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Copyright © 2023 Linda Evangelista

Capa e ilustrações: Vic Designer


Revisão: Leticia Tagliatelli
Josiane Queiroz

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens,


lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova
Ortografia da Língua Portuguesa.
Todos os direitos reservados.

É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de


qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios
(tangível ou intangível) sem o consentimento escrito da
autora. A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo 184
do Código Penal.2018.
SINOPSE

Riccardo Bianchi passou boa parte da sua vida sendo treinado para
assumir o lugar do seu pai em uma das mais tradicionais máfias, a Cosa
Nostra.
A fim de torná-lo o Don mais implacável da história, seu pai se
certifica de tirar qualquer tipo de sentimento e humanidade que ele possa
ter, o tornando frio, uma verdadeira máquina de matar e torturar.
Sua única paixão são os cavalos, tanto que ele tem constrói um
centro de hipismo de referência na Itália.
Sua fama com o passar do tempo o precede e um dos seus muitos
nomes é Diabo.
Mas há um porém, para ele se tornar um Don respeitável, precisa se
casar, algo que não deseja fazer mesmo sendo pressionado por todos.
Pelo menos era o que ele queria até uma linda mulher de cabelo
longo, olhos marcantes e corpo perfeito cruzar seu caminho, chamando sua
atenção.
Ele não sabe quem ela é, mas a deseja intensamente e a quer para si.
Lorena Bernardi, é uma linda mulher, com a personalidade forte
que não se deixa dobrar por nada. Apesar de ser filha da máfia, ela teve
oportunidade de estudar e se formou na profissão que tanto ama. Ela é a
veterinária-chefe do centro de hipismo e uma amazona premiada, detentora
de inúmeras medalhas de ouro.
Diferente das mulheres da máfia, ela tem voz e se faz se respeitar.
Aqueles que tentam algo contra sua vontade ou tentam diminui-la
provam algo amargo e doloroso.
Ela tem tudo o que sempre quis até seu caminho se cruzar com o já
Don, Riccardo, em uma das suas noites de diversão.
Ele a deseja, ela sente repulsa...
Ela quer liberdade, ele quer ensiná-la a ser submissa...
Ela é apocalíptica, ele o apocalipse...
Um casamento forçado, obrigações com a máfia, chantagem e
inimigos fazem parte do plano de fundo dessa história explosiva onde
desejo e raiva se misturam.
AVISO DA AUTORA

Esse é um romance Dark contemporâneo, nada tradicional.


Ele contém assuntos polêmicos, incluindo temas de consentimento
questionável, agressão física e verbal, linguagem imprópria e
conteúdo sexual gráfico.
Não leia se não se sente confortável com isso.
A autora não apoia e nem tolera esse tipo de
comportamento.
Se você quer um príncipe encantado, essa leitura
não é para você.
Essa é uma obra de ficção destinada a maiores de 18 anos.
Don/Chefe: No topo da hierarquia está o Chefe, coloquialmente
conhecido como Don. Por ele passa todas as decisões acerca da família e
para ele deve chegar uma percentagem dos lucros de todas as operações de
seus membros;
Subchefe: Logo abaixo do Don, está o Subchefe. Serve como substituto
temporário no caso da ausência do chefe e também como intermediário
entre esse e os outros membros abaixo na hierarquia.
Consigliere: Atua como conselheiro do Don. É o único que de fato pode
ponderar as ações do chefe, servindo como uma segunda opinião.
Normalmente é um posto ocupado por alguém de muita experiência e
perícia para intermediar conflitos e negociações.
Caporegimes: Subordinados diretamente ao Subchefe estão os
Caporegimes, conhecidos também como Capitães ou erroneamente como
Capos. Cada um desses comanda um regime ou equipe que são compostos
por soldados e associados. Um percentual de todo lucro obtido por essa
equipe é passado diretamente ao chefe da família em forma de tributo.
Soldados: É o posto básico da hierarquia. São membros efetivos da
organização, conhecidos como homens feitos. São eles os responsáveis por
conduzir as operações nas ruas e executar os serviços de maior importância.
Associados: São membros externos da organização. Embora não façam
oficialmente parte da família, atuam como colaboradores dos seus membros
efetivos. Dependendo da sua influência e poder, o associado pode atuar
inclusive junto aos postos mais altos da hierarquia de uma família.
Juro sobre este punhal de omertà, com a ponta molhada
de sangue e na frente da honrada sociedade, ser fiel aos meus
companheiros e renegar pai, mãe, irmãs e irmãos, cumprir
todos os meus deveres e, se necessário, também com sangue.
PREFÁCIO

Você não escreve sua vida com palavras, escreve com ações. Sou a
ação na máfia e a máfia foi a ação em mim, explicou o monstro.
O que você pensa, não é tão importante, só é importante o que você
faz, disse a rainha.
Sim, a máfia faz...
Eu sou o Diabo, o chefe.
Submetemos a tudo e protegemos a famiglia com o nosso sangue.
Sigo na linha de frente com a legião de MONSTROS, e a rainha?
Ah, ela tem o poder de controlar o monstro da mesma forma que
domina o segundo escalão deles, também regidos por mim, o Diabo.
Riccardo Bianchi, Don da Cosa Nostra.
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
BÔNUS
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
CAPÍTULO 48
CAPÍTULO 49
CAPÍTULO 50
AGRADECIMENTO
SOBRE A AUTORA
OBRAS DA AUTORA
CAPÍTULO 1

Meu nome é Riccardo Bianchi, sou o herdeiro da maior máfia


do mundo, a Cosa Nostra, e a minha família comanda a Itália há gerações.
Sou o próximo na linha de sucessão, onde irei me tornar o Don e
meu irmão, Carlo, irá ser meu subchefe.
Tenho bastante experiência em comandar essa merda toda, mas nem
sempre foi fácil, mesmo tendo sido criado dentro da máfia.
Fui o único a ser criado com uma educação mais rígida, pois, como
serei o sucessor do meu pai, não tive a vida mansa que meu irmão teve.
Sempre tive que ser o melhor em tudo e demostrar que era merecedor de
um cargo tão importante quanto o que me esperava, afinal serei o próximo
monstro da Cosa Nostra.
Comecei a ser iniciado aos treze anos e fui obrigado a fazer coisas
terríveis em nome da máfia e da famiglia[1].
Naquele dia, perdi minha inocência de criança e me tornei um
homem.
Um ano depois da minha iniciação, já matava no automático, para
orgulho do meu criador, e obedecia a todas as ordens do meu pai sem
questionar.
Era o que se esperava de mim, como futuro chefe, ser um assassino
cruel, frio e temido por todos, sem quaisquer sentimentos.
Foi a lição que fui obrigado a aprender ainda criança.
Troquei meus carrinhos e o amor de mamma[2] por armas e sangue,
e sei que ela sofreu junto comigo.
Não deve ter sido nada fácil para ela ver seu menino se transformar
em um assassino cruel, o monstro da Cosa Nostra.
Acho que apenas aos olhos de mamma ainda sou aquela criança
inocente que ela colocou no mundo.
Uma curiosidade ao meu respeito, só tem uma coisa que me excita
mais do que matar, meus cavalos. Eles são minha paixão, meu escape desse
mundo sangrento onde vivo e esse prazer meu pai não conseguiu tirar de
mim.
Tenho uma das maiores fazendas da Itália que transformei em um
centro de hipismo, referência na arte de equitação, de nível altíssimo com
uma base muito sólida onde trabalham apenas os melhores do ramo,
incluindo veterinários, cavaleiros e amazonas.
Meu pai só não surtou porque viu nos cavalos uma excelente
oportunidade de lavar dinheiro.
Tenho os melhores cavalos do mundo e trato meus animais melhor
do que qualquer pessoa, afinal cavalos são fiéis aos seus donos e hoje só
confio neles.
Nesse exato momento, estou indo para a boate, pois fui chamado
pelo meu pai e sei exatamente o assunto importante que ele quer tratar
comigo...
“Casamento.”
O velho vem me enchendo o saco há meses para me casar e já me
arrumou inúmeras pretendentes que fiz questão de espantar uma a uma.
Na verdade, espantei os pais delas.
O sonho de todo pai dentro da máfia é ter suas filhas casadas com
homens importantes dentro da famiglia, então não é difícil para o meu pai
conseguir pretendentes à altura.
Moças criadas como bonecas e treinadas para serem a esposa
perfeita de qualquer mafioso.
É assim que tem que ser.
Esse é o destino das mulheres no nosso meio, que são usadas como
moedas de troca em casamentos e alianças.
Chego em uma das nossas inúmeras boates de luxo e vou direto para
o escritório do meu pai, onde entro sem bater à porta, o que o deixa puto de
raiva.
Mas que se exploda!
Afinal, foi ele quem criou o homem que sou hoje.
— Será que posso saber que assunto tão importante o senhor tem
para tratar comigo que não poderia me esperar chegar em casa?
Ele aponta para a cadeira na sua frente para que me sente.
— O assunto é sério, Riccardo, e vou direto ao ponto sem
enrolações.
Encaro meu pai.
— Quem preciso matar ou torturar dessa vez? — Enquanto não
assumo de vez seu lugar, faço o que ele manda.
— Isso você já faz bem até demais e não precisa das minhas ordens
para fazer o seu trabalho. Você chegou ao nível máximo, meu filho, e
conseguiu fazer um feito que nunca ninguém fez. — Ele faz uma pausa me
analisando, tentando desvendar minhas emoções.
A questão é que não tenho nenhuma, pois ele mesmo as arrancou de
mim.
— Pela primeira vez na vida me fez sentir medo, me fez sentir
enjoado ao presenciar uma tortura. O que fez com aquele traidor, que
entregou a localização do nosso carregamento de drogas, foi algo que nunca
tinha visto, nem mesmo em profissionais.
“Você elevou e muito o conceito de tortura. Conseguiu manter o
homem um morto-vivo por três dias e arrancou todas as informações dele
até mais do que precisávamos saber e isso me surpreendeu.
“Admito que me surpreender não é nada fácil.”
Devo dizer que não tenho muito orgulho do que fiz com aquele
homem, afinal junto com ele morreu o que restava de humanidade dentro de
mim.
Bom, sei que não foi para isso que ele me chamou aqui, por isso
decido ser direto.
— O que quer, papai?
— Vou passar o poder a você.
Isso sim, me surpreende e ele percebe, pois, o sorriso na cara do
velho diz tudo.
— Geralmente o herdeiro só assume o controle da famiglia quando
o pai morre, mas com você será diferente. Não precisará esperar minha
morte para assumir os negócios, vou nomeá-lo em um mês como o novo
Don e seu irmão será seu subchefe.
Isso não me deixa feliz como esperava que iria ficar.
— Quer que te agradeça por isso?
— Não, Riccardo, já passamos desse nível. Em um mês você será o
meu Don, mas nunca perca o respeito por mim e por sua mamma.
“Você será o chefe, estará no topo da cadeia alimentar do nosso
mundo.
“Você, meu filho, terá literalmente o mundo aos seus pés, mas não
se deixe corromper pelo poder que vou colocar em suas mãos.
“Mas para que possa se tornar mais respeitado do que já é e será
daqui um mês, precisará se casar ou no mínimo arrumar uma noiva.”
— O senhor sabe que isso não vai acontecer, não sabe?
Ele sorri de um jeito macabro, o mesmo sorriso que ele me deu
quando matei a minha primeira vítima.
— Você já tem trinta e sete anos, e como chefe precisará gerar
herdeiros para garantir que o poder não saia das mãos da nossa família.
“Como fez questão de espantar as pretendentes e quase matar de
medo os pais delas, vou deixar a escolha da minha futura nora em suas
mãos.
“Mas, per l'amor di Dio[3], escolha direito a mulher que vai colocar
dentro da nossa casa.
“O certo seria fazer uma aliança forte com o seu casamento, mas já
vi que isso não será possível.”
Meu pai é um homem muito esperto e pensou em exatamente tudo.
Ele já está velho e muitos já estão dizendo por aí que está se tornando um
homem fraco, mas me passando o poder agora ele não só cala a boca do
conselho como também me obriga a casar.
O desgraçado vai conseguir o que quer.
— Passando o poder o senhor mata dois coelhos com uma cajadada
só.
Ele sorri diabolicamente.
— Exatamente, meu filho. Em um mês você assumirá o poder e
depois disso trate de arrumar uma noiva. Não importa de onde ela saia
desde que pertença à máfia e que não seja uma das suas prostitutas.
— Está tão desesperado assim para me ver casado? — pergunto com
um sorriso de deboche no rosto.
— Não está me dando muita opção e minha influência em você já
não é tão grande como antes. Sei que já tem seus homens de confiança que
são fiéis a você.
“Estou tirando meu time de campo e colocando quem criei e forjei
como bem quis em seu verdadeiro lugar.
“Agora saia da minha sala, ainda tenho muito trabalho para fazer
hoje antes de voltar para casa.
“Por falar em casa, durma lá hoje ou sua mamma vai atrás de você
onde quer que esteja.
“Na cabeça dela, você ainda é uma criança e vai ser um choque
quando ela ficar sabendo que assumirá o meu lugar, então vamos dar a
notícia a ela com calma.”
— Tudo bem. — Levanto e saio da sala, indo até o bar da boate.
Não preciso falar nada e o barman já me serve uma dose do meu
whisky preferido, um bom e velho Dalmore Trinitas 64, um dos melhores.
Aqui todos já me conhecem.
Ao notar a minha presença uma das nossas acompanhantes de luxo
já se aproxima de mim.
Como papai diz, uma das minhas prostitutas.
— Oi, garanhão, fazia muito tempo que não vinha por aqui me ver
— ela fala toda manhosa, tentando me beijar, mas não permito.
— E quem foi que disse que vim aqui hoje para ver você? Está se
achando importante demais, não acha?
Ela me olha toda sem jeito.
— Desculpa, Riccardo, eu não...
— Chefe, é assim que deve me chamar e sabe muito bem disso. Meu
nome não é para andar na boca de uma vadia qualquer.
— Desculpa, chefe, o senhor vai querer a minha presença essa
noite?
Estou prestes a responder quando uma garota me chama atenção na
pista de dança e essa nunca tinha visto por aqui.
Vejo que a garota está acompanhada de um homem e parecem ter a
mesma idade. Ele está com as mãos na cintura dela e ela está segurando seu
pescoço, dançando coladinhos, mesmo assim consigo ver o quanto a
ragazza[4] é bela.
— Saia daqui, não vou precisar de você hoje. Ela sai e fico de olho
na linda mulher à minha frente.
— Você conhece aquela moça ali, dançando com aquele moleque?
— pergunto ao barman que olha na direção que indico.
— Bela ragazza, senhor, mas nunca a vi por aqui. Acho que é a
primeira vez que a vejo. Caso o senhor queira, posso pedir para que um dos
soldados a leve para um dos quartos e dê um jeito no moleque que a
acompanha.
A oferta é tentadora, mas chega de sangue por hoje. Por enquanto,
vou me conformar só em assisti-la dançar.
— Hoje vou só admirá-la, mas caso ela volte aqui outro dia e eu
esteja no escritório, faça isso e mande me chamar.
— Pode deixar, chefe.
Sou servido de mais uma dose de whisky e fico admirando a mulher
que provavelmente será a minha esposa.
CAPÍTULO 2

Um mês passa muito rápido e já assumi o lugar do meu pai, para


orgulho dele e desespero de mamma.
Mas ela sabia que esse dia chegaria.
Hoje, sou Don da máfia mais poderosa do mundo, a Cosa Nostra, e
como meu pai mesmo falou, o gosto do poder é muito doce.
Porém, junto com o poder vieram os inimigos.
Não que já não os tivesse antes, mas agora eles triplicaram de
número e todo cuidado é pouco nesse mundo em que vivemos.
Nunca mais encontrei a tal garota da pista de dança e me amaldiçoei
por não a ter pegado para mim, naquele mesmo dia.
Cometi um erro que não irá se repetir, caso a encontre outra vez.
Não importa se já esteja casado ou não, aquela mulher será minha.
E, por falar em casamento, a cobrança do enlace que antes era só do
meu pai se espalhou pelo conselho e estão exigindo o meu casamento.
Admito que minha vontade é de mandar matar todos, mas não posso
fazer isso.
O pior é que até a minha mãe se juntou ao time dos que estão
procurando uma noiva para mim, o que é um inferno.
— Chefe, estamos prontos — um dos soldados fala chamando
minha atenção.
— Meu pai e meu irmão? — pergunto.
— Já estão a caminho do centro de hipismo junto com a senhora sua
mãe.
— Ótimo, vamos — falo e entro no carro.

Hoje vamos ter uma importante competição no centro de hipismo e


dois dos meus melhores cavalos irão competir. Esse evento é uma excelente
oportunidade para realizarmos negócios e parcerias, e meu pai é excelente
em fazer isso.
Como de costume, sempre que chego no centro vou direto para a
baia onde meus cavalos ficam.
Todos aqui me conhecem e trabalham para a máfia, então, tenho
livre acesso a todos os lugares.
Os ambientes aqui sem exceção são de excelente qualidade, afinal
não economizei dinheiro quando criei esse lugar que é meu refúgio e minha
única paixão.
— Como eles estão? — pergunto a um dos funcionários enquanto
toco em um dos cavalos que irá competir.
— Eles estão com excelente saúde, senhor, a nova veterinária que
também é a amazona que vai competir faz questão de examiná-los
pessoalmente.
Uma coisa me chama atenção nessa frase...
“Veterinária”?
Nunca tivemos uma veterinária. Todos os médicos veterinários que
temos no centro de hipismo são homens, porque mulheres cursarem o
ensino superior dentro da máfia não é comum.
Como já falei o propósito delas é outro.
Pode parecer machista, mas não fui eu quem fez as regras.
— Veterinária!? — pergunto novamente ao soldado.
— Sim, senhor. O senhor escutou certo, veterinária. Ela também é a
nossa melhor amazona e irá competir hoje junto com o filho de um dos
nossos associados que é um excelente cavaleiro.
Quando vou falar algo escuto uma voz atrás de mim.
— Não toque nos cavalos, por favor, eles costumam ficar nervosos
perto de pessoas que não estão acostumados. Jorge, o que deu na sua cabeça
para permitir que um estranho entrasse aqui? Eu não quero pessoas
estranhas perto dos meus cavalos antes das competições, sabe como sou
exigente quanto ao tratamento dos animais.
O soldado à minha frente muda de cor por uma mulher se atrever a
falar desse jeito comigo, o Don.
— Mas, senhorita, ele...
Faço sinal para que o homem se cale e ele logo entende, se
afastando um pouco.
Eu me viro para encarar a pessoa corajosa que falou daquela
maneira comigo e dou de cara com a mulher que me fez perder o sono
durante alguns dias.
Admito que aqui era o último lugar na face da Terra, onde esperaria
encontrá-la.
Ao analisá-la vejo que já está vestida a caráter com a farda do centro
de hipismo para a competição e pela conversa do soldado, ela deve ser a tal
veterinária.
— O que o senhor está fazendo aqui? Seu lugar não é aqui, senhor,
então trate de se retirar agora mesmo. A competição começará em alguns
minutos.
Mesmo me olhando, ela não abaixa a cabeça como todos fazem e
chego a pensar que ela realmente não sabe quem sou, porque se souber ela,
realmente, é muito corajosa.
— Você sabe quem sou, menina, para falar comigo desse jeito? —
pergunto calmamente.
Quando penso que vai recuar a mulher me encara.
Muito homem forte por aí não tem essa coragem, na verdade,
ninguém até agora teve essa coragem.
— Claro que sei quem é o senhor, Riccardo Bianchi. Saiba que
mandar um cheque generoso todos os meses para manutenção do centro não
lhe dá o direito de entrar aqui e atrapalhar a tranquilidade dos meus cavalos
antes da competição, então saia agora mesmo.
Essa mulher só pode ser louca.
— Acho que eles são meus cavalos porque os comprei com o meu
dinheiro, então...
— Isso é apenas um detalhe. Eles são seus apenas no papel, pois
quem faz o trabalho duro aqui dentro sou eu. O senhor tem que concordar
comigo que as baias dos cavalos não é um lugar apropriado para o nosso
mais novo Don, então faça o favor de sair daqui. Vá fazer “negócios” junto
com os outros convidados de alto padrão que estão nos camarotes, afinal é
para isso que está aqui hoje.
Se ela falou nosso Don deve pertencer à máfia.
— Você pertence a famiglia, menina?
Ela se aproxima, me afastando dos cavalos como se temesse que eu
fosse fazer algum mal a eles.
A mulher parece estar mais preocupada com a vida dos cavalos do
que com a dela que está praticamente por um fio.
— Isso não é da sua conta.
Uma buzina toca alto.
— Está escutando o sinal? Indica que a competição vai começar,
então adeus. — Ela me dá as costas e entra na baia puxando o cavalo pelas
rédeas.
Eu me afasto dando espaço a ela, chamo pelo soldado que me
acompanha e dou uma ordem que vai mudar a vida dessa atrevida.
— Quero saber tudo, absolutamente tudo da vida dessa garota até o
final da competição, entendeu? E não ouse me aparecer sem nada pelo bem
da sua vida miserável.
O homem engole em seco.
— Sim, senhor, mas já posso adiantar alguma coisa se assim desejar.
— Fala logo de uma vez o que já sabe.
Ele concorda com a cabeça.
— Ela é filha de um dos nossos homens, Félix Bernardi. Ele
trabalha aqui desde que o senhor abriu o centro de hipismo, é um dos
responsáveis pela manutenção do lugar.
Conheço Félix Bernard, é um dos nossos soldados e o coloquei para
trabalhar aqui a seu pedido alguns anos atrás.
— Descubra o que conseguir sobre eles e me encontre no final da
competição, agora vá.
Ele sai quase que correndo, já eu vou para o meu camarote
particular, onde recebo apenas a elite italiana nesses eventos de competição.
— Onde estava? A competição já vai começar — meu pai fala
parecendo estar chateado com alguma coisa.
— Fui ver meus cavalos e acabei encontrando uma surpresa muito
agradável que creio que o senhor e a mamma irão gostar muito. Mas isso
fica para o final da competição, pois hoje quero prestar atenção em cada
atleta e em cada cavalo que entrar nessa arena. — Sento no meu lugar
observando a arena e os obstáculos à minha frente.
Não demora muito e a competição começa, então logo o
apresentador fala o nome que tanto queria escutar, Lorena Bernardi.
Observo a apresentação da mulher e fico de boca aberta, pois, foi
simplesmente perfeita e ela não cometeu um único erro.
Meu cavalo é um rei sob o seu comando e confesso que nunca tinha
visto o meu animal tão confiante na arena.
Ao final da apresentação vejo a mulher que acabei de descobrir que
se chama Lorena feliz e sorridente, acenando para alguém.
Acompanho a direção do seu olhar e vejo o mesmo rapaz que estava
com ela na boate.
Ele parece ser o próximo a competir em um dos meus cavalos.
É bom o homem não ficar no meu caminho para o seu bem-estar,
mas esse é um assunto para ser resolvido depois. Primeiro tenho que tornar
a linda amazona a minha noiva e pelo que estou vendo fazer isso vai ser
mais fácil do que imaginava.
CAPÍTULO 3

Me chamo Lorena Bernardino, como meu pai mesmo diz, sou


uma filha da máfia, nascida e criada sob as leis e regras da famiglia.
Mas seguir regras nunca foi bem o meu forte e o meu pai também
nunca se importou muito com isso.
Ele me criou sozinho com a ajuda de Rosa, já que minha mãe
morreu ao me dar à luz e tudo o que sei a respeito dela são as histórias que
meu pai e Rosa me contam.
Minha mãe foi o grande amor da vida do meu pai, tanto que ele diz
ser um homem de sorte por ter encontrado o amor dentro desse mundo onde
vivemos e que minha mãe era a luz da vida dele. Ele só não se entregou a
escuridão do luto por minha causa, pois fui o fruto do amor dele com minha
mãe, a razão dele levantar todos os dias para encarar uma vida sem ela ao
seu lado.
Sou a filha de um simples soldado, a ralé no mundo da máfia, mas
nunca me importei com isso. Nasci, cresci e me criei nesse mundo sombrio,
cruel e sangrento.
Sempre soube que meu pai faz o trabalho sujo da máfia e ele
também nunca escondeu de mim, o que fazia, tanto que por várias vezes vi
meu pai chegar em casa sujo de sangue.
Ele recebia uma ordem e a executava sem fazer perguntas, simples
assim, e vem sendo dessa forma a gerações.
Não se sai da máfia nunca, você nasce e morre nela, isso é
irrevogável em nosso mundo.
Mas tenho um ponto ao meu favor, nasci mulher e, grazie a Dio[5],
meu pai sempre deixou claro que não me criaria para ser uma boneca
obediente e esposa submissa da máfia, muito pelo contrário, sei atirar muito
bem, ele mesmo me ensinou e em uma luta corpo a corpo sempre levo a
melhor.
Enquanto as minhas amigas estavam sendo ensinadas e criadas para
serem esposas perfeitas, eu estava estudando e andando de cavalo no centro
de hipismo que pertence à máfia, lugar onde o meu pai trabalha quando não
está fazendo o trabalho sujo deles por aí.
É nesse centro que passo a maior parte do meu tempo e os cavalos
são a minha verdadeira paixão. Foi com esse amor que sinto por eles que
me tornei a melhor amazona junto com o meu amigo, Bernardo, e juntos
formamos uma dupla incrível e vencedora.
Eu não preciso me preocupar com casamentos arranjados, o meu pai
nunca faria isso comigo, e ninguém iria querer se casar com a filha de um
soldado, então desse fardo estou livre, grazie a Dio.
Os anos se passaram, cresci e fui uma das poucas mulheres que
conseguiram concluir o ensino superior.
Mais uma vez enquanto os pais das minhas amigas estavam atrás de
alianças através de casamentos o meu pai estava tentando conseguir uma
vaga de médica veterinária para mim, no centro de hipismo, e conseguiu.
Sou a única veterinária mulher que temos no centro.
Hoje me sinto completa e realizada fazendo as duas coisas que amo
de paixão.
— Lira, está na hora, filha. Vamos logo ou chegaremos atrasados na
competição. Você tem que ser perfeita hoje, amore mio, o nosso novo Don
estará presente na competição junto com o pai, a mãe e o novo subchefe,
seu irmão. Ele investe muito dinheiro nesses cavalos e o mínimo que ele
espera do centro são as medalhas de primeiro lugar.
Já ouvi falar do nosso novo Don, o homem que agora é o rei de toda
a máfia. Seu pai passou o comando do poder para o filho e dizem que o que
ele tem de lindo tem de mortal, muito pior do que o pai foi, o verdadeiro
monstro da máfia Italiana. Soube também que todos estão o pressionando
para contrair matrimônio, afinal um Don tem que gerar herdeiros. Com isso
os pais estão fazendo de tudo para conseguir o tal casamento para suas
filhas, afinal quem não quer ter uma filha rainha e senhora da máfia mais
poderosa do mundo?
Acho que só o meu pai não pensa assim, grazie a Dio.
Coitada da mulher que cair nas mãos desse homem.
— Eu sou perfeita, papai, e não preciso provar isso para ninguém, as
minhas medalhas de primeiro lugar falam por si só.
Meu pai se aproxima e beija a minha testa.
— Isso mesmo, querida, você é a melhor. Vamos lá mostrar para
todos o que é capaz de fazer.
Pego o capacete e saímos juntos de casa de braços dados, como
sempre.
Ao chegarmos no centro de hipismo logo falam que a família do
Don já está presente e isso deixa meu pai muito nervoso, por outro lado,
fico mais calma do que nunca.
Meu pai assume o seu posto enquanto vou para o lugar onde ficam
as baias dos cavalos e no meio do caminho um dos soldados me para.
— Lorena, o chefe está com os cavalos, por isso é melhor esperá-lo
sair para você entrar lá.
Falto não acreditar no que estou escutando, pois, não gosto de
ninguém perto dos meus cavalos antes das competições, ainda mais pessoas
estranhas, pois isso deixa os cavalos nervosos. Pelo jeito amedrontado que o
homem se referiu ao tal chefe, devo imaginar que seja o nosso Don, mas
dele não tenho medo.
O homem pode mandar na porra toda, mais aqui quem manda sou
eu.
Se ele quer medalhas de primeiro lugar não pode deixar os cavalos
nervosos.
— Saia do meu caminho. Sabe muito bem que vou te levar ao chão
sem nem mesmo amarrotar meu uniforme se não sair agora.
— Lira, estamos falando do novo Don, ele não é um homem para
brincadeiras, sem falar que é o dono disso tudo aqui e um dia essa sua
valentia toda ainda vai te colocar em problemas.
Observo que o soldado a minha frente está apavorado.
O que esse homem tem para deixar todos desse jeito?
— Ele pode ser o dono, mas quem cuida dos cavalos e traz as
medalhas de primeiro lugar sou eu, o que significa que sem mim, o precioso
centro dele não teria a fama que tem, então saia da minha frente agora
mesmo, ratinho.
Ele bufa frustrado.
— Diabo de mulher teimosa! Depois não fala que não avisei e se
ainda faço isso é por consideração ao seu pai que vai ficar arrasado quando
o Don matar a preciosa filha dele.
Finjo que nem escuto o que ele está falando, vou para as baias dos
cavalos e ao entrar vejo a perdição em forma de homem acariciando um dos
cavalos, na verdade, meu cavalo.
Eu não gosto disso.
— Não toque nos cavalos, por favor, eles costumam ficar nervosos
perto de pessoas que não estão acostumados. — Olho para o homem que
está ao lado dele. — Jorge, o que deu na sua cabeça para permitir que um
estranho entrasse aqui? Eu não quero pessoas estranhas perto dos meus
cavalos antes das competições, sabe como sou exigente quanto ao
tratamento dos animais.
Jorge, o soldado que o acompanha, muda de cor quando falo isso.
Com toda certeza ninguém nunca se atreveu a falar com o Don
desse jeito, mas não sou todo mundo e não tenho medo dele, mesmo
sabendo que ele pode me matar agora mesmo se quiser.
— Mas senhorita, ele... — Jorge se cala de repente enquanto o
homem a minha frente parece me analisar, então aproveito e continuo
falando:
— O que o senhor está fazendo aqui? Seu lugar não é aqui, senhor,
então trate de se retirar agora mesmo. A competição começará em alguns
minutos. — Eu o encaro sem abaixar a cabeça.
Posso até ser pequena e magra como exige a minha profissão, mas a
minha ousadia é muito grande e não vou abaixar a cabeça para esse homem.
Ele não me intimida, não importa quem seja.
— Você sabe quem sou, menina, para falar comigo desse jeito? —
ele fala de maneira ríspida achando que vou recuar, mas está muito
enganado se pensa que vou fazer isso.
— Claro que sei quem é o senhor, Riccardo Bianchi. Saiba que
mandar um cheque generoso todos os meses para manutenção do centro não
lhe dá o direito de entrar aqui e atrapalhar a tranquilidade dos meus cavalos
antes da competição, então saia agora mesmo.
Certamente, ele deve me achar louca agora.
Preciso tentar controlar mais a minha língua e o meu temperamento,
mas farei isso amanhã, hoje não dá mais tempo.
— Acho que eles são meus cavalos porque os comprei com o meu
dinheiro, então...
— Isso é apenas um detalhe. Eles são seus apenas no papel, pois
quem faz o trabalho duro aqui dentro sou eu. O senhor tem que concordar
comigo que as baias dos cavalos não é um lugar apropriado para o nosso
mais novo Don, então faça o favor de sair daqui. Vá fazer “negócios” junto
com os outros convidados de alto padrão que estão nos camarotes, afinal é
para isso que está aqui hoje.
Ele me olha incrédulo, tamanha minha ousadia e tenho que
concordar que acho que passei um pouquinho dos limites, mas só um
pouquinho mesmo.
— Você pertence a famiglia, menina?
Eu me aproximo dele, o afastando dos cavalos.
Vai que ele tenta descontar sua raiva neles apenas para mostrar
quem é que manda.
A buzina que indica que a competição vai começar toca alto e
agradeço a Dio mentalmente por isso, porque é um livramento divino.
— Está escutando o sinal? Indica que a competição vai começar,
então adeus.
Entro na baia, pego o cavalo pelas rédeas e me afasto dele o mais
rápido possível.
Ainda bem que ele me deixa passar sem causar grandes problemas.
Quando saio da área das baias respiro aliviada.
Quando estou me aproximando da arena de competição encontro
Bernardo no meio do caminho e ele está indo pegar o cavalo com o qual vai
competir.
— Bernardo, o novo Don está nas baias, então tenha cuidado e não o
irrite caso ele ainda esteja lá.
Ele me olha desconfiado.
— O que foi que você fez, sua louca?
Será que todo mundo pensa isso de mim?
— Eu não fiz nada, só acho que falei o que ele não gostou de ouvir,
só isso. Agora se apresse ou vamos nos atrasar e lembre-se, vamos ganhar e
vamos comemorar.
— Não tenha nem dúvidas quanto a isso, princesa. — Ele se
aproxima beija o meu rosto e vai buscar seu cavalo.
Já eu vou para a entrada da arena me preparar para mais uma vez ser
a melhor naquilo que amo fazer.
CAPÍTULO 4

Ao fim da competição, todos se aproximam para me


cumprimentar pela vitória dos meus cavalos e pela perfeição das
apresentações dos animais na arena, como se aquele feito dependesse
apenas dos bichos.
Um animal para ser bom tem que ser bem treinado.
Mas não tenho tempo para esse tipo de conversa agora, tenho outro
assunto mais importante para resolver no momento e já me demorei mais do
que deveria dentro desse camarote.
— Pai, termine de acertar tudo o que precisa, estou de saída.
O velho me repreende com o olhar, mas ele não tem mais esse
direito sobre mim, por isso tudo o que resta é concordar com as minhas
vontades.
— Nos vemos em casa. — É tudo o que ele fala antes de me virar e
ir até o soldado que dei uma ordem específica.
Se ele já está a minha espreita é porque já tem todas as informações
que quero.
— Fala tudo de uma vez sem enrolação.
Ele balança a cabeça e começa a falar.
— O nome da moça é Lorena Bernardi, ela é filha do soldado Félix
Bernardi que ficou viúvo no dia do nascimento da filha. A esposa morreu
ao dar à luz a menina. Ele nunca mais se casou, e criou a filha sozinho com
a ajuda de uma das empregas que tinha em sua casa.
“Lorena é apaixonada por cavalos, o senhor deve ter percebido isso
hoje. Ela é uma excelente amazona, e também é veterinária.
“Logo após se formar na faculdade o pai dela conseguiu fazer com
que ela trabalhasse aqui.
“A mulher já fez a sua fama, senhor. Ela pode até ser a única
veterinária mulher que temos no centro de hipismo, mas os outros a
respeitam porque ela coloca medo em qualquer um.
“É uma fera e o pai dela sente orgulho disso. Ele não a criou para ser
uma simples mulher submissa como costuma ser no nosso mundo.
“Ela é diferente das outras mulheres.”
Uma pequena fera, gostei dessa parte, pois adoro adestramentos.
— Diferente como?
— Ela não abaixa a cabeça para ninguém e encara de frente seja lá
quem for. Ela já levou ao chão alguns soldados que tentaram... O senhor
sabe, né?
— Não, eu não sei. O que tentaram? — Eu quero saber tudo o que
diz respeito a essa menina.
— Que tentaram se aproximar dela com outras intenções. A mulher
sabe levar a melhor em uma briga e atirar melhor do que muitos dos nossos
soldados. E antes que pergunte, foi o pai que a ensinou e parece que ela
aprendeu bem.
Levanto a sobrancelha interessado no restante da história.
— Continue!
— Resumindo a história para não o deixar entediando, quem passa a
mão nela vai parar no hospital. Só para que tenha um exemplo do que estou
falando, o senhor sabe quem é o soldado Roni?
Quando ele fala esse nome eu me viro na direção dele.
— O que tem ele?
— Não foi bem uma emboscada que ele sofreu como foi dito por aí,
ele tentou abusar da veterinária e ela o mandou para o hospital.
Nessa hora, gargalho.
O infeliz passou três dias no hospital e ainda mandei que
investigassem o que tinha acontecido, foi então surgiu a história da
emboscada.
— A partir de hoje Lorena Bernardi é minha e ninguém se aproxima
dela. Quanto ao soldado Roni, dê um fim nele por ter tocado no que é meu.
Agora me leve até o meu futuro sogro.
O idiota me olha como se eu estivesse louco.
— Sim, chefe.
Saímos do local e vou para a minha sala que fica na parte
administrativa do centro de hipismo enquanto o soldado manda chamar o
soldado Félix para que possamos ter um conversinha mais particular.
Quero saber que merda ele tinha na cabeça para criar uma filha
desse jeito.
É muito bom ela saber se defender de abusadores, mas respeito ela
não tem e a prova disso foi o jeito que falou comigo mesmo sabendo quem
eu era.
— Chefe, o soldado Félix.
Faço sinal para que entre na sala e assim ele faz.
— Feche a porta e sente-se.
Ele faz o que digo e logo que fecha a porta se senta na minha frente.
— O senhor mandou me chamar — ele fala com receio.
Nunca é bom quando mando chamar alguém de forma particular na
minha sala, geralmente, entra um ser vivo e sai apenas um corpo sem vida.
— Lorena Bernard — falo de uma maneira como se saboreasse seu
nome.
Ele não é idiota, vem de uma longa família de fiéis soldados.
— Minha filha. Chefe, ela é tudo o que tenho nessa vida.
Sorrio em escárnio.
— E agora tudo o que você tem na vida será meu. Agora, se não
quiser me dar, tiro a sua vida e problema resolvido.
O homem trava o maxilar e fica vermelho.
— Minha Lorena não vai aceitar ser amante de um homem, ela...
— E quem foi que disse que a quero para ser minha amante?
Ele respira fundo e balança a cabeça, nervoso com o que acabou de
escutar.
— Dio mio[6]!
Agora ele está se dando conta da merda que fez em ter criado a filha
da forma como criou.
— Lorena Bernardi será a minha esposa, a rainha da máfia, a mãe
do futuro Don da máfia mais poderosa do mundo. Espero que ela seja tão
boa esposa quanto qualquer mulher da máfia, obediente e submissa ao
marido.
“Não sou um monstro tão cruel quando dizem por aí e jamais
machucaria alguém que dividirá a cama comigo, ainda mais se ela for uma
boa esposa para o seu marido.
“Ela ficará bem e você será honrado por ter uma filha casada com o
Diabo, o Monstro, ou Don. Me chamam de muitas coisas, escolha o mais
apropriado.
O homem à minha frente parece estar desolado com tudo o que
escuta e quero saber qual vai ser sua ação agora.
— Lorena não vai aceitar isso.
— E, por que não? É uma honra muito grande ser a esposa de um
Don e não estou dando opções aqui.
Quero ver se ele vai ter coragem de confessar o que fez.
— Chefe, eu imploro, procure por outra esposa, qualquer moça de
qualquer família ficaria honrada em se casar com o senhor.
Nessa hora, perco a paciência, tiro a arma que está presa em meu
coldre e bato com ela forte em cima da mesa para que ele veja que estou por
um fio de tirar a maldita vida dele.
— E, por que a sua filha não ficaria honrada? Será que é porque
você fez um péssimo trabalho em criá-la?
“Uma filha da máfia criada solta por aí, fazendo tudo o que quer
sem limites nenhum.
“Sei que ela é instruída, estudou, se formou na faculdade e é uma
excelente atleta. Esses são os únicos pontos positivos da criação que deu a
ela, de resto, o que você deu fará somente com que ela sofra.
“E a culpa desse sofrimento será toda sua.
“Ela será a minha mulher e vou ensiná-la a andar na linha, caso seja
preciso, então, é bom que tenha uma conversinha com ela e explique tudo o
que a espera.
“E nem pense que vai me enganar, já sei de tudo da vida de vocês e
já tenho homens cuidando dela.”
— Me dê seis meses com a minha filha e ela será tudo o que o
senhor espera que ela seja.
Sorrio novamente da cara dele.
— Não dou a você nem mais um dia. Não vai ensinar a ela em seis
meses o que não teve a capacidade de ensinar em uma vida toda. Em seis
meses o mínimo que espero dela é que já esteja carregando o meu filho.
Ele não tem o que falar e só balança a cabeça.
— Quando será o noivado?
Ele sabe que não pode recusar nada o que quero.
— Hoje mesmo, depois a minha mãe organizará um jantar para
oficializar as coisas. Sua filha termina o dia de hoje usando um anel de
noivado no dedo. Às vinte horas chego na sua casa para o jantar e espero
ser recebido pela sua linda e adorável filha.
Ele concorda com a cabeça.
— Só não machuque a minha menina, é tudo o que peço.
— Isso só vai depender dela. Eu não tenho a mínima intenção de
fazer mal a minha futura esposa. Espero que explique direito isso a ela e
como a vida dela vai mudar de hoje em diante.
CAPÍTULO 5

Mais uma vitória minha e do Bernardo, fruto de longas horas de


treinamento e um excelente cuidado com os cavalos.
O hipismo vai muito além de ser apenas um esporte, ele também é
uma arte que exige dons e qualidades do cavaleiro ou da amazona como
nenhum outro, pois nos exige possuir aptidões físicas, como força, destreza
e resistência. São necessárias também habilidades intelectuais, capacidade
de decisão e paciência, mas muita paciência, coisa essa que só tenho com os
meus animais.
Os bichos já me provaram várias vezes que podem ser melhores que
muitos seres humanos por aí, por isso o meu amor por eles aumenta cada
dia mais.
— Lira, está na hora, vamos comemorar, gatinha. — Bernardo se
aproxima e me pega pela cintura, me rodando no ar.
Eu me agarro nele.
— Calma aí, se você me derrubar te dou uma rasteira, seu louco.
— Jamais te deixaria cair, nunca. Seu pai me mataria se a menininha
dele se machucasse.
— Eu te mataria antes do meu pai.
Ele sorri e me coloca no chão.
Ainda nem mesmo trocamos de roupas e estamos com o uniforme
da competição.
— Vamos para a boate ou prefere outro lugar? Os cavalos já estão
todos nas baias, eles foram excelentes hoje, como sempre, merecem um
mimo nosso amanhã.
Temos a regra do mimo, sempre que ganhamos uma competição, no
dia seguinte tiramos o dia para mimar os cavalos como forma de
recompensa para eles também.
— Vamos para a boate, é claro, mas antes preciso achar o meu pai.
Não o vejo há um tempo e sei que ele não iria embora sem falar comigo
antes.
— Relaxa, Lira, seu pai é um soldado, e a família do Don estava
toda aqui hoje. Com toda certeza, ele deve ter sido designado para a
proteção da família mais temida do mundo — ele fala a última parte
fazendo pouco e cheio de graça.
— Que ninguém te escute falando assim, ou seria o seu fim,
espertinho.
Ele nem mesmo se importa com o que falo.
Às vezes, acho que Bernardo não tem a verdadeira noção de onde
está metido até a alma.
— Não sou um borra-botas, minha querida Lorena, e, sinceramente,
não sei o motivo de você continuar morando aqui, enfiada no meio disso
tudo, já que o seu pai te dá liberdade para fazer o que quer. Poderíamos ir
embora juntos, fazer a nossa carreira fora desse lugar.
Não é a primeira vez que Bernardo vem com essa conversa.
— Não é assim que as coisas funcionam, Bernardo, tenho meu pai
aqui e ele não é mais nenhum menino. Ele precisa de mim, por isso não
posso simplesmente ir embora e deixá-lo para trás, afinal ele jamais poderia
ir comigo porque essa maldita máfia a amarra aqui.
— Isso tudo é tão...
— Fique longe dos assuntos da máfia é um conselho que dou como
sua melhor amiga. O seu pai pode até ser um dos associados, mas nem de
longe pense que já viu de tudo ou que sabe como funciona esse mundo. Não
se sai da máfia só porque se quer sair, meu amigo. As coisas são muitos
mais complicadas do que pensa — falo, o interrompendo.
— Quem nasce na máfia, morre dentro dela.
Pelo menos essa regra ele sabe.
— Exatamente, a nossa vida e sangue pertencem a Cosa Nostra.
— Isso é um absurdo.
— Mas é assim que as coisas funcionam.
Ele está prestes a falar algo quando Jorge se aproxima de nós na
saída do estábulo.
— Lorena, seu pai pediu para que fosse para casa agora mesmo.
Estranho a maneira como ele fala.
— Onde o meu pai está? Estou de saída...
— Não está de saída coisa nenhuma, vá para casa que seu pai está a
sua espera lá. Vamos, se apresse.
— Aconteceu alguma coisa com ele, Jorge? — pergunto me
aproximando do homem que dá um passo para trás como se estivesse
querendo manter uma certa distância de mim.
Estanco no lugar, o encaro e ele percebe isso.
— Que porra está acontecendo, Jorge?
Ele respira fundo e olha as horas no relógio.
— Lorena, vá para casa que o seu pai vai te explicar tudo. Agora
não seja teimosa e faça o que estou pedindo — ele fala muito sério o que
me leva a crer que algo muito grave aconteceu com o meu pai.
— Bernardo, a nossa comemoração vai ficar para amanhã, preciso ir
para casa.
Meu amigo sabendo o quanto meu pai é importante para mim, não
insiste.
— Tudo bem, vá ver como o seu pai está e me ligue, marcamos a
nossa comemoração para depois.
Nos abraçamos, nos despedimos e Jorge me leva para casa.
Fiquei tão nervosa que não quis nem mesmo trocar de roupa, ainda
estou com meu uniforme de competição, a única coisa que fiz foi soltar o
cabelo.
— Você sabe o que aconteceu? — pergunto ao Jorge quando
percebo que estamos chegando à minha casa.
— Não me faça perguntas.
— Jorge!
— Não, Lorena, não vou falar nada, esse assunto não é da minha
conta.
— Jorge, por favor, estou pedindo.
— Não, Lorena, converse com o seu pai. — Ele freia o carro de uma
vez em frente da minha casa.
Desço do carro rapidamente e corro para dentro de casa, preocupada
com o que pode estar acontecendo com meu pai, mas o que não me passa
desapercebido é a quantidade de soldados que acompanharam Jorge até
aqui.
— PAI! PAPAI... — Entro em casa gritando por ele e o vejo sentado
no sofá com uma expressão não muito boa.
— Graças a Deus, você chegou, minha filha. Venha aqui,
precisamos conversar.
Vejo o quanto o meu pai está nervoso, mas, aparentemente, ele está
bem.
— O que aconteceu, pai? Procurei pelo senhor e não o encontrei. Já
estava de saída com o Bernardo para comemorarmos a nossa vitória na
competição quando o Jorge me mandou vir para casa. Cheguei a pensar que
algo de ruim tinha acontecido com o senhor.
Meu pai respira fundo como se estivesse tentado se acalmar.
— Minha filha, me responda uma coisa.
— O que foi, papai? O senhor está me deixando aflita.
— Lorena, você por algum acaso viu o nosso Don, ou conversou
com ele?
Estanho essa pergunta.
— Por que está me perguntando isso, papai?
— Responda, Lorena — meu pai fala de forma dura comigo e foram
poucas as vezes que ele fez isso.
— Nos encontramos nas baias dos cavalos antes da competição
começar, ele estava assustando os animais e o mandei sair.
Meu pai primeiro arregala os olhos e depois começa a sorrir como
se fosse louco.
— Você expulsou o nosso Don, o dono da porra toda, até mesmo do
teto em que moramos das baias dos cavalos dele? Do centro de hipismo
dele? Agora entendo o que aconteceu — meu pai fala incrédulo.
— Pai, para com isso. Será que pode me dizer o que diabos está
acontecendo aqui? Por que tem tantos soldados lá fora?
Meu pai muda totalmente sua postura e me olha como nunca tinha
me olhado antes.
— O que está acontecendo, minha querida filha, é que você a partir
de hoje, se tornará a noiva e futura esposa de Riccardo Bianchi, o Don da
Cosa Nostra. Parece que ele gostou de ver o quanto é insubordinada e
petulante. Adivinha só de quem é a culpa por você ser assim? Minha, do
seu pai que te criou fazendo todas as suas vontades.
Em um primeiro momento, chego a pensar que o meu pai está
brincando com a minha cara, mas quando o encaro vejo apenas verdades em
seus olhos.
Meu pai jamais brincaria com uma coisa dessas.
Mas o que mais me dói ver nele, é a expressão pesar em sua face.
— Pai, não, o senhor não pode permitir uma coisa dessas. Eu nem
mesmo sei quem é esse homem direito. Ele não me conhece, não somos
nada, somos apenas pessoas insignificantes. Ele tem que fazer um
casamento para fortalecer a máfia e não tenho nada a oferecer a ele.
O desespero que, realmente, tenha que me casar com um homem
que é considerado ser pior do que o Diabo para todos começa a invadir o
meu peito, não por ter medo dele, mas por me conhecer bem o suficiente
para saber que uma união entre nós dois não daria certo, jamais.
Não posso me casar com o Don, não vou me casar com ele.
— Parece que ele não pensa desse jeito. Seja lá o que você fez ou o
que falou, fez com que Riccardo Bianchi se interessasse por você. Não é
novidade para ninguém que o Don precisa de uma esposa, afinal ele tem
que gerar herdeiros ainda mais agora que está à frente ao poder. Ele precisa
de filhos e você, minha filha, foi a escolha dele.
CAPÍTULO 6

Sigo para casa depois da minha agradável conversa com o meu


futuro sogro, pois preciso pegar o anel de noivado que colocarei no dedo da

minha bela e futura esposa hoje.


Anel esse que foi usado pela minha avó, minha mãe e será usado
também pela minha mulher.
Quando chego em casa sigo direto para o meu escritório, onde está o
cofre. Estou prestes a abri-lo quando meu irmão entra batendo à porta.
— Ric, que tal dividirmos uma bela mulher hoje, como fazíamos
nos velhos tempos? Você está ficando careta depois que se tornou o nosso
Don, o todo poderoso.
Olho para o meu irmão que sempre foi tratado com mais leveza do
que eu, por isso tem esse humor infeliz.
Porém, se me chamam de Diabo o meu irmão é o meu demônio
ajudante, pois é tão mortal e impiedoso quanto eu.
— Sem mulheres hoje, tenho um compromisso. É bom você
começar a se controlar também, subchefe, não aja com desmandos. Logo
após meu casamento vamos tratar de começar a procurar uma noiva para
você.
Assumindo o comando da Cosa Nostra como Don,
automaticamente, meu pai fez do meu irmão meu subchefe. Antes disso, ele
era o cobrador da Cosa Nostra, e adorava o trabalho. Na verdade, ainda
adora, já que faz questão de visitar pessoalmente os que acham que
conseguem nos passar a perna. Ele também faz um excelente trabalho como
executor, pois gosta de matar, de sangue e de torturar suas vítimas.
— Que porra de história é essa de casamento? Quem tem que se
casar é você e não eu. E, por que está pegando esse...? Não acredito!
Fecho o cofre e me viro na sua direção segurando a caixinha de
veludo que ele sabe muito bem o que tem dentro.
— Puta que pariu, Riccardo! Quem é ela? E, por que não estava
sabendo disso?
Sorrio sem querer para ele, dou a volta na mesa e me encosto nela
encarando o meu irmão.
— Lorena Bernardi.
Ele arregala os olhos.
— A veterinária gostosa, que também é a amazona que mais ganha
medalhas para o centro de hipismo?
Mas que infeliz!
Parece que o meu irmão conhece a minha futura esposa.
— Tenha mais respeito, essa mulher vai ser a minha esposa, Carlo
— falo alto e bom tom para que ele entenda.
— Você quer se casar com a Lorena Bernardi? Cara, você está muito
fodido. — Ele começa a rir.
— Você a conhece?
Ele me olha incrédulo.
— E você não? Porra, irmãozinho, onde você estava que nunca
percebeu essa garota trotando nos seus animais? Se bem que ela vai
cavalgar em outra coisa agora.
Tiro a arma do coldre e aponto para ele, mesmo sabendo que não se
deve fazer isso com um irmão de sangue.
Um tiro no pé não o mataria.
Mamma se visse uma cena dessas morreria.
— Mais uma gracinha e meto bala em você.
Ele levanta as mãos em sinal de rendição.
— Ei, acalme-se aí, irmão. Ela vai ser a minha cunhada, é claro, que
vou ter respeito por ela.
— Acho muito bom mesmo, ou então vou esquecer que você é meu
irmão. Agora me diga de onde a conhece.
— Ela já é amazona há algum tempo e quando terminou a faculdade
de medicina veterinária passou a trabalhar no centro de hipismo de forma
oficial. Fui eu quem deu autorização para que ela fosse contratada. Ela é
filha do Félix, um soldado de muita confiança. A mulher literalmente
colocou ordem em tudo e hoje é a veterinária-chefe. Ela vive andando pelo
haras, cara, como nunca a tinha visto antes?
Porra!
Parece que só sou eu mesmo não sabia quem era essa mulher.
— Por que não fui informado disso?
Meu irmão sorri de lado.
— Você estava ocupado demais se preparando para ser o Don e me
mataria se te importunasse com esse tipo de assunto.
— Quero ser importunado com qualquer assunto que envolva o meu
centro de hipismo, qualquer assunto que envolva os meus cavalos, o meu
haras, ouviu bem, Carlo, seu porra?
— Ela sempre esteve lá, Riccardo, você é que nunca tinha notado.
Mas ela não tem namorado? Sempre a vejo com o Bernardo, ele é filho de
um dos nossos associados.
Agora é a minha vez de sorrir.
— Se tinha não tem mais, pois ela é minha agora e estou indo daqui
a pouco para a casa do soldado Félix colocar a porra desse anel no dedo de
Lorena Bernardi.
— Onde a conheceu já que até hoje nunca nem mesmo tinha notado
a existência dela?
Me vem na memória o dia em que a vi pela primeira vez na boate.
— Vi a Lorena pela primeira vez na boate um tempo atrás e tudo o
que fiz foi ficar sentado no bar, saboreando o meu belo whisky Dalmore
Trinitas 64, admirando a beleza dela enquanto dançava. Fiquei tão
hipnotizado com o que vi que nem mesmo tive reação para fazer outra
coisa. Depois daquele dia a vi novamente hoje, nas baias dos cavalos, e ela
me expulsou de lá mesmo sabendo quem eu era.
O cretino do meu irmão começa rir da minha cara e aponto a arma
para ele de novo.
— Já parei. Nem se casou ainda com o problema e já está nervoso
desse jeito, Ric?
— Você realmente não tem medo de levar um tiro, né, seu bastardo,
maledetto[7]?
— De você não, irmão. Mas nunca imaginei que o Don, Riccardo
Bianchi, fosse se apaixonar à primeira vista por uma amazona.
— Não me apaixonei, só que preciso me casar e gerar herdeiros,
então que isso seja feito com uma mulher que chamou a minha atenção.
Isso torna as coisas muito mais fáceis.
“Amor é para os fracos e sabemos muito bem que não existe essa
coisa de amor dentro da máfia.
“Casamento só serve para uma finalidade, ou para fazermos alianças
que fortaleçam o nosso nome e clã, ou para gerar filhos para dar
continuidade ao nosso nome, apenas isso.”
Meu irmão apenas balança a cabeça concordando e me olha como se
ele soubesse de alguma coisa que não sei.
— Se você que é o nosso líder está dizendo isso, quem sou eu para
falar o contrário. Só tente não matar a sua noiva na primeira semana de
casados. Aquela mulher não é fácil e você vai ter que ter muita paciência.
— Está aí uma coisa que não tenho, paciência. Não entrei na porra
dessa fila, essa virtude não possuo. Já fui informado da fama que ela tem e
já tive uma conversinha muito agravável com o meu futuro sogro. Sei
exatamente como vou lidar com a minha esposa que vai aprender direitinho
a andar na linha.
— Algo me diz que as coisas vão ficar muito interessantes nessa
casa nos próximos dias. Estava mesmo precisando de um pouco mais de
diversão na minha vida, obrigado, irmão.
“Mamma vai ficar muito feliz e satisfeita.
“Vou começar a organizar a sua despedida de solteiro, para que
aproveite, já que vai se amarrar a uma boceta fixa.
“Pense bem, casamentos não acabam na máfia, somente a morte
pode separar um casal.
“Cuidado para não morrer de raiva.”
O desgraçado faz uma reverência debochando e se vira para sair do
escritório.
Assim que a porta se fecha, me deixando sozinho, me sirvo de uma
generosa dose de whisky e bebo tudo de uma vez.
Lorena que não tente ir contra às minhas vontades ou as coisas não
vão ficar boas para o lado dela.
Está na hora de torná-la minha noiva.
CAPÍTULO 7

Estou no meu quarto, em frente a um enorme espelho de corpo


inteiro, onde Rosa me ajuda com o vestido e meu cabelo.
Na verdade, ela está fazendo tudo.
Sou apenas uma boneca que está sendo jogada de um lado a outro
enquanto ela me arruma para que possa receber meu noivo, com um lindo
sorriso no rosto assim como papai ordenou.
Meu pai nunca me deu uma ordem e nunca me impôs nada, é a
primeira vez que isso acontece e são nessas circunstâncias.
Respiro fundo com os meus olhos ardendo pelas lágrimas que já
derramei e pelas que com muito custo evito derramar.
Confesso que nunca me imaginei vivendo um momento como esse.
Todas as minhas amigas passaram por isso, já eu me sentia livre
iguais aos meus lindos cavalos nos vastos campos do haras, por ter a certeza
de que nunca teria tal destino.
Mas, olha só como o destino é um fodido filho da puta!
Estou passando não só exatamente pelo mesmo que elas, como
também vou ser obrigada a me casar com o Diabo que comanda os
demônios que elas servem.
— Eu vou morrer, Rosa. — Essa é uma certeza.
— Pelo amor de Deus, menina, não diga uma besteira dessas.
Para ela é fácil falar isso, nunca foi abrigada a se casar.
— Ele vai me matar.
Ela segura meus braços e me vira de frente para ela.
— Lorena, se casar com o nosso Don não é o fim do mundo, poderia
ser pior, minha menina.
— O que pode ser pior do que isso, Rosa? Você me conhece bem,
não sirvo para ser uma esposa obediente e submissa, ainda mais de um Don.
Isso não vai dar certo, não vai acabar nada bem. Ele vai acabar me matando.
Ela respira fundo me encarando.
— Você deveria ter sido criada conforme as tradições, igual as
demais, assim evitaríamos isso.
— Rosa!
— É verdade, Lorena, seu pai sempre te deu liberdade demais e eu
nunca me importei porque na nossa cabeça você não precisaria passar por
isso. Mas olha só nós aqui?
“Você é linda, era claro que cedo ou tarde chamaria a atenção de
alguém com status dentro da máfia e seu pai como um simples soldado que
é, teria que ceder a sua mão.”
Sinto a revolta crescer dentro do peito.
— Isso é injusto demais, um completo absurdo. Eu não vou me
casar com esse homem. Eu me recuso a isso. — Vejo o pavor crescer nos
olhos da mulher que me criou como filha.
— Não seja imprudente, Lira, pensa no que pode acontecer com o
seu pai. Você viu como ele estava, com toda certeza o Don Riccardo já deve
ter conversado com ele e não foi só sobre o casamento de vocês dois. Não
tem como você fugir disso, de um mafioso.
“Será a noiva pura e imaculada do nosso Don, e fará de tudo para
ser uma excelente esposa para ele, lhe dando os herdeiros que ele precisa.”
Quando ela fala as palavras pura e imaculada sinto como se um raio
caísse sobre a minha cabeça.
Realmente, estou perdida.
— Rosa, comece os preparativos do meu velório, pois ele
acontecerá logo após o casamento.
A mulher, que segura meus braços, treme diante do que falo a ela.
— Por que está falando isso, Lorena?
Consigo perceber que ela teme a minha resposta, mas agora vou
revelar o meu segredo a ela.
— Porque eu não, eu não... Sou...
— Não me diga que você foi capaz de cometer uma loucura dessas?
— Ela me interrompe se dando conta do que se trata.
Como não tenho coragem de abrir a minha boca apenas balanço a
cabeça confirmando a minha tragédia.
— Dio mio, Lorena, como pode fazer isso? Perdeu de vez o juízo,
menina? Jesus Cristo, isso é uma desgraça completa.
É isso que não consigo entender, por que eu, por ser mulher, teria
que me manter pura para o meu marido?
Eles não fazem isso e nem tem essa consideração por suas esposas.
— Eu não pretendia me casar, Rosa, pelo menos não agora e se isso
chegasse a acontecer seria com o homem por quem me apaixonasse.
— Lorena, em que mundo você vive? É uma mulher...
— Eu vivo em um mundo livre, Rosa, tenho o direito de tomar as
minhas decisões.
— Não, minha filha, você não tem esse direito e também não vive
em um mundo livre. Você vive no mundo da máfia, onde mulheres são
criadas para serem esposas, gerar filhos e não questionar.
— Eu não fui criada desse jeito, não fui criada para ser esposa de
ninguém.
— E esse foi um erro terrível que seu pai e eu comentemos, um erro
que agora pode custar a sua vida, ou pior, a vida do seu pai.
Com isso ela consegue me calar e me fazer engolir todos os meus
argumentos.
— Não... Meu pai é um soldado fiel a Cosa Nostra — falo dando um
passo para trás, completamente trêmula só de pensar numa possibilidade
dessas.
— Seu pai é um soldado fiel a Cosa Nostra, que tem uma filha que
se tornará a noiva do nosso Don, noiva essa que não é mais pura.
Pela primeira vez em toda minha vida, Rosa fala desse jeito comigo,
fala essa de reprovação, desgosto e medo.
— Nunca imaginei que um dia um homem fosse...
— Quando isso aconteceu?
Ela não quer escutar as minhas desculpas, então resolvo responder
todas as suas perguntas de forma direta.
— Na faculdade, no meu último ano.
— Deus! O rapaz é da máfia?
Balanço a cabeça em negação.
— Não.
— É filho de algum associado?
Se falar a verdade ela é capaz de infartar, ou pior, ela mesma me
mata.
— Não. — Engulo em seco nos encarando.
Essa mulher à minha frente me criou, ela sempre sabe quando tem
algo a mais nas coisas.
— Pelo amor de Deus, Lorena, fala logo tudo de uma vez.
Respiro fundo tomando coragem, me sento na minha cama e falo de
cabeça baixa:
— Ele não é da máfia, nem filho de nenhum associado. Nos
conhecemos no nosso último ano de faculdade, ele estava se formando em
direito e logo após a formatura iria embora para os Estados Unidos.
Ficamos juntos algumas vezes, mas nunca passou só de sexo. Ele não
queria compromisso sério com ninguém e eu também não.
Pela cara que ela faz, não é isso exatamente que ela quer saber.
— Filho de quem? Família de onde? Responda, Lorena. — Ela é
dura comigo.
— Ele é filho de um policial, é tudo o que vou dizer. Não me
pergunte mais nada, ele nem mesmo mora mais aqui. A última vez que o vi
foi na minha formatura, depois disso nunca mais. — Levanto a cabeça e ela
me olha em choque.
— Jesus Cristo! — Ela coloca a mão no peito e me levanto para
ajudá-la a se apoiar.
— Rosa, você está bem?
— Não, eu não estou bem! Pelo amor de Deus, já não bastava ter se
entregado a qualquer um, tinha que ser filho de um policial?
— Rosa, ele é filho de um policial, ele não é um.
— É praticamente a mesma coisa, Lorena. Dio mio, onde foi que
errei na sua criação? Você conhece as regras, menina.
— Sim, eu conheço, mas não fiz nada de mais, Rosa. Eles nem
mesmo são daqui. É uma pessoa do meu passado e não queria nada disso
nunca quis.
— Mas é o que você. Você é uma filha da máfia, serve a Cosa
Nostra, trabalha para eles em um dos negócios deles. Você deve total
fidelidade a eles, essa é a sua vida e sempre foi. A liberdade que te demos
não significava você se tornar uma traidora da famiglia.
— Eu nunca fiz isso, não traí a famiglia.
— Se o seu noivo descobre uma coisa dessas realmente estará
morta, não só você como o seu pai também.
Sinto um arrepio só de escutar isso.
— Ele não é o meu noivo, pelo menos não ainda.
— Mas vai ser, na verdade, em alguns minutos será a noiva do Don
Riccardo. Então, esqueça tudo o que falou aqui e jamais abra essa sua boca
para falar para aquele homem que se entregou para o filho de um policial no
passado.
— Mas ele vai descobrir que não sou mais virgem.
— Isso realmente você não vai ter como esconder dele, mas o nome
daquele com quem você cometeu essa loucura toda oculte do Don Riccardo
a todo e qualquer custo. Ou será o seu fim, na verdade, o nosso.
Estou prestes a abrir a boca para responder quando meu pai entra no
quarto sem bater à porta.
— Don Riccardo chegou, espero que já esteja pronta.
Olho para o meu pai e não consigo decifrar suas feições.
— Pai, por favor, não faça isso comigo. Eu imploro.
Ele só faz que não com a cabeça.
— A decisão já foi tomada, se tornará a senhora da Cosa Nostra.
Agora desça que seu noivo a aguarda na sala e se comporte, Lorena, ou pela
primeira vez na vida serei obrigado a castigá-la.
Não acredito que escutei isso do meu pai.
— Pai, estou pedindo...
— Sinto muito, minha filha, não tem nada que possa ser feito. Agora
vamos e lembre-se do que falei.
Travo o maxilar para impedir que as lágrimas escorram pelo meu
rosto.
— Irá me castigar se não me comportar, como se eu fosse uma
criança mimada.
— Está se comportando como uma, então será tratada como tal.
Desça agora mesmo. — Ele vira as costas e sai do meu quarto batendo a
porta.
Vou até a minha mesinha de cabeceira pego o abajur e o jogo na
parede com raiva e força, totalmente frustrada com o destino que me
aguarda.
— Eu odeio o Don Riccardo, odeio, odeio, odeio!
Rosa se aproxima e me abraça.
— Fala baixo e trate de se conformar.
— Minha vida vai ser destruída, Rosa, a minha carreira vai por água
abaixo.
— Não, Lorena, não pense assim, pode conseguir autorização do seu
marido para que possa continuar trabalhando e participando dos
campeonatos. Você é a melhor amazona que o centro de hipismo tem.
Olho para ela sem acreditar.
— Autorização!? Eu vou ter que implorar a ele para que me permita
trabalhar no que amo fazer. Isso não é vida, Rosa.
— É a sua vida agora. Ajeita essa cara e desça, escutou o que o seu
pai falou. — Ela sai do quarto me deixando para trás.
Posso até ser obrigada a esse casamento, mas não vou sofrer
sozinha.
Don Riccardo vai se arrepender do dia em que colocou seus
malditos olhos em mim. Ele também terá a parte dele nisso tudo, nessa
maldita e fodida vida dentro da máfia.
CAPÍTULO 8

