamos tão felizes.
Pelo menos por alguns capítulos.

Até que se revele que Julie sofre de demência precoce. Então eu teria que
passar o resto do livro cuidando dela enquanto sua saúde piora, ao mesmo tempo
em que aprenderia lições valiosas sobre a natureza fugaz do tempo e a disposição
imprevisível do destino. E talvez em algum ponto, logo antes da pior parte,
quando descobriremos que Julie não está respondendo bem aos seus
tratamentos, eu teria um caso com o cara contratado para fazer a colheita.

Mas isso não seria parte da trama central, e ele definitivamente não
partiria meu coração.

Sim, todos nós acabaríamos chorando no final da história, quando Julie


entrasse no lago, escolhendo o suicídio durante um momento de lucidez, a fim de
ser a arquiteta da própria morte, mas haverá esperança, também. Haverá
gatinhos nascidos em um canto do celeiro, ou uma nova espécie de uva criada e
nomeada como Julie. Ou talvez eu descubra que estou grávida do cara da
colheita, e o livro terminará quando eu perceber que Julie me ensinou como ser a
mãe que eu queria ser. Eu ficarei de pé com a mão na minha barriga olhando para
o Lago Cayuga desejando que seja uma menina para que eu possa dar o nome da
mulher que escolhi para ser minha família.

Ou se isso for muito deprimente, poderíamos fazer uma ficção científica.

Talvez Aidan e eu acordássemos na mata onze anos atrás sem ideia de


como chegamos lá, mas com todas as nossas memórias intactas, e nós teríamos
que resolver o mistério do nosso futuro-passado. Ou talvez chegássemos em casa
do trabalho uma tarde para descobrir que nós dois nos metamorfoseamos em
insetos enormes. Temos uma enorme discussão sobre quem vai fazer o jantar
agora que ambos temos tentáculos em vez de mãos e acabaríamos pedindo uma
pizza e comendo o entregador.

Isso poderia gerar uma boa discussão em um clube do livro.

Nossa transformação é uma declaração sobre o atual estado sócio político


do mundo ocidental? Ou talvez seja a representação do sentimento de alienação
do autor do gênero romance. Ou talvez seja apenas uma maneira realmente
assustadora de dizer que o amor é difícil, e que às vezes transforma pessoas
perfeitamente decentes em insetos desagradáveis, que vomitam ácido sobre os
que estão ao seu redor em vez de examinar seu relacionamento e fazer mudanças
positivas.

Ou talvez devêssemos parar essa história agora.

Antes que eu chore.

Antes que eu comece a me odiar por saltar para o fundo de um poço de


emoções depois de menos de quarenta e oito horas com meu melhor amigo que
eu pensei que nunca veria novamente.

Parar antes que um homem saia de trás da porta do chalé e coloque sua
mão sobre minha boca sussurrando. —Você sentiu minha falta Catherine? —
Enquanto enfia algo afiado no meu pescoço.

Eu vacilo, dor inunda meu corpo e meus músculos ficam moles. Perco a
consciência no meio de uma tentativa infrutífera de pedir ajuda.

E para ser completamente honesta, quando apago, meus últimos


pensamentos não são sobre insetos gigantes, discussões de clube de livro ou
figuras maternas. Meus últimos pensamentos são sobre Aidan e o quanto eu
gostaria de ter ficado e lutado por nós, em vez de fugir. Porque estou apaixonada
por ele, claro que estou, eu sempre estive desde o momento em que vi seu rosto
peludo e idiota.

Então, acho que essa é uma história de amor, mesmo.

E acho que deveríamos voltar a isso antes que seja tarde demais para
provar que, com amor suficiente, é possível encontrar o caminho de volta para as
coisas preciosas que você perdeu.
CAPÍTULO 34

Nico sabe que ela está aqui. Ele sabe. Ele sabe. Ele sabe…

Esse conhecimento escorrega em minha cabeça, como um verme


carnívoro, devorando minha sanidade. Eu nunca deveria ter trazido Cat para cá.
Subestimei seu ex pela segunda vez, e agora talvez ela não viva tempo suficiente
para que eu possa consertar meu erro.

Nem a polícia suspeitava que Nico estivesse rastreando as compras do


cartão de crédito de Cat, ou que nossa parada no shopping seria a pista que
indicaria que ela estava comigo no norte do estado, mas isso não importa. Eu
deveria ter ficado colado ao lado dela até que soubesse sem sombra de dúvidas
que ela estava segura.

Agora a minha única oportunidade de consertar as coisas é chegar a ela


antes que Nico a machuque.

Acendo todas as luzes da casa principal, pego uma lanterna no armário


por precaução e rastreio o chão ao redor de cada saída por pistas. Graças a Cat eu
sei um pouco sobre rastreamento e como ler as pegadas na terra. Mas todas as
que levam a casa de meus pais pertencem aos convidados do jantar ou a um
coiote que circulou o portão do galinheiro várias vezes antes de voltar para o
bosque entre aqui e o lago.

—A polícia está vindo. —Julie diz do deck com vista para o jardim. —Eles
têm carros vindo de Ithaca e descendo a rodovia na direção contrária, além de
estarem montando barreiras. Eles vão encontrá-la querido. Eu sei que sim.

—Vou olhar em volta do chalé. —Digo andando pelo jardim.

—A polícia disse que deveríamos ficar dentro de casa Aidan. —Julie grita
atrás de mim. —Por isso todos os convidados estão em nosso porão, docinho. As
pessoas que pegaram Cat ainda podem estar por perto e não é seguro você ficar
por aí.

—Pelo menos não desarmado. —A voz de meu pai está próxima, mas
quando me viro, levo um momento para vê-lo. Ele está parado nas sombras que
levam a área de armazenamento da casa. À medida que meus olhos se ajustam a
escuridão, vejo o estojo da minha espingarda antiga em suas mãos.

Ele atravessa a grama úmida e a segura entre nós. —Você se lembra de


como usar isso, não é?

Eu pego o estojo, é mais leve do que me lembro, mas quando coloco a


antiga combinação de números ele se abre e revela a minha Remington 870,
calibre 12.

Foi minha terceira arma, eu a levava para viagens de caça com meu pai
quando estava no colegial. Passávamos longos fins de semana na cabana de seu
amigo na floresta ao norte de Watkins Glenn, caçando e relendo nossos livros de
bolso favoritos, aqueles que ficavam na prateleira dos equipamentos de caça
durante o ano inteiro, as páginas inchadas da exposição ao calor e a umidade, e
comendo carne de veado em toda refeição. Naquela época nós gostávamos de
passar um tempo juntos. Nós nunca fomos o tipo de ter longas conversas íntimas
ou de compartilhar piadas, mas nós dois esperávamos pelos finais de semana de
solidão compartilhada.

Não manejei essa arma desde que eu tinha quinze anos, a última vez em
que estive em condições boas o suficiente com meu pai para me submeter
voluntariamente a três dias de nada além de sua companhia.

—Eu a limpei há alguns meses. —Meu pai diz, segurando uma caixa de
cartuchos. —Está em boas condições, mas não atire se Cat estiver perto de quem
a levou, são cartuchos, mas está escuro e você está sem prática. Não vale a pena
o risco.

—Eu sei. —Coloco os cartuchos no bolso antes de tirar a arma do estojo e


entregá-lo ao meu pai. —Mas não posso simplesmente ficar sentado aqui.

—Eu sei. —Jim põe a mão no meu ombro. —Seja cuidadoso e se tiver que
atirar, atire para matar. Se você só ferir um homem como este, ele vai fazer você
se arrepender por ter mostrado misericórdia.

Eu assinto com minha garganta apertada, e pego a munição do meu bolso,


decidindo que é melhor carregar a arma aqui enquanto tenho luz o suficiente
para ver. Melhor estar pronta e carregada e não precisar da arma, do que precisar
e ter que manejar os cartuchos e uma lanterna no escuro.

Enquanto estou carregando a espingarda percebo que minhas mãos não


estão tão firmes quanto eu gostaria. Eu nunca atirei em um ser humano antes.
Atirei em veados, patos e em esquilos quando estava aprendendo a atirar. Mas eu
comi essas coisas, até mesmo os esquilos.

Parte da filosofia de caça em nossa casa era que servia para a


alimentação, e não para esporte. Tudo o que matamos foi consumido e todas as
partes do animal foram utilizadas ou dadas para outra pessoa que sabiam o que
fazer com elas. Quando eu era bem jovem, meu pai e eu costumávamos nos
agachar ao lado de tudo o que tínhamos matado, e levávamos um momento para
mostrar nossa gratidão antes de tocarmos. Era parte cerimonial, parte
demonstração de respeito e parte oração de agradecimento.

Mas gradualmente, à medida que envelheci, deixamos de realizar esse


ritual, da mesma forma que deixamos de lado outras coisas.

—Eu te amo pai. —Digo baixinho, não querendo partir para o escuro antes
de dizer essas palavras.

—Eu também te amo. —Ele dá um aperto final no meu ombro antes de


me deixar ir. —E não estou pronto para te perder. Lembre-se, se essas pessoas
estão em nossa propriedade, ameaçando a segurança da nossa família, a lei lhe
dá o direito de usar força mortal.

