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— Oi, Tito.
— Fala aí, César — cumprimento o cara, mas estou com
tantos pedidos hoje, que nem olho em sua direção.
Hoje o movimento está intenso e a vaca da Karina já me
trouxe dois pedidos errados. Se houver o terceiro, viro a taça de
margarita na cabeça dela.
— Sobre a moça de ontem, você sabe quem ficou com o
violão dela?
Levanto a cabeça rapidamente e fito o homem. César está
apreensivo e com duas bolsas escuras embaixo dos olhos.
— Eu o guardei. Por quê? Ela voltou para buscar? —
Instantaneamente meus olhos a procuram ao redor, mas não vejo
nenhum cabelo ruivo.
— Voltar? Coitada. Acho que ela ficará um ano sem ver a luz
do dia.
— Você tem algum lance com ela? — questiono, voltando a
fazer os meus pedidos. Não quero dar bandeira que estou
interessado no assunto.
— Eu sou casado, Tito, ela canta no coral da igreja e eu a
incentivei a vir. Estou me sentindo péssimo por ter causado tudo
aquilo.
— O cara é marido dela mesmo?
— Sim. É um figurão cheio da grana. Dizem que a família a
vendeu para ele. Mas até onde isso é verdade, eu não sei.
— Entendi.
— Bom, preciso ir e ficarei fora da cidade por uns dias, você
poderia mandar um SMS para ela nesse número? — pergunta, me
entregando um pedaço de papel. — O nome dela é Juliana, mas,
por hipótese alguma, você pode ligar, ok? Ela tem esse aparelho
escondido do marido e ele não pode descobrir nunca. Por isso, você
manda o SMS e quando ela puder, responde e marca um lugar
seguro para você entregar o violão. Ela ama aquele instrumento.
Concordo e guardo o papel no bolso. César se despede e sai.
Pego o aparelho duas vezes para escrever, mas desisto, quero fazer
isso em casa. Respondo a mensagem de Soraia, a menina da
padaria, dizendo que aconteceu um imprevisto e não conseguirei
passar em sua casa e sigo a noite no automático.
Meu turno mal acaba e eu já estou em cima da minha moto.
Tenho uma Harley Davidson que sempre foi uma paixão e acelero
para casa.
Chego, jogo uma água no corpo, para tirar o cheiro de bebida
e cigarro, e coloco uma bermuda confortável. Abro a porta da
sacada e o vento frio da madrugada me faz companhia. Debruço-me
no parapeito, e travo uma luta interna sobre o que escrever. Penso,
digito, apago e, por fim, escrevo simplesmente:
Eu: Oi.
Levanto os olhos e fito a cidade abaixo de mim, tentando
acalmar os nervos que apertam o meu estômago. Espero por um
tempo e nada.
Desencana, Tito.
São quase 4h da manhã, a garota deve estar dormindo.
Abafo a ansiedade e me jogo na cama buscando um sono tranquilo,
entretanto, novamente tenho o pesadelo da garota ruiva sendo
arrastada pelos cabelos e pedindo socorro.
Estou ficando louco!
— Bom dia.
Viro-me ao som doce de sua voz e sei que meu dia realmente
será bom.
— Bom dia. Conseguiu descansar?
— Sim. Muito obrigada. Não imaginei que depois de tudo, eu
dormiria. Mas apaguei, assim que me deitei para fazer Emilly dormir.
— Quer café? — pergunto, levantando a xícara que estou
tomando.
— Seria ótimo.
— Sente-se. Eu já volto. — Aponto para mesa que tenho na
sacada e desencosto do parapeito, onde estava perdido em
pensamentos, desde que o dia amanheceu.
Nem, ao menos, sei que horas são. Não consegui dormir.
Pensei em mil possibilidades para Juliana, enfim, dar um basta na
vida abusiva que leva e todas fizeram o meu ódio por aquele verme
aumentar.
Pego a cafeteira e uma nova xícara e volto para a sacada.
Coloco em sua frente e entro novamente para buscar algumas
bolachas e pão.