Desço a escada, degrau por degrau, e a cada um deles o meu


coração acelera mais ainda.
Eu me sinto como se estivesse sendo encaminhada para a morte,
porque esse não é o destino e nem a vida que sonhei para mim.
Passei anos estudando, treinando, mantendo uma rotina impecável
para alcançar meus objetivos de vida, me dividindo entre meus
treinamentos no hipismo e a faculdade, para que, no fim, terminasse assim,
noiva de um homem que conheço só de ouvir falar.
O pior é que tudo o que ouvi foram as coisas mais horrendas que ele
fez em nome da Cosa Nostra.
É um destino muito triste para uma mulher que não foi criada para
isso, afinal tenho sonhos, uma vida toda pela frente, e me sujeitar a isso de
boca fechada está acabando comigo.
Tudo porque cruzei, mesmo que sem querer, o caminho desse
monstro.
— Don Riccardo, essa é a minha filha, Lorena.
Nosso Don está sentado na poltrona do meu pai, como se ele fosse o
rei da minha casa e isso faz com que fique mais indignada ainda com a
situação toda.
O pior de tudo é que o infeliz é lindo.
Tinha que ser tão lindo assim?
Inferno!
— Já tive o despra...
— Só fale quando a palavra for dirigida a você, Lorena — meu pai
me interrompe, me tratando de uma maneira que nunca fui tratada antes.
Dio me dê todo o autocontrole que preciso.
— Mas, pai...
— Lembre-se do que falei no seu quarto, comporte-se.
Travo o maxilar e engulo em seco para não responder meu pai na
frente de um homem que é completamente estranho para mim.
— Fico feliz em ver que de algum jeito ainda tem controle sobre a
sua filha, Félix.
Encaro o homem à minha frente e demonstro todo o meu desprezo
por ele, por sua presença na minha casa.
— É claro que tenho, senhor. Lorena é uma boa garota, ela sabe se
comportar e receber ordens quando é preciso.
Agora viro o olhar na direção do meu pai.
Não posso abrir a boca porque a porra da palavra não foi dirigida a
mim, então, tudo o que ele recebe é o meu olhar raivoso.
Mas isso não o assusta, é claro.
— Espero que ela seja assim mesmo, Félix, nós dois já tivemos a
nossa conversa mais cedo e creio que por enquanto nada precisa ser dito.
— Não, senhor, entendi tudo. Agora vamos até à cozinha, Don
Riccardo, o jantar já está servido. Rosa cozinha muito bem, o senhor vai
gostar.
Ele não fala nada, apenas se levanta e meu pai indica o caminho me
fazendo segui-los.
Quando chegamos à cozinha o cúmulo do absurdo acontece, meu
pai puxa a cadeira da cabeceira da mesa para que o Don se sente.
— Pai...
— Quieta e sente-se ao lado direito do seu noivo.
Chego a sentir um tremor percorrer meu corpo.
Deus me ajude porque eu, realmente, não posso abrir a minha boca,
ou algo de muito ruim vai acontecer, então, obedeço à ordem do meu pai
mesmo contra a minha vontade.
— Sirva o jantar, Rosa — papai ordena se sentando na outra
extremidade da mesa.
Rosa obedece sem abrir a boca e pelo que estou vendo, ela não vai
se sentar à mesa conosco.
Isso já é demais.
— Sente-se, Rosa, passou tempo demais de pé cozinhando, deve
estar cansada. Por que não colocou o seu lugar a mesa? — falo mesmo
sabendo que não poderia abrir a minha boca.
Já fiquei calada tempo demais, ultrapassei até mesmo o meu limite.
— Os empregados se sentam à mesa nessa casa também?
Interessante. — Don Riccardo fala olhando da Rosa para o meu pai, mas
antes que ele tenha a chance de responder, falo primeiro.
Ninguém vai tratar a Rosa como uma simples empregada na minha
frente.
— Ela não é uma empregada, é a mulher que tenho como mãe, que
me criou, que cuidou de mim, então, tenha mais respeito, Don Riccardo.
Jamais trataria a sua mãe de tal maneira.
Rosa arregala os olhos e meu pai se levanta de uma vez arrastando a
cadeira para trás, em seguida se aproxima e segura meu braço com força.
— Falei para que se comportasse, Lorena, que falasse apenas
quando a palavra fosse dirigida a você. Não me obrigue a...
— Se o braço dela ficar com uma só marca vermelha, eu mesmo
corto a sua mão, Félix. A culpa da sua filha ser assim é sua.
Meu pai solta o meu braço e volta ao seu lugar como um cão
assustado.
É sempre assim, todos temos que abaixar a cabeça para as vontades
do Don.
— Don Riccardo, minha filha...
— Sua filha foi criada fora das regras, Félix, e já que ela teve a
coragem de abrir a boca para falar que essa senhora também foi responsável
pela criação dela, vejo que a culpa não é só sua.
O desgraçado olha para Rosa que se encolhe no canto com medo.
— E mesmo assim quer se casar comigo? Mesmo sabendo que fui
criada fora das suas malditas regras? — falo chamando a sua atenção para
que tire os olhos de cima da Rosa.
— Lorena! Já disse para que se mantenha calada — meu pai me
repreende.
— Pai, isso é um completo absurdo. Olha como ele falou da Rosa?
Ela não é uma empregada, é a mãe que nunca tive. O pior e vê-lo não a
defendendo.
Meu pai bate a mão com força na mesa.
— Já chega, Lorena! Nem mais uma palavra ou vai se arrepender.
Respiro fundo e me calo mesmo contra a minha vontade, pegando
os talheres.
O Don me olha, mas desde que entrei na presença dele não dirigiu
uma só palavra a mim.
Não sei qual vai ser a minha reação quando isso acontecer.
— Vamos jantar, tenho outro compromisso importante depois que
sair daqui.
Não consigo segurar o sorrisinho de deboche e é justamente por isso
que sei que vou morrer muito provavelmente na lua de mel, caso essa
loucura seja levada adiante.
Sei muito bem o tipo de compromisso que homens como ele tem
todas as noites, não é à toa que uma das principais boates da Sicília pertence
à máfia italiana. É claro, que ele como Don deve provar da mercadoria
primeiro.
— Tem alguma coisa a falar, querida noiva? — Agora ele me dirige
a palavra.
Levanto as vistas e o encaro, segurando com muita força os talheres.
— Não estou vendo nenhum anel de noivado no meu dedo e pelo
que me lembre ainda não recebi um pedido de casamento. Então, não, Don
Riccardo, não tenho nada a falar com o senhor.
Dessa vez é ele quem sorri do que falo.
— Eu vou adorar colocar a sua filha na linha, Félix. Vai ser um
prazer muito grande transformá-la na esposa perfeita da máfia, coisa que
era seu papel ter feito. Há muito tempo não tinha um passatempo tão
intrigante.
A minha vontade é de jogar o prato de comida na cara dele, mas
tudo o que faço é apertar a faca com força, mas tanta força que os nódulos
dos meus dedos ficam brancos.
— Don Riccardo, o senhor...
— Vamos jantar e pode permitir que a sua empregada se sente à
mesa conosco, já que a sua adorável filha faz tanta questão. Como falei na
nossa conversa mais cedo, não sou de todo um monstro. O modo como vou
tratá-la vai depender dela mesma e esse é um exemplo do que falei.
Meu pai faz um sinal para Rosa, e como ela não é boba se senta à
mesa, caladinha.
Como também não posso falar me concentro na minha comida, mas
admito que engolir está sendo uma tarefa muito difícil.
Fazemos a refeição mais difícil da minha vida assim, em silêncio
absoluto, e a todo tempo não paro de pensar no meu triste destino.
Fico pensando em várias possibilidades de me livrar disso, sem
causar é claro a morte de ninguém, porque parece que esse homem coloca
medo em todo mundo.
Meu pai que sempre considerei ser um homem forte e altivo, abaixa
a cabeça para ele como se fosse um cachorro obediente e treinado apenas
para dizer, “sim, senhor”.
— Bom, vamos acabar logo com isso. Como falei tenho outro
compromisso — Don Riccardo fala assim que termina de comer, se
levantando.
É claro que nós, seus servos, temos que acompanhá-lo, não importa
se já terminamos de comer ou não.
— É claro, Don Riccardo, vamos para a sala.
Deus, isso é o cúmulo do ridículo!
Não acredito que isso vai mesmo acontecer.
— Lorena, não me faça ter que ir até você para levá-la até a sala. —
Esse é o aviso que meu amável pai me dá, antes de virar as costas e sair da
cozinha com o Don.
— Lira, minha filha, não provoque o seu pai e nem mesmo o Don.
Você não pode com ele, menina. Apenas obedeça, pelo amor de Deus —
Rosa fala aflita.
— Eu não posso com ele!? Isso é o que vamos ver. — Levanto de
uma vez arrastando a cadeira para trás.
— O que vai fazer, Lira? Escute o que a sua Rosa fala, menina, não
vou suportar se alguma coisa de ruim acontecer com você.
— Preciso pelo menos tentar, Rosa. Preciso tentar acabar com isso e
colocar juízo na cabeça do papai.
— Será que não entende que o seu pai não pode fazer nada a
respeito?
— Não, Rosa, me recuso a aceitar isso, é a nossa vida.
— Exatamente, Lorena, e quem manda na nossa vida é o Don da
Cosa Nostra, seu futuro marido. Agora vá para a sala e continue caladinha
como está tentando fazer até agora. Trate de se conformar de vez com o que
aguarda você.
Antes que o meu pai venha atrás de mim, resolvo fazer o que Rosa
fala e me encaminho até a sala.
Quando chego, sem cerimônia nenhuma, Don Riccardo se levanta
do sofá onde estava sentado e tira uma caixinha de veludo do bolso. Sinto
que meu coração vai sair pela boca, mas antes que ele abra a caixinha, olho
mais uma vez para o meu pai.
— Papai, por favor, não faça isso comigo. Sou a sua única filha,
nossos planos não eram esses, os meus planos nunca foram esses, por favor,
pai, estou implorando. — Sinto um bolo se formar na minha garganta e as
lágrimas queimarem meus olhos, mas me recuso a chorar na frente desse
homem para mostrar a ele que sou fraca.
— Eu sinto muito, minha filha, eu não...
— Seu pai não pode fazer nada para impedir a nossa união. Preciso
de uma esposa e você de um homem que te ensine a andar na linha.
Não vou aguentar isso, não vou!
Quando estou prestes a abrir a boca para responder algo, ele abre a
caixinha de veludo fazendo o meu pai e eu ficarmos chocados com o que
vemos.
— Jesus Cristo! — É tudo o que o meu pai fala.
— Eu não vou...
— Vai sim, querida. Você vai usar e nunca mais na sua vida vai tirar
esse anel do seu dedo. Quer dizer, isso só vai acontecer quando o nosso
filho, o futuro Don da Cosa Nostra arrumar uma noiva.
“Esse anel só vai sair do seu dedo para ir parar no dedo da mulher
que um dia ocupará o seu lugar.
“Minha bisavó usou esse anel e outras antes dela também usaram.
“Agora, ele saiu do dedo da minha mãe para embelezar o seu e
mostrar para todos a quem você pertence.”
Fico completamente sem palavras.
Quem na máfia nunca ouviu falar sobre o grandioso diamante rosa,
uma belíssima joia de quase doze quilates, que é passado pelas gerações e
que apenas as esposas dos homens que ocupam a cadeira de Don usam?
Usar esse anel é como um selo de garantia que nenhum outro
homem poderá se aproximar de você sem a permissão do Don, caso
aconteça é morte na certa.
Isso não é um anel de noivado, é uma sentença que não pode ser
descumprida.
CAPÍTULO 9

Sentindo uma enorme dor no coração, sou obrigada a estender a


mão para que Don Riccardo me faça sua propriedade, porque é assim que
me sinto, uma propriedade do Diabo.
Não fui preparada para o casamento como as meninas da minha
idade, nasci livre desse fardo e agora me encontrar nessa situação de uma
hora para outra me enche de desespero.
Quando acordei pela manhã nunca imaginei que terminaria o dia
noiva desse homem, preferiria mil vezes ter morrido durante o sono.
— Minha mãe irá ajudar você com tudo que se relacionar ao
casamento — Don Riccardo fala assim que desliza o anel pelo meu dedo, o
beijando logo em seguida.
Não falo nada, afinal agora sou eu que faço questão de não abrir a
minha boca.
— Teremos um jantar de noivado oficial, Don Riccardo? — meu pai
pergunta.
Em vez de soltar a minha mão, sinto o Diabo a acariciando
lentamente com o polegar, me fazendo fechar os olhos e respirar fundo,
porque o que sinto não condiz com a minha raiva.
Quando abro os olhos a minha cabeça estupidamente vai abaixando
e vejo as mangas da camisa dobradas até a altura dos cotovelos, as veias
saltadas na mão grossa e grande que segura a minha, o antebraço e as
cicatrizes que rondam por sua pele coberta por tatuagens.
Que Deus me ajude!
Não posso me sentir atraída por esse monstro, meu corpo não pode
sentir isso.
Levanto as vistas e o vejo me encarando intensamente.
— Nos deem licença, Félix, quero conversar com a minha noiva a
sós.
Sinto como se um choque percorresse meu corpo.
— Temos um belo jardim lá fora, Don Riccardo, ficarão mais à
vontade conversando lá. Lorena, filha, leve seu noivo até o jardim.
A minha vontade é de gritar com o meu pai.
— Me acompanhe, por favor. — Tiro a minha mão da dele e no
mesmo instante sinto falta do calor que a aquecia.
Deus, me dê forças!
Agora as minhas chances caíram pela metade em me livrar desse
casamento, mesmo assim vou tentar uma conversa civilizada com o Don,
afinal já que o nosso noivado ainda não é público, posso tentar fazê-lo
mudar de ideia.
Ele me acompanha até o jardim que um dia foi cuidado pela minha
mãe e hoje esse trabalho Rosa e eu fazemos.
Eu me sinto perto dela quando estou cuidando das flores.
— Realmente é um belo jardim, apesar que é pequeno — ele fala
assim que nos posicionamos em meio ao jardim.
— O terreno não é muito grande e nem a casa. A minha mãe fez
esse jardim com a ajuda do meu pai, ela adorava esse lugar, assim como
também adoro, gosto de flores. — Tento manter uma distância segura entre
nós dois.
Ele dá um, dois, três passos na minha direção e meu corpo reage
com a sua proximidade de um jeito sensível, o que me deixa consciente das
nossas diferenças.
— Terá um jardim muito maior do que esse para tomar conta se
quiser. Minha mãe também gosta de cultivar flores, foi um hábito que ela
adquiriu depois do casamento com o meu pai.
— Por que está fazendo isso comigo, Don Riccardo? Sei que muito
provavelmente já deve ter mandado investigar a minha vida e já deve saber
que não sirvo para ser a esposa de um homem como o senhor. Pode
procurar por outra noiva, devolvo o seu anel e ninguém precisa ficar
sabendo o que aconteceu aqui hoje. Juro que não conto para ninguém.
Todas as famílias da máfia se sentirão honradas em tê-lo como genro, as
mulheres se jogam aos seus pés, mas eu...
— Mas você não. Acho que você mesma respondeu a sua pergunta.
Ele tem um olhar intenso e sua voz é melodiosa e marcante, como se
fosse uma animal prestes a dar o bote em sua presa.
Essa junção faz com que sinta que posso derreter a qualquer
momento como uma mocinha de filme de romance, o que é ridículo.
Mas quando ele se aproxima mais do que já estava fico emudecida.
Os traços do seu rosto são marcantes e elegantes.
Minhas mãos tremem, estou nervosa e ele me encara sem um pingo
de vergonha.
Tudo o que quero fazer é me encolher diante dele o que não tem
sentido algum.
Seus olhos são os mais bonitos que já vi na minha vida. Verdes
como as folhas da primavera com salpicos dourados aqui e ali. Na verdade,
seus traços são surreais, tão impecáveis que nem o fato de ter algumas
marcas o faz ser menos lindo.
— Don Riccardo, por favor...
— Riccardo, sem o Don para você. Somos noivos agora não precisa
dessa cortesia toda e não me chame de senhor, se refira a mim, apenas como
Riccardo. — Ele dá mais um passo e passa uma das mãos pela minha
cintura.
Como uma idiota engulo em seco.
— O que pensa que está fazendo, Don Riccardo?
Antes que possa reagir, ele cola seu corpo no meu e sua mão grande
se enreda em meu cabelo, segurando firme o suficiente para que não
consiga mexer a cabeça.
— Você é teimosa, já percebi que gosta de ser assim e, por mim,
tudo bem, vai ser divertido te colocar no seu devido lugar.
Tento me soltar e ele me segura com mais força.
— Quero só ver você tentar — falo entredente levantando a cabeça
para encará-lo.
— Você é petulante, menina, vou gostar muito de fazer isso. Vou
começar sentindo o gosto dos lábios da minha mulher.
Não tenho tempo de falar nada, pois sua língua invade a minha boca
com ganância e, por míseros instantes, não sou capaz de reagir. Sinto seu
abraço forte em torno do meu corpo pequeno e não posso evitar o gemido
que parece se libertar do fundo da minha alma. Institivamente, me agarro a
ele, enquanto a loucura me consome como fogo em uma mata seca.
Há loucura, dor, necessidade e a mais profunda entrega.
É como se, nesse momento, estivéssemos perdidos em meio a uma
turbulência que culmina nesse beijo desesperado, ansioso, sedento.
Sua língua acaricia a minha, explorando, me enlouquecendo como
nunca aconteceu antes, também o busco, igualando sua necessidade, com
meus desejos, aqueles que se mantinha escondidos e que despedaçam a
minha alma.
Ele consome meu fôlego, levando tudo até que já não possa me
manter de pé, e ainda assim, me derreto em sua boca, à mercê de
sua língua quente.
— Ah, porra, como te quero na minha cama! Estou louco para tirar
de você a sua pureza. Você pertencerá somente a mim e a mais ninguém,
vou consumir a sua alma e o seu corpo até que implore por misericórdia. E
misericórdia é um sentimento que não tenho com ninguém — ele fala com a
testa encostada na minha, enquanto tento acalmar inutilmente a minha
respiração, porque a pureza que ele quer tirar já não a possuo mais.
Será que se contar isso a ele o fará desistir do casamento?
Afinal ele é o Don, não aceitaria se casar com uma mulher que não é
mais pura.
Talvez essa seja a solução para acabar com isso de uma vez.
Ele não fará nada contra mim, já que nem mesmo nos conhecíamos
e tudo o que sabia a seu respeito era o que ouvia falar. Até mesmo no centro
de hipismo foram poucas as vezes que o vi andando por lá, geralmente, era
nas competições.
— Riccardo! — chamo seu nome e com as mãos apoiadas em seu
peito o afasto com delicadeza.
— Por que está tremendo desse jeito? — ele pergunta sentindo o
meu toque.
— Vamos nos sentar ali, por favor, tenho algo que quero conversar
com você.
Ele segura minha mão e me encara desconfiado, mas me segue até o
banco e se senta ao meu lado.
— O que quer? — ele pergunta de maneira ríspida.
Nem parece que alguns segundos atrás estava querendo arrancar o
meu fôlego com um beijo em que estávamos em êxtase em uma órbita
particular.
— Você sabe que estudei, me formei, e que hoje sou a veterinária-
chefe do centro de hipismo, além de ser a sua principal amazona, mas foram
pouquíssimas as vezes em que vi você em toda a minha vida.
“Tudo o que sabia era que Riccardo Bianchi seria o próximo Don da
Cosa Nostra. Sou apenas a filha de um soldado qualquer e não costumo
seguir muito bem as regras.
“Não quero de jeito nenhum esse casamento e estou aqui pedindo
para que tenhamos uma conversa civilizada como dois adultos. Espero que
entenda o meu lado.
“Eu não te conhecia pessoalmente até hoje mais cedo e só em você
ter pedido para o meu pai para ficar a sós comigo, por si só já está
quebrando as malditas regras que você mesmo impõe.”
Ele olha as horas no relógio e vejo que está impaciente.
— Vá direto ao ponto. Como disse, tenho um outro compromisso.
Que Deus me ajude!
Se vou morrer que seja agora e não depois desse maldito casamento,
porque morreria carregando seu nome amaldiçoado.
— Eu já tive alguém na minha vida, alguém que faz parte do meu
passado, uma pessoa a quem me entreguei, entreguei a minha pureza.
Sinto o corpo do homem tensionar ao meu lado e agora sim, abaixo
a cabeça, porque esse tipo de conversa nunca é fácil de se ter, ainda mais
com o homem que quer ser o seu marido e ainda por cima é o Diabo
encarnado, o apocalipse terreno. O desespero que sinto me faz contar logo
de uma vez a verdade, seria muito pior se ele descobrisse depois que não
pudesse mais voltar atrás.
CAPÍTULO 10

Ele fica calado, encarando as mãos, como se estivesse pensando,


raciocinando, mentalizando a melhor maneira de acabar comigo, pelo
menos é essa a impressão que tenho.
Mas quando ele se vira para mim e segura o meu rosto me fazendo
encará-lo diretamente em seus olhos, começo a sentir o descontrole em que
meu corpo acabou de mergulhar. É como se ele estivesse querendo apertar
todos os meus botões apenas com o olhar que me direciona.
— Quem é ele?
Pela maneira como me faz a pergunta, ele só parece estar
genuinamente curioso, prestando atenção em mim, como alguém
interessado em apenas conversar, mas não sou besta e não me deixarei
enganar por essa face do Diabo.
— Apenas alguém sem importância nenhuma.
Ele sorri e solta o meu queixo.
— Importância com certeza ele tinha, ou não teria se entregado para
ele.
“ELE ESTÁ CALMO DEMAIS!”, uma voz grita dentro da minha
cabeça me acendendo todos os alertas de perigo.
Não estou sabendo lidar com a situação agora, pois estava esperando
outro tipo de comportamento vindo dele, mas ele parece estar pleno, tirando
o celular do bolso, mandando uma mensagem para alguém.
— Riccardo, por favor, não sei o que viu em mim, mas garanto que
não vou ser a esposa que você merece. Procure por uma moça que atenda às
suas expectativas, por uma mulher pura que você vai se orgulhar em ter
tirado a virgindade dela, eu não sirvo para você.
Ele balança a cabeça, guarda o celular no bolso e por um momento a
esperança cresce em meu peito.
— Está falando isso só para me fazer desistir do casamento? — ele
pergunta me olhando.
— Não, claro que não — respondo rápido demais, revelando a
minha mentira, afinal, é claro que quero que ele desista do casamento.
— Lorena, não te vi pela primeira vez hoje. Um mês atrás vi você
pela primeira vez em uma das minhas boates, com aquele rapaz que você
diz ser seu amigo, o Bernardo.
“Naquele dia, quando te vi dançando me senti enfeitiçado, me sentei
no bar, fui servido de um excelente whisky e fiquei ali, só te admirando.
“Poderia ter ficado com você naquele mesmo dia se quisesse, mas
preferi te admirar como se admira uma obra de arte.
“Um mês depois estamos aqui, na sua casa, sentados no seu jardim,
conversando como dois adultos civilizados sobre a sua virgindade, a
virgindade que me pertencia.”
Ele está calmo demais e sinto que a sua mansidão é o prenúncio de
uma tempestade soando mais ameaçadora do que uma arma apontada para a
cabeça.
— Riccardo, eu...
— Calada!
Respiro fundo.
— Por favor.
Ele faz que não com a cabeça.
— Lorena, espero sinceramente que você esteja me falando isso
para que desista desse casamento, o que não vai acontecer.
— Riccardo...
— Você é desrespeitosa, petulante, desobediente e várias outras
coisas que poderia passar a noite inteira aqui listando. Você fala em não ser
a mulher que preciso e pode até ser que tenha razão, mas você é a mulher
que quero ter.
“E quando quero algo eu tenho, porque posso ter tudo o que quero,
então vou transformá-la na esposa perfeita. Vou fazer o que o seu pai não
foi capaz de fazer.”
Quando vou abrir a boca para responder, escuto o grito vindo da sala
da minha casa me fazendo levantar de uma vez, mas Riccardo segura no
meu braço.
— Me solte agora mesmo. Tem alguma coisa acontecendo com o
papai. Não está escutando? — falo alto o encarando.
— Faço questão de levá-la até a sala. — Ele sai me arrastando pelo
jardim, dando a volta na casa até chegarmos na entrada da sala.
Quando passamos pela porta sinto meu coração sendo esmagado no
peito. Os soldados, que estavam ao redor da minha casa quando cheguei,
estão dando a maior surra no meu pai e Rosa está encolhida no canto se
acabando de chorar.
— PAI... — grito tentando me soltar para ir até ele, mas Riccardo
não permite me segurando. — Me solte, eles vão matar o meu pai. — Tento
me soltar mais uma vez, porém, é em vão, então olho para o homem que me
segura e imploro a ele.
— Por favor, faço o que você quiser. Eu me caso... Por favor,
imploro.
Nos encaramos, escuto um gemido alto do meu pai e o som de uma
pancada forte.
— EU ME CASO COM VOCÊ.
— Já chega! — ele ordena e os homens se afastam.
Riccardo me solta, corro até o meu pai e me abaixo o segurando em
meus braços.
— Pai, o senhor está bem? Pelo amor de Deus, me responda.
Ele só balança a cabeça, mas da sua boca mina sangue. Vejo que seu
nariz está quebrado, sem falar nas escoriações pelos braços. Pela maneira
como está encolhido e pela sua respiração, desconfio que alguma de suas
costelas esteja quebrada.
— É assim que vai entrar na linha, minha querida e linda noiva. Eu
jamais vou ser capaz de encostar um dedo em você para te fazer chorar.
Bater em você, minha querida, está fora de cogitação, pois não sou tão ruim
assim. Mas a cada maldita ação sua terá uma consequência. Esse foi só um
pequeno exemplo e, realmente, espero que o que me falou naquele jardim
seja mentira, Lorena, porque não será você a aguentar a minha fúria.
Esse desgraçado vai usar o meu pai contra mim, para me manter
refém dele e de suas vontades.
— Você é um monstro sem coração, seu maldito! — falo em
lágrimas com o meu pai praticamente desmaiado em meus braços.
— Eu tenho vários codinomes falados por aí, mas para você minha
querida, sou apenas Riccardo Bianchi.
— Eu odeio você!
— Não quero o seu amor, me conformo com o seu ódio. Não
preciso de nada além disso. E a partir de hoje não sairá mais sozinha,
sempre terá a companhia de um soldado.
“Esqueçam o noivado oficial, esse anel no seu dedo por si só já diz
que você é minha, que me pertence.
“Minha mãe vai ajudá-la com os preparativos do casamento e só
quero ver a sua cara na minha frente no altar, que é quando dirá sim, a mim,
por livre e espontânea vontade.
“Estou ansioso pela nossa noite de núpcias e até lá, Lorena, não
invente nenhuma gracinha, ou já sabe o que vai acontecer.”
Cada palavra que sai da sua boca é como um soco no meu
estômago, que me deixa sem fôlego e sem reação nenhuma. Tudo o que
consigo fazer é chorar, porque esse infeliz sabe que o meu pai é o meu
ponto fraco e com isso vai conseguir o que quer de mim.
— Eu te odeio, odeio, odeio...
— Já disse que só preciso do seu ódio. — Ele vira as costas e
quando está prestes a sair se dirige para Jorge que nem tinha visto que
estava ali. — Leve esse lixo de homem para o hospital. Ele não serviu nem
mesmo para criar uma filha direito, mas vou fazer isso por ele. Se ele não
teve pulso firme, posso garantir que eu tenho.
— Pode deixar, chefe.
Riccardo sai sem nem mesmo olhar para trás e quando ele entra no
carro Jorge se aproxima.
Nesse momento, papai já desmaiou em meus braços e Rosa continua
em choque no canto da sala.
— Lorena, avisei que um dia você se colocaria em problemas. Por
favor, faça tudo o que o Don Riccardo mandar, a ordem dele era para matar
o seu pai, mas implorei pela vida dele e disse que apenas um susto seria o
suficiente para que você entendesse as coisas.
Ao escutar isso choro mais ainda.
— A minha vida acabou, Jorge, acabou.
— Não, Lira, a sua vida não acabou, mas se você continuar agindo
dessa maneira ela vai acabar. E não só a sua como a do seu pai também.
Agora vamos levar o Félix para o hospital, ele vai ficar bem.
Concordo balançando a cabeça e ele com a ajuda de outros soldados
o colocam no carro.
— Rosa, você tem que reagir, limpe essa bagunça e me encontre
mais tarde no hospital. Peça para que um dos soldados leve você até lá. Eu
sei que está em choque, mas o papai e eu precisamos de você.
Tudo o que ela faz é balançar a cabeça.
Dou um beijo em seu rosto e saio da sala entrando no mesmo carro
em que o meu pai está.
— Vamos, rápido — falo assim que me acomodo.
Ele não perde tempo e sai da minha casa em alta velocidade indo
direto para o hospital que pertence à máfia, mais uma fonte de lavagem de
dinheiro. Claro que com o perigo que todos correm diariamente foi uma
ideia inteligente adquirir um hospital.
Quando chegamos à emergência do hospital, já tem uma equipe
médica à postos nos esperando e isso me causa uma certa estranheza já que
não avisamos que estávamos a caminho.
— Ele foi espancado — falo para o médico que me olha dos pés à
cabeça.
— Já fomos informados, senhora, vamos fazer todos os
procedimentos cabíveis e depois o seu pai será encaminha para a ala vip do
hospital. A senhora pode aguardar lá.
— Como assim ala vip? Onde pago por isso? — falo me dando
conta de que nem mesmo peguei a bolsa.
— Lorena, não começa — Jorge fala.
— Ele está falando em ala vip, Jorge, é claro que tenho que pagar.
— São ordens do chefe, senhora, não se preocupe com nada.
Sinto o ódio arder no meu coração, porque se o meu pai está nessa
situação foi por causa de uma ordem dele.
— Mande o seu chefe...
— Lorena! Por algum acaso já esqueceu o motivo do seu pai estar
assim? — Jorge adverte e engulo o que ia dizer.
— Me leve a ala vip.
O médico sai com o meu pai na maca e mais uma equipe de
enfermeiros, então quando me viro para o Jorge a fim de abraçá-lo, ele se
afasta.
Sempre tive contato com o Jorge e o considero um amigo.
— Jorge! — chamo seu nome me sentindo exausta de tudo.
— Sinto muito, Lorena, mas você é a noiva do chefe agora, sabe o
que esse anel no seu dedo significa.
Olho para a joia no meu dedo e sinto repulsa.
— Significa que não vou ter mais vida e nem amigos.
— Vamos sempre ser amigos, Lira, só que as coisas vão mudar
agora. E como seu amigo te alerto, não enfrente o Don Riccardo. Você teve
uma pequena amostra do que ele é capaz de fazer. Esse homem não recebeu
o nome de Diabo à toa, Lira. Pense nisso em todas as vezes que quer sentir
vontade de enfrentá-lo.
Respiro fundo, tentado entender como foi que terminei o dia de hoje
assim.
— Estávamos conversando, ele parecia estar calmo, parecia
entender o que estava falando.
Jorge ri do que falo.
— Lorena, escute bem o que vou te falar. Don Riccardo calmo
nunca é sinal de coisa boa, até mesmo os demônios do inferno sentem medo
quando isso acontece. A calma desse homem é prelúdio de tempestade,
aprenda isso de uma vez por todas. Agora vamos esperar por notícias do seu
pai na ala Vip.
Como não tenho outra opção, fico calada e o acompanho.
Só espero que meu pai fique bem e que me perdoe pelo que
aconteceu com ele por minha causa.
Agora mais do que nunca preciso pensar no que farei, ou a minha
família vai ser morta na noite de núpcias.
CAPÍTULO 11

Dois dias já se passaram desde que tornei Lorena minha noiva e a


notícia que tenho é que ela não sai do lado do pai no hospital. Ela se recusa
a sair do lado dele com medo de que possa ir lá e terminar o que os meus
homens começaram.
Como se tivesse tempo para perder com isso.
Mas o recado a ela foi dado e que Deus tenha piedade da alma de
Félix se a filha dele realmente não for mais pura, como ela mesma disse que
não era. É ele quem vai pagar por não ter tido a capacidade de criar a filha
como deveria ter sido criada, porque quero a porra do meu lençol sujo com
o sangue da pureza da minha mulher, assim como tem que ser.
— Que história é essa de que você ficou noivo, Riccardo? —
Mamma entra no meu escritório de uma vez e logo atrás dela vem o meu
pai.
Os dois juntos não é sinal de coisa boa.
— Mamma, não sou mais um bambino[8] que a senhora pode invadir
o quarto. Aqui é o meu escritório, bata à porta da próxima vez.
A mulher para em frente à minha mesa e me encara como se o que
tivesse acabado de falar fosse uma afronta à pessoa dela.
— Me responda uma coisa, Riccardo, porque acho que você
esqueceu.
“Vai começar...”
— Mamma...
— Quem colocou você no mundo?
Passo a mão pela barba, impaciente, pois realmente não tenho tempo
para isso agora.
— Será que o senhor pode tirá-la daqui? — falo olhando para o meu
pai.
— Eu não me meto nisso. Sua mãe e eu temos um acordo, não
quebro a minha parte no acordo e tudo fica em paz.
Esse era o Don da Cosa Nostra.
— Responda a minha pergunta, Riccardo. — Ela é sucinta em me
dar essa ordem.
— A senhora, mamma, a senhora me colocou no mundo depois de
passar horas em trabalho de parto e quase morreu por isso, eu sei. Mas
agora sou o chefe e a senhora mesmo sendo minha mãe me deve respeito e
obediência, assim como todos, afinal foi para isso que me criaram, não é
mesmo?
Ela apoia as mãos na mesa e me encara.
— Eu não criei você para ser assim, seu pai foi quem criou. Perdi o
meu bebê, o meu bambino, no dia em que ele colocou uma arma na sua mão
e te levou para aquele maldito treinamento. Você voltou uma outra pessoa,
não tinha mais o brilho nos seus olhos, não era mais feliz, e só tinha treze
anos. Nunca vou me conformar com isso.
Minha mamma, mesmo depois de tantos anos nunca se conformou
com o que aconteceu, mas, no fundo, ela sempre soube que esse seria o meu
destino, assim como foi o do meu irmão. Meu pai fez questão de tirar toda e
qualquer tipo de emoção que eu tivesse naquele treinamento, a única coisa
que restou foi o respeito pela minha mamma.
— O meu pai fez o que era preciso e a senhora sabia muito bem
desde o dia em que engravidou que isso um dia aconteceria e aconteceu. Já
era o meu destino traçado, fim de papo. Não se pode mudar o passado.
Ela respira fundo.
— Tem razão, meu filho, o passado não se pode ser mudado, mas o
futuro sim. Não faça com essa pobre garota que obrigou a um noivado o
que o seu pai fez comigo, isso não vou admitir.
Mamma costuma dizer que seu início de casamento foi difícil e que
demorou muito tempo até que ela e meu pai realmente conseguissem se
conectar. Ela nunca entrou em detalhes, mas sempre que fala isso vejo um
semblante de arrependimento no meu pai.
— Mamma, não se meta nas minhas decisões e muito menos na
minha vida. Vocês queriam uma nora para que eu gerasse herdeiros, estão
enchendo a minha paciência com essa história de casamento há mais de um
ano, então fiz o que queriam e dei a vocês uma nora. Agora me deixe em
paz.
Tudo o que ela faz é cruzar os braços sem nem mesmo se mexer do
lugar.
— Você mandou espancar o pai da moça para obrigá-la a se casar
com você. Isso não se faz, Riccardo.
Um dia ainda vou descobrir como essa mulher faz para ficar
sabendo praticamente de todos os meus passos.
— Como ela ficou sabendo disso? — Dirijo a pergunta ao meu pai,
já que ela é mulher dele.
— Já disse que não me meto. Não tem nada melhor nesse mundo do
que a paz matrimonial.
Eu me recuso a acreditar que o meu pai sendo um homem temido
como é, se curva assim diante da esposa.
— Eu quero essa menina aqui, nessa casa, no domingo para o
almoço, Riccardo.
— Fora de cogitação — respondo sem nem mesmo cogitar a
possibilidade.
— Não estou pedindo sua permissão, Riccardo, estou informando
que a quero aqui. Traga a moça e a família dela, pois precisamos acertar
tudo, ver como ela gostaria que fosse o jantar de noivado, sem falar que
temos que começar os preparativos do casamento. Tenho que saber das
preferências dela.
Percebo que meu pai sorri e se senta no sofá confortavelmente
depois de se servir do meu melhor whisky, como se ele fosse apreciar um
show.
Desgraçado!
Ele está se divertindo com a minha cara.
— Sem almoço, sem festa de noivado, apenas o casamento.
Minha mãe me encara por alguns segundos e cai na gargalhada, até
mesmo o meu pai ri alto junto com ela.
— Meu filho, graças a Deus, o seu humor seu pai parece não ter
tirado.
— Estou falando sério, mamma, a senhora vai ajudá-la com os
preparativos do casamento, mas uma festa de noivado está fora de
cogitação, não quero isso.
— E o diamante rosa? — meu pai pergunta tomando um gole da
bebida âmbar em seu copo.
— Está no dedo dela.
Ele para o copo a meio caminho da boca, minha mãe vira a cabeça
na direção dele e o encara, é como se os dois conversassem apenas com o
olhar.
— Se não quer uma festa de noivado tudo bem, eu aceito. Vão achar
que você está preservando a imagem da sua noiva e isso é bom, afinal você
é o Don, e temos muitos inimigos.
“Nunca é impossível alguém se infiltrar em festas por mais que
tenhamos o máximo de cuidado.
“Vamos deixar para ter essa preocupação apenas no casamento.
“Mas um almoço em família no domingo teremos, ela tem que ser
vista em nossa casa, assim conhecemos melhor a moça, apesar de saber
quem ela já é.
“Posso dizer que estou meio preocupado com a sua escolha, meu
filho, mas cada um caça a dor de cabeça que aguenta ter.”
Meu pai fala ainda segurando seu copo de whisky.
“Não vou escapar desse maldito almoço!”
— Não consigo ver Lorena dando dor de cabeça, a menina é um
amor de pessoa. Gentil, muito educada e uma profissional excelente. Ela
deve dar muito orgulho a família dela.
Nesse momento meu pai se engasga e só não acontece o mesmo
comigo porque não estou bebendo nada.
— A senhora a conhece? Acho que não estamos falando da mesma
pessoa.
— Lorena Bernardi, a melhor amazona que o centro de hipismo tem,
a veterinária-chefe.
“Eu a conheço sim, mas não temos intimidade. Já a vi treinando
algumas vezes, a menina é graciosa cavalgando, é como se tivesse nascido
para aquilo.
“Ela parece estar interligada aos animais de alguma forma, é como
se eles entendessem seus comandos apenas com o olhar.
“A menina é perfeita e seria muito bom se na máfia existissem mais
mulheres como ela.”
Paro de escutar o que mamma falava na palavra cavalgar, porque na
minha mente imaginei outra coisa.
— Mamma, apresse esse casamento, pois quero me casar o mais
rápido possível. Eu a trarei aqui no domingo como a senhora quer e já
acerte tudo com ela. Lorena já carrega o diamante rosa no dedo então todos
já sabem que ela me pertence.
Mamma respira fundo.
— Carregar essa maldita joia no dedo é como se fosse uma
maldição. — Mamma passa uma mão na outra como se lembrasse de algo
que não a agrada.
— Essa maldição que fala, amor, é a nossa tradição de família —
meu pai fala não dando abertura a mamma.
— Tradições podem ser quebradas.
— Na máfia não. Uma mulher tem que seguir nossas tradições, já
evoluímos bastante e prova disso é a noiva escolhida do nosso filho. Ela
estudou, se formou na faculdade, é a veterinária-chefe, além de ser uma
excelente atleta, mas não se pode passar disso. Uma mulher tem que saber
seu lugar, ser pura e se entregar apenas ao seu marido.
Ao escutar isso lembro dos motivos que me levaram a mandar dar
uma surra no infeliz do Félix.
Realmente espero que Lorena tenha falado aquilo para me fazer
desistir do casamento.
— No caso de Lorena até mesmo isso foi um exagero para ela. A
mulher parece ser indomável, mas sei como colocá-la na linha.
— Você é seus exageros, Riccardo. Eu já vou indo, vou começar a
adiantar alguma coisa do casamento para mostrar à menina no domingo.
Creio que vamos nos dar muito bem. — Mamma vira as costas para sair do
escritório, mas antes de passar pela porta se vira na minha direção
novamente. — E, Riccardo, essa aqui é a casa do Don, será aqui que vai
construir a sua vida de casado ao lado da sua esposa e não naquela sua
cobertura onde leva suas prostitutas.
“Tenha pelo menos o mínimo de respeito pela sua mulher e não
quebre as tradições que você tanto defende. Se tiver coragem de trair sua
esposa, aquela que dividirá a cama com você, terá coragem de trair
qualquer um de nós.”
Ela destila suas palavras em cima de mim, simplesmente, vira as
costas e sai como se nada estivesse acontecido.
— Está vendo só o motivo de não me meter? Sua esposa terá uma
bela aliada dentro dessa casa. — Meu pai mal termina de falar e um soldado
bate à porta já que mamma a deixou aberta.
— Don Riccardo, desculpa incomodar o senhor, mas a égua
Hanoverian horse, entrou em trabalho de parto.
Até mesmo o meu pai se anima com a notícia.
Finalmente, consegui fazer essa raça se reproduzir no meu haras.
— Quando começou? — pergunto me levantando.
— Já tem um tempo e a veterinária-chefe já foi avisada. Ninguém
toca na égua a não ser ela.
Minha vontade é de rir, pois vou ensinar mais uma lição para minha
adorável noiva.
— Dispense-a e ligue para o outro veterinário. Lorena está muito
ocupada cuidando do pai dela no hospital.
O soldado engole em seco, como se estivesse com medo da mulher.
— Ela não vai gostar nadinha disso, chefe. Lira é muito...
— Chame minha noiva de Lira mais uma vez e eu mesmo te mato.
Agora sim, ele muda de cor.
— Vou ligar para o outro veterinário, chefe.
Saio do meu escritório escutando a risadinha do meu pai, afinal
todos parecem conhecer muito bem Lorena.
Como nunca prestei atenção nessa mulher mandando no meu centro
de hipismo?
CAPÍTULO 12

Momentos antes...
Estou com meu pai no hospital há dois dias e ele está bem, mas teve
uma das costelas trincadas.
Nada de grave, grazie a Dio.
Hoje ele recebe alta e vou poder levá-lo para casa, mas temos que esperar
pelo médico.
Ainda não conversamos sobre o que aconteceu e me sinto culpada por vê-lo
nesse estado, mas uma hora vamos ter que conversar sobre isso.
— Por que esse médico não vem logo? Achei que esse hospital fosse...
— Lorena! Ele vai vir quando for a hora, não precisa dessa pressa toda —
Rosa fala tentando me acalmar, mas tudo o que quero é tirar meu pai daqui.
— Acalme-se, minha filha, ainda não está na hora do médico passar, ele
geralmente faz isso no fim do dia, assim como fez ontem.
— Eu só quero ver o senhor em casa, confortável, na sua cama. Vou
cozinhar aquela sopa que gosta e vai se sentir... — Paro de falar quando meu
celular toca e vejo o número do haras.
Eles só me ligam do haras quando uma coisa muito grave acontece, então
logo trato de atender.
— Lorena falando.
— Doutora, a égua Hanoverian horse, entrou em trabalho de parto.
Chego a fechar os olhos quando escuto isso.
Ela tinha que entrar em trabalho de parto justo hoje?
— Há quanto tempo ela está assim?
— Quase duas horas e ela já apresenta contrações uterinas coordenadas. A
égua está inquieta e já apresenta suor no pescoço, virilhas e entre as pernas.
— E só agora você me liga? Era para ter sido avisada de imediato. Se
acontecer alguma coisa a culpa será sua. — Desligo a ligação e vejo o meu pai me
olhando.
Não costumo me alterar com os funcionários do haras, mas a metade deles
são soldados que se acham os donos da razão.
— Você pode ir, minha filha, vou ficar bem.
Fico em dúvida, pois não queria deixar o meu pai aqui.
— Pode ir, Lira, fico com ele. Se o médico passar dando alta antes que você
esteja de volta te ligo avisando e nos encontramos em casa. Pode ir despreocupada.
Eu sei como cuidar do seu velho pai — Rosa fala me incentivando a ir.
Como não tenho muita escolha acabo aceitando.
Passei muito tempo estudando sobre essa raça de cavalos em específico,
consegui fazer a inseminação artificial e obtive sucesso. Não estou há um ano
cuidando dessa gestação para que agora deixe tudo nas mãos de outro veterinário.
— Tudo bem, eu vou, mas me liguem. Qualquer coisa não hesitem em me
ligar.
— Pode deixar, minha filha, vá em paz.
Eu vou até o meu pai, beijo sua testa e o encaro logo em seguida.
— Depois conversamos.
Ele sabe do que estou falando.
— Não se preocupe com nada, não sou idiota e já entendi muito bem o que
aconteceu. Parece que Don Riccardo achou uma maneira de te manter sob o
comando dele.
Balanço a cabeça achando isso um absurdo.
— Eu vou consertar as coisas, papai. Não vou permitir que nada de ruim
aconteça com o senhor.
— Não tente consertar nada, Lorena, só faça o que ele manda e ficaremos
bem. Agora vá, estão esperando por você.
Beijo de novo sua testa, me despeço de Rosa e saio do hospital.
Como o meu querido noivo deixou bem claro dois dias atrás, um maldito
soldado me segue onde quer que eu vá.
Pelo menos ele ainda não interferiu onde posso ir ou não.
Não tive mais notícias de Don Riccardo desde que ele me obrigou a esse
noivado e poderia nunca mais ter notícias dele que não me importaria, mas o anel
que carrego no dedo não me deixa esquecer a quem pertenço agora, como se eu
fosse um objeto que ele quis, foi lá e pegou.
Entro no carro e pelo espelho retrovisor vejo que estou sendo seguida por
outro carro, mas já sei que são os soldados fazendo seu trabalho.
Gosto mais quando é o Jorge que fica na minha cola, pelo menos ele é meu
amigo e sabe de tudo o que estou passando.
Quem não deve saber a essa altura do campeonato?
Afinal o idiota do meu noivo mandou o sogro para o hospital.
Cretino!
Ando pelas ruas em alta velocidade, com bastante pressa, pelo que me
disseram no telefone não vai demorar muito para que o pequeno potro nasça e vou
estar lá para recebê-lo.
Quando já estou entrando no haras meu celular toca novamente e o atendo
pelo viva-voz.
— Estou passando pelos portões do haras, como a Estrela está?
— Foi dispensada do serviço, Lorena, outro veterinário já está com a
Estrela cuidando dela.
O filho da puta na linha parece sentir prazer no que fala.
É sempre assim, tenho que provar quase que diariamente a minha
capacidade como veterinária.
Mas isso não vai ficar assim, não tive todo esse trabalho para outro tomar o
meu lugar.
— Com a ordem de quem isso foi feito?
— Don Riccardo. Mais alguma pergunta?
Desgraçado infeliz!
— Ele está aí? — pergunto tentando manter uma calma que no momento
não tenho.
— Não, mas ele foi avisado, afinal essa égua é a campeã dele.
A minha vontade é de gritar que sou a campeã dele, pois sem o meu
treinamento os cavalos não ganhariam as competições.
— Estou chegando e espero que os meus protocolos estejam sendo
seguidos, ou a coisa vai ficar muito feia.
Antes que ele fale mais alguma besteira, desligo a ligação na cara do idiota.
Já que somos todos da máfia e eles querem agir como animais marcando
território que seja então. Eu também sei ser assustadora quando se é preciso e hoje
é um desses casos.
Estaciono o carro na minha vaga e abro o porta-luvas tirando de dentro a
minha bela pistola czp10f semiautomática, calibre 9mm, com meu nome gravado
nela. Um belíssimo presente de aniversário do papai que me deu para que
conseguisse me proteger depois que mandei para o hospital um soldado que tentou
abusar de mim.
Saio do carro e coloco a minha belezinha no cós da calça para que todos
possam ver.
Se os homens podem andar armados por aqui, eu também posso.
Quero só ver se esses babacas vão ter coragem de me parar.
Vou andando em direção as baias onde Estrela é para estar e por onde passo
as pessoas vão me olhando de cima a baixo.
Não sei se é pela arma na cintura, ou pelo maldito anel no meu dedo.
A única certeza que tenho é que minha vontade é de tirá-lo, mas prezo
muito pela vida do meu pai.
— Onde ela está? — falo alto o suficiente para que todos escutem, porque a
minha Estrela não está onde deveria.
— Está na outra ala, doutora, o veterinário mudou o protocolo.
Fico com tanto ódio do que escuto que tiro a arma da cintura e fico com ela
empunhada em minha mão.
— Quem é o filho da puta desse veterinário?
Pelo olhar que o soldado me direciona não precisa nem mesmo falar o
nome, pois já sei quem é...
Francesco, o imprestável que sempre quis o meu lugar aqui dentro.
— Eu vou matar esse infeliz. — Saio andando quase que correndo para a
outra ala.
Ninguém que passa por mim, tem coragem de me parar, afinal sou uma
mulher armada com um anel de noivado enorme no dedo.
Eles sabem o que isso significa.
Mas quando chego na baia o que vejo me faz apontar a arma para a cabeça
do infeliz que parece que estudou em uma universidade clandestina, é a única
explicação.
O maldito mudou todo o protocolo que passei um ano desenvolvendo para
que esse momento fosse o mais adequado e confortável para a égua parir.
— Tire as mãos dela agora mesmo, ou vai levar uma bala bem no meio da
cara.
Ele arregala os olhos, mas logo dá um sorrisinho, que quase passa
despercebido, olhando para trás de mim.
— Don Riccardo, estou só fazendo o meu trabalho.
Era só o que me faltava agora!
Isso não pode estar acontecendo!
A minha vontade agora é de matar os dois.
— Você quebrou todo o meu protocolo, está tocando na Estrela, tirou o
animal do ambiente em que estava acostumada e familiarizada. Sabe muito bem
que é recomendado transferir a fêmea prenha para o ambiente, onde irá parir pelo
menos trinta dias antes para que ela possa se adaptar e produzir anticorpos
presentes no colostro para imunização do potro.
“O local precisa ser limpo, seguro, silencioso, com uma forragem adequada.
“Ela tinha tudo isso lá e agora olha como ela está?
“Nervosa e estressada e prestes a dar à luz.
“Você é um completo estranho e está tocando nela, o que também não é
recomendado.
“Posso até não te matar agora, mas com certeza vou te demitir seu incapaz
filho de uma grande puta.”
Ele fica furioso com tudo o que falo na cara dele, mas o desgraçado está
confiando em Riccardo que deu a ordem de me dispensar.
— Eu só estou cumprindo ordens, sua vadia. Não era nem mesmo para você
estar aqui.
Observo como a égua está nervosa então olho para trás encarando Riccardo
que também me olha.
— Riccardo, por favor, olhe para a Estrela, preciso ajudá-la.
Ficamos nos encarando por alguns segundos, até que ele dá a ordem sem
nem mesmo tirar os olhos de mim.
— Faça o seu trabalho e levem esse veterinário para o meu escritório junto
com a ficha dele.
Quando Riccardo manda todos obedecem e não é novidade para ninguém o
que pode acontecer quando se é levado para o escritório do Don.
Francesco é tirado mesmo sob protesto da nossa presença, afinal por isso ele
não esperava.
— Me ajuda aqui. A culpa de Estrela estar assim é sua, por ter me impedido
de cuidar dela. — Jogo a arma que Riccardo apara no ar.
— Quem te deu uma arma, mulher? — ele pergunta de forma ríspida, mas
no momento não tenho tempo para discussões.
— É apenas para a minha defesa pessoal e só queria dar um susto no
Francesco. Ele é um burro, idiota, que não sabe fazer nada direito. Agora coloca a
arma ali em cima daquela mesa e me ajuda aqui, temos que acalmá-la.
Ele faz o que digo, tira a arma que tinha na cintura e coloca ao lado da
minha.
— Você disse que não é para tocar nela. Por que está tocando agora? — ele
pergunta se abaixando do meu lado.
Mesmo sem intenção nenhuma é impossível que não fique arrepiada com a
sua proximidade.
— Estranhos não, mas cuido dela há mais de um ano e você é o dono, deve
ter algum tipo de vínculo com a Estrela, apesar de que nunca te vi com ela antes —
falo com ele tentando deixar o ódio que sinto de lado, pois no momento o que
importa é a égua.
— Fim de semana. — Ele começa a acariciá-la assim como estou fazendo.
— O quê?
— Eu venho vê-la aos finais de semana, quando tenho tempo ou não estou
em uma missão. Negociei a Estrela pessoalmente, me apaixonei por ela assim que a
vi. Sabia que seria uma boa aquisição para o meu haras e para o centro de hipismo.
Encaro o homem no mesmo instante em que me olha, mas não consigo
descrever o sentimento que sinto em relação a ele.
Ficamos assim nos olhando até que sinto algo diferente em Estrela.
— Aconteceu a ruptura da bolsa, o fluido alantoide está sendo liberado,
olha só. O potro está posicionado para sair, afaste-se dela. Esse é o processo natural
da vida e Estrela sabe o que tem que fazer agora.
Riccardo faz o que digo, então me levanto e fico por perto monitorando a
minha linda Estrela.
— Você é uma boa médica veterinária — ele fala e me lembro que ele
mesmo mandou me dispensar do serviço.
— Eu sei disso, mas parece que ser bom não é suficiente para trabalhar para
você.
Sei que não deveria estar enfrentando esse homem que já me mostrou do
que é capaz de fazer, só que ter interferido no meu trabalho apenas para mostrar
que manda em mim, não foi a ideia mais inteligente, pois Estrela seria a maior
prejudicada nisso tudo.
CAPÍTULO 13

Deixo Lorena na baia com Estrela e vou em direção ao meu


escritório sendo seguido pelos meus homens.
Essa é a função deles, me seguir como se fossem minha sombra.
Eles são homens que dariam sua vida para proteger a minha, proteger o Don
da máfia, assim como vem sendo feito há várias gerações.
No início admito que foi meio difícil me acostumar com isso, pois
mesmo sendo o filho herdeiro da cadeira de Don, costumava andar sozinho.
Eu era o meu segurança, uma alma treinada para matar quem cruzasse o
meu caminho e foi assim que a minha fama se espalhou rapidamente. O
monstro que foi criado pelo pai para ser muito pior do que ele mesmo.
— Fui informado que a Hanoverian horse está dando à luz. — Meu
irmão aparece do nada surgindo de um corredor.
Estrela é de uma raça pura, de sangue quente, vinda da Alemanha e
já ganhou medalhas de ouro em três competições olímpicas equestres,
sendo elas, Salto, Adestramento e Concurso Completo de Equitação.
Não me impressiona nem um pouco a fúria da minha noiva em ver
outro ocupando o lugar dela nos cuidados com Estrela.
— Ela tem nome — falo me referindo a égua.
— E por algum acaso você sabe o nome dela? Não vem mais aqui
com tanta frequência como vinha antes, irmão, como consequência disso,
sobra mais trabalho pra mim.
Não estou com paciência para as conversinhas de Carlo hoje.
— Hoje não é um bom dia, Carlo. Garanto que não vai querer me
irritar hoje.
— Nunca é um bom dia para você, Riccardo, mas parece que se
esquece que também faço parte dessa merda toda. Não pedi para ser seu
subchefe e também nunca almejei esse cargo, mas assim como você,
também não tive muitas opções, irmão.
Paro de andar e seguro no ombro dele o parando.
Carlo não costuma ser assim, por isso deduzo que alguma coisa
deve estar acontecendo e não estou sabendo.
— O que aconteceu? Por que está assim?
Ele puxa o corpo se afastando de mim.
— Como se você se preocupasse com o que acontece comigo. Não
se esqueça, irmão, que cubro as suas costas.
“Os problemas só chegam a você depois que a merda passa por
mim, porque nenhuma trivialidade pode chegar até o Don da Cosa Nostra,
apenas os problemas mais importantes.
“Ele tem coisas muito mais importantes a fazer, como por exemplo,
mandar espancar o pai da mulher que está obrigando a se casar com ele, e
tudo isso dentro da casa do homem.”
Agora ele passou dos limites, então, o seguro pela gola da camisa e
o impresso na parede ao lado com o antebraço em sua garganta, o
imobilizando.
— Perdeu o juízo de vez, porra? Não sou só o seu irmão, caralho,
sou o seu chefe e só não te mato agora em consideração ao sangue que nos
une.
“Se acha a sua vida de merda ruim, tenha certeza que a minha é mil
vezes pior.
“Tenha mais respeito pelo seu chefe, ou da próxima vez mando te
prender e eu mesmo te ensino uma lição.
“Sei muito bem que você não vai querer passar pelas minhas mãos,
afinal não sou tão benevolente como nosso pai, irmão.
“Jamais daria a você o treinamento que ele deu.
“Nosso pai foi um fraco quando te treinou, por isso reclama tanto
feito uma marica.”
Solto seu corpo de uma vez quando percebo que Carlo já está sem
fôlego e ele começa a tossir.
— Você é um desgraçado! — Ele apoia as mãos nos joelhos,
retomando o fôlego.
— Não, meu irmão, não sou um desgraçado, sou muito pior do que
isso. Agora vamos, se está aqui é porque quer trabalhar. — Retomo o meu
caminho até o escritório sendo seguido por ele.
Carlo é o pesadelo de muitos de nossos inimigos, mas as vezes a
minha vontade é de fazê-lo passar por todo o treinamento de novo, só para
vê-lo sofrer.
Quando chegamos na parte administrativa do haras abro a porta do
meu escritório e já encontro o tal veterinário sentado em frente à minha
mesa. Diferente do que esperava, ele me parece estar bem tranquilo, o que é
um erro da parte dele, porque adoro o caos.
— O que esse imprestável está fazendo aqui? — Carlo fala assim
que se dá conta da presença do homem, então ele se vira na nossa direção e
me encosto na minha mesa de frente para ele.
— Eu só estava cumprindo as suas ordens, Don Riccardo. Aquela
vadia não tinha nada do que se meter no meu trabalho. Há muito tempo
aquela amazona vem se achando dona desse lugar, já está passando da hora
de colocá-la em seu devido lugar.
Eu me mantenho sério, encarando o desgraçado que realmente
cometeu um erro agora, um erro gravíssimo. Essa é a segunda vez que ele
chama a minha noiva de vadia e não se deve referir a mulher de um Don
dessa maneira. Na verdade, o nome dela não era para nem mesmo estar em
seus pensamentos, quanto mais em seus lábios.
— Ele está falando da Lorena? — Carlo questiona.
— Cometeu um erro ao contratá-la, senhor Bianchi. Essa mulher
não deveria nem mesmo estar mais competindo — ele fala se referindo ao
meu irmão que sorri e coloca a mão em cima da sua arma, como se
estivesse apenas esperando um comando meu para estourar os miolos do
infeliz.
— Cara, você está muito fodido.
— Não fui eu quem desobedeceu, senhor Bianchi, mas ela, se
metendo em uma ordem que o Don Riccardo deu.
Meu irmão sabe que toda essa calma que demonstro ter não é bom e
é isso que assusta meus inimigos. Aprendi a controlar minhas emoções e
uma pessoa tem mais chance de sair da minha mira quando perco a cabeça
do que quando me mantenho assim.
— Em primeiro lugar, não dei ordem para você quebrar o protocolo
de segurança que a veterinária-chefe tinha desenvolvido para a Estrela; em
segundo lugar...
— Aquele protocolo era ridículo... AHHHH... — ele grita de dor
com o tiro que o meu irmão dispara na perna dele.
— Não se interrompe o Don quando ele está falando, Francesco,
você sabe disso. Você conhece as regras, então, por que está sendo tão
imprudente?
Meu irmão é incrivelmente debochado em algumas ocasiões, o
infeliz é um sádico frio.
— Perdão, Don Riccardo, perdão. Eu imploro, não me mate.
Agora sim, dou a ele meu sorriso da morte.
— Eu não sou Deus para estar distribuindo perdão por aí e não sei
nem mesmo o significado dessa palavra. Você não obedeceu às minhas
ordens, o que...
— Don Riccardo... AHHHH... Por favor... — ele grita de novo com
o segundo tiro que é disparado.
— Já falei que não se interrompe o Don quando ele fala, caralho.
Por algum acaso o seu cérebro parou de funcionar, Francesco?
— Perdão, perdão, perdão... — Ele se cala quando pego minha arma
e aponto para o meio da testa dele.
— Assinou a sua sentença de morte quando chamou a minha noiva
de vadia.
Ele arregala os olhos, pois sabe que vai morrer agora.
— Misericórdia, Don Riccardo, eu não...
— Você viu o anel no dedo dela?
Sei ler muito bem as expressões de uma pessoa, reconheço uma
mentira e um mentiroso à légua. Sei bem quando tentam me enganar.
— Eu, eu, eu...
— Você viu, mas estava tão empenhado em tirá-la do sério, tentando
mostrar que o trabalho que ela vinha fazendo há mais de um ano era inútil,
que não associou as coisas.
“Isso só mostra que não serve para trabalhar para mim.
“A ordem que dei a você foi clara, deveria apenas acompanhar
Estrela no trabalho de parto e prestar os primeiros atendimentos se fosse
preciso.
“Mas você não só não fez o que mandei como a deslocou de ala, a
tirou da baia que estava preparada para ela e nessa terra nada é mais
importante do que os meus cavalos.”
Nem dou chance do desgraçado falar de novo e disparo estourando
sua cabeça, acabando de vez com sua vida imprestável.
O corpo do desgraçado cai da cadeira para o lado e ainda bem que
não sujou meus sapatos.
— Rápido assim, irmão? Achava que a gente poderia se divertir um
pouco, uma tortura básica cairia bem nesse caso e tiraria uma porcentagem
considerável do meu estresse.
— Tire esse lixo daqui e limpe tudo.
Meu irmão faz uma cara de nojo olhando para o corpo sem vida no
chão.
— Não toco nisso mais nem fodendo, estou limpo, e sabe como
preso pela minha higiene.
Eu ainda vou afogar esse idiota em uma poça de lama.
A verdade que quem o vê assim, não imagina o homem sanguinário
que é.
— Só mande dar um jeito nisso, Carlo, e não me enche o saco.
Estou na porra do meu limite nos últimos dias e ando perdendo a paciência
que nunca tive com muita facilidade. O meu futuro sogro no hospital é a
prova disso.
Meu irmão tira o celular do bolso com certeza para chamar alguém
para fazer a limpeza, mas antes que ele consiga completar a ligação a porta
é aberta de uma vez e uma Lorena pálida estanca na porta.
Ela fica mais pálida ainda quando vê o corpo sem vida no chão.
— Francesco está morto — ela fala tão baixo que quase não a
escuto, é como se ela estivesse falando mais para ela mesmo do que para
nós que estamos na sala.
— O que você quer aqui, Lorena? E como se atreve a entrar na
minha sala desse jeito? — falo de forma completamente ríspida com ela.
— Calma aí, Riccardo, não vê que a menina está pálida. Ela deve
estar em choque com o que está vendo diante dela.
Lorena engole em seco e apenas balança a cabeça fazendo que não.
— Não, Carlo, estou bem, é só um mal-estar passageiro.
Mas que porra de “Carlo” é essa?
— Lira, eu te conheço e você não passa mal, parece uma máquina,
onde estava?
Ver meu irmão falando assim com ela não me agrada nem um
pouco, é como se já se conhecessem e muito bem pelo que estou vendo.
— Que porra é essa, Carlo? Que intimidade toda é essa com a
Lorena? E desde quando a chama de Lira?
Esse maldito está mesmo querendo me irritar, mais do que já estou.
— Calma aí, irmão. — Ele levanta as mãos em sinal de rendição.
— Dá o fora daqui, Carlo, e mande alguém vir limpar essa bagunça.
— Aponto para o corpo ensanguentado e sem vida no chão.
Ele apenas concorda e quando vai passar por Lorena na porta para
ao lado dela.
— Seja bem-vinda a família, cunhada.
Lorena sorri para ele e devo admitir que o sorriso dela é lindo.
— Eu não tive muita escolha. — Ela levanta a mão mostrando a ele
o anel de noivado.
— Nunca temos, Lorena. Nossa escolha é tirada de nós assim que
nascemos. Na máfia, apenas o Don tem o poder de decidir o que cada um
faz da vida.
Eles se encaram, como se entendessem um ao outro.
— Sinto muito, Carlo.
— Eu sinto mais por você. — Meu irmão passa por ela e vejo
Lorena respirando fundo com o que ele fala.
— Não quero você de conversinha com o meu irmão, muito menos
de amizade com ele.
— Ele vai ser o meu cunhado, Riccardo, como não quer que eu não
fale com ele? Não...
— Já disse que não quero, Lorena. Será que sempre tem que
questionar tudo o que falo? Ainda não aprendeu a porra da sua lição? Será
que vou ter que ensinar de novo para...
— Não, não, por favor, Don Riccardo, o meu pai está se
recuperando. Já disse que vou me casar com o senhor, não faça nenhum mal
ao meu pai. — Ela dá dois passos para dentro do escritório, sem nem
mesmo se importar com o corpo estirado no chão.
— Isso só vai depender de você, querida. Agora diga o que veio
fazer aqui, pois que eu saiba não mandei te chamar.
Ela fecha os olhos por breves segundos como se estivesse buscando
por autocontrole.
— Vim aqui exigir que esse desgraçado fosse demitido, mas pelo
que estou vendo o senhor já fez muito mais do que isso. Agora só quero a
minha arma de volta. Será que pode me devolver? Foi um presente que
gostei muito.
Não acredito no que estou escutando!
Essa menina deve ser a única mulher dentro da máfia que ganha
uma pistola calibre 9mm de presente.
— Que eu saiba, mulheres gostam de ganhar joias, roupas, sapatos,
bolsas caras de presente e não uma pistola semiautomática.
— Bem, sou uma mulher diferente, o tradicional me irrita um
pouco. Se quiser uma roupa, sapatos, joias ou bolsas eu vou ao shopping e
compro, simples assim. Agora será que pode me devolver a minha arma?
Deve tê-la pegado de cima da mesa junto com a sua. Eu tenho um certo
apego emocional com ela.
Tenho que rir do que escutei, pois, essa mulher está dentro do meu
escritório, com um corpo sem vida no chão, com sangue escorrendo por
todo lado e está falando do apego emocional que tem com uma pistola
czp10f semiautomática calibre 9mm.
É inacreditável!
CAPÍTULO 14