—Eu não me importaria senão desse. —Coloco a arma carregada no meu


ombro. —Acabei de reencontrá-la, não posso perdê-la novamente.

Meu pai assente enquanto volto para o chalé. —Irei orar por você Aidan,
exatamente como faço todas as noites.

—Obrigado, pai. —Digo, minha garganta apertada enquanto corro em


direção aos chalés. Mais uma vez é a preocupação com a vida de uma mulher que
amamos que nos une.

Quando chego ao chalé e dou a volta com os olhos no chão, elevo aos
céus uma oração: que eu não seja tão burro ou teimoso para precisar de outro
desastre para resolver os meus problemas com Jim da próxima vez. E que eu
chegue a Cat antes que o filho da puta que a levou, machuque a mulher que eu
amo.

Embora eu já esteja atrasado demais para isso.

Agora que estou prestando atenção, a trilha é tão clara quanto um pedido
de resgate rabiscada em um papel e presa a porta. Um homem do meu tamanho,
usando botas de trilha, entrou na casa sozinho, e saiu deixando pegadas
profundas na terra úmida. Profundas o suficiente para estar carregando a mulher
que deixou as pegadas de sandálias das vinhas até o chalé.

Cat entrou no chalé sozinha, mas saiu nos braços de um psicopata que
deixou um rastro no cascalho ao lado da estrada de mais ou menos uma dúzia de
passos antes de mudar a direção para o bosque, descendo a trilha que leva até o
ancoradouro.

Desligo minha lanterna e acelero meus passos. Eu não sei quanto de


vantagem Nico tem, mas sei que este é o único caminho para o Lago Cayuga. Eu
também sei que toda a terra daqui até a margem pertence aos meus pais.

A pessoa que levou Cat invadiu uma propriedade privada e agrediu uma
mulher inocente, e se eu conseguir uma mira limpa terei certeza de que ele se
arrependa pelo resto de sua vida, por mais breve que ela seja.
CAPÍTULO 35
E agora, algo de Nico Mancuso.

Está frio no bosque, frio demais. Estou preocupado que Catherine congele,
até chegarmos ao outro lado da água. Ela está usando somente um casaco leve e
suas pernas estão descobertas. Se soubesse que estaria frio assim aqui no norte
do estado, teria pego cobertores e roupas mais quentes.

—Nós logo vamos te aquecer. —Murmuro. Ela ainda está inconsciente,


mas é bom falar com ela. Depois da loucura dos últimos dias preciso disso, preciso
dela, mais do que nunca. —Vamos para Cuba. Já está tudo acertado. Temos novos
nomes, novos passaportes, até mesmo uma nova casa ao lado do oceano. Há um
avião esperando do outro lado do lago, para nos levar para lá, chegaremos antes
do amanhecer. Eu ando mais rápido através das árvores iluminadas pela lua, me
sentindo mais livre a cada passo que dou com Catherine em meus braços. —
Amanhã à tarde iremos beber mojitos na praia e nos perguntando por que
queríamos conquistar o mundo.

Sorrio. Meus sonhos de me tornar prefeito da cidade que abandonei são


até engraçados. Eu já deveria saber, homens como eu não vão para frente,
homens como eu vão para o inferno e se divertem no caminho até lá.

—Quem precisa do mundo? Deixe o mundo queimar e nós assaremos


marshmellows sobre as cinzas. Não é amor? —Abraço Catherine mais apertado,
ansioso pelo momento em que seus olhos inteligentes se abrirão novamente.

Sua cabeça está pesada sobre meu peito e seu corpo flácido em meus
braços, mas ela deve voltar a si em breve. Eu usei a menor dose de sedativo
possível. Eu só precisava dela quieta tempo suficiente para levá-la para longe do
bandido que estava com ela e para algum lugar seguro onde possamos conversar.

Catherine é uma das mulheres mais inteligentes que conheço, mas ela
está vulnerável. Seu pai, seu único membro familiar, faleceu recentemente. Isso,
combinado com o final abrupto do nosso noivado, uma situação causada pelo
medo e não por falta de amor, lhe deixou frágil e pronta para cair sob o feitiço de
qualquer homem insistente.

Minha Catherine gosta de ser levada ao limite, e permanecer lá com os


pés pairando sobre o fogo. Ela anseia por paixões extremas e emoções que só
podem ser alcançadas com uma troca de poder.

—Mas a pessoa com poder deve ser alguém que te ame, alguém que você
possa confiar. —Digo levantando-a mais enquanto passo por cima de um galho
que está bloqueando o caminho. —Eu escondi as coisas de você para a sua
própria proteção, cara mia. Mas em todos os aspectos que realmente
importavam eu era um livro aberto. Nenhum homem jamais vai te amar como eu
te amo. Esse homem das cavernas não é bom o suficiente para lamber os seus
pés.

Embora eu saiba que ele fez muito mais do que só lamber os pés de
Catherine.

Graças ao equipamento de vigilância que instalei em seu apartamento, eu


sei que Aidan Knight fodeu a minha Catherine. Ele a fez gozar, implorar e gritar
seu nome uma e outra vez até que tudo o que pude ver foi vermelho. Vermelho
sangue, escorrendo pelas paredes, encharcando minhas mãos, inundando minha
boca, até que eu não conseguir pensar direito.

Tudo que eu conseguia pensar era naquele homem das cavernas barbudo
empurrando sua língua, seus dedos, seu pau na boceta da minha mulher.

Não lembro exatamente o que disse a Petey quando pedi para ele buscar
Catherine em seu apartamento, mas gostaria de ter dito para ele matar aquele
porco musculoso. Sr. Knight merece morrer por ficar entre mim e o que é meu, do
mesmo jeito que Petey morrerá por me trair e fazer planos de matar Catherine no
voo para Cuba esta noite.

Será mais difícil chegar ao merdinha agora que ele está sob custódia da
polícia, mas vou dar um jeito.

Os detetives que derrubaram minha família podem ter destruído uma das
maiores dinastias criminosas do Estados Unidos e destruído minhas chances de
um futuro na política, mas não vão atrapalhar meus planos de vingança.
Petey pagará por sua traição e Aidan Knight pagará por tentar tomar o que
é meu. Assim que Catherine e eu estivermos seguros em Cuba começarei a fazer
os arranjos.

Eu saio da floresta com energia renovada, mas quando chego às docas,


paro, mais uma parte do meu cérebro insiste que algo está errado. Algo mudou
desde que amarrei o barco uma hora atrás. Eu não sobrevivi quase quarenta anos
em uma família como a minha, ignorando o instinto predador/presa.

Imediatamente entro em estado máximo de alerta, procurando por sinais


de inimigos à espreita.

Checo as tábuas da doca, onde os barcos estão atracados em ambos os


lados. Minha lancha ainda está amarrada entre dois barcos menores, os mais
velhos a esquerda e nada parece ter sido mexido. À direita estão três pedalinhos
azuis e um cisne rosa de fibra de vidro com um pescoço longo que balança
levemente quando as ondas batem contra a costa.

Meu olhar se estreita no cisne, olhando a sombra escura que se move de


um lado para o outro no chão do barco. Quem quer que seja não está fazendo
muito esforço para ficar quieto o que me faz duvidar de que esteja aqui por mim,
mas não vou correr nenhum risco. Acabei de escapar da custódia policial esta
noite. De agora até o momento em que eu e Catherine pousarmos em uma pista
particular de pouso em Cuba, não posso me dar ao luxo de baixar a minha guarda.

Colocando-a suavemente em um banco na costa, puxo minha arma do


coldre e me movo lentamente pela doca, meus pés silenciosos sobre as tábuas. As
amarras continuam a ranger conforme as ondas batem, mas, além do vento e o
som fraco dos grilos nos arbustos, o ar é silencioso.

Mesmo quando chego perto o suficiente para ver quem, ou melhor o que,
está a bordo do pedalinho, a noite permanece silenciosa.

Quando paro ao lado do cisne, os dois guaxinins gigantes que mexem no


refrigerador aberto entre os assentos olham para mim com expressões
desafiadoras. Quase posso imaginar o da direita perguntando: “O que você está
olhando, colega? Dê o fora,” enquanto estoura metade de um bolinho Twinkie em
sua boca.
Eu faço uma nota mental para me lembrar de contar essa história a
Catherine. É o tipo de coisa que ela adoraria, o tipo de história que costumava
fazê-la olhar para mim com um brilho em seus olhos.

Ela me amava então e ela ainda me ama agora. Não importa o que ela
disse ou que ela tenha fugido e transado com outro homem. O que temos é real e
logo nossa relação estará mais forte do que antes. Eu só preciso tirá-la do país e
tudo vai voltar ao normal.

Guardo minha arma no coldre e volto minha atenção para a costa,


encontrando o banco onde deixei Catherine vazio.

Tarde demais, lembro que ela tem um passo muito leve.

Antes que eu possa me virar e procurar pela doca, umas mãozinhas me


dão um forte empurrão entre meus ombros, me derrubando na água entre os
pedalinhos.

