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Bella Jewel
#1 72 Hours

Série sem nome (livros independentes)

Tradução Mecânica: Bianca Z.

Revisão: Mrs Ward

Leitura: Sil

Data: 05/2017

72 Hours Copyright © 2017 Bella Jewel

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Sinopse
UM DESTINO PIOR QUE A MORTE.

É tudo parte do seu jogo doente. Um jogo que ele está planejando
há uma década inteira. Agora tudo está perfeito: uma mulher e um
homem foram selecionados. Eles eram um casal - e eles não podem
mais ficar um com o outro. Eles são as vítimas perfeitas. Ele não
pretende que o jogo seja fácil. Ele quer empurrá-los para a beira da
insanidade, para fazer deles sua caça real...

UM DESEJO DE LUTAR POR...

Um casal foi capturado e despejado em uma área de mata


fechada. Há apenas uma regra neste jogo fatal: eles terão 72 horas para
encontrar uma saída antes que um serial killer sádico comece sua
caça... Mas o que ele nunca poderia esperar, é a paixão explosiva que
inflama entre os dois ex-amantes - uma paixão que os torna fortes.
Ferozes. E determinados a fazer o que for preciso para escapar - e para
sobreviver...

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A Série

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Prólogo
Uma suave chuva enevoada cai ao meu redor, molhando minha
pele. Meus dedos deslizam através do lodo úmido, deixando trilhas na
lama. A terra tem cheiro fresco, as flores florescendo, as árvores
saboreando o chuveiro que a Mãe Natureza lhes forneceu pela primeira
vez em meses. Mas para mim a chuva é horrível. Como um resfriado frio
que se infiltra em meus ossos, absorvendo e se tornando um acessório
permanente.

A respiração ao meu lado é suave. É a primeira vez que ele


dormiu em dias, tenho certeza. Eu não ouso olhar, porque olhar
significa que o que estou prestes a fazer, será ainda mais covarde. Eu
não posso suportar ser uma desertora, mas eu sei que eu sou. Eu não
sou forte o suficiente. Eu não sou como ele. Um pássaro chilreia
alegremente nas árvores altas acima e eu levanto minha cabeça,
olhando através da garoa para vê-lo voar de árvore em árvore. Se eu
fosse livre, como o pássaro, eu certamente não estaria voando ao redor
dessa floresta.

Morte.

Posso sentir o cheiro, na minha pele, na dele, em toda parte ao


meu redor. Está me consumindo. Um arrepio percorre meu corpo
quando as memórias inundam minha mente. Lembranças que eu faria
de tudo para esquecer; mas sei que elas nunca irão embora. Não haverá
um único segundo da minha vida que eu não vá ver o rosto dele.
Quando eu não ouvirei esse som. Olho de volta para a terra sob meus
dedos, e eu enrolo minha mão em torno da lâmina improvisada que eu
venho segurando durante a última hora. Está coberta de lama, mas não
importa.

Não demorará muito. Só um segundo.

Um único segundo para escapar deste pesadelo.

Um som estranho enche os meus ouvidos, e eu percebo que é


meu ofego histérico. Eu esfrego um polegar sobre a lâmina da faca, e a
bile sobe em minha garganta. Como eu me tornei isso? Esta criatura
molhada, quebrada, fria no chão, faca na mão, pronta para escapar do

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terror em vez de enfrentá-lo? Oh, isso mesmo. Foi quando minha vida
foi arrancada de minhas mãos e me foi dado um prazo.

Setenta e duas horas para viver ou morrer.

Acontece, você pode conseguir muito em setenta e duas horas.


Não parece muito - afinal, são apenas três dias - mas quando você está
contando e pensando em manter cada batida futura de seu coração, e
cada respiração que chia de seus pulmões, e quando de repente isso é
tudo que você tem. Eu gostaria de poder dizer que lutei pelo meu direito
dado por Deus de estar nesta terra, mas o medo tem uma maneira de
tornar as coisas diferentes. De mudar quem você é.

Um barulho baixo pode ser ouvido à distância, um sino de


alarme, você poderia dizer. Eu sei o que acontece quando ele se
aproxima, quando ele se aproxima. Uma lágrima escorre pelo meu rosto
quando eu levanto a faca, olhando para um corte profundo no meu
braço que lentamente está se infectando. Não vai importar. Agora não.
Meus olhos evitam o homem que dorme ao meu lado, porque, mais uma
vez, não posso suportar que ele me veja como uma covarde.

O som se aproxima.

— Sinto muito, — eu sussurro para o céu, ou talvez a mim


mesma, provavelmente para ele.

Eu não sei.

Só sei que sinto muito.

Tão incrivelmente arrependida do que estou prestes a fazer.

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Um
— Então, eu estou namorando um cara novo.

Eu pisco para minha melhor amiga, Rachel, e depois abano a


cabeça. — E você não me contou?

Ela cora. — Bem, é apenas um peguete, mas ele parece muito


doce. Ele é tão bonito, também.

— Detalhes. — Eu sorrio, me virando em meu banco do bar e


sorvendo minha bebida.

— Bem, ele é um ambientalista.

Minhas sobrancelhas se erguem. — Como assim, ele cuida de


árvores e outras coisas?

Ela ri. — Eu acho que sim. De qualquer forma, foi meio estranho
porque acabamos nos esbarrando um com o outro e ele começou a falar
comigo. Ele era tão encantador. A próxima coisa que eu sabia era que ia
sair com ele. Ele estava tão interessado na minha vida, sabe?
Perguntando-me sobre minha família e amigos. Foi bom ser ouvida.

— Ele parece um investigador querendo saber tanto. — Eu sorrio.


— Quando o verá de novo?

— Logo, eu espero. Eu não consegui o número dele, mas ele disse


que me ligaria.

— Ele vai ligar para você. Como ele não poderia ligar, você arrasa!

Ela ri, mas algo sobre o meu ombro chama a atenção dela.

— Não olhe agora, Lara.

Olho para minha melhor amiga, que está olhando por cima do
meu ombro com uma expressão apertada em seu rosto. Eu começo a
girar apenas para ter a sua mão chicoteando para fora e pegando meu
ombro, girando-me volta ao redor. Eu olho para ela, estreitando meus
olhos com confusão. Ela pode ser tão dramática às vezes.

— Sério, — ela diz. — Não olhe. Só vai deixar você louca da vida.

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— O que você está falando? — Eu pergunto, puxando meu ombro
livre de seu aperto.

— Noah entrou.

Congelo, e meu coração bate tão alto que eu posso senti-lo em


meus ouvidos. Noah. Um homem que eu não via há três meses, um
homem que torturou minha mente e possuiu meu coração por tantos
anos. Um homem que partiu meu coração. A ideia de que estou prestes
a vê-lo novamente aterroriza meu corpo. Eu não estou preparada. Nem
mesmo perto disso.

— Eu não sabia que ele estava de volta na cidade, — eu sussurro,


minha voz trêmula. — Onde? Não posso vê-lo, Rach!

— Ele está e não está sozinho, — Rachel diz, seu rosto simpático.

— O que?

Minha pergunta sai como um guincho, um choro quebrado e


patético. Ele não está sozinho? Ele já se mudou? Isso dói, mais do que
estou disposta a admitir. Nós não nos separamos em bons termos,
claro, mas ele me amava. Pelo menos, ele disse que sim. Eu sei que eu
não fui capaz de falar com ele ainda, mas como ele poderia seguir em
tão rapidamente? Uma dor explode em meu peito, e eu levanto minha
bebida e tomo um longo gole para disfarçar da minha amiga, que está
olhando em sua direção.

No fundo, eu sei a resposta à minha pergunta. Homem das


mulheres. Foi o que meus amigos me disseram quando comecei a
namora-lo. Não era para ser confiável. Eu deveria ter ouvido.

— Você quer ir? — Ela pergunta, virando-se para mim. — Ou você


quer falar com ele?

Eu olho para ela.

Ela levanta as mãos. — Desculpe, eu só acho que talvez se vocês


dois conversarem, então as coisas vão se esclarecer e...

— Por que eu deveria falar com ele? Como isso ajudaria? — Eu


sussurro.

Seus olhos suavizam. — Porque eu te amo e você está sofrendo.


Já faz meses. Eu acho que se você falar com ele, você será capaz de
seguir em frente.

— Ele me machucou.

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— Eu sei. Mas você...

— Eu só quero ir, ok?

Ela sorri tristemente, aceitando minha decisão. — OK.

Eu termino minha bebida e me dirijo para a saída traseira com


Rachel ao meu lado.

— Lara?

Eu ouço o som de sua voz profunda e masculina. Deus, eu senti


falta da sua voz, quase tanto quanto eu senti falta dele. Eu engulo o nó
formando em minha garganta e viro lentamente para ver Noah atrás de
mim, olhando para baixo, olhos travados nos meus. Estremeço com a
intensidade de seu olhar. Ele sempre teve esse poder sobre mim. Ele era
o sombrio à minha luz, o duro ao meu suave. Poderia ter sido diferente
quando nos conhecemos, mas ele tinha essa maneira que poderia me
controlar como uma marionete com apenas um olhar. E ele está me
dando esse olhar agora.

— Noah, — eu digo, minha voz baixa.

Seus olhos cintilam sobre meu rosto antes de se acomodar nos


meus. — Faz algum tempo.

Três meses, dois dias, para ser exata. Não que eu estivesse
contando.

— Sim.

Ele inclina a cabeça para o lado e me estuda novamente. Eu me


mexo desconfortavelmente, evitando seus olhos. Ele parece incrível hoje
à noite, não que eu esteja surpresa com isso. Ele sempre se elevou
sobre minha minúscula altura 1,55 cm. Seu corpo grande tem
facilmente 1,80m de altura, e ele é definido como uma estátua.
Músculos em cada parte de seu corpo perfeito. Seus olhos estão tão
intensos como sempre foram, um cinza de aço que perfura diretamente
em minha alma. Seu cabelo está mais longo do que eu me lembro, mas
o marrom-escuro parecem ainda mais rebeldes agora que caem sobre
seu rosto.

— Como você tem passado?

Eu finalmente tenho coragem de olhá-lo nos olhos. — Muito bem.

Eu minto.

~9~
Ele sabe disso.

— Você está linda, Lara.

Eu costumava amar como soava quando ele dizia meu nome, a


maneira como isso rolava fora de sua língua. A forma como sua voz
rouca se enrolava ao redor dele.

Eu odeio agora.

— Obrigada, — eu digo, minha voz mal era um sussurro.

— Eu tenho saudade de você. Eu venho tentando entrar em


contato desde que eu voltei. Eu esperava que pudéssemos conversar.

Noah me disse que ele se apaixonou por mim porque eu era doce,
atrevida, e linda - uma mistura rara que era difícil de encontrar. Ele
disse que eu era o tipo de mulher que fazia o coração de um homem se
derreter, o que o fazia querer protegê-la e amá-la o máximo que
pudesse, mas ao mesmo tempo não tinha medo de se defender e falar
mente. Pelo menos era assim que eu costumava ser. Até que eu aprendi
muito rapidamente que fazer isso, sendo esse tipo de mulher, só levaria
as pessoas a se machucar, ou pior. Há momentos em que eu sinto falta
dessa versão de mim mesma. Talvez eu devesse falar com ele. Talvez eu
esteja pronta para ouvi-lo. Talvez…

— Noah?

Uma linda mulher loira se levanta ao seu lado e eu desvio o olhar,


incapaz de presenciá-lo com outra garota. Até mesmo a visão que eu
tenho dela, faz meu coração rasgar em pedaços. O oposto exato de mim.
Alta, loira, confiante. Vê-la me faz perceber que ainda não estou pronta
para falar com ele.

— Vamos, — Rachel diz, puxando meu braço e dando um olhar


para Noah. — Você não merece isso.

Noah olha para ela. — Isso não é da sua conta, Rachel.

— Ela é minha amiga, é assunto meu.

— Ah, — diz a loira. — Conhecemos você?

— Não, você não me conhece, — Rachel joga em sua direção. —


Eu não me incomodaria com pessoas como você. Vamos lá, Lara.
Vamos.

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Ela pega minha mão e me puxa para a multidão e temos de abrir
caminho até chegar à porta. Noah dá um passo à frente e estende a
mão, agarrando meu braço me parando antes de conseguimos dar cinco
passos. Uma eletricidade percorre meu corpo com seu toque, e eu quero
gritar, odiando que isso ainda me afeta tão fortemente. Ele se aproxima
e eu posso senti-lo, cheirá-lo; Meu corpo inteiro fica alerta com sua
presença.

— Não pode me evitar para sempre, — ele diz, sua voz baixa.

— Deixe-me ir, — imploro, puxando meu braço do dele. — Apenas


me deixe em paz, Noah.

— Se você tivesse respondido aos meus telefonemas e me


escutado, eu poderia ter sido capaz de deixá-la sozinha, mas
considerando que não, eu não posso.

Eu giro e finalmente, realmente, olho para ele. Vê-lo, tira o fôlego


de meus pulmões. Quase me esqueci como é absolutamente
deslumbrante. — Isso provavelmente porque eu não quero ouvir suas
desculpas. Só preciso que me deixe em paz. Você está claramente
ocupado.

— Lara...

— Não, Noah. Simplesmente pare.

— Lara...

— Quem é a mulher? — Eu digo, minha voz vacilando. — Você


quer falar comigo, mas parece que você já seguiu em frente.

— Estamos aqui como amigos. Ela não é minha namorada.

— Você realmente espera que eu acredite nisso?

— Espero que me dê a oportunidade de falar com você. Depois de


tudo o que aconteceu com sua avó...

Sua menção a minha avó, me lembra o momento em que eu


mudei de ser uma garota ruidosa, confiante, para esta mulher quieta,
danificada que eu sou agora. Apenas alguns anos atrás, eu era muito
confiante. Eu era alto, barulhenta, e ocasionalmente um pouco demais,
mas eu ainda tinha um bom coração. Noah me amava por quem eu era,
mas minha avó sempre me dizia que minha boca iria me colocar em
apuros - e ela estava certa. Só que foi ela quem pagou o preço pela
minha atitude cara-a-cara. Depois desse dia, eu perdi lentamente quem

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eu era, minha confiança especialmente. Eu não sou mais a mulher que
Noah lembra.

Pensar nessa noite faz meu coração se apertar.

— Talvez devêssemos ir para o outro lado, — diz vovó segurando


minha mão.

Eu olho para o grupo de adolescentes rindo e chutando latas de


lixo à frente. Eu bufo e aperto sua mão. — De jeito nenhum. Eles estão
agindo como idiotas. Nós não deveríamos ter que nos mudar. Nós vamos
apenas passar, vai ficar bem.

— Lara, eu tenho um mau pressentimento sobre isso. Vamos para o


outro lado, — ela implora.

Vovó sempre se preocupa. Se voltarmos, vamos aumentar em mais


vinte minutos nossa caminhada. Não há razão para não podermos
passar por esse grupo de crianças. Nada vai acontecer.

— Nós ficaremos bem. São apenas um bando de crianças, vovó.

Caminhamos em direção a eles, não prestando atenção, ela


hesitantemente, eu nem tanto. Quando eles nos percebem, um
adolescente de cabelos castanhos, desalinhado, avança. Parece que
talvez tenha dezessete anos, possivelmente um pouco mais velho. Seu
rosto está coberto de espinhas e seu cabelo está caindo sobre seu rosto.
Ele é magro e alto, quase ameaçador, mas claramente arrogante.

— O que temos aqui? Boa noite, senhoras.

Ignoro-os e continuo em movimento.

— O quê? — Diz o adolescente. — Nós não somos bons o suficiente


para dizer olá?

Eu me viro e fico olhando para ele. — Eu não iria dizer olá para
você se você fosse a última pessoa no planeta e eu precisasse falar com
você para salvar a humanidade, — digo, estudando-o. — Agora vá para
casa, para a cama e pare de chutar latas de lixo como um bando de
idiotas.

— Tenha cuidado, — ele avisa, avançando e em meu caminho. —


Eu não sou uma pessoa muito legal e eu não gosto de garotas de boca
inteligente como você.

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Deus, quem esse cara pensa que é? Eu aceno uma mão em seu
rosto casualmente. — Corra e brinque com seus brinquedos — já passou
da hora de dormir.

Todos os outros meninos riem.

Seu rosto está queimando e eu sei que eu o envergonhei. Bem, isso


é o que você ganha quando você mexe com pessoas caminhando para
casa cuidando de seus próprios negócios.

— Apenas pare, — vovó implora, puxando minha mão. — Apenas


ignore-os, Lara. Eles não valem a pena. Vamos para o outro lado.

— Eu não gosto de ser tratado assim, — ele diz, aproximando-se,


estufando o peito. Sem dúvida para seus amigos.

Eu deixei a mão de vovó e passo na frente dela, cruzando meus


braços. — Nem eu. Agora, estamos caminhando para casa e não fazendo
nada, e você está causando problemas onde os problemas não existem.
Por que você não se move para fora do caminho?

— Ou o quê? — Ele desafia. Ele é alto, seus olhos injetados. Como


eu não percebi isso antes?

— Ou eu vou fazer você sair, — eu estalo.

— Lara, por favor, — vovó implora.

— Não perturbe sua avó, Lara. Só consigo imaginar o que poderia


acontecer com ela aqui fora.

Eu me enrijeço. — Se você tocar em um fio de cabelo dela, eu farei


com que você se arrependa. Agora, saia porra.

— Eu realmente, realmente não gosto da sua boca, — ele rosna.

Deus, esse cara simplesmente não entende indiretas.

— E eu realmente não gosto de adolescentes folgados que pensam


que são legais porque eles podem andar por aí fumando maconha e
chutando latas de lixo. Você se acha fodão? Posso quase garantir que
você não vai foder ninguém e então isso é o melhor que você pode fazer
por si mesmo.

— Lara! — vovó chora. — Vamos.

Os olhos do menino brilham e ele acena com a cabeça para seus


amigos, e todos se aproximam de mim. Um medo sobe em minha espinha
quando eu percebo que estou cercada. Mantenho a cabeça erguida e fixo

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os olhos do rapaz. Eu não vou me curvar para um bando de adolescentes
tentando me assustar.

— Por favor, — vovó diz. — Não a machuque. Estamos a caminho.


Tenho dinheiro, se quiser. Apenas nos deixe em paz.

Ela tenta se aproximar, mas um dos meninos se vira e a empurra.


Em câmera lenta ela cai no chão e uma grande fissura irradia através da
cabeça imóvel. Sangue derrama sobre o pavimento em torno de sua
cabeça. — Não, — eu grito. — Vovó!

— Puta merda, seu idiota, — grita o garoto. — Corre.

Eles desaparecem na noite e eu já estou de joelhos, rastejando em


direção a vovó, a pele em meus joelhos rasgam enquanto me aproximo. —
Vó? — Eu choro, alcançando ela. Ela está coberta de sangue. Ela não se
move. Oh Deus, o que eu fiz? Que diabos eu fiz? Pego seu rosto em
minhas mãos, sacudindo-a gentilmente.

— Vovó, por favor, acorde.

Tanto sangue. Tento encontrar onde ela bateu na cabeça, mas há


tanto sangue que não consigo encontrar nada.

Um carro diminui e um homem salta, eu mal o percebo. — Eu vi


tudo. Você está bem?

— Esses meninos..., — eu soluço. — Um deles empurrou minha


nana e ela está machucada. Por favor.

— Vou ligar para o 191.

— Vovó, — eu soluço, lágrimas escorrem pelo meu rosto. — Deus,


eu sinto muito.

Isso é tudo minha culpa. Tudo minha culpa. Eu deveria ter ouvido a
ela, mudado de caminho, ou simplesmente ter andado educadamente.
Ela me disse que a minha boca iria me colocar em apuros um dia, e ela
estava certa. O que eu fiz? Oh Deus, o que eu fiz?

— Vovó, — eu soluço. — Por favor, acorde.

Por favor. Eu sinto muito.

Retiro-me da memória que me assombra diariamente e olho para


Noah, que está me estudando. Seus olhos se suavizaram, como se ele
pudesse ler minha mente.

— Você está bem?

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— Tudo bem, — eu digo. — Eu vou agora.

— Você estava pensando nela?

Eu hesito. Seus olhos se tornam mais suaves. Ele gostava da


minha avó. Ela era uma das poucas pessoas que acreditavam que ele
era bom o suficiente para mim e não iria me machucar. Ela viu o bem
em Noah, e ele a adorava por isso.

— Desculpe, eu não posso fazer isso. Eu tenho que ir.

Eu corri para fora antes que ele tivesse a chance de dizer mais
alguma coisa.

Principalmente porque não suportaria ouvir isso.

***

Meus olhos seguem Lara enquanto ela corre para fora do clube.
Seu rosto está arranhado de dor e sua forma minúscula empurra as
pessoas com uma fraqueza que me excita. Ela é tímida, patética mesmo.
Eu movo meus olhos para Noah, observando ela ir. Ele é uma boa
mistura de zangada e desesperada. Exatamente o que eu quero. Ele está
olhando para ela como se ele quisesse protegê-la enquanto ao mesmo
tempo querendo vencê-la.

Ela o frustra. Ela é frágil e fraca. Ele é forte e determinado.

A combinação perfeita para o meu jogo.

O ratinho quieto e o homem que não vai parar por nada para
protegê-la.

Estive observando-os por tempo suficiente, montando meu jogo,


para saber que eu encontrei as peças perfeitas. Eles não têm ideia. Nem
um único indício de quantas vezes eu me infiltrei em suas vidas sem que
elas jamais soubessem disso. Estúpido. Eu não posso esperar para ver
seus rostos quando eles descobrem o quão perto eu estive todo esse
tempo.

Eles vão desejar nunca ter me conhecido quando eu terminar com


eles.

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Dois
— Lara, você pode, por favor, colocar minha caneca debaixo da
máquina de café e apertar START antes de ir para a sua corrida? —
Rachel chama.

— Já terminou, — eu chamo suavemente, inclinando-se para


amarrar meus sapatos.

Rachel me levou depois que Noah e eu nos separamos e eu me


mudei. Eu faço o máximo que posso para ajudá-la, incluindo me
certificar de que ela tenha café quente todas as manhãs antes de eu
sair. Ela salvou minha bunda. É o mínimo que posso fazer.

— Você é uma joia.

Foi-me dito.

— Estarei de volta daqui a uma hora.

Pego minha garrafa de água e vou para a porta da frente,


verificando se eu testei com o meu telefone antes de sair. O clima está
morno em Orlando hoje, uma brisa macia que goteja através das
árvores. Depois de puxar meu cabelo castanho e longo em um rabo de
cavalo, eu passo para o caminho em frente ao meu apartamento e
coloco meus fones de ouvido, iniciando a minha corrida matinal
habitual. Eu desço dois blocos e depois atravesso uma estrada para um
parque local. Tem um trajeto que funciona ao lado dele que vai em
alguma floresta espessa antes de voltar para o caminho.

Minha uma hora de paz de cada dia.

Eu canto suavemente com a música, acelerando cada vez mais


enquanto meu corpo aquece. Atravessando a estrada, passo pelo parque
e pelas árvores. O tempo instantaneamente resfria-se sem que o calor
do sol se rompa, e seca um pouco do suor que se forma na minha testa.
Eu penso sobre Noah e quanto me feriu ver ele no bar ontem à noite, e
com outra mulher.

Será que vai parar de doer?

Uma mão bate no meu ombro e eu grito, girando para ver Noah
atrás de mim, o suor escorrendo e encharcando seu peito duro. Eu

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pressiono uma mão em meu coração, estudando-o, e depois retirando
meus fones de ouvido. Ele tinha que encontrar uma maneira de correr,
ao mesmo tempo eu. Esse homem não pode me deixar em paz? — O que
você está fazendo aqui, Noah?

— Recentemente me mudei para um apartamento na área e


estava correndo quando vi você. Vejo que você ainda gosta de correr?

— Por que você se mudou para esta área?

Ele encolhe os ombros. — Eu gostei.

Isso é demais. — Porque agora?

— Por um tempo eu estive viajando a trabalho. Eu me ofereci para


treinar alguns outros recrutas. Considerando que você não queria falar
comigo, eu precisava de uma distração. — Ele dá de ombros novamente.
— Agora eu tenho um pouco de tempo sobrando e aproveitei para me
mudar.

Eu dou um passo para trás, minha mente cambaleando. — Eu


quero terminar a minha corrida, — eu digo. — E você vai me deixar em
paz.

— Lara, vamos, — ele suspira. — Vamos falar sobre isso.

Tomo um gole da minha garrafa, ignorando seu pedido. Meus


olhos se concentram em qualquer coisa menos nele.

— Você vai seriamente continuar fazendo isso? — Ele geme. — Eu


tenho tentado falar por meses com você, com pouco sucesso. Você me
ignorou sem uma palavra e você realmente não vai me dar cinco
minutos para explicar?

— Explicar o que? — Eu pergunto, cruzando meus braços. — O


fato de eu ter entrado e encontrado você com uma mulher em seu colo
em seu escritório?

Ele se endireita, e seu rosto se aperta de frustração. — Você


entendeu errado.

— Eu não consigo imaginar como, — eu murmuro.

Ele usa o dorso de sua mão para limpar o suor de sua testa. É
preciso toda minha força interior para não olhar para sua forma grande
e musculosa. Principalmente para evitar lembrar o quão bom era estar
em seus braços, como segura ele poderia me fazer sentir. Ele tinha esse
jeito. Ele me fez sentir como se nada no mundo pudesse me tocar

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quando eu estava em seus braços. E então ele tirou tudo isso de
repente. A única sensação de segurança que eu tinha se foi em um
instante.

— Noah está? — Eu sorrio para a jovem sentada na recepção do


quartel de bombeiros.

— Sim, ele está em seu escritório.

— Se importa se eu entrar?

— Não, vá em frente.

Caminho pelo corredor, indo em direção ao escritório de Noah.


Pensei em trazer-lhe o almoço, passar algum tempo com ele. As coisas
têm sido difíceis nos últimos meses, e ele está ao meu lado sempre. Ele
me viu no meu pior e me pegou quando eu caí. Depois que Nan morreu,
senti que nada era suficiente, como se eu não fosse o suficiente. Eu sinto
que não estou sendo a namorada que ele merece. Ele merece que eu
tente, então é isso que eu estou fazendo. Estou tentando.

Abro a porta e passo, abrindo a boca para cumprimentá-lo quando


a vejo. Ela está em seu colo, cabelo loiro longo fluindo em torno de suas
costas, bonita como pode ser. O tipo de mulher perfeita. Ela o está
beijando. Suas bocas, conectadas, tocando — é tudo que eu vejo antes de
minha visão borrar, as lágrimas nublarem. Sinto como se estivesse sido
socada no estômago. Eu tropeço para trás, ofegando por ar.

Como ele pôde fazer isso comigo?

Eu já sei. Porque eu sou uma mulher emocional, quebrada, que fez


com que sua avó fosse morta porque ela não conseguia controlar sua
boca grande. Então eu me tornei essa bagunça fraca e patética que
passa a maior parte dos dias chorando e tentando descobrir quem eu
deveria ser e quem eu sou agora. Claro que ele está com outra mulher.
Por que diabos ele não estaria? Isso é exatamente o que eu mereço.

Volto-me e saio, mas não antes de ouvir Noah chamar meu nome.

Eu corro, lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas.

— Lara! — Ele chama. — Lara, espere!

Ele me pega na porta, a mão se curvando em volta do meu braço.


Ele me gira, mas eu empurro seu peito, fazendo-o tropeçar para trás.

— Não me toque! — Eu grito. — Não me toque.

~ 18 ~
— Lara, não é...

— Saia de perto de mim.

Eu me viro e continuo, correndo direto pela estrada. Chego ao


parque e caio de joelhos, soluçando com agonia, dor e arrependimento.
Talvez este seja o meu carma. Talvez esta seja a maneira do universo me
castigar pelo que aconteceu com minha nanna. Ou talvez, apenas talvez,
Noah esteja melhor sem mim.

Claro que ele está.

Eu não valho nada.

— Lara, porra, como você pôde jogar tudo fora? Estávamos juntos
mais de dois anos.

Sua pergunta me traz de volta ao presente. — Sério? — Eu


pergunto, os olhos arregalados de choque. — Você acha que eu sou a
única que jogou tudo fora?

Deus, se ele soubesse o quanto isso significava para mim. Eu


queria casar com esse homem, ter filhos com ele, estar com ele pelo
resto da minha vida. Entrar e vê-lo com outra mulher, arrancou meu
coração. Isso fez o meu mundo inteiro cair sobre mim. Deixá-lo foi a
coisa mais difícil que eu já tive que suportar em minha vida. Como ele
podia pensar que significava que nada está além de mim. Ele foi quem
me feriu.

Ele grunhiu. — Mas você não vai falar comigo, acabou com isso e
correu.

Eu bufo. — Era o que eu tinha que fazer.

Ele balança a cabeça, apertando a mandíbula. — Deus, você é


uma dor na bunda.

Isso machuca. Ele está agindo como se tudo isso fosse minha
culpa, enquanto na verdade, foi ele que me enganou.

— Eu não preciso ouvir isso, Noah. Eu não mereço isso.

— Isso não é o que você pensa, — ele grita. — Você não está
ouvindo. Você se recusa a ouvir.

A picada familiar de raiva borbulha em meu peito, mas eu a


empurro para baixo. Fique calma. Não reaja. Não vale a pena ficar
chateada. — Eu não quero ouvir suas desculpas.

~ 19 ~
Ele faz um barulho frustrado em sua garganta.

Eu balanço a cabeça. Não consigo ouvir mais nada disso. Não


aguento mais nada disso. — Eu tenho que ir. — Eu viro as minhas
costas para ele e começo ir embora.

— Foda-se, Lara, — ele late. — Deixe-me falar com você.

Acelero em uma corrida e desapareço do outro lado das árvores,


mas não antes de ouvir a sua maldição irritada. Corro até ficar sem
fôlego, mas posso jurar que ele ainda está atrás de mim. Paro e viro de
vez em quando, olhando para as árvores, mas ninguém está lá. No
entanto, parece que alguém está sim. Ele provavelmente está me
seguindo — ele é protetor, sempre querendo saber se estou segura. Ele
não precisa se preocupar mais — eu não sou mais seu fardo.

~ 20 ~
Três
Eu evito correr no meu caminho habitual na próxima semana, na
esperança de evitar encontrar Noah novamente a todo custo. Ele tentou
ligar algumas vezes, mas acho que ele já aprendeu que não importa o
quanto ele chame, porque eu não vou responder. Não tenho nada a
dizer. Estou tentando seguir em frente com a minha vida.

— Senhora, a fala andou.

Eu saio de meus pensamentos e dou um passo em frente na fila


do Starbucks onde eu tenho esperado nos últimos dez minutos. É meu
trabalho conseguir café para meus colegas de trabalho todos os dias.
Por isso, passo cerca de meia hora aqui todos os dias porque sou
forçada a vir no horário de pico. Eu não me importo; Isso me faz ficar no
meu próprio pequeno mundo onde ninguém me incomoda.

— Desculpe, — eu murmuro para o homem atrás de mim.

Chego à frente da fila depois de mais cinco minutos.

— O que posso pegar para você? — Diz o jovem amargo,


claramente entediado com seu dia. É muito pedir bom serviço ao cliente
estes dias?

— Dois grandes cappuccinos, dois grandes lattes, um café gelado.

Ele acena com a cabeça e rabisca-o nos copos com meu nome e
eu me mudo para o grupo que espera que as bebidas sejam feitas. As
garotas atrás do balcão também não têm pressa, conversando
alegremente sobre seus fins de semana e os homens que estão
namorando, tomando seu tempo doce para fazer as bebidas que todo
mundo está esperando.

— Bom dia.

A voz vem de trás de mim, e me viro e vejo um homem de meia-


idade sentado a uma mesa à minha esquerda. Eu olho ao redor, não
tenho certeza se ele está falando comigo, mas percebo que ele está
olhando diretamente para mim. Talvez ele tenha se confundido, ou
talvez está sendo apenas amigável. Seria uma boa mudança. — Ah, bom
dia. — Eu sorrio timidamente.

~ 21 ~
— Espera longa, não é?

Eu concordo. — Pois é.

— Você está aqui para levar café pro pessoal do trabalho?

Eu rio baixinho. — É tão óbvio?

Ele sorri. Ele é bonito. Cabelo loiro, olhos azuis, sorriso de um


garoto americano. Ele parece o tipo de homem que Rachel quase
desmaiou.

— As pessoas que pegam o café pra todo mundo, são sempre as


mais quietas, — ele diz, quase para si mesmo.

Dou-lhe outro sorriso e volto para a fila.

— Você trabalha aqui?

Por que ele está falando comigo? As pessoas geralmente não


fazem o esforço para falar comigo, porque eu mantenho minha cabeça
baixa. — Do outro lado, no escritório de advocacia Morgan e Francis —
murmuro.

Ele balança a cabeça. — Eu ouvi coisas boas sobre eles.

Eu encolho os ombros. — Sou só uma recepcionista.

Ele sorri. — Você não parece ser apenas uma recepcionista.

— Eu acho que você se enganou.

Seu sorriso se alarga. — Eu nunca me engano com as pessoas.

Ok.

— Lara.

O som da voz de Noah à minha esquerda me faz girar ao redor.


Ele está na fila, me estudando. Deus, é como se eu não pudesse
escapar dele. Ele provavelmente está me seguindo. Ele é um tipo de
ação que um homem faz se ele quer alguma coisa, ele consegue. Ainda
assim, se ele pensa que vou dar a ele a satisfação de falar com ele, ele
pode procurar outro lugar. Eu não vou ouvir o que ele tem a dizer.

— Você também me seguiu até aqui? — Pergunto.

Ele estreita os olhos. — Eu gosto de café, e está perto do meu


novo emprego. Eu não acho que isso seja considerado seguir você.

~ 22 ~
Aperto meus dentes, mas não digo nada.

Ele está bem hoje. Ele é bombeiro há seis anos. Ele começou
como voluntário anos atrás, mas rapidamente se tornou chefe. Seu
trabalho é a sua vida. Funciona para ele. Convém-lhe. Uma boa parte
das mulheres da Starbucks está olhando para ele, e eu não posso
culpá-las. Ele está usando uma camiseta preta apertada, mas é a calça
amarela pendurada em torno de seus quadris, suja de desgaste, que o
torna irresistível. Elas provavelmente estão pensando seriamente deixar
suas casas em chamas apenas para que ele as salve.

Eu não posso dizer que eu as culpo.

— Nós podemos fazer isso todos os dias ou você pode apenas falar
comigo e então eu vou deixar você em paz se você quiser, — diz ele,
aproximando-se e se inclinando para baixo para que sua voz esteja
perto de minha orelha. Estremeço com a respiração quente que faz
cócegas no meu pescoço.

Ele está se aproximando, muito perto.

Eu dou um passo para o lado. — Já lhe disse que não há nada a


dizer.

Ele rosna, baixo em seu peito. — Deus, você me deixa louco. Por
que você não pode me ouvir?

Eu engulo, mas não digo nada. Pego meu café e vou embora.

Preciso de malditas férias.

***

Saio do trabalho mais tarde naquela noite, cansada de um longo


dia. Está escuro para fora e a luz da rua brilha sobre meu carro, que
está estacionado confortavelmente perto. Estou ansiosa para ir para
casa e dormir um pouco. Minha mente é uma confusão completa no
momento e, francamente, estou pronta para fugir de tudo.

Dele.

— Lara.

~ 23 ~
Eu exalo alto. Nos últimos três meses, eu pensei que nunca mais
o veria, e agora eu o vejo toda vez que penso nele. Viro-me lentamente e
vejo Noah encostado a um poste, de braços cruzados, estudando-me.

— Há uma lei contra perseguição, Noah — digo, tirando as chaves


da minha bolsa.

Ele desencosta do poste e caminha em minha direção. — Eu não


estou perseguindo você, eu estava apenas esperando que terminasse
seu dia de trabalho para que pudéssemos conversar.

— Que parte do eu não quero, que você não está entendendo? —


Murmuro, desbloqueando o meu carro.

Ele pisa para frente quando eu vou abrir minha porta e pressiona
seu corpo contra o meu, colocando a mão no teto do meu carro e
efetivamente me aprisionando.

— Noah, — eu respiro, me sentindo cansada e alerta por seu


corpo estar pressionando o meu.

— Vamos conversar.

Eu odeio por ele pensar que pode ditar o que vamos e não vamos
fazer. Eu costumava adorar isso nele. Agora eu odeio.

— Não, — eu digo, tentando empurrá-lo para que eu possa abrir


minha porta e sair.

— Lara, — ele suspira. — Você me deixou, saiu sem uma palavra,


por meses, e não me deu um segundo de seu tempo. Eu saí para o
treinamento, eu liguei, mas não te forcei. Eu queria dar-lhe tempo,
porque eu entendo que você precisava dele. Agora eu estou decidido e
esperando. Nós vamos conversar.

— Não, não vamos.

— Jesus, quando você ficou tão teimosa e irracional?

Isso só me deixa mais zangada, mas eu e ignoro e dou um suspiro


profundo e trêmulo. — Eu não estou pronta para isso e eu não acho
que eu vou estar. Agora saia de cima de mim, Noah, ou eu vou gritar.

— Sério? — Diz ele, exasperado. — Por que diabos você faria isso?

Eu tento me mexer, então ele inclina minha cabeça para trás e eu


olho para cima. — Porque você me machucou e eu pedi que você me

~ 24 ~
deixasse em paz. Você está escolhendo não respeitar isso e eu estou
cansada.

Seus olhos me abraçam. — Quando você começou a me odiar


tanto? Deus, nós passamos por tanto juntos com sua avó e você me
deixa sem uma explicação?

— Sem uma explicação? — Eu choro, minhas emoções


despertam. — Você estava beijando outra mulher!

— Não é o que você pensa, você deveria saber. Eu nunca faria


nada para te machucar. Se você tivesse me deixado explicar, você
saberia disso. Pare de usar suas inseguranças como uma barreira,
Lara. Você me conhece.

Eu bufo.

Minhas inseguranças. Outra consequência da perda de vovó.


Quando eu conheci Noah, eu nunca pensei duas vezes em ser boa o
suficiente. O dia que perdi Nan foi o dia em que a confiança flutuou,
como se ela tivesse levado com ela quando ela morreu. Eu me tornei
uma concha de uma pessoa. Eu parei de amar quem eu era, mas Noah
estava ao meu lado. Ele segurou minha mão, através dos altos e baixos,
através da dor e mágoa. Através da mudança de quem eu era. No
entanto, só confirmou meus sentimentos de que eu não era boa o
suficiente para ele. Ele me amava, eu sabia disso, mas eu sabia que era
uma questão de tempo antes que ele fosse procurar por mais.

— Saia de cima de mim Noah, — eu digo, minha voz fraca,


cansada.

— Vamos, Lara, — ele raspa. — Sou eu. Pare com isso, você sabe
que eu nunca te machucaria.

— Eu não sei nada, — eu estalo. — Tudo que eu sei é o que eu vi.


Eu vi você com uma mulher em seu colo, e ela estava beijando você. E a
parte triste é, eu sei o que eu me tornei — por que você a queria —
então você não precisa explicar nada.

— Meu Deus, — ele rosna, parecendo finalmente quebrar e deixar


um pouco de sua raiva aparecer. — Você não tem ideia, não é?

— Me deixe em paz, por favor.

— Lara, porra...

— Eu não quero falar com você, Noah, agora me deixe em paz.

~ 25 ~
— Não, — ele rosna. — Pela primeira vez na sua vida você vai
parar com os jogos de merda.

Jogos?

Ele está falando sério?

Isso me deixa com raiva.

— Saia de cima de mim, agora! — Eu grito, o que é patético até


aos meus ouvidos.

— Madame, está tudo bem aqui?

Olho além de Noah para ver um policial de pé, olhando para


Noah. Eu não deveria fazer isso, eu não deveria, mas eu só quero ficar
sozinha. Eu estou tentando seguir em frente e ele está tornando isso
impossível para mim. As lembranças daquela mulher em seus braços
passam pela minha mente e me empurram para abrir a boca e dizer: —
Não, não está tudo bem. Ele não sai de cima de mim.

A dor e a raiva nos olhos de Noah são evidente enquanto ele me


olha com horror e choque, que rasga meu coração.

Viro a cabeça para o lado e desvio o olhar.

— Você sabe o que? — ele diz, empurrando fora de mim. — Você


não vale a pena.

Essas palavras me ferem mais do que eu poderia ter imaginado

***

A tensão está lá, pronta e esperando.

Quanto mais ela o rejeita, mais zangado fica. É exatamente assim


que eu o quero: irritado e exasperado.

Ele precisa ter ressentimento. É vital para o meu plano.

Eu vou encorajar isso, e eu sei como fazê-lo.

Meu jogo não será quase tão satisfatório se eles trabalham juntos.
Ele precisa ficar lívido.

Ela precisa ser fraca e quebrada, mesmo frágil.

~ 26 ~
Então meu jogo estará pronto para começar.

~ 27 ~
Quatro
— Deixe-me te pagar uma bebida, linda.

Eu olho para o homem atraente que está ao meu lado no bar,


olhos nos meus, sorriso plantado em seu rosto perfeito. Estou aqui de
mau humor. Faz uma semana desde que eu vi Noah passado e eu me
sinto pior em cada segundo. Eu não quero admitir que uma pequena
parte de mim gostaria de vê-lo depois de três meses. Então eu estou
aqui, tentando beber minhas tristezas. Até agora, não está funcionando.

— Eu? — Eu pergunto, com certeza ele deve estar falando com


outra pessoa.

Pareço um náufrago. Cabelo em um bolo desarrumado. Sem


maquiagem. Blusa velha e calças de brim. — Sim você. Você está
sozinha, parece que você poderia gostar de alguma companhia.

— Oh, — eu rio suavemente. — Estou esperando por uma amiga.

Isso não é mentira. Rachel prometeu que ela iria me encontrar


depois do trabalho.

— Então você tem tempo para me deixar comprar uma bebida


para você. Eu prometo que não mordo.

Ele sorri, um sorriso genuíno e caloroso, e é bom ter alguém me


olhando assim novamente. Alguém que não me conhece. Então eu faço
o que eu normalmente não faria.

— Ok, — eu digo suavemente. — Vodca e refrigerante, por favor.

— Como quiser.

Ele pede as bebidas e se vira para mim enquanto elas estão sendo
feitas. — Qual é o seu nome, linda garota?

Eu toco meu cabelo de forma consciente. — Lara.

— Eu amo mulheres naturalmente lindas. — Seus olhos cintilam.


— Eu sou Marco, mas você pode me chamar de Marc.

— É um prazer conhecê-lo, Marc.

~ 28 ~
O barman desliza nossos drinques, e Marco passa para mim. — O
que você está fazendo aqui sozinha numa sexta à noite?

Eu encolho os ombros, bebendo nervosamente minha bebida. Já


faz um tempo desde que eu conversei com um estranho, e eu me sinto
incrivelmente desajeitada.

— Minha amiga e eu nos encontramos aqui todas as noites de


sexta-feira, — digo a ele, tomando outro gole.

— Porque aqui?

Eu de novo de ombros. — Nós nos conhecemos aqui.

— Ah, entendo. Qual é a sua profissão?

Olho para ele. Ele é tão aberto, tão confortável. Ele também
deveria ser. Parece um deus grego. Ele tem cabelos escuros, olhos
castanho-escuros e pele verde-oliva. Seu corpo é musculoso, mas
magro. Ele se mantém bem; Ele transpira confiança.

— Sou recepcionista, — digo. — Nada muito extravagante.

— Ouvi dizer que tem dias difíceis?

Eu rio baixinho. — Sim, eu diria que eu tenho às vezes. E você, o


que você faz?

— Eu trabalho para uma companhia de navegação. Nada


espetacular.

— Você vive aqui há muito tempo?

— Toda a minha vida.

Facilitamos uma conversa sobre sua história pessoal, sua família


e seu trabalho. Ele me faz perguntas e quanto mais bebidas tomo, mais
à vontade me sinto conversando com ele. Quando percebo que Rachel
não chegou, eu puxo meu celular e me desculpo, chamando o número
dela. Ela não responde. Isso é estranho. Ela me avisaria se não
conseguisse vir, e até agora ela está bem mais de uma hora atrasada.

Eu volto para Marco depois de digitar um texto rápido, enquanto


ele me pede outra bebida. — Seria muito se eu pedisse para você se
juntar a mim para comer algo?

Eu o estudo.

Ele quer me levar para fora?