Todas as experiências que tive serviram para a minha formação,


para ser o que realmente sou. Se hoje sou um homem forte, corajoso e

destemido é por causa de tudo o que meu pai me ensinou e me fez passar
durante o meu treinamento.
Há quem diga que irei conseguir bater todos os méritos dele na
máfia, o que creio já ter acontecido. Realmente, o lucro aumentou e muito
depois que assumi tudo e superar o meu pai foi mais fácil do que imaginei.
Mas não há nenhuma concorrência ou algo do tipo.
Só que ainda falta uma etapa a ser seguida e essa etapa
é o casamento. É só por isso que estou me controlando com Lorena.
— Sua pistola ficará mais segura comigo, mio caro[9].
Agora sim, ela entra de vez no escritório e ainda passa por cima do
morto parando na minha frente.
— Me devolva, Don Riccardo, que vou embora e me verá apenas no
dia do casamento como é a vontade do senhor. — Ela estica a mão e cruzo
os braços.
— Você gosta de me provocar, não gosta? Gosta de desafiar a minha
autoridade como Don, testa os meus limites para ver até onde vou. E olha
que essa é apenas a terceira vez que interagimos.
— Está enganado, sei até onde o senhor pode ir, pois, como mesmo
disse, já me deu provas disso. Eu só quero a minha pistola e depois vou
embora.
— E eu já disse que não.
Ela olha para o meu coldre, mas a pistola dela está na minha cintura,
no cós da minha calça social, bem na parte da frente.
— Olhe mais para baixo, piccolla[10].
Ela faz o que digo e não é só na pistola que ela presta atenção, mas
na porra da ereção dolorida que tenho agora, porque essa maldita de algum
modo tem esse poder sobre mim. Toda vez que a vejo fico excitado e estou
mais ainda agora, sabendo que ela realmente não parece ter medo de nada,
exceto que eu encoste no pai dela. Outra mulher em seu lugar teria saído
correndo desse escritório vendo um corpo sem vida no chão cheio de
sangue, mas ela não.
A diaba está aqui, na minha frente, encarando o meu pau, querendo
a pistola dela de volta, o que não vai acontecer.
— Vejo que tirar vidas deixa o senhor excitado, pois carrega uma
bela de uma ereção, Don Riccardo. Devolva a minha pistola e o senhor
pode ir rapidinho resolver esse seu problema em algum dos bordéis da
famiglia.
Acabo sorrindo para ela de um jeito que deixaria muita gente com
medo, mas ela não, então dou um passo em sua direção.
— Não tenho problemas em matar... Isso me acalma, me excita,
me sinto vivo. E você não tem noção de como estou me segurando para não
acalmar a minha ereção bem aqui mesmo, nesse escritório, em cima dessa
mesa, entre suas pernas, encaixado em você.
“Mas eu não posso, não posso te tocar até o casamento, essas são as
malditas regras, as tradições que infernizam a minha vida.
“Mas não se preocupe que logo, logo estará na minha cama, me
servindo, como tem que ser, como uma boa esposa.”
Ela fica vermelha e não é de excitação, é de raiva, mas sabe que não
pode falar nada.
Aprecio uma boa mulher e uma foda, mas nunca nenhuma mexeu
tanto com os meus instintos mais primitivos quanto essa mulher a minha
frente.
Lorena é marrenta, petulante, mas quero essa petulância
toda em cima de mim, cavalgando como uma boa amazona que ela é.
— Pode ficar com a minha pistola, posso conseguir outra. — Ela
vira as costas para ir embora, completamente sem jeito com as minhas
palavras.
Admito que fiquei satisfeito em deixá-la assim, mas não permito que
saia, então a pego pelo braço e puxo seu corpo para o meu.
— Como ousa me virar as costas, mia piccolla[11]? Como pode ser
tão insubordinada assim, Lorena? Sabe quem eu sou, sabe o que posso fazer
e mesmo assim é desrespeitosa. Você é minha, carrega a maldição do meu
anel no seu dedo, então, por que ainda luta contra isso sabendo que não tem
escolha? — Enredo a mão em seu cabelo, segurando firme o suficiente para
que ela não consiga mexer a cabeça e encosto a minha testa na dela. — Eu
não vou te machucar, nunca te machucaria, Lorena. Eu seria incapaz de
fazer isso com você. Mas não me provoque...
— Vai usar o meu pai contra mim, para me manter na linha como
mesmo disse.
Sinto um pequeno tremor em seu corpo, então deposito um beijo em
sua testa.
— Se for preciso sabe que sim. Mas, por agora, vou beijar você, já
que não posso te foder forte em cima dessa mesa, tendo como testemunha
apenas um corpo sem vida.
Antes que ela consiga reagir ao que falo grudo nossos lábios. Ela
tenta reagir no começo, mas insisto e quando mordo seu lábio ela abre a
boca. Começamos uma guerra de línguas que se duelam e se pressionam
uma na outra, quase como uma dança de poder.
Lorena geme na minha boca e logo suas mãos vão para a minha
nuca. Seus dedos começam a afagar o meu couro cabeludo, meu pescoço,
meus ombros e isso me deixa mais louco ainda por ela. Então, a levanto
pela cintura e a coloco sentada em cima da mesa com as pernas abertas me
deixando entre elas.
Chupamos nossos lábios verbalizando sons de puro prazer, acaricio
suas costas, pego sua bunda apalpando e apertando com força. Ela abre bem
as mãos para afagar meus braços parecendo se deliciar com meus músculos
enquanto pressiono seu corpo em minha ereção, tentando inutilmente
acalmá-la.
Essa mulher vai acabar comigo desse jeito.
— Não! Não podemos...
— Se eu quiser eu posso. — Passo a beijá-la novamente.
Assim como antes ela se entrega ao beijo e quando passo a chupar
seu pescoço até chegar no lóbulo da sua orelha ela geme meu nome, me
fazendo vibrar por dentro.
— Riccardo...
— Diga que também me deseja. — Aperto seus seios por cima da
blusa a fazendo suspirar.
— Não podemos, as tradições seriam quebradas.
Com isso a desgraçada consegue me parar.
— Maldição! Mas que inferno! — Estou prestes a beijá-la
novamente quando escuto a voz do meu irmão.
A porra da porta está aberta.
— Per l'amor di Dio, tenha respeito pelo defunto.
Um dia ainda vou acabar com o meu irmão e que mamma me
perdoe.
— Riccardo, afaste-se.
Lorena, é claro, se assusta com o intruso e me empurra.
Tudo o que me resta a fazer é arrumar meu pau dentro da calça, a
fazendo ficar vermelha.
— É assim que você me deixa, piccolla. Não vejo a hora de tê-la em
minha cama. Vai ser delicioso estar entre suas pernas.
— Será que os dois podem parar com a safadeza por um instante?
Temos que recolher o lixo. Depois eu que sou o sádico.
Desço Lorena da mesa e ela se ajeita da melhor forma que pode,
mas quando dá um passo ela se desestabiliza e a seguro.
— Desculpa, é que eu, eu, eu...
— Quando foi a última vez que comeu?
Ela pisca seus lindos olhos, me encarando.
— Não minta pra mim, Lorena, odeio que mintam pra mim e que
tentem me enganar.
— Estava cuidando do meu pai no hospital, não tive muito tempo
para comer. — Ela parece lembrar do que fiz, por isso me empurra com
mais força e a solto.
— Vá ver como Estrela está. Encontro com você nas baias, vou te
levar para jantar.
— Vou para casa, meu pai já deve ter recebido alta uma hora dessas,
o senhor pode seguir...
— Eu não estou perguntando a sua opinião, Lorena, estou
informando que vou levar você para jantar. E nem adianta pedir a sua
pistola que não vou entregar, você já é perigosa demais desarmada. E
duvido muito que saiba como usar uma pistola como essa. Agora vá. —
Aponto para a porta e a vejo travar o maxilar com tanta força que chega a
tremer. — Não me desafie!
— Odeio você com todas as minhas forças.
— Não era isso que estava parecendo agora pouco, piccolla.
Ela me olha semicerrado e vira as costas saindo, passando pela porta
feito um furacão.
Ela não se dá nem mesmo ao trabalho de cumprimentar o meu
irmão.
— Está brincando com fogo, Riccardo, estou só avisando.
Sorrio para ele.
— Sei muito bem como apagar o fogo dela.
Meu irmão balança a cabeça sorrindo e ordena que os soldados
entrem para limpar a bagunça que o meu escritório se encontra.
Lorena vai andar na linha comigo...
Ah, mas vai!
CAPÍTULO 15

Sou uma fraca, burra...


Não, eu não sou fraca, meu corpo que é fraco.
Sou uma fortaleza, sou forte, o problema são os meus hormônios
que estão tentando dominar o meu corpo e quando dou por mim, já estou
aos beijos, nas mãos do Diabo.
Isso não pode acontecer, não pode!
Tenho que agir com a razão e não com a emoção.
Dio mio, estou perdida!
Estou, literalmente, em um beco sem saída.
O Diabo beija bem demais, aliás, ele não beija, faz sexo com a
língua, e o pior foi que na hora do desespero usei as tradições que eu
mesmo quebrei contra o Don da máfia. Na hora, me pareceu uma ideia
incrível, porque não tinha forças para lutar contra aquele beijo que me
consumia, acendendo todo o meu corpo que deveria estar queimando de
ódio pelo desgraçado que mandou meu pai para o hospital.
Mas não, em vez disso estava lá, sentada em uma mesa com as
pernas arreganhadas com o infeliz querendo me devorar com um cadáver
praticamente ao nosso lado.
Eu pensei que...
— Lira, fiquei sabendo que a nossa Estrela deu cria.
Sou tirada dos meus pensamentos com Bernardo me abraçando por
trás, tirando os meus pés do chão, quase chegando na ala onde Estrela está.
— Me coloque no chão, Bernardo. E como foi que ficou sabendo
disso? Por algum acaso anunciaram em algum jornal que a égua deu cria?
Pelo amor de Deus.
Ele me coloca no chão e me vira para ele.
— O que você tem? Não está de TPM, porque eu sei e não me ligou
depois da nossa competição, ainda está me devendo a nossa comemoração.
Como vou contar para o meu melhor amigo que fiquei noiva do
Diabo e que ele mandou o meu pai para o hospital só para me controlar.
— Precisamos conversar, mas esse não é o local e nem a hora
adequada para isso.
Ele me olha sem entender nada do que está acontecendo, porque
nunca fui de agir assim com ele.
Entre nós dois nunca existiu segredos.
— O que está acontecendo, Lira? E é claro que sei que a Estrela deu
cria, nós dois a treinamos, esqueceu?
Balanço a cabeça sem saber como explicar a ele o que quer.
— Bernardo...
— Lorena, está me deixando preocupado com você. — Ele se
aproxima demais e segura o meu rosto com as mãos, me fazendo levantar a
cabeça para encará-lo.
Bernardo é um homem alto, bonito, as mulheres fazem fila atrás
dele e o safado aproveita cada oportunidade que tem.
— Eu vou contar tudo, só não é o momento apropriado para isso.
Mas prometo que vamos conversar. — Seguro em seu antebraço e ele me
puxa, me abraçando e beijando o topo da minha cabeça.
A vontade que tenho é de chorar abraçada ao meu amigo, porque
poderia desabafar tudo o que sinto com ele.
— Dio mio, está tremendo, Lira, o que... — Ele se cala de repente e
eu me afasto.
Eu me dou conta para onde ele está olhando e meu coração treme
diante de como pode ser sua reação.
— Bernardo, eu...
— Mas, que diabos é isso no seu dedo?
Mas que droga!
Estou começando a acreditar que esse anel é realmente uma
maldição.
— Esse é um diamante rosa. — Ele pega a minha mão e parece
analisar a joia.
Bernardo é filho de um associado da máfia e a família dele tem uma
longa história. Ele sabe muito bem como é que as coisas funcionam e com
certeza ele sabe também o que esse anel significa.
O pai de Bernardo é um homem muito importante na história da
máfia italiana.
— Esse não é um diamante rosa qualquer, Lira, é o diamante rosa, o
diamante que somente a esposa de...
— Um Don carrega no dedo — completo a frase.
O olhar que ele me direciona faz o meu pobre coração chorar de dor.
Bernardo e eu tínhamos planos, planejamos juntos um futuro para
nossa carreira, planejávamos viajar o mundo competindo e estávamos nos
preparando para isso.
— Eu não tive escolha, Bernardo. Ele mandou espancar o meu pai,
por isso não te liguei. Estava no hospital com meu pai. Ele fez tudo isso
porque quis me opor à vontade dele de se casar comigo. Eu tentei fugir
disso, mas não consegui. Eu juro que tentei.
Ele me puxa para os seus braços novamente, não consigo me
segurar e derramo a lágrimas que tinha prometido para mim mesma que não
derramaria mais.
— Quando foi que isso aconteceu? — ele pergunta de uma maneira
fria que nunca tinha visto.
— Logo depois da nossa competição. Foi por isso que Jorge me
mandou ir para casa naquele dia.
“Quando cheguei em casa meu pai estava me esperando, Don
Riccardo já tinha conversado com ele e não tive escolha. Não me deram a
porra da escolha.
“Eu sinto muito, Bernardo, sinto muito mesmo, mas parece que
agora você vai ter que conhecer o mundo sozinho.
“Peço que me leve com você em seu coração e em seus
pensamentos, me faça conhecer o mudo através dos seus olhos.”
Seu corpo fica tenso e ele me aperta mais ainda em seus braços.
— Vamos fugir.
— Não! — Olho para ele. — Eu não posso fugir, ele mataria o meu
pai. Sem contar que isso seria considerado uma traição. Já estamos noivos,
Bernardo, por isso ele me caçaria e me encontraria. Isso não é vida, viver
fugindo não é vida para ninguém.
— Lira, escuta. — Ele segura o meu rosto com as mãos. — Eu
tenho como nos manter seguros e longe do Don Riccardo. Ele nunca nos
encontraria.
— Eu não posso, não posso arriscar a vida do meu pai e da Rosa
desse jeito. Você conhece a fama desse homem, Bernardo, ninguém ganha o
apelido de Diabo à toa. Ele já me tem em suas mãos, eu já pertenço a ele.
— Levanto a minha mão mostrando o anel.
— Isso não é justo com você, Lorena, tem um futuro todo pela
frente. Você nunca gostou de viver conforme as regras da máfia, sempre
quis ficar longe disso tudo, é uma alma livre.
— Eu nunca fui livre de verdade, Bernardo. Você melhor do que
ninguém sabe que da máfia só se sai morto. Sou uma filha da máfia e nunca
vou conseguir sair dela. A diferença foi que o meu pai me deu opções que
outras mulheres não tiveram, mas hoje ele se arrepende disso, diz que foi
um erro ter me criado assim.
Bernardo balança a cabeça de forma negativa.
— Você é apenas a filha de um soldado, um simples soldado, não
tem motivos para que o Don queira um casamento com você quando todo o
alto escalão da máfia tem pretendentes de sobra para ele escolher à vontade,
porque... — Bernardo para de falar quando escutamos o som de uma arma
sendo engatilhada.
O pequeno click me traz arrepios, o medo do que pode vir a
acontecer com o meu amigo agora me apavora, porque tirar a vida dele na
minha frente apenas para me ensinar uma lição seria muito fácil para o
Riccardo que mata e tira vidas como se fosse algo sem importância
nenhuma. Ele já não tem mais humanidade o suficiente para se compadecer
de nada e é isso o que me apavora, porque não sei se vou conseguir ser forte
o suficiente para lidar com isso.
— Que eu saiba os meus motivos não dizem respeito a você,
moleque. Agora tire as mãos da minha noiva, não a quero sujar com o seu
sangue.
Eu me afasto de Bernardo, mas ele não parece se preocupar muito
com a ameaça que acabou de receber.
Bernardo sempre fala que não tem medo de nada que envolva a
máfia, o que é um grande erro da parte dele.
— Vá em frente, Don Riccardo, eu quero só...
— Não! Não, por favor! — Entro na frente dele antes que o idiota
fale alguma besteira e o outro mais idiota ainda acerta uma bala na cabeça
do meu amigo.
— Sai da minha frente, Lira, não preciso que me defenda, muito
pelo contrário, eu vou defender você.
— Perdeu o juízo de vez? Se nem o meu pai conseguiu me defender
desse monstro você acha mesmo que consegue?
— Lorena! — A voz de Riccardo soa como um trovão enviado
diretamente do inferno.
— Por favor, Riccardo, não faça nada. Eu imploro a você que não
faça nada com o Bernardo, não estávamos fazendo nada de mais, apenas
conversando. Você deve ter visto, se não viu pode olhar nas câmeras de
segurança e verá que estou falando a verdade.
— Ele estava com as mãos em você, isso, para mim, já é motivo
mais do que o suficiente para que acabe com a vida dele.
Com um passo apenas me coloco em frente à Riccardo e apoio as
mãos em seu peito, o que o faz tirar a atenção que mantém em Bernardo e
olha para mim.
— Riccardo, por Dio, estou pedindo a você que não faça nada.
Bernardo e eu somos amigos, apenas isso. Trabalhamos juntos, competimos
juntos, trazendo medalhas importantes do mundo hípico para você.
Ele trava o maxilar de raiva e, por um momento, chego a pensar que
será inútil o que estou fazendo, tentado convencê-lo de uma coisa que já
parece ser uma decisão tomada para ele.
— Está me pedindo pela vida de outro homem, piccolla? Isso só me
deixa mais furioso.
Dessa vez, seguro a lapela do seu terno e pela primeira vez tomo a
iniciativa de olhá-lo nos olhos.
— Estou pedindo pela vida de um amigo e não de um homem.
Chega de mortes por hoje, só me leve para jantar, por favor. Eu juro por
tudo que é mais sagrado nesse mundo que não estávamos fazendo nada de
mais, estava apenas contando a ele quem é o homem a quem pertenço
agora.
Ele me olha semicerrado por alguns segundo em seguida abaixa a
arma e respiro fundo aliviada.
— Se vai terminar o dia de hoje com vida é graças a ela, Bernardo.
Agora dá o fora do meu haras.
Olho para Bernardo e vejo na cara do idiota que ele ainda pretende
desafiar o Don.
— Bernardo, por favor, vá embora. Nos vemos na segunda-feira no
nosso treinamento. Nunca vou me perdoar se Riccardo te matar por minha
causa, sabe disso, então, por favor, vá.
Ele me olha e vejo algo a mais em seus olhos, o que não é nada
bom.
— Nos vemos então e terminamos essa nossa conversa.
Como se não tivesse medo da morte ele passa esbarrando no braço
do Don. É quando Riccardo faz o movimento de levantar a arma novamente
e seguro na mão dele.
— Por favor, não faça isso.
Ele me olha profundamente e encaixa a arma em seu coldre por
dentro do terno.
— Está me pedindo favores demais, piccolla, uma hora terá que
pagá-los e não pense nem mesmo por um único segundo que pode me
manipular. Isso seria um erro gravíssimo da sua parte. E burra, sabemos que
você não é.
CAPÍTULO 16

Lorena...
Essa mulher é diferente de todas as que já vi.
Nunca na minha maldita vida tinha visto uma mulher com tamanha
petulância, me encarando, se colocando na frente de outro homem,
praticamente implorando pela vida do desgraçado, e o pior foi que cedi.
Não sou de ceder, isso não acontece nunca.
Agora estou aqui, o Don da Cosa Nostra, dentro do carro esperando
pela mulher que resolveu ir ver a égua que deu cria antes de sairmos. Não
espero por ninguém, esperam por mim, até mesmo os condenados esperam a
morte pelas minhas mãos.
— Don Riccardo, acho que me sujei um pouquinho com a Estrela.
Olha só que tragedia, acho que vamos ter que adiar o nosso jantar. Uma
pena, pois, realmente, estava morrendo de fome. — Ela aparece do nada ao
lado da porta do motorista onde estou, com um maldito sorrisinho nos lábios.
Essa infeliz pensa que não sei o que ela está tentando fazer. Ela fez
um parto de uma égua e não se sujou, mas agora me aparece desse jeito.
— Uma pena que terá que ir ao restaurante desse jeito. Agora entre
no carro. — Giro a chave na ignição dando partida no carro e Lorena me
encara incrédula.
— Eu não vou sair desse jeito, Don Riccardo. Estou imunda não está
vendo? — Ela mostra o corpo.
— Sim, estou vendo que fez isso de propósito, agora entre no carro.
— Não vou entrar. Não vou sair com o senhor para lugar nenhum
desse jeito. — A demônia cruza os braços batendo o pé.
Acho que Lorena ainda não se deu conta de verdade com quem está
lidando.
— Engraçado que há pouco, enquanto pedia quase que implorando
pela vida do seu amiguinho, eu era apenas Riccardo. Agora está aqui na
minha frente, toda suja sabe Deus de que, me chamando de Don e de senhor,
tudo isso porque disse que iria levá-la para jantar. Uma bela forma de
agradecimento, não acha?
Ela me olha desconfiada e é bom que fique mesmo.
— Eu apenas me sujei cuidado da Estrela, foi apenas um acidente.
Balanço a cabeça concordando com ela, afinal se ela quer do jeito
difícil, por mim, tudo bem.
Pego o celular fazendo uma ligação.
— Para quem está ligando?
Levanto o dedo e ela se cala por um momento.
— Riccardo, para...
— Don Riccardo falando, marque uma reunião para hoje à noite no
meu escritório com Alessandro Moretti e o filho dele, preciso...
— Eu vou com você, por favor, não faça nada, vou. — Ela segura no
meu braço, me interrompendo, como se não tivesse visto o que aconteceu no
meu escritório agora pouco quando fui interrompido.
Lorena não tem limites e as coisas funcionam na base da chantagem
com ela. O problema é que não fico só na chantagem, eu as cumpro.
— Solte o meu braço agora mesmo, você está pedindo por isso,
piccolla.
Ela faz que não com a cabeça.
— Eu já disse que vou com você, Riccardo, só não faça nada com o
Bernardo e o pai dele.
Encaro a mulher a minha frente e vejo o medo e desespero em seus
olhos.
Isso é bom, muito bom...
— Chefe, a reunião...
— Cancele — respondo ao soldado do outro lado da linha e vejo
Lorena respirar aliviada, enquanto guardo o celular no bolso.
— Será que pode pelo menos passar na minha casa primeiro para que
eu possa tomar um banho rápido e trocar de roupa? Vai ser vergonhoso
entrar em um restaurante suja desse jeito ao seu lado.
Eu deveria fazê-la ir assim mesmo, porque sei que essa sujeira toda
foi proposital.
— Entre logo na porra do carro antes que perca o restinho de
paciência que tenho com você. E não abra a droga da boca para reclamar de
nada.
Vermelha de raiva ela dá a volta no carro e entra no lado do
passageiro batendo a porta com mais força do que deveria, como uma
criança pirracenta.
Preciso fazer Lorena entender como as coisas vão funcionar e que
para que ela continue tendo a vida que tem, que tanto gosta, vai ter que andar
em uma linha muito reta comigo. Qualquer vacilo, qualquer tomada de
decisão errada terá uma consequência muito desagradável para ela.
— Depois do nosso casamento terá outras responsabilidades, não
poderá mais se expor da maneira como vem acontecendo. — Coloco o carro
em movimento sendo seguido pelos meus homens de confiança, mas a cara
que Lorena faz mostra que ela não gostou muito do que escutou.
Conhecendo as mulheres como conheço ela vai se fazer de
desentendida agora.
— Como assim outras responsabilidades? E a parte de me expor eu
também não entendi muito bem, já que as competições chamam muito
atenção, ainda mais quando se ganha as medalhas de ouro.
Sorrio para ela.
— Você entendeu sim, mia piccolla. Se eu tiver que escolher entre a
segurança da minha esposa e uma medalha de ouro, com toda certeza a
segurança da minha mulher ganha. Você não é a única amazona do mundo
ganhadora de medalhas, te substituir é muito fácil. — Olho rapidamente para
Lorena que mantém o olhar cravado em mim.
A menina está pálida feito um fantasma, como se a vida tivesse sido
arrancada dela apenas com palavras e, por alguma razão muito estranha, me
sinto mal em vê-la assim, sem reação nenhuma.
— Então é assim que a minha vida acaba — ela fala se ajeitando no
banco do carro, olhando para frente.
Essa não era a reação que estava esperando, pensei que fosse gritar,
espernear e me xingar. Esperava tudo, mesmo o que estou vendo.
— Sua vida não vai acabar por isso, Lorena. Muito pelo contrário,
será a esposa do Don, terá o mundo aos seus pés.
Ela passa a mão rapidamente pelo rosto, então percebo lágrimas em
seus olhos, lágrimas sutis, mesmo assim são lágrimas de tristeza e não era
para estar me sentindo mal com isso.
— Dois dias atrás acordei feliz, porque participaria de mais uma
competição e tinha certeza da vitória. Sempre tenho certeza das minhas
conquistas, porque me esforço ao extremo, me esforço para sempre ser a
primeira colocada.
“Tinha planos de sair pelo mundo competindo, porque foi para isso
que estudei e treinei a minha vida inteira.
“Enquanto as poucas amigas que tinha estavam sendo moldadas para
se tornarem bonecas manipuláveis da máfia, eu estava treinado, estudando,
virando a noite até cair de cansaço.
“Fui a primeira da minha turma na faculdade de medicina veterinária
e chorei de emoção ao ver o quanto meu pai estava orgulho de mim.
“Aquele orgulho que vi nos olhos dele fez todo o meu esforço e
noites sem dormir valerem a pena.
“Estava me tornando muito mais do que só uma mulher comum da
máfia, estava mudando o meu destino, tentando ser inspiração para que
outras, como eu, tentassem também ter uma vida diferente. Uma vida que
não fosse só se casar com um marido muito provavelmente abusivo e encher
uma casa de filhos. Filhos esses que também serviriam a máfia como um
círculo vicioso que não acaba nunca.
“Filhas de soldados não precisariam de casamentos estratégicos.
“Sei que nunca poderei sair da máfia, porque nasci nela, mas eu tinha
a certeza de uma vida diferente, a certeza que me foi tirada no dia em que o
destino me colocou no seu caminho.
“Vinte e seis anos da minha vida foi jogado fora apenas porque tive a
infelicidade de cruzar o caminho do Don da Cosa Nostra.
Agora tudo o que tenho vai ser tirado de mim, então a morte seria um
destino muito melhor do que o que me espera.”
Ela termina de falar e vira o rosto encostando a cabeça na janela do
carro.
Tenho que admitir que suas palavras me deixaram com um peso no
coração. Lorena teve uma vida muito diferente da que as mulheres da máfia
estão acostumadas, mas ela apenas estava se iludindo achando que poderia
viver de uma forma diferente. O pior foi que Félix permitiu isso, permitiu
que a filha vivesse uma ilusão.
Não que estudar fosse se tornar um problema na vida dela, é bom que
as mulheres estudem, mas nunca passa disso. Os pais não permitem que
passem disso, porque todos querem bons casamentos para as filhas.
Eu não fiz as regras, já nasci dentro delas, tendo que segui-las
também.
Para todos sou apenas o monstro, o Diabo encarnado, mas nunca
ninguém parou para pensar no processo que me fez chegar até aqui.
— Sinto muito ter sido eu a acabar com os seus sonhos. Mas nunca
poderia fugir do seu destino, Lorena.
“Por mais que conseguisse tudo o que queria e planejava, uma hora
ele ia bater na sua porta e você seria arrastada de volta para a sua realidade.
“Se me permite te dar um conselho, não tente que ir contra as minhas
vontades, piccolla.
“Já mostrei a você do que sou capaz.
“Não tenho escrúpulos, Lorena, e quero você, foi a minha escolhida.
“Não tente lutar contra isso, porque não tenho coragem de encostar
um dedo em você, mas apenas em você.
“Não posso dizer isso de outras pessoas.”
Ela entendeu muito bem o que quis dizer com isso.
— Você é um monstro desumano.
— Sou sim, amore mio[12], já nasci com esse destino traçado para
mim. Diferente de você, não tive nem mesmo a oportunidade de
experimentar algo além do que já estava traçado para mim. Nascemos na
máfia, Lorena, sob as leis e regras que ela nos impõe, e não se pode fugir
disso nunca.
CAPÍTULO 17

Fazemos o restante da viagem até a casa de Lorena em silêncio.


Ela está pensativa, com os olhos cravados na paisagem que passa do lado de
fora.
Eu também não interrompo o nosso silêncio.
A vida de Lorena irá mudar drasticamente e ela tem que se preparar
para isso.
Sei que apenas a possibilidade dela parar de competir vai abalar
todas as suas estruturas, mas expô-la desse jeito depois do casamento será
muito arriscado e não estou disposto a correr esse risco.
Não há a menor possibilidade de abrir mão disso no momento, isso
está fora de negociação.
— Chegamos!
Ela parece estar tão perdida que só se dar conta de que chegamos
quando informo.
Tudo o que ela faz é balançar a cabeça abrindo a porta do carro.
— Meu pai já deve estar em casa com a Rosa, pois ele ia receber
alta no fim do dia. Ele está se recuperando bem, Riccardo, só não o
machuque novamente. Faça o que quiser comigo, mas com ele não. Meu pai
já não é mais nenhum jovem para aguentar ser espancado desse jeito — ela
fala com a voz um pouco embargada, respirando fundo logo em seguida,
como se ela estivesse buscando por controle.
Já percebi que Lorena sempre faz isso nos momentos de tensão entre
nós.
— Isso só vai depender de você, piccolla. Eu não tenho intenção
nenhuma de machucar você, já o seu pai é outra história.
Ela engole em seco e sei que por dentro deve estar queimando de
ódio, mas com Lorena as coisas têm que ser assim.
Não me sinto mal em estar fazendo isso com ela para que entenda de
uma vez por todas a maneira correta de se portar.
— Eu não vou demorar. — Ela faz menção de sair do carro, mas
antes que isso aconteça a seguro pelo braço, a impedindo de sair.
— Não vai me convidar para entrar? Vai me fazer esperar por você
dentro do carro? Será que esse é o tratamento que o Don da máfia merece
receber da sua noiva? — Admito que falei isso apenas para irritá-la, pois
poderia muito bem esperar por ela dentro do carro e aproveitaria esse tempo
para responder alguns e-mails importantes que requer a minha atenção.
— Desculpa, é claro que iria convidá-lo para entrar, só não mande
matar o meu pai, porque com toda certeza morreria juntamente com ele. —
Ela puxa o braço do meu aperto e desce de uma vez batendo a porta do
carro.
Anda a passos rápidos até a entrada da casa, mas como sou mais
rápido e ágil do que ela a alcanço antes que consiga entrar, então a seguro
novamente.
— Por favor, me deixa entrar, você pode esperar na sala por mim.
Eu só preciso de um banho para me recompor desse dia. — Ela tenta puxar
o braço e vejo que a menina está a um passo de desabar.
— Olha para mim, Lorena. — Seguro seu queixo e ela faz o que
mando, então nos encaramos. — Você não morre sem a minha permissão,
entendeu bem? Sei que odeia a ideia desse casamento, mas não tem a opção
de me rejeitar, piccolla. Pode até não haver amor entre nós dois, mas me
comprometo a cuidar de você que se tornará a rainha da máfia, amore mio.
Você será inalcançável e apenas minha, minha mulher. Apenas você terá
essa minha proteção. — Acaricio seu rosto com o dedo polegar.
— Você não manda na morte, Don Riccardo.
— Está enganada, querida. Agora vá, tem apenas dez minutos para
se ajeitar e já vou logo avisando que não tolero atrasos. Vou esperar por
você no carro, não estou a fim de ver a cara quebrada do seu pai hoje, pois
sou capaz de terminar o que os meus homens começaram. — Solto seu
braço de uma vez e ela entra em casa como se estivesse fugindo de mim.
Um belo anjo fugindo do Diabo.
Linda Lorena...
Deveria ser pecado pensar em tudo o que quero fazer com essa
mulher.
Puta que pariu, está sendo mais difícil do que esperava me
controlar!
Mas é ela que quero e não me importo nenhum pouco em usar os
métodos mais sujos para tê-la.
Ela que amaldiçoe o dia em que cruzou o meu caminho, porque eu
jamais farei isso.
Viro as costas para ir em direção ao carro, mas quando dou o
primeiro passo, escuto meu nome ser chamado por Félix.
Meu futuro sogro está realmente tentando a sorte.
— Don Riccardo, entre, Rosa irá servir um café ao senhor. Pode
esperar na sala enquanto Lorena se ajeita, porque não tem a mínima
possibilidade da minha Lira se arrumar em dez minutos. Pode me espancar
novamente se quiser, mas em dez minutos garanto que ela não se arruma.
Escutando isso, me lembro do meu pai, sempre reclamando do
quanto mamma demora para ficar pronta, geralmente, os atrasos dele em
eventos é culpa da demora dela.
— Lorena sabe que está aqui falando comigo?
Ele balança a cabeça dizendo que não.
Observo que, realmente, o estado dele não é muito bom.
— Não, ela subiu direto para o quarto. Ela deve estar achando que
estou descansando, mas escutei a conversa de vocês quando estava saindo
da cozinha. Agora entre, Don Riccardo, e sinta-se à vontade, afinal essa
casa é sua. — Ele faz sinal com a mão para que entre e sai na minha frente
mancado de uma perna, segurando com uma das mãos a região da costela.
— Sente-se, Don Riccardo. — Ele aponta para o sofá e me sento, sendo
seguido por ele que se senta no sofá à minha frente.
— Como se sente?
— Quebrado. Mas quero pedir uma coisa ao senhor, se me permite
— ele fala de cabeça baixa, mas logo me encara.
— O que quer? — pergunto sem tirar os olhos dele, afinal sou bom
em ler as pessoas.
— Quero pedir ao senhor, implorar, na verdade, para que nunca
toque na minha menina. Pode descontar toda a sua raiva e fúria em cima de
mim, que eu aguento, mas a minha menina não.
“Conheço minha filha e sei que ela não vai se manter submissa por
muito tempo.
“Ela vai desafiar o senhor, mas não bata nela, não toque nela para
machucá-la.
“Nunca tive coragem de fazer isso, porque sempre a vi como uma
rosa delicada, como as rosas que a mãe dela cultivava no jardim.
“Lorena perdeu o brilho que possuía nesses dois dias, ela era feliz,
acordava todo dia radiante se preparando para ir treinar, trabalhar, fazer o
que ela ama.
“Mas agora minha pequena rosa está triste, está murchando aos
poucos e meu coração se parte, mas quanto a isso creio que nenhum de nós
dois pode fazer nada.
“Lorena sempre foi o meu ponto fraco, por isso nunca quis essa vida
para ela. Nunca quis e nem fiz questão que ela se cassasse, para que não
vivesse em um casamento abusivo como muitos que vemos.”
— Ela nasceu na máfia, o que fez foi errado.
Ele faz que sim, com a cabeça.
— Pode até ser que sim, mas fiz o melhor pela minha filha e pela
felicidade dela. Os sorrisos que ganhava da minha menina a cada conquista
dela pela vida me faziam ter certeza de que o que estava fazendo por ela era
o certo. Minha Lira teria um futuro.
— Futuro esse que está sendo interrompido por mim?
— Como disse, nenhum de nós dois pode mudar isso, não é mesmo?
Vou rezar todos os dias a Dio para que ele não lhe conceda a graça de ter
uma filha, apenas filhos homens, para que a minha Lira não morra de
desgosto tendo que criar uma bambina para ser entregue a um homem que
muito provavelmente... — Ele para de falar e abaixa a cabeça.
Félix no momento é apenas o vestígio do homem que era, pois, meu
casamento com a filha dele também está o afetando.
Ele tem medo de que maltrate a Lorena.
— Tem a minha palavra de que nunca irei tocar em Lorena para
machucá-la, e quanto aos filhos que vou ter, é bom que reze mesmo, pois
uma filha minha será criada exatamente como deve ser uma filha da máfia.
E isso nem mesmo Lorena poderá interferir.
— Sei que posso confiar em sua palavra como Don, mas o que irá
acontecer comigo depois do seu casamento? Seja lá o que tenha em mente
para mim, preciso preparar a Rosa que sempre esteve ao meu lado, me
ajudando a cuidar e criar Lorena. Eu não sei...
— Nada acontecerá com você, Félix, continuará a viver a sua vida
medíocre de sempre, afinal preciso descontar em alguém toda a raiva que a
sua filha com toda certeza irá me fazer.
Félix não fala nada e é nesse momento que a mulher que se chama
Rosa entra na sala me oferecendo um café, mas rejeito.
Ela parece estar desconfiada, mas não é para menos, afinal ela ficou
em choque por um bom tempo quando presenciou Félix sendo espancado.
— Mas onde está a Lorena? — pergunto já irritado com a demora
dela.
— Eu vou chamá-la, Don Riccardo. Ela deve estar...
— Já estou aqui, me desculpa se ultrapassei seus dez minutos
ridículos, é praticamente impossível tomar banho e se arrumar nesse tempo.
— Lorena! — Félix chama a atenção da filha e tudo o que consigo
fazer é olhar para as pernas dela à mostra, no vestido que é colado ao corpo.
— Pai, nem mesmo consegui secar o cabelo direito, tive que fazer
um coque para disfarçar, sem contar que a minha maquiagem foi feita em
tempo recorde.
Eu me levanto quando ela chega ao fim da escada.
— Não tolero atrasos, Lorena, avisei isso a você.
— Então da próxima vez me dê mais do que só dez minutos, assim
não me atraso e ninguém se machuca. — Ela se posiciona em frente ao pai,
como se fosse para protegê-lo de mim.
— As pessoas só se machucam quando vão contra as minhas ordens,
piccolla. Agora vamos antes que mude de ideia sobre uma promessa que
acabei de fazer ao seu pai — falo isso apenas para assustá-la, para que se
coloque em seu lugar.
Confesso que prefiro mais a Lorena submissa a essa petulante.
CAPÍTULO 18

Chegamos ao restaurante e tudo o que Lorena faz é manter a


cabeça baixa, mais preocupada com a porra do celular do que em mim, que
estou bem aqui na frente dela.
Ela está tentando de todas as maneiras lidar com o que está
acontecendo e prefere encarar um chão sujo a mim.
Mas se eu fosse ela, talvez, também me sentiria assim, já que
ninguém me olha nos olhos, exceto ela quando quer me enfrentar e a minha
família.
Essa é a primeira vez que saio com a minha noiva e pretendo até o
casamento sair mais vezes com ela para jantar, mas até agora a única coisa
que ela disse a mim, foi um obrigada quando puxei a cadeira para ela se
sentar.
Cheguei a achar que estávamos evoluindo um pouco, mas Lorena
tem o poder de mudar a situação em questão de segundos. Uma hora ela
parece ser um gato acuado para em seguida mostrar as garras, pronta para o
ataque.
Mas tinha que fazer uma aparição pública com ela, já que vamos nos
casar, tenho que manter a aparência para os fotógrafos que fazem questão
de monitorar a porra da minha vida.
Como bom empresário tenho uma imagem a zelar, afinal a economia
da Itália gira ao redor dos meus negócios, diria até que de grande parte do
mundo, e sair acompanhado da minha futura esposa é sempre uma boa
jogada para manter meu papel de homem de negócios.
Lorena é bem imatura em alguns aspectos e convicções da vida, mas
nada que a vida de casada não a faça amadurecer e entender como as coisas
serão no futuro.
Estou decidido a ter essa mulher o quanto antes, visto que não
aguento mais o maldito protocolo e tradições arcaicas que me impedem de
levá-la para a cama antes do casamento. A única tradição que conseguimos
nos livrar foi a da prova do lençol de sangue, pois aquilo era muito
constrangedor para uma mulher.
Mas um homem de honra entregaria a esposa traidora, caso ela não
fosse mais pura.
E só por isso ainda me controlo com Lorena, porque seria um
escândalo se ela fosse minha antes de nos casarmos.
Desejo e vontade não me faltam de possuí-la, mas o problema é que
realmente não posso fazer o que quero.
Eu, como Don, tenho que ser o exemplo, mas quando a vejo com
essas roupas que marcam suas pequenas e belas curvas, fico duro na hora e
louco para possuí-la em qualquer lugar que estejamos.
— Espero que esteja gostando do restaurante. — Tento quebrar o
silêncio, fazendo com que ela preste atenção em mim.
— É muito lindo, tem muito bom gosto, Riccardo. — É até estranho
quando ela me trata com educação.
Lorena é como uma raposa sorrateira, por isso sempre tenho que
estar atento.
— Trouxe você aqui porque é um dos meus restaurantes favoritos e
a comida é simplesmente divina. Foi por isso que o comprei um mês atrás.
Agora sim, ela me encara e sorri sem querer.
— É claro que comprou. Parabéns, o lugar é realmente muito
bonito.
É notável o quanto Lorena se sente desconfortável na minha
presença, ela nem mesmo se dá ao trabalho de tentar disfarçar, é como se a
minha simples existência fosse ultrajante para ela.
— Você está...
— Por que todos esses fotógrafos à espreita, tentando a qualquer
custo tirar uma foto sua?
— Nossa, amore mio! Sou uma pessoa pública, então é normal que
sempre tenham fotógrafos querendo saber o que estou fazendo no meu
tempo livre. Lembre-se que a economia desse país se move apenas por
causa dos negócios da nossa família.
— Sua família, Riccardo, não a minha! Quando não está matando ou
torturando alguém, está na empresa vestindo sua pele de empresário, o que
é uma grande farsa. É isso que você é.
— Nossa família! Em breve será uma de nós, amore mio. E tenha
muito cuidado com a minha pele de empresário, pois ela também tem um
grande poder de prejudicar você e da próxima vez que abrir a sua boca para
falar que sou uma grande farsa não gostará das consequências.
“Estou sendo muito paciente com você, Lorena, porque entendo que
deve estar sendo muito difícil aceitar a sua nova realidade, mas para tudo
tem um limite e o meu com você está à beira do fim.
“Não tente testar os meus limites, porra!”
Percebo que ela não gosta nada do que falo, pois já sei identificar a
cara dela quando se controla para não abrir a boca e falar o que não deve.
Ela fica vermelha, às vezes, chega até mesmo a tremer de raiva.
— Me desculpa, eu...
— Decidi que vamos nos casar em duas semanas, não tem motivo
para esperarmos mais tempo do que isso. Você irá almoçar na minha casa
no domingo, mamma irá ajudar com tudo relacionado a cerimônia e festa do
casamento. Ela está empolgada para conhecer você e, por favor, faça de
tudo para mantê-la feliz. Não quero reclamações no meu ouvido por causa
de uma maldita festa de casamento — falo a interrompendo, assim como ela
adora fazer comigo.
Lorena arregala os olhos e nesse momento quase se engasga com o
suco que bebia.
Leva alguns instantes para que consiga se recuperar e confesso que
tudo isso é muito divertido.
Não me divertia assim há bastante tempo, na verdade, a minha vida
nunca teve diversão e Lorena é a minha exceção.
Na verdade, ela é exceção para muitas coisas.
— Casar em duas semanas está fora de cogitação. — Ela limpa a
boca com o guardanapo de pano que estava em seu colo.
— Não estou pedindo a sua opinião, Lorena, e nem mesmo a sua
permissão. Estou informando que o nosso casamento será em duas semanas.
— Você não tem esse direito. Não pode decidir isso assim, é a
minha vida também, Riccardo — ela fala na defensiva, completamente
nervosa, ficando em pé e chamando a atenção de algumas pessoas que ao
verem que se tratava de mim, abaixam a cabeça.
Os olhos de Lorena trazem lágrimas, raiva e o pior de tudo, o
sentimento de nojo. Então é isso, o que a minha futura esposa sente por
mim, raiva e nojo.
— Amore mio, acho melhor você se sentar e não chamar ainda mais
atenção.
Ela olha para os lados e volta a se sentar.
— Boa garota. É bom que seja sempre assim, obediente.
— Riccardo, já disse que me caso com você, mas em duas semanas
não, é rápido demais. Vamos ter outra competição importante em duas
semanas e preciso treinar, me concentrar. Sem falar que tem o haras e o
centro de hipismo, eu...
— Você não é insubstituível, Lorena. Nos casaremos em duas
semanas, e só irá se concentrar no nosso casamento e na nossa noite de
núpcias. É só nisso que penso, ter você, e não me importo nem um pouco de
ficar sem medalhas de ouro nessa competição. A troca vai valer muito a
pena. E já conversamos sobre as suas competições.
Ela fica pálida na minha frente, se dando conta de que estou falando
muito sério.
— Por que está fazendo isso comigo? Por que está tão empenhado
em acabar com a minha vida desse jeito? — ela pergunta quase chorando,
mas essa vai ser a vida dela agora.
— Amore mio, o nosso casamento é algo inevitável, ele vai
acontecer e não posso esperar mais tempo. Na verdade, já passei do tempo
de me casar e gerar herdeiros, tenho muita pressa.
Ela me olha parecendo estar em um limbo, não querendo acreditar,
ficando estática por alguns segundos, até que se recompõe.
Nesse instante, vejo que uma lágrima solitária escorrer pelo seu
rosto triste e decepcionado.
— Eu não quero acabar com a minha carreira desse jeito.
— Isso quem decide sou eu — falo rude.
— Agora, sei disso. Parece que toda a minha vida vai ser decidida
por você — fala convicta.
Ainda bem que ela está começando a ter noção da realidade.
— Fico feliz que saiba que sempre irei decidir por você, amore mio,
e que depois que nos casarmos algumas coisas irão mudar. A sua vida irá
mudar completamente — falo degustando um pouco do meu champanhe.
Lorena parece estar arrasada, abatida, com olhos lacrimejados, sem
contar que não demonstra apetite alguma pela comida.
Mas as coisas serão assim de agora em diante.
BÔNUS

Chego na casa do Alessandro Moretti sem avisar e é claro que


ele me recebe, mas faz isso morrendo de medo.
O assunto que quero tratar com ele está mais para um aviso e é
bom que ele fique muito esperto, ou vai ficar sem seu único filho.
— Don Riccardo, a que devo o prazer da sua visita? Por favor,
sente-se. — Ele é hospitaleiro e educado.
Sento no sofá à frente dele, o encarando.
Como não sou um homem de meias palavras vou direto ao assunto.
— Onde está o seu filho?
Ele parece ficar surpreso com a minha pergunta.
— Bernardo!?
— Por acaso você tem outro filho a não ser esse?
Ele engole em seco.
— Não, senhor, mas meu filho não está em casa no momento, ele
deve...
— Não me importa onde ele está, mas vou logo falando que foi por
muito pouco que não matei o seu moleque, então o mantenha na linha se
não quiser ficar sem ele, Moretti.
O homem fica pálido como se todo seu sangue fugisse do corpo.
— Don Riccardo, o que foi...
— Lorena Bernardi é minha noiva agora e o seu filho se acha no
direito de falar coisas que não deve a minha futura esposa, só porque se diz
ser amigo dela.
“Eu não brinco, Moretti, e se não matei o Bernardo foi porque
Lorena intercedeu por ele.
“Mas você sabe muito bem que não tenho uma alma muito
caridosa, então da próxima vez que ele me irritar, como fez, você ficará sem
ele.
“Converse com o seu filho, pois se me dei ao trabalho de vir aqui
pessoalmente falar com você é pela amizade que nossas famílias cultivam.
“Você já foi e é um membro importante para a famiglia, então não
vamos estragar isso.
“O passado não pode ser mudado, mas o futuro quem sabe.”
Levanto deixando as palavras no ar, pois ele sabe muito bem do
que estou falando.
— Entendi, Don Riccardo, pode deixar que meu filho não entrará
mais no seu caminho.
— Assim espero, pelo bem de todos.
Apertamos as mãos e nos despedimos.
Esse assunto já está resolvido, agora é passar para os próximos.
CAPÍTULO 19

Depois do nosso terrível jantar, não tive mais o prazer de ver o


meu noivo, graças a Dio.
Cheguei a ter até mesmo a sensação de que tudo não tinha passado
de um verdadeiro pesadelo monstruoso, pois acordava todas as manhãs,
trabalhava, cavalgava, cuidava da Estrela e treinava como sempre fazia na
minha rotina.
Era como se a minha vida tivesse voltado ao normal e a sensação era
boa, mas as manchas roxas no rosto do meu pai me faziam lembrar que
pertencia a um homem.
E não a um homem qualquer, mas ao mais perigoso de todos, o
Diabo, como ele é chamado por todos, o Don da máfia.
Agora estou aqui de novo, na frente do espelho de corpo inteiro,
com a Rosa me ajudando a me arrumar, penteando meu cabelo a mando do
meu pai, como se eu fosse uma criança que precisa se arrumar para ir a um
passeio. Tudo isso porque tenho que estar linda e perfeita para ir almoçar
com a família do meu noivo, para conhecer os integrantes oficialmente, já
que não teremos um jantar formal de noivado.
Pulamos essa parte.
Daquela família o único que conheço de verdade é o Carlo, já que
foi ele quem me contratou como veterinária-chefe.
Carlo sempre está pelo haras e pelo centro de hipismo, pois meio
que manda em tudo na ausência do Don.
Nunca tive problemas com meu futuro cunhado e espero,
sinceramente, nunca ter, afinal sua fama de sanguinário também não é
muito boa e faz jus ao parentesco com meu futuro marido.
— Ai, Rosa, por Dio, assim vou ficar sem cabelo de tanto que está
puxando.
— Comporte-se, não seja malcriada, nem respondona e sempre
mantenha um sorriso satisfeito nos lábios. Lembre-se que te ensinei a ser
uma boa menina. Eu te dei educação, Lorena, não se esqueça disso.
Rosa já falou isso umas mil vezes desde ontem, sempre repetindo a
mesma coisa toda vez que passo na frente dela.
— Rosa...
— Não interrompa ninguém, quando alguém falar você cala a sua
boca e fica quieta, invisível se possível.
— Mas...
— Sem mais, Lorena. Estará na casa do Don, na casa que pertence à
família de todos os Dons que a Cosa Nostra já teve. Aquele lugar é como se
fosse um santuário da máfia.
— Santuário!? — questiono sem entender.
— Sim, um santuário, que será seu também depois do casamento.
Aquele lugar é uma verdadeira fortaleza e mesmo a mãe do Don ainda
estando viva a responsabilidade daquela casa passará a ser sua quando se
casar.
A minha vontade é de rir, porque eu, como dona de casa, não vai dar
muito certo.
— Eu, Lorena Bernardi, dona de casa? Isso não vai dar certo, Rosa,
sabe muito bem disso. Saber fazer uma macarronada é uma coisa, agora
cuidar de uma casa como aquela é outra totalmente diferente.
— Terá que dar um jeito. Ninguém nasce sabendo de nada e pelo
que fiquei sabendo a mãe do Don Riccardo é uma boa pessoa. Se souber
pedir com jeitinho, ela com certeza ajudará você. É uma garota esperta e irá
aprender rápido.
— O problema é esse, Rosa, não quero aprender... Ai, Rosa!
Ela puxa o meu cabelo novamente, mas dessa vez é de propósito.
— O que falei sobre não responder? — ela questiona alterando um
pouco o tom de voz.
— Você não precisa puxar o meu cabelo... Ai, Rosa!
— O que falei sobre responder, Lorena?
— Que não é para responder — respondo antes que ela arranque o
meu cabelo.
— E, por que está respondendo?
— Estou respondendo você e não o Don.
— Se tem coragem de responder a quem te criou, imagina só o que
não terá coragem de fazer com o Don.
— Que exagero, Rosa!
— Vou te ensinar muitas coisas até o seu casamento e garanto que
meus métodos serão mais toleráveis do que os dele que já deixou bem claro
quem pretende usar para te ensinar a ser uma mulher submissa. Seu pai não
vai aguentar outra surra daquelas, Lira.
É isso que me mata por dentro, a certeza de que o Don usará o meu
pai contra mim, até mesmo a Rosa ele usaria sem nem mesmo pensar duas
vezes.
— Papai!
— Isso mesmo, sempre que a sua língua coçar para responder o que
não deve, lembre-se do seu pai naquele hospital. Porque ele foi para lá...
— Não, Rosa. Eu não respondi o Don naquele dia, estávamos até
mesmo em uma conversa harmoniosa no momento, mas, de repente, as
coisas saíram do controle.
Ela segura meus braços e me vira de frente para ela de uma vez só.
— O que você fez? Aquele homem tem a fama de fazer o inferno
tremer quando demonstra ter calma. Aprenda isso para o seu bem. Agora,
me diga o que falou para que aquele Diabo tivesse coragem de mandar
espancar o seu pai daquele jeito. E não minta para mim, Lorena, posso não
ser a sua mãe mais te amo como se fosse minha filha e sempre vou querer o
seu bem.
Quando respiro fundo e engulo em seco ela se dá conta do que foi.
— Eu não acredito! Dio mio! Não soube criar você e a culpa da
desgraça dessa família vai ser minha. — Ela solta meus braços e vai até a
minha cama se sentando.
— Eu tinha que falar a verdade, Rosa, seria muito pior se ele
descobrisse depois do casamento, quando já fosse tarde demais. Mas ele
não acreditou em mim, e acha que falei aquilo apenas para que desistisse do
casamento.
— É claro que ele iria pensar isso, Lorena. Agora imagina o que não
vai acontecer quando ele tiver a certeza de que não é mais pura.
É por isso que quero me livrar do casamento, mas ela parece não
entender isso.
— Não temos mais a tradição do lençol de sangue, Rosa, eu ainda...
— Não temos mais a tradição do lençol de sangue, mas um homem
de honra entrega a esposa traidora caso ela não sangre, caso ela não seja
mais pura. — Ela se altera, ficando nervosa.
Na verdade, ela está assim desde o ocorrido com papai.
— Isso é um absurdo, Rosa, não sou uma traidora, eu nem mesmo...
— Passará a ser uma quando o Don tiver a certeza que não é mais
virgem, Lorena. Concordo com você nisso, é realmente um absurdo, mas
não podemos fazer nada para mudar as malditas regras. Já foi uma
conquista bem grande termos nos livrado do lençol de sangue. Você... —
Ela para de falar e me encara com seus olhos grandes.
— O que tem eu?
Ela continua me encarando, como se sua cabeça e seus pensamentos
estivessem a todo vapor.
— Rosa, por Dio!
— A não ser que você ganhe a confiança do Don. Não poderá fugir
desse casamento, Lira, já deve ter entendido isso. Seu noivo é o único que
poderá te livrar do fim que a aguarda, ele é o único que poderá salvar a
nossa família.
Chego a dar um passo para trás quando entendo o que ela está
querendo dizer.
— Ele é um homem de honra, Rosa, ele é o Don.
— Ele é o Don, mas está encantado por você. Quando colocou os
olhos em você, ele a quis, a desejou. Ganhe a confiança dele e implore por
misericórdia na noite de núpcias, pense no seu pai, Lira. Se não quer fazer
isso por você faça por ele. Don Riccardo mandou espancá-lo só pela
possibilidade de você não ser mais pura, imagine o que ele vai fazer quando
tiver certeza disso.
Respiro fundo só de imaginar a possibilidade de algo ruim acontecer
com o meu pai e fico nervosa, apavorada.
Aquele desgraçado achou a arma perfeita para me manter sob o seu
controle.
— Dio, Rosa, isso é loucura! Não vou conseguir fazer isso. O certo
seria ele desistir do casamento e me deixar em paz — falo a última parte
mais alto do que deveria.
Ela se levanta de uma vez e me acerta um tapa de mão cheia no
rosto.
— Loucura foi você ter se entregado a outro homem, menina
ingrata. Isso sim, foi uma loucura muito grande da sua parte.
“É assim que agradece ao seu pai depois de tudo o que fez por você?
“É uma filha da máfia, Lorena, e dessa tradição sabia muito bem
que nunca poderia fugir, mesmo assim tomou a decisão de se entregar a
quem não deveria.
“Não tenho nem mesmo coragem de pronunciar a quem se entregou.
“Você fez uma escolha no momento em que decidiu que era uma
boa ideia fazer isso, agora essa é a sua consequência.
“Para toda escolha tem uma consequência, Lorena, para o bem ou
para o mal.
“Lide com a sua agora e não faça seu pai pagar pelos erros que você
cometeu.
“Ganhe a confiança do seu noivo, o trate como um rei, seja uma boa
noiva e implore ajoelhada aos pés dele se for preciso para que não te
entregue como uma esposa traidora. Se torne uma esposa excelente, caso
ele te livre do que a aguarda.
“Esse tapa doeu mais em mim do que em você, minha filha, mas a
dor que sentiu nem mesmo se compara ao que poderá vir a sentir.
“Agora arruma essa cara, refaça a maquiagem, coloque um sorriso
no rosto e seja a noiva feliz e graciosa que tem que ser para o Don da máfia.
“Que Dio tenha misericórdia de nós.”
Eu não falo nada, apenas concordo com a cabeça tudo o que ela fala
passando a mão no meu rosto.
Eu, realmente, não tenho escolha, terei que ganhar a confiança do
Don pelo bem da vida do meu pai e só espero conseguir fazer isso.
CAPÍTULO 20

Depois da “conversa” que Rosa teve comigo no meu quarto,


descemos, porque o Don, meu querido noivo, fez questão de vir me buscar

pessoalmente em casa, como se eu tivesse a opção de fugir de tudo isso.