Eu sorrio enquanto caio, inspirando e prendendo a respiração enquanto


mergulho sob a superfície do lago. Eu gosto de um plano bem executado, como
qualquer pessoa, mas a algo a ser dito sobre precisar lutar para conseguir o que
se quer.

E Catherine sempre gostou de uma boa luta.

Eu retorno com força à superfície, já imaginando o quanto vai ser bom


lutar com Catherine no chão abaixo de mim e prometer-lhe que esta é a última
vez que ela vai me surpreender. Em breve, ela vai ver que eu sou tudo o que ela
tem, tudo o que ela terá e perceberá que é hora de começar a fazer as pazes.

Talvez comecemos na lancha deslizando sobre o lago. Se alguém pode


comer uma mulher por trás enquanto pilota uma lancha é Nico Mancuso,
escudeiro, ex-conselheiro e o último membro livre da maior família do crime que
Nova York já conheceu.
CAPÍTULO 36

Do meu esconderijo, atrás da casa de barcos perto do lago, assisto Cat


rastejar silenciosamente por trás de Nico.

Ele está distraído com um par de guaxinins que apareceram sobre o


assento do pedalinho de cisne, um fato que eu tinha planejado usar a meu favor
para tirar a arma de sua mão, mas antes que eu pudesse desarmá-lo, Cat se move
para a linha de fogo. Normalmente, eu não duvidaria de sua capacidade de
derrubar um homem do tamanho de Nico, especialmente com o elemento
surpresa a seu favor, mas ela não está em sua melhor forma.

Enquanto anda, ela cambaleia de um lado para o outro, quase caindo na


água, porra.

Eu quero avisar que tenho uma arma apontada para Nico e que ela
deveria se virar e correr. Mas não tenho certeza que seus pés estejam firmes o
suficiente para sair do alcance de seu ex-psicopata antes dele agarrá-la. Então
mordo minha língua, ignorando o pulso acelerado e rezo para que tudo o que ela
tenha planejado para Nico, o deixe fora de cena por tempo suficiente para eu nos
deixar em segurança.

Um segundo depois, ela gira ao redor dele, saindo de sua linha de visão
quando ele se volta para a praia, quase me dando um ataque cardíaco no
processo.

Nico endurece quando vê o banco vazio ao lado da água e então Ruiva


entra em ação. Se lançando para a frente, suas palmas batem nos ombros de
Nico, derrubando-o no lago ao lado dos pedalinhos.

Quando sua cabeça afunda na água, eu saio correndo detrás da casa de


barcos, gritando. — Corra, Cat! Corra! Agora!

—Aidan? —Ela vira em direção ao som da minha voz, o movimento


repentino fazendo-a tropeçar nos próprios pés. Ela se vira instável para o lado,
batendo no pescoço do cisne, fazendo os guaxinins pular de volta para o chão do
barco. Normalmente, ela teria recuperado o equilíbrio em um segundo, mas
agora ela é impulsionada pela batida e cai na doca, ao mesmo tempo em que seu
ex-namorado emerge na superfície do lago.

—Você deveria ter me dito que queria lutar, cara. —Ele diz, com uma
risada em sua voz enquanto sobe para o cais ao lado dela. —Você sabe que eu
vivo para agradá-la.

—Pare! —Ela rola de quatro e rasteja de volta para a praia. A mão dele
tenta alcançar seu tornozelo, mas erra por poucos centímetros. —Me deixe em
paz, Nico. Deixe-me em paz!

Com um grunhido, corro mais rápido, determinado a garantir que Nico o


maluco não coloque as mãos em Cat novamente. Ainda estou a vários metros de
distância quando solto o rifle e me atiro no louco fodido, o atacando antes que
ele possa ficar de pé ou se aproximar um centímetro mais perto de Cat.

Ele bate na doca primeiro, grunhindo enquanto deslizamos nas tábuas, a


água de suas roupas molhando minha camisa enquanto passo um braço em volta
de sua garganta e seguro seu cotovelo com a mão livre. Estou planejando puxar
seu braço atrás das costas e prender o filho da puta no cais, mas antes que eu
consiga um bom agarre em seu pulso, o ar entre nossos corpos e o convés
explode.

Apesar do zumbido em meus ouvidos, levo um momento para perceber


que o som foi um tiro e um segundo a mais para sentir o ardor no meu antebraço.
Eu grito, praguejando enquanto o ardor se torna ondas escaldantes subindo do
braço para o meu ombro, mas não o solto. Aperto Nico com mais força, empurro
o meu peso em cima dele, prendendo-o ao chão.

Enquanto mantiver o bastardo preso entre meu corpo e o cais, será mais
difícil para ele atirar em mim novamente. E mesmo que ele consiga dar outro tiro,
ele não será capaz de acertar qualquer coisa vital sem passar a bala através de si
mesmo primeiro.

—Você está sangrando. —Ele grunhe, tentando sair de meu aperto. —


Você está jorrando sangue por toda a minha camisa.

—Se você estivesse tão preocupado com a sua camisa, não deveria ter
atirado em mim, seu monte de merda. —Forço as palavras através de minha
mandíbula apertada enquanto o suor irrompe na minha testa.

A agonia da bala enterrada no meu braço é diferente de qualquer coisa


que eu senti antes, mas sei uma coisa ou duas sobre como lidar com a dor. Eu
tenho tatuagens nos lugares mais sensíveis, na nuca, na parte superior do meu pé
e na volta do cotovelo onde a pele fina fez com que a sereia que tatuei na
Tailândia doesse pra caramba. Aquela dor persistente, contínua, nível seis na
escala da dor não foi nada comparado a miséria absoluta que pulsa agora em meu
antebraço, mas me ensinou a ignorar a parte primitiva do meu cérebro que grita
em agonia e exige que eu solte Nico e saia correndo pelo que está me
machucando.

—Se ela conseguir fugir de mim por sua causa, eu te matarei. —Os dedos
de Nico apertam o pulso do meu braço bom, cavando profundamente nos
tendões. —Me largue e eu não vou cortar fora seu pau antes de colocar uma bala
em sua testa.

—Você não está em posição de cortar o pau de ning.. —Interrompo com


um grito quando ele morde a minha mão com força suficiente para enviar uma
nova onda de dor através de meu polegar.

Meus dedos se contraem, enfraquecendo o aperto no pescoço de Nico.


Antes que eu possa segurá-lo, o que impediria seus malditos dentes de morderem
minha mão, ele agarra meu braço e vira por cima de sua cabeça, me fazendo cair
de costas na doca. Eu bato com força suficiente para perder o ar nos meus
pulmões, mas ainda consigo dar um chute em direção a sua arma, derrubando-a
no lago.

Eu anseio por ar, planejando ficar em pé novamente e enfiar meu punho


ensanguentado na cara de Nico, assim que eu puder respirar. Mas antes que eu
consiga fazer mais do que rolar para o lado, sua bota se conecta com as minhas
costelas. Eu gemo e rolo tentando fugir, mas ele continua vindo, me chutando de
novo e de novo até que relâmpagos de dor passam pelo meu torso.

Eu xingo em todas as línguas que conheço, desejando nesse momento ser


menos do tipo amante e mais do tipo lutador. Percebo rapidamente que todos
meus músculos ganhos com o levantamento de peso na academia e as corridas
não são páreo para homens que estão acostumados a usar sua força para
machucar outras pessoas. Não importa que eu seja maior e mais forte, eu não sou
especializado em chutar traseiros, e nesse ritmo, não vou viver para ouvir a
campainha do tempo mínimo dentro do ringue.

Eu tenho que sair de perto das botas de Nico e levantar.

Eu paro de rolar e escorrego pela doca como um caranguejo o que me


permite afastar a perna do filho da mãe com o meu braço bom. Todo o processo é
incrivelmente doloroso, mas não tão doloroso quanto um psicopata gritando
incontrolavelmente enquanto dá o seu melhor chutando os meus pulmões.

—Você nunca deveria ter tocado nela. —Ele grita, cuspe voando de seus
lábios. —Eu vou cortar suas mãos e em seguida seu pau, e depois vou assisti-lo
sangrar com um sorriso no meu rosto. —Ele vai para a minha garganta com as
mãos em forma de garras, com a intenção clara de me estrangular.

Eu me fecho em uma bola para me defender, o braço machucado com a


bala decidiu parar de ouvir os comandos de meu cérebro e agora apenas fica
parado e pulsando miseravelmente no chão, implorando por descanso, quando o
rosto de Nico se congela em uma careta quase engraçada. Seus olhos arregalam,
suas narinas incham e a ponta de sua língua cai para fora de seus lábios pouco
antes de ele despencar no cais, quase por sobre as minhas pernas.

—Ele precisa de suas mãos, seu monte de merda psicopata. —Cat diz com
voz arrastada. —E de seu pau.

Eu olho para vê-la segurando a minha espingarda com ambas as mãos,


balançando ligeiramente para trás e para frente. A luz da lua, sobre a doca de
madeira, o sangue de Nico parece preto.

