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Cléusia costa
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Em concordância com a legislação em vigor todos os direitos
encontram-se reservados.
Maio, 2020
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Agradecimentos
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Capítulo 1
Omar Castiel
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- Eu não mereço um? – Questiona-me. – Acho que ainda sou
digna de receber, a não ser claro, que estejas demasiado
ocupado para isso.
- Bom dia princesa linda – digo com a voz engraçada que todo
mundo faz ao falar com bebes, é automático! – Como está a
minha princesa?
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Dei um beijo em sua testa colocando-a outra vez no berço, tiro
uma banana e um bolo que estavam por cima da mesa posta
por dona Flávia, cumprimentando dona Rita, babá de Íris que
caminhava rumo ao quarto da minha menina.
Estando no carro, meu telemóvel chama e ao ver o nome de
Ivan revirei os olhos sabendo que a chatice começaria.
- Ivan. – Digo ríspido como quase sempre.
- Nossa, quanta hostilidade numa só palavra, problemas no
paraíso? – Responde-me irónico. – É simplesmente para dizer
que deves passar pela empresa primeiro, tens coisas para
assinar antes das palestras.
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alguns assuntos, porém, é incrivelmente um dos melhores
advogados do país e da minha empresa, além de ocupar o
cargo de meu melhor amigo.
Sim, eu e esse infeliz conhecemo-nos desde o secundário e
fomos juntos para mesma universidade, com a diferença de
ter seguido Informática e posteriormente Contabilidade e
Auditoria, ele lógico, preferiu Direito.
Tal como eu, Ivan tem a pele negra em tons claros e a estatura
média. Seu físico torna-se extremamente chamativo pelos
olhos castanhos num tom caramelizado esbanjando
graciosidade por onde passe.
Em termos comportamentais somos completamente opostos.
O Ivan parece possuir a mentalidade de uma criança de 10
anos de idade sendo extrovertido e adaptando-se a qualquer
tipo de situação enquanto eu, visivelmente mostro ser
reservado. Não gosto de manter conversas desnecessárias
principalmente com pessoas fora do meu interesse. Ah! E tem
Nicolas, quase me esquecia, no nosso meio o Nicolas é o
neutro e o típico homem “capa de revista”, alto de pele
mestiça e fidalgo nato, completa o meu pequeno círculo de
amizades.
Ao adentrar na Castiel Corporation, ou Castiel como é
maioritariamente conhecida, dirijo-me a minha sala.
Omar Castiel CEO
Não me canso de contemplar o meu nome gravado em letras
douradas na grande porta de madeira esculpida, pintada em
tons negros, lembra-me o esforço e determinação que tive
para chegar onde cheguei.
Neto de avós portugueses, a minha família desde sempre fez
parte da Burguesia sendo dessa forma, a maior investidora a
nível europeu. Claro que o nome ajudou-me no processo de
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construção do meu império, mas orgulho-me dizendo que
sozinho cheguei no patamar que atualmente encontro-me e,
ocupo a segunda posição no ranking dos 10 homens com
grandes patrimónios a escala nacional, perdendo apenas para
Nicolas.
- O Gru Maldisposto deve estar a chegar – ouço Ivan
tagarelando – particularmente, acho que ele tem tido
problemas de ereção e tal, o homem já é arrogante de
natureza, mas ultimamente tem estado de parabéns.
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termos passado duas horas sentados a ouvir os primeiros
oradores.
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algumas raparigas olhavam para ela e riam-se com deboche.
Estranhamente, irritou-me.
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- Está com algumas amigas no quarto a preparar-se –
responde o meu pai aproximando-se com a sua taça de vinho
nas mãos, beijando a bochecha de minha mãe. – Por incrível
que pareça, ao invés de uma grande festa, ela preferiu um
jantar intimista com a família e alguns amigos.
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Olho seco para ele e ao notar a minha irritação dá o seu
sorriso padrão e tira a minha filha dos meus braços, o que
passava em minha cabeça quando o nomeei padrinho da Íris.
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- Já deitei a bebe – diz Luena fazendo carinho em minhas
costas – acho que podemos aproveitar um bocado agora.
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interesse e a mãe dela foi a principal fomentadora. Tivemos
uma discussão feia e chegamos até a terminar. Porém três
meses depois ela conta-me sobre a gravidez, e que não quis
dizer antes para que não achasse que ela deu-me o golpe. Pela
minha filha decidi pôr o assunto atrás das costas e seguir em
frente ocultando os verdadeiros motivos da temporária
separação para a minha família. Foi então que Ivan e Nicolas,
principalmente, começaram com o distanciamento de Luena.
Depois de um tempo Ivan reconsiderou, e Nicolas prefere
simplesmente continuar assim.
O nosso casamento foi bom durante um ano, mas quando Ivan
tornou-se o meu principal advogado tudo começou. Ciúmes
desnecessários, brigas, ameaça tirar-me a Íris se não fizer as
suas vontades e estou simplesmente farto desse inferno. Tão
farto que já atirei a aliança para cara dela e prometi que seria
questão de tempo até acabarmos com isso.
E assim prossigo, uso a aliança em ambientes familiares e
algumas reuniões, as privadas de preferência, pois para mim
este casamento já deu e faço questão de deixá-lo longe dos
holofotes.
Farto dos pensamentos, voltei para o quarto e Luena havia já
adormecido, deitei-me e desliguei a luz do abajur sucumbindo
ao cansaço.
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Capítulo 2
- A Íris está melhor, hoje vou levá-la aos meus pais – diz-me a
Luena – sou capaz de chegar ligeiramente tarde, Laura chegou
de viagem para férias e já sabes como ela funciona.
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por essa menina. É a única que consegue em poucos segundos
desfazer esse meu ser duro e implacável.
- Senhor Ivan, dessa forma fico sem saber o que dizer – diz
tímida e visivelmente envergonhada ao notar a minha
presença – senhor Castiel, quer que eu pegue alguma coisa
para comer?
- Claro que vim irritar-te, o que mais farei a essa hora? Hoje
tenho julgamentos apenas na parte da tarde e alguns casos
para analisar, fora isso sou todo para ti, não digas a mula
burra ou ela morre de ciúmes, aliás eu sou um ser irresistível.
– Responde-me com o seu sorrisinho irónico.
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Quase consigo imaginar Íris ocupando o meu lugar com a
personalidade forte que ela já demonstra ter.
Eu sei que babo pela minha filha, mas, ela foi de longe o
melhor que já aconteceu em toda minha vida.
Desde a minha adolescência que sou conhecido como sendo o
Castiel fechado. Nunca estive aberto para novas amizades e
desde sempre tive uma postura implacável, até certo ponto
ajudou-me bastante na construção daquilo que hoje sou e
tenho. Ao invés de palavras eu prefiro falar com o olhar que a
maioria diz ser intimidador e ver-me sorrir é quase
impossível sem Íris por perto.
Sou diariamente criticado pela minha família e amigos, porém,
é o meu ser e nada poderão fazer, somente aceitar e respeitar.
