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Direitos autorais do texto original copyright © 2021, BRENDA

RIPARDO, O SENHOR DA MÁFIA.

Capa: Magnifique Design

Diagramação: Brenda Ripardo

Preparação de texto/Editor: Graci Rocha

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desse livro pode ser utilizada
ou reproduzida sob quaisquer meios existentes — tangíveis ou intangíveis — sem
autorização por escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98,


punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Este livro segue a norma-padrão do novo acordo orográfico da língua


portuguesa, mas há muitas abreviações como o "tá", "tô", “pra” e "pro", de forma
que o texto fique o mais natural e verossímil possível.
“Se existe uma forma simples de definir o homem à minha frente, eu diria
que no reino animal, Noah é aquele no topo da cadeia alimentar. Um predador
que controla as suas presas e abate os indivíduos mais vulneráveis.”

Noah Carbone é o primogênito do magnata do cassino. Um homem


perspicaz, intenso, dono de um olhar devasso e letal.

Depois da morte do pai, ele assumiu o lugar de Don na família Carbone, e


com isso, está disposto a mudar algumas tradições antigas.

Mas quebrar promessas pode ser um erro irreparável.

Ela é linda, prepotente e tem o senso de justiça forte. Odeia negócios ilícitos
e mafiosos, no entanto, é difícil fugir desse mundo sombrio e perigoso quando se
vê apaixonada pelo chefe da família Carbone.

O seu lado racional diz que é errado amar um homem tão distorcido e
impiedoso, mas o seu coração pensa o contrário.

Noah é um predador e ele está decidido a torná-la sua.


Ela sabe que no momento em que se entregar de corpo e alma a ele, não
poderá mais fugir dessa paixão intensa e avassaladora.

Neste romance intenso e de tirar o fôlego, onde amor e violência se juntam,


o chefe da máfia se vê preso entre o dever e o coração.
Este é um romance que tem como pano de fundo a Máfia
Italiana, mas se você espera encontrar cenas de extremo abuso,
uma história dark, detalhes sobre as negociações dentro da máfia e

burocracias ou torturas, este livro NÃO corresponderá às suas


expectativas. Este livro é um romance. O foco aqui é o nosso casal
principal e o relacionamento deles.

A história narrada nas páginas seguintes, foi escrita baseada


em muito estudo sobre a Máfia Italiana, e claro, usando o bom

senso da licença poética e minha criatividade.


Este é um romance hot e pode conter gatilhos e temáticas
delicadas como álcool, drogas, abuso verbal e violência, incluindo

temas de consentimento questionável, linguagem imprópria e


conteúdo sexual gráfico.

Apesar do conteúdo sensível, esse NÃO é um romance dark.


Mas é necessário reforçar que por se tratar de uma história sobre a

Máfia Italiana, certas passagens podem ser desconfortáveis ao

leitor.
A autora não apoia e nem tolera as ações ilegais e

comportamento de alguns personagens retratados neste livro. A


atenção do leitor é aconselhada. Não leia se não se sente

confortável.

Está é uma obra de ficção destinada a maiores de 18 anos.


Alicia Keys – Girl on Fire

Malia J – Smells Like Teen Spirit

Arctic Minkeys – Do I Wanna Know?

Play With Fire – Sam Tinnesz

Adele – Love In the Dark

Ariana Grande – Dangerous Woman

PLAZA – All Mine

Bishop Briggs – White Flag

Why Don't We – Look At Me

Zayn – Sweat
Rihanna – Man down

Michael Kiwanuka – Love & Hate

Sia – Fire Meet Gasoline

Royal Deluxe – Bad

Imagine Dragons – Natural

Justin Timberlake – What Goes Around… Comes Around

2WEI feat. Edda Hayes – Sequels – In the End

Sia – Loved Me Back To Life

Black Atlass feat. Jessie Reyez – Sacrifice

Lana Del Rey – Without You


“Como uma chama, você veio até mim, como fogo que encontra

gasolina. Eu estou queimando viva, eu mal posso respirar quando


você está me amando.”

~ Sia, Fire Meet Gasoline


Montreal, Canadá

Liam e Julian entram na sala.

— Se aproxime — ordeno e de queixo erguido e ombros

eretos, Liam faz o que mando. É bom ver a segurança que tem.
Para entrar no nosso mundo, você não pode estar hesitante, porque

isso pode ser o seu fim.

Levanto da cadeira de couro e dou a volta na mesa. Julian,

meu irmão e subchefe da família Carbone, ocupa o meu lado


esquerdo e o conselheiro, o lado direito, enquanto o garoto fica à

minha frente.

Paro alguns passos de distância e focalizo os olhos ansiosos

e vidrados de Liam. Sem conduzir a atenção diretamente para


Julian, espalmo a mão no seu rumo e ele apanha a faca em cima da

mesa de madeira e me entrega.

Faço um gesto leve com a cabeça para que Liam me dê sua


mão, que vem aberta no ar e de maneira estável. Seguro com

firmeza e ainda o encarando, faço um corte profundo no dedo

indicador.

Fico feliz quando vejo que não há nenhum lampejo de

oscilação em seu rosto e se mantém com a posição rígida.

Deixo a atenção cair sobre o dedo sujo de sangue e Liam me

segue no gesto, observando respingar no chão.

Sem que eu tenha pedido, Thomas, o meu conselheiro, me

oferece um cartão católico com imagem de Santo, que troco pela


faca. Coloco-o em cima da mão espalmada de Liam e pego o

isqueiro que guardo dentro do terno.

Encarando os olhos vorazes de Liam, eu queimo a ponta do

cartão.
— Esta noite, Liam Graham... — começo a falar e ele mantem
os olhos bem conectados aos meus, atento as palavras que saem

da minha boca e embora a respiração esteja um pouco acelerada,

não relaxa a postura nem por um segundo.

Sempre gostei desse garoto e consigo enxergar potencial

nele. Sei que será um grande homem na nossa organização. Talvez

o mais inteligente até agora. Liam é mais esperto do que aparenta


ser.

— Você nasce para uma nova vida e para família Carbone.

Liam me dá um aceno firme de cabeça e os lábios prensados

em uma linha reta.

— Se trair o juramento, se violar o que sabe sobre esta vida,

ou trair os seus irmãos a qualquer momento, você vai queimar no

inferno como o santo queimando em suas mãos. Você aceita?

— Sim, eu aceito.

Sorrio ao perceber como a voz de Liam soa firme.

Ainda com o papel em chamas, ele se aproxima da mesa e

quando o fogo se apaga, deixa as cinzas caírem sobre o livro aberto

dos mandamentos da máfia. Meus homens parecem satisfeitos e


todos cumprimentam o nosso novo membro, que sorri animado com

a recém-adquirida vida.
Mesmo depois de meses da morte do papà[1], ainda é
estranho estar sentado no lugar que foi dele e ouvir os pedidos de

ajuda de alguns associados. Eu sempre soube que a coroa seria


minha, mas quando a consegui por causa da sua morte, foi difícil

assumir o lugar de Don[2] enquanto eu fingia que o luto não me


afetava como afetou os meus irmãos.

É claro que as pessoas falam de mim e grande parte não


coloca fé na minha liderança. Afinal, aos olhos de quem está de

fora, eu sou novo demais para ter um cargo de importância máxima

na família Carbone. O que eles não sabem, é que estão


completamente errados ao meu respeito.
Eu amo minha família e mesmo que no começo meu pai não

tenha desejado essa vida para mim, eu cresci para ser o líder da
família Carbone.

E não vou deixar ninguém duvidar da minha capacidade como


chefe, é claro.

Vittorio está sentado à minha frente, faz uns dez minutos que

está me prometendo lealdade e qualquer outra coisa que eu quiser,


se eu investir dinheiro no seu negócio e salvá-lo de falir. Tenho a

impressão de que ele me dará a filha de vinte anos se esse for o

meu desejo.

Respiro fundo e ergo uma sobrancelha para o homem que

tem idade para ser meu pai, talvez um avô e que está quase se
ajoelhando diante dos meus pés. Pelo que lembro bem, ele não

gostava muito de mim. Agora, está me oferecendo a lealdade em

uma bandeja.

Vittorio não sabe que lealdade não é algo que possa ser
oferecido dessa forma. No entanto, vejo o desespero nos olhos

desse homem velho e sei que ele fará qualquer coisa que eu quiser.

Acredito que existem duas coisas que movem as pessoas. O

dinheiro e o desespero. E digamos que Vittorio está bastante


motivado.

— Só vou dizer isso uma vez, Vittorio. Sempre mantenha a

porta da sua casa aberta pra nós e não ouse esquecer este dia — é

o que falo, colocando toda autoridade que possuo na voz.

— Obrigado, Don Carbone. Obrigado.

Levanto da cadeira de couro macio, abotoo o terno feito sob

medida e dou a volta na mesa, o homem fica em pé também e

sorrindo, ele pega minha mão, selando o nosso compromisso, e

antes de ir embora, me dá um beijo na bochecha esquerda, depois

na direita.

Thomas o acompanha até a porta enquanto eu me aproximo


do aparador com a adega pequena do escritório e sirvo whisky em

um copo de cristal. Bebo a dose de uma vez e me preparo para sair

da sala.

— Ele é um otário — Thomas comenta com um leve tom de

sarcasmo. — Mas é inteligente o suficiente para não fazer merda.

— Meu pai gostava dele. Vittorio deve servir para alguma

coisa no fim das contas — digo e meu consigliere[3] assente.

Assim que saímos do escritório, meus ouvidos são atingidos

por batidas de uma música pop remixada que eu não conheço. Não
preciso ser um gênio para chegar à conclusão de que isso é coisa

da minha irmã mais nova. Quando saí do salão, estava rolando

“Balliamo” do Fred Bongusto, um dos cantores favoritos da nonna.[4]

Se eu não soubesse que hoje é a festa de aniversário da


vovó, não faria a mínima ideia do que está acontecendo. Romie está
no meio do salão, segurando a mão da nonna e rodeada de

senhoras de cabelos brancos que tentam dançar conforme as


instruções da minha irmã.

Meus lábios se curvam em um meio sorriso ao observá-las.

— Encontrei junto da correspondência. Eva disse que chegou

hoje de manhã — Julian[5] fala ao parar ao meu lado.

Olho o envelope aberto e sem remetente nas suas mãos


antes de pegá-lo. De dentro, tiro um cartão na cor salmão e com

algo escrito em letra brilhante e curvilínea.

“Feliz aniversário, Sra. Carbone. Desejo anos saudáveis e


que os negócios continuem prosperando.”

— Que os negócios continuem prosperando? Que merda é


essa?

— Não faço ideia — Julian confessa.


Passo o cartão para Thomas, que inspeciona como alguém

que quer desvendar algo misterioso escondido.

— Sem remetente e escrito à mão. Estranho.

Olho meu irmão por uma fração de segundo e volto a atenção


para a vovó e Romie, que tem um sorriso largo e ingênuo
desenhando os lábios carnudos enquanto move o corpo de um lado

para o outro.

— Me avise se algo assim aparecer de novo — aviso a Julian


que assente. O conselheiro me entrega o envelope e eu guardo

dentro do terno.

— Redobrarei a segurança da mansão — Thomas avisa.

— Ainda não. A mamma[6] vai ficar preocupada se perceber


algo. Coloque mais alguém na guarita e reforce a segurança lá.

O conselheiro assente, pegando o celular do bolso interno do

blazer e os dedos digitando uma mensagem rápido para alguém.

— Feito.

Assinto ao ouvi-lo.

Minha mãe se aproxima de nós com um sorriso pequeno

emoldurado no rosto. Sem dizer nada, envolve a face do Julian


entre as mãos pequenas e beija uma bochecha de cada vez, depois
vai no rumo de Thomas e faz o mesmo. Por último, ela para bem na
minha frente e respira fundo antes de segurar meu rosto para beijar.

— Podemos conversar, filho?

— Claro, mamma.

Ela se engancha no meu braço e me conduz até fora do


salão, caminhamos até próximo do piano no hall de entrada. De

onde estamos, ainda dá para ouvir a música rolando e não


incomoda tanto como antes.

— Vá buscar a Hayley.

— Ela não quer descer.

Minha mãe se afasta de mim, apenas o suficiente para ficar


de frente e olhar nos meus olhos. Leva as mãos até os meus

ombros e faz carinho antes de abrir um sorriso triste, que me deixa


incomodado.

— Vocês são casados, precisam aparecer juntos nas festas


de família — fala antes de se afastar de mim e ir embora. Fico com

um gosto amargo na boca e contraio o maxilar. Olho para a escada


e pondero se devo subir e arrastar Hayley a força para socializar

com a minha família.


Estou cansado de tentar lidar de forma passiva com uma
garota dezessete anos mais nova e que me odeia tanto, que prefere
morrer a estar casada comigo.

Não sou um santo de qualquer forma, ela me odeia com todas

as forças por ter sido obrigada a se casar comigo e eu não estou


exatamente fazendo algo para que minha esposa mude de ideia.

Dou uma respirada funda antes de subir as escadas até o

quarto no segundo andar. Tento me acalmar antes de entrar, nunca


quis que Hayley tivesse medo de mim, apesar de ter certeza de que

medo deve ser a última coisa que aquela garota sentirá em relação

a mim.

Somente ódio e repulsa.

Ao abrir a porta, me surpreendo ao encontrá-la sentada na


beirada da cama, chorando. Assim que me nota, limpa as lágrimas e

desvia o rosto para o lado. Ela está usando um vestido longo de

seda e tem os pés descalços. Hayley é linda e qualquer homem se

orgulharia de ter uma mulher tão bonita como ela. Infelizmente, não
somos compatíveis e não vejo como fazer essa relação dar certo.

— Você precisa descer.

— Não vou — resmunga.


— Isso não é um pedido, Hayley — aviso. — É uma ordem.

Ela solta uma risada seca que me faz trincar os dentes, em

seguida, vira o rosto com olhos vermelhos para mim e se levanta.

— Eu não vou. O que vai fazer? Me arrastar pelos cabelos até

lá embaixo?

— Não pretendo chegar a esse ponto — retruco, fazendo a


garota chorar mais ainda. Tento me aproximar e ela recua de

imediato.

— Não quero descer. Eu odeio isso tudo, você não vê?

— Eu vejo, mas você é minha esposa.

— E isso é uma merda — xinga e eu fico pensando se no

fundo, ela não tem alguma descendência italiana. Essa garota não é

fácil.

— Vamos, a mamma quer você lá embaixo.

— Me deixa aqui. Não faz diferença pra você se vou descer


ou não. Eu sei que não faz questão que eu esteja lá.

— Não seja tão infantil, é aniversário da nonna e ela sempre


tratou você bem. Descer e fingir alguns sorrisos, é o mínimo que

pode fazer por ela e não vai te matar.


Hayley espreme os lábios pintados de gloss pensativa e cruza

os braços na altura dos seios.

— Eu sei.

— Então vamos.

— Não quero — murmura.

— Hayley, não me tire do sério, vem. Não vou falar de novo.

Ela funga.

— Sempre odiei as coisas que meu pai fazia pra vocês e no


final, sobrou pra mim essa merda. Sua mãe e avó são incríveis, só

que eu não gosto de fazer parte dessa família, Noah. Eu queria

fazer faculdade, curtir a minha vida como qualquer outra garota

normal e não ser a esposa de um Don.

— Eu sei.

— Não queria ter me casado com você, eu sinto que a nossa

relação é a minha prisão e que não posso fazer nada além de viver

como um animal enjaulado.

Enfio a mão no bolso da calça social ao assentir, pensando na

melhor forma de lidar com ela.

— Isso é óbvio também.


— Amanhã faz nove meses que minha mãe morreu, você

sabia disso? — pergunta, de repente.

— Sim — eu minto. Tenho coisa demais na cabeça para

lembrar da morte de todas as pessoas que entraram na minha vida.

— Você é um péssimo mentiroso — retruca de forma

prepotente e eu respiro fundo, buscando paciência no fundo do meu

ser. — Estou chorando, porque eu sinto falta dela e ao mesmo


tempo, eu a odeio por ter deixado isso acontecer comigo. Por ter

sugerido a ideia desse casamento.

Suspiro pesado.

— Eu entendi, você é infeliz. Eu também sou, não consegue

enxergar isso?

— Eu gostava de outro cara e eu fui obrigada a casar com...

com um... — a frase dela morre.

Arqueio uma sobrancelha.

— Termine de falar, Hayley — ordeno e ela fica calada. —


Você me trata como se eu fosse um monstro e talvez eu seja

mesmo, mas desde que aceitei a porra desse casamento, eu não

toquei em você. Nenhuma vez e nem reivindiquei o que é meu.


— Você nunca vai me tocar ou reivindicar o que é seu, porque

você não é o meu dono. Nunca será.

Sorrio com sarcasmo.

— Você é minha.

— Não sou. Volta lá pra festa da sua avó e me deixa aqui

sozinha, odiando a merda da minha vida.

— Esse casamento não é a sua prisão...

— Não é? Ninguém pergunta o que eu quero e estou fadada

a ficar com um homem que eu não amo pra sempre. Como isso não
é uma prisão, Noah? É fácil pra você, a sua vida não mudou nada

depois do nosso casamento.

Inspiro e prenso os lábios, sentindo a paciência se esgotar.

— Você pode sair, nunca te impedi de fazer isso. Compre um

carro novo, torre a merda do meu dinheiro e o que quiser, Hayley.

Ela revira os olhos lacrimejados e bufa.

— Não é disso que se trata, Noah.

— Então é o quê?

— Minha vida acabou quando eu me casei com você.


Não vou mentir, ouvir isso mexe um pouco com a porra do

meu ego. Eu sempre tratei Hayley bem e nunca a impedi de fazer


nada, e ela sempre me tratou como se eu fosse um monstro que a

está mantendo em cárcere privado.

— Não posso fazer nada. Não posso seguir meus sonhos,


porque preciso ser uma boa esposa, como a sua mãe e a sua avó

foram. Ficar nessa casa, cuidando desses mafiosos e me

preparando pra ser a matriarca da família Carbone. Eu nunca pedi


isso. É um fardo que estou sendo obrigada a carregar.

Olho para Hayley e mantenho os nossos olhos presos por um

longo segundo. Lembro como se fosse ontem, a expressão de


desespero no seu rosto quando nossas famílias decidiram que nos

casaríamos.

É claro que eu não queria esse casamento também, mas

além de ser uma ordem do Don, eu achei que estivesse fazendo o

certo. Protegendo Hayley. A verdade é que eu condenei uma garota


de vinte anos que nunca gostou dos negócios ilícitos do pai.

Na noite do nosso casamento, ela chorou e implorou que eu

não a obrigasse a fazer nada. Isso me deixou irritado, porque nunca


passou pela minha cabeça forçá-la a fazer sexo comigo.
Ela é uma garota.

Uma garota condenada a viver infeliz para sempre.

— Estou cansado disso, Hayley — é o que eu digo.

Ela franze a testa, confusa.

— O quê?

— Você vive desrespeitando a mim e a minha família. Isso é o


que nós somos e não vou mudar só porque você odeia tudo o que

eu represento. Estou cansado de discutir com você todos os dias.

Nós estamos batendo na mesma tecla e nada vai mudar.

— Por que não me mata logo? Por que você não fica viúvo de

uma vez e resolve a merda do seu problema comigo?

— Vou fazer algo melhor.

— Vai fazer o quê?

— Acabar com o nosso casamento.

Os olhos dela esbugalham, abre a boca e não consegue dizer


nenhuma palavra. Não posso culpá-la de estar tão surpresa. Não

lembro de alguma vez ter acontecido algo parecido na nossa família,


porque para máfia, casamentos são como contratos que não podem
ser quebrados.
E eu acabei de quebrar um.

Mas talvez esteja na hora de fazer algumas mudanças nas


tradições da família Carbone.
— Você perdeu o juízo, Noah Octávio Carbone? — a mamma
grita, me fazendo fechar os olhos por alguns instantes.

Não importa em qual posição da hierarquia eu esteja, ela vai


continuar me tratando como se eu fosse um garoto que deve

sempre obedecê-la.

A nonna, que está sentada no sofá do escritório, nos observa.


Por incrível que pareça, a matriarca ainda não abriu a boca para

argumentar sobre como os casamentos funcionam na nossa família.

— Ragazzo, tu sei impazzito?[7] — a mamma pergunta, ainda

alterada.

Eu amo minha mãe e ela é a única mulher além da nonna

para quem eu abaixo a cabeça e deixo que grite comigo. No


entanto, não vou voltar atrás com a minha decisão e não existe

nada que ela possa fazer para que eu mude de ideia.

— Isso nunca aconteceu na nossa família, Noah Octávio —

ela fala de novo, quase gritando. — Não pode se divorciar. Tem que
levar a sério o seu casamento como os votos que iniciaram você na

máfia.

— Eu sei.

Mamma tem razão.

Casamentos no nosso meio foram sempre intensos, como


uma jaula que te mantém preso pelo resto da vida. E eu não ousaria

fazer isso se fosse apenas um caporégime[8], ninguém nunca

aceitaria. Seria uma desonra para toda a família e isso com certeza
desencadearia uma guerra.

O pai da Hayley era somente um ex-associado, se fosse um

membro oficial da nossa organização e estivesse vivo, me

repreenderia por estar abrindo a porta da jaula e deixando a sua


filha ser livre.

Mas eu sou o chefe e isso no meu mundo quer dizer muita

coisa.
— Casamento não é algo que você possa simplesmente jogar
no lixo porque está cansado. Eles são sagrados. Então me diz o

motivo pelo qual quer pisar nas tradições da nossa família desse

jeito?

— Não é óbvio, mamma?

Ela começa a andar de um lado para o outro no escritório e


coloca uma mão na cintura, enrugando todo o rosto em reprovação.

Os convidados da vovó foram embora faz quase uma hora e

apesar de não gostar de ter minha vida pessoal em pauta, decidi

avisar a elas sobre a decisão. De qualquer forma, não tinha jeito de

esconder um assunto desse da família.

— Não vou deixar que isso aconteça. Você continuará casado

com aquela ragazza[9] e não se fala mais nisso.

— Não vou, mamma.

Ela suspira irritada e leva as mãos para o alto, e começa a

proferir um monte de palavrões em italiano e nossa discussão vai

toda para a sua língua nativa. A mamma começa a falar de como


estou errado e que continuarei casado. Em respeito a mulher que

me deu a vida e me criou, escuto tudo em silêncio. Diferente do

Julian, eu sou mais controlado e nunca fiz o tipo volátil.


No momento em que ela nota que não vou voltar atrás, senta

enfurecida no sofá ao lado da vovó.

— Tem certeza sobre isso, bambino[10]? — a nonna quer

saber e noto que está estranhamente calma.

— Absoluta.

— Não faça isso com aquela ragazza, Noah. Quando

souberem que ela foi casada com você, ninguém terá coragem de
chegar perto dela — a mamma diz.

— Mamma, respeite minha decisão, vou me divorciar.

— Ah, per l'amor di Dio, figliolo[11] — fala, quase

choramingando. — Não faça isso, Noah. Ela não é um brinquedo


que cansou de usar na cama e agora vai jogar fora.

Inclino-me para frente e tamborilo os dedos no móvel da

mesa de centro, pensando por alguns instantes se devo ou não


contar a ela que o casamento não foi consumado. Acabo concluindo
que ela descobrirá cedo ou mais tarde.

— Vou pedir anulação do casamento na igreja.

Mamãe escancara a boca, chocada.


— Impossível. Acha que pode anular algo assim de forma

simples? As coisas não são tão fáceis como parecem. Até mesmo
para nós, existe limite para tudo, meu filho.

— Por que não? O casamento não foi consumado e vamos

concordar que ela casou sob pressão e medo. O padre, o bispo...


todos vão entender.

Ela levanta os olhos para me encarar e vem até próximo de


mim, o rosto todo enrugado, demonstrando a confusão.

— Como assim, não? Vocês estão casados há quase nove

meses e dormem no mesmo quarto. Como não foi consumado? Não


consigo acreditar nisso.

Ergo uma sobrancelha para a minha mãe. Não preciso dizer


nada para ela entender o que acontece de verdade no meu

casamento e como sobrevivi durante todos esses meses. Por alguns


segundos, a mamma fecha os olhos com força e respira fundo,

balançando a cabeça de um lado para o outro, decepcionada


comigo.

— Não quero ouvir mais nada, Noah Octávio.

— A igreja precisa de uma reforma e aposto que o padre


Augusto vai amar um conjunto de vitrais feito na Itália, a igreja vai
parecer uma catedral.

— Não desdenhe tanto assim de um homem de Deus —

resmunga.

— Falo sério.

— Pare com isso.

— Continuarei protegendo Hayley.

— O quê?

— Não foi por isso que nós nos casamos? Por que ao meu

lado ela estaria segura? Não se preocupe, mamma, nada


acontecerá com aquela garota. Tem a minha palavra.

Ela engole em seco e permanece em silêncio.

— É isso que Hayley quer também? — a nonna questiona e


eu lembro o que a Hayley falou sobre ninguém perguntar o que ela

quer.

— Sim.

— Não vou mentir e dizer que concordo com isso, bambino,

mas você tem poder para fazer o que quiser — a nonna diz.

Assinto.
— O que vai ser dela, Noah? Ela é só uma garota e precisa
de nós. Hayley precisa de você.

— Eu sei, mamma. Não vou desampará-la e ela continuará


sendo minha responsabilidade, só não será mais a minha esposa.

— Se continuar com isso, vai destruir as tradições da nossa

família.

— Talvez esteja na hora de mudar algumas tradições. Eu sou


o Don e essa decisão já foi tomada. E o mais importante, é o que eu

quero.
Ser o chefe da família engloba muitas coisas. Uma delas é
não poder encerrar o assunto do meu casamento de vez, porque
meu conselheiro quer me fazer ver as coisas de outro jeito.

É o trabalho dele me dar conselhos, mas isso não significa

que eu esteja gostando de ser contrariado. Nunca gostei, na


verdade. É uma merda.

Sentado à mesa do escritório da mansão, fumo meu cigarro e

escuto Thomas falar. Como não vou conseguir fazê-lo calar a boca,
então deixo que fale, mesmo que me tire do sério.

Odeio que ele seja tão cauteloso, equilibrado e coerente. São

as características básicas para ser um consigliere, só que irrita às


vezes. Não gosto de ouvir que eu estou errado sobre alguma

decisão que tomei.

E é basicamente isso que ele está falando nas entrelinhas.

Estou errado de querer me divorciar.

— Você precisa se casar também. Tem um cargo importante e

ainda está solteiro — retruco, fazendo Thomas se remexer na


cadeira ao afrouxar o nó da gravata.

É claro que ele não quer casar no momento. Meu conselheiro

está aproveitando bem as noites e as belas mulheres que passam


pela sua cama. Por que ter apenas uma, se você pode ter todas?

— Eu sei, vou fazer isso em breve — é o que diz, se


esquivando do assunto. — Hayley é linda e jovem. Não quer tentar

antes de desistir?

Não.

— Não vai ser pior pra ela depois? Nenhum cara aqui em

Montreal vai querer tocar nela — Thomas fala quando fico em

silêncio.

— Isso é ruim? Pra mim é sinônimo de que ela estará sempre

segura. Castro qualquer homem que ousar tocar nela — aviso,

como se fosse simples. Talvez seja, é só cortar bolas.


Deixar Hayley ir, mexe com meu ego de um jeito absurdo. Nós
nos casamos, eu não a toquei nenhuma vez e ao dar a liberdade a

ela, estou permitindo que outro homem faça o que eu não fiz.

Além de mexer com o meu ego, me deixa puto também.

Julian, que também está sentado na cadeira ao lado de

Thomas e não disse nenhuma palavra desde que entrou no


escritório, me olha com certa intensidade. Quando decidi avisar aos

dois sobre o meu divórcio, esperava um pouco de resistência. Só

não pensei que isso fosse me irritar tanto.

— Esqueça por um momento que você é o meu irmão mais

velho e presta atenção no que vou falar — ele diz e como em modo

automático, ergo uma sobrancelha.

Com o cigarro entre os lábios, dou uma tragada e assinto,

incentivando meu irmão a continuar.

— Alguma vez você tentou? Tentou fazer o seu casamento

dar certo? — questiona e eu não tenho vontade de responder. —

Hayley é difícil, eu sei, só que ela é sua. É a sua esposa e você


precisa aprender a lidar com ela.

— Lidar com ela não é o que venho fazendo nos últimos

meses?
— Você entendeu o que eu quis dizer.

— Não entendi! — retruco, quase gritando.

Cerrando os dentes, bato a ponta do cigarro no cinzeiro feito

de murano, controlando a vontade de mandar meu irmão ir se foder


com toda essa história de aprender a lidar com a Hayley.

— Acabou? — retruco, erguendo o queixo na direção do


Julian. — Ou tem mais algum conselho sobre como eu posso salvar

o meu casamento?

Julian suspira.

— Sim, eu acabei.

— E você acabou também? — pergunto a Thomas, que cruza

o olhar com o meu e concorda com um aceno de cabeça.

— Sim.

— Então, os dois podem ir embora.

Encosto na cadeira acolchoada e faço um gesto com a mão

na direção da porta. Sem dizer mais nada, Julian e Thomas se


levantam e saem do escritório, me deixando sozinho com o meu

cigarro e a decisão do divórcio.


Entro no quarto tropeçando e assustando Hayley, que está
deitada na cama, usando uma camisola de seda bonita e com um
pouco de transparência nos seios. Levo a mão até o topo da cabeça

e passo os dedos entre os cabelos, respirando fundo.

Depois que Julian e Thomas me deixaram sozinho no


escritório, eu bebi mais do que deveria e a minha cabeça está
rodando um pouco. Não lembro qual foi a última vez em que eu

fiquei bêbado. Não gosto de me sentir assim, como se não tivesse

controle sobre mim e estivesse prestes a fazer uma idiotice.

Jogo-me no sofá de frente para a tevê e começo a tirar os

sapatos. Hayley se aproxima de mim, fazendo com que o cheiro de


lavanda invada meu nariz.
— Você bebeu — ela diz o óbvio.

— Você quer mesmo o divórcio?

— Sim — Hayley responde sem pestanejar.

— Por que está usando a merda dessa camisola? — retruco,

olhando-a com as sobrancelhas erguidas.

Ela parece confusa.

— Como?

— Você sabe que é gostosa, então por que está usando a

merda dessa camisola? Te olhando agora, tenho vontade de pegar o

que é meu — digo, fazendo os olhos dela se arregalarem.

Não sou apaixonado por Hayley, longe disso. Também não

sou cego, ela é linda e gostosa. Não acharia ruim tê-la na minha

cama.

Levanto e Hayley dá um passo para trás, abraçando o corpo


com as próprias mãos e fazendo cara de choro.

— Não faça isso — pede.

— Por que não?

— Eu sou virgem, não quero que minha primeira vez seja

assim — choraminga, me fazendo suspirar e me sentir um lixo. —


Não me obrigue a isso. Por favor. Eu sei que você pode ser um
homem implacável quando o assunto são os negócios, mas não

seja um monstro pra mim.

Respiro fundo.

— Merda — murmuro.

Hayley começa a chorar, me deixando nervoso. Eu nunca a vi

com medo de mim e hoje, ela está me olhando como se eu fosse

uma aberração com sete cabeças. Ela me pediu para não ser um

monstro para ela, mas talvez eu já seja.

Sento no sofá de novo, em silêncio.

Devagar, ela se aproxima. Não chega muito perto, a garota

mantém uma distância segura.

— Você vai voltar atrás, não é? Com o nosso divórcio?

Ao ouvir a pergunta, eu viro rosto e a encaro por quase uma

eternidade. Hayley não gosta de mim ou do que eu faço, já deixou


isso claro como água cristalina. Se continuarmos casados, estou

dando uma sentença de que ela será infeliz para sempre.

E eu não quero a culpa de fazer uma garota tão nova como

ela ser infeliz pelo resto da vida.

— Não.
Hayley dá outro passo na minha direção e eu desvio a

atenção dela.

— Você pensou nisso.

— Tanto faz.

— Noah...

— O que foi, Hayley?

Surpreendo-me ao vê-la sentar ao meu lado no sofá.

— Quando a minha mãe sugeriu o nosso casamento, ela


achou que estava me protegendo das coisas que meu pai fez. Eu

sei que ele era um homem... horrível? Sim, eu acho que essa é a
palavra — murmura e dá uma risada seca. — Eu o odiava com

todas as minhas forças.

Fico em silêncio.

O pai da Hayley era mesmo um homem horrível. Não

conseguia manter o pau dentro das calças e tratava a esposa como


se fosse um objeto. Por anos foi o nosso associado e quando

decidiu que não queria mais ter envolvimento com a nossa família,
achou que poderia passar a perna nos russos.

Ele era um homem ambicioso e foi isso que o matou.


— Se ele estivesse vivo, eu sei que me daria pra alguém,

como uma moeda de troca.

— Ele era um pedaço de lixo — é o que digo, fazendo-a


suspirar.

— Minha mãe achou que estaria garantindo... protegendo


minha vida se eu me casasse com você, só que ela me condenou

em vez de salvar.

Engulo em seco, sentindo a garganta amargar.

Ainda lembro no dia em que a mãe dela apareceu na porta da


mansão, pedindo ajuda. Depois que os russos mataram o seu
marido, elas conseguiram fugir de Vancouver para cá de carona.

A mamma e mãe de Hayley não eram melhores amigas,

mesmo assim, ela não pensou duas vezes antes de acolher as duas
e convencer o papà de protegê-las por tempo indeterminado.

Não demorou muito para a mamma sugerir um casamento.


Como a mãe de Hayley já sabia que estava com câncer e que não

conseguiria ficar ao lado da filha por muito tempo, concordou com a


ideia.

Nós dois casarmos era um jeito de manter Hayley sempre

segura, mas também era a forma de mantê-la infeliz.


— Não me condene também, Noah — Hayley murmura, me
fazendo sentir estranho. — Eu quero ter uma vida diferente. Quero
ser eu e não a mulher de um mafioso.

Respiro fundo e cruzo o olhar com o dela. Existe tanta tristeza

nos olhos redondos e escuros. Ela é só uma garota e já sofreu


tanto. Confesso que saber que parte disso vem do fato de estar
casada comigo, me irrita um pouco.

Sim, sou implacável quando o assunto são negócios. Sou

cruel quando consigo pegar meus traidores, mas eu não serei um


monstro para Hayley.
Apesar de todos os meus problemas, eu sempre me
considerei uma garota de sorte. Tenho um pai que faz tudo por mim
e me criou bem, temos uma vida muito confortável e nunca me

faltou nada. Tenho amigos incríveis e sou feliz do jeito que uma
pessoa normal pode ser.

Às vezes, acabo esbarrando com algum idiota. Como tenho a


boca grande e o senso de justiça forte, nunca penso duas vezes

quando quero colocar alguém em seu devido lugar.

Além de sortuda, eu sou inteligente também. Mas existem

momentos específicos em que eu desejo ser burra. Não tão burra a

ponto de ter um QI abaixo da média, apenas burra do tipo que


relevaria as asneiras que saem da boca do homem à minha frente e

daria uma chance de verdade para ele.

No entanto, eu sou inteligente e mesmo que o homem seja

lindo, não vale a pena a dor de cabeça. E sejamos sinceros, o cara


só fala de si e de como ele é incrível, e frisou várias vezes que eu

não encontraria alguém tão bonito como ele facilmente.

Como foi que ele disse mesmo? Ah, sim, sua beleza é acima
da média. Raro de se encontrar.

— Preciso ir ao banheiro — interrompo o papo de como os


seus bíceps aumentaram nos últimos meses por causa da malhação

pesada. É uma desculpa para fugir, é claro. Nós não vamos a lugar

nenhum de qualquer jeito.

— Claro — diz ao abrir um sorriso bonito para mim.

Tchau, senhor dono de uma beleza acima da média.

Preciso parar de tentar conhecer gente pela internet. Nunca


dá certo. As pessoas conseguem usar máscaras quando trocam

mensagens de textos e no momento em que o encontro finalmente

acontece, é quase sempre como um banho de água fria em um dia

de inverno rigoroso.

Triste e decepcionante.
Caminho na direção das portas duplas que separam o
restaurante do banheiro e ao chegar em frente delas, desvio um

pouco e encontro a porta dos fundos do barzinho. Assim que meus

pés encontram o corredor escuro e com caçambas de lixo, me sinto

um pouco culpada por desaparecer assim do meu encontro. O

sentimento vai embora ao lembrar que passamos uma hora

conversando e eu não disse meia dúzias de palavras.

Balanço a cabeça ao ajeitar a alça da bolsa tiracolo e vou ao

encontro do meu carro, que ficou estacionado na esquina da ruela,

perto de uma caixa postal com tinta vermelha desgastada e pixada.

Para meu espanto, dou de cara com um moleque tentando abrir a

porta do meu carro com uma espécie de arame.

— Ei! É o meu carro! — grito, fazendo o garoto se virar e noto

que é mais velho do que eu esperava.

Nem de longe aparenta estar assustado por ter sido pego no

flagra e ao vê-lo sacar uma arma das calças, sinto o coração na

garganta. Onde eu estava com a cabeça ao abrir a boca para

confrontá-lo?

Levanto as mãos em rendição.


— É meu agora — fala ao fungar e olhar para os lados. O

homem está muito instável e com uma arma apontada para mim.
Engulo em seco e assinto. Mesmo tendo vontade de implorar para

que me deixe tirar pelo menos os livros da faculdade do veículo, fico


calada. — O que ainda tá fazendo aqui? Cai fora antes que eu meta
uma bala na sua cabeça — o idiota ameaça, fazendo meu coração

palpitar de maneira quase dolorosa no peito.

De mãos levantadas e sob o olhar dele, eu recuo alguns


passos até me sentir corajosa para sair correndo e entrar no

corredor dos fundos do barzinho de novo. Ainda acelerada, arrisco


uma olhadela para trás, o que me faz bater contra um homem alto.

— Desculpe — digo, rápido ao recuperar o fôlego e quando


meus olhos encontram os dele, sinto um arrepio tenebroso na

espinha.

Ele tenta segurar meus braços e eu recuo um passo,


prensando os lábios.

Noah Carbone...

Qual foi a última vez que eu o vi? Talvez tenha sido na festa
de noivado da minha melhor amiga. Ainda acho estranho pensar

que Lina e o seu irmão são noivos.


Não posso negar. A primeira impressão que Noah deixou em

mim foi boa. O homem é lindo, sarcástico e ao mesmo tempo,


divertido. Fui tão envolvida por ele, que nem reparei na aliança.

Lindo e casado é igual a proibido.

Até aí tudo bem. Bola para frente, nem todos os homens


bonitos e interessantes estão disponíveis e é a vida. Mas depois

daquela noite da festa do meu aniversário, as coisas mudaram de


um jeito catastrófico. Eu fui drogada e minha melhor amiga

sequestrada. E como se não bastasse, descobri que toda a família


Carbone é envolvida com o crime organizado e mandam na cidade

de Montreal.

Não vou ser hipócrita e dizer que não ouvi histórias sobre

eles, afinal, eu vim morar aqui com oito anos de idade. Meu pai me
ensinou que fofoca é uma coisa que não se deve levar cem por

cento em consideração, porque é quase como um telefone sem fio.


E no fundo, as pessoas adoram mentir e espalhar boatos por aí.

Sempre achei que fosse inveja, já que a família Carbone é


dona do único cassino no Canadá e eles têm tanto dinheiro, que

poderiam encher uma piscina e nadar entre as notas de dólares


canadenses.
No fim, eu devia ter dado ouvido as fofocas.

— O que aconteceu? — ele pergunta, a voz me atinge com

uma onda eletrizante e arrepia os cabelos da nuca.

— Meu carro... eu fui roubada — balbucio.

Noah vira o rosto para trás e me faz notar três brutamontes


vestindo terno, dois deles estão segurando um homem que tem o
nariz sangrando. Sinto o coração na garganta e os pés criam raízes

no chão.

— Vá — é só o que Noah precisa falar para um deles sair


correndo na direção em que eu estava vindo. — Está machucada?

Levanto o rosto para encontrar os seus olhos azuis. Ele deve


ser no mínimo uns trinta centímetros mais alto que eu. Os cabelos

castanhos caem em ondas delicadas até abaixo das orelhas, a


barba é ralinha e com um pouco de volume na parte do queixo.

— Não — respondo quando encontro a voz e desvio a


atenção para o homem com o nariz sangrando. — O que está

fazendo aqui?

Os olhos azuis e penetrantes encontram os meus e existe um


brilho devasso e perigoso dançando por eles. Isso me deixa inquieta
e faz o meu coração acelerar de novo. Na verdade, não sei se ele
sossegou depois que o encontrei aqui.

Noah não responde.

Para minha surpresa, o homem que saiu correndo, volta


segurando o meu ladrão de carros. Ele parece assustado e tem a

boca sangrando. Ao me ver, rosna uns palavrões e tenta se


aproximar com violência, me assustando.

— É esse homem, Sophia? — Noah quer saber.

Encaro o ladrão e não consigo dizer nada. Ele é um imbecil

por ter tentado roubar o meu carro e ainda ter ameaçado meter uma
bala na minha cabeça, só que também não acho certo entregá-lo

nas mãos de mafiosos.

— É, sim. Vou chamar a polícia.

Apresso em procurar meu celular dentro da bolsa e Noah me

impede ao me segurar pelo pulso. O toque é firme e possessivo,


daquele tipo que mostra quem é que está no comando.

Infelizmente, é sexy também.

— Não, eu resolvo — fala, esquadrinhando o meu rosto. —

Levem os dois daqui — ordena e os homens obedecem sem

pestanejar.
— O que vai fazer com ele?

O canto da sua boca se curva em um sorriso lascivo.

Se existe uma forma simples de definir o homem à minha


frente, eu diria que no reino animal, Noah é aquele no topo da

cadeia alimentar. Um predador que controla as suas presas e abate

os indivíduos mais vulneráveis.

— Não é da sua conta.

A resposta me deixa enfurecida, porque na realidade, eu


nunca pedi a ajuda dele e não quero ter a morte de alguém na

minha consciência. Desvencilho-me dos seus dedos e recuo um

passo, abro a boca para resmungar quando vejo o meu encontro de

hoje à noite saindo da porta traseira do barzinho.

— Sophia? Te achei, pensei que tivesse te perdido.

Noah ergue uma sobrancelha de forma arrogante e observa o

homem que para ao meu lado. Os olhos pretenciosos encaram meu

pretendente de baixo para cima, depois se direcionam para mim de

forma questionadora.

— Volte para o seu... namorado — sussurra, a voz soando

meio amarga e ao mesmo tempo, ameaçadora.

— Ele não é meu namorado.


— Finn Stevens — fala, estendendo a mão para Noah, que

não pega. Ignora completamente o meu pretendente. — Ok, sem

aperto de mão... — murmura, constrangido.

— Me dá um minuto — peço ao Finn, que concorda e volta

para a porta dos fundos do barzinho e entra logo em seguida. — Eu

sei o que você é...

— Sabe? — ele me interrompe, sério.

— É claro que sim — retruco, zangada. — Minha melhor


amiga foi sequestrada e seus homens não me deixaram chamar a

polícia, depois como um milagre divino, o seu irmão resolveu tudo.

Não sou idiota.

— E o que vai fazer sobre isso? — é o que pergunta, e eu

não sei se ele está tentando me ameaçar ou me irritar.

Devo dar os parabéns ao Noah, porque o homem consegue

fazer os dois. Estou com vontade de dar um chute no seu saco.

Graças a Deus, sou inteligente e sei que não devo fazer isso. Ele é
um mafioso e pode fazer algo cruel comigo.

Aperto os lábios em uma linha reta.

— Volte pro seu namorado e aproveite a noite, Sophia —

murmura, a voz ecoando em ondas quentes pelo meu corpo. Sem


esperar que eu diga alguma coisa, enfia uma das mãos no bolso da

calça social e vira o corpo, dando as costas para mim e


desaparecendo pela ruela com pouca luz.

Giro nos calcanhares também e rumo para o meu carro,


lembrando de Finn só quando estou virando a esquina. Respiro

fundo e sacudo a cabeça, sem vontade de lidar com ele.

Ao chegar em frente ao meu veículo, noto que a porta está


escancarada e o arame que o ladrão de carros usou para me

roubar, caído no chão. Deslizo para o banco do motorista e tento

não pirar com o que acabou de acontecer.

Estico o braço para fechar a porta e respiro fundo ao mesmo

tempo em que aperto o volante com força.

— Se mataram o ladrão de carros... você não tem culpa,

Sophia — falo para mim mesma, quase um apelo inútil para deixar

minha consciência limpa.


Dias depois...

Minha melhor amiga e eu nos conhecemos faz um pouco mais


de quatro anos. Quando ela veio para Montreal por causa da bolsa
de estudos, parecia um gato selvagem acuado e meio arisco. Nós

duas nos demos bem logo de cara e não precisou de muito esforço
para que ela conquistasse um lugar especial no meu coração.

Ao mesmo tempo que é estranho, é incrível. Eu tenho outros

amigos e até considerei outra garota minha melhor amiga, mas


quando conheci Lina, nós nos identificamos de tal forma, que é até

louco se parar para pensar. Não demorou nem um dia inteiro para

eu ter certeza de que ela se tornaria uma das pessoas mais


importantes da minha vida.
Temos a mesma idade, mesmo assim, tenho Lina como uma

irmã mais nova.

Por isso, mesmo apoiando o seu noivado, não canso de dizer

que é uma loucura. Talvez a maior da sua vida. Casar com um


mafioso inclui tanta coisa e não posso fazer nada em relação a isso.

Ela está apaixonada e é verdade quando dizem que o amor é

cego.

Às vezes, eu sinto que vou perder minha melhor amiga para a

família Carbone no momento em que ela disser “sim” no altar. Como


a sua vida vai funcionar depois de se tornar a senhora Carbone?

Ainda vamos nos ver com frequência? E aliás, quais são as

responsabilidades de uma esposa de mafioso?

Ah! Não quero saber.

Engulo a sensação de que estou deixando minha amiga ir

direto para a cova dos leões e coloco um sorriso no rosto ao

empurrar a porta e entrar no café em que combinamos de nos


encontrar. Tento não pensar também que algumas quadras de onde

estou, meu carro foi quase roubado e Noah resolveu a situação no

estilo a lá máfia.
O café não é o lugar mais movimentado e nem o mais bonito
que existe em Montreal. Na verdade, o chão de cimento queimado é

bem velho, as mesas precisam ser trocadas por novas e ainda

assim, é um dos nossos lugares preferidos. Garry, o dono, nos

adora e sempre ganhamos bagels deliciosos de graça.

Lina me espera sentada em uma das mesas comprimidas e

retangulares que fica encostada na parede de uma ponta a outra,


perto das grandes janelas de vidro. Ela está entretida mexendo no

celular e sorri para a telinha feito boba.

Diferente de lá fora, aqui dentro está uma temperatura

agradável, então tiro o meu casaco acolchoado e me acomodo na

cadeira de metal ao lado da minha amiga.

— Nem vi você chegar — fala ao colocar o celular em cima da

mesa e arrastar o copo grande de café para mim. — Macchiato.

Sorrio.

— Obrigada. Cadê o Garry?

— Me procurando, princesa? — ouço a voz masculina e

familiar atrás de mim. Viro-me e o vejo segurando uma bandeja com

bagels recheados. Ele não costuma servir os clientes. Na verdade,


todo mundo faz o pedido no balcão. Como somos especiais, temos

tratamento diferenciado.

— Hum, bagel com recheio de creme. O meu preferido.

Ele abre um sorriso largo e coloca a bandeja em cima da


mesa de madeira, depois deposita um beijo na minha bochecha e
pousa a mão no topo da minha cabeça. Gosto de Garry, ele é uma

boa pessoa e parece ser um Papai Noel, com direito a barba grande
e tudo mais.

Quem vê a situação de fora, pode achar que estamos nos


aproveitando de um idoso bondoso. No entanto, Garry e nós temos

um negócio. O café é frequentado por alguns policiais aposentados


e vovozinhas que moram por perto. Garry sempre quis gente jovem

aqui, então aproveita da nossa beleza quando estamos pela área, já


que sempre chamamos a atenção da clientela mais jovial, que

acaba gastando algum dinheiro com cappuccino e bagels.

— Tem planos para o final de semana que vem? — Lina

pergunta depois que Garry nos deixa sozinhas.

Mordo meu bagel recheado e dou de ombros.

— Não sei. Dezembro ainda é um mês estranho pra mim.


O último mês do ano sempre foi um mês complicado para mim

por causa do Natal. Nasci na Suíça, tenho pai afro-americano e mãe


judia. Quando viemos para Montreal, nós três vivemos bem por três

anos, e pelo que lembro bem, mamãe sempre fez questão de

comemorar a festa de Hanucá[12].

Depois que foi embora sem mais e nem menos, meu pai não
fez tanta questão de continuar com as tradições dela.

— O que tem em mente? — quero saber.

— A família do Julian vai fazer uma festa, é meio que uma


tradição. Eles gostam de se reunir antes das festas do fim de ano e

eu pensei em levar você e o seu pai — diz como quem não quer
nada e me faz engasgar o com pedaço de bagel. Tomo um gole de
café e minha amiga me observa de esguelha. — Como minha mãe

não vai poder vir, eu pensei em levar você e o sr. Canning, porque
vocês são o mais próximo de família que eu tenho depois da minha

mãe.

Respiro fundo e encaro Lina.

— Você quer levar meu pai e eu para uma festa com um

bando de mafiosos? — retruco, mais áspera do que pretendia.


Lina fica sentida e abaixa os olhos, em seguida balança a
cabeça, como alguém que quer deixar o assunto para lá. É lógico
que vê-la assim me faz sentir a pior amiga do mundo. Ela não

enxerga os Carbone da mesma forma que eu.

— Sinto muito.

— Tudo bem, não tem problema — murmura e abre um


sorriso amarelo. — Foi uma péssima ideia. Não sei o que tinha na
cabeça.

— Desculpa, eu não quis ser grossa.

— Tudo bem, Sophia. Não tem problema.

Fecho os olhos por uma fração de segundo e eu sei que vou


me arrepender do que estou prestes a falar, mas ainda não sei

exatamente quanto tempo temos juntas. Não que eu esteja


prevendo algo catastrófico depois que ela se casar com Julian.

Também não tenho certeza se ainda seremos o que somos hoje...


melhores amigas.

— Vou falar com o meu pai.

Ela direciona os olhos orientais e meigos até mim.

— Sério?
— Sim. Por que não? O que pode acontecer? — retruco,
sorrindo e várias atrocidades passam pela minha cabeça. Ignoro
todas. É só um jantar de Natal com uma família metida dos pés à

cabeça no mundo do crime organizado.

— Obrigada.

Lina se inclina para frente e envolve os braços no meu


pescoço, contente. Afasta-se de mim e bebe seu cappuccino.

Suspiro e olho para a rua através da janela de vidro e observo. Sem


perceber, minha atenção vai para um carro estacionado quase de

frente para nós com a janela do veículo meio aberta. Estreito os

olhos e não consigo reconhecer quem está dentro.

Dou um empurrãozinho em Lina com o cotovelo.

— Seu segurança?

Ela olha para a mesma direção que eu e dá de ombros.

Encaro-a com afinco, tentando entender o que se passa na sua

cabeça.

— Está mais para um motorista — murmura.

— Você se acostumou rápido com isso. Devo me preocupar?

Minha amiga ri.


— Julian é teimoso, acha que preciso de segurança o tempo

todo. Então, decidi aceitar isso. E tem sido bom, nunca mais me
atrasei para a primeira aula da faculdade — zomba e eu acabo

rindo.

Olho para o homem no carro de novo e dessa vez, ele assente

para mim, me fazendo virar o rosto rápido. As lembranças daquela

noite com o ladrão de carros e Noah acabam invadindo minha

cabeça.

Sinto um arrepio na espinha.

Foi preciso de muito esforço e força de vontade para não ficar

pensando nele. Preciso confessar que nem sempre tive sucesso.

Aquele encontro não é algo que possa se esquecer com facilidade.

Noah pareceu tão cheio de si, como se fosse dono do mundo.

Além é claro, de cheirar a perigo. Ele não é alguém com quem eu

deva me envolver ou deixar invadir meus pensamentos.

É um mafioso, lindo, ameaçador, intimidador e muito bem-

casado. Não posso esquecer desse pequeno detalhe. É proibido de

tantas maneiras, que se decidir listar, vou escrever um livro.

Noah e eu vivemos em mundos diferentes. Ele é do submundo

do crime, um lugar onde acontecer coisas cruéis é normal. E eu vivo


do lado da lei, um lugar em que as pessoas têm medo de assaltos e

mafiosos.

— Que cara é essa? — Lina quer saber.

— Huh?

— Você parece diferente.

Deixo os ombros caírem e tomo um gole generoso do

Macchiato, pondero se devo ou não contar a ela sobre o que


aconteceu. Decido ser sincera. Na hora que abro a boca, o seu

celular toca em cima da mesa e vejo o nome de Julian saltitar na

tela.

— Pode atender. Não acho que ele vai gostar de esperar —

digo, ranzinza.

— Eu sei que você não gosta muito dele, mas Julian não é

ruim.

— Não disse nada — murmuro e me concentro em comer meu

bagel com recheio de creme.

— Precisa se dar bem com ele, porque você é minha melhor


amiga e ele é meu noivo — é o que fala antes de atender ao celular

e se afastar de mim para conversar com o seu homem da máfia.


Ela tem razão. Se eu me der bem com ele, podemos conviver

em harmonia. Afinal, nós dois amamos a Lina e queremos o seu


bem. É isso, vou fazer o meu melhor. Tentarei ver o Julian de outra

forma...

Ah, droga!

É difícil fazer isso. Como olhar para a família Carbone e não

pensar nas coisas terríveis que já devem ter feito? Nos negócios
ilegais? Ou se tem um porão de tortura naquela mansão?

Para a minha saúde mental, é melhor não deixar os


pensamentos irem por esse caminho.

Ou eu posso enlouquecer de vez.


Ao ver um dos homens que cuida da segurança da mansão
segurando uma mala grande e colocando no hall de entrada,
paraliso os meus pés, enfio as mãos nos bolsos e observo o velho

na porta da frente.

A família é importante para mim, mas não esperava a visita do


meu tio antes do Natal. No enterro do papà, ele mal ficou por um
dia, pois estava abalado demais com a morte do irmão mais velho.

Agora, aparece de repente...

— Meu sobrinho — fala ao se aproximar e envolver as mãos

no meu rosto para beijar uma bochecha por vez.

— Tio Stefano, não esperava vê-lo por aqui.


— Até parece que não está feliz em me ver — comenta e eu

sorrio, envolvendo-o em um abraço apertado.

Eu amo o meu tio, mas ainda estou surpreso de vê-lo antes do

esperado. Tenho certeza de que isso tem alguma coisa a ver com a
mamma.

[13]
— Mio figlio — a nonna exclama ao chegar no fim da

escada e caminhar animada na direção do seu caçula.

Meu tio tem uma história complicada. Quando mais novo,

nunca gostou dos negócios ilícitos da nossa família, por isso no

momento em que ficou maior de idade, voltou para Itália e estudou


lá, casou e viveu feliz por alguns anos.

A felicidade não é algo que costuma durar para sempre e ele


descobriu isso da pior maneira possível.

A esposa foi assassinada, porque estava no lugar e na hora

errada. Ele ficou desolado e voltou para Montreal.

O vovô não estava mais vivo e o papà já era o Don. Sem


ressalvas, ele acolheu o irmão, o deixou entrar para os negócios e

ensinou tudo que o tio Stefano sabe hoje. O transformou em um

caporegime respeitado e como era o seu desejo, o deixou voltar

para Itália e vingar a morte da esposa. Junto de outros soldados, o


meu tio acabou uma gangue que vendia heroína e por causa disso
conseguimos expandir os nossos negócios até a Itália.

Agora, ele é um caporegime bem-sucedido e tem trabalhado

bem nos últimos anos. Para falar a verdade, ele é essencial para o

nosso contrabando de armas, já que grande parte delas vem da

Itália.

A mamma logo surge no hall de entrada, me olhando de

esguelha. Já faz alguns dias que ela anda chateada comigo e não

vejo como mudar essa situação.

É claro que ela tentou convencer Hayley do contrário. Não

teve sucesso. Agora que estou preparando os papéis do divórcio,

Hayley está do meu lado, me respeitando e até me chama de Don


Carbone.

— Escute o seu tio. Ele é um homem sábio — a mamma me

intercepta quando estou me preparando para ir ao escritório.

— A senhora pediu que ele viesse mais cedo, não é?

— Sim. Talvez ele coloque um pouco de juízo na sua cabeça e

você volte atrás com essa história maluca de divórcio.

— A senhora é a única pessoa que tem coragem de ir contra

as minhas ordens. Se fosse um dos meus homens, eles não...


— Não sou um soldado, Noah. Sou sua mãe. Eu não entendo

como funciona os negócios e nunca me intrometi entre eles, mas eu


entendo de família e tradições. Sei do que estou falando quando

digo que você está cometendo um erro.

Respiro fundo e contraio a mandíbula. Não gosto de ser

contrariado e nunca desrespeitei minha mãe, então na tentativa de


preservar a nossa relação de mãe e filho, eu finjo um sorriso e

assinto antes de girar nos calcanhares e ir na direção do escritório.

A primeira coisa que faço ao entrar na sala, é servir uma boa


dose de whisky sem gelo e tomar um gole generoso, que desce
queimando a garganta de um jeito bom e consegue me deixar

menos irritado.

— Carlota é difícil — tio Stefano fala ao entrar no escritório de


porta aberta e depois fechá-la. — Mas tem razão — acrescenta,

voltando a me deixar irritado.

— Cuidado com o que vai falar, tio — digo entre os dentes.

— Por quê? Você me mataria por estar te dando um sermão?

Bebo outro gole de whisky e solto uma risada seca.

— Eu respeito o senhor e o mais importante, eu o amo, mas


não esqueça que agora, eu sou o chefe da família.
Ele sibila e logo em seguida, enruga todo o rosto. Senta na

cadeira de frente para a mesa, e sem que tenha me pedido, eu sirvo


whisky e entrego o copo de cristal a ele.

Escoro na beirada da mesa de madeira e o observo.

Embora tio Stefano tenha a cabeça branca e bastante rugas,


nem de longe é alguém inofensivo. Na verdade, depois que entrou

para os negócios, ele se encontrou e descobriu que gosta de fazer


algumas atrocidades.

Quando tirei uma vida pela primeira vez, passei semanas sem

conseguir dormir direito. O papà disse que com o tempo isso não
incomodaria tanto e ele estava certo.

Ao contrário de mim, meu tio gostou da sensação e não


lembro de ele ter falado que teve algum pesadelo por ter matado

alguém.

— Noah... — ele começa a falar depois de tomar um gole


pequeno da bebida. — No nosso mundo, ou temos sucesso nos
negócios ou muitos amigos. E quando temos sucesso,

automaticamente, ganhamos inimigos.

— Eu sei, o papà me ensinou isso.

Ele assente.
— Não temos amigos. O que temos é a nossa família, os
nossos irmãos e mesmo quando somos unidos, ainda há chances
de traição.

— Aonde quer chegar?

— Não pense que os seus inimigos não usarão seu divórcio

contra você. Sabe o que falarão na rua? Que você é fraco, que não
conseguiu domar uma garota de vinte anos e por isso a deixou
escapar das suas mãos.

Respiro fundo e ergo uma sobrancelha.

— Não se preocupe tio, eu tenho tudo sob controle.

— O que está pensando em fazer?

— Cortar a língua de qualquer filho da puta que falar de mim


nas ruas — digo o óbvio e tomo um gole de whisky.

Ele me olha por um longo segundo.

— Você mudou.

— Sim, acontece depois que matam seu pai enquanto ele está
dormindo — retruco, lançando um olhar afiado para ele. — O senhor

mais do que ninguém deve saber que perder alguém importante...


nos muda completamente.
Meu tio suspira e abre meio sorriso.

— Sim, eu sei.

— Eu amo o senhor, tio, mas não ouse falar sobre o meu

divórcio de novo.

Sem dizer nada, meu tio levanta o copo de cristal em um


brinde solitário e concorda com um aceno de cabeça.

Em frente à mansão, a mamma tem os olhos marejados e a

ponta do nariz vermelho ao abraçar Hayley. E embora Romie e ela

nunca tenham sido melhores amigas, minha irmã faz o mesmo.

— Pode voltar pra nós quando quiser, querida — a nonna diz

com as mãos enrugadas no rosto da minha ex. — Sempre será


bem-vinda aqui.

— Obrigada — Hayley murmura e abre um sorriso meigo.


Apesar de ter pedido o divórcio, não posso mentir que quando

assinei os papéis hoje de manhã, pareceu que eu estava fazendo


algo terrível contra a família Carbone.

Dar a liberdade a uma garota cheia de sonhos não pode ser


considerado um pecado...

Hayley é uma garota que passou por muita coisa, merece ser

feliz e felicidade não é algo que ela teria se continuasse ao meu


lado. Ela odeia tudo o que eu sou e o que represento, e mudar por

alguém nunca esteve em cogitação.

— Obrigada — Hayley fala depois que minha mãe, avó e irmã

entram na mansão e nos deixam sozinhos. — Sei que não foi fácil

fazer isso.

De forma inesperada, ela envolve os braços na minha cintura

e me abraça. Contorno o seu corpo pequeno e a aperto contra mim.

Depois desse abraço, acho que nosso único contato físico foi o beijo
que demos na igreja no dia do casamento.

De jeito tímido, ela se afasta.

— Pode me ligar se tiver algum problema.

Sorrindo, ela concorda.


— Vou ficar bem em Nova Iorque. Sempre tive vontade de ir

pra lá depois que Zoey se mudou.

Zoey é a melhor amiga da Hayley, foi morar em Nova Iorque


por causa de uma bolsa de estudos em uma escola de arte faz dois

anos. Na hora em que perguntei para onde queria ir depois do

divórcio, ela não hesitou em falar da melhor amiga.

— Levi e Kilian serão sua sombra em Nova Iorque. Eles te

acompanharão para todos os lados. Aconselho que se acostume


com isso.

Levi e Kilian são os soldados que designei para serem os

guarda-costas de Hayley. A garota não ficou muito feliz ao saber


que teria seguranças e não tinha jeito de eu deixá-la ir sem

ninguém.

Ela suspira e faz um gesto de quem vai revirar os olhos.

Desiste no meio do caminho e prende as vistas em mim.

— Tá bem, não tenho escolha.

— Em relação a isso não.

— Me desculpe.

— Pelo quê?

— Eu estava errada sobre você, Noah.


Sinto o canto da boca se curvar.

— Vá antes que se atrase para o seu voo.

Aproximo-me do carro e abro a porta para que ela se


acomode no banco detrás. Os soldados que trouxeram a malas de

Hayley e colocaram no porta-malas se acomodam na frente do

veículo e só saem em disparada depois que concordo com um

aceno de cabeça.

Observo o carro sumir na estrada de pedra que dá na direção

da guarita.

— Espero que não se arrependa disso, filho — a mamma fala

atrás de mim. Viro-me para ela e focalizo seus olhos castanhos, que

parecem tão tristes e decepcionados comigo.

— Não vou — falo, convicto.

Ela espreme os lábios e ergue o queixo antes de dar as costas

para mim. E não preciso fazer esforço para saber que as palavras

que saíram da minha boca não eram exatamente o que a minha

mãe queria ouvir.

Talvez a senhora Carbone ainda não tenha consciência disso,

mas para o bem da nossa família, é melhor eu não me arrepender


da decisão que acabei de tomar. Porque no nosso mundo... o pior
do que se arrepender de uma decisão, é voltar atrás com ela logo

em seguida.
Eu devo ter algum problema. Ou talvez, Finn tenha algum
problema, já que mesmo depois de eu ter o largado na outra noite
no barzinho, ele me chamou para sair de novo.

Infelizmente, eu venho pensando muito em uma certa pessoa

proibida para mim, então, eu decidi dar outra chance para Finn. Um
segundo encontro para tirar a péssima primeira impressão que ele
deixou.

Mas o arrependimento vem com tudo, como um soco na boca


do estômago quando ele para o carro no estacionamento a céu

aberto do nosso destino.

O Hotel Cassino Carbone...


O último lugar que eu deveria frequentar. Porém, me sinto

muito ansiosa também. Por quê? Meu coração bate tão rápido,
quase como as asas de um beija-flor. E sinto as mãos geladas ao

mesmo tempo em que o sangue do rosto parece estar fervendo.

Qual é o meu problema?

— Tudo bem? — ele quer saber.

— Tudo ótimo — minto, já arrependida de ter inventado esse

negócio de segunda chance. Segunda chance para quê? O caminho

até aqui, o cara só falou dele e de suas qualidades exuberantes.

Enfio as mãos dentro do casaco e caminhamos lado a lado até

a entrada, sem dizer nada. Para minha surpresa, Finn é ousado o

suficiente para envolver a mão no meu ombro e me trazer para perto


de si, como se fôssemos íntimos.

Olho para ele com a testa franzida.

— Nada melhor pra combater o frio do que calor humano, gata


— é o que diz, com a voz presunçosa e me dando vontade de

vomitar.

A segunda impressão também não está sendo uma das

melhores.
Passamos pelas portas duplas de vidro e noto que o lugar
está cheio. Não é de se estranhar, hoje é sexta-feira. Há várias

pessoas no saguão, algumas rumando para o meu lado direito, que

é onde fica o cassino, outras para o esquerdo, na direção dos

restaurantes e há um pequeno grupo em frente aos elevadores.

Ainda com o braço ousado em volta do meu pescoço, Finn me

arrasta até o cassino e eu desejo boa sorte para mim.

Antes de nos aventuramos em alguma jogatina, sentamos na

banqueta de frente para o bar e ele pede bebidas ao barman. A

última vez que estive aqui foi no noivado da Lina e está tudo tão

diferente daquela noite. Até parecem lugares completamente

diferentes.

— Adoro esse lugar. Lembra Las Vegas — Finn fala animado

e eu finjo um sorriso.

Pego o drink colorido que o barman serve e tomo tudo de uma

vez, e só então percebo que Finn estava me esperando para

brindar.

— Desculpe.

— Tudo bem, acho que você estava precisando.


Dou de ombros e olho ao redor. As pessoas acham divertido

gastar tanto dinheiro nos jogos. Deslizo da banqueta, fazendo Finn


arregalar os olhos e beber seu drink colorido de uma vez.

— Já que estamos aqui, vamos jogar.

— Claro, claro.

Por incrível que pareça, a próxima hora ao lado de Finn não é


tão ruim. Como estamos entretidos jogando e bebendo, ele não tem

tempo para dizer o quanto é incrível e eu não faço questão de


perguntar nada muito pessoal. Na verdade, ele está meio puto por
ter perdido mais dinheiro do que pretendia esta noite.

Mas cassino é isso. É um jogo que foi feito para noventa por

cento das pessoas perderem dinheiro e não ganharem. Acabei de


inventar essa porcentagem e posso estar certa.

Finn se afasta para ir buscar mais bebidas enquanto enfio


algumas notas de dólares dentro da máquina de caça-níquel. Para

não dizer que sou uma azarada completa, eu ganho um dólar. Retiro
o voucher da máquina com o valor do meu mísero um dólar e enfio

dentro da bolsa.