Tão preto quanto às máscaras dos guaxinins que pulam do pedalinho de


cisne, correndo em direção do bosque, claramente decididos que já era hora de
abandonar esta festa.
CAPÍTULO 37

Eu me viro para Nico, me certificando de que ele não vai se levantar, mas
seus olhos estão fechados, sua boca aberta e sua coluna em uma posição
desconfortável, o que sugere que ele está realmente nocauteado.

—Você está bem? —Gemo baixinho enquanto me forço a sentar e levanto


a mão em direção a Cat. —Ele machucou você?

—Acho que não. —Ela se senta com força ao meu lado com a espingarda
ainda em suas mãos. —Mas não consigo sentir minhas pernas ou pés. Ele deve ter
injetado algo que fez todo o meu corpo ficar dormente por um tempo. —Ela
pisca, fazendo um esforço visível para se concentrar no meu rosto. —Mas houve
um tiro, certo? Eu não imaginei, não é? Você está bem?

—Vou ficar bem. —Eu a busco com o braço bom e a puxo para um abraço
desajeitado, fazendo uma careta quando o movimento faz a dor correr através de
meus ossos. Agora que o perigo imediato já passou, minhas terminações nervosas
estão fazendo o seu melhor para ter certeza de que eu entenda o quanto estou
fodido, mas preciso dela perto de mim para sequer prestar atenção. —Ele me deu
um tiro no antebraço, mas vou ficar bem.

—Oh meu Deus. —Cat se afasta, colocando a mão suavemente no meu


ombro. —Nós temos que chamar ajuda Aidan, eu tenho que...

—Está tudo bem. —Insisto. —O sangramento está diminuindo e a polícia


está a caminho. Mandei uma mensagem para o meu pai enquanto estava na trilha
e disse que tinha certeza de que o homem que levou você estava indo em direção
ao lago.

—Então temos que nos apressar. —Cat fica de joelhos, cambaleando


enquanto se move. Ela se equilibra colocando uma das mãos na doca,
conseguindo ficar em pé enquanto diz. — Nós precisamos empurrar Nico na água
antes que polícia chegue aqui. Dessa forma, ele vai se afogar e ninguém vai saber
que temos alguma coisa a ver com isso.

—Não. —Estico minha perna, bloqueando seu caminho enquanto ela


tenta rastejar pelo cais até Nico.

—Mas eu preciso que ele se afogue Aidan. —Ela insiste aumentando sua
voz. —Preciso que ele afunde para nunca mais machucar você ou eu ou qualquer
outra pessoa. Eu não posso viver o resto da minha vida me perguntando se uma
pessoa louca está se escondendo atrás de uma porta esperando para me
sequestrar ou cortar o pau de alguém que me importo.

—Ele vai para a cadeia por um longo, longo tempo, Ruiva. —Digo
suavemente, muito grato por estar vivo e ser alguém que ela se preocupa. —Dê-
me a arma. Enquanto ele permanecer estável até a polícia chegar aqui ele irá
viver. Se ele tenta correr eu vou matá-lo, eu prometo.

Cat balança a cabeça com os olhos turvos, segurando a arma mais


firmemente. —Não, Aidan. Ele é louco. Ele não vai parar até te machucar.

—Estou mais preocupado com você. —Digo, desejando que meu braço
ferido não doesse tanto. Eu realmente gostaria de segurá-la corretamente agora.
—Eu enlouqueci quando percebi que ele tinha levado você do chalé. Eu não
quero perder você, Ruiva, especialmente não assim.

—Eu também não quero perder você. —Seus ombros relaxam, fazendo-
me ver que ela está começando a descer do seu pico de adrenalina.

—Sinto muito. —Repito pela décima segunda vez, com mais ênfase ainda.
—Desculpe eu ser um idiota que não percebeu que sempre esteve apaixonado
por você, até quase ser tarde mais.

Cat funga e sua boca faz uma careta triste. —Você não esteve apaixonado
por mim sempre.

—Estive. —Insisto, inclinando o cano da arma entre nós para que ela
aponte para Nico. A última vez que verifiquei a trava de segurança estava
posicionada corretamente, mas se houver um disparo acidental eu quero ter
certeza de que atinja alguém digno de tomar uma bala perdida. —Desde que você
ganhou a primeira corrida, no segundo que você passou a linha de chegada
parecendo pronta para começar uma luta, eu estava perdido. Só fui muito
estúpido para perceber isso. Mas não quero mais ser um idiota.
—Você não é um idiota. —Ela diz, sua expressão ainda desconfiada. —
Você é uma das pessoas mais inteligentes que conheço. E você não tem que fazer
uma baita declaração só porque foi baleado e eu quase fui sequestrada por meu
ex-namorado louco.

—Eu sei que não. —A menção de Nico me faz olhar novamente em sua
direção. Mas o homem ainda está desacordado, provando, mais uma vez, que
ninguém pode foder com a minha garota.

O que significa que, se eu quero que ela seja realmente minha garota, eu
também não posso.

—Eu apenas pensei que o amor era algo difícil. —Eu me aproximo,
inalando o cheiro doce de Cat. —Minha mãe e meu pai fizeram com que o
casamento parecesse algo muito difícil e então papai e Julie se juntaram e fizeram
de uma maneira diferente. Quando eles começaram a namorar, eles viviam
brigando.

—É difícil de acreditar. —Cat diz com outra fungada. —Eles parecem tão
bons juntos.

—Bem, é verdade. Pergunte a Julie. —Escovo seu cabelo sobre o ombro,


grato que toda essa suavidade está ligada ao seu corpo vivo e respirando. — E
quando eles descobriram como fazer as coisas funcionarem, eu estava na
faculdade, vendo universitários ainda mais estúpidos do que eu se apaixonarem e
desapaixonarem a cada três dias. Eu decidi, muito antes do meu amigo quase
morrer por intoxicação alcoólica por causa de uma menina que partiu seu
coração, que eu não queria nada parecido com esse tipo de amor.

Ela franze o cenho, mas encosta a cabeça mais perto da minha. —Mas
você tinha encontros. Você namorou bastante.

—Sim, bastante. Mas nunca a sério. Fiz questão de sair com meninas que
queriam manter as coisas casuais, por isso nunca houve um risco da diversão se
tornar algo mais. —Envolvo meus dedos ao redor de sua cintura, puxando-a para
mais perto, mesmo que o movimento faça meu pulso ferido doer. —Mas eu
cometi um grande erro.

—Qual? —Ela inclina a cabeça para trás, olhando para mim, o rosto pálido
a luz do luar. Pálido, mas bonito.

Ela é a coisa mais linda que eu já vi e quero que ela me deixe amá-la mais
do que eu quis qualquer outra coisa em um longo, longo tempo. Mais do que quis
a segunda loja da Ink Addctis, mais do que quis me libertar dos sonhos que meu
pai tinha para minha vida, mais do que as habilidades que aperfeiçoei na minha
arte para fazer bem o meu trabalho.

Eu tenho um sentimento que amar a Ruiva vai ser outro tipo de arte, uma
que nunca envelhecerá ou frustrará ou me fará desejar ver por outra perspectiva.
Ela é a minha perspectiva. Um olhar em seus olhos e eu sei que isso é o que
importa, amar alguém suficiente para colocar cada pedaço de si mesmo na linha.

—Eu me esqueci de prestar atenção em você. —Digo baixinho. — Quando


eu percebi que você era muito mais do que uma amiga ou uma irmã malcriada
que eu gostava de implicar, eu não poderia desistir de você. —Seus lábios
curvam, dando-me a coragem para acrescentar. —Eu tive que continuar a
escrever bilhetes e mensagens de texto e livrar sua bunda de problemas, porque
eu precisava de sua bunda na minha vida. E não somente para observar de longe.

Eu estou esperando por um comentário engraçadinho, mas seu sorriso


desaparece antes de se formar completamente. —Mas você me deixou Aidan. No
final das contas.

—Só porque sabia que se eu ficasse com você naquele verão eu nunca
partiria. —Digo, levando meus lábios para mais perto dela. —E naquela época eu
era muito idiota para perceber que você era muito mais excitante do que estudar
tatuagem na Ásia.

—Pode crer. —Ela diz sem rodeios, inclinando a cabeça para um lado, seu
olhar fixo na minha boca. —Você ouve as sirenes?

Eu ouço, o barulho agudo vindo do topo da colina. —Ouço. Parece que


você tem só alguns minutos para decidir se quer andar comigo na parte de trás da
ambulância.

Sua mão vem para o meu rosto, seus dedos arranhando suavemente a
minha barba. —Claro que vou com você na ambulância. Eu te amo. —Ela diz,
enviando uma onda de alívio no meu peito.
—Eu também te amo. —Digo com a voz rouca. —Muito.

—Eu não tinha terminado. —Ela diz com um sorriso. — Eu te amo, mas
também tenho que ver se você vai chorar quando eles tirarem a bala de seu
braço. Se você chorar, vou curtir com a sua cara por anos. Eu tive uma bala
retirada da minha bunda quando eu tinha doze anos e não derramei uma lágrima.
Meu pai ficou tão orgulhoso que me comprou uma jiboia de pelúcia.

