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Copyright© 2023 JESSICA D.

SANTOS
 
Revisão e leitura crítica: Andrea Moreira
Leitura sensível: @livros.da.loira
Capa: Jessica D. Santos
Diagramação: Jessica D. Santos
Imagens da capa e diagramação: Shutterstock e Pngtree
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Dados internacionais de catalogação (CIP)
SPENCER – HERDEIROS DA MÁFIA – LIVRO 5
1ª Edição
1.              Literatura Brasileira. 2. Romance contemporâneo. 3.
Romance. Título I.
__________________________________________________________
É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por
qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos
xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem permissão de seu editor
(Lei 9.610 de 19/02/1998). Esta é uma obra de ficção, nomes, personagens,
lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor,
qualquer semelhança com acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos desta edição são reservados pela autora.
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa (1990), em vigor desde 1º de janeiro de 2009.
 
NOTA DA AUTORA
DEDICATÓRIA
SINOPSE
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
EPÍLOGO
BÔNUS
AGRADECIMENTOS
SOBRE A AUTORA
NOTA DA AUTORA

Máfia é uma organização criminosa cujas atividades estão


submetidas a uma direção de membros, que sempre ocorre de forma oculta
e que repousa numa estratégia de infiltração da sociedade civil e das
instituições. Os membros são chamados mafiosos.
Quando se fala de máfia, as pessoas relacionam o tema com a Cosa
Nostra, a máfia Italiana que se desenvolveu na Sicília e, mais tarde, surgiu
nos Estados Unidos. Com o tempo, o termo deixou de se relacionar apenas
com a estrutura da máfia siciliana e passou a abranger qualquer organização
ou associação criminosa que usa métodos inescrupulosos para fazer
prevalecer seus interesses ou para controlar uma atividade.
Desta forma, a série Herdeiros da Máfia aborda sua própria
máfia, com leis, códigos e condutas próprias, criadas por mim,
utilizando-me de licença poética. Não espere ler este livro e ver nele
qualquer estrutura verídica, real ou influenciada pela Cosa Nostra, Yakuza
ou qualquer outra organização mafiosa conhecida.
 
Ele contém cenas de violência, linguagem imprópria, agressão
física e verbal. O livro é recomendando para maiores de 18 anos.
 
 
Às minhas leitoras que estiveram comigo desde o início, gratidão
mafiosas Knight. Aos leitores que estão chegando agora e a mim, que sinto
que me superei ao ter conseguido finalmente concluir a série após tantos
anos! É uma conquista pessoal que vou carregar para sempre em meu
coração.
 
Spencer James Knight é o último herdeiro da família mafiosa que
comanda Londres, mas isso não significa que é menos implacável.
Acreditando ser um homem quebrado demais para amar e ser amado, o
caçula dos Knight preenche seus dias com rachas ilegais, sexo e belas
mulheres.
Quando um antigo caso ressurge em sua vida pedindo ajuda, ele não
esperava que fosse para comprometer sua vida de libertinagem. Negócios
na Itália o empurram para um casamento de conveniência com Giulia
Romano, uma garota treze anos mais nova e sobrinha do capo da famiglia
italiana, que está em apuros.
Sua missão é proteger a integridade dela.
Ela deveria ser apenas um negócio, um acordo, um meio para um
fim. O casamento é apenas um arranjo entre máfias e a regra entre os dois é
clara: não se apaixonarem. Ele está convencido de que nenhuma mulher é
capaz de quebrar o gelo em torno do seu coração, nem mesmo sua jovem e
linda esposa de conveniência que, mais do que nunca, precisa da sua
proteção.
 
Estou limpo desde a conversa com Carter, o fato de ele ter chamado
a minha atenção não me agradou nem um pouco. Vivi a vida toda rodeado
de pessoas tentando me controlar como se eu não tivesse a capacidade de

me cuidar. E ver o meu irmão mais velho ser tão severo me envergonhou,
afinal, ele tem razão. Eu me deixei levar pelas drogas, e o pior que isso
aconteceu até no meu ambiente de trabalho, algo que levo muito a sério.

Trabalhei arduamente para que nada saísse dos trilhos quando Carter foi
embora, anos atrás. E ao vê-lo determinado a tomar das minhas mãos o que
construí após a sua partida me deixou puto, com sangue nos olhos. Tanto,

que senti ódio de mim, da minha fraqueza.

Ser fraco é uma coisa que tenho repulsa. Meu estômago embrulha

com essa palavra, mas dei espaço para que a minha família me enxergasse
assim. Não queria decepcioná-los com meus problemas, contudo, na

primeira oportunidade eu o fiz.


Tentei manter distância das drogas, mas acabei tendo uma recaída,

era uma festa daquelas, com direito a ficar muito louco. E a adrenalina no
corpo estava tão alta depois de ter ganhado uma corrida, que acabei não

resistindo. Estava querendo diversão e muita putaria, e lá encontrei

mulheres gostosas prontas para abrirem as pernas para mim, e uma mesa
enorme com uma variedade impressionante de diversão que não consegui

deixar de aproveitar – ecstasy, heroína, cocaína e outras coisinhas mais. Me

esbaldei naquela noite regada a sexo e drogas.

Nenhum dos meus irmãos sabia da festinha que tive na Itália, mas

acabei abrindo minha boca grande para Carter meses atrás, apareci na casa

dele completamente fora de mim depois de ter cheirado muita coca. Só


então eu percebi que ali foi apenas uma ponta do iceberg.

Neste momento, estou entrando no escritório do meu irmão, já

preparado para levar uma bronca por ter sido descuidado – primeira e

última vez – e isso quase custou alguns milhões de libras em uma

negociação. Um dos meus funcionários, que até então eu acreditava que era

fiel a mim, não demorou para me dedurar. Em seguida veio Carter, que
depois da nossa conversa nada agradável, me entregou de bandeja, como se

eu fosse a porra do mesmo garotinho irresponsável de antes.


Aquele filho de uma mãe contou ao nosso irmão mais velho o que
fiz, nem mesmo esperou retornar da sua lua de mel para fazer a minha

caveira e tentar tomar o reergui depois de ele ter abandonado.

O.k., errei, tenho plena consciência disso, mas o que custava me


deixar resolver meus problemas?

— Você está atrasado um minuto, Spencer — diz Killz, sentado do

outro lado da mesa, olhando com a expressão dura para o relógio caro em

seu pulso.

Limpo a garganta e fecho a porta atrás de mim, em seguida, arrumo

minha jaqueta.

— Boa noite pra você também, irmão — me manifesto, ignorando a

sua indiferença. Aproximo-me da cadeira e me sento antes que ele me peça.

— Não tem nada de boa para mim. Abandonei o conforto da minha


casa para vir falar com você. — Sua voz sai absurdamente fria.

Mesmo que esteja sendo tão rígido, respiro profundamente e encaro

a parede ao lado.

— Bastava ter me ligado, não precisava se deslocar até a empresa —


retruco, deixando-o com os olhos sombrios ao notar o meu tom de desafio.
— O que tenho para falar tem que ser feito olho no olho. — Ele

desabotoa alguns botões da sua camisa lentamente antes de me encarar.

— Você não é de rodeios, me diga logo no que posso ser útil. —


Começando a ficar desconfortável com seu olhar, remexo-me na cadeira.

— Quantas vezes eu disse para você, para todos, que não tolero erro
nos negócios? — Ele descansa um cotovelo na mesa e fecha o punho.

Não estou surpreso com o rumo da conversa, já esperava o seu

discurso.

— Muitas vezes, Killz. Milhares.   

— Se já sabia disso, por que deixou a porra das drogas foder tudo?

Por que deixou que acabasse com um negócio de anos, Spencer? Estou
confiando o meu negócio a um homem de trinta e um anos, ou a uma
criança? — Ele bate com força o punho na mesa.

— Nossos negócios, Killz. Não se trata somente de você! Você pode


ser o chefe da família, mas assim como você manda, os nossos irmãos e eu

também o fazemos. Cada um tem o seu negócio. E sei que errei, mas é meu
primeiro e último erro! Não se comporte como se tudo fosse seu, porque

não é — defendo-me, sem conseguir ignorar a sua postura onipotente.

— Se eu não existisse, quem iria colocar vocês no lugar? Eu sou a


coluna de todos os Knight, todos sabem disso. Às vezes, podem até achar
que sou soberbo, mas sem mim essa porcaria toda já teria virado pó! Desde

a época do Conan e Arlyne. — O brilho do ódio ilumina os seus olhos. —


Por quase uma década tenho observado o seu esforço, a sua mudança.

Desde aquele episódio com a Scarlett você decidiu que tomaria um novo
rumo na sua vida, e tomou, nos deu muito orgulho, mas agora... não sei que

diabos está acontecendo que você voltou a usar essas porcarias que só vão
te destruir — fala com rancor e parecendo muito decepcionado.

— Foi um momento de fraqueza, Killz — minha garganta fecha —,

apenas isso. Não sou viciado, eu conheço o meu limite, pode acreditar. —
Afundo as mãos em meu cabelo e abaixo a cabeça.

— Não estou dizendo isso. E sei que todos acabam errando uma vez

na vida, irmão, mas eu não aceito o fato de que você se deixou levar por...
— Killz se cala segundos antes do som da sua cadeira sendo arrastada soar,

mesmo assim não levanto a cabeça.

— Spencer, eu tento manter a minha postura de chefe, mas não


consigo. Caralho! Você é o nosso irmãozinho... quando os nossos pais se

foram, você ainda era pequeno, o mais vulnerável... Era o que mais
precisava da gente. — Suspira, como se estivesse cansado. — Quando

Carter me ligou em plena lua de mel me contando cada detalhe, eu quis te


estrangular, fiquei com vontade de te dar uma surra, e a última vez que fiz
isso quase enfiei uma bala na sua cabeça. — Ele me recorda da minha
época rebelde.

Como posso tirar a razão dele? Jamais poderia.

— Mas antes de te chamar aqui, precisei esfriar a cabeça para não


fazer nenhuma merda que fosse me arrepender mais tarde. Sei que fomos
treinados para ser inabaláveis, mas como posso ser assim te vendo desse

jeito? É difícil ser frio quando se trata do nosso sangue, Spencer. Quando
algo está relacionado aos meus irmãos, não existe nenhum botão de ligar e

desligar a humanidade. Queria poder ter pulso firme, agir como tal, não
permitir que o meu lado humano desse as caras. Se fosse outro em meu

lugar, já teria te matado por colocar em risco os negócios.

Ergo o rosto e o vejo com um copo de uísque na mão.

— Eu sei disso. Me perdoe, Killz, jamais quis prejudicar os nossos


negócios.

— Tome um pouco de uísque comigo. — Com o semblante um

pouco mais suave, ele pega a garrafa da bebida e enche um copo.

— Qual punição vai me dar? — pergunto, desconfiado por vê-lo tão

calmo.

— Nenhuma. Mas espero que não tenha uma próxima vez, não
poderei sempre ter que corrigir e aceitar os seus erros só porque é um
Knight. — Ele vem até mim e me entrega o copo.

Bebo o álcool em um gole só, enquanto ele toma o dele calmamente,


sem tirar os olhos de mim.

— E por que me chamou aqui? — indago, ao estender o copo vazio


para ele, que enche com mais um pouco do líquido cor âmbar.

— Para te lembrar de uma coisa. — Ele deposita a garrafa na mesa e

o copo dele em seguida, então põe uma mão em meu ombro enquanto a

outra vai para o meu pescoço.

— O quê? — Estou desconfiado, mas não demonstro, somente olho


bem em seus olhos.

— Você é um Knight. Você é Spencer James Knight. E, porra, não

vai ser um vício de merda que vai te derrubar, não é? — Ele aperta a mão

em meu pescoço e meu ombro. — Me nego a aceitar que você se deixe ser

controlado pelas drogas. Irmão, eu te conheço, sei que pode vencer a fase
difícil que está passando. Confio em você, tanto que permito o seu

afastamento para trabalhar para os irmãos Benk o tempo que for necessário.

Arregalo os olhos, completamente surpreso.

— Killz...
Ele me cala ao afastar a mão do meu pescoço e fazer um gesto

pedindo silêncio.

— Você é um Knight e vai superar isso com estilo. Eu e nossos


irmãos continuaremos aqui para você, assim como continuamos por Carter.

Somos uma família, e nesse momento estou fazendo o meu papel de irmão

mais velho, e não de chefe. — Ele me ignora ao falar com firmeza.

Não digo nada, somente aceno com a cabeça.

— Eu poderia meter uma bala na sua testa e jogar o seu corpo em

alguma vala da cidade, mas vou permitir que saia impune. Uma única vez.
Só espero que não cometa outro erro, se isso acontecer, mando arrancar os

seus caninos e as suas mãos para que entenda de uma vez por todas quem

manda aqui.

— O.k., entendi o recado. Preciso ir a Itália conhecer o casal e saber

o motivo de ele querer que seja eu a fazer o tal serviço e não os Benk, que
já trabalham para eles.

Ele franze a testa assim que as palavras deixam a minha boca.

— Seja esperto e sempre desconfie de favoritismo — recomenda,


pensativo.

— Farei isso. — Volto a bebericar a minha bebida.


— Que essa conversa fique somente entre nós, e nada de guardar

rancor do Carter, ele agiu corretamente. — Aponta o dedo em riste e eu

movo a cabeça para cima e para baixo em concordância.

Impossível não sentir raiva por ter sido entregue ao Killz, mas sei

que será algo passageiro. Nunca conseguimos odiar o outro por muito
tempo.

Apesar de tantos anos terem se passado, meu irmão continua


fazendo o mesmo papel, continua se comportando como se fosse o nosso

pai. Mesmo que fique contrariado com algumas das nossas atitudes, ele

procura nos entender e é sempre compreensivo depois de dar um esporro.


 
 

— Spencer, não vou poder seguir daqui com você. Houve um


imprevisto com um cliente e ele está me esperando na Toscana, não posso
adiar o encontro — Darlan diz assim que o jatinho pousa na pista particular

dos Romano.

— O Marlon não pôde vir porque está na Rússia a negócios, e agora


você? O nosso acordo não foi esse, Darlan. — Trinco o maxilar ao vê-lo

mexer no celular sem sequer olhar na minha direção.

— Não aja como se não soubesse trabalhar, Knight. Os Romano

estão interessados em você para o serviço, não em mim e no meu irmão —

retruca, por fim me olhando.

— E só agora você me diz isso? Acha que sou algum palhaço? —

Enfureço-me.

— Vai com calma, Spencer. Só achei que fosse buscar informações


antes de aceitar vir comigo! — diz, com a expressão suavizada.
— Um caralho que eu ia! Depositei a minha confiança em vocês,

não achei que seria a porra do serviço de vocês. — Killz me alertou, até
sugeriu que eu trouxesse Alec, que está de volta, mas eu recusei, quis vir

apenas com meus soldados.

— Você não vai ser prejudicado, cara, pode acreditar em mim.


Relaxe — diz tranquilamente, como se não tivesse medo da morte.

— Filho da puta! — Meu sangue ferve.

— Sem estresse, tudo será resolvido. Agora mova essa bunda para
fora do jatinho, não deixe os Romano esperando, eles gostam de

pontualidade e já sabemos que nisso você é péssimo. — Ele mantém a

postura inabalável.

— Um dia, enfio uma bala na sua cabeça e dou os seus restos

mortais para aqueles cães que você cria — ameaço, olhando para o lado de

fora através da janela.

— Você não vai querer ser meu inimigo, Knight. — O desgraçado

pisca para mim.

— Nem você o meu, Benk — falo, observando alguns soldados dos

Romano enfileirados à nossa espera. A alguns metros de distância, vejo um

carro preto, suponho que seja a minha carona. — Eu e a minha família

acabaríamos com a sua raça. — Eu o calo antes de me levantar da poltrona.


Ajeito as armas no coldre nas minhas costas e faço um sinal para os
soldados que eu trouxe, que rapidamente se mobilizam e vêm na minha

direção. Se essa negociação for uma emboscada, certamente estarei fodido.

Sei que a quantidade de homens que trouxe comigo não fará muita

diferença se comparado aos daqui, porém, não poderia vir sem proteção,

preciso mostrar que também não estou sozinho.

Saio do jatinho com quatro dos meus homens fortemente armados

na frente e outros quatro atrás. Quando ergo os olhos, vejo uma mulher loira

de cabelo longo saindo de um dos carros, e apesar de não conseguir

visualizar o seu rosto direito, noto que é gostosa.

Meu lado mulherengo fica animado quando meus olhos pousam nas
belas pernas torneadas, mas mantenho minha postura séria. Devem ter

enviado alguma funcionária para me receber. Por mais que por dentro eu

esteja bem animadinho com a delicinha, vim a negócios e não para foder

uma boceta.

— Limpa a boca, Knight, aquela ali é terreno proibido. — Escuto a

voz do Darlan atrás de mim, o desgraçado se aproximou tão sorrateiramente

que nem percebi. — Aquela é a esposa do Nicolo, então mantenha o seu

pau dentro da calça — acrescenta, tocando no meu ombro.


— Vá se foder, Darlan, se meta na sua vida — resmungo baixinho

por ainda estar puto com ele.

— Vamos até lá, vou te apresentar para a sra. Romano. Quem sabe
assim não fica tão puto comigo — esclarece, ignorando minhas palavras.

Conforme andamos, observo com curiosidade a mulher com roupas


elegantes. Quando ela ergue o rosto e arruma o cabelo atrás da orelha, meus

pés travam. Surpreso, não consigo esconder que conheço a loira bonita.

Caralho. É a Angel, a garota que há quase dez anos salvei quando


ainda era um moleque do puteiro da Dayse.

Killz pediu que eu levasse a garota ao aeroporto para que pudesse

voltar para o seu país. Fiquei encantado pela garota, que naquela época
tinha dezenove anos, hoje deve ter por volta dos seus vinte e oito ou nove.

Ainda me lembro do nosso envolvimento passageiro. Foi algo de

uma noite, ela estava a fim e eu também, então não perdemos tempo, e
somente no outro dia que a levei para o seu destino. Depois daquele dia

nunca mais ouvi falar dela.

Angel fixa os seus olhos azuis em mim e eu faço o mesmo, e em

momento algum ela demonstra estar em choque ao me ver – é óbvio que


não vai estranhar a minha ilustre presença –, agora faz sentido a esposa do
Nicolo Romano querer somente os meus serviços. Segundo os irmãos Benk,

o casal está muito interessado em mim.

O interesse deles soa estranho, pensando bem, é muito bizarro. Será


que estão querendo formar um trisal? Vai saber! Espero qualquer coisa

vinda do ser humano, nada mais me abala.

Assim como eu, aposto que ela está voltando ao passado e se

lembrando daquele dia em meu carro, quando estávamos a caminho do


aeroporto.

— Você tem certeza de que quer ir embora tão rápido? — pergunto

para a garota loira, que tem um olhar inocente. Ela é tão linda, parece um
anjo.

— Sim, preciso encontrar a minha família. — Encara-me meio

assustada.

— Está a salvo, não precisa ficar apavorada, ninguém nunca mais


vai fazer mal a você. — Ouso erguer minha mão e tocar no seu rosto

macio. A menina fecha os olhos, e mesmo receosa, demonstra gostar do


meu carinho.

— Obrigada. Você e os seus irmãos salvaram a minha vida, pensei


que morreria naquele lugar... — Sua voz fica embargada.
— Não agradeça, anjo. — Sorrio, vendo-a abrir os olhos. Ela está
mais calma, consegui lhe passar segurança.

— Mas é necessário — insiste, com um pequeno sorriso.

— O que acha de me agradecer de outra forma? — pergunto,


deixando-a assombrada. Logo trato de reformular as minhas palavras. —
Digo, podemos nos divertir antes de ir embora, gostei de você. — Lambo

os lábios e pisco para ela.

— Não acho certo. — Mesmo negando com palavras, seus olhos


brilham para mim.

— Não me acha bonito o suficiente para você? — Prendo o lábio


com os dentes e dou um sorriso charmoso, fazendo-a rir e mover a cabeça
de um lado ao outro.

— Para onde pretende me levar, meu herói? — indaga, mais leve.

Arqueio a sobrancelha ao ser chamado de herói, mas não falo nada,


afinal, o meu interesse é que ela aceite sair comigo.

— Serei o seu servo hoje, te deixo escolher o nosso destino — digo,


galante, fazendo-a sorrir abertamente.

— Alguém já te disse que você é um conquistador barato?

Gargalho com a sua acusação.


— Conquistador, sim, mas barato? Jamais, anjo. — Toco na ponta
do seu nariz e ela faz uma careta.

— Eu não posso escolher o nosso destino... Quando me tiraram dos

meus pais, o único lugar que conheci foi onde me encontraram. Nós não
podíamos sair, eles tinham medo de que fugíssemos — confessa, com os
olhos lacrimejados.

— O.k., já sei um lugar para te levar.

— Onde??? — Ela passa a mão por seu cabelo loiro, seu semblante
agora está iluminado.

— Surpresa! Mas sei que você vai adorar. — Meu tom gentil me

surpreende, eu não sou assim, mas estou interessado na menina, e nem que

seja por algumas horas, eu a quero.

Bastou Angel ceder para que eu tornasse as poucas horas em uma

lembrança inesquecível. Mesmo ainda sendo um desconhecido para ela, a


garota se sentia segura, confiou em mim. Depois que a tirei do bordel da

Dayse, sabia que eu jamais faria mal a ela.

Naquele dia eu a fiz minha. Somente depois que fomos para o meu

apartamento, por volta das sete da noite, não resistimos e acabamos

transamos. Eu sabia que ela era virgem e que nunca mais nos veríamos,
mesmo assim eu tomei para mim a sua inocência. A loirinha tinha sido a
primeira garota que não tratei como uma qualquer, eu a levei para se

divertir, dei a ela alguns momentos de alegria após tanto tempo se afogando
em lágrimas.

Será que ela me odeia por ter tirado a sua virgindade e quer se

vingar depois de tantos anos? Lógico que não, seria muito infantil da parte

dela. Naquela noite, eu não fiz nada que ela não tivesse permitido. Claro
que Angel não quer vingança. No dia seguinte, depois de transarmos, eu a

levei para uma festinha com a minha família, no apartamento do Killz, para

parabenizá-lo ao descobrir que seria pai.

— Spencer, estou falando com você! — Darlan chama a minha

atenção quase em um rosnado, só assim para que eu saia do transe e pare de

encarar Angel Romano.

Limpo a garganta, dou mais alguns passos para a frente e estendo


minha mão para a loira, que prontamente pega.

— Spencer James Knight — apresento-me, mesmo sabendo que não

é necessário.

— Angel Romano, a esposa de Nicolo Romano. — Ela sorri

gentilmente.

Vamos mesmo fingir que não nos conhecemos?


Nem sei a idade exata desse tal Nicolo, só que é muito mais velho

do que ela.

— Vocês...

— Já nos conhecemos, sr. Benk, fique tranquilo — a mulher se

direciona a Darlan, interrompendo-o.

O homem quase se engasga com a própria saliva, o olhar que me

lança é acusatório, como se dissesse “Você fodeu a esposa do meu cliente?”.

— O.k., melhor assim. Acredito que será mais fácil falarem sobre os

negócios. — O filho da mãe disfarça.

— Com certeza — concorda ela, avaliando-me seriamente.

Os anos se passaram e ainda continuamos como dois estranhos, o

fato de termos transado não nos fez criar um vínculo. O que ela deve querer
de mim? Estou curioso. Muito.

— Sra. Romano, tenho um compromisso agora, então vou deixar o

Spencer com você. — Darlan olha para o relógio em seu pulso antes de

alternar o olhar entre mim e a mulher. — Depois me conte que história é

essa de conhecer a esposa de Nicolo — diz baixinho, forçando um sorriso.

Eu o ignoro até o momento que se despede da gente. Ficamos


somente eu, a mulher e os nossos soldados. Mesmo com a tensão nítida,
passo a mão na minha barba por fazer e respiro profundamente.

— Me diga, Angel, no que posso ser útil para você e para o seu

esposo? — Cruzo os braços e avalio o rosto amadurecido da loira. Os anos


fizeram bem a ela, agora é um mulherão.

— Este é um assunto que deve ser discutido em particular, sr.


Knight — diz com seriedade, observando os homens ao nosso redor.

— O.k., sra. Romano. — Balanço a cabeça em concordância.

— Francesco, vamos até a ragazza no circuito. — Ela se vira e avisa

ao seu motorista.

Que diabos de menina ela está falando? E por que vai me levar a um

circuito de corridas? Não estou entendendo porra nenhuma, mas ficarei

quieto para ver até onde isso vai me levar.

— Sì, signora — responde o funcionário.

Fico grato por ter aprendido algumas línguas ao longo dos anos.

— Entre. — Ela abre espaço para mim, mas não me movo, somente

olho para os meus soldados.

— Preciso que dê um carro para os meus soldados, eles vêm

comigo. — Faço a minha primeira exigência.


Ela concorda ao dar ordens em italiano para os soldados dela, que

estão na outra Land Rover. Os homens saem do carro e entregam as chaves

para os meus soldados. Satisfeito, entro no carro e Angel faz o mesmo, logo

o motorista dá partida e nos leva para longe dali.

Passam-se alguns minutos e nada de chegarmos ao nosso destino.


Ao meu lado, ela passa a mão por seu cabelo enquanto eu a analiso

silenciosamente, pronto para perguntar sobre o seu interesse em mim, uma

vez que os Benk são ótimos profissionais e trabalham para o marido dela.

— O serviço que estão precisando é de piloto? Se for, não precisava

de todo essa enrolação, poderiam ter adiantado o assunto. Gosto de


trabalhar com a minha equipe, sem eles, nada feito.

A mulher vira o rosto e me encara com a sobrancelha arqueada.

— Não tire conclusões precipitadas — retruca, soberba.

Darlan me paga por me fazer passar por uma situação dessa.

Sou um cara desconfiado, muito.

— Apenas digo o que vejo. Se não me disser ao menos o que está

relacionado a esse serviço, eu faço o seu motorista parar esse carro agora
mesmo — falo com grosseria, vendo-a engolir em seco. — Preciso de

informações, sem isso, nada feito, Angel.


Meu tom a deixa em alerta.

— Precisamos que você conheça alguém. — Sua voz vacila.

— Trabalho com nomes. — Respiro profundamente ao perceber o

trajeto que estamos fazendo. É um local com casas isoladas que parecem até

terem sido incendiadas.

— Giulia é o nome dela — revela por fim, como se estivesse


segurando um peso.

— E o onde eu entro nessa história? — pergunto, vendo o carro que


os meus soldados estão passar na frente do motorista dela.

— Ela é o seu negócio. O meu marido e eu precisamos que você a

proteja. Giulia precisa de proteção e não tem outra pessoa que possa fazer

isso, Spencer. — Ela solta a bomba, me deixando realmente espantado com


a informação. — Ela ainda é uma menina, mas por mais que seja treinada

desde pequena e insista que pode se defender, é muito rebelde. Não

podemos mantê-la aqui na Itália sem uma pessoa para garantir que ninguém

irá machucá-la.

— E por que eu? Marlon e Darlan são ótimos, eles têm muitos

contatos. Sou um Knight, não faço serviço pequeno, isso é coisa para
soldados, Angel. Arrume outra pessoa — digo, contrariado.
Através da janela observo o circuito, nota-se que é um local de
corridas clandestinas, tudo está destruído, parece um lixão, porém tem

muitos carros e pessoas.

— Francesco, pare o carro e abaixe os vidros — pede ela ao

funcionário, fingindo não me ouvir. — Apenas olhe para o carro que vem
ali. 

Uma Lamborghini roxa, uma verdadeira máquina. Ela ultrapassa


todos os outros carros com uma maestria impressionante. Ouvindo o ronco

do motor, tento visualizar quem está conduzindo o veículo, mas o vidro

escurecido não permite. É impossível saber quem está sendo ovacionado

pela plateia sentada em uma arquibancada improvisada.

Peço ao motorista para destravar as portas, saio do carro e fico


encostado nele, com os braços cruzados e olhando na direção da pista onde
alguns carros tiram racha. Acabo sorrindo ao me lembrar da época que eu

dava dor de cabeça ao Ezra, ele ficava puto comigo em minha fase de
rebeldia.

Angel se põe ao meu lado, mas fica calada. Esqueço tudo ao meu

redor ao focar na corrida, um carro azul tenta ultrapassar a Lamborghini,


mas o motorista faz um drift em volta do McLaren 620R, fazendo fumaça
subir. As pessoas começam a gritar “Giulia”, e assim compreendo o que a
loira quis dizer.

A Lamborghini só para depois de um tempo, mas ainda assim


continua sendo ovacionada. Atento, miro no carro que já está parado e não

demora muito para que a motorista saia dele. O motorista do carro que ela
provocou fazendo um drift ainda não saiu do veículo, provavelmente está
com vergonha por não ter vencido.

O cabelo da tal Giulia é castanho e está preso em um coque firme.


Ela veste uma blusinha que deixa a barriga à mostra e a calça tem rasgos

nos joelhos e nas coxas. O que me deixa mais impressionado é que a


pirralha estava pilotando com salto alto, bem alto.

Como ela consegue essa proeza?

Analiso com mais atenção e fico boquiaberto ao encontrar um


cigarro preso em cima da sua orelha. Ela o tira de lá e o acende com o

isqueiro que tira do bolso de trás, então dá uma longa tragada.

— Ela é exatamente como você. Digo, a personalidade. É a sua


versão feminina, Spencer James Knight.

Calado, encaro a menina que ainda não percebeu a nossa presença,


ou está fingindo que não nos viu. Como não sei da relação dela com os

Romano, não posso opinar.


— Tenho cara de babá de garotinha revoltada, Angel? Eu saí da
Inglaterra pra isso?! — Paro de olhar a Giulia e foco na mulher ao meu
lado.

— Calma, você ainda não sabe da história toda — resmunga.

Eu me afasto dela o suficiente para não ser ouvido na ligação que

farei. Tiro o meu celular do bolso e ligo para um dos membros da minha
antiga equipe de hackers, que trabalha agora sob as ordens de um dos meus
soldados que foi promovido.

— Jack, quero todos os dados de uma garota chama Giulia Romano

— falo assim que ele me atende. — Preciso disso ainda hoje, sem falta. Não
falhe comigo — ordeno ao meu soldado e encerro a ligação.

—  Vão atrás dela!

A voz de Angel chama a minha atenção ao vê-la dar ordens para


seus soldados que vieram fazendo sua escolta.

Volto a observar a pista de corrida quando o som do ronco do motor


da Lamborghini soa. A garota leva segundos para se afastar, fazendo os

pneus cantarem.

Porra, era assim que o Ezra se sentia?


Nem conheço essa menina e já estou sentindo uma puta dor de
cabeça. Angel e o marido dela que fiquem com o problema deles, estou

fora. De problemática basta a minha vida.


 
— Ela costuma fazer isso? — Aproximo-me de Angel, que está com

a expressão carregada de preocupação.

Nem precisei ser apresentado à menina para perceber seu gênio


forte. Ela vai dar trabalho, na verdade, já dá. Giulia gosta de chamar

atenção, sei bem como é isso, passei por essa fase. E quanto mais tentam

nos parar, mais fazemos merda. Minha época rebelde foi a pior fase da
minha vida, vivia arrumando confusão, contudo, foi necessária para que eu

me tornasse o homem que sou hoje.

— Na maioria das vezes — murmura, suspirando e passando a mão


na testa.

— Qual a idade da garota rebelde? — Lentamente, faço um

escrutínio pelo circuito, estudando cada canto do local.

— Dezenove.

Está explicado, ou não.


— Ela já passou da adolescência, sabe o que está fazendo. Mande os
soldados recuarem.

Angel me encara como se eu fosse um bicho de sete cabeças.

— Como assim? Claro que não, Spencer! A Giulia não pode sair por

aí como se estivesse segura, porque ela não está! — fala Angel, enraivecida.

Ainda estou perdido em algumas coisas, mas não me interesso em

saber o motivo desse medo todo em ter a garota fora das asas deles por

algumas horinhas.

— Quanto mais der o que ela quer, mais vai continuar causando

problemas. Deixe que ela volte sozinha, às vezes quebrar a cara é


necessário — aconselho, dando as costas para ela.

Vou até meus soldados que estão do lado de fora da Land Rover,

atentos a tudo ao nosso redor. Angel segue meus passos e para ao meu lado,

pelo canto do olho a observo morder os lábios e baixar a cabeça.

— E se algo acontecer com ela? O Nicolo jamais me perdoaria se

algo acontecesse...

— Não vai. Agora, me leve para conhecer o seu famoso marido.

Logo Giulia estará em casa, sem precisar de escolta — eu a interrompo. Já


estive no lugar da garota, sei o que estou falando.
— O.k. Pedirei que ao menos a encontrem e fiquem de olho nela

nem que seja de longe. — Busca pelo celular no bolso da calça preta de
couro que desenha bem as suas curvas.

— Nada disso. — Movo a cabeça de um lado ao outro. — Deixe


que ela tenha liberdade, assim só vai sufocá-la. A garota não é mais criança,

ela precisa de independência para rever os seus atos.

A mulher demora para concordar, mas, por fim, diz que tenho razão

e me pede licença antes de se afastar. No mesmo instante, recebo a


notificação de um novo e-mail.

Pego meu celular e abro o e-mail. Jack. Ele foi mais rápido do que
imaginava. Ele me enviou algumas fotos e um arquivo, primeiro vou no

mais importante – o arquivo.

Começo a ler e confesso que fico surpreso.

“Giulia Romano, nascida em 17 de Abril de 2002, nos Estados


Unidos, dupla nacionalidade. Filha de Taylor Willians e Giuseppe

Romano, sobrinha de Nicolo Romano...”

Tudo o que indica nas informações que recebi é que Giulia perdeu a

mãe quando tinha três anos. O seu pai, Giuseppe, tirou a vida da esposa
quando a pegou na cama com um dos seus soldados, e depois que matou a
mulher e o soldado, saiu dos Estados Unidos e retornou para a Itália com a
filha pequena. Os anos foram passando e ele permaneceu vivendo ao lado

do irmão e da filha, até que se envolveu em alguns problemas e prejudicou


a liderança de Nicolo na Itália, obrigando o seu irmão mais velho a tomar

uma decisão de expulsá-lo de casa sem direito de levar a criança.

Paro de ler ao ver Angel retornar com a expressão mais suavizada.

Guardo meu celular no bolso e arrumo a minha jaqueta.

— Podemos ir, está tudo resolvido, até avisei ao Nicolo que estamos

a caminho — diz ela, passando as mãos na sua calça como se estivesse


nervosa.

— O.k. Nos sigam. — Meneio com a cabeça, depois viro-me para


meus soldados.

Giulia é sobrinha do marido dela. Pelo pouco que li, dá para


entender mais ou menos o que está acontecendo aqui. Será que Nicolo

matou o irmão e a menina tem raiva do tio por isso?

Por qual motivo Angel e o esposo querem que eu seja o protetor da

sobrinha deles? Não estou engolindo essa história de “ela é a sua versão
masculina”. Preciso terminar de ler as informações que recebi, mas sinto a

necessidade de conhecer o famoso italiano.


A mansão dos Romano não fica muito longe do circuito, em questão
de minutos chegamos. Meus homens descem do carro e me seguem, mas
para que não fiquem atrás de mim o tempo todo, peço que me aguardem do

lado de fora, atentos a qualquer movimento suspeito.

De fato, Marlon e Darlan disseram a verdade, Nicolo tem muitos


soldados, é um homem poderoso. Pude ver com meus próprios olhos que

ele tem um verdadeiro exército. Com a quantidade de homens nesse local,


Giulia nem precisaria de mim para protegê-la, além disso, a propriedade
tem câmeras em todo lugar – da entrada dos portões até a porta da casa.

— Maria, cadê o Nicolo? — pergunta Angel assim que uma senhora


de cabelo grisalho usando um uniforme surge na sala.

— Signora, o capo está no escritório. Ele pediu para que o senhor


fosse até lá, somente ele. — A mulher mais velha olha para mim, depois

para a patroa.

— A Maria vai te levar até lá. Peço que o escute com atenção, por

favor, é muito importante para nós que faça isso. — A esposa de Nicolo se
vira para mim.

— Se abrisse o jogo já facilitaria as coisas, esse mistério todo não

ajuda em nada. Não basta me dizer que a garota precisa de proteção, preciso
saber no que estou me envolvendo. — Lambo os lábios e avalio ao meu

redor cuidadosamente ao sentir que estou sendo observado, e não dá outra,


realmente estou sendo vigiado. Há uma câmera seguindo meus
movimentos.

— Esse assunto deve ser conversado em particular, Spencer —

insiste.

Eu a encaro com sobrancelha arqueada.

— Me leve ao seu marido, aposto que ele está ansioso para me


conhecer. — Dessa vez olho diretamente para a câmera.

Nicolo deve estar ansiando a minha presença no escritório, já que

está nos monitorando por sua câmera. Incomodado, ajeito minha jaqueta,

depois paro de olhar para o objeto que segue meus movimentos e foco na
sra. Romano.

Estou começando a entender Giulia, pior coisa é ter a nossa

privacidade invadida.

— Maria, leve-o até o sr. Nicolo, por favor — a loira pede.


A senhora pede que eu a siga, então eu o faço. Sou conduzido até

um corredor com uma boa iluminação. No meio do caminho, encontro mais


um menos uns dez soldados espalhados altamente armados, eles me olham

de canto de olho, parecendo me inspecionar desconfiadamente, assim como

eu o faço.

Paramos em frente a uma porta fechada de madeira, mas antes que


eu tome alguma iniciativa, dois homens param na minha frente enquanto

Maria sai em passos largos.

— Precisamos revistá-lo antes — informa o soldado. Ele tenta


colocar as mãos em mim, mas não deixo.

— Non toccarmi, não é necessário! — digo entredentes para que

não me toque.

Que porra é essa?

— Só estamos seguindo ordens, senhor — fala o mesmo soldado.

Pelo visto, só ele é fluente em inglês, porque o resto só me olha.

Mas apesar de não falarem a minha língua, estão prontos para seguir

qualquer ordem que receberem.

— O.k. — Levanto os braços e deixo que me revistem, apesar de


não gostar da atitude.
— Isso aqui fica com a gente — diz o homem ao encontrar minhas

armas no coldre.

Dou uma risadinha baixa e balanço a cabeça em negativa.

— Chega dessa palhaçada. — Afasto-me bruscamente do soldado e


puxo minhas armas das mãos dele no mesmo instante que a porta se abre.

— È tutto a posto, se afastem dele — ordena o homem, dizendo que

está tudo bem.

Então esse é o famoso Nicolo Romano. Ele me avalia


silenciosamente quando seus homens seguem suas ordens.

Ele não parece ser um velho como falaram, talvez tenha seus

cinquenta anos.

É, agora entendo porque Angel se casou com esse homem. Ele não é
tão velho como dizem, sua aparência não é ruim, apesar do cabelo e barba

grisalhos. Imaginei que fosse um velhote que ela só estava esperando

morrer para tomar tudo dele, mas me enganei.

— Quando quiser fazer negócios comigo, prepare os seus homens.


Sendo um convidado especial, não devo ser tratado como se fosse uma

porra de uma ameaça — rosno, lançando um olhar ameaçador para os

soldados que estão posicionados em seus lugares.


— Presumo que seja Spencer James Knight — diz Nicolo,

tranquilamente.

— Em carne e osso. Mas acredito que já saiba quem sou, estava me

vigiando na sala. — Estendo a mão para ele, então fazemos um breve

cumprimento.

— Observador você, gosto disso. — Avalia-me com o semblante


sério.

— Já perdi algumas horas sendo enrolado por sua esposa, você

poderia ser direto, já que ela não conseguiu esse feito? Tenho meus afazeres

e não posso perder tempo. — Passo a mão na minha barba por fazer.

Percebendo que sou curto e grosso, ele acena e me pede para entrar

na sala. Nicolo fecha a porta e logo se senta na cadeira e faz um sinal para

que eu me acomode também. Ele espalma as mãos na madeira da mesa e


ergue os olhos, depois pigarreia.

— Minha esposa me contou do breve envolvimento de vocês no

passado. — Não entendo o motivo de estar dizendo isso, mas o escuto

atentamente. — Mia amata, me disse que você e seus irmãos a salvaram de


um inferno.

Não digo nada, somente movo a cabeça confirmando.


O que algo de anos atrás tem a ver com o presente? Confuso?

Muito.

— É o seguinte, Spencer, já percebi que você não é um homem de

muitas palavras, então vou direto ao assunto, foi para isso que te chamei
aqui.

Fico em alerta quando ele abre uma gaveta. O homem tira uma pasta

da gaveta e estende para mim. Pego e leio o nome destacado “Família

Esposito”. Esse sobrenome me soa familiar, um tempo atrás, quando os


filhos de Killz ainda eram bebês, ouvi meu irmão mencionar os Esposito em

uma reunião com Alec, mas não dei importância. Talvez tenhamos algum

negócio com eles e eu não saiba, já que nossas funções na organização são
divididas.

— Dentro desta pasta tem fotos e informações dos meus inimigos —

explica, seu tom é rancoroso. — Anos atrás, os Esposito e os Romano eram

uma famiglia, até que o meu fratello Giuseppe acabou com essa união ao se
casar com uma mulher que não era do nosso mundo, a mãe da minha

sobrinha, Taylor Willians. O meu irmão sempre foi um homem de gênio

ruim e nunca respeitou as regras da famiglia. Na primeira oportunidade,

quando nossos pais morreram, quebrou o acordo de casamento com os


Esposito em se casar com Eleonora, a sua prometida e sobrinha de

Salvatore Esposito. — Ele engole em seco.

Remexo-me na cadeira, ouvindo a história triste.

— Por mais que essa aliança entre as famiglias não tenha acontecido

anos atrás, ela permanece viva. Tivemos que manter o acordo para não

haver uma guerra, não queríamos derramar sangue de inocentes por causa
da imprudência do Giuseppe...

— Então, ofereceram a Giulia para recompensar o que o pai fez? —

deduzo, tendo a sua confirmação imediata.

— Mas isso foi no passado, agora não quero que a minha sobrinha
se case com um Esposito. Aquelas pessoas não prestam, não vou permitir

que Giulia seja esposa do Vincenzo. — Limpa a garganta, envergonhado.

Vincenzo é o nome do suposto pretendente da garota rebelde.

— E não vê esse casamento como uma oportunidade de recuperar o


que perderam no passado? — Estudo a sua expressão e vejo que ele não

gosta da ideia.

— Claro que não. Giulia é a única inocente nessa história, ela não

pode pagar pelos erros do pai, e nem os meus. — Passa a mão no rosto. —
Vincenzo é o sobrinho de Salvatore, e esse homem não tem um bom
passado. A minha sobrinha seria a sua quinta esposa, e todas as suas
mulheres são obrigadas a se submeterem aos seus desejos nojentos. Aquele

homem é um porco! Seria a destruição da minha menina, não posso permitir

que Giulia seja mais uma esposa morta daquele embuste. — Fecha os
punhos.

— E no que posso ser útil nessa história toda? É como você disse,

um assunto de família. — Respiro fundo.

— Preciso que se case com a Giulia e a leve embora.

A sua resposta me faz perder o raciocínio por alguns segundos.

— O quê? — Massageio a nuca e solto uma gargalhada.

— A sua família é intocável no nosso meio, principalmente para os

Esposito. Descobri que o seu irmão mais velho tem negócios com eles há

cerca de seis anos. Mas a sua expressão de surpresa me diz que não sabia —
diz, com firmeza. A certeza em suas palavras me faz acreditar na sua
afirmação. — Preciso que torne a minha sobrinha uma Knight para que

nenhum daqueles ratos toque nela. Podemos fazer um acordo, Spencer. Esse
casamento não precisa durar anos e nem ser consumado, só quero um tempo

para resolver esse problema com os meus inimigos, e em caso de uma


guerra, não quero Giulia entre nós. Eu já prejudiquei demais a minha
sobrinha, ela não merece se casar com um homem maníaco contra a sua
vontade. — Encolhe os ombros, entristecido.

Casamento. Isso parece Axl e Alessa. Me casar para proteger uma

garota que nem conheço? Dar a minha liberdade pela vida de uma
desconhecida?

— E que garantia vocês têm que eu não vou te delatar para os seus
rivais? Afinal, minha família e eles têm algum vínculo, já com você...

— Angel me disse que podemos confiar em você de olhos fechados.


Se ela confia em você, eu também posso. — O seu olhar é de pura
determinação.

— E o que eu recebo em troca? Quais os benefícios que vou receber,

Nicolo? Me casar com a sua sobrinha, que já é prometida a outro, não me


parece ser um bom negócio. — Endureço minha expressão.

— Te dou duzentos milhões de euros e deixo você administrar uma

parte dos negócios da família. Sei que o seu irmão Carter está novamente
no posto que havia abandonado quando foi embora, sendo assim, você está
livre para trabalhar em outras funções. — Nicolo está bem-informado. —

Eu posso te dar o que foi tirado de você, Spencer James Knight. Se case
com a minha sobrinha e eu te deixo cuidar das cargas da famiglia e dos

pilotos permanentemente.
A proposta é muito boa, atrativa. Ele sabe como negociar, está me
oferecendo muito mais do que esperava.

— Por que usaram os Benk para me atrair até aqui? Não tinham
capacidade de me procurar pessoalmente? — Avalio-o, desconfiado.

— Você mesmo disse que Angel e você já não tinham mais contato.
Darlan e Marlon só foram nossos intermediários, eles não sabem nada do

que estamos tratando, apenas precisavam te trazer até aqui

— É tentadora a sua proposta, Nicolo, mas eu já tenho tudo, não


preciso de mais nada. — Meu tom o deixa com a postura endurecida.

— Eu sei disso, Spencer, mas a Giulia precisa de você. — Os olhos

dele enchem de lágrimas.

— Como alguém pode precisar de algo que nunca teve? Todos esses
anos ela não esteve protegida? Me dê um motivo consistente para aceitar o

que me pede, Romano. — Balanço a cabeça.

— Foram muitos anos de dor de cabeça. Vincenzo queria a minha


sobrinha ainda na adolescência, aquele porco queria reivindicá-la ainda com
quinze anos. E para que não conseguisse isso, tive que ameaçar com uma

guerra, desde então ele a persegue. Ele só quer se casar para destruí-la.
Ele consegue a minha atenção, mas não demonstro. Preciso tirar
mais informações dele, sei que tem mais coisas por trás dessa preocupação

em não casar a filha do irmão com um filho da puta.

— O nosso mundo não é cor-de-rosa com glitter, você ainda não me

convenceu.

Nicolo trinca o maxilar.

— Eu matei o pai dela, matei o meu próprio irmão para salvar a vida
de Giulia. Desde que descobriu o que fiz, ela me odeia. Só vive nessa casa

porque é obrigada, se dependesse dela, estaria fora daqui há muito tempo.


— Ele solta uma respiração pesada.

Uma pessoa não nasce revoltada. Giulia Romano não é assim só por
um motivo, deram a ela milhares de razões para ser o que é.

A garota sabe que o tio matou o pai.

Foi prometida a um monstro.

— Depois que matou o seu irmão está querendo se redimir não


deixando-a se casar com Vincenzo, e ainda quer me usar para concluir os

seus planos ardilosos? — Dou uma risadinha baixa. — Realmente é uma


história triste, Nicolo, mas se tem algo que não costumo fazer é bancar o
herói. E se acha que o fato de eu ter salvado a sua esposa no passado me
fará mudar de ideia está enganado. Se eu fiz o que fiz foi porque tinha

interesse envolvido. — Belisco a ponte do meu nariz ao perceber que a


minha insinuação o perturba.

— Aumento o valor, te dou quinhentos milhões de euros e podemos

rever outros negócios meus que possam te beneficiar. — Ele quase gagueja.
Tenho certeza de que ele não está me contando tudo, só o que acha

necessário.

— Não costumo voltar atrás nas minhas decisões, sr. Romano. —

Levanto-me, decidido a dar o fora desse lugar. — Saiba que não tenho
pretensão em aceitar a sua proposta, arrume outro homem para ser o marido
da garota. Se você arrumou esses inimigos, lide com eles sozinho.

— A minha esposa se enganou com você, achei que poderia nos


ajudar. — Seu tom é acusatório.

— Diga para a sua mulher que não sou o mesmo Spencer de anos
atrás. Na verdade, era um moleque, hoje posso te dizer com propriedade

que não posso ser o homem que está procurando para a sua sobrinha. —
Apoio minhas mãos no encosto da cadeira que eu estava sentado. — Já

ouviu aquele ditado que heróis desaparecem rápido? Não estou disposto a
bancar o bonzinho, Nicolo. A nossa conversa encerra aqui, peço que não
insista, não gosto de ser pressionado. — Arrumo a minha postura.
— Me diga o que quer, te dou qualquer coisa para levar a minha
sobrinha daqui. — Ele está praticamente implorando.

— Não vou me casar com Giulia. Você é um capo, tem poder, mate

todos os Esposito ou o Vincenzo, assim o seu problema será resolvido. —


Dou as costas para ele.

— Todo mundo sempre tem um preço — diz as palavras que já ouvi


muito por aí ao longo dos anos.

— Mas não estou à venda. Fale com os Benk, talvez eles possam ser
úteis para você. — Viro-me para ele, que está com o rosto carregado de
tristeza.

— Eles não são um Knight, você é. — A veia do seu pescoço lateja.

— A minha resposta vai continuar sendo não. — Comprimo os


lábios.

Saio do escritório sem esperar por resposta. Passo pelos soldados em


passos largos e tiro o meu celular do bolso, discando o número de Killz.

Puta merda, os Benk me enfiaram em uma roubada. Desgraçados. Assim


que eu sair desse lugar e me encontrar com Marlon, vou dar uma bela surra
nele, quebrar aquele rostinho de merda que tanto preza para iludir as

garotas.
— Deu tudo certo aí? — pergunta ele assim que me atende.

— Lembra da Angel? — Continuo andando com o celular na orelha

até chegar à sala. Não encontro ninguém, é melhor assim.

— Como esquecer. Você a levou até para o meu apartamento


naquele dia.

— Pois então, ela é a esposa de Nicolo Romano. — Conto a ele

resumidamente.

— Eu já sabia de tudo — confessa.

— E por que não me disse? — Irrito-me com a sua ocultação.

— Quis que descobrisse sozinho.

Fecho os olhos, controlando meu xingamento.

Um barulho alto vindo da porta me atrai. A garota entra pisando


duro e atrás dela um homem alto e musculoso, com uma cicatriz enorme no

lado esquerdo do rosto.

— Depois te ligo. — Encerro a ligação e guardo o meu celular sem

tirar os olhos da morena que não usa mais salto, agora está com botas
pretas.
— O que você quer me seguindo? Acha que pode entrar na minha
casa como se fosse sua, seu nojento? Quem você pensa que é? — grita

Giulia para o homem, que solta uma gargalhada e me olha da cabeça aos
pés, me ignorando ao avançar nela e segurá-la pelos pulsos.

— A porra do seu homem! Você vai ser minha mulher, tem que me
respeitar, vagabunda! — ele grita com ela, sacudindo-a. O cabelo longo
dela cobre as suas costas e o seu rosto.

— Nunca vou ser sua, seu porco imundo! — retruca ela antes de

cuspir no rosto do cara.

Estranho o fato de nenhum soldado ter vindo atrás dele.

— Eu sou Vincenzo Esposito, bambina! E quando digo...

— Solte a garota — ordeno, com um falso tom de voz manso.

Aproximo-me deles e Giulia me encara com os olhos avermelhados, mas


ela é do tipo que gosta de ser durona.

— É uma conversa de casal, não se meta — zomba o homem,


medindo-me mais uma vez.

— Eu disse para largar a menina, porra. — Levo as mãos ao meu


coldre e saco minhas armas, apontando duas Glocks para sua cabeça.
— Quem você pensa que é? — Vincenzo joga a cabeça para trás e

gargalha, me desafiando.

— Spencer James Knight. Esse sobrenome te lembra algo? Se não a

largar agora, vou arrancar suas mãos e estourar os seus miolos. — Encosto
o cano da Glock na sua cabeça e ele endurece, perdendo a pose de machão.

Estou puto com a prepotência do filho da puta.

— Um Knight... interessante. E você sabe quem sou eu, imbecil? —

Ele tenta me olhar, mas não permito ao empurrar ainda mais a Glock na sua
cabeça.

— Um rato de merda que só tem culhão para enfrentar mulheres


indefesas. Agora, largue a garota. — Meu sangue ferve.

Vincenzo solta Giulia, que ofega. Mas quando penso que vai correr
para longe, ela fecha os punhos e esmurra o rosto do homem com força,
depois o estômago dele na maior facilidade, como se estivesse acostumada

com aquilo. Ele a chama de vadia em italiano e vai se arrastando em direção


ao corredor que dá para o escritório do tio dela, provavelmente vai se
queixar do modo como foi recebido.

— Não precisava disso, eu sei me defender muito bem desse

imundo, sempre fiz isso sozinha! — Aponta o dedo em riste para mim com
raiva, só assim para que eu note a sua beleza.
Finjo a ignorar ao guardar minhas armas no coldre, mas volto a
olhá-la quando me xinga em italiano de filho da puta, pensando que não
vou entender.

Cacete, os olhos dela são como as águas das Maldivas. A garota é


bonita, muito, até demais para o meu gosto. O seu rosto é bem-desenhado,

os seus lábios são naturalmente preenchidos e rosados. Descaradamente,


desço meus olhos por seu corpo – e que corpo! De perto, consigo apreciar
mais a belezura que ela é. Eu a vejo fazer uma careta, claramente ofendida,

antes de me chamar de “cuzão”, me fazendo rir internamente.

— Não parecia. — Fecho a expressão.

Ela coloca a mão na cintura e me encara com puro desdém.

— Você é o novo amante da sugar baby do Nicolo?

Pelo visto, ela e Angel não são melhores amigas.

— Spencer!

Ao ouvir a voz de Angel, viro o rosto e a vejo descer da escada já

com outras roupas.

— O nome do animal é Spencer — diz baixinho, como se eu não


fosse ouvir.
— Angel, não precisa nem perder o seu precioso tempo comigo. —
A loira empalidece a vir em nossa direção. — E a garotinha de vocês sabe

se defender muito bem, ela acabou de chutar as bolas do Vincenzo

— Ele está aqui? — ela gagueja, meio atordoada.

— Estou dando o fora. Nada feito com o seu marido, e não insistam
— digo, saindo da casa sem olhar para trás.

 
 
 
 
 
Passaram-se alguns dias desde que fui à Itália e não houve um dia

sequer que Angel não insistisse em me fazer tentar aceitar a proposta do

marido dela. Todas as vezes que me ligava ou enviava mensagem, eu a


ignorava, como agora. Ela está me ligando sem parar desde que amanheceu.

Não quero me casar com Giulia. Vi de perto o inferno que foi a

união do meu irmão com Alessa no início. Demorou para os dois


encontrarem a paz ao perceber que o ódio que sentiam pelo outro era amor.

O que poderia vir acontecer entre mim e a sobrinha de Nicolo jamais poderá

ser comparado ao relacionamento da minha cunhada e o Axl, eles são

completamente diferentes de nós. Eles se gostaram desde a primeira vez

que se viram, já tinham química, apesar de ser um casal explosivo.

Reconheço que a menina é linda, mais do que isso, é um mulherão,

mas não posso me aprisionar em um matrimônio onde não vou poder me

envolver com outras mulheres, e mesmo se pudesse, não o faria. Eu adoro

uma boa putaria, sou consagrado nela, porém, nunca trairia a minha esposa,
então não posso aceitar ser marido de Giulia para protegê-la do seu terrível
destino. Prometi para mim que só me casarei se for com a mulher que amo,

e enquanto ela não aparece na minha vida, irei ser um colecionador de

bocetas, foderei muitas gostosas até me cansar.

Sentado no sofá do meu apartamento, jogo o celular no canto e

observo as três mulheres gostosas nuas dançando sensualmente para mim –


uma negra, uma loira e uma ruiva. Faço um gesto com a mão para que

venham até mim, basta isso para que se reúnam comigo no sofá.

— O que você quer que façamos, Spencer? — pergunta a loira,

lambendo os lábios e passeando a mão por meu tórax. — Quer um boquete

primeiro da Lisa, Sophie ou meu? Você decide, baby — fala com a voz

enjoativa.

A loira bunduda e com silicones enormes nos peitos se senta na

minha coxa direita, enquanto as outras duas ficam cada uma de um lado,

beijando o meu pescoço. Como não me lembro do nome delas, apenas as

chamo por qualquer apelido que invento.

— Sou todo de vocês. Apenas sejam boas o suficiente para que me

sinta satisfeito, gatinhas. — Pisco para elas, que riem.

— Eu quero ser a primeira a ter o seu pau na minha boca, seu

gostoso — diz a ruiva, passando a língua nos dentes e me encarando com


aquele olhar de quem está louca para ser fodida por mim.

Encontrei as três belezuras mais cedo em um racha que fui

convidado para participar. Ao sair como vencedor, só vi chover mulheres

em cima de mim, pude escolher qual traria para a minha casa para foder.

As garotas estão comigo há um tempo. Já servi a elas algumas das

minhas bebidas caras e ainda as assisti se pegarem depois de umas doses de


álcool no sangue. E porra, fiquei excitado demais vendo as três no maior

amasso na minha frente, uma masturbando a outra sem tirar os olhos de


mim.    

— Apenas façam o trabalho de vocês, o meu único interesse aqui é


gozar e fazer vocês gozarem. Não importa quem vai ser a primeira ou a

última, não tenho preferência porque sei que todas são deliciosas — digo,
deixando-as animadas.

— E o que acha de nos levar para o seu quarto? Na cama ficaremos


mais confortáveis — sugere a negra maravilhosa de pernas torneadas.

De repente, fecho a minha expressão com a sugestão dela. O meu


quarto é a minha privacidade, meu santuário, não levo putas para lá. E essas

três são conhecidas pela fama que tem, todos os pilotos da minha equipe já
treparam com elas.
— Vocês serão fodidas aqui mesmo, nada de quarto ou cama —

respondo, ao deslizar minhas mãos na coxa de cada uma e tocar em suas


bocetas depiladas.

— Hum... O.k., baby, você que manda. — A que está no meu colo
tenta beijar a minha boca, mas recuso ao virar o rosto. Entendendo o meu

recado, ela sai do meu colo e se ajoelha na minha frente.

Enquanto masturbo a negra e a ruiva, a loira abre minha calça e põe

o meu pau na sua boca, me chupando esfomeada, se babando toda. Devo


reconhecer que ela tem uma boca excelente, sabe fazer um boquete.

Jogo a cabeça para trás e solto um gemido ao sentir meu pau ser
sugado até as bolas, a garganta profunda que a puta faz é delicioso, chego a

ficar com a respiração ofegante.

Mesmo sendo fodido pela boca da loira, continuo dando prazer para

as outras companheiras dela com minhas mãos e ouvindo os seus gemidos


no pé do meu ouvido. Assim que gozo, peço que elas se posicionem no
sofá, todas de costas e com a bunda empinada, porque vou comê-las nessa

posição.

Busco a caixa de camisinha na gaveta do aparador ao lado. Quando


retorno, arranco minhas roupas e meto primeiro na ruivinha assanhada que
se oferece para mim, me tentando. Ela grita e geme meu nome a ponto de
quase me deixar surdo.

Revezo entre as três por um tempo, até que começamos outra


rodada, dessa vez fico sentado e uma de cada vez quica no meu pau. Por

mais que eu tenha muitas mulheres à minha disposição, nenhuma consegue


preencher o vazio que sinto dentro de mim. Ela pode ser a maior gostosa da
face da Terra, fazer várias sacanagens, mas nada faz mudar essa sensação.

É sempre sexo cru. Nunca tem emoção envolvida por mais que eu
goze, fique satisfeito e faça a minha parceira ficar também.

O sexo é sempre igual, só com mulheres diferentes.

Com a toalha na cintura e as gotículas de água deslizando no meu


peito, retorno para a sala com a minha carteira na mão e encontro Sabrine,
Dália e Julie, algo assim, já vestidas e sentadas me esperando, como eu

havia pedido antes de entrar no banho. Elas queriam me fazer companhia,


mas recusei. Permitir que se juntassem a mim no banho era o mesmo que

dar liberdade a elas, e eu não quero isso, sei qual o meu limite.
Depois do sexo, sempre gosto de recompensar as garotas, e elas
adoram quando as mimo.

— Sabrine, Dália e Julie, vocês foram maravilhosas. — Um sorriso

sacana nasce em meus lábios ao me recordar da boca da loira ao redor do


meu pau, aliás, de todas elas, não recebi boquete somente de uma.

— Nossos nomes não são esses! — resmunga a negra gostosa com


os olhos fulminantes. — Eu sou a Lisa, ela, a Sophie, e aquela, Hannah!

Como você consegue se confundir? — Aponta para a ruiva, depois para a

loira.

— A minha vida é corrida demais para ficar lembrando de nomes, às


vezes nem lembro qual é o meu, Lisa. — Rolo os olhos pelo fato da mulher

se chatear com uma bobagem. Quando estava quicando no meu pau não se

importou em me corrigir, e agora está fazendo cu doce.


— Por que está com essa carteira? Por acaso está nos achando com

cara de prostituta? — A ruiva é a que se ofende dessa vez. Ela se levanta do

sofá, completamente enraivecida.

— Meninas, se acalmem, não é para tanto. Ele só quer nos mimar!


— Me defende a loira bunduda. Aproveito que ela se levanta também e dou

uma conferida no seu corpo, com certeza repetiria a dose. — O que você

tem para nós, baby? — Aproxima-se de mim e toca no meu abdômen.


— Como vieram no meu carro, precisam de dinheiro para voltar

para casa, não é? Então vou dar algumas notas a vocês para que possam
voltar. — Afasto-me da loira que já estava segurando o meu pau e abro

minha carteira, tirando de lá algumas notas.

— Eu vou embora! Esse cara é um ordinário, babaca sem noção! —


exclama Lisa, pisando duro e nos dando as costas como se eu fosse me

importar com o seu drama.

Ora essa, não obriguei ninguém a vir comigo, muito menos abrir as

pernas para mim, quem se ofereceu foram elas.

— Não esqueça de fechar a porta, meu bem — falo alto e bom tom,

provocante.

Ela se vira e me lança o dedo do meio.

— Oh... Deus, ela não sabe que está fazendo, Spencer! Me dê o


valor que desejar e passo para ela, teremos uma conversa depois que eu sair

daqui. Não se preocupe! — Pisca para mim.

Por que eu me preocuparia com uma puta qualquer que vai de

circuito em circuito se oferecendo para os homens, e que só abre as pernas


para aqueles que têm carro ou um sobrenome importante? Faça-me o favor!

Nem vou perder o meu tempo pensando em uma vadia interesseira.


— Dividam entre vocês duas, a Lisa não merece um tostão meu. E

não precisa dar satisfação alguma a ela, se me deu a boceta foi porque quis,

não coloquei uma arma na cabeça dela. — Entrego a grana para a loira, que
é a mediadora das amigas, e os seus olhos brilham com o bolo de notas em

suas mãos.

— Obrigada, príncipe!

O apelido me faz rir baixinho.

Príncipe? Só rindo.

— Podem ir agora, não esqueçam de fechar a porta — aviso, indo

pegar um cigarro no aparador.

Só escuto a porta ser batida enquanto retiro o cigarro e o isqueiro da

gaveta. Despreocupadamente, me sento em uma das poltronas e acendo o


cigarro, no primeiro trago relaxo e fecho os olhos, em seguida, solto a

fumaça no ar.

Uma batida à minha porta me faz abrir os olhos. Aposto de uma

delas esqueceu algo, afinal, não convidei ninguém para vir à minha casa, e
se fosse algum estranho subindo meus soldados me avisariam, ou não

permitiriam a entrada.
— Pode entrar — digo, com a fumaça saindo por minha boca e meu

nariz. Apago o cigarro e o jogo no cinzeiro.

Ezra entra inspecionando tudo ao redor. Fico surpreso com a sua

visita, sempre que vem ele avisa. Mas dessa vez, além de não ter avisado,

meus soldados também não o fizeram, deve ser algo importante para ele ter

saído do seu conforto com a sua família em Chelsea para vir aqui.

— A putaria começou cedo, vi as suas amiguinhas saindo. — Faz

uma careta quando seus olhos fixam na calcinha vermelha jogada no braço

do sofá e em algumas garrafas espalhadas na mesa de centro.

Ele nem disfarça ao procurar por drogas, mas respira aliviado ao não
ver nem um sinal delas ali. E nem vai encontrar, eu as guardei em uma

gaveta no meu quarto. Apesar de não estar usando, eu sempre preciso ter

um pouco guardado.

— Até te convidaria para participar da orgia, mas a Barbie loira me

mataria. Arrancaria o meu pau e daria para os cães.

Meu irmão ri assim que menciono a esposa dele. A Hailey é uma

fera, não quero problemas com a minha cunhada predileta – que Alessa,
Aubrey e Muriel não saibam disso.

— Pode ter certeza de que ela faria pior do que arrancar o

brinquedo, Spencer. Mas não vim aqui para questionar os seus gostos
estranhos de se divertir. — Ele se senta no sofá, mas ao ver a minha

expressão divertida, se levanta e pigarreia. — Você trepou no sofá, não é?

— Em todas as posições que você conseguir imaginar.

Ezra me xinga baixinho e eu gargalho.

— Vim te fazer um convite. — Ele coça a barba e me encara sério.

— Agora que estou à toa, porque o nosso querido irmãozinho Carter

tomou novamente o seu posto? Obrigado, Ezra, mas não preciso que

ninguém fique com pena de mim, sei me virar e tenho os meus próprios
negócios também. — Um gosto amargo toma conta da minha boca ao me

recordar dos Romano.

— Vocês ainda estão nessa? — Suspira, chateado.

— Ele começou a partir do momento que se achou no direito de se


intrometer na minha vida como se eu fosse uma criança! — sibilo,

rancoroso.

— Somos irmãos, Spen, união em primeiro lugar, lembra?

Sim, eu me lembro, sempre vou me lembrar.

— E o que te traz aqui? O que é tão importante assim para vir até a
minha casa? Poderia ter ligado, ou enviado uma mensagem. — Finjo

ignorá-lo, mas suas palavras doem profundamente.


— Hailey e eu vamos dar um almoço em casa e queremos que vá.

Você está tão distante da gente, e sei que esse não é você. O Spencer que eu
conheço fica enchendo o nosso saco a ponto de querermos enfiar uma bala

na cabeça dele.

Acabo sorrindo com o que fala.

— Vou pensar e depois te aviso, talvez eu tenha alguns assuntos


para resolver — minto, passando a mão por meu cabelo. — Que dia vai ser?

— indago, vendo uma sombra de satisfação em seus olhos.

— É amanhã — diz, esperançoso.

— Vou pensar, qualquer coisa te aviso. — Levanto-me da poltrona.

— O.k., só não demore para dar a resposta — fala ele, e eu assinto.

— Não vou. — Lambo os lábios.

— E como foi lá na Itália com os Benk e os Romano? — pergunta,

curioso.

Entrei solteiro na Itália, e se dependesse de Nicolo, sairia casado.

— Bem. Só não peguei o serviço dos Romano, não é pra mim.

Ezra me olha desconfiado, mas concorda.


— Entendi. Vou aguardar a sua resposta. Até mais, Spencer — diz,
saindo do meu apartamento.

Assim que o meu irmão se vai, tranco a porta e vou para o meu

quarto, me jogando na minha cama em seguida. Me deito de costas e fico

encarando o teto por um tempo. Mesmo sem querer, na minha cabeça vem a
cena de Vincenzo sendo agressivo com Giulia e a proposta do tio dela.

— Que se foda. Não vou me casar com aquela fedelha gostosa e

arrogante. — Bufo, irritado.

A minha distração dessa vez vai ser tiro ao alvo, preciso tirar os
Romano dos meus pensamentos. 
— Eu amo quando estamos todos juntos. A sensação é tão gostosa,

que se dependesse de mim nos reuniríamos todos os dias — diz Aubrey, a


esposa de Killz.

Decidi me reunir a eles em cima da hora, nem sequer dei a resposta


que Ezra estava esperando, apenas peguei a estrada e agora estamos

conversando ao redor da mesa. Quer dizer, eu estou observando-os dialogar


animadamente.

— Impossível, Brey, esses homens vivem para o trabalho. E só se

reúnem quando insistimos muito. Se não existíssemos na vida deles, mal se

veriam. Fiquem gratos por terem esposas maravilhosas — diz a esposa de


Axl, fazendo todos rirem.

— Concordo com tudo, meninas! — Agora quem fala é Muriel,

olhando para Carter, que está sentado ao lado e acariciando a sua barriga.

Ele está muito babão, mas eu o entendo, é o seu primeiro filho.


Para não continuar com o clima pesado, decido quebrar o meu

silêncio e fazer com que esse dia seja repleto de paz.

— Vocês não têm esposas, dormem com inimigas — manifesto-me,


bem-humorado, deixando todos surpresos.

— Quem está quase dormindo com a inimiga é você, irmão. Acha

que não sabemos que a esposa do tal italiano é a sua Angel? — Os olhos de
Axl brilham de divertimento.

Não consigo esconder o meu descontentamento com a sua

insinuação, então somente o ignoro.

— Axl — repreende Killz, em um tom ameaçador.

Odeio essa porra. Eles falam da minha vida sem saber de fato o que

está acontecendo. Se soubessem da verdade ficariam espantados, só que não

serei eu a esclarecer isso para os meus irmãos.

Na cabeça deles, ainda tenho sentimentos por Angel. Mas como

pode haver algo que nunca existiu? A loirinha foi uma coisa boa para mim

nos meus dias de caos, mas não chegou a ser o amor da minha vida, ou a

mulher. Angel agora é casada e parece amar muito o marido, e se não o

amasse, não se daria o trabalho de trazer alguém que fez parte do seu

passado para ser o marido da sobrinha dele.


O mais engraçado não é a teoria maluca que a minha família está
criando, e sim saber da verdade e ainda permitir que fiquem de gracinha.

Quem dera fosse Angel a mulher que me amarrasse pelas bolas. Ainda não

nasceu a que vai me prender. O.k., a loira é gostosa e se tornou um

mulherão, mas ela não passa de uma aventura que vivi no passado, quando

era um moleque.

— Depois de velho está ficando fofoqueiro, Killz? — Direciono

meus olhos para o meu irmão mais velho, ele era o único que sabia dessa

informação.

Somente Killz sabia dos Romano, e ainda não pudemos ter outra

conversa depois que retornei, mas aposto que ele abriu a boca.

— E em que momento você se tornou um bebê chorão? — Killz me

provoca, fazendo com que eu feche os punhos embaixo da mesa.

— Hum-hum, Spen, eu tenho uma parcela de culpa. Não achei que

fosse algo tão importante assim — Brey se manifesta, com o rosto

vermelho.

— Não se preocupe, Aubrey, só não estou muito no clima para

brincadeiras com a minha vida. Ela já está bem fodida para ser exposta na

mesa como se fosse um nada. — Puxo o ar para os pulmões e me levanto.


Estou mal-humorado. Mal dormi a noite passada e está me faltando

paciência para aturar gracinhas.

— Ei, cara, desculpa. Não achei que fosse grande coisa — defende-

se Axl, com a expressão carregada de preocupação, enquanto se levanta


para me seguir.

— Não precisa vir atrás, Axl, vou só fumar um cigarro. Não preciso
de companhia para isso. — Eu o impeço de me seguir.

Com apenas um olhar, Killz consegue manter Axl no lugar. Sem


esperar que alguém diga alguma coisa, afasto-me deles e sigo para o jardim

bem-cuidado. Encontro um banco e me sento, pouco tempo depois ouço


passos vindos na minha direção, então olho para trás e encontro Ezra. Sabia

que um dos meus irmãos viria falar comigo, sempre vem alguém.

— Dia ruim para uma conversa? — Meu irmão se senta ao meu lado

enquanto olha para a frente.

— Péssimo. — Sou sincero.

— Não queríamos que você se sentisse desconfortável, se eu te


convidei para se reunir conosco foi para que pudesse se divertir também. —

Ele toca no meu ombro, em seguida, me olha. — Axl não fez por mal, ele
acabou sendo um...
— Filho da puta — eu o interrompo e vejo uma sombra do seu

sorriso, mas em vez de sorrir, ele pigarreia.

— Quer desabafar? — pergunta, tirando a mão do meu ombro.

— Sobre? — Penso em pegar um cigarro no bolso, mas desisto ao


me lembrar que a mulher de Carter está grávida e o cheiro pode incomodá-

la, por mais que eu esteja um pouco longe dela.

— Você e a Angel tiveram algo na Itália? O que realmente


aconteceu? — questiona, preocupado.

— Por que para vocês tudo gira em torno de um romance? — Faço

uma careta e o ouço rir baixinho.

— E quem disse romance aqui? — Arqueia a sobrancelha. —


Esquece. Mas rolou algo entre vocês, ou ela te deu um fora para você não

aceitar o tal serviço? — Ezra e suas preocupações, ele não muda nunca.

— Se você souber que trabalho que precisam que eu faça vai me dar
razão. — Suspiro, lembrando-me da encrenqueira Giulia Romano.

— Pois me diga, só assim vou poder opinar — diz o óbvio.

— Para você sair espalhando? — resmungo, e ele gargalha.

— Na época em que você era um pirralho, eu saia falando os seus

podres, passava a mão na sua cabeça e ainda te livrava de receber uma boa
surra do Killz — fala, brincalhão.

— Não fode, Ezra, nem me lembre dessa fase vergonhosa. — Bufo,

fingindo revolta.

— O.k., parei. E então, vai me contar o que está te dando olheiras?

— Encara-me.

— O serviço dos Romano é uma garota. — Acabo soltando, porque

sei que com ele estou seguro.

— Uma garota? — repete, surpreso.

— Sim. — Remexo-me no banco, incomodado.

— Estão pedindo para você matá-la? — indaga, mas não respondo

de imediato.

— Antes fosse isso — digo, depois de alguns minutos. — Você


acredita que o marido da Angel tem uma sobrinha rebelde? A garota tem
dezenove anos e é prometida ao sobrinho dos Esposito. Descobri através do

tio dela que a nossa família faz negócios com ele. Killz. — Passo a mão por
meu cabelo e conto ao Ezra detalhes da minha conversa com Nicolo

Romano. Mas o que o deixa espantado é saber do casamento, não o fato do


marido de Angel ter matado o pai da garota.
— É, realmente é um problemão. Você não pode pegar essa
responsabilidade, se casar não é apenas colocar uma aliança no dedo. —
Finalmente alguém me entende.

— E não vou, Ezra. Tenho a minha vida, amo a minha liberdade, e

me prender com aquela garota seria loucura. — Engulo o nó que se forma


em minha garganta.

— Está certo, afinal, ela já é prometida a outro. Já deixou claro para


eles que não vai aceitar ser o marido da garota? — pergunta, curioso.

— Claro que sim, mas Angel é muito insistente, me liga sem parar.

Eu poderia bloquear as ligações, mas ela tem que aprender o que é não. Se

depender de mim, vai ficar ligando e enviando mensagens.

— Existe algo que o obrigue a aceitar a proposta deles? Você tem

dívida de drogas por aí? — me inspeciona e eu nego.

— Lógico que não, Ezra. Eu sempre pago o que uso, e não sou esse

viciado como imaginam. É mais por diversão, às vezes exagero, verdade,


mas não a ponto de ficar devendo. — Meu tom sai irritado, mas controlo o

meu temperamento.

— O.k. — Assente, satisfeito com a minha resposta.


— Se você estivesse em meu lugar o que faria? — de repente

pergunto, mas logo me arrependo.

— Pergunta para o Ezra de agora ou do passado? — Franze o cenho.

— Os dois. — Miro o meu irmão.

— O Ezra de antigamente não se importaria, mas o de agora

pensaria direito antes de tomar qualquer decisão. — Seus olhos ficam


sombrios antes de suavizarem.

— E quando não se tem nada para pensar? Não sou igual ao Carter,

não tenho esse lado heroico dele.

— Eu poderia te dizer para entrar de cabeça nisso, mas é um


casamento, não uma aventura, irmão. O Axl é a prova disso, então, não se

torne uma segunda versão dele se não pretende largar a sua vida de curtição

— fala, sério.

— E ela é prometida a um membro importante de outra máfia, acha


que quero trazer mais problemas para mim? — Franzo o cenho.

— Exatamente. Mas o que me surpreende não é isso, e sim saber

que Spencer James Knight está fugindo de problemas. — Ele sorri.

— Não é isso, Ezra. Quem tem o dom de ser babá é o Carter, mas
ele já está casado, e você também. — Levo um soco no braço.
— Se você não quer ser o marido da garota, não seja, simples assim.

