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Direitos autorais © 2020 Yasmim Leminnier

Todos os direitos reservados.

Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com
pessoas reais, vivas ou falecidas, é coincidência e não é intencional por parte do autor.

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Design da capa por: Hórus Editora.


Revisão: Gláucia Padiar.
Betagem: Joyce Ribeiro.
Dedico esse livro a todas as mulheres que lutam por seu devido reconhecimento,
por igualdade e para se proteger de qualquer mal. Dedico a você, mãe, guerreira,
trabalhadora, lutadora que precisa provar suas convcções dia após dia.
Índice
Direitos autorais
Dedicatória
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Epílogo
Livros deste autor
Prólogo

Entro na cabine lentamente enquanto empurro o carrinho com as


diversas bebidas e guloseimas, suspiro passando a mão sobre o
rosto e penso em como essa viagem está sendo cansativa demais.
Para a minha sorte e alívio os passageiros estão calmos e
agradavelmente silenciosos, pois todos estão entretidos de uma
forma diferente.
Coloco ambas as mãos no carrinho e jogo a cabeça para trás,
exercitando os músculos que estão tensos. Sinto-me esgotada,
aproveitando o intervalo decido correr para o banheiro privado, para
poder descansar alguns minutos e lavar o rosto. Assim que adentro o
banheiro, antes mesmo que possa acender a luz sou pega de
surpresa quando sinto duas mãos fortes rodeando minha cintura com
agilidade e destreza. Imediatamente fecho os olhos sentindo as
carícias deliciosas de John. Sinto o forte roçar da sua cintura contra
meu traseiro, enquanto suas mãos passeiam por meu seio coberto
pelo uniforme de aeromoça. Gemo baixinho quando sinto sua ereção
bater feroz na minha bunda. John está bem animado.
Mordo o lábio inferior enquanto travo uma guerra mental entre
ceder aos meus desejos sexuais com meu parceiro de trabalho ou se
recuso afastando-o de mim. John e eu dormimos juntos, por umas
três vezes desde que começamos a trabalhar na mesma linha aérea,
quando percebi que comecei a envolver a vida pessoal com a
profissional temi por meu futuro. John é o piloto enquanto sou
apenas a aeromoça, é muito mais fácil eu perder o emprego que ele.
Diante desses fatos decidi me afastar dando um fim ao nosso caso
cortando de vez as noites sensuais que compartilhávamos.
Sentindo-o mordiscando minha orelha tremo diante do seu
estímulo. Seu toque está mais selvagem, mais intenso e voraz, John
está diferente do habitual, mas faz tanto tempo que não ficamos
juntos... Esse tempo fez bem para ele, pois percebo que aprendeu
novos truques e está muito mais interessante...
Uma onda de coragem queima em meu interior, fazendo com que
eu rebole sobre o tecido do seu pau e jogue a cabeça para trás
repousando-a sobre seus largos ombros. A mão que antes brincava
em meu seio agora desce em direção à barra da minha saia, fazendo
com que eu engula em seco e morda o lábio com força em
antecipação.
Sua mão passa por minha saia driblando o tecido e somente isso
me faz perder totalmente quaisquer resquícios de dúvidas que ainda
tinha, sinto sua língua quente e úmida brincar na região do meu
pescoço e gemo novamente sentindo meu corpo corresponder aos
seus estímulos. Sua mão afasta rapidamente minha calcinha branca
de renda e brinca com meus lábios com maestria.
Sinto uma necessidade extrema de beija-lo, de sentir a textura
macia dos seus lábios nos meus ou de ao menos olhar dentro dos
seus olhos para que sinta todo o prazer que conseguimos
proporcionar um ao outro, porém a falta de iluminação da cabine
impede que eu consiga vê-lo e posso contar somente com meu tato
para explorar todo o seu corpo.
Gemo baixo novamente sentindo meu orgasmo sendo construído
lentamente, tento rebolar em seus dedos e o forçar a me penetrar,
porém, John gosta muito de preliminares.
No segundo em que abro a boca para resmungar sobre sua
demora em me penetrar, seus dedos invadem meu canal me
causando uma onda de luxúria e prazer.
— Meu Deus… — gemo sentindo o mais puro êxtase.
Minhas paredes vaginas sugam seus dedos de tal maneira, que
posso senti-los profundamente em mim. Sinto cada pequeno
centímetro de pele tentando conter o fogo que inflama em meu
interior. Cheia de desejo, rebolo contra sua mão, intensificando meu
prazer e forçando a mim mesma a chegar ao ápice.
Quando sinto que estou na borda, prestes a alcançar o ápice do
prazer, John retira seus dedos me fazendo protestar imediatamente.
Sua mão vai ao meu cabelo prendendo uma boa quantidade de fios,
sinto uma ardência carnal, então ouço um som agudo de metal e
segundos depois seu membro brinca na minha entrada.
A ponta quente da cabeça completamente protegida pela
camisinha entra contato com a minha boceta molhada e carente me
fazendo gemer, ele brinca na minha entrada com pinceladas calmas
e maestria me causando arrepios e espasmos por cada parte do meu
corpo. Quando novamente tenho a intenção de reclamar da sua
demora, sinto seu comprimento me penetrando completamente em
uma única investida, me fazendo arfar e arquear na sua direção.
— Você gosta disso? — Sua voz roucamente sexy, sopra no alto
do meu ouvido causando-me arrepios. — Gosta de ser fodida por
mim?
Sua voz está mais rouca que o comum e estranho por alguns
segundos, mas não consigo pensar em mais nada quando suas
investidas ficam mais intensas, duras e profundas me fazendo perder
todos os sentidos.
John puxa meu cabelo com força, ao mesmo tempo em que sua
outra mão brinca com um dos meus seios e sua boca instiga meu
pescoço conforme vai me tomando por trás.
— Goza para mim, goza comigo...
Sua ordem é meu limite, sinto que estou na beira do abismo e
quando sinto John entrar novamente, me jogo sentindo o êxtase
dominar cada canto do meu corpo. Afundo-me no prazer, me permito
amolecer e sorrio satisfeita.
John bombeia mais duas vezes, faz um movimento com a cintura,
imitando movimentos de rebolado e o sinto tremer sob minhas
costas, ele geme baixinho, solta alguns xingamentos e dá um tapa
suave na minha bunda.
Sinto sua respiração irregular soprando contra meu pescoço
quando se aproxima e o sinto ficar imóvel durante alguns minutos,
assim como eu, tentando recuperar suas forças e tranquilizar o
coração.
— Nossa! — sussurro, exausta. — Você está insaciável hoje,
John.
Falo virando-me lentamente na sua direção e paraliso com os
olhos arregalados quando vejo um par de olhos verdes me
encarando, compartilhando a mesma surpresa que eu.
Espera um momento...
John tem olhos castanhos!
Capítulo 01
Nayara Monteiro

Bebo mais um intenso gole do bom e velho uísque, sentindo o


líquido quente descer queimando como ácido por toda a extensão da
minha garganta. Faço uma careta entreabrindo os lábios e puxo uma
profunda respiração. Movimento a língua lentamente pelo céu da
boca, permitindo que um gemido baixo escape por meus lábios
assim que novamente sinto o salpicar amargo da bebida.
― Vai virar inteiro, Nay? — Heitor, meu melhor amigo e
acompanhante de várias noites de bebedeira, indaga sentando-se à
minha frente. Seus olhos azuis me encaram com divertimento e com
um sorriso gostoso e fodidamente sexy brincando no canto dos seus
lábios.
Desvio o olhar do palco onde um grupo de homens gostosos toca
alguma música envolvente e o encaro com a testa franzida. A parte
preferida de estar na grande São Paulo é, sem sombra de dúvidas,
estar nos clubes badalados. A música sempre alta e convidativa, a
bebida maravilhosa para todos os gostos e principalmente, o público.
As pessoas que geralmente costumamos encontrar traz em si um
aroma diferente, interessante e sempre atrativo.
― Pretendo virar apenas mais uma ou talvez duas — gracejo
sorrindo da forma mais sedutora que consigo. — Você é todo
certinho, nunca bebe nada comigo. — Faço biquinho, fazendo com
que uma risada gostosa escape por sua boca.
― Você é um perigo, bêbada, Nayara. — Balança a cabeça em
negação. — Você não me chamou para te acompanhar essa noite.
Bufo internamente, contendo uma enorme vontade de revirar os
olhos. Heitor é um homem bonito, gostoso, sexy e bom de cama. O
que foi? Não me julguem achando que só ligo para a gostosura e
beleza exterior, ele tem outras qualidades boas também.
É engraçado, companheiro, divertido e tudo mais. Ele é como se
fosse um pedaço gostoso de mau caminho, seu único defeito é ser
grudento e se apegar demais muito rapidamente as pessoas.
Heitor consegue conquistar qualquer mulher, seus olhos azuis
como as estrelas e seu sorriso pegador lhe garantem um passe livre
para se afundar em qualquer boceta por aí. Inclusive a minha, tenho
que admitir.
― Estava precisando respirar. — Ergo o dedo e indico o ambiente
ao meu redor. — Não leve para o lado pessoal, não chamei ninguém
para vir comigo.
Percebo que seu olhar segue a direção indicada e logo depois um
suspiro cansado escapa por seus lábios carnudos e avermelhados.
— Quer que eu vá embora?
Sua pergunta me pega de surpresa e depois de encher novamente
meu copo, o viro bebendo todo o conteúdo em um único gole. Tento
disfarçar uma careta e acabo por tossir algumas vezes, quando
consigo me recuperar sorrio encarando dentro dos seus olhos.
Levanto-me sentindo uma leve tontura passar por meu corpo e toco
seu ombro enquanto aproximo meu rosto do seu.
― Por que não dançamos um pouco e vemos o que acontece.
Hum?
Seus olhos azuis brilham, exalando um desejo cru e primitivo que
surge em seu interior. Ambos sabemos como a noite terminará, eu
estava lhe propondo uma deliciosa e envolvente noite de sexo como
muitas outras vezes.
Tenho consciência de que, assim que os primeiros raios de sol
surgirem Heitor estará com os braços ao redor da minha cintura me
prendendo contra seu corpo num carinho gostoso e é por isso que eu
deveria recuar.
Sei que Heitor sente alguma coisa por mim, mas graças a Deus
não sinto o mesmo. Sei que ele pode se machucar quando tudo isso
acabar, mas não estou prometendo um futuro bonito. Estou apenas
prometendo uma boa noite regada de sexo selvagem onde nós dois
estaremos satisfeitos no final.
― Já que você não vai me tirar para dançar, vou procurar outra
pessoa para...
Antes que eu consiga terminar minha frase Heitor se levanta da
cadeira, cola seu corpo no meu e começa a se mover guiando meus
passos para trás, rumo à pista de dança. Solto uma gargalhada
quando sua voz rouca e extremamente possessiva sopra contra meu
pescoço.
― Esta noite você será somente minha.
Subimos na pista de dança ao som de uma música envolvente e
bastante agitada. Sempre amei dançar, o que significa que sei
balançar bem meu corpo.
Heitor se posiciona ao meu lado começando a dançar, me envolvo
na letra da música, subo, desço e faço o quadradinho mostrando que
sei dançar. Um homem tenta a sorte ao se aproximar de mim, porém
meu acompanhante não deixa barato. Heitor segura minha cintura
com as duas mãos, deixando bem claro que não estou sozinha e me
puxa batendo meu traseiro com seu membro que já está bastante
duro.
— Ela está comigo, cai fora! — Rosna afastando o bêbado que
tenho que admitir, é bonitinho e sussurra ao aproximar sua boca do
meu ouvido. — Está vendo? Você é tão quente que chama atenção
de vários homens, mas essa noite você é minha, Nay.
Seu membro duro faz uma pressão gostosa na minha bunda, me
causando uma deliciosa sensação e seu gemido rouco me mostra o
quão excitado ele está. Porém, por mais que minha mente e meu
corpo desejem com todas as forças ser preenchida por Heitor, no
fundo, sinto-me mal por saber o quanto ele está envolvido comigo.
Conheço Heitor há muitos anos, viramos amigos quando eu
estava passando por um momento difícil em minha vida e pouco
tempo depois começamos a ter algo além da amizade. O sexo virou
costume entre nós dois, porém sempre deixei claro que seria apenas
isso, jamais seria capaz de retribuir seus sentimentos. Heitor certa
vez confessou estar apaixonado por mim, o desejo de estar ao meu
lado e construir uma vida comigo. Isso nos afastou por alguns
meses, nunca quis machucá-lo ou magoá-lo de alguma forma, mas
retribuir esse sentimento estava fora dos meus limites.
Decidimos entrar num acordo, seríamos amigos, parceiros e
cúmplices, transando ou não, porém não poderia ter sentimentos.
Tanto para protegê-lo de se magoar quanto para proteger a mim
mesma de sofrer novamente. Quando voltamos a conversar e sair
juntos, continuei com esse receio, Heitor por outro lado garantiu que
esse sentimento havia mudado e que entendia meus motivos na
época.
Confesso que nunca acreditei completamente em suas palavras,
quando Heitor veio conversar comigo e disse que, por termos uma
ligação especial começou a pensar que sentia algo a mais, porém
havia se enganado e que gostaria de manter nossa amizade acima
de qualquer outra coisa. A cada palavra que saía por seus lábios
pude sentir uma dorzinha em meu peito, como se no fundo soubesse
que é mentira, porém ele garantiu que estava bem e que somente
em ter-me por perto era o suficiente para fazê-lo feliz. Por fim,
acreditei, mas em todos os nossos encontros observo-o com cuidado
procurando algum resquício de amor, qualquer sinal de que eu possa
machucá-lo, mesmo sem querer.
― Vamos embora — sussurro por fim. — Está na hora de voltar
para casa.
Ouço uma melodia suave e quase inexistente ao fundo, essa
música aos poucos vai me arrancando do mundo dos sonhos,
trazendo-me para a realidade. Abro lentamente os olhos e a primeira
coisa que vejo é uma janela coberta por uma cortina cinza com
poucos detalhes. Reconheço o quarto, é o quarto do Heitor. No meio
do caminho entre o clube noturno e a minha casa, adormeci no
banco do passageiro, então meu amigo decidiu me levar adormecida
para sua casa onde eu ficaria em segurança, bem ao seu lado.
― Caramba. ― Resmungo quando sinto uma forte dor de cabeça.
Tento me levantar da cama, porém, algo pesado me mantém
imóvel. Viro a cabeça com a testa franzida e vejo Heitor em toda a
sua beleza, completamente adormecido. Seria lindo se seu um metro
e noventa não estivesse preso acima do meu corpo me mantendo
imóvel.
― Droga! — sussurro. — Heitor... Heitor...
Tento chamar seu nome baixinho algumas vezes e desisto
decidindo sair dessa situação por conta própria. Ergo com dificuldade
seu braço que está abrigado na minha barriga e depois escorrego
minhas pernas por suas próprias pernas.
Me sento na cama sentindo uma pequena brisa gelada embalar
meu corpo. Começo a catar cada uma das minhas peças de roupas
que estão espalhadas pelo chão, até finalmente achar meu celular e
perceber que minha mãe havia me mandado várias mensagens.
Começo a me vestir rapidamente, passando os olhos em todos os
recados que me foram enviados e decido ligar para minha mãe
enquanto procuro meus saltos pelo enorme quarto masculino. O
tempo que demoro até acha-lo é o mesmo para que minha querida
mãe me atenda.
― Nayara minha filha, tudo bem com você?
Saio do quarto na pontinha dos pés e sequer me arrisco a fechar a
porta de madeira, decido deixar apenas encostada.
― Estou bem sim mamãe e a senhora? ― Ouço a ligação dar uma
pequena falhada e franzo o cenho, ligeiramente, desconfiada.
― Estou bem minha filha, não se preocupe. — Desço as escadas
indo para o primeiro andar e depois de destravar a porta da frente,
saio do apartamento apressada. — Só liguei para saber se está bem.
Faz um bom tempo que não vem me visitar ou ao seu primo, parece
que se esquece da sua mãe.
De repente, minha visão fica turva e minha cabeça volta a doer
com força total, preciso me escorar na parede do elevador para não
cair.
Eu havia esquecido totalmente de voltar para a casa da minha
mãe quando retornei aqui para São Paulo. Assim que saí do trabalho
fui aproveitar uma balada e sequer lembrei que havia perdido minha
chave e precisava ir à casa da minha mãe para pegar a cópia. Ergo o
pulso observando meu relógio e constato que faltam algumas horas
até que meu expediente comece novamente.
Eu havia esquecido completamente do voo!
Dou uma olhada nas horas percebendo que felizmente o voo é
apenas mais tarde e ainda terei umas boas horas para dormir.
― Estarei no aeroporto por volta das quatro, ou às três se não
acontecer nenhum imprevisto! — exclamo saindo do elevador e
passo pela recepção recebendo um olhar de nojo da recepcionista.
— Mamãe espere um minuto.
Cubro o aparelho celular com as mãos e encaro a loira com
curiosidade.
― Você perdeu alguma coisa em mim? ― Ela me encara de cima
a baixo.
― Não, por quê?
― Achei que tinha, fica me encarando com essa cara de perdida.
Agora dá licença meu bem. ― Saio do prédio desfilando como se
fosse a própria Kim Kardashian e quando piso na calçada volto ao
telefone.
― Às quatro horas tenho que ir trabalhar, vou direto para a casa
da senhora, perdi a minha chave e lembrei que deixei uma cópia aí
— falo e lembro-me do meu primo, indagando sobre ele em seguida.
— Kie está por aí?
Se eu não fosse contra esse lance de romance entre primos, com
toda certeza do mundo pegaria o meu. Kie é um surfista muito
quente, mas acima de tudo é minha família e se tem uma coisa que
respeito é a cumplicidade desta.
― Kie está sim e com uma namorada nova. — Ouço mamãe
resmungar baixinho. Ela nunca gosta das namoradas dele. — Então
estarei esperando por você, até mais tarde querida.
E assim, finalizamos a chamada. Suspiro encostando a cabeça
no acolchoado do banco do táxi em que estou e começo a deixar
meus pensamentos irem a vários lugares.
Há alguns anos comecei a trabalhar como aeromoça e não foi
muito fácil, morar em São Paulo não significa ter sempre várias
oportunidades de emprego, acontece exatamente o oposto disso.
Mas por sorte encontrei uma empresa que estava contratando e
enviei um meu currículo. Em pouco tempo obtive retorno e comecei a
trabalhar como aeromoça numa linha aérea entre São Paulo e
Cuba/Cuba e São Paulo. Fiquei empolgada com a contratação e
preciso admitir que sempre tive vontade de conhecer Cuba, então
aluguei um apartamento no centro onde fico quando necessário e
quando volto para São Paulo fico no meu próprio cantinho.
Capítulo 02
Nayara Monteiro

Em poucos minutos o táxi estaciona do outro lado da rua da


casa da minha mãe, a viagem foi mais rápida do que especulei.
Quando chegamos, deixo um sorriso singelo brincar no canto dos
meus lábios ao ver a cor vermelha se destacar das demais casas.
Quando mamãe e Kie se mudaram para essa região lembro-me que
ela cismou com a cor da parede e queria pintá-la de qualquer jeito.
No final, depois de muito brigar e decidir, mamãe escolheu a cor
vermelha e obrigou Kie a redecorar o lado de fora.
Observei meu primo se matando no sol quente para atender ao
pedido que mamãe fez e confesso que gostei bastante disso. Lembro
que foi uma sensação maravilhosa vê-lo reclamar baixinho por causa
do trabalho e o tempo perdido para pintar o lado externo de uma
casa que em algum momento, algumas crianças iriam chegar e
grafitar, estragando todo o seu trabalho. No fim, depois de observá-lo
por horas, peguei um pincel e o ajudei a terminar o trabalho,
passamos a tarde brincando, conversando e nem percebemos
quando concluímos a tarefa.
Kie e eu crescemos juntos, pois a mãe dele, minha tia, morreu no
parto e o pai era um vagabundo que não sabia o que queria da vida.
Desde criança observei o crescimento do meu primo e confesso que
o tenho como um irmão mais velho. Afinal, mamãe literalmente o
adotou como um filho e deu-lhe todo amor, carinho e atenção que
precisava. Na verdade, deu a nós dois.
— Obrigada.
Agradeço ao motorista assim que retiro o dinheiro da bolsa e
efetuo o pagamento da corrida. O senhor de idade sorri gentil,
enquanto pega o dinheiro e me despeço rapidamente enquanto vou
saindo do carro. Em poucos segundos ele dá partida e segue seu
caminho para atender outro cliente e eu fico por aqui. Atravesso a
rua tomando cuidado para não ser atropelada por nenhum carro ou
moto e em pouco tempo estou de frente para a porta de casa, onde
dou algumas batidinhas.
— Bom dia minha mãe! — Sorrio no momento em que mamãe
abre o portão e corro para abraça- lá.
— Bom dia minha filha! — Mamãe retribui com carinho meu
abraço e aconchego meu rosto em seu pescoço, sentindo um aroma
familiar de estar em casa.
Quando somos jovens nosso sonho é sair de casa, sair de
debaixo das asas protetoras dos nossos pais e nos aventurar mundo
a fora, mas a verdade é que a única coisa que realmente nos
importa, pois a única coisa que iremos sentir é a saudade. Saudade
do conforto do nosso lar, saudade do carinho, amor e atenção dos
nossos pais, saudades de tudo.
— Venha querida, tome um suco e coma alguma coisa. —
Mamãe pede carinhosa enquanto entramos em casa. — Só não
repare na bagunça.
Entramos em casa em passos calmos e tranquilos, sem ao
menos perceber começo a observar a casa da minha mãe. Ela
mudou alguns moveis de lugar, adicionou alguns quadros e enfeitou
as estantes de livros com alguns bonecos e jarras.
Caminhamos até a cozinha e conversamos sobre as novidades,
mamãe me conta que sua aposentadoria está sendo complicada,
visto que não estão pagando corretamente seu salário, devido a
atrasos chatos. Kie está trabalhando bem como enfermeiro e ajuda
no que consegue. E foi exatamente nesse momento, que meu primo
decide entrar na cozinha dando o ar da sua graça.
— Kate... — Kie percebe que estou na cozinha e sorri como
criança. — A vossa majestade veio visitar os parentes pobres foi?
Questiona com seu habitual tom de voz sarcástico caminhando
na minha direção, ergo uma sobrancelha levantando-me da cadeira e
cruzo os braços, pronta para responder-lhe a altura.
— E quem disse que sou seu parente? — questiono debochada.
— Eu não sou sua parenta... sou uma deusa, criatura ridículas ―
exclamo prepotente usando a referência mitológica do deus da
mentira e da trapaça, Loki e sorrio vitoriosa, então ambos caímos na
gargalhada. Desde pequenos, adorávamos as travessuras de Loki,
líamos os gibis apenas para encontrá-lo, assistíamos aos filmes e
líamos histórias apenas para descobrir suas novas mentiras e
travessuras. Usar suas referências significa vencer a batalha.
— Vejo que continua afiada. — Sorri enquanto me dá um abraço
apertado. — Senti sua falta.
— Eu sei que sentiu, sou adorável. — Faço um movimento com
os ombros e percebo que uma jovem aparece atrás do meu primo. —
Tudo bem?
Kie dá um longo passo para o lado revelando uma mulher de
cabelos negros como carvão e olhos azuis como cristais, sua pele é
morena da cor do pecado e em seus lábios um batom vermelho
destaca cada detalhe em seu rosto. Analiso-a rapidamente e posso
estar sendo precipitada, mas tem algo nessa garota que não me
agrada nem um pouco.
— Nay, quero que conheça Camila, minha namorada. — Sorri
como um menino travesso, seus olhos cor de âmbar brilham. —
Cami, essa é minha prima, Nayara.
A morena desvia o olhar do meu primo e começa a me encarar
de cima a baixo, por fim, segundos depois de uma rápida inspeção,
sorri como um anjo imaculado e estende a mão para me
cumprimentar.
— É um prazer conhecer a famosa Nayara — fala e eu estendo
minha mão para cumprimentá-la. — Kie fala muito sobre você.
Deixo um sorriso amarelo brincar no canto dos meus lábios e por
uma fração de segundos observo mamãe, que analisa a cena com
os braços cruzados e expressão séria. Então volto a encarar a
namorada do meu primo.
— Fala mesmo é? — Lanço um olhar curioso para meu primo,
que leva a mão aos fios dourados tentando disfarçar. — Espero que
apenas coisas boas, caso contrário terei muita coisa para falar sobre
ele também.
Apesar da minha tentativa de quebrar o gelo sinto que o ambiente
fica ainda mais pesado, mamãe está completamente séria ao meu
lado, a Camila parece ligeiramente sem graça e meu primo parece
não perceber esse clima.
— Acho que Camila não saberia lhe dizer se são histórias boas
ou ruins. — Mamãe comenta ao meu lado. — Sequer presta atenção
no que Kie diz.
— E você presta atenção no seu filho por acaso? — Cami rebate
o comentário que mamãe fez e a encaro surpresa.
— Por que a senhora não gosta da Cami? — Meu primo
questiona com o olhar confuso. — Vocês precisam se acertar, pois
ambas são muito importantes para mim! ― Diz e então dá as costas
e sai em passos largos, deixando-me assustada com o clima pesado
que sobrevoa este cômodo. Aos poucos o som dos seus passos
desaparece pela casa e posso supor onde meu primo está indo para
aliviar sua mente.
— O que ainda está fazendo na minha casa? — Mamãe indaga
feroz atrás de mim, dirigindo-se a morena que continua parada ao
meu lado. — Pode ir embora.
Assusto-me com a rispidez das palavras que minha mãe usa para
com a garota que não disse uma única palavra e decido intervir. Seja
qual for o problema das duas realmente precisam resolver como
adultas, essa briga boba está magoando meu primo e não ficará
desse jeito. Mas antes que eu tenha oportunidade de abrir a boca,
ouço a voz de Camila.
— Quanta indelicadeza com a sua nora. — Debocha com um
olhar afiado. — Vou embora mesmo, ficar no mesmo ambiente que
você me causa náuseas.
Quando escuto suas palavras no mesmo instante percebo qual é
o seu jogo e minha intenção de defendê-la se torna maligna ao ponto
de querer avançar em seu pescoço e dar umas boas bofetadas na
sua face.
— Está com náuseas é? — questiono com a sobrancelha
erguida. — Vomita que passa fofa. — Cruzo os braços e dou um
passo ficando mais próxima dela. — Presta bastante atenção, eu não
sou como meu primo ou como minha mãe e vou deixar uma coisa
bem clara, para que você possa entender ok? — Dou mais um passo
ficando bem na sua frente, nossos olhares se encontram e o
mantenho, desafiando-a. — Se eu vier aqui outra vez e encontrar
você, ou se ficar sabendo que disse uma palavra sequer
desrespeitando minha mãe, ou ainda se magoar meu primo... — dou
uma pausa — irei encontrar você, nem que seja no inferno, e acabo
com sua raça. Se não acredita, pergunte ao meu primo uma das más
histórias sobre mim, conheça bem minha reputação antes de me
desafiar.
— Você vai preferir ter se tornado minha amiga. — Camila
sussurra ameaçadora.
— E você irá preferir nunca ter me conhecido, fofa. — Sorrio. —
Agora, passa para fora da minha casa e fica esperta.
Camila acena com a cabeça e dá às costas saindo da cozinha,
em seguida, ouvimos a porta da frente sendo batida com força e só
nesse instante respiro aliviada, pois tenho certeza de que a bruxa foi
embora.
— Viu isso? Que garota abusada, filha! — Mamãe resmunga
enquanto levanta da cadeira para colocar o prato na pia. — Não sei
em que caçamba seu primo foi encontrar esse lixo de ser humano.
Dou alguns passos até onde minha mãe está e a abraço com
força, dando a mesma todo o carinho que consigo. Faço carinho em
seus fios dourados e quando desfazemos o contato observo seus
olhos azuis claros, assim como os meus e sorrio.
— Nós dois amamos muito a senhora, mamãe — sussurro. — Kie
só está um pouco confuso, isso logo passará — declaro com
esperança e pelo canto dos olhos observo o relógio, vendo que
preciso me arrumar para ir trabalhar. — Preciso voltar para casa,
mais tarde tenho que ir trabalhar. — Suspiro entristecida. — A
senhora ficará bem?
— Claro que sim, filha. — Sorri como um anjo. — Pode ir
despreocupada, essa senhora não será derrubada por uma bruxa
qualquer, concorda?
— Claro, a senhora é dura na queda. — Sorrio.
Capítulo 03
Nayara Monteiro

Passo pelo grande hall de entrada do aeroporto, observando


pela milésima vez sua encantadora estrutura. As paredes são
brancas como gesso, possuindo alguns detalhes bem discretos e
suaves, mas a estrutura que mais me chama atenção são as colunas
de sustentação e seus arabescos.
Tenho algo por colunas de sustentação só pode.
Em alguns dos meus fetiches eróticos, me vejo transando e
sendo sustentada contra um pilar na cor de gesso. Fecho os olhos
imaginando a cena e logo sinto meu ventre apertar pelo desejo. Mas
infelizmente, agora é hora de trabalhar e preciso estar
completamente, ou quase, concentrada no meu dever.
Vou para a área de passagem, mostro meu crachá de funcionária
e logo minha entrada é permitida. Sigo a faixa amarela em direção
ao portão onde o avião está.
Quando vou passar por outra coluna para chegar à entrada de
passageiros, sinto um par de mãos rodearem minha cintura. Sou
puxada para trás com força, arregalo os olhos assustada quando no
mesmo segundo minhas costas batem no gesso gélido da coluna.
Abro a boca pronta para xingar meu oponente, quando uma mão
grande é colocada sobre meus lábios.
― Calma mulher bonita.
Estreito os olhos vendo John, um moreno gostoso de belos olhos
castanhos que por ironia do destino é meu colega de trabalho, sorrir
exibindo suas belíssimas covinhas.
Seus olhos ficam estreitos e sorrio ao ver seu rosto se aproximar
do meu. John toma minha boca com seus lábios numa fúria
impressionante que apenas ele possui. Sua língua invade minha
boca com ganância, com uma fome crua que arranca um gemido
gutural do fundo da minha garganta.
Minhas mãos escorregam por seus ombros, onde o agarro com
força puxando seu corpo ainda mais para mim. Sinto meu centro
latejar ansiando por atenção. John movimenta suas mãos e agarra
um belo punhado dos meus cabelos, inclinando minha cabeça para
intensificar ainda mais nosso beijo.
― Quero foder você agora, gata. — Exige entre seus beijos.
Interrompo-o tentando afastá-lo de mim e preciso colocar muita
força nos braços para conseguir o espaço necessário para tentar
acalmar a respiração e expressar uma reação. Respiro
profundamente e olhando nos olhos dele, nego sua proposta.
— John — dou mais um passo afastando-me completamente. —
Já conversamos sobre isso, não podemos continuar desse jeito.
— Que jeito, gata? — indaga aproximando-se um passo.
— Não podemos continuar assim, com esses joguinhos e ainda
mais trabalhando no mesmo lugar — resmungo cruzando os braços
—, comecei há pouco tempo como aeromoça, qualquer deslize e
serei demitida sem dó ou piedade enquanto você já possui uma
carreira sólida como piloto e pode conseguir facilmente outro
emprego.
Infelizmente é a sociedade na qual vivemos onde o homem
possui mais privilégios que as mulheres e caso cometa algum erro
sua penalidade será medida de uma forma menos rígida caso fosse
alguma mulher.
— Temos dez minutos, gata... — John exclama tentando me
convencer a ter uma rapidinha com ele em algum lugar escondido do
aeroporto, porém, me desvencilho do seu agarre.
Afasto-me do seu corpo enorme e passo as mãos pelo tecido do
uniforme tentando concertar as áreas que ficaram amassadas depois
desse ataque, mas após perceber que não fará diferença alguma, o
encaro brava.
— Eu já disse que não, foi maravilhoso o que tivemos e talvez em
algum momento possamos repetir, mas agora não ― declaro
encerrando o assunto. Viro-me começando a me afastar e a cada
passo que dou imagino o quão intensa sou. Por mais que eu o queira
entre minhas pernas deixando-me no ápice do prazer, preciso ser
centrada e admitir que é arriscado e perigoso.
No fim, percebo que preciso de sexo urgentemente.

*****

― Senhores passageiros apertem seus cintos, pois em breve


iremos decolar com destino a Cuba ― ressoa nos autofalantes do
avião.
Entro na cabine lentamente enquanto empurro o carrinho com as
diversas bebidas e guloseimas, suspiro passando a mão sobre o
rosto e penso em como essa viagem está sendo cansativa demais.
Para a minha sorte e alívio os passageiros estão calmos e
agradavelmente silenciosos, pois todos estão entretidos de uma
forma diferente.
Coloco ambas as mãos no carrinho e jogo a cabeça para trás,
exercitando os músculos que estão tensos. Sinto-me esgotada,
aproveitando o intervalo decido correr para o banheiro privado, para
poder descansar alguns minutos e lavar o rosto. Assim que adentro
no banheiro, antes mesmo que eu possa acender a luz sou pega de
surpresa quando sinto duas mãos fortes rodeando minha cintura com
agilidade e destreza. Imediatamente fecho os olhos sentindo as
carícias deliciosas de John. Sinto o forte roçar da sua cintura contra
meu traseiro, enquanto suas mãos passeiam por meu seio coberto
pelo uniforme de aeromoça. Gemo baixinho quando sinto sua ereção
bater feroz na minha bunda. John está bem animado.
Mordo o lábio inferior enquanto travo uma guerra mental entre
ceder aos meus desejos sexuais com meu parceiro de trabalho ou se
recuso afastando-o de mim. John e eu dormimos juntos, por umas
três vezes desde que começamos a trabalhar na mesma linha aérea,
quando percebi que comecei a envolver a vida pessoal com a
profissional temi por meu futuro. John é o piloto enquanto sou
apenas a aeromoça, é muito mais fácil eu perder o emprego que ele.
Diante desses fatos decidi me afastar dando um fim ao nosso caso
cortando de vez as noites sensuais que compartilhávamos.
Sentindo-o mordiscando minha orelha tremo diante do seu
estímulo. Seu toque está mais selvagem, mais intenso e voraz, John
está diferente do habitual, mas faz tanto tempo que não ficamos
juntos... Esse tempo fez bem para ele, pois percebo que aprendeu
novos truques e está muito mais interessante...
Uma onda de coragem queima em meu interior, fazendo com que
eu rebole sobre o tecido do seu pau e jogue a cabeça para trás
repousando-a sobre seus largos ombros. A mão que antes brincava
em meu seio agora desce em direção à barra da minha saia, fazendo
com que eu engula em seco e morda o lábio com força em
antecipação.
Sua mão passa por minha saia driblando o tecido e somente isso
me faz perder totalmente quaisquer resquícios de dúvidas que ainda
tinha, sinto sua língua quente e úmida brincar na região do meu
pescoço e gemo novamente sentindo meu corpo corresponder aos
seus estímulos. Sua mão afasta rapidamente minha calcinha branca
de renda e brinca com meus lábios com maestria.
Sinto uma necessidade extrema de beija-lo, de sentir a textura
macia dos seus lábios nos meus ou de ao menos olhar dentro dos
seus olhos para que sinta todo o prazer que conseguimos
proporcionar um ao outro, porém a falta de iluminação da cabine
impede que eu consiga vê-lo e posso contar somente com meu tato
para explorar todo o seu corpo.
Gemo baixo novamente sentindo meu orgasmo sendo construído
lentamente, tento rebolar em seus dedos e o forçar a me penetrar,
porém, John gosta muito de preliminares.
No segundo em que abro a boca para resmungar sobre sua
demora em me penetrar, seus dedos invadem meu canal me
causando uma onda de luxúria e prazer.
— Meu Deus… — gemo sentindo o mais puro êxtase.
Minhas paredes vaginas sugam seus dedos de tal maneira, que
posso senti-los profundamente em mim. Sinto cada pequeno
centímetro de pele tentando conter o fogo que inflama em meu
interior. Cheia de desejo, rebolo contra sua mão, intensificando meu
prazer e forçando a mim mesma a chegar ao ápice.
Quando sinto que estou na borda, prestes a alcançar o ápice do
prazer, John retira seus dedos me fazendo protestar imediatamente.
Sua mão vai ao meu cabelo prendendo uma boa quantidade de fios,
sinto uma ardência carnal, então ouço um som agudo de metal e
segundos depois seu membro brinca na minha entrada.
A ponta quente da cabeça completamente protegida pela
camisinha entra contato com a minha boceta molhada e carente me
fazendo gemer, ele brinca na minha entrada com pinceladas calmas
e maestria me causando arrepios e espasmos por cada parte do meu
corpo. Quando novamente tenho a intenção de reclamar da sua
demora, sinto seu comprimento me penetrando completamente em
uma única investida, me fazendo arfar e arquear na sua direção.
— Você gosta disso? — Sua voz roucamente sexy, sopra no alto
do meu ouvido causando-me arrepios. — Gosta de ser fodida por
mim?
Sua voz está mais rouca que o comum e estranho por alguns
segundos, mas não consigo pensar em mais nada quando suas
investidas ficam mais intensas, duras e profundas me fazendo perder
todos os sentidos.
John puxa meu cabelo com força, ao mesmo tempo em que sua
outra mão brinca com um dos meus seios e sua boca instiga meu
pescoço conforme vai me tomando por trás.
— Goza para mim, goza comigo...
Sua ordem é meu limite, sinto que estou na beira do abismo e
quando sinto John entrar novamente, me jogo sentindo o êxtase
dominar cada canto do meu corpo. Afundo-me no prazer, me permito
amolecer e sorrio satisfeita.
John bombeia mais duas vezes, faz um movimento com a cintura,
imitando movimentos de rebolado e o sinto tremer sob minhas
costas, ele geme baixinho, solta alguns xingamentos e dá um tapa
suave na minha bunda.
Sinto sua respiração irregular soprando contra meu pescoço
quando se aproxima e o sinto ficar imóvel durante alguns minutos,
assim como eu, tentando recuperar suas forças e tranquilizar o
coração.
— Nossa! — sussurro, exausta. — Você está insaciável hoje,
John.
Falo virando-me lentamente na sua direção e paraliso com os
olhos arregalados quando vejo um par de olhos verdes me
encarando, compartilhando a mesma surpresa que eu.
Espera um momento...
John tem olhos castanhos!
Capítulo 04
Dominic Grombeth

— Não acredito que você quer repetir uma foda, ainda mais sendo
que afundou seu pau na boceta errada. — Rafael debocha, bebendo
um longo gole de vodca em seguida.
Desde que o avião pousou no aeroporto exatamente às 17h50min
horas, levei vinte minutos dentro do carro para chegar a casa, por
todo o trajeto permaneci em silêncio pensando nos olhos
encantadores daquela loira feiticeira. Assim que cheguei, fui
diretamente para o meu escritório, precisava resolver umas
papeladas e alguns minutos depois Rafael me encontrou. Pensativo,
contei a ele sobre tudo o que havia acontecido, porém me arrependi
segundos depois.
— Deixa de ser imbecil... — resmungo. — Pensei que ela fosse
outra pessoa, tem outra aeromoça que sempre fode comigo — dou
uma pausa passando as mãos por meus cabelos —, mas aquela
mulher é diferente, ela tem uma boceta muito gostosa e você
acredita que no fim simplesmente me beijou e saiu como se nada
tivesse acontecido? Como ela pode me rejeitar?
Rafael faz um som com a garganta, arregalando os olhos e
começa a tossir terminando de beber sua vodca, por fim um sorriso
perfeitamente irônico brinca em sua face me fazendo encará-lo
mortalmente.
― Nick, você está mesmo querendo ir atrás da tal aeromoça
misteriosa? Cara, pelo que está falando a mulher deu um fora bonito
em você após confundi-lo com algum carinha. — Nos encaramos por
alguns segundos e penso em suas últimas palavras.
A bela loira que possui um traseiro perfeitamente grande e gostoso
gemeu o nome de um sujeito chamado John. Fecho os olhos irritado
lembrando o som rouco e extasiado dos seus lábios gemendo sob
meu toque, meu membro começa a recordar também e logo dá
claros sinais de vida. Mas, então a lembrança dela gemendo o nome
de outro cara surge e parece que tomo um banho de água fria.
Quem imaginaria que encontraria uma beldade dessas antes de
pisar no aeroporto Antonio Maceo Airport, já havia encontrado uma
mulher capaz de abalar minhas estruturas e ela sequer era cubana.
Dentro do carro, assim que entramos na Avenida Al Aeropuerto
Internacional Antonio Maceo Grajales, soube que estava perdido e
que eu precisava dar um jeito de encontrá-la novamente.
― Tenho que parar de pensar nessa loira — resmungo deixando
meu corpo deslizar pela grande cadeira de couro.
Rafael coloca seu copo transparente sobre a mesinha de centro,
se ajeita de forma preguiçosa na cadeira e lança um olhar sério na
minha direção.
― Nick, nós somos irmãos. Você sabe que tem a mim e ao Levi,
não precisa guardar tudo para você. — Seus olhos se tornam tristes
e por alguns segundos consigo vislumbrar resquícios do menino de
antes, um menino que foi abandonado pela vida, jogado na rua a
própria sorte e me sinto da mesma forma. Sinto-me um lixo. — Da
mesma forma que sei que você está aqui por mim, saiba que
estamos aqui por você também.
Rafael se levanta começando a caminhar até mim, quando fica
próximo o suficiente da mesa do meu escritório, na qual estou
sentado à frente, ergue a mão. Sorrio encarando seus olhos e me
levanto o puxando para um abraço firme. Meus irmãos e eu
passamos por muita coisa quando éramos mais novos e apesar de
tudo, nunca deixamos de cuidar uns dos outros.
Quando chegamos a Cuba, passamos por diversas coisas para
conseguirmos nos habituar ao novo estilo de vida. O idioma,
costumes comidas típicas, jeitos, posicionamentos... Confesso que
foi um pouco complicado, no início sequer lembrava meu próprio
endereço e não sabia como dizer que morava em La havana - La
Habana, Cuba, Playa.
― Que cena gay. — Levi passa pela porta do meu escritório.
Desfazemos o abraço e o encaro com um olhar debochado no rosto.
— Aconteceu alguma coisa? — O sorriso perfeito em seu rosto
desaparece, dando lugar a uma expressão preocupada e intrigada.
Somos no total de quatro irmãos. Eu sou o mais velho com vinte e
sete anos, Rafael vem logo depois com seus vinte e cinco, seguido
de Levi que completou recentemente vinte e dois, por fim nossa
caçula, Naty que tem dezoito.
― Aconteceu... — Rafael lança um olhar maligno para mim antes
de se virar para nosso irmão. — Aconteceu que Nick comeu uma
aeromoça, pensando que fosse outra pessoa. — Rafael graceja
tirando sarro de mim.
Levi demora alguns segundos para entender, escondo meu rosto
com as mãos para evitar o momento em que cai a ficha e tudo o que
meu irmão pode fazer é rir como se não houvesse amanhã.
― Como... Como assim?! — indaga em meio a suas risadas altas.
Seus olhos encontram os meus e parece que isso acende ainda mais
seu fogo, causando mais uma onda de riso. — Ai meu Deus...
― E só para completar, depois que terminou a loira deu uma
bitoquinha nele e foi embora como se não tivesse acontecido nada.
— Rafael termina de narrar, enquanto nosso irmão se aproxima com
a face avermelhada de tanto gargalhar.
― Não foi assim! — Lanço um olhar feio para Rafael. —
Estávamos voltando para cá, para Cuba, e nessa linha aérea sempre
tem uma aeromoça que fode comigo, sexo fácil e casual. Quando fui
até ela, pensei que era a tal mulher.
Escondo meu rosto com as mãos, ao mesmo tempo, que os dois
idiotas mais importantes da minha vida dão gargalhadas altas de
uma coisa que fiz. Suspiro profundamente pensando na cena que
desenvolvi. Aquela mulher tinha movimentos sem pudor algum,
rebolava com ganância contra meu pau e gemia profundamente,
apesar de tentar reprimir seus deliciosos gemidos.
― Que risada gostosa, eu consigo ouvir lá do corredor. — Naty,
nossa irmã de criação, entra no escritório com seu belo olhar
inocente. Meus irmãos assim como eu, ficamos mais calmos. — Me
contem, por favor, quero sorrir também.
Naty atravessa o cômodo cumprimentando cada um de nós com
um casto beijo na bochecha. Quando chega a minha vez puxo-a para
um abraço de urso, fazendo-a se sentar no meu colo.
― Não falávamos nada demais, pequena. — Levi exclama dando
um sorriso carinhoso.
― Vocês não são tão loucos a ponto de rirem à toa! — exclama
emburrada. Um biquinho nasce em seus lábios e seus olhos ficam
estreitos conforme sua desconfiança aumenta. — São?
Rafael sorri de lado, divertido por toda a situação que criou e
apenas dá de ombros.
― O que você acha?
Naty encara os rapazes e quando seu olhar felino para em mim,
tento conter a vontade de sorrir da sua expressão assustada.
― Bom... — Hesita e faz um movimento com os ombros. — Vocês
são estranhos às vezes.
Deixo um sorriso escapar por meus lábios e levo as mãos até sua
barriga fazendo cócegas em suas gordurinhas. Naty começa a
gargalhar em meus braços e logo pula do meu colo se afastando
com suas maçãs do rosto avermelhadas.
― Não faça isso, Nick! — resmunga cruzando os braços. Seu
rosto está vermelho de vergonha e em seus lábios está um bico. —
Já sou uma adulta.
Meu olhar vai até meu irmão mais novo e o vejo pelo canto dos
olhos encarando Naty dos pés à cabeça sorrindo matreiro logo em
seguida.
Levi vai falar alguma merda!
― Você não é adulta coisa nenhuma, só será quando alguém
estrear essa coisa que tem no meio das suas pernas — fala
zombeteiro, porém, assim que as palavras escapam por sua boca
seus olhos ficam estreitos e sua mão se fecha em punho —, mas
não permitirei que uma coisa dessas aconteça, então esqueça.
Naty engasga o encarando com os olhos arregalados e imagino o
tom forte de vermelho que está presente na sua face.
— Você... — Naty engasga encarando nosso irmão. Seu rosto se
torna ligeiramente avermelhado e seus olhos ficam estreitos. — Você
sabe que não tem direito algum em minha vida pessoal, certo?
— Você cresceu com três irmãos mais velhos, incluindo a mim.
Acha mesmo que possui uma vida pessoal? — Levi indaga erguendo
uma sobrancelha.
Observo em silêncio toda a cena que se desenrola na minha
frente. Meus dois irmãos se encaram fixamente.
— Ser meu irmão não te dá o direito de se meter na minha vida!
— resmunga irritada com as palavras de Levi.
Pondero se devo intervir nessa discussão, porém Levi se levanta
rapidamente ficando bem próximo a Nathalia.
— Você é minha irmã, não permitirei que caia na conversa de
qualquer pilantra para depois vê-la de coração partido, — dá uma
pausa — se quer me odiar por isso, vá em frente.
― Levi! Eu... Eu... — engasga sem saber ao certo o que dizer.
Minha irmã abaixa o olhar e começa a caminhar em direção a saída
do escritório, antes que saia completamente, eu ouço seu sussurro.
— Idiota.
Permito que um meio sorriso escape por meus lábios, enquanto
espalho minhas mãos pela mesa de madeira. Respiro
profundamente e deixo um bocejo escapar, estou cansado.
― Bom, sei que vocês adoram minha companhia, mas irei me
recolher. — Rafael exclama e se levanta da cadeira. Seu olhar vai
para nosso irmão e prevejo seu próximo gracejo. — Não fale de sexo
com a nossa menina. Ela fica muito engraçada com aquela carinha
de anjo, mas ela ainda é nova para isso.
Vejo Levi estreitar os olhos de forma decidida.
― Ela sempre será nova para falar sobre sexo. E eu me
arrependi no segundo seguinte em que falei, não vou deixar nenhum
imbecil entrar na boceta virgem dela!
Rafael coça sua barba analisando as palavras do nosso irmão e
diz ― Não podemos permitir que qualquer um deflore nossa
irmãzinha.
Levi rosna baixinho enquanto se levanta bruscamente. ― Não vou
deixar ninguém enfiar o pau na boceta dela! Quem ousar fazer isso
ficará sem o maldito mijador.
Sinto um incômodo no meu abdômen e fico sério. Sinto que,
mesmo nós três sendo os irmãos mais velhos e tendo a missão de
protegê-la, não devemos comentar sobre a vida sexual da nossa
irmã. A vida é dela e se em algum momento ela quiser perder sua
virgindade ninguém conseguirá evitar. Faço um som com a garganta
chamando a atenção de ambos.
― Será que poderiam parar de falar sobre a intimidade da nossa
irmã?! — indago exasperado.
Vejo o rosto de Rafael começar a ficar avermelhado de uma forma
engraçada e reprimo um sorriso. Levi bufa baixinho colocando as
mãos no bolso da calça e abaixa a cabeça limpando a garganta. Não
vejo seu rosto, porém, como o conheço bem sei que está tão
envergonhado quanto nosso irmão.
― Preciso sair agora, vou até um dos apartamentos na cidade,
segundo o síndico, tem uma moradora que está com problemas na
rede elétrica. Tenho que ir resolver já que meus irmãos inúteis
preferem comer qualquer uma a ter que trabalhar. — Sou irônico e
recebo dois sorrisos de orelha a orelha.
Hoje com meus vinte e sete anos, consigo dar orgulho para meus
pais adotivos. Desde que fui adotado me empenhei para assim o ser,
comecei a trabalhar para construir um futuro ao lado dos meus
irmãos garantindo que eles tivessem um futuro promissor. Com o
passar do tempo, após terminar a faculdade passei dois anos dando
meu máximo em sua empresa consegui conquistar o cargo de
presidente. Nunca admiti quaisquer regalias dentro da empresa,
confesso que sempre tive uma ótima educação e ótimos cursos,
minha família fazia questão de me proporcionar o melhor da
educação, mas em relação a serviço, sempre fiz questão de deixar
explícito todas as minhas habilidades e competências no trabalho,
honrando o nome e a confiança que papai me dera.
O grande Eduardo Grombeth, meu pai, ao longo dos anos
construiu uma extensa filial de imóveis, a magnífica rede Golden
Paradise, transformando-se em dono de diversos hotéis, lofts,
apartamentos, condomínios, etc. Manter toda a sua reputação e
legado havia se tornado meu objetivo, e alguns anos depois, se
tornou minha realidade. Lutei ao máximo para conseguir sentar na
cadeira de presidente e sentir o gosto de poder conquistar um
objetivo muito desejado.
― Boa noite.
Dizem em uníssono e saem do meu escritório conversando sobre
algum assunto que prefiro ficar alheio. Apesar de termos essa
diferença de idades, somos muito parecidos e temos um objetivo em
comum, o desejo de mostrar ao nosso pai que somos capazes de
manter seu legado. Sou formado em administração, sendo então o
presidente da empresa Gold Paradise, que está localizada aqui em
Santiago, Cuba. Levi por outro lado, decidiu seguir um caminho um
pouco diferente especializando-se em contabilidade e finanças. Seu
cargo é ser o responsável por toda a área de contabilidade e
finanças da filial. Rafael é o mais relaxado, porém o que mais
consegue clientes, ele tem a habilidade de convencer as pessoas
para fecharem o contrato adquirindo nossos serviços, ele é o
encarregado de reuniões, marketing, relações públicas, etc.
Enquanto para mim sobra a parte da papelada, funcionários e todo o
restante.
Termino de organizar alguns papéis e sem querer deixo meus
pensamentos chegarem até a loira de olhos azuis que tanto enche
minha cabeça. Seus olhos sedentos, seus gemidos gostosos, sua
boceta apertada e principalmente... Sua atitude diferente, mas logo
afasto esses pensamentos.
Pego a chave do carro, meu terno e dando uma leve afrouxada
na gravada saio do escritório com objetivo de ir até o condomínio
onde foi relatado o problema. Olhando no relógio constato que
chegarei com menos de 30 minutos, pego o celular com o intuito de
ligar para moradora, porém não tenho retorno.
Suspiro profundamente pensando que, terei sorte se eu encontrá-
la.
Capítulo 05
Nayara Monteiro

Arregalo meus olhos surpresa com o rosto desconhecido atrás


de mim. Encaro fixamente a face do homem, seus olhos são verdes,
um tom tão verde como uma esmeralda em seu mais perfeito
esplendor, seus lábios são carnudos e rosados e em seu queixo uma
barba gostosa está esperando para ser feita...
O que é isso Nayara!?
Você acabou de transar com um homem e nem ao menos o
conhece!
Encarando seus profundos olhos esverdeados percebo que
enquanto o sentia profundamente dentro de mim, sequer percebi a
diferença. Esse homem é mais intenso, selvagem e profundo... Fui
uma tola por estar tão imersa no prazer que sequer percebi essa
diferença!
O estranho dá um passo para trás, afastando seu corpo do meu e
sem que eu consiga conter, meu olhar cai sobre seu membro ainda
duro como rocha e sinto minha boca salivar. O som de um bip nos
alto-falantes chama minha atenção, saio dos meus devaneios.
Arrumo meu uniforme da melhor forma possível, tento arrumar as
partes que podem estar amassadas e mexo em meus cabelos
tentando arrumá-los de alguma maneira.
― Você...
Viro-me em sua direção, meus olhos encontram com os seus e
por alguns segundos me indago se ele é como Heitor e espera algo
além do que sexo. Portanto trato logo de deixar as coisas claras. Ele
já havia retirado à camisinha e se livrado dela, nesse momento
arruma sua calça social preta.
Decido acabar com qualquer esperança que esse cara possa ter
sobre um possível relacionamento ou algo a mais. Caminho até ele
encarando-o profundamente e a cada passo que dou percebo o quão
gostoso ele é.
― Obrigada pela foda.
Toco seus lábios por alguns segundos com os meus e depois me
afasto entrando em um dos corredores do avião, deixando-o sozinho.
Corro pela área da classe econômica até chegar ao banheiro, onde
entro apressada e encaro meu reflexo no espelho. Meu batom
vermelho está borrado por causa da mão do estranho que, para
evitar meus gemidos, tampou minha boca.
Meu cabelo está todo bagunçado e minha roupa, completamente
amassada. E, claro meu sexo treme ainda satisfeito pela intensa
onda de prazer que sentiu há poucos minutos.
Assim que termino de me arrumar, ajeitando cada fio de cabelo e
retirando as partes amassadas do meu uniforme, percebo que estou
atrasada e que preciso passar algumas instruções para os
passageiros, para logo depois oferecer mais algumas guloseimas.
Saio do banheiro encontrando com minha colega de trabalho,
trocamos um breve aceno enquanto ela caminha até o microfone e
eu me dirijo até a cabine particular.
Assim que a voz da minha companheira começa a ecoar pela
cabine, começo a gesticular explicando o passo a passo, que deve
ser seguido, caso as máscaras de oxigênio sejam disponibilizadas.
Assim que termino essa explicação, caminho até perto da saída de
emergência onde demonstramos como funciona caso precisemos
utilizá-las.
Quando todas as informações são passadas aos passageiros,
viro-me preparada para voltar à cabine no intuito de pegar o carrinho
de guloseimas, quando sinto uma mão segurando meu braço. Ao
olhar para a pessoa que segura meu braço, sinto meu coração
falhando uma batida ao reconhecer o homem ao qual me entreguei
sexualmente minutos atrás.
— Me diga qual seu nome? — seu pedido parece mais uma
ordem e engulo em seco sentindo-me fraca diante do seu olhar.
Olho ao redor, sem saber ao certo o que fazer, porém percebo
que ainda estamos dentro do avião. Estamos no meu local de
trabalho, podemos ter transado loucamente alguns minutos atrás,
porém foi somente aquilo.
— Pode me chamar de Monteiro, sou a comissária Monteiro e
estou à disposição para ajudar o senhor no que for necessário —
declaro formalmente enquanto afasto-me discretamente do seu
toque.
Conforme vou me afastando converso com alguns passageiros
perguntando se precisam de alguma coisa. Preciso ocupar minha
cabeça para esquecer esse homem intenso. São oito horas de
viagem de São Paulo até Cuba, oito horas nas quais terei que
suportar sua presença e sorriso arrogante sabendo que me entreguei
a ele sem sequer perceber.
Como me envolvo nessas situações...?
O avião pousou por volta das 17h50min horas, em Cuba assim
que fizemos todos os procedimentos necessários. A equipe de
aeromoças auxiliou passageiros durante sua saída, guiamos seus
passos em segurança até o aeroporto. Em seguida, organizei todas
as minhas coisas, peguei minha mochila preta, joguei-a no ombro e
caminhei em direção à saída. Chamei um táxi, 20 minutos depois
estava em meu apartamento. Depois de cumprimentar com um
aceno de cabeça o porteiro, pego o elevador e subo para "casa".
― Noite bonita, concorda moça bonita?
Meu olhar vai a um moreno grandão que me encara com um par
de olhos verdes esmeralda. Meus olhos analisam cada pedaço do
seu maravilhoso corpinho e tento conter a vontade de lamber cada
centímetro da sua extensão. E que extensão, meu amigo!
― Realmente, a noite está muito gostosa — respondo seu flerte
dando um sorriso safado.
O moreno pisca e dá um passo decidido na minha direção, estou
pronta para ceder e realizar minha fantasia de ser possuída dentro
de um elevador quando recordo do orgasmo que tive quando estava
no avião.
Todo o meu tesão desaparece e em seu lugar apenas um cansaço
e uma enorme vontade de tomar um banho surge. Não sei em que
momento, mas quando dou por mim estou contra o metal do
elevador e o moreno felino me pressiona contra seu corpo tomando,
minha boca com volúpia.
― Espera aí, grandão. — Sinto seu sorriso em meus lábios.
Coloco as mãos em seu peito e o empurro delicadamente para trás.
— Cheguei agora de uma viagem muito longa, só quero um banho
calmo e uma hora de sono. — Seu olhar se torna suplicante. —
Então, por que você não me diz em que quarto e andar está e mais
tarde... Quem sabe eu lhe faço uma visita.
Finalizo com um roçar em seus lábios, lhe arrancando um gemido
rouco. A porta do elevador se abre e sorrindo amplamente saio do
mesmo entrando no corredor. Ouço um assobio, me viro e vejo seus
lábios se movimentando "terceiro andar, quarto dezoito". Sorrio
lançando-o um beijo, vendo segundos depois as portas se fecharem.
Caminho até meu quarto destravo a porta e entro rapidamente.
Olho ao redor reparando no cômodo pequeno e dou um suave
balançar de ombros enquanto deposito minha bolsa sobre a mesinha
da sala de estar.
Ignoro todos os cômodos do apartamento e vou diretamente para
o banheiro, ligo a torneira da banheira e deixo enchendo enquanto
começo a retirar a camiseta do meu uniforme. Aos poucos vou
tirando cada pequena peça de roupa que estou usando e quando
vou em direção da banheira, penso no dia exaustivo que tive e na
pequena discussão com a namorada do meu primo, em como ele
parece perdidamente apaixonado por ela e como é uma pena que a
mesma seja uma megera. Preciso ligar para ele mais tarde para que
possamos conversar um pouco, sinto que está precisando do meu
ombro amigo.
Antes de chegar à banheira, escolho uma música suave para ficar
tocando enquanto relaxo alguns minutos, assim que termino de me
aproximar da banheira já completamente nua estendo o braço para
checar a temperatura, não consigo evitar um gemido que escapa por
meus lábios quando sinto a água quentinha brincar ao entrar em
contato com minha pele. Quando a água está na metade e a música
suave já está tocando, coloco um pé, em seguida o outro e por fim,
entro na banheira sentindo a água morna relaxando meus músculos.
Não me preocupo por enquanto em fechar a torneira, quero que
encha mais um pouco. Então, encosto as costas e fecho os olhos
esvaziando a mente, relaxando o corpo e mal percebo quando
adormeço.
Um barulho desconhecido me desperta dos meus sonhos e levo a
palma da mão até os olhos, onde coço lentamente para ficar
totalmente acordada e novamente ouço um barulho. Percebo que
deixei a torneira da banheira aberta e que a água havia transbordado
encharcando o banheiro todo. Levanto-me rapidamente, fecho a
torneira e vou buscar uma toalha. Assim que me seco pego o celular
desligando a música, arregalo os olhos percebendo que estou
dormindo há quase trinta minutos.
Saio do banheiro em passos calmos ainda ouvindo um som
estranho que parte da sala, a cada passo que dou sinto algumas
gotas de água pingando dos fios molhados do meu cabelo. Constato
que a água da banheira ficou presa apenas no banheiro e molhou
um pouco o corredor, não chegou a alagar o apartamento todo.
― Você é a loira que está hospedada nesse quarto? — Uma voz
rouca, baixa e intensa soa atrás de mim. Não consigo evitar, meu
corpo arrepia ao reconhecer seu tom de voz. Viro-me lentamente e
meu olhar acaba chegando até o dele. — Você?!
Capítulo 06
Nayara Monteiro