~ 29 ~
Eu não saio com ninguém desde Noah. Eu não quis. Sair com
outra pessoa pode ser bom, possivelmente até bom para mim. Eu me
segurei em um amor que não posso confiar nos últimos meses. Talvez
seja hora de deixar ir. Deixá-lo ir. O pensamento de realmente liberar
Noah da minha vida dói mais do que estou disposta a admitir,
especialmente considerando que eu o machuquei na última vez que
estivemos juntos. Talvez ambos fiquemos melhor sem o outro. Por que
esse pensamento me mata por dentro? Eu empurro a dor e sorrio. —
Claro, eu gostaria.

— Bem, termine a bebida e vamos dar um passeio. Existem


alguns bons lugares por aqui.

Eu faço o que ele pede, terminando minha bebida. Então eu pego


meu casaco da cadeira e verifico o meu telefone antes de sair do bar.
Ainda nada de Rachel. Talvez ela tenha ficado presa no trabalho, ou
presa em uma reunião onde ela não pode atender o telefone. Eu alcanço
Marco e nós andamos em direção ao parque que eu normalmente passo
correndo.

— Você mora por aqui? — Marco pergunta enquanto nos


aproximamos das árvores.

— Sim, a poucos quarteirões.

— Alguma sugestão para comer bem?

Minha cabeça parece um pouco pesada. Certamente o álcool não


está me afetando tão depressa?

— Há um pequeno café por entre essas árvores e do outro lado,


mais perto da cidade.

— Parece bom para mim.

Nós nos movemos para as árvores, pequenas lâmpadas


iluminando o caminho que descemos. Tropeço um pouco, o que é
estranho. Eu realmente não acho que eu tenha bebido muito. Ainda
assim, eu ri das piadas de Marco e falo livremente com ele, todas as
minhas inibições parece ter voado para fora da porta. Estamos perto do
meio das árvores grossas quando Marco para e se vira para mim.

— É bom aqui, não é?

Eu me viro, tropeçando um pouco e de frente para ele. Minha


cabeça parece tão leve que eu realmente levanto minha mão e me
certifico que ela ainda está lá, então rio histericamente porque, é claro,

~ 30 ~
ela ainda está lá. Eu tento me concentrar em Marco, mas ele está
embaçado. Eu fui drogada? É isso que está acontecendo? Deus, Marco
me drogou?

— Eu sei que parece atrevido da minha parte, mas eu realmente


adoraria te beijar, — murmura Marco, segurando meu rosto e se
movendo em minha direção.

Seus lábios tocam o meu e eu nem sequer tento puxar para trás,
não porque eu não quero, mas porque meu corpo simplesmente não
parece querer jogar esse jogo. Eu levanto, enrolando meus dedos em
torno de seu bíceps, para afastá-lo, mas eu pareço mais fraca do que o
habitual. Seu beijo fica mais intenso, e eu não consigo encontrar a força
para discutir.

Eu odeio isso. Depois de beijar Noah, nenhum homem poderia se


comparar.

A leveza em minha cabeça se moveu sobre todo o meu corpo e eu


sinto que estou voando. Meus joelhos tremem, mas Marco me segura
com um braço ao redor da minha cintura, me beijando mais fundo. Ele
está ficando um pouco intenso demais agora.

— Sério?

A voz parece quase distante, mas eu a reconheço


instantaneamente. Noah.

— Solte-a ou eu vou fazer você soltá-la, — Noah avisa.

— Ei, cara, — diz Marco, afastando-se de mim, mas mantendo o


braço em minha cintura. — Não sei quem você é, mas esta é minha
garota.

Sua garota? Espera o que?

— Você está falando sério? — Noah late, olhando para mim. —


Lara, que merda?

Toda esta cena parece incrivelmente confusa. Por que Noah está
aqui? Estou sonhando tudo isso?

Enquanto tento dar sentido a tudo, enrolo um braço ao redor de


Marco para tentar me segurar.

— Então é assim que é, hein, Lara? — Ele cospe. Abro a boca


para responder, mas não consigo formar nenhuma palavra.

~ 31 ~
O que diabos está errado comigo?

Noah sacode a cabeça. — Pensei que tínhamos uma chance, mas


agora vejo como fui estúpido. Já acabou.

Ele parece quebrado.

Meu coração se contorce. Eu não quero que ele desista. Eu tenho


empurrado ele para longe, mas no fundo, dentro das partes que eu não
vou deixar para fora, a ideia dele deixando me rasga em pedaços. Eu
gostaria de poder dizer a ele, mas nenhum som sai da minha boca.

— Você deve sair agora, — diz Marco, e minha cabeça começa a


girar.

Ele me segura mais forte.

— Não. Não saia ainda. A diversão apenas começou.

Uma voz. Eu posso ouvi-lo; Não consigo ver de quem é. Eu pisco e


tentar focar passado minha visão turva, mas é muito difícil. Uma
sombra escura aparece atrás de Noah; Eu não posso distinguir suas
feições. É mesmo uma pessoa? Talvez seja uma árvore. Minha cabeça
gira novamente. Acho que estou passando mal.

— Quem diabos são...

As palavras de Noah são cortadas e os sons de grunhidos enchem


a noite silenciosa. Então seu corpo bate no chão — seu corpo grande e
bonito simplesmente cai. Começo a lutar contra Marco, confusa e
desorientada. Minhas lutas são inúteis; Eu mal consigo fazer meu corpo
se mover. A figura sombria aproxima-se. Não consigo distinguir seu
rosto, apenas seus dentes brancos e alinhados.

— Pronto para jogar, Lara?

Algo afiado pica no meu pescoço.

Então meu mundo fica preto.

~ 32 ~
Cinco
A terra úmida pressiona contra minhas costas.

Essa é a primeira coisa que me alerta para o fato de que algo não
está certo.

A segunda, é a chuva suave caindo na minha pele, as gotas se


acumulando e depois rolando minhas bochechas. Eu tento abrir meus
olhos, mas minhas pálpebras são pesadas, me pesando e recusando-me
a permitir o movimento. Quando eu mexo meus dedos, a lama suja
minhas mãos, e o pânico se apodera do meu peito. Que diabos?

Eu me esforço para lembrar o que aconteceu na noite anterior. Na


verdade, não tenho lembrança. Eu luto para pensar, para ter uma
última lembrança clara — eu preparei o café de Rachel no início do dia
como de costume. Tudo depois disso é um borrão. Eu me concentro em
meus olhos novamente, respirando fundo e abrindo-os. Um céu
nublado cumprimenta minha visão nebulosa, e eu levanto uma mão
para esfregar até que a visão se apaga.

Estou em algum tipo de floresta.

Eu fui correr e desmaiei?

Eu movo minhas mãos para baixo para minhas roupas: jeans e


uma blusa, saltos em meus pés. Não. Eu não estava correndo. Eu me
concentro nas espessas árvores que cobrem a maior parte do céu,
permitindo feixes para espiar. Eles não são páreo para a chuva
incessante, no entanto. Ela consegue passar pelas folhas e atinge
minha pele como uma névoa suave. Olho para minha esquerda, nada
além de árvores por quilômetros.

Eu olho para a minha direita, e congelo.

Noah está sentado contra uma árvore, olhos fechados, uma


pálpebra inchada e vermelha. Sua cabeça está ligeiramente caída e está
encharcado. Tomo outra respiração firme e empurro até uma posição
sentada. Eu estou coberta de lama, e minha cabeça está dolorida.

Onde diabos estamos? Por que Noah está aqui? Pior, por que ele
está ferido? Eu olho para mim, mas não encontro feridas.

~ 33 ~
— Noah? — Eu chamo, minha voz seca e grossa.

Ele não se move.

Ele está morto?

O medo esmaga meu peito, e eu forço meu corpo cansado a se


aproximar dele até que eu possa alcançar seu rosto. Meus dedos olham
para o restolho em suas bochechas, então se movem para seu olho
inchado. Está machucado com arranhões leves. Ele caiu? Minha mão se
move para baixo até seu ombro e eu o sacudo suavemente. — Noah.

Sua mão dispara tão rapidamente que não tenho tempo para me
afastar. Ele ofega e seus olhos se abrem. Ele torce meu braço e eu grito,
caindo para frente. Um aperto doloroso no meu ombro alerta-me para o
fato de que meu braço não se moveu comigo. Noah, como se percebendo
o que ele está fazendo, de repente me solta. Seu peito sobe e cai com
calças pesadas enquanto olha em volta.

— Não, — ele diz. — Merda, não.

— Noah, — eu gemo, esfregando meu ombro. — O que está


acontecendo?

Seus olhos se movem para trás e para frente e depois pousam em


mim esfregando meu ombro. — Eu te machuquei.

Não é uma pergunta.

Eu dou de ombros de qualquer maneira.

— Eu não sabia que era você...

Estou confusa. — Quem você pensou que era?

Sua mandíbula tensa. — Há quanto tempo você está acordada?

— Alguns minutos. O que está acontecendo?

Ele começa a mexer nas roupas, arqueando os quadris e enfiando


as mãos nos bolsos.

— Noah?

Ele me ignora, levantando um pedaço de papel dobrado. Ele


aperta os olhos fechados e murmura uma maldição antes de desdobrá-
lo.

— O que está acontecendo? — Pergunto novamente.

~ 34 ~
— Eu estou rezando para não ser o que eu estou pensando, o que
eu me lembro...

Ele olha para a carta, e seu corpo inteiro fica duro. Algo enche o
ar, e se eu não o conhecesse, diria que é medo. O que Noah poderia
temer? Ele não tem medo de nada.

Algo está muito errado.

— Por favor, me explique o que está acontecendo, — imploro.

Ele olha para mim. — Você não se lembra de nada?

Eu balanço a cabeça.

— De nada?

— Não, Noah, — eu choro, frustrada. — Não. Isso é algum tipo de


jogo para me levar aqui para que possamos conversar, porque se for,
não é engraçado.

Ele olha para mim. — Você está brincando?

— Bem, nada mais parece fazer sentido. Você anda me


incomodando para falar com você...

Ele faz um som rosnado em seu peito. — Não me insulte. Isso não
tem nada a ver conosco. Você honestamente não se lembra de me ver
ontem à noite com seu namoradinho?

Eu bufo. — Como?

Ele balança a cabeça, com um sorriso amargo em seu rosto. —


Drogas provocam isso, não é?

Do que ele está falando? — Que drogas? Que namorado? Do que


você está falando?

— Se fazer de tímida costumava ser bonito, Lara, — ele rosna. —


Não é mais.

— Você quer me dizer o que está acontecendo?

Seus olhos se encontram e prendem os meus, e o olhar deles está


me assustando. — Fomos capturados.

Eu sinto muito. Ele acabou de dizer capturado?

Eu o estudo, os olhos arregalados. — O que?

~ 35 ~
— Eu não gaguejei, — ele responde, empurrando a carta para
mim. — Lembro-me de pedaços. Havia uma nota sua no meu para-brisa
esta manhã dizendo para encontrá-la naquele parque. Depois do que
você fez na última vez que eu vi você, eu pensei que tinha acabado. Mas
então eu segui a nota e pensei que você estivesse finalmente pronta
para falar comigo. Eu entrei e você estava lá com outro cara. Alguém
entrou e acho que nos drogou. Seja lá que droga que ele me deu, não foi
forte o suficiente e eu acordei algumas vezes. Ouvi-o murmurar sobre o
seu jogo, e quão perto ele estava. Ele parecia tão emocionado antes de
eu desmaiar novamente. Então eu acordei e nós estávamos aqui. Eu
estava grogue, você desmaiada... eu não poderia acordá-la.

— Uma nota? — Eu digo, confusa.

— Você não a colocou lá, não é? — Ele diz, sua voz estava áspera.

— Não, — eu sussurro. Pelo menos, não me lembro de colocar


uma nota no para-brisa dele.

— Então alguém queria que estivéssemos no mesmo lugar ao


mesmo tempo, — ele murmura.

— O que está acontecendo? — Eu sussurro.

Ele enfia a mão no bolso e tira uma nota. — Isso é o que eu


encontrei no meu bolso agora.

Com as mãos trêmulas, tomo a nota e a desdobro, lendo palavras


que me dão calafrio pela espinha.

Bem-vindos Lara e Noah,

Como é maravilhoso ter vocês aqui. Vocês provavelmente estão se


perguntando por que vocês são tão especiais. Por que vocês são bons o
suficiente para jogar? Por que eu escolhi vocês? Bem, se eu revelasse
tudo ao mesmo tempo, não seria um jogo, não é?

Deixe-me chegar a ele. Eu tendo a divagar quando estou animado.

E eu estou animado, como vocês podem perceber.

Eu tenho planejado este momento minha vida inteira, cada detalhe.


Eu mesmo estudei traços de personalidade de vocês. Como eu sou
inteligente, vocês não acham? Parece um milagre, na verdade, que vocês
dois tenham sido empurrados para as minhas mãos. Todo esse tempo e

~ 36 ~
vocês nem sabiam que eu estava lá. Mas eu estava lá. Sempre
assistindo. Esperando.

Meus jogadores.

Meu jogo é bastante simples. Vocês não irão esquecer as regras,


porque não há nenhuma. Mas, como todos os jogos bons e justos, eu
preciso dar-lhes uma vantagem. Não seria correto se eu ganhasse sem
sequer um pouco de diversão, não é? Não, claro que não.

Setenta e duas horas.

Um número tão especial para mim. Levou setenta e duas horas


para a minha mãe sangrar quando eu cortei todo o seu corpo, cortes
grandes o suficiente para um suave gotejar de sangue escapar de cada
ferida, para ela se contorcer em agonia enquanto rezava para a morte
levá-la. O corpo humano pode ser uma coisa milagrosa: Ele
constantemente tenta nos salvar, mesmo quando não há esperança.

Mas essa é uma história para outro dia.

Vocês terão setenta e duas horas para se prepararem para o meu


jogo. Podem fazer o que quiser; Não há fronteiras. Uma vez que suas
setenta e duas horas se esgotarem, eu irei buscá-los, e, como os bons
jogadores que vocês são, vocês irão tornar isso divertido para mim. Vocês
irão correr. Vocês irão se esconder. Vocês irão lutar. Vocês tentarão
escapar.

Mas vocês não podem.

Vocês não irão.

Eu tenho certeza disso.

Irei caçá-los até que eu finalmente decida matar vocês dois. Eu


tenho grandes planos de como vou fazer isso, mas não será uma
surpresa se eu contar agora. Só saibam que eu gosto de brincar com as
minhas presas.

Gostariam de saber como vocês irão fazer uso do seu tempo?

Tique-taque.

Empurrei a nota para o chão e me levantei. — Isso é algum tipo


de piada?

~ 37 ~
Noah olha para mim, então levanta também. — Eu não sei. Não
estou inteiramente certo de que não seja uma piada. Se setenta e duas
horas é tudo o que temos, eu não vou desperdiçar jogando jogos de
adivinhação.

— Isso é uma brincadeira, — eu rio histericamente. — É alguém


que está tentando nos fazer uma piada. Você pode sair agora, você nos
pegou!

Nem uma única coisa se move.

— Sério, tem que haver uma saída.

Noah franziu o cenho para mim. — Eu andei alguns quilômetros


em cada direção quando você estava dormindo. Onde quer que ele nos
deixasse, não temos saída.

Eu giro ao redor para encará-lo. — Isso não significa que não é


uma piada. Quero dizer, isso não pode ser real. É muito insano.

Ele ri com amargura. — Diga-me, Lara. Qual de seus amigos


acharia engraçado nos juntar, nos jogar em uma floresta densa e nos
deixar na chuva fria?

Droga.

Não.

Eu tento pensar em outra explicação para como chegamos aqui e


quem poderia ter escrito a nota, mas nada acrescenta. Deus. O que
diabos está acontecendo?

— Noah, tem que haver outra explicação.

Noah dá um passo à frente, passando a mão pelo cabelo. —


Quando você chegar a uma, eu adoraria ouvir. Até lá, eu estou levando
muito a sério, porque eu ouvi o homem dirigindo quando estávamos
dopados e eu posso te dizer, ele não estava certo da porra da cabeça.

Minha voz treme quando eu falo em seguida para que minhas


palavras saírem assustadas e frenéticas. — Talvez seja algum tipo de
reality show de TV ou...

Noah me dá uma expressão de desprezo. — Não seja estúpida,


Lara. Não há nenhuma maneira fodida de ser um reality show. Eles não
podem fazer uma única coisa sem um milhão de formulários assinados.

~ 38 ~
— Essas coisas não acontecem na vida real! — Eu choro, o pânico
aumentando no meu peito, coração batendo tão forte que mal posso
pensar.

— Claramente você não vê as notícias.

Eu aperto o meu cabelo. O vômito sobe na minha garganta, e eu


caio de joelhos e vomito. Não há quase nada no meu estômago, mas o
que quer que esteja lá vem para fora. Eu sinto como se um punho
apertado estivesse segurando meu coração, e eu mal consigo respirar.

— Isso não pode estar acontecendo.

— Eu queria que não estivesse, mas está, e tanto quanto eu sei,


esta aberração é muito grave.

Olho para ele, lágrimas escorrendo pelo meu rosto. — Estamos


nas mãos de um assassino em série?

— Não o chamaria assim, embora eu não tenha certeza se ele


nunca fez isso antes. Ainda assim, pelos o que ele diz, ele tem planejado
isso por algum tempo e ele está nos observando. Este homem não é um
assassino em série, ele é um maldito psicótico.

Eu engulo seco.

— Tudo o que temos são setenta e duas horas antes que esse
psicopata venha atrás de nós, então precisamos nos mexer. Se é uma
brincadeira, ainda precisamos nos mexer. De qualquer maneira, em
poucos dias tudo estará acabado ou o nosso pesadelo vai começar.

Eu balanço a cabeça tão rápido que meus dentes tagarelam


juntos. — Não, não vou me mexer. Eu não quero.

Se andarmos, poderemos acabar em qualquer lugar. Devemos


ficar onde estamos — somos mais propensos a ser encontrados. Não é
assim que isso funciona?

— Nós devemos ficar aqui, — eu continuo. — Onde podemos ser


encontrados.

Noah rosna baixo em seu peito e dá um passo em minha direção.


— Confie em mim, nós não seremos encontrados. Eu não vou esperar
por aí para morrer e eu não vou deixar você. Ou você se move ou eu vou
fazer você andar.

— Por que nós? — Eu grito.

~ 39 ~
— É exatamente por isso. — Ele acena uma mão com raiva. —
Olhe para nós. Nós somos uma bagunça quebrada. Agora fique de pé.

Eu balanço a cabeça.

— Porra, se levanta! — Ele late.

Eu suspiro e lágrimas rolam pelas minhas bochechas. Eu não


quero ficar de pé. Quero que tudo vá embora. Eu quero fechar meus
olhos e apenas fazer isso ir embora.

— Porra, Lara. Aquele fodido doente estará sentado lá,


aproveitando cada segundo disso.

— Ele pode nos ver? — Eu choro, olhos freneticamente rondando


a floresta.

Deus, ele está realmente nos observando? Como? Eu não


entendo? Meu coração bate enquanto estudo as árvores, o céu, inferno,
até mesmo os pássaros. Meu coração parece que vai saltar de minha
garganta enquanto meus olhos tomam em nossos arredores. Como
alguém colocaria algo assim? Por que eles querem isso? Quanto tempo
levaria para criar o tal horror? Não, não.

— Se ele planejou isso como ele diz que fez, e tem tanta certeza de
que não podemos escapar, então você pode ter certeza que ele pode nos
ver.

— Como?

Noah estuda as árvores. — Não sei ainda, mas eu vou porque não
tenho vontade de morrer. Agora levante-se.

Eu aceno com a cabeça e empurro para os meus pés, jogando os


meus calcanhares, porque ele está certo, eu não posso ficar sentada no
mesmo lugar correndo risco, e não fazer nada. Que ajuda eu serei para
ele no estado em que estou, não sei, mas se há uma chance de que
possamos sair, eu vou tentar.

Noah pega meu braço com força e me puxa pelas árvores. Ele está
com raiva de mim. Isso não vai ajudar nada, mas discutir com ele agora
só vai piorar as coisas e no momento, eu preciso dele aqui comigo.

Enquanto ele estiver comigo, tudo ficará bem.

Por favor, não me deixe.

~ 40 ~
***

Está funcionando exatamente como eu queria.

Ele está tão zangado com ela. Ela está mostrando o seu lado frágil,
quebrado que eu percebi nela.

Mas ele a protegerá. É de sua natureza pelo menos tentar. E é


assim que vou derrubá-lo.

É como eu vou fazer o meu jogo satisfatório.

Eu rio histericamente. Meu jogo. Finalmente chegando à vida.

Eu nunca pensei que eu veria o dia. Eu trabalhei tanto e tão duro.


E estes dois são o casal perfeito, como eles foram empurrados em minhas
mãos, como a terra os plantou no lugar certo no momento certo apenas
para mim.

Eles dizem que tudo acontece por um motivo, certo? Uma razão
muito ruim é uma pessoa, assim como eu. Imagine que... o mundo não é
tão bonito quanto as pessoas pensam!

Caso contrário, esses dois não estariam aqui, parecendo


assustados, filhotes perdidos.

Oh sim, meu jogo vai ser incrível.

E a melhor parte é, eu posso mudar as regras sempre que eu


quiser.

Oh, eles estão em um deleite.

~ 41 ~
Seis
Nós andamos pelo o que parece quilômetros e quilômetros,
contudo nós não parecemos chegar em qualquer lugar. Eu juro que
continuo vendo as mesmas árvores mais e mais. Eu soluço a seco. O
medo agora está no meu peito, recusando-se a sair, cruzando suas
pequenas pernas felizes e cantando uma canção irritante que vai
zombar de mim a cada segundo que estamos aqui.

Ainda não parece real.

Eles dizem que quando algo tão absurdo, tão irreal acontece, é da
natureza humana a se perguntar se é real. Está em nossa natureza
questioná-lo, para chegar a milhares de cenários diferentes sobre o
porquê isso acontece, porque a realidade dura e fria não pode ser real.
Eu me sinto assim agora. Mesmo que as horas passam e ninguém sai e
nos diz que é apenas uma piada, mesmo enquanto andamos e
caminhamos, cansados e doloridos, mesmo que o dia rola e a noite se
prepara para cair. Simplesmente não parece real.

Como se houvesse alguma outra explicação lógica.

Eu leio muito. Eu li sobre assassinos em série, eu li bons thrillers


e suspense romântico, mas isso é tudo é... ficção. É criado para entreter
uma mente ativa. Não é mais do que um autor criativo colocar palavras
no papel. Essas coisas realmente não acontecem. Eu sei que o mundo é
um lugar vil e hediondo, às vezes, mas isso... não.

***

— Você precisa continuar, Lara, — Noah late, me sacudindo de


meus pensamentos.

— Estou fazendo o melhor que posso, — eu digo, minha voz


cansada. — Estivemos andando a maior parte do dia.

Ele gira em volta para me encarar, os braços cruzando sobre seu


peito grande. — Você prefere ficar sentada e esperar para ser morta?

~ 42 ~
Meu lábio inferior treme. — Não, Noah. Estou com medo também.

— Só há uma maneira de sair dessa confusão, e é para encontrar


um caminho para nós mesmos. Este homem é esperto, mas nenhum
plano é sem falhas.

— Bem, onde quer que estejamos, podemos dizer com segurança


que ninguém está por perto.

— Errado, — Noah diz, empurrando um galho espesso para fora


do caminho e deixando-me passar. — Este homem tem de estar perto o
suficiente para ser capaz de caçar, para realizar qualquer jogo doente, o
que significa que tem que haver uma maneira de entrar e sair.

Eu zombaria. — Não é isso que estamos procurando por todo esse


tempo? Uma saída?

Ele olha para mim.

Eu olho para os meus pés, agora sem de sapatos, porque


ninguém pode caminhar numa floresta de salto.

Ele se inclina de perto. — Ouça, Lara, talvez eu não leio mil livros,
mas também não sou estúpido.

— Eu nunca disse que você era, — eu digo suavemente.

Ele dá um passo para trás, girando e prosseguindo em frente


novamente. — Eu vou descobrir isso, mas considerando que já
desperdiçamos um dia, o tempo é essencial.

— Se nós andarmos até que estivéssemos exaustos, nunca


seremos capazes de enfrentar os planos que este homem tem para nós,
— sugiro com cuidado.

Ele para, esfregando o suor de sua testa com o dorso de sua mão.
— Eu sei disso, mas ele não é estúpido. Eu vi alguns coqueiros em
volta, e um córrego, o que significa que ele tem certeza de que podemos
encontrar comida e água. Ele não nos quer fracos — isso não seria bom
para o seu jogo. O homem é esperto, ele sabe que eventualmente vamos
parar e comer, descansar e curar a nós mesmos, porque não somos
estúpidos. Ele está contando com isso.

Isso faz sentido, mesmo se eu não querendo admitir. Ele nos quer
forte; Ele quer que sejamos um bom desafio. É por isso que ele nos
escolheu. Ele acha que ele nos pegou, ele acha que conhece nossos prós
e contras. Talvez sim. Eu não sei. Eu não sei mais nada.

~ 43 ~
Bile sobe em meu estômago e eu paro, pressionando uma mão
contra a casca de uma árvore grossa, áspera.

Respirar. Dentro e fora.

— Ele tornou o jogo mais fácil, — Noah continua, ignorando-me.


— Mas ele não o fez inteiramente tranquilo. Ele nos forneceu água, mas
estamos andando a maior parte do dia, então temos que descobrir como
levá-la conosco, considerando que só passamos por um pequeno riacho.
Ele nos forneceu coqueiros, mas eles são altos e difíceis. Nada é sem
esforço.

Eu aceno, envolvendo um braço ao redor de mim, tentando ficar


calma conforme a realidade amarga se instala.

— Eu sei que isso não é fácil, Lara, mas você precisa se recompor.

A fúria toma conta e eu empurro minha cabeça para cima. — Me


recompor? — Eu grito, chocando até mesmo a mim mesma. — Estamos
em uma floresta com um psicopata observando-nos, esperando para
entrar e nos matar, e você está me dizendo para me recompor?

— Sim, — ele diz, sua voz calma e fria. — É exatamente o que eu


estou lhe dizendo.

— Eu não quero morrer assim, Noah!

Ele se encolhe, então chega perto, agarrando meus ombros e me


sacudindo de perto. — Não vamos morrer. Você me ouviu?

— Você acha que ele não pensou em cada rota de fuga? Ou cada
cenário possível? Você acha que ele teria nos colocado aqui se ele não
estivesse cem por cento certo de que não poderíamos sair? Que ele
poderia nos encontrar e nos caçar? Jesus, Noah. Quem quer que seja,
ele não acaba de fazer isso por capricho.

— Ei, — Noah rosna, me sacudindo um pouco. — Você pode estar


certa, mas você vai se sentar aqui e desistir ou você vai lutar? Talvez
não haja chance, mas ainda tenho certeza de que quem quer que ele
seja, eu posso encontrar uma maneira de vencê-lo.

— Provavelmente ele tem armas, nem mesmo você pode enfrentar.

— Novamente, — Noah se endireita, — pare com a negatividade.


Se vamos morrer, vamos fazer isso lutando para viver. Você me
entende?

~ 44 ~
Eu aceno, mas não consigo evitar que as lágrimas escorreguem
dos meus olhos.

— Lara, você está chateada e assustada, o que está fazendo você


duvidar de tudo. Ele está contando com isso. Eu não sei como você vai
fazer, ou onde você vai encontrar, mas você precisa achar a força que
eu sei que você enterrou profundamente dentro de você, para se
levantar e lutar comigo. Se você não fizer isso, estamos condenados
antes mesmo de começar.

— Força? — Eu sussurro. — Eu não sei como.

Ele retrocede e acena uma mão. — Você tem que encontrá-la, ou


você vai morrer. O que vai ser? Eu sei que você tem isso em você, nós
dois sabemos disso. Você precisa cavar e encontrá-la novamente, ou
não sairemos daqui vivos.

Ele me acertou bem onde dói. Ele está falando sobre a garota que
eu era antes de vovó. Eu não tenho forças em mim para dizer-lhe que
ela já está morta.

***

A noite cai e com ela vem silêncio estranho e completa escuridão


que me aterrorizam. Noah encontra uma pequena árvore pendurada na
qual nos sentamos. Paramos em um córrego e pegamos um pouco de
água, mas nenhum de nós sentiu energizados o suficiente para subir
uma árvore ou descobrir como pegar os cocos. Decidimos tentar de
manhã; Por agora, estamos aqui e estamos juntos. Não que estamos
nos falando, mas estamos juntos e isso tem que contar para algo...
certo?

É maio na Florida, assim, as noites são ainda um bocado frescas.


Não frias o suficiente para que nós congelássemos, mas um dia bom e
claro, pode ficar frio o suficiente à noite para precisar de um casaco
leve. Hoje à noite ainda está parcialmente nublado, então o tempo está
frio, mas não tão frio. Eu aperto minhas costas contra uma árvore e
esfrego minhas mãos sobre meus braços nus, desejando ter vestido um
suéter na noite anterior.

Noah não disse uma palavra para mim em horas e está me


matando. Ele me disse para ser durona, para encontrar a minha força,
mas ele está se recusando a conversar comigo - e quando ele fala, é

~ 45 ~
apenas para cuspir ácido para mim. Como devemos trabalhar juntos
para sairmos desse horror está além de mim. Eu esfrego a parte de trás
do meu pescoço onde uma dor começou me incomodar, perguntando se
é da droga que nos foi dado.

Não consigo ver Noah no escuro, mas sei que seu rosto deve estar
dolorido; Ele não se queixou, porém, então eu escolhi não tocar no
assunto. Posso senti-lo perto de mim, seu corpo grande e quente perto o
suficiente para que o calor acaricie delicadamente minha pele, mas não
o suficiente para que façamos qualquer tipo de contato. Eu exalo e
correr através de um milhão de cenários na minha cabeça, como eu
tenho feito o dia todo. Eu tento colocar-me na mente desse homem,
tentar descobrir o que posso entender sobre o que ele planejou, mas eu
simplesmente não consigo juntar nada.

Não me lembro de nada da noite anterior, e é frustrante como o


inferno. Talvez se eu pudesse, eu seria capaz de descobrir quem nos
colocou aqui.

— Você está com frio? — Noah pergunta, finalmente falando. Sua


voz é áspera, cansada, talvez um pouco assustada.

Ele nunca vai mostrar isso. Não está na sua natureza. Noah vai
lutar até seu último suspiro, porque esse é o tipo de homem que ele é.

— Não realmente, — eu digo, mesmo que meus braços estejam


um pouco frios.

— Pegue minha camisa, vai te manter quente.

— Não, você precisa dela. Não está tão frio assim.

— Então, pelo menos, aproxime-se para que você possa ter um


pouco do meu calor corporal. Podemos não estar nos entendendo, mas
a questão é que precisamos sair daqui vivos.

Eu não discuto. Eu me aproximo até que nossos ombros se


toquem. É muito mais quente.

— Por que você acha que ele nos escolheu? — Eu pergunto


suavemente, colocando meus joelhos até meu peito.

— O melhor que posso imaginar é que é porque não nos


entendemos, — murmura. — Se já nos conduzimos à beira da loucura,
estamos fazendo exatamente o que ele quer. Jogando bem em seu jogo.

— Mas por que nós? Por que não outro casal que não se entende?

~ 46 ~
— Lugar errado na hora errada.

Não pode ser tão simples, certamente. Não, alguém que planejou
algo tão detalhado não escolheria aleatoriamente. O pensamento de que
ele esteve nos observando, por Deus sabe quanto tempo, faz minha pele
se arrepiar.

Eu mastigo meu lábio inferior. — Sinto muito, Noah.

— Pelo quê?

— Que eu tenho lidado com isso tão mal, fui tão fraca e patética.

Noah não responde.

Isso parece um soco no estômago.

— Você não é patética ou fraca, — ele finalmente diz, sua voz


baixa e grossa. — Você está perdida e confusa, você não sabe quem
você é mais. Há uma diferença.

Não tenho certeza se é bom. E suas palavras ainda picam um


pouco, apesar de sua confiança, porque eu não acho que ele está certo.
Ele viu o que eu passei com a vovó. Ele viu como isso me afetou. Eu tive
que mudar quem eu era, porque ser quem eu era estava começado me
afetar. Eu não estou perdida e confusa, eu sou apenas uma pessoa
diferente.

— Estou com medo de não poder sobreviver aqui, — digo


suavemente.

Não é uma pergunta, mas uma declaração de fato.

— Eu também, — diz Noah, sua voz calma.

Não era o que eu esperava que ele dissesse. Ele deve estar ficando
cansado, eu percebo. Ele não está apenas lutando com uma situação
impensável, mas também lidando comigo. Será que eu vou ser a razão
pela qual não conseguiremos sair daqui vivos? Vou deixar Noah cair?
Eu? E se Noah se machucar porque eu não sou capaz de lidar com o
que está vindo? Talvez eles estejam todos errados. Talvez eu possa lidar
com isso. Talvez eu não tenha escolha.

— Eu não vou parar de lutar, — eu digo suavemente. — Eu sei


que minhas emoções estiveram confusas hoje, mas eu não vou parar de
lutar.

— Não é sobre lutar, Lara. É sobre muito mais do que isso.

~ 47 ~
— Ele vai alvejar as fraquezas que são óbvias em você. Você pode
lutar, isso é um dado, mas você não pode lidar com a violência mais,
você se assusta facilmente, e ele está contando com isso. Se eu estiver
certo, ele vai me direcionar para enfraquecê-la e torturá-la.

— Eu não vou deixar, — eu digo desafiadoramente. — Eu vou


descobrir como, mas eu não vou deixar, Noah.

Ele bufa na escuridão. — Você não pode mudar quem você é,


Lara.

Eu fico em silêncio.

— Você e eu sabemos que posso.

Ele não tem resposta para isso.

— Você tem alguma ideia do que vamos fazer? — Pergunto,


mudando de assunto depois de alguns minutos de silêncio.

— Eu ainda estou tentando descobrir isso. Eu não sei como é que


ele está nos observando, mas posso garantir que ele está.

— Você acha que ele pode nos ouvir, também?

— Oh, o filho da puta pode nos ouvir. Provavelmente sentado lá,


masturbando seu pau agora com alegria. Merda.

Eu engulo. Como pode alguém nos ouvir, nos ver-nos, e ainda


não sabermos nada sobre ele? Cada plano que fazemos, tudo o que
falamos, ele sempre estará um passo à nossa frente.

— Então, como é que vamos enganar alguém que não podemos


sair da nossa cabeça? — Eu pergunto.

Noah se inclina de perto, tão perto eu tremo. Ele move o cabelo do


meu pescoço e sussurra tão suavemente que mal consigo ouvir: — Nem
mesmo a melhor tecnologia pode ouvir isso.

Eu tremo, porque sua respiração no meu pescoço faz faíscas


correrem pela minha espinha se instalando em meu núcleo. Fecho os
olhos e engulo, depois aceno com a cabeça e me afasto.

Nenhum de nós diz nada depois disso.

Porque o que há para dizer?

~ 48 ~
***

Eu trago o café aos meus lábios, minhas mãos tremendo com


alegria total quando eu os vejo adormecer um ao lado do outro.

Seu corpo está tenso. Ele sabe que posso vê-lo e ouvi-lo. Ele
simplesmente não sabe como e isso está matando ele.

Ele é esse tipo de homem. Ele gosta de controle. Ele gosta de saber
que ele tem tudo coberto, e ele não consegue me entender.

Mais do que isso, ele está com raiva. De mim. De si mesmo, mas
principalmente dela. Ele está tentando não ter raiva, mas ele tem. Ele é
como um pote fervente, borbulhando lentamente até que eventualmente
ele vai explodir.

E quando eles brigam, eles fazem exatamente o que eu quero.

Ele faz sua dúvida. Faz com que ela se sinta mal. Faz seu
mergulho da autoestima mesmo mais baixo. Eu não preciso derrubá-la;
Ele estará fazendo isso por mim.

E ele vai saber que eu estou fazendo isso, mas ele não será capaz
de ajudar a si mesmo.

Uma risada escapa dos meus lábios. Mais dois dias, meus
jogadores, e começaremos.

Só mais dois dias.

~ 49 ~
Sete
Eu adormeço contra Noah, cabeça em seu ombro, corpo quase
quente de sua pele. Eu devo estar exausta, ou talvez ainda esteja
metabolizando as drogas no meu sistema, mas eu não me movo a noite
toda.

Eu sou despertada pela manhã por Noah que se vira e os sons


dos pássaros que cantam altamente acima de mim. Eu pisco algumas
vezes, esfregando meus olhos e foco. Ainda estamos contra a árvore,
mas o braço de Noah está perto de mim agora, me abraçando. Ainda
estamos aqui. Isso não é um sonho. Um formigamento horrível se forma
na minha garganta e meu coração afunda. Eu tento lutar contra
minhas lágrimas quando a realização bate em meu corpo. Eu não sei o
que eu pensei, mas uma parte de mim esperava que eu acordasse hoje e
tudo terminaria.

Eu me afasto do aperto de Noah, e ele não faz nada para me


parar.

Eu empurro para meus pés, precisando usar o banheiro. Passo


por Noah sem dizer uma palavra e encontro uma árvore para me
instalar. Um pensamento voraz vem à minha mente: Ele está
observando isso mesmo? Eu escolho fingir que ele não está. O sol está
alto hoje, as nuvens de chuva que desaparecem. Não tenho certeza se
isso é uma coisa boa ou ruim.

Eu não sei quais são os planos de Noah, mas o relógio está


correndo. Temos apenas hoje e amanhã antes de nosso mundo se
transformar em um pesadelo. Precisamos descobrir algo antes disso —
ou melhor ainda encontrar uma saída para este inferno. Eu termino
indo para o banheiro e faço o meu caminho de volta para Noah. Ele está
estudando as árvores, o chão, qualquer coisa que se mova. Ele é como
um falcão, olhos zumbindo sobre qualquer coisa fora do comum.

— O que exatamente estamos procurando hoje? — Eu pergunto.

Meu estômago faz um barulho estridente e eu percebo, apesar de


tudo, estou com fome.

— Primeiro, comida, — ele murmura, sem me olhar. — Então


vamos ver se podemos encontrar um limite, talvez ter uma ideia de onde

~ 50 ~
estamos. Precisamos de armas; Vou ter que fazer, mas é melhor do que
não ter nada.

— Armas? Como vamos conseguir isso?

— Não é difícil fazer uma faca de um pedaço de madeira maciça,


algumas pedras afiadas, e uma mão firme. Ele fará o trabalho.

Deus.

Já não tenho fome. O enjoo está de volta.

— Vamos encontrar o córrego. Havia alguns coqueiros por perto.


Vamos.

Caminhamos em silêncio pela floresta por cerca de uma hora até


chegarmos a um pequeno riacho com água limpa escorrendo através
dele. Não é profundo, provavelmente nem sequer profundo o suficiente
para tomar banho, mas parece correr por quilômetros. Eu me pergunto
se isso leva a algo maior, mais profundo talvez? Usamos para lavar
nossos rostos e nossos corpos; Então nós usamos nossas mãos e
bebemos o máximo que pudermos. Noah estuda as árvores, apertando
os olhos para ver o que temos de trabalhar.

— Maldito doente, — ele murmura.

Eu olho para cima. — O que?

— Estou chateado por ele ter nos dado a única fonte de comida
que é mais difícil de conseguir. Coqueiros.

— São os cocos tudo o que temos?

— Sim, — ele grunhiu.

Ele caminha até a palmeira e começa a sacudi-lo, seu corpo


grande puxando a base fina para frente e para trás. Os cocos não se
movem. Com um rosnando de frustração, ele encontra uma vara grande
e começa a bater nela, mais e mais até que seus músculos estão se
aglomerando e seu rosto é um vermelho irritado. Ele parece tão bonito
assim, tão masculino e forte. Eu me odeio por esse pensamento. Deve
ser a última coisa em que penso.

— Você quer que eu suba em outra árvore e veja se eu posso


alcançar e agitar, ou obter em um coco?

Ele para de sacudir a árvore e olha para mim. — Se eu posso não


arriscar você se machucar agora, eu não vou. Vou pegar um coco.

~ 51 ~
— Mas...

Ele me ignora e continua a sacodir a árvore. Desistindo disso, ele


encontra uma grande pedra e a lança. Espero que ele não consiga, mas
ele atinge um dos cocos cai da árvore. Ele deixa cair antes de passar por
cima e pegá-lo. Ele sacode, balança a cabeça, e então caminha até um
tronco no chão, uma árvore velha que está quebrada. Ele coloca o coco
no tronco, então começa a procurar uma pedra afiada.

Sinto-me impotente.

Enquanto ele usa uma pedra para descascar a primeira camada


do coco, eu vagueio tentando encontrar algo para transportar água. Há
muito pouco. Nada que seja profundo o suficiente, forte o suficiente, ou
durável o suficiente para manter a água por um tempo. Frustrada, eu
chuto alguns velhos cocos verdes ao redor. Então me bate. Podemos
não ser capazes de transportar grandes quantidades de água, mas
podemos levar o suficiente para nos saciar até encontrarmos outra fonte
de água, simplesmente usando um coco vazio. Pego quatro cocos e
enfio-os em meus braços, voltando para Noah.

— Podemos fazer um buraco em cima destes?

Ele levanta a cabeça do coco que está descascando e me estuda.


— Eles provavelmente são velhos. Não podemos comê-los, Lara. Eu já
os teria recolhido, se pudéssemos.

— Eu sei disso, — eu digo, minha voz zombeteira. — Eu estava


pensando em esvaziar, fazendo um buraco e enchendo-os com água
para carregar.

Ele ergueu as sobrancelhas.

— Então você tem a força ou o equipamento certo para fazer um


buraco neles?

— Vai demorar um pouco, mas sim. Coloque-os ao meu lado e


venha aqui. Você pode quebrar isso enquanto eu faço um buraco neles.

Eu caminho até ele, deixando os cocos, e estendo minha mão


para que ele veja o pequeno círculo marrom no meio.

— Encontre uma pedra afiada, uma vara, o que você precisa usar
e bata até que ela fique aberta.

Eu aceno, tomando-o de sua mão e andando ao redor até que eu


encontro uma rocha afiada, denteada que pica fora da terra. Eu levanto

~ 52 ~
o coco e o derrubo sobre a rocha. Nem uma única coisa acontece.
Frustrada, eu faço isso de novo, e novamente, e antes que eu saiba que
eu estou batendo o coco na rocha, raiva borbulhando no meu peito,
raiva percorrendo minhas veias.

Que diabos está acontecendo comigo?

Com um grito de dor, eu bato mais e mais, chorando quando ele


insiste em não quebrar. Eu o bato com força uma e outra vez até que
meus ombros doem com tensão.

— Ei, — Noah diz, me parando com uma mão em meu ombro. Ele
me puxa de volta. — Calma aí, Lara. Porra.

Ele toma o coco de mim e sem esforço o traz para baixo sobre a
rocha. Ele divide primeiro. Isso me deixa mais bravo. Eu giro e grito na
floresta. — Isso é besteira completa e completa! Nós estamos sendo
caçados por um assassino psicótico, — eu grito, — e eu não posso
mesmo rachar um coco do caralho!

Noah não diz uma palavra, e quando eu me viro, ele está me


estudando. Nossos olhos se encontram e meu fôlego acaba de meus
pulmões. Ele está me olhando como se fosse a primeira vez que ele me
viu há muito tempo. Ou talvez seja a primeira vez que ele realmente me
vê. Seu rosto é suave, seus olhos são intensos, e ele entrega o coco de
volta para mim.

Pouco antes de ele virar as costas para mim, ele diz em voz baixa:
— Eu estava me perguntando quando a Lara que eu conhecia se
mostraria. Mantenha isso, Lara. Na superfície. Podemos ter uma chance
de escapar se você fizer.

Meu coração se contorce e eu engulo o nó na minha garganta.

Ele se vira e volta a fazer o que estava fazendo, mas eu fico


parada ali, meu corpo entorpecido.

***

Nós enchemos os cocos com água depois de duas horas afiando


itens como pedras e paus para fazer um buraco grande o suficiente.
Funciona no final, e enchemos a barriga com água antes de encher o
coco e carregá-lo conosco. Nós comemos um coco e levamos outro com

~ 53 ~
a gente. Noah me diz para beber a água do meio de um; Aparentemente
é hidratante.

Você aprende algo novo todos os dias quando você está sendo
perseguido por um psicopata.