— O que vamos fazer agora? — Finn pergunta ao parar na


minha frente e me entregar o drink colorido que trouxe para mim.
Estranhamente, ele parou de beber já faz alguns minutos.

— Não sei — digo, bebericando a bebida.

Para falar a verdade, estamos aqui há uma hora e eu já quero

ir embora. Finn não é um cara ruim, apesar do seu ego bater no céu
e me dar náuseas, e ele é claro, não faz o meu tipo. Se fosse mais
humilde, talvez...

Talvez não.

Se o cabelo fosse um pouco mais claro, cumprido até a altura

das orelhas e com leves ondas. Quem sabe um pouco de barba no


queixo e alguns centímetros mais alto...

Opa, opa, opa!

Eu acabei de colocar um pouco das características físicas do


Noah em Finn? Com certeza, a bebida já está afetando o meu

cérebro.

— Que tal se eu te levar pra um lugar mais reservado?

Podemos conversar e curtir melhor o momento.

Ergo uma sobrancelha.

Não mesmo...
Tomo um gole generoso da minha bebida e entrego o copo de
cristal a ele.

— Preciso ir ao banheiro — é o que digo ao dar as costas


para o Finn e atravessar o cassino em passos largos. Quando dou

conta, estou no saguão. Meto as mãos dentro do bolso do casaco e


olho para os pés, tentando decidir se simplesmente vou embora de
novo.

Não, ele é meio chato e egocêntrico, mas não merece ser

abandonado de novo.

Respiro fundo e olho para frente. Do lado direito, antes do


corredor largo que dá no rumo dos restaurantes, vejo uma plaquinha
verde com dizeres brancos sinalizando os banheiros do saguão.

Sentindo o álcool girar minha cabeça, caminho com cuidado

até a placa sinalizadora e antes de entrar no corredor estreito para


procurar o banheiro feminino, vejo portas duplas com acesso

exclusivo para funcionários.

Sem conseguir mover meus pés, fico paralisada. Observando

a porta e imaginando se detrás dela tem alguma coisa ilegal. Quer


dizer, uma família mafiosa é dona de um cassino. Com certeza,

deve existir algum negócio ilícito por aqui.


Balanço a cabeça para varrer os pensamentos para longe e
fico zonza. Seguro na parede para não cair de bunda no chão e levo
ar até os pulmões.

Droga. Não devia ter bebido tanto.

Desistindo do banheiro, volto para o saguão, decidida a falar

para Finn que a nossa noite acabou e que o único lugar reservado
que eu quero é minha casa e que vou embora sozinha.

Estou fazendo o caminho de volta para o cassino quando eu o

vejo.

Noah.

Ele está usando um casaco marrom acolchoado, blusa de gola

alta por dentro, calcas jeans e sapatos italianos que com certeza
custam uma fortuna. Tem uma mão enfiada no bolso da frente da

calça de linho e a outra está sendo gesticulada de forma leve

enquanto Noah fala.

Ele está acompanhado de três homens, apenas um caminha

ao seu lado. Os outros dois estão dois passos atrás e andam

ritmados com expressões sérias.

A cena acontece em câmera lenta e eu não consigo desviar a

atenção dele. Noah parece o dono do mundo. Todo cheio de si, mas
é diferente da forma como o Fin se acha incrível. Meu pretendente

se acha incrível para que as pessoas o achem assim, não o Noah.


Está na cara que ele não precisa disso. Ele sabe que é lindo,

poderoso e que as pessoas vão respeitá-lo simplesmente por ele

ser ele.

E claro, Noah também não está procurando aprovação de

ninguém. Ele é o que é. Dono desse cassino. Dono de Montreal.

Dono de tudo. O homem transpira isso e embora o certo seja fugir


de alguém assim, a única coisa que consigo fazer é admirá-lo. De

repente, o que é errado, perigoso e sombrio se tornou tão fascinante

e sexy.

Não posso desejar alguém como Noah, porque isso vai contra

tudo o que eu acredito, mas existe algo nele que acende uma

chama ardente dentro do meu peito e sempre parece querer me


queimar inteira quando o olho.

Ao passar por mim, ele me encara. Nossos olhos se prendem


por quase uma eternidade e eu prendo a respiração, sentindo uma

comichão dentro de mim, que vem com tanta força, rasgando-me de

dentro para fora.


Nossa conexão é quebrada quando alguém esbarra em mim e

eu quase caio no chão. Por sorte, o homem que deu de encontro

comigo, segura meu braço, me impedindo de passar vergonha. Ele


pede desculpas e eu aceito, depois endireito a bolsa no ombro e

ainda me sentindo meio zonza, caminho para dentro do cassino de

novo.

Ao entrar e os ouvidos serem atingidos pela música ao vivo e

a falação das pessoas, começo a me sentir muito mal. Antes que

caia estatelada no chão, as mãos de alguém me seguram. No


momento em que olho para frente, encontro o rosto familiar de Finn.

— Quer ir embora?

— Eu não estou me sentindo bem, vou chamar um Uber.

— Te levo pra casa, Sophia.

— Não precisa.

— Anda, vem — é o que me diz, me ignorando.

Finn segura meu braço com mais força que o necessário e me

arrasta para fora do cassino. Reclamo da intensidade da mão dele


sobre a minha pele e o idiota finge que não me escuta.

Ele só me solta quando atravessamos o saguão até a saída.

— Machucou meu braço, idiota.


Finn ri e há algo diferente na risada. Ele está com uma

expressão esquisita e talvez seja o álcool me fazendo ver coisas,


mas percebo um brilho sombrio e asqueroso nos seus olhos.

Sem falar nada, ele segura meu braço com força de novo e
me arrasta até o seu carro estacionado. Protesto ao tentar parar de

andar e peço para que me solte. A única coisa que ele faz é me

puxar com brutalidade mais uma vez. Ao passarmos por um casal,

ele se apressa em dizer que estou bêbada e está apenas cuidado


de mim.

Isso me deixa irada.

— Me solta, seu imbecil. Quem você pensa que é? — eu

rosno.

Finn me ignora e só para de me puxar quando paramos em

frente ao carro. Ele destrava a porta e tenta me enfiar para dentro

do veículo. Consigo pisar no seu pé e me afastar.

Não sei qual é a dele e sinto que deveria sair correndo para

longe, só que eu tenho a boca grande e vontade de colocar esse

imbecil no lugar.

— Qual é teu problema?


— Você, Sophia. Não facilita nada pra mim. Achei que

estivéssemos nos dando bem. Só que parece que você tem a mania

de estragar tudo.

Mesmo com a cabeça uma zona e tudo girando, consigo me

manter firme e de pé.

— Quem você pensa que é pra me arrastar desse jeito? Você

machucou meu braço, imbecil.

— Se tivesse tomado toda a porra daquela bebida que eu te


ofereci, isso não teria acontecido. Queria você mais suscetível pra

fazer o que eu quero. Pelo visto, vai ter que ser na marra mesmo.

— Você me drogou — concluo em voz alta, sentindo a ira

tomando conta de mim.

— Um pouco.

— Cretino.

Aproximo-me para acertar uma bofetada certeira no seu rosto.

Ele segura meu braço e me encosta contra o carro, impulsionando o

corpo asqueroso contra o meu, me fazendo sentir a ereção no meio

das calças.

O cara está excitado por que me drogou?

É um doente.
— Me solta, otário.

— Não, vamos pra casa juntos e lá eu vou fazer o que eu

quiser com você. Vou te ensinar que não deve abandonar um cara

no primeiro encontro. Fui tão legal com você e o que fez?

— Tá com o ego ferido, é isso? Era só o que me faltava.

Mais uma vez, Finn tenta me enfiar dentro do carro e por


instinto de sobrevivência, dou um chute certeiro no seu saco e saio

correndo. Ou quase. A cabeça está girando e o corpo não está

exatamente me obedecendo, mas me afasto de Finn o mais rápido

que meus pés conseguem me levar.

Até que esbarro em um muro de músculos quentes. Uma mão

grande e firme segura meu braço, me fazendo estremecer. Quando


levanto o rosto, eu vejo Noah. Ele não parece feliz em me ver e

talvez seja por eu estar meio drogada e bêbada, fico com raiva e

tento me soltar dele, no entanto, não consigo.

— Fique calma — ordena, a voz soando grossa e autoritária.

— Eu disse pra ficar calma — acrescenta ao perceber que não parei

de tentar me afastar. — Sophia, pelo amor de Deus!

— Me solta — falo entre os dentes. — Quero ir pra casa.

— Espere — é o que fala, me deixando confusa.


— Sophia, te encontrei — ao ouvir a voz de Finn, viro o corpo
de uma vez e se não fosse por Noah estar me segurando, eu teria

caído. — Ela é minha namorada e está bêbada. Obrigada por

encontrá-la. Vamos, querida.

— Namorada? Você ficou doido? — berro. Bem, eu acho que

grito, não tenho certeza absoluta.

E eu teria avançado em cima do pescoço de Finn se estivesse

sóbria. O mundo está girando tão rápido, que me deixa com ânsia

de vômito e tenho dificuldade de ficar em pé.

Noah solta uma risada seca e arrepia toda a minha espinha.

Olho para ele e noto a expressão dura e cheia de ira na face bonita
e marcante. E só quando ele levanta para o alto a mão que não está

em mim, que vejo o taco de beisebol.

— Eu não gosto de você — é o que Noah fala ao se aproximar

de Finn e acertar com força o taco de madeira na lateral do seu


rosto, fazendo-o cambalear para trás e quase cair.

O estranho do baque revibra no meu ouvido, me fazendo

arregalar os olhos, horrorizada.

Sinto a bile na garganta.


— Merda! — Finn grunhe e cospe sangue no chão. — Quer
merda tá fazendo? — questiona e depois começa a rir também. —
Você é aquele idiota da outra noite, não é? Que é rico demais pra

aceitar o aperto de mão de um desconhecido. Qual é o teu


problema?

Noah não fala nada e sem aviso prévio, acerta o taco de

beisebol no rosto dele de novo e dessa vez, o derruba no chão. Meu


coração bate tão rápido, que o peito dói e eu sinto que vou ter um
ataque cardíaco.

Ele acerta outro golpe, fazendo Finn gemer de dor.

— Sabe qual é o meu problema? — Noah pergunta com a voz


grossa e profunda. — Não gosto muito de você.

O mafioso se prepara para atacar de novo.

— Pare! — eu grito, o impedindo de continuar. — Pare, Noah.

Ele não precisa morrer — é o que digo antes de sentir as pernas


enfraquecerem e desmaiar no estacionamento.
Ao abrir os olhos e sentir uma dor aguda na cabeça, levo as
mãos até as têmporas. Demoro alguns segundos para me dar conta
do lugar ao meu redor. No momento em que noto que estou sentada

no banco do carona de um carro, assusto-me e o meu primeiro


instinto é tentar abrir a porta.

Está trancada.

Devagar, viro o rosto para o lado e encontro os olhos de Noah

me esquadrinhando. Ele tem o olhar sério e o cenho franzido, e


mesmo com pouca luz, noto uma veia saltando na sua testa.

Ele está intrigado.

— O que estou fazendo aqui? — disparo.


— Estamos em frente à sua casa.

Depois de ouvi-lo, encaminho minha atenção até a residência

e através da janela de vidro do carro, vejo o familiar lugar de dois

andares com parede de tijolos marrons, que fica em uma das ruas
mais procuradas de Outremont, área residencial conhecida pelas

nobres casas vitorianas e alamedas.

— Como sabe onde eu moro?

— Você está bem? — devolve, ignorando minha pergunta.

— Cadê o Finn?

Os olhos claros de Noah brilham de um jeito poderoso e

insano. Tenho a sensação de que podem me perfurar. Engulo em


seco e sinto um arrepio na nuca. Levo a mão até o local e

massageio.

Eu devia sentir medo de estar trancafiada em um carro com

um mafioso. Por que não me sinto assim? É diferente. A presença


de Noah mexe comigo e deixa as borboletas agitadas dentro do

meu estômago.

O coração também. Ele bate rápido e forte como se eu tivesse

acabado de correr uma maratona.

— O que aconteceu com ele? — arrisco.


Noah passa a mão esquerda entre os cabelos levemente
ondulados e eu noto que ele não está usando aliança. Não posso

me impedir de ficar curiosa. O que aconteceu com o seu

casamento? Ou ele é apenas um safado que tira a aliança quando

vai se divertir por aí?

— Talvez ele fique surdo e com certeza vai precisar de um

implante dentário — é o que diz, como se não fosse nada. — Não


se preocupe, ele nunca mais aparecerá na sua frente.

Forço o caroço salgado entalado no meio da garganta a

descer e assinto, em silêncio. O homem acabou de dizer que o Finn

pode ter ficado surdo e que perdeu alguns dentes e eu não consigo

parar de pensar na aliança que deveria estar ali, no dedo anelar da


mão esquerda.

— Não precisava da sua ajuda, estava tudo sob controle —

me ouço dizendo e Noah enruga o cenho de novo, fazendo uma

veia saliente aparecer na testa.

Droga.

Não deveria estar pensando nesse tipo de coisa, mas ele está

sexy.
— De nada — retruca, sem fazer questão de esconder o

sarcasmo na voz. — Soube que Lexie estava procurando alguém


pra você. Quem é?

Pisco devagar e prenso os lábios ao desviar o rosto dele.

— Ela te contou?

— Não precisou. Eu sei tudo que acontece na minha família.

Abro um sorriso desdenhoso.

— Se sabe tudo o que acontece, não preciso te dizer nada —


resmungo, voltando a atenção para ele. — Por que está
perguntando?

— Porque está na cara que você odeia minha família e

mesmo assim, pediu favores pra nós — contesta. — Por que não foi
atrás da sua mãe?

Mordo o lábio inferior com força e controlo a minha vontade de


acertar uma bofetada nesse rosto bonito e arrogante. Não é da

conta dele se eu ainda não me senti corajosa o suficiente para ir


atrás da minha mãe.

— Não odeio sua família, não concordo com os seus negócios

ilícitos. E se quer saber, eu não pedi favores a vocês. Isso é coisa


da Lina — rosno entre os dentes. Sabia que isso não daria certo.
Minha melhor amiga é teimosa e insistiu em pedir ajuda de Lexie

para encontrar minha mãe, não eu.

— Por que ainda não foi atrás dela? — é o que pergunta de


novo, estudando minhas expressões.

— Não te devo satisfação da minha vida.

Noah me encara impassível e de mansinho, os lábios bem


desenhados se transformam em um sorriso cínico. Há uma névoa

tenebrosa e uma possessividade cálida e violenta nos seus olhos


claros.

Desvia, Sophia.

Desvia.

Não consigo.

Existe algo no olhar de Noah que não me deixa afastar os


meus próprios olhos para longe. Ele ainda não disse nada, mas a
forma como mantém a atenção em mim, me faz perceber que as

pessoas não costumam dar respostas atrevidas a ele.

Quase como se fosse dono do mundo ou pior, como se fosse


dono do meu mundo. Noah é alguém que não precisa de permissão

para pegar algo, porque todas as coisas são suas simplesmente por
ser quem ele é. Um mafioso...
Meu coração está acelerado e o silêncio no carro me dá a
sensação de que ele pode ouvir meus batimentos cardíacos. Eu
devia sentir medo por estar trancafiada com um mafioso dentro de

um carro.

Infelizmente, não estou.

É diferente.

Adrenalina...

— Pare de sair com babacas, Sophia — é o que diz ao

destravar a porta do carro e sem pensar duas vezes, seguro a


maçaneta para abrir e sair correndo para o mais longe possível. Sou

impedida de continuar quando Noah segura meu pulso com firmeza,


levando uma onda eletrizando para o meu corpo e que
estranhamente se aloja no meio das minhas pernas. Ah, merda. —

Te vejo na festa do fim de semana — murmura, me fazendo engolir


em seco.

Os dedos em volta do meu pulso afrouxam e eu desço do


veículo, sentindo o coração querendo sair do peito. Corro para a

varanda da minha casa e entro sem olhar para atrás. Com pressa,
vou até a sala e espio pela janela de vidro detrás do sofá. Noah
ainda demora um pouco em frente à minha casa e só depois sai em
disparada com o seu carro.

Deslizo para o sofá e respiro fundo, levando uma das mãos


até o coração, que continua acelerado. O que é isso? Sinta medo,

Sophia ou no mínimo, fique assustada. É impossível, estou em


êxtase. Sinto a adrenalina percorrendo em cada partícula do meu

corpo, tomando conta de cada terminação nervosa.

Fecho os olhos e tento enfiar na minha cabeça que Noah teria


matado Finn se eu não tivesse impedido. Ele não é o mocinho. Não

posso ficar assim por alguém como ele, é errado.

Imoral.

A única coisa em que minha cabeça quer focar de verdade é

nos olhos intensos de Noah. Eles são tão impetuosos e cheios de


vida. Eles parecem ter vivido tanta coisa e ao mesmo tempo são tão

puros.

Sacudo a cabeça de um lado para o outro, tentando empurrar


os pensamentos para longe.

Não vá por esse caminho, Sophia. Pode ser um caminho sem


volta...
Observo o homem deitado na cama de hospital. Ele tem um
curativo cobrindo a lateral do rosto, o nariz foi quebrado e a boca e o
olho direito estão meio inchados. Fora isso, vai sobreviver.

O estrago não foi tão grande.

Ao abrir o olho bom e dar de cara comigo, se agita na cama.

Seguro o seu pulso com força e o faço deitar de novo. Solto Finn e
me acomodo na poltrona ao lado do leito, respirando fundo. Ele

direciona a atenção para porta do quarto fechada e encara Thomas


por um milésimo de segundo, depois volta os olhos para mim.

— Consegue me ouvir? — pergunto, alisando o meu queixo.

— Vai à merda.
— É, ele não ficou surdo — falo para Thomas, mas continuo

encarando Finn. — É uma pena — acrescento e nós dois rimos,


fazendo Finn ranger os dentes.

— Eu vou chamar a polícia — o idiota ameaça. — Você me


bateu com um taco de beisebol!

Inclino-me para frente e seguro seu pulso com força de novo,

olhando dentro dos seus olhos. Ele tenta se soltar e não consegue.
É um imbecil que não tem força para lidar comigo e gosta de se

aproveitar da fraqueza de uma garota.

— É, eu bati e tem sorte de ainda estar respirando — falo

baixo, aproximando o meu rosto dele. — Vá embora da cidade e

não volte nunca mais.

— Não vou. Eu acabei de me mudar pra Montreal — é o que

diz, me fazendo soltar uma risada seca.

— Eu sei e é por isso que você não sabe como as coisas

funcionam por aqui. Montreal é minha cidade e eu não quero te ver


por aqui. Se resolver ficar, não terá tanta sorte como dessa vez.

— Quem é você?

— Alguém que você não quer contrariar. — Afrouxo a mão no

seu pulso e o solto, fazendo-o levar o braço para perto de si e


massagear o punho. — E manda uma mensagem pra Sophia
dizendo que está vivo.

Ele bufa.

— Isso tem a ver com ela?

Levanto da poltrona e aproximo o rosto dele. Encaro-o por


quase uma eternidade antes de falar.

— Depende do que você vai fazer quando eu sair daqui, mas

preciso avisar, se revolver ficar, eu vou te castrar. — Enfio a mão no

bolso e caminho na direção da porta, que Thomas abre para

sairmos do quarto. Antes de continuar, viro-me e olho Finn de novo.

— Melhoras.

Ele resmunga alguma coisa sem olhar para mim.

Thomas e eu saímos do quarto de hospital e caminhamos pelo

corredor até chegarmos nos elevadores. Meu melhor amigo e

conselheiro fica me analisando, mas não ousa dizer nada.

— Peça pra alguém ficar de olho nele. Não quero esse imbecil

na minha cidade.

Thomas assente e chama o elevador.

— Por que se importa tanto com essa garota? — pergunta,

visivelmente curioso. Tenho vontade de mandá-lo parar de se


intrometer na minha vida pessoal. Thomas e eu crescemos juntos e

já erámos melhores amigos antes de eu me tornar Don.

— Ela é família da minha cunhada — é a minha resposta.

As portas de metal se abrem e nós entramos. Thomas não


toca no assunto de novo e eu fico pensando em Sophia. Ela não
pareceu muito feliz por eu ter ajudado com a situação no

estacionamento do cassino, só que também não estava com medo


de mim.

Sophia não tem noção disso, mas eu a conheço desde que ela
tinha doze anos. Nunca a olhei de uma forma pecaminosa, é claro.

Ela era só uma criança enquanto eu um homem, envolvido até o


pescoço com os negócios da minha família.

Ela cresceu e se tornou uma mulher bonita. É filha de um

homem que meu pai respeitava, então eu nunca a enxerguei com


outros olhos... até agora. Naquela noite em que Lina a trouxe para
jantar, por alguma razão, não consegui vê-la como antes.

Uma garotinha ingênua e fofa se transformou em uma mulher

linda e proibida.

— Como está o Sr. Canning? — pergunto a Thomas enquanto


atravessamos as portas do elevador para ir ao estacionamento do
hospital.

— Bem, eu acho. O que tem em mente?

— Por enquanto? Nada. Só não lembro a última vez que falei

com ele.

Thomas para de caminhar e fica de frente para mim.

— É o meu dever te aconselhar... — diz, me fazendo suspirar

e concordar com um aceno de cabeça desdenhoso. — Vá com


calma. Sr. Canning não é um membro oficial da nossa organização,

mas alguém importante pra nós. E a única coisa que ele pediu foi
que não envolvêssemos a sua família.

Levo a mão até o pescoço de Thomas e dou uma batida de


leve.

— Pare com isso. Até parece que estou a ponto de pedir a

Sophia pra mim — falo, fazendo Thomas estudar minhas


expressões.

— Desde quando isso está passando pela sua cabeça?

Rio.

— Fique tranquilo. Vá pra casa e descanse. Ah, sobre o taco


de beisebol daquele soldado... compre um novo.
Destravo o carro e me acomodo no banco do motorista. Ao

notar que Thomas não saiu do lugar, abaixo o vidro da janela e faço
um gesto com a cabeça para que entre no seu veículo e dirija até a

própria casa.

— Vá, estou te dispensando.

Meio contrariado, meu amigo assente e faz o que mando, e eu

piso no acelerador, saindo em disparada do estacionamento


subterrâneo do hospital e sem querer, pensando em Sophia.

O papà ficaria decepcionado comigo por tantos motivos.

Primeiro, por eu ter rompido meu casamento. Como a mamma, ele


também não teria aceitado isso. E agora, por eu estar pensando em
uma garota proibida.

As promessas são uma das coisas mais importantes no meu

mundo e parece que ultimamente eu venho quebrando todas.


Depois do que Noah fez com Finn, eu deveria estar fazendo
novos planos para o Natal e não o contrário. Mas eu decidi que não
vou ser um ratinho indefeso para ele. Para Noah, eu serei uma gata

selvagem de unhas afiadas.

Mesmo que o habitual do Noah seja causar medo nas


pessoas, não deixarei que ele me intimide de alguma forma.

Por isso, preciso convencer o meu pai a ir comigo para a festa

na mansão da família Carbone. Eu serei uma gata selvagem, ainda


assim, não estou me sentindo cem por cento confiante em relação a

isso.

Paro em frente ao drive food que fica no caminho para a


clínica veterinária do meu pai e peço os seus sanduíches preferidos
e refrigerantes.

Tínhamos combinado de jantar juntos hoje e de última hora

ele desmarcou, porque havia aparecido um paciente de quatro patas

precisando de atendimento e ele não sabe que horas voltará para


casa.

Depois de pagar pela comida, agradeço e volto para a rua

movimentada. Enquanto dirijo penso se devo contar a ele sobre o


que aconteceu há dois meses: Lexie encontrou minha mãe.

Quando Lina disse que pediria a ajuda a ela, eu resisti. Não


queria dever favores à mulher de um mafioso, embora tenha achado

Lexie incrível, não queria esse tipo de envolvimento. Minha melhor

amiga tem um coração bondoso e já estava gostando demais da


gênia da computação e me convenceu do contrário.

O detetive particular que paguei para encontrar minha mãe

não teve sucesso nenhum. Então, no fim, Lexie pareceu uma opção

interessante. Mais do que isso, ela a encontrou.

Porém, eu tenho o meu lado medroso também. Ainda não tive

coragem de ir atrás dela. Ainda mais, porque minha mãe mudou de

nome e está vivendo bem em Vancouver... com a sua nova família.

Tenho medo de descobrir o motivo por ela ter me abandonado.


Se ela tiver ido embora por que se cansou de mim e do meu
pai? Não sei se suporto esse tipo de verdade jogada na minha cara.

Eu fui programada biologicamente para amá-la. Se ela não sentir o

mesmo por mim, isso vai acabar comigo de um jeito que vai ser

difícil me erguer.

Ao parar o carro em frente a clínica do meu pai, respiro fundo

e coloco um sorriso no rosto. Um passo de cada vez. Primeiro,


vamos convencer o meu velho a ir comigo na festa de Natal da

família Carbone, depois conversamos sobre a mulher que nos

abandonou.

Pego a sacola de papel com sanduíches e o suporte plástico

com os refrigerantes e desço do veículo. No momento em que olho


para a clínica, estranho as luzes estarem todas apagadas.

Será que ele já foi embora?

Olho para os lados e encontro seu carro estacionado.

Franzindo o cenho, caminho até a porta de vidro e tento abri-la, mas

está trancada. Por sorte, tenho uma cópia de todas as chaves do


meu pai, então vasculho minha bolsa e encontro o meu molho de

chaves.
Enfio-a na fechadura e sorrio ao abrir a porta. Assim que entro

vou logo ligando as luzes da recepção e chamo pelo meu pai. Não
tenho respostas. Jogo a bolsa em cima do sofá pequeno de

microfibra e coloco o nosso jantar em cima do balcão. Caminho até


a porta da sala onde faz as consultas e não o encontro.

Ouço vozes vindo do segundo andar e fico em alerta. Passo


pelo balcão da recepção e subo as escadas segurando o corrimão.

Lá em cima, no fim dos degraus, uma luz fraca ilumina e as vozes


vão ficando cada vez mais fortes.

O segundo andar não é grande. Tem um corredor pequeno e


três salas. Geralmente, os bichinhos são operados nesse andar e

ficam por aqui para descansarem. Duas das três portas estão
abertas e vazias. Então, de maneira silenciosa, colo o ouvido na

porta fechada e tento escutar.

Se meu pai estiver transando com alguém não quero


interromper. Vou até ficar feliz. Eu nunca o vi com nenhuma
namorada, mas não sou idiota, ele não deve ser um completo

celibato.

São vozes masculinas e alguém reclamando de dor enquanto


xinga um monte de palavrões. Nem de longe meu pai está
transando com alguém. Espero estar certa sobre isso, pois com

força, coloco a mão na maçaneta e abro a porta.

— Sophia! — meu pai grita, perplexo.

Nada no mundo teria me preparado para a cena que meus


olhos captam. Há um homem sangrando deitado na mesa de inox e
outro em pé perto do médico veterinário. Meu pai tem as mãos

vestindo luvas brancas e ambas estão sujas de sangue, e ele


também segura uma pinça cirúrgica.

Essa sala nunca foi grande e agora aparenta ser mil vezes

menor. E o cheiro de ferro do sangue é tão forte, que me deixa


enjoada.

— Eu vim... eu vim... — não consigo terminar a frase. Não


consigo parar de olhar todo o sangue em suas mãos.

O homem ao lado dele tira uma arma do terno e aponta para

mim, fazendo meu coração acelerar tão rápido, que preciso me


segurar no batente da porta para não cair de bunda no chão.

— Você ficou louco? É minha filha — meu pai rosna e o


homem guarda a arma, abaixando a guarda. Sem falar nada, segura

o ferido em cima da mesa de inox e pela primeira vez, noto de onde


está vindo o sangue...
Meu Deus!

Tem três buracos de bala na barriga do cara e ele está tão

pálido. Talvez eu esteja tão pálida como ele.

— Saia, Sophia.

— Pai.

— Saia! — ele eabraveja e eu cambaleio para trás,

estremecida. Com as mãos vibrando e o nó na garganta apertado,


eu recuo alguns passos e o homem que está em pé, vem com tudo

para fechar a porta na minha cara.

Sem saber o motivo, sinto as lágrimas brotarem dos meus


olhos. Sacudo a cabeça, tentando me livrar do desespero. Em
passos instáveis, aproximo-me das escadas e seguro o corrimão

com força na hora de descer.

Em frente ao balcão, contorno o meu corpo com os braços


ainda trêmulos e tento sufocar o meu medo. Sento no sofá e respiro
fundo, na tentativa frustrada de acalmar o meu coração.

É impossível.

Dentro da minha cabeça, a cena se repete inúmeras vezes. O

homem sangrando. Meu pai com as mãos sujas de sangue. A arma


apontada para mim. O homem sangrando. Meu pai com as mãos
sujas de sangue. A arma apontada para mim...

Sinto a bile subir pela minha garganta.

Não sei como organizar os pensamentos na cabeça e mesmo


que tente entender, não consigo encontrar sentindo para o que

acontece no segundo andar. Tenho a sensação de que o homem


com as mãos sujas de sangue e o meu pai são pessoas diferentes.

Choro em silêncio.

Por que estou chorando?

Não sei, talvez por nunca ter visto tanto sangue na minha vida.

Deus! Aquilo lá em cima não parece coisa boa. Bufo, irritada.


Claro que não, Sophia. Como ter um homem sangrando com três

buracos de bala no abdômen pode ser uma coisa boa?

Quem é o meu pai?

No momento em que vejo meu pai descendo as escadas, não

sei por quanto tempo fiquei sentada no sofá. Os braços continuaram


me abraçando e as bochechas molhadas das lágrimas que

insistirem em cair sem parar.

Levanto num solavanco e fixo meus olhos nos seus,


implorando em silêncio por alguma explicação plausível e que vá
dar sentindo a toda essa situação de origem duvidosa.

— Sophia... não devia ter vindo aqui.

— Eu trouxe o jantar.

Ele respira fundo e passa as mãos no topo da cabeça. Aflição

é tão palpável, que fico me perguntando se a minha está refletindo a

sua.

— Não devia ter vindo aqui — repete.

— O que aconteceu, pai? Quem são esses caras?

Os olhos escuros desviam de mim e ele fecha a mão em

punho. Espero que dê um soco em alguma parede e extravase, sei


lá, porém, ele fica paralisado, remoendo algo. Tenho vontade de

perguntar o que é, mas não sei se devo.

Não sei se tenho coragem...

— Vamos conversar em casa — é a única coisa que fala,

entrando na sua sala e pegando o sobretudo para vestir o corpo.

— E os homens lá em cima?

— Vamos.

Dito isso, ele pega minha bolsa no sofá e segura meu cotovelo

com firmeza ao me arrastar para fora da clínica veterinária.


— Pai... — murmuro.

— Entre no carro — ordena e eu decido obedecer, abalada

demais para contra-argumentar. Escorrego para o banco do carona


e coloco o cinto. Sem dizer mais nada, ele se acomoda no lugar do

motorista e me leva para casa.

O caminho até a nossa casa é um silêncio completo e na

minha cabeça fico me perguntando se os homens ainda estão na


clínica veterinária. Ao parar em frente a nossa casa, ele desce

primeiro e eu fico imóvel dentro do veículo.

Ele dá a volta no carro e abre a porta para mim. Apenas com


um olhar duro e sério me pede para sair. Inspiro fundo e desço, sem

ter coragem de olhá-lo. O vento frio de inverno e quietação do bairro

me atinge como uma pedra pesada caindo no meu estômago.


Sempre amei a tranquilidade do nosso bairro e pela primeira

vez estou odiando. Tudo aqui sempre foi tão acolhedor, seguro e
com cara de lar. Era como se as coisas ruins não chegassem até

esse bairro nobre.

Tenho a sensação de que isso vai mudar no momento em que

meu pai abrir a boca.

Entramos em casa e tenho vontade de ir direto para o meu


quarto. Consigo controlar os pés e sento no sofá, cruzando as

pernas. Não tenho coragem de olhar meu pai ou questionar alguma

coisa, então apenas espero.

— Não queria que tivesse visto aquilo.

— Certo — murmuro.

— Olhe pra mim, Sophia.

Com a respiração pesada, ergo os olhos e encontro o rosto do

meu pai, que me deixa em alerta. Não é uma expressão exatamente

feliz, os olhos tristes me encaram com culpa.

— O que aconteceu pai? — a voz soa com dificuldade e

transparece toda a insegura que estou sentindo. — Quem eram

aqueles homens?
— Existem coisas sobre mim... — começa a falar e eu prendo

a respirar. Meu pai afunda no sofá ao meu lado e segura minhas

mãos entre as suas. — Eu não sou uma pessoa má.

— Eu sei.

— Mas... — Os olhos me encontram de novo. — Eu te amo


tanto, Sophia. Eu faria qualquer coisa por você.

— Eu não entendo, pai.

Ela fecha os olhos por um segundo muito longo e me deixa

agoniada.

— Olhe pra nossa casa, olhe meu carro e o seu carro. Olhe

pra nós e veja as escolas em que estudou, Sophia. Você acha que

eu conseguiria bancar isso sendo apenas veterinário? Claro que

não, querida.

A garganta fecha e o coração bate rápido e de um jeito

doloroso.

— O que quer dizer com isso?

— Aqueles homens... são homens da família Carbone. — A


informação vem contra mim como um choque e como no

automático, recolho minhas mãos. — Eu estava falindo e eles me

ajudaram, querida. Tudo que temos hoje, é graças a eles.


Nego com a cabeça, atordoada.

— Não, não. Se você fosse um mafioso eu saberia. Não faz

sentindo. Nada disso faz sentido. Você... você é meu pai e é um

homem certo. Justo. Um homem que anda do lado da lei.

Levanto rápido, marchando de um lado para o outro, tentando

encontrar sentido nas palavras do meu pai. Não tenho sucesso.

— Não sou um mafioso, querida. Eu apenas ajudo quando

precisam de mim, nada mais do que isso. É como um trabalho extra

— tenta explicar e tudo fica mil vezes pior.

— Ajuda como? Extraindo balas do corpo ensanguentado

deles? — devolvo, cética. Meu pai fica calado e me faz entender

que é exatamente esse trabalho extra que anda fazendo. — Pai,


você é um veterinário, faz cirurgias em cachorros e não em

humanos.

Respira fundo e deixa os ombros caírem.

— Você não entende.

— Não entendo mesmo. Pensei que conhecesse você como a

palma da minha mão. Estava enganada. Nunca desconfiei que você

estava mancomunado com a máfia.


— Eu sempre fui discreto e nunca quis envolver você nisso.
Nunca trouxe os problemas deles pra cá, pra nossa casa. Apesar

de...

Olho para ele no instante em que não termina de falar.

— Apesar de quê?

— Nada — resmunga.

— Não pode parar de fazer isso?

— Nesse mundo as coisas não são simples assim, querida.

Por favor, não se preocupe, não corro perigo ou algo do tipo.

— Como não? — disparo, quase gritando. — E se um dia se

virarem contra você? Nunca pensou nisso? O que acontece com a

gente, pai?

Ele fica de pé e vem até mim, envolvendo os braços no meu


corpo e me puxando para um abraço apertado. Não acho que tenha
medo de que algo ruim aconteça com ele, apenas comigo.

Não posso perdê-lo. É o meu pai, minha família.

— Não se preocupe, meu amor — murmura, alisando os meus


cabelos. — Nada de ruim vai acontecer comigo ou com você.

Fungo.
— Como pode ter tanta certeza?

— Nunca ninguém vai te tocar, Sophia. Não precisa ter medo.


Você está segura — é o que fala, me fazendo suspirar e segurá-lo
com força.

Embora eu não esteja com medo por mim, sinto um calafrio na


espinha, como se as palavras pudessem fazer exatamente o
contrário. São como facas me apunhalando direto nas costas, como

um aviso de que coisas terríveis acontecem com pessoas boas o


tempo todo.

Fecho os olhos e aperto meu pai com tanta força, que me

sinto incapaz de me afastar dele. De repente, o rosto bonito de


Noah preenche a minha cabeça sem permissão e eu sei o que
tenho que fazer.

— Não se envolva nisso, certo? Finja que não sabe de nada


— meu pai diz, como se lesse meus pensamentos.

Sem ter coragem de mentir em voz alta, apenas concordo com

um murmuro e contínuo presa em seus braços. Ele tem cheiro de


sangue e suor, o que embrulha um pouco o meu estômago, porém,
não consigo me afastar.
— Eu te amo — falo ao encontrar a voz e ela soa quase como
um pedido de desculpas em antecipação.
Encaro o cartão vermelho nas mãos.

“Boas festas e que os negócios prosperem!”

Outra merda de cartão e não faço a mínima ideia de quem


mandou. Eva disse que chegou hoje de manhã. Esse também não
tem remetente e foi escrito à mão, com uma letra curvilínea e

elegante.

Isso pode ser um problema...

— Foi uma boa ideia fazer essa festa? — a mamma pergunta

ao parar na soleira da porta aberta do meu quarto. Jogo o cartão na

cômoda e abro um sorriso para minha mãe.


Ela está linda. Usa um vestido vermelho de mangas longas, é

colado ao corpo e desce até a altura dos joelhos. O cabelo foi preso
em um coque baixo e o rosto tem pouco maquiagem. O pescoço

exibe um colar de diamantes delicados que o papà lhe deu de

presente e as orelhas brincos pequenos de ouro branco.

— Por causa do papà?

Ela respira fundo e vem até mim. Sem que eu tenha pedido,
pega a gravata em cima da cama, passa pelo meu pescoço e

começa a fazer o nó sem olhar para mim.

— Ele adorava reunir toda a família antes do Natal... —

murmura. — Parece tão errado fazer isso sem ele.

Ela enruga o nariz ao fungar e os cílios batem rápido,


impedindo as lágrimas de fazerem caminho nas bochechas.

— Mamma.

Toco seu cotovelo, fazendo-a me olhar. Ela tenta resistir no


começo ao desviar. Minha mão é rápida e toca seu queixo, virando o

seu rosto delicado para mim.

Sempre achei as mulheres italianas impetuosas, não é

simples domá-las. Ou entendê-las, e raras às vezes que presenciei


medo e tristeza na mamma, por isso não gosto de como os seus
olhos brilham.

Isso me faz querer desenterrar o assassino do meu pai, fatiá-

lo com as próprias mãos e dar para os cães comerem. Se a carne

do filho da puta já não estivesse podre, eu não teria problema em

fazer isso.

— Sinto falta dele.

Contraio a mandíbula.

— Eu sei.

— Só tenho vocês agora — diz, suspirando ao finalizar o nó


da gravata. Em seguida, leva as mãos até o meu rosto e segura. —

Eu sei que não quer falar sobre isso, mas desde o seu divórcio com

Hayley meu coração fica apertado, como se esperasse uma

tragédia.

Coloco as mãos em seus ombros e a puxo para mim com

delicadeza.

— Ela está segura, fique tranquila.

A mamma se afasta para olhar em meus olhos e aperta os

lábios ao assentir.

— Quero te pedir uma coisa.


— Diga.

— Não demore tanto pra se casar de novo. Um homem com o

seu cargo precisa ter uma esposa. Nós mulheres não entendemos

de negócios, mas entendemos quando o assunto é família.

De leve, faço um gesto positivo com a cabeça. Não tenho


pretensão de me casar tão cedo e isso não anula o fato de mamma

estar certa.

— Ótimo, se precisar de ajuda para procurar uma noiva, me


fale.

— Mamma — repreendo, fazendo-a dar de ombros. Não tem


jeito, casar os outros é algo que corre pelo seu sangue.

— Shalom está disponível e é uma moça tão bonita. Ainda é

da nossa família.

Não consigo impedir a risada de escapar da garganta.

— Você vai conseguir casar a filha de Enrico, só não será

comigo.

Seguro o seu rosto entre as mãos de novo e deposito um beijo


na testa pequena, fazendo-a resmungar uns palavrões em italiano e

depois abre um sorriso largo para mim.


— Enrico era um bom homem, fiel ao seu pai e por anos foi

segurança da sua irmã. Sinto que preciso encaminhar Shalom para


um bom marido. Julian e Nicholas estão indisponíveis e tenho

certeza de que não me deixará te casar de novo.

O canto da boca se curva em um sorriso maroto.

— Não se preocupe, escolha um dos meus homens e eu o

caso com Shalom.

Mamma arqueia uma sobrancelha, desconfiada. De repente,


um brilho animado tomando conta dos olhos escuros e redondos.

— Tem certeza?

— Sim, vão fazer qualquer coisa que eu mandar.

Ela assente, satisfeita.

— Bom, então, vou avaliar os homens mais bonitos e de bom


caráter. Não posso entregá-la para qualquer um. Enrico se reviraria
no túmulo, sempre teve orgulho da beleza da filha.

— Shalom é linda mesmo. Qualquer homem terá sorte de tê-la

como esposa.

— Perfeito.

— Você parece feliz.


Abre outro sorriso.

— Gosto de casamentos. Acho que fui uma santa

casamenteira em outra vida — emenda rindo e eu suspiro ao revirar


os olhos. Não posso negar, a mamma não podia estar mais certa.

Eu não esperava que Sophia realmente viesse para a festa da

minha família, mas ela veio. Sozinha. Dou um passo para trás e faço
um gesto para que entre na mansão. Ajudo-a tirar o sobretudo e o

cheiro de jasmim invade meu nariz.

— Além de mafioso, abre portas — rosna com desdém.


Mesmo que esteja sendo desrespeitosa comigo, não consigo ficar
irritado. Ela é intrigante.

— Tenho outras habilidades também — rebato e ganho uma

Sophia de olhos furiosos e brilhantes. Nem me espera pendurar o


sobretudo no cabideiro, vai longo adentrando à casa e me deixando
sozinho no hall de entrada.

— É uma bambina geniosa — a nonna fala ao parar no fim da


escada e esticar a mão para mim. — Os homens dessa família

adoram um desafio.

Inclino-me para diminuir a nossa diferença de tamanho e deixo


que beije uma bochecha de cada vez. Depois se engancha no meu

braço e caminhamos devagar até o salão da mansão.

Faltam um pouco mais de uma semana para o Natal, por isso

já tem um pinheiro de quase três metrôs com enfeites natalinos no

canto do salão, que a mamma e Romie fizeram questão de decorar.


E a caçula pendurou várias meias verdes e vermelhas na lareira.

Garçons perambulam pelo salão, oferecendo champanhe e


petiscos. Com uma taça na mão, minha mãe cumprimenta os

convidados e a vovó se solta do meu braço para ir se juntar a nora.

Alcanço uma taça de champanhe quando um dos garçons


passa por mim e caminho até Sophia, que está com Lina, Julian,

Nicholas e Lexie. A garota lança um olhar afiado para mim e torce a

boca no momento em que me ver aproximar deles.

Sorrio.
Ela usa um vestido de mangas cumpridas e um decote bem

profundo, provocante. É azul turquesa e o tecido se estende até o


seu tornozelo, tem uma fenda na perna esquerda, deixando uma

parte significativa da pele negra amostra.

Os cabelos longos e com cachos suaves estão presos de

lado, deixando o pescoço nu exposto. Ela não usa nada além de

brincos pequenos. Também não tem muita maquiagem e a boca

está pintada de vermelho sangue.

Sophia é linda.

Gostosa.

— Cadê a sua esposa? — Sophia questiona, fazendo os

casais se entreolharem e ficarem em silêncio. — Eu só a vi uma


vez... na festa de noivado da Lina e do Julian. Não devia estar aqui?

Com você?

— Sophia! — Lina fala em um tom de repreensão, que Sophia

ignora completamente e tenta prender meus olhos aos seus.

Mesmo que seja interessante ficar encarando essa garota de


boca grande e atrevida, olho para meu irmão e Nicholas. Não

preciso dizer nada, eles entendem o que eu quero no ar e levam as

suas mulheres para longe de nós.


— Pensando bem, eu acho que a sua esposa não estava

muito feliz naquela noite. Parecia que ela queria fugir de você.

Bebo um gole de champanhe sem desviar dos olhos verdes.

— Não estou mais casado — é a primeira vez que falo isso

em voz alta e não sei o porquê quero que Sophia saiba que não
estou mais comprometido.

Estar casado nunca foi empecilho de nada. Hayley e eu

dividíamos a mesma cama, mas ela não me deixava tocá-la. Então,


eu precisei me divertir de outras formas.

Meu casamento nunca foi um problema para as outras


mulheres que queriam apenas aquecer a minha cama e eu estava

feliz assim. Hayley não se importava. Na verdade, ela ficava feliz de

eu satisfazer minhas necessidades fora de casa e não procurá-la.

Sophia não fica surpresa.

— Por quê?

— Por quê? — rebato de forma arrogante. — Tem interesse

que eu te faça minha? — devolvo, fazendo os olhos verdes


inflamarem de uma emoção indecifrável.

Interessante.
— Precisamos conversar em particular, é um assunto sério e

não pode esperar — declara ao se recompor. Desvia o rosto de mim


e bebe todo o líquido da taça.

— Venha comigo.

Bebo todo o meu champanhe também e entrego a taça a um

garçom. Sophia faz o mesmo e sob o olhar intrigado da mamma, ela

me segue. Saímos do salão e atravessamos o hall de entrar até um


corredor pequeno. Abro a grande porta de madeira e a deixo entrar

primeiro.

Os olhos desconfiados de Sophia passeiam pelo escritório.

Devagar, se aproxima da mesa de madeira envelhecida e encara a

foto em família no porta-retratos, sem dizer nada.

— O que não pode esperar?

Percorro o caminho até o aparador com a miniadega


observando Sophia, que se vira e cruza as os braços na altura dos

seios, impedindo a visão do decote convidativo. Pego dois copos de

cristais, antes que consiga servir, ela avisa que não vai beber.

Com o whisky na mão e passos lentos, chego perto da mesa e

sento na beirada, fazendo Sophia recuar um pouco para trás, ainda


de braços cruzados. Nossos olhos se prendem e eu tomo um gole

de whisky.

— Eu sei sobre o meu pai — admite.

Não esperava ouvir esse tipo de resposta, no entanto, assinto,

encorajando Sophia a continuar falando. E interessado também para


saber onde essa conversa vai nos levar.

Os braços se descruzam e ela bate os cílios longos devagar.

— Quero saber o que é preciso pra pagar a dívida do meu pai.

Enrugo a testa sem entender enquanto o espanto transforma


seu rosto.

— Dívida?

— Sei lá, quero que libere meu pai de qualquer acordo que ele

tenha com vocês. O que é preciso pra isso acontecer? Eu pago.

Sinto o canto da minha boca se elevar.

— Não sei se você é capaz de pagar o preço.

Sophia rompe a nossa distância com dois passos pequenos e

ergue o queixo. Não sei se tem noção de como está próxima de mim

e como isso pode ser perigoso para ela.

— Diga.
— Se o preço for você. Está disposta a pagar? — questiono,

estudando as suas reações. Sophia está em choque.

Quando você vive num mundo como o meu, aprende que as

coisas funcionam da seguinte forma: o que é seu é seu e se quer

algo que ainda não é dono, você vai lá e pega.

Talvez eu queira que Sophia seja minha.

Talvez eu a faça minha.

— Não sou um pedaço de carne que você pode comprar.

— É o preço da liberdade do seu pai — retruco, analisando o

rosto delicado. As duas pedras verdes focalizam os meus olhos e os

cílios piscam de forma demorada. Ela é linda e é ainda mais


incitador, porque odeia o meu mundo, mas consigo ver um lampejo

de fascínio rodear Sophia.

— Você quer transar comigo?

Abro um sorriso amplo e maroto.

— Você é linda, Sophia e eu tenho olhos. — Coloco o copo de

cristal em cima da mesa e torno a atenção a ela. — O que o Finn

disse no primeiro encontro de vocês? Que não queria apenas sexo?

Ele estava mentindo.


De forma lenta e intensa, os meus olhos flanam pelo seu
corpo, de baixo para cima até encontrar as pedras verdes.

Sophia ainda continua calada.

— Não acredite em tudo que os homens falam.

— O que você fez com o Finn?

— Nada.

— Ele foi embora da cidade.

— Isso é ruim?

O peito dela sobe e desce por causa da respiração curta,

porém, Sophia acaba negando com a cabeça. Ao se dar conta da

resposta que me deu, recua alguns passos e endireita os ombros.

— Meu pai é a única família que eu tenho aqui. Não quero ele
envolvido com a máfia — articula, voltando ao assunto que nos

trouxe para o escritório.

— Entendo, mas não estou exatamente prendendo o seu pai.

— Como?

— Seu pai teve oportunidade de não ter mais envolvimento


com a minha família. E o que ele fez? Preferiu ficar. O único pedido

dele era que você e sua mãe ficassem de fora... em segurança.


Ela balança a cabeça, confusa.

— Não estão obrigando meu pai a extrair balas dos seus


homens, por que ele está devendo dinheiro a vocês?

Rio com sarcasmo.

— Foi isso que ele disse?

— Não com essas palavras — admite.

— Não estamos obrigando o seu pai a nada, Sophia. Ele nos


ajuda, porque gosta da sensação. De algo proibido. Você entende?

— Não — responde rápido demais para ser verdade.

— Não se preocupe com o seu pai, ele sabe se cuidar


sozinho.

— Tá bem, eu transo com você. É isso que você quer?

Vamos! — rebate de maneira presunçosa e irritadiça.

Rio.

— Ah, sim.

— Estou falando sério.

— Tentador.

— Noah! — ela grita.


— No dia em que transarmos, quero você na minha cama
tremendo por causa de orgasmos e não de raiva — é o que digo,
pegando meu copo de cristal e bebendo o resto do whisky. —

Acabamos por aqui. Vá embora.

— Não acabamos — ela protesta.

— Vá aproveitar a festa, Sophia.

— Não, obrigada. Eu vou embora — fala, quase trincando os


dentes.

Ela está prestes a se afastar e eu inclino o corpo para frente e


agarro o seu pulso.

— Acho que não vou te ver até o Natal, então feliz Natal,
Sophia.

A mulher finge um sorriso.

— Sou metade judia também — crispa, como se fosse um

xingamento.

— Feliz hanucá — corrijo-me com sarcasmo.

Ofegante e torcendo a boca de indignação, ela se solta de

mim e gira nos calcanhares e sai do escritório, pisando duro e


batendo a porta com mais força que o necessário. Julian entra na
sala alguns segundos depois.
Endireito o corpo e movo os pés até o aparador para encher o
copo com mais whisky. Sirvo um para Julian também e o entrego.

Brindamos em silêncio e ele leva o cristal até a boca para um gole


generoso.

— Sophia?

Estendo a mão até o seu pescoço e dou um tapa de leve,


fazendo meu irmão apertar os lábios em uma linha reta.

— Ela é filha do Sr. Canning — digo.

Quando Julian entrou para a organização, o veterinário já

extraia balas de alguns dos nossos saldados. Meu irmão nunca


precisou ir até ele, porque sempre tivemos o Dr. Michael, o médico
que acompanha a nossa família há anos. E o Julian sempre foi

muito proativo, então com o tempo aprendeu a extrair as próprias


balas e suturar as feridas.

— O médico veterinário?

Confirmo com um aceno de cabeça.

O papà tinha sido firme com a ordem de não envolver a


esposa ou filha do Sr. Canning nos negócios. Quando alguém
precisava da ajuda dele, ligava e se encontravam na clínica ou em

outro lugar seguro.


Nunca na casa dele.

— Ela sabe sobre o pai?

— Sim.

— E o que você quer fazer?

Suspiro e aperto a nuca do meu irmão.

— Por enquanto... nada, mas não se preocupe, Sophia é

minha.
Madison é uma das mulheres mais bonitas que eu conheço.
Tem um cabelo loiro e comprido, uma boca bem desenhada, que
fica perfeita em volta do meu pau, um corpo esguio, uma bunda

empinada, seios redondos e durinhos.

E ela sabe cavalgar bem em cima de mim.

Mesmo depois de termos transado, não consigo me sentir


satisfeito e não acho que comê-la de novo é a solução. Sempre

gostei de me divertir com ela e nos damos bem, mas de repente,


estou entediado.

Na verdade, é mais do que isso. Desde a nossa conversa de

alguns dias atrás, não consigo tirar Sophia da cabeça e não lembro
de ter ficado tão fissurado em uma mulher antes.
Insisto em pensar em formas de fazê-la minha, quase como se

fosse um dos meus negócios que preciso fazer dar certo. É


instigante, porque nunca desejei algo que não podia ser meu.

E no momento, quero Sophia, implorando para estar na minha


cama e para entrar com tudo dentro dela.

Aquela garota pode até mentir e dizer que não me quer, mas o

fascínio que faz os seus olhos brilharem me diz outra coisa. É


diferente. Sophia não quer gostar de mim ou me desejar, o que

significa, que no fundo, é exatamente isso que ela quer.

Nunca fui de fazer a coisa certa, então, vou torná-la minha e

abraçá-la com a escuridão que vive dentro de mim.

— Você não parece tão feliz para alguém que finalmente está
solteiro de novo — ela fala ao deitar nua do meu lado na cama,

abrindo as pernas e exibindo um sorriso de quem sabe que é

gostosa. — Seu casamento não era um porre? Não devia estar

comemorando por finalmente ter se livrado da Hayley?

Meu casamento era um porre e não gosto de ouvi-la falando

desse jeito da Hayley. A garota não tem culpa de nada que

aconteceu entre nós e ainda é minha responsabilidade.


— Não me livrei da Hayley, ela ainda é importante pra mim,
então é melhor ter cuidado com as palavras.

Ela revira os olhos.

— Não entendo como a sua vida funciona. Você achava chato

estar casado com uma garota mais nova e agora está assim por que

se separou?

— Estou bem.

— No que está pensando? Me diz.

Madison pega a minha mão e leva para cima dos seios

redondos, alisando o próprio corpo.

— Nada.

— Você parece tenso.

— Preciso ir embora — é o que digo antes que minha cabeça

transforme Madison na Sophia e eu a foda pensando em outra

mulher. Só de imaginar isso, o meu pau pulsa em antecipação.

— Você parece animado ainda — comenta e aponta com o

indicador para o meu pau duro. — Tem certeza de que quer ir

embora?
Levanto e começo a me vestir, fazendo-a franzir o nariz,

emburrada. Ao notar que não estou parando de colocar as roupas,


desce da cama e vem até mim. Envolve os braços na minha cintura

e encosta os seios de mamilos enrijecidos contra o meu abdômen.

— Dorme comigo hoje — pede e abre um sorriso amplo. —

Você não precisa voltar pra casa, não é mais casado.

Não tinha falado para Madison sobre a minha separação.


Também não consegui impedir que manchetes do tipo “Divórcio do

herdeiro do magnata do Cassino” e derivados saíssem nos sites de


fofoca.

— Que tal sairmos pra jantar?

Encaro os olhos esmeraldas de Madison e de imediato o rosto


de Sophia preenche minha cabeça. Aqueles olhos redondos

também são verdes, mas bem mais escuros, intensos e julgadores.

— Dorme comigo, Noah — ela fala depois que fico calado e

eu apenas observo o seu rosto delicado.

Antes de me casar, eu cogitei a possibilidade de engrenar um


relacionamento sério com a loira. Ela é linda, inteligente e divertida,

e embora desconfie da minha vida, nunca conversamos sobre isso.


Com o tempo, eu percebi que gosto dela na minha cama e nada

mais que isso.

— Sabe que não vou me casar de novo, não é? — pergunto,


fazendo-a encrespar a boca. É mentira, claro que terei que me casar

em breve, mas não quero que ela se iluda pensando que existe
alguma chance de eu transformá-la na minha rainha soberana.

— E eu tô te pedindo em casamento por acaso? Falei em


jantar e dormir comigo — resmunga, plantando as mãos estendidas

no meu peito e impulsionado o próprio corpo para trás.

Não falo nada. Quando ela me conheceu, eu deixei claro que


gostava de dormir sozinho. E depois do meu casamento, eu dividi a
cama com Hayley porque nem fodendo eu dormiria no sofá.

E eu sei que ela quer um relacionamento sério. Além de linda,

Madison é carente e já tentou rotular o que temos. Cobrou muitas


coisas também e quando cogitei não nos vermos mais, voltou atrás

e continuamos saindo.

Fecho os olhos por uma fração de segundo e respiro fundo.

Sob o olhar raivoso da loira, pego a blusa de manga longa

jogada no chão e passo pela cabeça. Calço as botas e pela visão


periférica, noto Madison vestindo o bady doll pelo corpo também.
Pego o casaco e o celular em cima da cômoda. Ela não diz
nada e eu também não estou com vontade de conversar, então, a
única coisa que faço antes de sair do seu apartamento é beijar o

seu rosto, fazendo-a suspirar.


— Precisa controlar os seus homens. Da próxima vez que
algo assim acontecer, você sabe o que fazer — é o que digo a Théo,
que está sentado à mesa em tora de madeira junto dos outros

caporégimes, subchefe e o meu conselheiro, Thomas.

Ele é um dos meus novos capitães. Está com um negócio no


centro da cidade, uma casa noturna. Descobrimos recentemente
que alguns dos seus soldados estavam vendendo heroína. Ossos

foram quebrados e cada um perdeu o polegar da mão direita.

Théo é criativo.

— Drogas chamam muita atenção, por isso não trabalhamos

com isso. Vamos perder toda a nossa credibilidade, se começarem


a falar nas ruas. Não foi fácil o que o meu avô e pai fizeram para
que a família esteja onde está hoje. Não permita que um soldado

estrague os nossos negócios, Théo. Isso é algo inadmissível.

— Não vai se repetir — fala, cheio de convicção.

— Ótimo.

Gabriel remexe na cadeira. Dos meus capitães, ele é o mais

velho depois do meu tio. Claro que isso eleva a sua autoestima.
Nunca ousou falar em voz alta, mas se acha melhor do que os mais

novos, porque tem mais experiência.

A diferença que o Gabriel não enxerga, é que os mais novos


estão sempre encontrando formas de mostrar serviço e trazer mais

lucros para a nossa organização. São obstinados. Já ele, não se

move, estagnou faz um tempo e o negócio que dirige não é um dos


melhores da nossa família.

Ele tem sorte de ser leal a mim.

— Vá ver minha mãe depois daqui — ordeno a Théo.

— Sim, Don Carbone — concorda sem pestanejar.

Entre os meus homens, a mamma escolheu o Théo para se

casar com Shalom. Ele não ficou muito feliz com a notícia de ter

ganhado uma noiva, mas casamentos assim são mais do que

comuns no nosso meio e fortalecem alianças.


Além do mais, o pai dele é o primeiro-ministro de Quebec.[14]

Isso com certeza abrirá outras portas para nossa família. Temos
alguns políticos na folha de pagamento, nunca tivemos alguém com

esse título.

Vincenzo, o irmão de Shalom e filho mais velho de Enrico, que

também é um dos meus novos capitães, encara Théo com uma

expressão dura. Não ousa dizer nada, porque falar alguma coisa é ir
contra as minhas vontades.

E Vincenzo sabe o que isso implica.

Depois de falarmos sobre os negócios que temos na reserva e

o carregamento de armas que está chegando pelo porto, encerro a

reunião. Vincenzo, Théo e Gabriel vão embora. Julian, Nicholas,


Thomas e o seu irmão mais novo, Oliver, permanecem no escritório.

E claro, meu tio que ainda está aqui em Montreal, continua

sentado. Ele não disse nenhuma palavra na reunião, apenas

observou como se quisesse dizer algo ou questionar o jeito que lido

com os nossos negócios.

Sem pedir permissão e como se fosse o dono de tudo, estica

o braço em cima da mesa e arrasta para perto a caixa onde meu pai

guardava os seus charutos preferidos e abre.


Antes que tenha a chance de escolher um charuto, eu trago a

caixa de volta e encaro meu tio.

— Isso é do papà — rosno, elevando o canto da boca e

encarando-o de maneira profunda.

Julian fita o nosso tio com uma carranca furiosa pela ousadia,
mas não move nenhum músculo.

— Não ultrapasse os limites, tio Stefano.

— Claro, Don — responde e depois encaminha a atenção

para Oliver, que observa em silêncio. — Você é novo e tem mãos


delicadas — ironiza, me fazendo contrair o músculo do maxilar.

— Quer que eu te mostre do que eu sou capaz? Posso acabar


com você e nem saberá o que te atingiu. Sou novo e forte, você é

velho.

Thomas faz menção de que vai repreender o irmão mais novo


e eu o impeço com um leve gesto de cabeça.

— Não sou fraco.

— Não disse isso — Oliver retruca, desdenhoso.

— Não o subestime, tio — aviso. — Ele é bom com facas e o


melhor arremessador que eu conheço.
Tio Stefano torce a boca em desgosto, afrouxa o nó da

gravata e fica quieto. Ótimo. Eu o amo, no entanto, não gosto de o


ter por perto por muito tempo, porque eu sei, que no fundo, se

arrepende de ter demorado tanto tempo para se envolver com os


negócios ilícitos da família.

Se tivesse seguido os passos do papà, ele teria sido o seu


sucessor e se tornado o Don da família Carbone.

Acredito que ele é inteligente o suficiente para não me trair,

entretanto, isso não o impedirá de desejar a minha coroa ou de


questionar a minha liderança, mesmo que em silêncio.

— E os cartões? — pergunto a Nicholas, indo para o que


realmente interessa. — Liam descobriu algo?

— Nada, ele disse que é apenas um cartão de Natal comum.

Assinto, impaciente.

No nosso mundo, nada é simples. Receber um cartão


desejando que os negócios prosperem? Isso é problema e preciso

resolver antes que interfira de forma significativa na nossa


organização.

— Mande o Liam verificar as câmeras de segurança da

mansão — ordeno, fazendo Nicholas assentir e levantar, abotoando


o terno cinza escuro para sair do escritório. — Acabamos por aqui
— é o que dito, ficando de pé e quase que de imediato, os meus
homens fazem o mesmo e saem da sala logo em seguida, menos

Thomas.

— Meu irmão é impulsivo.

Nego com a cabeça, voltando a sentar na mesa e pegando a


caixa de charutos do papà.

— Se o meu tio for castrado, ele vai merecer — retruco,


fazendo meu amigo rir. —Tente manter Oliver sob controle.

— Não se preocupe. Ele acabou de ser promovido, não vai

querer estragar as coisas comprando briga com o tio do Don.

— Gosto de Oliver, ele é temperamental e inteligente.

Thomas abre meio sorriso, orgulhoso do irmão mais novo.

— Sei que é sangue do seu sangue e você o ama, mas ele é

um cretino. Ele me olha como se eu não merecesse o meu cargo.


Isso me irrita demais.

Concordo com um aceno de cabeça.

— Acho que ele está com medo de como a nossa organização


vem mudando. O papà se foi, o Enrico também, aquele filho da puta
do Giuliano teve o que mereceu por ter traído a nossa família e
Gabriel... é Gabriel.

— Ele já questionou a sua liderança?

— Não em voz alta. Meu tio é inteligente pra saber que não se
deve duvidar da liderança de um Don.

— Espero que sim, porque guerras são sempre ruins para o

negócio.

— Ele não vai entrar em uma guerra comigo.

— Como tem certeza?

— Ele é idiota... — digo ao abrir a caixa de charuto do papà e

suspirar. Sinto falta dele. Droga. Eu sinto muito. — Meu tio é idiota,
mas ama a família acima de tudo. E entrar em guerra comigo é o

mesmo que perder tudo que é importante pra ele.

Thomas meneia a cabeça em um gesto positivo e fica em


silêncio.
Por quê? Tem interesse que eu te faça minha?

A mente traiçoeira vai direto para o mundo erótico e imagens


do corpo sarado do Noah, que eu nunca nem vi, preenchem minha
cabeça, ele nu, em cima de mim, pesado, suado, quente e duro.

Que merda.

Aumento a velocidade na esteira e corro com força, sentindo

uma excitação esquisita atravessar o meu corpo e se misturar com

as gotas de suor que caem do meu rosto. Os meus passos batem


com força na lona e o barulho ecoa pelo porão.

Se o preço for você. Está disposta a pagar?


Continuo correndo, olhando para a frente e sentindo os

músculos da panturrilha se contraírem. Tenho a sensação de que


estou fazendo isso há horas e não minutos. E que de fato, sou

fisicamente incapaz de parar. Ou de parar de pensar nas palavras

de Noah. Ou na sua voz ecoando na minha cabeça.

No dia em que transarmos, quero você na minha cama

tremendo por causa de orgasmos e não de raiva.

A mente continua barulhenta e não consigo me sentir

conectada com nada, apenas uma vontade incontrolável de

aumentar a velocidade da esteira e correr até desmaiar.

As perguntas de Noah continuam ressoando na minha

cabeça. Fico irritada comigo por não conseguir para de pensar nisso
ou nele. Meu corpo implora para parar com a maratona de corrida e

eu desligo a esteira, sentindo a exaustão dominando cada

terminação nervosa.

Pego a garrafinha de água no suporte da esteira e me jogo no


sofá. Bebo um gole e respiro fundo, tentando fazer os meus

batimentos cardíacos desacelerarem. Sinto que estão tão fortes,

quase como se ameaçassem atravessar meu peito e cair a dez

metros de distância dos meus pés.


— Sophia? — meu pai grita por mim lá de cima.

Penso em ignorá-lo.

Aos poucos, todas as coisas sobre o meu pai foram fazendo

sentindo. As saídas constantes de madrugada e os atrasos para o

jantar. E ele tem razão, um veterinário não conseguiria bancar uma

casa como a nossa em um bairro nobre ou me dar de presente de


aniversário um carro do ano.

Tudo sempre esteve debaixo do meu nariz e eu não

enxerguei.

Ou não quis enxergar.

Não foi fácil saber o que ele faz. Tudo piorou muito mais

quando descobri que sr. Canning não está sendo obrigado a fazer

nada. Ele ajuda a família Carbone porque gosta dessa vida, da

adrenalina.

Achei que Noah estivesse mentindo, mas ao confrontar meu

pai, ele admitiu. Ficou bravo por eu ter ido falar com o Noah, disse
que eu poderia ter perdido a língua por ter sido tão atrevida com o

chefe da máfia.

São homens cruéis, Sophia. Mantenha distância.


Foram as exatas palavras que ele disse para mim. Se são

homens cruéis, por que ele não mantém distância também?

Bebo o resto da minha água e levanto, forço meus pés a

subirem as escadas do porão e sinto o corpo doer por causa do


cansaço. Encontro-o na cozinha, guardando as compras que trouxe

do supermercado.

Usando óculos de grau e se movimentando na cozinha,


parece tão inofensivo. Apenas um veterinário que ama a profissão.

Como as aparências enganam. Às vezes eu acho que não sei quem


meu pai é de verdade.

— Vamos cozinhar algo juntos para o jantar?

— Não estou com fome — minto e deixo a garrafinha vazia em


cima da ilha, passo por ele e vou para o quarto. Talvez seja a

irritação, ao subir as escadas para o primeiro andar, não sinto


cansaço ou dor.