Eu balanço minha cabeça suavemente enquanto o brilho de luzes surge no


bosque perto da trilha. —Então, é agora que você finalmente vai me contar o que
aconteceu em Kathmandu?

Ela bufa, sua risada contra o meu queixo. — Nunca na vida. Eu já te


entreguei muito segredo de graça, bonitão. Você vai ter que se esforçar pelo
restante.

—Com prazer. —Estamos tão perto agora que meus lábios roçam os dela
enquanto falo. —Desde que você me lembre de que me ama de vez em quando.
Eu gosto de ouvir essas palavras saindo de seus lábios.

—Eu te amo. —Ela sussurra. —Agora me beije, por favor.

—A qualquer hora, linda. —Meus dedos se enrolam na sua nuca. — Beijar


você é a minha coisa predileta. Sempre.

—Você é doce, Sr. Knight. —Ela diz, com voz falha. —Obrigada por ter
vindo em meu socorro.

—Obrigado por ter vindo ao meu. —Digo, querendo realmente dizer cada
palavra.

E então pressiono meus lábios nos dela, dizendo o resto das coisas que
precisam ser ditas com um beijo.
CAPÍTULO 38
Dez meses depois
Dos arquivos de mensagens do grupo de Aidan Knight,

Sebastian “Bash” Prince, Penny Pickett e Shane Willoughby

Penny: EU AMO ESSAS IDEIAS!!! AMO TANTO QUE


TENHO QUE USAR LETRAS MAIÚSCULAS!!! TODAS ELAS!!
SERÃO TODAS MINHAS!!! OH MEU DEUS, ISSO VAI SER TÃO
INCRÍVEL.

Aidan: Tem certeza?

Você e Bash não estão com raiva de roubarmos seu


brilho? Vocês ficaram noivos antes. Então, se você quiser que
a gente espere, nós esperaremos. Não é grande coisa. Nada
ainda está definido.

Penny: OH MEU DEUS, NÃO SEJA LOUCO. VOCÊ TEM


QUE CASAR NESSE FIM DE SEMANA! SE VOCÊ NÃO CASAR
VOU CHORAR PORQUE VOCÊ ME ANIMOU SOBRE TER UMA
DAMA DE HONRA CHIHUAHUA E DEPOIS NÃO CUMPRIU.

CHIHUAHUA! DAMA DE HONRA!

Agora sério, sem letras maiúsculas, Bash e eu não nos


importamos, não é Bash?
Bash: Nenhum pouco. E o nosso casamento ainda será
daqui cinco meses. Você não está nem perto de pisar em
nossos pés. Eu também adoro as suas ideias, mas o que vamos
fazer se o cão cagar no tribunal?

Se eu pedir favores ao juiz Lawrence e então tiver coco


em seu tapete, ele vai contar para a minha mãe, e então
minha mãe vai assar o meu rabo. Tenho certeza que ela vai
largar o juiz, mais cedo ou mais tarde, como ela larga todos
os seus brinquedos, mas por enquanto ela está com ele.

Shane: Eu resolvo isso! Vou levar um tecido para forrar o


corredor, algo que vai ser bonito para Cat andar e proteger o
tapete do juiz ao mesmo tempo. Dessa forma, se Fang tiver um
ataque de ansiedade e perder o controle nós podemos apenas
envolver o coco no tecido e levar embora.

Mas não acho que isso vá ser um problema. Ela foi


treinada por um tempo e ela não é nervosa. Ela fica bem em
grandes grupos.

Estou mais preocupada com a recepção. Tem certeza que


vai caber uma centena de pessoas na nova loja?

Aidan: Totalmente. Ainda é um espaço vazio. O piso está


pronto e as janelas foram pintada ontem, mas não vou levar
os móveis até a próxima semana. O resto do espaço pode ser
uma sala comum e pista de dança. Um amigo da academia
vai ser o DJ. Podemos apenas arrumar algumas mesas
dobráveis para a comida, Bash brincará de bartender em
algum canto e estaremos prontos.

Penny: Ele vai arrasar como bartender em sua recepção,


amigo. Ele tem praticado durante toda a semana. No sábado
ou ele vai ser um especialista ou vai se inscrever no
programa de doze passos do AA.

Bash: Eu não vou! Eu nem sequer tive uma ressaca.

E como é que vou saber se as minhas bebidas estão


deliciosas se não EXPERIMENTAR, Pickett? Você com certeza
não pode ajudar, peso pena.

Penny: Ainda é “experimentar” se você bebe tudo até a


última gota?

Bash: Você está apenas com inveja que estou tão dedicado
à minha nova arte. E com medo que eu me torne um barman
famoso e que você tenha que me compartilhar com minha
horda de fãs.
Penny: Quieto. Você é ridículo.

Bash: Eu não.

Penny: Por favor, guarde isso para quando estivermos em


casa. Aidan está tentando decidir coisas sérias aqui isto é um
grupo. Mantenha a classe.

Bash: Estou mantendo a classe! Eu não usei um único


emoticon de peido.

Shane: Por que não? Isso soa divertido. Eu amo emoticons!

Aidan: Nós todos não amamos? Mas estou tentando


planejar um casamento em menos de uma semana.

Bash: � 💨 Esse é novo e minha cunhada que me mandou


na semana passada. Eu amo como parece que ele está sendo
impulsionado pela força do peido.

Aidan: Foco, gente. Nós acertamos a cerimônia e bebidas,


agora...
Bash: 💨 Isso pode ser um sacrilégio, mas não me
importo. O sorriso em seu rosto quando ele solta uma nuvem
de fedor é perfeito.

Shane: KKK! Oh meu deus, eu adoro isso.

Ele claramente encontrou a luz. Eu me pergunto como


seria o cheiro...

Bash: Penny, convide Shane para a noite de pôquer. Eu


gosto dela. Precisamos de mais meninas que apreciam o meu
senso de humor.

Penny: Feito. Agora vamos voltar ao trabalho.

Aidan: Falando em encontros de grupo, minha recepção


ainda não está completamente planejada. E sobre a
decoração? Cat ofereceu...

Bash: Mais um! � 💨 Eu não sei por que alguém perdeu


tempo codificando um aipo peidando, mas isso é parte do
que o torna tão grande. É realmente...
Penny: BASH! COMPORTE-SE!

Aidan: SERÁ QUE ISSO REALMENTE TEM QUE SER


COMO TENTAR AGRUPAR GATOS?!

Sério, eu gosto de vocês, mas não quero que isso seja algo
meia-boca de última hora. Esta é a única vez que vou me
casar e eu gostaria que fosse agradável para a mulher que tão
generosamente concordou em casar com o meu traseiro.

Eu não quero que ela comece a reconsiderar na


recepção, por amor de Cristo.

Bash: Sinto muito, amigo. Às vezes esqueço o quanto você


está piegas atualmente. E então você diz algo assim e eu me
lembro.

Nós não vamos estragar isso. Nem pensar, sem condições.

O casamento e a recepção serão incríveis. Deixe toda a


comida e bebida para Penny e eu. Ela foi criada por uma
estrela de cinema e é ótima nesse tipo de besteiras e eu sou
bom em fazer o que ela me manda fazer. Vai ser fabuloso.

Shane: E eu vou cuidar da decoração. Um dos benefícios


da gestão de uma instituição de caridade é que temos muitas
festas: Eu tenho acesso a toneladas de opções de decoração. E
depois de uma década de amizade eu sei o que Cat gosta. Eu
vou cobrir todos os aspectos.
Aidan: Obrigado. Bom. Ótimo.

� Estou respirando mais calmo. Você não sabe como é


bom tirar essa carga dos meus ombros. Eu estava tão feliz que
ela disse sim, que não pensei sobre como seria louco planejar
um casamento em uma semana.

Shane: Eu que agradeço, Peludo. Estou feliz por vocês


dois!

Penny: Eu também! ISSO VAI SER O MÁXIMO!

Bash: Três comigo. Estou realmente feliz por você, irmão.


Não poderia acontecer com um cara mais legal.

Aidan: Obrigado, pessoal. Eu não conseguiria fazer isso


sem vocês.
CAPÍTULO 39

Eu deveria ter feito isso sem meus amigos.

Sem a minha família.

Sem ninguém para observar, apenas no caso de Cat recuperar seu bom
senso no último minuto e decidir desistir e sair correndo. Estivemos correndo com
o nosso novo clube de Corredores quase todo fim de semana, então sei que ela
pode correr bem rápido. Pelo que sei, ela poderia estar a meio caminho para o
Bronx agora.

Deus, por que está demorando tanto?

Bash e eu já estamos na frente do juiz há uns dez minutos, e pela cara do


juiz, ele está começando a se arrepender de aceitar ficar até tarde nesta
cerimônia privada.

—Relaxe. —Bash sussurra pelo canto dos lábios. —Tudo vai ficar bem.

—Onde ela está? —Murmuro, e o suor começa a escorrer pela minha


costa sob o meu smoking.