Depois que organizo a mesa, sento-me em sua frente e,
como seu cabelo está em um coque, consigo analisar seu rosto
mais de perto. Ela tem marcas vermelhas por todo o pescoço e
lateral do seu rosto, onde vi o sangue ontem à noite, está um pouco
roxo.
— Te devo uma explicação — diz, suavemente, depois de
provar o café.
— Você não me deve nada.
— Você é um anjo. Mas sim, eu preciso te contar o que
houve — afirma, mesmo com as suas mãos trêmulas, segurando a
xícara. — Ele... voltou mais cedo. — Assinto e permaneço quieto,
com medo de falar algo que atrapalhe o seu desabafo. — Eu estava
dormindo e acordei com os seus gritos. Nós não dormimos no
mesmo quarto há anos, e em outra situação, eu poderia ter trancado
a porta e fingido que não tinha ouvido nada.
— E por que não fez isso? — questiono, depois de um
tempo, para quebrar o silêncio que se instaurou.
— Dei folga à Camila, na noite passada. E não quis que ele
acordasse Emilly. — Abre um sorriso amargo e completa: — o
problema é que não fui rápida o suficiente. Ele invadiu o meu quarto
e, logo depois, Emy apareceu.
— Ele sempre aparece do nada, gritando e batendo em
vocês? Essa é a forma como ele age?
— Dessa vez… Ele descobriu um segredo e não sei como
isso aconteceu.
— Qual segredo? — arrisco perguntar, pois sei que se ela
não quisesse contar, teria omitido esse detalhe.
Anos como barman me fez conhecer, pelo menos, um pouco,
sobre as pessoas e o modo que elas desabafam. E, neste momento,
eu acredito que ela precisa colocar tudo para fora.
— Quando estava grávida, conheci Rebecca.
— A médica que estava no seu show, na ONG?
— Sim, ela mesma. Durante a gravidez, ela percebeu as
agressões.
— Meu Deus! Ele te batia, mesmo grávida? — Vejo que me
exaltei e puxo o ar com mais calma. — Desculpe.
— Não tem problema. E a resposta é sim. Ele me batia
enquanto estava grávida. Ele nunca aceitou fato de ter uma filha, em
vez de um filho.
— Isso não é desculpa — resmungo, com o maxilar tenso.
— Eu sei. Bem. O fato é que Rebecca também sabia sobre…
as relações sexuais forçadas e me ajudou a mentir sobre a
impossibilidade de uma nova gravidez, quando Emilly nasceu.
Fecho os punhos com força e mantenho as minhas mãos
embaixo da mesa, para que Juliana não veja a minha raiva. Neste
momento, eu gostaria de sair e quebrar cada osso do corpo desse
imbecil.
— Qual o motivo de você ter se casado, afinal? Você estava
grávida dele?
— Não. Nunca cogitei nem beijar aquele homem, antes de
ser forçada a me casar. Meu pai precisava pagar uma dívida e me
vendeu para ele.
— Eu realmente não entendo — confesso. — Isso é um pai?
— Ah, Tito. Você não sabe nem um terço do que meu pai é
capaz. Meu pai cada dia se mostra mais ganancioso e egoísta. Esse
segredo me ajudou a manter o casamento, por todos esses anos, de
forma um pouco menos insuportável. O que me intriga, é como
Edgar descobriu sobre a mentira. Somente Rebecca e eu sabíamos.
— O que ele disse?
— Chegou gritando. Disse que ia me matar, foi quando Emilly
entrou. — A vejo engolir com dificuldade.
— Ele bateu na Emilly?
— Tentou tirá-la do seu braço e a jogou longe. Foi quando
perdi a cabeça e bati nele com o abajur.
— E…
— Mamãe?
Levantamos juntos ao ouvir Emilly da sala e Juliana corre ao
seu encontro.
Fico da porta, olhando a interação das duas e sorrio ao ver
Emilly sorrindo também. Bom saber que aquele infeliz não
conseguiu destruir a pureza e a felicidade dela.
— Bom dia, princesa.
— Bom dia, tio. Posso ver TV?
— Claro. Eu só não sei o canal dos desenhos. Tome o
controle, você vai ter que procurar, pode ser?
Emy sacode a cabeça, em afirmação, e Juliana pergunta se
pode fazer um pouco de leite para a filha.