Ao entrar, tranco a porta, na tentativa de evitar qualquer


conversa com o meu pai. Caminho até a cômoda ao lado da cama e

abro a primeira gaveta, pegando o envelope com as informações da


minha mãe que Lexie me deu.
Hesitante, abro e retiro o conteúdo de dentro. Observo a

mulher nas fotografias. Se passaram onze anos desde a última vez


que vi minha mãe, e apesar de temos os mesmos olhos verdes e o

sangue, eu não a conheço. Ela é linda e o sorriso doce que ficou


cravado na cabeça e me acompanhou por todos esses anos ainda é

o mesmo.

Por que foi embora, mãe?

Por que não tenho coragem de ligar para você?

Tomo um susto ao ouvir um bater de porta.

— Vamos conversar — meu pai diz.

Guardo as fotos dentro do envelope de novo e coloco dentro


da primeira gaveta da cômoda.

— Não hoje, pai.

Olho a minha porta como se fosse capaz de enxergar meu pai


através da madeira e não consigo impedir a sensação de ingratidão

cair sobre o peito. Por causa das coisas que ele faz para máfia, eu
tenho uma vida boa e muito confortável.

Ele fez tudo isso por nós.

Para vivermos bem.


Seu pai não é ruim, Sophia.

— Depois — grito e ouço meu pai recuar alguns passos. Logo

em seguida, questiona:

— O quê?

— Não hoje. Depois podemos conversar. Prometo... tentar


entender sua vida, pai.

— Obrigado, querida.

Respiro fundo e sinto frio no estômago ao mesmo tempo em


que a nuca arrepia. É impossível controlar, o rosto de Noah domina

os meus pensamentos com a bendita voz grossa e sexy dizendo


“Por quê? Tem interesse que eu te faça minha?”.

Fico irritada por ele continuar invadindo minha cabeça como


se fosse meu dono.

Se eu tenho interesse que ele me faça dele?

Não, não tenho interesse de ser sua, Noah Carbone.


Sento na banqueta e peço um drink de Caribou[15] ao barman.

Ele me dá um sorriso de covinhas e começa a preparar a minha

bebida. Não costumo sair para beber sozinha, mas hoje preciso de
álcool para organizar minha cabeça.

Ou pelo menos tentar.

Meu pai...

Minha mãe...

Noah e a sua proposta indecente...

Por que não consigo parar de ouvir a voz de Noah dentro da


minha cabeça? Nunca fiquei assim por um cara. Sempre mantive

meus pés no chão e escolhi bem os homens com quem eu saía.

Bem, com exceção de Finn, é claro.

Posso errar de vez em quando também, sou filha de Deus.


— Por conta da casa — o barman fala ao servir meu Caribou

e me puxando para o presente.

Sorrio para ele e agradeço.

Embora nunca tenhamos nos falado, eu sei que ele estuda na

Universidade de Montreal também. É um garoto estudioso e

trabalhador, além de tudo, é lindo. Tem um cabelo escuro, maxilar

marcado e músculos. Eu devia estar me interessando por alguém


assim e não pensando naquele mafioso arrogante e que se acha o

dono do mundo.

Não tenho interesse de ser sua, Noah Carbone! Berro dentro

da minha cabeça, na tentativa de fixar a informação.

A fim de me distrair do Noah, que insiste em ficar dominando


meus pensamentos, observo o barman trabalhar. Será que peço o

seu número? Talvez eu deva. Talvez eu não deva.

Droga.

Um beberrão senta na banqueta ao meu lado e pede uma

cerveja, em seguida se inclina para o lado e me olha de baixo para


cima, depois assobia, soprando o bafo de álcool na minha cara.

Bato os cílios com força por uma fração de segundo.


— O que uma linda moça como você faz sozinha num bar

sexta à noite? — questiona com certa malícia e abre um sorriso

largo, me fazendo notar o dente de ouro na boca.

Nojento.

— Não é da sua conta.

Seus olhos inspecionam o meu corpo de novo e ele lambe os

lábios, sorrindo. Noto que não está tão bêbado, é apenas um idiota

que não consegue controlar o pau dentro das calças.

Babaca.

— Atrevida. Meu tipo preferido.

Depois que eu enfiar a mão na cara dele quero ver se ainda

serei o seu tipo preferido.

Tento ignorar o homem ao meu lado, o que se torna

impossível no momento em que ele enfia a sua mão asquerosa na


minha coxa, como se fosse normal sair por aí tocando as pernas de

mulheres desconhecidas.

Com força, retiro a mão dele de mim. O imbecil ri, se


divertindo. Volta a me alisar e com a paciência esgotada, levanto a

mão para acertar uma bofetada no rosto feio e de barba grande.

Ele me impede de fazer isso ao segurar o meu pulso.


— Algum problema? — um homem de terno preto pergunta ao

parar perto de nós. Ele não espera por respostas. — Se não quiser
perder a mão, é melhor largar a garota.

— Ah, é? Por que eu faria isso?

Ainda tentando entender que merda está acontecendo, franzo

o cenho. Solto-me do tarado horroroso e busco na memória algum

vestígio de onde conheço o homem de terno.

— Porque eu estou mandando — fala num tom de ameaça e

de forma discreta, abre um pouco o terno, mostrando um coldre na


cintura e um revólver.

Meu coração acelera.

— Quem é você? — questiono e ele não se dá ao trabalho de

me responder. Com força brusca, segura o tarado pelo braço e o

arrasta para fora do bar, onde tem mais um homem também usando
terno esperando os dois.

Rápido, vasculho a bolsa atrás da carteira e ao achá-la, jogo

algumas notas em cima do balcão para pagar minha bebida. Com


passos apressados, caminho para fora do barzinho e empurro um

pouco a porta e espio.


Eles levam o tarado para perto de uma van estacionada e de

dentro, desce outro homem. Não demora muito para reconhecê-lo,

ele estava com Noah no dia em que meu carro quase foi roubado.

Fecho os olhos com força e respiro fundo, irritada.

Agora os homens dele me seguem?

Que merda.

Volto para dentro do bar e estou prestes a sentar na banqueta


de novo quando mudo de ideia. Aprumo-me sobre o balcão e chamo

o barman de sorriso de covinhas.

— Se perguntarem por mim, diga que eu saí pela porta da

frente — digo, fazendo-o concordar com um aceno de cabeça

depois de erguer uma sobrancelha interrogativa.

Passo pelas mesas e ando até a saída dos fundos, xingando

Noah por ter colocado seus homens para me seguir. Por que ele

está fazendo isso? Não temos nada e eu não sua propriedade.

Mafioso possessivo do caralho.

Chego no corredor escuro e pequeno que dá na direção da


saída dos fundos. Só quando estou a um passo da porta que noto

que está entreaberta. Da frecha, dá para ver que a ruela está pouco
iluminada e a silhueta de um homem segurando um objeto

pontiagudo enquanto fala com alguém.

Penso em dar meia volta e sair pela porta da frente, no

entanto, não quero dar de cara com os homens do Noah.

Coloco a não na maçaneta, me preparando para sair. Sou

impedida ao ouvir o nome do Noah surgir na conversa do outro lado

da porta.

Não pode ser o mesmo Noah. Claro que não...

— ... o que seu pai acha?

— Meu pai é um frouxo, não tem coragem de enfrentar essa

família fodida. Não sou meu pai e eu quero mandar nessa cidade
também — a voz masculina praticamente cospe as palavras e tem

todo ódio, que arrepia os pelinhos dos meus braços.

— É ruim não poder fazer nada mesmo.

— É uma merda. Noah é um hipócrita. Não mexe com

drogas? Ele só quer manter limpo o lado da cidade onde mora, o


resto que se foda — o homem diz, irritado.

Ouço chutar algo, acho que é caçamba de lixo.

— Ele é só um riquinho babaca brincando no mundo do crime.


Os dois riem de forma perversa.

— A família Carbone vai ter o que merece. Não vejo a hora

disso acontecer. Quero ver todos esses imbecis queimando ou com


os miolos estourados. Seria lindo.

As palavras me dão um arrepio horripilante na nuca. Não


concordo com a vida que o Noah e a família levam, mas nunca

passei nem perto de desejar mal a eles. E ouvir alguém querendo

isso, faz o meu coração aperta de um jeito doloroso.

— Menos a gostosa da irmã dele.

— Dá pra brincar com ela. Aquela puta pode ser uma boa
foda.

Contraio maxilar e respiro fundo, controlando a vontade de

abrir a porta e acertar um soco no rosto de cada um. Como podem


falar assim de uma garota? Odeio esse tipo de ser humano.

— O que eles vão fazer? Se o Noah não aceitar o trabalho?

— Matar todos, é óbvio. Os irlandeses dominam boa parte de

Ontário[16] e sessenta porcento da Europa com exportação de


cocaína e heroína. Não vai ser um não de Noah que vai impedir
deles tomarem conta da cidade.

— Você tá gostando disso, não é?


— Claro, ele garantiu que minha família vai lucrar muito e me
prometeu que Noah vai ser a nova cadelinhas deles.

Os dois riem ao mesmo tempo em que meu celular começa a


tocar. Procuro o aparelho dentro da bolsa para desligar e vejo o

nome do meu pai saltitando na tela.

Boa hora para ligar, pai. Obrigada.

A porta é empurrada com força e se eu não tivesse dado

alguns passos para trás, ela teria se chocado contra o meu rosto.
Os homens se olham e engulo em seco ao ver a faca afiada na mão
de um deles, que mexe como se fosse de brinquedo.

— Ninguém te ensinou que é feio escutar as conversas dos


outros? — pergunta o mais alto, sorrindo de maneira doentia. E está
com um cigarro entre os dedos, dá uma última tragada antes de

jogar a bituca fora e esmaga com a ponta do sapato. — O que


vamos fazer com você?

— O que você escutou? — questiona o homem segurando a

faca. Ele tem um rosto quadrado e marcante, uma cicatriz grande na


bochecha e uma tatuagem na têmpora.

— Nada — minto, infelizmente, não fui convincente o


suficiente.
— Não consigo acreditar em você — ele retruca, alisando o
aço inoxidável da faca afiada. — É melhor calar a boca dela antes
que dê merda pra gente.

— Ela é bonita, podemos nos divertir antes — comenta o


homem que estava fumando e passa os olhos pelo meu corpo,
como se enxergasse através do casaco pesado que cobre as

minhas curvas.

Eu devia estar com medo, eles acabaram de dizer que vão


brincar comigo antes de calar a minha boca. Contudo, eu nunca fui

uma garota medrosa, então, sem pensar duas vezes, fecho a porta
com força e ela vai direto no nariz do cara com a faca, que começa
a me xingar.

Faço o caminho de volta ao bar correndo, passo entre as


mesas e alcanço a porta de vidro. Paraliso os pés e arrisco olhadela
para trás, vejo os dois homens no meio do estabelecimento, me

procurando. Na hora que tento voltar a correr, vou de encontro com


uma parede de músculos duros.

Ergo as vistas e reconheço o homem que pegou o tarado no

balcão.

— Está com problemas?


— Não é da sua conta, agora sai da minha frente.

Ele me ignora, de novo.

— O que aconteceu? — indaga, olhando algo por cima da

minha cabeça.

— Bati a porta na cara de um deles.

— Vem, vou te levar pra casa — fala, como se eu não tivesse

escolha e isso me deixa furiosa.

— Estou de carro, não preciso de carona. Agora me deixa


passar.

— Venha, Sophia.

Ele segura meu braço com firmeza, sem me machucar. Olho


para trás de novo e noto que os imbecis percebem que estou do
lado de fora. Deixo o capanga do Noah me guiar até um carro preto

e me acomodar no banco de trás.

— Olha, não me entenda mal, só entrei aqui porque não


consigo bater em dois homens ao mesmo tempo. Me deixa na

esquina, por favor — digo quando ele se acomoda no assento ao


meu lado.

Mais uma vez, sou ignorada.


— Outremont — fala o nome do meu bairro ao se inclinar para

frente e bater nas costas do banco do motorista, que me olha


através do retrovisor por um longo segundo e depois pisa no
acelerador.

— Ei, eu disse na esquina — reclamo.

— Vai estar segura em casa — é o que diz. Suspiro e levo as


mãos até as têmporas, massageando com severidade, implorando

em silêncio por paciência.

— Me deixa na esquina — rosno entre os dentes e tento


controlar o ímpeto de avançar em cima dele. Ele me ignora, DE
NOVO. Acho que o requisito básico para me seguir é ignorar o que

eu falo. — E o meu carro?

— Cadê a chave? Vou voltar no bar e pegar, depois deixo em


frente à sua casa mais tarde.

Reviro os olhos.

— Por que estão me seguindo?

Dá de ombros de uma forma dura, se é que isso é possível.


Meu Deus, os homens não relaxam nem por um segundo. Deve ser

penoso trabalhar para máfia. Ou eles gostam muito das coisas


ilegais ou são loucos.
Talvez os dois.

— Ordens do chefe — é o que diz.

— Ah, típicos cachorrinhos do Noah — provoco, sentindo a


irritação tomando conta do meu corpo. Ele não dá ouvidos ao que

eu acabei de falar.

— Me dê a chave — ordena e eu enrugo o nariz, fazendo cara


feia para ele. Ele pode mandar em muitas coisas. Apenas, não

manda em mim.

— Não, eu volto aqui depois e pego o meu carro — crispo com


desdém.

O capanga ou sei lá como chamam os homens na posição

dele na máfia, não fica surpreso, e também não fala mais nada. Em
vez disso, pega o celular de dentro do bolso do terno e digita uma

mensagem com os dedos ágeis, depois me olha de rabo de olho,


como se tivesse feito algo que vai me irritar.

— O que você fez?

— Nada.

— Cara, que merda. O que você fez?

Ele suspira.
— Seu carro estará em frente à sua casa ainda hoje, não
precisará voltar aqui — fala, como se fosse simples.

Levanto as sobrancelhas.

— Como é que é?

— Reboque — é o que diz, me fazendo morder a bochecha


com força de tanta irritação.

Eu odeio esses homens, sério.


Assim que o carro para em frente à minha casa, não agradeço
a carona que fui obrigada a aceitar e desço do veículo. Nem me dou
o trabalho de olhar para trás, apenas caminho até a varanda e abro

a porta.

Deixo os sapatos no hall de entrada e tiro o casaco. Vou até a


sala e espio pela janela, fico aliviada quando não encontro ninguém.
Eles foram embora. Escorrego para o sofá e sento, pensando na

conversa que ouvi meia hora atrás.

Será que devo contar isso para o Noah? Com certeza,

pareceu ser algo bem sério. E se acontecer uma guerra para decidir

quem vai ficar no poder?


O rosto de Noah preenche minha cabeça e sinto um aperto

doloroso no peito. Por que isso me incomoda tanto? O mundo dele


não tem nada a ver comigo. O melhor é ficar de fora e segura.

Ficar de fora, é isso.

Ah, merda.

Acho que não vou conseguir ficar fora disso.

Sophia, nunca mais escute conversas atrás da porta...

Segurando a bolsa, subo as escadas e vou para o quarto. No


corredor, noto aberta a porta do quarto do meu pai. De mansinho,

enfio a cabeça para dentro do cômodo e chamo por ele. Como não

tenho repostas, entro e vasculho o celular na bolsa, lembro que ele


tinha me ligado.

Uma chama não atendida e uma mensagem de texto.

“Aconteceu um imprevisto, precisei sair.”

Precisou sair por causa de problemas da máfia ou uma

mulher? Não faço a mínima ideia e sinceramente, não quero saber.

Talvez seja melhor assim. Tampar os olhos para esse lado do meu

pai e seguir em frente.

Sento na beirada da cama e olho em volta. Aquela pulguinha


atrás da orelha surgindo à medida que a curiosidade vai tomando
conta. Será que ele guarda alguma coisa ilegal dentro de casa?

Não faça isso, Sophia. Seu pai sempre respeitou a sua

privacidade...

Fico de pé num solavanco e balanço a cabeça antes de

respirar fundo. Saio rápido do quarto e fecho a porta. Não tenho

tempo de ir até o meu, algo faz os meus pés voltarem e entrar no


cômodo de novo.

Bem no centro do quarto, olho ao redor, procurando por

qualquer coisa que indique que meu pai trabalha para a máfia. Fico

de joelhos e começo revirando as gavetas da cômoda pequena ao

lado cama, debaixo para cima, porque todo mundo guarda as coisas

importantes na primeira gaveta e meu pai é inteligente o suficiente


para não fazer isso.

Ou talvez não seja.

É a primeira coisa que penso ao abrir a primeira gaveta da

cômoda e encontrar uma arma pequena, compacta e pesada. Com

o coração acelerado, coloco no mesmo lugar, sentindo as mãos


formigarem e tremerem.

Por que ter uma arma como livro de cabeceira?


Levanto e vou revirar closet, com cuidado para voltar com tudo

para o lugar. Não encontro nada demais, apenas algumas fotos de


quando meus pais ainda eram casados e felizes.

Algo brilhoso chama minha atenção no momento em que


estava prestes a desistir do closet. Afasto as blusas bem passadas

pendidas nos cabideiros e suspiro ao encontrar um cofre preto


embutido na parede.

Como ele é da cor da parede, então meio que passa

despercebido.

Engulo em seco.

Não devia fazer isso, mas estico a mão e na tela digital, coloco

a data de nascimento do meu pai. Não abre. Mais uma tentativa,


dessa vez a data de aniversário da minha mãe. Não abre. Respiro

fundo e penso por alguns segundos antes de digitar a data do meu


aniversário.

Ouço uma espécie de apito e portinha preta destranca,


fazendo meu coração acelerar.

Demoro mais do que o necessário para ter coragem de

verificar o que tem dentro do cofre. Sinto que não devia fazer isso,
mas é tarde demais para voltar atrás. Cheguei até aqui e vou até o

fim.

Escancaro a porta.

A primeira coisa que meus olhos captam é dinheiro. Muito


dinheiro. Bolos gordos presos em uma liga amarela. Não posso
impedir de meu estômago embrulhar, já que sei a verdade. Isso é

dinheiro da máfia.

Entre as várias notas de dólares canadenses, encontro outra


arma e duas caixinhas com munição. Não entendo muito de armas,

no entanto, já vi muitos filmes de ação para saber que é um calibre


38. Pego-a e analiso, é pequena e o cano é prata, com um cabo de
couro preto. Sem saber se devo ou não fazer isso, aperto a chave

do tambor e a garganta fecha ao ver que está carregada.

De seis, existem cinco balas.

Fico me perguntando onde foi parar a sexta bala e meu


coração dói ao imaginar que meu pai tenha a usado para alguma
coisa.

Sacudo a cabeça, tentando espantar os pensamentos.

Sem saber muito bem o porquê, guardo a arma na minha

bolsa e fecho o cofre. O que vou fazer com um negócio desses?


Não sei. Se meu pai tem uma na cômoda ao lado da cama, talvez
eu precise também.

Rápido, ajeito tudo no closet, desligo as luzes e atravesso o


quarto quase correndo, como se meu pai pudesse chegar a

qualquer momento e me pegar no flagra. Dou uma última olhada e


confiro se deixei tudo lugar antes de ir embora.

Vou para o meu quarto e ao entrar, tranco a porta e fecho as


cortinas da janela. Sento na cama e abro a bolsa, pego o calibre 38

e observo, sentindo o coração bater tão rápido, que parece querer


sair do peito.

Merda.

O que eu fiz?

E se meu pai perceber que peguei isso do seu cofre secreto?


Talvez eu fique muito encrencada. Por que diabos quero andar com

um negócio desses? Nem sei atirar. Nem sei se teria coragem de


disparar um tiro em alguém.

Pelo visto, meu pai teve.

— Sophia? Querida? — meu pai chama do primeiro andar.

Tão distraída com a minha nova coisa ilegal, que nem ouvi ele
chegando.
Guardo-o dentro da bolsa outra vez e levanto rápido, indo na
direção da porta e destrancando. Saio praticamente correndo para
encontrar o meu pai na sala e faço muito esforço para esconder o

que acabei de roubar dele

— Agora está com fome? — questiona com um leve tom


divertido. Tira o casaco e coloca no cabideiro no hall de entrada.

— Sim, morrendo.

Abro um sorriso meigo para ele, que devolve o gesto vindo até

mim e envolvendo os braços em volta do meu corpo. Respiro fundo

e tento acalmar meu coração acelerado. O mais importante, tento

não imaginar aonde foi parar a sexta bala do calibre 38 escondido


dentro da minha bolsa.
— Vieram expandir o negócio? O meu negócio ou o deles? —
rebato, fazendo Vincenzo me olhar. Ele tem a resposta, mas não
ousa dizer em voz alta.

O chefe de uma família Irlandesa quer marcar uma reunião,

segundo ele, é uma oportunidade de expandir os negócios. A


verdade é que ele quer que eu seja seu subordinado e dê livre e
total ao acesso ao porto de Montreal.

Fico furioso por não saber que alguém como ele chegou na
minha cidade. Controlo as famílias pequenas justamente para não

ter esse tipo de surpresa. Eles deviam ficar de olho e reportar para

os meus capitães quando alguém entra nessa cidade com intenção


de tomar o que é meu.
— Não dê uma resposta ainda –— aviso a Vincenzo. —

Primeiro quero saber quem acobertou a chegada dele. Traga o


traidor pra mim — ordeno e ele assente, ficando de pé.

Nosso encontro não foi uma reunião marcada, ele apareceu


aqui, porque um soldado fiel ao chefe irlandês o procurou para dar o

recado, exigindo um horário para uma reunião.

Talvez o irlandês ainda não saiba, mas sou eu quem exige


alguma coisa e não o contrário.

Vincenzo vai embora e eu saio do escritório logo em seguida,


pensando em formas de resolver o meu novo problema. Envio uma

mensagem de texto para Thomas, avisando o que aconteceu.

Surpreendo-me ao encontrar Sophia no hall de entrada. A


mamma tem a atenção em cima da garota e fala algo que não

consigo ouvir. No momento em que os olhos verdes encontram os

meus, eles brilham de um jeito diferente.

Aproximo-me delas.

A mamma me encara com desconfiança palpável.

— Quero conversar com você — Sophia diz, toda autoritária.

O canto da minha boca se curva.


Quem é inteligente o suficiente, sabe que não deve falar
desse jeito comigo. Sophia é atrevida e não acho que tenha noção

de como estar sendo prepotente no momento.

— Venha comigo. No meu escritório — ordeno, fazendo-a

prensar os lábios em uma linha reta.

Sophia não gosta de receber ordens e dar ordens é


praticamente o meu habitual, o que eu sou. Vai ser interessante, nós

dois podemos travar uma batalha sobre um jogo de poder para

saber quem é que manda.

A mamma não tira as vistas de nós dois e sob o seu olhar

curioso, coloco a mão nas costas de Sophia, que tem o impulso se

afastar um pouco. Arqueio uma sobrancelha e volto com a mão


nela, e a conduzo até o escritório.

Dessa vez, a garota não recua.

Ela entra primeiro e anda até próximo da mesa de madeira.

Como da última vez que esteve aqui, ela olha ao redor, quase como

se quisesse descobrir uma passagem secreta ou algo do tipo.

— Procurando algo? — questiono ao aproximar o rosto da sua

orelha.

— Não chegue tão perto — rosna.


— Por quê?

Ela me ignora.

— Pode mandar seus homens pararem de me seguir? Não

fico feliz em ter seus cachorrinhos atrás de mim o tempo todo.

Deixo escapar uma risada seca.

— Não quero.

Quando dei ordens aos meus homens de ficarem na cola de

Sophia, eu sabia que assim que descobrisse, ela viraria uma fera.
Já estava esperando por essa reação e não é isso que me fará
mudar de ideia. Gosto de saber que tem alguém de olho nela.

Os ombros de Sophia sobem e descem com a respiração

funda.

— O que você quer comigo? — questiona, os olhos brilhantes


esquadrinhando o meu rosto, cheios de uma vibração que de forma
estranha, faz meu coração tropeçar.

Você.

Você me pedindo para ser minha.

Você na minha cama.

Você inteira.
— Sophia, sou um homem ocupado. Você veio perguntar

isso? Não tenho o dia todo — é o que digo, deixando a garota


frustrada.

Ela balança a cabeça, como se quisesse expulsar alguns

pensamentos, em seguida, ajeita a postura e cruza os braços de


forma protetora na frente do corpo. Sophia me encara com afinco
por um longo segundo antes de voltar a falar.

— Eu não tenho nada a ver com a sua vida e pensei muito

antes de aparecer por aqui. Não somos amigos, só que você é


irmão do noivo da minha melhor amiga e acho que isso envolve

tudo.

— O que envolve tudo?

— O que eu escutei. Não sei, pode ser que não. Pode ser que

não seja nada — fala e desvia os olhos de mim. — Droga, o que eu


tô fazendo aqui? — resmunga baixinho.

Sorrio de lado.

— O que você escutou, Sophia?

Eu de fato, não estou interessado no que ela escutou. Meus


olhos só conseguem dançar pelo seu corpo, que infelizmente, está

coberto com muita roupa de inverno. Ainda assim, tenho imaginação


e não é trabalhoso pensar nas curvas que se escondem por debaixo
dos tecidos pesados.

Minha atenção volta a ela no segundo que ela fala “Irlandês”.

— O que disse?

Sophia revira os olhos e começa a falar de novo, dessa vez,


presto atenção nas palavras que saem da sua boca bonita. Depois
de escutá-la, pego o celular e ligo para Vincenzo. Graças a Sophia,

eu sei quem é o meu traidor e onde encontrá-lo.

— Pare de se colocar em situações perigosas — falo ao


encerrar a ligação, a voz soando forte e meio áspera.

As narinas dela inflam e os lábios se torcem.

— Eu tenho culpa disso? Foi a merda de uma coincidência.

Não discordo dela e também, não quero concordar.

— Vou deixar meus homens cuidando da segurança da sua


casa. Até lá, evite sair de casa sem necessidade. Faça isso, é uma
ordem.

— O quê? Não, não. Precisamos deixar uma coisa clara, você

não manda em mim. Não sou sua propriedade.

Elevo uma sobrancelha.


— Eles viram o seu rosto, Sophia.

— Não tenho nada a ver com os seus problemas.

— Agora tem, porque você ouviu coisas que não deveria. Da

próxima vez que esbarrar numa porta e ouvir meu nome, corra pro
lado contrário e não na direção dele.

Nossos olhos se prendem por quase uma eternidade. Sempre

fui bom em ler as pessoas, mas não é sempre que consigo fazer
isso com Sophia. Nem sei se alguma vez eu consegui ler essa

garota de verdade.

Ela parece triste e confusa, talvez os dois.

— Isso é coisa séria então?

— Sim — é só o que eu digo.

— Eu tenho uma arma, consigo me defender sozinha — avisa,

me deixando surpreso.

— Seu pai sabe disso?

— Por quê? Vai correndo contar pra ele? — devolve, cética.

— Onde conseguiu a arma?

— Nas coisas do meu pai — admite, e começa a remexer a


bolsa. Ao encontrá-la, ergue para mim o calibre 38. — Não tenho
certeza, acho que sei como usar. Não vou precisar usar isso, não é?

Nego com a cabeça.

— Não se meus homens continuarem te protegendo.

— Odeio isso, ser seguida, seguranças, de ouvir coisas que

não devia.

— Quer eu te ensine a usar? — pergunto, sugestivo.

Não é exatamente o que eu quero, mas Sophia é teimosa,


alguma hora vai conseguir escapar dos meus homens e eu me

sentirei mais seguro sabendo que ela sabe dar um tiro.

Espero que ela não precise ultrapassar esse limite.

— Não sei. — Analisa o calibre 38 nas mãos e depois de um

tempo em silêncio, levanta o rosto e me encara. — Meu pai corre


perigo?

— Não.

Não é uma verdade absoluta. Um homem que tem

envolvimento com a máfia nunca está sempre seguro. Sophia é uma

garota inocente e não precisa tomar conhecimento dos perigos que


acercam o meu mundo.
— Não podia ter me levado em um stand de tiro? — Sophia
zomba ao descermos do carro. — É claro que tinha que me trazer
em uma casa no meio da mata. Típico — emenda, irônica. — E

claro, nada assustador.

Não foi fácil trazê-la até aqui, a garota é teimosa. Vencida pelo
cansaço e emburrada, entrou no veículo e cá estamos nós, na casa

da minha família em L'Île-Bizard.[17]

Quando meus irmãos e eu erámos crianças, costumávamos

vir muito aqui no verão. Depois que crescemos, o local se tornou o


nosso refúgio. O lugar seguro para caso algo aconteça e

precisemos proteger as mulheres da nossa família.


Caminhamos até as escadas de pedras e subimos os degraus

que dão em cima da varanda. A casa é bem rústica, os tijolos


vermelhos das paredes são aparentes, as portas e janelas em

madeira e tem um deck no andar superior, que dá uma visão

significativa da floresta.

— Eu me sinto num filme de terror, você não? Sabe aquela

parte do filme que a gente corre para o vilão em vez de fugir dele? É
quase isso — Sophia fala, cruzando os braços na altura dos seios.

Enfio a chave na porta e abro, recuando um pouco para que

entre primeiro, em seguida, faço o mesmo, observando-a olhar os


móveis e a decoração rústica e com toque contemporâneo da casa.

— Não é pra tanto.

— Aqui dentro é menos assustador.

— Tem certeza? — pergunto ao me aproximar dela devagar e

em passos firmes. Ela engole em seco e noto a veia pulsante em

seu pescoço. Assim que percebe para onde estou olhando, enrola
rápido o cachecol em volta da garganta. — Sim ou não?

— Para de tentar me assustar.

Abro meio sorriso.

— Não estava tentando fazer isso.


— Mentiroso.

Dou outro passo na direção dela, cortando a nossa mínima

distância. Em vez de recuar, ela cruza o olhar comigo e respira

ofegante. Sinto o perfume delicado e o calor do seu corpo pequeno

próximo do meu. É bom e eu tenho vontade de agarrá-la pela

cintura e beijá-la com força até ver os lábios bonitos inchados.

— Você sabe quem eu sou, Sophia? — questiono, a voz

soando baixa e rouca. Levo a mão até o seu rosto e prendo uma

mecha de cabelo atrás da orelha pequena e delicada.

— Um mafioso — murmura.

— Eu sou o chefe da família Carbone. Não existe um cargo


maior que o meu — digo, focalizando seus olhos oscilantes. — As

pessoas não costumam me chamar de mentiroso, porque é

desrespeitoso, e isso poderia fazer com que elas perdessem a

língua.

Sophia suspira, sem desviar os olhos de mim.

— Vai cortar minha língua então? — retruca de forma

presunçosa.

Minha atenção recai sobre os seus lábios bonitos e bem

desenhados, e a mão perto da orelha vai parar na nuca, roubando


um gemido baixo e entrecortado dela. Sinto a pele macia enrijecer

com o meu toque e isso me deixa louco, causando uma ereção


instantânea.

— Cortar sua língua? Não é isso que eu tenho em mente.

Ela crava os olhos na minha boca.

— Por que não está mais casado? — murmura, voltando com


a atenção para os meus olhos. — O que aconteceu com ela?

— Por que quer saber?

Ergo a outra mão e pouso em sua nuca também, fazendo-a


soltar um suspiro longo. Ela está presa. Se eu quiser beijá-la, basta

apenas puxá-la contra o meu corpo e Sophia não tem chance de


escapar das minhas garras.

Tentador.

— Eu não sei, Noah.

— Ela estava infeliz, eu também.

— Achei que uma vez mulher de mafioso, pra sempre mulher


de mafioso. Não achei que existisse divórcio no seu mundo —

admite em um sussurro e eu rio de leve.

— Tem um pouco de verdade nisso.


— E como a Hayley conseguiu se livrar disso?

— Eu não a toquei... depois do nosso casamento. Nenhuma

vez — falo e nem sei o motivo de estar sendo tão sincero. Madison
nunca soube que o meu casamento não foi consumado e estou

aqui, falando para Sophia sem dificuldade alguma.

Os olhos e a boca se escancaram em surpresa.

— Sério?

— O quê? Não sou um monstro... quer dizer, não sou esse

tipo de monstro, Sophia. E ela era minha esposa, merecia o meu


respeito.

Ela assente de leve.

— Não sou nada sua. Estou segura com você mesmo assim?

— Acha que vou te atacar de alguma forma? — rebato,


sentindo uma pontada de raiva. Claro que estou com vontade de
devorá-la, mas nunca faria isso sem o seu consentimento. Posso

ser muitas coisas horríveis, apesar disso, não sou a merda de um


estuprador.

— Não sei, você age como se fosse dono de tudo.

— E eu sou.
Sem dizer nada, Sophia revira os olhos e tira as minhas mãos
da sua nuca. Ainda permanece perto de mim, então volto a segurá-
la. Dessa vez, ela coloca as mãos no meu peito, como se quisesse

me impedir de tentar alguma coisa.

— Quando eu tiver você na minha cama, você vai querer


também.

— Vai me ensinar a atirar ou não? — é o que ela pergunta de


repente, mudando de assunto. — Não temos o dia todo.

Sinto o canto esquerdo da boca repuxar.


Aceitar a ajuda de Noah para aprender a usar uma arma com
certeza vai para a minha lista de piores decisões já tomadas na
vida, e também, vai para o topo da mais excitante e deliciosa de um

jeito tóxico.

Minha cabeça grita que é errado sentir atração por um homem


desse tipo, meu corpo pensa o contrário. É quase como se os dois
tivessem consciência distintas. Quanto mais eu tento me afastar ou

correr para o lado oposto de Noah, mais tudo me puxa para ir na

direção dele.

Isso é errado.

Imoral.

Quente.
Avassalador.

Mesmo que seja difícil prestar atenção na explicação dele

sobre como manusear uma arma, me esforço. Noah é uma tentação

e não ficar olhando o seu rosto, a boca e todo o resto, é quase uma
missão impossível.

Surpreendo-me ao perceber que não é tão complicado usar

uma arma e me sinto mais a vontade do que esperava.

Ele é prático. Com o canivete, que eu nem sabia que tinha,

prendeu em uma árvore grossa e antiga, uma folha com um círculo


vermelho desenhado no meio. Deu o primeiro tiro e acertou de

forma perfeita o alvo.

— Tente — encoraja-me.

Trocamos um olhar rápido e intenso. Dou um passo para perto

dele, sentindo o calor que emana do seu corpo vindo direto para o

meu, arrebatando cada terminação nervosa.

Pego a arma com as duas mãos e engulo em seco ao levantá-

la, mirando na direção da folha pregada na árvore. Deixo escapar

um gemido e me sobressalto de leve quando o sinto encostando o

seu abdômen duro nas minhas costas.


Olho para lado e a respiração acelera ao notar o quanto o seu
rosto está próximo de mim. Nos encaramos por um segundo longo e

eu torno a olhar para frente. Reprimo outro gemido ao sentir as

mãos quentes e grandes de Noah voarem direto para cima das

minhas próprias mãos e ajeitar a direção para qual estou apontando.

— Por mais que esteja com medo, não deixe que o seu

adversário perceba isso — aconselha no pé do meu ouvindo,


levando ondas surreais para o meio das minhas pernas. — Fique

firme e não trema.

Não sei se ele está me dando conselhos de verdade sobre

uma possível situação que eu realmente precise usar uma arma ou

sobre não deixar transparecer o quanto mexe comigo tê-lo tão perto
de mim.

De forma lenta e firme, o indicador da sua mão direta vai parar

em cima do meu dedo no gatilho.

— Olhe para o alvo — ordena, e eu me obrigo a olhar a folha

com um buraco na árvore. — Não hesite. Se um dia você precisar


usar uma arma contra alguém, será você ou ele. Eu prefiro que seja

ele a levar um tiro — fala, com um sarcasmo sexy e irritante, que me

deixa zonza e excitada.


Droga.

— Tá bem.

— Atire.

Engulo em seco e não tenho coragem de puxar o gatilho. Ao


perceber a minha hesitação, o indicador de Noah aperta o meu,

fazendo a bala disparar direto na árvore. Não fico surpresa ao


acertar a folha, já que ele alinhou a minha mira.

— Acho que aprendi — é o que eu digo, ofegante. Um misto

de sensações me dominando. Quero que ele se afaste e ao mesmo


tempo que fique próximo e continue se esfregando em mim.

Caramba!

O que esse homem está fazendo comigo?

— Não foi ruim. Vamos tentar de novo.

— Tá bom assim, obrigada — murmuro e depois sacudo a

cabeça.

Estou prestes a guardar a arma dentro do bolso do meu


sobretudo quando ele fica de frente par mim e a toma para travar.

— Não pode guardar de qualquer jeito.


— Me desculpe — murmuro e nem entendo o motivo de estar

fazendo isso. — Vou tomar cuidado da próxima vez.

— É bom, não quero que dê um tiro no próprio pé.

Ele devolve o calibre 38 e eu enfio no bolso. Fico meio


espantada de como o gesto parece natural e tento não me prender
ao sentimento. Não conseguiria nem se quisesse, já que Noah está

tão próximo de mim, que o perfume atinge o meu nariz como um


soco certeiro.

O homem me analisa com os olhos azuis impenetráveis.

— Precisa de munição?

— Tomara que não. Três balas, deve ser o suficiente pra me


defender de alguma coisa, que eu espero que nunca aconteça.

— Não hesite, Sophia. Ainda mais se a sua vida estiver em

perigo — diz, esquadrinhado o meu rosto. — Nunca. Entendeu?

— Você nunca hesita? — quero saber.

— Não posso hesitar, eu sou o chefe.

Suspiro.

— Ah, é sim, o senhor da máfia — devolvo com sarcasmo e


aquela conversa sexy e sublimar, cheia de teor sexual sobre
desrespeito e perder a língua vem à cabeça.

Estou ficando louca.

— Tem uma língua saliente, Sophia Canning.

— Me desculpe — me ouço dizendo, mas nem sei se estou

sendo sincera de verdade. Acho que não. Com certeza, não. O que
será que ele vai fazer com a minha língua saliente? Gostaria de
saber. Ah, droga. Não. — Você disse que não cortaria minha língua

— emendo com um sussurro.

— E não vou — diz, a voz soando de um jeito poderoso e


possessivo.

Noah se aproxima e eu recuo, o peito subindo e descendo


com a respiração funda.

— Não faça nada — peço.

— Do que você tem medo? De mim ou de gostar de mim,

principessa[18]?

A pergunta me pega desprevenida e infelizmente, não consigo


responder. Quero poder dizer que tenho medo dele. Na verdade,

quero gritar isso. Entretanto, no fundo do meu ser, eu sei a resposta


certa.
Tenho medo de gostar dele.

Ele dá outro passo para frente e eu, dois para trás, o que foi

uma péssima escolha. As costas vão de encontro com uma árvore e


Noah cola o corpo ao meu, me prendendo e fazendo com que seja

impossível fugir dele.

A parede de músculo dura, quente e sexy contra mim, não me


deixa pensar direito.

— Me dê um bom motivo pra não te beijar agora.

Os olhos azuis e possessivos se conectam aos meus de um

jeito insano.

Abro a boca para falar, mas a voz falha. Então, ele aproxima o

rosto de mim, decidido e confiante, como se fosse dono de tudo.

Os lábios dele grudam nos meus e como em modo

automático, as minhas mãos vão ao encontro do seu peito duro.

Infelizmente, não o empurro para trás. A língua de Noah é precisa e


necessitada, provoca meus lábios e exige entrar. Devagar, me vejo

cedendo, meio hesitante, meio excitada.

Ao senti-lo entrelaçar nossas línguas, meu corpo estremece e

a pele queima como se estivesse em lavas e um latejar frenético se


aloja entre as pernas. O beijo é arrebatador, cheio de uma

intimidade estranha e perigosa.

Levo as mãos até o seu cabelo levemente ondulado e puxo

com força, enquanto Noah morde meu lábio inferior e chupa minha
língua, me fazendo gemer contra a sua boca. Ele impulsiona o corpo

contra o meu e o sinto alisar o meu quadril com a mão, descendo

até a minha bunda.

Merda.

Empurro Noah com força.

O coração bate tão rápido, que dói.

Ele tem um sorriso estúpido emoldurando o rosto, como se


soubesse o fim que nossa relação vai tomar. Eu sendo dele. Isso me

irritada e me deixa excitada com a mesma intensidade.

— Me leve pra casa — peço.

— Claro.

Ele gira nos calcanhares e caminha na direção da casa. Fecho

os olhos por alguns instantes e amaldiçoo o meu corpo por ser tão

traiçoeiro. Preciso manter distância de Noah antes que seja tarde


demais para mim.
Antes que eu acabe caindo na tentação de me apaixonar por

ele.

Noah Carbone é um perigo. Um leão enorme e ameaçador.

Ele estaciona o carro em frente à minha casa e eu sinto as


minhas mãos tremerem. Pensamentos do tipo “será que ele vai me

beijar de novo?” ou “espero que ele não me beije de novo” rodopiam

minha cabeça.

A sensação é que a boca dele ainda está encostada na minha,

queimando a pele e me deixando tonta, excitada e com raiva.

Do que você tem medo? De mim ou de gostar de mim,

principessa?

A voz soa na imaginação, arrepiando minha nuca.


Noah me olha e eu evito encará-lo. Não posso. Não depois do

beijo que ele me deu. Tenho a sensação de que vou ceder se ele
aproximar o rosto de mim de novo. Sou uma idiota e estou tentando

de verdade enfiar na minha cabeça que aquele beijo não foi bom.

A verdade é que foi mais do que isso.

Intenso.

Quente.

Arrebatador.

Sexy.

— Me dê o seu celular — ordena e sem saber o motivo, eu


obedeço.

Vasculho a bolsa para procurar o aparelho e assim que


encontro, entrego para ele. Noah roça de proposito os dedos nos

meus e fico tensa. Sem falar nada de início, mexe no meu

smartphone e depois devolve.

— Não costumo dar o meu número pessoal pra qualquer um

— é o que diz. — Me ligue se precisar de ajuda

Assinto.
Ele se aproxima de mim e eu prendo a respiração. Tento não

demonstrar o quanto fico decepcionada ao vê-lo tirar o meu cinto de

segurança. Sei que falhei em esconder, porque o canalha abre um

sorriso lascivo.

— Esperando outra coisa?

— O quê? Claro que não...

E então, ele tasca um beijo na minha boca, envolvendo a

minha língua com precisão e sugando logo em seguida. A mão


segura minha nuca, me impedindo de recuar. Na verdade, nem sei

se faria isso. O beijo dele é bom, tem gosto de proibido e me faz

querer mais.

Aperto o celular nas mãos e uma perna contra a outra à

medida em que algo pulsante vai emergindo nas partes sensíveis.

Para minha surpresa, ele encerra o beijo.

— Tchau, Sophia.

— Ah, sim, tchau.

Seguro a maçaneta do carro e corro para a varanda, me


amaldiçoando por não ter dado um tapa no rosto dele ou tê-lo

fastando. Mas que bela gata selvagem e de unhas afiadas eu estou

me saindo, hein?
Entro em casa e levo os dedos até os lábios. O calor da boca

dele parece ter grudado em mim. Balanço a cabeça, na tentativa de


organizar meus pensamentos. Não posso aceitar isso.

Não posso ser uma caçada fácil para esse predador.


Dias depois...

Entro no galpão e vejo o traidor com os braços para cima,


correntes em volta dos pulsos e as pontas dos pés quase
encostando no chão. Vincenzo já fez um belo trabalho com o rosto

do homem, e mesmo assim, o meu capitão não parece satisfeito.

Nicholas e Thomas estão num canto mais afastado,


observando em silêncio.

Faço um gesto com a mão e Vincenzo joga um balde de água


no rosto de Matteo, nosso pequeno Judas, que está desmaiado. No

momento em que ele acorda, me aproximo e seguro o seu queixo

com as pontas dos dedos, erguendo-o logo em seguida e


analisando o seu rosto todo inchado.
— Por que fez isso, Matteo?

— Porque eu odeio você — crispa.

— O que disse pra eles?

— Gostou dos cartões? Ele que mandou — rebate, me

fazendo contrair a mandíbula. — É melhor ficar de olho na sua irmã,

Noah — avisa.

Fecho a mão em punho e dou um soco no seu rosto, fazendo

Matteo gemer de dor e depois rir.

— Não ouse falar da minha irmã com essa boca suja.

— Você tá perdido. Ou você aceita ser cadelinha dele ou você


e toda a sua família morre. Espero que morra, da pior forma

possível, bem demorado e agonizante.

Sorrio.

— É o que veremos.

— Você é um babaca presunçoso e é isso que vai te levar

direto pra cova — fala, rindo de forma estridente.

Dou outro soco em Matteo e eu teria quebrado o seu nariz, se

já não estivesse quebrado. Se não fosse pela cicatriz na bochecha


ou se eu não soubesse quem ele é, não reconheceria fácil esse
pedaço de merda com rosto todo desfigurado.

— O que disse pra eles, Matteo? — pergunto de novo, a voz

soando firme e ameaçadora.

O desgraçado ri.

Seguro o queixo com força e elevo.

— Comece a falar.

— Eu disse que você é fraco e não sabe liderar, por isso,

merece perder essa cidade.

Solto o seu rosto de uma vez e contraio o músculo da


mandíbula.

Vincenzo se aproxima e acerta um soco no seu estômago.

Está prestes a repetir o golpe quando eu o impeço com um gesto de

mão. Se matá-lo antes de eu escutar alguma coisa útil vai ser em

vão.

— O que mais?

— Como tá a sua esposa gostosinha? Curtindo muito Nova

Iorque?

Meu corpo enrijece.


A partida de Hayley foi algo que eu tive bastante cuidado para

manter em sigilo. Poucos tinham conhecimento para onde ela tinha


ido. Se Matteo sabe sobre essa informação, com certeza a merda

do irlandês também está ciente de onde a garota se encontra.

— Por que vocês adoram meter as nossas mulheres no meio

dos negócios?

— Não é óbvio? São o ponto fraco de vocês — resmunga, me


deixando enfurecido. Acerto outro soco no rosto dele e mais outro, e

mais outro. Só sossego ao ver um dente voando e fazendo barulho


ao quicar no chão. — Me mata logo — diz, cuspindo sangue no meu
terno.

Olho para a mancha vermelha no tecido cinza e suspiro.

— Por que eu seria tão bom com você? — rebato.

— O quê?

— Você não merece morrer ainda.

Dou as costas para ele e olho Vincenzo, que se aproxima com


os ombros eretos.

— Faça bom proveito e depois se livre do corpo — ordeno,

fazendo-o assentir. — Diga ao irlandês que vou me encontrar com


ele.
— Certo.

Começo a caminhar na direção da saída do galpão enquanto

Matteo grita, alternando em me xingar e implorando para que eu o


mate logo de uma vez. Do lado de fora, enrugo o nariz para a

mancha de sangue e sibilo.

Eu gostava desse terno.

Thomas e Nicholas me alcançam antes de eu chegar no carro.

— Veja qual dos nossos solados deu com a língua nos dentes

— ordeno a Nicholas, que assente. — E você sabe o que precisa


fazer. Não existe lugar para traidores na nossa organização.

— Certo. E quanto a Hayley? Redobramos a segurança dela


lá em Nova Iorque? — ele quer saber.

Respiro fundo.

— É melhor trazê-la de volta — Thomas diz o óbvio e eu fecho


os olhos por um segundo, pensando.

— Avise aos soldados que foram com ela que a segurança

dela foi comprometida — digo ao Nicholas. — Primeiro vou me


encontrar com o irlandês, depois eu decido o que fazer com ela.

— Ok.
Nicholas assente mais uma vez e caminha na direção do seu
carro. Thomas fica no meu encalço, estudando meu rosto.

— O que você quer? — resmungo.

— É melhor trazer Hayley pra cá. Esse negócio de mantê-la


longe não vai funcionar. Ela quer estudar e fazer algo da vida?

Ótimo, que faça aqui, em Montreal. A irmã do Nicholas também faz


faculdade.

Olho para ele por um segundo.

A irmã do Nicholas é alguém com quem eu não tenho muito


contato. Ela tem cara de problema, assim como a minha irmã e

quando descobriu toda a história do Liam não estar morto de


verdade, ficou uma fera e berrando como uma louca.

Eu já tinha que lidar com a Hayley, uma garota bem mais nova
do que eu. Não tinha cabeça para lidar com uma adolescente.

Lawanda só tem dezenove anos, mas é uma dor de cabeça para o


Nicholas. Não precisava ser para mim também.

— Você tá interessado na irmã do Nicholas? — pergunto de


uma vez, fazendo Thomas arregalar os olhos, surpreso.

— O quê? Ela tem dezenove anos e eu tenho trinta e oito.

Claro que não, ela é uma criança.


Encaro meu amigo e estreito os olhos, desconfiado.

— Eu tenho trinta e sete e a Hayley tem vinte. Por que eu

posso casar com uma garota de vinte e você não pode ficar com
uma alguém de dezenove? — questiono, fazendo Thomas suspirar,

mexendo os ombros e parecendo inquieto. — Você tá saindo com


ela? Nicholas vai ficar doido quando souber disso.

— O quê? Não. Ela... ela... só... eu só estou ajudando com os

negócios da Corporação Farley. Ela é apenas uma criança, mas é


inteligente.

— Hum, hien?

— Lawanda é uma criança.

— Se você gosta dela, case antes que minha mãe invente de


arrumar uma noiva pra você.

Thomas decide me ignorar.

— Meu trabalho é te aconselhar. Traga Hayley pra cá, é

melhor manter as nossas mulheres por perto. É mais fácil de

protegê-las. Sei que não vai ser fácil trazê-la de volta, ela acabou de
ganhar a liberdade, só que é preciso.

— Primeiro vou me encontrar com esse irlandês de merda.

Quero ouvir os absurdos que ele tem a me dizer.


Somos os primeiros a chegar no estacionamento a céu aberto
do porto de Montreal. Vincenzo desce da van e vai verificar o
perímetro, levando com ele os soldados que trouxe.

Julian, Nicholas e Thomas permanecem comigo.

Encosto-me no carro e de dentro do terno, tiro minha

cigarreira de metal. Pego um cigarro e coloco entre os lábios,


apanho o isqueiro no bolso da calça e acendo. Estou o guardando

no momento em que Vincenzo retorna.

Dou uma tragada.

— Tudo limpo e os homens já estão posicionados — avisa e


eu assinto. Ele se afasta de mim e se posiciona perto de Nicholas.
Vincenzo foi um ótimo soldado e agora é um excelente

caporégime, assim como o seu pai foi. Ele é leal a família e a mim.
Romie ainda não sabe disso, mas o papà e Enrico tinham planos de

casá-los quando minha irmã completasse vinte e dois anos.

Vincenzo sempre soube disso e nunca ousou chegar perto da

minha irmã ou olhá-la de um jeito diferente, o que eu admiro. Não

seria capaz de entregar Romie para um homem que não é capaz de


respeitá-la.

Entretanto, eu sei ler bem as pessoas. E ele não parece

interessado em casamentos agora. Nem a minha irmã para ser


sincero.

— Você disse a nonna que ia parar de fumar — Julian me


lembra.

— Um dia, não hoje — retruco, curvando o conta da boca e

fazendo meu irmão rir. — O que acha do Vincenzo?

— Sabe que não vai ser fácil casá-la, não é? Não faça isso,
ela vai te odiar por muito tempo.

— Você sempre foi o irmão preferido dela.

Julian nega com a cabeça.

— Não é bem assim.


— Eu sei, e pra falar a verdade, não sei se quero casar
Romie. É minha irmã mais nova. Eu a vi brincar com bonecas e usar

tranças — digo, e de maneira sutil, olho para Thomas que está

próximo o suficiente para escutar nossa conversa.

Ele fica meio desconfortável.

Será que está pensando na irmã do Nicholas?

Julian percebe e entende tudo errado.

— Vai se foder — grunhe, indo com tudo na direção do

Thomas. — Fique longe da minha irmã, entendeu? Não ouse pensar

nela dessa forma. Porra. Não ouse pensar na Romie de jeito

nenhum.

— Ela é como irmã pra mim também — Thomas rebate.

Coloco a mão no peito de Julian e o afasto de Thomas,

controlando a vontade de rir. Meu irmão é genioso. Ele e meu

conselheiro são amigos e tenho certeza de que um levaria um tiro

pelo outro, mesmo assim, os dois parecem viver em pé de guerra.

Na verdade, meu irmão parece sempre estar a um passo de

acertar o rosto de alguém com um soco.

Abro a boca para mandá-lo se acalmar e sou impedido ao ver

dois carros cinzas se aproximarem de nós. Dou uma última tragada


no cigarro antes de jogá-lo no chão e pisar em cima.

Os meus homens se aproximam de mim e o irlandês com

seus soldados descem do carro. Ele é um velho de cabeça branca,

meio calvo e barba grande. É quase da minha altura e está em


forma.

— Noah Carbone — fala com um estúpido sotaque e estende

a mão ao se aproximar. Tento reunir toda a educação que meus pais


me deram para cumprimentá-lo e falho. — Fico feliz que tenha

concordo em se encontrar comigo.

— O que você quer, Alastar? O que o chefe de uma família

irlandesa quer na minha cidade? Não já é dono de Ontário? Por que


quer Quebec?

O velho abre um sorriso amplo.

— Vejo que andou pesquisando sobre mim.

— Sim. Gosto de saber tudo sobre meus inimigos — falo em


um tom sério, estudando as expressões de Alastar.

— Ah, garoto. Não sou seu inimigo, quero apenas uma

parceria.

Tenho vontade de fazê-lo engolir o garoto, o que seria uma


péssima ideia. Estamos em um local aberto e a luz do dia, não
quero começar um tiroteio.

— Diga logo o que você quer, não tenho o dia todo.

Ele assente, passando a mão na parte careca na cabeça.

— Primeiro, quero garantir que não estou aqui pra tirar nada
que é seu, Noah. Muito pelo contrário, eu vim te ajudar a crescer.

Solto uma risada seca.

— Me ajudar a crescer? Essa é nova.

Alastar não fica muito feliz com a minha interrupção e o vejo


contrair o maxilar. Em vez de ser grosso, ele volta a falar sobre a

merda de me ajudar a crescer e essas porcarias.

— Nós controlamos Ontário e sessenta por cento do mercado


europeu de cocaína e heroína. Crescemos muito nos últimos anos e

com a gente, você tem a chance de faturar mais do que um dia


chegou a imaginar.

— Hum, é mesmo?

— Sim. Minha intenção é expandir o território, diversificar o


produto e aumentar o lucro total. Apenas uma parceria, Noah, quero

que seja meu sócio. Nossa aliança vai ser boa para ambas as
partes.
— Justo — falo e Alastar abre um sorriso de orelha a orelha,
comemorando vitória antes da hora. — Só tem um problema. Não
estou interessado em parceria.

A cara do velho se fecha em uma carranca de desgosto.

— Se você não puder dar o que precisamos, então eu terei

que te substituir. Não se ache tanto, garoto. Todos são substituíveis.

Depois de ouvirem as suas palavras, Julian, Thomas, Nicholas

e Vincenzo sacam suas armas e os homens de Alastar fazem o


mesmo. Nós dois mantemos uma conexão firme e eu abro um

sorriso sarcástico.

— Alastar, ou você é dono de tudo ou não é dono de nada. E


aqui, na minha cidade, você não é dono de nada.

— Não sabe o que está fazendo, Noah. Não fechar negócio


comigo é um erro. Um erro irreparável — diz e eu ergo uma

sobrancelha, cético. — Vou te dar um tempo pra pensar.

— Não é necessário.

— Vou dar mesmo assim. Talvez encontremos algo que te

motive a aceitar ser meu sócio, Noah Carbone — faz sua ameaça
velada e um gesto com a mão para que os homens abaixem as
armas. Os meus continuam com elas engatilhadas. — Não vim aqui
atrás de guerra, apenas para fechar uma parceria.

— É melhor fazer o caminho de volta pra Irlanda — Julian


rebate, fazendo Alastar olhar pela primeira vez o meu irmão.

— Como está sua noiva?

Essa pergunta é o suficiente para descontrolar o meu irmão e

fazê-lo avançar para cima de Alastar, encostando o cano da pistola


na testa do velho. Os homens dele se aproximam e apontam as

armas para o Julian.

— Não ouse falar dela. Nunca mais — Julian rosna, as narinas


inflando de raiva e uma veia saltando da testa.

— Se afaste, Julian — ordeno. Meu irmão fica ainda mais


alguns segundos com a arma na cabeça do irlandês e o olha com

raiva antes de se afastar.

— Temperamental — Alastar comenta. — Tenho alguns


homens assim também e às vezes, eles são o problema.

— Vai se foder, seu velho filho da puta — meu irmão crispa e


é por um triz que não avança no velho irlandês de novo.

Alastar decide ignorar meu irmão e retorna a atenção para

mim.
— Pense, Noah. Muitas coisas podem estar em risco — é o

que fala antes de virar de costas e entrar em um dos carros e ir


embora com os seus homens.
Eu devo ter algum problema, já que venho sonhando com
Noah e a sua boca maliciosa contra a minha. Faz alguns dias desde
a última vez em que nos vimos e eu me peguei tentando encontrar

motivos para mandar uma mensagem para ele.

Louca? É, com certeza.

Eu tenho medo dele ou de gostar dele? A resposta é tão óbvia


e clara. Eu tenho medo de gostar de um mafioso, porque eu sei o

que isso engloba. É uma responsabilidade que não sei se quero ter
na minha vida. Além de ser perigoso gostar de um homem como

ele, é intenso demais.

Noah não é um simples mafioso, ele é o chefe da família


Carbone, o dono de tudo. Não quero ser dele, mas parece que o
meu corpo pensa diferente de mim.

Não vou ser hipócrita, o homem é quente como o inferno. É

intenso e poderoso, tem uma chama que me queima sempre que

estamos perto um do outro. E eu gosto do jeito que ele me faz


sentir, embora eu esteja tentando lutar contra isso com todas as

minhas forças.

Noah não é homem para mim.

Preciso manter distância.

Ele não tem nada a ver comigo.

Ele só quer me levar para cama.

E provavelmente, depois que conseguir, vai partir para a outra.

Faz um tempão que não tenho o coração partido e de verdade, não

quero passar por isso.

Não quero me apaixonar por um mafioso.

— Você tá me ouvindo? — meu pai pergunta ao estalar os

dedos perto do meu rosto, me assustando um pouco.

— Sim, claro — balbucio e forço um sorriso, que parece

convencê-lo bem.
Não é cem por cento verdade, no entanto, já estava cansada
de ouvir suas instruções sobre manter a porta fechada e os avisos

para não trazer garotos para casa. Tenho vinte e dois anos e meu

pai me trata como se eu fosse uma adolescente de quinze.

Ele está com as malas prontas para ir à Suíça. A minha avó

paterna levou uma queda da escada e foi hospitalizada, então meu

pai vai vê-la com a esperança de tentar convencê-la a vir morar aqui
em Montreal.

Papai é filho único, quando mudou para cá, a vovó ainda tinha

muita saúde e se recusou a ficar longe de onde meu avô estava

enterrado, então permaneceu lá. Agora as coisas são diferentes, ela

precisa de cuidados e ficar perto de nós é o melhor.

— Tem certeza de que vai ficar bem?

— Não sou mais criança, pai. Não se preocupe comigo.

— Hoje é Natal, não queria te deixar sozinha.

Sorrio, dessa vez, de verdade.

— Vou ficar bem e mesmo assim, amanhã Lina vem dormir

comigo — digo, fazendo-o assentir.

Não é uma verdade absoluta, ainda não tinha falado com a

minha melhor amiga, mas a informação parece deixar o meu pai


feliz.

— Fico mais tranquilo.

— Diga a ela que estou com saudades.

— Vou dizer — murmura ao se aproximar e envolver as mãos


em mim para um abraço apertado. — Cruze os dedos e me deseje

sorte — caçoa.

Rio.

— Boa sorte.

Acompanho meu pai até a porta, onde sua mala de rodinhas

repousa. Ele dá um beijo meigo na minha bochecha e diz que me


ama antes de sair, levando a bagagem embora.

Da porta, observo-o colocar a mala no porta-malas e dar tchau

com uma das mãos antes de entrar no veículo e sair em disparada.

Se eu fosse uma boa filha, teria me oferecido para ir junto. E

no fundo, eu sinto que ele meio que esperava isso. Só que algo não
me deixou abrir a boca para falar as palavras. Não sei o que deu em

mim ou o que me fez querer ficar aqui.

Qual é o meu problema?

Noah Carbone...
A resposta vem sorrateira e como um sussurro na minha

cabeça. Respiro fundo e em seguida sacudo a cabeça, a fim de


espantar os pensamentos.

Estou prestes a fechar a porta quando noto um carro suspeito

do outro lado da rua, debaixo de uma árvore. As janelas estão todas


fechadas e como são escuras, não dá para enxergar nada dentro.
Fico encarando, como se pudesse ver além.

Para minha surpresa, o vidro da janela desce devagar e não

demora nem dez segundos para eu reconhecer o homem que está


dentro. É o mesmo que me deu uma carona forçada no dia que ouvi

aqueles caras falando do Noah e de negócios que eu não devia


ouvir.

Caralho.

Isso é mesmo necessário? Segurança em plena luz do dia?

Fecho a cara em uma expressão dura e é por um triz que não


mostro a língua e o dedo do meio para ele. Dou um passo para
dentro de casa e bato a porta com mais força que o necessário,

trancando logo em seguida.

Subo correndo até o quarto e pego o celular em cima da


cômoda ao lado da cama. Tenho uma desculpa perfeita para enviar
uma mensagem de texto para Noah Carbone. Não devia estar tão
animada só porque tenho motivos para falar com esse mafioso.
Também não consigo me sentir diferente.

A verdade é que quando Noah me deu seu número pessoal,

eu me senti diferente. Talvez meio que importante. E sei o quanto


isso é insano. Me sentir importante para um mafioso? É quase como
aceitar que ele está prestes a colocar uma algema em mim para me

aprisionar ao seu lado por tempo indeterminado.

Talvez para sempre.

Ou não.

Hayley conseguiu ter liberdade mesmo depois de ter casado


com o chefe da máfia, o que me surpreendeu. Noah tem uma cara
de devasso, daquele tipo que sabe que é bonito e gostoso. Ou, algo

bem melhor, daquele tipo que sabe fazer uma mulher sentir prazer
na cama.

E Deus, como assim ele nunca tocou na esposa?

Balanço a cabeça.

Lindo, mandão, sexy e proibido, Sophia. É isso que Noah é


para você. Alguém proibido, que vive no submundo do crime. Ele

não é um príncipe encantado ou um mocinho como dos livros. Ele é


um mafioso cruel, impiedoso e arrogante. Infelizmente, é gostoso
pra cacete também.

“Manda seus capangas irem embora. Eu tenho uma arma,


posso disparar um tiro a qualquer momento.”

Mordo o lábio inferior e tento reprimir um sorriso.

Sophia, você está brincando com fogo, meu lado racional me

repreende ao mesmo tempo em que penso “por que brincar com o


que é perigoso é tão gostoso?”.

Ele envia uma resposta alguns minutos depois.

“Já conversamos sobre isso, acho melhor ir se acostumando

com os meus homens. Além do mais, você tem uma péssima mira.”

Reviro os olhos ao ler a resposta e penso em mandá-lo ir à

merda, mas desisto no meio do caminho. É melhor não continuar

brincando com fogo, posso me queimar. E às vezes, eu sinto que

falta pouco para o meu corpo incendiar por inteiro por causa dele.

Quase como se Noah fosse fogo e eu, gasolina. Uma

combinação perigosa. E mesmo estejamos cheios de desejo para


sentir a dor de queimar por algo assim, não sei aguento algo tão

intenso.
Já passa das dezenove horas quando espio os homens de
Noah pela cortina da janela da sala. Não sei se fico decepcionada
ou com raiva por ainda ver o carro em frente à minha casa.

Eles estão no mesmo lugar desde ontem quando meu pai

saiu.

Começo a me perguntar se eles não têm mais nada para


fazer. Sei lá, coisas iligueis e seus derivados. Ficar de babá deve

ser chato e entediante.

Desligo a tevê e antes de subir para o quarto, apago as luzes

da sala e da cozinha. Prendo as madeixas em um coque e ao

atravessar a porta, encaro a primeira gaveta da minha cômoda ao


lado da cama.
Como o meu pai, eu decidi guardar o calibre 38 ali, num lugar

tão óbvio e ridículo. Não sei o porquê fiz isso e espero nunca
precisar usá-la contra a alguém. E se um dia precisar, espero

lembrar de como usar.

Entro no banheiro e tiro as roupas, indo para debaixo do

chuveiro logo em seguida, com cuidado para não molhar os cabelos.

Fico debaixo da água quente por vários minutos, na tentativa de me


sentir melhor ou menos atraída por Noah depois do banho.

Nada acontece.

Frustrada, coloco o roupão e me aproximo da pia, olhando-me

no espelho pequeno por um longo minuto. Respiro fundo e começo

com processo do meu skin care noturno. Nem isso consegue tirar
aquele mafioso da minha cabeça.

Ouço barulho de algo quebrando no andar de baixo e tomo um

leve sobressalto. Rápido, termino de espalhar o creme hidratante no

meu rosto, e na pontas dos pés, saio do banheiro.

Se os homens do Noah tiverem entrado na minha casa, vou

começar a terceira e quarta guerra mundial.

Abro a porta do quarto e enfio a cabeça para fora, não vejo

nada de estranho. Aperto o laço do roupão na cintura e dou o


primeiro passo para o corredor, congelando um segundo depois ao
ver quem chega no pé da escada.

— Finn? Como entrou na minha casa? — pergunto, sentindo a

garganta arranhar.

— Pela porta dos fundos. Não se preocupe, linda, ninguém me

viu entrando — fala, sorrindo.

Ele tem algumas marcas de hematomas no rosto e uma

expressão doentia, e está segurando um taco de beisebol velho.

Meu coração começa a galopear dentro do peito e eu sinto a

respiração ofegante.

— O que está fazendo aqui?

— O que você acha?

— Vá embora da minha casa.

Finn brinca com o taco de madeira e vem se aproximando de

mim, tento correr, mas não consigo. Os pés resolveram criar raízes
no chão. Ele para alguns passos de distância e me olha de um jeito

diabólico.

Não costumo ter medo com facilidade, só que existe algo em

Finn que me faz querer recuar e fugir dele. O cara é um psicopata.

— Que merda ele é?


Franzo o cenho, confusa.

— Como?

— Eu perguntei que merda aquele otário é.

— Quem? — retruco, sem entender.

— O verme que me deu uma surra — retruca com desdém e


solta uma risada seca. — Ele me mandou sair da cidade. Mandou.

Acredita? Como se fosse a merda do dono da porra toda.

Noah...

— É melhor você ir embora.

— Por que eu deveria? — questiona, e a voz perversa me faz

mover os pés para entrar no quarto. Tento fechar a porta bem na


hora que ele enfia a mão e me impede. Finn ri, se divertindo em me

atazanar.

Dou alguns passos para trás, sentindo o peito doer.

— Vou gritar.

— Grita — encoraja-me. Abro a boca para pedir ajuda ao

mesmo tempo em que ele vem com tudo para cima de mim e tampa
minha boca com uma das mãos asquerosas. — Não pensei que
fosse fazer isso de verdade.
Mordo a sua mão e ele recua, e eu aproveito para correr e

alcançar o outro lado do quarto.