Ninguém pode te obrigar a nada. — Por fim, aconselha.

— Exatamente. — Sinto-me mais leve depois de ter conversado

com Ezra.

— Exceto Killz. — Lembra-me, rindo baixinho.

— Nem fodendo! — Solto um grunhido.

— Você não quer mesmo proteger a garota, ou está com medo de se

apaixonar no meio do caminho? — O olhar avaliador dele me faz engolir


em seco.

— Nem tudo se resume a bocetas, sabia? E outra, ainda não nasceu

a mulher que vai me prender e me fazer dizer “eu te amo”. E essa sua

pergunta é muito idiota, Ezra. — Umedeço os lábios. — Como me


apaixonaria por alguém que nem mesmo conheço? Meio impossível, não

acha?

— Se você aceitar a proposta, vai conviver com ela — fala, com

tranquilidade.

— Mas não vou e ela não faz o meu tipo.

— E você lá se importa com isso? O que tiver boceta você está

comendo — provoca-me. Eu jogo a cabeça para trás ao soltar uma


gargalhada.

— Eu ainda nem comi...

— Olha a boca! A Muriel está se aproximando — me interrompe

baixinho.

Então me calo ao ouvir os passos se aproximando.

— Desculpe interromper vocês. — Encaro a ruiva, que está

vermelha de vergonha e muito linda grávida. — Posso falar com você? —


pergunta, cheia de coragem.

Eu assinto com a expressão suavizada.

Meu irmão se levanta, mas eu não me movo.

— Sabe que mesmo tendo seguido o meu caminho e ter construído a


minha família, eu continuo sendo o seu irmão, o seu amigo. Sempre estarei

aqui para te escutar. Você sabe onde me encontrar — fala Ezra, tocando no

meu ombro.

— Eu sei, Ezra, eu sempre soube. Obrigado — agradeço, porque sei


que é verdade.

— Não agradeça. Vou te deixar com Muriel.


Assim que Ezra sai, minha cunhada se aproxima mais e eu faço um

gesto com a mão para que se sente no lugar onde o meu irmão estava.

Muriel estuda o meu rosto demoradamente, e quando ela percebe

que noto, fica envergonhada. Eu não resisto e acabo dando um sorrisinho.


Ela, por sua vez, limpa a garganta e arruma a postura.

— Eu sei que sou lindo, Muriel, mas você não veio aqui para falar

da minha beleza, certo? — Fico sério.

— Com certeza, não. — Ela joga o cabelo para trás, dá para ver que
está nervosa.

— Alguém te enviou para conversar comigo? — sondo, curioso.

— Eu tenho opinião própria também, sabia? Ninguém me enviou,

eu vim porque quis — retruca, ousada, fazendo-me gargalhar.

— O.k., Muriel, sou todo ouvidos. Me diga no que posso ser útil. —

Remexo-me no banco.

— Ainda está chateado com o Carter, não é? — indaga, receosa.

— Não, eu não estou. De verdade. — Com a testa franzida, passo a


mão na mandíbula, pensativo.

— Sei que entrei para a família faz pouco tempo, mas eu preciso ter

essa conversa com você, Spencer. E se em algum momento eu estiver indo


longe demais, me fale, por favor. — Fica séria e eu assinto. — Eu entendo o

seu descontentamento por Carter ter falado com Killz, mas, acredite, ele
não tinha a intenção de te prejudicar. Pelo contrário, ele passou uma boa

parte da nossa lua de mel pensando em você, no seu bem-estar. — Os olhos

dela chegam a brilhar ao falar do meu irmão. — Mesmo sabendo que você é

adulto e sabe se cuidar. Spen, estou aqui não para pedir que volte a ser
próximo do seu irmão como antes, essa é uma decisão sua, mas quero

deixar claro que o que Carter fez foi por você ser sangue do sangue dele. A

relação de vocês é maior do que qualquer coisa, e antes de ele jogar a merda
no ventilador, analisou com calma e, no final, concluiu que deveria revelar

tudo para o Killz. — Ela toma fôlego antes de continuar enquanto fico

observando-a com atenção.

— Acha mesmo que se ele quisesse te prejudicar teria demorado


tanto para contar ao Killz? Claro que não. Primeiro, ele ficou se torturando,

imaginando como seria se o irmão de vocês soubesse de tudo. O Carter fez

o que pôde, mas há momentos na vida que percebemos que nem tudo

podemos carregar sozinhos, temos que dividir o peso com alguém. — Seus
olhos enchem de lágrimas. — Me perdoe pela forma como estou me

expressando, não estou dizendo que você é um peso. Só estou tentando

abrir os seus olhos. Se o meu marido fez o que fez, foi achando que era para
o seu bem, e não para te afastar dos negócios. Jamais. Carter não é nenhum
monstro, e eu sou prova disso.

“Ele é o meu anjo, e o seu também. Mesmo que tenha sido de uma

maneira indireta e, talvez, intrometida para você, ele foi o seu anjo. Hoje,

vamos descobrir o sexo do bebê, como todos sabem, e eu não acho legal
esse clima pesado entre vocês. Sempre foram unidos, e agora é nítido o seu

desconforto. Para falar a verdade, Carter acha que você não o perdoou, mas

mesmo que pareça ser duro, ele não tem que te pedir perdão, ele não errou.
Você sabe disso.”

Minha cunhada se cala, mas a sua determinação em me fazer abrir

os olhos me enche de orgulho da mulher que meu irmão escolheu para


amar. Confesso que estou sem palavras para descrever o que sinto com o

conselho dela, tão jovem e intensa a ponto de mexer comigo. Agora


entendo o que Carter viu nela, eu também facilmente me encantaria por essa

ruivinha de rosto angelical.

— Já terminou?

A ruiva arregala os olhos, não consigo disfarçar o quanto fico


mexido, minha voz me entrega.

— Sim. — Mesmo parecendo incerta, responde.


— Confesso que estou surpreso por você ter me procurado. Eu não
tenho rancor do meu irmão, pelo contrário, serei eternamente grato a ele.
Mas saiba que o seu discurso foi ótimo. Eu refleti melhor e revi as minhas

ações com a minha família. Não se preocupe, eu não odeio Carter, longe
disso, eu nunca poderia odiar os meus irmãos. Nós crescemos juntos,
aprendemos a nos virar sozinhos, e desde sempre fomos somente nós cinco.

Eu jamais daria as costas para um deles por algo que reconheço ser um erro
meu. — Coloco a mão no ombro dela e olho bem em seus olhos. — Sei que
há alguns minutos soei grosseiro, mas não é por causa do Carter. Estou com

outros problemas, que obviamente já foram mencionados. Eu só preciso ter


o meu tempo, preciso de espaço, e acabo fodendo as coisas. Se passei uma
imagem distorcida, eu peço perdão, não queria estragar o seu dia, ruiva. Eu

vou corrigir isso, prometo.

Muriel congela quando pego as suas mãos e trago até os meus lábios

e deposito um beijo em cada uma delas. Nunca faço isso com as mulheres
que trepo, as únicas garotas que recebem minha atenção e carinho são as
esposas dos meus irmãos, que respeito e admiro.

— Achei que tivesse ido ao banheiro.

Carter.
Minha cunhada se assusta com a voz do marido, mas eu não, era
esperado que viesse atrás dela.

— Mudei de ideia. — Ela se levanta. — Conversem, vocês


precisam. Obrigada por me ouvir, Spencer. — Muriel se afasta de mim e vai
até o marido. Eles trocam algumas palavras, mas só ouço um pouco tempo

depois quando ele diz que vai ficar para falar comigo.

— Será que podemos conversar como duas pessoas civilizadas? —


pergunta Carter, assim que a esposa se vai.

— Estou sempre aberto para uma boa conversa. — Olho para trás e

o vejo se aproximando para se sentar ao meu lado, onde o nosso irmão


estava há alguns minutos.

— Somos irmãos, não podemos deixar que algo que já passou fique
entre nós, Spencer — diz, com o semblante sério. Ele solta um suspiro e

passa a mão por seu cabelo. — Se fiz o que fiz foi para o seu bem. Olha
você aí, está limpo há um tempo depois de ter conversado com o Killz, e se
eu não tomasse uma atitude, certamente você estaria na merda. — Carter

não é de muitas palavras, mas quando quer, sabe muito bem desestabilizar
alguém.

— Eu estaria sendo um moleque se não te desse razão, irmão, tenho

consciência das minhas atitudes e assumo os meus erros. Não posso passar
a vida toda lamentando por algo que procurei. — Engulo em seco e sinto
um nó no meu estômago.

— Sim, penso o mesmo. — Carter balança a cabeça. —


Independentemente da nossa posição dentro da organização, temos que

estar sempre prontos para lidar com as consequências dos nossos atos, seja
lá qual for. — Meu irmão tem uma expressão neutra, quase fria.

— Eu sei. — Não contenho a risada amarga.

— Por sorte, temos um irmão como Killz — diz baixo, quase

distante.

— Ele passa por cima de muitas coisas por nós, principalmente do

conselho... E pela primeira vez em tantos anos, depois de tantas bobagens


que fiz, me sinto um filho da puta por quase ter prejudicado nossos
negócios. E mesmo que eu tenha mostrado algumas atitudes infantis no

decorrer dos meses, estaria disposto a pagar pelo que fiz. Nem que isso me
custasse a confiança da minha família. — Limpo a garganta, controlando o

meu nervosismo.

— Não é errado errar, Spencer. — Parece até Killz falando. —


Errado é você estar sempre repetindo o mesmo erro. — Então ergue os

olhos e me observa com seriedade.


— Acho que todo esse tempo fui injusto com você. Quer dizer,

tenho certeza. Agora preciso me desculpar por ter sido um cuzão, mas se eu
não fosse, não seria eu.

— Não temos muito o que fazer, somos um Knight, e os Knight

normalmente agem assim — fala e rimos juntos, concordando. — Estamos


bem, então? — Estende a mão para mim.

— Por que não? — Franzindo a testa, dou um sorriso para ele. — É


lógico que sim, Carter, o nosso sangue sempre falará mais alto. — Damos

um breve aperto de mão.

— Nem um abraço? — brinca, em seguida, explode em uma

gargalhada.

— Vá se foder! — Gargalho também, vendo seus olhos expressarem

diversão.

— Esse é meu irmão. Seja bem-vindo de volta, cara. — Ele pisca

para mim.

— Obrigado — falo, já me levantando. Logo nossa família vem nos

procurar, quero poupar esse trabalho a eles. — Vamos? Você tem uma
esposa grávida que é muito apegada a você, e eu tenho uns irmãos que
adoram ser meus babás. — Meu humor retorna, para a alegria de Carter.
— Vamos. — Olha para trás, depois para mim.

— Primeiro as damas. — Faço reverência e ele fica puto, mas entra


na brincadeira.

— Dama é meu pau, Spencer. — Bufa, me dando as costas. Estou

prestes a segui-lo quando se vira. — Você quer voltar ao seu posto?


Podemos dividir a administração, não vejo problema nisso. Dois cérebros
pensam melhor — diz, com firmeza na voz.

Quando vou responder, meu celular começa a vibrar no bolso. Já


imaginando quem deve estar ligando, só ignoro.

— Eu poderia dizer que vou pensar com calma. — Meu celular


vibra insistentemente, então eu o pego. — Mas realmente não quero mais

lidar com essa parte dos negócios da família, não por enquanto. Sei que
você consegue se virar muito bem, antes de mim já fazia isso.

Meu irmão me encara curioso quando me vê encarar o aparelho

rapidamente.

É um número desconhecido, mas o código de país é da Itália.

— O.k., mas pode ter certeza de que vou estar lá esperando por
você.

Sei que sim.


— Não vai atender? Talvez seja algo importante, vou te deixar
sozinho para que veja quem é — fala, ao me ouvir soltar um palavrão

baixinho.

— Pode ir na frente, vou depois.

Ele assente e se afasta. Eu fico encarando a tela do celular, que


agora está iluminada com a ligação de alguém muito persistente. Nem

preciso pensar muito para saber quem é. Se eu atender, certamente vou ter a
confirmação, mas neste momento não estou com cabeça para falar com
nenhum Romano.
 
Enfim, lar doce lar.

Depois do almoço na casa do Ezra, vim direto para a minha, estou

com a cabeça estourando de dor. Girando a chave do meu Mercedes-Benz


AMG CLK GTR prateado nos dedos, fecho a porta da minha casa e chuto

meus sapatos para longe. Estou prestes a dar mais alguns passos na minha

sala quando noto algo diferente.

As luzes do corredor que dá para o meu quarto estão ligadas, e não é

só isso, uma voz feminina cantarola uma música que desconheço. Não me

recordo de ter chamado nenhuma mulher para vir me ver, e se tivesse,


certamente não estaria aqui sem mim.

Mas se alguém tivesse subido eu seria comunicado.

É uma emboscada e estou sendo traído por aqueles miseráveis?

Desconfiado, caminho em passos silenciosos no corredor,


empunhando minhas Glocks e seguindo na direção do meu quarto.
A porta não está escancarada, e em cima da minha cama tem uma
mulher de costas para mim, com as pernas cruzadas para cima. Ela sequer

se vira quando sente a minha presença, só para de cantarolar. Puto com a

invasão, sinto meu sangue ferver, mas antes de focar completamente na

intrometida, faço uma inspeção ao meu redor para conferir que há somente

ela.

O seu cabelo está preso em um coque firme e ela veste por cima das

suas roupas um sobretudo preto comprido e botas vermelhas de cano alto –

são minhas duas cores preferidas.

Ainda não consigo associar a mulher a nenhuma das garotas que já

comi.

O perfume que a desconhecida usa é cheiroso, doce, chamativo, mas

não me lembro dele.

— É assim que recepciona os seus convidados, sr. Knight?

Congelo no meu lugar ao reconhecer a voz de Giulia. Sem reação,

eu a vejo se virar para mim despreocupadamente e sem medo do perigo. Ela

se senta no meu colchão como se estivéssemos intimidade e cruza as

pernas, então se apoia nos braços e me analisa dos pés à cabeça, com aquele

ar de superioridade.
Giulia Romano está na minha cama, e com o rosto carregado de

maquiagem, dificilmente a reconheceria se estivesse chapado.

— Que porra você faz na minha casa? E como entrou? — Eu a

ignoro. Ainda com as Glocks empunhadas, vou na direção dela e miro uma
arma na sua testa.

— Não deveria tratar uma convidada especial assim. — Bate no


cano da Glock, afastando o objeto do seu rosto.

— Não tem medo de morrer, garota? Não te ensinaram que é errado


invadir a casa dos outros? — pergunto, sem emoção na voz, passeando

meus olhos por seu corpo que agora vejo que tem uma lingerie vermelha e
ousada por baixo do casaco.

Que ela é gostosa não nego.

— A resposta é não para as suas duas perguntas. Você pode parar de

apontar essa porcaria para mim? Não vou te morder, a menos que me peça.
— Estala a língua, depois revira os olhos ao me ver ainda mirando a arma

nela.

— Que caralho você quer aqui? E como os meus soldados não me

avisaram que você subiu? — Guardo minhas armas no coldre, porque sei
que a garotinha indefesa não vai me fazer nada.
— Você pergunta demais, vamos por partes. E pare de ficar secando

o meu corpo, não vim aqui para isso — fala, cheia de si, em seguida se
levanta e eu recuo.

E quem mandou vir quase pelada para a minha casa? Sou homem,
porra, é claro que olharei para os lugares certos.

— Você não faz o meu tipo, menininha. Apesar de ser gostosinha,


não te foderia nem por milhões de euros ou libras. Prefiro as loiras e as

mais experientes. — Meu tom sarcástico a faz fechar o semblante.

— Não vim discutir as suas preferências, sr. Knight. Quero falar de

negócios. — Fecha o sobretudo e ergue os olhos claros para mim, lambendo


os lábios em seguida.

— A minha resposta continuará sendo não. Agora dê o fora da


minha casa, antes que eu o faça a pontapés. — Comprimo os lábios.

— Não vou até que me escute. — Cruza os braços.

— Pena que eu não quero te ouvir. — Cuspo as palavras, me

sentando na poltrona que fica próxima da cama.

Quero essa menina longe de mim, se possível, na Itália.

— Não quer saber como entrei na sua casa e com a permissão dos
seus soldados? — Ela me atrai ao vir em minha direção, abrindo o
sobretudo, me dando o privilégio de admirar suas curvas.

Sim, caralho... Ela é bem boa. Eu a foderia duro e forte, mas ela não

precisa saber disso.

— Não tenho interesse. Volte para a sua prisão domiciliar, a

Inglaterra não é para garotinhas fujonas. — Eu a desafio com os olhos, mas


ela não se intimida. Giulia para, se der mais um passo estará em meu colo.

— Se pensa que fugi está enganado, vim com a esposa do Nicolo.


Só dei um jeitinho de te encontrar primeiro do que ela. — Põe a mão na

cintura.

Angel está aqui. Foda-se.

— E ela te enviou para tentar me convencer? — Arqueio a


sobrancelha.

— Pelo contrário, vim por conta própria — confirma minha


suspeita.

Ela realmente fugiu.

— Já imaginava. E como entrou na minha casa? Como teve acesso,

se sou o único a ter as chaves? — Aperto os olhos e a vejo sorrir


maliciosamente.
Ela põe uma mão em meu ombro. Paralisado, espero para ver o que
vai fazer.

— Te conto tudo se me deixar fazer isso bem pertinho do seu


ouvido. — Lambe o lábio superior e inferior.

Com a respiração pesada, vejo a garota se sentar de frente para mim.


Cacete, o demônio em forma de gente se senta em cima do meu pau e nem

se preocupa ao perceber que estou duro.

— Saia agora de cima de mim — rosno, sentindo meu pau pulsar na


calça quando Giulia se inclina mais e encosta a boca no meu ouvido.

— Me tire se for capaz, futuro maridinho. — Beija minha orelha e

sopra o seu hálito quente na minha pele.

Uma porra que vou ser o marido dela!

— Não tem medo de morrer mesmo, não é? Nunca que iremos nos

casar, docinho. — Solto uma risada baixinha e agonizante ao senti-la se

mover no meu pau.

— Você vai ser o meu marido, Spencer, eu serei uma Knight. —


Seus olhos iluminam.

— Só nos seus sonhos, baby. — Fecho uma mão nas suas costas.

Sentindo que ela também está armada, solto um palavrão. — Agora me diga
como entrou na minha casa? — Subo uma mão em seu pescoço, fechando-a

sem colocar força.

— Só me deixaram subir. Não fui nem revistada, porque prometi aos

seus soldados um bom boquete depois. Mas também mostrei a eles como

estou vestida por baixo do sobretudo — confidencia, fazendo me perder em

suas palavras. — Você sabe, os homens às vezes podem ser burros demais,
e ver uma mulher bonita e seminua pode ser tentador — diz no meu ouvido.

Eu aperto o seu pescoço dessa vez e ela tosse, mas não se deixa

abater.

— E o que mais? — Travo o maxilar, puto.

— Mostrei um molho de chaves e disse que você tinha me dado,

porque era a sua puta preferida. E que se ligassem para você para confirmar,

certamente você ficaria muito bravo e arrancaria os olhos deles por terem
olhado a sua garota quase nua. Quando me deixaram subir, foi fácil abrir a

porta. Eu fui treinada, sei me virar de todas as maneiras — revela,

provocante.

— Filha de uma mãe! Eu poderia te matar agora. — Solto o seu


pescoço e a empurro do meu colo, mas ela não sai, apenas afasta o rosto e

me olha.
— Mas você não vai. — Aponta o dedo no meu peito. — Preciso

que aceite ser meu marido. A sua família é poderosa, Vincenzo jamais

enfrentaria um Knight.

Não sei por que, mas meus olhos param em seus peitos que sobem e
descem. A garota está nervosa, mas demonstra determinação.

— Acha que vindo até aqui e se sentando no meu pau vestida assim

irá me convencer? Garota, já comi e vi milhares de bocetas, a sua não tem

nada de especial. Então saia de cima de mim e vaze daqui antes que eu
ligue para o seu noivinho e conte que a querida prometida dele está

rebolando no meu pau e implorando por atenção. — Bastou o imbecil ser

mencionado para a garota sair de cima de mim em uma velocidade absurda.

Vincenzo lhe dá medo.

Fico curioso ao notar que a expressão de Giulia muda da água para o

vinho. Juro ter ouvido até um soluço.

— Desde a primeira vez que te vi, sabia que era um bundão. — Sem

me dar chance de qualquer ação, ela saca a arma e aponta na minha direção.
Eu levanto as mãos em modo de rendição, mesmo sabendo que posso sacar

as minhas também.

— Por que não procura outro idiota para se submeter a essa merda
de casamento? Você só tem dezenove anos, menina, não sabe nada da vida!
O que me faz tão especial, caralho? — Acabo gritando.

Ela arregala os olhos, só depois percebo as lágrimas silenciosas


descerem por sua bochecha, mas finjo não ver nada.

— Ao menos me escute! — implora.

— O.k., Giulia. — Ela me vence pelo cansaço.

— Eu ouvi a conversa do Nicolo com a mulher dele, sei um pouco

sobre você, sobre a sua família e o modo como vocês protegem um ao


outro. — Sua voz está embargada. — Nada te faz especial para mim, mas a

Angel disse para o marido que se você me tornasse a sua esposa, eu me

tornaria intocável e poderia me livrar do nojento do Vincenzo.

O.k., quase me convenceu.

— Já estou sabendo disso, ainda assim, não me sinto convencido. —

Eu me levanto sem me preocupar se estou sob a sua mira.

— Quando eu tinha dezessete anos, ele tentou me estuprar, mas

como não conseguiu, acabou me espancando. Eu fiquei com muitos


hematomas por semanas, e o Nicolo não fez nada, porque é um frouxo. Não

quis declarar guerra aos Esposito! — exclama, revoltada.

A garota está tremendo de raiva.


— Há anos, perdi a minha liberdade porque fui prometida para

aquele asqueroso. Ele me segue para todos os lugares, você viu naquele dia.

Ele entra na nossa propriedade sem permissão e nada acontece,

principalmente quando está drogado e tenta me bater. — Soluça alto.

Ouvi-la falar sobre drogas me afeta absurdamente. Se ela souber que

Vincenzo e eu temos algo em comum... a diferença é que não me torno uma

pessoa violenta quando estou sob o efeito delas.

— Aquele homem será a minha destruição. Se eu ficar mais um dia


na Itália, ele me mata ou eu me mato. Não suporto mais ter que olhar para a

cara do Vincenzo, do meu tio, da mulher dele. Preciso da minha liberdade, e

você é o único que pode me dar isso. — O peso da responsabilidade que ela
joga em mim me nocauteia.

— Sinto muito, Giulia, mas não sou esse cara. Procure outras

opções — digo friamente, vendo-a assentir aos prantos e baixar a arma.

— Eu te pago. Quanto você quer? Tenho alguns milhões guardados,


herança do meu pai. Se quiser, eu te dou tudo — suplica, com os olhos

avermelhados.

— A minha liberdade não tem preço. Volte para os braços da sua

família, o seu lugar não é aqui. — Minha voz sai ríspida.

— Essa é a sua última palavra? — Funga, guardando sua arma.


Avalio-a por alguns segundos antes de falar.

— Sim.

Por trás das lágrimas dolorosas de Giulia, existem duas famílias


sedentas por uma guerra, e eu não vou ser o mediador para que os Knight

fiquem entre elas.

— O.k. — Limpa o rosto, em seguida passa por mim e sai do

quarto.

Notando que está com o sobretudo aberto, eu a sigo em passos largo.

Ela está quase abrindo a porta quando a seguro pelo braço.

— Vai sair assim? — pergunto, olhando o seu rosto.

— Assim como? — Arqueia a sobrancelha.

— O seu sobretudo está aberto — falo, mesmo sabendo que ela tem

noção disso.

— Não deveria se preocupar, você não é nada meu. — Sai do meu

toque com brusquidão.

— Claro que não deveria, você já mostrou para eles mesmo, não faz

diferença. — Afasto-me dela, que abre a porta.


— Não que seja da sua conta, Spencer, mas não mostrei nada a eles.
Mesmo que pareça, não sou esse tipo de garota — diz, me dando as costas e

saindo.

Puxo a minha porta e a sigo até o elevador.

— E vai sair assim? — Não entendo a minha preocupação, mas


continuo seguindo os seus passos.

Ela aperta o botão do elevador e as portas se abrem, e assim que a

garota entra, faço o mesmo. Giulia aperta o botão do andar e eu fico

observando os seus movimentos.

— Vai continuar me seguindo? — Ergue o rosto bonito e eu encaro

seus lábios naturalmente carnudos pintados com um vermelho intenso.

— Feche esse sobretudo, meus homens são pagos para trabalhar e

não ficar se distraindo com um rabo de saia. Se fosse a minha mulher, a


primeira coisa que faria era colocar juízo nessa cabeça, ou teria que matar
todos os meus soldados para não olhar para você. — Sem pedir permissão,

seguro em cada lado da sua roupa e ela bate em minhas mãos.

— Está para nascer o homem que vai mandar em mim! — Se afasta


e fecha o seu sobretudo.
— Acho que você está merecendo umas boas palmadas nessa bunda
para aprender a controlar essa língua-afiada. — Eu a encosto na parede
metálica e ela geme.

— Ouse me dar algumas palmadas que arranco as suas mãos. —


Empina o nariz desafiadoramente.

— Você é muito atrevida, Romano, mas não iria querer tocar em um


fio de cabelo meu, afinal, a necessitada aqui é você, não eu. — Rio

baixinho, vendo-a ficar vermelha de raiva.

— Saia da minha frente, seu babaca! — Ela tenta me empurrar pelos


ombros, mas seguro em seu rosto para que me encare.

Por alguns instantes nos olhamos sem quebrar o contato visual,

então inclino meu rosto para perto do dela e quase roço nossos lábios.

— Como você veio para cá, Giulia? — Sorrio, afastando-me dela e


notando que ela pensou que eu a beijaria.

— Não que seja da sua conta, mas vim de moto — diz, secamente.

Logo as portas do elevador se abrem e eu me deparo com os meus


soldados e dois desconhecidos sendo barrados por eles.

Temos companhia.

— Droga... — resmunga ela, passando por mim.


— O que está acontecendo aqui? — pergunto, ao acelerar meus
passos e parar ao lado dos meus homens.

— Signora Giulia, viemos buscá-la. — Reconheço um dos soldados


dos Romano, daquele dia na Itália.

— Quem enviou vocês? — Tomo a frente dos meus soldados, mas


não deixo de olhar para a garota pelo canto do olho.

— Signora Romano — diz o soldado italiano, que não parece estar


disposto a ir sem a sobrinha do chefe.

— Está tudo bem, podem deixá-los passar — digo aos meus


homens, que abrem espaço.

Eles vão até Giulia e tentam a pegar pelos braços, mas me intrometo
e os empurro.

— Ela sabe o caminho, não tem necessidade de tocá-la. — Ameaço


cada um com o olhar e eles assentem, mesmo contrariados.

Giulia sequer olha na minha direção, passa por todos nós com a
cabeça erguida e os cães de guarda do tio a seguem. Curioso para descobrir
se ela veio mesmo com uma moto, saio do lado de fora. Na calçada,

observo de longe uma MV Agusta F4 preta alta e um capacete nela.

E não é que ela está falando a verdade?


Enquanto os soldados a seguem, cruzo os braços e encosto no capô
de um carro, vendo-a subir na moto e colocar o capacete. Antes que ela

ligue a moto, os seguranças correm para o carro com medo de perdê-la de


vista.

A porra se torna excitante quando a garota faz os pneus da MV


Agusta fritarem na pista e a fumaça subir, levantando uma neblina ao seu
redor.

Mordo a ponta do meu punho fechado e, disfarçadamente, sorrio


com a cena dos soldados do Romano tendo que lidar com a velocidade que

a menina pega ao acelerar, sumindo do meu campo de visão.

 
— Me soltem, cazzo! — Me debato quando praticamente me jogam

dentro do apartamento que Nicolo arrumou para me colocar com a querida


esposa dele.

Eu odeio essa vida. Odeio ser uma Romano.

Abomino tudo o que representa a minha famiglia. Se hoje sou

corrompida devo isso a Nicolo Romano, o desgraçado que matou meu pai e
ainda tem coragem de me dizer que foi para a minha segurança, para o meu
bem. Essa é a única explicação dele para tamanha maldade.

Quem mata o próprio irmão e diz que foi por bem? Ninguém ou

algum monstro, e entre esses dois, meu tio está mais para a segunda opção.

Cresci vendo a minha liberdade se esvaindo entre meus dedos,


nunca podia fazer nada que eu quisesse, e assim que atingi a maioridade as

coisas só pioraram. Aos dezoito, descobri que eu era prometida a um porco


da outra famiglia para selar a paz, uma vez que meu pai quebrou uma antiga

aliança ao arrumar uma mulher fora da organização.

Vincenzo Esposito é um homem vil, e se tivesse tido alguma brecha,


já teria me transformado em sua puta. Aquele animal não respeita as

mulheres, ele as vê como um objeto, ou melhor, como um lixo que a

qualquer momento pode jogar fora.

Entre Vincenzo e Nicolo, não sei quem odeio mais. Ambos são uns

malditos e não vejo a hora de me livrar deles.

— Eu avisei que não era para tocarem nela! Saiam daqui! — ordena

de maneira firme a esposa do capo.

Os soldados baixam a cabeça e saem rapidamente sem olhar para

trás.

Com o sangue fervendo, avanço em Angel e aponto o dedo em riste


em seu rosto.

— Levati dalle palle! — Peço que saia do meu caminho em italiano.

— Eu te odeio, você e seu marido, então me deixem em paz. Me deixe

livre! — grito, raivosa, segurando minhas lágrimas.

— Se acalme, assim não chegará a lugar algum. — Sua voz calma


me irrita.
— Vai al diavolo! — Eu a mando ir para o inferno e lhe dou as
costas, seguindo para o quarto onde estou hospedada.

Estamos na Inglaterra desde ontem, chegamos à noite e fomos

escoltadas pelos soldados para esse prédio que o meu tio conseguiu com os

seus contatos. Ficaremos aqui até alguém conseguir convencer Spencer a

me aceitar como sua esposa.

Dias atrás, depois da visita do Knight, descobri que Nicolo estava

com planos de me casar com outro mafioso herdeiro, mas esse seria o ideal

para me tornar intocável para os Esposito. Ao ter tido a oportunidade de

ouvir a conversa deles, construí o meu plano em tentar convencer o inglês

exibido a me ajudar, mas na primeira chance que tenho de fugir dos olhos

da minha babá, aquele figlio di puttana se nega a aceitar minha proposta de


casamento.

Confesso que o que me encorajou a encontrá-lo primeiro do que

Angel foi o modo como enfrentou Vincenzo. Mesmo não se encontrando

em seu território, ele sacou suas armas e apontou para o imundo para me
defender, e eu gostei de ver aquilo. Antes de saber o que Nicolo e Angel

planejavam, Spencer já tinha minha atenção, foi a partir dali que me vi

traçando meus ideais.


Eu quero ser uma Knight, não me importa se será uma união sem

amor. Após ter descoberto a importância e o poder que um Knight tem na


Inglaterra, e até mesmo fora dela, sinto-me esperançosa que em pouco

tempo poderei mandar meu tio e os Esposito para o inferno, e finalmente


conseguir respirar sem ter medo de que alguém me machuque ou me
aprisione novamente.

O que uma garota que viveu por anos sob as asas de um tio

assassino não é capaz de fazer por liberdade? No momento, só posso


responder por mim, e eu digo que farei de tudo. Nem que eu precise matar

para isso, derramar sangue de inocentes. Matar para mim nunca foi um
problema, já tenho sangue nas mãos.

A primeira pessoa que matei foi aos dezessete, em uma corrida no

mesmo circuito abandonado que frequento. Vincenzo estava louco me


procurando e um dos seus soldados tentou me levar para ele à força, minha

única saída foi enfiar uma bala na cabeça do desgraçado. Quando vi o


homem no chão em uma poça de sangue fiquei assustada, quis chorar, mas
ao lembrar o que me faria, engoli minhas lágrimas e substituí por um

sorriso de vitória, porque era a primeira vez que eu conseguia me defender


sem precisar da ajuda dos homens do meu tio.
Já no quarto, arranco o sobretudo e amarro meu cabelo, em seguida

me sento na cama e deixo as lágrimas caírem. Nesses últimos dias os


problemas têm se tornado uma bola de neve. Tivemos que vir escondidas,

depois que eu dei uma surra no Vincenzo ele exigiu uma reunião entre
nossas famílias e disse a Nicolo que já estava mais do que na hora de nos

casarmos, e que se demorasse muito, eu me tornaria uma mulher inútil que


não daria herdeiros a ele.

Apesar de Nicolo não admitir, sei que a sua relutância em não


permitir esse casamento é pensando que em algum momento vou perdoá-lo

por ter me deixado órfã. Ele pode fazer o que for, me dar o mundo, e
mesmo assim não terá meu perdão. Não me importo se foi ele quem me
criou, meu pai poderia ter feito isso se ele não tivesse sido assassinado. O

cinismo do meu tio e da esposa jamais vai amolecer o meu coração.

Limpando o meu rosto, tiro as armas do coldre em minhas costas e

as guardo na gaveta. Elas foram do meu pai, as únicas coisas que sobraram
dele, fora a herança avaliada em muitos milhões que ainda não tenho

acesso, só o terei depois do meu casamento.

Muitas mulheres da organização foram criadas para ser submissas,

viver como umas pobres coitadas adestradas por seus maridos, dos fiéis aos
infiéis, mas eu jamais poderia me comparar a uma delas. Não nasci para
isso, embora os ensinamentos na famiglia deixem claros como devemos nos
comportar, nunca me sentiria bem tendo que ficar em casa com a barriga no
fogão, cozinhando para o meu marido, enquanto ele fica sei lá onde se

divertindo com outras mulheres. Eu nunca iria me tornar a sua empregada,


que na calada da noite vira o seu entretenimento e fábrica de bebês.

Cresci com esse pensamento e irei morrer com ele, tem que ser de
igual para igual.

Desde a minha adolescência, fui excluída dos ciclos de amizade das


garotas das outras famílias da organização por não concordar com o modo

como se comportavam. Eram muito bobinhas, aceitavam tudo, e isso fazia o


meu estômago embrulhar. Elas não gostam de mim até hoje, mas é
recíproco, e aconteça o que acontecer, não vou me sujeitar a nenhum filho

da puta abusivo só para orgulhar terceiros.

Sou uma mulher da máfia, mas vou lutar por minha independência
sempre.

— Você vai me aceitar como a sua esposa, Spencer James Knight —

digo ao vasculhar a minha mala e tirar o meu notebook de lá.

Foi fácil conseguir o endereço dele. Angel às vezes é muito inocente


ou se faz. Ela deixou o celular na sala enquanto falava com o marido em
outro quarto, então aproveitei que estava longe e peguei muitas informações
do homem.

Quando ela me deixou pela manhã, para comprar algo para


comermos, distraí os soldados e fugi. A moto era de um dos homens do

meu tio, que certamente vai ser condenado à morte por ter me deixado ter
acesso algo que é restrito para mim, já que para eles sou uma garotinha
rebelde. Amo por me confundirem com uma garotinha mimada que só quer
atenção, sendo que busco por outra coisa.

Na cabeça de todos, sou apenas uma menina revoltada que só fugia

de casa para tirar racha, mas, nos momentos em que me aprisionavam em

casa, eu estava ocupada aprendendo outros idiomas, ficando fluente em


cinco línguas. Durante todos esses anos, aprendi alemão, francês, espanhol,

inglês, russo e quase aprendi português.

Todos os meus passos são calculados. Sem exceção.

Spencer pode ter me dispensado hoje, mas ele vai ser o meu marido,
preciso dele e do seu sobrenome. Nem que demore meses para ele aceitar.

Ouço as batidas na minha porta, mas ignoro ao ligar a máquina em

meu colo.

— Giulia, o seu tio quer falar com você.


Bate mais uma vez na madeira.

— Ele disse que é importante

— Estou ocupada, diga que ligo mais tarde — acabo respondendo,

porque sei que ela é insistente.

— O.k. — Por fim me deixa em paz e não escuto mais a sua voz.

Angel tem sete anos de casamento com Nicolo, ela é a única mulher
em que ele confia. Reconheço que a fidelidade que eles têm no outro é

admirável, mas não serei eu a dizer isso a eles, uma vez que os odeio.

Minha única aversão à esposa do meu tio é que ela faz tudo o que ele quer,

e vive me sufocando com um jeito protetor como se fosse a minha mãe,


mesmo não sendo.

A mulher que me deu a vida, Taylor, morreu há muitos anos, meu

pai a matou porque ela o traiu. Esses são os boatos que ouço desde criança,

mas nunca tive coragem de me aprofundar no assunto. Por mais que eu


procure mais informações, não vou trazê-la de volta, então prefiro focar no

presente.

— Cadê essa droga. — Mordo a ponta do meu dedo indicador ao


entrar no sistema que criei. Nele, consigo qualquer informação relacionada

ao Spencer, e agora que instalei três microcâmeras com microfone na sua

casa, vai ser mais fácil saber do seu dia a dia.


Sim, consegui essa proeza em questão de minutos. Como eu disse,

sei me virar, não importa de que forma seja.

Finalmente, depois de um tempo, encontro o que quero e fico

boquiaberta ao ver Spencer sem camisa, deixando suas tatuagens à mostra e


usando uma calça moletom branca. Ele está sentado na cama com as duas

microcâmeras nas mãos, e o seu olhar está tão fixo na direção da que

coloquei em seu quarto que fico abismada.

Como ele descobriu tão rápido?

— Giulia Romano, sei que neste momento está me vendo e ouvindo.

— Ele dá uma risada baixinha, muito sensual para o meu gosto, e lambe os

lábios. — Em que mundo você acha que vivo, garota? Não sou tão bundão

assim como pensa. — Arqueia a sobrancelha e ergue as duas microcâmeras


e as joga no chão, pisando em seguida.

Com os olhos semicerrados, eu o xingo em pensamento.

O imbecil é realmente esperto! Me pegou!

— Se queria ver o meu pau era só pedir, não precisava colocar


câmeras na minha casa, baby. É só pedir que a gente pode fazer ao vivo e a

cores, e na posição que quiser — diz, com a voz rouca e maliciosa. Engulo

em seco com o seu tom intenso. — Agora é sério, garota, não me faça te
caçar e fazer engolir essas porras. Você passou do limite em tão pouco
tempo, a próxima vez que fizer mais uma das suas gracinhas vou fazer você

desejar nunca ter me conhecido. O inferno só será um brinde se comparado


com a dor que posso te causar — ameaça.

Estremeço com o sorriso frio que surge em seus lábios. Sem reação,

afasto o notebook do meu colo e logo percebo que perco o último acesso da

câmera em seu quarto. Ele destruiu todas. Fiquei com medo do seu olhar
gélido, mas não posso desistir tão rápido.

Ainda não conhecia esse lado do Spencer. Ele é frio e implacável

quando quer, e é disso que eu preciso.

— Giulia, não desarrume as suas malas, estamos voltando para a


Itália hoje mesmo. O seu tio não conseguiu convencer o Knight mais velho

a te deixar aqui sob os cuidados do irmão dele.

Sinto um frio na minha espinha. Não quero voltar. E não vou. Os


irmãos Benk têm negócios com os Knight, podem ser a minha solução por

enquanto. Eu preciso ficar na Inglaterra escondida por um tempo, só preciso

convencer Nicolo. Ele me deve isso.

 
Giulia Romano não é mais uma dor de cabeça para mim, embora o

seu tio tivesse tentado convencer o meu irmão a fechar negócio com ele.
Killz não me decepcionou, ele foi transparente com Nicolo, desiludiu-o na
primeira oportunidade. É claro que o homem ficou nervosinho por meu

irmão não ter fechado um acordo com ele.

Após Killz o ter dispensado e deixado claro que não estava aberto
para esse tipo de aliança, o homem entendeu que não poderia mais insistir,

então colocou o rabo entre as pernas e não mais deu as caras. Quer dizer,
ligou uma ou outra vez, mas obviamente estava claro que seria inútil tentar
algo que jamais daria certo.

São meses sem notícias da garota ou dos Romano. Para ser exato,

três meses. O mesmo tempo do nascimento do meu sobrinho, filho do

Carter e Muriel.

Eles sumiram do mapa e eu agradeço por isso, uma vez que não são

do meu interesse. Semana passada, estive com os Benk e nem mesmo eles
entraram no assunto, porque sabiam que não dou a mínima para aquela

família. Tivemos um encontro rápido em um dos galpões da minha família


quando estavam fazendo um serviço para a organização albanesa. Eles

vieram para Londres buscar algumas peças de carros que fornecemos, mas

logo se foram. Sei que irá demorar para vê-los novamente, afinal, vivem
viajando muito quando estão em ação, nunca param em um lugar só.

— Você quer pegá-lo?

Saio do meu devaneio ao ouvir a voz calma da minha cunhada, que

pergunta se quero pegar Rowan, meu mais novo sobrinho. Observo o bebê e
faço uma careta, a ruiva ri baixinho ao ver o desespero na minha expressão

quando movo a cabeça negando.

— Deixa para a próxima. — Coço a cabeça.

— Ele não vai se partir ao meio. Spen, pode pegar! — diz ela,

divertida.

— E seu eu o derrubar? — pergunto, disfarçando o meu nervosismo.

Mesmo que eu não seja tio de primeira viagem, nunca me sinto pronto para

lidar com bebês, ainda mais tão novos como o Rowan.

— Spencer, você tem quantos sobrinhos mesmo? Já deveria ter se

acostumado. — Ao meu lado, Hailey me cutuca e minhas outras cunhadas


riem.
Hoje, a família está reunida, dessa vez na casa de Carter. Meu irmão
e a esposa nos convidaram para um jantar, e como eu estava a fim de comer

uma comida decente, aceitei na hora.

— Oras, sou obrigado a virar profissional porque vocês amam

aumentar a creche a cada ano que passa? — brinco com elas, que me olham

feio, mas logo levam na esportiva.

— Vá reclamar com os seus irmãos, Spencer! — diz Alessa,

piscando para mim.

— A minha fábrica está fechada há tempos e o meu querido marido

sabe disso — fala Aubrey, tímida com a minha presença. Ela é a mais
tranquila de todas as garotas.

— A única que está com a fábrica aberta é a Muriel, logo teremos

uma ruivinha deixando o Carter de cabelo branco — diz Hailey. A ruiva

fica com o rosto vermelho, acho engraçado a facilidade que ela tem para

ficar envergonhada com certas palavras. — Não só você, a Alessa também!

— Rowan acabou de nascer... Outros filhos só daqui a alguns anos!

— responde Muriel.

— Se Axl quiser outro filho, ele vai ter que dar à luz! O Chris me

deixa vinte anos mais velha com aquela personalidade dele, então, por
enquanto, ficaremos apenas com o nosso anjinho mesmo — fala Alessa,

antes de bebericar a sua taça de vinho.

— Amiga, eu falava o mesmo, bastou escorregar no...

Quem fica sem jeito com o falatório das garotas sou eu, e ao
perceber que vão passar a falar coisas de mulheres, eu me levanto tão

rápido que elas compreendem o que estavam prestes a fazer.

— Meninas, as mais lindas do mundo, estou deixando vocês


sozinhas para que possam conversar com mais privacidade. — Limpo a
garganta, sem jeito.

— Oh céus, nos perdoe, Spen, ficamos animadas e... — Hailey põe


a mão na boca e prende a risada.

— Não se preocupem comigo, estou caindo fora. Só vou levar isso


comigo. — Descaradamente, pego minha taça de vinho e a garrafa pela

metade, em seguida, saio da sala ouvindo os resmungos das garotas por ter
roubado a bebida delas.

Rindo, vou para o lado de fora e encontro meus irmãos gargalhando,


sentados com algumas bebidas na mesa. Quando me veem, eles acenam

para que eu me aproxime.


Nesses últimos meses, acabei me abrindo com o restante dos meus

irmãos. Contei sobre Giulia, quer dizer, ao Carter e Axl, agora eles sabem
do episódio na minha casa e a minha descoberta das câmeras. Acho que a

garota pensou que eu fosse burro e nem desconfiaria das suas intenções,
mas assim que ela foi embora, comecei a vasculhar cada canto e encontrei

microcâmeras no meu escritório, na minha sala e quarto.

Só nos melhores sonhos dela que conseguiria ficar me vigiando. A

garota pode ser inteligente, mas eu sou mais. De fato, não posso subestimá-
la, é astuta, e nem ela a mim, e deixei isso bem claro.

— Cansou de ficar entre as mulheres? — pergunta Axl, risonho,


segurando uma garrafa de cerveja na mão esquerda.

— Apesar da presença feminina me agradar mais do que a de quatro


marmanjos, preferi me reunir a vocês. Se sintam lisonjeados com a minha

ilustre presença — falo bem-humorado.

Eles tiram sarro de mim assim que me sento em uma cadeira ao lado
do Ezra, que também tem uma garrafa de cerveja na mão.

— Aposto que começaram a falar coisas que deixou a boneca

tímida. — Ezra toca no meu ombro e gargalha, levando os outros a fazerem


o mesmo.
— Boneca são meus testículos! — falo, puto, mas por dentro estou
sorrindo.

É bom quando estamos em harmonia.

Coloco a garrafa do vinho roubado na mesa e a minha taça. Killz me

oferece uma cerveja e eu nego, dizendo que não quero misturar. A minha
resposta o deixa satisfeito. Meus irmãos começam a falar sobre os negócios
por não estarem na presença das esposas, que ficam emburradas quando

eles abordam coisas do nosso trabalho em um momento que é para ser de


lazer.

— Ontem, matei dois dos meus homens no cassino, eles estavam


roubando. — A frieza de Ezra nem nos afeta mais, ele é assim quando se

trata de traidores.

— E o que aconteceu? — questiona Killz, está tão curioso quanto

nós.

— Estavam roubando fichas e vendendo aos nossos clientes por um

valor menor. Os filhos da puta acharam que eu nunca ia descobrir. — Ezra


balança a cabeça, furioso. — Pois eu os fiz pagar cada centavo que me foi

tirado, precisavam ver os idiotas chorando como maricas, pedindo perdão


quando comecei a torturá-los bem lentamente, até que dessem o último

suspiro. — Um brilho sombrio ilumina os seus olhos.


Ezra é bonzinho que chega a doer na alma.

— Fez isso na frente dos outros funcionários e clientes? — indago,

enchendo minha taça com vinho.

— Na frente dos clientes, não. Quando fechamos o cassino, reuni os

funcionários e pedi que esperassem mais um pouco antes de irem embora.


— Ezra dá de ombros. — Eles precisavam de uma motivação para saber

como funcionam as coisas se me traírem. Depois que matei os dois ratos


traidores, exibi o corpo deles para os colegas. — Outras pessoas em nosso

lugar já teria colocado as tripas para fora, com os detalhes que o nosso

irmão dá, certamente alguns dos seus funcionários não teve estômago para

assistir à cena.

— Nem estamos surpresos com você, irmãozinho, sabemos que é

um verdadeiro ceifador. — Sorrio de canto.

— Mas quando está com a Hailey vira um cãozinho adestrado —

provoca Axl.

Nós gargalhamos, menos Ezra.

— Você não tem moral para julgá-lo, Axl, a Alessa te faz colocar a

língua para fora e latir também.

Os olhos do meu terceiro irmão escurecem.


— Spencer, o dia que você se apaixonar por alguém, desejo...

— Sem rogar pragas, por favor! E nem adianta ficar bravo,


maninho, ainda vai demorar para uma mulher me prender — eu o

interrompo, sorrindo.

— Não tenha tanta certeza assim — retruca Ezra, mas ao se dar

conta do que fala, ele empalidece.

— O que disse? — Vasculho o seu rosto, que está quase sem cor.

— Foi apenas um pensamento. — Ele desconversa, alternando o

olhar entre mim e os nossos irmãos.

Eu não seria traído dessa maneira, quero acreditar que não, mas de
repente o ambiente se torna pesado.

— Killz, você tem algo para me dizer? Não tem tramado nas minhas

costas, não é? — Nervoso, limpo a garganta ao ouvir alguns passos se

aproximando. Na porta da casa, surgem Dylan e Austen, meus sobrinhos


mais velhos. Esses meninos crescem cada dia mais, daqui a alguns anos

trabalharão na organização, ocupando seus cargos.

— Pai, estão chamando vocês, o jantar está pronto — fala Austen,

nos encarando.

— O.k., filho, já estamos indo, podem ir na frente — diz Killz.


Austen e Dylan acenam e logo se vão.

— Por que estão estranhos desde a minha pergunta? — Avalio-os.

Axl, Ezra e Carter se levantam, nem sequer me olham nos olhos. Os

meus irmãos estão tentando me ignorar. O que eles sabem que eu ainda não
sei?

— Amanhã teremos uma conversa, Spencer, não hoje. — Por fim, o

nosso irmão mais velho decide se dirigir a mim.

— O.k. — A minha animação se esvai em questão de segundos.

A sensação de estar sendo enganado fode com a porra do meu


psicológico.

— Ezra, o que você sabe? — Seguro no braço dele quando os outros

entram na casa.

— Saiba que desde o início não compactuei com isso, foi uma
decisão do Killz — diz, me deixando para trás.

Que caralho está acontecendo?


Estou com os pensamentos perdidos desde o clima estranho com os

meus irmãos. Tentei fazer com que Killz me dissesse o que está me
ocultando, mas ele conseguiu mais uma vez se desviar do assunto e me

prometeu que iríamos conversar amanhã de manhã. Após o jantar na casa

de Carter – que nem comi direito –, me despedi de todos e fui o primeiro a


ir embora.

No caminho para casa, pedi aos meus homens de confiança que me

trouxessem duas garotas de um dos puteiros que costumo frequentar, e

dessa vez enviaram uma morena e uma loira. Duas gostosas safadas.

Apenas de cueca boxer, sentado na poltrona da sala com um copo de

uísque em uma mão e um cigarro na outra, observo as mulheres se tocando.

A loira está com os cotovelos apoiados no encosto do sofá, enquanto a

morena fica de joelhos na frente dela, chupando e a masturbando com os


dedos.

— Ai... Ai... Mia, que delícia... Me fode mais! — A loira rebola a

bunda enorme na cara da morena e eu adoro a cena.

— Tá, tá, já chega, agora quero atenção, garotas — digo, após


bebericar o resto do líquido no meu copo e o colocar no aparador ao lado.

Aproveito e jogo o cigarro no cinzeiro. Elas param e se viram para

mim, com os olhos cheios de malícia, prontas para me dar e me fazer gozar
por quantas horas eu quiser.

— Mia, você vai se sentar ali no sofá e se tocar até gozar, e você —

aponto para a loira que me encara como se eu fosse a sétima maravilha do

mundo — vem aqui e me chupa gostoso. — Pisco para ela, que na mesma
hora se aproxima, me dando uma bela visão dos seus peitos e boceta

depilada.

— Você que manda, baby — diz a morena, se sentando no sofá e

arreganhando as pernas. Logo leva a mão à boceta e começa a se tocar


como pedi. Fico duro com a cena das suas dobras molhadas, a sua excitação

chega a brilhar. — Ai... Ai... Spencer... Que gostoso... — Ela revira os olhos

enquanto se dedilha forte e fundo, mordendo os lábios.

— Agora vou te chupar — diz a loira manhosa, tirando meu pau


para fora da cueca.

A minha atenção está completamente na colega dela, que me olha e

se masturba com velocidade. Meu membro chega a pulsar na sua mão, só


que não é por seu toque, é pela morena que me encara com expressão

carregada de safadeza e prazer.

Ela será a primeira que vou comer.

— Isso, porra — rosno, fechando os olhos ao sentir a língua tocar na


minha glande. Agarro o seu cabelo em um punhado e soco fundo na sua
garganta. — Você, venha aqui, quero que você fique atrás dela e a masturbe.

— Depois de um tempo, chamo a morena que ainda se toca e geme alto.

Atendendo ao meu pedido, Mia vem e fica atrás da loira. Ela beija
as costas da outra sem tirar os olhos dos meus, depois sorri para mim e

começa a tocar a amiga, que está me chupando e deixando a baba começar a

sair pelo canto dos seus lábios. Mesmo assim, a puta adora, engole cada
centímetro do meu pau enquanto massageia minhas bolas.

De repente, meu celular começa a tocar na mesinha de centro.

Frustrado, penso em ignorar seja lá quem for que esteja querendo atrapalhar

meu momento de putaria, mas logo a animação em ter duas gostosas


comigo vai embora quando batem à minha porta.

Caralho... Era só o que faltava. Pedi que não me interrompessem,

mas parece que falei em grego.

— Sr. Spencer. — Reconheço a voz de um dos meus soldados.

Afasto as prostitutas com as mãos, depois subo minha cueca e rumo

em direção à porta com o sangue fervilhando. Espero que seja muito

importante essa interferência, porque se não for, vão me pagar por isso.

Abro a porta e me deparo com Patrick todo nervoso, atrás dele tem
um novato.
— Que porra é? O que é tão importante para atrapalharem a minha
foda? — Meu semblante ameaçador os faz recuar.

Patrick limpa a garganta.

— Tem uma garota querendo te ver lá embaixo — diz ele, pálido.

— Só pedi duas garotas, não três — falo, impacientemente, olhando


para trás e vendo as duas putas aos beijos.

— Ela não parece ser uma das garotas que o senhor traz. O nome

dela é Giulia Romano.

Não escondo a minha surpresa com a menção do nome. Fecho os


punhos e solto um grunhido. Que caralho essa menina quer? Até que

duraram muito meus dias de paz sem notícias dos Romano.

— Diga que não estou e a mande embora. — Estou prestes a fechar


a porta quando vejo um dos soldados sair do elevador com uma mulher

desacordada nos braços.

— Não tem como, chefe, ela está toda machucada e desmaiou —


responde Patrick, nervoso.

Conforme o soldado se aproxima, consigo ver melhor a garota.

Antes o meu sangue estava fervendo, mas agora se encontra gelado. Giulia
está com as roupas rasgadas e sangue escorre da sua mão, sujando o chão.
— O que aconteceu com ela? — Impossível não reagir de uma
maneira tão preocupada.

Eles não me respondem.

— O que aconteceu, porra? — rosno, parando na frente do homem

que segura a garota completamente desacordada.

Um instinto desconhecido dentro de mim dá as caras e,


institivamente, levo a mão ao seu rosto. Tirando a mecha da frente dele, a

fúria me domina quando vejo a sua pele machucada, seus lábios partidos,
sua sobrancelha cortada e o seu nariz sangrando.

Os ferimentos são recentes.

— A menina chegou se arrastando, senhor. Não encontramos rastro

de outras pessoas com ela, por sorte desmaiou depois de dizer que queria te
ver — explica Patrick, apressado.

— Então encontrem o filho da puta que fez isso com ela e me


tragam vivo. Se voltarem com as mãos vazias, eu arranco as tripas de vocês

— digo, tirando Giulia dos braços do outro soldado.

Entro em casa e as duas mulheres me encaram assustadas, ambas


pálidas. Basta um olhar para que entendam o meu recado e comecem a se

vestir em questão de segundos.


— E o nosso dinheiro? — pergunta a loira, sem saber que paciência
é o que não tenho neste momento.

— Deem o fora, porra, trato com vocês depois. — Mesmo


assustadas com o meu tom, continuam na minha sala. — Eu disse para
sumirem da minha frente! — grito impacientemente, ajeitando Giulia em

meus braços, que nem assim acorda.

As putas saem da minha casa e eu sigo para o meu quarto em passos


largos. Como essa garota chegou até aqui nesse estado?

Que o meu pressentimento sobre Killz esteja errado. Desejo muito

que ele não tenha estado em contato com o tio de Giulia todos esses meses e
a deixado escondida na Inglaterra com o pensamento de unir nossas
famílias em uma porra de casamento sem futuro.

 
 
 
 
 
É a segunda vez que uma mulher se deita em minha cama – a

mesma mulher – contra a minha vontade. Mas parece que os meus


encontros com Giulia são todos assim. Não quero ter vínculo com essa
menina, porém, alguma porra essa noite a fez chegar até a mim.

Observo o seu vestido rasgado e manchado de sangue enquanto

verifico a sua respiração e o pulso.

Ao menos ela está viva.

Um nó se forma na minha garganta ao imaginar a possibilidade de


alguém a ter machucado mais do que está diante dos meus olhos. Mesmo

ela não sendo a minha responsabilidade, é impossível ter sangue frio no

modo como a menina se encontra. Está completamente vulnerável, tanto


que, pela primeira vez, não sei o que fazer.

Seguro em sua mão e vejo que o seu punho está ferido. São marcas

recentes, ela esteve em uma luta corporal com alguém. Vasculho sua outra
mão e a encontro do mesmo jeito.

Mesmo inconsciente, a garota continua sendo um vendaval.

Afasto-me dela e pego meu celular extra na gaveta da mesa de


cabeceira e disco o número do dr. Maison. Ele não me atende no primeiro

toque, então, meio nervoso, passo a mão por meu pescoço e ando de um

lado a outro.

— Caralho! — xingo, quando a ligação cai na caixa postal.

Quem pode ser útil uma hora dessas? Carter. Isso.

Solto a respiração que estava prendendo e fico aliviado ao ouvir a


voz dele.

— Alguma emergência?

Adivinhou, irmão.

— Estou com sérios problemas — digo, aproximando-me da cama e

conferindo novamente a pulsação de Giulia.

— Do que precisa?

— A sobrinha de Nicolo Romano está na minha cama. Desmaiada,

cheia de hematomas e com a roupa rasgada. Alguém a machucou e a garota


veio justamente parar na minha porta. — Do outro lado, escuto um palavrão
de Carter.

— Puta que pariu. — O seu tom é preocupado, parece de alguém

que sabe mais do que deveria.

— Eu preciso que me ajude. Já liguei para o Maison, mas ele não


me atende, eu nem sei por onde começar. — Suspiro.

— Spencer, leve-a para o banheiro, dê um banho nela e depois

verifique os locais que precisam de curativo — diz, como se fosse fácil.

— Ela nem deveria estar aqui, Carter! — exclamo, alterado.

— Tem coisas que nem mesmo nós sabemos explicar, irmão. Agora

pare de ficar questionando a razão dessa garota ter ido parar em seus

braços e cuide dela, nem que seja por algumas horas — aconselha de modo

sério.

Infelizmente, ele tem razão.

— Farei isso.

— Qualquer coisa me ligue.

— Pode deixar que eu...


Calo-me ao ouvir um gemido vindo da garota. Minha atenção é

focada nela quando a vejo se remexer e abrir os olhos lentamente. Giulia


bate os cílios algumas vezes e me encara confusa.

— Hum... — geme. Seus lábios machucados tremem e ela arregala


os olhos.

Giulia tenta se levantar, mas não consegue e choraminga.

— Spencer, ainda está aí? — Nem lembrava mais do meu irmão na


linha.

— Depois falo com você. — Encerro a ligação sem esperar a

resposta dele e jogo o celular na cama.

— A-Ai... m-minha cabeça... — Sua voz está arrastada, quase


embargada.

— Quem fez isso? — Eu a ignoro com a minha pergunta que sai

mais ameaçadora do que deveria.

Passeio os olhos por seu corpo miúdo e ela nota a minha inspeção,
tanto que se encolhe. Os hematomas em breve irão ficar roxos e inchados.
Não é o meu dever fazer essa pergunta a ela, no entanto, a partir do

momento que veio parar na porta da minha casa, as coisas mudam de figura.
— F-foram os homens do Vincenzo, ele me encontrou... — gagueja

e tenta se levantar.

Eu a seguro no braço para que não saia da cama, mas ela reclama de
dor no local da minha mão.

Vincenzo. O desgraçado que é obcecado por ela.

— Como assim te encontrou? — Arqueio a sobrancelha, esperando

uma resposta.

— E-eu... Estou na Inglaterra há quatro meses — confessa. Ela


morde os lábios, mas solta um gemido e seus olhos lacrimejam. Acho que

ela esqueceu que está tão machucada, ou nem deve se lembrar direito o que
aconteceu.

— E por que eu não soube de nada? — pergunto, desconfiado.

— Não é só você que é inteligente aqui, sr. Knight, também tenho os


meus contatos. — Dessa vez ela é firme, se fosse em outra ocasião eu até
sorriria.

Aos poucos, vou conseguir mais informações del. Tem algo mais

importante que preciso saber e que ridiculamente está me deixando


paranoico.

— Como se sente? — Estudo a sua expressão.


— Quebrada. Sentindo dor no corpo, e meu rosto provavelmente vai
ficar horrível de tão inchado — resmunga, fechando os olhos.

— Alguém te forçou a algo? — Limpo a garganta e ela me encara


quase chorando.

— Não... Eles não seriam loucos... — revela, cheia de rancor.

Meus músculos relaxam com a sua confissão. Ela não foi

violentada.

— Foram quantos homens? — indago, analisando o seu rosto

pálido.

— Dois, mas eu os matei, esse sangue não é só meu — diz, fria e

meio distante.

Por que sorrio com a sua confissão?

— Pensaram que poderiam me levar à força, e como resisti


começaram a me agredir. Para me defender, entrei em uma luta corporal

com eles, mas por mais que tenha saído com alguns machucados, foram
eles que mandei para o inferno.

Imaginei que ela tivesse se defendido, mas que os matou é uma


novidade para mim.
— Por que seu vestido está rasgado e manchado de sangue?
Realmente não te tocaram?

Ela ergue a mão e passa a ponta do dedo no lábio machucado.

— O Vincenzo jamais deixaria que tirassem de mim o que ele tanto

quer. Aquele imbecil tem mais interesse em tirar a minha virgindade do que
qualquer outra coisa. Por que acha que ele vive me perseguindo? E faz

questão desse casamento? — Seus olhos encontram os meus e eu engulo em


seco com a facilidade que ela tem em me revelar que ainda é virgem.

A garota nunca trepou na vida.

— Virgem? — Não sei por que porra faço essa pergunta em voz

alta.

Ela abaixa os olhos e confirma com um meneio de cabeça.

— O.k., você precisa de um banho e trocar essa roupa. Vou te

arrumar algo meu e toalhas limpas. — Afasto-me dela e lhe dou as costas.

Não vai ser necessário dar um banho nela. Mesmo no estado que se

encontra, nota-se que é mais forte do que eu imaginava.

— Não quer saber por que ainda estou em Londres?

— Desnecessário, o importante é que você está viva e soube se

defender. — Minha resposta a deixa em silêncio por alguns minutos.


Calado, abro meu armário e busco por peças minhas e toalhas.

Giulia parece ter se contentado, porque não escuto mais a sua voz. Demoro
alguns minutos até encontrar algo que caiba nela, e quando acho, o meu

celular notifica uma nova mensagem.

Jogo as coisas que peguei no armário por cima do ombro e pego o

aparelho na cama. Dr. Maison. Antes de visualizar a mensagem, olho na


direção de Giulia e vejo que se encontra sentada e cabisbaixa. Balanço a

cabeça e leio a mensagem do médico.

“Spencer, boa noite. Só vi a sua ligação agora, estou fora da


cidade. Carter me ligou, ele me explicou a situação. Não consigo retornar

hoje, somente amanhã, mas posso te passar algumas recomendações.”

Ele me seria útil se fosse hoje, amanhã quero a Romano fora daqui.

“Agradeço o retorno, Maison, meu problema já foi resolvido


mais rápido do que esperava, não se preocupe.”

Envio a mensagem para ele e desligo celular, focando na menina

que agora está me encarando demais. O seu rosto fica vermelho e eu tento

entender o que a deixa tão envergonhada, até que olho para o meu corpo e
descubro o motivo – estou apenas de cueca boxer.

Nem me lembrava dessa merda.


— O banheiro é ali, pode usar a jacuzzi. — Aponto na direção da

porta que está fechada.

— Você é sempre assim? — Faz uma careta.

— Eu deveria ficar curioso e perguntar “assim como”?

Giulia sorri, mas seus olhos enchem de lágrimas, sei que sente dor.

— Você é um babaca de primeira categoria, mas obrigada por ter me

deixado entrar em seu apartamento depois do que eu fiz — diz e ergue as

mãos, em seguida, ela as abre e observa o sangue seco nelas.

— Vá tomar banho, enquanto isso vou pegar algumas coisas para te


fazer curativos e algum analgésico — digo, ao colocar as roupas que separei

para ela na poltrona.

— Obrigada por tudo — agradece, mansa.

— Por que eu? — Vou até ela e me agacho na sua frente.

— E por que não você? Já parou para se perguntar isso? — Ela

sequer me olha.

— Não acha que é loucura ficar persistindo em algo que não vai dar

certo? — Ergo a mão e toco no seu rosto.

Giulia arregala os olhos, mas não recua.


— Nem tentamos para você dizer isso — retruca.

— Não há nada para tentar, sem chance. Agora me diga, como ficou
tantos meses na sombra? Por que eu e minha família não soubemos de você

em nosso território? — Sinto que vou me arrepender por ter perguntado.

— Nicolo deu o jeito dele, basta saber disso. — Sua voz vacila, ela

está mentindo para mim.

— O seu tio não deixou nenhum segurança com você? — Ainda vou
descobrir o que está me escondendo, mas agora não vou forçar a barra.

— Deixou três, mas eles estão mortos agora. Os homens do

Vincenzo os mataram assim que descobriram o meu paradeiro. Foi desse


modo que conseguiram me pegar e fazer isso comigo. — Seus olhos

denunciam medo, pior do que isso, ela está apavorada.

— Como o seu tio consegue ser tão filho da puta para te deixar em

um território que não é dele? Ele não imaginou o que poderiam te fazer? —
Fecho um punho.

— Eu quis assim! Vincenzo vir atrás de mim foi inesperado —

exclama, empurrando minha mão do seu rosto. — Pensei que ficando aqui
poderia conseguir a minha liberdade, a única coisa que quero é me ver livre

daquele lugar! Prefiro que me matem do que ser levada para aquele lixo! Se

ele conseguir me capturar, vamos ter que nos casar. O prazo do acordo já
está mais do que vencido, nem mesmo Nicolo pode fazer algo. Aliás, ele

pode, se entrar em uma guerra, mas ele não quer derramar sangue inocente

por apenas uma pessoa. — Sua voz fica embargada.

Afasto-me dela e ela se levanta em seguida, mas se apoiando na


mesa de cabeceira. Giulia está fraca. Respirando profundamente, vou até

ela, e mesmo contrariado, eu a seguro pela cintura.

— Case comigo, podemos fazer um contrato de curto prazo —

murmura.

— Eu não posso ser o seu marido, garota. — Instintivamente, subo

uma mão nas suas costas e a sinto relaxar com o meu toque.

— Pode, mas não quer — diz, baixinho.

— Sabe o que vou deixar para trás me casando com você? — Ela
ergue o rosto e me encara com os olhos brilhando.

— Não, me diga. — Sorri, fraco.

— Eu tenho as minhas necessidades, Giulia. Gosto de transar com

mulheres diferentes a cada dia, então não posso ficar preso a você. —
Percebo a tristeza tomar conta dela.

— Mas quem disse que estou te pedindo fidelidade, Spencer? Se nos

casarmos, cada um vai ficar como bem quiser! Não sou nenhuma boba, o
nosso casamento não envolveria quaisquer sentimentos — diz, tentando me

convencer.

— E acha que eu te deixaria foder com outros homens mesmo que o


nosso matrimônio fosse uma farsa? — Arqueio a sobrancelha e a vejo ficar

vermelha.

— Não vejo problema nisso. Você poderia transar com quem


quisesse e eu também. — Encolhe os ombros e espalma a mão em meu

peito.

— Ah, Giulia, acho que você não conhece um Knight de verdade.

— Rio baixinho, segurando em seu queixo para que me encare. — Se você


se tornasse a minha mulher, nenhum filho da puta iria te comer. O único pau

que a sua boceta e a sua boca iriam conhecer seria o meu.

— Spencer... — Seu peito sobe e desce em uma respiração

acelerada.

— Tome o seu banho, vou te esperar na sala. Por favor, não coloque

fogo no meu quarto. — Estou prestes a me afastar dela quando me agarra

nos braços.

— Só me diga que vai reavaliar a proposta do Nicolo, ou a minha —


pede, trêmula.
Fecho os olhos e jogo a cabeça para trás.

— Quem te ensinou a ser assim insistente, Giulia?

Em vez de me responder, ela me abraça como se eu fosse a sua

única chance.

— A vida, Spencer James Knight. Por favor, me ajude. Não importa


se vai ser do seu jeito, só me proteja de tudo o que quiser me machucar.

Não suporto mais ter que ser forte sempre, e hoje quase me mataram, foi

por pouco. No momento do desespero, só consegui pensar em você, em te

pedir socorro. — A garota começa a chorar e suas lágrimas molham o meu


tórax.

— Depois conversamos sobre isso, Giulia. Vá tomar o seu banho.

— Levo uma mão ao seu cabelo, sem saber muito o que fazer para que pare
de chorar.

— Promete?

— Sim. — Mais uma vez cedendo a ela.

Não posso deixar de observar com mais atenção os hematomas dela,

cada local que machucaram o seu rosto bonito. Parece que paramos no
tempo, ficamos nos olhando por alguns segundos sem quebrar o contato
visual.
Cerro o maxilar ao sentir o meu lado animal ser despertado. O
sangue quente que corre nas minhas veias neste momento me faria matar
um por um com as próprias mãos sem precisar de uma arma. Se os filhos da

puta estivessem vivos, faria o dobro do que fizeram com ela.

A minha indignação não é para menos, eles foram covardes.

— Consegue seguir sozinha para o banheiro? — Pigarreio, saindo


do transe.

Ela assente.

— O.k. — Balanço a cabeça e saio de perto dela. Vou até o armário


pegar uma roupa para mim, tomarei um banho no quarto de hóspedes e
retornarei depois para ajudá-la com os curativos.

Paraliso ao me virar depois de alguns minutos e me deparar com a


morena quase nua na minha frente. Ela está cabisbaixa, com uma mão
cobrindo os seios enquanto desce o restante do vestido em seu quadril.

Caralho. Caralho.

Puxo meu cabelo para trás quando o resto do vestido cai nos seus
pés e eu vejo a calcinha branca cavada na parte da frente. Tentado, olho
mais tempo do que deveria.
Cintura fininha, quadril um pouco largo, pernas longas nem tão fina
e nem grossas, na medida certa, e a barriga lisa. O seu corpo é bem-
cuidado. Apesar de ela ser magrinha, é gostosa e tem as curvas nos lugares

certos.

Sem deixar que ela perceba as boas olhadas que dei nela, saio do

quarto em passos largos e me xingando em pensamento.

Ainda nem tenho idade para ter cabelo branco, mas Giulia vai fazer
com que isso aconteça antes da hora.

 
Cinco meses antes

Killz James Knight está em contato com Nicolo. Enquanto estou do


lado de fora do escritório dele, ando de um lado a outro, ansiosa pela

resposta do irmão de Spencer. Angel está lá dentro, porque é a nossa


mediadora. Depois de um mês, após ter recusado a proposta do meu tio,

Nicolo está tentando entrar em acordo com o chefe da máfia inglesa.

Mal tenho dormido à noite, me encontro tão aterrorizada com


Vincenzo que diminuí o meu ritmo de sair de casa. Por mais que eu não

queira demonstrar o quanto isso está me afetando, não consigo manter a

pose de mulher destemida. Impossível não se apavorar com a ideia de que


se eu colocar meus pés na rua, um homem obcecado por mim, louco para

me possuir, mesmo que seja sem o meu consentimento, estará me caçando.

Aflita por não saber nada do que está acontecendo dentro da sala,

bato à porta.
— Angel, posso entrar? — pergunto, por educação.

Com o coração apertado, encosto minha testa na madeira e fecho os

olhos, controlando a agitação dentro de mim.

— Sim, Giulia — finalmente Angel me responde.

Abro a porta e entro.

Nicolo está sentado em sua poltrona falando ao telefone, e a esposa

atrás dele massageando os seus ombros. Mordendo os lábios, me acomodo


no sofá que tem ali e espalmo as mãos em minhas coxas.

— Se aceitar esse casamento, não somente Spencer terá benefícios,


todo o negócio da sua família — diz meu tio, fixando seus olhos em mim. O

olhar dele é de angústia.

— Uma vez, fiz um acordo desses e acabei trazendo um inimigo

para dentro de casa, Romano. Quem me garante que você também não me
trará problemas futuramente? — Daqui posso ouvir a voz de Killz do outro

lado da linha.

— Eu garanto, confie em minha palavra. — Nicolo respira

profundamente.

Angel sai de perto do marido e se senta ao meu lado. Vendo que

estou balançando a perna por me sentir ansiosa, ela segura a minha mão. O
seu gesto me toca, então, em vez de me afastar dela, deixo que continue o
que está tentando fazer – me consolar.

— Vai ficar tudo bem, pode acreditar — diz ela, baixinho.

— Ele parece relutante demais. — Engulo em seco, não prestando

mais atenção no que meu tio conversa com o inglês.

— Killz é um bom homem, se ele não aceitar que se case com o

irmão, vai arrumar uma maneira de te ajudar. — Ela sorri para mim.

— Você fala com tanta certeza.

— O maior instinto dos Knight é ser protetor. Se não fosse por eles,

hoje eu nem estaria viva, por isso insisto em dizer que você não vai ficar

aqui na Itália por muito tempo — fala, convicta.

Assinto e afasto minha mão dela.

— Obrigada — agradeço-a, notando que está se esforçando bastante

para me ajudar, mesmo não tendo a obrigação.

— Angel, Giulia.

A voz de Nicolo atrai a minha atenção. Estremecendo, levanto-me

sentindo minhas mãos suarem.


— Conseguiu? — indago, trêmula. Mas nem preciso que ele abra a

boca, seus olhos entristecidos o entregam.

— Merda — diz a loira, que coloca a mão na testa.

Com os olhos ardendo e o soluço preso na garganta, saio do


escritório correndo. Na sala, me sento no sofá e inclino meu corpo para

frente, apoiando meus cotovelos em minhas coxas e liberando o choro


entalado na garganta.

Por que criei esperança em algo que jamais daria certo? No fundo,
Angel me convenceu de que eles aceitariam, a convicção dela me fez

confiar que em breve Vincenzo não seria mais um problema para mim.

Fui tola. Inocente.

Eu odeio criar expectativa, principalmente em pessoas.

Querendo reprimir os meus soluços, levo a mão à boca e minhas

lágrimas descem por ela, banhando o meu colo. Cabisbaixa, choro sem
esperança de um futuro melhor.

Nesse momento, tenho duas alternativas – matar Vincenzo, depois


fugir e dar início a uma guerra, ou fugir e viver para sempre nas sombras.

Mas essas opções não são úteis. Estou em busca de liberdade, e não
destruição.
Aos prantos, levanto-me e vou para o meu quarto. Maria passa por

mim no corredor e me vê chorando. Ela pergunta o motivo das minhas


lágrimas e eu a ignoro, correndo para o meu refúgio, onde posso lamentar

as minhas derrotas.

Me jogo na cama e afundo meu rosto molhado no travesseiro. Com

raiva por me sentir uma fraca, esmurro o colchão e grito, tentando libertar a
dor do meu interior.

Por um instante, chego a odiar o meu pai e a minha genitora por


terem me dado um destino tão cruel. Por que me deixaram nascer? Eu não

pedi para vir ao mundo.

Giulia Romano é uma farsa. Nos rachas é a melhor, denomina as

pistas, mas entre quatro paredes é apenas uma menina sensível que deseja
ser livre para voar.

Devo agradecer ao meu tio por me encontrar em uma situação


embaraçosa como essa. Se ele não tivesse me oferecido para selar um
acordo de paz com aqueles desgraçados, eu estaria livre, nem seria

necessário deixar o meu o país para me esconder por causa de um psicopata


que é obcecado por mim.

Não posso dizer que a obsessão dele é sem motivo, porque não é. O
meu pai foi prometido à irmã mais nova de Vincenzo, mas ele, em vez de
preferir uma mulher da organização, se apaixonou por uma estrangeira e
quebrou Eleonora.

Por mais que em dias atuais não mencionem mais ela, sei que foi
isso que a levou a tirar a própria vida. Essa fixação do meu prometido não é

apenas para mantermos uma antiga aliança, é para vingar a morte da sua
irmã. Eu carrego o sangue do meu pai, é uma boa razão para que ele me use
para fazer o que não pôde no passado.

Ele anseia me ter nas suas mãos para fazer o mesmo ou pior, para
lavar o sangue derramado por sua amada irmã. Vincenzo deseja

ardentemente ser o meu algoz, mas antes vai querer violar o meu corpo
como se fosse a sua propriedade, e só vai descansar quando arrancar a
minha alma. Só assim o homem terá a paz que procura.