— Não precisa pedir. Vem aqui, vou te mostrar onde fica
tudo. Pode se servir a hora que quiser.
Olho os armários e constato que preciso ir ao supermercado.
Não há nada saudável em casa. Mas, pelo menos, tem leite e
achocolatado.
— Olha, mamãe. Papai está na TV.
Juliana me olha, pálida, e voltamos para a sala, olhando para
o dedo apontado de Emilly.
Pego o controle e aumento o volume.
— Eu só peço que as encontrem. Levaram as duas mulheres
da minha vida e sem elas, não sou ninguém.
A repórter assume depois que Edgar começa a chorar e
relata que a polícia está atrás dos “bandidos” que invadiram a casa
do vice-prefeito do candidato Danilo e que, após atacarem o
empresário, o que resultou em seis pontos na testa, levaram a sua
esposa e sua filha. O carro foi abandonado no centro de Bela vista,
em uma rua deserta. A polícia investiga o paradeiro das duas.
“Qualquer informação que tenha sobre Juliana e Emilly
Gonzalez, ligue para o 190” — finaliza a repórter e me viro para
encarar Juliana.
— O porteiro — ela murmura.
— O quê?
— O porteiro me viu. Ele pode ligar. Você tem que falar com
ele — pede, em pânico.
— Ok. Respira fundo. Vou descer e ver se ele ainda está no
turno. Fica calma, eu vou cuidar de tudo.
Dou um beijo em sua testa e, enquanto faço o caminho até a
portaria, só consigo pensar: esse homem é pior do que eu
imaginava. Mas o que ele não sabe, é que agora Juliana e Emilly
não estão mais sozinhas. Ele que se prepare.
Juliana
— Ju? — diz Rebecca, correndo em minha direção. — Eu
achei que nunca mais fosse te ver. O que houve? Você está bem?
Onde está Emilly?
— Calma, minha amiga. Sente-se aqui. — A conduzo até o
sofá no canto, na sala de descanso do salão da Dona Margot.
No início, achei a ideia dele absurdo, porém, depois vi que
fazia sentido, caso Rebecca estivesse sendo seguida. E, de maneira
nenhuma, eu deixaria que o apartamento dele fosse descoberto. Por
isso, seu pai me trouxe até aqui e ele ficou cuidando de Emilly. Sei
que ela está em segurança.
— Toma este copo de água — entrego a ela e, como sempre,
sinto que Rebecca faz parte da minha família de coração, pois ela
se preocupa realmente comigo.
— Fiquei tão preocupada, Ju. Achei que você tinha sido
sequestrada, mas depois que aquele imbecil apareceu lá em casa, à
sua procura, vi que era uma mentira. O meu medo era que ele
tivesse te feito algo sério.
— Eu sabia que ele te procuraria — murmuro, sentindo o
coração doer. Rebecca só entrou nessa bagunça por minha causa.
— Me perdoe, Becca, nunca quis te prejudicar.
— Pare já com isso. Quero que me explique tudo. O que
houve para você rachar a cabeça dele?
— Como você sabe que fui eu? — indago, a olhando,
assustada.
— Deduzi. Se a história do sequestro era mentira, já imaginei
que não existia nenhum ladrão. Você não sairia daquela casa, se
não derrubasse aquele homem. Eu saquei na hora que vi o curativo
enorme. Agora, me conta, minha amiga, é pra valer essa ruptura?
— Eu espero que seja. O problema é que estou com medo
dessa história envolvendo a polícia. O meu plano era conseguir
pegar o dinheiro com você e sumir do mapa, mas tudo desandou.
— Como você foi parar na cama do tatuado? — diz, abrindo o
seu sorriso malicioso.
— Engraçadinha. — Empurro seu corpo com o meu ombro e
sorrio. Tito arrumou um jeito de ligar para Rebecca no hospital, para
pedir a ela que viesse aqui e eu tinha certeza de que ela entenderia
tudo errado. — Não parei na cama dele. Na verdade, parei, mas
sem ele na cama.
— Vi uma decepção aí no seu rosto?