Pela primeira vez na vida me vejo sem opções, o que é frustrante,
mas vou tentar seguir os conselhos da Rosa.
Sei que ela quer apenas o meu bem e se chegou ao ponto de me
bater no rosto foi pelo desespero do que pode vir acontecer comigo, ou com
o meu pai.
— Lorena, Don Riccardo já a aguarda — papai fala assim que
apareço ao pé da escada.
— Lembre-se do que conversamos, Lorena — Rosa sussurra atrás
de mim.
Eu me viro em sua direção e ela passa a mão pelo meu rosto, no
lado que ela bateu.
— Eu vou me lembrar.
— Me perdoa, filha, estou uma pilha de nervos com tudo...
— Não se preocupe, amo você. — Abraço Rosa que afaga meu
cabelo, assim como fazia quando eu era criança.
— Lorena! — Meu pai me chama mais uma vez, então desfaço o
abraço quente e acolhedor de Rosa para acompanhar papai ao meu destino.
— Comporte-se, minha filha, seja respeitosa e não...
— Eu já sei, papai, Rosa já conversou comigo.
Ele balança a cabeça e segurando minha mão me coloca em frente
ao meu noivo que se levanta do sofá assim que me vê.
— Buongiorno[13], Riccardo. — Cumprimento oferecendo a mão,
que ele aceita depois de me analisar.
Tudo isso faz parte do papel da Lorena submissa.
— Buongiorno, piccolla. Está linda como sempre. — Ele beija
minha mão e engulo em seco, porque o toque desse homem me faz sentir
uma coisa estranha no estômago.
— Obrigada, estou pronta, podemos ir se quiser.
Ele continua me olhando, como se fosse um gavião, analisando
cada movimento meu.
— Vamos lá então, minha família já a aguarda, principalmente,
mamma. Ela está ansiosa para começar a organizar o casamento com você.
Preciso controlar a respiração e os movimentos, um passo em falso
que dê vai entregar que estou atuando, porque minha vontade é de gritar o
mais alto possível que não quero me casar com ele...
NUNCA!
— Será um prazer, afinal duas semanas passam voando, não é
mesmo?
Riccardo arqueia uma sobrancelha e meu pai vai para o lado dele
para que possa me ver melhor.
— Está se sentindo bem, filha?
— Ótima, papai, como há muito tempo não me sentia. — Eu sou
boa em sorrir até mesmo quando quero arrancar uma cabeça.
Acho que teria sido uma boa atriz.
— Então vamos, já esperam por nós.
— Tem certeza que não quer vir, papai, afinal esse é um almoço
em família e se vou me casar, o certo é o senhor, como meu pai, participar
do almoço também.
Nesse momento, papai muda de cor, mas o quero ao meu lado.
Se é para manter as tradições que sejam mantidas da forma correta.
— Pode vir se quiser, Félix. Lorena tem razão, é o pai da minha
noiva afinal.
Mas que descarado!
Ele fala como se não tivesse mandado espancar o meu pai.
— Obrigado pelo convite, Don Riccardo, mas ainda estou me
recuperando e sinto muita dor nas costelas, fica para uma próxima
oportunidade.
— Tudo bem, não vamos insistir. Agora vamos, Lorena.
Meu pai abre caminho e o Don sai andando na frente. Eu o
acompanho, mas quando vou passando pela porta, Rosa sussurra mais uma
vez no meu ouvido:
— Não se esqueça do que conversamos e também não exagere,
está boazinha demais. Seu noivo não é burro, então tenha cuidado.
— Eu terei, não se preocupe. — Dou um beijinho rápido nela e vou
até o carro onde Riccardo já se encontra ao lado da porta do passageiro
aberta para que eu entre.
Ainda acho estranho vê-lo dirigindo, geralmente, ele anda com
muitos soldados e sempre um deles é quem está no volante, mas já percebi
que quando estamos juntos ele faz questão de dirigir.
— Obrigada! — agradeço assim que entro no carro e logo em
seguida ele bate a porta indo para o lado do motorista, colocando o carro em
movimento.
— O que deu em você hoje? Está boazinha demais e ainda não me
deu sequer uma resposta mal-educada — ele questiona sem tirar os olhos da
estrada.
Lembro de Rosa falando ao meu ouvido que ele não é besta e que
perceberia caso eu exagerasse.
— Por algum acaso você vai mudar de ideia se eu continuar sendo
mal-educada como mesmo fala? Vai mudar a minha situação? Vai desistir
do casamento?
Ele me olha de relance.
— Não! — responde deixando como certo que não adianta o que
faça, nada o vai fazer mudar de ideia.
— Então pronto, resolvi aceitar o meu destino, já que não vou
poder mudá-lo. Queria conversar com você para entramos em um acordo
sobre algumas questões importantes, mas sem ameaças e sem mandar
espancar o meu pai. Tenha em mente que ele é seu sogro, é família também
e não se machuca a família. Se vou ser obrigada a me casar com você,
vamos ter que aprender também a viver em paz.
Ele sorri de uma forma debochada o que faz meu sangue ferver de
raiva, mas tenho que me segurar para o bem da minha família.
— Já falei que tudo depende de você, amore mio, do seu
comportamento. Se for uma boa garota é claro que nada de ruim acontecerá
com o seu pai.
Mas que cretino!
— Por que sempre usa o meu pai contra mim? Isso é ridículo,
Riccardo.
— Porque é culpa dele você ser assim. Se ele não soube te educar
da forma correta, vou fazer isso e esse, amore mio, é o meu método.
“Não me sinto nenhum pouquinho mal em estar fazendo isso, mas
concordo com você que temos que encontrar uma maneira de vivermos em
paz. Estou disposto a escutar você, piccolla.
“Se souber pedir seja lá o que for que queira com jeitinho, quem
sabe não atenda o seu pedido.”
Mas que descarado!
— Nossa, você é inacreditável.
Ele sorri e me concentro na paisagem que passa pela janela do
carro, pois se encarar esse homem agora é bem capaz de mandar para o
inferno toda essa minha submissão e calma.
E isso não quero.
Fazemos o restante do percurso até a casa do Don em silêncio,
enquanto minha cabeça está um turbilhão de pensamentos, pois tenho medo
do que pode vir a acontecer comigo e com o meu pai.
Pela primeira vez na minha vida, estou me arrependendo de uma
coisa que fiz.
Rosa tem razão, jamais deveria ter me entregado a um homem
antes do casamento, afinal como uma mulher nascida na máfia sabia que
deveria me manter pura para meu marido. O problema é que não pretendia
me casar, não tão cedo, e se caso isso viesse a acontecer seria com um
homem que amasse de verdade.
Não estava contando em cair nas garras de um Don.
Na verdade, não pretendia cair nas garras de homem nenhum, tinha
a minha vida e o meu futuro muito bem planejados, e é frustrante saber que
vou ter que abrir mão de muitas das coisas que pretendia fazer apenas por
causa desse casamento que já odeio.
— Chegamos! — ele anuncia e me dou conta de que estamos
dentro de uma garagem muito grande com muitos carros estacionados.
Quando olho ao redor percebo o quanto o lugar é grandioso.
Se a garagem é assim, imagina como não é dentro da casa.
Não são muitas as pessoas que têm a oportunidade de entrar na
casa do Don, esse é um privilégio para poucos. Meu pai mesmo nascendo
na máfia e tendo servido a ela a vida inteira só colocou os pés aqui
pouquíssimas vezes, porque os soldados que servem ao Don e fazem a
segurança da família são escolhidos a dedo, apenas os melhores dos
melhores.
Tento abrir a porta do carro, mas percebo que ela está travada, o
que significa que o meu querido noivo tem algo a dizer, ou não estaria me
trancando dentro do carro.
— Riccardo, você disse que a sua família já esperava por nós,
destrave a porta, sua mamma deve...
— Ela pode esperar mais alguns minutos. Você disse que queria
conversar para entrarmos em um acordo sobre algumas questões
importantes e estou curioso para saber que questões importantes são essas
que minha noiva quer tratar comigo. Então, vamos lá, fale o que quer
discutir.
Observo que ele parece estar calmo demais e isso me lembra o que
Rosa disse sobre o inferno chegar a tremer com a calma extrema de
Riccardo. É agora que tenho que ter muito cuidado com o que vou falar,
preciso aprender a contornar a situação.
— Eu não quero discutir, Riccardo, pois discussões nunca acabam
bem. Quero conversar com você, com o meu noivo, com o meu futuro
marido e não com o Don da Cosa Nostra. Já me conformei com o nosso
casamento, então, por favor, tente não complicar mais as coisas. Estou
fazendo a minha parte, só peço para que você também faça um esforço, pelo
mínimo que for.
Ele segura no volante com as duas mãos e vira o rosto para me
olhar.
— Não existe o homem, Lorena, não existe o noivo, o marido,
existe apenas o Don que precisa de uma esposa, é só isso que você vai ter
de mim. Não me peça nada além disso, amore mio.
“Não confunda as minhas palavras de gentileza com coisas que
nunca vão acontecer.
“Nunca, entendeu bem?
“Nunca.
“Não existem sentimentos bons em mim, piccolla, sou a apenas a
casca de um homem, sem sentimentos, tudo que tem aqui dentro...”
Ele aponta para o coração.
— É maldade E coisas ruins.
“Escolhi você porque te achei interessante, bonita, um desafio bom
para se ocupar um pouco a mente.
“Faz tempo que não me dou ao prazer de moldar uma mulher para
me satisfazer e vai ser prazeroso fazer isso com você...
“De quebra ainda vou ter o meu filho.”
Suas palavras me fazem tremer, porque sei o que elas significam.
Ele me chamar de amore mio é apenas uma gentileza e não um sentimento.
São palavras vazias, sem significado algum para essa união, apenas uma
delicadeza com a mãe de seu futuro herdeiro.
Riccardo tem um único propósito com esse casamento, gerar um
herdeiro para ocupar o seu lugar um dia e fui a felizarda escolhida para
gerar essa criança, por isso estou amarrada a força a esse casamento sem
sentido.
Ele apenas usará meu corpo para satisfazer a si, me usará para
gerar seu filho. Esse monstro vai destruir a minha vida, os meus planos e
sonhos, porque ele sentiu desejo pelo meu corpo.
A verdade é que minha vida vai acabar por causa do desejo de um
homem que tem o poder de pegar para si tudo o quer.
CAPÍTULO 21

Depois de escutar tudo o que Riccardo fala, a minha vontade é


de explodir, jogar tudo para o alto, porque suas palavras me machucam, me
diminuem, me fazem sentir como se fosse menos do que uma qualquer.
Chego a baixar a cabeça para ver se consigo digerir tudo o que
acabei de escutar e sei que nesse momento ele me analisa, com seus olhos
de águia, à espera da minha reação.
Mas não vou dar a ele esse gostinho de me tirar do sério, ainda mais
com o estímulo que ele me deu alguns dias atrás.
Não posso correr esse risco.
A minha vontade de gritar e xingá-lo passa quando lembro do meu
pai naquele leito de hospital, gemendo de dor por ter as costelas
praticamente quebradas a mando do homem que será genro dele. Quando
lembro de tudo o que Riccardo pode fazer contra a minha família, recuo.
Por enquanto, a vantagem é dele, mas vou mudar isso a meu favor.
Se conseguir o que quero, vou fazê-lo se arrepender do dia em que
colocou os olhos em mim.
Sei que meu destino e o do meu pai estão nas mãos dele, eu até
mesmo cheguei a me arrepender de ter me entregado a outro homem, mas
depois do que acabei de escutar da boca suja do meu noivo, sinto satisfação
por não ser mais pura.
Ele pode até tirar a minha vida na noite de núpcias, mas o prazer que
ele tanto quer sentir em ser meu primeiro homem não terá, porque esse
privilégio dei a outro que está seguro, bem longe daqui.
Riccardo acha que vai conseguir me dominar e me subjugar as
vontades dele, e vou deixar que pense que está conseguindo isso, afinal não
é somente a minha vida que está em jogo, a do meu pai e a de Rosa também
contam.
Se ele pode manipular as pessoas para que sejam subjugadas a ele,
eu também posso manipulá-lo a meu favor. Vou ser a noivinha que ele quer,
boazinha como uma boneca que ele pode exibir, a esposa troféu que todo
Don merece ter, mas na noite de núpcias vou implorar a ele por
misericórdia, assim como Rosa falou, afinal eu disse a verdade e ele não
acreditou em mim.
— Eu só quero viver em paz, Riccardo. Eu só quero ter a minha
família segura. Se prometer me dar isso faço tudo o que quiser, sirvo a você
de bom grado e prometo que serei a esposa que quer que eu seja. — As
palavras que saem da minha boca são meias verdades.
Diferente do que pensava, Riccardo não fala nada, apenas destrava a
porta do carro que abro sem nem pensar duas vezes, afinal o ar dentro do
veículo já estava ficando pesado demais.
Assim como eu, ele sai, e quando dou a volta no carro para
encontrar a saída da garagem ele me segura pelo braço, me puxa e me
imprensa na porta do carro, ao lado do motorista.
Mas que droga!
Por que esse cretino tem que ser tão cheiroso?
Sem falar que ele sempre anda impecavelmente arrumado, agora
então ele está lindo usando calça social e camisa preta com as mangas
dobradas até a altura do cotovelo.
— Você disse que queria conversar, então fale agora, não terá outra
chance. — Ele segura meu rosto me fazendo encará-lo.
Vou ter que ser muito corajosa agora para falar o que quero e
começar a botar meu plano em ação.
— Não quero que me impeça de trabalhar depois do casamento e
quanto as minhas competições...
— Isso está fora de cogitação.
Riccardo nem mesmo me dá a chance de terminar de falar, tentando
se afastar de mim, mas o seguro pela camisa com força, o puxando para o
mesmo lugar em que estava, me imprensando na porta.
— Por favor, Riccardo, não pode simplesmente acabar com a minha
vida assim de uma hora para outra. Eu não mereço isso, estudei muito para
chegar onde cheguei e sou boa no que faço, isso você não pode negar.
Ele olha para as minhas mãos o segurando.
— Posso sim. Eu posso fazer o que quiser, Lorena, entenda isso de
uma vez por todas.
Ele tenta sair novamente, mas o puxo de novo.
— Mas que Inferno!
Ah, ele ainda não viu nada...
Seu inferno está apenas começando.
— Riccardo, me escuta, por favor, disse que queria conversar e não
discutir. Vamos ser um casal e terá que aprender a me ouvir. Serei sua
esposa e não uma qualquer.
Ele me encara com um olhar mortal, apoiando as mãos no carro com
uma em cada lado do meu rosto.
— Eu não tenho paciência para essa porra.
Eu o encaro de volta.
— Isso, amore mio, se chama casamento. É o que você quer, não é?
Se casar comigo, formar uma família e proliferar o mundo com pequenas
cópias mafiosas suas. — Vou usar suas palavras contra ele.
— Como uma pessoa tão pequena consegue ser tão... — Ele para de
falar travando o maxilar, ficando mais bonito ainda.
Eu não vou me deixar enfeitiçar pela beleza do Diabo.
— Eu só estou pedindo para continuar trabalhando, não tem nada
de mais nisso. Vou estar no seu haras, no seu centro de hipismo, cuidando
dos seus cavalos como sempre fiz.
“Se já metia medo naquela gente apenas sendo eu, imagina só como
não vai ser sendo a esposa do Don.
“Você pode mandar os seus soldados me acompanharem, não me
importo com isso.
“Por favor, Riccardo, não me faça abrir mão disso, da minha
carreira...
“Ainda temos que cuidar da Estrela e do potrinho, não confio em
ninguém para fazer o meu trabalho, deve lembrar o que aconteceu quando
tentou me impedir de...”
— Tudo bem, Dio mio, como você fala.
Até que isso foi mais fácil do que esperava.
— Obrigada. Viu que com uma boa conversa conseguimos chegar a
um consenso e ninguém precisou morrer ou ir para o hospital.
Ele me dá um sorriso, me fazendo ter certeza que comemorei minha
pequena vitória rápido demais.
— Não vai ser tão fácil assim, piccolla, pois quero um beijo de
agradecimento. Hoje você me deu a primeira amostra de como também tem
a capacidade de ser chata e insistente, por isso mereço uma recompensa,
não acha?
Ele se aproxima e engulo em seco, porque já tive provas o suficiente
de que quando esse homem chega perto demais paro de raciocinar, então, é
melhor fazer o que ele quer, mas do meu jeito.
Fico na ponta dos pés e dou um selinho rápido em seus lábios, afinal
não posso abusar da sorte também.
— Isso não é um beijo — ele fala sério até demais.
— Mas é claro que é. Você não sabe se controlar e sempre que me
beija tenta me matar sem fôlego. Já estamos há muito tempo aqui e sua mãe
já deve estar preocupada com nossa demora.
Ele só balança a cabeça dizendo que não.
— Eu quero um beijo de verdade, pelo menos isso, já que não posso
rasgar a sua roupa e te foder dentro do carro.
Como esse homem pode ter a boca tão suja, Dio mio?
— Riccardo, como assim beijo de verdade? Eu já beijei você, agora
vamos. — Tento empurrá-lo, mas a muralha nem mesmo se mexe do lugar.
— Eu quero esse beijo aqui, piccolla — o infeliz fala me
surpreendendo com um beijo molhado, fazendo meu coração acelerar ainda
mais no peito.
Suas mãos seguram meu rosto como se não quisesse que me soltasse
e seu corpo me prende no carro com bastante força.
Estou totalmente presa, sentindo o que tenho certeza ser a sua
ereção que no momento está me machucando.
Mas que porra!
O beijo está tão bom que não consigo ter reação nenhuma.
Fico tão atordoada que nem mesmo sei bem para que lado ir, mas
ele me ajuda com isso. Noto que pela primeira vez, Riccardo tem
delicadeza ao me beijar, com cuidado e atenção a cada gesto meu.
— Veja só como você me deixa, amore mio — ele fala entre o beijo,
segura minha mão que está em seu peito e me faz tocar seu membro por
cima da sua calça.
Eu me sinto envergonhada por isso, mas dá para sentir perfeitamente
bem que é enorme, duro e grosso.
Eu o empurro depois dessa experiência nada normal.
Já percebi que Riccardo não tem filtro, não tem vergonha e sei que é
bastante experiente.
Põe experiência nisso!
Muito mais que eu, isso com toda certeza, já que foram poucas as
vezes que fiz sexo e foram com o mesmo homem, então, não posso
comparar.
Riccardo me encara com pensamentos impuros e sei que sou a razão
deles.
É engraçado saber que desperto tesão no meu noivo e interessante.
— Não vai voltar atrás com a sua palavra, não é? — pergunto
timidamente, como uma mulher submissa deve ser.
— Promessa é dívida, amore mio. Você soube agradecer muito bem,
estou satisfeito por enquanto.
Desgraçado, ele fala como se não tivesse me atacado mais uma vez.
— E quanto as minhas competições? Eu gostaria...
— Não força, Lorena, se conforme com a sua vitória de hoje. A
competição é assunto para outra hora. Agora, vamos entrar. — Ele segura
minha mão e sou obrigada a concordar com ele.
Por ora, decido me calar, afinal não quero perder o mínimo que
conquistei.
CAPÍTULO 22

Quando nos viramos em direção a saída da garagem damos de


cara com um homem que nos observa e esse sei bem quem é.
Antônio Bundonne, o consigliere da máfia.
A sensação de estar sendo analisada dos pés à cabeça por um
homem não é das melhores, mas é exatamente isso que está acontecendo no
momento.
Antônio Bundonne me olha como se quisesse enxergar a minha
alma e Riccardo percebe isso, mas ele claramente deixa acontecer, como se
esperasse um tipo de aprovação do homem à nossa frente.
Não é segredo para ninguém que Antônio foi treinado para se tornar
consigliere, assim como Riccardo foi treinado para se tornar Don. Os dois
são amigos e cresceram praticamente juntos porque teriam que desenvolver
a confiança mútua um pelo outro.
A máfia inteira sabe o que aconteceu como os dois. Como se fosse
um teste final, preparam uma emboscada, pegaram os dois e os espancaram,
quando se cansaram de bater nos dois, entregaram uma arma para o Antônio
que teria que fazer uma escolha, se ele matasse o Riccardo sairia vivo, sua
vida seria poupada, mas se ele escolhesse a vida de Riccardo em vez da sua,
ele mesmo teria que se matar. Antônio não pensou duas vezes, apontou a
arma para a cabeça e puxou o gatilho, mas a arma estava sem munição. Foi
então que os pais dos dois entraram em ação e se orgulharam dos monstros
que criaram.
— Antônio! — Riccardo cumprimenta e ele apenas lhe oferece um
meio sorriso.
— Nunca, nessa minha vida fodida de merda, imaginei que fosse
viver para ver o dia em que uma mulher conseguiria fazer o Don, mais
impiedoso que a Cosa Nostra já teve, mudar de ideia, e o pior foi que ela
nem precisou se esforçar. Prevejo muitos problemas aqui.
Meu coração pula no peito, porque esse homem tem uma influência
muito grande em cima do Riccardo, afinal são anos de uma irmandade entre
os dois, e também prevejo problemas.
— É muito bom você ficar na sua e não se meter nesse assunto,
Antônio. Achei que passaria mais tempo em Nova York.
Agora sim, o homem sorri e dá um passo à frente.
Minha vontade é de recuar um passo, mas Riccardo tem um aperto
firme na minha mão.
— Tive que voltar quando fiquei sabendo que o diamante rosa já
tinha uma dona. — Ele volta a me olhar. — Parece que resolveu o problema
do casamento e criou outro maior ainda. Sabe muito bem o que fui fazer em
Nova York.
Riccardo trava o maxilar e os dois se encaram como se quisessem se
matar.
— Vamos conversar sobre isso depois, agora não é o momento.
— Ah, mas com toda certeza vamos conversar, porque você vai ter
que encontrar uma solução para essa porra. É bom que o seu irmão esteja
presente, afinal ele é o subchefe e isso afeta a ele também.
— Conversamos depois do almoço. — Com isso Riccardo finaliza o
assunto, sem deixar brechas.
Eu me pergunto do que eles estão falando, mas com toda certeza
esse não é um problema meu.
Antônio parece querer interagir mais, porque se aproxima e oferece
a mão em um cumprimento.
— Então você é a noiva. Muito prazer, Lorena, sou Antônio
Bundonne, o conselheiro do seu futuro marido. Admito que sou um grande
fã do seu trabalho no hipismo.
“Realmente, fiquei muito surpreso quando soube do compromisso
de vocês dois.
“Será uma grande perda para o centro de hipismo ficar sem uma
atleta tão talentosa quanto você, a atleta ganhadora das medalhas de ouro.
“Parece que vamos ter que procurar por outra amazona prodígio,
algo que não vai ser fácil, mas com toda certeza deve existir outra por aí.”
Suas palavras são como um tapa na minha cara e um soco no
estômago que me faz perder o fôlego, porque a minha vida, até então, girou
em torno da minha carreira e a mínima possibilidade de perdê-la me faz
ficar sem chão.
— Antônio, não passe dos limites. Não teste a minha paciência,
porra — Riccardo fala irritado.
— Quem passou dos limites não fui eu, Riccardo. Você não levou
em consideração muitas coisas com sua escolha, mas como você mesmo
falou, conversamos depois do almoço.
Antônio parece não concordar com essa união e deixa isso claro
quando apenas faz um cumprimento de cabeça em minha direção e se vira
saindo da nossa presença.
Ficamos parados no mesmo lugar com Riccardo o fuzilando com os
olhos, mas quando ele some das nossas vistas, sinto o peso de todas as
palavras proferidas por Antônio.
Esse é o meu futuro sendo arrancado de mim, da forma mais cruel
que existe. Meu coração se aperta no peito e a vontade de chorar me acerta
em cheio, porque a tristeza toma conta da minha alma.
— Você está bem? Vamos, estão esperando por nós, já demoramos
demais aqui — Riccardo fala com tanta tranquilidade, o que me irrita.
É como se nada de mais estivesse acontecendo, como se o
consigliere não tivesse acabado de jogar na minha cara que a vida que tive
até hoje não existirá depois do casamento.
— Não, eu não estou bem, Riccardo, meu coração dói. Não sei se
você sabe o que é isso, já que nada nunca foi tirado de você, já que nunca
amou nada e nem ninguém nessa vida. Tudo está sendo tirado de mim, a
minha vida, a minha carreira, os meus planos e sonhos. Está sendo difícil
ser forte, mas estou tentando.
“Estou tentando, mas não é muito fácil, então não me pergunte se
estou bem porque não estou e nem sei se vou ser capaz de ficar bem de
novo algum dia.”
Ele me encara por alguns segundos e pela primeira vez vejo algo
diferente nos olhos do Diabo, um brilho bonito como se ele lembrasse de
algo ou de alguém.
— Está enganada, Lorena, já me foi tirado muito nessa vida maldita.
Eu também já abri mão de algo que me fazia muito bem, algo que me dava
paz, algo que me fazia esquecer quem eu realmente era, mas isso era
perigoso demais e o sentimento colocava em risco o futuro da Cosa Nostra.
“O futuro era eu, então jamais poderia esquecer quem eu era e nem
ao que pertencia.
“Eu, simplesmente, não posso esquecer para que fui criado, então
abri mão do meu paraíso e o deixei ir. Desde então vivo na mais completa
escuridão, vivo no inferno, onde é o meu lugar.”
As palavras de Riccardo me deixam sem reação.
O Diabo já amou alguém e pelo que entendi ele teve que abrir mão
desse amor, então, caí nas suas garras para viver o inferno que o paraíso
dele não podia viver. Entender isso me deixa mais indignada do que já
estava com esse casamento.
— Não pense demais, piccolla. Tudo o que falei está no meu
passado.
— Será mesmo, Riccardo?
Ele sorri.
— Isso é uma coisa que você nunca vai saber. Não tente nunca
passar dos limites, Lorena, e nem meta esse seu narizinho lindo no que não
é da sua conta.
“Você acabou me fazendo falar o que não deveria e esse assunto em
particular me afeta.
“Não tolero manchas nessa pequena parte do meu passado que é
imaculado. Então, em hipótese alguma, tente ir mais além.
“Não abrirei uma exceção a você nesse caso, mesmo se já for a
minha esposa.
“Agora chega desse assunto, vamos entrar.”
O desgraçado infeliz apenas me puxa pela mão e tudo o que faço é
andar, com o coração estraçalhado, doendo.
Riccardo vai me pagar por tudo isso.
Ele vai desejar ter o paraíso dele de volta, porque agora faço questão
de me casar com ele e tornar a vida do desgraçado um inferno muito maior
do que já é.
Vou mostrar para o Don da Cosa Nostra o quão apocalíptica a rainha
da máfia poderá ser.
Não é isso que ele quer me tornar?
A rainha e senhora da máfia?
A mãe do filho dele?
Então, que ele arque com as consequências dessa escolha, porque a
minha vida não vai ser fácil, mas a dele também não vai ser.
CAPÍTULO 23

Assim que passamos pela porta da sala, Riccardo solta a minha


mão, coloca a sua no bolso e fica a um passo a minha frente, como se ele
não quisesse demonstrar proximidade entre nós dois.
Nem mesmo parece que agora pouco o infeliz estava me
imprensando na porta do carro.
Ah, Riccardo, o que é seu está te aguardando.
— Dio mio, como vocês dois demoraram! Ainda bem que Antônio
avisou que os dois estava tendo uma conversa íntima na garagem e não quis
interrompê-los, indo chamá-los — Giulia Bianchi, a mãe do Riccardo,
minha futura sogra, fala.
— Antônio anda falando demais ultimamente, não acredite em tudo
o que sai da boca dele, mamma.
Observo a interação dos dois, mas não abro a boca. Em seguida,
vejo que na sala tem mais três pessoas, Carlos já conheço bem, Lorenzo, o
antigo Don, pai de Riccardo, só conheço de vista, e Antônio estão sentados
no sofá.
— Conversa, Antônio não mente. Agora apresente a sua noiva à
família, oficialmente — ela fala de uma maneira que deixa claro a Riccardo
que não pode questioná-la.
Ele olha para trás, faz um sinal com a cabeça para que me aproxime
e assim faço.
— Essa é Lorena Bernardi, minha noiva e futura senhora da máfia.
Os que estão sentados se levantam e fazem uma reverência, até
mesmo a mãe dele faz e fico sem reação ao presenciar isso, porque ela é a
mãe dele, é o lugar dela que vou ocupar.
— Por favor, não precisam fazer isso, por Dio, senhora, não faça
isso, sou eu quem devia reverenciá-la.
Ela sorri, não só ela como todos os presentes.
— Querida, será a senhora da máfia e todos devem reverenciá-la.
Como uma pessoa que já esteve no seu lugar, vou ensiná-la a primeira lição,
preste atenção, nunca, mas nunca mesmo se coloque atrás de um homem,
essa é a posição de covardes. Para o lugar que você vai ocupar pode ser
tudo, menos covarde.
— Mamma! — Riccardo chama a atenção dela e só escuto Carlo
gargalhar.
— Está querendo dizer que...
— Você entendeu, querida. — Ela se aproxima e me abraça forte,
mas antes de me soltar, sussurra no meu ouvido: — O que mais seria um
homem que obriga uma mulher a um casamento, como ele está fazendo
com você, senão um covarde. — Ela me solta e arregalo os olhos, chocada
com o que acabei de escutar.
Por essa, realmente, não esperava.
— A senhora... Eu... Quer dizer, eu... Dio mio. — Eu me enrolo toda
com as palavras e, no fim, acho melhor não dizer nada.
— Mamma tem o poder de deixar as pessoas sem palavras, Lira.
Seja bem-vinda a família, oficialmente. — Carlo volta a se sentar no sofá e
levanta o copo que acredito conter whisky na minha direção.
— Lorena, seja bem-vinda à nossa família, considere essa casa
como sendo sua. — O pai de Riccardo faz a mesma coisa que Carlo e volta
a se sentar.
— Obrigada, senhor.
— Boa sorte, é só o que posso desejar — Antônio fala.
Ele parece ser o único que realmente não deseja essa união e seria
tão bom se o consigliere conseguisse fazer o Don mudar de ideia.
Não custa nada sonhar.
— Lorena, gosto de você, já te vi muitas vezes pelo haras e outras
várias pelo centro de hipismo. É graciosa, querida, belíssima com aquele
uniforme cavalgando, uma verdadeira amazona, será uma honra tê-la na
nossa família. Quero que me veja não só como sua sogra, mas como uma
amiga e quem sabe até como uma mãe, sei que perdeu a sua ainda muito
pequena.
A mãe de Riccardo segura minha mão e me leva até o sofá que é
enorme, sem falar no ambiente que é lindo e muito bem-decorado.
A casa é realmente de tirar o fôlego.
Mas ela acabou de tocar em um assunto realmente delicado para
mim.
— Minha mãe morreu assim que nasci, meu pai me criou sozinho
com a ajuda da Rosa.
— E fez um péssimo trabalho — Riccardo fala se sentando em uma
poltrona, já segurando um copo com whisky.
Acabo abaixando a cabeça diante das suas palavras, porque isso me
afeta mais do que gostaria de admitir e, aqui, nessa casa, diante da alta
hierarquia da máfia não posso abrir a minha boca para falar o que realmente
quero.
— Riccardo Bianchi! Será que podemos ser, pelo menos hoje ser
uma família normal? — a mãe dele o repreende.
— Nunca vamos ser normais, mamma, principalmente, o Riccardo.
Nostro padre[14] fez questão de garantir isso.
Tudo o que Carlo ganha é um olhar intenso do pai, mas não há
arrependimento em seu olhar.
— Eu fiz o que tinha que ser feito para garantir o futuro da Cosa
Nostra — o pai dele se justifica.
— Assim como mio padre fez tudo o que pode para me ver bem,
feliz e segura. Não é fácil para um soldado criar sozinho uma filha tendo
que estar à disposição da máfia, matando com uma mão e segurando uma
mamadeira com a outra, enquanto o coração sangrava pelo luto de perder a
mulher que amava.
“Ele fez o melhor por mim e vou ser eternamente grata a ele por
isso.
“Tenho vinte e seis anos, estudei em uma das melhores
universidades da Itália, me formei na faculdade um ano mais cedo, sou
veterinária-chefe do haras e do maior centro de hipismo que existe em toda
a Itália.
“Sou a única atleta que vocês têm para ganhar as medalhas certas, as
de ouro, que são as que realmente trazem todo o prestígio que precisam
para conseguir lavar parte do dinheiro sujo que a máfia produz.
“Sou eu quem também cuida dos animais premiados, então, melhor
do que ninguém tenho propriedade em falar que sim, o mio padre fez um
excelente trabalho me criando.
“Eu, uma mulher, filha de um sodado, já dei muito mais lucro para
vocês do que podem imaginar.
“Deveriam agradecer a ele pelo que fez por mim, e não o mandar
para um hospital, espancado como se...”
Paro de falar quando me dou conta de onde estou e de que todos os
olhos e a atenção da sala estão em cima de mim, indo contra tudo o que
Rosa falou para eu não fazer.
— Me desculpem, me perdoem, acho que falei demais. Riccardo,
por favor, não faça nada, vou ficar de boca fechada eu juro.
Só de imaginar o que ele pode fazer com minha família faz o meu
corpo tremer.
Tenho que aprender a me controlar mais, manter a minha boca
fechada.
— Não conseguiria ficar calada nem se tentasse, piccolla —
Riccardo fala com muita calma, o que já sei que não é bom.
Certamente, ele vai fazer algo para me punir pelo que falei.
— Entenderam agora, por que disse que gostava dela? É disso que
essa família está precisando. Essa casa há muito tempo está triste demais,
vai ser bom ter esse tipo de entretenimento — Carlo fala.
— Tenha modos, Carlo! — a senhora Giulia fala e depois segura
minhas mãos fazendo uma espécie de carinho.
— Querida, não se desculpe por falar a verdade.
“Você tem razão, o seu pai realmente fez um excelente trabalho
criando você tão bem.
“Seria muito bom se outros pais se espelhassem no seu pai quanto a
criação de suas filhas, pois assim já teríamos conseguido quebrar tabus
dentro da máfia.
“O mundo evolui, mas as malditas tradições nos impedem de evoluir
junto, pelo menos no que se refere a nós, mulheres, que muitas vezes somos
obrigadas a casamentos abusivos apenas para o bom andamento de
negociações e fechamento de acordos, o que é um absurdo.
“Mas algo me diz que assim como consegui mudar uma coisa
importante, você também vai. Dessa forma, para a geração de futuras
mulheres que carregarão um dia esse anel que está em seu dedo, será mais
fácil do que foi para nós um dia.”
Eu, com toda certeza, devo estar com os olhos brilhando agora por
escutar o que essa mulher acabou de falar.
Vai ser muito bom tê-la comigo, ao meu lado nessa casa.
Sinto que posso confiar na minha sogra que vai ser muito mais do
que só uma amiga.
— Concluindo o que a mamãe falou, Ric, você está fodido. Lutamos
para manter as tradições e as mulheres lutam para destruí-las — Carlo fala.
— Eu sou prova disso, sua mãe me infernizou por...
— Lorenzo, amore mio, você me fez uma mulher muito feliz — ela
fala, interrompendo o marido.
Isso nunca vou poder fazer, pois, é contra as malditas regras.
— E nada melhor para um casamento do que uma esposa feliz, já
aprenda essa primeira lição, meu filho. Agora, Giulia, amore, sirva o
almoço de uma vez por todas, não queira matar o seu marido de fome.
Ela sorri, solta as minhas mãos e se levanta.
Nunca imaginei na minha vida que os pais de Riccardo se dessem
tão bem, é como se existisse amor no casamento deles, totalmente diferente
de como agem quando estão em público.
— Vamos lá, a mesa já está posta e hoje mudei a posição dos
assentos, afinal é uma ocasião especial, vamos.
A mãe de Riccardo chama todos e a seguimos, mas uma coisa
percebo, a maneira como o consigliere me observa. Ele não falou nada
desde a hora que começamos a conversar, apenas observou tudo, calado, e
espero não ter problemas com ele, já que esse lugar que ocupo hoje cederia
para qualquer uma que quisesse ter esse “privilégio”.
CAPÍTULO 24

Ao chegarmos à sala de jantar, a mãe de Riccardo toma a frente.


— Ali, Riccardo, sei que é o Don e que ocupa a cabeceira da mesa,
mas só por hoje seu pai volta a se sentar nela. Você se senta ao lado direito
dele, enquanto a Lorena se senta ao seu lado. E nem adianta falar nada,
tome o seu lugar.
Mesmo demostrando não gostar do que a mãe fez, ele não fala nada
e cada um ocupa seu lugar à mesa conforme as orientações dela.
Admito que me sentar assim, tão próximo a ele me deixa nervosa,
ainda mais depois do que falei na sala.
Esse homem é astuto feito o Diabo.
Ele pode me matar agora mesmo que nada aconteceria, e sua calma
me diz que a probabilidade disso acontecer é alta, já que fui desrespeitosa
na sala.
— Sua casa é muito bonita, senhora Giulia. Estou impressionada. —
Olho para a frente, admirada.
Não estou fingindo estar impressionada, é verdade, mas sentir
Riccardo se mexer ao meu lado faz meu coração acelerar e meu nervosismo
aumentar.
— Essa casa logo será sua também, querida, e verá o quanto dá
trabalho mantê-la assim. Estava pensando em fazer uma pequena reforma
em alguns cômodos, mudar algumas coisas de lugar, mas vou esperar você
chegar, assim fazemos isso juntas e do seu jeito, já que será a nova senhora
dessa casa.
— A senhora não precisa...
— Querida, vamos ter muito tempo para conversar sobre isso, não
se preocupe com nada.
Sorrio sem jeito e fito Antônio que tem os olhos em cima do meu
noivo.
Não demora muito e uma senhora acompanhada de uma moça muito
bonita começa a servir o almoço.
Dessa vez, percebo os olhos do consigliere em cima da menina.
Olha só o que temos aqui!
Todos engatam uma conversa sobre coisas banais, comentando
sobre a festa de casamento, mas não fico nem um pouco animada com isso.
Não quero decepcionar a senhora Giulia que foi tão receptiva desde
a hora que cheguei.
— Acho que um casamento ao ar livre seria muito bonito —
comento e todos me olham em silêncio.
— Gosto dessa ideia, há muito tempo não vemos um casamento ao
ar livre, irá ficar lindo com toda certeza.
— É. — Dou de ombros, cabisbaixa.
Não estou nem aí se vai ser bonito ou não, para mim, vai ser só o dia
em que a minha prisão vai começar oficialmente.
— Onde você pensa em fazer a cerimônia, Lorena? Tem algo em
vista? — ela pergunta animada.
— Poderíamos fazer aqui mesmo. — Olho para Riccardo. —
Riccardo, teria algum problema se casar aqui, na sua casa? — questiono
para que ele ache que realmente estou interessada no evento que já odeio.
— Não, acho que aqui é um bom lugar — responde, frio.
— E, por que não? Facilitaria e muito na questão da segurança.
Assim como os casais podem ir até à igreja para se casarem, o padre pode
vir até aqui para casar vocês dois, ainda mais quando eles dependem de nós
para se manterem — meu futuro sogro fala sério.
— Concordo com o seu pai. — Pela primeira vez desde que nos
sentamos à mesa, Antônio abre a boca.
— Você aceita, meu filho, que façamos o casamento aqui, em nossa
casa? — a mãe dele pergunta.
Consigo ver claramente que Riccardo não gostou nadinha da
sugestão que dei, afinal esse idiota é ligado as tradições.
Antes dele responder sinto sua mão na minha coxa, subindo o tecido
do meu vestido.
Mas o que esse desgraçado pretende fazer?
— Acho que a minha opinião não vai fazer diferença, já que a
maioria concorda.
Seus dedos deslizam para o meio das minhas pernas e vai subindo.
Meu coração acelera e me controlo para não me contorcer e gemer.
Quando tento fechar as pernas, ele me belisca para que as
mantenham abertas.
Chego a me desesperar, mas percebo que não tem como ninguém
perceber o que ele está fazendo, graças a mesa que é alta, então não tem
como alguém ver. Apenas parece que Riccardo tem a mão debaixo da mesa,
descansando em sua perna, o que deveria ser.
“Aí, Dio mio!”
— Então tudo bem para você? — a mãe dele insiste em perguntar
para saber a sua opinião.
— Gostaria de começar esse casamento agradando a minha noiva.
Se é o que ela deseja, então aceito. Está satisfeita, piccolla? — Riccardo
pergunta olhando para mim.
Porra, ele está me provocando!
Respiro fundo, porque meu nervosismo agora não é pelo casamento,
mas porque os dedos do desgraçado empurram a minha calcinha para o lado
e sem cerimônia nenhuma toca a minha boceta. Seus dedos malditos
deslizam pelos lábios e para dentro facilmente, porque estou escorregadia.
Mais uma vez meu corpo me trai e o medo de ser pega está me
deixando com tesão.
O pior é quem nem posso xingá-lo de filho da puta.
— Estou... Estou satisfeita sim, podemos organizar um belíssimo
casamento.
— Ótimo, então problema resolvido. Não quero mais ser
incomodado por isso.
Riccardo está com a cara mais neutra e inabalável do mundo e ainda
encara a mãe.
— Mamma, a senhora pode organizar tudo junto com a minha noiva,
confio na senhora. Sei que fará uma cerimônia belíssima.
Suspiro como se estivesse ansiosa, mas estou tremendo porque ele
está pressionando meu clitóris enquanto outro dedo desliza lentamente para
dentro de mim, sem ir muito além. Engulo em seco e encaro o prato na
mesa.
— Lorena, querida, está tudo bem? — a mãe dele questiona.
— Verdade, está ficando vermelha, piccolla, está sentindo alguma
coisa?
Esse demônio não perde por esperar!
Onde já se viu me fazer passar por isso na frente da família dele?
No momento, tudo o que posso fazer é pegar um pedaço da carne e
colocar na boca, mastigando devagar.
— Uhum, está tudo ótimo — respondo e Giulia sorri.
— Acho que é uma bela escolha, um casamento ao ar livre — Giulia
fala animada..............
— É... — Balbucio com a boca vazia novamente. — Acho que as
fotos ficarão muito bonitas. Você concorda comigo, Riccardo? — Viro o
rosto para ele.
— Acho que você pode ter o casamento que quiser. Mamma ajudará
você em tudo — ele retruca deslizando outro dedo para dentro de mim.
Chego a tremer quando ele movimenta os dedos curvando um pouco
as pontas, fazendo o dedão pressionar muito forte meu clitóris. Em seguida,
tira e mete devagar os outros sem me penetrar muito.
Se ele acha que sou virgem é claro que não vai muito mais além do
que isso.
Agarro seu pulso por baixo da mesa numa luta entre pedir para
continuar e parar. Eu o encaro fixamente e espero que ele consiga ver em
meus olhos, levemente marejados, que vou gozar sentada à mesa do almoço
com a família dele presente, sem ninguém perceber, e que vou matá-lo
depois.
Porque vai ter troco, isso não vai ficar assim.
— Por mim tudo bem — a mãe dele diz animada com a carta branca
do filho para que junto a mim, ela organize tudo sobre o casamento.
Ela começa a falar sobre outras coisas relacionadas ao assunto do
matrimônio, mas não consigo prestar atenção em nada. Só olho para a
frente, como se fosse uma boneca de vitrine com um sorriso grudado no
rosto.
Meu sogro comenta algo, Carlo e Antônio respondem, já minha
sogra continua falando do casamento e só consigo me concentrar em não
gemer.
Ai, caralho, não demora muito e em poucos segundos, estou
gozando na sua mão.
— Eu vou organizar um jantar esplêndido para a recepção do
casamento, tem alguma preferência de comida, meu filho? Podemos variar
o cardápio com uma opção sua e outra da Lorena — minha sogra pergunta
para o cretino do filho dela.
— Não, mas...
Observo que ele tira os dedos de dentro de mim, em seguida passa
pela cobertura do molho da carne que está em seu prato e coloca na boca,
como se fosse a coisa mais deliciosa do mundo.
— Esse molho está muito bom, mamma, divinamente bom.
Meu Deus, ele quer me matar!
Ele vai conseguir fazer isso, com certeza vai.
— Que bom, meu filho, essa é carne de cordeiro por isso é tão
macia e suculenta — ela fala alegremente, como uma mãe orgulhosa.
— Podemos fazer essa carne com esse molho. Acabei de descobrir
que gosto da carne de cordeiro.
Mas que safado infeliz!
— O que você acha, Lorena? Concorda com a opção da carne de
cordeiro? — Giulia pergunta e sinto os olhos de Riccardo em cima de mim.
Desgraçado!
Dio mio!
Eu não acredito que depois do que ele fez comigo está falando da
comida, da carne do pobre cordeiro.
Respiro fundo, agarro o pano de prato e passo na boca.
— Acho que pode ser. Eu gosto de carne, mas é a primeira vez que
como carne de cordeiro.
— Então está combinado, depois você me fala qual é a sua opção, já
que Riccardo quer essa. — Giulia completa.
— Claro que sim.
— Vocês duas vão ter muito tempo para decidirem esses detalhes —
Carlo fala para a mãe.
— Duas semanas não é muito tempo, na verdade, já estamos
atrasadas. Não sei o motivo dessa pressa toda.
— A pressa era de vocês. Agora que já consegui a noiva que tanto
desejavam, quero me casar logo — Riccardo fala olhando para os pais. —
Agilizem tudo.
— É claro que vou agilizar, Riccardo, amanhã mesmo Lorena e eu
iremos à loja de noivas ver o vestido que é o principal. Apesar do nosso
curto tempo para preparar tudo, vai dar certo.
— É claro que vai, mamma, confio na senhora para isso.
CAPÍTULO 25

Lorena tem a capacidade de me levar de um a um milhão em


questões de segundos, e o pior é que parece que Antônio percebeu isso, pois
desde que chegou analisa Lorena.
Esse é o jeito dele, a maneira como faz as coisas, e é exatamente
assim que apavora os nossos inimigos. Ele gosta de fazê-los saber que estão
sendo observados e estudados. Aí, quando menos se espera, ele dá o golpe
fatal. Meu consiglieri gosta de brincar com suas presas, levá-las ao limite
da inquietação, até que cometam um deslize e ele age.
O problema é que a minha noiva não é o inimigo aqui, ele só está
puto porque não foi informado antes dos meus planos e tenho quase certeza
que foi meu irmão que o comunicou do meu importuno noivado.
Fato esse que estragou alguns dos seus planos. Planos esses que
teremos que resolver agora.
— O que é tão importante que não se pode esperar para...
— Sem piadinhas, Carlo, o assunto é sério — Antônio fala e meu
irmão se senta ao seu lado em uma das poltronas que tem em frente à minha
mesa.
— Okay, então vamos deixar apenas as duas donzelas na biblioteca
organizando o seu casamento, algo me diz que vai ser radiante — Carlo
fala.
— Deixe as duas em paz, mamma sabe o que tem que fazer.
Meu irmão sorri como se não concordasse muito com o que digo,
mas também não fala nada.
— Nostro padre não vai participar dessa reunião?
— Esse não é mais assunto dele. O que Lorenzo pôde fazer para
manter o tratado com a máfia de Nova York fez, agora depende só de nós
manter isso — Antônio fala, me observando.
Porra, realmente não queria ter essa conversa agora, mas parece que
vai ser preciso.
Sei exatamente o que o meu pai pretendia fazer e Antônio sempre
foi a favor.
— Eles nos deram a preferência da nova droga que estão
desenvolvendo, tanto que investimos milhões de dólares nessa merda, é
assim que garantimos a evolução das coisas dentro da Cosa Nostra — falo
sem rodeios.
Eles que não inventem de voltarem atrás com a palavra dada, pois
isso geraria uma guerra e muito sangue seria derramado.
— O problema, Riccardo, é que você está esquecendo de um
pequeno detalhe, um que usa saia e que estava sendo preparada para se
casar com a porra do Don da Cosa Nostra.
Mas que desgraça!
Isso é coisa do meu pai, de quando ele estava desesperado para que
me casasse, até que desistiu e me deu carta branca, foi quando vi Lorena
pela primeira vez.
— Tenho uma noiva agora, Antônio, ela até mesmo já usa o
diamante rosa. Não tenho como voltar com a minha palavra diante disso.
Praticamente, todos já sabem do nosso compromisso. — Ele que não tente
me fazer mudar de ideia, pois não vai conseguir.
— Eu sei disso e eles agora também sabem. A filha da máfia de
Nova York foi trocada pela filha de um soldado qualquer e eles não estão
nada felizes com isso, tanto que querem romper o acordo.
“A máfia russa está bem interessada em ocupar o nosso lugar.
“Não mantemos a nossa palavra e a cúpula não vai gostar nadinha
disso, pois prezam e muito pela palavra de um homem de honra.
“Deveria ter falado comigo, antes de tomar a porra dessa decisão
descabida.”
Era só o que me faltava!
Esses filhos da puta quererem me trazer mais problemas do que já
temos.
— O acordo do casamento nunca foi fechado, eles não podem nos
cobrar isso agora. O investimento foi feito, milhões de dólares para que
começassem a desenvolver a pesquisa e começarem os testes.
— Esse casamento entre as duas máfias iria...
— Não tem casamento, Antônio, já estou noivo, não vou voltar atrás
com isso só porque os americanos...
— Isso seria o certo a se fazer. — Antônio me interrompe, se
levantando de uma vez, batendo a mão na mesa.
Ele só não vai perder a mão porque o considero um amigo.
— Ei, vamos nos acalmar e encontrar uma solução para isso. Acho
que aqui ninguém quer gente de fora resolvendo os nossos problemas, tem
que ter uma solução em que as duas partes saiam satisfeitas.
“Não podemos de jeito nenhum perder esse acordo com a máfia de
Nova York.
“Se eles cederem o nosso lugar aos Russos será um golpe grande
para nós no futuro.
“Essa é uma droga sintética e vai levar cerca de vinte anos ainda
para ficar pronta, devemos ser os primeiros a colocar as mãos nela.”
Carlo sabe muito bem do que está falando, afinal ele também
estudou a droga para saber se era um bom negócio na época em que o meu
pai ofereceu o acordo e os nova-iorquinos aceitaram.
— E tem uma solução, eles fizeram uma contraproposta. Dessa vez
se faltarem com a palavra já sabem a quem eles vão recorrer e quem vai vir
até aqui tirar satisfação conosco. — Antônio volta a se sentar e já até
imagino sobre o que ele está falando.
— Está esperando o que para falar? Um convite? — falo
impaciente.
Antônio sorri e se vira na direção do meu irmão.
— Um casamento com o Don seria muito mais vantajoso para eles,
mas se conformam com o subchefe.
Porra, essa seria uma excelente solução e resolveria todos os nossos
problemas, mas sei que Carlo não vai querer aceitar isso.
— Mas nem fodendo que me caso, arrumem outra solução porque
essa está fora de cogitação.
— Essa é a única saída, Carlo, meu irmão. O casamento seria tão
vantajoso para nós quanto para eles. A menina é a única herdeira e o pai
dela quer garantir o futuro da moça e da máfia.
“É a porra de uma aliança que vai muito além do que só a
preferência de ter em mãos uma droga que vai levar vinte anos para ficar
pronta.
“Você se tornará o capo di tutti i capi[15] da máfia de Nova York,
terá o controle das cinco famílias em suas mãos e isso aumenta o nosso
território.
“Será a Cosa Nostra praticamente dominando os Estados Unidos,
tudo isso através de um simples casamento.”
A máfia nova-iorquina reúne as cinco famílias que têm dominado a
máfia americana. O capo di tutti i capi é o líder que controla essas famílias
e como o futuro sogro do meu irmão não tem filhos homens esse poder virá
para as nossas mãos, porque ele vai se casar com a herdeira. E isso vai
acontecer nem que tenha que arrastá-lo até o altar com uma arma
engatilhada em sua cabeça.
— Eu não me caso, mas nem que me ofereçam o controle do
mundo, tirem essa ideia da cabeça. Eu não...
— Você vai se casar — falo com a minha calma que assusta até
mesmo o mais valente dos homens, em seguida degusto meu vinho,
Château Petrus 1994, simplesmente divino, que ganhei de um empresário
americano.
O cara é um amante de vinhos.
— Riccardo, não pode me obrigar a isso, eu...
— Vai se casar com a herdeira da máfia nova-iorquina, se tornará o
capo di tutti i capi, e nos garantirá não só a preferência da maldita droga,
como também o controle dela e de todos os negócios que envolvem as cinco
famílias. Você será a porra do chefe, o que dará as ordens.
— Riccardo...
— Não estou pedindo a você que se case, irmão, estou informando
que irá se casar com a herdeira nova-iorquina e trate de ser rápido em fazer
um filho nela depois do casamento, de preferência que seja homem, assim o
poder não sairá das nossas mãos. Um filho homem garantirá uma linhagem
pura da Cosa Nostra futuramente.
Carlo me olha como se não acreditasse no que está escutando, mas
ele não pode ir contra as minhas ordens.
— Não pode fazer isso comigo.
— Posso sim, tanto que já fiz.
— Nosso pai não te obrigou a passar por isso, Riccardo, tanto que
pôde escolher a noiva que quis.
— Não se compare a mim, irmão. Eu sou o Don e é a minha cabeça
que os nossos inimigos desejam. Você não passou por metade do
treinamento que fui obrigado a passar e sabe melhor do que ninguém o que
tive que abrir mão para me sentar na porra dessa cadeira e estar hoje aqui,
dando essa ordem.
“Só quero o seu bem, caralho, por mais que não pareça me importo
com você.
“Não queira nunca estar no meu lugar, irmão, pois tive que abrir
mão de quem eu era e da minha humanidade para ocupar esse lugar.
“São pouquíssimas as pessoas com as quais me importo e você faz
parte dessa reduzida lista.
“Sinto muito mesmo, mas você vai se casar e vamos fazer essa
aliança com a máfia de Nova York.
“Fazer parte da máfia é isso, irmão, nossa vontade sempre vem em
segundo plano.
“Não pense nem por um momento que Lorena foi a minha primeira
opção, ela foi apenas a opção mais fácil.”
Carlo me encara e trava o maxilar, pois ele sabe que não pode fazer
nada.
— Está querendo dizer que Lorena não tem importância nenhuma
para você? Que está se casando com ela apenas porque tem que se casar
com alguém para gerar um herdeiro para a Cosa Nostra? É isso mesmo?
— Exatamente, sem tirar, nem pôr uma palavra.
— Então, já que ela não é a sua primeira opção e não tem
importância nenhuma para você, eu me caso com ela. Assumo o seu lugar
nesse noivado e você fica livre para se casar com a herdeira nova-iorquina.
Eu me mudo para Nova York e assumo o seu lugar lá como capo di tutti i
capi, já você fica na Itália feliz e satisfeito com...
O idiota para de falar quando não sei nem como pego a arma, me
levanto e aponto para a cabeça dele.
— Mais uma palavra e te mato.
Antônio se levanta e vem para o meu lado, colocando a mão no meu
ombro enquanto meu irmão e eu nos encaramos mortalmente.
O infeliz nem mesmo se mexe na poltrona.
— Riccardo, acalme-se, não faça isso. — Antônio tenta acalmar os
ânimos.
— Ele não vai me matar, Antônio, ele precisa de mim.
— Está enganado, irmão. — Engatilho a arma.
Carlo se levanta, apoia as mãos na mesa e chega a cabeça para mais
perto de mim, deixando assim o cano da pistola bem no meio da sua testa.
— Nunca mais abra a sua boca para falar que Lorena foi a opção
mais fácil, pois acabamos de ver que ela não foi. Quanto a sua primeira
opção, irmão, ela está bem, feliz e satisfeita tentando te esquecer, fode...
— Cala a porra dessa sua boca e some da minha frente! Antônio vai
tratar tudo sobre o seu compromisso com a herdeira nova-iorquina. Logo
após meu casamento você ficará noivo.
Tudo o que Carlo faz é me dar um dos seus sorrisos mortais, então
se afasta.
— O senhor é quem manda, chefe. Quem somos nós para
desobedecer à ordem do grande Don da Cosa Nostra.
— Não força a barra, Carlo, sai daqui e vai para o seu apartamento
esfriar a cabeça. — Antônio toca no meu braço e abaixo a arma.
— Eu vou é para uma das nossas boates, porque estou oficialmente
com os meus dias de solteiro contados. Preciso foder o maior número de
bocetas possíveis, já que vou ser obrigado a me amarrar só em uma. — Ele
sai do escritório batendo a porta.
Eu me jogo de uma vez em minha cadeira respirando fundo e
Antônio volta para o seu lugar, à minha frente. Pego a minha taça de vinho
e bebo em um gole só.
— Diga para mim, que o que esse desgraçado falou é mentira.
Antônio sabe a quem estou me referindo.
— Ela vai ficar noiva, está namorando um empresário grego. Ela
está seguindo em frente exatamente como você está fazendo. A máfia não
era lugar para ela e você sempre soube disso, tomou a decisão certa. Pelo
menos pôde experimentar o sentimento, Riccardo. Muitos não têm essa
opção e sua noiva e irmão são exemplos disso. Eles não vão ter esse
privilégio.
Suas palavras me deixam sem ação, afinal Antônio é o único que
sabe o que realmente aconteceu.
Carlo apenas acha que sabe.
— Eu não estou seguindo em frente, Antônio, estou penas
cumprindo uma obrigação. Lorena é filha da máfia e sempre soube que o
seu destino seria esse, por mais que quisesse fugir dele.
“Se não fosse comigo, seria com outro.
“Carlo também nasceu para servir a máfia, assim como eu e você.
“Nenhum de nós teve opções ou terá um dia.”
Ele respira fundo e tira algo do bolso interno do seu terno.
— Eu não ia te entregar isso, porque cada vez que recebe um desses
enche a cara, mas talvez com a sua noiva ao seu lado hoje, você se controle.
Antônio me entrega um envelope e de cara reconheço a letra dela
com seu nome escrito nele. Quando abro, vejo um pequeno cartão-postal e
um pedaço de papel dobrado ao meio.
— Leia agora, na minha frente, assim te impeço de quebrar o
escritório.
Finjo não escutar a última parte do que fala e abro o papel.
“Ric, fiquei sabendo através do Toni que você ficou noivo.
Admito que num primeiro momento fiquei chocada com a
notícia, já que você jurou que nunca na sua vida iria se casar, mas
depois de um tempo, raciocinei e entendi que não posso cobrar que
cumpra a sua promessa, já que eu mesma estou namorando e logo vou
ficar noiva.
A vida nos obriga uma hora ou outra a seguir seus ciclos, mas
quero que saiba que você sempre será meu amor, por isso quero e
desejo te ver bem.
Não sei se um dia vou ser capaz de te esquecer completamente,
mas estou tentando e fico feliz que esteja fazendo o mesmo.
Quem sabe assim consigamos ser felizes ao lado de outras
pessoas, já que nunca vamos poder ficar juntos.
Com carinho, Antonella.”
— Vocês têm que parar de trocar essas correspondências, é perigoso,
ainda mais agora que vai se casar e ela também.
Simplesmente não consigo parar de pensar nisso agora.
— Ela está feliz? Isso é tudo o que importa.
— Sim, ela está, pelo menos foi o que demonstrou. Só que esse não
é mais um problema seu, mas do futuro noivo dela.
Antônio gosta de meter o dedo na ferida e quanto mais profundo
melhor para ele.
— Continue mantendo a proteção dela, não confio nesse namorado,
não sei nem mesmo quem ele é. Caso depois que ela se casar tudo continuar
bem retiro os seguranças, mas, por enquanto, tudo continua igual.
— Riccardo, não pode...
— Por hoje é só, já resolvemos o problema que tínhamos que
resolver. Fale com os americanos e os comunique da nossa decisão. Agora
me deixe sozinho.
Ele sabe que não pode discutir em relação a isso comigo.
— Vê se pega leve, a sua noiva está aqui com a sua mãe, na
biblioteca, organizando o casamento de vocês. — É tudo o que ele fala
antes de sair e me deixar com meus pensamentos do passado.
“— Por que está me deixando, Riccardo? Por que está fazendo
isso comigo?
— Porque é o certo a se fazer, Antonella, não vou arriscar a sua
vida. Sabe muito bem o que faço e o que já perdeu por causa disso. Eu não
vou arriscar.
— Isso sou eu quem decide e não você. Jurou que ficaria comigo.
— Jurei que protegeria você e vou continuar protegendo. Mas não
podemos levar esse nosso romance adiante, é perigoso demais. Você
precisa encontrar alguém que dê uma estabilidade que não posso te dar.
— Mas eu quero você. — Ela se agarra em mim e fecho os olhos,
sentindo pela última vez seu cheiro.
— Eu sei disso, e é por isso que estou deixando você ser livre.”
Essas malditas lembranças sempre voltam para me atormentar, mas
sei que fiz o certo pela segurança dela, para que ficasse bem.
— Maldição! — Jogo o copo que estava em minhas mãos na
parede porque lembrar de Antonella me afeta de uma forma que não
deveria.
Eu tenho que me concentrar agora na mulher que vai ser minha e
não em uma que já pertence a outro homem.
CAPÍTULO 26

Passo, literalmente, a tarde inteira na biblioteca junto a minha


sogra organizando e vendo o máximo de detalhes do casamento. Até

mesmo, por alguns instantes, chego a esquecer que estou sendo obrigada a
me casar.
Dona Giulia está tão empolgada com a cerimônia e a festa que acaba
me animando também. A mulher é uma máquina de planejar festas e com
toda certeza vou precisar muito dela para me ensinar tudo o que sabe.
Segundo ela, terei que organizar alguns eventos em nome da empresa da
família, já que para todos de fora da máfia, meu noivo é um grande
empresário de sucesso, o que não deixa de ser verdade.
Riccardo sempre está nas notícias, já ganhou inúmeros prêmios
mundo a fora com a sua empresa e a Itália gira em torno dos seus negócios.
— Pronto, Lira, por hoje é só, querida. Você deve estar cansada de
ter passado a tarde inteira aqui comigo. Eu também estou exausta, mas
conseguimos adiantar muita coisa. Amanhã me encontrarei com a
cerimonialista, ela irá ajudar também, já que o tempo é o nosso inimigo.
Eu a ajudo a se levantar.
— Foi cansativo, mas empolgante, me fez até mesmo esquecer... —
Eu me calo antes que saia o que não se deve.
— Que está se casando obrigada?
— Me desculpa, eu...
— Não se desculpe por isso, querida, não está falando nenhuma
mentira. Eu, realmente, não queria que fosse assim. Ainda tentei criar meus
filhos com princípios, mas só fui influenciável na vida deles até certo ponto,
depois disso... — Ela para de falar e entendo o que quer dizer.
— Eles foram para o treinamento da máfia e se transformaram nos
monstros que são hoje.
Seus olhos ficam marejados.
— Não pude fazer nada para impedir.
“Meu marido ao longo dos anos fez muitas das minhas vontades,
mas em relação a isso não pude opinar e nem interferir.
“Meu lindo garotinho, aquele que seria o Don, teve que se
transformar em um homem com apenas treze anos e quando ele voltou para
os meus braços já não era mais o meu menino.
“Muitos falam que fui abençoada, que dei ao meu marido dois filhos
homens, mas temo pela vida dos meus filhos desde o nascimento deles,
porque sei que cada vez que saem à serviço da máfia, a possibilidade de
voltarem para mim, é quase zero.”
Ela fala como se doesse em sua alma e sei que esse é o futuro que
me aguarda, o que me faz pensar se ter um filho é uma opção.
— Eu sinto muito, deve ser bem difícil para senhora passar por isso.
Ela sorri sem querer.
— Foi mais difícil para eles, querida. Riccardo ainda tentou resistir
ao treinamento, Lorena, e foi jogado em uma ilha sozinho por mais de trinta
dias, sem comida, sem água, sem exatamente nada. Ele teve que aprender a
sobreviver sem ajuda nenhuma, apenas com o conhecimento básico que
possuía.
“Foi lá, sozinho, que ele entendeu que não adiantava resistir, ou
seria pior.
“Espero que você não tenha que passar pelo que passei, pois, dói
demais ver nossos filhos sendo transformados em assassinos a sangue frio.
“Rezo todos os dias para que Riccardo seja mais piedoso com os
filhos do que o pai foi com ele.”
Ela segura minha mão, beija o meu rosto e fico pensando no que
falou.
Não vou permitir que meus filhos sejam treinados dessa maneira
sobre-humana, e sei que piedade não existe no vocabulário do Don da
máfia.
— Não pense demais, Lorena, e não sofra antecipadamente. Agora
vá que Riccardo deve estar esperando por você no escritório. Ele deve
querer te levar para casa assim como fez questão de te buscar. Se quiser
posso te acompanhar até lá.
— Não precisa, senhora, me indique a direção que vou sozinha. A
senhora está cansada, então suba para o quarto e descanse.
Nos despedimos já deixando marcado o dia para irmos à loja de
noivas para encomendar o meu vestido.
Espero que dê tempo até porque não faço questão de nada muito
exagerado.
Saindo da biblioteca vou andando em direção ao escritório que
Giulia indicou o caminho, já que essa casa é enorme e a possibilidade de me
perder é muito grande.
Devem trabalhar aqui muitos empregados para manter tudo limpo e
organizado, afinal até agora observei que não existe nada fora do lugar e
tudo é extremamente muito organizado.
Vejo uma porta muito grande de duas abas e pela descrição da
minha sogra esse é o escritório, então me aproximo e quando estou prestes a
bater na porta escuto a voz do Diabo.
Pelo jeito ele está no telefone.
Encosto o ouvido na porta para tentar escutar melhor o que ele está
falando.
Não sou fofoqueira, mas ele está falando alto demais e não vou
interromper a conversa.
— Eu a quero na minha cobertura em uma hora. Não me importo se
ela tem clientes, cancele tudo, pois hoje ela só serve a mim e a mais
ninguém. Preciso disso, Antônio, preciso relaxar. Você escolhe, ou é sexo,
ou arrume uns cinco homens para que eu torture até a morte.
Mas que cretino filho de uma...
— Foi o que pensei, uma hora e nem um minuto a mais.
— Escutando atrás da porta, cunhadinha?
Levo um susto tão grande que só não grito porque Carlo tampa a
minha boca.
— Quietinha, quer morrer antes do casamento? Porque é isso que
vai acontecer se o meu irmão te pegar escutando atrás da porta. — Ele tira a
mão da minha boca e me viro para ele.
— Que susto, Carlo. Assim é você que vai me matar.
— A sua sorte é que fui eu, já imaginou se fosse o meu pai?
Eu não quero imaginar uma coisa dessas.
— Você pode me levar para casa? O safado do seu irmão está
marcando um encontro com outra mulher na cobertura dele.
Ele segura minha mão e sai me puxando, até que entramos em outra
porta e vejo que é tipo uma sala de visitas.
— Se importa com isso, Lira? Se importa do Riccardo estar
marcando um encontro com outra mulher?
Que pergunta descabida é essa do Carlo?
— Ele me obrigou a usar isso. — Levanto a mão e mostro o maldito
anel de noivado. — É claro que me importo dele estar me traindo. Ele quis
atirar na cabeça do Bernardo só porque ele me abraçou. O Don pode se
divertir com quantas mulheres quiser? Isso é um absurdo, a máfia inteira já
sabe do nosso compromisso e tenho uma imagem a zelar, cunhado. Vou ser
motivo de chacota para aquele bando de macho no haras e sabe disso.
Lorena Bernardi, a noiva traída do Don.
Carlo sorri do que falo.
— Mas ele é homem, e como você mesmo acabou de falar é o Don.
Ele pode, você não.
— Sério que você é que nem ele?
Carlo arqueia a sobrancelha.
— É claro que é, afinal os dois tem o mesmo sangue correndo pelas
veias. Dio mio, onde estão me metendo?
— Não me compare com ele. Riccardo hoje também me estressou e
muito. Ele não obriga só você, cunhadinha, a um casamento que não deseja,
ele fez isso comigo também. Ele é o Don e pode fazer o que quiser, nunca
se esqueça disso, Lorena.
Eu me surpreendo com isso.
— Você vai se casar também? — pergunto já sentindo pena da
coitada que vai ser obrigada a entrar para essa família.
— Eu queria me casar com você, mas ele apontou uma arma bem no
meio da minha testa. Tentei te salvar, mas não foi possível, sinto muito.
Agora respondendo a sua pergunta, sim, vou me casar, mas antes disso
acontecer vou aproveitar ao máximo.
— Mas que porra de conversa é essa, Carlo?
Ele sorri.
— Olha... Você sabe falar palavrão, gostei.
— É claro que falo palavrão, idiota, já viu muitas vezes eu mandar
aqueles soldados incompetentes irem se foder.
— Acabou de chamar o subchefe da Cosa Nostra de idiota?
— Sim, quer que eu chame de novo?
Ele fica me encarando por um tempo.
— O meu consolo é saber que o meu irmão vai se casar com você.
O infeliz vai pagar por todos os pecados dele nessa Terra e vou me divertir
muito assistindo de camarote.
— Larga de falar besteira, Carlo. Vai me levar para casa ou não?
Ele me analisa.
— Que tal um lugarzinho mais movimentado, está estressada,
cunhadinha, precisa relaxar. Vamos lá. — Ele segura meu braço, mas antes
de abrir a porta o paro.
— Os soldados vão avisar para o Riccardo assim que colocar os pés
na boate, sei que é para lá que você quer ir.
Ele arqueia uma sobrancelha.
— Eu te conheço bem, Lira, somos farinha do mesmo saco, a
diferença é que o meu saco tem mais poder que o seu.
— Carlo! — Bato o pé para ele.
— Vai aceitar o chifre assim de bom grado sem fazer nada para
impedir? Esperava muito mais de você, piccolla, ou é amore mio que ele
chama?
— Não subestime a minha inteligência, Carlo. Sei que está querendo
me usar para provocar o seu irmão.
— Até parece que preciso de você para provocá-lo, se quiser fazer
isso é só ir para a boate e comer a puta preferida dele antes que o infeliz
chegue lá.
“Gosto de você, Lorena, não merece o destino que vai ter.
“Riccardo não é bom, ele não ganhou o apelido de Diabo à toa. Ele
já fez coisas horríveis e tem várias amantes.
“Ele não vai poder te trair depois do casamento, mas até que isso
aconteça ele pode comer quantas prostitutas der conta, enquanto você fica
em casa chorando pelos cantos por causa da sua vida que vai ser triste no
futuro.
“Ele pode até descobrir que você vai estar na boate comigo, Lira, e
nós dois saímos ganhando.”
— Como assim, explique melhor, porque você é o irmão que ele não
pode matar, seria traição contra o sangue. Quanto a mim, sou apenas a
noiva que teve o pai espancado.
— Riccardo está bêbado, Lorena, e ele não vai fazer nada. Ele deve
ter recebido notícias da... Melhor você não saber.
— Saber do quê? — Dou um passo à frente.
— Não é da sua conta, a questão é que vou conseguir irritá-lo mais
ainda por te levar para a boate e você vai conseguir impedir que ele te traia
com a gostosa da... Você também não precisa saber o nome.
A minha vontade é de bater nesse infeliz que fala as coisas pela
metade.
Vou dar uma dor de cabeça para o meu noivo hoje, assim ele
aprende que não pode brincar comigo. Se ele quer esse casamento vai ter
que ser fiel desde agora.
— Vamos lá então e não me impeça de fazer nada quando
chegarmos lá.
Carlo levanta as mãos em sinal de rendição.
— Quem sou eu para ir contra uma ordem da futura rainha da máfia.
CAPÍTULO 27