— O que você quer?

— Você e depois te deixar do jeito que o seu namorado me


deixou. Ferido, inchado e com o ego ferido. Tá bom pra você assim?

— Ele não é meu namorado.

Finn nega com a cabeça.

— Não acredito em você.

— Eu juro — balbucio, sentindo os olhos arderem e estou

prestes a permitir que as lágrimas escapem e façam caminho até a


boca, no momento em que a voz do Noah ecoa dentro da minha

cabeça.

Por mais que esteja com medo, não deixe que o seu
adversário perceba isso. Fique firme e não trema.

— Vai embora da minha casa, seu merda — rosno, fazendo


Finn gargalhar.

— Uau. Resolveu mostrar as unhas? — pergunta e nem me

dá chance de responder, pois continua falando. — Tentei ser um


cara legal quando me mudei pra cá. Tentei deixar o meu passado
pra trás, só que as coisas ruins continuam me perseguindo, Sophia.
E não consigo me controlar.

— E o que eu tenho a ver com isso?

— Achei que você fosse ser o meu novo recomeço, só que eu


percebi que é como as outras vadias que entraram na minha vida.

Não valem nada e nem merecem viver.

— Vai se foder.

Rindo desdenhoso e arrastando o maldito taco de beisebol,

Finn se aproxima de mim, me fazendo recuar até ficar próximo da


minha cômoda. Tenho vontade pegar o calibre ao mesmo tempo em

que não quero chegar ao extremo.

Ao extremo? Sophia, o cara está segurando um taco e invadiu

a sua casa. Ele cruzou todos os limites possíveis...

De maneira ágil, abro a primeira gaveta e tiro a arma. As mãos


estão trêmulas e fico feliz de isso não me impedir de apontar para
ele, e segurá-la com força, como se minha vida dependesse disso.

Talvez despenda mesmo.

Com descaso, Finn levanta uma das mãos em rendição e


depois começa a rir.

— Você sabe como usar essa coisa?


— Sim, eu sei.

Destravo o calibre 38 e sinto o coração vacilar alguns

batimentos.

— Sophia Canning, uma caixinha de surpresa.

— Não se aproxime — é o que falo, caminhando para próximo


do banheiro. Finn é um imbecil e vem até mim. Ou ele é um louco

varrido ou não acredita que eu possa disparar um tiro nele.

Droga. Nem eu sei se sou capaz disso.

— Você é fraca, Sophia. Não vai conseguir fazer isso.

— Se afaste de mim, estou avisando.

Deixo escapar um gemido assustado no momento em que ele

segura o cano do calibre com força e encosta no próprio peito. Meus

olhos arregalam e eu não consigo dizer nenhuma palavra.

— Atire.

Fico muda.

— Anda, atire! Atira, puta! — berra.

Continuo muda.

— Atira, porra! — exclama, sorrindo.


— Finn, se afaste — murmuro entre os dentes, os olhos

ficando embaçados por causa das lágrimas. — Por favor, não quero
te machucar.

— Me machucar? Você não consegue.

— Se afaste, estou pedindo.

— Viu? Você é fraca. Não teria coragem de matar ninguém. É


uma pena, porque você vai morrer hoje por ter me feito de palhaço.

Vou acabar com a sua vida, Sophia.

— Se afaste — peço de novo, sentindo a garganta fechar.

— Ah, por favor. Não chore — resmunga ao tentar roubar o

calibre de mim, mas não consegue, porque estou segurando com


tanta força, que meus dedos estão doendo. — Me entregue a merda

dessa arma, sua puta!

— Não. Vá embora da minha casa.

Finn larga o taco no chão e vem para cima de mim novo,

encostando o corpo em mim e tentando tomar o calibre. Meu


coração dói por causa dos batimentos intensos e tenho dificuldade

de respirar, ainda assim, minhas mãos agarram a arma com força.

— Solte essa merda! — grita.

— Não!
Ele coloca as mãos por cima das minhas de novo e tenta

puxar mais uma vez. Não estou com o dedo no gatilho, então não

sei exatamente como acontece. Só ouço o disparo e os olhos de


Finn focalizam os meus, as pupilas dilatadas.

Solto a arma de uma vez e dou um passo para trás, caindo de

bunda no banheiro. Finn solta o calibre e pressiona as mãos contra


a barriga sangrando e eu sinto o ar escapar dos meus pulmões.

Ele vai caindo no chão, sangrando pela boca e os olhos


perdendo o fio da vida e me fazendo sentir estranha. Começo a

chorar e sem saber o que fazer, engatinho até ele e coloco minhas

mãos em cima das suas, apertando o ferimento de bala na barriga.

Finn murmura alguma coisa e eu nem consigo prestar atenção

direto, porque tudo gira ao meu redor. De repente, ele para de se

esforçar para tentar falar algo e fecha os olhos, me fazendo chorar


mais ainda.

— Acorde! Acorde! Acorda, imbecil! — grito, sentindo o

coração doer. — Acorde! — berro de novo e nada acontece.

Afasto-me dele e pego o meu celular, discando o número da

emergência. Antes de completar a ligação, eu desisto. A culpa de ter


matado alguém caindo como uma pedra no meu estômago.
Meu Deus, eu matei alguém! E não posso chamar a

ambulância ou a polícia.

Tento respirar e controlar os meus batimentos desenfreados.

O que eu faço? O que eu faço? O que eu faço? Pense,

Sophia.

Chorando e soluçando, encaro a tela colorida do meu celular e


começo a discar o número do homem que é errado dos pés à

cabeça, mas que é o único capaz de me ajudar no momento.


— Eu matei um homem.

Ao ouvir a voz trêmula de Sophia do outro lado da linha, me


levanto do sofá.

— O que disse?

— Estou sozinha, meu pai viajou e ele invadiu minha casa —


choraminga. — Foi um acidente. O que eu faço? Não sei o que fazer

— admite, a voz soando entrecortada.

— Ah, merda.

— O que eu faço, Noah? Eu matei um homem.

— Fique onde está, não saia de casa — ordeno e encerro a

ligação, pegando um casaco de dentro do closet e discando o


número de James, o soldado que deixei cuidando da segurança de

Sophia. — Que merda você está fazendo? — esbravejo, enfurecido.

— Ele entrou pela porta dos fundos — explica, como isso

fosse me acalmar de alguma forma. — Ouvimos o disparo e...

— Quando peço pra cuidar da segurança de alguém, você

vigia a porta dos fundos também, caralho.

— Eu sei, sinto muito.

— Quem é o cara?

Ele faz uma pausa antes de responder.

— Finn Stevens.

— Esse merda? — retruco, ainda mais irritado do que um

minuto atrás. — Cuide disso, estou indo.

No fim da escada, encontro a mamma, que me impede de

correr para fora da mansão. Um dos soldados que cuida da


segurança da casa se aproxima de nós ao me ver agitado.

— Pegue o meu carro, vou sair — ordeno, fazendo o homem

assentir e desaparecer do meu campo de visão segundos depois. —

Agora não, mamma — digo ao vê-la abrir a boca para começar o

interrogatório.
— O que aconteceu?

— Não é nada.

— Pra onde está indo?

— Mamma... — censuro.

Ela franze o cenho, visivelmente desconfiada e resiste um


pouco, com as mãos espalmadas no meu peito, o que acaba me

fazendo suspirar de maneira irritadiça. Mamma torce a boca e acaba

dando um passo para trás, e eu disparo para fora da mansão na

mesma hora que o soldado para o carro na minha frente.

— Desça, eu vou sozinho — digo e sem questionar, o homem


sai rápido da minha BMW e me entrega a chave do carro. Deslizo

para o banco do motorista e fecho a porta do carro com força,

pisando no acelerador enquanto coloco o cinto.

Meus batimentos tropeçando e me deixando aflito. Não

acreditei que Sophia chegaria a usar aquela arma de verdade. Para

ser sincero, eu torci por isso. Ela é uma garota boa e pura enquanto
eu tenho uma alma manchada de sangue e corrompida, vivendo

num mundo cruel e distorcido.

E eu sei que ela é boa demais para mim. Se eu não fosse um

babaca, me manteria longe dela e a deixaria viver em paz, longe de


confusão, como foram os últimos anos da sua vida.

Mas não sei como ser um homem correto e parar de desejá-la.

Nunca fiz as coisas do jeito que é considerado certo. Sempre peguei

o caminho errado para conseguir o que eu quero e honrar minha


família

É isso que eu sou.

Um homem corrompido.

Ao parar em frente à casa de Sophia, vejo um carro de polícia


com o giroflex desligado estacionado perto de uma árvore. Em
passos largos, chego à varanda e alcanço a porta entreaberta.

Assim que entro vejo James e Dylan, outro soldado que

encarregado de cuidar de Sophia. Controlo a vontade de acertá-lo


um soco por fazer um péssimo trabalho e encaminho a atenção ao
homem de cabelos grisalhos, o policial Harper, que está na nossa

folha de pagamento há anos.

— Recebi o chamado. Um vizinho ouviu barulho de tiro — ele


fala, andando até mim e estendendo a mão em cumprimento. Pego-

a e dou um aperto firme, concordando com um aceno de cabeça. —


Esse é um bairro calmo demais, precisam ter mais cuidado.

— Eu sei, eu sei. Pode ir agora.

Ele suspira e alterna o olhar entre os meus homens antes de


assentir e sair porta afora de forma discreta.

Penteio meu cabelo com os dedos e inspeciono rapidamente a


sala com os olhos e não vejo nada de errado.

— Cadê ela?

— No andar de cima. Quando viu o carro de polícia, se

trancou no banheiro — James explica.

— Cadê o cretino?

— No quarto.

Olho a escada e subo os degraus de dois em dois, ao chegar

no corredor não demoro em nada para descobrir qual é o seu


quarto, porque a porta é rosa com roxo e está escancarada. Entro
no cômodo e vejo o corpo do porco do Finn estirado no chão.
Controlo a vontade chutá-lo e caminho até o banheiro.

Dou uma batida forte na porta.

— Sophia, sou eu, Noah. Abra — não tinha pretensão, mas a


voz soa firme e exigente.

Ela não diz nada e eu estou prestes a bater na porta de novo


na hora em que destranca. Passo para dentro e fecho-a logo em

seguida. Observo-a por alguns segundos. Sophia está descalça, o


roupão branco está sujo de sangue e as mãos também, os olhos

estão vermelhos e inchados.

— Eu não quis fazer isso — fala, baixinho e fazendo meu


coração apertar. — Precisa acreditar em mim. Eu... eu não quis
matá-lo. Foi um acidente, Noah.

— Eu acredito, você não tem culpa.

Sophia chora em silêncio.

— Ele queria me matar. Ele teria me matado.

Depois de admitir, ela entrelaça as mãos trêmulas e tenta


engolir o choro, o que não dá certo, pois começa a soluçar.

Aproximo-me dela e seguro seu rosto delicado, fazendo-a a olhar


para mim.
— Vai ficar tudo bem.

Ela envolve as mãos no meu corpo e apoia a cabeça no peito,

chorando como uma garotinha. Contorno a sua cintura fina e aperto-


a contra mim. Ficamos assim por um bom tempo. Não lembro de ter

abraçado uma mulher com essa intimidade que não fosse a


mamma, a nonna ou a minha irmã.

— Vamos te limpar — sussurro e ela dá um passo para trás,

assentindo e faz um gesto de quem vai limpar as lágrimas com as


costas das mãos. Eu a impeço, segurando o pulso com delicadeza.

Ela ergue os cílios úmidos para mim.

Sem dizer nada, levo o polegar até a sua bochecha e limpo as

lágrimas que insistem em cair dos olhos redondos. As duas pedras

verdes se conectam comigo de uma maneira intensa e profunda,


fazendo meu coração trepidar por alguns segundos.

Não devia me envolver com essa garota, mas agora, eu sei,

ela já é minha. E eu vou protegê-la, do meu jeito distorcido e


impiedoso.
Noah segura minhas mãos trêmulas e com delicadeza, limpa o
sangue com uma toalha úmida. Ele fica em silêncio e eu não
consigo parar de chorar, a cena de uma hora atrás ainda continua

girando a minha cabeça e me deixando tonta.

Eu matei um homem.

Eu matei o filho de alguém.

Eu tirei uma vida.

Eu sou uma assassina.

— Pare de pensar nisso — fala e eu o olho. Ainda tentando


entender o porquê eu me joguei em seus braços e desabei em
lágrimas. Ainda tentando entender o motivo de ter gostado tanto

disso.

— Tá bom.

Depois que todo o sangue foi embora no ralo da pia do


banheiro, ele pega uma toalha limpa de dentro do armário e envolve

nas minhas mãos, secando com delicadeza, quase como se eu

fosse feita de vidro.

Não sabia que ele podia ser tão cuidadoso e gentil.

Gosto disso...

Tão abalada por causa do que aconteceu, que nem consigo

dar ouvidos ao meu lado racional que grita para que eu pare de
pensar nessas coisas proibidas.

— Vamos trocar de roupa.

Sem vontade de dizer nada, assinto, parecendo um gatinho


assustado. Ele abre a porta do banheiro e me leva até o closet,

tento olhar para o corpo de Fin estendido no chão do meu quarto ao

mesmo tempo que a voz dele soa forte e poderosa:

— Não olhe.

Não olho.
Entramos no closet e Noah fecha a porta. Não pedi que
fizesse isso, mas ele escolhe um conjunto de moletom e me

entrega. Fica me encarando e eu faço um gesto com a mão para

que vire de costas.

O mafioso não move um músculo.

— Estou pelada.

— Eu sei.

— Noah... — murmuro, fazendo o homem respirar fundo e dar

as costas para mim. Coloco o conjunto de moletom roxo em cima da

cômoda espelhada e abro a primeira gaveta, procurando calcinha e

sutiã.

Ele é um cretino, porque ao notar o movimento, vira o rosto

para trás.

— Eu disse pra não olhar.

— É difícil não fazer isso — resmunga, quase me roubando


um sorriso. Se eu não tivesse acabado de matar um cara e o corpo

não estivesse no chão do meu quarto, acho que teria sorrido para

ele.

Viro de costas também e desfaço o nó do meu roupão,

passando o tecido pelos braços e vestindo a calcinha logo em


seguida. Noah solta um gemido baixo e eu coloco as mãos nos

seios ao olhar para trás.

O filho da mãe está com a atenção fixa na minha bunda.

— Ei! — resmungo e o canto da sua boca repuxa em um


sorriso. Noah vira de novo e espiando por cima do ombro, coloco o
sutiã e visto rápido meu conjunto de moletom. — Pode olhar agora.

Ele se vira para mim.

— Prefiro sem nada.

Ignoro o que ele acabou de dizer e desfaço o coque em cima


da cabeça, respirando fundo.

— O que vão fazer? — quero saber. Não preciso ser

específica para que entenda e fico aliviada por isso.

— Meus homens vão resolver tudo, não se preocupe.

Anuo.

— Vem, vamos sair daqui — diz, estendendo a mão para mim,

como se o gesto fosse normal. Encaro-a com afinco e respiro fundo


antes de entrelaçar meus dedos aos seus. É bom sentir o calor da

pele de Noah contra a minha, me faz sentir segura de um jeito


estranho.
Saímos do closet e eu faço um esforço absurdo para não olhar

Finn no chão. Ao colocar os pés para fora, noto que prendi a


respiração e estou mordendo a bochecha com força.

E claro, apertando a mão do Noah como se fosse incapaz de

soltá-la.

— Vou te levar pro hotel do Cassino, vai ser melhor descansar

lá. Deixarei meus cuidando de tudo por aqui, não se preocupe.

Nego com a cabeça, parando no meio do corredor.

— Não quero ficar sozinha.

Ao me ouvir, o fogo nos olhos de Noah se intensifica.

— Está me pedindo pra ficar?

— Sim — assumo em um sussurro e de imediato, desvio o

rosto e tento soltar sua mão. Ele não deixa, muito pelo contrário, me
puxa contra o próprio corpo. Noah é bem alto e como não estou
usando salto, nossa diferença de altura é grande. Minha cabeça só

chega até o seu peito e eu uso isso a meu favor, evitando de erguer
a cabeça para alcançar seus olhos.

— Olhe pra mim.

— Não.
— Sophia...

Noah toca minha cintura e eu não consigo reprimir o gemido

de escapar do fundo da garganta. Ele cola os nossos corpos e eu


sinto os meus músculos se contraírem debaixo da sua mão grande,

firme e quente.

É tão bom.

Ele solta a minha mão e toca meu queixo com o polegar e o

indicador. Devagarzinho, levanta o meu rosto para encará-lo. No


momento em que nossos olhos se conectam, eu fico hipnotizada,

sentindo o coração galopear forte dentro do peito.

— Eu vou ficar com você.

— Uhum — sussurro, fazendo-o abrir um sorriso pequeno. —

Não posso gostar de você — me ouço dizendo.

— Por que não?

— Você é um homem perigoso, Noah Carbone.

— Eu sou, Sophia Canning, mas nunca serei perigoso pra

você.

— Tem certeza?

— Sim.
— O seu mundo sempre será perigoso pra mim — murmuro e
pela maneira que seus olhos brilham, eu sei que ele não gostou do
que ouviu. — Me desculpe, eu... — sou interrompida com os lábios

dele contra os meus, me pressionando e a língua exigindo entrar na


minha boca.

Eu cedo. Não sei se conseguiria resistir de qualquer forma.

Ao contrário do que imaginei, aos poucos, o beijo vai ficando

lento e profundo, diferente das primeiras vezes. Minhas mãos voam


para sua nuca, puxando-o para mim e querendo mais desse fogo

insano que Noah tem.

E eu me entrego de verdade, deixando que me guie.

A língua dele me invade, tocando a minha e me fazendo

arquejar contra o seu corpo quente e duro. Noah abocanha meu


lábio inferior, sugando de forma necessitada e demorada.

Sinto a mão em volta da minha cintura me apertar.

Sim, o mundo dele é perigoso para mim, eu sei, mas não

consigo parar de desejá-lo.

É bom estar nos seus braços fortes e protetores. É como um

porto seguro e também, o meu pior pesadelo.


A ereção dele roça na minha barriga e eu gemo, o corpo

arrepiando inteiro. Reúno toda a força de vontade que eu tenho e o


afasto um pouco, não muito, porque gosto de senti-lo pertinho de

mim.

O calor de Noah é bom, melhor do que ficar em frente à uma

fogueira no frio severo de inverno.

— O que foi?

Suspiro.

— Tem um homem... — não consigo terminar de falar. Graças

a Deus, ele entende e concorda com um aceno de cabeça.

Entrelaça minha mão na sua de novo e me arrasta até as escadas.

Não consigo impedir meu coração de se sentir seguro com

esse homem.

O que eu faço para mudar isso?


Noah varre os olhos pelo porão antes de caminhar até o sofá
cinza e sentar. Aqui é um dos meus lugares favoritos da casa. Tem
uma bancada de madeira, estante industrial com os meus livros de

romance preferidos, televisão, sistema de som moderno e claro, a


minha esteira.

Acho que esse lugar diz mais sobre mim do que o meu próprio
quarto.

Escorrego para o sofá macio ao seu lado e cruzo as pernas,


evitando olhá-lo. Foi uma burrice pedir para que ele ficasse comigo,

só que eu não queria que me deixasse sozinha com toda essa

situação.
Nunca fiz o tipo de donzela em perigo e sempre me defendi

bem. Quer dizer, quando não estavam tentando me matar com um


taco de beisebol ou roubar uma arma da minha mão.

Também nunca tinha matado um cara antes. Eu me sinto suja,


quebrada. É como se algo tivesse estilhaçado dentro do meu peito e

sem capacidade de reparação.

Tirar a vida de alguém muda você.

Será que Noah sentiu o mesmo? Quer dizer, ele já deve ter

matado muitos. Assassinato é praticamente o seu natural.

Ergo os olhos e o observo.

Por que não consigo sentir repulsa de alguém como ele? Por
que não consigo parar de achá-lo tão cativante? Qual é o meu

problema?

Desejar Noah é quase um pecado capital, e no momento, ser

uma pecadora parece ser tão bom e excitante.

— O que aconteceu hoje... isso me torna uma pessoa ruim?

Noah olha para mim.

— Eu acho impossível você se tornar uma pessoa ruim,

Sophia.
Mordo o lábio inferior.

— O que vai acontecer comigo?

— Nada, eu já disse pra você não se preocupar com isso.

Assinto, sentindo os olhos arderem e embaçarem por conta

das lágrimas contidas. Estou cansada de chorar, então pisco rápido


e me mantenho firme. Inspiro e expiro algumas vezes e me esforço

para acalmar meus batimentos acelerados.

— Ele te tocou? — ele pergunta, o maxilar cerrado e uma

névoa de escuridão se apossando dos olhos claros.

— Não, ele não conseguiu.

— Finn veio por causa da surra que eu dei nele.

Sacudo a cabeça, negando.

— Ele veio porque é louco — murmuro. — Não se culpe por

isso, não combina com você — resmungo, fazendo Noah bufar.

— Se Finn ainda estivesse vivo, eu teria acabado com ele —

fala e as palavras soam com uma leveza tão estranha, que me

assusta. Não que esteja com medo de Noah, o que me assusta é eu

não ter medo dele.


Sem aviso prévio, o mafioso leva a mão até o meu rosto e

prende uma mecha de cabelo detrás da orelha, investigando minhas


expressões. Os dedos param em cima da parte macia da minha

orelha e arrepia os pelinhos da nuca.

Não me afasto, em vez disso, fecho os olhos e sinto o calor do

seu corpo se aproximar de mim, de uma maneira tão íntima e


poderosa, como se eu já fosse dele e Noah tivesse ciência disso.

Respiro ofegante e bato os cílios devagar. O homem está tão

próximo de mim, que não tenho como fugir dele. Para falar a
verdade, nem sei se conseguiria. No fundo, eu sabia que estava
perdida no momento em que abrir a boca e pedi para que ficasse

comigo.

E tudo bem, estou pertinho de admitir que me sinto


perdidamente atraída por ele, que cada terminação nervosa do meu

corpo reage com chamas quando esse homem está por perto.

Mesmo assim, eu tenho curiosidades.

— Você tem quantas mulheres? — a boca pergunta antes que

o cérebro filtre as palavras. Noah que estava vindo para abocanhar


os meus lábios em um beijo, paro um centímetro de distância e

focaliza meus olhos.


— O quê?

O homem tira a mão de mim e volta a se encostar de leve no

sofá.

— Você passou um tempo casado e nunca tocou na Hayley.


Como isso foi possível? Você tem quantas mulheres?

Ele fecha os olhos ao desviar o rosto de mim e massageiar as


têmporas.

Parece brincadeira, tem mafiosos no andar de cima “limpando”

o sangue e escondendo o corpo do cara que eu matei, e eu estou


aqui, no porão da minha casa, de frente para um chefe da máfia
perguntando se ele tem outras mulheres.

Onde foi parar o meu juízo?

— Não vou conversar com você sobre isso.

Giro os olhos e começo a ficar irritada.

— Por que não? Você é daquele tipo que as mulheres são


todas suas, mas você não é de ninguém? — devolvo, cética.

Noah se vira e me encara, ficamos assim por quase uma

eternidade e nenhuma palavra sai da sua boca arrogante, o que me


deixa mais enfurecida, porque me dou conta de que ele é um
cafajeste.
Quantas mulheres? Ele deve ter comido noventa por cento
das mulheres em Montreal.

Levanto do sofá e estou prestes a mandá-lo ir embora e me


deixar sozinha quando Noah fica em pé também. Segura um dos

meus pulsos com firmeza e aos poucos, os dedos em volta de mim


vão afrouxando.

— Você não é o mocinho — digo mais para mim do que para


ele.

— Nunca disse que era um.

— Eu sei — digo ao ranger os dentes.

— Por que está tão brava?

Abro a boca para responder e fecho um segundo depois. Não


tenho resposta para essa pergunta. Por que estou tão brava? Ele é

um mafioso, deve acreditar que pode ter quantas mulheres quiser.

Canalhice é o mínimo que eu podia esperar de um mafioso.

Por que isso me incomoda tanto?

— O que você quer, Sophia?

— Não sei — sou sincera.


Gemo quando Noah segura minha cintura com as duas mãos
e me coloca em cima da bancada de madeira. Não gosto de como
isso foi tão fácil para ele, como se eu fosse uma marionete.

Engulo em seco ao vê-lo se encaixar entre as minhas pernas.

Abaixo os olhos e noto o meu peito subir e descer por causa da


respiração acelerada. Com as pontas dos dedos, o homem alcança

o meu queixo e eleva o meu rosto para ele, me conectando de


maneira intensa.

Peço em silêncio para que a gata selvagem que vive dentro de

mim aflore e eu o empurre para trás. Infelizmente, ela não vem.

As mãos grandes e quentes de Noah se encaixam na minha


cintura, por debaixo do moletom. Mordo o lábio inferior para

controlar os gemidos. Olhando nos meus olhos, ele sobe com as

mãos e meu coração bate alto.

— Gosto da sua pele... — sussurra e eu sinto as minhas

bochechas formigarem. Nunca fui tímida e não entendo o motivo por

me sentir assim no momento. — Ela é macia.

Ainda com as mãos em mim, o homem afunda o rosto no meu

pescoço e a única coisa que faço é fechar os olhos, aproveitando o


contato. Ele é abusado, de maneira lenta, os dedos vão subindo

pelas minhas costas até encontrarem o fecho do sutiã.

Embora eu goste de como ele me toca e esteja a um triz de

me entregar, consigo reunir forças e pará-lo ao chamar seu nome.

— Noah...

As mãos descem até a minha cintura e me apertam com força,


me fazendo inclinar o corpo contra ele.

— Eu não sou um objeto — falo, feliz de a voz ter soado firme.


— Se você quer apenas sexo, está tentando isso com a pessoa

errada.

Eu sou louca e o que saiu da minha boca é a minha sentença,


porque parece que estou implorando para ser algo a mais e não é

bem assim. Ou talvez seja? Não, claro que não.

Não é.

Não mesmo.

— Sophia, Sophia... — murmura, tirando as mãos do meu

corpo e levando até o meu rosto, onde segura com força, os dedos

roçando nos cabelos da nuca e me eriçando toda. — Você quer ser


minha.

— Não quero.
— É uma péssima mentirosa.

Depois de retrucar, os olhos recaem sobre os meus lábios e

então, ele aproxima o rosto, grudando as nossas bocas e me


beijando forte. Não devia me render tão fácil, só que no instante em

que a sua língua toca a minha, eu solto gemidos entrecortados, que

ele engole com o beijo e torna impossível a missão de rejeitá-lo.

Noah é um predador e no momento, estou gostando de ser

uma presa.

Ele me aperta contra o corpo e puxa meu cabelo, me deixando

sem fôlego e com um latejar frenético entre as pernas. Sinto a pele

arder e um calor insano vir de dentro para fora, me queimando


inteira.

Subo com as mãos até os seus ombros e tento fincar as


unhas nele, odiando por ter um casaco de tecido grosso me

impedindo de fazer isso. Tento resistir à vontade, não consigo.

Meu corpo tem vida própria...

De forma precisa, puxo o seu casaco para trás e ele me ajuda

a passar o tecido pelos braços, sem desgrudar a boca de mim.


Entrelaço as pernas no seu tronco e o puxo para mim, fazendo-o

roçar a ereção contra o meio latejante das minhas pernas.


Caralho.

Noah faz uma trilha com a língua pelo meu pescoço e para na

veia pulsante, onde dá um chupão forte e delicioso. Eu gemo,

jogando a cabeça para trás e me entregando. A boca sobe mais um


pouco e encontra meu queixo, que ele morde antes de encontrar

meus lábios de novo.

— Eu vou te tocar — avisa ainda com a boca encostada em


mim, todo mandão e guiando uma onda eletrizante para as partes

sensíveis do meu corpo. Meu lado racional grita para eu pará-lo e eu

o ignoro. Tinha parado de escutá-lo faz um tempo.

Os dedos dele encontram o elástico do meu moletom e a mão

vai entrando de forma cautelosa e ao mesmo tempo precisa. Ele se

afasta um pouco para me olhar nos olhos, estudando minhas


reações.

Ao senti-lo roçar a minha abertura por cima da calcinha, eu


gemo o seu nome e os olhos oceânicos pegam fogo ao notar que a

renda está ensopada, porque estou pigando de excitação.

De mansinho, com os dedos hábeis, Noah arrasta a calcinha


para o lado e desliza um dedo para dentro da minha fenda
enxarcada. Ele entreabre a boca e deixa escapar um som baixo e

sexy, que me faz sentir ainda mais tesão.

— Porra, Sophia, você tá tão molhada.

Não falo nada.

Noah movimenta os dedos de mansinho, de dentro para fora e

eu arqueio o corpo contra ele, implorando por mais em silêncio. O

toque provocante sobe mais um pouco até encontrar o meu clitóris

inchado e quente.

— Olhe pra mim — ordena ao perceber minhas pálpebras se

fechando. — Quero ver você gozar.

Suspiro.

— Vou te fazer gozar com a minha mão e depois com a minha


língua.

— Noah — choramingo.

De forma certeira, os dedos vão se mexendo em círculos

sobre a parte do meu corpo que é capaz de me fazer explodir em

mil pedacinhos. Finco as unhas nos seus ombros com força, me


agarrando toda a ele.

À medida que o prazer vai aumentando, meus pés se


contorcem e grudo ainda mais os nossos corpos. A sua boca vem
de encontro com a minha para chupar minha língua com força, me

enlouquecendo.

— Só eu posso te tocar assim, Sophia — fala, a voz autoritária

faz o meu corpo trepidar. — E quero te ver gozar quantas vezes eu

quiser.

— Noah...

Os movimentos circulares no clítoris vão ficando mais intensos

e não consigo segurar os gemidos. As centelhas de prazer atingem

o meu corpo, queimando de dentro para fora e fazendo o couro

cabeludo arrepiar. Noah continua esfregando o dedo nas partes


sensíveis, sedento e possessivo. A tensão doce vai se acumulando

até se transformar em algo maior e me faz explodir em uma onda

forte contra sua mão.

Não lembro da última vez que um cara me deu um orgasmo

tão arrebatador.

Ele retira a mão de dentro de mim e não posso impedir o

choramingo que escapa do fundo da minha garganta. O toque dele

é bom e eu gostaria que ficasse mais um tempo ali.

Fico hipnotizada ao vê-lo mover os dedos até a boca e chupar,

sem tirar os olhos de mim. Acabei de ter um orgasmo e já estou


sentindo um novo formigamento nas entranhas, me avisando que
estou pronta para outro.

O que esse homem está fazendo comigo?

— Seu gosto é bom.

Mordo o lábio inferior e permaneço calada. Desço com as


vistas até o volume grande da sua calça e solto suspiro longo. Por

dentro, morrendo de curiosidade para saber como ele é nu.

Noah passa o polegar no meu lábio inferior.

— Quero essa boca em volta do meu pau.

Uau.

Cacete.

Respiro fundo e começo a me imaginar fazendo isso também.


O corpo inteiro arrepia com a fantasia erótica perambulando da

minha cabeça fértil. Merda. Eu quero isso também.

Abro a boca para responder na mesma hora em que o seu


celular apita, notificando uma nova mensagem. Ele tira o aparelho

de dentro do bolso e checa a telinha colorida. Viro o rosto para o


outro lado, não sei se devo xeretar esse tipo de coisa.

Entretanto, se for uma mulher, vou ficar enfurecida...


Estou prestes a virar o rosto e conferir quando ele diz:

— James disse que já está levando o Finn. Alguém vai vir aqui
limpar o chão. Você não quer dormir no hotel do cassino? —
pergunta e nem me deixa responder, pois já emenda: — Ou na

minha casa?

Arqueio uma sobrancelha.

— Na sua casa? Aham, tá bem. Sua mãe vai pirar e fazer um

interrogatório. Eu passo — falo com deboche.

— É a cara dela fazer isso.

Sem saber o porquê, eu rio.

O seu celular toca de novo. Dessa vez, eu olho e não sei

explicar o sentimento de alívio se instalar no peito ao ver o nome de


Julian saltitando na tela. Noah recusa a ligação e guarda o aparelho
dentro do bolso da calça jeans.

— Vou pra casa da Lina — aviso assim que ele me olha.

— Eu te levo lá.

Nego com a cabeça.

— Não precisa, obrigada.

Ele segura meu rosto entre as mãos e abre um sorriso lascivo.


— Isso não é um pedido.

Dito isso, agarra minha cintura de novo e me desce da


bancada de madeira. Ergo o queixo para encará-lo, pensando em

como me sinto bem depois de ter ganhado um orgasmo dele.

Noah é um mafioso, um homem perigoso e sombrio, errado da


cabeça aos pés. Devia me sentir impura, mas não consigo. Eu

gostei do que aconteceu entre nós e não sei como parar de sentir
atração por ele.

Noah Carbone é uma tentação quente, um caos completo e

distorcido, e eu sinto que o seu amor é capaz de destruir qualquer


coisa.
— Aconteceu algum problema? — a mamma pergunta assim
que coloco os pés no hall de entrada da mansão.

Ela está calçando pantufas fofas e vestindo um pijama de


calças cumpridas e cardigan longo por cima. Os cabelos estão

soltos e meio revoltos, tem os olhos sonolentos e uma aparência de


quem adormeceu no sofá.

— O que está fazendo aqui? Por que não foi dormir?

Ela se aproxima de mim e levanta as mãos para alisar o meu


rosto. Suspira e aos poucos, vai relaxando os ombros. A mamma

encosta a testa sobre o meu peito e fica assim por um longo

segundo.

— Fiquei preocupada.
— Vá dormir — é o que digo, envolvendo os braços em volta

do seu corpo e apertando-a contra mim.

— O que está acontecendo? Você redobrou a segurança da

casa e eu acho que nunca tive tantos homens me seguindo como


agora. Umberto sempre deu conta de ser meu segurança, por que

de repente preciso de mais?

Não tinha falado para a mamma sobre os problemas nos


negócios e nem vou. Não quero preocupá-la com isso, caso

contrário, é capaz de ela me trancafiar dentro da mansão e não me

deixar mais sair.

Eu posso ser o chefe da família, mas para ela, sempre serei o

seu filho acima de tudo.

— Só estou sendo cauteloso.

— Cauteloso? — rebate, içando o queixo para me olhar nos

olhos. — Por que você mandou Hayley voltar de Nova Iorque? Isso

não é ser cauteloso, Noah. Parece que você está se preparando


para uma guerra.

— Não exagere, mamma.

— É tarde demais pra isso — resmunga.

— Não se preocupe.
— Como não? Eu sou sua mãe e se a sua vida corre perigo,
preciso saber. Não vou aguentar te perder, Noah Octávio. Já perdi o

seu pai e se algo acontecer com você, vou enlouquecer.

Abro meio sorriso.

— Não vai me perder, mamma e eu vou resolver tudo — digo,

e é verdade, só não sei exatamente como vou tirar Alastar da minha


cidade, mas ele e eu nunca nos tornaremos sócios. Não vou aceitar

receber ordens de um velho filho da puta na minha própria cidade.

— Por onde esteve? — pergunta e começa a me ajudar a tirar

o casaco. Bom, foi o que eu pensei, a verdade é que a mamma está

inspecionando o meu corpo, conferido se está tudo no lugar. — Não

está ferido.

Penduro o casaco no cabideiro.

— Claro que não, estou inteiro.

— Não saia desse jeito outra vez ou vou colocar um GPS em

você — rosna, me fazendo ri de leve. — Eu fiquei tão preocupada —


acrescenta, suspirando, exausta.

Seguro seu rosto entre as mãos e planto um beijo na sua

testa.

— Eu sei me cuidar, mamma.


— Espero mesmo.

— Vá dormir.

A contragosto, ela faz o que mando. Antes de subir as

escadas para o quarto, beija uma das minhas bochechas de cada


vez e deseja boa noite, me fazendo assentir. Giro nos calcanhares e
vou à cozinha.

Encontro Julian e Nicholas na banqueta, bebendo cervejas e

conversando. Aproximo-me da geladeira e pego uma cerveja antes


de me juntar a eles no balcão de granito.

— A mamma estava preocupada — Julian fala e leva a lonk


neck até os lábios para um gole. — Por onde andou?

— Sophia.

Nicholas arqueia uma sobrancelha.

— Melhor amiga da Lina?

— É a única Sophia que eu conheço — retruco com


sarcasmo, fazendo Nicholas dar de ombros e beber um gole

generoso de cerveja. — Ela matou um cara — digo, surpreendendo


os dois.

Tenho certeza de que ela ficaria brava se me escutasse no


momento, mas Julian e Nicholas não fazem o tipo que vão sair
correndo para contar a todo mundo o que acabaram de ouvir.

— Como ela está? — Nicholas quer saber.

— Assustada. — Suspiro. — Foi um acidente, embora o filho

da puta tenha merecido.

— O que ele fez? — é Julian quem pergunta.

— Tentou abusar dela no estacionamento do cassino, depois

invadiu a casa com um taco de beisebol.

Estou tentando não pensar nisso, mas o coração fica


incomodado toda vez que lembro da surra que dei em Finn. Se eu
tivesse apenas salvado Sophia naquele dia do estacionamento,

talvez hoje, ela não estaria com as mãos sujas de sangue.

— Ah, mereceu — Nicholas concorda, fazendo Julian assentir


e tocar na sua cerveja em um brinde. — Ela vai ficar bem.

— Eu sei. Não digam a ninguém — aviso, e encaro o meu


irmão. Eu sei que ele não abrirá a boca e contará isso a noiva, mas

quero ter certeza, então falo: — Não comente nada com a Lina.

Ele assente e como para selar o segredo, encostamos as três


cervejas e bebemos um gole logo em seguida.

— Então é isso, vocês estão juntos? — meu irmão questiona.


Reflito por um momento. Ela é minha, embora ainda não tenha
consciência disso. Não vou deixá-la fugir, porque eu a quero por
perto e o que é meu, é meu. Sou assim, simples e objetivo.

E não sei se já quis algo na vida como quero manter minhas

mãos no corpo pequeno e quente de Sophia. Confesso que já


imaginei a situação hipotética, onde ela casa comigo em vez de
Hayley. E por mais louco que seja, eu sinto que não a deixaria ir

para longe de mim.

Eu ficaria com Sophia e a tornaria minha de qualquer forma.

— É, basicamente.

Nicholas e Julian sorriem e cada um levanta a garrafa de


cerveja de novo para brindarmos.
Embora esteja com vergonha e me sentindo culpada, conto
tudo a Lina. Ela perguntaria de qualquer forma, já que não
conseguiu esconder a expressão de surpresa ao ver Noah me

deixando na porta do seu apartamento.

Deixo de fora a parte em que o Noah me fez gozar com os


dedos em cima da bancada de madeira do porão.

— Por que não me ligou? — é a primeira coisa que ela

pergunta depois de ouvir que eu matei um homem acidentalmente.

— Ah, obrigada, é bom saber que você esconderia um corpo

comigo — tanto fazer piada, esperando que ela ria. Não dá certo. —

Eu não sabia o que fazer — admito e como um tola, sinto os olhos


arderem.
— Tudo bem, eu entendo.

Suspiro, me perguntando como minha amiga pode entender

essa situação fodida. Caralho. Eu matei um homem e isso é tão

assustador, que me deixa sem ar. Espero de verdade que ela nunca
passe por isso.

— Por que chamou o Noah? Não sabia que vocês... quer

dizer, são mais que amigos? Ou eu estou vendo coisas? Ele não
tirava os olhos de você.

Nego com a cabeça e prenso os lábios em uma linha reta,


pensativa. Não sei se somos mais que amigos. Amigos tocam um

ao outro? Não que eu tenha tocado nele, mas fui tocada.

E foi muito bom.

Só de pensar nisso, o calor e o latejar frenético começa a

emergir entre as minhas pernas.

— Não é isso.

— Então, o que é?

Lina me analisa com cuidado, quase como se quisesse me ler

em silêncio ou entender o que passa na minha cabeça. Eu daria um

prêmio se minha melhor amiga conseguisse entender o que se


passa nessa minha cabeça dura. Porque a verdade é que não faço
a mínima ideia do que está acontecendo comigo.

— Ele está obcecado por mim — falo e dou de ombros.

Lina sorri.

— É, acho que isso é de família.

— É estranho?

— Por que seria? — devolve com as sobrancelhas erguidas.

— Ele era casado e é irmão do seu noivo.

— Isso mesmo, era e não é mais. Já assinou os papéis do


divórcio e até pediu à Igreja Católica uma declaração de nulidade do

casamento — declara.

Tendo parecer indiferente e murmuro:

— Hum.

— E por que ser irmão do Julian é estranho? Acho legal você

namorar o meu cunhado — fala como se fosse simples e me

presenteia com um sorriso largo e meigo.

— Ele é um mafioso.

Enterro o rosto nas mãos e choramingo, tentando entender

como a minha vida pode ter mudado tanto em tão pouco tempo.
Será que é isso que acontece quando um mafioso entre na sua

vida? Vira tudo de cabeça para baixo? Será que é assim que Lina
se sentiu quando se apaixonou pelo Julian?

— Minha vida tá uma bagunça, amiga. Merda, eu sou uma


assassina.

Ela respira fundo.

— Você não teve culpa do que aconteceu com o Finn, foi um

acidente — murmura e eu direciono os olhos até ela.

— Obrigada por dizer isso.

— Como você está se sentindo? — Lina quer saber,

investigando minhas expressões.

— É estranho, não consigo parar de reviver a cena. Parece


que estou definhando de dentro pra fora. É horrível — sou sincera.

O único momento em que de fato eu esqueci de ter matado


um homem, foi quando Noah estava comigo, e ainda não sei como

me sentir em relação a isso. Não queria que ele me fizesse sentir


bem, só que faz e acho que vou ficar louca.

— Eu sinto muito.

Lina, que está sentada na banqueta de frente para a pequena


ilha da cozinha, se inclina sobre mim e me envolve em um abraço
apertado, que é capaz de acalmar meu coração. Aperto-a com força

e respiro fundo ao fechar os olhos.

— Obrigada por me acolher.

Ela se afasta e mantém as mãos nos meus ombros.

— Sou sua melhor amiga — lembra, me roubando meio

sorriso. — Vamos esquecer esse dia ruim, tá bem? Que tal


pedirmos comida e tomar as cervejas que têm na minha geladeira?

— indaga e logo sorri.

— Parece bom. Muito bom, na verdade.

— Eu serei sua pelos próximos dias.

Giro os olhos.

— Não acha que Julian vai ficar bravo?

Ela ri.

— Talvez, mas é você quem precisa de mim agora.

— Julian e eu temos sorte de ter você — digo, voltando a


abraçar forte minha melhor amiga.

— Bom, pelo menos nisso vocês dois concordam — zomba,

me roubando uma risada alta.


É estranho estar rindo desse jeito depois do que aconteceu.
Balanço a cabeça de leve e tento não me prender a esse
pensamento cruel. Preciso esquecer o que eu fiz ou tentar conviver

com a culpa.

Apesar de não ter a mínima ideia de como fazer isso.

Lina levou a sério o que disse. Ela foi minha por dois dias
inteiros. E quando finalmente me senti pronta para voltar para casa,

fui embora. Minha amiga queria vir comigo e eu recusei, porque isso
é algo que tenho que fazer sozinha.

Enfrentar o monstro que abandonei.

Na porta da frente, eu seguro a maçaneta e demoro um tempo


assim, sem conseguir mover os pés para frente. Eles criaram raízes

no chão. O coração está acelerado e de repente, sinto o cheiro forte


de sangue.
Sei que é imaginação, mesmo assim, não consigo me sentir
mais tranquila. Engulo o caroço entalado no meio da garganta e levo
ar até os pulmões, tomando coragem para girar a maçaneta.

Empurro a porta e dou os primeiros passos para entrar em

casa. Está tudo tão calmo e silencioso, é estranho saber que dois
dias atrás, eu tirei a vida de alguém no andar de cima.

Coloco as chaves em cima da mesinha de centro da sala e

jogo a bolsa no sofá, depois sento nele. É idiota adiar a minha


subida, entretanto, um passo de cada vez.

Ligo a tevê e fico zanzando pelos canais, de vez em quando

espiando por cima dos ombros as escadas, como se elas fossem


me falar alguma coisa importante ou me repreender por ser tão

covarde.

Agora, parece ruim ter recusado a companhia de Lina. Não sei

se consigo ir para o andar de cima sozinha.

Você consegue, Sophia.

Dou uma inspirada funda e deixo o controle da televisão em

cima da mesinha de centro. Fico de pé e cruzo os braços em volta


do corpo, tentando sufocar meu pânico e esperando a coragem de

me virar e dar o primeiro passo em direção ao meu pesadelo.


Conto mentalmente até três e giro, encaro os degraus e em

passos de tartaruga, caminho até a escada. Subo o primeiro degrau


e o coração bate forte, subo outro e o sinto na garganta. Mais outro

e mais outro.

Quando chego no corredor, fico sem ar.

A porta do meu quarto está fechada, o que me faz querer dar

meia volta e correr para o mais longe daqui. Fugir de tudo parece
uma ótima opção.

Não seja medrosa, Sophia.

Isso, não seja a merda de uma medrosa, garota.

Caminho rápido até em frente o quarto e coloco a mão na


maçaneta, sem pensar muito, viro-a e escancaro a porta.

O coração acelera tão rápido e eu fico sem ar.

Não tem nada diferente de antes. O quarto está limpo e não

tem nenhum vestígio de que alguém foi assassinado no chão perto

da cama. Mas, só que ainda não consigo respirar e o meu medo, a


culpa, a vergonha começam a me sufocar.

Sem conseguir ficar nem mais um minuto no cômodo, dou as


costas e corro, só diminuindo o ritmo ao alcançar o fim da escada.
Permito-me desabar e sento no último degrau, respirando fundo e

tentando controlar o coração frenético.

A campainha toca.

Seguro no corrimão e levanto, indo na direção da porta, a

essa altura do campeonato feliz por não ter que ficar sozinha com a
minha culpa.

Surpreendo-me ao encontrar Noah do outro lado da soleira e

sem saber muito bem o porquê, eu sinto um alívio se espalhando


pelo meu peito e deixando um rastro quente e poderoso.

— O que está fazendo aqui?

— Lina me ligou.

— Hum.

Nem tento resistir ou retrucar, apenas dou um passo para trás

e faço um gesto com a cabeça para que entre. Ao passar por mim, o
seu cheiro cítrico atinge o meu nariz como um soco certeiro e eu

percebo que senti saudade dele.

Como isso é possível?

— Tudo bem?

— Por que não estaria?


— Você tá pálida.

A mão dele vai direto ao encontro do meu rosto e eu fecho os

olhos, sentindo o seu toque que parece tão familiar e aconchegante.

Relaxo os ombros por um segundo e ele nota, pois é o suficiente


para me puxar contra os seus braços.

— A casa parece assustadora — assumo em voz baixa, quase

chorando. — Achei que conseguiria ficar sozinha, mas parece algo


impossível.

— Eu sei — murmura, alisando os meus cabelos. — Vai


incomodar por um tempo, vai parecer que isso está te engolindo e te

deixando pequeno, miserável. Até chegar o dia que vai melhorar,

essa sensação vai passar e você vai ficar bem.

— Tem certeza?

— Eu tenho.

Seguro Noah com força, me agarrando a ele com tudo o que

tenho. É insano ter essa intimidade com um homem tão errado e

perigoso. Mas no fundo, eu sei que ninguém me consolaria melhor


do que ele.

Porque agora, somos parecidos... eu também tenho as mãos


sujas de sangue.
Cancelo toda a minha agenda para ficar com Sophia. Tinha
pensado só em checar como ela estava, mas no momento em que
desabou nos meus braços, eu soube que não conseguiria deixá-la

sozinha.

É novo e estranho para mim. Nunca tirei um tempo para ficar


com uma garota sem ter a intensão de me afundar nela. Claro que
estou louco para fazer isso e pelo que conheço de Sophia, se eu

tentar algo, vou levar um tapa na cara. O que seria a primeira vez e

realmente interessante. Ela não tem medo de mim e me enfrenta de


cabeça erguida, diferente dos meus homens que não levantam nem

a voz para falar comigo.


Sophia é poderosa, intensa e eu gosto de tudo nela. Estou

ficando louco, porque ela meio que parece um desafio mental.

É excitante.

— Você pode fazer isso?

— Isso o quê?

— Cancelar toda a sua agenda pra ficar aqui? — questiona,

sentando na banqueta da ilha da cozinha e me analisando com uma

sobrancelha erguida.

— Eu sou o chefe, posso fazer qualquer coisa.

Aproximo-me dela e me acomodo ao seu lado, controlando o


ímpeto de agarrar a sua nuca e enfiar a língua na boca pequena de

lábios carnudos. Acho que é a primeira vez que estou tão

controlado.

— Ah, claro, claro. Por um segundo, eu tinha esquecido que


você é o dono de Montreal.

Ela rebate de maneira presunçosa e depois me dá um sorriso

travesso, o que é suficiente para mandar o meu autocontrole para

puta que pariu e segurar seu pulso com firmeza, trazendo-a para

mim. Sophia se encaixa entre as minhas pernas de maneira perfeita

e olha nos meus olhos, ofegante.


— É difícil ficar perto de você.

— Por quê? — sussurra.

— Quero te devorar.

Solto o punho de Sophia e devagar, levo as mãos até o zíper

da blusa de manga longa. Para minha sorte, ele fica na frente. Dou
meio sorriso antes de puxá-lo para baixo e vejo o seu peito subir e

descer por causa da respiração arfante. Estou prestes abri-lo com

tudo quando ela diz de repente:

— Quero cortar o cabelo.

— O quê?

— Quero mudar.

Contrariado, desisto do zíper.

— Você quer fazer isso agora? — retruco e ela assente. —

Por quê? Gosto do seu cabelo assim.

— Eu sinto que preciso de uma mudança simples na minha

vida. Cortar o cabelo ou pintar é um bom começo.

— Está falando sério, não é?

— Sim — fala e se afasta de mim, me fazendo suspirar. Ela

sobe as escadas correndo e não demora quase nada para voltar. Ao


parar na minha frente, noto o seu rosto pálido e nas mãos, escova,

espelho pequeno e tesoura.

— O que aconteceu?

— Ainda é estranho entrar no meu quarto — admite e sacode


a cabeça. — Venha, me ajude.

— Ajudar?

Em silêncio, ela caminha até o lavabo do andar de baixo e eu


a sigo. Sophia coloca o material na pia e me olha através do

espelho na parede, fazendo um gesto com a cabeça para que eu


chegue mais perto.

Aproximo-me dela, roçando meu corpo no seu, fazendo-a


soltar um gemido entrecortado.

— Não te chamei pra isso.

— Eu sei, é que lugares pequenos me excitam — murmuro.

Pelo espelho, os olhos verdes e afiados me encaram. Ela abre


a boca para falar algo, mas desiste no instante em que pego o seu

cabelo com uma das mãos e arrasto para o lado, deixando o


pescoço pequeno exposto. Sem desfazer a nossa conexão, cravo

os dentes de leve na curvatura, sentindo a pele macia de Sophia


estremecer com o meu toque.
— Noah...

— Huh?

Sophia joga a cabeça para trás e cede ao bater os cílios,

aproveitando o momento. Chupo o seu pescoço com vontade,


ouvindo-a gemer ao mesmo tempo em que meu pau acorda. Com a
mão livre, aperto a sua cintura, puxando-a contra o meu corpo e

roço a ereção na sua bunda empinada.

De forma vagarosa, desço com os dedos até o cós da calça e


estou começando a escorregar para dentro do jeans ao ser

impedido.

— Não aqui — fala, a voz soa baixa e falha um pouco.

Solto um suspiro em chateação e quero muito ligar o foda-se e

seduzi-la até estar nua na minha frente, mas respeito e me afasto


um pouco.

— O que você quer que eu faça?

— Não sabia que eu podia te dar ordens — zoa e eu reviro os


olhos, segurando a vontade de meter a mão na sua bunda e puni-la

por ser tão atrevida e insolente com o chefe da máfia Carbone. —


Me ajude a cortar o cabelo.

— E o que eu faço com isso?


Pouso as mãos no seu quadril e puxo-a contra a minha ereção
latejante. Observo os olhos verdes através do espelho e não posso
impedir de os cantos da boca se curvarem ao notar o brilho sexy se

apossarem deles.

Mudanças são boas.

É a primeira coisa que penso ao ver o resultado dos cabelos


cortados de Sophia. Ele era bem comprido e caía em cachos leves

até abaixo dos seios. Agora, estão na altura do queixo, com pontas
na frente e mais curto na nuca.

Linda.

— Se cansar de ser mafioso, pode abrir um salão e começar a


cortar cabelos. Tem talento para o ramo — ela brinca e em vez de

ficar bravo, eu rio.

— Você sempre foi insolente desse jeito?


— Acho que sim.

Dá de ombros e depois se vira para mim, sorrindo. Ergo a mão

até o seu rosto e prendo uma mecha de cabelo detrás da orelha. Eu


gostava do cabelo longo, mas preciso admitir que ele curto é incrível

também.

Tem um ar potente pairando por cima de Sophia.

— Ficou linda.

— Obrigada — sussurra. — É bobo, eu sei, só que gostei de

cortar o cabelo mesmo assim. Me sinto um pouco diferente.

Sorrio.

— Não é bobo se é importante pra você, Sophia.

— Você diz isso pra todas as mulheres?

— Não — sou sincero.

Sophia morde o lábio inferior e continua com os olhos

grudados nos meus.

— Então quer dizer que Noah Carbone tem um lado sensível?

— Parece que sim — rebato, roubando uma risada gostosa de

Sophia.
Seguro o seu rosto entre as duas mãos e colo as nossas

bocas. Fico feliz que ela não recua e se entrega a mim, agarrando
meus braços e dando intensidade e profundidade ao beijo, como se

não tivesse escolha.

Talvez ela não tenha mesmo.

— Você é minha, Sophia — sussurro contra os seus lábios. —

Não adianta fugir de mim, porque vou te encontrar em qualquer


lugar.

Ela se afasta um pouco, colocando as mãos espalmadas no


meu peito e começa a rir.

— Isso é uma ameaça?

Sinto a boca repuxar em um sorriso.

— Não, é a sua sentença. — Desço com as mãos do rosto até


os ombros, depois deslizo pelos braços até encontrar as mãos

pequenas e fazer círculos com os polegares em cima delas. — Você

é minha, no pecado e na dor — falo com franqueza.

Ela não diz nada, apenas fica na ponta dos pés e encosta os

lábios nos meus, quase como se estivesse aceitando o seu destino

de ser minha.
Meu celular começa a tocar, quebrando todo o clima e me

fazendo bufar. Tateio o bolso da calça até encontrar o aparelho e

estou pronto para recusar quando vejo o nome do soldado que está
cuidando da segurança de Hayley piscar na tela.

Atendo a ligação e Sophia me observa quieta.

— O que foi? — é a primeira coisa que pergunto.

— Você disse pra ligar assim que chegássemos no aeroporto

de Montreal — fala e faz uma breve pausa. — Ela não está muito
feliz.

— Tudo bem, leve Hayley pra mansão.

Ao ouvir o nome da minha ex, Sophia se afasta de mim e sai

do lavabo. Vou atrás dela e tento alcançar a sua mão ao chegarmos

na cozinha. Ela desvia, enrugando o rosto. Alterno a atenção entre


escutar sobre como Hayley deu trabalho no caminho de volta e

examinar Sophia.

Depois de dar mais algumas ordens para Killian, encerro a

ligação e corto a distância que me separa de Sophia.

— Por que está brava?

— Achei que tivesse libertado a Hayley. Por que ela está de

volta? Você vai prender a garota de novo? — questiona e nem me


dá a chance de responder. — Se você acha que vou ser a sua

amante, saia da minha casa agora.

Respiro fundo e fecho os olhos por um segundo.

— Sou divorciado e ela precisou voltar, porque não quero que

meus inimigos a usem contra mim. É apenas isso.

Ela espreme os lábios.

— Sua vida sempre será estranha pra mim. Sua ex voltou e

vai viver na mesma casa que você. É demais pra minha cabeça, não
se se aguento.

— Não é definitivo.

— É estranho do mesmo jeito.

Abro meio sorriso.

— Está com ciúmes?

— O quê? Não — retruca rápido demais para ser verdade.

— Não se preocupe, não tenho interesse na minha ex como

eu tenho você.

Ela cruza os braços na altura dos seios e revira os olhos ao

fazer um estalo com a língua.


— Ah, é claro, me sinto muito melhor agora sabendo que o

seu único interesse é me levar pra cama. Obrigada — fala cheia de

sarcasmo.

— O que você quer, Sophia? — retruco e dou um passo no

seu rumo. Ela recua e eu não desisto, só paro no momento em que

nossos corpos estão colados um no outro e ela está encostada na


ilha da cozinha. — Tem interesse que eu te faça minha de todas as

formas possíveis?

— Se afaste — pede.

— Fala — ordeno.

— Não tenho — responde de maneira firme, mas o problema

dela são os olhos. Eles me dizem outra coisa. Eles me dizem que

Sophia me quer também.

— Mentirosa.

Seguro o seu queixo com as pontas dos dedos e trago para


mais perto de mim até alcançar sua boca e envolvê-la em um beijo,

que ela resiste nos primeiros segundos e então, cede, se deixando

levar por mim.

— Pare de me confundir.

— Pare de resistir — devolvo, fazendo-a suspirar.


— Não durma com outras mulheres, Noah. Se você fizer isso,

nunca me terá — fala, o rosto fechando em uma expressão séria.

Coloco a mão livre na sua cintura e aperto, como resposta ao

meu toque, o corpo arqueja e ela geme baixinho, toda eriçada. Os

olhos verdes continuam conectados aos meus de modo profundo.

Sempre fui um canalha e nunca prometi exclusividade a

nenhuma mulher. Mesmo assim, me ouço falando:

— Não vou dormir com outras mulheres.

Sophia não tem noção, mas no fundo, isso é como uma


promessa de que eu também serei dela da mesma forma que ela é

minha.

No pecado e nada dor.


— Caramba. Amei o seu corte de cabelo — Lina fala assim
que abro a porta.

Ela está segurando uma capa preta para vestidos, e dois


passos atrás, um homem com expressão de poucos amigos, alto e

robusto, carregando três caixas de sapatos e outro protetor de


roupa. Não demoro para reconhecê-lo. É motorista/segurança da
Lina.

Sem entender, dou um passo para trás e os dois entram. Em


silêncio, ele coloca com delicadeza as caixas em cima da mesinha

de centro e a roupa em cima do sofá.

— Obrigada, Romeo — Lina agradece com um sorriso


cativante desenhado no rosto. Por um milésimo de segundo, a
carranca dura e fechada do homem suaviza e ele quase sorri de

volta. — Pode ir embora, só vou precisar de você à noite.

— Ficarei esperando lá fora — é o que diz, depois me

cumprimenta com um aceno de cabeça e sai porta afora.

Aponto para as coisas que eles trouxeram.

— O que é isso?

— Vestidos de festa e sapatos. — Ela inclina o corpo para

pegar uma das caixas em cima da mesinha de centro e abre. — E

joias.

Cruzo os braços em volta do corpo e uno as sobrancelhas.

— Por quê?

— Romie e eu ajudamos Noah a escolher um vestido pra

você. É pra festa de réveillon na cobertura do hotel do cassino hoje

à noite.

Noah tinha me enviado uma mensagem hoje mais cedo

falando sobre a festa. Eu disse que não tinha certeza se queria ir,

então, ele ficou calado. Eu devia desconfiar que aquele mafioso

estava aprontando alguma coisa.

Não é ruim ir para um evento assim, ainda mais porque meu


pai ainda não voltou da Suíça e só ontem me avisou que vai passar
o réveillon com a vovó. Até cogitou comprar minha passagem para
eu ir lá e ficar com eles, o que recusei logo de cara. Com carinho, é

claro. Tenho algum problema de cabeça, mas não quero viajar e

ficar longe da minha vida aqui.

Acho que não quero ficar longe do meu problema chamado

Noah Carbone.

Louca, eu sei.

— Não sei se quero ir.

— Vai ser divertido. Posso começar a implorar se quiser.

Deixo escapar uma risada e reviro os olhos.

— Não faça isso.

Lina me incentiva com um gesto de cabeça para ir pegar o

protetor de roupa em cima do sofá. Deixo os braços caírem rente ao

corpo e suspiro antes de me aproximar do sofá. Agarro o zíper e

puxo até embaixo, depois abro e tiro de dentro o vestido que minha
melhor amiga e Romie escolherem para mim.

Ele veio junto com um xale preto feito de pelos macios e bem

chamativos. Com cuidado, retiro de cima do vestido e o coloco no

sofá. A peça é toda na cor vermelha, tem um decote tomara que


caia e parece ser bem justo na cintura e quadril. Uma fenda enorme

do lado direito é o destaque.

Não posso negar, o vestido é lindo e já consigo me imaginar

usando algo assim.

Lina coloca a capa que está segurando em cima do sofá e


pega uma das caixas, abre e de dentro tira um estojo retangular

coberta de veludo e traz para mim. Troco o vestido pela caixa e abro
sem fazer cerimônia.

É um colocar delicado com diamantes e um par de brincos


pequenos.

— Noah escolheu isso?

— Sim.

— É diamante de verdade? — retruco e não a deixo

responder, porque já sei a resposta. — Meu Deus.

— Claro que é diamante de verdade.

— Ele é doido.

— É apenas um mimo — fala, e eu encaro minha melhor

amiga, me perguntando desde quando ganhar um colar de


diamantes pode ser considerado apenas um “mimo”. — Vai ficar
lindo com o vestido.
Suspiro e fecho a caixinha.

— Não vai ser estranho se eu aparecer nessa festa?

— Por que seria? — rebate.

E eu fico me perguntando por que seria. Não tenho resposta.


Talvez seja apenas o meu medo de estar tão envolvida com um

mafioso. Será que é melhor aceitar o meu destino e me entregar de


vez?

Minha no pecado e na dor.

As palavras de Noah ecoam dentro da minha cabeça de forma


sexy e arrebatadora, deixando um rastro quente pela espinha e

fazendo os cabelos da nuca arrepiarem. O meu coração bate rápido


e forte também, como se soubesse que na verdade, eu não tenho

escapatória.

Dele no pecado e na dor.

Pecado e dor... é basicamente a definição do mundo de Noah,

e eu devia estar muito apavorada com isso. Por que não estou? Por
que quando ele disse essas palavras, elas foram direto para o meu

coração?

— Sophia, vocês são mais que amigos, não adianta negar.

Engulo o caroço salgado no meio da garganta.


— Eu não sei o que somos, é novo pra mim. Estranho também
— admito.

— Gosto disso.

— Do que?

— De você tá saindo com o meu cunhado. É legal e


empolgante — diz, me fazendo rir outra vez.

— Como descobriu que gostava do Julian? — pergunto como


quem não quer nada e deslizo para o sofá. Com o meu vestido

elegante e lindo nas mãos, Lina me observa de nariz franzido.

— Você gosta dele?

— O quê? Não, claro que não. Sem chance.

A desconfiança no rosto dela é palpável, então agraço

mentalmente por ela colocar a peça cara de roupa em cima do


braço do sofá e se acomodar ao meu lado em vez de me desmentir.

— Acho que... — a frase dela morre.

— O quê?

— Nunca te contei isso.

Fico em alerta e me endireito no sofá.

— Não contou o quê?


— Julian matou o Mason pra me proteger — fala e respira
devagar, me encarando com seus olhos brilhantes e orientais. —
Não vou mentir, Sophia. Eles amam de um jeito errado e fazem

coisas mais erradas ainda pra nos proteger, mas não consigo parar
de amá-lo.

— Por que não me contou sobre o seu ex-namorado?

— Tive medo de você me aconselhar a fugir dele. Eu sei que

era o certo, só que sou incapaz de fazer isso.

Deixo o ar fluir até os pulmões e depois assopro.

— Mason era um pedaço de lixo. Se ele não tivesse acabado


com aquele cretino, eu teria feito isso — rosno entre os dentes.

Sorrindo, ela agarra uma das minhas mãos entre as suas.

— Esse amor é intenso e queima muito. Sinto que é capaz de

me destruir inteira, mas eu sei também, que nunca vou encontrar

algo parecido. Nunca vou me sentir viva como agora, Sophia.

— Isso é quase poético.

— É isso que acontece quando você está destinada a amar

um mafioso.

Dou meio sorriso.


— Você aceitou bem o seu destino — zombo.

— E você?

— Eu o quê?

— Vai aceitar o seu destino ou tentar fugir dele?

Olho para Lina e não consigo dizer nada. Fugir do meu


destino? Não acho que Noah vá aceitar isso de qualquer forma.

Mesmo assim, não me vejo correndo para longe dele, apenas para o

encontro dos seus braços.

Encaro o meu reflexo no espelho do quarto e passo as mãos

pelo tecido sedoso. O vestido ficou perfeito no meu corpo e até


parece ter sido feito sob medida. Os diamantes no pescoço fizeram

toda a diferença e eu me sinto muito poderosa.


— Você tá linda — Lina fala ao sair do banheiro. Por causa

dela, tive coragem de entrar no meu quarto de novo e não é mais

tão assustador ficar aqui. É ridículo, mas eu estava alternando em


dormir no quarto de hóspedes e no sofá da sala.

— Você também.

Ela usa um vestido vermelho vinho estilo sereia, mangas de

rendas transparentes e um decote profundo. As orelhas pequenas

exibem brincos delicados e a mão esquerda o anel de noivado com


um diamante grande.

Minha amiga sorri para mim.

— Pronta?

Respiro fundo e dou uma última olhada no espelho.

— Acho que sim.

Pegamos as nossas bolsas em cima da cama e saímos do


quarto juntas. Lina é a primeira ao alcançar a porta e ao abri-la, vejo

a limusine do lado de fora. Romeo espera com a porta aberta e

assente de leve com a cabeça ao ser cumprimentado por Lina.

Antes me juntar a eles, tranco a porta e caminho até Romeo,

que me cumprimenta com um sorriso pequeno.

— Senhorita Canning.
— Romeo — digo.

Lina desliza para o banco traseiro e eu faço o mesmo. Romeo

se junta a nós duas e se acomoda no assento que fica de frente

para o nosso. Ele é um homem jovem, não deve ter mais de trinta,
mas os olhos aparentam ter vivido muitas coisas ruins, como todos

os homens dentro da máfia.

Não tem como viver uma vida dessa sem ser pecador ou ter
as mãos sujas de sangue. Muito menos, ter a alma intacta. Minha

alma foi corrompida, como a da Lina e é estranho perceber que isso

não me assusta como deveria.

Ela tem razão.

É um amor intenso.

Que queima

E é capaz de nos destruir e nos fazer sentir vivas ao mesmo

tempo.
A família Carbone é poderosa, não tem como negar. As
limusines chegaram com diferença de poucos minutos e antes do
nosso carro parar na entrada do hotel cassino, foi possível ver a

mãe, a avó e irmã do Noah descerem do veículo. Podia muito bem


ter um tapete vermelho estendido sobre o chão e não seria esquisito
de forma alguma.

Elas são donas da cidade de Montreal e sabem disso.