Olho para o relógio e marcam 12:40pm, é incrível como o
tempo passa dentro deste escritório. Saio para o almoço e
decido ir ao restaurante onde levei os rapazes a almoçar no
dia anterior.
Estaciono o carro a três minutos do mesmo e, vou caminhado.
Paro para retirar o telemóvel do bolso da calça que trago
vestida e sem querer vou contra alguém no meio da multidão.
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- Estás de saída? – Pergunto.
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- O almoço faz parte do meu pedido de desculpas, logo não
tens de preocupar-te com nada, desfruta. – Digo numa
tentativa de acalmá-la.
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- De momento o meu maior compromisso é ouvir-te e acho
que já não quero ter outro. – Respondo meio agradecido por
ter deixado a aliança no carro mais uma vez. – Então e tu?
Algo mais que a universidade?
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- Não lhe vou trazer problemas? – Questiona-me.
- Eu sou o CEO meu amor, quem deve achar que tem algum
problema são as pessoas com as quais eu quis reunir –
tranquilizo.
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Rendida as minhas palavras, caminhamos até o meu carro e
ela pede-me para tocar a sua playlist, confesso que gostei,
gostei ainda mais das músicas que ela cantava animada,
porém, a medida que nos aproximávamos de sua casa, num
bairro humilde, notei que o sorriso em seu semblante
desaparecia. - É aqui. – Diz-me ríspida. – Obrigada pela boleia
e pelo almoço, foi muito agradável passar tempo consigo.
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Capítulo 3
Graziela Giménez
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tenho de comer porcaria porque a princesa mimada não
consegue fazer nada em condições. – Declarou.
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- Ele não fará isso porque eu não deixarei – declaro tentando
conter as lágrimas, como sempre fiz a frente dela – amanhã
antes de sair para universidade eu falarei com Elena para que
fiques em casa dela todos os dias até que eu chegue, passarei
por lá primeiro e juntas voltamos para casa. Combinado?
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- Então terá de fazer por merecer senhor Castiel.
Pousei o telemóvel, com medo da resposta, sorrindo. Mas o
mesmo sorriso desapareceu ao lembrar que estaria longe de
dar o que ele merece e não suporto sequer a ideia de ter um
homem a tocar em mim. Não outra vez.
Dou por mim sentada na cama a ler um livro qualquer sobre
receitas, eu sempre quis fazer sobremesas saborosas como a
minha mãe, enquanto viajo em meus desvaneios notei que a
porta do quarto se abre e, logo vejo o meu padrasto entrar.
Eu olhava desconfiada enquanto ele aproximava-se abrindo o
cinto e o zipper da calça que trazia vestida em seu corpo.
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o fizesse mas a única coisa que ouvi e vi foi o seu gesto
colocando um preservativo em seu membro.
Apertando as minhas bochechas com sua mão direita, olhava
para mim fazendo-me prometer que jamais contaria a alguém
ou faria o mesmo com a minha irmã de 1 ano apenas e daria
um jeito na “vida” da minha mãe.
Encurralada, sem saída e lutando em vão contra um homem
que tem o dobro do meu tamanho consegui somente agarrar-
me a madeira da minha cama e fechei os olhos arfando de dor
enquanto ele penetrava em mim.
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freneticamente a cara passando água simultaneamente em
meu corpo na tentativa de tirar as manchas do seu toque que
como uma tatuagem, fixou-se em mim… incrível como senti,
eu senti e ainda sinto tudo ainda que 9 longos anos tenham
passado…
- Deus, se já não sou digna de Te pedir alguma coisa perdoe
pelo egoísmo, mas te peço, permita-me ultrapassar isso. –
Clamo entre choros.
Voltando para o quarto olho para o telemóvel que marcava
02:25am, noto em seguida que Omar respondeu-me
- Sempre tive um certo prazer em ser subestimado.
Deitada com o telefone sobre o peito lamentava. Desculpa
Omar, estou longe de ser aquilo que tu queres.
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Capítulo 4
Omar Castiel
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Após um delicioso banho, saio para o pequeno almoço e vejo
minha pequena em sua cadeira para refeições. Dou um beijo
nela enquanto aprecio-a a comer. Como está independente.
Peço a dona Rita para preparar algumas coisinhas necessárias
para levá-la a piscina do condomínio, de algumas horas.
Precisávamos de algum tempo de qualidade juntos.
Fui até o escritório e voltei a checar o telemóvel e, nada de
Graziela. Incomodado decido mandar outra mensagem
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- Não, a Luena não tem qualquer interesse sobre o que faz-me
feliz, querias avisar-me alguma coisa? – Pergunto.
- A dona Rita disse que ficarás com a Íris, sendo assim, vou ao
shopping com a minha mãe e irmãs, se calhar depois tratarei
das unhas, cabelo, etc. – Diz olhando para mim desconfiada.
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completar 15 anos de idade e, finalmente ir para um convento
– respondo divertido.
Assinto.
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- Com que então as princesas decidem tirar o dia para
apanhar sol e não sou convocado? – Pergunta Ivan tirando os
óculos escuros da cara encavilhando-os em sua t-shirt. – Estou
acostumado a traições vindas de vocês, mas foram longe
demais.
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Entre sorrisos expliquei então ao Ivan o que já havíamos
conversado e fiquei surpreendido com seus conselhos. Ele
consegue ser parvo e inconveniente sim, porém, quando as
circunstâncias obrigam ele torna-se a pessoa mais séria
existente na face da terra. Daí o seu sucesso como advogado, é
incrível que em audiências o Ivan parece ser outra pessoa.
- Eu sei, é que tenho aguentado tudo isso pela minha filha, ela
tem sido a motivação para tudo nos últimos dois anos. –
Declaro chamando a atenção de ambos.
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Irritado e visivelmente incomodado com o rumo do assunto,
Nick decide então desconversar fazendo piadas e brincar com
a cara e paciência de Ivan.
Piadas, histórias do passado e suspiros de mulheres
presentes na área da piscina preencheram a nossa tarde de
sábado. Quando o relógio marcou 18:00pm decidi voltar para
casa visto que Íris já descansava em meu colo por estar
exausta. Despeço-me dos rapazes e sigo então para o meu
apartamento.
Pouso a minha princesa em sua cama e, depois de um banho,
deixo-lhe com a dona Rita para que eu possa fazer o mesmo.
Deitamos os dois no sofá e rendo-me aos desenhos animados
que ela escolhe, pelo andar da carruagem, brevemente saberei
cantar todas as canções da Moana. Rendidos ao cansaço do dia
acabamos por adormecer no sofá, desperto apenas a meia
noite, quando Luena chega e leva Íris para o seu quarto.
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aproximavam-se com interesses materiais e mostravam, ainda
que com o menor dos gestos, o receio que tinham de ser
ignoradas e ela não. É tão nova e tão diferente… melhor parar
de pensar nisso.
Como sempre foi, o domingo passou a voar dando lugar a
segunda-feira que consigo acarretava estresse,
responsabilidades e tudo que eu quis evitar. Estou a ponderar
seriamente tirar umas férias após a inauguração da filial em
Bruxelas, coisa que não faço a dois anos.