—Provavelmente apenas tendo dificuldades técnicas. —Ele diz. —Talvez o


vestido não esteja fechando ou ela seja alérgica a flores e elas a fizeram borrar
seu rímel.

Eu xingo baixinho.

Bash inclina-se perto o suficiente para bater no meu ombro com o seu. —
Ou a cachorrinha. Provavelmente é a cachorrinha. Fang provavelmente está
rolando no chão em protesto contra o vestido de dama para cães. Você sabe que
ela detesta laços.

Eu engulo em seco, tentando chegar a uma resposta inteligente para


tentar manter minha mente longe dos meus pensamentos sem sentido. Cat e eu
estamos bem, muito bem, e no fundo, sei que ela nunca me abandonaria ao pé da
mesa do juiz. Mas nesse exato momento, as portas na parte de trás da sala se
abrem. Segundos depois, Fang, vestida em seu traje de cachorro imitando uma
flor, ela voa pelo corredor para saltar no colo de Shane com um latido vitorioso,
assim como nós ensaiamos. Os amigos e a família dão risadas, e o juiz faz uns
barulhos em aprovação, mas não estou prestando atenção a nenhum deles.

Meus olhos são somente para a mulher maravilhosa na parte de trás da


sala.

Lá está ela. Ruiva. A minha Ruiva, e está deslumbrante em seu vestido sem
mangas, com flores no cabelo e um sorriso que me dá a certeza de que ela está
tão pronta para casar quanto eu. Meu coração começa a bater tão forte que
parece que vai abrir um buraco no meu peito. Estou tão feliz, e ao mesmo tempo
também preocupado em ter um ataque cardíaco, que eu nem notei o meu pai ao
lado dela, andando com ela pelo corredor, até que eles estivessem a três passos
de entrar na sala.

Mas quando vejo seu rosto radiante, eu percebo que deve ter sido essa a
razão de todo o atraso.

Jim deve ter tido que ser convencido a fazer as honras. Ele começou
novamente a agir estranho na semana passada, quando liguei para anunciar que
Cat e eu iríamos nos casar no cartório em vez de um grande casamento. Se eu não
estivesse tão ocupado planejando tudo, para poupar Cat do stress, já que ela está
sobrecarregada planejando a campanha para a proposta do conselho municipal,
eu teria ficado com medo de que o meu velho e eu fossemos passar por outra
fase difícil.

Mas quando o seu olhar encontra o meu e eu sorrio, deixando-o ver como
sou grato por ele amar Cat também, eu sei que a fase difícil foi contornada. Cat se
certificou disto. Ela tomou tudo por mim, mais uma vez, assim como ela tomou
centenas de vezes diferentes a cada dia. Ela jura que eu faço o mesmo por ela,
que ela nunca teria tido a coragem de concorrer ao cargo público sem mim, e que
está mais feliz do que jamais sonhou que poderia ser.

Mas, enquanto ela caminha pelo corredor, vestida de branco, pronta para
dizer, “Sim”, para o resto de nossas vidas, eu faço uma promessa silenciosa de
fazê-la ainda mais feliz.
—Cuide dela, filho. —Jim diz rispidamente, enquanto ele e Cat param ao
meu lado.

—Eu cuidarei, pai. —Eu o puxo para um abraço. —Eu prometo.

Jim se afasta, mas posso dizer que ele é um filho da mãe feliz. E eu
também. E amo o fato de que estamos nos dando bem. Mas quando meu pai se
senta, ele some dos meus pensamentos. Eu não tenho mais espaço em meus
pensamentos para nada, nada além da mulher que estou prestes a me casar.

—Última chance. —Ela sussurra enquanto nos viramos de frente para o


juiz. —É agora ou nunca, Curvado.

—Nunca, Calcinha. —Aperto a mão dela em meu braço, colocando meus


dedos sobre os dela. —Esse Curvado é seu para toda a vida.

—Sorte minha. —Ela sorri tão abertamente que sei que ela está pensando
coisas indecentes, porque ela é o meu par perfeito, o tipo de garota que não tem
nenhum problema em vestir branco enquanto faz referências ao meu pênis no
altar.

Mas ainda assim ela chora durante a cerimônia. Eu choro, também, um


pouco, mas no carro a caminho para recepção Cat me garante que ninguém, além
dela, viu. Garanto a ela que não me importo nenhum pouco, mas amei que ela
tenha se preocupado que eu pudesse perder minha fama de machão ao chorar no
meu próprio casamento, e então nós estamos no estúdio, e é hora da surpresa
final do dia.

—Feche os seus olhos. —Envolvo meu braço em volta de sua cintura,


virando-a para frente da rua quando ela sai do carro.

—Por quê? —Ela pergunta dando uma risada. —O que é que você fez?

—Só uma coisinha, mas tenho uma história para lhe contar antes. —Eu a
seguro com mais força, recusando-me a deixá-la virar. —Então feche seus olhos,
mulher. Agora.

—Tudo bem, tudo bem. —Ela fecha os olhos e remexe a bunda,


esfregando contra onde estou ficando duro porque é isso que dois segundos do
toque dessa mulher fazem comigo. —Me conte a história.
—Era uma vez um homem que amava o seu trabalho. —Digo, inclinando-
me para murmurar as palavras em seu ouvido. —Ele gostava tanto que chamou
sua loja de Ink Addicts. E esse nome era perfeito porque ele não podia imaginar
ser viciado em qualquer outra coisa. Mas ele estava errado.

—Ele estava? —Ela pergunta, soando como se estivesse gostando da


história até agora.

—Ele estava. —Continuo. —Porque havia essa mulher que ele nunca
conseguiu tirar de sua cabeça, esta incrível, louca, inteligente, engraçada, perfeita
mulher que voltou para sua vida quando ele menos esperava e mostrou o que ele
estava perdendo.

Suas mãos se dobram sobre as minhas e apertam. —E o que ele estava


perdendo?

—Tudo. —Digo, minha voz aumenta, porque é verdade. Ela é tudo, e eu


não posso acreditar que eu pensei que tinha uma vida plena sem ela. — Eu estava
perdendo tudo que era bom. Mas agora não estou. Agora tenho a melhor pessoa
do mundo comigo o tempo todo, e um lugar ao qual eu pertenço, não importa
aonde iremos ou o que faremos. Porque você é a minha casa, senhora Catherine
Knight, e palavras não podem expressar o quanto estou feliz por você ser minha.

—Oh cara, eu te amo. —Ela diz, fungando ao mesmo tempo em que eu


nos viro para frente da janela da loja. —Mas não me faça chorar. Eu acabei de
retocar meu rímel.

Eu beijo o topo da sua cabeça. —OK. Vou parar. Eu só queria que você
soubesse que eu tenho um novo vício, e então, a loja tem um novo nome. Abra os
olhos e confira.

Ela funga novamente, limpando seu rosto enquanto abre os olhos. Quase
imediatamente, ela solta uma risada encantadora. —Oh meu Deus, essa é a Fifi?

—É. —Eu me viro para que possa ver seu rosto. —Eu ia fazer um logotipo
com um desenho seu estilo pin-up, mas decidi que não queria dividir você com
cada idiota que vem aqui. E Fang parecia tão fodona naquela jaqueta de couro,
não tive dúvidas.
—A Fang da Cat. —Ela diz, balançando a cabeça lentamente. —É o nome
perfeito. Fodão, mas adorável, assim como você.

—Eu sinto que eu deveria dizer que não sou adorável, apenas para manter
minha credibilidade nas ruas. Mas já chorei no meu casamento, então não vou
me importar com isso.

—Você deveria. —Ela se vira, entrelaçando os braços no meu pescoço,


sorrindo radiante para mim. —Eu amei essa surpresa. E eu te amo. E amo ser sua
esposa. Eu sei que sou somente há meia hora, mas tenho certeza que é a melhor
coisa do mundo.

—Estou feliz que você pense assim. —Eu a abraço mais apertado,
estabelecendo entre nós o fogo que já é familiar. —E obrigado pela coisa com
meu pai. Ele ficará feliz pelo resto do ano, eu tenho certeza. Ele te ama muito.

—O prazer foi meu. Eu o amo também. —Ela franze o nariz. —Mas ele
estava perguntando sobre crianças de novo hoje. Eu tenho a sensação de que um
neto Chihuahua não vai ser suficiente para ele por muito mais tempo.

—Você não disse a ele que íamos começar a tentar, não é?

Ela balança a cabeça, enfiando os dedos no meu cabelo. —De jeito


nenhum. Seu pau e minha vagina não são da conta dele.

—Falando nisso. —Digo, meu pau já duro. —Acha que temos tempo para
uma rapidinha no banheiro antes de todo mundo chegar?

—Considerando que Shane e Fifi estão saindo de um táxi no final do


quarteirão neste momento, duvido. —Ela diz, rindo. —Não fique tão triste,
querido. Um passarinho me contou que você terá sorte hoje quando chegar em
casa à noite. Tipo, a noite toda, sortudo.

Eu a abraço apertado. — É? A noite toda?

