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Sumário

Sinopse ...............................................................................................................................................................................9

Capítulo Um .................................................................................................................................................................. 11

Capítulo Dois ................................................................................................................................................................ 32

Capítulo Três ................................................................................................................................................................ 50

Capítulo Quatro ........................................................................................................................................................... 74

Capítulo Cinco .............................................................................................................................................................. 90

Capítulo Seis .............................................................................................................................................................. 111

Capítulo Sete.............................................................................................................................................................. 122

Capítulo Oito.............................................................................................................................................................. 138

Capítulo Nove............................................................................................................................................................ 160

Capítulo Dez............................................................................................................................................................... 183

Capítulo Onze ............................................................................................................................................................ 192

Capítulo Doze ............................................................................................................................................................ 200

Capítulo Treze .......................................................................................................................................................... 215

Capítulo Quatorze ................................................................................................................................................... 229

Capítulo Quinze ........................................................................................................................................................ 253

Capítulo Dezesseis .................................................................................................................................................. 286

Capítulo Dezessete ................................................................................................................................................. 313

Capítulo Dezoito ...................................................................................................................................................... 328


Capítulo Dezenove .................................................................................................................................................. 365

Capítulo Vinte ........................................................................................................................................................... 386

Capítulo Vinte e Um ............................................................................................................................................... 411

Capítulo Vinte e Dois ............................................................................................................................................. 430

Capítulo Vinte e Três ............................................................................................................................................. 450

Capítulo Vinte e Quatro ........................................................................................................................................ 457

Capítulo Vinte e Cinco ........................................................................................................................................... 474

Capítulo Vinte e Seis .............................................................................................................................................. 500

Epílogo ......................................................................................................................................................................... 507

Fim ................................................................................................................................................................................. 513


Sinopse

Presa por Caleb e à mercê do rei, Aria está determinada a não


permitir que eles a quebrem. No entanto, quanto mais atrocidades
testemunha, mais ela percebe que há alguns horrores que ninguém
pode suportar, e às vezes a sobrevivência nem sempre é a melhor
opção.

Atormentado pela perda de Aria, Braith é forçado a escolher


entre sua necessidade de resgatá-la e a guerra rebelde iminente a
qual foi escolhido para liderar. Lutando contra a tentadora
escuridão que ameaça arrastá-lo para suas profundidades, Braith
luta para não se tornar igual a única coisa que mais odeia. Seu pai.

Diante de seus próprios desafios independentes, Aria e Braith


devem entender a si mesmos, descobrir o que querem e enfrentar
a probabilidade de que nunca possam estar juntos enquanto a
guerra inevitável aparece no horizonte.

Uma guerra em que todos vão lutar, mas nem todos


sobreviverão.

Copyright © 2014 Erica Stevens


Um agradecimento especial ao meu marido por toda a sua paciência e

apoio,

meus pais por sempre estarem lá,

meus irmãos, sobrinhas e sobrinhos que tornam a vida mais interessante

e divertida,

meus amigos pelo riso,

e Leslie Mitchell, da editora G2 Freelance, por todo seu trabalho duro.


Capítulo Um

Os ombros de Braith arfavam, o peito estava tenso e os braços

doloridos pela quantidade de dano que acabara de causar. Sua

visão estava borrada por uma nuvem vermelha que cobria seus

olhos e tornava quase impossível enxergar. Ele nunca tinha

experimentado nada parecido. Quando perdeu a visão, o mundo

ao seu redor consistia inteiramente de negrume. Então Aria entrou

em sua vida e trouxe a iluminação e as cores de volta, dando a ele

o dom da visão novamente.

Agora a escuridão havia se tornado o mais profundo matiz de

sangue. Em vez de ficar completamente cego desta vez, as sombras

ainda se moviam através de seu campo de visão e ele conseguia

distinguir o borrão de outros obstáculos na clareira.

Ele não podia vê-los claramente, mas sabia que Gideon e

Ashby se afastaram e que David, Daniel e William estavam de pé


em algo sólido, talvez uma pedra ou uma árvore. Apenas Jack foi

corajoso o suficiente para permanecer em qualquer lugar

próximo. Ele não sabia o que havia causado essa neblina sombria;

nunca foi capaz de manter sua visão estando muito longe dela, mas

isso estava sendo aprimorado constantemente e havia pensado que

era devido à crescente quantidade de seu sangue dentro dele.

Ela o fortaleceu e ele a decepcionou. Ele a perdeu.

Braith nunca deveria ter concordado com ela indo para aquela

cidade; nunca deveria tê-la deixado ir. No entanto, não havia

como impedir Aria de fazer nada. De um jeito ou de outro ela iria, e

ele prometeu que ela teria a liberdade de abrir as asas. Ele estava

se esforçando muito para não esmagar seu espírito selvagem e

bonito com sua maneira grosseira e arrogante.

Estava muito preocupado com a segurança dela, mas não

tinha realmente pensado que seria excessivamente arriscado para

ela na cidade. O tempo chuvoso levou a maioria das pessoas para

dentro, o manto dos servos a cobria, e embora ela tivesse sido sua

escrava de sangue, poucas pessoas naquela cidade a tinham visto,

e menos ainda se lembrariam dela. Ou então assim pensou.


Ele foi um idiota.

Seu corpo inteiro estremeceu quando ele agarrou uma

pequena árvore. Seus músculos ondularam enquanto ele a

arrancava do chão e a lançava no ar. Gideon e Ashby se esforçaram

para sair do caminho quando ela saltou na direção deles. Braith

ficou de pé, tremendo, tentando reunir algum controle, mas sentia-

se caindo rapidamente em direção a algo escuro e perigoso.

Esta espiral escura era pior do que aquela de quando se

alimentou de sua própria espécie, pior do que quando Aria o

deixou no palácio. A única coisa que lhe permitia aguentar era o

fato de que ele sabia que ela ainda estava viva e que poderia

encontrá-la. Em breve.

Agora.

Braith girou nos calcanhares e atravessou a clareira em

direção à cidade.

Jack se moveu para interceptá-lo.

— Braith, você tem que se acalmar, pense sobre isso


racionalmente. Nós não sabemos onde ela está.

— Eu posso encontrá-la. — Ele disse irritado.

— Sim, você pode, mas se for atrás dela, arruinará todos os

aspectos da surpresa que temos. Até sabermos quem a tem e para

onde a levaram, você tem que permanecer no controle, você é

nosso líder...

Jack parou no meio da frase quando Braith começou a se

mover em direção a ele. Aparentemente, o instinto de

sobrevivência de Jack estava firmemente intacto quando ergueu as

mãos e deu alguns passos para trás. Um som abafado na floresta

açoitou a cabeça de Braith. Ele se esforçou para distinguir a figura

emergindo da floresta, mas não era nada mais do que uma sombra

escura no meio do vermelho. Até mesmo seu olfato aguçado

parecia estar falhando, ou estava enterrado sob a ira esmagadora e

a preocupação que o consumiam.

— Max. — Gideon murmurou.

— Max! — Rosnou Braith. O garoto havia se perdido na

confusão e não retornou com William e Daniel.


A figura embaçada de Max cambaleou, caiu de joelhos e

tentou se levantar, mas caiu novamente. David, William e Daniel

fugiram da segurança de onde quer que estavam escondidos para

alcançar o lado de Max. Eles o ajudaram a se levantar e o colocaram

entre eles. O cheiro enjoativo do sangue de Max pairava

pesadamente no ar, mas Braith não podia ver a extensão do dano

que tinha sido feito a ele.

— Quão ruim ele está ferido? — Ele exigiu.

— Ele vai sobreviver. — Jack assegurou.

Uma sede extrema de sangue estava começando a devastar

suas veias enquanto ele andava em direção a Max. — Onde você

esteve?

— Eu os segui. — Max resmungou. — Tinha que ter certeza

do local para onde eles a estavam levando. Eu me afastei quando

eles entraram pelos portões das muralhas do palácio.

As mãos de Braith se fecharam enquanto lutava contra a

vontade de rasgar tudo ao seu redor em pedaços, a fim de acalmar

o monstro volátil que parecia se libertar dele. O palácio, o seu pai,


era o pior destino imaginável para ela, mas se ele chegasse logo a

ela...

Ele chegaria lá em breve e despedaçaria o palácio com as

próprias mãos se fosse necessário.

— Os soldados vão levá-la direto para o pai. — Jack

murmurou.

— Não os soldados. — Max inseriu. — Não foram os soldados

que a capturaram.

Havia algo na voz do garoto, um tremor que atravessou

brevemente a neblina nublada de Braith. Ele empurrou Jack para

fora do caminho e se esforçou para se concentrar em Max.

— Quem? Quem a tem? — Ele gritou.

— Foi seu irmão.

Braith sentiu como se tivesse sido chutado no estômago, Jack

soltou uma maldição baixa. — Caleb? — Braith conseguiu

perguntar sufocado.
— Sim.

Desta vez não foi a raiva que atingiu Braith, mas um medo tão

intenso que o deixou momentaneamente imóvel. Caleb a destruiria

e quebraria o espírito que Braith esteve tentando manter

livre. Naquele momento, ele não sabia quem odiava mais, a ele ou

seu irmão. Vermelho inundou sua visão mais uma vez enquanto

um rugido de angústia foi arrancado dele.

Quebrado. Ele se sentiu quebrado, mas nem de longe tão

quebrado quanto Aria estaria quando Caleb terminasse com

ela. Mesmo que ele pudesse alcançá-la agora, talvez já fosse tarde

demais.

Daniel espalhou os papéis diante dele; seus dedos ágeis

percorrendo as linhas da rua e das casas que esboçou

apressadamente nos planos. Jack ficou com um olho nos desenhos

e o outro, cautelosamente, focado em Braith. Seu irmão estava

ferido ao ponto de quebrar, com os braços cruzados firmemente


sobre o peito e a mandíbula travada, mantendo a cabeça baixa. Este

Braith silencioso e fervente era ainda mais assustador do que

aquele que arrancara árvores do chão e as partia ao meio com um

movimento de seu pulso. Este Braith era uma bomba-relógio

esperando para explodir.

Se eles não entrassem naquele palácio logo, Jack se

preocupava que Braith se voltasse contra eles para chegar até

ela. Ele rezava para que a razão e a capacidade de liderança de seu

irmão vencessem sua determinação de chegar até Aria, e Jack ainda

podia sentir movimentos sob o exterior imóvel de Braith. Esperava

e planejava que Braith fosse capaz de controlar-se sem Aria, mas

com certeza não esperava que isso acontecesse.

A pior coisa que poderia imaginar acontecer a Aria era Caleb

colocar as mãos sobre ela. Ficava doente de pensar no que seu pai

e seu irmão lhe fariam, e somente isso dava-lhe força para ele

imprudentemente correr ao palácio para recuperá-la. Ela não

merecia um destino tão hediondo.

— Podemos nos dividir pelas ruas. — Declarou Daniel. O

desenho não era o melhor, mas ele não teve exatamente o tempo
necessário para detalhá-lo da forma como normalmente faria. O

outro grupo que eles tinham planejado enviar para a cidade para

inspecioná-la, tornou-se um time de resgate quando se depararam

com Daniel e William tentando escapar dos soldados do rei.

Os dedos de Daniel tremeram quando ele apontou para as

duas estradas principais que se dividiam pela cidade. Seu olho

esquerdo estava quase fechado do inchaço, e sua bochecha tinha

uma contusão desagradável que Jack suspeitava que fosse um osso

quebrado ou pelo menos fraturado. William estava pálido ao lado

dele, com o rosto machucado. Seu lábio tinha sido aberto, e pontos

foram necessários para consertá-lo. Max se saiu um pouco melhor

do que os irmãos, mas seu foco estava em permanecer com Aria,

em vez de tentar lutar contra os soldados que acompanhavam

Caleb. Se não fosse pela sensibilidade de Daniel, Jack tinha certeza

de que William não teria retornado.

— A cidade não vai nos dividir tanto quanto pensávamos. As

estradas são grandes o suficiente para nos movermos em grandes

grupos que não serão facilmente derrubados pelo povo ou

quaisquer vampiros que lá permaneçam. No entanto, suspeito que,


depois de hoje, o rei aumentará suas forças dentro da cidade.

— Ou ele vai recuá-los para trás das paredes do palácio e

entorno, a fim de fortalecer suas forças lá. — Murmurou David. —

Sabemos que ele pouco se importa com a vida humana, então será

o palácio que ele mais procurará proteger.

— David está certo. — A voz de Braith estava tensa, mas ele

não levantou a cabeça para olhá-los enquanto permanecia focado

no chão. — O rei pode até enviar algumas tropas para a floresta

para procurar por mim, mas a partir de agora, toda a força de seu

poder estará concentrada dentro das muralhas que cercam o

palácio.

— Como ele vai saber que você está aqui? — David

perguntou. — Só porque Aria foi descoberta, isso não significa que

ele saiba que você ou qualquer um de nós esteja aqui.

A mandíbula de Braith rangeu para frente e para trás, as

mãos cerradas em seus bíceps. — Ele pode suspeitar que há uma

milícia dentro desses bosques, mas ele saberá que estou aqui

porque sentirá meu sangue nela.


Jack ficou imóvel enquanto aguardava a reação de David à

declaração contundente de Braith. David piscou uma vez, duas

vezes, e então sua boca se abriu. — Entendo.

Os dedos de Daniel tocaram no desenho quando seu foco se

voltou para Braith. — Eu também acredito que a cidade deva ser

destruída enquanto nos movemos através dela.

Jack teve uma reação dupla ante as palavras de Daniel. A

cabeça de Braith se virou lentamente para ele e mesmo atrás dos

óculos grossos, Jack podia ver os carvões rubi ardentes de seus

olhos. Um calafrio percorreu suas costas, ele não estava

inteiramente certo de que Braith ainda estivesse ali, ou se era algo

muito mais perigoso e feroz.

— Há humanos naquela cidade. — Braith lembrou.

Ou talvez Jack estivesse errado. Seu interesse foi despertado

quando estudou seu irmão. Ele estava mostrando sinais de

preocupação e raciocínio além de Aria novamente. Era possível

que Braith pudesse realmente manter-se controlado? Seria possível

que Aria e Braith pudessem ser separados? Ele não sentiu


esperança na realização. Se Aria sobrevivesse a isso, a pior coisa

que Jack faria em sua longa vida seria tirá-la de Braith

novamente. Todos eles tinham feito coisas que não queriam fazer,

e todos fariam muito mais antes que a guerra terminasse.

Daniel estava mais pálido que o normal, mas seus olhos eram

inabaláveis. — Essa cidade é uma armadilha mortal. Se o rei não

chamar todos os seus soldados para detrás da muralha e eles de

alguma forma tiverem a chance de vir atrás de nós, não haverá para

onde recuarmos se for necessário. Há muitas casas e lugares para

eles se esconderem e esperarem por nós. Toda ela deve ser

queimada enquanto nos movemos, para que não lhes seja dada a

chance de prepararem uma armadilha para nós.

Jack ficou surpreso com a ferocidade por trás das palavras de

Daniel. Gideon arqueou uma sobrancelha e assentiu com

aprovação. A cabeça de Xavier se inclinou um pouco e um pequeno

sorriso percorreu seus lábios enquanto estudava Daniel, William e

David com o mesmo olhar estranho que estudou Aria desde que a

conheceu. Jack achou isso bizarro, mesmo para Xavier.

O olhar de Daniel correu para o pai. David estava tão pálido


quanto seu filho, seus lábios estavam pressionados firmemente

enquanto olhava para os planos rabiscados às pressas. — Há baixas

inocentes em todas as guerras e isso precisa ser feito. — Confirmou

David.

— Eles não são tão inocentes. — William rosnou e puxou o

cabelo enquanto passeava ao redor da mesa, continuando em

direção à borda da floresta. — Queimem, então. Queimem tudo, e

eu vou ter certeza que nós queimamos essa cadela com isso.

— William. — O tom de voz de David era baixo e de um

aviso. — Isso não é por vingança, não importa o quanto queiramos

que seja, não é disso que estamos falando. Nós vamos limitar a

quantidade de sangue inocente que será derramado.

William lançou-lhe um olhar sombrio; seu lábio arrebentado

se curvou em um sorriso de desprezo, mas pela primeira vez ele

segurou sua língua. David olhou para Braith em busca de algum

tipo de confirmação, mas quando nada aconteceu, Jack

respondeu. —Nós faremos isso.

David não parecia muito aliviado, mas não insistiu no


assunto. Jack observou ansiosamente Braith que se aproximava da

mesa e dos planos. Os outros aristocratas ficaram atrás dele

aguardando sua decisão. Jack sabia que todos eles perceberam

alguma diferença em Braith, mas por enquanto pareciam dispostos

a confiar em seu julgamento. Jack não sabia o que aconteceria se

Braith se recusasse a ver a razão e colocasse todos em perigo, nem

sabia o que aconteceria se Braith se voltasse contra eles para

desabafar sua ira.

— Se incendiarmos a cidade, isso também nos proporcionará

uma distração eficaz para você entrar no túnel de que falou. —

Continuou Daniel.

— Devemos pegar todas as armas que pudermos da cidade, e

destruí-las à medida que avançamos. — Declarou Braith e fixou

seus olhos brilhantes em William. — Eu quero a garota que

reconheceu Aria, ela é minha.

A mandíbula de William palpitou e um músculo saltou

furiosamente em sua bochecha. Por favor, fique quieto, Jack

implorou silenciosamente. Porém não foi William que falou. — Se

você quer dizer a garota que agarrou Aria, ela não está mais na
cidade. — Max informou a ele.

As narinas de Braith se alargaram. — Ela agarrou Arianna?

Jack engoliu em seco e deu um passo à frente, mas não tinha

ideia do que faria se Braith perdesse o controle novamente. Nem

sabia de quem Braith iria atrás primeiro se ele perdesse o

controle. Ele certamente não poderia detê-lo, e ele provavelmente

seria morto no processo se tentasse. Max assentiu. — Sim, ela

parecia conhecer Aria do palácio. Só não sei como...

Max parou de falar quando Braith descansou as mãos sobre a

mesa e se inclinou para frente. Os músculos de seus antebraços e

bíceps ondulavam sob a simples e curta túnica marrom do povo

rebelde que passara a usar na floresta. — Ela era loira? — Ele

rosnou.

Max olhou ansiosamente para Jack, que assentiu em resposta

à pergunta não formulada. Infelizmente, mentir para Braith não

ajudaria nessa situação. — Sim.

Jack sentiu um estalo, um chiado de energia que disparou

pelo ar como um raio. Ele nunca tinha experimentado nada


parecido, nem mesmo quando seu pai estava em seu ponto mais

mortal; momento em que normalmente irradiava uma força

destrutiva tão forte quanto a que irradiava de dentro de Braith

agora. Até os aristocratas deram um passo para trás e os cabelos

dos braços de Jack se eriçaram. Ele tinha certeza de que Braith

poderia destruir seu pai se fosse necessário, mas agora percebia

que não estava inteiramente certo se Braith sobreviveria a isso. Jack

não tinha certeza se Braith seria capaz de retornar das profundezas

em que ele se aprofundaria, se perdesse completamente a razão e

permitisse que o monstro dentro dele governasse.

Jack manteve-se completamente imóvel e Braith estava rígido

como pedra. Ele podia sentir o desmoronamento iminente no ar,

mas de alguma forma Braith conseguiu conter-se. No entanto, Jack

suspeitava que mais algumas árvores seriam destruídas quando a

reunião terminasse.

— Lauren. — Jack não tinha ideia de quem era, mas o nome

parecia deixar um gosto ruim na boca de Braith. — Onde ela está?

— Ela foi ao palácio com seu irmão.


A estranha rigidez alcançou Braith mais uma vez. — Vamos

atacar o palácio hoje à noite.

— Não hoje à noite? — Jack inseriu rapidamente, meio

assustado, ele poderia ter a cabeça arrancada. — Precisamos de

mais tempo para planejar e para manobrar, Braith. Nem todos os

humanos têm armas ainda, ainda estamos trabalhando com pedras

esculpidas para pontas de flechas! Sem falar que precisamos

coletar suprimentos para estarmos melhor preparados e

treinados. Nem todos os vampiros que recrutamos das aldeias

exteriores chegaram. Se entrarmos lá antes de estarmos totalmente

preparados, perderemos.

Jack estava tentando ignorar os olhos vermelhos que o

encaram por trás daquelas lentes. Era um espetáculo

desconcertante e terrível que o deixou um pouco abalado. Pela

primeira vez ele realmente percebeu a crueldade que Braith estava

disposto a libertar e infligir por Aria. Ele tentava se manter no

controle porque sabia onde ela estava e que ainda estava viva.

Embora todos suspeitassem do que poderia estar acontecendo, isso

não foi confirmado, e Braith tinha certeza de que a recuperaria. Se


algo acontecesse com ela antes disso, ninguém saberia o que

esperar.

Todo o controle atual sumiria e haveria muitas mortes antes

que Braith fosse detido.

Jack percebeu que estava completamente errado; seu plano

com Aria e Gideon nunca teria funcionado. Braith iria caçá-la até

os confins da terra. Eles nunca teriam sido capazes de se afastar a

fúria que viria de Braith e quando – sim, porque hoje Jack sabia que

ele conseguiria – a encontrasse... Jack estremeceu com o

pensamento. Não era um lado de Braith que ele queria encontrar.

Seu irmão não o matou quando ele levou Aria antes, mas não era

tolo o suficiente para acreditar que seria tão sortudo pela segunda

vez.

Mas esse era um problema para outro momento. Por

enquanto, todos tinham de manter Braith calmo o suficiente para

enxergar a razão, para planejar, organizar e liderá-los ao palácio

com sucesso. E obter Aria de volta de Caleb.

— Ela é minha filha. — Embora David falasse, o olhar de


Braith demorou em Jack antes de se virar. Para o crédito de David,

ele não vacilou quando aqueles brilhantes globos vermelhos se

voltaram contra ele, mas seus olhos se arregalaram um pouco. —

Eu a quero de volta tanto quanto você. Não suporto pensar sobre

o que ela está passando, já imaginei todos os horrores conhecidos

pelo homem quando Aria estava naquele palácio antes, e ela teve

sorte naquele momento. E agora, do jeito que você fala sobre esse

Caleb, tenho muito medo.

David parou de falar quando sua voz travou, sua garganta

trabalhando furiosamente enquanto ele lutava contra as

lágrimas. — Ela é minha filha, eu a criei. As circunstâncias de sua

vida e sua família a formaram, e uma coisa que ela entende e aceita

é o sacrifício. Ela sabe que não iremos atrás dela, pelo menos não de

imediato, e ela nos perdoará por isso. Aria não nos perdoará se

falharmos por causa dela.

— Você não conhece Caleb. — Braith disse irritado.

— Eu não conheço, mas conheço minha filha e ela vai colocar

o bem maior acima de si mesma. — Jack olhou para Gideon quando

ele se mexeu nervosamente e abaixou a cabeça. — Ela nunca nos


perdoaria se nos apressássemos e arruinássemos tudo. Quero-a de

volta tanto quanto você, mas falharemos se não estivermos

preparados. Se perdermos porque fomos descuidados, o que farão

com ela depois em retaliação? — Levou um momento para ele

recuperar a compostura novamente. — Eu sei que você a

entende; e por isso que você a deixou entrar naquela cidade em

primeiro lugar. Ela não será enjaulada e não pode ser quebrada,

não importa o que eles façam a ela. Devemos estar organizados e

totalmente equipados, se quisermos ter alguma esperança de

recuperá-la viva.

Braith permaneceu imóvel por um momento, mas no outro,

mais rápido que o olho humano pôde ver, ele pegou a mesa e a

ergueu. A pesada laje de carvalho voou pelo ar antes de se espatifar

contra uma árvore na clareira. Daniel e William pularam para trás

quando papéis e escombros espalhavam-se sob seus pés. David

fechou os olhos enquanto sua cabeça se curvava. Ele havia

declarado sua opinião, mas ainda esperava que Braith pudesse

escolher o curso de ação que todos sabiam estar errado.

— Pegue os suprimentos e certifique-se de que os vampiros


estejam aqui em breve! — Braith rosnou antes de desaparecer na

floresta.
Capítulo Dois

Jack nervosamente olhou para os aristocratas reunidos perto

da floresta juntamente com Frank. Suas sobrancelhas levantaram-

se interrogativamente enquanto observavam Braith desaparecer na

floresta com Xavier se arrastando atrás. Jack não sabia o que o

estranho vampiro esperava aprender ou ver com Braith agora, mas

naquele momento achou que Xavier podia ser o mais corajoso de

todos. Ele mesmo não iria a lugar nenhum perto de seu irmão

novamente por um tempo.

Gideon abriu a boca para narrar algum conto, mas fechou e

jogou as mãos no ar. —Oh, o que isso importa agora? — E se virou

para se aproximar de Jack. — O segredo está exposto de qualquer

maneira.

— Esse segredo já era há muito tempo. — Jack murmurou em

troca.
— Ele se importa com a garota mais do que você deixa

transparecer. — Jack encontrou os olhos escuros de Calista, mas

não falou. Como a mais velha entre o grupo de aristocratas que a

cercava, ela falava por eles. — Quão profundo é o vínculo deles?

— Eles são próximos. — Jack é evasivo.

Calista ergueu uma sobrancelha elegante, as mãos cruzadas

diante dela. No brilho da lua, sua pele escura brilha. —

Há muitos que não a aceitarão, não como humana.

— Braith está ciente desse fato, como está a menina. — Jack

ignorou os olhares assustados de seu pai e de Max. Daniel e

William permaneceram calados e inexpressivos.

— Essa informação teria sido útil antes de concordarmos em

participar desse esforço; antes de lançarmos nosso apoio a um líder

que é volátil e ligado a uma humana.

A apreensão percorreu Jack, eles não poderiam voltar atrás

agora. — A menina concordou em ir embora quando isso acabar.

— Gideon inseriu com força.


Os aristocratas ponderaram essa revelação enquanto David e

Max a absorveram.

— Ir para onde? — David exigiu quebrando o pesado silêncio.

— Ela percebe que, como humana, não será aceita como nossa

rainha, e também está ciente de que a maioria dos humanos não

sobrevive à transformação. — Gideon continuou como se David

não tivesse falado.

— Não parece que Braith concordaria em deixá-la ir. — Disse

Calista.

— Como ele acaba de provar, Braith colocará o bem maior

e nossas necessidades acima das suas. Ele pode não gostar, mas

concordou que é isso que deve ser feito. Ele escolheu nos guiar pelo

desejo de resgatar a garota, e a moça também escolheu o bem maior

sobre ele.

Jack estremeceu com as palavras contundentes de Gideon; ele

às vezes se esquecia do bastardo frio que Gideon poderia ser. Os

aristocratas se voltaram um para o outro e começaram a falar em

sussurros abafados enquanto Frank se aproximava de Daniel e


William. As mãos de Jack se contorceram e precisou se esforçar

para não olhar para Gideon, para não revelar que o que Gideon

acabou de dizer era uma mentira descarada. Ele tinha a sensação

de que o bastardo também sabia disso, depois de tudo o que

acabou de acontecer.

— Vocês sabiam sobre isso? — David assobiou para seus

filhos.

— Sim. — William não recuou do olhar que seu pai atirou

nele. — Eu planejei ir com ela.

— E quando você iria me deixar saber sobre isso?

— Nós não tivemos exatamente a chance de conversar em

particular.

Os aristocratas se separaram e seus olhares se concentraram

em Gideon enquanto o estudavam intensamente. — Nós chegamos

até aqui, vamos superar isso. Mas só se tivermos a sua palavra de

que a menina vai embora depois que isso acabar. — Afirmou

Calista. — Ou a sua palavra que ela não permanecerá humana se

optar por ficar e se tornar rainha.


Jack não olhou para os humanos; ele estava aterrorizado com

o que seriam as suas reações diante dessa afirmação. Fiquem

quietos, implorou, sabendo que Max ou William seriam os

primeiros a entrar em erupção. — Eu concordo com esses termos.

— Gideon murmurou.

— Não é com seu acordo que nos preocupamos. — Barnaby

disse. — É com o de Braith. Estes termos serão cumpridos Gideon,

de uma forma ou de outra.

— Eles serão cumpridos. — Gideon assegurou.

— Como você pode ter tanta certeza? — Perguntou Calista.

— Falei em particular com a garota e chegamos a um acordo

mútuo. Ela concordou em perder sua vida, se for necessário para

separá-los.

De alguma forma, Jack conseguiu manter o rosto impassível

após a revelação de Gideon. David não foi tão rápido e sua boca

caiu, mas foi a impressionante falta de surpresa em torno de

William e Daniel que mais abalou Jack. Jack agarrou o braço de

Max e apertou com força no momento em que Max se


aproximava. Ele quebraria o braço do menino se fosse preciso para

silenciar qualquer palavra que Max estivesse prestes a

vomitar. Max franziu a boca, mas sabiamente ficou quieto.

Os aristocratas trocaram outro olhar antes de concordar. —

Certifique-se de que isso aconteça como você diz Gideon, ou

vamos responsabilizá-lo. — Prometeu Calista, seus olhos

momentaneamente se aprofundando em vermelho sangue.

O rosto de Gideon estava sereno enquanto acenou com a

cabeça. — Isso é aceitável.

— Nenhum filho deles será reconhecido como herdeiro se

nascer enquanto ela ainda for humana.

— Não haverá criança, posso garantir. Pelo menos não será

filho de Braith.

Jack quase deu um soco no rosto exposto de Gideon. Foi

apenas o fato de que ele teve que pegar William e jogá-lo em Daniel

que o impediu de fazê-lo. Seu estômago revirou quando as

implicações das palavras de Gideon foram assimiladas. Não seria

filho de Braith, mas isso não significava que não pertencesse a


outro membro de sua família. Jack estremeceu; ele teve que soltar

forçosamente o braço de Max antes que acidentalmente o

quebrasse.

O impulso orgulhoso dos ombros de Calista destacou o

comprimento de seu pescoço esguio e características elegantes

quando ela nivelou Gideon com um olhar inabalável. —Você

parece muito certo disso.

— Estou completamente certo de que não será o filho de

Braith.

— Isso só vai importar se Caleb não a destruir primeiro. —

Barnaby os lembrou.

— É verdade. — Saul concordou e cruzou as mãos nas mangas

de seu manto.

— Seria uma pena, eu gostei da garota. — Calista encolheu os

ombros e revirou os ombros esticando as costas. — Estou com fome

agora. — Os outros acenaram com a cabeça em concordância. —

Vocês três vão se juntar a nós?


Jack balançou a cabeça, não surpreso com a mudança abrupta

na discussão. — Não agora.

— Com licença. — Calista acenou com a cabeça para os outros

e eles entraram atrás dela.

Jack esperou até que eles estavam fora do alcance da voz antes

de falar com Gideon. — O que foi esse absurdo sobre um acordo

entre você e Aria?

O olhar de Gideon não vacilou; não havia nem um lampejo de

remorso em seus olhos cor de avelã. — Aria veio falar comigo; ela

concordou que o vínculo deles não poderia ser completado e

também estava ciente do fato de que, se não formos capazes de

separá-los, isso poderia significar a morte dela.

Jack vacilou; Max deu um passo ameaçador para frente, mas

Jack o empurrou de volta quando os olhos de Gideon se

concentraram duramente nele. — Eu nunca aceitei

isso. Eu nunca permitiria uma coisa dessas! — Gritou Jack.

— Ela sabia disso e por isso que veio até mim.


Jack sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. Uma

maldição baixa escapou e ele soltou o braço de Max.

— Minha filha não será sacrificada nisso! — David retrucou.

— Sua filha já foi sacrificada pelo bem maior. Você já

concordou que ela não iria querer que fizéssemos algo imprudente,

que vencer essa guerra é muito mais importante do que qualquer

única vida.

— Ela não foi sacrificada!

— Caleb a tem em sua posse. Ela pode estar viva, mas você

deve encarar o fato de que ela não sairá de lá da mesma

forma. Caleb não é Braith; ele não será gentil, especialmente se

tiver alguma ideia do quanto Braith se importa com ela.

— Jesus, Gideon. — Jack murmurou, desejando que o

vampiro tivesse uma grama de tato e decoro nele. Gideon não

entendia os laços estreitos entre essas pessoas, tanto quanto Jack

quando chegou para espioná-los. No entanto, Gideon tinha que

entender que embora Braith e David tivessem recuado, por

enquanto, eles não permaneceriam assim se fossem pressionados.


David estava branco como um fantasma, William e Daniel

permaneceram quietos, mas seus rostos ficaram quase tão pálidos

quanto os de seu pai. — Sua filha foi forte o suficiente para

perceber que sua vida não vale a vida de tantos outros, incluindo

as suas. Você deve ser forte também. Se Braith alguma vez

descobrisse o nosso acordo, a minha vida também ficaria

perdida. Eu estava disposto a aceitar isso e ainda estou se for

necessário.

Jack gemeu; ele estava tentado a arrancar a língua de Gideon

de sua boca implacável. Por um momento, Jack achou que David

cairia mas logo depois ele se virou para seus filhos.

— Vocês sabiam o que ela pretendia! — Ele explodiu.

— Não tudo isso. — William admitiu enquanto olhava para

Gideon. — Mas sabíamos que ela propôs ir embora depois da

guerra. Eu ia com ela.

— E você? Você ia sair também? — David exigiu do mais

velho.

Daniel sacudiu a cabeça. — Não, eu pretendia ficar.


— Esta era a única opção, pai. — Disse William suavemente.

— Deixá-la morrer é uma opção?

— Nós não sabíamos sobre essa parte. — O olhar de William

piscou ressentido para Gideon novamente. — Mas eu suspeitava

que Aria poderia fazer algo tão drástico se fosse necessário para

cortar seu vínculo com Braith.

— As necessidades de muitos superam as necessidades de um

ou dois.

— Pelo amor de Deus Gideon, cala a boca! — Jack gritou com

ele quando todos os humanos se voltaram para Gideon.

— E Braith, e quanto a ele? — Max perguntou.

— Ele não pode saber sobre isso, nada disso. — Ashby se

moveu das sombras. Seu rosto estava oco e pálido, mas seus

ombros firmes em determinação. — Eu sei melhor do que qualquer

um de vocês o que os dois estão passando, mas Braith não pode

saber sobre esse plano. Ele vai destruir a todos nós, atacando

aquele palácio com pouca atenção para qualquer outra pessoa, e


vai matar os dois no processo.

— Você sabe que eu desaprovo toda essa situação mais do que

ninguém, mas o que você acha que vai acontecer com ele quando

isso acabar? O que vai acontecer com ele se Aria morrer? Caso você

não tenha notado que ele está um pouco instável agora, e ela ainda

está viva. — Retrucou Max.

— E caso você não tenha notado, ele ainda escolheu o caminho

certo. Braith foi criado desde o nascimento para ser um líder, ele

será instável no começo, mas a razão e séculos de preparação

acabarão vencendo. — Os lábios de Max se comprimiram, seu

olhar se voltou para a floresta enquanto Gideon continuava a

falar. — Especialmente se não for possível para ele recuperá-la.

— Eu não vou deixar você matar minha filha! — David

explodiu.

— Você está me dizendo que sua filha é uma pessoa mais forte

do que você é?

As mãos de David se fecharam quando ele começou a

tremer. — Gideon, pare de falar! — Jack esbravejou e avançou para


bloquear David se ele voasse para Gideon e o atacasse.

— Não vou deixar isso acontecer, David. — Ele lançou um

olhar aguçado para Gideon. — Eu nunca concordei com Aria

morrendo. Vou levá-la e mantê-la segura.

— Pensei que Braith pudesse rastreá-la em qualquer lugar, já

que o sangue dele está dentro dela. — Max interrompeu.

— Nós esperamos diluir seu sangue com o de outro vampiro,

provavelmente nós três, a fim de confundir Braith ainda mais.

Rezamos para que isso ajude.

— E se isso não acontecer?

— Não! — Jack empurrou um dedo para Gideon quando ele

abriu a boca para falar novamente. Gideon olhou furioso, mas

permaneceu em silêncio. — Vamos falar disso quando chegar o

momento.

— Você não está prometendo mantê-la viva.

— Vou mantê-la segura. — Prometeu Jack. — Eu juro. Ela é

importante para mim também.


David estava balançando a cabeça. — Então a vida dela será

sacrificada, não importa o que aconteça.

— Nenhum de nós gosta disso. — Concordou Ashby. — Em

absoluto. Esta não foi uma decisão fácil e não foi feita de forma

descuidada.

Max olhou fixamente para ele por um momento antes de se

virar para Gideon. — Eu não confio em você.

Gideon levantou uma sobrancelha e curvou a cabeça em um

pequeno aceno de cabeça. — É justo, não estou exatamente certo

sobre você também, mas você deve perceber que não estamos

fazendo isso para ser cruel. Você ouviu o que Calista disse, eles não

vão aceitá-la como humana. Eles a admiram, inferno, até eu admiro

a garota, mas a admiração não faz dela uma vampira.

David se virou e caminhou até a borda da clareira onde se

inclinou cansado contra uma árvore. — Ela é minha filha, ela

merece felicidade. Eu quero felicidade para ela, mais do que

qualquer coisa.

— Todos queremos, pai, mas eles estão certos. Aria está certa,
há alguns momentos em que nossos desejos não importam mais.

— Disse Daniel suavemente.

David não olhava para eles; Jack sentiu o cheiro de lágrimas

no ar quando sua cabeça se curvou e seus ombros tremeram

levemente. — Se ela for embora depois, que seja, mas nós temos

que pegá-la logo. Ela não pode ser mantida lá.

— Nós vamos chegar a ela em breve. — Jack prometeu.

Max sacudiu a cabeça ardentemente. — Não, agora . Você não

viu o que Caleb estava fazendo com ela, não acho que ele vai

mantê-la viva.

— Ele vai mantê-la viva. — Afirmou Jack.

— Ele estava drenando ela!

David finalmente se afastou da árvore, as lágrimas não

riscavam seu rosto, mas seus olhos estavam lacrimejantes.

— Ele vai mantê-la viva. — Insistiu Jack.

—Como você pode ter tanta certeza? — Max exigiu


impacientemente.

— Porque ele vai cheirar Braith sobre ela, no sangue dela. Ele

não vai matá-la.

— Então ele vai apenas torturá-la? — Max acusou. Os olhos

de Jack voaram nervosamente para David quando ele se afastou da

árvore. William e Daniel estavam começando a tremer quando

suas mandíbulas enrijeciam e um músculo saltou na bochecha de

William. — Abusar dela? Eu sei que você é um deles, Jack, mas

você não tem ideia do que se passa lá do nosso ponto de vista. Aria

teve sorte da última vez, mas, segundo todos os relatos, Caleb é um

filho da puta sádico.

— Nós a traremos de volta. — Jack assegurou.

— Braith tem que saber o que Caleb está fazendo com ela. Ele

precisa estar ciente de tudo antes de tomar a decisão de esperar. —

Insistiu Max.

— Eu vou quebrar seu pescoço antes de permitir que você

diga isso a ele. — Gideon jurou.


— Jesus, Gideon. Fecha a porra da boca! — Jack gritou em

frustração. — Max, todos nós podemos adivinhar o que pode estar

acontecendo, mas você não pode simplesmente ir e enfiar na cara

dele. Ele pode pensar que sabe, pode pensar que percebe isso, mas

se você confirmar, não haverá como impedi-lo. Se houver alguma

chance de recuperá-la viva, temos que fazer isso direito. — Max

desviou o olhar de Jack. — Você não pode dizer a ele o que sabe

ou nós vamos perder os dois.

— Eu não gosto disso.

— Nenhum de nós gosta, mas preciso da sua palavra que você

não vai fazer nada imprudente. A sua também, William. — Ele

acrescentou com um olhar aguçado na direção de William.

— Eu não vou. — Murmurou Max ressentidamente.

William se mexeu desconfortavelmente, sua mandíbula

trincando antes de inclinar a cabeça e relutantemente expressar sua

concordância. — Farei o que Aria gostaria que eu fizesse. Não vou

estragar nossas chances de sucesso.

O alívio fluiu através de Jack e seus ombros caíram


levemente. Ele estudou Gideon enquanto pensava se deveria ou

não dizer ao vampiro que já não acreditava que algum de seus

planos funcionaria, ou que a única razão pela qual Braith estava

remotamente são agora era porque ela ainda estava viva. Ele

decidiu ficar quieto, porém, não confiava em como Gideon poderia

reagir se percebesse que não haveria como separá-los.


Capítulo Três

Havia uma sensação em seus dedos que ela frequentemente

associava ao aquecimento muito rápido depois de estar fora no frio

por muito tempo. Um formigamento agudo que a despertava da

escuridão e a levava por um período desconhecido de tempo. Seu

coração parecia lento e doía para trabalhar bombeando sangue

pelo seu corpo.

Ela estava morrendo, estava certa disso.

E não queria morrer. Ela disse a Gideon que iria, mas agora

estava apavorada com a possibilidade. Falou as palavras a sério

quando as disse a Gideon, mas isso foi quando sua morte teria sido

rápida. Foi quando teria sido pelos outros, pela a sua família. Não

havia razão para morrer agora. Pela primeira vez em anos, sentia-

se jovem. Sentia cada um dos seus dezessete anos e ansiava por

mais deles.
E seu maior desejo era poder se despedir de Braith e de sua

família.

Suas lágrimas eram frias contra sua pele já gelada enquanto

deslizavam por suas bochechas.

— Ela está acordada.

Aria não tinha percebido que havia outros na sala. Tinha

vergonha de si mesma por chorar, mas não conseguia levantar a

mão para enxugá-las. Agora ela não possuía força para enfrentar

Caleb. Mesmo sob a proteção de Braith, ela teve medo de Caleb,

aterrorizada com a crueldade que o irmão do meio irradiava, e

agora ela era dele para fazer o que quisesse.

— Dê a ela.

A outra voz não era familiar, mas não teve tempo de pensar

nisso enquanto as mãos seguravam seu cabelo. Um pequeno grito

escapou mas ela foi capaz de reter a maior parte quando foi

levantada do chão. Ela não teve tempo de absorver o ambiente

enquanto algo metálico estava entre seus lábios e sua cabeça estava

inclinada duramente para trás. O gosto vil a atingiu, causando uma


reação explosiva nela. Ela bateu nas mãos segurando-a enquanto o

líquido grosso era forçado a descer pela garganta. Gorgolejou,

engasgou, mas sua cabeça foi mantida inclinada para trás. O

líquido se acumulou contra a parte de trás de sua garganta até que

ela finalmente foi forçada a engolir.

A bile subiu por sua garganta, e muitas lágrimas involuntárias

irromperam de seus olhos quando mais foi forçado a descer por

sua garganta. Certa vez, quando ela era criança, comeu um

punhado de frutas que erroneamente achou que fossem mirtilos.

Eram amargas e só o gosto a fez vomitar. Mas isso era pior. Ela

alegremente comeria aquelas bagas revoltantes novamente antes

de engolir mais uma gota do líquido viscoso que se derramava por

sua garganta.

Aria foi abruptamente liberada. Sua cabeça foi empurrada

para frente e ela cambaleou, mas foi incapaz de manter o

equilíbrio. Caindo no chão, seus ombros arfavam enquanto

ofegava, sufocava e arcava em seco. Seu estômago se contorceu em

nós e lágrimas borraram sua visão. Ela parecia estar morrendo,

mesmo quando o calor começou a se espalhar através de seus


membros entorpecidos, mesmo quando a força gradualmente

retornou para suas extremidades enfraquecidas. Soluços ficaram

presos em seu peito e uma nova angústia se contorceu em seu

corpo quando ela percebeu o que eles haviam lhe dado.

Sangue.

Sangue de Caleb.

Não era nada como o de Braith. O sangue de Braith era doce

e reconfortante, a enchia e fortalecia, era certo de muitas

maneiras. Embora o sangue de Caleb tivesse renovado parte de sua

força, parecia terrivelmente errado em seu corpo, não pertencia ali

e, embora estivesse absorvendo suas propriedades curativas,

também se revoltava contra o influxo. Um grito foi construído

dentro dela e Aria teve o desejo irracional de arrancar sua própria

pele para liberar o sangue que não devia estar ali.

Ela estava tremendo. Suas mãos não ficaram paradas no chão

duro enquanto saltavam e dançavam sobre o mármore embaixo

dela. Ela tentou se firmar, mas parecia que não estava mais em seu

próprio corpo, mas no de outra pessoa.


Este era apenas o começo do sofrimento que viria. Caleb

poderia fazer isso com ela uma e outra vez, e ele faria, porque a

reação dela tinha acabado de revelar o quanto seu sangue era

horrível e quão miserável isso a fazia sentir.

— Aparentemente alguém só gosta do sangue do irmão mais

velho.

Os olhos de Aria se abriram. Pela primeira vez a fúria e a

indignação rasgaram-na. Seus olhos se estreitaram e se

concentraram em Caleb, seus dedos enrolando em suas palmas. Ele

parecia excessivamente digno em suas roupas refinadas enquanto

sorria para ela. Era um pouco mais baixo que Braith, mas mais

largo no peito e nos ombros. Seu cabelo escuro caía em ondas ao

redor do rosto e os olhos verdes teriam sido bonitos se não fossem

tão gelados. O nariz de Caleb era um pouco maior que o de Braith,

os lábios mais finos, mas não havia dúvidas de que eles estavam

relacionados.