Meus olhos ficam presos em seu rosto, seus olhos verdes


brilham e seus lábios tremem suavemente. Sua boca carnuda,
grande, sedutora e extremamente sexy…
Meus olhos descem por seu pescoço onde imagino dar
mordiscadas e alguns chupões, seu peito coberto por um paletó
preto de grife que abraça seus braços com maestria e finalmente
chega a sua cintura. Minha cabeça volta algumas horas atrás,
quando estávamos imersos em prazer dentro do avião e sinto meu
corpo inteiro arrepiar em antecipação.
Inconscientemente lembro-me dos seus dedos deslizando por
meu corpo, sua carícia suave, ao mesmo tempo, que sua pegada
selvagem puxava-me ainda mais para perto do seu corpo. Sem que
eu deseje, sinto uma pontada em minha região íntima, relembrando-
me do quão intenso havia sido nosso momento e em meu âmago,
almejo por mais, desejo-o novamente levando-me ao êxtase do
prazer.
Foco Nayara!
― Você ― sussurro sentindo meu sangue gelar. ― Em todos
esses anos, nunca encontrei por acaso um homem que compartilhei
uma foda casual. Essa é a primeira vez e garanto que a situação é
muitíssimo constrangedora.
― Sim. — Seus olhos descem por meus seios e ficam fixos na
toalha vermelha que peguei para me secar. — Vejo que estava
ocupada.
Sua voz soa rouca, ele cruza os braços enquanto fala e seu rosto
fica franzido, seu maxilar fica apertado. O imitando cruzo os braços e
ergo uma sobrancelha confusa com seu tom de voz.
― Estava sim! E o que diabos você está fazendo dentro do meu
apartamento? — questiono sustentando seu olhar.
Ele descruza os braços e começa a andar na minha direção.
Prendo a respiração sem ao menos perceber e recuo alguns passos.
Seu corpo é enorme, musculoso, isso o faz ganhar pontos com as
mulheres. Mas, não é por causa do seu olhar intimidador que recuo,
e sim para me preservar dessa enorme tentação.
— Você por acaso é algum perseguidor? — indago recuando um
passo. O encaro fixamente sentindo meu coração falhando uma
batida. — Como me encontrou? Nem meu nome você sabia,
somente o sobrenome, como conseguiu me achar? — indago
freneticamente. — E, como conseguiu entrar no meu apartamento?
Agora mais do que nunca consigo observá-lo com mais atenção.
Seus cabelos negros, suaves e macios, seus olhos verdes como
uma esmeralda e seus lábios... Balanço a cabeça negando-me a cair
nessa cilada apenas por sucumbir ao desejo.
— Não sou nenhum psicopata ou perseguidor, como pode pensar
isso de mim?! — indaga incrédulo.
— Não me leve a mal, — cruzo os braços — nós fodemos uma
única vez dentro de um avião e horas mais tarde você invade meu
apartamento. Acredito que diante desses fatos posso chegar a uma
conclusão muito ruim sobre você — estreito os olhos.
— Escuta aqui — rosna dando um passo na minha direção,
porém cessa seu movimento respirando profundamente —, sou o
dono desse prédio, fui informado que a moradora desse apartamento
estava com um problema na rede elétrica e para evitar rumores
ruins, vim pessoalmente resolver o problema.
O encaro cuidadosamente ponderando sua explicação. Esse
homem, vestido com um terno luxuoso, seria capaz de ser o dono
desse edifício ou é somente uma desculpa para me fazer abaixar a
guarda?
— O síndico não me informou que alguém viria resolver o
problema — comento observando-o respirar profundamente.
— O síndico é um senhor já de idade, provavelmente esqueceu e
tem o fato de que não estava previsto minha visita hoje. Quando vi
que tinha uma vaga na agenda tentei ligar duas vezes, porém
ninguém atendeu. Presumi que o apartamento estava vazio e como
possuo a chave mestre consegui entrar sem maiores problemas —
explicou deixando-me ainda mais intrigada a seu respeito. — Eu ia
entrar para verificar sua luz e em seguida ir embora, somente isso.
Aceno com a cabeça sem acreditar muito em suas palavras. De
repente seu olhar que estava em meus olhos desliza por todo o meu
corpo encontrando minhas pernas. Por cada lugar que seu olhar
passa, eu sinto como se minha pele estivesse em chamas.
Rapidamente se aproxima pegando-me de surpresa.
― Você prefere transar com o John? — rosna moendo seu corpo
no meu. Sua pressão contra meu corpo me faz ofegar e um gemido
fica preso em meus lábios.
Seu hálito quente com gosto de menta sopra contra meu rosto, me
fazendo estremecer. Minha mente fica nublada durante alguns
segundos até que suas palavras voltam com força total.
“Você prefere transar com o John...?"
Estreito os olhos na sua direção, sentindo meu rosto ficar vermelho
de raiva. Quem esse cara pensa que é? Primeiro, invade meu
apartamento. Não, antes disso! Ele me fode duro e selvagem num
avião sem o menor pudor. Depois invade meu apartamento, e agora
está pedindo explicações?!
― Você pensa que é quem?! — rosno espalmando as duas mãos
em seu peito e o empurro para trás com toda a força que possuo. —
Não sou sua namorada, muito menos sua propriedade. Pelo que sei,
sou solteira, descompromissada e não devo satisfações a ninguém!
— engasgo sentindo falta do oxigênio e logo o pânico começa a me
invadir. — Você não é dono disso aqui, certo? Você é só mais um
pervertido perseguidor! ― cuspo cada palavra com uma raiva e
convicção que me assusta. Mas no fim, quando a última palavra
escapa por meus lábios me sinto liberta. Ele não fala nada, seu olhar
ainda está fixo no meu e mantém sua expressão indiferente, me
inclino tentando me desviar da enorme muralha que é seu corpo.
Como esse homem consegue ser tão grande?
Foco Nayara!
O foco não é o tamanho desse homem enorme e gostoso, e sim o
fato dele estar exigindo saber se dormi com outra pessoa.
Quando vou passar ao seu lado, ele envolve sua mão em torno do
meu braço e me puxa bruscamente para trás. Recuo, e num segundo
estou em pé ao seu lado, já no outro estou com o rosto pressionado
contra o concreto gélido da parede. O pânico me invade, meu
coração falha uma batida enquanto minha respiração fica presa na
garganta. No segundo seguinte afasto-me bruscamente do seu
toque, recuando.
— NÃO ENCOSTE EM MIM! — grito. — Saia do meu
apartamento!
— Você realmente acha que estou perseguindo você?
— É o que parece, não importa. Saia do meu apartamento! —
exijo apontando com um dedo em direção à saída.
— Vim com o intuito de arrumar sua eletricidade, sequer sabia
que você morava aqui, porém já que nos encontramos novamente,
não posso desperdiçar essa oportunidade... Seus lábios se
aproximam do meu pescoço onde deixa algumas mordidas, fecho os
olhos deliciando-me com suas carícias.
— Você é maravilhosa... ― sua voz rouca arrepia meu corpo ―
perfeita, deliciosa...
Suas mãos deslizam por minha cintura puxando-me para si,
apertando-me nos locais certos e por uma fração de segundos
permito-me sentir suas carícias, mas logo caio em mim percebendo
seu jogo.
— Eu acho que você não entendeu... — ofego afastando-me —
eu não quero mais nada com você, só vai embora seu... ― Antes
que eu possa terminar minha frase, seus lábios chegam aos meus
calando-me com um beijo carregado de desejo e luxúria. Entrego-me
ao beijo, a carícia, sinto meu sexo pedindo por atenção, pedindo por
mais, porém recordo que não sei quem esse homem é e que posso
estar cometendo um erro.
— Eu não conheço você... — sussurro afastando nossos lábios,
ainda de olhos fechados.
— É só sexo, baby! — sussurra rouco contra meu ouvido —
deixe-me levá-la ao ápice do prazer ― sussurra pressionando-me
ainda mais com seu corpo.
— Filho da pu... ― interrompo meu xingamento quando sinto uma
palmada arder em meu traseiro. — Ahh!
Grito surpresa e arregalo os olhos sentindo a brisa soprar ao redor
da minha bunda e das minhas pernas. No meio de toda a confusão,
a toalha que me cobria foi ao chão deixando todo o meu corpo
exposto.
― Você tem razão, não tem um namorado e pode transar com
quem quiser. — Sua mão grande e quente serpenteia por meu
traseiro em movimentos lentos, me fazendo arrepiar. — Mas me
diga, quem fodeu você melhor? Ele te fez gozar da mesma forma
intensa que eu fiz? Você gemeu alto, gostoso e sexy como fez
comigo?
Filho da puta sedutor!
Tento me afastar do seu grande corpo tentador, porém, ele prende
minhas mãos acima da cabeça, com uma única mão, enquanto sua
outra dá mais uma palmada dolorosa na minha bunda.
― Vai se foder ― rosno com os olhos estreitos.
Minha respiração começa a falhar e sinto sua mão vagar por
minha cintura, ele aperta a região me causando uma leve sensação
de dor. Sua mão desliza por meu corpo e sobe até chegar aos meus
seios.
O que está acontecendo comigo?!
Eu… Estou ficando excitada por estar levando palmadas na
bunda?
― Você é tão gostosa. — Sua voz rouca sussurra bem perto do
meu ouvido, causando uma onda intensa de luxúria. Sinto sua
respiração em meu pescoço, quente e gostosa, que causa um
arrepio gostoso em todo meu corpo. — Você é uma diaba. —
Sussurra roucamente. Suas mãos apertam meus peitos com força,
me fazendo soltar um longo gemido que sai do fundo da minha alma.
— Diga-me, onde fica o banheiro?
Ele não espera uma resposta, antes que eu consiga abrir minha
boca, já está me puxado da parede e com as mãos ao redor da
minha cintura, me guia em direção à origem da água que molha o
chão.
Atravessamos o corredor em passos apressados e antes de
conseguirmos entrar no banheiro, ele me vira batendo meu corpo no
dele e suga minha boca em seus lábios me tomando como sua.
Sua boca toma a minha com ganância e nesse momento não
consigo pensar em mais nada. Que boca gostosa do caramba…
Minhas mãos ganham vida própria e buscam seus ombros com
fome, grudamos nossos corpos o mais próximo que conseguimos e
mesmo assim não é o suficiente. Preciso de mais. Estou pegando
fogo.
Tropeçamos algumas vezes enquanto andamos, entramos no box
de vidro e de repente sinto uma ducha gelada sobre minha cabeça.
― Filho da mãe. ― Minha voz sai abafada pela enorme onda de
luxúria que rodeia meu corpo.
Nem a água gelada consegue apagar meu fogo! Santa Mãe de
Deus, isso não é normal! De onde vem tanto tesão?
Seus olhos verdes observam cada centímetro do meu corpo, com
ganância, fome e desejo. Sinto meus seios queimarem quando seu
olhar passa como brasa por eles. Seus lábios não se contentam com
a distância e novamente sugam minha boca com uma fome insana.
Ele me pressiona contra a parede, minhas costas se arrepiam ao
sentir o piso gélido o que aumenta ainda mais minha excitação. Seu
rosto se afasta do meu no mesmo segundo em que dois dedos
invadem meu canal.
― Agora, vou foder você até que perceba a quem pertence ou até
que você gema tão alto que não aguente mais falar. — Promete com
os olhos duros fixos aos meus. — O que acontecer primeiro está
valendo.
Capítulo 07
Nayara Monteiro

Sem qualquer aviso prévio, seu pau invade meu canal em uma
única estocada fazendo meu coração saltar pelos lábios. Seu
membro invade minha boceta numa estocada dura, bruta e
insaciável arrancando um grito alto e sôfrego do fundo da minha
garganta.
Meu Deus do céu…
Meus seios estão pressionados duramente contra o box do
banheiro, enquanto ele me toma com fome por trás. Suas mãos
circulam minha cintura dando apertos gostosos na região. Uma de
suas mãos sobe explorando meus longos cabelos loiros, enquanto a
outra desce em direção a minha vagina onde começa a estimular em
movimentos circulatórios.
— Tão apertada. — Geme roucamente contra meu ouvido
causando uma onda de arrepios por todo meu corpo.
Ele aumenta suas investidas, culminando ainda mais o fogo dentro
de mim. Mesmo com as gotas de água caindo por meu corpo, sinto o
suor começar a surgir em minha testa.
— Sim, porra. Sim! Mais forte!
Gemo sem uma gota sequer de pudor e ele escuta meu apelo,
pois começa a bater ainda mais duro contra meu interior. Ofego
sentindo seu pau preencher todo espaço que sobrava em meu corpo,
nos encaixando de uma forma intensa, profunda e perfeitamente
completa.
Esse homem é…
— Ahh…
Gemo ainda mais alto quando o sinto afastando ainda mais minhas
pernas, aprofundando o alcance das suas estocadas. Meu coração
está acelerado, suas batidas sem ritmo me causam uma sensação
prazerosa. Minha respiração está ofegante, nesse momento nem
mesmo me lembro de respirar.
Não controlo meu corpo, que está em chamas, nem meus lábios
que gemem loucamente pedindo mais, muito menos meus olhos que
se reviram nas órbitas, sentindo o prazer me preencher cada vez
mais e nem mesmo minha mente, que pisca me alertando sobre algo
que não planejo escutar agora… Agora não.
— Rebola pra mim! — rosna bem próximo ao meu ouvido. —
Rebola no meu pau, diaba gostosa do caralho!
Ordena e puxa uma boa quantidade dos meus cabelos loiros. Um
gemido rouco atravessa minha garganta e antes mesmo que eu
perceba estou obedecendo a sua ordem.
— AAAAA CARALHOOO!!! — grito levando uma das mãos para
trás, aonde encontro e agarro seus cabelos com força trazendo sua
cabeça para mim. — Não para. Não para!
Ele próxima seus lábios do meu pescoço e sugando a pele
exposta causa um tremor intenso por meu corpo. Gemo novamente
ignorando o fato de que, provavelmente, amanhã ficará marcado. Ele
morde meu ombro com força, ao mesmo tempo em que dá uma forte
bofetada em minhas nádegas.
Sinto meu orgasmo sendo construído aos poucos, sinto meu corpo
tremer em antecipação, me pego rebolando ainda mais duro contra
seu pau e intensificando nosso prazer. Quando estou na beirada,
prestes a me deixar levar pelo momento, pronta para ser arremetida
pelo maior orgasmo de toda a vida, o sinto sair de dentro de mim
arrancando meu prazer.
— Aann… ― gemo frustrada.
Não tenho tempo para falar mais nenhuma palavra. Ele me vira
bruscamente contra seu corpo, cola minhas costas na parede de
vidro e me suspende em seus braços.
— Ai meu Deus! ― gemo enroscando minhas pernas ao redor da
sua cintura.
Sem esperar um comando, monto em seu pênis o encaixando no
meu interior e a sensação de tê-lo novamente me preenchendo me
deixa extasiada. Coloco as mãos em seus ombros largos e firmes, e
pela primeira vez consigo olhar dentro dos seus olhos.
Seus olhos estão fixos no meu rosto e suas íris verdes ainda mais
escuras que antes, observam cada expressão presente na minha
face. Seus olhos estão dilatados, escuros como a noite e carregados
de desejo. Sua expressão está tensa, seu maxilar está contraído e
seu corpo duro.
Esse Deus grego está…
— Goza pra mim diaba, goza no meu pau minha gostosa.
Ele começa a seguir um ritmo insano, suas estocadas ficam
rápidas, profundas e tão duras que o sinto bater no fundo do meu
útero. Sua boca suga meu mamilo direito enquanto uma das suas
mãos estimula meu clitóris.
Filho da mãe gostoso!
Não aguento nem mais um segundo, seus estímulos em várias
partes do meu corpo se juntam em meu ventre me causando um
devaneio com a excitação. Meu orgasmo é arrebatador, profundo e
tão intenso que faz minha alma tremer de uma maneira nunca antes
feita.
Ele não consegue se segurar e sinto-o libertando-se dentro de mim
num movimento quente e selvagem, em sua última estocada, seu
corpo fica tenso e um rugido gutural escapa por sua boca deliciosa.
Não tenho mais forças, meu corpo escorrega em seus braços. Ele
se abaixa sentando no chão com meu corpo ainda montado sobre si.
Escondo minha cabeça em seu pescoço e suspiro cansada. É a
primeira vez que me sinto tão… satisfeita. Mas, então, me dou conta
de que nos esquecemos da camisinha, no mesmo momento o ouço
dizer:
— Não precisa se preocupar, estou limpo, agora descanse para
podermos aproveitar mais ao longo da noite.
Algum tempo depois ouço uma voz.
— Me conta o que aconteceu.
A voz rouca e preocupada do meu acompanhante de foda, sem
querer acaba me arrancando do mundo dos sonhos. Lentamente vou
abrindo os olhos e percebo que o quarto não está escuro, está no
meio termo e a única coisa que ilumina o ambiente é a luz externa
que vem através de uma janela. Percebo que o sol já está nascendo,
mostrando o tempo que apaguei desde que nos encontramos.
Estava tão cansada do voo que sequer percebi.
— Querida, sabe como Levi é um filho da mãe estranho. — Ouço a
mesma voz rouca, que me causou vários orgasmos, dizer baixinho.
— Mas, alguma coisa deve ter abatido seu irmão para ele agir assim
com você.
Querida?
Que história é essa de “querida”? Ele tem uma namorada e
passou a noite transando comigo?
Sinto um mal estar pinicar meu estômago ao imaginar que, talvez,
ele seja comprometido e eu estou fazendo o maldito papel de
amante otária novamente. Constatar isso me faz estremecer e
tomando coragem, me sento na cama sentindo o lençol de seda
escorregar por meu corpo. Percebo que estou usando uma camiseta
branca e me indago como tal peça foi parar em meu corpo.
— Tenho que desligar pequena, está muito cedo. Não é nem seis
horas da manhã, seu irmão não fará nada estúpido tão cedo. —
Avisa quando seus olhos verdes focam em meu rosto. — Vejo você
em casa.
Levanto da cama lentamente, sinto minha intimidade doer com
meus movimentos e faço uma careta de dor. Porém, a lembrança do
que causou o desconforto me faz sorrir amplamente e me flagro
encarando o enorme homem a minha frente.
— Você está bem? — indaga com os olhos estreitos. Sua
expressão está preocupada. — Machuquei você?
Aperto minhas coxas desconfortável com a situação e ao mesmo
tempo tentando aliviar a dor que está latendo no meio das minhas
pernas.
Mantenha o controle Nayara, ele tem namorada. Ele está apenas
usando você.
— E isso importa? — Cruzo os braços acima do peito, sustentando
seu olhar. — Já veio, viu que destruí o apartamento e já transamos.
Agora pode parar de fingir que se importa comigo e ir ficar com a sua
namorada.
— Namorada? — indaga surpreso.
Recuo sentindo-me enganada por suas palavras.
— Seja sincero comigo, por que veio aqui? Como conseguiu me
encontrar? Saber quem eu sou... Por que veio até mim sendo que
tem outra mulher? — indago sentindo uma dor incomum em meu
peito. — Por que todos os homens tem que ser uns filhos da puta! ―
resmungo irritada com a minha capacidade de conseguir ser uma
idiota em diversos momentos.
Primeiro no avião, quando cedi as suas carícias sem conseguir
perceber que não era John e sim esse homem. Como não consegui
perceber? Como fui incapaz de ver qualquer sinal... Fiquei tão imersa
na nuvem de prazer e sedução à qual ele me envolveu que acabei
esquecendo-me de tudo ao meu redor.
Assim como na noite passada, estava decidida a expulsá-lo do
meu apartamento, da minha vida, mas de um momento para o outro,
bastou ele dizer umas coisas safadas, apertar meu corpo contra o
seu nos locais certos que novamente cedi ao desejo inescrupuloso,
sendo assim sua submissa. Esqueci que deveria expulsá-lo, que
deveria exigir explicações, que somos dois estranhos e que ele
invadiu meu apartamento e somente preocupei-me em senti-lo
dentro de mim.
Seu rosto está franzido, seus braços cruzados sobre seu peito e
percebo somente agora, que ele não está usando blusa. Seu peito
está totalmente exposto e seus braços firmes e contraídos, exibem
seus músculos e sua barriga...
Puta que me pariu! Um… Dois… Três… cinco… seis.
Seis gominhos gostosos e bem destacados estão presentes em
seu abdômen e me questiono como não percebi esse detalhe antes.
— Se eu me importo, claro que sim, gosto de foder as mulheres
com força, duro, forte, intenso… até que seus miolos explodam e às
vezes, exagero um pouco.
Meus olhos por vontade própria descem pelo V em sua cintura,
encontrando seu pênis coberto apenas por uma cueca preta da
Playboy.
Exagera um pouco?
Engulo em seco forçando meus olhos a voltarem para o seu rosto,
sinto o meu próprio esquentando e me pergunto se nessa altura do
campeonato ainda consigo ficar corada.
— Estou apenas um pouco dolorida — sussurro baixinho vendo
seus olhos brilharem. Um meio sorriso carregado de prepotência
nasce em seus lábios e bufo indignada.
— Sua namorada está esperando você. — Reforço meu objetivo e
esclareço para mim mesma que ele é comprometido. — Como
conseguiu entrar aqui? Não vai responder a nenhuma pergunta? Vai
simplesmente fingir que é insignificante para você? É isso, depois do
sexo agir como se nada tivesse acontecido?
Questiono apontando para o celular em suas mãos e seu peitoral
definido. Ele descruza os braços e sem perceber acompanho com os
olhos cada mínimo movimento, vejo seus músculos firmes, fortes e
sinto minha boca ficar seca com vontade de provar sua pele.
— Cada palavra que disse para você, foi a mais pura verdade —
começou —, sou o dono desse prédio, o responsável pela
comodidade e segurança dos moradores. Fui informado que uma
moradora estava com problemas e decidi vir resolver pessoalmente,
quando descobri que era você fiquei surpreso, mas não poderia
recuar quando o que eu mais desejava estava na minha frente, —
deu uma pausa — tenho uma chave mestre que abre todas as
portas, incluindo a sua, foi assim que entrei. Posso mostrar a você
meu crachá para provar o que digo, não estou perseguindo-a ou
sendo algum tarado obsessivo.
Deu uma pausa, pensei que tivesse finalizado sua explicação,
porém se aproxima um pouco mais e seu rosto está completamente
sério.
— Preciso deixar uma coisa clara, Loira. — Chama minha atenção
quando faz um ruído com sua garganta. — Assim como você, sou
solteiro e descompromissado, ou seja, não tenho namorada — fala
dando um passo a cada palavra dita. No final, estou contra a parede
com seu corpo bem próximo do meu. — Não tenho coleira, loira e
fodo quem eu quiser.
Seus olhos verdes, felinos e dilatados mostram o desejo latente
que está presente em seu membro a centímetros do meu corpo,
coberto apenas por um tecido fino. Esse momento se enquadra
perfeitamente num livro de romance, ele se aproxima ainda mais e
toma meus lábios com a sua boca, com ganância e fome.
Nos livros a mocinha cederia ao lobo mal e acabaria se
entregando para ele como uma idiota submissa. Mas esse não é
meu caso. Abro minhas mãos espalmando-as sobre seu peito e o
empurro com toda força que possuo, não o deixo pensar e sem que
eu mesma perceba ergo a mão e acerto em cheio seu rosto.
— Espero não ter que repetir, sou livre de pudores, respeito meu
corpo e meus limites, jamais me envolveria com um homem
compromissado. Se bem que, pensando bem, nesse momento você
seria o último homem com quem me envolveria, não passa de um
escroto!
Capítulo 08
Dominic Grombeth

Demoro alguns segundos para conseguir entender o que acaba


de acontecer, ainda estou em choque quando recuo um passo para
trás, meu olhar fixo nos olhos azuis felinos da loira que vêm
perseguindo meus pensamentos. A realidade arde do lado esquerdo
do meu rosto e apenas trinta segundos depois me dou conta do que
aconteceu, a filha da mãe louca acabou de me dar um tapa!
— Você...
Rosno com os olhos estreitos na sua direção, tentando intimidá-la
ou ao menos mostrar o quão puto estou por ter levado uma bofetada
no rosto sem motivo algum. Porém, sua reação é totalmente
diferente da qual planejei, ela não se deixa abalar por eu ser bem
mais alto que ela, bem mais forte e perigoso e ao invés de abaixar a
cabeça e ser submissa como muitas outras fariam, a diaba ergue a
cabeça devolvendo o olhar.
— Eu o quê? Vai me bater grandão? — Seu olhar afiado encontra
os meus e vejo o desafio explícito em sua face. — Não sou como as
mulheres que você deve comer por aí. Não nasci para ser amante de
cara que não tem nenhuma vergonha na cara!
A maçã do seu rosto está completamente avermelhada e por
alguns segundos me pergunto se é pelo fato dela estar nua, ou por
estar com muita raiva de mim. Ergo a cabeça diante da sua
afirmação e percebo um tom de mágoa em sua voz, o que me chama
atenção. Ela ficou assim por perceber que eu estava falando com
uma mulher e deve ter deduzido que era alguma coisa íntima minha.
— A pessoa que eu estava falando no celular se chama Nathalia e
é minha irmã mais nova — interrompo seu xingamento e a vejo
arregalar os olhos, sua boca se abre em formato oval e estremeço ao
imaginá-la chupando meu pau. — Naty me ligou para dizer que um
dos meus irmãos estava estranho, apenas isso.
Informo incomodado, nunca precisei me explicar para nenhuma
das minhas fodas... Por que estou dando satisfação para ela?
Surpreendendo-me novamente, pois a loira dá de ombros e escapa
contornando o meu corpo, como se minha aproximação a afetasse
de alguma forma.
— Calma aí, você não me deve satisfação e não serei eu a cobrar!
— Seus olhos felinos encaram meus olhos com firmeza e a
petulância em suas palavras me irrita profundamente.
Respiro profundamente tentando reunir toda a calma que possuo
no meu interior, no fundo, bem no fundo da minha alma e volto minha
atenção para a mulher extremamente gostosa e chata que está na
minha frente. Penso em alguma coisa doce para falar, talvez eu
consiga seduzi-la e levá-la para a cama onde faria questão de
ocupar sua boca não com palavras e sim com outra coisa, porém,
quando ela morde o lábio e se vira insinuando que irá sair do quarto
mal consigo conter meus impulsos.
Dou dois passos parando na sua frente, seguro seus braços e a
empurro contra a parede do quarto, colo meu corpo bem próximo ao
seu, não a deixando chance para que consiga fugir.
— Presta muita atenção loira — sussurro contra seu rosto, nossos
olhares se conectam profundamente. — Qualquer homem
compromissado teria desejos safados com você, não sou diferente. A
única coisa que me exclui dessa frase é o fato de eu manter um
relacionamento aberto com minhas acompanhantes de foda, não
tenho namorada porque prefiro curtir minhas noites degustando das
melhores bocetas que eu encontrar e é exatamente isso que estou
fazendo com você. — Dou uma pausa, meu olhar cai sobre seus
lábios e me perco por alguns segundos. — Admiro sua convicção em
não querer se relacionar com esse tipo de homem, mas não vejo
problema algum de continuarmos nossa foda já que não tenho o
costume de manter algum relacionamento e nem quero, com você ou
com qualquer outra pessoa.
Consigo sentir, em cada palavra, meu orgulho falando mais alto,
tentando devolvê-la o tapa que me deu e de alguma maneira
tentando convencê-la de que, não sou de compromissos e que não
está quebrando nenhuma regra feminina idiota que apenas as
mulheres conhecem.
Pela primeira vez desde que entrei em seu apartamento a vejo
sorrir e CARALHO... Que sorriso gostoso! Gostoso e perigoso. Ela
exibe uma fileira alinhada de perfeitos dentes brancos, um lábio
inchado causado pela aventura que compartilhamos momentos antes
e juntando a face angelical, se torna uma completa deusa gostosa.
Queria que Rafael pudesse ver esse sorriso, assim entenderia o
porquê do meu querer em repetir.
O pensamento se desfaz na minha mente e de repente imagino-a
com Rafael, mas o simples fato de imaginá-la com outro homem me
irrita profundamente.
— Só tenho três palavras, para você grandão. — Ergue três dedos
e a cada palavra vai abaixando um. — Vai. Se. Foder. — A loira me
empurra com força para trás e permito que me afaste apenas para
vê-la colocar as mãos na cintura.
— Está dizendo exatamente o que estou fazendo aqui, que bom
que combinamos nessa parte. Não somos obrigados a manter um
relacionamento, que bom que entende isso, já achei que era
perseguição, já que nunca lhe prometi algo.
― Desculpa se vou parecer grossa, mas não vai mais rolar sabe?
Não costumo repetir minhas fodas, se bem que a primeira
aconteceu... Bom...
— Está dizendo que foi um erro nossa foda no avião? — indago
incrédulo. — Pelo que me lembro, você gozou gostoso em meus
dedos e no meu pau, além de ficar gemendo loucamente.
Suas bochechas brancas tomam uma leve coloração avermelhada.
Meu celular começa a tocar em cima da cômoda ao lado da cama o
que chama minha atenção, porém, não desvio o olhar da mulher a
minha frente.
— Bom, você não veio aqui somente para transar, você mesmo
disse que não sabia que eu estava. Então cumpra seu propósito, vou
mostrar o problema com os disjuntores.
Aceno com a cabeça concordando com suas palavras.
— Pois então, vamos — cruzo os braços esperando-a me levar
até onde ficam os interruptores.
A loira me encara por alguns segundos, medindo-me de cima a
baixo.
— Você sabe arrumar isso? — murmura desviando o olhar.
— Obviamente, não virei o dono disso tudo do dia para a noite —
resmungo —, eu comecei de baixo, demorei muito tempo estudando
para ser o melhor.
Alguns segundos se passam e mantemos a mesma posição, em
momento algum desviamos o olhar ou ousamos falar alguma coisa,
até que ela se manifesta.
— Não vai atender? — Aponta para o celular revirando seus belos
olhos azuis. — Pode ser importante.
Ignoro seu sarcasmo e durante alguns segundos pergunto-me
mentalmente quem pode ser e o que de importante seria, ninguém
da empresa me ligaria essa hora, as únicas pessoas que me ligam
são meus irmãos.
— Não acabei com você ainda. — Aviso caminhando em direção
ao meu celular. Vejo o nome da Naty escrito e atendo preocupado. —
O que aconteceu pequena?
O telefone fica mudo durante alguns segundos até que um fungar
preenche a linha, esse leve fungar ganha minha atenção de uma
maneira completamente assustadora. Alguma coisa havia
acontecido.
— Naty, o que aconteceu?! Estou mandando que fale alguma
coisa, caramba!
Brando, meus olhos correm pelo quarto e encaro os olhos azuis da
loira que me encaram de maneira preocupada.
— Nick... O Levi... — soluça começando a chorar. Sinto meu
coração ficar apertado e aperto o aparelho em minhas mãos. —
Nick...
Meu celular fica mudo e preciso conferir a tela para saber se a
ligação ainda está em andamento, mas percebo que estou sem
bateria e estremeço. Aconteceu alguma coisa com o meu irmão!
— Aconteceu alguma... — interrompo a frase que sai pelos lábios
da minha acompanhante de foda.
— Me empresta seu celular, agora!
A loira estreita os olhos na minha direção e ergue uma
sobrancelha avisando que não aceita receber ordens, porém, nesse
momento quero que se lasque. Algo aconteceu com o meu irmão e
não será uma boceta qualquer que vai me impedir de vê-lo.
Viro-me e começo a pegar cada peça de roupa do chão, vestindo-
as segundos depois. Coloco minha calça, camiseta e pego meus
sapatos do chão, quando me viro para ir embora a vejo do meu lado
segurando meu ombro.
— Meu celular — oferece.
Pego o aparelho das suas mãos sentindo as minhas próprias
tremendo violentamente.
— Obrigado — murmuro.
Assim que seguro o aparelho, por estar tremendo acabo
deixando-o cair no chão. Recuo um passo assustado e preocupado.
— Você está tremendo — a loira declara aproximando-se —, o
que aconteceu, porque você está assim?
A encaro, porém não consigo formular palavras o suficiente para
explicar tudo o que estou sentindo.
— Meu irmão, pode ter acontecido alguma coisa com ele...
— Eu vou ligar, qual o número? — indaga pegando o celular.
Aos poucos dito cada um dos números, a loira tenta ligar algumas
vezes, porém está fora de serviço. Ficamos por quinze minutos
tentando ligar para o Rafael ou para a Naty, porém nenhum dos dois
atende. Decido voltar para casa, procurar os dois, pego as chaves,
termino de me vestir e ao lado da loira pegamos o elevador para ir ao
estacionamento.
— Não precisa ir comigo — resmungo.
— Você não está em condições de dirigir.
Decido não contrariá-la, aceito sua oferta e dez minutos depois
estamos na estrada em direção a minha casa. Quando estamos
quase chegando meu irmão finalmente atende.
— Quem é? — A voz de Rafael soa impaciente do outro lado da
linha.
— Caralho Rafael! — praguejo assim que ele atende — Estou
tentando falar com você há uns trinta minutos! — dou uma pausa —
Onde você está?
— Nick, eu preciso que fique calmo. — Meu irmão pede e nesse
segundo sei que algo realmente grave aconteceu. — Nosso irmão
estava bêbado e acabou sofrendo um acidente de carro.
Memórias passadas e dolorosas invadem minha mente como uma
droga e dominam meus pensamentos, meus pulmões param de
funcionar e meu coração falha, algumas batidas. Uma forte tontura
passa por meu corpo e preciso me apoiar na parede da sala para
receber algum suporte, tudo fica escuro e sem sentido.
Capítulo 09
Dominic Grombeth

— Cheguei, como ele está?


Questiono alarmado assim que passo pelo longo corredor de
parede branca do hospital. Cruzei metade da cidade, andei por toda
a extensão do hospital até alguém me dar uma informação útil e
agora, finalmente, consegui encontrar o quarto em que meu irmão
está.
O letreiro acima da porta aperta meu coração: SALA DE
CIRURGIA.
Ouço meus irmãos dizendo alguma coisa para mim. Vejo Rafael
me olhando fixamente, enquanto palavras mudas saem por entre
seus lábios. Não consigo escutá-lo, mesmo estando exatamente ao
meu lado.
Sinto um par de mãos quentes rodeando minha cintura e no
mesmo momento uma enorme onda de paz percorre cada centímetro
vazio do meu corpo. Por instinto meus olhos se fecham sentindo o
súbito sentimento de paz e não reprimo um suspiro de alívio.
— Calma Nick, nosso irmão ficará bem, não é mesmo Rafa?
Naty pergunta atrás de mim. Abro meus olhos e me viro
encontrando seu rosto que, apesar de pálido, está muito vermelho,
demonstrando quão intensa é sua preocupação com nosso irmão.
Ergo meus braços envolvendo seu corpo num abraço apertado, essa
menina pode não ter nosso sangue, pode não ser nossa irmã por
genética, mas nossos corações compartilham a cumplicidade, a
moral e a irmandade que irmãos compartilham.
— Ele ficará bem sim — sussurro com firmeza. — Levi é um
homem forte e duro, depois de tudo que lutamos, ele não irá cair
num momento como esse.
Naty se afasta de mim e consigo observar seus belos olhos
completamente vermelhos, suas íris estão quase irreconhecíveis.
Meu coração novamente se aperta por ver minha irmã neste estado.
Juro por Deus que, se Levi tiver se machucado por alguma bobagem
eu vou matá-lo por deixar nossa pequena assim.
Minha irmã acena brevemente com a cabeça e seu olhar vai em
direção a algo no final do corredor, suas íris brilham em curiosidade.
Pelo canto dos olhos vejo Rafael exclamar um palavrão e mesmo
sem me virar posso imaginar quem está há alguns metros de
distância nos encarando. Viro-me em sua direção e meus olhos
encontram os seus numa conexão intensa que apenas nós dois
entendemos qual é.
Depois que passei mal em sua casa, Nayara, se dispôs a dirigir até
a minha em busca dos meus irmãos e logo após até aqui. Nayara
deu todo o apoio que precisei, foi carinhosa, simpática e me deu
forças quando fraquejei. Logicamente fui muito orgulhoso e recusei
qualquer ajuda que ela fosse oferecer, porém a mulher é a mais
teimosa, orgulhosa e corajosa que já conheci e após me mandar
tomar num lugar não muito agradável, arrancou a chave do carro das
minhas mãos e saiu do apartamento praguejando.
— Lamento pelo que está acontecendo com o seu irmão —
sussurra com a cabeça baixa e pela primeira vez sinto sinceridade
em suas palavras. Sinto um sentimento oculto em sua voz, ela não
me xinga, não pergunta, nem se faz de vítima, mais uma vez, apenas
diz o que está sentindo.
— Meu irmão não está morto e ele não precisa das suas
lamentações.
Naty praticamente rosna, atacando Nayara que parece não se
importar. Rafael por outro lado estreita os olhos e cruza os braços
com uma expressão severa no rosto.
— Nathalia, que maneiras são essas? — adverte. — Você diz que
não é mais uma criança, mas continua se portando como uma, como
quer exigir respeito dessa maneira?
As palavras do meu irmão atingem nossa caçula com força,
fazendo-a recuar um passo. Vejo em seus olhos que Naty se
ofendeu por Rafael ter ficado do lado da loira e não da sua família.
— Não é necessário repreendê-la por minha causa. — Nayara
exclama encarando minha irmã fixamente. — Não quis dizer que seu
irmão está morto, ele vai ficar bem. Expressei-me da maneira errada,
perdão, — dá uma pausa — só queria dizer que, mesmo sem
conhecê-los, me importo e se precisar de alguma coisa e eu puder
ajudar, pode contar comigo.
As palavras doces, suaves e ao mesmo tempo firmes de Nayara
penetram meus ouvidos e por alguns segundos admiro sua firmeza.
Em momento algum sua pose de durona se desfaz, não vejo
hesitação, seu olhar se mantém firme e suave ao mesmo tempo. Por
alguns segundos sinto orgulho e tal pensamento me surpreende e
me assusta numa intensidade inexplicável.
Desvio o olhar da loira que a cada momento me surpreende mais e
passo a encarar minha irmã. Naty encara fixamente a mulher a sua
frente, seus olhos felinos a fitam com intensidade e ela parece
absorver o que Nayara falou.
— Não precisa me ver como inimiga, no momento o que menos
desejo é incomodá-la de alguma forma.
Minha irmã pisca algumas vezes e abaixa a cabeça assim que
ouve as palavras de Nayara. Por sua reação já posso soltar a
respiração que havia prendido.
— Desculpe-me por ser tão mal-educada com você. — Minha
caçula se desculpa encarando-a fixamente. Vejo o arrependimento
estampado em seus olhos e sinto orgulho da minha irmã.
— Não precisa se desculpar. — Minha loirinha dá de ombros como
se não tivesse sido nada. — Estão todos sobre pressão, é normal
agir na defensiva.
Decido me afastar um pouco, chamo Rafael de lado.
— O que aconteceu realmente?
— É complicado, — começa — estava ficando em casa quando vi
Levi entrando no carro, ele parecia irritado, não sei ao certo. Não
consegui detê-lo, então pedi para um segurança segui-lo. Assim que
entrei encontrei Naty, conversamos e vinte minutos depois o
segurança me ligou relatando o acidente.
Aceno concordando com a cabeça.
Conversamos por mais alguns minutos, por fim decido ir pegar
café, aproveitando para pedir algumas informações, além de
encontrar Naty e tentar consolá-la e quando percebo já se passaram
duas horas.
Suspiro exasperado, voltando ao corredor onde Levi está, me
sento agoniado.
Nesse momento a porta da sala de cirurgia abre e um médico
trajando um conjunto de roupas brancas sai dela. Seu rosto está
tenso, vejo linhas de preocupação e cansaço marcarem sua face e
tento ler seus olhos em busca de alguma informação.
— Vocês são os acompanhantes de Levi Grombeth? — questiona
sério.
— Sim — exclamo sem hesitar.
O doutor encara cada um dos meus irmãos, me encara e de
repente seu olhar vai para loira ao meu lado.
— Como meu irmão está, doutor? — Naty pede com os olhos
vidrados no senhor a nossa frente.
Mas percebo que o doutor continua com o olhar fixo na loira ao
meu lado, então cruzo os braços com força acima do peito e dou um
passo para o lado ficando entre a loira e o médico que a encara.
— O senhor poderia parar de suspense e dizer como nosso irmão
está? — Rafael indaga com seu semblante sério.
O doutor respira profundamente antes de molhar os lábios com a
ponta da língua e finalmente dizer alguma coisa.
— Seu irmão teve um acidente de carro grave. Quando o carro
capotou em meio à estrada, ele acabou batendo a cabeça em
alguma parte do carro, no volante provavelmente, e isso gerou uma
lesão grave, a qual merece supervisão.
— A cirurgia é por causa da lesão na cabeça? — Naty indaga
aflita, interrompendo o médico.
Sinto meu coração acelerar ainda mais quando o doutor encara
minha irmã com um pesar nos olhos. Algo não está certo e essa
aflição esmaga minha alma.
— Não senhorita, infelizmente durante o acidente o paciente
fraturou algumas vértebras. — Sua frase fica solta no ar. — A coluna
é formada por trinta e três vértebras e dividida em cinco partes:
coluna cervical (sete vértebras), coluna torácica (doze vértebras),
coluna lombar (cinco vértebras), coluna sacral (cinco vértebras) e
coluna coccígea (quatro ou cinco vértebras) — explica cuidadoso e
minuciosamente. — O seu irmão sofreu uma fratura na sétima
vértebra cervical. O que ocasionou a paralisia, — dá uma pausa —
ele ficará sem ter sensibilidade e movimentos em suas pernas, em
decorrência dos fatos, entretanto, com fisioterapia existe uma
pequena possibilidade de que ele possa recuperar seus movimentos.
Meu estômago de repente fica embrulhado, sinto meus últimos
alimentos se revirando dentro da barriga juntamente com a dor que
se aloja em minha cabeça intensamente.
— Está dizendo que meu irmão vai ficar... — Naty soluça com uma
voz baixa e embargada. — Paraplégico?!
— Não! Isso é impossível! — Ouço Rafael sussurrar atrás de mim.
— Esse hospital cobra uma fortuna por qualquer atendimento e
vocês nem conseguem ajudar seus pacientes!
Não consigo formular nenhuma palavra, minha garganta parece
ficar inchada, minha língua fica dormente e não consigo separar
meus lábios para proferir qualquer coisa. Giro o corpo lentamente até
meus olhos chegarem aos olhos intensos de Nayara, que está atrás
de mim. Meu peito aperta tão fortemente que mal consigo respirar.
Novamente algo ruim acontece com a minha família e não consigo
impedir.
Capítulo 10
Nayara Monteiro

As horas se passam lentamente, se arrastando como uma


tartaruga e isso não é nada agradável para a família de Dominic.
Sim, o homem com quem tive relações sexuais no avião e no meu
apartamento tem um nome, sobrenome e uma família que está
passando por um momento difícil.
Pelo que consegui entender, o irmão mais novo de Nick, seu
apelido, sofreu um acidente de carro e por causa de uma lesão na
coluna poderia ficar paraplégico. Quando o médico revelou o quadro
do paciente todos que estavam no corredor ficaram pálidos, Naty a
irmã mais nova dos rapazes, começou a chorar e ficou em choque. O
doutor precisou sedá-la para conseguir acalmar seu espírito.
O outro irmão ficou pasmo, seu emocional ficou alterado com a
possibilidade de perder o irmão e seus sentimentos ficaram
aflorados. Traduzindo, ele ficou muito nervoso e começou a
praguejar vários xingamentos. Minha atenção ficou intensamente
fixada em Nick, seus olhos ficaram perdidos e eu consegui sentir o
que ele sentia, seu mundo de repente, estava começando a ruir.
— Vai ficar tudo bem com o seu irmão — afirmo aproximando-me
do seu corpo. Nick está em pé, encostado na coluna da parede
branca do hospital. Seu olhar está perdido em algum lugar do
corredor, sua face está séria, seu maxilar tenso e seus braços
cruzados acima do peito.
— Não sabia que você era formada em medicina. — Ironizou
secamente. Estreito os olhos diante da sua súbita grosseria e como
se conseguisse ler meus pensamentos Nick ergue seus olhos até os
meus e respira profundamente. — Desculpe-me por isso. Estou
preocupado com ele, muito preocupado.
Faço um movimento leve com a cabeça e enfio ambas as mãos no
bolso da jaqueta de couro preta que estou usando. Bato o salto da
bota algumas vezes no chão e volto minha atenção para ele.
— Vai dar tudo certo, você precisa ser forte por ele. — Lembro-o
com meus olhos fixos em sua face. — Ser forte por sua irmã, pelo
seu outro irmão e por sua família toda.
De repente, sinto o fardo que ele terá de carregar a partir de hoje.
A força que ele terá que promover dentro de si para passar por este
momento é enorme, pois muitas vezes não aguentamos os percalços
da vida sozinhos.
Nick pondera minhas palavras, fecha os olhos e com a mão direta
esfrega seu cabelo num gesto aflito. Sua face está cansada, ele
caminha até o banco a nossa frente e se senta sem cerimônias. É
notável seu cansaço.
— Naty ficou arrasada — murmura como se a ficha caísse
somente agora. Nick passa as mãos em suas têmporas e respira
profundamente algumas vezes, ele parece buscar controle em algo.
Caminho lentamente em sua direção e me sento ao seu lado. Não
ouso dizer uma palavra sequer, não deveria nem estar aqui. Esse é
um problema familiar dele, sou apenas a foda casual, nada mais que
isso.
Eu deveria ir embora.
— Obrigado por tudo, Nayara. — Sua voz sussurrada entra por
meus ouvidos e me vejo encarando-o completamente surpresa. —
Obrigado pelo apoio, pelas palavras confortantes, por tudo. Estou em
dívida com você.
Não consigo achar palavras para responder a sua declaração.
Perco-me em seus olhos, na intensidade com que ele me encara e
por alguns segundos, tudo o que consigo fazer é encará-lo como se
estivesse em um doce transe.
Não consigo desviar o olhar, não consigo sequer respirar
corretamente e me assusto ao sentir meu coração batendo mais
rápido do que o comum. Dou um pulo da cadeira na qual estou
sentada, meu movimento repentino faz Nick se levantar também e
me encarar sem entender nada.
— Pre... preciso ir embora… — engasgo-me nas palavras pela
primeira vez na vida e me sinto patética por isso.
— Certo.
Nick me encara com uma expressão decepcionada no rosto e
constatar que eu havia percebido a forma como ele estava me
olhando, apenas confirma que realmente deveria me afastar. Isso
está ficando pessoal demais.
Viro as costas e dou alguns passos me afastando do quarto onde
o irmão dele estava sendo operado e está mantido em observação.
Minha consciência fica um pouco pesada e meu coração entra em
conflito com meu bom senso. Viro-me encontrando os olhos de Nick
ainda fixos em mim.
— Prometo que voltarei.
Prometo com meus olhos fixos nos dele, não deixo espaço para
dúvidas, hesitações nem mesmo tempo para que ele possa declarar
algo, viro-me novamente e saio quase correndo daquele andar. A
cada passo que dou para mais longe de Nick, posso sentir minha
respiração sendo solta e se normalizando aos poucos.
Abro meu notebook e deixo meus olhos vagando por toda a tela
enquanto levo um copo de chá aos lábios. Bebo alguns goles e
começo a ler meu jornal diário online. Vejo muitas notícias, obituário,
esporte, moda e quando chego à sessão dos “famosos” uma imagem
de Dominic invade meu campo de visão fazendo-me engasgar.
— Uhum?! — Ajeito minha posição na cama e começo a ler todo o
artigo que está disponível no site.
‘Segundo fontes seguras, Dominic Grombeth, um dos filhos dos
mais conceituados empresários da região, foi flagrado saindo do
hospital com uma feição nada agradável.
Segundo nossos informantes, seu irmão mais novo, Levi
Grombeth, sofreu um grave acidente de carro e está no hospital num
estado delicado. Em breve traremos mais informações, pois no
momento estas são as únicas das quais dispomos.’
Levi ainda se mantém no hospital, provavelmente já deve ter
acordado e está junto da sua família. Bebo mais um gole de chá e
sem que eu queira, meus pensamentos vão até Nick. Seus olhos
intensos, preocupados e aflitos com seu irmão, com a sua família.
Antes que possa me conter, meus olhos grudam na imagem que
foi divulgada de Dominic e me flagro analisando sua aparência triste
e cansada. Meu peito se aperta de uma maneira dolorosa e sentir
isso me faz levantar.
— Não fica pensando nele, Nayara — resmungo comigo mesma.
— Não faça isso!
Começo a cantarolar algumas músicas aleatórias, enquanto
guardo meu notebook na gaveta da mesinha que fica ao lado da
cama. Ouço o som da campainha tocando e ergo uma sobrancelha,
não estou esperando visitas.
Não me preocupo por estar usando apenas uma camiseta que
cobre até abaixo das minhas coxas e um par de meias cinza,
caminho até a sala e destravo a porta, abro e me surpreendo ao ver
meu vizinho, o moreno que conheci no elevador, antes de encontrar
Nick.
— Senti saudades de você — confessa. Seu olhar faminto fixo nos
meus, ele se aproxima um passo e envolve meu corpo com o dele.
Uma de suas mãos segura uma boa quantia dos meus cabelos,
enquanto a outra desce por minha coluna até minha cintura onde
aperta de uma maneira gostosa. Seus lábios procuram os meus com
uma ganância que arranca meu fôlego, seu beijo é ganancioso,
voraz, que suga tudo de mim.
Mas é apenas isso.
De repente, os olhos de Nick passam por minha mente e me
afasto do moreno no mesmo momento. Tomamos algumas
respirações e ele me encara em dúvida. Isso nunca havia acontecido
antes, nunca uma foda se meteu no meio de outra… Isso está
errado.
Não quero pensar nisso, preciso parar de pensar em Dominic.
Me aproximo do moreno e sorrio sacana, demonstro que não vou
fugir e dessa vez, quem beija com fome, ganância e algo a mais sou
eu. O que tem de errado em usar alguém para satisfazer nossos
próprios desejos e nesse caso, não apenas os da carne?
Capítulo 11
Nayara Monteiro

Nosso beijo é carregado de luxúria, ganância e repleto de fome.


Não existe espaço para pensamentos, para respirar ou para falar
algo, nada precisa ser dito. Nossas línguas se comunicam numa
dança exótica, entrelaçadas uma na outra. Nossas mãos buscam por
mais detalhes do nosso corpo, ele retira minha blusa com agilidade,
nos separamos tempo o suficiente para que a peça passe por meu
rosto e voltamos a nos aproximar novamente.
Ele me pega em seus braços, enquanto sua boca volta a explorar
meus lábios. Rodeio minhas pernas em sua cintura e começo a fazer
uma pressão no volume evidente que cresce em sua calça. Um
gemido baixo escapa por meus lábios e fecho os olhos me deliciando
com a sensação.
De repente o som do meu celular começa a soar pelo cômodo,
meu acompanhante não parece escutar e aprofunda ainda mais seus
intensos beijos.
— Espera — sussurro —, espera...
Suspiro em seus braços e abro meus olhos saindo da névoa
deliciosa em que estava imersa. Ele não parece me escutar, seus
braços continuam explorando meu corpo, seus beijos ficam mais
exigentes e seu fogo aumenta ainda mais.
— Para. — Peço novamente. — Me solta!
Não sopro dessa vez, digo alto e claro, porém parece não escutar.
Ele não para de me tocar e começo a me sentir muito mal, seus
toques começam a me causar uma náusea inexplicável.
— ME SOLTA, AGORA! — Grito empurrando-o com todas as
forças que possuo. Ele, o moreno que não me lembro do nome, dá
alguns passos hesitantes para trás, seus olhos me encaram e vejo
confusão refletida neles. — Saí do meu apartamento! — ordeno, com
uma mão cubro meus seios e com a outra aponto para a porta que
está a alguns centímetros de distância. Ele me encara com os olhos
arregalados, sua testa está franzida e sua respiração ofegante.
— Espera, vamos conversar...
Não deixo que ele termine sua frase. Ergo a mão que estava no ar
e faço um sinal para que cesse suas palavras.
— Não quero conversar, não quero ouvir ou dialogar. Quero que
você saia do meu apartamento — esbravejo furiosa.
Ele não diz mais nenhuma palavra, se abaixa, começa a pegar
suas roupas e sai do meu apartamento batendo a porta com força.
Coloco ambas as mãos no rosto enquanto respiro profundamente,
meu peito aperta de uma maneira estranha e começo a andar até
onde o meu celular está.
— Nayara. — Uma voz rouca e cansada sopra do outro lado da
linha e apenas ouvi-lo chamar pelo meu nome faz meu corpo se
arrepiar.
— Dominic — sopro num sussurro, fechando os olhos com força e
tomando algumas respirações profundas tentando me acalmar.
Em meio às várias coisas que me aconteceram durante a vida,
hoje posso falar... Meu dia está sendo uma droga!
— Seu irmão, — hesito — ele melhorou? — indago hesitante
depois de vários segundos em completo silêncio. Ouço-o tomando
uma respiração pesada e depois de alguns minutos sua voz ecoa.
— Levi acordou ontem à tarde. — Sua voz soa cansada. Mordo o
lábio inferior e o imagino sentado na cadeira do hospital dias
seguidos sem se esforçar para ingerir qualquer alimento. — Você...
— sua voz se torna distante — não voltou.
Engulo em seco e por alguns segundos sinto uma culpa enorme
crescer em meu peito. Quando fiz a promessa de que voltaria, estava
dizendo a verdade. Pretendia voltar no dia seguinte, talvez levar
algumas flores, café ou algo para que eles pudessem comer. Mas, aí
percebi que estava ficando muito próxima do Nick, estava deixando-o
ficar próximo e não é bom quando misturamos as coisas. Porém, ele
está certo. Eu disse que voltaria, prometi e serei mulher o suficiente
para assumir que queria fugir dessa responsabilidade...
— Você ainda está no hospital? — indago começando a andar
rapidamente em direção ao meu quarto.
— Sim...
— Me dê trinta minutos!
Desligo o celular sem que ele possa ter qualquer chance de falar.
Entro no quarto, vou ao closet e separo algumas peças de roupa, em
seguida volto para o banheiro com uma toalha nas mãos.
Depois que saio do banheiro, já de banho tomado e com toda
minha higiene pessoal feita, me troco e minutos depois, eu estou
pronta para sair de casa.
— O que...?! — Naty gagueja quando me encontra no corredor do
hospital, equilibrando quatro cappuccinos e uma sacola contendo
algumas guloseimas. Seus olhos brilham na minha direção, sua testa
fica franzida e seus lábios se comprimem.
— Imagino que vocês não comeram nada esse tempo todo. —
Arrisco erguendo uma sobrancelha. — Poderia me ajudar? —
Acrescento olhando-a nos olhos.
— Claro, — concorda erguendo os braços para pegar dois dos
cappuccinos que estão em minhas mãos — tem que tomar cuidado,
você poderia ter deixado cair e queimar sua pele.
Seus olhos me encaram enquanto seus lábios dizem um breve
sermão. Dou um sorriso divertido enquanto começamos a andar
pelos corredores.
— Como seu irmão está? — indago com cuidado, estreito meus
olhos em sua direção e não a vejo hesitar.
— Infelizmente, ele não está sentindo as pernas... — Sua voz soa
carregada de tristeza, vejo uma dor brilhar intensamente em seus
olhos. Abro a boca para confortá-la, quando seus olhos me encaram.
— Mas, ele vai melhorar!
— Não tenho dúvidas quanto a isso.
Terminamos de cruzar o corredor conversando sobre assuntos
triviais, coisas mais leves para quebrar o clima tenso que se formou.
Assim que entramos no corredor principal vejo de longe o outro
irmão de Nick, Rafael, se não estou enganada.
Quando seus olhos me encontram um meio sorriso surge em seus
lábios, ele se levanta da cadeira que está sentado e espera até que
Naty e eu nos aproximemos.
— Você...
Seus olhos claros ficam fixos nos meus, pela primeira vez fico sem
graça, desvio o olhar do seu e abaixo a cabeça.
— Ela trouxe um para você. — Naty exclama entregando um
cappuccino para seu irmão. — Nick está lá dentro?
— Obrigado — agradece com um meio sorriso nos lábios,
enquanto pega o cappuccino e volta sua atenção para sua irmã —,
sim.
Pego a sacola que está em minhas mãos e estendo em direção
aos irmãos. Ambos olham para mim no mesmo segundo e deixo um
meio sorriso brincar no canto dos meus lábios.
— Imaginei que estivesse há um bom tempo sem comer alguma
coisa saudável — explico olhando os dois fixamente nos olhos.
Ambos desviam o olhar e acabo sorrindo ao confirmar minha teoria.
Meu olhar vai até a porta do quarto onde Nick está com seu outro
irmão. Meu coração acelera no mesmo segundo com a possibilidade
de vê-lo novamente. Repreendo meus pensamentos, não deveria
ficar tão ansiosa para ver um homem.
— Pode entrar se quiser.
Rafa anuncia baixo, chamando minha atenção. O encaro por
alguns segundos e pondero o peso de suas palavras. Acho que não
seria certo entrar no quarto de hospital onde está um paciente que
não conheço, apenas porque seu irmão é um conhecido meu.
— Eu...
Não consigo terminar minha frase. Ouço a porta branca, do quarto,
ser aberta e quase que imediatamente minha garganta fecha e meu
corpo congela. Sinto meu coração acelerar em expectativa, minha
respiração ficar irregular e sinto um arrepio percorrer meu corpo.
— Nayara! — Sua voz soa carregada de surpresa. Viro meu rosto
na sua direção e ergo meus olhos para encontrar os dele. Seus olhos
verdes escuros como uma preciosa esmeralda, me encaram tão
fixamente que por alguns segundos me encontro perdida tamanha a
intensidade que me conecta.
— Dominic.
— Você voltou mesmo, como prometeu.
Por alguns segundos o tom de surpresa que ocupa sua voz me
incomoda. Dei minha palavra de que voltaria aqui, porque ele age
como se eu fosse fugir desse compromisso?
Talvez por que você realmente planejou não voltar ao hospital?
Minha mente me repreende e contenho um revirar de olhos.
— Dei minha palavra e não tenho o hábito de voltar atrás no que
digo, — afirmo olhando-o fixamente. Desvio o olhar e encaro os
copos descartáveis de cappuccino em minhas mãos — trouxe
algumas guloseimas para seus irmãos e para você.
Ergo o braço direito oferecendo um dos cappuccinos. Nick abaixa
o olhar encarando o copo descartável em minhas mãos e vejo que
ele curva seus lábios num meio sorriso satisfeito.
— Não precisava se incomodar — resmunga. Porém, Rafa não
permite que ele continue seu resmungo ensaiado e logo se envolve
em meio a nossa conversa.
— Precisava sim, obrigado loirinha. — Sentenciou levando uma
das mãos ao coração e seu rosto ficou com uma expressão
chateada. — Preciso admitir, eu estava morrendo de fome.
Nick bufa atrás de mim e o vejo revirar os olhos seguindo o mesmo
caminho que seu irmão. Ambos não negam ser parentes.
— Deveria parar de ser tão exagerado. — Nick resmunga
encarando seu irmão mais novo, que lhe devolve um olhar ainda
mais chateado.
Só percebo que estou sorrindo porque minhas bochechas de
repente parecem doer e vejo o olhar de Nick se fixar em meus lábios.
Seus olhos verdes me encaram profundamente e meu sorriso antes
que estava espontâneo assistindo aos irmãos se comunicarem,
agora se torna um sorriso tímido.
Ergo o olhar, o encaro curiosa e sem graça, seus olhos verdes me
encaram fixamente como se quisessem me dizer alguma coisa,
porém, ele não diz e isso me deixa agoniada.
— Nick... — Uma voz rouca e cansada sopra. — Quem está aí?
Uma quarta voz invade o ambiente e percebo somente agora que
quando Nick saiu do quarto do irmão, não havia fechado a porta e
durante todo esse tempo a porta de madeira ficou aberta e exposta.
Meu coração acelera quando de repente os olhos brilhantes de
Dominic endurecem e sua feição fica tensa. Ergo os olhos para cima
dos seus ombros e tento me preparar para o que vem a seguir.
Capítulo 12
Nayara Monteiro

— Não precisa ficar aflita. — Nick sussurra encarando meus


olhos. — Entre, permita que eu apresente meu irmão mais novo.
Dominic passa lentamente pela entrada do quarto, ergue sua mão
convidando-me para entrar e a todo instante seus olhos permanecem
fixos aos meus. Respiro profundamente antes de dar o primeiro
passo em sua direção, sinto meu coração acelerar rapidamente
enquanto meu corpo se move.
Não foi somente para conhecer o irmão de Dominic que vim até
esse hospital. De certa forma, vim aqui me despedir dele e não irei
contar que amanhã cedo estou voltando para casa.
— Levi, essa é Nayara. — Entro completamente no quarto e posso
ver uma silhueta deitada na cama. — Nayara, esse é o meu irmão…
Nick não consegue terminar de me apresentar. Levi, seu irmão
mais novo, não permite.
— NÃO QUERO SABER QUEM ELA É! QUERO QUE TIRE ESSA
MULHER DO MEU QUARTO! — grita furioso, como se eu tivesse
acabado de ofendê-lo. — SAI DAQUI, AGORA!
Suas palavras recheadas de ódio me assustam, fazendo com que
eu dê um passo hesitante para trás. Arregalo os olhos surpresa por
sua reação, ao mesmo tempo em que sinto as mãos de Nick
envolvendo meu corpo num abraço protetor.
— O que está acontecendo?
Naty invade o quarto, apreensiva, encarando seu irmão que está
completamente alterado por causa da minha presença.
— Não precisa de tudo isso, Levi! — Dominic brada encarando seu
irmão.
Um incômodo queima em meu interior, portanto fecho os olhos
respirando profundamente e quando volto a abri-los solto o braço de
Dominic que está preso em meu corpo. Rodeio sua silhueta e saio do
quarto em passos silenciosos escutando os irmãos discutindo.
Antes que eu consiga sair completamente do quarto, meu corpo se
tromba com o de alguém. Ele segura meus ombros impedindo que
eu caia no chão. Arfo surpresa erguendo o olhar em direção aos
seus olhos.
— Me desculpe por isso.
Sussurra e percebo certa mágoa em seu tom de voz. Recuo um
passo e ambos saímos do quarto, dou um meio sorriso para tentar
confortá-lo.
— Não precisa se desculpar, afinal, é normal às pessoas se
encontrarem assim. — Brinco tentando quebrar o gelo e recebo um
olhar magoado. Rafael me encara como se dissesse que não é esse
o motivo pelo qual está se desculpando e no fundo eu já sei. — Está
tudo bem, não se preocupe.
Ele pondera minhas palavras por alguns segundos e sorri tentando
transmitir confiança. Sinto uma mão quente sendo colocada sobre
meu ombro e inconscientemente sinto meu corpo se arrepiar
completamente.
— Me perdoe por isso, loira. — Sua voz rouca soa um pouco aflita
atrás de mim. Nick vira meu corpo, fazendo com que eu fique frente
a frente com ele e me encara fixamente. Seus olhos buscam os
meus e deixo-me perder nessa conexão. — Levi não está aceitando
bem sua nova… — Percebo que sua voz falha e ele parece não
conseguir terminar sua frase.
— Não precisa se desculpar ou se preocupar. — Minhas mãos
parecem ganhar vida própria e ambas tocam seu rosto fazendo um
suave carinho. — Seu irmão ficará assim por pouco tempo, acredite
em mim. Isso não será permanente.
Nick me encara tão profunda, intensa e fixamente que sinto
minhas próprias pernas ficando bambas. De repente vejo além do
desejo selvagem que compartilhamos, vejo além da luxúria e das
palavras raivosas. Consigo sentir algo mais, e esse algo me assusta
bastante.
Recuo um passo para trás, mantendo certa distância entre nós.
Percebo que ele estranha meu movimento repentino e viro-me em
direção ao seu irmão mais novo.
— Cuida direito dos seus irmãos, viu! — encaro profundamente
seus olhos. Desvio o olhar e encaro Nick por alguns segundos antes
de voltar a fitá-lo. — Cuida principalmente desse daqui, ele precisa
de muito juízo nessa cabeça.
Brinco piscando um olho na sua direção. Rafael sorri amarelo
percebendo o que estou fazendo e acena a cabeça indicando que vai
fazer o que estou pedindo.
De alguma maneira, muito estranha, não quero me virar, encarar
Nick e me despedir dele. Não quero dizer adeus. Mas é preciso!
Sinto meu coração apertar enquanto viro meu corpo em sua direção
e vejo seus encantadores olhos fixos em mim.
— Você vai embora. — Não é uma pergunta, mas confirmo com
um breve acenar de cabeça. Dominic recua um passo para trás e
vejo em seus olhos um misto de sentimentos, vejo raiva, rancor,
mágoa e frustração. — Foi um prazer conhecer você loira.
Sinceramente esperava qualquer reação vinda desse homem, mas
a última coisa que imaginei seria que ele me tratasse com tanta
indiferença. Suas palavras me magoam, ferem meu coração e ao
menos imagino o “porque”. Mas não deixo meus sentimentos
conflituosos transparecerem.
Ergo minha cabeça encarando-o fixamente e coloco uma máscara
fria e indiferente. Deixo um sorriso frio escapar pelo canto dos meus
lábios.
— Foi realmente um prazer conhecê-lo, Dominic. — Pisco um
olho. — Espero que fique tão bem quanto eu. — Viro em direção a
Rafael e por alguns segundos deixo minha indiferença de lado. —
Fique bem, desejo melhoras ao seu irmão e se precisar de qualquer
coisa, pode ligar que vou ajudar. — Não deixo espaço para que eles
possam responder e começo a me afastar em passos firmes. —
Adeus rapazes.
Essas palavras doem na minha alma, uma sensação que nunca
senti antes e que tenho que começar a arranjar uma maneira de
colocar um fim. Viro o primeiro corredor saindo da vista deles e
chamo o elevador.
Dominic é um homem com o qual qualquer mulher gostaria de
transar, ele é bom de cama, gostoso, bonito, protetor e o melhor de
tudo, ele cuida da família.
Assim que chego ao elevador suas portas se abrem e passo por
elas. Não posso julgá-lo pelo caráter, afinal, quem sou eu para falar
alguma coisa?
Sinto uma queimação na garganta e encosto a cabeça no metal
gelado, a sensação refrescante me faz suspirar. Não sei o que é
isso, mas irei fazer parar.
Inclino meu braço em direção ao meu bolso e começo a procurar
meu celular. Quando o encontro, desbloqueio a tela começando a
caçar a única pessoa que além de transar super bem, está comigo
quando mais preciso.
— Olá lindinha. — Exclama no terceiro toque. Uma careta se
forma em meu rosto quando o apelido ruim passa por meus ouvidos.
— Nossa Heitor, que apelido broxante. — Brinco sorrindo sem
humor. As portas se abrem e saio procurando pelo carro de Dominic
em meio aos outros.
— Tudo bem minha deusa gostosa? — indaga usando um tom de
voz sexy e potente. O mesmo tom, que ele usa para levar as
mulheres para a cama. Começo a gargalhar da sua tentativa de me
animar. — Melhorou pequena?
Encontro o carro, retiro as chaves do bolso e após destrancar a
porta entro. Me a jeito no banco e travo as portas para poder
conversar à vontade.
— Falando nesse tom sexy… Está tentando me levar para a cama
senhor Heitor? — brinco fazendo uma voz séria. Estreito meus olhos
observando os carros que estão a minha frente, giro a chave ligando
o motor e dou partida.
— Eu?! — Sua voz soa completamente surpresa. — Jamais
tentaria algo contra sua pessoa.
Deixo uma risada escapar, coloco meu celular no viva voz e o jogo
no banco do passageiro ao meu lado.
— Sei, conheço muito bem suas táticas de conquista.
Ouço sua risada profunda do outro lado da linha e sorrio junto com
ele instantaneamente. A forma como conversamos é tão simples, tão
prática e normal. Não posso negar que gosto de conversar com ele.
— Não faço ideia do que a senhorita está falando — graceja e
posso imaginar o sorriso que deve estar estampado em seu rosto. —
Eu não faria nada que você não fosse gostar.
Admite sincero como sempre e novamente, pela milésima vez,
admiro sua sinceridade. Heitor tem um grande defeito/qualidade, não
consegue mentir. Ou ele fala exatamente o que está pensando e
sentindo, ou não fala nada.
Eu gosto muito disso nele.
— Esse é o problema meu caro amigo…
Capítulo 13
Dominic Grombeth