Prendo a respiração quando o vejo descer do carro. Lindo,


intenso e arrebatador. Caminha confiante, olhando sempre para

frente com o queixo erguido. Ele sabe que é lindo e o chefe

soberano.
Nossa limusine para em frente à entrada do local e Romeo

desce primeiro, oferecendo a mão para Lina, depois para mim. É um


mafioso e cavalheiro também. Uma combinação inusitada, tenho

que admitir.

Lina se engancha no meu braço para caminharmos juntas até

a entrada do local. Assim que começamos a andar, sinto alguém

nos seguindo. Olho por cima do ombro e vejo Romeo e


surpreendentemente, James, o capanga que Noah colocou na

minha cola.

Ele devia estar no banco do carona da limusine esse tempo


todo.

No saguão, noto que o cassino está lotado e que Noah e a


família esperam perto dos elevadores. Assim que os nossos olhos

se encontram, ele diz algo a sua mãe e vem ao meu encontro.

Julian faz o mesmo ao perceber Lina.

Antes que Noah possa chegar até mim, é interceptado por


uma loira que sai do cassino. Ela abre um sorriso animado e se joga

nos braços dele, beijando o canto da sua boca e me deixando irada

e claro, paralisada.
Ela é linda. Alta, tem um corpo esguio, um cabelo longo e
sedoso, olhos claros e uma boca que tem o formato de coração.

Usa um vestido justo ao corpo de mangas longas e costas nuas.

Julian chega até Lina e oferece o braço, observando o irmão

de esguelha. Sinto a resistência da minha melhor amiga em me

soltar, mas faço um gesto com a cabeça, incentivando-a a ir na

direção do noivo.

A loira não larga o Noah e começa a falar no pé do seu

ouvido. Ele tenta se desvencilhar dos toques e me encara, sério.

Odeio o fato de ela ser alta e alcançar tão fácil o seu rosto e está

insinuando o corpo bonito contra o dele.

Odeio mais ainda por ele estar sendo tão gentil e não enxotá-
la logo de uma vez.

Gata selvagem de unhas afiadas, Sophia.

Ergo o queixo e viro o corpo para trás. James está a um passo

de distância e fica confuso ao me ver aproximar e enroscar o meu

braço nele. O corpo do homem retesa e ao olhar para frente, noto a


veia na testa de Noah saltar.

Ele está bravo.

Ótimo.
— Me acompanhe, James.

— Ele vai me matar — murmura e meus olhos encontram os

seus. James é bonito e um rapaz novo também. Talvez não seja

muito mais velho que eu. — É sério, ele vai me matar.

— Não vou permitir isso — é o que digo, sem saber como vou
impedir o Noah de acabar com alguém.

Puxo James para mais perto e começo a caminhar na direção

dos elevadores. O rosto do chefe da máfia é uma mistura de ódio e


ciúmes, as mãos estão fechadas em punhos também e nem de
longe isso me assusta.

Passo por ele e nem faço questão de olhar Noah e a sua loira.

Ao chegar perto dos elevadores, sorrio para avó do Noah, que

é a única que ficou para trás.

— Muito bem, bambina. Gosto de mulheres como você.

— Obrigada.

— Nonna, não incentive esse tipo de coisa — Julian fala logo

atrás de mim. — Ele pode enlouquecer e matar James.

— Eu te disse — James murmura, impugnado e com o maxilar


contraído.
— Noah não vai matar ninguém — falo, como se tivesse

algum poder sobre ele. Quem sabe, pode ser que eu tenha mesmo.

— Tire a mão dela — Noah ordena logo atrás de mim e eu


finjo não sentir o meu corpo inteiro queimar em chamas. James nem

hesita em fazer o que chefe manda e pede desculpas algumas


vezes antes de se afastar de mim.

Tento ignorá-lo.

Ele enrosca o braço no meu de maneira possessiva.

— O quê? Você pode ter outras mulheres e eu não posso ter


outros homens? — rebato, enfurecida. Nem passou pela minha
cabeça ter James dessa forma, só que Noah não precisa saber

disso.

O homem trinca os dentes e a avó dele ri.

As portas do elevador se abrem e estou pronta para entrar,


mas ele não deixa. Manda todo mundo ir na frente e me prende no
saguão. Desvencilho-me dos seu braço e ele me encosta na parede,

ficando perto demais.

— Não faça isso de novo.

— Por que não?


— Eu sou ciumento e não gosto que toquem no que é meu —
admite.

Desvio o rosto dele e meus olhos encontram os da loira, que


não saiu do lugar. Ela tem a atenção fixa em nós dois e tem a boca

franzida, não sei de raiva ou de tristeza. Talvez os dois.

— Quem é ela?

— Ninguém importante.

— E por que ela está vindo na nossa direção? — questiono ao

vê-la caminhar como uma deusa no nosso rumo.

— Merda — Noah resmunga.

— Quem é ela, Noah? — a loira pergunta, a voz embargada e

me fazendo sentir mal pela situação. É possível que não tenha culpa
de nada, afinal, a cara do Noah não nega, esse homem é um

cafajeste. Um libertino, que não pode ver um rabo de saia.

— Sophia Canning — digo ao empurrar um pouco o Noah e


estender a mão para ela, que hesita um pouco, mas acaba me
cumprimentando com um aperto forte de mão.

— Madison Lewis.

Olhamos para Noah.


— Madison, vá embora.

— Por quê? — rebate e ri seca. — Estava estranhando você

não me procurar mais, agora eu sei, arrumou outro brinquedinho.


Tudo bem, sei que não vai demorar pra se cansar dessa aí. Ela nem

é tão bonita assim — Madison zomba com deboche.

— Cala a boca, Madison — Noah diz com a voz autoritária.

Minha vez de rir.

— Não sei qual é a relação de vocês, garota, mas não ouse

falar de mim nesse tom de novo ou eu acabo com você e não me

sentirei culpada por isso — grunho e chamo o elevador.

O rosto dela fica vermelho e lança uma olhadela para Noah

antes de girar nos calcanhares e ir embora.

— Eu posso explicar.

— É bom mesmo, Noah.

As portas se abrem e somos os únicos a entrarmos. Ele

aperta o botão da cobertura e eu finjo não sentir a energia


magnética e sexy que está pairando sobre nós dentro da caixa de

metal.

— Ela não é importante, Sophia. Nunca foi.


— Então, era apenas uma foda?

— Sim.

— Enquanto estava casado? — retruco.

— Sim — responde entre os dentes e vem para cima de mim

de novo, me chocando contra a parede do elevador. — É passado.

— Você pode ser o chefe da família Carbone, o dono desse

cassino, o dono de Montreal, e mesmo assim, não vou aceitar que

você me traia. Nunca.

O cretino abre um sorriso maroto e envolve a mão no meu

rosto, o polegar roçando a bochecha e o resto dos dedos na nuca,

esquentando minha pele e fazendo o meu íntimo latejar.

Odeio a facilidade que ele tem de me deixar excitada.

— Certo, principessa — fala, como se soubesse de algo que

eu não sei e traz o rosto para mais perto, me beijando com lentidão

e intensidade.
Assim que entramos na cobertura, meus ouvidos são
preenchidos pela música ao vivo. Sophia olha o céu através do teto
de vidro e comenta algo sobre como deve ser incrível a vista no

verão. Pouso a mão firme na sua cintura e a conduzo para perto da


minha família.

— Todas as mulheres de vermelho — ela murmura.

— Portafortuna[19] — falo no seu ouvido e ela geme baixo ao

sentir o calor dos meus lábios roçando a parte macia da sua orelha.

— O que disse?

— Os italianos acreditam que vermelho é a cor da sorte, que


traz proteção contra a negatividade e renova a energia do amor.
— Interessante. Sua família é de qual região da Itália?

— Sicília.

— É claro.

Rio.

— É óbvio?

— Todas as famílias na Sicília são mafiosas? — rebate e não

me deixa responder. — Mais alguma tradição pra essa noite?

— Não, minha mãe e avó pararam de jogar as coisas velhas

pelas janelas depois da meia-noite. Assustava as pessoas e as

deixavam confusas.

Sophia começa a rir.

— Elas faziam mesmo isso?

— Definitivamente, sim.

— Sua família é uma caixinha de surpresa, não é?

Sorrio.

É visível como a mamma está curiosa sobre a minha


convidada e o que acontece entre nós. E é incrível ela não fazer um

interrogatório e apenas abraçar Sophia, beijando uma bochecha de


cada vez. Sorrindo, a nonna faz o mesmo e pisca para a garota, me
fazendo suspirar.

O tio Stefano não perde a chance de cumprimentar Sophia.

Na festa antes do Natal que aconteceu na mansão, não teve a

chance de fazer isso, porque depois da conversa que ela e eu

tivemos no escritório, a garota foi embora soltando fumaça pelas

ventas.

De maneira curiosa, olha a garota dos pés à cabeça e então,

abre um sorriso pequeno. Não ousa fazer nenhum comentário e eu

fico feliz por isso.

Não quero ter que começar uma briga na festa de réveillon.

Depois de cumprimentá-los, caminhamos até Romie, Julian e

Lina. Minha irmã elogia o vestido de Sophia e fala que tenho bom

gosto, roubando um sorriso cativante da minha garota.

Não demora para Nicholas, Lexie e Lawanda chegarem e

depois de falarem com as mulheres mais antigas na família

Carbone, se juntam a nós.

— É meio injusto, vocês não acham? — é a primeira coisa que

Lexie diz depois de abraçar as meninas. — Tô carregando uma

melancia e vocês exibindo as barrigas chapadas.


Nicholas solta uma risada curta.

— Se isso te consola, você é a grávida mais linda que eu já vi

— Sophia diz, fazendo Lexie suspirar e piscar devagar ao alisar a

barriga de um pouco mais de cinco meses.

— Concordo com a Sophia — Nicholas fala, beijando o rosto


de Lexie e pousando a mão de forma possessiva na sua barriga de

grávida e nós rimos.

Um dos garçons passa por nós e oferece champanhe,


Lawanda tenta pegar uma taça e é repreendida pelo irmão, o que a
faz revirar os olhos e resmungar alguns palavrões, e só fecha a

boca ao ver Thomas entrando acompanhado de Antonella, uma das


sobrinhas de Enrico, uma bela italiana de parar o trânsito.

É incrível, Enrico não era lá muito bonito, só que as mulheres

da sua família sempre deixaram todos boquiabertos. Lindas,


elegantes e sexys.

— Típico — Lawanda resmunga.

Franzo o cenho, tentando entender o que acontece entre os


dois.

Lawanda agarra a mão de Romie e as duas se afastam de


nós. Thomas tenta não olhar a irmã do Nicholas se afastando e é
em vão. Ela pode ter apenas dezenove anos, mas é linda e meu

conselheiro não é cego.

Thomas se junta a nós e troca um olhar rápido com Lawanda


e só então, decide ignorá-la. Antonella cumprimenta todos com um

sorriso largo no rosto e fica pendurada no braço do homem que a


trouxe.

Logo as meninas se entrosam em uma conversa animada e a


sobrinha de Enrico é a única que não faz questão de se juntar as

meninas e fica entre nós. Thomas não está muito confortável e é


educado demais para dispensar a acompanhante.

Quando Hayley surge na cobertura, os olhos de Sophia vão na


direção da minha ex. Ela não queria vir à festa, porque ainda está

muito brava por eu tê-la trazido de volta. Deixei Killian a disposição


dela, caso mudasse de ideia.

Hayley só desfaz a cara emburrada ao abraçar a nonna, que

fica feliz em vê-la. As duas conversam um pouco e ela fala com a


mamma também, depois lança uma olhadela para nós e sorri para
Sophia, que retribui o gesto e relaxa o corpo que tinha ficado tenso.

— As pessoas não vão achar estranho? — Sophia quer saber.

— O quê?
— Hayley e eu aqui... ela é sua ex esposa e você trouxe outra
mulher. — Balança a cabeça e morde o lábio inferior. — As pessoas
não vão falar?

— Não.

— Como tem tanta certeza?

Sophia ergue os olhos verdes para mim.

— Ao contrário de você, eles têm medo de perder a língua —


retruco e dou uma piscadela para ela, que acaba me presenteando

com um sorriso meigo.

Da cobertura, observamos a queima de fogos que acontece


na Old Port, a área de lazer que ocupa mais de dois quilômetros às

margens do rio Saint-Laurent. Sophia está encantada com o show


pirotécnico e come as doze uvas que foram servidas nas taças de

cristais para os convidados.


— Não vai comer? Você disse que traz sorte — ela fala e me
dá um empurrão com o cotovelo. Sorrindo, começo a comer as
minhas uvas também e não consigo tirar os olhos dela.

Para mim, é a coisa linda da noite.

Assim que a queima de fogos termina, a mulher em cima do

palco começa a cantar a música Funiculì, funiculà[20] e logo o lugar é


tomado por uma energia forte italiana. O tio Stefano arrasta a nonna

para dançar tarantella[21]. Envolvida pela animação dos dois, a

mamma estende a mão e puxa Julian para dançar.

Rindo, Lina começa a bater palmas no ritmo da batida da

música e Sophia me entrega a sua taça para fazer o mesmo. As

duas parecem achar divertido a família Carbone dançando.

Romie pega as taças das minhas mãos e entrega para o

garçom que está próximo de nós e começa a me descolar para onde

mais pessoas começaram a dançar também.

Nego com a cabeça.

— Vem, Noah — insiste e só sossega quando estou junto da


nossa família dançando.

Com os olhos brilhando, Sophia me encara e sorri.


Lina entrelaça a mão na da amiga e a arrasta para perto de

nós, depois chama Lexie. As três dançam de forma engraçada e


erram todos os passos, rindo e se divertindo no seio da minha

família.

Nos últimos segundos da música, Romie me deixa de lado

para se juntar as meninas e eu aproveito para pegar Sophia pela

cintura e girá-la até estar de frente para mim e colada no meu corpo.

Ela ri e faz meu coração errar algumas batidas. Não lembro de

alguma mulher ter me feito sentir assim alguma vez na vida.

— Tudo bem, estou pronta pra assumir que a sua família é

meio que divertida — declara.

A única coisa que faço é segurar o rosto com uma das mãos
de forma delicada e encostar os nossos lábios para o primeiro beijo

do ano novo.

— Você é minha, Sophia.

— Eu sei.

É a primeira vez que ela admite em voz alta e ouvir a

confirmação saindo da sua boca carnuda e convidativa, consegue

me deixar louco e excitado para pegar o que é meu.


— Por que me trouxe aqui? — pergunto ao entrar na suíte. O
lugar tem dois andares, decoração luxuosa combinando com as
cores quentes e janelas que vão do chão ao teto com vista para a

cidade.

Noah coloca o cartão magnético que abriu a porta em cima da


mesinha de centro e ao tirar a carteira do bolso da calça social, faz o
mesmo. Os olhos azuis e impenetráveis me esquadrinhando e

deixando um rastro quente sobre a minha pele.

Ainda com a atenção fixa em mim, ele desabotoa o terno e o

passa pelos seus braços musculosos e eu respiro fundo, tentando

controlar a comichão que está quase me rasgando de dentro para


fora.
— Você disse que é minha.

— Ah — é o único som que sai da minha boca.

É, eu tinha mesmo assumido esse fato e quando me dei

conta, não tinha mais como voltar atrás. Não sei exatamente como
ou em que momento da minha vida eu me tornei dele, mas

aconteceu.

Em passos lentos e exalando poder, Noah se aproxima de

mim. As mãos vão na direção do meu xale e o abrem, passando

pelos meus braços logo em seguida. Ele encontra o zíper na lateral


do meu vestido e sem pedir permissão, desce até o quadril.

Deixo a bolsa cair no chão e na tentativa inútil de não ficar

apenas de calcinha, já que eu não estou usando sutiã, levo as mãos


até os seios e seguro o tecido, sentindo o coração acelerar. Um

brilho devasso e sexy toma conta dos seus olhos azuis e um sorriso

cínico estica o canto dos lábios bem desenhados de Noah.

— Relaxe — murmura e mesmo assim, a voz soa como uma


ordem sensual.

Ele agarra meu pulso e de forma lenta, puxa o braço para

baixo e observa o tecido cair, revelando os meus seios pequenos e


de mamilos enrijecidos. Com a mão livre, arrasta o tecido para
baixo.

Solta meu pulso e se agacha na minha frente, me ajudando a

passar a peça por um pé de cada vez. Sem olhar para mim, desfaz

o laço da minha sandália de salto alto e me deixa descalço.

Ele volta a ficar de pé e eu preciso erguer os olhos para


encará-lo. O coração, o meio entre as pernas latejando e os

pelinhos dos braços eriçados. Com as costas das mãos, vai tocando

os meus ombros, descendo até colo e encontrando os meus seios.

— Linda.

Suspiro e não consigo falar nada.

Brinca com os meus mamilos e eu gemo, sentindo o corpo

contrair. Com o polegar e indicador, ele belisca de leve e nem de

longe dói, na verdade, é excitante pra caralho.

Surpreendo-me ao vê-lo subindo com as mãos até chegar no

meu pescoço e desabotoar o fecho do colar de diamantes para jogar


como se não fosse nada em cima do vestido amontoado perto dos

meus pés.

Noah pousa as mãos em cima da minha cintura de forma

possessiva e me faz recuar e só para quando minhas pernas


encontram a cama. Ele me faz deitar e vai se despir. Não consigo

tirar a atenção dele.

O homem parece ter sido esculpido pelo próprio Deus. Os

músculos são definidos, as entradas profundas que formam um V no


início do seu abdômen com veias salientes e a pequena trilha de

pelos que saem do umbigo e imergem na barra da cueca, é sexy e


me deixa sem ar.

Ele tira a cueca box, revelando exatamente o que eu pensava.

Noah é dono de um pau grande e grosso. Com uma pegada forte,


massageia a excitação ereta, para cima e para baixo, olhando para
mim e fazendo meu coração martelar dentro do peito e o sangue

ferver.

Lambo os lábios.

Como um leão faminto, o homem vem para cima de mim e


antes que possa me arrastar para trás e abrir espaço, ele segura
minhas pernas, em seguida, enfia os dedos na lateral da calcinha de

tecido macio e puxa para baixo. Grunhe ao encarar a minha boceta


sem nenhum vestígio de pelos, e só então, passa a peça íntima

pelas minhas coxas.


Noah ainda não fez nada demais e eu já me sinto tão

excitada, completamente encharcada, pigando.

— Fica de quatro — diz, a voz soando forte e autoritária.

Viro e sem pestanejar, acato a ordem. Atrás de mim, sinto o


calor do corpo de Noah irradiando para o meu. Sua mão grande
alisa minha bunda e me faz arquejar e a umidade entre as pernas

ficar mais intensa.

Ele se inclina sobre mim e cobre o meu corpo com o seu, me


beija a nuca antes de cravar os dentes nos meus ombros. A ereção

quente que roça na minha bunda, envia uma onda eletrizante para
minhas entranhas.

Noah se afasta um pouco e mergulha o rosto diretamente


entre as minhas pernas. Gemo e me contorço ao senti-lo enterrar a

língua na minha boceta ensopada. Ele me lambe, sedento e


necessitado. Suga meu clitóris forte e passa a língua pela minha

excitação como se estivesse faminto.

— Você é doce pra caralho... — geme contra a minha boceta.

— E é minha — emenda, e desliza dois dedos para minha fenda


úmida.

Gemo.
Ele tira e enfia os dedos novamente, vai fazendo esses
movimentos e me deixando louca com a aproximação do meu
orgasmo. Arqueio os quadris e enfio o rosto na cama ao senti-lo me

tocando com a boca de novo.

A língua de Noah me lambe de baixo para cima e depois


concentra a atenção no clitóris, que ele chupa com vontade ao
mesmo tempo em que seus dedos salientes trabalham em um ritmo

gostoso de dentro e fora.

— Noah...

Ao me ouvir, ele se endireita e me puxa contra o próprio corpo,


sem tirar os dedos de mim. A mão livre voa para o meu rosto e o
vira de lado, encontrando a sua boca para um beijo feroz e com

gosto de sexo.

Os dedos saem de dentro de mim, mas não param, começam


a fazer círculos precisos em cima do clitóris inchado e quente. Ele

empurra o pau duro contra a minha bunda, enquanto chupa a minha


língua e continua brincando com a parte mais sensível entre as
minhas pernas.

— Goza pra mim, Sophia — ele grunhe contra a minha boca e

a voz quente faz o meu corpo inteiro encrespar. — Quero ver você
gozar na minha mão.

— Noah...

O orgasmo me alcança de forma intensa e envolvente.

Choramingo com os lábios grudados no seu e ele engole cada


gemido, conseguindo me deixar mais louca ainda ao mesmo tempo

em que mal consigo inspirar. Contraio o corpo e o sinto amolecer


nos braços de Noah ao chegar no clímax do meu prazer.

Ele enterra o rosto no meu ombro e morde com força, em

seguida, chupa o meu pescoço com a mesma intensidade. Não

sabia que gostava de tanta força na hora do sexo, mas caramba,

sim.

Noah me deita de lado e eu respiro fundo, ainda estremecida

por conta do meu orgasmo. Olho para o lado e vejo rasgar um


pacote de camisinha que não faço ideia de onde tirou. Escorrega a

proteção no pau duro e olha para mim com malícia, esticando o

canto da boca.

Contempla-me por alguns instantes antes de se juntar a mim

na cama.

— Você é linda.
Noah segura um dos meus seios com o polegar e o dedo

indicador, acariciando o mamilo inchado, me fazendo arfar. Abaixa


um pouco a cabeça e morde a parte macia da minha orelha, em

seguida, desce mais um pouco e beija meu pescoço.

Ele agarra minha coxa com firmeza e leva para cima da sua

perna, me deixando completamente exposta. Sinto-o brincar com a

minha entrada úmida antes de se empurrar para dentro devagar e

se elevar um pouco, apenas o bastante para mirar os meus olhos


enquanto me preenche com sua extensão grande e grossa.

Ainda me encarando de maneira profunda, ele segura os


meus quadris com força e se afunda mais para dentro de mim. Os

movimentos de vaivém se iniciam sem pressa, deliciosos e lentos.

Fecho os olhos e aproveito a sensação de ser preenchida por


ele.

A cada investida mais intensa e precisa, meu corpo reage,


mexendo ao encontro dele, oscilo para frente e logo volto para trás,

sentindo Noah me invadir com tudo que tem e querendo dar tudo de

mim a ele.

Noah puxa o meu rosto para si e a língua exige passar entre

os meus lábios. Entrego-me ao beijo e me perco nele, gemendo e o


fazendo engolir cada som que sai do fundo da minha garganta.

— Noah, eu... — choramingo.

— Abre os olhos — fala com a voz rouca e poderosa. — Goza

pra mim de novo — mordisca o meu queixo e a mão encontra a

parte interna da minha coxa, onde ele aperta e me faz sentir ainda
mais excitada.

Focalizo os seus olhos que estão um tom mais escuro de azul

e chamo por ele durante outro orgasmo incrível. A onda quente vem
em espiral, percorrendo o meu corpo e fazendo os meus músculos

se contraírem de maneira deliciosa.

Ele enfia a língua dentro da minha boca e me beija com força,

aumentando o ritmo de forma frenética e impiedosa, investindo com

tudo para dentro mim, alcançando o seu próprio orgasmo ao gemer


o meu nome e me apertar forte contra o corpo quente e suado.

Não sabia que seria tão bom ter um homem desses entregue

a mim, mas caramba, é bom sim. É incrível e não sei se quero parar.
Quero Noah por completo e por mais insano que seja, eu aceito a

escuridão que vive na sua alma corrompida.

Ele respira fundo e sorri, em seguida prende uma mexa

intrometida atrás da minha orelha.


— Você é ainda mais linda depois de um orgasmo —

murmura, ainda dentro de mim e fazendo movimentos vagarosos de


dentro e fora.

Sorrio e abro a boca para falar algo quando escuto meu


celular tocar. Rosnando, ele sai de dentro de mim e nua, desço da

cama atrás da bolsa no chão. Apanho o aparelho e vejo o nome do

meu pai na tela, me chamando para uma chamada de vídeo.

Pego o edredom em cima da cama e jogo por cima do meu

corpo, passando as mãos nos cabelos e tento penteá-los o mais

rápido que consigo.

— É meu pai. Ele não pode saber... sobre nós.

Noah arqueia uma sobrancelha ao dizer:

— Ele vai pirar se souber.

— O quê?

— Depois falo, vá, atenda — é só o que fala.

Olho para as paredes e odeio por nada parecer com a minha

casa ou o meu quarto. Corro até o sofá e rezo em silêncio para ele

não notar nada de diferente. Aproximo-me bem a câmera do rosto e


atendo a chamada de vídeo sorrindo.

— Oi, pai.
Ele fica surpreso ao me olhar.

— Uau. O que é isso?

— Hãm?

— Seu cabelo. Quando você cortou? — questiona surpreso e


eu sorrio, aliviada. — Gostei, ficou linda, querida.

— Obrigada. Tive vontade de mudar.

Pela visão periférica, noto Noah levantar da cama e caminhar

até o banheiro. A bunda empinada e dura é uma delícia e quase me

faz suspirar. Sacudo a cabeça de leve e tento me recompor. Por


sorte, a chamada de vídeo com meu pai não é uma das melhores e

ele não nota a minha hesitação.

— Que bom que ainda está acordada, querida. Eu sei que já é


tarde em Montreal, mas queria te ver.

Sorrio.

Converso com ele um pouco e depois falo com a vovó, que

ganhou alta do hospital hoje e está com uma aparência

incrivelmente saudável. Ela resmunga por eu não ter ido à Suíça


visitá-la e diz que meu pai e eu precisamos voltar a morar lá e não o

contrário.
Eu amo minha avó e meu pai, só que estou ansiosa para

encerrar a ligação, então quando a conexão falha algumas vezes,


encontro a desculpa perfeita para encerrar a chamada de uma vez

por todas e meu pai promete que logo estará em casa, com a vovó.

Coloco o celular em cima da mesinha de centro e surpreendo-


me ao ver Noah se aproximar de mim. Ele usa um roupão preto e

tem um sorriso safado estampando a cara bonita.

Antes de se ajoelhar na minha frente, puxa o edredom que

cobre o meu corpo e me deixa nua.

— O que você quis dizer sobre o meu pai pirar se souber


sobre nós?

Esquadrinhando meu rosto, as mãos grandes alisam minhas


coxas e ele me abre de uma vez, me roubando um gemido.

— Seu pai nunca quis que você se envolvesse com os

negócios da máfia, imagina se souber que a garotinha dele agora é


minha? — fala, passando as mãos na parte interna da minha coxa.

— Você é meio que proibida e isso me excita.

— Hum...

— Com certeza não lembra disso, mas eu te vi pela primeira

vez quando tinha doze anos.


Meu peito arfa com a informação.

— Sério?

— Você se tornou uma mulher tão linda, Sophia — murmura,

enfiando as mãos para debaixo das minhas coxas e me agarrando a

bunda. Noah me puxa para ele e sem escapatório, escorrego um


pouco do sofá, envolvendo as pernas em seus ombros. — Nunca

nenhum outro homem vai te tocar

Engulo em seco e fico em silêncio.

— Diz pra mim que você sabe disso. Fala que você é só

minha e só eu vou te tocar — rosna, o rosto sério e sexy com a


mesma intensidade.

— Eu sou sua e só você vai me tocar.

Ele me dá um sorriso lascivo e enterra o rosto na minha

boceta, lambendo e estremecendo o meu corpo de novo. A língua


passa pelas minhas dobras, depois virilha e desce um pouco até a

parte interna da coxa, que ele morde e me faz gemer alto.

— Quero descobrir a intensidade que você gosta, Sophia.

Eu quero abrir a boca e dizer que do jeito que ele está fazendo

é muito bom, só que a voz falha assim que morde a parte interna da
coxa de novo e faz o meu clitóris pulsar de forma frenética e
ansiosa.

A língua encontra a sensibilidade do meu sexo outra vez e ele


lambe, chupa, como se precisasse disso para viver. Levo as mãos

até os seus cabelos e puxo com força, sentindo as pernas tremerem


em volta dos seus ombros e o couro cabeludo eriçar.

— Goza na minha boca, quero sentir o seu gosto na minha

língua — grunhe, enviando ondas vibrantes para o meu sexo


inchado e pegando fogo.

Duas coisas são certas.

Eu vou gozar na boca dele.

E Noah ainda vai acabar comigo.


Acordo com a mão possessiva de Noah na minha cintura,
prendendo-me contra ele e a ereção matinal cutucando minha coxa.
Viro o rosto para olhá-lo. O cabelo com ondas leves está uma

bagunça sexy e charmosa. Esse homem é tão lindo dormindo,


quase como um anjo. Um anjo da morte é mais apropriado para
definir esse deus com descendência italiana.

Devagar, ele abre os olhos e fixa nos meus, sem dizer nada,

me puxa para mais perto, me apertando contra o próprio corpo e

beija o meu ombro, onde tem marca de mordida.

— Acho que peguei pesado com você ontem.

— Não — digo rápido e ele me dá aquele sorriso maroto que


me tira do sério e me faz sentir bem também.
A noite com Noah foi intensa, ele tem uma pegada forte e

possessiva, ardente e única. Parece que ele faz o tipo de homem


que gosta de tudo na cama e o mais importante, se preocupa com o

prazer da sua parceria.

Não lembro de ter ficado com um cara tão faminto assim, e

mesmo assim, eu repetiria tudo de novo.

Nossa, com certeza.

Sim, muito.

— O que você acha de esquiar em Mont Tremblant? —


pergunta, de repente.

Lá é basicamente uma estação de esqui e faz anos a última


vez que fui com o meu pai. É fofo e inusitado Noah querer fazer algo

desse tipo. Confesso que pensei que as diversões de mafiosos

fossem sexo e dinheiro.

— Quando?

— No final de semana. Vou fazer reserva no Resort.

— Só nós dois?

— Por que não? Você parece surpresa.

Mordo o lábio inferior.


— Um pouco — admito e toco a linha do seu maxilar com as
pontas dos dedos. — Achei que homens como você só divertissem

com as mulheres na cama e não em passeios — digo e graças a

Deus a voz sai firme.

— Se eu quisesse você apenas na minha cama, não teria te

convidado pra festa de réveillon da minha família.

Sorrio.

— Você não me convidou — corrijo-o. — Você comprou um

vestido e praticamente me obrigou a comparecer.

Ele ri.

— Tem um pouco de verdade nisso.

— Vamos esquiar — falo por fim, fazendo-o se inclinar um

pouco e depositar um beijo terno na minha boca.

Sem dizer nada, a mão possessiva em cima da minha cintura

desce até a parte sensível e quente do meu corpo. Como em modo


automático, abro as pernas e espero o toque firme e delicioso.

Infelizmente, ele não me toca, apenas aperta a minha perna.

Ontem, ele deixou várias mordidas na parte interna da coxa e foi tão

bom, excitante. Ele não é só um predador no trabalho, é um

predador na cama também.


Noah aproxima o rosto e mordisca a minha orelha, me

fazendo gemer e arquear o quadril.

— Gosto de como você é lisinha, sabia?

— É?

A mão desce um pouco até encontrar as minhas dobras, bem

devagar, ele desliza um dedo para a minha fenda e não me espanta


do jeito que já estou molhada.

— Gosto de saber que você está sempre pronta pra mim.

Sentindo a necessidade de tocá-lo, começo a acariciar a coxa


musculosa e um grunhido rouco escapa do fundo da sua garganta.

Subo mais uma pouco e encontro o pau grosso e duro, também


pronto para mim.

Sem parar de me tocar, ele arfa e entreabre a boca, soltando

gemidos que me deixam com mais tesão.

Com uma pegada firme, deslizo a mão para cima e para baixo

enquanto um pensamento possessivo me vem à cabeça. Estou


ficando louca, mas não quero que ninguém além de mim o toque

dessa forma.

Se eu sou dele.

Noah é meu também.


Aperto mais ainda o seu pau e ele perde o controle, a mão

deixa a minha parte sensível e vai de encontro com a minha em


cima do membro grosso e potente.

— Sophia... — Noah geme o meu nome e eu fico mais úmida.

Ele puxa o edredom e joga no chão. Observa-me tocá-lo e


isso me excita mais ainda. Sem tirar a mão dele, sento na cama e

admiro o seu corpo trincado e duro. Os seis gominhos sexys


implorando para serem tocados, lambidos e explorados.

Com a mão livre, passeio com os dedos pelo seu abdômen e

ele desliza com a própria mão das minhas costas até encontrar o
meu cóccix e passar o dedo médio entre as minhas bandas, me
fazendo arquejar e gemer.

— Ainda quero te comer toda, Sophia — ele murmura, os

olhos enevoados de prazer e tesão.

— Eu sei, também quero que faça isso — as palavras saem


da minha boca antes que meu cérebro possa processá-las.

Inclino-me para frente e com os lábios, cubro o seu membro


duro e melado de pré-gozo. O enfio todo dentro da garganta,

fazendo-o arquear o corpo e gemer. Adoro saber que agora, tenho


controle sobre um homem tão poderoso como ele.
Sugo-o com vontade, voltando a abocanhá-lo logo em
seguida, passando a língua em volta da glande, molhando tudo e
vendo Noah revirar os olhos de prazer ao mesmo tempo em que

agarra minha bunda e roça de leve os dedos no lugar proibido.

Gemo com o seu pau na minha boca e isso é quase como a


perdição para ele.

Concentro um tempo em massagear as bolas, o que Noah


aprova ao contrair a panturrilha e apertar forte a banda da minha

bunda enquanto solta gemidos sexys e envolventes.

Minha boca continua dando prazer a ele, chupando, sugando,


passando a língua pela extensão da carne quente e pulsante,
depois voltando a atenção na cabeça e o deixando louco.

— Sophia, eu vou gozar — avisa, levando a mão saliente para

o meu cabelo, na tentativa de me puxar, mas continuo o sugando


com vontade, esperando engolir até a última gota desse homem.

Nunca fui o tipo de garota que deixa qualquer cara gozar na


boca, só que Noah é meu e ele precisa entender isso também.

Quero enlouquecê-lo do jeito que ele me enlouquece e me faz


perder as estribeiras.

— Sophia...
Geme mais uma vez e a mão grande volta para a minha
bunda, onde ele aperta com força, dessa vez, as pontas dos dedos
roçando na minha entrada úmida e levando ondas quentes para o

meu corpo. Aumento ainda mais o ritmo, sugando o seu pau com
tudo até que ele explode na minha boca enquanto chama o meu

nome.

É sexy e quente pra caralho.

Noah estremece quando nota que não tirei a boca dele


mesmo depois de ter o feito gozar.

— Caralho, Sophia, assim você vai acabar comigo.

Sugo mais um pouco o seu pau, que ainda continua incrível e

duro e passo a língua na glande antes de sorri e montar em cima

dele.

As mãos de Noah agarram a minha cintura e sobem até os

meus seios pequenos, que ele cobre com as mãos.

— São lindos e se encaixam de forma perfeita nas minhas

mãos.

— Você gosta?

— Sim, acho que você foi feita pra mim, Sophia.


Roço a minha fenda úmida no seu pau e ele entreabre a boca,

gemendo baixinho.

— Não quero que nenhuma outra mulher te toque, Noah.

O cretino sorri.

— Só você.

— Se eu sou sua, você é meu também.

— Eu sei — murmura, com a voz grossa e sexy. — Agora


monta em mim. Quero ver você cavalgar no meu pau.

Ele estica o braço e abre a primeira gaveta da cômoda e pega

um pacotinho dourado. Rasga o envelope com os dentes e desliza a


proteção no pau. Com uma mão, Noah me levanta e com a outra

ajeita o seu o membro ereto, apontando na direção da minha fenda

enxarcada. Quero sentar de uma vez, mas ele é forte e me segura,


enfiando primeiro a cabeça e olhando para mim, e só então, minha

boceta vai o engolindo inteiro.

Gemo quando me sinto completamente preenchida por ele.


Começo cavalgando bem devagar, focalizando os seus olhos azuis

e aproveitando o momento. À medida que a excitação vai ganhando

força total, eu quico em cima dele com rapidez e intensidade.


Ele gosta, pois as mãos em volta da minha cintura me

apertam e em um movimento hábil, ele senta para abocanhar um

dos meus seios com o mamilo entumecido. Com a língua, Noah


brinca nessa parte sensível do meu corpo, fazendo movimentos

circulares e mordiscando de leve, arrepiando minha pele.

Enfio as mãos não cabelos ondulados e puxo com força antes


de grudar as nossas bocas e tocar a sua língua com a minha, que

ele chupa com força e me rouba gemidos.

— Você me deixa louco — murmura, penetrando em mim com

mais força.

As mãos sobem até as minhas costas e com força, Noah me


aperta contra ele, deixando rugidos roucos escaparem do fundo do

seu íntimo. Enterra o rosto no meu pescoço e morde a curvatura

antes de começar a chupar.

Com certeza vai me deixar outra marca, mas nem consigo me

importar com isso. Jogo a cabeça para trás, aceitando tudo dele, me

entregando de novo a esse homem perigoso e sombrio.

As estranhas se contorcem e eu sinto que estou prestes a

derreter nos seus braços.


— Goza pra mim — ordena no pé do meu ouvido, agora,

mordendo o lóbulo da orelha. — Olha pra mim e goza no meu pau.

Fixo meus olhos nos seus e ele desliza uma mão das minhas

costas até a cintura, descendo mais um pouco até encontrar o meu


clitóris inchado e em chamas. Com o polegar, Noah começa a me

tocar e eu abro a boca, choramingando.

O toque é firme e preciso na medida certa, ele sabe o que faz


e é delicioso. Olhando para mim, enquanto me toca e penetra, sinto

o couro cabelo arrepiar e os meus músculos em volta dele se

contorcerem.

E então, eu me entrego de cabeça ao orgasmo, gemendo alto

e o apertando contra mim. Noah dá mais umas estocas firmes antes

de alcançar o próprio prazer e gozar.

Ele desaba na cama e me leva junto, os nossos corpos

suados e quentes, com cheiro de sexo. As mãos em volta de mim


me apertam com carinho, o que faz meu coração acelerar.

— Tenho vontade de passar o dia na cama com você.

— Você é insaciável ou viciado em sexo? — retruco,

zombeteira.

— Acho que estou viciado em você.


As palavras mexem comigo de um modo estranho, emocional

e até mesmo, romântico. Será que estou me apaixonando? O

pensamento faz as borboletas no meu estômago se agitarem.

— O que foi?

Ele me encara e alisa meu rosto com ternura.

— Estou morrendo de fome — minto, e fico feliz por ele

acreditar.

Noah sai de dentro de mim e dá um jeito na camisinha, depois

pega o telefone em cima da cômoda ao lado da cama e disca um

número. Assim que alguém atende, ele pede o café da manhã no


quarto e eu aproveito para observá-lo e no momento em que vira o

rosto para me encarar, me dá um sorriso lindo e faz o meu coração

trepidar dentro do peito.

E eu tenho a confirmação.

Estou me apaixonando por um mafioso.


Dias depois...

Depois de duas horas de carro, chegamos em Mont


Tremblant. Noah para no estacionamento a céu aberto do Resort
Faimont, o maior da cidade e que fica no canto das montanhas

cobertas de neve.

Na recepção, um senhor inglês super educado nos recebe


com animação e fazemos o check-in antes de irmos para o quarto.

Todo o lugar é bem antigo e conservado, é lindo e aconchegante.

Pegamos uma suíte com vista para as montanhas e que tem

um uma área de estar separada com sofá-cama, tevê plana,

bancada de madeira, cafeteira e frigobar. Jogo a bolsa em cima do


sofá e me deito na cama dossel e Noah vai ligar o aquecedor depois

de colocar a bagagem perto do guarda-roupa.

Sorrio ao vê-lo se juntar a mim.

— O que você quer fazer primeiro? — questiona, abrindo o


zíper do meu casaco e subindo a minha blusa de lã até os seios. —

Esquiar ou ficar no quarto?

Levanto de uma vez e olho para ele por cima do ombro. Pisco

e sorrio antes de falar:

— Vamos esquiar.

Ele deixa escapar algo que parece um grunhido e estou

prestes a levantar quando me puxa de volta para deitar na cama.


Sem conseguir me aguentar, começo a rir. O predador passa a

perna musculosa em volta da minha cintura e fica por cima, me

prendendo.

— Pensa direito. Ficar comigo no quarto ou esquiar na neve?

— Esquiar na neve — retruco e Noah resmunga um palavrão

em italiano. Não me solta, muito pelo contrário, inclina o copo sobre

o meu e beija meu pescoço, deixando uma trilha quente e deliciosa.

Estou quase cedendo...

— Vamos esquiar.
Depois de falar, ele sai de cima de mim e desce da cama,
ajeita a protuberância no meio das calças. O homem está bem duro

e eu não lembro de ter feito nada que provocasse isso.

— Ele gosta de você — fala com malícia e alterna as vistas de

mim para a ereção, que preciso confessar, é bem tentadora. Sinto

vontade de desistir de esquiar e ficar aqui com ele, aproveitando

cada segundo na cama com Noah.

Só que eu também quero fazer algo normal, não que sexo não

seja. Mas qual será a próxima vez que o chefe da família Carbone

vai ter tempo para sair em um passeio assim comigo de novo?

Provavelmente, não tão cedo.

Fico de pé e fecho o zíper do casaco, pronta para sair e

aproveitar o meu dia coberto de neve e cheio desse mafioso intenso

e sacana. Para minha surpresa, Noah estende a mão para sairmos

do quarto juntos e eu finjo não sentir meu coração acelerar igual

uma batedeira.

Como é um lugar com atenção voltada para atender às


necessidades dos esquiadores, o Resort tem acesso ski-in /ski-out
[22]
e ainda temos a opção de alugarmos a roupa e todos os

equipamentos dentro daqui mesmo.


Noah leva os nossos equipamentos e caminhamos até o

centro da estação de esqui. A última vez que estive aqui foi na


adolescente e não lembro de ter esquiado, então eu preciso de um

pouco de instrução.

Embora tenha um instrutor por perto, Noah mesmo se

empenha em me ensinar o básico, não se importando de ficar na


pista para iniciantes comigo. Não levo nenhum jeito para a coisa e

mesmo assim, é divertido ter esse momento com ele.

Depois de quase quarenta minutos, eu o libero para ir


aproveitar a pista avançada. É claro que o homem recusa e fica ao
meu lado, mas insisto até convencê-lo a aproveitar um pouco. Não é

justo virmos aqui para esquiar e nenhum dos dois fazer isso com
dignidade.

Ainda com os esquis encaixados nas botas e segurando os

bastões, eu arrisco uma decida leve e nada emocionante. Ao meu


lado, tem uma mãe com uma criança que parece saber mais o que
está fazendo do que eu.

Um senhor esbarra em mim e é por um triz que não caio de

cara na neve. Ele segura o meu braço com firmeza e se desculpa


sorrindo. Levanta os óculos de proteção e prende os olhos ao meus.
— Você está bem? Se machucou? — pergunta e noto o

sotaque diferente.

— Não foi nada.

— Me desculpe, não levo jeito com isso — fala, erguendo os


bastões de maneira dramática e me fazendo rir. — Talvez eu esteja
velho demais pra esquiar.

— Aquela menina leva mais jeito do que nós dois juntos —

brinco, fazendo o homem gargalhar também.

— Está aqui sozinha?

— Não — respondo, pensando em como rotular o que Noah e

eu somos. — Eu vim com alguém.

Ele assente e estende a mão em cumprimento, que eu pego e


aperto.

— Alastar O'Sullivan.

— Sophia Canning.

Ele e eu conversamos por alguns minutos e acabamos


aceitando a ajuda de um instrutor de esqui que está por perto. Não

faz efeito nenhum em mim e muito menos, no sr. O’Sullivan, que cai
algumas vezes de bunda no chão.
Tento não rir e falho, é mais forte do que.

Depois de meia hora, Noah volta, caminhando até mim como

um deus poderoso. A sua atenção vai direto para o senhor ao meu


lado e eu rezo em silêncio para que não fique com ciúmes de um

idoso.

O sr. O’Sullivan levanta os óculos que tinha abaixado no


momento em que arriscou esquiar de novo, e cumprimenta Noah
com um sorriso simpático, estendendo a mão, que meu mafioso

recusa sem pestanejar.

De forma brusca, ele desce o capuz do casaco impermeável e


retira os ósculos, encarando o idoso ao meu lado com o músculo do
maxilar contraído. Noah sai de cima do esqui e deixa o resto do

equipamento para trás, caminha até o homem velho e o agarra pela


roupa.

— O que está fazendo aqui?

O sr. O’Sullivan abre outro sorriso e eu franzo o cenho, sem


entender nada.

— Esquiando com uma bela moça — diz e olha para mim. —

Não é, Sophia?
— Fique longe dela ou vou meter uma bala na sua cabeça —
Noah ameaça, fazendo meu coração disparar. Nunca o vi com tanto
sangue nos olhos ou bravo desse jeito.

— Noah — chamo e ele me ignora.

— Não seja dramático, garoto, estávamos apenas nos

divertindo.

O velho retira as mãos de Noah de cima dele com força e abre


um sorriso sarcástico e meio doentio.

— Abra a boca de novo e vai perder alguns dentes, cretino —

Noah rosna e eu engulo em seco, ainda sem entender o que está


acontecendo. — Vamos, Sophia. — De forma abrupta, ele me puxa

para mais perto e me arrasta, o que não dá muito certo, pois ainda

estou com os esquis nos pés.

— Pare — peço. Ele nem me ouve. — Pare, Noah! — grito, o

peito subindo e descendo com a respiração rápida.

— O quê?

— Não consigo andar com essa merda no meu pé —


resmungo e sem saber o motivo, me sinto irritada.

Quieto e com uma expressão severa, o homem se abaixa e

me ajuda a tirar o equipamento dos meus pés, em seguida, volta


alguns passos para pegar os seus bastões e os próprios esquis que

tinha deixado cair no chão ao encarar Allastar O’’Sullivan.

Segura minha mão com força e me puxa na direção do Resort,

sem olhar para trás. Arrisco perguntar o que aconteceu e mais uma
vez sou ignorada, o que me deixa irritada e com vontade de dar um

chute na sua bunda bonita e dura.

Passamos na loja de equipamentos de esqui e Noah devolve


tudo, pagando com uma carranca mal-humorada e respostas curtas

e evasivas. Torna a segurar minha mão com firmeza e em silêncio,

vamos para a nossa suíte.

Ao entrarmos no quarto, eu tenho esperança de que ele vá me

dizer o que aconteceu, mas a única coisa que faz é inspecionar o

cômodo, procurando alguma coisa e quando não acha nada, olha


para mim.

— Vamos embora.

— O quê? Não, acabamos chegar.

— Sophia, só me escuta — fala, bravo.

— Por que está agindo assim?

Noah fecha as mãos em punho e respira fundo.

— Aquele homem, o que ele disse pra você?


— Hãm?

— O que ele disse? — Noah grita, me fazendo dar alguns

passos para trás. Ele passa as mãos nos cabelos e fecha os olhos
por uma fração de segundo. — Não tenha medo de mim, não vou te

machucar. Nunca faria isso.

Os olhos dele brilham de um jeito diferente e complexo, mas

acredito que não vai me machucar.

— Eu sei.

— Aquele homem é perigoso.

Suspiro.

— Ele não falou nada relevante, foi apenas educado depois de

esbarrar em mim.

Noah corta a nossa distância com passos largos e contorna

meu corpo com os braços fortes, me apertando de maneira


protetora e ao mesmo tempo carinhosa. O gesto me faz sentir bem

e segura, embora eu ache que não estamos exatamente seguros

agora.

— Vamos embora.

Concordo com um murmuro.


Noah pega a mochila e a mala pequena que trouxemos e eu

apanho a bolsa no sofá. Descemos de elevador até saguão e ele faz


o check out, o inglês na recepção parece confuso e fico feliz de não

questionar nada.

De mãos dadas e em silêncio, caminhamos até o carro de

Noah que está no estacionamento à céu aberto. Assim que

chegamos em frente ao veículo, o mafioso nota a porta do motorista

entreaberta e estou prestes a falar alguma coisa, quando ele larga a


bagagem de mão e me puxa para longe e protege o meu corpo com

o seu ao se agachar no chão.

Um barulho de algo explodindo invade os meus ouvidos e fica

zunindo dentro da minha cabeça por um tempo. Noah segura o meu

rosto e pergunta alguma coisa, que não compreendo. Sinto o

coração na garganta e mesmo sem entender o que acabou de


acontecer, agarro os seus braços com força.

Olho por cima dos seus ombros e vejo a BMW em que viemos
com chamas, os carros que estavam próximos foram amassados e

tem vidro estilhaçado para todos os lados. O rosto do Noah sofreu

um arranhão pequeno.

— Sophia, está me escutando?


Assinto.

— Você se machucou?

— Não — murmuro.

Levo os dedos até o machucado no seu rosto e ele nega com


a cabeça.

— Estou bem.

— Noah... o que é isso?

— É a minha vida — assume e vejo um lampejo de tristeza


passar pelos olhos claros.

Sinto os meus próprios olhos arderem e não entendo o motivo.

É a minha vida...

Noah me ajuda a levantar e ao ficar de pé, noto que várias


pessoas vieram até o estacionamento. Prático, ele pega o celular de

dentro do bolso da calça jeans e liga para alguém, espreitando para

todos os lados, como se quisesse encontrar algo.

Tento prestar atenção na sua ligação, embora seja difícil por

causa dos meus ouvidos que ainda estão zunindo e o burburinho

das pessoas em volta.


— ... não foi grande, é só um aviso. Ele quer me intimidar.

Precisamos nos reunir. — Noah faz uma pausa e escuta quem quer
que seja do outro lado da linha. — Preciso que alguém venha me

buscar. — Outra passa. — Sim, estamos bem — fala por fim e

encerra a ligação.

— Isso é normal?

Ele focaliza os olhos nos meus.

— Mais do que eu gostaria.

Meu peito aperta e eu pisco devagar, segurando a vontade


idiota de chorar.

É a minha vida...

A voz de Noah ressoa dentro da minha cabeça como um

aviso. É isso que acontece quando você se envolve com um homem

do submundo do crime. Essa é a hora de sair correndo e esquecer


essa merda de romance ruim.

No entanto, eu não consigo, então, entrelaço os nossos


dedos, que ele aperta com força e deposita um beijo terno da minha

testa.

Noah é meu.

No pecado.
Na dor.

E pelo visto, no perigo também.


Quando Sophia e eu chegamos na mansão, já é noite. Ela não
disse quase nada no caminho até aqui e em nenhum momento
soltou minha mão.

A mamma e a nonna nos recebem preocupadas e a garota

cruza os braços em volta do corpo de forma protetora. A primeira


coisa que minha mãe faz depois de me abraçar, é conferir se estou
inteiro ou ferido. Sem falar nada, vai no rumo de Sophia,

inspecionando a garota também.

— Estamos bem — digo, fazendo a matriarca suspirar e

prensar os lábios em aflição. Não está com cara de quem acreditou

em mim, mas concorda com um aceno de cabeça.


— Vá descansar um pouco, por favor — é o que a mamma

pede.

Agarro a mão de Sophia de novo e subo as escadas. Ela

ainda continua em silêncio e só parece reagir ao atravessar a porta


do meu quarto. Os olhos verdes e julgadores passeiam pelo cômodo

e ao parar perto da cama, entrelaça os dedos.

Nada teria me preparado para a pergunta que ela faz a seguir.

— Esse é o seu quarto de casado?

Suspiro, tentando segurar o riso. Faz um pouco mais de


quatro horas que o meu carro explodiu bem perto de nós e a

primeira coisa que ela quer saber ao chegarmos em casa é isso?

— Não — dou uma resposta curta e sincera.

Ela assente.

— Não vou poder voltar pra casa?

— Não enquanto seu pai estiver fora. Não te deixarei ficar

sozinha nem por um minuto — é o que digo, tirando o casaco

acolchoado e depois os coturnos. — Não brigue, só aceite. Sabe

que é pro seu bem.

Sophia respira fundo e faz um gesto positivo com a cabeça.


— Tá bem, mas e a Lina? Ela também corre perigo? Ela...

— Julian já está cuidando dela. Não se preocupe.

— Não me preocupar... acho que é algo impossível.

Aproximo-me dela e puxo o zíper do seu casaco, em seguida,

passo pelos seus braços e jogo a peça de roupa no chão.

— Vem, vamos tomar um banho e esquecer tudo o que

aconteceu horas atrás.

— Não precisa se reunir com os seus homens agora e

resolver os problemas?

Seguro seu rosto entre as mãos e prendo os nossos olhos.

— Sim, mas preciso de um banho antes e de foder você

também — murmuro, fazendo-a suspirar e morder o lábio inferior. —

Preciso muito fazer isso, Sophia. Quero você. Agora.

— Ah.

— O que foi?

Sophia lambe os lábios e abre a boca para falar algo, só que

desiste no meio do caminho e sacode a cabeça.

— Deixa pra lá.

— Fale.
Ela respira fundo.

— Foi por pouco que não acontece uma tragédia e isso me

deixou sensível. Em vez de foder, não pode fazer amor comigo?

As palavras dela me pegam desprevenido. Nunca pensei em


sexo dessa forma. Sendo sincero, eu não sei se algum dia na minha
vida, fiz amor com uma mulher. É um tipo de entrega que nunca

desejei para mim.

Em silêncio, recuo um pouco e passo a blusa de gola alta pela


cabeça, as mãos e olhos de Sophia se direcionam para o meu
abdômen. Ela me toca com delicadeza e leva uma oscilação quente

para o meu pau, que fica duro e anseia estar dentro do seu corpo
pequeno.

Estico as mãos e encontro a barra da sua blusa, puxo para

cima e fico feliz por ela não me impedir de despi-la. Sophia abre o
zíper da calça jeans e antes de descê-la, retira as botas.

Usando apenas um conjunto de lingerie sexy de tecido macio,


ela fica na ponta dos pés e me beija na boca, envolvendo devagar a

língua com a minha e deixando o meu corpo em lavas.

Ainda aos beijos, arrasto Sophia para o banheiro do quarto e a


coloco em cima da pia, passeando com as mãos possessivas pelo
seu corpo e a puxando contra mim.

— Prometo ser gentil — sussurro, assoprando contra os lábios

carnudos e a fazendo sorrir. — É isso que você quer, não é?

— Uhum. Não é muito diferente do que você já faz, só é mais


lento e com muito mais beijos — esclarece e dessa vez, eu rio com
a sua curta explicação sobre fazer amor. — O que foi?

— Não é nada, acho que aprendo rápido.

Sophia gira os olhos e eu controlo a vontade de virá-la de

costas e bater na sua bunda.

Lento e com muitos beijos. Seja gentil.

Enterro o rosto no pescoço dela e salpico beijos molhados,

subindo até a orelha e mordiscando o lóbulo com delicadeza.


Envolvo a mão entre os cabelos e puxo de leve enquanto a vejo

gemer e relaxar o corpo.

— Você aprende rápido mesmo — é o que fala, deixando uma

sensação estranha e boa no meu peito, me fazendo esquecer por


alguns minutos toda a merda que aconteceu hoje.

Não sei exatamente como ou quando aconteceu, mas Sophia

se tornou a minha válvula de escape.

E agora, é minha para sempre.


Meu tio estava de malas prontas para voltar à Itália e mudou
ideia depois do que aconteceu na cidade de Mont Tremblant. Eu o

amo e ele é alguém que sempre terá o meu respeito, mas o que
acabou de sugerir é de longe o maior absurdo que já falou na vida.

— Como?

Julian, Thomas e todos os capitães em volta mesa de tora de


madeira do escritório que fica nos fundos do cassino, alternam a

atenção de mim para o meu tio, em silêncio. Somos cruéis e torturar


os inimigos é o nosso habitual.

No entanto, isso.

É ultrapassar todos os nossos limites.

É abrir uma porta que jamais poderá ser fechada.


— Por que eles podem mexer com os nossos e não podemos
fazer o mesmo com eles? Olho por olho e dente por dente, simples
assim — retruca e me encara com afinco.

— Como descobriu isso? — quero saber.

— Com o nerd dos computadores — diz, se referindo a Liam,

que por sorte não está no mesmo lugar que nós, porque do jeito que
eu estou, daria um sermão naquele garoto, mesmo sabendo que a

culpa é toda do meu tio.

— Não vamos fazer isso.

— Noah...

— Porra, tio Stefano — resmungo, encarando-o. — Não vou

sequestrar uma garota de três anos pra fazer o meu inimigo sofrer.
Existem outras formas de acabar com um homem. Não preciso

envolver uma criança inocente nessa merda.

Meu tio se inclina para frente e cruza as mãos.

— Ele vai usar as mulheres dessa família contra você,

sobrinho...

— Don Carbone — retruco, interrompendo o meu tio Stefano.

— Sim, Don — murmura e assente. — Ele não vai hesitar,


porque Alastar sabe que as mulheres sempre serão a merda do
nosso ponto fraco. Você não vê isso?

— Vou resolver o problema com ele sem matar uma criança.

— Não estou pedindo pra matá-la, apenas sequestrar e fazer


uma troca. A esposa dele morreu e aquela garotinha é tudo o que

ele tem. Alastar vai fazer tudo o que você quiser pra salvá-la. É uma

oportunidade única.

Meu tio mantém os olhos afiados presos aos meus.

Tenho vontade de atravessar a mesa e acertar um soco


certeiro na sua cara enrugada. Ele nunca cogitaria algo parecido se

o papà ainda estivesse vivo e me irrita ele achar que pode me fazer

mudar de ideia e ultrapassar os meus limites.

Nunca usarei uma vida inocente para resolver os problemas

dos negócios.

— Somos monstros, mas não monstros que sequestram

crianças — é Thomas quem fala, com toda a sensatez que existe

dentro dele. — Se formos por esse caminho, não tem volta. Vamos

mudar tudo o que somos.

— Isso é um erro — tio Stefano fala.

— Cale a boca, tio — ordeno e o velho se ajeita na cadeira,

respirando fundo e desviando o rosto de mim. — Não vamos tocar


em uma criança.

— Claro — meu tio concorda, a contragosto.

— Ele explodiu meu carro e eu quero explodir algumas coisas

dele também — falo, esperando os argumentos de Thomas de como

fazer isso vai chamar atenção errada para nós e nada vem. Ótimo.
— Vamos dar um fim em alguns dos homens dele também, quero

deixá-lo fraco.

Os capitães concordam com um aceno de cabeça.

— Ele vai retalhar — Vincenzo diz.

— Eu sei e nós estaremos preparados pra isso. — Levanto e

tamborilo a mesa com as pontas dos dedos. Meus homens fazem o

mesmo. — Protejam suas famílias — dou a ordem e eles

concordam com outro aceno de cabeça.

— Quando vamos poder explodir alguns brinquedos? — Oliver

pergunta e noto um brilho de animação passar por seus olhos.

— O mais rápido possível. Quero fazer isso com as minhas

próprias mãos.

— É perigoso, você não pode ir — Thomas me avisa e lanço

uma olhadela mortífera para ele. — Não vai mudar de ideia, não é?
— Não. Ele explodiu meu carro quando eu estava com a

Sophia. Alastar tem sorte, se ela tivesse se machucado, seria o fim


dele mesmo que isso desencadeasse uma guerra — é o que falo,

pegando o meu casaco estendido na cadeira e saindo do escritório.

Thomas vem atrás de mim.

— Precisa ter cuidado, Noah.

Levo a mão até o seu ombro e aperto com força.

— Eu sei.

Meu conselheiro suspira.

— Vamos redobrar a sua segurança. Não saia mais sozinho.


Ou melhor, não saia mais de casa. Fique quieto por um tempo,

algumas semanas enquanto resolvemos tudo de uma forma

civilizada.

Nego com a cabeça.

— Não preciso de segurança, Thomas, só de uma arma


carregada e que Alastar não se meta no meu caminho de novo ou

vou acabar com ele.


Ao entrar no quarto, encontro Sophia deitada na minha cama,
dormindo. Confesso que estou surpreso, achei que ela seria teimosa
a ponto de voltar para casa depois de eu ter dito que ela ficaria aqui.

Tinha deixado James a sua disposição só por precaução.

Tiro os tênis e afundo no colchão, acordando Sophia e a

fazendo virar o corpo para mim, sonolenta. Tão linda e pura. Não
devia desvirtuar uma garota como ela, mas acho que é tarde demais

para voltar atrás.

— Você voltou.

— É claro que sim.


Ela suspira e pisca devagar, mesmo com pouca luz, os seus

olhos brilhantes encontram os meus.

— Amanhã vou voltar pra minha casa.

— Por quê? Seu pai está voltando?

— Não — murmura e bate os cílios. — É estranho ficar aqui,

ainda mais quando você não está — admite.

Enfio o braço por debaixo do travesseiro em que a Sophia

descansa a cabeça e com as costas dos dedos, toco a maçã do seu

rosto, fazendo carinho e contemplando o rosto delicado e bonito.

— Por quê?

— Nossa relação é incomum. Além do mais, você acabou de

se divorciar e pra completar, a sua ex está dormindo no quarto ao

lado. Não acha estranho? Eva disse que você e Julian não

costumavam trazer mulheres pra cá. Por que me trouxe?

— Eva tem a boca grande.

— Ela é incrível — Sophia retruca.

Eva está com a nossa família desde que sou uma criança e

ela conhece bem todo mundo dessa casa. É alguém que sempre me

respeitou e têm o meu respeito, embora seja atrevida e enxerida.


Sophia suspira e enterra o rosto no meu peito ao entrelaçar
uns dos braços na minha cintura.

— Você está inquieta.

— Um pouco.

— Por quê?

— Eu conversei com Hayley hoje, depois do jantar. Queria

ficar no quarto, mas sua avó é um doce e me convenceu a descer.

— A nonna é persistente.

Ela dá uma risada fraca.

— Muito.

— O que conversou com a Hayley?

— Ela é grata por ter rompido o casamento, apesar de estar

brava no momento por ter voltado pra Montreal.

— Eu tive que trazê-la de volta... prometi a mãe de Hayley que

a protegeria. Rompi o nosso casamento, só que não sou de quebrar

promessas. Protegê-la é minha responsabilidade.

— Não quebrar promessas... isso é bom — sussurra e os


olhos grandes me encontram de novo. — Fiquei curiosa e perguntei

o motivo por ela não querer tentar nada com você. Eu sei, eu sei,
acho que tenho um lado masoquista, mas é impossível não olhar

pra Hayley e me perguntar o porquê vocês não deram certo. Vocês


fazem um casal bonito.

Respiro fundo, de repente, me sentindo exausto.

— Pare com isso.

Ela me ignora.

— Por que não deu certo?

— Não deu certo, porque Hayley não gosta do meu mundo ou


de mim. Nunca senti nada em relação a ela além da obrigação de
protegê-la. Satisfeita?

— Ela disse que... não amaria um mafioso, porque nem todos

os homens desse meio sabem amar de verdade. Vocês só


conhecem a dor e o caos, esse é o seu mundo.

Envolvo a mão na sua nuca.

— Hayley não sabe nada sobre os homens do meu mundo.


Ela é apenas uma garota que foi obrigada a se casar com um

homem e odiou cada segundo que passou ao lado dele.

— Você é capaz de amar? — ela quer saber.


Encarando-a, fico em silêncio. É uma resposta complicada,

não lembro de amar nenhuma mulher além da minha mãe, irmã e


avó. E eu sei, eu amo a minha família, mas tenho certeza de que

não é isso que Sophia quer escutar.

No entanto, ela me faz fazer coisas que nunca tinha cogitado.


Como fazer amor, o sexo gentil. E confesso que gostei mais disso
do que esperava, porque Sophia foi minha de um jeito diferente.

Mais íntimo.

— Não precisa responder, é uma pergunta idiota.

— Nunca amei uma mulher — sou sincero e os olhos dela


oscilam com uma emoção que desconheço. Sophia finge um sorriso

e assente, batendo as pestanas e respirando fundo.

— Quero dormir.

Ela dá as costas para mim.

— Converse comigo — peço, e percebo que é a primeira vez

que faço um pedido a alguém. Sempre dando ordens e mais ordens,


nunca precisei pedir que uma mulher conversasse comigo.

Agarro a cintura fina e num movimento hábil, a viro para mim

de novo.

— Não quero falar sobre amor e essas merdas.


— O que você quer de mim, Sophia?

Ela morde o lábio inferior por um segundo.

— Não sei. O que você quer de mim? — devolve.

— Você. Quero você.

— Você quer ser o meu dono.

Não é uma pergunta e mesmo assim, sinto a necessidade de


confirmar.

— Também — informo, e ela mantém os olhos fixos nos meus

e eu me dou conta de algo sobre a sua pergunta de antes. Sophia


quer saber se sou capaz de amá-la. Para ser sincero, eu não sei se
consigo, mas tenho certeza de uma coisa. Vou protegê-la com tudo

o que eu tenho.

— Então, sou a sua dona também — retruca e o canto da


minha boca se estica. — Você corre perigo? — pergunta, de

repente.

— Não vamos falar disso.

— Seu carro foi explodido, Noah. Bem perto de nós.

— Não vou deixar ninguém te machucar.


— Não tenho medo por mim... não quero que nada de ruim
aconteça com você — segreda e volta a contornar o meu corpo com
o seu braço. — Passei a noite pensando nisso e eu vi o desespero

no rosto da sua mãe e a avó quando chegamos. Elas estão nesse


mundo há vida toda e ainda assim, ficaram preocupadas com o que

podia ter acontecido.

Sorrio.

— Não se preocupe, nada vai acontecer comigo — falo com


convicção.

— Você parece confiante.

— Não pareço confiante, eu sou.

Ela suspira.

— Tudo bem, vou acreditar em você.

— Não te deixarei voltar pra casa — declaro e ela ergue o


queixo para mim, fazendo bico. — Aqui, estará segura. Se precisar

de alguma coisa, mando alguns dos meus soldados buscar pra

você.

— Isso não parece um pedido.

— E não é.
— O que acontece com as outras pessoas se elas não te

obedecem? — questiona e logo em seguida, sacode a cabeça de


um lado para o outro, negando. — Não quero saber, acho que é

demais pra mim.

— Não sou bom, Sophia. Nunca fui.

— Eu sei e na verdade, acho que não me importo com isso,

porque de um jeito bem desvirtuado, você tem sido gentil e bom pra
mim.

Depois de falar, ela passa uma perna em volta do meu corpo


eu deito de barriga para cima, alisando as coxas cobertas com o

tecido de moletom. Montada em mim, Sophia me encara e abre um

sorriso travesso.

— Você tá com muita roupa — é o que falo.

Segurando a cintura fina, me arrasto até a cabeceira e escoro


as costas no material acolchoado, meio sentado. Seguro a barra do

moletom e tento puxar para cima. Sophia me impede, atiçando o

animal primitivo que existe dentro de mim.

— Tá frio.

— Não me provoque.
— Por que não? Tem que ser tudo na hora que você quer? —

retruca, prepotente. — Tenho sempre que estar disponível para o

senhor da máfia?

— Sim — rosno, e volto com as mãos no tecido, puxando para

cima e passando pela sua cabeça, expondo os seios pequenos e

que apontam para mim. Inclino-me para frente e abocanho um


mamilo enrijecido e mordisco de leve, fazendo Sophia gemer e ao

ouvir o choramingo, o meu pau acorda latejante. — Você é minha e

eu vou te comer quando eu quiser.