Caminhamos por horas a fio e meus pés ficaram doridos e


entorpecidos. Eu já não sinto as pedras afiadas e bordas irregulares dos
galhos em minha pele, quando nos aventuramos mais e mais
profundamente na floresta espessa que nos rodeia. As árvores que uma
vez estiveram espalhadas pela maior parte, agora são comprimidas
juntas e cercadas por arbustos minúsculos. Há uma pequena pista mal
formada percorrida e não tenho dúvidas de quem criou isso.

Noah e eu discutimos sobre isso, porque eu digo que a coisa


esperta seria sair da trilha feita pelo homem e entrar na floresta, mas
Noah me diz que nós mal conseguiremos andar poucos quilômetros por
aquelas árvores grossas antes que estivéssemos exaustos de empurrar e
cortar ramos. Ele afirma que Psycho — como o apelidamos — fez isso,
de modo que estamos quase forçados a ficar na trilha que ele criou.

Tanto faz.

Pelo menos, leva nossas mentes fora da realidade iminente que só


temos mais um dia depois disso. E até agora não encontramos nada.
Não há saída. Nenhum sinal de vida. Zero. Nada. Noah está frustrado, e
ele está demonstrando. Ele reclama a cada duas árvores e passa a
maior parte de seu tempo em silêncio. Eu realmente não posso culpá-lo;
Eu sei que ele está sofrendo. Nós dois estamos. Se não encontrarmos
uma saída em breve, morreremos.

É simples assim.

A tarde bate como um lembrete doloroso, mas nós continuamos


andando, mantendo nossos olhos afiados, procurando algum tipo de fim
para este deserto, talvez um sinal de vida. Qualquer coisa para nos dar
esperança. Quando o sol começa a diminuir no horizonte, enfrentamos
nossos piores medos. Estamos empurrando através da floresta, sem
falar, ambos exaustos, quando chegamos a uma pequena clareira; À
frente há uma cerca. Não é nenhuma cerca velha. É grande, super alta,
e coberta com arame farpado. Mas é uma cerca.

— É uma cerca! — Eu grito, correndo em direção a ele. — Olhe,


Noah, uma cerca!

~ 54 ~
Liberdade. Escapar. Só temos que superar isso. Vou cortar a
minha própria perna se isso significa que vou sair daqui. Eu farei
qualquer coisa. O alívio inunda meu coração e lágrimas escorrem pelas
minhas bochechas enquanto eu corro.

— Não, — grita Noah. — Lara, pare!

Pare? Por que diabos eu pararia? Há uma cerca. Ele deve ter
perdido a cabeça. Meu coração bate forte e eu empurro os meus pés
com mais força, empurrando as árvores para fora do caminho, saltando
sobre troncos e correndo como se estivesse sendo perseguida. Eu estou
a cerca de três metros de distância quando um braço duro envolve a
minha cintura e me lança para trás. Antes que eu saiba o que está
acontecendo eu pouso em minhas costas em cima do peito de Noah, seu
braço ainda em torno de mim. Ele faz uma oomph alto e nós rola para o
lado.

— O que diabos você está fazendo? — Eu grito. — Jesus, Noah.

— Você quer morrer? — Ele soa, me lançando para cima, então eu


estou em minhas costas e seu corpo grande está se aproximando por
cima de mim.

— Do que você está falando? Deixe-me ir, — eu choro, me


contorcendo. — É a liberdade. É uma saída.

— É eletrificada, Lara. Jesus Cristo, você quer fritar a si mesma.

Eu pisco. — O que?

— Ela é eletrificada, a cerca. Porra, você não consegue ouvir?

Eu fico em silêncio. Além da minha respiração e coração batendo


forte, eu posso ouvir o tick da cerca. Tudo desmorona, todas as minhas
esperanças, toda a liberdade que senti, o alívio — ele bate de volta em
meu corpo e tudo o que sinto é a picada penetrante da decepção. Deus,
nunca vamos sair daqui. Com cada passo que damos, parece que não
há uma única coisa que possamos fazer para escapar.

Continua a lutar. Pelo menos tente.

Eu fecho meus olhos e levanto meu rosto para pressionar em seu


peito duro.

— Nós vamos ficar bem, — ele diz, segurando a parte de trás da


minha cabeça e me segurando contra ele. — Vamos encontrar uma
saída, Lara.

~ 55 ~
— Não parece haver saída, Noah.

— Então mataremos o filho da puta.

Eu bufo. — Noah…

— Se a luta é tudo o que resta, então é isso que vamos fazer. Eu


não vi uma única saída deste lugar, então a única opção é lutar. Há
uma abundância de troncos e pedras que podemos usar para esculpir
armas. Ainda não acabou, Lara.

Medo percorre minha espinha. — Sim, você está certo, mas e se


isso não for suficiente?

— Olhe para mim, — ele exige.

Levanto a cabeça do peito, encontrando os seus olhos. — Eu não


vou deixar que nada aconteça com você, você entende?

Eu aceno, tomando uma respiração trêmula.

— Não vou deixar você sozinha aqui fora.

Eu sei que devo acreditar nele, mas eu não sei o que diabos eu
acredito mais.

Eu apenas mantenho seus olhos, e algo dentro de mim acorda


para a vida. Este homem, quem quer que seja, colocou Noah e eu aqui,
pensando em tornar as coisas mais difíceis umas nas outras, mas ele
estava errado. Noah e eu, não vamos deixar isso nos bater. Eu lambo
meu lábio inferior e afasto meus olhos do dele, porque se eu olhar para
eles um segundo mais eu vou fazer algo que eu não deveria. Ver este
lado de Noah me leva de volta ao jeito que ele era comigo quando nos
conhecemos. Deus, ele me protegeu com tanta ferocidade.

***

— Eu vou tomar outra bebida. — Eu sorrio, me inclinando e


beijando os lábios de Noah.

— Ok, querida, não demore muito. Esse vestido, esses sapatos,


você terá todo o bar olhando assim que você sair dos meus braços, — ele
rosna em meu ouvido.

~ 56 ~
Eu tremo e sorrio para ele. Ele é tão bonito. Perfeito em todos os
sentidos. Eu o amo com tanta ferocidade.

— Não demoro.

Eu viro e passo através da multidão, parando no bar. À minha


esquerda estão dois homens, que param de falar no segundo eu me
inclino sobre o balcão de madeira maciça e peço minha bebida. Olho para
eles e ambos estão olhando para mim, sorrindo. Ugh. Quando os homens
se tornaram tão óbvios? O que aconteceu com a conversa com uma garota
antes de verificá-la?

— Não demorarei muito, — diz o barman.

Eu aceno e sorrio.

— Olá.

Eu abafo um rolo de olho e viro para ver o homem mais perto de


mim, sorrindo. Ele não é bonito, mas também não é terrível. Apenas
mediano. Eu não estou inteiramente certo porque, mas parecem pensar
que são o presente do deus às mulheres.

— Sou comprometida — digo, voltando ao balcão.

— Whoa, eu estava apenas dizendo olá.

— Nós dois sabemos que você não estava, — eu murmuro.

— Eu gosto de um desafio.

Eu me viro e olho para ele. — Eu não. Agora vá incomodar outra


pessoa. Sou comprometida.

Ele chega mais perto, tomando um fio de meu cabelo fluindo em


suas mãos e puxando-o o suficiente para fazê-lo picar. — Coisinha
atrevida, não é.

Outra mão entra em cena, curvando-se em torno de seu pulso e


torcendo. Um grito áspero sai de sua boca e ele olha para cima ao mesmo
tempo que eu. Noah está de pé lá, expressão irritada em seu rosto, mão
envolvida tão firmemente em torno do pulso do outro cara que seu rosto
está ficando vermelho rapidamente com dor.

— Por que diabos você está com a mão na minha mulher?

— Eu estava só, ah, ela tinha algo em seu cabelo, cara, — o outro
homem chia.

~ 57 ~
— Engraçado, tenho certeza de que a ouvi lhe dizer para ir embora.
Então por que... — Noah se inclina de perto, torcendo a mão ainda mais
—... você não foi embora?

— Me desculpe, cara. Não era nada.

Noah torce mais e o homem grita, lábio inferior tremendo de dor.

— Eu sugiro que você vá embora. Agora, porra.

Noah o deixa ir e ele tropeça no banco de bar com seu amigo.


Quando eles se vão, ele se vira para mim. Eu levanto, agarrando seu
rosto e esmagando seus lábios contra os meus. Beijo-o profundamente e
beijo-o com força.

— Eu adoro quando você pega todos os homens das cavernas, —


eu murmuro contra sua boca.

Noah me empurra e fica de pé, me tirando da memória. Ele passa


as mãos pelo cabelo, e eu olho desajeitadamente. Ele vira suas costas
para mim por alguns minutos antes de se virar e estender a mão para
minha mão. Eu hesitantemente pego, e ele me puxa para meus pés. —
Nós temos hoje à noite e mais um dia, antes que este maluco lunático
venha atrás de nós. Precisamos de um plano, Lara. Vamos encontrar
um lugar para passar a noite e descobrir o que vamos fazer a seguir.

Eu concordo. Não tenho outras palavras. Minha memória


despertou emoções escondidas dentro de mim, emoções que eu achava
que estava fazendo um bom trabalho de manter oculto.

Eu acho que não.

Ele segura a minha mão e me puxa de volta para a floresta


espessa.

Eu me viro e vejo a cerca desaparecer da minha visão, meu


coração afundando um pouco mais a cada passo.

Eu só não sei se vamos sair daqui vivos.

***

Eu rio histericamente enquanto ele a puxa para o chão.

~ 58 ~
Concedido, eu não quero que ela morra tão rápido, mas a ideia de
que ela poderia ter saltado sobre a cerca e ter fritado, é um pensamento
tão bom, não posso deixar de desejar que tivesse acontecido.

Imagine o olhar em seu rosto se ela tivesse a vida arrancada dela


por uma cerca. Quero dizer, como isso teria sido divertido?

Ele é todo macho, tentando protegê-la, e ela vai e corre em uma


cerca elétrica.

Eu rio de novo.

Deus, ela é tão estúpida. Ela simplesmente não pensa. Vai matá-la,
que eu tenho certeza.

Oh espere, eu tenho certeza porque eu vou ser o único a matá-la.

Acho que posso matá-la primeiro. Estou começando a pensar que


Noah vai fazer um jogo muito interessante quando ela se for.

As decisões. Oh as decisões.

~ 59 ~
Oito
Encontramos uma pequena rocha pendurada e decidimos que
será o melhor que podemos encontrar antes do pôr-do-sol. Enchemos
nossos cocos em um riacho e, em seguida, encontramos um local
confortável no chão, perto um do outro para ficarmos aquecidos. A coxa
grande de Noah é pressionada contra a minha, e é tão quente que quero
me aproximar. Meu coração bate por estar tão perto dele, e meu lado
patético e fraco está me implorando para subir em seu colo e encontrar
o conforto que eu preciso tão desesperadamente. Meu lado teimoso está
se recusando a ceder com facilidade.

Sinto-me culpada por ter esse pensamento. Eu não deveria ser


tão teimosa. Talvez, só talvez, é o que me levou a essa confusão em
primeiro lugar.

Eu estou começando a ver que eu tenho posso estar errada sobre


tudo isso errado. Eu tenho fechado Noah fora porque eu não podia
suportar ouvir que ele não me quer mais, que eu não era boa o
suficiente para ele. Foi meu castigo por ter vovó morta. Mas agora,
estando ao seu redor, vendo-o nas últimas semanas, percebi o quanto
senti falta dele e estou pronta para ouvir sua história.

Mas as pessoas não são leitores da mente. Eles não sabem


quando você está desejando ser tocada, ou te puxar em seus braços, ou
beijá-lo. Noah sempre foi um homem aberto, sempre afetuoso.

E amanhã provavelmente poderia ser meu último dia nesta terra.


O que eu consegui?

Meu coração quebra.

— Noah? — Eu chamo, com a voz baixa e fraca.

— Sim?

— Naquele dia eu entrei, e aquela mulher estava em seu colo. O


que aconteceu?

Ele fica em silêncio por tanto tempo, eu me pergunto se ele


adormeceu ou não me ouviu.

— Você escolheu perguntar agora? — Ele murmura.

~ 60 ~
Eu exalo uma respiração trêmula. — Podemos morrer, essa é a
dura e fria verdade dessa situação. Eu nunca te dei uma chance de
explicar e isso não foi justo, eu sei disso agora. Acho que preciso ouvir.

Ele faz um som no fundo de sua garganta, mas começa a falar. —


Seu nome era Amy e ela costumava entrar e ajudar com a papelada na
estação de bombeiros, como você sabe. Ela tinha uma queda por mim,
eu sabia disso, mas eu não acho que ela faria nada. Naquele dia, ela
entrou e estava entregando seu habitual relatório semanal e ela apenas
se aproximou e se jogou no meu colo. Ela me beijou e para ser honesto,
eu fiquei chocado. Eu não tinha ideia do que fazer.

— E eu entrei, — eu sussurro.

— Você entrou. Foi um daqueles momentos que você vê em um


filme, ou leu sobre. Você escolheu aquele momento exato para entrar e
vê-la no meu colo me beijando. Eu não estava correspondendo, Lara.
Eu poderia ser um monte de coisas, mas eu nunca, nunca, enganei
você.

Uma lágrima escorre pelo meu rosto.

Estraguei tudo.

Eu perdi o amor da minha vida, por causa da minha própria


insegurança.

— Sinto muito, Noah, — eu consigo dizer. — Isso nunca será


suficiente, eu sei disso. Eu estava tão puta. Tão certa que eu não te
mereço depois do que aconteceu com a vovó. Eu estava em um lugar
ruim. Você me viu no meu pior. Você me viu sendo rasgada e esvaziada,
e recheada de volta com o pior. Quando eu vi aquela mulher em seu
colo, eu senti que era minha punição, como se eu merecesse isso, como
se você merecesse isso. Eu só não achava que eu era o suficiente para
você. Essa é a maldita verdade. Então eu corri, sem pensar, sem
esperar. Eu apenas corri. Foi mais fácil.

— Porra, — ele murmura. — Porra, Lara. Você acha que eu teria


passado por tudo isso com você depois de sua avó se eu não achasse
que você era tudo que eu precisava? Eu te amei. Eu merecia uma
chance de explicar.

Ele foi tão incrível depois que Nan morreu. Como eu poderia
esquecer o quão maravilhoso ele foi? Se não fosse por ele, eu não acho
que eu teria chegado onde cheguei.

~ 61 ~
Estou sentada perto da janela, olhando para fora, as lágrimas
escorrendo pelo meu rosto. Eu choro mais do que tudo nos dias de hoje,
mas cada vez que penso em vovó, não consigo parar o fluxo de emoção
que corre pelo meu rosto. Uma mão forte se enrola ao meu ombro e me
viro, olhando para cima para ver Noah olhando para mim, sua expressão
suave.

— Eu odeio te ver chorar, querida.

Ele se senta, me puxando para o seu colo. Encobri-me nele, o único


conforto que me resta. Eu não mereço alguém tão bom quanto ele. Eu não
mereço ninguém.

— Dói tanto, — eu soluço. — Eu não posso fazer isto ir embora.

— Você tem que esquecer, Lara. Você não fez nada de errado.

— Eu a matei!

— Não, um monte de adolescentes com drogas.

— Se não fosse pela minha boca esperta, nunca teríamos chegado


a essa confusão. Você sabe disso. Nada que você possa dizer mudará
isso.

— Agora, eu sei que é o que você acredita, então eu não vou dizer
nada para tentar mudá-lo. Em vez disso, vou te dizer que te amo,
acredito em você e acho que você é uma boa pessoa. Um erro não define
você, linda garota.

— Eu não sou bonita, Noah. Eu sou um monstro.

Ele me abraça. — Você nunca será nada além de bonita para mim.
Eu não vou desistir de você, Lara. Eu vou fazer você passar por isso. Eu
juro.

— Eu sei, — eu sussurro, lutando contra a emoção da memória.


— Eu sei que você fez.

Não é suficiente, nunca será o suficiente, mas é a única coisa que


posso pensar.

— Aquele homem com quem você estava, — ele diz, mudando de


assunto. — Na noite em que nos levamos... isso me matou.

— Que homem? — Eu pergunto, baralhando minhas memórias


para tentar descobrir o que ele está falando. É tudo um borrão. Lembro-

~ 62 ~
me de encontrar um homem no bar, mas é tudo nebuloso e eu não me
lembro o que nós ainda falamos.

— O que você estava beijando.

Eu pisco. — Como?

— Você não se lembra?

Eu balanço a cabeça. — Eu me lembro de ter encontrado um


homem enquanto eu estava esperando por Rachel e tomado um drinque
com ele, mas eu ainda não me lembro de nada depois disso. Eu
honestamente não me lembro.

Ele amaldiçoa sob sua respiração. — Eu pensei que algo estava


errado com você. Porra, você deve ter sido drogada mesmo antes de sair
com o psicopata.

— O quê? — Eu guincho, voz aumentando.

— Na noite em que fomos levados, você estava com um cara


alegando ser seu homem. Você estava brincando, e foda-se, eu acreditei
e doeu.

Eu não consigo lembrar nada sobre isso, e bolhas de frustração


borbulham no meu peito.

— Eu não... me lembro.

— Não importa.

Eu fico quieta, ainda cavando através de minhas memórias para


tentar descobrir o que diabos aconteceu. Está em branco.

— É por isso que você está tão bravo comigo.

Não é uma pergunta, mas uma afirmação.

— Não só isso. Você desapareceu. Levou meses para te encontrar.


Quando eu finalmente te encontrei, você quase me fez ser preso. Você
me machucou, Lara.

Eu fecho meus olhos, mesmo que ele não possa vê-lo. — Você
também me machucou.

Ele grunhiu.

~ 63 ~
— Se tivéssemos tido essa conversa mais cedo, talvez não
estivéssemos aqui, — digo, com total compreensão de que minha
teimosia e insegurança possivelmente nos colocam nesta situação.

— Não, — ele avisa. — Como eu disse antes, se não fossemos nós,


seria outra pessoa. Estávamos no lugar errado na hora errada, e isso
não vai mudar. Não vale a pena pensar no passado.

— Eu realmente sinto muito por não ter lhe dado a chance de


explicar.

— Você me quebrou. Você saiu da nossa casa e apenas se


afastou, fechou e se recusou a falar comigo. Nem sequer foi uma
ruptura real. Isso mexeu com a minha cabeça. Eu precisava falar com
você, e eu não podia. Então eu fui para o treino de formação e quando
voltei e tive que procurar um novo lugar pra morar, eu disse a mim
mesmo que eu tinha que aceitar que estávamos separados. Mas eu
simplesmente não podia seguir em frente. Eu precisava tentar pelo
menos mais uma vez.

Meu coração se contorce.

— Estraguei tudo. Parece que sou boa nisso.

Ele se aproxima e me surpreende pegando minha mão. — Não


seria humano se você não estragasse tudo. Talvez esta seja a sua
chance de parar de se culpar por merdas que outras pessoas fazem, e
por não ser capaz de mudar o passado. Porque acho isso, Lara?
Ninguém pode. Todo mundo tem arrependimentos, mas você não pode
deixá-los destruí-la. Você só tem que aprender com eles e fazer melhor
da próxima vez.

Realmente isso nos levou a ser sequestrados para finalmente


resolver os nossos problemas?

Eu tremo.

— Você está frio? — Ele pergunta.

— Não, — eu digo, minha voz baixa. — Eu estou aterrorizado.

Ele se aproxima e me ergue sem esforço no colo, me


aconchegando, me colocando contra ele, onde eu me encaixo tão
perfeitamente. Seus braços grandes me rodeiam e pressiono minha
bochecha contra seu peito. Eu amo este homem. Eu o amei desde o
primeiro momento em que o conheci. Encantador, lindo, um pouco

~ 64 ~
assustador. Ele era o meu oposto completo, mas trabalhamos de uma
maneira que não fazia sentido para ninguém além de nós.

— Você se lembra quando nos conhecemos? — Eu sussurro


contra sua camisa.

Seu coração bate em minha bochecha. Eu amo essa sensação.

— Sim, — ele ri, baixo. — Porra, essa foi a melhor noite da minha
vida.

Eu fecho meus olhos em um sorriso, e me lembro do momento em


que eu coloquei os olhos nele.

— Não olhe agora, — Rachel chora. — Mas há um homem


superquente olhando fixamente em sua direção.

Eu coro. — O que?

— Sim, ele está dando a você um olhar como se ele quisesse foder
você aqui, agora mesmo.

Minhas bochechas ficam rosadas e me viro, olhando para o homem


sentado no bar, os olhos em mim. Já tive homens olhando para mim, mas
nunca assim. Seu olhar está ardendo e ele está me olhando como se
estivesse prestes a vir e me jogar por cima do ombro. Ele não hesita
enquanto ele arrasta seu olhar para o meu corpo. Abertamente. Sem
vergonha.

Volto para Rachel. — Por que ele está me olhando como se eu fosse
um pedaço de carne? Que grosso!

Ela ri. — Não é grosseria, ele te acha quente.

— Ele nem me conhece, — eu bufo. — Vou pedir-lhe para parar.

— Oh, ótimo, faz isso, deixe-me pegar um drinque e assistir este


jogar.

Eu respiro fundo e me aproximo do homem ainda olhando para


mim. Sua boca se contorce quando eu me aproximo e isso só me deixa
mais irritada. Como ele se atreve a sentar lá e me aborrecer abertamente.
Sério. Eu não sou um pedaço de bunda. Eu poderia ser casada, pelo
amor de Deus. À medida que me aproximo, percebo que ele é, de fato,
extremamente bonito. Ele também é grande, realmente grande.

~ 65 ~
Musculoso e definido. Minha garganta fica apertada quando eu paro na
frente dele.

— Com licença, eu apreciaria se você parasse de olhar para mim.


Está deixando eu e minha amiga, incomodadas.

Seu capricho labial se transforma em um sorriso. — E?

— Sim, é verdade. É rude olhar fixamente para mulheres como se


você quisesse as levar embora e comê-las vivas.

Um sorriso cheio agora. — Comê-las vivos? É isso que você quer


que eu faça com você?

Eu me recomponho. — Não é. Não. Eu não... Eu não...

Um flash de dentes brancos. — Eu faço você ficar nervosa,


pequena?

— Não você não nnn-não, — eu gaguejo. Deus, ninguém me deixa


nervosa e esse homem está me fazendo balbuciar? O que aconteceu
comigo?

Ele ri. — Bonitinha, não acha, querida?

Eu coro. — Apenas pare... pare de olhar para mim.

— Estou gostando da vista. É um país livre.

— É rude, — eu digo, minha voz tremendo.

Ele se inclina de perto. — Admita, — ele diz, sua respiração


fazendo cócegas no meu ouvido. — Você está gostando muito.

— Tanto quanto eu gostaria de ser furada no olho com um garfo.

Ele ri, profundo e sexy. Droga. Maldito seja ele.

— Já terminamos aqui — digo, recuando. — Caia fora e aprenda


algumas maneiras.

— Ou o que?

— Ou, eu vou... me estressar.

Há aquele sorriso novamente.

— Seja o que for, — murmuro, virando-me e tentando sair correndo,


mas tropecei e tropecei no bar, segurando no balcão para me estabilizar.

~ 66 ~
O homem se levanta e caminha, inclinando-se para baixo e
ajudando-me a ficar de pé, um sorriso em seu rosto presunçoso. — Vou
levá-la para um encontro, — ele diz, colocando seu número na palma da
mão. — Ligue para mim, ou eu vou encontrar você.

Abro a boca para discutir, mas sua grande mão é tão quente contra
o meu braço que não consigo me concentrar. Quando estou com
segurança em meus pés, ele se inclina e escova os lábios contra a minha
bochecha antes de sussurrar, — Certifique-se de me ligar. Eu sou muito
bom em rastrear o que eu quero.

Oh, cara.

— Você estava tão nervosa, era adorável, — ele diz, tirando-me da


memória. — Quando você me disse para parar porque você ficaria
estressada, eu sabia que tinha que ter você. Eu poderia dizer que você
normalmente tinha toda a confiança. Eu sabia que tinha chegado a você
quando você balbuciou.

Minhas bochechas ruborizam.

— Deus, eu me envergonhei tanto naquela noite.

— Coisa mais linda que já vi. Essa mulher linda tentando dizer a
um cara grande como eu para parar de olhar para ela. Você estava se
esforçando tanto para parecer séria.

— Eu estava falando sério, — protesto.

— Você adorou cada segundo.

Eu bufo. — Eu não gostei de ser observada assim. As mulheres


não gostam disso.

Ele põe a mão no meu joelho e aperta suavemente. — Não, você


adorou, mas não quis admitir isso, e foi exatamente por isso que eu
sabia que ia persegui-la. Você era tão diferente de todas as outras
mulheres que eu conheci, todas que se atiraram em mim. Você tinha
confiança e um espírito independente. Você foi até lá e me deu um
sermão da maneira mais fofa. Eu estava preso.

— Eu não sou bonita.

Ele me aperta. — Você pode achar que não, mas você sempre vai
ser bonita, baby.

~ 67 ~
Baby.

Eu tremo.

— Imagine o que ele está pensando agora, — eu sussurro no


ouvido de Noah. — Vendo-nos assim?

Noah se vira e pressiona sua boca para o meu ouvido. — Eu acho


que ele está se cagando, porque ele está apostando em nós trabalhando
um contra o outro.

— Vamos mostrar a ele.

— Sim, Lara, vamos mostrar a ele.

Espero que ele esteja certo.

***

Não.

O que está acontecendo? O que diabos está acontecendo?

Eles não podem se reconciliar.

Eles não são feitos para trabalhar um com o outro. Ele deve odiá-
la. Ela deve se acovardar.

Frustração e desespero batalham no meu peito. Este é o meu jogo,


maldito. Meu maldito jogo. Eles não escolhem como vai acontecer.

Ela se inclina e diz algo para ele. Por que não posso ouvi-la? O que
ela está dizendo? Por que ele está sorrindo?

Eu saio da minha cadeira e pego minhas chaves. Eu vou descobrir.


Eu sei que eles têm mais algumas horas, mas ninguém vai estragar este
plano.

Trabalhei minha vida inteira por isso. Se aqueles fodido pensam


que podem tentar me passar pra trás, estão errados.

Muito errados.

~ 68 ~
Nove
Gostaria de poder dizer que é o frio que me acorda, ou mesmo o
sol brilhando através das árvores, mas não é nenhum desses. Está
escuro, tão escuro que não consigo ver muito, mas posso ouvir muito
bem. É o farfalhar que me excita. Eu rapidamente percebo que não é
Noah, porque eu ainda estou ao seu lado e eu posso ouvir sua
respiração suave ao meu lado.

Mais alguém está aqui.

Meu corpo está congelado. Eu não posso me mover. Eu nem


quero. Os passos se aproximam, perto o suficiente para fazer minha
respiração se apoderar de meus pulmões, recusando-se a escapar. Eu
tenho que agir como se estivesse dormindo. Eu tenho que fingir. Noah
começa a roncar suavemente. Ele não tem ideia de que alguém está
bem perto de nós. É isso? Ele vai nos matar? Não, ainda não foram
setenta e duas horas. Não. Ele quer o jogo.

Então por que ele está aqui?

Eu mantenho meus olhos fechados e tento parecer adormecida


mesmo que meu corpo inteiro esteja gritando de medo. Não trema. Fique
parada. Tente respirar. Alguns segundos passam. Parece minutos, mas
eventualmente os passos se afastam. Abro os olhos apenas o suficiente
para ver uma luz suave perto da árvore à minha esquerda. Eu posso vê-
lo sem me mover do peito de Noah.

Eu posso ver a silhueta de um homem. Ele é alto, não


excessivamente grande. Não consigo ver sua cor de cabelo, nem mesmo
suas feições, mas ele não parece ameaçador daqui. Suponho que
qualquer um pode ser uma ameaça com uma arma, mas sozinho,
muitas pessoas não são realmente aterrorizantes. Um pensamento
assustador. Eu pisco algumas vezes, mantendo minha respiração
uniforme, e observo enquanto o homem alcança uma árvore.

Que diabos ele está fazendo?

Ele brinca por alguns minutos e depois sai com algo na mão.
Maldição, eu não consigo ver o que ele tem. Eu aperto os olhos. Nada.
Ele faz algo mais, em seguida, retorna o item para a árvore, alto o
suficiente para que não possa ser visto a nível normal dos olhos. Que

~ 69 ~
diabos alguém colocaria em uma árvore? O que ele poderia estar
verificando?

Então eu me toco.

Uma câmera.

Meu corpo se enrijece e eu sou forçada a tomar algumas


respirações gaguejantes para relaxar novamente. Faz sentido: Ele tem
câmeras nas árvores. Ele precisa ser capaz de nos ver onde quer que
estejamos e por isso ele criou uma situação em que fomos forçados a
permanecer no seu caminho, porque entrar na mata fechada, seria
simplesmente muito difícil. Seria preciso horas para se deslocar mesmo
poucos quilômetros, mais seria impossível ver cobras e outras criaturas
venenosas. Então, estamos seguindo sua rota predeterminada todo esse
tempo. Jogando em suas mãos. Deus, quanto tempo teria levado para
montar câmeras nas árvores?

Eu assisto por mais alguns segundos enquanto ele olha para nós.
Fechei os olhos, rezando para não me ver com eles abertos. A lanterna
passa por nossas cabeças. Eu não me movo. Nem sequer respiro. Um
segundo depois ele se foi, e eu posso ouvir passos se afastando.

Eu fico assim por mais de uma hora, precisando ter certeza de


que ele se foi antes de girar meu corpo suavemente como se estivesse
apenas se movendo em meu sono. Eu movo minha boca para a orelha
de Noah e sussurro, — Noah, acorde.

Ele não se move.

— Noah, — eu sussurro novamente.

Ele se vira e geme, então sua voz sai rouca. — Lara?

— Não fale alto, — eu sussurro freneticamente. — Finja que estou


dormindo.

— Lara, você está acordada? — Ele diz.

Eu não me movo.

Ele se desloca para a posição, então estamos cara a cara.


Nenhum de nós se move.

— O que está acontecendo? — Ele sussurra.

— Ele esteve aqui.

Seu corpo inteiro se endurece. — O que?

~ 70 ~
— Eu acordei, e ele estava aqui. Eu não me movi. Ele não sabia
que eu estava acordada, mas eu o vi fazendo algo com uma árvore.
Noah, acho que ele tem câmeras nelas.

Noah resmunga sob sua respiração. — Porra, claro que sim.


Tenho tentado descobrir como ele nos encontraria depois das setenta e
duas horas. Eu achei mesmo que ele estava nos assistindo à distância.
Configurar uma enorme rede de câmeras pare bem provável.

— Levou um tempo para tirar a câmera. Ele brincou com ela, em


seguida, a colocou de volta.

— Se ele está nos observando a partir dessas câmeras, então


precisamos estar fora do alcance, — sussurra Noah, me apertando mais
perto.

— Então saímos do caminho dele?

Noah sacode a cabeça. — Não. Nós nunca chegaremos longe; É


tão coberto, nós mal conseguiremos nos mover, muito menos correr. Ele
não é estúpido. Ele limpa apenas as áreas que quer que usemos, porque
ele sabe que não vamos chegar muito longe no interior.

— E agora?

— Eu não sei ainda, — ele sussurra, frustrado.

— Caminhamos por quilômetros. Quantas câmeras ele poderia ter


colocado?

— Nós também rastejamos no chão por causa daquelas cercas.


Ele deve ter nos bloqueado em uma determinada área. Ele está
planejando isso há tanto tempo, ele provavelmente tem câmeras em
todos os lugares.

— São muitas câmeras.

— Não subestime a mente de um assassino, Lara.

— Então, o que fazemos?

— Não podemos entrar na floresta, então isso deixa apenas uma


escolha, — ele sussurra, pressionando sua boca em meu ouvido. — Nós
vamos andar mais alto que elas.

Superior a elas.

Nós escalamos as árvores.

~ 71 ~
Poderia realmente ser assim tão simples?

~ 72 ~
Dez
A manhã vem como um pesadelo.

Nosso último dia antes que ele venha atrás de nós. Nós dois
sabemos disso.

Mesmo depois dos acontecimentos da noite passada, estamos


ambos muito conscientes de que até amanhã estaremos correndo como
animais caçados. Não consigo comer. Nem consigo beber. O medo se
alojou em meu corpo e eu não posso me livrar disso. Lá se vai a náusea,
o choro, a conversa aterrorizada. Eu estou apenas silenciosa, as pernas
dobradas ao meu peito, de volta para a árvore, incapaz de fazer meu
corpo funcionar.

Eu não quero morrer.

Eu não quero ser caçada.

Meu peito se aperta e minha pele se arrepia só de pensar.

— Ei, — Noah diz, agachado na minha frente, estudando meu


rosto.

Ele parece assustado, também, mas ele está se segurando. Ele é


mais forte do que eu.

— Lara, olhe para mim.

Eu encontro seus olhos.

— Nós vamos sair disso.

— Eu vou? — Eu sussurro, e até mesmo que é instável.

— Sim, nós vamos, mas você precisa ficar comigo. Você não pode
se fechar agora, você não pode se fechar em si mesma. Eu preciso de
você, e você tem que ser forte. Você pode fazer isso por mim?

Eu concordo.

Ele olha para algo em cima da minha cabeça, então se inclina e


sussurra, — Você estava certa, ele tem um inferno de uma instalação

~ 73 ~
nessas árvores. Nós vamos escalá-las, e ele vai nos ver fazendo isso,
mas pelo menos podemos ter uma chance de tirá-lo do nosso rastro.

— Quando vamos fazer isso? — Sussurro de volta.

— Esta tarde. Mas primeiro, vamos fazer armas. Preciso de sua


ajuda com isso, então você tem que se levantar e ficar no estado de
espírito certo para mim, ok?

— Eu não acho que eu posso, — eu lamento.

— Lara, — ele rosna, sua voz firme. — Eu vou ser duro se eu tiver
que ser, se isso fizer você mover seu traseiro. Você precisa parar com
essa merda, está me ouvindo?

Eu começo a chorar. Ele tem razão. Eu sei que ele tem, mas é
difícil encontrar a força que ele precisa de mim. Eu não tenho sido essa
garota em um tempo. E essa situação está além de todo horror que eu
já imaginei. Eu me sinto desmoronando.

— Para cima, — ele ordena, de pé. — Levante-se.

Você vai fazer isso valer a pena? — Noah, — eu soluço.

— Levante-se, — ele diz firme.

Eu levanto.

De alguma forma eu empurro para meus pés e ando em direção a


ele. Ele toma meus ombros, me sacudindo suavemente. — Você tem que
encontrar sua força. Eu sei que está aí dentro. Encontre-a. Você tem
que encontrá-la ou você vai morrer antes de amanhã.

Eu faço um som aterrorizado na minha garganta.

— Encontre-a, Lara.

Encontre-a.

Encontre-a.

Eu tenho que encontrá-la.

— Eu vou encontrá-la, — eu digo, encontrando seus olhos. — Por


você, por mim. Vou encontrá-la, Noah.

Ele segura minha mandíbula e, em seguida, sem aviso, ele traz os


lábios sobre o meu. Me pega de surpresa e por alguns segundos eu fico
parada ali, as pernas tremendo, o corpo incapaz de se mover. Então eu

~ 74 ~
o beijo de volta. Eu dou tudo o que tenho. Sua força se derrama em
mim, me elevando, levando-me ao nível que eu preciso para passar por
isso. Nossas línguas chocam, nossos corpos pressionam juntos, e
nossos lábios se movem como se nunca tivéssemos passado um único
dia separados.

Com um gemido, ele me puxa para mais perto, a mão na minha


parte inferior das costas. Nossos corpos se encaixam, grandes e
pequenos, fortes e frágeis. Ele me levanta o suficiente para que meus
pés balancem fora do chão. Envolvo meus braços ao redor de seu
pescoço e dou-lhe tudo o que tenho para dar, porque a realidade é que
eu poderia saber o que é nunca mais beijar Noah novamente.

Ele puxa para trás depois de alguns segundos e olha para mim,
passando o polegar pelo meu lábio inferior inchado. — Nós temos isso.

— Nós temos isso, — eu repito.

Então ele vira a cabeça para as câmeras nas árvores. — Você vai
cair e queimar, filho da puta. Você pode ter certeza disso.

Espero que quem esteja por trás dessas câmeras está se


contorcendo agora sabendo que Noah e eu estamos nisso juntos.

Noah me solta e quando meus pés tocam o chão, eu me sinto


mais forte, como talvez com esse homem ao meu lado eu pudesse
superar isso.

— O que eu preciso fazer? — Eu pergunto.

— Vá e encontre os ramos mais grossos que você puder, as


pedras mais afiadas, qualquer coisa que você acha que pode ser usada
como uma arma. Vamos carregá-lo com a gente, então não pode ser
muito grande.

Eu aceno e viro, desaparecendo pelo caminho acidentado. Eu me


arrisco por um momento ou dois e percebo muito rapidamente que
Noah está certo. O caminho é áspero, mas para os lados é uma
bagunça. Não há como atravessar as espessas árvores cobertas por
densas camadas de vinhas. Há espaços entre as árvores em alguns
lugares, e nós poderíamos ser capazes de usar esses lugares para nos
esconder, mas não estaríamos a uma distância segura do caminho.

Eu empurro ramos para fora do caminho, procurando objetos


pontiagudos. Eu consigo chegar a alguns galhos grossos que se
quebraram e algumas pedras de aparência letal. Eu carrego o máximo
que posso para o pequeno acampamento que montamos. Noah está

~ 75 ~
sentado em um tronco caído, usando uma rocha para esculpir uma
vara. Ele fez uma extremidade afiada que parece que facilmente
deslizaria através de alguém. Pego outro pedaço de madeira e uma
pedra, então me sento ao lado dele e começo a fazer o mesmo.

À tarde, temos três lanças, duas facas e cinco rochas afiadas que
nem eu gostaria de mexer com elas. Meus dedos estão esfolados de
esculpir e eu tenho calos, mas eu me sinto um pouco mais segura
agora. Essas armas podem não fazer muito contra um assassino, mas
nos deixam com muito mais do que nada.

— Nós vamos lavar nossas roupas hoje, encher mais cocos e


colocá-los nas árvores, em seguida, comer o máximo que pudermos e
beber o máximo que pudermos antes de escalar as árvores. Eu não sei
como vai ser amanhã, mas eu sei que nós podemos não ter muita
chance de parar para tomar água. Precisamos estar preparados.

Eu aceno, torcendo o estômago com aquele medo bem conhecido


novamente.

— Vamos encontrar o riacho.

Eu levanto e nós carregamos nossas armas através da floresta até


córrego. Noah coloca-os para baixo por e eu faço o mesmo, então eu me
viro e assisto como ele pega sua camisa e a puxa, deixando seu torso nu
a mostra. Meu coração martela no peito, e eu me pergunto por um
pequeno momento como o inferno eu posso estar olhando para ele e
sentir atração quando estamos nesta situação. Acho que saber que você
poderia morrer faz com que suas prioridades sejam claras.

Meus olhos se movem para baixo do corpo duro de Noah


enquanto ele arranca as calças. Meu coração fica na minha garganta
enquanto sua boxer vão em seguida. Eu não consigo respirar. Ele é tão
bonito. Tão perfeito. Tudo que eu sempre quis. Forte e perigoso, mas tão
gentil quando ele precisa ser. Seu corpo poderoso é liso e musculoso, e
eu não posso afastar meus olhos enquanto eu me movo no córrego.
Nenhuma vergonha. Nada a temer. Ele é tão forte e tão incrível. Por que
eu desperdicei tanto tempo? Por que eu o deixei?

Eu me movo para o fluxo da água, tentando acalmar meu


coração. Eu fico de costas para ele e tiro minha camisa, deixando meu
sutiã. Eu deslizo fora de minha calça jeans em seguida, deixando minha
calcinha. Então eu inclino-me para baixo e lavo como posso a roupa no
córrego, esfregando sobre as rochas lisas para limpá-las. Eu não
percebo Noah chegando atrás de mim até que um dedo se move para
baixo minha espinha.

~ 76 ~
Eu tremo.

— Eu esqueci o quanto você é linda.

Eu engulo e fecho meus olhos, minhas mãos ainda na água.

— Porra, Lara. Você é perfeita.

Eu me levanto e me viro para ele, de frente para um peito muito


molhado, muito nu. — Noah, — eu sussurro.

— Eu nunca daria aquele filho da puta a satisfação de me ver


fodendo você, mas agora que é exatamente o que eu queria estar
fazendo. Foder você.

Eu tremo e encontro seus olhos. — Noah…

— Você se lembra de como isso é bom?

Eu fecho meus olhos. Deus. Sim. Eu lembro.

Nunca esquecerei.

Os lábios de Noah descem pelo meu estômago, me beijando e


mergulhando perto da minha pélvis antes de ir mais para baixo, sua
boca, tão quente, deslizando para baixo perto do meu sexo. Eu me
contorço e suas mãos grandes se fecham em torno de minhas coxas,
espalhando-as à medida que sua boca se move, encontrando meu clitóris
sensível. Eu suspiro quando sua boca se fecha sobre ele, sugando fundo,
longo e forte. Eu arqueio, meus quadris batendo para cima, empurrando-
me mais perto de sua boca. Eu quero mais. Deus. Quero muito mais.

— Noah, — eu suspiro. — Por favor.

Ele mexe no clitóris com a língua, me deixando louca. Eu aperto os


lençóis, os dedos dos pés ondulando, pernas tremendo. Eu preciso dele
para me foder, eu preciso dele para continuar fazendo isso, eu gostaria
que ele pudesse fazer tudo de uma vez. Deus, eu gostaria de poder ter
cada coisa que ele está oferecendo junto. Minha pele se arrepia enquanto
sua língua me devora. Ele desliza um dedo para baixo, deslizando-o
entre minhas pernas e empurrando dentro de mim. Eu suspiro e grito seu
nome, o prazer dispara através de minhas terminações nervosas. —
Noah, — eu grito, me contorcendo, precisando de mais, precisando de
menos, precisando gozar.

Eu preciso gozar.

~ 77 ~
Ele me fode com os dedos, me chupa com a boca, e meu desejo é
concedido. Eu explodi, gritando seu nome, arqueando minhas costas.
Meus lábios se separam, minha cabeça cai para trás, e eu estremeço até
que cada último movimento de prazer tenha sido liberado de meu corpo.
Noah já subiu em meu corpo, sua grande estrutura se elevou sobre a
minha. Ele pega minhas pernas e as posiciona sobre seus ombros. Minha
posição favorita.

— Noah, foda-me, — eu ofego. — Por favor.

— Estou prestes a fazer isso, baby.

Ele segura seu pênis, posicionando-o na minha entrada, então ele


empurra. Ele me enche em um movimento, me alongando, me enchendo.
Eu gemo, uma mistura de prazer e dor. Ele me fode lentamente no início,
deslizando dentro e fora. Eu olho para ele através dos meus cílios,
amando como ele fica movendo-se sobre mim, amando como seus
músculos flexionam e se estendem, amando cada coisa sobre ele. Sua
mandíbula é apertada enquanto ele se retira, mas eu não quero que ele
se segure.

— Me foda como você quiser.

— Droga, — ele rosna.

Então ele fode-me como ele quer, empurrando seu pênis em mim,
batendo tão forte que a cama range. Minhas pernas esticam sobre seus
ombros, meus dedos agarram os lençóis, e eu estou voltando antes que
eu o saiba. Ele continua dentro e fora de mim, seu poderoso corpo
dirigindo seus impulsos; Nossos olhos se encontram e eu gemia com quão
intenso ele parece agora, olhando para mim como se eu fosse a única
coisa que ele sempre quisesse. Eu acho que sou. Espero que eu seja.

— Prepare-se porque eu vou gozar Baby, — ele rosna.

— Sim, — eu suspiro. — Sim.

Seu corpo inteiro fica tenso e então ele goza, a boca ligeiramente
aberta, os olhos sombrios, o corpo tenso.

Tão lindo, lindo.

— Eu me lembro, — eu sussurro, as bochechas queimando


enquanto eu deixava a lembrança escapar de minha mente. — Eu
nunca poderia esquecer.

Noah olha para mim, tão intenso. Eu engulo.

~ 78 ~
Ele pisa para frente e toma o meu queixo, inclinando minha
cabeça para trás apenas o suficiente para que ele possa capturar meus
lábios com os seus de novo. Eu nem sequer finjo que não posso sentir
sua ereção contra a minha barriga, quente e duro. Eu me lembro
exatamente como é, exatamente como ele sabe como usá-lo. Eu o beijo
suavemente, mas profundamente, tomando tanto dele quanto eu posso.