— Deixa de ser boba. Eu saí de casa, desnorteada. O Tito
era o único que nunca entraria no “radar” de Edgar. Era madrugada
e eu só precisava de uma cama para Emilly e um refúgio. Ele foi um
homem muito bom em me ajudar. Não queria arrastá-lo para os
meus problemas, mas não tive escolha.
— Ele terá a minha gratidão eterna. — Segura a minha
perna, séria, e isso me faz lembrar sobre o assunto que a trouxe até
aqui.
Viro meu corpo em sua direção, cruzando os pés abaixo no
meu corpo e a encaro.
— Rebecca, quando Edgar foi até o seu apartamento, o que
ele disse?
Minha amiga termina de tomar a água do copo, joga o cabelo
loiro para o lado e repete o meu gesto, tirando os sapatos de salto
alto e cruzando os pés em cima do sofá. Becca não se dá conta da
beleza e elegância que tem. Só arruma cafajeste na vida. Torço
muito para a minha amiga encontrar um grande amor.
Olha só, quem sou eu para falar em grande amor.
— Queria saber de você — começa ela, me resgatando dos
meus pensamentos. — E me ameaçou que se eu não falasse onde
você estava escondida, ia me jogar dentro de um rio. Eu estava
nervosa, porque tinha visto a reportagem na TV e o acusei de ter te
entregado para os bandidos, de ter te matado e que isso tudo era
teatro. Gritei para que ele dissesse onde você estava e o que ele
tinha feito com você. Acho que ele percebeu o meu desespero e
depois que o segurança olhou o meu apartamento, foi embora,
dizendo que voltaria em breve, pois naquele momento, não tinha
tempo para lidar comigo.
— Ele descobriu, Becca.
— Sobre a ONG? Por isso, você saiu de casa?
— Pior. Sobre a minha infertilidade.
— O quê? — grita, se colocando em pé. — Como?
— Não sei. Ele voltou mais cedo de viagem, entrou em casa,
gritando, falando que ia me matar. Estou com medo de que ele vá
atrás de você, Rebecca.
— Minha amiga, você sofreu na mão desse homem, por
anos, se o fato de ele descobrir essa mentira a ajudou a se libertar,
eu não me importo. Já te disse, não tenho medo dele.
— Deveria ter. Você sabe do que aquele monstro é capaz.
— Quero que foque apenas em você, Juliana. Não se
preocupe comigo, eu sei me cuidar. Falando em você, aqui está o
seu cartão. — Abre a sua bolsa e me estende o cartão. — Coloquei
todo o dinheiro que me deu aí e acrescentei uma parte também.
Você poderá ficar confortável, por um tempo.
— Não era para ter feito isso.
— Pode parar. Você é a minha melhor amiga e para te ver
longe e livre daquele homem, vendo até o meu apartamento, se
necessário.
— Você não existe, sabia? — Nos abraçamos e é impossível
não se emocionar. Tenho muita sorte em encontrar pessoas
maravilhosas, como ela, no caminho dessa vida difícil que levo.
— Com licença. — Ouço a voz vinda da porta e me separo de
Rebecca, secando os olhos, discretamente. — Eu não queria
atrapalhar, mas vim contar uma ideia que tive — explica-se Margot.
Seus olhos estão brilhando e, assim que as mãos saem
detrás de suas costas, eu sorrio junto.
— Uma peruca loira?
— Não é perfeito? Eu sei que você não ficará andando pela
rua, porém, nunca é demais se preocupar com a sua segurança.
O carinho e a preocupação que ela tem me tratado, desde
que chegou ao apartamento do filho, hoje mais cedo, não tem como
explicar. Estou realmente me sentindo acolhida e fazendo parte de
algo diferente, que eu nunca imaginei na vida.
— Você gostou? — pergunta, cautelosa. — Se você quiser,
eu posso...
— Está ótima, Margot. Obrigada.
— Você vai ficar um arraso loira, Ju. Vamos parecer irmãs —
brinca Rebecca.
— Sente-se aqui, Juliana. Vamos só fazer um teste. —
Margot puxa uma cadeira e se posiciona atrás dela.
Sento-me de frente para Becca, que levanta os dois dedos,
em um sinal positivo, para que eu me entregue nesta aventura.