—Toda a noite e pela manhã. —Ela diz, inclinando a cabeça para trás e
trazendo os lábios para mais perto dos meus. —Porque você está gostoso demais
neste smoking. E como a Fifi ficará com Shane até voltarmos da lua de mel, não
temos que nos preocupar com qualquer confusão de palmadas.
Confusão de palmadas, também conhecida como quando Fang me ouve
batendo na bunda de Cat atrás da porta, e acha que estou machucando sua mãe,
e uiva como se alguém estivesse morrendo lá enquanto Cat e eu estamos
tentando gozar, um pé no saco. —Uma confusão de palmadas é a parte que
menos gosto de ser pai de uma cachorrinha. Mas gosto da ideia de te dar
palmadas enquanto estou te comendo por trás. Isso é errado?

Seus olhos brilham com luxúria e amor, que é uma coisa que só ela é
capaz. —Se for, eu nunca quero que você esteja certo.

Seus lábios tocam os meus, mas antes de tentarmos transformar este


momento em uma mini sessão de amassos, um corpinho começa a se contorcer
entre nossas pernas. Separamo-nos a tempo de ver Fang, vestindo a jaqueta de
couro que dei a Shane para transformá-la em parte da surpresa para Cat, fugindo
pela rua, rumo à Washington Square Park. Um momento depois, Shane vai atrás
dela, correndo velozmente para uma mulher que está usando um salto de quase
oito centímetros.

—Fifi, volte aqui! —Ela grita, antes de acenar para nós. —Não se
preocupem, vou procurá-la e trazê-la de volta. Ela vai ficar bem! Eu juro! Esta é
uma brincadeira que fazemos quando vamos passear no Central Park. Ela foge,
mas sempre volta em poucos minutos.

Na testa de Cat surgem rugas de preocupação.

Antes que ela possa dizer uma palavra, eu garanto. —É claro que vamos
ajudar a pegar Fifi e pô-la em sua coleira. Nós somos os responsáveis por ela, e
isso é o que pais fazem.

Alívio, misturado com carinho me fazem ter a certeza de que sou o


homem mais sortudo do mundo, inundam sua expressão. —Eu te amo. Mas não
fique mais perfeito, ok? Ou vou começar a me preocupar por estar sonhando de
novo.

—Vou tentar. —Digo, embora não tenha nenhuma intenção de fazer algo
do tipo. Eu não sou perfeito, mas vou continuar tentando ser tão perfeito para ela
o quanto eu puder ser, a partir de agora até o último dia em que eu tiver sorte o
suficiente para segurá-la em meus braços.
Como se ela soubesse exatamente o que eu estava pensando, o que ela
provavelmente sabia, ela pressiona um beijo na minha bochecha com um estalo
feliz. —Vamos. Você a chama e eu espero atrás de uma escada e ataco assim que
ela chegar perto.

Demorou quinze minutos, mas conseguimos colocar Fifi em sua coleira,


Shane se acalmou, e todos nós voltamos para a festa. E nas horas seguintes, eu
comemorei com meus amigos antes de ir para casa para fazer amor com minha
melhor amiga.

Por toda a noite, conforme ela prometeu.


EPÍLOGO
Dois meses depois

E agora algo da feroz Fang

Também conhecida como Fifi, a Chihuahua

O sol está brilhando, o primeiro sinal de que o outono está no ar, e é um


belo dia para ir para o parque! Estou tão animada que não consigo me conter, da
cabeça à cauda, eu sacudo o corpo inteiro quando eu me aproximo da minha Cat
ao lado da porta. Meu contorcionismo torna difícil para o meu adorável humano
me segurar, mas não consigo me controlar.

Estamos indo para o parque! O Parque!

E eu vou ver Lucky, o cão mais maravilhoso do mundo! Estou tão feliz que
eu poderia latir, e lato várias vezes, até que minha Cat me diz para me calar e me
pega para descermos as escadas.

Apesar da boa educação e melhor treinamento que tive, eu dou um puxão


em minha coleira durante todo o caminho da rua até o Rio Hudson, mas o Peludo
não grita comigo. Ele nunca grita. Ele é uma gracinha que só me mima e me
compra roupas bonitas.

Eu costumo tentar não tirar vantagem de sua bondade, mas com as


pernas grandes que ele tem bem que ele poderia andar mais rápido!

Infelizmente, Peludo se distrai com a nova calça jeans apertada que minha
Cat está vestindo. Ele continua andando devagar para ficar olhando seu traseiro
ou encontrando uma desculpa para passar a mão nela. Finalmente, ela sorri e
bate em sua mão e tenho a esperança de que possamos andar mais rápido.

Mas então minha Cat vira-se para dar-lhe beijos humanos, os do tipo
muito perto, onde você não pode ver o que, exatamente, eles estão lambendo. E
eles se beijam e se beijam por horas, me ignorando até que envolvo minha coleira
em torno de suas pernas e puxo com força o suficiente para me fazer vomitar.
Finalmente, meus adoráveis seres humanos percebem que estou ficando
azul e param com tempo suficiente para me desenrolar e pedir desculpas. Eu
corto a minha tradicional lambida de “Está tudo bem” em suas mãos para a
metade da duração habitual, mas ainda leva uma eternidade para chegarmos ao
parque. Quando o Peludo, finalmente, fecha o portão atrás de nós e tira a minha
coleira, estou pronta para correr.

Eu corro loucamente por toda a parte, saltando por cima de uns bulldogs
desconhecidos que estão salpicando água um no outro, e pulo direto para o canto
favorito de Lucky do parque. Eu faço a varredura da área, círculo os hidrantes, e
cheiro o chão, perto do portão onde Lucky às vezes espera, mas ele não está em
lugar algum.

Fico de mau humor, e sento na calçada, lutando contra o gemido subindo


na minha garganta. Estou tão chateada que minha amiga Phyllis não precisa
cheirar o meu traseiro para determinar meu frágil estado emocional.

Espere, garota, ela diz, batendo na minha patinha gentilmente com sua
enorme pata. Ele virá. Ele nunca perde um domingo.

Franzo minha testa. Mas e se o seu adorável humano estiver doente? Ou


em uma lua de mel? Meus humanos saíram em uma lua de mel e me deixaram
com a tia Shane por dez dias. Eu pensei que eles nunca voltariam!

Phyllis ri e balança seu pelo vermelho ligeiramente úmido, lançando gotas


de água pelo ar. Não haverá lua de mel para esse humano tão cedo, querida. Você
não sentiu o cheiro dele? Ele teve uma infecção no ouvido, há uns três meses. A
cabeça dele tem cheiro de algo morto.

Talvez ele não saiba, eu digo, sentindo-me obrigada a defender o adorável


humano de Lucky. Você sabe que nós temos narizes aguçados.

Disso eu não sei. Mas sei algo sobre você, senhorita. Phyllis diz olhando
perspicazmente para minha barriga. A grande questão é seus humanos ainda não
sabem?

Antes que eu possa responder, um alegre latido de um pequeno pinscher


ecoa através da manhã de outono. Segundos depois, Lucky surge com seus quase
cinco quilos de gostosura de parar o coração, bem arrumado, delicioso, e não
posso pensar em nada além dele. Eu vou ao seu encontro atrás do maior
hidrante, onde nos beijamos e cheiramos e nos contorcermos de alegria,
provando que meus adoráveis seres humanos não dominam o mercado de
exposições públicas efusivas de carinho.

Mas sempre foi assim com Lucky. Desde o dia em que nos conhecemos,
momentos depois que fugi de tia Shane no dia do casamento da minha Cat, foi
amor à primeira vista. E daqui a uns quarenta ou cinquenta dias, teremos filhotes
com seus olhos castanhos e meu pelo claro, e eu serei a Chihuahua mais feliz em
Manhattan.

Como está se sentindo. Ele pergunta, quando nós nos acalmamos o


suficiente para manter nossas línguas quietas. Eu estive preocupado com você e
com os filhotes.

Estamos bem. Chego mais perto dele, tonta pelo seu delicioso cheiro. Eu
nunca me senti melhor.

Mas você já deveria ter sido levada ao veterinário. Lucky acaricia meu
pescoço. Já faz duas semanas. Eu não posso acreditar que seus seres humanos
não notaram que você está grávida. O que há de errado com eles?

Eu me afasto com um sorriso, lembrando minha surpresa. Siga-me e


cheire por si mesmo.

Vou à frente guiando-o por todo o parque, segurando minha impaciência


quando Lucky para e cheira educadamente alguns traseiros e pergunta como vão
os humanos e filhotes de vários de seus amigos. Ele é um amigo maravilhoso, leal.
É uma das muitas coisas que amo nele, mesmo quando ele faz o caminho para
chegar a algum lugar demorar o dobro do tempo.

Finalmente, chegamos ao banco onde minha Cat e Peludo estão


aconchegados, de mãos dadas, olhando para o rio Hudson, falando sem parar, da
forma como eles sempre fazem.

Eles nunca ficam sem ter o que conversar, não é? Lucky observa com um
sorriso.

Eu abano o rabo com orgulho. Não, eles são maravilhosos juntos.