— Precisava tratar ela tão friamente? — Rafael questiona com


um olhar de decepção estampado em sua face. Desvio os olhos e
movimento os ombros soando indiferente. — Desde o momento em
que coloquei meus olhos nela, só a observei tentando nos ajudar de
alguma forma. — Cruza os braços. — Essa mulher não tinha
obrigação alguma de nos dar seu apoio, de nos ajudar, de se
sensibilizar e você a trata como se não fosse nada?!
Absorvo lentamente suas palavras, elas ecoam por minha mente
fazendo meu coração apertar. Minha consciência parece pesar muito
e de um segundo para o outro me sinto relativamente culpado...
Espera... O que estou pensando?!
Nayara foi embora porque ela quis. Desde o começo demonstrou
sua indiferença em relação a mim e como eu mesmo falei em seu
apartamento... Não tínhamos nada sério, não estamos
comprometidos, somos apenas duas pessoas que gostam de uma
transa selvagem.
— Chega Rafael! — brado batendo furiosamente a palma da mão
na parede branca ao meu lado. — Vai ficar defendendo-a? Está tão
sentido assim, meu irmão? Então faça o seguinte, — gesticulo com
as mãos enquanto vou falando — ela ainda não foi embora, vá atrás
dela, chame-a para sair e tenha uma ótima noite, transa, mas não
apenas isso converse bastante com ela e fale como sou grosso e
arrogante! — sugiro amargamente. Sinto minha garganta queimando
como se tivesse bebido ácido e engulo em seco dando as costas
para ele. — Foda-se, faça o que bem entender.
Com essas últimas palavras, eu começo a andar em direção ao
elevador. Não me despeço de Levi ou de Naty, apenas rumo em
direção à saída daquele hospital. Preciso chegar em casa, tomar um
banho bem relaxante e depois procurar uma boceta bem quente para
enfiar o meu pau.
Chego ao estacionamento e somente então lembro que não vim
dirigindo meu carro, Nayara havia teimado comigo que iria vir me
trazer e pelo que me recordo usou o meu carro para isso. Estreito
meus olhos procurando por ele por todo o estacionamento e não o
encontro.
Maldita!
Ela voltou com o meu carro e me deixou aqui! O pior de tudo é que
estou sem meu carro há alguns dias, sempre que saia ou voltava ao
hospital tinha carona de Rafael ou algum motorista da casa que
sequer havia percebido que me esqueci de pegar de volta meu
veículo. Estava imerso, preocupando-me com a saúde e bem estar
do meu irmão que sequer pensei nas outras coisas.
Respiro profundamente tentando acalmar as batidas do meu
coração, que estão aceleradas, tamanha a raiva que estou sentindo.
Ainda mais essa, eu vou ter que ir até o apartamento dela pegar de
volta o que é meu.
Chamo o elevador novamente e saio pela entrada mesmo, já na
rua chamo um táxi e após indicar o endereço da minha casa, me
aconchego no banco e fecho os olhos pensando no dia de hoje. Em
poucos minutos chego em casa, saio do carro após pagar o homem
e começo a caminhar na direção da porta frontal. Retiro as chaves
do bolso destranco a porta e logo sinto o cheiro familiar de casa
invadir meu nariz.
Fico em muitos lugares, muitas camas e muitos cheiros, porém
aqui é o meu lar oficial. Meu refúgio, meu porto seguro. Apesar de
morar aqui há pouco tempo, esse lugar já ocupa um lugar especial
em meu coração, trabalhei em sua decoração e fiz questão de
construir alguns cômodos e instalar algumas coisas como, por
exemplo, uma lareira. A construção foi bem complexa e coloquei
todos os meus irmãos para trabalharem ao meu lado, cada um
colocando sua essência. Coloco as chaves sobre a bancada do
aparador e sigo em direção ao meu quarto, preciso descansar um
pouco.
Ouço uma música ao meu redor soando bem fraquinha, abro os
olhos lentamente tentando me localizar. Percebo que meu quarto
está completamente escuro, coço os olhos sentindo um pouco de
preguiça enquanto com a outra mão ligo o abajur ao meu lado. Pego
meu celular que está jogado ao meu lado na cama e suspiro ao ver o
nome do meu pai.
— Oi, pai...
Não consigo terminar minha frase, pois um grito estridente seguido
de um choramingo invade meus ouvidos. Fecho os olhos com força e
passo a mão por meu rosto sentindo um peso enorme passar por
meu corpo.
— Benção minha mãe...
— Deus lhe abençoe meu filho... — choraminga baixinho e já sei o
que virá a seguir. — Você colocou a ligação no autofalante querido?
— ouço mamãe perguntando baixinho para meu pai e o mesmo
responde que sim, sorrio fraco. — Você e seus irmãos estão
merecendo uma surra, como não me contam a gravidade do
acidente do meu filho caçula...? — Sua voz fraqueja e sinto meu
coração sangrar por sua dor. — Por Deus...
— Vai ficar tudo bem minha mãe, não precisa se preocupar. Ele vai
ficar bem, isso é temporário — uso as mesmas palavras que Nayara
usou para tentar aliviar minha dor. — Vocês... Virão visitá-lo?
Meus pais moram nos Estados Unidos, em Nova York para ser
mais exato. Na verdade, todos nós morávamos lá, porém
constantemente papai vinha até Cuba para fazer negócios com
alguns sócios e empresários. Quando cresci, decidi seguir seus
passos e batalhando todos os dias consegui chegar ao cargo de
presidente das filiais.
O único ponto negativo foi que precisei ficar aqui por causa dos
negócios, meus irmãos não aguentaram de saudades e vieram morar
comigo. A única que não quis foi Naty, ela vem me visitar algumas
vezes durante o ano e permanece por alguns dias.
— Estava falando sobre isso com seu pai, querido. — Dá uma
pausa. — Gostaria muito de ir aí. — Ouço meu pai dizendo alguma
coisa para minha mãe e a mesma o responder. — Não quero saber
dos seus negócios querido, nosso filho está precisando de nós. Seu
pai vai hoje mesmo comprar as passagens e depois de amanhã
estamos aí.
Sorrio por causa da minha mãe. Dona Heloise é uma mulher muito
meiga e doce, porém não aceita que impliquem com seus filhos e
nos defende com unhas e dentes. Nosso pai, o senhor Eduardo
Grombeth, é um homem muito sério, trabalha demais para o gosto
dela, mas ama meus irmãos e a mim.
— Vocês precisam parar de discutir, mãe — comento olhando
fixamente para um ponto qualquer no quarto. — O amor de vocês é
tão raro de encontrar por aí...
Os belos e magnéticos olhos de Nayara passam pela minha mente
quase que no mesmo segundo e por alguns instantes me perco
nessa imagem. Seus olhos encantadores, seus lábios convidativos e
sua personalidade intensa. Nayara é o tipo de mulher que qualquer
pessoa se apaixonaria perdidamente.
Não acredito!
Fecho os olhos com força, sentindo meu membro ficar
completamente duro dentro da calça e percebo onde meus
pensamentos estão. Preciso tirar essa mulher da minha cabeça!
Preciso transar o quanto antes! Tudo isso é desejo reprimido só pode
ser.
— Isso é verdade meu filho, seu pai pode ser uma mula teimosa
de vez em quando, mas o amo profundamente. — Exclama amorosa
e fica em silêncio durante vários minutos. — Você nunca falou algo
tão bonito assim sobre a gente meu filho, você está diferente...
Aconteceu alguma coisa?
Minha garganta se fecha completamente, não consigo respirar,
minha língua fica dormente dentro da boca, parece que cada
centímetro do meu corpo foi congelado. Abro a boca lentamente,
molho meus lábios e tento falar alguma coisa, porém nenhum som
sai e isso me apavora.
— Dominic? — chama preocupada. — Meu filho, ainda está aí?
Aconteceu alguma coisa?
Engulo em seco e começo a tossir tentando disfarçar.
— Desculpa, a ligação cortou... — Dou uma desculpa qualquer. —
Está me ouvindo?
Ouço mamãe suspirar do outro lado da linha e fecho meus olhos
com força. Nada escapa dessa mulher e já imagino a pilha de
perguntas que terei que responder quando ela chegar em Cuba.
— Conheço você muito bem, querido, algo está lhe deixando aflito
e em algum momento terá que me contar o que é.
Suspiro baixinho enquanto me levanto da cama, olho as horas no
relógio que está na cabeceira da cama e constato que são quase oito
da noite. Bocejo baixinho e volto a prestar atenção na conversa.
— Não a nada de errado mãe, estou apenas preocupado com
Levi. — Encaro o chão sentindo um desconforto no estômago. —
Preciso desligar, me avisa que dia vocês vão chegar.
Conversamos por mais alguns minutos, até que mamãe permita
que eu desligue o telefone. Suspiro baixinho passando as mãos por
meus cabelos num gesto agoniado, eu caminho em direção ao
banheiro e decido tomar mais um banho antes de sair. Preciso arejar
meus pensamentos.
Olho ao redor vendo vários corpos dançando de uma maneira
envolvente na pista de dança. Depois que saí do banho fui direto
para o apartamento de Nayara, antes que eu tivesse a chance de
subir até ele, a recepcionista me chamou avisando que a mesma
havia deixado minhas chaves no balcão e pedira para que ela me
entregasse caso eu aparecesse por lá.
Depois de perceber que ela não queria sequer olhar na minha
cara, sai revoltado e vim para a primeira boate luxuosa que encontrei
na rua. Nesse momento estou no meu sexto copo de uísque sem
gelo, bebo mais um longo gole e dessa vez sequer sinto o líquido
queimando minha garganta, sinto apenas um gosto bom descer.
— Ei, moça bonita! — chamo a moça do balcão. Ela sorri
abertamente exibindo seus dentes e vem rebolando na minha
direção. — Me traz mais uma garrafa — peço e ela faz como
indicado. Sai e volta, segundos depois, com a garrafa e antes que
ela coloque o líquido no meu copo, impeço-a. — Vou beber aqui
mesmo, obrigado, gostosa.
Ela sorri novamente e a dispenso com um gesto de mãos. Pego a
garrafa com cuidado e levo aos lábios sentindo o líquido molhar
minhas papilas gustativas. Sinto meus olhos pesarem e a última
coisa que lembro são os belos olhos de certa loira.
Capítulo 14
Nayara Monteiro

Chego em casa depois de um longo dia de trabalho, de ouvir um


monte de reclamações do síndico do hotel, perceber que a torneira
da minha cozinha está quebrada e ainda por cima descobrir que um
gato invadiu minha casa e está literalmente morando no meu
apartamento...
Uma das coisas que mais me estressa no trabalho é a minha
locomoção. Nesse momento, estou onde nasci, em São Paulo,
minha família toda mora nessa região, então comprei um
apartamento aqui que uso para dormir quando venho visitar minha
família ou meu amigo, porém quando cresci e consegui meu
adorável emprego de aeromoça, comprei um apartamento em Cuba
onde vivo sozinha. Quando deixei Nick para trás, soube que
precisava reencontrar meu amigo, soube que precisava de Heitor, do
seu charme, dos seus beijos e dos seus conselhos.
Diferente das outras vezes, não quis encontrar com ele em alguma
festa. Por incrível que pareça, não estava numa vibe tão alegre
assim, então marquei com ele para vermos um filme na minha casa.
São quase oito horas da noite e ele está uns vinte minutos atrasado,
estou sentada no sofá com a televisão ligada esperando-o para que
eu possa finalmente apertar o play, para ver Guardiões da Galáxia.
Sua demora me deixa aflita, ele não costuma se atrasar e quando
acontece me manda uma mensagem avisando o motivo. Suspiro
profundamente, pela vigésima vez pego o celular que está sobre a
mesa de madeira a minha frente e checo minhas mensagens.
Quando vou bloquear a tela um som chama minha atenção.

“Gato: Abre a porta, pequena, estou aqui.”

Um sorriso involuntário surge em meus lábios. Não espero um


segundo a mais, levanto do sofá e caminho em direção à porta,
destranco-a e não estou preparada para o homem que está do outro
lado, a minha espera.
Heitor usa uma camiseta polo preta, jaqueta no estilo militar
casual, calça jeans surrada, com um par de botas cowboy e no seu
braço direito, percebo um relógio grande e preto, sei o quanto ele
adora relógios, especialmente este que está em seu pulso. Esse fui
eu quem comprou de presente para ele no natal, no primeiro ano que
nos conhecemos. Ele passou o natal comigo, eu havia brigado com
minha família e estava bebendo num bar qualquer no meio do nada
quando o encontrei.
— Trouxe sorvete, barras de chocolate e uma caixa de morangos
para a pequena loirinha que está a minha espera — exclama
mostrando duas sacolas azuis claros e um sorriso delicioso surge em
seus lábios. — Estou desculpado pelo atraso?
Sorrio como uma criança que acaba de ganhar o melhor presente
de todos e o abraço. Heitor fica tenso quando busco seu abraço,
durante alguns segundos ele permanece paralisado, porém depois
retribui o abraço que lhe dou. Escondo meu rosto na curva do seu
pescoço e fecho os olhos com força sentindo o aroma do perfume
que está impregnado em sua roupa.
Após alguns segundos dou um passo para trás afastando nossos
corpos, sorrio e seco uma lágrima que escorre de repente por meus
olhos. Meu peito aperta, incomoda e não sei o motivo, mas parece
que algo está me faltando.
Deve ser sexo.
— Claro que está desculpado. — Dou alguns passos para trás e
entro novamente em casa. Heitor faz a mesma coisa segundos
depois. — Sabe que não vivo sem você.
E é verdade. Heitor é mais que uma foda, mais que um
companheiro de sexo, ele chegou muito mais longe que isso. Ele
quebrou todas as minhas barreiras mais fortes e chegou ao meu
coração. Ele, apenas ele, consegue dizer algo capaz de me
machucar, conquistou minha lealdade, minha confiança e minha
amizade. Heitor já fez muito por mim, já me ajudou a conquistar
muitas coisas e a superar muitas perdas e derrotas. Devo muito ao
meu amigo.
Ele sorri perfeitamente ao entrar e anda despreocupado por toda a
extensão do apartamento. Se sente à vontade, pois já esteve aqui
milhares de vezes, é o único homem que conhece minha casa e
penso que talvez por isso, por eu tratá-lo diferente dos meus outros
colegas de sexo, ele pode pensar que temos algo sério. Porém, ele
sabe, nunca prometi compromisso, nunca prometi algo sério, garanto
apenas uma boa noite de sexo, muito prazer e orgasmos.
— Já escolheu um filme, pequena? — indaga da cozinha. — O
que vai querer primeiro? A barra de chocolate, a caixa de morangos
ou sorvete?
— Chocolate, e sim, já escolhi o filme. É um filme feito pelo
gostoso do Chris Pratt, não sei se conhece.
Respondo me jogando no sofá da sala, pego o controle e ansiosa
aperto o botão para que o filme possa começar.
— Qual o filme, pequena? — ouço Heitor resmungando na
cozinha. — “É um filme feito pelo gostoso do Chris Pratt” — imita
minha voz bufando no final. — Ah Nayara, esclareceu todas as
minhas dúvidas, claro! Nossa! O gostoso do sei lá o que Pratt, isso lá
é nome de gente?!
Cubro os lábios com a mão e escondo o sorriso travesso que
surge aos poucos. Ele volta da cozinha com uma caixa e duas barras
de chocolate, se senta ao meu lado e literalmente joga o doce sobre
meu colo.
Busco seu rosto com os olhos e percebo que está com o maxilar
travado, seus lábios estão cerrados e seus belos olhos estreitos.
Controlo o sorriso que insiste em retornar quando percebo o motivo
dele estar emburrado, ele está com ciúmes.
Que fofo.
Isso é a cara dele. Heitor é tão amável que mesmo com essa cara
emburrada, continua terrivelmente sexy. Seus olhos azuis brilham
com uma intensidade perigosa e o brilho de ciúmes, mesmo sem
termos, nada sério, apenas complementa sua beleza quase
angelical. Chega a ser crime o quão sexy ele é, meu Deus...
— Não fica com ciúmes, amorzinho — digo manhosa deitando a
cabeça em suas penas. Ele abaixa o olhar e me encara ainda bravo.
— Sabe que você é o único que mora no meu coração, certo?
Questiono olhando seus olhos azuis celestes e por uma fração de
segundos outro olhar invade meus pensamentos. Um olhar perigoso,
fatal e que mesmo por alguns segundos faz meu peito se apertar.
Pisco os olhos lembrando-me dos olhos verdes de gato do
Dominic, sua voz grave e potente, seu corpo forte e alto, seus
cabelos lisos e negros como a noite. Lembro-me do seu sorriso, de
como por mais breve que fosse, eu fiquei estranhamente feliz ao vê-
lo da mesma forma e depois, ele simplesmente ficou indiferente a
minha partida.
— Ei pequena, seus pensamentos estão longe — comenta
trazendo-me de volta a realidade. — Está chorando?
Pisco sentindo minhas bochechas esquentarem assim que
percebo que uma lágrima rebelde escorre dos meus olhos. Limpo a
lágrima rapidamente e me sento, respiro profundamente ordenando
meus pensamentos.
Não é possível que chorei por me lembrar daquele homem!
Apenas recordar-me dele.
— Não é nada, eu... Lembrei que nesse filme o carinha morre e...
Meu período menstrual está para chegar, então estou um pouco
emotiva... —digo as primeiras desculpas que passam por minha
mente, ouço-o suspirar profundamente e sua mão passa por minha
cintura puxando-me para ficar mais perto do seu corpo. Fungo
baixinho deixando-me ser embalada por seus carinhos.
Heitor começa a fazer uma série de carinhos em meus cabelos
com uma mão, enquanto com a outra que está ao redor do meu
corpo, usa para fazer círculos na palma da minha. Escondo minha
cabeça na curva do seu pescoço e deixo minha respiração e meu
coração se acalmar e depois me concentro no filme que está
passando.
No meio do filme, intrigado, Heitor me questiona quem diabos é o
ator que eu havia falado o nome, eu toda meiga e delicada respondo
com outra pergunta — Qual dos personagens você apostaria que eu
acho mais gos... bonito e interessante? — ele bufa revirando seus
olhos azuis e prontamente descobre o mistério.
— O senhor das estrelas. — Ambos começamos a rir.
Ficamos abraçados, conversando, rindo e comendo durante todo o
filme, de repente um cansaço me bate, meus cílios parecem pesar
demais, meu corpo fica mais pesado e sem que eu consiga deter,
adormeço nos braços do único homem que chegou e continuou
presente no meu coração.
Outro dia chega, acabo de chegar à Cuba após um voo longo e
estressante. Dessa vez uma passageira metida à rica começou a
criticar meus serviços e a forma como ofereci o vinho, mordi a língua
para não ser mal educada e apenas sorri. A pior parte são os
passageiros com mania de grandeza, mas graças a Deus já cheguei
ao meu apartamento.
Saio do banho, coloco uma camiseta que cobre até a metade das
minhas coxas, uma calcinha bege de renda e um par de meias
brancas. Estou novamente em casa, em Cuba melhor dizendo, e
pela primeira vez me sinto incomodada por estar aqui. Não sei, mas
algo parece errado, vazio. Sinto um aperto no peito, todavia trato de
ignorar esse sentimento e não me deixo levar.
Vou até a cozinha pegar um pacote de bolacha amanteigada,
coloco tudo num pote transparente de plástico e caminho em direção
à sala. Ligo a televisão e começo a procurar algo interessante para
assistir, vejo um filme que aparentemente é interessante, então deixo
nesse canal e começo a comer minha bolacha.
De repente ouço algumas batidas e busco confusa a fonte do som
estridente. Percebo que tem alguém batendo furiosamente na porta
de madeira do apartamento e franzo o cenho, confusa.
Será que é o porteiro?
— UM SEGUNDO! — grito enquanto me levanto do sofá, caminho
até a cozinha, onde deixo o pote que estou usando, e sigo em
direção à entrada de casa. Sem me importar com a roupa que estou
usando destranco a fechadura e giro a maçaneta abrindo a porta.
Nada em um milhão de anos, me deixaria preparada para a visão
que tenho. Dominic está parado a minha frente, seus lindos cabelos
negros estão bagunçados, suas roupas que se resumem em uma
camiseta preta de mangas, uma calça jeans preta e um par de
sapatos, estão completamente amassadas, seu rosto está pálido e
seus olhos verdes de gato estão vermelhos e marejados.
— Céus...
— Nayara, — resmunga — por que...? — Ele balbucia caminhando
na minha direção, dois passos depois tropeça em seus próprios pés
e quase cai. Por impulso me aproximo e envolvo seu corpo com
meus braços, tentando inutilmente segurar todo o seu comprimento
com meu um metro e cinquenta e nove.
Nick consegue se equilibrar novamente e vira seu rosto na minha
direção, por estarmos muito próximos sua face fica muito perto da
minha e somente então consigo sentir seu forte cheiro de bebida.
Arg... Ele está bêbado!
— Por Deus homem, o que você está fazendo aqui? — bufo,
exasperada, sentindo seu corpo se retrair. Seus olhos ficam fixos no
meu rosto e engulo em seco quando a intensidade acerta meu peito
em cheio. — Ainda mais nesse estado?
— Você foi embora. Foi embora e nem olhou para trás. Não voltou!
—balbucia e por seus olhos várias lágrimas começam a rolar, seu
peito começa a tremer violentamente e meu coração se aperta com a
dor que ele exala. Engulo em seco quando subo uma das mãos e
toco seu peito para chamar sua atenção.
— Venha grandão, vamos entrar. Vou te dar um banho e colocá-lo
na cama. — Dou alguns passos para trás incentivando-o a andar
comigo e como se entendesse ele segue perfeitamente meus
comandos. — Amanhã conversamos direito, certo?
Nick não fala mais nada, ele passa as mãos por seus cabelos lisos
jogando-os para trás e caminha ao meu lado tropeçando vez ou
outra em seus próprios pés. Cruzamos o corredor, entramos no meu
quarto e passamos pela porta do banheiro. O coloco sentado na
tampa da privada, me ajoelho diante dele e começo a desamarrar o
cadarço do seu tênis.
Percebo que é a primeira vez que estou de joelhos na frente de um
homem e não vou chupá-lo com vontade e perceber isso me faz ficar
envergonhada. O homem está bêbado, quase inconsciente na minha
frente e vou pensar em coisas devassas, que tipo de ninfomaníaca
eu sou?
Retiro suas meias e então me levanto passando a atenção para
sua camiseta de mangas longas. Seguro a barra do tecido, peço que
levante os braços e após uns minutos consigo me livrar da peça
chata. Ele se levanta, desabotoa o cinto, o zíper de sua calça e a
abaixo lentamente evitando olhar em direção a seu membro.
Tiro a calça do seu corpo e me levanto olhando fixamente para
seus olhos, ele devolve meu olhar com a mesma intensidade e
engulo um suspiro longo. Ele está me afetando de uma maneira
perigosamente sexual.
Guio-o para debaixo do chuveiro e abro a torneira permitindo que a
água gelada atinja sua cabeça, ele rosna baixinho quando a água
entra em contato com a pele quente do seu corpo e respira
rapidamente.
— Vou pegar uma toalha — digo saindo do banheiro. Volto ao
quarto e percebo que meu celular está tocando, o pego e aceito a
ligação sem ao menos ver de quem se trata.
— Sim?
— Olá pequena, como foi sua viagem? — Reconheço o tom de
voz forte e ao mesmo tempo carinhoso e sexy do meu melhor amigo.
— Oi minha vida — digo pegando a toalha dentro do guarda roupa
e voltando para o banheiro. — Heitor, não é um bom momento,
posso te ligar outra hora? A viagem foi cansativa.
O ouço suspirar baixinho do outro lado da linha e o imagino
passando a mão por seus cabelos enquanto fita fixamente um ponto
qualquer. Percebo que Nick fica em silêncio enquanto converso no
telefone e quando digo o nome do meu amigo ele começa a me
encarar profundamente. Seu olhar intenso queima minha pele como
brasa e me repreendo mentalmente.
— Tudo bem, amanhã te ligo então, — finaliza — boa noite,
pequena, dorme bem.
— Boa noite vida, até depois.
Desligo o telefone e o chuveiro, cessando assim as gotas de água
e entrego a toalha para que Nick possa se secar. Ele aceita e
começa a se enxugar em silêncio total, saio do banheiro e retorno à
sala para poder pegar um remédio que o ajude a dormir e que alivie
sua dor de cabeça, e então volto para o quarto.
Quando retorno ele está em pé no meio do quarto e encara tudo
como se estivesse perdido no meio de tudo aquilo. Ele está com a
toalha ao redor da cintura e questiono se está usando alguma coisa
por baixo.
— Vem, senta aqui — chamo para sentar na cama. Nick hesita
antes de aceitar meu chamado e sentar ao meu lado, entrego-lhe o
copo de água e o comprimido. — Vai te ajudar a dormir melhor e
amanhã não sentirá tanta dor de cabeça.
Esclareço quando me manda um olhar questionador e sorrio. Ele
aceita o remédio e toma sem cerimônias, puxo o cobertor e peço que
deite e depois me devolva à toalha e ele assim o faz. Não tenho
nenhuma roupa masculina aqui em casa, tenho alguns blusões, mas
nenhum deles vai servir ou combinar com Nick.
Assim que deita não demora muito para que caia num sono
profundo. Levanto respirando profundamente e me permito observá-
lo dormir por alguns minutos. Esse homem é lindo demais para a
sanidade das mulheres, mesmo dormindo ele não consegue perder a
beleza que o acompanha em todos os momentos.
Coloco a toalha no cabide para que possa secar, tranco todas as
portas e janelas, apago as luzes e depois de fazer minha higiene
pessoal, me deito ao seu lado por cima dos cobertores. Não sei por
que, mas ergo a mão e faço uma leve carícia em seu rosto, fecho os
olhos e permito-me dormir.
Capítulo 15
Nayara Monteiro

Estou na cozinha preparando o café da manhã quando sinto a


presença de alguém, viro para trás e vejo-o, perfeitamente
bagunçado. Ele havia pegado as roupas que após lavar e secar
deixei dobradas em cima da cama para que usasse. Seu rosto ainda
está amassado pelo tempo dormido e seus cabelos bagunçados pelo
sono que tivera.
— Bom dia — sussurro.
Dominic pisca coçando os olhos e para de andar, ergue o olhar e
finalmente nossos olhos se cruzam. De repente, ele parece estar
confuso. Olha ao redor, procurando algo e volta a me olhar com um
semblante atordoado.
— Hum... Bom dia. — Pensa, hesita e franzo o cenho, confusa, por
sua confusão.
— Senta, estou terminando as panquecas — aviso virando
novamente em direção ao fogão onde termino de preparar. — Pode
comer à vontade.
Coloco o suco, os pratos, os copos e todo o café da manhã sobre
a mesa. Há pães, torrada, bolo e panqueca acompanhada por um
delicioso suco de uva e na fruteira têm maçãs, uvas, pera e laranja
que enfeitam o ambiente.
Sento-me na cadeira e o encaro esperando que ele faça o mesmo,
pois ainda está em pé, parado me olhando como se estivesse diante
de um bicho de sete cabeças. Caminha na minha direção e se senta
ao meu lado, permanece me olhando fixamente, enquanto bufo
irritada.
— O que foi?
— Como eu cheguei aqui? O que estou fazendo aqui? E por que,
diabos, eu acordei pelado na sua cama? — questiona em um único
fôlego. — Nós... Transamos? Porra está tudo confuso na minha
cabeça.
Coloco as mãos sobre a mesa e analiso seu rosto profundamente.
Procuro qualquer sinal de deboche ou brincadeira, porém, para
minha infelicidade ele está completamente sério.
— Você chegou aqui em casa ontem à noite, completamente
bêbado, estava tropeçando, nos próprios pés — relato olhando-o
fixamente. — Poderia tê-lo mandado embora, mas por algum motivo
deixei você entrar, te dei banho e depois coloquei para dormir —
suspiro. — Nós dormimos juntos, mas foi apenas isso, não se
preocupe, não fizemos sexo.
Pego uma panqueca e coloco em minha boca, mastigo a massa e
em seguida bebo um longo gole de suco. Nick parece absorver
minhas palavras, pois demora uns minutos, antes de começar a se
alimentar.
— Obrigado, por cuidar de mim — murmura antes de beber um
gole de suco.
Aceno com a cabeça sem olhá-lo nos olhos. Durante vários
minutos ficamos em silêncio, apenas degustando da comida que eu
havia preparado. Mas o silêncio se torna chato e decido quebrá-lo.
— Como seu irmão está?
Indago a primeira coisa que vem a minha cabeça e me arrependo
segundos depois por abordar um assunto tão delicado. Primeiro, que
ele não é problema meu. Segundo, é um assunto delicado para
Dominic e talvez ele não queira compartilhar nada comigo e em
terceiro ele pode ficar chateado logo cedo.
— Ah, Levi está mal — diz amargurado. — Ele teve alta médica na
quinta, agora podemos cuidar dele com mais afinco. Precisei
contratar uma enfermeira particular para ajudá-lo e em breve nossos
pais virão visitá-lo e com isso, espero que ele melhore. Mas no geral,
ele está tendo problemas para aceitar sua nova situação.
Explica com o olhar perdido. Aceno com a cabeça e me afundo no
novo silêncio chato que surge, então decido tentar abordar
novamente outro assunto.
— E seu outro irmão? O que você gosta de fazer?
— Trabalho com várias coisas, sou dono de uma rede de hotéis,
empresas e sistemas. Estudei muito, desde pequeno para poder
trabalhar com isso, ser um especialista sabe, atualmente sou o
melhor nessa área — explica e dessa vez seus olhos brilham, ele
parece amar o que faz. — Rafael está muito bem.
— Você parece gostar bastante do que faz. — Ignoro suas últimas
palavras que soam rudes e continuo o assunto que lhe parece
confortável.
— É minha paixão. Quando era pequeno admirava o modo como
meu pai adotivo dirigia sua vida, sua empresa. Quando entrei na
adolescência decidi seguir seus passos, estudei administração e lutei
para conseguir um lugar na empresa. — Explica com seus olhos
azuis brilhando de emoção. — Todos os dias buscava provar ao meu
pai que merecia o maior posto que tivesse, eu queria ser o
presidente, cuidar do legado do meu pai e no fim mereci chegar onde
estou.
Sorrio escutando cada palavra que sai por seus lábios, ele lutou
para conseguir o que queria e cuida do legado do pai adotivo com
cuidado e dedicação.
Espera... Pai adotivo?
— Você é... hum... adotado? — indago e mordo os lábios
segundos depois, agoniada. Essa é uma pergunta pessoal. Uma
pergunta invasiva, a qual um acompanhante de sexo não quer saber
a resposta e eu estranhamente estou curiosa.
— Por que, de todos os empregos, escolheu ser aeromoça? —
Desconversa e finjo não perceber. Se ele não quer responder minha
pergunta, não irei forçá-lo.
— Minha tia era aeromoça, ela andava sempre bem arrumada e
com namorados atraentes, quando cresci resolvi que iria seguir a
mesma profissão.
— Escolheu a profissão por causa do dinheiro? — questiona com
a face séria e trato de corrigi-lo.
— Não. Minha tia era bem-sucedida, eu queria aquilo. Ser
independente, ter meu próprio dinheiro, minha vida e minhas próprias
escolhas e consegui. Ninguém manda em mim, gosto assim —
explico e volto a comer meu alimento sagrado.
De repente, o ambiente se torna pesado demais, Nick se
concentra em seu alimento e meu suco parece muito interessante.
Depois de alguns minutos em silêncio, ele suspira profundamente e
abre a boca, mas antes que possa dizer qualquer coisa meu celular
começa a tocar.
Na tela, o nome "John" me faz bufar. Cancelo a chamada e reviro
os olhos, da última vez que nos falamos, ele estava agarrado com
outra aeromoça e ver aquilo me deixou com náuseas.
— Não vai atender? — indaga com um olhar desafiador.
— Não, meu dia está maravilhoso, não pretendo estragá-lo. —
Exclamo ao levantar e colocar meu prato na pia para lavá-lo mais
tarde. Vejo pelo canto dos olhos um sorriso safado, aquele sorriso
surgir nos lábios dele e imediatamente sinto meu corpo
corresponder.
— O dia mal começou e já está maravilhoso? — indaga inclinando
o pescoço na minha direção, seus olhos azuis penetram minha pele
e alcançam minha alma, atiçando um ponto entre minhas coxas. —
Esse elogio foi ao dia, ou a pessoa com quem está compartilhando o
café da manhã?
Ele levanta da cadeira, limpa a boca lentamente com o
guardanapo tornando o movimento sexy demais para ser verdade e
caminha em minha direção como se fosse um predador em direção a
sua deliciosa, suculenta e pequena presa e sim... Quero muito ser
sua presa.
— Não seja tão arrogante em achar que estou me referindo a você
— debocho mantendo minha dignidade e em resposta recebo um
meio sorriso, que faz minhas partes íntimas apertarem, mas ele não
precisa saber disso. — Meu dia está sendo maravilhoso, pois tenho
muitas coisas para fazer hoje.
— Mesmo você negando, loira, sei o efeito que tenho sobre você
— roça sua barba na minha bochecha e desce por meu pescoço,
causando uma onda de prazer por meu corpo —, seus lábios
atrevidos dizem não, mas seu corpo deliciosamente gostoso implora
dizendo sim. — Conclui fazendo pequenos círculos com a língua ao
redor do meu pescoço, arrancando um gemido dos meus lábios.
Maldito delicioso! Uma de suas mãos desce até minha cintura
onde aperta a região, enquanto a outra vai até meu rosto e segura
minha bochecha forçando-me a encarar seus olhos.
— Porra loira — rosna extasiado pela excitação. — Queria que
pudesse ver esse seu rosto, seus olhos pequenos nublados pelo
desejo, sua boca afiada entreaberta e sua face contorcida pelo
prazer. — Fecha os olhos e respira profundamente. — Vê-la assim, a
mercê do desejo é uma visão tão perigosamente viciante, me sinto
privilegiado por ser o motivo dos teus gemidos de prazer.
Ele suspende meu corpo no ar e me coloca em cima da bancada
da pia, entrelaço minhas pernas ao redor da sua cintura e sinto seu
membro roçar na minha entrada coberta por um short fino de dormir.
Fecho os olhos nublados pelo desejo, seus toques, seus beijos e
suas carícias tão quentes.
— Quero você loira, preciso de você... — suspira rouco contra meu
ouvido.
— Nick — gemo.
Ele se afasta alguns centímetros e nos encaramos fixamente. Uma
linha invisível surge entre nós, nos ligando, nos conectando como se
fossemos um só. Como se não pudéssemos nos separar. Mas então,
lembro-me da sua indiferença quando fui embora, da forma fria como
me tratou e isso aperta em meu peito.
— Não! Não quero... — Ofego o afastando de mim.
Desço da bancada e dou alguns passos para trás, deixando uma
distância segura entre nossos corpos que estão pegando fogo. Nick
pisca confuso e passa as mãos por seus cabelos negros, tentando
entender o que está acontecendo.
— O que? — balbucia e antes que possa falar mais alguma coisa,
seu telefone começa a tocar. Contrariado ele atende. — Eles já estão
no aeroporto? Mas... Okey... Tive um assunto urgente para resolver.
Não precisa. Tá bom... Tchau.
Ele desliga o celular e me encara como se estivesse num grande
embate interno, entre o certo e o errado, o mesmo que estou
travando nesse exato momento. Ele está certo, meu corpo arde pelo
seu, mas meu orgulho não vai me permitir fazer isso, não vou
abaixar a cabeça. Não sou o tipo de mulher que está disponível
quando ele estiver a fim. Não sou sua boneca sexual.
— Acho que está na hora de você ir embora — declaro fitando o
piso do apartamento. Não posso ousar encarar seus olhos azuis, não
posso correr esse risco.
— Preciso ir, mas isso aqui — aponta para mim e para ele —,
ainda não acabou.
Capítulo 16
Dominic Grombeth

— Olha só quem lembrou que tem casa! — Papai comenta no


instante que cruzo o portão de entrada.
— Esses meus filhos... Só servem para deixar meu coração
preocupado e entristecido. — Mamãe funga toda manhosa e deixo
um meio sorriso brincar no canto dos lábios enquanto cruzo a sala de
visitas, em busca do abraço da mulher que mais cuidou de mim.
Há algumas horas, Rafa me ligou avisando que tinha buscado
nossos pais no aeroporto, missão essa que eu deveria ter feito e por
estar numa circunstância, digamos desfavorável, havia terrivelmente
esquecido. Quando ele me ligou, percebi que deveria voltar para
casa imediatamente. Meus pais vieram para dar apoio ao Levi e
tanto meu irmão como meus pais, precisam do meu mais sincero
apoio e conforto, portanto, não posso deixá-los na mão.
— Oh, não diga isso minha mãe. — Peço chegando ao seu lado,
puxando seu corpo para um grande abraço de urso. — Sabe o
quanto amo a senhora e como não consigo viver sem seu jeito
amável e levemente dramático.
— Está vendo Eduardo? — Mamãe questiona após nos
afastarmos e encara meu pai. — Ele me chamou de dramática! Que
ousadia.
— Filho, não diga essas coisas para sua mãe. — Faz uma
expressão séria, para logo em seguida sorrir de lado e lançar uma de
suas brincadeiras. — Sabe que sua mãe não aguenta a verdade.
Sorrio vendo como ambos conversam, brincam e se entendem
entre si. Mamãe faz uma careta entrando na brincadeira do meu pai
e dá um leve tapa em seu braço, em seguida sussurra algo que
aparentemente deixa ele desconfortável e por fim, sorri vitoriosa
quando papai não diz mais nenhuma palavra. A forma como eles
estão conectados, se completam e são perfeitos juntos me deixa
feliz, sempre me deixou. Nunca fui o tipo de homem que se prende
apenas em uma mulher, mas sempre soube que, se um dia amasse
alguém, esse amor seria semelhante ao dos meus pais.
Desde pequeno fui testemunha do amor deles, presenciei
dificuldades, brigas e até mesmo um risco de divórcio, para logo em
seguida vê-los mais juntos e apaixonados do que antes. Quando
dona Heloise ficou grávida da Naty, descobrimos que era uma
gravidez de risco e que as duas poderiam morrer no final da
gestação. Papai ficou inconsolável e até tentou convencer mamãe a
desistir da gravidez, mas ela bateu o pé e teimou, dizia que levaria
tudo até o final e que sobreviveria para proteger minha irmã dos
gaviões que a perseguiriam no futuro.
Não deu outra coisa, quando completou nove meses de
gestação, as dores do parto chegaram e mamãe deu à luz a nossa
caçula; tanto a bebê quanto ela lutou bravamente, e estão aqui,
conosco até hoje. Fortes, saudáveis e muito teimosas.
Um flash passa por minha mente e de repente meus
pensamentos vão até certa loira, seu sorriso atrevido, sua boca
convidativa e seus longos e macios cabelos loiros. Nossa despedida
não foi muito agradável, como todas as outras vezes acabamos
brigando e não sei como isso é possível. No começo do dia
estávamos felizes, curtindo o momento, mas depois parecia me
odiar, me expulsando da sua casa.
Nayara é o tipo de mulher que não se deixa apaixonar facilmente,
ela é teimosa e perigosamente determinada. Acho muito difícil existir
alguém que consiga domá-la ou enfrentá-la de igual para igual. Mas
por trás de todas as barreiras, palavras de defesa, postura de
mulher-maravilha, sei que existe uma mulher machucada, ferida e
sincera que precisa de proteção e segurança. E por mais incrível que
pareça, quero chegar até essa mulher, quero vê-la sem suas
barreiras e defesas, quero chegar até o seu mais profundo íntimo e
descobrir como ela é, seus segredos e medos.
— Nick, finalmente chegou. — Rafa exclama ao entrar na sala e
me ver ao lado dos nossos pais. — Pensei que havia esquecido o
caminho de casa.
Dou um leve mover com os ombros e ao ser flagrado fazendo
esse movimento, dou um meio sorriso para meus pais, tentando
disfarçar as palavras de Rafa.
— Quem é o irmão mais velho, mesmo? — pergunto.
Rafa bufa fingindo uma falsa indignação e resolve entrar na
brincadeira. E para vencer essa disputa ele apela para a maior força
do universo, a única que não pode ser contrariada, que ataca e
ninguém vê: Nossa mãe.
— Está vendo minha mãe? — Desliza até seu lado e a abraça
fingindo tristeza. — Sofro bullying porque sou mais novo, o mais
legal e o mais bonito.
Dona Heloise estreita os olhos na minha direção num sinal sério e
afaga os cabelos de Rafael tentando amenizar sua falsa tristeza.
— Não ligue para esse general, meu pequeno. — O mima. — No
fundo, no fundo, ele tem inveja desse seu cabelo maneiro.
Minha mandíbula chega ao núcleo da terra com as palavras da
mamãe e então começo a rir como nunca fiz em toda a minha vida.
Quando Rafael era mais novo, era apaixonado pelas músicas do
Elvis Presley e de tanto que admirava o cantor, adotou seu corte de
cabelo, roupas e algumas vezes, imitava seus movimentos e falas.
Por imitar o cabelo do ídolo, Rafa sempre dizia que era o cabelo
maneiro e que todos queriam ter o mesmo corte e isso ficou gravado
na família.
Quando cresceu, se distanciou do ídolo e teve novas inspirações,
deixando o cabelo maneiro para trás, adotando um corte militar e
levemente atrativo. Quando comparamos as fotos antigas com as
novas, mal conseguimos reconhecê-lo. E mamãe lembrou-se disso e
usou para fazê-lo passar vergonha, o que me agradou e muito.
— Todos nós temos inveja do cabelo maneiro — falo enquanto
continuo gargalhando intensamente.
— Não acredito que você ainda se lembra disso, mãe. — Bufa se
afastando e quando vejo seu rosto, que está levemente vermelho,
sinto ainda mais vontade de rir. — Era moda naquela época.
— Cada um tem seu gosto, meu irmão — debocho. — Pena que
seu gosto não é tão bom assim.
Todos nós rimos com as minhas palavras e até mesmo Rafael
participa da brincadeira. Quando a onda de risadas cessa todos nós
olhamos fixamente, sérios e com medo do que viria a seguir. Todos
nós sabemos o motivo dessas brincadeiras, sabemos que é uma
forma de tentar adiar o inevitável. Em poucos segundos teremos que
ir ao encontro de Levi, confortá-lo mesmo que não estejamos
preparados e dar nosso apoio, mesmo quando nós mesmos
precisamos.
Nos últimos dias, meu irmão se isolou em seu quarto, estava
triste e deprimido, sequer desejava se alimentar direito e se não
fosse por nossa caçula, não teria ingerido nada, sequer um copo de
água. Todas as vezes que tentamos conversar com ele, percebi que
o deixamos mais triste e amargurado. Levi está deprimido, sente que
nunca mais voltará a andar e sem esperança alguma, é provável que
isso aconteça.
— Quero ver o meu filho, sozinha. — Mamãe profere olhando
fixamente para as escadas.
— Não precisa passar por isso sozinha, meu amor. — Papai
interfere segurando um dos seus braços, tentando confortá-la. Mas
quando mamãe toma uma decisão, ninguém consegue fazê-la mudar
de ideia, nem mesmo nosso corajoso pai.
— Preciso fazer isso sozinha, querido — suspira e vejo tristeza
em seus olhos —, meu menino precisa da mãe e eu preciso do meu
menino, depois você conversa com ele. — Fita seu marido com
lágrimas nos olhos. — Certo?
Papai engole em seco, mas acaba cedendo e permite que
mamãe suba na frente para ter uma conversa com Levi. Vejo dona
Heloise caminhando lentamente em direção as escadas. Seus
passos são lentos e determinados, mostrando que mesmo após
meses sem nos visitar, ainda conhece perfeitamente o ambiente. Ela
começa a subir os degraus, seu um metro e cinquenta e nove
demonstra seu tamanho pequeno, seu cabelo castanho escuro
brinca acima dos seus ombros enquanto com seus olhos verdes
fitam o chão.
Heloise a vida toda cuidou dos meus irmãos e de mim como se
fossemos seus filhos de sangue. Quem não conhece nunca
acreditaria se eu contasse que esse casal nos encontrou na rua e
nos adotou, cuidou da gente e nos amou como se tivéssemos saído
de seu útero. Cada dificuldade, briga ou medo que tivemos, cada
coisa que passamos na infância ou adolescência, tudo, eles estavam
ali para nós em todos os momentos.
— Pai, acha que ele vai sair dessa? — questiono quando mamãe
desaparece. — Acha que Levi terá forças para lutar, mesmo sem a
mobilidade das pernas?
Papai suspira profundamente, enquanto se senta no sofá que
estava atrás dele. Coça a barba lentamente e me encara com
seriedade, ele está pensando no que vai dizer e são nesses raros
momentos em que dialogamos que diz as palavras mais sábias da
Terra.
— Seu irmão parece estar sem forças, Dominic. — Revela com
os olhos fixos nos meus. — Ele não tem um motivo para continuar e
isso é o que mais me preocupa. — Passo as mãos por meus
cabelos, aflito com suas palavras. — Quando Levi finalmente
encontrar algo pelo qual deve lutar, se esforçar e o motivar, somente
então conseguirá voltar a andar, conseguirá voltar a viver.
Exclama cansado como se já soubesse como tudo isso irá se
desenrolar. Ouvimos um ofego triste e quando viro para o lado vejo
nossa caçula com os olhos marejados, tremendo e com o rosto
banhado de lágrimas. Caminho até a menina mais linda do mundo e
a envolvo num abraço quente e confortável, eu sei o quanto a
situação de Levi mexe com seus sentimentos.
— Não fique assim, pequena — sussurro beijando sua testa. —
Estou aqui por você.
Capítulo 17
Nayara Monteiro

— Bom dia, senhorita.


O senhor Durval, o síndico do prédio, um senhor nos auge dos
seus quarenta e poucos anos me cumprimenta quando estou
passando ao seu lado para entrar no edifício.
— Bom dia!
Sorrio gentil terminando de cruzar o corredor para entrar no
elevador. De longe, vejo uma mulher, da minha idade provavelmente,
travando uma batalha com a mala para entrar no elevador.
Aparentemente, a roda da mala havia ficado presa e a jovem estava
usando a força bruta para fazê-la soltar, para o elevador fechar e
assim, poder seguir seu destino.
— Maldição! — Pragueja enquanto com as costas da mão, limpa
a testa que começa a ficar suada.
— Posso?
Indago quebrando a distância entre nós e com uma pitada de
gentileza e um pouco de força bruta, puxo seu pertence num
movimento rápido e finalmente, conseguimos libertá-la da sua
pequena prisão.
— Por Deus... — Ofega aparentemente cansada. — Muito
obrigada.
Entramos no elevador e aperto no sexto andar, que é onde fica o
meu apartamento. Volto a encarar a jovem desastrada e sem
perceber, começo a reparar em sua face. Ela é morena, um pouco
mais baixa que eu, tem longos cabelos negros ligeiramente
cacheados e um par de olhos castanhos, sua face é delicada para
uma pessoa bruta.
— Não é nada. — Sorrio. — Não existe coisa mais normal que
isso.
A mulher ergue a cabeça, encarando meus olhos e sorri
aparentemente constrangida.
— A propósito, meu nome é Serena.
Ergue a mão na minha direção, seus olhos brilham levemente e
um meio sorriso brinca no canto dos seus lábios.
— Nayara. — Aperto sua mão. — Você não é daqui, estou certa?
— Infelizmente, não... — suspira. — Nasci e cresci no Rio de
Janeiro, consegui um emprego massa e me mudei para cá, sabe? —
Dá uma pausa. — Novos ares, novas pessoas é sempre intenso e
agradável.
Suas palavras me causam uma pequena careta.
— Nem sempre é agradável conhecer novas pessoas.
Imediatamente meus pensamentos traidores chegam até Dominic
e sua família complicada. Seus olhos penetrantes e intensos, sua
personalidade libertina, compenetrada e complexa. Até hoje não sei
se foi bom, ou não nossos destinos se cruzarem.
A porta do elevador se abre indicando que cheguei ao andar
previsto.
— É isso, nos vemos logo mais.
Sorrio educada enquanto caminho para fora do elevador e para a
minha total surpresa minha nova "amiga" segue meus passos
lentamente, lutando para trazer sua mala que parece estar pesada.
— Juro que não estou te seguindo. — Pisca um olho enquanto
começamos a andar pelo corredor. — A partir de hoje, irei morar
nesse apartamento aqui.
Serena para diante da porta 512 e retira um molho de chaves do
bolso da jaqueta de frio que usa. Reparo que seu novo lar, fica
exatamente ao lado do meu e sorrio por isso. O ponto positivo é que
minha nova vizinha não é uma velha ranzinza que reclama do som
do despertador e sim uma mulher da minha idade. Pois é, posso
viver com isso.
— Pelo visto, seremos vizinhas — comento distraída.
— Sim... — Abre a porta com um pouco de dificuldade. —
Desculpa não poder ficar para conversar, estou com um monte de
caixas para trazer aqui para cima e não cabia ajudantes no meu
orçamento. — Aceno com a cabeça entendendo suas palavras.
Quando comprei o apartamento Heitor estava comigo, ele me
ajudou a carregar meus pertences e até que a mudança não
demorou muito tempo. Fiquei com preguiça de trazer muitas caixas,
por isso trouxe apenas o básico e com um homem daquele tamanho,
ficou tudo mais rápido e prático.
— Hum... — Mordo o lábio inferior pensando nos prós e contras
das minhas futuras palavras. — Quer ajuda com as caixas?
A noite já havia chegado, depois de ajudar Serena a arrumar sua
mudança retornei para casa e tomei um longo banho para espantar o
mau humor e qualquer sujeira que estivesse grudada na pele.
Durante minhas horas como ajudante, tive a oportunidade de
conhecer um pouco mais sobre minha nova vizinha, ela está
trabalhando como secretária numa empresa muito reconhecida, tem
vinte e seis anos e deixou no Rio, uma filha de dez anos e a mãe.
Contei para ela um pouco da minha vida, minha área de trabalho,
minha família e sobre como levo a vida amorosa. Quando cheguei ao
quesito sexo, percebi que ela ficara um pouco travada e até mesmo
ruborizada, o que me fez deduzir que ainda está presa aos tabus da
sociedade.
Agora são exatamente dez para meia-noite e nós duas estamos
em um dos melhores clubes noturno daqui de Cuba bebendo até não
aguentarmos mais. A música é alta, eletrônica, ritmada e bem
envolvente e de repente sinto vontade de dançar. Coloco o copo de
Martini sobre o balcão do bar e olho para o lado vendo Serena
conversar com um homem que desconheço.
Uma nova música começa e não consigo controlar as pernas.
Parece que meu corpo tem vida própria, pois num segundo estou no
bar e no seguinte estou no meio da pista dançando num ritmo
perfeito com a música Poker Face. A letra parece muito significativa
nesse momento, parece que expressa com perfeição o que está
acontecendo com a minha vida.

Mum mum mum mah


Mum mum mum mah
I wanna hold em' like they do in Texas plays, (Ay)
Fold em' let em' hit me, raise it
Baby stay with me
(I love it)
Lovegame intuition play the cards with spades to start
And after he's been hooked
I'll play the one that's on his heart[1]

A primeira parte da música começa, com Lady Gaga controlando


o clima do grande salão e como uma fã, admiradora e apaixonada
pelas suas músicas não reprimo meus passos, não reprimo meu
corpo e começo a me mover no ritmo.

Oh, woah, oh, oh, oh- oh- e- oh- oh- oh


I'll get him hot, show him what I've got
Oh, woah, oh, oh, oh- oh- e- oh- oh- oh
I'll get him hot, show him what I've got
Can't read my, can't read my
No he can't read my poker face
(She got me like nobody)
Can't read my, can't read my
No he can't read my poker face
(She got me like nobody)

O refrão embala meu peito, essa música realmente tem um


significado mais que especial. Sinto uma mão firme e grossa
envolver minha cintura num aperto firme e possessivo. Olho por cima
dos ombros e vejo um carinha qualquer empolgado demais com
meus movimentos. Ele roça a barba por fazer no meu ombro direito e
dá um meio sorrio convencido, do outro lado, um grupo de homens
olha na nossa direção. Eles riem e cochicham entre si, mas o olhar
está fixo em mim... ou melhor, no meu querido amigo aqui.

P- p- p- poker face, p- p- poker face


(Mum mum mum mah)
P- p- p- poker face, p- p- poker face
(Mum mum mum mah)

Sorrio, pensando no motivo que fez esse cara vir atrás de mim.
Será que foi uma aposta? Meus olhos se curvam em direção a
entrada do clube e sinto cada centímetro do meu corpo se arrepiar
quando meus olhos se encontram com os olhos dele, no momento
em que a outra parte da música começa.

I wanna roll with him a hard pair we will be (Ay)


A little gambling is fun when you're with me
(I love it)
Russian Roulette is not the same without a gun
And baby when it's love
If it's not rough it isn't fun (fun)
Oh, woah, oh, oh, oh- oh- e- oh- oh- oh
I'll get him hot, show him what I've got
Oh, woah, oh, oh, oh- oh- e- oh- oh- oh
I'll get him hot, show him what I've got

Não consigo me conter, canto baixo a música sibilando para que


ele perceba que estou cantando para ele, essa música, esse trecho é
para ele. Meu companheiro inclina sua cabeça em direção ao meu
pescoço e chupa levemente o lóbulo da minha orelha.
— Vamos para outro lugar princesa?
É muito rápido, antes que eu possa respirar e tomar fôlego para
responder sua pergunta, o sinto ir para trás bruscamente. A mão que
antes repousava sobre minha cintura desaparece como fumaça.

I wanna roll with him a hard pair we will be (Ay)


A little gambling is fun when you're with me
(I love it)
Russian Roulette is not the same without a gun
And baby when it's love
If it's not rough it isn't fun (fun)
Oh, woah, oh, oh, oh- oh- e- oh- oh- oh
I'll get him hot, show him what I've got
Oh, woah, oh, oh, oh- oh- e- oh- oh- oh
I'll get him hot, show him what I've got

Nick havia puxado meu acompanhante para trás, o empurrado


com força, falado algumas palavras que o deixaram vermelho e em
seguida, o carinha deu as costas indo embora.
— Assustou meu acompanhante. — Sopro olhando-o fixamente,
ao mesmo tempo em que ele caminha como um predador na minha
direção.
— Eu serei seu acompanhante desse momento em diante.
Nick não espera que eu responda. Ele envolve meu corpo com o
seu e começa a me guiar em seu próprio estilo de se mover. Dentro
dos seus olhos verdes percebo que faz três semanas desde a última
vez que nos vimos pela última vez, depois que minhas férias foram
liberadas entrei numa rotina prática e casual, não o encontrei mais.
Diante do seu toque, fecho os olhos respirando profundamente
percebo que senti falta do seu calor e de suas carícias. Ainda
olhando dentro dos seus olhos verdes, sibilo a próxima parte da
música.

I won't tell you that I love you


Kiss or hug you
Cause I'm bluffin' with my muffin
I'm not lying, I'm just stunning'
With my love- — glue- gunning (Mah)
Just like a chick in the casino
Take your bank before I pay you out
I promise this, promise this
Check this hand 'cause I'm marvelous
Desço a palma da mão sobre a camiseta polo preta que abraça
perfeitamente seus músculos e experimento tocar sua pele, ainda
que esteja coberta pelo tecido da roupa.
Nick fica tenso diante do meu toque, ele segura minha mão num
movimento rápido impedindo meu pulso de continuar a explorar seu
corpo. Cessa seus movimentos e entreabre os lábios com os olhos
fixos nos meus. Vejo um brilho lampejar em suas íris e percebo o
efeito que consigo obter ao tocar seu corpo. Mesmo negando,
corresponde a cada toque que faço em seu corpo.

Can't read my, can't read my


No he can't read my poker face
(She got me like nobody)
Can't read my, can't read my
No he can't read my poker face
(She got me like nobody)
Can't read my, can't read my
No he can't read my poker face
(She got me like nobody)
Can't read my, can't read my
No he can't read my poker face
(She got me like nobody)
Can't read my, can't read my
No he can't read my poker face
(She got me like nobody)
Can't read my, can't read my
No he can't read my poker face
(She got me like nobody)
P- p- p- poker face, p- p- poker face
P- p- p- poker face, p- p- poker face
(She got me like nobody)

Viro o corpo soltando seu toque do meu e aproximo minhas


costas do seu peito, ficando colada ao seu corpo. Fecho os olhos
sentindo a música embalar minha alma e me deixo ser guiada. Não
penso, não olho, não falo, apenas danço, sou livre para sentir aquela
felicidade momentânea.
P- p- p- poker face, p- p- p- poker face
(Mum mum mum mah)
P- p- p- poker face, p- p- p- poker face
(Mum mum mum mah)
P- p- p- p- p- p- poker face, p- p- p- p- poker face
(Mum mum mum mah)
P- p- p- p- p- p- poker face, p- p- p- p- poker face
(Mum mum mum mah)

A música termina, mas mal percebo, pois o torpor não termina, a


parte do meu cérebro que me permite sentir prazer está totalmente
inebriada pelo momento, pela música, pela dança e talvez até pela
bebida.
— Vamos para casa.
Ele não pede, sua ordem soa ao pé do meu ouvido como um
relâmpago forte e potente. Olho por cima dos ombros enquanto um
novo som começa e penso em protestar, porém, meu corpo parece
ficar cansado de repente e percebo que exagerei na bebida e o
melhor a se fazer é voltar para casa.
— Não posso ir sem a Serena — sussurro analisando minhas
opções.
— Fica tranquila, da última vez que conferi sua amiga estava
sendo acompanhada pelo meu irmão. — Nick pisca e sorri.
Após refletir por uns dez minutos, acabo cedendo e deixando-o
conduzir meus passos até a saída do clube.
— Estou com sono... — comento assim que entramos no seu
carro. Nick ajeita meu sinto de segurança e dá um meio sorriso, fito
as covinhas no seu rosto e seus olhos verdes pensando como tudo
chegou até aqui.
Como o deixei entrar tão fundo e como estou me sentindo. O
sono vem com força total, meus olhos parecem pesados demais e
antes que eu possa lutar, o escuro me abraça com força e não me
solta mais.
Capítulo 18
Nayara Monteiro