Caleb se ajoelhou diante dela e segurou seu queixo. Ele virou

sua cabeça para um lado e depois para o outro. A mandíbula de

Aria enrijeceu, mas ela não lhe deu a satisfação de tentar se


afastar. Ele apertou seu queixo até que ela finalmente se encolheu

e ele jogou o rosto dela para longe em desgosto. Os lábios de Aria

se curvaram quando lentamente se virou para ele, coçando-se para

ter o seu arco.

— Chega. Traga-a aqui.

Aria estava tão ocupada olhando para Caleb quando ele a

levantou, que não percebeu imediatamente para quem ele estava

arrastando-a, e então seu olhar viajou para o estrado. Um

pressentimento ruim bateu quando ela viu o homem casualmente

sentado no grande trono, um trono destinado a um governante.

O rei.

Por um momento, as pernas de Aria quase desistiram. Foi

pura vontade que a manteve em pé quando Caleb a puxou para

frente. Ela nunca o tinha visto antes, mas o reconheceu

instantaneamente, simplesmente pelo fato de que ele parecia muito

dolorosamente com Braith. Seu cabelo era do mesmo tom preto,

mas suas feições eram diferentes de maneiras sutis. Seu nariz era

mais definido e a boca mais cruel enquanto se curvava em um


sorriso de escárnio. Embora ela soubesse o quão impiedoso Braith

poderia ser quando levado aos seus limites, havia uma depravação

sobre esse homem que Braith nunca poderia possuir.

Ela estremeceu ao pensar no que Braith era agora, sem ela.

O rei levantou-se para se elevar sobre ela. Mais próximo dele,

Aria foi capaz de escolher as outras diferenças entre este homem e

seu filho. Não havia brilho nos olhos verdes do rei, a testa era mais

alta e as bochechas mais largas, mas ela ainda estava nervosa com

as semelhanças.

Seu olhar vagaroso a varreu da cabeça aos pés e voltou

novamente. Ela se sentiu exposta, julgada e desaprovada. — Eu

sinto o cheiro do meu filho em você, em seu sangue. — Aria

permaneceu imóvel, incerta sobre o que ele esperava dela. Se eles

planejassem matá-la, sabia que já estaria morta.

O rei descansou dois dedos contra sua bochecha. O orgulho

mantinha o rosto impassível quando ele virou a cabeça primeiro de

um lado e depois do outro. — Ele também se alimentou de você,

recentemente, e no que parece ser uma base bastante regular.


Ela continuou imóvel enquanto os dedos dele deslizavam

brevemente pelo pescoço e pela clavícula. A bile subiu por sua

garganta, arrepios estalaram em sua carne gelada enquanto seus

dedos roçavam seu seio e um sorriso malicioso cruzou sua boca

carnuda. Caleb era a ameaça que ela conhecia ao vir aqui, mas a

outra estava agora na frente dela, tocando-a demais para o seu

gosto. O rei era o único com todo o poder, aquele que agora

controlaria seu destino.

— Você de bom grado permitiu isso? — Ele exigiu uma

resposta; ela só não tinha certeza do que ia dizer para ele. Seu

coração martelou, gaguejou, e então saltou para o modo de pânico

quando seus dedos se envolveram em torno de sua garganta e ele

se inclinou para ela. — Você permitiu isso?

Ele não toleraria sua desobediência; nem sua teimosia. Ela

estava viva por algum motivo que não entendia, mas sabia que ele

a mataria sem hesitar se não fingisse colaborar com ele. — Eu

permiti. — Sua voz era tão forte quanto poderia considerando o

aperto que ele tinha sobre ela.

Ele sorriu, mas não alcançou seus olhos. — Delicioso. — Ela


estava envergonhada dos tremores que a sacudiam enquanto seus

dedos se arrastavam sobre a carne nua de seus braços. Teria

preferido a morte do que este homem continuando a tocá-la de tal

maneira. — Simplesmente delicioso. Meu filho virá por você?

O nó na garganta se tornou desconfortável. —Eu... — Ela

engoliu em seco. — Não, ele não vai.

Aria não tinha certeza se era mentira. Ela sabia que Braith

ficaria furioso, devastado e se culparia, mas ela tinha que confiar

no fato de que ele faria o que era certo. Era o que esperava e o que

tinha conspirado com Jack e Gideon, afinal. Não importa o quanto

ela ansiava por Braith invadir aqui e levá-la para longe da criatura

imunda em frente a ela, sabia que ele não poderia ser

descuidado. Braith tinha que pensar nisso e perceber que não

podia jogar fora tudo o que eles trabalharam. Ele precisava aceitar

o fato de que ela era provavelmente uma causa perdida.

E ela também.

O rosto do rei estava subitamente no dela. —

Você realmente não pensa assim?— Havia uma peculiaridade em


sua sobrancelha, uma mudança em seus olhos que fazia com que

os sinos de alarme começassem a soar em sua cabeça. Ele não era

só poderoso e sádico, mas estava começando a perceber que

também poderia haver um pouco de insanidade à espreita dentro

de sua mente distorcida. Seus dedos envolveram seu pulso e por

um momento ela pensou que ele iria quebrá-lo, a fim de puni-la

por alguma ofensa que ele achava que tinha feito.

— Não. — Disse ela com força. — Eu não acredito que ele virá

me buscar.

— Se isso for verdade, você não tem utilidade para nós. Talvez

você deva mudar sua resposta.

Seus dentes apertaram enquanto ela dizia raivosamente uma

única palavra. — Não.

Ele a puxou um passo mais perto, seus narizes estavam quase

se tocando. — Eu acho que você deveria. Há uma razão pela qual

meu filho deixou o palácio, uma razão pela qual ele desistiu de

tudo o que conhece. O que você é para ele e o que você sabe?

— Não sou nada além de uma ex-escrava de sangue e uma


adolescente rebelde. O que eu poderia saber?

— Seu pulso está acelerado.

— Estou com medo. — Ela admitiu.

— Como qualquer adolescente normal estaria, eu suponho.

— Sim. — Ela confirmou.

— Por que meu filho está com você?

— Eu ... não sei. — A mão do rei apertou o pulso dela e a dor

subiu por seu braço enquanto ele torcia para trás e segurava seu

dedo médio. Seus olhos se arregalaram quando ela olhou para a

mão enorme em volta de seu dedo. Ela foi incapaz de parar de se

encolher quando ele pressionou o nariz contra o dela. — Você está

mentindo!

Um grito assustado de dor escapou quando ele estalou o dedo

para trás. Ele sorriu maliciosamente para ela quando o distinto

estalo de ossos reverberava pelo enorme salão. O suor cobria sua

testa e sua respiração era em rápidas arfadas quando a náusea

inchou sua garganta e lágrimas queimaram os olhos dela. Ele


apertou sem remorso e a puxou para baixo. Aria se esforçou para

ficar em pé, mas ele era muito mais forte do que ela e seu dedo

quebrado latejava implacavelmente. O rei pairou sobre ela

enquanto a levava de joelhos.

Aria deveria estar com medo, e estava, mas havia também

uma justa fúria crescendo dentro de seu peito, um auto respeito

que se recusava a permitir que ela se acovardasse diante dele. Ele

conseguiu forçá-la a ficar de joelhos e a machucou, mas ela tinha

certeza de que ele faria muito pior com ela antes de terminar.

Ainda assim, ela conseguiu inclinar o queixo para cima e olhar

desafiadoramente de volta para ele.

— Você é muito mais do que o que parece e há algo entre você

e meu filho. Talvez até meus dois filhos; já que foi Jericho que a

levou daqui a primeira vez. — Enojada por ele, ela se inclinou para

longe mas o rei se inclinou perto de seu pescoço e a cheirou como

um cachorro. — Mas é só o cheiro de Braith em você e o meu, é

claro. — Aria parou surpresa, se virando para encontrar seus olhos

verdes astutos. Não foi o sangue de Caleb que foi forçado nela, mas

o dele . — Você sabe o que isso significa?


Ela sabia exatamente o que isso significava, mas não

conseguia colocar a realização terrível em palavras. Não

importava, ele continuou sem sua resposta de qualquer maneira.

— Isso significa que posso encontrar você em qualquer lugar . Isso

significa que o que pertenceu ao meu filho agora pertence a mim.

Se você de alguma forma conseguir escapar dessas paredes

novamente, vou te caçar e destruir qualquer um com você. Eu vou

destruir todos em sua vida e então vou te destruir.

Seus dedos demoraram-se sobre sua bochecha; ela não

conseguia se impedir de se afastar dele. — Há coisas que eu vou

fazer com você que nem mesmo a um animal deveria ser feito, mas

prefiro fazê-las na frente do meu filho. Eu salvarei cada pequeno

tormento, todo pequeno prazer que planejei para você, até este

momento. Sei que você está mentindo para mim, minha querida,

ele virá buscar você.

Ela não conseguia desviar o olhar dele. Estava hipnotizada

pela crueldade que viu em seus olhos, presa pelo horror de suas

promessas e pelo vislumbre de sua insanidade. Sua mão envolveu

seu dedo brutalizado novamente e ele começou a dobrá-lo de volta


aos poucos. — Oh, e que tortura soberba será. — Sua outra mão

roçou as lágrimas que foram arrancadas de seus olhos enquanto ele

inclinava o apêndice quebrado mais longe do que deveria. — Ele

está lá fora agora, perto da cidade? Imagino que ele provavelmente

não esteja longe de você, mas Caleb diz que havia apenas três

outros humanos com você.

— Não.— Ela sussurrou. — Não, ele não estava com a

gente. Eu não o vejo há um tempo.

Um rosnado curvou sua boca e seus dedos pressionaram as

marcas em seu pescoço. — Estas são de Caleb. — Um pequeno

grito escapou enquanto seus dedos cavaram as mordidas de Caleb,

antes de irem até as marcas de Braith. — Quem deixou estas em

você então?

— Eu não sei onde ele está!

— Oh, talvez não agora, mas você sabia, e ele estava perto de

você. O que você estava fazendo na cidade?

— Procurando por comida.


— O que exatamente você é para o meu filho?

Pela primeira vez, seu comportamento casual e sádico

escorregou. Em seu lugar estava a verdadeira ira quando seus

olhos brevemente brilharam vermelhos. — Nada. — Ela conseguiu

gaguejar.

Mais rápido que uma cobra atacando, ele afundou os dentes

no pulso interno dela. Um grito assustado escapou e ela tentou

puxar o pulso para trás, mas ele a agarrou e mordeu mais fundo.

Muito parecido com o sangue que Caleb forçou nela, seu corpo

parecia determinado a rejeitar essa invasão, essa intrusão de

alguém que não era Braith. Chamas e calor lambiam através de

suas veias de onde seus dentes estavam embutidos no seu braço.

Isso era ainda pior do que quando Caleb a mordeu, sua cabeça

curvou-se, ela estava sendo esmagada pelo tormento que a

envolvia.

Apenas quando pensou que não poderia aguentar mais, que

todo o seu ser iria se separar e fosse morrer, ele se afastou. O rei

levantou-se sobre ela, seus olhos nivelados aos dela enquanto

calmamente e deliberadamente limpava o sangue que manchava


sua boca. — Delicioso. — Murmurou lambendo os lábios.

Pegando uma taça, antes que ela pudesse reagir, ele estava

empurrando-o em sua boca e despejando-o em sua garganta

novamente. Empurrou-a para trás quando ela tentou se afastar,

agarrando o cabelo dela quando ela balançou a cabeça para não

consumir o sangue. Segurando suas mão, ele cerrou os pulsos

juntos segurando a cabeça dela com firmeza. Náusea explodiu

quando ele forçou o sangue em sua boca e não a soltou até ela

engolir.

Embora as lágrimas estivessem rolando pelo rosto, embora

estivesse lutando para não começar a soluçar em devastação, ela

ainda conseguiu empurrar os ombros para trás e pelo menos tentar

parecer desafiadora. Ele estava observando-a com uma malícia que

causou arrepios pelas costas dela.

— Vou aproveitar cada minuto do que vou fazer com você. Eu

vou quebrar você e aquele meu filho desprezível.

Ele a levantou violentamente e a girou. Pela primeira vez Aria

foi capaz de absorver o enorme salão em que estavam, era o


refeitório? Mas isso não fazia sentido, o que eram todos aqueles ...

— Oh. — Ela suspirou quando a realização e a aversão a

inundaram. As lágrimas que escorriam pelo seu rosto não eram

mais por ela, mas pelas pessoas deste salão. Só que estas não eram

pessoas, não mais. Elas já estiveram vivas, e talvez em algum

momento tivessem sido felizes e amadas antes de entrarem nesse

pesadelo.

A cabeça de Aria girou, ela não podia absorver tudo de uma

vez. Levou um momento para compreender que não eram todos

humanos, que também havia restos dessecados de vampiros

presos nas paredes, pendurados no teto, nas vigas, e sentados na

enorme mesa. Os rostos dos vampiros tinham sido puxados para

sorrisos macabros que revelavam suas presas pontiagudas,

enquanto os rostos dos humanos eram deformados em diferentes

expressões de tormento e dor. Um grito subiu em seu peito e se

alojou ali. Ela tentou mantê-lo suprimido, enquanto sua mente

parecia sofrer uma fratura que a deixava quase sem consciência,

mal capaz de funcionar enquanto suas pernas tremiam.

Como eles tinham ficado assim, ela não sabia. Ela assumiu
que tinha algo a ver com o sangue ou a falta dele. Era isso que

acontecia quando um vampiro era completamente drenado? Eles

se tornaram passas murchas e um pouco preservadas? Mas por que

a carne deles não estava apodrecendo? Ela percebeu que não

queria saber a resposta para essa pergunta, suspeitava que era tão

horrível quanto a visão diante dela.

Os que estavam à mesa pareciam mais novos. Parecia haver

mais fluido ainda em sua carne. Sua pele, embora cinzenta e

enrugada, ainda tinha alguma cor nela. Então os olhos dos

vampiros ressecados moveram-se como um em sua direção, e

apesar de toda a sua intenção de parecer tão estoica quanto

possível, para manter alguma aparência de dignidade quando isso

estava sendo rapidamente arrancada dela, Aria soltou um grito de

surpresa e pulou para trás.

O rei soltou uma risada baixa. — Eu vejo você como minha

obra; tenho uma localização privilegiada na mesa escolhida para

você.

Suor frio escorria pelo seu pescoço e deslizou pelas costas

dela. Ela estava começando a perceber que conheceu apenas a


ponta do iceberg quando se tratava do mal desse homem, e das

coisas de que ele era capaz. Todas as pretensões de dignidade e

estoicismo desapareceram.

Aria correu para o lado. O rei não estava esperando o

movimento, nem esperava que ela fosse tão rápida. Ela correu para

frente, determinada a pelo menos tentar uma fuga enquanto se

esquivava de dois guardas. Ela lembrou brevemente da vez que

tentou escapar de Braith e Jack, ela ficou livre deles por mais tempo

do que esperava, mas estava drenada agora e mais fraca do que

tinha estado então.

Aria sentiu algo correndo para ela, uma presença sombria e

tentou mudar de direção, fazer com que seu corpo se movesse com

a mesma fluidez que costumava fazer, mas suas pernas não

cooperavam. Caleb bateu nela com a força de uma marreta. A

respiração foi arrancada dela enquanto ela caía de um lado para o

outro no chão de mármore antes de colidir com uma cadeira, e uma

das coisas na cadeira. Pedaços secos de pele escamosa se soltaram

sob a mão dela. Seus olhos a seguiram enquanto ela se remexia

para trás. Se seus movimentos borbulhantes e contráteis eram uma


indicação, essa coisa estava morrendo de fome.

— Parece que Merle está com sede.

Ruídos estranhos encheram o ar e demorou um minuto para

Aria perceber que eles estavam vindo dela. Os olhos azuis

amarelados de Merle reviraram em sua cabeça quando Aria foi

levada de volta de pé. Ela nem se importava com quem a prendia,

nem se importava com o que eles fariam com ela, simplesmente

ansiava por sair daqui. De um jeito ou de outro, morta ou viva, ela

queria se libertar desse pesadelo em que se entrincheirou. Ela

estava perdendo a cabeça, sabia, mas não estava inteiramente certa

de como se manter controlada. Não aqui, não com esses monstros.

Aria lutou freneticamente contra o rei quando ele passou o

braço em volta da sua cintura e a carregou de volta para a

abominação chamada Merle. Ele segurou o pulso dela ainda

sangrando, acima da coisa enquanto ele emitia sons ansiosos e

entusiasmados. Uma única gota de sangue caiu, não na boca de

Merle, mas no centro de sua testa, onde tremeu e estremeceu. Foi

uma das coisas mais cruéis que ela já testemunhou quando os olhos

de Merle continuaram a revirar loucamente de fome e ele se


retorceu violentamente na cadeira.

O rei levantou seu pulso e gentilmente lambeu o sangue que

escorria ali. — E tudo o que Merle fez foi votar contra mim quando

decidi começar a guerra. Isso foi há mais de cem anos,

querida. Imagine o que farei com meu filho, meu herdeiro que me

traiu. Mal posso esperar que ele venha brincar conosco, oh, as

coisas que farei.

Repulsão retorceu suas entranhas quando ele pressionou um

beijo contra sua bochecha, e brevemente a acariciou antes de deixá-

la sem cerimônia voltar ao chão. Ela quase caiu, mas conseguiu se

segurar a tempo. Estava se endireitando quando as grandes portas

do outro lado do corredor se abriram e uma loira alta e bonita

entrou. Ela nem sequer olhou para os corpos que a rodeavam, mas

diretamente para o rei e Caleb. Seus olhos, no entanto, varreram

Aria de forma fulminante. Empurrando os ombros para trás, Aria

enfrentou desafiadoramente o olhar hostil da mulher. Ela só tinha

encontrado a irmã de Braith, Natasha, uma vez antes, quando foi

trazida pela primeira vez ao palácio como escrava de sangue de

Braith.
— É verdade, então. — Disse ela categoricamente. — Ela foi

recapturada.

— Obviamente. — Caleb replicou secamente.

Natasha escolheu ignorar Caleb. — E Braith?

O olhar de Aria correu para as portas quando outra loira alta

e esbelta passou por elas. Ela não avançou com o mesmo propósito

que Natasha, mas escorregou pelas sombras enquanto se movia

para ficar atrás de sua irmã mais velha. Por um momento, o

coração de Aria saltou ao ver Melinda, a bloodlink de Ashby, a

irmã mais nova de Braith, e a única aliada de Aria dentro deste

lugar. Mas tão rapidamente quanto sua esperança aumentou,

caiu. Não havia nada que Melinda pudesse fazer para ajudá-la, não

agora de qualquer maneira, não sem ser pega. Ela estava sozinha

por agora. Aria manteve o rosto impassível enquanto os olhos

cinzentos de Melinda se encontravam com os dela brevemente

antes de se afastarem rapidamente.

— Eu despachei guardas para procurar pela floresta. Tenho

certeza de que ele está próximo. — Respondeu o rei.


Pavor pulsou através de Aria, e precisou se esforçar para

permanecer calma no exterior. É claro que eles revistariam a

floresta e a cidade. Ela esperava que os outros tivessem se retirado

para as cavernas, mas mesmo assim havia uma chance de serem

encontrados. Um pequeno tremor percorreu seu corpo.

Os olhos de Caleb brilharam quando ele a examinou. — Ele

virá buscá-la.

Um sorriso cruel torceu a boca de Natasha. Aparentemente,

Natasha estava tão distorcida e doente quanto o pai e o irmão. —

Maravilhoso. — Aria conseguiu se conter e não olhou para Melinda

para ver sua reação. Ela permaneceu imóvel, não querendo chamar

mais atenção para si mesma. — E Jericho?

— Tenho certeza que ele também está em algum lugar

próximo, ambos serão punidos de acordo. — Informou o rei.

Aria se lembrou de um louva-a-deus inspecionando sua presa

enquanto Natasha esfregava as mãos ansiosamente juntas. — Mal

posso esperar.

— Certifique-se de que ela retorne para a masmorra, Caleb e


não tome muito do seu sangue. Tenho mais perguntas para ela,

perguntas que ela eventualmente responderá. Você pode se

divertir, mas ela não deve ser quebrada, ainda não. Eu quero que

ela esteja alerta e gritando quando Braith chegar, e ela não deve ser

estuprada. — Aria ficou surpresa quando seus olhos se voltaram

para o rei. — Oh, vai acontecer minha querida, mas não será Caleb.

— Ele respondeu com um sorriso. — Suspeito que vai matar meu

filho quando ele me assistir te subjugar, e pretendo que ele esteja

aqui para assistir nossa primeira vez juntos. Você pode até gostar

disso.

Ela de alguma forma conseguiu engolir a bile que tal

pensamento causou para queimar sua garganta. Estava

rapidamente começando a mudar de ideia sobre morrer. Ela teria

prazer em receber a morte em vez de ter esse homem invadindo

seu corpo de tal maneira. Evitar Braith sendo forçado a assistir.

Havia um brilho sádico nos olhos de Caleb que a assustou

quando ele se aproximou para reivindicá-la. Aria ergueu o queixo,

parecendo muito mais digna do que se sentia quando ele

praticamente a arrastou da sala hedionda.


Capítulo Quatro

Xavier era apenas uma sombra escura contra a casca da

árvore, uma sombra que Braith mal conseguia distinguir da

floresta. Ele passou cem anos no escuro, e prosperou nisso quando

outros teriam falhado, mas a quase escuridão agora era um

lembrete gritante de que perdeu a única coisa que importava para

ele. E a perdeu porque era um idiota, um imbecil. Ele a perdeu por

causa de alguma cadela que jogou do palácio por abusar de Aria

em primeiro lugar. Ele deveria ter matado Lauren ao invés de

permitir que ela vivesse.

Na verdade, foi o único que causou essa bagunça

terrível. Sabia e se desprezava por isso, mas não podia mudar os

fatos agora, não importando o quanto gostaria.

Braith jurou que a pegasse de volta, passaria o resto da vida

tentando aliviar o impacto de seus pecados. Ele faria isso por ela, se
ela pudesse perdoá-lo, e se eles não a destruíssem primeiro. A

névoa vermelha de sua visão escureceu quando ele fechou as mãos

em frustração.

Fique no controle, ele lembrou a si mesmo. Estar controlado é

a única maneira de recuperá-la viva. Fique calmo. Eles tinham que

estar preparados, se houvesse alguma chance de recuperá-la, de

ganhar essa guerra, eles tinham que estar preparados, ou

falhariam.

Embora fosse quase impossível permanecer controlado. Sua

pele estava fervilhando, havia um fogo borbulhando em sua

barriga. Ele sabia que estava à beira de desmoronar completamente

e deixar o monstro interior assumir. Suas presas formigavam com

o desejo de atacar o pescoço de seu pai, seu irmão e todas as outras

pessoas que a tocassem. Ele ansiava por suas mortes com uma

ferocidade que nunca experimentou antes. Desejava seus corpos

jogados como lixo no chão a seus pés, e queria agora .

Se ele não estivesse certo de que seria morto antes que

pudesse chegar até ela, teria ido atrás dela sem o resto deles. Se

pensasse que a libertariam em troca dele, caminharia alegremente


até os portões do palácio e se entregaria. Morreria de bom grado

por ela, mas sua morte não faria nada para salvá-la disso, e ela

nunca o perdoaria por arruinar tudo pelo que trabalharam tão

arduamente. Verdade seja dita, ele nunca se perdoaria também.

Havia muitas vidas em jogo, muito estava em risco. Havia pessoas

com quem ele se importava.

Essa era a pior parte de tudo. Ele começou a importar-se com

eles. Ashby o irritava, mas Melinda amava o idiota e ele não era

totalmente desagradável. Jack o enfurecia sem fim, mas ele ainda

era seu irmão e Braith sempre gostou dele. Ele até gostava e

admirava a família de Aria. Não podia decepcioná-los. Não

conseguia destruir a única chance de felicidade e paz que eles

esperavam alcançar, que Aria esperava alcançar. Ela iria perdoá-lo

por não ir buscá-la imediatamente, ele sabia disso, mas nunca o

perdoaria se ele arruinasse tudo.

Aria estava viva; podia sentir isso em seus ossos. A essa

altura, seu pai já percebeu que ela era importante para ele e

provavelmente detectou seu sangue dentro dela, vendo as marcas

que Braith havia deixado em sua pele. Ele a usaria contra Braith; a
torturaria até que ela fosse quebrada irremediavelmente, mas

Braith sabia que seu pai guardaria o pior dessa tortura até que ele

estivesse presente. O rei pretendia ter a certeza de que Braith

testemunhasse o pior do que foi feito com ela. Pelo menos era essa

a esperança com a qual Braith se agarrava, caso contrário deixaria

esses bosques e iria para o palácio agora. Caso contrário, arruinaria

tudo e Aria estaria perdida.

Braith não permitiria que isso acontecesse com Aria, mesmo

que isso significasse entregar-se à escuridão que espreitava dentro

dele e que estava muito perto de consumi-lo agora. Ele só tinha que

mantê-la afastado até que todos estivessem prontos para se

mover. Poderia ceder às trevas quando encontrasse seu pai e

irmão; deixando que ela o governasse para destruí-los. Talvez, se

ele e Aria sobrevivessem, ele seria capaz de salvar o que sobrou de

si mesmo.

Ele não sentia nenhum escrúpulo em matar seu pai e

irmão. Eles não sentiriam nada sobre torturá-lo, matá-lo e fazer

com que a única coisa com que ele se importava sofresse. A única

diferença era que ele faria suas mortes rápidas, mas eles não
retornariam o favor.

— O que você sabe? — Braith exigiu.

— O que você quer dizer?

— Não brinque comigo Xavier. Você conhece mais da nossa

história e da história do ser humano do que qualquer um de

nós. Vejo o jeito que você observa Aria, a maneira como você a

estuda. Se achasse que era porque você tinha algum interesse nela

como mulher, eu teria colocado um fim nisso há muito tempo, mas

nós dois sabemos que as mulheres não são o que você deseja. Sei

que você não está olhando para ela dessa forma, porque sou eu

quem te interessa.

— Como você sabe disso?

— Xavier. — A paciência de Braith estava chegando ao

fim. Qualquer que tenha sido a paixão que Xavier teve por ele,

desapareceu anos atrás quando Xavier aceitou o fato de que Braith

não estava interessado em homens.

Houve um pequeno oscilar de seus ombros que Braith


entendeu como gesto de indiferença. — Você é um homem

bonito...

Braith se inclinou para ele, fazendo com que Xavier desse um

passo abrupto para a árvore atrás. —Não brinque comigo,

Xavier. Não existe ninguém nem nada que eu não vá passar por

cima para recuperá-la. Não estou com disposição para seus jogos

desonestos ou suas manipulações. — Xavier não se acovardou

diante dele, mas Braith sentiu a trepidação do vampiro. — O que

você sabe?

— Eu não sei de nada.

A mão de Braith bateu na árvore. Os seguidores de Xavier

ficariam irados se ele o matasse, eles poderiam ir embora, e até

mesmo atacá-lo, mas Braith estava chegando ao ponto onde

aceitaria de bom grado para amenizar um pouco de sua fúria. Ele

não achava que poderia sobreviver por muito mais tempo

assim. Estava a ponto de quebrar; como uma corda de arco

esticada, ia quebrar. Ele simplesmente não sabia o que aconteceria

quando quebrasse, ou quantos ele levaria com ele.


— Embora há algumas coisas que eu suspeito. — Xavier

continuou calmamente.

— Xavier, não agora.

Precisou de toda a sua paciência para lidar com a maneira

indireta de Xavier de explicar as coisas. Xavier pareceu sentir isso

quando segurou seu braço. — Você tem que manter-se racional,

Braith. Há muito mais vidas em jogo aqui do que dela.

— Por que você acha que eu ainda estou aqui? Por que você

acha que não fui atrás dela ainda? Mas você tem que me dizer o

que você suspeita .

Xavier inclinou a cabeça. —Tenha em mente que eu realmente

não sei nada com certeza. Eu gostaria de falar com o pai dela.

— Tudo bem, mas o que é isso...

Braith se interrompeu quando algo lhe chamou a atenção. Ele

soltou a árvore que estava tão desesperadamente agarrando

enquanto se movia em direção à borda da colina. Abaixo dele, a

floresta se espalhava em um borrão de formas escuras e


montes. Entre os objetos sólidos, as sombras se moviam e

deslizavam pelas árvores. Ele ouviu a aproximação dos outros,

mas não teve que se virar para saber que Gideon estava na

liderança. Seu passo era um pouco mais alto do que o mais leve de

Ashby e os movimentos mais experientes de Jack. William, Daniel

e David mal fizeram qualquer barulho quando se

aproximaram; mas foram seus cheiros que ele pegou em vez de

seus sons.

— Eles estão vindo. — Gideon declarou categoricamente.

— Eles estão. — Concordou Braith.

— Devemos nos retirar para as cavernas até que eles passem.

— Braith cruzou os braços sobre o peito enquanto se inclinava para

trás. As sombras se moviam através de sua névoa vermelha como

sangue, ele mal podia vê-las se esgueirando pelas árvores subindo

constantemente a colina. Jack ficou atrás dele e Gideon se moveu

para a frente. — Há pelo menos cinquenta deles. — Comentou

Gideon.

— Estamos aqui para começar uma guerra. — Lembrou


Braith. — Você propõe que nos retiremos toda vez que houver uma

ameaça?

— Não queremos confirmar nossa presença na floresta.

— Ele sabe que estamos aqui de qualquer maneira, por que

mais você acha que há cinquenta e poucos soldados rastejando pela

floresta agora?

—Eu não entendo por que existem tantos. — William

murmurou. — Eles só viram quatro de nós na cidade.

Gideon cruzou os braços sobre o peito enquanto ponderava a

colina diante dele. —Talvez Aria tenha dito a ele que havia mais

aqui.

— Ela nunca faria isso! — William replicou.

— Você não sabe o que acontece naquele palácio, do que o rei

é capaz.

— Não! — Max avançou e enfiou o dedo no peito de Gideon,

assustando o vampiro mais velho a dar um passo para

trás. — Você não sabe o que acontece lá, e você não conhece
Aria. Ela não contaria nada a eles, morreria antes de colocar algum

de nós em perigo!

Gideon agarrou o dedo de Max e empurrou-o para longe. —

Não me toque!

— Chega! — Braith gritou e se colocou entre eles. — Foi o meu

sangue que os atraiu e que alertou o rei para a minha presença

dentro desses bosques. Ele suspeita que estamos aqui por um

motivo, mas não tem como saber quantos estão conosco. Envie a

maioria dos humanos para as cavernas; eles podem decidir quem

deles permanece do lado de fora. Quero que a maioria das nossas

tropas permaneça escondida. Se algum dos homens do rei

sobreviver, não quero que eles sejam capazes de relatar a extensão

de nossa força ao rei.

— E se perdermos alguns dos nossos? — Gideon não era mais

que uma sombra, como os soldados rastejando pela floresta, mas

Braith não conseguia distinguir claramente suas feições.

— É uma guerra, Gideon. Uma que fará com que percamos

alguns dos nossos. — Ele rosnou. — Pegue os humanos e vá para


as cavernas. Você pode voltar. — Acrescentou ele antes que

William pudesse protestar.

William assentiu e correu para a floresta. — E você, Braith?

— E eu? — Perguntou ele a Ashby.

— Sua visão...

— Está tudo bem.

— Sua visão? — Xavier abriu caminho através de Jack e

Ashby. — O que tem a sua visão?

— Está tudo bem.— Insistiu Braith.

Xavier agarrou o braço de Braith quando ele foi se virar. —

Está ligada a ela? — Xavier exigiu. Braith soltou o braço do aperto

de Xavier. — Eu tinha assumido que seus olhos finalmente tinham

se curado ao longo dos anos, mas foi o sangue dela que trouxe a

sua visão de volta?

— Xavier...

— Responda-me Braith! — A voz de Xavier era alta; havia um


tom nela que não beirava a consternação, mas sim descrença, talvez

até entusiasmo.

— Não, não foi o sangue dela.

— Oh.

Xavier parecia se esvaziar diante dele, mas havia algo sobre a

reação do vampiro que despertou a curiosidade de Braith. Algo

que o fez decidir revelar mais, e honestamente, que diferença fazia

agora? A maioria das pessoas que estavam aqui já sabiam que sua

visão estava ligada a Aria, as que talvez não fossem sua família.

— Mas foi por causa dela.

Houve um movimento entre os corpos e, a julgar pelo cheiro,

foi Max que se adiantou. — O que você quer dizer? — Xavier

exigiu.

— Apenas sua presença, apenas ela estando próxima a mim,

foi o que trouxe minha visão de volta. Ela estava suja e

desgrenhada, mas era a coisa mais linda que eu tinha visto em cem

anos enquanto esperava para ser leiloada.


David inalou bruscamente, Xavier murmurou algo que soou

como uma oração, e Max deu um passo mais perto dele. — Quando

Jack a levou do palácio, perdi minha visão novamente.

— Mas você ainda pode ver agora? — Xavier pressionou. —

Assim como quando ela está por perto?

A mandíbula de Braith enrijeceu e se afrouxou. — Não, não

posso. Eu só vejo sombras e borrões. É mais do que eu pude ver

antes de encontrá-la, mas muito menos do que quando ela está

comigo.

Xavier agarrou seu braço, seus dedos cravaram na carne de

Braith. Ele podia sentir o intenso escrutínio de Xavier enquanto

tentava observar além dos óculos. Ele sentiu a mão de Xavier

agarrar as armações, mas Braith se livrou e bateu o braço de Xavier

de lado quando ele tentou tirar os óculos do rosto. Xavier ficou um

pouco fora de equilíbrio, mas se conteve e se endireitou para olhar

para Braith novamente. — Não. — Braith rosnou.

— Vocês dois, parem. — Jack disse. — Caso tenham

esquecido, temos companhia.


Embora Braith soubesse que deveria estar preocupado com os

homens na floresta, sua atenção permaneceu concentrada em

Xavier enquanto ele se esforçava para trazer o vampiro à sua vista.

Era extremamente frustrante não ser capaz de ler as nuances sutis

do rosto de Xavier, não ser capaz de adivinhar o que ele estava

querendo dizer. Ele precisava desesperadamente saber o que era

que Xavier suspeitava .

Mas Jack estava certo, eles tinham companhia e Braith estava

ansioso por uma briga. Ansiava por sangue. Queria atirar sua fúria

e frustração de alguém, e os soldados do rei eram um bom começo.

Ele escorregou silenciosamente entre as árvores com os outros,

mantendo um olho nas sombras que se moviam enquanto se

aproximava de sua presa. Pensou que deveria estar apreensivo

sobre a emoção, a excitação e a sede de sangue que corriam através

dele, mas não estava. Ele faria o que fosse necessário, se tornaria

o que fosse necessário, para recuperá-la. Não se importava com

quem tivesse que destruir para fazer isso.

Agachando-se atrás de uma árvore, fechou os olhos contra as

sombras que distraíam. Baseando-se nos sentidos que aperfeiçoou


durante seus cem anos de cegueira, foi capaz de obter uma imagem

mais clara do que estava acontecendo ao seu redor do que se

estivesse usando seus olhos quebrados. Os ouvidos dele o

alertaram para a aproximação dos homens, o nariz dele levantou o

cheiro deles muito antes de alcançassem a crista da colina. Ele

estava tão imóvel quanto podia, ouvindo e esperando que os

soldados se aproximassem.

Então, os homens se aproximaram do topo da colina, e tudo o

que conhecia era a escuridão em que o mundo se tornou. Braith

escorregou de trás da árvore e desceu sobre os homens como um

demônio vingador. Algo que temia que pudesse se tornar. Ele se

sentia cruel o suficiente para ser um, sentia-se oco e cheio de ódio

o suficiente para ter vindo direto das profundezas do inferno.

Mesmo antes de agarrar o primeiro soldado, sabia que não haveria

sobreviventes.

Enquanto conduzia o primeiro soldado ao chão, percebeu que

não havia escorregado na escuridão que um demônio

possuiria. Ele escorregou na escuridão que o rei possuía. O que

estava dentro dele agora era o que frequentemente via refletido nos
olhos de seu pai. A pior parte foi perceber que, após destruir o

primeiro vampiro, e depois outro, não se importava. Ele deu as

boas-vindas, abraçou-a e saboreou a morte ao seu redor enquanto

acalmava brevemente seu espírito atormentado.


Capítulo Cinco

— Aria?

Aria se levantou do chão de terra. Estava imundo aqui, sujo

de maneira que até as cavernas não eram. Seu nariz enrugou e ela

tentou bloquear os aromas ao redor mas era impossível. Ela tinha

vivido em alguns lugares muito hediondos, esteve espremida e

suja por mais vezes do que podia contar, mas os cheiros aqui eram

alguns dos piores que ela já encontrou. O ar estava cheio com mofo,

o cheiro acobreado do sangue, odor corporal, excremento humano

e medo.

E era o cheiro de medo que pairava mais pesado nas

masmorras apertadas sob o palácio. Ela se colocou em uma posição

sentada enquanto se esforçava para ver a fonte da voz através da

escuridão. — Aria?

As pernas de Aria tremeram quando se levantou; seus


músculos estavam comprimidos pela perda de sangue e de estarem

enrolados em si mesma. Suas mãos foram levantadas

cautelosamente diante dela enquanto se movia em direção às

barras que a prendiam dentro da pequena prisão quatro por

quatro. — Quem está aí? — Ela perguntou suavemente.

Houve uma pequena exalação, quase de alívio. — É você.

Sim, era ela, ou o que restava dela de qualquer maneira. Ela

podia sentir o sangue escorrendo das marcas viciosas de mordida

de Caleb, mas nem tentou limpar o sangue de seu corpo. O que

havia sido uma experiência tão íntima e de vínculo com Braith,

tinha sido transformada em algo repugnante e cruel, algo sujo e

errado e ela não conseguia tocar as lembranças disso. O gosto do

sangue sujo do rei parecia ter sido queimado em sua garganta e em

sua língua. Acreditava que Braith viria buscá-la; só não tinha

certeza do que ele encontraria quando chegasse. Eles estavam

apenas começando, estava certa disso.

Agarrando as barras, lutou contra o impulso irresistível de

simplesmente enrolar em uma bola e esquecer tudo. Seu dedo

médio protestou contra o movimento, mas o sangue do rei já estava


tendo um efeito curativo sobre ele.

— É Mary. — A voz respondeu.

A mente de Aria girou quando ela tentou lembrar da mulher,

e então conseguiu. —Mary. — Ela sussurrou, espantada que a

mulher ainda estivesse viva desde quando foram capturadas

juntas. Foi pelo filho de Mary que Aria se permitiu ser capturada.

— Sim. Sim, sou eu. — Disse Mary ansiosamente. Através da

escuridão, ela ouviu os outros se movimentando. Teve apenas um

breve vislumbre das outras celas quando foi puxada para cá. Ela

não tinha ideia de quantas pessoas estavam presas aqui ou quem

elas eram. — O que você está fazendo aqui? O príncipe...

Sua voz sumiu e houve um pequeno murmúrio entre a

escuridão. Sussurros flutuavam sobre ela. — Nós assumimos que

ele tinha matado você.

— Não. Caleb vai esperar...

— Não este príncipe, o outro, aquele que te comprou.

Ela ficou surpresa com a insinuação. — Braith? Braith nunca


me machucaria.

— Ele machucou os outros. — Alguém sussurrou.

Aria estremeceu e descansou a cabeça contra as barras. Essas

pessoas tinham visto Braith em seu pior momento. Haviam

testemunhado seu mergulho na depravação e violência. Ela

esfregou o peito sobre o lugar onde seu coração pulsava. Como ele

estava agora?

— Foi verdade então Aria, você escapou?

— Sim. — Ela sussurrou.

Houve uma inalação coletiva. — Como? — Um homem

perguntou esperançosamente.

— É uma longa história.

— Não temos nada além de tempo aqui.

Aria soltou uma risada sem humor. Era verdade, não havia

nenhum lugar para eles irem agora. Ela disse a eles que Jack era o

filho do rei e que ele escolhera a causa rebelde contra o rei. Ela
contou como Jack a levou desde a primeira vez, mas não revelou a

eles que era sua ausência que tinha sido o catalisador que enviou

Braith fora de controle.

— Jack virá buscar você de novo? — Mary perguntou

esperançosamente.

Aria hesitou por um momento. — Braith virá. — Houve uma

inspiração coletiva enquanto ela continuava a falar. — Ele não é

um monstro.

— Talvez ele não seja tão ruim quanto seu irmão, mas ele é um

monstro.

— Ele não é um monstro. — Aria insistiu. — Eu sei o que ele

fez no passado, mas...

— Você não sabe o que ele fez. — Interrompeu Mary

abruptamente. — Você não estava aqui.

— Ele me disse o que fez, mas ele é um bom homem.

— Ele não é um homem, Aria.


Não, ele não é um homem, pensou consigo mesma. Ele é um

vampiro e é selvagem, poderoso, letal, e viria buscá-la. Ela só não

tinha certeza de quanta destruição ele causaria no processo. — Ele

é bom, Mary.

— Ele com certeza não agiu assim quando estava tirando

mulheres daqui.

Ela não gostava de pensar sobre o que sua ausência o levou a

fazer, mas tinha que reconhecer isso. Ela teve uma boa razão para

deixá-lo. Sua vida estava em risco, e ele nunca lhe contou sobre sua

noiva, mas ela não falou com ele sobre partir antes de tomar a

decisão de ir. Foi o seu desaparecimento repentino que o levou a

fazer coisas que nunca fizera antes.

— Muitas não voltaram. — Mary pressionou.

Aria queria dizer a ela para calar a boca; não queria mais

ouvir. Ela não era uma covarde, porém, nunca recuou de nada

antes e não estava prestes a começar agora. Braith tinha dito essas

coisas já, ele tentou fazê-la entender o que era capaz, mas embora

ela reconhecesse que nunca percebeu realmente o que isso


implicava até agora. Ele não podia ficar assim novamente.

O medo atravessou-a, e ela lutou contra o desejo de chutar,

gritar e implorar para ser solta; precisava voltar para ele antes que

algo terrível acontecesse. Ela permaneceu imóvel, com as mãos

apertando as barras enquanto o suor escorria pelas costas.

Humilhar-se aqui não lhe faria bem algum. Ela conspirou com Jack

e Gideon para deixá-lo, para seguir em frente quando a guerra

acabasse na esperança de que ele seria capaz de manter o controle,

mas e se ele não o fizesse?

Aria pensou que ele poderia deixá-la ir, se ela pedisse, ele faria

qualquer coisa que pudesse para fazê-la feliz, mas se ela

simplesmente fosse embora de novo com seu irmão, ou se

morresse, ele perderia a cabeça completamente. Seu pai tinha

acabado de forçar o seu sangue de gosto sujo nela, e ainda assim

ela sentia a profunda ligação de almas que tinha com Braith. Ele

estava dentro dela, intrinsecamente enraizado em cada uma de

suas células, e na própria estrutura de seu ser. O sangue do rei,

embora dentro dela, não era uma parte sua, ela podia sentir seu

corpo o rejeitando, sentir suas células lutando contra a aberração


em seu corpo.

Braith era uma parte dela, sempre seria. Ela era uma

idiota. Mesmo que o deixasse, mesmo que ele conseguisse se

controlar e governar como deveria, ela nunca seria capaz de

romper o vínculo entre eles, não importando qual sangue fosse

forçado a entrar em seu corpo.

Ela precisou de toda sua força para continuar respirando.

Ele estava em seu coração, em sua alma, e não havia como ela

simplesmente abandoná-lo novamente. Não sabia como Gideon e

Jack reagiriam à sua nova decisão, e sinceramente não se

importava. Eles teriam que encontrar outro caminho. Braith teria

que concordar em tentar transformá-la, ou talvez ela simplesmente

pudesse viver sua vida com ele, sem ser aceita ou reconhecida

como sua rainha. Não era uma noção agradável, e ela nem sequer

achava que seria capaz de aceitar tal vida, mas não seria capaz de

levar a cabo a vida que tramara com Gideon e Jack.

— Todos cometemos erros, Mary. Mas Braith nos levará a

uma vida melhor.


— Meus erros não me envolveram assassinando alguém. —

Outro homem interrompeu severamente.

Aria lutou contra o desejo de fugir de seu ressentimento e

condenação, mas se sobrevivesse a tudo isso, teria de se acostumar

à antipatia daqueles que a cercavam. Ela reuniu suas forças

enquanto pressionava a testa nas barras de metal e se preparou

para a desaprovação deles.

— Seus erros fizeram Braith quem ele é. Eles fizeram dele um

líder e eles o tornaram forte. Ele virá aqui e, se for bem sucedido,

libertará a todos nós.

— E fazer o que com a gente? —Perguntou outra mulher. —

Drenar-nos a seco como fez com os outros?

— Não, ele nos dará liberdade, liberdade real . Você pode

voltar para casa, ou pode ficar dentro da cidade, mas não importa

o que decida, será sua escolha. — Houve um prolongado momento

de silêncio, de suspiros em esperança e descrença. A maioria das

pessoas aqui fazia parte da rebelião. Era isso que eles estavam

lutando e esperando por toda a vida deles. —Ele vai fazer o


bem, bem verdadeiro neste mundo. — Ela insistiu. — Meu pai

acredita nele.

Houve um movimento e, de repente, uma mão se apoderou

da dela. Aria deu um pulo e conteve um grito quando a grande

mão envolveu a dela. Era a mão de um homem, calejada e

enrugada pela sujeira e pelo trabalho. — David confia nessa

criatura?