Saindo do elevador, posto no andar do meu escritório, de
longe ouço a irritante voz de Ivan. Como costume, tenta
engatar a minha secretária como já fez com metade das
secretárias da Castiel. A dada altura, dormia ele com duas ao
mesmo tempo e quando uma delas soube da existência de
outra e que trabalhavam no mesmo edifício criou tamanha
confusão que fui obrigado a dispensar as duas.
- Pensa nisso baby, eu sei que não são todos os dias que
aparecem homens como eu literalmente de bandeja em tua
mesa, são oportunidades que acontecem apenas uma vez na
vida! Aliás, olha bem para mim, sou maravilhoso.
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teus robôs voadores com poderes a voar sobre a casa? –
ironiza.
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incansavelmente procuro por ela com meus olhos, analisando
tudo e todos que saem da universidade.
Minutos depois, quando quase desisti por achar que já deverá
estar em casa, vejo Graziela saindo algo apressada e a mesmo
tempo linda dentro de um vestido florido e sandálias rasas.
Três raparigas param em volta dela e automaticamente sua
cabeça abaixa-se, aliás, ela parece andar a todo o momento
com a cabeça ligeiramente baixa daí termos chocado duas
vezes. Noto que fica meio aflita e, de um momento para o
outro, uma das raparigas derruba o seu material
propositadamente fazendo com que caia no chão.
Rapidamente saio do carro e sem que a mesma note que me
estou a aproximar, chego perto delas e chamo a sua atenção
falando com ela.
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Achei que fosse resmungar, mas simplesmente limitou-se a
seguir-me enquanto eu carregava a sua pesada mala.
Postos no carro, comecei por dar partida e ambos estávamos
num insuportável silêncio.
- O que veio fazer a universidade? – Questiona quebrando o
silêncio.
- Com todo respeito acho que não lhe diz respeito, o que faço
ou deixo de fazer só a mim interessa. – Respondeu-me.
- Graziela eu não sei que ideia minha tens em mente, mas, não
te vou deixar sozinha correndo perigo dentro de táxis. Queira
por favor indicar o caminho e apanhamos a tua irmã,
posteriormente deixo-a em casa. – Digo em tom imperativo
fazendo com que a mesma cedesse.
20 minutos depois chegamos a uma casa visivelmente
humilde num bairro próximo ao de Graziela e a mesma entrou
nessa mesma casa.
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Ao sair da humilde casa, traz uma menina que aparenta ter
9/10 anos de idade e uma jovem que deverá estar na sua faixa
etária.
- Gostaste tanto que toda cara come, eu trato disso – digo com
um breve sorriso e com o meu lenço limpo o excesso de
gelado existente em sua perfeita e pequena carinha.
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- Obrigado tio Omar! Eu não sei como agradecer. – Diz Lia
extremamente encantada e envolve-me num abraço
conseguindo somente abraçar-me até a cintura, o que me fez
sorrir.
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Ao chegar, dona Flávia espanta-se outra vez com a minha
precoce chegada e, depois de dar um beijo em Íris e levá-la
comigo até a sala de estar para juntos assistirmos os seus
desenhos favoritos, pego no telemóvel e sorrio ao encontrar
uma mensagem de Graziela.
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- Se já não tiveres nada mais a dizer, começarei agora a série e
não sou adepto de interrupções.
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Estou bem arranjado, eu sei!
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Capítulo 5
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indignação que Graziela fez quando fui até a sua universidade
tirá-la da aula e levá-la para almoçar por ela ter brincado que
estava a “morrer a fome”. Sou capaz de ter exagerado um
bocado, mas, mais vale prevenir, não é?
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pontas soltas, cabe a ti claro, concordar e saber se estarás
pronto a ouvir e ver o que eventualmente encontraremos. –
Diz-me num tom levemente ameaçador mostrando a sua
seriedade e determinação, na verdade, estamos a falar com
Ivan como advogado e nisso não conheço outra pessoa que
faria melhor.
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Engulo em seco e suspiro.
- O teu olhar pode até funcionar com ela, mas comigo não
bebe. E se de facto for sério, melhor preparares a rapariga
para o que está por vir. – Acrescenta.
- Omar nem tudo está no teu controle, ela tem todo o direito
de escolher se quer lidar ou não com as consequências que
um relacionamento com um dos homens mais ricos de Angola
acarreta. E se ela efetivamente gosta de ti, descobrir por
terceiros fará com que a percas sem querer. – Diz tacando em
mim um olhar meio reprovador e sai da minha sala em
seguida.
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- Achas que deixar-te-ia aqui nesse estado? Não meu amor,
vamos buscar a Lia, comer e só deixo-te em casa quando
certificar-me que estas bem. – Respondo em tom imperativo
para que ela não tente rebater.
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muito refrigerante. Hoje vamos ignorar a dieta. – Declaro
divertido na tentativa de animar o clima.
- Que pena, por momentos acreditei que não era o único com
saudades e que ganhava um sorriso bobo ao ler as nossas
mensagens. – Digo deixando-a visivelmente corada.
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Chegando ao shopping, a caminho da praça de alimentação,
Lia passa a frente admirando tudo que vê como se fosse a
primeira vez.
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Capítulo 6
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E a tua história, eu não sei
Mas me diga só o que for bom
Um amor tão puro que ainda nem sabe
A força que tem
É teu e de mais ninguém
Te adoro em tudo, tudo, tudo
Quero mais que tudo, tudo, tudo
Te amar sem limites
Viver uma grande história
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- E Íris? – Questiono quebrando o silêncio.
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coração apertou, mas tenho de pensar no melhor para mim e
para Íris e manter essa farsa não fará bem a ninguém.
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por alguns dias. Roupas, perfumes, a pasta com instrumentos
para a minha higiene pessoal, meu lap top e minha carteira.
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essa situação eu continuarei a pagar as empregadas, o
condomínio e tudo que diz respeito a Íris, quanto ao resto,
arranja-te. – Digo passando por ela caminhado rumo ao hall
de entrada.
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agradável vista. Um jardim aparentemente bem tratado com
arbustos cortados em círculos e pequenas luzes embutidas
dentro deles.
Já dentro de sua casa, desço do carro e ele recebe-me com o
seu sorrisinho irónico ajudando-me com a mala.
Passamos pela varanda onde numa das cadeiras estava Ícaro,
seu irmão mais novo, sentado, entretido no computador.
Cumprimento-o e admiro o facto de estar tão crescido e ele
claro, orgulhou-se por mais alguém ter reconhecido o seu
crescimento.
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- Quando Nick chegar falo de uma vez, não quero ter de tocar
várias vezes nesse assunto e já basta o que terei de aguentar
com os meus pais e se calhar, com os familiares de Luena. –
Digo acabando num suspiro.
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- Então Omar, já nos queres dizer o que se passa? – Pergunta-
me o Nicolas e suspiro passando as mãos pelos cabelos, típico
sinal do meu aborrecimento ou irritação.
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- Já disse que quando queres tu pareces ser inteligente e
maduro? – Diz Nick admirando Ivan enquanto o mesmo
assente convencido.