E Nicolo sabe disso, ele só não quer admitir que o maldito Esposito

quer retaliação. Mas o que ele iria fazer, se ao invés de ficar ao lado do
irmão, colocou uma arma na sua frente e o matou sem piedade? Sem pensar

em mim? Seria hipocrisia pensar que o meu tio poderia ficar do meu lado
quando sugeriram que eu fosse a moeda de troca da famiglia.

Com a cabeça doendo e o peito apertado, sento-me no colchão e

passo a mão por meu cabelo desgrenhado. Duas batidas em minha porta me
faz erguer os olhos na direção dela.
— Giulia, mia figlia. — Ele me chama de filha e eu fecho os
punhos.

— O que quer, Nicolo? — pergunto, depois de um tempo.

— Abra para mim, preciso falar com você — pede, gentilmente.

O que será de tão importante para o próprio capo vir me procurar?

— Estou te ouvindo — falo, assim que abro a porta para ele.

Encosto-me no umbral e cruzo os braços. Meu tio vasculha o meu

rosto, e ao perceber que chorei, balança a cabeça em desaprovação.

— Tenho boas notícias. Não era o que esperávamos, mas é um

começo — diz, sorrindo.

Meu coração bate descompassado.

— O que é? — Comprimo os lábios.

— Killz te aceitou na Inglaterra, você poderá ficar lá sob a proteção


dele enquanto resolvo a sua vida aqui na Itália. Os Esposito não poderão

tocar em você lá — revela, me fazendo sorrir com algo que fala pela

primeira vez.

— Jura? — Meus olhos ardem, mas estou sorrindo.


— Sim. Você viajará daqui a algumas semanas, mas vou te enviar

com alguns soldados. — Ele se aproxima e tenta me abraçar, mas recuo.

— Quer dizer que Spencer realmente não aceitou o acordo, não é?

— De repente, volto a ficar triste.

— Não, mas até lá muitas coisas podem mudar. — Olha-me nos

olhos.

— Sim. — Tenho que concordar com ele.

Teríamos mais vantagem se eu me casasse com o Knight caçula. Me

tornar uma deles garantiria o afastamento definitivo de Vincenzo, mas é um

começo. Em uma história sempre tem que ter um início, meio e fim. E esse
será o meu começo para reescrever a minha.

Atualmente

Enquanto estou sentada na banheira de Spencer, deixo as lágrimas

caírem ao esfregar a esponja na minha pele marcada pelo sangue. Esse


choro não é por fraqueza, é por revolta.
A água, que minutos atrás estava limpa, agora está vermelha. Penso

em como eu poderia ter evitado que me encontrassem, mas estava

desatenta, permiti que me descobrissem ali. Se eu não tivesse pedido aquela


maldita pizza, talvez não tivesse me acontecido nada.

O entregador era um dos homens do Vincenzo, e se um soldado da

famiglia Esposito estava ali, quer dizer que o verdadeiro entregador deve

estar morto em algum lugar. Eles não deixam rastros em seus trabalhos

sujos, e agora não seria diferente.

Hoje, dariam um fim em mim ou me levariam para o chefe deles se

eu permitisse que isso acontecesse. Foi duro lutar com dois soldados, ambos

bem treinados e sangue frio, contudo, apesar da aparência de garotinha


inofensiva, consegui lidar com eles mesmo que tenha saído machucada.

Meus seguranças só morreram porque os de Killz fizeram a troca

por algumas horas, era assim que estavam fazendo durante esses meses,

revezando entre eles para a minha segurança, porém, dessa vez deu muito
ruim.

— Você não é o entregador — digo, reconhecendo um dos soldados

de Vincenzo. Tento fechar a porta, mas outro aparece com a roupa e as


mãos sujas de sangue.
— Claro que não somos, bambina. — Sorri, perverso, me

empurrando para trás com força.

Assustada, tento correr para alcançar minhas armas, mas não

consigo. Os dois homens invadem o apartamento e me agarram.

— Me soltem seus imundos! — grito, tentando dar cotoveladas

neles.

— Ela é uma gracinha, não é, Mario? Se o chefe não fosse tão


obcecado por ela, poderíamos fodê-la agora mesmo — diz o nojento,

passando a mão por meu corpo.

— Vincenzo arranca o seu pescoço se sonhar que você está


desejando a mulher dele, Antonio! Vamos fazer o que ele nos mandou e

pare de procurar brechas para morrer! — reclama Mario.

Eu aproveito a distração deles para usar a minha força e me soltar

deles.

— Se não podemos saber a razão de Vincenzo gostar tanto da

bonequinha, ao menos podemos dar alguns socos nela para aprender a ser

mais obediente, né? A desculpa que daremos ao chefe é que ela foi muito
resistente e tivemos que usar a força — sugere Antonio, sorrindo

maliciosamente para mim.


Com os punhos fechados e pronta para nocauteá-los, espero que me

ataquem. O primeiro a mostrar as garras é o mais alto, com uma

queimadura no lado esquerdo do rosto. Mario. Ele tenta dar o primeiro

soco, mas desvio, então vem Antonio por trás e me agarra pela cintura.
Com raiva, chuto a perna dele, fazendo-o gritar antes de avançar em seu

parceiro, que sorri e me desafia.

— Podem vir os dois, só não garanto que sairão dessa vivos —

ameaço- ao vê-los se juntar.

— Coitadinha — desdenha Mario, olhando para o outro soldado.

— Eu tenho dó de vocês. — Cuspo no chão e eles gargalham.

— Nós que temos. Os seus soldados estão mortos, e você, sozinha

— retruca Mario, se aproximando e desferindo o seu primeiro soco em


mim.

Soltando um grito, revido e assim começamos a lutar. São dois

contra um, mas não nasci para apanhar de ninguém e vou me proteger até

a morte.

Meu lema agora é matar para sobreviver, e se necessário, matarei

todos que Vincenzo enviar para me capturar.


— Giulia, está tudo bem aí? — Batidas na porta me fazem quase

saltar da banheira, mas me controlo. Por mais que tente permanecer


tranquila, meu corpo responde por mim. Meu coração está acelerado, e

minhas pernas, tremendo.

Limpando a garganta e relaxando meus músculos, solto um palavrão

baixinho, em seguida, olho para a porta que tranquei assim que entrei.

— Estou sim — respondo, apertando meus dedos na esponja.

— Deixei na cama umas peças de roupa, são novas, pode usar.

Estarei na sala, qualquer coisa é só chamar — diz, de um modo tão gentil

que me surpreendo.

— O.k., obrigada — agradeço. As lágrimas teimosas descem por

minhas bochechas e caem em meu colo.

Ergo meu braço e visualizo melhor os arranhões que ganhei, eles

estão latejando e ardendo. Percebendo que a água está muito suja, saio da
banheira e sigo para o boxe, notando que deixo rastros de sangue da ferida

na minha perna no piso branco. Que o Knight não surte pela bagunça e me

mande embora. O que menos preciso agora é ser enviada novamente para a

Itália. Foram muitos meses de luta para deixar que o meu navio afunde tão
rápido.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Duas horas se passaram. Tomei banho e me vesti no quarto de

hóspedes, mas nada de Giulia aparecer, então sou obrigado a verificar se

está tudo bem com ela. Ao chegar ao quarto, eu a encontro dormindo na


minha cama. A minha camisa de botões branca ficou enorme nela, assim

como a minha cueca boxer nova, daqui posso ver que deu um nó no cós. A

garota está espalhada em meu colchão como se fosse dela, com seu cabelo
castanho solto e molhado.

Mesmo a poucos metros de distância, posso sentir o aroma do meu

perfume nela. Além de se apossar da minha privacidade, ela pega minhas

coisas para usar sem permissão. Aproximo-me mais da cama e noto que ela

está agarrada ao meu travesseiro como se a sua vida dependesse dele.

— Menina, você é um verdadeiro problema para mim. — Sento-me

na sua frente na beirada da cama e avalio seus ferimentos. Precisarei fazer

curativos quando ela acordar. Felizmente, não são cortes profundos.


Tantos lugares para Giulia Romano se enfiar, mas foi justamente na
minha porta que ela bateu, com uma bagagem de problemas. E agora,

mesmo que eu não tenha a obrigação de protegê-la, sinto que preciso dar

uma surra em Vincenzo, para que ele aprenda que não se bate em mulheres.

Aquele rato não tem culhões para enfrentar alguém do seu tamanho, mas

quando se trata de uma garota inocente, ele sabe muito bem bancar o

machão.

Bem lá no fundo, esse Esposito é uma maricas do caralho. Deve ser

um frouxo sem os seus soldados, porque se fosse homem de verdade teria

vindo pessoalmente, e não enviado os seus cães.

— O que eu faço com você, Giulia? Mesmo sem querer, estou tendo

que cuidar de você. — Suspiro, passando a mão por meu rosto.

Mandá-la embora nesse estado não é uma boa ideia, não sou tão

ruim assim. E depois desse atentado, preciso me certificar de que ela vai

estar segura.

A preocupação que estou sentindo em relação a Giulia me incomoda


pra caralho. Por mais que tente não me importar, eu me importo, o

suficiente para querer pegar um jatinho para a Itália e arrancar os olhos de

Vincenzo com minhas mãos.


Que inferno! Estou me tornando o que mais temia – meus irmãos.

Eles adoram bancar os super-heróis de mocinhas indefesas.

Instintivamente, tiro o cabelo do seu rosto e toco no machucado no

canto da sua boca, ela se remexe um pouco, mas não acorda. Agora consigo
visualizar melhor o estrago que fizeram nela; o seu supercílio está partido,

seus lábios machucados, o seu queixo e a ponte do seu nariz também.


Pergunto-me o que teria sido dela se não soubesse se defender, certamente

estaria morta.

Afasto a mão do seu rosto e fecho os olhos ao sentir um nó se


formar em minha garganta.

Eu não deveria me impressionar com essa sede de justiça, mas acho

que é um dom de família. Todos os Knight são assim. Por que eu não seria?

— Reconheço que você é uma guerreira, principessa.  — Chamo-a

de princesa, porque sei que não irá me ouvir. — Mas nunca vou dizer isso
para você, senão vai ficar mais irritante do que já é. — Sorrio, encarando o
seu rosto bonito, que mesmo com alguns cortes, continua lindo.

Saio de perto dela e fico a observando por alguns minutos antes de

retornar para a sala. Vou ligar para os meus soldados, eles estão demorando
para retornar e eu estou sedento para encontrar algum homem de Vincenzo
vivo.
Fumando um cigarro e com os olhos fixos na porta do meu
apartamento, espero que toquem a minha campainha. Patrick me ligou
minutos atrás para avisar que encontraram vivo um dos homens que

atacaram a sobrinha de Nicolo. Ele está baleado e fraco, e se demorassem


mais para encontrá-lo, certamente estaria morto. E o outro que estava com

ele realmente tinha ido fazer uma viagem sem volta para o inferno. Nesse
momento, já deve ter sido enterrado em algum lugar, recomendei que

fizessem uma limpeza no local para que apagassem qualquer rastro de


sangue.

Pedi que trouxessem o rato para cá. Levá-lo a um dos galpões para
arrancar informações dele seria a minha última opção, não quero deixar

Giulia sozinha, nem que fosse em companhia dos meus homens de


confiança.

De qualquer maneira, não fará muita diferença. O primeiro é

completamente isolado, não tenho vizinhos para ouvir os gritos de pavor


dele quando estiver em minhas mãos. Há uma sala aqui dentro para os meus
treinos, e hoje vou abrir uma exceção para o soldado daquele italiano
maldito. Ele vai ter que abrir a boca para me contar tudo o que quero ouvir.

Dando uma última tragada e soltando a fumaça no ar, ouço a


campainha tocar, então apago o cigarro no cinzeiro e vou na direção da

porta. Através do olho mágico, vejo Patrick e mais um soldado segurando


um homem.

— Ele ainda tem condições de me passar algumas informações,

Patrick? — indago, assim que abro a porta.

— Tem sim, senhor. Quando estávamos subindo, ele estava falando


algumas coisas que não entendemos direito — responde meu soldado.

— O.k. — Assinto.

Avalio o meu oponente e noto que a garota não mentiu, ela acabou

com o cara. O rosto dele está ensanguentado e com vários cortes, o olho
direito inchado, a condição dele não é das melhores.

Aproximo-me do merdinha que geme e está quase desacordado,

seguro em seu pescoço e dou um tapa na sua cara para que desperte. Como
ele não responde, afasto-me dele e encaro meus soldados.

— Levem esse bosta para a minha sala de treino — ordeno,


afastando-me para que passem.
— Sim, chefe.

Olho para o chão e vejo que o imbecil está sujando o meu piso com

o sangue podre dele, vou ser obrigado a chamar minha diarista mais cedo.

Em vez de seguir para o lado que eles foram, vou até o meu quarto

ver se a minha visita continua dormindo. Penso em abrir a porta, mas recuo
covardemente. Mesmo que ela também mate, não quero que presencie o que

vou fazer com aquele homem, essa é a única razão de eu ter vindo vê-la.

Lutando contra os meus pensamentos, sigo para a sala de treino e


encontro o italiano sentado em uma cadeira e os meus homens o segurando

pelos ombros.

— Tirem a camisa dele e me mostrem o local que ele levou o tiro.


— Vou até o armário no lado oposto da sala para pegar alguns objetos.

— O rato tomou dois tiros, chefe. Um que poderia ser fatal mas

pegou de raspão, e o outro é no ombro — diz Patrick.

Com a minha maleta milagrosa, vasculho-a para pegar alguns


brinquedos que vão fazer o homem mijar e se borrar de dor, em seguida,

ponho-me na frente dele, que lentamente abre os olhos, o suficiente para ver

quem está diante dele.


— Ele disse como se chama? — pergunto para meus soldados, que

negam.

Assentindo, coloco a maleta no chão e dobro as mangas da minha

camisa até os cotovelos.

— Se quiser, podemos arrancar as informações dele, sr. Spencer —

se oferece o outro soldado, mas eu recuso.

— Não será necessário, posso fazer isso. Apenas segurem o idiota

— peço, segurando o meu adversário pelo cabelo e inclinando a sua cabeça

para trás.

O filho da puta começa a rir, mas não consegue esconder a dor.

— O que é tão engraçado, filho da puta? — indago em sua língua,

trazendo o seu rosto para a frente para que me encare.

— P-pode m-me m-matar, p-porque eu não vou falar nada. — Sorri,

mostrando os dentes manchados de sangue.

— Você está em meu território, seu merda. Aqui vai falar o quanto

eu quiser. Sou eu que dito as regras nessa porra. — Sorrio também, olhando

bem em seus olhos. — Cadê o seu chefe? Ele só sabe enviar os cães dele

para fazer um serviço malfeito? — desdenho, deixando o homem pálido.


— N-não s-sei do que está falando, nem te conheço — fala, com a

voz arrastada.

— Você é resistente, mas não por muito tempo. — Soco o rosto dele

várias vezes, sujando meus punhos com o seu sangue imundo, em seguida,
afasto-me e avalio os locais atingidos pelos tiros que Giulia deu.

A bala ainda está em seu ombro. Será interessante ver o cão fiel de

Vincenzo implorando para que eu pare de fazê-lo sofrer.

— Patrick, preciso que me dê algumas coisas da maleta, e você,


continue o segurando — instruo meus soldados.

O primeiro objeto que peço ao meu soldado é um alicate de bico, o

filho da puta arregala os olhos e se debate na cadeira. Sorridente, seguro-o

pelo rosto e o obrigo a abrir a boca. Ele mais uma vez tenta medir força,
mas está fraco demais para qualquer coisa.

— Coloque a língua para fora, cachorrinho — zombo. Ele nega

balançando a cabeça. — Vamos fazer assim, você me diz qual é o seu nome

e eu deixo para arrancar a sua língua somente no final. — Toco no buraco


que a bala fez em seu ombro e enfio um dedo ali, chego a sentir a munição

cravada em sua carne.

— A-aaah — o maricas grita. O sangue dele escorre no peito e


desce pela barriga.
— Eu quero o seu nome, caralho! — Giro o dedo no ferimento ao

ver o suor da sua testa se misturar ao sangue.

— M-mario, me chamo M-mario! — diz, desesperado, com os

lábios brancos.

Ninguém é imune a dor, nem mesmo os mais treinados. Todos nós

temos um ponto fraco.

— O nome é um bom começo. — Sorrio friamente. — Me diga,


Mario, foi você ou o seu amigo que rasgou a roupa da Giulia? — Limpo

meu dedo sujo do seu sangue em seu cabelo.

Mario não responde, fica cabisbaixo e choraminga de dor. O seu


corpo está tremendo, se a bala não for tirada ele vai morrer, mas essa é a

intenção.

— Tic-tac, Tic-tac... O seu tempo está passando e paciência não é

uma das minhas virtudes. — Ergo o seu rosto com a ponta do alicate.

— F-foi o Mario! — confessa para se safar, mas eu o pego na

mentira.

— Mas você não é o Mario? — Arqueio a sobrancelha.

— Sou o Antonio! — declara, engolindo em seco.

Ergo os olhos e encaro meus soldados.


— Patrick, mudança de planos. Pegue o maçarico portátil e guarde a

maleta. — O meu pedido assusta Antonio, ele bate os pés no chão, fazendo

um barulho irritante. Entrego ao meu soldado o alicate e viro-me para o

verme. — É o seguinte, amigo, vamos brincar de verdade ou consequência.


A cada verdade, vou te torturar menos, e a cada mentira, vou fritar a sua

pele no fogo, mas sei que será um bom garoto e vai ser transparente comigo

para ter uma morte honrosa. — Bato em seu rosto.

Quando Patrick retorna, ligo o maçarico e encosto no rosto de


Antonio, deixando por alguns segundos para que a sua carne frite. O odor

do sangue sendo queimado sobe, mas ainda assim não é o suficiente,

preciso ouvir os gritos dele para dar uma pausa na demonstração do que
farei com ele se tentar me fazer de idiota.

Olho para o chão e vejo o mijo molhar meu piso, o bundão mijou na

calça.

— Foi você ou o seu parceiro que rasgou a roupa da Giulia? —


repito a pergunta, com o sangue fervilhando dentro do meu coração.

— E-eu, e-eu! — confessa Antonio, chorando quando desligo o

maçarico.

Aperto os olhos, lembrando-me do estado que ela chegou ao meu


apartamento.
— Foi seu chefe que mandou que a agredisse? — questiono,

respirando profundamente.

O rato nega rapidamente, aos soluços e tremendo.

— E-ele nos pediu para levá-la de volta. Vincenzo descobriu que a

sua família estava escondendo-a na Inglaterra, então ele decidiu nos enviar

para buscá-la — confidencia, seu tom é quase inaudível.

— E o que mais? — investigo, com o maxilar travado.

— N-não era para tocarmos nela. O chefe deu ordens apenas para

levá-la, mas a bambina nos provocou, então eu e o Mario partimos para

cima dela. Quando chegássemos à Itália, diríamos ao Vincenzo que ela nos
agrediu primeiro e tivemos que usar a nossa força. — A sua revelação me

deixa puto de raiva.

— Parece que vocês adoram bater em mulheres inocentes, não é? —

Rio baixinho, ameaçador. — Pois vou fazer o mesmo que você fez com a
Giulia, para que aprenda que não se deve bater em uma mulher. — Cuspo

em sua cara.

— V-ocê prometeu...

— Nunca te prometi nada. — Minha expressão implacável o faz se


encolher.
Antonio tem seus olhos fixos em mim, seus lábios tremem e eu
ignoro o pavor que ele transmite através do olhar.

— O seu chefe está na Inglaterra, ou vocês vieram sozinhos? —

Estudo o seu semblante.

— S-sozinho — ele diz a verdade.

— O que ele iria fazer com Giulia se conseguissem pegá-la? —

inquiro, mas ele fica em silêncio.

Espero que fale, porém, se mantém calado, basta que eu ligue o

maçarico para que volte a se tornar obediente.

— E-ee-le pretendia se casar com ela e revelar somente depois à

famiglia. O chefe é obcecado pela menina, ele sempre vai contra as regras

do tio por causa da obsessão que sente por ela.

— E a que se deve essa obsessão dele? — Aproximo o objeto em

chamas em seu ombro ferido.

— E-ele quer fazê-la sofrer para vingar a morte da irmã dele. Foi
por causa do pai dela que Eleonora se matou, então, para Vincenzo, Giulia

tem que pagar pelos erros de Giuseppe Romano. — Um gosto amargo toma
conta da minha boca ao me dar conta de que a situação da sobrinha de
Nicolo é pior do que eu imaginava. — Se ele a tiver nas mãos, vai acabar
com a vida da garota. O Esposito não vai sossegar enquanto não a destruir.

Fecho os olhos com as suas últimas palavras.

— Patrick, deem a atenção que ele merece. Só parem quando

ouvirem o seu último suspiro. — Dou o objeto ainda ligado para meu
soldado. — Nada de usar suas armas. Espanque-o até a morte e dê um jeito
de tapar a boca dele para não fazer muito barulho. Giulia está dormindo. —

Lembro-o que estou com visita.

Sigo para o banheiro que tem na sala e lavo as mãos, antes de sair
dou instruções para depois esquartejar o homem e distribuir os seus restos

mortais em sacos pretos e fazer com que chegue a Vincenzo Esposito. Não
vai precisar de um remetente, na hora ele vai saber quem está mandando o
recado para ele.

Da próxima vez, vai pensar duas vezes antes de enviar os seus

homens para um território que não é dele.

 
 
Abro os olhos lentamente, sentindo dor no corpo, principalmente em

meu rosto. Fazendo uma careta, olho ao meu redor e o meu coração bate

disparado por alguns instantes ao não reconhecer o quarto, até que me


lembro que estou na casa do Spencer e deixo a respiração aliviada sair.

Com a boca e a garganta secas, sento-me na cama. Ao avaliar meu

corpo, passar a mão em meu rosto, percebo que alguém fez os curativos em
mim.

Ontem, quando saí do banheiro e vesti a roupa que ele havia

separado para mim, acabei me deitando um pouco na cama e apaguei. Deve


ter sido por isso que não senti nada, provavelmente o cansaço foi suficiente

para não me permitir despertar.

Como posso ter me sentindo tão segura ao lado de um homem que

conheço há poucos meses? Como ele pode me passar tanta segurança

assim? Apesar de ter levado uma surra dos soldados dos Esposito e ficado
muito assustada, bastou estar com o Knight para que eu me sentisse
protegida. Acho que agora entendo a razão de Angel os admirar tanto.

Descalça, sigo até o banheiro e vasculho uma das gavetas do

armário até encontrar uma escova de dentes nova. Encarando-me no

espelho, avalio os locais que ficaram com hematomas.

Meu lábio inferior está um pouco roxo, assim como meu supercílio,

que tem um curativo. Na ponte do meu nariz tem um corte bem superficial,

e o meu queixo está com um arroxeado arredondado.

Ergo as mãos e percebo que meus punhos estão arranhados e

vermelhos.

Aquele figlio di puttana me paga. Enviar os seus soldados para me

capturar foi golpe baixo. Ainda terei a oportunidade para devolver todos os

socos que recebi dos homens dele, eu o farei sentir as mesmas dores que eu.

Termino de escovar os dentes, em seguida, passo água de leve em


meu rosto nas partes que não estão machucadas, então retorno para o quarto

pronta para procurar o dono da casa.

— Será que hoje ele me expulsa? — falo, sozinha, com medo de sair

e receber um chute na bunda.


Espero alguns minutos, até que tomo coragem e saio do quarto. Em

passos lentos, ando pelo corredor, mas ao lembrar que não penteei meu
cabelo e ele está desgrenhado, passo as mãos em alguns fios, tentando

colocá-los no lugar.

— Essa camisa dele me engole, mas também, aqueles músculos...

Aquela altura. — Me vejo suspirando pelo tatuado irritante enquanto


arrumo a camisa dele em meu corpo.

Que merda! Foco, Giulia Romano!

Na sala, olho ao meu redor e nada de encontrar Spencer, mas o que

me atrai é o cheiro de comida. Meu estômago ronca, e mesmo sem ter


ninguém ouvindo o pedido de socorro dele, fico envergonhada.

Hmm, estou faminta, não como desde ontem, já que o meu jantar foi
interrompido por meus inimigos.

Cabisbaixa, massageio minha barriga e suspiro longamente.

— Vejo que a minha visita acordou. — O tom dele é irônico. Filho

da mãe! Mesmo sem olhá-lo, posso imaginar que está sorrindo.

— Bom dia — digo, educadamente, unindo minhas mãos.

— Como se sente? — pergunta, mais sério.


Levanto o rosto e quase babo com a visão que tenho. O inglês

exibido está sem camisa e usando uma calça moletom cinza. Suas tatuagens
– algumas coloridas – que o deixam muito sexy estão à mostra. Ele é cheio

delas – os braços, o seu abdômen e até mesmo o pescoço é coberto por elas.
O seu braço esquerdo é preenchido por rosas, no direito, alguns rostos que

não reconheço. São muitas, todas lindas. Mas as que mais chamam a minha
atenção são as rosas no pescoço e o leão.

Percebendo que o seco com meu olhar, ele cruza os braços e me


lança um sorrisinho idiota convencido.

Balanço a cabeça e paro de olhá-lo.

— Bem, com algumas dores, mas bem. — Limpo a garganta, com

meu rosto ardendo de vergonha por ter sido pega no flagra.

— Vou te dar um analgésico depois que você se alimentar. Vai

ajudar — diz, aproximando-se de mim.

— É-é... Obrigada pelos curativos. Por tudo. — Meu peito fica

apertado, engulo o bolo na garganta.

— Não agradeça, era o mínimo que poderia fazer. — Ele está tão

próximo de mim, que posso sentir o aroma do seu perfume.


De repente, o silêncio toma conta do ambiente. Apenas ficamos nos
encarando, sem desviar o olhar.

— Giulia, vou te fazer uma pergunta. Espero que possa ser sincera e
não minta para mim.

Meu coração acelera. Que ele não pergunte sobre o irmão dele.

— O.k. — Assinto, mesmo apavorada em comprometer Killz.

— O Vincenzo só quer se casar com você para vingar a morte da


irmã dele?

Eu deveria ficar aliviada com a sua pergunta, mas ela me


surpreende, jurei que iria querer saber da minha estadia em Londres.

Umedeço os lábios e faço um meneio de cabeça.

— Ele não tem sentimentos por mim, só quer ser o meu algoz. Quer

vingança pelo sangue que a irmã dele derramou por causa do Giuseppe. —
Minha voz falha. — Se cheguei a ponto de te implorar para que se case
comigo é porque realmente estou no meu limite, Spencer. — Com as mãos

tremendo, toco em meu rosto. — Sei que somos desconhecidos, que não
nutrimos nenhum sentimento pelo outro, isso é óbvio, mas se nos der uma

oportunidade para nos conhecermos melhor...

— Eu me caso com você, Giulia — ele me interrompe.


— Repete, por favor. — Meus joelhos amolecem.

— Vou aceitar o acordo com o seu tio. Nos casaremos, mas tenho

algumas exigências a fazer — diz, fazendo meus olhos se encherem de


lágrimas.

Com a visão embaçada e sem me importar com o que ele vai pensar,
eu o abraço forte e deixo o primeiro soluço escapar.

— Não importa o que vá exigir, eu aceito. — O desespero da minha

parte é evidente.

— Depois que me ouvir, não sei se vai ficar tão tranquila assim —

murmura, sem me abraçar de volta, o seu corpo está ereto.

Minha respiração fica pesada.

— E-ee e o que te fez mudar de ideia assim tão rápido? — indago,


mas fico arrependida.

— Não foi rápido. Passei a noite toda pensando nisso, então decidi

que vou tomar você do italiano. — Ele ri baixinho, me causando arrepios

pelo corpo todo.

Ele fala com tanta tranquilidade que vai me tomar de Vincenzo...

como se tivéssemos algum envolvimento.


— Você não pode tomar o que nunca foi dele. — Empino o queixo,

atrevida, encarando-o em modo de desafio.

— Você entendeu o que eu quis dizer, encrenqueira. — Franze a

sobrancelha, dando-me um sorriso de lado.

— Não entendi, não. — Encolho os ombros.

— Vai ficar sem entender. — Estala a língua, provocante, tirando


meus braços do seu corpo.

— Idiota. — Bufo.

— Menininha — retruca.

Estou para respondê-lo, mas meu estômago ronca alto. Spencer


gargalha e eu fico vermelha de raiva.

— Quais as suas exigências para o casamento? — Ainda não

acredito que ele aceitou se casar.

— Primeiro, vou te alimentar, depois falaremos de negócios. — O


descarado se afasta de mim e me olha dos pés à cabeça. — Não vai ser tão

difícil assim, posso te aturar por algum tempo, afinal, sairemos beneficiados

dessa forca.

Deixa-me boquiaberta com a sua especulação.


— Posso conversar agora, não tenho pressa para comer — digo,

vendo-o me dar as costas cobertas de tatuagens.

— Não me faça mudar de ideia. — Seu tom é ameaçador, então eu o

sigo.

— O.k. — apresso-me a dizer.

— Boa garota, é assim que eu gosto, bem obediente — atiça-me,

dando uma risadinha.

Eu o mandaria se foder, mas qualquer retaliação pode me enviar


para Marte.      

Spencer comprou para mim um belo café da manhã italiano. Quando

entrei na cozinha, a ilha estava arrumada alguns pães, queijos, geleias,


torradas, mel e iogurte. Eu perguntei por que se deu ao trabalho de ter feito

isso, e ele me disse que sabia agradar uma visita, mesmo que ela fosse

indesejada. Me esbaldei com um pouco de cada, só parei de comer quando


me senti satisfeita, e não demorou muito.
— Você disse que tinha matado os dois soldados de Vincenzo, mas

um ainda estava vivo — revela, quebrando o silêncio.

— C-como assim? — Meu estômago embrulha.

Por que ele não me disse antes?

— O Antonio sobreviveu, mas foi capturado e está morto —

confessa, saindo da banqueta.

— Você o matou? — Meu sangue gela.

— Dei ordens que o matassem, então, sim. — A frieza que atravessa

os seus olhos azuis me faz vibrar por dentro.

— Pensei que ele tivesse morrido. — Imagino o perigo que estaria

correndo se Spencer não tivesse o encontrado.

— De qualquer maneira morreria, só acelerei a sua morte e mandei

os restos dele para o Esposito.

— Spencer! — Coloco a mão na boca, perplexa.

Ele é muito corajoso.

— É um presente para que ele se lembre que não pode ir muito


longe. Vincenzo tem que saber dos limites dele. — Sua expressão é dura.
— Não deveria tê-lo provocado assim. — Fico preocupada com ele,

por ter tido que terminar o que eu comecei.

— Ele não vai fazer nada, Giulia, acredite — assegura-me.

— Se você diz. — Suspiro.

— Agora que você está mais tranquila e alimentada, podemos falar


de negócios. — Ele dá um nó na sua calça moletom, e sem querer meus

olhos segue os seus movimentos. Quase me engasgo a notar o seu pau

desenhado no tecido.

Não sei se foi proposital o que fez, mas de qualquer forma fico

afetada com tanta gostosura.

Que homem.

— Hum-hum, o.k., mas eu tenho algumas dúvidas ainda. —


Pigarreio, pulando da banqueta.

— Pergunte o que quer saber. — Ergue o rosto.

— Por que vai se casar comigo? Sinto que a sua decisão vai além da

proposta de Nicolo. — Cruzo os braços.

— Você está fantasiando, Giulia. O seu tio me ofereceu uma quantia


boa e mais outros benefícios nos negócios da sua famiglia. Essa é a única

razão que me fez aceitar — garante, mas não me convence.


— Precisou de seis meses para você perceber que a proposta é boa?

— Arqueio a sobrancelha.

— Saber que vou me aprisionar a você não é suficiente, garota? —


Revira os olhos.

— Não. — Comprimo os lábios.

— Você é muito insistente.

— Às vezes, sim. — Vou até ele e fico parada na sua frente. — Vai
doer se me disser a razão de agora querer ser o meu marido? —

Instintivamente, toco em seu ombro e olho bem em seus olhos, mas a

atenção dele está onde minha mão se encontra.

— As pessoas mudam de ideia o tempo inteiro, e eu sou uma delas,


isso é o suficiente — responde com seriedade.

A campainha toca e a minha oportunidade de questioná-lo mais vai

embora.

Que droga!

— Já volto — diz, saindo da cozinha.

Batendo os pés no chão, miro a ilha que está com alguns utensílios

sujos. Embora eu não seja uma pessoa muito habilidosa em serviços


domésticos, não estou na minha casa, então, não vou morrer se lavar as
louças. Ao menos vou retribuir ao Spencer pelo café da manhã.

Recolho o copo descartável de capuccino e jogo na lata de lixo, em

seguida, junto os utensílios que podem ser lavados na pia. Acho que só uma

ou duas vezes peguei em uma esponja, nem me lembro mais quando foi.

— O que está fazendo? — Salto com a voz de Spencer.

— Retribuindo pelo café da manhã. — Pigarreio, me recompondo.

— Largue isso aí, há alguém para fazer isso, Giulia. — Suspira

longamente e eu o encaro.

— Mas...

— Vá para a sala, tem algo para você lá — interrompe-me,

mostrando que não vai mudar de ideia.

— O que é? — Arqueio a sobrancelha, curiosa.

— As suas coisas. Pedi aos meus soldados que recolhessem tudo —

revela, me deixando boquiaberta.

Eu deveria ter perguntado a ele antes como havia encontrado o meu


endereço, porém, seria uma pergunta muito idiota, afinal, estou no território

da família dele. Óbvio que Spencer descobriria.


Se ele trouxe minhas coisas... É por que vai me deixar ficar em seu
apartamento? Por dentro sorrio, saltitando de felicidade.

Vou parar de fazer tantas perguntas, apenas deixarei que aconteça.

Aos poucos ele está cedendo e abrindo um espaço para mim em sua vida.

— Pode tirar esse sorrisinho do rosto. — Escuto o seu resmungo. —


Não poderia te deixar lá, os Esposito já sabem o seu endereço — justifica.

Comprimo os lábios para não sorrir, mas é inevitável.

— O.k., obrigada. — Rio baixinho.

— Não tem graça — diz, carrancudo.

— Acho que já podemos falar sobre as suas exigências, não é?

— Vamos ao meu escritório.

— Precisa disso tudo? — Faço uma careta.

— Sim.

— Mas essas exigências não deveriam ser ouvidas por Nicolo


também, já que é ele que vai...

Calo-me ao vê-lo cruzar os braços e sorrir maliciosamente.

— Não é o seu tio que será a minha mulher. — Passa a língua nos

lábios.
— O que quer dizer com isso? — Meu coração bate descompassado
ao vê-lo dar passos em minha direção.

— Acha mesmo que eu vou passar anos ou meses batendo punheta?


A minha vida sexual é muito agitada para me contentar só com a minha
mão. — Ele ri sensual, e não são só as minhas pernas que tremem, a minha

boceta também.

— Eu já disse que não tem problema você sair com outras mulheres,
só estaremos casados por conveniência.

Spencer quebra o espaço entre nós ao dar mais um passo para a

frente.

— Considero o casamento algo muito sagrado, Giulia. — Ele toca


em meu queixo com a ponta dos dedos e ergue meu rosto para que o encare.
— Para se casar comigo, vai ter que aceitar o que vou impor, ou pode se

contentar em apenas ter a proteção da minha família enquanto estiver na


Inglaterra.

Tenho a impressão de que ele quer me fazer desistir.

— E-estou te ouvindo, me diga o que vai querer de mim. — Tento

controlar a minha respiração arfante ao notar que as suas pupilas estão


dilatadas.
— Enquanto você for minha mulher, nenhum homem te tocará além
de mim. O único que vai comer a sua boceta, ouvir os seus gemidos e ter o

seu gozo sou eu.

A suas palavras me afetam, um calor infernal toma conta do meu

corpo, que chega a formigar. Fico completamente ofegante ao sentir o seu


polegar acariciar meu lábio inferior.

— E-eu sou virgem... — digo, mesmo que Spencer já saiba.

— Eu também adoro as virgens, não será um problema te deflorar.

Prometo que será inesquecível.

Pela primeira vez, um homem está me fazendo ficar molhada por

ele.

— Achei que não fizesse o seu tipo. — Encorajo-me a dizer,

atrevida.

— Ah, bonequinha, acho que estou mudando os meus gostos.

Depois de você, as loiras não são mais atraentes para mim. — Seu tom é
brincalhão, e mesmo tentando não levar a sério, acabo ficando boba.

— Idiota — xingo-o, vendo o brilho em seu olhar.

— Vai aceitar ou não? — Toca em minha cintura e, sem querer, eu

suspiro.
Engolindo em seco, observo a linha de expressão dele para ver se

encontro algum tipo de arrependimento, mas ele parece bem determinado.

— Eu prefiro me tornar uma Knight — respondo-o, firmemente.

Deslizando a mão que está em meu queixo para o meu pescoço,


Spencer inclina o rosto para o lado do meu e encosta a boca na minha

orelha.

— Será um prazer te desvirtuar, Romano, nos divertiremos bastante.


— Deposita um beijo em meu pescoço, depois mordisca e volta a falar

perto do meu ouvido. — Estou louco para te ensinar como é que se fode
bem gostoso.

Gemo baixinho, enfeitiçada pela sua safadeza e ele acha graça.

Aperto uma perna contra a outra ao me imaginar por cima dele, com

suas mãos tatuadas com veias salientes apertando a minha bunda enquanto
fazemos sexo.

— V-vou v-ver a-as minhas coisas! — gaguejo, afastando-me dele.

— Essa é a primeira exigência — fala, e eu o ignoro.

Céus, o homem conseguiu, só com algumas palavrinhas quentes, me

deixar excitada. Sem olhar para Spencer, passo por ele em passos largos,
sentindo meu corpo entrar em erupção.
Ele disse que quer transar comigo mesmo que o nosso casamento
seja falso, e mesmo que pareça loucura, gosto da ideia. Muito.

 
 
 
 
 
 
Horas antes

No dia seguinte, acordo quebrado. Deixei que Giulia ficasse em meu

quarto e eu dormi no de hóspedes. Eu poderia levá-la para o outro quarto,


mas seria muito egoísmo tirá-la da minha cama só para ter uma boa noite de

sono. Sequer dormi, não preguei os olhos pensando no estado deplorável da

garota e em tudo que ouvi do soldado de Vincenzo antes de deixá-lo nas


mãos de Patrick.

O Esposito quer usar Giulia para vingar a morte da irmã dele, e eu

não vou permitir que ela caia nas mãos dele para que se torne o seu

brinquedinho sexual, muito menos o seu saco de pancadas.

A minha decisão foi tomada desde ontem, enquanto fazia os

curativos em seus ferimentos, ela pode ser forte agora, mas nem sempre
será assim, não estando nas mãos de um homem que deseja se tornar o seu

algoz.
Ter enviado seus homens para o território da minha família foi um
afronte, ele faltou com respeito a nós. A sua atitude se transformou em um

estímulo para que eu aceite entrar nesse casamento de conveniência com a

sobrinha de Nicolo. Não vou perder nada, ambos seremos beneficiados.

Casar. Ser marido de alguém. Prender minhas bolas a uma boceta

só.

Essas palavras me causam calafrios, posso arriscar dizer que sinto

até alergia.

Vou me tornar marido de alguém sem ao menos amá-la. Acho que

somente o amor por uma mulher me faria renunciar à minha libertinagem,


mas uma menina pequena e irritante me fez mudar de ideia. Só que não é

por amor, e sim por um sentimento que nem sei descrever. Talvez seja o mal

de família ter esse instinto protetor.

Depois do que aconteceu, se eu deixasse que essa menina voltasse

para o seu país sem ajudá-la e ela morresse lá, eu me sentiria um filho da

puta. O remorso por tê-la visto me implorado tantas vezes para lhe salvar do
seu algoz me acompanharia para o resto da minha vida.

Que irônico, não é? Em minha defesa, tenho os meus motivos para

ter aceitado. Vai ser apenas um contrato que não envolverá sentimentos,

onde sairei muito mais beneficiado do que esperava. O italiano vai me dar
uma parte do seu negócio para que eu comande sem interferências dele, e

ainda será um trabalho que gosto de fazer.

Sentado na cama e com as mãos apoiadas de cada lado do colchão,

solto um suspiro pesado ao ouvir meu celular tocar na mesa de cabeceira.

Bocejando, pego o bendito que toca sem parar. Ao ver que é Killz

me ligando, as lembranças do jantar na casa do nosso irmão surge em minha


cabeça.

Ele me deve explicações. Talvez por eu não ter aparecido em seu


escritório essa manhã, ele deve estar pensando que me esqueci da nossa

conversa. Não perdi minha noite de sono apenas pensando na situação da


minha futura esposa, os meus irmãos também contribuíram para a minha

insônia.

Nada tira da minha cabeça que Killz sabia que Giulia estava vivendo

aqui, não só ele, mas todos os Knight. Eles estavam muito desconfiados e o
nosso segundo maior instinto é conhecer um ao outro, tão bem a ponto de
perceber que há algo de errado.

Olho para a tela do celular por algum tempo, até que decido atender.

— Como estão as coisas por aí?


Estranho a sua pergunta, mas nem tanto, já que tenho as minhas

suspeitas.

— A sua pergunta deveria ser "como está a Giulia, Spencer?”


Quando ia me contar, Killz? Precisou que eu descobrisse sozinho? —
Aperto os olhos.

— Tenho minhas razões para não ter te contado — defende-se, num


tom sério.

— Me diga quais! Porque nem mesmo ser amigo de Nicolo você é.


Não tinham vínculo algum para que aceitasse esconder a sobrinha dele na

Inglaterra, e nem isso você fez direito, porque a garota levou uma surra que
quase a matou. — Altero a voz, controlando minha raiva.

— Eu devo a minha vida a Angel, irmão, se não se recorda, ela me


salvou naquele maldito bordel onde Dayse preparou uma armadilha para

mim com os Ivanov! — diz, contrariado por ter que me dar satisfações.

— Não me venha com essa. Você já retribuiu a ela há tempos,

quando a tirou daquele lugar — retruco. — E outra, te conheço muito bem,


não iria aceitar uma bomba-relógio em nosso território por se sentir grato ao

que Angel te fez décadas atrás, Killz. Me fale realmente o que te levou a
ceder. — Fecho o punho, sentado na cama e encarando a parede cor cinza.  
— Estou há meses conversando com eles, e percebi que Nicolo
parece ser melhor para fazer negócios do que com os Esposito, ele nos
trará mais lucros. O Salvatore Esposito só compra nossos produtos para

revender ou usar em seus carros, já o Romano vai nos beneficiar muito


mais. — Por fim, revela as suas intenções.

Fico nervoso diante da possibilidade do meu irmão mais velho ter


esperado tantos meses para me dizer que tem um casamento arranjado para

mim e com data marcada. Porra, mesmo que ele não tenha dito isso, pela
maneira como se expressa ao falar de Nicolo, parece mais um arranjo feito

entre eles sem o meu consentimento. Killz não vai fazer comigo o mesmo o
que fez com Axl, ele o obrigou a se casar com Alessa.

— Os nossos irmãos já sabem dessa merda, não é? Foi por isso que

estavam estranhos no jantar? Estou sendo o último a saber? — indago, em


um tom de voz falsamente controlado.

— Ficaram sabendo na semana passada, mas não os culpe, a

decisão foi minha, Spencer. Eu sou o chefe, sei a hora certa de agir, e os
nossos irmãos não precisavam saber de algo que não lhes diz respeito —
responde com uma tranquilidade que faz o meu sangue ferver.

Por alguns instantes, sinto-me traído por meus irmãos, mas ao


mesmo tempo não consigo ter raiva da ocultação deles. Killz não iria
permitir que eles estragassem os seus planos.

— Agora só falta você me dizer que marcou o dia do casamento —

falo, exasperado, sem conter meu furor.

— Dessa vez vou fazer as coisas diferentes, meu irmão. Não

costumo repetir o mesmo erro duas vezes. Estou te dando a opção de


escolha, você é quem decide. Se casa com a garota para salvar a vida dela,

ou a mandamos embora para que Vincenzo a tome como esposa.

Mesmo antes de saber da aliança de Nicolo e ele, já estava decidido


a ceder ao pedido de Giulia.

— Serão quantos anos esse contrato? — Minha garganta se fecha,

dando-me conta da responsabilidade que cairá sobre mim. — Falo do


casamento. Quanto tempo será? — Minha voz quase falha tamanho é o

nervosismo.

— Três anos é o suficiente.

Com o coração batendo fortemente, massageio meu pescoço.

— Eu aceito. — Coloco de uma vez a corda em meu pescoço.

— Sabia que aceitaria. Estamos fazendo um bom negócio, e não

será sacrifício para você estar casado com uma garota linda e quase treze

anos mais jovem — fala, convicto das suas palavras.


— Não se trata de idade ou beleza, Killz, se aceitei esse acordo é

porque tenho as minhas ambições também — digo, com firmeza.

— O.k. Passe em meu escritório na próxima semana para assinar o

contrato, já está comigo.

Que nossa mãe me perdoe, mas Killz é um filho da puta.

— O.k. — Minhas narinas inflam de ódio.

Um silêncio ensurdecedor toma conta de ambos os lados, até que

decido quebrá-lo.

— O que os seus soldados de merda estavam fazendo que não

ficaram com os de Nicolo para proteger Giulia? E o tio dela já sabe que os
homens deles são uns inúteis e agora estão comendo terra? — Eu o encho

de perguntas, e tarde demais percebo que a minha revolta é assustadora em

relação à garota.

Do outro lado da linha, Killz dá uma risadinha baixa.

— Pensei que não se importasse com a sua futura esposa, irmão,

achei que fosse apenas um negócio — alfineta-me, não me dando a resposta

que espero.

— Vá se foder, brother, e pare de especulações desnecessárias. —


Cerro o maxilar.
— Meus soldados estavam revezando com os de Nicolo, eles não

tiveram culpa de nada. Infelizmente, foi um acontecimento que não

pudemos evitar. — Suspira. — E o tio dela já sabe, avisei mais cedo. Ele
queria vir vê-la, mas não deixei, pedi que agisse normalmente e deixasse

que Vincenzo continue pensando que está por cima.

Está aí meu irmão agindo como um verdadeiro chefe da

organização.

— Tem razão. Seria um alarde para os Esposito — murmuro.

— Sim. Agora vou desligar, tenho que ir a alguns galpões com Alec,

verificar a nova encomenda. Até depois. — Assim encerra a ligação.

Passo alguns minutos segurando o celular, até que me lembro que

não tenho comida decente em casa para dar para a minha querida futura
esposa quando acordar. Vou pedir algo para mim e um café típico do seu

país. E mandar Patrick buscar tudo o que tiver dela no apartamento que

estava morando e trazer para cá.

Atualmente
Sugerir a Giulia fazermos sexo durante o período do nosso acordo

não estava em meus planos, mas como conseguirei me prender a ela por
anos sem poder me relacionar com outras mulheres? Não seria justo nem

para mim e nem para ela, então decidi unir o útil ao agradável e lancei a

proposta, contudo, não imaginei que a garota me diria sim.

De início, notei que ficou receosa, meio envergonhada com o que


propus, mas também não passou despercebido que a afetei com as minhas

palavras quando disse que nenhum outro homem irá tê-la na cama a não ser

eu. E é verdade, ninguém vai possui-la enquanto ela for a minha mulher.
Serei o único a ouvir os seus gemidos e ter os seus orgasmos durante três

anos, daqui até lá, vamos trepar com as mãos na cabeça. Vou ensinar a ela

como é delicioso foder em todas as posições possíveis.

Só de pensar no seu olhar travesso e a sua boca atrevida já fico


animado com a lua de mel. Até ontem, eu estava fugindo como o diabo foge

da cruz com a possibilidade de colocar um caralho de aliança em meu dedo.

Mas como posso ficar triste se vou ter tudo o que quero ao mesmo tempo?
Vou trabalhar com os carros novamente e serei o chefe, para completar, a

minha futura esposa por contrato é muito gostosa e eu não ficarei sem sexo.

Se isso não é ser sortudo, não sei o que é.


— Deveria tomar o analgésico, Giulia — lembro-a pela terceira vez

do copo de água e o remédio que estão na mesinha de centro.

Está tão distraída verificando as suas coisas nas malas que nem

percebe a minha presença. O seu rosto está machucado e alguns lugares


inchados, mas em quinze dias os hematomas já não estarão mais ali, só que

isso não diminui a minha ira. Maldito seja o covarde do Vincenzo. 

— Eu vou tomar, não se preocupe. — Ela me encara e sorri.

De repente, tenho uma crise de tosse ao perceber que estou sendo


tão atencioso. Típico dos meus irmãos com as esposas. Giulia arregala os

olhos e vem para me ajudar, mas faço um gesto com a mão para que fique

no mesmo lugar.

— N-não e-estou — digo, puxando o ar para os pulmões assim que


me recupero da tosse.

— Você ficou vermelho como um camarão! — diz, com os olhos

brilhando em divertimento.

— Tome o seu remédio, bonequinha, e pare de ser irritante. — Bufo,


pegando uma revista de carros na mesinha e fingindo ler.

— Não me chame com esse apelido idiota. Odiei.

Ergo os olhos e dou um sorriso provocante para ela.


— Vou te chamar de bambina, acho que combina mais. — Dou uma

risada baixinha ao vê-la ficar com as bochechas vermelhas, não de


vergonha, está enfurecida.

— Col cazzo! — ela diz “nem fodendo” na língua dela, achando que

não vou entender.

— Ah, bonequinha, tenha certeza de que se estivéssemos fodendo,


você me deixaria te chamar do que eu quisesse. — Levanto-me da poltrona

e vou até ela, mas antes pego o comprimido e o copo de água.

Por alguns segundos, consigo deixar Giulia Romano sem palavras.

— O-obrigada — agradece gaguejando, ao pegar o analgésico e o


copo da minha mão.

— As suas coisas estão todas aí? — pergunto, assim que ela bebe o

remédio.

— Aham, só não encontrei as minhas armas. — Eu a vejo engolir


em seco ao avaliar meu rosto.

— Estão no cofre do escritório — revelo.

Quando Patrick me trouxe as malas dela, vi uma maleta com as

siglas G.R., mas antes mesmo de abri-la para conferir sabia o que era. Meus
soldados já tinham me notificado que eram as Glocks dela. Eles acharam a
maleta aberta no apartamento, só recolheram as armas e trouxeram.

— Por que as guardou lá? — indaga, curiosa.

— Questão de segurança — afirmo.

— Não entendi. — Arqueia a sobrancelha.

— Você é uma garota de sangue quente, poderia tentar agir no

impulso da raiva e fazer besteira. — Volto a me sentar na poltrona.

— Ainda não compreendo o que está querendo dizer. — Umedece

os lábios.

— Você poderia tentar ir atrás do Vincenzo, e o que menos

queremos é fazer alarde. — O que não é mentira.

Uma pessoa com sede de vingança fica cega, não pensa nas
consequências, e eu confesso que fiquei receoso em Giulia fazer alguma

besteira e estragar os planos dela e os meus.

— Não ajo por impulso, pode ficar tranquilo. Apesar da idade e me


verem como uma menininha, sou uma mulher muito centrada e sei a hora
certa de agir — diz, com seriedade e olhar distante. — No momento, estou

em segurança, não tenho mais pressa para matar Vincenzo. Mas quando
esse dia chegar, vai ser delicioso assisti-lo chorar aos meus pés, implorando
para que não o mate. — Vejo a frieza transbordar em suas íris.

Já vi mulheres fortes. As minhas cunhadas são um exemplo, mas

essa garota tem uma força que me faz admirá-la pra caralho. O que tem de
aparência delicada, tem de personalidade. Ela sabe que se casando comigo e
se tornando uma Knight não precisará sujar as mãos de sangue nunca mais,

mas esse não é o desejo dela. E não serei eu que vou tirá-lo.

A campainha toca e Giulia olha para a porta por cima do ombro,


então me encara meio aflita. As únicas pessoas que chegam à minha casa
sem avisar são meus irmãos, tenho certeza de que é um deles.

— Deve ser alguém da minha família — aviso, ao notar que ela está
tensa. — Se quiser ir para o quarto — sugiro, imaginando que talvez não
queira que vejam os seus machucados.

— Vou ficar, tenho que conhecer as pessoas que também serão

minha famiglia — diz.

Não entendo por que a porra do meu coração fica acelerado.

— Está bem, pode ficar, só pensei que não gostaria que te vissem
assim — esclareço, e a campainha toca insistentemente.
— Apesar desses hematomas não serem bonitos, não me
envergonho de deixar que as pessoas os vejam. São a prova da minha força,
da minha sobrevivência e que eu fui um bom soldado.

Suas palavras mexem comigo. 

Giulia, de fato, não só carrega beleza, também uma bravura


fascinante.

— O.k. Vou ver quem é antes que destruam a minha campainha —


digo, indo até a porta.

Pelo olho mágico, vejo Carter e a sua família. Com a sobrancelha


arqueada, abro a porta. Assim que minha cunhada me vê, ela sorri, já o

marido está com a expressão fechada.

— Por que demorou para atender? — pergunta Carter, com


desgosto.

— Bom dia, irmãozinho. A sua mulher está do seu lado! Oi,

ruivinha linda. — Bato em seu ombro, ignorando-o e olhando para a esposa


dele com meu sobrinho no colo. — Olha só quem veio ver o titio mais
gostoso da face da Terra!

— Você não está com nenhuma p...

— Olá, gente.
Fecho os olhos ao ouvir a voz de Giulia atrás de mim.

Por Deus, quando ela chegou aqui? Essa garota é rápida.

Um silêncio ensurdecedor nos rodeia com a presença da italiana.

Pelo visto, não sabiam que eu estava com uma hóspede em casa.

Limpo a garganta e me viro para Giulia, que está com um sorrisinho

irritante.

— Carter, Muriel, essa é a...

— Giulia Romano.

Cruzo os braços ao ver a atrevida tomar a minha frente.

Boquiabertos, meu irmão e Muriel nos encaram, não passa


despercebido que Carter tenta esconder o sorriso.

— Você é a garota que vai deixar o meu irmão de cabelo branco —

diz o filho da puta, estendendo a mão para ela, que pega toda sorridente.

Estou tão aliviado por eles não olharem para Giulia com pena. A
maneira como agem normalmente me faz ficar orgulhoso deles.

— Se ele ficar de cabelo branco não pode me culpar, provavelmente,


será coisa da idade mesmo. Ele já tem quase quarenta, não é?

Dessa vez, quem dá risada é Muriel.


E eu me engasgo.

— Estou na casa dos trinta, bonequinha. Ainda tem muita estrada


para os quarenta, mas não me importo, continuarei sendo gostoso. —
Exibo-me, porque sei que a irrita.

— Você deveria se preocupar com o seu cérebro, acho que até lá não

vai ter um, já que só pensa em ser o tiozão gostoso — retruca a italiana,
com a mão na cintura.

— É assim que começam as maiores paixões.

Escuto a ruiva falar e meu irmão concordar, no mesmo instante, eu e

Giulia nos calamos por alguns instantes.

— Ele não faz o meu tipo — diz a sobrinha de Nicolo, empinando o


nariz.

— Em breve vamos saber — provoco-a, vendo seus olhos

brilharem.

— Hum-hum. — Meu irmão limpa a garganta. — Spencer,


precisamos conversar a sós, podemos ir ao seu escritório? — diz Carter,

avaliando-me.

— Claro. — Assinto e olho Rowan no colo de Muriel. — Rowan,


cuide bem das garotas enquanto eu e o seu pai estivermos ausentes. —
Aproximo-me do meu sobrinho e aperto de leve a sua bochecha.

— Vamos logo, Spen. Ele só tem seis meses, não está entendendo
nada! — diz Carter.

— Sei disso, idiota — resmungo, piscando para Muriel, que fica

vermelha.

— E pare de jogar charme para a minha mulher, se não quiser que


eu enfie uma bala na sua cara — ameaça o ciumento.

— Não tenho medo da morte — provoco-o, dando uma risadinha.

Sem querer, meus olhos pousam em Giulia, que nos observa sorridente.

— Pois deveria — diz Carter, rabugento.

— Amor, parem com isso e vão logo conversar. Lembre-se que o


Rowan tem consulta com a pediatra — fala Muriel. Só ela para conter o

marido ciumento.

— O.k. — fala ele, coçando a nuca.

— Vamos logo. — Bufo, impaciente.

— Sereia, prometo não demorar. — Ele vai até a esposa e beija os

lábios dela, depois a testa do filho, que agarra o rosto dele.

É tão bom ver meu irmão feliz ao lado da família dele.


— Giulia, fique com a Muriel, você vai estar em boas mãos.
Aproveite para conhecê-la melhor — digo para a garota.

Carter e eu seguimos para o escritório e deixamos as garotas na sala.


No caminho, meu irmão e eu ficamos em silêncio, vez ou outra me olha
pelo canto do olho, mas não diz nada.

— Preciso de um favor amanhã — diz, assim que me sento no sofá.

— O que é? — Cruzo os braços.

— Eu e Muriel vamos visitar a mãe dela na Irlanda, mas amanhã


chega um carregamento da Espanha. Preciso que você receba para mim, os
homens que vão trazê-lo são muito desconfiados, só vão entregar as peças

para um Knight. E o único que tem disponibilidade e conhece a área tão


bem quanto eu é você. — Dois anos atrás, participei de um racha na
Espanha, um membro da máfia deles perdeu para mim um Jaguar F-type

cabrio. O cara pensou que iria me fazer de idiota, sumiu por uma semana
para não entregar o carro dele, mas foi obrigado pelo chefe a cumprir com
as regras da aposta.

— Sei bem quem são eles — murmuro.

— Então, vai aceitar receber a carga por mim? — Carter dobra a


manga da camisa preta, deixando as tatuagens à mostra.
— Sim, não se preocupe. Pode fazer a sua viagem tranquilo.

— Obrigado — agradece.

— Não me chamou aqui só para falar das cargas, não é? — Encaro-

o, curioso.

— Não.

— Imaginei.

— Killz nos contou que você vai se casar com Giulia — diz meu
irmão, em um tom estranho.

— Sim, eu vou. — Estranho a minha naturalidade em admitir.

— Acho que deveria avaliar a sua decisão, Spencer. — Ele está

sério.

— Por que diz isso? — Franzo a testa.

— Lembre-se que Axl esteve nessa mesma posição e fez a Alessa


sofrer muito com esse negócio de casamento arranjado.

Como se eu pudesse me esquecer.

— Mas eu não sou Axl e nem tenho outra mulher em minha vida,

Carter. — Bufo, irritado.


— E como será isso? Você vai se casar, e as mulheres com quem

você se relaciona? Vai sair com outras, mesmo sendo um homem casado?
Irá deixar essa menina em casa enquanto se diverte? — interroga-me.

— Agora vai querer me ensinar como viver em um casamento com


a minha mulher? — Limpo a garganta e trato de me corrigir. — Com a
Giulia?

— Óbvio que não, só estou me certificando de que não faça merda e


depois sofra as consequências — responde, soando sincero.

— Propus que fizéssemos sexo durante os anos que estivermos


casados. Estou tentando não ser um escroto com ela — confesso, sem olhar

para ele.

— Você fez mesmo isso? — O tom dele é de surpresa.

— Claro. Acha que vou ficar batendo punheta por três anos? —
digo, zombador. — E trair está fora de cogitação, ela arrancaria o meu pau e

eu não acho justo foder outras e a deixar em casa me esperando. Mesmo


que eu adore uma putaria, tenho que respeitá-la.

— Estou surpreso — fala, depois de um tempo.

— Com? — Miro-o, vendo a sua expressão de admiração.

— Com a sua atitude — revela, sorrindo.


— É o mínimo que eu poderia fazer. — Ficamos em silêncio por
alguns minutos.

— Ela é bonita e parece gostar de você. Irão formar um belo casal.

Ela é esquentadinha, mas é linda.

— Giulia não gosta de mim, ainda é muito cedo para definir isso.

Carter ri baixinho.

— Não se preocupe, vocês terão três anos para descobrir isso —


atiça-me.

— Vá se foder! — Gargalhamos.

— Por que não me disse que Killz estava escondendo-a na


Inglaterra? — inquiro.

— Não quis me intrometer no assunto de vocês dois, achei que era a


obrigação dele te dizer, não eu, nem Axl, muito menos Ezra — confessa.

— É, tem razão. — Suspiro longamente.

— Está chateado por causa disso?

— Claro que não.

— Quando se casam? Acredito que seja o mais rápido possível, não

é? Imagino que não vai querer passar meses sem fazer sexo.
Falar sobre casamento é uma coisa, mas casar é outra.

Adeus minha liberdade.

— Ainda vamos definir isso. — Novamente tenho uma crise de

tosse e meu irmão vem e bate nas minhas costas.

— Porra, você está vermelho! — Ele ri.

— Será que eu posso ter uma despedida de solteiro? Não vai ser
traição, não é? Nem temos nada, é só uma...

— Nesse momento, bocetas não são mais a sua prioridade, Spencer.


Agora você tem uma bonequinha para cuidar, e pelo que vi, é uma
bonequinha bem brava. E se sonhar que você andou enfiando o pau em

buracos aleatórios, vai te transformar em um eunuco — alerta-me, bem-


humorado, pedindo para receber umas porradas.

— Dê o fora do meu escritório, Carter! — Irrito-me.

Jamais imaginei que apressar um casamento fosse se tornar a minha

prioridade.

 
 
 
A minha famiglia sequer me ligou ou enviou mensagem para saber

de mim. Nem mesmo Angel ou Nicolo procuraram saber de mim, eu me


pergunto por que me sinto chateada em ter a atenção deles, sendo que o que
mais desejei era que me deixassem em paz.

Talvez esse desejo não fosse verdadeiro, afinal, por qual razão

ficaria triste por não ter me comunicado com eles durante esses dias. Não
que eu tenha esquecido o que meu tio fez ao meu pai, só que no fundo, bem
lá no fundo, já havia me acostumado com a sua proteção, por mais que eu

achasse sufocante.

Hoje, acordei mais disposta e muito animada. Foi depois da


conversa que tive com Muriel Knight, a esposa do meu futuro cunhado. Ela

foi bem gentil, me acolheu de uma maneira que jamais imaginei que

poderia ser acolhida, e ainda me convidou para tomar um chá com ela e as
outras garotas — que segundo ela, estão loucas para me conhecer. Logo de

cara gostei do seu comportamento comigo, a ruiva parece ser uma pessoa
verdadeira e não escondeu o carinho que sente por Spencer, tanto que me

confidenciou que ele às vezes pode ser uma pessoa difícil de lidar, mas é
um bom homem e está sempre disposto a ajudar.

Como sou uma pessoa bastante desconfiada e tenho uma certa

dificuldade em confiar nos outros, não me abri muito com Muriel, mas em

momento algum fui mal-educada. Eu sei que ela notou que algumas vezes
demonstrei receio quando falávamos sobre a minha estadia na Inglaterra,

tanto que me deixou falar somente o que achei que fosse necessário.

Após a partida da família de Spencer, ele me perguntou em qual


quarto eu gostaria de ficar. É claro que se a minha escolha fosse o quarto

dele ele iria para o outro, então decidi que não abusaria tanto e pedi para

dormir no de hóspedes. Ontem, levei horas arrumando minhas coisas no


closet, mas assim que terminei fiquei tão aliviada, porque me sentia segura

o suficiente para ter uma boa noite de sono, sem me preocupar com nada. 

Em frente ao espelho, confiro a minha roupa e o meu cabelo. Vendo


que estou bem apresentável, apesar de ainda ter alguns inchaços pelo rosto,

pego o batom cor vinho na cama e passo na boca.

Através do espelho, vejo Spencer se encostar no umbral da porta e

cruzar os braços. Ele avalia-me demoradamente e não diz nada.

— Já estamos indo? — indago, olhando-o agora por cima do ombro.


— Sim — murmura, com os olhos fixos em mim.

— O.k. Já estou pronta. — Passo a mão por meu cabelo solto.

— Precisa mesmo disso tudo? — pergunta, então viro-me para ele.

— Disso o quê? — Faço-me de sonsa, porque sei do que está


falando.

— Não está faltando mais um pedaço de pano nessa saia, não? Acho

que ela está muito apertada também, na parte de trás. — Ergue a

sobrancelha, olhando para as minhas pernas.

— Ela está ótima, Spencer, nada de anormal por aqui. — Olho para

a minha bunda, que é firme e um pouco grande, pelos treinos pesados que

fiz todos esses anos.

— Esse maldito pedaço de pano vai distrair os pilotos, Giulia, e eu

não tolero distrações em serviço — fala, contrariado, vindo até mim.

— Não exagera, por favor. — Ajeito a minha jaqueta de couro preto,

que é da mesma cor e tecido da saia.

— Você está usando até botas de salto e cano alto. Estamos indo a

um galpão, e não a um desfile de modas. — Ri baixinho.

— Sou uma mulher estilosa, sr. Knight. — Pisco para ele.


— Baby, se distrair os pilotos com essa porra de saia curta não será

você que vai pagar por isso, serão eles, sendo inocentes ou não. — Segura
em meu queixo e me faz encará-lo.

— Não seja tão cruel. — Toco em seu braço e deslizo os dedos por
sua jaqueta preta.

— Você não sabe o quanto posso ser ruim quando quero. — Seus
olhos azuis escurecem e ele aproxima o rosto do meu. — Bonequinha, você

vai ser a minha mulher, acha que vou deixar outros homens cobiçarem o
que é meu na minha frente? — Roça os lábios nos meus.

— Ainda não sou sua, nem mesmo nos beijamos. E um beijo nem
seria suficiente para que declare isso. — Ofego quando ele enlaça a minha

cintura e me puxa mais para perto, colando nossos corpos.

— Pela primeira vez, estou sendo lento com uma mulher, sabia? —

diz, contra a minha boca. — Nunca deixo as oportunidades passarem, em


outra ocasião já teria beijado essa boca atrevida e fodido a sua bocetinha
virgem. — Sua mão desliza por minha bunda e a aperta.

Meu corpo inteiro treme com as suas palavras quentes, chego a ficar

arrepiada.

— E por que ainda não fez isso? — Mordisco seu lábio inferior e ele
geme.
— Só estou esperando a oportunidade certa. — A outra mão dele se

infiltra em minha saia e minhas pernas amolecem, mas não é por medo, é
tesão.

— Sexo só depois do casamento — digo, fazendo-o gargalhar. —


Mas isso não quer dizer que não possamos brincar. — Toco no botão do seu

jeans.

— Se descer no playground vai ter que brincar, bonequinha, está

disposta a se divertir? — Embola minha saia e a sobe até meu quadril, em


seguida, toca em minha calcinha de renda.

— Vou adorar cada brincadeira. — Apalpo o seu pau por cima do


jeans e a respiração de Spencer fica pesada.

— O meu outro lado filho da puta não te perguntaria se tem


certeza...

Com o dedo, toco em sua boca para que se cale.

— Sem perguntas, apenas faça

Ele sorri, malicioso.

— Tire a roupa e depois se deite na cama de barriga para cima, com


as pernas abertas. — O seu pedido me deixa de olhos arregalados.

Céus.
— T-tudo? — gaguejo, vendo-o assentir.

— Gosto de apreciar cada parte do corpo de uma mulher, ainda mais

quando ela está se contorcendo por minha boca estar ocupada chupando a
sua boceta.

Engulo em seco com a sua intensidade.

— O.k. — Com as mãos tremendo, desço o zíper na lateral da saia.

— Eu me livro da saia e calcinha, tire o restante. Você vai ficar


apenas com as botas.

Poderia dizer a ele que nunca fiz isso, mas tenho certeza de que
sabe.

Meu coração pulsa violentamente ao vê-lo se ajoelhar na minha


frente e olhar em meus olhos. Suspirando, toco em seu cabelo loiro e tiro a

minha jaqueta, depois a blusa branca e jogo as peças na poltrona ao lado.


Por estar sem sutiã, escondo meus seios com um braço.

— Não os esconda de mim, são lindos e eu vou chupá-los — elogia-


me, puxando minha saia e calcinha para fora do meu corpo.

Um frio se apossa do meu estômago.

— E-eu nunca fiz nada disso. — Sinto a necessidade de falar,

mesmo sabendo que não precisava.


— Sei que não. — Seus olhos passeiam por meu corpo despido, ele
está observando-me com tamanha adoração.

Suas mãos másculas percorrem minhas pernas lentamente, e eu não


evito o suspiro quando ele começa a beijar minha virilha.

— Spencer, pensei que era para eu me deitar na cama. — Estremeço


ao sentir a sua mordida no ponto sensível.

— É um aquecimento, baby. Coloque uma perna em meu ombro —

pede, raspando o nariz por minha pele. Assim que atendo ao seu pedido, ele
passa dois dedos por meu feixe de nervos escorregadio e eu preciso fechar

os olhos. — A sua boceta tem cheiro de baunilha, agora resta saber o sabor

dela. — É a última coisa que diz antes de abocanhar a minha intimidade.

— Céus! — A língua trabalha avidamente em meu clitóris,

movimentos firmes e circulares.

Gemendo, agarro os fios do seu cabelo e jogo a cabeça para trás.

Não satisfeito em só me chupar, começa a me masturbar com os dedos.


Meses atrás, ninguém diria que eu e Spencer estaríamos em um quarto,

fazendo sacanagens, ele de joelhos para mim, me fodendo com a sua boca

deliciosa.

— Aahhh... — Ofegante, esfrego-me em seu rosto, vendo meu peito


subir e descer. Preciso de muita força para me equilibrar nos saltos. — N-
não sei se vou conseguir me manter de pé por muito tempo. — Não tenho

mais controle dos gemidos altos que saem da minha boca.

Spencer para de me chupar ao notar que estou quase gozando e se

levanta. Com o rosto ardendo, eu o vejo erguer os olhos na minha direção e

sugar os dedos que estavam dentro de mim.

— Agora quero saber qual é o gosto da sua boca, porque a sua


boceta eu já sei que será meu maior vício enquanto for minha. — Seu tom é

rouco e imperativo. Ele toca em minha cintura com possessividade e sobe

lentamente a mão, me fazendo suspirar.

Espalmo a mão em seu peito e olho em seus olhos, em seguida, eu o


beijo. Com os lábios unidos, Spencer e eu gememos, sua língua explora a

minha com uma urgência desesperadora, que faz meus joelhos vibrarem.

Aposto que ele sente também, porque aperta meu corpo contra o seu.

Inesperadamente, ele me levanta em seu colo.

— Vou sujar a sua camisa — digo, arfante, afastando minha boca da

sua.

— Não me importo se você gourmetizar a minha roupa com o seu


melzinho. — Seu sorriso é sacana. Ele gruda a boca em meu pescoço, suga

e mordisca, provavelmente vai deixar uma bela marca.


Comigo em seus braços, ele nos conduz para a cama e me deita nela.

Depois é a vez dele de se encaixar entre minhas pernas e acariciar minhas

coxas.

— Tira a camisa, gosto das suas tatuagens — murmuro, vendo-o


salivar por meus mamilos que estão com os bicos enrijecidos.

— Na cama, os seus pedidos serão sempre uma ordem — fala, bem-

humorado, antes de tirar a jaqueta e a camisa.

— Fora dela também — retruco, e ele gargalha.

— Está para nascer a mulher que vai mandar em mim. — Inclina a

cabeça e passa a língua pelo bico do meu mamilo. Curvo minha coluna e

choramingo ao sentir sua mão tocar em minha boceta.

— N-não s-se gabe tanto... — Jogo a cabeça para trás e entreabro a


boca.

Ele não me responde, porque está ocupado sugando meus seios

enquanto seus dedos brincam com meu clitóris incansavelmente. Spencer

passa alguns minutos dando atenção aos meus mamilos, mas quando nota
que vou gozar, faz uma trilha de beijos por meu abdômen.

— Sua pele é ainda mais macia quando a toco com meus lábios.

Ouço-o dizer ao depositar um beijo em meu umbigo.


Resfolegando, apoio-me em meus cotovelos para encará-lo e tenho a

melhor visão de todas – Spencer deslizando a boca para o meio das pernas e
me chupando com vigor.

Trêmula, soluçando e com o coração batendo disparado por senti-lo

me sugar com aptidão e fazer movimentos circulares com a sua língua

experiente dentro de mim, deixo que o orgasmo violento me atinja. Meu


futuro marido lambe meus fluídos como se fosse algum tipo de doce. Sinto-

o passear os lábios lentamente por minha barriga e subir de encontro ao

espaço entre meus seios.

Fecho os olhos e suspiro ao sentir a sua respiração bater em meu

rosto.

— Olhe para mim. — Sua voz está ainda mais rouca e sexy.

Faço o que me pede e encontro um Spencer com o olhar intenso.

— A nossa brincadeira não terminou aqui, mas estamos atrasados.


— Seus olhos caem em minha boca. — Da próxima vez, iremos fazer algo

mais duradouro. Quero explorar melhor cada parte desse corpo gostoso.

Puta que pariu! Ele me deixa sem palavras com a sua promessa, só
consigo assentir.
Não estou arrependida pelo que fizemos, acho que é tarde demais

para isso. Essa nossa “brincadeirinha” rápida não irá sair tão cedo, ou

nunca, da minha cabeça.

O trajeto até o galpão não demora muito. Spencer veio na frente, e

os seus soldados atrás para fazer a segurança. No caminho para cá, o clima

entre nós continuou leve, depois do que aconteceu o seu comportamento


comigo não mudou, ele fez até umas gracinhas que me arrancou algumas

risadas.

Quando chegamos, encontramos alguns carros com os seus porta-

malas abertos. Pelo semblante dele e a forma como aperta o volante, não
está nada satisfeito.

— Algum problema? — indago, olhando na mesma direção que ele.

— Só um verme tentando usurpar o que não é dele. Venha, vou ver

o que está acontecendo. — Trinca o maxilar ao tirar a chave da ignição, em


seguida, saímos do carro e seguimos para galpão aberto.
No meio do caminho, Spencer segura em minha mão. Perplexa com

a sua atitude surpreendente, escondo o sorriso. Ao erguer o rosto, noto que


há uma roda de homens. Uma boa quantia, e há um sem uniforme, que

parece passar recomendações. Mas quando os pilotos se dão conta da nossa

presença, arregalam os olhos ao ver que se trata de um Knight.

— Começando o trabalho sem mim, William? O que está


acontecendo aqui? — pergunta Spencer com amargura, ao soltar a minha

mão e ir até o tal William, que está com a expressão de espanto.

— Spencer, como você se atrasou, tomei a liberdade de orientar os

motoristas para que adiantassem o envio dos motores para o cliente no


porto de Immingham — diz o homem, sério, mas envergonhado.

— Saiam, preciso falar com o William. — O Knight olha para cada

piloto com o semblante fechado, e eles rapidamente obedecem às ordens

dele.

Solto a mão dele para o deixar sozinho com o homem para que

conversem com mais privacidade, mas ele me segura com firmeza.

— Você fica — determina Spencer, sem tirar os olhos do

funcionário que conseguiu o deixar mal-humorado. — Me diga, William,


Carter sabe que você está tomando à frente dos negócios sem comunicá-lo?

— Seu tom é ácido.


— Eu pensei que...

— Aqui você não pode pensar em nada, Will. Embora seja um

funcionário exemplar, passa muito dos limites, e eu odeio ter que te colocar

em seu lugar para que entenda que aqui não é qualquer um que pode liderar.

— Sinto até pena do homem por alguns instantes, porém, mudo de ideia ao
vê-lo sorrir com desdém para Spencer, em seguida para mim.

Corajoso.

— Tenho anos servindo a sua família e nunca tive problemas. Parece

que você jamais gostou de mim e sempre arruma alguma desculpa para me
prejudicar com o seu irmão. O que não pode esquecer é que te salvei de

foder os negócios porque estava drogado demais para fazer o serviço

direito. — William suspira longamente.

Automaticamente, eu congelo, nem mesmo consigo disfarçar a

minha tensão. Acabo me afastando de Spencer com a revelação.

Senhor, ele usa drogas. Um calafrio bate em minha espinha ao me

lembrar que Vincenzo é um viciado.

Nervosa e com as mãos tremendo, observo Spencer avançar para o


homem e o segurar pelo pescoço com raiva. Boquiaberta, vejo-o esmurrar o
rosto do homem várias vezes, só para quando vê o seu punho sujo de
sangue. Spencer o joga no chão e o chuta raivosamente, com a sua bota
pesada.

— Deveria ter ficado calado, teria sido melhor. — O rosto de

Spencer está vermelho, ele carrega um ódio descomedido.

O homem grita e tenta proteger o rosto, mas ele não para. O furor
que desperta nele o deixa cego.