Ela arfa, enfiando as mãos nos meus cabelos e puxando de

leve.

— Você é muito possessivo.

— Sou com o que é meu.

Subo com a boca para o pescoço e mordo, fazendo-a apertar

o corpo contra o meu. De maneira vagarosa, arrasto a língua até o

lobo da orelha e cravo os dentes na parte macia e ele rebola o


quadril contra a minha excitação dura.

— Acho que gosto de ser sua.

Ao ouvir as palavras saírem da boca de Sophia, ávidos, os

meus lábios procuram os seus e a prendo em um beijo feroz e


sedento. Ela é minha e gosta de ser minha, é tudo o que eu

precisava escutar hoje para melhorar o meu dia.


Alastar está hospedado em um hotel cinco estrelas no centro
de Montreal e não é burro, nunca anda sozinho ou dirige o próprio
carro, mas o velho criou alguns hábitos. Sempre janta no mesmo

restaurante de luxo, acompanhado de uma mulher mais nova,


enquanto os seus homens ficam esperando no estacionamento.

De forma silenciosa, Vincenzo derruba os homens do


estacionamento ao cortar a jugular de cada um com uma faca

afiada. Enquanto Oliver e eu nos aproximamos com os explosivos,

Liam trabalha com um tablet na mão e burla as câmeras de


segurança do restaurante. Ele parece calmo para um garoto que

acabou de ver um homem cortar a garganta de outro a sangue frio.


Quase morrer alguns meses atrás, mudou o seu modo de ver as

coisas.

Depois de colocarmos os explosivos dentro do carro, com a

ajuda de Oliver, Vincenzo enfia os homens mortos no banco


traseiro. Nos afastamos e esperamos na van em que viemos,

estacionada perto da saída do estacionamento. Na posição em que

o nosso veículo se encontra, temos uma visão perfeita do momento


exato em que Alastar aparecer.

Não quero matá-lo, apenas dar um aviso como ele me deu.

Quase meia hora mais tarde, o velho aparece, a mulher jovem

enganchada no seu braço e dois soldados mais atrás. Sorrindo,

aperto o botão do controle nas mãos e o carro dele explode.


Diferente do meu, as chamas são grandes e faz um belo estrago

nos veículos da frente, dos lados e atrás. Meus olhos brilham com o

fogo intenso e gosto de ver como o velho ficou abalado e faltou

pouco para cair no chão por causa do susto da explosão.

Oliver que está no banco do motorista, pisa no acelerador

rindo e saímos em disparada do local. Liam parece eufórico e ainda

está olhando para o fogo através da janela de trás.

— Isso foi incrível — Liam diz, abrindo um sorriso largo.


Ele sempre foi um garoto bom, apesar de nos ajudar com o
seu talento em relação aos computadores. Nunca tirou uma vida e é

um ótimo aluno na faculdade, só que ser bom não o livrou de levar

um tiro e quase perder a vida.

No nosso mundo é assim, ou você caça ou é caçado. E a vida

nunca vai facilitar e querer que seja o mocinho. Ou você é cruel ou

morre.

E está na hora de Liam se tornar outra coisa. O garoto

inocente tem que morrer para o homem que é capaz de tudo para

defender o que é seu, nascer. E já está na hora de ele ser iniciado.

— Explodir coisas... pode se tornar um hobby — comento.

— Maneiro — Liam retruca e levo a mão até a sua cabeça,

bagunçando os cabelos pretos e grossos.

Eles riem e eu me sinto bem por ter dado o troco a Alastar. Se

o velho filho da puta acha que pode aparecer na minha cidade e me

intimidar, está muito enganado e vou fazê-lo pagar por pensar

assim.

Oliver dirige até a mansão eufórico, diferente de Thomas, o

seu irmão mais velho, ele sempre gostou da adrenalina que os


trabalhos nas ruas proporcionam, o que é normal, já que a máfia é

tudo o que ele conhece por ter sido criado no nosso meio.

Assim que desço da van, a mamma surge na porta da casa,

como se estivesse me esperando para conferir se voltei intacto.


Antes que todos possam fugir, ela os convida para o jantar que será

servido.

Ninguém consegue dizer não a minha mãe, então entramos


na mansão e a primeira coisa que faço é subir para o quarto, atrás

de Sophia.

Faz dois dias que ela está aqui, claro que já falou várias vezes

sobre voltar para casa, mas sabe que não deixarei que fique
sozinha. Essa garota só sai dessa mansão quando o pai voltar da

Suíça.

Encontro-a em pé, perto da cama com o celular no ouvido.


Sophia está usando calça justa de cintura alta, que ressalta bem o
quadril convidativo e blusa de gola alta, destacando ainda mais os

cabelos curtos.

Depois de alguns minutos, ela encerra a ligação.

— Meu pai está voltando, chega amanhã.


Suspiro, sem esconder a chateação. Dois dias com ela

dormindo na minha cama e eu já fiquei mal-acostumado.

— Como vamos fazer? — ela pergunta ao cortar a nossa


distância e apoiar uma das mãos espalmadas sobre o meu peito. —

Vamos começar com os encontros escondidos?

Franzo o cenho.

— Não tem motivo pra gente se ver escondido, você é minha,

seu pai vai ter que aceitar isso.

Ela abre um sorriso maroto e revira os olhos, sendo


prepotente com o chefe da família Carbone como sempre.

— Ele não vai aceitar fácil, vai ter que enfrentá-lo.

Bufo.

— Seu pai não vai ousar me enfrentar, eu sou o Don — é o


que falo e ela aperta os lábios em uma linha reta.

— É o meu pai, não pegue pesado com ele. Tô avisando —


ameaça de um jeito fofo e que me faz rir.

— Vamos descer pra jantar antes que a mamma resolva vir

nos buscar.

— Noah, falei sério. É o meu pai.


Entrelaço minha mão na sua e me inclino um pouco para
beijar os lábios bem desenhados, que sempre parecem implorar
para sem chupados e mordidos. Parecem implorar para estarem em

volta do meu pau também.

— Fique tranquila, principessa.

Sophia abre um sorriso meigo e concorda com um aceno de


cabeça. Mesmo quando está sendo adorável, como no momento,
ainda tenho uma vontade insana de jogá-la na minha cama e chupar

cada pedacinho dessa pele negra e brilhante.

Gosto de como ela se entrega a mim. É único e me deixa


louco e excitado. Sophia é linda e mexe com o meu pau. Mexe com
força, de tal forma, que só consigo pensar em estar dentro dela.

Eu nunca tive um lugar preferido, mas agora, estar dentro de

Sophia se tornou a melhor parte do meu dia.


Mesmo que eu tenha dito que não precisava que ninguém me
levasse até a minha casa, nem de longe Noah é alguém obediente.
Na realidade, ele gosta que as pessoas acatem suas ordens e ponto

final.

Um mafioso possessivo e mandão.

São quase onze da manhã na hora que ele entra no meu


bairro. Pedi que me deixasse na esquina, é claro que sou ignorada e

o homem só pisa no freio ao estar em frente à varanda da minha


casa.

E se não bastasse isso, meu pai está do lado de fora,

esperando e me fazendo sentir uma adolescente, que passou a


noite fora sem permissão. Hoje cedo, acordei com a sua ligação,
porque tinha chegado em casa com a vovó e eu não estava.

Quando me disse que estava voltando e chegaria hoje, não


esperava que fosse tão cedo e fui dormir tarde na noite de ontem,

porque queria aproveitar o tempo com o Noah.

Agora, estou entre a cruz e a espada. O mafioso no banco do

motorista não é alguém que se intimida fácil, acho que nem se

intimida para falar a verdade, e meu pai sempre gostou de


aterrorizar qualquer garoto que tivesse pretensão de namorar ou

transar comigo.

Estou perdida.

— Não desça do carro — peço, assim que vejo Noah tirando o

cinto de segurança. O vidro do carro é escuro, então meu pai não


tem ideia de que estou dentro da BMW cinza, mas consigo vê-lo

perfeitamente. — Tô implorando.

Noah curva a boca daquela maneira irritante e sexy.

— Uma hora ele vai precisar saber que estamos juntos — fala,
como se não fosse nada demais e o meu coração acelera. Estamos

juntos? Palavras tão simples e que parecem fazer o meu mundo

girar de cabeça para baixo.

Estamos juntos...
Será que Noah é capaz de amar? Eu quero que seja. Quero
tanto que nem entendo esse sentimento forte e estranho dentro do

peito. Nunca quis me envolver com um homem perigoso, no

entanto, acho que estou destinada a me apaixonar por esse

mafioso.

— Não hoje.

Noto pela forma como ele me olha, que está tentado a não

fazer o que eu pedi e descer do carro. Acho que não está

acostumado com isso, a ter que esperar ou se esconder, então fico

aliviada por ele apenas se inclinar e segurar meu rosto com uma

das mãos antes de me deixar sair do veículo.

Segurando minha bolsa com força, caminho até o meu pai e o


carro do Noah sai em disparada, sumindo rua afora. Abro um sorriso

grande para o meu velho e tento fingir que não acabei de descer de

uma BMW bem na sua frente.

— Onde estava?

— Oi pra você também, pai.

— Quem estava no carro? — rebate.

— Hum... você disse pra não trazer garotos pra casa, então fui

na casa dos garotos — zombo, fazendo meu pai suspirar.


— Não sabia que tinha se tornado uma comediante.

Envolvo os braços nele e o prendo em um abraço apertado.

Tanta coisa aconteceu nos últimos dias e tenho a sensação de que

faz anos que não o vejo. Senti saudades do seu colo.

— Cadê a vovó? — pergunto, decidindo ignorar o quanto ele


está curioso sobre quem veio me deixar em casa ou onde eu

estava.

— Na sala, reclamando da vida — resmunga, e eu rio.

Entramos em casa com os braços entrelaçados. Ao avistar a


minha avó sentada no sofá da sala, solto-me do meu pai e corro
para ela, que sorri ao segurar meu rosto e focalizar meus olhos.

— Você cresceu, querida. Tá tão linda.

Rio de leve.

— Obrigada, vovó.

— Como está?

— Bem, e a senhora?

— Chateada, me obrigaram a vir pra cá só porque eu caí de


uma escada. Nem cheguei a fraturar a bacia, mas é assim quando
você fica velho, as pessoas tratam você como um bebê gigante —

rosna, olhando para o meu pai.

Sorrio.

— Senti saudade, vovó.

— Também senti, querida.

Ela me puxa para um abraço de urso e ao encostar o ouvido

no seu peito e ouvir os batimentos cardíacos tranquilos, eu fico com


uma sensação esquisita e boa de que tudo vai ficar bem. Gosto de

tê-la aqui, pertinho de nós. Vovó é geniosa, mas tem um coração


gentil e sempre achei o ruim o fato de morarmos longe uma da
outra.

— Que bom que veio morar aqui, vovó.

— Eu sei, meu bem.


Depois do jantar, o papai recebeu uma ligação de trabalho e
precisou sair. Pela forma que trocou um olhar comigo antes de ir, eu
sei que deve ser coisa da máfia. Finjo não estar sutando por dentro.

Será que aconteceu algo com Noah?

Não sei como a Lina aguenta toda essa aflição que um

romance com mafioso promove de forma gratuita aos nervos.

— Você tem algum namorado?

Engasgo com a saliva ao ouvir a pergunta da minha avó. Em

silêncio, ela me observou colocar a louça suja na máquina de lavar


e até achei que estava quieta demais durante a hora do jantar.

— Não.

— Por que está mentindo pra mim?

Suspiro e deslizo para a banqueta da ilha.

— É complicado.

— Se tá complicado demais, descomplica passando pra outra

— fala, me fazendo rir. Com ela, as coisas sempre foram assim,


fáceis de resolver e ponto final. — Os jovens têm mania de dificultar

tudo.

— Mais ou menos.
— É ele ou ela?

Começo a rir.

— Ele.

— Ah, achei que fosse aquela garota de quem você tanto fala.

Como é o nome dela mesmo? Angelina Magnólia — diz, fazendo um


gesto de abano no ar, o que aumenta minha risada.

— É Jolina Magdayao.

— Eu quase acertei.

— Passou perto.

Vovó fecha a expressão em uma cara dura.

— Ele é uma boa pessoa?

Franzo o cenho e pondero por um minuto. Para mim, Noah é


uma boa pessoa, para os negócios, ele é o que precisa ser. Como

posso explicar isso para minha avó? Se eu falar que estou saindo

com um mafioso, tenho certeza de que vai me chamar louca.

Talvez me amarre no pé da mesa e diga que nunca mais sairei

de casa. Ou sugira que nos mudemos de país.

Não posso culpá-la, sair com alguém assim é uma loucura e


tanto mesmo.
— Sim, eu acho que sim — digo, por fim.

— Então? O que é complicado?

Ele ser o chefe de uma família mafiosa? Nossas vidas são a


grande complicação, os perigos que rodeiam esse mundo violento e

caótico. E por mais que ache que talvez eu saia quebrada dessa,

não consigo para de querê-lo.


Alastar não ficou quieto depois de ter o carro explodido. Feriu
alguns dos nossos soldados e tirou a vida de outros. E o que mais
me irrita, é que ele não vê problema em deixar um rastro de sangue

inocente pelo caminho.

Depois de autorizar que meus homens contra-ataque de volta,


tenho a sensação impotente de que vamos passar o resto das
nossas vidas assim. Preciso acabar com ele antes que o estrago na

minha família seja maior.

Ao chegar na guarita da mansão, vejo o pai da Sophia descer

do carro e se aproximar do meu. Passa pela minha cabeça ignorá-

lo, porque estou cansado e cheio de problemas para resolver, mas


em consideração ao papà que gostava dele e a sua filha, ordeno

que o segurança o deixe entrar.

Pela estrada de pedras, ele vem atrás de mim, colado na

minha traseira.

Paro o carro em frente à mansão e um soldado se coloca ao

meu lado, estendendo a mão para pegar a chave. Robert Canning

estaciona atrás de mim e eu faço um gesto com a cabeça para que


me siga até o escritório.

Ele não é de aparecer assim, na verdade, não lembro de


nenhuma vez que veio até aqui sem ser convidado.

Entramos no escritório e eu gesticulo com a mão para que se

sente na cadeira de frente à mesa. O homem me ignora


completamente. Ergo uma sobrancelha de forma cética para ele.

— O que está fazendo aqui? — vou direto ao ponto. Há

algumas horas, ele foi chamado para suturar as feridas de alguns

soldados e devia estar trabalhando nisso, não me esperando na


porta de casa.

— Deixe minha filha em paz.

Balanço a cabeça e bufo, sem acreditar nas palavras que

saíram da sua boca.


— O que disse?

— Achou que eu não reconheceria o seu carro hoje de

manhã? — dispara, me deixando com um gosto amargo na boca. A

irritação vem com tudo, como um golpe certeiro na boca do

estômago.

— Isso não tem a ver com você, então fica de fora.

— Como não? Ela é minha filha e não merece ser tratada

como um brinquedo que você pode descartar a qualquer momento.

Estou avisando, deixe Sophia em paz. Essa relação não tem futuro.

Rio com sarcasmo e me acomodo na cadeira acolchoada de

trás da mesa, tamborilando os dedos na madeira envelhecida.

— É muita ousadia aparecer na minha porta e falar desse jeito

comigo, Robert. Não esqueça quem eu sou.

Robert contrai a mandíbula.

— É por eu não esquecer quem você é, que estou aqui, Noah


— rosna, me deixando enfurecido. — Minha filha não é garota pra

você. Ela é inocente e merece alguém que não esteja envolvido dos

pés à cabeça com o crime organizado. Ela merece ser feliz, ter uma

vida normal. E você sabe que ela nunca terá isso com você.
Cerrando os dentes e fechando a mão em punho, lanço um

olhar fulminante para Robert. Odeio a merda da sua audácia de vir


até aqui e me falar asneiras. Se não fosse pai da Sophia, eu já teria

mostrado que ele não tem direito de exigir nada de mim.

— Sophia é minha.

Ele suspira e ri de forma descrente.

— Você quer acabar com a vida dela?

— Vou protegê-la, Robert. Não se preocupe.

— E quem vai proteger ela de você? Quem vai proteger


Sophia desse mundo de merda? — rebate, e eu solto um suspiro

longo, cansado dessa conversa que não vai nos levar a lugar
nenhum. — Não duvido que você queira protegê-la, mas isso não

garante que ela estará segura com você.

— Cale a boca — ordeno.

— Esse mundo é perigoso e você vai acabar matando minha

filha.

Levanto da cadeira num solavanco, arrastando o móvel para


trás e olho nos olhos de Robert, sentindo vontade de partir para

cima dele e segurá-lo pela gola da camisa e mandá-lo ir se foder.

— Vai embora.
— Fique longe dela — é a última coisa que fala ao dar as

costas para mim e sair do escritório, batendo a porta mais forte que
o necessário.

As palavras sobre o meu mundo ser perigoso e eu acabar

matando Sophia ecoam dentro da cabeça e me deixam com uma


sensação estranha. O episódio de alguns dias atrás e o meu carro
explodindo invadem meus pensamentos como um vendaval.

Não quero abrir mão de Sophia. Não lembro de ter desejado

uma mulher tanto como eu desejo aquela garota atrevida e


presunçosa. Deixá-la ir para longe de mim nunca esteve em

cogitação.

Ela é minha.

Ouço uma batida na porta e ao olhar para frente, vejo a

mamma na soleira, metade do rosto para dentro do cômodo e o


corpo para fora, parece uma criança pedindo permissão para fazer

travessuras, o que é até engraçado.

Ela não costuma pedir permissão para nada.

— Entre.

Cruza o olhar comigo antes de dar o primeiro passo na minha

direção. Alisa o vestido bem passado antes de sentar na cadeira à


minha frente.

— Ouvi um pouco da conversa.

— Mamma... — censuro.

Ela sacode a cabeça e gesticula com as mãos no ar.

— Foi um acidente.

— Uhum.

— Você gosta dessa ragazza?

Suspiro e volto a sentar na cadeira acolchoada, exausto. Não


quero ter que falar com a minha mãe sobre a Sophia ou qualquer
outra coisa relacionada a minha vida pessoal. Isso é chato e me

irrita também.

— O pai dela tem razão — diz, quando fico em silêncio.


Prendo meus olhos aos da mamma. — Se você quer apenas se

divertir, essa garota não é pra você.

— O que quer dizer, mamma? — disparo, cético.

— Se você gosta dela, faça com que ela seja sua.

Solto outro suspiro e um sorriso incrédulo.

— Ela já é minha.

Minha mãe nega com a cabeça.


— Não desse jeito carnal. Faça com que ela seja sua de
verdade — aconselha e me encara com intensidade. — Faça dela a
sua rainha.

Inclino-me sobre a mesa e cruzo as mãos, franzido a testa

para à mulher que me deu a vida e me criou.

— Que absurdo é esse? Quer me ver casado a todo custo,


não é?

Ela inspira e leva as mãos até os cabelos longos e escuros.

— Seu irmão mais novo vai casar, Noah. Não pode ficar

solteiro por muito tempo, você tem trinta e sete anos — lembra. —
Olha o tamanho dessa casa, eu preciso de netos e você de

herdeiros.

— A senhora não existe, mamma.

Abre um sorriso gentil para mim.

— Pense com carinho no que eu disse ou vou acabar

arrumando outra noiva pra você.

Estico o canto da boca.

— Não sabia que a senhora tinha um estoque de noivas —

retruco com sarcasmo, fazendo-a suspirar irritada e ficar de pé. —


Tenha paciência, terá muitos netos.
A mamma concorda com um aceno de cabeça.

— E Thomas e Antonella? Aquilo é passatempo ou pra valer?

Levanto da cadeira e dou a volta na mesa, segurando o seu


rosto delicado entre as mãos.

— A senhora não cansa?

Ela sibila e tenta se afastar mim, mas não consegue e

emburrada, fica me encarando ao mesmo tempo em que torce a

boca.

— Nunca vi tantos homens solteiros nessa família —

resmunga, me fazendo rir e acabo me dando conta de que toda a

irritação que o pai da Sophia causou em mim foi embora.

E a ideia sobre transformar Sophia na minha rainha, não

parece mais tão absurda dentro da minha cabeça. Não seria ruim ter
aquela garota dessa forma. Minha de verdade. Minha para sempre.
Dias depois...

Meu pai está super esquisito.

Hoje na hora do jantar, cogitou a possibilidade de nos


mudarmos para Suíça depois da minha formatura. Até a vovó achou
estranho demais, já que ele a trouxe para Montreal faz alguns dias.

Não consigo entendê-lo. Por que essa mudança repentina?

Tentei conversar e compreender a situação, mas ele não quis abrir a

boca para falar nada além de como a Suíça é um bom lugar para se
viver.

Será que os problemas com a família Carbone estão deixando


meu pai com medo das consequências? Se for isso, ele com certeza
não me dirá nada, porque assim que terminou de arrumar a cozinha,

se trancou no quarto e está lá faz quase quarenta minutos.

Vovó e eu ficamos na sala, assistindo à uma novela turca que

ela adora. Não consigo deixar de romantizar a minha relação com


Noah ao ver o casal cheio de química e farpas na televisão. Não

somos exatamente um casal, só que não consigo parar de pensar

no que ele disse quando me trouxe em casa antes de ontem.

Estamos juntos...

Juntos como?

Meu coração acelera só de pensar.

— Por que está suspirando tanto?

— Hãm?

Vovó me olha de rabo de olho, eu encolho os ombros, fixando

atenção na tevê com todas as minhas forças e capacidade de fingir


que nada aconteceu. Ao ouvir a campainha tocar, fico aliviada e fujo

dela como um gato de um cachorro.

Abro a porta sem olhar no olho mágico, então fico surpresa ao

ver Noah do outro lado da soleira.

— O que tá fazendo aqui?


— Não é óbvio? — retruca e eu pisco os olhos com força. —
Eu disse que queria te ver.

— E eu disse que estava vendo novela com a minha avó.

Noah me encara de um jeito metido, como se eu estivesse

louca de ficar em casa vendo novela com a minha avó em vez de

sair com ele. E bom, ficar com esse mafioso é tentador, só que
tenho medo de como o meu coração pode se apagar ao que temos.

Não quero sair machucada.

Pelo menos, não tanto.

— Não finja que não gostou de me ver — murmura, dando um


passo para dentro da minha casa. — Ou você sai comigo ou eu vou

subir até o seu quarto.

Arregalo os olhos.

— Tá louco?

Ele me olha sério e fica em silêncio.

— Quem está aí? — a vovó pergunta ao surgir no corredor

pequeno do hall de entrada. Os olhos marrons encontram o meu

mafioso dos pés à cabeça e depois, direciona a atenção para mim.

— Esse é o rapaz complicado?


— Hum, complicado? — Noah fala rápido antes que eu possa

explicar alguma coisa. O homem se escora no batente da porta e


enfia a mão no bolso. — Não sou tão complicado — emenda.

Respiro fundo e ao ver meu pai descer as escadas, eu sinto


que o meu mundo vai girar em trezentos e sessenta graus no

momento. Ele não está feliz e encara Noah mal-humorado.

Coloco a mão na nuca e aperto, pensando em como sair


dessa situação.

Será que meu pai desconfia de alguma coisa?

— Eu disse pra você ficar longe da minha filha — meu pai


retruca, caminhando até Noah e só para quando eu o impeço de

fazer uma idiotice.

É, ele sabe.

— Pai — chamo.

— Venha, Sophia — é o que fala, ainda com os olhos vidrados

em Noah. Segura meu braço com força e tenta me afastar da porta.


— Você está proibida de ver esse homem. Entendeu?

Tento se desvencilhar do aperto firme e não consigo, o que me

deixa meio que irritada.

— Tá me machucando, pai.
— Diga que entendeu e não vai mais ver esse homem — fala

entre os dentes, fazendo o meu rosto formigar. Pela visão periférica,


noto Noah com a postura tensa e a respiração pesada.

— Não pode me proibir, pai. Eu não sou uma criança e caso

não se lembre, sou maior de idade, posso escolher com quem eu


quero sair.

Ao ouvir a resposta, meu pai fecha as mãos em punho.

— Sim, mas mora debaixo do meu teto e eu pago a sua


faculdade. Então, mocinha, você vai seguir as minhas ordens e não

se fala mais nisso. Está proibida de sair com esse homem.

De forma abrupta, me afasta de Noah e eu quase caio no

chão. A vovó observa tudo sem entender. Irritada, volto a ficar entre
os dois, que estão se encarando como dois galos de briga. Com as

mãos espalmadas em seu peito, tento empurrar meu pai para trás.

— Para com isso e vamos conversar de forma civilizada.

Cego pela raiva, ele não me ouve ou resolve me ignorar.

— Entre, Sophia — é o que meu pai ordena e sinto o sangue

ferver. Ele nunca fez o tipo tão mandão e grosso, e agora, quer
mudar o jeito que me criou a vida inteira da água para o vinho? —

Entre! — grita, me fazendo estremecer.


— Não.

— Sophia, não me teste. Entra na porra dessa casa antes que

seja tarde demais. Anda, entra!

— Por que está agindo assim? Você pode trabalhar pra máfia
e eu não posso sair com o seu chefe? — retruco com sarcasmo.

— Se você me desobedecer, é melhor fazer as malas e ir


embora, não vai continuar vivendo na minha casa.

Meus olhos ardem e mordo a bochecha com tanta força, que

sinto o gosto de sangue.

— Não seja hipócrita — rosno entre os dentes.

Enfurecido e de narinas infladas, ele levanta a mão para bater

no meu rosto, e sem pestanejar, Noah segura o seu pulso com


firmeza. Os dois se encaram por um minuto muito longo e parecem

soltar faíscas.

— Não toque nela — Noah diz com a voz grossa e séria, e os


olhos com um brilho frio e obscuro. — É algo que não posso aceitar,
Robert. Nunca mais levante a mão para Sophia.

Meu pai começa a rir com deboche.

— Não vai aceitar? Não se meta, isso é assunto de família.


— Pare, pai — peço.

Ao me escutar, ele direciona os olhos para mim e consigo

perceber o quanto está decepcionado comigo. Talvez tenha sido


desse jeito que o encarei ao saber dos seus negócios com a máfia.

— Entre e não me desobedeça, Sophia. Você não continuará

vendo esse homem. É uma ordem. Entre!

Suspiro e sinto o queixo tremer.

— Não posso.

— Por que não?

Porque eu já estou apaixonada...

— É minha vida, pai. Não pode me obrigar a nada. Você é o

meu pai e não o meu dono — murmuro, sentindo a vista embaçar.

— Não vou aceitar isso.

— Então, vou embora.

— Ah, meu Deus! Não sejam ridículos — vovó resmunga, as

sobrancelhas franzidas e as mãos cruzadas na altura dos seios. —

Sophia é uma mulher, Robert. Ela pode decidir com quem quer sair,

não faça um escândalo por causa disso.

— Você não entende, mãe.


— Não nasci velha desse jeito, eu já fui jovem. Pare de tratar

Sophia como se fosse um bebê, ela é adulta — vovó fala, e a única


coisa meu pai faz é sacudir a cabeça de um lado para o outro,

incrédulo.

— Me obedeça, Sophia — meu pai pede.

— Não posso.

— Não vou aceitar que viva debaixo do meu teto e saia com

esse homem.

Noah suspira.

— Pode me esperar lá fora? Vou pegar minha bolsa — falo a

Noah, que como se o seu habitual fosse receber ordens de mim,


gira nos calcanhares e vai me esperar em frente ao seu carro.

Entro em casa e corro para o quarto, pego uma mochila no


closet e enfio algumas peças dentro, apanho a bolsa com

documentos no cabideiro antes de sair do cômodo.

— O que aconteceu com você? — meu pai pergunta ao me


impedir de sair do quarto. — Você não é assim. O que Noah fez pra

você agir desse jeito? Não vou te deixar sair dessa casa.

— Pai, eu te amo muito. Você é uma das pessoas mais

importantes pra mim, só que não consigo fazer o que quer.


— Por que não? Ele não é um homem bom, Sophia. Tem as

mãos sujas de sangue. Droga, ele é criminoso. Não consegue ver o

quanto isso vai te afetar? Pode acabar morrendo por se envolver


com alguém assim.

— Eu sei.

— Faça o que eu estou mandando, por favor.

Ele me segura pelos ombros, o rosto desesperado para que

eu obedeça a todo custo e deixei de ver Noah.

— Vou ficar uns dias na casa da Lina.

Meu pai deixa as mãos caírem e fecha os olhos com força,

respirando fundo e pesado. Passo por ele e saio do quarto,

descendo as escadas correndo e encontrando a vovó no último

degrau.

— Vá, vou conversar com ele. Não se preocupe, querida.

Aproximo-me dela para um abraço apertado e inspiro o cheiro

de lavanda. Acabo ganhando um beijo no rosto também, o que me

rouba um sorriso. Caminho até a porta e antes de sair olho para trás
e murmuro um até logo.

Desço a varanda rápido e Noah vem ao meu encontro,

segurando a mochila para mim. Coloca no banco traseiro e eu


deslizo para o carona, sentindo o coração latejar de um modo ruim.

Não estava preparada para tanto drama essa noite.

— Você está bem? — pergunta ao ocupar o lugar do


motorista. Dou de ombros em resposta e ele toca meu rosto, me

fazendo fechar os olhos por um segundo. — Ele vai voltar atrás.

— É, talvez.

— Se ele não voltar, eu pago a sua faculdade — diz e eu

mordo o lábio inferior para segurar a risada e falho. Foi algo


inesperado e fofo. — Por que está rindo?

— Obrigada... pelo incentivo em relação aos meus estudos.

— Eu gosto de mulheres inteligentes — retruca com malícia

ao aproximar o rosto de mim e morde o meu lábio antes de lançar a

língua para dentro da minha boca. Sinto o corpo arrepiar ao sentir o


beijo aprofundar e as entranhas se contorcem como se tivessem

vida própria. — Vamos pra minha casa.

Respiro fundo quando ele se afasta de mim.

— Só vou dormir lá hoje, ok? Vou ficar na casa de Lina.

O canto da boca se curva em um sorriso lindo e maroto, mas

Noah não diz nenhuma palavra. Torna a ficar perto de mim e coloca

o cinto de segurança. Agarra meu queixo com o dedo indicador e


polegar ao me dar um selinho antes de se ajeitar no banco e pisar

no acelerador.
Depois da briga com o meu pai, eu estava muito ansiosa para
esquecer todos os meus problemas com uma maratona intensa de
sexo com Noah e orgasmos incríveis, o que para minha tristeza, não

aconteceu.

A senhora Carbone ligou, porque Romie tinha escutado uma


conversa entre ela e a mãe de um dos seus capitães sobre um
casamento arranjado. A herdeira da máfia não sabia que estava

prometida, então, enlouqueceu, pegou o carro e saiu de casa

irritada.

Alguns dos homens estão pelas ruas procurando Romie.

Julian, Nicholas e Noah estão fazendo o mesmo, cada um em lugar


diferente da cidade de Montreal. Pelo que o chefe da máfia disse, é
um momento crítico para deixar a irmã sozinha por aí. Ao que

parece, o velho irlandês da estação de esqui pode tentar fazer algo


com ela.

Romie tinha um colar com rastreador que ganhou de Julian no


seu aniversário, mas a garota é espera e o deixou em casa.

Enquanto perambulamos de carro sem destino, Lexie e Liam estão

buscando a garota pelas câmeras de segurança das ruas.

A garota sair assim, não devia ser um problema, se ela viesse

de uma família normal, é claro. Por isso, entendo o desespero de

todos os mafiosos dessa família. Noah teve o carro explodido e não


acho que Alastar esteja para brincadeira.

O telefone de Noah toca, varrendo meus pensamentos para


longe. Sem hesitar, ele atende, colocando no viva-voz. É um homem

e pelo que entendo, é Liam, ele passa o endereço de onde o carro

da Romie está estacionado. Como estamos perto da localização,

Noah dá meia volta na avenida e dirige em direção a irmã.

Acaba ligando para alguém e ordena que alguns de seus

homens também apareçam no local. É sexy vê-lo mandar em todo

mundo. Devo estar louca, porque meio que gosto da forma como

qualquer coisa que ele fala pode virar lei.


Quase vinte minutos mais tarde, chegamos ao destino, que
fica situado na rua Crescent, uma das mais agitadas da cidade de

Montreal. Uma casa noturna de três andares, lugar perfeito para

dançar, beber uma boa cerveja e conhecer gente nova.

A irmã de Noah é jovem e cheia de vida, é claro que preferiu

afogar as mágoas na balada enquanto beija na boca de alguns

rapazes bonitos.

Depois de estacionar o carro perto da entrada, descemos do

veículo para ir buscar Romie. Ignoro as batidas desenfreadas do

meu coração ao senti-lo entrelaçar a mão na minha para entrarmos

juntos na casa noturna.

É difícil encontrar alguém em um lugar fechado cheio de


pessoas dançando ao som de música alta e luzes piscando

freneticamente. Damos uma volta pelo local e não consigo deixar de

reparar nas garotas olhando Noah.

Ele destoa muito. A maioria dos caras que estão na balada

são apenas garotos, alguns ainda nem têm barba, e Noah é um


homem lindo, alto, sarado e com um ar superior pairando sobre a

sua cabeça.
— Elas só faltam voar em cima de você — falo, parando perto

do bar e me preparando para pedir uma cerveja quando o sinto


passar o braço em volta da minha cintura.

— Ciúme?

Bufo e não me dou o trabalho de responder.

Ciúme? É claro que sim, mas gosto de ser confiante e não vou
admitir. Não quero dar esse gostinho ao Noah.

— Não fique. A única mulher que eu quero na minha cama é

você — diz, os olhos devassos esquadrinhando o meu rosto e a


mão firme e possessiva na minha cintura aperta com força, me
roubando um gemido entrecortado. — A propósito, não vejo a hora

de tirar a sua roupa. Prefiro você nua.

Suspiro, sentindo o meio entre as minhas pernas latejar.

Abro a boca para falar algo e sou interrompida ao avistar


Romie subindo no balcão do bar para dançar. Oscilo os olhos de
Noah para a garota dançando e ele acaba virando o rosto para o

mesmo lugar que eu.

Solta minha cintura e caminha na direção da irmã mais nova,


empurra com força os homens que resolveram ficar em pé no
balcão assobiando para Romie enquanto tentam tocar as suas

pernas.

Noah sobe na banqueta e com firmeza, arrasta Romie, que


resmunga um monte de coisas que não entendo. Ele lança um olhar

para mim e eu os sigo até do lado de fora. Assim que chegamos na


calçada, dois homens de terno preto se aproximam de nós e ficam
com a posição ereta, como se esperassem ordens do chefe

soberano.

— Me solta — Romie balbucia, visivelmente alcoolizada. — Tô


avisando, eu tenho uma arma.

Ela tenta abrir a bolsa ao mesmo tempo em que quer se soltar


das mãos do irmão. Não consegue nenhum dos dois e fica

irritadíssima.

Sem dizer nada, Noah consegue pegar a bolsa de Romie e


procura pela chave do carro, ao encontrá-la, entrega para um dos

homens e ordena que leve o veículo até a mansão. Antes que


alguém possa mover um músculo, Romie começa a chorar e então,
consegue se afastar do irmão e vem até mim.

— Eu vou me casar — choraminga, soluçando. — Meu pai me

prometeu pra um homem e nem posso ficar com raiva dele, porque
ele foi assassinado enquanto dormia. A vida é uma droga.

Encaro Noah.

— Deve existir alguma forma de resolver isso — é o que eu

me ouço falando e ela me encara com tristeza. — Não existe?

Romie balança a cabeça, ainda em lágrimas e os homens de


terno observando toda a cena em silêncio.

— A única forma de resolver isso é eu me casando —


murmura e com queixo tremendo, vira o rosto para o irmão. — Não

acha injusto? Você pode desfazer o seu casamento porque é o Don


e eu sou obrigada a me casar porque eu sou mulher.

— É um mundo muito injusto — murmuro mais para mim do


que para eles, só que os dois Carbone escutam.

— Não quero casar, quero continuar com a minha vida —

Romie fala, segura minhas mãos e focaliza meus olhos. — Quero


continuar na faculdade de moda e sei lá, me tornar uma
influenciadora digital.

— Vamos, Romie — Noah fala e ela rosna para ele.

— Se me obrigar a casar, vou fugir de casa.

— E vai viver onde? — o mafioso rebate.


— E por que eu te diria? Pra você me arrastar de volta pra
casa? — resmunga e limpa os olhos com as costas das mãos. —
Ele é bonito, mas às vezes não é inteligente — sussurra e eu acabo

rindo. Com os cílios úmidos e a ponta do nariz vermelha, a garota ri


também.

Consigo convencer Romie a entrar no carro do irmão depois

de prometer que ajudarei com a sua fuga. Só espero que ela não
lembre disso amanhã, porque não tenho ideia de como ajudar uma

herdeira da máfia a se esconder da família mafiosa.

— Leve o carro direto pra mansão — Noah ordena a um de

seus homens, que assente e caminha até o veículo estacionado

perto de nós.

Deslizo para o banco do carona e estou prestes a colocar o

cinto quando vejo Romie querendo sair. Inclino o corpo para trás e
faço a garota sentar de novo, dessa vez, afivelando a faixa de

segurança.

— Que belo rabo — Noah comenta ao se acomodar no lugar


do motorista e passar a mão na minha bunda. — É uma delícia.

Prenso os lábios para segurar o riso.


— Ei, sua irmã tá aqui — digo, voltando para o assento e

colocando o cinto. Noah me dá um sorriso convencido e pisa no


acelerador.

O homem no carro da Romie vai na frente e mal chegamos no


cruzamento da avenida quando meus olhos capitam uma van em

alta velocidade acertar o veículo da irmã do Noah.

Tudo parece acontecer em câmera lenta.

O impacto da van contra o carro é violento, amassa o veículo

como se fosse uma folha de papel e o faz girar algumas vezes antes
de capotar. O aço do capô vai se arrastando no asfalto e faz os

pelos da minha nuca eriçarem.

— Meu Deus! — falo, perplexa.

— É o meu carro — Romie murmura.

Sem dizer nada, Noah dirige até próximo do carro da Romie,

mas não desce do veículo, apenas abaixa o vidro da janela e enfia

um pouco a cabeça para fora, observando a rua.

Cambaleando e com a cabeça sangrando, um homem desce

da van e é amparado por alguém em cima de uma Ducati. O

motorista sobe na moto e os dois saem em disparada.

— Merda — o mafioso rosna.


— Isso é...

Não consigo nem terminar de falar. Prendo a respiração,

sentindo o coração bater tão rápido, que é quase doloroso. O


sangue roda dentro dos meus ouvidos, me deixando zonza e com a

boca seca.

Tomo um susto no momento em que Noah pisa no acelerador.

Com o carro em alta velocidade, ele persegue a moto e Romie

começa a murmurar nervosa atrás no banco de trás.

— Se segurem — ele ordena com os olhos fixo na avenida.

Quase como em modo automático, agarro a alça de segurança com

força. Desviando dos carros à nossa frente, Noah permanece na


cola da moto, que ao perceber que estão sendo seguidos, desviam

ao entrarem em uma rua.

Irritado e xingando, Noah dá ré e faz o mesmo caminho, não

demorando nada para estar na cola da moto de novo.

Não consigo pensar em nada além da cena de minutos atrás.


O carro sendo amassado, girando e capotando logo em seguida.

Meus olhos ardem ao me perguntar se o homem dirigindo morreu.

Eu nem o conheço e estou com vontade de chorar por causa

dele.
Ao ouvir uma buzinada, volto para o agora bem na hora que

Noah encontra um atalho e corta o caminho ao entrar em uma rua


estreita de forma abrupta. Se não estivesse usando cinto ou me

segurando na alça de segurança, teria caído no seu colo.

No fim da rua, encontramos a moto e Noah gira o carro,

usando a traseira do veículo para acertá-los. Os dois homens são

jogados para longe e a motocicleta vai arrastando pelo asfalto

enquanto solta faíscas.

Puto, o mafioso pego uma arma no porta-luvas e desce do

carro. Cogito a ideia de ficar, mas ao ver Romie abrir a porta traseira
e escorregar para fora e vomitar, tiro o cinto e saio também para

segurar os seus cabelos.

Ouço um disparo atrás de mim e o corpo inteiro estremece.


Olho por cima do ombro e vejo que Noah acertou a coxa de um

deles, que está com a calça jeans rasgada por causa do impacto da

queda.

Não tenho controle, as imagens do dia em que eu matei Finn

preenchem minha cabeça. Fecho olhos por uma fração de segundo,

respirando fundo e tentando não surtar de uma vez.


— Então, você queria matar minha irmã, filho da puta? —

pergunta ao se aproximar do homem baleado, que a única coisa que

faz é gemer. — Foi Alastar que mandou você? — questiona de novo

e não tem respostas.

Aproximo-me de Romie e pego o seu emaranhado de cabelo.

Ela fica curvada por mais alguns minutos e ergue o corpo ao limpar
a boca com as costas das mãos. E seguida, sai de perto de mim e

vai verificar o outro homem, que parece estar desmaiado no chão.

De repente, ele agarra o seu tornozelo, fazendo a garota gritar


e sem pensar muito, corro até os dois e acerto um chute forte no

seu saco. Puxo-a para longe e o observo levar as mãos até a parte

mais sensível do corpo.

Noah se aproxima de nós, segurando a arma com veemência

e deixando os nós dos dedos brancos. O corpo todo rígido e pronto

para acabar com alguém em um combate corpo a corpo.

Ele tem tanta fúria nos olhos, o músculo do maxilar contraído

e a veia na testa saltando e as narinas infladas. Todo o rosto


fechado em uma expressão dura e sombria. Acho que nunca o vi

assim, tão diferente.

Mas é isso.
Se eu quiser ficar com Noah, vou ter que aprender amar a

escuridão que vive dentro dele também. Não existe jeito de ter só as
partes boas desse homem. Ou fico com tudo ou não fico com nada.
Depois de ter passado horas com os homens de Alastar, volto
para casa. Nada consegui arrancar deles e chegamos a um ponto
em que estavam dizendo tudo que eu queria ouvir apenas para se

livrarem da dor.

Nicholas e alguns soldados ficaram no galpão para dar um fim


nos corpos e limpar tudo.

Paro o carro de qualquer jeito na mansão e desço. Jogo a

chave para o saldado na porta da frente e peço que leve à oficina


amanhã. Nem tenho tempo de abrir a porta, a mamma faz isso por

mim.

— Meu Deus, você está bem?

— Sim.
— Fiquei preocupada.

Ela leva as mãos até o meu rosto e suspira.

— Onde estão as garotas?

Quando Julian, Vincenzo e Nicholas me encontram no local da

batida, mandei que as trouxessem para a mansão. Claro que Romie

esperneou em ter que vir junto do Vincenzo, mas não teve escolha.

— Romie está dormindo e Sophia não saiu do quarto desde

que entrou lá.

Assinto e me abaixo um pouco para depositar um beijo no seu

rosto.

— Vá descansar.

Dito isso, passo por ela e subo as escadas ao mesmo tempo

em que tiro o casaco com respingos de sangue. Olho a minha mão

e a fecho em punho. Os nós dos dedos estão vermelhos e feridos


por causa dos socos que dei.

Abro a porta do quarto e encontro Sophia sentada na cama.

Assim que me vê, ela levanta e vem até mim de pés descalços. Não

queria que ela tivesse visto o que eu sou de verdade, mas tentaram

matar minha irmã e não consegui controlar o monstro que existe

dentro de mim.
Sophia não diz nada ao pegar minhas mãos e encarar os
machucados. Devagar, ergue os olhos e pisca, fazendo meu

coração ficar ansioso. Largo o casaco sujo de sangue no chão e

mantenho a nossa conexão.

— Você está bem? — quer saber. — É uma pergunta idiota —

emenda, sacudindo a cabeça de um lado para o outro.

— E você? Está bem?

Ela engole em seco.

— Eu não sei.

— Quer fugir de mim?

— Eu devia fazer isso, não é? Ir para o mais longe que eu

puder de você — murmura e abre um sorriso fraco. — Não sei se

consigo.

— Por quê?

Sophia desvia o rosto.

— Não quero falar o motivo.

— Me diga.

— Não hoje.
Suspiro e assinto, contrariado. Não quero ter que começar

uma discussão por causa disso. Depois da nossa noite de merda, só


quero deitar na cama e ficar com ela e fingir por algumas horas que

não tenho problemas sérios para resolver.

— Vou tomar banho.

Ela solta as minhas mãos e me deixa ir até o banheiro. Deixo

a porta aberta e arranco as roupas do corpo antes de entrar debaixo


do chuveiro. Água quente é quase como um relaxante e consegue

acalmar minha cabeça, que está uma bagunça por causa das coisas
que aconteceram.

Saio do chuveiro e enrolo uma toalha limpa na cintura. Passo


as mãos nos cabelos para tirar o excesso de água e sob o olhar de

Sophia entro no closet e visto calça moletom e blusa de manga


longa.

Volto para o quarto e antes de afundar na cama, jogo a tolha


no banheiro.

— Conversei com a Lina, ela vai ficar uns dias no apartamento

do Julian — Sophia fala, movendo as mãos até os cabelos e


prendendo mexas detrás das orelhas pequenas.

— Você vai ficar aqui — aviso.


Sophia me olha.

— Meu pai corre perigo? Eu sei que nós brigamos... ele é

minha família e eu o amo muito. Não quero perdê-lo.

Faço um gesto negativo com a cabeça e pouso a mão na sua


coxa, levantando aos poucos o tecido de seda para expor um pouco
de pele. Ela está usando uma camisola comprida, recatada e bem

sexy.

— Não acho que Alastar vá fazer alguma coisa com o seu pai,
mas deixarei homens cuidando da segurança dele.

— Obrigada. Minhas aulas acabaram de voltar, quero


continuar indo pra faculdade.

Suspiro.

— Espere mais um pouco. No máximo duas semanas.

Ela esbugalha os olhos.

— Duas semanas sem aulas? É muita coisa, Noah.

— Então você vai assistir aula com um soldado no seu


encalço. Não deixarei que você fique sozinha nem por um segundo.

Sophia morde o lábio inferior e me encara, estudando minhas


expressões.
— Então, vou ter um segurança até na hora de tomar banho?
Não sabia que você era tão liberal assim.

Sei que fala isso apenas para me provocar e mesmo assim,


não consigo evitar de sentir um gosto amargo na garganta e contrair

a mandíbula. Imaginar um dos meus homens observando o corpo


de Sophia nu no banho não é algo que eu queira nem em sonho.

Ela é minha e quero ser o único a tocá-la. Quero ser o único a


olhá-la com malícia.

— Não vou deixar nenhum homem de te ver tomando banho

— resmungo, apertando a coxa e a fazendo se contorcer.

— Estava só brincando.

— Não faça isso, me deixa louco imaginar outro homem te

tocando ou te olhando, Sophia.

Ela coloca a mão em cima da minha e de leve, encosta nos


nós dos meus dedos, pensativa. Deslizo o toque mais um pouco
para a parte interna da coxa e vejo a pele negra estremecer debaixo

da minha.

Sophia é tão linda. Não sei se consigo deixá-la ir para longe


de mim. Talvez a mamma tenha razão e eu deva transformá-la na
minha rainha. Ela seria minha de todas as formas e ficaria ao meu
lado.

— No que está pensando?

— Em você — respondo, procurando com as pontas dos


dedos a parte sensível entre as suas pernas. — Sophia, você sabe

que me pertence, não é?

Ela morde o lábio inferior e fecha os olhos ao me sentir


roçando na sua fenda sobre o tecido de renda da calcinha.

— Você fala isso como se eu fosse um pedaço de carne e

tivesse me comprado — murmura.

Estico os lábios em um sorriso sacana.

— É o meu pedaço de carne.

Ao ouvir minha voz, ela bate os cílios longos e os olhos verdes

escuros procuram os meus. Ela acaba me dando uma espécie de


sorriso também e abre as pernas, facilitando o meu acesso.

Com o indicador, roço a sua boceta contra a renda e sinto o


pau latejar ao sentir a umidade. Gosto de como ela fica molhada por

minha causa. Isso me deixa louco, na verdade.

Arrasto o tecido para o lado e passo os dedos pelas suas


dobras, ela arfa, segurando com força o edredom da cama. Enfio
dois dedos na fenda ensopada e quente, eles deslizam com

facilidade. Sophia geme, arreganhando mais as pernas. Com o pau


pulsando de tesão, eu faço movimentos de vaivém, sentindo-a

estremecer e soltar gemidos baixos.

Retiro os dedos de dentro dela, melados da sua excitação e

levo até entre os lábios carnudos e bem desenhados de Sophia.

Olhando para mim, ela chupa com vontade, me deixando mais duro

ainda e com vontade insana de possui-la.

Inclino-me para frente e cubro sua boca com a minha,

mergulhando a língua nela e sentindo o saber do seu prazer no


beijo. Ela geme quando sente minhas as mãos na seda amontoada

na metade das coxas. Arrasto a camisola para cima e afasto nossas

bocas para passar o tecido pela sua cabeça.

Admiro o corpo nu de Sophia antes de agarrar a cintura fina e

trazê-la para o meu colo. Enterro o rosto na curvatura do seu

pescoço e cravo os dentes, roubando gemidos entrecortados dela.


Sinto as mãos pequenas entre os meus cabelos e aos poucos, a

cabeça vai para trás. Ela me olha com afinco e volta a colar a boca

na minha, beijando de forma sedenta e selvagem. Puxa meu lábio


entre os dentes ao mesmo tempo em que rebola em cima do meu
pau duro e eu deixo escapar um gemido rouco do fundo da

garganta.

Sinto que sou capaz de gozar se ela apenas continuar


fazendo essa fricção em cima do meu cacete rígido.

As mãos na cintura descem até a bunda e eu as enfio por


dentro da calcinha, apertando as bandas com vontade e deixando

que os dedos rocem de leve no lugar proibido.

— Noah — ela choraminga.

Deito-a na cama e em um movimento hábil, insiro o dedo

indicador e médio na lateral da calcinha e tiro. Meus olhos brilham


ao ver a umidade no tecido e o levo até o nariz, absorvendo o cheiro

e fazendo Sophia me olhar de um jeito sexy e hipnotizante.

— Adoro o seu cheiro — falo ao recuar um pouco para trás e


dobrar uma perna de cada vez, abrindo-a mais ainda para mim. —

Adoro o seu gosto também.

Ela me contempla com os olhos enevoados de excitação e eu

me coloco entre as duas pernas, lambendo toda a boceta, de baixo

para cima, sentindo o seu sabor e o impregnando na minha língua.

As mãos de Sophia voam para o meu cabelo, que ela puxa ao

chamar por mim.


Chupo o clitóris gentil e suave e vou aumentando a

intensidade à medida em que os gemidos e as mãos dela no meu


cabelo vão ficando mais fortes. Ela treme todo o corpo e arqueia o

quadril para mim quando sugo com força, escorregando sem pressa

o dedo para dentro, depois tiro e coloco de novo de maneira


ritmada.

— Ai, meu Deus, Noah — ela geme e suspira.

— Goza pra mim, Sophia — ordeno, aumentando a fricção

com a língua contra o clitóris inchado e trabalhando com os dedos.

Sophia está tão melada, que não vejo a hora de deslizar meu pau
para dentro da sua boceta.

As pernas estremecem e o quadril arqueia enquanto joga a

cabeça para trás e se entrega ao orgasmo. Retiro os dedos de


dentro dela enquanto goza na minha boca, lambo toda a boceta

sensível, sentindo o gosto dos seus fluidos na minha língua.

De olhos fechados e mole por causa do orgasmo, Sophia

deixa que as pernas estiquem na cama e eu recuo um pouco até

estar com os pés no chão. Passo a camisa pela cabeça e desço a

calça moletom com a cueca, expondo o pau duro.

Ela senta na cama e lambe os lábios, me olhando.


Com firmeza, agarro o meu cacete que se contrai de tesão e

movo a mão de baixo para cima. Os olhos dela reluzem com uma

necessidade profunda e então, sem que eu tenha pedido, desce da

cama e se ajoelha na minha frente. Abre a boca e eu deslizo a


cabeça do pau para dentro do lugar quente e úmido.

Sophia lambe o pré-gozo e eu entrelaço uma das mãos entre


os seus cabelos curtos enquanto fodo a sua boca. Nossos olhos se

encontram e eu deixo escapar um grunhido do fundo da garganta.

A cada investida, empurro o pau mais fundo e ela recebe tudo,


me fazendo suspirar de maneira profunda. Sophia enrola a língua na

cabeça e aumenta a pressão da boca em volta dele, e de repente,

os movimentos ficam mais velozes.

Deixo escapar outro gemido e isso faz com que ela alise

minhas bolas e eu contraio as panturrilhas, sentindo a vontade de

gozar me consumindo. Movo os quadris enquanto pressiono um


pouco a sua nuca.

— Caralho.

Ela continua trabalhando com a boca e é surreal ver os lábios

carnudos e convidativos em volta do meu pau. É a visão do paraíso.


Mesmo que queira gozar na sua boca, acaricio o rosto

delicado e afasto o meu pau antes de puxá-la até que esteja em pé.
Dou um beijo feroz em Sophia e a viro de costas para mim. Com as

mãos nas suas costas, inclino-a para frente e a coloco de quatro da

cama, com as pernas bem separadas e toda aberta para mim.

Aliso o meu pau melado com a lubrificação e a saliva de

Sophia, e me sinto estremecer ao ver a fenda toda molhada.

Ajoelho-me atrás dela e aliso o seu rabo antes de abri-lo. Enterro o


rosto ali, percorrendo a língua pelas dobras úmidas. Lambo-a

inteira, ouvindo-a choramingar de prazer.

Brinco com a ponta da língua no seu clitóris e depois, enfio-a


toda na abertura molhada. Ela arqueia o quadril e arqueja ao

mesmo tempo. Louco e excitado para devorar cada pedacinho dela,

subo um pouco mais com a boca e roço os lábios na sua traseira.

Noto-a estremecer ao me ver cercar a entrada proibida.

— Quero lamber você inteira, Sophia — murmura, salpicando


beijos na sua bunda e mordendo logo em seguida.

— Hum, sim... — geme.

Depois de ouvi-la, a língua vai direto entre as bandas da

bunda e a lambo lá, sentindo o gosto do lugar proibido. Sophia


geme alto e arqueia bem o rabo para mim, facilitando o meu acesso.

— Noah... — choraminga.

Continuo com a língua na sua entrada traseira, aproveitando o

momento de entrega total a mim. Fico louco ao sentir as pernas de

Sophia estremecerem. Quero que ela goze de novo, mas quero


estar dentro dela quando isso acontecer.

Endireito o corpo e seguro o meu pau com firmeza, roço a

cabeça na abertura enxarcada e brinco um pouco, provocando


minha garota. Ela arfa e me dá gemidinhos sexys, quase como se

estivesse me implorando para meter tudo de uma vez.

Num solavanco, empurro tudo para dentro e sinto a boceta em

volta do meu pau contrair. Grunho. Aliso a bunda que está bem

empinada para mim e logo agarro o quadril com força, guiando no


movimento de dentro e fora.

Gosto de pegá-la assim, mas quero gozar olhando nos seus


olhos, então, saio de dentro dela por um segundo e a ouço
resmungar. Com agilidade, viro-a e a coloco de bruços. Sophia

afasta bem as pernas para mim e eu cubro seu corpo com o meu,
preenchendo sua boceta com o meu pau de novo.
Ela passa as mãos em volta do meu pescoço e entrelaça as
pernas na minha cintura.

— Você é minha.

— Eu sou sua — concorda, arfante.

Aumento o nosso ritmo e com a boca entreaberta, ela joga a


cabeça para trás e crava as unhas nos meus ombros. Saio e entro
com tudo, deixando o tesão insano me controlar.

Esgueiro uma mão no meio de nós e encontro o seu clitóris

inchado, começo a provocá-lo de leve, fazendo Sophia me encarar


enquanto os cílios piscam devagar. Grudo os nossos lábios e afundo

a língua na sua boca, que me recebe com vontade.

Chupo e mordo o lábio inferior e engulo os gemidos de


Sophia. Minhas investidas ficam cada vez mais profundas e
sedentas, e o seu corpo reage ao apertar meu pau com a boceta

quente.

— Sophia... — murmuro, quase perdendo o controle.

— Eu acho que vou gozar — é ela quem diz, suspirando e me

observando de maneira sexy. — Noah — emenda com um


choramingo.
Sem conseguir me segurar, eu tiro a mão entre nós e seguro a
cintura com força, enquanto faço movimentos de vaivém em uma
velocidade absurda. Abocanho um seio, e com a ponta da língua,

faço um círculo no mamilo enrijecido, chupando e mordicando de


leve, o que ela aprova ao arquear as costas e apertar os seios

contra o meu rosto.

— Você é linda, Sophia — gemo, a voz saindo rouca e


necessitada. — E é minha. Só minha.

Sophia solta um gemido alto, que me deixa louco e me faz

entrar com tudo dentro dela. Meu corpo inteiro se arrepia ao mesmo
tempo em que contorce de prazer e eu sei que falta pouco para eu
explodir.

— Noah, eu vou... — é ela quem diz, toda manhosa.

O seu corpo pequeno embaixo do meu estremece e ela


arranha minhas costas ao chegar no orgasmo, apertando bem o

meu pau com a sua boceta. Deixo escapar um gemido rouco e forte
do fundo da garganta, e dou estocadas brutas e impiedosas.
Enterrando o rosto na curvatura do seu pescoço, eu o mordo e me

sinto explodir com vontade dentro de Sophia.


Mesmo depois de gozar, continua dentro dela, fazendo
movimentos leves de dentro e fora. Ela suspira e entrelaça as mãos

entre os meus cabelos, em seguida, procura a minha boca para um


beijo.

— Você estava certo — ela segreda contra os meus lábios,

sorrindo de leve.

Desço um pouco com a boca e mordo a linha do seu maxilar.

— Sobre o quê? Seja mais específica.

— Você disse que quando eu estivesse na sua cama, ia

querer isso também.

Meus olhos focalizam os seus.

— E você tremeu por causa dos orgasmos e não de raiva —


retruco, fazendo-a rir.

— Gosto do seu senso de humor. É bom saber que um


mafioso pode ser divertido e gentil.

Fecho os olhos ao sentir os dedos de Sophia fazerem cafuné

do meu couro cabeludo.

— Não consigo fugir de você, porque... — torna a falar, a voz


soando doce e os olhos que me encaram cheios de uma emoção

que não compreendo. — Não queria isso, mas eu...


— Você o quê? — questiono quando ela fica calada.

Sophia não me responde, apenas gruda a boca na minha de


novo e me dá beijo feroz e profundo. Uma das mãos pequenas
desce pelas minhas costas e agarra minha bunda, levando uma

onda para o meu pau que tinha acabado de dormir.

— Quero tomar banho de banheira. Você pode vir comigo?

Suspiro e sorrio com malícia, deslizando a mão pela lateral do


seu corpo com curvas deliciosas e a sentindo inclinar o quadril

contra mim.

— É claro. Sou o único homem que vai te ver tomando banho


— digo de forma possessiva e ela sorri de novo.

— Quero ser a única mulher na sua cama também.

— Você é, Sophia — sou sincero. Não lembro de ter sido tão


fascinado por uma mulher como estou por ela. — A única.

E ela é mesmo, a única que se deitou na minha cama. A única

que consegue me fazer esquecer os problemas. A única que eu


quero ao meu lado o tempo todo.

Sophia é minha.

Ela tornou-se minha obsessão.


— Sabia que fumar dá impotência sexual?

Ao ouvir as palavras de Sophia, viro o rosto para encará-la.


São um pouco mais de oitos horas da manhã e ela está vestida para
ir à faculdade. Usa um vestido com alças finas que parece jeans,

blusa de gola alta e mangas longas por dentro, meias calça e botas
pretas até a altura dos joelhos.

Linda.

— Quer mesmo falar sobre impotência sexual depois do jeito


que te peguei hoje de manhã? — retruco ao apagar o cigarro no

cinzeiro em cima da mesa da varanda do meu quarto.

Sophia tinha acordado cedo e eu não aguentei ficar com as

mãos longe dela, então a seduzi e a fiz se atrasar para a primeira


aula. Um canalha, é isso que eu sou e não me arrependo do sexo

matinal.

Não me arrependo de nada.

Ela abre um sorriso travesso e antes que possa levantar da


cadeira, vem sentar no meu colo. Passa um braço em volta do meu

pescoço e esquadrinha meu rosto. De forma possessiva, pouso a

mão na cintura e aperto um pouco.

— Certo, sem impotência sexual. — Morde o lábio inferior,

pensativa. — Câncer de pulmão?

— Como?

— Não é porque você é um mafioso que precisa ter a vida


curta. Não pode ser um mafioso saudável? Quer dizer, saudável

você é. Tem muita disposição — murmura, apoiando a mão

espalmada no meu peito. — Se evita o cigarro, pode evitar o câncer

de pulmão também. Evitar o câncer, é bom, não é? Concorda

comigo?

Rio baixo.

— Parece a nonna falando.

— Ela tem razão.

— Não tá atrasada pra sua aula?


Ela suspira e relaxa os ombros.

— Muito atrasada para a primeira aula e adiantada demais

para a segunda — resmunga e eu enfio o rosto na curvatura do seu

pescoço e fungo. Depois, com as pontas dos dedos, arrasto a gola

alta para baixo e salpico beijos. Apenas isso é o suficiente para me

dar uma ereção. Essa garota me deixa louco — Isso é bom —

sussurra.

— Muito.

— Você já tá duro.

— Claro, você tá sentada no meu pau — murmuro,

mordiscando a pele do pescoço. — Ele não consegue ficar quieto


perto de você.

Sophia sorri.

— Hum...

— Volte direto pra cá.

— Ah, sobre isso — diz e prensa os lábios em uma linha reta

antes de voltar a falar. — Vou passar em casa. Vovó acabou de me

ligar e pediu que eu fosse jantar lá com ela. Meu pai vai estar na

clínica veterinária.

— Certo. Vou te buscar.


Sophia nega com a cabeça.

— Não precisa, volto com James. Ele vai ser tipo o meu

guarda-costas, não é? É só adicionar motorista a lista de tarefas

dele — contesta com sarcasmo.

Beijo seu pescoço de novo e dessa vez, mordo com um pouco


mais de força logo em seguida, roubando um suspiro dela.

— Me mande mensagem quando quiser voltar que vou te

buscar — é o que digo, a voz soa exigente e autoritária.

— Mandão.

Sorrio de lodo.

— Muito.

Inclino a cabeça sobre o seio coberto do tecido grosso do

vestido e tento morder o mamilo. Rindo, Sophia recua, se


esquivando do meu toque. Ela tenta levantar do meu colo e a
impeço ao pressionar a mão na cintura.

— Não me faça atrasar pra segunda aula também — pede,

segurando meu rosto com uma das mãos e encarando meus olhos.

Rosno e acabo concordando. Por mais que queira ficar na


cama o dia inteiro com Sophia, preciso trabalhar e resolver o meu
problema com Alastar. Preciso dar um jeito nele antes que alguém

da minha família se machuque.

— Mande mensagem pra mim — ordeno e a deixo levantar.


Fico de pé também e a atenção dela recai sobre a minha ereção.

Ajeito o pau dentro da calça moletom e Sophia suspira.

— Tá bom.

Seguro seu rosto com as duas mãos e a olho ao encostar os

nossos lábios por alguns instantes. Afasto-me e a vejo abrir um


sorriso lindo e meigo que faz o meu coração galopear dentro do

peito.

É estranho e único como Sophia consegue atiçar esse tipo de

emoção que ainda nem entendo dentro de mim.

Passei o dia fora resolvendo os problemas. Além de querer

matar minha irmã, Alastar começou a roubar nossos carregamentos


na fronteira. Alguns dos meus soldados saíram pelas ruas atrás dos
homens do velho irlandês.

Olho por olho e dente por dente. Vou mandar mata um homem
dele cada vez que me trouxer novos problemas. Quem sabe assim

esse filho da puta desiste de querer roubar o que é meu e volta para
a Irlanda, o que eu tenho certeza de que não acontecerá.

Saio do escritório do casino com um soldado no meu encalço.


Ao chegar no estacionamento, ele abre a porta traseira do carro

para mim na mesma hora que recebo uma mensagem de Sophia


avisando que está livre.

— Me dê a chave, eu vou dirigindo.

— Sim, senhor. — Ele assente e estende a mão para entregar


a chave do carro. Deslizo para o banco do motorista e a primeira

coisa que penso é quantos carros vou perder até me livrar do


Alastar.

Saio do estacionamento e dirijo até a casa de Sophia.


Checando uma vez outra o retrovisor para ver se estou sendo

seguido. Levo quase meia hora para chegar ao seu bairro e sei que
seria mais fácil pedir para James simplesmente levá-la a mansão,

só que gosto de proteger com as próprias mãos o que é meu.


Paro o carro em frente à casa dos Canning e assim que
desço, vejo o James se aproximando de mim.

— Como estão as coisas?

— Tudo limpo — ele fala, me fazendo assentir.

— Mande os homens ficarem de olho vinte e quatro horas,


não quero que nada aconteça ao pai dela.

— Certo.

Ele concorda com um aceno de cabeça e volta para o carro

estacionado do outro lado da rua. Meio minuto depois, Sophia


aparece na varanda, se despedindo da avó com um beijo no rosto e

correndo para o meu carro.

Dou a volta no veículo para alcançar seu rosto entre as mãos

e beijá-la. Ela me dá um sorriso doce e eu abro a porta do carro

para que se acomode no banco do carona. Arrisco uma olhadela

para trás e vejo a sua avó me observando. Cumprimento-a com um


aceno de cabeça, que é retribuído do mesmo jeito.

— Como foi o jantar? — é o que pergunto ao sentar no banco


do motorista e colocar o cinto de segurança.

— Bem, eu acho. Ela queria me convencer a conversar com o

meu pai e voltar pra casa. Ela não entende o motivo do meu pai não
te aceitar e bom, eu não toquei no assunto sobre os negócios ilícitos

que você tem.

Suspiro.

— Vou conversar com ele.

Os olhos verdes só faltam saltar para fora do rosto.

— O quê? Não, não e não. Não piore as coisas, por favor. Vou

deixar a poeira baixar e conversar com ele. Meu pai precisa

entender que... — Ela faz uma pausa e a observo. — Na verdade,


não entendo a nossa relação — confessa.

— Você é minha.

Ela ri, tremendo os ombros.

— É assim que você vai rotular a nossa relação? Eu sendo


sua?

— Por quê? O que você quer? Quer que eu te faça minha

rainha? — devolvo, investigando as suas reações. Sophia franze o


cenho e enruga o nariz, sem entender e retruca para mim:

— Como assim?

Nego com a cabeça e piso no acelerador, cantando pneu.

Sinto o calor dos olhos curiosos dela em mim, mas continuo quieto e
concentro minha atenção no trajeto até a mansão.

Quão louco ela vai me achar se eu quiser prendê-la a mim

dessa forma? Quão louco eu estou para fazer isso? Provavelmente,


muito. Quero Sophia mais do que ela possa imaginar.