Ele puxa para trás com um gemido de dor, pressionando uma


mão contra sua ereção. — Eu preciso me refrescar ou não vou
conseguir parar.

Ele se vira e sai, e meus olhos caem em sua bunda perfeita


enquanto ronda o canto e se dirige atrás das árvores. Deus. Eu queria
que ele não fosse tão lindo. Com um olhar mais prolongado para onde
ele estava parado, volto para o córrego e termino de me lavar. Eu uso a
água para limpar meu corpo, para acalmar minhas mãos doloridas e
dedos, então eu encontro um lugar ensolarado para colocar minhas
roupas para secar.

Sento-me ao lado do riacho em minha roupa intima depois disso e


bebo tanta água quanto meu estômago pode segurar. Eu estudo meus
arredores. Se não estávamos na situação em que estamos, este poderia
ser um dos lugares mais bonitos que eu já estive. As árvores, o som dos
pássaros acima, o verde intenso da floresta, os córregos — tudo nesse
lugar é absolutamente de tirar o fôlego.

— Como você fez? — Noah pergunta, aparecendo novamente com


sua boxer de volta.

— Eu lavei o melhor que pude. Você?

— Sim, o mesmo, — ele diz, encontrando meus olhos por um


momento fugaz antes de pendurar suas roupas ao lado da minha.

Ele se senta ao meu lado e nós dois ficamos em silêncio.

— O que você está pensando? — Eu pergunto a ele.

— Eu estou pensando sobre como amanhã vai ser. O não saber


me mata.

— Sim, eu também.

— Eu não sei o que este fodido planejou, eu não sei a extensão


dele. Ele vai vir à meia-noite, de manhã, à noite? Ele tem outras
armadilhas na manga? O que ele plantou nesta floresta? É tudo
desconhecido e aterroriza-me.

~ 79 ~
Essa é a primeira vez que eu ouço o medo real em sua voz.

Eu estendo a mão e pego sua mão, apertando-a. — Não lhe dê o


que ele quer, Noah. Não lhe dê seu medo.

Ele não diz nada, mas aperta minha mão para me dizer que me
ouviu.

Agora eu tenho que seguir meu próprio conselho.

***

O fim da tarde cai e encontro força renovada quando recolhemos


nossas armas e água, pegamos nossas roupas secas e buscamos uma
árvore que seja fácil de escalar. Eu tenho que acreditar que nós vamos
passar por isso. Eu tenho que ser forte. Estou nisso, não importa o que
eu faça; Ser fraca só vai piorar as coisas. Pelo amor de Noah, e pelo
meu, eu tenho que cavar fundo e encontrar algo que eu lutei tanto para
enterrar.

Bravura. Força. Determinação.

Eu tenho que ser destemida.

Noah encontra uma árvore com alguns ramos baixos e decide que
vamos usá-lo para escalar. Uma vez que estamos acima, nós vamos nos
mover através das copas das árvore tanto quanto nós podemos ir; Então
vamos tentar descansar um pouco e esperar. Esperar que nossas vidas
sejam tomadas nas mãos de um homem que é capaz de qualquer coisa.
Temos que confiar um no outro. Ore para que saibamos. Ore por um
milagre.

— Você sobe primeiro. Tenha calma, sinta os ramos.

Eu olho para a árvore alta. Tenho pavor das alturas, mas estou
ainda mais aterrorizada de ficar no chão. Pego o primeiro ramo e uso-o
para puxar-me para cima. Isso não foi tão difícil. Eu continuo, ouvindo
Noah abaixo de mim. Ele diz: — Não olhe para baixo. — Eu não estava
planejando fazer isso. Ramo por ramo, nos movemos cada vez mais para
dentro da árvore. Eu não sei o quão alto as câmeras estão, mas eu acho
que não alto o suficiente já que ele a alcançou facilmente.

— Isso deve ser suficiente, — Noah me alerta quando chego a três


quartos do caminho até a árvore.

~ 80 ~
Então eu cometi o erro de olhar para baixo.

É muito mais alto do que parecia. Não consigo ver o solo, apenas
as árvores menores abaixo e seu topo. Minha respiração fica presa em
meus pulmões e todo o sangue escorre de meu rosto. — Olhe para cima,
Lara — exige Noah.

Eu não posso me mover.

Oh Deus. Eu não posso me mover.

— Lara!

Minhas pernas começam a tremer, minhas mãos tremem, e eu


não acho que posso aguentar mais. — Noah, — eu grito freneticamente.
— Noah!

— Espere, — ele diz, escalando mais rápido para me alcançar. —


Não largue esse ramo.

Eu não posso esperar. Minhas mãos estão perdendo o controle.

— Noah! — Eu grito.

Ele me alcança e se envolve em torno de mim, colocando seus


braços em cada lado meu, se pendurando no ramo. — Eu tenho você.
Eu não vou deixar você cair.

Eu estou tremendo toda, minhas pernas ainda ameaçando


desmoronar debaixo de mim.

— Você está bem, — ele diz, sua voz trêmula, também. — Você
está bem.

— Eu acho que não posso fazer isso.

— Você pode.

— Estou com medo, — eu gemo. — Estou tão cansada de estar


assustada.

— Olhe para mim, querida.

Olho para ele.

— Você está bem. Diz.

— Eu estou ooo-ok.

— Novamente.

~ 81 ~
— Estou bem.

— Mais uma vez, Lara.

— Estou bem.

— Boa garota. Eu sei que é alta, mas as árvores são grandes e são
resistentes. Espere e você vai ficar bem, ok?

— OK.

— Não olhe para baixo novamente. Mantenha a cabeça erguida.

Eu concordo.

— Temos que seguir em frente, querida.

E nós fazemos exatamente isso.

***

Eles não vão conseguir foder com o meu jogo.

Eles não vão conseguir se beijar.

Eles não vão conseguir conspirar contra mim. Juntos.

A raiva se levanta no meu peito enquanto eu corro meus dedos


sobre a lâmina da minha faca. Eu preciso me concentrar. Eu tenho tudo
planejado. Eles não podem escapar. Eles podem trabalhar juntos, mas
eles não podem escapar.

Eu imagino essa lâmina penetrando fundo em seus corpos,


afundando, rasgando sua carne.

Eu sorrio como eu imagino o som que vai fazer. Esse som que é
musica para os meus ouvidos, faz minha pele se arrepiar em
antecipação.

Talvez eu corte suas línguas, ou seus olhos.

Eu me pergunto como eles vão se beijar e dar um ao outro olhares


amorosos se eles estão cegos e mudos.

Sim.

Imagine isso.

~ 82 ~
Onze
Eu não olho para baixo novamente. Eu sigo Noah pelas copas das
árvores. Eu não sei quantas árvores nós nos movemos
transversalmente, mas por duas horas contínuas nós fazemos apenas
aquilo: escalando e nos movendo. Quando o sol começa a cair, Noah
encontra uma árvore segura com um tronco grande e grosso para que
possamos parar. É espesso o suficiente para que eu possa me sentar
confortavelmente nela. Adormecer, no entanto? Eu duvido. Não
podemos nos mover no escuro, então agora passamos o resto da nossa
noite sentados aqui, imaginando o que o amanhã vai trazer.

— Você está bem? — Noah pergunta, sentado na minha frente, as


pernas balançando de cada lado do tronco.

— Não realmente, mas eu não acho que eu tenho muita escolha


nisso.

Ele estende a mão e pega minha mão, correndo seus polegares


sobre minhas palmas. — Eu não sei como, mas nós vamos sair daqui, e
quando o fizermos eu nunca vou deixar você ir de novo.

— Você não vai?

— Nem por um segundo.

Eu sorrio com esse pensamento. Isso significa que estamos juntos


novamente? Eu balanço a cabeça. Agora preciso me concentrar em sair
daqui, com os dois vivos. O resto pode esperar.

— Como você acha que ele vai nos caçar? — Eu pergunto, minha
voz aumentando com a ansiedade.

— Eu não sei. Eu pensei nisso e imaginei que ele precisaria de


algum tipo de transporte, talvez algo para fazê-lo se mover mais rápido.
Ele não vai fazer isso a pé — pelo menos eu não acho que ele vai. Acho
que é por isso que ele limpou áreas e criou um caminho difícil. Ele
nunca seria capaz de passar por aquelas árvores sem ele.

— Então, há uma chance de que o ouvirmos chegar?

— Espero que sim. Vai nos dar tempo.

~ 83 ~
Eu engulo. Lá vai esse medo novamente.

— Eu sei que é difícil. Confie em mim, estou assustado pra


caralho, também, mas a realidade é que não podemos sair disto. Não
importa o que fazemos. Temos de lutar. Você tem que estar preparada
para isso.

— Eu estou, mas isso não significa que eu gosto, Noah.

— Eu entendo, querida.

— Eu não vou dormir esta noite.

— Eu tampouco, — admite.

— Podemos apenas fingir que não estamos em uma árvore em


uma floresta sendo rastreados por um assassino e que nós somos
apenas Noah e Lara?

— Sim, querida, — diz ele. — Nós podemos fazer isso.

Ele se desloca até que ele esteja sentado atrás de mim, de volta
para o tronco, braços em volta de mim, ambas as pernas penduradas.
Ele me faz sentir segura assim. Ele me faz sentir segura.

— Se você pudesse estar comendo alguma coisa nesse nosso


encontro na árvore, o que seria? — Pergunto.

Ele ri. — Encontro na árvore?

— É isso que estamos fazendo, não é?

— Sim, — ele concorda. — Eu estaria comendo pizza.

— Você ainda gosta da de queijo?

Ele ri e eu sinto o barulho nas minhas costas. Isso é bom. —


Existe alguma outra maneira de tê-lo?

— Hum, sim. Com coberturas, como pepperoni e cogumelos e


cebola...

— Foda-se não. Essa merda acaba com a pizza. Eu não sei quem
veio com a ideia de colocar toda essa porcaria nela, mas deve ser da
maneira mais simples. Apenas queijo.

— Que chato. — Eu aperto o nariz.

Ele bufa. — E quanto a você, pequena? — Ele murmura em meu


ouvido. — O que você comeria?

~ 84 ~
— Você não pode adivinhar?

Seus dedos encontram minha barriga e deslizar sob minha blusa


para golpear a minha pele. — Se nada mudou, então seria a torta de
maçã da sua avó.

Meu coração dói com a memória da minha vozinha. Deus, sinto


falta dela. Tenho tantas saudades dela. É este o meu castigo pelo que
aconteceu com ela? Meu coração dói com o pensamento.

— Pare com isso, — Noah diz suavemente. — Não deixe isso


entrar em sua mente. O que aconteceu com sua avó não foi culpa sua,
Lara.

— Foi e nós dois sabemos disso. Eu falei demais e tinha excesso


de confiança. Eu me meti em problemas e ela pagou o preço.

— Você não pode fazer isso para sempre, culpar a si mesma. Ela
não ia querer isso. Você tem que esquecer, Lara.

— Estou tentando — sussurro. — Eu realmente estou.

— Continue falando. Concentrar-se nisso só vai doer. Continue


falando comigo, me dê esta noite com você.

— Ok, Noah, — eu sussurro.

Seus dedos seguem para baixo, deslizando sobre meus ossos do


quadril, fazendo com que tudo fique melhor. Como ele sempre faz.

— Então, temos comida do nosso encontro na árvore escolhida. O


que mais precisamos? — Eu digo, a voz vacilando.

— Que pergunta estúpida? — Ele pergunta com uma voz rouca.

— Noah. — Eu rio suavemente. — Estamos em uma árvore. Eu


não sei como você acha que isso poderia funcionar.

— Eu poderia fazer funcionar.

Eu suspiro enquanto seus dedos deslizam debaixo da minha


calcinha para encontrar meu sexo dolorido.

— Isso é errado, — eu gemo. — Nós provavelmente vamos morrer


amanhã.

— Mais uma razão para eu tocá-la mais uma vez, — ele sussurra
contra meu ouvido.

~ 85 ~
Seu dedo desliza para baixo sobre meu clitóris e cuidadosamente
desliza um dentro. Eu gemo e arquejo contra ele. Isso é bom. Tão bom.

— Você está molhada, — ele murmura. — Porra.

— Noah, — eu o advirto, quase implorando.

— Silêncio, deixe-me fazer isso.

Ele move as mãos da maneira hábil, trabalhando meu corpo até


estar no limite, dedos presos em seus braços, deslizando ao longo de
sua pele. Dentro e fora seus dedos bombeando até que eu não possa me
segurar um segundo mais. Eu explodo com um grito, todo o meu corpo
tremendo com uma libertação tão necessária. Fazendo um som de
satisfação, gutural, ele desliza sua mão de minha calcinha.

— Isso valeu a cada segundo, — ele murmura contra meu ouvido.

— E você? — Eu sussurro na escuridão.

— Não é sobre mim.

Este homem. Ele poderia ficar melhor? Por que eu o neguei por
tanto tempo?

— Descanse um pouco, Lara.

— Eu não quero cair, — eu admito, mesmo que meus olhos


estejam cheios de exaustão.

— Eu nunca vou deixar você cair, você não sabe disso ainda?

Sim.

Este homem.

***

O som nos acorda.

Eu não sei em no momento, através do medo e do terror, mas


esse som vai me assombrar para o resto da minha vida.

Começa a distância, apenas um zumbido baixo que nos acorda de


nosso sono. Demoramos um momento para acordar e quando fazemos,
eu percebo que o som está se aproximando. O som de um carro, talvez

~ 86 ~
uma bicicleta. Eu não tenho certeza como está longe, mas está
chegando mais perto a cada segundo. Meu coração se agita e eu sei que
nunca haverá mais um dia em minha vida que eu acordarei com tanto
medo.

Não há uma única palavra no mundo para explicar. Começa no


topo da minha cabeça e consome o meu corpo até aos meus dedos. Meu
peito está tão apertado que não consigo respirar, meu estômago
torcendo violentamente e minha cabeça girando. Eu pensei que eu fosse
forte o suficiente, mas ouvir esse som se aproximando me faz
questionar tudo.

— Noah, — eu imploro.

O que estou pedindo, eu não sei.

— Lara, — ele diz, sua voz apertada e tão cheia de medo que faz
minha pele se arrepiar.

— Ele está vindo.

Ele toma uma respiração trêmula. — Ele está vindo.

O som se aproxima e eu percebo que não é um carro, mas


definitivamente uma moto. Talvez uma off-road. Está viajando
lentamente, o que significa que ele sabe onde estamos. Como ele sabe
onde estamos? Estamos acima das câmeras.

— Ele sabe onde estamos — digo freneticamente.

— Droga, — Noah amaldiçoa.

— Como ele sabe onde estamos? — Eu grito.

— Eu não sei, mas temos que nos mudar. Estamos altos, ele não
vai tirar uma foto clara de nós. Temos de nos mudar, Lara.

Ele está de pé, puxando uma lança e uma pedra de um galho que
os apoiou. Ele enfia a lança em sua calça jeans e agarra a pedra em sua
mão. Faço o mesmo, de pé sobre as pernas trêmulas. Eu não acho que
posso me mover, e muito menos escalar árvores.

— Mova-se, — ele late.

A moto aproxima-se e minha visão fica borrada quando o terror se


agarra ao meu corpo. Nós vamos morrer. Droga. Eu não quero morrer.

— Se você o vê, não tenha medo de acertá-lo, — grita Noah,


agarrando um galho se elevando. — Vamos ficar mais altos.

~ 87 ~
A moto está bem abaixo de nós agora, o barulho baixo é como
tortura aos meus ouvidos. Lágrimas escorrem pelas minhas bochechas
enquanto me movo mais alto. Então ele para. Apenas para. Isso me
assusta ainda mais.

Através do silêncio, soa uma voz. — Você acha que eu não posso
te ver. — Um homem. Familiar. Já ouvi essa voz antes. — Eu posso ver
você. Você esta pronto para jogar?

— Noah, — eu soluço.

— Continue em movimento, Lara.

— Eu me pergunto o que eu deveria fazer com você hoje, — a voz


chama. — Eu não quero esse jogo de repente, e você está tornando
muito fácil para mim, subindo as árvores. Até onde você acha que vai
chegar?

— Não responda, — Noah rosna. — continue se movendo.

— Você só pode subir tão longe antes de ter que descer. Ou eu


posso atirar em você aí em cima, mas isso não vai ser divertido.

Eu soluço.

— Você está assustada, Lara? Eu sabia que você estaria. Você vai
ser a única que vou deixar viva por mais tempo. Vai ser divertido ver
você implorar por sua vida. Eu poderia ter escolhido a sua amiga Rachel
para isso, mas ela é muito insolente.

Eu congelei. Rachel. Como ele sabe sobre Rachel?

— Ela lhe contou sobre o nosso encontro?

Eu balanço a cabeça, tentando me lembrar.

— Ela foi tão crédula, realmente. Eu a encantei e recebi ainda


mais informações sobre você, e a garota tola achou que era porque eu
estava com ela. Você pode imaginar?

Eu fui idiota Este homem é aquele que Rachel foi em um


encontro? Oh Deus. Ela foi em um encontro com o cara que está
tentando nos matar. Ele chegou tão perto? Ele ficou tão perto. Eu
estremeço com a realidade me atingindo como uma marreta.

— Foco, Lara, — Noah chama. — Não ouça.

As lágrimas fazem minha garganta apertar. Meus dedos tremem


quando subimos mais alto.

~ 88 ~
— E você, Noah. Pensando que você pode me enganar. Você não
pode me enganar. Eu pensei em todos os cenários, incluindo o que você
está agora. Qual de vocês vai se machucar hoje? Uni, duni, tê...

— Noah, — eu choro.

— Mova-se, — ele late. — Agora, Lara.

Com os dedos trêmulos, continuo me movendo, subindo mais


alto. A voz abaixo fica silenciosa e um tremor agarra meu peito, porque
isso nunca é uma coisa boa. Ele está quieto por um motivo. Essa razão
é dada a conhecer em questão de segundos quando uma flecha vem
disparando através das árvores passando perto da minha perna.

— Noah, — eu grito.

— Mexa-se, Lara. Mova-se!

— Eu posso te ver, idiotas, — ele grita por baixo. — Você acha


que eu não posso, mas eu posso. Pare de se mexer, você está ficando
muito fácil.

Pare de se mexer. Ele tem razão. Cada movimento que fazemos


tem as árvores se mexem.

— Não pare de se mover, — diz Noah, como se estivesse lendo


minha mente.

— Se nós continuarmos, ele vai conseguir nos ver, — eu sussurro.

— Ele pode nos ver de qualquer maneira. Continuar nos


movendo, nos dá uma chance.

Ouço risos de baixo.

Outra flecha sai pelas árvores, ficando alojada em um galho


acima da cabeça de Noah. A bile queima minha garganta. Noah ergue a
mão e a sacode, enfiando-a nas calças. Nós escalamos, movendo de
galho em galho, mas essas flechas continuam vindo. Voando como se
não houvesse nada em seu caminho.

— Ele é um arqueiro habilidoso, — Noah rosna. — Ele poderia


nos atingir e nos matar, mas ele não vai. Ele está brincando, ele está
nos atormentando.

— Como ele pode nos ver?

— Apenas pelo farfalhar das árvores, Lara.

~ 89 ~
Outra flecha surge através da pequena clareira, tão perto que eu
sou forçada a pular para trás. Fazer isso me faz perder o equilíbrio.
Com um grito aterrorizado, eu caio. Parece que estou me movendo em
câmera lenta, braços voando, pernas agitando. Eu bati um galho de
árvore tão forte, eu posso ouvi-lo quebrar abaixo de mim. Meus gritos se
tornam gritos agonizantes quando vou passando galho por galho caindo
mais perto do chão.

Para ele.

Noah sopra meu nome, e minhas mãos freneticamente tentam


agarrar tudo o que podem. Consegui agarrar um galho no fundo da
árvore, deixando-me pendurada na clareira, as mãos escorregando
enquanto o peso do meu corpo toma conta. É muito grosso e eu não
consigo ter um apoio suficiente para segurá-lo. A dor irradia através de
meu corpo em tantos lugares, que eu nem sei onde começa.

— Bem, bem, agora estamos tocando de verdade.

A voz envia arrepios percorrendo meu corpo enquanto eu olho


para baixo para ver um homem usando uma máscara negra com
apenas dois olhos a mostra, apontando um arco e uma flecha para cima
de mim. Sua voz parece familiar, mas eu não tenho tempo para pensar
sobre onde ouvi. Não consigo ver mais nada nele, mas não preciso.
Preciso ir embora daqui, agora.

Terror me levou mais uma vez, e eu estou tentando


freneticamente ficar pendurada na árvore. Preciso voltar. Minhas
pernas falham desesperadamente enquanto eu tento me puxar de volta
para o galho.

Ele ri.

— Não vai acontecer, Lara. Eu sinto muito.

A mola de seu arco enquanto dispara na outra flecha é tudo que


eu posso ouvir, nos poucos segundos que leva para me alcançar. O
dispositivo minúsculo rasga através de minha panturrilha, tão fácil
como uma faca através da manteiga. Meu grito ecoa pela floresta
enquanto eu afrouxo meu aperto e caio no chão. Eu não sinto o
impacto. A única coisa que eu posso sentir é a agonia em minha perna,
a dor quente e ardente que está ameaçando me levar para a escuridão.

Através de visão turva, através de meus gritos e choro histérico,


eu vejo ele se inclinar sobre mim, aquela máscara negra bem na minha
cara. Quem é ele? Deus, quem é ele? — Eu vou te dar uma vantagem,

~ 90 ~
— ele diz, olhos malignos piscando de alegria sob a máscara. — Você
tem dois minutos para correr, Lara.

O que?

Eu olho para ele, a dor ameaçando causar um apagão.

— Corra, — ele late.

Corre.

Corre.

Eu forço o meu corpo para cima, gritando de dor enquanto eu


começo a me embrenhar pelo caminho estreito. Isso não é rápido o
suficiente. Eu vou morrer nesse ritmo. Eu aperto meus dentes, sugando
em minhas lágrimas, ignorando a dor rugindo em minha panturrilha, e
faço exatamente o que ele pediu: eu corro. Na distância, eu posso ouvir
o folego desesperado de Noah, mas eu não paro. Eu não posso parar. O
som da moto começando a vir atrás de mim me fez perceber que não há
nenhuma maneira que eu fuja deste homem.

Doente. Ele é doente.

Corro mais, tentando me afastar do caminho, mas é impossível


sem um facão para cortar o mato. Droga. Eu corro até que eu não
consiga respirar, até que meu corpo inteiro esteja gritando de dor, até
que minha mente ameace mais uma vez fechar. A moto está mais
próxima. Eu não posso escapar dele. Eu paro, dobrando com um grito.
A flecha que sobressai da minha panturrilha faz meu estômago virar.

Armas.

Eu me endireito e freneticamente alcanço em minhas calças para


puxar para fora a lança que Noah me deu. Tem cerca de 30 cm de
comprimento com uma ponta afiado no final. Eu o agarro nas minhas
mãos e fico atrás de uma árvore, ofegando enquanto espero. A moto
para; Folhas são trituradas quando ele se move mais perto de mim. —
Eu sei onde você está, Lara. Você está deixando isso muito fácil para
mim. Pelo menos lute um pouco.

Engulo o vômito subindo na minha garganta.

Ele fica perto o suficiente para que eu possa ouvir sua respiração.
Segurei a respiração e esperei enquanto ele se movia atrás da árvore.
Eu aperto a lança. Eu só tenho uma chance nisso. Um tiro.

— Booo.

~ 91 ~
Ele aparece tão rapidamente que me pega desprevenida. Eu reajo
sem pensar, dirigindo a lança em sua mão que está se movendo em
minha direção. Ela desliza através de sua palma facilmente, muito
facilmente. Todo o sangue escorre de meu rosto enquanto eu vejo o
vermelho escorrer da ferida. Ele sorri e depois ri. Como a dor o excita.

— É o melhor que você tem?

Eu levanto meu joelho sem pensar e o acerto nas bolas. Meu pai
me ensinou quando eu era uma menina, e nunca chegou a ser útil até
este momento. Ele se dobra com uma gargalhada e aproveito a
oportunidade para virar e correr. Eu alcanço sua moto e paro, coração
batendo. Não tenho mais armas. Eu perdi a pedra em algum lugar na
minha queda. Eu olho para baixo na flecha em minha perna.

Eu não penso. Eu apenas abaixo, pego a ponta na minha


panturrilha, e puxo pra fora. Eu já estou com tanta dor, que eu nem
tenho mais porque gritar. Sua voz ecoa por trás de mim e faço a única
coisa que posso. Eu enfio a flecha em seus pneus várias vezes, tão forte
e tão rápido quanto eu posso. O sangue quente corre por minha perna,
mas eu não paro. Então, com o último pedaço de força deixada em meu
corpo, eu chuto a moto. Eu posso ouvi-lo correndo em minha direção.
Tenho segundos, se tiver sorte.

É o bastante.

Perfuro o tanque de gasolina e vejo quando o líquido começa a


derramar. Eu não espero; Eu me viro e corro pelo caminho o mais
rápido que posso. Eu não sei quanto tempo eu posso ficar consciente. A
dor é demais. Está ficando muito intenso. O riso enche o espaço
silencioso. — Muito bem, Lara, você é mais selvagem do que eu
pensava. Você parou meu jogo por algumas horas. Você vai pagar por
isso.

Eu caio de joelhos e rastejo para dentro da floresta espessa,


arrastando meu corpo através pelo chão, ofegando de dor, quando eu
tento me aprofundar na mata, profundo o suficiente para que sua moto
não possa me encontrar. As árvores bloqueiam meu caminho, os galhos
rasgam minha pele, e finalmente eu caio contra um tronco, o rosto
pressionando contra a casca fria. Ouço o rumor distante de sua moto
antes de finalmente apagar.

~ 92 ~
Doze
— Acorde, porra, Lara. Acorde.

Noah?

Eu não posso me mover.

— Lara, vamos lá. Abra seus olhos para mim.

Estou tentando. Não posso.

— Lara?

Noah.

— Vamos, querida, por favor.

Eu posso te ouvir. Estou tentando.

Meu corpo está duro; Eu não posso movê-lo, muito menos abrir
os olhos. A voz de Noah está entrando e saindo, e eu desesperadamente
quero chamá-lo, buscá-lo, mas nada funciona. O pânico se instala.
Estou morta? É por isso que eu não posso me mover? Pior, estou ferida
até o ponto de não ter mais volta? É assim que se morre lentamente?

Eu começo a bocejar.

— Lara? Ei. Abra seus olhos. Você está bem.

Eu estou?

— Vamos, concentre-se.

Foco.

Mantenho a respiração e o foco. Eu decido trabalhar meus dedos.


Uma tarefa simples, certo? Eu respiro para dentro e para fora, então
enrolo meus dedos. Noah diz algo freneticamente, mas estou muito
concentrada no movimento, lentamente voltando para mim. Eu posso
sentir meus dedos! Mais algumas respirações doloridas e minhas
pálpebras se abrem. Não vejo nada por alguns segundos, mas
eventualmente o rosto de Noah aparece.

Ele parece assustado.

~ 93 ~
— Merda, graças a Deus. Você está bem.

Eu não iria tão longe.

Minha perna dói e parece refletir em cada célula do meu corpo.


Eu gemo e tento alcança-la, mas parece que meu corpo ainda não está
pronto para esse tipo de esforço. Em vez disso me viro, tentando
levantar para que eu possa ver de onde vem essa dor.

— Tome, calma, você está ferida. Apenas respire e volte aos


poucos.

Eu me concentro em Noah. Ele tem sangue na cabeça. Está seco,


mas parece que ele machucou metade do seu rosto antes dele chegar a
esse ponto. O sol está irradiando através das árvores e se assentando
em minhas coxas, me aquecendo. Estamos no caminho. Eu passei por
aqui?

— O que aconteceu? — Eu sussurro, minha garganta seca e


arranhada. — Você está ferido.

— Eu apenas arranhei minha cabeça ao sair das árvores, — ele


murmura.

— O que mais? — Eu pergunto, esfregando meu rosto.

— Você não se lembra?

Fecho meus olhos e foco, tentando fazer minha mente voltar para
aqui e agora. Acho que posso me lembrar o que aconteceu.

— Ele... oh Deus.

Empurro os cotovelos rapidamente, muito rapidamente. Minha


cabeça gira e eu caio de volta. Noah me pega antes de cair no chão. —
Uau. Você precisa ir com calma.

— Ele estava usando Rachel para chegar até nós, — eu choro. —


Oh Deus, como pudemos ser tão cegos? Ele estava tão perto.

— Tenho certeza de que essa não era a única coisa que ele estava
fazendo, Lara. Ele provavelmente tinha muitas outras maneiras de
entrar em nossas vidas. Agora pare de se contorcer.

— Minha perna — digo com os dentes cerrados. — Está feia?

— Foi uma ferida, mas eu já cuidei — você puxou a flecha para


fora. O corte é profundo, obviamente, mas apenas pegou o músculo. Eu
limpei e enfaixei.

~ 94 ~
— Com o que? — Eu pergunto, meu estômago revirando
violentamente.

Ele aponta e meus olhos se abaixam para sua camisa, que estava
meio rasgada. Ele está usando uma blusa que parece uma camiseta
curta feminina. Eu não posso evitar, eu explodo em risos. É histérico,
possivelmente um pouco louco, mas vê-lo sentado lá vestido com aquela
camiseta curta... me faz achar aquela visão hilária.

— Isso é engraçado? — Ele pergunta, intrigado.

— Não, — eu digo, o riso morrendo. — Eu só... Sinto muito. Acho


que estou perdendo a cabeça.

Ele sacode a cabeça e cuidadosamente me ajuda a me puxar para


a posição sentada. — Como está a dor?

— Horrível, — admito, tentando ignorar o intenso latejar na


minha panturrilha.

— Isso não vai facilitar as coisas. Você acha que pode caminhar
sobre?

Eu encolho os ombros. — Eu não sei. Ele... — Eu olho ao redor.


— Ele voltou?

— Não. Você cortou os pneus e esvaziou metade do tanque de


gasolina.

Eu fiz isso, fiz? Eu também o provoquei. Isso provavelmente não


foi uma boa ideia.

— Eu não sei como eu fiz isso. Eu nem sequer pensei que eu


tinha isso em mim, mas eu estava com medo.

Ele afaga um pedaço de cabelo do meu rosto. — O medo fará isso


com você. Estou orgulhoso de você. Foda-se, quando você caiu daquela
árvore eu tinha certeza de que ia te perder, mas você foi incrível.

— Eu só fiz o que eu tinha que fazer. Você tem razão, o medo traz
o seu espírito de luta. Eu não quero morrer, Noah, — eu digo
suavemente, minha voz engatando com a ideia de que eu cheguei tão
perto dela.

— Então nós precisamos ver se nós podemos trabalhar com esta


perna assim. Você vai morrer se você não pode se mover.

~ 95 ~
Meu coração aperta, mas eu engulo a preocupação para baixo e
aceno com a cabeça. — Vamos fazer isso.

Ele fica em pé primeiro e depois me alcança. Suas mãos se


enrolam em meus braços, e ele lentamente me ajuda a levantar. Eu
coloco pressão na minha perna, e a dor que eu sinto, não parece ser
muito pior do que quando eu estava sentada. — Não parece pior.

— Tente andar.

Eu o solto e tento alguns passos. Cada vez que eu pressiono meu


pé, uma dor dispara através de minha panturrilha — mas, novamente,
não é muito pior do que a dor que já está lá. Depois de um tempo, não
tenho dúvidas de que vai se tornar mais intensa, mas por agora acho
que é tolerável.

— Dói, mas não é impossível.

Ele parece cético, mas acena com a cabeça e diz: — Acho que você
deveria usar um galho como apoio para tirar a pressão até...

— Até que ele nos persiga novamente, — eu termino para ele.

Ele encontra meus olhos e os segura.

Ele entende.

— Quando você acha que ele vai voltar?

— Eu não tenho ideia, e eu não gosto disso. Precisamos encontrar


um lugar para descansar, mas não sei se ele vai permitir isso.

— Quanto tempo leva para trocar um pneu?

Ele encolhe os ombros. — Em uma moto, talvez duas horas.

— Há quanto tempo?

— Você ficou fora do ar por cerca de quarenta minutos.

— Então temos uma hora.

Ele balança a cabeça. — Provavelmente mais, considerando que


ele tinha que voltar. Vamos com uma hora para ficar a salvo.

— Então, o que fazemos?

Ele olha para o céu, tenso. — Vamos nos preparar.

~ 96 ~
***

Olhe para ele.

Eu mudo o bloco de gelo contra minhas bolas.

Ela tem mais coragem do que eu pensei. Eu sorrio com a ideia. Eu


queria ela fraca, mas lá fora hoje, perseguindo-a, lutando com ela, Deus,
foi incrível.

Mais do que eu jamais pensei que seria.

Ele não conseguia chegar até ela, e isso a tornava ainda mais
intensa.

Ela tem alguma determinação, a maneira como ela arruinou minha


moto. Acho que vou me divertir com ela. Não, eu sei que vou me divertir
com ela.

Eu vou fazê-la desejar que ela não tivesse nascido, e eu vou fazer
isso lentamente.

Portanto, aceite, Noah. Não importa o que você faz.

Lara se tornou meu prêmio.

~ 97 ~
Treze
Noah encontra uma vara reta e posiciona na minha perna depois
de lavá-la no córrego. Eu tento não olhar para o buraco pequeno, limpo,
mas principalmente eu tento não se preocupar com a infecção que
poderia facilmente vir de uma ferida assim. Não há muita coisa que eu
possa fazer sobre isso, então estou tentando esquecer. É difícil quando
a dor está irradiando através de meu corpo com cada passo que eu
tomo.

— Você ainda tem armas? — Noah pergunta, me dando um pouco


de água. Seus olhos estão constantemente varrendo as árvores.

— Sim.

— Eu não acho que ficar em cima das árvores, seria uma boa
opção para nós outra vez. Mesmo se você estivesse em melhor forma
para escalar, de alguma forma, aquele filho da puta sabia exatamente
onde estávamos.

Troco a posição no tronco, tomando um longo gole de água antes


de contemplar o que ele disse. — Sim, — eu digo. — Como você acha
que ele sabia disso?

— Estou sentindo falta de alguma coisa. Só não sei o que é.

— Ele tem câmeras em todos os lugares. Talvez elas estejam nas


árvores.

— Não, — ele diz, trocando o peso de um pé para o outro. — Não,


ele não as teria colocado tão alto.

— Talvez ele tenha alguns lá em cima, também?

— Talvez, mas parece muito difícil. Eu vou pensar. Por agora


precisamos descobrir o que vamos fazer na próxima vez que ele vier.

— Nós nos escondemos? Corremos? Nós apenas lutamos?

A mandíbula de Noah se aperta e ele passa uma mão cansada


pelo cabelo. — Eu não sei.

Meu coração bate com uma sensação familiar de medo e


desespero. Nós dois sabemos que ele está voltando. Nenhum de nós

~ 98 ~
sabe quando, mas pode ser em qualquer segundo, ou pode ser horas.
Mas ele está voltando. E ele tem a capacidade de nos encontrar. Ele tem
a habilidade de nos machucar. Para nos fazer sofrer ainda mais. Mais
lesões como a que eu tive hoje, e talvez não tenhamos muitas forças em
nós.

Eu estalo o meu cérebro. Tem que haver uma maneira de


encontrar algum tipo de segurança. Eu penso em tudo o que eu vi aqui,
mas é tudo árvores e um córrego. Um fluxo de água. Deus, como eu
deixei passar o fluxo? A maioria dos suprimentos de água vem de um
grande rio, ou algo assim. Eles não aparecem sem nenhuma fonte. Eu
me levanto e me aproximo de Noah e sussurro em seu ouvido: — E a
água?

— E o quê?

— Bem, tem que estar vindo de algum lugar, certo? Nós nunca
seguimos o fluxo, mas talvez devêssemos. Quero dizer, você supõe que
fica mais profundo, ou talvez nos leve a uma cachoeira. Se nós
andarmos através da água em vez de fora dela, ele vai achar muito mais
difícil se apoderar de nós — ele tem contado com a gente não sendo
capaz de sair do caminho, mas eu realmente não acho que ele
considerou a corrente de água. Ele terá que descer de sua moto, e nós
temos uma vantagem muito maior dessa maneira.

Ele sacode a cabeça para trás e encontra meus olhos, então acena
com a cabeça. — Você tem um ponto, mas pode não levar a lugar algum
e nós poderíamos estar perdendo nosso tempo.

— É a única parte da floresta, fora do seu caminho, que não é


coberto tão densamente que não podemos passar por ele.

— Você está certa. Vale a pena correr o risco de descobrir.

— Vamos então.

Sua respiração faz cócegas na minha orelha enquanto ele se


inclina para perto. — Vai ser mais difícil para você se mover através da
água.

Eu encolho os ombros. — É isso ou morrer, Noah. Não quero


morrer.

Ele puxa para trás e suas sobrancelhas se elevam. — Quem é


você e o que você fez com Lara?

Dou-lhe um sorriso fraco. — Lara não quer morrer hoje.

~ 99 ~
Ele toma meu rosto em suas mãos. — Não vou deixar você
morrer.

Meu coração bate e nós nos abraçamos durante tanto tempo, que
tenho certeza que ele vai se inclinar e me beijar. O ar é denso em torno
de nós e a tensão está fora deste mundo. Eu engulo o nó na garganta e
sussurro, — Então vamos nos mexer.

— Vamos começar, — ele concorda, voz apertada.

Enchemos nossos cocos outra vez e empurramos nossas lanças


em nossas calças. Então nós pisamos no córrego e começamos andar.
Noah está certo, é muito mais difícil do que eu pensei que seria, e cada
passo é uma agonia em minha perna. Mas eu também estava certa:
quanto mais a jusante nos movemos, mais fundo fica. E, à medida que
nos movemos para mais fundo, o córrego passa sobre a minha ferida,
entorpecendo-a com água fria.

— Você está bem? — Noah pergunta depois de uma hora de


silêncio.

— Eu não consigo mais sentir minha perna. Eu acho que a água


a entorpeceu completamente.

— Provavelmente não é a melhor ideia mantê-la tão molhada, —


ele murmura.

— Não, mas que outra opção temos?

Ele faz um som gutural, irritado e continua caminhando em


silêncio.

Estamos mais profundos na floresta agora. Árvores saem da


borda do córrego e elas estão juntas, mas de uma forma ordenada na
borda, com os ocasionais poucos galhos mergulhados na água. Nós
temos que empurrar para passar por eles, mas é muito melhor do que
se mover em pé por uma pista criada para nos caçar.

— Esta foi uma boa ideia, — grunhiu Noah, empurrando suas


pernas grandes através da água. — Mas merda, é um trabalho duro.

— Você está me dizendo, — eu digo, a voz tensa enquanto eu


forço meu corpo a dar mais um passo.

— Diga-me alguma coisa, me distraia de ouvir aquele ruído


terrível.

~ 100 ~
— O que você quer que eu diga a você? — Eu pergunto,
resmungando enquanto a água fica ainda mais profunda.

— Eu não sei. Qualquer coisa. Qual é a sua memória de infância


favorita? Algo que eu ainda não sei.

Questão ímpar, mas se me distrair e até mesmo por um segundo,


eu vou dar-lhe uma memória.

— Minha mãe me deu um cachorro quando eu tinha cinco anos.


Era tão feio. Eu não posso nem descrever como feio este filhote de
cachorro era. Ela o salvou de um abrigo, mas parecia uma espécie de
cão alienígena. Estava magro com falhas no pelo, com grandes olhos
esbugalhados. Eu amei, mesmo assim. Eu queria um filhote de
cachorro por tanto tempo, eu só não vi o quão horrível era até que eu
tivesse idade suficiente para andar e as pessoas costumavam apontar
na rua.

Ele ri.

Eu rio, suavemente. — De qualquer maneira, um dia eu estava


andando com Pigsy na rua...

— Espere, Pigsy? — Ele diz, parando e me dando um olhar


horrorizado.

Eu sorrio — Sim, Pigsy. Eu sei, é horrível. Parece apropriado


agora que eu olho para trás, embora. Não faço ideia de como criei esse
nome para ela.

Ele continua caminhando com um bufo gutural.

— De qualquer maneira, eu a estava andando pela rua quando


uma senhora me parou e me disse que meu cachorro era possivelmente
a coisa mais feia que já tinha visto. Eu estava tão chateada, tão
devastada. Eu amava Pigsy. Então eu disse a ela que se ela quisesse ver
um cão ainda mais feio, ela deveria olhar no espelho.

Noah dá uma risada.

— Ela me agarrou pelo braço e me arrastou de volta para minha


casa, horrorizada. Ela disse a minha mãe o que eu tinha dito e que eu
era uma criança horrível, uma criança muito rude. Você sabe o que
minha mãe disse para ela?

— Não tenho certeza se quero saber.

~ 101 ~
Eu sorrio para a memória. — Ela disse: — Minha filha tem um
olho para a beleza, eu acho que você deixou o seu em casa hoje. Você
não pode culpar a garota por dizer o que ela sente.

Noah ri. — Deus, agora eu vejo pra quem você puxou.

— A velha estava tão zangada, ela se virou e saiu disparada. Toda


vez que ela me via caminhando com Pigsy depois disso, ela se afastava e
zombava, mas eu sempre acenei e a cumprimentei.

Noah ri. — Sinto falta do seu lado.

Parece um soco no estômago, e eu me viro para ele, sussurrando:


— Esse lado meu, morreu com a vovó.

— Lara, — ele diz suavemente.

— Essa Lara arruinou minha vida.

— Essa Lara não estragou sua vida. Você passou de um extremo


ao outro em vez de aprender a ser mais equilibrada. Você era um
foguete e agora você não é. Você deixou que Lara desaparecesse
completamente quando você deveria ter mantido parte dela, porque ela
fez você quem você é.

Tanto quanto ele tem razão — e eu sei que ele tem razão — essas
palavras me machucam. Irracionalmente.

— E se eu nunca mais for Lara? — Minha voz é suave e um pouco


ferida.

Noah para de andar de novo e se vira, os olhos nos meus. — Você


não precisa ser essa Lara. Mas você não pode ser essa concha de uma
pessoa que você foi também.

Eu estremeço. — Ouch.

— Eu não quis dizer isso assim.

— Você não quis? — Eu digo, arrastando meu olhar dele e


passando por ele.

— Lara, — ele rosna, vindo atrás de mim. — Eu não quis dizer


isso assim.

— Acho que sim. Estamos nesta bagunça porque estou fraca e


frágil agora e que estou machucada pensou que seria muito divertido
me jogar isso na cara. Você fez alguns comentários sobre como eu sou.
Parece que você prefere se eu fosse aquela pessoa dura e esperta de

~ 102 ~
novo. Você sabe que não posso ser ela de novo. Você viu o que eu passei
quando vovó morreu, Noah. Eu não vou perder alguém que eu amo
novamente por causa disso. A vovó me avisou, e o mínimo que posso
fazer para honrar sua memória é tomar seu conselho e não ser essa
pessoa.

— Você está colocando palavras na minha boca, — diz ele.

— Não, Noah. Estou apenas juntando suas palavras.

— Besteira. Eu me apaixonei por você por causa do jeito que você


é. Eu gosto dessa garota macia e frágil que você é agora, também. Eu
me apaixonei por esse lado seu depois que sua avó morreu. Mas
também gostei do pequeno foguete que conheci. Eu odeio que você
tenha sentido que tinha que ser algo diferente. Eu odeio que você pense
que você não é suficiente, e que eu iria dormir com outra mulher por
causa disso.

Eu bufo e continuo andando.

— Lara, — ele assobia.

Eu o ignoro porque ele está certo e eu sou uma maldita idiota.

— Lara!

Ele ladra.

Eu giro para retrucar quando eu ouço. Ele para, também, porque


ele e seus olhos piscam. A moto. É suave, mas o zumbido baixo está
definitivamente lá.

— Corra, — Noah late. — Agora.

Eu não espero. Eu começo a correr o mais rápido que posso na


água até os joelhos. Eu desisto após cerca de três passos e caio, usando
todo o meu corpo para deslizar através da água mais rápido. É apenas
profundo o suficiente e meu estômago arrasta através dos troncos e
rochas abaixo, mas eu prefiro isso do que enfrentar o que está vindo
atrás de nós.