— Já chega, você vai matá-lo! — grito. Sem pensar, vou até ele e o

puxo para longe do cara.

— Não se envolva, Giulia! — Aponta para mim, mas o ignoro.

— Quer mesmo matar esse homem? Acha que o seu irmão vai
gostar de saber que você veio para brigar e não trabalhar? — pergunto,

assustada, observando o rosto de William sujo de sangue.

— Não coloque o nariz onde não foi chamada, porra. — Ele é


grosseiro e o meu coração fica apertado.

— Coloco, sim! — Seguro em seu rosto para que me encare.

— Pensa que vai me controlar, garota? — Ri, provocante, tirando

minhas mãos do seu rosto. — O que eu encontrei mais cedo em casa acho
na rua, com mais experiência e ainda em maior número. Então não se sinta
especial, só porque fui o primeiro homem a te tocar. — Ele cospe as
palavras e os meus olhos enchem de lágrimas.

— Seu babaca! — Dou uma tapa nele e os meus dedos doem.

— E o que você é? Uma mimadinha! Se a sua pretensão desde o

início era me controlar com esse casamento, pode esquecer. — Ele se altera,
massageando o local que atingi.

— Baixe seu tom de voz, não sou as suas prostitutas! — Meus


lábios tremem.

— É uma pena, seria mais fácil se fosse — retruca, arrogante.

Basta isso para que eu saia do galpão correndo e aos prantos.  


 
Já tem alguns minutos que Giulia saiu chorando e eu não fui atrás

dela. Estou envergonhado por ela ter ouvido de outra pessoa que eu usava

drogas. É claro que na hora certa eu falaria sobre isso, mas não estava
pronto para assumir esse meu erro.

Embora William tenha me tirado do sério ao mencionar os meus

problemas com as drogas, em momento algum deveria a ter desmerecido


como mulher e colocado as putas que saio no pedestal. As prostitutas que já

tive nunca poderão ser comparadas a Giulia Romano. Aquela coisinha linda

é irritante e única, mas na primeira oportunidade mostrei o contrário.

É impressionante a facilidade que os Knight têm para estragar tudo.

Reconheço que fui um escroto e agi errado com Giulia. Prometi que não

seria como Axl foi com Alessa, mas estou seguindo um caminho pior.

Estávamos tão bem antes de chegar aqui e bastou uma brecha para

que eu a machucasse com as minhas palavras duras. Ela não merece o que

fiz, e nem sei se vai querer me perdoar pela minha atitude ridícula.
Sempre fui um ordinário com as mulheres, não nego, mas o quanto
estou puto por tê-la feito sair do galpão chorando me quebra, porque depois

de ter falado, não poderia voltar atrás.

Ela não é o tipo de mulher para quem dou o meu melhor sorriso,

falo algumas besteiras no ouvido e já estou perdoado. Aposto que se

estivesse com uma arma nas mãos, ela me faria engolir cada palavra que
direcionei a ela.

Ando de um lado a outro, observando William no chão com a mão

em seu nariz ensanguentado e gemendo. O imbecil teve culhões para tentar

me humilhar na frente de Giulia ao relembrar algo que já passou, agora está

choramingando, certamente com medo de que eu o mate.

— Dê o fora daqui antes que eu mude de ideia e arranque a sua

língua, para aprender a nunca mais se dirigir a mim como se fôssemos

melhores amigos — digo, apontando para os portões abertos do galpão.

— Spencer, me perdoe, eu me expressei mal, não foi a...

— Não quero as suas explicações, William. Você passou dos limites.

Agradeça por eu não ter te espancado até a morte, porque é isso que merece

depois de abrir a boca para falar merda. — Olho para o homem que se

levanta e dá alguns passos, mancando. — Vamos, suma da minha frente.


Por ora, não quero olhar na sua cara. — Observo meus punhos sujos com o

sangue que tirei dele.

— Com licença — pede o filho da puta, se arrastando para fora do

galpão.

Meu celular toca no bolso, e ao pegá-lo vejo que é Carter. Ao

atendê-lo, sigo para o escritório e fecho a porta.

— Os González me ligaram, estão a caminho do galpão. Daqui a


alguns minutos chegam — avisa o meu irmão, do outro lado da linha.

— O.k. E o pagamento já foi feito? — pergunto, me sentando no

sofá.

— Não quiseram o valor todo por transferência, o dinheiro está em


uma maleta atrás da prateleira de livros no escritório.

Realmente, há um cofre atrás da prateleira.

— O.k. — Sigo até a prateleira. Ao lado, tem um quadro, então o

retiro e aperto o botão, que move a peça para o lado.

— Certo. Qualquer coisa me ligue — fala Carter.

— Pode deixar. — Encerro a ligação e guardo o celular no bolso da


frente do meu jeans.
Coloco a senha numérica no cofre e logo ele abre. Ali encontro a

maleta prateada e duas armas carregadas. Recolho o dinheiro, depois ponho


a prateleira no lugar.

De repente, Giulia vem em minha cabeça, então olho na direção do


enorme monitor na parede à minha frente, que mostra vários pontos das

câmeras espalhadas pelo local. Eu me deparo com a imagem dela, rodeada


de marmanjos em um dos carros. Não há um soldado meu por perto. O capô

do carro está aberto e ela conversa com eles e sorri. Os pau no cu sorriem
derretidos por algo quando a garota aponta para o motor.

Não eram eles que estavam sérios na minha frente minutos atrás, e
na minha ausência ficam como a porra de um cachorro no cio? Vamos ver
se terão coragem de continuar assim na minha presença.

Nem preciso perguntar o motivo dos pilotos serem tão atenciosos

com Giulia. É aquele bendito pedaço de pano que ela chama de saia que
está apertando a sua bunda, sem contar as botas que deixam as suas pernas
torneadas mais sexy.

Antes de sair do escritório, ajeito minhas armas nas costas e dou


uma última visualizada no maldito monitor.

Cabeças irão rolar.


— Está acontecendo uma reunião aqui e não fui convidado? —
pergunto a poucos metros de distância dos pilotos, que babam em Giulia.

Juro que sinto uma gotícula de suor descer por minha têmpora ao
vê-la me ignorar e se inclinar no carro, deixando a bunda mais empinada.

— Sr. Spencer, a Giulia só está nos mostrando a sua habilidade com


os carros! — exclama um deles, quase gaguejando.

— E todos vocês estão com problemas em seus carros, é? Deveriam


ser tão atenciosos assim com o Calvin, quando está reparando alguma falha

no motor de vocês! — Menciono o nosso mecânico.

— Dá um desconto, chefe! Não é todo dia que o senhor traz uma


gracinha dessas para cá, então temos que aproveitar a vista — fala Ryan, e

os outros riem.

Fechando os punhos, aproximo-me deles e respiro profundamente.


Se eu parar para socar cada imbecil que tira a minha paciência estarei
fodido.

— Essa gracinha é comprometida comigo, Ryan. — Meu tom sai


baixo e ameaçador. O piloto empalidece e arregala os olhos ao notar o erro

que cometeu. — A próxima vez que você, ou qualquer um aqui, arrastar as


asas para a futura sra. Knight, vou ensinar como funciona o jogo dos cinco
sentidos – audição, paladar, olfato, tato e visão. Acredito que ninguém aqui
vai querer se arriscar, não é? — Abro um sorriso perverso.

Eles engolem sem seco, ao contrário de Giulia, que dessa vez decide
me encarar. O seu nariz está vermelho e as suas pálpebras inchadas, prova

de que esteve chorando bastante.

— M-me p-eerdoe, sr. Spencer, não sabíamos! — diz Ryan, nervoso,

quase sem voz.

— Pois agora sabem! Sumam da minha frente, vão procurar o que


fazer — ordeno.

Rapidamente se afastam e entram em seus carros. O dono do carro

que Giulia mexia pede licença e sai também.

— Fui um escroto com você, me desculpe. — Engulo em seco ao


vê-la me dar as costas para não me encarar.

— Acho que é melhor nem darmos continuidade a essa ideia de nos

casarmos. Não dará certo, está mais do que claro — responde de maneira
firme.

— Eu estava de cabeça quente, agi sem pensar — digo, indo até ela.

— Arrume um dos seus soldados para me levar de volta ao

apartamento. Vou pegar as minhas coisas e voltar para a Itália.


Meu coração bate forte, mas não demonstro o quanto fico afetado

com a sua decisão.

Eu poderia mentir dizendo que ela não ia porque já assinei o

contrato e agora estamos presos um ao outro, mas não faço isso.

— Você não pode ir.

Ela me olha por cima do ombro e nossos olhares se encontram.

— Por que não? Minutos atrás estava me humilhando e endeusando

as suas putas, Spencer! Acha que sou alguma menininha inocente a ponto

de ceder a você só por estar me pedindo desculpas? — Bufa, irritada.

— Lembre-se que matei o soldado de Vincenzo. Se voltar para lá,


não vai estar mais em segurança, meu irmão não vai poder fazer nada por

vocês em um território que não é nosso. — É uma bela desculpa para que

ela não vá.

— Já estou calejada, Spencer, um soldado a menos do meu


prometido não faz diferença para ele. O que Vincenzo quer mesmo sou eu,

não importa quantos soldados ele vai perder no caminho. — Ela puxa o ar

com força para os pulmões, em seguida, vira-se para mim.

Tento tocá-la, mas Giulia não deixa, passa por mim e segue na
direção do galpão.      Aperto meus dedos na alça da maleta e vou atrás dela,
então enlaço meu braço em sua cintura e a puxo para mim. O seu corpo

miúdo e cheiroso bate contra o meu e eu fecho os olhos por alguns

segundos ao sentir o aroma do xampu no seu cabelo.

— Prometido é o caralho, Giulia! O seu tio e o meu irmão fizeram


um acordo, vamos até o fim com isso. Vou honrar a minha palavra. — Viro-

a para mim e ergo o seu rosto. — Para a Itália você só vai se estiver

sentindo saudade de Nicolo ou da Angel, fora isso, vai permanecer na

Inglaterra. Comigo. Se Vincenzo quiser uma mulher, ele que procure outra,
porque você vai ser minha no papel e na cama. — Não tenho como saber se

minhas palavras a afetam, porque ela sorri friamente e se afasta de mim.

— Você tem razão, Spencer. — Lambe os lábios e ergue a


sobrancelha. — Serei sua no papel porque quero honrar a minha decisão e

já passei por muita coisa até chegar aqui, mas saiba que você vai ter que

procurar as suas prostitutas mais experientes e em quantidade para te


satisfazer, porque em mim você não toca nunca mais. E se eu quiser gozar,

eu me viro. — Pisca para mim, me deixando paralisado e boquiaberto.

— Em casa conversamos melhor. — Limpo a garganta.

— Já estamos conversados — diz, secamente.

Caralho. Ela é muito durona. Isso só pode ser castigo! Como Giulia
me faz uma coisa dessas logo agora que prometi ser fiel? Minhas mãos vão
ficar calejadas de tanto bater punheta.

Pego meu celular no bolso e envio uma mensagem para Patrick,


perguntando em que buraco ele se enfiou com os outros, já que nem o carro

dele está por aqui. No mesmo instante, tenho a resposta dele me avisando

que estão atrás do galpão. Eu saberia disso se não tivesse só prestado

atenção em Giulia na câmera.

Dou apenas um o.k. e peço que não demorem, porque os González

estão a caminho. É sempre bom reforçar a segurança.

Um barulho de pneus pesados soa em meus ouvidos, então ergo o

olhar e vejo três Toyotas Tacoma pretos em alta velocidade formando uma
nevoa de poeira.

— Venha para cá — chamo-a, e ela vem.

Tenho certeza de que fica receosa com a movimentação por ver os

meus soldados e do meu irmão se aproximarem para fazer nossa segurança.

A primeira picape para bem na nossa frente e dela descem quatro

homens. Entre eles, reconheço o cara que perdeu o carro anos atrás para

mim. Ele está mais velho, mas não mudou tanto. Três deles estão armados,
somente um que não, o chefe – Juan González.
— Spencer James Knight, há quanto tempo? Quando o seu irmão

me disse que você receberia a carga fiquei até feliz, faz anos que não nos

vemos — diz Juan, em um inglês cheio de sotaque.

Sorridente, avalia-me, depois a Giulia, que vem mais para perto de


mim. Passo o braço em sua cintura para que saibam que ela está comigo.

— Devo me sentir lisonjeado? — falo. Todos riem, uma risada falsa.

— Se sinta, hermano — me chama de irmão em sua língua. —

Trouxe até o Javier, lembra que ele perdeu o carro para você e o frouxo
fugiu para não te entregar o prêmio? — Dessa vez só os homens dele riem,

menos Javier, que segura uma HK416 e tem o semblante assassino.

— Águas passadas. Vamos aos negócios? — digo, sério, encarando

Juan, que olha demais para Giulia.

— Quem é essa chica com você? — pergunta, curioso, ignorando o

que falo.

— Minha mulher. Agora vamos ao que interessa, Juan. — Dou

alguns passos na sua direção e trago Giulia comigo, segurando em sua mão.
Os seus homens ficam atentos aos meus movimentos.

— O.k., é um homem possessivo e tem razão. Ela é belíssima,

hermano. — Abre um sorriso.


— Me mostrem as peças que trouxeram, depois passo o dinheiro. —

Eu o ignoro.

— É claro! Tragam as peças! — ordena Juan aos seus soldados.

Eu faço um sinal para que os meus venham até mim.

— Verifiquem as peças, depois as levem para dentro — peço aos

homens de Carter.

Meu irmão comprou alguns motores simples para modificá-los. Ele


os deixará mais potentes, como costuma fazer antes de repassar para algum

cliente em um valor mais alto.

Depois que inspecionam as peças e falam que estão o.k., abro a

maleta e conto as notas para Juan, que não tira os olhos de Giulia. Tem algo
nela que o intriga e não é a sua beleza, sei que não, mas vou descobrir.

— Até breve, hermano — diz ele, pegando a maleta e seguindo para

a picape, com os seus cães fiéis.

Sem tirar os olhos das picapes que estão em movimento, sinto


Giulia estremecer ao meu lado. Confuso, encaro-a e noto que está pálida.

— Você o conhece? — pergunto ao vê-la ficar com a respiração

pesada.
— Ele e Vincenzo se conhecem, não sei se são amigos, mas já os vi
juntos — revela, com a voz falha.

Juan González já sabia quem era ela, mas por alguma razão quis

ouvir da minha boca.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Faz uma semana que Giulia está morando em meu apartamento e


três dias que ela não fala direito comigo. Se tem alguém que sabe como

ignorar uma pessoa é ela, o gelo que está me dando tem me deixado com

um humor péssimo do caralho.

Se estou na sala, ela vai para o quarto, está sempre mudando de

cômodo para não ficarmos no mesmo ambiente. Mas hoje pretendo fazê-la
parar com essa malcriação, vou levá-la a um lugar que vai gostar. Quem

sabe assim não amoleço aquele coração de pedra.

Vai acontecer um racha em um circuito que é nosso, mas que é

alugado para um conhecido que elabora as melhores competições. Mais


cedo, ele me ligou para me convidar para ser um dos pilotos dessa noite.

Embora o prêmio para o vencedor seja quinze milhões de libras e uma

mansão localizada em Chelsea, não é isso que me motivou a aceitar. Vou até

lá Giulia e eu nos distrairmos. Sou um homem que gosta de aproveitar as


oportunidades que tem, e esse racha apareceu na hora certa, vou matar dois
coelhos com uma cajadada só.

Terei o prêmio e a garota, assim espero.

Batendo o punho na porta do quarto dela, chamo por seu nome,

porém, não tenho resposta alguma. Respirando profundamente bato mais


uma vez na madeira.      Impaciente, ando de um lado a outro. Mesmo puto

com seu desprezo, volto a insistir na esperança de que abra para mim.

— Giulia, vai continuar se comportando como uma adolescente e

ficar trancada a noite toda nesse quarto? Preciso falar com você. — Suspiro

longamente, encostando a minha cabeça na madeira da porta.

— O que é tão importante para você não falar sem que eu abra pra

você? — pergunta, do outro lado.

— Vou sair, quero saber se você quer vir comigo — digo, alto e bom

som.

— Não precisa bancar meu babá o tempo inteiro, pode ir sozinho.

— Ela está perto da porta, sua voz está mais próxima, e de alguma maneira

consigo sentir a sua presença.

— Vai mesmo dispensar ver de perto um racha em um circuito?


Essa corrida será a melhor que você verá em sua vida. — Exagero um
pouco e acabo rindo baixinho.

— Você disse corrida? — Ela não consegue disfarçar o interesse.

— Sim. Vou correr hoje. Se quiser me acompanhar, eu te deixo

dirigir meu Rimac Nevera até lá — proponho, mesmo com ciúme da minha
máquina. — O que me diz? — Mexo na maçaneta.

— Posso ser a motorista na volta também? — De boba ela não tem

nada.

— Sim, eu deixo — falo, mesmo a contragosto.

— Eu aceito.

Juro que a ouvi comemorar com um gritinho abafado, mas deve ter

sido a minha imaginação fértil.

— Vou te esperar na sala, você tem quarenta minutos para estar

pronta.

— O.k., não demoro mais do que isso — promete.

— O.k. — murmuro, indo para a sala.

Por Deus, preciso de muita meditação para saber lidar com esse
gênio infernal dela. Nunca precisei me esforçar tanto para ter a atenção de

uma mulher, e agora, em questão de poucos dias, uma menina de dezenove


anos está conseguindo bagunçar a minha vida como nenhuma outra foi

capaz. Não falo sobre sentimentos, ainda é muito cedo para definir isso.

Apesar de Giulia beijar deliciosamente bem e ser a minha exceção


em permitir que me beije, não posso dizer que estou caindo de amores só
pelos amassos que demos em seu quarto naquele dia. Sou um homem

experiente, já tive inúmeras aventuras, seria muito estranho que eu ficasse


apaixonado pela garota só com alguns beijinhos e um sexo oral.

Se bem que ter a minha boca passeando por seu corpo cheiroso e
gostoso despertou em mim uma sensação desconhecida. Ao ouvir os seus

gemidos tímidos soarem em meus ouvidos, eu quis devorar cada pedacinho


dela, mas me controlei porque sabia que era virgem e a minha intensidade
iria assustá-la.

Que Giulia não demore para se arrumar, temos que estar no local da

corrida antes das onze da noite, gosto de me preparar para correr. Os rachas
que participo não são corridas para amadores, muito menos qualquer um
pode disputar ou assistir, o piloto tem que ser profissional, e a pessoa para

ter acesso ao circuito deve ser convidada.

Por trás dessa adrenalina toda há patrocinadores perigosos que

investem altíssimo. Já vi piloto morrer por não alcançar as expectativas do


seu investidor. Nesse mundo de corridas clandestinas eu sou intocável,
assim como qualquer Knight. Quem dá as cartas somos nós e aquele que
nos desafia ao nos contrariar paga por isso. Afinal, quem enriqueceu esse
negócio e trouxe mais benefícios aos nossos associados foi a minha família,

há mais de vinte anos.

Sentado na poltrona da sala, leio uma mensagem de Killz que chega


no celular. O meu irmão avisa que está vindo ao meu apartamento para me
ver e entregar o contrato de casamento que não me dei ao trabalho de ir até

o escritório dele para assinar – palavras dele.

Estou surpreso com a visita do Knight mais velho, ele poderia ter

enviado o documento por um dos seus soldados, mas se deu ao trabalho de


vir pessoalmente. Certamente quer me passar alguma informação
importante, algo que precisa ser dito cara a cara. Ele está sabendo que Juan

González e Vincenzo podem ter algum tipo de ligação, no mesmo dia que
saí do galpão, me comuniquei com meu irmão e o informei o que tinha

acontecido. De imediato, ele deixou Nicolo a par da situação.

Minha campainha toca e eu vou atender assim que guardo o celular


no bolso da calça jeans.

— Pela sua expressão e a visita inesperada, não são boas notícias.

— Vasculho o rosto do chefe da família e noto que está mais sério do que o
habitual.
Killz está vestido com um terno preto e o cabelo penteado para trás,
sem nenhum fio fora do lugar. Em sua mão esquerda, tem uma maleta
também preta.

— O que tenho para te falar realmente não é nada bom — diz,

avaliando-me.

— Entre — peço, abrindo espaço para que passe.

— Cadê Giulia? — indaga-me, enquanto fecho a porta.

— No quarto dela — falo, vendo-o se acomodar no sofá e colocar a


maleta na mesinha de centro.

— O.k., melhor assim — divaga, com o semblante duro.

— Me diga, irmão, o que o traz aqui, quase às nove da noite, além

de um contrato que eu poderia assinar em outro momento? — Sento-me,


esticando os braços e os apoiando no encosto do sofá.

— Por que não me disse sobre o presentinho que enviou para

Vincenzo Esposito, Spencer? — responde com outra pergunta em um tom

de voz contido.

Engulo o bolo em minha garganta ao perceber que ele está puto

comigo.
— Tenho que te informar todos os meus passos, Killz? Aquele rato

enviou homens para capturar Giulia, e eles não mediram esforços para
machucá-la — lembro-o. — Você queria que eu preparasse para o

desgraçado do soldado dele um velório com direito a velas e um enterro no

jazigo dos Knight? — Respiro fundo, tentando conter a irritação.

— Não se altere à toa, Spencer. Apenas vim aqui abrir os seus olhos.
— Meu irmão pega a maleta e põe em seu colo. — O sobrinho de Salvatore

já recebeu o cadáver que você mandou para ele, e sabe que Giulia está sob a

nossa proteção. Vincenzo ainda não tinha certeza, mas o González


confirmou semana passada quando a viu com você. Nicolo me ligou horas

atrás para me informar. — Ele massageia as têmporas.

— Só estávamos adiando o inevitável, ele saberia de qualquer

maneira. — Não gosto do olhar esquisito de Killz.

— O problema é que Nicolo e o Esposito quase entraram em guerra

porque o homem disse que ele estava quebrando um acordo entre as

famílias ao permitir que a prometida dele fosse entregue a outra pessoa.

Mas Salvatore soube da visita dos soldados do sobrinho em nosso território


e o proibiu de tomar qualquer decisão sem o comunicar — revela, olhando

bem em meus olhos.


— E isso quer dizer o quê? — De repente, fico nervoso com o rumo

da conversa.

— Que você e Giulia podem se casar, Salvatore não faz questão de

ter uma Romano como esposa do sobrinho. Ele só manteve o acordo entre
as famiglias por insistência do sobrinho.

Filho da puta.

— Me passe o contrato, vou assinar agora — peço, determinado a

colocar um ponto final nessa história.

— Aconselho que o casamento seja o mais rápido possível. Não é

por sermos intocáveis para os Esposito que um homem obcecado por

vingança vai esquecer do seu propósito de anos. — Killz me entrega o

documento e uma caneta, noto ali a assinatura dele, de Nicolo e a de Giulia.


— Já estive no lugar dele quando me envolvi com Aubrey. A diferença foi

que me apaixonei e depois disso quis protegê-la, ao contrário de Vincenzo,

que só quer derramar o sangue da filha do homem que fez a sua irmã se
suicidar.

— O que impede Nicolo de matar todos e acabar de uma vez com a

dor de cabeça dele? Ainda não se encaixa esse comportamento dele, sendo

que é o capo da famiglia e a sua palavra sempre deverá ser a definitiva.

A expressão dele se torna desconfiada.


— Está sabendo de alguma coisa que não sei? — inquiro, curioso,

mas ele nega.

— Não vamos nos envolver em mais problemas, Spencer, apenas

assine o contrato — pede, limpando a garganta.

Se houver algum segredo por trás dessa “submissão” de Nicolo em

relação a esses ataques que a sobrinha dele vem recebido, em algum


momento irei descobrir.

Faço uma leitura rápida e nem me atento muito a algumas cláusulas.

Não tenho paciência para ler as letrinhas miúdas, então assino e entrego

para ele, que guarda de imediato.  

— Pronto. Agora estou oficialmente comprometido com Giulia

Romano. — Faço uma careta, passando a mão em meu pescoço.

— Quando falaremos sobre a data da cerimônia? — Observa-me.

— Não faço ideia — murmuro, pensativo.

— Se quiser, podemos fazer daqui a uma semana.

Ele não tem noção como essas palavras me assustam, chego a me

engasgar com a minha própria saliva.

— Está maluco? — Tossindo, bato em meu peito.


— Estava só te testando e você quase teve um infarto. Imagina no

dia do casamento. — Ri baixinho.

— Daqui a um mês, então? — sugiro, vendo-o balançar a cabeça

para um lado e para outro.

— Quinze dias, Spencer, esse é o prazo para o seu casamento — fala

ele, decidido.

— Está muito em cima! — Levanto-me, tenso.

— Se vire, você é um Knight. — Ele joga a bomba em meu colo,


como se fosse fácil.

— Duas semanas é muito pouco, Killz! — Desespero-me.

— Não é — diz, completamente sério.

— O.k. — Por fim, concordo.

— Não se preocupe com as alianças, o seu sogro vai dar a vocês de


presente — avisa, se levantando.

— Pelo que eu saiba, o pai de Giulia está morto — murmuro.

— Nicolo a criou desde pequena, é a mesma coisa. — Encolhe os

ombros.
— Se você diz. — Tenho as minhas desconfianças, mas seria

impossível a minha teoria. Há um dossiê que confirma exatamente o que


Nicolo me disse sobre a história do seu irmão com a estrangeira, que

resultou no nascimento da sobrinha dele.

— Já vou indo, tenha uma boa noite. — Ele passa por mim.

— Você também.

Meu irmão para no meio do caminho e me encara.

— Spen, tenha cuidado naquele circuito, principalmente porque vai

acompanhado.

Às vezes esqueço que ele sempre sabe de tudo.

— Vou ter — prometo.

Killz vai embora e me deixa com a cabeça fervilhando de

pensamentos. Após a conversa com ele, não estou muito entusiasmado para

sair, mas prometer as coisas a Giulia é o mesmo que prometer doce para

uma criança.

Confiro as horas em meu Rolex e vejo que o tempo que dei a ela

para se aprontar já passou. Vou até o quarto dela, mas antes que eu bata à

porta, ela surge roubando completamente a minha atenção, minhas palavras


e raciocínio.
O cabelo dela está preso em um coque alto e firme, o penteado
valoriza o formato do seu rosto, que está com uma maquiagem básica.

Lentamente, passeio meus olhos por sua boca carnuda pintada com um

batom nude, depois aprecio o seu corpo. Ela usa um cropped preto com gola
alta e mangas longas, deixando um pouco da sua barriga à mostra, e uma

calça jeans cintura alta e tênis branco.

Por mais que esteja com uma roupa casual, sorrio como um idiota

para ela, que não entende nada.

— Demorei muito? — pergunta, com o cenho franzido.

— Não. — Nego, recompondo-me e passando as mãos por minha

jaqueta.

— Então podemos ir — diz, sorrindo pela primeira vez depois de


nem olhar para a minha cara direito durante esses dias.

— Sim. Só me deixe acionar Patrick para fazer a nossa escolta. —


Umedeço os lábios.

— O.k., enquanto isso, vou tomar um copo de água. — Ela me dá as

costas e eu faço questão de girar o corpo para olhá-la melhor.

Merda, acabo de perceber que tenho uma quedinha pela cinturinha


fina dela e a sua bunda. Essa filhote de tentação é gostosa demais, e ela sabe
disso.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No final das contas, quem veio dirigindo até o circuito fui eu. Ao

chegarmos à garagem subterrânea do meu prédio, Giulia preferiu não dirigir


o meu carro, mesmo oferecendo minha preciosa chave ela recusou. Vez ou
outra eu a peguei me observando pelo canto do olho, mas nem a julgo,
porque eu estava fazendo o mesmo.

Seguindo as regras do local, paro a alguns metros de distância dos


seguranças que estão em frente aos enormes portões de ferro com alguns
postes altos bastante iluminados e saio do veículo para me identificar.

Quando me reconhecem, liberam a minha entrada rapidamente, assim como

fazem com o carro de Patrick, que está acompanhado de mais quatro


soldados fazendo a minha segurança.

Conduzindo o volante com uma mão só, observo a movimentação

dos carros, são muitos, e parece que está mais agitado do que o normal. Em
cada canto que olho, tem pessoas passando, ronco de motores potentes se

misturando e máquinas sendo estacionadas em fileiras.


O que não poderia faltar são os pilotos que gostam de ostentar,

fazendo burn rubber, o famoso queimar pneus para que a fumaça suba.
Quando era mais novo fiz muito isso para impressionar as garotas, e até

hoje elas enlouquecem se eu fizer.

— Isso aqui é o paraíso. — Depois de tantos minutos calada, por

fim Giulia decide falar.

Encaro-a e noto que está com os olhos brilhando, o seu fascínio por

esse mundo é radiante. O amor pela adrenalina corre nas veias dela.

— É só o começo — falo, descendo o vidro da janela dela.

Um grupo de pilotos que já competi algumas vezes acena para mim,


rodeados de mulheres. Educadamente, faço o mesmo com um aceno de

cabeça. E como de costume, assobiam alto, atraindo mais atenção, e é nesse

momento que sou ovacionado por todos, sem exceção.

— Céus, ele é o piloto estrela, mas já deveria imaginar.

Preciso sorrir ao ouvir um resmungo de um certo alguém quando

começam a gritar o meu nome e buzinar sem parar.

— Sou apenas conhecido por ser o melhor em todas os rachas —

digo, exibido, fazendo-a rir baixinho.


— É porque ainda não encontrou alguém que te faça comer poeira
— retruca, enquanto conduzo para a minha vaga exclusiva no

estacionamento dos patrocinadores, que fica de frente para o galpão.

— O melhor sempre será o melhor, Romano. Vou continuar sendo o

rei das pistas de Speed — provoco-a, sabendo que o seu instinto desafiador

vai dar as caras.

— Um dia você e eu vamos correr, quero ver do que é capaz. — Ela

toca em meu ombro dando dois tapinhas, como se quisesse dizer “vai perder

para mim”.

— Acho que hoje é uma excelente oportunidade para te fazer perder


para mim — sugiro, intencionalmente, desligando o motor do Nevera.

— Fala isso porque não tenho um carro para correr com você —

zomba.

Eu gargalho, tirando a chave da ignição.

— Baby, eu sou o dono desse lugar, carro para você não será um

problema. Posso te arrumar até mil, se desejar. — Pisco para ela, que

arregala os olhos.

— O que vamos apostar? Não corro sem receber algo em troca. —


Empina o rosto, sem saber que estamos seguindo por um rumo
deliciosamente perigoso.

Não estava em meus planos isso, mas as coisas estão saindo melhor

do que a encomenda.

— Tem certeza de que quer seguir por esse caminho? — Olho para
todos os lados para ver se tem alguém nos espionando, mas as pessoas que

estão próximas parecem bem distraídas.

— Está com medo, Knight? — Sorri de lado.

— Claro que não. Se você ganhar, pode me pedir o que quiser, e se


eu for o vencedor, vai me perdoar por ter sido babaca e irá permitir que eu

te toque. — Lanço a proposta, inclinando meu corpo para perto do dela.

— Não acha que está sendo exigente demais? — Ergue a


sobrancelha, com a respiração quase ofegante.

— Vai amarelar, bonequinha? — chamo-a pelo apelido que sei que

odeia, mas não tanto assim.

— Nunca dispenso um bom desafio, Spencer. — Ela me empurra


pelo ombro para que me afaste dela. — Eu aceito correr com você. —
Estende a mão para mim e eu a pego.

— E o que vai querer, se ganhar? — indago, curioso.


— Um bom mágico nunca revela os seus truques. — Faz uma

expressão de mistério.

— Devo me preocupar?

Giulia sorri de um modo perverso.

— Talvez sim, talvez não. — Dá de ombros.

Limpo a garganta e me remexo no banco.

— O.k. Vamos, vou providenciar a nossa pequena aventura —


aviso, fechando os vidros do carro.

Porra, estou nervoso e não é pela corrida, e sim por não saber o que
ela vai querer de mim. Tenho anos de técnicas nas pistas, vou vencê-la. Sei

disso.

Saímos do veículo e eu procuro por Patrick em meio à multidão, ao

encontrá-lo estacionado do outro lado, como costuma fazer quando eu


venho para cá para me dar privacidade, faço um sinal com a mão para que

se aproxime.

Vou falar com Jackson, o locatário do lugar que organiza as

corridas, para pedir que encaixe Giulia como extra na lista dos pilotos para
que possamos competir. Ele me deve alguns favores e está na hora de me
pagar por isso.
Pondo-se ao meu lado, Giulia cruza os braços e suspira. Ela está
avaliando o lugar tão minuciosamente, que nem nota que as pessoas ao
nosso redor estão curiosas para saber quem é ela. Normalmente, minhas

vindas para cá é desacompanhado, já que sempre saio com duas, ou quatro


garotas, após algum racha.

— Deseja alguma coisa, sr. Knight? — pergunta Patrick, ao se


aproximar com os outros.

— Preciso falar com Jackson no escritório, vou deixar Giulia com


você. Não deixe ninguém se aproximar dela — aviso para meu soldado, que

hoje está enfiado em um terno, como se realmente fosse um simples


segurança e não um assassino profissional.

— Pode ficar tranquilo, senhor, leve o tempo que precisar —


assegura meu soldado, com o semblante sério.

Não vou levá-la comigo, lá dentro não é para ela. Além de ser um
espaço para administração, a putaria rola solta. Quero evitar que ela passe
por algum constrangimento, já basta os dias se passaram e ainda não

conversamos sobre William ter me exposto ao ridículo ao revelar meus


problemas com as drogas.

No galpão de administração de Speed, quem está do lado de fora

não vê o que acontece por dentro. É mais ou menos um prostíbulo


gourmetizado, onde você encontra um pouco de cada em algumas salas –
orgias, drogas, bebidas. Para alguns frequentadores das corridas a entrada é
restrita, tem que ser associado para ter acesso. Durante todos esses anos, as

únicas pessoas que vi entrar sem precisar ser vip são as putas quando estão
acompanhadas por algum membro. E falo por mim, já levei muitas para

comer.

— O que tem de tão ruim lá dentro que não posso entrar? —


questiona a garota, olhando para o galpão a alguns metros de distância de

nós.

— Muitas coisas que te deixariam assustada — respondo.

— O.k. — Assente, mas não esconde a curiosidade, porque continua


com os olhos fixos naquela direção.

— Patrick, confio a segurança dela a você — informo, ouvindo-o

dizer “sim, senhor”. Guardo a chave do automóvel no bolso e viro-me para

Giulia. — Não demoro. — Eu a surpreendo ao depositar um beijo em sua


testa. Ela me lança um olhar confuso, mas não diz nada.

Sigo na direção do armazém bem iluminado, e no meio do caminho

sou cumprimentado por pessoas que nem conheço ou me lembro. Em frente

à entrada do galpão, encontro dois seguranças com detectores de metais


portáteis nas mãos, mas sou reconhecido assim que me aproximo.
— Senhor Knight — me cumprimenta o careca branco e baixo. Se

não me engano, o nome dele é Malcom, só o do novato que não me recordo.

— Malcom, o seu chefe está no escritório? — Estendo a mão para

ele e fazemos um breve cumprimento.

— Está sim — diz, sorridente.

— Certo, vou entrar para vê-lo. — Ele balança a cabeça, depois


afasta o organizador de fila para me dar acesso. — Obrigado. — Dou dois

tapinhas em seu ombro antes de passar por ele.

Dirigindo-me até o escritório de Jackson, no percurso me deparo

com três mulheres que fodi meses atrás em meu apartamento saindo de uma
das salas de swing. Não sou muito bom de memória, mas acho que se

chamam Sabrine, Dália e Julie. Elas vêm em minha direção, sorrindo para

mim como se eu fosse algum tipo de milagre em suas vidas.

— Spencer James Knight, o rei das pistas de Speed! Há meses que


não o vemos por aqui. Aconteceu algo, baby? — A loira bunduda que me

deu um boquete maravilhoso se aproxima, enrolando uma mecha do seu

cabelo solto no dedo. As suas amigas me rodeiam com aquele famoso olhar
“me foda novamente”.

Elas são gostosas pra caralho, mas não posso ceder à tentação, meus

dias de devassidão acabaram.


— Sabrine, não é? — indago, vendo a loira passar as mãos em meu

abdômen e suas companheiras rirem maliciosamente.

— Nem mesmo se lembra dos nossos nomes, mas não nos

importamos — responde a ruiva pela amiga, ficando atrás de mim.

— Não mesmo — diz a terceira mulher antes de gargalharem.

— O que acha de nos levar para o seu apartamento de novo e nos

foder bem duro? Até hoje me lembro de como nos fodeu tão bem. — A

loira aperta os músculos do meu abdômen e desce até meu pau, apalpando-
o.

Respiro fundo e tiro as mãos dela dali.

— Estou acompanhado — digo, rígido, mas elas não se afastam.

Em outra ocasião, estaria animado por ter à minha disposição tantas


bocetas, porém, não sinto um pingo de empolgação em vê-las se oferecerem

para mim. No momento, só tenho dois objetivos – Giulia me perdoar pela

cagada que fiz e me deixar fodê-la com a minha boca mais uma vez, e não

só uma, quero provar da sua bocetinha intocável até o dia do nosso


casamento.

— Chame a sua companhia para se juntar a nós, podemos nos

divertir bastante — sugere a negra bonita em um tom sedutor, lambendo os


lábios pintados de vermelho vibrante.

— Não somos ciumentas — falam as outras duas ao mesmo tempo.

— Garotas — limpo a garganta tentando não ser tão rude —, o meu

compromisso é sério, e mesmo que a minha garota não fosse ciumenta, eu

sou, e costumo ser possessivo com o que é meu. Eu jamais a dividiria com

vocês, então arrumem outra distração — aviso, deixando-as boquiaberta.

— Não era ele que não se comprometia? Essa deve ser mesmo uma
sortuda. — Elas cochicham entre si, como se eu ainda não estivesse

presente.

— Se me derem licença. — Afasto-me delas e passo a mão por meu


cabelo.

— Que droga, perdemos o nosso melhor investimento.

Mesmo de longe, ouço uma delas dizer e acabo rindo baixinho.

Em frente ao escritório de Jackson Jones, bato à porta, e ao falar

meu nome, ele pede que eu entre. Encontro-o sentado atrás da mesa,
girando uma caneta e sorrindo para mim.

— Vi que chegou causando euforia no pessoal — diz, rindo,

enquanto me acomodo na cadeira à sua frente.


— Como sempre, a par de tudo — falo, me referindo às câmeras que

ele tem espalhadas pelo local. Atrás dele tem um monitor enorme, captando

cada ângulo do terreno e do galpão.

— Aprendi com o melhor — retruca, bem-humorado.

— Quero te pedir um favor, especificamente, para daqui a alguns

minutos — murmuro, visualizando as horas e vendo que já são quase onze

da noite.

— Você é quem manda, apenas diga no que posso ser útil. — Pisca
para mim e penteia o cabelo grisalho para trás.

— Trouxe minha mulher e eu quero que você a inclua na lista de

corredores. Vamos correr juntos.

O homem arregala os olhos esverdeados.

— O maior libertino de Speed se casou e não ficamos sabendo? —

Sua expressão é de puro espanto.

— Ainda não me casei, mas gosto de fazer o uso desse pronome

possessivo. — Me recosto na cadeira, raspando meus dedos em minha


barba por fazer.

— E quando se casa? — Ele já quer saber demais.

— Em breve. — Sou sucinto.


— Fico aguardando o convite.

Dessa vez gargalho e Jones fica sem graça.

— Você sabe que as cerimônias dos Knight são só para a família —


esclareço, para não soar grosseiro.

— Verdade.

— Então, posso contar com você? — Ergo os olhos para ele.

— Claro que sim, amigo. Qual o nome da sua futura esposa para que
eu possa incluir aqui? — Puxa o teclado sem fio para perto e olha para o

monitor à sua frente.

— Giulia. — Endireito-me na cadeira.

— Não vai querer dar um sobrenome? — indaga, curioso.

— Giulia Knight. — Minha garganta fecha quando me dou conta de

que estou dando o meu sobrenome para a garota sem nem ainda termos nos

casado. Mas que se foda, é bom que todos saibam que ela é minha.

— Feito. Já deixei no sistema para que o Zac veja. — Jackson se


refere ao homem que dá abertura nas corridas.

— Só mais uma coisa. — Apoio meus cotovelos em sua mesa. —

Quero ser o primeiro a correr com Giulia, porque não pretendo ficar até a
madrugada aqui. — Eu o deixo pálido.

— O filho do primeiro-ministro da França está nos fazendo uma

visita hoje e ele apostou alto na primeira corrida, não posso fazer essa

mudança em cima da hora — avisa, quase gaguejando.

Levanto-me e Jackson Jones recua com a sua poltrona, meio


desconfiado.

— Não gosto de lembrar as pessoas os favores que faço a elas,

Jones, mas você está me obrigando a dizer que se esse circuito existe e você

lucra milhões é por minha causa, porque se dependesse dos meus irmãos,
você e os outros associados estariam vivendo como mendigos nas ruas de

Londres. — Eu me inclino na sua direção, falando em um tom ameaçador.

— Então trate de tentar limpar a bunda do filho do primeiro-ministro com


as notas de euro dele e faça o que estou te pedindo.

— E-eu... Farei isso. — O medo paira nele.

— Ótimo. — Forço um sorriso.

— Mais alguma coisa? — pergunta, nervoso.

— Sim, preciso do melhor carro para a minha garota. — Afasto-me


da sua mesa, pronto para sair do escritório.
— Hoje, o Conrad não veio, ele tem um Bugatti Chiron e a deixou
aqui. Vou pedir que a leve para você — avisa, pigarreando.

— O.k., obrigado — agradeço, saindo da sua sala em seguida.

A passos largos, chego do lado de fora e procuro por Giulia no lugar

que a deixei com meu soldado, mas não a encontro. Preocupado, sou
tomado por pensamentos ruins, o meu pomo de adão sobe e desce quando
engulo em seco. Massageando minhas têmporas, busco por Patrick e os

outros soldados do outro lado do estacionamento, mas nem sinal deles,


apenas o carro está ali.

— Que porra! — rosno, ficando paranoico.

Se Vincenzo ou seus homens estivessem na Inglaterra eu saberia,

fora que para aquele rato ter acesso ao Speed precisaria passar pelos
seguranças da entrada. Nervoso, pego meu celular e ligo para Patrick, e para
a sorte dele, me atende no primeiro toque.

— Cadê ela? — indago, sentindo a veia do meu pescoço pulsar e


meus dentes rangerem como um animal encoleirado.

— Senhor, ela recebeu uma ligação e nos pediu que a levássemos


para um lugar mais afastado por causa do barulho — explica Patrick, só

assim para que eu fique mais calmo.


— O.k. Quem ligou? — Detesto ter que admitir, porque não sou
assim, mas nesse momento estou com um ciúme absurdo dela.

— Eu a vi chamando a pessoa de Nicolo, e depois Angel. Se não me


engano, são a família dela — diz.

— São sim. Ela já terminou de falar com eles? — Vou até meu carro
e me encosto nele.

— Sim, já estamos indo, eu a trouxe para trás do galpão —


comunica.

Eu lhe digo o.k. e encerro a ligação. No mesmo instante, ouço um


ronco de motor e ergo os olhos, vendo um funcionário de Jackson dirigir o

Bugatti Chiron em minha direção. O homem sai do veículo e me entrega a


chave, então vai embora.

— Boa noite, pessoal! Preparados para as nossas atrações dessa

noite? — Uma voz sai das caixas de som penduradas nos postes que
iluminam a pista, e rapidamente o burburinho começa. — Houve uma
mudança de planos, mas o intuito de garantir diversão para vocês continua o

mesmo! Os primeiros pilotos a abrirem a nossa pista hoje serão Spencer e


Giulia Knight! — Basta que meu nome seja mencionado para que os
assobios e gritarias se iniciem.

— Depois diz que não é o piloto estrela.


Ouço a voz alta de Giulia atrás de mim, então olho-a por cima do
ombro e vejo meus soldados a acompanhando.

— Ah, baby, eu serei mais do que isso quando te vencer. — Viro-me


e jogo as chaves do Bugatti para ela por cima do meu Nevera. A espertinha

as pega com um sorriso provocante.

De repente, nos tornamos o centro das atenções, porque ouço um

coro de gritos e assobios.

— Só não vale chorar quando eu te fizer comer poeira, bad boy. —

Pisca, charmosa, me fazendo jogar a cabeça para trás e gargalhar.

— Em casa te digo o que vou comer, bonequinha. — Eu a deixo

com o rosto vermelho.

— Spencer! — me repreende.

— A primeira partida daremos início com Spencer em Giulia, daqui


a três minutos, então peço que a plateia dê espaço na pista e se atente aos

telões para conferir quem sairá vencedor nessa competição! — diz Zac,
através das caixas de som, logo os três telões são ligados e as pessoas se
afastam, como fora recomendado.

— Boa sorte, Knight — diz minha adversária, passando por mim e


entrando no carro.
— Desejo o mesmo. — Vou até ela e me inclino na sua janela. —

Não vai rolar nem um beijinho? — brinco e os seus olhos brilham.

— Cadê os seus amuletos da sorte? — Ergue a sobrancelha.

Eu sei que se refere às minhas ex-acompanhantes.

— Caralho, você é muito rancorosa — murmuro.

Ela arrasta o carro quase passando o pneu no meu pé.

— E como sou! — exclama, fazendo o motor do Bugatti roncar.

Entro no meu veículo e o tiro do estacionamento, em seguida, eu o


posiciono na pista ao lado de Giulia.

— Contem comigo! — pede Zac, então começam a contagem

regressiva. — Um, dois, três, quatro, cinco... E que vença o melhor!

Os gritos e aplausos fazem a adrenalina ser injetada em minhas


veias quando faço os pneus cantarem e a fumaça subir.

Intencionalmente, deixo que Giulia passe na minha frente, só depois

coloco o meu carro em movimento. E assim começa a nossa disputa.

Rindo alto, piso fundo no acelerador, causando um alvoroço na

plateia. Em alta, velocidade vou atrás da minha adversária, que está a


muitos metros à minha frente.
Usando as técnicas de anos de corridas clandestinas, consigo
alcançar Giulia e emparelho meu Nevera ao seu Bugatti. Ela me olha de
relance com os olhos arregalados e, insatisfeita, pisa fundo, conseguindo se

afastar num piscar de olhos.

Bem ousada, ela faz a traseira do seu carro deslizar na curva e


fumaça subir, e por um instante quase a perco de vista. Com o coração

batendo na mesma velocidade que o meu carro, passo pela terceira curva,
mas somente na sexta consigo voltar a emparelhar com Giulia.

Ela é boa no que faz, muito, há anos não tenho um oponente à


minha altura. Só mais duas curvas e saberemos quem será o vencedor.

Disposto a ter o meu prêmio, que é o perdão dela, começo a levar a


sério e a ultrapasso em uma velocidade que só consigo enxergar as coisas

em um borrão, principalmente as luzes dos postes que iluminam a estrada.

A Romano tenta várias vezes me fazer comer poeira, como

prometido, porém, não deixo que me passe, faço manobras à sua frente para
que não consiga me vencer. Eu poderia ser cavalheiro e deixá-la ser a
vencedora, mas quando quero algo, ninguém é capaz de me impedir de

conseguir.

Vendo que estou me aproximando da chegada, onde estão as

pessoas, piso mais fundo no acelerador e paro meu Nevera, fazendo uma
manobra sensacional.

Ovacionado, desligo o motor e saio do carro, e com um gesto de

mão peço que me aplaudam. Em poucos segundos, Giulia vem na minha


direção e para longe da linha de chegada. Ao sair do automóvel, noto que
está brava.

— Você jogou sujo! — acusa, com o dedo em riste.

— E temos um vencedor!! Quem leva o prêmio dessa noite é


Spencer Knight, mas acho que não poderia ser diferente, não é?! — fala
Zac, animado.

Os aplausos explodem ao meu redor.

— Aqui não existem regras, bonequinha, só que vença o melhor. —


Abro os braços, sorrindo e indo até ela. — E eu venci. Agora quero o que
você prometeu. — Instintivamente, eu a puxo pela cintura e o seu corpo

miúdo bate contra o meu. Sinto que ela prende a respiração por alguns
segundos.

— Não me lembro de te prometer nada. — Empina o nariz.

— Pode deixar que refresco a sua memória. — Seguro o seu rosto e

o aproximo do meu. — A partir de hoje, você vai parar de me ignorar e


nunca mais irá me privar de beijar essa boquinha atrevida, muito menos o
seu corpo. — Roço nossos lábios, ignorando completamente a plateia que
nos assiste, e faço o que jamais fiz nesse lugar com nenhuma outra mulher –

levanto Giulia em meu colo e beijo a sua boca, reivindicando-a como


minha.

E então o público vai à loucura.

 
 
 
    
 
As minhas últimas horas essa noite se definem em uma só palavras:

caos. Nicolo me ligou para saber como estou, depois de dias do

acontecimento com os soldados de Vincenzo. Ele é muito sem-vergonha


para entrar em contato comigo a essa altura do campeonato. E como

sempre, Angel tentando aliviar o clima pesado entre mim e o seu marido.

Quase discuti com os dois ao me comunicarem que daqui a quinze


dias estão vindo para a Inglaterra me visitar, mas me controlei e agi com

maturidade, apenas perguntando o que aconteceria de tão especial para que

se deslocassem da Itália para cá. O que me responderam foi que o meu

noivo em breve irá me dizer. Fiquei irritada com tanto mistério da parte

deles. Encerrei a nossa ligação com a cabeça fervilhando de pensamentos


com o fato de que Spencer tem algo a me dizer, contudo, não me falou nada

até agora.

Desde o fim da maldita corrida, que ele trapaceou na caradura para

me vencer, não tive chance de perguntar o que Angel e o meu tio virão fazer
aqui.

No começo, fiquei estática com a sua atitude, embora ainda

estivesse brava por ter perdido a aposta, mas ter os lábios dele colados aos

meus me fez correspondê-lo de imediato.

Eu poderia ter me recusado a perdoá-lo, só que infelizmente


costumo cumprir com as minhas promessas. Eu o perdoei por ter se

comportado como um idiota comigo, e espero que não tenha outro surto

daquele e me trate novamente como um nada. Não vou tolerar ser

humilhada pela segunda vez, se cometer mais um deslize comigo, não

haverá outra chance para se redimir.

— Você está calada desde que saímos do Speed — ele diz ao tocar

as minhas costas e me olhar através do espelho do elevador.

Na volta para a casa, ele veio dirigindo. Minha cabeça está cheia

demais, parece que vai explodir, não consigo parar de pensar em tudo que

aconteceu hoje. Principalmente no nosso beijo, que significou muito para

mim, já que ele assumiu o nosso relacionamento diante de todas aquelas


pessoas.

— Só estou com um pouco de dor de cabeça — murmuro,

desviando os olhos para não o encarar.


— O que está te preocupando? — Ele acaricia minhas costas,

realmente está se esforçando para ser legal. Os três dias o ignorando surtiu
mais efeito que eu esperava.

— Nicolo me disse que daqui a quinze dias virá me ver e que você
tem algo para contar. — Viro-me para ele, que coça a nuca.

— Killz tem feito um bom trabalho como casamenteiro — meio que


resmunga antes de respirar fundo e tocar em meus ombros.

— Está relacionado ao nosso casamento? — indago, nervosa.

— Sim — responde com um ar misterioso.

— O que é tão importante para ficarem com esse mistério? — Estou

curiosa e ao mesmo tempo receosa com o que pode ser.

Odeio ser a última pessoa a saber das coisas relacionadas a mim.

— Nos casaremos daqui a quinze dias, essa é a novidade — revela,


limpando a garganta.

Duas semanas. Em duas semanas serei uma mulher casada. Me


tornarei uma Knight. Como poderei ficar chateada com essa notícia? Isso
está sendo mais rápido do que eu esperava.

— Verdade? — Juro que meus olhos estão brilhando.


— Nunca vi alguém ficar tão feliz em se prender a outra como estou

vendo agora em sua expressão. — Ergue a sobrancelha.

— E parece que você vai surtar a qualquer momento! — É nítida a


minha mudança de humor.

— Baby, nunca me relacionei sério com nenhuma mulher, então

surge você na minha vida e pula todas as etapas de um relacionamento


convencional para um casamento às pressas, como eu deveria me sentir? —

Faz uma careta de dor.

— Não seja dramático. E eu não poderia ficar triste com algo que

será o início da minha liberdade! — Sorrio, porque estou muito feliz, nem
sei descrever tamanha a satisfação que sinto.

— E você não se importa em ser tão em cima da hora?


Normalmente, todas as mulheres desejam ter mais tempo para escolher o

vestido, preparar uma recepção...

— Eu não sou como todas, Spencer — interrompo-o, quase dando

pulinhos de alegria. — Não me importo com o que irei me casar, se for


necessário me caso até com uma calça jeans. Além do mais, esse casamento

será de fachada, não precisamos fingir quando só estamos nós dois no


ambiente.

As portas da caixa metálica se abrem e nós saímos.


— Estou me sentindo usado, sabia? — Ele faz um biquinho ridículo,
mas logo sorri de lado.

— Não é muito diferente do que você fazia com as mulheres com


quem saía — retruco e ele arregala os olhos.

— Ai, essa doeu! — Comprime os lábios.

— Duvido muito. — Rio baixinho, enquanto seguimos até a porta.

— Pois saiba que não me importo se usar e abusar de mim.


Inclusive, faça isso sem moderação — aconselha, abrindo a porta.

— Você só pensa em sexo? — Passo por ele e entro no apartamento.

— Depende — diz.

Olho por cima do ombro e o vejo vindo em minha direção.

— É nesse momento que eu devo te perguntar “do que”? — Mordo


os lábios ao vê-lo tirar a jaqueta que o deixa sexy pra caralho e a jogar no
sofá.

— Sim. — O safado cola o seu corpo quente no meu e cheira meu

cabelo. Esse gesto mexe comigo.

Eu prendo a respiração quando ele desliza a mão na minha barriga e

acaricia a pele exposta.


— Mas se quiser, também posso te dar uma demonstração, dessa vez
mais duradoura. — Sua voz soa rouca ao pé do meu ouvido, causando-me
arrepios.

Minha respiração se torna pesada ao senti-lo roçar a barba por fazer

em meu pescoço e depositar na região um beijo e um chupão.

— S-spencer... — O meio das minhas pernas começa a formigar de

um modo agoniante.

— Na aposta, você concordou em me perdoar e deixar que eu


voltasse a te tocar — diz, deslizando a mão aberta até o botão da minha

calça. — Você está disposta a cumprir com o nosso trato, bonequinha?

Não tem jeito, ele não vai mais tirar esse apelido da boca, mas nesse
momento não tenho muita força para contrariá-lo.

— Vou honrar a minha palavra e aceitar a derrota. — Viro-me para

ele e ergo os olhos na sua direção. — Mas quero que saiba que não haverá

uma segunda chance, Spencer, então aproveite a oportunidade, porque ela é


única. — Com o dedo em riste, toco o seu peitoral firme.

— Eu já disse milhares de vezes que sou um homem oportunista. —

Ele me puxa pelo quadril com possessividade.


— Óbvio que sim. — Suspiro. Ao lembrar que me beijou na frente

de todas aquelas pessoas, uma curiosidade me atinge. — Por que me beijou


daquele jeito, mesmo sabendo que eu estava brava com você? — Eu passo a

língua em meus lábios e ele segue meus movimentos.

— Porque eu quis. — Traz uma mão até meu supercílio que ainda

tem um leve arroxeado e passa a ponta dos dedos, lembrando-me que ainda
carrego algumas lembranças ruins e marcas de dias atrás por meu corpo.

— Então é sempre assim? Quando quer algo vai lá e pega? —

Estremeço com o carinho que faz em meu hematoma.

— Normalmente, sim. Mas beijar... você tem sido a única mulher


que permiti ter um contato tão íntimo — revela, surpreendendo-me.

— E por que eu? — Fixamos nossos olhares.

— Você vai ser a minha mulher, Giulia, é normal que eu queira te

beijar. — Ele não é nada convencional, mas vou fingir que acredito para
não prolongar o assunto.

— O.k. — Assinto, sem desviar o olhar do dele. — O que faremos

agora? Cada um vai para o seu quarto? — Meu coração bate mais forte e
minhas pernas ficam bambas quando Spencer balança a cabeça negando.
— Hoje, você vai dormir na minha cama, temos que selar o nosso

trato. — Esboça um sorriso cheio de segundas intenções e inclina o rosto

para perto do meu. — Quero passar a madrugada com o rosto enterrado no


meio das suas pernas, chupando a sua boceta e te ouvindo gemer o meu

nome bem alto. — Encosta nossas bocas e envolve o braço forte ao meu

redor, me puxando para ele.

— Essa é a proposta mais quente que já recebi — ofego, excitada

com as suas investidas. Esse homem sabe como jogar charme para uma
mulher, é um verdadeiro galanteador.

— Vamos para o meu quarto, lá eu te mostro o que pode ser quente

de verdade. — Aperta minha bunda por cima do meu jeans.

Concordo, em seguida, entrelaçamos nossas mãos e ele me guia até


o seu quarto. A cada passo que dou, meu coração dispara de ansiedade.

Antes de entrarmos no quarto, Spencer se põe atrás de mim e enfia as mãos

dentro do meu cropped e o puxa para cima para tirá-lo. No processo, ele
descobre que estou sem sutiã e que com o toque da palma das suas mãos o

bico dos meus peitos ficaram enrijecidos. Dando uma risadinha baixinha,

ele beija as minhas costas e morde ao mesmo tempo que me guia para perto
da sua cama.
— Estou me segurando para não tirar a sua virgindade antes do

casamento, está difícil me controlar — confidencia, ao me girar para ele e


soltar meu cabelo, fazendo algumas mechas caírem no meu rosto.

— Quinze dias passam logo. — Ruborizo ao imaginar o seu pau

deslizando para dentro de mim e a sua mão tatuada ao redor do meu

pescoço enquanto me fode.

— Duas semanas de tortura para alguém como eu — brinca.

— Como assim? — Faço de desentendida, mesmo sabendo que ele

tem uma vida sexual bastante ativa.

— Eu gosto muito de foder, e te tocar sem poder ir além é torturante


demais, mas vou respeitar a sua vontade. — Ele pega uma mecha de meu

cabelo em um punhado e a leva até o nariz.

Se eu disser que também não estou tentada em dar para ele vou estar

mentindo. Vai ser difícil me segurar durante tantos dias, mas não posso me
entregar por completo sem antes estarmos casados. Talvez pareça bobagem,

só que para mim é mais uma questão de segurança não permitir que Spencer

tire a minha virgindade antes da concretização do acordo.

— Obrigada — agradeço-o, sorrindo.


— Mas não quer dizer que não posso te comer de outras maneiras.

— Toca em meu rosto e o massageia. — Até lá vamos nos divertir muito.

Meus dedos e a minha língua vão fazer um bom trabalho enquanto o meu

pau não pode te mostrar as habilidades dele. — Joga seu charme e o meu
corpo inteiro esquenta com a sua promessa.

— Eu também vou poder retribuir? — Uso um tom angelical e

apimentado, e sei que o afeto, porque seus olhos escurecem e suas pupilas

ficam dilatadas.

— Nunca imaginei que ficaria tão excitado ouvindo algo do tipo,

que passaria tanto tempo conversando com uma mulher sem estar dentro

dela. Você é uma bruxinha, Giulia Romano. — Ele passa o polegar em


meus lábios e sorri maliciosamente. — Mas, por enquanto, aceito apenas te

dar prazer. Agora se sente na cama que vou tirar o restante da sua roupa. —

Seus olhos caem em meus mamilos e descem lentamente por meu corpo.

Assinto e me sento no colchão atrás mim. Ele, por sua vez, se põe de
joelhos à minha frente e começa a tirar meus tênis. Apoiando meu corpo em

meus braços, observo o loiro levar as mãos ao botão do meu jeans e o abrir.

Com o peito subindo e descendo, entreabro os lábios em busca de

fôlego quando Spencer inclina o rosto em minha barriga e beija, mas não
um beijo qualquer, ele passeia a língua por minha pele e a marca levemente
com seus dentes. Não achando o suficiente para me enlouquecer, ergue os

olhos azul-claros e me encara, continuando a provocação com a sua boca.

Preciso fechar os punhos em seu edredom, uma vez que ele puxa
para baixo minha calça com a calcinha e passa por minhas pernas, jogando

as peças longe. Sem dizer uma palavra, Spencer acaricia cada parte do meu

corpo com o olhar carregado de luxúria e adoração.

— Suba mais um pouco e abra as pernas para mim.

Minha boceta pulsa e fica molhada com sua voz autoritária e

excitante.

— Assim está bom? — pergunto, ficando como me pede. Noto que


seus olhos estão fixos em minha vagina, enquanto os meus descem para o

seu pau ereto em seu jeans.

— Melhor do que eu imaginava. Agora apoie os pés em meus

ombros, e enquanto eu estiver te chupando, quero que massageie os seus


mamilos — instrui, umedecendo os lábios.

Apoio meus pés em seus ombros largos e ele beija carinhosamente

minhas pernas, em seguida, enfia o rosto em minha boceta e agarra minha

bunda, raspando o nariz em meu sexo escorregadio. Não consigo evitar que
o gemido escape.
O primeiro contato da sua língua em meus lábios vaginais é como
alcançar o céu, fecho os olhos e jogo a cabeça para trás, completamente

ofegante. Ele serpenteia a língua em meu clitóris e me deixa alucinada ao

sugar e prender o grelinho entre os dentes e lábios, chupando com prazer,


fazendo-me choramingar alto e esfregar-me em seu rosto, implorando por

mais.

— Aahhh, Spencer... Aahhh. — Sinto meus fluídos deslizarem entre

minhas pernas e pingar no lençol.

Como se não fosse o bastante, ele me abre com os dedos indicador e

polegar, mesmo com a sua boca gulosa me proporcionando sensações

deliciosas, e afunda a língua dentro de mim.

Gemendo, trêmula e com o suor deslizando entre os meus seios,


deito-me na cama. Spencer investe com mais intensidade sua boca e seus

dedos em minha boceta, que está em combustão por ele.

— Aahhh, céus! — grito, ao tomar um tapa nos lábios vaginais e

logo voltar a ser chupada com vigor.

Excitada.

Suando.

Quase alcançando o paraíso.


Com o coração quase saltando pela garganta, deslizo as mãos em
meus seios e os aperto ao mesmo tempo que fecho as minhas pernas no
rosto de Spencer, quando sinto que estou prestes a gozar. Arquejante, mordo

o lábio e acabo o machucando com a força que ponho.

— A-aaiii... K-knight, v-vou g-oozar! — Semicerrando os olhos,


quase chorando e com a respiração irregular, meu ventre se contrai e eu

sinto vontade de fazer xixi. — S-spencer e-euu... — Nem tenho como


formular as palavras, a sincronia da sua língua e seus dedos me levam a um
limite desconhecido, a ponto de me fazer jorrar em sua boca.

Eu fiz xixi no Spencer e ele parece beber o líquido.

Com o rosto ardendo tamanha é a minha vergonha, fecho os olhos,


mas logo o ouço rir. Ai, Senhor... Será que está rindo de mim por ter feito
xixi nele? Trêmula, tiro meus pés dos seus ombros e arrasto o corpo para

cima, em seguida, escondo meu rosto em seu travesseiro.

— O que aconteceu? — ele pergunta.

— E-eu fiz xixi em você, me desculpe, não consegui segurar —


gaguejo, sem querer olhar para ele.

— Você teve um squirt, baby, é uma ejaculação feminina — explica.

O colchão afunda ao meu lado. — Não precisa ficar com vergonha de mim,
eu adorei beber cada gotinha do seu mel.
Nunca ouvi falar sobre isso. Lógico que não sou nenhuma virgem
inocente, se fosse não estaria deixando que ele me tocasse, mas realmente
jamais soube o que era isso até agora.

— Tem certeza de que não foi outra coisa mesmo? — murmuro,


encarando-o sentado e tocando em meu rosto.

— Não, Giulia — garante, inclinando o corpo e depositando um

beijo em meu rosto.

— O.k., menos constrangedor — digo, fazendo-o gargalhar.

— Venha comigo, vou te levar a um lugar. — Ele se levanta e me


pega nos braços.

— Para onde? — Vasculho o seu rosto.

— Para a minha banheira, vou te dar um banho. — Arregalo os

olhos.

— Você? — indago, perplexa.

— Uhum — assente, aproximando o seu rosto do meu e me


beijando.

Seus lábios quentes devoram os meus esfomeadamente. Para


retribuir na mesma intensidade, sugo a sua língua e afundo os dedos em seu

cabelo loiro, arrancando gemidos animalescos dele.



 
 
 
 
 
— Eu disse que íamos treinar, e não tentar contra a minha vida,

Giulia. — Solto um gemido ao curvar meu corpo após receber uma

cotovelada em meus testículos.

— Faz parte do treino, Spencer, não seja um bebê chorão.

Ergo o rosto e vejo que o nosso exercício a deixou estranhamente

sexy – cabelo desgrenhado, bochechas avermelhadas e o corpo suado pelo

esforço.

As porradas que a deixei me dar devem ter afetado meu cérebro.

Faz quase uma hora que estamos na sala de treinamentos e é a

segunda vez que ela atinge o meu local mais sensível. Assim que eu sair

daqui, vou ter que colocar uma bolsa de gelo em minhas bolas para aliviar a

dor.

— Em algum momento da minha vida vou querer alguns herdeiros,


então pega leve em seus golpes — aviso, recompondo-me.
— O.k., me desculpe. Acho que fiquei animada e peguei pesado. —
Ela sorri e morde os lábios.

— Está liberado me atingir em todos os lugares, exceto meu

precioso. — Aponto para o meu pau sem tirar os olhos de Giulia, que está

contendo a risada.

Ela teve a brilhante ideia de se juntar a mim quando me encontrou

treinando sozinho mais cedo, e para não fazer desfeita, permiti que

praticasse comigo alguns golpes.

— Entendido, sr. Knight. Vou fazer de tudo para não ser a causadora

da sua infertilidade — diz, então avança na minha direção e tenta me


golpear.

Sou mais rápido e seguro em seu braço, em seguida, giro o seu

corpo e a deixo de costas para mim e aplico um mata-leão nela, mas não

coloco muita força para não a machucar.

— Não deveria não ter pegado leve — ela diz, dando uma risadinha

e tentando me dar uma cotovelada na lateral da barriga.

Arqueio com a sua tentativa de me golpear, e é nesse momento que

ela se aproveita do espaço entre nós para girar o corpo para a frente,

golpeando-me com força na virilha. Ela nem me dá a oportunidade de


respirar, põe uma perna atrás da minha e me empurra pelos ombros para me

jogar no chão.

— Dessa vez você vem comigo — digo, deixando que me derrube e

a segurando para vir junto, fazendo-a cair em cima de mim.

— Jogo sujo! — resmunga, batendo em meu peito.

— Faz parte, baby. — Toco em sua cintura e deslizo a mão por sua

bunda apertada dentro do tecido azul do seu short de lycra.

— Você tem que aprender a perder — fala, me encarando e irritada,


mas logo arfa quando eu a endireito em cima de mim, apenas pegando em

sua bunda.

— Sei disso. — Rio baixinho, sentindo a sua respiração pesada em


meu queixo. — Estou pegando leve para não te machucar, se você fosse um
dos meus soldados já teria tomado muitos socos e estaria sangrando —

revelo.

Ela levanta o corpo bruscamente para se mover em meu pau.

— E ele não estaria no seu colo assim, não é? — Rebola,


provocante.

Fecho os olhos com a tentação e solto um gemido.


— Lógico que não! — Bufo, meio perdido com sua rebolada em

meu cacete, enquanto Giulia ri.

— Sei que não. — Se inclina com as mãos espalmadas em meu


peito e volta a juntar nossos corpos.

— Sabe que se continuar me provocando assim vai ter troco, né? —

Encaro o seu top da mesma cor do short.

— Eu adoraria que fizesse isso. — Lambe os lábios.

— Podemos aproveitar que estamos suados para tomarmos um


banho juntos — sugiro, passeando os olhos por seu rosto, que fica vermelho

com a minha sugestão. — Não precisa ficar com vergonha, já a vi nua


muitas vezes. — Acaricio suas costas lentamente.

— Mas eu ainda não te vi — diz, mordendo os lábios.

— Para tudo existe uma primeira vez, não é? E hoje será — digo,
subindo a mão por suas costas até chegar ao seu rosto.

— O.k., então vamos. — Fecha os olhos quando contorno a sua


bochecha com a ponta dos dedos. 

Desde a corrida, quatro dias atrás, estamos mais próximos e ela tem
passado mais tempo no meu quarto do que no dela. A minha intenção era
que eu voltasse a tê-la em meus braços, mas dormir todos os dias na minha
cama não estava em meus planos.

Nenhuma mulher teve o privilégio que Giulia está tendo. Felizmente


ou infelizmente, a garota está sendo a minha maldita exceção rápido

demais.

— Foi a melhor escolha que fez. — Fecho um punhado de cabelo


dela na mão e trago o seu rosto para mais perto do meu, grudando nossas

bocas em seguida.

Ela geme contra meus lábios ao sentir meu pau endurecer quando se
move nele para me atiçar. Em resposta, dou um tapa forte em sua bunda e
Giulia crava as unhas em meu ombro em protesto.

— Ai, doeu, sabia?! — geme, manhosa.

— É para aprender a não ser uma garota má. — Massageio o local


que atingi.

— Eu não sou má. — Seus olhos brilham.

— É sim e eu posso provar. — Em um movimento, giro nossos

corpos e a ponho debaixo de mim.

— É só isso que sabe fazer, sr. Knight? — desafia, entrelaçando as


pernas ao meu redor e enfiado os dedos em meu cabelo.
— O seu atrevimento me deixa de pau duro, bonequinha. —
Aproximo meu rosto do seu e selo nossos lábios por alguns instantes.

— Odeio esse apelido — resmunga e eu rio.

— Uma hora vai se acostumar com ele, combina com você. — Fito

sua boca carnuda, depois o par de olhos verdes que se parece água
cristalina.

Percebendo que estou admirando a sua beleza, Giulia abre um

sorriso sereno e eu engulo em seco por gostar de vê-la sorrir para mim. Já
recebi muitos sorrisos femininos e eles nunca foram tão importantes, até

agora. Acabo de descobrir que ver a Romano sorrir a deixa muito mais

bonita do que é. Balançando a cabeça, saio de cima dela para afastar meus
pensamentos absurdos e me levanto, em seguida, estendo a mão para que a

pegue.

— Daqui posso ouvir o seu suspiro de apaixonada — brinco. Ainda

deitada no tatame, ela gargalha.

— Pobre coitado, só em seus sonhos eu me apaixonaria por você.

Ser gostoso e fazer milagres com a mão e a língua não quer dizer que vou

morrer de amores, Knight. — Aceita a minha mão e eu a trago para cima.

— Uau, você está destruído o meu ego com essas palavras. Saiba
que sou muito irresistível para que não se apaixone por mim — digo,
levando uma mão ao coração.

Nesse momento, ela nem disfarça a boa olhada que dá ao meu


abdômen, já notei que Giulia adorar observar as minhas tatuagens.

— Sinto em te decepcionar, sr. Ego, mas sou imune a esse seu

charme de conquistador barato. — Pisca para mim e se afasta, indo na

direção da mesa onde está a sua garrafa de água.

— Vou ser o seu marido, precisa me elogiar e não ficar me

massacrando — reclamo, contendo o sorriso.

— Marido de mentirinha — lembra-me, levando a garrafa de água à

boca.

— Quando eu digo que você é uma garota má, não acredita.

Ela ri baixinho e eu vou até o armário onde guardo algumas armas

para pegar um cigarro.

— E eu estou mentindo? — indaga.

Coloco o cigarro na boca e o acendo com o isqueiro que acho

perdido por ali.

— Nunca disse isso. — Dou um sorrisinho e a fumaça sai pela

minha boca e nariz.


Em passos lentos, Giulia vem até mim e para na minha frente.

— Gosto da maneira como estamos nos dando tão bem sem

precisarmos rotular o que está acontecendo entre nós. — Toca em meu

pescoço e contorna uma das minhas tatuagens com o dedo.

Como dizer a ela que beijá-la em público, dormir em meu quarto e

nos casarmos é mais do que um rótulo? E ambos estamos querendo negar

isso. Bom, se ela quer ver dessa forma, não serei eu a abrir os seus olhos,

afinal, estamos nos curtindo desse jeito.

— Concordo com tudo — digo e dou algumas tragadas no cigarro

sob o seu olhar.

— Excelente — murmura, pegando o cigarro em minha mão e

levando à boca. Não fico surpreso, já a vi fumando meses atrás, naquele


circuito.

Envolvendo o braço na cintura dela, eu a puxo para mim e encosto

nossas bocas quando ela afasta o cigarro. Como se estivéssemos lendo o

pensamento do outro, nos encaramos e soltamos a fumaça no mesmo


instante e elas se misturam, tornando-se uma só.

— O nosso banho ainda está de pé? — inquiro, em meio a fumaça.

— Era o que eu ia te perguntar. — Espalma a mão em meu peito.


— Estamos perto do banheiro, bastam alguns passos e estaremos lá.

— Tiro o cigarro da sua mão para jogá-lo fora.

— Ainda não terminei. — Giulia se refere ao cigarro que apago na

mesa e jogo na lata de lixo próxima.

— Já sim. Não quero você fumando, não faz bem para a saúde.

Giulia ri ao me ouvir falar.

— Sério? Então, por que ainda fuma? — Ergue a sobrancelha.

— Uma coisa sou eu fumar, outra é você. E eu não quero que o seu

tio me acuse de te levar para o mau caminho — retruco, voltando a me

aproximar dela e envolver meus braços ao seu redor.

— Desde quando se importa com o que Nicolo pensa? — Ela


vasculha meu rosto, desconfiada.

— Não me importo com ele, estou preocupado com você —

confesso, limpando a garganta.

— O.k., entendi. — Balança a cabeça.

— Ótimo. — Acaricio suas costas.

— Obrigada por se preocupar — sussurra, olhando-me com ternura.


— Não me agradeça. — Beijo o seu ombro e vou subindo até o

pescoço. — Agora vamos tirar esse suor do nosso corpo. — Deslizo os

dedos por suas costas.

— Pensei que ficaríamos aqui a manhã inteira apenas conversando,


e não iríamos para o finalmente. — Ela passa os braços ao redor do meu

pescoço e eu a levanto em meu colo.

Com Giulia nos braços, caminho na direção do banheiro que tem

dentro da sala de treinos. Eu o uso raramente, assim que termino de treinar


vou direto para o banheiro do meu quarto. E hoje será a primeira vez que

farei uso dele acompanhado.

— Pensei que aqui teria só um chuveiro — ela diz no momento em

que entramos no banheiro.

— Gosto de lugares confortáveis — murmuro, seguindo até o boxe.

— Hum, deu para perceber, tem até uma banheira. — Ela dá uma

risadinha e beija meu pescoço.

— Eu só a uso quando tomo banho de gelo. Além de isso ajudar a


reduzir inflamações, melhora a qualidade de sono, e entre outras coisas —

confidencio, ouvindo um “uau” dela.


— Você é muito inteligente, sr. Spencer — fala quando a coloco no

chão do boxe.

— Óbvio que sou. — Gabo-me e ela bate em meu abdômen.

— Não sei mais o que faço com esse seu ego! — Mordisca o lábio

inferior e sorri.

— Só o sustente — brinco e Giulia gargalha.

— Não acho uma boa ideia.

— E por que não seria, hum? — Eu a agarro pela cintura e ela bate o

peito contra meu abdômen.

— Você ficaria muito mais exibido. — Ergue os olhos para mim.

— Eu? Jamais... O.k., só um pouquinho. — Toco em seu rosto com


as duas mãos e beijo a sua boca, sugando a sua língua deliciosa.

Gemendo, ela me beija de volta, assim começo a tentar me livrar das

roupas dela com nossas bocas grudadas.

— A-assim n-não vai dar certo — ela geme, me dando selinhos.

Arfantes, nos afastamos e eu a ajudo a tirar o top, depois o short


com a calcinha em uma velocidade surpreendente. Nua, Giulia volta a me
beijar e eu passeio as mãos por suas costas e bunda, sentindo meu pau
cutucar a sua barriga por baixo do tecido do meu short.

— Fique de costas para mim — peço, largando a sua boca e a

encostando nos ladrilhos.

— Não vai tirar a roupa? — pergunta, febril.

— Deixei as honras para você, baby. — Trago a sua mão até o meu

short e ela apalpa meu pau ereto. — Ahh, porra, Giulia! — Jogo a cabeça

para trás assim que beija meu peito e vai se abaixando sem tirar a sua boca

tentadora da minha pele.