E é isso, quero torná-la a minha rainha. Muito precipitado?


Talvez, só que não me importo de verdade se é apressado ou não.

Estou entrando na rua longa que dá na direção da guarita da

mansão no momento em que um carro com vidro escuro e sem


placa para na minha frente. Sophia me olha com a respiração já

acelerada. Preparo-me para dar ré e vejo que estou cercado. Há

mais dois veículos, um na ruela lateral a minha esquerda e uma van


atrás.

— Noah...

— Vá para o banco de trás e deite no chão, Sophia.

Ela hesita um pouco, mas acaba tirando o cinto fazendo o que


eu mando. Assim que a vejo ficar entre o assento traseiro e as

costas do banco do carona, a voz do Robert invade minha cabeça.

Esse mundo é perigoso e você vai acabar matando minha

filha.
Pelo retrovisor, vejo três homens descendo da van, cada um

segurando uma metralhadora. Os dois filhos da puta do carro da


frente também estão armados. Assim que piso no acelerador, os

tiros começam a bombardear o meu carro, quebrando o vidro e

fazendo Sophia chorar.

Uma bala passa de raspão no meu braço e eu abaixo a

cabeça, continuo dirigindo na direção na guarita, batendo em um

deles no meio do caminho e o fazendo cair no chão. Espero que


tenha morrido ou quebrado todos os ossos.

Ao chegar em frente à guarita, os soldados que cuidam da


segurança estão do lado de fora, dois deles entram em um carro e

saem em disparada e o outro falando com alguém no rádio

comunicador.

Olho para trás e vejo Sophia na mesma posição de antes.

Desço do carro rápido, deixando a porta escancarada e ao ver o

soldado com o rádio se aproximando de mim, eu o ignoro.

Com a garganta fechada, enfurecido e sentindo o coração

latejando de um modo ruim, puxo a porta do banco traseiro e arrasto

Sophia para mim, agarrando a sua cintura. Ela vem mole, como uma
boneca de pano. Algo molhado contra o peito chama minha
atenção, e ao olhar para baixo e ver a grande quantidade de sangue

escorrendo dela, cambaleio para trás e sento na calçada.

— Sophia? — chamo, pressionando o ferimento e olhando o


seu rosto desacordado. — Sophia... — grunho, sentindo a garganta

arranhar.

Eu fui criado para não sentir medo ou desespero, porque no

meu mundo, são coisas assim que podem me fazer vacilar e levar à

morte. No entanto, eu não consigo impedir esses dois sentimentos

de se instalarem no meu peito.

Esse mundo é perigoso e você vai acabar matando minha

filha...

Esse mundo é perigoso e você vai acabar matando minha

filha...

Esse mundo é perigoso e você vai acabar matando minha

filha...

Esse mundo é perigoso e você vai acabar matando minha

filha...

Como um aviso insistente e cruel, a voz de Robert ecoa dentro


da minha cabeça de novo e eu sei que ele tem razão. Ele tem e a

prova disso está em meus braços, bem debaixo do meu nariz.


Sophia sangrando por causa dos meus problemas que

envolvem a máfia.
— Cadê a minha filha? — Robert esbraveja ao entrar na sala
de espera. Não tenho vontade de falar, então fico quieto. Ele para
na minha frente e me puxa pela gola da camisa. — Cadê minha

filha, desgraçado?

Com o maxilar contraído, Julian agarra os pulsos dele e o


arranca de mim.

— Não toque no meu irmão.

— Ou o quê? — Robert retruca.

Lina, que não parou de chorar desde que entrou no hospital,

fica entre os dois e implora para que Julian não faça nada. Ele
abaixa os olhos e a escuridão que vive dentro do meu irmão vai se

dissipando aos poucos.


— Cadê a Sophia? Cadê ela? Eu disse que você acabaria

matando minha filha, eu disse.

— Cala a boca — falo entre os dentes, controlando a vontade

de acertar um soco no seu queixo. Ele tem razão, só que isso não
significa que eu queira continuar ouvindo isso. Minha cabeça não

parou de me condenar nem um por um segundo desde que tirei

Sophia sangrando do carro.

— Sr. Canning? — Lina o chama. — Ela está em cirurgia —

murmura e o pai da minha garota vira o corpo na direção da voz

dela. Desolado, Robert envolve os braços no corpo da noiva do meu


irmão e a prende em um abraço apertado, quase desesperado, bem

do jeito que me sinto.

Julian fica com raiva e está prestes a se aproximar dos dois e

arrancá-la dos seus braços quando o impeço que faça isso ao

colocar minha mão no seu peito.

— Não faça nada.

Contrariado, ele assente.

As horas passam devagar e eu não saio do lugar. As minhas

roupas e mãos continuam sujas de sangue, assim como a imagem


de Sophia sangrando e desacordada permanece preenchendo
minha cabeça.

É cruel demais até para mim e eu sei que tudo é culpa minha.

Se eu tivesse ficado longe, se eu tivesse controlado a vontade de tê-

la, se eu não fosse tão cretino, Sophia não estaria em uma mesa de

cirurgia agora, lutando para continuar viva.

A imagem dela sangrando nos meus braços... não consigo

parar de vê-la assim, é como um filme ruim no loop, que tem como

único objetivo me atormentar.

Nem vi o momento exato em que a mamma chegou, mas ao

me dar conta da sua presença, a vejo com um pano úmido,

limpando as minhas mãos. Ela está usando um sobretudo por cima


da roupa de pijama e tem os cabelos presos em um coque frouxo.

— Fique estável, filho.

— Mamma...

— Ela vai ficar bem.

— Não devia ter envolvido Sophia na minha vida — admito

com um gosto amargo na boca. — Foi um erro.

Ela leva uma das mãos até o meu rosto e faz carinho, me

fazendo fechar os olhos por um segundo muito longo.


— Talvez esteja certo, Noah Octávio Carbone. Só que já é

tarde demais pra pensar assim. Sophia é sua, então se


recomponha, mio figlio e faça o que for preciso para acabar com os

seus inimigos.

A mamma suspira e volta a limpar minhas mãos com carinho

até não ter nenhum vestígio de sangue. Depois de concluir o


trabalho, volta a me olhar, passando os dedos de leve nos meus

cabelos.

O médico cirurgião surge na sala de espera e todos nós


ficamos de pé. Os olhos dele correm pelas minhas roupas sujas de
sangue e não se prende muito a isso. Tira a touca de TNT em cima

da cabeça antes de abrir a boca.

— A cirurgia ocorreu bem — fala, me fazendo dar um respiro


de alívio. — Foi um procedimento complicado e demorado, porque

os projéteis se alojaram um pouco abaixo da sexta vértebra cervical,


mas conseguimos retirá-los e estancar o sangramento. Sophia teve
muita sorte e não terá nenhum dano permanente.

— Sorte? Ela teve muita sorte? — Robert pigarreia na direção

do médico. — Minha filha foi baleada, você chama isso de sorte?

O médico mexe os ombros de maneira desconfortável.


— Mais uns milímetros e ele poderia ter ficado paraplégica.

Não se preocupe, ela vai ficar bem e não corre mais perigo.

Ouvir as palavras do médico cirurgião me deixa com um nó no


estômago.

— Quando vou poder ver minha filha? — Robert pergunta,


irritado.

— Ela vai passar as próximas horas em observação na UTI,

se continuar estável, logo virá para o quarto e poderá receber


visitas.

— Obrigada, doutor — a mamma diz, fazendo o médico


assentir e girar nos calcanhares.

Lina e Robert se abraçam, deixando uma carranca mal-

humorada em Julian. Volto a sentar bem na hora em que Thomas,


Nicholas e Lexie aparecem na sala de espera. Nem tenho vontade

de falar nada, então meu irmão e a mamma contam sobre o estado


de Sophia.

Em silêncio, observo Lexie e Lina se abraçarem. A loira


grávida consola a minha cunhada e as duas ficam meio enlaçadas

por quase uma eternidade. Desvio o olhar ao sentir o toque amável


da mamma no meu braço.
— Vamos pra casa, querido.

Nego com a cabeça ao ouvi-la.

— Você precisa de um banho e ninguém poderá vê-la pelas

próximas horas. Ficar aqui não vai adiantar muita coisa e você
precisa muito esfriar a cabeça também. Vamos pra casa.

— Pode ir, Noah. Ficaremos aqui, se algo acontecer, a gente


avisa — Lina fala e pela visão periférica, noto Robert bufar e

balançar a cabeça, como quem diz que não vou receber nenhuma
ligação se algo acontecer.

— Eu ficarei aqui — Julian diz.

— Nós ficaremos aqui, podem ir — é Lexie quem fala, ainda


segurando a mão de Lina com um aperto forte.

— Redobre a segurança aqui — ordeno, fazendo meu irmão

assentir.

Mesmo que a última coisa que eu queira no momento é sair


daqui, fico de pé outra vez e me preparo para ir embora. Preciso de
um banho e decidir o que fazer com Alastar. Ele vai pagar caro por

ter ferido alguém importante para mim.

É o fim dele.
Assim que coloco os pés dentro da mansão, sou recebido pela

nonna, Romie e Hayley.

— Como está Sophia? — Romie pergunta, os olhos vermelhos

e cílios úmidos. — Ela... ela — a frase da minha irmã morre.

— Ela vai ficar bem — é a mamma quem fala.

— Você está ferido, bambino? — Vovó vem me conferir,


olhando o sangue nas minhas roupas e prensando os lábios finos

em uma linha reta. — Se machucou também?

— Estou bem, nonna.

Romie corta a nossa distância e envolve os braços em volta

de mim. Contorno o seu corpo também e aperto-a com força contra


o peito, beijando o topo da sua cabeça logo em seguida.
— Não saia de casa, Romie — ordeno e minha irmã levanta o

queixo para me encarar. — Fique em casa, em segurança até eu


resolver tudo. É pro seu bem, ok? Não me desobedeça.

— Tá bem.

— Você também, Hayley. Não saiam de casa em hipótese

alguma.

Assustada, a garota assente.

Solto-me da minha irmã e subo as escadas, correndo para o


quarto. Tiro o celular de dentro do bolso e estou prestes a colocá-lo

em cima da cômoda ao notar a notificação de mensagem de texto.

É o meu tio.

Ele saiu e disse que encontrará um jeito de nos ajudar a lidar

com Alastar e resolver todos os nossos problemas de uma vez. Por


causa da minha cabeça cheia, não consigo me importar de verdade

com o que ele vai fazer.

Aquele velho irlandês merece pagar caro por quase ter tirado
a Sophia de mim.
Ao abrir os olhos, demoro um pouco para me acostumar com
as luzes brancas. Os cílios pesam, mas tento não fechá-los de novo.
O cheiro de hospital invade o meu nariz como um soco e o

estômago embrulha.

Sinto um aperto forte na mão esquerda e com dificuldade,


direciono as vistas para o lado. Meu pai tem o rosto tomado por

alívio e encosta a testa na minha, respirando fundo e balbuciando


algumas coisas que não entendo.

— Pai — falo com dificuldade e sinto um incomodo no

pescoço. Levo a mão livre até a garganta e sinto um calor cervical


me pressionando. Arregalo os olhos ao lembrar do que aconteceu.
Meu pai deve ter percebido o meu espanto, pois aperta minha mão

de novo e murmura:

— Você vai ficar bem, querida, não se preocupe.

Lina, que eu nem tinha notado estar no quarto, se aproxima de


mim. Os olhos vermelhos, inchados e os cílios molhados de tanto

chorar. Ela tenta sorrir e funga ao mesmo tempo, deixando o meu

coração apertado.

— Lina...

— Não fale — ela me interrompe e afasta uma das mãos da


minha para prender uma mexa de cabelo detrás da minha orelha. —

Não faça esforço.

Ignorando completamente o seu pedido, tento me sentar e não

consigo. Passo os olhos pelo quarto, procurando por Noah. Minha

atenção cai em Lexie e Julian perto da porta e nada do seu irmão.

Meus olhos ardem.

— Noah — murmuro, fazendo meu pai suspirar em desgosto.

— Ele está bem — Julian fala e eu fecho os olhos por uma

fração de segundo, sentindo o alívio se instalar no meu peito. — Já

mandei mensagem falando que você acordou.

— Não o deixarei pisar neste quarto — meu pai resmunga.


Olho para ele.

— Pai, por favor.

Ele balança a cabeça irritado e larga minha mão.

— Sophia, esse relacionamento vai acabar te matando. Me

escuta, eu sei o que é melhor pra você. Deixe o Noah e vá viver sua
vida. Viva a vida de uma garota normal.

— Pai...

— Você levou dois tiros na cervical, tem noção disso, Sophia?

Foi por muito pouco que você não ficou paraplégica.

A informação faz os meus olhos arderem mais ainda e o


coração fica tão pequeno dentro do peito, que sinto dificuldade de

respirar. O que aconteceu é a prova de que o mundo do Noah é

muito perigoso.

Eu tive tanto medo na hora, só conseguia pensar que morreria

brigada com o meu pai e que não fui corajosa o suficiente para ir
atrás da minha mãe e entender o porquê de ela ter nos

abandonado.

Ali, encolhida no chão daquele carro enquanto ouvia os tiros

serem disparados, eu me senti uma covarde por ter deixado tantas


coisas passarem e parecia que a minha vida não tinha valido a

pena.

Eu aguento isso?

Meu pai torna a segurar minha mão.

— Vamos embora dessa cidade, querida. Vamos voltar pra

Suíça — pede, só que não tenho forças para falar nada, portanto,
ele continua: — Me desculpe, é tudo culpa minha.

— Não, pai.

— Se sua mãe estivesse aqui, você não estaria nessa


situação.

Pousa a mão na minha testa e faz carinho com o polegar, os

olhos marejados e tão tristes, que acabam comigo. Não queria


deixá-lo preocupado, mas acho que é o único jeito que ficará daqui

para frente.

Ele respira fundo e pesado, deixando os ombros caírem

exaustos. Solta minha mão, me fazendo sentir falta do seu aperto


firme. Sai do quarto sem olhar para trás e meu coração dói tanto,

que choro sem nem perceber.

— Vai ficar tudo bem — Lina murmura, limpando minhas


lágrimas com delicadeza.
Julian olha para mim ao sair do quarto também e me deixa

sozinha com Lexie e Lina, que senta na poltrona ao lado da cama e


segura minha mão, como se fosse incapaz de soltá-la.

Com o barrigão, Lexie se aproxima e abre um sorriso meigo.

— Dê tempo ao seu pai. Ele só está preocupado, aos poucos,


vai aceitar o que você e Noah têm — a loira fala, fazendo Lina

assentir.

— Não sei. Não depois disso — admito.

— Espere um pouco — Lexie pede.

Nego de leve com a cabeça.

Meu pai não vai mudar de ideia, eu sei, porque o conheço

bem.

— O que vocês acham? — questiono e a voz parece ter saído


de outra pessoa. — A vida do Noah vai acabar me matando?

Lexie me olha e não ousa dizer nada.

Lina abre a boca e fecha um segundo depois, me olhando


com as sobrancelhas unidas e prensando os lábios em uma linha

reta. Ela não sabe o que dizer, porque é verdade. Meu pai tem
razão, esse relacionamento pode ser o meu fim.
Minha destruição.

Noah abre a porta de correr e quando nossos olhos se


encontram, ele suspira antes de entrar no quarto. O seu rosto é uma

mistura de desespero, raiva e alívio. É uma combinação estranha e


não lembro de tê-lo visto assim alguma vez.

Lina que passou uma hora sentada ao meu lado, fica de pé e


se afasta, passando por Noah, que toca o seu ombro e aperta de

leve, como se estivesse agradecendo por ela ter ficado comigo.

Lexie já foi embora, pois teve um mal-estar por causa da


gravidez e Nicholas a levou para casa.

Sem dizer nada, o homem vem até mim em passos largos e


senta na poltrona, pegando minha mão entre as suas e contraindo o

maxilar. Noah busca os meus olhos e eu consigo abrir um pequeno


sorriso para ele, o que faz com que se incline e deposite um beijo
terno na minha testa.

— Você está bem? — pergunto e ele solta uma risada curta.

— Não devia estar me perguntando isso, Sophia — murmura,


levando uma das mãos até o meu rosto e tocando a bochecha com

as costas dos dedos. — Me desculpe.

As duas últimas palavras fazem o meu coração acelerar de


um jeito quase doloroso. Não sei se um homem como o Noah

costuma dizer isso com facilidade, provavelmente não. E mesmo

assim, gosto de escutar, embora não o culpe pelo que aconteceu.

— Eu sinto que você não costuma dizer isso com muita

facilidade.

Ele me ignora.

— Vou fazer Alastar pagar.

— Precisa ter cuidado também. Eles podiam ter matado você.

Noah fecha os olhos por uma fração de segundo e o aperto de


mão fica mais forte, acolhedor.

— Pare de se preocupar comigo.

Assinto de leve, mesmo ciente de que isso é impossível.


— Sabe? Na hora que tudo aconteceu, eu pensei na minha

mãe — admito pela primeira vez em voz alta. — Achei que morreria
sem conseguir entender o motivo dela ter me abandonado.

Noah assente e prensa os lábios, dando uma inspirada curta.


Começa a traçar círculos invisíveis nas costas da minha mão e a

sensação é boa. Abaixa as vistas por alguns instantes e depois

torna a prender os olhos aos meus.

— Quer que eu a traga aqui?

Franzo o cenho, confusa.

— Quem? Minha mãe? — balbucio.

— Sim.

— Não sei se é uma boa ideia. Meu pai não sabe que eu sei

sobre ela.

— Não importa. Vou trazê-la— murmura, dobrando o corpo

contra mim e encostando os nossos lábios de forma calorosa e que

faz o meu coração acelerar. — Não se preocupe com nada, ok?

Eu teria dito algo se não fosse pelo meu pai entrando no

quarto. O rosto se fecha em uma expressão dura ao encontrar Noah


ao meu lado. As narinas expandem ao cerrar os dentes.

— Saia daqui! — berra.


Vejo o músculo do maxilar de Noah se contrair e a veia

pulsante aparecer na testa. O mafioso levanta e não solta a minha

mão ao encaminhar a atenção para o meu pai, que parece uma


bomba relógio prestes a explodir.

— Não vou a lugar nenhum — Noah resmunga.

— Pai, por favor — peço, sentindo o ar dos pulmões me faltar.

— Não briguem — insisto.

— O que mais você quer? — meu pai questiona a Noah, se


aproximando de maneira ameaçadora. — Só vai sossegar quando

ela estiver a sete palmos do chão?

Noah respira fundo e a sua mão solta a minha.

— Não fale asneiras, Robert.

— Deixe minha filha em paz, garoto. Não vou aceitar essa

relação de vocês.

— Ela não precisa da sua permissão pra nada.

Meu pai passa a mão no topo da cabeça ao ouvir Noah e em

seguida, fecha as mãos em punho e abre um instante depois,


parece estar controlando a vontade de acertar um soco no mafioso.

— Sophia quase ficou paraplégica por sua causa. Não


consegue ver o quanto você faz mal a ela? Não vê o quanto esse
mundo de merda é perigoso pra ela?

Noah inspira e olha para mim.

— Eu sei.

— Vamos voltar pra Suíça — meu pai fala com certa

arrogância ao elevar o queixo e encarar Noah com raiva. — Nunca

mais verá Sophia e nem tente ir atrás dela.

Respiro fundo e sinto os olhos arderem.

— Parem com isso, por favor — murmuro e nenhum deles me

dá ouvidos.

— Não pode levá-la pra longe de mim, Sophia é minha. Não


permitirei que ela mude de país.

Papai corta a distância entre os dois com passos largos e o


segura pela gola da camisa. O mafioso segura cada pulso do meu

pai e tira as mãos dele de forma brusca.

— Ela não é sua.

— Sophia não sairá de perto de mim — Noah diz, como se a

sua palavra fosse lei. — Não vou aceitar isso.

Meu pai solta uma risada sarcástica.


— Você pode ser o dono da porra dessa cidade, mas não é o

dono na minha filha — resmunga, me fazendo chorar em silêncio.

— Pai — chamo. — Pai! — Faço um esforço absurdo para a


voz soar um tom mais alto. Os dois viram os rostos e me encaram.

— Parem com isso, por favor. Não aguento ver vocês dois brigando.

Com a mão pendida no ar, meu pai aponta para o Noah com o

indicador, enquanto fala:

— Não consegue ver o quanto ele te faz mal? Você quase


morreu, Sophia. Não finja que isso não é grande coisa, porque é.

Talvez não se importe tanto se morre ou não com essa relação, mas

eu sim, porque sou o seu pai.

Mordo o lábio inferior.

— Eu sei — murmuro.

— Então? Como vai ser? Vai me escutar ou vai acabar com a

sua vida ficando com um criminoso?

— Pai...

— Escolha, Sophia. Vai viver uma vida normal ou morrer por


ter amado um homem desses? É isso que você quer? Encurtar sua

vida por um amor que nunca dará certo?


Minha visão fica embaçada por conta das lágrimas. Não

queria estar tendo esse tipo de questionamento agora. Meu corpo


ainda nem se recuperou do que aconteceu e eu sinto que o coração

está quebrando em pedacinhos.

— Eu... — começo a falar, respirando fundo. Os olhos de


Noah buscam os meus e eu engulo em seco. — Eu... eu...

— O que você quer, querida? — meu pai pergunta, se


aproximando de mim e fazendo carinho na minha cabeça.

Noah continua com os olhos fixos nos meus de modo intenso

e embora não tenha dito uma palavra depois que eu abri a boca, eu
consigo enxergar no seu rosto o ele quer ouvir.

Ele quer se escolhido.

Ele quer que eu diga que o quero apesar de toda a merda que

circunda o seu mundo.

E a verdade é que eu quero Noah mesmo assim, só que não

consigo dizer as palavras, porque meu pai tem razão de estar

preocupado comigo.

— Eu não sei — murmuro, fazendo Noah desviar e olhar para

baixo.
Meu coração se contorce dentro do peito e não lembro de ter
doído dessa forma alguma vez na minha vida.

Choro em silêncio.

Noah contrai a mandíbula e olha para mim por um segundo

intenso, os olhos brilhando com melancolia e então, ele dá as costas


para mim e sai do quarto. As minhas lágrimas fazem caminho até a

boca e eu sinto um gosto amargo na garganta.

— Vai ficar tudo bem, querida.

— Pai... — choramingo, soluçando.

— Não fale, querida, vai ficar tudo bem. Não se preocupe.


Viver longe dele é a melhor decisão que você pode tomar.

Ele se inclina sobre mim e me abraça com delicadeza.


Contorno o seu tronco com uma das mãos e o aperto com força,

como se eu estivesse prestes a desabar. E talvez eu esteja mesmo,


já que sinto que tem um pedaço de mim faltando.

— Acho que está enganado.

— Por quê?

Choro mais ainda.


— Porque eu o amo, pai. Eu o amo tanto que o meu coração
dói— admito em um sussurro, fazendo meu pai suspirar e beijar
minha testa. — Eu o amo — repito mais para mim do que para ele.
Dia seguinte...

Noah não voltou para me ver e não posso culpá-lo pela


atitude. Eu praticamente disse que não tinha certeza se o queria,
embora eu tenha certeza de que o quero sim. E o mais importante,

que eu o amo.

Meu pai virou minha sombra. Ele não saiu do meu lado nem
por minuto enquanto mantive os olhos abertos. É quase como

soubesse que no momento em que se afastar de mim, vou falar


para Lina pedir ao Noah para vir me ver. E como meu celular deve

estar no carro de Noah, não tenho como ligar ou mandar

mensagens.
Parece que voltei no tempo e estou vivendo na idade da

pedra.

Sr. Canning proibiu de tocar no nome dele neste quarto e não

quero travar outra briga. Estou cansada das discussões. Meu velho
sabe que eu o amo e acha melhor fingir que não ouviu ontem

quando declarei chorando que amava aquele homem intenso e

perigoso.

Ainda está com toda aquela conversa de voltar para a Suíça e

a vovó, que veio ficar um tempo comigo, o mandou calar a boca.

Gostei disso, porque a última coisa que quero é ir embora de


Montreal.

Não queria contar a vovó o motivo de eu ter sido baleada e


estar nessa situação, só que o meu pai pensou diferente e abriu a

boca para falar a verdade. Acho que meio que esperava que a vovó

concordasse com ele, no entanto, a única coisa que ela disse é que

a culpa é dele por ter se envolvido primeiro com família Carbone.

Nós três almoçamos juntos e apesar de amar o meu pai, não

aguento mais olhar para a sua cara. Acho que parte disso é por

saber que ele só está aqui para me manter longe de Noah, como se

isso fosse suficiente para me fazer parar de amar um mafioso.


— Nunca mais vai voltar a trabalhar? — resmungo ao meu pai
depois de desistir da minha sobremesa de frutas. Odeio comida de

hospital e não vejo a hora de sair daqui e voltar com a minha vida

normal. Ou quase normal.

— Só sairei deste hospital com você, Sophia — é o que diz, a

voz áspera e os olhos afiados me encarando.

A vovó arqueia uma sobrancelha para mim e depois vira o

rosto para falar com o filho.

— Vá dar uma volta e deixe a menina respirar. Cansa te ter no

pé da porta como segurança. Já tem muitos lá fora — a vovó diz a

meu favor.

— Ela vai poder respirar quando estivermos longe daqui.

Respiro fundo e bufo, cansada de todo esse papo de ir

embora.

— Pare de ser tão teimoso, Robert.

Meu pai, que tinha os braços cruzados, os deixa cair em volta

do corpo e vira o rosto no nosso rumo, incrédulo.

— Teimoso? Eu quase perdi minha filha, mãe. Não deixarei

que isso se repita. Sophia não tem escolha e sabe que o que estou

fazendo é para o seu bem.


Reviro os olhos.

— Para de agir como se eu tivesse dez anos — rebato.

— Assim que você colocar juízo na sua cabeça e parar de sair

com o chefe da família Carbone, eu faço isso. — Balança a cabeça


de um lado para o outro. — Não se preocupe, vamos sair dessa
cidade e tudo vai ficar bem.

Aperto os lábios e pisco com força, começando a ficar muito

irritada. Tudo bem, eu sei que namorar um mafioso é sinônimo de


perigo, mas eu vou fazer o que quando já estou envolvida com isso
dos pés à cabeça?

— Pai, eu te amo com todo o meu coração, só que não vou

me mudar. Sinto muito se eu amar um criminoso te chateia, mas não


é... — A minha frase morre ao ver a porta de correr sendo arrastada.

Meu mundo paralisa ao notar a mulher bonita na soleira.

Acho que o mundo do meu pai também para, pois os olhos se


arregalam ao encarar minha mãe.
— O que está fazendo aqui, Natalie? — meu pai pergunta,
rangendo para a mamãe, que não responde, apenas me observa.

Ela é linda. A pele branca contrasta com o cabelo preto, que é

bem longo e liso, tem traços delicados no rosto e os nossos olhos


verdes são idênticos. Tem um gosto refinado e que combina com o
papai. Embora não estejam mais juntos, eu sei que fizeram um

casal bonito.

É estranho vê-la pessoalmente depois de tantos anos.

Ela dá um passo para dentro e fecha a porta sem tirar os


olhos de mim.

— Sophia.

— Mãe.
Antes que possa vir até mim, meu pai a segura pelo braço e
ela o olha pela primeira vez. Os dois se encaram de modo profundo
e sem pestanejar, ele a leva para fora do quarto.

Meu coração acelera.

— Vovó...

— Não se preocupe, vou trazê-la de volta — é o que diz,


ficando de pé e caminhando até a porta.

Os três demoram mais do que eu gostaria do lado de fora e eu

odeio a recomendação do médico de repouso absoluto e estou


quase pegando o suporte para soro e saindo dessa merda de

quarto.

A mamãe volta. Sozinha.

Os olhos brilhando por conta das lágrimas contidas, ela se

aproxima de mim. Devagar, senta na poltrona que há pouco tempo a


vovó estava e envolve a mão no meu pulso, apertando de leve.

Sentir o calor da minha mãe faz os meus olhos arderem e as


lembranças de como eu me senti quando ela foi embora, preenchem

minha cabeça. Eu fiquei tão brava e senti falta dela com a mesma
intensidade.
Teve momentos em que eu só queria o colo da minha mãe,
um abraço e ser consolada pela mulher que meu deu a vida. Algo
que parecia simples para alguns e impossível para mim.

— Você está bem? — ela pergunta, a voz soando embargada

e baixa. Mamãe engole em seco e tenta sorrir para mim. — Está


doendo muito?

— Eles te obrigaram a vir? — é o que pergunto.

Ela desvia os olhos de mim por um milésimo de segundo.

— Mais ou menos. Só me disseram depois que você estava

hospitalizada.

Respiro fundo, tentando não ficar magoada com a informação

que acaba de passar pelos meus ouvidos e resolve cravar direto no


meu coração.

— Mas você me procurou, não é? Alguns meses atrás. Briguei

com o papai por ele ter escondido isso de mim.

— Sim, algumas semanas antes do seu aniversário. Fiquei

curiosa pra saber como você estava, mas seu pai me fez perceber
que eu não tinha direito sobre isso. Tinha largado vocês há tanto

tempo.

— Por que mudou de nome? — quero saber.


— Sophia não vamos falar sobre isso — murmura.

— Como não? Quero entender o que te fez fazer isso. Quero

entender o porquê me abandonou. Não posso? Eu tenho o direito de

saber.

— Querida, por favor.

— Eu sei que não veio porque está com saudade de mim,


então, me responda — disparo e ela solta o meu pulso. Não queria

sentir falta do toque dela, mas não consigo controlar. Eu fui

programada biologicamente para amá-la e mesmo que doa ter sido


abandonada por ela, eu ainda amo minha mãe.

— É complicado.

— A verdade não pode ser tão complicada assim —

resmungo.

Olhando para mim, ela chora em silêncio. A expressão triste

no seu rosto parte o meu coração. Só que mamãe já tinha o partido

antes também e nunca consegui colocar os pedacinhos, porque

tinha algo faltando.

— Não queria te abandonar...

— Mas abandonou — interrompo e sacudo a cabeça de leve.

— Desculpe, continue. Por que foi embora e mudou de nome?


Mamãe volta a pegar minha mão e faz carinho de leve com o

polegar nas costas dos meus dedos.

— Seu pai disse que está desse jeito por causa do Noah
Carbone.

Giro os olhos.

— O que isso tem a ver com o que você fez? — devolvo,

irritada.

— Se está saindo com esse rapaz, você sabe o que o seu pai

faz — começa a falar e eu só escuto, esperando que diga algo que

vá preencher o vazio que ela deixou em mim ao ir embora. —


Quando descobri o que o seu pai fazia, eu tentei convencê-lo de que

não precisávamos desse tipo de dinheiro.

Uno as sobrancelhas e permaneço calada.

— Eu pedi que ele parasse de ajudar a família Carbone, eu

tentei convencê-lo... muitas vezes. — Ela abre um sorriso


melancólico. — É claro que ele nunca me escutou e eu cansei,

então eu quis fugir, porque tinha medo de que algo de ruim

acontecesse.

Sinto o caroço salgado no meio da garganta.


— Nem consegui sair da cidade de carro. Alguns mafiosos me

encontram na estrada e me fizeram volta pra casa. — Lambe os


lábios e pisca rápido, na tentativa de evitar mais lágrimas. — Me

desculpe.

— Você me deixou.

Ela suspira, deixando os ombros caírem.

— Seu pai não aceitaria que eu te tirasse dele, você era todo

o mundo do Robert, querida.

Algumas lágrimas ácidas fazem caminho pela minha

bochecha até a boca.

— Isso é desculpa pra abandonar sua filha? Eu só tinha onze


anos.

— Não é desculpa.

— Não entendo você.

— Não queria viver uma vida assim. Sempre que o seu pai
chegava tarde, eu sabia que ele estava ajudando alguns mafiosos e

eu esperava o dia em que não fosse voltar, porque é assim que as

coisas são pra quem vive pra máfia. Não ache que existe uma vida
diferente nesse mundo. É morte, violência e dor.

— Ele não é ruim — me ouço dizendo.


Mamãe balança a cabeça de um lado para o outro.

— Não é, mas estava no caminho errado. — Ergue uma das

mãos até o meu rosto e segura com carinho. — O motivo que fez
Robert se envolver com a máfia foi nobre... ele queria dar uma vida

digna pra nós. Só que os fins não justificam os meios.

— Então, você escolheu ir embora, mudar de nome e fingir

que eu não existo — concluo em voz alta e me afasto do seu toque.

— Foi a escolha mais difícil que eu tomei na minha vida.

— Você me deixou — digo, como uma criança mimada.

— Não conseguiria sustentar nós duas, Sophia. Quando eu

fugi, eu passei fome, eu dormi na rua, foi tão difícil pra mim. E não

pense que seu pai deixaria barato. Ele não sossegaria até nos

encontrar.

Fungo e desvio os olhos dela e não tenho vontade de dizer

nada. Eu sei que deve ter sido difícil para ela, só que parte de mim,
aquela parte em que ainda vive aquela garotinha... queria que minha

mãe tivesse me escolhido.

— Eu não estava mais feliz com o seu pai e o medo de me


perder, tornou Robert um homem diferente do que era quando nos

conhecemos — dá a explicação e não faz diferença nenhuma para a


ferida que deixou em meu coração. — Ele nunca abriria mão de

você e seria impossível fugirmos juntas. E sim, eu sei que fui


egoísta e preferi deixar tudo pra trás a viver com ele... fingindo ser

uma família feliz.

— Mudou de nome pra ele não te encontrar e trazer de volta?

— Sim — admite, tristonha.

Rápido, limpo as lágrimas idiotas com as costas das mãos, e

sinto uma necessidade estranha de defender o meu pai. Ele foi bom

para mim e nunca me maltratou. Escondeu bem por muitos anos o

que fazia para família Carbone e nós dois fomos felizes, apesar de
tudo.

— Papai... ele foi bom pra mim e nunca me deixou faltar nada.
Nós fomos felizes, mesmo sem você.

— Robert nunca te faria mal, ele te ama mais que a própria

vida.

— Mas você não, não é? Você não me ama mais que a

própria vida, por isso foi embora.

— Eu era muito nova e...

— Não importa mais — interrompo-a.


— Eu só não queria ser infeliz pelo resto da minha vida,
Sophia — murmura, chorando em silêncio. — Não espero que

entenda ou me perdoe por eu ter escolhido fugir em vez de ficar

com você e enfrentar as coisas.

— Você foi covarde — rebato com a intenção de fazer o seu

coração doer como o meu dói. — Se me amasse de verdade, não


teria me abandonado.

Mesmo entre as lágrimas, ela abre um sorriso falso.

— Acho que sou uma péssima mãe. Não sei se tenho talento

pra isso. A verdade é que todo dia é um desafio.

— Você tem uma nova família.

— Eu tenho.

— É feliz?

Mamãe lambe os lábios.

— Sim, eu sou.

— Isso machuca.

— Sinto muito, querida.

— Você teria vindo por livre e espontânea vontade? — quero

saber.
— Não — assume. — Que bem isso fará a nós duas? Há onze
anos, eu me escolhi em vez de escolher você. Eu sei que te
procurei, mas o seu pai tinha razão e me fez enxergar que não

tenho mais direito de estar na sua vida, porque me privei disso


quando fui embora sem olhar pra trás.

— Não se arrepende não, é? De ter nos deixado.

— Não. Eu sinto muito.

— Pode ir? Quero ficar sozinha.

Com os olhos franzidos e carregados de tristeza, ela assente,


mas antes de levantar, fala:

— Sei que não tenho o direito de dar esse tipo de conselho,

mas Sophia, fuja também. Noah Carbone será a sua destruição.


Fuja sem olhar pra trás e escolha você também em vez de escolher
esse homem.

— Você não o conhece — resmungo e espremo os lábios. —


Ele não é um homem ruim.

Ela ri de leve.

— Como não? Ele é um mafioso.

— Você não entenderia nem se quisesse.


Ela concorda com um aceno de cabeça mais uma vez.

— Espero que fique bem logo — são as últimas palavras


antes de sair e me deixar sozinha no quarto grande.

Tento, faço um muito esforço para segurar a vontade de


chorar e não consigo. Permito que as lágrimas desçam e choro
como uma criança pequena. Meu coração dói tanto, que me deixa

sem ar.

No fundo, eu sei que preferia não saber os motivos que a


fizeram me abandonar, porque agora, meu coração continua

quebrado e não sei se tem reparação. E também, ainda me sinto


vazia, talvez mais do que antes, como se minha mãe tivesse levado
outro pedaço da minha alma.

Vovó entra no quarto e sem dizer nada, vem até mim e deixa

que eu desabe de tristeza contra o seu peito.


Ficar longe de Sophia tem sido difícil e me deixa muito
inquieto. Também me faz pensar se é melhor deixá-la viver a sua
vida em paz, longe de mim e segura. É a coisa certa a se fazer, só

que eu não sou de fazer a coisa certa. Mas Sophia quase morreu
por causa dos meus problemas.

Pensamentos assim vem e vão da minha cabeça com


facilidade desde que ela foi hospitalizada.

É claro que também passou pela minha cabeça sequestrá-la e


trazê-la para a mansão, mas além de não querer Robert na minha

porta reclamando, o meu conselheiro me pediu para ter paciência e

pensar com sabedoria.


Paciência e pensar com sabedoria... acho que são as últimas

coisas que terei na vida, já que Alastar sumiu do mapa. Não consigo
encontrar o velho desgraçado em lugar nenhum e isso tem me

deixando bastante irritado.

Lexie e Liam estão trabalhando duro para encontrar alguma

coisa e mesmo juntos, os dois gênios da computação não tiveram

sucesso ainda.

É divertido ver os dois trabalharem e é isso que tem me

distraído nas últimas horas. Lexie é mandona e Liam se acha o

melhor hacker do mundo, então os dois passam horas atirando


farpas um no outro, mas quando algo dá certo, eles comemoram

com um soquinho de mão.

Uma bela dupla.

Alguém bate na porta do escritório, me distraindo. Tinha

deitado no sofá e estava jogando para o alto e apanhando no ar

uma bola de tênis. Fico de pé e caminho até a porta, os dois nerds


nem me perceberam levantando, pois os dedos ágeis continuam

dançando pelo teclado e os olhos fixos na tela do computador.

Abro a porta e dou de cara com Nicholas, estou prestes a dar

um passo para trás, pensando que quer conferir a mãe da sua filha,
quando ele fala.

— Você precisa vir aqui fora.

Nota a urgência na voz do meu caporégime e isso me deixa

em alerta. Jogo a bola de tênis em cima do sofá e fecho a porta com

mais força que o necessário, caminhando em passos firmes até o

hall de entrada.

Ao chegar no cômodo, a primeira coisa que chama a minha

atenção, é uma garotinha pequena de cabelo escuro e olhos azuis.

Ela está segurando a mão do meu tio e olha assustada os meus

homens no hall.

Julian tem na lateral do corpo as mãos fechadas em punho e


parece alguém que está pronto para voar em cima do pescoço do

nosso tio. Thomas e Nicholas encaram a garotinha de maneira

incrédula.

— O que é isso? — pergunto, arqueando uma sobrancelha. —

Que merda é essa?

A garotinha treme o queixo e faz cara de choro.

— Ela é filha do Alastar — meu tio fala com tranquilidade.

Solto uma risada alta e descrente.


— Repita o que disse, porque eu acho que escutei errado.

Você não foi na merda da Irlanda sequestrar uma garota de três


anos, não é? Não, não foi. Não foi, porque eu deixei claro que não

faríamos isso e eu sou o Don, minhas ordens devem ser seguidas.


Então, repita o que disse — digo com tanta raiva, que a menina vai
se esconder atrás da perna do tio Stefano.

— Eu fiz o que achei necessário pra salvar a nossa família.

Dominado pela raiva, eu me aproximo dele e a menina solta a

sua mão e corre no rumo do corredor que vai para a cozinha. Ela dá
de cara com a minha irmã, que se assusta, mas se abaixa para
conversar com a garotinha. Por minha vez, seguro meu tio pelo

colarinho e o faço recuar até estar contra a parede.

— Qual a merda do seu problema? — rosno ao colocar o


antebraço entre o pescoço do tio Stefano e apertar com força. — Eu

sou a porra do Don. Isso não significa nada pra você?

— Fiz isso pensando em nós — diz com a voz esguichada. Os

olhos esbugalham e o rosto enrugado está ficando vermelho. — Não


me arrependo.

Irado, faço mais força com o antebraço, observando o rosto do

meu tio sufocar e colocar a língua para fora. Tenho vontade de fazê-
lo pagar por ter me desobedecido, mas dou um passo para trás. O

homem inclina o corpo para frente e começa a tossir, levando a mão


até a garganta e massageando.

— Que merda tinha na cabeça? — esbravejo, sentindo as

narinas expandirem. — Porra!

Meu tio ajeita o corpo de novo e ainda alisa o pescoço

enquanto me olha. Como não começou a falar, fecho a mão em


punho e dou um soco no seu queixo, o fazendo cambalear para trás.

É claro que ele não revida. Não é doido de fazer isso.

— Assim que escutar o que tenho pra dizer, não ficará mais
tão bravo assim — é o que diz, o tom meio em deboche e isso

consegue me deixar mil vezes irritado. Parto para cima dele e


desenfreio mais golpes no seu rosto.

— Que merda você falou?

Tio Stefano tem o nariz e a boca sangrando, não parece


nenhum pouco arrependido de ter feito algo que eu claramente

disse para não fazer. Seguro-o pela gola da camisa de novo e estou
prestes a descontar minha raiva nele mais uma vez quando escuto a

voz da nonna.
— Noah Octávio, por favor — implora, chorando. Por um
segundo, olho para o lado e vejo minha avó no pé da escada. —
Não mate o meu único filho vivo. Estou implorando, bambino —

suplica, correndo até mim com o rosto banhado em lágrimas.

Respiro fundo e volto a atenção para o meu tio. Não fiz um


estrago tão grande e ele merece por ter sido tão insolente e ter me
desobedecido. Solto o velho e dou um passo para trás, a nonna

segura a mão que usei para bater no meu tio e desfaz o punho.

— Obrigada, bambino.

— Comece a falar — ordeno ao tio Stefano.

A nonna se aproxima dele e confere o seu rosto. Surpreende


todos ao acertar uma bofetada no rosto do filho, que resmunga e a
olha de um jeito atrevido e acaba apanhando de novo.

— O que você tinha na cabeça? Ele é o Don e você deve

respeitá-lo — ela fala com a voz alta e firme. — Pare de agir como
um idiota, Stefano.

Resmungando um monte de palavrão em italiano, a nonna


gira nos calcanhares e sobe as escadas, me fazendo perceber que

Romie e a filha de Alastar sumiram. Aproximo-me do meu tio de


novo e arqueio uma sobrancelha com desdém.
— Fale.

— Não foi difícil pegar a garota. A mãe dela morreu no

nascimento e estava aos cuidados de uma babá e alguns soldados


— articula e eu não me sinto menos irritado como ele disse que me

sentiria. — Ao contrário do que pensávamos, Alastar não está com


essa bola toda.

— Seja mais específico.

— Me encontrei com o subchefe e o conselheiro da família

deles e me disseram que já estavam arquitetando um plano para

tirar Alastar de circulação quando voltasse para a Irlanda. Não

concordaram quando ele quis expandir os negócios em Montreal,


mas ele é o chefe, fez o que quis.

Cruzo os braços na altura do peito e trinco os dentes.

— Então, eles te deram a menina de bandeja?

Tio Stefano suspira e limpa a boca suja de sangue.

— Praticamente. Disseram que podemos fazer o que

quisermos com ela... e com Alastar.

— O que você prometeu a eles? — quero saber.

— Matar todos os homens dele que estão na nossa cidade e...


fazer a garota sumir do mapa. O subchefe da família não quer
herdeiros de Alastar vivos. Então, a menina precisa desaparecer

também.

Bufo.

— Ela é a porra de uma criança.

— Eu sei. Você acha que eu vou matar uma criança inocente?

— Eu não sei, tio — resmungo e ele fica calado. — Como

vamos desaparecer com ela? Hãm?

— Ainda não pensei.

Suspiro, contraindo o músculo do maxilar.

— Alguém veja se Lexie e Liam conseguiram alguma coisa,

precisamos marcar uma reunião com Alastar. Vamos acabar de uma

vez com isso — digo ao olhar para Nicholas, Thomas e Julian, que
assentem. Meu capitão caminha na direção do escritório e eu volto a

encarar meu tio. — Ele sabe que a filha foi sequestrada?

— Não. Ele costuma conversar com a babá e eu andei


fazendo o serviço enquanto estávamos vindo pra cá, mas acho que

logo começará a desconfiar que a filha dele foi raptada.

— Vamos agir antes e resolver logo essa merda.


Meu tio assente e eu faço um gesto com a mão para que

suma da minha frente. Ele gira o corpo e começa a subir as

escadas, indo para o andar de cima. Thomas caminha até mim e


olha dentro dos meus olhos antes de começar a falar.

— Você sabe o que fazer, não é?

— Claro que sim.

Thomas nega com a cabeça.

— Você não pode deixar que os outros saibam que Stefano foi

contra uma ordem sua. Precisa assumir a responsabilidade de ter

mandado sequestrar a filha de Alastar. Não pode deixar que os


outros duvidem da sua liderança quando o seu tio está por perto. É

assim que começam as traições. A nossa organização não pode

enfraquecer.

Passo as mãos entre os cabelos, apertando a mandíbula,

odiando não ter socado meu tio mais vezes.

— Certo. Farei isso.

— Vou fazer com que ele não abra a boca — Julian comenta
de forma irritadiça e eu concordo com um aceno de cabeça. Depois

da minha confirmação, o subchefe da família Carbone dá as costas

e sobe as escadas para falar com o nosso tio.


— Eu odeio dizer isso...

— Então não diga — interrompo Thomas, fazendo meu

conselheiro suspirar. — Fale, sei que fará isso de qualquer forma.

— Não gosto do seu tio por vários motivos, mas ele ajudou.

Se não tivesse ido buscar a menina, ainda estaríamos procurando

formas de lidar com Alastar.

— O que faremos com ela? Ah, merda. Ela é só uma criança

— falo, me sentindo estranho e irritado. Thomas tem razão e mesmo

assim, não queria que a nossa família tivesse cruzado esse limite.

Caralho.

— Eu sei e não podemos matá-la. Ela é inocente — meu


conselheiro declara o óbvio e eu balanço a cabeça, decidindo deixar

o assunto pra lá. Primeiro, vou lidar com o velho irlandês, depois eu

vejo o que faço com a menina.


A segurança na porta do meu quarto foi aumentada. Os
homens de Noah se multiplicaram e quem está de fora, com certeza
deve achar que sou alguém muito importante. Como a filha do

presidente, por exemplo.

Algo deve ter acontecido ou está prestes a acontecer.

Meu coração fica ansioso e triste só de pensar nisso. Quero


saber de Noah e sei que não conseguirei arrancar essa informação

do meu pai. Ele odeia o fato de eu estar amando um mafioso e


depois da visita da minha mãe ontem à tarde, o homem está uma

pilha de nervos.

Talvez ele ainda goste dela.


Talvez só esteja bravo por ter sido abandonado por ela

também.

— Pai? — chamo ao ouvi-lo resmungar pela décima vez sobre

a movimentação de homens na porta. — Quero conversar.

Sinto o calor dos olhos da vovó em cima de mim e

devagarinho, ele direciona a atenção para mim. Respira fundo antes

de começar a caminhar e sentar na poltrona ao lado do leito.

— Quer que eu saia? — vovó que está sentada no sofá lendo

um livro, pergunta e antes que possa se levantar, eu digo:

— Não precisa.

— O que aconteceu?

— Não aguento ver você em pé naquela porta. Tá me

deixando com dor de cabeça — sou sincera e ele me dá uma

risadinha leve.

— Não gosto do jeito que Noah te protege, porque me faz

sentir que você pertence a ele e não posso aceitar.

Engulo em seco.

— Eu pertenço a mim mesma, pai. Não se preocupe — falo, e

na verdade, nem sei se estou dizendo isso com total sinceridade.


Pertencer a Noah para mim é diferente do que o meu pai
pensa. Não é como se ele fosse colocar uma coleira no meu

pescoço e me impedir de viver a vida. Aquele mafioso não

conseguiria nem se quisesse.

Mas para o meu pai é exatamente isso. Ele acha que

pertencer a Noah é como uma sentença ruim de que minha vida vai

parar e vou existir apenas para viver ao lado de um criminoso. E


talvez ele esteja certo em se preocupar. Não deve fácil saber que

tem uma filha apaixonada por um chefe da máfia.

— Não tem jeito de eu te convencer a voltar pra Suíça, não é?

— Não — confesso. — Meu lugar é aqui, pai.

— Achei que sua mãe fosse colocar um pouco de juízo na sua

cabeça.

Sorrio.

— Só por que ela fugiu de você? — zombo e ele fica o corpo

enrijecido. — Relaxe, estou brincando.

— Como ainda pode me amar depois de saber que sua mãe

foi embora por minha causa? Poderíamos ter vivido bem com

pouco. Ser ambicioso me faz perder Natalie e agora está me

fazendo perder você.


— Eu te amo, porque é o meu pai e não vai me perder. Não é

como se eu fosse sumir pra sempre só por estar saindo com o


Noah.

— Pode acontecer. — Suspira. — Eu já vi como alguns


homens desse meio tratam as suas mulheres. Não quero que seja

tratada como um objeto.

— Noah nunca me tratou assim.

Ele fecha os olhos por uma fração de segundo e enruga toda


o rosto em desgosto.

— Pode parar de ficar defendendo esse homem na minha


frente?

Vovó bufa, fazendo-o olhá-la por cima dos ombros.

— O que foi? — ela resmunga, como se não fosse nada

demais e eu acabo rindo. — Sophia é adulta e sabe o que faz.

— Ou não — ele devolve.

— Parem os dois — peço.

— Se o Don Carbone estivesse vivo, ele não deixaria que

Noah se envolvesse com você. Ele levava a sério as promessas. E


a única coisa que eu pedi foi que você e sua mãe ficassem de fora.
Apenas isso.
— As coisas acontecem do jeito que tem que ser, pai.

— É, infelizmente.

— Eu continuar saindo com ele... isso te deixará infeliz?

— Demais — responde rápido, esperançoso.

— Vai me deixar infeliz não ficar com ele também. O que


fazemos? Eu vivo infeliz pra te deixar feliz? Ou vivo feliz e te deixo

infeliz?

Meu velho suspira, desolado. Abaixa a cabeça e encosta na


minha mão, quase como se estivesse suplicando em silêncio para
que eu tomasse a decisão certa. E a decisão certa no seu ponto de

vista é viver longe de Noah.

E acho que não consigo fazer uma coisa dessas

Aquele mafioso já tomou o meu coração e amá-lo é o que eu


quero fazer, mesmo que isso me destrua no futuro. Já aceitei que
esse amor é intenso, pecaminoso, sombrio e nunca nada vai me

fazer sentir viva como agora.

Talvez eu não aguente todos os problemas que estejam por


vir, mas vou ficar bem se Noah estiver ao meu lado. Nunca precisei

que um homem tomasse conta de mim, meu pai me ensinou a ser


independente. Só que eu gosto do jeito que o chefe da família
Carbone se importa comigo.

Eu amo o Noah e estou ciente de que talvez, ele não me ame


de volta. Mas sinceramente, não quero ter de ficar pensando nisso.

Quero viver a minha vida da forma que eu acho que devo viver.

É melhor se arrepender de ter feito algo do que o contrário.


Lexie e Liam conseguiram localizar o velho irlandês. Marquei
uma reunião com ele para resolvermos os nossos problemas como
adultos. Alastar é prepotente, foi logo deduzindo que eu cederia e

faria o que ele quer.

Não discordei, deixei que achasse que está certo. Vai ser bom
ver a cara dele quando descobrir que está ferrado.

Alastar aceitou me encontrar no estacionamento do porto de

Montreal. Ainda não sabe que estamos com a sua filha. Pelo que
parece, meu tio vem fazendo um ótimo trabalho em fingir que é

babá de uma garotinha.

Estou me preparando para sair da mansão quando o Julian


me intercepta no hall de entrada. Ainda está bravo por eu ter
proibido que venha comigo. Mas não posso deixar que arrisquemos

nossas vidas juntos.

Além de ser o meu irmão, é o subchefe da família, meu

sucessor. Preciso que fique aqui e esteja preparado, caso as coisas


não aconteçam do jeito que planejamos.

— Vou com você.

Suspiro e toco o seu ombro, apertando com força.

— Você fica. Não podemos ir os dois. Se algo acontecer

comigo, você precisa ficar vivo e cuidar de todo o resto. Não seja
idiota.

Julian fecha o rosto em uma expressão dura e torce a boca.

— Não posso te deixar ir sozinho.

— É uma ordem, Julian. Você fica aqui, cuidando de tudo.

Ouço passos atrás de mim e ao girar o corpo, vejo Lina. Ela


está assustada e os olhos orientais oscilam de mim para o meu

irmão, brilhando. Não queria que tivesse escutado, mas pelo visto

ouviu tudo o que eu disse.

— Você vai ficar bem? — ela pergunta para mim.


— Não se preocupe com isso — é só o que eu digo e Julian
bufa. — Cuide da nossa família e da sua noiva. Eu preciso de

você... aqui.

Ele trinca os dentes e os contos dos olhos se franzem,

deixando todo o rosto em uma carranca mal-humorada. Não espero

que concorde comigo, apenas dou uma batida no seu ombro e saio

da mansão.

Thomas me espera com o carro ligado do lado de fora,

Vincenzo, Nicholas com duas vans e alguns soldados mais atrás.

Deslizo para o banco do carona e confiro a 9mm que tinha

escondido no coldre da cintura ao mesmo tempo em que meu

conselheiro pisa no acelerador.

Quase vinte minutos mais tarde, chegamos no

estacionamento a céu aberto do porto de Montreal. Vincenzo e os

seus soldados estacionam a van um pouco mais afastados e o resto

de nós se prepara para receber Alastar.

Thomas me entrega o tablet com as fotos da filha do irlandês


e ao olhar a fotografia, meu peito fica inquieto de ter que usar uma

criança inocente para desestabilizá-lo, mas preciso disso. Não tenho

outra escolha.
Dois carros estacionam perto de nós e primeiro, os soldados

de Alastar descem e só então, um deles abre a porta traseira para o


líder colocar os pés para fora do veículo. Passo os olhos por eles e

conto seis homens. Tenho certeza de que não são todos e isso não
tem importância.

Depois que acabar com o irlandês, mandarei que cacem o


resto dos homens e deem um fim a vida miserável deles.

— Noah Carbone, eu sabia que você mudaria de ideia — é a

primeira coisa que fala, sorrindo. — Só por curiosidade, por que


mudou? Encontrei o incentivo certo? Sinto muito pela Sophia.

Sem conseguir me controlar, eu fecho a mão em punho e o


acerto um soco no rosto. Os seus homens sacam as armas e

engatilham na minha direção. Thomas e Nicholas fazem o mesmo.


Alastar limpa o sangue da boca e em seguida faz um gesto com a

mão para que eles se acalmem.

— Mulheres são sempre o nosso ponto fraco.

— Crianças também — falo entre os dentes e o velho filho da

puta enruga toda a testa, sem entender. Olho o tablet na minha mão
e passo para Alastar, que tem a cor do rosto dissipando ao ver as
fotos da filha na tela colorida. — Isso também é um incentivo? Acho

que sim, não é? E pelo visto, é o incentivo certo.

A respiração dele acelera e os nós dos dedos em volta do


aparelho ficam brancos. Enfurecido, ele quebra o tablet e me encara

com o músculo do maxilar contraído. Saca a arma de dentro do


termo e a mantém em riste.

— É minha filha, seu desgraçado de merda. É apenas uma


criança inocente — esbraveja e eu assinto, paciente.

— Sophia também é inocente e você quase a matou pra me

atingir.

— São coisas diferentes.

Solto uma risada sarcástica.

— Ah, é? Como? Eu acho que estamos quites, Alastar. Você

mexeu com alguém importante pra mim e eu fiz o mesmo com você.

Ele dá um passo para frente e os meus homens fazem o

mesmo.

— Devolva minha filha.

— Você vai embora da minha cidade se eu fizer isso? —


questiono, fazendo o homem direcionar a arma para minha testa.
Com uma das mãos, agarro o cano com força e arrasto para o lado.
— Se encostar um dedo em mim, ela morre — minto e fico feliz de
ter soado convincente, pois ele vacila e abaixa a arma.

— Não faça a mal a minha filha, ela acabou de completar três


anos.

Passo a língua no lábio inferior e pego a 9 mm do coldre,

apontando para a cabeça dele, como ele fez comigo alguns


segundos atrás. Os seus homens se aproximam de mim e eu não
vacilo.

Alastar encosta o cano da sua arma no meu abdômen e olha

dentro dos meus olhos. O cretino quer a filha viva, só que não
parece com alguém que vai levantar a bandeira branca e ir embora
se eu a devolver.

— O que você vai fazer? Matar o chefe de uma família da

máfia? Isso vai causar uma guerra, garoto. Não sabe como quem
está mexendo. Me matar pode ser o seu fim.

Curvo o canto da boca em um sorriso malicioso.

— Não esteja tão certo sobre isso.

— Não tem coragem de me matar, Noah. Existem


consequências e não acho que você saberá lidar com elas — diz e

aperta a arma contra a minha barriga. — Você é novo e fraco, uma


combinação patética e perfeita. Vai morrer por ter sequestrado
minha filha, vou fazer você pagar por isso. Acabarei com toda a sua
família, desgraçado de merda.

Sorrio de novo.

— Foi um erro ter me intimidado, Alastar.

Ele ri.

— Pare com isso, nós dois sabemos que você é só um garoto

brincando de criminoso. Não sabe lidar de verdade com os

problemas desse mundo.

— Será?

Eu quero muito torturar Alastar até ele implorar para morrer, só


que sei um jeito melhor de fazer isso sem perder um dia inteiro

desenfreando socos ou o espetando com facas afiadas.

— Você nunca mais verá sua filha.

— Como? — rebate rápido.

— Nunca mais verá a sua garotinha, porque agora ela é

minha.

Dito isso, coloco o dedo no gatilho e disparo um tiro no centro


da sua testa. Antes que ele caia no chão, eu o seguro e protejo o
meu corpo dos tiros que os homens dele disparam contra nós. Com

a 9mm ainda engatilhada, tento acertar os seguidores fiéis de


Alastar no estacionamento.

Vincenzo e os soldados aparecem por trás e derrubam alguns


deles, enquanto Nicholas e Thomas fazem o mesmo.

Quando não existe mais nenhum dos homens dele em pé,

deixo o corpo sem vida de Alastar cair no chão. E viro de costas,


conferindo se Thomas e Nicholas estão intactos. Ouço um disparo e

nem tenho tempo de fazer nada, uma fincada certeira no meu ombro

me faz curvar o corpo de dor.

Olho para trás e vejo Vincenzo acertar um tiro na cabeça do

homem deitado no chão que disparou contra mim.

Thomas me alcança e não me deixa cair no chão. Pressiona

com força o ferimento no meu ombro. A dor é aguda e sinto que

está rasgando de dentro para fora, mas tento me manter de pé.

— Você precisa de um médico.

— Me leve pra casa e chame o Dr. Michael — ordeno entre os


dentes. Thomas me obedece sem pestanejar e me ajuda a entrar no

carro. Em seguida, se acomoda no banco do motorista e antes de


sair em disparada, manda os nossos capitães e soldados limparem

o estacionamento do porto. — Ligue pro Dr. Michael — resmungo.

Thomas me olha por cima do ombro.

— Já estou fazendo isso.

— Merda. Tinha esquecido que levar um tiro dói — zombo,

fazendo meu conselheiro rir.


Entro na cozinha e os meus olhos captam Romie sentada na
banqueta com a filha de Alastar. Ela está tentando fazer a garota
comer os pedaços de frutas dentro do bowl de porcelana enquanto

Eva conta uma história sobre o jardim da mansão ser encantado.

A menina me olha de rabo de olho e como em modo


automático, se inclina sobre a minha irmã, escondendo o rosto em
seu braço. Romie alisa os cabelos longos e pretos dela e sorri,

parecendo gostar de ter se tornado o porto seguro da criança.

— Café? — Eva pergunta quando me sento na banqueta. —

Preto e sem açúcar?

Assinto em resposta e torno a observar a filha de Alastar, que


agora, passa os braços pequenos e gordos em volta do corpo da
guarda-costas de um metro e sessenta e se agarra a ela com tudo o

que tem.

Minha irmã sorri.

— Ela é fofa.

— Ela está assustada — rebato.

Eva serve o meu café em uma xícara grande. Bebo um gole,

sem conseguir afastar os olhos da garotinha. Ela é linda. O cabelo é

comprimido e liso, mas as pontas têm cachos delicados e tem uma

pequena franja reta. É dona de olhos redondos e grandes, azuis


como os meus.

— Ela falou algo com você?

Desde que a garota chegou aqui com o tio Stefano, não disse

nenhuma palavra, só balançava a cabeça em negativa. A mamma e

a nonna tentaram uma aproximação também, mas sem sucesso.

— Sim, Kiana já está conversando, pouco, mas já é alguma

coisa — Romie fala com um tom de voz gentil e faz a garota

levantar um pouco o rosto para encará-la. — Vamos continuar

comendo?

— Ela gosta de você.

Minha irmã abre outro sorriso.


— Acho que sim.

Ela faz a menina comer todos os pedaços de frutas do bowl e

Eva elogia, dizendo que vai levá-la para ver as fadas do jardim mais

tarde. Ergo uma sobrancelha, mas as duas adultas na cozinha me

ignoram.

Kiana volta a enlaçar os braços gordos na cintura de Romie e


esconder o rosto também. De vez em quando, arrisca uma olhadela

para atrás e me observa e ao notar que a pego no flagra, enterra o

rosto na minha irmã outra vez.

— Sei que o tio Stefano não devia ter feito isso, mas estou

feliz de estarmos com a Kiana — comenta e eu a olho de cenho

franzido. — Você e o... — A frase dela morre e lança uma rápida


olhada para a menina. — Você sabe quem. Enfim, o que seria dela

lá depois de tudo?

Não tinha parado para pensar nisso. Ela tem razão, eu

acabaria matando Alastar de qualquer forma, saber que o subchefe

e o conselheiro da sua família queriam o mesmo que eu, foi apenas


uma vantagem que não esperava.

Se Kiana ainda estivesse lá na Irlanda agora, provavelmente

sofreria as consequências. Teria a vida condenada por causa do pai


que era um velho ambicioso e teria o destino traçado de forma

miserável.

— Vamos ficar com ela, não é?

Termino de beber o café e coloco a xícara na mesa. Sem que


eu tenha pedido, Eva serve mais, me observando com cautela,
esperando ouvir uma resposta também. Direciono os olhos para

Kiana, que por incrível que pareça, está me olhando também.

— Não sei.

Romie faz bico e deixa os ombros caírem, a expressão


amuada tomando de conta de todo o seu rosto. Ela me encara, os
olhos implorando para que eu diga o que quer ouvir.

— Por favor. Por favor. Por favor.

— Romie... — censuro.

— Me escute, falei com o Liam e descobrimos que o único


parente vivo de Kiana é a avó materna, uma senhora com

Alzheimer. E ela tem um irmão e ele estava aqui com... você sabe
quem, não vou falar o nome dele, porque quero que ela o esqueça.

Fecho os olhos e respiro fundo. Como permaneço em silêncio,

minha irmã inclina o corpo para mim, quase derrubando Kiana da


banqueta e segura uma das minhas mãos, sorrindo de um jeito

animado.

— Ela não tem ninguém. Podemos ser a nova família dela —


fala e os olhos brilham de um jeito estranho de repente. Romie

escancara a boca e leva uma das mãos até os lábios, eufórica. —


Você pode ser o novo pai da Kiana.

Uno as sobrancelhas, incrédulo.

— O quê?

— Ah, meu Deus! Ah, meu Deus! Por que não? Você é o Don,
precisa de uma família. — Minha irmã deixa a atenção cair para
Kiana e segura seus braços gordos com delicadeza. — Ele... —

Aponta para mim com o indicador. — É o seu novo papai. Papà.


Repete comigo... pa-pà.

Massageio as têmporas, suspirando com as ideias loucas da

Romie. Na minha família todas as mulheres são um desafio mental.

— Pare com isso.

— Não, é sério. Tudo se encaixa.

Balanço a cabeça de um lado para o outro e vejo Eva

assentindo, deixando minha irmã mais empolgada ainda. Olho-a


com afinco e a mulher levanta as mãos em rendição e em seguida,
passa o indicador e o polegar sobre os lábios, fingindo ser um zíper.

A nonna entra na cozinha e Romie balança os braços no ar,


super, mega, hiper animada com a solução que acabou de arrumar.

A vovó se aproxima de nós e toca meu ombro de leve

— Você está bem, bambino?

— Novo em folha — é o que digo, e ele alisa meu curativo por

cima do casaco, sorrindo. — Dr. Michael disse que não foi grave.

— Fico aliviada.

Romie faz um muxoxo, chamando nossa atenção.

— Nonna, o que você acha de o Noah ter uma herdeira?

Vovó alterna as vistas de mim para Romie e o seu rosto é

quase como um ponto de interrogação.

— Como, bambina?

— O que acha da Kiana? — ela pergunta, sorrindo. — Nonna,

por favor, concorde comigo. Ela não pode voltar pra Irlanda e não
vamos simplesmente nos desfazer dessa criança. Ela precisa de um

lar e de uma família. O que acha de nós sermos essa família? A lei
não é problema pra nós, já que não ligamos pra ela de qualquer

maneira.
A nonna me olha e bem devagar, os lábios se transformam em
um sorriso grande, enrugando as bochechas e me fazendo suspirar
exausto ao perceber que ela concorda com toda essa loucura que

saiu da boca grande da Romie.

— Noah, por favor — minha irmã insiste e encosta uma mão


na outra em oração. — Se você não ficar com ela, vou convencer a

mamma de criá-la como filha.

Encaro a minha irmã e resmungo alguns palavrões em italiano


e ela faz o mesmo, sem se importar se está me desrespeitando ou

não. Kiana ergue os olhos para mim e os cílios longos piscam

devagar. Algo dentro do meu peito me faz sentir inquieto e eu

levanto em um solavanco, de saco cheio.

Antes que consiga sair da cozinha, Vincenzo entra no

cômodo, fazendo Romie rosnar. Ela escorrega para fora da


banqueta e com delicadeza, agarra Kiana e a faz descer também.

— Vamos embora, não quero ficar aqui.

Vincenzo a olha por um segundo e não se prende muito a

isso. Minha irmã passa pelo meu capitão chiando e fazendo cara

feia para o seu futuro noivo. A única coisa que o homem faz é
assentir, deixando minha irmã furiosa.
— Não vou me casar com você de jeito nenhum. Pode anotar

o que estou te dizendo, nunca serei sua — resmunga entre os


dentes e se fosse uma felina, teria colocado as garras para fora e

feito um estrago em Vincenzo.