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- Nunca pensei que estivesse vivo no dia que Omar respeitaria
uma mulher até esse ponto. Tu dormiste com a Luena no
segundo encontro. – Diz Nick divertido.
- Omar estás a passar por uma fase bem delicada, não tenho
muita experiência, mas sei o que as mulheres são capazes de
fazer por ciúmes e por sentirem-se trocadas. Aconselharia a
tomares cuidado e a alertares a rapariga com a qual tens saído
sobre o que vos espera. – Diz-me Ícaro e mostro-me meio
surpreendido com o que disse. É apenas um ano mais velho de
Micaela, mas não deixo de surpreender-me com o crescimento
de ambos, quase síncrono.
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Ela quer guerra, mas não darei a ela esse privilégio e
importância, serei vencedor nesse processo ao estilo Omar
Castiel, não me rendo por ameaças.
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Capítulo 7
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- Sabes, também senti a tua falta, não tens saído da minha
cabeça Graziela. – digo-a em tom de confissão.
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Horas depois, paro defronte a casa de minhas meninas, ao
despedir-me de Graziela com mais um beijo ouço palmas de
Lia que fingia estar a dormir nos bancos traseiros, satisfeita,
saem do carro e dou partida rumo a casa de Ivan.
Após algumas conversas, Ivan diz-me que o detetive por ele
contratado informou que começou a fazer progressos e que
no prazo de um mês entregar-nos-ia todas informações por
ele recolhidas. Assinto animado e esperançoso. Não daria
nenhum tostão para Luena, tudo meu que ela conseguisse
seria simplesmente por ser ela a viver com Íris e, devidamente
contabilizado.
- Omar, não nos podemos voltar a ver, obrigado por tudo que
fizeste por nós, mas não te quero por perto. Devolverei o
dinheiro dos presentes que ofereceste a Lia assim que tiver um
emprego. Por favor não nos procures.
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verdade… ela disse estar apaixonada por mim e agora isso?
Passa-se alguma coisa, isto não é da Graziela.
Mas não a vou incomodar, se calhar precisa de tempo e
espaço, de igual modo, preciso. E se calhar esse afastamento
pode ser benéfico pois, poderei focar no divórcio e depois
voltar para ela, somente para ela.
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Um mês passou-se desde o dia em que recebi a mensagem que
partiu o meu coração e tenho tentado não pensar.
Comprei um apartamento num condomínio próximo ao de
Ivan, mudando-me de sua casa fazia uma semana.
Quanto aos meus pais, achei que seria difícil contar-lhes sobre
o divórcio, porém, surpreenderam-me ficando do meu lado e
apoiando a minha decisão.
O meu pai inclusive, disse-me que estava estampado em
minha cara que não amava Luena e que o casamento deixava-
me infeliz e amargo, mas não quis ser o causador de um
eventual término deixando tudo em minhas mãos. Aliviado
por ter o apoio de minha família, aguardava ansioso pela
audiência de conciliação que ocorreria dentro de duas
semanas e o detetive contratado por Ivan ligaria e marcaria
uma data connosco, a fim de apresentar-nos o que tivera
descoberto.
Encontrava-me então sentado no sofá a comer pizza e
assistindo a série que Graz recomendou, era boa e
interessante, até que, sou interrompido pelo toque do meu
telemóvel.
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- É sim tio, a Graz não quis incomodar-te, mas a Elena deu-me a
ideia de ligar, sabemos que conseguirás resolver tudo. –
respondeu-me e por momentos deixei de sentir-me um inútil
ao notar a confiança e fé que Lia tem em mim, e se calhar
Graziela partilha da mesma opinião.
- Muito bem princesa, és sempre muito inteligente, agora presta
atenção, diz a Elena que chego dentro de 30 minutos e ligarei
para ela assim que chegar, não digam nada a Graz para que ela
não tente mudar as minhas ideias está bem?
- Esta bem tio, despacha-te! – diz-me e sorrio a sua adorável
ordem.
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Elena pede-me para aguardar no sofá enquanto chamaria
Graziela.
- Ela merece ser bem cuidada, a miúda não passou por coisas
fáceis. – Diz-me a mãe de Elena. – Eu tenho-a como uma filha e
digo sem medo de errar que ela é de longe uma das melhores
raparigas que já conheci.
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- Então acompanho-vos até o carro, vou so pegar a mochila de
Lia e a mala de Graziela. – Disse-nos Elena.
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- Férias não significam que deves estar acordada até altas
horas da noite, já passam das 9pm e a menina comeu antes de
sairmos de Elena, tomar banho e cama. – Diz Graziela tacando
outro beijo na testa de Lia e confesso que fiquei derretido com
o momento.
Damos privacidade a mesma saindo do quarto.
Mostro a Graziela o quarto que ocupará, e, o mesmo está
paralelo ao meu.
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contar sobre Luena e Íris para Graziela, o facto de ela cá estar,
torna as coisas mais reais e fico com raiva de mim por não ter
contado antes. As vezes detesto o Ivan por ter razão.
Sem querer pensar nisso, decido deitar-me e entrego-me ao
cansaço. Amanhã será um novo dia.
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Capítulo 8
Graziela Gimenez
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- A mãe dela está de plantão hoje, estás à vontade meu
caríssimo. – Respondeu-lhe o Jorge enquanto que, com suas
peludas e duras mãos, apertava meus peitos forçando-me a
dizer palavras obscenas.
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- Eu vou matá-lo. – Disse-me seco. A frieza em seu olhar e em
suas palavras assustaram-me. – O que acontecera hoje mais
cedo? Porque ficaste desse jeito?
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- Estão seguras. – Diz ríspido. – Jamais permitirei que algo do
género volte a acontecer e eu prometo-te, eu vou afundar esse
traste e quem desejará nunca nem ter visto a luz do sol será
ele.
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Capítulo 9
Omar Castiel
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- Mandarei alguém para ajudar-te, e quanto ao telemóvel,
resolveremos isso. É um instrumento importante, podes estar
de férias, mas precisarás dele. – Respondo.
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Saio do quarto e surpreendo-me com Lia “lutando” para
conseguir ligar a televisão. Delicadamente, dou um beijo em
sua testa e ajudo-a, mostrando os canais que tem a disposição
e as demasiadas funções que a tv contém.
Viro-me e noto que a mesa, existente na sala de jantar, está
posta.
Tem pães, enchidos devidamente decorados num grande
prato, omeletes, leite, frutas e sumo natural, por sinal. Meio
espantado, agradei-me com a surpresa pois era hábito ter isso
feito por dona Flávia e saber que Graziela, além de linda,
possui dotes culinários, fez com que a paixão por ela,
aumentasse mais e mais.
Vestida somente com a sua camisa de noite, chama Lia que
entretida olhava para tv e momentos depois junta-se a nós.
Visivelmente mais animada, conversa sobre temas diversos
com a irmã e como um bobo, aprecio-as. Só faltava ter Íris
sentada numa das cadeiras e eu me sentiria o mais completo
dos homens.
Após a refeição, despeço as minhas meninas e saio para mais
um dia na Castiel.