— O que acha de me ensinar como chupar você? — Seus lábios

roçam na região abaixo do meu umbigo.

Estou prestes a explodir de tesão com as palavras dela, meu pau

chega a pulsar no short. E ela sabe disso.

— Sabe que o seu pedido não tem mais volta, não é? — Olho para
os lábios entreabertos dela.

— Uhum. — Assente, com um olhar malicioso.

— Eu achava que as virgens eram mais inocentes — comento, com

a respiração pesada ao vê-la se ajoelhar na minha frente.


— Em que mundo você vive? Ser virgem não quer dizer que uma
mulher é boba. — Ela revira os olhos.

— Não estou reclamando, gosto de te ver com o modo safada

ativado, é sexy pra caralho — elogio, arfante por ela descer a minha roupa
até meus calcanhares.

Giulia não esperava que fosse me encontrar sem cueca, já que fica
boquiaberta ao ver meu pau duro com a glande pingando de excitação bater

em seu queixo. Ela pensa alguma coisa, pois suas bochechas ficam
vermelhas.

— Antes que me pergunte em voz alta, vai caber sim, com jeitinho

ele entra todo.

Ela nunca me viu completamente nu.

— Quando vi tantas veias em seu abdômen, já imaginava que o seu


pau também teria alguma delas — diz, fechando uma mão em meu

membro. A facilidade que ela tem para jogar a timidez fora é


impressionante.

— Então esteve imaginando como seria ele? — pergunto, entre


gemidos, ao senti-la fazer um vai em vem no meu pau.

Puta que pariu.


— Sim, agora me fale como faço. — Os dedos magros deslizam por
meu pau com velocidade.

— Só não use os dentes e está ótimo — murmuro, ofegante.

Não sei o que vai me fazer gozar mais rápido, a visão os seus seios

durinhos, sua mão me masturbando, a sua boca me chupando ou ela de


joelhos para mim. Acho que tudo.

Giulia ergue os olhos para mim e lambe ao redor da minha glande,


em seguida, enfia o pau dentro da boca e começa a chupar. Ela quase que se
engasga, mas depois pega o ritmo e faz movimentos circulares com a

língua. Por instantes, volta a chupar a glande.

Gemendo rouco, apoio uma das mãos no ladrilho e a outra agarro o


seu cabelo em um punhado, enquanto ela me fode com a sua boquinha
pervertida. Ela olha para mim e depois suga meu pau com vontade.

— Caralho, Giulia! — Ela me masturba e me chupa com força,


alternando os movimentos.

A sua ganância em me engolir todo me enlouquece a ponto de me


fazer estremecer. Giulia chupa minhas bolas e geme ao mesmo tempo que

jogo a cabeça para trás e fecho os olhos. Os lábios dela molhando meu
membro e a pressão que está fazendo me levam à loucura.
Com a respiração desenfreada, assisto-a soltar meu pau da sua boca
carnuda antes dos seus olhos se erguerem e não deixarem os meus enquanto

sua língua passeia por toda a minha extensão.

Ela lambe, chupa, beija e faz movimentos divinos, como se o meu

pau fosse a porra de um pirulito. Giulia arranha minhas coxas com suas
unhas e eu empurro o quadril em seu rosto, socando forte em sua boca
como se estivesse fodendo a sua boceta.

Cerrando os dentes, gozo intensamente na boca dela. Ergo-a para


mim pelo cabelo e ataco seus lábios em um beijo bruto, sentindo o gosto

salgado do meu esperma se misturar com as nossas salivas.

— Agora é a minha vez de retribuir esse boquete delicioso,

bonequinha. — Limpo os resquícios do meu gozo no canto da sua boca. —


Fique de costas para mim e empine a bunda, vou te chupar bem gostoso —
proponho ao beijar o seu pescoço e enfiar a mão no meio das suas pernas. 

Sua respiração está ofegante e o seu peito sobre e desce

rapidamente.

— A-Ahh, S-sspencer — geme assim que sente meus dedos


deslizarem por seus lábios vaginais.

— Me diz o que eu faço para não comer a sua bocetinha agora,

Giulia. — Eu a masturbo com velocidade e ela abre as pernas para mim.


— N-não sei, ahhh. — Crava as unhas em meus ombros e beija meu

peito.

— Vou cumprir a minha palavra até o casamento, mas quando nos


casarmos a primeira coisa que farei é te comer. — Empurro-a para os

ladrilhos gélidos da parede e abocanho um dos seus mamilos. Habilmente,


faço um contorno com a língua na aréola dos mamilos de Giulia, que grita

satisfeita por eu estar sugando seus peitinhos e movendo meus dedos em


sua boceta.

— E-estou a-ansiosa por isso — diz, com a voz arrastada.

Então giro o seu corpo e a coloco de bunda empinada.

— Eu também — confesso, me ajoelhando. Com as mãos em suas


nádegas, abro para poder visualizar melhor e, em seguida, caio de boca,

deleitando-me com o gemido alto que ela solta. Minha língua sobe e desce,
enquanto meus dedos a castigam, rodando e movimentando-se em ritmo
entra e sai.

— Spencer, p-ppor f-ffavor... Ahhh — implora por mais.

Minhas mãos seguram seus quadris, que não param de se mexer, e


afundo o rosto entre suas pernas, mordendo e lambendo seu amontoado de
nervos inchados. Soprando seu clitóris, ela rebola em meu rosto, gritando

desesperada quando passo a língua na sua boceta e cu apertadinho.


Percebendo que as pernas dela amolecem, ergo-me do chão e a
abraço por trás, então a penetro pela frente com os dedos e beijo os seus
ombros, até que ela geme baixinho o meu nome.

— Agora, podemos tomar um banho de verdade — falo, contra a


sua pele, enquanto ligo o registro ao lado e a água cai sobre nossos corpos.

Virando-se para mim, Giulia envolve os braços em meu pescoço e


eu a levanto em meu colo antes de beijá-la. Com as pernas enroladas ao

meu redor, ela arranha minha nuca e eu saboreio os seus lábios debaixo da
água, intercalando mordidas e cupões.

Eu acabo me sentindo um guerreiro por controlar meus anseios e

não a fazer minha por inteira antes do nosso casamento.

— Tenta essa, acho que não vai ficar tão enorme quanto a que está.
— Jogo para ela outra camisa minha que tiro do closet.

— Obrigada. Isso aqui está parecendo mais um vestido. — Ela ri,


olhando para o seu corpo que está coberto por uma camisa preta minha. Só
de saber que Giulia não usa nada por baixo da peça me deixa animado.
— Realmente — murmuro, vendo-a secar o cabelo com uma toalha.

— Enquanto termino de me vestir, você pode pedir comida para

nós? — sugere, já abrindo os botões da camisa e me dando o privilégio de


ver novamente cada pedacinho do seu corpo nu, que minutos atrás eu estava
tocando.

— É uma boa ideia — digo, dando um nó em minha calça moletom.

— Você tem alguma preferência? — pergunto, indo até ela.

— Se a comida for boa, para mim está ótimo. — Tenta fechar os


últimos botões da camisa branca, mas eu afasto suas mãos para fazer o seu

trabalho e aproveito para inclinar meu rosto e beijar os seus peitos.

— Estou reconhecendo o meu perfume aqui. — Sorrio na sua pele,


reconhecendo o aroma.

— Peguei só um pouquinho — diz, rindo baixinho.

— Sei... — provoco-a, batendo em sua bunda.

— Spencer! — exclama, irritadinha.

— Vou pedir a nossa comida, já volto. — Afasto-me dela com um


nó na garganta.

Confuso com meus pensamentos e atitudes, pego meu celular na

mesa de cabeceira e saio do quarto sem olhar para trás. No caminho para a
sala, recebo uma ligação de Killz, faço questão de atendê-lo rapidamente.

— Boa tarde, Spencer, te enviei mensagens há algumas horas e não


tive retorno, então decidi ligar para saber o que está acontecendo — diz
meu irmão mais velho, sério como sempre.

— Estava treinando, não vi — comunico, sentando-me no sofá.

— Chegou a ler alguma mensagem minha? — Seu tom é


desconfiado.

— Não, Killz, estava ocupado, só vi agora que estava me ligando. O


que quer comigo? — Jogo a cabeça para trás e fecho os olhos.

— Que você e a sua futura esposa se mobilizem para os


preparativos do casamento, Spencer. Os dias estão se passando e ainda não
vi nenhum dos dois tomar uma iniciativa — lembra-me, autoritário.

— Será um casamento rápido. Giulia e eu não ligamos para tantos


detalhes, só queremos cumprir o nosso trato — digo, massageando minha

têmpora.

— Um Knight deve se casar com estilo, irmão, então trate de mover

a sua bunda para fora desse apartamento amanhã. Leve Giulia até a casa
de Axl, as suas garotas vão se reunir amanhã para ajudar a sua futura
esposa com a escolha do vestido — revela.
Eu arregalo os olhos com a rapidez dele.

— Você está mesmo ansioso para me colocar na coleira — digo,


ouvindo-o gargalhar. É nesse instante que ouço alguns passos se

aproximando, e olhando por cima do ombro, vejo Giulia vir em minha


direção descalça e usando apenas a minha camisa.

— Esse título aí não é meu, irmão, é de Giulia Romano.

A garota ouve o nome dela ser mencionado e ergue a sobrancelha.

— Engraçadinho você — zombo, observando a morena se sentar em


meu colo de frente para mim e começar a beijar o meu pescoço.

— Se fizermos uma aposta, com certeza você vai perder — desafia-


me.

— Até amanhã, Killz. — Encerro a ligação e jogo o celular no


canto, para dar atenção a um certo alguém que está me tentando.

— Eu acho que ainda não te fiz gozar no sofá, não é? — Espalmo as


mãos em sua bunda e subo, contornando as suas curvas com meus dedos. —

Acho que a nossa comida vai ficar para mais tarde. E eu estou aceitando
outro boquete como recompensa depois de te fazer gozar quatro vezes —
sussurro em seu ouvido e ela esfrega a boceta em meu pau por cima da

calça moletom.
Ah, caralho... Que gostosa. Ninguém diria que eu iria adorar essas
esfregadinhas um dia.

 
Sentada na cama esperando Spencer sair do banho, leio pela terceira

vez as mensagens que recebi de um número desconhecido. Não importa


quantos números sem identificação Vincenzo use, sempre saberei que é ele.
Está na cara que o maldito está querendo me amedrontar.

Não vou cair em seus joguinhos mórbidos, ele não vai entrar em

minha mente, faz tempo que não me sinto tão em paz e segura. Com as
mãos trêmulas, desbloqueio novamente a tela e releio as mensagens.

“Qual a diferença de um drogado para o outro, bambina? Não

precisa responder, faço isso por você! Nenhuma, vadia, ele é exatamente

como eu, o homem que você foge, o seu verdadeiro noivo.”

Tremendo, controlo as lágrimas que querem descer e respiro


profundamente.

“Spencer James Knight é um viciado de merda que a qualquer

momento pode ter uma recaída e vai te fazer sofrer mais do que eu
pretendia. Uma fonte confiável me disse que quando ele está sob o efeito de

alguns remédios comete atrocidades no bordel chamado Speed que ele


frequenta, mas não serei eu que vou pontuar para você.”

Apertando os olhos, cerro um punho e me levanto da cama, mas é

uma péssima ideia, porque ao ler o terceiro texto fico com as pernas

trêmulas.

“O seu noivinho é intocável no território dele, mas quem sabe

acontece alguma desgraça com ele fora da Inglaterra? Infelizmente,

acidentes acontecem. Eu ficaria tão triste se o futuro marido da minha


amada quebrasse alguns ossos ou até mesmo morresse por roubar a mulher

que não era para ser dele.”

Nervosa, olho na direção da porta fechada, em seguida, saio do

quarto sentindo meu estômago se contorcer e meu coração bater disparado.

Vincenzo claramente está ameaçando Spencer de morte, mesmo que seja

indiretamente, ele está fazendo isso. Se fosse meses atrás, na época que eu
só pensava em mim, em meus propósitos em prol da minha liberdade, nem

importaria, mas agora é diferente.

Não posso simplesmente fechar os olhos para o que está diante de

mim e deixar que mais desgraças aconteçam na minha vida. Dessa vez não

sou uma criança indefesa que não pôde salvar a vida do pai que foi ceifada
pelo próprio irmão, agora sou uma mulher adulta, tenho a capacidade para
dar um basta nesse monstro que está sedento por vingança.

Se algo acontecer a Spencer jamais me perdoarei, porque fui eu a

colocá-lo nessa posição. A ideia de nos casarmos só permaneceu porque por

meses estive esperançosa de que ele mudaria de ideia, e agora que estamos

bem surge esse empecilho. Embora desconfiasse que mais cedo ou mais
tarde meu prometido viesse dar as caras para cobrar o compromisso que eu

nunca quis com ele, não imaginava que seria tão rápido.

Que todos os Esposito são ardilosos não é segredo para ninguém,

mas normalmente eles agem pelas costas.

Hoje, eu e Spencer iremos à casa de um dos seus irmãos, o Axl, para

que as suas cunhadas me ajudem na escolha do vestido, entre outras coisas

que ainda serão discutidas. Não esperava que justamente nesse dia

Vincenzo entraria em contato para me infernizar.

É errado não querer estragar esse momento? Apesar de estar sempre

falando que é um casamento de conveniência só para não aumentar o ego de


um certo alguém, nos últimos dias tenho ficado ansiosa e até animada para

nos casarmos. E esse sentimento vem surgindo desde que cuidou de mim e

permitiu que eu morasse em seu apartamento. Esse afeto por Spencer James

Knight só vem crescendo com o que temos vivido juntos nesse lugar.
A maneira como me beija e me toca, faz com que eu me sinta única

e talvez amada, ele tem despertado em mim sentimentos loucos, que muito
em breve não vou conseguir esconder. Sou uma pessoa transparente, não

tenho controle sobre as minhas emoções, principalmente quando estou


vulnerável.

Meu celular começa a tocar em minha mão, e com o peito apertado,


visualizo a tela que mostra um número não identificado. Penso em não

atender, mas preciso demonstrar que não tenho medo das suas ameaças e
gravar o que tem a me dizer como prova, então ativo o aplicativo para

iniciar a gravação.

— Finalmente, bambina.

A voz asquerosa do outro lado da linha faz o meu estômago


embrulhar.

— O que você quer? — Controlo meu tom embargado.

— Agora, mais do que nunca, te fazer pagar por ter me feito de

idiota, Giulia Romano — fala, baixo e sombrio.

Engolindo em seco, sento-me na poltrona e olho de relance para o

corredor que dá para os quartos por cima do ombro.


— Não te fiz nada! Não seja doente a ponto de imaginar que eu

aceitaria me casar com você para que vingue a morte da sua irmã —
retruco, com as mãos trêmulas.

— Sabe, bambina, não me surpreendo em você não saber honrar o


seu sangue. A sua família nunca teve palavra, por isso Eleonora está

morta. A culpa é do imundo do seu pai. — Range nos dentes, com certeza
se estivéssemos frente a frente, ele tentaria me machucar com seus punhos.

— Eu não tenho nada a ver com essa aliança que Giuseppe e Nicolo
fizeram com Salvatore. Você tem trinta e sete anos, Vincenzo, mas se

comporta como um garoto revoltado! Faz mais de dez anos que a sua irmã
se foi, tente superar isso e me esqueça — digo de maneira firme e ouço
gargalhar do outro lado.

— Nada do que falou vai me comover, vagabunda. Meu tio pode ser

frouxo e não se importar mais com a morte da sobrinha, mas enquanto eu


viver, você não será feliz. Só vou descansar quando não sobrar um Romano
na Terra.

— Você é louco, vá se tratar! — Acabo falando alto.

— Se case com o Knight e eu arrancarei o coração dele, depois


mando entregar dentro de uma caixa de presente para você. Então vou te
caçar e te transformar em minha puta particular. — Ri, perverso, me
causando tremores.

— Antes que isso aconteça, eu te mato! — Aperto o celular com


meus dedos.

— Vai ser muito satisfatório matar todos que você ama. Primeiro,
vou começar com o filho da puta que te roubou de mim, depois o seu tio e a
esposa gostosa dele, e por último você. Vou te enfiar em uma gaiola, a mais

suja que tiver no meu porão, mas antes vou te comer brutalmente, cada
buraquinho seu será arrombado até que fique sem conseguir andar. —

Gargalha assustadoramente.

Tonta e com a visão turva por causa das suas palavras repugnantes,

deixo o celular cair no chão e fecho os olhos por alguns minutos.

Jamais pensei que Vincenzo conseguiria entrar em minha cabeça

ameaçando pessoas próximas. Bastou ouvir as suas ameaças contra Nicolo,


Angel e Spencer para que eu percebesse que lá no fundo, bem no fundo,
que eu não odeio o meu tio tanto quanto deveria, muito menos a Angel.

Desde a minha infância, ela tentou ser uma amiga, e mesmo com meus
momentos de menina rebelde estava ali comigo, enquanto eu só sabia

chutar a bunda dela.


E o Spencer... Ele é uma novidade para mim, pode ser irritante e
exibido algumas vezes, mas tem feito bem a mim em todos os sentidos,
arrisco dizer que pela primeira vez em toda a minha vida, sinto estou me

apaixonando por um homem. O que mais me motiva a viver esses


sentimentos é saber que não é um amor doentio, ele está vindo aos poucos,

daquele tipo que se soubermos como conduzir, durará uma vida inteira.

Ao ouvir passos se aproximando, me recomponho e aperto o


telefone com força, já com uma desculpa formulada.

— Giulia, você estava falando com alguém?

Eu o olho por cima do ombro e ele avalia o meu rosto, depois o

celular que seguro.

— Sim, mas era engano. — Forço um sorriso.

— Acho que isso te assustou, não é? — Observa-me, desconfiado.

— Não, por quê? — Faço uma expressão de tranquilidade.

— O seu rosto está pálido e sua voz trêmula. O que de fato houve?

— Seu tom é investigativo ao se sentar no sofá de frente para mim.

Ele está tão bonito e cheiroso essa manhã, e mesmo que esteja

usando mais uma das suas milhares de jaquetas pretas, ainda assim está

atraente.
— Não é nada. Vamos? Acho que estamos atrasados. — Levanto-

me.

— Giulia, você está mentindo. — Suspira pesado, raivoso.

— E o que eu posso estar escondendo? — Sorrio covardemente,

sem querer olhá-lo nos olhos.

— Não sei, me diga você.

Spencer sabe que estou mentindo, não faço ideia de como chegou a

essa conclusão, mas não acreditou em mim.

— Foi apenas uma ligação para o número errado — insisto, sentindo

o nó na garganta.

— Uma vez, a esposa do meu irmão mentiu para ele e agiu sem que

soubesse, as consequências que vieram depois quase os destruíram. Hailey

perdeu um filho no processo e quase a vida — revela, fazendo com que

meus olhos encham de lágrimas.

— Por que está me contando isso? — Meus lábios tremem, então

olho para Spencer, que está com a expressão séria, de uma maneira que

nunca vi.

— Eu sei quando você está mentindo, Giulia. — Ignora a minha


pergunta e vem até mim.
— Prometo que te conto quando voltarmos da casa do seu irmão,

o.k.? — Toco em seu braço.

— É o Vincenzo, não é? — Mais uma vez ignora tudo o que digo.

— Spencer... Por favor. — Engulo em seco com o seu olhar duro.

— O que ele queria? — pergunta, com o maxilar trincado.

Respirando fundo, controlo a vontade de chorar.

— Enviou mensagens mais cedo fazendo ameaças, não se contentou

e me ligou. — Deixo o primeiro soluço escapar, e é suficiente para que ele

me puxe para os seus braços. — M-me d-disse muitas coisas horríveis, uma
delas é que eu não posso me casar com você. — Ergo os olhos e noto que os

dele estão escuros.

— Filho da puta covarde! — O rosnado que sai dos seus pulmões é


como um trovão.

— E-ele prometeu te matar se nos casarmos. Vincenzo está com

raiva de mim, ele disse que assim que tirar a sua vida irá me transformar em

sua puta particular. — Afundo meu rosto em seu peito e deixo as lágrimas
caírem.

Apertando meu corpo contra o seu, Spencer beija o alto da minha

cabeça.
— Vincenzo Esposito acaba de despertar o meu pior lado,

bonequinha. Ele tem que ter muito culhão para tocar em um fio de cabelo
seu. — Sua voz é baixa e ao mesmo tempo feroz.

Levanto o rosto e o encaro, e em um ato inesperado, ele enxuga as

minhas lágrimas com a palma da mão.

— Não sei se terá alguma utilidade, mas gravei o que ele disse e as
mensagens não apaguei, está tudo aí — informo ao tirar o celular do bolso e

estender para ele.

— Vá lavar o rosto, enquanto isso dou uma olhada. — Ele pega o

celular sem tirar os olhos de mim.

— Será que não daria para adiar a minha ida à casa do seu irmão?

Estou sem ânimo — murmuro, tristonha.

— Giulia Romano desanimada para se casar? — Spencer suaviza a

expressão em um sorriso bonito, que por alguns instantes consegue me


relaxar. — Depois que decidi colocar uma aliança em meu dedo vai desistir

tão fácil assim? — Seu tom é brincalhão.

— Não vou bancar a supermulher agora, Spencer. — Meu coração


fica apertado. — O Vincenzo sempre foi violento, não é segredo para

ninguém, mas as ameaças dele me deixaram com medo, estou apavorada.

— Sinto meus joelhos tremerem com força.


— Giulia, confie em mim, não vou deixar ninguém te machucar. —

Ele toca em meu rosto.

— E se ele machucar meu tio, Angel ou você? Em algum momento,

eu teria que admitir isso, mas Nicolo não tem culpa por meu pai ter
quebrado a aliança entre as famiglias. E querendo ou não, carrego o sangue

de Giuseppe, e é isso que motiva os Esposito a quererem vingança. Eu não

posso permitir que Vincenzo destrua as pessoas ao meu redor por minha

causa, só que ao mesmo tempo tenho medo dos planos vis dele. — O temor
me penetra no fundo da alma.

— Você está em choque, pálida e tremendo — afirma. Noto a veia

do seu pescoço pulsar, a fúria está injetada em seu sangue. — Respire fundo
e tente se acalmar. — Spencer deposita um beijo em minha testa.

— N-não estou bem. — Sinto que estou prestes a desmaiar.

Começo a enxergar ao meu redor preto e os seus braços fortes me

envolvem em um abraço. Em meio à escuridão, a última coisa que vejo é


rosto de Spencer e ouço sua voz soando distante dizendo que antes de

Vincenzo tocar em mim, ele o matará.


Ver Giulia desmaiar por ter entrado em estado de choque com medo

daquele rato fez nascer em mim um lado que até eu desconhecia. Uma fúria
incontrolável me domina. Ver o medo nos olhos da garota como nunca tinha
visto antes me causou um furor, sede de sangue.

Depositando-a cuidadosamente no sofá, elevo as suas pernas com

algumas almofadas para que o fluxo sanguíneo cerebral aumente e recobre a


consciência mais rápido. Preocupado, me sento na beirada do sofá e checo o
pulso, depois a sua respiração, vendo que está o.k., toco em seu ombro e

balanço de leve.

— Giulia — chamo-a, tirando o cabelo do seu rosto com a outra


mão.

Lentamente, ela abre os olhos e me encara confusa, mas parece ter

flashes de memória, porque faz uma expressão de dor. Eu nunca soube o


que era ser uma pessoa tão protetora com uma mulher até ela me confessar

que foi ameaçada por um verme.

— Desmaiei, não é? — Avalia-me, e eu assinto.

— Te deitei aqui e coloquei algumas almofadas, depois segui

algumas instruções que já conheço — digo, observando o seu rosto pálido.

Diante de tantas desgraças em nossa família, aprendemos que a

união é o que nos fortalece em momentos de conflitos. A mais de um ano


atrás, Carter esteve em guerra com os Lynch, e se ele não fosse inteligente

para nos pedir ajuda, certamente teria saído no prejuízo. E agora não

poderia ser diferente, eu preciso dos meus irmãos, eles são a minha força.

Somos um a força do outro, essa verdade nunca irá mudar.

Com o passar dos anos, aprendi que para entrar em uma guerra e

sair vencedor é preciso boas estratégias, e o que os Knight sabem fazer

quando estão reunidos é criá-las. Eu poderia voar para Itália sem informar

aos meus irmãos e acabar com Vincenzo, mas uma pessoa igual ao Esposito
não pode ser subestimado, e não serei eu a fazer isso. Com o auxílio da

minha família, iremos acabar com ele. Juntos somos mais fortes.

— Atrapalhei o nosso dia, não é? — Ela dá um sorriso fraco.

— Não pense assim, você é a vítima, não a vilã. — Massageio o seu


rosto com os dedos.
— Obrigada por tudo.

Sacudo a cabeça, em seguida, afasto-me dela.

— Fique aqui, não demoro. E não se levante agora — peço.

Giulia murmura um “o.k.”, então saio da sala e sigo para a cozinha.


Encosto-me na ilha e tiro o celular do bolso, enviando a Killz uma

mensagem rápida sem dar muitos detalhes, avisando que Vincenzo decidiu

dar as caras usando Giulia como alvo, ameaçando por ligação e mensagens.

Em questão de poucos minutos, meu irmão me retorna avisando que está a

caminho e que vem acompanhado. Já dá a entender que nossos irmãos

também virão.

Pego o celular da minha futura esposa no bolso frontal da calça e

desbloqueio a tela. A primeira coisa que faço é abrir a caixa de mensagem,

e ao ler as mensagens sinto meu sangue ferver. O merdinha tem a coragem

de a ameaçar me usando como exemplo, e o pior disso tudo é que ele tem a

audácia de dizer que eu roubei a mulher dele – não que seja mentira, mas

foda-se. Cada palavra escrita pelo rato do Esposito faz com que a qualquer
momento eu exploda de ódio.

Com um punho fechado e o maxilar trincado, ouço a gravação. Meu

coração fica apertado com o tom de voz que Giulia tenta controlar. Ela tem
medo dele, mesmo que tente esconder, e ele usa isso a seu favor, porque

sabe que por trás dessa armadura dela existe uma menina-mulher frágil.

O despeito dele escorre junto com o veneno em suas cordas vocais.

A raiva inunda em minhas veias e os meus músculos ficam tensos a cada


minuto que passa e ele a ameaça. É estranho o modo como o desgraçado

promete matar até o seu capo, como se Nicolo não fosse um nada.

Ira é o que me define. Com sangue nos olhos, bato com o punho no

mármore da ilha, sentindo meus ossos estalarem e doerem. Soltando um


grunhindo, baixo a cabeça e engulo a dor dos meus dedos latejantes.

Vincenzo Esposito não me conhece. Não sabe de porra alguma sobre


mim. Esse Spencer que ele diz conhecer e caçoa não chega nem perto do

que sou de verdade. Preciso vê-lo pessoalmente, para que diga na minha
cara que vai arrancar o meu coração caso ela se case comigo ou que irá

violentá-la.

— Vou foder com a sua vida, arrombado! — Coloco o celular na


ilha e avalio meus dedos.

Ele não vai tocar em um fio de cabelo dela, não vou permitir que a

machuque mais do que já fez. Para se aproximar dela, ele terá que passar
por cima de mim, e antes que isso aconteça, eu o mato lenta e
dolorosamente. O sobrinho de Salvatore não sabe o quanto posso ser

perverso quando pensam ou tentam mexer com as pessoas que gosto.

Suavizando a expressão para que Giulia não fique nervosa, recolho


o celular dela e guardo no bolso, em seguida, vou para a sala. Eu a encontro
deitada, com a mão na cabeça e de olhos fechados. Ao ouvir meus passos se

aproximando, ela me encara com aquele olhar de preocupação.

— Como se sente? — pergunto, me sentando na beirada do sofá. O

seu rosto não está pálido como minutos atrás.

— Tensa. — Suspira.

— Não fique, tudo será resolvido. A sua única preocupação deve ser
o seu vestido de casamento — falo, segurando em seu queixo e acariciando

com o polegar.

— E se...

Faço um gesto com a outra mão para que fique em silêncio.

— Giulia, quando o seu tio e o meu irmão se uniram para que nos
casássemos, eles não estavam te oferecendo um frouxo como marido —

tenho a sua atenção nesse exato momento —, e sim um homem de verdade,


que está disposto a entrar em uma guerra para te proteger. Então, não quero
que chore ou tenha medo de que algo de ruim vá acontecer com você por
causa do que Vincenzo te disse.

Os olhos dela enchem de água e ela assente, quase chorando.

— O-obrigada. Mas o que pensa em fazer com ele? — Seus lábios

tremem.

— O único caminho que tenho para ele é a morte, então vou matá-

lo.

Giulia arregala os olhos ao notar a minha frieza.

— Spencer, você vai sujar as mãos por minha causa? — Ofega,


tentando se levantar, mas não deixo.

— Desde o início essa não era a sua intenção? Que eu fizesse o


possível e impossível para te proteger dele?

Ela desvia o olhar do meu.

— Agora é diferente — murmura, se sentando cabisbaixa e soltando

um gemido ao tocar na cabeça.

— Não vejo diferença alguma. Vincenzo não irá te deixar em paz,


você sabe disso. — Suspiro, vendo-a esfregar as mãos em seu jeans.

— Sim, eu sei — diz, quase inaudível.


— Ele me lembra de Lucke Ivanov. O maldito era obcecado por
Hailey, fez a vida dela um inferno, então te digo com propriedade, o
Esposito não vai parar até conseguir te ter nas mãos. Só que não estou

disposto a deixá-lo fazer isso. — Eu me sento ao seu lado e toco em seu


ombro.

— Não estamos falando de uma pessoa comum, que se matar ficará


por isso mesmo. Vincenzo também é poderoso, não tanto quanto vocês, mas
ele é e tem muitos amigos que adoram vê-lo fazendo maldades. — Sua voz

falha.

— Por que isso agora? Esse medo todo? — inquiro, curioso.

— Você olhou o meu celular? — Ela tenta desviar do assunto.

— Sim, eu vi e ouvi tudo, cada detalhe. Mas me responda, Giulia, o

que te fez mudar de propósito? Por que agora é diferente de antes? —

Vasculho o seu rosto.

— Porque antes eu não me importava com você, mas agora me


importo e tenho medo de que saia machucado! — revela, olhando-me com

os olhos embaçados de lágrimas e a voz embargada.

Em choque, saio de perto de perto dela e passo a mão por meu

cabelo, tentando assimilar o que acabo de ouvir. Mesmo de uma forma


indireta, ela está querendo dizer que se apaixonou por mim e tem medo de

que algo me aconteça.

— Desde quando está apaixonada por mim? — Minha garganta arde

e uma aflição bate em meu peito.

— Em momento algum eu disse que...

— Giulia, sou um homem de quase trinta e dois anos, sou mais de


dez anos mais velho do que você, e conheço muito bem as mulheres. Acha

que mentir vai me convencer de que não tem sentimentos por mim? — Paro

em sua frente.

— Pelo modo que fala, até parece errado que alguém se apaixone
por você — diz, com a voz firme, e mais uma vez foge da minha pergunta.

— Não é errado, só não sou a pessoa certa para que você se

apaixone, se apegue. O que temos vivido durante esses dias está sendo bom,

gostoso, mas não deveria ter envolvido o coração. Uma coisa é nos
divertirmos, eu te proteger, outra é você se apaixonar ou chegar a me amar.

— A seriedade em meu tom é suficiente para que Giulia deixe as lágrimas

caírem por suas bochechas. Ela já estava vulnerável, agora se encontra


muito mais.

Sou um cuzão, eu sei. Caralho, não queria magoá-la, mas não estou

mentindo.
— Esse seu discurso é usado com todas? Com quantas usou? —

desdenha, limpando os olhos com o dorso da mão.

— Giulia, porra, não quero ser um escroto. Eu prometi que nunca

mais te magoaria, mas é sério. — Passo a língua entre os lábios, nervoso. —


Você não é e nunca será como as outras. Com elas era diferente porque

sabiam o lugar delas, sabiam que jamais poderiam ter um espaço em meu

coração. — Ajoelho-me entre suas pernas e toco em suas coxas.

O meu coração, que até um tempo atrás achei que fosse blindado por
algumas camadas de gelo em relação a mulheres, neste momento bate

disparado. Faz quanto tempo que não sinto emoção? Dez? Quinze anos?

Nem me recordo se em algum momento na minha vida estive apaixonado


por alguma mulher, e olha que tenho uma vasta lista de mulheres com quem

me envolvi. 

— E o que te faz não ser “o cara certo”? — Ela toca em meu rosto

carinhosamente.

— Para você? — Arqueio a sobrancelha, sorrindo.

— Eu não disse para mim — retruca, esboçando uma careta.

— Giulia, há dias venho adiando essa conversa e sei que você

também tem curiosidade em saber. — Limpo a garganta e percebo que ela


me encara com atenção. — Existem várias razões para que você não se
apaixone por mim. Faz meses que estou limpo, mas a última vez que tive

uma recaída me senti um merda, fiquei com vergonha por ter me tornado
alguém tão fraco a ponto de deixar que a minha família descobrisse e

ficasse decepcionada.

Ela passeia os dedos finos por minha sobrancelha e eu fecho os

olhos, encostando a testa em seu peito.

— Na época em que eu era rebelde, um moleque irresponsável,

tinha desculpa para dar quando me enchia de entorpecentes. — Respiro

profundamente ao sentir a carícia em minha nuca. — Meus irmãos sempre


passavam a mão na minha cabeça por eu ser o caçula, porque, para eles, era

uma fase por termos perdido nossos pais tão cedo e de uma maneira brutal.

— Ouço o ofego dela.

— Então, na cabeça deles, principalmente do Ezra, em algum


momento eu iria amadurecer e entender que viver refém de substância para

aplacar uma dor não me serviria de nada. E eles tinham razão, cheguei à

minha fase de amadurecimento e compreendi que não era certo tentar curar

uma dor com outra, porque todas as vezes que eu usava, me sentia
flutuando nas nuvens, mas quando o efeito passava o mesmo vazio tomava

conta de mim. Passei anos e mais anos descontando minhas frustrações em


todos os tipos de drogas e quase me destruí — confesso, sentindo os braços

dela contornarem meus ombros.

— A última recaída que tive foi anos atrás, na Itália. Havia

participado de uma corrida lá e acabei caindo na tentação, não resisti e fiz


merda, acabei com o meu autocontrole — falo somente o necessário para

poupá-la dos detalhes.

A festa estava lotada, todos se divertindo com a droga rolando solta.

A minha intenção não era ficar chapado, mas acabei usando para entrar no
clima, foi assim que tive uma noite regada a sexo e muitas drogas, por

pouco uma das mulheres que estavam me fazendo companhia não teve uma

overdose e morreu.

— Na mensagem, Vincenzo menciona drogas. Ele me perguntou


qual a diferença dele para você, e eu sei qual é.

Afasto o rosto do seu peito e ergo os olhos para os dela.

— Não faça isso — peço. Ela toca em meus lábios para que eu me

cale.

— Não sou nenhuma garotinha iludida, Spencer, sei muito bem que

estamos nos curtindo e que você não me prometeu amor ou um conto de

fadas. — Ela puxa o ar para os pulmões. — Mas quando foi que eu te disse
que estava esperando isso de você? Acha que estava em meus planos que
nos envolvêssemos tanto, e que em tão poucos dias permitisse que você

conhecesse o meu corpo como nenhum outro homem conheceu? De forma


alguma. O que aconteceu entre nós foi algo mútuo, não tivemos controle

sobre as nossas ações.

— Giulia...

— Vincenzo e você nunca poderiam ser iguais, Spencer, porque


você é melhor do que ele de todas as formas. E não ache que estou

passando pano para o seu uso com as drogas, jamais irei apoiá-lo com algo

que pode te levar à destruição, mas falo sobre você ser um ser humano

incrível, apesar de ser um safado e pretensioso. — Ela ri e ao mesmo tempo


chora. — E mesmo que negue, tem tanto medo de me machucar que acaba

me machucando sem querer. E não é só isso. Você usa a indiferença como

um escudo para não se entregar por completo, porque sabe que o que tem
aqui dentro é um coração e não uma pedra de gelo. — Aponta para meu

peito.

— Não acha que sou podre demais para você, menina? Uma pessoa

quebrada só não basta? Eu sou um caos, Romano, não um príncipe —


murmuro, com nossos olhares fixos.

— E eu não sou uma princesa em busca de um castelo, nem procuro

um príncipe montado em um cavalo branco.


Toco em seu rosto e ela beija a palma da minha mão.

— Não acha que é muito cedo para uma declaração de amor? Agora,

mais do que nunca, vou me sentir a última bolacha do pacote — brinco.

— E quem disse que isso é uma declaração? Estou deixando claras

as minhas intenções, seu convencido. — Ela me empurra pelos ombros.

— Será que eu posso também deixar as minhas intenções claras? —

Eu a seguro pelos quadris e a puxo para a frente, em seguida, limpo o seu

rosto.

— Você me disse para me concentrar no vestido de noiva, então


vamos para a casa do seu irmão, assim me apresenta para o resto da sua

família como a sua futura esposa. — Empina o nariz, atrevida.

— Ai, droga, estou sentindo um aperto aqui. — Afasto-me dela e

passo a mão em meu pescoço, simulando uma tosse.

— Spencer, o que foi? — pergunta, aflita.

— Nada muito grave, só estou sentindo o aperto da sua coleira em


meu pescoço — digo.

Giulia semicerra os olhos e eu gargalho, só sei que ela se enfurece e

lança uma das almofadas do sofá em mim com tanta força, que quase caio
para trás. Estou prestes a agarrá-la e beijar a sua boca quando tocam a
campainha. São meus irmãos, típico deles chegarem sem avisar.

— Quem será? — indaga ela, meio receosa.

— Seus cunhados. — Arregalo os olhos ao notar a facilidade que

tenho em admitir o posto dos meus irmãos na vida dela.

— Ah, merda, vou lavar o rosto enquanto você os atende. — Então


se levanta e passa por mim correndo.

Pondo-me de pé, coço a nuca, vendo Giulia sumir do meu campo de

visão.

A campainha toca insistentemente, então vou atender a passos


largos. Ao abrir a porta, deparo-me não só com os meus irmãos, como as

suas esposas também. Eles com as expressões emburradas, carregando


algumas caixas. O único que está sem nada nas mãos é o Killz. Deve ter
sido esse o motivo de eles terem demorado tanto.

— Você conhece essas mulheres, quando se unem são capazes de

acabar com a nossa sanidade. Elas quiseram nos acompanhar para que
Giulia pudesse provar o vestido — explica Killz, sério.

Analiso a minha família e meus olhos caem em Muriel, que está

sorridente segurando Rowan no colo. Quando me vê, ele abre os bracinhos


para que eu pegue, e mesmo contra a minha vontade, pego o garotão dos
braços da mãe.

— A cavalaria para a sua noiva chegou, Spen — diz Alessa, batendo


na caixa que o marido segura. Ele fica vermelho de raiva, e ao lado está
Carter, que gargalha e Ezra o acompanha.

— Não sei do que estão rindo, não ajam como se as suas mulheres

também não tivessem feito de vocês empregados, seus fodidos! — rosna


Axl.

Eu rio baixinho, sentindo Rowan puxar meu cabelo.

— Ainda bem que eu não vou passar...

— Calado, Spencer, em breve você seguirá pelo mesmo caminho —


retruca a loira mandona.

— Não vai nos deixar entrar? — Aubrey bate os cílios.

— Isso é um complô de garotas? — Bufo e todos riem.

— Quase isso — resmunga Killz.

Dou passagem para eles e logo todos estão dentro do meu


apartamento. As mulheres se acomodam no sofá e os maridos entregam as
caixas para elas com um semblante de alívio. E é nesse momento que Giulia

surge sorridente, juro que ouço um surto coletivo das mulheres.


— Spencer, a sua garota é belíssima! — elogia Alessa, indo até
Giulia e a abraçando calorosamente.

— Eu disse para vocês — fala Muriel, risonha.

— E não mentiu, ela parece uma boneca — se manifesta Hailey, se


reunindo à esposa de Axl.

A minha noiva fica deslumbrada com a hospitalidade das meninas.

— Sim, uma bonequinha. — É mais forte do que eu, e os meus

irmãos tiram sarro de mim.

— Ele já até deu apelido a ela — diz Aubrey, arrancando risadas.

Rindo, encaro Giulia e noto que suas bochechas estão vermelhas.


Desconcertado por ser o centro da atenção da minha família, entrego meu

sobrinho para o pai e vou até as garotas, passando o braço ao redor da


cintura da minha futura esposa.

— Giulia, essa é Aubrey, esposa de Killz, a mais recatada, mas põe


o Knight mais velho no bolso quando quer — brinco, apontando para Brey
e ouvindo um rosnado do mais velho. — Essa aqui é a Alessa, atrevida,

irritante e a enfermeira da família, ela é esposa de Axl. — Aponto para a


morena que sorri.
— Spencer, temos uma reunião, você poderia deixar para citar a

qualidade das mulheres depois? — pergunta Ezra, num tom entediado.

Ignorando meu irmão, continuo com as apresentações.

— E essa barbie linda é a Hailey, a mulher de Ezra. Ela é a mais


brava de todas e eu a admiro muito, principalmente a sua força. — Sorrio

para a loira, que tem os olhos cheios de lágrimas. — E por último e não
menos especial, a Muriel, a ruivinha mais linda desse mundo, esposa de
Carter, o mais ciumento de todos os Knight.

— É um prazer, meninas, sou Giulia Romano, futura esposa do


Spencer. — Ela é rodeada pelas mulheres.

— E a mulher que vai deixá-lo com os quatro pneus arriados — diz


Axl, intrometido, dando dois tapas em meu ombro. — É, brother, você está

fodido. Ela é uma bonequinha, com todo respeito. Acho que agora é a nossa
vez de gozar com a sua cara, isso se chama Lei do Retorno. Bem-vindo ao
time — fala em meu ouvido para que só eu ouça, e eu sei que é para me

provocar.

E surte efeito, porque fico puto de ciúmes o ouvindo chamá-la por

um apelido que eu dei. Ah, porra, Axl tem razão, estou fodido. Eu não sinto
ciúmes de ninguém, mas de Giulia, sim. Até demais.


Meus irmãos me encaram em meio a um silêncio ensurdecedor

depois que mostro a eles as mensagens e a ligação de Giulia com Vincenzo.


O primeiro a se manifestar, mesmo que seja através de um olhar sombrio, é
Ezra, que encara o nosso irmão mais velho por alguns segundos, até que se
levanta da cadeira e passa a mão em sua barba.

— Spencer, esse filho da puta não está brincando. A coragem de


entrar em contato com a garota sem se importar se vai ser descoberto é
preocupante — diz Ezra, mostrando-se indignado.

— Sim, eu sei disso, Ezra — falo, mirando-o e notando que fecha os

punhos.

— Basta dizer que quer ele morto e eu o caço na Itália. Faço questão
de trazer a cabeça dele para você. Faz um tempo que não me divirto, seria

uma ótima aventura — se oferece Ezra, friamente.


— No momento, precisamos de estratégia, agir por impulso só vai

estragar os nossos planos — intromete-se Killz, sentado no sofá ao lado de


Axl e Carter, que escutam calados.

— Nosso irmão tem razão, Spencer — se manifesta Carter,

alternando o olhar entre mim e Killz.

— Estou de acordo com Killz e Carter — fala Axl, com a expressão


pensativa.

— E o que vocês sugerem? Que eu fique sentado esperando que o

psicopata saia da Itália e venha atrás de Giulia? — Saio da poltrona e ando

de um lado a outro.

— Ele não vem, te garanto. — O tom de certeza de Killz me deixa

desconfiado.

— Como pode me garantir que não? Os soldados dele invadiram o


apartamento onde você a escondeu, acha mesmo que um homem como

Vincenzo não virá atrás dela? — Ergo a sobrancelha e os meus irmãos

também ficam curiosos.  

— Só confie em mim — pede o mais velho da família. O modo

como age misteriosamente me incomoda, assim como o fato de que ele sabe

muito mais do que eu sobre essa situação.


— Por que esse mistério todo, irmão? Eu só sirvo para casar com a
garota e o resto você faz? Qual o propósito dessa aliança mesmo, já que eu

não posso tomar decisões? — Enraivecido, vou até ele e olho bem em seus

olhos.

— E mais complicado revelar um segredo que não é meu, e nem

seu! Se eu te contar, a minha palavra não vai servir de nada para...

Espumando de raiva, interrompo-o.

— Existe alguma possibilidade de o Nicolo não ser o tio da Giulia, e

sim o pai? — A pergunta sai sem que eu tenha como controlar.

O silêncio toma conta do ambiente rapidamente.

— Esqueça tudo o que você viu naquele dossiê, nada daquilo é

verdade, quero dizer, ao menos a metade. Construir uma história com base

verdadeira foi a maneira que Nicolo encontrou para proteger a sobrinha. —

Suspira Killz, limpando a garganta.

Puta que pariu.

É nesse momento que engulo em seco. O hacker que contatei para

essas informações nunca falhou em suas investigações, e agora descubro

que o italiano é mais esperto do que eu imaginava.

— Então ele é realmente o tio? — questiono.


— Não te disse isso, Spencer — murmura Killz, com o semblante

preocupado.

Agora tudo faz sentido. Ele não aceitaria me casar ou fazer negócios

com Nicolo sem um bom motivo.

Paralisado, encaro meu irmão, depois os outros, que estão nos

observando.

— Como isso seria possível? — Arregalo os olhos.

Confesso que não esperava que o rumo dessa conversa chegasse a


esse ponto, a intenção era ser auxiliado por meus irmãos e ter o apoio deles

para acabar com Vincenzo.

— Nicolo Romano é mais inteligente do que pensávamos, ele


manipulou todas as informações da vida de Giulia para que ela não
descobrisse que o homem que ele matou nunca foi o seu pai, e sim, o seu

tio.

A confissão de Killz me abala, mas não é por mim, e sim por Giulia.

Nicolo é o pai da minha futura esposa.

— Não faz sentido. — Rio, nervoso, porque sei que faz sim, as

minhas suspeitas estavam certas.


— O homem é poderoso, Spencer, é o capo. Acha mesmo que ele

não poderia manipular informações? Por anos, Viktoria e Kurtz


conseguiram esconder as minhas origens, outra prova de que não é

impossível é a minha irmã — interfere Ezra, se referindo a Alessa, que além


de ser a cunhada dele, é irmã. A história mais louca que já vi.

— Sim, é verdade. — Comprimo os lábios.

— É complicado explicar, mas Nicolo teve razões para fazer isso.

Eu sou pai e faria o mesmo por minha filha se a vida dela estivesse em
perigo. — Surpreendo-me com a defesa de Killz.

— Nem vou te perguntar como soube disso, porque sei que saber
sobre a origem de Giulia foi o que te fez aceitar a proposta dele. — Vou até

o bar embutido na parede. — Só acho que não deveriam ter escondido de


mim algo tão importante, eu preciso saber no que estou entrando! — Pego o

copo e coloco um pouco de uísque.

— Se continuar com esse tom, alguém vai acabar ouvindo vocês —


alerta Carter.

— Dizer a verdade a Giulia não cabe a mim ou a você, Spencer.

Nicolo é quem deve assumir essa responsabilidade. Chegamos agora na


vida dela, mas ele não, o homem teve muitos anos para conversar com a
filha, e não o fez porque tem os seus motivos! — retruca Killz, contrariado.
— Neste momento, estou me sentindo a porra de uma marionete do
meu próprio irmão. Você teve mais consideração com um desconhecido do
que comigo, que carrego o seu sangue. — Rio baixinho, levando o copo à

boca.

— Não é sobre sangue, caralho! Quando você for pai vai me


entender, irá entender Nicolo. — Meu irmão vem em minha direção e toca
em meu ombro.

— Jamais vou entender alguém que torna a filha uma vítima de um


homem sedento por vingança só para proteger o seu segredinho sujo. Isso é

doentio! Agora só falta você me dizer que esse irmão dele não está morto e
fugiu com a mãe de Giulia. — Bebo o restante do uísque de uma vez só e
me afasto de Killz, colocando o copo no aparador.

Nem quero imaginar qual será a reação de Giulia ao saber que o tio

dela, na verdade, é o seu pai.

— Ambos estão mortos, mas por razões completamente diferentes


do dossiê que você tem. Giuseppe matou Taylor depois de descobrir que ela

e o irmão dele foram amantes, e que por anos a mulher escondeu que Giulia
não era filha dele — revela Killz.

Caralho, isso piora cada vez mais. Minha futura esposa é fruto de

uma traição.
Sem reação, me sento na poltrona e passo a mão por meu cabelo.

— E por que Nicolo tirou a vida do irmão, sendo que foi ele o

traidor? Não deveria ter sido o contrário? — Sinto um gosto amargo na


boca.

— Nem sempre Nicolo soube que Giulia era dele, ele descobriu na
noite em que o seu antigo caso morreu. O irmão dele acabou confessando

dois dias depois que retornou para a Itália com a criança — narra o Knight
mais velho. — Por meses, Giuseppe fingiu ter perdoado o irmão pela

traição, até que um dia ele tentou matar...

Batidas à porta fazem com que meu coração acelere.

— Spencer, você pode me ajudar, por favor? — Ouço a voz de


Alessa e eu respiro aliviado.

— Eu acho que essa conversa não deveria ser abordada quando a

garota está presente — diz Axl, preocupado.

— Eu sei que vocês estão ocupados, mas é urgente. Só você pode


nos ajudar, ou posso arrumar um dos soldados para fazer isso — sugere a

esposa do meu irmão, como um diabinho.

Fechando os olhos, passo por meus irmãos e vou até a porta. Ao

abrir, dou de cara com Alessa mordendo os lábios e com o semblante


apreensivo.

— O que foi dessa vez, Lessa? — Suspiro, encarando-a.

— Obrigada por ser um troglodita e me deixar falando sozinha —

fala, emburrada. — Mas preciso que me ajude. O zíper do vestido que

Giulia estava provando emperrou, preciso que nos ajude. Já tentamos de

tudo, mas não deu certo. Acho que precisa de alguém um pouco mais forte.
— Ela faz uma careta.

Coçando a nuca, respiro profundamente.

— O.k., já estou indo lá — digo.

Ela assente e gira nos calcanhares, indo em direção à sala.

Batendo a porta novamente, viro-me para a minha família.

— A nossa reunião acaba aqui. Axl tem razão, isso é complexo

demais para ser conversado na presença de Giulia — aviso, encarando-os.

— Spencer, ainda não acabou — comunica Killz, atraindo a minha


atenção.

Óbvio que não, essa história ainda está mal contada, tenho certeza

de que há mais coisas por trás dessa versão de Nicolo.

— O que mais tem para mim? — Controlo meu tom de desdém.


— Nicolo nunca fez nada contra os Esposito por medo — diz o

chefe da família.

— E se não for isso, é o quê? — Franzo a testa.

— Eles sabem que Giulia é filha dele, e Vincenzo usa esse segredo
para chantagear ele. Não só isso, o desejo de vingança do rato não muda

mesmo sabendo a origem da garota, porque ele culpa Nicolo pela morte da

irmã.

Empalideço no mesmo instante.

— Mas isso não faz sentido algum. — Agora estou confuso.

— Faz sim. O que não te contei é que Giuseppe, além de ter um

relacionamento com a mãe de Giulia, ele mantinha um caso com Eleonora.

E quando Nicolo o matou, a irmã de Vincenzo se suicidou, porque era louca


pelo amado, mesmo sabendo da vida dupla dele.

E eu achando que não poderia existir outra família que superasse a

história da minha.

— Puta merda — murmuro, em choque.

— E Nicolo ainda não foi pra cima dos Esposito porque ele tem um

plano de matar todos. Há anos, tem se preparado para isso. Ele quer cortar o

mal pela raiz, e para isso é necessário agir com sabedoria.


Isso é suficiente para que eu conclua que não sou tão inteligente

quando pensei que fosse.

— Eu vou ajudar Alessa — falo, com os pensamentos fervilhando,

totalmente aéreo.

— Hoje, vou conversar com Nicolo para que entre em contato com

você — avisa Killz, mas não dou importância.

Cambaleando, deixo o meu escritório e rumo até o quarto onde as


meninas se encontram. No meio do caminho, as lembranças da minha

conversa com Nicolo na Itália surgem em minha cabeça como flashes.

Como não notei que havia algo errado ali? Lógico que notei, mas nunca
chegaria a essa conclusão sozinho. Só que estava na cara, principalmente o

fato de que um capo poderoso como ele me implorou quase em lágrimas

para levar a sobrinha embora e me casar com ela.

Nervoso, paro em frente à porta encostada e escuto a voz das

garotas. Elas riem animadamente. Passo as mãos no rosto, depois bato na

madeira da porta. Depois de receber uma revelação assustadora, estou

muito balançado.

— Entre. — É a voz de Alessa.

Suavizo a expressão e entro no quarto.


— Vim ajudar... — Calo-me ao erguer os olhos e ver Giulia de

costas, em frente ao espelho, usando um vestido branco de renda sem

mangas, que marca a sua cintura fininha e a bunda.

Ela fica linda de noiva.

— Meninas, vocês poderiam me deixar a sós com o Spencer, por

favor? — pede Giulia, olhando através do reflexo do espelho.

— Claro — respondem em coro, e saem do quarto, fechando a porta

em seguida.

Em passos lentos, vou até ela e a abraço pela cintura, grudando

nossos corpos.

— Como se sente? — inquiro, sem querer olhá-la nos olhos.

— Mais tranquila. E ter as garotas aqui me ajudando e sendo


amigáveis, me fez esquecer por alguns instantes os meus problemas. — Ela

pousa a mão em cima da minha que está em sua barriga.

Toco em seu pescoço com uma mão e levanto o seu rosto para mim.

— Fico feliz que esteja se sentindo bem com a presença delas. As


meninas são incríveis, tenho certeza de que serão grandes amigas. —

Acaricio sua bochecha com o polegar.

— Eu também. — Sorri lindamente.


— E o zíper para descer que não estavam conseguindo? —

pergunto, observando os seus olhos que estão mais claros essa manhã.

— Já conseguimos, você demorou um pouco. Mas pode me ajudar


com esse. — Ela se afasta de mim, mas não tanto, ainda consigo sentir o

calor do seu corpo.

Ponho as mãos no zíper do vestido, então me inclino e beijo os seus


ombros, causando arrepios nela. Cheirando a sua pele perfumada e macia,

desço o zíper e roço meus lábios em suas costas, ao mesmo tempo que

deslizo a peça para baixo. Lentamente, alcanço o seu cóccix e desenho com

meus lábios cada pedacinho dela até chegar a sua bunda.

— S-spencer, t-tmos visitas — diz, gemendo baixinho.

— Eu sei, baby. — Beijo a sua bunda, em seguida, me levanto e a

viro para mim pelos ombros.

— Sabe, e por que fica me tentando assim? — Abre um sorriso para


mim.

— Porque você ficou muito gostosa nesse vestido e eu não resisti.

— Esse é meu modo de dizer que ela ficou deslumbrante.

— Já está treinando para a nossa lua de mel? — brinca, com os


olhos brilhando.
— Quase isso. — Miro em seus mamilos duros sem sutiã.

— Pois deixe esse aquecimento para mais tarde, a sua família está

aqui — repreende-me, contendo a risada.

— Acho que vou mandá-los embora. — Pisco para ela, que

gargalha.

— Nem pense nisso! — Bate em meu ombro, divertida.

Espero que quando souber da sua verdadeira origem, ainda possa

sorrir como agora. Odiaria vê-la sem esse brilho nos olhos e esse sorriso

travesso.

 
Três coisas têm tirado o meu sono – casamento, Spencer e Nicolo.

Faltam dois dias para eu me tornar uma mulher casada. As esposas dos
Knight têm sido prestativas e muito rápidas nos últimos dias. Hailey com
Alessa com meu vestido, Aubrey e Muriel ficaram responsáveis pelo buffet
que acontecerá na casa de Carter. Nos casaremos a céu aberto e no mesmo

local que aconteceu a cerimônia deles.

Já está tudo encaminhado, só falta dizermos o “sim”.

Embora tudo esteja ocorrendo bem para que eu me case, desde a

primeira visita da família de Spencer, notei que ele está diferente e tem

saído muitas vezes sem dizer para onde vai. Ele não me trata mal, só
percebi que tem estado distante, mais sério do que o normal, e distraído,

como se algo o incomodasse. Já tentei, mesmo que não tenha sido de

maneira direta, fazer com que se abrisse comigo, mas nem assim obtive
resultado.
Pergunto-me se está arrependido de ter aceitado esse casamento e

agora não sabe como me dizer isso, ou se está escondendo algo de mim.
Bom, são tantas teorias que criei em minha cabeça que chego a sentir um

peso nela.

E por último, tem meu tio. Nicolo está me ligando desde ontem, mas

não o atendo por estar chateada com algo que nem deveria, afinal, para me
manter fiel a memória do meu pai que ele matou, preciso continuar o

desprezando. Mas, no fundo, tenho a impressão de que sou uma traidora,

porque mesmo que eu não admita, não consigo odiar o irmão de Giuseppe a
ponto de ignorá-lo por muito tempo. Porque sempre volto atrás, e mesmo

com indiferença, eu o deixo se aproximar de mim.

Alguns dizem que sangue atrai sangue, então vou usar o que corre
em minhas veias e na dele como desculpa para essa minha fraqueza ao não

ter pulso firme para afastar de uma vez meu tio da minha vida.

Eu poderia fazer com que se afastasse de mim depois de encontrar


outra família, contudo, não posso esquecer que ainda preciso descobrir o

que de fato levou o capo a ser o algoz do próprio irmão. Se passaram anos,

mas nunca soube da verdadeira versão. Pode até ser loucura, mas sinto

dentro do meu coração que há uma verdade que está sendo ocultada de

mim.
— O que você achou desse, Giulia? — pergunta Alessa, atrás de
mim com um sorriso gentil.

— É bonito. — Em frente ao espelho, avalio o vestido de noiva que

escolhi na companhia das esposas de Ezra e Axl.

Ele é um modelo perfeito e moderno, com alças ombro a ombro,


saia volumosa que ganha mais movimento com suas pregas e bordados. O

que achei mais bonito nele é a cor cappuccino light no corpete, que destaca

ainda mais o bordado de renda guipir em arabescos.

— De verdade, ou só está dizendo isso para nos agradar? — Quem

pergunta é Hailey, vindo em nossa direção.

Ainda que tenhamos poucos dias de convivência e não sejamos

melhores amigas, elas me passam uma confiança absurda. Como se já nos

conhecêssemos há muito tempo. Além do mais, as meninas estão há mais

tempo que eu na família, sabem exatamente como o Spencer é, tenho

certeza de que o conhecem mais do que eu.

— É o Spencer. Estou sentindo que tem algo de estranho com ele. O

comportamento dele tem sido diferente desde o dia em que vocês vieram

aqui pela primeira vez — confesso, nervosa.

Pelo espelho, vejo as duas mulheres trocarem olhares rápidos.

Engolindo em seco, sinto a mão de Alessa em meus ombros.


— Não vamos mentir para você, mas dessa vez realmente não temos

nenhuma informação que pode ser útil. Desde a última vez que Carter
ocultou um segredo da esposa dele e deixou Muriel profundamente

magoada, os nossos maridos têm evitado nos confidenciar algumas coisas


— revela a esposa de Axl, ela parece estar sendo verdadeira.

— E não vamos dizer que não notamos que Spencer tem agido
estranho, porque tem sim. Estou o achando mais sério e distante, não só de

você, de todos nós — fala Hailey, suspirando.

— Eu acho que ele não quer mais se casar comigo, talvez tenha se
arrependido e agora está encontrando uma forma de me dizer isso. —

Limpo a garganta para controlar o tom quase embargado.

— Pela minha idade e anos de experiência, não acredito que seja


isso, Giulia. — A loira se põe na minha frente e toca em meu rosto. — É

por que você ainda não conhece os Knight muito bem, mas vai ter tempo
para isso quando se tornar uma e descobrir que esses irmãos vivem
rodeados de mistérios. São cabeças-duras, às vezes orgulhosos demais, mas

o que não podemos negar é que eles dão a vida por nós, pela família. — Sua
voz suave me acalma.

— Espero que sim. — Sorrio, com os olhos ardendo.


— Não discordo da Hailey. Esses irmãos são um poço de mistérios e

orgulho. A prova disso é o Ezra, meu irmão é o mais cabeça-dura, porém, é


capaz de qualquer coisa para nos proteger. — Alessa massageia meus

ombros.

É reconfortante ver que as meninas me apoiam e me entendem, não

me deixam de lado por eu ser um novo membro na família. Elas já me


consideram uma Knight mesmo antes de eu ser.

— Outra coisa, se Spencer não quisesse se casar com você, ele nem
teria aceitado a proposta de casamento, porque os Knight são homens de

palavra, eles sempre cumprem o que prometem. Então jogue essa tristeza
fora e vamos sorrir, afinal, depois de amanhã você será oficialmente uma
mulher casada! — incentiva Hailey, sorridente e me abraçando rápido antes

de se afastar.

— Isso mesmo, querida, daqui a dois dias você vai entrar para a
história. Está conseguindo levar Spencer James Knight para o altar! —
Alessa nos faz rir.

— Ainda nem acredito que Spen vai se casar e que encontrou


alguém para cuidar dele, porque eu tenho certeza de que mesmo que essa

união de vocês tenha surgido através de outros interesses, um irá cuidar do


outro — profere a loira, orgulhosa.
De repente, o peso em meus ombros e coração não existem mais,
somente há leveza neles. Fico grata com as garotas por serem tão
acolhedoras.

— Ele já comprou as alianças? — pergunta a morena, entusiasmada.

— Ainda não vi, mas se comprou não me disse nada — respondo,


voltando a me olhar no espelho e admirar o vestido que molda minhas
curvas.

— Bom, se ele não comprar nem estranhe, normalmente não usamos

aliança — explica Alessa, e eu arregalo os olhos.

— Como assim? — Viro-me e vasculho as mãos delas, mas noto


que há alianças ali e fico confusa.

— Os casamentos da família não são tradicionais, vou te contar

como funciona. — Ela ri baixinho. — Existe um ritual entre o casal. Os


noivos devem cortar as duas palmas das mãos e uni-las para que o sangue
se misture, assim o casamento é selado.

Encontro-me boquiaberta depois de ouvi-la.

— O sangue que partilharmos nos une, em vez de alianças. O


sangue, para a família, tem mais valor do que uma troca de alianças —
acrescenta a esposa de Ezra.
Seria errado ficar fascinada por essa tradição deles? É meio
sombrio, porém, interessante e faz muito sentido. Não existe nada mais
valioso do que o sangue que corre em nossas veias.

— Me achem maluca, mas eu gostei disso — confesso, mordendo os

lábios, e elas gargalham.

— Cada um com seu gosto, e respeitamos! Porque na primeira vez,

eu senti vontade de matar o Axl por causa desse bendito corte, e só o fato de
estarmos nos casando obrigados me deixou muito mais puta! — confidencia

Alessa, com a expressão de apaixonada mesmo que o seu relato seja usado

em um tom de revolta.

— Para ser sincera, não tenho do que reclamar, porque depois da dor
vem a recompensa — ouço Hailey falar. — A melhor parte é a lua de mel.

— A malícia dela nos arranca risos e eu só consigo me lembrar da promessa

de Spencer depois que nos casarmos.

— É, amiga, você tem razão, não posso dizer que está mentindo.
Meu marido é puro fogo, ele me vira do avesso entre quatro paredes. —

Suspira a morena, com o semblante de sonhadora.

— Meu Deus, Alessa, nos poupe dos detalhes! — exclama Hailey, e

eu sinto meu rosto arder.


— Ah, pare com isso, estamos entre garotas, e a Giulia não é

nenhuma criança! — retruca Lessa, rindo.

— Não mesmo — digo, piscando para elas. — Agora, podem me

ajudar a tirar o vestido? Comecei a sentir calor — aviso, me abanando.

— Claro. — As meninas vêm ao meu socorro rapidamente.

— Então, será esse o vestido, não é? — indaga Hailey.

— Sim, ele é perfeito. — Olho-me pela última vez no espelho e me

sinto uma princesa dentro dele.

Hailey e Alessa se foram à tarde. É noite e Spencer não deu as caras


hoje. Desde que saiu pela manhã não me ligou, nem mesmo para avisar que

não viria jantar. Só enviou uma mensagem de texto dizendo que estava

fazendo um trabalho em um dos galpões e que chegaria mais tarde.

Após comer, tentei ficar na sala assistindo à televisão, mas não fui
capaz me concentrar em nada que passava, então vim para o quarto que eu

ficava antes de me mudar para o dele, e aqui estou desde as sete da noite,
deitada na cama sem conseguir pregar os olhos, preocupada com o fato de

que já são quase meia-noite e nem sinal de Spencer.

— Droga — murmuro, olhando para o teto e sentindo meus olhos

arderem.

Não tem como não me preocupar. Mesmo que ele esteja em um

território seguro, Vincenzo ainda está vivo e sedento por mim, e vai tentar

derrubar quem for para me ter nas mãos. Todo cuidado é pouco em se

tratando de um homem obcecado por retaliação.

Remexendo-me no colchão por não achar uma posição confortável

que me permita esquecer esses pensamentos ruins, fecho os olhos e respiro

profundamente. Apreensiva, sento-me na cama e desisto da ideia de dormir,

então saio dela e acendo a luz do quarto.

Andando de um lado a outro, miro em meu celular na mesa de

cabeceira que começa a tocar. Com o coração acelerado, corro até ela e

pego o aparelho. Ao visualizar a tela, vejo que é Spencer me ligando.

Trêmula, eu o atendo rapidamente e é preciso que eu me sente na


cama para controlar a tremedeira das pernas.

— B-bon-nequinha, p-pode a-ab-brir a-a p-porta p-ra m-mim? Pp-

erdi a m-minha c-chhave. — Ele está bêbado.


— Spencer, você bebeu? — pergunto, mesmo sabendo da resposta.

— S-só u-m pp-ouco. — Soluça do outro lado da linha.

— Em que buraco você se enfiou o dia todo? — indago, brava,

saindo do quarto.

— Ab-bre pr-ra mim, esto-oou cansado. E o Patrick está aqui na

minha frente, sendo meu babá. — Embola a voz e ri.

Pelo visto, ele está do lado de fora do apartamento. Daqui, escuto-o


resmungar, não só pelo celular. Jogo meu aparelho no sofá e caminho até a

porta.

— E-eu a-acho q-que ela foi enviada pelo diabo para me fazer pagar

pelos meus pecados, mas aquela mulher é bonita demais para ser a
secretária do satanás! — Escuto ele dizer e gargalhar antes de abrir a porta.

— A-ai, pp-porra, vv-ou m-morrer!

O que eu não esperava era que Spencer estivesse encostado na porta


e que caísse nos meus pés.

— Sr. Knight. — Patrick se preocupa, mas o chefe dele está com os

olhos em mim. Mesmo que esteja bêbado, o filho da mãe continua sexy.

— N-nnossa, d-daqui debaixo, a visão que tenho é do paraíso. —


Ele estala a língua e continua deitado, me encarando.
Estou de camisola e agradeço por não ter usado nada muito curto e

nem sensual, mas ainda assim, Spencer tenta olhar para a minha calcinha.

— Patrick, pode ir, daqui eu assumo — digo.

O soldado está tão constrangido que sai a passos largos. Pelo seu
comportamento, nunca viu o chefe assim.

— Spencer, se levanta — peço pacientemente, me afastando dele.

— V-voce q-quase me matou quando abriu a porta — diz, deitado

de barriga para cima e fechando os olhos. Ele está entre o corredor e o


apartamento, deixando a porta aberta.

— Por que bebeu tanto assim? — Agacho-me e toco na sua

sobrancelha ao perceber que tem um corte superficial, deve ter se

machucado em algum lugar.

— N-naão p-posso dizer! E-e eu estou vendo duas de você agora, e

as duas são lindas. — Ele ergue os olhos azuis para mim, estão vidrados e

vermelhos.

Essa bebedeira dele não é normal, há algo por trás e eu vou


descobrir.

— O.k., agora me ajude a te ajudar. Vou tentar te levantar, tá bom?

— Me levanto e fico na frente do seu corpo. Eu estendo a mão para ele, e


em vez de aceitar a minha ajuda, passeia os olhos por meu corpo

lentamente.

— V-você é m-muito p-perfeitaaaa! — cantarola e eu acabo rindo da


situação.

— Spencer, é sério! — Volto com a minha postura séria, só assim

ele pega as minhas mãos. Mas não para se levantar, e sim para me puxar
para o chão com ele. — Não era esse o plano! — resmungo, quase batendo

o rosto em seu peito.

— S-shiuuuu, v-vamos d-dormir aqui. — Passa a mão por minhas

costas e eu sinto o cheiro do álcool impregnar em meu nariz.

— Onde você estava que ficou assim tão bêbado? — pergunto,

levantando o rosto e o encarando.

— C-com C-carter, e-eu a-acabei exagerando. — Massageia minha

bunda e eu dou um tapa na mão dele.

— Quer desabafar e me dizer o que te levou a ficar nesse estado? —

Ergo meu corpo e me sento em suas coxas.

— A-acho que você me odiaria e eu não quero que me odeie. — A

sua voz melhora um pouco.

— É tão grave assim? — Meu coração fica apertado.


— S-sim, v-você vai chorar, se machucar — diz baixinho, fechando
os olhos e virando a cabeça para o lado.

— O que é? — Saio do seu colo e me sento ao seu lado, tocando em

seu rosto para que me encare.

— É-é o seu pai. N-nicolo é um filho da puta, n-não t-te merece. —


Spencer realmente não está bem, dizendo que meu tio é meu pai.

— Chega de conversa, vou te levar para o chuveiro. —

Determinada, me levanto e mesmo sem ter essa força toda, faço com que

Spencer pegue em meus braços como apoio e se levante. Por pouco não
caímos e ele ri como se fosse engraçado.

Cambaleando, como se ambos estivéssemos bêbados, eu o levo em

passos de tartaruga até o nosso quarto. No meio do caminho, ele cheira meu
cabelo, meu pescoço, beija minha bochecha, me elogia e fala até que meus

pés são lindos. Só cala a boca quando passamos pela porta.

Ofegante, eu o jogo na cama e ele resmunga com a voz embolada.

— N-não p-pode s-ser a-agre-ssiva, v-vou ser o seu marido! —

Então puxa um travesseiro e coloca debaixo da cabeça.

Ao menos ele garante o que eu queria saber. Ainda vamos nos casar.
— Você é um bêbado horrível — reclamo, começando a tirar os seus
sapatos.

— V-você é a p-primeira m-mulher que me faz beber, eu nunca bebi

por uma garota — diz com a voz arrastada.

— E por que você ficaria tão mal por mim? — questiono, indo até
ele e me sentando na beirada da cama. 

— N-não l-lembro — murmura, de olhos fechados e com a

respiração ficando leve.

— Vou te preparar um café para ajudar na ressaca — falo, pronta


para me levantar, mas Spencer segura em meu braço.

— D-deita c-comigo — pede.

— O.k. — Cedo rápido demais ao vê-lo chegar para trás e me dar

espaço no colchão.

Assim que me deito, ele passa o braço em minha cintura e me puxa


para ele. Pensativa, coloco minha mão por cima da dele que está espalmada

em minha barriga e suspiro longamente.

— Spencer, o que está acontecendo com você esses dias? Por que
está tão distante? — inquiro, mas só o que escuto é uma respiração pesada
seguida por um ronco, confirmando que ele acaba de dormir.
Fico deitada até ter certeza de que não vai mais acordar, então,
cuidadosamente, saio dos seus braços para fechar a porta. Assim que
amanhecer e ele estiver recuperado dessa bebedeira teremos uma conversa

séria.

— Giulia. — Sinto alguém tocar em meu ombro e me chamar ao


longe.

— Hmm — murmuro, de olhos fechados.

— Você dormiu no sofá.

O cheiro do sabonete dele misturado com o seu perfume impregna


em minhas narinas.

— Acho que sim — digo, quase baixo, sentindo minhas costas


doerem.

Ontem, vim fechar a porta e acabei ficando no sofá. Certamente


cochilei e fiquei por aqui mesmo.
— Vou te levar para a cama — o modo firme com que fala é
possível perceber que está recuperado da bebedeira.

— Não precisa, Spencer. — Abro meus olhos e acabo os fechando


novamente por causa da claridade.

— Precisa sim, você não deve ter dormido direito. E eu te devo isso
pelo show de ontem, apesar de não me lembrar de tudo. Só sei que dei

trabalho — fala e me pega no colo sem que eu tenha tempo para protestar.

O seu corpo está gelado e cheiroso, ele deve ter acabado de sair do

banho.

— Espero que lembre que elogiou meus pés — lembro-o, ouvindo-o

rir baixinho.

— Poderia ter sido pior, não é?

Abro um olho e depois o outro para encará-lo.

— Quando abri a porta, você caiu aos meus pés e descaradamente


tentou olhar para minha calcinha na frente do seu soldado.

Os olhos deles ficam arregalados enquanto caminha na direção do


quarto.

— Puta que pariu — xinga.


— Ainda disse que o Nicolo era o meu pai, que ridículo! — Dessa

vez sou eu que dou risada e abraço o seu pescoço. Sinto seus músculos
enrijecerem de uma forma estranha.

— Eu disse?

Surpreendo-me ao vê-lo gaguejar.

— Sim, mas não dei crédito, você falou tanta bobagem. Coisa de
bêbado. — Encosto minha cabeça em seu corpo, sentindo a respiração dele
ficar pesada.

— Sim, é. — Ele limpa a garganta e entra no nosso quarto.

— Por que você bebeu tanto? Ontem te perguntei, mas você dormiu
sem me dar resposta.

Ele me põe na cama, em seguida, se senta nela de costas para mim,


cabisbaixo.

— Acabei exagerando. Carter e eu fomos ver uma casa perto da


dele, depois seguimos para um bar, só que eu me animei e perdi o controle
— diz, esfregando as mãos na calça moletom preta.

— Entendo. Mas o que te levou a se embriagar? — Vou até ele e me

sento atrás dele, passando uma perna de cada lado do seu quadril e o
abraçando por baixo dos braços e encostando a cabeça em seu ombro.
— Estou com alguns problemas — confessa.

— É por isso que tem ficado tão estranho nesses últimos dias? Quer
dividir comigo? — Beijo a sua pele tatuada e o sinto respirar fundo.

— É coisa de trabalho, não quero te deixar preocupada. Mas de hoje

em diante prometo ser menos disperso. — Acaricia minha coxa. — Mas


tem algo que quero dividir com você. — Ele me olha por cima do ombro.

— O.k. Mas saiba que estou aqui para te ouvir! — Deslizo os dedos

por seu abdômen musculoso e macio.

— Eu sei que está. — Balança a cabeça.

— Por um momento, achei que não quisesse mais se casar comigo,


por isso o distanciamento — revelo.

— Se o meu comportamento te fez pensar assim peço perdão, não

foi a minha intenção. Eu jamais descumpriria o nosso acordo. — Ele pega a


minha mão e a beija.

— Fico mais aliviada em ter a sua confirmação, seria terrível ter que

cancelar um casamento em cima da hora. — Meu peito dói só de imaginar


como seria doloroso.

— Eu não seria tão escroto, pode acreditar.

As meninas tinham razão, elas o conhecem muito bem.


— Hum, agora que já esclarecemos as coisas, o que você quer me
contar que te interrompi? — Beijo suas costas.

— Comprei uma casa para nós na rua onde Carter e Ezra moram.
Mesmo tendo outras propriedades além desse apartamento, quis comprar
uma casa próxima a meus irmãos para que você tenha as garotas como

vizinhas e não se sinta sozinha na minha ausência — confidencia


tranquilamente.

Ele nem imagina o quanto fico boba por saber que ele esteve
pensando em mim o tempo todo.

— Você pensa em tudo. — Sorrio contra a sua pele.

— Eu ia te contar depois do casamento, mas decidi acabar com o


mistério das minhas saídas repentinas. Podíamos ficar no apartamento, ele é
enorme, mas não quero que a gente começo uma vida juntos em um lugar

que faz parte do meu passado. Aqui eu vivi coisas boas e ruins, só que ele
não serve mais para mim, e muito menos para você — declara, fazendo meu
coração acelerar.

— Obrigada. E me perdoe pelas minhas paranoias, cheguei a pensar


que estava escondendo algo de mim — agradeço, saindo de trás dele e me

levantando da cama.
— Já disse que não precisa agradecer. — Ele estende a mão para
mim e eu a pego, em seguida, sou puxada para perto dele.