O comentário “criatura” a irritou, mas ela não se

aprofundou. Existiam algumas batalhas que não valem a pena

lutar. — Ele confia. — Ela confirmou quando a mão do homem

apertou ao redor dela. — E eu também.

— Ele comprou você. — Sussurrou Mary.

— Ele me salvou. — Corrigiu Aria.

— Ele não salvou os outros.

— Mas ele vai salvar aqueles que pode, agora. Eu não

mentiria a vocês sobre isso, não iria guiá-los pelo caminho errado,

ele é o nosso futuro, a nossa esperança. Devem confiar em mim


sobre isso. Quantos estão aqui embaixo?

— Havia cinquenta e dois de nós, mas Walt não voltou desde

que o levaram ontem. Em breve haverá outro leilão; eles

geralmente fazem pelo menos uma vez por mês, mais dependendo

do número de invasões. Provavelmente haverá cerca de outras

cinquenta pessoas aqui conosco depois disso. — A pele de Aria

arrepiou-se, já era horrível o suficiente aqui embaixo, nem queria

imaginar cheia de outras cinquenta pessoas.— Você viu meu filho

Aria? Você viu John?

Foi a esperança na voz de Mary que penetrou os pensamentos

sombrios de Aria. Ela gostaria de dar a Mary a resposta que

procurava, mas não podia. — Sinto muito Mary, eu não vi.

A mão de Aria ainda estava enrolada dentro das do homem

enquanto ela ouvia os soluços fracos de Mary. — Eu vou encontrá-

lo. — Sussurrou Mary. — Se de alguma forma sair disso, vou

encontrá-lo.

Aria tentou libertar a mão do homem ao lado dela, mas ele

segurou. — E você, Aria? — Ele perguntou.


— O que tem eu? — Ela estava ficando irritada com o fato de

que ele não lhe devolveria a mão.

— Você realmente confia nesta criatura?

Aria franziu a testa, sua voz era familiar e por um momento

ela não conseguiu localizar onde ela tinha ouvido antes. Então se

lembrou de sua captura, seu tempo dentro da cela antes de ser

levada ao palco para ser leiloada. Houve um homem que lhe

dissera para ser forte e, embora não o tivesse visto ou conhecido,

reconheceu a voz e soube que era o mesmo homem. —

Completamente.

— Não pode ser pior do que é agora. — O homem murmurou

quando ele apertou a mão dela novamente e a soltou.

Aria não respondeu. Ela distraidamente esfregou o dedo

ferido enquanto se esforçava para ver. Ela desejou poder separar

as sombras, livrar o mundo das trevas que o envolviam, mas isso

era impossível. A escuridão era absoluta, completa, não havia

separação. Não havia como escapar.


Braith se moveu pela floresta com facilidade. Ele se ajoelhou

na beira da linha das árvores, com os olhos fechados enquanto

aguçava a audição para os sons do dia. David e Daniel se

ajoelharam ao seu lado; Daniel desvendando os desenhos que

havia ilustrado e os expôs. Embora não abrisse os olhos para ver as

sombras escuras dos desenhos, Braith sabia que o menino era

talentoso, ele tinha visto alguns de seus outros trabalhos. Daniel

delineou o plano de ataque para a cidade com a facilidade e

conhecimento de alguém muito mais velho que seus vinte e um

anos.

— Esta área aqui é grande o suficiente para movermos todos

para a cidade sem

sermos impedidos pela floresta. — Braith manteve os olhos

fechados enquanto sentia o espaço aberto em seu entorno que

Daniel descrevia. O vento movia-se livremente pela área, pois

estava menos cheio de árvores e obstáculos. — Se acendermos fogo


quando formos, confundiremos e os expulsaremos de qualquer

esconderijo que possam ter. Eles não sabem o que esperar de nós.

— Então será a partir daqui que iremos nos separar? — Xavier

perguntou.

— Sim, pelo que Braith descreveu a entrada do túnel é nesta

área da floresta. — Os dedos de Daniel deslizaram sobre os

desenhos fazendo com que eles sussurrassem um pouco. — Se

você se separar daqui, ficará escondido dentro da floresta até

chegar à encosta da montanha.

— Você tem certeza de que o rei não sabe deste túnel? —

Perguntou Ashby.

— Eu criei como uma rota de fuga daquele homem, caso fosse

necessário. Ninguém sabe sobre esse túnel, exceto eu. — Braith

disse à ele.

— Deve ter demorado um pouco. — William murmurou.

Braith deu de ombros, seus dedos e músculos cerrados ao

simples pensamento do rei. — Você faz o que é necessário, não


importando o custo. — Acrescentou amargamente. — Vou levar

vinte comigo quando entrarmos na frente.

— Você não pode entrar naquele palácio tão desprotegido! —

Gideon protestou.

— Se eu levar mais do que isso, será impossível movê-los sem

sermos detectados.

— O túnel é a nossa melhor vantagem para conseguir mais

homens dentro do palácio sem sermos vistos. — Gideon insistiu.

— Se souberem que estamos dentro, vão se certificar de ter

Aria sempre com eles. — Braith rosnou.

— Braith...

— Não! — Ele gritou. — Não há mais argumentos,

Gideon. Isso aqui não é uma democracia! Não quando se trata

dela. Irei lá com apenas vinte homens. Teremos uma hora antes

dos outros poderem seguir, mas terei esta hora para tentar localizá-

la primeiro. Quando os outros entrarem, poderão ir até o portão

principal, mas eu ficarei dentro até a encontrar.


— Podemos levar todas as tropas através do túnel? — Frank

perguntou.

— Não, não há espaço suficiente para manobrar muitos

homens de forma despercebida. Eles nos descobririam e ficaríamos

presos, imobilizados pelos homens do rei, se tentássemos levar

todo mundo para dentro do palácio dessa maneira. Já será difícil o

suficiente para os trezentos que entrarem atrás de nós, porém

realizável.

Eles se mexeram inquietos ao redor dele. — É um plano

sólido. — Ashby finalmente concordou.

Braith ouviu quando Daniel rolou os desenhos de volta e

colocou-os em sua camisa. — Claro que é.

Braith normalmente teria sentido alguma diversão com a

resposta autoconfiante de Daniel, mas era incapaz de sentir tal

coisa agora. Ele levantou-se e revirou os ombros doloridos

enquanto tentava aliviar um pouco da tensão dentro deles. —

Quando estaremos prontos?

— Amanhã, dois dias no máximo. Se esperarmos até o


anoitecer, haverá ainda menos resistência. — Respondeu Daniel,

hesitante.

Os dentes de Braith se apertaram, sua mandíbula pulsou com

a pressão sobre ela. Dois dias era muito mais tempo do que ele

esperava. Mais dois dias de Aria presa naquele palácio, à mercê de

seu pai e irmão. Derrubar os soldados de seu pai havia aliviado

parte de sua sede de sangue e ânsia pela morte, mas estava

voltando agora dez vezes pior, vibrando em suas têmporas e

pulsando através de seu corpo a cada segundo que passava. —

Dois dias no máximo. — Ele disse irritado.

Houve uma exalação coletiva de alívio. Ele se afastou, indo

para mais fundo na floresta. Ele tinha que se afastar deles. Raiva

estava queimando seu peito, subindo sua garganta, estrangulando-

o com sua intensidade. Atravessou as árvores que Aria tanto

amava, refugiando-se na floresta que ela apreciava enquanto subia

a colina. Ele quase podia senti-la aqui, entre elas, rindo enquanto

pulava de árvore em árvore, de galho em galho.

Estava agradecido que a maioria de suas tropas ainda estava

nas cavernas, não podia lidar com mais ninguém agora. Chegando
no topo da colina, virou-se para a cidade e para o palácio. As

sombras mudavam e borravam-se diante dele, mas ele ainda podia

distinguir a silhueta da casa do rei. Não foi a raiva que o atravessou

agora, mas uma sensação de perda tão profunda que quase o

deixou de joelhos. Ele não podia pensar sobre o que estava sendo

feito com ela, o que ela estava passando por causa dele.

Foi apenas uma missão simples e ele a perdeu. Ele a

decepcionou. Prometeu mantê-la segura e falhou

miseravelmente. E mesmo que a recuperasse, não sabia se seria

capaz de compensar a tortura que estava certo de que ela estava

suportando. Braith estremeceu quando suas mãos se fecharam. —

Foco. — Disse a si mesmo com firmeza.

O único problema era que havia pouco para se concentrar

além dela. Foi por isso que veio aqui. Ele não podia ver as tábuas

espalhadas, mas sabia que estavam lá. William, Daniel, David,

Max e Jack o ajudaram a carregar a madeira aqui. Até mesmo

Ashby, Gideon e Xavier foram até a clareira para ver o que Braith

tinha em mente para precisar de toda a madeira.

— Você pode ter a minha. — Ashby havia oferecido quando


Braith afirmou que planejava construir uma casa na árvore.

Porém Braith não queria a casa de Ashby com as memórias

que viriam. Ele queria algo imaculado por seu pai, algo que fosse

inteiramente para Aria, e iria construí-lo para ela. Era a única coisa

em que ele conseguia pensar, a única coisa que ajudava

remotamente a aliviar parte da raiva acumulada que ardia dentro

dele, além de matar. E essa casa seria só dela quando ele finalmente

a tivesse de volta.

Ele sentiu outra presença antes de ouvir ou sentir o cheiro de

alguma coisa. Abaixando a cabeça, procurou as sombras o melhor

que podia. Então algo saiu de trás da árvore e ele sentiu o cheiro

dele.

— Keegan. — Murmurou. Ele não podia ver claramente o

lobo, mas ouviu o leve acolchoamento de suas patas enquanto ele

ia na sua direção. Braith presumiu que o lobo encontrou sua

própria matilha na floresta e que nunca mais o veria. Ele caiu de

joelhos, encontrando algum consolo quando seus dedos

deslizaram na pelagem grossa de Keegan. Puxando Keegan para

perto, ele enterrou o rosto no pelo e abraçou seu amigo perdido. A


língua de Keegan estava áspera enquanto lambia o rosto de

Braith. De trás da árvore, outro lobo apareceu, seguido de quatro

pequenos borrões que rolaram por cima uns dos outros.

— Parece que você esteve ocupado também.

Braith virou-se ao som de um pedaço de pau quebrando e

Keegan se abaixou enquanto um rosnado baixo subiu em sua

garganta. Xavier emergiu das sombras, sua cabeça escura se

inclinando enquanto se aproximava. Braith reconheceu o cheiro de

David e o passo ágil enquanto ele se movia ao redor das tábuas

atrás de Xavier. — Nós devemos falar. — Xavier murmurou.

Braith estava esperando para falar com Xavier, mas não

estava certo de que poderia aguentar muito mais agora. Se não

gostasse do que Xavier tinha a dizer, estava com medo de perder a

razão. — Aria? — Ele mal conseguia falar o nome dela.

— Sim.

— Então, o que tem ela?

As mãos de Xavier caíram para os lados e ele se aproximou de


Braith, quase tocando-o enquanto abaixava a voz. — Acredito que

ela não é o que parece ser. Há mais coisas acontecendo aqui do que

você ou eu sabemos. — Ele se virou para David. — O pai dela tem

alguma informação interessante que talvez você já soubesse, mas

eu não. Se eu tivesse esse conhecimento, tudo isso teria feito muito

mais sentido para mim há algum tempo atrás, e talvez teria feito as

coisas mais fáceis.


Capítulo Seis

Ela se sentia drenada, literalmente, drenada de energia, de

sangue e de vida. Ela mal conseguia se mexer, era quase impossível

se erguer do chão de mármore cinza rodopiante. O rei permanecia

sobre ela com seu sangue ainda manchando sua boca. — Delicioso.

— Ele murmurou enquanto distraidamente o limpava. Ele fez uma

pequena fenda no pulso. A energia fresca a inundou quando viu o

sangue tremendo na borda do braço dele. Ela tentou levantar-se,

tentou se afastar dele, tentou encontrar forças para escapar de suas

intenções, mas ele agarrou seu cabelo e puxou-a para trás, enfiando

o pulso em sua boca.

Para sua total desgraça e vergonha, lágrimas escorregaram de

seus olhos, rolando pelas suas bochechas. Ela se odiava pela

demonstração de fraqueza, odiava-o ainda mais por empurrá-la a

tal nível. Mas simplesmente não aguentava mais, não suportava o


gosto do sangue dele em sua boca; não podia suportar a resposta

volátil que o corpo dela tinha para isso.

Aria engasgou, cuspiu e finalmente teve ânsias, mas nada

surgiu quando ele a soltou. Ela conseguiu conter as lágrimas,

apesar de ainda queimarem os olhos enquanto limpava a boca. O

rei se inclinou diante dela, seus olhos nivelados com os seus

enquanto a estudava fixamente. — Entendo agora o que meu filho

viu em você. Você é um deleite delicioso. — Seu olhar varreu

desdenhosamente sobre ela da cabeça aos pés. — Eu nunca pensei

que era porque ele desejava seu corpo, um fato que ambos sabemos

ser verdade, certo meu doce?

Aria não conseguia pensar sobre o tempo que passou com

Braith, nos momentos em que ele a abraçou, a beijou e se alimentou

dela. Ela não conseguia pensar no vínculo que seu pai tentava

maliciosamente sujar. Seu sangue não era o motivo, ela disse a si

mesma. Não era por isso que Braith a mantinha por perto, e não

era por isso que ele viria buscá-la. Não importava o que esse

homem dissesse, o sangue dela não era a única razão pela qual

Braith a amava.
Seu corpo inteiro latejava enquanto o sangue penetrava em

seus braços e pernas. Embora ele tivesse se concentrado

principalmente em mordê-la nas áreas que Braith também tinha, o

rei deixou muito mais marcas nela do que Braith. Num momento

ele até mesmo atacou o braço dela como se estivesse comendo uma

espiga de milho. Sempre que estava prestes a desmaiar pela falta

de sangue e excesso de tortura, ele forçava mais sangue em seu

corpo, obrigando-a a reviver, para curá-la e trazê-la de volta para

mais. Ela não sabia se poderia suportar muito mais, sua pele

parecia ter sido esfregada com uma lixa em cada centímetro. O

simples pensamento de ser tocada era suficiente para fazê-la

querer gritar. Mas não importava o que ele fizesse, ela nunca lhe

contaria as respostas que ele procurava.

Seu dedo deslizou sob seu queixo e ele virou a cabeça dela

para ele. Ela queria tirar o sorriso do rosto dele enquanto a olhava

intensamente. Aria recuou com repulsa quando sua mão envolveu

seu seio e apertou. Ele riu cruelmente quando um pequeno suspiro

de dor escapou dela. — Quanta diversão teremos juntos quando

ele chegar aqui.


Ela quase gritou para ele não tocá-la, mas sabia que o que ele

realmente desejava era uma reação, e ela se recusou a lhe dar essa

satisfação. Ela gostaria de acreditar que nunca lhe daria, mas sabia

que isso era apenas o começo do que ele planejava fazer com ela e

Braith.

Aria pensou que poderia lidar com quase tudo o que ele faria

com ela, mas poderia lidar com o que ele faria com Braith se fosse

pego? Ela poderia assistir Braith se transformar em uma casca seca

como os vampiros que enchiam aquela sala terrível? E isso poderia

muito bem ser a coisa mais gentil que seu pai faria à ele. O que Aria

faria se Braith fosse pego e forçado a assistir enquanto este homem

e seu filho revoltante a violassem repetidamente? Isso destruiria os

dois, muito mais do que ser drenado e usado como ornamento.

Mordendo o lábio inferior, Aria conseguiu reprimir um

pequeno gemido de tormento quando ele levantou a mão e girou o

pulso. Doía, ela estava tão sensível em todo lugar. Seus dedos

corriam para cima e para baixo nas marcas tenras que ele deixou

no interior de seu braço. Ele parou e balançou os dedos sobre a

marca no interior do cotovelo dela. Seus olhos brilhavam com


diversão quando ele pressionou a mordida, fazendo-a estremecer,

continuando a torturá-la.

O rei riu enquanto pressionava repetidamente para cima e

para baixo em seu braço. Ela não tinha certeza de como, mas

conseguiu manter o rosto impassível. Quanto menos reação ela

tinha, mais cruel ele se tornava até que estava beliscando sua

pele. Contusões começaram a aparecer quase instantaneamente

enquanto sua pele era torcida em volta de cada uma das marcas de

mordida que ele colocou sobre ela. Aria foi incapaz de reprimir um

gemido quando ele cutucou-a com alegria implacável. Sua alegria

desvaneceu-se em seu grito e ele empurrou o braço para longe em

desgosto.

— Leve-a de volta para as masmorras.

—Espere, pai. — Caleb protestou quando dois dos homens do

rei se aproximaram. Eles agarraram seus braços e a levantaram

rudemente.

— Você pode brincar com ela mais tarde, Caleb. Há coisas que

devemos discutir agora.


Ela não encontrou alívio nesse curto período de tempo; na

verdade, descobriu que preferiria acabar logo com isso, em vez de

continuar infinitamente. Os guardas puxaram-na da sala e a

desceram por um degrau íngreme e sinuoso. Ela lutou para

acompanhá-los, mas seus pés não cooperavam com sua mente. Ela

tropeçou, caiu e foi arrastada por alguns instantes antes de poder

se recuperar mais uma vez. Não adiantou, já que ela não conseguia

ficar de pé no momento em que chegaram às escadas para a

masmorra.

Os dedos do seu pé ricochetearam agonizantemente dos

degraus e seus dentes bateram quando ela foi impelida para

baixo. Eles chegaram ao fundo e estavam puxando-a para frente

quando algo chamou sua atenção. Vida fresca fluiu para ela; um

grito estrangulado escapou, e ela encontrou forças para se afastar

dos guardas. O aperto de um dos guardas soltou-se

momentaneamente, enquanto ela se lançava para a frente e

segurava as barras de uma cela.

— Sua puta! — Ela cuspiu. Lauren se encolheu ainda mais no

fundo da cela enquanto observava Aria como um rato observando


um gato. — Valeu a pena?! — Aria exigiu. —Responda! — Os

guardas estavam agarrando-a, mas ela ainda segurava as barras. —

É melhor você ter a chance de eu te matar antes que Braith o faça!

Os guardas finalmente conseguiram libertá-la, um deles riu

enquanto a puxava pelo resto das celas. — Essas são ameaças sem

sentido menina, considerando que você está aqui também.

— Talvez possamos montar uma briga entre elas. — O outro

pensou.

Seus olhos se iluminaram com a possibilidade. — Eu acho que

Caleb ficaria tentado pela noção.

Aria soltou seu braço quando eles a empurraram para sua

cela. Ela os encarou enquanto eles batiam a porta fechada. — Meu

dinheiro é sobre essa, ela parece um pouco feroz.

— Não são todos selvagens na floresta?

— Vão para o inferno! — Aria esbravejou para eles.

— A loirinha não teria nenhuma chance.


Ambos estavam rindo quando saíram da masmorra, levando

a única fonte de iluminação com eles. Aria se virou antes que a luz

desaparecesse completamente e, usando o próprio sangue, marcou

a parede. Estava aqui há três dias, ou pelo menos até onde sabia

que eram apenas três dias. Ela pode ter perdido um dia em algum

lugar entre a dor e a perda de sangue, mas sabia com certeza que

estivera consciente por pelo menos três dias nessa cela.

A escuridão desceu sobre a masmorra. Ela descansou as mãos

contra a parede do fundo e inalou pequenas respirações

estremecidas. Agora que o espanto de ver Lauren aqui estava

começando a se desgastar, a fraqueza e o medo voltavam. Ela não

podia se permitir pensar em ficar presa dentro dessa minúscula

cela. Tinha medo de perder a cabeça se o fizesse, medo de se

transformar na bagunça seca e suplicante que o rei estava tentando

convertê-la caso se concentrasse nas paredes ao seu redor.

Ela já havia sobrevivido três dias; seria capaz de sobreviver

por tanto tempo quanto fosse preciso até Braith vir buscá-la. Ele

viria; ela sabia disso, assim como sabia que ele não seria o mesmo

de quando o viu pela última vez.


O Braith que estava lá fora agora não era o mesmo que ela

havia deixado neste palácio meses atrás. Ele era agora mais

controlado, mais consciente, assim como rezava que ele estivesse

sem ela. Mesmo que Braith não viesse como um demônio

enlouquecido, ela não duvidava do seu amor nem por um

momento. Estar aqui sendo torturada e atormentada não mudaria

sua crença nele. Ela sabia que ele provavelmente estava ficando

louco sem ela, se culpando pelo que havia acontecido, e ficando

impossível de estar por perto, mas ele finalmente aceitaria o fato

de que ela não poderia ser sempre a primeira opção dele.

Ele governaria depois da guerra e não se afastaria mais; ela

sabia disso agora. Aria ainda poderia ter que deixá-lo, mas não

faria isso pelas costas dele, não de novo.

Ela apenas desejava haver um caminho para escapar, se

libertar daqui antes que se tornasse uma responsabilidade. Ela

passeava inquieta pela cela, passou três dias aqui, conhecia cada

centímetro quadrado, mas ainda procurava algo que pudesse ter

perdido.

Depois de uma hora de busca na escuridão, ainda não tinha


tido nenhuma ideia, como sempre. A frustração a encheu e suas

mãos se fecharam. Da próxima vez que eles a retirassem daqui,

dois guardas a levariam para ser limpa antes de levá-la ao

rei. Embora os guardas não observassem enquanto ela era limpa,

havia duas mulheres vampiras que ficavam com ela enquanto os

criados a limpavam. Do banheiro, ela era levada diretamente para

o rei.

Não havia muito com o que trabalhar, nem muitas

oportunidades para escapar, mas se ela aguardasse a hora e

bancasse a dócil, talvez eles apresentassem uma oportunidade para

ela se libertar. Docilidade e desamparado não funcionaram com

Braith, mas Aria tinha a sensação de que o pai pensava muito

menos dela do que Braith, e essa seria a queda do rei.

Braith viria buscá-la, mas ela ajudaria a libertá-la, tinha

certeza disso. Na primeira chance que tivesse, lutaria por sua

liberdade.

Sua testa caiu contra a parede fria. Por um momento, quando

fechou os olhos, quase pôde sentir o exterior, cheirar a floresta e o

ar fresco em seus pulmões. Ela quase podia senti-lo. A carícia suave


de seus dedos contra seu rosto, a força de seu corpo quando a

envolvia, o doce sabor de seu sangue a enchendo estavam bem ali,

quase ao seu alcance. Ela tremia com essa necessidade dele que a

envolvia.

Ela só esperava ter a chance de vê-lo e beijá-lo

novamente. Desejava que os dois não fossem mortos antes que isso

acontecesse.
Capítulo Sete

Braith segurou a tocha que Jack lhe entregou enquanto

esperava que seu irmão o acendesse. Eles estavam reunidos na

colina, milhares de homens e mulheres, vampiros e humanos,

trabalhando juntos pela mesma causa. Ele nunca pensou que veria

esse dia, muito menos que seria o único a liderar a revolta contra o

rei, mas a vida nunca foi o que ele esperava que fosse e todas as

surpresas que conseguiu, essa foi a que fez toda a dor

melhor. Contanto que ele resgatasse Aria.

— Como Melinda vai saber que estamos chegando? —

Perguntou ele a Ashby.

— Tenho certeza que as chamas vão avisá-la. — Ashby

murmurou.

— Esperemos que sim.


O calor da tocha lambeu sua pele e aqueceu o lado do rosto.

Com um movimento de seu pulso, ele jogou-a na pilha de madeira

que haviam reunido no topo da colina. Estavam quase no limite da

cidade quando o cheiro de fumaça começou a encher o ar e o

primeiro grito subiu. Sua visão melhorou um pouco, conforme

mais se aproximavam do palácio. Ele acendeu outra tocha e jogou-

a em uma pilha de caixotes ao lado do bar, o único prédio que

ainda dava sinais de vida a esta hora tardia. Jack e Gideon

acenderam mais duas tochas e as jogaram no feno amontoado

perto de uma loja. O fogo lambeu os edifícios, fagulhas dispararam

alto no céu enquanto mais gritos e berros de aviso enchiam o ar.

As pessoas piscavam contra o sono agarrado a elas quando

saíam de suas casas. O brilho do fogo iluminava seus olhos

brilhantes e os deixavam de queixo caído enquanto eles olhavam

ao redor. Outros corriam freneticamente pela rua enquanto

tentavam se orientar no pandemônio. Ele viu alguns dos soldados

de seu pai no meio do fogo crescente, mas eles estavam muito

aturdidos pelas chamas, tentando apagá-las, para se preocupar

com o que ou quem os havia iniciado. Braith se afastou da cidade


e deslizou de volta para a serenidade fria da floresta.

Ele se juntou a David, Frank e os humanos restantes. Saul,

Calista e Barnaby já estavam liderando a primeira onda de

humanos e vampiros até o portão principal. David, Frank, Jack e

Ashby liderariam o segundo grupo até os portões do palácio em

breve. Seria preciso muita força para abrir os portões, mas Braith

esperava que eles pudessem derrubá-los rapidamente por dentro,

depois que ele encontrasse Aria. Se pudessem chegar ao rei

rapidamente, muitas vidas seriam salvas. Os soldados do rei

desmoronariam se seu líder fosse derrubado. Seus números não

eram tão fortes quanto os de seu pai, mas eles tinham o elemento

surpresa e determinação do lado deles.

Braith apertou as mãos de Jack e deu um tapinha nas costas

dele enquanto lhe desejava boa sorte. David abraçou seus filhos; os

três se amontoaram, conversando em voz baixa enquanto se

abraçavam novamente. David queria ir atrás de Aria, porém ele

concordou que era melhor liderar os humanos rebeldes que ainda

estavam um pouco incertos sobre a trégua com os vampiros, e

apesar de querer mais do que tudo estar dentro daquele palácio,


Braith esperou enquanto eles se despediam. Aria o mataria se

soubesse que ele tinha apressado este momento, que poderia ser o

último deles juntos.

Assim que ficaram prontos, Daniel e William o seguiram se

separando dos outros, e se dirigiram para o bosque mais baixo com

os soldados a reboque. Ele escolheu vampiros das cidades

exteriores para esta missão; eles conheciam melhor os bosques e

eram muito mais hábeis em passar silenciosamente do que os

ocupantes dos Vales. Keegan arrastou-se silenciosamente ao seu

lado. Braith tentou fazer com que o lobo permanecesse na floresta,

com sua recém descoberta vida, mas seu velho companheiro ficou

preso a ele como um tenaz carrapicho.

William e Daniel ficaram ao seu lado, tão silenciosos quanto

sua irmã enquanto se moviam pela floresta, como uma frota. Mas

então, se as suspeitas de Xavier estivessem certas, eles seriam uma.

Eles também haviam sido criados na floresta, Braith lembrou a si

mesmo enquanto deslizava para o lado de uma pequena colina.

Estavam em casa na floresta, confortáveis e seguros em seu

ambiente; em comunhão com ela. Ele ainda não tinha visto


nenhum dos dois exibindo as mesmas habilidades de sua irmã,

mas, novamente, muitas pessoas não poderiam correr e pular

através de árvores como Aria fazia. Ele também não passou nem

perto da mesma quantidade de tempo com os irmãos dela do que

com ela.

Braith reparou que quanto mais perto chegavam do palácio,

mais aguda sua visão se tornava. Sua pele formigava de excitação,

com necessidade; ele sentia que estavam se aproximando dela .

Embora pudesse ver melhor, esse ainda não era seu sentido mais

forte. Fechando os olhos, ele sintonizou seus outros sentidos no

mundo ao seu redor. Todos os cheiros e odores que pairavam sobre

ele eram familiares. Por enquanto não sentiu nada ao seu redor

além das criaturas normais que se agitaram à noite.

Ele ouviu o rio momentos antes do cheiro fresco de água

tomar conta dele. O silvo coaxar de sapos encheu o ar, um pequeno

respingo alertou-o para o fato de que os peixes estavam pulando

atrás dos insetos. Ele deslizou por outra colina, mas esta era a

margem do rio. Erguendo a mão, ele esperou enquanto os soldados

se reuniam em torno dele. Ele ouviu os sons da noite antes de


continuar.

Os sapos continuaram a coaxar, mas alguns pularam na água

enquanto ele mergulhava nas águas rasas do rio. Mantendo os pés

firmemente plantados no fundo, Braith se moveu infalivelmente

pela água fria chegando à cintura. Os homens seguiram atrás dele

e os pequenos sons fizeram Braith ter certeza de que poderiam ser

passar por peixes e sapos.

Havia uma depressão no rio que a maioria não teria notado,

mas Braith tomou como sinal para subir de volta à margem. Ele

não precisava que seus olhos o avisassem que haviam alcançado a

montanha do palácio escavada cem anos antes de a guerra

começar. Embora tivesse sido arriscado empreender um projeto

tão grande, seu pai se recusou a ser influenciado de sua decisão de

criar um lar digno de um rei, mesmo que ele não fosse um na época.

Braith percebeu tardiamente que seu pai havia construído apenas

para ter mais segurança na guerra.

Ele escalou três rochas antes de chegar a uma grande pedra

encostada ao lado da montanha. Agarrando a lateral da pedra,

Braith pôs seus ombros juntos por baixo dessa e começou a


levantar a coisa de três metros de altura por dois metros de largura

do caminho. Ela rangeu e gemeu quando deslizou para o lado,

revelando o pequeno túnel que ele havia esculpido na encosta da

montanha. Braith não criou o túnel porque pretendia um dia tentar

derrubar o rei, mas sim porque esperava que o rei tentasse matá-lo

depois que ele ficou cego. Só por segurança, Braith passou quase

dois meses esculpindo este túnel do seu apartamento até o rio que

fluía do interior do palácio. Ele estava certo de que os outros túneis

dentro do palácio estavam guardados ou bloqueados agora, mas

este com certeza não teria sido detectado.

Ele enxugou o suor da testa enquanto colocava a pedra de

volta e dava um passo para trás. William soltou um assobio

baixo. — Lembre-me de não te chatear.

— Você já fez isso uma vez ou duas.

William arqueou uma sobrancelha quando ele riu. —

Acontece nas famílias, conforme me disseram.

— É isso mesmo. — Concordou Braith.

Seus olhos captaram detalhes do túnel através da pequena luz


que se filtrava atrás dele enquanto os soldados o seguiam pela

escura e úmida caverna. Ele virou de lado pelas curvas e voltas

criadas dentro das áreas que tinham sido mais fáceis para ele

cavar. Ao chegar aos setenta e dois passos, ele sabia que era hora

de começar a engatinhar. Tirando os óculos, os jogou de lado; eles

só iriam atrapalhar a partir de agora. Keegan foi na frente enquanto

ele se ajoelhava e rastejava pelo túnel limitado.

Usando os dedos dos pés e das mãos, ele subiu pelo túnel de

pedra enquanto empurrava Keegan à sua frente. O leve gotejar da

água chegou até ele; as paredes frias umedeceram sua roupa fina e

fizeram com que se agarrasse à sua pele. A passagem tornou-se

mais difícil de navegar, pois ficou mais íngreme em sua inclinação

ascendente. As pedras que foram derrubadas perdiam-se

ruidosamente contra os lados do túnel quando caíam. Os homens

atrás dele não eram tão silenciosos quanto no rio, mas ele não

esperava isso, não aqui. Felizmente, porém, seus grunhidos e

arranhões eram abafados pela rocha da montanha.

Na contagem de trezentos e dois passos, ele sabia que o túnel

cederia. Braith colocou as mãos em cada lado da abertura e


empurrou-se para o espaço mais amplo. O fluxo de ar era melhor

aqui, e uma leve brisa esfriava seu corpo suado e escorregadio. Seu

corpo começou a pulsar com a antecipação de vê-la enquanto ele

se movia rapidamente pela passagem.

Depois de outros sessenta e sete passos, ele chegou à

parede. Tomando um momento para se firmar, conseguiu o

controle total de seus sentidos enquanto tentava controlar a

excitação que o atravessava. Colocando as mãos contra a parede,

pressionou uma orelha nela. A maioria dos outros túneis tinha

pequenos buracos para olhar, mas não havia razão para criar um

aqui.

Ele se esforçou para ouvir, para sentir se havia alguma coisa

lá fora. Seu corpo se acalmou e por um momento não havia nada

ao seu redor enquanto se abria para o mundo além e tentava

absorver os detalhes dele. Não havia como saber com certeza, mas

ele não detectou a presença de outra coisa senão os corpos ao seu

redor.

Recuando, Braith puxou a alavanca que criou. A parte de trás

da estante abriu caminho com um pequeno gemido que o pôs


nervoso. Ele estava preparado para uma briga enquanto entrava na

biblioteca em ruínas que costumava ser dele. Sua visão o inundou

de volta, quase tão aguda quanto se Aria estivesse ao seu lado

novamente.

— Até onde você pode atirar? — Perguntou Jack.

O sorriso de David era sombrio, mas seus olhos verdes

brilhavam. — Onde você precisa que eu mire?

— Por cima do muro. — Jack acendeu o pano amarrado na

ponta da flecha e deu um passo para trás.

— Eu não sabia que você planejava queimar o palácio.

— Eu não pretendo isso, mas quero que eles abram esses

portões para fugir e fumaça parece uma boa maneira de começar

esse processo. Dispare quando estiver pronto.

David recostou-se no calcanhar, levantou o arco e disparou a


flecha que subiu alto no ar e pairou por um momento antes de cair

no abismo além. — Outra! — Jack gritou alto quando a alegria o

encheu. Mais tecidos foram trazidos para envolver as pontas das

flechas. Jack avidamente os acendeu quando David e cinco de seus

seguidores começaram a atirar rapidamente sobre o muro.

As chamas cuspiram e acenderam quando as flechas se

tornaram uma fonte deslumbrante de iluminação contra o céu

escuro da noite. Por um momento desconcertante, as faíscas o

lembraram do brilho bruxuleante dos vaga-lumes em um dia

quente de verão. A associação parecia completamente fora de lugar

em meio à morte e desordem ao redor, mas ele não conseguia

afastar a esperança que isso trazia consigo.

Gritos ecoaram de dentro das paredes do palácio; mais

soldados desapareceram das muralhas para lidar com os incêndios

que agora se erguiam do outro lado da parede. Dez vampiros

passaram correndo erguendo o tronco de uma das grandes árvores

que derrubaram. Eles estavam a toda velocidade quando se

chocaram contra os portões sólidos do palácio com a árvore.

Os vampiros caíram sob a força do golpe e outro grupo correu


para bater na entrada com outra árvore enorme. Mais gritos

ecoaram de dentro da fortaleza e a massa do lado de fora foi

forçada a recuar do ataque de flechas mortais que choviam do céu.

Eles tentaram reunir o máximo de armadura que puderam antes

de atacar, mas o metal era escasso, a maioria dos vampiros estava

exposta, e os humanos não estavam em muito melhor forma. Gritos

irromperam do grupo quando humanos e vampiros foram

derrubados pelos projéteis. O cheiro acobreado do sangue

misturava-se fortemente com a fumaça e as cinzas que rodopiavam

ao redor deles.

Atrás de Jack, as chamas da cidade fizeram o suor escorrer

pelo pescoço e molhar a camisa. As pessoas corriam e gritavam

enquanto tentavam entender o caos que tomava conta da

cidade. Os soldados que estavam guardando a cidade estavam

começando a se reagrupar enquanto se preparavam para lançar um

ataque pelas costas, mas o fogo cortou qualquer chance que eles

teriam de escapar ou tentar colocar uma armadilha para eles, se

fossem forçados a fugir e bater em retirada.

Ele sempre suspeitou que Daniel era um gênio, agora estava


certo disso enquanto as chamas continuavam a se espalhar e causar

o caos.

— Ashby, precisamos de homens atrás de nós! — Ele gritou.

Ashby o olhou de uma onda de flechas levantadas para

disparar outra rodada. Ashby deu um passo atrás para olhar a

cidade abaixo e assentiu rapidamente antes de gesticular em

direção a Calista e Barnaby. Eles levaram alguns membros da

milícia avançando para a parte de trás do grupo, preparando-se

para enfrentar os soldados que ainda estavam reunidos no sopé da

colina.

Jack não gostou do fato da atenção deles agora estar dividida,

mas eles sabiam que os guardas da cidade não seriam distraídos

pelos incêndios para sempre. Ele só podia esperar que tivessem

comprado a Braith tempo suficiente para entrar no palácio e que os

outros soldados entrassem logo depois dele. Jack foi distraído por

um grito ecoando e um estrondo alto quando outra árvore bateu

nos portões.

— Fogo! — Jack gritou.


Outra onda de flechas choveu de cima e chamas subiram no

ar. Jack saltou para o lado a tempo de evitar ser derrubado por

uma. David grunhiu ao lado dele e caiu para trás quando uma

flecha atravessou seu ombro. Jack agarrou-o, mas sua mão foi

jogada para o lado quando uma flecha atravessou o centro

dela. Um assobio escapou dele e seus dentes se apertaram quando

ele agarrou o cabo e arrancou-o da mão em um movimento brusco.

Ele não teve tempo de mexer com o ferimento, nem tempo de

estancar o sangue que fluía quando agarrou David e o empurrou

para trás do novo ataque de flechas. O rosto de David se contorceu

quando seu lábio se curvou, mas ele conseguiu estender a mão e

quebrar a ponta da flecha. — Estou bem! — Ele gritou para Jack

sobre o crescente barulho da batalha. — É apenas osso.

Jack assentiu, mas pegou o arco dele. Mesmo que não fosse

uma ferida mortal, não havia como David conseguir disparar

qualquer coisa por cima do muro. Jack assumiu a postura que

David lhe ensinou e colocou uma flecha contra o arco. Com uma

mão trêmula, David conseguiu acender o tecido para ele.

Levantando-a, apontou a flecha para a parede, mas falhou


miseravelmente quando ela bateu no topo das ameias e retornou

ao chão em espiral. Ele amaldiçoou com raiva quando David

balançou a cabeça e acendeu outra flecha para ele. — Coloque um

pouco dessa força vampira por trás disso, Fracote.

Jack fez uma careta para ele, mas se inclinou para trás e

disparou a flecha com muito mais força. Desta vez, esta passou

pelas altas muralhas e entrou no pátio do palácio. —Afastem-se! —

Alguém gritou quando um influxo repentino de soldados se

enfileirou nas paredes.

As tropas do lado de fora dos portões recuaram quando uma

nova onda de flechas caiu sobre elas. Um grito feroz surgiu das

suas costas, e Jack teve que se esforçar para ver sobre o mar de

cabeças em torno dele quando se virou para olhar para trás. Mais

soldados tinham saído dos becos e casas que ainda não estavam

em chamas dentro da cidade. Jack suspeitava que, assim como

Braith tinha um túnel que só ele conhecia, também havia alguns

que só o rei possuía, e ele usou um deles para estabelecer mais

secretamente suas tropas dentro da cidade.

De trás, os soldados de seu pai soltaram um grito de batalha


alto enquanto subiam a colina. Com uma sensação de desânimo,

Jack percebeu que estavam presos entre os soldados que vinham

de trás e os soldados acima, quando mais flechas eram lançadas

sobre eles.
Capítulo Oito

Gritos abafados ecoaram de cima quando o som de passos

correndo bateu no teto de pedra acima dela. A cabeça de Aria

seguiu os sons e seu coração deu um estranho pulo no peito,

deixando sua garganta seca. Movendo-se para a frente da cela, suas

mãos se enrolaram ao redor das barras enquanto ela se esforçava

para ouvir o que estava acontecendo. Ela nunca odiou tanto essas

barras, desejou que pudesse arrancá-las da parede ou dobrá-las

para que pudesse sair desse lugar horrível. Ela teve que lutar

contra o desejo de bater os pés e gritar como uma criança de dois

anos.

— O que está acontecendo? — A voz desencarnada flutuou

através da escuridão da cela para a direita.

— É Braith. — Ela sussurrou.

Dizer as palavras em voz alta as tornava verdade. Dizer as


palavras em voz alta confirmava a bolha de esperança que se

acumulava dentro dela, ao mesmo tempo em que a apreensão

aumentava. Ele estava aqui , ele estava em perigo, e ela estava

presa, incapaz de se libertar e sem utilidade para ele. Se ela

estivesse lá, se estivesse com ele, ela poderia ajudar, sabia que

podia.

— Tenho certeza que você quer muito que seja, criança.

— Eu não sou uma criança! — Ela retrucou. — E sei que é ele.

Ele veio, ele está aqui.

— Você realmente pensa assim, Aria? — Mary sussurrou.

— Sim.

Houve uma inalação coletiva de ar e Lauren começou a

soluçar. Aria achou que deveria sentir alguma pena mas em vez

disso, tudo o que ela sentia era a pedra dura do ressentimento que

infeccionava dentro dela toda vez que pensava na menina, e no

tormento que ela causou.

Aria se afastou das barras e olhou para o telhado escuro


enquanto seguia a corrida o mais longe que podia. Ela se sentia

como um animal enjaulado enquanto andava dentro dos pequenos

limites da cela. Se já estivesse no palácio, ele a encontraria aqui em

breve. Embora eles esperassem que o influxo do sangue de outro

vampiro em seu sistema pudesse diluir a habilidade de Braith de

rastreá-la, ela sabia que eles estavam errados. Seu sangue estava

vivo e muito bem dentro dela, pulsando e aumentando a cada

batida de seu coração. Mesmo que o rei pudesse rastreá-la agora

também, o sangue do rei não conseguiu diluir o sangue de Braith,

ninguém podia.

Aria voou de volta para as barras quando a porta no topo da

escada se abriu. Antecipação martelou através dela, desejando que

fosse Braith. Ela ansiava tocá-lo, senti-lo, fazê-lo apagar o

hediondo gosto do rei e aliviar o horror daqueles últimos dias. Ela

precisava dele tanto quanto precisava de ar no momento. Ela se

agarrou às barras e tentou espreitar as escadas quando uma tocha

foi trazida.

Lentamente sua esperança começou a se dissipar. Este

vampiro estava todo errado. Ela sabia disso antes que o brilho da
tocha atingisse o fundo das calças bem costuradas, sabia antes que

a luz do fogo fosse tocada em seu peito e rosto. Não foi Braith que

veio buscá-la primeiro.

Caleb levantou a tocha mais alto quando Aria lutou contra o

desejo de se esconder nas sombras, no fundo de sua cela. Ela não

tinha onde se ocultar e seu auto respeito se recusava a deixá-la se

esconder dele. Ele nunca veio até aqui, nunca a puxou das

profundezas imundas, ele não sabia em que cela ela estava, mas

não seria difícil encontrá-la. Ela não se afastou das barras, mas

também não gritaria: “Bem aqui! Aqui estou eu!”

Caleb se moveu entre as celas, empurrando a chama para

frente enquanto olhava em cada uma delas. Ele parou do lado de

fora da cela de Lauren e sua boca se torceu em um sorriso

insensível. — Você gostou de estar de volta ao palácio, querida?

A amargura explodiu através de Aria, ela não gostava de

Lauren, nem mesmo um pouco, mas desprezava a crueldade de

Caleb ainda mais. Ele não esperou por uma resposta e continuou

em frente antes de parar na frente dela. O fogo brincou nos planos

de seu rosto enquanto a estudava com um brilho malicioso em seus


olhos. Ela inclinou o queixo para cima e olhou para ele quando seu

sorriso se alargou. Seus olhos percorreram vagarosamente seu

corpo e ele lambeu seus lábios. — Olá, gatinha. — Ele ronronou. —

Parece que o irmão mais velho chegou e nosso tempo juntos vai se

tornar realmente prazeroso. Tenho certeza de que Braith vai adorar

assistir.

Houve uma forte inalação da cela ao lado dela quando as

mãos do homem apareceram nas barras novamente. Chaves

tilintaram quando Caleb as puxou do bolso. Aria engoliu em

seco. Eles já tinham gostado de atormentá-la, mas agora era o

momento quando eles realmente começariam a torturá-la para

punir Braith.

Embora tentasse lutar contra isso, um pequeno tremor

percorreu seu corpo. Seu olhar disparou freneticamente sobre a

cela mais uma vez. Mesmo com a iluminação, ela estava bem ciente

do fato de que ainda não havia nada de utilidade para ela

aqui. Nada que pudesse usar como arma, fora de si mesma.

Caleb abriu a porta. — Eu vou aproveitar isso. Meu irmão

mais velho não vai, mas eu vou aproveitar cada segundo do que
farei a você. — Aria não tinha dúvida sobre isso. — Não me faça

entrar para buscar você.

— Eu não farei.

Arrumando toda a coragem que tinha, Aria saiu da

cela. Caleb colocou a tocha em um candelabro e estendeu as mãos

em punhos para ela. Suas sobrancelhas se contorceram em

confusão enquanto ele continuava a sorrir para ela. — Escolha

uma.

Ela jogou este jogo quando criança, com seu pai e irmãos, mas

certamente não queria jogar com Caleb. — Escolha uma! — Ele

ordenou quando ela não se moveu imediatamente.

— O que aconteceu com você? — As palavras saíram de sua

boca. Ela não queria perguntar, nem sequer achava que havia uma

resposta para alguém como ele, mas a questão pairava

pesadamente no ar. Ela sentiu sua crescente impaciência e ele deu

um passo mais perto, forçando-a para trás quando um dos punhos

dele empurrou suas costelas.