Bem lentamente, com muita preguiça e até mesmo um pouco de


lerdeza, abro os olhos sentindo uma claridade agradável invadir todo
o quarto. Fecho os olhos segundos depois, uma pequena, quase
invisível, porém incômoda dor de cabeça surge fazendo com que eu
aspire e expire o ar profundamente algumas vezes. Viro a cabeça
para o lado, movimentando o corpo e me aninho ainda mais no
cobertor de veludo e percebo ao roçar as pernas que estou bem
aquecida.
Respiro profundamente com o nariz colado ao travesseiro e
percebo algo diferente. Não sinto meu cheiro natural de baunilha ou
o perfume de morango causado pelo condicionador, pelo contrário,
um marcante e acentuado cheiro amadeirado se faz presente, se
destaca na peça confortável que estou deitada.
Esse cheiro é completamente inesquecível e nem se eu tentasse
conseguiria esquecê-lo, é um aroma presente em apenas uma
pessoa que conheço. Nick.
Sinto uma brisa suave contra meu rosto, me deixando novamente
seduzida pela fragrância marcante, então abro os olhos lentamente
tendo uma deliciosa surpresa. Dominic está deitado de bruços ao
meu lado, seu corpo está relaxado, calmo e vendo seu semblante tão
tranquilo e sereno posso até mesmo dizer que é um enviado dos
céus.
Mas já tive experiências suficientes com esse "anjo" para saber
que ele não é nem um pouquinho inocente e puro, muito pelo
contrário, Dominic é a pura personificação do desejo, da luxúria e
tentação. Com seu um e noventa de puro músculo, energia e muito
vigor, consegue enlouquecer qualquer mulher e infelizmente, não sou
imune aos seus feitiços e encantamentos.
Seus cabelos negros como a noite caem perfeitamente por sua
face, seus fios estão desalinhados, bagunçados e isso o deixa
extremamente quente. Seus olhos estão fechados, sua respiração
está serena e relaxada.
Movida por uma curiosidade desumana movo meus olhos, subo o
olhar por seus ombros completamente nus e desço por todo o seu
dorso. Seus músculos são firmes e sinto os meus lábios se
encherem d'agua, sinto uma vontade inexplicável de percorrer todo
esse caminho com a língua.
Engulo em seco fugindo desses pensamentos maliciosos e
continuo explorando com os olhos seu belo corpo adormecido, para
a minha infelicidade seu traseiro está coberto pelo cobertor, assim
como todo o resto do seu corpo.
— Estou aprovado, Loira? — Sua voz rouca demonstra sua
harmoniosa noite de sono, seu timbre forte e carregado me faz
engolir em seco e olhá-lo nos olhos no mesmo instante.
— Não sei... — Mordo o lábio inferior e deslizo o olhar sobre seu
corpo. — Para ser bem específica, teria que conferir o material
completo.
Nick deixa um meio sorriso brincar no canto dos lábios e com as
costas das mãos massageia os olhos. Não escondo o duplo sentido
em minha frase. O que foi? Não sou nenhuma freira ou a Madre
Teresa de Calcutá!
— Não faz mal, acho que estamos quites agora — comenta
chamando minha atenção e busco seus olhos. Estou confusa. —
Passei a noite toda cobiçando esse seu corpo, mas ao contrário de
você, conferi todo o material.
Meus lábios formam um "O" perfeito com a sua declaração suja e
não resisto quando dou um tapa em seu braço. Maldito pervertido!
— Nick, você não... — Não termino a frase, suas palavras ecoam
na minha mente, e concluo a frase em meus pensamentos. —
Presta...
Espera... "A noite toda...", como assim? Ele passou a noite toda
"cobiçando" meu corpo? A menos que...
Somente então presto atenção no lugar onde despertei e
descubro que não estou no meu quarto, não estou sequer na minha
casa. Estou deitada numa cama grande de casal, o cobertor que está
envolvendo meu corpo é um cinza escuro e os travesseiros são tão
brancos quanto à neve. Na minha direita, ocupando metade do
espaço da parede, existe um grande armário com vários exemplares
de livros, ao seu lado uma mesinha oval e duas poltronas. Na minha
frente, toda a extensão da parede, ou melhor, toda a extensão é de
vidro e metade do vidro está coberto por uma cortina cinza. A minha
esquerda tem uma escrivaninha, computador, outra estante cinza
com uma televisão e alguns filmes, por fim, vejo duas portas de
madeira escura.
Percebo que os tons do quarto variam em múltiplas tonalidades
de cinza e tenho a confirmação de que estou no quarto dele, é a cara
dele ter um quarto nesse estilo.
Repentinamente, flashes da noite anterior invadem meus
pensamentos causando uma forte dor de cabeça. Um gemido
atravessa meus lábios à medida que a dor aumenta sua proporção e
começo a lembrar de cada coisa que fiz. Lembro quando cheguei ao
clube, quando comecei a beber que nem uma condenada, quando
protagonizei uma dança sensual no meio da pista de dança, recordo
quando Nick chegou, quando dançamos e quando concordei em ir,
embora, na sua companhia. A última coisa que sei é que ele me
levou até seu carro e afivelou meu cinto, logo depois devo ter caído
no sono.
— Ei, espera um segundo... — Pede enquanto se levanta e
caminha pelo quarto. — Pegue, vai aliviar a dor.
Aceito o remédio e a água, tendo em mente que Nick sabe muito
bem onde fica o meu apartamento e mesmo assim preferiu me trazer
para a casa dele. Isso está tão errado!
Percebo que não estou mais usando a mesma roupa da noite
anterior. Meu vestido preto de renda havia sido substituído por uma
camiseta polo cinza e estreito os olhos ao saber que ele realmente
havia "verificado o material". Maldito!
— Sim, essa blusa é minha e não, não fiquei olhando durante
muito tempo. — Pisca um olho e jogo um travesseiro na sua direção.
— Nay, vou tomar banho. Não vai embora, precisamos conversar e
isso não pode mais ser adiado — exclama e vejo em seus olhos um
misto de preocupação e aflição. — Me espera, por favor.
Pede olhando no fundo dos meus olhos e perco completamente a
noção do tempo. Malditos olhos manipuladores!
Entrego o copo e ele termina de beber o pouco de água que
havia ficado no mesmo. Vira-se e o vejo caminhar até a mesinha
onde deixa o copo e vai até uma das portas por onde entra. Não
demora muito e ouço o som do chuveiro sendo ligado, somente
então respiro aliviada.
Deito novamente a cabeça no travesseiro e deixo meus
pensamentos voarem como bolhas ao vento. Penso no que
aconteceu nos últimos dias, na noite passada e em como tudo tem
acontecido drasticamente. Dominic e eu sempre que nos vemos
brigamos por algum motivo. Fazemos sexo selvagem e intenso,
quando acordamos ficamos como cão e gato, aliás, eu sou uma gata
maravilhosa. Mas voltando ao foco, Nick disse que precisamos
conversar e penso o que ele pode querer me dizer.
Talvez queira terminar tudo o que há entre a gente, talvez queira
dizer que o que temos não é nada além de atração carnal, ou talvez
queira dizer que nosso tempo juntos chegou ao fim. Penso, penso e
penso, porém chego à conclusão de que não faço a menor ideia do
que ele pretende me dizer. Nick é completamente imprevisível. Então
apenas espero em silêncio ele finalizar o seu banho, penso em tudo
o que pode acontecer e seja o que for, preciso estar preparada.
— A dor suavizou? — Sua voz calma e rouca questiona, fazendo
com que eu incline o rosto na sua direção e o veja com a toalha
enrolada em sua cintura. Vejo seu abdômen, sua barriga e seus
braços fortes e me perco no meio das suas curvas, ele é muito
gostoso. — Não me olhe assim, Loira. — Sua voz me faz olhá-lo nos
olhos e percebo que estava secando seu corpo. — Temos que
discutir umas coisas e sem roupa não conseguiremos nos
concentrar.
— Estou melhor sim, — resmungo — obrigada por perguntar.
Bufo ao perceber toda a sua prepotência. Ele acha que só por
que é gostoso, pode ser tão prepotente assim? Não, nem que a vaca
tussa!
— Quer tomar banho? — questiona caminhando até o guarda-
roupa. — Na pia tem alguns produtos de higiene pessoal, não tenho
nada com aroma de morango ou essas frescuras que vocês
mulheres usam, mas espero que sirva. — Bufa. — Ao lado dos
produtos tem uma toalha vermelha.
Resmungo um xingamento baixinho, enquanto me levanto e
refaço seu caminho até a porta do banheiro.
— Irei pegar uma roupa para que vista, vai estar em cima da
cama.
Ouço suas últimas palavras antes de fechar e trancar a porta do
banheiro. Assim que entro examino cada centímetro do banheiro e
reviro os olhos ao perceber que cada item está exatamente aonde
havia indicado, por que ele precisa ser malditamente perfeccionista?
Onde ele está? Questionei-me mentalmente depois que terminei
meu banho, me troquei e tive a brilhante ideia de explorar sua casa.
Ao cruzar outro corredor percebi que essa casa é realmente grande.
Já andei por vários corredores e encontrei vários quartos, mas não o
encontrei. Assim que terminei meu banho, vesti um vestido azul claro
e calcei um par de sapatilhas da cor nude, ele realmente havia
separado e estava sobre a cama, saí do quarto e comecei minha
jornada para encontrá-lo.
Durante o banho consegui pensar em muitas coisas e resolver
que, seja lá o que Nick queira me dizer, isso não vai me magoar.
Sairei com a cabeça erguida, orgulho intacto e ego inflado como
sempre.
— Senti falta da sua comida madre. — Ouço a voz de Dominic e
congelo meus pés no lugar. Ele está falando com alguém?
— Sabe que eu também figlio, sua madre nem para o marido tem
cozinhado. — Uma segunda voz, masculina, soa. — Parece que nem
tem um marido.
A risada doce e alegre de Nick ecoa no cômodo a centímetros de
mim e logo, uma segunda risada o acompanha.
— Oh meu amor, não seja burbero[2].
Engulo em seco e toda a confiança que possuía segundos atrás
desaparece. Recuo um passo decidida a voltar para o quarto, caçar
minha bolsa e ir embora às escondidas quando esbarro em alguém.
— Pequena Nayara. — Rafael, um dos irmãos do Nick sorri ao
me ver. — Que surpresa você aqui.
Sorrio constrangida por ter sido pega no flagra espiando a
conversa do Nick com seus acompanhantes.
— Bom dia, tudo bem com você?
Rafael se aproxima alguns passos e me envolve num abraço
apertado, segundos depois se afasta com um sorriso amplo no rosto.
— Estou perfeitamente bem e quanto a você?
— Estou indo... — Limpo a garganta. — Bem...
Rafael coloca uma das mãos na minha coluna e começa a andar
conduzindo meus passos ao seu lado e quando percebo o que ele
está planejando, até tento recuar um passo, porém todos que estão
na cozinha percebem nossa presença.
— Bom dia famiglia, Nick, veja quem encontrei perdida nos
corredores.
Olho para Rafael mortalmente e percebo que ele falou uma
palavra que desconheço. Franzo o cenho percebendo que eles têm
certo sotaque e que não havia notado antes.
Desvio o olhar e meus olhos se encontram com os olhos
magnéticos do Nick, que por sua vez estão fixos, queimando no lugar
onde seu irmão está me tocando. Discretamente, dou um passo para
o lado quebrando qualquer contato físico com Rafael e somente
então os olhos dele chegam aos meus.
— Meu figlio, quem é essa, Giovane?
A senhora, uma mulher muito sofisticada e bem arrumada, parece
perguntar algo para alguém. Engulo em seco sentindo-me perdida
diante dos olhares de tantas pessoas.
— Mamma, papà, essa é a Nayara. — Me apresenta olhando o
senhor e a senhora fixamente e então seus olhos voltam até mim. —
Nay, esses são os meus pais.
Não acredito nisso...!
Suas últimas palavras conseguem me derrubar com uma força
incomum. Como assim aqueles são os seus pais? Dominic está
louco? Ele só pode estar brincando! Mil xingamentos voam como
bala por meus pensamentos, mas fisicamente eu estou imóvel
olhando para o homem que está me apresentando para os pais.
Como ele ousa fazer uma coisa dessas? Ainda mais sem me
consultar! Isso é muito errado, muito, muito errado.
— Oh... — A mãe dele leva as mãos aos lábios. — La tua
ragazza[3]?
— O que ela está falando? — Sorrindo, sussurro baixo a pergunta
para Rafael, que encara toda a cena com um brilho nos olhos.
— Ela perguntou ao Nick se você é a namorada dele. — Arregalo
os olhos. — Não entenda mal, Nick nunca apresentou uma garota
para nossos pais.
— Não seja scortese[4] querida. — O homem mais velho intervém
e a senhora fica levemente corada.
— O que foi caro não falei nada troppo o ho detto[5]?
Sinto como se as paredes estivessem se fechando ao meu redor,
não consigo respirar e nem raciocinar corretamente, então viro as
costas e saio correndo da cozinha. Afasto-me o máximo que posso
até conseguir respirar novamente, isso é tudo culpa do Dominic,
onde ele estava com a cabeça?
Corro até seu quarto, começo a procurar minha bolsa. Sei que
estava com uma e não posso ir embora sem ela, começo a procurar
por todo o quarto quando ouço a porta ser aberta e fechada atrás de
mim. Estou de costas para ele, o ignorando e pretendo continuar
desse jeito. Chega, já conhecemos muito um sobre o outro, não é
saudável continuar.
Dominic sabe disso como ninguém, nunca dá certo se relacionar
emocionalmente com suas parceiras de fodas. Em algum momento
eles se envolvem demais e nada mais dá certo, ele está levando isso
longe demais. Primeiro, repetimos nossa foda, conversamos sobre
nossas vidas e agora ele me apresenta aos pais dele. Qual é o
próximo passo? Nick vai me pedir em casamento?
— Está brava comigo? — questiona atrás de mim, mas continuo
o ignorando enquanto abro e fecho as gavetas do seu armário atrás
da minha bolsa.
— Se está procurando uma arma para me matar, saiba que não
guardo nessas gavetas. — Sua frase debochada me faz virar o corpo
e olhá-lo com os olhos estreitos em sua direção.
Você quer jogar, Nick? Pois então vamos jogar.
— Acredite em mim, se eu estivesse procurando uma arma e a
encontrasse, daria muitos tiros em você!
Ele sorri de lado como se duvidasse das minhas palavras e isso
apenas estimula a minha raiva por seus últimos comportamentos.
— Você acha que eu estou brincando? — rosno me aproximando
um passo. — Faz três semanas desde que não nos vemos, três
semanas! Durante todo esse tempo você não saiu da minha cabeça
e agora você aparece e me apresenta para os seus pais como sua
namorada...
Ando até ele como um predador e começo a socar seu peito com
todas as forças que possuo. Nick parece não ficar nem um pouco
afetado, um sorriso compreensivo surge em seus lábios e com uma
facilidade extrema ele prende meus braços e quando percebo, estou
contra a parede cinza do quarto. Seu corpo está pressionando o meu
e já não tenho forças para lutar contra ele.
— Desabafar fez você se sentir melhor?
Sinto meu coração se apertar dentro do peito, tento reprimir as
lágrimas, mas a explosão vem com força total.
— Não. Não, Dominic, não... — Minha garganta arde e meus
olhos ficam marejados conforme as primeiras lágrimas começam a
descer. — Por que você está fazendo isso? Por que simplesmente
não me deixa? Por que faz essas coisas? O que você quer?
Nick afrouxa o aperto que fazia nos meus pulsos e recua um
passo para trás. Seus olhos ficam perdidos durante alguns
segundos, ele me encara surpreso e atônito enquanto explodo bem
na sua frente. Não consigo controlar meu corpo, minhas lágrimas ou
a dor que aperta no peito, apenas continuo soluçando e chorando
como uma mulher indefesa.
— Não, espera. Não chore... Nay...
— Por favor, não. — Peço num fio de voz. — Não diga que está
tudo bem, porque não está. — Dou uma pausa enquanto seco
algumas lágrimas. — Você me apresentou para os seus pais, Nick.
Para os seus irmãos, para a sua família.
— E o que isso tem de importante?
— Você não percebe? — indago num fio.
— O que?
— Você já apresentou alguma foda antiga para eles? — Nick abre
a boca para falar algo, porém fica em choque. — Me responda Nick,
já apresentou alguém para os seus pais? Uma das suas
acompanhantes? Já trouxe alguma delas para a sua casa? PARA
DENTRO DO SEU QUARTO? — Grito as últimas palavras.
— Não... — sussurra e então percebe onde estou querendo
chegar. Nick recua um passo para trás, imerso em seus
pensamentos, perdido e aparentemente confuso.
— Pois é. Estou indo embora — sussurro e seus olhos se
encontram com os meus. — É o melhor para nós dois.
Esse é o nosso fim. Não há mais nada que possamos fazer, nós
estamos nos envolvendo demais e sem ao menos perceber. Nick
havia me deixado entrar na sua vida e de alguma forma eu havia
deixado que ele entrasse na minha também. Finalmente encontro
minha bolsa de mão prata, respiro profundamente e faço meu
caminho até a porta do quarto. Quando vou passar por ela, Dominic
segura meu braço e me puxa para junto do seu corpo, nossos
olhares se encontram.
— Nunca trouxe ninguém para o meu quarto, para a minha casa
ou para conhecer minha família... — Dá uma pausa. — Mas nunca
conheci uma mulher que me apoiou quando eu precisei, nunca senti
tanto desejo como sinto por você, nunca desejei tanto ficar ao lado
de uma mulher como desejo ficar ao seu. — Desabafa e nego com a
cabeça. — Gosto de você, Nay. Não posso te prometer um amanhã,
mas posso pedir que se entregue ao hoje, ao que sentimos agora e
que fique ao meu lado.
Engulo em seco ouvindo suas palavras absurdas.
— Você está pedindo para que eu viva na incerteza? Está
pedindo para que eu fique e você sacie sua luxúria, e quando estiver
satisfeito possa me mandar embora? — Solto meu braço do seu
aperto. — Seria como? De manhã comigo e de tarde com a minha
vizinha? — Sorrio debochada. — Isso não vai acontecer Dominic,
não nasci para ser brinquedo de ninguém.
Nick dá um soco na estante de livros e vejo alguns exemplares
ficarem instáveis e caírem no chão causando um pequeno ruído. Seu
movimento me deixa paralisada, sei que ele não vai me machucar,
portanto não perco meu tempo recuando. Pelo contrário, fico parada
no lugar o desafiando cada vez mais.
— Não quero que seja meu brinquedo, Loira. — Ameniza o tom
de voz e volta a colar seu corpo no meu. — Você também sente isso,
essa conexão, essa atração, esse desejo de querer estar perto...
Mesmo quando estamos longe, meus pensamentos trazem você. —
Respira profundamente. — Viva o hoje comigo, viva o presente e
deixe o futuro para depois, vamos ver o que acontece, por que não?
— Ergue uma sobrancelha. — Você é uma mulher decidida e
determinada, pode acabar com tudo quando quiser. — Roça seus
lábios nos meus. — Vamos Nay... Se entregue, uma vez pelo menos,
escolha ficar, escolha o agora.
Inebriada por suas palavras fecho meus olhos, sinto um torpor,
sinto como se estivesse nas nuvens e começo a pensar. Nick está
certo, ele me afeta de uma maneira que nem eu mesma posso
descrever, ele tem certo controle sobre mim e sobre meu emocional
e se eu fosse um pouco esperta me afastaria agora mesmo, mas
não, não sou do tipo que foge de um desafio.
Se ele me quer para saciar seus desejos, por que não posso
aproveitar também? Nunca senti tanto desejo, tanta vontade de estar
com alguém como sinto por Nick e o maldito sabe disso. Irei ficar, irei
aproveitar o hoje, irei aproveitar tudo o que posso e quando isso
acabar, sairei com o coração inteiro, irei partir com minha cabeça
erguida e orgulho intacto.
Isso tem tudo para dar errado, a qualquer momento pode sair do
controle e sei que quando tudo acabar, irei estar em pedaços. Mas
minha determinação, orgulho e ego guiam meus atos.
— Eu fico — sussurro e sem esperar sua próxima reação selo
nossos lábios desejando ter o máximo que posso dele, sugo seus
lábios, sua língua e exploro cada canto que posso. Se irei quebrar a
cara no final? Com certeza! Mas pelo menos irei aproveitar.
Caímos deitados na cama completamente exaustos após uma
longa rodada de sexo, do jeito que somente ele sabe nos
proporcionar, forte, duro e simplesmente incrível. Antes que eu possa
ajeitar a cabeça no travesseiro, Nick, puxa meus ombros na sua
direção, inclino meu corpo sobre o seu, deito a cabeça em seu peito
e involuntariamente, uma das minhas mãos repousa em seu
abdômen.
Sinto seu peito subir e descer variando seu intervalo de tempo,
sua respiração está frenética e mesmo sem olhar em seu rosto,
consigo sentir que um sorriso safado está presente no canto dos
seus lábios.
— Isso foi... — Dá uma pausa. — Intenso.
Nick sopra contra meus cabelos dourados e aceno com a cabeça,
concordando com suas palavras. Não tenho palavras para descrever
todos os sentimentos que estão envolvendo minha mente, de
repente, sinto o peso da minha decisão, sinto o peso de ficar, sinto o
risco.
— Vamos tomar outro banho? — questiona sem me olhar e
novamente, no automático, concordo movendo a cabeça. — Está
tudo bem, loira?
Respiro profundamente, tomando uma grande quantidade de
coragem, levanto lentamente a cabeça, inclino o pescoço um
pouquinho para o lado e capturo seus olhos me encarando
profundamente.
Fitar seus olhos, para mim, é um imenso castigo. É como se
Dominic conseguisse ver através dos meus olhos, como se
conseguisse ler minha alma, desvendar todos os meus segredos e
ultrapassar todas as minhas barreiras. Isso com certeza não é muito
seguro. Não para o meu coração.
— Daria qualquer coisa para adivinhar os seus pensamentos. —
Revela com um sorriso avassalador em seus belos e atrativos lábios
rosados. Desvio o olhar, algo está me incomodando, sinto um
incomodo no peito, algo que nunca senti antes. Devo estar ficando
gripada.
— Bom, posso pensar em algumas coisas. — Sorrio sacana,
voltando a olhar dentro dos seus olhos. — Uma boa lasanha por
exemplo.
Nick inclina a cabeça para trás, enquanto uma longa gargalhada
escapa por sua boca, quando sua crise de risos acaba, seus olhos
buscam os meus e sinto seus dedos explorando minha barriga numa
sessão alucinante de cócegas.
Não acredito nisso!
Começo a me debater na cama como uma louca, enquanto
começo a rir devido aos movimentos travessos de Nick. Não consigo
me aguentar, meu peito começa a arder por causa dos gritos e
súplicas, meus olhos começam a lacrimejar e sinto minha barriga se
contrair quando uma vontade de fazer xixi me invade.
— Nick! Para. Para! — exclamo engasgada por causa dos risos.
— Nick, eu vou fazer xixi!
— Eu aqui pensando que você queria degustar do meu lindo
corpinho e você aí pensando em comida. — Nega com a cabeça. —
Que decepção, Loira.
Dessa vez, não reprimo um longo sorriso que se forma em meus
lábios e perceber que estamos num momento assim, tão íntimo e
calmo, brincando como dois adolescentes apaixonados, me faz sorrir
como uma menina boba. Meus olhos descem por seus lábios e
inclino meu rosto um pouco, suficiente para que nossos lábios se
toquem e nos beijamos lentamente.
Não tem puxão de cabelo, arranhão, mordida ou gemido sexual,
somente um beijo calmo, degustando de cada pequeno sentimento
que o contato das nossas bocas pode nos proporcionar e ficamos
assim por longos minutos, apenas desfrutando da presença um do
outro.
Não existe maldade, malícia ou segundas intenções nas caricias
que trocamos. Faço um pequeno cafune nos seus cabelos negros,
desço por sua bochecha e toco sua barba, quando ele a deixa por
fazer fica com um ar de homem mais velho e isso o deixa muito
bonito.
— Então... — Beija meus lábios. — Minha... — Me beija
novamente. — Loirinha... — Beijo. — Vamos... — Beija minha
bochecha. — Nos arrumar... — Volta a minha boca. — Para
comermos... — Morde meu lábio inferior. — Se não, não vamos sair
do quarto hoje.
Então, Nick, se afasta quebrando o contato dos nossos corpos e
sorrio por sua atitude de homem relaxado. Vê-lo dessa forma,
relaxado e sem preocupações me deixa com um aperto no peito, um
aperto agradável.
— Pois vamos, estou morrendo de fome. — Revelo enquanto
inclino o corpo para sentar na cama. Nick já está de pé andando pelo
quarto somente de cueca da Playboy preta. Observo sua bunda
enquanto caminha até onde suas roupas ficam guardadas e separa
as peças, ergo uma sobrancelha quando vejo que ele pega apenas
peças masculinas.
Não vou sair na rua usando as roupas dele, nem que a vaca
tussa!
Observo uma camiseta vermelha com algumas frases escritas e
literalmente fico de boca aperta com a beleza do tecido. Bom...
Talvez sair com essa ou aquela outra camiseta, não faz mal...
— Vou pegar uma roupa da Naty para você, não se preocupe —
revela quando nota meus olhares em sua direção. — Era dela a peça
de hoje mais cedo.
— Não posso me esquecer de agradecer a ela por ter sido tão
gentil comigo — comento enquanto levanto da cama e começo a
caminhar em direção ao banheiro. Quando passo pela porta, retiro
lentamente meu conjunto de roupas íntimas e já vou caminhando em
direção ao box.
Assim que Nick, termina de cuidar das nossas roupas ele se junta
a mim no banho, ele me ensaboa e eu faço o mesmo por ele.
Despejo o sabonete líquido na palma da mão e espalho por todo o
seu corpo. Durante o banho, não trocamos nenhuma carícia íntima,
apenas conversamos coisas leves e brincamos um com o outro.
Nick escuta seu telefone tocando e se desculpa por ter que sair,
se enxuga rapidamente e some ao entrar no quarto. Ouço-o
atendendo ao telefone, logo depois, não escuto mais nada. Dou de
ombros e termino de tomar meu banho, retiro todo o sabão e saio.
Assim que entro no quarto, vejo-o desligando o telefone, ele está
de costas para mim e posso perceber que suas costas estão tensas.
Calculo mentalmente se devo ignorar sua mudança de
comportamento, ou devo ir questionar o que lhe deixou tão afetado.
Suspirando profundamente, ajeito a toalha que está ao redor do meu
corpo e caminho até ficar ao seu lado.
— Quem teria o poder de deixá-lo tão tenso assim? — questiono
tocando seus ombros e fico ao seu lado. — Está tudo bem?
Nick se levanta da cama passando uma das mãos em seu cabelo
e bufa aparentemente, irritado.
— Não é nada.
Suas palavras são secas, ergo o olhar buscando seus olhos e o
vejo se afastar de mim em passos longos e rápidos. Sua mudança
de personalidade me deixa confusa, estávamos tão bem segundos
atrás, foi só ele atender essa ligação que mudou totalmente comigo.
Respiro profundamente tentando organizar meus pensamentos,
ele próprio pediu para que eu ficasse, não seria possível agora pedir
para que eu fosse embora, certo?
— Nick? — Tento novamente e abraço suas costas. — Sabe que
pode contar comigo, certo?
Vejo-o inclinar sua cabeça para o lado, seus olhos encontram os
meus e o que vejo não é um homem forte e decidido, somente um
garotinho assustado. O que vejo me deixa completamente
desarmada, seus olhos estão distantes, apagados e tristes. Ver
Dominic Grombeth desse jeito me pega totalmente de surpresa.
— Eu sei, Loira, eu sei... — Engole em seco. — Se troque
rapidinho, ok? Quero levar você para comer num lugar incrível. — Dá
um sorriso amarelo, se vira ficando de frente para mim e dá um beijo
casto na minha testa, em seguida se vira e sai do quarto dizendo que
estará me esperando na sala. Assim que Nick passa pela porta me
deixando sozinha e confusa me observo no reflexo do espelho
perguntando o que havia acontecido.
Vejo seu celular vibrando em cima da mesinha de centro, alguém
está ligando para ele. Engulo em seco quando involuntariamente dou
dois passos na direção do aparelho e antes que meus dedos toquem
na tela recuo um passo.
Não posso invadir a privacidade dele dessa forma. Não importa o
que ele tem, em algum momento quando estiver pronto, me contará.
Não preciso fuxicar suas coisas como uma louca insegura. Assim
que decido não mexer, dou as costas e caminho começando a me
trocar, estou morrendo de fome e estou curiosa para saber onde Nick
quer me levar.
Capítulo 19
Nayara Monteiro

Assim que saio do quarto caminho em passos lentos e


determinados em direção à sala de estar, no meio do caminho cruzo
com uma empregada e mesmo estando sem graça, questiono
educadamente o caminho correto até onde Nick está me esperando.
A senhora de cabelos grisalhos sorri gentil e com calma e paciência
explica detalhadamente como chegar ao lugar.
O encontro sentado no sofá ao lado do seu irmão Rafael que
quando pousa seus olhos sobre mim sorri educado, sua atenção em
mim faz Nick inclinar a cabeça para o lado, levemente curioso e
quando percebe minha presença levanta com um sorriso genuíno no
rosto.
Observar seus olhos e o sorriso em sua face me faz deduzir que
seu mau humor havia ido embora e isso acaba me arrancando um
sorriso casto no canto dos lábios.
— Encantadora como sempre. — Se levanta vindo em minha
direção. — Pronta?
— Desde o momento em que cheguei ao mundo. — Brinco ao
piscar um olho. — Desculpe, por sair correndo mais cedo. — Inclino
a cabeça na direção do irmão do Nick e sorrio constrangida. Rafael
está sentado no sofá com a perna masculinamente cruzada, seus
braços estão cruzados e um sorriso está presente em seus lábios.
A forma como ele sempre está de bom humor, me faz admirá-lo
secretamente. Diferente de seu irmão que num segundo está bem e
no outro parece que levou o pior dos xingamentos.
— Não tem problema algum, Loirinha — responde movendo seus
ombros. — Nossos pais podem dar medo em algumas pessoas.
Suas palavras me fazem lembrar, uma conversa que tive com
Dominic a muito tempo atrás, quando estávamos no meu
apartamento, no dia seguinte ao qual ele chegou bêbado. Em meio a
uma longa conversa, acabou revelando que seus irmãos e ele tinham
sido adotados pelos pais da irmã mais nova.
Lembrar-me desse fato faz-me recordar da forma como eles
conversavam pela manhã, os pais dele pareciam gentis, agradáveis
e parecia amá-lo como um filho de sangue. Quando os olhos da sua
mãe fitaram meu rosto e depois voltaram a analisá-lo, consegui ver
um brilho especial dentro deles. Um amor, um carinho, um cuidado
especial que somente as mães possuem.
— Mesmo assim, me comportei como uma adolescente insegura
— comento olhando-o fixamente. — Peço desculpas por isso, se
houver outro encontro serei mais educada.
Rafael levanta lentamente do lugar em que está sentado com um
brilho divertido nos olhos, descruza os braços e esconde as mãos no
bolso de ambos os lados da calça social preta que usa. Ele dá um
passo na direção em que estamos e vejo Nick sorrindo ao meu lado.
— Mesmo tendo aparecido repentinamente e sumido mais
rapidamente ainda, nossa mãe parece gostar de você. — Revela e
sinto meu rosto esquentar. — Não esquente a cabeça com essas
coisas, Loirinha.
Assim que termina de falar, Rafa começa a andar em direção as
escadas e aos poucos vai se distanciando até sumir por um dos
vários corredores dessa casa. Fico imersa em pensamentos, até que
sinto um par de mãos envolvendo minha cintura delicadamente e sou
virada para ficar frente a frente com seu corpo.
— Vamos? — questiona olhando dentro dos meus olhos. —
Aposto que está morrendo de fome, porém não tem coragem para
admitir.
Faço uma exclamação silenciosa surpresa por suas palavras
ousadas e dou um tapa suave em seu ombro que está coberto por
uma camiseta azul clara, que possui uma touca na parte de trás e
percebo o quão relaxado ele está novamente e isso de alguma
forma, aquece meu peito.
— Que audácia! — exclamo. — Admito sim, estou morrendo de
fome, viu?
Nick começa a gargalhar ao meu lado, enquanto começamos a
andar em direção a saída da casa. Quando passamos pela porta
avisto um belo jardim e do outro lado uma BMW i3 preta e arregalo
os olhos.
Por trabalhar como aeromoça, ganho um salário
consideravelmente bom e tenho recursos para comprar coisas boas
e caras, porém o preço de uma BMW como essa e a casa onde ele
mora é muito mais do que eu ganho em um ano trabalhando.
Nick coloca a mão ao redor da minha cintura e me conduz até
onde seu carro está estacionado, o encaro tentando disfarçar minha
surpresa. Quando seu irmão estava no hospital, seu carro não
custava tão caro, era de outra marca. Penso comigo mesma. Ele
abre a porta para que eu entre e assim o faço, em seguida fecha-a,
contorna o carro e se senta no banco do motorista, liga o motor e da
partida no carro.
— Não acredito! — exclamo cobrindo a boca com os dedos. — E
o que vocês fizeram depois?
Estávamos numa conversa animada, Nick me contava sobre uma
briga que teve com um antigo amigo, que jogava charme para Naty.
Tudo havia começado no aniversário de vinte cinco anos do Rafael,
fizeram uma grande festa e todos os seus amigos foram.
Durante a comemoração, Nick, viu que sua irmã havia bebido
além da conta e quando foi atrás dela viu que seu amigo estava
tentando levá-la para a cama, mesmo percebendo que ela estava
sob o efeito do álcool.
— Dei um soco de direita na cara do safado e depois disso ele foi
embora — comentou sorrindo como um menino travesso. — Depois
disso, nunca mais olhamos um para o outro.
Balanço a cabeça de um lado para o outro, completamente,
chocada com suas palavras, um sorriso divertido escapa por meus
lábios e no fim, acho que o cara mereceu o soco. Abaixo as mãos e
fito a janela do carro, percebo que estávamos dentro dele há um bom
tempo, então decido perguntar onde estamos indo.
— Nick, para onde estamos indo?
Meu querido acompanhante dá de ombros e sorri como se
estivesse preparando a coisa mais secreta do mundo. Estreito os
olhos na sua direção e faço um bico tentando persuadi-lo a me
revelar o que se passa por sua linda cabecinha.
Decido ser mais ousada quando ele sequer fita meu rosto e
inclino um pouco meu corpo no banco do carro fazendo a saia que
estou usando subir um pouco e coloco a mão na sua perna, aperto
levemente o local e chamo sua atenção.
— Diga-me meu lindo. — Mordo o lábio. — Para onde você está
me levando?
Percebo que no segundo em que coloco minha mão na sua perna
sua mandíbula fica apertada, sua mão aperta com mais força o
volante. Nick desce o olhar pela parte exposta das minhas pernas e
sobe até finalmente chegar aos meus olhos.
Ele abre e fecha a boca algumas vezes, vejo-o colocar a ponta da
língua para fora e observo quando molha o lábio bem lentamente.
Seu movimento faz meu baixo ventre se apertar, contraindo pelo
desejo já latente.
— Não vai me responder, Nick?
Sussurro bem lentamente e novamente, aperto sua perna.
Movimento lentamente a palma da mão e subo suavemente até
chegar à parte de cima da sua coxa. Nick, dá um pulo no banco com
meu movimento e reprimo um sorriso divertido, ele acelera um pouco
o carro e gira o volante com brutalidade até que consegue encostar o
carro.
— Minha deliciosa, Loira, — exclama assim que para o carro e
me encara — você quer saber para onde vamos? — sussurra se
aproximando de mim até que seus lábios encostam na pele do meu
pescoço, nesse momento já estou com a respiração irregular. — Vai
ficar querendo saber, delícia.
E então se afasta voltando seu corpo para a posição inicial, em
seguida liga o motor e volta a conduzir o carro pelas ruas. Estreito os
olhos surpresa por sua atitude, um tanto inesperada, e bufo
revirando os olhos, minha respiração está acelerada, meu coração
batendo mais forte e sinto um formigamento no meio das minhas
pernas.
Não consigo acreditar que ele me enganou!
Bufo, mentalmente, e pelo canto dos olhos o vejo dirigindo com
os seus fixos na estrada, mas com um sorriso convencido na boca.
Maldito! Viro a cabeça e passo a encarar a rua do lado de fora, vejo
as pessoas, casais, crianças, senhores e acabo ficando tão imersa
em pensamentos, que mal percebo quando o motor do carro é
desligado. Pisco algumas vezes confusa quando noto onde
exatamente estamos.
— Chegamos.
Avisa retirando o cinto de segurança e imito cada um dos seus
movimentos. Nick pega sua carteira que havia jogado na parte de
trás do carro e abre a porta saindo segundos depois, respiro
profundamente quando abro a porta e saio sem esperar que ele abra
para mim.
Coloco a mão na cabeça observando a paisagem ao nosso redor.
Estamos de frente para a praia, o vento rebelde enlaça meu corpo
num ritmo descompassado, a brisa do mar, os sons das ondas, dos
pássaros e as pessoas tornam o ambiente convidativo. É tudo tão
perfeito.
— Gostou da surpresa? — indaga me abraçando por trás e
repousa sua cabeça em meu ombro direito, enquanto suas mãos
evolvem minha cintura num aperto possessivo e, ao mesmo tempo,
gentil e calmo.
Sorrio sem conseguir me conter e movimento a cabeça
concordando sem poder expressar uma palavra sequer. Nick dá um
passo ficando à minha frente e vê a felicidade em meus olhos,
fazendo com que eu consiga ver a minha própria felicidade refletida
nos seus, o que me deixa completamente sem fala.
Dominic, inclina o rosto na minha direção, se aproximando e fico
na expectativa, esperando para que me beije, porém, seus lábios
tocam suavemente no topo da minha cabeça.
— Vamos comer, Loira. — Nick envolve minha mão na sua e
começamos a andar na direção de um restaurante que fica de frente
para o mar.
Assim que entramos, escolhemos uma mesa com uma vista
deslumbrante e por longos minutos fico em silêncio contemplando a
vista e sinto que, de repente, tudo está em seu devido lugar.
Quando coloco os talhares sobre a mesa percebo que durante
toda a refeição, apesar de conversarmos sobre diversas coisas, a
maior parte do tempo, Nick, havia passado me observando. Consigo
perceber isso quando pego o guardanapo e levo aos lábios para
limpar algum resquício de sujeira e fico sem graça por estar na mira
do seu olhar feroz.
— Vou pagar a conta — sussurra colocando o próprio
guardanapo branco como a neve sobre a mesa e se levanta. — Um
segundo, Loira. — Dito isso, se vira e começa a caminhar rápida e
graciosamente por entre as mesas em direção ao balcão de
pagamento, o observo de longe conversar com a atendente e a vejo
se oferecendo descaradamente. Estreito os olhos ao perceber a falta
de respeito dessa jovem, a atendente não deixa de secar Nick um
segundo sequer e quando penso em me levantar e ir até lá para
acabar com o sorrisinho da oferecida, o vejo inclinar a cabeça na
minha direção e apontar para mim.
A ruiva falsa olha na minha direção e sorrio completamente plena
e despreocupada quando seu olhar me encontra, Nick diz algumas
palavras para ela que o responde desapontada e consigo ler seus
lábios quando diz: "realmente sou um homem de sorte". E então,
após pagar levanto-me para encontrar com ele no meio do caminho
e seguimos juntos para a saída.
— O que você e a atendente estavam conversando? — questiono
na lata e fico constrangida, segundos, depois. — Bom, você apontou
na minha direção e ela me encarou decepcionada. — Complemento
para não parecer uma louca ciumenta e insegura.
Não existem motivos para me sentir dessa forma ao lado do Nick,
primeiro que não temos nada sério, o que temos não tem nenhum
rótulo ao certo. Mas, não preciso deixar minha confiança de lado,
realmente não estou me reconhecendo.
Nunca soube que existia uma Nayara hesitante dentro de mim até
que esse homem chegou à minha vida, desde então tudo se tornou
confuso, perigoso e incerto, ao mesmo tempo, ficou mais intenso,
divertido e incrível.
— Cindy me chamou para tomar um café. — Revela enquanto
desliza a mão até minha coluna. — Neguei o convite e ela perguntou
o motivo. — Virou o corpo para me encarar. — Apontei para você
quando disse que minha namorada era ciumenta e não gostava de
dividir.
Sou pega de surpresa por suas palavras e pela intensidade como
ele proferiu cada uma delas. "Namorada", para um casal que não
tem rótulo, Nick arranjou um rapidinho. Percebo que ele havia dado
um fora na tal atendente e sinto-me orgulhosa por ele estar sendo
sincero ao me contar tudo isso. Ele podia ter aceitado discretamente
o convite ou mentido sobre sua conversa, mas optou por ser sincero
e isso me deixa feliz.
Sinto a brisa gelada correr por toda a extensão exposta da minha
pele, automaticamente me encolho diante do frio inesperado que
sinto. Nick franze o cenho e quando percebe que estou com frio
começamos a andar abraçados até o carro, antes que eu possa
entrar no banco do passageiro Nick intercepta meus movimentos
segurando meu braço, então franzo o cenho, confusa.
— Nossa noite ainda não acabou, Loira.
Dito isso ele se inclina dentro do carro no banco do passageiro
mesmo e quando retorna está com uma blusa de frio nas mãos, peça
que ele me entrega e coloco no corpo imediatamente. Vejo meu
reflexo no vidro do carro e percebo que estou completamente fora de
moda, estou usando uma saia degradê em vários tons de rosa, uma
camiseta da cor nude que deixa a pele dos meus ombros
completamente expostos e agora, uso uma blusa de frio social preta.
Dobro a manga da peça cinza que deve ter custado uma fortuna,
levando em conta que pertence à família dele. Nick fecha a porta e
trava o carro antes de se virar na minha direção e envolver minha
cintura com cuidado, enquanto começa a me conduzir na direção da
praia. Não me preocupo em abotoar os botões, apenas o sigo em
silêncio enquanto caminhamos.
Desvio do seu toque para poder tirar as sapatilhas que estou
usando e fico descalça para desfrutar desse sentimento delicioso
que envolve meu peito e em poucos segundos sinto a areia fazer
cócegas em meus pés. Nick tem a mesma ideia, pois inclina seu
corpo para tirar seu par de sapatos e quando termina, voltamos a
andar juntos.
Andamos a beira do mar durante longos minutos, a noite vai
ficando mais bela, o céu completamente limpo possibilita a visão das
estrelas e após caminhar muito, nos sentamos na areia para
contemplar a visão mais bela criada por Deus. Ficamos em silêncio,
degustando o sentimento da brisa contra nosso rosto, o perfume que
exala do lugar, o som das ondas e do mar. Encosto minha cabeça
em seus ombros, enquanto fecho os olhos respirando lentamente.
— Sei que é o nosso primeiro dia juntos. — Nick sussurra me
fazendo abrir os olhos. — Mesmo brigando e discordando em vários
assuntos, quero que saiba, que não me imagino em qualquer outro
lugar que não seja aqui, com você.
Sua revelação me causa um sorriso, levo minha mão até a sua
onde começo a fazer movimentos de vai e vem. Nesse momento não
existe malícia, estamos como mais cedo, conectados por uma linha
pura, íntima, porém, sem desejo e segundas intenções. Vê-lo assim,
tão aberto, tão desprotegido, sem aquela camada de homem das
cavernas, me faz querer abraçá-lo, mas de alguma forma, sei que
existe mais coisas.
Nick esconde algum segredo de mim, sua mudança de humor é a
prova de que minha desconfiança não é sem fundamento, mas o que
posso fazer ou dizer? Devo esperar e descobrir em algum momento,
ou devo esperar que ele se sinta preparado para em algum momento
revelar o que sente?
O que devo fazer?
— Estou me sentindo da mesma forma. — Revelo sem olhá-lo. —
Sinceramente, gostaria que esse sentimento, esse momento,
durasse para sempre. — Confesso e inclino a cabeça para olhá-lo
nos olhos. — Ficar assim, nessa trégua gostosa é muito bom.
Nick curva seus lábios num sorriso de canto, seus olhos ainda
estão fixos no horizonte e volto a encarar a paisagem que está diante
dos meus olhos.
— Em alguns momentos, sinto que não sou o cara certo para
estar com você. — Sopra virando o rosto e volto a fitá-lo. — Nem
sempre fui tão responsável e cuidadoso, como sou hoje em dia.
— Quando somos jovens, cometemos muitas atitudes estúpidas.
— Dou de ombros. — O importante é como essas coisas ficaram em
nossa mente, como um aprendizado ou uma simples memória.
Nick vira seu rosto olhando fixamente para dentro dos meus
olhos, nesse segundo ficamos conectados, ficamos juntos. Consigo
ver uma pequena ferida em seu interior, consigo ver um menino
ferido que se esconde atrás de barreiras quase impenetráveis.
— Às vezes, não conseguimos esquecer e não se torna uma
simples lembrança, se torna um marco, um machucado que custa a
cicatrizar.
Percebo que ele quer dizer algo mais, porém, fecha os lábios e
abaixa a cabeça encostando nossas testas. Seus olhos estão
fechados com força e o vejo respirar lentamente. Um sentimento
estranho se apodera de mim e toco seus cabelos fazendo uma leve
carícia, quero confortar o homem ferido que está diante de mim.
Lembro-me da sua mudança de atitude pela manhã, dos seus
surtos de raiva e do telefonema que havia recebido. Posso estar
ficando paranoica, mas sinto que tudo isso está conectado, tudo está
interligado em algum segredo que ele esconde e não sei como reagir
a isso.
Fico em silêncio, apenas conforto seus ombros e seu cabelo
deixando-o à vontade ao meu lado. Não faço perguntas,
questionamentos, não coloco mais pressão sobre suas costas.
Apenas ficamos ali, sentados, abraçados e em silêncio, apreciando a
presença um do outro.
Em algum momento, decidimos ir embora. Nick se levantou
lentamente e me ajudou a fazer o mesmo, então voltamos pelo
mesmo caminho até chegar onde o carro está estacionado.
Entramos conversando coisas leves e após uma breve discussão de
onde passaríamos a noite, Nick acabou cedendo e me levando para
meu apartamento. No fim, a noite não foi um completo desastre.
Aos poucos ouço um som muito familiar, vindo de algum lugar no
quarto, abro lentamente os olhos tentando me localizar e ergo o
braço para alcançar meu aparelho celular que está na bancada ao
lado da cama.
— Pronta para voltar ao trabalho?
A voz enjoada e muito irritante de John preenche meus ouvidos
me fazendo apertar os olhos com força. Assim que absorvo suas
palavras arregalo os olhos e dou um pulo da cama verificando as
horas. Eram quase oito horas, quando conheci Nick, havia acabado
de pedir que parte das minhas férias atrasadas, fossem cumpridas
esse mês, meu chefe aprovou e por estar cheio de problemas,
dispensou meus serviços, por isso estou há tanto tempo longe do
trabalho.
Infelizmente, uma das minhas companheiras havia sofrido um
acidente de carro e estava de atestado, outra está grávida e saiu
para cuidar do filho, acabou que fui convidada a retornar mais cedo e
aqui estou eu, atrasada.
— Em menos de vinte minutos chego aí! — Aviso enquanto
desligo o telefone já a caminho do banheiro. Arrumo-me
rapidamente, deixo as coisas em ordem, enquanto estou saindo do
apartamento e em poucos minutos estou chegando ao aeroporto de
táxi. Enquanto caminho em direção à área de embarque vou
arrumando o nó da minha gravata, ajeito meus longos cabelos loiros
e sorrio quando vejo minha única ajudante de voo me esperando.
— Vamos, estamos dois minutos atrasadas!
Miranda me apressou quando cheguei ao seu lado, então
começamos a andar para embarcar no avião. Assim que entramos,
coloco minha pequena bolsa que contém alguns objetos que podem
ser necessários durante a viagem e mando uma mensagem para
meu melhor companheiro.

"Estou de volta gatinho ;)


Com carinho, Nay"

No mesmo segundo em que aperto o botão para que o recado


seja enviado, recebo uma mensagem de um número desconhecido.

"Nossa noite foi maravilhosa. Espero que possamos repetir,


noutro dia. Nick"

Sem que eu perceba, estou com um sorriso nos lábios. Meus


dedos começam a formigar para respondê-lo, porém, o alto falante
faz um bip indicando que o voo começará em questão de segundos.
Coloco o celular no bolso, depois respondo sua mensagem, preciso
passar as instruções caso aconteça alguma turbulência.
Capítulo 20
Dominic Grombeth

Termino de organizar alguns contratos sobre a mesa de


madeira, destes analiso atentamente cada palavra escrita e ao final
da análise minuciosa, faço uma pequena pilha de papéis. Fito uma
segunda pilha que está do lado direito da mesa, suspiro enquanto
pego uma caneta esferográfica azul clara, com as mãos, aproximo a
papelada e começo a examinar cada observação, pronúncia, palavra
e cláusula de uma das primícias em relação aos lucros da empresa e
assino quando estou plenamente de acordo.
Depois da noite fascinante que passei ao lado da Nayara, pensei
nas ligações que venho recebendo há alguns anos. Sem que eu
queira, meus olhos pousam no calendário que está a minha direita,
foco no dia vinte e seis de agosto sentindo um incômodo se formar
na garganta. Hoje completa cinco anos. Cinco anos desde que agi
como um idiota ciumento e quase coloquei toda a minha família na
lama. Desde que eu quase me afundei na lama.
— Boa tarde. — Sofia, minha nova secretária, exclama assim que
permito sua entrada. — Senhor, vim entregar os contratos que
estavam faltando.
Sofia se aproxima sem olhar diretamente nos meus olhos e ver
sua falta de coragem em me encarar, me faz lembrar minha loirinha.
Nunca conheci uma mulher tão extraordinária como ela, está para
nascer outra e isso se o mundo tiver tanta sorte. Nayara é uma
mulher tão forte, decidida e valente, para uma beldade com menos
de um metro e sessenta, é bem persuasiva quando assim deseja.
As outras mulheres são submissas, são hesitantes e aceitam
ordens muito facilmente, ela não. Ela tem opinião própria, não aceita
uma ordem sem antes contrariá-la e questionar quem ordenou.
Pensa numa loira brava e marcante. É exatamente assim que
Nayara é.
— Não acredito que Dominic Grombeth virou um escravoceta! —
Dreycon, um dos sócios da empresa e meu amigo de longa data, fala
pasmo entrando na sala. Suas palavras deixam minha secretária
constrangida e quando ela vai passar por ele para ir embora, seu
olhar feroz acompanha seus passos. — Que secretária, delícia! —
Grunhi como um animal e balanço a cabeça, divertido. — Graças a
Deus você mandou a antiga embora, pensa numa senhora chata!
Coloco as duas mãos sobre meus olhos tentando fugir das suas
palavras, pois o significado de tais não me agrada em nada.
Escravoceta é um termo que usamos quando um dos nossos acaba
se relacionando seriamente com uma mulher, deixam as festas e as
mulheres para ficar com uma somente e ouvi-lo me chamar de
escravoceta é o cúmulo do ridículo.
— Vira essa boca pra lá — resmungo enquanto tento organizar
minha mesa. — Ainda não aposentei minhas bolas e quem contou o
quê para você? — questiono com os olhos estreitos. — E não fale
assim da Marta, ela era uma senhora de idade e cuidava como
ninguém dessa bagunça aqui!
Dreycon caminha lentamente até mim e se senta no banco de
couro à minha frente. Retiro as mãos dos olhos e encaro seu rosto
que parece muito divertido com essa situação.
Cruzei com ele numa festa de negócios, apostamos quem
conquistaria uma das beldades da noite e desde então mantemos
contato. Ele passa a mão por seu terno cinza feito sob medida.
— Que secretária o que, parecia mais uma múmia — bufa. —
Todas as vezes que eu vinha, não sabia se estava numa pirâmide ou
na empresa. — Pisca seu olho castanho. — Se está preocupado
com algo que alguém possa ter me contado, quer dizer que existe
algo para ser contado.
Não reprimo um sorriso que surge no canto dos meus lábios e
coloco as mãos por cima da mesa. Há um ano e meio, Dreycon teve
que cuidar de um problema numa das filiais internacionais e por
algum motivo acabou prolongando sua estadia por lá.
— Creio que meu irmão lhe deixou a par das novidades.
Estreito os olhos ao mesmo tempo em que ergo uma sobrancelha
deixando claro minha suspeita. Meu amigo gargalha alto e leva uma
das mãos ao queixo fingindo pensar em alguma coisa.
— Soube que na minha ausência, o rei dos cafajestes havia sido
laçado por uma loira caliente.
Remexo-me inquieto na cadeira de couro quando ouço suas
palavras, sinto um incômodo na boca do estômago quando um
sorriso nasce em seus lábios. Preciso limpar a garganta para poder
disfarçar o gosto ruim que está em meus lábios. Não sei por que,
mas não gostei da forma como ele se referiu a minha loirinha.
— É uma longa e complicada história — resmungo dando de
ombros. — Mas, não estamos realmente juntos.
Meu amigo inclina discretamente o corpo para frente, seus olhos
atentos, seus sentidos aguçados e o sorriso travesso em seus lábios.
— Já que não tem nada com a loira... — Dá uma pausa. —
Poderia me apresentar, não é mesmo? Rafael comentou sobre sua
beleza, mas preciso confirmar com meus próprios olhos.
Automaticamente nego num movimento frenético com a cabeça.
Apenas em imaginá-lo tocando na minha loirinha me causa náuseas,
me causa uma raiva primitiva e selvagem. Não sei em que momento
entre o meu respirar e o seu, porém quando pisco os olhos estou
diante dele, com as mãos apertando as abas do seu terno lançando
lhe um olhar mortal.
— Você não vai chegar nem perto da Nayara! — Rosno bem
próximo ao seu rosto. — Nem pense nisso, escutou? Acabo com
você antes que possa dizer suas cantadas de pedreiro!
Dreycon a princípio arregala os olhos surpreso com minha atitude
repentina, porém, aos poucos seu sorriso largo e convencido retorna,
suas mãos tocam nas minhas para soltá-lo e vejo-o recuar um passo
para trás. Respiro profundamente tentando acalmar minha
respiração e colocar o coração em ordem, minha reação foi
totalmente explosiva e inesperada, causada somente por um
comentário.
— Minha teoria sobre suas bolas estarem amarradas... —
comenta chamando minha atenção. — Ainda está de pé, você está
de quatro pela loira e senhor... — Leva as mãos ao coração. —
Preciso conhecer a beldade que fez do meu melhor soldado, esse
cachorrinho.
Estreito os olhos na sua direção, porém, decido ignorá-lo. Sinto
meu celular vibrando no bolso do meu terno, pego o aparelho e vejo
que minha loira respondeu a mensagem. Desbloqueio a tela e abro
seu recado.

"Acabei de pousar em São Paulo, daqui duas semanas


estarei de volta. Também desejo ter uma noite legal como a que
tivemos, podemos marcar alguma coisa um dia desses, só que
dessa vez, eu escolho o lugar ;)
Com carinho, Nay."

"Espero que tenha chegado bem, estou ansioso para nosso


próximo encontro. Duas semanas é muito tempo… Consigo
convencer você a chegar antes?" — Nick.

Indago com um meio sorriso no rosto, alguns minutos depois sua


resposta chega.

"Infelizmente não, estou em outra filial de viagem. Só volto


para Cuba na próxima semana, precisaram de mim e não posso
recuar uma grana extra… Pode esperar por mim?"
— AI MEU DEUS! — Dreycon grita espantado e o olho curioso.
— Que cara de adolescente idiota e apaixonado é essa? — Aponta
na minha direção com os olhos arregalados e começa a dar passos
para trás. — Deus me livre, vai que é contagioso isso aí. Tô caindo
fora, vejo você depois Sr. Bolas Presas da Silva.
Dito isso, abre a porta e desliza rapidamente para fora do
escritório numa agilidade engraçada. Suas palavras me deixam sério
no mesmo segundo, volto a olhar as mensagens e reflito sobre
minhas ações ultimamente. Sei que pedi para que Nayara
continuasse ao meu lado, mas não estou apaixonado. Isso é tesão,
desejo reprimido e quando acabar cada um seguirá seu caminho.
Vejo seu sorriso através da foto do seu perfil e engulo em seco. É
impossível que eu esteja tendo sentimentos pela dona de um sorriso
tão lindo como esse... Dreycon só pode estar ficando maluco!
Ao longe, observo Levi em mais uma das suas intensas sessões
de fisioterapia. Dessa vez, a doutora havia proposto um exercício
diferente e o levou até uma área da clínica onde existe uma grande
piscina. Convencer meu irmão a entrar foi o mais complicado da
história, Levi discordou de cada palavra que a mulher disse e após
muito conversarmos, no fim, a contragosto acabou aceitando e lá
está ele, com a cara fechada, respondendo com apenas sim ou não
as perguntas da doutora.
Durante duas semanas, Naty tentou convencer Levi a começar
logo sua fisioterapia levando-a a sério, nosso irmão relutou muito,
mas no final conseguiu unir forças para começar a lutar. Naty era
quem o estava levando e buscando nas sessões, porém,
aparentemente ela teve um imprevisto que não quis explicar e
acabou me ligando, pedindo para que eu realizasse sua tarefa no dia
de hoje. Sai mais cedo da empresa, deixei algumas instruções para a
secretária e voltei para casa para trazê-lo até a clínica. Desde o dia
do acidente meu irmão preferiu ficar isolado no quarto, não saía e
nem queria conversar com ninguém. Decidi respeitar seu pedido e
me mantive relativamente afastado, claro, todos os dias eu vou até
seu quarto e lhe faço companhia, mesmo quando ele não quer.
Às vezes, contrariamos as pessoas apenas para fazermos o que
sabemos ser o melhor para ela, isso inclui encher seu saco. O
doutor, que realizou os exames disse que isso era normal em seu
quadro, faz parte da aceitação do paciente ficar recluso e que isso
pode muitas vezes prejudicar seu tratamento. Então toda a família
está lutando ao seu lado.
Não sei quanto tempo fico imerso em meus pensamentos, sou
despertado quando a doutora Gabriela se aproxima trazendo Levi em
sua cadeira de rodas. Ele está vestido e completamente seco,
apenas seus cabelos estão levemente molhados e bagunçados. Dou
um sorriso agradecendo seus cuidados e tomo posse da cadeira
enquanto me afasto em direção à saída.
— Nick? — Levi chama por mim e inclino a cabeça enquanto
continuo nos conduzindo. — Precisamos conversar.
Franzo o cenho ao ouvir sua frase e me surpreendo com sua
iniciativa.
— Claro — digo prontamente. — Vamos até o carro e lá
conversamos, certo?
Meu irmão movimenta sua cabeça em resposta e em silêncio
fazemos o caminho até o carro. Auxilio seus movimentos para
transferir seu corpo da cadeira até o banco do carro, inclino a
cadeira, caminho até a parte de trás e ajeito o objeto no porta malas.
Então, dou a volta no carro e me sento no banco do motorista. Giro a
chave na ignição, ligo o motor e dou partida, pronto para iniciar
nosso trajeto.
Confiro meu relógio de pulso ansioso pelo que acontecerá em
breve. Amanhã Nayara estará de volta em Cuba e poderemos matar
toda a saudade que essas duas longas semanas me causou,
conversamos todos os dias desde mensagens carinhosas até
ligações sensuais.
Durante o trajeto, percebo que estamos em silêncio durante
alguns longos minutos, dou espaço para que ele se sinta confortável
e possa dizer exatamente o que queria conversar e quando menos
espero, sua voz ecoa.
— Nick, eu quero ser transferido para continuar o tratamento em
Moscou.
Sua frase me pega de surpresa e freio o carro bruscamente
lançando meu corpo para frente. Arregalo os olhos com minha
atitude irresponsável e viro o rosto para saber sobre seu estado e o
vejo tão surpreso quanto eu.
— Você está bem? — questiono. — Como assim em Moscou? O
que você quer fazer em Moscou? Está ficando louco?
Não aceito muito bem sua revelação, ligo novamente o carro e
paro-o no primeiro lugar com vaga disponível.
— Na minha última consulta conversei com o médico. — Revela.
— Tenho uma casa em Moscou, preciso entrar em contato com uma
especialista que vive na região e posso contratar uma enfermeira
para me auxiliar caso tenha necessidade e pronto.
Fala simplesmente, como se isso esclarecesse todas as minhas
dúvidas e aflições.
— Não vou permitir que você vá sozinho, nesse estado, morar em
Moscou — declaro.
— Nick, não sou mais uma criança e não estou pedindo a sua
opinião. — Rosna com os olhos estreitos e inclina o corpo. — Tenho
dinheiro, a casa e meios de me comunicar com quem preciso, estou
apenas informando você sobre a minha decisão.
O encaro completamente incrédulo com suas palavras duras e
sem emoção. Levi não me encara em momento algum, seu maxilar
está travado e suas mãos fechadas com força.
— Pode pelo menos me dizer o motivo de querer abandonar sua
família, que está preocupada com você?
— Nick. — Finalmente olha nos meus olhos e vejo que os seus
estão marejados. — Estou apaixonado pela Naty — revela no
instante em que a primeira lágrima cai. — Não suporto mais ver a dor
em seus olhos e sei que em Moscou posso continuar o tratamento
sem fazê-la sofrer, sem fazer nenhum de vocês sofrerem.
Abro e fecho a boca diversas vezes, porém nenhum som escapa
por meus lábios. Não consigo ter outra reação que não seja encará-
lo profundamente, estou literalmente sem palavras.
Sua revelação me parece absurda demais para ser verdade.
Como assim ele poderia estar apaixonado pela nossa irmã mais
nova? Em que momento isso aconteceu e eu não estava presente?
Seus olhos claros brilham conforme mais lágrimas brotam em seu
rosto e mesmo sem conseguir acreditar completamente em suas
palavras, inclino meu corpo para frente o puxando para um forte
abraço. Nesse momento, Levi não precisa de alguém que julgue
suas escolhas, que diga que isso não é o certo, ele sabe
perfeitamente disso, por isso está sofrendo dessa forma.
Meu irmão conhece as consequências por trás de todas as suas
escolhas e sabe que, apenas por sentir o que sente, não será nem
um pouco fácil. Levi aumenta a pressão sobre o aperto do nosso
abraço e sinto seu corpo tremer enquanto mais lágrimas rolam por
sua face. Fecho os olhos com força, não há palavras para descrever
o que sentimos diante de toda essa situação, nem é o momento
certo, então apenas o abraço e em silêncio, lhe dou todo o apoio que
precisa.
A imagem dos nossos pais vem a minha mente, nossos pais
biológicos, e somente lembrar-me deles causa um incomodo na
garganta, lembro então dos nossos pais adotivos, de como eles
acolheram nossa família, como cuidaram de cada um de nós, nos
educaram e amaram. Isso seria uma grande decepção para eles?
Nesse momento estou sentado na minha cadeira de couro no
escritório, na minha mão direita um copo de vidro está com uma boa
quantidade de whisky, enquanto a outra está caída sobre minha
perna. Inclino levemente meu braço, levando o copo até meus lábios
para beber alguns goles. O líquido queima quando desce rasgando
por toda a extensão da minha garganta, comprimo os lábios tentando
sentir aquela sensação por mais alguns segundos quando ouço uma
batida na porta.
— Nick, como pôde concordar com essa idiotice? — Naty
questiona com os olhos marejados enquanto entra na sala. — Levi
me disse que você concordou em transferir seu tratamento para
Moscou. Sabe o quão fodidamente isso é longe?
Coloco lentamente o copo de vidro sobre a mesa de mogno, sem
pressa alguma em ter que iniciar essa conversa que promete ser
complicada demais e encaro seu rosto que está banhado por
lágrimas, seus lábios tremem ligeiramente, assim como suas mãos
que estão caídas ao lado do seu corpo.
Vê-la assim, nessa situação, ferida e aparentemente machucada,
preocupada com o bem-estar do meu irmão me causa um doloroso
aperto no peito. Consigo sentir sua dor, o desespero em seus olhos,
o medo e sua angústia profunda, todavia admitir que todos esses
sentimentos estão lutando entre si já que ela tem sentimentos
profundos pelo meu irmão, é demais para mim.
Desde que Levi me revelou seus sentimentos, de tarde, até o
momento, estou sem palavras diante dessa situação. Não sei como
agir ou o que dizer, não sei se apoio ou sou contra. A única coisa que
tenho certeza é que, Levi quer ir embora, e se essa é sua decisão
irei apoiá-lo nisso. Aceitei seu pedido e pela manhã farei alguns
telefonemas atrás da especialista que o doutor recomendou, irei
contratar alguns empregados, enfermeira particular e o que mais for
necessário para sua estadia na casa.
Mas agora, preciso lidar com os sentimentos do meu bem mais
precioso, da baby que prometi cuidar, proteger e que estava
cuidando para nunca sentir uma dor em seu coração.
— Ele tem mais chances de se recuperar mais rapidamente se for
e... — Tento começar a explicar o fato de ter concordado com a ideia,
porém, minha irmã corta minhas palavras.
— Corta essa, Nick! — fala me interrompendo. — Você não
aceitaria se fosse apenas isso. O que ele falou que te fez mudar de
opinião?
— Naty, Levi precisa ir, é melhor para ele e... — Novamente sou
interrompido por suas palavras ferozes.
— Caramba Dominic! — Xinga irritada. — Diga a verdade!
Sinto o sangue correndo rápido por minhas veias, meu coração
acelera freneticamente seus movimentos na medida em que não vejo
mais nada a não ser um borrão vermelho.
— Levi quer ir embora porque não aguenta mais ver tanta dor
refletida nos seus olhos. — Esbravejo aumentando o tom de voz. —
Quer a verdade? Pois bem, é por sua causa que ele quer ir embora.
— Me levanto fitando-a com intensidade. — Levi vai embora porque
está apaixonado por você e sabe o quão errado isso é!
As palavras disparam como uma bala feroz por meus lábios,
atingindo diretamente dentro do seu peito. Vejo seus lábios tremerem
à medida que sua mente vai absorvendo minhas palavras, seus
olhos afiados estão arregalados e vejo sinais de espanto em seus
traços faciais.
Engulo em seco quando nossos olhares se cruzam. Sim, minha
querida, eu sei sobre Levi. Pelo menos, a versão dele dessa insana e
proibida história de amor e apenas por vê-lo sofrendo como um
condenado, já me sinto mal com toda a sua situação.
Desviando o olhar, inclino os braços sobre a mesa de mogno e
respiro lentamente levando uma grande quantidade de oxigênio para
dentro dos meus pulmões. Iniciar uma conversa como essa, não é
nem um pouco fácil.
— Ele... Contou tudo a você?
Sua pergunta me faz erguer os olhos, voltando novamente a
encará-la. Absorvo suas palavras e mesmo sem ter certeza, deduzo
que existem muitas coisas omitidas por Levi. Sei que sua história
com Naty não é simplesmente um afeto sem fundamento, algo
aconteceu entre eles e essa parte, meu irmão não me revelou.
Sinto um incômodo na garganta quando imagino a proporção
desse segredo. Mil suposições passam por minha mente deixando-
me cada vez mais assustado e preocupado. Levi teria coragem de
dormir com nossa irmãzinha? Ele seria capaz de tocar em seu corpo
de uma forma tão íntima? Meus irmãos e até mesmo eu, não temos
muito pudor, entre quatro paredes somos indecifráveis e conhecendo
Levi como conheço, questiono mentalmente suas intenções com
Naty.
Ele teria a seduzido para que se deitasse com ele ou realmente
estão apaixonados? Mil perguntas silenciosas são feitas em menos
de dez segundos, apenas no instante em que desviei o olhar da
mesa, até onde Naty está.
— Algumas partes. — Sou sincero. — Explicou o motivo de
querer ir embora e sua participação que o levou a tomar tal decisão.
Levi não disse como tudo começou entre eles, não estava em
condições de dar muitas explicações, mesmo que eu estivesse
pedindo mentalmente. Mas revelou que havia algo entre eles, um
sentimento, uma tensão e sabe o quão errado isso é, portanto,
decidiu se afastar.
— Ele não pode simplesmente decidir ir embora e jogar toda a
culpa sobre mim — resmunga ainda com a face banhada por
lágrimas.
Percebo então, minha posição em toda essa situação. Não tenho
um posicionamento. Não tenho um veredito e isso me deixa
frustrado, mas ver minha menina e meu irmão sofrendo não é uma
coisa fácil.
Penso nos meus pais adotivos, o que eles pensarão sobre esse
relacionamento caso siga adiante. Será que eles vão apoiar a
decisão dos dois? Sinceramente, não faço a menor ideia. Preciso
pensar não apenas nesses sentimentos, mas no bem-estar de Levi.
— Não há o que discutir. — Dou de ombros. — A decisão já está
tomada e em poucos dias, Levi, estará partindo por tempo
indeterminado.
Sei a distância que teremos que enfrentar. Sair de Cuba, lugar
onde estamos morando, para ir viver num lugar diferente, em
Moscou, não será fácil para nenhum de nós. Mas ele está certo, as
chances de melhorar rapidamente aumentam de proporção se ele for
tratado ao lado da especialista daquela região.
Naty caminha lentamente até ficar exatamente na frente da minha
mesa de trabalho e com as costas da mão tenta limpar algumas
lágrimas.
— Nick, não o deixe ir, eu te peço, por favor.
Demoradamente, levanto da cadeira em que estive descansando
por algumas horas e quando estou completamente de pé, fito seus
olhos com muita atenção e carinho. Não sou eu que estou tomando
essas decisões, estou apenas apoiando-o e continuarei. Preciso ser,
pela primeira vez, duro e sucinto com minhas palavras, não existem
meios termos nessa discussão.
— Se você o ama, como suspeito. — Dou uma pausa. — O
deixará livre para tomar suas decisões.
Dito isso, contorno seu corpo e começo a caminhar em direção a
saída do escritório, preciso pensar um pouco. Preciso de ar fresco,
mais uma bebida e talvez, ligar para certa loirinha que vêm rondando
meus pensamentos.
Depois de tomar um longo banho, fazer um lanche muito
agradável e nem um pouco saudável, concluir algumas pendências
na empresa e resolver alguns problemas para que Levi possa
embarcar na sua nova e intensa jornada.
Estou sentado numa poltrona que fica de frente para a janela. A
vista diante dos meus olhos é deslumbrante. As estrelas cintilam no
céu azul escuro o deixando ainda mais belo, a Lua brilha tão
intensamente como apenas ela consegue e mais abaixo, ao alcance
das minhas mãos, posso vislumbrar as árvores, rosas, o lago, tudo
que a natureza consegue criar. Aguçando meus sentidos consigo
sentir o cheiro da grama molhada após a pequena garoa que teve
durante o anoitecer, ouço o som de corujas, grilos e até mesmo o
motor do avião que sobrevoa a casa nesse momento.
Com o celular nas mãos, sinto meus dedos coçando para poder
apertar a tecla, ativar o botão "ligar" e ter coragem o suficiente para
conversar com Nayara. Sinto que, para a noite ser ainda mais
perfeita, preciso dizer, ao menos, "boa noite" para a minha loira
favorita. Essas semanas sem ela, causam um mal estar enorme.
Admito que preciso da sua presença, seu sorriso, de seu corpo...
Franzo o cenho pensando o quanto estou fissurado e como acabei
me acostumando com sua presença. Talvez eu esteja mesmo de
quatro por essa loira…
— Vamos, Dominic — resmungo. — Tenha coragem, você é ou
não é um homem?!
Olho novamente as horas confirmando que são somente sete
horas da noite e a diferença entre São Paulo e Cuba é apenas de
uma hora. Por impulso, aperto o botão causando o início imediato da
chamada e quando percebo o que fiz arregalo os olhos. Quando
penso em desligar percebo uma coisa, chamou uma, duas, três,
quatro vezes e ela ainda não atendeu. O que Nayara estará fazendo
às sete horas da noite? Ela está tão ocupada que não pode sequer
atender ao meu telefonema?
Antes que eu consiga terminar de fazer dezenas de perguntas, a
ligação é aceita. Por alguns segundos não consigo respirar, a
ansiedade de ouvir sua voz causa um sopro a mais em meu coração.
— Serviço de encanamento, Heitor, pode falar. — Uma voz
masculina ecoa por meus ouvidos e antes que eu possa protestar
ouço uma voz suave ao fundo. — Heitor, o que você está fazendo?
Infeliz você está com meu celular? — A voz de Nayara vai ficando
mais presente. — Vai colocar outra camiseta, essa está toda
molhada. — Ouço alguns ruídos. — Alô, quem é?
Não consigo formular nenhuma palavra, em silêncio procuro
respostas para essas perguntas. Esse nome é muito familiar e em
poucos segundos consigo lembrar quando foi que o escutei. Quando
estava bêbado, na casa da Nayara, ela estava no telefone com esse
mesmo homem. Quando perguntei quem era, respondeu que era
apenas um amigo e agora eles estavam juntos?
A forma como ele atendeu ao telefone, rindo, brincando e a forma
como estavam conversando. Eles não parecem ser apenas amigos.
Ele havia atendido ao telefone dela e como diabos a camiseta dele
estava molhada?! O que mais está molhado entre os dois?!
— Liguei para fazer companhia, — falo ríspido — mas parece que
você já tem alguém — digo com desgosto.
— Nick?
— Boa noite.
Encerro a ligação sem ao menos esperar sua resposta e movido
por um impulso furioso, inclino o braço jogando brutalmente o celular
contra a parede do quarto. O aparelho acerta em cheio o concreto e
se estilhaça em diversos pedaços.
— Mas que merda!
Capítulo 21
Nayara Monteiro

— Posso perguntar o que você está fazendo aqui?