- Estás com uma péssima cara, não que seja alguma surpresa,
porém, não pareces mesmo estar nos teus dias. – Diz Ivan
descodificando o meu semblante.
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- Estamos aqui amigo, o que se passa? – Questiona Nick
preocupado.
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13 anos de idade. – Digo e noto que após a minha última
revelação seus rostos endurecem, como quando recebi a
notícia.
- Ela foi violada duas vezes, a primeira somente pelo padrasto
e a segunda pelo padrasto acompanhado de um amigo. Quero
ressaltar de igual modo que o traste matou a sua mãe a
pancada e ela foi obrigada a viver com ele por anos pois o
mesmo tem a guarda de sua irmã. – Acrescento.
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Decido sair mais cedo e passo pelo Galérias Shopping. Olho
atentamente algumas montras e entro numa das lojas com o
objetivo de comprar vestidos para Graz, até surgir a
oportunidade de juntos, comprarmos tudo que ela precisará.
De igual modo passo por uma loja infantil e tiro coisas para
Lia.
A caminho da saída, deparo-me com uma loja de produtos
informáticos e lembro-me que Graziela ficou sem o telemóvel,
entro e lá finalizo as compras.
Chego a casa e mais uma vez sou surpreendido por um
caloroso abraço de Lia e um beijo de Graz, consigo facilmente
habituar-me a isso, e, ao notar que trago sacos, ambas
ajudam-me.
Olho para a sala de jantar e noto que outra vez, a mesa está
posta com três pratos, copos, talheres e sumos, sentindo
levemente o delicioso aroma que provém da cozinha dou
outro beijo em Graziela. Juro que não estou habituado com o
facto da minha parceira ter de cozinhar para mim.
- Sim, os três em tom rosado são para Lia, e o restante para ti.
– Digo tirando os óculos escuros que encavilhados estavam
em minha t-shirt. – E nada de dizer-me que devolverás o que
gastei, continuares a cozinhar será pagamento suficiente.
Ela sorri.
101
- Isso é para mim? – Diz Lia espantada e com um sorriso que
vai de uma orelha para outra.
104
Capítulo 10
105
- Quando terminares de babar respondo. – Digo e sorrio
sarcasticamente.
106
menina nunca serão os suficientes para esconder a grande
mulher que ela é.
- Sim, conheces?
107
Íris. Ligo de igual modo para Ivan e Nicolas convidando-os a
minha casa. Desde que mudei-me, nenhum dos dois cá esteve
e quero aproveitar que as coisas estão equilibradas para
apresentá-los a Graziela.
- Então Graziela, o que fez uma moça linda como tu, olhar para
o traste do Omar com outros olhos? – Questiona Ivan.
- Não sei, acho que, ele foi o único que olhou para mim
devagar, enquanto a coletividade olhou rápido demais. – Disse
olhando para mim e senti sinceridade em suas palavras,
derretido, dou um leve beijo em sua testa entrelaçando sua
mão na minha.
108
- Folgo em saber caríssimo, a Consultoria Albuquerque tem
um ótimo programa de estágio, com direito a generosa
remuneração. Segunda-feira teríamos todo gosto em recebê-la
para uma entrevista. – Responde-me o Nick e, Graz agradece-
lhe com um rápido abraço olhando para mim sorridente. A
sua alegria contagia-me de um jeito inexplicável.
- Mas ele tem a guarda de Lia, se for preso agora, para onde a
minha irmã irá? – Pergunta desesperada.
109
- Não te preocupes, afinal, já tens uma entrevista de emprego
marcada, podemos dar algumas semanas até que adaptes,
claro que, devemos contar com alguma reação por parte de
Jorge, porém, aproveitemos que as coisas estão calmas. Ao
fazer a denúncia, apresentaremos logo em seguida provas de
que estás mais do que apta para cuidar de Lia. – Responde-lhe
tranquilizando- a.
111
- Omar, passa-se alguma coisa? – Pergunta-me desconfiada. –
Pareces estar distante.
112
- Tem calma, Romeu, eu pude notar que sim, ela é uma miúda
excecional, mas ainda há o pormenor de Luena. – Diz
chamando-me a razão.
Assinto.
- Falarei com ela assim que chegar a casa, queria que tratasses
desse assunto primeiro. – Digo olhando para os papeis em
minhas mãos.
- Ainda bem, não vejo a hora de acabar com tudo isso e ter paz
para viver com as minhas miúdas. E obrigada pelos conselhos
amigo. – Digo satisfeito e o mesmo sai do meu escritório
deixando-me sozinho.
113
Posto em casa, Lia cumprimenta-me alegre e conta-me que
dona Marta levou-lhe a dar uma volta pelo condomínio a fim
de ambas conhecerem melhor o perímetro, e ficou encantada
sabendo que o condomínio possui uma enorme piscina e um
restaurante com parque infantil.
Após ouvi-la e dizer que no final de semana iriamos a piscina,
fui ao meu quarto. Desaperto a gravata e pouso a minha
maleta sobre a cama após tirar os papeis que me foram dados
por Ivan.
Conecto o meu telemóvel a mini coluna, onde a playlist por
mim criada começa a tocar. É incrível o poder que a música
tem nesses momentos da nossa vida.
A porta do quarto abre-se, revelando então a Graziela que,
linda, entra. Dá- um leve beijo na cara e conta-me
entusiasmada que além da entrevista, teve um dia
experimental e foi admitida começando na próxima segunda-
feira as 10 e, como já não precisa estar na universidade com
frequência está satisfeita com o horário.
114
- Eu quero que ouças com bastante atenção e antes de tomar
alguma decisão, ouve-me. – Ela fixa os seus olhos nos meus
quando indiretamente noto que o som da coluna tomava
conta do quarto formando uma espécie de trilha sonora.
O motivo de ultimamente estar desse jeito, é o facto de não te
ter contado que eu tenho uma filha e tive uma esposa, digo
que tive, pois agora, estamos a divorciar-nos. – Declaro
enquanto tento decifrar a expressão em seu rosto que como
num passe de magica, escurece.
115
anos apenas. A Luena infelizmente estava comigo por
interesse misturado com um amor doentio, não fazíamos
amor sequer. Eu estou apaixonado por ti Graz e não contei
antes porque tive medo de recusares-me por ter uma filha ou
por ter sido já casado. – Digo suspirando.
Tell me your secrets
And ask me your questions
Oh let's go back
To the start
Running in circles
coming up tails
Heads on a science apart
116
It would be this hard
Oh take me back to the start
Coldplay – the scientist.
117
Sem rumo, paro e faço uma rápida pesquisa de hotéis,
dirigindo-me ao mais próximo. Podia ter ido a casa de Ivan ou
de Nicolas, mas apetece-me estar só e, Nick vive em meu
anterior condomínio, aumentando a possibilidade de cruzar
com Luena.
Após o check in, desço para o bar do hotel. Concentrando o
meu copo servido de whisky, penso em milhões de soluções
que ajudar-me-iam a reverter a situação com Graz. Seguro no
telemóvel e penso em ligar-lhe ou mandar alguma mensagem
…
118
Capítulo 11
Chamada on.