— Escolha uma mão ou eu vou quebrar as suas duas. — Ele


rosnou. Ela sentiu vontade de desobedecê-lo só para mostrar que

não estava intimidada por ele, mas se tivesse alguma chance de se

defender, exigiria o uso das suas mãos. Além disso,

ela foi intimidada por ele, era impossível não ser, o cara era mais

maluco do que nada. Engolindo em seco, ela bateu em sua mão

direita tão rapidamente e tão levemente quanto podia. Ele riu e

balançou a cabeça, abrindo a mão direita vazia. —A gatinha

escolheu errado. Tente novamente.

Aria de alguma forma conseguiu manter o queixo erguido

desafiadoramente. O pensamento de tocá-lo novamente fez com

que seu estômago desse uma cambalhota, mas a preocupação por

sua vida superou sua repulsa quando ela roçou seu outro

punho. Sua mão se desenrolou.

Aria estava muito espantada para se mexer, horrorizada

demais para sequer respirar. Na mão de Caleb, reluzente e

brilhante, havia uma simples corrente de ouro. O tipo de corrente

que os escravos de sangue eram forçados a usar quando ficavam

em público, uma corrente que Braith até mesmo colocara nela

algumas vezes. Pelo menos então ela sabia que Braith iria tirar isso
dela. Não havia garantia de que Caleb faria o mesmo.

Ele estava observando-a com uma malícia calculada que a fez

perceber que ele não tinha intenção de remover a corrente. O

sangue de seu pai estava dentro dela, mas o sangue de Braith

sempre seria mais forte, e se o rei morresse ela estaria livre

novamente. Ela não sabia se a corrente se soltaria se o dono fosse

morto, ou se permaneceria lá permanentemente, mas não iria

arriscar ter que usá-la para o resto de sua vida. Aria preferiria

morrer do que ter aquele lembrete constante de Caleb.

Não haveria espera pelo momento oportuno, não haveria

nenhuma tentativa de colocar as mãos em uma arma. Tornou-se

evidente que agora era a única vez que ela teria que tentar escapar.

Ele balançou-a diante dela, movendo-a para frente e para trás

como se alguém estivesse provocando um gato com barbante, e de

repente ela entendeu sua recém-descoberta e irritante referência de

gatinha. Os olhos de Caleb brilharam; a luz das tochas atingiu seus

dentes, destacando os caninos que já haviam se estendido em

presas. Não, Aria pensou selvagemente. Não havia absolutamente

nenhuma maneira de deixar esse sádico filho da puta achar que


poderia quebrá-la, achar que poderia fazê-la encolher-se, ou

permitir-lhe pôr essa coisa nela.

Aria baixou a cabeça em uma tentativa de esconder a raiva

que chiava através dela. — Gatinha, me dê sua mão.

Aria esticou o braço direito, tentando parecer flácida e fraca

enquanto mantinha os ombros curvados e os joelhos soltos. Ele

estava estendendo a mão para ela, a corrente de ouro pendurada

aos seus pés quando ela segurou o braço dele. Ele não esperava o

movimento, nem esperava que ela o puxasse para frente. Enquanto

estava em desequilíbrio, Aria levantou o joelho e levou-o até sua

virilha com tanta força quanto pôde reunir. Ela estava feliz por seu

irmão ter lhe ensinado como lutar sujo quando Caleb soltou um

grunhido de dor, instintivamente se agarrando e curvando para a

frente. Antes que ele pudesse se recuperar, ela fechou as mãos e

bateu-as em suas costas. Um eco oco ressoou pela sala da

masmorra quando ele caiu de joelhos.

Ela não ia dar a ele nem mesmo um momento para se

recuperar quando se recostou e soltou um sólido chute para o lado

do seu rosto. Sua cabeça estalou para o lado com um barulho


alto. Aria não hesitou , virando-se e fugindo pelo corredor da

imunda masmorra.

— Corra, Aria! — Mary gritou, a histeria em sua voz a

alertando para o fato de que Caleb já estava começando a se

recuperar.

Aria subiu as escadas, pegando as duas de cada vez enquanto

subia rapidamente. Ela ficou desanimada ao perceber que já estava

respirando pesadamente e seu coração estava pesado com o

esforço. A perda de sangue, a falta de comida e a brutalidade que

sofreu haviam afetado muito mais do que ela pensou. Um pedágio

que ela teria que ignorar da melhor forma possível se tivesse

alguma chance de sobreviver a isso.

Se Caleb tivesse suas mãos sobre ela agora...

Ela estremeceu com o pensamento e o

interrompeu. Chegando ao topo da escada, segurou a maçaneta na

pesada porta de metal no topo e a fechou. Mesmo que Caleb tivesse

as chaves, e por tudo o que ela sabia, ele poderia passar pela porta

sem a chave, ficou tranquilizada pelo alto clique da fechadura


deslizando no lugar e se afastou da porta.

— Cadela!

Um pequeno suspiro escapou quando uma mão agarrou seu

cabelo. Ela não percebeu que havia um buraco no topo da porta. A

mão de Caleb cruelmente agarrou seu cabelo e ela o empurrou

bruscamente para o lado enquanto tentava forçá-lo a soltá-la

prendendo o braço desajeitadamente contra a porta.

A frustração a encheu e seus olhos queimaram quando ele

puxou a sua cabeça para trás, dobrando o pescoço em um ângulo

não natural. Ele poderia não querer fazer isso, arruinaria todos os

seus planos, mas ela estava ficando cada vez mais com medo de

que ele quebrasse acidentalmente o seu pescoço. Um grito

estrangulado escapou quando ela se lançou para frente. Estrelas

explodiram diante de seus olhos; ela podia sentir o cabelo

rasgando de seu couro cabeludo enquanto mantinha seu peso

deslocado para frente. Perder o cabelo era preferível a perder a

vida.

Uma mecha de seu cabelo cedeu com uma lágrima dolorosa


que fez seus olhos queimarem. Ela caiu para a frente, seus joelhos

e palmas das mãos picados quando bateram no chão. Lutando para

ficar de pé, ela não olhou para trás enquanto descia correndo por

um longo corredor. Estava completamente inconsciente de onde

estava indo quando fugiu para as entranhas do palácio.

Seus aposentos estavam exatamente como ele deixou. Tudo

revirado. Ele claramente recordou a última conversa que teve com

Caleb nesses quartos; ainda estava se adaptando ao seu casamento

quando Caleb tinha vindo até ele. O alfaiate estava aterrorizado

com ele, todos tinham medo dele, até Caleb, e com razão, como se

ele estivesse fora de controle, um monstro sanguinário depois que

Aria o deixou.

Mas foi essa conversa com Caleb que o empurrou para o

limite. Aria tinha sido vista em uma caverna com outro

homem. Ele agora sabia que outro homem era William, mas na

época a revelação de Caleb o havia levado a outro frenesi. Ele já


tinha destruído seu apartamento uma vez depois de descobrir que

ela se foi, mas desta vez ele rasgou em pedaços, destruindo-o. Ele

sabia o dano que tinha feito, estava lá para isso, mas foi a primeira

vez que realmente testemunhou todo o dano de forma consciente.

Ele foi para as masmorras depois com o objetivo de saciar a

fera dentro dele, mas nunca chegou lá. Em vez disso, finalmente

desistiu de seu orgulho e jurou caçá-la, prometendo fazê-la pagar

por transformá-lo nesse monstro insaciável. Em vez disso, ela

apagou a selvageria dentro dele.

Agora, Braith estava de pé aqui, de volta aos quartos onde

tudo tinha começado, e podia sentir a crescente sede de sangue

pulsando através dele. Desta vez, porém, seria apenas a morte que

o satisfaria.

William soltou um assobio quando pisou em alguns móveis

quebrados. — Seu pai tem mau gênio. — Ele murmurou.

— Eu fiz isso.

A boca de William caiu. — Por que você... Aria.


— Sim.

Braith acenou com a cabeça para os soldados e percorreu

cuidadosamente os destroços que cobriam o chão. Ele podia ver,

mas ainda preferia confiar mais em seus outros sentidos. Ele ouvia

e cheirava o inimigo antes de vê-los. A sala de estar tinha

praticamente as mesmas condições que a sala de jantar, e ele sabia,

sem ter que ver, que a sala em que Aria passou a maior parte do

tempo era a mais devastada. Ele tentou destruir qualquer coisa que

contivesse seu aroma requintado, qualquer coisa que ela pudesse

ter tocado, mas ele não tinha conseguido arruinar tudo.

— Uau. — Max sussurrou.

Ele não olhou para eles. Não estava orgulhoso do que tinha

sido então; ele desprezava a falta de controle que o consumira, a

morte e a miséria que choveu sobre os inocentes. Ele não podia

devolver isso, e agora dava as boas-vindas ao poder vibrante que

veio com o conhecimento de que Aria estava sendo ameaçada, que

veio com a escuridão se aproximando para assumir o controle

novamente.
Entrando no quarto em que Aria ficou, não ficou nada

surpreendido ao encontrar o túnel perto da cama em barricada. Ele

suspeitava que pelo menos parte do túnel também tivesse sido

demolido. Braith se recusou a olhar para a camisola espalhada na

cama quando se virou e saiu do quarto. Keegan permaneceu ao seu

lado enquanto ele entrava na sala principal.

Na porta da suíte, pressionou as mãos na madeira e olhou

para o olho mágico. Ele não viu nada lá fora, e não sentiu ninguém

enquanto sua mão descansava na maçaneta. Ele virou-a pouco a

pouco e entrou no corredor. Não havia ninguém, mas ele podia

ouvir passos correndo no foyer abaixo e gritos ecoando das

paredes cavernosas.

Havia algumas paredes quebrando a abertura do corredor

diante dele, mas na maior parte era uma sacada aberta para a

entrada principal abaixo. Eles ficariam muito visíveis para os

soldados e pessoas abaixo deles. Infelizmente, também era o

caminho mais rápido para as masmorras.

Braith se virou e foi para o outro lado, desaparecendo mais

profundamente no palácio enquanto se movia em direção ao


corredor dos servos. Levaria mais tempo, mas essa parte do salão

estava escondida na sombra e protegida da vista por paredes

maciças. Ele teve que virar de lado para descer as escadas no fundo

do corredor.

Não ficou mais confortável quando finalmente saiu da escada

e entrou no corredor que os servos usavam para transportar os

suprimentos; local também onde estavam localizados seus quartos.

Um homem, saindo de seu quarto, os avistou. Sua boca caiu

quando o reconhecimento iluminou seus olhos. — Intru...

Braith agarrou-o e estalou o pescoço antes que o homem

pudesse terminar o grito que começara a irromper de sua garganta.

Daniel soltou uma maldição baixa quando William fez um som

estrangulado. Voltando-se para eles, viu que Max tinha o arco

levantado, mas para surpresa de Braith, a flecha não estava voltada

para seu coração, mas para o humano que acabou de destruir. Eles

se encararam por um longo momento antes que Max sorrisse e

baixasse o arco. Ele não sabia quando isso ocorreu, mas Max

parecia ter começado a acreditar nele, ter alguma confiança. Ou, se

não confiasse, Max tinha pelo menos decidido que Braith seria
quem recuperaria Aria.

Braith pisou negligentemente sobre o corpo do servo e

continuou a caminhar pelo corredor. Quanto mais se moviam pelo

local mais velas lançavam sombras sobre a parede de rocha

escura. Embora o palácio tivesse eletricidade, seu pai nunca a

instalou nessas áreas baixas como forma de exercer seu controle e

atormentar os criados obrigando-os a residir no escuro.

O corredor se abriu quando eles entraram em uma sala cheia

de mesas que tinha uma grande fogueira de pedra no final. Toras

queimadas ainda estavam no poço, calor fresco irradiava dele, mas

não havia serventes permanecendo em torno dele. Tudo parecia

estar correndo como planejado, mas havia uma sensação

deprimente na boca do estômago da qual ele não conseguia se

livrar.

Só tinha que encontrar Aria, ele seria capaz de pensar melhor

e ficar menos nervoso se pudesse apenas vê-la e segurá-la agora.

Braith estava se movendo mais rápido quando eles acessaram

outro pequeno corredor e a escada que levava às entranhas mais


baixas do palácio, as masmorras. Mesmo quando subiu as escadas,

sabia que algo estava errado. Ele sabia, antes mesmo de ver a porta

arruinada, que Aria não estava dentro das celas escuras abaixo. Um

grunhido baixo escapou dele e suas mãos tremiam quando ele

puxou o pesado portão de metal para longe de onde caiu.

Um rosnado curvou seu lábio superior enquanto ele

contornava os degraus e saltava para as profundezas das

masmorras abaixo. O cheiro o atingiu primeiro, ele esteve aqui

antes, havia atraído pessoas daqui antes, mas nunca tinha

realmente notado o cheiro até agora. Ele não tinha notado isso em

suas vítimas; estava muito perdido na loucura que o consumia na

época. Ele o engolfou agora, inundou-o com sua desolação e pavor.

Mesmo que tenha sido atingido pelo cheiro forte, por baixo de tudo

isso podia sentir o cheiro potente e delicioso de Aria. Ela tinha

estado aqui, presa dentro deste lugar, abrigada nesta escuridão

terrível. Este lugar era tudo que seus bosques não eram, tudo

que ela não era. A loucura clamorosa dentro dele foi brevemente

empurrada para o lado quando um nó se formou em sua garganta.

Afiados suspiros acompanharam sua chegada súbita. As


pessoas correram como baratas da luz para o fundo de suas

celas. Ele merecia o terror delas, poderia até haver algumas

mulheres aqui dentro das quais havia se alimentado, mas ele não

tinha tempo para isso.

Braith parou diante de uma porta aberta da cela, sua mão

girou em torno da armação de metal. Por um momento ele não

pôde se mexer enquanto o cheiro dela o dominava. Ele sabia o que

eles fariam com ela, o abuso que ela suportaria, mas o forte cheiro

de seu sangue lhe deu um tapa no rosto com a

dura realidade disso. Ele arrancou a porta da parede com um

violento puxão que pouco fez para acalmá-lo, conseguindo conter-

se de levantá-la da parede do fundo quando esta caiu como um

anel barulhento a seus pés.

Ele se afastou da cela suja e encardida e virou-se para o

homem que estava na cela ao lado da que estava Aria. — O que

aconteceu aqui? — Ele exigiu. O homem simplesmente o olhou

com a boca aberta e olhos de inseto. — Onde ela está?

Determinado a obter respostas do homem, Braith agarrou a

porta da cela. Ele estava prestes a soltá-la quando um leve sussurro


perfurou o ar. — Max? — A cabeça de Braith seguiu o som. —

William? Daniel?

Os três haviam se esgueirado até o final da escada e o brilho

de uma única tocha cintilou sobre suas expressões horrorizadas

enquanto eles observavam a masmorra. Braith avançou pelo

corredor em direção a eles e a voz que vinha da direita

deles. Pegando a tocha, ele empurrou para frente, fazendo a

mulher dentro da cela encolher-se. Ele não sabia se ela era uma das

mulheres que ele tinha se alimentado, não tinha sido capaz de vê-

las, e elas foram um borrão de sangue não satisfatório e

insuficiente. A mulher o observou com uma expressão cautelosa

que o fez pensar que ela poderia ter sido uma de suas vítimas.

— Mary. — Max estava olhando para a mulher em descrença

quando se aproximou das barras. — Eu não achei que você ainda

estaria viva.

O olhar dela disparou para Braith e seu lábio inferior começou

a tremer. Ele poderia ter se sentido mal, tinha certeza de

que se sentiria mal quando o pânico e a ira diminuíssem, mas agora

se sentia irritado e indignado. — Nem eu. — Ela sussurrou.


— O que aconteceu aqui? — Braith perguntou irritado.

A mulher apenas olhou para ele com olhos grandes e

assustados. Braith deu um passo em direção às barras, fazendo a

mulher encolher-se ainda mais. Max lançou-lhe um olhar e tirou

Braith do caminho. A mandíbula de Braith enrijeceu, a mão dele

apertou ao redor da tocha, e pensou que poderia ter preferido

quando Max o odiava mas saiu do seu caminho para evitá-lo. Este

lado de Max era um pouco desavergonhado para o seu gosto agora.

— Mary, Aria estava aqui? — Max perguntou.

— Eu sei que ela estava aqui. — Respondeu Braith.

William e Daniel balançaram a cabeça e se adiantaram. Mary

continuou a estudar Braith como se ele fosse uma aranha

peluda. — Você realmente confia nele? — Ela perguntou em

dúvida.

— Sim. Por favor, Mary. Aria estava aqui? — Max pressionou.

— Ela estava aqui. — A mulher respondeu depois de um

momento de hesitação.
— O que aconteceu? — Braith deu a tocha a um dos soldados

enquanto segurava as barras da cela. — Quem a levou daqui?

— Ninguém a levou. — A voz veio do homem que estava na

cela ao lado do vazio de Aria. — Seu irmão, — a palavra foi

cuspida nele. — veio buscá-la.

— Caleb entrou nas masmorras? — Braith perguntou,

incrédulo.

— Ele veio. — Mary se moveu hesitante em direção às

barras. — Ele tentou colocar a corrente nela. — Um calafrio

percorreu a nuca de Braith quando gotas de suor começaram a

cobri-lo. Conhecendo seu irmão, Caleb poderia mantê-la até o dia

em que ela morresse.

— Mas ela fugiu. — Havia diversão na voz do homem e

algumas risadas emergiram das celas ao redor deles. — Deu-lhe

uma surra, na verdade.

Braith não sabia se estava mais orgulhoso ou aterrorizado por

essa revelação. Ele sabia que não podia deixar Caleb colocar as

mãos sobre ela novamente.


Capítulo Nove

— Concentrem-se nos que estão atrás de nós, podemos

encará-los! — Jack gritou acima do zunido de flechas e do crescente

grito de vozes irrompendo da multidão. Ele empurrou seu

caminho através da horda, indo em direção ao grupo que se virou

para se concentrar no inimigo se aproximando por trás. Ele

agarrou Ashby e apontou para o topo das ameias. — Precisamos

conseguir alguns homens lá em cima.

Ashby o olhou como se tivesse acabado de brotar um chifre

no meio da sua testa. —Jack...

— Apenas faça isso, Ashby! — Ele gritou. — Nós temos que

mantê-los ocupados se Braith tiver alguma chance de escorregar

por trás.

Ashby ficou imóvel por um momento antes de visivelmente

empalidecer e correr para a multidão de corpos. Jack podia ouvi-lo


chamando por vampiros e humanos para segui-lo enquanto corria

em direção à parede. David apareceu ao seu lado e reclamou seu

arco e flecha. Ele se virou e se afastou em direção aos soldados

invadindo sua retaguarda.

Um grito alto subiu de ambos os exércitos quando eles

colidiram com um barulho alto de corpos e metal. Jack segurou um

dos soldados de seu pai e o virou de costas. Batendo com o pé na

garganta do homem, ele dirigiu sua lança de madeira através da

caixa torácica do vampiro e em seu coração. O homem se debateu

por alguns instantes antes de finalmente parar.

Jack arrancou a lança e se virou a tempo de encarar a próxima

ameaça que caía sobre ele. Ele viu Calista dentro da multidão; o

sangue já cobria sua pele escura e roupas desbotadas. Ela estava

sorrindo selvagemente, apreciando completamente o caos quando

recuou e ergueu a lança contra um soldado que cometeu o erro de

pensar que estava mais vulnerável porque era uma mulher.

Dois de seus próprios vampiros caíram ao redor dele, mas a

maré estava virando a seu favor enquanto a milícia lutava entre os

soldados com alegria feroz. Eles queriam isso mais do que os


homens de seu pai, Jack não achava que essa motivação fosse o

suficiente para que eles ganhassem, mas era o suficiente para eles

lutarem mais. Assegurando-se de que Calista e os outros tinham

tudo sob controle, Jack correu se apressando em direção ao bando

ainda concentrado na parede. Ele pegou um arco e flechas de um

humano caído e assumiu uma postura ao lado da linha dispersa de

arqueiros.

Ashby e os homens que ele reuniu conseguiram distrair a

atenção dos guardas na parede. Ele não esperava que Ashby fosse

lá para cima, mas ele estava subindo com um propósito rápido e

mortal. Alguém gritou quando um de seus homens caiu da parede,

uma flecha foi encaixada em um ângulo descendente através de

seu ombro. Mesmo antes de cair no chão, Jack sabia que o homem

estava morto. Outro caiu segundos depois, e então outros

começaram a cair quando os soldados do rei voltaram sua atenção

para a nova ameaça escalando a parede em direção a eles. Seu

grupo não seria derrotados por trás, mas a menos que Braith

conseguisse colocar o outro grupo dentro, Jack sabia que eles não

iriam entrar no palácio também.


Jack recostou-se no calcanhar, mas desta vez não mirou nas

paredes do palácio, mas sim nos soldados reunidos em cima. Ele

se concentrou em um prestes a disparar contra Ashby e soltou a

flecha. A flecha do guarda se perdeu quando Jack o atingiu no

ombro.

Depressa, ele pensou freneticamente quando mais de seus

homens caíram da parede e o calor crescente das chamas da cidade

pressionou contra suas costas.

Ao contrário de Braith e do rei, Caleb não podia rastreá-la

através de seu sangue, mas com o som de seu coração batendo e

tão barulhento quanto ela estava respirando, não seria difícil para

ele encontrá-la. Ansiava por uma pausa para recuperar o fôlego e

acalmar a pulsação, mas não ousou parar nem por um

momento. Aria teve uma vantagem inicial em Caleb, mas não era

muito, ele era muito mais rápido do que ela.

Seu zumbido bizarro encheu o ar enquanto passeava pelos


corredores escuros, implacavelmente e infalivelmente

perseguindo-a. Ela caiu contra a parede, ofegando sentindo suas

pernas tremendo de exaustão. Ela sabia que estava sendo mais

lenta que o normal, mas não entendia como ele conseguia estar em

seu rastro tão facilmente.

Erguendo o braço para limpar o suor da testa, Aria congelou

quando um pequeno gemido escapou dela. O sangue de Caleb

podia não estar dentro dela, mas seu próprio sangue ainda estava

vazando das múltiplas mordidas que lhe haviam sido

infligidas. Embora a maioria delas tivessem parado de sangrar,

havia algumas ainda abertas e cruas o suficiente para deixar uma

trilha de sangue atrás dela. Aria estava tocando o sino do jantar e

Caleb estava respondendo.

Ele estava desfrutando da demora, porque sabia que seus

esforços não importavam, ela nunca seria capaz de escapar

dele. Lágrimas queimaram seus olhos e um nó se alojou em sua

garganta quando ela se afastou da parede. Seus dentes rangeram

quando ela forçou as pernas a se moverem. Ela não iria cair desse

jeito, assim não.


— Aqui, gatinha. Vem, gatinha. — A voz provocante de

Caleb deslizou pelo corredor.

Aria nunca quis socar alguém tanto quanto agora. Ela queria

dar um soco nele neste momento. Correndo pelo corredor,

determinada a escapar, não estava preparada para quando as

paredes de repente acabaram e ela cambaleou para algum tipo de

sala de estar. Ela parou, momentaneamente confusa com a súbita

aparição do cômodo dentro das passagens escuras e retorcidas.

— Eu vou pegar você.

Ela olhou por cima do ombro e podia dizer pela clareza de sua

voz que Caleb estava ganhando espaço sobre ela, mas ela ainda não

podia vê-lo. Aria atravessou a sala, procurando alguma coisa,

qualquer coisa que pudesse usar para se defender, mas havia

apenas três sofás e uma pequena mesa no centro da sala. Ela queria

olhar com mais calma na esperança de encontrar alguma coisa, mas

não havia tempo a perder.

Aria passou apressada pelo quarto e mergulhou de novo em

outro corredor. Ela foi incapaz de ver sua mão, mas continuou
correndo em frente. Ela não sabia para onde estava indo ou para

onde qualquer um desses corredores levava, e no momento não se

importava. Ela só tinha que ficar livre de Caleb por tempo

suficiente para encontrar uma arma de algum tipo, ou encontrar

Braith. Havia uma energia crepitante em suas veias que a fez

pensar que ele também estava perto.

Aria estava profundamente na nova passagem quando

começou a ouvir vozes. Ela congelou quando gritos começaram a

ecoar pelos corredores estreitos. Ela se esforçou para identificar a

localização do barulho, mas era impossível, pois os gritos vibraram

nas paredes ao redor dela.

Dando um passo à frente, a mão que ela segurava contra a

parede caiu em nada. Levou um momento para perceber que

chegou a uma encruzilhada. Ela estava imóvel enquanto tentava

decifrar o caminho a seguir. Fazendo uma careta, apertou os dentes

enquanto enterrava os dedos nas marcas tenras de mordida em seu

pulso interno. Sangue fresco brotou e escorreu do seu pulso para a

mão. Ela se moveu para o corredor à direita e passou o pulso

ensanguentado ao longo das pedras durante os primeiros metros.


Enfiando o pulso na boca, sugou-o para estancar o fluxo enquanto

corria de volta para o corredor que se ramificava para a esquerda.

Ela não sabia se estava fazendo a escolha certa, mas sentiu um

impulso instintivo mais forte para o túnel da esquerda e não podia

ficar ali até que Caleb a encontrasse.

Só esperava que o sangue fresco atraísse Caleb para longe

dela, mas não contava com ele sendo enganado por muito

tempo. Eventualmente, ele perceberia que o cheiro dela não

percorreu todo o corredor. Ela só esperava ganhar tempo suficiente

para fazer algum tipo de resistência contra o monstro caçando-a.

— Gideon, colete todos os soldados que emergiram do túnel

agora e leve-os para os portões do palácio.

Gideon vacilou ante a ordem de Braith. — Braith, devemos

seguir com o plano.

— Estou seguindo com o plano. A cobra precisa ser destruída


e Caleb é a cauda dela.

— Mas...

— Eu não vou deixar este palácio sem ela, Gideon. Eu deixei

isso claro antes de pisarmos aqui. Recupere os soldados do meu

apartamento e leve-os até o portão principal. Precisamos obter as

forças externas aqui, e você precisará do grupo esperando dentro

do túnel para fazê-lo. Terei mais facilidade em surpreender meu

pai se for com uma força menor. Se algo acontecer comigo, você

ainda deve conseguir alcançar o portão principal com a força

maior.

Gideon começou a protestar, mas a luz brilhou no topo da

escada, segundos antes de Melinda mergulhar nas profundezas

das masmorras. A tocha que ela segurava destacava os planos de

seu rosto e sua pele pálida. Seus olhos tempestuosos caíram em

Braith e por um momento a cor voltou a sua pele enquanto seus

ombros caíam. — Você fez isso. — Ela sussurrou.

— O que você está fazendo aqui, Melinda?

— Eu vim. — Seu olhar passou sobre as celas antes de pousar


na porta quebrada atrás dele. — Eu pensei em tentar chegar a Aria

enquanto eles estavam distraídos.

— Ela se foi.

— Ashby. — Ela deu um passo em direção a ele, o anseio em

seu rosto quase palpável. — Onde ele está?

— Fora dos portões.

Seu rosto empalideceu e sua mão tremia na tocha enquanto

seus lábios se comprimiam. — Eles estão flanqueados lá fora,

Braith, o pai tinha tropas que se mudaram para a cidade. Eles estão

presos.

Braith ainda estava com sua mente agitada muito

rapidamente. Ele não poderia levar nenhuma das tropas com ele

para encontrar Aria. Todos os homens e vampiros seriam

necessários se conseguissem abrir os portões e salvar o irmão e o

pai de Aria. Isso enfraqueceria suas chances de tirar os dois daqui

vivos, mas se eles vencessem era o que tinha que ser feito. Não era

a escolha que ele queria fazer, não era a escolha que teria feito há

uma semana, mas era a escolha que sabia que tinha que fazer agora.
— Você vai pegar todos os homens e ir para os portões,

Gideon. Esse é o único elemento surpresa que temos, e a única

chance que ainda temos de ter sucesso. — Braith esperava uma

discussão, mas Gideon simplesmente abaixou a cabeça em

concordância. —Melinda, vá com eles, Xavier...

— Eu vou ficar com você. — Afirmou Xavier

categoricamente. — Eu suponho que os humanos também vão

insistir em ir com você, e você deveria ter outro vampiro dando

apoio. — Os três humanos olharam para Xavier, mas acenaram

concordando. — Abrir esses portões é importante, mas tentar

mantê-lo vivo também é uma necessidade. Além disso, mesmo que

não sobrevivamos, gostaria de ver a garota e seus irmãos em ação.

— O que isso significa? — William exigiu ferozmente.

Xavier escolheu ignorá-lo, assim como Braith. — Tudo bem.

— Ele cedeu. — Temos de ir.

— Braith você… ah, você precisa estar preparado. — As

palavras hesitantes de Melinda congelaram sua aproximação para

as escadas.
— Preparado para o quê? — Sua voz era um estrondo baixo

que fez Melinda dar um pequeno passo para trás.

Ela engoliu nervosamente enquanto olhava para Gideon e

Xavier, mas eles permaneceram mudos. — Eu não sei tudo o que

foi feito com ela. — William se aproximou de Braith; seus olhos se

estreitaram, suas mãos se fecharam enquanto ele estudava

Melinda. — Mas ela sofreu muito abuso e é muito aparente.

Ele estava com medo de se mover e ter que rasgar o lugar

inteiro enquanto as palavras de Melinda ecoavam em sua

cabeça. Ele mal conseguia tirar palavras de sua garganta

apertada. — Eu tenho que chegar até ela.

— E quanto a nós? — Perguntou o homem das sombras

quando Braith girou nos calcanhares.

— Nós vamos voltar por vocês. — Respondeu Braith

impaciente.

— Espere, você não pode nos deixar aqui!

Ele já estava se movendo pelo corredor quando Max segurou


seu braço. Braith quase arrancou o braço de Max em sua pressa

para chegar a Aria. — Braith, se perdermos, eles ficarão presos

aqui. Temos que soltá-los agora. Esta pode ser a única chance que

eles têm.

— Nós podemos ajudá-los a lutar contra eles. — Disse Mary

ansiosamente.

— Não podemos deixá-los aqui assim. — Max pressionou.

Ele puxou o braço do aperto de Max e agarrou as barras da

cela da mulher. Com um empurrão brutal, ele quebrou a fechadura

e abriu a cela. A mulher ficou parada por um momento, a boca

entreaberta enquanto esperava, hesitante, nas sombras. —

Libertem os outros. — Ele ordenou rispidamente.

Braith estava quase no degrau quando congelou, suas narinas

se alargaram e sua cabeça girou devagar sentindo um cheiro

familiar. Lauren estava encolhida na parte de trás da cela,

pressionada contra a parede, olhando para ele. Um pequeno

gemido escapou quando ele deu um passo em direção a ela.

— Por favor, não me machuque. — Ela implorou.


O olhar de Braith percorreu seu corpo trêmulo e imundo. —

Exceto ela, esta cadela fica aqui. — Ele rosnou. William e Daniel

olharam furiosamente para a garota e Max não se incomodou em

olhar para ela enquanto conduzia os prisioneiros libertados pelas

escadas.

— Espere! Por favor, não me deixe aqui! — Braith se virou

quando ela deu um passo hesitante em direção à porta. —Eu só

queria voltar! Por favor, não me deixe aqui!

William se aproximou das barras. — Se ele não voltar por

você, eu vou. — Ele assegurou.

— Eu voltarei para buscá-la. — Prometeu Braith.

William deu um sorriso feroz e fugaz que o fez lembrar que

seus irmãos eram muito mais impiedosos do que Aria. Braith subiu

os degraus até o salão do criado e fez uma pausa enquanto se abria

para o fluxo de sangue dentro das veias de Aria. Embora não fosse

tão forte como tinha sido, ele podia sentir isso chamando-o, sentir

o ritmo dele dentro dela enquanto pulsava em suas veias.

Ele se virou para o lado que eles vieram. — O cheiro de seu


sangue vai para o outro lado. — Ressaltou Xavier.

— Eu posso chegar a ela mais rápido assim.

Ele manobrava pelos corredores, subindo constantemente, à

medida que o crescente horror começava a pulsar através

dele. Aria não sabia onde estava indo, mas ele sabia. Braith corria,

sem prestar atenção às pessoas que sentia ainda seguindo-o

quando explodiu dos alojamentos dos empregados. As cozinhas

estavam diante dele, servos assustados deram um passo para trás

do grupo em que estavam amontoados.

— Sua Alteza. — Uma mulher deixou escapar e tropeçou em

um dos balcões. —Mas... Oh.

Não houve como evitar isso; as cozinhas eram o caminho mais

rápido para chegar ao seu destino. Ele não podia matar todos os

servos dentro do enorme local, e verdade seja dita que ele não

queria. Já era tarde demais. Aria estava em um caminho de ida

direto para a cova do leão, e não havia nada que ele pudesse fazer

para pará-la. Ele só podia esperar chegar primeiro. Uma das

mulheres caiu de joelhos, curvando a cabeça. Outro homem se


ajoelhou, mas o resto pareceu espantado demais com a aparição

repentina para fazer outra coisa senão ficar de pé e olhar

espantado.

— Nós os matamos também para silenciá-los? — Max

perguntou categoricamente.

Um dos servos soltou um grito de surpresa quando eles

tropeçaram em uma estação de trabalho carregada com mais

panelas e frigideiras. — É tarde demais para isso. —Informou

Braith.

— O que isso significa? — William exigiu. — O rei já sabe que

estamos aqui?

— Não, mas não podemos ficar escondidos por muito mais

tempo.

— Por que não?

— Porque Aria está indo direto para a sala do trono do rei.

William tropeçou e quase caiu ficando boquiaberto com

Braith. — E é para onde estamos indo?


— É.

Ele saiu da cozinha, entrando em uma corrida rápida

enquanto seu corpo vibrava com antecipação e sede de sangue. Ela

estava tão perto; ele podia senti-la ali, apenas além de seu

alcance. O fogo lambeu sua pele com seu desejo de vê-la e tocá-la

mais uma vez. Ele precisava dela mais do que precisava de sangue

para sobreviver. Ele entrou no vestíbulo do palácio, assustando os

dez guardas postados do lado de fora da sala do trono.

Os guardas entraram em ação quando saltaram para frente

tentando bloqueá-lo da sala. Braith agarrou um, empurrando-o

contra a porta enquanto dirigia um soco na lateral da bochecha de

outro guarda. O homem grunhiu quando caiu para trás sob o

golpe. Outro guarda começou a gritar alto e chamou mais de seus

irmãos. Braith agarrou seu pescoço e rasgou impiedosamente a

garganta do guarda antes que ele pudesse disparar um alarme.

Uma flecha assobiou por cima do ombro e perfurou outro guarda

na testa.

Xavier estava de repente ao lado dele quando um soldado

agarrou o ombro de Braith e tentou puxá-lo de volta. Braith enfiou


o cotovelo no queixo do homem e virou a cabeça para trás. O baque

surdo de flechas acertando seus alvos encheu o corredor, e os gritos

morreram quando Braith derrubou o último guarda de pé.

Levantando-se, ele limpou o sangue do rosto com as costas do

braço. Ele duvidava que conseguisse limpar tudo, mas não queria

estar completamente encharcado de sangue quando a visse

novamente. Braith agarrou as alças e abriu as enormes portas de

madeira na sala horrorosa que seu pai apreciava.

O rei estava no final da vasta sala, descansando em seu trono,

aparentemente não afetado pelo fato de que Braith estava aqui para

matá-lo. Ele não pareceu preocupado com o fato de que seus

soldados tinham acabado de ser despachados com relativa

facilidade quando sorriu para Braith e deu um pequeno aceno de

seus dedos. A mandíbula de Braith se apertou quando ele assentiu

com uma breve saudação em resposta.

Mesmo com a luz do lustre enorme, seu pai sempre insistiu

em ter tochas acesas através das paredes, a fim de destacar todos

os ocupantes horríveis, emaciados e indispostos de sua sala de

troféus. William inalou bruscamente, o passo de Max vacilou


enquanto Daniel estudava a sala com evidente repulsa. Keegan

rosnou enquanto se agachava ao lado de Braith.

— Horrível. — William suspirou.

Braith não tinha visto a sala com seus próprios olhos em mais

de um século, mas era tão horrorosa quanto se lembrava. Na

verdade, era pior. Havia ainda mais vampiros e restos humanos

preservados dentro da sala agora. Ele também viu a razão do

comportamento indiferente de seu pai quando o guarda

escorregou das alcovas dentro do quarto. Eles se moveram

silenciosamente para a frente para proteger o homem a quem

serviam.

— Eu estava me perguntando quando você se juntaria a nós.

— Seu pai falou para ele. — Aproxime-se filho, acho

que nossa garota vai se juntar a nós em breve. Mandei Caleb

recuperá-la para nós .

O olhar de Braith se moveu sobre os guardas reunidos dentro

da sala. Havia pelo menos trinta deles, e ele não ficaria surpreso

em saber que ainda mais estavam escondidos por toda a sala. Ele
não se preocupou com o fato de estarem em desvantagem, ele não

tinha medo; só tinha o desejo ardente de ter Aria de volta e o

vampiro na sua frente morto. Ele mataria todos esses homens se

isso fosse necessário.

— É Xavier com você? —O rei levantou-se devagar e

endireitou o manto marrom rico e volumoso que usava. Ele

examinou Xavier da cabeça aos pés enquanto sua sobrancelha se

curvava e um sorriso passava pela boca. — Você afundou ainda

mais do que pensei, Braith, se esta é a lamentável companhia que

você começou a manter. Você pensou que poderia me derrotar

com essa desculpa patética de vampiro.

Braith recusou-se a cair nas provocações de seu pai. Xavier

deu um passo à frente, suas mãos estavam envoltas nas mangas de

seu manto e seus ombros foram empurrados para trás enquanto ele

olhava sem palavras para o rei. Max e William estavam ao lado

dele, mas Daniel se afastou um pouco, ele parecia estranhamente

fascinado pelos vampiros ressequidos. Braith teve que se conter

para agarrar o garoto e obrigá-lo a ficar perto deles.

— Qual era exatamente o seu plano aqui, Braith? — Aria


estava perto; ele podia sentir isso, ela estava quase ao seu

alcance. Ele só não estava certo por qual porta de passagem ela

estaria passando, pois havia pelo menos três que ele conhecia

dentro da sala do trono. — Você honestamente acreditou que você

pudesse vir aqui e o que, me derrubar? Me matar? Com essa triste

variedade? Eles não são nem vampiros! O que você estava

planejando fazer com esses humanos? Me distrair com eles como

um lanche?

Ele não sabia qual era o plano; simplesmente sabia que tinha

que tirá-la daqui, viva, se fosse possível. — Eles ainda estão vivos.

— Daniel murmurou enquanto se afastava apressadamente de um

dos restos ressecados.

— Os vampiros estão. — Confirmou Xavier. — O rei sempre

gostou de seus troféus.

Os olhos de Daniel eram enormes enquanto sua mão se

contorcia em seu arco. Braith se moveu um pouco para o lado,

pisando parcialmente na frente de Daniel. Daniel geralmente era

estável, analítico e racional até os ossos, mas essa sala parecia ter

sacudido completamente sua contenção. Braith estava com medo


que ele fizesse algo irracional antes que tivessem a chance de trazer

Aria de volta.

— Onde está seu irmão fracassado?

— Caleb está perseguindo a humana que escapou dele no

momento. — Braith respondeu, sabendo muito bem que não era o

irmão que o rei quis dizer.

Um pequeno movimento de um músculo em sua bochecha foi

a única reação que o rei teve a essa revelação. — Ah, a humana. —

O rei ronronou enquanto lambia os lábios. —Ela é bem gostosa,

Braith. Na verdade, estou impressionada com seu gosto

incrivelmente bom, ou devo dizer o gosto dela e sua restrição com

ela. Eu não fui capaz de ser tão contido com esse bocado.

— Calma, Braith. — Xavier pediu quando Max entrou na

frente dele.

Precisou se esforçar muito para não lançar-se através dos

trinta metros separando-os e bater aquele sorriso do rosto horrível

do homem. Sua visão estava nublada de vermelho novamente,

suas mãos em punhos. Pai, ou não, ele iria gostar de destruir este
vampiro, de rasgar seu coração e pisar nele. — Sim, Braith,

calma. Nós não precisamos que você fique todo nervoso antes que

nossa garota esteja aqui para aproveitar. Oh, a diversão que nós

três teremos. — Ele parou por um longo momento, balançando em

seus calcanhares enquanto sorria para eles e esfregava os dedos

juntos diante dele. — Eu suponho que desde que ele não está aqui,

Jericho está entre o grupo que está sendo dizimado fora dos muros

do palácio agora.

Daniel e William trocaram um olhar desconfortável. — Eu

não tenho ideia de onde Jericho está, e ele se chama Jack agora. —

Braith conseguiu falar rispidamente.

Braith se esforçou para ouvir alguma coisa, qualquer coisa

fora desta sala. Então ele ouviu, uma raspagem de pés, um

batimento cardíaco abafado vindo de dentro das

paredes. Infelizmente, ela estava mais perto do rei do que dele.

Mas pior ainda foi o fato de que por trás dos sons suaves de

Aria, ele ouviu a incansável perseguição de outra pessoa.


Capítulo Dez

Jack deu um passo em direção ao portão quando Ashby

invadiu o topo da parede. Ashby, amável, afável, despreocupado,

agarrou um dos soldados e o atirou pela borda sem um momento

de hesitação. Aparentemente, havia um lado mais escuro em

Ashby do que Jack jamais suspeitara quando ele impiedosamente

jogou de lado mais soldados.

David de repente apareceu ao lado dele novamente. O sangue

de sua punção penetrante era vibrante e se espalhava por sua

camisa rasgada, mas não parecia estar diminuindo sua velocidade

ainda. Outro grupo de vampiros passou correndo e bateu outra

árvore gigante nos portões maciços. Embora fossem de metal

maciço e com pelo menos trinta centímetros de espessura, houve

uma torção que alertou Jack para o fato de que as portas estavam

começando a ceder sob a força repetida dos golpes. Pela primeira

vez a esperança fluiu através dele, eles iriam entrar; eles iam fazer
isso.

Ashby correu pelo topo da muralha, passando rapidamente

pelos soldados que tentavam detê-lo. Sempre assobiando, Ashby

continuou a atirá-los como se fossem conchas de amendoim

descartadas. A compreensão se apoderou dele quando Jack

finalmente entendeu o que fizera que Ashby se tornasse tão

implacável. Melinda. Ela deveria estar em algum lugar perto,

talvez até em perigo, e Ashby faria qualquer coisa e tudo o que

pudesse para chegar até ela. Com o jeito que Ashby estava se

movendo, Jack achou que eles deviam ter usado apenas um

exército de vampiros que encontraram seus bloodlinks e os

jogarem na briga. Ele suspeitava que eles poderiam ter ganhado se

esse fosse o caso.

Ashby desapareceu de vista quando saltou do topo da

parede. Os guardas posicionados sobre as ameias se voltaram, sua

atenção foi dividida enquanto procuravam enfrentar a nova

ameaça de dentro do palácio. Braith chegou, Jack estava certo

disso. Eles entraram no palácio e conseguiram alcançar os portões

da frente.
Um silêncio desceu sobre o campo de batalha como por um

momento pungente eles esperaram para ver o que aconteceria. Um

grito alto irrompeu de dentro, alguns dos guardas nas paredes

quebraram as fileiras e fugiram; outros renovaram a luta com

vigor, quando flechas começaram a disparar rapidamente em

ambos os lados das muralhas.

David deu um passo em direção aos portões e o olhar de

desejo em seu rosto tocou o coração de Jack. Outro grito ecoou de

dentro, chamas e faíscas saltaram mais alto quando algo muito

maior pegou fogo. Mais alguns guardas escapuliram da parede e

desapareceram do lado e um gemido alto encheu o ar.

Jack ficou completamente imóvel quando o gemido ficou

ainda mais alto. Ele não tinha ideia do que esperar, tinha quase

certeza de que uma massa de soldados irromperia para dominá-

los. Os portões, dobrados e abatidos pelos golpes repetidos que

haviam sofrido, moviam-se agonizantemente lentos quando foram

abertos.

Ashby estava sorrindo de orelha a orelha e se adiantou. Seu

braço estava envolto possessivamente ao redor de Melinda, que


estava encostada ao seu lado. O olhar de Ashby saltou sobre o

grupo antes de pousar em Jack. — Bem, venha seu bastardo

preguiçoso, ainda há mais deles aqui para brincar! — Ele anunciou

jovialmente.

Jack agarrou sua irmã e beijou-a com força na bochecha. — É

bom ver você, mana.

— Você também. — Embora ela estivesse sorrindo, tristeza

ressoou dentro de seus olhos.

— Onde está Braith?

O rosto de Gideon estava cansado quando se adiantou. Ele

estava coberto de sangue, mas não parecia estar gostando da

batalha, em vez disso, parecia muito mais reservado do que Jack

esperava. — Ele levou alguns soldados com ele e foi atrás de seu

pai e Aria.

Jack engoliu o caroço que se formou em sua garganta e se

virou para inspecionar o grupo que o rodeava. Ele estava ciente das

poucas pessoas que estavam faltando e David também respirava

fundo. Todos estavam todos danificados e cansados, mas ainda


havia muito mais a realizar. — Precisamos chegar até eles. —

David disse com força.

— Sim. — Gideon concordou. — Antes de todos serem

mortos.

Gideon não parecia mais convencido do que Jack que isso era

possível.

Aria não tinha ideia de onde estava dentro da confusa

confusão de passagens que compunham o funcionamento interno

do vasto palácio. Seus ombros e pernas roçaram as paredes

enquanto ela hesitantemente sentia o caminho para a frente. Ela

ansiava por se mexer mais depressa, mas estava preocupada em

correr de cara para uma parede invisível.