Conseguimos sair de casa sem grandes problemas, afinal estou


com o subchefe da máfia, meu cunhado.
Ninguém nos parou ou até mesmo questionou quando Carlo
dispensou os soldados que ficam na minha cola.
Mas não sou inocente ao ponto de achar que o meu querido
noivinho não irá ficar sabendo dessa minha pequena aventura.
É só uma questão de tempo.
Agora ir trepar com uma prostituta na cobertura dele, garanto que
ele não vai.
— Arrependida, cunhada? — Carlo pergunta com seu sarcasmo de
sempre.
— Eu nunca me arrependo de nada.
Ele sorri.
— Graças a Deus, que na máfia só existe você. É uma espécie rara,
Lorena.
— Eu sou única, Carlo, e é muito triste saber que só deve existir eu
como você mesmo fala. Mas não se engane, muitas mulheres, inclusive na
máfia tem o espírito livre. Nesse mundo onde nascemos, o problema é que
esse espírito é preso pelos próprios pais.
— Essas são as malditas regras e tradições, Lira, não podemos fazer
nada para mudá-las.
Agora é a minha vez de sorrir.
— E eu achando que vocês eram quem mandava na porra toda,
grande engano meu.
Ele me olha de relance entendendo muito bem o que acabei de dizer.
Na verdade, quem rege a máfia são as tradições criadas ao longo de
sua existência.
— Essa sua língua, acompanhada dessa sua coragem toda ainda vai
te meter em problemas. Agora vamos lá irritar o meu irmãozinho. — Ele
estaciona o carro em uma área coberta e vejo que chegamos a boate.
Mas essa que ele me trouxe não é uma boate qualquer.
— Você só pode estar de sacanagem! — falo empolgada, porque
nessa nunca tinha vindo.
Sei que também pertence à máfia e meu pai surtaria se soubesse que
estou aqui.
— Essa é uma oportunidade única, Lira, então se é para fazer uma
coisa errada que seja feita direito. Nunca se tem uma chance dessas duas
vezes, depois de hoje, Riccardo vai colocar um verdadeiro exército de
soldados atrás de você, contando até mesmo o número de suspiros que dá
ao longo do dia. — Ele abre a porta e faço a mesma coisa saindo de dentro
do veículo.
Carlo segura meu braço e juntos entramos na boate por uma porta
lateral, mas não me passa desapercebido um dos soldados que nos
acompanharam fazendo uma ligação.
Pela maneira que ele me olha já sei para quem deve estar ligando.
— Acho que já estão chamando a cavalaria, pensei que esses fossem
os seus soldados.
Carlo me olha e aponto com a cabeça para o soldado com o telefone.
— E são, mas estou em uma boate com a noiva do Don, é claro que
eles iriam informar o meu irmão. Aqui não é um lugar adequado para você,
princesa. Agora vamos para o bar.
Ele faz sinal para que eu passe na frente dele, ficando por trás de
mim, como se fosse me proteger, abrindo os braços para que ninguém me
toque, o que é um exagero levando em consideração a quantidade de
pessoas no lugar.
— Uauuuu... Que máximo! Aquilo é uma barra de pole dance? —
Assim que chegamos no bar me dou conta do que realmente é esse lugar.
— É sim, mas não olhe muito, pois tenho medo do que pode sair
dessa sua cabeça. Você é louca, Lira, talvez até mais do que eu.
Finjo não escutar o que ele fala.
— Eu posso dançar lá? Sempre tive curiosidade de...
— Mas de jeito nenhum, está vendo a quantidade de homens que
tem aqui?
Olho para os lados e realmente tem muitos.
— Sim, é claro que estou vendo. Homens costumam gostar de
lugares assim.
— Exatamente, todos sairão sem vida daqui caso você dance ali,
naquele palco. Meu irmão pessoalmente mataria todos.
— Que exagero!
— Não é exagero. — Ele se vira para o garçom. — Um whisky para
mim e uma taça de vinho branco para...
— Tequila, por favor, se quisesse tomar vinho teria ido para casa. —
O garçom fica sem saber a quem atender e Carlo se vira na minha direção.
— Tequila!? Ficou louca de vez?
— Sim, tequila, uma dupla com cara de tripla, por favor.
Carlo balança a cabeça como se eu realmente fosse louca.
— Já tomou tequila alguma vez na sua vida? É a futura esposa do
Don, uma dama, não...
— Corta esse papo, Carlo, sou a porra da noiva do Don que está em
uma boate que claramente não é o meu lugar. É uma questão de tempo para
que o Diabo chegue aqui, por isso preciso de coragem, muita coragem para
encará-lo. Com toda certeza atrapalhei a foda dele e ele deve estar vindo me
buscar aqui com sangue nos olhos, preciso de algo forte para me ajudar.
Ele fica me encarando.
— Pode servir a tequila para ela.
Com a ordem o garçom se mexe e quando a dose exagerada de
tequila é colocada na minha frente, não penso duas vezes antes de virá-la na
boca.
— Puta que pariu, essa porra é forte! Quero outra — falo com a voz
rouca, porque o líquido desceu rasgando pela garganta.
— Você é muito louca mesmo. — Carlo sorri e eu o acompanho. —
Literalmente, o meu irmão está se casando com um grande problema e isso
é bom. Talvez, você tenha o poder de mudá-lo. Meu irmão precisa de
alguém que o desafie de vez em quando, o problema é que ninguém tinha
coragem de fazer isso, mas você parece ter.
— Eu não vou ser uma corna mansa. Aceito tudo, o maldito anel, o
noivado, o casamento, mas ser traída não, isso é inadmissível. Mulher
nenhuma nessa Terra merece passar por isso.
A outra dose é colocada na minha frente e assim como da primeira
vez, viro também.
— Caralho! Outra dessas e fico bêbada.
A gargalhada de Carlo ecoa alta e faço a mesma coisa.
— Você não existe, Lorena. Vai ser muito bom mesmo ter você na
família, pois você vai foder com o juízo do Riccardo.
— Por que você é tão legal e o seu irmão é tão insuportável? Eu não
entendo.
— Sou legal com você, apenas com você, sabe muito bem qual é o
meu papel dentro da máfia.
— É, eu sei, é tão triste... Amo essa música, me deixa dançar, Carlo,
por favorzinho. — Cruzo as mãos.
— Já disse que não. Já te vi dançando uma vez e você gosta de ser
provocante, se eu permitir isso é capaz de sair nós dois mortos daqui hoje.
— Riccardo jamais te mataria, seria traição contra o sangue.
Carlo segura nos meus ombros e me encara.
— Lorena, meu irmão tem a capacidade de me dar um destino muito
pior do que a morte. Ele faria eu clamar pela morte só para ter um pouco de
alívio, então a resposta continua sendo não. Sinto muito, mas você não vai
dançar.
— Ainda bem que você sabe do que sou capaz, irmão.
Sinto como se um dedo gelado percorresse pela minha espinha,
porque a voz que vem detrás de mim, é pavorosa.
Isso mesmo, o Diabo está atrás de mim, porque sinto emanar dele o
cheiro forte do seu perfume amadeirado junto com o cheiro característico de
whisky.
Carlo solta meus ombros e me viro vagarosamente para trás, então
vejo meu noivo.
Dio mio, ele está de óculos escuros e barba bem-feita emoldurando a
sua face de anjo caído. Ele veste preto, blusa de gola alta e mangas
compridas, colada ao corpo, marcando os músculos.
Chego a engolir em seco com o que estou vendo na minha frente.
Inferno, tem que ser tão imponente e gostoso assim?
Nunca o tinha visto assim.
Riccardo parece estar tão confortável na sua redoma impenetrável
de autossuficiência.
Nunca encontrei alguém tão consciente do poder que possui como
ele, nem mesmo Carlo, que, a meu ver, é indestrutível e possui essa áurea.
— Riccardo... Eu... Eu... — Não consigo formular a frase inteira.
— Ficou sem fala, amore mio?
A minha vontade é de responder que sim, mas não vou dar a ele esse
gostinho, de jeito nenhum.
— O que está fazendo aqui? Está interrompendo a minha noite,
então se me der licença vou dançar. — Eu me viro para sair, mas ele segura
meu braço com tanta força que chego a gemer de dor.
— Vai com calma aí, Riccardo, assim vai machucá-la. — Carlo
tenta intervir ao meu favor.
— Você fica na sua, irmãozinho, nossa conversa vai ser depois. —
Ele volta a me olhar. — Agora você vem comigo — ele fala entredente e sai
me arrastando pela boate.
Todos estão olhando a cena, afinal é o Don da Cosa Nostra
arrastando a noiva pelo braço, mas ninguém irá falar nada, lógico.
— Riccardo, está machucando o meu braço, por Dio.
— A minha vontade é de machucar outra coisa, ou outro alguém.
No mesmo instante me lembro do meu pai e de Rosa.
— Não ouse me ameaçar usando o meu pai ou a Rosa. É assim que
se diz ser um homem de honra? Machucando pessoas inocentes.
Ele aperta meu braço mais ainda, abre uma porta e me joga com
tudo em cima de um sofá. Logo levanta a mão para me bater, mas ele
desiste e apenas fica com o braço levantado, como se tivesse caído em si.
— Bate, Riccardo, me prove agora mesmo que você realmente é
tudo o que penso. Não passa de um covarde.
Ele trava o maxilar, com certeza está decidindo nesse momento o
meu destino, mas não temo por ele.
— A minha vontade é de te mandar para o inferno agora mesmo. —
Ele abaixa a mão e aponta o dedo na minha cara. — Mas seria fácil demais
para você morrer. Vou infernizar a sua vida, Lorena, vou te usar de todas as
maneiras possíveis existentes e depois que você cumprir o seu papel me
dando o herdeiro que quero, vou te descartar como se descarta um pedaço
de carne estragada.
Sinto cada palavra que ele fala cortar meu coração, mas ele não
precisa saber disso.
Pelo menos, ele deixa claro que não gosta de mim, e é mais fácil
lidar com alguém sincero do que com um falso.
Acredito que qualquer golpe que Riccardo vá me dar conseguirei
prever e poderei me preparar, ao invés disso vou fazê-lo se arrepender de
cada palavra que disse para mim.
— Está zangado assim porque estraguei a sua noite? Pode
transformar a minha vida em um inferno, Riccardo. Na verdade, você já
está fazendo isso muito bem, mas uma coisa eu te digo, enquanto
estivermos juntos, no nosso inferno, você será só meu e de mais ninguém,
não admito traições — falo encarando o Diabo.
Passo a mão pelo braço que lateja, dolorido e percebo as marcas dos
dedos dele na minha pele.
— Está mesmo falando isso para mim, Lorena? Eu sou homem, sou
a porra do seu dono e posso fazer o que quiser. Não tenho nenhum traço
misericordioso, sou mais monstro que homem. Estou banhado com o
sangue dos meus inimigos, e, ainda assim, não me arrependo de nada do
que fiz. — Um pequeno sorriso arqueia no canto da sua boca e isso é bem
preocupante.
Riccardo é perigoso quando sorri assim.
— Você está muito dona de si, mas vou tirar de você essa marra
toda, ou não me chamo Riccardo Bianchi.
— Você é um monstro.
— Eu gosto do que faço e tirar vidas é um tesão para mim. Gosto
desse poder, de saber que controlo tudo. Controlo até mesmo o momento
que a morte chega. — Ele me dá as costas e sinto um arrepio com o que ele
fala.
Presto atenção no ambiente e me dou conta de que estamos em uma
sala privada, toda de vidro que fica de frente para o palco com uma mulher
praticamente nua que se apresenta no pole dance.
Riccardo fala com um soldado que fica na porta e sinto um mau
pressentimento. Quando ele fecha a porta me levanto de uma vez, pois
preciso ir para casa, ver se o meu pai está bem.
— Onde pensa que vai? — Ele segura meu braço de novo e gemo
alto de dor, então ele me solta.
— Vou para casa ficar com o meu pai.
— Agora está preocupada com ele? Deveria ter pensado nisso antes
de ter vindo para cá com o meu irmão. Você me deixou com muita raiva,
amore mio, e preciso extravasar essa raiva em alguém.
— Vai ser assim mesmo a nossa vida, Riccardo? Vou viver sendo
ameaçada debaixo do seu teto? Isso não é vida para ninguém.
— Já disse que só vai depender de você. Já mandei para o espaço
toda a porra de paciência que tinha, Lorena, a minha vontade ao te ver aqui
era de te matar, mas...
— E, por que não me mata logo de uma vez e acaba com isso? Vai
atrás do seu paraíso, se case com ela e tenha todos os herdeiros que quiser...
Ai, Riccardo, meu braço, está doendo.
Ele volta a me soltar.
— Olha só o que você me obriga a fazer, porra. Prometi não te
machucar, Lorena, mas você não coopera, caralho. Você passa dos limites e
perco a cabeça.
“Eu não quero mais te ver na minha frente até a porra do dia do
casamento, não quero nem mesmo escutar o seu nome.
“A partir de hoje uma equipe de soldados vai acompanhar você onde
quer que vá.
“Agora some da minha frente antes que me arrependa de te deixar
sair daqui inteira, Jorge vai te levar para casa.
“Você já estragou a minha noite e olha que a porra do meu dia já
tinha sido uma merda.”
Ele se senta no sofá e fecha os olhos, então saio da sala e vejo Jorge
me esperando do lado de fora.
— Você realmente ama brincar com a sorte, Lira. Vamos, vou te
levar para casa.
CAPÍTULO 28

Momentos antes do casamento...


Em frente ao espelho, com a mão no coração, não me resta mais
nenhuma lágrima no olhar, tanto que pela segunda vez a maquiadora refaz
minha maquiagem.
Todas as demais mulheres da famiglia, que passam pelo meu quarto,
julgam que estou emocionada pelo casamento, afinal quem não queria estar
no meu lugar?
Tudo o que escuto é como sou sortuda por ter sido a escolha do Don
Riccardo e que minha vida será um sonho realizado ao seu lado.
Mas em que mundo essas mulheres vivem?
Eu não tive nem mesmo a chance de lutar pela minha liberdade que
me foi tirada da maneira mais covarde do mundo.
Já o meu noivo cumpriu o que prometeu e não me viu mais depois
do nosso “encontro” na boate. Minha sogra até tentou fazê-lo participar de
algumas decisões relacionadas ao casamento, mas ele rejeitou todas.
Ele não ia perder seu tempo precioso experimentando docinhos e
amostras de bolo de casamento.
Para que a mãe não continuasse insistindo, ele inventou uma viagem
para a Calábria.
Pelo que escutei eles estavam tendo problemas com a máfia por lá e
segundo o que me informaram, o cretino chegou agora pouco.
Ele não se deu nem mesmo ao trabalho de escolher o traje para o
casamento, até isso ficou por conta de Giulia e eu.
Agora estou aqui, em sua casa, pronta para ser entregue nas mãos do
Diabo.
Confesso que esse casamento não passa de uma palhaçada, o meu
fim total.
Acordei com ânimo zero para esse dia e tudo que todos querem é
que eu sorria feliz, mas não estou feliz.
Hoje muito provavelmente será o meu último dia na Terra.
Esse era para ser o dia mais importante e especial da vida de uma
mulher, mas esse infelizmente não é o meu caso.
A mãe de Riccardo é uma pessoa formidável, me contou várias
coisas referente a máfia e seu casamento. Ela falou muitas coisas sobre os
filhos, da infância que tiveram, adolescência e fase adulta, mas Carlo, o
idiota número dois, a mandava parar de falar constantemente, pois, segundo
ele, lembrar do passado era uma perda de tempo.
Não sei se Riccardo fez alguma coisa com ele, pois mesmo
insistindo, Carlo não falou nada, quer dizer, ele falou que tudo estava bem,
que deveria me preocupar comigo mesma.
Sinto que vou me dar muito bem com a minha sogra, afinal ela é
educada, atenciosa, sábia e muito linda para a sua idade, nem parece já ter
dois filhos adultos. Agora meu sogro é sério, mas notei que ele olha para
minha sogra com um olhar único de amor e adoração, o que chega a ser até
engraçado.
Como pode o pai do Diabo ser assim, se curvar a minha sogra dessa
maneira?
Dio mio, será que terei a chance de ver Riccardo me olhar assim
algum dia, com adoração e admiração?
“Deixa de ser besta, Lorena, e acorda, pois de você, Riccardo só
quer a boceta e filhos.”
Isso ele já deixou muito mais do que claro.
— Você é a noiva mais linda que já vi na vida — minha sogra fala
entrando no meu campo de visão, em frente ao espelho.
Ninguém além de nós duas e a maquiadora viu esse vestido, pois
não tem muito tempo que o coloquei no corpo e estava de roupão quando
recebi os cumprimentos das mulheres da famiglia.
Minha vontade é falar para ela que o certo seria usar um vestido
preto nessa ocasião, mas como não poderei usar preto agora, usarei no meu
pós-casamento, no velório do meu noivo, porque vou matá-lo de ódio, tesão
ou raiva com o vestido de noiva escolhido por mim e aprovado pela minha
sogra.
Optei por um modelo simples já que a cerimônia ocorrerá agora no
final da tarde, mas também ousado. Ele é branco com opção em tomara que
caia, ou pode ser também amarrado acima do ombro por uma fita. O corpo
do vestido é todo brilhoso, meia taça, onde ajusta bem os seios, os deixando
volumosos e sobressaltados para fora. Ao corpo do vestido, acoplado, tem
um espartilho todo trançado com fitas e amarrado atrás, evidenciando
minha silhueta. O saiote é leve e solto, em seda lisa com alguns plissados,
dando um rodado ao vestido, perfeito para mandar o Riccardo para o
inferno de tanta raiva que vai ficar ao me ver.
Mesmo sendo um pouco ousado, minha sogra me apoiou e me
achou linda em todas as provas e ajustes que fizemos. Meu coração se
sentiu quentinho por minha sogra, não sei explicar, somente sinto que
vamos nos dar bem. Fui muito bem acolhida por ela que me trata como se
fosse sua filha.
Para o penteado optei por um arranjo simples no cabelo com um
coque frouxo bem despojado, pois quero deixar os ombros, costas e bustos
bem à mostra e que Dio tenha piedade de nós.
Riccardo é o Diabo e agora eu sou a noiva e daqui alguns minutos a
mulher do Diabo.
Foda-se!
— Queria também ser a noiva mais feliz.
Ela sorri e me vira de frente para ela, então segura meu rosto e beija
a minha testa.
— Lira, querida, meu filho nem sempre foi esse monstro que todos
dizem que ele é, a minha...
— Ele é um monstro, Giulia, me desculpa estar falando isso assim
para você, mas olha o que ele está fazendo comigo? Ele está me obrigando
a uma união que não quero e mandou espancar meu pai para que eu ficasse
sob controle, sob o controle dele. Quem faz isso senão um monstro sem
coração?
Ela mareja os olhos e tudo o que menos quero é vê-la triste e
chorando, ainda mais no dia de hoje, que parece ser especial pelo menos
para ela.
— Você não foi escolhida à toa, Lorena, meu filho deve ter sentido
algo por você, disso tenho certeza. Há anos tentávamos fazer com que
Riccardo se casasse, mas a resposta sempre era a mesmo, então um belo dia
ele te viu e a tomou para si...
— Como propriedade dele, foi isso que ele fez. Riccardo não tem
mais humanidade, Giulia. Sinto muito mesmo, mas seu filho é o Diabo
encarnado que está acabando com a minha vida, com meus sonhos, com
tudo o que sempre lutei para conquistar.
Ela apenas fecha os olhos e balança a cabeça dizendo que não.
— Está enganada, Lira, meu filho tem ainda um resquício de
humanidade e é em você que deposito toda a minha fé...
— Não jogue essa responsabilidade em cima de mim, Giulia.
Riccardo já deixou bem claro que irá apenas me usar como bem quiser para
o seu prazer e que depois de dar a ele o filho que tanto deseja, vai me
descartar, isso se ele não me matar antes — falo sabendo que hoje à noite
estará nas mãos do Don o meu destino. — Ele já amou alguém e amou
demais. O paraíso dele em meio ao inferno que vivia, esse era o resquício
de humanidade que ele tinha, Giulia, e que ele abriu mão. Para mim, só
sobrou a parte ruim. — Levanto a cabeça olhando para o forro amadeirado,
impedindo mais uma vez que as lágrimas escorram por minha face.
— O tempo mostrará a você que está enganada, Lorena, já estive no
seu lugar um dia, assim como vai chegar o dia em que você estará no meu.
Então, lembrará das minhas palavras.
“Pedi a Dio para que colocasse uma boa pessoa na vida do meu
menino e então você chegou.
“Riccardo apenas provou o que era o amor e aquele paraíso não era
para ele, mas você é e vou garantir isso.
“Hoje não está ganhando só uma sogra, criança, está ganhando
também uma mãe.
“Lute pelo meu filho que lutarei por você.
“Será muito maior do que fui, Lorena, me vejo em seus olhos,
querida. O seu espírito, eu já tive um dia, só nunca permita que Riccardo te
faça baixar a cabeça.
“Agora vamos viver o seu grande dia.”
Ela me dá um sorriso gentil e decido retribuir.
Giulia tem uma fé inabalável no filho e não vai ser eu a fazê-la
mudar de ideia em relação a isso.
Quando saímos do quarto meu pai já me espera do lado de fora com
um sorriso grande nos lábios, posso até dizer que ele está feliz.
Pelo menos alguém está já que não compartilho disso.
— Está perfeita, minha filha, e posso dizer com propriedade que
você... — Ele se aproxima e sussurra: — Vai matar o Don Riccardo do
coração, quem sabe ele não infarta no altar. — Meu pai pisca um olho para
mim, me fazendo rir. — Isso, meu amor, me dê seus sorrisos de volta. Sinto
tanto não ter conseguido te proteger disso, minha filha, eu ainda tentei,
mas...
— Não se preocupe com isso, papai, sei que tentou, nós dois
sabemos disso. Agora onde está a Rosa?
— Já está no jardim, na verdade, todos estão ansiosos para ver a
noiva. — Quem responde é a minha sogra que sorri logo em seguida para o
meu pai.
— Então vamos entregar a noiva ao seu futuro marido — meu pai
fala e em menos de cinco minutos desço a escada.
Então é isso, finalmente chegou o grande dia, o dia do nosso fim,
porque se vou sofrer nesse casamento, Riccardo também sofrerá e isso vou
garantir.
CAPÍTULO 29

Casamento...
Tentei escolher os detalhes da cerimônia o mais básico possível,
mas, segundo a minha sogra, não podemos ter dó de gastar o dinheiro do
marido. Ainda segundo ela, vou ser a rainha da máfia, a rainha do Riccardo
e dinheiro não é problema.
Gaste e mande a conta, esse é o lema dela.
Nunca serei rainha, não como gostaria, mas ela insiste, dizendo que
hoje é por obrigação esse matrimônio, mas chegará um dia em que veremos
que foi por amor, mesmo batendo um de frente ao outro.
Que num futuro próximo será lembrado com perfeição, então ela
caprichou em exatamente tudo.
Ela fez a minha vontade e meu casamento será ao ar livre em um
fim de tarde no jardim da mansão da máfia.
Se fosse uma jovem apaixonada estaria contente, mas tudo o que
mais desejo é sair correndo feito uma louca.
Só que não posso.
Apesar da minha tristeza, ficou tudo muito lindo, elegante, um luxo
aos olhos da corja mafiosa.
Um portal todo decorado foi montado no jardim da casa com
delicadas flores, que segundo minha sogra se chama mosquitinhos, além de
uma passarela espelhada com as laterais enfeitadas. As cadeiras dos
convidados optei pelas de cristais transparentes com almofada branca. Há
também o pergolado montado com várias flores, voal, luzes e cascatas de
cristais e um pequeno altar com apoios almofadados para se ajoelhar e
quatro poltronas ao fundo para nossos pais se sentarem.
Claro que o lugar da minha mãe estará vazio, mesmo assim estará
lá.
Tudo está perfeito e digno de uma rainha.
A recepção será aqui também, no salão de festas anexo à mansão.
Tudo nesse lugar é enorme e mal conheço tudo, na verdade, as vezes
em que estive aqui durante os preparativos não me dei ao trabalho de
explorar os ambientes, mas creio que tem de tudo nessa casa.
Enfim, depois descubro.
Optamos por uma decoração clássica e romântica, sinal de
esperança de mudança de Giulia Bianchi, não minha.
Mas fui no embalo dela e gastei sem dó nem piedade, afinal não era
isso que ela queria?
Pois, foi isso que ela teve.
Para a recepção escolhi mesas de vidro e cadeiras de cristal,
transparente e, além da mesa dos noivos, pais e padrinhos, tudo com
arranjos de flores delicadas, como rosas, mosquitinhos, lírios e folhagens
verdes. Mesa de doces, bolo e iluminação.
Tudo estará perfeito no enorme salão.
O nome de cada convidado da famiglia, está devidamente
personalizado e colocada em cada mesa indicando o lugar de se sentar.
Tudo de boa qualidade, afinal com dinheiro se compra tudo e o
evento sairá perfeitamente conforme planejado.
Desde o dia da noiva até a cor do guardanapo de mesa, tudo em
perfeita sintonia, exceto eu.
Como disse o dinheiro compra tudo, ou quase tudo e eu, por
exemplo, continuo insatisfeita.
Mesmo a cerimônia não sendo em uma igreja, será realizada por um
padre do Vaticano como manda a tradição, disso Riccardo não abriu mão.
— Lira, querida, chegou o momento, seja a menina forte que sei que
você é — meu pai fala assim que entramos no campo de visão de todos e
meu coração se aperta.
— Pai, não sei se consigo fazer isso. — Minha voz sai embargada.
— Consegue sim, seja sempre firme, forte e corajosa. Ele não
escolheu você? Mostre ao Don da Cosa Nostra quem é Lorena Bernardi.
Agora vamos, pois, vou me deliciar em ver a cara do Don te vendo vestida
de noiva, a noiva mais linda que esse mundo de merda já viu, a minha
menina. — Meu pai passa a mão pelo meu rosto e segura meu queixo me
fazendo encará-lo. — Não se preocupe comigo, vou ficar bem e você,
minha filha, sempre vai ser o meu orgulho. Don Riccardo não vai nem saber
o que o atingiu, afinal ele mesmo procurou por isso.
As palavras do meu pai me dão força para continuar.
Uma das damas de honra me entrega o buquê e Rosa aparece do
nada, preocupada.
— Riccardo está quase vindo aqui buscar você, está uma hora
atrasada, Lira.
Ao ver Rosa na minha frente algo me vem à cabeça, afinal essa
mulher me criou como se fosse filha dela.
Antes de tomar qualquer decisão, busco com os olhos pela minha
sogra, que parece ler meus pensamentos e sorri para mim, como se dissesse
que a decisão é minha.
— Rosa, entre comigo e o papai, preciso de mais alguém me
arrastando até o altar.
Ela arregala os olhos como se estivesse acabado de falar uma
blasfêmia.
— Mas, não estaríamos quebrando as tradições?
— Que se fodam as tradições! Elas foram feitas para serem
quebradas. Agora entrem e mostre para o meu filho quem é que manda na
porra toda agora, Lorena.
Minha sogra não cansa de me surpreender.
Como queria ter essa autoestima em relação ao meu casamento.
Todos olham em minha direção quando entro com meu pai e Rosa.
Uns tem um olhar divertido, outros de reprovação, alguns aplaudem e
muitos ainda cochicham, dizendo que quebrei a tradição.
Caminhamos devagar, pois não tenho a menor pressa de chegar no
altar.
Sinto que minhas pernas podem quebrar a qualquer momento por
conta do meu nervosismo.
— Tenha cuidado com aquela mulher, ela é uma cobra venenosa e se
acha, só porque o marido dela é um capo agora. — Rosa mostra com a
cabeça uma senhora elegante que me olha com a cara feia.
— Por que ela me olha assim?
Rosa sorri.
— A filha dela era uma das pretendentes do Don.
Fala sério, se ela soubesse que cederia o meu lugar para a filha sem
pensar duas vezes não me olharia assim, como se quisesse me matar.
Olho para frente e Riccardo me espera no altar com uma expressão
sem qualquer demonstração do que está sentindo.
Confesso que é ruim não saber o que ele está imaginando, pois,
poderia me preparar se ele me mostrasse alguma emoção.
Paramos em frente ao altar e meu noivo se aproxima para segurar a
minha mão no momento em que meu pai a solta.
Isso significa que agora serei dele para sempre.
Todos aplaudem quando ele segura minha mão e me olha com um
sorriso.
O Diabo sorri e até mesmo parece ser sincero, mas não me engano
com essa sua máscara, afinal ele tem que mostrar o mínimo de satisfação
em seu casamento.
O padre dá início à cerimônia assim que Rosa pega meu buquê. Ele
celebra a união em latim e às vezes fala algo em italiano, sempre exaltando
o poder do amor e o que é necessário para cultivá-lo, como se Riccardo
fosse se importar com esse papo de amor.
Será que as pessoas são tão doentes ao ponto de achar isso tudo
normal?
Todos nessa cerimônia sabem que estou me casando obrigada, mas
ninguém fala nada e parecem estar felizes pelo meu triste destino.
— Riccardo Bianchi, aceita Lorena Bernardi como sua legítima
esposa, prometendo amá-la e respeitá-la na saúde e na doença, na riqueza e
na pobreza, por todos os dias da sua vida até que a morte os separe?
Riccardo olha para mim e diz num tom alto e claro para que todos
ouçam:
— Sim.
— Faça os seus votos — pede o sacerdote.
— Eu, Riccardo Bianchi, prometo estar contigo, Lorena, na alegria e
na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, amando-te,
respeitando-te e sendo-te fiel em todos os dias de minha vida, até que a
morte nos separe — fala segurando em minhas mãos, olhando em meus
olhos.
Por um instante, o vendo falar assim, quero acreditar e imaginar que
podemos ser felizes.
Mas o olhar que ele lança a uma das convidadas, bem na minha
frente, no altar, me faz esquecer tudo o que disse.
Quem será essa mulher?
Não tenho muito tempo de pensar já que a pergunta que foi feita a
ele agora é dirigida a mim.
— Lorena Bernardi, aceita Riccardo Bianchi como seu legítimo
esposo, prometendo amá-lo e respeitá-lo na saúde e na doença, na riqueza e
na pobreza, todos os dias de sua vida, até que a morte os separe? — Olho
para trás, vejo todos os convidados e constato que não tem como fugir
daqui, muito menos do meu destino.
— Sim — falo com uma dor no coração.
— Faça seus votos.
— Eu, Lorena, prometo estar contigo, Riccardo, na alegria e na
tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, amando-te,
respeitando-te e sendo-te fiel em todos os dias de minha vida, até que a
morte nos separe — falo cada palavra com lágrimas nos meus olhos e a voz
embargada.
A minha vontade é de gritar socorro na frente de todos, mas seria
em vão e ninguém iria me socorrer.
— Se alguém aqui presente tiver algo contra esse casamento que
fale agora ou cale-se para sempre.
Percebo que meu pai irá se levantar, mas o acalmo com o olhar,
afinal Riccardo o mataria se ele interrompesse a cerimônia.
— Eu vos declaro marido e mulher. O que Deus uniu, o homem
jamais conseguirá separar — o padre fala dando a benção final em latim e
em meu peito arde a dor da decepção que a minha vida está se
transformando.
— Agora pode beijar a noiva.
Todos estão numa expectativa enorme para o beijo, mas não quero e
até seria capaz de empurrá-lo, só que não posso. As lágrimas escorrem por
meu rosto e o vejo levantar meu queixo para me beijar. Riccardo me dá um
beijo calmo e respeitoso na minha testa, outro na minha bochecha e um
selinho quase que de surpresa, em seguida, suas mãos tocam meu rosto com
autoridade, onde diz que pertenço a ele agora.
Sim, eu pertenço.
Agora é tarde, pertenço a ele!
— Finalmente minha e isso ninguém poderá mudar mais. E não se
preocupe, querida esposa, irá me pagar pela afronta que me fez passar hoje.
— Ele passa a ponta dos dedos pelo meu braço e entendo muito bem o
recado dado. — Agora só nos resta a festa, e depois disso, nada mais me
impedirá de tornar você a minha mulher.
É nessa hora que meu pobre coração se acelera e bate forte no peito.
Certamente, devo ter mudado de cor porque Riccardo analisa cada
uma das minhas feições.
Vou estar perdida se ele não me aceitar depois dessa noite, pois meu
destino agora está nas mãos do pior Don que a Cosa Nostra já teve,
Riccardo Bianchi.
CAPÍTULO 30

Passei os dias que antecederam o casamento na Calabria, pois


temos uma boa união com a máfia da Ndrangheta, já que minha mãe é um
deles.
Meu tio, irmão da minha mãe, assumiu o lugar do meu avô quando
ele morreu e a paz entre essas duas máfias se deve graças ao matrimônio
dos meus pais.
Não costumamos ter problemas com os russos, mas esses filhos da
puta estão muito perto de me fazer explodir e isso não vai ser bom para
ninguém.
Desde o dia em que Antônio confirmou o compromisso do meu
irmão com a herdeira nova-iorquina que eles vêm tentando entrar no nosso
território e confesso que já atrapalharam mais do que deveriam os meus
negócios e os do meu tio.
Os desgraçados querem a preferência pela nova droga em
desenvolvimento e com o casamento de Carlo isso será impossível para
eles, mas os infelizes não desistem e agora acharam uma boa ideia me
irritar, logo eu. Eles sabem que com o casamento do meu irmão apenas nós
decidiremos quem vai ter o controle dessa droga, inclusive, eu e meu tio já
temos grandes planos para o futuro e esses planos não envolvem a máfia
Russa.
Hoje as nossas operações abrangem todos os continentes do mundo
e faturamos cerca de US$ 60 bilhões por ano com base em uma das regiões
mais pobres da Itália. Nossa “moeda" é a cocaína, nosso grupo é dominante
no mercado mundial e controlamos cerca de até 80% do tráfico da droga na
Europa, então, o nosso mercado com a nova droga é garantido.
Mas eles vão continuar insistindo.
Espero que os infelizes não cruzem a linha, pois se isso acontecer
será o fim para eles.
Deixando os problemas de lado, tive que voltar para a Sicília, já que
não teria um casamento sem o noivo. As notícias que tive enquanto estava
fora era de que mamma estava literalmente fazendo a festa.
Vamos dizer que ela gosta de gastar, mas isso nunca foi um
problema e nem será.
Confesso que o que me surpreendeu foi saber que Lorena participou
de todas as etapas e decisões junto com ela, já que minha querida noiva é
totalmente avessa a esse enlace.
Talvez, ela tenha entendido que lutar contra minha vontade era uma
perda de tempo.
Mas como minha noiva não cansa de me surpreender, quase infartei
quando a vi caminhando de braços dados com o pai e sua babá usando
aquele vestido chamativo.
A minha vontade era de pegar a minha mãe e perguntar que merda
ela tinha na cabeça para permitir uma porra dessa, porque agora não tem um
só filho da puta que não está olhando para a minha mulher.
— Quer um lenço para limpar a baba? Está escorrendo aí do
ladinho.
Como sempre Carlo fazendo piadinhas indevidas, acho que o
castigo que eu dei nele por ter levado Lorena para aquela boate foi pouco.
O pior que foi mesmo, afinal só o deixei trancado em uma masmorra
na Calábria, sem água e comida, por quatro dias e quando o tirei de lá a
surra que levou foi memorável. Só evitei bater nas partes expostas, pois não
queria o meu irmão todo quebrado no meu casamento.
Como ele estava fraco demais não teve como revidar ou se defender.
— Não sei se ele está babando mais na noiva ou na Antonella, devo
dizer que estou surpreso com a presença dela aqui — Antônio fala me
encarando, mas não me dou nem mesmo o trabalho de olhar para ele,
porque a minha atenção está em Lorena tirando fotos com os meus pais.
— Eu a convidei para o casamento, algum problema?
— É claro que tem problema, Riccardo, você não se controla perto
dela. Se você enche a cara só por receber cartinhas de amor, o que será
capaz de fazer quando...
— É melhor calar a boca, Carlo, ou te faço engolir seus dentes. —
Olho para o meu irmão e nos encaramos, então ele vira a taça de
champanhe de uma vez.
— Lorena merecia muito mais do que isso. Não seja um cretino de
merda com ela. — Carlo entrega a taça a um garçom e vai até a minha
noiva atrapalhando a sessão de fotos.
Observo que ele a abraça, a tirando do chão e ela sorri como se
gostasse da companhia do meu irmão, o que de alguma forma me irrita.
— Tenho que admitir que sua esposa é corajosa e uma das noivas
mais lindas que já vi.
Olho para Antônio que tem seus olhos cravados na minha mulher.
— Acho que não será nada fácil para você quando chegar a sua vez
de se casar. — Agora chamo sua atenção.
— Por que não?
— Porque vai ser meio difícil escolher uma mulher sem os seus
olhos, pois ou arrancá-los se continuar olhando para a minha esposa assim,
seu porra.
Ele sorri.
— Então é bom começar a arrancar os olhos de todos os homens
presentes aqui, porque todos estão babando em cima da nova rainha da
máfia. — Ele aponta para todo o salão.
Só então percebo que ele tem razão, pois não tem um só homem que
não esteja olhando para a noiva.
Lorena vai me pagar por essa afronta.
— Acho bom você ir lá ficar ao lado dela. Tem que tirar fotos de
casamento com a sua mulher, ou só terá a lembrança do seu irmão com ela
nos álbuns de família.
— Vou acabar com essa palhaçada agora mesmo. E você fica de
olho na Antonella, não permita que ninguém chegue perto dela.
— Se preocupe com a sua esposa, Riccardo, é com...
— Vá se foder, Antônio! — Saio e o deixo para trás, reclamando
sozinho.
Vou andando até chegar onde a sessão de fotos está acontecendo e
várias pessoas esperam para tirar fotos com a noiva.
— Meu filho, que bom que se juntou a nós. Venha, fique ao lado da
sua esposa e tire fotos com ela — minha mãe fala toda animada.
Meu pai sorri de lado, me observando, enquanto tudo o que Lorena
faz é ficar séria, como seus sorrisos pertencessem a qualquer pessoa que
não seja eu.
— Meu filho, já participei de vários casamentos em toda a minha
vida, mas nunca tinha visto uma noiva tão linda quanto a sua. É
impressionante como ela conseguiu se destacar e ficar mais bonita do que já
é. Uma verdadeira rainha. Você deve estar orgulhoso da sua mulher.
Lorena dá um sorrisinho de lado e olha para o meu pai, afinal ela
entendeu que esse elogio não passa da porra de uma provocação.
— Muito obrigada, meu sogro, a intenção era justamente essa.
— Disso não tenho dúvidas, minha querida. — Ele a beija na
bochecha e minha mãe sorri satisfeita.
Vou acabar com essa alegria agora.
— Por algum acaso a senhora não teve acesso a esse vestido antes
do casamento, mamma? Eu gastei uma fortuna...
— Fiz questão de pagar pelo meu vestido, Riccardo, e sim, ele me
custou uma pequena fortuna, mas sou uma mulher independente e tenho as
minhas economias. Agora, todo o restante da festa foi arcado com o seu
dinheiro, sinta-se orgulhoso disso, amore mio — Lorena fala e chego a
respirar fundo.
Nos encaramos como se quiséssemos nos matar.
— Acho que está na hora da dança dos noivos, depois do jantar
tiramos as fotos que ficarem faltando — mamma fala, ao perceber o clima
tenso entre nós.
— Também acho uma excelente ideia, pois meu irmão deve estar
ansioso para o que vai acontecer depois da festa.
É claro que Carlo não iria perder a oportunidade.
— Vamos à valsa dos noivos então!
Mamma nos leva para o meio do salão onde se encontra uma
pequena pista de dança e assim que chegamos seguro Lorena pela cintura
com uma mão enquanto seguro sua mão com a outra, então a música
começa a tocar.
— Mal nos casamos e eu já quero te matar. — Escuto sua risadinha.
— Engraçado, quero te matar há muito mais tempo do que isso e
olha nós dois aqui. — Ela levanta o rosto e me encara.
Pela primeira vez, presto a atenção devida em seus olhos dela que
são verdes, brilhantes, lindos, assim como todo o contorno do seu delicado
rosto e uma boca gostosa. Minha imaginação vai a mil e minha cabeça de
baixo parece ter vida própria, então, volto a me concentrar na minha raiva
para não ostentar uma ereção aqui nesse salão.

— Um dia ainda vou arrancar essa sua língua. As coisas agora vão
ser diferentes, Lorena, você é minha, e viverá sob as minhas regras, as
regras da máfia. Será a esposa obediente e submissa que tem que ser,
enquanto eu...
— Não sonhe com isso.
Aperto sua cintura com força e colo seu corpo mais ao meu.
— Tem certeza que quer discutir isso aqui, amore mio, na nossa
festa de casamento?
Ela travar o maxilar e respira fundo.
— Eu odeio você e, por mim, pode voltar hoje mesmo para a
Calábria. Vá comemorar a sua noite de núpcias com a vagabunda para
quem estava olhando enquanto fazia os nossos votos de casamento.
Sei que ela está falando de Antonella.
— Ciúmes, esposa? Garanto que de vagabunda ela não tem nada,
muito pelo contrário.
Lorena fica vermelha de raiva e tenta me empurrar, mas a seguro
com força e percebo que algumas pessoas cochicham pelo que veem, já que
todos estão de olho em nós.
— Me solta agora mesmo, ou...
— Ou o quê? Vai fazer uma cena aqui, bem no meio da recepção do
nosso casamento?
“Vai ficar quietinha e já vou logo avisando que o seu pai terá uma
proteção especial a partir de hoje, afinal ele é da família agora.
“Ah, e não poderia me esquecer da Rosa, afinal ela te levou até o
altar junto com o seu pai, então é da família também.
“Sou o homem que protege a família, então é bom que se comporte
muito bem. — Sinto seu corpo estremecer em meus braços.
— Não pode me ameaçar para sempre com isso.
— E quem disse que estou te ameaçando, amore mio, só estou
informando que vou cuidar da sua família de uma maneira especial, tenho
muitos inimigos.
Ela respira fundo.
— Você é um monstro.
— Nunca disse o contrário, piccolla.
A valsa acaba e quando a solto, ela corre para os braços do pai sem
nem mesmo me olhar, então, minha mãe se aproxima e começamos a
dançar.
— O que falou para ela?
Olhamos para minha esposa dançando com meu sogro e percebemos
que ele tenta consolá-la com alguma coisa que ela fala.
— Nada de mais, só estava explicando a ela que cuido muito bem da
nossa família. — Meu olhar rapidamente se cruza com o de minha esposa,
mas ela logo desvia o olhar.
— Riccardo, não vou permitir que você machuque essa menina.
Agora olho para a minha mãe.
— A senhora não pode fazer nada, mamma. Como teve coragem de
permitir que ela usasse aquele vestido?
Ela apenas sorri.
— Admita, Riccardo, sua esposa é a noiva mais linda que você já
viu nessa vida e ela é toda sua. Cuide dela com o devido respeito, lembre-se
dos votos que fez a ela perante Deus. Agora me diga, o que Antonella está
fazendo aqui?
Minha mãe tem razão, a Diaba está linda e meu pau lateja só de
olhar para ela. Vou acabar com essa porra de festa mais cedo do que
deveria, afinal já esperei demais para tê-la em minha cama.
— O que Antonella faz aqui também não é da sua conta, mamma.
— Riccardo, nem pense em trair sua esposa, isso é inadmissível e
vai contra as malditas tradições que tanto prezam.
— Ah, então quer dizer para isso as tradições valem, agora para a
minha noiva quebrá-las no dia do casamento, tudo bem.
— Não seja ridículo, Riccardo, são coisas totalmente diferentes.
— Não, mamma, as tradições foram criadas para manterem as coisas
em ordem, então...
— Então, nada. Vou ficar com meus dois olhos bem abertos em
cima de você, Riccardo, e nem pense em levar a sua mulher para aquela
maldita cobertura. Ela vai ficar aqui e você também, onde posso vigiar os
dois. Não vou permitir que essa menina passe pelo que passei.
Eu não tenho nem mesmo a chance de falar nada porque a música
acaba e então vejo Lorena começando a dançar com o meu irmão, mas, para
mim, já chega.
Saio da pista de dança e vejo Antonella se despedindo de Antônio,
então resolvo ir até eles, pois preciso falar com ela, saber se está bem.
— A festa mal começou e pelo que estou vendo já está de saída.
Antonella fecha os olhos por breves segundos quando escuta a
minha voz.
— Ric. — Ela se vira na minha direção e me dá o mais belo e puro
sorriso.
— Meu namorado me espera no hotel, amanhã partimos daqui para
a Grécia.
Travo o maxilar só de escutar isso.
— Onde conheceu esse homem?
— Isso não é da sua conta, Riccardo — Antônio chama a minha
atenção.
Para não ser mais interrompido por ele, seguro no braço de
Antonella, a tiro do meio da festa e a levo até um local mais afastado, perto
da piscina.
— Riccardo, isso não é certo, me solta, a sua esposa viu você me
arrastando até aqui.
— Eu não me importo, só quero saber se está segura ao lado desse
homem.
Ela olha de um lado para o outro, preocupada.
— Antonella.
— Ele me ama e não abriu e nem vai abrir mão de mim.
O que ela fala é um tapa na minha cara.
— Eu não queria essa vida para você. Será que não entende como
ser minha é perigoso? Eu tenho inimigos e eles...
— E para ela, não é? Para a sua esposa não é perigoso, Riccardo?
— Ela nasceu nesse mundo da máfia, você não.
— Isso é ridículo! Ela é uma mulher, assim como eu, e que também
merece a sua proteção e amor. Se você a escolheu em vez de mim, é porque
sente alguma coisa.
Eu a seguro pelos braços e a faço me encarar.
— Eu a escolhi apenas por obrigação, porque precisava gerar um
herdeiro e nunca vai passar disso, eu juro.
Ela faz que não com a cabeça.
— Não diga bobagens, vi como você olha para ela. Eu vi como...
— Desejo, Antonella, tesão, só isso. Sabe muito bem como sou,
nunca escondi nada de você.
— Chega dessa conversa, Riccardo! Nem mesmo deveria ter vindo
aqui, mas queria ver você se casando para colocar de vez um ponto final na
nossa história. Amanhã, vou para a Grécia e vamos marcar o nosso noivado.
Não se preocupe que vou ter com você a mesma cortesia que teve comigo,
mandarei o convite. — Ela se solta das minhas mãos e quando nos viramos
damos de cara com Lorena pálida, como se estivesse perdido o sangue do
corpo.
— Sua mãe está procurando por você, vão servir o jantar e logo em
seguida vamos cortar o bolo...
— Eu quero que você mande para o inferno a porra desse bolo. O
que está fazendo aqui? Está...
— Riccardo! É assim que fala com a sua esposa? Não...
— Calada você também, Antonella.
Antonella me olha de um jeito que não gosto e dá mais um passo se
afastando.
— Eu ia desejar felicidades a você, mas acho que tenho que desejar
é boa sorte — ela fala para Lorena e depois me olha por uma última vez
antes de se afastar, com um olhar de decepção.
— Antonella!
Ela nem mesmo olha para trás e some das minhas vistas.
— Então é ela, o seu paraíso.
— Eu não estou com paciência para essa porra agora, Lorena. Então
vamos. — Pego sua mão e juntos voltamos para a festa.
Só vou partir a porra desse bolo e acabar de uma vez com o meu
tormento. Para mim, essa festa já deu o que tinha que dar, afinal tudo o que
mais queria era me casar e isso já consegui.
CAPÍTULO 31

Odeio o Riccardo, mas vê-lo jurando para outra mulher que não
passo de uma obrigação para ele e que esse casamento tem apenas o
propósito de gerar um herdeiro, me fez sentir algo estranho no peito. Ouvir
que tudo não passava de desejo e tesão pelo meu corpo foi como se sentisse

o coração sendo esmagado ao ponto de quase parar de bater.


Mas, agora, tenho preocupações maiores, como permanecer viva
depois da minha primeira noite com o Don.
Tentei ganhar o máximo de tempo possível na festa, com os
convidados, inclusive, nunca na minha vida tinha tirado tantas fotos, mas
Riccardo já estava impaciente e não podia forçá-lo demais.
Como Rosa mesmo falou, não terei como fugir da noite de hoje e
tentarei fazer de tudo, até mesmo me humilhar, caso seja preciso, só não
permitirei que meu pai pague por um erro que foi só meu. Essa está sendo a
consequência das minhas escolhas e decisões, e a única culpada sou eu
mesma.
Riccardo está com tanta pressa de ir embora da festa que mal
deixou me despedir do meu pai e da Rosa.
— Suas coisas estão no meu quarto, organizaram no meu closet
durante a festa, já está tudo pronto.
Engulo em seco, sentindo o aperto firme dos seus dedos no meu
braço enquanto subimos a escada e meus sogros se despedem dos
convidados.
Fecho os olhos tentando não chorar porque o desespero já começa
a querer invadir a minha alma, afinal esse é o Don da Cosa Nostra.
Percorremos o restante do caminho até o quarto no mais puro
silêncio e meu corpo chega a tremer de medo.
“Vamos, Lorena, onde está toda a sua coragem?”
Quando Riccardo abre a porta do quarto e acende as luzes, fico
ainda mais deslumbrada do já estava com a casa. No quarto dele, nunca
tinha entrado, pois, me arrumei em um dos quartos de hóspede.
O lugar é lindo e, ao mesmo tempo, sombrio. A decoração é
elegante e discreta.
Sinto as mãos firmes de Riccardo agarrando minha cintura com
posse e sua respiração morna batendo no meu pescoço. Minha respiração se
acelera quando seus dedos começam a abrir os botões do vestido.
— Não sabe como tive que me controlar para não quebrar seu
pescoço quando te vi com esse vestido vindo em minha direção. Tem
muitos filhos da puta na minha lista para morrer agora, pois deixei gravado
na minha memória o nome de cada um que te olhou com desejo.
Sinto um arrepio percorrer meu corpo com suas palavras.
Ele não teria coragem de fazer isso, ou teria?
— Riccardo...
— Shiiiiii, amore mio, não fale nada ou vai ser pior.
Dio mio, ele tem mesmo coragem.
Não consigo mais pensar em nada, porque ele tira meu vestido e
começa a dar chupões no meu pescoço enquanto aperta meus seios e bunda,
sem gentileza alguma.
— Riccardo, por favor — peço num fio de voz para que ele vá com
calma.
O dia não foi nada fácil para mim e não sei se conseguirei transar
com ele, não nessas condições.
— Por que diabos está me parando, Lorena? Você é minha. — Ele
leva o dedo contornando minha boca, desce em meu queixo e o aperta com
força.
— Eu só quero pedir para que vá com calma...
— Eu não me importo com nada, Lorena, com nada que esteja
sentindo. Como você mesma escutou, o que sinto por você não passa de
nada além de tesão, tenha isso em mente.
Quando penso em dizer algo, ele coloca o dedo sobre meus lábios,
me calando subitamente.
— Você fala demais e isso me irrita. Mas vou deixá-la tomar banho
primeiro. Recomponha-se e volte para mim. Não demore, ou irei buscá-la
do meu jeito. Estou sendo paciente com você, coisa que não costumo ser.
Riccardo está claramente me subjugando e estou deixando isso
acontecer, porque, nesse momento, a vida do meu pai está em jogo.
Pelo menos hoje, terei que ser a mulher submissa que ele deseja.
Riccardo se afasta, caminha até um bar que há no quarto e despeja
uma quantidade generosa de bebida no copo, depois caminha até o sofá e se
senta, o que me faz sentir uma coisa estranha.
Acabei de me casar com o Diabo, o que mais esperava?
Uma declaração de amor?
Claro que não.
— O que está esperando, Lorena, que a leve ao banheiro?
Olho para Riccardo que me olha de volta com a testa levemente
franzida e me dou conta de que ainda permaneço no quarto, parada
observando o nada.
Eu serei dele, de um jeito ou de outro.
Sigo para o banheiro somente de calcinha e tomo um banho
demorado, na verdade, estou com medo de sair do banheiro para enfrentar o
homem, cuja presença é intimidadora.
Riccardo é experiente, isso não dá para negar e o fato de ser bonito
e charmoso aumenta seu poder de atração sexual, que já experimentei.
Não será nenhum sacrifício em entregar para o meu marido, o
problema vai ser o que ele vai fazer depois do ato, depois de confirmar que
não sou mais virgem e isso é o que me aflige.
Finalmente, tomo coragem e decido enfrentar meu destino,
enfrentar minha primeira noite de sexo com meu marido, um homem muito
mais experiente do que eu, com toda certeza, o chefe da Cosa Nostra.
Através dele irei conhecer os diversos prazeres carnais e isso me deixa
nervosa, pois com certeza não será o sexo mamão com açúcar que eu fazia.
Tomo uma lufada de ar e giro a maçaneta do banheiro. Em passos
vacilantes, caminho de cabeça baixa e paro no centro do quarto, abraçando
meu corpo.
Jesus Cristo, sou mesmo uma piada!
Onde parou toda a minha coragem?
Logo posso ouvir passos pesados e um cheiro gostoso de sabonete
tomando conta do ambiente.
Fecho os olhos quando sinto o contato da sua mão fria segurar meu
queixo e o levantar.
Esse pequeno contato faz meu corpo incendiar.
— Olhe para mim, piccolla.
Abro os olhos e o fito.
Riccardo também está com o cabelo molhado e usa apenas a calça
social do terno.
Dio mio, como cabe tanta beleza e masculinidade em um homem
só?
Vacilo quando seus lábios tocam os meus e com urgência sua
língua serpenteia minha boca, me lambendo e me levando à irracionalidade.
Isso sempre acontece quando ele me beija.
Tento acompanhar o ritmo da sua língua, o beijando com a mesma
avidez e volúpia, completamente entregue à sua teia de sedução.
Não há como fugir disso, não mais, afinal sou a mulher dele agora.
Arfando entre os beijos e já completamente louca de desejo, me
agarro em Riccardo, percorrendo meus dedos por seus músculos rígidos. Eu
já estou mais do que curiosa para sentir seu membro entrar em mim, senti-
lo me fazer ser sua por completo.
O pior que ele não precisa se esforçar muito, bastam seus dedos
percorrerem minha pele para minha intimidade umedecer e sei o motivo
disso acontecer, afinal já passei pela experiência.
Riccardo me puxa de encontro ao seu corpo e posso sentir seu
membro latejar contra minha barriga. Ele espalha beijos por meu pescoço
enquanto desfaz o nó do meu roupão. A peça felpuda desliza pelos meus
ombros e cai aos meus pés, enquanto os bicos dos meus seios ficam rígidos
e os pelos do meu corpo se arrepiam por estar completamente nua, sob o
olhar intenso de um homem.
Ele vai andando aos beijos comigo até a cama e me empurra.
— Abra as pernas para mim, amore mio — ordena com seus olhos
curiosos queimando minha pele exposta.
Sem pensar duas vezes, abro as pernas, sem vergonha nenhuma,
afinal ele é meu marido e se não as abrisse para ele por bem, ele as abriria
por mal.
Por que irei complicar a minha vida mais ainda?
Ela já está complicada demais.
Olho para Riccardo e ele contempla meus seios, abrindo minhas
pernas mais ainda até que fita a minha intimidade, provavelmente querendo
me testar.
Que idiota, se ele esperava por uma mulher tímida e envergonhada
se deu muito mal.
Fico ali, exposta sob seus olhos de águia.
— Boceta linda... Lisinha, do jeitinho que gosto. — Passa os dedos
entre meus lábios vaginais e massageia delicadamente meu clitóris.
Respiro fundo para não gemer sob seu primeiro toque.
— Não se segure, piccolla, me dê todos os seus gemidos.
Riccardo me masturba, sem tirar os olhos de mim e isso está
acabando com minha sanidade. Solto um gemido, não conseguindo me
segurar. Ele tira o dedo e leva à boca, chupando.
— Deliciosa, como imaginei. Mal posso esperar para enfiar meu
pau em você e romper sua barreira.
Me ajude, Dio mio, pois Riccardo espera uma esposa virgem, o que
estou longe de ser.
Olho para o volume em sua calça social e engulo em seco, sabendo
que ele irá acabar comigo quando cumprir sua promessa de me foder.
CAPÍTULO 32

Estou nervosa diante do olhar do Diabo, mas quando ele se


ajoelha e passa a língua no meu clitóris esqueço quem somos.
Nesse momento, só existe o casal de noivos, marido e mulher, e
espero muito que isso conte quando a verdade for exposta.
Não dá para fugir do que está prestes a acontecer. Na verdade, fugir
nunca foi uma opção, pois jamais conseguiria me esconder de Riccardo
Bianchi.
Meu marido lambe, suga, chupa meu nervo inchado, me fazendo
perder a razão e começar a gemer baixinho, me entregando a nova sensação
que meu corpo está ganhando, agarrando com força o lençol.
Ele segura meus seios, enchendo as mãos, me apertando enquanto
sua língua me lambe em movimento circulares, tocando todos os pontos
sensíveis do meu sexo.
Parece que quanto mais solto gemidos, mais ele chupa e suga.
Certamente, o desgraçado é mestre nisso e sabe muito bem tocar os
pontos certos para levar uma mulher à beira da loucura apenas usando a
língua.
Meu corpo treme e eu não consigo mais conter os gritos.
Confesso que já experimentei o ato sexual, mas nem de perto se
compara ao que esse homem está fazendo.
Se há mais alguém na casa na ala dos quartos, certamente irá ouvir
meu escândalo, mesmo com o isolamento acústico que possui nos quartos,
já fui informada disso.
— Riccardo... Eu, eu... Ahhhh! — Fecho os olhos sentindo as
pernas tremerem.
— Já vai gozar, amore mio?
Meus gemidos servem como um estimulante para o homem entre as
minhas pernas, fazendo com que ele passe a língua por um ponto sensível,
em círculos, enquanto estimula os bicos dos meus seios com os dedos.
— Então, goza na minha boca, piccolla, dê ao seu marido tudo o
que tem que dar. Eu quero tudo, Lorena, quero exatamente tudo que vem de
você.
É com essas palavras que chego ao meu limite, explodindo de
desejo. Arquejo o quadril e rebolo na cara do meu marido sem cerimônias,
agarrada ao seu cabelo, sendo tomada por uma enxurrada de excitação.
Estou totalmente entregue, mas como não ficar?
— Riccardo... Ah... — choramingo em lamúrias, arqueando o corpo
para cima, sofrendo espasmos.
Estremeço, grito, gemo e, por fim, desabo suada e exausta sobre a
cama, chegando à conclusão que nunca mais poderei viver sem isso.
Ele me marcou profundamente.
Meu clitóris está completamente sensível e meu marido sabe
perfeitamente disso.
Ele se afasta para abrir o zíper da calça, em seguida a abaixa junto
com a cueca boxer preta. Assim que se desfaz de tudo, engulo em seco
observando o tamanho da sua ereção.
Ele é um homem grande e a prova disso está bem na minha cara.
O tamanho do seu membro me faz questionar se eu realmente o
suportarei, pois, é grande até mesmo para uma mulher que não é mais
virgem.
Afasto o pensamento negativo e passo a admirar seu corpo
musculoso.
Riccardo é perfeito em sua beleza.
Ele possui muitas tatuagens espalhadas por seu corpo o que só o
deixa ainda mais lindo, mas não entendo o significado de nenhuma delas e
apenas complementa sua beleza sombria.
Meu marido avança sobre mim e se acomoda entre minhas pernas,
enquanto meu coração se acelera, meu corpo começa a tremer e o medo me
invade mais uma vez. Ele abocanha meus seios sugando com força e deixo
escapar um gemido de desejo.
Eu o quero dentro de mim, na mesma proporção do medo que está
me consumindo nesse momento.
— Por favor, Riccardo... Eu...
— Shiiii... Não me pare, piccolla, e não fale nada, só sinta. Estou
tentando ser carinhoso com você, ou já estaria arrombada em cima dessa
cama. — Ele volta a me olhar intensamente.
Passeia com os dedos pelo meu rosto, contornando meus lábios,
como se estivesse travando uma batalha interna contra os demônios
existentes em um lado obscuro do seu corpo.
Temo quando esses demônios forem liberados e me atacarem,
porque tenho certeza absoluta que isso irá acontecer.
Ele se encaixa completamente entre minhas pernas e segura seu
membro, pressionando a minha entrada de leve, em resposta estremeço cada
vez que ele faz isso.
Ele deve estar achando que meu medo é por ser virgem, que estou
com medo da dor, mas é tudo totalmente ao contrário do que ele está
imaginando.
Posso ver a satisfação brilhar em seus olhos, então fecho os meus de
medo, receio e outras coisas não identificadas.
Estou esperando pelo pior, desse momento em diante.
Mas então, algo muito pior acontece.
— Repita o que digo... — Ele pincela seu membro na minha entrada
novamente, se lubrificando da minha excitação, o fazendo deslizar com
facilidade.
— Sob a luz das estrelas e o esplendor da lua...
Ele irá me iniciar, como se faz com os novos membros da máfia ou
com aqueles que já nascem dentro dela e faz seu juramento quando
começam seus treinamentos.
— Não! — Sou firme em negar isso a ele.
— Repita, é uma ordem do seu Don.
— Aqui você é meu marido, não pode fazer isso comigo. Não pode
me obrigar a fazer o juramento.
Como começo a empurrá-lo, o infeliz pega minhas mãos e as coloca
em cima da minha cabeça prendendo meus pulsos com apenas uma mão.
— Eu não só posso como vou. Avisei, Lorena, que iria te colocar na
linha quando nos casássemos e o seu treinamento vai começar logo depois
da sua iniciação. Já aviso de antemão que não pego leve, amore. Muitos
nem mesmo saem vivos, porque treino a elite da máfia, só quem vale a pena
e você vai valer o meu esforço, porque agora é a minha rainha.
Choro, pela primeira vez na minha vida, choro com desespero,
porque sei que é um caminho sem volta.
— Por favor, Riccardo, eu imploro...
— Sob a luz das estrelas e o esplendor da lua... Repita!
— Eu imploro, estou implorando para que não faça isso.
— Repita agora mesmo, ou vai ser pior, Lorena, última chance.
Soluço tentando me controlar, respiro fundo e começo a falar:
— Sob a luz das estrelas e o esplendor da lua... — Soluço mais uma
vez baixinho.
Ele vai me matar, depois disso tudo, ele vai me matar.
— Serei fiel e obediente ao meu marido...
— Riccardo, por Dio.
— Não teste a minha paciência, Lorena.
— Serei fiel e obediente ao meu marido... — repito sentindo as
lágrimas descerem.
Estou sendo iniciada e essa é a iniciação dele para mim.
— E as tradições e normas que regem a Cosa Nostra.
“Dio mio, me ajude.”
— E as tradições e normas que regem a Cosa Nostra — repito
sentindo minha alma sendo rasgada.
— Que minha carne queime se eu falhar em manter meu juramento.
Esse é o meu fim.
— Que minha carne queime se eu falhar em manter meu
juramento... AHHH... Me perdoa, Riccardo — grito quando ele me invade.
Agora, ele está tendo a certeza de que sou uma traidora as tradições
da Cosa Nostra, ao juramento que acabei de fazer.
— Eu vou te matar, Lorena, depois vou matar quem fez isso com
você. Vou deixar o seu pai por último para que ele saiba que o Diabo está
indo ceifar a vida dele.
— Não, por favor, não faça isso! Não faça nada com ele. Meu pai
não sabe de nada, esse é um segredo meu, só meu.
— Você é uma filha da puta, sua desgraçada, infeliz, mentirosa. —
Ele estoca com toda força que tem e solto um gemido alto.
— Eu falei a verdade e você não acreditou em mim.
— Eu vou te foder como uma vagabunda que você é. Não vou me
controlar e você vai aguentar. Você vai gritar e vai gemer alto o meu nome.
— Por favor, não me machuque, não me machuque, eu imploro que
não me machuque.
Ele para um pouco o ritmo e me encara profundamente.
— Até mesmo o Diabo tem princípios, Lorena. Não sou um
estuprador do caralho. Se dou prazer as prostitutas, por que não daria a
você? Apesar que, para mim, você está em um patamar muito mais baixo
que uma puta do meu bordel.
Ele nem me dá tempo de processar os absurdos que fala e me beija
desesperadamente, sem me permitir rejeitá-lo, enfiando a sua língua em
minha boca, tomando completamente meu fôlego, me fazendo gemer de
prazer.
Eu me amaldiçoo por ser tão fraca assim.
Mas, nesse momento, estou rendida a ele e ao meu corpo. Minha
mente diz uma coisa e meu corpo deseja outra.
Riccardo chupa minha língua, desce beijando a minha bochecha e se
concentra no meu pescoço, chupando e mordendo.
Ele está faminto!
Agarra minha bunda com força, me imprensando mais em seu corpo
enquanto continua me lambendo e me mordendo de leve. Sobe em direção a
minha orelha e respira bem devagar, sussurrando em meu ouvido:
— Você é gostosa, Lorena, e mesmo não sendo mais virgem tem
uma boceta apertadinha. Agora, me diga, com quantos homens você já se
deitou? E não ouse mentir para mim.
Eu não posso mentir e nem negar que nunca fiz isso.
— Apenas com um, eu juro.
— Você merece a morte, sabia? Merece a morte por ser uma esposa
traidora.
— Eu nunca trairia você, jamais faria isso. O que aconteceu ficou no
passado, jamais imaginaria...
— Não tente se justificar que o meu ódio aumenta. Vamos nos
concentrar no que estamos fazendo, depois decido qual será o seu fim.
Ele está falando isso para me amedrontar, afinal Riccardo nunca
escondeu que sentia tesão e desejo pelo meu corpo, e poderei me apegar a
isso para livrar a mim e ao meu pai da morte certa que meu marido
destinará a nós dois.
— Porra, que boceta apertadinha! — Ele crava os dedos na minha
bunda e me suspende um pouco do colchão, em uma penetração mais
profunda, começando a sair e entrar com força.
O som das suas bolas batendo em minha pele junto com a minha
excitação ecoa pelo quarto.
Não consigo parar de gemer e me agarro em seus braços, cravando
as unhas em sua pele, sentindo as lágrimas quentes molhando minhas
bochechas.
Lágrimas de prazer, o prazer que o Diabo me proporciona
ardentemente.
— Que gostosa! Sim, sua bocetinha é muito gostosa. — Fecha os
olhos estocando com mais força.
A cabeceira da cama bate bruscamente na parede enquanto o suor
escorre pelo meu rosto e corpo. Sinto seu membro entrando e saindo com
dificuldade de dentro de mim.
— Diz que essa boceta é minha, ou vou te foder mais forte! —
Agarra meu cabelo entre os dedos e enfia a língua na minha boca,
saboreando minha saliva, engolindo minhas súplicas.
— Sim... Ahhh, é toda sua... — Fecho os olhos sentindo as
investidas brutas.
Se ele disse que vai me dar prazer, então que eu sinta esse prazer
que pode ser o último da minha vida.
Riccardo volta a beijar meu pescoço, depois desce para o ombro até
alcançar novamente meus seios sensíveis. Logo, ele sobe e sua língua entra
com avidez na minha boca, a explorando, enquanto minhas unhas arranham
suas costas.
— Riccardo... — chamo por ele em um choramingo, arqueando o
corpo quando sua língua volta a me devorar.
O lençol macio está entre meus dedos enquanto meu marido, morde
e chupa meus lábios.
— Goza para mim, Lorena.
Como se meu corpo estivesse apenas esperando um incentivo para
começar a se libertar, meus músculos ficam rígidos e meu corpo estremece
quando a tensão toma conta dele, ansiando por sair.
— Isso, gostosa, oásis da minha perdição.
Agarro os lençóis com mais força enquanto arquejo com os
espasmos, tremendo sobre a cama. Minha mente fica vazia e meus sentidos
somem por alguns instantes.
Riccardo continua acabando com minha sanidade, minha respiração
está irregular e meu corpo explode em milhões de pedacinhos dentro do
meu peito quando gozo como nunca gozei na vida, gemendo alto,
chamando o nome do meu marido, o homem que é minha ruína.
Mas antes que possa me recuperar do orgasmo, ele se debruça sobre
meu corpo e pressiona o membro na minha entrada.
Posso senti-lo crescer cada vez mais, latejando contra minha carne
úmida. Ele empurra fundo e a sensação é poderosa quando se move devagar
e depois rapidamente. Sinto seu peso sobre meu corpo enquanto mete fundo
e acerta em cheio algo dentro de mim. Algo sensível que me deixa louca
toda vez que ele toca.
A pressão em meu ventre está me enlouquecendo.
— Você é a porra de uma grande tentação. Uma bruxa que me
enfeitiçou.
Não consigo responder, apenas continuo me contorcendo embaixo
dele enquanto seu membro mergulha em mim, me judiando de prazer por
dentro.
Meu íntimo acende como o fogo do inferno e sua língua vem de
encontro a minha boca depois de chupar meu pescoço.
— Ah! — Mordo os lábios, tentando controlar os gemidos.
Riccardo aumenta o ritmo e suas bolas batem firme em mim. Nossas
respirações estão tão aceleradas que mal consigo ouvir as coisas que ele diz.
Ele me golpeia forte enquanto gozo pela terceira vez perdendo todas
as forças que me restam. Ouço seu gemido alto indicando que virá logo
depois de mim, então em seguida cai sobre meu corpo, com nossas
respirações aos poucos voltando ao normal.
Nossos corpos permanecem colados e suados enquanto sinto uma
vontade enorme de chorar.
Não consigo segurar as lágrimas que começam a escorrer pelo meu
rosto, porque o meu veredito virá agora.
CAPÍTULO 33

Estou ardida, dolorida e acabada.