A nonna dá um tapinha nas minhas costas de leve e sem que

eu tenha pedido, sai da cozinha. Eva faz o mesmo e meu capitão de

se aproxima, a postura ereta e o rosto impassível.

— Temos um problema.
Meus olhos percorrem o garoto no hall de entrada dos pés à
cabeça. Ele é alto, deve ter a minha altura, tem um cabelo preto e
os olhos claros. A expressão carrancuda e desgostosa desenhando

todo o rosto.

Nicholas o segura pelo braço, ele tenta se soltar, mas o meu


capitão é mais forte e não o deixa se afastar. Vincenzo pegou a
mochila dele e revirou tudo, agora, tem a carteira na mão, fuçando

os documentos enquanto Julian o analisa mal-humorado.

— Você é quem? — pergunto, porque tenho certeza de que

tem algo errado com o que ele disse pela primeira vez. Não tem

lógica.
— Pietro Carbone — grunhe e tenta sair das mãos de

Nicholas e falha. — Francesco Carbone é o meu pai, não estou


mentindo.

Solto uma risada seca.

Filho do meu pai? Esse cara só pode estar de brincadeira

comigo. Não tem como meu pai ter um filho fora do casamento. Nós

teríamos conhecimento disso há muito tempo e a mamma nunca


aceitaria ter sido traída.

Vincenzo me entrega os documentos e o sobrenome confere,


o que me deixa com um gosto amargo na boca.

— Ligue pro Liam e mande que confira isso — ordeno e me

aproximo dele e seguro o seu queixo, o erguendo para fitar os olhos.


Não gosto de perceber que são parecidos com os meus, que são

idênticos aos do papà. — Se é mesmo filho dele, como nunca

ficamos sabendo de você antes?

— É claro que ele está mentindo — Julian resmunga.

— Posso provar que sou filho dele — é o que diz e eu não

gosto do jeito que é atrevido.

— Ah, é? Como? — devolvo e a única coisa que o insolente

faz, é curvar a boca em um sorriso de canto e me perturba a forma


como parece comigo. Ou eu estou ficando louco ou esse bastardo é
mesmo filho do meu pai.

Viro de costas e estico a mão espalmada para Vincenzo, que

está falando com Liam ao telefone. Ele me entrega a carteira e eu

começo a revirar tudo, jogando os cartões no chão, um por um e

fazendo Pietro resmungar palavrões.

Hesito ao encontrar uma fotografia.

Minha garganta fica áspera e eu respiro devagar. Irado e

decepcionado não chega nem aos pés do que estou sentindo no

momento. É uma foto antiga do papà com um garoto, que parece

muito com Pietro. Os dois estão em um campo, usando roupa de

beisebol e sorrindo.

Julian se aproxima de mim e pega a fotografia das minhas

mãos, cerrando os dentes ao ver o nosso pai sendo pai de outro

garoto.

— É mentira — é o que meu irmão diz.

Olho para Pietro, tentando entender a merda dessa situação.

O papà sempre pregou que se você é capaz de trair a pessoa em

quem confia fechar os olhos e dormir ao seu lado, você não é digno

de confiança de ninguém.
E eu sei que fiz exatamente o contrário quando me casei com

Hayley e a maioria dos homens no nosso meio não são fiéis porra
nenhuma, mas ele sempre falou isso com tanta convicção, que eu

tomei isso como uma promessa de que nunca trairia minha mãe.

Agora, não tenho mais certeza.

— Você tem quantos anos? — quero saber.

— Vinte e seis.

Respiro fundo e Julian tenta avançar em cima dele, mas eu o

impeço de bater em Pietro. Se ele é mesmo filho do papà, que culpa


tem disso? É o nosso pai quem mentiu e traiu a mulher que nos deu
a vida.

— Não acredito que seja filho do nosso pai — Julian fala e

solta uma risada sarcástica. — Como isso é possível? Ele não faria
isso com a mamma. Não faria — murmura as últimas palavras
trincando os dentes.

— O rapaz não está mentindo.

Ao ouvirmos a voz da mamma, direcionamos a atenção a ela,

que está no pé da escada, segurando o corrimão com força e o


rosto todo amuado. Os olhos negros brilhantes estão a um triz de
desabar em lágrimas.
— É impossível — Julian retruca.

A nossa mãe respira fundo e em passos vagarosos vem até

nós. Nicholas solta os braços de Pietro, que se afasta rápido e ajeita


o casaco no corpo, em seguida, olha para a mamma.

— Francesco era um bom marido e como qualquer outro, tinha


os seus defeitos...

— Pare, mamma — Julian ordena e é ignorado. Nossa mãe

encara o Pietro e abre um sorriso melancólico para ele e volta a


falar:

— Seu pai viajava muito e ele conheceu Emma na Itália, uma


jovem americana estudando gastronomia na Europa. Engravidou a

garota e os dois mantiveram um caso por muitos anos, mesmo se


vendo pouco — admite tristonha e isso me faz ter raiva do papà. —

Pietro nasceu na Itália, viveu lá até os treze anos de idade. Quando


descobri a traição, eu fiz Francesco escolher.

Toco o cotovelo da mamma e ela me olha com os olhos


marejados. Faço um gesto negativo com a cabeça. Não quero que

fale da traição do nosso pai em voz alta e se humilhe desse jeito.

Ela me ignora.
— Francesco deixou Emma e Pietro, e escolheu ficar com a
nossa família. Por muitos anos, eu fiquei ressentida, mas eu o
amava demais e o perdoei por ter me traído. — A mamma respira

fundo e dá as costas para Pietro e fica de frente para mim e Julian,


segura a mão de cada um e aperta forte. — Por favor, não fiquem

chateados com o pai de vocês.

— Como não? — Julian devolve.

— Mesmo que ele tenha me traído, eu daria tudo para tê-lo de

volta e vocês dois devem pensar da mesma forma.

Julian contrai o maxilar e respira fundo, fechando a mão em


punho, que a nossa mãe desfaz com carinho.

— Por favor, querido — pede.

Levo os olhos até Pietro, que nos observa em silêncio.

— O que veio fazer aqui? — questiono.

— Quando meu pai sumiu, minha mãe voltou para os Estados


Unidos e me fez prometer que nunca iria atrás dele. Nós vivemos
bem sozinhos e eu sempre consegui cuidar dela — é o que diz.

— Ainda não respondeu minha pergunta. O que veio fazer

aqui? — rebato, a voz soando ríspida.


— Ele precisa de ajuda — é o tio Stefano quem fala, me
fazendo suspirar. Está descendo as escadas segurando uma mala
grande. — O garoto tem a mãe doente e mesmo depois de voltar

para os Estados Unidos, ela nunca aceitou o dinheiro do pai de


vocês até que Francesco cansou de tentar ajudar os dois.

Solto uma risada seca.

— Sabia sobre isso? — contesto, exasperado. — É claro que

sim — resmungo e cerro os dentes.

— Minha mãe não queria que eu viesse aqui, mas ela é tudo o

que eu tenho. É minha única família. Nós estamos falidos e não

estaria aqui se não estivesse desesperado. Não posso perdê-la.

— Então você quer dinheiro? — é Julian quem pergunta.

— Quero um trabalho.

— Trabalho? — rebato, dançando os olhos pelo rosto de

Pietro. — Você sabe o que fazemos pra bater na nossa porta e pedir
um emprego? Não seja tão idiota.

— Sim, eu sei o que vocês são. Meu pai nunca escondeu da


minha mãe que era um mafioso.

Contraio o maxilar.
— Acha mesmo que pode vir aqui e pedir um emprego? Você

já matou alguém, garoto? Acha que consegue isso? Acha que


consegue tirar a vida de alguém?

A boca do Pietro se curva em um sorriso presunçoso.

— Já matei antes — diz e pela maneira que seus olhos me

encaram, sei que não está mentindo. — Não quero o dinheiro de

mão beijada, quero uma oportunidade de salvar minha mãe.

— Ele não tem culpa dos erros do Francesco — é a mamma

quem fala e devagar gira o rosto para mim. — Pietro tem o sangue
de vocês também — emenda e se afasta de nós, caminhando na

direção da cozinha.

Olho Pietro, que tem o queixo erguido e o corpo todo retesado


e as mãos fechadas em punho. O cara veio dos Estados Unidos até

aqui para dizer que é filho de um mafioso e quer um emprego para

salvar a mãe. E nem de longe parece intimidado por nós.

Não há como negar.

Pietro é um Carbone.
Lina, Romie e Lexie com o seu barrigão de grávida, me
esperam na recepção do hospital. Estão segurando flores e caixa de
bombom, sorrindo animadas, porque finalmente ganhei alta e estou

indo para casa.

E nada daquele mafioso idiota dar as caras por aqui, o que


tem mantido meu pai bem feliz, não posso negar. E finalmente,
parou com toda aquela conversa de nos mudarmos para Suíça.

Levanto da cadeira de rodas com cuidado, meu pai fez


questão (obrigou) que eu descesse com isso. Abraço as meninas ao

mesmo tempo e agradeço por terem vindo. Pego as flores que Lexie

me oferece e é impossível não querer tocar no barrigão lindo de


grávida.
— Ela tá mexendo, quer sentir? — pergunta ao me ver

encarando. — É bem levinho.

Sorrindo com doçura, Lexie segura minha mão e leva até a

própria barriga, me fazendo sentir o seu bebê chutar. O movimento


é bem sutil, um pequeno choque inofensivo e que faz o meu

coração se encher de alegria.

Como em modo automático, os meus lábios se esticam.

— É incrível.

— É sim — Lexie concorda comigo.

As meninas colocam as mãos na barriga também e como se

estivesse com vergonha de toda atenção que está recebendo, a


bebê de Lexie para de se mexer, nos fazendo rir alto.

Por instinto, meus olhos passeiam pela recepção, atrás de um

mafioso bonito, forte e alto. Suspiro e tento disfarçar ao cheirar as

flores quando não encontro ninguém. É claro que as meninas


percebem e Romie é a primeira falar:

— Aconteceu muita coisa nos últimos, ele levou um tiro e...

— O quê? — interrompo-a, alterada. — Ele foi baleado? Noah

está bem? — pergunto, agitada.


Meu pai pigarreia para mostrar que está incomodado com o
assunto e eu decido não me importar com isso. Estou sentindo o

coração na garganta e nervosa demais com a notícia de que Noah

levou um tiro para dar trela para a desaprovação do Sr. Canning.

— Ele está bem, não foi grave.

Inspiro, aliviada.

— O que acontece?

Romie encaminha os olhos para o meu pai e depois para mim,

mexo a cabeça de um lado para o outro e faço um gesto com a mão

para que o ignore e continue falando.

— Ele resolveu os problemas com Alastar, levou um tiro, tem

uma filha. Ah, e agora temos um novo irmão também — diz tudo

muito rápido, me deixando confusa.

Uma filha?

Um novo irmão?

O quê?

— Vamos por partes — é o que articulo. — Ele tem uma filha?

Como assim? Quem está grávida? Ou é uma criança perdida que

apareceu? Me explique — exijo meio agressiva e sem perceber,

ranjo os dentes.
Romie abre a boca para explicar, mas a impeço ao erguer a

mão espalmada no seu rosto. Não quero ouvir nada dela, quem tem
que me explicar essa história é aquele mafioso.

— Não fale nada, é Noah quem tem que explicar tudo —


rosno.

As meninas se entreolham e dão uma risadinha, me fazendo

arquear uma sobrancelha. A única coisa que Lina faz é me entregar


a caixa de bombom que está segurando e se enroscar no meu

braço para caminharmos na direção do estacionamento.

— Acho que você deve ir tirar satisfação com ele — é Lexie

quem sugere.

— Ah, com certeza. Tem que dar uma prensa no meu irmão.
Já te falei, é lindo, mas não é sempre que é inteligente — Romie

concorda.

— Vá conversar com ele e resolva tudo — Lina fala, por fim.

Meu pai segura meu braço com delicadeza, me impedindo de

continuar caminhando. As meninas paralisam também e todas nós


encaramos o meu velho, que parar falar a verdade, de velho não

tem nada. É um homem bonito, alto e em forma, pela expressão no


rosto, meio chateado também.
— Vamos pra casa primeiro, sua avó está esperando e ela

mesmo cozinhou pra você. Depois, eu não vou impedir que vá atrás
dele.

Meu coração acelera, porque é o mais próximo de uma

aceitação que vou ter do meu pai agora. E sei que deve ser difícil
para ele dizer isso, consigo notar pelo brilho triste dançando pelos
seus olhos bonitos e gentis.

— Obrigada, pai.

Ele assente.

Entrego as flores e a caixa de bombom a ele e viro de costas,


ficando de frente para as garotas. Sorrio e dou um abraço de urso

em cada uma, agradecendo por terem vindo e me despedindo logo


em seguida.

Engancho-me no braço do meu pai e o acompanho até o

carro, contente por ter “quase” uma benção dele em relação ao


Noah e começando a ficar com raiva também com a história do
mafioso e a filha.

Tento fingir não sentir a pontada de insegurança se alojando

dentro do meu peito. Será que agora ele terá que se casar com a
mãe da sua filha? E como nós ficamos? Se ainda existe um nós, é
claro.

Talvez não exista mais, já que ele passou vários dias sem
entrar em contato comigo.

Caralho, Sophia, para com isso.

Sacudo a cabeça, espantando os pensamentos para longe.


Não quero sofrer em antecipação. Preciso saber o que aconteceu

primeiro e depois chorar por causa do meu coração partido se for o


caso.

Ao pararmos em frente ao veículo, meu pai abre a porta do

banco do carona e eu deslizo para dentro do carro. Depois de


guardar as coisas no assento traseiro, se acomoda no lugar do
motorista e coloca o cinto de segurança.

— Está pensando sobre o que a Romie falou, não é? Sobre

ele ser pai.

Dou de ombros e mostro indiferença.

— Não quero conversar isso com você, pai, porque vai fazê-lo

odiar o Noah mais ainda.

Ele ri de leve.

— Você é uma garota inteligente.


— Claro, sou sua filha — rebato e pisco. — Agora vamos,
quero comer comida de verdade e não vejo a hora de sair daqui.

Ele concorda com um aceno de cabeça e antes de pisar no


acelerador, meneia com a mão indicando o meu cinto de segurança,

que eu ainda não tinha colocado. Abro um sorriso amarelo e prendo


a faixa.

— Espero que nada desse tipo aconteça de novo, Sophia.

Não aguentarei perder você, filha.

Solto um suspiro longo e pego uma de suas mãos ao volante

e trago para mim, beijo de leve e sorrio para ele.

— Também espero, pai. Me desculpe pelo susto. Prometo que

terei mais cuidado e não vou me meter em confusão.

Papai me observa de um jeito triste, como se soubesse que

vou fazer exatamente o contrário. Entrarei em várias confusões e o

deixarei preocupado a vida inteira.

— Você não tem culpa, querida. — Solto-o e ele volta com a

mão no volante do carro. — E sei que não vai fazer diferença, mas

ficarei muito feliz se você der um chute na bunda dele e partir pra
outra.
Ao ouvir meu pai, começo a rir. Ele pode até aceitar a minha

relação com o Noah, só que acho que nunca vai perder a chance de
alfinetar.
Liam foi iniciado na máfia e a mamma fez questão de que
jantássemos em família para comemorar. Claro que esse não é o
primeiro jantar dele aqui, mas mesmo assim, parece tímido e feliz ao

mesmo tempo. Foi um grande passo na vida do garoto e sei que


será um homem fiel e honrará a nossa família.

Romie e Liam sempre se deram bem, ele é apenas alguns


anos mais velho que ela. E como minha irmã se sente à vontade

com o garoto, na mesa de jantar, fala sobre o novo assunto que vem

pairando entre nós e pede a opinião do meu novo soldado.

Ele abre a boca para comentar e me olha, faço um gesto

quase imperceptível com a mão para que fique em silêncio e não dê


corda a minha irmã.
Romie ainda não tirou da cabeça o assunto sobre eu me

tornar pai de Kiana. O pior é que todas as mulheres dessa família


resolveram concordar com esse absurdo. Agora, toda vez que

passo pela garota de três anos, me sinto estranho.

Eu sei que preciso de filhos, só não esperava me

responsabilizar por um nesse exato momento. E como é que vou ser

pai de uma menina? Além do fato de ela ter sido sequestrada e


arrastada lá da Irlanda para Montreal, vou mantê-la presa a mim

pelo resto da sua vida?

É loucura e eu não consigo tirar os olhos de Kiana, e por sua


vez, ela faz o mesmo. Não parece mais tão intimidada como antes,

mas também não está falando com ninguém além da Romie.

Será que ela se tornará uma mini versão da minha irmã?

Não sei se suporto algo assim...

Kiana vira o rosto para Romie e faz uma concha fofa com as

mãos gordinhas. Notando o que a menina quer, minha irmã abaixa o


rosto para escutar algo. Solta uma risada leve e lança um olhar

travesso para mim.

— O que ela disse? — me ouço perguntando. Todos na mesa

param de comer e encaminham a atenção para mim. Isso me deixa


incomodado e eu acabo resmungando: — O que foi?

Romie morde o lábio inferior e sorri ao falar:

— É segredo.

Bufo e volto a comer, tentando não ficar olhando para a garota

de três anos, o que é quase impossível, já que ela está me


encarando também. De maneira sorrateira, Romie se inclina para

perto de Kiana e faz uma concha com as mãos, imitando o gesto da

garota de minutos atrás.

Ao ouvir o que minha irmã diz, algo surpreendente acontece.

Kiana sorri para mim.

Não consigo impedir do meu coração ficar agitado dentro do

peito. Não faz uma semana que essa garota está aqui com a nossa

família e eu nem a conheço direito, como ela pode me fazer sentir

assim?

Estranho e questionador.

Depois do jantar, Romie, a mamma e a nonna decidem fazer

uma sessão de cinema na sala com Kiana. Liam vai embora, porque

amanhã cedo tem aula na faculdade e Julian me segue até o

escritório, todo emburrado. Ainda está bravo com a história de Pietro

ser filho do papà.


— O que você vai fazer com Pietro? — é a primeira coisa que

pergunta ao fechar a porta atrás de nós. — Não sei se confio nele.

Caminho até a miniadega do escritório e sirvo whisky em dois

copos. Aproximo-me do meu irmão e o entrego o cristal com a


bebida. Ele brinda comigo e bebe tudo em um só gole.

— Ele é nosso irmão. Tudo confere, ele não mentiu em nada.

Liam tinha feito uma pesquisa detalhada sobre Pietro e tudo

sobre ele é verdade. Nascido da Itália, o papà o registrou como filho


assim que o garoto nasceu. Viveu no país natal até os treze anos e
mudou-se para Chicago com a mãe, que trabalhou duro para

sustentá-lo e nunca aceitou um centavo do magnata do cassino.


Ficou doente quando Pietro completou vinte e quatro anos, perdeu o

emprego, fazendo o garoto largar a faculdade e se dedicar a


conseguir dinheiro para o tratamento da mãe.

É claro que olhar Pietro mexe com algo dentro de mim, é um


lembrete que o papà foi infiel à mamma e em algum momento, a fez

derramar lágrimas pela traição. No entanto, Pietro não tem culpa.


Ele não pediu para nascer e muito menos, ser filho de Francesco

Carbone.

— Então, você vai acolhê-lo?


Bebo o meu whisky e encaro meu irmão.

— Ele é nossa família e nós cuidamos dos nossos.

Julian contrai a mandíbula e os cantos dos olhos se franzem,

o rosto fica meio vermelho de raiva, mas acaba assentindo para


mim em silêncio. Levo uma mão até o seu ombro e aperto com
força, depois dou um tapa rápido.

— Não podemos pegar leve com ele.

— Pedirei que Nicholas treine Pietro e o supervisione. Aquele

garoto tem potencial, isso você não pode negar. Na verdade, o


temperamento dele lembra um pouco o seu — caçoo, fazendo
Julian bufar.

— O que fará em relação à mãe dele? — Julian quer saber.

— Mandarei que a tragam para cá. Montreal é a casa de

Pietro agora e ela é importante pra ele. Os dois devem ficar juntos.

— A mamma sabe disso?

— Sim, falei com ela primeiro — admito.

Não traria a amante do papà para Montreal se isso fizesse a

mamãe se sentir humilhada. Para minha surpresa, a sra. Carlota é


mais benévola do que eu esperava. Não culpa a mãe de Pietro pela
traição. Ela culpa o papai de ter seduzido uma jovem americana
universitária na Itália.

E talvez tenha razão.

— Como ela pode estar tão de boa com tudo isso?

— Ela é a mamma, Julian. Lidou com o papà por anos e o


amava, apesar de tudo. E não esqueça, que ele escolheu a nós.

Julian ri com sarcasmo.

— Isso faz diferença?

— Sim.

Meu irmão suspira e deixa os ombros caírem por um segundo,

em seguida caminha até a miniadega e serve mais whisky e traz a


garrafa para encher o meu copo, que já estava vazio e eu nem tinha

notado.

— Tentarei perdoá-lo por isso — é o que diz ao levantar o


cristal para um brinde solitário e eu aceno de forma positiva com a
cabeça, pensando que tentarei fazer o mesmo que ele.

Alguém bate na porta e antes que eu possa falar algo, a

mamma abre a porta e enfia apenas a cabeça para dentro do


escritório.
— Estou atrapalhando?

— Não, entre.

Ela faz o que mando e escancara a porta.

— Você tem visita, Noah Octávio — fala e tenta esconder um

sorriso malandro. A mamma faz um gesto com a mão, chamando


Julian para perto dela. — Venha Julian, seu irmão vai precisar ficar

sozinho.
Sophia Canning.

Não sabia que estava sentindo tanta falta dela até vê-la na
minha frente. O perfume doce invade o meu nariz e preciso de força
de vontade para não atacá-la como um animal faminto.

Ela ainda tem um curativo no pescoço, que é o lembrete de

que o meu mundo é insano e perigoso para ela.

— Sophia... — sou interrompido com uma bofetada no meu

rosto. Ergo uma sobrancelha e em vez de ficar irritado pela audácia


dessa garota, sinto o canto da boca se curvar em um pequeno

sorriso. — Por que isso?

— Porque você é um idiota. Eu recebi alta hoje e você nem se

deu o trabalho de ir me ver — grunhe.


— Estava te dando tempo.

— Tempo pra que, Noah Carbone? Me dando tempo pra que

exatamente?

Passo as mãos entre os cabelos e ela observa o gesto atenta.

— Você disse que não sabia o que queria — admito e não

consigo parar de me sentir estranho.

Naquele dia em que ela pareceu tão confusa sem saber se me

queria ou não, mexeu comigo de uma maneira absurda e me deixou

enfurecido. E não lembro de uma mulher ter me feito sentir assim


alguma vez na minha vida.

Ela caminha em passos firmes até mim e retira a alça da bolsa


do ombro, jogando-a em cima da cadeira logo em seguida.

— O que você queria? Eu levei um tiro... um não, dois. Você e

o meu pai com aquela luta chata pra ver quem é o meu dono. Isso

cansa e irrita também.

— Ele sabe que você está aqui?

— Sabe — murmura.

Assinto e coço o topo da cabeça.

— Você está bem?


Sophia relaxa os ombros e morde o lábio inferior.

— Melhor do que eu esperava.

Ela cruza os braços na altura dos seios, o que eu desfaço um

segundo depois ao puxá-la contra mim. Deslizo as mãos pelos

ombros e toco o seu pescoço enfaixado com delicadeza, subo um

pouco mais os dedos e os entrelaço nos cabelos da nuca.

— Meu mundo é perigoso pra você.

— Eu sei — responde, esquadrinhando o meu rosto. — E já

sabia disso antes do que aconteceu também.

Sento na beirada da mesa e a encaixo entre as minhas


pernas, sentindo o calor do corpo pequeno perto de mim. É bom e

não sei se consigo fazer a coisa certa e deixá-la ir. Provavelmente,

não.

— Seu pai acha que vou acabar te matando.

— Meu pai acha muita coisa — retruca, me roubando meio


sorriso. — Para de arrumar desculpas pra ficar longe de mim. Você

me quer ou não? Decida rápido, porque não vou passar a minha

vida inteira te esperando.

— Eu quero você.
Puxo-a contra mim e ela deixa escapar um gemido fraco.

Inclino o meu rosto para perto do seu e encosto os nossos lábios,


mergulhando a língua nela e a sentindo estremecer com o meu

toque.

Sophia contorna o meu pescoço com os braços e me traz para

mais perto do próprio corpo enquanto sinto o meu queimar em


chamas. Ela chupa minha língua e é o suficiente para o meu pau

acordar.

Ao sentir minha ereção, ela interrompe o beijo.

— O que foi?

— Estava quase esquecendo de uma coisa.

— Huh?

— Você tem uma filha? — questiona, cética.

— O quê? — rebato, boquiaberto.

— Romie falou que você tem uma filha.

Respiro fundo e balanço a cabeça de um lado para o outro,


tentando segurar o riso. Minha irmã não existe.

— Não é bem assim.

Sophia me empurra de leve e dá um passo para trás.


— Me explique, porque eu não quero estar com você e saber

que de repente será obrigado a casar com a mãe da sua filha.

— Do que está falando?

— Explique — exige, cruzando os braços na altura dos seios e


erguendo uma sobrancelha. — Tem uma filha ou não? — emenda,
meio irritada.

— Não. Ela é filha do Alastar.

Sophia sacode a cabeça, confusa.

— Como? Filha do Alastar? Vocês sequestraram uma


criança?

— Pra você ver a porra do monstro que eu sou — retruco,

começando a ficar irritado também. Ando até a miniadega e sirvo


bastante whisky em um copo. — Pode correr se quiser.

Ela bufa.

— Ah, agora vai me deixar fugir? Que comovente e altruísta —


devolve com sarcasmo.

Lambo os lábios.

— Não me provoque.
Sophia caminha até o sofá do escritório e senta nele,
cruzando as pernas e balançando de maneira rápida. Arrasto os pés
até a garota brava e me acomodo ao seu lado. Ela tira o casaco de

tecido pesado e coloca no braço do móvel, depois, meneia com a


mão para que eu fale.

Que garota mandona.

— Ela tem três anos e não pode voltar pra Irlanda, porque a
verdade é que ninguém suportava o Alastar e ele morreria de

qualquer jeito.

Ela suspira.

— Três anos? Cacete.

Bebo um gole generoso do whiskey e fico em silêncio.

— Vai protegê-la? — Sophia quer saber.

— Preciso.

Um sorriso meigo desenha os seus lábios carnudos.

— Um mafioso protetor — zomba, me fazendo revirar os


olhos. — Como vai ser isso? Quer dizer, a lei não... — A frase dela

morre e faz um abano com a mão. — O que estou falando? A lei


existe pra vocês burlarem ela.
Dou de ombros e bebo o resto do whisky. Inclino-me para
frente e coloco o copo de cristal em cima da mesa de centro,
roçando o braço no seio de Sophia e ela finge não estremecer.

— É por aí.

— Nesse caso, você vai ser pai?

— Não — respondo rápido e ela arqueia as sobrancelhas. —

Ainda não decidi se quero ficar com essa criança. É estranho pensar
nisso e me deixa confuso.

— Acho que você será um ótimo pai, de um jeito assustador e

sombrio — brinca, arregalando os olhos e sorrindo. — Talvez seja


bom pra você... ter esse tipo de responsabilidade.

— Ela vai precisar de uma mãe — solto a bomba, fazendo


Sophia ficar quieta e amuada no sofá. — Não posso criar uma

criança sozinho. Eu sou Don, se tenho uma filha, vou precisar de

uma mulher pra ser mãe dela — acrescento, estudando as

expressões da garota.

— Vai casar de novo?

— Provavelmente.

Sophia suspira e faz que sim com a cabeça.


— Não vou continuar te vendo depois de casado, Noah. Não

nasci pra ser amante de ninguém. Talvez a gente deva parar por
aqui antes que eu saia com o coração machucado.

Ela levanta num solavanco e eu seguro o seu pulso de forma


sedenta, impedindo que vá embora.

— Por que sairia com o coração machucado?

Fico em pé também e nivelo os nossos rostos. Ela tem a

respiração acelerada e os olhos verdes cheios de um brilho que não

compreendo. Sophia dá um passo para trás e na mesma hora,


minha mão voa na sua cintura e eu a mantenho perto de mim.

— Fale — ordeno.

— Não.

— Sophia... fale. Por que sairia com o coração machucado?

Sinto o meu próprio coração trepidar dentro do peito e estou

tão ansioso para ouvir a resposta.

— Porque eu... — Faz uma pausa e tenta desviar o rosto de

mim. Seguro o seu queixo entre o polegar e o indicador e focalizo os

seus olhos. Ela engole em seco. — Eu... eu... eu te amo.

Ouvir Sophia dizer que me ama, me faz perder o controle.

Agora, eu sou puro desejo. Minha boca esmaga a sua e os lábios


carnudos se abrem para mim sem resistência. Afundo a língua para

dentro, aproveitando a coisa mais deliciosa que já provei na vida:

Sophia.

Faminto, puxo contra mim e a aperto com força, aprofundando

ainda mais o beijo. Gemendo contra minha boca, ela empurra os

seios contra meu peito e a minha mão voa para a sua bunda
empinada.

Trago-a para mais perto e esfrego o meu pau inchado contra a


barriga chapada, fazendo-a arquejar. Seguro a barra da sua camisa

e desgrudo nossas bocas por alguns segundos, passando o tecido

de lã pela cabeça dela. Com os dedos, puxo a frente do sutiã para

baixo e minha boca vai direto em um dos mamilos enrijecidos.

Sophia arqueia as costas para mim e envolve uma das mãos

nos meus cabelos, puxando com força enquanto solta gemidos


baixos e eu aumento a sucção no mamilo, depois invisto tempo no

outro.

— Noah...

— Você é minha — falo, me sentindo possessivo.

Dou um pequeno passo para trás e puxo a camisa, ela suspira

ao olhar meu abdômen. Volto a ficar perto dela de novo e deslizo o


zíper para baixo, fazendo-a suspirar. Abaixo-me na sua frente e

desfaço o laço dos tênis. Ela geme quando seguro o tornozelo com
precisão e arranco um sapato, depois o outro. Finalmente, arrasto o

jeans pelas coxas bonitas e ela leva as mãos até as costas para tirar

o sutiã.

Levanto e contorno a cintura fina com as minhas mãos e

arredo Sophia para mais perto, os mamilos enrijecidos tocando na

minha pele e fazendo meu pau pulsar.

Deslizo a mão na sua bunda e aperto com força e ela

entreabre a boca, me encarando. Os dedos voltam para cintura e


vão direto para a barriga. Sophia arfa, ansiando pelo meu toque. De

forma demorada, encontro o cós da calcinha e puxo o elástico,

soltando-o logo em seguida e deixando bater contra a sua pele.

Volto com os dedos na barra da calcinha, mas dessa vez, escorrego


a mão para dentro, fazendo-a ficar na ponta dos pés.

Assim que encontro a umidade, um gemido rouco escapa do


meu peito.

— Tão molhada e pronta pra mim — murmuro, e ela agarra

meus braços e abre mais as pernas, facilitando o meu acesso. O


indicador e o médio deslizam para fenda úmida e eu a penetro,
fazendo movimentos de vaivém. Com os dedos melados, subo um

pouco e encontro o clitóris quente e inchado. — Você é minha.

— Noah — geme.

— Quero que goze olhando pra mim — falo, a voz soando

firme e profunda.

Sophia ergue os olhos brilhantes, a boca abre um pouco

enquanto sons baixos passam entre os lábios. Linda. Meus

movimentos ficam mais precisos e a ereção dolorida quase


implorando para encontrar o lugar quente e úmido escondido entre

as suas pernas.

Ela geme, o barulho aumentando gradativamente e me

deixando louco.

— Isso, quero que goze nos meus dedos. Quero lamber cada
gota da umidade da sua boceta, porque você é minha, Sophia. E

não vai fugir de mim.

Enfio e tiro os dedos, e noto que ela faz força para ficar de

olhos abertos e me encarar. Tão perfeita. Flexiono um pouco o

indicador e Sophia crava as unhas nos meus ombros,

choramingando.

— Noah, eu vou...
— Isso, goza pra mim.

Sophia deixa escapar um gemido alto ao chegar à loucura, as

pernas tremem e eu preciso segurá-la para não cair no chão. Ela

fecha os olhos e enterra o rosto no meu ombro, retiro os dedos de

dentro dela e levo até a boca.

— Gosto quando você faz isso.

Sorrio de lado.

— Você tem um gosto doce.

Coloco-a sentada no sofá e saio de dentro dos meus sapatos,

retiro a calça junto da cueca boxer e me acomodo ao seu lado.

Seguro meu pau com firmeza e faço movimentos de cima para


baixo, olhando para Sophia.

Ela passa uma perna em volta de mim e eu posiciono a

cabeça na sua entrada melada. Sophia senta devagar, me fazendo


suspirar e o corpo inteiro arrepiar. Aperto-a contra mim e chupo ao

longo do seu ombro, subindo pelo pescoço e encontrando a parte

macia da orelha.

Sophia começa com o sobe e desce, cavalgando em mim

enquanto mantém os nossos olhos presos, a cada investida mais

profunda e deliciosa.
— Porra. Você é tão gostosa. Adoro essa sua bocetinha,
sabia?

Ela arfa, arranhando meus ombros e onde há o curativo do


ferimento incomoda um pouco, mas nem consigo me prender a isso.

Sophia cavalga como ninguém e me faz perder as estribeiras.

O som dos nossos corpos molhados e ávidos batendo um

contra o outro preenche todo o escritório. Isso me deixa mais

excitado, então agarro os seus quadris salientes e começo a estocar

com mais força, mais profundo.

O corpo dela estremece de novo e os músculos das pernas

em volta de mim, tensionam. Ela fecha os olhos por alguns instantes


e se perde no prazer, mas no momento em que levo uma das mãos

até o seu rosto, ela pisca devagar e gruda a boca na minha,


engrenando um beijo feroz e sedento.

Ao sentir o meu corpo querendo explodir, aumento o ritmo e é


Sophia quem alcança o seu orgasmo primeiro, bem demorada e
linda em cima do meu pau. Gemo rouco ao dar mais algumas

estocadas impiedosas e sentir a onda de prazer dominar o meu


corpo e gozar dentro de Sophia.
— Você é linda — murmuro, ainda dentro dela, fazendo
movimentos lentos e preguiçosos.

— Falei sério quando disse que não vou ser sua amante — é
o que fala, me fazendo rir.

— Não vai precisar ser minha amante.

Porque vou fazer de você, a minha rainha.

Sophia toca o meu rosto com a ponta dos dedos e devagar, a


atenção recai sobre o curativo no meu ombro.

— Dói?

— Não.

— Achei que você pegou leve hoje — diz, e eu rio de novo. —


Pensei que estivesse sentindo dor.

— Peguei leve, porque você ainda tá com pontos no pescoço


e porque também posso ser gentil.

Ela sorri e cola os nossos lábios ao falar.

— Gosto do seu lado gentil, mas gosto muito do leão predador

que vive dentro de você também.

Mordo o seu queixo e ela geme baixo.


— Dorme comigo hoje, quem sabe eu te mostre o leão
predador de novo.

Ela solta uma risada gostosa que vibra direto dentro do meu

coração, me fazendo perceber uma coisa.

Eu também amo Sophia.


Algum tempo depois...

Lina e Julian anteciparam o casamento.

O que aconteceria só depois da formatura, adiantou seis


meses. Antes, eu com certeza, acharia uma loucura minha melhor
amiga fazer isso, só que agora sei como é amar um homem intenso

e errado da cabeça aos pés.

E nunca vi Lina tão feliz como hoje. O vestido é lindo e a faz

parecer uma princesa da Disney. Tem uma tiara de diamantes na


cabeça e metade dos cabelos longos foram presos em uma trança,

que eu não conseguiria fazer nem que tentasse.

Todo mundo se emocionou na cerimônia. Existe algo em

casamentos que faz o nosso coração ficar mole que nem geleia.
A festa acontece no jardim da mansão. Tendas foram

colocadas, várias mesas foram espalhadas e há pista de dança com


palco. Ao som de uma música romântica, os dois recém-casados

tem o momento da primeira dança.

Talvez eu não gostasse do Julian antes, mas não posso negar

que ele ama minha melhor amiga e sei que fará o impossível para

proteger e fazê-la feliz. Aperto o buquê entre as minhas mãos e


inspiro as rosas.

Fui a sortuda que pegou o buquê.

Sinal divino? Talvez uma sentença ameaçadora para o meu

pai, já que o seu rosto ficou pálido quando viu que o buquê voou

direto para minhas mãos. Pensei que ele se atiraria em cima de mim
e jogaria as flores longe. Que bom que não fez isso.

Noah senta ao meu lado e beija de leve o meu pescoço, me

roubando um sorriso. Cumprimenta meu pai com um aceno de

cabeça e beija o rosto da minha avó. É estranho e bom o jeito que


os dois se deram bem.

Ela diz que sou a melanina que falta na vida de Noah.

— Por que está sorrindo? — ele pergunta. Dou de ombros e

coloco as flores em cima da mesa. — Quer dançar? — Ao ouvi-lo,


direciono a atenção para a pista e noto que alguns casais já
começaram a fazer isso.

Lexie e seu barrigão movimentando o corpo para lá e para cá

com Nicholas, Lawanda e Liam, que riem de alguma coisa e giram

de forma descontraída. Pietro, o meio irmão dos meninos com a

dona Rosa. Ele parece tenso, mas avó dos herdeiros Carbone o

guia com leveza e o faz relaxar. Carlota e o futuro genro, que aliás,
é bem lindo.

E claro, Kiana e Romie também dançam, as duas riem

animadas.

Quando vi a garotinha pela primeira vez, nós duas nos demos

bem. Ela não falava muito, só com a Romie. Fiquei feliz quando aos
poucos foi me dando espaço e se tornou próxima de mim na medida

do possível.

E de Noah também. Ele já se acostumou com o fato de que

será pai de uma garota de três anos e está preparando tudo para

dar o sobrenome Carbone a menina. Incrível, quando você é o dono


da cidade e as leis não importam para você, consegue tudo sem

problema nenhum.

— Vamos dançar.
Ele ergue a mão para mim e eu seguro, sentindo o toque

quente e acolhedor se espalhar pela minha pele. Antes que


possamos chegar na pista de dança, Hayley intercepta nós dois.

— Você pode ordenar que o Killian dance comigo? Eu chamei,


mas ele disse que está trabalhando. O que pode acontecer comigo

dentro dessa mansão? — fala, cruzando os braços na altura dos


seios e arqueando as sobrancelhas de forma exagerada.

Nós duas rimos.

— Diga a ele que senão dançar com você, eu irei castrá-lo.

Hayley abre um sorriso, visivelmente satisfeita.

— Obrigada.

Gira nos calcanhares e vai atrás do seu segurança arrastá-lo


para pista de dança. Noah e eu alcançamos o lugar também e ele

põe a mão na minha cintura de forma possessiva, me guiando de


um lado para o outro ao som de uma música da Adele.

— O que ela está achando do apartamento? — pergunto,


enquanto mexemos o corpo de um lado para o outro. — Não ficou

triste por ter que ficar aqui?

— Um pouco triste, só que bem mais feliz. Não importa se


Hayley está aqui ou em outro país, ela só quer ser ela mesma e
fazer o que tem vontade. E essa garota sempre quis liberdade e

agora tem.

— Liberdade e dois seguranças — retruco.

— Até a liberdade tem as suas desvantagens — diz, me


fazendo rir.

— Acho que ela está enlouquecendo um dos seus homens —


brinco, e ele assente com meio sorriso lascivo.

— Com certeza, mas os dois se dão bem. É bem

surpreendente, mas Killian é a primeira pessoa com quem Hayley


gosta de passar o tempo.

— Fico feliz. Ela merece ser feliz.

— Você está linda. Não vejo a hora de tirar esse vestido —


diz, mudando completamente de assunto.

De forma exagerada, ele inclina o meu corpo para trás e enfia


o rosto no meu pescoço, mordendo a pele e me roubando um

gemido baixo. Puxa-me contra o corpo de novo e me faz suspirar.

— Pode, por favor, não exagerar? Meu pai está olhando para
nós.

Ele ri.
— Não posso prometer isso.

— Você é impossível.

— Sim, e eu te amo — fala, de repente e eu paro de dançar.

Ele não para de se movimentar e como fiquei sem reação, me move


de um lado para o outro. — O que foi?

— Nada.

Tudo bem, eu tinha dito que amava Noah há um mês e meio.


Só que não tocamos mais no assunto e para falar a verdade, não

me incomodava. Eu pensei que Noah não fosse capaz de dizer “eu


te amo” para uma mulher que não tivesse o sangue Carbone e

estava de boa com isso.

Ele foi sincero ao dizer que nunca tinha amado uma mulher e

bom, o meu ego meio que se auto massageava por Noah nunca ter
dito essas mágicas palavrinhas para aquelas que esquentavam sua

cama antes de mim.

Mas agora, estou chocada.

— Eu disse que te amo — repete, sorrindo.

— Eu sei.

— Muito surpresa?
— Não achei que fosse capaz de me amar.

— Por que eu sou um monstro? — questiona e me gira só

para me puxar contra ele de novo. — Monstros também amam.

— Não é isso...

— E eu sou capaz de matar qualquer um que ouse machucar


você — interrompe-me e eu acabo rindo. — Falo sério — emenda, a

voz soando firme e grossa.

— Eu sei, é que o seu jeito protetor é intenso.

— Você gosta.

— Uhum.

Balançamos para lá e para cá, Noah não desvia os olhos de

mim nem por um segundo. Quer dizer, desviou agora porque fez o

seu showzinho e me jogou para trás de novo, mordendo o meu

pescoço outra vez.

— Você quer que meu pai tenha um infarto, não é?

— Ele já sabe que você é minha. Não tenho motivos para ficar

me contendo na frente das pessoas. Os homens aqui precisam

saber que não podem te olhar com segundas intenções, porque

você me pertence. Na verdade, eles não podem te olhar de jeito


nenhum.
— Ninguém vai me olhar — retruco.

— Você tem noção de como é linda e deliciosa? É como um

pedaço gigante de chocolate — murmura com um leve tom de

divertimento.

— Hum, além de mafioso, é comediante também?

— Um criminoso com senso de humor e apaixonado. Uma


bela combinação, não é?

Não consigo desfazer o sorriso no rosto.

— É uma combinação perfeita.

E lá vai eu para trás de novo, a mão de Noah firme nas


minhas costas e a mordidinha gostosa no meu pescoço. Volto para

cima e dessa vez, ele encosta a testa na minha, olhando dentro dos

meus olhos e respirando devagar.

— Vamos casar.

Meu coração acelera.

— Isso é um pedido ou uma ordem?

— Uma sugestão. Quero que você seja minha rainha.

Coloco as mãos espalmadas em seu peito e noto que o seu

coração está tão acelerado quanto o meu. Caramba. Não sabia que
ele podia ter esse tipo de reação e gosto de saber que está assim

por minha causa.

— Como vai ser isso?

— Você sendo minha pra sempre.


— Noah e Sophia — o padre começa a falar.

Ele não parece tão feliz em me casar de novo, o homem de


Deus acha que cometi um pecado grave contra o Senhor ao me
divorciar e anular o meu primeiro casamento. Mas ele sabe quem eu

sou e o que a minha família faz, e assassinato também é pecado e


ele nunca disse que estávamos condenados por isso.

Juntamos nossas mãos ao ouvir a voz do padre pedindo para

fazermos isso. Sorrindo, ela olha dentro dos meus olhos e faz o meu
coração se agitar.

Ele pede que declaremos o nosso compromisso perante a

Deus.
— Eu, Noah Octávio Carbone, aceito você, Sophia Canning,

como minha legítima esposa. Prometo te amar e te respeitar na


alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza

por todos os dias da minha vida, até que a morte nos separe.

Sophia aumenta o sorriso ao ouvir minhas palavras e noto os

olhos brilhando, o meu amor refletindo o seu.

— Eu, Sophia Canning, aceito você, Noah Octávio Carbone,


como meu legítimo marido. Prometo te amar e te respeitar na

alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza

por todos os dias da minha vida, até que a morte nos separe.

O padre abençoa as nossas alianças.

Apanho uma delas e pego a mão esquerda de Sophia entre a


minha. Focalizando os olhos grandes e verdes ao mesmo tempo em

que me sinto ansioso, deslizo o anel de ouro no seu dedo esquerdo

enquanto peço que receba como prova do meu amor e fidelidade.

Ela faz o mesmo.

— Pelos poderes a mim concedidos, eu vos declaro marido e

mulher. O noivo já pode beijar a noiva.

Inclino-me na direção da Sophia e rompo a pequena distância

das nossas bocas e grudo os meus lábios nos seus, selando o


nosso compromisso de que ela me pertence e eu pertenço a ela.

Para sempre.

A nossa cerimônia acontece no jardim da mansão mesmo e

Sophia quis uma festa pequena, apenas com a nossa família e

amigos íntimos. Tivemos a nossa primeira dança lenta e depois tive

que dar a vez para o Robert Canning.

Danço com a mamma, com a nonna, Romie e até mesmo com

Kiana, que passou a gostar de mim depois de quase seis meses.

Ainda estou aprendendo muito com esse negócio de ser pai e eu

preciso confessar: é a coisa mais difícil que fiz na vida.

Mas, gosto do jeito puro que ela olha para mim e abre sorrisos
fáceis. E mesmo que meu sangue não corra em suas veias, eu sei

que a protegerei com a minha vida se preciso for.

Sophia se aproxima de mim e pega Kiana no colo para uma

dança também. A garotinha passa de mim para ela sem pestanejar.

Ela pode até gostar de mim, mas Sophia se tornou uma das suas

pessoas preferidas.

Observo as duas no meio do salão, mexendo o corpo para lá e

para cá, sorrindo felizes e Sophia cantarola a música romântica que

toca ao mesmo tempo em que Kiana tenta acompanhar.


Elas voltam a se aproximar de mim e Sophia se inclina um

pouco para beijar os meus lábios de leve. Kiana enrola uma mecha
do meu cabelo no dedo gordinho e começa a rir, como se fosse

muito engraçado.

— Ela gosta de você — Sophia diz.

— Acho que gosta mais de você.

Minha esposa encaminha a atenção para Kiana em seus

braços e abre um sorriso doce. A menina enterra o rosto no ombro


de Sophia e enlaça o braço em volta do seu pescoço.

— Se me dissessem que depois de formar, eu casaria com o


chefe da família Carbone e ganharia uma filha, não acreditaria —

ela murmura, alisando as costas de Kiana. — Estou feliz.

Os cantos da minha boca se curvam em um sorriso maroto.

— O pacote completo pra te fazer feliz — devolvo, fazendo-a


rir.

Lexie e Zoey, a sua bebê de apenas meses, Lina e Romie se


aproximam para dançar com Kiana e deixam minha esposa só para

mim. Coloco as mãos na sua cintura e a conduzo de um lado para


outro. Estamos completamente fora do ritmo da música, mas Sophia
não parece se importar.
— Eu te amo, Noah Carbone.

— Eu te amo, Sophia Carbone.

— Gosto de como soa. Acho que nasci pra ser a sua rainha —

declara.

— Nunca duvidei disso.

Ela encosta a cabeça no meu peito e continuamos mexendo

os nossos corpos e eu me sinto ansioso para levá-la para o quarto e


ter o nosso primeiro momento íntimo de marido e mulher.

Dançamos mais um pouco, depois comemos e conversamos


com os nossos convidados. A festa fica cada vez mais animada em

vez de diminuir o ritmo. Odeio um pouquinho minha família italiana


por isso.

Só queria me afundar em Sophia pelo resto da noite.

— Não precisamos ficar aqui até a festa acabar, sabe? — é


Sophia quem diz ao se aproximar de mim. Ela estava na pista de

dança com a sua avó e a minha, rebolando o corpo de forma


eufórica. — Você é o dono de tudo. As pessoas entenderão se você

quiser passar um tempo com a sua esposa e eu te conheço, sei que


quer fazer isso.
Não faz duas horas que estamos na nossa festa de
casamento, mas foda-se, ela tem razão.

Surpreendo Sophia ao pegá-la no colo e toda a nossa família


começa a bater palmas e dar gritos animadinhos. Sorrindo, ela

passa um braço em volta do meu pescoço e enfia o rosto no meu


peito, como se estivesse envergonhada.

Robert bate palmas também, só que o rosto é uma carranca


dura e desgostosa. Acho que ele nunca vai gostar do fato de que

agora a sua filha é minha esposa, mas nem me importo de verdade


com isso.

Ela é a única que importa.

Carregando Sophia no colo, entro na mansão. Ela ri o tempo


todo, uma mistura de felicidade e álcool.

— Essa tradição de carregar a noiva é tão linda e romântica,

quase poética.

Deposito um beijo terno na sua testa e ainda com ela no colo,

subo as escadas. Ela suspira e o braço no meu pescoço me aperta,


como se fosse incapaz de me soltar. Ao chegar em frente ao quarto,

ela eleva a mão para girar a maçaneta. Empurro a porta com o pé e


entramos. Com delicadeza, coloco-a no chão e tranco a porta logo
em seguida.

Sophia se vira para mim e morde o lábio inferior.

— Pronto, agora eu sou sua.

Sorrio.

— Minha pra sempre.

— Sua pra sempre.

Ela rompe a nossa distância e ergue um pouquinho o pescoço


para me beijar na boca, aquecendo o meu coração como costuma

fazer sem esforço. Seguro o seu rosto entre as duas mãos e

encosto nossas testas ao fechar os olhos.

— Pertenço a você também.

Minha esposa suspira e pisca devagar e logo abre meio


sorriso ao dizer:

— Eu sei, você é meu.

Sinto o canto da boca se repuxar e isso a faz voltar a grudar

os lábios em mim para um beijo profundo, lento e intenso.

Sophia é minha.

Minha na dor.
Minha no pecado.

Minha para sempre.


A seguir reservei três bônus especiais para você. O bônus 1 é
do próximo livro da Série “Família Carbone”, que vai contar a
história do Thomas e tem previsão de lançamento no final de janeiro

de 2022. E o bônus 1 e 2 são os primeiros capítulos dos primeiros


livros da série, que já estão disponíveis aqui na Amazon!

Boa leitura.
Ao entrar no corredor em que fica o antigo apartamento de
Nicholas e que atualmente Lawanda mora, solto uma baforada de
ar.

Essa garota é um atentado ao pudor e vem sendo uma dor de

cabeça para mim, ainda mais quando os meus olhos insistem em


ficar flanando aquele corpo pequeno e com curvas atraentes.

Ela só tem dezenove anos, Thomas.

Mesmo que eu repita isso como um mantra, não parece entrar


na minha cabeça e muito menos, impedir a imaginação sacana de

fantasiar algumas indecências com a loira. Sou um canalha, não

devia pensar em uma garota tão nova desse jeito.


Nunca gostei de mulheres tão novas e sempre prezei as que

tinham mais experiências na cama, mas parece que o meu pau


resolveu mudar desde que comecei a passar um tempo com a irmã

do Nicholas.

Assim que chego em frente à porta do apartamento e a vejo

entreaberta, tiro a arma do coldre escondido debaixo do terno e a

mantenho em riste. Faz meia hora que Lawanda tinha mandado


uma mensagem de texto falando que precisava conversar comigo.

Será que está em apuros?

Achei que era apenas um pretexto para me atazanar e tirar do

sério, ela vem fazendo muito isso ultimamente. Ainda mais depois

que me pegou com os olhos vidrados na sua bunda convidativa.

É, eu sei, um canalha.

Empurro a porta sem fazer barulho e dou um passo para

dentro do apartamento. Quase todas as luzes estão apagadas e o

lugar inteiro está sendo iluminado pela lâmpada acesa da varanda.

Ainda com a arma em punho, olho para os lados, apreensivo

por Lawanda. Ela mora sozinha e recusa ter homens vigiando sua

porta. Já fez um escândalo por isso e é difícil controlá-la.

Eu disse... uma dor de cabeça.


De repente, um chute certeiro faz a arma cair da minha mão e
antes que possa entender o que está acontecendo, vejo uma perna

voar direto para a lateral do meu rosto, mas consigo bloquear com a

mão direita.

— Oi, Thomas — Lawanda fala, sorrindo.

Mesmo com pouca luz, minhas vistas captam o que o seu


corpo está vestindo. Legging preta bem justa, ressaltando o quadril

sexy e uma blusa curta que deixa a barriga chapada de fora.

— Que merda, é essa? Eu entrei armado.

Ela ri e de repente, vejo as luzes se acendendo. Levanto as

sobrancelhas ao reparar que a garota tem dois bastões de metais,


um em cada mão. O cabelo foi preso em um rabo de cavalo e os

pés estão descalços.

— O que é isso?

— Eu disse que Nick tá me ensinando a lutar. Agora quero dar

uma surra em você — é o que diz, toda atrevida e com um sorriso


diabólico desenhando os lábios salientes.

Começo a rir, me divertindo. Inclino o corpo para frente e pego

a arma caída no chão. Lawanda tem sorte, eu estava prestes a

destravar quando ela voou em cima de mim.


Sorte nada, ela é muito impulsiva, imprudente e não pensa

nas consequências.

— Não inventa, garota.

— Você vive dizendo que eu sou uma criança, então é melhor


se preparar para apanhar de uma.
Entro na mansão onde cresci e guardo as melhores
lembranças da infância. Nada mudou, a decoração ultrassofisticada
com acabamentos opulentos são as mesmas desde que sou

criança.

Caminho até o piano aberto no imenso hall de entrada e passo


os dedos de leve sobre os teclados, buscando na memória a última

vez que toquei o instrumento.

— Você costumava tocar tanto, bambino[23] — vovó fala ao

descer as escadas. Em passos lentos, ela se aproxima de mim.

Abaixo-me um pouco para que ela segure meu rosto e deposite um


beijo na bochecha esquerda, depois na direita.
— Não sou mais uma criança, nonna[24] — digo, e é minha vez

de segurar seu rosto enrugado e sem maquiagem entre as duas


mãos. Ela está tão velhinha, os cabelos brancos são macios como

algodão e tem um cheiro tão bom. Tem cheiro de lar.

É claro que ela me ignora e se entrelaça no meu braço, me


conduzindo até a estufa nos fundos da casa. Chegando lá, dou de

cara com a mamãe cuidando das hortaliças. Faz um frio de menos

dez graus e a mulher está usando apenas calças jeans, cardigã,


chapéu extravagante e luvas.

Com cuidado, me afasto da vovó e vou na direção dela, que


ainda nem notou a minha presença.

— Mamma[25], a senhora vai pegar um resfriado — digo e


depois lanço uma olhadela para a moça que estava ajudando a

cuidar das plantas, faço um gesto com a cabeça, que ela entende

no mesmo segundo. A mulher entra em passos rápidos e vai buscar

um casaco. — Ainda brava com seu filho? — pergunto, sugestivo.

De cara fechada, ela deixa o regador de lado, retira as luvas,


colocando-as em cima da mesa de madeira próxima. Segura meu

rosto com as duas mãos quando estou próximo o suficiente, em

seguida, deposita um beijo caloroso em cada bochecha.


— Como posso não estar brava com você? — resmunga, me
roubando um quase sorriso.

Ela ainda não se conforma com o fato de eu ter saído de casa.

Eu sempre prezei pela minha privacidade e mamãe sempre gostou

de me ter debaixo das asas, colocando juízo na minha cabeça e me

dizendo o que não fazer. E claro, o que fazer.

Por sorte, a vovó não ficou tão ressentida com a minha

decisão, mas às vezes, as duas dão uma bela dupla quando o

assunto é família.

Antes que possa conduzi-la até dentro de casa, a moça surge

com um casaco grande e acolchoado, que passo pelos braços da

mamãe e fecho o zíper na frente, protegendo-a do frio cortante.


Mesmo que ainda esteja brava comigo, ela me dá um sorriso doce.

— Vem jantar em casa hoje ou tem compromisso com as

suas...

— Mamma — interrompo em um tom de repreensão antes que

ela vá longe demais.

A mulher é ciumenta e não gosta do fato de eu estar

aproveitando minha solteirice. Para mamãe e a matriarca, é claro,


eu já devia estar bem-casado como o meu irmão e pensando em

pequenos herdeiros.

Se elas soubessem que depois de três meses de casados,

Noah ainda nem tocou na esposa...

— Eu ia dizer amigas — fala na defensiva.

Vovó e eu rimos. Assinto, fingindo acreditar nas palavras dela.

— É claro. — Ofereço meu braço e mamãe se enrosca em


mim. — Venho jantar com a família, não se preocupe.

Quando estamos próximos da porta que dá na direção da


cozinha, vovó se envolve no meu outro braço e eu entro

acompanhado das duas mulheres mais importantes da minha vida.


Bem, existe Romie, mas às vezes, eu a amo com a mesma

intensidade que a quero longe de mim. Minha irmã mais nova é


muito difícil de lidar.

Depois de amansar a fera, que chamo de mãe, deixo-a na


sala, junto da vovó. Só vim fazer uma visita rápida antes dos meus

compromissos. Papai tinha me dito que ela ainda estava brava por
eu ter me mudado e eu precisava resolver as coisas para ele ter um

pouco de paz no matrimônio.


Antes de me deixar sair, mamãe começa a dizer que se eu

não aparecer no jantar, ela tornará a casa uma prisão italiana e me


obrigará a morar sob o mesmo teto até os meus últimos dias em

vida.
Chego em Toronto exausto, mas não posso faltar ao enterro da

minha própria mãe. Passo os olhos pela mobília de requinte e


suspiro. A casa está perfeita, como antes de eu ir embora, mas

nada parece igual. Tanta coisa mudou nos últimos anos, que até
parece que outra pessoa cresceu aqui, não eu.

Deixo as malas de qualquer jeito no pé da escada e peço ao


motorista para me levar até o cemitério onde minha mãe vai ser

enterrada. Ao entrar no carro, sinto o peito doer. É tão estranho,


ainda não consigo acreditar que minha mãe se foi.

Por causa do trânsito, tudo demora e o pensamento que ecoa

dentro da minha cabeça como um mantra é que não posso


decepcionar Lawanda de novo. Ou deixá-la passar por essa perda

sozinha. Eu sei que estava meio hesitante em vim para cá, mas

Julian[26] tem razão, minha irmã precisa de mim.

E ela também é minha família e eu farei qualquer coisa para

protegê-la.

Chegamos depois de quase vinte minutos e noto em frente ao

cemitério, repórteres de plantão que aguardam com as câmeras,


microfones, gravadores prontos para atacar. E é o que fazem assim

que os olhos curiosos me captam.

— Sr. Farley, por favor, você vai assumir a Corporação Farley?

— Sr. Nicholas Farley, você voltou pela morte da sua mãe ou

apenas por interesse nos negócios da família?

— O que tem a dizer sobre o boato de que o senhor será o

novo CEO da Corporação Farley?

Perguntas me bombardeiam e antes que possa explodir de

forma agressiva, Mattéo o motorista da família Farley que me trouxe


até aqui, empurra os repórteres e me guia até dentro do cemitério.

— Obrigado — agradeço sem jeito quando já estou longe dos

flashs e perguntas.
Se não fosse por ele, eu teria feito merda e em menos de vinte
quatro horas minha cara estamparia jornais e revistas de fofocas por

ter agredido algum imbecil e não por estar de volta à cidade em que

eu nasci.

— Não por isso, senhor. É o meu trabalho — é o que ele diz.

Em meio aquelas tantas pessoas, avisto Lawanda chorando


nos braços de Schavier, nosso tio, irmão mais novo do nosso pai.

Ela parece bem menor do que realmente é, indefensa e sozinha,

mesmo nos braços de um parente tão próximo.

— Nicholas? — ela grita, surpresa.

Corre até mim e me encara com seus olhos azuis rodeados de


olheiras vermelhas, e sem aviso prévio, começa a desenfrear socos

no meu peito, usando toda a sua força. Para ser sincero, eu não

esperava uma reação diferente.

Quando fugi de Toronto, minha mãe passou quase um ano

procurando por mim e ao me encontrar, se decepcionou, porque eu

não quis voltar para minha antiga vida. Ela não me pertencia mais.

Minha irmã me ligou tantas e tantas vezes, e até foi atrás de

mim, querendo me fazer mudar de ideia, mas eu já estava


estabilizando e envolvido com a família Carbone[27], que não quis

voltar aqui e lembrar que meu pai morreu.

Eu fui fraco e deixei minha irmã e mãe sozinhas.

— Seu imbecil. O que está fazendo aqui? — dispara, alterada.

— Sinto muito, Lawa.

— Não se chame assim — crispa ao acertar com força um


tapa no meu rosto. — Perdeu esse direito quando não quis voltar.

Você perdeu esse direito quando me abandonou.

Respiro fundo, contraindo o maxilar, mas assinto. Ela tem


razão.

— Mesmo que não vá fazer diferença pra você, eu estou aqui.


Por você — digo, num tom baixo e com a garganta seca.

Ela chora.

E mesmo sabendo que ela me odeia no momento, corto a


nossa distância com um passo e a puxo para os meus braços.

Minha irmã resiste no começo e tenta se soltar de mim, mas acaba


cedendo e chorando nos meus braços.

— Eu te odeio — murmura.

— Eu sei, sinto muito.


Aperto minha irmã contra o peito e beijo o topo da sua cabeça,

olhando para o caixão preto, o qual minha mãe descansa, pronta


para ser enterrada e esquecida. Porque é isso que acontece quando

você morre... você é esquecido.

Schavier se aproxima de nós, pousa uma das mãos no meu


ombro e pressiona com um pouco de força. Acho que está tentando
passar algum tipo de apoio, mas não surte efeito em mim.

Ele é o parente de sangue mais próximo que Lawanda e eu

temos agora, talvez, o único. No entanto, nunca consegui gostar


dele de verdade. Nunca senti verdade nas suas palavras ou ações.

E também nunca senti ligação com ele.

Schavier e nada, é quase a mesma coisa para mim.

— Por que veio, Nick? Por que está aqui? — minha irmã
murmura nos meus braços, me fazendo engolir em seco.

— Não podia deixar você sozinha. Me desculpe.

Ela é apenas uma garota de dezenove anos e tenho que ser o


seu alicerce. No momento, sou tudo o que ela tem. Mesmo que eu

tenha feito muita merda nessa vida, preciso cuidar da minha irmã
agora.

Lawanda é minha responsabilidade.


— Vou cuidar dela — Schavier diz e eu viro meu rosto para
olhá-lo nos olhos. Ele não parece surpreso por eu estar aqui, é
como se já me esperasse. — Não se preocupe, Nick. Eu cuidarei da

sua irmã.

Contraio a mandíbula. Eu não preciso que ele cuide da minha


irmã. Passei oito anos da minha vida me cuidando bem e sozinho.
Meu tio não sabe, mas aquele garoto que foi embora de Toronto

depois da morte do pai, morreu.

E se tem uma coisa que sou capaz de fazer nessa vida, é de


cuidar minha irmã. Mais do que ele imagina.
Oi!

Espero que você tenha gostado de O Senhor da Máfia. Noah


e Sophia são aquele casal intenso e arrebatador que deixa a gente

de cabelo em pé, mas que tanto amamos.

Noah é um quase um demônio com cara de anjo, só que


preciso confessar que eu amo demais esse mafioso. Estou
apaixonadíssima com a história dele e de como tudo se desenrolou.

Em breve vou lançar o próximo livro da série “Família

Carbone”, estou trabalho bastante para que você se apaixone pelo


meu próximo casal também.

Se você ainda não leu outras histórias minhas, dá uma


passadinha na minha página da Amazon ou no Insta. E se quiser

acompanhar mais sobre os meus lançamentos e tudo que rola nos


bastidores da minha escrita, venha interagir comigo em:
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[1]
Papai em italiano.
[2]
O chefe dos chefes. Título máxnimo na hierarquia da máfia italiana.
[3]
Consigliere ou também conselheiro é às vezes visto como o braço direito do
Don. Participam da mediação de disputas, atuam como representantes da família
em situações de risco e frequentemente são a ligação entre o Don e o aspecto
judiciário ou político.
[4]
Vovó ou avó em italiano.
[5]
Julian é o protagonista de O Homem da Máfia, subchefe da família Carbone e
noivo de Jolina. O livro já disponível na Amazon e gratuito no Kindle Unlimited.
[6]
Mãe ou mamãe em italiano.
[7]
Rapaz, você enlouqueceu? em italiano.
[8]
Caporégime ou também conhecido como capitão está abaixo do Don, Chefe,
Subchefe e Conselheiro no nível hierárquico da Máfia Italiana. O capo, dirige um
grupo grande de soldados. Em algumas ocasiões pode atuar como sicário
segundo as ordens do Don.
[9]
Moça em italiano.
[10]
Criança ou bebê em italiano.
[11]
Ah, pelo amor de Deus, filho em italiano.
[12]
Para os judeus, a comemoração de fim de ano é a Hanucá, a tradicional Festa
das Luzes, que apesar de acontecer quase na mesma época, tem outros motivos
para ser celebrada. A festa começa no dia 25 do mês judaico de Kislev, se
estende por oito dias consecutivos e lembra dos acontecimentos importantes que
ocorreram no ano de 165 antes de Cristo.
[13]
Meu filho em italiano.
[14]
Quebec ou Quebeque é uma das dez províncias do Canadá. É a segunda
província mais populosa do país, depois de Ontário.
[15]
É uma bebida de origem franco-canadense. É muito consumido no leste do
Canadá, especialmente na região de Quebec. A bebida é composta por vinho
tinto, licor forte e xarope de bordo ou açúcar. Por conta da sua cor avermelhada, o
folclore popular diz que o líquido era originalmente uma mistura de álcool e
sangue de rena.
[16]
Ontário é uma das dez províncias do Canadá, está localizada no centro-leste
do país e faz fronteira com os Estados Unidos e os Grandes Lagos. É a província
mais populosa do Canadá, representando 38,3% de toda a população do país,
além de ser a segunda maior província em área total, atrás somente de Quebec.
[17]
É um distrito da cidade de Montreal. Constitui-se dos antigos municípios de Île-
Bizard e de Sainte-Geneviève, que foram reanexados a Montreal em 2002.
[18]
Princesa em italiano.
[19]
Amuleto da sorte em italiano.
[20]
"Funiculì, Funiculà" é uma canção famosa escrita pelo jornalista, poeta e
cantor-compositor italiano Giuseppe 'Peppino' Turco e musicada por Luigi Denza
em 1880.
[21]
É uma dança surgida no sul da Itália, mais precisamente na região da
Campânia, ainda no século XI. Praticada por casais que vão trocando os pares na
execução da coreografia, a tarantella é extremamente animada e caracterizada
pelos movimentos intensos e enérgicos. Com o passar dos anos esta dança
tornou-se indispensável nas festas de súplicas e agradecimentos.
[22]
Isso quer dizer que o resort de esqui onde você está hospedado faz fronteira
com uma montanha nevada. Com isso, você pode sair e voltar ao seu local de
hospedagem com os esquis ou prancha de snowboard nos pés.
[23]
Criança ou bebê em italiano.
[24]
Avó ou vovó em italiano.
[25]
Mãe ou Mamãe em italiano.
[26]
Protagonista de O Homem da Máfia
[27]
Máfia que se estabilizou em Montreal nos anos 50.

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