- Luena. – Digo ríspido e ouço choros. – O que se passa Luena?
Porque choras? Alguma coisa com Íris?
- Omar, sim, é a Íris. – Diz continuando o choro.
- O que tem a minha filha? Diz-me e para de chorar Luena. –
Digo impaciente e desesperado.
- Só vem, estamos na Clínica Resplandecer, do grupo
Albuquerque, vem a área de internação pediátrica. –
Responde-me.
- Internação?! Em 20 minutos aí estarei. – Digo e desligo
arrumando rapidamente as minhas coisas.
Chamada off.
119
- Alguma coisa aconteceu com Íris, Luena estava aos prantos e
disse-me que estão na ala de internação pediátrica da
Resplandecer, eu vou para lá imediatamente. – Declaro e é
inevitável a surpresa em suas caras.
- Eu… Eu… eu achei que a dona Rita não estava a cuidar dela
corretamente nos últimos tempos então despedi-a porque Íris
parecia estar mais cansada que o costume, ficava sem ar com
esforços mínimos, fora o facto de naturalmente ser propensa a
infeções. – Começa. – Então, no sábado notei hematomas em
sua pele, e fui logo contra dona Rita inclusive tentei avisar-te,
mas não atendeste então decidi deixar para quando ligasses.
Mas hoje cedo, a minha menina ficou completamente
desmaiada após ter corrido no jardim, quando descemos para
apanhar ar fresco e ao chegar cá eles disseram logo que é
120
necessário que fique internada para exames e agora está na
UTI.
- Ainda não têm, não disseram nada, nem pude vê-la. Ela
estava bem Omar, eu juro, eu não sei o que aconteceu, eu
quero a minha filha comigo. – Diz jogando-se em meus braços
aos prantos.
Ivan e Nick por sua vez aproximaram-se, tentando consolar a
mesma e bateram em meus ombros mostrando que estarão
comigo.
121
- É normal que nunca tenha ouvido, trata-se de uma rara
doença da medula óssea, ou seja, é quando a mesma deixa de
produzir ou produz em pouca quantidade as células tronco do
nosso corpo. Simplificando, é como se o próprio corpo criasse
anticorpos para combater as células tronco, células essas
responsáveis pela criação dos glóbulos brancos, vermelhos e
plaquetas, destruindo deste modo o sistema imunológico, pois
a médula encontra-se vazia.
- Mas ela sempre foi uma bebé saudável, porquê isso agora?
Ultimamente andava meio desanimada, mas sempre julguei
que fosse pela ausência do pai e … - Justificava Luena
enquanto eu a consolava abraçando-a levemente.
122
para a cabeça como se não acreditasse. E Ivan, agarrava firme
meu ombro mostrando que está aqui para o que precisarmos.
123
- Claro que sim Sr. Albuquerque, sigam-me por favor. – Diz-
nos a Dra. e saímos logo atrás da mesma.
“Sei que não queres saber de mim e que posso estar a ser
maçador, a minha filha foi diagnosticada com aplasia medular
e está na UTI desacordada, podes enxotar-me depois, mas,
preciso de ti Graz. Somente de ti “
124
E como era previsto, após tomar conhecimento minha mãe
começou a fazer as malas e garantiu-me que amanhã de
manhã cá estariam e Mica disse-me que ela também faria o
teste de compatibilidade se assim o fosse necessário.
Mais uma vez maravilhado com as pessoas que tenho em
minha volta, agradeço sem saber o que mais dizer, apoio
nessas situações de facto é tudo e aumentou o pouco de
esperança que tinha.
Terminei a chamada com a minha mãe e noto que recebi
resposta de Graziela.
125
mudar-me e… a minha namorada espera por mim. – Digo de
uma vez e seu rosto escurece.
- Lia diz-me que quando abraço-a dessa forma, ela sente que
tudo ficará bem. – Declara sem olhar para mim, mas mostrado
ternura e preocupação com seus gestos.
126
- Como está a pequena? Como será o tratamento dela? –
Questiona-me.
- Quero muito dizer que ela está bem, mas, estaria a mentir.
Está na UTI a receber sangue de transfusões, Luena ficou com
ela. – Disse e vi sua face mudar ao mencionar o nome da
Luena.
- Eu falei de ti a Luena. A qualquer momento ela saberia e se
me vais apoiar nesse momento é bom que tenha
conhecimento.
- Eu não disse que está tudo bem Omar, mas não posso ser
hipócrita dizendo que sinto-me indiferente. Eu vou apoiar-te,
mas, após a melhoria de Íris, terás de reconstruir a confiança
que tinha em ti, pois em condições normais o mais certado
seria resolveres os teus problemas primeiro e não decidir por
mim.
Assinto.
Ela assente.
129
Incrivelmente a minha menina percebeu e endireitou-se nos
lençóis, desligando completamente poucos minutos depois.
Saio, e encontro meus pais sentados e decido aproximar-me
de ambos.
130
Castiel sempre teve os melhores conselhos e não mede
esforços quando trata-se da felicidade dos seus filhos.
- Espero que ao menos ela seja a irmã que nunca tive, estou
farta de ser a única menina. – Declara Micaela revirando os
olhos e sorrio puxando-a para os meus braços.
- GRAZ! Podes chegar até aqui por favor? – Grito por ela.
131
- Graz, são os meus pais e a minha irmã mais nova, minha
outra princesa. – Digo.
132
- Olha Omar, sinceramente, desisto de ser teu melhor amigo.
Não reconheces o valor que tenho. Graz, acho que somos
melhores amigos agora. – Diz-me mostrando estar magoado e
todos riem de suas palavras.
- Eu marquei com Graziela hoje pois ela quer uma medida
cautelar contra Jorge. – Acrescenta e assinto surpreso por
Graz não me ter contado.
- Querida não é …
133
conversaremos, somente de mulher para mulher. – Diz a
minha mãe agarrando a sua mão acarinhando.
134
agora, sei que as minhas suspeitas estavam certas e não a
censuro.
Charles, mostrou-nos fotos íntimas de Luena com mais um
homem, além de Victor, coisa que deixou Nick e Ivan
perplexos e boquiabertos.
135
- Que não sou o pai de Íris. – Digo seco.
138
pesar para Luena que, automaticamente baixa a cabeça como
se tivesse sido derrotada.
- Sr. Castiel, tal como a senhora Luena, o senhor não é
compatível com Íris, aliás…
139
As últimas palavras ecoaram repetidas vezes em minha
mente…
Está confirmado. Íris não é minha filha. É de Luena e Nicolas.
Bruscamente saio da sala e procuro logo o seu quarto. A
minha mente recusa-se a aceitar que tudo não passou de uma
maliciosa mentira.
140
mais amo e, parabenizo-te. Fizeste com que o grande Omar
Castiel fizesse figura de parvo. – Digo cuspindo as palavras.
141
No verso do homem implacável e decidido, sempre existiu um
menino indefeso que mal sabe posicionar-se nessa grande
aventura que é a vida.