Seus dedos roçaram as paredes sólidas em torno enquanto ela

se atrapalhava para encontrar uma fuga. Caleb deve tê-la rastreado

originalmente no outro túnel antes de perceber que o enganara, já


que ela não ouvia mais seu zumbido alegre, e ele não a provocou

com os chamados “aqui, gatinha”. Sentia que ele estava atrás dela

novamente, no caminho certo, e como um cachorro no cheiro, ele

estava se aproximando.

Aria parou quando seus dedos de repente roçaram uma

parede à sua frente. Ela era incapaz de entender por que estava

ali; assim como agora estava presa entre uma parede e Caleb. — Eu

sinto o cheiro de medo na gatinha. — Caleb ridicularizou.

Ela realmente só queria socar aquele cara. Respirando fundo,

Aria se forçou a se acalmar; se ela não ficasse calma, nunca sairia

daqui. Tinha que haver uma saída, tinha certeza disso. Ela se

lembrou de Jack encontrando a alavanca secreta que revelou a

passagem escondida no quarto em que ela dormiu como escrava

de sangue, e conhecia bem as intrincadas armadilhas e as travas

ocultas que Daniel desenhou nas cavernas. Assim como sempre

havia uma saída desses lugares, havia um jeito de sair daqui; ela só

tinha que encontrar.

Ela teve que reprimir um grito de frustração quando seus

dedos freneticamente percorreram as paredes lisas procurando por


uma alavanca ou interruptor. Não seria tão oculto que os servos

não pudessem encontrá-lo, então por que ela não podia encontrar

a maldita coisa?

Finalmente seus dedos pegaram a pequena alavanca na altura

do peito e ela puxou para baixo dando um passo para trás quando

a porta se moveu para dentro. A luz desceu sobre ela e por um

momento ela não pôde ver de novo, mas seus olhos foram mais

rápidos em se ajustar a esse súbito influxo de luz do que depois de

estarem na masmorra por tanto tempo. Estava prestes a avançar

quando viu o que a porta aberta revelou.

Sua boca estava repentinamente tão seca quanto nos Vales;

seu coração se arrastou quando olhou para a sala do trono atroz

que o rei tanto amava. Desanimada, percebeu que saltou da

frigideira para o fogo. —Buh!

Um grito escapou quando ela pulou. Aria ficou muito

surpresa com a percepção de onde estava para ouvir a abordagem

de Caleb. Sua palavra, sussurrada perto de sua orelha, enviou uma

inundação fresca de adrenalina quebrando através dela e com as

mãos em punhos, ela girou para encará-lo. Ele estava melhor


preparado para ela desta vez, mas mesmo assim ela foi capaz de

dar um soco de raspão no queixo dele. Ele dançou para trás por um

momento antes de vir a ela novamente.

Com um grito enfurecido, ela o chutou no joelho com força

suficiente para fazer a perna dele recuar e se afastar o mais forte

que podia. Ela era rápida, sabia disso, mas não era mais rápida que

um vampiro. Estava apenas esperando dar um pouco de vantagem

quando se virou e saiu correndo da passagem. O rei tinha que estar

em algum lugar próximo; ela tinha a sensação de que ele passava a

maior parte do tempo nessa sala de trono com as suas

monstruosidade como troféus que ele criou para si.

Ela entrou na sala, quase tropeçando em seus próprios pés

enquanto os soldados do rei se viravam para ela. Aria congelou,

seus olhos se arregalaram, sua boca caiu quando o rei se virou para

olhá-la. Havia um sorriso malicioso em seu rosto enquanto ele

olhava para ela com muita diversão para o seu gosto. Em seguida,

sobre o mar de cabeças, através do salão enorme, ela o viu .

Seu coração pulou em sua garganta, lágrimas queimaram

seus olhos quando seu olhar se chocou com o de Braith. Os


soldados ergueram as lanças e moveram-se para bloqueá-lo

enquanto ele dava um passo em sua direção. Os vívidos olhos

cinzentos de Braith se tornaram da cor de rubis brilhantes

enquanto suas longas presas se estendiam além do lábio

inferior. Embora houvesse muito mais soldados do que ele, a julgar

pelo olhar em seu rosto, ele poderia realmente ser capaz de abrir

caminho para chegar até ela.

Braços envolveram sua cintura e a levantaram antes de atirá-

la no chão. Um grito estrangulado escapou quando o corpo dela

bateu no mármore e seus dentes apertaram o lábio inferior. Ela

tinha se esquecido completamente de Caleb em seu espanto e

deleite ao ver Braith, mas ele não tinha esquecido dela.

Ela recuou, tentando ficar de pé quando Caleb veio até ela. O

berro feroz de Braith rasgou a sala enquanto Caleb agarrava seus

braços e a levantava.
Capítulo Onze

Jack liderou o caminho pelas ruas, lutando contra os soldados

que vinham até eles enquanto tentavam evitar as almas

desavisadas que tentavam sair do caminho. Os únicos que ele

realmente se importava em não matar eram as crianças. Embora

alguns dos nobres do rei residissem dentro do palácio, a maioria

tinha residências dentro da grande cidade e do lado de fora. Foram

nessas residências que Jack mirou agora. Ele tinha certeza de que a

maioria dos nobres fugiu para o palácio quando o ataque começou,

mas alguns teriam permanecido teimosamente em suas casas.

A madeira rachava e estalava enquanto as chamas lambiam

as lojas e casas. O local em que os escravos foram leiloados já estava

totalmente engolfado. Gritos ecoaram sobre o paralelepípedo e

desceram as estradas da cidade enquanto vampiros e humanos

tentavam fugir da devastação. Ele queria estar repelido pela morte,


mas uma parte dele estava emocionada com a brutalidade dela.

Jack ficou surpreso que a maioria de seus vampiros estavam indo

muito bem, especialmente as massas famintas das cidades

periféricas. Havia poucos aqui que queriam ganhar mais do que as

massas quebradas que o rei havia criado.

Gotas de sangue de David pingavam nas ruas enquanto ele

lutava perto do lado de Jack. Embora Jack tivesse seus instintos

mais básicos sob controle, os últimos dias tinham sido difíceis e o

sangue de David parecia mais distinto do que o dos humanos ao

seu redor. Jack percebeu que nunca sentiu o cheiro antes, em todas

as suas aventuras e provações, o sangue de David nunca havia sido

derramado antes daquela noite. O homem era rápido demais para

isso a maior parte do tempo.

David levantou o arco e disparou contra um soldado que

emergiu da fumaça e do fogo. A flecha perfurou profundamente o

coração do soldado e o derrubou quando ele chutou e gemeu nos

momentos finais de sua vida. Embora a mandíbula de David

estivesse trancada e a determinação irradiando de seus olhos, seu

braço tremeu quando ele a deixou cair devagar para o lado.


— É essencial que você cuide dessa ferida. — Informou Jack.

— Estou bem.

— Você não está bem. — David lançou-lhe um olhar quando

ele levantou o arco e disparou outra flecha em um grupo de

soldados. Jack ignorou o olhar furioso que seu amigo lhe deu

quando ele pegou o arco de David. — Faça algo sobre isso antes

que você sangre até a morte. — Ele ordenou rispidamente. — Seus

filhos vão chutar a minha bunda se algo acontecer com você.

David olhou furioso para Jack e estendeu a mão agarrando

sua camisa. Jack não estava esperando quando David brandiu uma

faca e cortou um grande pedaço de pano da última camisa que Jack

ainda tinha. Roupa era difícil de encontrar na floresta, e ao longo

dos anos Jack se acostumara com as leves túnicas e calças folgadas

que eram feitas de linho para o verão, e os pesados artigos de lã

que foram criados para o inverno.

Os olhos de David brilharam quando ele habilmente amarrou

a camisa em torno de sua lesão e usou os dentes para apertar o

nó. — Eu gostava desta camisa. — Jack resmungou quando ele


entregou o arco de volta.

— Ele era boa. — David concordou.

A atenção de Jack foi desviada do sangue encharcado de sua

bandagem quando um grito de vitória ecoou pela rua. Ele se virou

para descobrir que Victor, um dos homens de confiança de seu pai,

e um dos vampiros mais cruéis que Jack já tivera o desagrado de

conhecer, havia sido feito prisioneiro. O homem estava espancado

e ensanguentado, sendo arrastado pela rua por um grupo de

soldados liderados por Saul e Barnaby. Saul recuou e apontou para

um dos incêndios crescentes e os soldados empurraram Victor para

o inferno. Jack não sentiu um pingo de remorso quando os gritos

agonizantes de Victor perfuraram a noite.

Virando uma curva na estrada, o palácio entrou totalmente

em vista. Ele pairava sobre eles, sinistro e imponente se

estendendo no alto do céu noturno. A iluminação das chamas

saltitantes da cidade cintilava nas pálidas paredes do palácio

conforme se aproximavam.

Quase lá, eles estavam quase lá. Ele só podia esperar que seu
irmão não tivesse conseguido ser morto quando as enormes portas

douradas do palácio se abriram e uma nova horda de soldados do

rei se lançou para desafiá-los.

Braith mal podia acreditar no que via quando Aria se libertou

do túnel dos servos. Parecendo sentir sua presença, ela se virou

para ele. Esperança e terror irradiavam de seus brilhantes olhos

azuis enquanto ela o olhava. Mesmo imunda, com o cabelo

emaranhado em torno de sua pele de porcelana manchada de

sujeira, ela ainda era a coisa mais linda que ele já tinha visto.

Sob a sujeira, ele viu as mordidas, hematomas e sangue que

subiam e desciam por seus braços e pela coluna de sua garganta

em direção ao pescoço. Ele não conseguia pensar em onde mais ela

poderia ter marcas de mordidas, onde mais poderiam tê-la tocado,

e o que mais poderiam ter feito com ela. Tudo o que ele ansiava era

colocar as mãos sobre ela novamente, e tirá-la daqui viva.

Se tudo fosse possível.


Ela deu um passo em direção a ele quando Caleb saiu do

corredor dos servos bem atrás dela. Envolvendo seus braços ao

redor de sua cintura, ele a levantou e a jogou no chão. A visão de

Braith tornou-se um tom carmesim quando um berro rasgou-se

dele. Lançando-se para frente, empurrou os guardas mais

próximos a ele e sentiu a fera tomar conta e todo o seu controle

desaparecer.

Ele estava consumido com sede de sangue quando empurrou

um homem para frente e agarrou a lança dele. Girando-o em suas

mãos, torceu-a sob o braço e mergulhou-o no peito do

vampiro. Rasgando-o, ele dirigiu-o para o coração de mais dois

soldados se aproximando dele.

O grito assustado de Aria levou-o descuidadamente para

frente. Tudo o que ele se importava era chegar até ela e destruir

qualquer um que ousasse tocá-la. Ele não sentiu a lança que

perfurou suas costas e rasgou através de seu ombro. Ele nem sabia

que tinha sido esfaqueado até que a ponta pontiaguda saiu pela

outra extremidade.

Braith arrancou a lança de si mesmo enquanto girava nos dois


guardas que o olhavam com olhos enormes e assustados. Ele estava

prestes a cruzar a linha novamente, prestes a abandonar-se

completamente à escuridão, e não se importou quando se

apoderou dos dois. Ele matou um rapidamente, quase

misericordiosamente, agarrando-o e batendo com o punho em sua

caixa torácica arrancando seu coração. O outro não teve tanta sorte

pois Braith girou em torno dele e usou-o para desviar os quatro

soldados correndo em sua direção. O homem gritou e uivou

quando foi perfurado com várias lanças e flechas. Ele se contorceu

dentro do alcance de Braith, mas Braith não sentiu remorso por

continuar a usar o homem como um escudo enquanto batia no

meio da multidão.

Ele a perdeu de vista quando foi engolfado por soldados.

Algo mais perfurou sua panturrilha, levando-o brevemente sobre

o joelho esquerdo. A dor passou através dele, mas ele se obrigou a

se levantar de novo quando o guarda que ele segurava soltou um

gemido final e ainda ficou ao seu alcance. Braith usou seu corpo

para bater de volta mais dois soldados enquanto eles balançavam

para ele. Ele jogou o corpo flácido do guarda morto em mais três
homens do rei e derrubou-os.

Os soldados recuaram; a multidão se separou dando-lhe um

breve vislumbre de Aria enquanto ela lutava contra o aperto de seu

irmão. Ele grunhiu quando outra flecha rasgou carne e osso, o

tendão e cortou parte de seu coração. Levado de joelhos, Braith

sentiu a corrente de sangue do órgão danificado ao penetrar em

seu peito. Não foi um golpe fatal, não em sua idade, não se ele

pudesse se alimentar em breve, mas iria enfraquecer e retardá-

lo. Os guardas se aproximaram com muito mais confiança do que

antes, e em cima de suas outras feridas...

— Não! — O grito de Aria era frenético e cheio de terror. —

Não faça isso! Pare com isso, você está matando ele!

Caleb estava tentando agarrá-la novamente quando ela

bruscamente girou sobre ele.


Capítulo Doze

O pânico atravessou Aria enquanto observava Braith cair no

chão de mármore. Um grito de angústia foi arrancado dela, ela

nunca tinha visto tanto sangue. Eles estavam matando Braith, e ele

continuou tentando se levantar e alcançá-la. Estava se tornando

devastadoramente óbvio que havia muitos deles, ele era

simplesmente superado pelos soldados que o enxameavam.

Caleb estava sorrindo maliciosamente quando a

agarrou. Reagindo por instinto e correndo adrenalina, ela tentou

empurrar o joelho em sua região da virilha, mas ele estava melhor

preparado desta vez. Ele afastou o punho dela longe de sua

trajetória em direção ao rosto dele enquanto ela tentava mudar de

tática. Ela pulou para ele, tirando-o um pouco fora de equilíbrio

enquanto empurrava seu peso contra ele.

Todos os truques sujos que o irmão lhe ensinara surgiram


quando ela tentou libertar-se dele. Caleb estava esperando que ela

fosse para sua virilha novamente, e ela fez uma falsa tentativa. Suas

mãos caíram, deixando seu rosto e a área de ataque dela

expostas. Sentindo-se uma mulher enlouquecida, ela curvou os

dedos e foi direto para os olhos dele.

Caleb uivou quando ela enfiou os dedos nas órbitas dos olhos

dele. Aria tentou não pensar sobre o que sentia sob seus dedos,

simplesmente arranhou tão ferozmente quanto pode até que ele

jogou os braços para cima e a empurrou para longe. O impacto

dissonante fez com que seus braços ficassem dormentes e ela

cambaleou para trás. Suas mãos voaram para seu rosto, ela não o

cegou, mas o machucou o suficiente para que o sangue se

acumulasse em seu olho direito machucado. Aria não foi enganada

em pensar que isso o distrairia por muito tempo.

Ela apertou as duas mãos em um punho e, com toda a força

de seu peso, torceu-se enquanto as balançava para cima. Ela o

pegou sob o queixo e bateu a cabeça para trás com um estalo alto

que lhe deu um surto de satisfação. O sangue explodiu de sua boca

quando ele cambaleou para trás. Isso poderia arruinar todos os


seus planos, mas ele ia matá-la, ela estava certa disso agora. Antes

disso, ele teria tocado nela e a atormentado, mas agora, se ele

colocasse as mãos sobre ela novamente, seria para matá-la da

maneira mais vil possível.

Ela só teria que ter certeza de que ele não a pegaria

novamente.

Aria se virou e se afastou dele. Seu coração martelou quando

viu Braith de alguma forma encontrando o poder de se levantar

novamente e derrubar mais dois guardas. Puxando um deles para

frente, ele puxou a cabeça dos vampiros para trás e afundou seus

dentes profundamente em seu pescoço. Não, Aria gemeu

silenciosamente. Não. Não. Não.

Já poderia ser tarde demais, ela percebeu. Ela pode já tê-lo

perdido para o monstro que ele poderia se tornar.

Ela se jogou para frente, rolando pelo chão enquanto evitava

o agarre de um dos guardas. Agarrando-se a uma lança, ela

cambaleou de pé enquanto corria para Braith; adrenalina e terror

lhe deram uma velocidade e força que ela não sabia que possuía
até aquele momento. Ela não sabia se era o sangue do rei, ou a sua

necessidade de chegar a Braith, mas todos os seus outros

ferimentos e seu esgotamento foram esquecidos, uma força que ela

nunca soube que poderia ter surgido através dela.

Na parte de trás da sala, ela avistou seus irmãos, Max e

Xavier. Eles já estavam ensanguentados e espancados e estavam de

joelhos, cercados por guardas, perto da mesa alongada dos

horríveis “convidados” do rei. Seu peito se contraiu quando ela

percebeu que estava prestes a perder quase todo mundo que amava

hoje.

Keegan correu ao redor de Braith, mordendo e rosnando

enquanto forçava alguns dos guardas para trás desviando das

armas empurradas para ele. Braith jogou o guarda para o lado, se

levantou e se virou para ela. Um soldado, que teve a infelicidade

de entrar em seu caminho, foi facilmente descartado quando Braith

quebrou seu pescoço e arrancou seu coração. Aria arremessou a

lança em outro guarda, dirigindo-a profundamente em seu

peito. Os olhos do homem se arregalaram enquanto ele se agarrava

ao poste de madeira que se projetava dele.


Aria arrancou a lança quando Braith caiu novamente, uma

flecha saindo de seu torso. Ela estava vagamente ciente do fato de

que os soldados deveriam ter ordens para levá-los vivos; caso

contrário, todos eles estariam mortos agora. Braith era poderoso, o

chão estava cheio dos soldados que ele destruiu, mas no final ele

estava em desvantagem. Ela foi rápida, pegou Caleb desprevenida,

mas ela ainda era humana.

Mas nada disso importava, já que ela estava quase lá . Ela

quase podia senti-lo novamente. Ela mal viu o guarda que entrou

na frente dela, mal percebeu que ele estava lá, mesmo quando

levantou a lança para ele. Estava fora do alvo quando perfurou sua

garganta, mas ainda o derrubou e ele caiu contra dois de seus

companheiros.

Ela caiu de joelhos; lágrimas queimaram sua garganta quando

ela se atirou nos braços abertos de Braith. Um soluço rasgou dela,

ela nunca sentiu algo tão magnífico como o corpo dele moldando

perfeitamente contra o dela. Seus dedos agarraram suas costas e

ela foi imediatamente envolvida por seu amor. Ele se inclinou

sobre ela, apertando-a com força enquanto ele embalava a base da


cabeça dela contra o peito e enterrava o rosto em seu cabelo. Ela

não conseguia o suficiente dele, simplesmente não podia tocá-lo ou

senti-lo o suficiente.

— Arianna. — Ele gemeu seus lábios quentes contra seu

ouvido.

O alívio irregular e o prazer em sua voz quase a desfizeram

enquanto suas mãos rapidamente se agitavam sobre ele. Eles iam

morrer, mas pelo menos teriam esse momento, uma última vez, e

ela precisava desesperadamente disso enquanto se agarrava a ele.

Ela desejou nunca ter escutado Jack, Ashby e Gideon. Desejava

nunca tentar se distanciar dele. Ela tinha sido tola em pensar que

poderia deixá-lo ir, ou que ele seria capaz de fazer o mesmo.

Tocá-lo e segurá-lo agora era a melhor coisa que já sentiu. Ela

nunca pensou em experimentar o amor em primeiro lugar, ainda

mais esse tipo de amor, com ele, um vampiro que a ensinou que

havia muito mais na vida e no mundo do que ela jamais imaginou.

Ela estava apaixonada por essa linda criatura que lhe ensinou que

nem tudo era preto e branco, bom e mau. Havia tons de cinza,

havia intermediários e havia cores com as quais ela nunca sonhou.


Cores que ele tinha mostrado a ela no jardim, mundos e

experiências que ele abriu para ela quando a ensinou a ler, o amor

que ele tinha dado a ela livremente uma e outra vez com sua

compreensão, paciência e inúmeros sacrifícios ele fez para ela.

Agora eles estavam aqui, de volta aonde tudo havia

começado, e onde finalmente terminaria de um jeito ou de outro.

— Você não deveria ter vindo. — Ela enterrou o rosto em seu

pescoço; ela não conseguia se aproximar o suficiente dele.

— Eu sempre virei buscar você.

Sim, ele iria. Não importava o que Gideon e os outros

pensassem, ele sempre teria vindo buscá-la, e ela sempre o

receberia bem. Ela teria fingido que não queria que ele a

encontrasse; ela teria ficado forte porque pensou que estava

fazendo a coisa certa. No entanto, ela continuamente teria

esperado que ele a encontrasse, e ela estaria esperando por ele.

— Você não deveria tê-los trazido.

— Eu não poderia tê-los parado, mais do que poderia ter


parado você, se os papéis foram invertidos. — Uma risada dura

escapou-lhe ante a verdade de suas palavras.

— Meu pai está bem? — Ela perguntou preocupada, embora

soubesse que ele teria que levar os humanos para a batalha.

— Ele estava bem da última vez que o vi.

Do canto do olho, Aria viu os soldados se estreitando, as

armas levantadas com intenção mortal. Seus dedos estavam

tremendo, ela deveria se afastar, deveria soltá-lo, mas não podia se

permitir soltá-lo. Ainda não, ela não estava pronta para dizer

adeus.

— Esperem. — Ela estava vagamente consciente de que era o

rei que havia falado a palavra, mas não se importava com a razão

pela qual ele havia escolhido dar-lhes esse alívio. Ela tinha certeza

de que ele tinha algum motivo oculto, mas o rei não importava, os

homens que os cercavam não importavam, não mais.

Um calor úmido pressionou contra sua pele. Ela não teve que

recuar para saber que o sangue dele estava encharcando suas

roupas e as dela. Outro pequeno soluço escapou dela, ela agarrou


mais freneticamente para ele. — Não me deixe. — Ela sussurrou.

— Nunca. — Ele gemeu contra sua orelha. — Não importa o

que aconteça, eu sempre estarei com você, Arianna. Sempre.

O colarinho da camisa estava ficando molhado com as

lágrimas. — Sempre. — Ela sussurrou.

Seus lábios pressionaram contra sua orelha, sua bochecha e

depois sua boca pressionou sobre a dela. Era para ser apenas um

beijo casto e amoroso, um de adeus, mas no minuto em que seus

lábios tocaram os dela, seu corpo reagiu como se tivesse sido

atingido por um raio. Ela se achatou contra ele enquanto ondas de

paixão e amor cascateavam através dela, deixando-a sem ossos e

flácida. Ela se agarrou a ele, dividida entre querer gritar com a

injustiça de tudo, e querer quebrar a sala com as próprias mãos.

Injusto, era tudo injusto. A vida era injusta, ela sempre soube

disso, mas esperava que só desta vez funcionasse a seu favor.

Não importava o que acontecesse depois, ela sempre teria a

lembrança desse beijo e do gosto dele. Ela sempre teria esses

poucos momentos curtos e seu amor para ajudá-la a passar por


isso. Ela seria forte, não importa o que eles fizessem com ela. O rei

e Caleb nunca a quebrariam; nunca a rebaixariam como um

pequeno humano fraco que eles pensavam que ela fosse.

Braith se separou e estava tremendo enquanto suas mãos

embalavam seu rosto. Ela ergueu os olhos para os dele, aliviada ao

ver a linda cor cinza e azul que ela tanto amava. Ele pressionou

outro beijo carinhoso contra seus lábios trêmulos. — Eu te amo. —

Ele sussurrou.

Mais lágrimas se derramaram quando ela pressionou a

bochecha contra a dele, deleitando-se com a sensação de sua

bochecha áspera contra a dela. O doce aroma de seu sangue se

agitou para encher suas narinas. O horror a encheu quando ela

olhou para baixo. Ele estava morrendo, ela estava certa disso

enquanto a mancha de seu sangue se espalhava por seu peito e

torso sólidos. Seu vampiro grande, poderoso e magnífico estava

gradualmente morrendo diante de seus olhos. Um grito

estrangulado escapou dela, ele agarrou suas mãos enquanto ela

tentava estancar o fluxo de sangue.

— Eu vou ficar bem, amor, não se preocupe comigo.


— Não. — Ela choramingou, sabendo que ele mentia. — Há

muito sangue.

— O sangue do guarda ajudou.

Suas mãos tremiam nas dele; ela não conseguia abrir os dedos

dele para abraçá-lo mais uma vez. Seu olhar examinou seu rosto,

pescoço e braços enquanto seus olhos desbotavam para uma

sombra rubi. Quando ele se deixava ir, ele era mais destrutivo,

mais poderoso, ele podia se alimentar de sua própria espécie e ser

um monstro como seu pai. Se ele se entregasse às trevas lá dentro,

ele poderia até mesmo tirá-los de lá, mas a que custo? Ela o pegaria

de volta? Ela preferiria morrer a perdê-lo a tal destino, vê-lo ficar

tão torcido e quebrado quanto seu pai e irmão.

— Fique comigo. — Ela sussurrou. — Não vá lá Braith, não

me deixe te perder desse jeito.

Seus olhos voltaram para os dela. Eles mudaram daquela

horrível cor rubi para um tom parcialmente vermelho e

parcialmente azul. Era desconcertante ver aquela linda faixa azul

ao redor de sua íris, cercada por um escarlate assassino, mas ela


podia ao menos vê-lo sob isso agora.

Aria se inclinou para ele, e pressionou seus lábios contra os

dele enquanto deslizava suas mãos livres de seu alcance. Ela

moveu os lábios sem pressa sobre os dele quando percebeu o que

tinha que fazer. Ela lembrou as palavras de Ashby da casa da

árvore, quando ele falou de seu vínculo com Melinda; somos mais

fortes porque bebemos uns dos outros. Ela traçou os planos sólidos

e muito amados de seu magnífico rosto. — Ame-me, Braith. Fique

comigo.

— Sempre. — Ele prometeu novamente.

Apertando suavemente os lábios dela para ele mais uma vez,

ela virou a cabeça para o lado e guiou a cabeça até o pescoço. — Eu

posso te fazer mais forte.

Ele hesitou e ela sentiu seu desejo de recuar tão claramente

quanto sentiu sua fome por seu sangue. Ele não hesitou porque

sentiu repulsa pelas marcas nela, ou o fluxo do sangue do rei

dentro de suas veias que ela sabia que ele podia sentir, mas porque

ele estava com medo de que ela não pudesse mais suportar a perda
de sangue. Ele poderia se tornar um monstro para tentar tirá-los

daqui, ou ele poderia aceitar o dom da vida que ela estava

oferecendo a ele tão livremente quanto lhe oferecia seu amor.

— Tudo bem, posso lidar com isso. Eu sei que posso, você sabe

que posso.

Sua mão embalou a parte de trás de sua cabeça enquanto a

outra se achatou contra suas costas. Aria prendeu a respiração

enquanto aguardava a decisão dele. Sua boca pressionou contra

sua pele, uma respiração suave escapou dela quando seus lábios se

afastaram e ela sentiu a pressão dura de suas presas.

Sua pele sensibilizada a fez estremecer quando ele mordeu

profundamente, mas a dor foi fugaz e o prazer de finalmente se

juntar a ele novamente rodou dentro dela. Ela caiu dentro dele

como se estivesse perdida neste momento primoroso, talvez o

último deles. Calor inundou suas extremidades e se acumulou

através de seu corpo, saindo de seu coração. Ela foi consumida por

seu amor por ela. A intensidade da emoção a deixou trêmula e

abalada, mas também mais forte.


A consciência começou a crescer nela. Ashby disse que não

sabia por que o bloodlink entre os vampiros os tornava mais fortes,

mas Aria entendia isso agora. Não era apenas o compartilhamento

de sangue entre seres tão poderosos, embora ela soubesse que a

força de seu sangue era parte disso, mas também era o amor e a

confiança tão livremente dados entre criaturas que raramente se

permitiam ser vulneráveis a outra pessoa. Ela não era nem mesmo

uma vampira, mas tornava Braith mais poderoso simplesmente

amando-o, aceitando seu amor em troca e alimentando-o com o

sangue que ele mais desejava.

Ela também entendia outra coisa, não perderia Braith. Ele não

seria dominado pela escuridão e raiva que rolavam por ele. Uma

raiva que ele sempre nutria em relação a seu pai cruel; uma

escuridão que se libertava dele toda vez que ele sentia que sua vida

estava em risco. Ele poderia facilmente se perder, mas não com ela

aqui para ajudar a puxá-lo de volta. Mesmo agora, no meio de toda

essa bagunça, ainda havia esperança e uma crescente compreensão

de quem ela era, de quem ele era e do que eles eram juntos.

Ela sabia, porque o conhecia, que o que quer que acontecesse


deste ponto em diante, ele não seria movido pela fúria e pelo ódio,

mas pelo amor. E o amor era de longe o motivador mais forte. Era

algo que seu pai nunca entenderia, e era o ativo mais poderoso

deles.
Capítulo Treze

Braith abraçou-a enquanto seu sangue fluía livremente em

sua boca. Ela cheirava a masmorra, mas sob o fedor daquele lugar

hediondo ele podia sentir sua essência natural e doce que inundava

seus sentidos e invadia seu corpo. Ele podia saborear seu pai

dentro de seu sangue, e embora soubesse que deveria estar

enfurecido com isso, tudo o que ele podia encontrar era alívio,

prazer e um amor abrangente que o deixou abalado.

Ele pensou que a tinha perdido, e ainda assim ela estava aqui,

em seus braços, segurando-o enquanto se oferecia com a facilidade

que só ela podia. Ele ouviu o forte baque de seu coração, sentiu as

lágrimas que molharam seu pescoço quando ela pressionou o rosto

contra ele, e provou o poder de seu sangue enquanto o infundia. A

grave ferida em seu coração lentamente começou a se reparar

enquanto seu sangue trabalhava para curá-lo.


Ele sem pressa se afastou dela, acariciando seu pescoço

brevemente antes de se inclinar para trás. Suas lágrimas haviam

deixado marcas na sujeira que marcava suas bochechas

delicadas. Seus olhos se abriram; suas profundezas cristalinas cor

de safira brilhavam com lágrimas não derramadas. Foi o amor em

seu olhar que o humilhou e o fez mais forte; irradiando como um

brilhante raio de sol. Por ela, ele podia fazer qualquer coisa; até

mesmo manter o controle quando estava tão perto de perdê-lo. Se

este fosse seu último momento juntos, ele se certificaria de que ela

nunca mais visse o monstro dentro dele.

— Filho. Muito impressionante.

Ele agarrou suas bochechas quando ela se moveu para

enfrentar o rei. Ele não queria que ela visse o bastardo de novo, não

agora. — Olhe para mim. Concentre-se em mim, Aria.

— Eu não vou deixar eles me levarem viva. — Ela sussurrou.

— Eles não vão levar nenhum de nós vivos.

Ela engoliu em seco e fechou os olhos enquanto balançava a

cabeça brevemente. Ele saboreou a visão dela antes de se virar para


o rei, o homem que o tinha criado, mas não conseguiu transformá-

lo no filho que queria que ele fosse. — Muito

impressionante. Estou realmente orgulhoso de você pela primeira

vez.

O rei estendeu as mãos para indicar os corpos espalhados pelo

chão ao redor de Braith. Ele conseguiu derrubar uns bons quinze

soldados antes que Aria o alcançasse. Caleb estava diante do

estrado e de seu pai, a testa franzida enquanto olhava para eles com

brilhantes olhos vermelhos. O sangue ainda manchava sua

bochecha, mas as fissuras que Aria infligiu já estavam

curadas. Não, não havia como permitir que Caleb colocasse as

mãos sobre ela novamente.

— Eu nunca soube o que você tinha dentro de si. É ela, não

é? Ela é o que te faz mais forte? — Braith segurou a cabeça de Aria

que tentava olhar para o pai novamente. — O sangue dela é o que

faz você assim. Eu estou pensando que há uma ligação. — A palavra

sibilou do rei quando ele se adiantou. — Depois do que acabei de

testemunhar, acho que vou manter vocês dois vivos e usá-la para

mantê-lo sob meu controle. Você seria minha maior arma para
controlar e usar como bem entendesse, mesmo contra as forças que

tentam me derrubar agora.

Então foi por isso que o rei disse às suas tropas para se

manterem longe deles, percebeu Braith. Ele queria saber até onde

que Braith iria por ela. Ele precisava ver o quanto ele poderia

controlar Braith, controlando-a, e Braith tinha jogado as cartas

diretamente em suas mãos. Ele mostrou ao pai exatamente o que

ele estava procurando provavelmente desde o momento em que

saiu daqui.

— Eu aposto que você até mataria Jericho se isso significasse

mantê-la viva. — Aria inalou bruscamente, suas lágrimas

molhavam seus dedos enquanto ele a segurava imóvel. — Eu vou

fazê-la assistir você destruir todos e tudo o que ela ama, por ela.

Braith se destruiria primeiro. — Isso nunca acontecerá.

O rei sorriu para ele e deu um breve aceno de cabeça. — Eu

os quero vivos.

Os soldados começaram a se mover para quebrar seu

momento de solidão e paz neste lugar brutal. Ele voltou sua


atenção para ela, tomando apenas mais um momento para senti-la

contra ele. — Fique atrás de mim.

Ela atirou-lhe um sorriso selvagem que o fez perceber que ela

não faria tal coisa, não sua Aria. Ele agarrou-a, envolvendo-a em

seus braços enquanto se levantava. Seu sangue renovou sua força

e revitalizou-o de maneiras que o sangue dos guardas nunca

fariam. Ele não tinha tomado o suficiente para prejudicá-la, mas

mesmo assim, mordeu seu pulso e ofereceu a ela enquanto a girava

para longe dos guardas apressados. Ela segurou-o, pressionando-

o firmemente à boca com um entusiasmo que surpreendeu até ele.

Aria engoliu rapidamente e ansiosamente antes de soltá-lo.

Ele relutantemente a deixou ir enfrentar os soldados correndo para

ele. Do canto do olho, viu Aria saltando para a frente com a graça

de um cervo, correndo para uma lança jogada no chão. Segurando-

a, ela girou com uma elegância estranha em direção ao soldado que

a atacava. Seu lance teria sido letal se o guarda não tivesse

contornado a arma no último segundo.

Braith agarrou os dois se aproximando dele e estalou o

pescoço de um com um empurrão brutal antes de arrancar a lança


de suas mãos que ainda se contorciam. O homem não estava morto,

mas Braith não teve tempo de terminar o trabalho enquanto

empurrava a lança profundamente no coração do outro guarda e a

soltava. Aria se abaixou sob as mãos de outro soldado. Ela se

moveu tão rapidamente que até Braith não notou a extremidade

quebrada da lança que ela conseguiu mergulhar no peito do

homem até que o guarda recuou.

Aria correu em direção a seus irmãos e Max. Braith ficou de

olho nos guardas que os rodeavam enquanto deliberadamente se

movia de volta com ela. Mais três guardas se lançaram contra, mas

ele os afastou caindo para trás, determinado a manter seu corpo

entre ela e o rei. Aria seria a primeira opção de seu pai, Braith tinha

certeza disso. Keegan pulou na frente dele, rosnando e estalando

enquanto forçava um dos guardas a se afastar.

Max, William e Daniel se lançaram para frente de

repente. Eles empurraram seus ombros em dois dos guardas que

estavam olhando por cima deles enquanto Xavier saltava de

pé. Um guarda agarrou William pelo pescoço da camisa e

mergulhou uma lança na sua perna direita. William gemeu alto


antes de soltar um grito, segurando sua coxa. O suor escorria sua

testa e lábio superior, seu rosto ficou mortalmente pálido quando

ele tentou rasgar a lança.

Fúria escureceu as feições de Aria. Ela trocou de direção

correndo para homem que acabou de mutilar seu irmão. — Aria!

— O grito veio de Max quando ele conseguiu agarrar um arco e um

aljava de flechas. Ele os jogou na direção dela antes de ser

derrubado com um golpe que ecoou por toda a sala e

provavelmente quebrou mais do que alguns dentes.

Aria deslizou pelo chão de joelhos e agarrou o arco e flecha

antes de pular de volta de pé. Braith não tinha ideia para onde ela

estava indo, nem do que tinha em mente até pular no colo de um

dos troféus de seu pai, pular na mesa e se lançar contra as enormes

vigas de madeira escuras que atravessavam o teto arredondado da

catedral do salão. Ela ficou parada por um momento antes de

erguer as pernas e segurar uma ripa para sentar-se brevemente em

cima dela antes de se levantar.

Ela estava de volta às suas árvores, Braith percebeu

lembrando de como Aria atravessou a floresta.


Braith não se surpreendeu com o fato de alguns soldados

terem parado para olhá-la quando ela saltou da viga em direção ao

seu irmão, Max e Xavier. Até o rei a observava com olhos

perspicazes e astutos. Braith encontrou o olhar de Xavier sobre a

multidão de soldados e seus olhos escuros se fecharam quando ele

inclinou a cabeça para Braith dando um breve aceno de

cabeça. Braith não sabia se era alívio ou angústia que o encheu da

confirmação de Xavier do que ele suspeitava sobre Aria.

Mas ele sabia que precisavam sobreviver a isso antes que

qualquer coisa pudesse ser discutida ou decidida.

Braith empurrou outro guarda para fora de seu caminho

enquanto lutava para chegar aos outros. Aria saltou para outra

ripa, recostou-se nos calcanhares e disparou duas flechas contra o

guarda que havia apunhalado seu irmão. Ele caiu para trás e outro

agarrou Daniel e o colocou de pé.

Xavier era um homem de livros e histórias, mas mesmo assim,

quando o guarda empurrou Daniel para cima, Xavier agarrou-o e

cortou sua garganta com crueldade mortal. Xavier libertou Daniel

e finalizou o guarda com um golpe mortal em seu


peito. Empurrando Daniel para trás, Xavier agarrou Max enquanto

os três eram forçados para trás sob a onda esmagadora dos homens

do rei.

Daniel tentou agarrar William, mas a lança através de sua

perna tornou quase impossível para ele se mover. Aria cobriu seu

gêmeo disparando contra qualquer guarda que ousasse se

aproximar dele.

Braith saltou sobre os corpos de dois guardas

caídos. Agarrando William, ele tentou levantá-lo do chão, mas

parte da ponta da lança estava embutida no mármore. William

soltou outro grito que ecoou estranhamente por Aria, enquanto

Braith o libertava com um puxão impiedoso que rasgava músculos

e ossos.

Os dedos de William afundaram em seu braço, seu lábio

sangrando por mordê-lo, mas ele não ofereceu uma queixa quando

Braith o empurrou para Max e Daniel. Algo pontudo e rígido

perfurou seu ombro e um grunhido feroz escapou quando ele se

virou para o guarda que disparou uma flecha nele. Pulando para a

frente, procurou derrubá-lo, mas uma flecha perfurou o peito do


homem antes que Braith pudesse alcançá-lo.

Aria assentiu enquanto sorria fugazmente para ele. Virando-

se para encarar a nova onda de guardas que vinha, ele se preparou

para o ataque iminente. Uma flecha assobiou por sua orelha,

Daniel e Max saltaram para a luta ao lado dele enquanto atacavam

os soldados com lanças e flechas. Xavier se afastou, protegendo

William enquanto os outros corriam para tentar alcançar o humano

ferido. Keegan correu ao redor dos guardas, latindo e rosnando

forçando-os a ficar longe de Xavier e William. Um grito agudo

escapou do lobo quando um guarda conseguiu dar um chute

sólido em suas costelas, que o derrubou por um metro. O guarda

foi atrás de Keegan, mas William conseguiu recuperar um arco e

disparou uma flecha através do coração do vampiro.

Eles estavam fazendo uma boa luta, mas Braith sabia que

seriam eventualmente derrotados pela multidão que os rodeava.

Usando seu ombro, Braith bateu mais três guardas e se esquivou

de três flechas apontadas para ele. Uma atravessou seu bíceps, mas

era apenas uma ferida que curaria rapidamente. Ele conseguiu

arrancar uma lança e algumas flechas de um dos homens e jogou


as extras para Aria. Ela se ajoelhou e as pegou do ar.

Braith espetou mais três guardas e lançou uma série de socos

em um deles deixando seu rosto maltratado. Ele arrancou a lança,

recuando enquanto mais guardas pressionavam os cinco. Aria

subitamente ficou de pé, seus olhos estavam fixos na frente da sala

quando ela se virou para o trono. Braith continuou a afastar os

guardas, caindo de volta para a mesa, a fim de tentar ver o que a

mantinha tão extasiada, e o que a fez parecer ter visto um fantasma.

Seus olhos se chocaram com os dele quando ela gesticulou

para a frente da sala. Braith saltou para o topo da mesa em um

sólido pulo. Olhando fixamente para a sala cheia de barulho, ele

observou incrédulo quando Caleb, usando a distração da batalha,

circulou atrás do rei e agora se aproximava dele. Braith deu um

passo em direção ao estrado quando seu irmão saltou para a frente

e empurrou uma lança pelas costas do rei, direto em seu coração.

O sangue se acumulou nos cantos da boca entreaberta do rei

enquanto seus olhos se arregalaram. Suas mãos agarraram a lança

e um estranho som gutural escapou dele quando seus joelhos

começaram a se dobrar. Caleb sorriu para o pai que se virava


lentamente em direção ao filho que acabou de cometer patricídio,

aparentemente sem remorso.

“Pode ser mais difícil derrubar Caleb agora que ele percebeu

ser o herdeiro aparente.” As palavras, ditas há muito tempo por

Melinda, vagamente flutuaram em sua mente.

Enquanto Braith observava seu pai cair, ele percebeu que,

mesmo em sua morte, seu pai estava realmente orgulhoso da

descendência que acabara de destruí-lo do que qualquer outra

criança que criou.

Caleb arrancou a lança do peito de seu pai e se adiantou para

tomar seu lugar diante do trono que acabara de reivindicar como

seu. Ele se curvou e puxou o anel real da mão sem vida de seu pai

e deslizou sem pressa para o dedo indicador. Seus olhos brilhavam

de orgulho e um sorriso malicioso curvou sua boca quando ele

estendeu a mão diante dele e mexeu os dedos com admiração.

Braith não tinha nenhum amor por seu pai, teria derrubado a si

mesmo se isso significasse proteger Aria, mas mesmo assim a

aversão e a vingança passaram por sua barriga nesse momento. Ele

teria matado seu pai, mas derrubaria o homem de frente; não teria
sido tão covarde quanto Caleb tinha sido.

Caleb continuou a se aquecer no momento em que levantou a

cabeça para inspecionar a sala que agora era dele. Alisando a frente

de sua camisa preta, examinou a multidão imóvel. — Mate-os. —

O comando, quase indiferente e irreverente, não fez com que os

soldados atordoados voltassem a se mover imediatamente. O rei

deles tinha acabado de morrer e um novo rei, um ainda mais

implacável e sádico, acabou de dar um passo à frente para ocupar

o seu lugar. Mesmo que tivessem sido treinados toda a sua vida

para um dia seguir Braith, o massacre de Caleb de seu governante

acabara de lhe render o trono. —Exceto a garota, mantenha-a viva,

se puder. — Caleb levantou a cabeça para inspecionar Aria. — Eu

tenho alguns planos verdadeiramente magníficos para ela.

Um calafrio percorreu a espinha de Braith quando ele

encontrou o olhar de Aria. Seu rosto estava pálido, seus olhos

sombreados e assombrados enquanto ela o olhava. Ele sabia que

ela nunca se permitiria ser levada viva novamente. Não importava

o que fosse preciso, ele tinha que mantê-los vivos até que Jack

pudesse chegar aqui, isso se Jack pudesse chegar aqui, com os


reforços.

A sala irrompeu em violência novamente e os soldados

avançaram para obedecer ao comando do novo rei.


Capítulo Quatorze

Aria se forçou a manter a calma, respirar fundo e firmar as

mãos trêmulas enquanto puxava uma flecha da aljava. Ele acabou

de assassinar o próprio pai. Caleb matou o homem que ajudara a

criá-lo e que o moldou à sua imagem. Ela não deveria estar

surpresa, afinal passou um bom tempo na companhia deles nos

últimos dias e sabia que não havia nada que eles não fossem

capazes, mas não podia abalar a repulsa e o horror que a envolvia.

A pior parte era agora que a horrível desova do diabo era o

novo rei.

Lutando para manter a compostura, Aria fez o máximo para

ignorar a pontada no dedo médio ferido e colocou a flecha contra

o arco disparando-a contra um soldado que se aproximava de

William. Ela não pensou sobre o sofrimento de William, agora não

podia. Não quando a ordem de morte deles acabou de ser passada

de mãos. A flecha atravessou as costas do vampiro, atingindo seu


coração quando o homem caiu para frente.

Max avançou com um grito alto e jogou o ombro em um dos

soldados que se aproximava de William. Xavier agarrou a lança

que foi libertada e usou-a para espancar três guardas que tentavam

chegar a Daniel enquanto ele cuidava apressadamente da ferida de

William. Keegan, parecendo sentir a necessidade extra de proteção

de William, permaneceu perto dele, ao seu lado.

Aria rapidamente soltou uma rajada de flechas nos soldados

concentrados em seus irmãos. Ela desejou poder oferecer cobertura

para Braith também, mas ele parecia estar lidando com os soldados

razoavelmente bem de sua posição elevada na mesa. Seus irmãos

estavam desprotegidos, vulneráveis, mesmo com Max e Xavier

tentando lutar contra os homens determinados a destruí-los. Aria

disparou mais duas flechas, deixando apenas cinco na aljava que

Braith havia jogado nela.