— Noah? — Eu chamo.

— Continue, — ele grita.

Eu faço. Eu continuo.

~ 103 ~
A moto está mais próxima agora e frustração e medo se chocam
no meu peito. Frustração que este homem parece ser capaz de nos
encontrar não importa o que fazemos e eu tenho medo pelo o possa vir.

— A água fica mais para frente, nade mais rápido.

Noah está certo: A água escurece e o riacho se alarga. Está


ficando mais profundo. Felizmente, escolhemos a direção certa para ir.
Se tivéssemos ido para o outro lado, teria desaparecido do nada. Este
caminho está nos levando para a fonte da água, e só podemos orar que
seja profundo e longo o suficiente para nos dar uma boa distância.

A moto está tão perto, o barulho alto perfura minhas orelhas. O


medo faz o seu caminho em todo o meu corpo e eu nado mais rápido,
usando minhas pernas para me empurrar através da água, chutando
rochas. Noah está ao meu lado, empurrando também. Seu corpo grande
se estiva quando ele tenta deslizar através da água. Eu pareço o
mesmo? Eu não acho que eu já tenho nadado tão forte ou rápido em
toda a minha vida.

— Ótima escolha, ir para a água.

Aquela voz. Deus, onde eu conheço essa voz?

Minha pele se arrepia e faço um som dolorido em minha garganta.

— Não responda, continue nadando, — diz Noah.

— Quero dizer, eu acho que eu iria para a água, também, se eu


estivesse na situação de vocês. Isso não vai levar vocês a lugar nenhum,
mas por todos os meios continue tentando.

— Vá debaixo da água, — Noah assobia entre seus dentes. — O


quanto você conseguir. Qualquer arma que ele use, vai ser mais difícil
de nos acertar. Não olhe para trás para mim. Apenas nade, Lara.

— Onde você está indo? — Eu choro freneticamente quando ele se


move em direção à borda.

— Eu vou matar o filho da puta.

Não.

Ele será morto.

— Noah!

~ 104 ~
Seus olhos se encontram com os meus e o olhar neles envia o
medo para o meu coração. — Vá para baixo, vá em frente. Não pare.
Não olhe para trás. Vou te encontrar, Lara. Mas não pare.

— Noah, não, — eu imploro. — Ele tem uma arma.

— Ele não vai me matar, ainda não. Estou bastante confiante


disso.

É um grande risco.

— Ele pode te machucar. Noah, por favor...

Ele para de nadar e volta, me alcançando, suas grandes mãos em


meus ombros. — Você confia em mim?

— Sim mas...

Ele bate sua boca sobre a minha, me beijando duramente e


rapidamente antes de puxar para trás. — Então faça o que eu digo.

Uma lágrima escorre pelo meu rosto, mas eu aceno. Eu respiro


fundo e vou debaixo da água assim quando o som de uma arma
disparando pode ser ouvido através das árvores. Dor, pânico e terror se
misturam dentro de mim e eu luto contra o desejo de desmaiar e
vomitar, possivelmente ambos ao mesmo tempo. Eu nado duro e eu
nado rápido, só levanto para pegar fôlego a cada poucos segundos. Eu
sempre fui uma boa nadadora, me saindo bem nas aulas, mas isso está
além dos meus limites.

Eu continuo até que meu corpo inteiro esteja gritando para a


borda. Eu tenho que subir. A água não é excessivamente profunda, mas
é profunda o suficiente para eu me imergir completamente abaixo dela.

Chego a superfície, levantando minha cabeça. Não consigo ouvir


nada. Olho ao redor: Estou em uma área escura da floresta. As árvores
são tão espessas, o sol não pode penetrar em seus galhos grossos
revestidos com folhas verdes. O córrego alargou-se e eu posso ouvir os
sons distintos de uma cachoeira. Possivelmente algumas corredeiras.
Eu limpo a água do meu rosto com minhas mãos e escuto.

Onde está Noah? Ele está machucado? Pior? Eu nado para a


lateral do riacho e puxo meu corpo cansado, dolorido fora. Eu mal
consigo atravessar as árvores, elas são tão próximas, mas eu encontro
uma com uma abertura bastante larga ao lado dela para sentar com
minhas costas no tronco.

~ 105 ~
E eu continuo tentando ouvir algo.

Não consigo ouvi-lo.

Não consigo ouvir nada.

Oh Deus, por favor, não o deixe estar morto.

~ 106 ~
Catorze
Eu me sento contra a árvore pelo o que parece horas. Não sei
onde está Noah; Eu não sei se devo ir buscá-lo ou apenas esperar.
Minha mente é uma bagunça. Se eu for atrás dele, eu poderia me
perder e não poderia vê-lo novamente — ou pior, eu poderia ser morta e
realmente piorar tudo. Ele quer que eu confie nele, então vou confiar
que ele vai me encontrar. Ele sabe que estou na água. Se ele estiver
bem, ele virá me encontrar aqui. Se ele estiver bem. Meu coração torce
só de pensar.

Uma dor aloja-se na minha garganta e eu deixo cair a cabeça em


minhas mãos e tenta respirar.

Perder minha perna é uma realidade assustadora. Perder Noah é


pura tortura. Já o perdi uma vez, Deus. A dor disso nunca vai deixar
minha mente.

Arrasto minhas coisas para o apartamento de Rachel, o rosto


coberto de lágrimas secas. Eu tenho todas as minhas coisas da casa de
Noah. Eu não posso estar lá mais. A imagem dele beijando aquela
menina faz meu peito se rasgar. Eu nunca serei capaz de vê-lo
novamente. Nunca serei capaz de viver com ele. Como ele pôde fazer isso
comigo? Eu já sei como. Eu deixei minha avó morrer, eu me desliguei, por
que diabos ele gostaria de estar comigo?

Mas ainda. Eu pensei …

Deus. Eu não sei o que eu pensei.

— Você está bem? — Rachel pergunta, aproximando-se e


embrulhando um braço ao redor de meu ombro.

— Eu não posso acreditar que ele fez isso, Rach. Eu... eu não
consigo tirar isso da minha cabeça.

— Talvez você devesse falar com ele, deixá-lo expli...

— Não! — Eu estalo. — Não. Não vou falar com ele. Não há nada
que ele possa dizer que vai fazer se justificar, ou tornar melhor.
Aconteceu. Acabou.

~ 107 ~
— Lara...

— Ele estava beijando outra garota, Rach. Não há desculpa para


aquilo.

— Ele te ama.

Eu bufo.

Não. Ele não ama.

Como ele poderia me amar? Como alguém poderia me amar? Não.


Isto é exatamente o que acontece com pessoas como eu.

— Eu mudei meu número. Se ele te ligar, não responda.

Arrasto minhas coisas pelo corredor, com a voz desprovida de


emoção.

— Lara...

Entrei no meu quarto e bati a porta.

Isso é o que eu recebo.

O barulho de uma moto me faz voltar ao presente. Eu enxugo as


lágrimas que vazaram pelo meu rosto. Não. Não há nenhuma maneira
que ele poderia ter me encontrado já, não tão rapidamente. Como
diabos ele é assim tão bom? Onde está Noah? Algo aconteceu com ele?
O pânico se apodera de meu peito e eu pulo em meus pés. Eu não sei
para onde ir ou o que fazer. Eu olho ao redor, freneticamente tentando
chegar a um plano quando percebo a moto cada vez mais perto,
torturando-me com o seu som.

Eu olho freneticamente ao redor, tentando encontrar nossas


armas improvisadas. Eu não posso me machucar novamente. Eu não
quero. Eu só... Eu simplesmente não posso. Eu não acho que eu possa
viver com mais dor. Eu não acho que sou forte o suficiente para lutar.
Preciso escapar. Isso é o que eu preciso. A velocidade da moto através
das árvores é contínua, e eu percebo que a trilha que ele criou, muito
provavelmente corre todo o comprimento do riacho. Claro que sim.

É assim que ele está nos encontrando tão facilmente?

— Lara!

~ 108 ~
O barulhento som da voz de Noah faz a minha cabeça se voltar
para a esquerda.

— Noah? — Eu grito.

— Corra!

Corra? Oh Deus.

Eu pulo na água e começo me mover tão rapidamente quanto eu


posso na direção oposta da moto. Os troncos e as rochas rasgam a
carne em minhas pernas, mas eu não paro. A moto está se
aproximando a cada segundo que passa e eu sei que não tenho escolha,
só lutar, mesmo que eu esteja exausta. Lágrimas escorrem pelas
minhas bochechas e o medo se apodera do meu coração pela
milionésima vez nos últimos dias — mas eu o engulo. Eu sugiro de
volta. Eu tenho que lutar agora.

— Você está correndo, é absolutamente adorável.

O som da voz do maníaco faz a minha pele se arrepiar. Eu nado


mais forte, mas ele aparece no banco antes de eu ter a chance de me
mover mais de cem metros. Ele tem uma arma pendurada sobre seu
ombro e ele está rindo de mim, como a ideia de eu tentar fugir é tão
completamente hilariante. Eu tenho que lutar. Maldição, eu tenho que
lutar. Eu não sei como vou fazer isso. Eu nem sei por onde começar.
Encontre sua força, Lara, ou você vai morrer. Eu puxo a lança de minhas
calças e agarro em minhas mãos.

Então eu mergulho.

Eu nado rio abaixo o mais rápido que posso, subindo e saindo da


água. Há um pequeno espaço ao lado de algumas árvores, e eu me
escondo atrás de uma e apenas espero. Eu posso ouvir suas botas
através da água quando ele se move pra mais perto. O suor escorre pelo
meu rosto e meu corpo treme. Eu me pressiono contra uma árvore e
apenas escuto.

Parece como se mil formigas minúsculas estivessem rastejando


por todo o meu corpo enquanto o terror se apodera de mim.

Lute.

Lute, Lara.

— Você tem que pagar pelo que fez com a minha moto, Lara, —
ele diz, parecendo aproximar-se cada vez mais sem saber onde estou.

~ 109 ~
Como ele está fazendo isso?

Eu paro de respirar enquanto ele para atrás da árvore que eu


estou. Eu aperto meus olhos fechados, respiro fundo, e então os abro
antes de pular em torno da árvore. Eu escolho o lado direito, vejo que
ele está de costas para mim. Eu não hesito, eu empurro a lança para a
frente, sua ponta diretamente para seu pescoço. Mas antes que eu o
atinja, ele nada para fora do caminho.

Ele balança em volta e então joga sua cabeça para trás e ri


enquanto ele se vira para mim. Ele ainda está usando a máscara de
esqui preta, mas o mal em seus olhos é evidente.

— Você poderia ter feito tanto dano com essa lança, mas eu ouvi
você vir e você perdeu sua única chance. Você me decepcionou, Lara.

Meu corpo inteiro treme quando ele dá um passo adiante. Ele tem
uma faca de caça, assim como a arma, e é grande. Acho que prefiro o
arco e a flecha.

— Agora, eu acho que você precisa sofrer pelo que você fez. Não é?

Empurro a lança na minha frente. — Não se aproxime de mim, —


eu grito, a voz me traindo saindo fraca e trêmula.

Ele ri novamente. — Sério, Lara?

Eu dou um passo para trás. Ele sorri e se aproxima. — Acho que


devo remover algo do seu corpo, algo essencial. Diga, um dedo? O que
você acha?

Não digo nada. Eu apenas tremo. De perto, eu vejo como ele é


grande, e seu corpo é sólido, musculoso. Eu sou minúscula, não tenho
porte, mas tenho medo e um desejo feroz de viver ao meu lado. Eu tento
acertá-lo com a lança em seu coração, mas antes de eu chegar nele, ele
segura meu pulso. Ele o contorce e a lança cai da minha mão. Eu sou
deixada de mãos vazias.

Maldito seja.

***

A risada preenche meus ouvidos enquanto ele segura minha mão,


me empurrando mais para perto.

~ 110 ~
— Não, — eu grito. — Não!

Com uma risada feroz, ele aproxima a faca. Eu me contorço,


esperneio e chuto, mas ele é forte e ele não vai me largar. Eu grito e
puxo o máximo que posso, e como se uma oração tivesse sido
respondida, ele me solta. Eu caio para trás, batendo em uma árvore,
minha cabeça é jogada para trás até colidir com o tronco. Atordoada,
leva-me alguns segundos para me recompor. Quando eu faço, eu vejo
Noah. Ele está no chão, Psycho em cima dele, lutando.

Deus, isso é sangue?

— Corra, Lara, — Noah grita quando uma faca é levantada acima


de sua cabeça.

Não.

Não.

Não, Noah.

Eu não penso, eu apenas me lanço pra frente, trazendo a lança


sob o pescoço de Psycho. Agarrando cada extremidade e puxando para
trás com força, eu sufoco ele enquanto ele luta para escapar. Por um
momento, acho que o tenho. Mas ele balança e me joga no chão, e mais
uma vez minha lança cai da minha mão.

Eu subo aos meus pés.

— Corra, corra, corra! — Noah ruge, balançando para frente, e


repente batendo na cara do homem tão duramente que o derruba para
trás. Então ele está me pega e me carrega por cima do ombro.

Noah corre mais e mais rápido do que eu jamais poderia ter


imaginado que uma pessoa poderia, especialmente com alguém por
cima do ombro, mas ele se move através das árvores em uma pequena
trilha limpa, que provavelmente foi criada por Psycho. Noah deve ter
seguido o psicopata até aqui. Ele tem sangue nele, ele está ofegante,
mas ele não para. Nós alcançamos a moto, e Noah me coloca para
baixo.

— Vamos, — ele ordena.

Eu não hesito. Eu apenas subo, e em questão de segundos


estamos correndo para a floresta, mais rápido do que eu podemos.
Fecho meus olhos, pressionando meu rosto nas costas de Noah. Eu rezo
para que nós não escapemos de um assassino só para morrer em uma

~ 111 ~
motocicleta. Noah anda pelo o que parece horas. Eventualmente, ele
para e olha atrás dele, olhos scaneando os arbustos espessos.

— Sem isso, ele não pode nos pegar. Eu não acho que nós vamos
vê-lo novamente esta noite.

— Você tem certeza disso? — Eu sussurro, varrendo


freneticamente as árvores com meus olhos. — E se ele tiver outra moto?

— Mesmo se ele fizer isso, ele terá que ir buscá-la e nós temos
uma vantagem. Vai levar algum tempo para ele nos alcançar.

— Eu... eu não sei, — eu digo com minha voz tremendo.

— Temos pelo menos algumas horas. Ele não voltará sem


proteção total. Posso garantir isso. Ele não vai voltar esta noite.

Eu saio da moto e Noah faz o mesmo, sacudindo a chave para


fora e enfiando-a no bolso.

— Esta moto pode ser a nossa única fuga.

Ele está certo sobre isso. É uma vantagem — uma pequena, mas
uma é.

— Você está bem? — Eu sussurro, estudando-o. Ele tem um


monte de sangue sobre ele, e isso me preocupa.

— Eu não sei, — ele murmura, caindo no chão, pernas em frente,


corpo esgotado. Sua camisa já rasgada está coberta de sangue e tem
alguns cortes extra.

Eu engulo, tentando não entrar em pânico ao ver todo o seu


sangue. Ele precisa de mim. Ele precisa que eu seja forte. Eu tenho que
superar isso. É só sangue. Eu me ajoelho ao lado dele e gentilmente
começo a levantar sua camisa.

— O que você está fazendo? — Ele diz, a voz tão quebrada que dói
meu coração.

— Eu estou ajudando. Fique quieto e me deixe trabalhar.

Ele não discute. Ele não tenta me afastar. Tiro a camisa e olho o
corte em seu peito. Levo alguns minutos para me recompor o suficiente
para examinar mais de perto a ferida. Não é profundo tanto quanto é
longo. Graças a Deus. Se ele precisasse de pontos eu sinceramente não
sei o que teríamos feito. Olho para os restos de sua camisa, inúteis no
momento.

~ 112 ~
— O que aconteceu? — Eu sussurro.

— Ele me pegou. Aquele fodido é esperto.

Eu preciso de água. Nós não temos nossos cocos de carregar água


mais.

Olho para as minhas roupas ainda húmidas. Eles vão servir.

Eu removo minha camisa. Ainda está bastante pesada com água


depois do meu mergulho. Eu uso-a para limpar seu corpo, removendo
tanto sangue quanto eu posso, então pressiono sobre sua ferida. Ele
nem sequer se encolhe, ele só fica sentado, olhando para a frente. Ele
está começando a me assustar. Eu continuo me movendo, mantendo
silêncio e trabalhando. Limpo as costas dele e subo até o pescoço, então
eu paro.

— Noah, — eu sussurro, me inclinando mais perto. — O que é


isso?

Ele se vira ligeiramente. — O que?

— Há algo em sua pele.

— O quê? — Ele exige, estendendo a mão e sentindo o pequeno


nódulo logo abaixo de sua pele em sua linha do cabelo. É quase
perceptível, mas agora que estou tão perto, posso vê-lo com bastante
clareza.

Noah amaldiçoa e salta. — Idiota. Filho da puta.

— O que é isso?

— É um maldito rastreador!

Meu coração parece tremer, quase uma parada completa. —


Como? — Eu pergunto.

— É assim que o pedaço de merda está nos encontrando. Droga.

Eu viro o braço e com dedos trêmulos chego perto do meu cabelo.


Com certeza, eu posso sentir um nódulo semelhante. Claro que ele nos
acompanharia. Faz todo o sentido.

— Como é que não sentimos isso? — Eu sussurro, massageando


o dispositivo minúsculo com meus dedos.

— Eles são facilmente injetados. Ele teria feito isso quando


estávamos drogados.

~ 113 ~
Deus.

— O que nós fazemos?

— Nós os tiramos.

Eu sei que tenho um olhar horrorizado no meu rosto. Noah se


aproxima e agarra meus ombros. — Lara, se não fizermos isso, vamos
continuar lutando. Nós temos uma chance sólida de escapar se o filho
da puta não puder nos encontrar tão facilmente. Ele tem pequenos
trilhos e esconderijos por toda esta floresta. Nós não temos nenhuma
esperança com isso; Sem eles, poderíamos realmente ter uma chance.

— Hhh — como você vai conseguir isso?

Ele me dá um olhar de dor. — Vai doer, querida.

Lágrimas ameaçam cair de meus olhos, mas eu tomo uma


respiração trêmula e digo, — O que ele planejou vai doer mais. Vamos
fazer isso.

Noah dá um passo à frente e toma o meu rosto, passando o


polegar pela minha bochecha. — Bravo, menina bonita.

Meu lábio inferior treme.

Ele se inclina e me beija, longo, profundo e cheio de emoção. Eu


emaranho minhas mãos em seu cabelo e o beijo de volta. Eu estou
decidida. A dura realidade é que nós poderíamos morrer a qualquer
momento, e eu não vou perder mais tempo fingindo que não estou
apaixonada por este homem.

— Noah, — eu murmuro contra sua boca. — Eu te amo.

Ele se afasta e puxa para trás, olhando para mim. Seus olhos
piscam e ele diz em um tom baixo e rouco, — Não me diga isso agora.
Diga-me quando sairmos daqui.

Eu lhe dou um sorriso trêmulo.

Ele só me dá intensidade.

Estou bem com isso.

~ 114 ~
Quinze
— Isto vai doer. Eu sinto muito, querida.

Fecho os olhos, apertando os dentes e esperando a dor vir. Eu sei


que está chegando, eu sei porque eu passei a última hora com Noah
encontrando uma ferramenta afiada o suficiente para rasgar a pele.
Encontramos uma rocha dentada e usamos outra pedra para torná-la
ainda mais afiada. A ideia de algo como isso perfurando minha pele é
suficiente para fazer meu estômago virar.

Encontramos o córrego e limpamos o melhor que podíamos.

Eu ainda não sei se isso é suficiente.

Noah passa a mão ao redor no meu pescoço e eu o pânico


aumenta. — Eu não acho... eu não acho que eu posso.

— Lara, olhe para mim.

Ele me gira e seus olhos encontram os meus. — Se eu não


conseguir isso, ele vai continuar nos encontrando e nós vamos morrer.
Você quer isso?

— Claro que não, — eu aperto, então fecho meus olhos. —


Desculpa.

— Vire-se, em três eu vou removê-lo.

Meu corpo treme quando eu me viro e ele se sente ao redor no


meu pescoço novamente.

— Um, — ele diz, voz baixa.

Eu aperto meus olhos fechados.

— Dois.

Ele não chega a três. Uma dor aguda perfura a parte de trás do
meu pescoço e eu grito, arqueando de volta. Um braço grande vai em
torno de minha cintura e ele me lança contra ele, outra mão ainda no
meu pescoço. A pedra cai no chão e ele aperta. Tento ficar quieta, os
dentes cerrados contra a dor. Isso precisa ser feito.

~ 115 ~
— Consegui. Ei, acabou. Pronto.

Ele me segura para ele, o braço ainda embrulhado em torno de


mim. Ele aperta a camisa que eu usei para limpá-lo contra meu
pescoço. Está fresca do córrego. Acalma a dor latejante. Ele inclina a
cabeça no meu ombro e pressiona um beijo na minha bochecha. —
Você está bem. Está tudo acabado.

Meu tremor diminui e eu giro ao redor, pressionando minha


cabeça em seu peito. Ele me segura assim por um bom tempo, grandes
braços me fechando, corpo grande me dando conforto. Sua mão ainda
está na parte de trás do meu pescoço, e depois de um tempo ele remove
e gentilmente me faz voltar e verifica a ferida. — Já parou de sangrar.

— Posso... posso ver?

Ele abre a mão: Um minúsculo dispositivo coberto de sangue está


em sua palma. Não é maior do que um grão de arroz, e é cinza. Bem, eu
acho que é cinza. É difícil dizer. As mãos de Noah estão cobertas de
sangue.

— Suas mãos... — Eu guincho.

Ele as limpa em sua calça jeans. — Você tem que tirar o meu.
Esse idiota vai descobrir que nós removemos isso quando ele voltar, e
isso pode causar um frenesi. Ele pode voltar mais cedo do que o
esperado, então precisamos nos apressar.

Esse pensamento me aterroriza o suficiente para me inclinar e


pegar a rocha. Eu uso um novo coco que coletamos para derrubar água
sobre ele e limpá-lo. Então eu olho para Noah. Ele se vira. Eu alcancei
em sua nuca passo minha mão para baixo até que eu alcance a base de
sua garganta. Eu encontro o implante minúsculo.

— Como faço isso? — Eu pergunto, lutando contra a bile subindo


na minha garganta.

— Você precisa segurá-lo em seus dedos e usar a rocha para


cortar a superfície. Então você apenas aperta.

Eu engulo grosso e respiro fundo, então eu uso a pedra para


cortar sua pele. Ele se encolhe, mas não faz um único som. Eu sei que
dói — eu acabei de fazer isso — e sua força me surpreende. Um homem
tão poderoso. O sangue imediatamente derrama da ferida e eu tenho
que fechar os olhos e tomar algumas respirações profundas para evitar
que eu desmaie. Minha cabeça gira, mas eu me concentro. Ele precisa
que eu faça isso.

~ 116 ~
Abro os olhos e aperto. O dispositivo pequeno aparece e eu o pego
em meus dedos, lutando quando minha vista começa a falhar. Eu
pressiono a camisa fria na ferida. Há tanto sangue. Fecho os olhos e
tento me concentrar na minha respiração. Eu já vivi coisa pior do que
isso. Eu não posso deixar isso me incomodar. Não. Eu sou mais forte do
que isso agora.

Eu posso fazer isso.

Eu tomo uma respiração rasa, trêmula, e então outra — até que


eu esteja calma outra vez.

Depois de alguns minutos, minha respiração é forte o suficiente


para que eu endireitar e entregar o dispositivo a ele. Ele a estuda,
depois atira os dois no riacho. Ele olha para as árvores onde ele sabe
que as câmeras estão. — Agora o jogo começa de verdade.

Ele está cutucando o diabo.

Não posso dizer que o culpo.

— E se houver mais? — Pergunto.

— Venha aqui, vamos verificar um ao outro.

Nos próximos vinte minutos, passamos as mãos sobre o corpo um


do outro, sentindo algo diferente. A única maneira que nós realmente
sabemos se há outro dispositivo, porém, é correr e ver o quão rápido ele
nos encontra.

— Qual é o plano agora? — Eu pergunto, olhando para cima


enquanto o sol começa a se pôr.

— Devemos estar bastante seguros para a noite, e ambos


precisamos descansar. Ele vai nos seguir das câmeras, então vamos ter
que subir para as árvores de novo.

Meu coração afunda.

Eu não quero subir árvores. Quero dormir. Comer. Me sentir


segura.

— Eu sei que você não quer, mas nós temos que subir.

Eu sei que sim.

Eu concordo.

~ 117 ~
— Há algumas árvores sólidas lá em cima, boas o suficiente para
descansar um pouco. Como está sua perna?

— Melhor.

— Boa. Vamos, antes que o sol se ponha.

— E a moto?

— Podíamos esconder isso, mas se ele passou pela dificuldade de


colocar dispositivos de rastreamento em nós, eu tenho certeza que a
moto tem um, também. Estar lá em cima é a nossa única vantagem no
momento.

Eu suspiro e nós escalamos a árvore a mais próxima, a mais


curta. Demora dez minutos para chegar ao topo, e minha perna late a
cada segundo, mas eu não me queixo. As feridas de Noah não são tão
ruins, e por enquanto, ele deve estar livre de infecção se conseguirmos
nos manter limpos.

Noah se inclina para mim quando chegamos à segunda árvore. —


Ele ainda pode nos ouvir nas câmeras, então não fale a menos que você
precise. Precisamos nos mover tão silenciosamente quanto pudermos
ou ele nos seguirá pelo som.

Eu concordo.

Nós cuidadosamente nos movemos através das árvores, e


honestamente, a menos que ele tenha uma super audição, eu não acho
que ele será capaz de nos ouvir entre os pássaros voando ao redor e a
brisa. O sol continua a descer, e nos movemos o mais longe que
pudemos, sem fazer muito barulho. Continuamos outra hora e meia
antes de termos de parar.

Nós pulamos facilmente através de quarenta árvores, mas


olhando de perto, provavelmente não é tão longe. Ainda assim, é o
melhor que temos agora.

Noah encontra um ramo super-grosso que podemos sentar


facilmente, e como na última vez ele pressiona suas costas no tronco e
eu me enrolo entre as pernas, perto do ninho. Ele se inclina para o meu
ouvido e sussurra, — Assim que o sol nascer, eu vou inspecionar uma
das câmeras. Quero ver se posso derrubá-las.

Viro a cabeça e ele se inclina para poder sussurrar de volta. —


Você acha que elas estão conectadas?

~ 118 ~
— Não tenho certeza; Eu preciso olhar para elas mais perto. Se eu
puder chegar a uma sem ele ver, eu poderia ser capaz de desativar
algumas. Pegá-lo desprevenido.

— O que você quer dizer?

— Pode nos dar algumas horas extra para se afastar dele, se ele
estiver ocupado a consertá-las.

— A grande questão aqui é: Como vamos acabar com isso? São


dois contra um. Certamente nós temos uma chance de derrubá-lo.

Ele balança a cabeça. — Possivelmente, mas hoje ele chegou tão


perto de nós. Ele não vai ser tão descuidado da próxima vez. Ele não
nos permitirá chegar tão perto. Acho que ele vai subir o jogo.

Eu engulo.

— Você não pode hesitar, Lara. Se você chegar perto o suficiente


dele, mate-o. Eu sei que esse pensamento te aterroriza, mas você
precisa ter a chance se ela aparecer.

Meu corpo se aperta. Eu tentei debilitá-lo para que pudéssemos


fugir. Nunca pensei em tentar matar alguém antes.

— Ok, — eu sussurro. — Se é isso que é preciso.

Noah me dá um olhar suave antes de continuar, — Eu quero


tentar segui-lo. Eu não sei como vamos fazer isso, mas se pudermos
encontrar para onde ele está voltando, poderemos ser capazes de
terminar isso.

— Com aquelas câmeras, nós nunca seremos capazes de segui-lo.

— É por isso que elas são meu próximo projeto. Elas têm de ser
controlados de alguma forma. Eu vou descobrir como elas funcionam e
eu vou desligá-las.

Não.

Não.

O pânico se apodera com força enquanto estudo as câmeras,


observando-as remover os rastreadores de seus pescoços. Não. Estão
arruinando meu plano. Eles estão mudando as regras.

~ 119 ~
Eu limpo o sangue da minha testa, porque aquele idiota me atacou.
Ele quase me pegou. Ele quase terminou meu jogo antes mesmo que eu
tivesse a chance de jogar.

Entrar no rio foi esperto. Eles são inteligentes.

Não mais espertos do que eu. Eu ainda tenho minhas câmeras, vou
encontrá-las, vou fazê-los desejar nunca me desafiarem.

Se eles estão planejando me tirar do jogo, eles estão errados. Eu


vou machucá-los tanto, eles vão desejar que eles nunca terem nascido.
Então veremos quem tem mais força.

É hora de jogar o jogo com força total.

Eles vão desejar nunca me conhecerem quando eu terminar com


eles.

Oh, espere, não, eles não vão, porque eles estarão mortos.

~ 120 ~
Dezesseis
Eu adormeço rapidamente. Os braços de Noah permanecem ao
meu redor toda a noite, e é bom sentir-se segura por algumas horas.
Nós somos despertados pelo sol que brilha através dos ramos das
árvores. A floresta está em silêncio, como se tudo tivesse acabado. Ou
talvez seja apenas que não podemos ouvir o baixo zumbido de uma
moto. Isso significa que ele não está sendo capaz de nos rastrear?

Só posso esperar que sim.

— Bom dia, — Noah sussurra em meu ouvido.

— Hey, — eu sussurro de volta. — Ele não está aqui.

— Só posso esperar que seja um bom sinal.

— Vamos descer dessas árvores?

Ele afasta os braços da minha cintura e sacode a cabeça. — Tanto


quanto eu sei o quão bom isso seria, estamos mais seguros aqui até que
possamos descobrir algo. Eu vou descer e ver uma dessas câmeras, no
entanto. Espere aqui.

Com nada mais a fazer senão esperar, deixei Noah sair de trás de
mim. Como um ladrão na noite, ele se move silenciosamente através
das árvores até que eu não possa vê-lo mais. Sentindo-se um pouco
confortado pelo fato de que tirar os rastreadores parece ter funcionado,
eu me inclino contra o tronco e respiro fundo algumas vezes.

Minutos passam. Esses minutos se transformam em uma hora.

Noah não está de volta.

Não posso chamá-lo. Eu nem sei se devo tentar encontrá-lo, mas


algo dentro de mim, algo bem no meu núcleo está me dizendo para eu ir
e olhar. Estou de pé e deixo minhas coisas na árvore, tentando tomar
nota de tudo ao seu redor para que eu possa encontrar meu caminho de
volta. Então eu silenciosamente me movo através dos ramos,
abaixando-me até que eu possa ver o chão.

Não consigo ver ou ouvir nada.

~ 121 ~
Eu deixo meus olhos escanear para a esquerda e para a direita,
então volto para cima da árvore e me movo mais longe, caindo
novamente para baixo. Eu faço isso três vezes até eu finalmente ouvir
algo. São vozes. Noah, e ele. Eu me movo mais rápido, deslizando
através das árvores o mais rápido possível para me aproximar do som.
Chego até ela e desço pelas árvores até conseguir uma imagem dos dois
homens. Noah está de pé, de costas contra uma árvore, com a câmera
na mão. O psicopata está parado na frente dele, arma apontada em seu
peito.

Não.

Eu vou me viro quando Noah fala, parando-me em meu caminho.

— Você quer uma briga real? Quer uma verdadeira caçada? Então
não trapaceie. Você diz ser um verdadeiro caçador, um verdadeiro
assassino, mas você não é. Você não é nada sem aquelas câmeras e
esses rastreadores. Você quer jogar um jogo real, então jogue-o em
terreno uniforme.

— Eu poderia explodi-lo em pedaços agora, — o psicótico rosna.


— E você nunca veria a luz do dia novamente.

— Nós dois sabemos que você não vai fazer isso, porque nós dois
sabemos que você quer a caça. Você quer o jogo. Você respira por isso.
Você quer me fazer sofrer, fazê-la sofrer.

Seu corpo faz uma sacudida estranha, e ele ri, baixo. — Eu quero.
Eu quero caçar você como um par de coelhos de merda e depois
arrancar sua pele ainda vivo.

— Então faça isso, mas faça como um verdadeiro caçador. Você


quer um jogo — -Não se incline de perto, corpo grande forte e
poderoso— - torná-lo justo, porque agora você não é um caçador,
nenhum assassino. Você é apenas uma fraude. Minha mãe poderia
fazer um trabalho melhor.

Psycho está ali, a arma apontada para o peito de Noah. Então ele
levanta a mão e tira a máscara. Eu coloco uma mão sobre a minha boca
e ofego enquanto eu o vejo. Noah late um familiar, — Você! — Mas eu
estou muito ocupada segurando ele. O homem do Starbucks. Aquele
que falou comigo naquela manhã. Meu Deus. Ele falou comigo. Ele agiu
completamente normal. Ele parece um americano comum. Você poderia
passar por ele na rua sem lhe dar uma segunda olhada exceto talvez
para admirar sua boa aparência.

~ 122 ~
Ele até me disse seu nome. Qual foi mesmo? Isso mesmo, Bryce.

Mas quando eu me lembro, percebo que não é a única vez que eu


vi esse homem.

Flashes de memória percorrem minha cabeça na noite em que


vovó morreu e... oh... oh meu Deus. Era ele. Ele foi quem chamou o
911. Ele estava lá no momento em que eu me perdi. Ele estava lá. Todo
esse tempo ele estava lá. Assistindo. Esperando. Vendo a mudança em
mim. Meus joelhos balançam e eu tenho que ficar mais firme para me
impedir de cair. Rachel, minha mãe, Starbucks... ele esteve lá, bem na
minha frente todo esse tempo.

Não posso acreditar. Meu corpo treme com reconhecimento.

— O que, nada a dizer? — Noah continua provocando-o. —


Demasiado fraco para jogar de verdade?

Bryce não gosta disso. De modo nenhum. Eu prendo minha


respiração, aterrorizada que ele vai matar Noah por provoca-lo, mas
depois de um momento ele enfia a mão no bolso e puxa para fora um
dispositivo que se parece com um pequeno telefone celular. Ele o vira
para Noah, e eu não sei o que está nele, mas ele levanta e joga no chão.
Então aponta a arma e dispara. Eu sufoco um grito com a minha mão.
Coração batendo forte. Corpo em alerta máximo. O pequeno dispositivo
explode.

— Agora eu não posso te ver. Não consigo te ouvir. Não consigo te


encontrar. Esse dispositivo era o centro de controle para as câmeras.
Sem ele, elas não funcionam. — Bryce sorri, e é assustador. — Eu vou
te dar meio dia. Se eu vou caçar, vou fazer isso para matar. Você acha
que eu não posso encontrá-lo sem todas essas câmeras, você está
errado. Vou encontrá-lo, e quando o fizer, vou torturá-lo pouco a pouco
até que você arraste seu corpo indefeso e quebrado ao longo do chão,
implorando para que eu deixe você viver. Só então vou acabar com você.

— Isso nunca vai acontecer, — Noah rosna.

Bryce ri. — Oh, mas vai.

Bryce retrocede, aponta a arma, e puxa o gatilho.

~ 123 ~
Dezessete
Levo um segundo para perceber que ele acertou Noah na perna.
Um grunhido agonizante sai da garganta de Noah enquanto ele cai para
trás. Minha mão voa até a minha boca para evitar outro grito. Ele não
sabe que estou aqui. Fique. Quieta. Meu corpo treme quando Bryce se
inclina para Noah e diz, — Uma lesão. Vamos ver até onde você pode
chegar agora. Voltarei em breve, e da próxima vez não vou me segurar.

Bryce recua e olha para as árvores. Eu não me movo. Eu apenas


permaneço empoleirada atrás de meu galho, rezando para ele não me
ver. — Melhor vir e ajudar seu namorado, Lara. Agora que ele está
ferido, eu me pergunto o quão bem você vai ser capaz de se proteger.
Ah, e por sinal, é lindo ver você de novo.

Ele mira ao redor da árvore e eu vejo ele olhando para mim. Ele
sorri. O medo obstrui minha garganta.

Um segundo depois, vira-se e monta em sua moto, desaparecendo


na floresta.

Não.

Espero alguns minutos antes de descer da árvore. Uma vez perto


do chão, perco o equilíbrio. Não querendo cair em minha perna ferida,
eu opto por aterrissar de lado. O vento bate forte de mim e eu gasto
alguns segundos ofegando. Eu aperto meu estômago, respiro
profundamente algumas vezes, e depois rolo e me levanto. Eu corro em
direção a Noah, que está segurando sua perna, rosto pálido, ofegante.
Deus. Não.

— Noah! — Eu choro, caindo de joelhos ao lado dele.

Há tanto sangue. Está encharcando seu jeans, correndo por suas


mãos. Eu preciso estancá-lo e eu preciso fazer isso agora. Eu não
penso, eu nem sequer me permito ficar assustada. Rasgo a bandagem
da minha própria ferida mal curada e embrulhe-a firmemente ao redor
da perna dele, tentando parar o sangue. — Eu não posso limpá-lo até
que o sangue pare.

Ele não diz nada. Ele está tão pálido.

— Noah, ei, olhe para mim.

~ 124 ~
Seus olhos encontram os meus, e a dor que vejo neles me faz
querer tirá-lo do inferno deste lugar.

— Ei, você vai ficar bem. Nós vamos estancar o sangue e limpar
isso.

Ele não diz nada. Ele está com tanta dor. Eu posso ver isso. Eu
posso ouvir em sua respiração difícil.

Enrolo minhas mãos ao redor da bandagem e seguro firmemente.


O sangue escorre minhas mãos, mas eu não me importo. O pensamento
de perder Noah supera meu medo de coisas horríveis. Eu não tenho
certeza quanto tempo levaria para o sangue parar de fluir, mas isso
parece estar demorando mais do que eu pensava. Preciso de mais
pressão. Soltei as mãos, rasguei os restos de sua camisa, e amarrei
firmemente a ferida.

Eu puxo o tecido o mais forte que posso para torná-lo ainda mais
apertado. Demora alguns minutos, mas isso parece ajudar. Eu preciso
descobrir como limpar isso, para tentar evitar a infecção. Deus, e se a
bala ainda estiver lá?

Sua perna está coberta de sangue. Eu vou precisar lavá-lo antes


que eu possa ver qualquer coisa. A boa notícia é, onde o sangue parece
estar, é onde eu acho que a ferida fica, e parece não ter mais fluxo. O
que significa que estancamos o sangramento.

— Eu vou enxaguar tudo isso no riacho. Preciso te limpar.

Eu me levanto e recolho tantas bandagens como eu posso,


correndo para o córrego. Eu sou grata pelo o córrego, porque sem ele
nós provavelmente estaríamos mortos até agora. Eu caio de joelhos
quando eu chego perto, com a minha perna gritando para eu parar, e
lavar as roupas até lavar todo o sangue e limpar o melhor que eu posso.
Eu não torço o tecido, eu passo pela água e deixo sangue fluir. Preciso
de tanta água quanto puder.

Eu me ajoelho na frente de Noah quando eu volto, e seus olhos


bonitos e torturados encontram os meus. — Olhe para você, — ele está
firme, sua voz tão dolorosa que me dói ouvir isso. — Você está lidando
com isso como uma profissional.

Eu sorrio fracamente. — Eu acho que ele me subestimou, hein?

— Acho que sim.

~ 125 ~
Eu olho para baixo em sua perna novamente. Eu pego o tecido
item encharcado e começo a limpar. Ele não faz um som enquanto eu
limpo, mas suas mãos estão enroladas em punhos apertados ao lado de
seu corpo e sua mandíbula está tão apertada que é absolutamente
desnecessário fazer qualquer som. Eu continuo trabalhando. Eu limpo o
máximo de sangue possível e, em seguida, gentilmente coloco um
pedaço molhado da minha camisa contra a sua ferida. Ele assobia entre
seus dentes e eu olho para cima, sentindo terrível. — Desculpa.

Ele não fala.

Eu não o culpo.

Eu levanto e estudo a ferida. Felizmente um buraco de bala limpo.

— Eu preciso que você levante sua perna. Eu tenho que ver se a


bala transpassou.

— Sim, — ele afirma. — Senti-a cair quando você enrolou minhas


calças de brim.

Deus, eu sei o quanto isso dói. Mas é para o melhor.

— Eu não sei se ele está machucado, mas está muito perto de sua
canela. Eu não posso dizer, só posso esperar que seja apenas um
músculo como o meu. Vai doer como o inferno, mas se eu posso fazer
isso, você também pode.

Eu sorrio pateticamente para ele. Ele balança a cabeça, rígido.

— Eu vou limpar isso o melhor que puder. Então eu vou lavá-los


novamente e vou deixar secar. Vou terminar. É o melhor que posso
fazer.

— Certifique-se de colocar um de volta em sua perna. Está


sangrando de novo.

Eu olho para baixo e com certeza, minha perna está sangrando.


Devo ter aberto a ferida correndo como uma louca. Não importa. — Vou
resolver isso, — digo, pegando o pano úmido e continuando a limpeza.

Então eu vou buscar um pouco mais de água e espremê-lo sobre


sua perna, lavando o resto. Eu faço isso até que ele esteja tão limpo
quanto eu consiga. Eu inclino-me para baixo, recolho nossas roupas, e
mais uma vez apressar-se para trás ao córrego. Eu lavo tudo de novo.
Há uma pilha com menos sangue desta vez.

~ 126 ~
Eu penduro-os quando eu chego perto de Noah e espero que eles
secam em breve. Não sei quanto tempo temos até Bryce voltar, mas
precisamos encontrar um lugar para nos esconder ou seremos mortos.
Noah não pode correr; Não há nenhuma maneira que ele consiga lutar
agora. Se não ficarmos seguros, vamos morrer, é assim tão simples.

— Precisamos encontrar um lugar para se esconder assim que eu


embrulhar sua perna.

Ele olha para mim. — Não se esconda.

— Noah…

— Esse filho da puta quer uma briga, ele vai lutar.

— Noah…

— Passamos a maior parte do nosso tempo correndo e olhando


para onde ele está.

— Mas sua perna está ruim, Noah. Você precisa descansar o


tempo que puder, ou não vai ser útil para nenhum de nós.

— Então você quer me esconder enquanto ele vem e nos caça?

— Sim, na verdade, — eu digo.

— Bem, eu não vou fazer isso.

— Noah, Jesus! — Eu grito. — Este não é um momento para


trazer o seu orgulho para ele.

— Orgulho? — Ele ri amargamente. — Você acha que isso é sobre


orgulho?

— Não é? — Eu rosnei, cruzando meus braços.

— Não, é sobre sobreviver, Lara.

Eu balanço a cabeça, desviando o olhar.

— Estou triste, Lara. Ele atirou em mim, — ele diz, baixinho. — E


se eu não estou aqui para protegê-la... — Seus olhos assumem um
olhar distante.

— Não fale assim, — eu aviso. — Nós vamos passar por isso, mas
apenas se continuarmos lutando. Essas roupas devem secar em breve.
Então vamos embora.

— Você precisa colocar suas calças novamente.

~ 127 ~
— Não, eles são boas para sua perna. Eu vou sobreviver sem eles.

— Lara...

— Eu não vou discutir, Noah. No esquema das coisas, o quão


importante são as roupas, realmente?

Sua mandíbula se aperta.

Não digo mais nada sobre isso.

— Como você sabe o nome dele? — Eu digo.

— Ele entrou na estação pedindo um emprego há alguns meses.


Deus, eu pensei achei que ele tinha algo errado naquela época. Muito
perfeito, sabe? Havia algo falso sobre ele, e o jeito que ele estava
olhando para mim parecia... ameaçador de alguma forma. Eu deveria
saber.

— Ele esteve aqui o tempo todo. Ele foi o homem que chamou
nove-um-um na noite em que vovó morreu, ele saiu com Rachel, e eu
me lembro dele falando comigo na Starbucks uma manhã. Ele esteve
aqui o tempo todo, nos observando sem que nós soubéssemos.

Noah parece irritado, por alguém ter sido tão presente perto de
nós todo esse tempo sem que nós percebêssemos.

— Eu deveria ter saber, — ele rosna.

— Não é como se ele tivesse dito alguma coisa ameaçadora, Noah.


Nenhum de nós sabia.