— É educado agradecer — justifico, me sentando em seu colo de


frente para ele e abraçando seus ombros.

— Você já escolheu o vestido? — Spencer espalma as mãos em


minhas coxas e sobe a camisola até a minha barriga.

— Sim, ele é lindo. — Mordo os lábios, vendo-o levantar a minha


roupa na altura dos meus peitos sem sutiã.

— Você será a minha noiva mais brava e linda que já tive. — Sorri
de lado.

— Mas eu sou a sua única noiva. — Arqueio a sobrancelha,


divertida.

— Verdade, esqueci — diz, brincalhão.

— Spencer, esse seu trabalho está relacionado ao Vincenzo? — Não


tem como deixar esse imundo em segundo plano em nossas vidas, somente
quando ele estiver morto.

— Tem sim. — Balança a cabeça, seus olhos estão sérios.

— E Nicolo está envolvido nisso também? — De repente, ele fica


distante como se estivesse pensando em algo ruim.
— Sim, ele é quem mais tem participação e interesse em destruir os

Esposito.

— Talvez seja por isso que tem me ligado — informo, pensativa.

— Você não o atendeu? — indaga, subindo as mãos na minha


cintura.

— Não quero falar com ele.

— Pois deve, Giulia. Querendo ou não, foi ele que te criou, e se está
querendo se retratar é porque existe alguma coisa por trás disso. E você só
vai descobrir se parar de ignorá-lo. — Ele toca em meus mamilos.

Não tiro a razão dele. Ignorar Nicolo não vai me levar a lugar
algum.

— Depois ligo para ele — prometo, soltando um gemido ao levar


um beliscão no bico do peito.

— Acho uma boa ideia — concorda, antes de abocanhar um dos


meus mamilos e enfiar a outra mão no meio das minhas pernas para me

masturbar.

Jogando a cabeça para trás, cravo as unhas em seu ombro ao ser

dedilhada com velocidade. Quando sinto a sua língua morna sugar meus
seios com força, eu solto um gemido alto e rebolo.

 
 
— Posso comer o seu também? — inquiro, notando que Spencer

está mais me observando do que comendo a sua sobremesa.

Pedimos nosso jantar pelo aplicativo, já que não sabemos cozinhar.


Na hora de escolher a sobremesa, pedi que fosse a minha preferida –

Tiramisù. O doce é de origem italiana, preparada com biscoitos champanhe

embebidos em café e outros ingredientes.

— Já comeu o seu e agora quer o meu? — Encara-me, com a

sobrancelha arqueada.

— Claro, estou fazendo isso para que não desperdice algo tão
delicioso. — Dou de ombros, fazendo-o rir baixinho.

Após o jantar, viemos para a sala e eu trouxe dois pratos

descartáveis com uma fatia para cada. Eu já comi a minha e ele está só

enrolando, até agora só comeu três pedacinhos.


— Eu deixo você comer a minha sobremesa com duas condições. —
Faz uma expressão maliciosa e passeia os olhos por minha camisola curta

que deixa minhas coxas à mostra.

— Tudo pelo Tiramisù. — Descruzo os braços e mordo os lábios.

Lógico que o safado iria querer algo em troca, ele é o Spencer James
Knight, um homem que sabe aproveitar as oportunidades. Rindo dos meus

pensamentos, me levanto para colocar meu prato na mesinha de centro.

Eu posso ir à cozinha pegar outra fatia, mas quero saber o que ele

pretende fazer comigo.

— Primeira condição é que você vai se sentar em meu colo, e a


segunda, você só vai saber depois. — Pisca charmoso para mim e segura o

prato ao meu alcance. Aproveito para dar uma secada em seu abdômen

gostoso e cheio de tatuagens.

Jogo meu cabelo para trás e gargalho com o descaramento dele, mas
não vou negar que gosto, na verdade, amo.

— Isso por acaso é algum tipo de fetiche? — Franzo a testa.

— Quase isso, agora vem aqui. — Bate na coxa com a mão livre,

atraindo a minha atenção para o volume do seu pau na calça moletom. A


maior parte do tempo, quando está em casa, ele as usa. E eu adoro. Esses
tecidos são os melhores amigos das mulheres, dão vida a nossa imaginação,

e neste momento estou com a minha fértil.

— Primeiro, me dê o prato. — Faço jogo duro enquanto o meu

coração bate descompassado.

— Não confia em mim? — Dá um sorriso largo, mostrando a fileira

de dentes perfeitos.

— Dois por cento. — Coloco a mão na cintura.

— Uma porcentagem muito pequena para quem quer muito comer a


sobremesa preferida. — Seus olhos brilham.

— Cem por cento, está bom assim? — Contenho o sorriso e estendo

a mão para que me dê o prato.

— Ótimo. — Me entrega a sobremesa.

— Hmmmm. — Suspiro, fechando os olhos e dando a primeira


garfada.

Mastigando e saboreando o doce através de um gemido de


satisfação, sinto ser puxada pelos quadris por Spencer. Quase deixo o prato
cair em cima dele tamanha é a brusquidão do seu gesto.

— Eu mudei de ideia, vou te dar sua sobremesa predileta de outro

jeito. Acredito que nunca mais se esquecerá e será a sua preferida para resto
da vida — diz, sacana, devorando meu corpo com apenas um olhar antes de

separar as pernas. Minha boceta pulsa e formiga ao imaginar a cena.

De olhos arregalados, observo-o se levantar e descer a calça até os


calcanhares.

— O que está fazendo? — Meu peito sobe e desce ao ver o seu pau

pulsar.

— Me passe a sobremesa e verá — pede.

Automaticamente, eu a entrego a ele, sem tirar os olhos da sua


ereção.      Boquiaberta, vejo Spencer lambuzar o pau com a cobertura do

Tiramisù, em seguida, colocar o prato descartável na mesinha de centro e


fazer um gesto de mão para mim. Na hora, sinto o bico dos meus peitos

enrijecerem.

— Agora vem cá, Giulia, ajoelhe-se e me chupe bem gostoso. —


Não soa como um pedido, mas sim uma ordem. E o seu tom sexy me excita
pra caramba.

Vou até ele e lambo os lábios, encarando sua grossura, enquanto ele
segura o pênis. Ajoelho-me na sua frente apoiando as mãos em suas coxas.

Spencer puxa o ar entredentes quando substituo as mãos dele pelas minhas.


Faíscas dominam os seus olhos, que de claros passam a ficar escuros.
Eu o encaro, segurando-o com firmeza e pondo a língua para fora,
capturando um pouco da sobremesa. A respiração dele se torna mais alta e,
então, lambo da base do seu pau com algumas veias salientes até a cabeça,

comendo um pouco mais do doce. Repito o ato até deixar o local limpinho e
o meu futuro marido gemendo enlouquecido.

— Ahh, a sua boca é deliciosa para ser fodida! — Ele move o


quadril para a frente e eu o chupo, afundando minhas unhas em suas coxas.

Eu o sugo com aptidão, enfiando-o todo na boca, depois deslizo a


língua até a sua glande. E é o suficiente para Spencer prender o meu cabelo

em um punhado e socar o seu pau em minha garganta. Quase engasgo-me


por causa do seu tamanho, mas continuo no meu propósito de fazê-lo gozar.

— Caralho, vou gozar. — Sinto suas pernas tremerem, então tiro o


seu pau da boca e inicio uma punheta rápida, sob o seu olhar de predador.

Movo minha mão para a frente e para trás, sujando meus dedos com o seu
líquido pré-ejaculatório. — Me chupe novamente, quero derramar a minha

porra na sua boquinha atrevida. E você vai tomar o leitinho diretamente da


fonte — ordena aos gemidos.

Sem pestanejar, abocanho-o e Spencer solta um gemido alto e rouco,

em questão de segundos recebo o seu jato de gozo em minha garganta. Com


o coração acelerado e a respiração ofegante, tiro o seu pau da boca e ergo os
olhos para encarar o homem que amanhã será o meu marido. Ele está
vermelho, arfante e com a expressão de quem quer me foder em todas as
posições.

— Você tem razão, nunca mais vou esquecer qual o sabor da minha

sobremesa preferida, porque ela em seu pau se torna mais saborosa. —


Levanto-me, limpando o canto da boca.

Logo ele sobe a calça moletom, voltando a se vestir.

— Eu juro que estou tentando ser um bom garoto, bonequinha, mas


você não coopera em me fazer cumprir com a minha promessa de só comer

a sua boceta depois do casamento. — Com o seu braço forte e tatuado me

puxando para ele, sinto os músculos do seu abdômen quase esmagarem os


meus seios e o seu pau cutucar a minha barriga.

— Faltam somente algumas horas, acho que podemos esquecer essa

promessa. — Olho em seus olhos e sorrio de canto.

— Prefiro ser um bom garoto até amanhã, porque depois que eu te


foder — faz uma pausa e aproxima o rosto do meu, segurando em meu

queixo e o acariciando com o polegar — não vamos mais parar. A sua

bocetinha será as minhas principais refeições. De manhã, tarde e noite.

Vamos trepar de mãos na cabeça, mas, por ora, quero você sentada no meu
rosto enquanto te como com a minha língua.
Abalada, prendo a respiração.

— Você ama me desconcertar com essas propostas indecentes, não


é? — Raspo a língua nos lábios e suspiro ao vê-lo sorrir malicioso.

— Também — confessa. — Agora, tire a camisola e a calcinha, vou

te chupar. — Desce a mão por minha bunda e aperta fortemente, me

arrancando um gemido.

— Não deveríamos estar nos preparando para dormir? Amanhã

iremos acordar cedo e você tem que ir para a casa do seu irmão se arrumar

lá. Será um dia corrido. Ter uma noite de sono ruim por ficarmos fazendo

sacanagens não será uma boa desculpa para a família — digo, avaliando-o.

— Não me importo de ficar com olheiras se for para fazer a minha

mulher gozar. — Ele sobe a minha camisola e enfia a mão na minha

calcinha.

Não é o seu toque viril em meu corpo que me faz estremecer e ficar
de pernas bambas, é ouvi-lo me chamar pela primeira vez de “minha

mulher”.

— Ainda não sou a sua mulher — falo, porque quero ouvir


novamente.
— Está errada, baby, você é minha desde o momento que decidiu

que eu seria o seu marido. — O modo como olha dentro dos meus olhos faz

um reboliço no meu estômago, uma agitação que eu sei bem o que significa
– paixão.

— Essa é a sua maneira de me confessar que está apaixonado pela

pessoa que você disse que não fazia o seu tipo? — brinco, louca por sua

resposta.

Ele sorri tão lindo, que meu coração saltita no peito.

— Você...

Somos interrompidos pela maldita campainha tocando. Não acredito

que seja alguém da família do Spencer a essa hora da noite. Aposto que é

Patrick tentando falar com o chefe ,já que o celular dele está no quarto.

— Deve ser o Patrick, vou ver o que ele quer — diz, afastando-se de

mim e quebrando o clima quase romântico.

— O.k. — concordo, um tanto frustrada vendo-o seguir até a porta.

Antes de abri-la, ele me olha por cima do ombro dos pés à cabeça, não
passa despercebido que solta um xingamento baixinho.

— Bonequinha, essa camisola está mostrando demais, eu odiaria ter

que furar os olhos do meu melhor soldado só porque ele olhou para as
pernas da minha mulher. — O seu tom é possessivo ao me chamar de

“minha mulher”.

Claramente, Spencer James Knight está com ciúme de algo que

apenas está cogitando. Mordendo os lábios, contenho a risada e sigo para o

quarto na intenção de escovar os dentes e lavar o rosto enquanto ele se

resolve com o soldado. Empurro a porta do quarto e dirijo-me até o


banheiro, ainda sentindo o gosto dele em minha boca.

Em frente ao espelho, antes de começar a escovar os dentes, avalio-

me por alguns segundos e noto que há um brilho diferente em meus olhos,


um que nunca me acompanhou e que agora existe por causa de alguém que

jamais imaginei que poderia me proporcionar tanta felicidade.

Esse nosso acordo tem me dado mais do que eu esperava, e isso

mexe profundamente comigo. Não estava em meus planos me apaixonar


por um cara que até meses atrás eu odiava, mas só queria usar para alcançar

os meus ideais. E agora, que irônico, me encontro perdidamente rendida por

tudo o que ele representa em minha vida.

Depois de estar com os dentes limpos, tomo a decisão de tomar um


banho e, quem sabe, daqui a alguns minutos um certo alguém me

acompanha.
Nem sei quanto tempo fiquei no chuveiro, mas Spencer não veio me

procurar como o esperado, talvez a conversa com Patrick seja importante


para ele não ter aparecido.

Terminando de abotoar a camisa dele que já usei algumas vezes na

semana, vejo a porta ser aberta através do espelho do closet. Spencer entra

no quarto, com o semblante fechado. Preocupada, viro-me para ele.

— Algum problema? — Vasculho o seu rosto e percebo que a sua

mandíbula está trincada.

— Você tem visita — responde a contragosto.

Eu me pergunto quem pode ser a pessoa que o deixou tão

transtornado.

— Onze da noite? Quem é? — Franzo o cenho.

As meninas não são, embora estejam animadas me ajudando com os

preparativos, elas não seriam tão malucas assim.


— Exatamente. É o seu — ele limpa a garganta como se estivesse

nervoso — é o Nicolo. — Não passa despercebido o desprezo em sua voz.

Que ele e o meu tio não são melhores amigos eu sei, mas é novidade
ouvi-lo pronunciar o nome dele com tanta mágoa. Algo aconteceu entre eles

e eu ainda não sei.

— Tem certeza? — Arregalo os olhos ao absorver a informação.

O que o meu tio quer comigo? Eu nem sabia que ele vinha hoje, não
fui informada de nada, mas com certeza não me falaria que estava vindo

mais cedo, afinal, eu o tenho ignorado há dias.

— Infelizmente, sim — murmura, olhando para a sua camisa que


estou usando. — Ele está te esperando na sala, permiti que subisse para não

ser taxado como mal-educado. — Ele vem na minha direção.

— E desde quando você se importa com isso?

Spencer enlaça a minha cintura e me puxa para ele.

— É o que estou me perguntando neste exato momento.

— Ele disse o que quer? — sondo-o, mas ele nega com um balançar

de cabeça. — O.k., vou colocar uma roupa mais adequada para vê-lo —

falo, vendo-o concordar.


Busco por uma roupa, e assim que encontro um vestido, substituo a
camisa por ele em questão de segundos, sob o olhar de Spencer. Pronta para

sair do quarto e ver o que meu tio quer, penso em perguntar ao meu futuro

marido o que está acontecendo entre ele e Nicolo, mas acho que estamos
tendo o mesmo pensamento, porque ele se manifesta primeiro.

— Eu sei que percebeu o meu descontentamento com a presença do

seu tio, mas tenho os meus motivos. — Suspira, massageando o ombro.

— Vocês brigaram e eu não sei? — pergunto, aflita, já que faz dias


que não tenho notícias de Vincenzo. Não que eu queira ter, mas até então

ele nunca mais deu as caras ou fora mencionado.

— Não, eu só não compactuo com algumas atitudes erradas de

Nicolo — revela, deixando-me curiosa.

Será que meu tio quer falar alguma coisa sobre o meu pai? Ele terá

finalmente coragem para admitir que todos esses anos mentiu para mim
quando dizia que matou Giuseppe para me proteger? Não, seria um milagre

Nicolo me contar a verdade, mas também não é impossível.

A poucos metros de distância do sofá onde o capo da famiglia

italiana se encontra sentado todo vestido de preto com o cabelo grisalho


bem penteado para trás, eu o observo. Ele balança a perna e encara uma
caixa nas mãos. Pela maneira como está distraído, noto que está nervoso,
acho que isso vem de família, às vezes sou assim quando estou muito
inquieta. Ao menos temos alguma coisa em comum.

— Spencer me disse que o senhor quer falar comigo — chamo a sua

atenção e caminho em sua direção.

— Ciao, figlia mia, come stai? — Sou cumprimentada com um “oi”


e ainda me chama de “minha filha”.

— Não sou a sua figlia, Nicolo, já te disse isso. E eu estou bem,

como pode ver. — Odeio quando me trata como se fosse meu pai. Toda vez
que ele faz isso, lembro-me que e me tirou o direito de eu ter um de
verdade. 

— Você é minha filha sim, Giulia! Eu te criei, então sou sim, porque

pai é quem cria, — Range os dentes, se levantando.

Quase salto com o seu tom severo, meu corpo chega a tremer diante
da sua ira.

— Veio a essa hora para me dizer isso? Se você se autointitula como

meu pai é porque matou o meu! — Encaro-o, firme.

— Um dia vai me entender e saberá que matei Giuseppe para o seu


bem. Somente por você! — Aumenta o tom de voz.

Com os olhos ardendo, rio para não chorar.


— Como ousa falar na minha cara que matou o meu pai para me
proteger e que vou me contentar com isso? Acha que vai me manipular com
essa história de ter feito essa maldade para me proteger? Eu não sou mais

uma criança inocente, Nicolo, você não pode mais tentar jogar as suas
sujeiras para baixo do tapete, como fez todos esses anos, e achar que vou

aceitar. — O primeiro soluço escapa da minha boca.

— Eu nunca fui o vilão, entenda isso! Se sujei as minhas mãos


matando o meu irmão foi por amor. — Ele tenta chegar perto de mim, só

que recuo, chorando.

— Que tipo de amor é esse que mata o irmão para salvar a sobrinha?
Me explique, porque, sinceramente, não entendo esse seu raciocínio! —
Não sei se está tentando amolecer o meu coração ou sei lá o que pretende,

mas noto que os seus olhos estão cheios de água.

— Figlia mia, prefiro que me odeie agora por tudo e descubra a


verdade depois, do que te ver mais machucada do que já permiti, pensando

que assim você estaria em segurança. A única coisa que fiz todos esses anos
foi errar tentando acertar. — O capo está com a voz embargada e isso me
quebra, porque nunca o vi vulnerável.

— O que eu odeio em você é isso! Nunca pode me falar a verdade,

vive inventando desculpas, tio! O que de fato aconteceu para você ter
matado Giuseppe? Sei que isso não vai trazê-lo de volta, mas preciso de
respostas, não posso aceitar que você simplesmente o matou para me

proteger! Mas me proteger do quê? — Soluço, com os lábios tremendo.

— Amanhã é o seu casamento, não quero estragar um dia tão

especial. — Mesmo contra a minha vontade, ele vem e me abraça. Tento


sair dos seus braços, mas Nicolo me aperta contra o seu peito e eu choro na
frente dele como nunca chorei. — Eu vim te trazer algo, era da sua mãe, ela

iria gostar que usasse. Não poderia deixar para te dar em cima da hora —
diz, e eu percebo que está emocionado.

Minha mãe. Não me recordo muito dela, já a vi por fotos no álbum


da famiglia que Nicolo me deu quando eu tinha quinze anos. Mas se eu

disser que tenho sentimentos por ela estaria mentindo, não tem como se
amar alguém sem ter convivido com ela. Já o meu pai, me recordo muito
pouco dele, mas ainda tenho lembranças do homem bonito que era. Ele foi

traído duas vezes pelas pessoas que amava – o irmão e a mulher. Taylor o
traiu com um soldado e ele a matou, é o que dizem. E o meu tio, um tempo
depois, o matou para me “proteger” de algo que só ele sabe o que é.

— Eu não quero nada da mulher que desgraçou a minha vida. Se ela


não tivesse traído o meu pai, nós poderíamos estar bem e ele vivo bem
longe da Itália. — Afasto-me dele.
— Taylor nunca traiu o seu pai com um soldado — ele esclarece.

Paralisada, observo-o passar a mão por sua barba.

— Depois de tantos anos, faltando algumas horas para o meu


casamento, você tenta transformar a minha genitora em uma santa? —
zombo, fungando e limpando o rosto com o dorso da mão.

— Ela te amou desde o primeiro dia que soube que estava grávida,
me lembro como se fosse hoje quando me contou que estava esperando um
bebê. — Os olhos dele se iluminam.

— Por favor, Nicolo...

Meu tio faz um gesto com a mão pedindo silêncio.

— A sua mãe foi a única inocente nessa história. Se hoje ela está
morta e você cresceu sem amar a mulher que te deu a vida é por minha
culpa — revela, triste. — Taylor morreu porque o seu pai queria descontar a

raiva da nossa traição em alguém, e ele não poderia matar o capo, então
partiu para o lado mais fraco.

— O que você está dizendo? — Sem acreditar em suas palavras e

com as pernas bambas, me sento no sofá e passo a mão por meu cabelo,
jogando-o para trás.
— Nunca houve soldado algum, Giulia. Eu e a sua mãe tivemos um
caso, nos apaixonamos e nos envolvemos sem pensar nas consequências. E
isso resultou na morte dela — confidencia, assustando-me.

Além de ter matado o meu pai, dormiu com a mulher dele.

— Então está querendo me dizer que matou o meu pai por ele ter
matado a minha mãe?

A explicação dele está cada vez pior.

— Não, filha, o que eu quero dizer é que matei Giuseppe, e mataria

quantas vezes fosse preciso para te proteger. Eu prometi à mulher da minha


vida que cuidaria de você até o meu último suspiro. — Ele se põe na minha
frente e tenta me tocar.

Enojada e sem querer olhar nos olhos dele, viro o rosto.

— Isso é nojento! Como ousa? Como vocês ousaram? — Volto a


chorar, começando a entender a razão de ele ter sido tão cruel.

— Figlia mia...

— Não me chame de filha, eu te odeio! Odeio Taylor e tudo o que

representa esse caso sujo de vocês! — grito, fechando os punhos, segurando


a raiva que é injetada em minhas veias.
— Não, você nunca pode me odiar — diz, como se fosse uma
ordem.

— Sim, eu posso, e agora te odeio mais ainda, nunca vou te perdoar.


— Soluço, sentindo minha cabeça latejar.

— Eu não sou o monstro, Giulia, pelo contrário. Todos esses anos


dediquei a minha vida a você para te proteger.

Desvio do seu toque em meu rosto.

— Me prometer a um homem sádico como Vincenzo Esposito é me


proteger? — Gargalho entre as lágrimas que descem por minhas bochechas.

— Eu jamais te prometi a um Esposito, quem fez isso foi Giuseppe

para se vingar da sua mãe e de mim. Desde então, tento acabar com esse
maldito acordo sem precisar derramar sangue de inocentes.

Congelo no mesmo instante. Como ele pode ser tão cínico e


mentiroso.

— Saia agora da minha casa, e nem pense em ir ao meu casamento,


seu mentiroso! — Aponto para a porta.

— Eu vou, mas volto — promete, se levantando.

— Não, Nicolo Romano, você não vai voltar, porque neste exato

momento estou te excluindo da minha vida. — Vou até ele e vejo que está
chorando.

— Você pode me mandar embora quantas vezes quiser, mas eu


nunca vou te deixar sozinha.

Em outra ocasião, eu poderia até acreditar em suas lágrimas.

— Mas eu nunca tive a sua companhia, tio! Em que lugar você

estava quando Vincenzo me perseguia e tentava me bater por pura


obsessão? — desdenho.

— Você está de cabeça quente, amanhã conversamos melhor — diz,


determinado.

— Sem chance, já tivemos a nossa conversa e eu não te quero em


meu casamento. — Empino o nariz.

— Pois vai ter que engolir a minha presença, Giulia. E se hoje você
está nesse lugar é porque eu permiti, e não só eu, Angel também, que foi a
mediadora para que conhecêssemos os Knight. — Eu sabia que não ia

demorar para que deixasse a máscara cair. — Vou te deixar a joia preferida
da sua mãe, se quiser olhar ou usar, fique à vontade. — São suas últimas

palavras antes de me dar as costas e sair do apartamento.

Abraçando meu corpo, volto a me sentar no sofá e instintivamente


pego a caixa de veludo azul e jogo longe, destruindo-a por completo.
Menos a joia, que vai parar no canto da parede, ainda intacta.

Chorando e decepcionada, ouço passos próximos e sei que é


Spencer.

— Seria pedir muito um abraço? — indago. Ergo o rosto e miro-o,


ele está com uma expressão triste.

— Nunca é. — Então vem até mim e me puxa para os seus braços


quentes e reconfortantes.

Nicolo e Taylor foram amantes. Ela traiu o meu pai com o próprio
cunhado. Eles foram podres.

    
 
Dois dias atrás 

— Você sabe que se afogar em álcool não vai resolver o seu

problema, não é? — diz Carter, me vendo beber o terceiro copo de uísque


de uma vez.

— Sei, mas ao menos me ajuda a esquecer isso por algumas horas.

— Pego a garrafa do álcool e encho o copo.

Após dias em busca da casa ideal, mesmo possuindo muitas

propriedades, finalmente encontrei uma que me agradasse e que também irá

ser aprovada por minha futura esposa. Fechei negócio em uma mansão com
um jardim extenso que vai precisar de muitos cuidados.

Há uma semana, estou querendo sair do meu apartamento com

Giulia, e depois do casamento sinto que não seria interessante viver com ela

no lugar onde usei muitas vezes como meu abatedouro para comer várias
mulheres e curtir as minhas sacanagens. Em respeito a ela e ao que estamos

construindo aos poucos, quero poder começar essa relação com o pé direito.
— Killz e Nicolo já não disseram que é para você se preocupar
apenas com o casamento? — Meu irmão me avalia, preocupado ao me ver

tomar a bebida como se fosse água.

Carter e eu saímos de Chelsea tem duas horas, era para ele ter

retornado para a sua família, mas no meio do caminho de volta para o

centro recebi uma mensagem de Nicolo pedindo que eu não me preocupasse


com Vincenzo porque ele já tinha se resolvido e que não precisava que eu

fizesse alarde. Ele falou de uma maneira que deixou claro que a minha

ajuda não faria diferença. Foi nesse momento que fiquei puto, deixei-o sem

resposta e pedi ao meu irmão que me largasse em um bar, precisava de

algumas doses de álcool para relaxar. Mas como Carter é zeloso, decidiu

que me faria companhia mesmo que eu não quisesse dizer a ele o motivo de
eu estar muito estranho ultimamente.

— Você não sabe como estou me sentindo um inútil por ter que ficar

esperando notícias do nosso irmão e do italiano sobre o maldito Vincenzo,

porque eles decidiram por mim que só tenho que me preocupar com o terno

que vou usar daqui a dois dias! — Aperto meus dedos no copo de vidro.

— E é só isso que está com tanta raiva? — indaga, curioso.

— É algo que está tirando o meu sono e paz — murmuro, olhando

para a movimentação fraca do bar. Se tiver sete pessoas é muito.


— Se quiser dividir, sou todo ouvidos.

Olho para ele e o encontro com a expressão séria. Suspiro

longamente, em seguida, encho mais o copo.

— Nicolo é o pai de Giulia e ela não sabe isso, mas eu sei e estou
me sentindo um filho da puta por não poder contar a verdade.

— Imagino o quanto esteja sendo difícil para você ficar calado.

— Se fosse por mim, eu já teria enfiado uma bala na cabeça de


Vincenzo Esposito. Mas não, os dois querem agir com cautela! Achei esse
método deles para capturar aquele rato uma merda — desdenho, puto. — A

minha indignação é a razão do Nicolo ser tão burro a ponto de deixar o


homem que quase matou a filha dele de porrada por aí, como se não fosse

perigoso o suficiente para tentar fazer pior com ela. — Com um gosto
amargo na boca, esclareço.

— Eu acho que a sua indignação é mais do que isso, Spencer —


atreve-se a dizer. Carter decide me acompanhar no uísque ao colocar um

pouco do álcool em seu copo que antes estava intocado.

— O que quer dizer com isso? — Ergo uma sobrancelha e o encaro.

— Você não para de falar de Giulia desde a hora que nós


encontramos. E você nunca falou de uma mulher por tantas horas e com
tanto interesse. — O olhar de admiração dele me incomoda pra caralho,

porque sei aonde quer chegar.

— Não confunda as coisas. Se estou revoltado com a situação é


porque me sinto na obrigação de protegê-la. Se vamos nos casar e eu serei o
marido, tenho que cumprir o meu papel, e não ficar com a bunda sentada no

sofá do meu apartamento esperando que o chefões resolvam as nossas vidas


como acharem que é certo. — Raspo a língua nos lábios.

— Somos irmãos, não precisa fazer esse joguinho comigo, cara. —


Ele ri baixinho, provocante. — O quanto vocês estão envolvidos? —

Avalia-me de um modo irritante antes de tomar o seu uísque.

— Não se trata disso, Carter, eu já estive com uma longa lista de

mulheres e foram mais do que alguns amassos. Nem por isso me apaixonei.
— Suspiro, desviando meus olhos para a rua através das janelas de vidro.

— Pelo menos admita que com ela se sente diferente a ponto de te


fazer ter atitudes que por muitos anos nenhum de nós achou que poderia
possuir — diz, como se fosse a voz da razão. E pior é que o filho da mãe

está certo. — Não que esperássemos o pior de você, mas nunca ter se
apegado a nenhuma garota nos fez questionar se o nosso irmão caçula em

algum momento abriria o coração para alguém.

As palavras dele queimam em minha garganta.


— O.k., Carter, não precisa fazer esse discurso todo. — Limpo a
garganta. — Você tem razão, eu gosto da Giulia, ela me faz bem e estamos
nos curtindo. Isso basta para que vivamos bem em um casamento por

convivência — murmuro, pensando nela.

— Quando você gasta o seu dinheiro para comprar uma casa


avaliada em milhões de libras, só para colocar a sua esposa de mentirinha
nela porque está se sentindo incomodado em viver uma nova etapa da sua

vida no apartamento onde viveu anos de putaria, não é mais uma relação de
conveniência, Spencer James Knight.

Respiro fundo por alguns segundos e o miro com a expressão


contorcida.

— Isso se chama respeito, é muito diferente. — Estalo a língua.

— Eu já estive no seu lugar e é apenas a fase de negação. Logo virá

a de aceitação e quando se der conta de que se apaixonar rápido não é


errado, vai entender o que estou falando. — Ele se levanta da cadeira, vem
até mim e para ao meu lado. — O problema é que você nunca se apaixonou

antes ou teve alguém que te fizesse se sentir tão vivo quanto agora. — Bate
em meu ombro duas vezes.

Eu perguntaria como ele sabe disso, mas essa resposta já tenho –

somos irmãos. Um Knight sempre vai conhecer o outro. E pior que não é
mentira... Giulia tem me feito sentir adrenalina no coração, uma estranha
sensação que está sendo capaz de preencher aquele meu famoso vazio
dentro do peito.

— Carter, vai para casa. A sua mulher e o seu filho devem estar te

esperando, não quero a sua sereia arranque meu pau e dê para os cães
porque estou levando o marido certinho dela para o bar. — Ergo o rosto
para ele.

— Eu já estava de saída, mas quero que saiba que se precisar de

mim é só me ligar. Sou ótimo em dar conselhos, principalmente quando se

trata de negar que está apaixonado por uma garota. — Sua mão ainda está

pousada em meu ombro. — Ainda me lembro de como Muriel sofreu por


me amar em silêncio, e mesmo eu sabendo do seu amor, sentindo atração

por ela, continuava preso ao passado, me reprimindo pela morte de Svetlana

sem querer enxergar a mulher da minha vida. A pessoa que poderia ser a
única a me dar um lar de verdade e um filho lindo.

Fico afetado com a sua admissão.

— E como vou saber se é amor? Paixão? Atração? Passei anos

fodendo três ou duas mulheres ao mesmo tempo, indo a festas, me


envolvendo em putarias sem limites, e em nenhum desses lugares aprendi

nada de bom. — Deslizo meu indicador pela borda do copo.


— Você vai saber que é ela quando alguém tentar machucá-la e o

seu lado obscuro vier à tona, querendo protegê-la contra tudo e todos. —
Um nó se forma em minha garganta. — Você vai começar a gostar das

piadas dela, mesmo que não tenha graça alguma, mas só de vê-la sorrir será

o suficiente, porque o que te importa é ter o sorriso bonito, a risada dela. E


quando menos esperar, vai perceber que adora ver a sua garota vestida com

a sua camisa, porque acha...

— Isso é ridículo, muito doce para o meu gosto — zombo,

interrompendo-o, com meu coração batendo acelerado.

Essa porra está óbvia demais. Os sinais que Carter está dizendo se

alinham exatamente com o que tem acontecido comigo.

— Brother, vai pra casa também, não se embriague em vão —

recomenda, com um maldito sorriso nos lábios.

Ele me conhece e isso é foda.

— Deixá-la dormir na sua cama, usar suas camisas, invadir o espaço

que antes você prezada mais do que tudo, só que agora se sente bem com

essa merda toda. Sabe o que significa? — Acabo deixando escapar.

— Que você tem que descobrir sozinho o que está escrito em sua

testa. E não fique bêbado, a sua voz já está ficando de um — retruca,


batendo novamente em meu ombro antes de sair caminhando para fora do

bar, sem me dar respostas.

Nem fodendo que ele me deixou aqui sem me dar a resposta que eu

quero. Frustrado, olho para a garrafa quase vazia de uísque e assobio para o
garçom, pedido mais uma garrafa cheia. Essa noite vou beber para diminuir

a tensão que estou sentindo e encontrar coragem para encarar Giulia mais

uma vez. Ter que mentir para ela é preocupante, a Romano não é do tipo

que tolera ser enganada.

Assim que o garçom me traz a garrafa de álcool, tiro da minha

carteira algumas notas e dou para ele como gorjeta. Logo meu celular

anuncia a chegada de uma nova mensagem, então o pego no bolso da calça


jeans e vejo que é Nicolo.

— Agora seria um bom momento para te mandar para a puta que

pariu — resmungo, desbloqueando a tela e lendo a mensagem do homem.

“Spencer, sou muito grato pelo que está fazendo por minha filha, sei
que se preocupa com ela, mas peço que deixe os Esposito comigo. O meu

intuito desde o início foi que Giulia se cassasse com você para que ficasse

protegida sendo uma Knight, mas não posso permitir que só você e a sua
família resolvam os meus problemas.”
Rangendo os dentes, em vez de pegar o copo de uísque, tomo

diretamente da garrafa.

“Há anos, estou buscando me livrar deles e já tenho tudo

arquitetado. Eu só precisava que a minha bambina ficasse segura, e agora

que está nada vai me parar. Ter Vincenzo morto no momento é a minha

prioridade, e se isso inclui ter que ficar mais alguns meses escondendo o
passado da minha filha, eu o farei.”

Mais uma vez, mesmo que não seja de forma direta, ele quer me

pedir que eu continue calado sobre a paternidade da minha futura esposa.

Furioso e irritado com tamanha hipocrisia, decido ligar para ele e


sou atendido mais rápido do que esperava.

— Por acaso acha que está lidando com um moleque, Nicolo? Para

que porra quis que eu fosse o marido da Giulia? Para ser um inútil e não
poder fazer nada por ela? — pergunto, fechando a mão e apertando meus

dedos, tentando controlar minha ira.

— Se acalme, Spencer, você está muito alterado.

Respiro profundamente e rio do seu tom manso.

— O que estou mesmo é puto com essa situação, Romano. Faz dias
que tenho que guardar uma merda de segredo que pode machucar alguém
com quem me preocupo, e você na maior tranquilidade enquanto o seu

inimigo que quer a sua filha está por aí, ainda respirando, depois de a ter

machucado tanto. — Semicerro os olhos.

— Spencer, você já está fazendo a sua parte, não quero que se sinta
um inútil, porque não é. O que está fazendo por minha bambina é muito

mais do que eu poderia fazer em dezenove anos cuidando dela. — Ao

mencionar a filha, noto que fica abalado.

— Como posso confiar em alguém que me subestima, Nicolo? Você


confiou ao meu irmão o seu segredinho sujo, e a mim tratou como se eu não

fosse um homem de quase trinta e dois anos que pode lidar com problemas

maiores. — Levanto-me para ir até o balcão do bar pedir algo mais forte.

— Killz só aceitou a minha proposta de aliança porque contei a ele


a razão de querer tanto que você e mia figlia se casassem. Somente por isso

que ele sabe da verdadeira origem de Giulia.

Isso eu já sabia, meu irmão nunca aceita algo sem ter um bom
motivo.

— Sabe, faça o que você quiser, o estrago já foi feito. Não há como

voltar atrás a essa altura do campeonato. Mas fique ciente de que não

compactuo com essa mentira. A sua filha não é nenhuma criança, é uma
mulher adulta e pode muito bem lidar com essa situação. Quanto mais cedo
você contar a ela, melhor. — Suspiro indignado e me sentando em uma

banqueta em frente ao balcão.

— Que Giulia me odeie, Spencer, mas eu preciso acabar com os


Esposito, custe o que custar — murmura, triste.

— Você teve anos para fazer isso! — acuso-o.

— Sim, eu tive, mas não tinha uma família poderosa e única como a

de vocês com que pudesse me aliar — justifica. Pela primeira vez, concordo
com ele.

— É o seguinte, Nicolo, vou te dar um prazo para que conte a Giulia

a verdade. Eu tenho vivido um inferno por ter que me manter calado, não
acho justo que ela fique esse tempo todo vivendo uma mentira. — O

barman se aproxima para me atender, mas faço um gesto com a mão para o

dispensar.

— A filha é minha, eu decido isso, e não me trate como se eu fosse o


vilão da história. — Demorou para mostrar as garras.

— E a mulher será minha, eu também posso decidir isso. Você tem

dois dias para dizer a Giulia que é o pai dela, caso contrário, eu farei isso.

— Você...

— Dois dias, Nicolo — exijo, friamente o interrompendo.


— Conheço a minha filha como a palma da minha mão, se esse
segredo for descoberto antes do casamento, ela nunca mais vai querer

olhar para a sua cara, Spencer. E querendo ou não, ela vai te odiar. —

Filho da puta do caralho.

Como ele pôde conseguir me tornar em uma pessoa tão egoísta em


tão pouco tempo? Pensar na possibilidade de Giulia me odiar ou cancelar o

casamento que até pouco tempo eu não queria mexe comigo.

— Espero que seja breve com os seus planos. Eu adoraria ter que
destruí-los enfiando uma bala na cara de Vincenzo antes de você — digo,

baixo e ameaçador.

— Temos um acordo, então?

— Não temos nada, Nicolo, apenas faça com que isso termine logo
— ralho.

— Se case tranquilamente, por ora, Vincenzo não vai importunar


vocês. Salvatore é um homem ambicioso, prefere dar valor aos negócios do

que o sobrinho descontrolado. Já tive uma conversa com ele, o homem não
vai querer perder milhões por algo que aconteceu há mais de dez anos —

revela.

— Pois bem, mantenha esse italiano de merda na coleira, porque se

ele ousar chegar perto de mim ou de Giulia, eu o mato sem pensar duas
vezes — aviso, determinado.

— O.k., Spencer, combinado.

Encerro a ligação sem despedidas e chamo o barman, pedindo que


traga uma garrafa da bebida mais forte que tiver na casa. Ainda não estou

bêbado, mas o álcool está começando a fazer efeito, é questão de tempo


para que eu fique.

Antes de enfiar o celular no bolso da calça, observo o contato de

Giulia na minha agenda. Penso em ligar para avisar que não vou jantar com
ela, no entanto, o barman se aproxima com a bebida e eu desisto.

Atualmente

Nicolo não teve coragem de revelar a verdade para Giulia, mas


idiota fui eu que cheguei a pensar que ele poderia fazer isso. Ele só disse a
ela o que achou necessário, e em vez de melhorar a relação deles, o homem

a piorou. A filha não quer vê-lo nem pintado de ouro. Giulia o odeia muito
mais agora do que antes, após ter descoberto que o tio foi amante da mãe.
Para ela, Nicolo ter matado o pai foi apenas para se livrar dele para
ficar com a mulher do irmão. O capo não soube ser inteligente quando
pôde, permitiu que novamente saísse como o vilão, mas para ele está tudo

bem, o seu único foco é destruir os seus inimigos.

Pessoas como nós, que fazemos parte do submundo, não somos

bonzinhos, não teremos um lugar no céu quando morrermos, muito menos


teremos uma chance para nos redimirmos, afinal, estamos destinados a uma
passagem se ida para o inferno para pagarmos por todos os nossos pecados.

O Romano está agindo por contra própria e vai seguir assim até o

momento que quiser. Ele é capo e só por ter uma posição importante acha
que pode ser implacável com um plano que ainda desconheço para eliminar
os vermes dos Esposito da face da Terra.

Antes de conhecer a família Romano, achava que ninguém poderia


disputar o título de cabeça-dura com os Knight, todavia, me enganei.

Em pé, de frente para a mesa de cabeceira segurando a chave


prateada, encaro a gaveta trancada que Giulia nunca teve acesso e nem

desconfia o que tem guardado ali. E se depender de mim, nunca irá saber
que guardo drogas que não uso há um tempo dentro de uma gaveta em meu
quarto, que agora é dela também.
Tentado a abrir a maldita gaveta, fecho um punho e dou alguns
passos para trás, com a mão na cabeça.

Porra, estou nervoso, preciso aliviar essa tensão dentro de mim, mas
ir por esse caminho não é bom, nunca foi, as consequências vêm depois e

não são boas. Eu estou limpo, não quero me sujar mais uma vez, e hoje é o
meu casamento, devo respeitar esse dia. Mas, por outro lado, usar aliviaria
o meu estresse, me sentirei mais leve.

Ninguém irá perceber, ainda tenho uma hora para estar em Chelsea,
na casa de Carter. Estou sozinho no apartamento, Giulia saiu há cerca de

três horas, as garotas vieram buscá-la para se arrumar.

Sem pensar muito, abro a gaveta e deparo-me com as drogas do

mesmo jeito que as deixei. Engolindo em seco, fito três pacotes de coca, os
comprimidos de ecstasy, balas de LSD e alguns cigarros de maconha. Pela
quantidade, eu já seria considerado um traficante.

— Não fode, Spencer — murmuro, apertando a mão na madeira da

gaveta e fechando os olhos.

Afasto-me da mesa de cabeceira por alguns instantes, até que respiro


fundo e retorno para a tentação. Sendo vencido por pensamentos infernais

que tem tirado a minha paz, tiro um pacote de coca da gaveta e pego um
cartão e duas notas. Em questão de segundos, estou espalhando a coca em

cima do móvel e montando três carreiras com o pó branco.

Com os batimentos cardíacos acelerados, enrolo as notas em


formato de canudo e inclino-me na mesa de cabeceira, pronto para inalar a

primeira carreira de coca. Mas ao fechar os olhos, o rosto de Giulia surge,


não só o dela, da minha família também.

A decepção que eles sentiriam ao saber o que estou prestes a fazer é


o que me faz jogar longe o canudo e passar a mão na mesa, espalhando o

pó.

Cabisbaixo, solto um palavrão e observo a bagunça que fiz no chão.

A parte mais difícil da minha vida é ter que lutar contra os meus
próprios demônios. Não me considero fraco, se eu fosse teria usado a

porcaria e dado um foda-se para as pessoas que amo, mas às vezes, sou
falho e acabo cometendo erros, os quais me arrependo depois.

Só que hoje não vou estragar o dia mais importante para Giulia,
tampouco me tornar um refém de algo que posso ter controle.

Determinado a dar um basta, arranco a gaveta e levo até o banheiro,


então abro o vaso sanitário com o pé e despejo as drogas nele, uma por
uma, até que não sobre mais nada. Dou a descarga e a força da água suga

tudo.
Com o peito subindo e descendo rapidamente, encosto o objeto no
canto da parede e começo a me livrar das minhas roupas antes de entrar no
boxe para tomar banho. Tenho que estar apresentável, em poucas horas

serei um homem casado. Darei o meu sobrenome a uma mulher de quase


um metro e meio que é muito irritante, mas que me faz bem a ponto de ter
sido a primeira a vir a minha cabeça quando estava prestes a cometer a pior

estupidez da minha vida.


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Meu percurso até Chelsea foi rápido. Após estacionar o carro a

alguns metros de distância da casa do meu irmão, tiro a chave da ignição e


saio do veículo.

A minha escolta até aqui só durou até a entrada da propriedade,


depois disse ao Patrick e aos outros que tirassem o dia de folga, não vi

necessidade de deixá-los aqui, já que há outros soldados da família para


cuidar da segurança.

Conforme caminho na direção da casa, vejo a movimentação de

alguns soldados tirando de dentro de uma van algumas cadeiras e vasos

com arranjos de flores e seguindo para a lateral da casa. Junto a eles estão
Aubrey e Muriel, que se encontram tão distraídas dando ordens que nem

mesmo notam a minha presença.

— Explorando os pobres homens, garotas? — Chamo a atenção

delas antes que sumam do meu campo de visão. Recordo-me do casamento


de Carter e a sereia dele acontecendo no lugar que será o meu.

— Finalmente você chegou, Spen — diz Aubrey, sorridente, quando

me aproximo mais delas.

— Os seus irmãos estavam querendo te buscar, principalmente o

Ezra e Carter — comenta Muriel, envergonhada.

— Eles estão loucos para me casar! — Finjo um resmungo e a

esposa de Killz gargalha junto à ruiva.

— Dessa vez não discordo de você, porque realmente estão — fala

Brey, rindo e passando a mão em seu vestido elegante tom pastel.

— O Carter mal dormiu essa noite falando nesse casamento —

confidencia Muriel.

Acho graça por meus irmãos estarem ansiosos em me ver um

homem casado, era o sonho deles me verem comprometido.

— Hoje pode ter certeza de que ele vai até roncar quando vir a

aliança em meu dedo — digo, então me lembro que não comprei uma. Na

verdade, não costumamos usar, o nosso sangue vale mais do que um anel.

— Você comprou uma aliança? — Anima-se Brey.

— Não. — Coço a cabeça e limpo a garganta.


— Pois deveria ter comprado, Spen, a sua esposa linda ficaria
deslumbrada se você tivesse feito isso — a mulher do irmão mais velho da

família fala.

Acabo me sentindo péssimo por não ter providenciado as benditas

alianças.

— Depois eu compro, Breyzinha — falo para livrar o meu rabo das

garotas, que são românticas incuráveis.

— Sei. — A morena arqueia a sobrancelha, desconfiada.

— Sra. Knight, terminamos — um dos soldados diz ao longe.

— O.k., Arthur, podem se retirar. Obrigada — responde a ruiva,

educadamente. — Aubrey, vou verificar como estão as coisas por lá, não

demoro, tá bom? — Muriel toca no ombro da amiga, que concorda.

— Pode ir, já te sigo — promete Brey.

A mulher de Carter se despede de nós e segue para a lateral da casa.

— O seu rosto está abatido, Spencer — comenta ela, avaliando-me.

Aubrey foi a primeira mulher a entrar para a família, sabe mais do qualquer

uma da minha trajetória.

— Preocupação, fora isso, estou bem. — Dou um sorriso

convincente.
— Como se sente em relação a esse casamento? Está tudo bem

mesmo com isso? — indaga, estudando-me.

— É uma novidade para mim, mas logo me acostumo. — Raspo os

dedos em alguns fios aparados da minha barba.

— Não quero ser intrometida, Spen, só que eu percebi que a Giulia

gosta muito de você. A forma como te olha, é impossível não notar que está
apaixonada. — Os olhos de Aubrey brilham, como se estivesse orgulhosa.

— Sabe, há anos desejo que você encontre uma mulher que te faça bem,
cuide de você, te mostre como é bom sentir, que te faça conhecer o amor.
Embora ainda esteja tentando se adaptar com a sua nova vida, tenho certeza

de que será ela a mulher que vai ter o seu coração. — Toca em meu ombro.

— Se reunir todo mundo para me aconselhar, vamos formar um


grupo de apoio — brinco, mas com o peito vibrando ao ouvir as suas

palavras.

— Eu só peço que cuide bem dela, Spencer, mesmo que essa união
só esteja acontecendo por causa de um acordo. E não falo sobre cuidar a

protegendo de perigos, isso sei que será a sua prioridade — pede, olhando
bem em meus olhos, ignorando a minha brincadeira.

— As garotas sempre pelas garotas, não é? — Observo-a balançar a


cabeça. Suspirando, encaro Aubrey por longos segundos, até que uma
risada que conheço muito bem soa em meus ouvidos. É suficiente para que

eu erga o rosto e olhe para a janela de vidro transparente no segundo andar


da casa que está aberta.

Lá está Giulia, com o cabelo em um coque grande com cachos nas


pontas. Não consigo ver muito, mas ela está usando uma maquiagem leve e

já vestida de noiva, posso ver a ponta do tecido branco em seu busto.

— Spencer, não pode ver a noiva antes da hora! — reclama Brey,

batendo em meu braço ao notar para onde estou olhando. É nesse instante
que minha noiva percebe que estou aqui fora e nos encara sorridente.

— Não estou vendo nada, Aubrey. E isso é superstição! —


resmungo, vendo a janela ser fechada por Alessa, que segue com o mesmo

pensamento que a prima.

— Não é, não! — retruca.

— Brey, hoje você não pode me agredir, tenho que estar inteiro até o
final da festa para cumprir a promessa que fiz a Giulia — aviso.

Ela franze o cenho, mas ao ver minha expressão cínica, fica


boquiaberta.

— Céus, Spencer, some daqui! Seus irmãos estão te esperando com


o seu terno. Vá logo antes que venham te buscar. — Ela se afasta de mim.
— Por isso te amo, Breyzinha — digo, rindo baixinho.

— Que Killz não te escute dizendo isso — alfineta.

— Ele não pode fazer nada, não tem como mudar o meu sucesso
com as garotas da família. Isso que dá ser o preferido de todos — gabo-me,

com um sorriso enorme.

— Os anos passam, mas continua o mesmo convencido — diz.

Eu gargalho, já caminhando na direção da casa.

— E lindo também! — acrescento, empurrando a porta de vidro.

Antes de entrar, olho para trás e vejo carros pretos passando pelos
portões, identifico rapidamente os membros do conselho por usarem

veículos padrões e logo atrás vem o carro de Killz escoltado por seus
soldados. É, parece que estão todos aqui, só falta agora acontecer a

cerimônia.

— Você está com o semblante pesado desde que entrou, o que

aconteceu? — pergunta Ezra, sentado na poltrona que tem no quarto de


hóspedes.

— Não, só estou nervoso — minto, avaliando meu terno slim preto

que Carter providenciou para mim.

Até minutos atrás estavam aqui os outros, o único que não estava era

Killz, soube que está com Nicolo e a esposa dele lá fora. Essa amizade do
meu irmão com o capo está me surpreendendo muito, ele é o Knight mais

exigente, e para o pai de Giulia ter conseguido a afeição dele só pode ter
acontecido algum milagre.

— O.k. — Ele se contenta rápido demais.

— Ficou bom? — pergunto, virando-me para ele e abotoando o

paletó.

— Sim. Você está demorando mais do que a noiva. Já devíamos ter


saído desse quarto, só falta agora você passar o gel no cabelo para deixá-lo

lambido — provoca-me, sorrindo.

— Eu me preocupo com a minha aparência, apenas isso. — Ignoro-


o. — E hoje você está engraçadinho, né? Estou impressionado com esse seu

humor. Aposto que é porque vou me casar, esses sorrisos aí devem ser de

alívio por me ver entrar no clube dos dominados.


O filho da mãe ri de colocar a mão na barriga, faz anos que não o

vejo tão descontraído.

— Não é isso, só estou orgulhoso de você. — Fica sério depois de

um tempo e vem até mim.

— Eu queria muito poder dizer que também estou, mas hoje quase

fiz a maior burrice da minha vida, Ezra, estive a ponto de colocar tudo a
perder. — Basta isso para que ele toque em meu ombro e aperte de leve,

como se dissesse “estou aqui, irmão”. — Ter que mentir para Giulia sobre a

origem dela tem fodido com a minha cabeça, cheguei a ponto de quase
explodir com essa merda, faltou muito pouco para que eu cheirasse algumas

carreiras para tentar aliviar a pressão que estou sentindo — confesso para o

irmão que mais cuidou de mim quando moleque. Quem sempre esteve lá

comigo foi Ezra, enfrentando tudo e todos para me defender mesmo eu


estando errado.

— E acha que só o fato de você não ter usado não é motivo de

orgulho, Spencer? Ao contrário do que pensa, ter sido resistente só me faz

ter mais admiração por você, imagino como deve ter sido difícil lutar contra
isso. — Ele me encara.

— É, você está certo. — Respiro fundo.


— Tenho algo para você — comunica, e enfia a mão no bolso da sua

calça social azul. — Como sabia que ia esquecer, encomendei as alianças.

— Me mostra a caixinha preta de veludo.

Arregalo os olhos.

— Nem sei o que dizer. — Confesso que fico mexido com a atitude

dele.

— Carter faria isso, mas eu quis fazer, porque hoje não é só

importante para você, para a sua futura esposa, é para mim também,
Spencer — diz, mostrando depois de tantos anos emoção na voz. — Estou

muito feliz com esse casamento, porque eu te conheço e sei que essa garota

nunca poderá ser apenas um acordo para você. A relação de vocês vai além

de um papel assinado. — Termina de falar e me estende a caixinha com as


alianças.

— Obrigado, Ezra. — Só consigo agradecer ao aceitar o seu

presente.

— Ainda não terminei. — Exibe um sorriso.

— Sério? — Franzo a testa, curioso.

— Dias atrás, pensei em algo que pudesse ser bom para você

espairecer um pouco, então estou te pagando uma viagem para Paris para
que possa aproveitar a sua lua de mel no melhor hotel de lá, o Shangri-La

Paris.

Meu irmão consegue me deixar sem palavras. Sabemos que se eu

quisesse poderia bancar a minha ida até lá, mas é a consideração dele que

não tem preço.

— Uau, você pensou em tudo.

Alguém bate à porta e impede de Ezra me responder.

— Spen, é a noiva que tem que demorar para chegar ao altar, e não o

noivo. Já está na hora, todos estão te aguardando. — É o Axl, engraçadinho.

Meu coração dispara. Puta que pariu. Vou me casar, é real. E para

completar, vou fazer uma viagem romântica com a minha esposa.

— Já estamos indo, Axl — Ezra responde por mim.

Sentindo a garganta seca, engulo a saliva e olho para a caixinha em

minha mão, que treme. Disfarço ao me afastar do meu irmão.

Quando foi que estar diante de uma mulher me deixou nervoso?


Nunca. Eu jamais fui o tipo de homem que o coração acelera por uma

garota, muito menos tremer de ansiedade e temer um futuro ao lado de

alguém.
— Sejam rápidos ou a Giulia que fará o papel do noivo ao te esperar

no altar. — Quando Axl tira para irritar é com ele mesmo, não dá trégua.

— Não me faça te mostrar quem será a noiva, seu idiota —

resmungo, ouvindo a sua risada do outro lado da porta.

— Só não vale desmaiar, bonequinha. — A provocação do nosso

irmão arranca uma gargalhada de Ezra.

— Vá se foder, Axl! — Rio baixinho, porque realmente estou

nervoso a ponto de sentir minha testa gelada.

— Espero vocês lá — avisa, sério, então não ouvimos mais a voz

dele.

— O jatinho vai estar pronto às dezoito horas. Se aceitar a viagem,

não precisa se preocupar com os gastos, basta levarem suas malas e os


documentos. — Fita-me, ansioso para que eu aceite.

— Eu vou, irmão, tenho certeza de que Giulia irá aceitar.

Ezra concorda com um meneio de cabeça.

— O.k., agora já podemos ir, não é? — indaga.

— Sim, antes que venham nos buscar — zombo, guardando as


alianças no bolso da calça.
A decoração da cerimônia não foi muito diferente da de Carter e
Muriel, seguiram com a mesma paleta de cores neutras, arrisco a dizer que

reutilizaram algumas coisas. Bom, isso é apenas um detalhe.

Como sempre, os membros do conselho estão presentes e entre eles

está o mais velho de todos – Oliver. O velhote está com seus setenta anos,
mas continua sendo o mesmo chato de sempre, nunca muda. E só de pensar

que esse homem turrão viveu mais do que meus pais sinto um calafrio ao

me lembrar deles.

A minha mãe certamente teria orgulho de mim, assim como Kurtz

ao me ver casar com uma garota encantadora.

— Daqui estou ouvindo as batidas do seu coração, irmão. Vou ficar

aqui por enquanto para te impedir de desmaiar. — Axl tirou o dia para me
importunar.

Estou de pé no altar e ele ao meu lado, em vez de estar com a sua

esposa, que se encontra acompanhada do resto da família que pode


comparecer – os nossos irmãos, as garotas e as crianças maiores, Dylan,
Austen e Katherine.

Ele está se comportando assim por se lembrar que anos atrás esteve

em meu lugar, a diferença entre nós é que Alessa transformou o casamento

dele em algo inesquecível ao surgir vestida de preto, como se estivesse indo


a um enterro.

— Não se preocupe comigo, irmãozinho, a minha noiva virá de

branco e não de preto — provoco-o à altura e ele fica puto.

— Anos se passaram e vocês ainda continuam com essa piadinha de


merda.

Contenho a risada ao encará-lo.

— Desde a manhã você está tirando a minha paz, agora aguente as

consequências. — Dou de ombros. Ao erguer os olhos para a frente,


deparo-me com Killz se aproximando com Angel ao lado, usando um
vestido cor vinho e com o cabelo loiro em um penteado simples. Ao me ver

acena para mim e eu retribuo com um gesto de cabeça.

Meu irmão mais velho deixa a esposa de Nicolo perto da Aubrey e


vem em minha direção. Ao ficar próximo o suficiente, pede a Axl que nos
deixe sozinhos, então se põe ao meu lado e fala para que somente eu escute.
— Nicolo está lá dentro, ele vai trazê-la até aqui — comunica,
tranquilo.

Logo desconfiei, uma vez que nenhuma das garotas ficou com ela.

— E ela vai aceitar? — Passo o dedo no botão do paletó.

— Os dois são teimosos, mas logo se resolvem. E eu não iria poder


fazer um papel que não é meu, ele é o pai dela, tem que fazer isso, quer
queira ou não — fala, ainda mais baixo.

— O.k. — murmuro, observando ao nosso redor. Há vários soldados

espalhados pela propriedade, no meio deles estão alguns de Nicolo,


enquanto a nossa família está acomodada nas cadeiras.

— Como está se sentindo? — Tiraram o dia para me perguntar isso,

como se a qualquer momento eu fosse ter um infarto.

— Nervoso — digo, o que não é mentira.

— Logo passa. — Toca em meu ombro e o aperta.

— Eu sei. — Respiro fundo e desalinho o meu cabelo ao passar os


dedos nele.

É só eu ouvir o “lá vem ela” em coro das garotas para que eu erga os
olhos e veja todos de pé, virados na direção da noiva, que caminha em
direção ao altar. Meu coração tem vida própria, ele bate por ela tão rápido
que não consigo controlar.

Instintivamente, sorrio e suspiro como um bobo, é mais forte do que


eu. E Killz nota, porque dá uma batidinha em meu ombro.

— É ela, Spencer, agora não tenho mais dúvida. — Nem precisa


explicar o que é, porque já sei o que significa. Ele quer dizer que Giulia será

a mulher da minha vida, mais cedo ou mais tarde.

Giulia Romano é a noiva mais linda que já vi. Ela parece um anjo
vestida de branco, e mesmo aparentando-se brava em ter que estar com o

braço entrelaçado ao do capo, não faz escândalo, apenas ruma até mim em
passos lentos e com um sorriso singelo.

Ela e Nicolo param à minha frente e eu não consigo tirar os olhos


dela.

— Estou te entregando a mia bambina, Spencer James Knight, e sei


que ela estará segura ao seu lado — diz o italiano, fitando-me seriamente.

Disfarçadamente, Giulia tira o braço dele do dela.

— Está sim, Romano. — Muito melhor do que do seu.

Mesmo que seja contra a vontade da minha futura esposa, o homem

se vira para ela e deposita um beijo em sua testa, em seguida, vai ficar ao
lado da esposa que está na primeira fileira.

— Futura sra. Knight. — Estendo a mão para ela fazendo charme, e

é assim que consigo arrancar um sorriso verdadeiro dela.

É natural ser atingido por uma onda de emoção que nunca sentiu
antes? Estou prestes a ter meu coração saltando pela garganta.

― Senhor meu futuro marido. — Ri baixinho, aceitando a minha


mão.

Lembro-me que meses atrás a diaba me disse “você vai ser o meu
marido, sim”.

Por alguns instantes, ficamos nos olhando sem nos importarmos


com a plateia, e mesmo que eu saiba que todos ao nosso redor estão nos
observando com curiosidade, aproximo-me mais dela e toco em sua cintura,

então ergo o seu queixo com o dedo indicador e beijo os seus lábios
pintados.

— Você está deslumbrante, bonequinha.

— Ainda sou a sua única noiva mais linda que você já viu? —

indaga-me, batendo os cílios longos.

— Você é a única. — Acabo deixando escapar, logo ouço os

suspiros das mulheres.


— Hum-hum. — Ao olhar para o lado, vejo Killz com uma

expressão de orgulho. — Já podemos começar a cerimônia — avisa.

Oliver se mobiliza para trás da mesa do altar e o meu irmão fica ao


lado dele. Damos mais alguns passos para a frente, e ali noto duas canetas,

uma navalha e alguns documentos, como de costume.

— Em tão pouco tempo, estamos mais uma vez aqui reunidos para
casar mais um Knight, o caçula. A maioria sabe como é o nosso costume
quando um casal da família vai se unir em um casamento. Giulia Romano é

um novo membro, e como o irmão mais velho e chefe, tenho o dever de


esclarecer algumas coisas. — Meu irmão toma a palavra e usa o mesmo
discurso padrão. — Os casamentos dos membros da família Knight têm um

ritual que vem desde a nossa primeira geração. E Oliver Pierre, sendo o
membro mais velho, realizará a cerimônia enquanto viver. Spencer e Giulia,

deem as mãos e fiquem um de frente para o outro.

Ficamos na posição indicada e esperamos que Oliver assuma a


palavra, mas antes Killz entrega a navalha para ele, em seguida, ele vem até

nós e o meu irmão deixa o altar para fazer companhia à esposa e aos filhos.

― A cerimônia é como uma tradição, um ritual. Dizem que não há


nada mais importante que o sangue que corre em nossas veias ― diz
Oliver, olhando em nossos olhos, depois para os outros presentes. ― A
união de duas pessoas representa o renascer, como uma fênix que surge das
cinzas. Meus queridos, Spencer James Knight e Giulia Romano,

vocês estão aqui para renascerem juntos. A partir do momento em

que o sangue se encontrar, se tornarão um e estarão ligados para sempre.


Um deverá ser o escudo e a base do outro, onde o mais forte obriga-se a se
colocar à frente do mais fraco, porque é disso que estamos falando: família,

união, fortaleza e fidelidade. ― As últimas palavras não só me afetam,


como a Giulia, os olhos dela estão cheios de água e os seus lábios tremem

levemente.

Já ouvi tantas vezes esse discurso, mas jamais imaginei que um dia

chegaria o dia de me comprometer a ser o escudo e a base de uma mulher.

Oliver pede para abrimos as mãos, então sou o primeiro a abrir as

minhas, e Giulia faz o mesmo sem receio algum. Ela está tão segura, não há
medo algum nela em saber que terá a sua mão cortada. O mais velho pega a
minha mão e faz um corte, depois na outra, então é a vez dela. Ela faz uma

careta de leve, mas não reclama, ao contrário, nota-se tranquilidade em seu


semblante.

Oliver levanta a navalha suja de sangue, mostrando aos outros


conselheiros, que assentem silenciosamente. Ele pede que entrelacemos as

mãos e prontamente obedecemos.


Por ter experiência, dou início a minha fala.

― Eu, Spencer James Knight, quinto herdeiro da máfia Knight,

prometo a Giulia Romano ser seu protetor, homem, escudo, fortaleza e


lealdade, desde agora até o meu último suspiro. ― Enquanto nossas mãos
partilham o nosso sangue, olhamos para nossos dedos entrelaçados que

estão sujos com o líquido vermelho.

― Eu, Giulia Romano, prometo a Spencer James Knight ser sua


melhor amiga, mulher, escudo, fortaleza e lealdade, desde agora até o meu
último suspiro. ― A voz dela quase sai embargada.

― Com o poder a mim concedido para concretizar esta união,


declaro Spencer e Giulia, marido e mulher. De agora em diante, Giulia
levará consigo o sobrenome do esposo e uma posição dentro da máfia ―

diz o mais velho, nos entregando a caneta.

Giulia Romano Knight é oficialmente a minha mulher.

Cedo para ela a caneta e ela assina o documento, então eu faço o


mesmo. Pela movimentação dos meus irmãos, penso que será Killz a

assinar, mas não, quem vem é Ezra e Hailey. Nada poderia me deixar mais
feliz do que ser eles a fazerem isso.

Assim que assinam, Ezra se aproxima de mim e bate em meu


ombro, é então que me lembro das alianças.
— Hum-hum, falta só mais uma coisa. — Enfio a mão no bolso e
tiro a caixinha de veludo.

Quase derrubando o objeto no chão por estar muito nervoso, peço a


Giulia que me dê a sua mão. Embora se encontre abalada, ela permite que

eu deslize a aliança em seu dedo fino.

— É linda — elogia, sorridente. Por conta própria, ela tira a outra

aliança da caixinha e põe em meu dedo.

— É sim — falo, só que o que ela não nota é que estou a elogiando,

e não o anel em meu dedo.

Isso está soando tão real. Não que seja mentira, mas é como se

tivéssemos planejado esse casamento há muito tempo, e não em poucas


semanas.

— E o beijo, tio Spen? O príncipe tem que beijar a princesa depois


de casados — diz minha sobrinha Katherine, que já é uma pré-adolescente.

— Katherine, se comporte! — repreende Killz, como um trovão. A


menina se encolhe ao lado da mãe.

— Amor, ela não fez por mal. — Aubrey tenta contornar a situação,
mas ele se mantém firme diante de todos como um verdadeiro chefe.
— Só porque me chamou de príncipe vou beijar a principessa,

Kathe. — Pisco para a minha sobrinha e ela sorri para mim. — Precisamos
selar o nosso casamento, esposa. — Encaro a minha esposa antes de puxá-la
pela cintura e grudar nossos corpos.

— Não acha que já fizemos demais? — brinca, espalmando a mão


em meu ombro.

— Nem começamos. Agora deixe o seu marido beijar a sua boca. —


Faço um biquinho ridículo, ignorando todos ao nosso redor.

Rindo, Giulia assente, então fito o pai dela, que está abraçando a
mulher com uma expressão que transmite suavidade. Mesmo sem dizer com

palavras, está feliz e conformado em ter casado a filha dele comigo.

— Você se importaria se eu rasgasse o seu vestido? — Aproximo

meu rosto do dela e roço nossos lábios.

— Como assim? — inquire, confusa.

— Só diga sim ou não. — Mordisco o seu lábio inferior e superior.

— Não... — geme em minha boca quando espalmo a mão em sua


bunda, mesmo sabendo que Nicolo Romano está vendo isso.

Foda-se se ele ficar puto e quiser arrancar as minhas mãos por estar
fazendo indecências na sua frente.
— Pois saiba que a minha promessa ainda está de pé, sra. Knight.
Agora que estamos casados, posso judiar da sua bocetinha sem moderação
— falo, baixinho e sedutor, beijando-a em seguida.

Arfante, ela toca em meu rosto e aprofunda o nosso beijo. Gemendo,


eu a aperto contra meu corpo e sugo a sua língua. O nosso momento quente

é desfeito por vários “eca” vindos das crianças, então trato de me comportar
para que Killz não arranque minhas bolas e me acuse de ensinar safadezas
para os meus sobrinhos.

 
 
Giulia Knight. Meu novo sobrenome exala um poder sublime.
Fitando a aliança em meu dedo e o corte superficial que foi higienizado
minutos atrás, sinto uma palpitação gostosa no peito. Eu me casei, Vincenzo

nunca mais poderá tentar me reivindicar, porque já sou de outro e em breve


serei em todos os sentidos.

Depois da cerimônia, os conselheiros nos parabenizaram pelo


casamento e foram embora com os seus soldados, só ficaram os Knight,
meu tio e Angel como convidados. O buffet está sendo servido dentro de

casa, já até comi alguns doces e salgados. As meninas estão servindo os


maridos e os filhos, faz alguns minutos que Carter solicitou que a babá

trouxesse os menores, e nesse momento a família está completa. Eles estão


aproveitando bem a presença do outro, admiro a união deles.

Ainda usando o vestido de noiva, distante de todos que estão

distraídos com Axl que tirou o dia para fazer piadas sobre os dias de
vadiagem do irmão ter terminado na frente de todos, observo Nicolo de
mãos dadas com a esposa junto aos Knight. Embora estejam entretidos no

falatório, meu tio vez ou outra me encara com um semblante atormentado.


Como o conheço muito bem, sei que está louco para falar comigo, já que
mais cedo, antes de me deixar no altar, tivemos uma conversa nem um

pouco agradável quando ele não pediu, somente exigiu me levar até o meu
noivo.

Por não querer estragar o dia, cedi a sua ordem, mas não dei a ele

oportunidade para que trocássemos uma palavra sequer depois disso. Se o


gênio dele é forte, o meu é mil vezes mais. Vou manter a minha palavra em
não o querer mais em minha vida, e começa a valer a partir de hoje, quando

ele voltar para a Itália.

Agora sou uma mulher casada e tenho a minha própria família,


então cada um que siga o seu destino. Ciclos se encerram e o nosso está
encerrado. O que ele fez com o meu pai não há perdão.

Por que dói como nunca doeu me distanciar dele mesmo sabendo da
verdade?

— Se os seus olhos fossem duas armas, eles já teriam matado o


Nicolo.

Levo um susto ao ouvir a voz do meu marido na minha orelha. Ele


se encosta em mim, mas com esse vestido nem consigo sentir o calor do seu
corpo, mas os pelos enrijecem com a sua voz rouca e sexy.

— Que susto, Spencer! — reclamo baixinho para não chamar


atenção.

— Eu poderia te dizer para não ser tão rancorosa com ele, mas sei
que tem os seus motivos — murmura, demonstrando pena de Nicolo. —

Qualquer um nessa sala está vendo que o homem te olha como um


cachorrinho abandonado.

— Sabe, há algo dentro de mim que não consegue odiá-lo como


deveria.

É um sentimento estranho que estou tentando lutar contra. — Olho-o por

cima do ombro e noto que a sua ida ao quarto de hóspedes foi para tirar o
paletó, agora está usando apenas o colete e a camisa com as mangas
dobradas até os cotovelos.

— Não sou a pessoa mais recomendada para te dizer isso, mas não

acha que essa história dele está mal contada? E se o seu tio estiver
acobertando alguma coisa e não quer te contar? — Spencer consegue
colocar em mim uma desconfiança.

O modo como meu tio falou da minha mãe, cheio de amor, dor e
arrependimento, não soou falso. Ele realmente pareceu ter a amado de
verdade, mas o que não aceito de maneira alguma é o fato de que Giuseppe
supostamente me prometeu a Vincenzo para que nos casássemos. Por que
meu pai faria isso comigo? Não tem lógica, ao menos para mim.

— O que não entendo é como Nicolo pôde dizer com tanta


convicção que o irmão dele foi o vilão, e não ele, que dormiu com uma
mulher comprometida. — Rio nervosa, virando-me para Spencer.

— Por trás de toda história existem várias versões, Giulia, mas


somente uma é a verdadeira. Então, se sente que existe algo mais, procure
encontrar o erro e assim irá alcançar o acerto. — Ele toca em meu rosto e
acaricia minhas maçãs com o polegar.

— Eu preciso de um tempo, no momento não consigo lidar com o


meu tio, ainda estou magoada. Deixar que ele se aproxime de mim vai

machucar os dois — falo, com o peito apertado.

— Leve o tempo que precisar. — Seus olhos fixam em minha boca.

— Eu vou. — Suspiro, deixando os ombros caírem.

— Mais cedo, recebemos um presente de Ezra — comenta,


lambendo os lábios.

— O que é? — inquiro, curiosa por fazer tanto mistério.

— Uma viagem a Paris, para a nossa lua de mel — diz.


Arregalo os olhos com a revelação. Nunca fui lá, mas já sonhei em
visitar a Torre Eiffel, aquela cidade é muito linda.

— Você aceitou ou não? — Meu coração dispara.

— O que você acha? — Ele faz charminho.

— Não sei, me diga.

— Eu disse sim a ele, só falta você.

Eu só consigo sorrir como uma boba.

— É claro que aceito, é Paris, não tem como recusar! — Rio


baixinho e ele também.

— Pensei o mesmo. — Pisca para mim.

— Quando vamos? — Fico animada, olhando ao nosso redor e


vendo que Nicolo, a sua esposa e Killz já não se encontram mais ali.

— Daqui a algumas horas. Iremos de jatinho, sairemos às dezoito —

avisa.

— O.k. — Tenho certeza de que meus olhos estão brilhando.

Um casamento que era para ser apenas um contrato está se tornando


real, e mesmo que estejamos percebendo isso, fingimos que não.

— Você não quer tirar esse vestido? — questiona, mal-intencionado.


— Já teria tirado faz tempo, mas estava esperando você cumprir
com a sua promessa de rasgá-lo do meu corpo. — Meu tom é baixo e
sensual ao espalmar a mão em seu colete preto que o deixa gostoso demais.

Vê-lo todo vestido de preto hoje me deixou babando.

— Eu sempre cumpro o que prometo, bonequinha. — Suas mãos


pousam em meus quadris e me puxam para ele.

— Por isso adoro que as faça. — Mordo os lábios sedutoramente.

— Agora que todos estão distraídos, podemos ir até o quarto de

hóspedes para darmos um jeito em seu vestido... O que acha? — Seus olhos
azuis e febris passeiam por meu corpo.

— É uma ótima ideia. — Aproximo meu rosto do seu e roço nossos


lábios, sentindo-os formigar.

— Essa será a escapadinha mais deliciosa que você já teve. — Ele


aperta meu quadril e geme baixo ao me ver mordiscar o seu lábio inferior. 

Ele é tão intenso que tudo acaba sendo inesquecível.

— Iremos fugir como dois adolescentes? — pergunto, ao ver o seu

sorriso travesso.

— Nem vão perceber — fala com naturalidade, em seguida,


entrelaça nossos dedos e me arrasta para o lado contrário de onde está a
nossa família.

Se alguém viu a nossa fuga, saberemos depois.

No corredor do andar de baixo, já distante de quaisquer


testemunhas, Spencer me enfia no quarto que ele esteve se arrumando mais
cedo, em seguida, tranca a porta atrás de nós. Sem me dar chance para
perguntar como vou sair após rasgar o meu vestido, ele se aproxima e beija

o meu pescoço fervorosamente.

Meu marido deposita beijos por minha pele, que arde em chamas
por seu toque.

— Antes que eu me esqueça — raspa os lábios em minha nuca —,

você ficou linda nesse vestido, mas nada pode competir com você quando
está nua para mim. — Então leva as mãos ao local do zíper do meu vestido
e o rasga no meio.

Quando a peça desliza por meu corpo e cai aos meus pés, Spencer
fecha uma mão em meu pescoço e me puxa para trás, grudando nossos

corpos.

— Você colocou esse pedaço de pano vermelho que chama de


calcinha para me provocar? — indaga, com calidez, e toca na alça fina da
peça fio-dental com os dedos e solta em seguida, fazendo o elástico

chicotear a minha pele.


— Ai... — reclamo, manhosa, empinando a bunda e esfregando em
seu pau duro.

— Me responda, bonequinha, esse pedaço de pano é para me atiçar,


não é? — Com a mão livre, ele a desliza até meu mamilo e belisca o bico

com dois dedos.

— Uhum, estava pensando na sua promessa de me fazer sua depois


do casamento. — Esfrego-me mais nele, sentindo minha calcinha ficar
melada.

— E você quer que eu coma a sua boceta virgem na casa do meu


irmão e com o seu tio presente? — Ele massageia meu mamilo e beija a
minha nuca, facilmente arrepio-me dos pés à cabeça.

— N-não — respondo, suspirando.

Não serei maluca a ponto de permitir que Spencer tire a minha


virgindade na casa do seu irmão, além do mais, o que estamos fazendo está
sendo errado demais, porém excitante.

— Não vamos foder aqui, meus planos são outros. Eu quero te

comer no jatinho, indo para Paris.

Os bicos dos meus seios ficam duros quando meu marido lambe
minha orelha.   Esfrego uma perna na outra ao sentir o líquido de excitação
descer por elas.

— Vou te comer pela primeira vez nas alturas — promete, descendo


a mão por minha barriga até chegar à minha virilha.

— C-céus. — Mordo a boca ao senti-lo colocar a calcinha para o

lado e enfiar o dedo nos meus lábios vaginais escorregadios.

— Mas não quer dizer que antes disso eu não possa fazer a minha
esposa gozar uma vez. — Ele me dedilha lentamente, depois com
velocidade.