142
- Ouvi-te chegar, está tudo bem? – Pergunta.
E com a letra da canção ainda entoando minha mente, puxo-a
para mim e simplesmente enrosco-me nela. Queria
simplesmente que a sua presença fizesse magia levando toda
essa dor.
143
O seu cheiro e o suave gesto da sua mão, entrelaçada nos
meus cabelos, transmitem uma paz que, ainda que tentasse
explicar, escusado seria.
- Quando quiseres contar detalhes, estarei pronta para ouvi-
los. – Diz-me.
Lembrando da promessa que fiz a ela e a mim, suspiro. Eu
devo isso a ela. Tenho de ser completamente aberto e honesto.
- Resumindo, Íris não é minha filha. – Digo e simultaneamente
seu semblante exala dúvida e confusão. – Fiquei exatamente
como tu. Hoje descobri que a minha menina, não é minha e
sim de Luena com Nicolas.
Antes de nos casarmos. Luena e eu havíamos terminado pois
algumas falcatruas suas vieram à tona. Ela mentia-me, dizia
que sua mãe estava muito doente e não tinham meios de
custear o tratamento e eu, apaixonado por ela na altura,
deliberadamente custeava. Afinal a senhora nunca esteve
doente e usavam o meu dinheiro para fins pessoais. Três
meses depois a mesma reapareceu dizendo estar grávida,
alegou que escondeu por um tempo pois não queria que eu
achasse que fosse um golpe. Afinal, Nicolas e ela envolveram-
se numa noite em que ambos estavam bêbados e combinaram
nunca revelar a ninguém, já não namorávamos, logo, não teria
importância.
Mas o filho era de Nicolas.
Estou a tentar perceber o real motivo. Eu não quero acreditar
que Luena é dissimulada a esse ponto. Se fosse somente por
dinheiro ela podia revelar ao verdadeiro pai. Além de a ter
questionado sobre a paternidade, Nicolas tem o património
maior que o meu.
144
- Não faço ideia do quão magoado possas estar, é muito difícil
ter de lidar com isso. Porém, tu e Nicolas precisam conversar
o mais rápido possível. Íris está doente e não será nenhum
benefício existir essa rivalidade entre vocês. Não agora. Ela é
tua filha sim, mas também é de Nicolas que foi impedido de
desfrutar da menina por uma mentira da tua Ex. mulher. Erros
são frequentes entre as pessoas, na verdade, é o que nos torna
humanos. Temos de achar as melhores formas de lidar com
eles. – Diz-me.
Assinto.
Graziela tem razão, minha única preocupação deve ser Íris e
para uma melhor vivência tenho de falar com Nicolas.
Apesar de não estar preparado, a doença da minha pequena
pode agravar-se e verdade seja dita, de momento Nicolas é o
único que a pode salvar. E isso dói.
Dói porque sinto-me impotente. Dói porque enxergo esse
simples facto como a maior das provas que a minha princesa
não tem o meu sangue a correr nas veias, somente o meu
amor em seu coração.
Pego no telemóvel e ligo a Ivan, pedindo que de noite venha
ter comigo acompanhado de Nicolas e o mesmo assente,
embora apreensivo.
Tento passar o resto do dia sem focar muito o pensamento
nisso, mas torna-se complicado ao receber a chamada de
minha mãe chocada e abalada pela notícia.
Porém, a mesma utiliza outras palavras para dizer-me o que
foi dito por Graziela. Íris não precisava sentir vibrações
negativas nesse momento. Será estranho e desconfortável,
mas a sua saúde e bem-estar em primeiro.
145
Aproximando-se a hora marcada, Graziela pede a Lia que
fique no quarto a fim de adiantar alguns trabalhos de casa que
tinha.
Sentada na sala, do meu lado, levanta-se ao ouvir a campainha
tocar, e, ao voltar, atrás dela estão Ivan e Nicolas, visivelmente
constrangidos. Graz convida-os a sentar deixando-me cara a
cara com Nick.
O clima é constrangedor e o único som audível é o da televisão
que apresentava um programa de culinária qualquer
escolhido pela minha namorada.
Olhando firmemente em Nicolas, tento dizer algo mas
fraquejo.
- Omar, antes que digas alguma coisa, eu quero mais uma vez
desculpar-me. Sei que não é o suficiente, mas é sincero. – Diz
Nick quebrando o silêncio enquanto Ivan observa-nos.
- Eu sei que não levará, por isso farei tudo que estiver ao meu
alcance para salvá-la, começando pelo transplante da médula.
Mas também quero que saibas que pretendo estar do lado
dela o máximo que puder. Não é querer desafiar-te. Eu errei
ao dormir com Luena sim, mas, por duas vezes eu questionei a
mesma sobre a paternidade e ela negou-me. Eu fui negado a
ter a minha própria filha por perto e ela sempre esteve
literalmente debaixo do meu nariz. Isso também dói. – Declara
Nicolas.
146
- O que Nicolas quer dizer é que, ele admite a borrada que fez,
mas Omar usemos a lógica, tu e a Luena estavam separados,
Nick nunca quis estar com ela e aceitou beber um copo por
mera cortesia, pela consideração. Sabemos que a mesma está
num momento delicado como todos estamos, mas, a maior
quota de culpa pertence a Luena. – Acrescenta Ivan.
- Quando caí na real e percebi que não sou pai de Íris, algo em
mim morreu, como se tivessem arrancado literalmente uma
metade do meu corpo. Sendo o pai biológico um dos meus
melhores amigos, fez com que a dor dilatasse. Nicolas, perdoo-
te, mas a nossa amizade precisará de tempo para voltar ao
normal. Eu precisarei de tempo para voltar ao normal e
espero que a conversa futura com Luena seja somente para
acertar como ficarão as coisas em termos legais e ouvi-la dizer
o motivo que levou-lhe a isso.
Confesso que pensei nos mais hostis cenários, em que eu e tu
entraríamos numa disputa legal pela guarda de Íris, mas, não
seria capaz de submeter a minha princesa a isso. Espero não
ser obrigado a afastar-me dela. – Declaro.
147
- Concordo plenamente. Tenho de admitir que imaginei o
mesmo, desde o momento em que tive a certeza da minha
paternidade, só passa em minha mente compensar o tempo
que não passei com ela. Obrigado Omar, por mais uma vez
mostrares o quão humano és, o quão humano somos. E por
perdoares o que em minha ótica é imperdoável. Sem forçar,
tudo farei para que a nossa amizade renasça. Aliás, és o pai da
minha filha. – Diz Nicolas estendendo a mão para um aperto
enquanto Ivan e Graz olham para mim torcedores.
148
Micaela e minha mãe também lá estiveram. Apesar da
chocante revelação, tinham Íris como membro da família e
por ser a “primeira neta” desde sempre teve um carinho
especial, carinho este que não dissipará com facilidade.
Graziela já fala mais comigo, preocupou-se durante o dia todo
e inclusive pediu que a mostrasse fotos de Íris, orgulhoso,
mostrei. Mais uma vez consolou-me dizendo que será difícil,
mas acabarei por aceitar completamente a realidade e que
tinha a certeza de que Nick e eu voltaríamos a ser os mesmos.