As mãos de Margot seguram o meu longo cabelo, para fazer
um coque, e eu fecho os olhos, me permitindo pensar nos últimos
três dias. Não está fácil manter Emilly presa em casa. Mas Tito está
sendo maravilhoso. Quando o procurei, achei que no dia seguinte,
arrumaria as minhas coisas, pegaria o dinheiro e iria embora com
Emilly. O problema é que, além do meu medo, de ser reconhecida
pela polícia em um aeroporto ou rodoviária e voltar para as mãos de
Edgar, tenho medo de procurar a polícia e entregá-lo. Se ele foi
capaz de armar esse circo todo sobre o sequestro, é porque tem
amigos corruptos e dispostos a fechar os outros para as mentiras
dele. Ou seja, fingirem que o que eu falo é mentira e entregarem a
minha filha para ele, seria muito pior, do que os anos que passei
apanhando daquele homem.
Apenas hoje, Tito conseguiu organizar o meu encontro com
Rebecca. E agora, com o dinheiro em mãos, não sei se estou
preparada para deixar Tito para trás, mesmo que isso seja o certo.
Estou arriscando a sua segurança e, se algo acontecer a ele, eu
nunca me perdoaria.
— Veja se gostou — diz ela, colocando um espelho na minha
frente.
— Caramba, nem pareço eu mesma — brinco, quando vejo o
meu reflexo. Não há vestígio de cabelo vermelho. A peruca é
realmente profissional, pois deixou o aspecto totalmente natural. —
Eu adorei. Nunca me imaginei uma loira platinada.
— Que bom que gostou. Acho que será mais seguro você
ficar com ela quando precisar sair, somente para garantir a sua
segurança.
— Estava pensando nisso agora mesmo — confesso,
olhando para as duas mulheres. — Preciso pensar no futuro. Agora
que peguei o dinheiro, preciso saber o que farei daqui para frente.
Para aonde vou.
— Como assim, para aonde você vai? Você vai ficar aqui.
— Margot, é arriscado. Edgar é capaz de fazer muito mal às
pessoas que me ajudam.
— Arriscado é você pegar a estrada com Emilly e ficar sem
proteção nenhuma, caso aquele homem te encontre. Não. Você
ficará aqui. Não será fácil no início, por você ter que ficar reclusa,
mas estaremos sempre por perto, para te ajudar e te proteger. Não
admito que você corra perigo por aí.
Encaro a senhora, com os olhos arregalados. Há uma
semana, eu jurei que ela não gostava de mim e agora, está aqui,
como uma leoa, me defendendo.
— Mentira!
— Eu teria vindo até aqui se fosse mentira, Luíza? — caçoo e
recebo um cutucão.
— Tito, eu nunca imaginei que a vaca da Karina fosse capaz
disso. Ela me parecia mais uma puta de luxo do que traficante de
drogas.
— Cheguei à mesma conclusão. Obrigado. — Sorrio e pego o
copo de suco que ela me oferece, antes de se sentar ao meu lado.
Trabalhei com Luíza durante anos no PUB e ela tornou-se
uma amiga muito querida. Karina tinha tanto ciúme dela, que a fez
ser demitida. Foi um dos motivos de eu passar a detestar aquela
mulher. Para Luíza, a demissão não foi ruim, ela era uma garota que
tinha trauma de balé, pelo fato de ter perdido o noivo em um
acidente durante uma apresentação, Luíza superou seu medo,
conseguiu o certificado para dar aula e hoje é uma incrível
professora de balé para crianças, na academia de Dan, Pedro e
Artur, além de ir até orfanatos levar dança e alegria para as
crianças.
Uma grande virada.
— Bom, se estão presos, é porque mereceram. Não quero
mais perder o meu tempo falando neles. Agora, me conte, por que
Juliana não veio com você?
— Eu liguei assim que saí do bar e resolvi vir aqui, mas ela
disse que tinha um trabalho para terminar na escola.
— E isso te chateia por quê?
— Quem disse que me chateia?
— Eu digo. Você acha que eu sou boba, Tito?
— Já disse que você não era intrometida desse jeito, antes
de aquele médico entrar na sua vida — provoco e ela sorri
abertamente.