Como nós. Lucky diz, mas antes que eu possa beijá-lo por ser tão doce, ele
levanta o nariz mais alto no ar, e os seus ouvidos tremem da forma que ele
sempre faz quando está resolvendo um mistério de aromas.

Bem, bem. Ele finalmente diz, também abanando a cauda. Acho que nós
temos muitas coisas em comum. Quanto tempo até que seu filhote chegue?

Eu não sei. Digo honestamente. Eu só cheirei a mudança no seu perfume


há poucos dias. Acho que ela nem sabe ainda. Mas estou tão feliz por eles! Eu fico
nas minhas patas traseiras, saltando levemente na ponta dos pés. Eu não posso
esperar para que nossos filhotes se tornem melhores amigos, assim como minha
Cat e Peludo e eu somos melhores amigos.

Lucky lambe meu rosto. Você é a coisa mais doce que eu já conheci. Ou
provei. Ou cheirei.

Eu rio, tentada a provocá-lo por ser tão louco. Mas no final, decido que é
mais divertido beijá-lo e mordiscar seu pescoço e deixá-lo me perseguir pelo
parque até nós dois ficarmos exaustos e prontos para um cochilo na sombra.

Quando finalmente é hora de ir, prometo que vou descobrir uma maneira
de fazer minha Cat me levar ao veterinário, jurando que os filhotes ficarão bem, e
o beijo mais uma dúzia de vezes para que ele tenha beijos suficientes para durar
até o próximo domingo. E quando o Peludo me leva para fora do portão e coloca
minha coleira, ouço ele dizer à minha Cat que Lucky e eu somos o casal mais
bonito que ele já viu.

Meu coração se enche de felicidade até que não posso deixar de latir
expressando tudo o que estou sentindo. Eu digo aos meus adoráveis seres
humanos que eles são doces e maravilhosos e que estou tão feliz que eles
encontraram um ao outro e que estão apaixonados e que terão um bebê para
adicionar à nossa família. Mas é claro que eles não entendem uma palavra.

Mas está tudo bem.

Há outras maneiras de mostrar aos seres humanos como você se sente, e


assim que o novo bebê chegar, eu o acolherei na nossa matilha com meus beijos
mais suaves. E todos nós viveremos felizes para sempre.
Eu sei disso.

FIM ?

⬇️

Dos arquivos de mensagens de


Sebastian "Bash" Prince e Shane Willoughby

Bash: Ei linda, apenas checando para ter certeza de que


você estará na noite do pôquer amanhã. Tenho uma proposta
que eu quero te fazer enquanto estou levando seu dinheiro...

Shane: Humm ...


Bem, você sabe que adoro a noite de pôquer, mas isso
parece um pouco sinistro...

Bash: Nah, não sinistro.

Portentoso, talvez.

Ou delicioso.

Ou alguma outra palavra que termina em "oso" que


significa coisas divertidas e sexy. Acho que você vai adorar o
que eu tenho em mente!

Shane: Oh Deus...

Você não vai me pedir para ter um ménage com você e


Penny, vai?

Bash: Porra não!

Jesus!

Não!

Eu sou homem de uma mulher. E Penny cortaria meu


pau se pensasse que estava pensando em pensar nisso.

O que eu nunca faria.

NUNCA.
Shane: Ah, bom. Fico muito feliz em ouvir isso!

Quero dizer, Penny é gostosa, mas você não é realmente


meu tipo, abóbora ;)

Bash: ha ha.

Cristo, você realmente me fez corar.

Não me lembro da última vez que eu corei.

Penny apenas me perguntou por que estou todo rosa e


agora está rindo até se acabar. Ela queria ser a pessoa a te
falar, mas eu disse que poderia lidar com isso.

Obrigado por me provar que eu estava errado,


Willoughby.

Shane: Por nada!

Então, o que você está buscando? Agora estou realmente


intrigada...

Bash: Você é uma bagunceira isso é o que você é.

E é por isso que você é perfeita para este trabalho. Estou


precisando de uma linda confusão...

Shane: uma linda confusão...


Bash: Sim, uma linda confusão, capaz de levar um
homem mal-entendido e desesperado com a necessidade de
uma reformulação de imagem e transformá-lo em um
querido da mídia. Tudo isso enquanto assusta a ex-
namorada determinada a arruinar seu bom nome e talvez
fingir uma gravidez se as coisas ficarem realmente terríveis.
Mas isso é apenas se o estágio um não sair conforme o
planejado.

Shane: fingir uma gravidez? Do que diabos você está...

Ah não.

De jeito nenhum.

Você não está dizendo que quer...

Bash: Que trabalhe para mim? Sim! Sim estou.

Eu tenho um Bastardo Magnífico e um Patife


Espetacular, mas não tenho uma linda confusão, Shane. Na
verdade, não tenho uma única mulher na parte da
intervenção em caso de um cliente masculino se aproximar
de mim com necessidade desesperada de nossa marca
particular de assistência.
Shane: Oh, meu Deus. Não sei se fico lisonjeada ou
horrorizada.

Bash: fique intrigada! E excitada! Você será maravilhosa.

Shane: Mas eu já tenho um emprego!

Bash: não é um emprego de tempo integral. Você disse que


a fundação de caridade de sua tia praticamente se
administra sozinha.

Shane: Às vezes, sim, mas às vezes estou muito ocupada


levantando fundos, benefícios e mudando vidas.

Bash: que é o que você vai fazer por mim! Você irá
mudar vidas, ou pelo menos a vida de um homem. O cara
realmente precisa da sua ajuda.

Ele é como um cachorrinho grande e triste. Um


cachorro grande, triste e sexy.

(Penny me disse para adicionar a parte sexy para que


você saiba que gastar algumas semanas com o cara não será
uma dificuldade para você. E vai colocar dez mil verdinhas
no seu bolso! Você não pode bater essa.)
Shane: não preciso de dez mil, Bash. Você sabe que
minha tia me deixou uma herança muito humm
confortável.

Bash: Dê os dez mil para a caridade!

É o trabalho que conta, boneca. O bom trabalho para


uma alma merecedora que tem o direito de seguir seu negócio
sem ter seu bom nome arruinado por um pesadelo rancoroso
de uma pessoa que acha que um homem que termina um
relacionamento é motivo para que ela coloque uma bomba
no meio da vida dele.

E quem sabe, você pode até se divertir!

Conhecer uma estrela da Liga Nacional de Hóquei vem


com certas vantagens. Tenho certeza de que ele pode obter
entradas da temporada no mínimo. Ou talvez um boné com
um monograma. Ou luvas. Você gosta de luvas, não é? Quero
dizer, quem não gosta de luvas? Eles fazem você se sentir
como uma criança de novo!

Shane: Ele é um jogador de hóquei profissional? Você está


brincando.

Bash: não estou.


Shane: mas não dos Rangers. Alguma outra equipe?

Bash: não, ele está com os Rangers. Por que você é fã dos
Islanders?

Shane: Não, eu sou apenas...

Você não estaria falando sobre o Jake "O Dragão"


Falcone, estaria?

Bash: Estou. Mas juro que tudo o que você está lendo
sobre ele é uma série de mentiras. O cara é inocente.

Shane: � Tá que ele é.

Bash: não, sério, Shane.

Quero dizer, sim, ele encontrou sua parte de jovens


estrelas e super modelos, mas eu também verifiquei seu lado
desta história em particular. Depois do que aconteceu com
Aidan e a máfia, eu estou fazendo testes de antecedentes
sobre os clientes muito a sério atualmente.

Jake está limpo. Ele é um bom cara e realmente precisa


da nossa ajuda.
Eu não acho que ele tenha outro lugar para recorrer...

Shane: Você está forçando muito, Prince

Bash: o cara está realmente devastado, Shane. (Esta é


Penny, a propósito.)

Eu só queria te dizer que acho que você faria um


trabalho incrível com essa intervenção e realmente faria a
diferença na vida deste homem.

Mas se você precisar dizer não, eu entendo. Teremos que


dizer a ele que não podemos ajudá-lo e desejar-lhe sorte
encontrando alguém que se especialize em afastar as ex-
namoradas do mal. Tenho certeza que ele será capaz de
encontrar alguém assim lá fora.

Quero dizer, nunca ouvi falar de quem faz o que


fazemos aqui no BMC, mas...

Shane: tudo bem! Ahh! Eu sou impotente contra a


viagem de culpa.

Eu vou fazer isso. Você pode preencher todos os detalhes


amanhã durante o jogo.

Bash: Obrigado, Shane! Muito obrigado. Nós realmente


apreciamos isso. E você vai ter algum karma extra-
maravilhoso vindo em sua direção, Babes.

Shane: Sim, sim. Faça uma garrafa de uísque escocês


muito legal esperar por mim no meu local de pôquer. Uísque
vem mais fácil do que o karma.

Bash: Feito!

Shane: Ah, e Bash. Quero que meu nome seja Confusão


Miraculosa.

Bash: Linda não foi o bastante para você?

Shane: Não. Porque se eu for tirar "O Dragão" Falcone do


poço de merda de relações públicas em que ele está, eu vou
ter que trabalhar em um puta de um milagre.

Vem aí... Incredible You

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