Minha colega conseguiu organizar suas pendências e finalmente
posso voltar para a minha linha aérea São Paulo/Cuba, estou mesmo
precisando voltar para casa, pôr minhas emoções em dia. Antes de
partir resolvo visitar meu amigo, porém quem me atende é sua irmã
Drika, sinto que ela me odeia e a mesma me analisa com os olhos
estreitos assim que a porta da casa é aberta e ela percebe quem é.
Dou um meio sorriso, pronta para aguentar mais uma das suas
crises.
— Olá, Drika. — Coloco as mãos uma de cada lado da cintura. —
Seu irmão está em casa? — Questiono mesmo sabendo a resposta.
Não faz nem vinte minutos desde que liguei para Heitor e confirmei
de passar em sua casa para irmos juntos para o meu apartamento.
Havia acabado de escapar de um almoço na casa da minha mãe
e queria finalizar o dia comendo chocolate ao lado do melhor
companheiro que possuo.
Para a minha sorte, Heitor, não estava de plantão no hospital e
como sou muito persuasiva o convenci a passar a noite lado a lado
comigo. E aqui estou, parada do lado de fora do seu apartamento,
esperando a boa vontade da sua irmã para ir chamá-lo.
— Sabe que eu não sei? — Em seus lábios, um bico surge. —
Heitor está ocupado.
Sua resposta me surpreende e sua atitude a seguir me deixa
ainda mais intrigada.
— Entre. — Abre espaço para que eu passe. — Ele está
concertando o chuveiro do segundo andar, vai lá chamar ele.
Em seguida, Drika, me dá as costas e some em seu apartamento.
Um pouco contrariada, deslizo para dentro do cômodo e faço como
ela indicou, subo as escadas em direção ao segundo andar e cruzo o
corredor em direção ao banheiro.
A porta está entreaberta, portanto, não me preocupo em bater ou
anunciar minha presença, apenas a empurro entrando logo em
seguida. A cena na minha frente me deixa surpresa, Heitor está
parado, com a camisa toda molhada, olhando fixamente para uma
garota que provavelmente tem a mesma idade que sua irmã mais
nova.
A jovem está com apenas uma toalha branca como a neve
cobrindo seu corpo, seus olhos estão estreitos e os dois estão perto
demais.
— Opa... — Balbucio, constrangida. — Estou interrompendo
algo?
No segundo em que minha voz ecoa pela extensão do banheiro,
Heitor se vira ficando frente a frente, em seus olhos vejo um misto de
surpresa e confusão e vê-lo tão assustado me faz recuar um passo.
— Nayara?! — profere surpreso. — Não está interrompendo nada
não. Espere-me na sala, vou trocar de blusa e já saímos.
Dito isso, meu amigo parte saindo do banheiro furioso. Por alguns
segundos fico imóvel observando seus passos raivosos pelo
corredor, quando me recupero dou um sorriso de canto para a jovem
e saio, porém, sendo diferente e caminho em direção à sala.
Fico durante alguns minutos, sentada no sofá, à sua espera e em
silêncio observo um discreto porta-retratos que fica na cômoda ao
lado do sofá. Na foto, vejo Heitor abraçando sua irmã, enquanto
Drika está com um pequeno cachorro em seus braços. Em seus
lábios, um sorriso carinhoso está presente, sua marca registrada,
seu carinho, sua atenção.
Depois de alguns minutos ouço os passos rápidos de Heitor
descendo as escadas, ergo o olhar encontrando-o no último degrau e
sorrio quando nossos olhos se encontram por alguns segundos,
enquanto ele caminha na direção da cozinha.
— Vou pegar as chaves do carro e já podemos ir. — Exclama
meneando levemente a cabeça e desaparecendo ao ultrapassar os
limites da sala, entrando assim na cozinha.
— Estou me sentindo em casa! — Brinco.
Em poucos segundos retorna para onde estou, observo-o
discretamente. Heitor está usando uma camiseta polo vinho de
manga comprida, uma calça jeans preta levemente folgada e uma
blusa de frio esportiva. Percebo que seu cabelo dourado está
levemente molhado, está arrepiado e bagunçado o que significa que
ele não se preocupou em gastar alguns segundos penteando seus
cabelos.
Em pouco tempo, saímos do seu apartamento, descemos
conversando até o estacionamento e continuamos brincando durante
todo o trajeto até chegarmos à minha casa. Nosso caminho é
tranquilo, trocamos palavras carinhosas e conversamos sobre o que
havíamos feito nos últimos dias.
Lentamente e com muito cuidado, retiro a forma de bolo que
havia feito de dentro do forno, com um par de luvas nas mãos, inclino
o corpo colocando a forma em cima da pia onde pretendo deixá-la
para esfriar, por alguns minutos, até poder desenformar e poder
finalmente me deliciar desses pedaços maravilhosos. Pego o celular
e olhando as mensagens vejo que já avisei ao Nick que amanhã
estarei retornando a Cuba. A ansiedade está acabando comigo, já
se passaram duas semanas desde que o vi…
— Já arrumei seu chuveiro, madame. — Heitor diz passando as
costas da mão em seu rosto assim que entra na cozinha. — O que
ainda falta? — Jogo as luvas sobre a bancada, enquanto giro o corpo
fitando seus olhos. Observo como sua camiseta polo abraça
perfeitamente seu corpo, deixando em evidência todos os seus
músculos.
No mesmo momento os olhos de Dominic vêm aos meus
pensamentos, sua pele levemente bronzeada, seus lábios
convidativos, seus olhos sedutores, suas carícias... Pisco os olhos
algumas vezes para afastar os pensamentos impróprios.
— Bom, senhor encanador. — Brinco. — O cano da pia também
está necessitando de cuidados especiais.
— Já pensou em conversar com o síndico do prédio? — Estreita
os olhos enquanto caminha para o centro da cozinha. — Percebeu
que sempre tem algo para ser reparado?
Confirmo com um movimento de cabeça, cruzo os braços e por
instinto mordo o lábio inferior pensando em sua sugestão.
— Pensei, porém, aquele velho é um pão duro explorador e
provavelmente vai querer cobrar uma fortuna para arrumar —
resmungo fazendo uma careta de desgosto.
Meu encanador pessoal coloca uma pequena caixa de
ferramentas em cima do balcão ao meu lado e inclina o corpo para
começar a examinar mais um dos meus problemas de encanamento
e cubro a boca com a palma da mão para esconder um sorriso.
— Já pensou em trabalhar como encanador?
Minhas palavras atraem seu olhar e antes que ele possa falar
qualquer outra coisa, a torneira cai ligeiramente para o lado e uma
enxurrada de água começa a espirrar para todos os lados. Um grito
escapa por meus lábios por causa do susto e recuo um passo para
trás vendo Heitor começar a brigar inutilmente com a torneira para
conter toda a água enquanto observo tudo de longe.
— Fecha o registro! — Pede alto por conta do barulho.
Começo a caminhar em direção à lavanderia do apartamento, o
registro fica ao lado da máquina, um lugar prático e observando
agora, longe demais caso ocorra algum problema. Fecho o registro
girando com um pouco de dificuldade e quando consigo, respiro
profundamente, sentindo um alívio tomar conta do meu corpo.
A noite que eu e Nick estivemos juntos volta com tudo à minha
mente, juntamente com a lembrança, um sentimento avassalador
toma conta do meu peito. Sem conseguir compreender o furacão que
se passa dentro de mim decido voltar à cozinha e ver o estrago que
fora feito, graças ao meu encanador.
Antes que eu possa entrar completamente na cozinha, ouço-o
falar com alguém.
— Serviço de encanamento, Heitor, pode falar.
Estreito os olhos, confusa com suas palavras, porém, quando
passo da porta o vejo com meu celular na mão falando com alguém
com um sorriso travesso no rosto.
— Heitor, o que você está fazendo? — indago. — Infeliz, você
está com meu celular? — Rosno caminhando em sua direção e
estendo a mão para que me entregue meu aparelho. — Vai colocar
outra camiseta, essa está toda molhada. — Ordeno olhando em seus
olhos.
— Alô, quem é? — questiono sem olhar o visor do aparelho, a
linha fica muda durante alguns minutos, posso ouvir somente uma
respiração lenta.
— Liguei para fazer companhia. — A voz de Dominic soa ríspida.
— Mas, parece que você já tem. — Rosna com desgosto e franzo o
cenho, confusa, com sua atitude.
— Nick?!
— Boa noite.
Então, antes que eu consiga abrir a boca para protestar ouço um
bip informando que a ligação havia sido encerrada. Encaro o
aparelho, completamente confusa com sua reação, estamos
conversando por mensagem há quinze dias, e ele me parecia
normal. Mas, de repente algo de errado parece ter acontecido, ele
está agindo estranho. Neste momento aperto o celular entre os
dedos antes de entender, estou confusa com sua reação, decido
retornar a ligação para descobrir que bicho o mordeu, porém, a
ligação cai na caixa postal. Depois de cinco tentativas falhas, bufo
irritada e decido deixar de lado. Se ele está irritado o melhor a se
fazer é dar espaço para que se acalme.
Enquanto Heitor está no quarto de hóspedes se trocando,
caminho até o meu, pronta para tomar um novo banho, trocar minha
roupa que está encharcada e relaxar um pouquinho. Durante o
banho, as palavras de Dominic vêm a minha mente, ele parecia estar
com ciúmes, mas de quem? Do Heitor? Só por que ele atendeu ao
telefone? E ele não havia dito nada demais, apenas fez aquela
brincadeirinha sobre ser encanador. Após muito pensar, concluo que
Dominic sofre de bipolaridade e isso não deve fazer muito bem a sua
saúde.
Depois de terminar o banho, me vestir com um uma roupa
confortável, caminho até a cozinha para terminar de preparar o bolo.
O retiro lentamente de dentro da forma e começo a preparar sua
cobertura que será de chocolate, separo todos os ingredientes
necessários e inicio os preparativos. Assim que começa a engrossar,
desligo o fogo e espero uns minutos, despejo com cuidado sobre o
bolo e não resisto ao pegar um pouco da panela para provar.
— Esse cheiro está delicioso.
Ouço sua voz e pelo canto dos olhos o vejo encostado na parede,
ao lado da porta.
— É meu perfume novo. — Brinco piscando um olho. — Quer
provar?
A cobertura já está fria e prontinha para ser provada. Heitor
confirma enquanto caminha até parar ao meu lado, entrego uma
colher para que experimente. Ele leva até seus lábios e lentamente
passa a língua por toda a extensão da colher.
— Está muito gostosa — diz olhando dentro dos meus olhos. —
Só você mesmo para fazer uma cobertura tão boa.
Sinto minhas bochechas queimando com a ideia de suas palavras
terem um duplo sentido e desvio o olhar, contorno seu corpo indo em
direção a pia, entretanto, Heitor segura meu braço me puxando
contra seu corpo e leva um dedo em direção ao meu nariz, sujando-o
com a cobertura. Então, recua um passo para trás sorrindo como
uma criança que acabou de aprontar.
— Não acredito que fez isso! — exclamo surpresa, melo a ponta
do dedo e corro na sua direção como um leão em busca da sua
presa. Heitor sai correndo da cozinha e sigo seus passos até
estarmos na sala, pronta para alcançá-lo, acabo tropeçando no
tapete e antes que meu corpo se espatifasse no chão, seus braços
circulam minha cintura, amparando meu corpo.
Lentamente, levanto a cabeça buscando seus olhos que estão
fixos olhando diretamente para os meus. Nossos rostos estão muito
próximos, nossos lábios estão perto demais para minha sanidade
mental e posso sentir sua respiração batendo contra meu rosto.
— Peguei você.
À medida que seu rosto se inclina, avançando lentamente em
direção aos meus lábios, sinto meu coração acelerando
constantemente seus batimentos, já não controlo minha respiração
que está irregular e de repente, um alerta vermelho ecoa diversas
vezes dentro da minha cabeça.
Sem saber como explicar, dou um passo rápido para trás,
afastando brutamente nossos corpos, afastando meu corpo do seu
toque como se seu contato físico conseguisse me queimar
gravemente. Heitor franze o cenho surpreso com minha atitude
repentina e inesperada, demora alguns segundos para que eu
consiga absorver o que acabei de fazer, mas quando a realidade
bate à porta arregalo os olhos.
Eu realmente havia fugido do seu toque? Seu olhar curioso busca
meus olhos tentando encontrar alguma explicação, todavia, nem eu
mesma sei dizer o porquê da minha reação. Desde quando viramos
amigos coloridos, sempre foi normal trocarmos carícias mais íntimas,
nunca um clima estranho pairou sobre nós como o que surgiu nesse
exato segundo.
— Quer um pedaço de bolo? — questiono desviando o olhar,
limpo a garganta e esse movimento causa um ruído baixinho, quase
imperceptível.
Em resposta, ele apenas diz que sim e caminhamos separados
até a cozinha onde pego dois pedaços para cada um, preparo um
suco de uva e então, em silêncio, sentamos a mesa para podermos
nos deliciar.
Quando terminamos de comer, decidimos assistir uma série que
havíamos começado há uns meses atrás, porém, por causa da falta
de tempo, não conseguimos finalizar. Conecto a Netflix na televisão e
fazemos maratona de The 100. Quando a série começou, devo
confessar que faço parte do um por cento da população que shippa a
Clark com o Bellamy.
Assim que o relógio bate dez e meia, levanto-me começando a
me arrumar para que onze e quarenta eu esteja pronta, já no
aeroporto para voltar para Cuba. Após um longo banho e um café
para recarregar as energias, finalmente estava pronta para sair.
Heitor insistiu em me dar carona, porém ele precisava ir correndo
para o hospital, pois surgiu uma emergência envolvendo uma
paciente. Quando o relógio bate onze horas e quarenta minutos eu já
estou na entrada do aeroporto.
— Senhores passageiros, por favor, apertem seus cintos, em
breve estaremos pousando sobre o aeroporto de Cienfuegos. — A
voz de John ecoa pelos alto-falantes do avião avisando sobre nosso
pouso.
Às oito horas da manhã o avião chega em "terra firme" e todos os
passageiros podem descer. Assim que o último homem desce caço
meu aparelho celular dentro do bolso e pela vigésima vez, constato
que Nick não havia me mandado mensagem ou ao menos se
preocupou em responder o bom dia que eu havia mandado. Estamos
desde a sua ligação na noite passada sem nos comunicar. Perceber
sua indiferença em relação a mim me deixa aflita e muito chateada,
estávamos tão bem antes da ligação de ontem à noite e agora
parece que existe um abismo profundo entre a gente. Mentalmente
conto todas as ligações que havia feito para seu celular, porém,
nenhuma havia sido retornada, sinto um arrepio passar por minha
coluna e fico preocupada.
Será que algo grave aconteceu?
Meus dedos coçam para ligar novamente, engolindo todo o meu
cruel orgulho, inicio outra chamada, porém, como em todas as outras
tentativas, a ligação cai na caixa postal e decido gravar uma
mensagem.
— Oie Nick, tudo bem? — sussurro descendo do avião. — Deve
estar ocupado, não respondeu minhas mensagens, mas espero que
esteja bem... — Engulo em seco ao perceber que não sei mais o que
falar. — Estou preocupada com você. — Passo pela área de
desembarque. — Quando ouvir a mensagem, me liga, viu? — Dou
uma pausa. — Beijos.
Encerro a chamada e por longos minutos fico encarando a tela
escura do celular. Fico à espera de algum milagre, como se ele fosse
ouvir a mensagem nesse segundo e já fosse atender meu pedido,
mas para minha infelicidade, isso não acontece.
Saio do aeroporto Cienfuegos, pego o primeiro táxi que aparece
na rua e indico o endereço do meu apartamento. Estou esgotada
fisicamente, quero apenas chegar em casa, tomar um banho
quentinho e relaxante e descansar por algumas horas.
Quando o carro para diante do prédio em que vivo, pago o
motorista e após agradecer saio deste, começando a caminhar para
a entrada. De longe observo o senhor Durval, o porteiro, trocamos
um breve cumprimento e antes que eu entre no elevador ele chama
minha atenção.
— Espere, menina Nayara!
Cesso meus movimentos enquanto giro o corpo na sua direção e
o vejo correndo até mim.
— Menina Nayara, um moço todo bem vestido subiu nesse
instante atrás da senhorita. — Revela e franzo o cenho surpresa. —
De terno caro, carrão de luxo, simpático e elegante.
Por um momento penso que a pessoa seria Dominic, porém
quando ouço a palavra, simpático, descarto essa possibilidade. Nick
não é muito simpático com as pessoas, ele é todo sério e reservado,
então não faço a menor ideia de quem é a pessoa que pode estar a
minha espera. E além disso os dois se conhecem, já que Nick é o
dono do edifício
— Ele não disse o nome, senhor Durval? — questiono intrigada.
— Não, disse que era um amigo e que a senhorita estava à
espera dele. — Dá uma pausa. — Eu já o vi subindo algumas vezes,
é um visitante frequente aqui no prédio e devido a isso permiti sua
entrada.
Pondero suas palavras.
— Tudo bem, vou ver de quem se trata, — suspiro voltando a
caminhar — obrigada!
Entro no elevador que a todo o momento ficou impedido de fechar
as portas e encosto a cabeça no metal gelado. Quem será que está
atrás de mim agora? Abro os olhos quando a porta é aberta e me
surpreendo quando um par de olhos claros invade meu campo de
visão.
Realmente, Nick não é tão simpático quanto seu irmão Rafael,
que está parado na minha frente. Exatamente como o porteiro disse,
Rafael está usando um terno cinza muito elegante e fino, quem não
conhece pode achá-lo engomadinho, porém, é só olhar dentro dos
seus olhos para perceber o quão brincalhão e matreiro ele pode ser.
Seu braço esquerdo está esticado na parede ao lado da porta, já
o direito está a sua frente enquanto digita algo com o celular que
está em sua mão e então, seu olhar sobe e se encontra com os
meus.
O que ele está fazendo aqui? Meu Deus, aconteceu algo com
Nick?
Mil perguntas passam por minha mente, sinto meu coração se
apertando cruelmente dentro do peito e já não consigo mais respirar,
a falta de ar parece me sufocar mais intensamente.
— Rafael.
Sopro com muito esforço após longos minutos num silêncio
crucial, em reposta Rafael dá um passo para o lado deixando espaço
para que eu consiga passar e então vejo sua face ficar tensionada.
— Precisamos conversar, Loirinha.
Num silêncio cortante cruzamos todo o corredor, até pararmos na
frente da porta do meu apartamento. Após procurar as chaves dentro
da bolsa, coloco-a na tranca girando-a rapidamente, percebo que
minhas mãos estão trêmulas no segundo em que entro sendo
seguida, segundos depois, por Rafael que acompanha meus passos.
Coloco minha bolsa marrom de viagem em cima da mesinha de
centro assim que entramos na sala e viro-me pronta para iniciar seja
lá qual for tal conversa.
Ver seus olhos azuis abaixados me faz questionar mentalmente o
assunto. Suas mãos estão escondidas no bolso, sua cabeça, que
antes estava abaixada se ergue, seus olhos encontram os meus e
perco o fôlego ao vê-lo com uma expressão séria no rosto. Seu
maxilar está contraído e em sua testa vejo algumas linhas de
nervosismo, comprovando minha teoria, Rafael inclina lentamente o
braço ao passar a mão em seus cabelos deixando os fios
desalinhados.
— Aceita um copo d'água ou um suco? — questiono tentando
disfarçar o nervosismo que percorre minha pele. — Rafael,
aconteceu alguma coisa com o Nick? É por causa dele que você está
aqui?
Meu coração se aperta dolorosamente dentro do peito na medida
em que suas batidas começam a falhar, quando seus olhos desviam
dos meus minha respiração fica presa na garganta, então fico em
silêncio, agoniada, esperando sua resposta.
— Água, por favor. — Pede. — Não aconteceu nada sério com
meu irmão, mas sim, é justamente por causa dele que estou aqui.
Afirmo num movimento lento com a cabeça, enquanto começo a
caminhar em direção à cozinha. Em poucos minutos coloco água em
um copo de vidro e retorno encontrando-o sentado no sofá. Sua face
está ligeiramente pensativa e quando percebe minha presença dá
um meio sorriso enquanto inclina seu corpo para apanhar o copo.
— Diga-me, o que está acontecendo com seu irmão? — Não
consigo disfarçar minha ansiedade e já vou logo perguntando na lata
o que desejo saber.
Rafael bebe todo o conteúdo do copo em questão de segundos e
me entrega de volta. Sem querer adiar mais a conversa, coloco o
copo sobre a mesinha de centro e me sento ao seu lado esperando
que inicie o assunto.
— Nayara, posso lhe fazer uma pergunta? — questiona e em
resposta afirmo com a cabeça. — Você e o Nick, estão juntos?
Sua pergunta me pega totalmente de surpresa. Remexo-me no
sofá tentando encontrar uma posição confortável e após refletir
durante alguns segundos, respondo sua pergunta.
— Não existe exatamente um rótulo para definir o que temos. —
Sou sincera. — Mas, sim, estamos juntos de certa forma. — Dou
uma pausa. — O que isso tem a ver?
— Nay, não sou de fazer rodeios então irei diretamente ao ponto.
— Pontua inclinando o corpo para frente. — Preciso saber o que
você realmente sente pelo meu irmão, porque se essa situação entre
os dois continuar, ambos poderão se machucar profundamente. —
Dá uma pausa. — Como irmão dele, eu não posso deixá-lo se
machucar novamente.
Franzo o cenho, confusa, com suas palavras, não consigo
absorver tudo e parece que perdi algum detalhe importante sobre
essa história. Pela forma que ele fala, parece que estou fazendo
algum mal ao Nick, mas isso não está acontecendo, pelo menos não
que eu saiba e outro detalhe me vem à mente. Como assim "se
machucar novamente"?
Dominic chegou a comentar algumas vezes que seu passado
havia sido conturbado, que possuía feridas profundas que não
conseguiu cicatrizar completamente, mas nunca revelou que sua
ferida sucedia de uma paixão que ficou no passado. Será que esse é
o verdadeiro motivo da sua mudança repentina de humor? Esse é o
segredo que ele esteve escondendo durante todo esse tempo? Um
trauma que surgiu de um caso amoroso?
— Por favor, seja mais claro. — Peço. — Não estamos em
nenhuma "situação", estamos bem, ou melhor, estávamos bem... —
Lembro-me da ligação na noite anterior. — Até a noite passada
estava tudo bem e me explica direito essa parte do "se machucar
novamente"...
Minhas palavras parecem pegá-lo de surpresa, pois franze o
cenho ligeiramente confuso e inclina o corpo para trás, cruza os
braços e fica em silêncio por alguns segundos, aparentemente
refletindo sobre tudo.
— Ontem à noite cheguei em casa e encontrei Dominic
descontrolado, ele havia destruído todo o quarto, quebrou o telefone,
jogando tudo pelos ares e estava xingado aos quatro ventos. —
Declara deixando-me surpresa. — Quando perguntei o motivo, disse
que você havia o traído, que estava com outro homem e que se você
não se importava com ele, também não deveria se importar com
você. Que sempre que se permitia amar alguém, essa pessoa o
traía, o machucando pelas costas.
Levanto num sobressalto do sofá absolutamente revoltada com
suas palavras, nada disso faz sentido para mim. Fecho os olhos
lembrando-me das poucas palavras que trocamos brevemente pelo
celular. Nick estava calmo, ignorante e bruto, porém, calmo como um
monge e agora Rafael vem me dizer que baixou o santo que o fez
sair destruindo tudo?
Alguma coisa está muito errada nessa conversa. Isso não faz o
menor cabimento, passamos uma noite maravilhosa à beira mar e
agora Dominic acha que estou saindo por aí dormindo com qualquer
um? Antes, dormia com quem desejava porque não estava amarrada
a ninguém, agora não, agora o tenho, como poderia traí-lo? Trair sua
confiança, quando ele mesmo foi sincero ao dizer o que a atendente
havia dito.
— Isso é um mal-entendido. — Afirmo com veemência. — Ontem
à noite estava realmente com um homem na minha casa, mas ele é
um amigo de muitos anos, não vou negar, já dormimos muitas vezes
juntos, mas desde que me aproximei do Nick, não tenho dormido
com qualquer outro homem. — Explico. — Nick me ligou, porém,
meu amigo foi quem atendeu. Peguei o celular dele, mas seu irmão
nem me deixou dizer nada, falou poucas palavras e desligou na
minha cara.
Analisando o ocorrido, Nick realmente pode ter ficado com
ciúmes do Heitor, pode ter ouvido alguma parte da nossa conversa e
por brincarmos acabou entendendo tudo da maneira errada. Por
outro lado, um sentimento bom se apossa de mim. Dominic tem
ciúmes, significa que ele se importa comigo e sente algo.
Só preciso explicar tudo e mostrar que ele está agindo como um
idiota. Que precisa confiar em mim, que não sou uma, qualquer, que
sai dormindo com qualquer homem que arrisca uma cantada.
— De qualquer forma, Dominic não pensou por esse lado. —
Comenta. — Nick ligou, um outro homem atendeu e estava na sua
casa com você, os dois aparentemente sozinhos. — Dá de ombros.
— Até eu ficaria com ciúmes e levando em consideração o passado
dele…
— Mas não aconteceu nada. — Bufo passando as mãos no
cabelo. — Heitor tentou roubar um beijo, porém, me afastei na
mesma hora exatamente por estar envolvida com Nick. E como
assim, levando em consideração o passado dele?
Rafael ergue o olhar pedindo silenciosamente para que eu
mantenha a calma, respiro profundamente e tentando manter o
controle, volto a me sentar ao seu lado.
— Não sei se você percebeu, mas é importante para o meu
irmão. Acho que nenhum dos dois percebeu. Mas, ambos estão
apaixonados um pelo outro. — Rafael desvia o olhar. — Nick odeia
conflito, porém perde facilmente o controle. Para ele, briga é
sinônimo de desastre, para meu irmão, um briga por mínima que seja
acarreta o caos. — Faz uma pausa. — Meu irmão tenta ao máximo
ser correto, aconteceu algo em seu passado que o quebrou de uma
forma que sequer imagina, confiou em uma mulher que o traiu e por
causa de uma briga ele acabou perdendo tudo o que amava.
— Preciso ir até ele, explicar o que aconteceu — digo
determinada.
Dominic pode ter recusado minhas mensagens e ligações, mas
derrubo aquele portão, muro e sua porta da frente para falar com ele.
De qualquer forma vai me atender, nem que eu tenha que sair
derrubando tudo, ele irá me ouvir.
— Sim, você fará isso, mas antes, preciso contar a você uma
coisa sobre seu passado. — Seu tom de voz se torna mais forte e
rouco, deixando-me levemente aflita. — Sei que não deveria estar
aqui, se Serena não tivesse me contado da sua volta eu jamais
conseguiria contar o que pretendo, mas você precisa conhecer os
fantasmas que rodeiam meu irmão, para que entenda o motivo dele
ficar tão descontrolado por acreditar que você estava com outro.
Fico em silêncio, atenta a suas palavras e deixo-o continuar a
falar.
— Há cinco anos Dominic conheceu uma mulher, eles eram
perfeitos um para o outro, combinavam e se davam muito bem. —
Revela calmamente. — Um dia, Nick descobriu que sua amada
estava o traindo com outro homem. Nick ficou furioso e quis terminar,
porém ela alegou que estava grávida dele, nossos pais o
aconselharam a esperar o nascimento da criança para poder realizar
o exame de paternidade, para somente então se casar, mas no fundo
Nick sabia que era dele. — Dá uma pausa e mentalmente imagino
Dominic como um homem de família, tendo um filho. — Antes que
ela atingisse o quinto mês de gestação as brigas começaram,
qualquer assunto leve se tornava uma tempestade devastadora.
Achávamos que era uma pequena e conturbada fase e que em
breve, quando a criança nascesse, eles iriam se reconciliar. — Faz
silêncio por alguns segundos. — Um dia, estava saindo do trabalho
quando ele me ligou desesperado. Durante uma nova briga ele havia
perdido o controle, ambos estavam no alto da escada e após
trocarem palavras duras, disse que iria embora daquela casa, que
não aguentava mais todas as brigas e discussões, — dá outra pausa
tomar fôlego — ela começou a chorar, no fundo não queria que tudo
acabasse, acabou se desequilibrando e rolando escada abaixo. —
Suas palavras me fazem entreabrir os lábios, surpresa. — Nick
perdeu seu filho naquele dia e o pior de tudo, ela culpou meu irmão
pela perda do neném, pelo fim do relacionamento, pelas brigas e por
trabalhar muito, deixando-a saturada e sem atenção. Ela
simplesmente jogou tudo nas costas dele e meu irmão não pensou
duas vezes antes de aceitar, amargurado, devastado.
Rafael relata toda a história com calma e paciência, quando
finalmente chega ao fim sinto um aperto ruim dentro do peito. A
história do Dominic é dura, cruel demais para ter que suportar e
ainda assim, quando estamos juntos o vejo exibir um sorriso tão
gracioso e genuíno. Quanta dor não está escondida em seu peito?
— Isso... Isso é horrível — sussurro. — Mas, ele não a empurrou,
não bateu nela, não é? Não pode se culpar, Nick não teve culpa, foi
tudo um acidente.
— Nick nunca machucou uma mulher, — fala convicto — nem
machucaria, presenciei uma vez ele socando a parede quando
brigou seriamente com sua antiga companheira, chegou a quebrar o
pulso, mas nunca tocou num fio de cabelo sequer de uma mulher,
mesmo quando estava com muita raiva. — Revela. — Mas, mesmo
não sendo o culpado, se culpa por ter causado o acidente. — Dá
uma pausa. — Já deve ter percebido isso, já chegaram a brigar e
você sem querer chorou e ele recuou? — indaga. — Nick se culpa
amargamente pelo que ocorreu, pelo fato de não ter conseguido
impedir tudo o que aconteceu naquela noite.
Novamente me levanto do sofá, dessa vez caminho até a
cozinha, pego um copo de água para conseguir absorver todas as
suas palavras. Lembro quando brigamos por causa dos pais do Nick,
fiquei descontrolada e acabei não contendo o choro, no mesmo
segundo ele se afastou, ficou preocupado e tentou me acalmar.
Esse é o segredo dele, um dos seus fantasmas, a verdade sobre
sua ferida. Dominic havia perdido um filho, antes mesmo de poder
pegá-lo no colo e se culpava por isso. Todos, temos demônios
interiores, algum monstro feroz que precisamos enfrentar, mas Nick
não precisa fazer isso sozinho, estou aqui para ajudá-lo.
— Rafa, gosto profundamente do seu irmão. — Afirmo quando
retorno à sala. — Se para tê-lo, terei que conviver com seus
demônios, que assim seja. Irei ajudá-lo a enfrentar seus medos, ele
não precisa passar por tudo sozinho e a menos que tenha mais
alguma coisa importante para me contar, precisamos vê-lo
imediatamente!
Depois que descobri sobre o passado do Nick, senti a
necessidade de encontrá-lo e esclarecer toda a confusão em que
havia me enfiado. Pedi alguns minutos, tomei um banho rápido,
relaxante e quente, coloquei uma calça jeans vermelha, uma
camiseta rasgada nos ombros, também da cor vermelha e um par de
botas de salto médio. Minutos depois Rafael e eu estávamos saindo
do apartamento em direção à casa dos rapazes. Rafael contou
coisas bobas que o irmão fazia quando era pequeno, das vezes que
os três se juntaram para defender a honra da irmã caçula, dos doces
que roubavam nas festas de aniversário e até do estilo de cada um
durante a adolescência. O clima estava leve e descontraído, então
aproveitei para tirar uma dúvida que percorre minha mente a um bom
tempo.
— Posso fazer uma pergunta pessoal? — questiono olhando-o
fixamente enquanto o mesmo está dirigindo o carro.
— Fique à vontade.
Respiro profundamente tomando coragem e solto a pergunta.
— Nick comentou comigo que era adotado. Qual a história dele
sobre isso? — Minha pergunta parece deixá-lo levemente
incomodado, pois se remexe em seu banco, aparentemente
agoniado e o vejo olhar rapidamente para mim. — Não precisa
contar se não quiser.
— Está tudo bem. — Me acalma. — Quando éramos pequenos,
nossa mãe era uma irresponsável, Nick tinha uns oito anos, eu tinha
seis e Levi três. Nossa mãe trabalhava como prostituta em uma casa
noturna, ela era alcoólatra e, às vezes, levava seus clientes para
nossa casa. — Dá uma pausa. — Não lembramos muito do nosso
pai então, não tínhamos opção senão aguentar tudo. Numa noite, um
dos clientes começou a bater na nossa mãe, Nick percebeu e tentou
ajudá-la, depois que o homem partiu, nossa mãe deu uma surra no
Nick, dizendo que ele não deveria se intrometer nos assuntos dela.
— Toma fôlego. — Na noite seguinte, ele pegou todo o dinheiro que
nossa mãe tinha e nos levou embora daquela casa, passamos um
bom tempo nas ruas até que os pais da Naty nós encontraram. —
Rafael fica em silêncio por alguns segundos. — Eles nos viram
tentando esconder da chuva e de alguma forma, então decidiram nos
acolher em sua casa, acabaram nos adotando e viramos os filhos
que eles não conseguiam ter.
Em um único dia descobri que Dominic tem um passado muito
cruel, era machucado por sua mãe, foi abandonado por seu pai e
teve que ser responsável por proteger seus dois irmãos mais novos.
Ele foi irresponsável ao fugir de casa com duas crianças pequenas,
sendo que ele mesmo era uma. Penso na bondade que os pais da
Naty tiveram acolhendo-os em suas vidas, e agradeço a Deus por ter
cuidado de todos eles.
— Espera, eles não podiam ter filhos? — questiono. — E a Naty?
— Naty veio um ano depois. — Sorri. — Mamãe não conseguia
manter uma gestação por muito tempo, seu útero não conseguia
segurar um bebê. Porém, lutou como uma guerreira e depois de um
tratamento intensivo a atrevida da menina nasceu.
Sorrio pela maneira como falou da irmã.
Em poucos minutos consigo ver a casa onde a família Grombeth
mora, rapidamente Rafael estaciona o carro na entrada da casa.
Entramos juntos e sem que ele precise indicar o caminho começo a
andar em direção ao segundo andar, onde fica o quarto do Nick. Fico
em silêncio por todo o caminho pensando nas minhas palavras
quando vê-lo, como vou explicar que não aconteceu nada entre
Heitor e eu. E como direi que o único homem que desejo é ele, que
sou exclusivamente dele. Coloco a mão sobre a maçaneta da porta e
a giro lentamente com um sorriso no rosto, não importa como, mas
irei dizer que eu...
Eu... Nunca, em nenhum momento imaginei que veria uma cena
dessas, ainda mais de um homem que ficou com ciúmes de um
telefonema idiota. Dominic está sentado na ponta da cama apenas
com sua cueca box preta enquanto uma mulher de cabelos negros
está deitada ao seu lado na cama olhando-o fixamente. Minha
respiração se torna pesada, meu coração dói dentro do peito e tudo
o que desejo é gritar bem alto o quanto estou decepcionada,
magoada e revoltada com que estou vendo.
Como se um alerta soasse em sua cabeça avisando que mais
alguém está dentro do quarto, sua cabeça se inclina lentamente na
minha direção, seus olhos encontram os meus. Nick se levanta da
cama com o olhar fixo no meu, seu olhar se intercala entre mim e a
sua acompanhante que ao notar minha presença se levanta
rapidamente, pega uma bolsa que estava caída no chão e passa ao
meu lado saindo do quarto.
— Nay...
— Não! — Corto suas palavras enquanto ele dá um passo na
minha direção e o vejo colocando uma calça de moletom.
Sinto meu coração pingando sangue dentro do peito, meus olhos
ardem, as lágrimas pedem libertação para poderem rolar, mas meu
orgulho não permite que eu fraqueje. Meu orgulho não permite que
ele me veja vulnerável, que eu me descontrole diante dessa
situação, por mais que meu coração doa.
Coloco a máscara mais indiferente que possuo e viro as costas,
decidida a ir embora e não voltar nunca mais, quando novamente
meu orgulho ataca. Não, isso está muito errado, não posso ir embora
sem ao menos causar a ele um terço da dor que estou sentindo e
então viro e começo a caminhar em sua direção.
— Eu posso explicar, não é isso que você está pensando...
Antes que possa dizer mais uma palavra, chego bem na sua
frente e dou uma bofetada no seu rosto, com toda a minha força,
toda a minha raiva e atendendo a cada pedido que meu orgulho
ordena.
— Se fez isso para se vingar, achando que passei a noite com
meu amigo, sinto decepcioná-lo, mas não dormi com Heitor — digo
calmamente olhando dentro dos seus olhos. — Não sou tão canalha,
tão baixa como você que dorme com qualquer pessoa.
Viro para ir embora quando sua mão segura meu braço com
força, impedindo que eu conclua meus passos e me puxa fazendo-
me olhá-lo novamente.
— Eu não fiz sexo com ela. — Declara exasperado, ignorando
minhas últimas palavras. — Precisa me ouvir, dar uma chance de me
explicar.
Sinto meu sangue ferver a medida que mais palavras escapam
por seus lábios, sua bochecha agora tem um leve tom escarlate que
vai ficando mais vermelho a cada segundo que passa.
— Como você me ouviu noite passada? Como você permitiu a
chance de me explicar? — questiono num rosnado puxando
bruscamente meu braço longe do seu aperto. — Vai se foder! —
Rosno. — Sabia que isso não daria certo, você é um cretino, um
babaca que só queria uma boa transa sem compromisso. Qual é o
jogo? Queria provar para o seu ego que poderia me conquistar e
depois iria voltar para seu mundinho de merda?
Começo a socar seu peito com toda a força que possuo, até que
sinto um par de mãos me puxando cuidadosamente para trás.
Encaro a pessoa percebendo que é Rafael e respiro profundamente
me dando conta do barraco que estou fazendo.
— O que está acontecendo aqui? — Rafael pergunta me
soltando.
— Rafael... — Dominic hesita. — Isso é tudo um mal-entendido.
— Não tem mal-entendido nenhum acontecendo. — Corto-o. —
Seu irmão é um idiota, você estava errado. Ele mereceu cada coisa
que aconteceu em seu passado.
Pontuo olhando dentro dos olhos de Nick e o vejo recuar um
passo para trás, ele fita Rafael e volta a me olhar e dessa vez, sorrio
satisfeita. Consegui atingir meu objetivo, agora ele sente exatamente
a dor que estou sentindo dentro do peito. Viro as costas e saio do
quarto em passos rápidos, sentindo que minha pose de durona não
se sustentará por muito tempo.
No meio do caminho acabo esbarrando com Naty, porém, não me
preocupo em parar para pedir desculpas, apenas continuo andando
em direção à saída dessa casa. Nunca mais voltarei aqui, nunca
mais deixarei que Dominic brinque comigo. Ele todo certo, com raiva
de mim pensando que eu o havia traído e fez a mesma coisa, nem
pensou em conversar comigo primeiro.
Devia ter previsto isso, homens como ele nunca vão entender ou
respeitar os sentimentos de alguém.
Capítulo 22
Dominic Grombeth

Na noite anterior...

— Mais uma bebida, por favor! — digo mantendo a educação ao


erguer o braço alguns centímetros para cima, indicando o copo de
vidro que está completamente vazio entre meus dedos.
O atendente, um rapaz com seus vinte e poucos anos, se
aproxima discretamente para atender meu pedido, seu rosto está
abaixado e percebo que ele evita me olhar diretamente. Inclino a
cabeça para o lado buscando o relógio preto que ganhei de presente
do meu pai em meu pulso direito e checo as horas descobrindo que
já são quase três horas da manhã.
Quando volto a erguer a cabeça o rapaz já havia feito seu
trabalho e ido atender outra pessoa a alguns metros de distância.
Envolvo a mão no copo e o levo diretamente aos lábios ingerindo
todo o conteúdo em poucos segundos. O gosto peculiar do whisky
salpica em minha língua e à medida que segue seu caminho, desce
rasgando minha garganta, centímetro por centímetro até que já não
consigo sentir mais nada.
Respiro profundamente enquanto coloco o copo vazio sobre a
bancada e de alguma maneira, seu cheiro familiar de baunilha invade
meus sentidos. Sem perceber, aperto os olhos com força tentando
prolongar a sensação boa que está em meu peito, mas logo, a
sensação de bem-estar, a paz e o conforto começam a se esvair
lentamente. As lembranças retornam com força, a dor que senti nas
últimas horas regressa num impacto capaz de dilacerar minha alma.
Seus olhos, tão belos e penetrantes, sua voz aveludada, ao
mesmo tempo, que firme e determinada... Nayara não se importa
comigo, enquanto estive passando por um dia de merda ela está ao
lado de outro homem, Heitor, seu "amigo". Durante duas semanas
esperei por ela, atendi seu pedido, fui fiel e respeitoso, porém não
posso dizer que foi recíproco. Mesmo com os olhos fechados
consigo sentir uma lágrima rebelde escorrendo por minha bochecha.
Enquanto estou aqui, nesse bar de quinta categoria, onde ela está?
Nayara está nos braços do seu amigo? Ele está lhe proporcionando
o prazer que eu lhe faço sentir? Ele sabe exatamente onde fica seu
ponto de prazer? Sabe como fazê-la feliz? E como a minha loirinha
está?
— Bom, chega de beber por hoje. — Uma voz chama minha
atenção fazendo-me abrir os olhos. — Quer uma carona para casa?
A minha frente vejo uma moça muito bonita. Seus cabelos são
grandes e castanhos como madeira, apesar do efeito da bebida
consigo reparar que seus olhos são negros como carvão, em seus
lábios, um batom vermelho como sangue está presente, destacando
como sua pele morena é. Consigo perceber tudo isso em questão de
segundos, uma rápida análise e desvio o olhar com um sorriso
debochado no rosto.
— Qual a graça? — questiona enquanto pega o copo e entrega
para o rapaz que veio me trazer a bebida.
— Você é bonita — digo debochado. — Antigamente, tentaria
levá-la para a cama, mas agora, tudo o que consigo pensar é numa
loira que quebrou a porra do meu coração.
As palavras voam por meus lábios sem que eu consiga controlar
e sinceramente, não desejo controlá-las. Em resposta, vejo um meio
sorriso surgir no canto dos seus lábios e encaro seus olhos.
Sinceramente, no passado não iria me importar em pagar uma
boa bebida para essa bela dama e depois de algumas palavras, com
certeza iria levá-la para meu apartamento onde teríamos uma
maravilhosa noite de prazer, mas agora, depois de conhecer Nayara,
tudo o que desejo é ir para casa, beber até ficar completamente
saciado e dormir até conseguir esquecer toda essa dor.
— Antigamente, daria um soco em você se tentasse se
aproximar. — Pisca um olho enquanto se aproxima um passo. —
Agora vou levá-lo para casa e, por favor, não estou a fim de escutar
suas decepções amorosas. — Bufa colocando meu braço em seus
ombros e começamos a andar, com a mão livre retiro algumas notas
e jogo sobre o balcão. — Todos, temos nossos problemas e não
adianta você ficar aí reclamando.
E então, começamos a andar lado a lado em direção à saída do
bar. Andamos juntos até onde estacionei o carro, entramos e me
acomodo no banco do passageiro. Indiquei onde estava morando,
dei todas as coordenadas e acabei adormecendo em algum
momento do trajeto. Logo, fui acordado quando chegamos e um
pouco sem jeito, saio do carro bêbado de sono e pelo efeito do
álcool.
— Chegamos, pegue suas chaves e boa sorte, vou pedir um Uber
— fala estendendo a mão com as chaves do carro. Dou um passo
tentando alcançá-la, porém, perco o equilíbrio e quase caio no chão,
seu corpo se agarra ao meu me dando todo o apoio necessário para
poder recuperar a estabilidade e dou uma risada desgostosa.
— Ok, eu vou levar você para dentro — resmunga. — Vamos lá
grandão, você é grande e precisa me ajudar, finge pelo menos.
Com sua ordem, firmo os pés no chão e começamos a andar em
direção ao portão da frente. Caço com cuidado em todos os bolsos a
chave da porta e quando encontro, procuro pela certa, assim
entramos e começo a guiá-la até meu quarto onde sigo diretamente
para o banheiro, tropeçando em meus próprios pés.
Minha acompanhante me leva até o banheiro e pergunta se
preciso de ajuda, nego com veemência e a vejo caminhar de volta
para o quarto. Tomo um banho rápido e após fazer todas as minhas
higienes pessoais saio do banheiro usando apenas uma cueca boxer
preta e sem falar nada, deito-me no meu lugar da cama.
— Já que está tudo certo, estou indo. — Ouço sua voz a poucos
metros de mim e nego com a cabeça, posso estar ruim, mas sei que
está de noite e sair nesse horário pode ser perigoso.
— Está muito tarde... — Sinto o sono chegando. — Pode ficar
se... Quiser...
E então, sem ao menos perceber, sou vencido pelo cansaço
físico e mental, entrando num abismo profundo e escuro onde tudo o
que sinto é a paz, onde tudo é perfeito e certo.
Quando perdemos o controle da situação? Em que momento uma
coisa boa e inocente pode acabar desencadeando uma densa
tempestade tropical? Nem sempre escolhemos a decisão certa, às
vezes, erramos e erramos muito feio, mas no fundo, sabemos que
erramos tentando escolher a coisa certa, falhamos para descobrir a
maneira certa e não foi isso que fiz.
Sem palavras, completamente atônito fico como um tolo
observando a porta do meu quarto, o lugar por onde a mulher que
deu um colorido a mais a minha vida acaba de sair dizendo palavras
cruéis e tenho medo de que não retorne novamente.
— Preciso falar com ela — sussurro sentindo um aperto no peito.
Nayara entrou de repente no quarto, estava sentado, havia
acabado de acordar e perceber que a garota de ontem a noite ainda
estava aqui, tinha acabado de pedir para que fosse embora quando
Nay chegou e pela sua reação, tenho certeza que pensou coisas que
não aconteceram. Nayara diferente do que imaginei que faria, ficou
indiferente a minha presença veio até mim e deu uma bofetada em
meu rosto dizendo tudo o que estava preso em sua garganta.
Seu coração estava ferido, percebi isso ao olhar dentro dos seus
olhos, que apesar de ferozes, não esconderam sua dor e mágoa,
sinto-me um idiota por ter causado tanta dor a minha menina.
Principalmente agora que descobri que ela não havia dormido com
seu amigo engomadinho, que estava preocupada comigo e veio aqui
em casa atrás de mim. Tudo isso valeu a pena, valeu porque percebi
que Nayara se importa comigo ou ao menos se importava, ela ficou
chateada quando me viu com outra mulher e tentou me ferir da
mesma maneira que estava ferida.
Nesse momento tudo o que preciso fazer é ir atrás dela e dizer
tudo o que realmente aconteceu, foda-se se não a escutei noite
passada. Nayara precisa saber que mesmo estando bêbado e muito
puto da vida, nunca trocaria seu calor pelo de outra pessoa.
— Você não vai mais chegar perto dela. — Rafael entra na minha
frente e nem ao menos, me encara. — Isso não acontecerá, Nick.
Sua afronta me faz dar um passo surpreso para trás, ergo uma
sobrancelha encarando-o fixamente em busca de respostas.
— Ela acredita que dormi com outra mulher e isso não aconteceu.
— Coloco uma mão na cintura. — Precisamos conversar, precisamos
nos acertar. Meu irmão, me deixe passar.
Rafael não me encara, seu rosto está abaixado enquanto seus
olhos fitam o chão ao seu lado, mas mesmo sem me fitar, seu corpo
está parado exatamente no meu caminho até a porta.
— Essa mulher aceitaria tudo por você. — Aponta um dedo na
direção da porta. — Ela aceitou tudo, Nick. Aceitou seu passado,
suas falhas, seu jeito irresponsável, veio até aqui por você. — Seus
olhos finalmente me encontram. — E como você retribui? Há sim...
— Ergue os braços. — Você a faz presenciar o quão imaturo
consegue ser.
Suas palavras me fazem arfar surpreso. Pela primeira vez na vida
meu irmão não está me defendendo e sim minha companheira, a
maneira como ele está parado na minha frente, a maneira como a
protege com suas palavras e principalmente, a maneira como fala
comigo, como se eu fosse o errado...
Quando absorvo suas palavras percebo algo que Nayara disse,
porém, passou despercebido e constatar tal fato faz meu coração
falhar um movimento.
— Ela sabe sobre...? — sopro as palavras.
— Contei a ela. — Revela. — Contei sobre a traição, sobre sua
perda, sua culpa, sobre nossos pais adotivos e biológicos, contei
tudo. — Deixa as mãos caírem por seu corpo. — Contei a ela cada
fato sobre você. — Aponta na minha direção. — E, mesmo assim ela
quis vir aqui esclarecer as coisas entre você, ela e o tal amigo.
Então é verdade, Rafael havia contado tudo para a minha
loirinha. Sobre nossa mãe biológica, sobre a traição da minha antiga
companheira, sobre o filho que perdi… Sobre nossa vida atual e
mesmo sabendo como sou um bastardo, mesmo sabendo de toda a
história, Nayara ainda quis vir conversar comigo, quis ficar ao meu
lado.
— Essa mulher é forte, Dominic. — Rafael revela com o olhar
pensativo. — Mas sabe de uma coisa? Você não a merece.
— Escute bem o que vou falar. — Rosno dando um passo em sua
direção e ficamos frente a frente. — Nunca deixaria aquela loira ir
embora, jamais trairia ou a machucaria e posso não merecê-la, mas
farei de tudo para conseguir seu perdão. — Declaro convicto.
Como se um sinal soasse em minha mente, começo a andar pelo
quarto, vou até o closet onde pego uma camiseta cinza de mangas
compridas e a coloco de qualquer jeito, pego um sapato para colocar
no meio do caminho e então saio do quarto.
— Onde você vai? — Rafael questiona antes que eu consiga
sumir pelo corredor.
— Irei concertar as coisas.
E então, começo a andar em direção a saída da minha casa. Não
tomo café da manhã ou qualquer outra coisa, pego as chaves do
carro enquanto sigo até a garagem, no meio do caminho encontro
minha irmã, dou um beijo em sua testa e sem falar nada continuo
andando.
Assim que entro no carro calço o sapato em meus pés, ligo o
motor e saio da garagem rumo à casa da minha loirinha. Em poucos
minutos estou dentro do estacionamento do prédio em que Nay
mora, desligo o motor, saio do carro e caminho até o elevador. Em
menos de três minutos estou parado na frente do apartamento em
que ela vive e começo a bater freneticamente na madeira de sua
porta.
Não sei quanto tempo faz que estou batendo em sua porta e
chamando por seu nome, Nayara não disse nenhuma palavra ou
abriu para que eu entrasse e estou suspeitando que nem em casa
esteja, mas se não estiver, com quem pode estar? Então, cansado,
coloco as costas na porta e deslizo até estar sentado no chão,
respirando profundamente.
Se ela não estiver em casa, ficarei aqui, parado esperando por
sua volta. Nem que demore horas, ficarei aqui onde estou, pronto
para pedir desculpas de joelhos se for preciso. Nayara tem razão ao
estar magoada comigo, não confiei na mulher que amo, não lhe dei
chance para se explicar e ainda deixei outra mulher deitar em seu
lugar. Se eu estivesse em seu lugar e a encontrasse deitada na
cama com um homem ao seu lado, também imaginaria o pior.
— Ela não está em casa.
Uma voz suave me faz abrir os olhos e encontro uma jovem
morena de cabelos cacheados, a vizinha de Nayara, encostada no
batente de sua porta.
— Como? — questiono confuso.
— Nayara não está em casa. — Move os ombros. — Cruzei com
ela minutos atrás e a mesma disse que estava voltando para São
Paulo.
Não consigo absorver suas palavras, não consigo acreditar que a
minha menina foi embora, isso não é possível. Ela voltou hoje do
trabalho, nunca comentou comigo que fazia dois turnos, apenas um
no período da manhã. Deve ter ido por minha causa, sabia que eu
viria atrás dela, para conversarmos e quis evitar nosso encontro.
Derrotado, levanto lentamente do chão decidido a ir embora.
Conhecendo Nayara como conheço, sei que não voltará tão cedo
para casa.
— Obrigado — digo e então vou embora com o coração apertado
dentro do peito.
Desculpe-me loirinha, mas irei atrás de você nem que eu tenha
que procurar em todos os lugares, mas encontrarei você.
Capítulo 23
Nayara Monteiro

— Ele já foi embora.


Serena avisa assim que passa pela porta da frente do seu
apartamento.
Depois que encontrei Dominic com outra mulher, disse-lhe umas
boas verdades, decidi que era melhor me afastar. Quando cheguei
ao prédio tinha certeza que ele viria atrás de mim, Nick não iria
desistir tão fácil e tentaria me convencer de que estava enganada,
então bati na porta da minha vizinha com os olhos marejados,
pedindo para ficar por algumas horas em seu apartamento.
Quando Serena abriu sua porta e me encontrou no estado em
que estava, no mesmo instante deu espaço para que eu passasse,
ofereceu água e perguntou sobre meu estado. Acabei contando tudo
sobre minha história com Nick, como nos conhecemos, como nos
reencontramos e a bela surpresa que tive mais cedo.
Não demorou muito tempo para ouvirmos a voz rouca de Dominic
ecoando pelos corredores, enquanto batidas frenéticas eram
desferidas contra a porta do meu apartamento. Quando percebi que
ele realmente havia saído da sua casa para vir até aqui, atrás de
mim, para insistir em uma mentira, senti meu coração sangrar ainda
mais.
Depois de longos minutos ouvindo-o clamar por mim, pedi para
que Serena dissesse que havia pegado um voo de volta para São
Paulo. Era a única maneira de fazer Dominic desistir e então poderia
voltar para meu apartamento.
— Obrigada. — Agradeço sentindo um aperto no peito. — Por
tudo, obrigada.
— Não precisa agradecer. — Sopra movendo os ombros
enquanto se senta ao meu lado. — Pelo que contou ele foi um
completo idiota, mas posso ser sincera? — questiona e faço que sim
com a cabeça. — Ele me pareceu muito desesperado.
Suas palavras me causam um acesso de risos amargurados que
não consigo reprimir.
— Dominic quer apenas deixar a consciência limpa. — Passo as
mãos nos cabelos enquanto levanto. — Ou então, quer manter a
pose de bom moço. De qualquer modo, ele é um idiota.
Serena dá um sorriso amarelo, enquanto me acompanha até a
porta que fica no canto direito da sua sala de estar.
— O que está pensando em fazer agora? — questiona girando a
maçaneta.
— Voltar para meu apartamento. — Dou de ombros. — Irei
descansar, comer algo e amanhã trabalhar. — Suspiro. — Quando
voltar, eu estarei bem melhor acredite em mim, me apaixono bem
rápido, mas desapego mais rápido ainda.
Nós duas sorrimos uma para a outra após nos despedirmos com
um até breve e então vou para minha casa. Assim que entro no meu
lar sinto um vazio em meu estômago, sinto um vazio incomodar
minha alma. Aperto os olhos com força quando momentos que
compartilhei com Nick invadem minha mente.
Lembro quando a água da banheira vazou e molhou todo o
apartamento e o encontrei novamente, lembro quando fui ao hospital
dar apoio a toda a família em seu momento de angústia, quando
voltei de viagem e no meio da noite ele bateu na minha porta dizendo
coisas desconexas e lembro-me da nossa última noite juntos. A bela
visão do mar, nossas carícias e naquele momento tudo parecia tão
certo, tão perfeito. Momentos que antes me faziam sorrir como uma
boba. Agora, machucam cruelmente meu coração.
Encosto as costas na parede e deslizo lentamente até ficar
sentada no chão, e então faço uma coisa que não permito há muito
tempo, choro. Deixo que toda a dor saia, permito que cada lágrima
seja derramada, que cada grito seja ressoado alto e que cada
centímetro de dor se esvaia por meu corpo. Cada pequeno músculo
dói, cada pequena fibra do meu corpo arde dolorosamente em busca
de alívio, decido tomar um remédio para me acalmar e depois de
alguns minutos, sinto meu corpo mostrando sinais de cansaço e
então, antes que perceba, acabo entrando num abismo profundo,
num sono sem fim.
Quando são exatamente onze horas em ponto, ouço o som
estridente do despertador tocando em cima da bancada ao lado da
cama. Cansada, inclino o corpo para o lado o suficiente para
alcançar o objeto e desligá-lo com maestria.
Viro novamente na cama e com as costas das mãos coço os
olhos tentando despertar completamente. Em poucos minutos já
estou de pé, caminho para o banheiro afim de fazer minha higiene
pessoal e me arrumar para ir trabalhar.
Não sei em que momento durante a madrugada levantei e vim me
deitar no quarto, mas fico feliz que ao menos tive força para sair da
escuridão em que estava. O banho é rápido, feito de modo
automático, assim como todos os outros movimentos. Não sinto
fome, porém, forço-me a pegar uma maçã na fruteira e quando estou
completamente pronta saio de casa já com um táxi me esperando na
entrada do prédio.
Em pouco tempo estou no aeroporto aqui em Cuba, conheço
várias das trabalhadoras daqui e enquanto caminho vou acenando
brevemente para cada cumprimento que recebo, mas mesmo
tentando ser simpática, não consigo retribuir um sorriso. Não sou
capaz de atingir um nível tão alto de fingimento, então continuo
andando e olhando diretamente para frente.
De repente, meu celular começa a tocar dentro do bolso da
jaqueta que estou usando, retiro o aparelho surpresa por ainda
possuir algum resquício de bateria e vejo todas as mensagens e
ligações perdidas de um número desconhecido. Franzo o cenho
enquanto abro as mensagens para saber do que se trata e tenho
uma surpresa.

"Nayara, por favor, precisamos conversar." 8:50 h.

"Nayara, sua vizinha contou que voltou para São Paulo... Por
favor, deixe-me explicar." 9:00 h.

"Nay, minha menina, não aconteceu nada entre aquela


mulher e eu. Juro para você. Atende-me, por favor!" 9:05 h.

Entre essas mensagens consigo contar outras cinquenta e nove


com quase as mesmas palavras, porém, a última me chama atenção
e ao lê-la sinto uma lágrima escorrer por meus olhos.

"Eu amo você pequena. Não vou deixar nossa história acabar
desse jeito. Isso está errado e você sabe disso, vou lutar por
você." 4:43 h.