Me abro para ele e rebolo em seu membro endurecido, que cutuca a


minha bunda.

— S-spencerrr. — Um gemido sai alto e ele tapa a minha boca, mas


não deixa de me masturbar.

— Eu adoraria te ouvir gemer alto, bonequinha, mas temos crianças


na casa e não quero correr o risco dos meus irmãos me jogarem na fogueira
por praticar indecências com meus sobrinhos presentes — diz, tirando a
mão da minha boca e virando o meu rosto para ele.

— Então me beija — sugiro, arfante, tremendo com as suas


investidas.
— Essa era a minha intenção. — Suga meus lábios, depois enfia a
língua dentro da minha boca.

Eu retribuo seu beijo na mesma intensidade, com ele engolindo


meus gemidos baixos e contidos.

Ao retornarmos para a sala, imaginei que ninguém teria notado a


nossa ausência, e me surpreendi ao ver todos agindo normalmente, mas

pelas expressões de cada um deles, todos sabiam da nossa pequena


travessura.

Para a minha enorme surpresa, Nicolo e Angel tinham ido embora


enquanto estávamos fora. Sem que eu precisasse perguntar por eles, Killz se
encarregou de me entregar uma carta do meu tio e avisar que tinham ido

para a Itália. Então entendi que o capo finalmente estava desistindo de ter a
minha afeição.

— Aproveite bem a viagem, Giulia, você e o Spencer merecem —


aconselha Alessa, abraçando-me.
Spencer saiu há mais de quarenta minutos, ele foi ao nosso
apartamento fazer as nossas malas e me deixou aqui com a família,
provavelmente já deve estar voltando para que possamos partir. O piloto de
Ezra está nos aguardando na pista particular perto da casa dele.

— E se não quiser engravidar na sua primeira vez, use camisinha.


Os Knight têm uma facilidade enorme para fazer filhos — fala Hailey, e eu
sinto meu rosto arder.

— Devo concordar e assinar embaixo — diz Aubrey, rindo.

— Concordo. A minha pequena aventura sem preservativo tem


nome e sobrenome. — Muriel aponta para o filho que está em seu colo se
alimentando.

— O.k., entendi, meninas — respondo, tímida. 

— E não caia no charme de “vou gozar fora”. Foi assim que Axl me
enfiou um filho abençoado que está quase me deixando de cabelo branco
antes dos trinta. — Alessa nos faz gargalhar.

— Ainda bem que nossos maridos não estão aqui, muito menos as

crianças maiores para ouvir essa nossa conversa — diz a loira, sorrindo.

Os homens estão com os filhos, e as garotas estão comigo, no quarto


de hóspedes, desde a saída do Spencer.
— Axl sabe muito bem a esposa que tem — murmura a prima de

Brey.

— E como — retruca Aubrey, divertida.

— Antes que eu me esqueça, tenho um presente para a recém-


casada. Na verdade, é meu e das meninas. — A esposa de Ezra se levanta

da cama e pega uma sacola elegante no aparador.

Curiosa, vejo-a tirar da sacola quatro embalagens de plástico e


balançar na minha direção, com um sorriso malicioso.

— Decidimos te fazer uma surpresinha picante — se manifesta

Alessa.

— Compramos lingeries sexy para você usar em sua lua de mel —


acrescenta a mulher de Killz.

— Jura? — Arregalo os olhos, ouvindo-as dizer em coro um “sim”.

— Compramos modelos e cores diferentes, você vai gostar. Mas não


precisa abrir agora, deixe para fazer isso quando for usar. — Hailey se
aproxima e me entrega as lingeries embaladas.

— Uau, obrigada, meninas. Vocês estão sendo maravilhosas comigo

— agradeço-as, com sinceridade.


— Não agradeça, só faça bom proveito das peças e deixe o Spencer
ainda mais louco por você — recomenda Lessa, piscando para mim.

— Apaixonado ele já está, só falta perceber. — Encaro Brey, que

sorri para mim.

— Vocês falam com tanta certeza do sentimento dele por mim, vou
acabar acreditando — brinco, com meu coração saltitando.

— Quer prova maior do que você ter conseguido levar o Knight

libertino para o altar? — profere a loira, com a mão na cintura.

— Tem razão. — Olho o presente delas. Batem à porta assim que


me calo.

— Giulia, vamos, o piloto está nos esperando. Eu trouxe tudo o que

me pediu, no jatinho você se arruma — diz Spencer.

As meninas suspiram, bobas por ver o Spencer devasso finalmente


casado.

— Estou indo, só vou me despedir das garotas e já desço — digo

alto e bom som para que me escute.

— O.K., vou falar com os meus irmãos também — avisa, depois não
o escuto mais.
Levanto-me da cama e Hailey me dá a sacola para que eu guarde as
lingeries, em seguida, despeço-me delas com um abraço e saio do quarto
para procurar o meu marido.
Sentado na poltrona de luxo do jato de Ezra, espero por Giulia, que

foi ao banheiro. Até minutos atrás, antes de deixarmos a casa de Carter, ela
estava bem, sorridente, animada para chegarmos a Paris, mas há uma
tristeza em seus olhos que é impossível de ser escondia.

Sem sombras de dúvidas, a relação com Nicolo mexe com ela mais

do que deveria. A volta dele para a Itália sem se despedir e a carta que
deixou a afetaram, mas não quer aceitar isso.

Por mais que minha mulher tente odiar o pai, não consegue. E é isso

que está a deixando abalada a ponto de criar a sua própria bolha de

pensamentos ruins. Giulia se julga por não ser capaz de transformar o


homem que a criou em seu inimigo. A confusão que se encontra em sua

cabeça a deixa nervosa. Se Nicolo tivesse contado a verdade, talvez ela não

estivesse tão desnorteada em busca de respostas, por não saber o que a


impede de eliminá-lo da sua vida.
Inclino-me para ver se ela está vindo e vejo Patrick com outro

soldado, sentados nas poltronas próximas da cabine, ambos estão sérios e


calados, sequer olham em nossa direção. Na ida ao meu apartamento para

fazer as malas, eu o contatei para que ele e mais um colega viessem

conosco a essa viagem para fazer a nossa segurança.

Estranhando a demora de Giulia, ajeito-me na poltrona confortável


de couro branco e fecho os olhos, não demora nada e meu celular recebe

uma notificação. Desbloqueio a tela e vejo uma mensagem de voz da minha

mulher.

Com a sobrancelha arqueada, baixo o volume e coloco para

reproduzir o áudio.

“De Londres até Paris de jato é pouco menos de uma hora, logo

estaremos lá e ainda não aproveitamos o quarto, sr. Knight. O que acha de

vir até aqui ver a surpresinha que preparei para você?”

Seu tom é sensual pra caralho, e o gemidinho que solta no final faz
meu pau apertar a calça com força.

Ah, porra.

Sorrindo de lado, guardo meu celular e a deixo sem resposta.

Desafivelo meu cinto e vou até ela.


— Giulia — chamo-a, batendo de leve à porta, mas ela não
responde, então tento abrir e constato que está trancada.

— Já abro — ela diz do outro lado.

Quando ela abre para mim, entro e encontro o quarto vazio.

Estranhando, olho para a porta do banheiro e noto que está fechada.

— Estamos brincando de esconde-esconde e eu não sei? — Fecho a

porta atrás de mim e olho para todos os lados do cômodo, e é nesse

momento que o meu celular notifica uma nova mensagem.

Pego o celular no bolso da calça e rio baixinho ao ler a mensagem

de texto.

“Tire os sapatos e sua roupa, exceto a cueca, e se deite na cama.”

Animado, começo a tirar tudo na ordem que fora pedido e me deito

na cama de barriga para cima. Coloco os braços atrás da cabeça, esperando

que a minha esposa linda e gostosa apareça.

Olhando para o teto e assobiando, acabo rindo ao imaginar o que ela

pode estar aprontando. Quem diria que eu estaria dentro de um jato, recém-

casado e muito feliz com a ideia de ser marido de alguém.

Sem que eu percebesse, Giulia Romano conseguiu preencher cada


lacuna em meu coração. De repente, a minha alergia a casamentos não
existe mais, muito menos o vazio de antes.

— Spencer.

Ao ouvir a voz de Giulia, viro-me em sua direção e arregalo os

olhos com a visão que tenho.

Puta que pariu... Nenhum dos carros com que apostei milhares de
corridas durante esses anos serão capazes de competir com a máquina

diante de mim, usando um conjunto de lingerie cor vinho, sexy pra caralho.
Não me recordo de ter pegado para ela essa peça, aposto que as garotas têm
um dedo nisso.

Admirando-a como um bobo, sento-me na cama com as pernas para


fora e ela vem em minha direção, rebolando o quadril delicioso. Babando

pela minha doce e tentadora esposa virgem, lambo os lábios e inspeciono


cada pedacinho do seu corpo.

— Acabo de descobrir que sou taquicardíaco. Você quer ficar viúva


para ficar com todos os meus carros, não é? — Levo a mão ao peito,

fazendo gracinha.

— Você é um palhaço, Spencer James Knight. Sempre soube que

aquela pose de bravinho era só fachada — provoca-me, se pondo na minha


frente e tocando em meus ombros.
— Mais respeito com o seu homem, bonequinha. — Uso um tom

sério para ver a sua reação. Ela arregala os olhos, mas logo se recompõe.

— Você ainda não é o meu homem — diz e se senta em meu colo,


passando as pernas de cada lado do meu corpo.

— E quem, nesses últimos dias, estava te fazendo gozar com a boca

e os dedos? — Espalmo as mãos em sua bunda e a faço se esfregar em meu


pau.

— Hmmm... Não lembro — geme, manhosa, e rebola não minha


ereção já formada.

— Acho que você precisa de mais estímulo para se lembrar, não é?


— Bato em sua bunda com força e ela solta um gemido alto. — Agora me

diga, meu bem, ainda não sou o seu homem? — Avalio o seu rosto bonito.

— Só posso dizer depois que me foder nas alturas. — Nossos


olhares se encontram, e o seu atrevimento é como injetar adrenalina em
minhas veias.

— Você está louca para me dar essa bocetinha, não é, minha querida
esposa? — Seguro em seu pescoço e aproximo o seu rosto do meu.

— Desde o primeiro dia que me tocou, marido. — Puxa meu lábio


inferior com os dentes, me arrancando um gemido de excitação.
— Se estava, por que não me deu logo? — Roço meus lábios nos
dela e Giulia move o rabo gostoso em meu membro com ousadia.

— Primeiro, o casamento, depois sexo. Eu não seria boba de te dar a


minha virgindade antes de ter a garantia que seria o meu marido —

confessa, e suga meu lábio inferior.

— Sempre soube que era uma garota esperta — murmuro, levando a


mão até o fecho do seu sutiã.

— Devo concordar com você. — Ela ri, passeando as mãos por

meus braços.

— Temos só mais alguns minutos para que eu cumpra com a minha


promessa. — Toco em sua cintura. — Você vai me deixar cumpri-la, sra.

Knight? — Uso o seu novo sobrenome e ela morde os lábios por adorar ser
chamada assim.

— Sou toda sua, Spencer. — Ofega quando eu aperto a sua cintura.

— A propósito, essa lingerie te deixou maravilhosa — digo, vendo

os seus olhos brilharem.

— Pensei que não iria elogiar — murmura, passando os braços em


meu pescoço.
— Ela ficou perfeita em você, mas o meu interesse é outro no
momento. — Aperto a sua coxa.

— Pois me diga qual é. — Enfia os dedos em meu cabelo.

— Foder a sua boceta e derramar a minha porra nela até a última

gota — digo, causando arrepios nela.

— Então me mostre logo como é ser fodida por você, estou ansiosa

para saber como é ser comida por meu marido.

— Primeiro, quero preparar a sua bocetinha para ela me receber


bem molhada.

— Mas ela já está completamente encharcada. — Ela pega minha

mão e põe entre as suas pernas, então sinto meus dedos molharem ao

encostar no tecido da calcinha de renda.

— Não do jeito que eu quero. — Lambo os lábios.

— E qual é o seu jeito para me deixar mais molhada para você? —

Desliza minha mão para dentro da sua calcinha.

— Saindo do meu colo e se deitando na cama de bruços, com as


pernas para fora dela — recomendo, dedilhando a sua boceta e a fazendo

gemer e rebolar.

— V-vai me comer nessa posição?


— Não, mas vou te chupar. — Tiro minha mão de dentro da sua

calcinha e chupo meus dedos molhados com a sua excitação. — Agora, seja
uma boa garota e fique de quatro para o seu homem.

Arfante, Giulia sai do meu colo e começa a tirar a lingerie. A

primeira peça é o sutiã, que assim que é removido me dá a visão dos seus

mamilos durinhos com bicos rosados, assim como a sua boceta.

— Isso aqui eu tiro. — Eu a impeço de tirar a calcinha e vou até ela,

me ajoelhando a sua frente e segurando as laterais da peça íntima,

descendo-a até os seus calcanhares. — Pronto, agora vá para a cama. —


Beijo as suas coxas antes de me afastar dela.

Em questão de segundos, Giulia se põe na posição que pedi, então

olho ao meu redor e vejo um minibar ali. A garrafa de uísque tem a minha

total atenção.

— Não saia daí. — Afasto-me dela, que fica confusa, porém não me

questiona.

Vou beber uísque de um modo diferente hoje.

Abro o armário e pego a garrafa, então tiro o lacre da bebida e volto


para a minha mulher, que está arreganhada esperando por mim.

— O que vai fazer, Spencer?


— Vou transformar a sua boceta em minha cachoeira particular de

uísque, amor. — Ajoelho-me atrás dela e começo a beijar a parte interna das

suas coxas lambuzadas com a sua lubrificação, que escorre para mim e por
mim.

Beijo a sua bunda, raspo o nariz em sua pele macia, passo a língua

em cada centímetro dela, antes de abocanhar a sua boceta. Sugo o seu

clitóris durinho e escorregadio com fome, e em resposta ela geme o meu

nome e empurra o rabo em meu rosto.

— Aa-hhh, céus — grita, rebolando.

Enfio a língua em seu buraquinho virgem e soco com vontade. Por

alguns instantes, paro de chupá-la e viro a garrafa de uísque na sua bunda e

derramo o líquido. De início, ela estranha, mas aos poucos vai relaxando
quando me sente passar a língua por sua pele e lamber a bebida lentamente.

Repito o ato, até que fico em uma posição que dê para eu enfiar o

rosto em sua boceta e encostar do vidro em seus lábios vaginais, espalhando


o uísque ali, que se mistura com o seu mel incolor e pinga no colchão, na

minha boca.

— S-spencer.

Bebo o álcool ao mesmo tempo que sugo o seu grelinho com avidez
e ela grita e se contorce de tesão. Largo a garrafa no chão e mudo de
posição. De joelhos e de frente para ela, abro com meus polegares seus

lábios vaginais e deslizo a língua para dentro dela. Sugando o seu clitóris,
enfio o dedo médio em seu ponto g.

— Ahhhh...

Chupo, lambo e massageio o seu clitóris, até que ela arqueia as

costas por não aguentar a pressão e goza forte, gemendo alto. Com certeza,
os seus gritos foram ouvidos por meus soldados. Aos poucos, ela vai

relaxando, rebolando devagar e gemendo baixinho.

Afasto-me do seu corpo trêmulo e tiro a minha cueca com meus

olhos nela, que logo se vira e se deita na cama, de frente para mim. Com um
olhar atrevido, ela morde os lábios e abre as pernas, então massageia um

mamilo enquanto a outra mão desliza por sua barriga até chegar à sua

boceta. É então que enlouqueço ao vê-la iniciar uma masturbação sem que
eu tenha pedido. Sinto o meu pau doer de tão duro que fica.

— Nem pense nisso, bonequinha, você só vai gozar novamente se

for com o meu pau te comendo. — Vou até ela e cubro o seu corpo com

meu. Apoio o meu peso em meus antebraços e toco o seu rosto.

— Eu não tenho pretensão em ter outro orgasmo sem ele dentro de

mim. — Olho firmemente em seus olhos e acaricio sua bochecha. — Me

torne oficialmente sua — pede, entrelaçando as pernas em minhas costas.


Seguro a base do meu pau e roço a glande em seus lábios vaginais,

instintivamente gemo com o contato e sinto meu corpo vibrar. Sem suportar

ficar mais tempo esfregando meu pênis nela, encaixo-o em sua entrada e

começo a impulsionar o quadril lentamente, sentindo a sua boceta


encharcada e quente, engolindo meu comprimento aos poucos.

Giulia fecha os olhos e choraminga quando forço o seu hímen. Uma

lágrima escorre pelo canto dos seus olhos e, carinhosamente, beijo os seus

lábios e paro de tentar penetrá-la ao notar que está com uma expressão de
dor.

— P-por que parou? — pergunta baixinho, com a respiração

irregular.

— Você está quase chorando. — Controlo o gemido.

Ah, cacete, a sua boceta é pequena e estreita, quase não caibo.

— N-não estou, você só um pouco grande, mas pode continuar. —

Ela se abre para mim e busca a minha boca para beijar.

Me movo para dentro dela e faço movimentos vaivém lentamente,


com cuidado para não a machucar. É a primeira vez que sou atencioso com

uma mulher na cama.

— Posso ir mais rápido? — pergunto em seu ouvido e ela assente.


Estoco fundo, entrando e saindo dela. Minha esposa grita

escandalosa por meu nome e arranha minhas costas com suas unhas afiadas.
Quando nossos quadris batem, fazendo um barulho alto com o impacto, eu

beijo a sua boca para engolir os seus gemidos. Sugo seus lábios e mordo de

leve, depois afundo meu rosto no seu pescoço e chupo a sua pele com força,

para deixá-la marcada.

Abandono o seu pescoço e foco nos seios, abocanhando um depois o

outro. Eu chupo e mordo, marcando com meus dentes seus biquinhos

enrijecidos. Seguro na sua cintura com uma mão e faço movimentos

circulares com meu pau, indo cada vez mais fundo em seu interior.

— Céus, Spencer, vou gozar! — Soluça aos gemidos.

Ergo o corpo, ficando de joelhos e continuando a foder, meu pau

sumindo em sua boceta apertada. Ela está tremendo e o seu corpo está

suando, assim como o meu, mas é impossível não ver a sua expressão de
prazer e os seus olhos brilhando.

— Goze, minha bonequinha. — Arremeto nela e os seus peitos

sobem e descem.

— Aahhh... Ahhh. — Morde a boca e revira os olhos de prazer.

Sua boceta aperta meu membro e eu o sinto formigar cada vez que

meto com mais velocidade. Prestes a gozar, eu me deito sobre ela


novamente e busco por sua boca, sem parar de fodê-la.

Seus lábios tremem sob os meus e ela abraça meus ombros,

acariciando a minha pele suada, antes de gozar e os nossos fluidos se

misturarem quando despejo meu esperma nas paredes do seu útero.

A sensação de estar no paraíso é completamente diferente do que


imaginava. Correr em alta velocidade, ser considerado o melhor em todas as

corridas e ter várias mulheres disponíveis para mim era mais do que

suficiente. Mas isso era antes de ter a minha mulher em meus braços,
gemendo e me beijando, me entregando a sua virgindade e sendo a única a

ter conseguido fazer o meu coração bater sem ter aquela sensação de vazio.

O jatinho aterriza e eu consigo cumprir a minha promessa em fazê-

la minha nele.

Assim que pousamos no aeroporto Le Bourget, um carro com


motorista nos aguardava para nos deixar no hotel. O caminho até Shangri-
La Paris levou cerca de trinta minutos. Ezra fez uma ótima escolha, o lugar
é um palácio luxuoso, com decoração clássica e funcionários bem
prestativos.

— Eu amei essa suíte e a vista dela — diz Giulia, removendo as

suas roupas para tomar banho.

Estamos hospedados em um quarto com vista para a Torre Eiffel e


com direito a uma varanda. Giulia ficou encantada.

— É um bom quarto — murmuro, caminhando até ela, que já está

nua.

Poucos minutos atrás, descobri por uma ligação da recepção, que em


breve irão trazer o nosso jantar. Só que eu não pedi nada, então acredito que
seja um mimo de Ezra.

— O que eu visto para o nosso jantar? — indaga, umedecendo os


lábios.

— O que achar confortável — falo, vendo-a erguer a sobrancelha.

— O.k., até mesmo uma das minhas lingeries novas? — Puxa os

lábios entre os dentes.

— Contanto que eu seja o único a te ver, pode ser. — Acabo com a


nossa distância e passo o braço em sua cintura.
— O último romântico — brinca, tocando em meu ombro e rindo
baixinho.

— Até mesmo se quiser ficar nua não vou reclamar, mas não dará
um passo para fora desse quarto. — Espalmo a mão em suas costas e vou
descendo até o seu cóccix, ali acaricio lentamente.

— Muito possessivo, não acha? — Morde os lábios.

— Esse negócio de casamento mexeu com a minha cabeça. — Dou


a justificativa mais descarada e ela gargalha.

— Ah, é? Você não me engana, Spencer, sei que é um ciumento


encubado — provoca-me, aproximando o seu rosto do meu.

— Só estou cuidando do que é meu. — Apalpo a sua bunda,


apertando a sua carne entre meus dedos.

— Mas você disse que eu posso ficar nua. — Roça a boca na minha
e massageia meu ombro.

— Sabe muito bem o que eu quis dizer, Giulia. — Meu tom sai
abafado ao ter o pau apalpado por ela.

— Sei? — Me dá selinhos antes de sugar meu lábio inferior.

— Sim, e eu sei exatamente o que você quer nesse momento. —

Seguro em seu pescoço e a afasto um pouco de mim.


— E o que eu quero, sr. Esperto?

— Me dar essa bocetinha. — Bato em sua bunda.

— Ai! — resmunga, manhosa.

— Me diga, Giulia, o que você quer de mim nesse momento?

— Quero que me coma novamente — arfa, quando começo a


acariciar sua bunda.

— Não quero machucá-la, sei que está dolorida.

— Não vai me machucar, e eu quero te sentir de novo dentro de

mim.

— Baby, o seu pedido pode se tornar um caminho sem volta. —


Vasculho o seu rosto bonito.

— Não me importo, apenas quero você me comendo. — Ela lambe

os lábios de um modo sexy e enfia a mão dentro da minha camisa,


apertando os músculos do meu abdômen.

— Giulia... — eu a repreendo, mas adoro a sua ousadia.

— Eu quero que me foda em cada canto desse quarto, marido, e me


faça gozar chamando o seu nome — diz, sensual, arranhando a minha pele

com as unhas.
— Estou tentando ser um cavalheiro, mas você não me permite tal

proeza. — Solto um falso suspiro.

— Não precisa ser, e eu nem quero que seja, não na cama. E se


quiser me acompanhar no banho. — Estala a língua, então me dá as costas e

segue rebolando na direção do banheiro. Passo a mão no rosto ao sentir meu


pau pulsar com a visão que tenho.

Como um cachorrinho fiel ao seu dono, rumo até ela tirando minha
camisa.

— Tem noção do que fez? — pergunto assim que a vejo entrando e


me olhando por cima do ombro ao perceber a minha presença.

— Não. O que eu fiz? — Se faz de desentendida e morde os lábios,


empinando a bunda para mim como se não tivesse pretensão alguma de me

atiçar.

Rindo de canto, observo-a soltar um gemidinho ao se encostar no

ladrilho da parede e encarar a minha ereção sob a calça.

— Não se faça de desentendida.

Em um rosnado, entro no maldito boxe e a prenso no ladrilho


gelado, fazendo-a gemer baixinho. Fecho uma mão em torno da sua
garganta e olho em seus olhos intensamente, com o sangue quente
bombeando mais rápido no coração.

— Dessa vez vou ser mais cuidadoso e romântico, mas na próxima,

quero te foder forte e duro a ponto de te deixar sem conseguir andar direito
por dias de tão assada que irá ficar.

Ela arregala os olhos e ofega quando desço a mão em um dos seus


seios e aperto o biquinho intumescido, vendo o corpo dela se arrepiar.

— S-spencer... — Giulia morde o lábio inferior, soltando um chiado


baixinho.

— Primeiro quero que você se ensaboe olhando em meus olhos,


depois eu decido se foi uma boa garota e se merece ter o meu pau nessa

bocetinha. — Belisco o seu outro biquinho enrijecido.

Assentindo, ela liga o chuveiro e pega o sabonete no suporte ao


lado, começando a se ensaboar. Removo o resto da minha roupa e jogo as

peças do lado de fora do boxe e fico a observando deslizar o sabão por sua
pele, enquanto seus olhos ficam fixos no meus.

Ela ensaboa lentamente os braços, depois o colo e desce para os


seios, barriga, quase perto da boceta. Vou ao seu encontro e tiro o sabonete

da sua mão. Confusa, Giulia me encara.


— Aqui eu lavo. — Molho minha mão junto ao sabonete e o passo
em suas coxas e subo em sua vagina bem devagarinho, fazendo-as gemer

com a carícia.

Com nossos olhares fixos, esfrego a ponta do sabão nos lábios


vaginais dela, depois em seu clitóris.

— Ahhh — chia, ao me ver masturbá-la no grelinho com barra, em

seguida, substituir por meus dedos. Massageio o seu clitóris e enfio os


dedos dentro dela, bem fundo, arrancando os seus gemidos mais profundos.
Não demoro muito ali, porque não quero que goze agora, então enxaguo sua

boceta e aumento os jatos da água. — Fique de costas e empine esse rabo


gostoso para mim — peço.

Febril e arfante, ela se vira de costas e inclina o corpo para a frente,

colocando os braços na altura da cabeça e se empinando para mim.

— Boa garota — murmuro, devolvendo o sabonete para o suporte e


olhando a água cair por suas costas e bunda.

Visão maravilhosa do caralho.

— Se empine mais, baby. — Eu me posiciono atrás dela, espalmo

uma mão em seu quadril e seguro meu pau com a outra, antes de passar a
glande em seu feixe de nervos lentamente.
— Céus, Spencer — geme, empurrando a bunda em meu quadril.

— Sem pressa, bonequinha. — Simulo uma penetração e ela


estremece, então volto a provocar os seus lábios vaginais molhados para
enlouquecê-la.

— Mete logo. — Arrasta a voz, ardendo de desejo.

Abro mais a sua bunda e deslizo meu pau em sua boceta, sentindo a
adrenalina dominar cada célula do meu corpo. Entrar nessa mulher é como
pilotar as minhas melhores máquinas.

Bombeio devagar, e aos poucos movimento meu quadril para frente


e para trás. Depois do pedido dela por mais, soco forte e a sua bunda bate

contra a minha virilha várias e várias vezes.

— Eu disse que ia ser cuidadoso, mas você está determinada a me

fazer mudar de ideia. — Meto até as bolas e bato em suas nádegas,


marcando a sua pele clara com meus dedos, fazendo-a me xingar e rebolar
como se os tapas que leva a estimulassem.

— Aaahhh — grita, alucinada.

Saio de dentro dela e a viro de frente para mim, em seguida, puxo-a


pela nuca e beijo a sua boca, chupando a sua língua e engolindo os seus
gemidinhos que soam como protesto por ter parado de comê-la. Com
nossos corpos grudados, deixo que a água caia em nossas cabeças e desça

até nossos pés.

Ficamos nos beijando por longos minutos, até que eu a suspendo em

meu colo ainda com a sua boca colada na minha. Desejando fazê-la gozar
quicando em mim, saio do boxe e rumo para o quarto com ela em meus
braços, que nem mesmo me questiona, apenas me dá selinhos e arranha

meu ombro.

Em frente à cama, eu me sento e a ponho sobre minhas coxas, com o

meu membro duro e melado que pulsa sem parar.

— Você vai se sentar nele e quicar bem gostoso até gozarmos, está

ouvindo? — Trago a sua mão para o meu pau e os seus dedos finos se
fecham ali.

— Só se me ensinar como você gosta. — Usa um tom inocente e


inicia uma punheta em mim e eu rosno.

— Já cavalgou alguma vez? — indago, gemendo ao ver os dedos


dela ficarem sujos com meu líquido pré-ejaculatório.

— Nunca — diz, me masturbando e olhando em meus olhos sem


timidez alguma.
— Pois hoje vai. — Agarro sua bunda e a levanto. — Me coloque
dentro de você e desça devagar — oriento.

Mordendo os lábios, ela balança a cabeça e faz o que eu peço.

— Porra... — Fecho os olhos ao senti-la descer em meu

comprimento com a sua bocetinha rosadinha e quente.

— A-assim está bom? — Então me engole todo e eu sinto que estou


flutuando.

— Pequena e gulosa é mais do que bom, é perfeito pra caralho. —

Rangendo os dentes, eu agarro o seu quadril.

Segurando em meus ombros, Giulia começa a se movimentar para


cima e para baixo, os seus peitos sobem e descem enquanto cavalga em

mim com velocidade. Salivando por seus mamilos que quase batem em meu
rosto, trago um para a minha boca e dou leves mordidas antes de sugar.

— Q-que gostoso, assim, não para, assim... aahh, v-vou gozar. —


Ela prende meu cabelo em seus dedos e esconde o rosto na curva do meu

pescoço.

A ponto de gozar também, ajudo-a a descer e subir em mim sem

parar, sua bunda batendo em minhas coxas, com o som das nossas carnes se
chocando ecoando pelo quarto. Giulia morde meu pescoço, me aperta no
quadril com as pernas e eu jogo meu corpo para trás, trazendo-a comigo e a
fazendo rebolar no pau uma última vez antes de sentir minhas entranhas

ficarem apertadas.

Ofegantes, nos encaramos por poucos segundos e então nos


beijamos com paixão, deixando que as nossas respirações fortes se

misturem. Com a boca entreaberta e encostada na minha, soltando um


gemido, minha mulher goza e vagarosamente vai diminuindo o ritmo da
cavalgada.

Uivando como um animal enjaulado, explodo em um orgasmo

vigoroso que faz meu corpo inteiro tremer com tamanha intensidade.

— Petit gateau acaba de se tornar a minha segunda sobremesa

preferida — diz Giulia, ao terminar de comer a sua sobremesa.

Depois que tomamos banho, não demorou nada para Patrick bater à

porta avisando que já tinham trazido o nosso jantar. Após receber a nossa
comida, dispensei meus soldados por algumas horas.
— Percebi que você adora doces, parece uma formiguinha —

comento, fazendo-a rir e lamber os lábios com resquícios de chocolate.

— Eu adoro — confessa, com os olhos fixos na Torre Eiffel


iluminada pelas luzes.

— Você já leu a carta de Nicolo? — pergunto, depois de alguns

minutos.

Eu a vejo ficar pensativa ao encarar o envelope na mesa.

— Ainda não — murmura.

— E não vai? — inquiro.

— Vou fazer isso nesse momento. — Engole em seco.

— Quer privacidade? — pergunto, prestes a me levantar.

— Não, pode ficar. Não quero que exista segredo entre nós — diz, e

é a minha vez de engolir o nó que se forma em minha garganta.

— O.k.

— E ele já começa a primeira linha me chamando de filha. — Ri


com amargura, deixando meu coração apertado com a sua revolta.

— Como se sente quando ele te chama de filha? — Vasculho o seu


rosto, que se contorce.
— Não sei explicar, mas fico com raiva. Para mim, estamos traindo

a memória do meu pai — revela, baixinho.

— Mas você não está, Giulia. Nicolo te criou, querendo ou não, é

seu pai — expresso a minha opinião que a deixa sem palavras.

— Vou ler em voz alta. — Seu tom é de alguém incomodado.

— Leia — incentivo-a e me surpreendo ao vê-la sair da sua cadeira


para sentar-se em meu colo.

“Querida filha, sei que você me odeia e não quer me ver tão cedo,
mas quero que saiba que você pode me ver como o seu maior inimigo, me

mandar embora da sua vida, ainda assim estarei ao seu lado, por perto, para
te ajudar no que eu puder.”

Abalada, ela se remexe em meu colo e eu passo o braço em sua


cintura.

“Tenho consciência de que falhei com você por mentir, te ocultar


muitas coisas, e que os meus erros do passado só serviram para prejudicar a

nossa relação.”

Giulia está com a voz embargada.

— Faz uma pausa — recomendo, notando que está nervosa.


Respirando profundamente, ela solta o ar pela boca e volta a se
concentrar no papel em suas mãos.

“Embora nunca tenha sido boa a nossa convivência, e mesmo você


sendo uma garota de personalidade forte, ainda conseguíamos viver juntos
apesar do seu ódio por mim, mas quero que entenda que se eu menti, te

magoei, cometi os piores erros da minha vida foi para te proteger.”

Minha mulher começa a chorar.

“Eu te amo muito, minha menina, nunca vou desistir de você,


mesmo que desista de mim. E se eu pudesse voltar no tempo, não voltaria,
porque tudo o que eu fiz foi para te ver bem.”

Soluçando, Giulia fecha os olhos e as lágrimas caem por suas


bochechas.

“Eu sei que se pergunta a razão de eu ter deixado todos esses anos
Vincenzo se aproximar de você e nunca ter feito muita coisa. O motivo para
ter me tornado tão fraco foi por um segredo meu que ele sabe, e se chegasse

aos ouvidos errados, muitas coisas estariam em jogo, principalmente a sua


vida, por ser a minha única herdeira. Então eu peço que leve o tempo que
precisar, mas não me impeça de ser a sua família.”

Aos soluços e fungando, ela comprime os lábios.


“Vou esperar o seu tempo, quando se sentir pronta para me ver e
conversar, me ligue ou envie uma mensagem, estarei te esperando, não
importa se passarem meses ou anos.”

Preocupado com o seu choro, toco em seu rosto e faço com que me
encare.

— Respira fundo e tente se acalmar — peço, olhando em seus olhos


avermelhados.

— P-preciso terminar de ler — diz, trêmula.

— Como quiser — concordo, sem ter muito o que fazer.

“Não vai demorar para você descobrir o que me impediu de matar


os Esposito antes, mas assim como você precisa de um tempo para pensar,

eu também. Ainda não me sinto pronto para te contar o segredo que venho
guardando há anos. Por isso, desejo que viva a sua vida e só me procure
quando se sentir pronta para me dar uma chance de recomeçarmos.”

Ela termina de ler a carta menos nervosa, e aos poucos o seu choro é

cessado.

— Como se sente depois disso? — pergunto após alguns minutos se


passarem e ela continuar vidrada na carta.
— Péssima por saber que Nicolo tem mais segredos do que eu
imaginava, e com uma teoria muito ridícula.

Meu coração fica acelerado ao ouvi-la dizer.

— Que teoria? — Disfarço meu nervosismo.

— Aqui ele fala sobre eu ser a única herdeira dele e que Vicenzo
sabe um segredo que não poderia cair em ouvidos inimigos — murmura,
distante. — Seria possível ele ser meu pai?

Meu sangue congela, porque finalmente Giulia está começando a

juntar as pontas soltas.

Prestes a abrir a boca, eu a vejo sair do meu colo e se encostar no


parapeito da varanda, o vento que bate faz com que o seu cabelo voe no ar.

— Se meu tio fosse meu pai é óbvio que eu saberia, são quase vinte

anos, não seria possível ele esconder algo tão... Assustador — diz,
apavorada com a ideia.

Se ela pensar mais um pouco, vai ver que não é bem como imagina.

— Mas não é impossível. Por que não o põe contra a parede para

que te conte a verdade? — sugiro, cruzando os braços.

— Eu quero um tempo, Spencer. Agora que estou livre de Vincenzo,


só quero ter paz. E trazer esse tal segredo de Nicolo à tona provavelmente
irá transformar meus dias em um inferno — fala, decidida.

— É isso mesmo que você quer? — pergunto, indo até ela.

— Sim, eu preciso de um tempo para mim. — Ela me abraça e


encosta a cabeça em meu peito.

Espero que futuramente ela não me culpe pelas suas escolhas.


Três meses depois

Passaram-se alguns meses da minha lua de mel, mas desde que


voltamos para casa, continuo tentando organizar algumas coisas no nosso
novo lar. Não trouxemos nenhum móvel do apartamento, ele comprou
outros e eu gostei que tenha feito isso. Para mim, a sua decisão foi como um

recomeço para a nossa relação, e não só isso, as suas atitudes também. Ele
tem me permitido conhecer todas as suas facetas e isso faz com que eu me

sinta especial em sua vida.

Na mudança, tenho tido a ajuda da esposa de Carter e Ezra, Muriel e

Hailey se tornaram grandes amigas. Nos últimos dias, temos nos

aproximado muito mais do que com as outras mulheres da família. E o fato


de elas morarem no mesmo bairro que eu e sermos praticamente vizinhas

nos faz ter mais vínculo do que com Alessa e Aubrey, mas isso não quer
dizer que eu não sinta carinho por elas também.
Essa manhã acordei primeiro do que Spencer. A minha rotina

matinal por quase uma semana tem sido enjoo e tontura. Ontem, acordei e
fui direto para o banheiro vomitar, não consegui controlar a ânsia e despejei

tudo o que comi no jantar da noite anterior no vaso sanitário. Nos últimos

dias, tenho conseguido disfarçar bem, mas muito em breve não vou poder
sustentar por muito tempo a minha desconfiança de uma provável gravidez.

Meu marido já notou detalhes em mim que nem eu mesma poderia, no

entanto, é como ele mesmo diz – conhece o meu corpo mais do que eu.
Tanto que notou os meus seios maiores e que ganhei algumas curvas, isso

muito antes de começar a ter os sintomas.

Não sou boba, eu sabia dos riscos quando transamos pela primeira

vez, e não foi falta de conselho das meninas para que eu usasse camisinha.
Mas eu não quis e nem nos importamos com esse detalhe, apenas me

entreguei a ele várias e várias vezes, sem pensar em uma possível gravidez.

E agora, com tão pouco tempo de casada, posso estar esperando um filho do

meu marido por contrato por quem estou perdidamente apaixonada.

A minha menstruação está atrasada e mudanças têm acontecido em


meu corpo, é impossível não perceber e isso me assusta. A única

confirmação que preciso para ter certeza é fazendo um teste e ele dar

positivo.
Grávida de Spencer James Knight. Meus joelhos tremem só de
imaginar como será a reação dele com essa notícia. Não planejávamos

envolver sentimentos nessa relação no início, quanto mais uma criança.

Um bebê muda tudo. Ele não é um contrato que pode ser desfeito a

qualquer momento, será sangue do nosso sangue.

— Mais uma vez fugindo da cama cedo, baby?

Assusto-me ao ouvir a voz de Spencer, então ergo o rosto em sua

direção e suspiro ao vê-lo todo arrumado.

— Vim terminar de abrir esses quadros para depois pendurá-los na

parede. — Aponto para os quatro quadros no carpete, ainda embalados.

— Mas precisava ser tão cedo? Te procurei na cama e não achei,

fiquei puto, porque queria comer a minha mulher antes de sair para

trabalhar. — Lança-me um olhar safado e dá passos em minha direção.

Ele tem trabalhado com Carter na área das cargas, o irmão o


convenceu a dividirem o negócio. Agora ambos são chefes, quando um não

está disponível, o outro assume o comando.

Embora Nicolo tenha oferecido a ele fazer o mesmo na Itália, como

fora acordado antes do nosso casamento, ele não foi tomar posse daquilo
que é dele por direito. Quem permanece firme em sua aliança com meu tio é
Killz, afinal, negócios são negócios, e pelo que tenho ouvido falar, eles têm

tido bons resultados.

— Não desci só por isso, estou esperando o piano chegar. Ficaram

de entregar hoje pela manhã. — E não é mentira, comprei para deixar a sala
mais bonita, acho um charme.

— Por que você comprou um piano se nem mesmo toca?

— Para decorar a sala.

Ele me olha com a expressão divertida, então mordo os lábios e


encaro o cômodo com móveis estilo vitoriano. Tenho me empenhado

bastante para deixar a casa como eu quero.

— O.k. — Balança a cabeça, observando-me sentada no carpete


cinza, tirando os quadros da embalagem.

— Você chega que horas? — inquiro, levantando-me e ficando de

frente para ele.

— Talvez mais tarde do que ontem. Hoje, Carter não vai, temos
algumas cargas para exportar para o México e Irlanda. — Os olhos dele
passeiam pelo meu corpo coberto por um pedaço de pano, como costuma a

dizer quando me vê usando as minhas camisolas curtas.


— Pensei que viria mais cedo — murmuro, passando os braços em

seu pescoço.

Ele espalma as mãos em minha bunda.

— O que você está aprontando? — indaga, desconfiado.

Eu preciso comprar um teste de gravidez.

— Em preparar uma comida diferente para nós no jantar, mas você

não vem — digo, com os pensamentos distantes.

— Você não cozinha e nem sabe. — Ele ri baixinho.

Aposto que se lembrou da minha gafe do mês passado, quando


tentei preparar um macarrão italiano, mas deixei o tempero queimar, salguei

a massa e quase causei um incêndio na minha cozinha nova. Ele e Patrick


me socorreram assim que chegaram do galpão.

— Pelo menos eu tentei, já não aguentava mais pedir delivery. —


Faço biquinho.

— Eu já te disse que deveríamos contratar alguém para isso. — Ele


aproxima o rosto do meu e beija meus lábios.

— Acho que vou me render, vamos arrumar uma cozinheira e chega


de delivery! — Sorrio contra a sua boca.
— Ótimo.

Desde a nossa mudança, ele sugeriu que tivéssemos uma cozinheira,

além de uma funcionária que arrumasse a casa todos os dias, mas optei por
uma diarista.

— Talvez eu vá jantar na casa da Hailey, e caso aconteça, te aviso.


— Acaricio a sua nuca.

— Falando na loira, ela vem te fazer companhia com a Muriel? —


indaga, curioso.

— Vem, sim.

— Acho bom, assim não fica tão sozinha. Apesar de ter dois

soldados do lado de fora para fazer a sua segurança, não tenho gostado da
ideia de ter que substituir o Patrick, mas, infelizmente, preciso dele no

galpão para alguns serviços. — Ele fala assim porque o seu melhor soldado
foi substituído por dois novatos no mês passado.

— Eu já disse que não deve se preocupar, nada vai acontecer

comigo — asseguro-o, sentindo suas mãos se infiltrarem dentro da


camisola.

— Eles não são loucos de deixar que algo te aconteça, arranco a


cabeça deles — diz friamente, enquanto desliza os dedos em minha pele.
— Tenho certeza de que sabem disso e vão fazer o serviço deles
direitinho. — Solto um gemido ao senti-lo apertar minha carne.

— Sabem, sim. — Ele me puxa para mais perto e o meus peitos


batem em seu abdômen duro. — Agora, me dê um beijinho de despedida,

preciso trabalhar mais animado. — Muda de assunto e fica com o semblante


mais suave.

— Eu pensei em algo melhor. — Olho em seus olhos e vejo a


malícia nascer ali.

— Pois me diga, estou curioso. — Fita minha boca e lambe os

próprios lábios.

— Você é o chefe, pode chegar alguns minutos atrasado, não é? —


Levo as mãos ao seu cinto e começo a desafivelá-lo.

— Sim e não. — Sua voz sai rouca.

— Hmm, mas podemos abrir uma exceção. — Jogo o cinto no sofá

atrás dele e tento descer a calça, mas ele me segura pelos pulsos e balança a
cabeça.

— Até todas se quiser, mas hoje eu fico no controle.

Anteontem, conduzi o nosso sexo na hidro, ele tinha acabado de

chegar do galpão e quando foi tomar banho fui atrás, então acabamos
transando no boxe e depois na hidromassagem.

— Sim, senhor. — Pisco para ele, que se afasta de mim, deixando a


sua arma na mesinha de centro e se sentando no sofá.

— Tire a camisola e fique com a calcinha. — Mordo os lábios e

começo a me livrar da peça de roupa. — Agora venha até mim com os

pulsos estendidos. — Spencer pega o cinto dele e o meu coração acelera.

Um friozinho bate em minha barriga ao ver o meu marido com a

expressão séria e sexy me avaliando, como um caçador prestes capturar a

sua presa. Parando na frente dele com os pulsos estendidos, sinto minhas

pernas ficarem bambas com o seu olhar intenso em meus seios e barriga.

— Vou prender os seus pulsos e você vai se sentar de frente para

mim. — Ele os prende.

Spencer me segura pelo quadril e me puxa para o seu colo. O

volume no seu jeans me faz gemer, sensível com o nosso contato, mesmo
que seja por cima do tecido. Facilmente fico molhada com qualquer tipo de

toque inocente desse homem.

— Separe mais as pernas — pede, deslizando o polegar por minha


pele. Eu estremeço ao fazer o que me pede.
— Vai me comer nessa posição? — pergunto, sentindo antes da hora

um calor infernal.

— Vou. — Ele coloca a minha calcinha de lado e passa dois dedos

por meu clitóris molhado.

— É o que mais quero. — Rebolo em seu colo, implorando por

mais.

— Eu sei, a sua boceta já está encharcada. — Passa a ponta da

língua no bico dos meus mamilos, deixando-o enrijecido.

— Ah, céus. — Fecho os olhos, sentindo o arrepio.

— Vou te foder com meus dedos brincando com o seu grelinho. —

Me dedilha e eu rebolo louca para tocá-lo, mas meus pulsos presos me

impedem.

— Não acha que deveríamos ir para os finalmente? Odeio quando

me provoca assim.

Mentira, eu adoro.

— Gosto de ver o tesão estampado em seu rosto, bonequinha,


principalmente quando os seus olhos brilham quando está louca para me dar

e o seu corpo treme ao meu toque.

Suspiro, reconhecendo que ele tem razão.


Ele prende meu clitóris em seus dedos e abocanha um dos meus

mamilos, sugando-o com força. Sensível, choramingo.

— Eles estão maiores e mais sensíveis — fala, mordiscando um

bico de leve enquanto me masturba.

— P-pare d-de me torturar. — Estremeço ao seu toque e finjo não o

ouvir dizer o que já sei.

— Se conseguir tirar o meu pau da cueca, eu te deixo sentar nele e


cavalgar como uma verdadeira amazona. — Ele para de me masturbar e se

recosta no sofá. — O que me diz? — Ergue a sobrancelha.

O descarado tem a coragem de apoiar os braços atrás da cabeça e me


encarar em modo de desafio.

— Eu sempre consigo o que quero. Não só vou tirar o seu pau da

cueca, como vou te domar. — Empino o nariz e ele sorri abertamente,

mostrando os seus caninos sexy.

— Apenas faça — desafia-me, mas se esquece que eu tive muitos

anos de treino e sei alguns truques.

— Não deveria ser tão confiante assim — provoco-o, notando que

ele não me prendeu com tanta firmeza, aposto que foi proposital.
— Ah, baby, um homem sempre deve ter autoconfiança em tudo o

que faz. — Pisca charmoso para mim.

Levanto minhas mãos para o alto da cabeça e as empurro para baixo

com força, até que o cinto fique folgado. Sob o olhar atento de Spencer, eu
me livro do objeto que me prendia e o safado arregala os olhos.

— Ainda se sente confiante, baby? — zombo, e faço um sinal para

ele com o dedo. — Agora venha aqui, meu bem, eu estou no controle.

Rindo, ele se aproxima obediente.

— O que pretende fazer, bonequinha? — Dissimulado, observa

meus movimentos.

— Vai ver. Tire a camisa, gosto de ver as suas tatuagens enquanto

estamos fazendo sexo, elas me excitam. Eu gozaria só de vê-las. — Prendo


os lábios entre os dentes e o meu marido rosna com a minha provocação.

— Porra, você me enlouquece — murmura, tirando a jaqueta e

depois a camisa.

— Agora seja um bom marido e tire o seu pau da cueca, mas antes
venha até mim com a cabeça erguida — oriento-o.

— Coloco a língua para fora também? — brinca, mas está bravo,

porque gosta de ter o controle.


— Fica a seu critério. — Passo o cinto em seu pescoço e o fecho ali.

— Erga o meu quadril com uma mão e com a outra segure o seu pau, depois
coloque a minha calcinha para o lado. — Puxando-o como com um colar,

aproximo nossos rostos.

Com a respiração pesada, Spencer roça os lábios nos meus e sorri

sacana.

— Saiba que vou te dar o troco — diz, e não faz como mando. Ele

rasga a minha calcinha fina de renda na lateral e a joga longe. — Agora

sim. — Ergue meu quadril com uma mão com a maior facilidade e fecha a

outra na base do seu pau.

— Esperarei ansiosa por isso. — Esfrego-me em sua glande

lambuzada.

— Ahhh, cacete, essa boceta é a minha deliciosa perdição — geme

quando eu me encaixo sobre o seu membro duro e pulsante e vou descendo


lentamente, gemendo com ele, que agarra a minha bunda com as duas mãos.

Ofegante e com a sensação de estar preenchida, aperto meus dedos

em torno da alça do cinto e começo a movimentar meus quadris, enquanto

ele toca em meu feixe de nervos e com dedão massageia meu clitóris em
movimentos circulares.
Em um ritmo rápido, subo e desço nele, sentindo o pré-gozo
escorrer por minhas pernas e pingar em seu jeans. Nos movimentamos em

sincronia cada vez mais forte e profundo.

— Mais rápido, amor! — peço, sem conseguir conter meus gemidos

e gritos de tesão.

Solto-o e o libero para fazer o que quiser comigo, e é isso o que meu

marido faz. Ele tira o cinto do seu pescoço sem deixar de me foder e surra a

minha bunda.

Uma. Duas. Três vezes bate em minhas nádegas e eu sinto a


ardência na pele.

— Você gosta disso? — inquire, feroz, me surrando e eu rebolo de

prazer nele a cada golpe que dá.

— A-aham, simmm, ahhh, céus... — Meus olhos enchem de


lágrimas, chego a soluçar ao sentir o meu corpo todo quente e a minha
boceta contraindo ao redor do seu pau.

Inclino a cabeça para trás e choramingo alto, em seguida, eu o

agarro pela nuca e trago o seu rosto para perto do meu e o beijo. A sua
língua morna invade a minha boca, abafando meus gemidos e eu diminuo o
ritmo do meu quadril, sentindo as pernas começarem a tremer.
Mordendo a boca de Spencer e puxando o seu couro cabeludo em
espasmos, libero meus fluidos em um orgasmo arrebatador que me causa
exaustão. Tremendo, com o corpo queimando como brasas, recebo o seu

jato de gozo dentro de mim.

Arfante, seguro em seus ombros e junto nossas testas.

— Estou viciado em tudo o que representa você, Giulia — declara,


com a respiração pesada e passeando a mão grande e máscula por minhas

costas suadas.

— Então somos dois, Spencer, você se tornou para mim o que eu


mais temia. — Afasto meu rosto do seu e olho em seus olhos. — Meu

primeiro e, certamente, o meu único amor — declaro-me para ele.

— E é tão ruim assim eu ser o seu amor? — Os olhos dele brilham


de um modo avassalador, que deixa o meu coração batendo mais rápido do
que o normal.

— Antes sim, agora não — revelo, me remexendo em seu colo.


Gememos baixinho por ainda estarmos conectados.

— E por que antes não? — Arqueia a sobrancelha, curioso.

— Até três meses atrás, eu não tinha tanta certeza dos meus

sentimentos, mas agora vejo com clareza que está faltando muito pouco
para te dizer um te amo. — Respiro fundo, tocando em seu rosto.

— Não me importo se quiser fazer neste exato momento. — Sua

mão vem para a minha barriga e eu fico arrepiada.

Se ele soubesse a emoção que sinto com o seu gesto inocente em

meu abdome.

— Ainda essa semana vou pensar se você merece ou não. — Sorrio,

controlando o embargo na voz.

Ele semicerra os olhos, mas assente.

Recuperada da tremedeira no corpo, levanto-me e pego minha


camisola no chão para vestir, mas Spencer vem até mim e a toma da minha

mão, então me pega em seus braços e diz que vamos tomar banho juntos.

 
 
 
 
 
 
 
— Já se sente melhor? — Saímos há alguns minutos do banheiro e

viemos para a cama depois que ela sentiu uma vertigem e eu tive que pegá-
la no colo.

Ela não é mais apenas um contrato, nunca poderá ser. E se as minhas


suspeitas estiverem certas, em breve teremos um filho. Sou um homem

experiente, tio de quase um time de futebol e acompanhei de perto a


gravidez do restante da família. Nos últimos dias, Giulia tem dado indícios
de uma mulher grávida.

Eu conheço cada curva e medida do seu corpo e sei que seus seios

estão inchados, sensíveis, a maior parte das suas blusas está mais apertada
no busto. A minha bonequinha pode ainda não ter notado, mas ganhou

alguns quilos e tem tido mais apetite para se alimentar.

Porra... Que não seja coisa da minha cabeça, pois nunca quis tanto

ser pai quanto agora. Só estou esperando que ela confirme, mas não quero
pressioná-la, vou esperar que se sinta pronta para me contar o que está

acontecendo.

— Uhum, foi só um mal-estar passageiro. — Sentada entre as


minhas pernas, com as costas apoiadas em meu abdômen e a cabeça em

meu peito, Giulia acaricia o dedo onde carrego a aliança de ouro. — Você

tem mesmo que ir hoje? — Suspira pesado.

— Sim. Mas por quê?

O corpo dela se retrai quando toco em sua barriga e a acaricio.

— Estou com um pressentimento ruim, uma sensação de medo, não

sei explicar — diz, melancólica, erguendo o rosto para me encarar com os


olhos marejados. 

— Quer ir comigo? — indago, contornando seu umbigo com meu

indicador.

— Não posso, estou esperando a entrega do piano — fala, virando o

rosto e beijando meu braço.

— Eu não posso ficar, mas vou pedir a Hailey ou Muriel para que te

façam companhia. — Nunca soube o que era ser louco por uma mulher até

ela entrar em minha vida e mudar completamente a visão distorcida que eu


tinha em relação a ter um compromisso sério.
Não me arrependo do meu passado, mas também não me orgulho.
Só que em três meses de convivência, pude perceber que para me sentir

completamente pleno não era necessário viver a minha vida loucamente,

como fazia antes dela.

O que faltava era alguém como Giulia Romano para que eu

compreendesse que nem tudo para mim estava perdido, e que assim como
meus irmãos, eu iria encontrar uma mulher que fosse capaz de me fazer ter

sentimentos reais por ela.

Minha esposa nunca foi só sexo, acho que desde o início sabíamos

disso, só faltávamos admitir. É como Killz costuma dizer: as mulheres são o

início da derrota de um homem. Somos apaixonados incubados e nunca

iremos admitir essa verdade.

Só que eu já passei dessa fase, estou em um estágio de aceitação. Eu

faria qualquer coisa pela mulher por quem me encontro absolutamente

rendido e apaixonado.

— Não precisa, amor. — Meu peito explode com ela me chamando


de amor sem perceber. As coisas têm acontecido tão naturalmente entre nós

que já me acostumei. — Elas virão, mas não sei se será pela manhã, e eu

não posso exigir que venham para cá a hora que eu bem quiser. Elas têm

crianças para cuidar e imagino o quanto seja trabalhoso ser mãe.


— Sim, é verdade — concordo.

— Não se preocupe comigo, sei me cuidar bem. Só estou com um

pressentimento ruim, mas logo passa — diz, entrelaçando as nossas mãos.

— Não gosto de pressentimentos ruins. — O que não é mentira.

— Talvez seja só uma bobagem. — Toca em meus joelhos e se vira


para mim.

— Um pressentimento nunca é.

— Realmente. — Encosta o rosto em meu peito e eu a abraço pelo

ombro.

— Vou deixar um soldado responsável para receber a entrega, você

vem comigo — falo, decidido.

— Mas eu preciso conferir se vão entregar o que eu realmente

comprei — fala, desanimada.

— Não seja teimosa, Giulia, você vai comigo. E se entregarem a

porcaria do piano errado voltamos lá e você compra loja toda.

Ela se afasta de mim e me olha com os olhos arregalados.

— Não exagere. — Ri baixinho.


— Não vou conseguir trabalhar direito se te deixar aqui, bonequinha

— confesso, deixando-a derretida.

— O.k., vou com você.

Sorrio, satisfeito com a sua decisão.

— Boa garota. — Toco em seu quadril e deslizo meus dedos por sua
bunda nua.

— Sou uma ótima garota. — Pisca para mim e sai dos meus braços,
instintivamente passeio meus olhos por seu corpo nu.

— Nem sempre — brinco, vendo-a me segurar pelos ombros e se


sentar de frente para mim, em minhas coxas. — E o que está prestes a fazer

agora é coisa de uma boa garota? — Seguro-a pelos quadris e a puxo mais
para a frente.

— Às vezes posso ser uma menina má também. — Prende os lábios


nos dentes e se esfrega em meu pau por cima do tecido do lençol que cobre
a minha nudez.

— Eu sei que sim. — Bato em sua bunda e ela geme manhosa,

rebolando no meu pau de um modo provocante.

— Só com esse pequeno contato fico molhada.


Olho no meio das suas pernas e solto um gemido. Caralho, minha
mulher é muito gostosa. Ela me enlouquece pra porra.

— Giulia, Giulia. — Repreendo-a ao vê-la se afastar um pouco e


tirar o lençol de cima do meu pau, antes de fechar a mão nele e começar a

me masturbar.

— Uma rapidinha antes do trabalho seria uma delícia, não acha? —


Ela se inclina para a mesa de cabeceira e abre a gaveta, então pega um

frasco de óleo lubrificante.

— Comer você rápido não tem graça, baby. — Vejo-a virar o frasco
em minha glande e derramar o líquido, então o joga no canto da cama.

— Mas eu não disse como seria essa rapidinha. — Minha esposa sai

do meu colo e se ajoelha entre minhas pernas. Puxando o ar para os


pulmões, ofego ao vê-la segurar na base do meu membro. — Primeiro,

vamos começar por aqui.

Com o corpo curvado e a bunda deliciosa empinada, ela se apoia em

um dos cotovelos e aproxima o rosto da minha rola, então serpenteia a


língua por toda minha extensão. Eu inclino a cabeça para trás, gemendo ao

senti-la abocanhá-lo com gula. Giulia trabalha com a língua e os lábios, me


levando à loucura.
Em vez de estar no galpão trabalhando, estou sentado na minha
cama, com a minha mulher ajoelhada no nosso colchão, me chupando.

— Ahhhh... Se aguentar, engole tudo — peço, arrastando a voz.

Em resposta ao meu pedido, ela suga meu pau e massageia as

minhas bolas com seus dedos macios. Uivando entre os dentes, agarro o seu
cabelo em um punhado e a ajudo subir e descer a boca no meu pau, como se

estivesse fodendo a sua boceta. Empurro meu quadril na direção do seu


rosto e sinto meu corpo inteiro formigar como sinal de que estou prestes a

gozar.

— Vou gozar — aviso, sentindo fisgadas em minhas entranhas.

Semicerrando os olhos e gemendo ferozmente, libero meu gozo em


sua boca. Mas ela tem ânsia de vômito e larga o meu pau rapidamente. Eu a

vejo sair da cama a passos largos e correr para o banheiro, então me levanto

para ir atrás dela, mas o meu celular toca na mesa de cabeceira. Ao ver que

é Carter, pego o aparelho e o atendo rumando na direção de onde Giulia foi.

— Fala. — Empurro a porta do banheiro e encontro minha mulher

curvada no vaso sanitário, vomitando.

— Nicolo e a esposa estão na Inglaterra, acho que você e Giulia

gostariam de saber.
Congelo no mesmo instante, mas mesmo assim vou até Giulia e

seguro o seu cabelo para que vomite.

Está aí a resposta para o seu pressentimento ruim, o pai dela está de

volta a Londres após três meses longe dela. Acho que ele está disposto a

dizer a verdade para ela.

— O.k., depois te ligo, estou ocupado. — Encerro na cara dele e


coloco o celular no armário ao lado.

— Céus, odeio vomitar, parece que meus órgãos vão sair pela

garganta — choraminga ela, com a voz embargada e me encarando com os

olhos lacrimejados.

— O que você tem? — Tento me manter o mais calmo possível com

a notícia de que Nicolo está de volta.

— E-eu... ainda não tenho certeza — gagueja e volta a vomitar.

Ela quer me dizer que acha que está grávida.

— Quer que eu chame um médico? — sugiro, com o coração

acelerado.

— Não, vai passar — diz, depois de um tempo, parecendo

recuperada.
— Venha aqui. — Ajudo-a a se levantar e coloco o seu cabelo para

trás.

— É-é... eu...

Eu a calo ao limpar o canto da sua boca.

— Quando se sentir pronta para me falar, me fale — digo. Ela


assente, quase empalidecida. — Agora venha, vou te ajudar a tomar banho.

— Eu a pego no colo e sigo para o boxe.

Não é possível que eu esteja errado. Porra, estou sendo paciente


porque não quero pressioná-la, mas essa ansiedade está me matando.

— Giulia — chamo-a, ao vê-la terminar de se vestir para irmos ao

galpão.

— Sim? — Ergue o rosto e me olha através do espelho.

— O seu... Nicolo está na Inglaterra com a mulher. — Não consigo

mais dizer que ele é o tio dela.


Não sei o que se passa na cabeça dela, mas a sua expressão é de

alguém muito pensativa ao saber que o tio resolveu aparecer após tantos
meses sem entrar em contato com ela. Mas não posso julgá-lo, muito menos

a minha esposa, ambos concordaram com esse tempo.

— Era com ele que você estava falando ao telefone? — indaga,

virando-se para mim, nervosa.

— Não, era o Carter, ele me avisou. — Passo a mão por meus fios

loiros, bagunçando-os de leve.

— Hum, ele está vindo para cá? — Juro ter visto uma faísca de

esperança e saudade em seus olhos, mas talvez seja coisa da minha cabeça.

— Quer que eu ligue para saber? — inquiro.

Ela rapidamente nega com um balançar de cabeça.

— Não, de forma alguma, se ele quiser falar comigo vai me

procurar. — Limpa a garganta, abalada com a notícia.

— Não precisa esconder de mim que você sentiu falta dele nos
últimos meses — afirmo.

— Sei que é confuso. — Ri, com os olhos cheios de lágrimas. —

Mas não consigo odiá-lo. Três meses só me serviram para provar que eu
posso fazer de tudo, só que o meu tio nunca poderá se tornar o meu inimigo,
porque, no fundo, eu gosto dele. — Limpa o rosto com o dorso da mão para

não deixar as lágrimas caírem.

— E você acha ruim gostar dele? — Vou até ela e paro à sua frente.

— Eu me sinto péssima por saber do passado dele com a minha mãe


e o meu pai, ainda assim, não ser forte o suficiente para... — Ela nem

consegue falar.

— Não se culpe, não mandamos nos nossos sentimentos. — Tento

consolá-la.

— Sim, eu sei disso — murmura, respirando fundo.

— Vamos? Carter deve estar puto com o meu atraso. — Vasculho o

seu rosto e noto que está menos abatido do que antes, quando estava

vomitando.

— O.k., não quero ser a culpada por isso — fala, passando por mim

e seguindo até a porta.

— Só vou pegar a chave do carro — aviso.

— Te espero na sala — fala e sai do quarto.

Sigo para o closet para procurar a chave da Land Rover, hoje vou
com ela por causa de Giulia.
Após procurar por alguns minutos em todos os cantos a bendita

chave, eu a encontro jogada na última gaveta.

— Não me lembro de terem me pedido para mostrar nenhum


comprovante de pagamento ao entregador, e se fosse para fazer isso, eu

teria sido avisada.

Escuto Giulia falar, então apresso meus passos para descer a escada.

— Então devo ter me enganado, sra. Knight. Vou entrar em contato


com a empresa para tirar a dúvida.

Com a sobrancelha arqueada, observo minha mulher segurando a

porta da sala e dois rapazes mais novo do que eu uniformizados com roupas
azuis e bonés.

— O que está acontecendo aqui? — pergunto, e ela me olha por

cima do ombro.

— Algum problema com a entrega, não entendi muito bem. Mas ele
disse que foi entrar em contato com a empresa — diz ela, com a expressão

desconfiada.

Observador, avalio cuidadosamente os dois indivíduos que estão

cabisbaixos e com uma postura um tanto suspeita, e outro se afastando. Eles


sequer olham em minha direção. Passo a mão em minhas costas procurando
a minha arma e não a encontro, então me lembro que deixei uma na
mesinha de centro.

— Giulia, cadê os seguranças? — Comporto-me naturalmente, indo

até o móvel para pegar a arma.

— Não sei, quando abri a porta não tinha ninguém. — Ela se vira
para mim e é nesse momento que surge um homem de boné, vestido de

preto e com a cabeça baixa.

Como assim o caralho dos soldados não estão do lado de fora? Isso

só pode ser... Não, Patrick teria barrado qualquer suspeito, ele não ousaria
me trair. O meu melhor soldado é leal a mim e a minha família, não seria

tão miserável em vender a sua honra para o meu inimigo.

— Sra. Knight, agora irei explicar como vão funcionar as coisas de


agora em diante.

Então tudo acontece muito rápido. Giulia tem seu corpo puxado para
trás por Vincenzo, eu o reconheço assim que levanta a cabeça e me encara

com um sorriso irônico.

Os dois homens com ele sacam suas armas e a minha mulher fica
pálida nos braços do nosso inimigo. Como não percebi que essa porra era
uma farsa? Mas como eu poderia adivinhar que esse tal piano seria uma

brecha para Vincenzo vir até nós? Mesmo em um impasse, miro minha
arma na direção deles e o rato envolve o braço no pescoço de Giulia e
aponta a arma para a barriga dela.

— Largue-a, porra! — Ranjo os dentes, notando o desespero nos

olhos da minha garota.

— Spencer James Knight, finalmente estamos cara a cara


novamente. — Estala a língua, me ignorando e arrastando minha esposa
com a arma apontada para ela. — E antes que se pergunte, seus soldados

estão em um sono profundo, foram fiéis até a morte! Caso queira dar a eles
um enterro digno, os corpos estão no fundo do caminhão. — Ri como se
fosse engraçado.

— Desgraçado! — Minhas narinas inflam.

— Se acalme, você está muito alterado, meu amigo. Eu só vim


conversar civilizadamente. — Sorri com escárnio e olha para Giulia com
malícia.

— Eu disse para largá-la! — Aponto minha arma para ele, sentindo


a veia do meu pescoço pulsar.

— Giovanni, Luigi, fechem a porta, porque vamos ter uma conversa


com a minha puta que deu a boceta para outro em troca de proteção, e com

o Knight, por ter roubado a minha vagabunda — provoca-me e passa o cano


da arma na lateral da barriga dela, que solta o primeiro soluço.
— Engula a porra das suas palavras quando for falar da minha
esposa, filho da puta! — Avanço nele, mas o desgraçado aperta o braço ao
redor do pescoço de Giulia, que começa a ficar vermelha, então recuo.

— Sua mulher? Essa cachorra era para ser minha, mas os meus
planos não deram certo quando o imbecil do Nicolo decidiu ter culhão e

oferecê-la para você. — Quando o imundo tira o boné, percebo que ele está
drogado. Ele está fungando e fica coçando o nariz, tenho certeza de que
cheirou coca.

— Juro que vou te fazer engolir cada palavra quando estiver te

matando e abrindo essa cicatriz da sua cara com a minha bala — ameaço,
analisando a marca no lado esquerdo do seu rosto.

— Estou morrendo de medo — zomba, porque sabe que com Giulia

sendo a sua refém não posso enfiar uma bala no peito dele. — É o seguinte,
Knight, você vai fazer tudo o que eu quiser ou quebro o pescoço dessa
piranha sem pensar duas vezes.

— O.k. — minto, estudando os soldados dele. Eles não parecem tão

experientes, posso matá-los rápido, basta uma brecha.

— Não faça isso, Spencer! — Minha mulher arregala os olhos.

— Calada. Você quer que eu esvazie o pente da minha arma em sua


barriga?!
Com a mão fechada e o sangue fervendo em minhas veias, aperto os
olhos. Qualquer movimento que eu fizer, ele a machucará.

— N-não — responde ela, com os lábios trêmulos.

A Giulia que eu conheço o enfrentaria mesmo sob a mira de uma


arma, e eu sei o porquê de estar tão submissa a esse rato dos infernos.

— Boa vadia. — O Esposito olha diretamente em meus olhos para


me ferir. — Agora você, Spencer, quero que jogue a sua arma no chão e vá
se sentar no sofá. — O pedido dele assusta Giulia e ela começa a chorar.

— Se não fosse tão covarde, me enfrentaria sem os seus cães e


deixaria a minha mulher fora disso. — Cuspo as palavras, furioso, não

fazendo o que mandou.

— Sua? Ela nunca foi sua e você sabe disso. — Ele ri baixinho.

— Foda-se, seu merda! Venha até aqui e me mostre que não precisa
dos seus soldados para me desafiar. — Continuo apontando a arma para ele.

— Para ser sincero, não vim aqui para bancar o valentão —


desdenha, cheirando o cabelo de Giulia e fazendo um furor crescer dentro

de mim. — Hum, continua cheirosa.

— Vou acabar com você, Vincenzo Esposito — prometo, dando

passos na sua direção, mas os soldados dele seguem meus movimentos com
as armas apontadas para mim.

— Não vai, pode acreditar. Você não vai querer que eu mate a sua
amada na sua frente — garante, apertando-a no pescoço.

— Deixe Giulia ir, vamos resolver isso só nós dois — sugiro e o


imbecil cai na risada.

— Eu já a deixei ir muitas vezes, Spencer, agora acabou a


brincadeirinha de vocês de casinha. — Bufa, pressionando o cano da arma
no abdome dela. — Giovanni, Luigi, segurem o Knight enquanto converso

com a minha bambina. — O homem já está louco.

— Ela não é nada sua, seu desgraçado!

Os soldados dele avançam em mim, mas o receio nos olhos deles é a


prova de que são amadores.

— Enquanto você estiver vivo, não — diz, então aponta sua arma

para mim e atira de raspão em meu braço.

Explodindo de dor, solto um grunhindo e Giulia chora desesperada.

— Você é louco, Vincenzo! Por que fez isso?! — ela grita com ele,
tentando sair dos seus braços.

Passo a mão em meu braço que queima e lateja de dor, em seguida,


observo meus dedos sujos de sangue.
— Se o seu maridinho não ficar quieto, o próximo tiro será na testa
dele — ameaça o filho da puta, amedrontando-a. — Segurem logo ele, seus
inúteis!

O seu primeiro soldado tenta me segurar, mas ainda que esteja


sentindo uma maldita agonia, eu o seguro pela gola do macacão e o
empurro para trás. Então vem o segundo, tentando impressionar o chefe, e

eu, em um movimento rápido, miro na cabeça dele e atiro, estourando os


seus miolos. O cara cai em meu carpete como um saco de merda, sujando

meu chão com o seu sangue podre.

— Um já foi, só falta o outro. — Abro os braços e falo entredentes

para Vincenzo, antes de encarar o outro soldado, que está pálido. — Quer
ser o próximo? É só dizer.

O homem recua negando.

Foda-se! Esse fodido atirou em mim, vou fazê-lo pagar por cada

provocação.

— Você é corajoso, Spencer.

Escuto o sobrinho de Salvatore dizer antes de largar Giulia,


jogando-a para mim. Ela quase cai, mas consigo alcançá-la antes e a protejo

em meus braços.
— Vai ficar tudo bem. — Ignoro o maldito e abraço a minha mulher,
que treme.

— Que cena linda, mas vamos acabar logo com isso. — Ele aponta
sua arma para mim, e eu, para ele.

— Fique atrás de mim, bonequinha — peço, mirando na testa dele.

Minha mulher está em choque, nem consegue se mover de tão

assustada.

— Dê adeus ao seu amor, Giulia, cansei de ser bonzinho! — diz


Vincenzo, sorrindo. — Giovanni, pegue a minha futura esposa e a leve para
o caminhão. — O homem ousa dar passos em nossa direção para tentar

pegar a minha garota, mas recua quando miro em seu peito.

— Aa-amor... Não deixe ele me levar. — Minha esposa chora, me


abraçando com força.

— Ele não vai — garanto.

— Realmente não vou, você será minha por livre e espontânea


vontade.

Alternando o olhar entre os dois homens, consigo fazer com que


Giulia fique atrás de mim.
— Para tirá-la dessa casa, terá que me matar. — Assim como a sua
expressão está de assassino, a minha também.

— Não seja por isso.

Basta isso para que a mulher entre na minha frente.

Porra!

— Não ouse, Vincenzo, você não pode fazer isso. — Ela treme,
soluça e abraça o corpo.

— E por que não? Me dê um bom motivo, bambina. Se me


convencer, deixo o seu maridinho viver. — Os olhos do infeliz brilham.

— E-eu vou com você, só não o machuque, por favor. — Meu


coração acelera quando ela fala com a voz embargada.

— Não vai! — rosno, puxando-a para mim.

— Giovanni, atire na cabeça dele, vamos acabar com essa


enrolação. Estou no controle aqui, não você.

O soldado só se aproxima por saber que o chefe está mirando na


direção de Giulia e que não irei fazer nada. Giovanni encosta o cano da sua
arma na minha cabeça e eu fecho os olhos, calculando meus próximos

passos.
— Por que essa obsessão por mim, seu miserável? Não tenho culpa

pelo que meu pai fez, eu era uma criança inocente no meio de vocês! —
Giulia já está rouca de tanto chorar.

— Você é a única culpada! A minha irmã está morta porque Nicolo


quis te proteger, o capo preferiu matar o próprio irmão para salvar a vida da
filhinha bastarda dele, que era fruto de uma traição — revela o Esposito,

com a mão tremendo.

— O que você está dizendo? — pergunta minha mulher, sem

acreditar.

— Quando aquele infeliz matou Guiseppe, levou a minha irmã

Eleonora a tirar a própria vida! Todos esses anos, meu alvo sempre foi
Nicolo, garota, ele é o seu verdadeiro pai, e usar você para atingi-lo sempre
foi o caminho mais fácil. — O nosso inimigo dá passos para a frente. —

Giuseppe descobriu que o irmão estava trepando com a puta da Taylor, e


que durante anos tinha assumido uma criança que não era dele, e sim do
capo. E como ele não podia matar o chefe da famiglia, me ofereceu você

para castigar o irmão.

O corpo de Giulia fica mole em meus braços.

— Você está mentindo — diz ela, com a voz quase não saindo.
— Sabe que não. Que explicação teria para o seu pai me deixar ficar
perto de você? Ele sabia que eu tinha conhecimento da aventura dele com a
cunhada e sabia da filha bastarda. Quanto mais velha você ficava, mais

medo ele tinha que eu contasse toda a verdade e você o odiasse. —


Vincenzo ri e fica frente a frente conosco, ele está tão alucinado que guarda
a arma nas costas. — Minha Nora morreu por sua causa, e Nicolo vai pagar

com a sua vida. — Esposito começa a chorar e tenta tocar no rosto de


Giulia. E essa é a minha oportunidade para atirar na cabeça do seu último
soldado que está distraído achando que o chefe está realmente no controle.

Disparo dois tiros na cabeça do homem e ele cai inerte ao nosso


lado, sujando nossos pés com o seu sangue, em seguida, afasto minha

mulher e chuto Vincenzo na barriga, jogando-o no chão. O filho da puta


chora e ri ao mesmo tempo, nem se importa em estar desarmado. Vou até
ele e piso em seu peito com a minha bota, apertando o suficiente para que

fique vermelho e com os olhos arregalados.

— Deveria ter ficado em seu país, longe da minha família, Esposito.


— Cuspo no rosto dele e chuto várias vezes, até ver o sangue jorrar.

— E perder a oportunidade de contar a verdade para a bastarda?

Meu tio já me expulsou da famiglia, não tenho mais nada a perder. Mas
antes de morrer tinha que fazer alguma coisa contra Nicolo, agora posso
encontrar a minha doce Nora com a consciência limpa. — Ele toca no nariz
ensanguentado.

— Eu diria para você se tratar, mas pessoas como você não tem
conserto, só a morte será capaz de te parar. — Aponto para o seu ombro e
atiro, ele grita estrangulado e eu faço mais dois disparos, dessa vez em seu

peito.

— E-eu n-nunca quis redenção, sou assim e vou morrer assim. —


Geme e olha em meus olhos.

— Não se preocupe, vou te dar uma morte digna, do jeitinho que

você merece. —Analiso o seu rosto ensanguentado, piso em seus joelhos e


quebro suas pernas, o som dos ossos sendo quebrados soa em meus ouvidos

e eu sinto prazer em ouvir Vincenzo gritar.

Olho por cima do ombro e vejo Giulia encolhida no sofá,

cabisbaixa.

— F-figlio d-di p-puttana! — xinga-me de filho da puta em italiano.

O seu rosto e lábios estão sem cor.

— É apenas o começo. — Miro nos ossos quebrados dos seus

joelhos e dou dois tiros em cada lado.