Foi bom, tudo o que aconteceu, quer dizer, até agora está sendo
maravilhoso. Tem momentos em que Riccardo é carinhoso, mas aí parece
que ele se lembra que não carregava a pureza que ele esperava e então se
torna bruto.
Mesmo sendo bom, estou exausta e já não aguento mais.
— Eu não aguento mais... — sussurro em seu ouvido ao tomar
coragem.
Ele então fecha os olhos como se buscasse por um controle que
não possui, leva a mão ao meu pescoço e aperta fazendo pressão, estocando
fundo, rápido e forte.
A falta de ar está me deixando tonta e as lágrimas começam a arder
em minhas vistas, tanto que chego a pensar que esse será o meu fim. Seu
membro lateja forte, dando os últimos golpes, enquanto vou aos poucos
perdendo os sentidos.
Depois de alguns minutos, Riccardo goza, gemendo rouco em
minha orelha, já eu estou quase me entregando à escuridão quando sinto o
alívio em meu pescoço.
Ainda recuperando o fôlego, o vejo se levantar e caminhar
gloriosamente nu para se servir de uma dose de whisky. Ele fica por alguns
minutos me observando, olhando meu corpo e, provavelmente, decidindo o
que irá fazer comigo.
Meu corpo está exausto, parece que uma cavalaria passou por cima
e não sei se terei forças para lutar pela sobrevivência agora.
— O que vai fazer comigo? Falei a verdade, mas você não
acreditou e ainda mandou seus homens espancarem o meu pai. Você passou
a me ameaçar constantemente com isso.
Ele continua me analisando enquanto bebe.
— Então, decidiu ficar quieta e manter a boca fechada, adiar o
inevitável.
— O que queria que fizesse? Você iria matar o meu pai.
— Iria!? Eu...
— Não, você não vai encostar um dedo no meu pai. Eu sou sua
esposa e você como Don deve respeito a família.
A calma que Riccardo demonstra ter nesse momento faz o meu
desespero aumentar.
— Eu como Don merecia uma esposa virgem, mas em vez disso
olha só o que tenho na minha cama. Uma mulher traidora...
— Eu não traí você, eu nem mesmo sequer te conhecia quando...
— VOCÊ ME TRAIU QUANDO SE ENTREGOU A OUTRO
HOMEM.
Eu me assusto quando ele grita e joga o copo na parede do quarto,
o quebrando.
— Trair a máfia é o mesmo que me trair, Lorena, porque eu sou a
máfia e você nasceu nela. Sabia muito bem que não poderia se entregar a
outro homem sem antes passar pela união do sagrado matrimônio.
— E, por que isso só se aplica as mulheres?
— Porque essas são as regras e não fui eu quem as criou, apenas as
mantenho. Sabe como funciona essa porra muito bem e sabe também o que
sou obrigado a fazer com você.
Soluço sentindo um nó se formar na minha garganta.
— Faça o que tem que fazer comigo, só não machuque a minha
família. O meu pai não sabe de nada, esse era um segredo só meu, foi a
minha decisão, e o que está acontecendo agora é a minha consequência.
Ele me encara, anda em passos lentos até a cama, se aproxima e
segura meu queixo com força.
— Sabe que sou obrigado a te usar como exemplo, não sabe?
Balanço a cabeça dizendo que sim.
— Eu sei.
— Sabe que o certo seria te matar e jogar seu corpo aos pés do seu
pai, não sabe?
— Sim. — Choro temendo pelo inevitável.
— Sabe que seria enterrada sem honra nenhuma, não sabe?
— Por favor, acabe logo com isso, só me dê a sua palavra que não
vai fazer nada com a minha família.
Ele aperta mais ainda o meu queixo, me joga de uma vez em cima
do colchão e segue em direção ao banheiro, onde logo escuto o barulho da
água caindo.
Riccardo quer mexer com o meu psicológico antes de acabar
comigo, é a única explicação para o que ele está fazendo. Ele é o mal
encarnado, um homem que exala luxúria, ira, orgulho e vaidade.
Meu coração está batendo de modo descompassado e meu corpo
treme de nervoso, medo e insegurança.
A porta do banheiro é aberta e ele sai com uma toalha em volta da
cintura, entrando logo em seguida no closet.
Não tenho nem mesmo coragem para me levantar, então tudo o que
faço é puxar o lençol para cobrir meu corpo nu, abraçando os meus joelhos.
— Aonde você vai? — pergunto assim que o vejo sair de dentro do
closet completamente vestido, arrumando sua arma no coldre. — O que vai
fazer, Riccardo? — O medo de que ele possa ir atrás do meu pai me acerta
com tudo.
— Não é da sua conta e não saia desse quarto até que ordene.
Jogo o lençol para o lado, me levanto de uma vez e me jogo aos
seus pés.
Se ele queria uma Lorena humilhada, conseguiu agora.
— Por favor, não faça nada com o meu pai, imploro por tudo o que
é mais sagrado, Riccardo. Eu faço o que você quiser.
— Eu sou um homem de honra, Lorena, um homem feito e sou o
exemplo da máfia. Você está me colocando em uma posição que não gosto
de estar. A tradição do lençol de sangue pode até ter deixado de existir, mas
a honra de um homem...
— ESTOU IMPLORANDO E ME HUMILHANDO AOS SEUS
PÉS, O QUE MAIS QUER DE MIM?
— Eu queria você por completa.
— Estou aqui, sou sua esposa e estou implorando por piedade.
Quero que me mate, mate a mim, destrua a mim e não a minha família. —
Eu me agarro nas suas pernas com toda força que tenho.
Ele se abaixa e me pega no colo, me levando para a cama
novamente.
— Tem noção do que está me pedindo? — Ele coloca uma mecha
do meu cabelo atrás da orelha.
— Tenho, estou pedindo para que me mate e deixe o meu pai livre.
Seu olhar é intenso em cima de mim.
— O problema, Lorena, é que quero fazer exatamente o contrário
do que me pede.
Meu coração dói.
— Por favor, não, não, não... — Eu me agarro a ele.
— Eu preciso...
— Se você matar o meu pai, eu mesma me mato, porque não terá
mais sentido a minha vida — falo olhando em seus olhos para que veja
verdade em minhas palavras, enquanto o seguro pela camisa.
— Mulheres, que nem você, encontro em cada esquina, então se
matar me pouparia o trabalho. — Ele segura minhas mãos para que o solte e
assim faço. — Tome um banho, descanse a aproveite o conforto do quarto
pelo menos por uma noite. Amanhã, decidirei o que vou fazer com você. —
Ele ajeita mais uma vez a arma no coldre.
— Se não me matar agora, amanhã não irá conseguir fazer o que
tem que ser feito e eu juro, Riccardo, juro pela alma da minha mãe, que se
amanhã eu terminar o dia viva, você nunca mais vai se livrar de mim. Vou
ser sua esposa, fazer valer os meus direitos e que se foda a porra das
tradições.
Ele sorri, vira as costas e passa a mão pela maçaneta.
— Você pode até ser o apocalipse na Terra, Don Riccardo, mas eu
vou ser o apocalipse na sua vida. Não vou esquecer das humilhações que
me fez passar hoje aqui.
“Meu destino está em suas mãos, o meu somente, mas o seu prazo
para fazer o que é preciso tem validade. Ele termina ao amanhecer, mas
estou te dando até o fim do dia de amanhã, depois disso, será o começo da
nossa vida a dois.”
Ele nem mesmo se dá ao trabalho de olhar para trás, apenas sai
batendo a porta do quarto.
É isso, Riccardo tem o prazo dele e eu tenho o meu, agora está nas
mãos do Diabo jugar o que será feito.
CAPÍTULO 34

Ver Lorena implorando estava me deixando perturbado.


Admito que me dar conta que Lorena não era mais virgem me fez
querer matá-la no mesmo instante, como se a minha mente estivesse
desligada para qualquer tipo de sentimento, mas algo muito forte me
impediu de cometer tal ato.
Demônios não sentem nada, porém, o único sentimento que ainda
consegue, de alguma forma, mexer comigo é o tesão e foi exatamente isso
que a salvou.
O tesão que estava sentindo, a porra do desejo crescente.
Só de imaginar não ter nunca mais seu corpo pequeno em meus
braços, seus gemidos de prazer...
Eu me sentia sufocado só em imaginar não a ter, então o que
poderia fazer era me afastar, sair de perto dela para não cometer uma
loucura.
Foi por esse exato motivo que fui embora deixando minha esposa
sozinha em nosso quarto.
Sempre prezei pelas tradições e regras da instituição a qual
represento, a Cosa Nostra. Fui criado e forjado para dar continuação ao
legado da minha família e agora estou preso nas malditas tradições.
Eu, como um homem feito, um homem de honra, o principal deles,
teria que expor Lorena, pois seria o certo a se fazer, mas algo dentro de
mim, não deixa que faça isso.
Porra, ela já é minha esposa!
Eu já experimentei todo tipo de coisa nesse mundo, torturas físicas
e psicológicas. Fui instruído a matar e a torturar, e isso, para mim, não era
uma opção, mas uma obrigação. Depois que fui iniciado, me levaram um
dia ao clube da famiglia, e foi onde me droguei pela primeira vez, em
seguida dormi com várias prostitutas, velhas, novas, loiras, morenas,
negras, ruivas.
Foi ali que minha vida virou o antro da perdição.
Daquele dia em diante, virei um coletor de almas da máfia. Eu
tinha a missão de levar recados, bons ou ruins, e também a missão de matar
dependendo da resposta. Sempre que eu fazia algo errado, era castigado, até
que chegou uma hora em que parei de sentir dor e de me importar.
No dia da minha iniciação fui levado a um local secreto, na
presença de mais dois mafiosos, onde meu pai puxou meu dedo e furou. O
sangue foi pingado e então fiz o juramento de omertà[16].
“Juro sobre este punhal de omertà com a ponta molhada de sangue
e na frente da honrada sociedade, ser fiel aos meus companheiros, renegar
pai, mãe, irmãs e irmãos e cumprir todos os meus deveres, se necessário,
também com sangue.”
Lembro de tudo como se fosse ontem.
Sou o zelador desse juramento e de todas as tradições, e hoje estou
quebrando uma delas, porque tomei a porra da decisão de salvar a vida da
desgraçada da minha esposa.
Mas isso não vai tornar sua vida mais fácil, muito pelo contrário, a
vida dela será um inferno pior do que a minha está sendo hoje.
— Não era para você estar fodendo a sua jovem esposa?
Saio dos meus pensamentos com a voz de Antônio.
Será quem nem mesmo em um bordel ele me dá paz?
— Você virou a porra da minha sombra agora, foi? — falo sem
olhar em sua direção, mexendo o copo com whisky.
— Eu sempre fui. O que está fazendo aqui e de madrugada ainda?
Não era para estar em casa? — Ele se senta ao meu lado no bar e pede uma
bebida.
— Você faz perguntas demais. A minha vida está uma merda e a
minha noite foi pior do que imaginei, então não força e pega leve que estou
por um fio de matar alguém.
Antônio me conhece e por isso sabe que algo de muito grave deve
ter acontecido para eu estar aqui em vez de estar em casa comendo a minha
mulher.
— O que foi que ela fez para te deixar desse jeito? Eu sempre
soube que Lorena iria ser um problema, mas não falei nada porque você não
escuta ninguém quando coloca uma coisa na porra da sua cabeça. E
exemplo disso foi a ida da sua ex ao seu casamento devido o convite que
você fez.
— Qual foi a parte de você não encher a porra do meu saco não
entendeu? — falo entredentes ainda sem olhar para ele.
Ele vira a bebida de uma vez e me encara.
— Já que está tão amargo volte para a Calábria. Seu tio está tendo
problemas novamente com os malditos filhos da puta dos russos e não
estamos querendo envolver gente de fora nos nossos problemas, se é que
me entende. Aproveite para começar a iniciação dos novos membros que
vou mandar para você lá. Vai ser uma boa distração para a sua mente
diabólica atormentar aqueles pobres coitados que não sabem onde estão se
metendo.
Paro para pensar por uns minutos.
Vai ser bom me afastar de tudo por aqui por um tempo, assim
coloco a cabeça no lugar.
— Vou agora mesmo para lá e cuide de tudo por aqui na minha
ausência. Fique de olho na minha mulher e no meu irmão que ainda está
puto de raiva com a história do casamento dele.
— Pode deixar. E quanto ao trabalho da Lorena no haras e no
centro de hipismo?
Eu deveria proibir essa infeliz de sair de casa para sempre, ou
então jogá-la em um convento, mas ela seria capaz enlouquecer as freiras.
— Deixe tudo como está, quando voltar decido o que vou fazer
com ela.
— Consumou o casamento pelo menos?
A minha vontade é de socar a cara do desgraçado.
— Mas é claro, não que isso seja da sua conta. Agora mande
preparar meu carro que vou para a Calábria. Esperarei por você aqui.
— Tem certeza que quer ir dirigindo a essa hora da noite?
— Tenho!
Ele respira fundo.
— Como disse, é um cabeça dura. Me espere aqui que vou trazer o
que precisa e vê se para de beber.
— Vá se foder!
— Eu já estou fodido desde o dia em que me colocaram para ser a
sua babá, seu idiota.
Antônio é o único que tem coragem de falar desse jeito comigo.
Mas é como o meu pai sempre falou, fomos criados e passamos
pelo treinamento juntos justamente para isso, desenvolver o laço da
confiança, laço esse que não tenho com muitas pessoas.
Um homem, como eu, não pode se dar ao luxo de confiar em
qualquer um...
E parece que não posso confiar nem mesmo na minha esposa.
CAPÍTULO 35

Meu celular desperta e acordo em um sobressalto. Desde o dia


em que passei a morar nessa casa acordo assim, assustada, temendo o dia
em que Riccardo vai voltar com o meu veredito.
Por falar no desgraçado, ele sumiu depois de “consumar” o
casamento e isso já tem quase um mês. Só fiquei sabendo onde ele estava
porque a minha sogra teve a consideração de me informar, senão até hoje
estaria esperando que ele voltasse.
Segundo ela, foi uma emergência que aconteceu na Calábria e seu
tio precisou dele, tio esse que também estava no meu casamento.
Agora, que droga de emergência foi essa?
Eu sei muito bem o motivo dele ter ido para lá, ficar o mais longe
possível de mim.
Para justificar tanto tempo longe de casa, ele usou como desculpa a
iniciação dos novos membros da máfia. Devo acrescentar que Antônio foi
às pressas para a Calábria, porque a notícia que chegou foi que o Don
estava matando os novos membros, um a um, com o seu treinamento
exaustivo.
Não é todo mundo que aguenta o treinamento de torturas e sei mais
lá o que fazem.
Meu cunhado, como subchefe, ficou por aqui no lugar do irmão,
mas foram pouquíssimas as vezes que o vi pela casa, pois sem o Riccardo
por aqui o trabalho de Carlo dobra.
Eu ainda tenho fresco em minha memória tudo o que Riccardo me
falou, todas as humilhações que me fez passar na noite do nosso casamento.
Eu errei, admito isso, pois nascendo na máfia sabia que não poderia me
entregar a outro homem que não fosse o meu marido, mas eu falei a verdade
e ele não acreditou em mim. A verdade é que ele também errou quando me
obrigou a aceitar esse matrimônio.
Como deixei claro a ele, antes de passar por aquela porta, o prazo
dele acabou, um mês já se passou, e ele agora não pode mais me devolver e
nem fazer nada contra mim.
Não depois de tanto tempo.
Na manhã seguinte ao meu casamento, a primeira coisa que fiz foi
ir atrás do meu pai. Saí de casa antes mesmo de todo mundo acordar, pois,
precisava saber se meu pai e Rosa estavam bem e para o meu alívio os dois
estavam.
Contei a Rosa tudo o que aconteceu e ela disse que tive sorte, ou
que o Don sentia algo por mim.
Claro que ri da cara dela, pois prefiro acreditar que tive sorte e que
peguei o Diabo em um bom dia que é a explicação mais aceitável.
Depois disso passei os dias levando a vida normalmente, mas agora
com o título de rainha da máfia, as pessoas simplesmente passaram a me
evitar e pararam de falar comigo, tudo porque morrem de medo do meu
marido.
Até que isso facilitou um pouco a minha vida, já que era um saco
lidar com os homens que se achavam ser muito melhores do que eu no
haras.
Continuo trabalhando e treinando como sempre fiz, mas agora os
meus treinamentos são solitários.
Bernardo inventou uma viagem de uma hora para outra e nem
mesmo no meu casamento ele compareceu. Já tem muitos dias que ele nem
mesmo me dá notícias e confesso que sinto falta do meu amigo.
O que mais acho chato na minha nova vida é a quantidade de
soldados que fazem a minha segurança. Um verdadeiro exército de soldados
me acompanha onde quer que eu vá e por várias vezes os vi falando no
celular com o meu marido. Eles nem mesmo tentavam disfarçar, o que
significa que Riccardo sabe exatamente cada passo que dou durante o dia, e
na última vez que tentei dormir na casa do meu pai fui proibida.
Fiz isso algumas vezes depois que me casei.
Já que não tinha marido presente, ficava na casa do meu pai com a
desculpa que saía tarde dos treinamentos e como estava cansada dormiria
ali mesmo, já que a casa dele era bem próxima de onde estava e meus
sogros aceitavam numa boa.
Devo dizer que me dou muitíssimo bem com eles e não me
impedem de fazer nada.
Claro que isso parece não agradar o Don Riccardo.
Resolvo me levantar da cama e com toda a minha coragem vou
para banheiro.
Esse quarto é enorme solitário e sombrio, estou até mesmo com
planos de redecorar o ambiente, já que parece que o dono não vai mais
voltar.
Segundo Giulia, essa casa agora é minha, então tenho carta branca.
Logo depois vou até o closet que é muito maior do que o meu
antigo quarto e resolvo explorar algumas partes que até agora não mexi.
Caminho até as últimas portas e encontro as coisas de Riccardo,
bem longe das minhas. Os ternos organizados e separados por cor mostram
o quão organizado o Diabo é.
Não há exatamente nada fora do lugar.
Continuo olhando tudo com atenção, até me deparar com algo que
me chama atenção, uma caixa de madeira que parece ser velha, mas está
bem conservada.
É tipo algo de colecionador, muito bonita.
Estendo a mão para pegar e não alcanço, então puxo uma poltrona,
subo em cima e pego a bendita que estava bem escondida.
Certamente, ele não queria que ninguém a encontrasse, mas ele
talvez não estivesse contando com sua esposa fuçando nas coisas dele.
Tenho certeza que ele deve saber até mesmo quantas calcinhas
tenho nesse closet.
Sento na poltrona que subi e abro a caixa. O que vejo me deixa de
boca aberta, literalmente, são cartas, cartões-postais e fotos de Riccardo
com a mulher que estava conversando com ele no dia do nosso casamento,
a tal Antonella, o paraíso que ele teve que abrir mão para que eu caísse em
seu inferno.
Não abro as cartas, mas leio alguns dos cartões-postais, que foram
enviados por ela ao meu marido.
“É tão absurdo dizer que um homem não pode amar a mesma
mulher por toda a vida, é o mesmo que dizer a um violinista que ele
precisa de diversos violinos para tocar a mesma música. Então, sempre
diga que vai me amar para sempre e adoro quando sussurra isso no meu
ouvido.
Sinto sua falta, não demore a voltar para mim.
Sua Antonella.”
Sinto meu coração apertar, porque como esse cartão tem vários
outros.
“A suprema felicidade da vida é ter a convicção de que somos
amados. Com você é que me sinto amada. Volte logo para mim, estarei a
sua espera eternamente.
Sempre sua, Antonella.”
Respiro fundo ao me dar conta de que verdadeiramente meu
marido ama outra mulher. Lendo esses cartões somado ao que escutei
Riccardo falar para ela no dia do nosso casamento não me restam dúvidas.
Se meu marido tivesse opções, ele ficaria com ela, só que a máfia e
as tradições não permitiram.
Começo a analisar as fotos dos dois e percebo que ele tem um
brilho nos olhos e um sorriso lindo nos lábios. Ele parece estar muito feliz
ao lado dela.
Belíssimas fotos de casal parecem ter sido tiradas em vários
lugares diferentes do mundo.
Arrisco a dizer pelo que estou vendo que o casal parece estar em
uma lua de mel, pois eles demostram o seu amor para a câmera que captura
esses momentos.
A lua de mel que eu não tive o direito de ter.
Mesmo sem perceber uma lágrima solitária teima em descer pelo
meu rosto, então a limpo rapidamente e fecho a caixa, a guardando
novamente, sentindo o coração bater descompassado.
O que preciso fazer agora é ir trabalhar e cavalgar para tentar
esquecer nem que seja por algumas horas a maldita vida que tenho.
Vou até as minhas coisas, faço uma make leve e discreta, pego a
calça jogger preta de bolsos não muito larga que afina ao chegar ao
tornozelo, com detalhes em zíper, uma miniblusa soltinha branca, deixando
um pouco à mostra a barriga e escolho calçar uma bota caramelo estilo
coturno.
Pronto, Lorena, hora de trabalhar, porque você não é rainha de
ninguém, se fosse saberia em que inferno seu marido está agora e ele
também teria te ligado para pelo menos dizer que está vivo.
Consideração zero do cretino, pois nem mesmo sei se ele sabe o
número do meu celular, porque não faço ideia de qual seja o dele.
Eu me olho no espelho e fico conformada com o que vejo.
Hora de começar mais um dia, mesmo já estando atrasada porque
resolvi mexer no que não era da minha conta, mas serviu para que
descobrisse que, para mim, Riccardo só me dará a sua pior parte.
CAPÍTULO 36

Desço a escada conferindo os e-mails que recebi, que não são


poucos. Com o sucesso da reprodução da Estrela estou criando um novo
projeto que está relacionado a gerência de reprodução assistida, esse é um
passo muito importante na minha carreira de veterinária, ainda mais com

éguas de puro sangue. Sem falar que também vou fazer uma vistoria geral,
verificar os manejos sanitários e de biossegurança, controle de vacinação,
além das orientações adicionais que vou passar para toda a equipe
envolvida no ambiente do haras.
— Café da manhã, senhora Bianchi.
Eu me assusto com a voz do meu cunhado falando comigo, quando
estou praticamente passando direto pela sala de refeições. Assim que
levanto as vistas, vejo meus sogros já se levantando dos seus lugares e
Carlo parece estar começando a comer.
— Lorena, minha querida, tome o seu café da manhã primeiro antes
de sair, estou notando que tem pulado refeições. Você tem que estar forte
para gerar o meu neto.
Mas que conversa é essa agora?
— Ela precisa de um marido para isso acontecer, mamãe.
— Carlo! — meu sogro chama atenção do filho.
— Estou atrasada, sogra, como qualquer coisa no...
— Você é a dona agora, Lorena, por isso nunca está atrasada, são as
outras pessoas que se adiantam. Agora, sente-se e tome o seu café da
manhã, sem discussões.
Meu sogro é firme em falar de forma educada que não vou sair de
casa sem comer antes, então o que me resta a fazer é me sentar e comer
enquanto ele e Giulia saem.
— Por onde andava? Quase não te vejo mais por aqui — pergunto
ao meu cunhado enquanto me sirvo.
— Fazendo o trabalho do seu marido que adora ferrar com a minha
vida — Carlo fala de uma maneira séria demais.
Essa é uma versão dele que ainda não conhecia.
— Desculpa, eu não...
— Ele deve estar chegando, a qualquer momento, na verdade, já era
para ter chegado.
Eu me engasgo com o suco que tinha acabado de tomar um gole.
Como assim ele está voltando?
— O quê? Mas, por quê?
Carlo coloca a xícara sobre a mesa.
— Ele é o Don da Cosa Nostra, Lorena, essa é a casa dele, e é claro
que um dia ele voltaria. Parece que a sua lua de mel acabou.
Estava muito bom mesmo para ser verdade!
Nem sei como é a vida de casada porque ainda não tive uma e nem
estou com pressa em ter.
Na verdade, nem sei como nada disso funciona.
Para mim, o que mudou até agora foi que mudei de casa e as pessoas
evitam falar comigo, só isso.
— Carlo, será que posso ir para Roma? Quero fazer um curso...
— Peça para o seu marido. Como falei, ele está chegando a qualquer
momento.
Droga!
Por que esse idiota não me falou isso ontem?
Se soubesse disso teria pedido autorização ao meu sogro e ele com
certeza me deixaria ir, mas agora com Riccardo chegando, o Don volta a dar
as ordens.
Se pudesse também passaria um mês longe daqui.
— Às vezes, me questiono o que foi que fiz para merecer um
castigo desses. Você me conhece, Carlo, sou impulsiva e fui largada aqui
logo depois... Depois do casamento. — Eu não vou falar a ele que Riccardo
me virou do avesso e para não me matar foi para a Calábria. — Eu sinto
como se essa vida não fosse a minha, não fui criada para isso, Carlo. Os
cavalos sempre foram a minha vida, a minha paixão sempre foi a minha
profissão e tudo isso está em jogo agora. Eu não sei se consigo, tenho medo
de não conseguir ainda mais quando não sei ficar de boca fechada.
Meu cunhado limpa a boca no guardanapo e segura a minha mão.
— Meu irmão é um homem forte e que não teme a morte, Lira. Se
para nós, homens, viver sob as regras dele é completamente difícil, agora
imagine uma mulher?
Eu apenas balanço a cabeça.
— Isso é injusto demais comigo. Ele nem mesmo me ama —
comento me lembrando da caixa que encontrei nas coisas dele.
— Se conforme de uma vez por todas, pois não tem mais como
fugir, essa é a sua vida agora. Seja uma boa esposa, Lorena, pois
casamentos na máfia são para um único propósito.
“Meu irmão é um homem quebrado, com um passado conturbado e
obscuro.
“Ele não tem mais redenção.
“Riccardo abriu mão de coisas que para proteger ele daria a sua
vida.
“O mundo da máfia é sujo e cruel, nos tornamos homens
programados para matar em qualquer circunstância e nossos pais são os
responsáveis por isso.”
Ouvir Carlo dizer que Riccardo abriu mão daquela mulher me deixa
com mais raiva ainda, porque sei que é dela que ele está falando.
— E se eu não me conformar?
Ele sorri.
— Vejo em você uma mulher forte e determinada, mas sei também
que é impulsiva e até um pouco infantil, como está sendo agora. Peço que
vá devagar e tome muito cuidado com as palavras. Você tem algo que é
diferente, mama também percebeu isso, por isso ela gosta tanto de você.
Quem sabe o Diabo ainda não tenha salvação? — Ele se levanta, beija o
topo da minha cabeça e sai me deixando sozinha com os meus
pensamentos.
Carlo só pode estar louco, o Diabo não tem salvação e se for para
atormentar a vida que seja de igual para igual.
Sem apetite algum depois dessa conversa me levanto e vou para a
garagem pela entrada lateral. Se dentro de casa está tudo tranquilo e
silencioso, do lado de fora é completamente o oposto. Soldados andam de
um lado para o outro, uns falam no rádio, enquanto outros se revezam entre
a guarda e a ronda.
Um verdadeiro campo de concentração do mal.
Era estranho, para mim, estar no meio de tantos homens armados, e
agora moro na residência do chefe, no covil dele, por isso a segurança é
reforçada.
Presumo que aqui é o lugar onde Riccardo fica um pouco mais
tranquilo, se é que isso é possível, mas para todos os efeitos é aqui que ele
fica quando não está servindo a máfia.
— A senhora vai para o haras ou para o centro de hipismo? — Jorge
pergunta assim que me aproximo do meu carro, que foi trocado depois que
me casei.
Nem mesmo sei por onde anda o antigo.
— Continue me chamando de senhora que te dou um soco bem no
meio da sua cara.
Esse filho da mãe passou a me chamar de senhora depois do
casamento, na verdade, todos passaram a me chamar assim.
— A senhora agora é a esposa do Don.
— E a esposa do Don vai quebrar o seu nariz.
Ele se segura para não rir.
— A esposa do Don vai continuar sendo chamada de senhora,
porque isso é sinal de respeito.
— Respeito por quem? Por mim, ou pelo cretino do meu marido?
— Lorena, por Dio. Você quer morrer? Olha lá como fala do Don,
agora você é a senhora dele.
Por que todo mundo me pergunta isso?
Se Riccardo fosse mesmo me matar já teria feito isso há muito
tempo.
— Me chamar pelo nome não é uma falta de respeito e falo do Don
como...
— Don Ricardo está entrando na residência, repito Don Riccardo
está entrando na residência.
Sou interrompida pelo som do comunicador do rádio de Jorge e meu
coração acelera.
— Vamos, Jorge, me leve para o haras, é para lá que vou.
Agora o idiota sorri e responde pelo rádio:
— Entendido, estou com a senhora Bianchi, a levando para o haras.
Vou aguardar a entrada do Don para sair com ela.
Eu vou quebrar o nariz desse filho da puta.
— Desgraçado! Você me paga.
— Ele tem que entrar para podermos sair.
— O portão é grande o suficiente para passar três carros um do lado
do outro, seu idiota.
— Não é assim que as coisas funcionam, Lorena. Depois do Don
Riccardo você é a pessoa mais importante da máfia.
Isso faz com que o encare sem entender nada.
— Mas de que porra está falando?
— Os inimigos do seu marido agora são seus inimigos também. E
não são poucos, minha cara. Se você cair nas mãos erradas usarão você para
tirar vantagem do Don.
Agora é a minha vez de sorrir.
— Acredite, Jorginho, eles estariam fazendo um favor para o Don se
me pegassem, pois, ele me odeia.
— Não fale besteiras. Já falei que essa sua língua ainda vai te meter
em problemas sérios, Lira.
— Sabe qual foi a última vez que vi o Don? No dia do nosso
casamento e em dois dias fará um mês. Então sim, Jorge, Don Riccardo me
odeia. Agora me leve para o haras, tenho tanto trabalho que não sei nem
mesmo se volto para casa hoje. Acho que vou dormir no meu pai. — Vejo o
carro que traz o Don, estacionando ao lado do meu. — Agora, Jorge, por
favor! — peço quase que implorando.
— Porra! Você só me mete em problemas. Entra na porra do carro.
— Jorge dá a volta no carro e entra rápido.
Escuto uma porta se abrindo atrás de mim e me apresso em abrir a
minha porta. Entro, bato a porta e olho para Jorge sentado no banco do
motorista que me encara pelo espelho retrovisor.
— O que está esperando para sair?
— Não temos autorização, sinto muito.
— Como assim não temos autorização? — Ele me mostra a tela do
celular e vejo a mensagem.
— Sou a esposa do Don e estou ordenando que me leve agora
mesmo para o haras.
— A ordem do Don está acima da sua e ele está ao lado da sua
janela, então desça logo. Resolva com o seu marido o que tem que resolver,
consiga a autorização dele e aí sim, te levo para o haras com o maior prazer
do mundo.
Que droga!
CAPÍTULO 37

A minha vontade é de quebrar a cabeça do Jorge, mas, por um


lado, entendo que ele não poderá jamais ir contra a ordem de Riccardo, o
que me deixa com mais raiva ainda.
Por que ele quer me impedir de ir trabalhar depois de passar um mês
longe de casa?
Ele só pode estar querendo me provocar, ou então mostrar que
manda em mim.
— Lorena, sai do carro. Você pode até não ter medo desse olhar do
Don Riccardo, mas eu tenho e tenho muito. Ele pode estar achando que
estou confabulando com a esposa dele dentro do carro, cai fora logo.
Olho para Jorge sem acreditar.
— Você é um homem ou um rato medroso?
— No momento, sou um rato medroso. Se não sair agora mesmo
vou descer e abrir a sua porta por fora.
Eu não acredito nisso!
— E ainda dizem que você é um dos melhores soldados da máfia,
que ridículo!
Abro a porta do carro e desço sob o olhar atento do meu marido.
Bato a porta e ele me analisa dos pés à cabeça com o seu olhar predador.
Mas hoje ele que não se atreva a mexer comigo, o prazo dele acabou
e agora é só lutar pela sobrevivência.
— Don Riccardo, o que posso fazer pelo senhor?
Ele me olha mais uma vez dos pés à cabeça, umedece os lábios e se
aproxima bem devagarinho.
Congelo no lugar quando ele apoia as mãos, uma em cada lado do
meu corpo, me encurralando, me prendendo em seus braços. Ele inclina e
desce o rosto até meu pescoço, inalando meu cheiro, então um arrepio
atravessa meu corpo.
— Onde pensa que vai, esposa?
Dio mio!
Ele está com o rosto próximo demais do meu, tanto que estamos
praticamente compartilhando o mesmo ar.
— Trabalhar. — É tudo que consigo responder com essa
proximidade toda.
— Trabalhar!? Vestida desse jeito? A porra da minha mulher saindo
de casa vestida desse jeito? Você só pode mesmo estar querendo me irritar
logo pela manhã. Isso não se faz, amore mio, não comigo.
Meu coração acelera, meu queixo treme, minha língua coça, mas
respiro fundo buscando pela paz interior.
Não vou bater de frente com ele, não agora.
— Estou indo para o seu haras, trabalhar, queria que fosse vestida
como? Com um vestido de festa e salto alto?
“Eu sou veterinária, Don Riccardo, o senhor sabe disso.
“Essa roupa está mais do que adequada para o meu dia de trabalho,
ainda mais com o dia de hoje que está particularmente quente.”
Ele passa o dedo indicador pelo meu rosto e quando chega no
queixo segura o maxilar com força, então aproxima o rosto ainda mais do
meu.
Estamos quase nos beijando.
— Entre e troque de roupa agora mesmo. Você não vai sair mais é
nunca dessa casa, mostrando sequer um centímetro de pele da sua barriga.
Não vou falar duas vezes, Lorena, então não me teste, não me perturbe, que
ainda estou com você entalada na garganta. Se ainda não fiz nada com a sua
infeliz vida é porque gozei gostoso na sua boceta. — Ele solta meu rosto de
uma vez e se afasta limpando a mão que me segurou como se eu fosse
alguém com algum tipo de doença contagiosa.
— O que quer dizer com isso, Riccardo?
Nesse momento, percebo que todos os soldados que estavam pelos
arredores sumiram.
— Sua menstruação ainda não desceu, não é mesmo?
Quando escuto isso o céu parece cair sobre a minha cabeça, porque
agora entendi o que ele quis dizer.
— Você é um desgraçado e te odeio com todas as minhas forças.
— Sou muito mais do que só um desgraçado, Lorena. Sei
exatamente tudo o que faz a cada minuto do dia. Transamos na nossa noite
de núpcias, fizemos isso mais de uma vez e gozei dentro de você em todas
elas. Não vou correr o risco de matar um filho meu junto a procriadora dele,
então até que a porra da sua menstruação desça está segura, depois disso já
não sei.
O Diabo acabou de cometer um erro, me garantiu segurança até que
a minha menstruação desça, então...
— Seu desgraçado, cretino, monstro! Você acabou com a minha
vida, seu infeliz. Eu te odeio com todas as minhas forças, para mim, você
não passa de um ser humano sem coração. — Eu vou para cima dele com
tudo, batendo em seu peito com todas as forças que tenho e estou pouco me
lixando se a porra dos soldados dele estão vendo isso de algum lugar.
— Ficou louca, porra? — Ele me segura pelos pulsos.
— Você ainda não me viu louca, Riccardo. Eu ainda estou sã e com
muita vontade de matar você. — Continuo tentando bater nele.
Estou fora de mim, porque estou tentando bater no Don da Cosa
Nostra.
— Já falei pra parar com isso, caralho! Não me faça ter que
machucar você, Lorena. Está me ameaçando? Logo eu?
— Não merece ser pai. Criança nenhuma nesse mundo merece ter o
Diabo como pai. Você não sabe o que é ter sentimentos e que Deus abençoe
que não esteja grávida de você. Prefiro a morte a ter que colocar uma
criança sua nesse mundo. O seu paraíso deveria era agradecer ao Criador
por você tê-la deixado, só assim ela terá um futuro e uma família de
verdade, com um homem de verdade e não com...
— Cala boca, sua desgraçada!
Riccardo me vira com tudo para me apoiar no carro dele e acabo
tropeçando em meus pés. Como o veículo dele é mais alto que o meu e sou
pequena a minha testa bate na proteção do retrovisor e sinto quando a pele
corta com a pancada, me deixando tonta, fazendo com que luzes pisquem
diante de mim. Minha visão fica embaçada e sinto algo quente escorrendo
da minha testa.
— Riccardo, o que está acontecendo aqui?
Escuto a voz de Giulia e tento me soltar de Riccardo que agora tenta
me acomodar em seus braços já que estou tonta.
— Por favor! — É tudo o que falo para minha sogra antes dela
perceber o machucado em mim.
Coloco uma das mãos na minha testa, tentando estancar o sangue.
— Dio mio, o que você fez, meu filho?
Eu perco a força das pernas, mas me recuso a desmaiar.
— Eu não fiz nada, mama, foi um acidente. — Ele me pega no colo
e escuto minha sogra mandando que ele me leve para a sala.
Assim ele faz, entra na casa e me deita no sofá.
— Aqui, senhora. — Uma das empregadas entrega a minha sogra a
maleta de primeiros socorros e nem mesmo vi quando ela pediu.
— Giulia, não precisa disso estou bem. — Tento me levantar e passo
a mão pela testa sentindo o cheiro de sangue.
— Você está sangrando, é claro que não está bem. Agora me deixa
ver isso.
Minha sogra começa a me limpar e Riccardo observa tudo calado.
Vez ou outra, Giulia dirige a ele um olhar que apenas os dois entendem.
— Riccardo, você tem que ir até à empresa... Mas que porra foi que
aconteceu aqui? — Carlo chega na sala falando e se assusta quando me vê.
— Bati a cabeça e parece que cortou. Estou...
— Parece não, cunhada, cortou e parece ter sido feio.
— Não exagera, Carlo, não está tão feio assim, mas vai precisar de
uns dois pontinhos — Giulia fala e gelo.
Mesmo já tendo dado muitos pontos na vida em animais não é muito
agradável saber que vou ter que passar por isso.
— Me deixa ver como está. — Tento me sentar e consigo.
— Você vai ficar quietinha aí, vou ligar para o médico — Riccardo
fala.
Até parece que ele é um marido preocupado.
— Não precisa de médico nenhum, tem fio de sutura aí nessa
maleta? Eu preciso de um espelho também.
Giulia arregala os olhos se dando conta do que quero fazer e a
reação de Carlo não é muito diferente.
— Você não está pensando em... — Giulia fala nervosa.
— Não só estou, como vou fazer isso. Ninguém toca no meu rosto a
não ser eu mesma. Vocês devem ter fios de sutura, afinal aqui é a casa de
um mafioso e se machucar deve ser como passear no parque.
— Fio de sutura tem, Lorena, mas anestesia não — Giulia fala me
entregando um espelho para que veja meu rosto.
— Três pontos, preciso de fio 6-0 e a agulha geralmente vem no kit
do fio.
— Vai mesmo fazer isso? — Carlo questiona, impressionado.
— Ela não vai, vou chamar a porra do médico — Riccardo fala.
Eu me viro para o meu marido e falo com tanta raiva que chego a
tremer:
— Vai lá então, que vou esperar aqui sentada.
Carlo percebe o clima e toma o lugar da mãe, segurando a maleta de
primeiros socorros.
— Tem o kit de sutura e o fio que você quer, mas não tem anestesia,
Lorena. Serão três pontos, tem certeza de que aguenta isso? — Carlo
pergunta, sério.
— Lembra da competição do ano passado? — Ele arqueia uma
sobrancelha.
— É claro que lembro, você competiu em três modalidades e
ganhou medalha de ouro nas três. Foram cinco dias de competição, foi
exaustivo para os atletas.
— Estava com o dedão do pé quebrado. Depois do último dia,
quando ganhei a terceira medalha de ouro, fui comemorar com os meus
amigos e fiz uma tatuagem.
Carlo gargalha alto e minha sogra arregala os olhos.
— Você é louca mesmo, uma sádica, o casal perfeito. Vocês dois se
merecem.
— Você tem a porra de uma tatuagem? — Riccardo pergunta
incrédulo.
Pelo tom da sua voz, percebo que ele não gostou do que acabou de
descobrir. Se ele tivesse prestado mais atenção em mim, na noite de
núpcias, a teria visto.
— Riccardo, olha os modos! Você tem várias, por que ela não pode
ter uma?
Eu amo a minha sogra.
— Não se meta nisso, mama. Onde tem essa tatuagem, Lorena?
Olho para o meu marido e a minha vontade é de dizer que o inferno
dele acabou de começar.
— Você não viu, amore mio? Vai ser meio constrangedor mostrá-la
aqui, na frente do seu irmão.
— Puta que pariu! Você é mais corajosa do que eu pensava, Lira.
Pega aqui e costura logo a sua testa, mostra para o meu irmão que você
aguenta sentir um pouquinho de dor.
— Eu vou te matar, Lorena. E vou fazer isso devagarinho para que
possa sentir a morte chegando.
— Riccardo! — minha sogra chama a atenção do filho.
— Você já disse isso, amore mio, acho que, mais de cem vezes.
Agora é guerra, Riccardo Bianchi.
Carlo segura o espelho na minha frente e mesmo sem anestesia dou
o primeiro ponto na testa que arde feito o inferno e meu corpo treme com a
dor. O segundo dói pra caralho também, já o terceiro passa de boa.
— Cazzo[17]! Você nem mesmo fez cara feia. Tem muito homem
feito na máfia que desmaiaria no primeiro ponto — Carlo fala.
— Fazer cara feia não iria diminuir a dor. Agora só vou limpar e
depois disso você pode me dar uma carona até o haras? Eu já perdi tempo
demais aqui...
— Você não vai trabalhar hoje — Riccardo fala em alto e bom tom,
mas o celular dele toca logo em seguida.
Ele me olha como se me avisasse para não desobedecer com uma
cara mortal, mas depois se afasta para falar ao telefone.
— Riccardo tem razão, querida, não é melhor ficar em casa hoje?
Você sempre trabalha tanto.
— Desculpa, Giulia, mas estou criando um novo projeto que está
relacionado a gerência de reprodução assistida. Esse é um passo muito
importante para a minha carreira de veterinária. Também tenho que fazer
uma vistoria geral hoje no haras, verificar o controle de vacinação e,
simplesmente, não posso deixar nada disso para amanhã. Mas prometo que
se me sentir mal volto para casa imediatamente.
Ela segura as minhas mãos.
— Promete?
— Dou a minha palavra.
— Tudo bem, leve a Lorena, Carlo, e fique de olho na sua cunhada.
Mas antes troque de blusa, querida, você se sujou de sangue.
Olho para a minha blusa e vejo que ela tem razão, mas se subir para
trocar de roupa, dá tempo do Riccardo finalizar a ligação e me trancar
dentro de casa.
— Eu tenho roupa limpa no haras, Giulia, troco lá.
— Vamos lá, cunhadinha, te deixo no haras depois vou resolver
alguns negócios. Tenho umas cobranças para fazer hoje e preciso me
divertir um pouco. Hoje o inferno receberá mais algumas almas.
CAPÍTULO 38

Momentos antes...
Voltei da Calábria para Sicília porque meu tio estava enchendo a
porra do meu saco. Segundo a sua sabedoria infinita, eu estava precisando
transar com a minha jovem esposa, pois a culpa de apenas vinte dos
sessenta soldados enviados terem terminado vivos ao meu treinamento era
falta de sexo.
O que é um absurdo.
Sempre fui sanguinário e isso não é novidade para ninguém.
Se os novos membros não sobreviveram é porque eram um bando de
fracos e só quero os melhores trabalhando para mim. Agora se apenas vinte
restaram é porque esses eram os mais fortes e ponto final.
Foi difícil explicar para o velho o motivo de ter voltado para a
Calábria na madrugada do meu casamento, pois para ele aquilo era
inadmissível.
Mas a desculpa dos russos caiu bem, já que os filhos da puta
estavam nos dando dor de cabeça.
Os imbecis querem de todas as formas nos obrigar a negociar com
eles uma droga que levará vinte anos para ficar pronta e estavam
dificultando a nossa vida nas entregas de cocaína somente para chamar a
porra da nossa atenção. Eles tiveram até mesmo a ousadia de tentar roubar
uma das nossas cargas, o que não deu certo porque mandei a cabeça de cada
um de volta para a Rússia em uma caixa de madeira.
Espero que sosseguem agora.
Durante toda a viagem de volta, a única coisa em que pensava era na
minha esposa e no que ia fazer com ela, pois ainda não engoli o fato de ter
me casado com uma mulher que não era virgem.
A infeliz estava falando a verdade quando tentou me alertar que ela
não era a mulher certa para ser a esposa de um Don.
Mas ignorei, porque achava que ela estava tentando me fazer desistir
do casamento, afinal que mulher nascida e criada na máfia, conhecendo as
regras e tradições teria coragem de se entregar a outro homem antes do
casamento?
Pelo visto só a minha esposa mesmo.
O certo teria sido eu, como um homem de honra, devolvê-la ao pai
no mesmo dia, ou então tê-la matado por ser uma mulher que não segue as
tradições, assim serviria de exemplo para outras que tivessem essa ideia
maldita na cabeça, mas eu não consegui.
Algo dentro de mim, não deixou,
Nunca pestanejei em fazer algo em nome da máfia, mas dessa vez
eu mesmo quebrei as regras e as tradições.
Lorena me transformou em um homem igual a ela quando implorou
aos meus pés por piedade.
Eu não tenho piedade, mas, naquele momento, ao ver suas lágrimas
e seu desespero, com medo do que poderia fazer com o pai dela fez com
que algo mudasse dentro de mim. Foi mais fácil sair de perto, e deixá-la
sozinha, ou os meus demônios poderiam ganhar a batalha interna que
travavam comigo.
— Chefe, a senhora Bianchi está de saída. Os soldados informaram
no rádio que...
— Qual delas?
— Senhor!?
— Qual das senhoras Bianchi está de saída, idiota?
— A Lira, senhor.
— Quem!?
— A senhora Lorena.
Será que todos os meus soldados conhecem Lorena pelo apelido.
— Chame minha esposa de Lira mais uma vez e explodo a sua
cabeça.
— Desculpa, chefe.
— Não quero as suas desculpas, negue a autorização dela sair.
— Sim, senhor.
Nada como começar o dia com uma discussão de casal, pois pelo
que conheço, sei que ela ficará furiosa.
O soldado faz o que digo e não demora muito para que ele estacione
o carro ao lado do carro dela, que foi trocado é claro.
Mesmo com tudo o que ela fez, a desgraçada é minha esposa, e não
pode simplesmente andar por aí desprotegida.
A infeliz gosta de andar e ficar em casa deve ser um castigo para
ela.
Desço do carro e fico aguardando que ela desça do dela.
Sei que ela está dentro do veículo, então encaro a porta para que ela
perceba que não estou para brincadeiras, mas nada me preparou para o que
vejo quando ela abre a porta e desce.
— Don Riccardo, o que posso fazer pelo senhor?
Olho para a infeliz dos pés à cabeça.
Ela só pode estar sonhando se acha que vai sair de dentro dessa casa
vestida desse jeito, mostrando a porra da barriga, mas nem que estivesse
morto ela sairia assim. Eu a encurralo na porta do carro dela com um braço
a cada lado do seu corpo, inalando seu doce perfume.
— Onde pensa que vai, esposa? — pergunto com o rosto
praticamente colado ao dela.
— Trabalhar.
— Trabalhar!? Vestida desse jeito? A porra da minha mulher saindo
de casa vestida desse jeito? Você só pode mesmo estar querendo me irritar
logo pela manhã. Isso não se faz, amore mio, não comigo.
Ela respira fundo e acredito que deve estar com vontade de colocar
sua língua afiada em ação.
— Estou indo para o seu haras, trabalhar, queria que fosse vestida
como? Com um vestido de festa e salto alto?
“Eu sou veterinária, Don Riccardo, o senhor sabe disso.
“Essa roupa está mais do que adequada para o meu dia de trabalho,
ainda mais com o dia de hoje que está particularmente quente.”
É claro que ela não iria ficar calada!
Acaricio seu rosto e seguro com força seu maxilar, a encarando,
praticamente encostando meus lábios nos dela.
— Entre e troque de roupa agora mesmo. Você não vai sair mais é
nunca dessa casa, mostrando sequer um centímetro de pele da sua barriga.
Não vou falar duas vezes, Lorena, então não me teste, não me perturbe, que
ainda estou com você entalada na garganta. Se ainda não fiz nada com a sua
infeliz vida é porque gozei gostoso na sua boceta. — As palavras saem
ácidas pela minha boca, porque foi exatamente essa desculpa que usei
durante todo o mês para me controlar, a possibilidade dela estar grávida.
— O que quer dizer com isso, Riccardo?
Com um sinal que faço, todos os soldados saem.
— Sua menstruação ainda não desceu, não é mesmo?
Agora sim, ela se dá conta do que quero dizer.
Tenho vigiado Lorena todo esse tempo e sei de tudo, até mesmo que
seu período ainda não chegou.
— Você é um desgraçado, e te odeio com todas as minhas forças.
— Sou muito mais do que só um desgraçado, Lorena. Sei
exatamente tudo o que faz a cada minuto do dia. Transamos na nossa noite
de núpcias, fizemos isso mais de uma vez e gozei dentro de você em todas
elas. Não vou correr o risco de matar um filho meu junto a procriadora dele,
então até que a porra da sua menstruação desça está segura, depois disso já
não sei.
É nessa hora que tudo parece explodir, Lorena vem para cima de
mim, como uma pessoa completamente descontrolada, sem medo de nada e
nem ninguém.
— Seu desgraçado, cretino, monstro! Você acabou com a minha
vida, seu infeliz. Eu te odeio com todas as minhas forças, para mim, você
não passa de um ser humano sem coração.
— Ficou louca, porra? — Seguro seus pulsos, mas a infeliz parece
ter a força de um cavalo.
— Você ainda não me viu louca, Riccardo. Ainda estou sã e com
muita vontade de matar você.
— Já falei pra parar com isso, caralho! Não me faça ter que
machucar você, Lorena. Está me ameaçando? Logo eu?
Essa mulher perdeu completamente a noção do perigo, pois por
muito menos eu matei.
— Não merece ser pai. Criança nenhuma nesse mundo merece ter o
Diabo como pai. Você não sabe o que é ter sentimentos e que Deus abençoe
que não esteja grávida de você. Prefiro a morte a ter que colocar uma
criança sua nesse mundo. O seu paraíso deveria era agradecer ao Criador
por você tê-la deixado, só assim ela terá um futuro e uma família de
verdade, com um homem de verdade e não com...
— Cala a boca, sua desgraçada. — Perco a cabeça quando ela se
refere a Antonella.
Ela é um assunto proibido, um assunto meu, o mínimo de
humanidade que tenho pertence a ela, por isso a deixei ir, porque sabia que
ela nunca seria feliz de verdade ao meu lado.
Mas aí o pior acontece, viro Lorena com força de um lado para o
outro e ela bate a cabeça no retrovisor do meu carro. Vejo que ela está
lutando para não desmaiar quando minha mãe aparece, então a pego no colo
e a levo para dentro de casa, a deitando no sofá.
Mamma pede a uma das empregas a maleta de primeiros socorros e
mais uma vez Lorena me surpreende querendo fazer suturar na sua testa,
sem anestesia, negando atendimento médico.
— Tem o Kit de sutura e o fio que você quer, mas não tem anestesia,
Lorena. Serão três pontos, tem certeza de que aguenta isso? — Meu irmão
ainda tenta convencê-la do contrário.
Carlo chega para me avisar que preciso ir à empresa e vê tudo o que
está acontecendo.
— Lembra da competição do ano passado? — Lorena questiona
meu irmão.
— É claro que lembro, você competiu em três modalidades e
ganhou medalha de ouro nas três. Foram cinco dias de competição, foi
exaustivo para os atletas.
— Como foi que não percebi essa mulher nessa competição? Eu
deveria estar cego para não prestar atenção nela.
— Estava com o dedão do pé quebrado. Depois do último dia,
quando ganhei a terceira medalha de ouro, fui comemorar com os meus
amigos e fiz uma tatuagem.
Carlo gargalha alto e minha mãe parece estar completamente
surpresa, já eu tenho sentimentos fúnebres pelo meu sogro, aquele maldito.
— Você é louca mesmo, uma sádica, o casal perfeito. Vocês dois se
merecem.
— Você tem a porra de uma tatuagem? — pergunto a ela com
vontade de agarrá-la pelo pescoço.
— Riccardo, olha os modos! Você tem várias, por que ela não pode
ter uma?
— Não se meta nisso, mama. Onde tem essa tatuagem, Lorena?
Minha esposa me olha como quem diz que está por cima agora.
Ela é afrontosa, não tem medo de nada, e isso é a porra de um
grande problema.
— Você não viu, amore mio? Vai ser meio constrangedor mostrá-la
aqui, na frente do seu irmão.
Ela não pode ter sido tão louca a esse ponto!
Se Lorena tiver feito uma tatuagem íntima a mato sem
arrependimentos e depois vou atrás do tatuador para matá-lo também.
— Puta que pariu! Você é mais corajosa do que eu pensava, Lira.
Pega aqui e costura logo a sua testa, mostra para o meu irmão que você
aguenta sentir um pouquinho de dor.
— Eu vou te matar, Lorena. E vou fazer isso devagarinho para que
possa sentir a morte chegando — falo pausadamente para que ela entenda
muito bem o que vai acontecer.
Como foi que não vi essa tatuagem na nossa noite de núpcias?
Dio deve amar muito essa mulher, é a única explicação, pois apenas
uma intervenção divina para fechar meus olhos para isso naquele dia, ou, eu
estava tão louco de tesão que não reparei em nada a não ser na sua boceta
na minha cara.
— Você já disse isso, amore mio, acho que mais de cem vezes.
Por que não aceitei uma das escolhas do meu pai?
Por que tinha que desejar logo essa mulher, a pior de todas?
Meu irmão segura um espelho na frente dela e a infeliz faz ponto
por ponto, sem anestesia.
Tem muito homem feito que não aguentaria nem o primeiro ponto,
mas essa mulher endemoniada não faz nem cara feia.
Ela é um perigo, uma pessoa que aguenta a dor desse jeito é
perigosa.
— Cazzo! Você nem mesmo fez cara feia. Tem muito homem feito
na máfia que desmaiaria no primeiro ponto — meu irmão fala.
— Fazer cara feia não iria diminuir a dor. Agora só vou limpar e
depois disso você pode me dar uma carona até o haras? Eu já perdi tempo
demais aqui...
— Você não vai trabalhar hoje — falo e meu celular toca.
Tinha que ser justo agora?
CAPÍTULO 39

Eu me afasto para atender ao ver que é Antônio me ligando.