Fecho os olhos com força, numa mistura de dor e raiva aperto


com força o celular que está entre meus dedos. Sinto meu coração
falhar algumas vezes, minha respiração fica presa na garganta e de
repente, estou sufocando. Num movimento rápido, retiro a gravata
que estou usando e respiro profundamente, tentando encontrar
algum alívio para minha dor.
Por que você tinha que ter feito isso, Nick? Questiono
mentalmente. Nós estávamos bem, estávamos felizes e aproveitando
o máximo da presença um do outro.
Engulo em seco quando o toque de uma ligação invade meus
ouvidos, abro lentamente os olhos focando na tela do celular e vejo o
mesmo número que mandou as mensagens. Não penso direito,
apenas deixo meu coração guiar meus atos e então atendo a
ligação.
— Minha menina. — A voz de Dominic soa exasperada. — Que
bom que atendeu, fiquei tão preocupado com você... — Dá uma
pausa. — Tem que me ouvir, Nayara, acredite...
Corto suas palavras.
— Não sou sua menina — sussurro. — Não se preocupe comigo
e vá se foder. — Dou uma pausa. — Você ferrou com meu coração,
Nick. — Sopro com a voz embargada. — Agora, enfie esse “eu te
amo” bem no meio da sua bunda.
E então, encerro a ligação sem ao menos deixá-lo responder.
Não preciso ouvir mais nada, minha decisão está tomada. Dominic
está fora da minha vida, não darei uma nova chance para que
quebre meu coração novamente.
Guardo o celular no bolso da jaqueta, enquanto continuo andando
em direção à entrada de passageiros do avião e em pouco tempo
todos os funcionários e passageiros já subiram a bordo e estão
esperando o avião iniciar o voo, o que não demora para acontecer e
em pouco tempo estamos no ar.
Durante o voo trabalho em silêncio, ofereço comida aos
passageiros, dou algumas instruções necessárias e retorno para o
gabinete onde fico pensando até ter que repetir todos os
procedimentos anteriores, porém, dessa vez é diferente. Quando
saio do banheiro o avião solavanca com intensidade para o lado, sou
pega de surpresa e acabo sendo jogada contra a parede da cabine.
No chão percebo que o avião está instável, com dificuldade consigo
levantar e chegar até uma janela. Constato que não está chovendo,
deve ser apenas uma pequena turbulência.
— Senhores passageiros, peço que se segurem firmes na
cadeira, pois estamos passando por uma pequena turbulência. — A
voz de John ecoa pelos autofalantes.
Com muito cuidado, caminho até a área dos passageiros onde
começo a instrui-los caso aconteça algum evento inesperado, o que
não demora muito a acontecer. O avião tomba brutalmente para o
lado fazendo com que eu quase perca o equilíbrio, me seguro em
uma das poltronas com força para continuar de pé e como esperado
os gritos assustados começam.
O avião me pega completamente desprevenida quando vira para
o outro lado, não consigo continuar segurando na poltrona e antes
que eu consiga firmar o aperto, minhas mãos escorregam e viro para
o lado batendo a cabeça na parte de metal da poltrona.
— Merda!
Resmungo sentindo uma dor imensa no topo da cabeça,
lentamente levo a mão até a ferida, onde sinto um líquido quente
molhar meus dedos. Quando foco o olhar percebo que é sangue.
Não consigo raciocinar, o avião vira novamente e antes que meu
corpo voe pela passagem consigo me sentar em uma poltrona e
coloco o sinto de segurança.
— APERTEM OS CINTOS, ISSO É EXTREMAMENTE
NECESSÁRIO E NÃO É UMA SIMULAÇÃO! — grito alto em meio
aos gritos assustados. — PEGUEM AS MÁSCARAS DE OXIGÊNIO
E AS COLOQUEM NO ROSTO! PRECISO QUE FIQUEM CALMOS!
— Continuo gritando tentando me fazer ser ouvida pelos
passageiros. Alguns conseguem me escutar e fazem exatamente o
que estou pedindo, enquanto outros continuam a gritar desesperados
em busca de socorro.
— AHH... — grito quando o avião gira bruscamente no ar,
lançando nossos corpos para o lado. Sinto meu coração apertar, não
é apenas uma turbulência normal. Antes que eu conseguisse respirar
corretamente, o avião tomba para frente mergulhando num abismo
profundo.
Aperto os olhos com força tentando firmar o aperto na poltrona e
meu primeiro pensamento é Nick, em como destruiu nossa história,
como magoou meu coração e como feriu minha alma.
Só queria que não tivesse feito o que fez. Que tivesse dado uma
chance a nós e que pudéssemos superar o passado para vivermos
juntos o presente e o futuro. Ahh Nick…
Capítulo 24
Dominic Grombeth

A dor de perder uma pessoa querida é cruel, mas a dor de ter


consciência de que perdemos porque fizemos algo errado, isso
dilacera duramente nossa alma, quebra nosso coração o reduzindo a
pequenas gotículas sem cor.
Quando a vizinha da Nayara revelou que minha bela loira havia
voltado para São Paulo no ímpeto da raiva, fiquei sem chão. Estava
disposto a passar a noite, prostrado diante daquela porta, até que
fosse aberta, mas de um segundo para o outro todas as minhas
esperanças foram quebradas. Depois que entrei no elevador senti o
peso das minhas recentes escolhas, senti o quanto fui um idiota em
duvidar das intenções da minha garota, em como fui tolo por sair
para beber e ainda por cima levar uma completa desconhecida para
minha casa... Para dentro do meu quarto... Para minha cama!
Caramba!
Passo as mãos nos cabelos num gesto nervoso, deixando-os
levemente desalinhados. Minha menina tem todo o direito de estar
com raiva, pegou-me numa situação muito complicada e difícil de
explicar. Estava quase pelado, usava somente uma boxer preta e a
dama ao meu lado da cama não colaborou para limpar minha ficha.
Se eu estivesse em sua situação teria partido para cima do maldito e
caído na porrada com ele, conhecendo-me como me conheço, sei
que ficaria alterado e falaria umas boas verdades para minha loira.
Então, não a culpo por agir dessa forma.
Quando as portas de metal se abrem saio caminhando pelo
estacionamento em direção ao carro que está parado logo mais à
frente. Sigo meu caminho, depois de caçar a chave dentro do bolso,
entro, ligando o motor e coloco o cinto de segurança.
Em poucos segundos o carro está trafegando na avenida
principal, observo os pedestres passando ao meu redor e de repente,
um casal atravessa a faixa e meu olhar foca em suas mãos que
estão entrelaçadas perfeitamente. Eles parecem felizes e animados,
o homem fala algo para sua companheira, o que a faz ficar
levemente sem graça e dá um sorriso discreto.
Ver seus carinhos, mesmo que de longe, me faz ter uma puta
inveja de todo o seu sentimento. Fecho os olhos com força, daria
qualquer coisa para estar com a minha menina nesse exato
momento, sinto meu coração falhar uma batida com esse
pensamento e então como se algo dentro de mim se acendesse e
ganhasse a cada segundo mais força, percebo algo que até então
era desconhecido para mim.
A primeira vez que olhei dentro dos olhos da Nayara, dentro
daquele avião a mais de dez mil metros de altura, em meio às
nuvens, me senti completamente atordoado. Havíamos
compartilhado um sexo rápido, cru e selvagem, ambos achávamos
que éramos pessoas completamente diferentes e quando nossos
olhos se encontraram, uma onda elétrica percorreu cada centímetro
do meu corpo. E quando pensei que ela faria um escândalo ou que
pediria o número do meu celular, Nayara simplesmente deu-me um
casto beijo nos lábios e saiu deixando-me plantado.
Quando voltamos a nos encontrar, em um dos apartamentos que
gerencio, fiquei morto de ciúmes achando que havia passado as
últimas horas com outro homem. E desde que nos encontramos nas
outras vezes foram da mesma forma, Nayara me cativava cada vez
mais ao ponto de me deixar viciado em sua presença, necessitado
do seu toque, da sua voz, dos seus carinhos. Mesmo tendo dúvidas,
afirmei para Dreycon que não era possível, mas vendo meu estado
atual preciso ser sincero e jogar todas as cartas na mesa.
Estou apaixonado pela Nayara.
Por seu jeito atrevido, por sua boca, pelo seu corpo e
principalmente, por sua personalidade envolvente. Essa mulher
chegou como um furacão em minha vida, mostrando do que foi feita
para mim e que nenhum dia da minha vida seria normal outra vez.
Surpreendentemente, trouxe um colorido novo para minha vida, até
então desconhecido.
Uma buzinada estridente retira-me dos meus pensamentos, abro
os olhos focando a visão no semáforo e percebo que está aberto
para a passagem dos carros e então dou partida seguindo meu
caminho. Realmente, sou um tolo em negar por tanto tempo algo que
estava evidente em meu peito, mas agora que sei, que admiti, irei
atrás da minha garota.
Entro nas dependências da empresa pela área do
estacionamento, desço do carro, pego uma pasta pequena que está
no banco do passageiro e saio do carro caminhando em direção ao
elevador.
Nayara foi embora hoje, mas em algum momento voltará para
seu apartamento. Tem um trabalho e sua vida, conhecendo-a como
conheço, sei que não deixará que um homem interfira em suas
escolhas, muito menos em sua vida. Deixarei uma ordem muito clara
para o porteiro do prédio, quando Nay pisar naquele lugar, ele
precisa me ligar imediatamente que irei atrás da minha menina.
— Vejo que sua consciência está tranquila. — Rafael fala
entrando lentamente na copa com seu comum tom de ironia e
deboche camuflado discretamente de "bom dia, irmão".
Ergo os olhos na sua direção, olhando-o sem um pingo de
interesse. Vejo-o colocando o casaco do seu terno cinza tradicional
na cadeira a minha frente, enquanto se senta para tomar seu café da
manhã.
— Não acho que seja da sua conta. — Sou sucinto. — Já falei
para você, não fiz nada de errado e quer saber? Não ligo para o que
pensa de mim. — Dou uma pausa tomando um gole de suco de
morango. — A única pessoa que precisa acreditar em mim é a
Nayara.
Meu irmão e eu trocamos um olhar sério durante longos minutos.
Sinceramente, estou de saco cheio dessa sua implicância para cima
de mim. Faz uma hora desde que cheguei à empresa, após procurar
por Nayara e ele continua me olhando dessa forma acusatória.
Entendo que sente a necessidade de proteger minha menina, mas
ela é minha, o problema é meu e estou resolvendo isso. Não preciso
de olhares de reprovação, preciso de apoio, simplesmente isso.
Antes que Rafael possa abrir seus lábios para ter a chance de me
responder à altura, papai entra na copa chamando nossa atenção.
— Buongiorno rapazes. — Nosso pai acena com a cabeça. —
Notizie che stanno accadendo in televisione[6].
Nosso pai chama com a voz alarmada. Curioso, levanto
rapidamente e começo a caminhar em direção a sala ao lado, onde
possui a uma enorme televisão, consigo ouvir a voz da jornalista
narrando o acontecido.
— Siediti con tua madre[7]. — Mamãe que eu nem havia
percebido que chegou junto com papai à empresa, pede assim que
chego ao seu lado, percebo que ela está sentada no sofá e junto-me
a ela.
Acomodo-me rapidamente enquanto presto atenção na
reportagem.
"O acidente, aconteceu por volta das 09:35 h. Testemunhas que
estavam no local informaram que o avião estava soltando uma forte
fumaça negra enquanto sobrevoava a região.
— De repente, de um segundo para o outro, os motores do avião
pararam de funcionar levando a queda imediata da aeronave —
relatou uma das testemunhas. No total, havia vinte e sete
passageiros a bordo da aeronave. No momento, a equipe de
bombeiros, médicos e residentes locais estão auxiliando a busca por
sobreviventes.
Sou Camila Souza, voltaremos a qualquer momento, com
maiores informações."
Imagens do avião, sobrevoando as casas, aparecem e de
repente, começa a cair rapidamente na direção do solo. Imagens do
corpo de bombeiros, paramédicos e civis ajudando mostram a
situação atual. No fundo, conseguimos observar alguns corpos
sendo carregados por algumas pessoas.
Sinto um aperto no peito com essa reportagem. Levanto
passando as mãos nos cabelos, deixando-os bagunçados. Não é
possível, faz pouco tempo desde que nos falamos por telefone. Não
é possível que isso aconteça justamente com ela!
Hoje seria seu dia de folga, ou ela estaria trabalhando? Começo a
suar frio com todas as paranoias que vagueiam sem rumo por minha
mente. Isso está muito errado.
— Coitadas dessas persone. — Mamãe leva as mãos aos lábios,
cobrindo-os com seus dedos. Engulo em seco esperando que a tal
Camila dê mais alguma informação útil como, o nome da empresa,
quem está dentro do avião, porém, nada acontece.
— Está preocupado com ela, não está? — Rafael questiona
chegando ao meu lado e aceno com a cabeça afirmando.
— Ela é aeromoça, droga. — Xingo. — Pode estar dentro
daquele avião. Pode estar machucada lá dentro ou pior! Falei com
ela há poucos minutos, isso não pode ser possível...
Não tenho força para prosseguir com as palavras, então fica solto
no ar.
— Tenho certeza que não. — Sopra. — Nayara está bem, ligue
para ela.
Durante quarenta minutos preocupei-me em ligar diversas vezes
para o seu número, mandei diversas mensagens e por ímpeto
comecei a ligar para diversos hospitais perguntando por seu nome.
Vendo minha angústia enorme, mamãe me convenceu a fazer uma
pausa para tomar um pouco de água e respirar, evitando que eu
surtasse novamente. Me sentindo claustrofóbico, saio da empresa
em direção à rua, demoro uns vinte minutos do lado de fora, olhando
a enorme quantidade de construções à minha frente, sinto um aperto
no peito e no mesmo segundo, procuro o aparelho dentro do bolso
da calça e quando o encontro disco seu número que sei de cor e
salteado. A chamada permanece durante longos segundos em
silêncio, ela não atende. Pode estar ocupada, longe do aparelho,
sem bateria ou desligado. Quando estou pronto para desligar e
iniciar uma nova ligação, a chamada é atendida.
— Nayara? — indago exasperado sentindo uma onda de alívio.
— Sei que está puta comigo querida, mas responda, você está bem?
Fico em silêncio esperando sua voz aveludada preencher meus
ouvidos, porém, o que ouço são ruídos, muitas pessoas falando ao
fundo e um som semelhante a sirene de ambulância, para em
seguida uma voz masculina preencher meus ouvidos.
— Alô? — A voz exclama. — Senhor...
— Quem é você? — O interrompo. — Onde está Nayara? A dona
do celular? — questiono sentindo meu coração acelerando seus
movimentos. Rafael franze o cenho, preocupado com minhas
reações, vejo meus pais se aproximarem lentamente de mim,
curiosos.
— Sou o Delegado Bruno Montenegro. — Revela. — Senhor,
preciso que fique calmo. — Pede. — Esse aparelho foi encontrado
em meio aos destroços do avião Boeing 767.
Sem que eu consiga impedir, o celular escapa gélido por meus
dedos caindo no mesmo segundo em direção ao chão. Sabia que
algo estava errado, desde o momento em que conversamos pela
última vez soube que algo estava errado. Meu coração doía de tal
forma que era impossível não ser nada e agora isso aconteceu... A
culpa é minha, novamente sou o culpado por machucar a mulher que
amo... Não consigo emitir nenhum mínimo som ou realizar qualquer
movimento. Meus olhos estão arregalados, vidrados num ponto sem
cor na parede do outro lado da rua e quando a realidade bate sinto
meu peito ser esmagado, meus olhos ficam marejados e não impeço
quando as lágrimas começam a cair.
— Nick, o que aconteceu? — Rafael sussurra se aproximando um
passo e o encaro completamente perdido.
— Mi-minha me-menina... — Gaguejo. — Nayara... Es-estava
dentro do avião... E-ela estava dentro...
Descobri que nada volta a ser como era antes. Depois que algo é
quebrado sempre vai existir marcas profundas que vão provar que
algo sempre esteve errado. Não existem segundas chances quando
um coração é magoado, quando um coração é cruelmente
machucado. Não existem outras oportunidades para algo que se
deixou passar.
E ter total consciência sobre essa dura realidade me faz arquejar
o corpo para frente, sinto meu coração falhar em seus movimentos,
uma insuportável dor se inicia em meu peito. O ar não consegue
prosseguir seu caminho habitual e então antes que eu espere, uma
onda de tosse se inicia.
Sinto-me tonto, de repente, perco o equilíbrio dando alguns
passos incertos para trás. O foco e a nitidez abandonam meus olhos
e no momento, tudo o que consigo observar são borrões
inexplicáveis da minha família. Lembro-me do momento que nos
vimos pela primeira vez, dentro do avião. Conhecemo-nos por acaso,
numa confusão, acabei confundindo-a com outra mulher e pelo visto,
ela também. Na mesma noite nos encontramos novamente, no seu
apartamento e tivemos uma noite maravilhosa, juntos. Quando fomos
para a praia, quando estávamos jantando. Na noite que ela dormiu
na minha casa, velei seu sono por toda a noite, observei seu rosto
sereno e cuidei com todo carinho e amor que pude.
Nayara... Não. Isso não pode ser verdade!
Depois de tudo o que passamos, de todas as brigas que
travamos para podermos começar uma relação, para quando eu
finalmente descobri que estou apaixonado... o destino resolve ser
uma cadela sem coração e arranca a mulher que amo? Nunca fui um
homem que abaixava a cabeça para alguma mulher ou que cedia a
suas vontades. Sempre tive minha ideologia de que a mulher deveria
ser submissa, porém conhecer Nayara mudou completamente esse
pensamento. Ela me deixou completamente de quatro, suscetível às
suas vontades.
Uma porra que isso vai acontecer!
Não... Não pode.
— Mãe, pegue um copo de água para o Nick. — Ouço a voz do
meu irmão soprando bem próximo do meu rosto. — Nick, senta aqui.
— Guia meu corpo. — Respire fundo meu irmão.
— Ai meu Deus! — Ouço a voz de Naty. — O que está
acontecendo com o Nick?! — escuto as vozes ao longe, parece que
toda a família resolver vir à empresa, lentamente recobro meus
sentidos.
Pisco algumas vezes tentando recuperar o foco e estabilizar
meus sentidos. Não posso ficar aqui parado, preciso levantar e ir
encontrar a minha mulher. Nayara está precisando de mim e o que
estou fazendo? Estou sentado igual um inútil esperando um copo de
água que minha mãe foi buscar!!!
— Não! — Puxo os braços que estavam sobre o aperto de
alguém. — Precisamos encontrá-la imediatamente! — digo para
Rafael. — Ligue para todos os hospitais, polícia, corpo de bombeiros,
CIA... —Desespero-me enquanto me levanto.
— Fique quieto garoto. — Meu pai me puxa de volta para o
assento ao lado da portaria da empresa.
— Beba meu querido. — Um copo é estendido a minha frente e
aceito. — Está melhor filho?
Aceno com a cabeça enquanto bebo todo o conteúdo do copo
que mamãe havia me trazido e quando termino volto a ficar em pé,
pronto para começar minha busca.
— O que está acontecendo? — Ouço Naty perguntando ao meu
lado, aparentemente, confusa. Abro a boca para explicar que o avião
em que a minha menina estava havia caído, mas não consigo dizer
isso em voz alta. O som não escapa por meus lábios. Não consigo
admitir, é quase impossível.
Não quero dizer essas palavras, não posso dizer que minha
mulher corre risco de vida. Isso se... Não! Balanço a cabeça, Nayara
está viva. Ela não morreu!
— Sabe que a namorada do Nick trabalha como aeromoça, não
sabe? — Rafael questiona enquanto desvio o olhar, o coração
doendo cada vez mais. — Aparentemente o avião em que ela estava
trabalhando... o motor parou e caiu.
Engulo em seco, fechando os olhos com toda a força que possuo.
Só de pensar que posso ter perdido minha menina e que sua última
palavra foi que eu havia ferrado com seu coração. Que bosta de
homem sou? Como cheguei nesse lugar, no fundo do poço?
Naty arregala os olhos diante da revelação do nosso irmão e vira
sua atenção diretamente a mim, vejo em seus olhos um sentimento
que causa uma onda de arrepios por todo o meu corpo, pena,
compaixão e tristeza. Como se soubesse que algo inevitável havia
acontecido.
— Nick, eu...
Em dois passos estou parado a sua frente olhando-a tão
profundamente que sou capaz de ler cada centímetro da sua alma.
Meu peito explode numa dor dilacerante e com brutalidade corto
suas palavras.
— Não diga que sente muito. — Rosno. — Minha garota não está
morta! — Dou mais um passo colocando o dedo bem próximo ao seu
rosto. — Ela não está!
Seus olhos ficam arregalados e a sinto recuar um passo,
assustada com minha atitude. E no mesmo momento vejo meu pai
ficar atrás da sua filha, pronto para protegê-la caso eu ficasse
agressivo, somente então percebo o que acabei de fazer.
Todo o meu controle foi embora, o medo está dominando cada
parte do meu corpo. Medo de perdê-la, medo de não poder vê-la ao
meu lado assim que o sol surgir no horizonte. E com todo esse medo
correndo por minhas veias, assustei minha irmã, minha menina que
nunca fui capaz de alterar o tom.
A dor cresce dentro do meu peito tornando-se pior a cada
segundo, mil vezes pior, então recuo com medo de perder a cabeça
e fazer algo ainda mais idiota. Minha família não tem culpa. Não
posso descontar meus demônios em cima de seus ombros. Dou as
costas para todos, adentro à empresa, vou até minha sala, alcanço
minha pasta sobre a mesa, pego a chave do carro dentro dela e
começo a caminhar em direção a saída quando uma mão cessa
meus movimentos.
— Você não precisa passar por isso sozinho. — Rafael coloca a
mão em cima do meu ombro e aperta levemente fazendo-me olhá-lo.
— Espero que esteja feliz. — Rosno puxando o braço do seu
aperto. — Mais cedo perguntou se minha consciência está tranquila.
— Dou uma pausa. — Por causa da porra de um mal-entendido,
estou me sentindo um merda!
Assim que as duras palavras saem por meus lábios, vejo o
arrependimento brilhar em seus olhos, porém, o ignoro enquanto
continuo caminhando em direção ao estacionamento. Encontro
minha BMW prata como metal, destravo as portas já voando para
dentro do banco do motorista e em poucos minutos estou na avenida
principal cantando pneu em direção ao apartamento de um amigo.

Há algumas depois...

Depois que sai da empresa, deixando para trás meus irmãos e


meus pais, fui atrás do único que não julgaria meus atos. Encontrei
com Dreycon em seu apartamento e pedi que me ajudasse a
encontrar minha menina. Contei como nos conhecemos e quando
percebi que estava apaixonado, contei da reportagem e da ligação
descobrindo assim o que havia acontecido.
— Cara, você precisa comer alguma coisa — Dreycon resmunga
sentado no banco ao meu lado. — Está há quantas horas sem
comer?
Sem animo ou interesse, ergo o pulso em busca do meu relógio
preto de marca e conto mentalmente que estou aproximadamente há
catorze horas sem ingerir qualquer alimento.
— Acho que aproximadamente umas catorze horas. — Respondo
vendo um olhar perdido em seu rosto.
Para minha surpresa, Dreycon me deu um pequeno sermão e
começou a ligar para alguns contatos em busca de informações para
me ajudar. Como em muitas outras vezes, meu amigo abriu a porta
da sua casa e deixou-me entrar, me ajudou e depois de três horas de
agonia, xingamentos e muita dor no peito, descobrimos que Nayara
estava internada no Hospital Clínico Calixto Garcia, que ficava a
duas horas de carro seguindo para o norte.
Dreycon preocupado com minha condição mental arrancou a
chave do carro das minhas mãos e dirigiu em silêncio por todo o
caminho até chegarmos ao local indicado. Durante o caminho da
estrada, sugeri que colocasse no GPS do carro o trajeto, porém,
negou dizendo que tinha uma conhecida que trabalhava nesse
hospital e que sabia o caminho mais rápido e seguro, para que eu
não me preocupasse.
Antes que o motor do veículo fosse desligado pulei do carro
ansioso para saber sobre o estado da minha garota. Não me
preocupei em esperar meu companheiro sair do carro e me seguir,
em vez disso, saí em disparada para a entrada do hospital seguindo
o caminho da área de recepção aos pacientes e acompanhantes.
— Boa tarde, senhor. — Um rapaz me cumprimenta com um
sorriso amarelo olhando-me de cima a baixo. — Posso ajudá-lo?
— Espero que sim. — Coloco as mãos sobre o balcão. — Quero
ver a Nayara Monteiro, ela estava dentro do avião que caiu a poucas
horas. Cabelos compridos e loiros, pele branca, levemente
bronzeada, tem mais ou menos um metro e sessenta — digo as
características físicas da minha menina para que o rapaz possa
lembrar, caso tenha feito sua ficha de atendimento. Ele desvia o
olhar encarando seu computador, começa a apertar alguns botões e
volta a me encarar.
— O senhor é da família?
Sua pergunta me pega de surpresa e não sei o que responder.
— Da família? — Hesito. — Não...
Ele suspira aparentemente entediado.
— Então sinto muito, não posso liberar informações da paciente
para pessoas que não sejam da família.
Minha boca nesse momento queima ao encostar-se ao núcleo da
terra diante de tanta surpresa e raiva.
— Dominic. — Dreycon chama minha atenção enquanto conversa
com a recepcionista. — Avise para a Gabriela que estou a caminho
da sala dela.
Meu amigo faz um sinal com a cabeça para que eu o siga e faço
sem questionar, caminhamos em silêncio, pegamos um elevador e
passamos por uma secretária que sorri ao nos ver e então, entramos
numa sala muito bem decorada.
De longe, vejo uma mulher de longos cabelos ruivos, olhos
castanhos como avelãs dentro de um vestido lápis azul escuro que
está quase todo escondido por um jaleco branco. Quando os olhos
da mulher chegam ao meu amigo, o sorriso que estava em seus
lábios desaparece e ela estreita os olhos, confusa.
— Não é que a mege... Você continua estonteante, Gabriela. —
Dreycon sorri colocando as mãos dentro do bolso da sua calça jeans
preta, a mulher acompanha cada um dos seus movimentos e ergue
uma sobrancelha enquanto cruza os braços.
— Diga que tem um motivo muito bom para estar atrapalhando
meu serviço, se não, chamarei os seguranças e pedirei que o joguem
na rua como da última vez.
Arregalo os olhos diante da ameaça nítida e sem medo da mulher
que dá um meio sorriso ao me ver assustado. Olho para meu amigo
com receio, ela não pode nos expulsar do hospital, senão não irei
conseguir ficar ao lado da minha garota.
— Achei que já havíamos superado essa fase. — Dreycon faz um
bico. — Os tabloides adoraram aquelas fotos... Ainda usa lingerie
vermelho escarlate?
Meu olhar deixa meu companheiro e encaro a mulher toda
poderosa. Suas bochechas começam a tomar uma coloração
avermelhada e a vejo estreitar os olhos, chamas cintilam em suas íris
e tenho muito medo de imaginar aonde toda essa brincadeira vai
parar.
Antes que Gabriela possa falar qualquer coisa, ou cumpra a
ameaça que nos fez segundos atrás, dou um passo para frente
erguendo as mãos num sinal nítido de rendição e começo a me
explicar.
— Por favor, não quero brigas. — Peço. — Minha namorada
estava dentro do avião que caiu a algumas horas, seu cabelo é loiro
e comprido, tem um metro e sessenta. Não sei se está viva ou não e
descobri que deu entrada nesse hospital há pouco tempo — digo
num único sopro. — Preciso vê-la, saber sobre seu estado. Por favor,
não sei quem você é moça, nem da rixa que tem contra ele. —
Aponto para meu amigo. — Não quero me intrometer, mas não estou
do lado dele. Se, ama alguém, ou se um dia já chegou a amar, peço
que me ajude!
A mulher de um metro e sessenta e alguma coisa, olha por uma
fração de segundos para Dreycon, depois volta a me encarar, levanta
e caminha na minha direção, posso ver que usa um salto alto preto,
o que a deixa muito mais alta, quase da minha altura. Ela para diante
de mim e me olha fixamente, olha dentro da minha alma e após
alguns segundos suspira.
— Vem Romeu, vamos achar sua Julieta. — Dá um meio sorriso,
posso ver dentro dos seus olhos castanhos a promessa silenciosa
que me faz. Gabriela me ajudará a encontrar Nayara, porém, não
pode prometer nada sobre seu estado de saúde.
Saímos em silêncio de dentro da sua sala, a dama anda a nossa
frente demonstrando todo o poder e graça que possui. Ela anda
determinada e após trocar uma breve palavra com sua secretária,
começa a caminhar pelos corredores até pararmos na frente de uma
porta, então se vira olhando-me fixamente.
— Sua garota está dentro dessa sala. — Revela. — Está
passando por uma cirurgia muito complexa nesse momento, por isso
não pode vê-la. — Lamenta. — Sinto muito por não poder ajudar
mais.
Gabriela parece sincera ao dizer essas últimas palavras e quando
penso que irá me dizer algumas palavras de conforto, dá um sorriso
angelical.
— Sua garota é forte. — Pisca um olho. — Vai sair muito bem
dessa cirurgia, posso apostar.
E então, despede-se, gira o corpo sobre seus saltos altíssimos e
começa a andar na direção oposta a que estamos sem sequer olhar
para Dreycon, em momento algum.
— Pelo visto, continua a mesma megera. — Dreycon faz uma
careta.

Nesse momento...

— Você passou a noite aqui? — A voz de Gabriela, a mulher que


descobri ser a dona do hospital, questiona aparecendo ao meu lado.
Ergo o olhar encontrando seus olhos e confirmo com um aceno. —
Deixe-me adivinhar: Não conseguiu comer nada, certo? — Confirmo
novamente. — Ande logo, pegue. É um copo de café, não está nem
tão doce, nem tão amargo. No ponto perfeito.
Abaixo o olhar encarando suas mãos, onde percebo ter dois
copos do Starbucks e a fumaça quase invisível exalando mostrando
seu calor indescritível. Não me faço de rogado, aceito o copo e após
soprar bebo um pequeno gole sentindo o sabor renovar um pouco
minhas energias.
Chegamos ao hospital por volta das quatro, cinco horas da tarde
e agora são sete e pouco da manhã, passei a noite toda sentado
diante da sala de operação esperando alguma notícia dos médicos.
Até então tenho apenas uma única certeza, Nayara está viva e
lutando para permanecer assim.
— Não precisava se incomodar — sussurro agradecido, enquanto
tomo outro gole e a vejo sorrir.
— Não mesmo, mas obrigado, estou cheio de fome. — Dreycon
sorri como um menino que acaba de ganhar seu tão desejado
presente de natal, enquanto estende as mãos para apanhar o
segundo copo que Gabriela recua para trás levando-o com ela.
— Ah, você queria? — Franze o cenho. — Não sabia, sinto muito.
— Gabriela sorri vitoriosa enquanto leva o copo aos lábios, dá um
longo gole gemendo em apreciação e ainda lambe os lábios
insinuando o quanto a bebida está deliciosa. Meu amigo acompanha
cada pequeno movimento que ela faz, como se estivesse hipnotizado
e depois rosna.
— Não queria mesmo essa droga — resmunga voltando a se
sentar. — Nem gosto de café e essa merda deve estar envenenada.
— Bufa. — Parece que veneno com maçãs estão ultrapassados.
— Está insinuando que sou uma bruxa? — Gabriela coloca as
mãos na cintura com os olhos estreitos.
Antes que Dreycon responda, a porta da sala se abre e um
médico sai lentamente com o semblante cansado. Fico de pé no
mesmo segundo, caminho na sua direção e o encaro com
expectativa.
— O senhor é acompanhante da paciente Nayara Monteiro?
É impossível descrever em palavras o tamanho da aflição que
percorre cada centímetro do meu corpo, ela se mescla nitidamente
com o medo, receio e com uma angústia alarmante. Sinto meu
coração falhar uma batida, mal consigo respirar e por alguns
segundos um gosto amargo surge em meu paladar. Engulo em seco
tentando disfarçar o incomodo que a cada segundo vai crescendo
em meu interior.
Ansioso, busco na feição do médico a minha frente, alguma
informação positiva, tento ler suas expressões, gestos e se fosse
possível, leria seus pensamentos para que pudesse me preparar.
Dr. Gaspar, o médico que saiu da sala de cirurgia, franze o cenho
avaliando meu rosto assim como eu fazia consigo. Após alguns
segundos em silêncio, olha ao redor levemente apreensivo, respira
profundamente e somente então começa a falar.
— O quadro é bastante complexo. — Revela olhando-me
fixamente. — A paciente sobreviveu após uma queda de mais de dez
metros de altura. — Olha sua ficha médica. — Não sei como, mas foi
encontrada entre alguns destroços e posso arriscar dizer que esses
destroços colaboraram para salvar a vida dela. — Volta a me fitar. —
Quando chegou ao hospital, Nayara, havia perdido uma quantidade
significativa de sangue, fizemos uma transfusão para amenizar seu
estado. Na parte esquerda da sua cabeça, havia uma escoriação
significativa, provavelmente, durante a turbulência ela acabou
batendo a cabeça com força o que lesionou o local. — Faz uma
pequena pausa. — Infelizmente, durante a queda, alguma coisa
pegou fogo e acabou atingindo-a, mas os danos foram poucos e
quase inexistentes, mas já estamos tratando as queimaduras. —
Franze o cenho como se estivesse pensando. — A paciente, sofreu
diversas contusões pelo corpo, também estamos tratando isso. —
Respira profundamente.
O encaro sem conseguir pronunciar qualquer palavra. Minha
garota está viva, não importa o que aconteceu com seu corpo, o
importante é que minha loira está viva e em breve poderá voltar para
mim e poderemos voltar a ficar juntos, porém, dessa vez farei
corretamente. Irei pedir sua mão em namoro, iremos ficar um bom
tempo como dois coelhos apaixonados e depois pedirei para que se
case comigo, que seja minha mulher, exclusivamente minha.
— Os parentes podem entrar para visitá-la? — Gabriela
questiona ao meu lado, chamando assim a atenção do médico que
quando a vê conosco, franze o cenho ligeiramente confuso.
— Infelizmente, doutora Gabriela, não — responde e continua —,
sedamos a paciente para que seu corpo possa descansar e se
recuperar de todas as feridas tranquilamente.
Aceno com a cabeça compreendendo suas palavras. Por um
lado, estou triste por não poder entrar nessa sala e encontrar minha
garota, por outro, estou feliz, pois ela poderá descansar sem
preocupações e seu corpo terá melhoras, mais rapidamente. Respiro
um pouco aliviado, sabendo que seu quadro está estável. Nayara,
ficará bem, sinto dentro do meu coração.
— Doutor, sabe nos dizer se haverá alguma sequela devido à
queda? —Dreycon questiona atrás de mim com os olhos levemente
estreitos, encarando o doutor a nossa frente. Ele suspira
profundamente antes de responder nossa pergunta.
— Todos os exames foram feitos e não encontramos nenhuma
irregularidade que já não fora resolvida. — Explica. — No momento,
precisamos esperar a paciente despertar para descobrir se não
existe algo a mais.
Balanço a cabeça concordando com suas palavras.
Uma onda invisível, porém, quase palpável de alívio domina boa
parte do meu corpo ao saber sobre o estado físico da minha garota.
Em poucas horas irei encontrá-la desperta, iremos conversar sobre
tudo o que aconteceu e ajudarei em tudo o que precisar. Mas
olhando para o doutor a minha frente, lembro que preciso resolver
outro problema, preciso também esclarecer alguns pontos.
— Esse hospital é particular, com quem preciso conversar para
acertar as coisas? — questiono olhando fixamente para meu
companheiro. Dreycon inclina levemente a cabeça para o lado
indicando nossa acompanhante, Gabriela que move os ombros.
— Ela. — Dreycon responde no mesmo segundo que Gabriela
sopra um eu baixinho, então os dois resmungam como crianças.
— Podemos conversar a sós? — Fito-a com atenção, esperando
por sua resposta. — Vamos então?
E então, caminhamos pelo corredor em direção ao seu escritório
que fica no décimo segundo andar. Durante todo o trajeto ficamos
em silêncio, apenas andando lado a lado.
Passamos por sua secretária que lhe dá bom dia e finalmente
entramos na sua elegante sala. Assim que nos sentamos cada um
em sua respectiva cadeira, começo a explicar toda a situação.
Digo que desejo que Nayara seja tratada com cuidado, dedicação
e maestria, pois pagarei cada centavo do seu tratamento e que não
aceitava cuidados meia boca. Cheguei ao ponto de ameaçar
derrubar seu hospital lançando diversos processos caso algo
acontecesse com minha menina e após uma hora de conversa,
acabamos nos despedindo com um meio sorriso no rosto.
Gabriela prometeu cuidar pessoalmente do caso, não por causa
do dinheiro e sim por eu realmente amar minha namorada, palavras
dela. Por algum motivo, sinto que ela não gosta muito do amor e
sorrio por ver meu antigo eu em sua forma física tão palpável.
— Dominic, vem aqui um segundo. — Dreycon sussurra ao abrir
a porta e colocar somente a cabeça dentro do cômodo, fazendo-me
olhá-lo surpreso. Mesmo contrariado e constrangido, despeço-me de
Gabriela e o sigo para fora.
— Temos um pequeno problema.
Franzo o cenho confuso com suas palavras, como assim temos
um problema? O que raios isso significa?
— Como assim? — Resmungo.
— Tem um homem lá embaixo, na recepção, ele diz ser parente
da sua garota, porém, a secretária quer confirmar com você para
liberar a entrada dele.
De todas as palavras que meu companheiro proferiu, somente
uma ficou gravada na minha cabeça; Homem. Tem um homem, na
recepção alegando ser da família da minha menina e quer entrar
para vê-la. Como assim?! Estreito os olhos sentindo o sangue
fervendo nas veias, dou as costas para Dreycon e sigo para o
elevador em passos largos e pesados.
Nayara nunca comentou comigo sobre ter um irmão, primo, pai
ou algum tio próximo. Bufo, não éramos muito próximos também,
porque ela contaria sobre sua vida pessoal para seu companheiro de
foda? Esse pensamento me deixa irritado, não quero que Nayara me
enxergue como um companheiro de foda e sim como o homem da
sua vida.
Antes mesmo de colocar os pés dentro da recepção consigo ouvir
algumas vozes alteradas indicando uma provável discussão
acalorada, olho rapidamente para meu amigo percebendo que
ambos pensávamos a mesma coisa. O tal sujeito que quer ver minha
garota, está causando um pequeno tumulto na entrada do hospital.
Penso nas consequências das suas ações antes mesmo de vê-lo
diretamente, do jeito que Gabriela parece odiar Dreycon, se ficar
sabendo deste incidente pode mandar os seguranças expulsarem a
todos nós e acabarei ficando longe do meu bem mais precioso. Não
posso deixar esse cara, seja quem for, continuar sua discussão
infundada. Se ele é dá família, deve imaginar que logo poderá ver
Nayara. Não o privaria de tal coisa, jamais.
Passo por algumas pessoas curiosas que estão paradas
observando a cena e finalmente chego ao centro dos olhares
curiosos, avistando um homem discutindo com o mesmo rapaz que
me atendeu ontem. Observo seu porte físico estudando mentalmente
sua idade enquanto me aproximo aos poucos, chuto um metro e
oitenta, cabelos dourados com alguns fios escuros, usa uma blusa
de frio cinza, uma calça jeans marrom e um par de sapatos pretos.
— Não, não sou nenhum parente. — Bufa gesticulando com as
mãos. — Mas preciso, ao menos, saber sobre o estado de saúde
dela!
— Com licença — falo chegando ao seu lado. — Quem é você?
O homem, gira olhando-me fixamente, percebendo somente
então minha presença. Ele fica alguns segundos em silêncio, apenas
me observando e então separa seus lábios.
— Você é o homem que está acompanhando a Nayara, não é? —
indaga focando seus olhos em mim. — Não quero nenhuma
confusão, só preciso saber como a minha menina está.
Estreito os olhos quando o pronome possessivo minha escapa
por seus lábios. Como assim Nayara é a menina dele? Desde
quando? Olho-o de cima a baixo sentindo-me ameaçado com sua
presença, sinto que o conheço, que de alguma forma sei quem é,
mas não consigo lembrar de qual lugar.
Seus olhos claros estão brilhando em expectativa, sua ansiedade
em saber do estado de saúde da minha garota me faz recuar
mentalmente. Quando cheguei, ouvi que ele não é um membro da
família, então quem é esse homem que está tão interessado na
loirinha?
— Sim, sou o responsável por ela — declaro sentindo a garganta
arranhando. — Quem é você mesmo? Algum primo, irmão ou tio...
Não termino a frase, deixo as palavras voarem no ar dando a
deixa para que ele possa concluir minha linha de pensamento.
— Não sou da família — resmunga. — Meu nome é Heitor, sou
um amigo muito próximo da Nayara e saí de São Paulo apenas para
saber como ela está.
Sinto a bile subir pela garganta quando seu nome finalmente é
revelado. O incômodo na boca do estômago piora em uma proporção
mil vezes maior e sequer consigo respirar corretamente. Agora,
entendo o motivo de estar me sentindo ameaçado, mesmo
inconscientemente sabia que ele representava alguma ameaça.
Ele é o encanador maldito que estava rodeando minha garota, o
amigo que Nayara falava com tanto carinho. O homem que estava
com a camiseta molhada e o causador da recente briga que tive com
ela. O que esse infeliz está fazendo aqui? Como descobriu que
Nayara havia sofrido um acidente e como descobriu que estava
exatamente nesse hospital?!
Maldição!
Olho-o novamente de cima a baixo e engulo em seco
descontente. Ele é atraente, tem um ar de filhinho de papai, o genro
que todas as sogras gostariam de ter. Será que Nayara já dormiu
com ele?
Maldição!
Não posso pensar nessas coisas!
— Dominic Grombeth. — Estendo a mão dando um sorriso
forçado. — O namorado da Nayara.
Heitor estreita os olhos surpreso com minhas palavras e posso
ver uma pontada de decepção brilhar em seus olhos claros. Pois é,
Nayara é minha, pode ir tirando o seu cavalinho da chuva se acha
que vai levá-la embora. Sei que estamos brigados, mas esse cara
não precisa saber de todos os detalhes.
Mesmo sendo um amigo, como revelou, parece que não sabia da
minha existência e isso me deixa intrigado. Nayara tinha alguma
relação com ele, enquanto saia comigo? Balanço a cabeça afastando
esse pensamento. Não, esse tipo de ciúmes sem fundamento que
causou nossa última briga e ela afirmou que era fiel a mim, Nayara
não me traiu de nenhuma forma. Tenho que confiar na mulher por
quem estou apaixonado.
— Namorado?! — Repete surpreso. — Não sabia que a Nayara
estava namorando. — Franze o cenho medindo-me de cima a baixo,
assim como fiz com ele. Mas no segundo seguinte, toda a surpresa e
curiosidade se esvai dando lugar a somente um sentimento,
preocupação.
— Posso vê-la? — indaga. — Pode ao menos, me dizer como ela
está?
Engulo em seco pensando nos prós e contras de responder suas
perguntas. Posso mandá-lo embora, assim sacio minha raiva e
permaneço com o orgulho intacto, porém, quando Nayara despertar
e descobrir, ficará ainda mais brava comigo e isso não será muito
bom.
Respiro profundamente uma grande quantidade de oxigênio
antes de tomar uma decisão.
— Vou assinar uma autorização, para que possa entrar e sair no
momento que quiser. — Opto por ser bonzinho. Quem sabe sendo
gentil com ele, posso ganhar alguns pontos positivos com minha
loirinha. — Vem, me acompanhe, por favor. — Peço caminhando em
direção ao corredor. — Nayara se machucou muito na queda do
avião, teve algumas lesões e machucou a cabeça. Estou aqui desde
a tarde de ontem, ela estava em cirurgia quando cheguei e terminou
a poucas horas, agora está descansando na UTI. — Dou uma
pequena pausa. — Só não digo que pode vê-la, porque os médicos
não permitem.
Heitor balança a cabeça a cada palavra que vou dizendo,
enquanto caminhamos até o quarto em que Nayara está repousando.
Explico toda a situação, como descobri sobre seu acidente, como a
encontrei no hospital e a conversa que tive com o especialista que
está cuidando do seu caso. Todo momento questionava algo que não
entendia e no fim agradeceu por todo o apoio que eu estive dando.
— Como descobriu sobre o acidente? — questiono curioso.
— Quando Nayara foi contratada deu meu número para que
ligassem caso alguma emergência acontecesse. — Deu uma pausa.
— Estava no hospital em que trabalho quando me ligaram avisando,
não pensei em mais nada, comprei uma passagem no primeiro voo
disponível.
Aceno a cabeça acreditando em suas palavras, isso é algo
comum em todas as empresas. Exigimos um número para ligarmos
caso ocorra algum imprevisto e foi o caso da Nayara hoje.
— Quando foi que vocês se conheceram? — questiona sentado
ao meu lado.
Estamos sentados lado a lado em frente ao quarto em que
Nayara está. Esperamos que os médicos ou alguma enfermeira
consiga alguma nova informação sobre minha garota.
Penso em como responder sua pergunta e a primeira lembrança
que vagueia por minha mente é o sexo selvagem que fizemos no
avião. Em como nossos corpos se encaixaram perfeitamente, como
possuíamos o mesmo ritmo e desejo. Mas, mesmo querendo, decido
não contar essa versão da história. Creio que Nayara não gostaria de
ter sua intimidade exposta dessa maneira.
— Era um passageiro em uma das viagens entre São Paulo e
Cuba, acabamos trocando algumas palavras. — Não é realmente
uma mentira, fizemos isso e eu era um passageiro. — No dia
seguinte, recebi uma ligação falando que um dos meus prédios
residenciais estava com problemas e quando fui conhecer a dona do
apartamento, descobri que era ela. — Lembro quando a vi de roupas
íntimas dentro do seu apartamento. — Acabamos conversando e
nem percebi quando me apaixonei.
Sou sincero. Realmente, percebi tarde demais o quão grande
eram meus sentimentos em relação a essa loira e por pouco, quase
que a perdi para a morte. Heitor parece prestar atenção em todas as
minhas palavras, quando termino dá um meio sorriso sincero e
acena com a cabeça, ligeiramente, desacreditado.
— Desculpa se pareço não acreditar. — Sorri. — Nayara é um
espírito tão livre, tem muito tempo que não namora, desde o último
relacionamento que não acabou muito bem, preferiu seguir sua vida
a sua maneira. — Bufa. — Deve ter percebido.
— Realmente, percebi — resmungo. — O que quer dizer com,
desde seu último relacionamento? — questiono intrigado com suas
palavras.
Sei como Nay desenvolve seu relacionamento com seus
acompanhantes de foda, ela assim como eu não gostava de
intimidades, não queria se envolver demais para não se machucar,
mas nunca mencionou um antigo namorado.
— Ela não lhe contou? — indaga e nego com a cabeça. —
Quando mais nova conheceu um cara e aparentemente, ele era
super gente boa. Os dois ficaram juntos por quase um ano, eram
lindos juntos. — Seu tom fica ligeiramente irônico. — Do nada,
Nayara descobriu que ele era casado com outra mulher e tinha uma
família em outra cidade, por isso viajava tanto e sumia por alguns
dias. — Comprime os lábios e resmunga. — Ela ficou arrasada,
estava realmente apaixonada pelo canalha. E depois, decidiu que
não iria se envolver emocionalmente com mais ninguém. Começou a
sair com outros caras, ficava uma, às vezes duas noites, mas nunca
se prendia. — Fica em silêncio por alguns segundos antes de voltar
a falar. — Por isso estou surpreso em saber que estão namorando, é
um pouco estranho sabe? — Parece pensar. — Nayara estava
estranha nos últimos dias, distante e... — Se interrompe levando
seus olhos até os meus.
Sua história me deixa completamente sem palavras, não sabia
sobre isso. Nayara nunca me contou que já havia sido magoada por
alguém no passado, nem o motivo de não querer se relacionar com
alguém. E agora, descubro pela boca do seu melhor amigo que ela
fora iludida por um idiota qualquer que machucou seu coração.
Um flash passa por mim, quando estávamos juntos no seu
apartamento e Naty me ligou, um dia antes de Levi ser atropelado,
Nayara pensou que minha irmã era algo a mais e ficou muito brava
comigo, sua reação me deixou sem palavras, porém, na época,
pensei que fosse ciúmes. Agora tudo está explicado.
— E? — Peço para que prossiga. — Como assim estava
estranha? —questiono curioso e ele parece hesitar em responder.
— Estava... Sensível... — Dá uma pequena pausa. — Vocês
brigaram recentemente?
Encaro-o fixamente calculando mentalmente se ele poderia estar
mentindo, porém, não há motivos para isso, então foco em outra
coisa.
— Infelizmente — resmungo chamando sua atenção. —
Discutimos porque pensei que ela estava se deitando com você.
Seus olhos brilham, na medida em que ficam ligeiramente
arregalados, Heitor absorve minhas palavras lentamente e por fim,
ergue uma sobrancelha como se estivesse surpreso com minha
revelação.
— Vocês tiveram uma discussão por que você achou que ela
estivesse dormindo comigo?! — Reproduz toda a minha frase como
se estivesse à espera da minha confirmação, para garantir que não
havia escutado nenhuma palavra errada. — Cara, não é por nada
não... — Hesita se posicionando na cadeira. — Mas, você foi muito
burro.
Ergo uma sobrancelha como se dissesse é mesmo? Nem sabia
disso... E balanço a cabeça desviando o olhar. Depois de tudo que
aconteceu, das palavras duras da minha garota, tenho certeza de
que fui um idiota com ela, um canalha por duvidar das suas palavras
e do seu caráter.
Nayara pode ser muitas coisas, não tem pudor algum, tem uma
boquinha muito danada, tem um temperamento fodidamente intenso,
mas nunca mentiria para mim. Nunca trairia seu companheiro.
— Na hora nem pensei direito, sabe? — digo. — De repente,
fiquei completamente cego pelo ciúme e pensei muitas coisas de
maneira distorcida.
Agoniado, retiro o celular de dentro do bolso da calça,
desbloqueio a tela inicial e coloco na galeria de fotos. Depois do
surto que tive quando pensei pudesse estar sendo traído por Nayara,
atirei o celular contra a parede, o mesmo estilhaçou. No dia seguinte
foi necessário adquirir outro aparelho, já que devido ao grande
volume de trabalho e desespero por encontrar ela, eu necessitava de
outro. Sendo assim após a aquisição, cadastrei meu e-mail e graças
às inúmeras tecnologias havia salvado as fotos no drive, assim pude
recuperá-las. Procuro entre as diversas imagens a que desejo ver e
não demoro muito para encontrá-la, abro a foto e sem perceber, sinto
um sorriso singelo nascendo em meus lábios.
No momento retratado estávamos os dois no meu quarto, ambos
estávamos deitados sobre a cama, havíamos acabado de ter um
momento perfeito, juntos, nossos corpos ainda estavam encaixados,
nossas respirações aceleradas e nossos corações ainda batiam com
certa velocidade.
Nayara estava deitada com a cabeça em meu peito, seus cabelos
dourados caiam como cachoeira por seus ombros e cobriam
parcialmente os meus e antebraço. Meu braço direito estava ao redor
dos seus ombros enquanto seu rosto estava parcialmente escondido
na curvatura do meu pescoço e enquanto eu olhava diretamente
para a câmera com um sorriso radiante em meu rosto, Nayara estava
com os olhos apertados, com um meio sorriso angelical em seus
lábios.
— Vocês parecem felizes nessa foto. — A voz de Heitor tira-me
dos meus pensamentos. — Você parece fazê-la feliz.
Com o polegar, acaricio a tela do celular por cima da sua face
levemente rosada e dou um sorriso amarelo antes de responder.
— Eu tento fazê-la sorrir a cada segundo que estamos juntos.
Deslizo a foto para o lado encontrando outras imagens, que
tiramos juntos, algumas delas, Nayara sequer sabe da existência,
tirei escondido em momentos de distração. Tenho fotos dela
dormindo, com seus olhos fechados e semblante sereno, uma foto
dela de toalha de banho, quando acabava de sair do banheiro e
capturei o momento, entre várias outras.
Meu coração aperta dentro do peito, a saudade de tê-la outra vez
em meus braços incomoda ainda mais forte causando uma dor
quase insuportável na alma. Bloqueio a tela fugindo do seu olhar
sereno e determinado e me pego pensando em como deixei as
coisas chegarem nesse ponto.
Não sei em que momento errei, se foi quando sai para beber,
quando desliguei a ligação tomado pelo ciúme, quando deixei que
fosse embora pela primeira vez e não lhe acompanhei, ou quando
não impedi que fosse embora da minha casa quando pensou que
havia dormido com outra mulher. Foram tantos erros que nem posso
distinguir qual é o menos pior.
— Ela é uma mulher muito forte, Dominic. — Comenta pensativo.
— Nayara ficará bem, tenho certeza disso. — Dá uma pequena
pausa. — Conheço-a há uns quatro, cinco anos, por aí... — fica em
silêncio —, e nunca vi aquele sorriso nos lábios dela.
— Acho que ninguém conseguiu domar a fera. — Brinco piscando
o olho.
— É sério, aquele sorriso significa muito para ela. Nunca em
todos os anos que nos conhecemos, consegui tirar ou vê-la sorrindo
dessa forma. — Explica. — É uma risada do tipo sincero, que está
em casa, feliz e satisfeita. — Fica em silêncio por alguns segundos.
— Vou ser sincero com você, desde que nossos caminhos se
cruzaram, me apaixonei completamente pelo jeito espontâneo,
determinado e decidido dela. Então, acredite quando digo que é a
primeira vez que vejo esse sentimento em sua face, que vejo amor.
Novamente, desbloqueio a tela do aparelho e volto a fitar com
carinho e atenção a foto que tiramos juntos. Realmente, preciso
concordar com Heitor, essa imagem significa muito para nós dois,
representa muitos sentimentos.
Então, ouço a outra parte das suas palavras, a parte em que ele
revela que sempre foi apaixonado pela minha garota e todo o
conforto que eu sentia até então desaparece dando lugar a uma
onda de desconfiança.
— Ela é minha. — Rosno como um maldito cachorro marcando
território sobre suas posses. Sinto minha garganta arranhando como
se tivesse dito algo errado, mas preciso reafirmar com veemência
que Nayara está envolvida comigo e não me deixará para ficar com
outra pessoa.
Sinto um peso sobre meus ombros e sinto-me momentaneamente
culpado, como se Nayara fosse levantar da cama, vir até aqui fora só
para me dizer que não é um maldito objeto para ser de alguém. Mas
logo, esse sentimento vai embora dando lugar a outro.
— Sei disso. — Sorri fraco. — Dá última vez que estivemos
juntos, tentei beijá-la e para a minha surpresa, Nayara se afastou. —
Revela me deixando confuso. — Somos... ou melhor, éramos amigos
com benefícios, mas de repente, tudo mudou entre nós, a malícia
acabou indo embora dando lugar a um carinho entre irmãos. — Dá
uma longa pausa. — Admito que perdi para você, pode ficar
tranquilo, para mim, basta vê-la feliz, seja com quer for, que já estou
satisfeito.
Penso em continuar sentado quieto e em silêncio mantendo meu
comportamento de bom amigo, namorado e companheiro. Mas
quando escuto que ele tentou beijá-la e que eram amigos com
benefícios, sinto o meu sangue começar a borbulhar dentro da veia.
Pisco tentando respirar profundamente e não consigo ver mais nada,
uma nuvem vermelha invade meu campo de visão aumentando cada
vez mais minha raiva.
Não consigo me controlar, de um segundo para o outro estou de
pé a sua frente e a próxima coisa que vejo é meu punho acertando
com força seu maxilar. Sei que quando minha loirinha acordar,
provavelmente, ficará muito puta da vida comigo, vai querer devolver
o soco e provavelmente vai me xingar um pouquinho... Oh... foda-se,
ele já a viu nua.
Meu subconsciente grita avisando que, novamente, estou
fazendo merda e que, novamente, posso me arrepender
amargamente. Mas, não consigo evitar, estive certo esse tempo todo
em ter um pé atrás com esse cara. Ele a queria para si e mesmo não
admitindo queria roubá-la de mim.
— Por quê?! — indaga quando se levanta cambaleante e dou um
passo para trás. — Já falei que admito que perdi ela para você.
— Como tem coragem? Está sentado do meu lado esse tempo
todo como se fosse um amigo, quando na verdade quer roubá-la de
mim! —Ouço alguns sussurros surpresos ao meu redor, vejo
algumas pessoas cochichando baixinho e alguns olhares curiosos
fixos na cena que a cada segundo se desenrola.
— Sim, estou aqui como o cara que ama ela, mas também estou
aqui como um amigo que se preocupa, como o único que lhe deu
apoio durante anos! — Heitor rosna, seu rosto fica levemente
vermelho por causa do soco e da raiva que vai crescendo em seu
peito.
Tento avançar em sua direção para mostrar como um homem que
ama de verdade age, porém, sou impedido por um par de mãos que
me prendem no lugar. Alguns seguranças aparecem e seguram, nós
dois, tentando acabar com toda a confusão e nos arrastam para fora
do hospital.
— Quero uma explicação. — Gabriela exige sentada a nossa
frente, seus braços estão cruzados e um olhar assassino brilha em
sua face. — E, por favor, que seja muito convincente.
Depois do espetáculo que Heitor e eu protagonizamos, os
seguranças apareceram e após restringir todos os nossos
movimentos quase nos colocaram na rua sem dó nem piedade,
porém, não sei como, Dreycon convenceu a onça a ouvir nossa
versão e aqui estamos.
Heitor está sentado ao meu lado com os olhos abaixados, a
vergonha é nítida em sua face e sinto um incomodo em saber o quão
fodidamente boa pessoa ele parece ser, mesmo tendo feito merda.
Não estou muito diferente, estou sentado com a cabeça abaixada
tentando esconder a vergonha que sinto pelos meus últimos atos.
Mesmo sabendo que Nayara se afastou do toque dele, agi como um
idiota que só pensa com a cabeça de baixo.
— Estou pensando seriamente em chutar a bunda de vocês três
para fora do meu hospital.
Levanto um pouco a cabeça para ver Dreycon erguendo uma
sobrancelha ligeiramente surpreso com o fato de ser incluído nesse
tratamento tão carinhoso.
— O que foi que eu fiz para merecer ter a bunda chutada pelo
seu salto de tamanho exagerado? — Dreycon questiona cruzando os
braços, sobre o peito e seu olhar volta para mim. — Você é um
merda, meu amigo. Vê as confusões em que me coloca?
Desvio o olhar tentando fingir que nada disso está acontecendo.
— Exagerado? Gosto de coisas compridas querido, longas, pena
que você não soube atender a esse gosto.
Arregalo os olhos diante dessa afirmação e posso sentir o duplo
sentido em suas palavras. Sinto como se estivesse diante de uma
briga entre dois lobos, o macho alfa e sua companheira, que
discutem para saber quem rosna mais alto.
Levanto-me da cadeira cansado, com tudo que aconteceu
ultimamente, novamente provei que não sou digno de ficar perto da
minha garota, mas mesmo sabendo que posso machucá-la, que
posso feri-la de alguma maneira, sou egoísta e não quero me afastar.
Capítulo 25
Dominic Grombeth

Hoje completa oito dias desde que Nayara sofreu o acidente no


avião, oito dias que não vejo seu sorriso, ouço sua voz ou ao menos
posso encarar aqueles belos olhos. Durante esse tempo, velei seu
sono como um louco, meu hobbie se tornou acariciar seus cabelos e
seu rosto, sussurrar coisas boas, planos para nosso futuro e até a
ideia de formar um lar juntos, com filhos, cachorro e até um cercado
branco, caso ela queira. Perceber que estou acalentando seu sonho,
sonhando com um futuro bonito ao seu lado, mostra o quão
apaixonado estou por essa loira arretada.
Após uma conversa com Heitor percebi que precisava trazer a
família da Nayara aqui para Cuba, para poder visitá-la e ter noção da
sua saúde. A família não possuía condições de pagar a viagem, mais
a hospedagem. Assim que soube liguei para minha secretária para
que ela pudesse organizar tudo o que fosse necessário para que
toda a sua família pudesse estar presente em sua recuperação.
Assim como pedi, minha secretária comprou as passagens,
organizou os quartos do hotel e um cartão sem limites.
Nesse momento estou no aeroporto, com uma placa na mão,
aguardando pelo momento em que a família de Nayara estará
desembarcando do avião. Heitor havia me mandado uma foto da
mãe e primo da minha loirinha, o que me ajuda a reconhecê-los
assim que surgem do outro lado do corredor. Dona Katerina é uma
mulher já madura, enquanto caminha, posso perceber sua elegância
e em seus olhos percebo a preocupação. Ao seu lado encontro um
loiro, bronzeado de olhos claros, identifico-o sendo Kie, o primo de
Nayara e me aproximo.
— Bom dia, como estão? — indago assim que me aproximo. —
Sou Dominic Grombeth, namorado da Nayara. — A mulher me
encara com o cenho franzido, fitando-me com curiosidade e sinto-me
incomodado por alguns segundos.
— Ele que está pagando por nossa viagem e custos em Cuba —
ouço o loiro sussurrando para a ela. — Katerina o encara com
atenção enquanto balança a cabeça absorvendo suas palavras.
Quando volta a me encarar sou surpreendido por seus braços que
circulam meu corpo, puxando-me para um abraço apertado.
— Sou grata por todo o cuidado que está tendo com a minha
filha, por pagar a despesa do hospital assim como se preocupou em
nos trazer para estar presente em sua recuperação.
Por uma fração de segundos lembro-me da minha mãe, da
sensação de segurança e proteção que ela me passa. Logo nos
afastamos e tento me recompor.
— Não precisa agradecer, sou apaixonado pela sua filha e sei
que ela gostaria de ter a senhora por perto. — Desvio o olhar. —
Imagino que a viagem foi cansativa e ainda são sete horas da
manhã, vou levá-los ao hotel em que ficarão e depois seguimos para
o hospital.
— Como minha filha e você se conheceram? — Katerina
pergunta assim que saímos do seu quarto de hotel. Estamos no meu
carro indo para o hospital onde Nayara está internada. Kie está no
banco de trás enquanto Katerina e eu estamos nos bancos da frente.
Por alguns segundos reflito sobre sua pergunta, conheci Nayara
numa foda deliciosa que tivemos dentro de um avião. Não sei se eu
devo contar esses detalhes...
— Sou o dono de algumas filiais de apartamentos, inclusive o da
sua filha que felizmente acabou dando problema e tive que ir
resolver, portanto nos conhecemos assim e acabamos nos dando
bem — conto omitindo alguns fatos e a intensidade de como nos
damos bem.
— Você parece ser um bom rapaz, trabalhador, nasceu aqui
mesmo em Cuba? — indaga.
— Não, nasci em outro lugar, porém meu pai me trouxe aqui e
acabei me apaixonando pelo lugar.
Durante vinte minutos conversamos coisas bobas, respondo
algumas perguntas e no final acabo sentindo-me a vontade.
Chegamos ao hospital, estaciono o carro e saímos caminhando até o
interior, converso brevemente com a recepcionista informando que é
a família de Nayara e após alguns minutos podemos ir vê-la.
— Heitor! — Katerina exclama surpresa e logo o abraça com
força. — Como minha menina está? É você que está cuidando dela?
— Olá, Katy, — Heitor a abraça — não sou o medico responsável,
mas estou sempre informado de tudo. Tudo bem Kie?
Observo em silêncio toda a interação entre os três e
silenciosamente invejo a intimidade e carinho que eles possuem. A
mãe da Nayara possui um carinho muito profundo por Heitor e de
certa forma o invejo por isso.
— Estou tão preocupada com a minha menina... Nem consegui
descansar, não durmo há dias... — Katerina conta.
— Nay precisa descansar, eu estou aqui cuidando dela e o
Dominic também. — Heitor me encara por alguns segundos e aceno
com a cabeça.
Durante vinte minutos observo-os conversando sobre a saúde de
Nayara, seu quadro clínico, recuperação, como teve sorte e como
sou uma boa pessoa por trazê-los para acompanhar seu progresso.
Descobri que eles se conhecem há muito tempo, Heitor é realmente
uma pessoa muito importante na vida da minha loira, jamais terei
como apagar isso e sinceramente, não quero. Heitor pode ter sido
importante em seu passado, porém ela tem a mim em seu presente e
em seu futuro.
Uma médica sai do quarto da Nayara e caminha até nós.
— Com licença, a senhorita Nayara Monteiro está acordada.

CAPÍTULO VINTE E SEIS - Nada além de uma confusão

Nayara

Uma semana depois...