Seu olhar correu rapidamente pelo corredor; ela precisava

encontrar outra coisa para usar. Um alto grito chamou sua atenção

de volta para a batalha abaixo. Sangue escorria de um corte

profundo na bochecha de Max e a camisa rasgada revelava o peito


firme com sangue saindo de sua carne. Aria apertou a mandíbula

e disparou uma flecha para o vampiro se aproximando dele. O

guarda se jogou para frente antes de cair pelo golpe fatal.

Max fez um breve agradecimento a ela antes de voltar para

ajudar Xavier. Braith foi cercado por cinco soldados e ela

conseguiu tirar um deles, mas logo ele foi rapidamente substituído

por outro. Terror rasgou através dela, havia muitos deles, era

apenas uma questão de tempo antes de serem esmagados.

Caleb caminhou casualmente sobre o corpo de seu pai

descendo os degraus do estrado. Respirando fundo, o mundo ao

seu redor ficou estranhamente silencioso enquanto ela focava todo

o seu ser em Caleb e disparava uma flecha diretamente em seu

coração já frio e amortecido. No último segundo, um dos guardas

avançou e se jogou entre Caleb e a flecha.

A cabeça do agora rei se inclinou para trás e um sorriso

malicioso curvou sua boca quando seus lábios se afastaram para

revelar suas presas alongadas. Aria encontrou seu olhar,

recusando-se a recuar e se esconder da perversão distorcida em

seus olhos. Então, de maneira muito deliberada, ele inclinou a


cabeça e acenou para onde ela havia visto Braith pela última vez.

Braith estava sendo empurrado para trás pela onda de

soldados pressionando contra ele. Ela disparou mais três flechas

em rápida sucessão, matando dois guardas e derrubando

outro. Havia apenas duas flechas restantes; ela teria que fazê-los

contar.

A adrenalina a atravessou quando Braith foi conduzido até

onde Max e Xavier estavam. bem diante de Daniel e William. Eles

iam morrer. Aria estava prestes a assistir as pessoas que mais

amava serem abatidas bem na sua frente. Caleb passou por baixo

da viga onde estava empoleirada e um grunhido de dor escapou

de Braith. Com o coração martelando pelo pânico, ela correu pelas

vigas em direção a uma bandeira pendurada acima do trono do rei.

Aria se ajoelhou na viga e se esticou, batalhando quando seus

dedos se atrapalharam para pegar a ponta do mastro. Ela quase

caiu da viga enquanto avançava, mas conseguiu se segurar

travando os tornozelos ao redor da madeira maciça no último

segundo. Segurando o poste, ela se livrou da parede mal

vislumbrando o brasão do rei, com um dragão vermelho sobre ele


e caiu para frente, girando em torno da viga para se balançar pelos

tornozelos por um segundo.

Respirando fundo, Aria usou o mastro para ajudar a se

recuperar. A alça de madeira da bandeira era sólida e reconfortante

em seu alcance. Ela ansiava por sentar-se por um momento para

acalmar os tremores em seus músculos, mas não havia tempo para

isso. Suas pernas tremiam quando ela se levantou e voltou para a

briga que se reuniu em torno de Braith e dos outros.

Soldados se separaram ao redor de Caleb, recuando para

permitir o seu acesso às pessoas reunidas no canto de trás da sala.

Eles iam morrer; Caleb ia matar todos eles. O desespero a

levou a levantar o mastro e esmagá-lo com toda a força que

conseguiu reunir contra a viga maciça. O esforço sacudiu seus

braços e mãos, mas o mastro se estilhaçou. Não era muito, mas com

certeza era muito melhor que nada. Apoiando-o na viga e, tirando

as últimas duas flechas, Aria disparou com precisão mortal para o

soldado mais próximo de Daniel e o mais próximo de Xavier, pois

eram os dois mais ameaçados no momento.


Ela jogou o arco inútil de lado quando Braith agarrou um dos

guardas pelo pescoço, puxando-o abruptamente e por um

momento horrível, Aria pensou que ele fosse se perder na

escuridão novamente, mas Braith levantou o guarda e o jogou nos

soldados que os rodeavam. Xavier avançou, apunhalando a lança

profundamente em outro soldado e empurrando-o com força para

trás. Daniel conseguiu colocar William em pé e encostou-o na

parede atrás das suas costas e de Max.

Os ombros deles arfavam, todos os rostos estavam

machucados, com o sangue deles e de outros cobrindo-os, mas

ainda pareciam preparados para continuar a luta levantando suas

escassas armas. Aria ergueu a lança quebrada e girou-a em suas

mãos , movendo-se para o lugar onde havia subido na viga.

Curvando-se, estava prestes a pular na mesa quando as portas do

outro lado da sala se abriram.

Aria ficou boquiaberta quando Natasha atravessou as portas

com Jack, o pai de Aria e os outros em seus calcanhares. A tensão

dolorosa em seus músculos diminuiu quando ela se levantou para

observar a nova confusão que irrompeu na sala. Os soldados e a


milícia do rei convergiram com um forte estrépito de metal e gritos

de ira e dor. Aria recuou da violência que reverberou pela sala, o

sangue foi implacavelmente e metodicamente derramado, mas ela

saudou a esperança que a nova chegada trouxe consigo.

A atenção dos homens de Caleb foi dividida entre perseguir

Braith e tentar afastar a nova ameaça que havia entrado na sala.

Calista correu à frente quando Natasha tentou fugir do exército

invasor. Calista agarrou a mulher vampira e a trouxe abaixo dela.

Aria nunca gostou de Natasha, mas isso não significava que queria

testemunhar sua morte também.

Aria se virou antes que Calista desse o golpe final. Daniel,

Max e Xavier saltaram para frente enquanto os guardas que os

cercavam eram distraídos pelas tropas que inundavam a sala. Ela

estava se preparando para saltar quando Braith apareceu embaixo

dela. Seu rosto estava ensanguentado, suas roupas simples de

floresta estavam esburacadas e rasgadas e ainda havia um buraco

no seu peito e no estômago, mas ele parecia estar curando

rapidamente. Embora sentisse violência nos ombros dele e a

mandíbula travada, seus olhos já não estavam vermelhos quando


encontraram os dela.

— Fique aí em cima! — Ele gritou.

Aria se irritou com seu comando. Ele não lhe deu tempo para

protestar pois começou a empurrar e lutar em direção a Caleb. Ela

estava prestes a ignorá-lo e pular de qualquer maneira mas

subitamente congelou. Se sua captura lhe ensinou alguma coisa, foi

que era preciso pensar antes de agir, e ela sentiu que este era um

daqueles momentos em que o melhor para ela era ficar fora do

caminho e não mergulhar na briga. Aria seria apenas uma

distração para sua família e amigos, e especialmente para Braith.

Sua natureza rebelde lutou contra sua decisão, mas ela conseguiu

se conter.

Através da multidão, Aria avistou seu pai pelas portas da

enorme sala do trono. Havia uma bandagem ensanguentada ao

redor do ombro dele, mas ele parecia desimpedido pela ferida pois

disparou uma flecha e matou um guarda que saltou sobre ele. O

alívio a encheu; lágrimas queimaram sua garganta quando ele

levantou a cabeça e a viu do outro lado da multidão. Eles trocaram

um breve sorriso e acenaram antes dele ser novamente engolido


pela multidão de pessoas.

Sua atenção se voltou novamente para Caleb que tentava se

perder na pressão dos corpos enquanto os dois lados golpeavam e

se esfaqueavam com uma intenção implacável. Aria não ia deixá-

lo escapar tão fácil assim. Ela o seguiu através das vigas e Braith o

seguia no chão. A maré da luta parecia estar virando na direção

deles, mas ainda estava longe de terminar e Caleb soltou ordens

enquanto se retirava para a mesa, e depois para ela. Aria percebeu

tarde demais o que ele estava fazendo e o que pretendia. Ele nunca

esteve recuando, mas indo em direção a algo.

— Braith, cuidado! — Ela gritou acima do barulho incessante

do salão enquanto Caleb pegava um arco e flecha e apontava para

Braith.

Braith se virou para o lado, mal se esquivando da flecha que

Caleb atirou nele. Um rugido alto escapou quando ele finalmente

se libertou e correu em direção a seu irmão em um borrão de

movimento. Caleb disparou outra flecha que Braith agarrou no ar

e jogou de lado. Caleb jogou o arco inutilmente em Braith e se

preparou para o impacto.


Aria estremeceu quando eles colidiram com um grito

estrondoso e o barulho alto de pelo menos um osso quebrando,

embora ela não soubesse quem o havia sofrido. Ela não queria

olhar, mas não conseguia desviar os olhos quando eles caíram em

cima da mesa, esmurrando e rasgando um ao outro com uma

ferocidade que rivalizava com dois lobos alfa lutando pelo

domínio.

Todo o seu ódio contra o outro irrompeu em uma violenta

batalha que destruiu os pratos, esmagou e dobrou as taças de ouro,

derrubou os castiçais e algumas das pobres almas presas nas

cadeiras. Eles rolaram pela mesa enquanto socavam, chutavam e

se esforçavam para ficar no topo, para permanecer no controle e

destruir o outro. Os barulhos guturais e animalescos que vinham

deles eram diferentes de tudo que ela já ouviu e sinceramente

esperava nunca mais ouvir.

Braith estava se recuperando rapidamente, mas ainda estava

debilitado, e Caleb esteve se alimentando melhor do que ele. Mas

mesmo assim, parecia que Braith estava ganhando pois arrasou

Caleb com um golpe brutal que desabou na sua maçã do rosto.


Caleb uivou enquanto arranhava o rosto de Braith, tentando rasgar

seus olhos, lutando para escapar dos socos devastadores de seu

irmão mais velho.

Náusea torceu no estômago de Aria. Isso era guerra e guerra

é brutal, ela lembrou a si mesma. Ela tinha feito o seu quinhão de

mortes hoje, mas o que havia entre eles era algo mais do que a

guerra. Esta era uma veemência que vinha se construindo há

séculos, e que finalmente estava sendo liberada em uma torrente

de sangue e aversão.

Caleb de alguma forma conseguiu torcer o corpo no aperto de

Braith e evitar o próximo soco. O punho de Braith bateu na pesada

mesa de madeira, o som áspero de ossos estalando era distinto

mesmo sobre o estridente da sala.

Braith amaldiçoou em voz alta e puxou a mão quebrada para

trás quando Caleb empurrou os dedos no pomo de Adão dele.

Braith foi jogado longe o suficiente pela mudança nos métodos de

ataque de Caleb, que conseguiu colocar suas pernas entre eles e

empurrou Braith, derrubando-o na mesa. Caleb conseguiu sair de

debaixo dele e cambaleou de pé, quase caindo, mas de alguma


forma manteve o equilíbrio e segurou uma das tochas nos castiçais

acima dele.

Um grito de horror escapou quando Caleb empurrou Braith

para a chama. Braith recuou quando as chamas atingiram o final

de sua camisa. Ele estava batendo nelas quando Caleb se lançou

para ele novamente. Derrubando a tocha de lado, Braith agarrou o

braço de Caleb e empurrou-o para frente. Caleb conseguiu evitar o

soco de Braith e bateu o ombro na parte inferior do peito de Braith,

impulsionando os dois através da mesa.

Eles caíram, saltando sobre a superfície dura antes de

derramar no chão sob seus pés. Braith agarrou a camisa de Caleb,

levantou-o e esmagou-o no chão. Caleb ficou atordoado por um

momento, mas então rapidamente chutou Braith e foi levantado

novamente. Aria estava tão focada na briga entre eles que não

notou o soldado que havia surgido atrás de Braith até que ele

esmagou um porrete das costas de Braith.

Um grito de angústia saiu dela quando Braith se lançou para

a frente sob a força do golpe. Braith se virou quando o guarda

voltou para ele com o porrete erguido e um brilho malicioso em


seus olhos. Arrancando o porrete das mãos do homem, atingiu-o

no rosto. Enquanto estava distraído, Caleb se jogou nas costas de

Braith. A faca que ele brandia brilhava à luz da sala. Braith bateu a

mão de lado, impedindo Caleb de cortar sua garganta

completamente, mas seu irmão ainda foi capaz de cortá-lo. Sangue

jorrou quando a pele fatiada de Braith começou a sangrar

profusamente, e mais guardas o cercaram.

Ela cedeu e ficou no ar, mas não havia como ficar parada e ver

Braith ser assassinado a sangue frio. Seu olhar caiu para o pedaço

de mastro quebrado que havia deixado para trás. Ela correu para

pegá-lo mas a sensação sinistra era de que já poderia estar atrasada;

e esse pensamento deu-lhe uma explosão de velocidade levando-a

rapidamente para Braith.

Braith estava lutando contra dois guardas quando Aria se

lançou da viga para cima de Caleb. Houve um momento em que

quase se sentiu voando, suspensa como uma pena no ar enquanto

Braith morria. E então, finalmente, ela começou a cair.

Caleb cambaleou quando ela caiu em suas costas e quase o

deixou de joelhos. De alguma forma, ele conseguiu equilibrar-se


enquanto ela envolvia as pernas ao redor de sua cintura e apertava

as coxas contra seus lados. Com um grito feroz, ela levantou a

estaca improvisada acima da cabeça e a mergulhou. A pele e o osso

de Caleb cederam com um ruído alto sob a madeira fraturada

enquanto ela o conduzia com uma força nascida do terror e do

amor. Suas pernas cederam quando a estaca improvisada

atravessou a caixa torácica e perfurou o outro lado. Mesmo antes

de ver o ângulo da madeira, ela sabia que não tinha sido um golpe

direto em seu coração.

Um uivo escapou de Caleb e recuou, tentando jogá-la longe,

mas Aria aderiu a ele como um carrapicho no pano. Ela conteve

um grito de agonia e frustração quando ele agarrou-a por suas

costas, abrindo seus braços com as unhas, mas não cortando tão

fundo quanto as criaturas dos Vales. Caleb bateu nela, usando a

visão disponível pelo canto do olho e abrindo seu lábio enquanto

ela tentava manter seu rosto protegido dele.

De repente, Braith estava diante deles. Ela nunca o tinha visto

assim antes, selvagem e letal, mas ainda assim com um ar de

controle que ele nunca demonstrou quando sua vida foi ameaçada
antes. Seus olhos, quando encontraram os dela, não estavam

rubis. Em vez disso, eram um cinza penetrante que tocava o centro

de sua alma com sua beleza. Ela sabia, sem palavras, sem um gesto

ou movimento, o que ele queria que ela fizesse.

Uma explosão final de energia fluiu através dela quando Aria

saltou das costas de Caleb. Braith se lançou para frente e a agarrou

pela cintura. Puxando-a protetoramente contra ele, Braith bateu a

mão direita no peito de Caleb. Um gemido desumano escapou de

Caleb e ele recuou sob o ataque quando Braith deu um puxão com

uma força poderosa. Aria se virou e enterrou o rosto no pescoço de

Braith quando o lamento de Caleb aumentou potencialmente antes

de silenciar completamente.

Ela balançou contra ele, agarrando-se à sua sólida estrutura

enquanto a segurava contra o seu lado com os pés balançando no

ar. Sua mão tremia ao tocar o suor do cabelo úmido do rosto dela.

Aria nem se importava que ele a tocasse com a mão que acabou de

destruir seu irmão e ergueu o olhar para encontrar seus olhos

frenéticos. Simplesmente o olhou por um momento, se deleitando

com a sensação dele.


Um pequeno suspiro escapou de seu peito. Ele era a única

coisa que ela podia ver, a única coisa que podia sentir quando a

beijou com firmeza, mordeu seu pulso e ofereceu seu sangue para

ela. Ela olhou para ele por um momento antes de segurá-lo e

pressioná-lo à boca. Aria ansiosamente engoliu, puxando seu

sangue em seu corpo enquanto tentava se livrar do horrível gosto

do sangue do rei que manchava sua língua e garganta. A doçura e

a pureza de seu sangue, fluía para dentro de seu corpo, curando-a

ao mesmo tempo em que ajudava a purificar-se.

Braith beijou sua testa e se afastou da mesa, arrastando-a para

as sombras de uma alcova. Aria gradualmente se deu conta do

silêncio que havia descido ao redor deles e soltou o braço de

Braith. Com a mão dele pressionada no oco de suas costas, ela se

inclinou nele para inspecionar o salão. Os poucos soldados que

continuaram a lutar foram rapidamente derrubados. Ao que

parecia, a maioria dos soldados restantes do rei desistiu da luta no

momento em que Caleb foi destruído. Agora estavam todos

empurrados contra a parede oposta, com as armas no chão a seus

pés e seus braços levantados em rendição.


Havia um novo rei agora.

— Estamos seguros? — Ela sussurrou.

Os lábios de Braith estavam quentes contra seu ouvido

quando ele inclinou a cabeça para a dela. — Sim. Você está segura

agora, Arianna.

O coração de Aria martelou e sua mão apertou as suas costas,

ela não queria deixá-lo ir, mas precisava.

O aperto dela sobre ele diminuiu quando a deslizou para seus

pés. Corpos e sangue estavam espalhados pelo chão; nas paredes

via-se os restos espirrados dos mortos e os corpos cansados dos

lutadores que permaneceram descansando. De alguma forma, ela

conseguiu evitar vomitar enquanto inspecionava a carnificina. Jack

momentaneamente chegou ao primeiro plano e gesticulou

freneticamente para que Braith se juntasse a ele. O pressentimento

encheu-a quando ela deu um passo em direção ao grande

grupo. Braith agarrou seu rosto, afastando-a das baixas espalhadas

pela sala e derramando-se no corredor além das portas maciças.

— Eu tenho que ajudá-los. — Ela conseguiu dar um pequeno


aceno de cabeça enquanto seus olhos varriam seu rosto. — Eu

preciso que você fique aqui, Aria. Por favor, faça o que eu peço até

que tudo esteja seguro.

Ela deveria ajudar, mas a ideia de mergulhar naquela pilha de

cadáveres era mais do que podia tolerar agora. O pensamento de

encontrar um de seus entes queridos entre os mortos fez com que

seu estômago se revirasse em nós. Poderia ser covardia, mas ela

não conseguiria enfrentar essa possibilidade agora, simplesmente

não podia. Eles estavam bem, tinham que estar; ela simplesmente

não podia vê-los agora através da multidão de humanos e

vampiros enchendo a sala. — Eu vou.

Seus olhos se fecharam por um breve instante e seus ombros

caíam. Ele a beijou por um momento demorado antes de

relutantemente soltá-la; ele pegou um arco e um quase vazia aljava

de flechas do corpo de um guarda morto. Aria aceitou as armas

salpicadas de sangue. Ela deu um passo para trás observando

Braith desaparecer na onda de corpos. Embora não apreciasse o

pensamento de matar mais alguém, ela puxou uma flecha da aljava

e a descansou contra o arco, procurando uma possível ameaça pela


multidão.

Aria finalmente viu William encostado na parede do fundo

com seu próprio arco e flecha. Ela jogou o arco por cima do ombro,

pegou a aljava e pulou no topo da mesa. Alguns de seus medos

diminuíram quando se afastou do corpo de Caleb.

William a olhou brevemente antes de se concentrar no grupo

de soldados sendo contido por Braith e os outros. Pousando ao

lado do seu irmão, ela se tranquilizou em sua sólida presença,

entrelaçando seus dedos com os dele, puxando-o para um

abraço. Aria lutou contra as lágrimas quando ela o abraçou. — É

bom ver você. — Ele disse.

— Também fico feliz.

William a soltou e caiu contra a parede voltando o olhar

atento para a multidão. —Não faça isso de novo.

— Eu vou me esforçar para evitar.

Ele sorriu para ela enquanto levantava uma sobrancelha. —

Você tem o hábito de ser comida de vampiro.


— Ha ha. — Ela murmurou. Sua mão livre caiu para a cabeça

de Keegan enquanto sem palavras agradecia ao lobo por vigiar seu

irmão. — Você está bem? — Ela olhou cautelosamente a atadura

manchada de sangue que Daniel tinha apressadamente enrolado

em torno de sua coxa.

— Vou sobreviver.

— Isso é reconfortante. — Ela disse.

— Você está bem?

— Sim. — Seus olhos correram sobre ela enquanto ele tentava

julgar a verdade por trás de sua resposta. William parecia tentar

ver em sua alma, tentando ver o que tinha sido feito com ela, quem

ela era agora, e se seria a mesma. Nada mais seria o mesmo, mas

havia algumas coisas que nunca mudariam. — Eu estou bem. —

Seu olhar varreu as marcas irregulares de garras de Caleb e as

mordidas cruas cobrindo seus braços, clavícula e pescoço. —

Mesmo.

Seus olhos, tão parecidos com os dela, se encontraram e se

sustentaram. — Ele mereceu o que conseguiu, Aria.


Ele a conhecia tão bem, tão inacreditavelmente bem. Caleb merecia

o que tinha conseguido, ele teria feito coisas muito piores para ela

e para Braith, mas Aria não podia se livrar da sensação de seu

corpo balançando sob o dela. Aria se preparou quando se virou

para examinar os sobreviventes. Já estava quase terminado; ela

deveria se sentir mais animada, mas simplesmente se sentia mal e

desesperada para ver sua família.

— Onde estão Daniel, Max e Xavier? — Ela perguntou.

— Eles foram ajudar na luta.

— Você tem... — Ela teve que engolir antes que pudesse

continuar. — Você viu eles? Papai?

Seus olhos se fecharam e ele deu uma pequena sacudida de cabeça.

Ela estava achando difícil respirar quando piscou de volta as

lágrimas que queimavam seus olhos e se concentrou no grupo

diante dela. Jack e Ashby se juntaram a Braith na frente da guarda

restante do rei. A maioria dos homens do rei caiu de joelhos à

aproximação de Braith, mas alguns permaneceram em pé por puro

desafio. Pela primeira vez ela notou Melinda pressionada contra o


lado de Ashby. Ela parecia quase tão chocada quanto Aria se sentia

quando se inclinou contra ele.

Sobre o mar de cabeças, ela avistou mais lutadores do outro

lado das portas maciças que se abriam para o corredor. Aria

prendeu a respiração e deu um passo para frente. Era lá onde eles

tinham que estar, o pai dela tinha estado perto das portas, e os

outros deveriam ter lutado para sair por ali, e agora estavam

ajudando a supervisionar as coisas no corredor.

Calista e Gideon apareceram do corredor e cercaram Braith e

Jack. Calista gesticulou para as portas quando Gideon solenemente

baixou a cabeça. Uma carranca franziu sua testa quando viu Jack

se virar e correr em direção às portas. Agarrando seu braço,

William a deteve enquanto ela dava outro passo para frente. O

pavor se curvou em seu estômago quando Jack começou a jogar

freneticamente de lado os corpos caídos. Braith estava ao seu lado

num instante. Eles gritaram algo um para o outro que Aria não

pode discernir acima do rugido do sangue pulsando através de

seus ouvidos.

O olhar de Aria voou sobre a multidão; ela viu Saul e Frank,


mas onde estavam seu pai e Daniel? Onde estavam Max e Xavier?

Seu coração estava martelando e sua garganta ficou seca.

Havia algo arranhando suas entranhas, algo hediondo e

assustador; algo que tornava difícil respirar quando Jack jogou de

lado outro corpo amassado. E então ele congelou; sua mão parando

no ar quando um olhar de desespero cruzou os rostos dele e de

Braith. Aria sacudiu o aperto fraco de William e deu outro pequeno

passo à frente. Ela não podia ver o que eles estavam olhando, ainda

havia muitas pessoas entrando e saindo de sua linha de visão.

A mão de Aria moveu-se lentamente para a boca, ela não

conseguia respirar e o salão começou a rodar. William inclinou-se

pesadamente em uma lança de apoio e ele deu um passo ao lado

dela. Daniel se libertou da multidão no corredor, Max e Xavier

estavam próximos em seus calcanhares quando ele empurrou

alguns dos guardas contidos. Um grito se alojou na garganta de

Aria; quebrando sua paralisia quebrou quando ela correu para

frente. William cambaleou desajeitadamente atrás dela, tentando e

não conseguindo segurá-la enquanto ela corria em direção a Braith

e Jack.
A cabeça de Braith subiu quando ela descuidadamente atacou

a multidão. Braith pulou sobre os corpos espalhados ao redor dele,

correndo para encontrá-la no caminho. Seus braços envolveram

sua cintura e ele a ergueu alto. O grito que ela tinha sido incapaz

de liberar antes finalmente arrancou de sua garganta com força

total.

— Papai! — Ela gritou e seu coração se despedaçou e lágrimas

de angústia se soltaram.

Seus braços se esticaram quando ela tentava alcançar o corpo

de Daniel caído ao seu lado. A mão de Braith envolveu sua cabeça

e ele empurrou seu rosto no oco de seu pescoço, segurando-a. Ele

se recusou a deixá-la olhar novamente enquanto ela soluçava

contra ele. Era tarde demais, Braith estava tentando protegê-la,

mas ela já tinha visto o suficiente para saber que seu pai tinha

morrido.
Capítulo Quinze

Braith tinha originalmente levado Aria aos apartamentos de

Melinda para afastá-la do tumulto e do corpo de seu pai. No

entanto, após o primeiro dia de silêncio mudo alternado com o

choro intermitente, ela saiu do palácio enquanto ele estava

preocupado em tentar resolver as coisas. Encontrou-a nos

estábulos com Max, cuidando dos animais feridos com cuidados

intensos. Os dois pareciam contentes longe da confusão de pessoas

e vampiros, e ele não teve coragem de protestar.

Braith simplesmente não podia desgostar de Max, e de fato

veio a respeitá-lo. O menino tinha passado por coisas que Braith

nunca entenderia, ele tinha sido danificado e atormentado por eles,

mas em algum lugar ao longo do caminho, Max deixou de ser um

menino e se transformou em um homem. Um homem que

protegeu suas costas e o seguiu com firmeza para o palácio,

sabendo que nunca teria a única pessoa que ele mais cobiçava.
Max notou-o primeiro na porta do estábulo e cutucou Aria

para chamar sua atenção. —Eu sei. — Ela murmurou enquanto

cortava o fio que usava em um cordeiro ferido. — Eu não vou

voltar para lá, Braith. Você não pode me obrigar.

Ele não pôde deixar de sorrir quando ela o olhou por cima do

ombro. Círculos escuros sombreavam seus olhos assombrados e

avermelhados. Ele estava bem ciente do fato de que ela não tinha

dormido na noite passada, e que provavelmente não dormiria esta

noite, mas seu queixo se projetava com determinação e seu olhar

era desafiador quando se encontrou com o dele. Ela estava

danificada, parcialmente quebrada, mas aquele espírito radiante

ainda tremulava sob a tristeza.

— Eu já consegui obrigar você a fazer alguma coisa?

Max riu, levantou o cordeiro, acenou para Braith e vagou pelo

corredor do único estábulo que sobreviveu ao incêndio. Levou a

maior parte do dia para finalmente extinguir o fogo dentro das

muralhas do palácio, e ainda havia algumas casas queimando na

cidade exterior. Existia uma equipe trabalhando em apagá-lo com

a água do rio, mas esperançosamente eles os eliminariam ao


anoitecer.

Aria limpou o sangue das mãos com um pano sujo. — Eu

suponho que não. — Ela admitiu com um sorriso trêmulo.

— Há quanto tempo você está aqui fora?

— Um par de horas.

— Você deveria ter me dito. — Ele admoestou.

— Você estava ocupado.

— Eu nunca estou ocupado demais para ter certeza de que

você está segura. Ainda há alguns vampiros que são leais ao meu

pai, ainda não pegamos todos, e não é mais segredo para ninguém

o que você significa para mim.

Seus olhos piscaram e por um momento as lágrimas surgiram,

mas ela rapidamente piscou de volta. — Max esteve comigo e eu

tenho meu arco.

A curva esbelta de seu pescoço atraiu seus olhos quando ela

olhou para as portas do celeiro. Ele estremeceu com a miríade de


marcas de mordidas e contusões de seu irmão e pai, lembretes

gritantes da brutalidade que Aria suportou e sobre o que ainda

tinham que falar. Havia um ar de desolação ao seu redor que ele

não sabia como aliviar isso.

— Pelo menos tenha um vampiro com você; eu não posso te

perder novamente, Aria. — Ele sabia que sua liberdade era

essencial, mas ela tinha que permanecer viva. Algo cintilou em

seus olhos quando ela se virou para ele e olhou-o para dizer algo

mais, mas simplesmente assentiu. — Xavier se afastou como líder

de seu povo.

Suas sobrancelhas se uniram sobre o nariz. — Por que ele faria

isso?

— Xavier sempre preferiu seus livros e histórias mais do que

seu papel como aristocrata. Ele nunca teve a oportunidade de se

afastar antes, mas agora tem a chance de definir seu próprio

destino. Ele escolheu permanecer como conselheiro, e se dedicar às

questões importantes que envolvem as pessoas que ele

representará quando for necessário, mas ele não quer se envolver

na administração diária do governo. Todos concordamos em


aceitar sua decisão. Ele disse que ficaria com você, se concordasse.

Tudo bem?

— Por que ele iria querer ficar comigo quando acabou de

ganhar a liberdade que desejava?

Agora não era a hora de dar a verdadeira resposta a essa

pergunta, mas ele também não conseguia mentir para ela. — Ele

está curioso sobre como a rebelião funcionou. Ele não vai te

pressionar, não vai te perguntar nada, mas se você estiver disposta

a conversar, ele está mais do que disposto a ouvir.

— Entendo. — Ela murmurou. — Isso é bom.

— Aria... — Ela levantou a mão para evitar suas palavras.

— Eu não me importo com Xavier ficando, realmente. Eu só

gostaria de estar aqui fora, longe de... — Suas palavras sumiram e

seu olhar disparou em direção ao palácio. Seu pai era um dos

poucos que ainda não foram enterrados. Ele foi colocado no

segundo corredor do andar principal para que cada um de seus

seguidores tivesse a chance de se despedir. Barnaby, cujo corpo

também foi recuperado, estava deitado no quarto ao lado do de


David. Seu pai, Caleb e Natasha não tinham recebido o mesmo

luxo e já haviam sido enterrados em sepulturas não marcadas,

longe do palácio. — Eu só tenho que estar fora por um tempo.

— Compreendo.

Sua atenção foi desviada quando Max retornou com um

pequeno porquinho gritando em seus braços e sangrando de um

corte em sua perna. — Eu tenho que voltar para os animais.

Ele pensou que ela simplesmente se afastaria dele, que iria

excluí-lo. Depois de um momento de hesitação, ela correu os

braços ao redor de sua cintura e o abraçou. Ele sentiu a umidade

de suas lágrimas, mas quando Aria se afastou, seu rosto estava

seco. Braith tirou o cabelo do rosto dela e a beijou suavemente,

deixando-a aos cuidados de Xavier e Max.

Braith odiou não poder estar presente quando ela se retirou

para os estábulos por dois dias, mas havia muito para consertar e

ordem para ser restabelecida. Os seguidores de Barnaby estavam

confusos e perdidos. Calista e Gideon assumiram a tentativa de

organizá-los, enquanto Adam, o segundo de Barnaby, tentava


lentamente assumir o comando.

Xavier relatava os acontecimentos para ele todas as noites,

mas não era o mesmo. Ele ansiava estar com ela durante o dia, mas

agora sabia que nem sempre poderia ter tudo o que queria. Não

mais. Ele se recusou a deixá-la durante a noite, não importando a

necessidade que pudesse surgir, ele não sairia do lado dela e pra

isso colocou Jack e Gideon no comando de qualquer crise que

surgisse nesse turno.

Por duas noites ele a abraçou enquanto ela ficou acordada.

Aria permaneceu muda, olhando sem foco para a escuridão, às

vezes derramando lágrimas silenciosas que partiam seu coração.

Em todos os seus anos ele nunca se sentiu mais desamparado, nem

mesmo quando Caleb a tinha tirado dele. Pelo menos então havia

um plano, uma missão e alguém para destruir. Não havia nada e

nem ninguém agora de quem ele pudesse protegê-la, nenhum jeito

de aliviar sua profunda mágoa.

Braith não sabia como lidar com o sofrimento, ele não podia

vencê-lo, nem quebrá-lo, e ele certamente não poderia matá-lo.

Tudo o que conseguia fazer era ficar impotente ao lado dela e


abraçá-la enquanto ela sofria durante as noites. Não ajudava que

Aria não falasse sobre isso, a simples menção de seu pai a fazia

recuar; deixando seu rosto impassível toda vez que seu pai ou

Caleb eram citados.

Finalmente, na noite anterior, algo mudou. Muito tempo

depois de cada um ter recuado para dormir, ela se levantou da

cama, pegou um roupão e silenciosamente foi embora. Seu próprio

esgotamento quanto a situação fez com que ele a seguisse, incerto

de onde ela estava indo até chegar ao primeiro andar. Ele esperou,

pairando na porta enquanto ela vagava para o lado de seu pai. Aria

estava ao lado do caixão que escondia o ferimento que David

sofreu em seu ombro e o buraco de lança no coração que foi a sua

queda. Braith estava infinitamente feliz pelas feridas estarem

escondidas quando ela se sentou no banquinho ao lado do pai,

colocou a cabeça no peito dele e começou a chorar mais

abertamente do que nos últimos três dias.

Embora desejasse ir até ela, abraçá-la e afastá-la dali,

permaneceu imóvel. Ele sentiu instintivamente que ela estava

simplesmente procurando uma maneira de se curar, uma maneira


de dizer adeus sozinha, e que ele não pertencia a este

lugar. Retirando-se da porta, deixou-a dentro da sala enquanto se

acomodava no chão de mármore frio do lado de fora esperando

que ela voltasse para ele. Aria não ressurgiu até que os primeiros

raios de luz do dia quebrassem no horizonte.

Braith a levou de volta para a cama, onde ela caiu em um sono

profundo por algumas horas; o que foi muito mais do que os meros

minutos das últimas três noites.

Agora, no quarto dia, eles estavam enterrando David. Um

homem ao qual Braith lamentava a morte e não apenas por causa

de Aria. David foi um bom homem, criou uma mulher incrível;

amou seus filhos e realizou muito em sua curta e mortal vida. Eles

bateram de frente com Aria, mas somente por causa de seu amor

mútuo por ela. No final, David revelou tudo o que sabia e mesmo

assim nada do que David lhes disse ofereceu alguma certeza às

perguntas que Xavier apresentou.

Braith manteve o braço ao redor de sua cintura, sem

realmente segurá-la, mas sentindo que era apenas uma questão de

tempo antes que realmente precisasse disso. O irmão de Aria


estava ao seu lado, tão fiel quanto nos últimos dias. Eles tinham ido

quase à exaustão em todos esses dias, ajudando a supervisionar os

reparos para o pior da destruição forjada e a reforma do novo

governo.

A pele de Aria estava estranhamente pálida contra o negro

que a envolvia. Ele manteve o guarda-chuva sobre a cabeça dela,

protegendo-a da chuva constante enquanto ela se aproximava. Seu

cabelo caiu para frente para abrigar seus traços delicados enquanto

ela mantinha a cabeça baixa. Depressão já tinha tomado seu

pedágio nela. Sua clavícula, os ossos do peito e as costas das mãos

se destacavam. Ela não tinha comido muito nos últimos dias, mas

Xavier e Max se certificaram de que pelo menos recebesse o café da

manhã e almoço, e ele garantiu que ela colocasse um pouco de

comida no estômago na hora do jantar. Braith estava preocupado,

mas ele sabia que sob a tristeza sufocante, ela estava lá, ainda forte

e muito determinada a viver.

Pelo menos era o ele esperava dela.

O funeral não foi como qualquer outro funeral humano que

testemunhou ao longo dos anos, ou até mesmo os funerais de


vampiros mais elaborados que havia frequentado. Não havia

pregador e em vez disso, pessoas que sentiam vontade de falar.

Braith perdeu a conta dos humanos que se adiantaram para falar

de David. Logo depois foi a vez de Jack e, finalmente, Daniel

assumindo o lugar à cabeceira do túmulo. Embora eles não fossem

realmente enterrados um ao lado do outro, Aria pediu que o nome

de sua mãe fosse acrescentado à lápide, e Braith estava mais do que

disposto a obedecer.

Apesar de algumas vezes a voz de Daniel quebrar, ele não

chorou, e parecia tão forte quanto o líder que acabou de se tornar

enquanto falava de seu pai. Ao lado de Aria, os dedos de William

se contraíram e os dois apertaram as mãos brevemente antes de

romper o contato. Uma única lágrima deslizou pelo seu rosto

quando Daniel disse um último adeus e se afastou.

Os delicados dedos de Aria giraram em torno da única rosa

vermelha que segurava. Ela deu um passo à frente,

momentaneamente exposta à chuva enquanto jogava a flor no

caixão. Ela estava tremendo quando deu um passo para trás ao

lado dele. Braith ansiava tanto por ela que sentia o seu sofrimento
de uma forma tão intensa como se fosse seu.

Afastando-se, caminhou com ela entre a multidão de

humanos e vampiros enquanto se afastavam da floresta e voltavam

para o palácio. Ele se ofereceu para enterrar seu pai no cemitério

real, mas eles se recusaram, afirmando que David seria mais feliz

na floresta, e Braith sabia que eles estavam certos.

Uma vez dentro do palácio, ele a levou em direção às

escadas. O cabelo castanho de Gideon ainda estava úmido da

chuva, apressado para alcançá-los. — Mais tarde, Gideon.— Braith

informou-o rapidamente.

Gideon o olhou como se fosse discutir, mas ele fechou a boca

ao encontrar o olhar assombrado de Aria. — Assim que você for

capaz, é essencial que falemos.

— Eu vou descer novamente em algumas horas.

Gideon assentiu, inclinou a cabeça e se afastou. Braith sentiu

os olhos em suas costas enquanto a levava escada acima para os

novos quartos que ele reivindicou para eles até que sua antiga suíte

pudesse ser restaurada. Ele nem sabia ainda se Aria estaria


disposta a ficar no palácio, mas não iria pressioná-la sobre o

assunto de seu futuro agora. Falariam sobre isso quando ela

estivesse pronta.

Uma vez dentro do quarto, ele tirou o manto preto úmido de

seus ombros e jogou-o de lado. Seus braços estavam gelados e as

pequenas veias azuis que atravessavam sua pele pálida eram

claramente visíveis. As marcas que seu irmão e pai haviam

infligido a ela estavam escuras e vívidas. Com a mandíbula

cerrada, ele desejou que essas marcas desaparecessem o mais

rapidamente possível. Ela ficou de pé, imóvel diante dele enquanto

suas mãos percorriam brevemente os ombros nus.

— Você tem que começar a comer mais, Aria.

Seus olhos estavam escuros e remotos enquanto ela o

estudava. — Eu vou. — Ela prometeu categoricamente.

Ele sabia que, embora dissesse as palavras, não faria mais do

que escolher a comida que ele pedia para ela. —Um banho vai

ajudá-la a se aquecer.

— Sim.
Aria rigidamente foi com ele para o banheiro. Braith abriu o

zíper de seu vestido preto simples e deslizou para longe esperando

a água quente encher a banheira. Embora ela estivesse nua, ele não

sentiu nada sexual enquanto ajudava a aliviá-la na água. Tudo o

que aspirava a fazer era consolá-la, protegê-la, aliviar isso para ela

de alguma forma, e ele ainda nem sabia a extensão da tortura que

seu pai e seu irmão haviam exercido. Seu corpo ainda estava

coberto de hematomas desbotados e marcas de mordidas que

marcavam sua pele clara.

Ele mergulhou sem pressa um pano na água e passou-o pelos

seus ombros e costas. Ela não se esquivou de seu toque, já não

ficava envergonhada por isso como tinha estado quando chegou

ao palácio. Puxando os joelhos contra o peito, não para esconder

sua nudez, mas por gesto de conforto, apoiou os braços ao redor

de suas pernas, descansando a bochecha no joelho enquanto o

observava. Lágrimas não derramadas brilharam em seus olhos

enquanto ele esfregava o pano sobre as costas em pequenos

círculos calmantes.

— Aria.
— Tudo bem, eu vou ficar bem. Só estou sofrendo.

— Eu sei que você está.

— Por favor, não se preocupe comigo. Eu vou passar por

isso. Só preciso de tempo sendo que o tempo parece tão longo

agora, então pareço estar... vazia? Talvez não vazia, mas errada de

alguma forma, e não sei como explicar isso. Há esse buraco dentro

de mim e tudo que eu quero é que seja preenchido novamente, mas

isso é impossível, e tenho que aprender a viver com isso porque

não há outras opções. Tenho que descobrir uma maneira de

remendar o buraco o suficiente para que eu possa respirar de novo,

sem sentir como se o ar estivesse me sufocando.

A mão dele parou nas suas costas. Isso foi o máximo que ela

disse nos últimos quatro dias. — Diga-me o que fazer para

melhorar.

Ela franziu a testa, escorregando a mão das pernas para se

entrelaçar com a dele. —Não há nada que você possa fazer além de

estar aqui. — Ela murmurou. — O tempo ajudará, suponho. Eu

ouvi dizer que cura todas as feridas, mas não acho que isso irá
curar completamente. Como poderia? — As lágrimas escorreram

pelo seu rosto e ele as enxugou com a ponta do polegar. — Você

estar aqui faz melhor, estar comigo faz com que seja

melhor. Juntos. Nós vencemos, Braith, e isso é mais do que ousei

esperar.

— Nós vencemos. — E ela estava tão imersa em sua

melancolia que não sabia que se tornara uma espécie de

heroína. Daniel havia se adiantado para reivindicar o lugar de seu

pai, e William e Max haviam se tornado seus segundos no

comando, mas Aria era a pessoa de quem todos falavam, aquela

sobre a qual sussurravam. A humana que ajudou a derrubar o rei,

a ex-escrava que o novo rei adorava. Até mesmo os vampiros a

admiravam, ainda mais do que antes.

Seus olhos se fecharam enquanto ele lavava suas costas,

massageando sua pele procurando aliviar os nós em seus

músculos. — Eu sabia que havia uma boa chance de perder alguém

e me preparei para isso. Sei que ainda tivemos mais sorte. Não

estamos perdidos e temos a sorte de estar vivos e livres.

— Mas você ainda sente falta dele.


— Sim. — Sua miséria era palpável naquela única palavra. —

Eu nunca cheguei a dizer adeus. — Mais lágrimas deslizaram por

suas bochechas e ele não as limpou; essas eram dela para

derramar. — Eu nunca tive a chance de dizer novamente a ele que

o amava.

— Ele sabia.

Seus olhos pareciam ainda mais brilhantes com as lágrimas

brilhando e as sombras delineando-os. — Eu sei disso, mas antes

de nos separarmos no passado, sempre nos despedíamos e

trocávamos nosso amor. Caleb me roubou isso.

Sua mão parou em suas costas e cada músculo em seu corpo

congelou. Se seu irmão já não estivesse morto, naquele momento

ele o teria matado com prazer mil vezes. Ele esperou, incapaz de

tirar os olhos dela quando Aria finalmente falou de sua família. —

Estou com raiva de mim mesma por ter entrado naquela cidade,

mas faria de novo. Essa é a pessoa que meu pai criou, é quem eu

sou.

— É. — Ele concordou, ainda incapaz de fazer as perguntas


apresentadas em sua garganta. Estava desesperado para saber,

mas aterrorizado com as respostas que ela poderia lhe dar.

— Sinto muito por suas perdas também. — Ela sussurrou.

— Eu não sofri perdas.

— Eu sei que você não era próximo de seu pai e irmão, ou

Natasha, mas eles ainda eram sua família.

— Você é minha família. Jack e Melinda são minha família, até

Ashby começou a crescer em mim novamente, e de alguma forma

eu cheguei a um acordo com o fato de que comecei a gostar de seus

irmãos. — Um pequeno sorriso cintilou em seus lábios e seus olhos

se iluminaram com diversão quando ela riu. O som daquela

pequena risada o aqueceu e aliviou alguns de seus medos.

— Isso me surpreende, especialmente falando de William.

— Ele é o mais chato dos dois. — Concordou Braith.

Seu sorriso se alargou e seus dedos dançaram sobre os dele. —

Meu pai sempre disse que um de nós teria sido ruim o suficiente,

mas dois de nós foram um sinal de que ele estava sendo punido
por algo no passado de um ancestral.

Agora seria a hora de contar a ela, mas ele descobriu que não

podia. Não quando ela estava sorrindo de novo, não quando

realmente havia felicidade brilhando em seus olhos em vez de

desespero. Mais tarde. Haveria tempo depois; eles

finalmente tiveram tempo um para o outro, um com o outro.

— Eu vou levar a punição. — Assegurou ele.

— Acredito que sim.

— Inferno, eu vou até mesmo aturar Max.

— Eu notei que vocês dois estão se dando melhor. Estou feliz.

— Ela murmurou.

— Estou feliz que você esteja feliz.

Um suspiro escapou dela e o sorriso sumiu. — Você me diria

se estivesse incomodado com a perda de sua família?

— Eles eram meu sangue, mas não sinto que estejam

mortos. Eles eram criaturas brutais que nunca teriam mudado. Se


Caleb não derrubasse meu pai dessa forma, as coisas poderiam ter

sido muito diferentes, Aria. Nós poderíamos muito bem estar

mortos. Ele era um homem poderoso e teria sido uma competição

muito mais feroz do que Caleb. Milhares e milhares de vidas serão

melhores por causa de suas mortes. Incluindo a nossa.