Encontro uma árvore e me sento, encostada, tentando ignorar a


dor em minha própria perna. Ontem à noite estávamos tão certos que
tínhamos a vantagem. Agora só temos que descobrir uma maneira de
mantê-lo afastado.

Nós temos que descobrir.

Nós vamos.

~ 128 ~
Dezoito
Depois das roupas estarem secas, seguro a perna de Noah da
melhor maneira possível. Então eu coloquei minhas roupas depois de
lavá-la suavemente. Meu ferimento está um pouco vermelho e
inflamado, mas eu rezo que esteja assim, só porque eu corri pela
floresta. Eu não posso lidar com uma infecção agora. Ajudo Noah a ficar
de pé, e seu corpo se endurece de dor depois do primeiro passo.

— Vamos, — eu digo enquanto ele dá mais um passo. — Tem que


haver em algum lugar escondido e seguro que possamos encontrar.

— Não importa. Aquele filho da puta deve conhecer cada buraco


escondido neste lugar. Cada ponto que está desmatado, cada caminho,
tudo é feito por ele. Mesmo sem aquelas câmeras, ele sabe que não
podemos nos distanciar desses caminhos criados, então ele nos
encontrará eventualmente sem muito esforço. Ele sabe disso. Eu sei
isso.

— Sim, ele pode, mas ele não pode olhar por toda parte ao mesmo
tempo.

— Ele olhará nas áreas mais próximas de onde ele atirou em


mim. Ele não é estúpido, Lara. Ele sabe que não podemos chegar longe.

Mas nós podemos.

— Eu tenho uma ideia. Não é o melhor para nossas pernas,


considerando todo o trabalho que eu fiz, mas acho que vai funcionar.

Noah olha para mim, o rosto apertado.

— Confie em mim — digo, pegando a mão dele e guiando-o


cuidadosamente para o rio.

— Entre, — eu digo, apontando para ele. — Eu vou fazer alguma


coisa.

— O que?

— Eu vou correr na direção oposta e colocar algumas coisas para


baixo, apenas coisas sutis. Poderia levá-lo na direção errada e nos dar
tempo.

~ 129 ~
O rosto de Noah pisca com um olhar de indecisão antes que ele
acene com firmeza.

— Volto em breve. Sente-se junto à corrente e não se mova.

Recolho um par de pequenos pedaços de material e um coco.


Então eu giro e corro o melhor que posso na floresta. Eu encontro onde
Noah estava sentado e uso algum pano para absorver o sangue por todo
o chão. Deus, havia muito sangue. Eu ensopo meus pés nele, e então
começo andar no sentido oposto ao córrego. Deixo algumas pegadas
ensanguentadas, marcando algumas folhas em árvores com sangue,
deixo um fio ou dois de pano em galhos. Eu mesmo quebro alguns
ramos.

Levo bem mais de uma hora para concluir isso, e então eu tenho
que voltar com muito cuidado, pisando o mais próximo da borda da
trilha como posso, certificando-me de eu cobrir cada uma das minhas
novas pegadas para que ele não perceba o que eu fiz. Levo um bom
tempo para voltar para Noah, e quando eu chego lá, eu o encontro
deitado de encontro a uma árvore, cabeça caída, olhos fechados.

Eu corro para frente. O medo entupindo minha garganta.

— Noah! — Eu grito, caindo de joelhos na frente dele.

Eu tomo seus ombros e agito, o pânico agarrando meu peito. Não.

Seus olhos se abriram. Eu faço um som estrangulado, aliviando


barulho.

— Eu estava apenas descansando, Lara, — ele berra.

Lágrimas brotaram; Eu tenho controle zero sobre elas. Elas caem


pelas minhas bochechas. — Eu pensei... por um segundo eu pensei...

Ele levanta a mão, segurando meu queixo. — Estou bem. Eu


ficarei bem.

Eu aceno, fungando, tentando sugar meus soluços. Os dedos de


Noah movem-se para a minha mandíbula e então deslizam até que ele
coloca em meu rosto. — Ei, onde está aquela garota corajosa que me
disse que iria passar por isso se continuarmos lutando?

Eu aceno ferozmente, enxugando minhas lágrimas. — Você só me


assustou por um minuto, só isso. A ideia de te perder...

— Você não vai. Você me ouve?

~ 130 ~
***

Eu olho para baixo em sua perna ensanguentada.

Não.

Ainda não.

— Devemos ir — digo, de pé. Sentir sua mão cair longe de meu


rosto dói, mas não temos tempo para fazer isso. Não agora.

— Sim, — ele murmura, de pé com um estremecimento.

Nós entramos no rio.

— Onde isso acaba? — Ele pergunta, enquanto lentamente


começamos a segui-lo.

— Acaba em uma grande coisa parecida com uma barragem, mas


a floresta ao redor dela era realmente espessa e densa. Ela tem trilhas
que correm ao lado, mas se estivermos na água, ele vai ser forçado a
sair de sua moto e entrar. Acho que se nós fomos mais longe do que eu
fui, vai ficar ainda mais denso. É difícil rastrear alguém através da
água, e em breve será profundo o suficiente para que possamos tirar a
pressão de nossas pernas e nadar o melhor que pudermos.

— Alguém já lhe disse que você é uma mulher incrivelmente forte,


corajosa e tão linda?

Eu olho para ele. — Sim.

— Quando? — Ele franziu o cenho.

— Agora mesmo.

Um sorriso

Ele vai ficar bem.

Estamos bem.

Por agora.

***

~ 131 ~
Não é um verdadeiro caçador.

Como ele ousa.

Eu sou um verdadeiro caçador. Sou melhor que ninguém. Levei dez


anos para criar cada trilha, para limpar todas as clareiras, para plantar
árvores, para manter o fluxo claro o suficiente para fluir. Eu pensei sobre
cada cenário, cada fuga.

Não é um verdadeiro caçador.

Ele não tem ideia de quem ele está desafiando. Vou encontrá-lo
sem aquelas câmeras e aqueles malditos rastreadores.

Vou fazê-lo desejar nunca ter me desafiado.

Conheço cada centímetro desta floresta.

Cada. Árvore.

Eles não vão escapar de mim.

Amanhã, eu caço.

E desta vez eu atiro para matar.

~ 132 ~
Dezenove
Agonia.

Vem em tantas formas. Física. Mental. Emocional.

Estou sentindo os três.

Eu não sei quantas horas nós vagamos através da água, mas


minha mente, meu corpo, minha alma estão destroçados. Tudo dói, por
dentro e por fora. Meu corpo cansado simplesmente não quer mais.
Com Noah o mesmo, tenho certeza disso. Nada tira a pressão. Nós
flutuamos, nós nadamos, nós apenas paramos e nos deitamos. Nada
tira a dor.

É a tarde agora, isso eu sei. O sol mudou de direção no céu. Não é


engraçado como nós notamos estas coisas? Você pode passar por toda a
sua vida sem perceber a simplicidade da terra, mas quando é tudo que
você tem, de repente é preto e branco. O sol. As árvores. O clima. Como
os animais se movem. A maneira como os dias passam. É tudo tão
claro, criando seu próprio padrão. Nós, como seres humanos,
escolhemos não ver essas coisas, mas quando você para e olha,
realmente é bonito.

— Lara?

Eu me viro para Noah, que está olhando para a frente.

— Sim? — Eu sussurro com a voz cansada.

— Olhe para frente.

Olho para frente e paro de arrastar as pernas pela água.


Diretamente à frente tem uma cachoeira. Não é grande, mas é um
tamanho decente. Rochas sobem ambos os lados dela, se estendendo
para cima e, em seguida, continua em direção ao que eu suponho ser
mais floresta.

— É uma cachoeira, — murmuro.

— A maioria das cachoeiras tem pequenos recantos atrás delas.

— Onde você consegue essa lógica?

~ 133 ~
Ele encolhe os ombros. — É sempre assim nos filmes.

— E todo mundo sabe que os filmes são baseados em fatos.

Ele me dá uma olhada.

Eu lhe dou um sorriso tímido. — Desculpe, estou morrendo de


fome e estou cansada.

— Deixe-me ir em frente e verificar isso.

— Não, — eu digo rapidamente. — Sua perna está dormente da


água fria, mas posso dizer agora que vai doer como o inferno quando
você sair daqui. Deixe-me verificar.

Ele olha para mim. — Sim, isso não vai acontecer.

— Noah.

— Lara.

Eu suspiro.

— Fique aqui, — murmura e usa seus braços para levar seu


corpo através da represa profunda que conduz à cachoeira.

Ele chega e eu vejo enquanto ele usa seu poderoso corpo para se
levantar. Eu posso ver a dor em seu rosto, mesmo daqui, mas ele não
faz um único som. Ele apenas subiu, empurrando através da água. Eu
flutuo, e eu espero. Cinco minutos depois, ele volta. Ele tem um sorriso
aliviado em seu rosto. Isso deve ser um bom sinal, certo?

— O que você sabe, os filmes estão certos, — ele grita.

Graças a Deus. Eu nado acima, usando o último de minha


energia. Eu alcanço a cachoeira, e a névoa macia criada da água que
trava para baixo sobre as rochas embebendo meu rosto. Fecho meus
olhos e pego a mão que Noah. Ele me puxa para cima como se eu não
pesasse nada e eu tenho que segurar minha respiração enquanto nós
passamos pela cachoeira.

Ficamos sem muita visão com água de todos os ângulos. Ela bate
para baixo sobre nossas cabeças, quase tirando meus pés do chão. Eu
continuo segurando minha respiração e agarrada na mão de Noah
enquanto ele me puxa. Passo a passo vamos. Meus pulmões parecem
que vão explodir. Finalmente, a água para. Abro os olhos e pisco
algumas vezes, limpando a água deles.

— Uau, — eu respiro.

~ 134 ~
— Sim, — Noah murmura, andando e passando uma mão pelo
cabelo dele, sacudindo água por toda parte.

— Isto é... mágico.

Eu olho o espaço pequeno mas acolhedor na minha frente. É


pedregoso, com altas paredes de pedra cobertas de musgo. A única
diferença é que a área à esquerda tem uma pequena abertura nas
rochas, talvez de danos causados pelo tempo, e um pouco de luz
natural está fluindo, iluminando o espaço suficiente para ver onde você
está indo. A água escorre pelas paredes em pequenos córregos e eu
posso ouvir a água rugir acima. Eu também posso ouvi-lo na caverna,
mas de onde vem, eu não sei.

Noah entra, examinando o espaço polegadas a polegadas. — Veja


isso, — ele diz, me encorajando com uma mão.

Eu manco e chego perto quando ele está apontando para uma


parte mais profunda da caverna, que para ser honesta parece que
poderia continuar por um bom tempo. — Até onde você acha que essa
coisa vai? — Eu pergunto, olhando para escuridão.

— Poderia ir por quilômetros. Não há maneira de dizer. Pode ser


pequeno, pode não ter fim.

— Acha que ele sabe disso?

— Bem, nós saímos de sua trilha, o que me faz pensar. A única


maneira que saberemos é se ele aparecer. Mas para ser honesto, esta
caverna parece intocada. Entrar aqui foi um grande esforço e não era
facilmente visível do lado de fora.

— Você acha que ele se aventurou tão longe no córrego?

— Não há maneira de dizer, mas dado quão longe da pista que


estamos, o meu palpite é que estamos em um dos seus pontos cegos.
Podemos ter encontrado um lugar seguro.

Uma esperança explode no meu peito, mas eu faço o meu melhor


para não me agarrar a ela. Sabendo que tínhamos um espaço seguro...
isso significaria tudo.

— Devemos ir mais fundo?

Ele olha para a escuridão por alguns minutos, depois volta para
mim. — Nesta fase, não. Não há luz ali, e pode ser perigoso. Não
chegamos tão longe para cair e morrer.

~ 135 ~
— Bem, — eu digo. — Estou feliz por ter um lugar seguro por
enquanto.

— Não sei se é um ainda, mas eu tenho esperança.

— Eu também, — eu admito.

— Precisamos nos secar e precisamos cuidar de nossas feridas.


Você tem alguma objeção a ficar nua para que eu possa secar essas
roupas?

Eu pisco. — Você está querendo dizer...

Ele sorri. — Jesus, mulher. Não. É sobrevivência.

— Claro que é, — eu murmuro.

— Ok, bem, fique com as roupas molhadas.

— Eu tenho roupa de baixo, — eu assinalo. — Vou ficar com elas.

Ele sacode a cabeça e tira tudo o que ele ainda está usando, até
suas boxers. Ele desenfaixa sua perna e eu posso ver claramente a
ferida agora. Está limpa da água. É apenas um grande buraco. A ferida
em seu peito está tão limpa que eu mal posso vê-lo, mas está lá, pele
encobrindo ambos os lados. Eu me viro, achando doloroso de olhar. Eu
desenfaixei minha própria perna, tirei minhas roupas e dei para Noah.

— Eu vou ver se eu posso encontrar uma maneira de sair e


colocar no sol sem passar pela água.

Eu aceno, pressionando minhas costas contra uma rocha fria.


Meus olhos estão pesados e meu corpo está exausto. A fome rosna
baixo na minha barriga e estou com sede, embora eu tenha passado
horas na água. Avanço em direção à luz natural que brilha dentro. O sol
está passando e eu me sento diretamente abaixo dele, sentindo seu
calor contra minha pele e suspirando com felicidade.

— Desculpe por estourar sua bolha, — Noah diz, parando na


minha frente. — Essa é a única luz solar.

Eu quero gritar e arrancar meus próprios olhos para fora, mas em


vez disso eu embaralho para trás e o deixo colocar as roupas. — Você
acha que teremos bastante luz do dia para secá-las?

Ele encolhe os ombros. — Não sei, mas espero que sim. Como
está sua perna?

~ 136 ~
Eu a estico na minha frente, e ela lateja. — Matando-me, — eu
admito. — Sua?

— Mesmo, — ele murmura, sentando ao meu lado. Está mais


quente aqui, então mesmo que eu não esteja diretamente no sol, eu
decido ficar o mais perto que posso.

Eu suspiro e solto minha cabeça em minhas mãos. Meus cabelos


caem sobre elas; É uma bagunça emaranhada, parecendo dreadlock.
Noah se estica, envolve um braço em volta do meu ombro e me puxa
para mais perto. — Você está com fome?

Eu concordo.

— Vi algumas ameixas selvagens crescendo perto da cachoeira, —


diz ele. — Eu posso ir buscar um pouco.

— Em um minuto, — eu murmuro, virando e pressionando meu


rosto em seu peito. Ele é quente, e tem um cheiro familiar, que eu
preciso agora mais do que qualquer coisa. Um conforto familiar.

Ele se agarra a mim, dedos penteando meu cabelo da melhor


maneira possível. Nós não nos movemos, nós ficamos sentados o que
parece séculos, nos braços um do outro, tomando o único conforto que
nós temos agora.

— Vamos comer, beber e descansar enquanto pudermos. Vamos


fazer isso por turnos. Você dorme, eu vou ficar alerta, e vice-versa.

— Ok, — eu digo, voz fraca e cansada.

— OK baby.

Ele me deixa e eu imediatamente perco seu calor. Ele volta para


fora e logo volta com as mãos cheias de ameixas selvagens. Ele está ao
meu lado novamente, entregando-me uma. Eu como uma e em seguida
outra. Então bebemos do córrego.

— Durma, querida, — ele murmura, olhando para mim. — Eu


vou nos cobrir.

Eu não discuto.

Eu não acredito que eu tenha força.

Eu só deito na pedra quente e deixo meus olhos vibrarem


fechados.

Por algumas horas, eu oro para encontrar paz.

~ 137 ~
Vinte
Eu acordo com as mãos correndo sobre minhas bochechas e a voz
calma de Noah. — Lara?

Eu me viro com dor nas costas de ficar deitada na rocha. Levo


alguns minutos para abrir meus olhos, e quando eu faço ainda está
bastante claro na caverna. Acho que é tarde. Não devo ter dormido
muito.

— O que é? — Eu sussurro, gemendo enquanto me viro.

— Ele está lá fora.

Meu corpo inteiro congela. Quatro palavras. Não é engraçado


como elas podem ter esse efeito em você? Em uma fração de segundo eu
vou de relaxada para completamente aterrorizada. Estou cansada de
medo. Cansada de viver com ele constantemente pesando sobre o meu
peito.

— O quê? — Eu sussurro, a garganta apertada.

— Eu ouvi a moto há cerca de cinco minutos. Parou.

— Acha que ele sabe que estamos aqui? Oh Deus, Noah. Não
podemos sair. Foi uma ideia estúpida e estúpida e...

— Ei, — Noah rosna baixo quando ele se ajoelha. — Nós não


sabemos nada. Apenas fique quieta. Não se mova. Não faça um som.

Eu olho para a cachoeira que encobre a abertura para nossa


pequena caverna. Eu posso ouvir os sons distintos de alguém se
movendo perto da água, possivelmente até mesmo na água. Meu corpo
inteiro fica rígido quando um súbito ataque de uma lanterna se move
através da cachoeira, parecendo pendurar lá por muito tempo. Fecho
meus olhos, prendo minha respiração, e por alguns segundos de pura
tortura, pra ser honesta, não posso sentir qualquer coisa além de
terror.

Do topo da minha cabeça até meus dedos do pé, tudo formiga.


Cada parte do meu corpo parece que vai explodir. Eu nunca mais quero
me sentir tão completamente petrificada novamente em minha vida. Eu
não consigo controlar a respiração, mesmo que eu tente. Eu

~ 138 ~
simplesmente me sento lá nos braços de Noah, olhos fechados, rezando,
apenas rezando para que alguém lá em cima possa me ouvir. Por favor,
não deixe que ele nos encontre aqui.

O que parece horas passam, mas na realidade é apenas um par


de minutos. O som da moto ligada faz meu corpo sacudir nos braços de
Noah. Meus olhos se abrem e eu escuto o ronco do motor mais a
distancia. Bem desse jeito. Se foi. Noah e eu não nos movemos por uns
cinco minutos sólidos, apenas sentados lá, tenso, esperando para ver se
é algum tipo de truque.

Mas ele não volta.

— Ele não sabe que estamos aqui, — diz Noah, com voz grossa.

Eu choro silenciosamente.

Parece apropriado. Um alívio diferente de qualquer um que eu já


senti em toda a minha vida passa por mim e eu me afundo nos braços
de Noah, envolvendo-me em torno dele, pressionando minha bochecha
em seu peito.

— Temos um lugar seguro, — eu sussurro contra sua pele.

— Por agora nós temos.

— Por agora? — Eu pergunto, levantando minha cabeça e


olhando para ele.

— Se ele não nos encontrar em poucos dias, ele vai ficar


desesperado. Provavelmente volte a ligar as câmaras. E eu não tenho
certeza que temos esse tipo de tempo de qualquer maneira. Não
podemos ficar mais tempo sem atenção médica.

Lá se vai o alívio.

Ele desliza para fora do meu corpo como se nunca estivesse lá.

— Então, o que fazemos?

— Nós ficamos aqui o máximo que pudermos, fazemos armas,


criamos um plano. Temos que acabar com ele. É a única maneira de
sairmos daqui.

— Então, finalmente, vamos jogar seu jogo.

Noah olha para mim, seu rosto duro. — Ele nos encontrará,
eventualmente. Não podemos nos esconder aqui para sempre. Para
acabar com isso, temos de enfrentá-lo.

~ 139 ~
— Nós tentamos isso antes, Noah, — eu digo suavemente. — Nós
não somos páreo para ele sem armas reais.

— Você não precisa de armas para levar alguém para baixo, você
só precisa do plano certo. Ele é uma pessoa. Nós somos duas.

— Uma pessoa com um plano e armas.

— Você está dizendo que devemos simplesmente desistir? — Ele


diz, frustrado.

— Não, não. Apenas que precisamos ter cuidado. Se nos


apressarmos, tudo isso foi por nada.

— Eu sei, — ele diz suavemente.

***

— Eu não quero morrer, — eu gemia.

Suas mãos vão para cada lado da minha cabeça e ele se inclina
de perto. — Você não vai.

— Eu quero viver.

— Você irá.

— Eu quero... — Minha voz racha. —... Amar. Beijar. Fazer amor.


Eu não quero que todas essas coisas sejam tiradas de mim. Eu preciso
delas. Eu quero todas elas só mais uma vez.

Ele inclina-se para baixo, a respiração abanando sobre o meu


rosto. — Você vai tê-las mais do que uma vez. Você os terá para o resto
de sua vida. Vamos sair daqui, Lara.

— Você não pode prometer isso.

Seus olhos varrem meu rosto. — Eu não vou desistir.

Uma lágrima escorre pelo meu rosto. Ele a captura com o polegar.

— Mas se houver uma chance de que não saibamos, — diz ele,


com voz rouca, — então vou dar tudo de mim, vou dar pra você.

Meu coração corre.

— Começando com amor.

~ 140 ~
Eu engulo o caroço grosso em minha garganta.

— Eu te amo, Lara. Te amei desde o segundo que eu coloquei os


olhos em você naquele bar. Eu te amei a cada minuto desde então.

Mais lágrimas.

Ele se inclina mais perto, beijando-os. Então seus lábios


encontram o meu e ele me beija suavemente no início, movendo seus
lábios sobre os meus, me persuadindo. Alguns segundos de beijos
gentis e carinhosos continuam até que eu finalmente separo meus
lábios e deixo que ele entre. Sua língua encontra a minha numa carícia
suave que eu me sinto até os dedos dos pés. Eu levanto, enrolando
meus dedos em seus cabelos, puxando-o para mais perto, moldando
nossos corpos juntos.

O beijo sopra minha mente.

— Um beijo mais uma vez, — ele murmura contra a minha boca


antes de puxar para trás.

Meu estômago revira e meu coração vibra.

— Agora, por último. O que foi? — Grunhiu.

Seu dedo percorre meu ombro nu, fazendo minha pele picar. Ele
passa uma mão pelo meu braço, captando meu cotovelo e me trazendo
tão perto que eu posso sentir cada polegada dura dele pressionando
contra mim. Eu tremo em seus braços e olho para ele. — Eu quero você,
— eu respiro. — Eu preciso de você.

Ele alcança e captura minha mandíbula, inclinando minha


cabeça para trás. — Quem sou eu para dizer não às suas necessidades?

Eu sorrio.

Ele sorri.

Então seus lábios encontraram os meus novamente. Este beijo é


mais áspero, mais apaixonado. É assim que me lembro dele. Selvagem,
tão maldito masculino. Sua mão desliza para baixo e captura minha
bunda, usando-a para esfregar meu corpo contra o dele. Eu não sinto a
dor na minha perna, nem no meu corpo cansado; Tudo o que eu sinto é
ele. Tudo ao meu redor. Esquecendo todo o resto por apenas um
minuto. Nossas línguas dançam enquanto suas mãos se movem sobre
meu corpo, acariciando, amassando, dando-me o que eu tão
desesperadamente preciso.

~ 141 ~
Suas mãos fazem um trabalho leve do que resta das minhas
roupas, e com um pouco de baralhar nós conseguimos ficar nus,
apenas o suficiente. Nós só precisamos apenas o suficiente. Nossas
bocas se chocam em um frenesi e de repente vamos de suave a
desesperados e necessitados. Minhas unhas roçam seus bíceps,
rasgando sua pele, fazendo-o assobiar. Seus dedos amassam minha
bunda enquanto ele me puxa contra sua ereção. Estou molhada. Eu
não tenho vergonha. Eu me pressiono contra ele, precisando dele,
querendo ele. Agora mesmo.

Sua boca rasga a minha e cai, capturando um mamilo entre seus


lábios. Arco com um suspiro, enganchando minha perna boa em torno
de seu quadril e usando meu calcanhar contra suas costas para levá-lo
mais perto. Sua ereção desliza para cima e para baixo meu sexo e nós
dois deixamos sair um gemido feroz. Ele aperta meu mamilo endurecido
e se move para o outro, lambendo e chupando até que eu estou me
contorcendo contra ele.

Sua mão se move entre nós. Ele toma sua ereção. Então ele está
dentro de mim. Meses sem ele, todas as lágrimas que eu chorei, tudo se
vai enquanto ele se levanta, me enchendo em um movimento rápido.
Parece incrível. Tão incrível. Eu grito seu nome enquanto me estira,
fazendo com que uma ligeira queimação se misture com o prazer. O tipo
certo de mistura. A mistura perfeita. Eu aperto seus ombros, ignorando
a dor no meu corpo, concentrando-me em vez disso no incrível prazer
que se passa entre minhas pernas.

— Noah, — eu gemi contra seu pescoço. — Oh Deus.

— Esqueci o quão gostosa você é, — ele rosna, empurrando para


dentro de mim, seu corpo poderoso segurando-me com pouco ou
nenhum esforço.

— Eu vou...

Eu atiro minha cabeça para trás e ela bate contra a parede da


caverna atrás de mim. Eu grito seu nome quando um orgasmo rasga
através de mim, duro e rápido. Meu corpo inteiro treme com prazer
enquanto seus impulsos se tornam mais rápidos, até que ele está
entrando e saindo de mim. Agarrando-me não poderia ser fácil. Alguns
golpes mais tarde, ele explode, ofegando meu nome e deixando cair sua
testa contra a minha. Uma fina camada de suor cobre sua pele, e nós
dois estamos ofegantes.

— Bem, — eu digo, a voz ofegante. — Se essa é a minha última


vez, valeu a pena.

~ 142 ~
Ele ri e gentilmente me solta.

— Você está bem? — Eu pergunto quando meus pés batem no


chão.

— Mais do que bem.

— Eu quero dizer sua perna. — Eu sorrio ironicamente.

Ele passa a mão pelos cabelos, e não posso deixar de notar os


bíceps dele e como eles se flexionam quando ele se move. Deus, ele é
perfeito.

— Isso vai me matar.

Meu sorriso morre. — Então não deveríamos ter...

Ele me corta com um beijo, áspero e rápido. — Eu faria isso com


você de qualquer maneira, mesmo se eu estivesse perdendo uma perna.
Eu senti tanto a sua falta, Lara. Estar longe de você me matou.

Meu coração martela. — Eu sinto muito. Também senti sua falta.

Ele sorri.

— Eu não sei quanto tempo temos, mas acho que podemos dizer
com segurança que temos o resto da noite. Vamos dormir um pouco.
Nós dois precisamos.

— Primeiro, deixe-me olhar para sua perna. Eu quero ter certeza


que está tudo bem.

Ele me dá uma olhada.

— O quê? — Eu protesto. — Eu não quero que você perca a


perna.

Ele encontra um lugar e se deita. Eu trabalho no controle de sua


perna. Está ainda bastante limpo. Poderia ser pior, mas ele estava
certo. Precisa desesperadamente de cuidados médicos. Ele não vai
durar os próximos dias. Eu vou até a cachoeira e mergulho um pedaço
do que é deixado de sua camisa na água antes de mover para trás e
suavemente limpo sua ferida. Então eu encontro uma pequena rocha e
levanto a perna um pouco, esperando que isso tire uma parte da
pressão e ele conseguirá dormir.

— Eu não tenho nada para tirar a dor, mas espero que você esteja
cansado o suficiente para você conseguir descansar, mesmo que isso
provavelmente esteja matando você.

~ 143 ~
Ele sorri fracamente. — Eu acho que estou cansado o suficiente.

Pego algumas roupas secas e as enrolo-as, enfiando-as sob a


cabeça dele. Então eu me deito ao lado dele. Ele me puxa em seus
braços e eu atiro o meu sobre seu estômago, aninhado em seu peito.

Em questão de segundos, estamos dormindo.

~ 144 ~
Vinte e um
Noah está em agonia.

Não há como negar. Ele se encolhe quando ele se move, ele


acordou várias vezes gemendo de dor, e ele tem um suor constante
brilhando em sua pele. Ele está sofrendo com uma dor que eu não
consigo consertar. Eu odeio saber que não posso ajudá-lo, que não
importa o que eu faça, não posso ajudar. Nós estivemos nessa caverna
um dia inteiro, e enquanto nós não fomos encontrados, nós vamos ter
que sair logo para conseguir comida. Nós dois estamos com fome. Noah
não está em estado de fazer isso agora, e isso deixa apenas uma opção.

Eu tenho que fazer isso sozinha.

A ideia de ir lá fora por sozinha me aterroriza, mas eu não deixo


isso me abalar. Estou tentando ser forte. Ele precisa que eu seja forte.
Ele tem sido a minha pedra, uma torre de força, mas ele precisa de um
pouco mais de tempo para descansar e eu preciso de mais ameixas para
que possamos comer enquanto temos uma chance. Então eu fiz a
escolha de ir quando ele continua dormindo. Ele não me deixaria ir de
outra forma.

— Como está a dor? — Eu pergunto, ajoelhando ao lado dele.

— Está um pouco melhor — diz ele, com os dentes cerrados. —


Mas não muito.

— Você precisa descansar, Noah. Se você não fizer isso, nós


nunca vamos sair daqui.

Ele olha para mim, e a dor em seus olhos me fere. Isso dói.

— Eu sei, — ele raspa.

— Vou lavar um desses panos e colocar água nele. O frio pode


ajudar a aliviar a dor.

Ele não diz nada, apenas fecha os olhos. Eu ando até a cachoeira
e passo parte de sua camisa debaixo dela, depois a carrego e a
pressiono sobre sua ferida. Ele suspira, com alívio ou dor, eu não sei.
Eu tenho feito isso na minha própria ferida e está ajudando. Eu não
tenho ideia se é útil ou não, mas o frio parece tirar a dor por alguns

~ 145 ~
segundos. Nós dois provavelmente precisamos de pontos, por isso
nossas feridas estão demorando tanto para fechar, mas há pouco que
podemos fazer sobre isso.

A respiração de Noah se aprofunda depois de alguns minutos e eu


me sento, apenas observando-o. Ele me fez prometer que eu não iria
sair desta caverna sem ele, mas eu preciso de mais comida. A água vai
ajudar e nós dois precisamos comer. Se quisermos nos fortalecer,
precisamos comer, simples assim. Ele não vai ficar feliz comigo, mas eu
vou entrar e sair tão rápido, ele provavelmente nunca saberá.

Espero mais dez minutos, até ter certeza de que ele está
dormindo, então vesti só o meu sutiã e calcinha, porque essas são as
únicas roupas deixadas em uma peça, e cabeça em direção à cachoeira.
Eu chego lá, respiro fundo, e começo a empurrar completamente. Assim
como quando entrei, meus pulmões gritam e meu corpo implora por ar
enquanto eu empurro meu caminho para fora. Eu alcanço a borda e
derrubo para baixo. Não é uma queda alta, mas é o suficiente para que
eu sinta a água com força.

Eu levanto subitamente, ofegando por ar, olhos dando voltas ao


redor para me certificar de que Noah não me ouviu — e principalmente
para ter certeza de que estou sozinha. Aguardo alguns minutos, e nada
acontece. Meu coração bate enquanto eu nado para o lado da barragem
e saio. Olho para a esquerda, depois para a direita, e decido voltar o
caminho pelo qual chegamos. Sei que as ameixas devem estar lá.

Eu encontro um dos caminhos criados que conduzem à água


depois que eu deslizo por ela por aproximadamente quinze minutos.
Subo e desço até encontrar as ameixas. Arfando, eu acalmo minha
respiração. Foi difícil trabalhar nadando tão rápido, mas preciso ser
rápida. Minha perna lateja e minha cabeça está zonza por falta de
comida. Eu estudo as árvores.

Eu olho acima na mais baixa das quatro árvores, que parece ter a
maioria das frutas.

Pego uma e arranco-a do galho.

— Olá, Lara.

Essa voz me dá calafrios na espinha. Eu viro lentamente, ameixa


na mão, para ver Bryce sair de trás de um grupo de árvores. Meu
coração se lança na minha garganta e eu não consigo respirar. Por
alguns segundos eu fico parada lá, incapaz de me mover.

~ 146 ~
— Hhh, como você me encontrou? — Eu suspiro.

Uma pergunta estúpida, mas me dá uma chance de pensar.

— As ameixas que você encontrou estavam estrategicamente


colocadas. Há tanta comida aqui, e eu sabia que você teria que vir atrás
em breve, e eu imaginei que você estaria perto do córrego. Eu vi a sua
tentativa de me jogar fora do seu rastro, pelo caminho. Foi patético. Eu
sabia que você iria para água, é a regra número um de sobrevivência
quando você não quer ser rastreada. Achei que você iria acabar por esta
área e eu estava certo. E seu namorado disse que eu não poderia caçar.
— Ele joga sua cabeça para trás e ri. Eu olho para a arma em suas
mãos. É uma faca, uma faca grande. Eu engulo. — Como está Noah, a
propósito?

— Vá para o inferno.

— É realmente o melhor que você tem? Pensei melhor em você,


Lara.

— Vá para o inferno, Bryce.

— Todo esse tempo, eu estava bem ali e você nunca soube. Até
arrumei o Marco para comprar-lhe algumas bebidas e te drogar. Idiota
ingênuo fez o que eu pedi pelo preço certo.

Marco? Marco é o cara com quem Noah me viu? Deus. Onde


termina?

— E você caiu tão facilmente. Um pouco de atenção e você foi


para suas mãos.

— Você é um monstro, — eu sussurro, tremendo.

Ele ri. — Eu nunca disse que não era, mas você, minha querida, é
crédula.

Vejo uma grande pedra, agarro-a e atiro nele.

É a única coisa que eu posso pensar para fazer pra pegá-lo de


surpresa, na cabeça.

Ele dá alguns passos bamboleantes para trás, mas eu não espero


para ver se ele consegue ficar de pé ou não. Eu me viro e corro. Eu
corro forte, corro rápido, corro alimentada pelo medo.

Risos selvagens me seguem.

— Você pode correr, mas não pode esconder.

~ 147 ~
Eu posso ouvir suas botas batendo atrás de mim.

Lágrimas escorrem pelo meu rosto quando eu pego o ritmo. Não


posso voltar para a caverna; Tenho que tentar me esconder. Se ele não
pode me rastrear, ele não pode me encontrar. Eu empurro folhas e
árvores enquanto elas ficam mais grossas. Tropeço em pedras, mas não
paro. O suor escorre pela minha testa e picos de adrenalina batem
sobre mim, fazendo-me aumentar o ritmo ainda mais.

Eu me viro e olho atrás de mim — um grande erro. Eu bati em


uma árvore, fazendo o meu corpo ser lançando para trás. Eu pouso no
chão com um baque e um grito estrangulado. Eu viro o meu corpo o
mais rápido que posso e começo a rastejar freneticamente para as
partes mais espessas da floresta, fora da trilha. Eu arriscarei tudo para
puder me esconder.

Não é o suficiente.

Ele sai do nada, como se ele nem estivesse tentando. Ele estende
a mão, segurando meu tornozelo.

Eu grito.

O mais alto que posso.

Então eu retrocedo para trás, batendo em algo, eu não sei o quê.


Eu continuo fazendo isso, chutando mais e mais enquanto eu tento
liberar meu tornozelo.

— Eu poderia matá-la tão facilmente, mas eu fiz uma promessa.


Eu disse que te machucaria, pouco a pouco. Se você ficar quieta, eu
posso fazer isso rápido.

— Vá se foder! — Eu cuspo, virando-me e chutando meu pé em


seu rosto.

Ele cai para trás e eu salto para cima, girando para correr
novamente. Ele atira a faca, como um profissional. Ela vem em minha
direção e bate no meu braço, sua lâmina cortando minha pele tão
simplesmente como se estivesse deslizando através da manteiga. As
estrelas nublam minha visão enquanto a dor rasga meu corpo. Sangue
jorrando, correndo e pingando sobre meus dedos.

Corra, Lara.

Corra.

~ 148 ~
Eu forço minhas pernas para se mover; De alguma forma eu as
forço continuar, mas na verdade eu só quero morrer. Agarro meu braço,
sangue fluindo sobre meus dedos, e tento voltar para a trilha. O riso me
acompanha, junto com os passos. Ele não vai me pegar de novo. Ele
não vai. Eu tenho que me esconder. Eu corro mais rápido, tão rápido
que meus pulmões queimam e minha respiração praticamente para.

O suor queima meus olhos, mas eu não paro. Eu não solto meu
braço. Eu penso em Noah. Penso na liberdade. Eu tenho que passar por
isso. Eu tenho. Eu não sei em que ponto eu o despisto, eu só sei que
seus passos parecem calar atrás de mim. Eu corro e corro até meu
corpo se recusar a continuar. Paro por uma fração de segundo e olho ao
redor. A floresta é espessa, profunda, densa em ambos os lados.
Exatamente o que eu preciso. Eu não vou chegar longe, é tão confuso,
mas estou disposta a tentar.

Eu não posso correr mais.

Eu passo fora da trilha, e me acomodo entre duas árvores


maciças. As videiras balançam, cruzando-se sobre elas, e eu tenho que
usar minhas últimas forças para ir para cima. Os arbustos e os troncos
são tão espessos, tão confusos que mal consigo mover dois degraus sem
ter que arrancar algo do caminho — Noah estava certo, nunca teríamos
conseguido navegar por aqui. Ainda assim, eu continuo indo até que eu
esteja cerca de dois metros.

Eu espio um arbusto grosso e, exausta, pressiono-me nele o mais


profundo que posso. Os ramos arranham meus braços e emaranham
em meu cabelo, mas eu agacho para baixo, deixo cair minha cabeça, e
tento manter minha respiração. Poucos minutos depois, eu ouço seus
passos preencher meu espaço quieto. Eu fiquei mais adiante dele do
que eu pensava. Eu fecho meus olhos, aperto-os, e espero. Ele anda
devagar, quase silenciosamente.

Prendo minha respiração.

Não há muito para aguentar, mas não vou deixar isso sair.

— Lara? — Ele chama, sua voz quase melódica em seu som. —


Saia, saia, onde quer que esteja. Não terminamos de jogar.

Eu não me movo.

— Noah estava certo sobre as câmeras, isso é muito mais


divertido.

Não. Se. Mova.

~ 149 ~
— Você sabe, se você quer jogar, eu sou ótimo em esconde-
esconde.

Bile sobe em minha garganta.

— Oh, Lara.

Eu rezo para que os arbustos que me rodeiam sejam suficientes,


para que ele não possa me ver dentro deles. Eu permaneço agachada
assim, ouvindo-o atormentando-me por o que parece horas.
Lentamente, mas seguramente, seus passos se afastam em uma direção
diferente e desaparecem. Eu ainda não me movo. Eu permaneço
agachada, respirando tão suavemente. Eu me pergunto se é o
suficiente, por tanto tempo meu corpo grita comigo para se mover.
Meus músculos tem cãibra, minhas costas doem, e minhas pernas
estão fracas.

Mas meu braço.

A agonia é quase insuportável. Estou sangrando muito.

Eu finalmente decidi me mover e lentamente saio do mato. Eu


espero para ver se ele vai pular em mim, mas ele não aparece. Eu não
sei até que ponto ele foi embora, ou onde ele está esperando, mas eu sei
que o jogo simplesmente foi de mal a pior. Ele está nos caçando agora,
de verdade, e eu não sei como diabos nós vamos bater ele.

Eu permaneço ali, no meio desses arbustos, por mais uns dez


minutos, apenas olhando, esperando, sem confiar que estou sozinha.
Torna-se claro depois de um tempo que eu estou, e eu saio com grande
dificuldade. Quando estou de volta no caminho, eu me inclino e
fraquejo, meu estômago está vazio. Isso dói. Tudo isso dói. Noah estava
certo, eu não deveria ter vindo aqui, mas eu vim e agora estou pagando
por isso.

Nem sei onde estou.

Eu não sei por qual caminho eu percorri.

Eu não sei como voltar para Noah, eu nem sei se ele está bem.

Eu só sei que estou sozinha.

Tão completamente sozinha. E eu estou apavorada.

~ 150 ~
Vinte e dois
A dor é demais.

Eu ando na direção que eu acho que a caverna está, mas o fato


da questão é que eu poderia estar completamente errada. Tudo parece
tão semelhante. Poderia ser o movimento errado, eu sei que, voltando
ao lugar que eu estava escondida porque ele poderia estar lá, deitado,
mas eu não quero me perder nesta floresta, porque eu perderia Noah, e
Somos mais fortes em equipe. Pelo menos o sangramento do corte em
meu braço parou. Não é tão profundo quanto eu pensei, mas não tenho
dúvidas que os médicos teriam uma discussão séria sobre pontos se
estivesse em um hospital.

Eu começo a me mover, lentamente, cautelosamente, tentando


fazer o menor ruído possível, caso Psycho esteja esperando, pronto para
saltar em mim. Até agora, eu não ouvi ou vi nada, mas meu corpo
inteiro está em alerta; Cada passo envia um pânico através do meu
coração.

Eu sou idiota.

Eu deveria ter escutado Noah. Ele deve estar acordado agora, e eu


sei que ele deve ter perdido a cabeça. Ele virá procurar por mim, e
poderemos nos separar, o que é a pior coisa que poderia acontecer aqui.
Mas eu percebo que não posso continuar destruindo a mim mesma por
tentar fazer o que é certo. Não há nada certo nesta situação, tudo que
você faz é uma escolha, e mais frequentemente do que não é errado.

Não posso deixar que meus pensamentos me enfraqueçam. Eu fiz


a mesma coisa com vovó e eu perdi Noah. Não posso perdê-lo
novamente.

Eu não sei quanto tempo eu tenho andado, mas o sol mudou,


indicando que é a tarde. Se eu não encontrar Noah antes do pôr-do-sol,
terei que passar uma noite aqui sozinha. Nada me aterroriza mais do
que isso. Eu olho para cima através das árvores, as nuvens
suspeitamente escuras pairando, ameaçando. Ainda pior, eu ficar presa
em uma tempestade sem saída e sem proteção.

O pânico espreme meu coração.

~ 151 ~
Eu continuo me movendo.

Chego a uma cerca depois de mais uma hora e meu coração


despenca. Cheguei a um limite, uma de suas cercas eletrificadas. Eu
não acho que havia um limite perto da caverna. Meu corpo inteiro
começa a tremer enquanto eu me viro e olho de volta para as árvores.
Posso voltar, mas nem sei onde está o riacho. Vou encontrá-lo, com
certeza, mas quanto tempo vai demorar?

Um soluço dolorido deixa minha garganta e eu me abaixo até o


chão contra um tronco de árvore, tentando estabilizar minha
respiração. Eu soluço. Eu choro tão forte que tudo treme. Minha perna
dói, meu braço dói, tudo dói.

Estou cansada de dor.

Principalmente, estou cansada de medo.

Fico encurralada contra o tronco da árvore até ouvir um berro


distante. Levo alguns minutos para decifrar se é minha imaginação ou
se é real. Vem de novo, tão distante que é difícil de entender. É uma voz
masculina, mas é Noah ou é Bryce? Eu não estou a ponto de gritar de
volta e correr o risco de responder errado. Eu inclino minha cabeça
para o lado e foco. Eu ainda não consigo entender, então eu me levanto
e lentamente caminho para ele.

Enquanto eu me movo para trás através das árvores, torna-se


mais claro. É o Noah.

— Noah! — Eu grito.

— Lara? — Ele chama, voz profunda e frenética.

— Estou aqui, estou aqui!

Eu começo a correr pelo caminho em direção à sua voz, felicidade


e alívio inundam meu corpo. Eu corro sem pensar, só preciso vê-lo. Eu
preciso dele. Eu não penso. Estou correndo, o braço agarrado ao meu
peito, o corpo focado em uma coisa — encontrá-lo.

Bryce sai na minha frente.

Ele está sorrindo, que é a primeira coisa que eu percebo. A


segunda é que ele ainda tem aquela faca. Eu parei estática, os olhos
arregalados, o corpo apoderando-se do pânico tão familiar.

~ 152 ~
— Vocês dois são realmente as pessoas mais estúpidas que eu já
conheci. Honestamente? Gritando um para o outro? Deus te deu um
cérebro?

Ele tem a coragem de usar Deus em uma frase? Doente.

— Você a toca, eu vou matar você.

Noah.

Meus olhos se movem sobre o ombro de Bryce para vê-lo de pé,


sem camisa, poderoso, coberto de suor. Ele está segurando sua perna
ligeiramente, mas se não fosse isso, nada pareceria estar errado com
ele. Nem uma única coisa no mundo.

Bryce enfia a jaqueta, que agora percebo que é longa e pendurada


em torno de seus joelhos. Ele puxa uma metralhadora. Meu corpo fica
rígido.

— Eu sinto muito, o que? — Ele ri, virando-se para que ele possa
ver tanto Noah como eu.