Entro no meu escritório e atendo a ligação.
— Fala, Antônio.
— Temos problemas.
Sento na minha cadeira já me preparando para a merda que deve
estar por vir, como se uma esposa desobediente já não me tirasse a paz.
— Quando é que não temos problema Antônio?
— Os russos.
Eu não acredito nisso!
Esses filhos da puta não desistem não?
— O que foi dessa vez? Eu já não mandei a cabeça deles de volta
para a Rússia? O que diabos ainda querem?
— Eles mandaram um aviso. Não vão desistir e querem negociar.
— Não tem negociação, porra. Carlo vai se casar com a herdeira
nova-iorquina e seremos nós a comandar...
— Eles estão ameaçando a sua esposa agora — ele fala me
interrompendo.
Pela primeira vez, em muitos anos, sinto o coração bater acelerado
no peito, tanto que dói, me deixando com o fôlego curto.
Mas que porra é essa que estou sentindo?
— Riccardo!
— Triplique a segurança dela. Nenhum fio de cabelo da minha
mulher cai no chão sem a minha autorização, entendeu bem, Antônio? —
Escuto o som de algo ser quebrado do outro lado da linha, mas estou pouco
me fodendo.
— Conhece muito bem a mulher com quem se casou. Se tivesse me
escutado ou escutado o seu pai isso não estaria acontecendo, porque teria se
casado com...
— Eu não me importo nenhum pouco com as suas reclamações,
Antônio. Vocês queriam que me casasse e fiz isso.
— Fez sim, mas se casou com a pessoa errada.
— Olha lá como fala da minha mulher, Antônio — falo com uma
voz ameaçadora que ele conhece muito bem.
— Pensa que não sei o verdadeiro motivo de você ter ido parar na
Calábria depois de consumar o seu casamento? Eu não sou idiota e muito
menos burro, Riccardo. Somos iguais, porra. Você realizou uma verdadeira
chacina naquele lugar, ainda matou os malditos Russos e arrancou a cabeça
deles sem nem mesmo pestanejar. Fez o seu tio, porra, que não tem
escrúpulos vomitar diante da cena horrenda que viu, tudo isso porque a sua
esposa não era mais pura.
Eu me ajeito na cadeira quando escuto a última parte do que ele fala.
Chegou a hora de colocarmos as coisas em pratos limpos por aqui.
— Tem certeza de que quer ir por esse caminho, Antônio? Tem
certeza absoluta?
Ele demora para responder, porque o que acabei de falar foi uma
bela de uma ameaça e ele sabe disso.
— Riccardo...
— Me diga como você sabe que a minha esposa não era mais pura
se fui eu que a comi?
Sei que está ansioso só pela sua respiração, pois tocou em um ponto
que não deveria.
— Me mostre o lençol de sangue então.
Eu dou a minha gargalhada mais diabólica a ele.
— Será que devo chamar Graziella aqui e perguntar a ela pelo lençol
de sangue da minha noite de núpcias? Porque se não me falha a memória é
ela quem troca os lençóis todas as manhãs e arruma os quartos, então...
— Não ouse encostar um dedo nela, seu desgraçado.
— É a boceta dela que você come quando vem a minha casa. Será
que é por isso que vem tanto aqui?
— Riccardo, por Dio...
— Não mexa com a minha mulher que não toco na sua. Não se meta
no meu casamento que não me meto no seu romancezinho de merda. Ou
você pensa mesmo que estava comendo a minha empregada debaixo do
meu teto e não ia ficar sabendo?
“Sabe melhor do que ninguém como é que essa sua história vai
terminar, Antônio, porque nunca vai poder se casar com uma empregada,
assim como aconteceu com o Carlo vai acontecer com você.
“É só uma questão de tempo.”
Ele fica calado por alguns segundos, pois sabe que estou falando a
verdade, mas não vai querer aceitar fácil.
— Você pode escolher...
— Não se compare a mim, Antônio. Não deseje nunca na sua vida
estar no meu lugar. Sou o monstro, o Diabo sem coração, o homem que não
merece ter um filho por ser cruel demais. Sou o Don mais temido que a
Cosa Nostra já teve, inclusive tive que abrir mão de coisas que você sequer
tem noção. Então, meu amigo, não condene a Graziella a essa vida, seria
cruel demais com ela.
— Você condenou a Lorena e ela também não merecia isso.
Travo o maxilar me dando conta de que ele talvez tenha razão, mas
agora é tarde demais.
— É, eu condenei, tenho consciência disso, mas não faça o mesmo
que eu fiz. Eu não posso voltar atrás com a minha decisão, mas você ainda
tem tempo. Graziella é uma jovem sonhadora e se tivesse condições seria
uma Lorena na vida. Case com uma mulher criada para ser exatamente o
que precisamos que seja e nunca mais abra a sua boca para falar sobre a
pureza da minha mulher, isso não é assunto seu.
— Você é um homem de honra, Riccardo.
— Você também é, e mesmo assim comeu a minha empregada, a
filha de um soldado de confiança do meu pai. O velho não vai ficar feliz
quando souber disso e vai arrumar um casamento para você em dois
tempos, além de que vai entregar Graziella ao primeiro soldado que aceitá-
la sem ser pura. Imagine só a vida que ela terá. E antes que você fale merda,
já vou logo avisando que não me meto nos assuntos do meu pai, ainda mais
quando se trata desse tipo de coisa.
— Caralho, que vida maldita!
— Concordo com você, mas não podemos fazer nada para mudar o
que nascemos para ser. Agora faça o que falei e cuide da segurança da
minha esposa.
— Tudo bem, mas você se acerta com ela depois. Não tenho
paciência para as reclamações da Lorena que é bem difícil quando quer ser.
E outra coisa, vê se segura a sua mulher em casa, fazer isso ajudaria muito,
já que é ela que os russos estão a fim de pegar para obrigar você a negociar
com eles.
Lorena e casa na mesma frase não combina, porque ficar em casa é
a única coisa que ela não faz.
— Vou tentar.
— Não tente, faça. Você é o Don, não é possível que não consiga
manter a sua mulher quieta.
— É da Lorena que estamos falando.
— Eu sei e deveria ter me escutado antes de se casar com ela.
O desgraçado desliga a ligação na minha cara sem me dar a
oportunidade de mandá-lo ir se foder.
Mas que droga!
Levanto e resolvo ir até à sala ver como está Lorena, além de tentar
convencer a teimosa a ver um médico.
— Onde ela está? — pergunto ao ver apenas mamma lendo um
livro, sentada no sofá.
— Pode ser mais específico, querido? — Ela nem mesmo se dá ao
trabalho de me olhar.
— A minha esposa, mamma.
— Ah, a sua esposa, a mesma que você largou sozinha na noite de
núpcias para ir à Calábria? — ela fala sem tirar os olhos do livro.
— Mamma!
Ela fecha o livro e me encara.
— Ela foi para o haras, seu irmão a levou, e depois nós dois vamos
ter uma conversinha, Don Riccardo, de mãe para filho.
Era só o que me faltava, a minha mãe se metendo na minha vida.
Mas o que importa agora é que a porra da teimosia em pessoa não
está em casa e isso vai ser um problema dos grandes.
Ah, mas vai!
Prevejo o caos se aproximando.
CAPÍTULO 40

Dor de cabeça, é isso que estou sentindo depois de um dia


exaustivo de trabalho, isso sem contar a pancada forte que levei na cabeça

hoje cedo.
Dio mio, como estou cansada!
Tudo o que queria agora era a comida gostosa da Rosa e a minha
cama quente e macia.
— Senhora, já é tarde, temos ordens de levá-la de volta para casa.
Levo um susto grande quando a minha sala é invadida por um
soldado.
— Não sabe bater à porta?
— Desculpa, senhora. Eu bati, mas a senhora parece não ter
escutado.
— Pare de me chamar de senhora, pois desse jeito me sinto mais
velha do que a minha sogra. Espere mais cinco minutos e saímos. Não
vamos para a mansão, hoje quero ficar com o meu pai.
O soldado parece não gostar do que escuta.
— Desculpa, senhora, mas nossas ordens são para levá-la
diretamente para casa.
Mas não mesmo, não depois do que escutei do meu marido hoje.
— Ordens de quem? Será que pode me dizer? — Cruzo as mãos
apoiando os cotovelos na mesa.
— Do consigliere.
Menos mal.
— As minhas ordens estão acima das do consigliere. Se fosse uma
ordem direta do meu marido, ficaria quieta, mas não é. Então...
— Senhora...
— Não discuta comigo, me espere lá fora que saio em cinco
minutos.
Ele fica me encarando.
— Fora!
Ele desiste e sai.
Não vou para casa hoje, afinal meu marido sente nojo demais de
mim. Ele pode usufruir da cama todinha que não irei me deitar nela hoje.
Realmente não sei como vou fazer para conseguir conviver com
Riccardo, pois para mim, parece ser algo impossível de acontecer.
Quando termino de organizar tudo e saio da sala vejo o soldado me
aguardando na porta, então o acompanho até o estacionamento do haras e
fico literalmente de boca aberta com o que vejo.
— Mas que porra é essa?
Tem um verdadeiro exército de soldados esperando por mim.
Será que Riccardo enlouqueceu de vez?
— Sua segurança foi triplicada, senhora — ele fala e eu arregalo os
olhos voltando a minha atenção para ele.
— Mas, por quê? Aconteceu alguma coisa?
— Nossas ordens são de apenas proteger a senhora com as nossas
vidas se for preciso.
— Mas isso é um absurdo de exagero. Quem deu essa ordem?
— Senhora...
— Não precisa responder, já até imagino quem foi. — O desgraçado
do meu marido, certamente.
— Senhora, não complique a nossa vida e nem a sua, por favor.
Sei que eles apenas estão cumprindo ordens, então resolvo cooperar
e entro no carro.
— Para a casa do meu pai, é uma ordem.
Ele não discute mais comigo e passa as minhas ordens aos outros
soldados pelo rádio.
O soldado coloca o veículo em movimento e começo a pensar em
tudo o que aconteceu hoje pela manhã. Não foi fácil enfrentar o Riccardo
daquele jeito e sei que estou brincando na cara do perigo, mas ele tem o
poder de me deixar descontrolada. Ele me trata como se eu fosse um animal
que ele tem que adestrar.
Depois que Carlo me deixou no haras, mergulhei de cara no
trabalho, aproveitei e treinei a tarde toda. Confesso que enrolei até onde
pude para não ter que voltar para a casa ou atender ligações que sabia de
quem eram.
Meu celular tocou várias vezes durante a manhã e à tarde, mas não
atendi nenhuma delas. Vi que algumas eram do Jorge, mas não atendi
também.
Tudo o que queria era paz e sabia que se atendesse o telefone a
minha paz iria embora.
Não foi nada fácil me dar conta do que Riccardo estava fazendo,
vigiando até mesmo as minhas regras, por isso ele ainda não tinha feito
nada.
Mas agora me pego pensando em outra questão...
O que vou fazer da minha vida?
Não consigo mais enxergar um futuro para mim, sendo a esposa do
Don, afinal a minha carreira no hipismo está por um fio e não sei nem como
Riccardo ainda permite que venha para o haras, mesmo nós dois já tendo
conversado sobre isso antes do casamento.
Não sei se ele vai manter a sua palavra, dadas as circunstâncias do
que aconteceu na nossa noite de núpcias.
— Senhora, estamos chegando na residência do seu pai, mas a
ordem é de levá-la imediatamente para a mansão.
Olho pela janela e já consigo avistar a casa do meu pai.
— Mas já estamos chegando.
— Senhora, agora são ordens diretas do Don Riccardo. E ele disse
também para a senhora atender o telefone.
Malditos soldados e seus rádios de comunicação!
Eu nem tenho tempo de responder e o meu celular toca novamente.
— Vou atender o telefone, mas me leve para a casa do meu pai.
— Mas, senhora...
— Agora mesmo. — Pego o telefone e vejo o mesmo número que
me ligou mais cedo, o que significa que estou certa e esse é o número do
meu marido.
— Lorena Bernardi, quem está falando?
O soldado me olha pelo espelho retrovisor como se eu fosse louca
dando o meu nome de solteira e acho que devo ser mesmo, pelo menos um
pouquinho.
— Amore mio, você realmente deve sentir muito prazer em me
irritar, ser desobediente, piccolla, e colocar a vida de terceiros em risco.
Eu não vou mais permitir que ele me ameace usando o meu pai.
— Não me ameace, Riccardo, o meu pai está fora da sua equação.
Ele sorri do outro lado da linha.
— E quem foi que disse que estou falando do seu pai?
— E não está?
— Sabia que a esposa do soldado que desobedeceu às ordens de
Antônio teve um lindo bebê há menos de cinco dias? Será uma pena a
criança perder o pai assim de uma hora para outra. Antônio e eu somos
parecidos em muitos aspectos, não gostamos de ser contrariados.
Olho para o soldado no instante em que ele estaciona o carro na
frente da casa do meu pai e não posso arriscar a segurança dele, afinal esse
maldito tem coragem de fazer o que fala.
— Riccardo, só quero jantar com o meu pai. Estou com saudade
dele e da Rosa.
— Você vê os dois quase todos os dias. Eu não gosto nada disso,
Lorena, quero você em casa.
— É o meu pai, Riccardo, a mulher que me criou e não pode me
impedir de vê-los. — Abro a porta do carro, descendo.
— Volte para casa agora mesmo, é uma ordem, Lorena.
Que se foda!
— Espere sentado, amore mio.
— Lorena...
Desligo a ligação na cara dele antes que termine de falar.
Estou segura até que minhas regras desçam e ele não vai fazer nada
com o soldado, ou teria que matar todos.
— Vou esperar pela senhora aqui.
— Não espere, vou dormir aqui hoje.
O homem engole em seco.
— Mas, senhora, o Don Riccardo pode não gostar.
— Eu não estou nem um pouquinho preocupada se ele vai gostar ou
não. Ele que volte para a Calábria se estiver achando ruim. — Entro na casa
do meu pai sem nem mesmo prestar atenção no que o soldado fala.
Quando papai me vê fica surpreso com a minha presença.
— Por Dio, minha filha, o que está fazendo aqui? E o que foi isso na
sua testa?
— Boa noite para o senhor também, papai, estou feliz em vê-lo bem.
— Tiro a bota e me jogo no sofá.
— Lorena, o que foi isso na sua testa? E o que está fazendo aqui?
Deveria estar na sua casa, cuidando do seu marido — ele fala sério.
Meu pai morre de medo do Riccardo e com razão, mas ele que não
se atreva a tocar no meu pai novamente.
— Em primeiro lugar, papai, não preciso cuidar de ninguém, meu
marido já é um homem barbado que sabe fazer suas merdas sozinho. Quero
mais é que ele vá para o inferno.
“Segundo, aqui é a minha casa também, e a menos que o senhor não
me queira mais aqui, vou embora para a minha prisão.
“Terceiro, isso aqui na minha testa foi um acidente provocado pelo
seu genro desgraçado, tudo porque toquei no nome do paraíso dele.”
Eu devo ter sido uma filha da puta muito cretina em outra vida para
estar sendo castigada desse jeito nessa.
— Lorena, minha filha, por que não aceita de uma vez por todas o
seu destino? — Meu pai se senta ao meu lado e coloca a minha cabeça no
colo dele, analisando os pontos na minha testa.
— Porque esse não era para ser o meu destino, papai. É muito
injusto o que aconteceu comigo e estou tão cansada de tudo. A minha vida
está uma merda. Eu deveria ter morrido no lugar da minha mãe, assim
evitaria...
— Não fale besteiras, menina. Sua mãe teria escolhido você mil
vezes se fosse preciso. Os poucos minutos que ela teve você em seus braços
te amou e ninou, me fazendo jurar que te daria uma vida diferente da que
ela teve.
Minha mamma, nem mesmo sei o cheiro que ela tinha.
— E do que adiantou, papai, o senhor me proporcionar uma vida
diferente? Eu acabei caindo nos braços do Diabo de qualquer jeito. Estudei
tanto, treinei tanto para sempre ser a melhor e tudo isso foi em vão. Perdi
até mesmo o único amigo que tinha de verdade, porque Bernardo sumiu do
mapa sem dar notícias.
Meu pai me olha de um jeito estranho.
— O que foi, pai? O senhor tem notícias do Bernardo?
Ele balança a cabeça dizendo que sim.
— Fiquei sabendo que ele está negociando com outro centro de
hipismo, um na América, parece que ele vai morar lá agora.
Sinto como se uma faca estivesse sendo cravada no meu coração,
pois Bernardo e eu sempre fomos uma dupla, desde crianças, mas agora ele
está me deixando e nem mesmo se deu ao trabalho de me comunicar.
— Eu vou perdê-lo também, papai, vou perder o meu amigo.
— Não fale isso, Lorena. Sabe que as coisas não estão fáceis como
deveria. Não julgue o pobre Bernardo, ele é um bom menino, mas tem que
ir atrás dos sonhos dele agora, já que você...
— Eram os nossos sonhos, os nossos planos, e não só dele, papai.
— Agora é só dele, Lira. Você não faz mais parte de nada disso, é só
uma questão de tempo até que pare de competir de uma vez, isso se já não
parou. Você é a esposa do Don, é arriscado demais toda essa exposição e o
chefe jamais permitiria isso.
Levanto de uma vez e, por poucos segundos, fico tonta, então volto
a me sentar.
Maldita pancada na cabeça!
— Eu não aceito! Eu me recuso a aceitar isso.
— Não seja teimosa, Lira, escute o seu pai e aceite de uma vez o seu
destino. Agora vá lavar as mãos para jantar e depois trate de voltar para a
sua casa — Rosa entra na sala, falando alto e olho para ela.
— Essa é a minha casa.
— Não, querida, essa casa deixou de ser sua no dia em que se casou
com o chefe da Cosa Nostra. Agora vá lavar as suas mãos para jantar e
chega desse assunto. Não coloque mais a vida de ninguém em risco por
causa da sua teimosia. Os pobres soldados estão apavorados lá fora com
medo do que pode acontecer a eles. Pessoas inocentes se machucam,
Lorena Bianchi, quando a esposa do Don não cumpre as ordens dele.
Odeio admitir que ela tenha razão.
— Bando de borra-botas, isso sim, que eles são. — Levanto do sofá
e faço o que Rosa manda, deixando o meu pai na sala, sorrindo do que falo.
CAPÍTULO 41

Durante todo o jantar escuto calada o sermão interminável de


Rosa, me ensinando como ser uma boa esposa para o meu marido agora que

ele está de volta. Ela teve a coragem de me mandar cozinhar para ele e
preparar um banho quente depois de um dia exaustivo de trabalho, o que é
ridículo. Se Riccardo para comer for depender de mim, ele vai morrer de
fome e ainda vai morrer sujo porque nem fodendo que preparo um banho
para ele.
A não ser que seja para colocar ácido na banheira.
— Eu não gosto dessa sua cara, Lorena — Rosa fala chamando a
minha atenção.
Meu pai olha para mim e sorri balançando a cabeça.
— Mas eu não fiz nada.
— Está pensando. Seu problema é esse, você faz uma cara de
diabrura quando está pensando no que não deve.
Agora não posso mais nem pensar?
— Mas, Rosinha, eu sou um anjo.
— Caído, só assim para você ser um anjo.
Nisso eu concordo.
— Rosa, não fale assim da nossa menina. Lira é única, minha filha...
Papai se cala quando a nossa porta é espancada pelo lado de fora.
— Dio mio, só pode ser o Diabo — Rosa fala apavorada.
— Deve ter vindo buscar o anjo caído.
— Pai!
— Vá abrir a porta, antes que o seu marido a derrube.
Estou prestes a abrir a boca...
— Agora e sem reclamar. Lembre-se das palavras da Rosa de como
ser uma boa esposa, vá abrir a porta.
Eu chego a tremer por dentro.
— Sim, senhor. — Eu me levanto e a pobre porta é espancada
novamente.
— Já vai, não tem ninguém surdo aqui. Será que custa ter um pouco
de paciência? Mas que inferno!
Meu pai deve estar querendo morrer ao me escutar falar uma coisa
dessas, porque é exatamente o contrário do que ele e Rosa falaram para que
eu fizesse.
— Don Riccardo, chegou no fim do jantar, uma pena. Não vou
poder convidá-lo para entrar, então adeus — falo quando abro a porta e vejo
a cara raivosa do meu marido.
Quando tento fechar a porta ele coloca o pé no meio e a abre de uma
vez, entrando na casa.
— Eu dei uma ordem a você e o que fez, esposa? Responda! — ele
pergunta entredentes com o maxilar travado.
— Desobedeci como sempre faço. Algum problema quanto a isso?
Estou na casa do meu pai, jantando com ele, passando um momento em
família agradável até você chegar para atrapalhar. É falta de educação, Don
Riccardo, chegar na casa das pessoas sem avisar.
— Lorena!
Escuto a voz do meu pai atrás de mim e Riccardo sorri de lado, mas
isso não é bom.
— Está proibida de vir até aqui e está proibida também de sair de
casa. Se é assim que quer agir, por mim, está tudo bem, eu até prefiro.
Ele não pode estar falando sério.
— Não pode fazer isso comigo, sou sua esposa e não sua
prisioneira.
— Só não posso como já fiz. Não vai mais sair de casa se não for
comigo ao seu lado.
— Isso é cárcere privado, é um crime. — Dou um passo em sua
direção.
— Ligue para a polícia então, vamos ver o que acontece.
Ele manda na polícia, desgraçado!
— Lorena, minha filha vá para casa com o seu marido e conversem
de cabeça fria, brigar não vai resolver os problemas de vocês.
Riccardo olha do meu pai para mim e me encara por rápidos
segundos.
— Você tem um minuto para se calçar e me encontrar no carro. E
você, Felix, vamos ter uma conversinha depois.
— Sim, senhor Don Riccardo.
É nessa hora que o meu coração falha uma batida.
— O que você vai fazer com o meu pai? — Seguro o braço do meu
marido quando ele se vira para sair de casa.
— Deveria se preocupar com isso antes de fazer o que não deve,
esposa. — Ele puxa o braço e sai, então me viro para o meu pai.
— Pai, eu sinto muito, ele pode...
— Não se preocupe, ele não vai fazer nada comigo.
— Como o senhor pode ter tanta certeza disso? Ele é o Diabo,
esqueceu?
— O olhar dele está diferente. Vá em paz para a sua casa, pois acho
que está conseguindo operar um milagre, minha filha.
— O quê? Que história de milagre é essa?
Meu pai não responde a minha pergunta.
— Vá, Lorena, seu tempo está acabando. Creio que você não quer
que ele volte aqui.
Droga!
— Tudo bem, volto assim que der. — Vou até o meu pai e o beijo, já
Rosa não sei onde se meteu, mas não tenho tempo de ir procurar por ela.
— Não se preocupe comigo, vai ficar tudo bem, agora vá.
Pego as minhas botas que estavam jogadas próximas ao sofá e saio
de casa descalça mesmo, segurando o calçado nas mãos. Vejo Riccardo de
braços cruzados, encostado no carro e ele conversa com alguns soldados.
Como sempre, o Diabo está perfeito.
A alma pode ser feia e suja como a de um Demônio, mas a
aparência é de um anjo, criado com perfeição.
Sem quebrar o contato daqueles olhos intimidadores mandando
calafrios por minha pele, ele abre a porta do carro. Entro e me acomodo
sem falar uma única palavra.
E é assim a viagem toda, ele concentrado na porra do celular e eu na
chuva forte que começa a cair de uma hora para a outra pelas ruas da
Sicília.
Meus pensamentos estão na mais completa desordem, afinal meu
destino é incerto demais para que mantenha a mente limpa.
Minha vida está na mais completa desgraça e não há nada que possa
fazer. Estou nas mãos de um homem cruel e que não se importa com nada.
Não duvido que não pensará duas vezes antes de matar para alcançar
qualquer que seja seus objetivos.
O maldito Demônio que entrou na minha vida para mudar aquilo
que eu era, para acabar com minha essência e destruir meus sonhos.
— Chegamos, se calce...
Abro a porta do carro e desço sem nem mesmo deixar que ele
termine de falar. Entro em casa e passo pela sala agradecendo aos céus que
não tem ninguém por ali para falar comigo. Subo a escada correndo e entro
no quarto ofegante, fechando a porta atrás de mim e me encostando nela.
Caminho até o banheiro, observo a imagem refletida no espelho e
percebo que há algo diferente em mim, mas não sei exatamente o que é.
A única certeza é que algo mudou em mim...
Como se fosse outra pessoa no reflexo e não eu.
A minha testa ainda está vermelha e inchada e lateja devido a
pancada de hoje mais cedo.
Preciso me lembrar de tomar um anti-inflamatório para que não
piore ou infeccione.
Tiro a roupa e entro no box ligando o chuveiro numa temperatura
agradável, que dê ao menos para relaxar os músculos e aliviar a tensão.
Mas é só fechar os olhos que a imagem de Riccardo vem perturbar
minha mente como sempre faz.
Estou com a cabeça apoiada na parede, com a água caindo pelo meu
corpo quando sinto uma presença no banheiro. O corpo estremece e os
pelos ficam arrepiados quando a porta do box é aberta e uma respiração
morna toca meu pescoço.
É ele.
— Olhe para mim — ordena.
Levanto a cabeça e abro os olhos.
Riccardo está completamente nu à minha frente, seu membro está
duro feito pedra e as veias salientes. Seu corpo forte é revestido por
tatuagens e seu rosto mesmo impassível é bonito, parece até ter sido
esculpido por deuses.
Mesmo que digam que sua personalidade é semelhante à do Diabo.
Grande engano meu achar que uma porta trancada iria impedi-lo de
entrar aqui.
Eu me sinto pequena e indefesa perto da sua presença ameaçadora,
pois aqui, dentro do banheiro, posso sentir o poder da sua energia sobre
mim.
Riccardo não é um homem comum, há muita coisa por trás de um
vulgo homem.
Ele contorna meu rosto suavemente e dá um passo em minha
direção, encostando a boca no vão do meu pescoço, dando leves beijos e
mordidas.
Solto um gemido reagindo aos seus toques e meu corpo entra em
combustão como se não tivesse mais o controle de mim mesma.
E não tenho, pois, é praticamente impossível não reagir ao meu
marido.
— Vou te foder, esposa — sussurra no meu ouvido.
Minhas pernas bambeiam e tudo dentro de mim, vai se apertando ao
mero som da sua voz exigente.
Estou derretendo como uma mocinha indefesa, mas não irei me
sentir culpada, afinal Riccardo destila sedução pelos poros.
Ele me toma, causando um choque elétrico dentro do meu cérebro
que dispara prazer por cada terminação nervosa do meu corpo. Sua língua
brinca com a minha, acariciando, me instigando a retribuir.
É tão macia, gostosa.
O sabor mentolado, me aquece por dentro.
— Riccardo — gemo seu nome quando mordisca meu lábio,
esfregando a barba em meu rosto. — Não pare.
Voltando a me beijar, ele enreda a mão no meu cabelo, me
dominando por completo.
Não há nenhuma pressa, pois ele está degustando, tomando seu
tempo com prazer, como se houvesse esperado muito por aquilo.
Seu beijo me consome e não quero parar nunca, pois posso beijá-lo
até morrer de prazer.
Mas aí me lembro do que aconteceu hoje pela manhã e tento
empurrá-lo, o que é inútil.
— Não, eu não quero.
— Mentirosa, você é a porra de uma grande mentirosa e odeio
mentiras, amore mio.
Riccardo me vira de frente para a parede e se posiciona atrás de
mim, então abaixando levemente, direciona seu membro na minha
intimidade e me penetra numa estocada firme.
Meu corpo reage de imediato e grito após ser completamente
empalada.
Fechando os punhos no meu cabelo, Riccardo o puxa bruscamente
para trás...
— Que tipo de Demônio é você? — gemo, me perdendo na
imensidão do prazer que o homem me proporciona, me perdendo na luxúria
do famigerado Don.
— Um que gostou muito de te foder.
Ele continua me fodendo forte, sem dizer nada.
O contato da parede gelada roçando nos bicos dos meus seios me
deixa ainda mais excitada.
Quase perco a noção quando ele desce a mão até meu clitóris e em
movimentos circulares vai me masturbando enquanto estoca forte em minha
boceta, que pulsa de tesão.
Ele tira o seu pau de dentro de mim e volta a estocar forte.
Meus gemidos se misturam ao barulho da água caindo do chuveiro e
do seu corpo batendo contra minha bunda...
— Vem para mim, doce Lorena. Se entregue por completo a mim —
ele ordena e empino minha bunda para ele.
Riccardo me segura pelo pescoço enquanto aumenta o ritmo das
estocadas.
Quando penso em gritar novamente, ele ataca minha boca e sua
língua me invade serpenteando cada canto, abafando meus gemidos
enquanto seus dentes rasgam a carne sensível dos meus lábios.
Sinto minhas pernas ficarem bambas cada vez mais e minha
intimidade latejar forte até que me desmancho, gozando dolorosamente.
Meu corpo atinge o ápice em espasmos alucinantes.
Riccardo me mantém suspensa enquanto me fode sem piedade.
Sua respiração se torna mais ofegante e o seu membro lateja dentro
de mim, me enchendo com seu gozo que escorre pelas minhas pernas.
Mas ele continua me fodendo, até que seu membro volta a crescer
dentro de mim.
Passo horas intermináveis no banheiro com Riccardo, sendo fodida
pelo meu marido em todas as posições que achei não ser possível.
Ele é um homem insaciável e já não aguento mais gozar.
Assim que ele se sente satisfeito sua respiração retorna ao normal e
ele sai de dentro de mim. Em seguida, toma um banho e enrola a toalha na
cintura, saindo do banheiro como se nada tivesse acontecido.
Assim que me recupero, tomo meu banho, me ajeito vestindo o
roupão e vou atrás dele.
CAPÍTULO 42

Quando saio do banheiro procuro por Riccardo dentro do


quarto, mas não o acho. Dando mais um passo à frente vejo o homem

sentado na poltrona, no canto escuro, segurando um copo de whisky.


Uma das vantagens de se ter um bar do quarto.
Amarro o nó do roupão com mais força para que ele não se abra por
vontade própria, pois o olhar que meu marido me direciona é tão intenso
que me deixa sem jeito.
Com toda certeza, o cretino deve estar pensando em tudo o que
acabamos de fazer no banheiro e eu, agora, depois de ter gemido o nome do
cafajeste feito uma cadela estou buscando coragem para entrar em mais um
assunto delicado com ele, coisa que deveria ter feito antes de abrir as
pernas.
— Precisamos conversar.
Ele bebe o restante do conteúdo em seu copo em um só gole.
— É nós precisamos e o assunto é mais do que sério.
“Dio mio, me ajude.”
Ver meu marido ali, sentado na poltrona, todo poderoso, faz meu
coração bater ainda mais rápido, como se fosse cair sobre meus pés.
Riccardo teve tudo de mim, me entreguei de corpo e alma para ele
no sexo, sem restrição e espero que isso amenize seu mau humor para o que
vai falar agora.
Sob seus olhos frios e enigmáticos, dou alguns passos à frente e paro
diante dele. A tensão está no ar e meu corpo treme mais do que deveria.
Mas, sob hipótese alguma mostrarei meu medo, pois sempre ouvi
dizer que demônios se alimentam dos nossos medos.
— Riccardo, eu...
— Onde é que você tem a maldita tatuagem? E quem a fez?
Isso me pega desprevenida.
É com isso que ele está se preocupando no momento?
— O quê?
— Você não é surda, Lorena. Responda a minha pergunta. — Ele
está falando sério, muito sério, muito sério mesmo, mas a minha vontade é
de sorrir.
É claro que não farei isso.
— Riccardo, a minha tatuagem não vem ao caso agora, mas sim...
— Onde você fez a maldita tatuagem e onde ela fica no seu corpo.
“Calma, Lorena, muita calma, respira fundo...”
— Responde, caralho!
Agora mando a calma para os quintos dos infernos.
— Você é cego ou o quê? Ah, me lembrei, hoje você não se deu ao
trabalho de me chupar, não é mesmo? Por isso não deve ter visto a tatuagem
na minha virilha, bem pertinho da... — Deixo a frase morrer e o resto fica a
cargo da imaginação dele.
Eu tenho um crucifixo tatuado, o mesmo que ele tem no pescoço.
— E onde foi que você fez essa tatuagem?
Observo a grande calma do Don, mas a maneira como ele aperta o
copo me mostra que ele não está tão calmo quanto demonstra estar.
— Não é da sua conta.
Ele joga o copo com toda a força na parede se levantando e me
assusto.
— Passa a ser da minha conta quando fico sabendo que outro
homem tocou no corpo da minha mulher. Na verdade, esse vai ser o
segundo da minha lista porque o primeiro já estou caçando.
— Não seja ridículo, Riccardo. Quando fiz a tatuagem nem mesmo
me preocupava com a sua existência e pode parar de caçar seja lá quem for,
pois, tudo isso faz parte do meu passado e você agora é o meu presente, o
meu futuro. É nisso que devemos nos concentrar, em como vamos fazer
para não matarmos um ao outro de raiva.
Ele respira fundo estralando o pescoço.
— Sinto uma vontade imensa de te matar crescendo dentro de mim,
toda vez que me lembro que não era mais pura, quando me vêm à mente a
situação em que me colocou como homem de honra.
Por um lado, o entendo, mas seria bom se ele entendesse o meu lado
também.
— Eu sinto muito, Riccardo, sinto muito mesmo se tive que te
colocar nessa situação, mas você não me escutou e ainda mandou espancar
o meu pai, o que queria que fizesse? Queria que eu gritasse todo dia na sua
cara que não era virgem? Você não iria escutar, então tudo o que me restou
a fazer foi aceitar a sua vontade e implorar piedade a você na nossa noite de
núpcias. Tentei ser sincera, juro que tentei, mas você não me deu ouvidos.
— Não é assim que as coisas funcionam, Lorena.
— E como é que elas funcionam, Riccardo? Tem noção de como me
senti quando você foi embora e me deixou sozinha aqui? Você me deixou
após a gente fazer…
“Eu me senti usada, um lixo, mas é isso que você me considera, não
é?
“Um pedaço de carne que só vai servir para carregar o seu filho.
“Depois que isso acontecer vai arrumar um jeito de me descartar e
quem sabe assim você não consiga reatar o romance com o seu paraíso, já
que é ela que você ama.”
Lembro das cartas e fotos que vi naquela caixa hoje pela manhã.
Como sou idiota e burra!
Não acredito que ainda tive coragem de me entregar para ele depois
de tudo.
— Não mencione...
— Denuncio você por traição, Riccardo. Eu posso ter feito coisas
erradas, posso ter ido contra nossas regras e tradições, mas isso foi antes de
você. Agora, se me trair depois do juramento do sagrado matrimônio
denuncio você. O consigliere mesmo sendo seu amigo será obrigado a levar
a acusação adiante, então pense duas vezes antes de meter a porra do seu
pau na boceta de qualquer vagabunda por aí.
Riccardo se aproxima e antes que consiga me afastar, me segura
pelo braço, mas ele que não pense que vou baixar a cabeça.
— Você está proibida de levar nossos problemas para fora desta
casa. O que acontece entre nós dois, ficará entre nós. — Ele evita me
encarar, em seguida me solta e vai até o bar, onde se serve de uma dose
generosa de whisky.
— Você não tem esse direito.
— Você é minha e tenho todos os direitos que imaginar. Está nas
minhas mãos, amore mio. E o que falei na casa do seu pai é sério, está
proibida de sair.
Fico petrificada, com os pés grudados no chão, ouvindo cada
palavra proferida que me atinge como um soco no rosto.
— Não pode fazer isso, estou no meio de um projeto no haras e
tenho uma competição...
— Eu já disse que você não é insubstituível, tanto que já estou
providenciando outra pessoa para ocupar o seu lugar. Parece que o seu
prazo como minha esposa foi revogado por mais um mês, tendo em vista o
que acabamos de fazer no banheiro. — Ele vira o whisky em um só gole,
ainda mantendo os olhos fixos em mim.
— Por que eu? Por que me escolheu? Por que sente prazer em
destruir tudo o que passei uma vida inteira para conseguir? — Tento não
vacilar nas palavras.
— Porque eu quis, porque te desejei e posso ter tudo o que quero.
Eu quero sua presença dentro dessa casa, então você não sai. E você
também não me questiona.
— O senhor não pode fazer isso, não é dono do meu livre arbítrio.
Saiba que se casou com a mulher errada se acha que vou obedecê-lo assim.
A tensão está no ar.
Essa é a mais pura verdade, tudo o que sinto nesse momento, um
misto de raiva e frustração.
Dessa vez ele joga o copo no espelho do bar, espatifando o vidro em
mil pedaços, depois avança em mim, fechando o punho em meus cabelos.
Tento não me apavorar.
— Tem razão, mas acho que devo lembrá-la do que sou capaz de
fazer com quem me desobedece — rosna próximo ao meu rosto. — Você
está nas minhas mãos. Não só você como o seu querido papai, tanto que se
eu quisesse matá-los, estaria feito. Eu nunca falho, Lorena. Nunca.
Meu corpo todo trava.
Isso foi uma ameaça, clara, alta e em bom som.
A minha vontade é de sair correndo daqui e nunca mais voltar, mas,
infelizmente, não tenho escolha. A maldita máfia não nos dá escolha e não
tenho para onde fugir, pois, sei que ele iria atrás de mim e me encontraria
onde quer que eu estivesse.
Meu rosto deve estar horrorizado, pois, vejo quando ele dá um
sorriso contido, mas logo sua face muda completamente dando lugar ao
semblante sombrio de sempre.
— Vejo que está pensando em colocar suas asinhas de fora, mas
digo que já pode ir desistindo, esposa. Saiba que diferente do seu pai, não
vou deixar você voar. Você se tornou minha propriedade a partir do
momento que passou a carregar meu sobrenome. Essa é a lei que perpetua
por anos e não vou mudá-la somente porque você quer.
— Riccardo, por favor...
— Não implore, Lorena, não implore por nada. — Ele me dá as
costas como se não quisesse me encarar e fica parado em frente a janela que
está aberta, olhando para fora.
Ele está evitando me olhar porque iria implorar a ele?
“O olhar dele está diferente. Vá em paz para a sua casa. Acho que
está conseguindo operar um milagre, minha filha”
Lembro das palavras do meu pai.
Não é possível, não é?
Riccardo não se importa com nada e nem com ninguém, pois ele não
tem sentimentos, é um monstro sem coração.
— Vá se trocar, se não quiser dormir comigo, posso...
— Olhe para mim, me deixe ver seus olhos. Repita tudo o que
acabou de falar olhando nos meus olhos, Riccardo — exijo.
Ele apoia uma das mãos na lateral da janela.
— Vá se trocar, Lorena.
“Dio mio, não pode ser.”
— Ric... — Eu me aproximo em passos lentos e o abraço por trás,
apoiando minha testa em suas costas, sentindo seu cheiro invadindo minhas
narinas.
— Não me chame assim — ele fala pausadamente.
— Riccardo.
— Não começa, Lorena, estou avisando, porque esse é a porra de
um caminho sem volta. Sei do que estou falando.
Meu coração acelera, mas dessa vez é diferente a sensação.
— Sou sua esposa, Riccardo. Somente sua, como acabou de falar. —
Aperto mais o abraço ao redor de seu corpo.
— Porra, Lorena, por que não pode só uma vez fazer o que mando,
caralho?
— Se me quis tanto, se me desejou tanto, seja meu marido e cuide
de mim, como sua esposa, como a rainha da sua máfia, me proteja.
— É exatamente isso que estou tentando fazer, será que não
percebe? Estou cuidando e protegendo você, mas é teimosa demais para se
dar conta disso. Eu tenho inimigos poderosos, Lorena, que não pensariam
duas vezes antes de usarem você contra mim. — Ele respira fundo e coloca
sua mão em cima da minha que carrega o anel de noivado e a aliança de
casamento.
Encosto mais os nossos corpos e levo a minha mão ao seu peito
sentindo seu coração batendo forte, mas ele me impede de ir mais adiante.
— Riccardo, me deixe senti-lo bater.
— Lorena, não posso ir por esse caminho, é perigoso demais.
Perigoso para nós dois, para nossos filhos e…
— Não é não, me deixe senti-lo, me permita sentir o meu marido.
— Porra, avisei para que não fizesse isso, agora aguente as
consequências. — Ele se vira de frente para mim e me segura forte em seus
braços.
Sua língua entra em minha boca, me provocando, pedindo passagem
por onde passa e me entrego ao beijo, sentindo seus lábios deslizando nos
meus e a barba deliciosa arranhando suavemente meu queixo.
Ele me arrepia toda.
O beijo não é urgente, mas está diferente.
Não é como das outras vezes.
Suas mãos que seguram meu queixo vão descendo por meus braços
até pousar em minha cintura, onde ele aperta com força, me fazendo
suspirar.
O beijo molhado está me deixando excitada.
Mas que droga!
Não era para estar suspirando assim.
CAPÍTULO 43

Sentimentos é tudo o que não deveria sentir pela minha esposa,


mas ela está conseguindo rápido demais chegar a um lugar onde não

deveria e isso é perigoso para mim.


Mas como me controlar quando cada detalhe do seu corpo está
gravado na minha memória, desde o dia em que a observei dançando na
boate.
As curvas delicadas do seu corpo, o olhar assustado da nossa
primeira noite juntos, a gentileza com a qual me toca...
Por mais que diga que tudo o que sinto é apenas prazer e tesão pelo
seu corpo, preciso admitir que ver minha esposa desse jeito, entregue a
mim, puxa algumas cordas.
Não haverá romance entre Lorena e eu, mas é minha
responsabilidade cuidar dela e de todas as suas necessidades, afinal ela é
minha.
Respiro fundo, me sentindo confortável com isso.
Está decidido, Lorena pertencerá somente a mim e qualquer ato
contra ela será um ato contra mim e contra a máfia que represento.
Tudo, absolutamente tudo, relacionado a ela, se entrelaçará com
meus interesses.
Quem ousar feri-la, terá que aguentar a minha ira e vingança mortal,
não importando quem seja. Os malditos russos, ou quem tiver a ousadia de
ameaçá-la, mandarei para o fogo do inferno, afinal nessa minha fodida vida
de mafioso, matar é normal.
Arrancando o roupão do seu corpo, a pego no colo, levando-a até a
nossa cama.
Eu não me canso dessa mulher, tanto que nem parece que agora
pouco estávamos transando no banheiro feito dois animais.
Coloco seu corpo em cima da cama e dessa vez acendo todas as
malditas luzes do quarto porque quero ver a maldita tatuagem.
— O que está fazendo? — ela pergunta risonha, porque sabe o que
quero fazer.
— Quero ver...
— Aqui!
Puta que pariu!
A desavergonhada abre as pernas e aponta para a tatuagem como se
fosse a coisa mais normal do mundo.
Lorena tem um crucifixo tatuado na porra da virilha, perto da minha
boceta.
Ela é minha e tudo dela é meu.
— Lorena Bianchi.
— Eu sempre fui fiel a Cosa Nostra, Riccardo, do meu jeito, mas
sempre fui fiel.
Ela mostra a fidelidade fazendo a porra de uma tatuagem íntima?
Observo o crucifixo tatuado que assim como eu, os outros membros
da máfia possuem. As diferenças são poucas dependendo da colocação de
cada um, a minha, por exemplo, tem asas porque sou o Don.
— Me diga que pelo menos foi uma mulher que fez essa tatuagem.
Ela só balança a cabeça dizendo que não.
— Eu vou matar, eu vou...
— Vai matar coisa nenhuma. A mulher no dia em que fui fazer
estava ocupada, então...
— Você é uma grande filha da mãe!
Ela apenas sorri e abre mais ainda as pernas.
— É, parece que sou mesmo.
Perco a razão, tiro a cueca e me aproximo dela sedento por sentir
seu gosto em minha língua. Aproximo a boca, puxando o ar com força,
sentindo seu cheiro de mulher tomar o meu olfato. Passo meu dedo ali,
abrindo sua bocetinha lisinha, observando a pele sensível ficando
lubrificada.
Ah, porra!
Não existe nada melhor que uma mulher excitada.
Aproximo a boca ainda mais, beijo sua tatuagem e ela geme
baixinho, então passo a língua em seu ponto sensível, ouvindo outro
suspirar seu. Circulo todo o meu oásis melado, então abro a boca e a chupo
com força.
— Ah... Riccardo...
Sei que ela foi pega desprevenida e um sorriso se faz presente em
meus lábios, pois sinto prazer em vê-la desse jeito, entregue totalmente a
mim, e aos meus toques.
Volto a chupá-la com a língua, introduzindo dois dedos em suas
paredes quentes, imaginando ser meu pau, que já está duro pra caralho.
Estou tão fodidamente duro, que tudo que quero é foder sua boceta.
Tiro os dedos e os coloco novamente em um movimento torturante e
alucinante para ela.
— Vai me deixar te foder de novo, vai, amore mio? — sussurro,
circulando a língua em sua entradinha, ouvindo minha mulher gemer de
prazer.
Lorena está entregue, sei que ela vai gozar a qualquer minuto e é
isso que quero.
Volto a passar a língua, chupando seu clitóris, sentindo friccionar
ainda mais a sua boceta na minha boca, desesperada, buscando mais uma
vez pelo orgasmo.
— Isso, Riccardo, aí, isso... — Ela não consegue terminar, pois, um
gemido escapa da sua boca.
— Goze na minha boca, picolla, me deixe sentir tudo de você —
falo com a boca sobre a sua pele sensível.
Aperto sua coxa com força, tirando os dedos de dentro dela, subindo
a mão até seus seios, estimulando seus mamilos. Fricciono a língua dentro
da sua bocetinha, lambendo toda a cavidade e isso é o suficiente para sentir
o orgasmo a atingir com força.
Lorena geme alto, com seu corpo buscando por mais contato com a
minha boca enquanto chupo todo o seu líquido.
E, porra!
Ela é extremamente gostosa, exatamente como me lembrava!
Preciso urgentemente enterrar o meu pau nela...
Essa mulher vai acabar comigo.
Porra, não era para ser assim, não era para ter sido assim.
— Eu te quero tanto que chega a ser desesperador. — Ajeito seu
corpo no meio da cama e mordo sua orelha.
Ela fica arrepiada, suspirando com meus toques.
Mas é claro que ela também sabe provocar, prova disso é quando
aperta a mão ao redor do meu pau e fecho os olhos, buscando concentração.
Lorena está me mostrando o quanto sabe ser ousada ao ponto de me
deixar desorientado em poucos instantes.
— Me beija, Riccardo, só me beija.
Eu me entrego a ela e as preocupações de ameaças são
momentaneamente esquecidas.
Nenhuma mulher foi capaz de me fazer reagir de um jeito tão
visceral apenas respirando quanto ela, nem mesmo Antonella foi capaz
disso.
Estou completamente tomado e quer saber, foda-se, não me importa
mais. Lorena é minha esposa e será muito mais fácil se conseguirmos nos
entender.
— Preciso de você dentro de mim — murmura entre os nossos
beijos.
Quero muito me enterrar dentro dela, mas deixarei que dite o ritmo.
Lorena já está bem excitada e esfrega meu pau em sua boceta, o
molhando com sua excitação.
Há uma pressão deliciosa se construindo enquanto me seguro para
não me afundar em seu calor.
Estou louco por isso, mas deixarei que sua necessidade aumente.
— Riccardo! — Lorena morde meu lábio ao ponto de romper a pele.
A fisgada de dor me deixa mais louco ainda, com o gosto de sangue
se mesclando em nossas bocas.
A excitação me faz estremecer e pulsar em sua mão.
— Vai aprender, querida, que cavalgar em mim, pode ser mais
prazeroso do que em meus cavalos.
O jeito com que ela me olha me faz ter certeza de que nunca mais
irei querer uma mulher que não seja ela.
— Me mostre então, me prove que vale a pena desistir de tudo,
apenas para cavalgar em você.
— Caralho de mulher!
É através do suspiro trêmulo e doce que escapa dos seus lábios,
quando nossos sexos se tocam, que sei ser o momento certo.
— Dio mio.
Preciso de um instante para encarar seus olhos, porque estou diante
da minha esposa e meu corpo entende que a entrega é mais do que o ato
poderia ser.
O aperto torturante, capaz de apagar qualquer raciocínio.
— Riccardo, por favor... — ela geme ofegante, me puxando para si.
— Preciso de você agora.
Eu também preciso, mas é bom demais sentir seu calor abraçando
meu pau, o aperto gostoso que sempre me dá.
— Eu vou te matar, Riccardo! — Ela arqueia o corpo, mas a
aprisiono em meus braços. — Não me torture, porra.
— Você é minha. — Mordisco o lóbulo da sua orelha. — E vai ser
tudo ao meu tempo.
Ela estremece e sinto prazer nisso, na tortura deliciosa que
proporciono a ela.
Concentrado em suas expressões, dou o que ela quer. Deslizo quase
todo meu pau para fora, apenas para estocar com força e me enterrar em sua
boceta com tudo.
— Isso! — Ela arqueia o corpo, de olhos fechados, entregue. —
Assim mesmo, assim… Quero mais.
Porra, ela vai acabar comigo mais rápido do que imaginava.
Mordo sua boca, socando entre suas coxas, pois preciso que ela me
dê tudo de si.
A visão que tenho da minha mulher, ansiando por meu toque e
delirando de prazer, me deixa doido.
Nossa união, o prazer carnal que me atordoa e que somente ela
consegue me dar.
Ainda não sei descrever com exatidão o que estou sentindo, mas sei
que não é algo ruim. Como agora, em que cada grito que escapa dos seus
lábios, acende a minha paixão.
Seguro seus quadris, arrepiado quando sinto o quanto ela me aperta.
— Que delícia, amore mio.
— Riccardo, o que você está fazendo comigo? — Lágrimas pulam
dos seus olhos que estão presos aos meus.
Não há pudor em encará-la, pois seus olhos me deixam saber como
se sente, tanto que consigo ver sua alma.
Eu já conheço seu corpo de olhos fechados, sou capaz de reconhecê-
lo, dentre muitos, inclusive o timbre da sua voz quando o prazer a domina.
— Entregue-se para mim, de corpo e alma, picolla. — Sinto o quão
molhada ela está, pois, a cada golpe dos meus quadris ela está mais
escorregadia.
Lorena ofega de olhos fechados, então abre a boca como se
estivesse prestes a gritar.
Posso sentir o aperto suave, o calor.
Ela está perto de gozar.
— Não para, Riccardo, não para, por favor — implora parecendo
estar aflita, em busca do seu orgasmo.
Sorrio começando a massagear seu clitóris e isso é o suficiente para
enviá-la a loucura do orgasmo.
Lorena grita meu nome, gozando, me deixando sentir tudo.
Ela tenta diminuir o furor de prazer, suas pernas tentam se fechar,
mas estou aqui e não darei muita brecha para ela fugir disso.
Agora será a minha vez.
— Sinta tudo! — exijo, sentindo que estou perto também.
— Riccardo, eu vou morrer, aí você não vai mais precisar me matar.
Sorrio enquanto ela ainda goza, vendo seu corpo ser sacudido com
os espasmos do prazer.
— Morrer de prazer, é uma ótima forma de morrer, amore mio. —
Eu me inclino para beijá-la, engolindo seus gemidos de desespero e os
soluços.
Eu me sinto a ponto de sufocar, estou tão desesperado quanto ela,
cheio de tesão e posso continuar aqui para sempre.
— Gostosa pra caralho... Porra. — Sinto um arrepio e o prazer
insano subindo.
Solto um gemido em seu ouvido, saboreando a sensação que me faz
sacudir enquanto me derramo dentro dela, já Lorena me aperta enquanto
geme baixinho, ofegante.
Meu corpo estremece com o último espasmo de prazer.
Engulo cada um dos seus gritos e gemidos, satisfeito em como me
recebe.
Não há outro lugar para onde queira ir, meu lugar é aqui.
— Riccardo — ela ofega e olho em sua direção.
Nesse breve instante, quando nossos olhares se cruzam, posso ver o
início do meu fim.
— Você é tão linda. — Acaricio sua boca com o polegar e ela
fecha os olhos.
— Será que você pode me deixar dormir agora?
Sorrio beijando sua testa.
— É claro que posso, mas antes vou te dar um banho.
Ela arregala os olhos.
— Não, por favor. Eu não aguento mais sexo. Você é um homem
insaciável e não vou aguentar outra rodada.
Gargalho alto.
— Tudo isso é culpa da sua maldita tatuagem, mas não se preocupe,
é apenas um banho.
Isso se ela não me provocar no banheiro.
CAPÍTULO 44

Acordo me sentindo leve, mas quando me mexo me sinto


dolorida.
Dio mio, estou mais dolorida do que quando treinava exaustivamente.
“Seu treinamento foi pesado ontem, Lorena”, sorrio com o pensamento que
me vêm à mente.
Eu, realmente, passei por um treinamento diferenciado ontem à
noite, tanto que nem mesmo sei dizer o horário quando praticamente
desmaiei na cama de cansaço, já que meu marido achou uma boa ideia me
dar banho e lá se foram mais algumas rodadas de sexo gostosinho na
banheira.
Passo a mão pela cama e sinto que ela está gelada do meu lado, o
que significa que Riccardo não está mais no quarto.
Faço um esforço e me sento na cama vendo a bagunça completa
em que o quarto se encontra.
Dio, vão pensar que Riccardo e eu estávamos querendo colocar a
casa abaixo!
Há cacos de vidro por todo lugar, claramente, meu marido tem que
aprender a se controlar um pouco mais.
Mas o que quero mesmo é que depois de tudo o que aconteceu
ontem possamos nos acertar e viver em paz, já que estamos presos um ao
outro até que a morte nos separe.
Levanto da cama devagarinho, vou para o banheiro com cuidado,
entro no box e ligo o chuveiro deixando a água quente levar embora toda a
preguiça. Encosto a cabeça no box e fecho os olhos na tentativa de relaxar,
mas acabo me lembrando do que aconteceu ontem, quando Riccardo se
juntou a mim, no banho. Os pelinhos do meu corpo ficam todos arrepiados
e os bicos dos meus seios ficam sensíveis. Tento afastar os pensamentos,
terminando meu banho e me secando logo em seguida.
Coloco hidratante na palma da mão e começo a espalhar pelo
corpo, massageando, mas novamente imagino as mãos grandes e ásperas do
meu marido fazendo esse trabalho por mim.
Dio mio!
Um frio percorre minha espinha e já consigo sentir a
umidade na minha calcinha.
Em que Riccardo me transformou?
Trato de me apressar e tirar esses pensamentos impuros da minha
mente.
Tenho esperança de conseguir ir trabalhar hoje e ainda quero
treinar um pouco, afinal isso sempre fez parte da minha rotina.
Observando a minha imagem no espelho à minha frente, limpo o
machucado em minha testa e percebo que já está bem mais desinchado, o
que é um bom sinal, sem infecções.
Visto meu uniforme do centro de hipismo, porque é para lá que
pretendo ir hoje e terei que contar com uma ajuda divina para conseguir sair
de casa.
Mas a esperança é a última que morre.
Depois de pronta, saio do quarto sentindo pena de Graziella que
terá que limpar tudo isso, mas a recompensarei depois de alguma forma.
Gosto dela, é uma boa menina e posso dizer que se assemelha a um
anjo, talvez, por isso Antônio vive de olho nela.
Ainda vou descobrir se existe algo entre esses dois e espero que
não, pois seria um destino muito triste para a vida da pobre moça.
Desço a escada e logo escuto o movimento na sala de refeições.
Como sei que Giulia não me deixará sair sem tomar café da manhã,
vou logo me juntar a eles.
— Buongiorno.
Na mesa estão meus sogros e meu cunhado.
— Buongiorno, pequena escandalosa.
Arregalo os olhos e encaro Carlo com sua língua grande.
Ele não pode ter escutado nada, os quartos têm isolamento acústico
e não fiz tanto barulho assim, ou fiz?
— Carlo! Olha o respeito pela sua cunhada. Seu irmão não irá
gostar nadinha de saber...
— Relaxa, mamma, está tudo sob controle. Logo, logo uma
pequena cópia do Diabo da máfia estará correndo pela casa.
Mas que cretino!
Meu filho nunca será como o pai, não vou permitir.
Sei que o destino de um filho meu e de Riccardo será herdar a
Cosa Nostra, mas ele não precisará se transformar em um monstro completo
para isso acontecer.
— Eu só vou tomar um café rapidinho e já estou de saída.
— Seu marido sabe da sua saidinha? — meu sogro pergunta sem
nem mesmo tirar os olhos do jornal que tem nas mãos quando estou prestes
a me sentar.
— Eu...
— Ele está no escritório, peça permissão primeiro — meu sogro
completa.
— Ele não foi trabalhar hoje?
— Riccardo está resolvendo assuntos importantes primeiro,
querida. Antes de sair vá falar com ele — Giulia fala sorrindo.
Minha sogra tem muita confiança que meu casamento dará certo e,
pela primeira vez, também torço para que dê.
— Eu vou lá falar com ele então, depois tomo café da manhã.
— Está muito bonita Lira, sempre te admirei usando esse
uniforme. É compreensível a obsessão do meu irmão em você.
Obsessão?
Talvez, essa seja a palavra correta para o que aconteceu.
— Obrigada, Carlo.
— De nada, vai lá enfrentar a fera mansa, vai. — Ele pisca um
olho e sinto meu rosto esquentar de vergonha.
Será que ele escutou alguma coisa mesmo?
Saio da sala de refeições, vou para o escritório, e assim como da
primeira vez, percebo que Riccardo está ao telefone e ele parece estar
chateado com alguma coisa pelo tom de voz exaltado. Olho de um lado para
o outro vendo se não vem ninguém, pois não quero ser pega no flagra, então
encosto o ouvido na porta e escuto o que ele fala, me dando conta de quem
é do outro lado da linha.
— Eu só preciso saber se está bem, Antonella, só isso.
Ele está falando com ela.
— Antonella, eu não… Escuta, porra!
O que pode estar acontecendo para que ele esteja tão nervoso e
zangado com essa mulher?
— Seu namorado, noivo, sei lá o que ele é para você, não é nada
do que pensa que ele é. Se fosse para você ficar com um criminoso eu não
teria aberto mão de você.
Meu coração acelera quando escuto o que ele fala, abro a porta
nesse momento e permito que ele me veja.
Como pude ser tão idiota ao ponto de achar que as coisas entre nós
dois poderiam dar certo?
O escritório é sombrio e há vários tipos de armas e computadores
espalhados. Há também um enorme painel de câmera de segurança, onde o
meu marido tem o controle da Sicília sob seu olhar. Vejo também escutas,
telefones e um enorme mapa com esquemas da máfia.
Riccardo parece estar surpreso de me ver aqui.
— Eu te ligo depois, tenho outro assunto para resolver agora.
Deixo que ele perceba a decepção nos meus olhos e viro as costas
para ele.
— Lorena, volta aqui, não é nada do que está pensando, amore
mio.
Riccardo se aproxima rápido, segura no meu braço e me puxa para
dentro do escritório, fechando a porta.
— Não me chame de amore mio, Riccardo Bianchi. Não sou o seu
amor, na verdade, você ama outra mulher e claramente essa mulher não sou
eu. O que sente por mim, não passa de uma obsessão doentia de um
monstro.
— Lorena...
— Como fui burra! Depois de ontem à noite, realmente, achei que
as coisas entre nós dois poderiam dar certo, que nós poderíamos achar um
ponto de equilíbrio para fazer esse casamento ir em frente, mas estava
enganada. Completamente enganada. — Tento me soltar, mas ele não
permite e me segura com mais força ainda. — Riccardo, me solta, preciso ir
para o centro de hipismo e você não vai me impedir. Preocupe-se com a
segurança do seu paraíso e me deixa em paz. Seria um alívio grande para
você se eu morresse, assim pouparia seu trabalho.
— Cala a boca, porra, e escuta...
— Eu não quero escutar você. Passamos uma noite maravilhosa
juntos e agora você está aqui falando com a sua amante no telefone, porque
é isso que ela é, sua amante.
— Está enganada, não tenho amante nenhuma. Nem tudo o que
parece é, Lorena.
— Eu não me importo, desde que não se meta mais na minha...
— Não, Lorena, eu me meto sim, na sua vida porque é minha
mulher, e nada do que falei ontem mudou. Não tem permissão de sair de
casa por mais que adore te ver nesse uniforme. Meu pau ganha vida só de
sentir o seu cheiro.
— É só nisso que pensa? Em sexo? Claro que é, afinal se casou
comigo para que me torne a procriadora do seu filho, nada além disso.
Ele respira fundo.
— Eu não tenho tempo para isso agora. Falei isso mesmo, mas as
coisas mudaram, Lorena. Estou disposto a tentar se você cooperar também,
então, por favor, não seja teimosa e desobediente.
— Por que não posso ir trabalhar? Por favor, Riccardo.
— Sinto muito, mas a resposta continua sendo não e não.
Puxo meu braço de uma vez e para não me machucar ele me solta.
— Eu odeio você. ODEIO!
— Posso conviver com isso, mas dessa casa você não sai até
segunda ordem.
Com toda raiva fervendo dentro de mim, saio do escritório dele
batendo a porta com toda força que tenho.
CAPÍTULO 45

Minha sogra com pena de mim, me fez companhia o dia todo. Já


Riccardo logo após a nossa discussão saiu de casa e não voltou mais.
Eu me sentia mal por ocupar o tempo de Giulia, já que sabia que ela tinha
outros afazeres que não estava relacionado a ser minha babá e algo me dizia que ela
sabia muito mais do que queria falar.
Já estava no meu limite de paciência, não tinha o costume de ficar em casa
trancada, afinal minha vida sempre foi agitada.
Quando não estava no haras estava com meu pai.
Assim que me tornei adulta e terminei o colégio entrei para a faculdade, e
antes mesmo de finalizar meu curso já trabalhava. Sem falar que sempre treinei
desde criança.
Eu fiz de tudo para matar o tempo, assisti televisão, comecei a ler três livros
diferentes, e não terminei nenhum deles, ajudei as cozinheiras e as empregadas na
cozinha, mas agora chega, cheguei ao meu limite.
— Chega, Giulia, não aguento mais, vou enlouquecer aqui.
Minha sogra sorriu quando mais uma vez joga uma revista de fofoca em
cima da mesinha de centro na sala, porque até isso fiz hoje, li fofocas.
— Lorena, é difícil mesmo nos primeiros dias ficar em casa, mas assim que
tiver um filho o seu dia vai passar tão rápido que nem mesmo se dará conta.
Olho para a minha sogra.
— Não estou com nenhum pouquinho de vontade de fazer um bebê com o
seu filho. Ele ama outra mulher, Giulia, e não posso, nem vou competir com isso. E
também não vou colocar uma criança no mundo para que ela cresça vendo os pais
querendo se matar dia após dias.
— Está falando da Antonella, não é mesmo?
Olho novamente para a minha sogra e ela sorri.
— Antonella é o passado dele, Lorena, já você é o futuro da Cosa Nostra.
Sinto o peso nas costas do que essas palavras representam.
— Não sei se ela é o passado dele como está falando, Giulia.
— Antonella foi apenas uma ilusão na vida do Riccardo, querida. Ele
precisava passar por aquilo para que no momento certo percebesse que o que sentia,
na verdade, não era nada. O sentimento do amor é muito mais complexo do que se
imagina. Antonella era a calmaria na vida atormentada do Riccardo e aquele
romance nunca daria certo, porque meu filho gosta do desafio. Ele ama o
impossível, deseja o que não pode ter e vai ao extremo para ter o que quer, mas
quando consegue ele se entrega e é aí que você entra.
— Eu!?
— Sim, você. Riccardo já chegou até a parte em que vai ao extremo para ter
o que quer, agora é a hora em que ele se entrega e você explora o resquício de
humanidade que ele ainda possui.
— Não sei se consigo fazer isso. Hoje pela manhã eu o vi no telefone com
ela e aquele não era papo...
— O novo amor de Antonella é de procedência duvidosa, Lorena, essa é a
preocupação do Riccardo.
— Se ele se preocupa é porque ele...
— Fez uma promessa ao irmão dela.
— Uma promessa?
— Sim, uma promessa. E sabe que não se pode voltar atrás com a palavra
dada. Pode até ser que ele ainda sentisse alguma coisa por ela no passado, mas agora
não mais e isso posso te garantir, querida. Vai por mim, conheço bem o meu filho.
— Eu não entendo.
— É uma longa história, Lorena. Só peço que confie no seu marido.
— Confiar, isso é meio difícil de acontecer quando ele mesmo não confia em
mim. Confiança se conquista, Giulia.
— Então conquiste a dele e não tente entender como funciona a cabeça do
Riccardo, querida, pelo menos não agora. Primeiro devem se acertarem depois aos
poucos você vai arrancando as camadas.
— Queria muito ter essa sua autoestima, porque você fala em confiança
quando o seu filho tem uma caixa que guarda lembranças do primeiro amor dele. Eu
nem sabia que o Diabo podia amar... Desculpa, Giulia. — É do filho dela que estou
falando, mas ela parece não se importar, já que sorri.
— Está falando da caixa que ele tinha guardada no closet?
— Ele tem.
Ela discorda com a cabeça.
— Não tem mais. Hoje pela manhã, Riccardo se desfez de todas aquelas
lembranças. Ele está chegando na última parte, Lira, a de se entregar, então se
concentre nela.
Como ela sabe de tudo isso?
Giulia parece saber de tudo o que acontece nessa casa.
— Como sabe de tudo isso?
Ela respira fundo e apoia as mãos em seu colo.
— Eu sei de exatamente tudo o que acontece nessa casa e já estou cansada,
Lorena.
“Eu, realmente, achei que quando se casassem eu iria poder descansar, mas
estava engana. Você não quer assumir o seu lugar de fato, como senhora do nosso
lar, então enquanto você ainda se descobre continuo carregando esse peso sozinha,
nas costas.
“Seria muito bom ter você para dividir essa carga comigo, até que pudesse
carregá-la sozinha.
“Agora, para matar um pouco do seu tédio, vamos jantar fora, só tem nós
duas em casa. Carlo não sei por onde anda, Riccardo não tem hora para chegar e o
seu sogro foi visitar velhos amigos e aliados.”
— Eu não posso sair de casa, esqueceu? O seu filho proibiu, sou a mais nova
prisioneira dele. Agora é só esperá-lo chegar para a tortura começar.
Ela me dá um sorriso de orelha a orelha e só então me dou conta de como a
minhas palavras saíram com um duplo sentindo.
— Algo me diz que você gosta das torturas.
“Dio mio, agora sei para quem Carlo puxou.”
— Giulia...
— Lorena, por Dio, somos mulheres e só tem nós duas aqui, querida. É claro
que gostamos de uma boa tortura noturna. Não se faça de puritana porque eu
também não sou. Dou muito valor a um bom orgasmo.
Estou chocada, pois, a minha sogra é pior do que eu.
— Não me olhe com essa cara, Lorena. Quem você acha que acabou com a
porra daquela tradição ridícula do lençol de sangue? Você não é a única que nasceu
com o espírito livre, querida, e assim como nós duas existem muitas dentro da
máfia.
“Mas, infelizmente, elas não têm voz, então resta a nós lutarmos pelos
direitos de todas.
“Cada geração faz o seu papel, eu já fiz o meu, agora resta você tomar o seu
lugar como rainha dessa porra toda e fazer a sua parte.
“Agora vamos jantar que comigo, você pode sair.”
Ela se levanta como se não estivesse acabado de jogar a máfia no meu colo,
simples assim.
Tenho muito o que aprender com essa mulher que é fantástica e me
surpreende cada dia que passa.
— Ei, espera por mim. — Saio do meu estupor e me levanto indo atrás dela
que já está quase chegando na garagem.
— Giulia, para onde vamos? Tem certeza que não precisa avisar o Riccardo?
— Vamos jantar no Alle Terrazze e não se preocupe com o Riccardo, deixe a
cargo dos soldados avisarem a ele que estamos saindo.
Se ela está falando isso, quem sou eu para dizer o contrário.
— Tudo bem, mas para ir nesse restaurante precisa de reserva, Giulia?
— Não quando somos os donos. Já está passando da hora de você se situar
mais dos negócios da família, querida. Agora entre no carro.
Entro sem discutir, já que os soldados abrem a porta para nós. Eles nem
mesmo questionam nada, como se Giulia fosse a suprema rainha.
Quero isso para mim, e quem sabe um dia não consiga.
Durante todo o caminho até o restaurante, ela conta sobre os pratos
maravilhosos que o restaurante possui e que chegou a opinar sobre a escolha do
chefe que foi trocado recentemente. Percebo que esse é um assunto que ela domina e
gosta muito. Giulia parece saber exatamente qual é o seu lugar na família, como
mãe, esposa e agora sogra. Sinto como se ela estivesse tentando passar todo o seu
conhecimento para mim.
— Chegamos, senhora Bianchi — o soldado anuncia e Giulia olha para ele.
— Façam a vistoria no ambiente.
— Não precisa, senhora, já foi feita. Fomos informados que Don Riccardo
está no restaurante com a senhorita... — Ele para de falar e engole em seco, me
olhando.
No mesmo instante, me dou conta de que tem algo errado.
— Com quem o meu marido está? Responda agora!
— Lorena, calma, querida.
Desço do carro e minha sogra vem logo atrás de mim.
Quero ver com os meus olhos com quem Riccardo está, quando estou
trancada em casa.
— Lorena, não faça nenhum escândalo aí dentro, deixe para querer matar o
meu filho quando chegarem em casa, isso é o certo a se fazer — minha sogra fala
baixinho assim que somos recebidas pela recepcionista que é muito educada.
— Me informaram que o meu marido está aqui, será que pode nos levar até
ele?
A mulher a nossa frente muda de cor.
— Ele está na sala privada da família, mas disse que...
— Era tudo o que precisava saber. Vamos, Giulia, você deve saber onde fica.
— Vamos lá, eu te levo.
Bem, ela é a dona, é claro que ninguém a para pelo caminho.
— Se ele estiver com quem imagino, Giulia, não sei do que sou capaz de
fazer.
— Nada, você não pode fazer nada, não aqui. Essa é a sala...
Paramos em frente de uma porta de vidro escura, mas quando vou abri-la
minha sogra segura minha mão.
— Lembre-se do que conversamos, Lira.
Empurro a porta assim que ela termina a frase, e bingo, ele está com ela.
— Será que atrapalho o belíssimo casal?
Percebo que a tal de Antonella fica sem jeito, mas ela parece não estar de
muito bom humor.
— O que estão fazendo aqui? — Riccardo pergunta olhando para a mãe dele.
Ele sabe que apenas ela teria autoridade o suficiente para me tirar de casa.
— Viemos jantar e imagina só a minha surpresa quando fui informada de
que o meu marido estava no restaurante da família com a amante dele, enquanto a
esposa não pode nem mesmo sair de casa.
— Eu não sou amante de ninguém, deve haver um grande mal-entendido por
aqui, sou uma mulher comprometida.
— Então, são dois traidores. Agora se me derem licença vou embora, não
precisam parar de comer por nossa causa.
— Lorena espera. — Riccardo se levanta, mas a mãe dele o para e o impede
de vir até mim.
— Nada vai se resolver desse jeito. Termine o que está fazendo e explique a
situação toda a sua mulher em casa. Ela está com ciúmes e você no lugar dela faria
coisa muito pior...
Eu não fico para esperar o que ela fala ao filho, pois tudo o que quero é ir
embora.
Mas não vou voltar para a mansão.
— Onde fica a cozinha? — pergunto a um garçom que passa por mim.
— A senhora não pode ir à cozinha.
— Mas é claro que posso, sou Lorena Bianchi.
Agora sim, ele se dá conta de quem eu sou.
— Me desculpa, senhora, por aqui. — Ele me mostra o caminho e o sigo
sem olhar para trás. — Aqui, senhora.
— Ótimo, agora onde é a saída?
Ele estranha a minha pergunta.
— Por que quer sair pelos fundos?
— Não é da sua conta, só me mostre a saída.
Ele não discute comigo e me leva até a saída dos fundos.
Dei sorte, pois deve ser algum garçom novato, afinal sabendo realmente
quem eu sou, jamais estaria cooperando desse jeito.
— A senhora tem certeza que quer sair por aqui?
— Sim, vou pegar um táxi na esquina e vou para casa. Obrigada pela ajuda,
irei mandar um agrado para você depois.
Ele sorri animado.
— De nada, senhora, foi um prazer ajudá-la.
Saio pelas portas dos fundos da cozinha e fecho com força o casaco no meu
corpo. Vou para casa do meu pai e é lá que vou ficar, não importa o que aconteça.
Olho para trás a cada passo que dou e percebo algo diferente, uma
movimentação estranha. Meu coração acelera parecendo querer sair do peito e a
adrenalina começa a tomar de conta do meu corpo, então apresso os passos para
chegar logo na rua movimentada.
Nesse momento, vejo as luzes de um carro vindo na minha direção, muito
rápido. Começo a correr o mais rápido que posso, mas seja lá quem está atrás de
mim, quer me alcançar a todo custo e não parece estar para brincadeira.
O carro é claro que me alcança e para na minha frente, me fazendo parar de
correr.
— Olha só o que temos aqui? A rainha da máfia andando sozinha pelas ruas
da Sicília, sem seus fiéis soldados. Don Riccardo está facilitando demais para nós.
Mas mulheres costumam ser burras e sempre acham que não precisam de segurança
nenhuma, que vão ficar bem, milagrosamente bem.
Nesse ponto, vou ser obrigada a concordar com ele.
— O que quer de mim?
O homem sorri e se aproxima.
— De você nada, mas do seu marido já não posso falar a mesma coisa. Ou
ele negocia conosco, ou a rainha da Cosa Nostra morre.
O homem tem o olhar demoníaco e um sorriso assustador, o que mostra que
não está brincando.
— Peguem-na e apaguem, chegou a hora de brincar.
É tudo o que escuto antes de me segurarem com força e colocarem algo
muito forte no meu nariz. Ainda tento lutar, mas é em vão, afinal são três homens
contra uma mulher e isso é demais até para mim.
Antes de apagar totalmente peço a Dio para que meu marido me encontre.
CAPÍTULO 46