Coisa que duvido muito.
Lia aproveitou-se do facto de ter-me em casa e não largou-me,
literalmente. E de facto estava cheio de saudades dela, quando
a noite caiu levei a ela e Graz aos gelados, precisava de
momentos assim com as duas.
Ao chegar a casa, aconchegamos Lia e fomos ao meu quarto,
antes de adormecer pedi a Graziela a sua companhia quando
fosse a clínica visitar Íris, sua cirurgia seria marcada e não
quis deixar de participar. A mesma revelou-se apreensiva,
mas, garanti que não haveria nenhum problema com Luena e
seus familiares.
Chamada on.
- OMAR… OMAR!
- Nicolas? O que se passa? Porque ligas a essa hora? –
Questiono confuso e Graziela olha-me com a mesma
expressão.
149
- É com a Íris Omar! - Responde-me desesperado. - Tens de
vir para cá agora. Agora!
- Em poucos minutos chegarei. – Digo e desligo.
Chamada off.
- Meu Deus, vai dando notícias, estarei aqui, a orar por ela e a
espera. – Diz-me.
150
- O que se passa Nick? Porque estão todos assim? – Pergunto
mesmo fazendo ideia do que se passa. – O que aconteceu com
Íris?
- Ela se foi Omar, a minha filha faleceu, nem tempo com ela
tive… - Declarou Nicolas com lágrimas nos olhos e, pela
primeira vez vejo-o chorar. – Íris se foi e eu nem pude chamá-
la de filha olhando em seus olhinhos. Ela estava bem, brincou
com a minha mãe inclusive.
- Omar ...
151
- Quero vê-la, por favor. – Digo olhando para Nicolas e ele
assente.
152
Minha única filha, já não está entre nós.
- Meu amor, eu estou aqui para ti, estarei sempre. Não sairei e
sentiremos essa dor juntos. – Declara e agarra-me mais forte
fazendo com que eu sinta suas lágrimas molharem meu rosto.
Afogo a cara em seu peito e Lia, que despertou com o barulho,
delicadamente abre a porta do quarto e junta-se a nós,
Graziela cuidadosamente explica-lhe o motivo de estarmos
envoltos em lágrimas e a pequena instintivamente enroscou-
se em meu colo sem dizer nada, de alguma forma ela sabia que
a sua presença era o suficiente.
153
A vida jogou duro dessa vez, mas ultrapassarei, farei dos dias
de Íris os meus e, fazer cada um deles valer a pena.
Ela esteve no mundo com o propósito de ensinar-nos muito,
mostrou-me como amar, apreciar os pequenos detalhes, sorrir
para todos os passos dados, ainda que depois caísse e, por
último, a perdoar.
E aprendi.
Como retrospetiva, nossos momentos passam em minha
mente. Seu nascimento, o momento que chegou a casa,
primeiros sorrisos, primeira palavra, primeiros passos…
Ela viveu. Eu a conheci.
Aliás, eu a conheço.
Levará tempo, mas acabarei por aceitar e conformar-me. Pelo
menos, ela está onde já não existe dor e sofrimento. Talvez
seja boa demais para fazer parte deste mundo imundo.
A tua estadia na terra não foi em vão filha.
154
Capítulo 12
155
única coisa que importa-me é o bem-estar e segurança das
minhas miúdas.
Jorge, ao ser notificado fugiu do país sem deixar rastros e
assim deverá permanecer por longos anos, mas de todas as
formas, a guarda não está baixa e continuarei a ser protetor.
Lia… minha doce menina! Quando Graziela e eu finalmente
nos entendemos, disse a Lia que ela pode tratar-me
simplesmente por Omar, que eu sou como um irmão para ela
e, com algumas recaídas, conseguimos que a mesma chamasse
por mim sem vergonha e receios.
Ao chegar a universidade, encontramos os meus pais, Micaela,
Ivan, Elena e claro, Nicolas.
Eles garantiram que fariam questão de estar presentes em
todos momentos de nossas vidas, tendo em conta que somos a
única família de Graz e Lia, sinto-me feliz e realizado por
saber que não fazem por mim somente, eles de facto
aprenderam a amá-las e, Micaela inclusive, já troca
confidências com Graz.
Ivan continua o mesmo, fazendo-nos rir. Ao chegar, notei que
não parava de falar nem tão pouco tirava o olhar de Elena.
Quanto ao Nicolas, a morte de Íris serviu de aprendizado e,
decidi dar mais uma chance a nossa amizade, não tinha nada a
perder, pelo contrário! Ganhei muito mais. Tal como eu,
chorou a morte de uma filha e quase descartei esse facto. Para
quê complicar a vida? Lógico que estávamos a passar pelo
processo de reconstrução da confiança, mas tudo ficará bem.
Ivan conseguiu acelerar o processo de divórcio e o mesmo
deu-se por concluído fazem três meses. Depois do enterro e
assinar voluntariamente os papeis, Luena, ausentou-se do país
e por mais que me tenha feito mal, desejo de coração que
esteja bem.
156
- Olha Omar, lá vai a Graz! – Diz-me Lia entusiasmada e todos
começamos a gritar por ela. A mesma, ao notar a presença de
todos, sorriu emocionada.
157
- Eu prometo que sim Omar, ajudarei Micaela a arrumar o
quarto e vou pedir a Avó que compre alguns livros para
lermos. – Respondeu convencendo-me.
- Só mostra que não estas pronto para rejeição, que tal treiná-
lo para isso Elena? – Pergunto e a mesma fica vermelha de
vergonha enquanto o sorriso de Ivan desaparece ficando
sério. Sorrio ironicamente por saber que consegui afetá-lo.
Vendo o lado positivo, a ida de Lia fará com que eu e Graz
fiquemos a sós. Apreciarei a companhia dela ao máximo.
Despedimo-nos de todos e cada um segue o seu caminho.
Lia vai com meus pais, por incrível que pareça, Ivan
disponibilizou-se a levar Elena a casa, Nick deve ter ido a um
bar passar o tempo, Graz e eu estamos a caminho de casa.
158
- Omar!... – Diz enquanto destrói o embrulho bem elaborado. –
Amor! Não devias ter feito, para mim?
159
- O que se passa Graz? – Digo procurando-a com os olhos e a
mesma vem andando do wc, somente de roupão e pede-me
para fechar a porta.
Sem perceber, obedeço e sento-me na cama, conforme sua
orientação.
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Aprendi a amar os seus defeitos e sei que a nossa caminhada
não terminará agora… muito pelo contrário. Ela apenas
começou e quem diria! Quem diria que eu, Omar Castiel,
morreria de amores por uma rapariga da periferia, marcada
por traumas e 10 anos mais nova.
Sem dúvidas, eu nunca quis, mas, o coração é enganoso e hoje
eu, apaixonadamente, faço amor com a mulher que eu jamais
imaginei querer. Porém, ao tê-la, deixei de tolerar a ideia de
um dia querer outro alguém.
Fim.
161
sobre a autora
162