Ele levantou o braço suavemente, esperando distraí-la de seus

pensamentos enquanto esfregava o pano sobre as costelas. Braith

não queria que ela sentisse culpa por suas mortes quando ele

mesmo não sentia nenhuma. Ficou surpreso ao encontrá-la

contemplando-o quando ele colocou o braço de volta e segurou o

outro. — Você deve estar faminto.

Ele balançou sua cabeça. Havia o suficiente para ela lidar

agora sem ter que se preocupar com suas necessidades também. —

Gideon me trouxe um pouco de sangue ontem, estou bem.

— Não é tão bom.

Ele sorriu ironicamente para ela. — Nada é tão bom quanto

você. — Ele pressionou um beijo casto no interior de seu pulso, o

que não estava tão machucado e em carne viva. Ele congelou e seus
músculos se contraíram quando viu seu dedo médio preto e

azul. Embora o osso estivesse curado, sabia exatamente o que

havia sido feito a ele. Precisou de grande esforço para não berrar

de raiva, mas essa era a última coisa que ela precisava agora. —

Mas é o suficiente. — Ele conseguiu falar engasgado.

Seus dedos acariciaram sua bochecha antes de deslizar sob o

queixo para levantar a cabeça ligeiramente. — Sinto falta do

vínculo que isso estabelece entre nós.

— Eu também, mas não até você estar melhor, Aria.

Ela virou a mão na sua e apertou os dedos dele. — O que eles

fizeram comigo Braith, você pode ver tudo.

A mão dele apertou ao redor do tecido e seus ombros

endureceram, congelando-o. Tentou não pensar no fato de que eles

poderiam ter tirado mais do que apenas o sangue dela, tentou não

pensar na degradação que ela poderia ter experimentado. Isso o fez

desejar que ambos estivessem vivos para que ele pudesse

prolongar suas mortes de uma maneira que nem seu pai fosse ser

capaz de imaginar ser possível. Ele a amaria não importava o que


tivesse acontecido; e a teria de qualquer forma. Não importava

quanto tempo demorasse, ele estaria lá para ajudá-la a se curar.

Braith engoliu em seco e se inclinou para perto dela, quase

com medo de ter esperança. — O que você está dizendo, Aria?

Ela pressionou a palma da mão na bochecha dele. — Eles não

me estupraram Braith. Eles estavam esperando por você pra isso.

— Ela inclinou a cabeça enquanto o polegar roçava brevemente o

lábio inferior dele. — Eu não teria te odiado se eles tivessem feito

isso.

— Eu não cheguei a você a tempo. As outras coisas que

fizeram com você... — O olhar dele focou no dedo dela e nas

mordidas persistentes.

— Você veio quando pôde, e veio direto para mim. Conseguir

a si mesmo e todo mundo morto por mim, teria sido tolice,

Braith. Estou feliz que tenha esperado.

— Eu sei que você tem pesadelos. — Ela recuou um pouco,

mas ele apertou a mão em sua bochecha antes que ela pudesse se

afastar completamente. — Eu vejo o jeito que você fica agora no


escuro.

Seus olhos assombrados se afastaram dele. — Eu não gostava

de estar nas cavernas e estar confinada nas masmorras quase me

quebrou. — Ela estremeceu e mordeu o lábio. — Elas são

terríveis. Eu gostaria de dizer que vou superar isso, mas não sei se

algum dia poderei estar em espaços fechados como esse de

novo. Talvez um dia possamos desligar a luz do banheiro. — Ela

deu um sorriso trêmulo e deixou cair a bochecha no joelho.

— A pior coisa que fizeram... — Seu nariz franziu e o nojo se

filtrou sobre suas feições enquanto sua boca franzia. — O rei forçou

o sangue dele em mim, para me manter viva e me punir numa

tentativa de me quebrar, mas ele não conseguiu. Ainda há

pesadelos persistentes, mas tenho certeza de que vou parar de tê-

los. Aprenderei a lidar com meu medo de aprisionamento e

escuridão e o tempo acabará apagando o gosto.

Ele lutou para manter seu rosto impassível, mesmo quando

algo mal-intencionado se enrolava em seu intestino. A escuridão,

ele não tinha percebido que isso a incomodava até agora. Aria

insistiu para que ele deixasse a luz do banheiro acesa à noite, mas
ele supôs que fosse porque ela não conseguia mais dormir. As

masmorras deixaram uma impressão persistente nela; uma que ele

suspeitava era ainda mais profunda que seu pai ou Caleb.

Aria fechou os olhos e por um momento pareceu tão jovem,

tão vulnerável que precisou de toda a sua força para não arrebatá-

la e declarar com firmeza que ela nunca mais deixaria seus

braços. Era um pensamento tolo, porém impossível, e um do qual

ela só se ressentiria.

— O sangue era muito diferente do seu. Foi terrível, eu nunca

provei nada tão vil. — Então ela estava olhando-o novamente, seus

olhos claros e questionadores. — Por que era tão diferente?

— Porque você pertence a mim. — Era a resposta mais

simples, básica e verdadeira que ele poderia inventar.

— Pertenço, não é?

— Sim. — Ele não quis dizer isso, mas a palavra saiu como

um rosnado baixo.

Ela sorriu enquanto seus dedos passavam por seu braço. —


Eu podia sentir meu corpo se rebelando contra o sangue dele,

lutando contra sua intrusão no meu corpo, como se fosse uma

violação de algo seu. Até meu corpo sabia que só você tem o direito

de estar ali.

Ela o deixou sem palavras. A emoção entrelaçou-se com tanta

firmeza em seu peito que ele pensou que poderia realmente chorar.

Braith não achava que tivesse feito isso em sua vida. Sempre foi a

raiva que o levou, um impulso ardente para mantê-la segura, e um

impulso irresistível de possuí-la em todos os sentidos. No entanto,

isso foi diferente. Ele a amava e morreria por ela, mas percebeu

agora que o relacionamento deles tinha sido motivado

principalmente pelo medo. Medo de seu status de escrava de

sangue, o medo que veio de perdê-la, medo de fracassar nessa

guerra, medo de Caleb e de seu pai.

No entanto, no coração de tudo isso, no centro de tudo o que

tinham conseguido, estavam os dois, e esse simples presente

milagroso que tinham recebido, seu amor por ela e o dela por

ele. Isso levou os dois a fazer coisas que nunca imaginaram que

poderiam fazer, mas no final, eles venceram. Braith não sabia o que
o futuro deles guardava, mas sabia que, não importava o que

acontecesse, esse presente valeu a pena todo pesadelo que foi

trazido e que continuaria vindo para eles.

Ele ficou surpreso com o amor que o assolou e afastou seu

ódio duradouro para com seu pai e irmão. Eles eram seu passado,

e sentada diante dele estava um futuro mais promissor e belo do

que qualquer outro que ele ousou esperar.

— Mesmo que eles tivessem feito mais a mim, eu ainda ficaria

feliz por você não ter vindo. Você fez a coisa certa, Braith. Pode

levar tempo para curar, mas eles não teriam me quebrado. Eu não

sou frágil, posso estar abalada agora, mas não estou quebrada.

Ela estava certa, estava de luto e tentando aceitar o abuso que

sofreu, além da perda de seu pai, mas não estava quebrada. —

Você será uma notável rainha, Arianna.

Ela ficou rígida e seus olhos escuros se arregalaram quando

ela o olhou. — Braith, eu estou ciente do fato de que eles não vão

me aceitar porque sou um ser humano.— Ele empurrou as longas

mechas de seu cabelo ruivo escuro atrás da orelha e saboreou a


sensação sedosa de sua pele sob a palma de sua mão enquanto

permanecia em sua bochecha. — E eu sei que você não quer me

transformar.

— Não é que não queira te transformar, Aria, eu adoraria mais

do que tudo no mundo passar a eternidade com você.

— Mas você está com medo de que eu não vá sobreviver à

mudança.

— Há algumas coisas que devemos discutir, mas só quando

você se sentir melhor.

Sua testa franziu. — Que coisas?

— Mais tarde, Aria, por enquanto, leve algum tempo para

curar. Temos tempo agora, aproveite.

—Nós temos, não é? — Ela respondeu com um pequeno

sorriso. — Sinto falta dele.

— Eu sei.

— Gostaria que ele tivesse sobrevivido para nos ver bem


sucedidos.

— Ele sabia que seríamos.

Seus olhos se fecharam enquanto ela descansava a bochecha

sobre os joelhos novamente. Ele continuou a segurá-la até que a

água ficou fria, e só então a ajudou a sair. Aria se levantou,

tremendo um pouco quando ele a enxugou com uma toalha e

ajudou-a a vestir um roupão. Ao entrarem na sala de estar, Aria

deu um passo para trás ao ver Jack no sofá com as pernas cruzadas

nos tornozelos. Braith não ficou nem um pouco surpreso ao ver seu

irmão.

— Eu trouxe a comida.

Aria olhou para Jack com cautela enquanto passava em torno

dele para a bandeja de comida que estava colocada perto da

janela. Keegan levantou a cabeça para observá-la por um momento

antes de bocejar e deixar cair a cabeça nas patas. — Obrigada. —

Ela murmurou.

Braith se lembrou do fato de que suspeitava de algo entre eles

antes de Aria ser sequestrada. Ele não teve tempo para pensar
nisso depois, mas a tensão entre eles era óbvia enquanto olhavam

um para o outro. Seu irmão não era tão tolo a ponto de achar que

poderia tirá-la desse palácio novamente sem que Braith o

destruísse?

— Por que você está aqui, Jack? — Braith perguntou

bruscamente.

— Eles gostariam de ter uma reunião hoje à noite para decidir

o que será feito com os soldados restantes.

Aria soltou o pedaço de pão que estava escolhendo. — O que

você quer dizer com o que deve ser feito com eles? — Ela

perguntou.

— Eles trabalharam para o rei, Aria. — Braith lembrou a ela.

Ela balançou a cabeça e olhava entre os dois. — Eu sei, mas

você vai matá-los por causa disso?

— Essa não é a minha decisão a tomar.

— Eu sei que você espera estabelecer esse tipo de governo

democrático, mas começar com esse tipo de massacre é criar um


governo fundado em sangue. Sei que começou com uma guerra,

mas o que acontece daqui em diante moldará o futuro.

— Há momentos em que o sangue é necessário. — Disse Jack.

Havia um fogo em seu olhar que não estava lá nos últimos

dias enquanto ela olhava para seu irmão. — A morte não é a

resposta aqui.

— Então o que você sugere? — Jack exigiu. — Nós os soltamos

para eles poderem reunir uma rebelião contra nós? Há homens

leais ao meu pai que poderiam facilmente instigar outra guerra. É

disso que você gostaria, ainda mais morte?

A cor sumiu do rosto de Aria e suas mãos caíram no

colo. Braith deu um passo em direção ao irmão mas Jack levantou

as mãos e ficou de pé. Ele cautelosamente se afastou de Braith e foi

em direção à porta. — Eu não… não estava pensando. Desculpa,

Aria. Você sabe o quanto seu pai significava para mim também.

— Saia, Jack. — Braith se irritou.

Jack estava tão pálido quanto Aria quando conseguiu um


rápido aceno de cabeça. —Espere. — Aria afastou a bandeja

enquanto se levantava. — Eu sei que você não quis ofender, Jack, e

mais mortes são a última coisa que eu quero, mas deve haver outra

opção. Os soldados estavam apenas seguindo ordens; alguns

deles devem valer a pena.

— Tenho certeza de que alguns deles valem. — Concordou

Jack enquanto olhava cautelosamente para Braith. — Mas há

outros que devem ser destruídos. Você tem que entender isso,

Aria.

— A minha opinião é importante?

— Sua opinião sempre importou para mim e há muitos que a

admiram e respeitam também. — Informou Braith. Sua testa

franziu enquanto ela olhava para ele. — Você ajudou a derrubar

não apenas um vampiro antigo e poderoso, mas também um rei.

Sua mandíbula enrijeceu e ela desviou o olhar. — Eu não

gosto de ser admirada pela morte, não importa quão horrível Caleb

fosse.

— Eu sei disso, Aria, mas você também é admirada por sua


bravura.

Com o rosto corado, ela parecia desconfortável com a ideia

enquanto se mexia desconfortavelmente.

— Entendo que os homens e mulheres mais leais ao seu pai

têm que ser abatidos. Conheço o caminho do mundo e as

repercussões da guerra, mas alguns desses guardas não tiveram

outra escolha. Alguns deles estavam simplesmente fazendo o seu

trabalho para cuidar de suas famílias, a fim de sobreviver. Todos

nós fizemos coisas que não queríamos para permanecermos

vivos; você não pode puni-los por fazer o mesmo.

— Você gostaria de vir para a reunião para declarar sua

opinião? — Braith perguntou.

— Eu gostaria.

Os olhos de Jack se voltaram preocupados para ele. — Há algo

mais que você deve saber primeiro. — Ela arqueou uma

sobrancelha enquanto o estudava. Braith realmente não queria

dizer isso, mas não podia esconder isso dela e tampouco estava

prestes a mentir. — Gwendolyn é uma das prisioneiras.


Por um momento a confusão marcou suas feições e então seus

olhos se arregalaram e sua boca caiu. — Sua noiva? — Ela

desabafou.

— Ex noiva. — Ele rosnou.

Ela piscou e balançou a cabeça. — Sim, ex, tanto faz. O que ela

está fazendo lá? Aqui ?

— Ela era uma aristocrata, Aria. Residia dentro da cidade e

estava entre os capturados. Lauren também estará lá. — Seu nariz

enrugou e seu lábio se curvou. Keegan se levantou e pressionou as

pernas dela enquanto procurava oferecer conforto. — Eu ainda

gostaria que você participasse.

Aria ficou quieta por um momento e Braith pensou que ela

poderia recusar e recuar para o mundo de desespero que havia

apertado seus dentes nela. Em vez disso, ela se virou e assentiu

com firmeza. — Eu também.

Ele não pôde deixar de sorrir para ela quando o alívio o

encheu, sua Aria nunca recuou de nada.


Capítulo Dezesseis

No caminho para baixo, Aria ficou apavorada com a reunião

na sala do trono. Era a sala do rei, afinal, e o maior cômodo do

palácio. A sala de Braith agora, ela lembrou a si mesma; ainda se

maravilhando com o fato de que eles haviam vencido, e que o

homem andando tão orgulhosamente ao seu lado agora os

presidia. Ele era o homem que os levaria a um novo tempo, uma

nova regra, uma nova forma de governo, e se alguém pudesse fazê-

lo funcionar, seria Braith, ela tinha certeza disso.

Aria ficou aliviada quando Braith a guiou na direção oposta

da sala do trono, para um solar privado fora do salão

principal. Felizmente, o pai dela não foi mantido em um quarto

qualquer já que existiam tantos. Não era nem de longe tão grande

ou tão elaborado quanto a sala do trono, mas era mais do que

suficiente para o que eles exigiam, e não abrigava nada ameaçador


ou cruel. Ajustava-se à Braith muito melhor do que a ideia de sala

de trono monstruosa que a do seu pai teria.

Todos já haviam se reunido na sala e se levantaram quando

Braith entrou, mas Aria estava bem ciente do fato de que os olhos

deles a localizavam enquanto ela se movia pela sala. Daniel ficou

ao lado da mesa com William e Max atrás dele. Todos sorriram,

mas ela sentiu a surpresa deles pela sua presença. William ainda

estava de muletas e com a perna machucada apoiada diante dele

mas mesmo assim conseguiu dar um sinal de positivo.

A enorme cadeira na cabeceira da mesa era obviamente de

Braith, mas quando ele caminhou naquela direção, agarrou a outra

cadeira com uma mão, empurrou a maior para o lado e colocou a

menor ao lado dela. Segurando a cadeira, ele a encarava com

desafio em seu rosto enquanto aguardava a sua posição na mesa

com seu olhar de aço.

E foi só então que ela percebeu que Braith não estava usando

seus óculos por algum tempo. Ela estudou o perfil magnífico dele,

e o cabelo preto curto que caía sobre sua testa em ondas. Segurando

seu olhar, ela teve que lutar contra as lágrimas de amor e orgulho
que enchiam seus olhos. Ele nasceu para isso. Ele se destacou e

ainda assim ainda desejava que ela estivesse ao seu lado.

Mesmo que ela não pudesse estar.

Engolindo pesadamente Aria deslizou na cadeira. Esperava

alguma condenação, irritação, ou alguma forma de protesto contra

ela sentada ao lado de Braith, mas o que viu foi apenas curiosidade

e alguma tristeza enquanto observava ao redor da mesa para “O

Conselho” como eles mesmos haviam se apelidado, após

renunciarem oficialmente aos títulos aristocráticos que tinham no

passado em favor de começarem os novos tempos.

— Lamentamos pelo seu pai, ele era um bom lutador.

Essa declaração de Calista causou outro tipo de nó em sua

garganta. Por um momento, ela lutou contra as lágrimas que

queimavam seus olhos com a lembrança de seu pai e ficou surpresa

com as amáveis palavras de uma mulher que parecia nada além de

distante, mas que havia matado implacavelmente a irmã de

Braith. — Obrigada. — Aria conseguiu responder.

Assustou-se levemente quando Braith agarrou sua mão e por


um momento, ela tentou soltá-la, mas ele segurou firme mantendo

sua mandíbula travada enquanto a olhava. Aria sabia que não

havia como negar o relacionamento deles agora, mas ainda estava

apreensiva por ser tão gritante com isso. Então, ela percebeu que

não se importava. Não havia mais como esconder isso e ela

também não queria.

Aria viu quando dez homens e duas mulheres foram levados

para a sala, sujos e desgrenhados, mas não excessivamente

maltratados. Eles certamente não foram tão abusados quanto ela.

O ressentimento a encheu ao reconhecer uma das mulheres como

a vampira que possuiu Max. O que significava que a outra, a linda

boneca como a morena olhando com ódio de volta para ela, era

provavelmente Gwendolyn. Embora soubesse que Braith nunca se

importou com a mulher, não pôde evitar o ciúme que a atravessou.

Braith manteve a mão firme enquanto ainda a encarava e Aria

percebeu que o ciúme não tinha lugar aqui.

Além disso, havia alguém nesta sala revivendo memórias

muito piores do que ela. O queixo de Max estava levantado e seu

olhar inabalável quando ele encontrou o olhar hostil da outra


mulher vampira. Aria teve que lutar contra o desejo de pular e

estrangular a criatura horrorosa por tudo que ela fez para

Max. Mas permaneceu imóvel enquanto todos ao seu redor

decidiam o que seria das mulheres e suas cortes.

Um nó se formou em sua garganta quando os olhos de Max

encontraram os dela. Agora, Aria tinha uma ideia melhor do que

tinha sido feito com ele, o que ele suportou quando estava em

cativeiro, mas nunca seria capaz de compreender a profundidade

total da brutalidade que aquela mulher lhe fez passar.

Aria ouviu seus destinos serem discutidos por aqueles

sentados à mesa. Esses vampiros foram os mais traiçoeiros e cruéis

de sua espécie. Eles tinham sido o corpo do rei, ajudaram-no a

manter o poder e apreciaram as decisões tomadas pelo soberano e

o mundo sádico que ele criou. Aria esperava que cada um deles

fritasse, mas esta não era a sua decisão a tomar. Braith também

permaneceu em silêncio enquanto os ouvia debater por alguns

momentos antes de chegar a uma decisão unânime de que todos

seriam executados.

— Está acordado, então? — Questionou Braith.


— Sim. — Afirmou Gideon.

— Espere! Você não pode fazer isso, Braith! Nós deveríamos

nos casar! — A mão de Braith se apertou ao redor da dela quando

os apelos de Gwendolyn caíram em ouvidos surdos e a vampira foi

retirada à força da sala.

O coração de Aria doeu com a lembrança, mas ela conseguiu

manter o rosto impassível enquanto as cabeças de Daniel e William

se aproximavam dela. — Tragam os soldados. — Braith ordenou.

Aria se preparou, foi por isso que tinha vindo. Ela entendeu

porque os aristocratas tinham que ser eliminados, mas isso era um

assunto completamente diferente. Todo o fôlego deixou sua

argumentação quando Jack trouxe Lauren por último.

Sua boca se abriu e sua respiração saía em pequenos arquejos

enquanto olhava para Braith. Ele avisou que Lauren estaria aqui,

mas Aria não esperava que ela estivesse agrupada com os

soldados. Os olhos de Braith estavam implacáveis e a mandíbula

era mantida cerrada e trancada enquanto ele olhava para ela. Aria

agarrou sua coxa e segurou firme enquanto massageava


suavemente as costas da mão com o polegar.

Ela mal ouviu a conversa ao redor da mesa, mas essa

discussão estava muito mais aquecida do que a última. Daniel e

Ashby optaram por clemência, Calista, Frank e Saul foram

completamente contra; Adam, Gideon e Xavier permaneceram

mudos enquanto ouviam os argumentos dos outros.

Aria percebeu que tinha que falar quando parecia que Ashby

estava começando a balançar em direção a Calista, Frank e Saul. —

Posso dizer algo?

Todos se viraram para ela, os rostos torcidos em várias

expressões de desprazer. Embora ela sentisse que seu

aborrecimento era mais devido ao fato de que eles não conseguiam

chegar a um acordo, do que com sua interrupção. — Por favor. —

Saul comentou secamente.

Aria se sentiu um pouco desconfortável quando todos se

concentraram nela mas então olhou brevemente para Daniel antes

de respirar fundo e seguir em frente. — Entendo que as outras

mortes são necessárias, já que se tivessem a chance, começariam


uma rebelião e o padrão nunca terminaria. No entanto, esses

homens estavam simplesmente fazendo o que lhes foi ordenado a

fazer. Durante anos, a morte, a tortura e a intimidação dominaram

esse reino, portanto não inicie este novo governo da mesma

maneira. Se você abater todos eles, isso só mostrará às pessoas que

nada mudou, e que a misericórdia é impossível. Se esses vampiros

lhe jurarem fidelidade, e talvez se fossem monitorados por algum

tempo, não acho que precisariam ser executados.

Ela não podia acreditar que aquelas palavras tinham

realmente saído de sua boca. Apenas alguns meses atrás, ela teria

dito para matar todos eles simplesmente porque eram vampiros.

Ela teria dito para matar Braith e Ashby, Jack e Melinda também,

mas estaria errada. Eles não eram todos monstros, eram

simplesmente diferentes e tinham necessidades diferentes, mas na

maior parte eram bons e gentis, protetores e amorosos. Ela sabia

que agora havia maçãs ruins entre humanos e vampiros.

Houve um momento de silêncio para logo depois todos

começarem a conversar novamente. Xavier entrou no debate pela

primeira vez ao lado de Daniel, enquanto Gideon e Adam


continuaram a assistir e ouvir. Braith finalmente terminou o

argumento, pedindo uma votação. Aria estava imóvel enquanto

esperava sem fôlego para ver o que eles decidiriam. Eles haviam

estabelecido uma regra mais civilizada e mais gentil nos Vales, e

ela esperava que isso prevalecesse aqui.

— Eu acho que nós concordamos que se os soldados

estiverem dispostos a jurar fidelidade e concordarem em ser

monitorados por qualquer período de tempo que acharmos

adequado, eles podem ter permissão para viver. Se não, a vida

deles está perdida. — Declarou Calista. Saul e Frank não pareciam

muito satisfeitos com essa decisão, mas também não protestaram.

Os ombros da maioria dos soldados caíram, alguns

assentiram entusiasticamente, mas havia alguns que não pareciam

nada satisfeitos. Aria se perguntou se eles escolheriam a morte por

causa do novo regime. Se assim fosse, essa era a escolha deles, e ela

não interferiria nisso.

— E a garota? — Aria virou-se para a pergunta de Ashby.

— Eu acho que esta deveria ser a decisão de Arianna. — Ela


sentiu algum tipo de teste por trás das palavras de Gideon quando

encontrou seu olhar. — Você foi a mais prejudicada por ela.

Aria focou em Lauren, mas a garota não encontrou seu olhar

e encarava a parede atrás da cabeça de Braith. O polegar de Braith

acariciou as costas da mão dela. O que quer que ela decidisse, ele

aceitaria, como todos eles. Ressentimento retorcia e ela gostaria que

Lauren apenas olhasse para ela, dando ao menos o mínimo sinal

de arrependimento pelo o que tinha feito. Não havia nada.

— Deixe-a ir. — Tanto quanto queria, Aria não podia se

vingar de Lauren. Houve um tempo depois de sua primeira

captura que seu pai erroneamente queria vingar-se, mas na maior

parte ele não acreditava em vingança e insistia que tudo que eles

faziam não era por vingança, mas sim tentar criar um mundo

melhor. Ela não podia deixar isso de lado agora, mas não

decepcionaria seu pai por causa de seu desejo de punir Lauren. Um

pequeno sorriso puxou a boca de Gideon quando ele deu uma

pequena reverência e se recostou. Ela percebeu que ele estava

tentando discernir se ela pediria indulgência pelos outros, mas

puniria aqueles que a prejudicaram. — Ela não é uma ameaça para


nós.

Aria não esperava ver alívio nem esperava ver gratidão, então

não ficou surpresa com o ódio que continuava a arder nos olhos de

Lauren. A mandíbula de Braith enrijeceu, Aria estava certa de que

ele preferiria Lauren morta, e ele teria sido o único a fazê-lo.

— Você pode ir embora, mas não deve ficar dentro desses

muros do palácio, do pátio ou da cidade. Eu não ligo para onde

você vai, mas se eu te ver de novo, posso prometer que você não

será poupada. Então, se eu fosse você, iria para o mais longe

possível, o mais rápido que puder. — Ele esbravejou e pela

primeira vez o medo escorreu pelas feições de Lauren. — Max, por

favor, escolte-a até os portões do palácio.

— Com prazer. — Max respondeu com um sorriso tenso e

caminhou em direção às portas, abrindo-as. Ele fez uma reverência

para Lauren, que permaneceu pálida e de boca frouxa olhando-o.

— Essa não é a escolha que eu teria feito. — Disse Braith tão

baixo que só Aria podia ouvi-lo.

— Eu sei.
— Se eu a vir novamente, vou matá-la e aproveitarei cada

momento.

Aria virou-se para ele, nem um pouco intimidada pela

escuridão que fervia sob seu exterior calmo. — Eu sei. Ela não

voltará Braith, mas se voltar, não vou interferir.

Ele balançou a cabeça e se inclinou para ela. Um restolho

sombreava sua mandíbula quadrada; ele não teve tempo de fazer

a barba nos últimos dias entre as novas exigências que precisam da

sua atenção e o tempo que ficou ao seu lado a cada momento livre

que tinha. O amor inchou dentro de seu coração; havia tal

escuridão dentro dele, e ainda assim Braith era muito bom e

compreensivo. Ele soltou a mão dela e envolveu sua cintura com

um braço, puxando-a para mais perto do seu lado.

— Às vezes você perdoa demais. — Ele sussurrou contra seu

ouvido.

— E às vezes você é o mesmo príncipe teimoso que conheci; só

que agora você é um rei.

Algo cintilou em seu olhar quando a tristeza se filtrou em suas


feições. Ele não tinha que dizer, ela já sabia que ele seria rei. Não

era o que ele teria escolhido e Braith não tinha feito nada além de

lutar contra isso, mas ele finalmente percebeu que aqui era onde

ele deveria estar. O único problema era que ela não sabia o que

seria dela, e nem ele.

— Estou cansada, se você não se importa, gostaria de voltar

para o quarto.

Seus dedos gentilmente acariciaram sua bochecha. — Eu te

levo.

— Fique. Sei o caminho de volta.

— Você tem certeza?

— Sim. — E embora ela ainda se sentisse estranha por ser tão

aberta sobre o relacionamento deles, ela se inclinou para frente e

pressionou um leve beijo em sua boca. Ela intencionou ser rápida,

mas se perdeu para o prazer e o gosto dos lábios dele. Por um breve

momento não houve desespero, guerra ou incerteza. Havia apenas

os dois, enquanto o calor de seus lábios a aquecia até as pontas dos

dedos dos pés.


Aria forçou a se afastar e sorriu ao encontrar seu olhar

ofuscado. — Vá em frente. — Ele disse rispidamente.

Ela bicou sua bochecha antes de se levantar. — Desculpem-

me todos. — Ela fez uma breve reverência antes de sair da nova

sala do trono.

Entrando no corredor, ficou aliviada ao descobrir que estava

deserto. Ela correu em direção às escadas, mas antes de começar

sua ascensão, encontrou seu olhar inescapavelmente atraído para

as portas fechadas da antiga sala do trono. Ela ficou de pé com a

mão descansando no corrimão enquanto estudava as portas com

uma mistura de curiosidade pavorosa e mórbida.

Afastando-se da escada, ela se aproximou lentamente da sala.

Sua mão tremia a girar a maçaneta e empurrar uma das portas

abertas. Ela preparou-se, fortalecendo sua coragem para o que

sabia que estava do outro lado mas, quando a porta se abriu, não

esperava o que havia dentro. Tudo estava impecável e vazio, a

enorme mesa, as cadeiras e o trono tinham desaparecido. Até

mesmo os medonhos troféus de pessoas e vampiros que o rei

exibira tão orgulhosamente foram removidos. O sangue havia sido


limpo e o piso de mármore cinza brilhava na luz que entrava pelas

janelas superiores.

Ao entrar mais, seu olhar percorreu as belas luminárias que

enfeitavam a sala. O salão era deslumbrante, mas nunca seria nada

além de frio e medonho para ela. Seus olhos se demoraram na viga

a qual ficou empoleirada e finalmente no local onde esteve o corpo

de seu pai. Não havia nada para marcar o lugar, mas ela sabia

exatamente onde era.

Lágrimas queimavam seus olhos e ela apressadamente

enxugou-os enquanto sentia a presença de outra pessoa na sala. Ela

sabia que não era Braith mesmo antes de Jack se aproximar dela. —

Eu gostaria de ter feito mais para salvá-lo.

— Eu sei. — Ela foi incapaz de parar a lágrima que deslizou

pelo seu rosto. — Mas não havia mais nada que você poderia ter

feito, Jack. Todos nós entramos nesta batalha sabendo que haveria

perdas. — As palavras eram verdadeiras, mas não lhe davam

conforto algum. Ela esfregou o peito, o que não fez nada para

aliviar o nó em seu coração.


Ele descansou a mão no ombro dela. —Não melhora.

— Não, isso não acontece. Eu não vou deixá-lo, Jack. — As

palavras foram mais ríspidas do que ela pretendia, mas tinham que

sair. Não poderia haver mais subterfúgios e planos entre eles.

— Eu sei.

— Eu não posso. Quero dizer, eu poderia, se realmente

achasse que faria algum bem, mas...

— Não vai. — Ele terminou por ela quando sua voz sumiu. —

Eu sei disso agora e o mesmo acontece com Gideon. Você é o ying

para o yang dele.

— O que para o seu o quê? — Ela perguntou em confusão, não

tendo certeza se deveria se sentir insultada pelas palavras

estranhas.

Jack sorriu, mas fez pouco para aliviar a resolução triste em

seus olhos. — É um velho ditado; você é a luz para a sua escuridão,

o bem para o mal dele. Vocês temperam um ao outro, e embora eu

acredite que você possa ser separada, isso não fará qualquer um de
vocês mais forte. Depois do que aconteceu, eles podem muito bem

decidir aceitar você mesmo sendo uma humana. Será sua escolha

se ficar ou não, até Braith sabe disso agora. Esta não é exatamente

a vida que ele preparou para você, Aria, ou mesmo aquela que você

sempre quis. Por toda a sua opulência, em alguns aspectos, é mais

árduo do que aquela que deixará para trás se decidir ficar.

Isso era com certeza. — O que será de nós? — Ela ponderou.

— Eu não sei.

— Eu vou dizer a ele o que tinha combinado em fazer, e quem

estava ciente disso.

Jack olhou-a de lado por baixo dos cílios. Sua semelhança com

Braith era mais sutil do que a do rei, mas muito mais

atraente. Havia um ar despreocupado em Jack que raramente

aparecia em Braith, mas naquelas ocasiões em que Braith abaixava

a guarda, ele se parecia muito com Jack.

— Se você acha que deve.

— Eu não sei o que acontecerá, mas não importa o que


aconteça, tem que ser um começo novo e aberto. Não pode haver

nenhum segredo entre nós.

— Compreendo. Talvez seja melhor minimizar a parte em que

você e Gideon tinham um acordo secreto sobre sua possível morte.

Aria estremeceu com o tom severo da voz de Jack. — Ele disse

a você?

— Sim. E ele também contou ao seu irmão, Max e seu pai.

Aria não conseguia parar os pequenos tremores que corriam

através dela. — Meu pai, ele não achou que eu queria morrer, não

é? — Ela conseguiu resmungar.

— Ele entendeu, Aria. Acredite em mim, ele entendeu.

Ela não conseguia parar a enxurrada de lágrimas que saíam

de seus olhos. —Acredito que sim.

Jack passou o braço pelos ombros dela e puxou-a em um

abraço de lado. — Eu sei que sim. Ele estava incrivelmente

orgulhoso de você e de seus irmãos. Ele não gostou do caminho

que você escolheu, mas entendeu, assim como você deve entender
que a morte dele não foi em vão. Ele também sabia que eu não

deixaria acontecer o que você e Gideon combinaram. Eu teria

levado você embora, mas de jeito nenhum teria concordado com a

sua morte.

— E foi por isso que fui a Gideon.

Exasperação brilhou sobre suas feições e seus olhos cinzentos

de aço se estreitaram; esse foi um olhar como de Braith. — Não teria

deixado acontecer, Arianna. Foi tolice sua e de Gideon pensar que

poderia. Já era ruim o bastante eu levar você para longe dele, mas

acabar com sua vida nunca teria acontecido.

Ela inclinou a cabeça e apertou o rosto contra o peito de Jack

enquanto se esforçava para recuperar o controle de suas

lágrimas. Depois de um tempo, finalmente conseguiu respirar

fundo e se afastar dele. — Os troféus. — Ela se engasgou com a

palavra. — Onde eles estão?

Seus olhos endureceram. — Há momentos em que a morte é

mais misericordiosa. — Ela piscou surpresa. — Não havia como

salvar algumas almas, por mais que gostaríamos do contrário. Eles


teriam sido fortes aliados e por isso que foram atormentados, mas

eles estavam longe demais. Essas pobres almas ficaram presas e

passaram fome por muito mais anos do que aquelas criaturas que

você encontrou nos Vales. Até mesmo um vampiro não pode se

recuperar disso.

— Oh. — Ela respirou. Seus pensamentos se voltaram para a

criatura lamentável que o rei havia atormentado com seu

sangue. — Que horrível, o que ele fez para eles. — Ela estremeceu

quando se interrompeu. — Por que Ashby não ficou aqui?

Jack gesticulou ao redor do salão. — É lindo aqui, é rico,

sofisticado e elegante de uma forma que Ashby aprecia e

deseja. Ashby foi mantido em uma masmorra separada e mais

forte para vampiros por alguns meses depois da guerra, mas o rei

achou que era um destino muito pior colocá-lo em algum lugar

longe de todas as coisas que ele amava, e Melinda encorajou. Ele

poderia ter deixado Ashby nas masmorras, mas isso não era muito

divertido para meu pai.

Ela estava grata por isso. — Sorte para Ashby. Braith mandou

você atrás de mim?


— Ele está preocupado com você.

— Eu sei, mas estou bem.

Jack sorriu pálido. — Você sempre está, criança.

Ela revirou os olhos. — Ugh.

Ele sorriu enquanto a afastava da sala vazia de troféus e a

levava para as portas. Eles voltavam para o corredor quando Max

reapareceu. — Eu pessoalmente acho que deveríamos tê-la levado

para os Vales e a deixado lá. — Max a informou abertamente

quando parou diante deles.

— Isso teria sido adequado. — Jack concordou.

— Assim pode ser melhor. — Disse ela.

— Sim, mas só para ela. — Max murmurou. — Você vai voltar

para o seu quarto?

— Sim.

— Eu te levo.

Jack hesitou por um momento, mas soltou seus ombros


quando ela deu a ele um sutil aperto nas costas. Max estendeu o

braço com um sorriso galante no rosto, e pela primeira vez Aria viu

a verdadeira alegria em seus olhos novamente. Aria passou o braço

pelo dele e sorriu de volta. Nos últimos dias, ela acolheu sua

presença no estábulo com ela, e o fato de que ele sabia quando ela

sentia vontade de falar, e quando ela não sentia. Aria gostava da

amizade que se tornou fácil entre eles novamente.

Ela hesitou do lado de fora dos aposentos que compartilhou

com Braith. Max tentou segurá-la, mas Aria abriu a porta e

engasgou quando percebeu a destruição do quarto. Soltando o

braço de Max, pisou cuidadosamente sobre pedaços quebrados de

móveis, pinturas, livros e roupas enquanto se dirigia para o quarto

que outrora fora dela.

— O rei deve ter ficado de mau humor depois que Braith saiu.

— Disse Max da porta.

— Isso não é necessário, Max. Eu sei que foi Braith quem fez

isso.

O quarto era uma bagunça, mas lá, no centro da cama, estava


sua camisola que ela usava. Colocada cuidadosamente sobre o

colchão, intocada pela violência que a rodeava. Aria sentiu as

lágrimas abundantes e sua garganta doeu. Ela sofria com o

sofrimento que sentia aqui, a angústia que ele sentiu por sua

perda. Voltou-se para Max, precisando fugir da lembrança das

coisas que haviam acontecido ali, dos eventos que levaram Braith

a um ponto de ruptura que a aterrorizava. Deixá-lo novamente,

sem dizer a ele, teria sido o maior erro que ela poderia ter

cometido.

Max estendeu o braço para ela novamente que deslizou o seu

com gratidão, agarrando-se aos músculos tensos que se

destacavam contra o tecido de sua camisa. —Você se sente melhor

agora que ela vai morrer? — Aria perguntou.

Ele não fingiu não saber quem ela era. — Eu pensei que sim,

mas não sei. Eu me sinto melhor agora que isso acabou, que

estamos seguros e vivemos em um mundo que nenhum de nós

jamais sonhou ser possível, Aria. Eu pensei que vingança era a

resposta para tudo, e sei que ela tem que morrer, mas não, isso não

me faz sentir melhor. Sua morte é apenas um meio necessário para


o fim de um regime brutal que quase destruiu a todos nós. Vai ser

melhor agora, Aria. Para todos nós.

Ela sorriu enquanto se inclinava contra o lado dele. — Será

sim. — Ela concordou. E seria bom para todos eles. Ela descobriu

que, por enquanto, essa ideia era mais do que suficiente. Seu futuro

sempre foi incerto; ela supôs que não fazia diferença que ainda

fosse.

— Eu sinto muito, Aria.

— Não há nada para se desculpar, Max.

—Há sim. Eu não acreditei em você e nem nele e isso quase me

custou tudo. Eu estava com raiva, um tolo, e estava teimosamente

segurando os sonhos de menino. — Ela olhou para ele surpresa,

enquanto a cor aquecia suas bochechas. — Eu deveria confiar em

seus instintos. Você estava certa.

— Eu sempre estou. — Ela brincou.

— Sim, bem, eu não iria tão longe.

Aria riu e bateu em seu quadril de brincadeira. — Você


passou por muito mais do que eu, Max. Você tinha todo o direito

de estar zangado e desconfiado. Eu provavelmente teria ficado

assim também se tivesse sido tratada tão mal quanto você. Eu não

experimentei o que você teve, em nenhum momento. — Ela

assegurou a ele.

— Você ainda está tendo pesadelos?

Aria não pôde encontrar seu olhar enquanto se concentrava

no tapete embaixo dela. Ela odiava as imagens que a

atormentavam à noite, odiava o medo persistente da escuridão que

a envolvia, mas não conseguia afastá-las. Ela supôs que iria

melhorar com o tempo, mas ainda estava envergonhada do

impacto duradouro que ela permitiu que o rei e Caleb tivessem

sobre ela.

— Sim. — Ela não gostava de admitir sua fraqueza, mas não

ia mentir para Max sobre isso. De todos, ele era a pessoa que mais

entendia.

— As coisas vão melhorar.

Ela assentiu enquanto apertava o braço dele e parou diante do


apartamento que Braith havia reivindicado para eles. — Eu sei que

vão.

Seu olhar focou na porta atrás dela quando ele soltou seu

braço. — Braith é um bom homem, Aria. Um homem melhor do

que eu pensava que ele fosse, mas até homens bons podem ser

levados a fazer coisas horríveis quando são pressionados. Eu sei

que você está ciente, mas, por favor, não esqueça disso.

Ela hesitou, a mão na maçaneta da porta quando se virou para

ele. — Eu não pretendo mais deixá-lo, Max.

— Bom. Você merece um final feliz também.

— Há momentos em que um final feliz não é possível.

— Seja otimista , Aria. Veja tudo o que aconteceu.

Ele apertou o braço dela brevemente antes de ela se virar e

entrar no quarto. A bandeja de comida ainda estava lá, cheia de

frutas e pães. Ela não tinha certeza se o queijo e as carnes ainda

estavam boas e saudáveis, mas quando seu estômago roncou ela

ficou surpresa ao perceber que seu apetite havia retornado um


pouco.
Capítulo Dezessete

Durante as três semanas seguintes, o luto pesou como uma

manta molhada, ameaçando sufocá-la em suas dobras

enjoativas. Ela passou a maior parte do tempo dentro dos

estábulos. Todos os animais que poderiam ter sido salvos já

haviam sido atendidos, mas Aria ainda procurava o conforto

simples que o prédio e os animais tinham para lhe oferecer.

Alguns momentos foram mais difíceis que outros. Às vezes

ela mal conseguia respirar através da dor que apertava seu peito e

a deixava de joelhos. Nesses momentos, precisou de esforço para

reunir forças para ficar de pé novamente, respirar de novo e não se

perder nas lágrimas e na miséria. Gradualmente, ao longo dos dias,

embora a dor não diminuísse, foi se acostumando mais a isso. Aria

foi mais capaz de lidar com a dor quando aceitou o fato de que ela

nunca mais veria seu pai novamente. Nunca mais ouviria sua

risada, ou se aqueceria em seu sorriso, ou receberia seus abraços


esmagadores que sempre a fizeram se sentir como a criança

querida que ela era para ele.

Lentamente, começou a aceitar o fato de que sua vida teria um

buraco constante, mas era um buraco que não a deixaria aleijada

como nas primeiras duas semanas.

Nos estábulos, ela encontrou paz e consolo com os animais e

seus amigos. Alimentou os cavalos, limpou-os e sentou-se com

eles. Xavier permaneceu sua sombra constante, mas ela ficou

surpresa ao perceber que não se importava. Na verdade, estava até

gostando de desfrutar da companhia dele. Nos primeiros dias, eles

não falaram nada, e então Max se cansou do silêncio e começou a

conversar com ele.

Havia muita coisa que Xavier sabia, tanta história que ele

ansiava para compartilhar com eles. Naqueles momentos, quando

ele os regalava com histórias de pirâmides, vastos mares, barcos,

construções arrebatadoras, aviões voando e terras verdes distantes

cheias de pessoas, ela encontrava uma fuga de sua tristeza.

Aria se viu arrebatada por suas histórias e pelas


impressionantes tatuagens tribais que marcavam sua pele

escura. Às vezes ela e Max ficavam no meio do corredor enquanto

Xavier lhes contava tudo o que ele sabia. Tudo parecia tão

fantástico, um pouco assustador e esmagador, mas ainda assim

surpreendente. Estava feliz por Braith ter escolhido Xavier para ser

seu guarda, e ela suspeitava que uma grande parte da razão era

por causa dos contos dele.

— Como era aqui antes da guerra? — Max não levantou os

olhos da sela que estava polindo, mas Aria parou no meio da

escovada de um grande garanhão. Eles nunca perguntaram como

tinha sido por aqui. Ela não queria saber e assumiu o mesmo de

Max, mas aparentemente estava errada.

Xavier estava pensativo quando suas mãos se dobraram nas

mangas de seu manto. — Pacífico. O pai de Braith havia escolhido

essa área porque era serena e isolada. Ele foi capaz de construir o

palácio longe dos olhos curiosos das áreas humanas mais

povoadas, e a localização nos ofereceu grande segurança. Havia

alguns estabelecimentos de vampiros distantes em todo o mundo,

mas alguns deles vieram para cá quando ficou claro que haveria
uma guerra e os que não vieram...

— Foram destruídos. — Aria sussurrou.

Xavier assentiu. — Tivemos uma vida aqui relativamente boa

uma vez.

—Será novamente. — Max levantou a sela e jogou-a em um

cavalete. — Onde é aqui? Você nos contou todas essas histórias de

terras e países distantes, de reis e guerras e mitologias, mas você

nunca nos contou sobre essa terra. Este lugar. Como se chamava?

— Pensilvânia. Ela já foi chamada de Pensilvânia e já foi parte

dos Estados Unidos.

— Pensilvânia. — Aria achou que gostava da palavra estranha

e como ela soava. Ela leu sobre os Estados Unidos em alguns livros,

mas nunca ouviu falar da Pensilvânia. —Conte-nos sobre isso. —

Ela encorajou. — Tudo isso.

Xavier sorriu para ela enquanto se acomodava em um fardo

de feno e começava a arrebatá-los. Aria baixou o pincel e se viu

puxada para frente. Ela se acomodou no fardo ao lado dele quando


Max puxou outra sela e começou a polir. Nunca deixou de

impressioná-la como Xavier se lembrava de todas as coisas que fez

e quão astuto ele era em apontar detalhes que ela nunca teria

notado de outra forma. Ela ficou tão absorta em suas palavras que

nem notou que o sol estava se pondo até que Max apontou.