— Fecha os olhos. — Ouço uma voz casta pedir num sussurro


distante. — Não vale espiar.
Não consigo ver nada, sinto meus olhos apertados, o meu
coração acelerado e a respiração, descompassada em expectativa.
— O que é? — Ouço minha própria voz questionar. — Sabe que
não gosto de surpresas.
— Deixe de ser chata, Loirinha. — A voz casta volta a falar, dessa
vez parece bem mais próxima. — Você sabe que todas as minhas
surpresas são agradáveis, agora abra os olhos.
E então a escuridão desaparece completamente, aos poucos e
com muita dificuldade vou abrindo os olhos. A princípio não consigo
ver nada com nitidez, o ambiente está parcialmente claro e demoro
alguns segundos para me adaptar com a falta de luz. Então, aos
poucos, consigo ver os objetos com foco, consigo distinguir as cores
e móveis.
Levo uma mão aos olhos onde massageio as têmporas por
alguns segundos, até que volto a observar o ambiente ao meu redor.
Percebo que tem um fio conectado ao meu braço, com os olhos sigo
o objeto até ver que estou tomando soro, abaixo vejo um
equipamento para monitorar meus batimentos cardíacos.
Estou no hospital. Deduzo enquanto forço os braços para tentar
me sentar no colchão, quando tento me movimentar sinto uma forte
pressão do lado direito da cabeça, uma dor incomum que surge de
repente me fazendo arfar.
Deito novamente no colchão, com os olhos apertados e espero
alguns minutos até que a pressão desapareça e quando isso
acontece volto a abrir os olhos.
Como cheguei aqui? Questiono-me mentalmente e tento buscar
nas memórias algo que possa explicar essa dúvida, porém, quanto
mais penso, mais a dor de cabeça torna-se evidente e então fico em
silêncio, com os olhos fechados, pensando na vida. Não sei quanto
tempo demora, mas em algum momento, alguém entra no quarto em
que estou e se senta numa poltrona de couro que está ao lado da
cama. Pisco surpresa e ergo o olhar encontrando os olhos
inconfundíveis do homem da minha vida, para logo em seguida
encontrar com minha mãe.
— Mamãe... — sussurro surpreendendo-me ao perceber quão
baixa e fraca minha voz se encontra. Meu amigo arregala os olhos
quando os mesmos se encontram com os meus e sorri incrédulo,
minha mãe imediatamente se aproxima com os olhos cheios d’agua.
Percebo que seu cabelo castanho claro, o tom chegando ao
dourado, está levemente bagunçado como se ele tivesse tomado
banho, mas não tivesse se preocupado em escovar seus cabelos
perfeitos. Em sua bochecha, sua barba está bem presente marcando
sua face. Seu ar de menino fofo desapareceu completamente e o
vejo como um homem ligeiramente desleixado, o que me faz sorrir.
— Você está uma merda — sussurro brincando com sua
aparência e pisco um olho, deixando-o aparentemente sem jeito.
— Não diga isso, minha filha. — Mamãe me repreende dando um
beijo em minha testa e a encaro enquanto se afasta.
Mamãe está com uma aparência cansada, com olheiras
profundas, seu cabelo está bagunçado e posso ver com exatidão
como ela está cansada.
— Você acordou, pequena. — Heitor sussurra aproximando-se e
beija minha testa. — Você está acordada... Meu Deus... Está bem?
Sente alguma coisa? — questiona aparentemente surpreso e
desesperado, não lembro o que de fato me trouxe para o hospital,
mas conhecendo Heitor e minha mãe, como conheço, sei o quão
exagerado eles podem ser. Devo ter ficado uma noite sem dormir e
ambos estão assim, nessa calamidade por serem dramáticos.
Engulo em seco me concentrando em sentir todas as partes do
meu corpo, sinto minhas pernas, meus braços, meu pescoço, as
costas. Aparentemente, tudo está bem, só estou um pouco dolorida e
relato isso a ele.
Heitor pega um copo de água e me ajuda a sentar na cama, em
seguida me entrega o copo e em poucos goles bebo todo o conteúdo
sentindo-me revigorada após estar com a garganta molhada e
gelada.
— Fique aqui, irei chamar o doutor, eles precisam saber que você
acordou. — Ao concluir suas palavras, dá um beijo casto na minha
testa e sai do quarto em disparada.
— Assim que soubemos o que aconteceu, eu e Kie nos
organizamos para vir o mais rápido possível, — mamãe conta
olhando-me fixamente — fiquei tão preocupada querida, você não
imagina.
Busco na memória se na noite passada Heitor estava com o
pequeno hematoma que visualizei em sua face antes de sair
correndo e pelo pouco que lembro, ele estava maravilhoso como
sempre. Faço uma nota mental para perguntar o que havia
acontecido, pois não consigo compreender esse borrão em que está
minha memória.
Estou sentada, pensando na vida quando a porta é aberta
abruptamente e um homem invade lentamente o quarto. Esse
homem é tão alto quanto Heitor, se duvidar até um pouco mais, seus
olhos são verdes como duas safiras e estão marejados. Assim como
em Heitor, vejo uma boa quantidade de barba marcando sua pele
bronzeada que o deixa bem apresentável.
Quando meus olhos encontram os seus fico paralisada diante da
dor que consigo discernir. Uma lágrima rola por sua bochecha
enquanto ele dá um passo lento na minha direção, engulo em seco
sentindo sua aproximação.
— Você acordou, Loirinha... — sussurra e de alguma forma sua
voz me soa familiar. — Não sabe o quão mal me senti durante todo
esse tempo — diz e vejo sinceridade em suas palavras. De alguma
forma, sei que ele está sendo sincero, que suas palavras são
verdadeiras, mas tenho uma regra e estou hospitalizada, fora que
nem sei quem é esse homem.
— Desculpa, mas... Eu conheço você? — questiono, as palavras
parecem arranhar minha garganta toda vez que separo os lábios
para proferi-las. O que digo parece pegá-lo de surpresa, pois recua
um passo e me olha assustado, como se eu tivesse falado algum
absurdo.
Ele quebra a distância que existe entre a gente, seus olhos estão
marejados e a dor que expressam quebra algo dentro de mim. Sua
mão segura meu braço e sinto-o exercendo certa força.
— Não brinque com isso, Loirinha. — Ordena enquanto aproxima
seu rosto. E pelo canto dos olhos vejo mamãe se afastando alguns
passos. — Não sabe o inferno que tive que suportar... — Enquanto
vai falando, o homem aproxima o rosto cada vez mais do meu.
Arregalo os olhos surpresa e ergo as duas mãos empurrando-o com
toda a força que possuo, pegando-o de surpresa com minha atitude.
— Senhor me desculpa, mas está me confundindo com alguma
outra pessoa!
Assim que termino de falar vejo Heitor passando pela porta
branca ao lado de uma senhora vestida com um uniforme médico.
Meu amigo assiste confuso, a cena, enquanto a senhora parece
curiosa com meu estado.
— O que está acontecendo, Nay? — Heitor questiona chegando
ao meu lado, pelo outro lado da cama.
— Esse cara, chegou ao quarto dizendo que estava suportando
uma dor ou algo assim e veio me beijar. — Bufo erguendo uma
sobrancelha. — Acho que ele está no quarto errado, pode pedir para
alguém o retirar daqui? — Heitor franze o cenho como se minhas
palavras fossem absurdas, seus olhos me encaram como se eu
fosse um ser extraterrestre e o vejo trocar um olhar sério com o outro
homem.
— Eu não entendo... — O estranho sussurra com os olhos fixos
em mim. — Você não se lembra de mim?
— Filha, esse é o Dominic, graças a ele que seu primo e eu
conseguimos estar ao seu lado durante toda a sua recuperação, —
mamãe exclama pegando minha mão com carinho e sinto um aperto
no peito — você não o reconhece querida?
Franzo o cenho, confusa com suas palavras, como eu poderia
não lembrar-me dele. Tenho certeza de que nunca o vi na minha
frente. Esse cara é gato demais, para esquecer-me de tê-lo visto
alguma outra vez anteriormente.
— Deixe-me sozinha com ela, por favor. — A doutora pede
gentilmente, Heitor afirma com a cabeça e após me mandar um olhar
gentil sai do quarto. O outro cara, pisca entristecido, mas sai
seguindo os passos do meu amigo, juntamente com a minha mãe e
então ficamos somente a doutora e eu.
Penso no homem bonito que acabara de sair e me sinto mal por
não ser quem ele está procurando, ele parece realmente chateado.
— Boa tarde, sou a doutora Laura, pode me dizer seu nome? —
questiona suavemente chegando ao meu lado, para que eu responda
sua pergunta.
Após minha resposta, Laura começa a fazer diversas outras
perguntas sobre minha vida pessoal, se namoro, se tenho filhos,
família, amigos, cor preferida e começa a executar alguns
procedimentos médicos como exame de sangue e alguns outros
testes.
No final do dia estou sentindo-me completamente exausta,
tamanho o esforço que executei, mas valeu a pena, pois pude ver
Heitor voltando para dentro do quarto. A princípio, a médica queria
revelar somente a ele o que eu tinha, porém, intervi e disse que
queria saber também.
Logo atrás do Heitor, o outro homem, o mesmo de mais cedo
entra acompanhando seus passos. Seu cabelo negro está
bagunçado e suas roupas estão amassadas, ele está deprimido e
num estado deplorável.
— Depois de alguns exames minuciosos, cheguei a uma
conclusão. — Faz uma pequena pausa. — Nayara, você
desenvolveu Amnésia Anterógrada. Em outras palavras, após o
acidente que teve, devido a uma lesão em seu cérebro acabou
perdendo suas memórias recentes lembrando-se somente das mais
antigas.
Engulo em seco, surpresa com suas palavras, quer dizer que
minhas lembranças foram apagadas? Não... Isso é impossível, não
é?
— Tem como saber sobre o período que fora apagado? — Heitor
questiona ao meu lado, seus olhos estão preocupados e sinto o
nervosismo circular seu corpo. Estou sentindo a mesma coisa, um
torpor, uma brisa suave que embala minha mente. Minha mãe me
encara em silêncio, mas posso ver o medo e preocupação em seus
olhos castanhos.
Então, o estranho que no momento não me parece mais tão
estranho assim, dá um passo para frente, com a cabeça erguida e os
olhos marejados sopra num fio de voz:
— Desde três meses atrás. — Nossos olhos se encontram e não
entendo o que ele diz. — Quando nos conhecemos.
Em certo momento da vida piscamos os olhos tendo certeza que
cada passo da nossa vida foi escolhido com muito cuidado, mas em
algum momento, em frações de segundos entre o abrir e o fechar,
tudo parece estar incerto.
Por alguns segundos, olho dentro dos belos olhos verdes
sentindo uma agonia, tão profunda, que de alguma maneira causa
dor dentro do meu peito. Uma dor tão lasciva que me faz inclinar
lentamente para o lado. O ar desaparece de dentro dos meus
pulmões, não consigo respirar, fico paralisada, olhando-o fixamente.
O peso das palavras, da doutora Laura, recaem sobre meus
ombros, fazendo com que a realidade seja muito dolorosa. Eu havia
perdido algumas lembranças e pela expressão de sofrimento dentro
dos olhos desse homem, tenho o pressentimento de que ele faz
parte dessa porcentagem que esqueci.
— Eu... — Ele hesita com o olhar perdido. — Não posso...
— Espera! — Heitor chama pelo estranho, quando ele dá as
costas e começa a andar rapidamente n direção da saída do quarto.
Não consigo dizer uma palavra sequer, estou sem fala e isso é uma
merda, não sei o que fazer.
Meu amigo lança um olhar preocupado, antes de correr atrás do
sujeito e então em poucos segundos perco os dois de vista. A
doutora, que assistia toda a cena em silêncio, lança um olhar
entristecido para minha mãe que abaixa a cabeça antes de suspirar
e dar as costas, se preparando para seguir o mesmo caminho que os
dois homens.
— Espera, doutora! — Chamo-a fazendo com que cesse seus
passos. — Poderia me dizer quem é aquele homem? — questiono
intrigada. — O de olhos verdes e cabelos negros, por favor, diga-me
se souber.
A resposta demora a chegar, Laura se vira lentamente buscando
meus olhos e quando os encontra suspira novamente, tira seus
óculos de grau e morde o lábio inferior, aparentemente aflita.
— Na sua ficha médica está escrita que ele acompanhou todo o
seu processo de recuperação, do início ao fim. — Dá uma pequena
pausa voltando a colocar seus óculos. — Esse homem, senhorita
Monteiro, é seu namorado.
Atônita.
É exatamente esse o estado em que fico quando a médica revela
o que o homem, até então estranho para mim, realmente é. Em
choque e de olhos arregalados acompanho seus movimentos
enquanto se vira e sai do quarto em passos lentos.
Sinto meu coração falhar uma batida e então uma enorme dor no
peito se inicia me fazendo ofegar. Como isso é possível? Como perdi
lembranças de um período tão extenso? Como aquele homem pode
ser meu namorado, uma pessoa tão íntima para mim e eu sequer
consigo me recordar dele?
Isso só pode ser uma grande piada sem graça. Esse homem
parece ser o tipo de cara que as mulheres devem observar de longe
e se afastar quando ele tentar alguma aproximação. O tipo que não
se prende a uma única pessoa e que sequer possui sentimentos, não
pode ser verdade. Não tem a mínima chance de termos uma relação,
no máximo tivemos uma noite de sexo, passei mal e ele me trouxe
até aqui. Sim! Essa é a única explicação viável. Estava com ele
quando passei mal, ele deve estar se sentindo responsável pelo meu
mal-estar e para garantir minha segurança disse que éramos
namorados.
— Deve ser isso... — sussurro tentando convencer a mim
mesma, porém, de alguma maneira, sinto que essa não é a verdade.
Depois que descobri que havia perdido minhas lembranças,
coisas que gosto muito de manter guardadas e levar um susto ao
descobrir que tinha um namorado desconhecido, acabei
adormecendo por estar muito cansada. Não sabia o que realmente
havia acontecido, mas o momento certo apareceria e em breve teria
uma conversa séria com Heitor para que ele pudesse esclarecer
todas as minhas dúvidas.
Nesse momento estou sentada na cama do hospital sendo
forçada para ingerir uma sopa que tem uma aparência monstruosa. A
cor dela é verde como musgo, tem algumas batatinhas bem picadas
assim como cenoura, carne e algumas coisas verdes que
sinceramente, desconheço o que são. Minha mãe durante a tarde
precisou voltar para o hotel no qual está hospedada. Descobri que
Kie estava resolvendo algumas pendências e que no dia seguinte
viria me visitar, enquanto isso, estou com Heitor.
— Pelo amor de Deus — resmungo quando Heitor me força a
colocar mais uma colher cheia entre os lábios. — Isso é veneno só
pode! Que negócio horrível.
Faço uma careta devido ao desgosto que sinto com o sabor
amargo que pinica no meu paladar.
— Deixa de frescura. — Heitor sorri e mexe na sopa com a colher
que estava entre meus dedos. — É saudável e vai fortalecer você,
em breve poderá ter alta.
Semicerro os olhos na sua direção.
— Frescura? — Ergo uma sobrancelha. — Então por que não
experimenta querido!!! — Ofereço. — Vamos lá, abra a boquinha.
— Estou sem fome, comi um sanduíche antes de vir aqui. —
Revela dando um sorriso canalha e dou um tapa em seu braço. —
Além disso, não sou eu quem está de cama.
Seus olhos brilham como uma criança que acaba de realizar uma
brincadeira travessa e sinto vontade de tirar esse sorrisinho
convencido dos seus lábios.
— Vamos fazer um combinado? — Propõe ganhando minha
atenção. — Você toma toda a sua deliciosa sopa e mais tarde trago
um sanduíche para que coma escondido — sussurra piscando um
olho. — Aceita?
Estreito os olhos ponderando seu acordo, penso nos prós e
contras de aceitar ou recusar essa oferta e chego numa decisão.
— Aceito — declaro voltando a segurar a colher. — Mas, se não
trouxer o sanduíche vou levantar dessa cama e vou lhe dar uma lição
que nunca mais esquecerá.
Não deixo de colocar um duplo sentido em minhas palavras e a
forma como suas bochechas ficam levemente vermelhas me faz
sorrir vitoriosa. Nunca falei para ninguém que prestava e Heitor me
conhece como ninguém.
E então, os olhos tristes do homem de mais cedo vem aos meus
pensamentos e suspiro colocando a colher de volta no prato. A forma
com que ele falou que me conhecia, como disse que estava sofrendo
e a dor que sentiu quando eu disse que não o conhecia.
Quem é esse homem?
Ergo os olhos fitando meu amigo e decido questioná-lo sobre
isso.
— Heitor, quem era o homem de mais cedo? — questiono com os
olhos fixos em seu rosto. — A médica disse que ele é meu
namorado, mas não consigo me lembrar dele... — Hesito. — É
verdade?
Meu amigo cruza uma perna sobre a outra, enquanto se ajeita no
banco de couro que fica ao lado da cama e coloca a mão no queixo
como se estivesse pensando no que dizer. Conheço todos os seus
movimentos e somente em ganhar o silêncio como resposta me faz
perceber que realmente é verdade.
— A doutora disse que não deveria contar a você sobre suas
lembranças perdidas, que em algum momento tudo ficaria claro —
responde. Se esquivando com perfeição da minha pergunta, mas
não estou satisfeita com essa resposta evasiva e tento novamente.
— Não foi isso o que perguntei. — Sou sucinta. — É sério,
preciso saber se isso é verdade... Preciso me lembrar, não ouse se
negar a me ajudar. — Heitor engole em seco ponderando minhas
palavras e após alguns segundos, suspira profundamente antes de
separar os lábios. Ele passa uma das mãos por seu cabelo castanho
claro e bufa baixinho.
— Desculpa docinho, mas dessa vez não posso ajudá-la. —
Suspira. — Se eu disser, pode ser que prejudique sua recuperação e
não queremos isso.
Durante a noite, passei cada segundo tentando arrancar
informações que esqueci, porém, Heitor foi firme o suficiente para
não deixar nenhuma palavra escapar por seus lábios e após um
tempo, acabei dormindo sentindo uma grande frustração.
Capítulo 26
Dominic Grombeth

Durante uma longa semana Nayara ficou acordando por frações


de segundos e depois voltava ao seu sono profundo deixando-me
cada vez mais frustrado. Nesse intervalo de tempo não consegui sair
do seu lado, fiquei a todo o momento sentado ao lado da sua cama,
ou então na cadeira de recepção para que Heitor ou a família de
Nayara pudessem fazê-la companhia.
Sendo obrigado pelo destino tive que me afastar duas vezes da
clínica, na primeira voltei para casa para terminar de organizar os
detalhes para que Levi pudesse se mudar para Moscou e consegui
preparar tudo em tempo recorde e na segunda vez foi para me
despedir dele. Naty, estava inconsolável com a partida do nosso
irmão, implorou para que ele ficasse e derramou muitas lágrimas
enquanto Levi sequer derramou uma. Nosso irmão estava decidido a
ir embora e ninguém conseguiria impedi-lo.
Quanto a Rafael, faz alguns dias que não o vejo, da última vez
que conversamos disse que estava resolvendo um problema muito
sério e que em breve retornaria. Dois dias depois, recebi uma ligação
de um conhecido que vive no Rio de Janeiro dizendo que o viu por lá
e que deveria impedir que ele fizesse uma burrice, desde então não
consegui entrar em contato.
Quanto a Heitor, depois da nossa discussão e dos breves
momentos de felicidade que compartilhávamos quando Nayara abria
os olhos, acabamos nos acertando de alguma forma. Aprendemos a
conviver juntos, ambos amávamos a mesma mulher e sabíamos que
ela iria precisar de nós dois quando acordasse, então decidimos
fazer uma trégua.
Todos os dias, Dreycon veio até a clínica para saber novidades
sobre a paciente e conversava comigo durante horas apenas para
me fazer companhia e às vezes, até me trazia comida, mas quem
realmente fazia isso era a mulher que ele apelidou como megera.
Gabriela descia até o quarto todos os dias, pelo menos três vezes ou
quando estava ocupada, mandava alguém trazer café da manhã,
almoço, jantar e um lanchinho da tarde/noite. Diante da forma
carinhosa como me tratava questionei várias vezes a Dreycon o
motivo do apelido maldoso, porém, ele sempre fugia do assunto.
Nesse momento estou voltando para a sala de espera, havia ido
para casa ver como minha caçula está e percebi o quanto a falta do
nosso irmão a machuca, mas ela precisa entender que isso é para o
seu bem. Bebo um gole do café que havia pegado na área de
alimentação e ao longe vejo Heitor correndo na minha direção e no
mesmo segundo sinto meu corpo ficar tenso.
— Heitor?! — Ofego. — Aconteceu alguma coisa? — questiono
sentindo meu coração apertando dolorosamente dentro do peito.
— Ela acordou Nick! — Exclama fazendo meu coração falhar
uma batida. — Ela acordou!
Com os olhos arregalados acompanho seus passos até que sua
silhueta some no corredor, o copo de café escapa por entre meus
dedos e vai de encontro ao chão. Não me preocupo em limpar ou em
prestar atenção na sujeira, viro-me rapidamente e corro em direção
ao quarto da minha garota.
A cada pequeno passo que dou, sinto meu coração inflar de
felicidade, depois de todo esse tempo ela finalmente acordou, está
de volta e poderei pegá-la em meus braços.
Sem conseguir conter a ansiedade que explode em meu peito,
abro a porta do quarto de supetão fazendo-a arregalar os olhos
diante do susto e vê-la sentada na cama, com os olhos abertos, rosto
rosado e lábios avermelhados me faz um bem danado. Ao seu lado
encontro sua mãe, que em momento algum deixou seu leito.
— Você acordou, Loirinha — sussurro sendo levado por minhas
emoções. — Não sabe o quão mal me senti durante todo esse tempo
— digo com uma sinceridade cortante, refiro-me ao tempo em que
ela esteve desacordada e dou um passo na sua direção. O espaço
entre nós dois é agoniante, preciso tocá-la, beijá-la, abraçá-la e
dizer...
— Desculpa, mas... — Hesita. — Eu conheço você?
Suas palavras cortam meus pensamentos assim como cortam
meu coração em pedaços, como se tivesse acabado de levar um
soco no peito recuo um passo assustado com suas palavras. Pisco
confuso olhando dentro dos seus olhos, que tanto amo. Não consigo
controlar meus passos e quebro a distância cruel que existe entre
nossos corpos e seguro seu braço deixando claro que sua
brincadeira não é engraçada.
— Não brinque com isso, Loirinha. — Ordeno enquanto inclino o
rosto para beijar seus lábios. Mesmo com uns machucados em seu
rosto, Nayara continua tão bela quanto antes. — Não sabe o inferno
que tive que suportar — sussurro enquanto a cada segundo que
passa aproximo mais meu rosto do seu, passo a ponta da língua
pelos lábios molhando-os na expectativa de sentir seu gosto
novamente. Porém, antes que eu possa realizar meu objetivo sinto
suas mãos empurrarem meu peito com força e recuo surpreso com
sua atitude. Recuo com medo de tê-la machucado, quando vejo seus
olhos arregalados me fitarem num misto de medo e surpresa.
— Senhor me desculpa, mas está me confundindo com outra
pessoa! — fala convicta, como se isso realmente fosse verdade. Vejo
seu lábio inferior tremendo e sei que isso não é uma brincadeira, é
como se Nayara não conseguisse se lembrar de mim, como se não
me conhecesse. Pisco os olhos, confuso com tudo isso e ouço
alguns passos se aproximando.
— O que está acontecendo, Nay? — A voz rouca de Heitor ecoa
pelo quarto da clínica, enquanto adentra ficando do outro lado da
cama.
Não consigo desviar o olhar da minha garota, sinto um aperto no
peito, um misto de confusão e medo, um sentimento de impotência
me domina.
— Esse cara, chegou ao quarto dizendo que estava suportando
alguma dor ou algo assim e veio me beijar. — Bufa e ergue uma
sobrancelha como se fosse um absurdo. — Acho que ele está no
quarto errado, pode pedir para alguém o retirar daqui?
Todo o ar que estava presente em meus pulmões desaparece no
mesmo instante. Nayara sequer lembrou meu nome, me trata como
se eu fosse um completo estranho que simplesmente apareceu e
tentou agarrá-la... E, perceber essa indiferença em seus olhos acaba
comigo.
Com muito esforço levo o olhar até Heitor, que está com o cenho
franzido e a encara como se isso fosse um absurdo. Não consigo
dizer nada, não consigo me mover ou respirar e isso é muito ruim.
Tudo o que posso fazer é sentir esse sentimento ruim dentro do
peito.
— Eu não entendo... — sussurro olhando-a fixamente. — Você
não se lembra de mim?
— Filha, esse é o Dominic, graças a ele que seu primo e eu
conseguimos estar ao seu lado durante toda a sua recuperação —
sua mãe relata pegando a mão da minha loirinha com carinho. —
Você não o reconhece querida?
Nayara me encara confusa, como se eu estivesse falando algo
completamente óbvio e não percebe que quem está enganado não
sou eu e sim ela.
— Deixe-me sozinha com ela, por favor. — A médica pede com
um tom gentil, enquanto fita minha garota com atenção e
curiosidade. Demoro alguns minutos para absorver suas palavras e
atender seu pedido e quando saio do quarto, depois de Heitor, sinto
meu coração se apertar. Isso dói tanto... Uma dor alucinante, como
se eu tivesse perdido meu bem mais precioso e de alguma maneira,
isso pode ser verdade.
Dreycon está do lado de fora do quarto quando passo pela porta
e vendo meu estado angustiante vem me abraçar dando apoio moral.
Durante toda a tarde não fomos liberados para vê-la, estava triste
demais para discordar então sentei na cadeira e fiquei respondendo
automaticamente para qualquer pergunta que fosse feita para mim.
Em certo momento, a doutora saiu do quarto dizendo que
finalmente poderíamos entrar. Heitor foi o primeiro que passou pela
porta e quando foi a minha vez fiquei inseguro, não sabia se deveria
entrar, se suportaria ver o olhar de indiferença em seus olhos.
Respirei profundamente e coloquei um pé para dentro, levando
assim todo meu corpo.
A doutora então começa a relatar o quadro clínico de Nayara. —
Depois de alguns exames minuciosos, cheguei a uma conclusão. —
Faz uma pequena pausa. — Nayara, você desenvolveu Amnésia
Anterógrada. Em outras palavras, após o acidente que teve, devido a
uma lesão em seu cérebro acabou perdendo suas memórias
recentes lembrando-se somente das mais antigas.
Tento engolir em seco, porém, a saliva fica presa no meio da
garganta deixando-me incomodado.
— Tem como saber o período que fora apagado? — Ouço Heitor
perguntar com um tom muito preocupado e luto contra as lágrimas
que insistem em rolar por meus olhos.
Antes que a médica tenha oportunidade de responder dou um
passo para frente com a cabeça erguida e sopro num fio de voz, tão
baixo que mal posso escutar minhas próprias palavras.
— Sim — sussurro. — Desde três meses atrás. — Olho dentro
dos olhos da minha garota. — Quando a gente se conheceu.
Seus olhos se encontram com os meus e tento ver através deles,
procuro o amor que sentíamos um pelo outro, o carinho, a
cumplicidade, a paixão, porém não encontro nada. Só o que consigo
detectar é a confusão e o medo lascivo em seu olhar.
E perceber isso acaba completamente comigo, ver a frieza em
seu olhar destrói meu coração de uma forma inexplicável. Engulo em
seco recuando um passo, como se uma adaga fosse cravada
exatamente sobre meu coração.
— Eu... — Hesito. — Não posso...
Então, como um completo covarde, dou as costas para a mulher
que não só conquistou meu corpo, como também meu coração e
saio do quarto em disparada, em busca de ar, em busca de qualquer
coisa que consiga aplacar a dor que está presente em meu peito.
Sem saber para onde ir, começo a andar pelos corredores em
direção ao estacionamento. Preciso andar, sair desse lugar e respirar
um pouco de ar fresco, pensar em tudo o que está acontecendo
comigo, pensar em como as coisas chegaram nesse ponto tão
angustiante. Chamo o elevador sem pressa alguma, quando chega
entro e aperto o botão da garagem, em poucos minutos estou dentro
do meu carro com o motor ligado e mãos no volante, segundos antes
de entrar na avenida principal.
Não sei quanto tempo passo rodando com o carro pela cidade,
meu subconsciente guia meus movimentos e percebo que estava
passando por todos os lugares em que marquei algum encontro com
Nayara. Pela praia que fomos comer, pela lanchonete, por uma casa
de karaokê, restaurante japonês, pelo prédio onde ela mora e por
fim, estaciono o carro na minha casa, lugar onde antes era repleto de
vida agora está num tom cinza, completamente sem vida.
Saio do carro, deixando-o estacionado de qualquer jeito. Estou
cansado, muito cansado. Subo os poucos degraus que tem e entro
em casa numa velocidade recorde, vejo a sala escura e penso como
fui capaz de deixar as coisas ficarem dessa forma. Balanço a
cabeça, completamente entristecido e subo as escadas em direção
ao meu quarto. Cruzo os corredores e entro, tudo nesse quarto faz
lembrar-me dela, seu jeito, seus olhos, seus cabelos. Caminho até a
cama e inevitavelmente minha mente vai até Nayara, um sentimento
bom acalma meu corpo apenas por lembrar, por alguns segundos é
como se tudo estivesse certo, como se isso fosse um pesadelo e em
breve acordaria, mas sei que não será assim. Coloco o travesseiro
na cama e me deito abraçando-o com força. Durante vários minutos
fico em silêncio, sentindo o perfume e o calor até que adormeço.
Sinto algo vibrando dentro do bolso da calça social que estou
usando e meio sonolento tateio o tecido em busca do aparelho
irritante. Quando alcanço desbloqueio a tela e levo até o ouvido sem
ao menos abrir os olhos.
— Alô — sussurro coçando os olhos com as costas da mão.
— O que pensa que está fazendo? — A voz de Rafael soa
ligeiramente irritada do outro lado da linha. Abro lentamente os olhos
bufando com sua mania de ser sempre irritante e rosno.
— Não estou num bom momento.
Sento na cama sentindo meus músculos doerem por causa da
posição mal escolhida em que estava deitado, segundos atrás, e
faço uma leve careta.
— Não está num bom momento? É sério Dominic? Não me diga.
— Sua voz é repleta de sarcasmo e posso ouvi-lo falando com
alguém ao fundo.
— Tchau, Rafael — rosno.
— Tchau nada. — Corta minhas palavras. — Sua garota sofreu
um acidente, perdeu a memória e ao invés de você estar lá, ao lado
dela dando apoio e fazendo-a lembrar sobre quem é você e a
importância que possui na vida dela, o que está fazendo? — indaga
como se soubesse. — Ah sim, está com a bunda deitada no colchão
macio do king stars.
No mesmo segundo levanto-me revoltado com suas palavras.
Rafael sequer estava em Cuba, foi ver minha pequena apenas uma
vez e realmente acha que tem o direito de me repreender? De dizer
essas coisas como se fosse fácil ir até o hospital e ver o olhar frio da
minha garota.
— Cala essa maldita boca! — rosno.
— Não, eu não calo! — replica como um leão. — Ao invés de
estar ao lado da Nayara, prefere deixá-la sozinha com Heitor. Quer
que ele envenene a cabeça dela contra você? — questiona pegando-
me desprevenido. — Acha mesmo que ele vai perder essa
oportunidade? Se liga, Nick.
As palavras ficam presas no meio da garganta e engulo em seco
tentando pensar em alguma coisa. O que ele disse faz sentido,
Heitor ama minha loirinha, mas ele seria capaz de fazê-la ficar contra
mim? Ele tentaria tomá-la de mim?
Mas isso nem é o importante, o que importa de fato é que Nayara
não se lembra de mim. Não sabe quem eu sou e nem nada sobre a
nossa história, então como posso lutar por alguém que sequer sabe
sobre minha existência? Não sou tão forte, não consigo suportar
isso.
— Não sei o que fazer — sussurro sincero. — O que eu faço?
— Quando vocês se conheceram não estavam apaixonados, o
sentimento foi surgindo com o tempo. — Rafael lembra com uma voz
pensativa. — Mostre para ela, mostre o homem por quem ela se
apaixonou da primeira vez e a faça lembrar-se de como esse
sentimento era especial.
Suas palavras me deixam animado, meu coração é tomado por
um fogo motivador, uma chama de esperança queima por todo meu
ser e pela primeira vez tenho que concordar com suas palavras.
Nayara pode ter perdido suas lembranças, mas seus sentimentos
continuam os mesmos, sua forma de pensar e ela ainda é a mesma
pessoa que conheci há cinco meses. Só preciso fazer com que se
lembre quão intensos somos juntos, como nossa combinação é
explosiva e avassaladora e do quão perfeito somos.
— Ainda está aí?
— Sim e tem razão — sussurro. — Preciso lembrá-la de como
nos encaixamos perfeitamente.
— Sério que isso foi uma menção sobre sexo? — indaga do outro
lado da linha. — Você é um idiota sabia? Agora vá lutar pela sua
mulher e dessa vez, não faça merda.
— Obrigado.
E então a ligação é encerrada e pela primeira vez tenho certeza
de uma coisa: Farei o possível e o impossível para reconquistar a
minha loirinha. Nem que demore dias, semanas ou meses, estarei ao
seu lado mostrando a cada segundo quem foi o homem que ela
escolheu. Nayara não se lembra, mas ela é exclusivamente minha e
lhe mostrarei isso, farei questão de lembrá-la.
Como já é tarde, decido ir tomar banho, preciso aparar a barba e
fazer o que sei fazer e melhor, me preparar para conquistar o
coração de uma mulher. Mas não qualquer uma, a dama que amo
com todas as minhas forças. No quarto mesmo começo a tirar as
roupas, enquanto caminho lentamente em direção ao banheiro, de
cueca boxer preta entro debaixo do chuveiro sentindo as gotas
quentes banhando minha pele e relaxo os músculos. Me espere
loirinha, estou indo lhe buscar.
Acordo antes de o relógio marcar sete horas da manhã, passo as
mãos por meus cabelos deixando-os bagunçados e escolho um terno
social para estar à altura do desafio que terei que enfrentar.
— Você consegue Dominic — sussurro para mim mesmo olhando
para meu reflexo no espelho, enquanto dou um nó na gravata azul
com listra preta e vejo meus olhos verdes brilhando em expectativa.
Terei que ter muita coragem, muita força e determinação para
reconquistar o coração daquela loira, se a primeira vez foi difícil não
quero nem imaginar como será a segunda.
— Pensa positivo Dominic, pensa positivo... — resmungo olhando
minh imagem no espelho antes de sair do quarto.
Sem prolongar muito minha estadia, tomo um café da manhã
rápido que havia sido preparado pelas empregadas, que se resume
em panquecas com carne e um suco de uva, e logo em seguida saio
de casa pegando minha preciosa BMW, a mesma que Nayara dirigiu
quando Levi esteve hospitalizado.
Lembro-me que Heitor havia me ligado comentando que a mãe e
o primo de Nayara precisaram voltar para casa na noite anterior, pois
alguém da família da Nayara precisava de apoio.
No meio do caminho encosto o carro e passo em uma floricultura
comprando um buque de flores para a minha garota. Compro suas
flores preferidas, rosas azuis e com um sorriso nos lábios coloco-as
sobre o banco do passageiro e prossigo meu caminho em direção ao
hospital. Em certo momento, Dreycon me liga avisando sobre uma
reunião na empresa e que precisa assinar algo e se eu lhe dava
minha autorização. Sem prolongar muito o assunto, digo que sim
desde que ele esteja ciente das implicações e então desligo o
aparelho.
Andando como se fosse o dono do hospital, cruzo os corredores
ganhando alguns poucos olhares curiosos e em certo momento
cumprimento as pessoas com um breve aceno, até que finalmente
chego ao quarto onde Nayara está. Coloco a mão na maçaneta da
porta me preparando mentalmente, respiro profundamente e abro a
porta vendo-a sentada lendo um livro, mas não qualquer livro, um
que eu havia dado para ela em uma das vezes que saímos juntos.
— Bom dia — cumprimento e repreendendo-me mentalmente por
demonstrar o quão afetado estou. — Orgulho e preconceito, estou
certo? — questiono dando um passo para dentro do quarto, nossos
olhos se encontrando. — É um romance fascinante, concorda?
Nayara desvia o olhar do livro que estava lendo e me encara
fixamente como se conseguisse ver através dos meus olhos, então
dá um meio sorriso e fecha o livro marcando a página com um dos
dedos.
— Já leu? — questiona com uma sobrancelha arqueada e sorrio.
— "Senhorita Elizabeth, venho lutando em vão e não mais posso
suportar. Os meses passados têm sido um tormento. Vim a Rosings
somente para vê-la. Luto contra meu bom senso, as expectativas de
minha família, a inferioridade de seu nascimento, minha posição.
Mas estou disposto a colocá-los de lado e lhe pedir que dê um fim na
minha agonia... Eu te amo... Ardentemente" — cito a fala de Sr.
Darcy ao se declarar para Elizabeth. — Confesso que essa é a
minha cena preferida.
Nayara arregala os olhos surpresa com minhas palavras e a vejo
piscar algumas vezes como se estivesse em choque, mas então
desvia o olhar e sorri tentando disfarçar.
— Estou surpresa por conhecer essa história. — Olha para a
capa do livro. — É realmente um romance fascinante, a história de
amor, o orgulho entre ambas as partes, a forma como o mundo
parece conspirar para separá-los. — Hesita e penso como Nayara
sequer percebe que é exatamente a mesma coisa com a nossa
história. — E no final, a autora nos surpreende. Darcy que
aparentava ser um completo babaca se mostra um homem
maravilhoso que faz de tudo pela mulher que ama e Elizabeth
percebe o quão foi errada em julgá-lo, deixa seu ego de lado e abre
seu peito para o amor.
Fico em silêncio absorvendo suas palavras, sinto a mesma coisa
em relação à história e por alguns segundos penso em como somos
semelhantes com os personagens da trama. Então, dou mais um
passo para dentro do quarto revelando as rosas que havia
comprado.
— Trouxe para você — digo chamando sua atenção e quando
seus olhos veem o buquê vejo-os brilhando. — São suas favoritas,
acertei?
— Sim... — Pega o buque com carinho e leva ao nariz, inalando o
perfume com os olhos fechados e quando volta a abri-los me encara
curiosa. — Como sabia?
Então, percebo um tom a mais em sua pergunta. Como se tivesse
algo por trás das suas palavras e dou meu melhor sorriso.
— Sei muitas coisas, sobre você, Loirinha. — Pisco um olho. —
Como está se sentindo? — questiono sentindo a necessidade de
saber sobre seu estado de saúde. Quero que recupere suas
memórias, mas também preciso saber como ela está se sentindo.
Nayara é importante demais para ser deixada de lado.
— Não sinto nenhuma dor, a médica disse que minha
recuperação é surpreendente. — Sorri, mas então seu sorriso
desaparece. — Eu sinto que conheço você, de algum lugar, de
alguma forma... — Hesita olhando-me fixamente. — Mas, não
consigo lembrar-me de onde, ou como.
Com delicadeza pego o buquê de flores das suas mãos e coloco
lentamente sobre a mesinha que está a minha frente e me aproximo
com cautela.
— Não precisa se preocupar com isso — sussurro e com o
polegar faço um carinho em sua bochecha. — Só precisa confiar em
mim, em breve lembrará e farei o possível para ajudá-la com isso, só
preciso que confie e me permita mostrar.
Nossos olhos se encontram novamente e ficam conectados por
uma linha fina e invisível, porém, presente. Vejo-lhe hesitar um
pouco, mantenho o polegar em sua bochecha e sorrio carinhoso
tentando persuadi-la para que aceite.
— Mostrar exatamente o quê? — questiona curiosa.
— Você confia em mim? — respondo sua pergunta com outra.
Nayara demora uns segundos, mas logo confirma com um gesto e
então sorrio afastando o polegar. — Então não precisa ter medo,
estarei com você.
Capítulo 27
Nayara Monteiro

— Você confia em mim? — ouço sua voz rouca, suave como


pluma, sinto como se apenas este timbre fosse capaz de acariciar
minha pele, me questionando e penso por alguns segundos antes de
responder. É possível que ele seja uma pessoa importante para mim,
não farei como aquelas mocinhas dramáticas que começam a chorar
e correm da única pessoa que pode ajudá-las. Se ele ofereceu ajuda
e posso descobrir coisas sobre meu passado é claro que irei aceitar.
Confirmo com um menear de cabeça, fazendo-o sorrir brevemente e
sinto-o afastar a mão que antes acariciava minha bochecha. —
Então não precisa ter medo, estarei com você.
Foi com essas palavras ecoando diversas vezes dentro da minha
cabeça, que adormeci noite passada. O nome dele é Dominic, mas
disse que preferia ser chamado de Nick, é mais rápido de pronunciar
e menos complicado.
Na noite anterior, Nick contou um pouco da sua história para mim
e perguntou alguns detalhes da minha vida. Disse que era CEO de
uma empresa que herdou do pai adotivo e perguntou qual minha
profissão, contei que trabalhava como comissária de bordo e ele
questionou o motivo. Conversamos sobre comidas favoritas, cor,
filme, série, desejo e até mesmo atores favoritos e pude contemplar
várias vezes um sorriso em seus lábios o que me deixou
estranhamente feliz.
Dominic não contou quase nada sobre os últimos três meses,
brevemente relatou sobre o avião em que eu estava trabalhando e
como o motor parou de funcionar mergulhando em direção ao
asfalto. Contou que estava em seu emprego ao lado da sua família
quando viu a reportagem e disse que sentiu uma dor incomum no
peito, como se sentisse que eu estava dentro do avião. Que havia
ligado para meu celular e que um policial havia atendido e somente
então percebeu que era verdade. Nisso, percebi duas coisas sobre
ele, Nick tem meu número de celular, por isso conseguiu me ligar e
sabia que eu sou aeromoça.
Ele não sabia, mas prestei muita atenção em cada palavra que
saiu por seus lábios e estudei seu comportamento bem
detalhadamente, algumas vezes, passava as mãos no cabelo
tentando disfarçar o nervosismo, noutras colocava-as no maxilar
pensando em como falar certa coisa e mesmo assim, mesmo
tomando muito cuidado com suas palavras, às vezes deixava uma ou
outra informação escapar, o que me deixava interessada em
aprofundar o assunto, porém, ele esquivava perfeitamente e mudava
de assunto. Percebi que era bom nisso, a forma como conduzia a
conversa realmente me distraia e me puxava para outros assuntos,
para escapar de ter de falar do que realmente era necessário.
São quase dez horas da manhã e a doutora permitiu que eu
desse um pequeno passeio pelo jardim que tem na parte de trás do
hospital. Disse que pacientes em recuperação, quando estão
melhores podem andar um pouco, pois faz bem à saúde e aos
músculos, além de refrescar a mente e os pensamentos. Não estava
aguentando mais ficar presa dentro daquele quarto pequeno, sinto
que estou desenvolvendo uma fobia por lugares muito fechados e
isso não parece ser muito bom.
Há dois dias minha mãe e meu primo, precisaram retornar para
Cuba, aparentemente surgiu uma complicação com a minha tia e
eles precisavam estar ao seu lado para apoiá-la. Senti uma tristeza
em meu peito por não poder retornar com eles, pedi desculpas e
através de mamãe enviei meu desejo para que ela melhorasse.
Outro detalhe foi Nick contando sobre sua família, disse que Levi
por problemas médicos precisou ir para Moscou para poder se tratar.
Sua irmã Nathalia me desejou melhoras e disse que estava feliz por
meu progresso, sorri e agradeci sua preocupação. Já a minha maior
surpresa foi conversar por telefone com o Rafael, irmão mais novo
do Nick. Rafael se desculpou por não estar ao meu lado, disse que
precisou resolver um problema urgente no Rio de Janeiro e que
havia ficado muito preocupado comigo e que estava feliz por eu estar
melhor.
— Acha que aquele homem virá novamente esta tarde? — ouço
uma voz feminina sussurrar dentro de um dos quartos e movida por
uma curiosidade inexplicável cesso meus passos.
— Está falando do Dominic? Acompanhante da sobrevivente do
avião? — Uma segunda voz sussurra, deixando-me surpresa e
intrigada.
— Exatamente, aquele homem é um Deus Grego! Viu aqueles
olhos? A boca então... Nossa... Só de imaginar o que ele pode fazer
com aqueles lábios fico toda derretida. — Estreito os olhos,
completamente irritada com a audácia da mulher por falar essas
coisas, como ela consegue?
Devo admitir Nick é realmente muito gostoso, tem olhos
belíssimos, um porte grande e deve ter um grande documento, mas
isso não é motivo para essa mulher ficar cochichando sobre ele por
aí.
— Devia apagar esse fogo que você sente. — A outra voz
aconselha. — Na ficha médica da paciente diz que ele é namorado
dela.
Lembro-me das palavras que a doutora disse outro dia, sobre
Nick ser meu namorado e realmente é verdade. Essas duas
mulheres apenas confirmaram minha suspeita, mas como não
consigo me lembrar disso? Não é possível que já tenha visualizado,
usado e abusado do documento dele e não me recordo, que droga!
— Não vi nenhum anel no dedo dele, então posso usar a
desculpa de ter achado que era solteiro. — A cobra solta seu
veneno. — E têm alguns comentários de que a sonsa perdeu a
memória, provavelmente ele vai embora.
Ouço seus passos se aproximando da porta, decido então
apressar o passo em direção ao jardim antes que uma das duas
consiga me ver, mas antes de cruzar o corredor olho para trás para
saber exatamente como é o rosto da piranha que quer o meu
namorado.
Okay, que não me lembro de ser a namorada do Nick, mas agora
que tenho a confirmação, não vou deixar que roubem-no de mim.
Não sei se por birra ou ciúmes de alguém que nem conheço, mas
não vou deixar uma cobra como essa enfermeira se atirar em cima
dele.
Que papo é esse Nayara? Quais são suas três regras principais?
Meu subconsciente me repreende como se eu tivesse cometido um
crime e então enumero as três regras para proteger meu coração.

Regra número um — Nunca passar mais de duas noites com o


mesmo homem;
Regra número dois — Nunca deixar um homem se aproximar
demais;
Regra número três — Nunca se envolver sentimentalmente com
um homem.

Será que proteger um namorado hipotético de uma cobra


peçonhenta, quebra uma das regras que criei ou posso classificar
esse ato como uma forma de protegê-lo de uma vaca mal comida?
Questiono-me mentalmente enquanto termino meu caminho até o
campo. Ao passar pela porta de ferro, no mesmo instante sinto uma
brisa agradável soprar contra meu rosto trazendo-me uma onda de
animação.
Caminho pelo jardim observando os canteiros de rosas com
diversas espécies, eu fico encantada com a paisagem e não resisto,
colhendo assim um dente-de-leão e soprá-lo ao vento vendo-o se
desfazer e voar para todas as direções, giro para o lado
entusiasmada com essa paisagem tão gostosa, até que perco o
fôlego ao vê-lo me observando.
Dominic está escorado numa coluna de sustentação branca, seus
olhos magnéticos estão cobertos por óculos de sol escuro e em seus
lábios posso contemplar um sorriso de molhar qualquer calcinha.
Caralho! Xingo mentalmente vendo-o andar na minha direção, no
meio do caminho tira os óculos e o guarda no bolso do terno que
está usando. Aquela cobra tem razão, ele é um Deus Grego da
melhor qualidade. Com toda certeza ele é Friboi, carne de confiança,
suculento e deve ser muito delicioso.
— Bom dia — sussurra quando quebra a distância que existe
entre nós e sorri tão casto quanto um anjo, porém, anjos não fazem
as pessoas sentirem uma contração na vagina, somente Dominic
consegue essa proeza.
— Bom... dia — respondo desviando o olhar. Respiro
profundamente tentando limpar meus pensamentos de tudo o que é
malicioso, porém, meu movimento causa outro efeito. Sinto seu
perfume amadeirado, misturado com a loção pós-barba. Pelo canto
dos olhos consigo vê-lo perfeitamente e mordo o lábio inferior,
poderia me acostumar facilmente a namorar esse Poseidon.
— Percebi que gosta de ler e trouxe esse livro para você. — Me
surpreende quando ergue a mão mostrando um pequeno exemplar.
— Era meu, tem algumas marcações, espero que não se importe.
Pego o exemplar das suas mãos, nossos dedos se encostam por
um breve momento, porém tenho um pequeno flashback. Estou no
meu apartamento que fica em Cuba, com uma camiseta longa de
dormir que cobre até minhas coxas quando vejo Dominic na cozinha.
O apartamento está encharcado, tem água para tudo que é lado e
por alguns segundos consigo sentir a água fazendo cócegas nos
meus pés. A lembrança some de repente deixando-me com uma dor
de cabeça insuportável, pisco os olhos tentando me concentrar e
percebo que em algum momento minhas pernas haviam fraquejado e
estava no colo de Nick. Seus braços estão atrás das minhas pernas
e no meio das costas, me segurando e mantendo a promessa que
fez na noite anterior. Ele realmente esteve presente quando precisei.
— Descansa, Loirinha — sussurra contra meu ouvido, enquanto
me escondo na curva do seu pescoço e mesmo com os olhos
fechados, sinto seu corpo começando a se movimentar em direção à
entrada do hospital. — Não precisa se preocupar com mais nada…
Tento manter meus pensamentos fixos na lembrança que surgiu,
poucos segundos atrás, mas seu perfume amadeirado, exótico e
magnético envolve meus pensamentos trazendo meu rosto cada vez
para mais perto do seu pescoço. Sua essência me contamina, sinto
seu calor envolvendo cada pedaço do meu corpo levando-me a uma
sensação de paz e segurança. Não consigo reprimir meus impulsos
e fungo contra seu peito, levo uma das mãos até seu terno e aperto
com força tentando me manter firme, mas aos poucos, bem
lentamente, um cansaço começa a envolver meus músculos.
Sinto meu pulso pesar muito mais do que realmente pesa e meus
dedos acabam afrouxando o aperto fazendo-me soltá-lo a
contragosto, com dificuldade, separo lentamente os lábios e tento
proferir qualquer som, mas sou impedida e antes mesmo que
qualquer palavra saia por minha boca, o sono ganha espaço e me
domina facilmente.
Aos poucos, vou abrindo lentamente os olhos encontrando-me no
quarto do hospital em que estou temporariamente hospedada e
suspiro baixinho ao me ver completamente sozinha. Dessa vez, nem
Heitor nem Dominic estão presentes e por algum motivo isso me
deixa estranhamente chateada.
De repente, meu celular começa a vibrar e com o canto dos olhos
fito o aparelho que está do lado direito, repousado sobre a mesa ao
lado de uma pequena pilha de papéis em branco. Mordendo o lábio
inferior me posiciono sobre a cama e lentamente apanho o celular.
Com atenção, observo o visor e não reconheço o número,
portanto resolvo não atender. Não quero e nem vou me estressar
com jornalistas que provavelmente estão querendo que eu dê
algumas informações sobre o dia do acidente. Devolvo o celular para
a mesinha.
No segundo em que penso em levantar-me da cama ouço alguns
passos se aproximando do lado de fora do quarto, em seguida, a
maçaneta é forçada. Num gesto impensado, volto a deitar na cama,
enrolo o cobertor no corpo e fecho os olhos com força fingindo que
estou num sono profundo.
— Espera um segundo... — Ouço a voz de Dominic assim que
ele entra no quarto. Logo tudo fica em silêncio, ouço seus passos se
aproximando da cama, ele para por alguns segundos, suspira
profundamente e retorna caminhando até um canto do cômodo. —
Pronto, — dá uma pequena pausa — Rafael, pode me explicar
novamente o que você está fazendo no Rio de Janeiro?
Sem conseguir me conter, lentamente abro os olhos tentando
espiar Dominic e percebo que ele está falando ao telefone com
Rafael que está estranhamente no Rio de Janeiro. Realmente, sair
daqui de Cuba para ir até o Rio é uma grande viagem, até eu estou
curiosa para ouvir essa explicação.
— Como assim conheceu alguém? — Nick questiona frustrado.
— Rafael, essa gente é da pesada, não se envolva nisso. — Fica em
silêncio. — Você conhece essa mulher há o que... — Ele dá uma
pausa. — Quanto tempo? — questiona exasperado. — Como assim?
Só estou dizendo que pode não ser a melhor escolha.
Durante alguns minutos, fico em silêncio ouvindo a conversa
entre Nick e seu irmão Rafael. Sim, sei que ouvir a conversa de
terceiros é uma coisa muito feia e errada, mas estou tentada a
descobrir mais coisas sobre o período que está apagado em minha
memória.
— Sabe que pode contar comigo. — Dá uma pausa. — Qualquer
coisa me liga, se cuida irmão.
E então, Dominic encerra sua ligação. Infelizmente, não escolhi
uma posição muito confortável para ficar e estou sentindo todo o
meu braço direito formigando, então decido pôr fim a todo esse
teatro. Começo a me remexer na cama como quem está acabando
de acordar, viro-me na direção que ele está e lentamente abro os
olhos como quem não quer nada.
— Nick — sussurro. — Há quanto tempo está aí? — questiono
com uma voz calma e um pouco rouca.
— Cheguei há alguns minutos. — Confessa enquanto anda
lentamente até ficar ao meu lado. — Está se sentindo bem?
Lembro que, durante a manhã, no jardim enquanto estava dando
uma volta, acabei desmaiando e Nick ficou encarregado de me levar
em segurança até meus aposentos. Sento na cama com um pouco
de dificuldade e sorrio.
— Sim, apenas um pouco de dor de cabeça. — Sou sincera. —
Mas, estou bem.
Nick balança a cabeça aceitando minha resposta, ergo a cabeça
olhando dentro dos seus olhos e mergulho num mar infinito de
sentimentos. Olhar dentro dos seus olhos é meu erro, pois não sei
como lidar com essa imensidão magnífica. Dominic me olha como se
conseguisse ver através da minha pele, como se conseguisse
desvendar meus segredos, resolver meus mistérios e nesses poucos
segundos em que ficamos conectados sinto-me despida.
Olhar para ele é como se estivesse admirando uma escultura de
gesso, porém, diferente das outras, essa escultura seria desenhada
em cores vivas e intensas. Quando meus olhos percorrem seu corpo,
o primeiro lugar que chama atenção são seus olhos, uma tonalidade
verde, tão intensa e potente como uma esmeralda ao mesmo tempo
em que parece que uma gota de tinta azul clara fora pingada em
cada olho. Uma mistura perfeita, uma tonalidade exótica, intensa e
inconfundível. Suas sobrancelhas são grossas, bem desenhadas e
marcantes. Seu nariz é meio empinado, reto, bem contornado assim
como seu queixo e finalmente, seus lábios carnudos.
Como nas outras vezes em que nos encontramos, usa terno,
dessa vez um azul escuro que parece ter sido feito sob medida. A
peça destaca cada pedaço do seu corpo, abraça cada músculo
desde as coxas até os braços, como se tivesse sido feito
exclusivamente para se encaixar nesse exemplar de homem. E a cor
da peça realça seus olhos. Ergo um pouco o olhar encontrando seus
cabelos negros como a noite, seus fios estão bagunçados e
desalinhados, deixando-o perfeitamente sexy.
— Gostou da novidade? — questiona olhando-me
profundamente, enquanto estou secando seu corpo
descaradamente. Pisco os olhos percebendo que durante minha
inspeção nada discreta, Nick estava falando sobre alguma coisa e
agora, quer uma resposta sobre o assunto que não prestei muita
atenção. Desvio o olhar enquanto mordo o lábio inferior procurando
uma forma de disfarçar minha falta de atenção.
— Concordo... — sussurro chamando sua atenção e ele ergue
uma sobrancelha. — É uma coisa boa... Não acha? — Dominic ainda
com a sobrancelha arqueada me analisa atentamente por alguns
segundos, como se procurasse alguma coisa que estivesse fora do
lugar e por fim sorri sentando no colchão da cama.
— Claro que acho. — Sorri. — Logo você voltará para casa e
poderá continuar com a vida.
Com sua declaração, sinto um aperto estranho no peito, como se
algo me dissesse que não seria tão fácil assim, como se algo
estivesse faltando. Então, sorrio animada percebendo somente agora
sobre qual o assunto da conversa que perdi. Nick estava falando
sobre minha alta hospitalar e quando iria sair.
— Quando sair daqui, ficará noventa dias de atestado, para
garantir que se recupere completamente – revela. — Já sabe se
voltará para seu apartamento?
Faço um pequeno bico pensando na ideia de ficar sozinha no
meu apartamento e após alguns minutos em silêncio, chego à
conclusão que é melhor voltar para São Paulo, assim poderei ficar
perto da minha família e de Heitor, caso precise de ajuda.
— Queria voltar para São Paulo — comento chamando sua
atenção.
— Quer ir embora?
Sua pergunta soa num tom frustrado, angustiado e preciso olhá-lo
nos olhos para saber se realmente está abalado com minha
resposta. Seus olhos estão fixos nos meus e vejo uma chateação
presente em seu olhar.
— Minha família vive lá e terei o apoio do Heitor, não sei se ficarei
bem aqui, sozinha — revelo sendo sincera. — Mas, o doutor disse
que não é recomendável viajar no momento.
— Pode ficar comigo — diz de repente. — Levi como eu disse, se
mudou para Moscou e não está morando mais lá em casa, meus
pais foram embora alguns dias depois que você sofreu o acidente,
pois precisavam resolver alguns assuntos, Rafa está no Rio, apenas
Naty estará conosco.
Dominic falou um monte de coisas, uma frase repleta de
informações e sugestões, sem conseguir evitar olho-o fixamente. Sei
que Naty é sua irmã, pois ele me contou antes, apesar de sentir que
posso confiar nele, ainda é um estranho... Sei que estamos mais
próximos e temos mais contato que antes, sei coisas sobre sua vida,
mas mesmo assim, continua sendo um estranho, que está me
chamando para ficar na sua casa. Isso vai contra todas as minhas
regras.
— Naty? — questiono com receio de ser invasiva.
— Não pense coisa errada, Loirinha. — Dominic se apressa em
dizer, como se conseguisse ler meus pensamentos. — Como eu
disse Naty é a minha irmã mais nova, a caçula da família. — Explica
lentamente, olhando-me fixamente. — Nayara, eu nunca mentiria
para você. Nunca faria nada para te machucar ou chateá-la, precisa
saber disso, tá?
Suas palavras me deixam sem graça. Primeiro por constatar que
a mulher realmente é sua irmã, uma pessoa da sua família e me
repreendo mentalmente por duvidar dele, em segundo porque a
forma como Nick diz as últimas palavras é num tom profundo de
lamentação, de dor e angústia. Vejo uma careta se formar em seu
rosto e me pergunto o que aconteceu que o machucou tanto assim.
Meu coração salta dentro do peito ao vê-lo demonstrar tão
explicitamente seus mais sinceros sentimentos. Posso estar
enganada, mas consigo decifrar muito dos sentimentos que Dominic
guarda, consigo ler seus pensamentos, vejo através dos seus olhos
magnéticos, vejo uma alma quebrada e isso me parte o coração.
Sinto vontade de tocar em seu rosto, acariciar sua bochecha e dizer
que tudo ficará bem, que a dor que percorre seu coração irá cessar e
que estarei ao seu lado para ajudá-lo, porém, uma voz fina e
estridente ecoa por meus pensamentos dizendo que isso é muito
errado.
— Não precisa dar explicações... — sibilo desviando o olhar. —
Não posso, nem quero cobrar nada de você.
Quero sim!
Meu subconsciente grita, contradizendo cada um dos meus
impulsos para mantê-lo a uma distância ligeiramente segura e dou
um meio sorriso ponderando meus objetivos atuais.
— Sei que não preciso. — Faz uma pequena pausa. —
Entretanto, estou fazendo-lhe visitas e não quero que pense que
tenho uma mulher à minha espera.
Reprimo a vontade de unir as sobrancelhas. Segundo minha ficha
hospitalar e aquelas duas cobras que se dizem enfermeiras, ele é o
meu namorado, então é obvio que não tem uma mulher a sua
espera. Sem conseguir contar, desço o olhar por seu rosto
encontrando o caminho exato até o meio das suas pernas. Mordo o
lábio inferior ligeiramente curiosa sobre seu tamanho e
personalidade, mas então volto a olhá-lo fixamente e questiono o que
estão tentando me esconder.
— Diga-me a verdade. — Peço com os olhos estreitos. — Nós
dois... Tínhamos uma relação... Não tínhamos?
Vejo-o engolindo em seco, seu olhar é desviado dos meus olhos
e observo-o ficando suavemente aflito com minha indagação.
Dominic ergue o braço passando uma mão por seus cabelos negros,
morde o lábio inferior e por fim, cruza os braços acima do peito como
se pensasse em como responder a minha pergunta.
— Sabe que não posso…
Corto sua frase.
— Não precisa negar. — Pisco um olho como se já soubesse a
resposta. Às vezes, precisamos blefar para conseguirmos um
resultado. — A médica disse que está escrito na minha ficha.
Nick fica completamente paralisado, aparentemente, minha
resposta pegou-lhe de surpresa. Vejo seus olhos brilharem por
alguns segundos antes que Nick me dê as costas e saia do quarto
numa velocidade indescritível. Sua reação me deixa surpresa e de
algum jeito, sinto meu peito apertar em expectativa, em aflição e
tristeza.
Capítulo 28
Dominic Grombeth

Nossos olhos estão fixos um ao outro, conectados por um fio,


tão fino quanto uma linha, invisível aos olhos nus; tão frágil quanto o
bater acelerado do meu coração, que nesse segundo se movimenta
num ritmo descontrolado.
Seus olhos azuis brilham por uma fração de segundos,
provavelmente esperando alguma reação vinda da minha parte.
Porém, não consigo emitir som algum ou ao menos gesticular
qualquer movimento.
Sinto meu coração falhar uma batida quando penso que ela
realmente pode saber de toda a verdade, que Heitor contou a ela
sobre toda a nossa história e que posso ter minha garota em meus
braços novamente. Mas, o mesmo olhar também acende um alerta
vermelho dentro da minha cabeça, que me faz analisar todos os seus
traços faciais em busca de algo que eu ao menos sei.
Meus pensamentos me fazem perceber que Nayara sempre foi
uma mulher esperta, determinada e teimosa, pode muito bem ter
arquitetado todo um plano para conseguir alguma informação minha.
Sou um homem apaixonado por ela e com cuidado, usando suas
artimanhas, conseguiria arrancar qualquer coisa de mim.
Seus olhos brilham em expectativa, seus lábios estão presos por
seus dentes em uma mordidinha nervosa, enquanto seus dedos
tamborilam no edredom que envolve seu belo e frágil corpo.
— O que, exatamente, a médica contou a você? — questiono
cautelosamente observando cada pequeno movimento que seu
corpo faz. Nayara pode não se lembrar, mas conheço seu corpo
como quem conhece as maravilhas do mundo. Sei cada pequeno
tique nervoso, cada movimento de ousadia, teimosia ou irritação e
quando ela ergue a sobrancelha e dá um sorriso encantador sei
exatamente o que ela está fazendo.
Nayara está jogando comigo.
— Ah você sabe. — Ergue a mão para observar as unhas e depois
volta a me encarar. — Que éramos namorados.
Meu coração aperta dentro do peito num movimento drasticamente
perigoso. Sinto como se meu estômago tivesse dado um mortal no
meio de um salto livre de paraquedas. Arregalo os olhos enquanto
tento encontrar uma forma de descobrir como ela sabe disso. Heitor
realmente contou isso a ela? Nayara lembrou algo sobre mim? Ela
não estava jogando? Isso é um blefe?
Fico completamente estático no lugar em que estou, o ar não
consegue circular normalmente entre meus pulmões. O oxigênio
parece não ser o suficiente e preciso tomar uma grande lufada de ar
para conseguir pensar coerentemente.
— Eu… Você… — Atropelo as palavras sem saber exatamente o
que dizer. — A médica… disse isso?
Como isso pode ser possível? Cinco minutos atrás diria que ela
estava jogando comigo, que não sabia de nada e que estava
buscando informações e agora, estou incerto sobre mim mesmo.
— O quanto você sabe, minha menina?
Nayara tem esse poder sobre as pessoas. Achamos que sabemos
exatamente o que ela está pensando, mas no momento seguinte,
prova que estamos errados. Essa sua mania de me provar sempre
que é uma caixinha de surpresas ainda vai destruir meu psicológico
de uma maneira irrecuperável.
— Sim e bom, tive alguns flashbacks. Eu consegui ver você
nessas lembranças e de alguma maneira, comecei a sentir algo
diferente. — Hesita. — De alguma forma, sinto que conheço você,
me sinto segura ao seu lado e isso é muito estranho porque não te
conheço — sussurra respondendo a algumas das minhas dúvidas.
Nayara estava recuperando aos poucos suas memórias perdidas,
não vai demorar para se lembrar da mancada que cometi!
— Você não se lembra, mas me conhece muito bem — sussurro
desviando o olhar. — E, respondendo sua pergunta, sim, éramos
namorados.
Quando revelo nossa verdadeira relação vejo algo brilhar em seus
olhos. Nayara pisca parecendo se convencer de algo e balança a
cabeça num movimento positivo e aos poucos, uma lágrima desce
lentamente por sua bochecha.
— Eu… sinto algo todas as vezes em que nossos olhos se
encontram — revela e outra lágrima acaba escapando. — É uma
mistura de angústia com felicidade, não sei explicar... mas, é tão…
forte…
Fecho os olhos procurando as palavras certas para serem
usadas. Como vou explicar que esse sentimento ruim foi provocado
por que sou um idiota? Porque não confiei o suficiente na minha
garota e levei outra mulher para dentro da minha casa.
Abro os olhos tendo certeza de uma coisa, Nayara pode me odiar
quando se lembrar da verdade. Mas, nesse interim, se for preciso,
irei me despedir dela, irei provar o quanto a amo e que mesmo longe,
irei continuar cuidando dela.
— É bom saber que mesmo inconscientemente desperto
sentimentos bons em você. — Pisco um olho dando um sorriso
carinhoso. — E esse sentimento ruim vai passar, é medo pelo que
aconteceu no acidente — digo enquanto me sento no colchão, bem
ao seu lado e tomo muito cuidado para não machucá-la de alguma
forma. Nayara encosta a cabeça no travesseiro e seca uma lágrima
que rola por seu rosto, então um sorriso verdadeiro aparece em sua
face.
— Obrigada por estar comigo, Nick.
Nisso, aos poucos seu corpo vai ficando cada vez mais relaxado e
percebo que ela acabou voltando a dormir. Ergo a palma da mão
para tocar em seus cabelos dourados como mel e faço um carinho
em suas madeixas enquanto deposito um beijo carinhoso em sua
testa.
— Sempre estarei, Loirinha — sussurro. — Prometo a você!
Nayara pode não ter percebido, mas me chamou de “Nick”, do
meu apelido e isso significa muito para mim. Mesmo estando confusa
com seus sentimentos, ainda arrisca confiar, ainda me deixa
presente em sua vida e isso me deixa imensamente feliz.
Nayara… perder você será uma queda muito grande…
Chego em casa completamente cansado, mal coloco os pés dentro
da sala de estar quando vejo a silhueta delicada de Naty deitada no
sofá de frente a televisão. Em silêncio, observo seu corpo enquanto
está adormecida.
Naty é uma jovem mulher tão frágil, não tem experiência com
nada na vida e quando parece se apaixonar pela primeira vez,
aconteceu logo com o homem que é considerado seu irmão.
Penso enquanto vou me aproximando aos poucos de onde está
dormindo. Mesmo com a pouca claridade, consigo observar com
carinho seu rosto sereno enquanto dorme. Decido pegá-la em meu
colo e a levar ao seu quarto para que possa ter uma noite decente de
sono.
Com seu corpo leve como uma pluma em meus braços, começo a
marchar em direção as escadas. Aninho seu rosto entre meu ombro
enquanto subo degrau por degrau, em poucos minutos estou
colocando-a sobre a cama. Naty resmunga algo baixinho e vejo uma
lágrima escorrer por seus olhos, ver o quanto seu coração está
machucado destrói meu psicológico.
Meu Jesus! As duas mulheres da minha vida estão passando por
momentos difíceis e preciso ser forte para apoiá-las.
Passo a mão em sua cabeça, mostrando que estou ao seu lado
não importa o que aconteça. Naty é jovem ainda, encontrará um
homem que a ame de verdade.
Mal percebo, mas fico observando-a dormir durante um longo
tempo e quando noto o que fiz, sorrio e saio do quarto lentamente
sem fazer qualquer barulho.
Começo a caminhar em direção ao meu escritório, estou cansado
e com sono, mas preciso fazer duas ligações. Estou preocupado com
Rafael e com suas atividades no Rio de Janeiro, pressinto que algo
ruim está para acontecer. E também devo ligar para Levi, para ficar a
par de todas as novidades sobre seu novo tratamento.
Observando as horas no meu relógio de pulso, deixo um sorriso
fraco brincar no canto dos meus lábios. Daqui a exatamente seis
horas, irei encontrar minha loirinha novamente.
Capítulo 29
Nayara Monteiro