— Você quer uma caçada, eu vou te dar uma merda de caça. Mas
você a deixe ir.

— Noah, não, — eu grito, o terror pegando meu peito.

— Dando a vida por ela, honrado, — Bryce pensa. — Eu não sei


honestamente por que você correria esse risco. Quero dizer, é culpa dela
que você esteja aqui, afinal. Se ela não falasse demais para que sua avó
fosse morta, eu nunca teria tropeçado com ela.

Noah rosna.

Bryce ri, obtendo sua reação desejada. — Devo adverti-lo, eu


estou um pouco de mal humor depois que sua amiga aqui jogou pedras
em mim. Cuidado, Noah. Eu poderia acidentalmente acertar de forma
fatal.

Não.

***

— Noah!

~ 153 ~
— Corra, Lara. Agora, — ele avisa.

— Não, — eu grito.

Bryce se vira e aponta a arma para mim. — Faça como ele diz,
querida. Eu irei buscá-la em breve.

— Não, — eu choro desafiadoramente.

Bryce gira ao redor e o pápápá da metralhadora dispara. As balas


arremessam aos meus pés e eu pulo para trás com um grito. Nenhuma
dor vem e me leva um momento para perceber que era um aviso.

— Corra — grita Noah. — Corra caralho!

— Noah. — Eu tremo, correndo para trás enquanto Bryce tira sua


faca e aponta em minha direção.

— Eu acho que você precisa aprender uma lição.

— Lara, corra! — Noah grita tão alto, tão ferozmente que eu


empurro meus pés e me viro, correndo.

Enquanto eu desapareço através na floresta, o som da


metralhadora rasga minha alma.

Não.

Eu o deixei.

O que eu fiz?

~ 154 ~
Vinte e três
Estou perdida novamente.

Não sei onde estou. Está escuro e estou apavorada. Encontro


uma árvore pendente e me sento debaixo dela, mas não me protege da
tempestade cruel que ameaça cair. Não encontrei a caverna. Ou o
córrego. Não sei se Noah está vivo. Na verdade, agora, eu não sei nada.
Todo o meu corpo está dormente; Fora é o medo, a dor, o pânico. Eu
não sinto nada.

Neste momento, eu acho que eu poderia morrer e ficar bem com


isso.

Raios rolos e relâmpagos podem ser vistos cortando o céu e


batendo no chão à distância. Está chegando mais perto e há uma
chance de eu ficar presa na tempestade. Eu me aproximo da árvore,
rezando para que ela me dê a proteção que eu preciso, mas a verdade
da questão é que provavelmente não.

Imagine se, uma tempestade tirar a minha vida depois de lutar


tanto?

Eu rio amargamente ao pensar.

A tempestade rola mais perto e começa a chover, suavemente no


início e então vem forte. É alto, ensurdecedor, e está frio. Eu me encolhi
contra a árvore, mas eu estava certa, não é suficiente para me proteger
da chuva. Os galhos balançam em volta de mim, alguns estalam, e o
vento uiva através das árvores, dando um assobio estranho que faz
minha pele se arrepiar. Eu inclino minha cabeça para trás e grito. Eu
deixo tudo sair. O medo. A dor. O desespero. Eu grito até que minha voz
fique rouca e meu corpo ceda.

Então eu me deito de lado e me enrolo em uma bola, enfiando a


cabeça em meus braços.

Depois de alguns minutos, eu não consigo mais sentir o frio da


chuva; Meu corpo é uma bagunça entorpecida, minha mente ainda pior.
Relâmpagos estalam, iluminando o céu. Não o suficiente para eu ver
nada vital. O tremor começa cerca de dez minutos na tempestade e

~ 155 ~
continua até que passe. Minha pele está encharcada, meu cabelo, meu
corpo. Parece que vai até os meus ossos. Talvez vá.

De alguma forma, durante aquela tempestade, adormeço. Eu não


sei honestamente como, eu acho que meu corpo acaba finalmente
entorpecido de cansaço. Acordo ouvindo meu nome sendo chamado.
Tenho certeza de que é um sonho no início, porque não há nenhuma
maneira possível de Noah ainda estar vivo, mas depois de alguns
minutos eu percebo que não é um sonho. Ele está me chamando. Eu
paro ereta, encharcada até os ossos e tremendo. Ainda está escuro. A
chuva parou, mas eu não consigo ver nada.

Seria outra armadilha?

Vou arriscar.

— Noah? — Eu chamo, minha voz rouca.

— Lara?

Oh Deus, ele está vivo. Lágrimas, aquelas que eu achava que


estavam todas secas, estouraram e correram pelo meu rosto em ondas
grossas.

— Onde você está? — Ele chama.

— Não sei, não sei.

— Continue me chamando.

Durante os dez minutos seguintes eu chamo seu nome até que


finalmente ouço suas botas triturando através das folhas. Ele está vindo
para mim. Ele está tão perto.

— Eu estou aqui! — Eu choro alegremente.

Eu estendo a mão, eu não posso ver, eu não posso ver nada, mas
eu estendo as mãos e elas finalmente atingem um peito quente, duro e
nu. Enrolo nos braços nele. Sua volta em torno de mim e nós dois
caímos ao chão. Minhas lágrimas percorrem sua pele e meu corpo
treme em seus braços.

— Você está vivo, — eu soluço contra ele. — Você está vivo.

— Eu não sei como, querida. Não sei como.

— Hum, — como você se afastou?

~ 156 ~
— Ele cometeu um erro virando para te machucar. Eu usei a
pedra que eu tinha e joguei na parte traseira da sua cabeça
imediatamente depois que você desapareceu. Olhei para ele por uns
bons minutos. Eu tenho uma vantagem. Eu encontrei uma pista para a
água mais profunda. Eu mergulhei, saí do outro lado, e subi uma
árvore. Quando chegou a mim, não conseguiu me encontrar.

— Como você me achou?

— Um golpe de sorte em toda essa insanidade. Eu estava


seguindo a pista e eu pensei ter visto você de relance, então eu perdi
você na escuridão, aí eu arrisquei chamar. Foda-se, querida, você está
encharcada.

— Eu não pude sair da tempestade.

— Eu também. Acho que ele voltou para a noite, mas não


podemos ter certeza. Assim que a luz da manhã chegar, iremos atacar a
guerrilha. Ele pode ter armas, mas existem dois de nós e hoje provou
que ele não é tão inteligente quanto ele pensa que é. Ele virou as costas
para mim, o maior erro que qualquer caçador poderia fazer.

Eu faço um som estrangulado em minha garganta. — Eu


honestamente pensei que você estava morto.

Ele faz um som rouco com seu peito e me segura mais perto. —
Nós temos que derrubá-lo, Lara. Ele está ficando desesperado.

— Eu sei, — eu sussurro.

— Porra, querida, estar separado de você é algo que eu nunca


mais quero que aconteça novamente.

Eu tremo em seus braços.

— Vamos tentar dormir um pouco. Só Deus sabe quando ele vai


voltar e o que ele planejou desta vez.

Nem quero pensar nisso.

Pouco a pouco, meu espírito de luta está diminuindo.

Eu não sei quanto tempo mais eu posso aguentar isso.

***

~ 157 ~
Eles acham que me enganaram.

Eles acham que realmente escaparam.

Eles acham que eu não permiti.

Eu só queria dar-lhes um momento de esperança.

Eu sou um caçador. Eu sei onde minha presa está, mesmo que eles
não saibam que eu estou lá.

Eu sei o que eles estão planejando.

Eu vou ter certeza que eles saibam que eu estou no comando. É


hora de terminar o jogo.

~ 158 ~
Vinte e quatro
A manhã vem.

Forçar meu corpo cansado a levantar-se é uma das coisas mais


difíceis que eu tive que fazer. Minha perna dói, meu corpo dói, meu
braço está latejando. O sangue seco cobre minha pele, e minha ferida
precisa desesperadamente ser limpa.

Meu corpo não está preparado para uma luta, mas minha mente
precisa estar. Não há mais opções.

— Para onde vamos agora? — Pergunto.

— Um terreno mais alto, onde podemos vê-lo chegando. O melhor


local é perto da cachoeira, mas em vez de se esconder dentro dela,
vamos esperar no topo. Se você ver quaisquer boas pedras ou lanças no
caminho, pegue. Vamos precisar delas.

Começamos a caminhar pela floresta, olhos abertos para qualquer


sinal de Bryce. Caminhamos, escavando através da lama criada pela
chuva da noite passada, durante horas.

Nós alcançamos a represa grande perto da caverna e nadamos


sobre às rochas que conduzem a ela. Devemos ser capazes de subir até
o topo da cachoeira através da caverna. É o caminho mais rápido. Nós
escalamos a borda e com respiração ofegante nos empurramos através
da cachoeira. Quando saímos do outro lado, estamos tão ocupados
esfregando a água de nossos olhos que não os percebemos. No segundo
nossa visão limpa, um grito agonizado é rasgado de minha garganta.

Eu caio para trás, tropeçando sobre uma rocha.

Existem corpos. Cerca de cinco deles. Todos eles jovens,


adolescentes talvez. Eles foram abatidos da maneira mais horrível, e há
tanto sangue. Sobra as paredes, os corpos, tudo. Meus gritos
aterrorizados tornam-se pequenos choros agonizantes enquanto eu
tenho na visão mais horrível da minha vida. Eu não posso nem
distinguir o sexo de alguns deles, eles estão mutilados.

Noah se move. Rapidamente.

~ 159 ~
Ele agarra-me, trancando seus olhos com os meus. — Você não
pode desmoronar em mim, baby. Preciso que você bloqueie e continue.
Seu braço fica em volta da minha cintura e ele me puxa.

Eu escalo a parede o mais rapidamente possível, o que é


agonizantemente lento. — Tome seu tempo, Lara. Você tem isso, —
Noah me incentiva por trás.

Eventualmente, eu me arrasto até o topo da cachoeira. Eu viro e


observo Noah vir atrás de mim, mas no momento em que ele está sobre
a borda, seus olhos se enchem de medo.

— Corra, temos que...

Sua voz é cortada quando Bryce aparece de trás das árvores com
uma espingarda em uma mão e uma faca ensanguentada na outra.

— Você acha que eu não iria descobrir o seu próximo passo? Eu


sei. Assim como eu sabia sobre seu pequeno esconderijo. Você viu como
eu o decorei? Adorável, não foi?

Não posso aceitar isso. Não posso.

Noah me puxa para perto, mas minhas pernas estão fracas e


tremendo.

— Eu devo dizer, não é minha maneira favorita de matar. Eu só


parei um carro e eles me deixaram entrar. Foi divertido, você sabe.
Havia uma garota loira, ela lutou tanto quanto eu estava cortando sua
garganta. — Ele ri, balançando a cabeça como se estivesse contando
uma história sobre uma criança fazendo algo simples, como ir ao
banheiro. Não como se ele simplesmente tivesse matado jovens
inocentes. — Você sabe o quanto alguém sangra quando está ferido?
Honestamente, é fascinante.

Meus joelhos tremem.

— Você teria gostado, Lara. Você gosta de ver as pessoas


morrerem, afinal. Diga-me, como foi sua última visita ao túmulo da sua
avó? Você pediu desculpas? Pobre velha, não teve chance contra sua
boca esperta.

Eu bufo. A dor rasga meu peito.

— Imagine quanto tempo ela teria de vida se você não estivesse


junto para matá-la? Você e eu, não somos diferentes. Eu sou apenas
honesto sobre o tipo de monstro que eu sou.

~ 160 ~
— Não lhe dê ouvidos, — ordena Noah.

— Você não precisa me ouvir, Lara. Você já sabe disso. Você é


uma assassina. Pobre vovó.

— Foda-se, idiota, — eu grito, movendo-se rapidamente e


lançando Bryce para a frente.

Nós caímos, caímos, caímos. Primeiro através do ar.

Então nós batemos na água duramente, nossos corpos afundam


abaixo da superfície. Eu luto para subir para o ar, mas ele está lá,
também. Eu sei que eu preciso criar distância entre nós agora. Ele
provavelmente perdeu a arma na queda, mas ele é muito grande para
eu lutar sem Noah.

Eu tento me afastar, mas seu braço serpenteia e agarra meu


pescoço, me empurrando para baixo.

Eu não tenho fôlego em meus pulmões.

A água enche-os e eu luto, inalando demais.

Eu alcanço a superfície e ofego, meus pulmões queimam. E


novamente ele me empurra para baixo. É isso. Vou morrer aqui. Eu
sinto meu corpo cada vez mais pesado. Afundando.

A escuridão se fecha.

***

— Lara, acorde.

Noah? Isso é você?

— Vamos. Por favor, acorde.

Estou tentando.

— Porra, não me deixe.

Está chorando?

Oh, Deus. Noah. Eu posso te ouvir. Estou voltando.

~ 161 ~
Eu tento me concentrar em meus olhos, mas eles não abrem. Eles
simplesmente não funcionam. Eu tomo uma respiração irregular, e
tento novamente. Eles piscam.

— Sim, porra. Querida, por favor.

Eu estou quase lá.

Outra respiração profunda, e desta vez eu consigo. Minha visão


está borrada, mas eu posso ver o contorno nebuloso de Noah se
inclinando sobre mim. Eu pisco mais algumas vezes, começando a abrir
meu outro olho, e eu percebo que eu estou em algo macio. Realmente
suave, como uma cama. Eu freneticamente limpo minha visão e olho ao
redor. Não sei onde estamos. Parece um tipo de quarto.

— Noah? — Eu chamo.

— Oh, graças a Deus, — ele diz com alívio. — Eu estava


preocupado por você não acordar.

Eu pisco novamente. — Eu pensei... eu pensei que eu ia me


afogar.

Ele se inclina e pressiona sua cabeça contra minha testa. —


Porra. Eu estava com medo. Você está bem. Você está se sentindo mal?

— Atordoada, mas tudo bem... eu acho. Onde estamos?

— Eu encontrei seu esconderijo, — diz Noah, com voz grossa. —


Está no subsolo. Notei um arbusto estranhamente colocado e percebi
que era uma entrada.

Subterrâneo.

Claro que sim.

Eu fico ereta, corpo gritando de dor. — Onde ele está? Ele está
morto?

Noah sacode a cabeça. — Acho que não. Eu bati em sua cabeça


com uma pedra quando eu cheguei a você na água, mas você foi para
baixo e ele fugiu enquanto eu estava trazendo você para a borda. Não
consegui esconder a moto. Eu a vi na cachoeira e a usei para colocar
uma distância segura entre nós. Eu escondi a moto nos arbustos, não
quero que ele saiba que estamos aqui.

Eu estudo o espaço. É grande, considerando sua localização. Tem


paredes rústicas de madeira, sem janelas, e uma escada indo para cima

~ 162 ~
para o que parece uma saída. Há uma cama, um sofá, uma pequena
kitchenette e uma banheira. Há também televisões em todos os lugares,
forrando uma parede inteira. A outra parede tem um armário que está
aberto, e eu posso ver que ele está cheio de roupas de estilo militar e
artes marciais. Uma mesa no canto está com papéis empilhados,
recortes sobre meu tempo com vovó e Noah na estação de bombeiros, e
fotos de nós dois discutindo, juntos, correndo, tudo isso.

— Este espaço está me fazendo sentir mal, — eu digo.

— Eu sei, mas é o único lugar que podemos estar agora onde


podemos antecipá-lo. Ele está ferido. Finalmente pode acabar.

— Há armas?

Ele fica com um olhar perturbado em seu rosto. — Sim, uma faca.
— Ele puxa de sua cintura e me passa. Eu o agarro como se fosse o
Santo Graal. — Bryce não é um homem para tomar decisões estúpidas,
então ou deixar considerar isso um erro... ou ele o plantou aqui,
sabendo que viríamos.

— Você tem um sentimento de uma coisa ou outra?

Ele balança a cabeça. — Impossível dizer.

Olho para a minha perna e vejo que minha canela está coberta de
gaze branca e limpa. — Você encontrou ataduras?

— Primeiros socorros, sim. Um antibacteriano, também. Eu


limpei os dois. Eu também encontrei comida e água. Você precisa beber
e comer um pouco.

— Telefone? — Eu peço esperançosamente.

— Nenhuma comunicação. Ele não é estúpido.

— O que fazemos agora? Só esperar que ele apareça?

— Ele sabe que estamos aqui. Se não, este é o lugar perfeito para
emboscá-lo. É por isso que desliguei todas as luzes e escondi a moto.
Esta é a nossa última chance de acabar com isso.

— E quando o fizermos, como vamos sair?

— Desabilitei as cercas elétricas. Quando ele estiver morto, vamos


encontrar uma saída por elas.

— Eu sinto que estamos mais perto do que nunca de ser livre.

~ 163 ~
— Graças a você, garota corajosa. — Ele aperta minha mão. —
Sua avó ficaria orgulhosa.

Eu sorrio ao pensar nela.

— Lembra da primeira vez que a conheceu? — Digo, tentando


mudar de assunto.

Ele sorri e acena com a cabeça.

— Vovó, este é Noah, — eu digo.

Vovó acaba de entrar em minha casa, um recipiente de biscoitos


em suas mãos, quando ela para e olha para Noah.

— Este é o homem que você estava me contando? — Ela pergunta,


entrecerrando os olhos.

Eu rindo interiormente. Ela gosta de agir duro, mas minha velha é


a mulher mais doce do mundo.

— Sim. Noah, este é minha avó.

Noah se aproxima e estende a mão. — Encantado em conhecê-la.


Lara me falou muito sobre você.

Vovó coloca os biscoitos para baixo e pega sua mão. — Você tem
um registro criminal, Noah?

Ele pisca. — Ah! Não.

— Já roubou alguma coisa?

— Não Senhora.

— Você já machucou um animal ou uma criança?

Eu aperto uma mão na minha boca para parar de rir.

— Claro que não, — Noah diz, seus lábios se contorcendo.

— Você vai machucar minha neta?

— Não.

Ela estreita os olhos, mas seus lábios se contorcem. — Qual equipe


de beisebol você torce? Cuidado com como você responde, Noah. Eu sou
exigente.

~ 164 ~
— The Cubs, senhora.

Ela sorri. Vovó ama os The Cubs. Ela pode não vive perto deles,
mas ela é uma fã obstinada.

— Pizza ou massas?

Estou rindo histérica agora.

— Pizza.

Nan o deixa ir com um enorme sorriso no rosto e se vira para mim.


— Eu gosto dele, vocês podem ficar juntos

Noah está rindo quando eu saio da memória. — Ela foi a melhor


senhora que já conheci.

Eu ri. — Ela era. Estou feliz por você ter conhecido ela.

— Eu também, Lara. Eu também. Agora, durma um pouco, — diz


ele. — Precisamos da nossa força para o que está por vir.

Ele apaga as luzes e fica deitado ao meu lado.

Fecho meus olhos e penso em minha avó, sorrindo enquanto


outra lembrança volta. Ela sempre quis que eu acreditasse em mim
mesma. Ela abraçou meu lado confiante.

— Não há nada de errado em ser confiante, Lara, mas não seja


arrogante. Ninguém gosta de uma pessoa arrogante.

— O mundo é um lugar feio, vovó — digo, cruzando as pernas no


sofá. — Eu acho que às vezes você tem que ser arrogante; Caso contrário
você é passada pra trás.

— Você tem razão, querida, mas há também outra coisa que você
pode ser.

Eu levanto as sobrancelhas. — Não me recrimine, vovó.

Ela sorri. Tão bonito. — Você pode ser gentil. Você pode ser
corajosa. Você pode ser leal. Você pode ser forte. Não importa o quão feio
o mundo é, se você for tão boa e bonita, não pode ser passada pra trás.

Eu sorrio. — Eu não sei se sou qualquer dessas coisas, mas eu


adoraria ser.

~ 165 ~
Ela vem e senta ao meu lado. — Você é todas essas coisas e mais,
Lara. Você é a garota mais gentil que eu conheço. Veja quantas vezes
você vem aqui e cuida de mim. Você é a garota mais corajosa que eu
conheço. Eu admito que você seja um pouco demais, às vezes, mas você
vai para o mundo lutando e isso faz de você algo mais. Você é mais que
leal, nós duas sabemos disso. Principalmente, você é forte. A garota mais
forte que conheço. Você poderia suportar qualquer coisa, qualquer coisa.
Eu acredito nisso com tudo o que sou. Seja todas essas coisas, Lara, e o
mundo lhe dará o que você precisa.

Lágrimas escorrem pelas minhas bochechas. Eu mergulho minha


cabeça.

Vovó acreditava em mim. Ela acreditava.

E eu sei agora, eu sei mais do que qualquer coisa, que se ela


estivesse aqui ela me diria que eu tenho que encontrar todas essas
coisas — eu tenho que encontrar quem eu sou — e eu tenho que
abraçá-los. Ela me dizia que eu não sou fraca, que não sou uma pessoa
má, que não foi minha culpa. Deus, ela provavelmente me daria uma
bofetada se soubesse o quanto eu deixei que sua morte me comesse, me
mudasse, tirasse quem eu era.

Eu tenho que me perdoar.

Eu sei disso agora mais do que nunca.

A velha Lara está de volta, e eu tenho que agarrá-la com as duas


mãos.

Mas primeiro, Noah e eu vamos sair daqui.

Bryce vai vir. Eu sei, eu sinto.

Vou tirar-nos daqui.

~ 166 ~
Vinte e cinco
- BRYCE -
Que tipo de gente estúpida vai para um lugar onde eu possa
prendê-los e matá-los?

Eu ri de mim mesmo enquanto eu estou fora da porta do meu


esconderijo. Eu posso ouvi-los falar. Honestamente, de quem foi essa
ideia brilhante? Eles simplesmente se jogaram no meu caminho e
tornaram fácil para eu matá-los. Ela está praticamente morta já, ele
está exausto; Eles juraram que eles não iriam acabar caindo no meu
jogo, mas eles fizeram. Eu não contei com eles trabalhando juntos como
eles fizeram, mas não importa. Só vai doer mais quando eles morrerem.

Idiotas.

Eles nunca iriam me bater.

Eu alcanço no meu bolso e pego um isqueiro. É hora do show,


hora acabar com isso de uma vez por todas. Eu me movo até a parte de
trás do meu esconderijo, erguendo outra pequena porta que abre um
compartimento onde guardo algumas armas. Eu puxo uma faca de caça
maciça, muito maior do que eu deixei para eles. Eu poderia
simplesmente atirar neles, mas eu quero vê-los se contorcer, lutar,
implorar. Sim, uma arma não é divertido. Eu coloco mais duas facas no
meu cinto, apenas no caso. Então eu puxo uma garrafa de gás.

Eu ando até a parte de trás do meu esconderijo e despejo-o, então


eu acendo.

Sorrindo, eu ando até a porta da frente e fico parado, esperando.

Eu vou pegar Noah primeiro, ou talvez eu acerte Lara para vê-lo


sofrer. Tantas opções. Bolhas de antecipação picam meu peito enquanto
espero. Em questão de minutos, a porta da frente balança e eles saem
do esconderijo, ele segurando-a pelo braço enquanto a puxa. Sempre o
herói.

— Eu me perguntei qual de vocês teve a brilhante ideia de se


esconder no lugar que eu conheço. Estou adivinhando, Noah.

~ 167 ~
Noah para e se vira para mim, seu rosto selvagem de raiva. Ele
solta o braço de Lara. Ele parece assustado. Finalmente ele parece
assustado. Então ele deve estar — ele está prestes a morrer.
Lentamente. Sua mão move-se rapidamente, e eu vejo o momento exato
que ele percebe que ele não tem uma arma. Talvez tenha deixado cair.
Eu acho que caiu. Eu rio histericamente. — O que aconteceu, Noah?
Você deixou cair sua arma?

— Eu não preciso de uma arma para vencê-lo, — Noah rosna. —


Eu sou um homem fodido, não um covarde como você.

Eu rio. — Engraçado. Sim, você é tão fodido, que você nem


mesmo consegue tirar sua namorada preciosa fora daqui.

Meus olhos olham para Lara novamente. Ela parece derrotada.

Boa.

— Parece que sua mulherzinha está desistindo, Noah. Perguntei-


me quanto tempo demoraria para ela partir.

Noah olha para Lara e seus olhos piscam. — Lara?

— Desculpe, Noah — sussurra Lara. — Eu tentei. Estou tão


cansada. Tão doente de lutar. Acabou. Eu não posso...

— Lara! — Noah tenta dar um passo em frente, mas eu fico no


seu caminho.

— Sai da minha frente, porra, — ele late. — Eu vou matar você.

Eu rio, jogando minha cabeça para trás. Então eu aponto a


minha faca e com precisão, eu a atiro. Noah tenta se mover para fora do
caminho, mas ela acaba presa em sua perna. Ele cai no chão. Lara
grita. Eu me concentro em Noah, andando lentamente em direção a ele.
Ele está sibilando de dor enquanto sacode a faca. Eu alcanço minhas
calças e pego outra faca.

— Eu vou matar você, — Noah sibila, pressionando uma mão no


sangue e segurando a faca com a outra.

— Agora é um jogo justo, — digo, e meus olhos veem Lara.

Ela está apertando seu pulso e há sangue escorrendo de seus


dedos. Uma faca ensanguentada cai no chão ao lado dela. Ela começa a
balançar.

Fraca. Pequena. Cadela.

~ 168 ~
— Você olharia para isso, Noah? — Eu rio. — Sua pequena
mulher está tentando deixar o caminho mais fácil.

Noah chicoteia a cabeça ao redor e eu assisto o momento exato


que toda a cor drena de seu rosto quando ele percebe o que ela está
fazendo. Lara está tentando se matar, então eu não tenho que fazer isso
por ela. Inteligente. Mas fraco. Tão patético. O inútil desperdício de
espaço. Eu sempre soube que ela não tinha isso nela. Ela balança de
novo. Ela está tornando isso muito fácil. Eu deveria ir até lá e levar essa
faca em seu coração. Eu não posso acreditar que ela pensa que ela pode
tirar isso de mim.

Mas a dor de Noah é muito boa.

É muito real.

O excitamento inunda meu corpo enquanto eu o observo


quebrando diretamente na minha frente. A dor em seu rosto faz meu
corpo ganhar vida. Isto não é como eu queria que fosse, mas estou
sempre aberto para uma mudança de direção ligeira. Isso fará com que
Noah fique bravo, mas fraco. Ele vai querer lutar comigo. Ele vai querer
me machucar. Mas ele vai perder.

— Lara? — Noah grita. — Lara!

— Oh, pelo amor de Deus, — eu lamento para ela. — Você não


está falando sério, não é? Pelo menos tente me dar a luta que eu estive
esperando.

— Noah, — ela berra. — Eu sinto muito…

Ela cai de joelhos.

— Lara, — Noah grita, sua voz frenética. Ownnn. Ele não quer
perdê-la.

Que trágico.

Seus olhos rolam e ela cai para trás. Eu estudo seu peito. Sua
respiração é tão superficial que está prestes a parar. Ela deve ter
cortado essa veia boa. Eu acho que ela é mais difícil do que eu pensava.
Puta cadela arruinou o meu final.

— Sério? — Eu berro, levantando uma mão. — Eu criei este jogo


só para essa cadela morrer pela suas próprias mãos.

— Lara, — grita Noah, levantando-se e correndo até ela e caindo


de joelhos. — Lara!

~ 169 ~
— Quero dizer honestamente, — lato, perseguindo Noah. — Eu
sabia que ela era fraca, mas se matar e deixar você para trás? Pensei
que ela te amasse um pouco mais do que isso.

— Lara, acorde, — Noah grita, lágrimas escorrendo por suas


patéticas bochechas.

— Desperdicei a porra do meu tempo, — murmuro para mim


mesmo quando chego a Noah. — Puta estúpida e fraca. Levante-se. Vou
fazer o meu jogo valer a pena, mesmo que me mata.

Noah salta e com um rugido feroz lança-se para mim.

Finalmente, alguém com algum espírito.

Hora de morrer, Noah.

~ 170 ~
Vinte e seis
- NOAH -
Ela se matou.

Não acredito que ela se foi.

Lágrimas escorrem pelas minhas bochechas enquanto agito seu


corpo sem vida. Eu deveria ter sabido que ela estava lutando. Eu estava
tão ocupado ignorando-a que eu não percebi que ela estava quieta,
muito quieta. Quero pressionar minha bochecha contra o peito dela,
quero ouvir a batida de seu coração, mas não tenho chance. Só quero
mais um segundo.

Lara, não.

Não posso viver uma vida sem ela. Flashes dela sorrindo e rindo
enchem minha mente, e meu coração ameaça explodir. Eu nunca mais
verei nada disso. Eu soltei um grito esfarrapado e parece que alguém
enfiou um punhal em volta do meu coração, apertando, sufocando a
vida fora de mim. Como se atreve a desistir de mim, Lara? Porra, como
se atreve a me deixar? Um soluço estrangulado fica preso em minha
garganta como uma dor diferente de qualquer coisa que eu já senti em
minha vida, lágrimas escorrem pelo meu corpo. Perder uma vez foi
difícil o suficiente. Mas perdê-la de novo... assim. Eu nunca vou ficar
bem sem ela. Minha linda menina.

Lara. Baby. Volte.

— Desperdício de tempo, — Bryce murmura para si mesmo


enquanto se aproxima atrás de mim. — Puta estúpida e fraca. Levante-
se. Vou fazer o meu jogo valer a pena, mesmo que me mate.

Eu vejo vermelho. A raiva pisca em meus olhos, meus ouvidos


soam, e eu sei, eu só sei que vou matá-lo. Lentamente. Dolorosamente.
Eu vou arrancar seu coração fodido com minhas mãos. Eu salto para
cima e giro ao redor com um rugido feroz, jogando-me para ele. Eu bati
contra seu corpo com um baque alto e nós dois caímos para trás. Ele
pode não ser tão grande como eu, mas é forte; Mais do que isso, ele é
um bom lutador.

~ 171 ~
— Por que tão zangado comigo, Noah? — Ele zomba, levando seu
joelho para cima e me fazendo tropeçar para trás com um rugido. — Foi
ela quem tirou a própria vida.

— Feche a porra da boca, — eu grito, rolando e, em seguida,


jogando-me de volta para ele.

— Você sabia disso o tempo todo, não é? Você sabia que ela era
fraca. Você sabia que ela era patética. Você sabia que ela nunca poderia
fazer isso. Eu sempre soube que ela te decepcionaria, que ela falharia.
Deus, ela é tão fraca, não é? É ridículo.

Eu dirigi um punho em seu rosto, e com uma risada selvagem


sua cabeça é jogada para trás. Ele enfia a mão jaqueta e tira outra faca.
Eu não me importo. Eu nem sei onde o que eu tinha ido. Eu não me
importo se ele vai me matar, contanto que eu o faça sofrer primeiro.
Posso fazer isso com minhas próprias mãos.

— Eu te farei pagar, — rosno, dando um soco nele novamente.

Ele balança a faca, em minha direção. Eu rolo fora, mas ele é


rápido e joga-se em mim antes que eu possa até chegar a meus pés,
batendo meu rosto na lama. Lágrimas de agonia rolam através de mim
quando meu nariz quebra e o sangue preenche minha boca. Eu atiro
minha cabeça para trás, batendo-a em sua mandíbula. Ele sai com um
rosnado, e eu me lanço para meus pés, sangue escorrendo pelo meu
rosto.

Meus olhos olham para Lara, que está sem vida no chão, e eu
faço rugido com agonia e dor, mas principalmente com desgosto.

— Sim, — ele ignora, agitando a faca ao redor, sangue gotejando


de sua boca. — Olhe para ela. Olhe como ela te decepcionou. Veja como
ela falhou com você.

Eu atiro nele novamente, e ele usa a faca. Ela desliza sobre o meu
estômago, abrindo minha pele. A dor atinge o meu corpo e minha visão
fica turva por um momento. Eu pisco rapidamente, tentando me
recompor o quando sangue quente escorre para baixo de mim. Ele bate
em mim novamente e então eu estou caindo. Eu bato no chão, de volta
contra a sujeira. Ele se ergue sobre mim enquanto, rindo, rindo alto pra
caralho.

— Eu pensei que você tinha mais forças em você, Noah.


Honestamente eu pensei. Mas eu sempre soube que essa pequena
cadela falharia e isso seria a coisa a quebrar você. — Ele passa o dedo

~ 172 ~
sobre a lâmina enquanto tento me levantar. Ele põe uma bota no meu
peito, me empurrando para baixo tão forte que minha cabeça salta do
chão. — Vocês dois pensaram que vocês tinham vantagem sobre mim,
não é? Divertido, realmente. Eu sabia exatamente o que eu estava
escolhendo quando eu os encontrei. E aqui você estava pensando que
seu amor o salvaria.

Ele joga a cabeça para trás e ri.

Fico deitado, ofegante.

Eu o odeio porra.

— Que patético, — ele diz em uma voz sarcástica, usando o dorso


de sua mão para limpar seu nariz. — Ela não te amava. A vadia
estúpida não amava nada além de si mesma. Ela só se importava com...
— ele levanta uma mão e faz aspas — “seus problemas”. — Ela matou a
própria avó com a boca esperta, e no entanto você acreditou nela. Não
foi?

Ele ri novamente.

Meu coração torce. Parece que está sendo arrancado do meu


peito.

Atirei minha mão rapidamente, esperando pegá-lo desprevenido,


mas ele se move como um raio, apunhalando a faca em minha mão e
prendendo-a na sujeira. Eu berro em agonia, cegando a dor rasgando
meu corpo.

— Eu vou matar você, — ele diz, me abraçando e me inclinando


para baixo. — Eu vou rasgar seu coração fodido. Vou enchê-lo em sua
boca para que quando eles te encontrem, eles saibam que você se
fodeu, que você deu tudo para a mulher errada e isso é o que te matou.
Você é patético, Noah. Mas ela é pior.

Ele levanta a faca sobre meu peito e eu olho para ela, apenas o
olhar. Quero que ele me mate. Quero que ele me mate. Eu não me
importo mais. Ele pode levar tudo. Não tenho mais nada. Ela me deixou
sem nada, merda. Ela desistiu de mim. Maldição, foda-se, Lara. Eu
acreditei em você. Eu acreditei que você era forte o suficiente e você me
decepcionou.

— Adeus, Noah.

Eu fecho meus olhos.

~ 173 ~
Finalmente, acabou.

~ 174 ~
Vinte e sete
- LARA -
A partir do segundo que saí do esconderijo, eu sabia o que eu ia
fazer. Pensei nisso enquanto Noah dormia. Eu sabia que Bryce iria cair
na armadilha porque ele acredita que eu sou fraca, ele acredita com
todas as suas forças. Eu tinha razão. Tudo o que eu tinha que fazer era
fazer um corte no meu pulso, longe da veia, que sangrasse o suficiente
para eles acreditarem que eu tinha tirado a minha própria vida. Cair no
chão era fácil. Respirar um pouco mais fraco não era difícil.

Eles caíram direitinho.

Eu odeio saber que Noah esteja dificultando tanto. Ouvir sua dor
me matou, mas se eu lhe dissesse meu plano ele nunca teria
concordado. Não sei quanto mais poderíamos lutar contra Bryce, tão
feridos como estamos. Quando ele bateu na perna de Noah com a faca,
e eu vi a dor no rosto de Noah, eu sabia que meu plano era o certo.
Noah vai entender, mas agora, agora... Eu tenho que acabar com isso.
Por nós dois.

Pego a faca que deixei cair ao meu lado e fico de pé, observando
Bryce pairando sobre Noah, que está olhando para ele como se ele
tivesse desistido. Ele desistiu por minha causa. Porque eu o
decepcionei. Ele acha que estou morta. Ele acha que eu desisti. Mas eu
não desistiria. Eu sabia exatamente o que eu estava fazendo. Bryce
acha que ele me venceu... inferno, talvez sim. Ele acha que eu sou a
razão pela qual falhou, mas ele está errado. Vou ser o motivo pelo qual
ganhamos.

Bryce ergue a faca e Noah fecha os olhos.

Eu fecho.

Eu faço isso sem pensar. Levanto a faca e atiro nas costas de


Bryce, derrubando-o sobre Noah, que começa a lutar imediatamente.

— O que... — Bryce suspira.

Eu inclino-me para baixo enquanto eu torço a faca em suas


costas. — Nunca, nunca vire as costas para sua vítima, a menos que

~ 175 ~
você tenha certeza de que ela esteja morta. Eu pensei que você era
inteligente o suficiente para pelo menos verificar.

Eu puxo a faca e a empurro para dentro. Ele cai mais para baixo,
coaxando em agonia.

— Você nunca, nunca subestime alguém.

Eu puxo-o para fora e finco-a novamente, ignorando os seus


ossos sendo atingidos e suas artérias jorrando sangue.

— E você nunca, toque no que é meu, porra.

Eu puxo a faca para fora e deixo Bryce rolar de cima de Noah. Eu


uso usando meu pé para chutá-lo para suas costas. Noah rola para
suas mãos e joelhos, olhando para mim, vejo o choque em seu rosto. Eu
tenho que terminar isso por ele. Por nós. Não vou machucar outra
pessoa na minha vida porque eu não sei quem eu sou. Bem aqui, agora,
eu sei exatamente quem eu sou. Eu sou Lara, forte e um pouco suave
— uma mistura perfeita de ambos.

Encosto Bryce, que está balbuciando, o sangue escorrendo de sua


boca. Ele olha para mim com choque, mas principalmente temor.
Claramente ele não achava que eu tinha isso em mim. Nem Noah. Nem
eu. Mas eu sabia que tinha. Eu tive isso em mim o tempo todo.

— Você não pensou que eu tinha isso em mim, não é? — Eu digo,


olhando para seus olhos patéticos. — Você pensou que eu falharia.
Você pensou que eu não teria coragem. Você tinha tanta certeza.

Eu levanto a faca e seus olhos brilham.

— Mas há uma coisa sobre mim, Bryce, e de alguma forma, eu


sempre tive força. Você me ajudou a perceber isso. Seu jogo era pra me
enfraquecer, mas você sabe o que ele fez? Isso me fez forte.

Cravo a faca no coração dele e vejo como seu corpo se sacode sob
mim e seu último suspiro sibila de seus pulmões.

— Eu ganhei, — eu sussurro.

Então meu mundo fica preto.

~ 176 ~
Vinte e oito
Quando acordo, estou nos braços de Noah e ele está me
carregando. Faço um esforço por minutos para realizar onde eu estou.
Quando me lembro do que fiz, ofego e começo a me contorcer. — Calma,
— Noah diz, sua voz exausta. — Acabou.

— Noah, — eu chamo.

— Acabou, querida.

— Eu o matei.

Ele para e me deixa para baixo. Não sei onde estamos. Não sei
nada, exceto que Bryce está morto, e eu o matei.

Noah toma o meu rosto. Nós dois estamos cobertos de sangue, a


maioria deles nossos, alguns dele. O rosto de Noah está bagunçado,
sangue seco em toda a sua pele. — Você me salvou. Você me salvou.
Salvou a nós. Eu não tenho uma única palavra que possa expressar o
quão incrível você foi.

— Eu matei... — Minha voz treme enquanto a realidade se instala.

Noah bate os lábios contra os meus. — Nós estamos respirando


por causa de você, você bonita, corajosa, mulher perfeita.

Nós estamos.

Estamos respirando por minha causa.

Lágrimas escorrem pelas minhas bochechas. — Somos livres.

Ele aperta minha mão. — Somos livres. Agora precisamos


encontrar um jeito de sair daqui ou vamos sangrar até a morte. Você
não salvou nossas vidas para nós morremos aqui.

Salvei nossas vidas.

Eu salvei nossas vidas.

— Sinto muito, eu deixei você acreditar que eu estava morta.

Noah para e se vira para mim. — Você é um gênio, Lara. Você


encontrou uma força que eu não poderia ter reunido. Para fazer o que

~ 177 ~
você fez, tão perfeitamente — não tenho palavras, exceto obrigado. —
Sua voz quebra. — Porque eu não acho que nós teríamos saído de lá
sem você.

Eu engulo e aceno, choque lentamente começando a rastejar em


meu corpo.

— Precisamos sair daqui, — ele diz, puxando minha mão.

Eu coloco um pé na frente do outro, e eu ando. Caminho até


encontrar uma estrada tranquila. Até o momento em que nós
tropeçamos para fora dela, eu sou entorpecida. Da cabeça aos pés, não
sinto nada. Eu sinto como se estivesse existindo sem realmente estar
ciente. Choque. Realidade. Horror. Tudo isso finalmente me bate. Acho
que é isso que acontece quando você passa tanto tempo vivendo com
medo. Quando ele se foi, você simplesmente não tem mais nada.

Noah está segurando minha mão como ele tem feito nas últimas
duas horas, mas nenhum de nós falou uma única palavra. O horror da
última semana está repassando em nossas mentes, repetidas vezes,
atormentando-nos, torturando-nos, lembrando-nos que, escapamos do
monstro... será que alguma vez vamos escapar do pesadelo? Vai me
torturar? Agora eu não sinto nada, mas será sempre assim?

As luzes do carro piscam em nossa direção, tirando-nos do nosso


atordoamento, e nos voltamos para enfrentá-las. Por um momento, eu
não acho que quem está dirigindo está disposto a parar por nós. Eu só
posso imaginar como nós nos parecemos. Meio nus, feridos,
ensanguentados. O veículo diminui, porém, e eventualmente puxa para
o lado da estrada. Meus joelhos começam balançar e por um segundo
eu não tenho certeza se posso mesmo dar alguns passos em direção ao
carro.

Um homem mais velho sai, sua esposa do outro lado. Eu me


preocupo que eles vão nos olhar direito e correr, mas eles não fogem. O
homem mais velho presta atenção em nós, e então sua boca se abre. —
É... Maggie, são eles.

Eles.

Eles nos conhecem?

— Oh meu bom Deus, — Maggie ofegou, correndo e colocando as


mãos sobre meus ombros sem hesitação. Ela não se importa que eu
esteja ensanguentada ou meio nua. — São eles. Eles estão vivos. Peter,
pegue o cobertor do porta-malas. Vamos. Eles estão congelando.

~ 178 ~
— Vvv-você sabe quem nós somos? — Eu pergunto.

É a minha voz? Não parece a minha voz.

— É claro querida. Seu rosto está em todas as notícias há uma


semana.

Está?

Então por que ninguém nos encontrou?

Eu me castigo por um pensamento tão horrível. Nem sei onde


estamos. Eu não sei o quão longe de Orlando estamos. Como alguém
deveria saber onde estávamos? Eu aperto a mão de Noah, mas ele não
aperta de volta. Ele está muito longe? Estou muito longe? Será que
algum dia nos recuperaremos disso?

— Lara, certo? — Maggie pergunta como Peter pega o cobertor do


porta-malas.

— Sim, — eu confirmo.

Ela olha para Noah. — E Noah.

Ele balança a cabeça. Sem palavras.

— Eu não vou perguntar o que aconteceu com vocês dois, porque


não é da minha conta, eu só vou levá-los ao hospital. Venha, entre no
carro e eu vou passar o cobertor pra vocês. Você deve estar congelando.

Eu não saberia se eu estou mais frio; Sinceramente, é difícil dizer


o que eu sinto. Meu corpo foi além da dor, além do sentimento. Está
apenas morto. Entorpecido. Partido.

Noah me empurra para o carro e entramos. O calor do aquecedor


faz cócegas em meu rosto, e eu fecho meus olhos. Eu não percebi o
quão frio eu estava até este segundo. Noah sobe ao meu lado e Maggie
se inclina, nos entregando um cobertor. Eu pego, passando meus dedos
pelas bordas suaves. Eu nunca teria pensado nisso; Agora é tudo o que
eu posso pensar.

Eu o levo até o meu queixo, e eu começo a tremer, mesmo que eu


esteja quente.

Noah faz o mesmo.

Maggie e Peter entram no carro, e ela ordena que ele dirija até o
hospital mais próximo.

~ 179 ~
— Hhh — quão longe de Orlando estamos? — Eu pergunto,
minha voz rouca.

— Pouco mais de uma hora, querida.

Uma hora? Uma miserável hora?

Eu fecho meus olhos. Noah soltou minha mão e eu quero de volta,


eu quero que ele fique comigo e nunca me deixe, mas ele está em
choque e eu não o culpo. Nós vivemos o inferno, e o tempo todo nós
estávamos nisto, nós estávamos lutando para sair. Agora que estamos
fora, nada parece bem. Parece haver pouco alívio, pouco conforto, pouco
de qualquer coisa.

Estamos livres, vivos e seguros.

Mas não estamos bem.