— Não trocaria nada.
Eu sei que não. Os dois passaram por problemas e hoje
estão mais fortes do que nunca. Noivos e realizados. Tenho certeza
de que isso vai acontecer comigo e com a Juliana também. O pior já
passou. Agora é só superar essa distância que está me deixando
louco.
— Não estou chateado por ela estar na escola, pelo contrário,
quase pulei de alegria, e morro de orgulho por ela ter conseguido
voltar a realizar o sonho dela. Estou chateado é comigo, por não ter
mais tempo para ficar com ela. Por sempre ter um problema para
resolver quando ela e a Emilly estão em casa assistindo a um filme,
ou jantando.
— Calma, meu amigo. Você deu um grande passo ao abrir
um negócio próprio. O começo é difícil mesmo, mas logo, tudo
entrará nos eixos.
— É o que todo mundo fica me dizendo.
— Mas uma coisa eu digo, pare de colocar desculpa no
tempo. O tempo quem faz somos nós. Arrume um tempo para ficar
com a Juliana. Nós mulheres precisamos de carinho e tem uma
frase que eu gosto muito: “Quem quer, arruma tempo, quem não
quer, arruma desculpas”.
— Só ouvi verdades, obrigado, minha amiga.
Despeço-me de Luíza, com a promessa de um programa de
casal, em breve.
Meu amor
Eu nunca irei encontrar palavras, meu amor
Para te dizer como me sinto, meu amor
Simples palavras não poderiam explicar
Precioso amor
Você segurou minha vida em suas mãos
Criou tudo o que sou
Ensinou-me a viver novamente
Só você
Veio quando eu precisei de um amigo
Acreditou em mim nos bons e maus momentos
Esta canção é para você
Cheia de gratidão e amor
Deus te abençoe
Você me faz sentir renovado
Por Deus ter me abençoado com você
Você me faz sentir renovado
Eu canto essa música porque você
Me faz sentir renovado
Meu amor
Sempre que eu estava inseguro
Você me levantou e me fez ter certeza
Você me devolveu meu orgulho
Preciosa amiga
Com você eu sempre terei uma amiga
Você é alguém que eu posso contar
Para trilhar em um caminho que por vezes termina
Sem você
A vida não tem significado ou rima
Como notas para uma música fora de tempo
Como posso retribuir
Você por ter fé em mim
Um Sopro de Esperança
Eu encontrarei a paz
A paz
A paz
A verdadeira paz.
Hoje sei
Hoje sinto
Hoje vivo
A verdadeira paz”
(Um Sopro de Esperança – Juliana Mancine Costa)
Com carinho
Autora Jess Bidoia
Uma espiada em
Rebecca
— É tão bom saber que ela está bem — comento e abro a
porta do apartamento.
Os últimos dias foram um pesadelo. Saber que minha melhor
amiga, Juliana, estava nas mãos daquele monstro do seu ex-
marido, foi assustador. Meu coração somente se acalmou, quando
entrei no quarto do hospital e a vi reclamando com o médico,
dizendo que estava ótima e precisava ser liberada logo para ficar
com o seu namorado.
Tenho uma dívida eterna com Tito, pois ele conseguiu livrá-la
daquele algoz que a torturou por anos.
— Também estou aliviado. Tito se arriscou, mas valeu a
pena. — Tiro meus sapatos e viro a cabeça para fitar Diogo, que
continua parado no hall, com as mãos nos bolsos.
Esse não é o seu normal.
Diogo é daqueles homens que não demonstram sentimentos.
Está sempre sorrindo, com uma piada ácida na ponta da língua. Vê-
lo com o semblante carregado, me preocupa.
— Você ficou preocupado com ele, não foi?
Posso conhecê-lo há pouco tempo, no entanto, consigo ver
bem além do que ele deixa as pessoas enxergarem.
— Muito — confessa, com a voz baixa. — Ele foi um louco,
mas agora entendo que agiu por impulso. Por medo. Se Tito não
tivesse ido à fazenda naquele exato momento, Juliana estaria morta.
Estremeço só em ouvir isso. Aquela ruiva é a minha única
amiga de verdade. Não posso nem pensar nessa hipótese.