Quando soube que Antonella estava na Itália, tive que encontrá-


la para tentar tirar da sua cabeça, a idiotice que estava querendo fazer.
Minha ligação com ela é muito mais complicada do que se
imagina, pois, o irmão dela salvou a minha vida dando a sua em troca.
Antes de morrer, ele me fez jurar cuidar da sua irmãzinha, irmã
essa que já era mulher feita, linda, com um rosto angelical e voz que
acalmava a minha alma.
Foi assim que acabamos nos envolvendo.
Mas Antonella não pertencia a esse mundo da máfia.
Ela já tinha perdido o irmão que era a sua única família e eu não
iria colocar em risco sua vida só porque a linda mulher acalmava os meus
demônios.
Abri mão do que tínhamos para que ela pudesse viver uma vida
normal e confesso que não esperava que a teimosa fosse se envolver com
alguém que só não é pior do que eu, mas chega muito perto.
Ela se apaixonou rápido demais, e eu sabia dos perigos que aquilo
poderia acarretar, mas não poderia simplesmente trancá-la em casa para que
não seguisse com sua vida.
Havia um limite até onde eu poderia ir e já estava cruzando além
do que deveria, então, de agora em diante, ela seguirá sozinha, mas sempre
estarei aqui, para caso precise de mim.
Só que não contava com a minha mulher junto com a minha mãe
chegando no restaurante onde estava com Antonella.
Isso sim, foi muita falta de sorte.
Lorena já estava puta de raiva por não poder sair, mas os russos
estavam tirando a porra da minha paciência e eu não poderia arriscar. O
único problema é que parece que minha esposa tem um dom natural de não
seguir a porra das ordens e sempre faz o contrário do que é ordenado.
E é claro que ao me ver com Antonella isso não seria diferente.
Agora, estou aqui, desesperado, porque a infeliz simplesmente
sumiu do mapa.
Mas já até imagino quem está com ela e estou esperando só a
confirmação para começar a caçada.
Juro que dessa vez não vou ter misericórdia.
— Antônio, alguma novidade? — pergunto pela milésima vez.
— O restante da família está em segurança na mansão, o reforço lá
foi redobrado e ninguém passa por aqueles portões.
— Não foi isso que perguntei, seu idiota. Quero saber se tem
notícias da minha mulher.
Antônio tira os olhos da tela do celular e me encara por longos
segundos.
— Já disse a ela pelo menos? — ele pergunta.
— Mas do que está falando?
— Que está apaixonado, Riccardo, pela sua esposa.
Mas que porra é essa agora que esse infeliz está falando?
— Eu não tenho tempo para essa merda, Antônio, quero saber da
minha mulher.
— Ele está caidinho e nem se deu conta. Meu irmão fez uma
verdadeira chacina na Calábria no treinamento dos novos membros, depois
arrancou a cabeça dos russos e mandou para o país deles em caixas de
presentes, tudo isso porque brigou com a doce Lorena na noite de núpcias.
Ele se apaixonou por ela desde a primeira vez que a viu, só que admitir isso
é considerado uma fraqueza para o grande Don da Cosa Nostra. — Carlo
entra na conversa e fala cada palavra olhando bem dentro dos meus olhos.
Poucas vezes o meu irmão fez isso, afinal ele não me encara e não
me enfrenta, porque sou a autoridade máxima, mas agora consigo ver que
ele não está falando como o subchefe da máfia, está falando como meu
irmão.
— Concordo com o que ele disse. Carlo tem razão, você perdeu a
cabeça desde o dia em que colocou os olhos nessa mulher e não sossegou
enquanto não a tornou sua esposa.
O olhar de Antônio fala muito mais que só as palavras, porque ele
sabe de coisas que meu irmão nem sonha, como por exemplo, Lorena não
ser mais pura. Eu mesmo fui contra as regras para mantê-la segura e não
tive coragem de fazer o que deveria ser feito.
— Não é vergonha admitir seus sentimentos, Riccardo, chega uma
hora na vida que isso tem que acontecer. Lorena é linda, uma mulher única.
Não ache que foi rápido demais porque o amor não conta as horas e nem os
segundos, ele só chega sem pedir licença e acaba com a sua vida, então só
te resta se render a ele — Carlo fala.
— Exatamente! Só espero que os dois idiotas levem em
consideração esses mesmos conselhos quando chegar a vez deles.
Não tenho tempo de processar o que Carlo e Antônio falam,
porque o meu pai já chega com sua infinita sabedoria.
— Eu não... — Tento falar, mas meu pai me corta.
— Não abra mais a sua boca para falar besteiras, garoto, já falou
demais. Não é vergonha nenhuma se render ao amor da sua mulher.
“Ela é sua, porra!
“Eu te ensinei a ser um homem, caralho, te transformei no que é
hoje, mas nunca te ensinei a ser um covarde diante dos seus sentimentos.
“Essa porra você aprendeu sozinho.
“Sei que tirei muito de você, meu filho, e se pudesse voltar no
tempo faria muita coisa diferente.
“Sua mamma me fez enxergar meus erros.
“Siga mais uma vez o conselho do seu velho pai que te ama,
admita que ama a sua mulher para o bem da sua sanidade e deixe que ela
mande em você.
“Seja o Don para a máfia e o marido que Lorena precisa em casa,
não complique mais a vida do que ela já é.”
Meu pai se coloca a minha frente e algo se acende e queima com
força em mim, tomando conta de todo o meu corpo.
— Eu quero a minha mulher, pai, e não vou ter piedade de quem a
tirou de mim, do filho da puta que ousou mexer com ela. — Olho para
Antônio e ele me dá o seu sorriso mais sádico enquanto meu irmão faz o
mesmo.
— Abram os portões do inferno, porque o Diabo vai à caça — falo
sentindo a raiva tomar conta do meu ser.
— É disso que estou falando, porra. Vamos lá caçar a rainha da
máfia, mais conhecida como Lorena apocalíptica, o terror dos soldados —
meu irmão fala.
— E da minha vida. Ela é o meu terror particular e ninguém além
de mim, toca na minha mulher.
Meu pai bate no meu ombro e depois segura o meu rosto.
— Sua mãe e Lorena juntas, meu filho, vai ser uma dor de cabeça
boa de se ter, mas agora vamos ao que interessa. Moretti conseguiu capturar
um russo que estava andando no território dele. Sabe que Moretti tem
espalhado por toda Sicília aquelas espeluncas que servem de hotel, uma boa
jogada para capturar infiltrados no nosso território.
Alessandro Moretti é o pai do Bernardo, amigo de Lorena.
— Alessandro Moretti?
— O próprio. Essa será uma dívida sua com ele e sabemos no que
ele vai querer mexer. Evitei esse assunto por muito tempo, Riccardo, mas
dívida é dívida e essa será uma de honra.
Sei o que isso significa.
— Onde está o desgraçado do russo?
— Está sendo trazido para cá. — Meu pai mal termina de falar e
um carro entra no galpão onde estamos.
Esse galpão é só apenas um dos muitos que possuímos, os usamos
para fins de tortura quando queremos informações mais precisas dos nossos
capturados.
Vejo Bernardo Moretti saindo de dentro da van com o desgraçado
do russo e isso me impressiona.
Esse moleque não estava na América?
— Don Riccardo. — Ele joga o homem aos meus pés. — Ele é
todinho seu. Já dei um trato nele antes e espero que não se incomode.
Olho para o homem aos meus pés e ele já tem a cara bastante
arrebentada.
— Você fez isso?
— Ele mexeu com a mulher errada. Pode ser o marido da Lorena,
mas antes disso ela é minha amiga e prezo por amizades verdadeiras. Essa é
uma conversa para termos depois. — Ele oferece a mão e aceito.
— Pode começar daqui, Don Riccardo, arranque tudo o que esse
bastardo figlio di puttana[18] sabe, porque sei que ele sabe.
— Se junte a nós na diversão — falo e ele sorri.
— Com prazer.
— Podemos conversar, Don Riccardo, jure que terei segurança e
proteção que conto tudo o que sei.
Eu nem comecei e o bastardo já está disposto a abrir a boca, parece
que Bernardo fez um bom trabalho assustando o homem, ou o infeliz
conhece a minha fama muito bem para já estar apavorado.
Agora, se conhecia não deveria ter mexido com a minha mulher.
Que grande Idiota!
— A brincadeira ainda nem começou e você já quer falar? Assim
não tem graça.
Ele lambe os lábios, nervoso, tenso, preparado para correr na
primeira oportunidade que surgir.
― Don Riccardo, juro lealdade ao senhor, eu juro.
— Você acha mesmo que pode barganhar alguma coisa aqui? Só de
me propor lealdade já mostra que é um traidor de merda.
Ele respira fundo.
― Mereço uma segunda chance e prometo colaborar.
Estreito os olhos, pois sei que o desgraçado é um peixe
insignificante e que há tubarões por trás do esquema da máfia russa.
A verdade, é que sei bem o que eles querem.
― Devo parabenizar sua linha de raciocínio, mas está errado. Você
não merece nada além da morte. Mas antes de morrer vai falar tudo o que
quero saber… ― Ergo um dedo e olho para o meu irmão.
Não vou me sujar com o sangue desse infeliz, vou deixar para
matar a minha sede com quem merece, os tubarões.
― Carlo, fique à vontade. Quero saber os nomes de todos os
envolvidos nessa merda em três horas. Quero a minha mulher ao meu lado
antes do meio-dia de amanhã.
Eu me preparo para sair, mas volto minha atenção ao homem que
exala terror.
Quase posso provar o sabor do sentimento e é muito prazeroso.
Faço um sinal com a mão e Antônio surge das sombras.
― Arranquem as informações dele com o máximo de sofrimento
possível, é uma ordem.
— O senhor é quem manda, chefe — Antônio fala.
A expressão do maldito russo muda ao ver Carlo e Antônio. O
pavor dele fica claro quando perde o controle da bexiga e urina nas calças.
Frouxo de merda!
― Não me deixe aqui com eles, Don Riccardo, vamos resolver
isso. Eu falo tudo… Tudo o que quiser saber.
Dou as costas para o homem, saindo da sua presença.
Antes de chegar à sala adjacente do galpão, o primeiro grito do
desgraçado corta a noite.
É só uma questão de tempo agora para ter a minha mulher em
meus braços novamente e dessa vez irei amá-la como merece.
CAPÍTULO 47

Arkady Petrova, esse é o nome do desgraçado que sabe onde a


minha mulher está, mas ele parece não estar querendo colaborar conosco.
Foi fácil demais para Antônio e Carlo conseguirem essa informação,
tendo em vista o primeiro rato que nos foi entregue.
Ele disse tudo o que queríamos saber e muito mais.
Com a informação que obtivemos chegamos em quem realmente
queria, o guardião da máfia russa que achou que era uma boa ideia
sequestrar a minha mulher para me obrigar a negociar com eles a maldita
droga sintética, o que não vai acontecer nunca.
Peguei o desgraçado comemorando a sua pequena vitória em um
dos muitos bordéis espalhados pela Sicília.
Mal sabia o desgraçado que tenho o domínio e controle de cada
maldita câmera de segurança que tem não só na cidade como no país, então
com o nome dele em mãos foi fácil rastreá-lo.
Não sei o porquê a maldita máfia russa ainda insiste nessa merda.
Como dessa vez eles tiveram a decência de mandar um guardião,
também vou retribuir o favor e o mandarei de volta aos poucos e em
pedaços distribuídos em caixas separadas para aprenderem que não se mexe
com a mulher do Don da Cosa Nostra.
Arkady Petrova até tentou correr, mas Carlo o segurou, o arrastando
de volta.
Meu irmão parecia ter saído de um pesadelo e o sangue que o sujava
somente fornecia ainda mais elementos para deixar nosso prisioneiro
aterrorizado.
Agora me preparo para uma sessão de tortura que farei com prazer e
não irei parar até esse maldito me falar onde minha mulher está.
― O que disse que ia acontecer se vocês tentassem invadir o meu
território novamente? ― pergunto tranquilamente, enquanto puxo a pesada
corrente que o manterá suspenso.
― EU NÃO SEI DO QUE VOCÊ ESTÁ FALANDO! ― Petrova
grita lutando contra o agarre de Carlo.
Paro um momento o que estou fazendo para encará-lo.
O maldito ainda não experimentou nem um por cento do que
pretendo fazer com ele.
― Você não sabe do que estou falando. ― Eu me aproximo mais
dele. ― Digamos que sinto o cheiro da sua mentira de longe e, só por isso,
você vai desejar não ter tentado me enganar. — Um pequeno gesto da mão
e indico ao meu irmão e a Antônio o que quero enquanto Bernardo observa
tudo.
Sob gritos de desespero e uma luta feroz, Petrova é completamente
despido. Eu mesmo o prendo nas algemas, o pendurando na corrente. Ele
ainda tenta empregar esforço, mesmo sabendo que não há para onde fugir.
Faço questão de puxar a corrente para que ele fique com os braços
esticados para cima e na ponta dos pés.
Em breve, isso vai doer muito.
― O que você vai fazer? Por que está sorrindo, seu maldito?! ―
grita, cuspindo furiosamente. ― Eu não sei de nada, eu não fiz nada!
Finjo não escutar e vou até à mesa, fazendo barulho de propósito
enquanto pego um e outro item.
― O que vai fazer comigo? Isso não vai ficar assim.
― Não chore antes da hora ― meu irmão fala. ― Ainda nem
começamos, porra.
― NÃO! NÃO! ― Petrova grita, sacudindo as correntes. ― Vocês
são loucos, isso não vai ficar impune.
― Chega de conversa. ― Pego um chicote pequeno, mas que é
responsável por causar grandes estragos e me viro para Petrova, enquanto
acaricio as cordas.
― Diga, Petrova, você já ouviu falar em açoitamento romano? —
Caminho em sua direção, notando que empalidece. — Na época do Império
Romano, os criminosos não eram chicoteados como muitas pessoas
imaginam. Na verdade, eles eram golpeados com brutalidade e selvageria,
por isso aqui. — Ergo o chicote de couro reforçado com pequenas bolas de
metal e pedaços de lâminas e cacos.
— Espera, Don Riccardo, vamos conversar, eu…
— Suas costas serão retalhadas, os músculos, tendões, a camada de
gordura, tudo ficará exposto. Você terá uma perda de sangue significativa.
Mas ouça, isso é somente o começo.
— De algo que você poderia evitar — Antônio completa minha
frase.
— Seu corpo vai entrar em colapso, talvez, desmaie, mas vou
garantir que você fique consciente durante todo o processo.
A respiração do infeliz se torna errática, apenas imaginando o que
acontecerá com ele, então se sacode e começa a urinar de medo.
— Don Riccardo, não sei onde sua esposa está, eu juro. — Lágrimas
escorrem dos seus olhos.
O medo está nítido no desgraçado e ele ainda se denominava um
guardião?
Mas sei que ele não vai abrir a boca tão fácil.
— Você tem apenas uma oportunidade para falar a verdade antes
que eu comece. — Dou de ombros. — Depois, vai ser pior. Portanto, pense
bem no preço que uma mentira pode custar, uma vez que você minta… —
Encaro o filho da puta, sabendo que ele vai fazer exatamente isso. — Não
haverá acordo, muito menos negociações. Sua chance é essa e use-a com
sabedoria.
Sua respiração sai trêmula e ele acena, freneticamente.
— Onde está minha esposa?
Ele engole em seco com a pele ficando um pouco mais pálida.
― E-eu não sei do que está falando... Não faço ideia de onde ela
está.
Balanço a cabeça consciente de que ele jamais dirá o que quero sem
antes sofrer muito.
Bom para mim, que estou ansioso para fazê-lo pagar caro por ser tão
estúpido ao ponto de tocar no que é meu.
― Eu sei que você sabe onde está a minha mulher, então vou
perguntar somente mais uma vez. ― Encosto o cabo do chicote em suas
costas. ― Onde está a minha esposa?
Um ofego é sua resposta, pois com certeza ele não esperava por
isso.
― Você pegou algo nosso, Petrova. ― Carlo inclina a cabeça. ― E
queremos de volta.
Meu irmão mal termina de falar e açoito o maldito com força,
rasgando a pele profundamente.
Petrova grita tão alto que pode ser ouvido por todo lugar, enquanto
seu corpo está todo tenso, tentando entender a explosão de dor abrasadora.
― Onde está a minha mulher? ― pergunto baixinho, estalando o
chicote em suas costas outra vez.
Ele grita, chorando copiosamente como uma marica.
— Por favor, não sei onde Lorena está?
— Desgraçado, não diga o nome dela! Você não me engana e já está
mais do que na hora de compreender que suas ações custarão caro, estou
cansado de vocês, malditos russos.
Antes que ele possa formular qualquer outro questionamento, o
chicoteio de novo na lateral do corpo e três cacos ficam presos entre as
costelas.
Essa foi a minha intenção.
— Quando você estiver pronto para responder o que perguntei,
avise. — Puxo o chicote, arrancando a pele e expondo uma costela.
Petrova se sacode, gritando e outra vez se urina, então clama por
Dio, implorando que alguém o salve, o que não vai acontecer.
— Não se desespere, estamos apenas começando. — Volto a
chicoteá-lo.
Cada vez que escuto seus gritos, sinto mais prazer no que estou
fazendo, afinal não sou chamado de Diabo à toa e ele sabe que não vou
parar.
— PARE… PARE, EU IMPLORO — grita, enlouquecido. — Não
me machuque mais. Por favor, não me machuque mais.
O cheiro de sangue nos rodeia e admito que adoro essa atmosfera de
caos, dor, sofrimento, pois são nesses momentos que olho para o abismo e o
que há lá embaixo sorri para mim. Posso ver o meu reflexo, o lado ruim e
terrível que foi dominado com anos de treinamento, mas que só quer uma
brecha para escapar.
— Vai responder onde está minha mulher? ― minha voz soa
tranquila.
Sou conhecido pela minha tranquilidade enganadora, pois ele não
pode notar o quão furioso estou e a pressa que tenho em saber o paradeiro
da minha mulher.
— Eu vou falar! Oh, Deus, me tire daqui ― Ele se engasga antes de
vomitar.
Quando para, ele arqueja, sofrendo espasmos, então me aproximo
do seu ouvido.
— Deus não está aqui, mas eu estou. — Chicoteio seu corpo mais
duas vezes, rasgando a pele já dilacerada.
Petrova grita, se sacudindo, lutando para escapar.
Tenho certeza que suas costas queimam como se ácido fosse jogado
nelas. A dor irradiará para seus membros e logo ele a sentirá em todos os
lugares.
Mas não me sentindo satisfeito aperto o cabo do chicote em uma das
feridas.
Ele grita, tentando fugir do inevitável, mas volto a chicoteá-lo,
ignorando seus pedidos de clemência e os sinais de que seu corpo está
entrando em colapso.
Ouço o som dos seus ombros saindo do lugar, vendo o corpo
baixando alguns centímetros.
A essa altura suas costas não passam de um quadro sangrento, cheio
de partes faltando e no chão há uma poça de sangue, urina e fezes.
Petrova chora e soluça, enquanto agoniza de dor.
— Pare, eu imploro. Eu falo onde ela está, eu digo tudo o que quiser
saber desde que pare com isso.
Ele não segura mais o peso do corpo e isso o faz pender de um lado
para outro.
― Abre a porra da boca, sem enrolação, seu bastardo de merda,
fraco.
Ele se esforça para puxar o ar e sei que está sufocando, tanto pela
posição do corpo, quanto pelo estresse causado pelo açoitamento.
— Ela está na orla, em uma embarcação velha ao oeste, pendurada
de cabeça para baixo, pedindo a Deus para que você a encontre. Sua esposa
é gostosa, Don Riccardo, confesso que foi ótimo tocar seu corpinho
pequeno enquanto me masturbava.
A minha vontade é de matá-lo nesse momento, mas não tenho
tempo, preciso correr até a minha mulher.
— Você gosta de fogo, Petrova? — Sorrio.
Ele se engasga no seu sangue e olho para o meu irmão, Antônio e
Bernardo que estão logo atrás dele, observando tudo.
— Divirtam-se e lembrem-se, um pedaço em cada caixa, no fim
coloque um laço vermelho em cima para dar mais um charme.
O bastardo do meu irmão começa a gargalhar feito um louco.
Essa é a parte que ele mais gosta e admito que eu também, mas
estou abrindo mão do meu prazer para ir socorrer minha piccolla.
— Pode deixar comigo, irmãozinho, vai lá buscar a nossa rainha.
Sem pensar duas vezes saio quase que correndo do galpão onde
estávamos e entro no carro, sendo seguido por um verdadeiro exército de
soldados. Pelas coordenadas que o maldito deu sei muito bem onde Lorena
está e pela graça de Dio não é muito longe daqui.
Lorena, amore mio, aguente firme que estou chegando.
CAPÍTULO 48

Vamos a toda velocidade, cortando ruas, ultrapassando sinais


vermelhos, indo pela contramão, tudo para chegar até a minha mulher o
mais rápido possível, e chegamos.
Contra tudo o que previa, não há ninguém fazendo a segurança dela,
o que me leva a crer que os malditos a deixaram para morrer, porque nem
que ela gritasse a plenos pulmões de onde está, jamais seria ouvida.
Eles iriam usar a minha mulher contra mim, para descartá-la depois.
Isso não iria ser uma negociação, mas um aviso, um que recebi com
sucesso e estou mandando a minha resposta de volta para aqueles malditos.
Espero que eles não entrem no meu território novamente ou
invadirei a Rússia com tudo o que tenho.
— LORENA! — grito pela minha mulher, observando que o dia já
está quase amanhecendo. — LORENA, AMORE MIO — grito por ela
novamente enquanto ando pela embarcação fétida. — LORENA.
— RICCARDO, AQUI.
Percebo que sua voz vem da parte de cima da embarcação.
— Don Riccardo, pode ser uma armadilha — um dos meus soldados
fala, tentando me parar.
— Fiquem aqui e se escutarem um tiro invadam tudo — ordeno e
eles acenam com a cabeça, concordando.
Eu não sei em que estado Lorena está, então irei até ela sozinho.
— RICCARDOOOOO...
Sigo o som da sua voz até que me deparo com uma porta e com um
só chute a derrubo.
Caralho, ela está amarrada de cabeça para baixo, como o maldito
descreveu e como ela está de vestido sua roupa íntima está toda à mostra.
Figlio de puttana!
— Me tira daqui, Riccardo, pelo amor de Deus.
— Estou indo, amore mio, estou aqui. — Puxo uma mesa velha,
subo em cima para desamarrá-la e com cuidado seguro seu corpo em meus
braços. — Você está bem? Me diga que está bem, amore mio?
Ela me abraça forte e desço de cima da mesa com ela no colo, a
colocando de pé para que consiga se apoiar no chão.
— Lorena, você está bem?
— Eu não deveria ter saído sem os soldados. Você tem razão, sou
desobediente e burra, mas quando te vi com aquela mulher, eu...
— Não fala nada, amore mio, vamos ter tempo para conversar sobre
isso. Mas saiba que não existe nada entre Antonella e eu.
“Eu amo você, amo você, amore mio.
“Antonella é o meu passado e você é o meu futuro, apenas cuido
dela porque prometi que cuidaria, uma promessa de honra, Lorena.
“Sabe o que isso significa?
“O irmão dela salvou a minha vida, ele deu a vida dele para salvar a
minha e me fez jurar cuidar da irmã dele, mas não existe absolutamente
mais nada entre nós dois.
“Não mais.
“Antonella encontrou o amor da vida dela assim como eu encontrei
o meu.”
“Você é o meu amor.”
Lorena me olha de uma forma diferente, com lágrimas nos olhos.
— Fala alguma coisa, amore mio.
— Eu te odeio tanto que te amo, seu desgraçado! Não vai ser nada
fácil para você me fazer te perdoar, mandou espancar o meu pai.
Dou um beijo na sua testa tendo cuidado com o seu machucado que
parece estar vermelho demais.
— Me perdoe, amore mio, me perdoe por tudo. Eu não sei lidar com
esse negócio de amor, porra.
— Vai ter que pedir perdão para o meu pai também.
Sabia que ela não iria facilitar as coisas.
Engulo em seco essa merda, mas ela está certa.
— O que você quiser, querida, mas...
Ela não me deixa terminar de falar e me puxa pelo pescoço,
grudando nossos lábios, me beijando de forma desesperada.
— Lorena, temos que sair daqui...
— Eu quero você.
— O quê?
— Eu quero você aqui e agora, por favor.
Ela só pode estar brincando!
— Vamos para casa e aí sim...
— Eu quero você aqui, porra. AGORA!
Ela começa a beijar o meu pescoço e sinto meu corpo enrijecer.
— Caralho, Lorena, você só pode estar louca!
— Eu quero você, Riccardo, eu quero agora. Quero me sentir
desejada pelo meu marido, por favor.
O meu bom senso vai para o inferno, então a seguro pelo cabelo e a
faço me encarar.
— Eu vou te foder com força, e não me peça para parar.
A diaba sorri como se ganhasse um presente.
— Ótimo, é isso que quero.
Eu a levanto pela cintura e a coloco em cima da mesa rasgando sua
maldita calcinha e a cheirando logo em seguida.
— O cheiro da minha mulher, sou viciado em você. Sou obcecado
por você.
— Riccardo! — ela geme meu nome.
Abro apenas o zíper da calça e a penetro num movimento forte a
fazendo gemer alto.
Minha esposa começa a me beijar intensamente e logo as coisas
esquentam enquanto continuo penetrando sua intimidade rápido e fundo
para que me sinta totalmente dentro dela.
— Deliciosa do caralho e apenas minha, toda minha. — Passo as
mãos pelo seu corpo com desejo, enquanto a safada me envolve com as
pernas.
Sei que ela está assim pela adrenalina do momento, mas para que ela
se perca logo em um orgasmo arrebatador começo a massagear seu clítoris,
a fazendo gemer desesperada.
— Ahhhhh... Se você parar eu te mato, Riccardo — geme chegando
ao ápice do seu prazer e intensifico as investidas.
Gozamos junto e coloco a cabeça na curva do seu pescoço, sentindo
seu cheiro de suor.
— Eu vou querer você todos os dias — falo beijando seu pescoço e
ela sorri.
— Eu também te quero, mas prometa me amar, somente a mim.
Prometa cuidar do meu coração.
— Eu prometo tudo o que você quiser, minha picolla. Sempre será
só você. Na verdade, sempre foi e agora que é minha não vou permitir que
vá a lugar nenhum sem que eu esteja junto a você, porque agora tenho
coragem de admitir meus sentimentos e falar que te amo.
Ela me beija mais uma vez carinhosamente.
— Eu acho que também te amo.
— Vamos descobrir isso juntos a partir de hoje. Juro que vou me
esforçar para ser o marido que você precisa.
Selamos nossa promessa de um futuro juntos com um beijo, o
melhor de toda a minha vida, porque nele está o destino de toda uma
geração ao lado da minha esposa, a mulher que descobri amar.
CAPÍTULO 49

Epílogo 1

Um mês depois...
Nunca senti tanto medo como no dia em que me sequestraram.
Eu acordei dentro da embarcação fedida e o pavor tomou conta de mim,
pois estava com os pés e mãos amarrados, e não conseguia lutar para me

libertar.
Entendi pela experiência que meu marido tinha razão em alguns
aspectos e que não devo sair sozinha, sem os soldados fazendo a minha
segurança, foi uma delas.
Nunca mais quero passar por uma experiência dessas.
Segundo Riccardo, os russos me pegaram para obrigá-lo negociar
uma droga sintética que ficará pronta daqui aproximadamente vinte anos, o
que é um absurdo.
Mas Antônio acha que tem muito mais por trás desse ataque e segue
investigando.
Ele é bom nisso, é como se fosse um caçador que fareja suas presas.
É assim que a máfia funciona, onde as coisas giram em torno de
garantir a continuidade de tudo. Por isso casamentos são negociados como
mercadoria, como está sendo com o meu cunhado, Carlo. Ele não está
satisfeito com a situação, mas foi obrigado a aceitar e só espero que não
faça com sua noiva o que o meu marido fez comigo.
Riccardo, por incrível que pareça, pediu perdão ao meu pai por tê-lo
espancado, mesmo meu pai alegando que não precisava, afinal o Don nunca
se desculpa por nada.
Porém, ali não estava o Don, mas o genro que pedia desculpa por
algo que nunca deveria ter feito,
Meu pai entendendo isso aceitou e tudo ficou bem entre nós.
Já em relação a Antonella, entendi tudo o que aconteceu. Riccardo e
eu conversamos muito sobre isso e foi esclarecedor. Ele fez uma promessa
de honra e tem que cumpri-la.
Hoje sei que realmente não existe mais nada entre a Antonella e ele,
e eu desejo de coração que ela não se arrependa do caminho que está
seguindo. Ela está apaixonada por um homem perigoso e ele é obcecado por
ela. Na verdade, a vida dela não está muito diferente da minha, porque aqui
estou eu, apaixonada por um homem obcecado por mim, dentro do banheiro
do quarto da minha sogra com seis testes de gravidez na minha frente.
Detalhe, todos com o resultado positivo se esfregando na minha
cara.
— Ainda tem dúvidas? Esse é o sexto, Lira querida, vou ter um neto
ou neta e temos que contar para o Riccardo agora mesmo.
Dio mio, me ajude, estou gravida de verdade e não há como negar.
— A senhora não pode contar, não agora. — Eu a seguro pelo braço
e ela me encara sem entender.
— Por que não? — ela pergunta confusa.
— Ele não vai me deixar competir se souber que estou grávida e já
foi difícil demais convencê-lo a me deixar fazer isso por causa da
exposição. Então, vamos fingir que não fiz seis testes de gravidez e que
todos deram positivo. A competição começa em menos de uma hora e já
estou pronta, é só o tempo de chegarmos no centro de hipismo.
Só eu sei o que tive que passar para que Riccardo permitisse que
continuasse trabalhando e treinando.
— Como conseguiu fazer isso, Lorena? Riccardo estava irredutível
quanto a isso, até mesmo Antônio e Carlo se impressionaram.
— Cavalgando nele, foi assim que consegui. — Só me dou conta do
que falo quando a última palavra sai e a minha sogra gargalha alto. —
Desculpa, Giulia, quis dizer que eu, eu... E...
— Não se preocupe, querida, entendi muito bem o que quis dizer.
Você está certa, pois já não tenho idade e nem folego para cavalgar como
você. E deve fazer isso prazerosamente bem, já que conseguiu fazer o meu
filho mudar de ideia.
Dio mio, que vergonha!
— Agora jogue esses testes no lixo e vamos antes que o seu marido
venha até aqui atrás de você, veja isso e descubra. Mas conte a ele ainda
hoje, Lira, pois não poderá competir por um bom tempo depois de hoje. —
Ela me abraça e a beijo no rosto.
— Obrigada, Giulia. Prometo que vou contar, mas só depois da
competição.
— É claro que vai.
Saímos juntas do banheiro, me olho mais uma vez no espelho dela,
confiro que tudo está no lugar e que meu uniforme está impecável.
— Agora sim, podemos ir.
— Entendo o motivo do meu filho ter se encantado por você desde a
primeira vez em que te viu. Você fica mais linda ainda nesse uniforme,
simplesmente perfeita.
— Não fala assim que fico sem jeito. Agora vamos ou pela primeira
vez vou chegar atrasada em uma competição.
Saímos do quarto conversando e sei que ela deve estar usando de
muito autocontrole para não gritar aos quatro ventos da Itália que estou
grávida.
Descemos a escada e quando chegamos na sala me surpreendo com
a quantidade de soldados que estão perfeitamente organizados enquanto
Riccardo passa a eles instruções absurdas.
— Quero segurança armada até os dentes em volta de toda a arena
de competição. Quero soldados nas baias dos cavalos e por onde Lorena for
passar. Se ela der um passo para a esquerda ou direita vocês vão estar lá
para protegê-la. Quero segurança até mesmo para a sombra dela.
A minha vontade é de gritar a palavra exagero em alto e bom tom,
mas não posso.
Esse foi a porra do nosso combinado e assim como ele não voltou
atrás com a palavra dele, não posso voltar com a minha.
— Riccardo, já estou pronta.
Quando ele escuta a minha voz se vira na minha direção e o safado
literalmente me come com os olhos.
— Puta que pariu, amore mio! Está linda nesse uniforme, o meu...
— Riccardo, amore mio, a sua mãe está aqui, por favor, tenha
modos.
Ele entende o que falo e olha para a mãe dele.
— O que estavam fazendo que demoraram tanto? — ele pergunta.
— Nada, agora vamos ou vou me atrasar — falo me aproximando
dele.
— A rainha da máfia nunca se atrasa, minha piccolla, mas vamos,
quero me aproveitar de você no carro.
— Mas de jeito nenhum, você vai me bagunçar toda como sempre
faz quando saímos juntos. Preciso estar impecável, isso conta pontos, sabia?
— E eu posso comprar os jurados — ele fala como se isso fosse a
coisa mais normal do mundo.
— Não, não e não. Agora vamos, Bernardo deve estar achando que
morri pelo caminho, porque só acontecendo uma coisa muito grave como a
morte para me atrasar em uma competição.
Eu não sei o que rolou, mas Bernardo voltou a treinar comigo e irá
participar da competição, mas quando pergunto alguma coisa a ele sobre o
que aconteceu, meu amigo sempre fala que o futuro há de me surpreender.
E espero que me surpreenda de forma positiva.
Chego no centro de hipismo e confesso que ter Don Riccardo ao
meu lado no carro foi uma tarefa difícil, ainda mais quando sei o motivo
dos meus hormônios estarem explodindo pelo meu corpo. Ele mal encosta
em mim e já estou pronta para ele, mas de jeito nenhum iria transar no carro
a caminho de uma competição importante como essa.
— Eu vou para o camarote, cuide-se e tenha atenção. — Ele em
abraça e me beija como se quisesse arrancar meus lábios.
Confesso que adoro quando ele faz isso.
— Arrasa, amore mio, vá ganhar mais uma medalha de ouro para
nós, vou torcer por você. — Ele beija a minha testa em cima da pequena
cicatriz que agora tenho e depois se afasta, vestindo a pele de Don com sua
áurea fria.
É assim que Riccardo é agora, comigo ele é um homem e para a
máfia ele é outro completamente diferente.
Agora ele sabe que tem que ter o equilíbrio entre os dois.
— Graças a Deus, que chegou, minha filha, está atrasada e você não
se atrasa nunca. — Meu pai se aproxima aflito.
Sinto vontade de contar a novidade a ele, mas é capaz do homem
desmaiar, então é mais seguro ele ficar sabendo depois do Riccardo.
— Onde está a Rosa?
— Já está no camarote com a família do seu marido, ela ainda não
se acostumou com isso.
— Ela vai, papai, pois somos uma só família agora.
Ele sorri e me abraça.
— Você conseguiu, minha filha, e estou orgulhoso de você. Agora
vá, a competição está prestes a começar e Bernardo já aprontou a Berla para
você.
Berla é a minha égua premiada e ocupou lindamente o lugar da
Estrela que por enquanto está fora do páreo.
— Até que enfim a rainha da competição chegou, está atrasada —
Bernardo fala assim que chego na entrada da arena.
Como papai disse, Berla já está pronta à minha espera.
— Desculpa, Bernardo, mas estava fazendo um teste... — Paro de
falar, mas ele me conhece bem para saber do que se trata.
Ele já tinha me questionado sobre esse assunto alguns dias atrás
porque me ouviu conversando com Rosa ao telefone sobre o atraso na
minha menstruação.
— Só me diga, sim ou não.
— Sim.
Ele sorri e me abraça.
— Parabéns, tenho certeza que você vai fazer um excelente trabalho
criando o próximo Don da Cosa Nostra. O nosso futuro está literalmente em
suas mãos, Lira.
— Não fala assim que fico apavorada. Agora vamos.
A buzina toca e cada um toma o seu lugar para darmos início a
competição.
Essa competição, em especial, é importante, porque a senhora
Bianchi irá participar representando o centro de hipismo do marido.
Como já esperava a competição ocorreu lindamente bem e não errei
um salto sequer. Berla foi maravilhosa sob o meu comando e mais uma vez
a medalha de ouro veio.
Como sempre meu coração transborda de alegria e irei demorar
longos meses para conseguir competir novamente, afinal Riccardo jamais
irá permitir que suba em cima de um cavalo estando grávida.
Agora, o cuidado dele vai ser insuportável em cima de mim.
— Parabéns, amore mio. Você foi perfeita como sempre. —
Riccardo se aproxima assim que desço do pódio e me abraça me rodando,
fazendo a minha cabeça girar.
— Seu louco, para com isso.
Ele me coloca no chão e cheira o meu pescoço.
— Eu sei que você gosta de comemorar, mas tenho que ir à boate,
espere por mim, em casa.
— Eu posso ir com você, eu...
— Negativo, de jeito nenhum, em hipótese alguma.
É tanta negativa que tenho uma ideia, pois sei exatamente para que
boate ele vai a essa hora.
— Tudo bem.
Ele me encara, arqueando uma sobrancelha.
— O que foi?
— Rápido assim?
— Vai me levar?
— Não.
— Então pronto, não vou discutir com você. Nos vemos em casa. —
Viro as costas e ele me puxa pelo braço.
— Ei, amore, é trabalho, só que não vou te levar para uma boate, é
aquela boate — ele fala se referindo a boate que Carlo me levou.
— Tudo bem, eu sei, nos vemos em casa. — Fico na ponta dos pés e
o beijo rapidamente nos lábios. — Te espero em casa, amore mio.
Ele faz carinho no meu rosto.
— Certo, eu te amo.
— Também acho que te amo.
Ele sorri, pois, é sempre isso que respondo quando ele fala que me
ama, mesmo não gostando nada desse acho na frase.
Nos despedimos e vou atrás da única pessoa que pode me ajudar no
que quero fazer, Carlo Bianchi.
— Ei, para onde vai com tanta pressa? — Bernardo me para.
Ele também foi medalhista hoje.
— Você viu o meu cunhado? Preciso falar com ele.
Bernardo sorri.
— Nas baias com uma tremenda gostosa.
Carlo não tem jeito!
— Vou atrás dele, depois nos falamos. Eu te vejo amanhã no haras,
quero que monte a Estrela para ver se ela está bem fisicamente.
— Pode deixar, chefa, nos vemos amanhã.
Saio da presença de Bernardo e vou em direção as baias.
Como o meu amigo falou, Carlo está praticamente comendo uma
mulher com a mão dentro do vestido dela.
— Você falou para ela que é um homem comprometido, cunhado?
A mulher o empurra com tudo e ele parece ficar frustrado.
— Você não tem um marido para tomar de conta, Lorena?
— Desculpa, senhora Bianchi, não sabia que ele era comprometido.
— Agora sabe, cai fora.
A mulher arruma a roupa rapidamente e sai quase que correndo.
— Está ficando tão insuportável quanto o seu marido.
— Preciso da sua ajuda.
Ele sorri.
— Acabou de atrapalhar a minha foda da noite, acha mesmo que
vou ajudar você a irritar o meu irmão?
Ele vai sim.
— Estou grávida, descobri hoje antes de vir para cá. Riccardo foi
para aquela boate e vou atrás dele, não vou deixar meu marido solto por aí.
— Você está gravida!? — ele fala mais alto do que deveria.
— Fala baixo, quer que todo mundo saiba antes do pai do bebê?
— Dio mio, você carrega o futuro da Cosa Nostra no ventre.
— Exatamente, e você vai me ajudar a ir atrás do seu irmão, vou
fazer uma pequena surpresa para ele.
Com o meu jeito de falar ele dá um passo para trás.
— O que você vai fazer, sua diaba? Eu não gosto desse seu olhar,
Lorena, pois junto com ele sempre vem problemas.
Dou a ele o meu melhor sorriso.
— Não vou fazer nada de mais, vou apenas dançar Bishop Briggs
para ele. Eu amo essa música e o seu irmão ama me ver de uniforme,
então... — Deixo o restante para a imaginação pervertida dele.
— O quê? Ficou louca de vez? Ele vai te matar, Lira.
— Vai matar coisa nenhuma, já passamos dessa fase. Agora vai me
ajudar ou não? Sabe que vou fazer isso com ou sem a sua ajuda.
— Que Dio me defenda de uma esposa como você. Vamos lá, vou te
ajudar. A sua sorte é que Antônio não está aqui ou nunca que conseguiria
fazer isso.
— Eu sei, Antônio é um chato, agora vamos.
Carlo me leva até o carro dele e estando com o subchefe as coisas
são facilitadas para mim.
Me aguarde, Riccardo, estou indo mostrar o que a rainha da máfia é
capaz de fazer.
CAPÍTULO 50

Epílogo 2
Quando chegamos na boate constatamos que ela está vazia. Por
hoje ser uma quinta-feira ela não abre, mas Riccardo está no bar com uma
dupla de homens e ele parece estar muito sério.
O papo deve estar tenso, e Carlo e eu estamos escondidos.
— O plano é o seguinte, vou entrar lá, tiro os defuntos e você... —
Carlo nem termina de falar e escutamos dois tiros. — Mas que porra!
Riccardo nunca me chama para diversão.
Levo um susto com a cena à minha frente, mas isso não vai me fazer
desistir, afinal Riccardo jamais me machucaria, agora sei disso.
— Mas, por que o Riccardo matou esses homens?
— Se você não entende a cabeça doente do seu marido acha mesmo
que eu vou entender? Eles devem ter feito alguma coisa muito ruim para
merecerem esse destino.
— Deve ser isso mesmo. Então, agora que não tem mais plateia vou
para o palco, você solta a música que te falei e some.
— Ah, com toda certeza! Não estou a fim de ver o meu irmão
transando com a mulher dele, porque é isso que vai acontecer. Fala sério,
vocês dois são loucos. — Ele se afasta.
Aproveito que Riccardo pega o telefone e vou para o palco.
Quando a música começa a tocar, ele se vira na direção do palco e
me vê, então começo a dançar conforme as batidas da música.
Sempre quis fazer isso, é excitante, ainda mais que tem um pole
dance aqui e posso explorar a minha sexualidade através da música.
— Eu vou te matar, mulher diabólica. — É o que a boca dele fala,
mas os olhos do filho da mãe me devoram, ainda mais quando começo a
tirar a blusa.
— Vai me matar sim, mas é de prazer, amore mio.
Ele sobe em cima do palco e começo a dançar enroscando o meu
corpo no dele.
— Lorena, quem te trouxe aqui e te ajudou com essa loucura? Eu
acabei de matar dois homens.
— Eu sei, eu vi o que o Don da Cosa Nostra acabou de fazer. —
Seguro a gravata dele passando a bunda pelo seu pau que já sinto estar duro.
— E ver isso não te assustou? — Ele parece estar curioso.
Não estou a fim de muita conversa agora, mas respondo:
— Seja para a máfia o que tem que ser e, para mim, seja o meu
marido, o homem que amo e o pai do nosso filho. — Ainda de costas para
ele, pego sua mão e levo ao meu ventre, sem perder o rebolado da batida da
música.
Riccardo parece ficar em choque, mas logo segura meus braços e
me vira de frente para ele.
— Você está...
— Grávida?
— Grávida!
Sorrio e o puxo para mim, o beijando.
— Sim, amore mio, estou grávida, o nosso bebê está aqui. — Seguro
sua mão no meu ventre e o sinto tremer.
Quando menos espero, ele me pega no colo e me beija
profundamente, descendo do palco.
— Para onde está me levando?
— Para o meu escritório. Não vou foder a minha mulher com
defuntos olhando, pois, ninguém pode ver o seu corpo nem mesmo os
mortos, apenas eu. Quero comemorar a chegada do bebê, não foi para isso
que veio até aqui indo contra as minhas ordens?
— Sim, foi.
Ele entra no escritório e me coloca em cima de um sofá grande e
espaçoso, então deslizo as mãos em seus ombros.
Estou louca para senti-lo dentro de mim.
Riccardo faz questão de ficar no meio das minhas pernas, onde tem
uma das mãos segurando meus pulsos e a outra mão desliza pela minha
barriga, subindo, passando o indicador no meu mamilo duro.
— Você sempre me quer, amore mio.
Sinto suas palavras no meu clitóris, como uma onda elétrica, então
puxo sua camisa, o aproximando mais e em resposta meu marido beija
minha boca dando uma mordida.
Ele parece estar faminto, seus olhos estão intensos e escuros, me
encarando.
Riccardo é eroticamente tentador e gostoso.
— Eu quero você, Riccardo, e quero agora.
— Tira essa roupa, quero você pelada nesse sofá, toda aberta e se
derretendo pelas pernas para mim. Quero chupar sua boceta doce até
implorar pelo meu pau bem fundo dentro de você.
Respiro pelo nariz, tentando não parecer uma desesperada para ele
fazer exatamente tudo isso. No entanto, não controlo meu gemido, pois
estou louca de desejo.
— Tira essa roupa, Lorena — ordena com pressa.
Encho meus pulmões de ar, me sentindo toda sensível e sem
protesto tiro a roupa como ele manda.
Quando tiro tudo sua boca se curva para o lado, com seu olhar
safado.
— Sou toda sua. — Abro a boca para conseguir respirar e ele
aproveita para capturar meus lábios num beijo molhado, intenso e gostoso.
Solto um gemido em seus braços, amando como meus seios
sensíveis raspam nele. De olhos fechados e ainda beijando meu marido,
deslizo as mãos para a bainha da sua camisa e a arranco.
Também preciso dele sem roupas, todo forte, quente e suado.
Eu me afasto e suspiro vendo seu peitoral.
Minhas mãos acariciam cada detalhe do seu peito, as cicatrizes, as
tatuagens, os gominhos do seu abdômen definido.
E, pelos céus, sou louca pelas tatuagens dele.
Riccardo agarra o meu pescoço conduzindo minha boca para a sua.
— Minha, todinha minha — ele rosna, me beijando.
Eu concordo abraçando seu pescoço, forçando meus seios a se
esfregarem na sua pele e solto um gemido quando ele aperta meu pescoço
pela nuca, com nossas bocas batendo uma na outra num beijo enfurecido.
Eu deveria odiar quando ele faz isso, é bruto, mas a verdade é que
adoro quando ele “meio que me enforca”.
Sou só gemido e tesão quando ele para de me beijar e se afasta,
sorrindo com malícia.
— Você gosta que agarre seu pescoço, não é, piccolla?
— U-hum... — Não tenho motivo para negar isso.
— Fica de costas para mim e arrebita bem essa bunda. Quero
conseguir ver sua boceta.
Confiante, faço o que ele pede.
— Porra! — ele rosna, dá um tapa em minha bunda em seguida sem
eu esperar a palmada vem na minha boceta. — Agarra esse sofá, amore
mio.
— O que você vai fazer? — Tento olhar para ele que está atrás de
mim.
Ele não responde apenas afaga com dois dedos os lábios da minha
boceta, depois abre para pegar minha excitação e desliza pelos lábios,
abrindo.
Fecho os olhos e mordo o lábio com força.
— Caralho! — resmungo em um gemido.
— Adoro sua boca suja, esposa.
Riccardo chega o corpo para mais perto, me obrigando a abrir mais
as pernas. Viro a cabeça e o pego colocando os dedos dentro da boca.
— Salgadinha e deliciosa. — Ele leva os mesmos dedos para
acariciar meu clitóris e mete outro no meu núcleo.
Com o dedão, ele pressiona meu clitóris, apertando e massageando,
enquanto com os dois dedos me fode, enfiando e tirando rápido.
— Vai, amore, goza para mim — ele fala no meu ouvido.
Assinto e ele puxa meu cabelo para que meu rosto levante e ele
possa me beijar.
Seus dedos me fodem e a outra mão bate na minha bunda.
Sou conduzida a uma corrente de intenso prazer, que me faz gozar
mordendo o sofá. Não tenho tempo de me recuperar, pois Riccardo me vira
e me beija. Preciso respirar fundo pelo nariz enquanto ele me devora.
Quando estou recuperando as forças, ele sorri para mim e vou logo
arrancando sua calça, a cueca.
Ele ajuda tirando os sapatos com os pés.
Assim que ele está nu, o empurro no sofá.
— Você quer isso? — ele pergunta com a mão no seu pau enorme e
duro, fazendo um movimento de vai e vem vagarosamente, melando ainda
mais a ponta de pré-gozo.
Abro as pernas e me esfrego nele, que, pelo ângulo, minha boceta só
alcança suas bolas.
Eu não preciso verbalizar o que quero, pois, Riccardo se acomoda
entre minhas coxas, agarrando e empurrando uma delas. Olhando dentro
dos meus olhos, guia o seu pau para a entrada da minha boceta.
— Porra... Você está... — Ele fecha os olhos, arfando e desliza para
dentro de mim. — Está como um mel, molhada e quente. Puta que pariu,
Lorena!
Ele tem seu pau na mão e o retira, então esfrega a cabeça na minha
entrada, me acariciando. Eu fecho os olhos suspirando e jogo a cabeça para
trás quando ele me invade completamente, me abrindo toda.
— Ah... Riccardo... — Solto um gemido delirante.
— Você é minha, só minha. — Ele gosta de repetir isso.
Abro um sorriso entorpecido, mexendo o ombro e concordo.
— Sim, sua.
Isso faz com que ele estoque para dentro de uma vez só e me tremo
toda, com os olhos lacrimejando.
Riccardo nos levanta, me fazendo sentar no seu colo e nesse ângulo
seu pau enorme me preenche completamente. Solto o ar pela boca e me
agarro a ele com os braços jogados nos seus ombros e respirando com
dificuldade. Suas mãos firmes me seguram pela cintura e me aprisionam no
seu colo.
Riccardo orienta meu corpo a subir e descer no seu pau duro e
grosso.
Essa posição faz com que me abra e o aceite todo dentro de mim.
É incrível?
É, mas um pouco doloroso também.
— Isso, amore mio, cavalga em mim. Não para.
— SIM! — Concordo assentindo enlouquecida.
Adoro seu corpo mais quente e o suor começando a escorrer por nós
dois. Trocamos fluidos corporais e nos beijamos aflitos, de bocas abertas e
línguas lambendo lábios e dentes. Chupando minha língua, ele engole meus
gemidos. Suas mãos escorregam por minhas costas então entro em
combustão quando suga meus mamilos.
— Ah... Riccardo... — gemo continuando a cavalgá-lo e arranho
seus ombros.
Quero arranhá-lo, quero devorá-lo o quero todo para mim.
Sentando firme no seu colo, fazendo seu pau ir até o fundo, puxo
sua cabeça com as duas mãos e o beijo como se dependesse disso. Ele
massageia minhas costas tão lento e gostoso. Ainda beijando seus lábios,
gemo dentro da sua boca e quase gozo quando ele desce as mãos e as enche
com minhas nádegas, me fazendo mover o corpo guiado por ele.
— Sua boceta é incrível — fala na minha boca. — Estou viciado.
Gemendo e movendo meu corpo rápido, meus seios balançam e ele
segura com as duas mãos.
Eu rebolo no seu colo, olhando em seus olhos.
Porra, eu adoro isso!
Eu adoro senti-lo dentro de mim, adoro esse poder que ele tem sobre
mim.
É uma sensação tão gostosa.
Abro a boca, respirando com dificuldade, me afasto e apenas o
encaro. Ele parece perder o controle e me segurando, estoca para cima com
força. Fazemos barulho, suas coxas batem em mim, com força para dentro e
pulo em cima dele.
Eu não paro.
— Lorena... — fala jogando a cabeça para trás, perdido. — Goza!
Vamos! Goza agora. — Ele me encara ordenando, dando tapas na minha
bunda. — Goza para mim. Goza para mim, porra.
Engulo com força, enquanto ele agarra meu cabelo e sou apenas
sons e gemidos. É como se ele estivesse me abrindo toda e não sei
exatamente como, mas aperto seu pau dentro de mim.
— Porra, mulher, assim você me mata... — ele rosna, me puxando
para ele, me segurando pela nuca, me forçando a encostar minha testa na
sua molhada de suor.
Grito sentindo uma onda forte de prazer, não recuo e acelero até que
estou gozando feliz porque ele também começa a gozar. Suas pernas
tremem e ele não me deixa afastar.
Riccardo está tomando tudo de mim.
Ele segura meu cabelo num aperto forte que não machuca, mas é
dominante, e beijo sua boca, sentindo que ele me enche.
— Puta que... — Ele não completa a frase, aperta meu pescoço e me
dá um beijo molhado na boca.
Tremendo e satisfeita, tento respirar e ficar calma.
A exaustão toma conta de mim e minha respiração está trêmula.
— Riccardo... Eu...
— Não diga mais que acha que me ama, é castigo demais, por favor,
agora sou eu que imploro a você, amore mio, não diga mais isso.
— Eu te amo, Riccardo, eu amo, amo muito.
— Puta que pariu! — Ele busca por meus lábios e me beija. — Me
perdoa por tudo que fiz, Lorena. Eu te amo e vou fazer de tudo para ser o
marido que você precisa, um bom pai para o nosso filho. Vou tentar ser o
melhor que conseguir pela nossa família.
Eu começo a chorar ao ouvir suas palavras.
— Eu também te amo e vou amar além da eternidade. Somo um só
agora, meu amor, e eu te amo. E juntos vamos criar o nosso filho ou filha
para ser o futuro da Cosa Nostra.
FIM.
AGRADECIMENTO
De início, quero expressar minha gratidão a Deus, pois, vem DELE
a minha força e capacidade para a escrita.
Eu me sinto privilegiada e toda honra e toda gloria sempre a Ele!
Agradeço também a minha família, meus filhos e meu esposo que
são a base da minha estrutura.
Agora chegou a vez de vocês, minha segunda família, as Lindaétes,
como algumas leitoras se intitulam.
Vocês são a minha maior motivação.
Gratidão é a palavra que define meu sentimento por meus leitores.
Obrigada por cada comentário de incentivo, carinho e entusiasmo.
Sempre digo que tenho os melhores leitores do mundo, porque sem vocês
nada disso teria sido possível.
Vocês moram no meu coração.
Amo a interação de vocês e estou sempre aberta a ideias e críticas
construtivas.
Espero de coração que tenham gostado de mais essa história.
Meu objetivo é satisfazer cada leitor, proporcionando uma leitura
contagiante e agradável, e saber que sou capaz de despertar sensações e
alegrias com a minha criatividade é arrebatador.
Isso é muito poderoso.
Eu me arrisco a dizer que o livro é um portal para o outro lado do
mundo.
Um cheiro no coração de cada um de vocês e me aguardem para
próximas histórias.
Bora viajar juntos?
SOBRE A AUTORA

Olá, meninas!!
Sou Linda Evangelista, tenho trinta e cinco anos, sou casada, mãe e
estudante de engenharia civil, cursando os últimos períodos da faculdade.
Apaixonada por literatura em suas diversas ramificações de escrita e
gênero, e é nesse meu "paraíso particular" em que me conecto a música e
viajo pelo alfabeto de letras, linguagens e infinitas possibilidades. É daí que
sai minhas inspirações que muitos já conhecem.
Inicialmente, escrever era um hobby e hoje faço disso a minha
profissão, pois amo escrever.
E assim deixo um pouquinho de mim, em cada livro escrito, com
pequenas doses de sonhos, homens lindos, românticos, possessivos e ricos,
quase donos do mundo.
Mas que se deixam ser de uma única dona, de mulheres lindas que
são donas de si e amam serem chamadas de MINHA pelo mesmo homem
lindo, romântico e possessivo.
Agradeço a cada uma de vocês que leem meus livros esse quiserem,
me sigam nas diversas mídias sociais para saberem das novidades e
próximos lançamentos.
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OBRAS DA AUTORA

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SINOPSE
O casamento perfeito, o príncipe encantado em seu cavalo branco
pronto a salvar a mocinha de tudo e uma família perfeita é tudo o que
Louise pensa que tem.
Ela está feliz com sua nova vida, vivendo o que sempre sonhou.
Porém, não imagina que seu príncipe não passa do vilão, aquele que
já a fez chorar, o responsável por notícias maldosas e falsas que foram
espalhadas de maneira tão vil pela internet e gerou grandes problemas a ela
e a sua família que tanto ama.
Kristofer por outro lado se vê envolvido na própria armadilha, pois
acaba se apaixonando por quem não deveria, sua linda e doce esposa, o alvo
que usaria para enfim ter sua vingança e se ver livre da promessa que fez
ainda pequeno.
Seu novo dilema é esquecer tudo e viver esse sentimento novo que
ele está sentindo ou perder seu grande amor e realizar a vingança que ele se
preparou a vida toda para cumprir.
Segredos vêm à tona, ferindo dois corações.
Raiva se transforma em amor e amor se transforma em decepção.
Inimigos antigos voltam e põem à prova a união da família.
Agora um pedido de perdão deverá ser buscado, assim como a
confiança quebrada deverá ser restaurada.
A princesa com coração partido irá fazer o vilão passar por maus
bocados, afinal ela não é apenas doce e meiga, ela é um furacão e o fará
provar do seu próprio veneno.
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SINOPSE

Kristofer Broz, renomado cirurgião geral e plástico, cresceu tendo


o peso de uma promessa feita no leito de morte do seu pai em suas costas,
acabar com Ivan Smith e sua família. Passou anos estudando o objeto da
sua vingança, planejou cada detalhe para atingir seu objetivo e agora está
pronto para colocar seu plano em ação.
Para enfim poder viver livre desse fardo que carrega por tantos
anos, decide usar um alvo que considera ser frágil e fácil de manipular, a
doce e linda Louise Smith.
Ela é a peça chave no seu jogo para acabar de vez com a
onipotente família Smith.
A herdeira, segundo suas informação, não passa de uma mulher
fútil que gosta de gastar fortunas em viagens e roupas de grifes.
Mas ao conhecer pessoalmente seu alvo percebe que Louise é
muito mais que isso, é uma mulher adorável com um coração enorme que
ajuda a todos. Ela é a alegria por onde passa, amada por todos que estão ao
seu redor e isso o surpreende, afinal não era o que esperava encontrar.
Usando seu charme e sedução, ele consegue finalmente fisgar o
coração da doce mulher e dar o primeiro passo para concretizar sua
vingança.
Mas não se enganem, de doce e frágil a princesinha Smith não tem
nada, afinal ela puxou o pior lado do pai, honrando o sangue que corre em
suas veias e não é à toa que é chamada pelos familiares de furacão Smith.
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SINOPSE

Denner Thompson é conhecido por todos como o príncipe do


petróleo. Herdeiro de um dos maiores impérios da sociedade, é um
homem respeitado e temido por sua inteligência e facilidade em gerir
os negócios.
Briana Morris, uma linda e humilde mulher, que apesar de
ter vindo de uma linhagem onde todos dizem ser um tanto duvidosa,
cresce profissionalmente no mundo empresarial através da sua
competência e habilidade financeira.
Duas almas completamente diferentes que se esbarram pelos
caminhos da vida no ambiente profissional, onde ele é o chefe e ela a
subordinada, apesar de não concordar com isso.
As intrigas e rivalidades os tornam de alguma maneira
próximos e um segredo do passado pode tornar essa rivalidade ainda
pior, onde pré-julgamentos podem ser feitos indevidamente.
No fim, Denner e Briana percebem que o ódio pode ser um
sentimento tão intenso quanto o amor.
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SINOPSE

Após uma noite de bebedeira e muita jogatina, um casamento é


realizado, juntando Briana e Denner.
Amor e ódio, segundo os dois quando estavam embriagados, é a
combinação perfeita para o casamento dar certo.
Briana se entrega a Denner para provar que nunca foi o que ele
insistia em dizer que ela era. Já Denner percebe que esteve errado em seus
julgamentos durante o pouco tempo de convivência que tiveram.
Agora casados, ela quer a anulação a qualquer custo, já ele quer tê-
la para si de qualquer jeito, por isso não irá facilitar as coisas para ela.
Briana quer viver, Denner quer se redimir.
Segredos serão revelados e um pedido de perdão deverá ser feito.
Porém, Briana está machucada e decidida a recomeçar sua vida
longe das amarras que foram impostas a ela.
O mundo não a conhecia, mas do dia para a noite, Briana Morris
virou Briana Morris Thompson, a esposa do príncipe do petróleo, um
homem cobiçado, poderoso e temido.
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SINOPSE

Colin é um advogado de sucesso que trabalha no grupo Jones,


mas que também é responsável pelo escritório de advocacia da
família. Assumiu o lugar do seu pai após ele sofrer um infarto, o que
o impossibilitou de continuar trabalhando.
Colin se divide entre o escritório de advocacia de sua família
e o grupo Jones onde trabalha para seu melhor amigo.
Amanda é filha de imigrantes que saíram do México para
tentar uma vida melhor na América. Já em solo americano, sua mãe
engravida, mas infelizmente morre no parto deixando o marido com
uma recém-nascida para ser criada.
Com muito esforço, Amanda consegue uma bolsa de estudos
em uma das melhores faculdades de Artes Plásticas da Califórnia.
Na faculdade ela conhece sua melhor amiga, Emily Barnes.
Juntas lutam para realizar o sonho de abrir uma galeria de
artes e esse sonho é realizado com a ajuda de Oliver Thompson, CEO
de uma das maiores empresas do ramo do petróleo.
Amanda e Colin se conhecem através de seus amigos em
comum, Anthony Jones e Emily Barnes, que são noivos.
Mesmo tentando resistir, Amanda acaba se apaixonando por
Colin e entra de cabeça em um relacionamento que, segundo ele, não
passa de sexo.
Tudo piora quando a família de Colin a destrata e a humilha
por ser filha de imigrantes e pertencer a uma classe social diferente
da de Colin.
Apaixonada, Amanda espera que seu amado a defenda das
humilhações que sofreu por parte da sua mãe, mas o belo advogado
resolve escolher a família em vez dela e isso quebra o coração da
pobre moça.
Mesmo Colin já começando a desenvolver sentimentos por
Amanda não tem coragem de ficar contra sua família.
Mas o que a família de Colin não esperava era que com o
sucesso da inauguração da galeria de artes, Amanda fosse tornar uma
mulher muito rica e conhecida na alta sociedade.
Amanda desenvolve uma amizade com Oliver Thompson, o
que faz Colin morrer de ciúme, pois, segundo ele, Amanda lhe
pertence.
Porém, a garota de coração partido não quer mais saber de Colin.
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SINOPSE

Oliver Thompson, um homem marcado pelas traições do


passado que prometeu a si nunca mais entregar seu coração
novamente.
Ele é bom apenas com quem ganha sua confiança e não são
muitas pessoas que tem esse privilégio de cair nas graças do
poderoso CEO, ou rei do petróleo como é chamado por muitos.
Oliver é poderoso, implacável, frio e sem fé no amor.
Aos trinta e quatro anos é dono de uma inigualável fortuna e
se vê pressionado pelos pais a gerar um herdeiro para dar
continuação ao legado da poderosa família. Sem interesse de entrar
em um relacionamento, ele propõe um casamento por contrato a um
jovem estagiária de uma famosa galeria de arte, onde ele é um dos
investidores.
Bruna Harper, uma jovem que está prestes a concluir seu
curso de Artes Plásticas.
Ela só pensa em sua carreira e em aproveitar a oportunidade
única que foi dada a ela ao ser aceita para estagiar em uma famosa
galeria. Se envolver com um homem também não está em seus
planos, por mais lindo e sexy que ele possa ser.
Mas o destino com a ajuda de uma grande amiga em comum
estão empenhados a juntar os dois.
Bruna está passando por uma dificuldade muito grande em
sua família e resolve aceitar o contrato de casamente imposto pelo
poderoso CEO.
O que Bruna não esperava era que iria se apaixonar
perdidamente pelo seu marido por contrato, mas ela não irá admitir
isso para ele tão fácil assim.
Esse é um jogo, o qual, ela quer sair vencedora e está disposta
a tudo para conquistar o coração do marido.
O que Oliver não espera é que sua esposa por contrato irá
virar sua vida de cabeça para baixo.
Bruna irá despertar em Oliver o seu lado possessivo, o qual
ele pensou que mulher nenhuma nunca mais fosse conseguir tamanha
façanha.
Ela faz seu marido chegar ao limite com sua teimosia e sua
perseverança em fazê-lo quebrar suas regras.
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SINOPSE
Aline Jones teve a sua vida unida a de Ethan Parker antes
menos do seu nascimento, ela era a sua prometida, sua futura esposa,
mas esse não era o desejo da parte principal, Ethan não a queria como
sua esposa.
Ethan depois de passar por um dos momentos mais difíceis da
sua vida jurou para si mesmo que nunca mais entregaria o seu
coração a uma mulher, ele se fechou para o amor, transformou seu
coração em um simples pedaço de pedra, mais o que ele não esperava
era que Aline Jones estava disposta a quebrar e amolecer novamente
o seu coração com o jeito rebelde que ela tinha, ela iria lutar até onde
conseguisse ir, mais depois que ela desistisse o jogo mudaria e as
regras também.
CONTOS

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[1] Família.
[2] Mamãe.
[3] Pelo amor de Deus.
[4] Moça.
[5] Graças a Deus.
[6] Meu Deus.
[7] Amaldiçoado.
[8] Criança.
[9] Minha querida.
[10] Pequena.
[11] Minha pequena.
[12] Meu amor.
[13] Bom dia.
[14] Nosso pai.
[15] Capo de todos os capos.
[16] É um termo da língua napolitana que define um código de honra de organizações mafiosas do

Sul da Itália.
[17] Porra.
[18] Filho da puta.

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