Maggie nos faz perguntas básicas enquanto dirigimos, mas só eu


respondo. Noah permanece em silêncio. Eventualmente, o carro inteiro
cai em silêncio e todos nós apenas ficamos lá. Eu posso sentir o cheiro,
e eu só percebi agora que temos um cheiro forte vindo de nossos corpos.
Sangue, suor, dias sem higiene e morte. Morte. Fecho os olhos e respiro
com dificuldade. Eu não estou pronta para isso. Eu tenho que estar,
mas eu não estou.

As perguntas.

Os membros da família em pânico.

A vida normal.

O carro diminui e eu percebo que já estamos no hospital. Eu não


notei nenhuma luz; Eu nem sequer ouvi os carros em torno de nós. De
alguma forma, eu escondi tudo. Eu estava tão longe no meu próprio
pequeno mundo que eu nem percebi que tínhamos voltado à civilização.
O pânico me agarra enquanto olho pela janela para onde Maggie está
chamando uma enfermeira, agitando os braços ao redor. Uma sai e
escuta enquanto divaga rapidamente.

Sobre nós, obviamente.

A enfermeira balança a cabeça e volta para dentro, saindo com


duas cadeiras de rodas. Aqui vai o silêncio; Em segundos ele vai correr
para fora da porta e vamos ser bombardeados com perguntas e
preocupações e agulhas e médicos. Tomo outra respiração trêmula e
olho para Noah. Ele está olhando para frente. Meu coração dói por ele.

~ 180 ~
Eu não posso dizer nada, porque a porta está aberta e uma jovem
enfermeira loira coloca a cabeça dentro do carro.

Ela olha para nós e seus olhos se arregalam. — Oh meu Deus.

Isto resume tudo.

— Meu nome é Jill. Eu vou te ajudar a sair do carro, ok? Você


pode me dizer se alguma coisa está quebrada?

Eu balanço a cabeça.

— E ele?

Eu balanço a cabeça novamente.

— Ok, muito cuidadosamente ela se dirige a mim. Lara, não é?

Ela também assistiu as notícias?

Eu saio do carro, ignorando a pergunta dela. Ela segura o meu


braço, dirigindo-me para uma cadeira de rodas. Está frio contra minhas
pernas, mas outra enfermeira rapidamente se precipita e me entrega
um cobertor quente. Eu levanto-o de volta ao meu queixo e o mantenho
lá, observando enquanto Noah sobe em sua cadeira. Ele recebe o
mesmo tratamento. Então estamos sendo transportados para dentro.

Olho por cima do ombro e sorrio para Maggie.

Ela soluça.

Eu não sei por quê.

~ 181 ~
Vinte e nove
Eu acordo com os sons de vozes frenéticas.

Os enfermeiros estão chamando um ao outro, e o som dos gritos


masculinos pode ser ouvido ecoando através dos salões. Choros
familiares. Eu me sento, esfregando os olhos e empurrando-me da
cama. Noah e eu estivemos aqui da noite para o dia, mas ainda não o vi.
Quando chegamos, fomos levados para avaliação. Eu tenho me
preocupado com ele desde então. Meus pés batem no chão frio, e por
alguns segundos eu me sinto tonta. A enfermeira tirou meu soro hoje;
Agora estou hidratada, então não tenho mais que arrastar aquela coisa
horrível comigo.

— Por favor, senhor, acalme-se! — Ouço uma enfermeira chorar.

— Afaste-se de mim.

Noah.

Esse é Noah.

Meu coração bate e eu corro para a porta.

— Se você não se acalmar, teremos que prendê-lo.

— Saia de cima de mim!

Pego o ritmo, correndo pelo corredor em pernas fracas para a voz


dolorida e quebrada do meu amor. Chego à sala onde as enfermeiras
estão entrando e saindo, e eu passo para dentro.

— Lara, você não pode estar aqui, é perigoso, — diz uma jovem
enfermeira, pegando meu braço.

Eu olho para ela. — Você não sabe nada sobre o que ele está
passando. Deixe-me entrar.

— Eu não posso fazer isso... — ela começa, mas eu puxo meu


braço para trás tão forte que ela tropeça.

Aproveito a oportunidade e entro na sala. Dois médicos do sexo


masculino ou enfermeiros, eu não sei qual, estão segurando os braços
de Noah. Um está indo para atirar uma agulha em seu pescoço.

~ 182 ~
— Pare! — Eu choro, correndo.

— Senhorita, você precisa sair, — grita o médico.

— Não. Pare. Ele está com medo. Você está piorando tudo.

Noah lança a cabeça para trás e grita, o suor escorrendo pelo seu
rosto. Ele precisa de mim. Eu não estava lá para ele quando ele
precisava de mim pela última vez, mas eu estou agora e não vou desistir
dele.

— Solte-o, — eu digo para os dois homens segurando ele.

— Alguém pode tirá-la daqui? — grita um.

Ignoro-os, subindo na extremidade da cama de Noah. Suas


pernas estão empurrando, mas meu peso as mantém.

— Senhorita, saia da cama!

Eu rastejo para cima e quando eu chegar ao seu rosto, eu o


seguro em minhas mãos. — Noah, pare.

Ele continua batendo.

— Traga alguém aqui para movê-la! — Ordena o médico. — Agora!

— Noah, por favor — digo.

Ele continua berrando.

Eu me inclino mais perto, arriscando mais uma tentativa. Trago


minha boca para seu ouvido, minhas pernas escarranchadas em seus
quadris. — Noah. Calma, — eu digo suavemente em seu ouvido. — Sou
eu. Lara. Estou aqui. Você está bem. Eu estou aqui com você. Você está
seguro agora.

Seu corpo se sacode, mas ele para de bater.

— Está tudo acabado, — continuo. — Está tudo bem. Está feito.


Estamos a salvo. Estou aqui. Eu não vou deixar você. Te prometo que
nunca mais te deixarei.

Seu suor corre pelo rosto dele, mas ele parou de bater. Os dois
homens lentamente o soltam, e o médico acena uma mão para se
certificar de que eles não vão longe. Noah sacode meu aperto. Então
seus braços grandes se fecham ao meu redor, me consumindo, me
mantendo segura. Eu soluço, enterrando meu rosto na dobra de seu
pescoço. Ele começa a tremer. Finalmente quebrando. Ele tem sido um

~ 183 ~
pilar de força, tão forte, tão determinado, e agora está tudo finalmente
desmoronando.

— Deixe-os em paz — ordena o médico. — Enfermeira, fique perto


da porta.

O quarto fica em silêncio. Noah me segura tão forte que mal


consigo respirar, mas não digo nada. Nós ficamos lá, nós dois chorando,
eu em voz alta, ele silenciosamente. Depois de cerca de uma hora, seus
braços finalmente relaxam e ele diz em um tom grosso, emocional, —
Eu não posso fechar os olhos e não vê-la lá sangrando.

Meu coração quebra.

— Eu sei, — eu sussurro.

— Os sonhos são tão reais. Acho que estou de volta, que ainda
estamos presos e lutando. Neles, ele sempre mata você bem na minha
frente. É tão real, Lara.

— Eu sei querido.

— Então eu acordo e eu percebo que acabou, mas eu não me


sinto melhor.

— Eu acho que vai levar algum tempo para nos sentirmos melhor.

— Eu não sei o que aconteceu agora, era como se eu não pudesse


me levantar do sonho. Eles só queriam me segurar e quanto mais eles
me prendiam, mais frenético eu ficava. Então eu ouvi sua voz...

Eu me inclino e encontro seus olhos. Ele parece horrível.


Esgotado. Eu provavelmente pareço o mesmo. — Estou aqui, Noah. Eu
te decepcionei naquela floresta. Eu deixei um momento de fraqueza me
bater, mas você pode ter certeza de que nunca vai acontecer novamente.
Eu nunca vou deixar você. Nunca. Vamos passar por isso juntos.

— Eles querem que voltemos, — ele berra.

— Eu sei.

— Eu não posso...

Eu concordo. — Eu sei.

— Está em todos os jornais.

Eu suspiro e pressiono minha bochecha contra seu peito. — Sim,


Rachel me disse. Aparentemente, uma enfermeira daqui falou.

~ 184 ~
— Claro.

— O que vamos fazer, Noah? Como é que isso vai ser?

Ele envolve seus braços grandes em torno de mim e fica em


silêncio por um momento. — Eu não sei.

— Eu também.

— Tudo o que sei é que o tempo sem você foi um inferno. Preciso
de você aqui comigo, Lara. Não posso fazer isso sem você.

— Se é onde você precisa de mim, é onde eu vou estar.

— E quando partimos? — Ele pergunta. Eu enrijeço em seus


braços.

Eu não tinha pensado nisso. Nós não vamos estar neste hospital
para sempre. Nós dois temos apartamentos e empregos — e a própria
ideia de voltar para aqueles sozinhos me aterroriza. Que diabos vamos
fazer? Há uma semana não éramos nada, agora somos algo, mas
quanto de algo somos? Estamos indo a algum lugar com isso ou
estamos levando isso devagar...

Decido ir com honestidade e ver onde isso acaba. — Não sei como
posso ir sozinha para casa.

Ele exala, tremendo. — Nem eu.

— Então, o que fazemos?

— Quero que você volte para casa comigo. Meu apartamento fica
perto do seu, podemos ir de um para o outro quando precisarmos, mas
eu quero você comigo, Lara. Não posso suportar a ideia de estar sem
você de novo.

— Então é isso que vamos fazer.

— Eu tenho você comigo, por favor, saiba disso. Ninguém vai


tocar em você de novo.

— Eu sei disso, — eu sussurro.

— Fica comigo?

— Sempre, Noah.

~ 185 ~
Ele me acolheu quando minha avó morreu; Agora é minha vez de
acolhê-lo. E eu vou, enquanto nós dois estivermos respirando, vou fazer
tudo que puder para protegê-lo tanto quanto ele me protegeu.

Sempre.

~ 186 ~
Trinta
— Você pode nos dizer como foi lá fora?

— Como vocês saíram?

— Como vocês sobreviveram?

— Você o matou?

— O que ele fez com você?

Repórteres, flashes de câmeras, pessoas em todos os lugares. Eu


estou dura, os pés plantados firmemente no chão, recusando-se a
avançar. Noah puxa meu braço, usando a outra mão para empurrar
através da multidão de repórteres esperando por nós fora do hospital,
enquanto nós saímos. Faz uma semana. Nesse tempo, tivemos nossas
feridas tratadas, fomos entrevistados pela polícia inúmeras vezes, e
Noah e eu pudemos nos visitar nos nossos quartos. Ambos decidimos
ficar juntos no apartamento dele quando saímos. Nenhum de nós
poderia suportar a ideia de estar sem o outro novamente.

Agora, tomamos as mãos e enfrentamos as hordas de repórteres


querendo detalhes. Eles sem dúvida estavam esperando por nós para
sair para que eles pudessem obter as respostas para suas perguntas.

— Nenhum comentário, — Noah rosna, empurrando através deles


até chegar ao carro esperando por nós.

Meu pai sai, abrindo a porta e me ajudando a entrar no veículo.


Noah salta na frente e depois saímos. Meu coração está batendo forte e
eu apoio minha cabeça em minhas mãos e tento manter firme a minha
respiração.

— Isso vai acontecer por um tempo, — diz papai. — Vocês dois


estão bem com todo o barulho?

— Sim, — Noah murmura. — Lara, você está bem?

Eu não levanto a cabeça das minhas mãos.

— Lara, querida?

~ 187 ~
Eu olho para cima, lágrimas correndo pelas minhas bochechas.
Noah não hesita: ele tira o cinto e debruça no banco. Seus braços vão
em torno de mim e ele me puxa enquanto eu soluço. Eu odeio isso. Eu
odeio tudo isso.

— Não vai ser assim para sempre.

— Eles são abutres, — eu soluço. — Eles não se importam com o


que passamos.

— Não, eles não se importam. Eles só querem uma história.

— Nós vamos mantê-la seguro, — diz papai da frente. — Eu


prometo.

Eu me aninho no peito de Noah até seu apartamento. Está


tranquilo quando chegamos, graças a Deus. Saímos do carro e mamãe e
Rachel saem correndo, sorrindo e abrindo os braços para nós. Eu me
apresso e me atiro em seus braços, saboreando o conforto que estão
trazendo.

— O apartamento está limpo, abastecido e pronto para vocês.


Você não precisa sair por semanas se você não quiser. — Rachel sorri,
recuando. Ela tem sido uma dádiva de Deus na semana passada.
Visitando-me no hospital todos os dias e trazendo-me qualquer coisa
que eu precisávamos.

— Eu até coloquei quatro tortas de maçã no congelador, —


acrescenta mamãe com um sorriso.

— Muito obrigado a ambas, — eu sussurro, passando uma mão


pelo meu cabelo e olhando para o apartamento de dois andares.

— É muito atencioso, — diz Noah. — Mas você se importaria se


fizéssemos essa parte sozinhos?

— Claro! — Mamãe diz, abraçando-o apertado. — Claro.

— Chame-nos se precisar de alguma coisa, — Rachel diz, me


abraçando novamente. Ela sorri para Noah e ele acena para ela.

Então eles se vão.

Estamos na porta da frente, silenciosos.

— Você está pronta?

— Como eu sempre estarei, — eu sussurro.

~ 188 ~
Noah estende a mão e pega minha. Nós entramos.

O apartamento tem aroma de tortas recém-preparadas e parece


muito mais aconchegante do que eu teria pensado. Eu olho ao redor.
Desde que Noah e eu deixamos nosso apartamento antigo que
dividimos, eu não conhecia seu novo apartamento, mas é agradável.
Moderno, espaçoso e cheio de móveis muito masculinos. Entrei na
grande cozinha decorada em preto e branco e abri a geladeira. Está
cheia até a borda com refeições e comida pré-pronta.

Eu sorrio.

Abençoe-os.

— Você está cansada? — Noah pergunta, chegando atrás de


mim e envolvendo seus braços ao redor de minha cintura.

— Sim, — eu digo suavemente. — Tão malditamente cansada.

— Tem sido difícil dormir, hein? — Ele diz, acariciando meu


pescoço suavemente.

— Eu sei que acabou, estou tão feliz, mas ainda é muito difícil
fechar os olhos e não esperar por esse som.

— Isso vai acabar, eventualmente. Pelo menos estamos fora


daquele maldito hospital.

— Acho que essa é a pior parte da fuga, sabe?

Ele olha para mim, pressionando um beijo na minha testa. — Que


parte?

— Quando você escapa, você meio que quer apenas um tempo


sozinha para se recuperar. Mas as pessoas querem respostas. Eles
estão em toda parte. Médicos. Polícia. Depois, há os hospitais.

— Eu ouvi o que você está dizendo, — ele murmura. — Mas


estamos aqui agora, e não lá.

— E nós temos um ao outro, — eu aponto suavemente,


estendendo a mão e acariciando sua mandíbula.

— Então o que você acha de irmos dormir um pouco, juntos?

Meu coração vibra. — Eu adoraria isso.

Ele pega minha mão e me leva para seu quarto. Eu olho para a
cama familiar e meu coração aquece. Nós dois caímos nela, removendo

~ 189 ~
nossas roupas. Então subimos na cama e nos enrolamos um no outro.
Esta é a única maneira que nos sentimos bem no momento; Por alguma
razão, nos traz conforto. Provavelmente porque a única vez que nos
sentimos seguros naquele lugar horrível foi quando estávamos nos
braços um do outro.

— Eu te amo, Lara, — Noah sussurra contra a parte de trás do


meu pescoço.

— Eu também te amo.

E pela primeira vez em semanas, eu adormeço pensando talvez,


apenas talvez, as coisas podem ficar bem.

Talvez.

~ 190 ~
Trinta e um
Empurro a lança na minha frente. — Não se aproxime de mim, —
eu gritei, minha voz me traindo saindo fraca e trêmula.

Ele ri novamente, piscando os dentes brancos em minha direção. —


Realmente, Lara.

Eu dou um passo para trás. Ele sorri e se aproxima. — Acho que


devo remover algo do seu corpo, algo essencial. Talvez, um dedo? O que
você acha?

Não digo nada. Eu apenas estremeço. É estupido. Eu não percebo


isso no momento, mas no segundo que eu choco contra ele, eu sei que eu
cometi um erro. Ele é maior do que parece, e seu corpo é um músculo
sólido. Sou pequena e fraca; Eu não tenho ideia de como usar uma lança.
O objeto de madeira apenas cai da minha mão quando ele entra em
contato com seu corpo, e eu fico de mãos vazias.

A risada preenche meus ouvidos enquanto ele segura minha mão,


me empurrando mais para perto.

— Não, — eu grito. — Não!

Com um riso selvagem, ele aproxima a faca. Eu me contorço, e


chuto, mas ele é forte e ele não me larga. Eu grito e puxo o máximo que
posso, mas não adianta.

— Lara! Ei!

Eu puxo meu braço, suor escorrendo pelo meu rosto e


encharcando os cobertores. Está escuro. Onde estou? O pânico aperta
meu peito e eu começo a me sentir descontrolada, tentando descobrir o
que está acontecendo. Ele está aqui? Oh Deus. Ele me encontrou? Eu
não estou segura? Como ele me encontrou tão rapidamente? Noah?
Noah!

— Lara!

Meus dentes tagarelam enquanto meu corpo está abalado. Eu


pisco algumas vezes. Uma cama macia debaixo de mim. As mãos de
Noah sobre meus ombros. Acabou. Bryce está morto. Estamos bem.
Estamos a salvo. Nós saímos. Eu o matei. Eu o matei.

~ 191 ~
— Noah? — Eu resmungo. — Ele... ele se foi?

— Baby, ele se foi. Você está bem. Foi um sonho.

Um sonho.

Apenas um sonho.

— Foi tão real, — eu sussurro. — Eu estava tomando pílulas para


dormir no hospital e eu não sonhava, Noah, eu não sonhava. Eu quero
que ele vá embora. Não quero ver isso toda vez que fecho meus olhos.

— Vai ficar mais fácil de lidar, — ele diz, passando os dedos pelo
meu cabelo. — Vai, querida. Eu juro.

— Eu vou ouvi-lo pelo resto da minha vida? Vê-lo em cada


esquina? Sempre que fecho os meus olhos?

— Não, — ele diz, suavemente. — Não, você não vai.

Eu me agarro a ele, precisando dele, precisando da proximidade.


Eu nunca quero ficar sem ele. Preciso que isso vá embora. Para me
fazer sentir melhor. Para sentir como se nunca tivesse acontecido. Para
tirar da minha mente por apenas um segundo.

— Noah, — eu sussurro, tremendo em seus braços. — Faça amor


comigo.

— Lara, — ele geme. — Eu não…

— Por favor. Eu preciso de você. Eu preciso disso. A única coisa


pura e linda que ele não podia tirar de nós. Vamos ter de reviver tudo
isso amanhã na delegacia. Então por favor. Me dê isso.

Ele vira a cabeça. Eu inclino a minha para trás e seus lábios


passam sobre o meu, suavemente no início, mas aumentando
lentamente a pressão até que nossas bocas esmagam juntas em um
frenesi lento e profundo. Ele se mexe, me enfiando debaixo de seu corpo
grande, e nossas bocas não se separam quando ele se desloca entre
minhas pernas. Sua pele está pressionada contra a minha, tão quente,
tão firme, e ele se sente tão bem. Ele está bem ali, pressionando contra
a minha entrada. Duro e pronto.

Sua boca puxa longe da minha e caminha pela minha mandíbula


e pescoço, parando em minha clavícula antes de mergulhar em meus
seios. Ele chupa suavemente um mamilo, depois o outro, puxando cada
um em sua boca. Suas mãos acariciam, suavemente, apaixonadamente,
e todo o tempo sua ereção esfrega cima e para baixo meu sexo, me

~ 192 ~
tateando, me provocando. Eu choramingo em sua boca quando seus
lábios encontram o meu de novo e sua mão emaranha no meu cabelo,
inclinando minha cabeça para trás para que ele possa rastrear beijos
pela minha garganta.

— Por favor, — eu gemia. — Por favor, Noah.

— Por favor o quê? — Ele rosna, mordiscando a minha


mandíbula.

— Eu preciso de você dentro de mim.

— Então é isso que você vai ter.

Ele abaixa, enganchando minha perna em torno de seus quadris,


e então ele está deslizando dentro de mim, centímetro por centímetro
agonizante. Tão grande, tão duro. Eu suspiro e meus dedos percorrem
suas costas, acariciando levemente sua pele enquanto ele me enche. Ele
é incrível, tão grande e forte. Tão poderoso e dominante. Sua mão ainda
está emaranhada no meu cabelo e seus dedos movem ao longo do meu
couro cabeludo enquanto ele se aperta e se solta com prazer.

— Noah, — eu ofego, me arqueando para encontrá-lo.

— Porra. Sim, — ele grunhi, me enchendo completamente.

Então ele faz amor comigo, lento e firme no início, mãos, bocas,
corpos colidindo. Então o frenesi toma conta e minhas unhas deslizam
por sua pele, sua mão puxa meu cabelo, e nosso amor torna-se fodido
frenético. Furioso, intenso. Eu arquejo para ele, gritando seu nome
quando um orgasmo diferente de qualquer outra coisa, toma conta do
meu corpo, me levando. Minhas pernas tremem, meus joelhos tremem,
minhas palmas ficam suadas, e eu clamo seu nome porque a felicidade
me consome.

Seu orgasmo segue de perto, combinando o meu próprio em


intensidade: Seu corpo arqueia, seus músculos apertam, e ele grunhe
meu nome antes de cair sua testa para a minha. Não sentimos dor
nenhuma. Nem uma única coisa em nossos corpos dói neste momento,
mesmo que devam. Nós tivemos tanta dor, nada pode comparar. Nada.
Ele é tudo que eu preciso, ele é tudo que eu vejo, ele é tudo que eu
sinto, e eu ficarei bem com isso para sempre.

— Se é isso que precisamos fazer para fazer os pesadelos


desaparecerem, — ele murmura contra meus lábios, — Eu voto fazemos
o tempo todo.

~ 193 ~
Eu rio baixinho. — Eu também.

Eu também.

~ 194 ~
Trinta e dois
— Estou nervosa, — sussurro, saindo do carro e olhando para a
estrada que temos que atravessar para chegar à delegacia.

— Vai ficar tudo bem. Um dia nós temos que aprender como
seguir com nossas vidas, Lara. Hoje é esse dia, — diz Noah, me
ajudando a ficar de pé e apertando minha mão quando ele fecha a porta
atrás de mim.

— E se eles me prenderem?

— Você matou um homem que estava caçando você. Eles não vão
te prender. Confie em mim.

— Eu matei alguém.

Ele para e segura minha mandíbula. — Você salvou nossas vidas,


você sobreviveu, eles não vão prender você por isso.

Damos alguns passos e estudo as pessoas, esperando que um


deles diga alguma coisa. Ninguém faz. Eles passam por nós como se
fossemos uma pessoa qualquer na rua. Eles não se importam. Por que
eles deveriam? Somos a notícia da semana passada. Coisas maiores e
melhores aconteceram desde nós, e ninguém está mais preocupado com
isso. Pelo menos, é isso que estou dizendo a mim mesmo.

Nós nos movemos para a travessia e um som familiar soa através


do dia quente, enchendo meus ouvidos e fazendo meu corpo ficar rígido.
Ele começa como um baixo zumbido e rapidamente fica mais alto e
mais alto. Ouço apesar dos carros. Acima dos ônibus. Acima da
conversa de pessoas passando. Tudo o mais se desvanece em nada
enquanto ele fica mais alto e mais alto. Meu corpo congela, meus
ouvidos soam, minha pele pica, e eu não consigo me mexer.

— Lara. — A voz de Noah é uma corrida quente no meu ouvido. —


É apenas uma motocicleta. Ele não está aqui.

Ele não está aqui.

— Ele está morto. Você está bem.

Morto.

~ 195 ~
Ok.

Eu foco. Em frente, parada nas luzes, há um homem novo em


uma motocicleta, olhos para a frente, provavelmente apenas indo
trabalhar.

— Não é ele, — Noah diz suavemente em meu ouvido. — Você está


bem.

— Eu... desculpe, — eu sussurro.

— Não se desculpe. Você não tem nada para se desculpar. Vai


levar algum tempo. Vamos levá-la para dentro.

Quando o trânsito desaparece, ele me leva pelo caminho e entra


na delegacia. Eu exalo no segundo que estamos atrás de portas
fechadas e me recomponho. Eu vi uma terapeuta ontem pela primeira
vez, e ela me disse que isso era normal: Muitas pessoas sofrem estresse
pós-traumático depois de enfrentar uma provação horrível.
Trabalhamos com isso ao longo do tempo.

— Lara, Noah, bem-vindos.

Olho para cima para ver um homem que conheci como sargento
Walters. Ele tem liderado a investigação e nos chamou aqui hoje.

Ambos nos movemos em direção a ele. — Sargento — diz Noah,


apertando a mão. — O que podemos fazer por você?

— Venham, sentem-se.

Nós o seguimos em seu escritório e sentamo-nos, tomando um


assento na frente de sua mesa.

— Desculpe ligar para você aqui, mas minha equipe encontrou o


corpo de Bryce depois que determinamos sua localização a partir dos
detalhes que você forneceu.

Eu tremo.

É um alívio, claro, mas também torna as coisas mais reais.

— Infelizmente, não conseguimos localizar a caverna que você nos


contou e nos perguntamos se vocês poderiam nos ajudar. Não podemos
colocar os helicópteros voando tão baixo, temos homens vasculhando a
pé. É muito difícil.

Meu corpo congela. Ajudá-los. Eles querem que voltemos.

~ 196 ~
— Você quer que nós voltemos? — Noah exclama.

— Eu não pediria se eu não precisasse, acredite. Eu entendo o


quão horrível que deve ter sido estar lá, mas esses adolescentes têm
famílias que precisam de respostas, também.

— Não, — eu choro, saindo do meu lugar. — Não, eu não vou


fazer isso.

Eu me viro e sai correndo pela porta, ouvindo Noah chamando


meu nome. Viro a esquina na área da recepção, onde vejo Maggie, a
mulher que me pegou naquela noite, no chão, com a cabeça entre as
mãos, soluçando histericamente. Eu faço uma parada abrupta
enquanto eu assisto seu corpo tremer. Seu marido, Peter, inclina-se
para baixo, abraçando-a, chorando também. O que eles estão fazendo
aqui?

— Por favor, — ela implora a ninguém em particular. — Eu


preciso encontrá-la. Eu preciso colocá-la para descansar. Meu bebê. Eu
sei que ela se foi, eu sei no meu coração. Mas ela merece ser posta para
descansar com Deus, em algum lugar bonito. Por favor.

Meus pés estão congelados no chão enquanto ela quebra. Ela só


quebra.

Um desses adolescentes é o filho de Maggie e Peter?

Eu não posso me mover.

Não posso.

— Estamos fazendo tudo o que podemos para encontrar seus


corpos, senhora, — diz um oficial, ajoelhando-se. — Os bosques são
muito densos, e há quilômetros de território a cobrir.

— Você não está fazendo tudo o que pode, — ela grita, seu rosto
manchado de lágrimas. — Você precisa trazer mais oficiais. Você
precisa trazê-la de volta daquele lugar horrível.

Ela quer seu filho em casa.

Uma criança que não teve uma segunda chance como eu.

Uma criança que mal viveu.

Não o matei por nada. Eu não escapei apenas para cair em outro
poço de medo e horror. Eu escapei porque sou forte. Eu escapei porque
queria viver. Esses garotos não escaparam. Eles nunca tiveram a

~ 197 ~
chance de descobrir quem eles eram. Eles nunca conseguiram viver.
Agora eu tenho a chance de reuni-los com suas famílias para que eles
possam, pelo menos, ser postos para descansar adequadamente.

As palavras de vovó repitam em minha cabeça, enchendo meu


coração com uma força que eu estava permitindo escorregar
novamente. — Você é todas essas coisas e mais, Lara. Você é a garota
mais gentil que eu conheço. Veja quantas vezes você vem aqui e cuida de
mim. Você é a garota mais corajosa que eu conheço. Eu admito que você
seja um pouco inexperiente, às vezes, mas você vai para o mundo
lutando e isso faz de você algo mais. Você é mais que leal, nós duas
sabemos disso. Principalmente, você é forte. A garota mais forte que
conheço. Você poderia suportar qualquer coisa, qualquer coisa. Eu
acredito nisso com tudo o que sou. Seja todas essas coisas, Lara, e o
mundo lhe dará o que você precisa.

Estou me movendo antes que eu possa pensar sobre isso,


ajoelhando na frente do casal quebrado que nos ajudou quando
precisávamos. Ela olha para cima e ofega. Eu estendo as mãos e
sussurro: — Eu vou voltar, e vou encontrar seu bebê para você. Vou ter
certeza de que você vai trazê-la para casa.

Ela soluça e me agarra. — Você já passou por bastante, querida.


Eu não poderia...

— Eu sei o que era lá fora, — eu digo, apertando a mão dela. — E


sem você, talvez nunca chegássemos ao hospital. Por favor, deixe-me
fazer isso por você.

Peter estende a mão e fecha a mão sobre a minha. — Obrigado, —


ele sussurra. — Você é tão incrivelmente corajosa. Eu não sei se era
para nós os encontramos naquela noite. Estávamos apenas à procura
de nossa filha. Então você estava lá e o resto da história se encaixou...

Eu fico de pé, engolindo o caroço grosso em minha garganta.


Talvez ele esteja certo. Talvez eles nos encontraram por um motivo, e
essa razão é para que eu possa devolver seu filho para casa e eles
possam dizer um adeus digno. — Farei tudo o que puder. Vou levá-la
para casa.

Maggie acena com a cabeça e soluça. — Obrigada.

Eu me viro e vejo Noah olhando para mim com tanto amor e


admiração. Eu sorrio trêmula e ando até ele, pegando sua mão. — Vou
voltar.

~ 198 ~
Ele toma o meu rosto. — Você nunca deixa de me surpreender,
querida. Você é a pessoa mais forte, mais incrível e mais corajosa que já
conheci. Eu te amo.

Eu me inclino para a frente, pressionando minha testa contra a


dele. — Eu também te amo.

Ele se vira para o sargento. — Vamos trazer essas crianças para


casa com suas famílias.

~ 199 ~
Trinta e três
Minhas botas esmigalham sobre as folhas secas, lentamente
enquanto eu dou o primeiro passo para a floresta onde passei mais de
uma semana de minha vida vivendo em puro tormento. Algo estranho
encobre meu corpo enquanto caminho; Não é paz, mas aceitação. Eu
não olho ao redor. Eu não me concentro em nada além do caminho na
minha frente. Eu não olho para as marcas de motocicleta na lama, ou
as árvores quebradas e câmeras penduradas que foram derrubadas.

Eu apenas ando.

Eu preciso trazer os garotas para casa, para suas famílias.

Noah está atrás de mim e eu posso sentir seu medo e ansiedade


irradiando através do meu corpo. A cada passo nos movemos para
aquela floresta, lembramos mais. Eu mantenho meus ombros firmes e
continuo me lembrando que Bryce se foi, ele não pode nos machucar
mais. Eu não posso deixar essas crianças apodrecerem naquela
caverna, eu não posso deixar suas famílias sofrerem. Se eu puder fazer
uma coisa boa, eu posso ter certeza que eles cheguem em casa para o
enterro que merecem.

— Este caminho foi criado por ele, — digo ao sargento Walters. —


Ele era muito inteligente, realmente.

— Na verdade, seu plano deve ter levado anos para ser elaborado.

— Ele colocou os coqueiros lá. O suficiente para nos dar comida,


mas comida que nós tínhamos que trabalhar duro para conseguir.

— Vocês dois são incrivelmente corajosos para sobreviver.

Eu encolho os ombros, focando em frente. — Fizemos o que


tínhamos que fazer.

— Corre, Lara. Corre!

Quase posso ouvir a voz de Noah chamando-me através das


árvores, mesmo agora. À medida que nos aproximamos do córrego que
se tornou a nossa linha de vida, percebo muito mais do que antes.
Todos os pássaros, os sons, a forma como as árvores se unem, as
videiras que poderíamos ter usado. Muito. Tão simples. Agora estou

~ 200 ~
olhando para elas sem medo. Quando chegamos ao córrego, vemos os
cocos que caíram no chão. Oito, para ser exata.

Nossas pegadas se solidificaram na lama ao lado da água.

Eu me ajoelho e passo meus dedos sobre elas, fechando meus


olhos e lembrando.

***

Levo bem mais de uma hora para concluir isso, e então eu tenho
que voltar com muito cuidado, pisando o mais próximo da borda do
caminho como posso, me certificando de cobrir cada uma das minhas
novas pegadas para que eu não me perca. Levo um bom tempo para
voltar para Noah, e quando eu chego lá, eu o encontro deitado de
encontro a uma árvore, cabeça caiu, olhos fechados.

Eu corro para frente. Medo entupindo minha garganta.

— Noah! — Eu grito, caindo de joelhos na frente dele.

Eu tomo seus ombros e agito, o pânico agarrando meu peito. Não.

Seus olhos se abriram. Eu faço um estrangulado, aliviado


barulho.

— Eu estava apenas descansando, Lara, — Ele berra.

Lágrimas brotaram; Eu tenho controle zero sobre elas. Eles caem


pelas minhas bochechas. — Eu pensei... por um segundo eu pensei...

Ele levanta a mão, segurando meu queixo. — Estou bem. Eu


ficarei bem.

Eu aceno, fungando, tentando sugar meus soluços. Os dedos de


Noah se movem para a minha mandíbula e então deslizam até que ele
está colocando meu rosto. - Vamos sair daqui.

Não sei se acredito mais nisso.

***

~ 201 ~
— Lara? — Noah chama. Olho para ele.

Os três oficiais atrás de nós estão me deixando ter meu momento,


de pé, respeitosamente.

— Precisamos seguir esse córrego. Pode demorar um pouco, mas


é como descobrimos a caverna.

— Como você sabia que a caverna estaria lá? — Walters pergunta.

— Nós adivinhamos. Parecia uma coisa lógica e valeu a pena.

— É um pensamento inteligente.

Eu encolho os ombros. — Na verdade não. Ele sabia disso. Por


um tempo, entretanto, deu-nos esperança.

Olho para Noah e nossos olhos se fecham. Compreensão.

— Um momento antes de entrar no riacho? — Noah pergunta.

Walters acena com a cabeça e ele e os outros dois homens


encontram um tronco para se sentar. Noah se aproxima de mim,
colocando meu rosto em suas mãos. — Você é incrível, a maneira que
você está conduzindo esta busca, a força que você está mostrando. Sei
como é difícil voltar aqui. Eu sinto, escuto, respiro, e tudo o que quero
fazer é correr. Mas vendo você, ser tão corajosa...

Eu me inclino na ponta dos pés e beijo-o, longo e profundo.


Quando eu puxo para trás, eu sussurro, — Eu tive a minha segunda
chance aqui, Noah. Esses meninos não. Não é sobre mim.

— Você tira meu fôlego, — ele sussurra, acariciando seu polegar


sobre minha bochecha. — Assim como na primeira noite em que te
conheci. Você me enganou então, e você me enganou agora.

— Exceto que desta vez, eu não vou ser estúpida o suficiente para
deixá-lo, — eu respiro, segurando sua mandíbula com a mão.

— Eu nunca deixaria você fugir novamente. Eu deveria ter te


perseguido mais. Eu deveria ter lutado mais.

— Nós tivemos nossa luta, nós tivemos a nossa perseguição,


agora vamos apenas ficar juntos.

— Fechado, — ele murmura, me beijando de novo antes de acenar


os homens.

~ 202 ~
Eu passo para a água e nos movemos, muito mais facilmente
agora do que a última vez que estávamos aqui. Leva-nos algumas horas
para chegar à grande piscina antes da caverna. Eu paro, pernas
cuidadosamente fraquejam em torno da água quando eu tento me
segurar para não cair. Os oficiais estão atrás de nós, também na água.
Estou certa de que a outra entrada para a caverna estaria muito mais
seca, mas é mais sinistra.

— Não posso ir mais longe — digo. — Eu não acho que eu possa


lidar com eles, mas essa é a caverna, lá dentro. Vamos esperar por você
ao lado.

— Nós entendemos, — Harry, o tipo oficial que estava conosco


desde o início, diz.

— Apenas suba e caminhe por aquela cachoeira, — indica Noah.


— Vamos esperar pelo rio.

Eles acenam com a cabeça e desaparecem na cachoeira. Eu nado


até a borda e subo para a clareira muito familiar e me sento, correndo
meus dedos sobre a terra macia e seca.

— Você está bem? — Noah pergunta, sentado ao meu lado.

— Nós fizemos isso, — eu digo. — Contra todas as probabilidades


nós saímos desse inferno. Havia tantas vezes que honestamente
acreditava que não. Eu quase desisti porque pensei que não tínhamos
chance. Mas aqui estamos nós.

— Aqui estamos nós, — diz ele, pegando minha mão. — Sua avó
ficaria tão orgulhosa de você agora.

Meu lábio inferior treme e ele se aproxima, pegando minha mão.

— Ela ficaria, Lara. Ela acreditava em você mais do que qualquer


um que eu conheço. Ela estaria dizendo a todos que ela sabia que você
faria se ela estivesse aqui.

Eu rio fracamente. — Ela iria. Ela ficaria orgulhosa. Você está


certo, ela ficaria feliz em ver que eu me encontrei de novo, mas eu não
fiz isso pela vovó. Eu fiz isso por você.

— Demorou muito. Eu serei para sempre grato, — ele diz, sua voz
um sussurro baixo.

— Eu não acho que eu nunca me perdoe completamente pelo o


que aconteceu com a vovó, mas eu aceitei isso e aprendi. Empurrei uma

~ 203 ~
enorme parte de mim para baixo por causa do que aconteceu, e parte
foi culpa minha, mas a outra parte foi apenas estar no lugar errado na
hora errada, com pessoas horríveis. Assim como a situação em que
estávamos. Às vezes você não pode controlar o destino, não importa o
que você faça. Eu nunca deveria ter enterrado quem eu sou. Eu deveria
simplesmente ter aprendido uma lição e me aprimorado.

— Você está fazendo isso agora. Isso é tudo que importa.

Eu me aconchego mais perto dele. — Havia tantas vezes que eu


pensava que nunca iria sair daqui, e agora aqui estamos sentados no
lugar que foi o nosso pesadelo.

— É lindo, não é?

— É tão lindo.

— Ele honestamente achou que ia nos vencer, — Noah diz,


deslizando o polegar sobre a palma da minha mão que está
descansando na sua. — Ele tinha tanta certeza de que sabia como isso
ia acabar, como nós seríamos derrotados.

— Nós provamos que ele estava errado.

Noah aperta minha mão. — Nós provamos que ele estava errado.

~ 204 ~
Epílogo
- 2 anos depois -
Sorrio para Noah, que está segurando nossa filha. Ela está
gorgolejando enquanto ela olha para ele, mãos gorduchas agitando em
volta. Aproximei-me deles, parando na parte de trás do sofá e me
inclinando, pressionando um beijo em seu pescoço e depois me
abaixando e pegando a mão de Bethy, deixando-a enrolar seus dedos
minúsculos ao redor dos meus. Ela tem os olhos do papai. Na verdade,
ela é toda ele.

Perfeição.

— Você não vai à estação hoje? — Eu digo, pressionando meu


nariz em seu pescoço e respirando-o.

Ele suspira. — Não, tenho um dia em casa com minhas meninas.

— Hmmm, eu me pergunto como podemos gastar esse tempo?

Ele rosna e se vira, pressionando seus lábios contra os meus. —


Tudo dependerá de sua filha.

— Minha filha? — Eu ri. — Então ela é minha quando ela está


sendo desobediente, mas a sua quando ela é boa?

Ele sorri. — Exatamente.

Pego o controle remoto e miro na televisão, vendo um relatório de


notícias aparecer. É a mesma história sobre as últimas semanas. Está
pululando cada canal e revista no país.

— Isso de novo, — diz Noah, sua voz apertada.

— Sim, — eu murmuro, deixando-o e me movendo ao redor do


sofá para se sentar ao lado dele. — Eu não entendo por que alguém iria
querer tornar-se famoso por viver através de uma tal provação.

Seu corpo se aperta. — Eu tampouco. Gostaria de passar o resto


da minha vida sem pensar no que aconteceu naquela floresta, muito
menos escrever um livro sobre isso.

~ 205 ~
Cruzo as pernas e vejo a tela. Uma jovem, Marlie Jacobson, foi
recentemente levada por um assassino em série apelidado The Watcher,
perto de Denver, Colorado. Foi dito que ela escapou depois de matá-lo.
Foi o que aconteceu depois que realmente chocou o mundo. Ela passou
de um ninguém para um famosa autora durante a noite quando um
livro foi lançado sobre sua provação e ela fez milhões.

— Ouvi dizer que sua mãe estava por trás do livro — digo,
observando atentamente. — Olha como ela está quebrada.

A menina na tela está andando pela rua, cabeça para baixo, sua
mãe segue perto, atrás dela, sorrindo e acenando às câmeras. A menina
tem um olhar diferente; Pelo que eu li, o assassino quebrou os joelhos
dela. Ela não é muito velha. E de minha própria experiência, viver com
algo assim é um maldito pesadelo. Eu gostaria de poder levá-la em
meus braços e dizer a ela que vai ficar bem. Ninguém merece viver com
isso.

— Ela não parece feliz, — diz Noah, seus olhos na tela. — Isso é
certeza.

— Por que qualquer mãe ia querer ganhar dinheiro com o


desgosto de seu filho?

Noah encolhe os ombros, passando a mão distraidamente pelos


cabelos de Bethy. — É bem fodido isso.

— Pobre menina, — eu digo, levantando o controle remoto e


desligando a televisão. — Você poderia imaginar revivendo esse horror
repetidamente toda vez que alguém cita seu livro? É difícil o suficiente
seguir em frente. Nós dois sabemos disso.

Os olhos de Noah encontram os meus e ele sorri. Eu sorrio de


volta. Dois anos mais tarde e a memória de Bryce ainda vive em nossas
mentes, mas nós encontramos uma maneira de viver com ela. Demorou
muito tempo e terapia para que voltássemos a viver uma vida
remotamente normal, mas conseguimos.

Bethy que veio depois, deixou as coisas melhores para nós. Ela
traz luz para nossas vidas. Ela nos lembra por que lutamos. Ela nos
lembra que há felicidade depois da escuridão.

— Toc Toc!

Nós dois nos voltamos para ver Maggie e Peter entrando. Maggie
tem um bolo fresquinho em suas mãos, que prontamente entrega a

~ 206 ~
Peter enquanto ela corre para frente, pegando nossa filha das mãos de
Noah.

— Como vai a minha pequena menina? — Ela murmura.

Não consigo evitar o sorriso que se espalha pelo meu rosto.


Depois que encontramos a filha de Maggie e Peter e eles a enterraram
dignamente, todos nós ficamos próximos. Parecia inevitável. Maggie é
como minha avó de tantas maneiras, eu me pergunto, às vezes, se é a
maneira de vovó de ter certeza que estou bem. Talvez ela seja o perdão
de vovó. Talvez ela seja o meu perdão. Aprendi com o tempo a me livrar
da culpa pela morte de vovó, e em vez disso aprendi com ela e ser
melhor comigo mesmo. Eu também quero garantir que eu seja a melhor
versão de mim para minha filha.

Nós demos o nome da nossa filha após a morte da filha de


Maggie, achei que era certo.

Tê-los em nossas vidas parece certo.

— Ela tem mantido sua mãe acordada. — Eu sorrio, enfiando-me


no lado de Noah quando ele está de pé.

Nós dois assistimos Maggie chorando sobre Bethy e eu sei que


seu coração está inchando tão grande quanto o meu. Peter vem e canta
para Bethy agora, também. Eles se parecem com avós. Seus olhos são
leves. Por esses momentos, seus corpos não estão tensos com a dor de
perder sua própria filha.

Sua filha nunca pode ser substituída, mas esse buraco em seus
corações está lentamente sendo preenchido com cada segundo que eles
passam com Bethy.

Eu disse que queria agradecer ao casal e eu me perguntei como


eu faria isso.

Então Bethy nasceu e eu sabia exatamente como eu poderia fazer


isso.

Assistindo a este casal que perdeu tanto com Bethy, é como


assistir minha avó comigo.

Uma ligação bonita que está sendo recriada.

Minha maneira de retribuir, de fazer o futuro melhor do que o


passado.

Apenas do jeito que deveria ser.

~ 207 ~

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