Ainda bem que Edgar morreu. Não sou de desejar mal a
ninguém, mas saber que ele sofreu, faz-me pensar que foi uma
vingança divina por tudo que já fez à Juliana.
— Vou tomar um banho, você quer vir? — Tento mudar o
foco, para aliviar o clima. Quero enterrar o assunto sobre Edgar
junto com ele.
— Esta é uma proposta irrecusável, loirinha. — Seu
semblante já se transforma e ele mostra o safado que é. Puxa-me
para os seus braços e só em sentir sua boca no meu pescoço, meu
corpo se acende todo.
Diogo tem o dom de mexer comigo em todos os sentidos,
mas o que ele faz com o meu corpo é sensacional.
Quando conheci esse homem, seis meses atrás, na festa de
aniversário da filha da Ju, de cara, minha amiga avisou que Diogo
não era o homem certo para mim, por ser mulherengo. O problema
foi que o formigamento do meu corpo naquele dia, não ligou para
isso. Eu olhava para ele e só pensava em lamber suas tatuagens e
ter um sexo quente e suado. E foi exatamente isso que ele me
proporcionou naquela noite. E na manhã seguinte. E na outra noite.
E assim por diante.
Nunca conversamos sobre o nosso relacionamento. Sinto
que, se um dia pensar que estamos namorando, Diogo dará um
passo para trás. O problema é que é impossível não pensar que
estamos, sim, em um namoro. O cara dorme aqui, eu durmo em sua
casa e nos falamos todos os dias. E a melhor parte, além do sexo
ser sensacional, nos damos muito bem. Assuntos não faltam e
nossos gostos são muito parecidos.
E isso é um perigo para o meu pobre coração.
— No que está pensando, loirinha? — pergunta, assim que
chega ao banheiro e me coloca no chão, puxando a camiseta pela
cabeça e deixando o tórax, que amo, à mostra.
— Em como você é gostoso — atiço, escorregando minhas
unhas pelo seu peitoral sexy e, sem perder tempo, ajoelho-me
diante dele, puxando seu membro para fora da cueca.
— Rebecca! — geme e isso é tudo o que eu preciso ouvir
para enfiá-lo na boca.
Nunca fui muito fã de sexo oral. Fazia apenas para seguir o
script. Uma vez, saí com um cara, e ele quase me matou asfixiada.
Depois disso, peguei um certo trauma. Mas, com Diogo, não é
assim. Com ele, tudo é maravilhoso e, por incrível que pareça, sinto
tesão ao ouvi-lo gemer meu nome. Ao vê-lo jogar a cabeça para
trás, como se estivesse em outra órbita, sinto-me poderosa por
saber que sou eu que estou fazendo isso com ele.
— Becca, para. Senão, eu vou...
Não o deixo terminar, aumento o ritmo e sua respiração
torna-se ofegante. Abro bem a boca, engulo o máximo que consigo
e ele não resiste, entregando-se ao momento.
— Ah, loirinha, que golpe baixo — comenta, me puxando
para cima. — Agora, é a minha vez.
Empurra meu corpo para dentro do box e liga o chuveiro.
— Achei que sua vez tivesse sido agora — provoco-o, tirando
o vestido.
— Não. A minha vez é quando ouço você gritar muito.
E, com essa promessa, me sinto um banquete, pois Diogo
me faz gemer e gritar com a sua língua, seus dedos e, por fim, com
o seu membro, que mais se parece um parque de diversões para
mim.
O homem sabe como satisfazer uma mulher — penso, feliz,
depois do segundo orgasmo. E, quem disse que ele me dá paz?
Vira meu corpo de costas para a parede e me penetra de um jeito
que me enlouquece. Somente depois de me assistir gozando, mais
uma vez, é que se deixa levar e goza também.
Nunca tive isso. Nunca foi assim com nenhum outro.
— Loirinha, loirinha. Você ainda vai acabar comigo — brinca,
beijando meus lábios de uma forma tão doce, que é impossível dizer
ao meu coração para se manter imparcial. Mesmo que eu não
queira admitir, ele já pertence a Diogo.
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