Vincenzo agoniza e eu vibro com a sua dor diante dos meus olhos.
— Eu quero você sofrendo, vai morrer aos poucos. Se quiser pode

começar a rezar pedindo por clemência, quem sabe não consegue uma vaga
no céu — digo, atirando em suas coxas e em seus braços.

Observo a poça de sangue já formada no chão ao redor dele. Perfuro

o seu corpo com minhas balas até não sobrar uma, e o líquido vermelho que
jorra suja a minha roupa, fico banhado com o seu sangue. Não satisfeito,
viro o saco de bosta para o lado com a minha bota e tiro a arma dele das

suas costas, e com ela termino de fazer o serviço, descarrego o pente todo
em seu crânio. Os seus miolos se espalham por meu carpete que agora está
vermelho e encharcado. 

Respirando fundo, jogo a arma no chão e dou alguns passos para

trás, fechando os olhos e voltando a sentir a maldita dor do tiro de raspão.


Eu ainda estou sangrando, mas o meu sangue quente ainda me permite ficar
de pé.

Acabou.

Finalmente esse merda está morto.

— Spencer, você não se mostrou surpreso com o que Vincenzo


disse.

Escuto a voz fria de Giulia atrás de mim.


— O quê? — Viro-me para ela, engolindo em seco.

— Esse tempo todo você sabia que Nicolo... é o meu pai? — Limpa
a garganta, os seus olhos estão vermelhos e inchados.

— Sim, eu sabia, mas não tinha o direito de te falar, não era um


segredo meu e me impediram de te contar — digo, sem conseguir olhar em

seus olhos.

— Eu confiei em você, dei o meu coração e a minha confiança para

você, e o que fez? Jogou no lixo na primeira oportunidade que teve —


acusa-me, então eu a encaro. — Mas já deveria estar acostumada a me
decepcionar com as pessoas que amo. — Funga, limpando o rosto com o

dorso da mão e se levantando. Ela quase tropeça nos próprios pés.

Preocupado, vou ao seu encontro e tento tocá-la, mas ela não


permite.

— Não me culpe, Giulia. Eu te dei espaço para descobrir a verdade,

mas você não se importou, não quis aceitar a verdade que está bem na sua
frente! Você se negou a ligar os pontos, desistiu de saber a verdade no
momento em que decidiu colocar uma venda nos olhos — defendo-me,

sentindo a porra do meu coração doer com a sua rejeição.

— Você é o meu marido! Deveria ter sido meu parceiro e não


compactuar com essa mentira! Todos esses meses me fazendo de idiota,
fingindo que tínhamos criado uma ligação, uma história de respeito, amor!
— grita, apontando para o meu rosto.

— E não criamos? — Puxo meu cabelo para trás, nervoso.

— Não, porque foi tudo uma farsa, o que vivemos foi uma mentira.

— Sorri de maneira fria, colocando a sua máscara de inabalável.

— Quando eu estava dentro de você, te fazendo gemer, chamar o


meu nome e tremer ao meu toque era uma farsa? E o meu filho que você
espera também é? — Sorrio, com os olhos ardendo e controlando as minhas
lágrimas.

As únicas pessoas que me fizeram chorar foram meus pais, quando


os perdi ainda criança.

Em choque ao mencionar a sua gravidez, Giulia empalidece.

— Quem disse que estou grávida? Não tem nenhum filho seu dentro

de mim. — Empina o nariz.

Rindo baixinho, aproximo-me dela e a obrigo me encarar ao segurar


em seu queixo.

— Eu conheço o seu corpo, ele mudou nos últimos meses, não

adianta tentar me enganar. — Fecho a minha expressão, mas ela não se


abala.
— Somos dois estranhos, Spencer, você nunca me conheceu. —
Afasta minha mão do seu rosto. — Eu estou indo embora desse castelo de
areia antes que ele desabe em minha cabeça de uma vez.

Meus batimentos cardíacos aceleram com uma força que parece que
meu coração vai saltar pela garganta.

— Você não pode me deixar — falo, desesperado, olhando para a


sua barriga e depois para o seu rosto.

— Você não é meu dono — diz, entredentes.

— Você não vai me tirar a oportunidade de ver o nosso filho crescer


em sua barriga, Giulia! Se passar por aquela porta, pode ter certeza de que
vou atrás de você. — Cerro a mandíbula.

— Não há filho algum! Não se iluda, Knight. — Me trata com


indiferença.

— Ouse passar por aquela porta e verá do que sou capaz. — Puxo o
ar para os pulmões e ela gargalha.

— Vai me prender no sótão e me transformar em sua prisioneira? —


Coloca a mão na cintura.

— Não sou nenhum monstro.

Ela vai me deixar.


— Foi o que pensei. — Ela passa por mim e eu sigo os seus
movimentos.

Giulia para perto do corpo morto de Vincenzo e cospe no cadáver,


em seguida, corre na direção da porta e sai, mas algo a faz voltar.

— Figlia, temos que conversar.

É Nicolo. Quando ele olha para a sala não demonstra tanta surpresa,
de algum modo sabia que eu iria proteger a filha dele.

— Saia da minha frente, Nicolo! — Ela o ignora, e eu peço a ele

com o olhar que a deixe passar.

Giulia vai embora sem olhar para trás, mas ela não irá tão longe.

— Ela já sabe — aviso, ficando tonto e com a visão embaçada.

— Você está sangrando — ele diz, preocupado.

— Vincenzo me deu um tiro de raspão. — Comprimo os lábios, me


jogando no sofá e arrancando a minha jaqueta.

— Vou te ajudar — diz, dando passos na minha direção.

— Não. Vá atrás dela, vocês precisam se resolver. — Disfarço as


lágrimas que tomam meus olhos ao abaixar a cabeça.

— Spencer, você precisa de ajuda.


— Eu sei me virar. Vá conseguir o perdão da sua filha, Romano, ela
precisa de você. — Suspiro.

— Tem certeza? — indaga e eu levanto a cabeça sem conseguir


esconder a minha dor, que vai além do tiro que levei.

— Alguém precisa se dar bem nessa história, e eu sei que não serei
eu. Então vá, ela deve ter ido para casa de Carter ou Ezra. — Mordo os

lábios, contendo o gemido.

— Vou pedir a um dos meus soldados que...

— Quero ficar sozinho — interrompo.

Dando-se por vencido, ele sai da minha casa e eu volto a sentir

aquele vazio que não fazia mais parte da minha vida há meses.

A razão por eu nunca ter me permitido amar uma pessoa não era
porque adorava a minha libertinagem. No fundo, eu sabia que se amasse
uma mulher acabaria me fodendo bonito.  

Que idiota eu fui em imaginar que em algum momento da minha


vida poderia ter o mesmo que os meus irmãos. No final das contas, sempre
acabo solitário e acho que será assim até os meus últimos dias de vida.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Desnorteada, passo pelos soldados de Nicolo e estranho a

movimentação no caminhão que o maldito Vincenzo chegou. Entre os


homens da famiglia estão alguns de Carter e Ezra, eles chegaram tarde
demais. De relance, consigo ver Patrick ser tirado do caminhão com uma
mordaça na boca e o corpo sujo de sangue. Ele não morreu, mas parece que

foi bastante machucado.

Um soldado me reconhece e tenta se aproximar perguntando se


estou bem, mas o impeço de me seguir. Com as pernas tremendo e o

coração despedaçado, rumo na direção da casa de Muriel, que não é muito

distante daqui. No meio do caminho minhas pernas já não me obedecem


mais, preciso me apoiar minhas mãos em meus joelhos ao sentir um

cansaço.

Embora não tenha feito o teste, a minha intuição diz que estou
grávida e eu não posso perder o meu bebê. Estou com a cabeça explodindo,

mas preciso ser forte e manter a calma, não quero fazer mal a ele.
Nicolo é meu pai. Ainda que ele tenha falado a verdade sobre

Giuseppe, continuou me escondendo o resto da história, e ele não tinha esse


direito. Eu mereço saber. Ele me fez odiá-lo por anos, e depois, quando teve

a oportunidade para reverter isso, só piorou a nossa situação ao me ocultar o

mais importante. Custava me contar que o que os Esposito tinham contra


ele era porque sabiam que o meu verdadeiro pai nunca foi o seu irmão e sim

ele? Essa ocultação dele faz com que eu me sinta uma criança, afinal,

Nicolo me tratou como uma.

— Giulia!

Fechando os olhos, escuto a voz do meu... de Nicolo atrás de mim.

Estou de cabeça quente.

Destruída.

Agindo no calor do momento.

Estou no meu limite.

— Precisamos conversar — diz ele.

Então olho-o por cima do ombro.

— Tivemos quase vinte anos para essa conversa, Nicolo — acuso-o,

segurando o choro.
— Primeiro me escute, depois me julgue — fala, com o semblante
magoado.

— Eu tenho que ser sempre a compressiva, não é? As pessoas que

amo me machucam e eu tenho que sair como a incompreensível? A ingrata?

— Rio baixinho e me viro para ele, notando que está com olheiras

profundas.

— Quando me ouvir vai entender os meus motivos e perceber que

não foi a única a sair machucada nessa história — murmura.

— Os seus argumentos são sempre os mesmos. Meus motivos. E eu

não posso ter os meus também? — Me seguro para não derramar as


lágrimas que inundam nos meus olhos.

— Spencer não tem culpa de nada, filha, o único culpado sou eu —

fala, envergonhado.

— Cadê ele? — Minha voz soa embargada.

Eu só consigo me lembrar que deixei Spencer sozinho.

Apesar de Spencer ter mentido para mim, eu o amo. Ele levou um

tiro por mim. Matou os meus inimigos. Não posso ser egoísta e não

reconhecer que todo esse tempo o meu marido me protegeu. Eu não posso
permitir que a raiva, confusão e o choque que estou sentindo passe por cima

de tudo o que ele fez por mim e o deixe em casa, ferido.

— Eu ia ajudá-lo, mas o seu marido me mandou vir atrás de você

porque disse que precisa de mim, mas Spencer está errado. — Ele se
aproxima de mim, mas respeita o meu espaço. — Você cresceu, se tornou

uma mulher forte, está casada com um homem que enfrentou o nosso
inimigo por você, então eu seria egoísta em dizer que é de mim que está

precisando, filha. Você e Spencer que precisam um do outro — conclui.

E eu não tiro a razão dele.

Fui fria com o meu marido, eu o abandonei sem pensar. Fui cruel,
me deixei levar pelo meu lado irracional.

— Ele não quis ajuda? — indago, levando meus olhos na direção da


casa onde moro, a alguns metros de distância.

— Quis ficar sozinho — murmura.

Spencer precisa de mim. Se acontecer algo a ele, irei me culpar pelo

resto da vida. Uma coisa é estar decepcionada com a sua atitude em não ter
sido sincero, outra é abandoná-lo ferido.

— Depois conversamos, eu preciso vê-lo — falo, decidida,


passando por Nicolo, que pelo visto me apoia, porque sai do meu caminho.
Eu nem sei onde encontro força, mas ando a passos largos até a casa.

De repente, a movimentação aumenta e mais soldados dos Knight

chegam na propriedade. Ezra sai do seu carro e segue para a minha casa,
correndo ao falar com um soldado que está ali. Certamente falaram que o
irmão dele está lá dentro e foi socorrê-lo.

Passando pelos homens vestidos de preto que vão abrindo caminho


para mim, sigo na mesma direção que o Ezra.

Eu nem deveria ter passado por essa porta.

Reconheço que errei.

Controlando minhas emoções, entro na casa e encontro Ezra em

frente ao irmão.

— Vamos, Spencer, vou te ajudar. Mas para isso preciso que aceite

ser ajudado também — fala Ezra, de costas para mim. Nenhum dos dois
nota a minha presença.

— Estou bem, Ezra, não se preocupe, foi só um arranhão. — A voz


do meu marido está carregada de dor.

— O seu machucado no braço me diz outra coisa! Como essa porra


foi acontecer debaixo do nosso nariz? Faz anos que não acontecia essa
merda. — Bufa o seu irmão.
— Só me ajude a subir, vou fazer um curativo. — Ele é tão teimoso
quanto eu.

— Eu faço isso. — Limpo a garganta, chamando a atenção deles,


que realmente estavam distraídos. Ao menos Spencer, Ezra não parece

surpreso com a minha presença, tanto que se afasta para que eu veja as
condições do meu marido.

— Bone... Giulia. — Spencer está pálido e com a roupa

ensanguentada. Ele tenta se levantar, mas tropeça e o seu irmão o segura.

Como eu pude deixá-lo nesse estado?

— Vou ligar para o dr. Maison — diz Ezra, tirando o celular do


bolso.

— É o meu marido, eu cuido dele — digo, indo até eles.

— Deixando-o sozinho? Quando cheguei, eu o encontrei largado no


sofá. Sozinho! — Ezra me repreende friamente e eu respiro fundo.

— Eu estou fodido de dor e vocês dois vão discutir, é isso mesmo?


— rosna Spencer, rangendo nos dentes.

— Eu o colocarei lá em cima e depois ligo para o médico. Mesmo


sendo um tiro de raspão precisamos da ajuda de um profissional. — Ezra
ignora o irmão.
— O.k. — concordo, seguindo-os até a escada.

Enquanto subimos para o segundo andar, Spencer me observa por

cima do ombro e eu vejo a dor em seus olhos, ele está tão machucado
quanto eu.

Ambos erramos, reconheço.

— Abra a porta para mim, por favor — pede Ezra. Abro a porta e

entro no quarto primeiro do que eles. — Se Killz não tivesse me impedido,

Vincenzo já estaria queimando nas profundezas do inferno e você não


estaria machucado. — A sua expressão está carregada de ódio.

— Você nunca vai mudar, não é? Não sou mais um moleque, Ez,

mas continua cuidando de mim como se eu fosse aquele pirralho de dez


anos atrás. Mesmo que tenha se tornado pai, não desiste de mim, daqui a

pouco meus sobrinhos irão me chamar de irmão. — O loiro ri baixinho ao

ser levado para a cama.

— Prometi aos nossos pais que cuidaria de você, Spencer. Enquanto


eu viver, você nunca estará sozinho, não importa se está com quase trinta e

dois anos, irá continuar sendo meu irmãozinho.

As palavras de Ezra me deixam abalada. A cumplicidade deles é

linda.
— Me sinto lisonjeado vendo você todo sensível, irmão — brinca

meu marido, quando Ezra se afasta e ele começa a tirar a camisa manchada
de sangue.

— Só não vou dizer que é sensível porque estamos na frente da sua

mulher, bastardo. — Eles riem, nostálgicos.

— O único bastardo aqui é você, não se esqueça que Kurtz pulou a


cerca na Rússia — retruca o loiro e o Ezra gargalha.

— Foda-se, seu idiota — resmunga Ezra.

— Vou pegar a caixa de primeiros socorros — aviso, limpando a

garganta.

— Me diga onde está que eu pego e você fica com ele. — Se

oferece o moreno.

— No armário do banheiro — informo.

Ele assente e vai na direção do banheiro, então ficamos somente eu


e Spencer.

Aproximo-me de Spencer, que está cabisbaixo e com as mãos

espalmadas no colchão. Engolindo em seco, olho para o corte causado pela

bala e o sangue que desliza por seu braço esquerdo.

— Por que voltou? — Quebra o silêncio e ergue o rosto abatido.


— Eu não podia te deixar aqui sozinho. No momento em que mais

precisei foi você que esteve ao meu lado. — Minha voz embarga e eu me

lembro do dia que cuidou de mim, quando Vincenzo enviou os soldados


para me capturarem.

— Não é um bom motivo para voltar — murmura, enfrentando-me

com os seus lindos olhos claros, noto que as suas pupilas estão dilatadas.

— Me deixe ver esse corte — peço, desviando meu olhar do dele e

tocando no seu braço.

— Não é necessário, vá conversar com Nicolo, vocês precisam se

resolver — diz, sério.

Eu o ignoro, observando o ferimento. Estou aliviada por não ser

nada profundo, apesar da quantidade de sangue, não corremos o risco de


acontecer algo mais grave, talvez só precise de alguns pontos.

— Falo com ele depois, primeiro vou cuidar de você. — Olho por

cima do ombro para ver se o meu cunhado aparece, mas acredito que esteja

demorando para nos deixar a sós.

— Do que adianta cuidar de mim agora e depois ir embora? Se for

para ir embora de verdade, não deveria ter voltado. — Suspira, cansado.

— Spencer... — Paro de tocá-lo e ele segura em meu pulso.


— Não, Giulia, eu preciso que seja sincera comigo. — Nossos

olhares se encontram e a mesma dor dele está ali e ainda mais forte. — Por
que voltou se estava decidida a partir? — Avalia o meu rosto.

— Porque eu te amo — declaro-me, sentindo um frio no estômago e

o coração batendo descompassado.

— Você me ama? — Os olhos dele iluminam e eu assinto, deixando


o soluço escapar.

— Sim, eu amo você, Spencer. — Choro, melancólica.

— Bonequinha, eu também...

— Pensei que nunca encontraria essa caixa no meio de tantos

armários — Ezra nos interrompe, surgindo no quarto. — Atrapalhei algo?


— pergunta ele ao olhar a mão do irmão em meu pulso.

— Não — digo, limpando o rosto com o dorso da mão e me

afastando de Spencer.

— Sim, deveria ter chegado uns dez minutos depois. — O loiro me


desmente.

— E te deixar morrer como um porco? — retruca o moreno, abrindo

a caixa e me entregando algumas gazes e o soro fisiológico.


— Tenho até dó dos seus filhos quando eles se machucarem. Eu já

disse que foi só um arranhão — resmunga Spencer, enquanto eu preparo a

gaze para limpar o ferimento.

— Um arranhão que vai precisar de alguns pontos — fala Ezra.

Enquanto isso, começo a limpar o braço do irmão dele, que faz uma

careta de leve, mas não reclama.

— Se quiser pode ir, eu vou ficar com ele até o médico chegar. —

Olho para Ezra, que balança a cabeça e deixa a caixa aberta na cama.

— Vou mandar limpar a bagunça lá embaixo. — Passa a mão na

barba, em seguida, observa o irmão. — Qualquer coisa me chame. — É a

última coisa que fala antes de deixar o quarto.

Em completo silêncio, termino a limpeza e o curativo do local. Vez


ou outra eu o pego me observando. Ao inclinar o rosto para passar a gaze na

parte de baixo do braço dele, acabamos ficando cara a cara, sentindo a

respiração um do outro.

— Obrigado — agradece e olha para a minha boca.

— Eu também preciso agradecer por não ter permitido que

Vincenzo me levasse. Obrigada por matá-lo. — Instintivamente observo

seus lábios.
— Para te levar ele teria que me matar primeiro, bonequinha. —

Toca em meu rosto e afasta o meu cabelo, colocando a mecha atrás da


minha orelha.

— Não fala assim. — Um nó se forma em minha garganta.

— Depois que terminar, você ainda vai embora? — Sua voz

transmite tristeza.

— Eu preciso falar com o Nicolo. — Fecho os olhos quando desliza


o polegar por minha bochecha.

— Não vou te pressionar. Converse com o seu pai e esclareça as

coisas, estarei te esperando e irei respeitar qualquer decisão que tomar.

Encaro-o, com o coração disparado, então assinto e me afasto dele.

— Você está todo sujo de sangue, quer que eu te ajude a tomar

banho? — indago, avaliando-o.

— Não é necessário, vá atrás de Nicolo — incentiva.

— Me deixe ao menos te dar algum remédio para dor — peço,


recolhendo as gazes do colchão para jogar na lixeira.

— Giulia, eu me viro. Encontre o seu pai e acabe com todas as suas

dúvidas, eu vou ficar bem — garante, se levantando.


— O.k.

Spencer me pega desprevenida ao se aproximar e depositar um beijo

no canto da minha boca, em seguida, passa por mim e segue para o

banheiro sem olhar para trás.


Não consegui deixar a casa antes do dr. Maison chegar, quis me

certificar de que ele veria o meu marido. Nos minutos que fiquei
aguardando, presenciei os soldados dos Knight retirando os cadáveres da
minha sala.

Logo após a chegada do médico de confiança deles, ele subiu com

ele e eu fui ao encontro do Nicolo. Encontrei-o dentro do carro me


aguardando, e quando me viu pediu aos soldados que estavam em volta
fazendo a segurança que se afastassem para nos dar privacidade, mas eu o

chamei para conversarmos no escritório em casa, eu iria me sentir sufocada

dentro de um carro.

Sentada na poltrona de Spencer, observo Nicolo no sofá, cabisbaixo

e calado, desde a hora que entramos na sala. Remexo-me incomodada com

o seu silêncio ensurdecedor, em seguida, eu o vejo erguer o rosto e me


encarar.
— Para mim, sempre foi mais fácil lidar com os meus negócios do

que com você — fala, limpando a garganta. — Foram anos e mais anos
tentando me preparar para esse dia, mas ainda assim não me sinto

preparado. — Seus olhos enchem de lágrimas e automaticamente os meus

também.

— Eu sabia que mentir por tanto tempo traria consequências, e


trouxe. Tive que criar você como se fosse a minha sobrinha, e não filha —

murmura, e o meu coração fica apertado.

— E por quê? Você não é o capo? O que te impedia de me assumir?


E o que te levou a se envolver com a minha mãe? Qual a verdadeira história

por trás das suas mentiras? — Eu o encho de perguntas.

— O seu tio sempre foi um homem aventureiro, mulherengo,

mesmo sabendo do seu dever com a famiglia em se casar com Eleonora

Esposito — narra, com o olhar distante. É tão estranho o homem que eu

achei ser meu pai estar sendo mencionado como meu tio. — Ele estava a
negócios em Roma quando a viu pela primeira vez. Os dois estavam na

mesma galeria, e ele se encantou pela estrangeira que parecia uma boneca

de tão linda que era, foi então que decidiu conquistá-la e só parou quando

conseguiu. Ficaram por meses saindo, o relacionamento ia bem, bom, tudo

no início são flores. — Faz uma pausa e respira fundo.


— Giuseppe estava tão obcecado por Taylor que ficou cego, não
quis mais saber do seu compromisso com Nora, assumiu a sua mãe sem se

importar com o acordo entre os Esposito e Romano, então foi embora para

outro país para viver a vida dele com ela. Ele só aparecia na Itália quando o

dinheiro acabava para me pedir mais. — Suspira, decepcionado. — E

mesmo sem conhecer a mulher por quem meu irmão estava supostamente

tão apaixonado a ponto de esquecer a sua obrigação, eu dava dinheiro para


que pudesse sobreviver. Eu sabia que ele não merecia um tostão, porque

jamais se deu o trabalho de ajudar nos nossos negócios, mas eu fazia isso

porque era sangue do meu sangue. — A sinceridade em suas palavras me

toca.

— Ele ficou fora de casa por um ano, até que cansei de bancá-lo e
ordenei que os soldados fossem buscá-lo para que pudesse assumir a sua

posição na famiglia. Giuseppe aceitou tão rápido a minha proposta que me

surpreendi, então finalmente pude conhecer a famosa Taylor pessoalmente,

e quando a vi foi amor à primeira vista. Bastou que nos olhássemos para

que nascesse aquele sentimento avassalador de proibido — ele fala dela

com tanto amor que eu acabo chorando. — Nós não nos envolvemos muito
rápido, apenas trocamos olhares discretos por quase seis meses. Nesses

meses, o comportamento de Giuseppe já era outro, ele começou a mostrar

as garras, não sei quantas vezes eu o peguei a agredindo verbalmente. Ele a


humilhava e eu não entendia a razão até vê-lo em uma noite saindo com

Eleonora. Foi ali que descobri que o meu irmão estava se relacionando com
as duas, ele as usava descaradamente. — Nicolo fecha os punhos.

— E quando fui questioná-lo, ele se revoltou, me acusou de querer


se meter na vida dele. Nesse dia ele dormiu fora, voltou pela manhã bêbado

e com perfume de mulher. Taylor já não suportava mais ele e os maus-


tratos, que eu intervia sempre que podia, então o colocou contra a parede

para saber com quem estava. Foi então que eu soube que meu irmão era um
desgraçado, ele batia nela e não era a primeira vez que fazia isso, porém, só

descobri quando Giuseppe avançou nela para agredi-la e eu dei uma surra
nele. — Os olhos dele ficam sombrios.

— Como sabia que não era a primeira vez que ele batia nela? —

pergunto, eliminando toda veneração que sentia por Giuseppe.

— Por algumas semanas ela usava roupas largas e de manga, eu já


desconfiava, mas só tive a confirmação quando ele o fez na minha frente.
Taylor foi resistente, tinha medo do meu irmão e não queria confessar que

apanhava dele. Mas insisti tanto e prometi que nunca mais ele a
machucaria, eu a fiz confiar em mim, e ela confessou que o maldito batia

tanto a ponto de deixar o seu corpo cheio de hematomas.

Céus.
— Após chamar atenção de Giuseppe e o ameaçar, ele passou a ficar

mais tempo na rua do que em casa. Meu irmão havia voltado a se envolver
com Eleonora, eles se tornaram amantes e quem sofria era Taylor, porque

estava presa ao meu irmão por medo dele. — Nicolo passa a mão na sua
barba grisalha. — Ele passava mais tempo fora do que em casa, e por estar

apaixonado por ela em silêncio, eu sofria junto, mas chegou uma hora que
joguei o meu caráter fora e decidi me declarar para a sua mãe. — Ele sorri
tristemente.

— Ainda me lembro do nosso primeiro beijo. Foi assustador, porque

estávamos traindo Giuseppe, mas também foi inesquecível. E depois disso


não conseguimos mais parar. Os dias de ausência do meu irmão nos servia
como oportunidade para nos amarmos, para vivermos o nosso amor

proibido. Ficamos juntos por dois anos sem ninguém saber, mas de repente
o seu tio decidiu que estava na hora de ir embora da Itália e eu não podia

chegar para ele e dizer que a mulher dele era minha, muito menos declarar
guerra com o sangue do meu sangue por um romance que começou de um

modo errado. — Sua voz é carregada de dor. — Foram dois lindos anos ao
lado da mulher que amei, mas tive que renunciar por causa dos negócios da
famiglia. Permiti que Giuseppe a levasse para longe, foi a pior decisão que

tomei, porque quando Taylor partiu levou você junto. Eu não sabia que
estava grávida e ela não me contou porque ficou com raiva da minha
escolha. Ela juntou o medo do marido e a gravidez, e resolveu me esconder
que teríamos um filho.

Meus lábios tremem com a sua confissão.

— Você nasceu, deu os primeiros passos, nasceu o primeiro

dentinho e eu não vi nada disso. E ainda chamou o homem errado de pai


por três anos. — Arregalo os olhos ao perceber que o capo está chorando.
— O meu erro me roubou três anos de sua vida, filha, não só isso, perdi a

Taylor porque Giuseppe descobriu o nosso caso e que você nunca carregou
sangue dele, e sim o meu. O meu irmão arquitetou a morte da sua mãe para

todos da famiglia, mas eu já sabia disso, porque na noite em que ele tirou a
vida dela, fez questão de me enviar uma foto dela morta e ligar para avisar
que a vagabunda traidora estava morta.

Nicolo chora e eu também.

Sem ter controle sobre as minhas ações, levanto-me e vou até ele.

— Dois dias depois ele chegou a Itália. Você era tão pequenininha,

indefesa... Passou a noite chorando e chamando por mamãe.

Soluçando, aproximo-me dele e o abraço, porque a dor que ele

suportou em segredo por anos só agora estou sentindo e me odiando por ter
julgado a minha mãe. Mas não posso me culpar, nunca soube da verdade.
— Tive que permitir a presença de Giuseppe em minha casa porque
naquela época eu estava cheio de inimigos e ele jurou que se aliaria com
eles para me destruir, e a primeira pessoa que entregaria seria você, uma

criança inocente que havia acabado de perder a mãe. — Abraçados,


choramos. — Aquele desgraçado teve que viver sob o mesmo teto que nós

por quatro anos, e quando você completou sete anos, não aceitei mais
deixá-lo por perto, tive que dar um jeito nele, estava sendo um inferno não
conseguir dormir por medo de ele te levar embora ou te machucar —

confessa, com a voz arrastada.

Eu odiei o meu pai por anos enquanto o monstro na verdade era o

outro Romano.

— Eu pensei que com Giuseppe morto estava livre dele, mas

descobri que aquele miserável te prometeu a Vincenzo. Ele sempre teve

tudo arquitetado. Caso morresse, a sua amada iria retaliar, ele fez uma
lavagem cerebral nela — murmura, afastando-se de mim e tocando em meu

rosto. — Infelizmente, ter matado ele não serviu de muita coisa, ele foi vil,

morreu, mas levou Eleonora junto. Ela era apaixonada demais por aquele

desgraçado, e Vincenzo, pela irmã, foi o que o levou a seguir com o plano
do meu irmão.

Fungando, abraço-o por finalmente entender o seu lado.


— Me perdoa, por favor? — peço, aos prantos.

— Eu que devo te pedir perdão, mia figlia. Se menti para você


durante todos esses anos foi por medo dos meus inimigos saberem da sua

existência. Ser capo e ter uma filha seria uma fraqueza, eles tentariam me

afetar através de você, então tive que suportar os Esposito por anos por

saberem do meu segredo. E matá-los de uma hora para outra seria muito
suspeito, portanto, passei mais de dez anos planejando como eliminá-los —

revela.

— Mas qual diferença fazia? Os anos passaram e você se casou,


tinha a Angel, ela poderia ser vista como a sua fraqueza também! O senhor

me deixou passar todos esses anos te odiando e amando um monstro que

matou a minha mãe cruelmente porque se achou no direito de ceifar a vida

por algo que ele fazia pior.

— Ela não carrega o meu sangue, você sim. Mulher eu posso

arrumar outra, mas a minha filha é insubstituível, sempre será. — Encosta

nossas testas e eu fecho os olhos.

— E você não ama a Angel? — Fico confusa por alguns instantes.

— Claro que sim, aquela loira é o meu segundo amor — fala, mais

leve.
— Acho bom mesmo, porque ela te ama muito. Mesmo em meus

dias de rebelde via o companheirismo dela — digo, e ele ri. — O Vincenzo

está morto, mas o tio dele não.

— Salvatore Esposito também está, eu o matei ontem à noite. — A


sua confissão me pega de surpresa.

— Como assim? — Fico boquiaberta.

— Eu o exilei da famiglia, mas ele se recusou a seguir as minhas

ordens e tentou me matar, achou que por estar em sua propriedade os seus
soldados iriam ser fiéis a ele, mas se enganou, todos ficaram do meu lado.

Foi assim que acabei com a linhagem Esposito.

Seria assustador se eu já não estivesse acostumada com a morte e

visse alguém que acabara de confessar que matou com um sorriso enorme
no rosto.

— Agora podemos viver em paz? — Meu coração bate

descompassado.

Ele assente, sorridente.

— Sim, podemos, minha filha. — Acaricia meu rosto.

— Já posso te chamar de pai?

— Já deveria ter feito isso.


— Me perdoe por ter sido tão injusta, imatura, pai. — Meus olhos

enchem de lágrimas.

— Não posso te culpar, querida, você não tinha como adivinhar —

diz.

— Sabe, durante todos esses meses eu não entendia a razão de não

conseguir te odiar, mas acho que no fundo eu sentia que você era o meu pai,
só não estava aceitando a verdade diante de mim. — Suspiro.

— O sangue sempre irá falar mais alto — fala, olhando em meus

olhos.

— Sim, eu sei. — Meneio com a cabeça.

— Filha, quero te pedir algo. — Toca em meu ombro.

— O que é? — Fito-o, curiosa.

— Não culpe o seu marido por nada. Spencer jamais compactuou

com a minha mentira, ele queria te contar, mas não permiti porque tinha

planos para os Esposito, queria destruí-los primeiro e só depois conversar


com você.

Fecho os olhos e me lembro da minha discussão com Spencer.

— Eu briguei feio com ele, magoei-o com palavras, disse que o

nosso relacionamento nunca foi real. — Meu peito fica apertado. — Fiz
besteira porque estava de cabeça quente, confusa, agi por impulso e fiquei

com medo de perder o nosso filho.

Meu pai arregala os olhos quando menciono filho.

— V-você está grávida? — Empalidece.

— Só preciso fazer um teste, mas a minha intuição de mãe diz que


sim. — Minha voz sai embargada.

— Vou ser avô? Mas eu sou muito novo para ser chamado de vovô.

— Faz uma careta.

— Você já é coroa, Nicolo! — Gargalhamos.

— Pois o seu irmão e o meu neto terão a mesma idade, só serão de

meses diferentes — revela, dessa vez sou eu que arregalo os olhos.

— A Angel vai ter um filho? — Sorrio.

— Sim, ela está com oito semanas, descobrimos semana passada


que eu serei pai novamente. — O brilho nos olhos dele é notório.

— Como se sente? — Não consigo parar de sorrir.

— Feliz sabendo que o seu irmão ou irmã nascerá em uma época de

paz.
— Você merece a oportunidade de ver seu filho nascer, todo mundo

merece uma segunda chance — murmuro, olhando na direção da porta


fechada.

— Exatamente, por isso você vai fazer as pazes com o seu marido e

irá dar a oportunidade a ele para descobrirem juntos se serão pais ou não.

— Sim, eu vou. — Afasto-me dele.

— Não perca mais tempo — aconselha.

— Não irei. — Antes de sair do escritório, vou até ele e o abraço. —

Obrigada, pai.

— Você não imagina o quanto sonhei te ouvir me chamando assim.

— Se emociona.

— Vá se acostumando, irei te chamar com frequência.

— Estará realizando o meu maior sonho — fala e eu saio do

escritório a passos largos.

Subo a escada e sigo para o quarto na esperança de encontrar o meu


marido. A cada passo que dou minhas pernas tremem e o meu corpo

estremece de ansiedade. Quando paro na frente do quarto e encontro a porta

fechada, sinto-me frustrada, mas decido arriscar ao entrar. E lá está ele, sem
camisa e usando uma calça moletom deitado de barriga para cima na cama e
com os olhos fechados.

Estou sobrecarregada, mas hoje foi o fim de um ciclo terrível para

que outro melhor surgisse. A passos lentos, rumo até ele e acho que sente a

minha presença, mas não se manifesta, apenas solta um suspiro.

— E-eu... — Não tenho palavras para me expressar.

— Como foi lá? — pergunta, ainda com os olhos fechados.

— Bem. Conversamos e ele me contou detalhadamente a verdadeira

versão. — Engulo em seco ao vê-lo me encarar.

— Fico feliz que tenham se resolvido — diz com sinceridade.

— Eu não quero me resolver só com ele. — Sento-me na beirada do

colchão e noto os pontos que o dr. Maison deu em seu corte.

— Tomou a sua decisão? — murmura, avaliando-me.

— Me perdoe. Eu fui injusta com você ao dizer que o que tínhamos

era uma farsa, agi com imaturidade. — Toco em sua mão e ele observa os
meus movimentos.

— Não há razão para pedirmos, erramos na mesma medida. — Ele

se senta, encostando-se na cabeceira.


— Você desistiu de nós? — Meus olhos ardem.

— Eu nunca desistiria da mulher que amo, mas também não a


obrigaria a ficar comigo se não quisesse. Acredito que às vezes a partida é

necessário, amar é também deixar ir. E se você quisesse partir eu sofreria


por anos, mas respeitaria a sua decisão. — O seu tom é doloroso para
ambos. — Eu te amo, Giulia, você é a mulher da minha vida, mas nunca a

deixaria ao meu lado contra a sua vontade.

Spencer me quebra em mil pedaços ao encarar a aliança em seu


dedo depois de se declarar para mim.

Subo na cama e vou até ele, sento-me ao seu lado.

— Eu nunca vou embora da sua vida, o meu lugar é ao seu lado.

Não só o meu, mas dele também. — Pego em sua mão e a trago para a
minha barriga.

— Ainda bem que entendeu que é do meu lado que tem que ficar. —

Toca em meu rosto e me encara. — Não suportaria te perder, bonequinha.


— Aproxima o seu rosto do meu e beija os meus lábios.

— Eu te amo, Spencer.

— Eu também te amo, principessa. — Gruda nossas testas.


— Antes de fazer o teste de gravidez, quero poder colocar meus
pensamentos no lugar — falo, passando a mão em sua nuca e acariciando os
fios macios.

— Não vamos ter pressa, mesmo que eu esteja louco por isso — diz,
carinhoso.

— Não sabia que tinha tanta vontade assim de ser pai. — Beijo seus

lábios.

— Eu sempre desejei ver minhas miniaturas por aí, mas não poderia
sair fazendo filhos em qualquer uma. A mulher que fosse carregar o meu

filho teria que ser digna do meu amor, e eu, do dela. — Soa romântico e eu
me derreto.

Ele quer dizer que somos dignos um do outro.

— Você sendo romântico é a coisa mais linda desse mundo — digo,

sorrindo contra a sua boca.

— Às vezes abro uma exceção para a minha esposa — brinca, rindo


baixinho, então afasta o rosto do meu e me olha por alguns segundos antes
de me beijar.

Com cuidado, sento-me em seu colo e aprofundo o nosso beijo.

 
 
 
 
 
 
 
Precisei de quase uma semana para organizar os meus pensamentos

e hoje, depois de alguns dias da morte dos Esposito e reconciliação com o


meu pai, estou finalmente me sentindo pronta para confirmar a minha
suspeita.

Faz alguns minutos que saí do banheiro e deixei na pia dois testes de

gravidez, estou só esperando dar o tempo indicado para saber o resultado.


Estou aflita, mas com uma intuição, não só eu, Spencer também.

A animação do meu marido em ser pai tem me surpreendido muito.

Embora me recorde que ele disse que em algum momento gostaria de ter

herdeiros, não imaginei que pudesse ser tão cedo. Bom, não estou
reclamando, só me sinto radiante com o seu entusiasmo. Não são todos os

homens que se sentem felizes com a paternidade ou estão dispostos a

assumir uma responsabilidade.


— Acho que já passou o tempo — diz ele, com os olhos vidrados na

porta do banheiro desde que saí de lá.

Enquanto estamos no nosso quarto, a nossa família está na sala nos


aguardando para dar alguma notícia para eles.

Meu pai e Angel ainda estão em Londres, só voltarão para a Itália

amanhã. Eles quiseram passar alguns dias comigo e tem sido maravilhoso
poder conviver com eles agora que tenho uma visão completamente

diferente.

— Amor, você está gelado. — Rio baixinho, sentindo sua mão

gelada quando ele segura a minha.

— Não nego que estou — confessa, sorrindo para mim.

— Vou lá ver — murmuro, levantando-me da cama.

— O.k.

A cada passo que dou, sinto meu coração palpitar fortemente. Será

que realmente estou esperando um filho? E se... Não vou criar minhas

teorias malucas. Só preciso ver os benditos testes, se ambos derem positivo

estou grávida.

Puxo o ar para os pulmões, em seguida, aproximo-me da pia e

encaro os dois testes. Pelas instruções da embalagem, dois tracinhos são


positivos e um é negativo.

Mordendo os lábios, pego o primeiro bastão e vejo que deu positivo,

depois o outro, ambos marcam dois traços.

Céus. Não existe mais suspeita. Eu estou grávida.

Há um filho de Spencer crescendo em minha barriga. Seremos pais.

Com os olhos ardendo e embaçados pelas lágrimas, sorrio afetada e

ao mesmo tempo nervosa.

Vou ser mãe.

Meu marido vai ser pai.

Nicolo será avô.

Uma montanha de sentimentos emerge dentro de mim e eu libero o

choro.

Instintivamente, passo uma mão em minha barriga lentamente e

deixo as lágrimas caírem por minhas bochechas. O meu choro é de

felicidade, as lágrimas que derramo são de pura satisfação por saber que a

minha gravidez irá ser estonteante, porque não há mais nada para tirar a

minha paz.
— Giulia? — Spencer me chama, então saio do banheiro com os

bastões na mão e encontro-o de pé, andando de um lado a outro.

— Já tenho o resultado — digo, atraindo a atenção dele, que para e

me encara.

— Por que está chorando? Foi alarme falso? — Ele vem na minha

direção, pronto para me consolar.

Entre as lágrimas, sorrio e estendo para ele os bastões.

— Já podemos começar o pré-natal, você vai ser pai, Spencer James


Knight.

Os olhos dele brilham e um sorriso bobo e mais lindo do mundo

surge.

— Eu sabia! — comemora, gargalhando. Ele me levanta em seus


braços e eu acabo rindo, porque a sua alegria é contagiante. — O meu

primeiro filho, bonequinha, sabe o quanto isso me deixa radiante?

— É claro que sim. — Ele me põe no chão e toca em meu rosto,


beijando minha testa.

— Acho que agora podemos acabar com a curiosidade daqueles

enxeridos na sala, não é? — diz.

— Spencer! — repreendo-o, dando um tapa em seu braço.


— E estou mentindo? Como é que chegam na casa dos outros tão

cedo para saber de algo que poderia ser dito por uma ligação? — resmunga.

— Não fale isso na frente deles! — Arregalo os olhos.

— O Axl disse que veio para me amparar caso eu desmaie, vê se


pode! Ele está muito engraçadinho. — Bufa, e eu gargalho.

— Fiquei sabendo que ele só está te dando o troco — digo,

observando-o pelo canto do olho.

— Uma hora a conta chega, não é? — Seu tom é engraçado.

— Exatamente. — Vejo-o fazer uma careta.

— Vamos descer antes que venham nos buscar — fala, decidido.

— Só vou lavar as mãos e jogar isso no lixo. — Ergo os bastões.

Sigo para o banheiro e sinto o olhar de Spencer queimar em minhas

costas. Lavo as mãos, saio e o encontro com a porta do quarto aberta para
que possamos nos reunir com a nossa família.

No meio do caminho, meu marido entrelaça nossos dedos e


descemos a escada. A cada degrau, meu coração bombeia mais rápido e

quando notam a nossa presença, todos param com o falatório e se levantam,


olhando em nossa direção, sorridentes e esperançosos. Até mesmo Killz,

que é o mais reservado, está sorridente e com a expressão de felicidade.


Mordendo os lábios, nos aproximamos deles e eu olho para cada um
deles, mas meu olhar se prende em meu pai, que não esconde a sua emoção,
e em minha madrasta – ainda estou tentando me acostumar com essa ideia

–, que demonstra estar otimista.

Procuro pelas meninas que me apoiaram quando as procurei para


conversar e sorrio para elas, que entendem o recado. Então Katherine, a
filha de Aubrey, sai de perto dos pais e para na nossa frente, olhando para a

minha barriga.

— Tio Spen, eu vou ter uma priminha ou um priminho? — pergunta

o que todos querem saber.

— Princesa — meu marido larga a minha mão e se agacha para ficar

na altura dela —, o bebê é ainda muito pequenininho, não dá para saber. —


Então ele ergue os olhos para a nossa família e todos comemoram

eufóricos, como se tivessem ganhado na loteria. Se bem que ganhamos


mesmo.

Quem mais festeja são os homens Knight, eles vêm até o irmão e o

abraçam em grupo, me deixando emocionada com a união deles. Rindo,


meu marido me encara por cima do ombro e pisca para mim.

As garotas, mesmo ansiosas para me parabenizar, deixam que

Nicolo e Angel façam isso primeiro. Meu pai e a esposa me abraçam e


beijam o meu rosto, em seguida, dão espaço para as meninas.

— Ele está tão feliz. Sonhei tanto com o dia que Spencer formasse a

sua família — diz Aubrey, ela tem um carinho enorme por meu marido.

— Acho que todas nós — fala Hailey, sorrindo de orelha a orelha.

— Giulia, não perca mais tempo, amanhã procure a dra. Lucien. Ela
cuidou da gravidez da Muriel, pode acompanhar a sua também. É uma

médica incrível, está há muito tempo na família — recomenda Brey,

tocando em meu braço.

— Pode deixar, vou sim. Obrigada — agradeço-a.

— Ele está todo bobo. O brilho nos olhos dele é nítido, impossível

não perceber o quanto você faz bem a ele. Spen, vai ser o pai mais babão de

todos os Knight, já estou vendo — se manifesta Alessa.

— E se for menina, então — acrescenta Muriel, risonha.

— Nem pensamos nisso! O Killz só falta infartar quando

conversamos sobre a Katherine atingir a maioridade e arrumar um

namorado. Semana passada, ele disse que ia enviá-la para um convento em


uma ilha — confessa Aubrey, nos fazendo rir e atrair a atenção de todos.

— E a Amy vai ter a mim para defendê-la do Ezra, ele é muito

ciumento — cochicha Hailey, revirando os olhos.


— Daqui estou ouvindo o meu nome ser mencionado, loira — fala o

marido dela, bravo, fazendo todos gargalharem.

— Engano seu, amor, não mencionei você em nada — diz Hailey,

indo até o marido, que agora está ao lado dos filhos.

— Sei... — Ele semicerra os olhos, mas ela o dobra ao beijá-lo.

— Vocês acham que vai ser menina ou menino? — Angel se


manifesta, alternando o olhar entre mim e Spencer, que se aproxima e me

abraça por trás.

— Menino.

— Menina.

Ao falarmos ao mesmo tempo, eu o encaro por cima do ombro

sorrindo, mas ao e contrário de mim, ele está quase pálido.

— Você quer me matar, mulher? Sem meninas por enquanto, vamos

prezar por minha saúde física e mental — fala o meu marido e os irmãos
tiram sarro dele.

— Como sou um irmão maravilhoso, vou traduzir o que ele quer

dizer. — Axl tem a nossa atenção. Alessa o cutuca na costela, mas ele sorri

para a esposa, que acaba fazendo-o desistir de tirar Spencer do sério.


— Ainda bem que existe a Alessa em sua vida para te manter na

linha, brother — provoca meu loiro, divertido.

— Vocês parecem crianças se provocando assim! — comento, e as

garotas concordam comigo.

— Isso se chama afinidade, bonequinha. — Spencer os defende.

— Sabemos — retruca Alessa.

— Agora que todos já sabem que serei o melhor pai do mundo —

profere Spencer, exibido —, será que podemos saber aonde vamos jantar
essa noite? — pergunta, brincando.

Uma cozinheira começou a trabalhar aqui faz dois dias, e ela irá

preparar o jantar para a comemoração. Eu estava certa da minha gravidez.

— Não seja folgado, Spencer! — diz Killz.

— Temos que comemorar, e nada mais justo que ganhar um jantar


em minha homenagem — responde para o irmão mais velho, rindo.

— Você gosta de provocar, não é? — falo baixinho para ele.

— Só um pouco. — Então beija meu pescoço.

— Ele está brincando. O jantar de comemoração será aqui e todos


estão convidados. — Bato em sua mão boba, que acaricia a minha coxa por
cima do vestido.

— Finalmente, Spencer vai oferecer uma comida decente.

— Mais respeito, agora sou um homem direito. — Ele ergue o dedo

com a aliança, todo orgulhoso.

Quem diria...

— Já estava na hora — fala Carter, o mais calado de todos.

Deixo-o conversando com os irmãos e vou até meu pai e Angel.


Eles sorriem para mim de um modo tão acolhedor, que pela primeira vez,

sinto que me encaixo na vida deles.

Eu os admiro.

— Precisam mesmo ir embora amanhã? — pergunto, vendo meu pai


abrir os braços para que eu o abrace.

— Infelizmente, sim, mia bambina. Estamos aqui há uma semana,

preciso cuidar dos nossos negócios. — Beija o topo da minha cabeça.

— É uma pena, queria que ficassem mais. — Suspiro, encarando


Angel.

— E por que não vai com a gente? — sugere a mulher do meu pai,

animada.
Eles se olham tão apaixonados que acabo me sentindo péssima por

nunca ter acreditado no casamento deles.

— Ir com vocês? — indago depois de um tempo os observando.

— Estão querendo levar a minha mulher com vocês, ouvi bem?

Escuto a voz de Spencer atrás de mim.

— Você está convidado também, Spencer — diz Nicolo, gentil.

— Mesmo se não fosse, eu iria atrás dela. — Me abraça e beija meu

ombro.

Meu pai limpa a garganta com a demonstração de carinho do meu


marido.

Ciúme de pai.

— Você está romântico e carinhoso, sr. Knight. — Levanto o rosto

para encará-lo.

— Só com você, bonequinha. — Instintivamente, ele toca em minha


barriga. — E muito em breve com o nosso bebê. — Beija minha bochecha.

— O que vocês acham de passar alguns dias na Itália? — convida

Nicolo.
— Acho ótimo. Amanhã iremos dar início ao pré-natal, então

podemos viajar na próxima semana. O que acha, amor? — Viro-me para


Spencer.

— Por mim, tudo bem — concorda meu marido.

— O.k., aguardo vocês. — Nicolo pisca para mim.

— Vamos preparar um jantar para te apresentar oficialmente como

filha do capo — menciona Angel e eu arregalo os olhos.

— Sério isso? — Estou boquiaberta.

— Sim, vou mudar o seu registro e colocar o meu nome, figlia.

Meu coração estremece com a sua revelação. Vibrando, vou até ele e

o abraço fortemente.

— Obrigada, papà. — Meus olhos ficam marejados.

— Só estou te dando o que sempre foi seu por direito — murmura,

carinhosamente.

Para alguém que pensava não ter nada e agora tem tudo, é mais do
que uma realização de sonho. Encontrei a felicidade em lugares e em

pessoas que menos esperava.


Alguns meses depois

Com os olhos fechados e a cabeça apoiada no travesseiro, respiro

ofegante sentindo os lábios do meu marido passearem por minha barriga de

vinte e sete semanas de gestação. Ele desce lentamente até minha virilha,
indo de encontro a minha boceta.

— A sua bocetinha está pingando, amor — diz ele, raspando o nariz

em minha pele.

— Estou tão sensível, que posso gozar só com isso. — Suspiro.

A primeira lambida que Spencer dá em meu clitóris me faz gemer

alto e chamar o seu nome. Enquanto a língua habilidosa dele serpenteia por
meu feixe de nervos encharcado, levo a mão ao meu cabelo e inclino a

cabeça para trás.

Com o passar do tempo, o sexo só melhorou. Se antes eu era fogosa,

fiquei mais ainda e o Spencer adorou. Tem sido uma experiência deliciosa.

— Ahhh... Spencer, n-não p-para! — choramingo, assim que me

penetra com a língua em uma velocidade que me deixam com o corpo


inteiro formigando de tesão.

Eu o observo agarrar minhas pernas e as abrir mais, me deixa


arreganhada enquanto me chupa com avidez, não demora para revezar a

boca com os dedos.

Não importa o quanto eu esteja molhada, ele sempre quer fazer sexo
oral, me chupar antes de transarmos é a sua prioridade. E eu amo essa
atenção dele.

— Spencer... — imploro por mais, sabendo que ele me dará.

Ele suga e lambe meu clitóris com intensidade, meu corpo se


contorce com as suas investidas profundas e é nesse momento que eu odeio
o fato de estar mais sensível e gozar mais rápido do que gostaria.

— Oh, céus... v-vou gozar. — Arquejante, puxo o ar para os


pulmões.

Ele abre meus lábios vaginais e mete a língua, depois chupa o meu
grelinho de um modo esfomeado, repetindo o gesto várias vezes. Gemendo,

rebolo em seu rosto ao sentir minhas pernas tremerem. Mesmo notando que
estou perto de ter um orgasmo ele não para, faz movimentos circulares com
os dedos.
— Ahhh... — grito, trêmula, fechando a mão no lençol e sentindo
leves choques no corpo.

Spencer se afasta de mim e fica de joelhos entre minhas pernas,


então toca as minhas coxas e massageia lentamente.

— Bonequinha, não estou querendo acabar com o clima da nossa


rapidinha matinal, mas você tem consulta com a dra. Lucien. — Ele se

inclina e passa os braços de cada lado do meu corpo, beijando minha


barriga carinhosamente.

— Ela vai nos atender às dez horas — murmuro, observando-o

ainda beijar minha barriga.

Ah, droga, realmente temos que sair daqui a pouco!

Quando estou com ele, facilmente perco a noção das coisas. Hoje
iremos descobrir o sexo do bebê. Já estou com vinte e sete semanas de

gestação e ainda não sabemos se teremos um menino ou uma menina.

— Acho que estamos quase atrasados — fala, e sai da cama.

Spencer é um marido dedicado. Cuida de mim e é um papai urso


antes mesmo do nosso filho nascer. Admiro o zelo e o amor incondicional

que tem por nós.


— Tenho uma notícia para vocês. Uma não, duas! — fala a doutora,

deslizando o aparelho de um lado ao outro em minha barriga.

— Como assim duas, dra. Lucien? — Meu marido começa a tossir,


nervoso.

— Devo ficar preocupada? — Meu coração fica acelerado.

— A primeira é que descobri o sexo do bebê de vocês. — Ela olha


para mim e depois para Spencer. — Não sei se lembra, Giulia, mas mês
passado você me perguntou por que a sua barriga estava tão grande — fala

e eu assinto, procurando a mão do Spencer e a segurando.

— Sim, eu me lembro bem. — De repente, fico aflita.

— Há algum problema com o nosso filho, doutora? — pergunta ele,

olhando para mim e para a obstetra. Os seus olhos demonstram


preocupação.

— Bom, não exatamente, mas não sei se esperavam por isso. — A

médica sorri e aponta uma luzinha para o monitor. — Mas vocês esperam
gêmeos. São duas meninas. O outro feto estava escondido atrás da

irmãzinha, antes não tinha como ter certeza, mas agora dá para ver
claramente que são dois. — Ela nos mostra nossas filhas.

Duas... gêmeas. Nunca que iríamos chegar a essa conclusão.

— A senhora tem certeza? — Encaro meu marido, que está pálido e

em choque, enquanto meus olhos estão cheios de lágrimas.

— Absoluta.

— Estou ferrado. Pai de duas meninas, bonequinha. — Olha-me


com os olhos nublados de emoção, sem esconder seu nervosismo. — Sabe o

quanto vou sofrer quando falarem que quer ter um namoradinho ou dois? E
se elas quiserem namorar cedo demais? — Sua expressão de dor exagerada
nos faz cair na gargalhada.

— Amor, para com isso. Elas nem nasceram ainda! — Rio,


deixando as lágrimas descerem.

— Mas eu preciso estar preparado para o futuro. Quanto antes


aceitar o meu destino, melhor. — Faz gracinha, mas sei que está realmente

preocupado.

— Não seja bobo. — Toco em seu braço e ele me encara sorrindo.


— Poderiam ser quadrigêmeas, ainda assim eu as amaria. — Ele
ergue a minha mão e beija. — Nossas meninas são muito bem-vindas, meu
amor. — A sua ternura me deixa melancólica.

— Eu sei que são. — Soluço, emocionada.

— Elas terão três primos para cuidar delas na minha ausência, um


avô que é capo e os quatro tios. Nossas garotas estarão seguras de todo tipo
de perigo, principalmente dos marmanjos. — Em meio ao choro, volto a rir,

não acreditando no que diz.

— Só você mesmo. Mas saiba que elas terão a mim para defendê-las
de todos os homens ciumentos da família. — Limpo o rosto com o dorso da

mão.

— Não atrapalhe os meus planos — resmunga, mas depois sorri ao


inclinar o rosto e beijar a minha testa.

— Sabe que é mesmo que pedir o contrário — murmuro, ao

encostarmos nossas testas.

— Claro que sim, a minha mulher é a mais teimosa de todas.

— Ainda bem que sabe disso, por isso te amo. — Beijo seus lábios.

— Eu também — sussurra.    


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
— Vovô, a Aria não quer me deixar brincar! — diz Arabella,

surgindo na sala com os olhinhos vermelhos.

— Por que ela fez isso, mia bambina? — Nicolo pega a neta no colo
e me encara todo feliz, porque a neta o procura para fazer a reclamação e

não a mim, que sou a mãe.

— Ela quer brincar sozinha com o Matteo! — revela minha

princesa, fazendo biquinho para o avô.

Matteo é o meu irmãozinho. Ele é mais velho alguns meses que as

gêmeas e tem mais afinidade com Aria. Em todas as nossas viagens para a
Itália, ele sempre está com Aria, e já conversei várias vezes com elas para

que nunca briguem por causa disso, que precisam estar unidas por serem

irmãs. E eu quero manter isso até quando estiverem adultas, desejo que

sejam iguais ao pai e a família dele, a união deles é algo que carregam há

anos e nada nem ninguém foi capaz de destruir isso.


— Pois vamos falar com ela agora mesmo, principessa, eles não
podem te excluir da brincadeira. — Ele se levanta com ela nos braços.
— Eu te amo, vovô — diz Arabella, beijando a bochecha de Nicolo,
deixando-o derretido com a declaração.
Mas como não ficar afetado com um “te amo” de uma menininha de
apenas quatro anos de idade? Sempre que falam isso para mim ou para o pai
delas ficamos como dois bobos.
— E não ama a mamãe, Bella? — Levanto-me também e me
aproximo deles.
— Também te amo, mamãe. — Minha garotinha que tem a mesma
cor do cabelo do pai e meus olhos sorri para mim.
— Agora sim. — Toco na barriga dela e faço cócegas.
— Mamãe, faz coce! — Ela dá uma gargalhada gostosa e o avô ri
baixinho ao ouvi-la falar errado.
— Vá com o vovô, mais tarde eu converso com a sua irmã — falo,
inclinando o rosto e dando um beijo na testa dela. — Pai, vou ver se a
Angel precisa de ajuda com alguma coisa.
— Vá, mia figlia — diz.
Eu assinto e sigo para a cozinha. Estamos desde a semana passada
aqui, Spencer veio a negócios, está cuidando da parte administrativa das
cargas da minha famiglia há três anos, estamos indo e voltando três vezes
no mês. Normalmente, ficamos apenas dois dias, mas esse mês decidimos
ficar mais tempo.
Com a nossa estadia mais demorada, meu marido está aproveitando
para organizar alguns assuntos pendentes com os pilotos e clientes, mas ele
prometeu que estará em casa antes do jantar.
Entrando na cozinha, deparo-me com Angel na ilha usando um
avental e preparando tiramisù. Quando ela e as funcionária me notam,
sorriem. Vou até a mulher do meu pai e paro ao seu lado, observando-a
finalizar a sobremesa ao polvilhar cacau em pó.
— Deve estar delicioso — falo, fazendo-a sorrir.
— Sabia que iria gostar. — Pisca para mim.
— Se eu soubesse que veio preparar a minha sobremesa preferida
em pleno final de semana não teria permitido.
Ela ergue a sobrancelha, completamente divertida.
— Deixa de bobagem, Giulia, não me importo com isso. — Soa
sincera, sei que está dizendo a verdade.
— De qualquer maneira, não vou ser ingrata, é meu doce preferido!
— Solto um suspiro e Angel gargalha.
— Exatamente! — Ri baixinho e pega os utensílios sujos e coloca
na pia.
— Você quer ajuda? Embora não seja a melhor cozinheira, tive que
aprender a me virar um pouco — digo, e acabamos rindo.
— Nada disso, você é visita — repreende-me, risonha.
— O.k. — Dou-me por vencida, porque sei que ela não mudará de
ideia.
— Papai! — chamam as meninas ao ver o pai passar pela porta, com
o semblante de cansado, mas isso muda assim que ele as vê.

— Oi, minhas princesas — diz. Elas saem do meu colo e correm na


direção dele, que se agacha para ficar na altura delas.

Sentada no sofá sorrindo, eu os observo interagir. As meninas


começam a fazer reclamação uma da outra e o pai as ouve com seriedade,
dando a elas toda atenção do mundo.

— E ela não me deixou brincar com o Matteo, papai! — Arabella

termina de falar, indignada, cruzando os bracinhos.

— Aria, quantas vezes a mamãe já disse que devem ser sempre

unidas? — Ele alterna o olhar entre elas.

— Papai, me dá colo? — Desconversa a pequena e travessa Aria

para não receber reclamação do pai.

— Eu sei o que está tentando fazer, garotinha esperta. — Spencer

semicerra os olhos, mas não contém o sorriso por qual me apaixono todos
os dias.

— Também quero colo, papai! — decide Arabella.

— O pai de vocês está suado, só depois do banho, tá bom?

Elas assentem e ele beija a testa de cada uma antes de se levantar.

Meu marido segura a mão delas e vem em minha direção, me


arrancando suspiros. Modéstia à parte, a minha família é muito linda. Meu

loiro e minhas loirinhas me têm nas mãos e eu os amo.

— Que bom que conseguiu chegar cedo — murmuro assim que

Spencer para na minha frente.

— Consegui finalizar algumas coisas antes — diz, e eu avalio sua

expressão cansada.

— Você dá o seu sangue por esse negócio — digo, tocando em seu


rosto e o acariciando.

— Sim, e tenho conseguido bons resultados para o seu pai e o meu

irmão. É uma enorme conquista para mim — revela, orgulhoso.

— Todos sabem, não é à toa que recebe muitos elogios pelo


excelente trabalho de ambos os lados da família. — Inclino meu rosto para
perto do seu e beijo seus lábios.
Ele larga as meninas e toca em meu rosto com as duas mãos. No
mesmo instante, as gêmeas saem da sala correndo, provavelmente foram
atrás do avô.

— Passei a tarde toda com saudade, bonequinha — diz e suga meu

lábio inferior e superior.

— Eu também, amor. — Solto um gemido baixinho ao sentir a sua

mão máscula apertar a minha bunda.

— Hoje estou morto de cansado, mas não dispenso aquela


massagem que só você sabe me dar. — Sorri safado e beija meu pescoço.

— Hmm, vou adorar fazer várias massagens, mas vamos parar com

os amassos, meu pai não pode presenciar essa safadeza.

Ele sorri contra a minha pele e me encara.

— O.k., sra. Knight. — Bate em minha bunda e deixa a mão ali.

— Spencer! — repreendo-o, batendo em seu ombro.

— Eu não resisto, sabe disso.

Mordendo os lábios, olho ao nosso redor para ver se vem alguém.

— A sobremesa hoje é tiramisù.


Os olhos dele escurecem e um sorriso pervertido nasce no canto da

sua boca, aposto que está se lembrando do nosso episódio inesquecível com
o doce.

— Essa noite iremos relembrar o passado, mas dessa vez eu também

quero provar a sua sobremesa favorita em outro lugar. — Nem preciso que

ele detalhe, já sei o que quer dizer.

— Ansiosa por isso. — Minha respiração fica pesada.

— Eu também.

Ele me devora com o olhar e eu aperto a perna contra a outra.

 

 
 
 
— Papai, a Bella não quer dividir o celular da Kath comigo. — Aria

aponta para a irmã e a prima sentadas no sofá, enquanto faz um biquinho de


choro.

Suspirando, observo a outra miniloirinha segurando o celular de


Katherine na mão sentada no colo da prima que logo irá completar dezoito

anos.

— Arabella, por que não deixa a Aria assistir com você também? —
pergunto, ouvindo a risada maliciosa de Dylan e Austen ao meu lado,

certamente estão aprontando no celular.

O filho de Ezra, Dylan, que é primogênito da família Knight, tem

quase dezenove anos, e Austen tem dezessete, assim como Katherine, sua
irmã gêmea. Esses dois andam grudados e aprontando. Semana passada, os

soldados tiveram que buscá-los em um bordel porque estavam bêbados e

brigando com um homem por causa de uma garota com quem os dois estão
saindo. Não sei onde eles aprenderam essas putarias, mas pelas informações

de Killz, a menina é uma stripper mais velha que eles. Porém, com o físico
adulto deles, ninguém diz que ainda são novos, conseguem intimidar quem

não sabe a verdadeira idade deles.

— Ela é chata, papai, não quer assistir ao mesmo desenho que eu!

— retruca a criança, me encarando e me deixando boquiaberto.

— Mas se ela não pode, você também não — determino.

Arabella começa a chorar e Katherine fica com pena da prima.

— Não faz isso, tio Spencer, vou levá-las para o meu quarto e

coloco cada uma para ver o que quiser — intervém minha sobrinha, que
vive defendendo as minhas filhas. Elas adoram ser mimadas, e olha que só

têm quatro anos, imagina quando forem maiores.

— Não precisa, eu dou o meu celular para Aria. — Dou-me por


vencido. — Venha aqui, pequena dengosa — chamo a minha filha, que

corre e se senta na minha perna.

— Te amo, papai. — Agarra meu rosto e beija a minha bochecha,

sei que é para me deixar de coração mole, mas aceito assim mesmo.

— Também te amo. — Beijo a testinha dela, depois tiro o celular do


bolso e entrego a ela.
— Tio Spencer, me empresta o seu carro? — pede Dylan.

Eu o encaro com a sobrancelha arqueada.

— Cadê o seu? — indago, fingindo não saber que Ezra tomou o

carro dele por alguns dias.

Dylan limpa a garganta.

— Meu pai tirou de mim por alguns dias — confessa,

envergonhado.

— E acha que eu vou passar por cima da ordem dele e te emprestar


o meu? — Bufo, fazendo-o xingar baixinho. — Olha o palavrão perto da

sua prima, moleque — repreendo-o.

— Vai ou não emprestar, tio? Ele nem vai desconfiar de nada, estão

tão distraídos hoje. Eu e Austen precisamos dar uma passadinha na casa de

uma amiga. — O filho de Ezra se levanta e o de Killz faz o mesmo,

achando que vou ceder.

— Qual é, tio Spen? Até parece que nunca teve a nossa idade — se

intromete Austen, cruzando os braços tatuados.

Ele e Dylan não tem diferença alguma, fazem merda juntos e se

fodem juntos, até mesmo estão comendo a mesma garota.

— Só se me falarem o que vão fazer na rua uma hora dessas.


Eles se entreolham, depois fitam Katherine, que está distraída com a

prima deles.

— O senhor sabe muito bem o que iremos fazer. — Dylan se irrita,

passando a mão pelo pescoço coberto de tatuagem. Ainda bem que quando
eles foram se tatuar eu não estava lá, certamente diriam que eu teria

influenciado.

— Indo trepar com a mesma mulher? É, eu sei, só espero que no

final não briguem por causa da garota — falo, depois de tapar as orelhas de
Aria.

— Só estamos nos divertindo, não é nada sério — responde Austen,


sorrindo de lado.

— Vai emprestar ou não? — Dylan está impaciente.

— Se pegarem vocês, vou falar que eu não sabia de nada. — Tiro a

chave do bolso da calça. — Três recomendações: se protejam, não se


apaixonem e não use drogas. — Jogo a chave para Austen.

— Pode deixar, tio. Obrigado — agradece o filho de Ezra.

— Se baterem ou arranharem o meu carro vão se ver comigo —

ameaço-os.
Eles riem, em seguida, saem a passos largos ao ouvir a voz da mãe

deles, Hailey e Aubrey.

— O senhor sabe que o meu pai e meu tio vão brigar, não é? —
pergunta Katherine, avaliando-me.

— Fui coagido. — Dou de ombros.

— Quem foi coagido? — pergunta Hailey, surgindo na sala ao lado

de Aubrey.

— Ninguém. — Me faço de desentendido ao desbloquear a tela do


celular para a minha filha.

— Austen e Dylan saíram no carro do tio Spencer, acho que foram

atrás daquela namorada deles. — Kath entrega os garotos sem pensar duas
vezes.

— Céus, é muita modernidade saber que meu filho e meu sobrinho


namoram a mesma menina. — Aubrey começa a tossir e Hailey a socorre.

— E eu achando que na minha época de libertinagem era o foda —


murmuro.

— Esses garotos estão demais. — Suspira a loira, passando a mão


na testa.
— Dylan já é maior de idade, prendê-lo não vai adiantar nada, sabe
disso. E o Austen tem o mesmo gênio do pai. Vocês podem fazer o que
quiser, não tem como controlá-los.

Elas não falam nada, porque sabe que tenho razão.

— O.k., mas sabe que os seus irmãos vão ficar chateados, não é? —
se manifesta Brey.

— Se eu não desse, eles arrumariam um jeito de sair. De qualquer


maneira, só facilitei a fuga deles. — Levanto-me com Aria nos braços,

pronto para procurar a mãe dela, que desde o jantar foi “sequestrada” por
minhas cunhadas e eu tive que ficar com as crianças.

— Nem vou prolongar esse assunto, conheço muito bem o meu filho

— diz a loira, conformada.

— E o meu, quando chegar que se resolva com o pai — profere a


esposa de Killz.

Estou prestes a abrir a boca quando os meus irmãos surgem. O mais

velho é o primeiro a procurar o filho, só pela inspeção que faz na sala dá


para perceber. Enquanto Ezra parece tranquilo, mas com uma expressão de

que irá cobrar caro por Dylan estar o contrariando. Axl se senta no sofá e
Carter ao seu lado, ambos tranquilos por ainda não terem essa dor de

cabeça, já que os filhos são crianças.


— Dylan e Austen saíram, não é? — inquire o chefe da família.

— Sim, pai. — Quem responde é Katherine, arrumando uma Bella

agora adormecida em seu colo.

— Amanhã eles não vão treinar no galpão, irão trabalhar no lugar

dos soldados. Vão fazer o serviço pesado e ninguém vai ajudá-los — avisa
Killz, deixando a esposa de olhos arregalados.

— Estou de acordo, irmão — diz Ezra, indo até a esposa.

— Spencer, você viu os meninos saindo e não fez nada? — indaga


Killz, curioso.

— Fazer... eu fiz, mas ninguém vai ficar feliz com o que irá ouvir.

— Ajeito Aria em meu colo, que encosta a cabeça em meu ombro enquanto

assiste em meu celular.

Com os olhos semicerrados, Ezra me encara.

— Você deu o seu carro, não é? — pergunta o pai de Dylan.

— Sim — revelo.

No mesmo instante Muriel, Alessa e Giulia surgem na sala, com o

restante das crianças, e logo procuram um lugar para se sentarem.


— Não deveria ter passado por cima da minha ordem — repreende

Killz.

— Nenhum dos dois é criança, irmão, iriam sair do mesmo jeito —

falo o mesmo que disse para as garotas.

— Ele tem razão, Killz, conhecemos os nossos filhos. — Finalmente

Ezra me defende.

— Pois amanhã eles vão pagar por essa desobediência. — O mais

velho dos Knight range os dentes.

— Não acham que estão pressionando demais esses meninos? — se

manifesta Carter, encarando nossos irmãos.

— Concordo com você, Carter. Austen e Dylan não são idiotas,

sabem o que estão fazendo. — Bufa Axl.

— Vamos falar sobre isso quando o filho de vocês estiver da idade

dos nossos — resmunga Killz.

Enquanto meus irmãos discutem entre si e suas esposas tentam

contornar a situação, Giulia pega Arabella do colo de Katherine e vem na

minha direção.

— Você criou uma guerra que não vai acabar tão cedo — diz minha
mulher, rindo baixinho.
— Pois eles que fiquem aí, porque estamos indo embora. —

Observo Axl também querendo sair de fininho com a família.

— Acho que já está na hora também, quase dez da noite. Uma já

dormiu, daqui a pouco a outra faz o mesmo — Giulia diz.

— Família, eu e Giulia estamos indo, as crianças precisam dormir

— aviso, atraindo a atenção deles. — Aubrey, irmão, obrigado pelo jantar.

Depois de nos despedirmos de todos, Axl aproveita para ir embora

também, logo todos deixam a casa de Killz.

FIM

 
É surreal ter finalizado a série “Herdeiros da máfia”. Foram anos de
espera e eu sei que valeu a pena cada minuto. Hoje, sinto que o meu dever
com esses meninos foi cumprido após uma trajetória de quase sete anos.
Juro que terminar de escrever o Spencer foi o meu maior desafio, mas no
final deu tudo certo! Chorei muito quando terminei, foi um choro de
alegria, alívio, conquista. Ter chegado até aqui é incrível, uma sensação
inexplicável.
Obrigada por tudo, mafiosas Knight! Mais um ciclo se fecha, mas
outros serão abertos.
Finalizo esse agradecimento muito grata as minhas parcerias do
Instagram que estão dando o melhor de si para me ajudar, a minha assessora
Vanessa Pavan, são quase dois anos de estrada, te adoro.
Obrigada a você Andrea, minha revisora maravilhosa que sempre
está disponível para mim e é uma excelente profissional! Já vamos fazer
três anos trabalhando juntas e você foi um presente em minha vida diante de
tantas decepções.
 
Adoro vocês mafiosas Knight!
 

 
KILLZ (Herdeiros da máfia Livro 1)
 
Tudo que um verdadeiro herdeiro da máfia precisa ter, Killz
James Knight tem. O mais velho de cinco irmãos, Killz é o chefe da máfia
londrina, mas seu maior interesse pelo cargo mais importante nos negócios
ilícitos da sua família não é o poder, e sim um avassalador desejo de
vingança. Um lobo em pele de cordeiro.
É assim que as pessoas que o conhecem o definem.
Superficialmente calmo e apreciador da prática da boa vizinhança.
Intimamente um verdadeiro monstro autoritário, possessivo e sedento por
violência.
Para o azar do rival acusado de matar seus pais e alvo do novo líder
dos Knight, pois Killz tem um plano arquitetado para destruir o temido
mafioso e pretende usar sua filha, a doce e inocente Aubrey, para conseguir
o que quer. Custe o que custar.
De um lado, um homem em busca de vingança. Do outro, uma
mulher alheia às maldades que cercam sua vida.
Entre eles, um sentimento desconhecido para ambos que pode
mudar completamente o rumo dessa história. Em um perigoso jogo de
sedução, mentiras e sexo, a máfia inglesa nunca foi tão excitante. 
 
 
 
 
 
 
 
AXL (Herdeiros da máfia Livro 2)
 
Segundo livro da série Herdeiros da Máfia. Obs: para entender a
história, deve-se ler a série em ordem.

Axl James Knight está agora em um grande impasse se deve cumprir o


acordo firmado por Killz e Conan ou não.

Casar-se com Alessa, a segunda herdeira de Conan Russell, é o único meio


encontrado para selar um acordo entre as duas maiores organizações
mafiosas de todos os tempos. É seu dever. Será que ele cumprirá mesmo
amando outra mulher?

Axl está disposto a tornar a vida da sua prometida um inferno. Porém, ele
vai perceber que quebrar a princesa da máfia será mais difícil do que
imagina, e que o amor e o ódio podem se entrelaçar nesse jogo sádico.

 
 
 
 
EZRA (Herdeiros da máfia Livro 3)
        “O monstro coordena toda ação, mas é meu corpo que executa e
promove o pavor.”

Ezra James Knight era a sombra do homem que um dia foi. Descobertas o
fizeram se render à completa escuridão. O coração que um dia bateu foi
substituído por um duro, frio e difícil de quebrar. Ezra optou por ser
inabalável, egoísta e cruel.

Sua vida estava em pedaços, mas jamais deixaria que as pessoas o vissem
tão machucado. Suas barreiras se ergueram e ninguém seria capaz de
derrubá-las. Muito menos aquela que tanto mentiu e que agora dizia o amar:
a gêmea da mãe do seu filho.

Hailey Slobodin sempre esteve longe do submundo, mas sua vida mudou
após descobrir que tinha um sobrinho e uma irmã gêmea. Porém, não houve
tempo para conhecê-la, a máfia acabou com esse desejo quando tirou a vida
de Scarlet, deixando-a com um buraco enorme em seu coração e uma
criança para criar. A mulher foi atrás de vingança e proteção, mas ela não
estava pronta para a atração avassaladora e os perigos que uma
aproximação com Ezra poderia causar.

Duas pessoas corrompidas, mas de personalidades diferentes. A única coisa


que eles têm em comum é um dilema: proteger quem ama, mesmo que para
isso precise passar por cima dos próprios princípios.
 
 
 
 
CARTER ( Herdeiros da máfia livro 4)

              Carter James Knight é reservado, observador e intimidador. Após


quatro anos da sua partida de Londres, longe da sua família, ele continua
focado em si mesmo e em sua vida caótica, depois da perda do seu grande
amor.
Muriel Scott é uma das coisas em que ele está focado. Mesmo
odiando estar.
Ela foi entregue a ele como forma de pagamento de uma dívida. Ele
poderia não aceitar, mas o seu odioso senso de justiça resolveu dar as caras.
Ela era uma vítima e ele jamais deixaria uma inocente nas mãos de pessoas
sanguinárias.
Agora ele tem que proteger a pequena ruiva e tentar manter suas
mãos longe. Mas ficarem tão próximos é como estar em frente ao penhasco
sabendo que irão cair em algum momento. É inevitável.
Eles sabem disso e se questionam se a queda é realmente tão
dolorosa.
 
 
SOBRE A AUTORA
 
 Jessica Santos nasceu em 22 fevereiro de 2001, na Bahia. Em 2014,
surgiu o gosto pela leitura, e em 2015 para 2016 ela decidiu que escreveria
o seu primeiro romance e não quis mais largar a escrita. Já tem lançado
alguns livros na Amazon, entre contos e novelas, e atualmente está
trabalhando na série Herdeiros da Máfia, um de seus maiores sucessos que
vem conquistando os leitores nas plataformas on-line.
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