No segundo em que abro os olhos, sinto um sorriso determinado


brincando em meus lábios. É hoje! Penso com animação, enquanto
levo as mãos ao rosto e massageio lentamente as têmporas.
Involuntariamente bocejo, tentando afastar a preguiça que ainda
resta em meu corpo, para em seguida me sentar na cama. Hoje terei
alta! Não aguentava mais ficar em banho Maria nesse hospital,
comendo essas sopas estranhas.
— Bom dia, boneca. — Heitor sorri exibindo suas belas covinhas,
entrando no quarto com uma sacola branca nas mãos. — Hoje fiz
questão de comprar para você um café da manhã decente.
Deixo um sorriso animado escapar por meus lábios e encaro a
sacola com muita expectativa. Heitor aos poucos quebra a distância
que existe entre nós e entrega a sacola em minhas mãos.
Lentamente desamarro o nó e abro para descobrir que dentro tem
uma caixinha com bolo de chocolate, outra com torta de morango e
por fim, um suco de uva.
— Aaah mentira! — falo animada e vou tirando as embalagens. —
Meu Deus! Estou com água na boca. — Abro a embalagem com o
bolo de chocolate, pego uma colher de plástico que também estava
dentro da sacola, separo um pedaço generoso e levo a boca
degustando do sabor. — Hmm! — Deixo um gemido prazeroso
escapar. — Está delicioso, aí meu Deus.
Sem conseguir conter meus movimentos começo minha missão de
comer todo o bolo de chocolate, missão que termino rapidamente
com sucesso. Termino também de comer a torta de morango, beber
o suco de uva. Ao terminar de apreciar meu doce café da manhã,
deito-me na cama esperando minha barriga digerir o alimento para
que eu possa tomar um banho e me arrumar para ir embora.
Na noite anterior o doutor solicitou os últimos exames para garantir
que sairei desta clínica totalmente, ou melhor, parcialmente curada e
para meu alívio, não estou com nenhum dano preocupante. Sendo
assim, está tudo certo e confirmado para minha saída no final da
tarde. A enfermeira, colega da vaca que deu em cima do Nick, veio
avisar que no final da tarde, por volta das cinco horas, o doutor
passaria aqui para assinar minha alta.
Parando para pensar, desde a noite anterior, que revelei saber
sobre a relação que Dominic e eu tínhamos, estou com o
pensamento naquele homem. Nick, mesmo querendo negar nossa
relação acabou confirmando, que somos namorados; quando ele
disse aquilo, seus olhos brilharam com tanta vontade que senti
vontade de chorar. Nick expressava seus sentimentos através dos
seus olhos e eu consigo captar cada um deles.
O carinho que ele me fez, a forma como me tratou, a forma como
ele está presente na minha vida. Nossa história, seja ela qual for,
ainda mexe muito com esse homem. Não consigo nem imaginar eu
amando alguém que não se lembra de mim. Pensar dessa forma, no
ponto de vista do Nick, faz meu peito apertar de um jeito muito
doloroso, como se meu coração pudesse sentir a dor que ele sente.
Nick sente algo muito forte por mim, não consegue esconder ou
disfarçar isso. Está nítido em seus olhos, está claro em seu coração
e óbvio em seu rosto. Quanto a mim, o que faço sobre isso? Eu
queria descobrir a verdade, agora já sei, mas o que vou fazer a
respeito?
Minhas lembranças ainda não estão, totalmente presentes e algo
me diz que só voltarei a recordar quando estiver ao lado dele. Vou
voltar para o meu apartamento, voltar para a minha vida de antes e
verei onde Nick se encaixa em tudo isso.
A tarde passou lentamente, tão lenta quanto uma tartaruga no
auge da sua idade. Mas o momento esperado finalmente chegou, o
doutor apareceu, conversou comigo sobre algumas precauções que
devo tomar, receitou alguns remédios, entregou meu afastamento da
empresa e por fim, assinou minha alta hospitalar.
— Está pronta para dizer tchau a esse hotel cinco estrelas? —
Heitor questiona com um sorriso travesso no rosto e tenho vontade
de tacar qualquer coisa em seu rostinho perfeito, mas para sua sorte,
não existe nada ao meu alcance.
Termino de amarrar meus sapatos, dou uma olhadinha no meu
cabelo através do reflexo do espelho e confirmo o estado destruído
em que estou. Estou uma droga, literalmente.
Meu cabelo está bagunçado, minha pele está pálida e sem vida,
estou com olheiras e meus lábios estão ressecados. Estou uma
merda! Mas tudo bem, minha sobrancelha está arrumada então
ainda posso manter um pouco de dignidade.
— Vamos? — questiono caminhando até a saída do quarto. Heitor
coloca o braço ao redor da minha cintura me dando certo apoio para
que possamos ir embora, não reclamo, apenas encosto minha
cabeça em seu peito e respiro profundamente enquanto andamos.
Cruzamos em silêncio todo o percurso até a saída e quando pisamos
na calçada sinto minha respiração ficar presa na garganta ao ver
Dominic do outro lado da rua.
— Não acredito que ele veio mesmo. — Ouço Heitor sussurrar
incrédulo.
Nick está de pé sobre todo o seu um metro e oitenta e poucos,
vestido com uma calça jeans preta, uma camiseta polo azul escura,
uma blusa de frio da mesma cor e o capuz está sobre sua cabeça
escondendo suas mechas negras. Ao seu lado, está um conversível
de dar inveja, uma BMW azul escura tão bela quanto o mar.
Mas então, como se meus olhos estivessem sendo atraídos para
algo, nossos olhares se conectam. Nossas almas ficam conectadas
por alguns segundos e sinto aquele calor bom em meu peito.
Nick olha ligeiramente para os lados antes de atravessar a rua e
quando termina, chega a minha frente quebrando toda a distância
entre nós. Prendo a respiração ao sentir seu perfume nublando meus
pensamentos.
— Olá — sussurra com seus olhos fixos nos meus. — Você está
linda.
Sua voz rouca ecoa milhares de vezes pela minha mente,
chegando a todos os pontos possíveis do meu corpo. Fico sem
reação diante do olhar afiado que recebo e engulo em seco para
disfarçar meu constrangimento.
— Obrigada — sussurro. — O que você está fazendo? —
questiono, com os olhos estreitos, sua aparição repentina. Isso
realmente me surpreendeu.
— Estou falando com a mulher mais linda do mundo. — Nick deixa
um sorriso escapar por seus lábios, como se isso fosse a coisa mais
óbvia do mundo e reviro os olhos.
— Não… quero dizer, o que está fazendo aqui, na rua, na frente do
hospital? — questiono com mais detalhes para que ele possa
entender.
— Vim acompanhar você até seu apartamento, não consegui vir
mais cedo, tive uns problemas envolvendo os meus irmãos… —
Suspirou parecendo cansado.
— Não precisava vir — falo desviando o olhar. — Heitor está aqui.
Por alguns segundos meu olhar passa a encarar o chão ao nosso
lado e respiro profundamente tentando organizar meus
pensamentos, até que sinto sua mão tocando gentilmente meu rosto
e ergo o olhar surpresa por seu movimento ousado.
— Eu sempre vou estar com você, sempre pequena.
Duas longas semanas. Quatorze dias que se passaram
lentamente desde que tive alta do hospital. Duas semanas desde
que vi Dominic pela última vez. Lembro que naquele dia ele me
acompanhou até meu apartamento. O caminho fora agradável,
conversamos sobre bobagens e desejos, e quando chegamos ao
nosso destino ele se aproximou, deu um beijo casto na minha
bochecha e partiu prometendo voltar logo em breve.
E isso faz duas semanas!
Durante o tempo em que estive no hospital, Nick jurou ficar sempre
ao meu lado, mas depois que fiquei livre não o encontrei mais.
Suspiro, desanimada enquanto abro o notebook e começo a rolar os
olhos nas últimas notícias. Estou sentada na poltrona marrom de
couro que tenho na sala de estar, no meu colo, entre minhas pernas,
repousa meu notebook que está bem desgastado devido ao tempo
de uso. Na minha mão direita, seguro com firmeza uma xícara azul
escura que contém chá de camomila.
Faz exatamente cinco dias desde que Heitor precisou retornar
para São Paulo. Estávamos tomando café da manhã na sala
enquanto assistíamos The 100 quando o celular dele começou a
tocar, Heitor bufou e levantou para ir atender, quando retornou
estava apreensivo dizendo que precisava ir embora.
No começo fiquei apreensiva com sua partida, mas depois lembrei
que não seria tão ruim. Eu precisava daquilo, precisava de um tempo
somente para mim e quando Heitor partiu, comecei a me adaptar a
minha vida antiga.
Todos os dias, converso com minha mãe e com Kie, na última
ligação descobri que meu primo havia terminado com a namorada,
pois descobriu que estava sendo traído e isso o deixou muito
chateado. Eu disse que em breve voltaria e o ajudaria a superar essa
garota.
Com cuidado levo a xícara aos lábios para tomar mais alguns
golpes quando uma notícia me faz engasgar.
“Dominic Grombeth viaja ao Rio de Janeiro para retirar seu irmão
mais novo, Rafael Grombeth, da cadeia”. Segundo nossa repórter,
Aline Magalhães, que conseguiu fotos exclusivas dos irmãos
Grombeth saindo da delegacia municipal.
Fontes afirmam, que o irmão mais novo Rafael Grombeth estaria
envolvido com drogas ilícitas e fora preso numa apreensão policial.
Seu irmão mais velho, Dominic Grombeth, foi informado sobre o
ocorrido e viajou para poder libertá-lo.
— Meu Deus… — suspiro, apreensiva lendo toda a reportagem. —
Agora entendo.
Se essa notícia realmente for verdadeira, Dominic não entrou em
contato comigo porque estava muito ocupado cuidando do seu
irmão. Durante alguns minutos fico com o olhar fixo na tela do
computador relendo a notícia em busca de mais informações.
Em algum momento, a campainha começou a tocar despertando-
me do transe em que eu estava. Levanto lentamente, coloco o
notebook sobre a mesinha de centro, coloco a xícara ao lado e
caminho em direção à porta para atendê-la.
— Bom dia, Nay!
Samanta, é a irmã mais nova da minha vizinha e também uma
grande amiga, sorri quando abro a porta de madeira.
Esqueci-me de comentar, durante o tempo de recuperação alguns
fragmentos das minhas lembranças perdidas voltaram, entre elas,
quando conheci Serena. Dois dias atrás, Serena retornou para Cuba
e trouxe sua irmã para passar uns dias ao seu lado, conheci-a e nos
damos muito bem.
— Bom dia Samanta. — Sorrio educada.
— Hoje à noite iremos para um clube, você está a um bom tempo
de molho nesse apartamento, está na hora de sair um pouco e
respirar. — Desvia o olhar. — Topa?
Durante alguns segundos pondero suas palavras. Realmente faz
tempo que não saio de casa, o acidente me deixou vulnerável e de
certa forma, estive esperando por Nick esse tempo todo.
— Topo. — Sorrio determinada. — Às oito?
— Às oito. — Sam confirma sorrindo de lado e se vira para ir
embora. — Até mais tarde, Nay.
Então após nos despedimos, cada uma entra no seu respectivo
apartamento. Respiro profundamente com as costas pressionada na
parede e decido organizar meu lar.
Quando são seis horas da tarde sento no sofá, extremamente
cansada. Passei a tarde toda arrumando cada parte desse lugar e
isso foi demasiadamente cansativo. Passo a mão sobre a testa
sentindo as gotas de suor e decido tomar um banho para começar a
me arrumar.
Assim que saio do banho arrumo-me graciosamente, coloco um
vestido elegante, faço uma maquiagem básica, um penteado rústico
e pouco tempo depois encontro as meninas para irmos à balada.
— Quer mais um pouco? — A voz da barwoman ecoa repetidas
vezes pela minha mente, lentamente ergo a cabeça para encarar um
par de olhos negros me encarando fixamente. Por alguns segundos
meu olhar fica fixado nos olhos da mulher, seu rosto, seu cabelo, de
alguma forma me parece familiar.
— Não. Estou bem, obrigada. — Agradeço com a voz um pouco
embargada por causa da bebida que já ingeri e coloco a mão sobre a
cabeça tentando aplacar a dor que se inicia.
— Agora sei de onde conheço você. — A barwoman volta a falar,
chamando minha atenção e ergo novamente o olhar. — É a
namorada daquele cara alto, cabelos negros, olhos claros, gostoso
pra caramba.
Sua descrição do sujeito ao qual sou namorada, soa exatamente
com as características físicas de Dominic e ergo uma sobrancelha
em tom de deboche.
— Eu sou? — questiono mantendo seu contato visual.
— Sou amiga do Rafael e preciso ter uma conversa séria com
você — fala abaixando o corpo até ficar na minha altura. — Naquele
dia, quando você me pegou na cama do seu namorado, não
dormimos juntos, ele estava bêbado porque vocês haviam brigado e
eu o levei para casa. — Dá uma pequena pausa. — Quando
chegamos, ele não aguentou subir, então o levei até o quarto, estava
tarde e ele disse que eu podia ficar em um dos quartos. Fiquei
preocupada em deixá-lo sozinho e acabei dormindo do lado dele. —
Outra pausa. — Quando você chegou, achou ter visto uma coisa.
Mas, não ficamos juntos. Só queria deixar isso claro.
E então, como se suas palavras tivessem uma força descomunal,
sinto uma forte tontura e logo, lembranças de momentos diversos da
minha vida voltam com força total. Lembro-me da briga que tive com
Nick por causa do Heitor, do Rafael indo na minha casa para
interceder por nossa relação; do Nick estar na cama com outra
mulher, de estar entrando naquele maldito avião e do momento da
queda.
Meu coração se contrai fortemente dentro do peito como se
estivesse sendo triturado por algo invisível. O oxigênio não circula
com perfeição por meu corpo e tudo gira ao meu redor. E então,
ouço a voz da barwoman, sua explicação, seu olhar determinado e
calmaria. Neste exato momento, vejo o rosto de Dominic. Sinto dor,
mágoa, tristeza, arrependimento, mas principalmente, sinto saudade
do meu homem.
— Como posso ter certeza do que você está falando? — questiono
alto para chamar sua atenção e vejo seus olhos brilhando.
— Sempre desejei o Rafael e do nada sou acusada de pegar o
irmão dele. — Bufa. — Além disso, seu homem sequer prestou
atenção em mim, ele estava falando de você sem parar, ele ama
você. Se não percebeu isso, você é muito idiota.
Levanto da cadeira, coloco as duas mãos sobre a bancada e olho
fixamente dentro de seus olhos.
— Nunca mais chegue perto dele — digo lentamente. — Agora se
me der licença… tenho que conversar com o homem que ferrou meu
psicológico.
Dou as costas para a mulher que aparentemente me parece
suspeita e começo a andar em direção a saída do bar. Não encontro
a Samanta, então decido ir embora sozinha, tenho muita coisa para
resolver, mas como já está tarde decido voltar para casa.
— Me lembrei de tudo. — Afirmo com convicção assim que
Dominic atende o telefone na quarta chamada. A linha fica muda
durante vários segundos, o único som que escuto é a respiração
pesada do homem do outro lado da linha.
Fecho a porta de casa trancando-a rapidamente e jogo a bolsa
sobre o sofá. Aperto o telefone em meus dedos sentindo-me sem ar
e agoniada em somente escutar sua voz.
— Me desculpa, Loirinha. — Sua voz rouca ecoa em meus ouvidos
uma dúzia de vezes. A forma como meu corpo reage a sua voz me
deixa surpresa, mesmo sem estarmos frente a frente Dominic
consegue causar arrepios constantes pelo meu corpo, sinto meu
coração acelerado e minha respiração ficar frenética. Fecho os olhos
com força, com a mão livre aperto a bancada da pia enquanto tento
acalmar as batidas descompassadas do meu coração.
— Precisamos conversar — sussurro abrindo os olhos. — Agora
que me lembrei de tudo, temos assuntos para resolver.
— Amanhã cedo estarei voltando para Cuba.
— Venha até meu apartamento amanhã, estarei esperando. —
Finalizo e então, desligo a ligação sem dar tempo para que ele tente
responder. Teremos nossa conversa amanhã à noite e de uma vez
por todas resolvemos nossa situação.
São exatamente cinco horas da tarde quando ouço algumas
batidas na sala de estar. Dou um nó apertado na toalha de banho
rosa que envolve meu corpo enquanto caminho lentamente, ao som
de Poker Face da Lady Gaga, em direção a porta. No meio do
caminho ouso dar uns passos desengonçados da coreografia e
sorrio animada percebendo como estou bem.
— Posso ajudar…
As palavras ficam engasgadas no meio da garganta quando abro a
porta e vejo Rafael Grombeth com todo o seu um metro e noventa,
terno finíssimo como sempre, e uma tipoia no seu braço direito.
Da última vez que a gente se viu, estávamos indo para a casa do
Nick quando toda a confusão aconteceu. Desde então, a briga, o
acidente e minha recuperação, não tivemos mais contato.
— Aceito um copo de suco — exclama chamando minha atenção
para seus olhos e pisca sutilmente. — E, sinceramente, uns
biscoitos. Estou morrendo de fome, não faz ideia.
E então, involuntariamente, sorrio do seu jeito alegre e espontâneo
de sempre. Esse simples ato de brincar, seu jeito único deixa meu
coração acelerado, me causa um bem, uma sensação incrivelmente
boa. E sem que eu perceba uma lágrima rola por minha bochecha e
levada por um impulso, inexplicável, corro para seus braços lhe
dando um grande abraço apertado.
— Hmm… — Ouço um gemido de dor escapar por seus lábios e
somente então me lembro do seu braço machucado. Me afasto
ligeiramente envergonhada por meu movimento ousado e desvio o
olhar.
— Ai meu Deus — sussurro. — Desculpa... — Dou um passo para
trás. — Mas, o que aconteceu com você?
Rafael encosta o braço esquerdo no batente da porta, inclina
ligeiramente a cabeça para o lado e lança um sorrisinho manhoso.
— Sabe Loirinha, acabei de chegar de viagem, estou zerado de
fome, com sono, cansado e todo estropiado… — Faz biquinho. —
Me deixa entrar, comer alguma coisa, aí a gente conversa, pode ser?
Ergo uma sobrancelha em sinal de deboche e reviro os olhos
diante de tanto drama, por fim, deixo um sorriso casto brincar no
canto do rosto e dou espaço para que ele possa passar.
— E então, quando cheguei na casa o bastardo estava lá com ela
e com a criança, tivemos uma briga e ele atirou no meu braço. —
Rafael explica calmamente, enquanto conta como machucou o
ombro e como acabou sendo preso.
— Então você foi preso. — Deduzo.
— Isso foi antes. — Explica. — Depois conto tudo com mais
calma.
Aceno com a cabeça concordando. Rafael termina de comer o
bolo de chocolate que eu havia feito e coloca o prato em cima da pia.
— Não imaginava que a Serena tinha tantos problemas… —
Engulo em seco, mas decido mudar de assunto. — Mas, então quer
dizer, que minha vizinha fisgou você. Quem diria!? — Brinco
arrancando algumas risadas.
Rafael contou que conheceu Serena há algum tempo na boate e
acabou ficando curioso sobre ela, disse que a viu discutindo com um
homem estranho e que no outro dia a mesma sumiu, então decidiu ir
atrás dela e quem diria... se apaixonou. A história deles é muito
complicada, porém, bonita.
— Falando nisso, agora que estou alimentado, preciso pedir
desculpa para você. — Franzo o cenho, confusa.
— Por que está pedindo desculpa? — indago.
— Por não ter ficado ao seu lado enquanto estava no hospital, —
desvia o olhar — eu queria ter ficado ao seu lado, apoiado você, todo
momento arrancando vários sorrisos bobos — dá uma pausa —,
sabe disso, certo? Eu jamais deixaria você de lado se não tivesse
outra opção — respira — eu estou envolvido com Serena, não posso
contar muita coisa, mas ela estava precisando de mim e eu não
consegui virar as costas para ela... Deixá-la naquela situação seria
desumano... Nay, espero que possa me...
Não dou tempo para que termine sua frase e o abraço
rapidamente, puxando-o com força para um carinho suave e
amigável. Fecho os olhos enquanto respiro profundamente, quando
nos afastamos sorrio olhando dentro dos seus olhos.
— Está tudo bem, não estou chateada e entendo seus motivos.
Rafael sorri de lado e acena positivamente, logo fica sério me
encarando fixamente.
— Dominic está esperando você.
— Estou com medo de conversar com ele. — Confesso com os
olhos fechados.
— Porque está sentindo isso? — questiona chegando mais
próximo a mim, seu olhar está fixo. — O que está passando por essa
cabecinha?
— Estou sentindo isso porque… Porquê… porque hoje iremos
conversar e provavelmente iremos terminar. — Engulo em seco
sentindo meus olhos lacrimejarem. — Eu não sei direito o que sinto
pelo seu irmão, mas é algo forte, muito forte. Mesmo sem memória
meus sentimentos por ele eram intensos e agora, agora que me
lembro das coisas, penso que ele pode não ter me traído e não sei
como reagir sobre isso. — Desabafo sentindo um enorme peso sobre
meus ombros e então, para minha surpresa, Rafael estende os
braços e me puxa para um abraço apertado.
— Ele não dormiu com outra mulher, eu mesmo fui averiguar essa
história e é só olharmos para aqueles olhos claros que vemos a
verdade. — Suspira. — Meu irmão ama você, precisava ver o jeito
que ficou quando descobriu do acidente, ou o tempo em que
passamos juntos no Rio de Janeiro. — Dá uma pequena pausa e
ergue meu rosto para que possamos nós encarar. — Não estou
pedindo para perdoar ele, estou pedindo para ouvi-lo, para dar uma
chance ao que vocês dois sentem.
Sabe aquele momento na vida em que estamos prestes a tomar
uma decisão que pode mudar toda a nossa realidade e ficamos
hesitantes sobre qual escolha devemos fazer? Bom…
Nesse momento, tomei uma decisão movida por um impulso
inexplicável, meus pensamentos me levaram a escutar os
argumentos de Rafael, me levaram a aceitar encontrar Dominic em
seu território mesmo sabendo que seria um grande erro.
Quando decidi marcar de encontra-lo no meu apartamento decidi
isso através de uma estratégia bem elaborada. Nick estaria no meu
território, no meu domínio e eu teria, parcialmente, o controle de toda
a situação. Agora, como todas as outras vezes, Dominic quebrou
minhas regras e está me atraindo para seu matadouro, para o seu
território e serei obrigada a vê-lo entregando suas cartas.
Rafael faz um movimento ao meu lado, pelo canto dos olhos vejo
que ele está digitando algo em seu celular e imagino que esteja
avisando ao irmão que estamos chegando. Respiro profundamente
enquanto observo o lado de fora do carro quando percebo uma
coisa, Rafael não disse ao motorista onde deveríamos ir e nesse
momento, o trajeto que estamos percorrendo é em direção ao centro
da cidade.
— Esse não é o caminho para a casa do Nick. — Comento com
os olhos estreitos, ainda encarando a paisagem através do vidro do
carro.
— Tivemos uma pequena mudança de planos, nada preocupante.
— Rafael responde enquanto coloca o celular no bolso. — Diga-me,
aposto que está confiante com sua escolha.
Desvio o olhar e passo a encarar seus belos olhos claros com
muita atenção, deixo um sorriso sarcástico brincar no canto dos
meus lábios e cruzo os braços sobre o peito mostrando o quão
confiante estou com a minha escolha.
— Estou irradiando confiança não é mesmo?
— Na verdade. — Ergue a sobrancelha direita, seus olhos
brilham num tom divertido. — Durante o caminho, percebi que você
não para de tamborilar os dedos nas pernas, vez ou outra morde o
lábio inferior, bufa algumas vezes, olhando através da janela. — Faz
um movimento com os ombros. — Nunca vi você tão aflita como está
nesses últimos minutos.
O encaro completamente sem reação. Em nenhum momento
percebi que seus olhos estavam fixados em mim, mas assim como
um gavião, Rafael prestou atenção em todos os meus movimentos e
tiques de ansiedade. Me repreendo mentalmente por estar tão
vulnerável aos seus olhos.
Engulo em seco desviando o olhar, decido quebrar a conexão que
existe entre nós e volto a fitar a paisagem através da janela de vidro
do carro.
— Você é bem analítico — resmungo. — Mas, não deixa de ser
verdade. Estou com o coração acelerado somente em imaginar a
conversa que terei com Nick.
Suspiro, apreensiva, imaginando como tudo pode mudar assim
que nossos olhos se encontrarem. Talvez seja esse meu destino.
Talvez não sejamos feitos um para o outro. Talvez nossos caminhos
não devessem ter se cruzado. Talvez… ah… talvez eu tenha me
enganado esse tempo todo.
— Bom, chegamos. — Rafael anuncia, enquanto abre a porta do
carro e sai numa agilidade impressionante, mesmo com um braço
imobilizado. — Espero que não fique desconfortável com isso…
Ele abre a porta ao meu lado, todo educado para que eu possa
descer sem precisar me esforçar. Estou pronta para perguntar o
motivo que me deixaria desconfortável, mas minha voz fica presa na
garganta ao ver exatamente onde estávamos.
A brisa sopra suavemente contra meus cabelos dourados à
medida que meu corpo sai do carro. O sol está quase indo embora,
deixando uma paisagem agradável para os olhos e a poucos metros
posso contemplar a visão de um grande e bonito avião.
Como se dessem uma martelada na minha cabeça recordo o dia
do acidente, de como tentei ser forte pelos passageiros, de como
lutei para sobreviver e do medo constante que senti em meu peito. A
aflição corre ferozmente por minhas veias, sinto meu sangue correr
com mais sagacidade e mal consigo respirar.
Não vou conseguir.
— Nay, preciso que olhe dentro dos meus olhos. — Rafael pede
com a voz calma e faço lentamente o que pediu. — O avião não vai
sair do chão e Dominic está lá dentro te esperando.
— Por que ele escolheu esse lugar? — questiono sentindo um
incômodo na garganta.
— Isso você vai precisar perguntar diretamente para ele. — Sorri
fraco. — Tenha força, seja corajosa e lute contra seus demônios,
baixinha. Você não está sozinha, não se esqueça disso.
Rafael se afasta de mim, dando espaço para que eu possa
começar meu caminho até as escadas do avião, mas não consigo
me movimentar, meus membros ficam paralisados, sequer consigo
respirar direito.
Mas, como se eu estivesse sobre o efeito de algum tipo de
hipnose, meus olhos são levados até uma parte do avião e através
de uma das janelas de vidro consigo encontrá-lo.
Seus olhos se conectam aos meus através de uma linha fina,
invisível, mas tão forte e intensa como o mais puro aço. Seu olhar
desce pelo meu corpo e por onde seus olhos passam sinto minha
pele esquentar em resposta, e então sinto meu corpo começar a se
mexer. Lentamente, sinto minhas pernas saírem da paralisia em que
se encontravam e aos poucos, começo a caminhar em direção ao
avião. Paro diante das escadas, levo a mão direita até o corrimão e
seguro com força enquanto dou o primeiro passo para começar a
subir e assim faço, quando paro para pensar estou dentro.
Respiro profundamente enquanto fecho os olhos, a confiança aos
poucos vai se esvaindo do meu corpo. O medo faz minhas pernas
fraquejaram, faz meu corpo se contrair e minha certeza vira
incerteza.
Respire Nayara, você é uma mulher forte e consegue superar
isso.
Lentamente abro os olhos e aos poucos, volto a andar, passo por
algumas poltronas e quando cruzo a divisória entre as seções
encontro-o em pé ao lado de um assento.
— Oi — sussurra com seus olhos claros fixos nos meus olhos.
Apenas o fato da sua voz rouca e potente como trovão penetrar
meus ouvidos, causa um arrepio involuntário no meu corpo.
— Oi… — sussurro sentindo meu coração acelerar. Droga,
preciso me controlar, não posso deixar que meus sentimentos
interferirem nas minhas decisões. Portanto, para distrair meus
pensamentos desço o olhar por seu corpo, contemplando cada
pequeno pedaço. Dominic está usando um terno cinza como metal
líquido, a peça parece ter sido moldada perfeitamente e
exclusivamente para o seu corpo, abraça seus músculos e destaca
sua potência, em todos os ângulos.
— Foi exatamente nesse avião que nós nos vimos pela primeira
vez. — Nick exclama passando a mão no banco ao seu lado,
parando para reparar agora, a numeração é a mesma a qual ele
estava sentado. — Mas, se for parar para pensar, antes de
entrarmos no avião, por acidente acabamos dando um encontrão um
no outro. Você deixou sua bolsa cair e se desculpou dizendo que
estava distraída e atrasada, mas sequer olhou direito no meu rosto.
— Dá uma pequena pausa e começo a me lembrar dessa cena e
realmente é verdade. — Quando o avião decolou e eu vi que você
era a pequena loira que esbarrei fiquei surpreso, você era linda e
incrivelmente atraente, mas naquela época eu era um cretino e então
aconteceu nossa primeira vez, num avião em movimento e depois,
por incrível que pareça, nós nos encontramos novamente no seu
apartamento.
Lembrar-me de todos esses momentos, dos momentos que
compartilhamos juntos me faz sorrir e mesmo que eu não admita,
sinto uma pontada de saudade apertar meu peito. Eu queria aquilo,
queria ficar ao lado dele, queria dizer que tudo ficaria bem, mas não
sei se realmente é verdade.
— Por que está lembrando-me de tudo isso, logo agora? —
questiono tentando manter minha postura de durona.
— Porque são as nossas memórias, são os nossos momentos,
eles construíram nossa relação, nossos sentimentos e mesmo você
me odiando, não vou conseguir parar de amar você, não vou
conseguir deixar você para trás.
Recuo um passo sentindo suas palavras atingirem meu peito com
força total.
— Encontrei aquela mulher ontem, foi completamente por acaso,
mas a encontrei e ela me disse umas coisas. Depois, seu irmão
confirmou a mesma história que ela e tomei uma decisão. — Revelo
e vejo Dominic prender a respiração enquanto espera, então falo. —
Quero ouvir de você exatamente o que aconteceu.
Dou outro passo para trás, dando o espaço necessário para que
Dominic tenha a chance de se defender, de contar o seu ponto de
vista. Eu sei como aconteceu, o que aconteceu e os motivos que o
levaram a fazer o que fez, mas quero ouvir novamente através dos
seus lábios.
— Quando liguei para você, esperava passar a noite toda ouvindo
sua voz. Eu estava com saudade, queria contar as novidades e
saber sobre seu dia, mas então seu amigo atendeu. — Engole em
seco. — Heitor atendeu ao telefone e escutei você pedindo para que
ele colocasse uma camiseta ou algo assim, fiquei completamente
cego pelos ciúmes e perceber isso me destruiu por dentro. — Dá um
passo para o lado enquanto desvia o olhar. — Então, sai para beber,
encher a cara foi a solução mais que perfeita. Acabei bebendo muito,
mas sei cada palavra ou movimento que dei. — Volta a me encarar.
— Em algum momento, a barwoman se ofereceu para me levar em
casa e aceitei, não tinha nada demais naquilo. Chegamos em casa,
subimos para o meu quarto e eu deitei na cama, simplesmente deitei
e dormi. Ela deitou ao meu lado, mas sequer toquei na pele dela.
— De manhã, a cena que vi não expressava isso — resmungo.
— Nayara, eu nunca deixaria você. Nunca trocaria você por outra
mulher, jamais. Eu amo você com toda a minha alma! — exclama
dando um passo na minha direção. — Porra, durante toda a minha
vida eu nunca encontrei uma pessoa como você. Eu… Eu… Droga…
— Quebra a distância entre nós e coloca as duas mãos no meu
rosto. — Eu quase te perdi, você não sabe a merda que eu passei
sabendo que a qualquer momento eu poderia perdê-la de vez.
No segundo em que sua voz carregada de emoção e embargada,
ecoa pelos meus ouvidos, tenho certeza de uma coisa.
— Sabe de uma coisa, Nick? — Olho fixamente dentro dos seus
olhos claros, os olhos que sempre amei, que mostram com nitidez
cada um dos seus sentimentos. — Com todo o meu coração, eu
acredito em você.
Quebro a pouca distância que existe entre nossos lábios
puxando-o com as mãos para um beijo longo e intenso, carregado de
emoção, paixão, fogo e ganância. Pela primeira vez em muito tempo
sinto suas mãos apertando minha cintura, seus dedos brincando com
meus fios dourados assim como eu não deixo os seus quietos, levo
os dedos até suas mechas negras e os puxo com intensidade.
Meu coração acelera sem ritmo dentro do peito, meus olhos se
apertam com força à medida que nossos corpos se movem com
sagacidade. Ambos queremos mais um do outro, mas esse não é o
momento certo para isso. Então, dou um passo para o lado
quebrando com carinho o contato dos nossos lábios. E novamente,
nossos olhos se encontram.
— Eu sinto muita vontade de te bater — resmungo com um
sorriso no rosto. — Mas, a vontade de te beijar é muito maior.
— Fico muito feliz por isso, Loirinha. — Nick gargalha enchendo
meu coração de alegria e então num movimento rápido, suspende
meu corpo no ar erguendo-me do chão. — Meu Deus do céu, como
eu amo você!
E novamente nos beijamos deixando claro o amor que ambos
sentimos um pelo outro, deixando claro que sempre, apesar das
circunstâncias, estaremos juntos.

ALGUM TEMPO DEPOIS ...

Dominic
“O silêncio remete o que a alma almeja falar, mas o que a boca
não consegue expressar.”
É a frase que soa, diversas vezes seguidas, pela minha mente no
instante em que vejo Nayara descendo lentamente as escadas.
Conforme vai se aproximando posso contemplar com mais ganância
cada pedaço do seu corpo e preciso dizer, estou completamente
excitado somente em vislumbrar seu corpo coberto por um vestido
vermelho, tão intenso quanto sangue fresco. A peça destaca todas
as suas curvas com muita perfeição, seus quadris como violão
rebolam sutilmente enquanto desce cuidadosamente cada degrau,
seus seios ligeiramente grandes e arredondados estão destacados
por um decote generoso.
— Seria melhor parar de babar, meu amor. — Minha loirinha
debocha piscando um olho quando chega ao meu lado.
— Porra… — resmungo ao estender os braços sobre sua cintura
e a puxo para perto do meu corpo. — Você está perfeitamente
gostosa. —Assobio olhando diretamente para seus lábios que estão
cobertos por uma generosa camada de batom vermelho escarlate.
Desvio o olhar para dentro dos seus e vejo seus longos cílios
piscarem conforme percebe o poder que exerce sobre mim.
— Sem beijos. — Vira o rosto quando tento sugar seus lábios
tentadores. — Não quero borrar meu batom.
Estreito os olhos, mas não tenho escolha, um sorriso malicioso
surge em meus lábios conforme um plano vai surgindo em minha
mente. Empurro seu corpo em direção à parede que está ao nosso
lado, deixo-a bem presa sob meu bel prazer e emprego minha
excitação em sua barriga mostrando o quanto estou desejando-a.
— Você está maravilhosa nesse vestido — sussurro ao pé do seu
ouvido deixando-a arrepiada. — Mas, não posso negar, mal vejo a
hora de retirar essa roupa do seu corpo, com a boca e tomar você
em meus braços. — Finalizo minha promessa com alguns beijos e
uma pequena mordidinha na pele exposta do seu pescoço. Quando
um gemido escapa por seus lábios sorrio convencido e recuo um
passo, pronto para ir ao nosso jantar.
— Vamos querida? — questiono com voz inocente. — Não
queremos chegar atrasados na nossa própria comemoração, afinal
de contas, é em nossa homenagem.
— Você é um cretino, Dominic Grombeth! — resmunga com um
sorriso malicioso. E, então juntos saímos de casa.
Hoje depois de todos os conflitos e contratempos que tivemos,
comemoramos um evento muito especial na empresa. Há muito
tempo deixei o trabalho de lado para me dedicar a fazer qualquer
outra coisa que não fosse relacionada a ele, mas depois que me
acertei com a minha mulher, percebi que não queria deixar meu
trabalho pela metade. Retornei a empresa e fiz uma negociação
arriscada, mas no final nossos parceiros mostraram uma sagacidade
impressionante e o resultado excedeu nossas expectativas.
A nova parceria rendeu vinte e cinco trilhões de dólares e como
forma de continuar e firmar nossos negócios, resolvemos fazer uma
comemoração na empresa, juntando as duas multinacionais. Nayara
por outro lado, se mostrou ser um gênio de planejamentos em
arquitetura e acabou contando que seu tio era arquiteto e o
observava trabalhar por horas quando era pequena e chegou a fazer
dois anos de faculdade antes de decidir parar. Conversamos e fiquei
surpreendido quando revelou que queria voltar e terminar sua
faculdade de arquitetura, logo apoiei sua decisão.
Chegando à festa cumprimentamos cada um dos envolvidos,
comemos e bebemos bastante, conversamos sobre negócios, futuras
parcerias e projetos. Em determinado momento, cansada dos
negócios Nayara me puxou pela gola do terno e me guiou até uma
área reservada para dança, onde dançamos uma música lenta e
intensa.
Mas agora, nesse instante, me vejo em cima do palco terminando
meu discurso sobre o projeto da empresa. Meus olhos se encontram
com os dela e decido fazer o que há tempos desejo.
— Queria pedir a atenção de vocês agora. — Peço chamando a
atenção de todos os convidados. — Há quase um ano, conheci uma
mulher incrível. Uma mulher guerreira, intensa, gostosa e que me faz
feliz a cada segundo do dia. — Sorrio apaixonado. — Nayara, minha
loirinha, vem aqui, por favor.
E assim como peço, Nayara se levanta da mesa em que está
sentada e vem na minha direção lentamente, nossos olhares estão
conectados e nenhum dos dois quer perder a batalha.
— O que está fazendo? — sussurra chegando ao meu lado.
— O que eu deveria ter feito muito tempo — sussurro para que
somente ela ouça e depois volto a olhar para o público. — Eu quero
pedir essa bela mulher em casamento, mas será que ela vai aceitar?
— Algumas pessoas riem, outras fazem um som animado. — Você
aceita casar comigo, Loirinha? Mesmo com meus defeitos,
problemas, medos e anseios… Casa comigo? Aceita ser a tampa da
minha panela?
— Ai meu Deus, você só pode ser doido.
— Sou doido por você, meu amor. — Sorrio me ajoelhando diante
do seu corpo. — Eu cometi muitos erros na vida, mas amar você foi
meu único e melhor acerto. Você é especial pra mim, eu amo você
mais do que qualquer outra coisa no mundo e adoraria passar o
resto dos meus dias ao seu lado.
— Sim. Mil vezes sim! — Com os olhos fixos um no outro, ela
responde ao meu pedido.
Movido por um impulso selvagem levanto do chão e a puxo para
meus braços, tomando seus lábios para mim. Nosso beijo é
carregado de amor, paixão, adoração e desejo, nossos beijos nunca
são calmos, são exigentes e sempre pedem tudo de nós.
Nem sempre conseguimos o que queremos, as coisas não são
fáceis assim. Não conseguimos conquistar algo na primeira tentativa,
às vezes, leva tempo, erramos, caímos de cara no chão e achamos
que estamos no fundo do poço. Às vezes, nos transformamos em
monstros, não por escolha própria, mas por consequência, por
escolha da vida que fora injusta conosco. Mas em algum momento
no meio da escuridão, encontraremos uma luz, talvez um amor,
talvez um filho, uma pessoa que se torna importante para nós, um
objetivo ou um desejo. E isso, essa força, essa meta, essa luz nos
fazer dar a volta por cima. Nos dão a coragem que precisamos para
continuar, para dar a volta por cima.
Epílogo

CINCO ANOS DEPOIS...

Através da janela do quarto, observo com atenção um par de


passarinhos voando perfeitamente sob os céus. O som do seu canto
ecoa pelo ambiente, trazendo uma sensação de paz para qualquer
pessoa que consiga ouvir. O sol está brilhando lindamente enfeitando
o belo e encantador céu azulado.
— Bom dia, mamãe. — Ouço a vozinha rouca e sonolenta de
Gabe, meu pequeno, e sorrio enquanto viro-me lentamente para o
ver parado no batente da porta. Gabriel é o resultado do intenso e
arrebatador amor que Dominic e eu compartilhamos. Ele tem quatro
anos e é um menino muito esperto, carinhoso e amoroso com todos
ao seu redor, mesmo com Nick tentando o moldar para ser um
mulherengo.
De certa forma não julgo meu marido, afinal de contas, no
passado, antes de conhecer o amor da minha vida, eu não era
exatamente a madre Teresa de Calcutá. Nunca fui santa, muito
menos reservada, sempre fui uma mulher da vida, amava sentir e dar
prazer, curtir a vida com todos os direitos que me foram dados e
quero o mesmo para meu filhote.
Gabriel coça seus olhos verdes com sua pequena mãozinha e
caminha até mim, dou alguns passos na sua direção e me inclino
para baixo para pegá-lo em meus braços.
— Bom dia meu príncipe — dou um beijo delicado em sua
bochecha.
Com meu pequeno em meu colo, caminho até a cama e me sento
para lhe dar total atenção. Passo a mão por seus fios dourados,
característica que puxou do meu DNA, suas mechas são finas, lisas
e delicadas a sua maneira. Sua pele é alva, branca como a neve,
destacando com destreza seus encantadores olhos cor de
esmeralda, detalhe físico que puxou do Nick, para complementar,
Gabe possui algumas pequenas pintinhas em sua bochecha, detalhe
que lhe dá um aspecto inocente e sensível.
— Papai está esperando na cozinha com o tio Levi, mamãe. —
Meu pequeno exclama encostando a cabeça na curva do meu
pescoço e deixo um sorriso surgir no canto dos meus lábios. Faz um
bom tempo que não converso com o Levi, ele estava envolvido com
o trabalho, superando suas últimas perdas e enfrentando seus
demônios, será bom reencontrar ele depois de todos esses anos.
— Avisa para seu pai que já estou indo, vou apenas me trocar. —
Peço baixinho, ainda fazendo carinho em seus fios dourados e
inclino o corpo para colocá-lo no chão. Dou um beijo em seu rosto
antes que ele comece a andar em direção a saída, quando me
lembro de algo. — Já arrumou sua mala, meu príncipe?
Gabe para no limite da porta e coloca sua pequena e fofa
mãozinha na bochecha, imitando um gesto habitual que o pai faz
quando está pensando em algo, então sorri exibindo suas profundas
covinhas e vejo seus olhos brilhando.
— Já sim mamãe. — Sorri amplamente. — A gente já vai?
Deixo um sorriso brincar no canto dos meus lábios, vendo a
empolgação brilhando nos olhos do meu filhote.
— Ainda não, príncipe. — Levanto da cama decidida a me
arrumar o mais rápido possível e ir ver meu cunhado. — Aproveita e
pergunta para o seu pai se ele já arrumou as coisas dele. — Peço
antes que, meu pequeno, saia completamente do quarto e ouço seus
passos se afastando. — Nick, às vezes, é mais vaidoso que eu
mesma, pelo amor de Deus! Nunca vi uma coisa dessas.
Ah, não é verdade.
Há muitos anos fiquei numa foda contínua com um carinha e ele
realmente tinha uma obsessão por organização e uma vaidade
impressionante. Todas as vezes que a gente se encontrava sua
barba estava sempre perfeitamente aparada, seus cabelos macios e
sedosos, sua pele suculenta e seu pau pronto para minha
degustação...
Balanço a cabeça espantando tais pensamentos safados com
outros homens e caminho até o closet para separar uma peça de
roupa. Depois de alguns minutos de indecisão, observo meu reflexo
no espelho e sorrio satisfeita com o resultado. Optei por um vestido
longo azul bebê, na parte da frente possui um decote generoso na
área dos seios e na parte de trás longos fios abraçam meu corpo
moldando a peça ainda mais ao meu corpo. Minhas pernas estão
cobertas até uma parte acima dos joelhos e por fim, uma sapatilha
completa o visual.
O bom de escolher essa roupa é que não precisarei trocar
quando formos viajar e falando nisso, mais tarde sairemos para
começar nossa segunda lua de mel. Esperei ansiosa por esse
momento, por meses trabalhei como uma guerreira na empresa para
poder tirar umas férias e aproveitar meu marido. Isso mesmo,
aproveitar o MEU marido e não COM o meu marido.
Depois que Gabriel nasceu nossas noites ficaram tão curtas, que
sinto até tristeza numa região abaixo do útero. A gravidez teve sérias
complicações e depois de meses de dor, agonia e sacrifícios, Gabriel
nasceu. E nos primeiros dias lutou feito condenado para sobreviver,
ficou na incubadora cheio de fios ligados ao seu pequeno corpo. Foi
uma cena de partir qualquer coração.
— Uma moeda por seus pensamentos. — Sua voz rouca e
provocadora sussurra ao pé do meu ouvido, então sinto seus lábios
envolvendo o lóbulo da minha orelha, mordendo e sugando
lentamente, causando uma sensação boa entre minhas coxas. Abro
os olhos encontrando com os seus através do reflexo do espelho e
sorriso desafiando-o.
— Meus pensamentos valem apenas uma moeda, que abusado!
—resmungo fingindo estar indignada com suas palavras, viro-me
ficando frente a frente com o homem da minha vida e com os braços
círculo seu pescoço lhe abraçando sensualmente.
— Não tem noção do quão abusado eu sou... — sussurra com os
lábios bem próximos do meu ouvido, causando uma onda de
arrepios por meu corpo. — Mal espero o momento de poder
demonstrar— diz e então lentamente seus lábios carnudos sugam
com ganância os meus, num beijo longo, profundo e apaixonado,
arrancando-me um longo suspiro e um gemido baixo que escapa do
fundo da garganta. Meu estômago parece vibrar quando suas mãos
quentes passeiam com agilidade por meu corpo, como se várias
borboletas voassem dentro de mim, deixando-me em puro êxtase.
Sinto meus dedos coçando para poder acariciar seus fios negros e
majestosos, e não reprimo meu desejo selvagem. Mordendo seu
lábio inferior, deixo mais um gemido escapar por seus lábios, no
momento em que suas mãos alcançam minhas nádegas.
— Mamãe?! — Ouço a voz do meu pequeno e está bem próxima
do quarto, então decido encerrar o beijo maravilhoso com alguns
pequenos selinhos e uma pequena, porém provocante, mordida no
canto dos seus tentadores lábios.
— Mal vejo a hora de estarmos na nossa casinha, de frente para
a praia, para podermos ter mais um do outro — sussurro provocando
e sorrio ao perceber como meus gestos ainda o afetam. — Percebeu
como nosso príncipe está crescendo meu amor? — questiono
quando Gabe chega ao nosso lado e sorrio vendo Nick pegando-o no
colo.
— É verdade papai? — Gabe pergunta com seus olhinhos de
gato brilhando.
Já faz um bom tempo desde que percebi que Dominic é um herói
para o nosso filho, Nick se tornou uma figura que meu pequeno tenta
imitar a cada momento. Cada pequeno elogio ou atenção que meu
marido dá para nosso filho, o faz irradiar sorrisos e eu observo
completamente boba os dois homens da minha vida vivendo seus
momentos.
— Claro, campeão. — Nick sorri exibindo suas covinhas e ajeita
nosso pequeno em seus braços. — Você está se tornando o homem
da casa, já pode me ajudar a cuidar da mamãe, concorda?
Ergo uma sobrancelha encontrando o olhar do meu marido e
sorrio quando vejo sua expressão travessa. Gabe desvia o olhar me
encarando como uma criança que acabará de conhecer o Papai Noel
e sorri angelicamente.
— Sim papai, ouviu mamãe? — Gabe questiona animado. —
Papai disse que já sou um homenzinho e posso ajudar a cuidar de
você!
Sorrio enquanto me aproximo dos meus dois amores.
— É verdade meu amor. — Dou um beijo em sua testa. — Não
sabe quão orgulhosa a mamãe é por ter você.
Sinto meus olhos ficarem marejados, tamanho o orgulho que
sinto do meu pequeno Gabriel, orgulho do Nick, orgulho da família
que construímos e como tudo está bem, como as coisas estão
perfeitas. Não consigo evitar quando uma lágrima rebelde rola por
minha face, antes que eu perceba, sinto o polegar do Nick em minha
bochecha, secando-a e quando o encaro, seu olhar esverdeado me
encara com preocupação.
— Algum problema, amor?
— Nenhum — sussurro. — É que estou tão feliz, está tudo
perfeito e isso é tão bom.
Beijo seus lábios tentando transmitir a emoção que estou
sentindo, quando nos afastamos meu amado mantem um sorriso no
rosto fazendo-me sorrir mais amplamente.
— Levi está na cozinha. — Avisa. — Vou terminar de arrumar
minhas coisas e já estou indo fazer companhia a vocês. — Dá um
beijo em meus lábios antes de colocar Gabe no chão e seguir em
direção ao banheiro. Balanço a cabeça em negação, enquanto
observo seu traseiro perfeito sumir atrás da porta e volto minha
atenção ao meu pequeno príncipe.
— Vamos lá comer alguma coisa e conversar com o tio Levi —
exclamo para meu pequeno e indico para que ele vá andando na
frente, mas no meio do caminho Gabe decide ir ao banheiro e acaba
ficando em seu quarto. Enquanto isso, sigo meu caminho, desço as
escadas em direção à cozinha. Assim que entro o vejo em pé,
encostado na ilha da cozinha observando com atenção algo em seu
aparelho celular.
— Sentimos sua falta, Levi — exclamo olhando-o com carinho, ao
mesmo tempo em que me aproximo e o abraço apertado.
Há cinco anos, depois de um trágico acidente de carro, Levi
decidiu se mudar para Moscou para poder começar seus tratamentos
com uma especialista muito recomendada que vive por lá e desde
então, evitou ter muito contato com a família. Mas agora, cinco anos
depois ele decidiu retornar e para a nossa surpresa descobrimos que
não está usando mais a cadeira de rodas. Levi se esforçou muito,
precisou de muita paciência, tempo e esforço para sair daquela
cadeira de rodas e voltar a andar com todo o poder que apenas os
irmãos Grombeth possuem.
— Preciso ser sincero, também senti muita falta de vocês —
sussurra retribuindo meu abraço e logo nos afastamos. — Sabe,
muita coisa mudou desde que fui embora e estou muito surpreso.
Dominic tem um filho, cara... — exclama incrédulo. — Um filho. Ele
tem uma esposa e um filho, não tem noção de como estou feliz e
surpreso por saber disso.
— Demorou um bocado e depois de muitas confusões
conseguimos ficar juntos, seu outro irmão foi o nosso cupido e
mediador. — Dou uma risada chamando sua atenção. — Ele ficou,
todo momento, cuidando de mim, cuidando do Nick e ajudou muito,
em muita coisa.
Conto brevemente e superficialmente de uma das brigas que Nick
e eu tivemos e só reatamos nosso romance depois que Rafael
apareceu e nos ajudou a entender os dois lados da situação.
Parando para pensar, todas as brigas que tivemos, o maior motivo foi
falta de diálogo. Antigamente não éramos sinceros como somos
atualmente, tínhamos uma opinião e éramos orgulhosos, batíamos o
pé e não nos preocupávamos em olhar pelos olhos do outro.
— É bem a cara do meu irmão, bancar o cupido — exclama com
o olhar animado, mas em questão de segundos seu olhar se torna
triste e vago. — Nay, seja sincera comigo... — Dá uma pausa e
continua sua frase. — Como a Nathalia está?
Sua pergunta é profunda, carregada de sentimentos confusos e
conflitantes, mas no meio dessa tempestade de emoções sinto sua
dor e tristeza. Desvio o olhar lembrando-me dê uma conversa que
tive com Nick há alguns anos e ele revelou que, teve uma época
antes do Levi sofrer o acidente em que ele e a irmã caçula dos
rapazes se envolveram e a separação não fez bem a eles.
Depois que Levi se mudou para Moscou observei como Naty
mudou, ela passou por uma tristeza absurda. Durante alguns meses
não queria sair de casa, comer ou conversar com alguém, Dominic
ficou perdido e muito preocupado com o estado da irmã e pediu que
eu conversasse com ela e assim o fiz.
— Quando você decidiu partir para Moscou, sinceramente,
quebrou o coração dela. — Sou sincera em cada palavra. — Levi,
estou ciente da relação de vocês dois, pois quando você a machucou
quem ficou com ela, quem ofereceu o ombro fui eu.
— Não foi fácil para nenhum de nós. — Rosna dando um passo
para trás, como se minhas palavras o machucassem.
— Porém, para ela foi muito mais difícil — digo de uma vez. —
Naty demorou meses para superar você, para aprender a se amar,
para seguir em frente e preciso perguntar, desculpa, mas preciso...
— Dou um passo me aproximando. — O que você sente pela
Nathalia?
Não sou exatamente da família deles, não tenho o mesmo
sangue ou o direito de perguntar tal coisa, mas sou amiga da Naty e
me preocupo com ela.
— Nunca amei uma mulher como eu a amo — responde com
determinação. — Antes era jovem demais para entender esse
sentimento, era imaturo e tinha medo por sermos próximos demais.
Porra, crescemos juntos, ela me chamava de irmão. — Dá uma
pequena pausa e respira fundo. — Depois aconteceu aquele maldito
acidente e eu fiquei... preso naquela maldita cadeira de rodas. Mas,
cinco anos se passaram, não sou mais um jovem indeciso. Estou de
volta e farei daquela mulher a minha mulher, ela será minha esposa,
a mãe dos meus filhos e enfrentarei tudo e todos que se colocarem
no meu caminho.
Levi então se cala, seu olhar fixo no meu, me transmitindo
confiança a cada palavra que sai por seus lábios e no fim, após
observá-lo com muita atenção, sorrio convencida e emocionada.
— Você é um bom homem, Levi Grombeth. Naty continua a
mesma mulher com um bom coração, porém, criou muitas barreiras
e precisa saber disso antes de encontrá-la. Espero que consiga a
reconquistar, será difícil.
— O que será difícil, querida? — Dominic questiona entrando na
cozinha em passos largos e me encontra conversando com seu
irmão, sorrio de lado.
— Nossa viagem querido.
A noite chega rápido demais para que qualquer pessoa pudesse
perceber, ou sentir a falta dos raios solares. Estou sentada na
varanda observando o oceano azulado, as estrelas e a Lua que
brilha como nunca antes. A brisa sopra suavemente contra meu
rosto, sinto meus cabelos voando no ritmo do vento e sorrio sentindo
o clima agradável.
— O que está achando do Caribe, querida? — Dominic questiona
carinhoso, assim que chega ao meu lado. Ergo o olhar para
encontrá-lo e o vejo sem blusa, usando apenas uma calça de
moletom da cor preta. Ele se abaixa sentando do meu lado e com os
braços me puxa para abraça-lo.
— É incrível — sussurro. — Sempre quis conhecer esse lugar, é
magnífico, incrível, perfeito demais.
E realmente é verdade, desde que chegamos aqui toda à família
se divertiu horrores, nadamos muito nas águas cristalinas, comemos
alguns pratos típicos daqui, conhecemos algumas coisas novas e
fizemos compras. Foi maravilhoso.
— Você estava radiante, querida. — Comenta. — Sempre está
radiante.
Afasto minha cabeça para poder olhar dentro dos seus olhos e
penso... quem diria que o homem que não se prendia a ninguém, se
apaixonaria por mim e seria meu marido. Dominic transformou minha
vida, se tornou tudo para mim e me deu Gabriel, meu pequeno
príncipe.
— Eu amo você Nick — digo olhando dentro dos seus olhos
verdes. — Você me dá o mundo todos os dias, você é um pai, marido
e amante maravilhoso.
— Gostei da parte do amante. — Faz uma carinha safada. —
Você mudou muita coisa em mim, Nayara. Me fez ser um homem de
verdade, um homem realizado, pai de um garoto lindo e esperto, e
sou muito orgulhoso por ter você, uma mulher tão incrível e intensa.
— E filha — exclamo olhando-o seriamente.
— Filho querida, nós não temos uma... — Sua voz morre no meio
da frase e seus olhos se iluminam.
Pego uma pequena caixinha vermelha que estava ao meu lado,
escondida pelas sombras da noite e coloco entre nossos corpos,
lentamente desfaço o laço preto e inclino a caixinha em sua direção
para que possa enxergar o que tem dentro, então sorrio animada.
— Descobri faz uma semana. Fiz um exame de sangue para
confirmar e deu positivo — relato enquanto o observo retirar um par
de sapatinhos de bebê da caixa, com um grande sorriso no rosto. —
Será novamente papai e tenho a impressão que será uma bela
garotinha.
— ESTAMOS GRÁVIDOS NOVAMENTE! — grita enquanto dá
um pulo levantando. — Aí Cristo, estamos grávidos e pode ser uma
menina. Não acredito meu amor! Levanta, vem comemorar comigo
minha deusa — resmunga eufórico, ao mesmo tempo em que me
ajuda a levantar e me abraça. — VAMOS TER OUTRO BEBÊ, UMA
GAROTA, LINDA E DETERMINADA COMO A MÃE! — Dominic grita
bem alto então para e fica sério. — Ai meu Deus, se ela for igual
você estarei perdido — sussurra a última parte. — Gabriel, precisa
me ajudar a chutar a bunda dos embustes que tentarem se
aproximar da irmã!
Dou um tapa suave em seu braço para que perceba o escândalo
que está fazendo, porém, acabo sorrindo com sua empolgação em
ser pai pela segunda vez.
— Eu amo você! — Dominic exclama envolvendo minha cintura
com seus braços fortes e me puxa, dando-me um beijo longo,
profundo e apaixonado. — Obrigado por escolher compartilhar sua
vida comigo, por me proporcionar tanta felicidade.
— Eu também amo você, meu querido. — Sorrio lhe dando vários
beijos. — Sempre amei e jamais irei lhe deixar, estaremos juntos
sempre e para sempre, aconteça o que acontecer, nunca irei deixá-
lo.
[1] https://open.spotify.com/track/3H4XSjyW0gy2ULIzeXWEIA
[2] Rabugento.
[3] Sua namorada?
[4] Grosseira.
[5] O que foi caro não falei nada demais ou eu disse?
[6] Noticias que estão passando na televisão.
[7] Sente-se com sua mãe.
Livros deste autor
Redenção - Em busca do amor
"— Nasceu na máfia, morreu na máfia."
Essa era a regra. E quem criava as regras?
"— Estamos em família e não se deve ameaçar a família!"

Pietro D'Romano, o filho mais velho da família, toma a seu poder o


lugar mais alto na pirâmide da máfia. Um homem sério, orgulhoso,
destemido e sem limites, luta todos os dias contra o demônio que vê
refletido em seu espelho. Aos olhos da mídia, um empresário famoso
de uma das maiores agências de construção, aos olhos dos
conhecidos, como o implacável e inabalável dono do par de olhos
mais gélido do mundo.
Beatrice Pagano é uma mulher de vinte anos que sofre diariamente
ameaças de seu pai. Uma mulher frágil, medrosa e com uma baixa
autoestima. Beatrice não tem muitas ganâncias, apenas sonha em
terminar seus estudos e começar a trabalhar na profissão que
deseja.
Ao retornar para casa, numa noite como as outras, é abordada por
homens estranhos. Quando pensou que era seu fim, eis que surge
um homem de, sobretudo preto, alto com uma M16 em mãos, com
um olhar tão horripilante e gélido que ao mesmo tempo em que a
aquece a apavora.

"— Existe coisas ocultas dessa jovem. — Alessandro sussurrou com


um olhar sombrio.

— Acho que ela não sabe muita coisa, apenas que sua cabeça está
a prêmio. — Enzo inclina a cabeça com o olhar fixo na porta, de
longe posso adivinhar seus pensamentos.
— Não me importa o que essa mulher sabe ou não sabe! Quero
saber a origem dela. Por que estão caçando ela e por que ela é tão
importante assim.”

[•••]

Esta é uma obra de ficção destinada a maiores de 18 anos, público


adulto somente. A autora não apoia nem tolera esse tipo de
comportamento. Não leia se não se sente confortável com isso.

Fascínio do amor
"Ninguém guarda os maus momentos no álbum de fotografias, mas
são esses momentos que nos tornam fortes pra seguir em frente e
podermos viver melhor os bons momentos."

Apolo Megalos é um assassino profissional de aluguel que nunca


comente erros ao eliminar seu alvo. Com trinta e três anos, um par
de olhos verde-turquesa e um coldre carregado sempre ao seu
alcance, não tem muitos problemas, ninguém se atreve a mexer com
o temido Cruel.

Em sua vida, não existe obstáculos ou barreiras que não possa


enfrentar, nunca, nenhum alvo escapou com vida da sua mira
certeira, até Nicole Ross, uma mulher determinada, trapaceira e
obstinada, cruzar seu caminho.

Nickie, ou Nicole Ross, nunca precisou de nenhum homem em sua


vida. Com vinte e oito anos, aprendeu com seu irmão mais velho
como ganhar a vida sem ter que depender dos outros. Uma jogadora
eximia, dona de uma rede de cassinos, elegante e esperta, sabe
como seduzir as pessoas para conseguir obter tudo o que deseja.

Em meio aos seus sedutores sorrisos e olhares, Nickie, esconde um


passado obscuro. Ninguém nunca conseguiu encantar a bela moça,
nem domar seu coração que a muito tempo congelou, mas isso
muda drasticamente quando seu caminho cruza com Apolo Megalos.
Nickie é tudo o que Apolo mais odeia no mundo, ela o enganou duas
vezes, conseguiu encontrar uma brecha e como uma gatuna,
escapou. Nickie, nunca imaginou que contratariam um assassino de
aluguel para matá-la, nem que ele era extremamente sexy.

O encontro entre eles é explosivo, Apolo tem um acordo para


cumprir, mas com o passar do tempo, sua convivência com seu alvo
lhe faz repensar suas escolhas. Nickie, não enterrou tão
profundamente seu passado quanto esperava e Apolo era a prova
viva disso.

Quebrando barreiras
“Quando você tem uma meta, o que era um obstáculo passa a ser
uma etapa de um de seus planos"
João Victor, um homem de vinte e três anos, modesto, mas não se
engane com seu sorriso, o belíssimo de um metro e setenta e oito
tem o sonho de ser um lutador profissional de boxe, mas para
alcançar seu objetivo precisa escolher entre o boxe ou seu trabalho
garantido no posto de gasolina. Jota, como prefere ser chamado,
treina desde jovem para se preparar para o momento em que terá a
chance de provar seu valor, mas nem tudo é fácil e provar seu valor
será mais difícil do que pensava, principalmente quando nem todos
torcem a seu favor.
Jasmim Santos, fotografa profissional conseguiu realizar seu sonho
de abrir um estúdio de fotos e ser sua própria chefe, mas todo o seu
sucesso profissional esconde um passado conturbado com o ex
namorado abusivo e pais controladores. De um dia para o outro
conhece, Jota, seu próximo cliente que apesar do sorriso gentil é tão
feroz quanto um predador.
O amor acontece de formas indecifráveis, um sonha em lutar
profissionalmente e está perto de alcançar seu objetivo, a outra é tão
gentil quanto uma pétala de rosa. Em meio a escolhas, intrigas,
mentiras e segredos, podem encontrar o que procuram?

Além da sua dor


“— Não sabia que você conhecia Andrew Rellik — Susana sussurrou
lançando-me uma piscadela.
— Não o conheço — hesitei e seus olhos verdes se tornaram
confusos — Ele me ajudou noite passada.
— Andrew Rellik, o cara mais foda e respeitado da escola, que só
conversa com a sua turminha, que tem a fama de ser o mais
enigmático ajudou você?!”

As vezes o destino brinca com nossas vidas, mexe com nossos


sentimentos e coloca pessoas misteriosas em nossas vidas. É
exatamente isso que acontece com Anne Duncan. Convencida por
seus amigos a ir numa festa de confraternização da sua faculdade,
Anne é surpreendida no final da festa por um dos seus companheiros
que está completamente embriagado e tenta força-la a sucumbir aos
seus desejos. Sem forças para lutar ou gritar, Duncan, desiste
rendendo-se completamente a triste situação, mas no ultimo
segundo eis que surge um herói para salva-la... Ou talvez, não...
A vida se encarregou de transforma-lo num homem sem emoções,
ele aprendeu como bloquear seus sentimentos, a ser rude e afastar
todos. Andrew Rellik não tem sonhos, ambições, desejos ou medos.
Quer apenas concluir seu curso e se livrar das obrigações que tem
com a família. Sua fama não é a das melhores e nunca se preocupou
em tentar mudar tal coisa... Pelo menos, até conhecer a frágil
Duncan.
Seus olhos negros intrigavam-na profundamente, seu jeito
reservado, misterioso... Ele era perigoso, o tipo de homem ao qual
nunca deveria se aproximar e Anne sabia perfeitamente disso. Para
Andrew, ela era apenas mais uma das várias garotas da faculdade,
apenas mais uma em um milhão. Mas as coisas não são como
parecem ser, o tempo passa, as coisas mudam e o caminho desses
dois se entrelaçam de maneiras inacreditáveis. O que fazer quando o
destino não aceita nossas escolhas e cria suas próprias regras?

Domando o indomavél
"Existem dois tipos de pessoas no mundo, as azaradas e as mais
azaradas ainda... Você senhorita Jonhson, com certeza é do tipo de
pessoa que possui muita pouca sorte..."

Maycon Morgans, um homem prepotente que ao lado do irmão lidera


um grupo de motoqueiros que comandam uma pacata cidade do
interior. Lutando contra inimigos poderosos e friamente calculistas
tentam a qualquer custo proteger sua cidade.
Em meio a sua luta desenfreada por justiça, acaba conhecendo
Poliana Jonhson, colunista de uma revista sem noção de fofocas. A
jovem de belas curvas e língua afiada desperta um desejo cru e
incontrolável em Maycon, seus pensamentos ficam desorganizados e
o único desejo que ele possui é cala-la... Claro... Depois de possuí-la
intensamente.
Poliana Jonhson leva a sério seu trabalho como colunista na maior e
mais lucrativa revista de fofocas. Seu principal alvo, sãos os "manda
chuva", os arrogantes e prepotentes homens de colete azul escuro...
Ou melhor, dizendo, o líder deles, Maycon Morgans o maior
arrogante, cínico e prepotente de todos.

Em meio a suas investigações para descobrir a verdade, acaba sem


querer entrando na mira de pessoas perigosas, para sua surpresa
seu maior inimigo acaba salvando-a da morte. Agora, sua luta não é
mais contra Maycon e sim o contra a atração fortíssima que sente
por ele.

Prometa ser somente minha


"- Não me trate como se eu tivesse pedido a sua maldita ajuda! -
Heloisa vociferou olhando-me de lado enquanto se afastava. Eu
podia perceber o quão brava ela estava, suas mãos tremiam. Ela
estava com medo - Vocês são todos iguais...

Quando essas palavras saíram por seus lábios consegui imaginar o


quanto do inferno essa pobre garota já experimentou. Por instinto
segurei seu antebraço virando-a para mim. Seu corpo baixo e
delicado bateu duramente contra o meu, seus olhos me encarando
duramente me fez suspirar.
- Não sou como o babaca do Demétrio, muito menos como o Nate -
declaro olhando-a profundamente - Eu sou Adam Marchelly, não
preciso e jamais forçaria você a ter algo comigo - suspiro - Jamais
machucaria qualquer mulher e não preciso que peça para que eu a
ajude."

Helô Garcia nunca teve muitas ambições, nunca sonhou muito alto e
viu o pouco de esperança que lhe restava ir embora quando foi
obrigada a se submeter aos desejos de outras pessoas, conhecendo
assim seu inferno particular. O resultado de tanto sofrimento
apareceu nove meses depois, Luana Garcia, sua filha.

Sua vida tinha mudado drasticamente com o nascimento da sua filha


e jurou para si mesma que faria o possível e o impossível para dar
tudo a ela e mostrar que as mulheres não devem ser subjugadas por
homens babacas, porém, infelizmente, homens babacas é o que não
falta onde Helô trabalha.

Adam Marchelly depois de seis anos estudando no exterior resolve


voltar para casa para assumir os negócios do pai. Diferente do irmão
e do primo, carrega consigo uma personalidade excêntrica, curiosa e
intrigante. Adam possui valores importantes, ideais que segue a risca
e jamais faz algo que contraria seu caráter.

No seu primeiro dia de volta a empresa, Adam conhece a secretaria


do seu pai em apuros e por instinto acaba ajudando-a. Conhecer
Adam mexe com suas estruturas, com seus medos e a faz
questionar muita coisa.

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