— Devemos voltar, estou morrendo de fome.

Aria se levantou do fardo e limpou o feno de suas calças. Ela

os seguiu para fora do estábulo, satisfeita com a quantidade de

mudanças que já haviam sido feitas. A maioria dos edifícios

danificados por fumaça e fogo foi demolida e removida, já havia

novas casas e estruturas sendo erguidas. Havia sorrisos e acenos

amigáveis das pessoas e vampiros que os rodeavam, e embora a

total confiança e amizade ainda não tivessem se solidificado, eles

já estavam dando um bom começo a um mundo que Aria nunca

sonhou em viver.

Os enormes portões do palácio que haviam sido danificados

além do reparo foram derrubados, e embora tivessem sido

substituídos, estes ficariam abertos como um convite para que

todos pudessem entrar e sair livremente da cidade do palácio. A


maioria das instalações de drenagem de sangue foi destruída

durante a batalha. O que permaneceu foi esvaziado de todos os

dispositivos usados para sangrar e torturar seres humanos e foi

reaberto como um centro de doação que parecia estar indo bem.

Ou pelo menos ela não tinha ouvido falar de nenhum problema.

Agora por exemplo, haviam algumas pessoas do lado de fora

esperando para entrar enquanto passavam por eles.

Aria ficou perto de Xavier enquanto atravessavam as ruas em

direção ao palácio se aproximando. Sua visão ainda causava um

desconforto no estômago, mas ela estava ficando mais acostumada

com o prédio. Estava gradualmente encontrando seu lugar dentro

dele, algo que nunca teria pensado ser possível até uma semana

atrás.

Amanhã deixaria de se esconder nos estábulos, ela

decidiu. Amanhã ela enfrentaria o que estava tentando esconder,

um mundo sem o pai dela. Ela tinha que descobrir uma maneira

de viver novamente neste mundo sem ele, e também precisava

descobrir seu lugar aqui; onde ela se encaixava. Simplesmente não

podia mais evitar isso. Poderia ser útil, ela era útil. Era o que o pai
dela esperava e ela não ia decepcioná-lo.

Xavier e Max a seguiram até seus aposentos. Eles geralmente

jantavam com ela antes de se retirarem para seus próprios quartos

ou fazer o que quer que eles fizessem à noite. William já estava

esperando por eles com uma grande bandeja de comida quando

chegaram. Era uma das poucas vezes durante o dia em que ela teve

a chance de ver seu irmão. Ele tinha se enterrado na reconstrução

de casas, embora ainda estivesse de muletas. Aria entendia sua

necessidade desesperada de não pensar, ela tinha o mesmo

sentimento depois de tudo, mas sentia falta dele.

Aria o abraçou antes de pegar um prato e amontoar com

comida. Ela se jogou no sofá e começou a comer com uma vontade

que ela não experimentou por algum tempo. Foi bom, pois se

sentia quase viva novamente, e deu boas-vindas à sensação. —

Você sabia que isso aqui já foi a Pensilvânia? — Max perguntou.

— O que é uma Pensilvânia? — William exigiu.

Xavier ficou mais do que feliz em atualizá-lo enquanto Aria

voltou-se por alguns segundos. Ela se perguntou se Braith voltaria


a comer com eles. Na maioria das noites, ele e Daniel estavam aqui

para jantar, mas às vezes não chegavam a tempo.

Depois do jantar, Aria se retirou para o quarto com o mais

novo livro que estava lendo. Estava acostumada a Braith estar

enrolado em volta dela antes de adormecer, segurando-a enquanto

chorava, consolando-a através de sua tristeza. Depois que ela se

encheu de comida quase estourando, o sono a arrastou para suas

profundezas. Agora, quando os cobertores foram puxados para

trás e as molas da cama rangeram, ela foi despertada pela pressão

de seu peso sobre o colchão.

— Braith. — Ela sussurrou.

— Volte a dormir, amor.

Seus braços se envolveram ao redor dela. Aria se aninhou

mais perto dele, pressionando as costas contra o peito sólido

enquanto a mão acariciava o cabelo nos músculos dos braços. Ela

amava aqueles braços, tão diferentes dos dela, tão protetores e

fortes. Seu coração martelou mais forte e sua boca estava seca

quando um novo tipo de fome começou a se agitar e a despertar


dentro dela. Ela se fechou para ele antes da guerra, negou a ambos

porque pensou que estaria indo embora, mas depois de seu tempo

na masmorra, ela sabia que estava errada. Aria não sabia o que

aconteceria no futuro, e naquele momento não se importava. Tudo

o que importava, tudo o que eles tinham garantido era o presente,

e ela ia começar a viver nele.

Aria mal pôde recuperar o fôlego quando algo se enrolou em

sua barriga e se espalhou vagarosamente por seus membros. Ela se

virou para encará-lo. A luz vinda da porta ligeiramente aberta do

banheiro era fraca, mas mesmo assim ela podia ver o brilho de seus

olhos cinzentos, as ondulações firmes de seu magnífico rosto e

maxilar quadrado.

Ela estava imóvel enquanto ele traçava com seus dedos as

suas bochechas, pressionando-os brevemente contra seus lábios

antes de escorregar para trás para afastar seu cabelo. —Você

comeu de novo.

Seu apetite não tinha retornado completamente durante as

três semanas desde que perdeu seu pai, mas ela começou a colocar

o peso de volta. Até as marcas da mordida tinham se transformado


em manchas escuras em sua pele, graças a uma dose diária do

sangue de Braith. Embora ele ainda teimosamente, e

irritantemente, se recusasse a se alimentar dela. —Eu comi.

Aria sorriu e descansou a mão no peito dele, pressionando-a

contra a parede sólida que eram seus músculos. Sua pele estava

quente e suave sob a palma da mão enquanto ela deslizava

lentamente por todo seu comprimento. Seu corpo endureceu, seus

músculos se moveram e flexionaram sutilmente sob o toque dela.

Seus dedos deslizaram sem pressa subindo pelo peito dele

enquanto ela o explorava. Aria ficava fascinada pela forma como o

corpo dele era diferente do dela. Dos cabelos rijos que roçavam

seus dedos até a rigidez inflexível de seu corpo em áreas que eram

flexíveis e ágeis. Ele a fascinava de todas as maneiras imagináveis

e ela não conseguia o suficiente dele enquanto seus dedos

deslizavam para baixo. — Aria...

Ela se aproximou, pressionando os seios contra o peito

dele. Sua pele se arrepiou e mesmo através da camisola podia

sentir o calor da pele de Braith. Ela sentiu um estranho desejo de

chorar, mas se conteve. Se começasse a chorar agora, ele não


permitiria que isso continuasse. Braith pensaria que era por

tristeza que o procurava, e talvez uma parte disso fosse, mas

principalmente era porque ela o amava e queria ter essa

experiência com ele, ansiando por algo entre eles pela primeira vez.

Somente para eles.

— Eu te amo, Braith.

— Eu também te amo.

Seus lábios tremiam quando ela os pressionou brevemente

contra sua boca. Sua mão envolveu a dela e ele apertou-a contra o

peito, sobre o lugar onde seu coração estaria batendo, mas Aria

sabia que seu coração pertencia a ela. Então, ele soltou a sua mão e

enfiou a dele no seu cabelo, beijando-a com uma ternura que a

deixou mole e desesperada por muito mais. Sua língua deslizou em

sua boca, a leve sugestão de especiarias a assaltou enquanto ela

roçava o céu da boca, e provou-a em longos e vagarosos

movimentos que a deixaram sem fôlego. Havia tantas coisas por aí

que a deixavam assustada e insegura, mas aqui e agora, ela não

tinha incerteza, nem medo, ainda mais quando ele a abraçava e

beijava com uma reverência que a impressionava.


Sua boca estava aquecida contra sua pele e suas mãos eram

macias quando ele deslizou a camisola dela. Arrepios cobriam seu

corpo; eletricidade parecia pulsar através dela enquanto suas

terminações nervosas gritavam por mais. Ela mal podia pensar; sua

mente girava enquanto todo o seu ser se concentrava apenas nele

e no prazer que ele provocava a cada golpe e beijo apaixonado. Ela

queria mais, ansiava por mais, mas não sabia o que era que estava

desejando. Aria só sabia que não conseguia chegar perto o

suficiente dele, mesmo curvando seus dedos nos músculos

esculpidos de suas costas.

Tudo o resto desapareceu, ela se esqueceu de todos os eventos

horríveis do mês passado, quando cada célula de seu corpo ficou

centrada nele. Suas mãos deslizaram sobre sua pele fazendo

carícias que a deixaram trêmula e fraca. Ela saboreou o sal do suor

dele enquanto beijava seu pescoço e mandíbula e a pressão do

corpo dele contra o dela. Seu olhar faminto deslizou sobre seu

corpo, mas ao contrário de antes, quando ela teria se sentido

insegura sobre seu corpo, sabendo que era magra demais, que não

era experiente o suficiente, agora sentiu apenas o amor, pois viu o


fogo iluminar seu olhar, deixando apenas sua boca voltar para a

dela.

— Você tem certeza? — Sua voz estava rouca, tensa quando

sua mão parou em sua coxa.

Embora Aria sentisse a tensão nele, e sua paixão por ela, sabia

que ele iria parar se ela pedisse. Ele se afastaria, aceitaria sua

decisão e continuaria a esperar pacientemente por ela. Isso só a fez

querê-lo mais. — Eu nunca tive mais certeza de nada na minha

vida.

Um gemido baixo escapou dele antes que Braith recuperasse

sua boca e gentilmente a pressionasse no colchão. Ela estava

tremendo e dolorida, perdida na sensação que suas mãos

despertavam, para prazeres que ela nunca soube que existiam até

que ele a tocasse.

Quando estava certa de que não aguentava mais, certa de que

iria gritar com a tensão desconhecida que se acumulava em seu

corpo, ele se moveu por cima dela. Houve dor, mas ele aliviou-a

com beijos suaves e sussurrou palavras de amor, esperando que ela


se adaptasse à nova sensação de se juntar a ele. Braith segurou-a e

acariciou-a com uma reverência que fez a dor diminuir e reavivar

seu desejo por ele.

Aria quase podia sentir o vínculo envolvendo-os, apertando

ao redor e unindo-os irrevogavelmente. Mas isso era mais do que

o estranho bloodlink que os vampiros experimentavam, era mais

profundo e mais forte, era um amor tão puro, certo e verdadeiro

que ela chegou a acreditar que poderia vencer e conquistar

qualquer coisa. Até mesmo a morte.

Seu corpo se estilhaçou, se despedaçando quando o prazer a

inundou e ela foi levada para um reino de felicidade que nunca

soube ser possível. Seu corpo tremeu quando ele rolou para o lado,

puxando-a contra ele enquanto a envolvia dentro da faixa de aço

de seus braços. Era isso; era onde sempre foi seu lugar. Não havia

mais passado, não para ele e não para ela. Havia apenas o presente,

apenas o aqui e agora e ela apreciava cada momento.

— Eu te amo. — Ele sussurrou contra seu ouvido. Ela ouviu a

vulnerabilidade em sua voz, a admiração que mais do que

combinava com a dela.


— E eu a você. — Suas mãos apertaram seu rosto e ele beijou

seus lábios trêmulos levemente.

O olhar em seu rosto rasgou sua alma quando Braith

pressionou os dedos contra os lábios dela. — Eu vou te amar até o

final dos dias, Aria. Nunca duvide disso por um momento.

— Possivelmente, eu não poderia. — Ela traçou os contornos

de seu rosto antes de envolver sua mão na sua nuca e orientá-lo em

direção ao oco de seu pescoço. — Por favor.

Ele hesitou por um momento antes de morder e ela suspirou

de prazer quando eles se uniram novamente.


Capítulo Dezoito

Braith a encontrou com seu irmão; suas cabeças estavam

inclinadas juntas, os ombros se tocando enquanto se sentavam no

banco diante da fonte no jardim. Seus cabelos, de cor idêntica, eram

de um ruivo cintilante no brilho do sol. Suas palavras foram

silenciadas, seus braços na frente deles pareciam estar puxando e

empurrando um ao outro. Não foi até que ele estava mais perto que

percebeu que eles estavam de mãos dadas, e tentando fixar os

polegares um do outro, puxavam um para o outro. Embora

estivessem jogando um jogo, eles também estavam falando sobre

seu pai, relembrando de uma maneira que fez ambos rirem. A

mágoa pesara muito sobre eles, e eles o usavam de forma

semelhante em seus corpos mais magros e sorrisos desanimados.

William prendeu seu polegar e sorriu para ela. — Você está

descuidada, irmã.
— Você me enganou. — Ela o acusou rindo e puxou o polegar

livre começando a lutar novamente.

Braith estava cativado por ela, fascinado pelas risadas que

finalmente irradiavam dela novamente. Como ele alguma vez

pensou que ela não era bonita? Aria poderia não ser a perfeição no

sentido clássico, mas seu espírito era glorioso e brilhava como o

sol. Ele sentira o espírito dela antes mesmo de poder vê-la.

E ele não tinha ideia do que viria a ser dela, dele, deles.

Ele deu um passo para trás, pretendendo retornar ao palácio.

Ela tinha tão poucos momentos de paz e tranquilidade que ele não

estava prestes a se intrometer nesse tempo com seu irmão. Ela se

virou de repente, inclinando a cabeça para o lado quando o viu.

Seu sorriso cresceu e suas bochechas coraram lindamente. William

franziu a testa para ela por um momento antes de se virar para ele.

Suas mãos continuaram unidas, mas o jogo foi esquecido enquanto

eles olhavam para ele interrogativamente.

Mesmo a partir daqui, ele podia ouvir o aumento da batida de

seu coração, sentir a alegria que a inundava, junto com a hesitação


tímida que ela havia experimentado brevemente esta manhã,

quando acordaram. Ele esperava que essa timidez já tivesse ido

embora, mas tinha a sensação de que isso tinha mais a ver com o

irmão do que em estar perto dele, pois Aria olhava nervosamente

para William. Seu irmão olhou entre eles e o calor subiu em seu

rosto quando ele a soltou e se levantou.

— Você não precisa ir. — Informou Braith, odiando separá-

los, especialmente pelas razões pelas quais ele veio.

— Sim. — William olhou para Aria que lhe ofereceu um

pequeno sorriso e assentiu brevemente. Braith percebeu que havia

mais por trás de seus olhares, mas William já estava voltando para

ele. — Eu preciso.

William apertou brevemente o ombro de Aria antes de se

mover ao redor do banco e deixar os jardins. Braith contornou o

banco e sentou-se ao lado dela. — Você se lembra da primeira vez

que você me trouxe aqui? — Ela perguntou.

Ele olhou para a fonte, lembrando claramente daquele dia. Ele

não sabia o que fazer com ela então, não sabia o que fazer com
qualquer coisa que estivesse acontecendo com ele. Aria o jogou

fora de equilíbrio, sacudiu-o; confundindo-o de uma maneira que

ele nunca tinha sido confundido antes. Ela ainda o fazia. Braith não

achava que algum dia iria se acostumar com ela ou com o jeito que

ela o fazia sentir; derretendo-o, enfurecendo-o e o deixando quase

de joelhos, tudo no mesmo momento.

— Eu lembro.

— Estava muito incerta sobre você antes disso.

— Você com certeza não agiu assim.— Ele murmurou.

Ela soltou uma risada gostosa e se inclinou contra ele. Braith

amava o jeito que ela o olhava, sob os cílios abaixados, brincalhona

e alegre. Quase o fez acreditar que ela ainda não estava dolorida

por dentro, mas mesmo através do sorriso ele viu o tormento

persistente em seus olhos. Estaria lá por muito tempo antes de

sumir. Ele segurou a mão dela, apertando-a suavemente entre as

suas enquanto a colocava no seu colo. — Bem, eu não

poderia deixar você saber que estava com um pouco de medo de

você, então você se aproveitaria de mim.


Ele não conseguia parar o riso que escapou dele. — Oh, tenho

certeza, como se você fosse muito fácil de se aproveitar.— Ele

respondeu secamente.

— Só com você. — Suas bochechas coraram ainda mais, e ele

não pôde evitar o aumento de sua risada. Era raro e fugaz vê-la

embaraçada ou tímida sobre qualquer coisa.

— Mesmo assim você é como um espinho.

Uma explosão de riso atônito escapou dela e Aria se inclinou

para pressionar um breve beijo nos lábios dele. Ele sabia que ela

queria que o ato fosse casto, uma pequena demonstração de afeto,

mas no minuto em que seus lábios tocaram os seus, calor passou

pelo seu corpo. Ele agarrou seus ombros, segurando-a no lugar,

enquanto as lembranças da noite e da manhã irromperam através

dele. Ele ficou abalado e por um breve momento foi incapaz de

controlar a poderosa onda de desejo que o inundou. Certamente

nunca amou outra mulher antes, mas também nunca tinha sido tão

cativado ou agitado dessa forma por uma. Ele pensou que possuí-

la facilitaria um pouco a necessidade, mas estava errado. Pelo

contrário, a fome só aumentou.


Aria estava respirando rapidamente, com o rosto corado com

um tipo diferente de calor quando ele recuperou o controle

suficiente de si mesmo para finalmente se separar dela. Seus olhos

estavam arregalados de espanto, seus lábios entreabertos e

inchados pela força do beijo dele. Ele ansiava nada mais do que

levá-la de volta para cima e esquecer tudo, enquanto se perdia nela,

mas existiam coisas que precisavam ser feitas. Coisas que eles

tinham que resolver entre eles. Existia apenas um curto tempo que

eles poderiam levar a realidade embora, e apesar de ter desejado

ter mais alguns dias, ele sabia que só tornaria as coisas mais difíceis

no final.

— Há algo que eu tenho que te dizer Aria.

A realidade caiu quando ela endireitou os ombros e levantou

o queixo. —Há algo que eu tenho que te dizer também.

— Tem a ver com o que houve entre você e Jack recentemente?

Ela empalideceu visivelmente quando se inclinou para longe

dele. — Você sabia?

— Eu suspeitei de algo, não sou idiota. Você não tem sido a


mesma desde os pântanos. Estou ciente de que você estava

tentando colocar alguma distância entre nós e suspeitava que fosse

porque você estava nervosa que um de nós não sobreviveria, mas

passei a acreditar que era mais do que isso, não era?

— Você vai ficar bravo.

Ele se mexeu desconfortavelmente, mas sabia que ficaria. —

Eu não duvido disso nem por um minuto.

— Por favor, tente controlar seu temperamento.

Sua mandíbula enrijeceu. — Eu nunca machucaria você.

— Eu sei disso!— Ela grito. — Mas eu gosto desse jardim e da

fonte, e gostaria de manter tudo inteiro.

Ele arqueou uma sobrancelha para ela. — É tão ruim assim?

Ela encolheu os ombros, mas não houve despreocupação com

o gesto. — Depende do seu ponto de vista.

— Do meu ponto de vista?

— Você provavelmente vai sentir vontade de quebrar alguma


coisa, mas por mim, por favor, não faça.

Ele não gostou de como soou. — Por você Aria, eu posso fazer

praticamente tudo. — Ele não ia prometer nada, não quando não

sabia exatamente o que ela iria dizer. Ele não acreditou nem por

um momento que qualquer coisa romântica se passasse entre ela e

seu irmão, mas havia outras coisas que poderiam acabar com seu

temperamento.

Aria respirou fundo e soltou suas palavras tão rápido que no

começo ele teve dificuldade tentando seguir o que ela estava

dizendo. Quanto mais rápido falava, e quanto mais ela falava,

mais raiva e medo começavam a se enrolar dentro de sua barriga,

através de seu peito e em suas extremidades externas. Ele estava

lutando para não tremer, tentando não apertar a mão que

segurava.

Braith suspeitou que eles estavam planejando alguma coisa,

ele até suspeitava que poderia ter sido algo assim, mas isso não fez

nada para aliviar o ácido que sentiu agitando através de seu

estômago. Nada para aliviar o sentimento de traição que sentia

construindo através dele. — Eu nunca quis irritar você, Braith.


— E me deixar de novo não me aborreceria? — Ele disse

rispidamente com os dentes cerrados.

Ela parecia ter sido atingida por ele quando recuou — Não era

o que eu queria fazer. — Ela sussurrou.

Ele soltou a mão dela e se levantou abruptamente. Seus

músculos tremeram enquanto lutava contra o desejo de levantar o

banco do outro lado e esmagá-lo no chão. Ele lutou pelo controle,

lutou para manter-se são, a fim de manter sua meia promessa para

ela. — Jesus, Aria.

— Sinto muito, realmente sinto. Mas não importa o quanto eu

te amo, e acredite, eu te amo mais do que jamais imaginei ser

possível, a minha felicidade, a nossa felicidade não é tão importante

quanto as milhares e milhares de vidas que dependem de você. Por

causa disso estava disposta a perder minha felicidade, minha vida...

— Ela parou abruptamente, estremecendo quando pareceu

perceber que tinha falado demais.

— Sua o quê!??? — Ele gritou. — Jack estava indo… Não, não

Jack. Jack não teria coragem e nem Ashby. Gideon. — Ele declarou
com um lampejo de percepção.

Ela não olharia para ele; seu olhar estava focado em outra

coisa dentro do jardim.

—Eles não sabiam. Jack e Ashby não sabiam, e Gideon,

bem, eu fui até Gideon, ele não veio até mim.

Ele queria gritar com ela, gritar, berrar e rasgar o jardim. Teve

o desejo de sacudi-la até que enfiasse algum sentido no crânio

grosso dela, mas mesmo quando todos esses impulsos bateram

através dele, ele também sentiu um esvaziamento de seu espírito.

Ele a levou a isso; levou todos eles a isso. Braith estava muito

determinado a acreditar que poderia se afastar, que não seria

necessário aqui e que poderia dobrar o mundo e todos nele a sua

vontade. Ele não parou para pensar em alguém além de si mesmo

e dela. Ele só queria mantê-la segura e protegida e para isso insistiu

que iria embora com ela assim que a guerra acabasse. Mas ao fazer

isso, Braith pressionou-a e os outros para tentar encontrar uma

maneira de fazê-lo ficar.

Ele não duvidou por um minuto que Aria teria se sacrificado


para fazê-lo liderar. Ele passou as mãos pelo cabelo e caiu no banco

ao lado dela.

— Você está com raiva de mim. — Ela sussurrou.

— Estou. Eu também estou com raiva de mim mesmo.

— Isso nunca foi o que quis, eu sempre quis você. Meu

coração, — ela pressionou a mão contra o peito — sempre teria sido

seu, não importa o quão longe fosse, ou quanto tempo ficássemos

separados.

Com a cabeça baixa, ele cruzou as mãos diante dele enquanto

ouvia a batida reconfortante de seu coração. — Meu sangue está

dentro de você, Aria. Jack sabe que isso significa que posso rastreá-

la em qualquer lugar.

— Nós estávamos esperando que se fosse diluído, se o sangue

de outra pessoa... — Ele foi incapaz de parar o baixo gemido de

angústia que lhe escapou com esse pensamento. Foi uma facada

em seu coração que seu pai tivesse feito tal coisa com ela. Ele não

podia mais provar o sangue de seu pai nela, mas se ele ainda

estivesse vivo, Braith teria sido capaz de encontrá-la em qualquer


lugar que ela fosse. — Talvez isso fosse diminuir sua capacidade

de me rastrear.

— E se não funcionasse, Gideon era o plano de backup. — Ele

rosnou.

Aria conseguiu um pequeno aceno quando seu lábio inferior

começou a tremer. —Sim.

— Aria. — Ele gemeu e arrependimento encheu-o. Puxando-

a contra ele, ele pressionou um beijo firme contra a testa dela. —

Eu teria te encontrado, você sabe, com sangue diluído ou não, teria

encontrado você. Sempre vou te encontrar.

— Eu sei. — Seus dedos enrolaram em sua camisa e ela

pressionou o rosto contra o pescoço dele. — Acho que sempre

soube.

— Gideon se tornou todo o seu plano numa certa altura.

— Sim.

— Você deveria ter vindo a mim.— Ele parou e balançou a

cabeça. — Mas você não podia, eu não a escutaria. Então por que
você mudou de ideia? Por que decidiu me contar?

Ela se afastou um pouco. — Porque eu não poderia mais ser

essa pessoa. Simplesmente não poderia deixar você assim pela

segunda vez. Estava tentando fazer o que achava certo indo

embora agora, mas nunca ia ser certo, não no final. Isso teria nos

destruído e mesmo que você me encontrasse, as coisas nunca

teriam sido as mesmas. Não importa o que acontecesse, você teria

me trazido de volta aqui e teria ficado ressentido pelo resto da

minha vida por traí-lo, mesmo que você pudesse me perdoar. Você

também percebeu que não somos a coisa mais importante, não

mais. Enquanto eu estava naquela masmorra, sabia que você se

tornaria o rei.

— Eu não entendo.

— O Braith teimoso, determinado e não disposto a se dobrar

que eu conheci, teria invadido aqueles portões sem pensar em

razão e lógica...

— Eu vim o mais rápido que pude.

Ela sorriu e descansou a testa contra a dele; seus dedos eram


tão delicados quanto a asa de uma borboleta contra o seu rosto. —

Eu sei que você veio. Mas você se conteve e colocou o bem maior à

minha frente, e de si mesmo.

— Eu daria a minha vida pela sua, Aria. Nunca duvide disso.

Ela inclinou a cabeça para estudá-lo. — Eu sei disso, mas você

é um rei, Braith. Muitos dependem de você e eu sou...

— Uma rainha se você concorda em ser.

Ela fechou os olhos, as mãos paradas no rosto dele. — Eu sei

que eles não vão me aceitar como um ser humano.

— Eles concordaram. — Seus olhos se abriram quando ela se

inclinou para trás. —Eles aceitarão você como líder, como ser

humano e como rainha. Eles vão reconhecer você.

— Por causa de Caleb.

— Você pode não querer por esse motivo, mas ganhou o

respeito e a admiração deles. Eu acho que eles teriam concordado,

mesmo se você não tivesse ajudado a derrubar Caleb. Eles estão

começando a perceber que, para que haja igualdade, essa é uma


das coisas que terão que mudar. Eles aceitaram e respeitaram

líderes humanos nos Vales, e também os aceitarão aqui. Você me

faz mais forte, Aria, e ajudará a obter o apoio dos humanos se

estiver ao meu lado. Eles vão reconhecê-la como minha rainha.

— Você teve uma reunião sobre isso?

— Sim.

— E se tivermos filhos?

A mão dele caiu instintivamente em sua barriga. — Eu amarei

nossos filhos não importando o que acontecerá, sendo ele humano

ou vampiro. Nunca pensei que diria essas palavras, nem nunca

pensei que me importaria com qualquer progênie que tivesse, mas

amarei nossos filhos tanto quanto amo você.

Lágrimas brilhavam nos olhos dela. — Sei disso, Braith, mas

eles não serão aceitos se eu permanecer humana, não é?

Ele engoliu em seco e balançou a cabeça. — Eles concordaram

que nosso filho mais velho terá um assento no conselho, mas se o

filho for humano, ele ou ela não será aceito como meu
herdeiro. Terá que ser um filho vampiro nosso e, mesmo que não

pareça, é uma enorme concessão para eles. No entanto, não planejo

deixar o cargo por um longo tempo.

— Os outros aceitariam?

Ele hesitou. — Vai ser muito difícil por algum tempo,

Aria. Vai levar muito tempo até que nossa sociedade funcione da

maneira que queremos.

— Provavelmente não durante o período da minha vida. —

Ela murmurou. —A vida que eles vão enfrentar... — Sua voz sumiu

quando ela se virou para a fonte. — Lutamos para criar um mundo

melhor, mas nossos filhos ainda conhecerão as dificuldades e a

hostilidade.

— Não. — Ele agarrou seu queixo com facilidade e virou a

cabeça para ele. —Não. Nossos filhos não conhecerão isso. — Mas

mesmo quando disse as palavras, ele sabia que estava tentando

forçar as coisas de novo, tentando fazer as coisas se dobrarem à sua

vontade. — Ok, sim, eles podem ter que enfrentar alguns

obstáculos, mas todas as crianças o fazem, e as coisas serão


diferentes para eles. Haverá preconceitos, desconfiança e ódio por

muito tempo, mas um dia tudo isso será apenas uma lembrança e

o ódio desaparecerá.

— Assim como as memórias do mundo que costumava existir

desaparecerá. Mas eu não tenho tantos anos, Braith.

— Eu sei. — Era isso; finalmente chegara a hora de contar a

ela. Ele estava bastante certo da escolha que ela faria, ele só não

tinha certeza se estava pronto para isso. — Aria, há algo que você

deve saber.

Ela franziu o cenho para ele. — E o que é?

Ele se preparou antes de continuar. — Xavier conhece muitas

coisas; mais do que nós dois poderíamos aprender, imaginar ou

entender ao longo de centenas de anos.

— Eu sei, ele é fascinante.

— É uma maneira de descrevê-lo, suponho, a maioria opta

por peculiar, mas acho que fascinante serve. — O sulco em sua testa

se aprofundou quando ela o olhou. — Ele também vê as pessoas


mais fundo do que qualquer pessoa que eu já conheci, e entende

mais sobre como elas funcionam. Ele vê coisas neste mundo que

ninguém mais veria, ou poderia ver. Antes de você ser capturada,

percebi que ele tinha um interesse particular em você.

— Que tipo de interesse?

— Era sobre isso que estava curioso para saber, e eu o

confrontei sobre isso.

— O que ele disse? — Ela perguntou quando ele não falou por

um longo momento.

Braith não queria dizer as palavras, tanto quanto queria soltá-

las. — Ele acredita que você tenha sangue de vampiro em sua

linhagem.

Aria ficou imóvel como pedra, até seu coração pareceu

congelar por um instante antes de dar um forte chute contra o

interior de suas costelas. — Isso não é possível.

— Eu acho que é.

— Não. — Ela balançou a cabeça com tanta veemência que


seu cabelo se agitou em torno de seu rosto. — Não, Braith. Eu sou

humana.

— Sim, você certamente é humana. No entanto, acredito que

em algum lugar, ao longo dos anos, um de seus ancestrais foi filho

de um vampiro. Escute, Aria, faz sentido. — Ele disse quando ela

continuou a sacudir a cabeça. — Você é muito rápida, mais rápida

que a maioria dos humanos, e apenas Daniel e William se movem

com o mesmo tipo de graça silenciosa que você faz. — Ele não

acrescentou o pai dela; isso era difícil o suficiente sem esse

lembrete.

— Max é rápido e capaz na floresta, mas nem de longe tão

rápido ou silencioso quanto os três. Você é forte; e você mesma

ficou maravilhada quando destruiu aquele vampiro nos Vales. A

primeira vez que vi você manobrar através das árvores, até eu

achei a velocidade e a graça com as quais você se moveu

extraordinária. Eu nunca tinha visto nada assim. Se eu estivesse

pensando claramente na época, talvez tivesse percebido, mas acho

que não penso claramente desde que te conheci.

— O mesmo comigo. — Ela murmurou quando parou de


sacudir a cabeça e franziu a testa para a fonte.

— Há também o bloodlink. Nunca aconteceu com um

humano antes, por isso que Ashby e Melinda estavam confusos por

nós. Como estavam Xavier e Gideon. Nenhum vampiro antes

encontrou sua ligação de sangue em um humano, Xavier está certo

disso.

— Isso pode explicar por que eu, sem razão, senti que poderia

confiar em você desde o começo, e porque eu estava estranhamente

sem medo de você quando te conheci. Sempre fui muito

imprudente e procurava encontrar um pedaço de mim que não

sabia que estava faltando, até que você me beijou e eu

encontrei. Talvez haja um pouco de DNA de vampiro em mim que

tenha reconhecido algo em você.

Ele arqueou uma sobrancelha quando ela franziu a testa para

ele. — Você não estava com medo de mim? Sou assustador.

— Nem perto de ter medo de você como eu estava daquele

outro vampiro que tentou me reivindicar. — Ele teria protestado

se ela não estivesse sorrindo tão carinhosamente. — Mas o que isso


significa, Braith? Que diferença faz se em algum lugar ao longo do

caminho houvesse um vampiro na minha família?

— Não tem que ser um vampiro; poderia ter sido uma criança

humana vampira banida do palácio, que fugiu para evitar o abuso

que recebeu.

Um lampejo de percepção tomou conta de suas feições. —

Meu bisavô deixou o palácio quando era criança. Mais tarde ele

começou a rebelião.

— Eu sei, você me disse isso nos Vales, mas não achei nada

demais na época. Quando falei com o seu pai...

— Meu pai sabia disso? O que ele disse? — O anseio em sua

voz rasgou seu coração.

— Ele nos contou o que você acabou de contar. Seu avô

deixou o palácio aos treze anos e lutou para sobreviver nas ruas da

cidade antes de recuar para a floresta. Uma vez na floresta, ele

reuniu um público fiel que com o tempo se tornou a rebelião. Seu

pai não sabia muito sobre seu tempo no palácio, apenas que seu

avô havia saído depois que sua mãe morreu e que ele tinha um
profundo ódio dos vampiros. David supôs que fosse por causa do

abuso que sofreu enquanto estava no palácio. Ele admitiu que

poderia ter sido possível que fosse mais do que isso. Ele disse que

havia rumores estranhos sobre o homem quando David era

criança, mas que desapareceram após sua morte e foram

designados para terem sido criados para acrescentar uma aura de

mistério e poder ao líder rebelde.

— Que tipo de rumores? — Aria perguntou.

— Que ele era mais rápido que um humano, mais forte, que

podia ver melhor e ouvir melhor que um falcão. Seu pai nunca

pensou em nada e seu bisavô morreu quando seu pai tinha apenas

dez anos. Ele nunca falou sobre isso com o seu avô, pois não havia

razão para questionar nada, até Xavier.

— E meu pai acreditou que seu avô poderia ter sido filho de

um humano e um vampiro?

O mundo ficou estranhamente parado, o azul de seus olhos se

tornou mais claro como todos os sentidos que ele tinha focado

nela. Braith não perdeu o fato de que a mão dela estava contra a
barriga enquanto o observava. Ele descansou a mão sobre a dela,

inclinando-se mais perto e pressionando um beijo em sua

têmpora. — Ele acreditava que era uma forte possibilidade, uma

vez que pensou sobre tudo.

— Entendo. — Ela murmurou. —Mas que diferença faria se

ele fosse, se eu tivesse algum vampiro em mim?

— Xavier acredita que fará diferença nas suas chances de

sobrevivência.

Suas narinas se alargaram quando ela inalou rapidamente. —

Da transformação?

Ele não queria desejar isso, realmente não queria, mas no

fundo desejava. Ele teve que soltá-la para agarrar o banco com as

duas mãos. Com os braços travados; a pedra do banco fincou as

palmas das mãos dele enquanto tentava firmar suas emoções. Ele

não sabia se esperava que ela dissesse sim ou não, mais. — Sim.

Houve um momento de silêncio atordoado antes que ela

começasse a rir e se atirasse para ele. Braith mal sentiu a força de

seu peso esbelto quando ela colocou os braços ao seu redor e se


estabeleceu em seu colo. A angústia e o êxtase inundaram-no e ele

a abraçou de volta. — Ainda há uma chance de você não

sobreviver. Xavier diz que os únicos sobreviventes que ele conhece

tinham algum tipo de linhagem de vampiro, mas ainda não

estamos totalmente certos de que você tenha.

— Vou sobreviver.

— Aria...

— Eu sobreviverei, Braith. Sou mais forte do que todos eles e

diria que todas as evidências apontam para um sim sobre minha

linhagem. Eu nunca pensei que ficaria feliz em ouvir isso, saber

disso, mas estou. Eu sinto que é certo de alguma forma.

Ele quase não conseguia olhar para ela. Se ela não

sobrevivesse, ele seria o único que a matou. Braith estremeceu com

o pensamento, as mãos apertadas sobre ela. Mas se

ela sobrevivesse...

Uma eternidade de promessa se desenrolou diante dele; a

esperança era quase demais para suportar. — Eu não quero ser

aquele que te matará.


— Você não será.

— De qualquer maneira, eu vou, Aria. Você pode ficar

humana e continuar comigo como uma humana. — Ele tinha que

ter certeza que ela pensou sobre todas as suas opções.

— Eu ainda vou morrer e adoraria ter esses anos com você,

Braith, sinceramente gostaria, mas adoraria ter muito mais com

você.

— Talvez se esperarmos alguns anos…

— Nós poderíamos fazer todas essas coisas. Eu poderia

envelhecer com você e você poderia me ver morrer desse

jeito. Podemos viver juntos por alguns anos, e então chegaremos a

essa mesma encruzilhada e será ainda mais difícil tomar a

decisão. Especialmente se houver crianças envolvidas, eu nunca

poderia ter a chance de deixá-las. Não sou vaidosa, mas não quero

forçar isso ano após ano até morrer de velhice e não ter outras

opções.

— Você ainda seria linda.


— Para você, é claro, mas seria estranho e você não me

desejaria.

— Parecerá um pouco estranho, mas acredite em mim quando

digo que teve momentos em que você foi a coisa mais desleixada e

fedorenta que já vi, e eu ainda desejava você. Eu te levaria de

qualquer maneira que pudesse pegar.

As sobrancelhas dela ergueram arrogantemente e seus os

olhos brilharam com risada. — Você é depravado.

— Eu sou o que você me fez.

Ela sorriu para ele e se mexeu em seu colo. Braith cerrou os

dentes enquanto tentava manter o foco na discussão em mãos. —

A última coisa que quero fazer é morrer, e esperamos muito tempo

para começar nossas vidas juntos. Eu gostaria de fazer isso com a

promessa da eternidade. Entendo se você decidir contra, não sei

como eu lidaria com isso se os papéis fossem invertidos. Eu ficaria

apavorada.

Ele descansou o rosto no oco do pescoço dela. Inalando seu

doce aroma, saboreou-o enquanto permitia que um pouco da sua


tensão se acalmasse. Braith podia cheirar seu sangue dentro dela,

mas se fizesse isto, se este fosse o passo que dariam, seu sangue a

encheria ainda mais e ficaria para sempre misturado.

— Eu vou concordar com o que você decidir, Aria. É da sua

vida que estamos falando aqui.

— Eu sei. Nunca tive certeza se iria viver até esta idade para

começar. — Um olhar distante se estabeleceu em seu rosto. Ele

quase podia ver a realidade caindo sobre ela, o conhecimento de

que ela morreria e possivelmente nunca mais despertaria. — Eu

não me importaria em ter mais alguns anos um com o

outro, talvez pudéssemos esperar. Embora haja apenas uma

maneira de garantir que não tenhamos filhos.

Ele arqueou uma sobrancelha e ela sorriu de brincadeira em

troca, se movendo maliciosamente em seu colo novamente. —

Você é muito engraçadinha.

— Eu sou. — O sorriso apagou-se e sua expressão se tornou

grave mais uma vez. — Acho que vou sobreviver a isso, Braith,

mas se não acontecer, o que será de você? O que vai acontecer


com você ?

— Isso não é algo com o que você deva se preocupar.

— É, no entanto. Eu vi seus antigos aposentos. Eu estava

naquela masmorra com os sobreviventes, sei do que você é capaz

quando perde o controle, e Ashby disse que os bloodlinks não

podem sobreviver sem o outro.

— Ashby é um idiota.

— Braith.

— Eu sobreviverei, Aria. — Suas mãos se espalharam pelas

costas dela. — Eu prometo a você que vou sobreviver. Odiarei a

mim mesmo, e irei odiar este mundo se ele não tiver você, mas vou

ficar são e continuar por sua causa. Se esta for a única coisa que me

resta de você, farei o que você esperaria de mim, o que a faria

orgulhosa de mim. Eu não vou destruir nenhum ser humano; nem

haverá outros escravos de sangue. Não é o mesmo que da última

vez, Aria, que me senti traído, assim como você. — Ele acrescentou

rapidamente quando seus olhos escureceram. — Eu estava fora de

controle, perdido e furioso porque não sabia o que estava


acontecendo comigo, com você, ou o motivo pelo qual você me

deixou tão abruptamente depois de dizer que me amava.

Isso não será o mesmo.

— Nosso vínculo é mais forte depois da noite passada.

— Nosso vínculo já era mais forte antes de dormirmos juntos.

— As palavras foram firmes, muito mais duras do que pretendia,

mas ele tinha visto o olhar de culpa cintilando através de seus

olhos. Ele não ia deixar que ela se arrependesse do que havia

acontecido entre eles. — O sexo não ia solidificar ainda mais, não

importava o que Ashby, Gideon ou qualquer um desses idiotas

acreditasse. Isso. — Ele segurou a mão dela e apertou-a sobre o

coração imóvel. — Há momentos em que quase posso sentir isso

realmente batendo por você. Você é a dona desde o momento em

que te vi. Pode ter demorado um pouco para chegar a essa

conclusão, mas é verdade, e não há nada, nada que vá mudar

isso. Nem sangue e nem sexo. Você foi feita para mim, Aria. Você

é meu bloodlink, minha ligação de sangue, minha alma gêmea.

— O vínculo entre nós tem sido mais forte há algum

tempo. Quando Jack te ajudou a escapar do palácio, perdi minha


visão completamente. Quando você foi levada dessa vez, eu não

perdi totalmente a visão. Não era a melhor percepção, mas

eu ainda podia enxergar algumas coisas, e isso foi muito antes da

noite passada, entendeu?

Ela fechou os olhos e uma única lágrima se soltou. — Sim. —

Ele afastou a lágrima, seus dedos deslizando sobre suas marcas

frescas de mordida enquanto ele ignorava o resto das outras

desbotadas em seu corpo. — Então seus olhos estão se curando?

Ele encolheu os ombros. — Eu acho que seu sangue ajudou-

os a se curar, você me fez mais forte do que jamais soube que

poderia ser.

— E se eu morrer?

— Eu não sei, pode ser que fique como desta última vez, ou

posso ficar cego de novo. Eu vou passar por tudo o que

acontecer. Não se preocupe comigo, Aria. Essa não é uma das

coisas que quero que você se preocupe.

— Gostaria que você seguisse em frente, encontrasse outra

pessoa...
— Não. — Ele interrompeu e seus dedos pararam. Todo o seu

ser se encolheu com o pensamento, a repulsa se contorceu como

uma cobra venenosa em sua barriga. — Não.

— Você vai precisar de um herdeiro.

— Há Jack para isso, ou Ashby e Melinda.

— Braith...

— Não, Aria. Não. Posso prometer-lhe que continuarei

vivendo, que ficarei no controle de mim mesmo e liderarei com

justiça. Essas são promessas que sei que posso manter,

mas não posso prometer isso. Eu não serei capaz de sustentá-la e

não vou mentir para você.

— Talvez não agora, mas você tem anos à frente ainda. Você

vai precisar de amor, companheirismo.

— Não! — Ele disse vigorosamente. — Não. Não terei

ninguém além de você. Quinhentos anos, outros mil anos, a

maldita eternidade não vai mudar isso. Não pressione nesta

questão, Aria. A resposta não mudará, não importa como você


tente torcer isso.

Por um momento ele pensou que ela argumentaria

novamente, mas ela finalmente cedeu. — Ok. — Aria beijou seu

nariz carinhosamente, seus dedos traçando as cicatrizes

desbotadas ao redor dos olhos dele. — Estou com medo,

Braith. Nunca pensei que viveria muito tempo, nem que teria esse

tipo de vida, e tenho medo de perder isso. Não tive medo de

morrer para estar longe de você e não deveria ter medo de morrer

para estar com você.

— Ótima maneira de colocar isso. — Ele murmurou

sarcasticamente.

— Mas eu estou. — Ela continuou. — Tenho medo de perder

os anos que poderíamos ter se algo der errado, e embora saiba que

vou sobreviver, ou pelo menos tenho certeza de que vou, ainda

assim tenho medo.

— Eu conheço você, Aria. Não precisa me explicar

isso. Compreendo.

Ele fechou os olhos e seus dedos deslizaram pelo cabelo dela


antes de acariciar seus ombros. Era fácil pular tudo isso e dizer sim

à promessa da eternidade, mas encarar a certeza da morte era

assustador, e a última coisa que ele queria era que ela ficasse

assustada. Ele queria a eternidade, mas queria mais a felicidade

dela.

— Não tem que ser agora, Aria. Você não precisa decidir sobre

isso agora. Podemos esperar e discutir uma vez que você tenha

tempo para pensar sobre isso.

Ela assentiu e seus olhos se tornaram distantes e

pensativos. — Sim, acho que seria o melhor. — Ele ficou aliviado

que ela realmente iria pensar nisso. Mesmo assim, sentiu a faca

afiada de decepção em seu intestino. — Eu não estou pronta para

filhos, Braith. Não importa o que aconteça, se me transformar logo,

ou se esperarmos alguns anos, não estou pronta para filhos.

Seus braços apertaram ao redor de sua cintura quando ele a

puxou contra seu peito. — Eu quero ter filhos com você! — Ela

disse. — Mas não agora. Acabamos de descobrir esse mundo de

relativa paz, e finalmente conseguimos ficar juntos sem ter que

esconder nossos sentimentos. Gostaria que aproveitássemos o


tempo juntos. Humanos ou vampiros, as crianças são muito

trabalhosas.

— Ah sim, elas são. — Ele murmurou.

Aria o olhou por sob cílios abaixados. — Embora gostaria de

uma ninhada um dia.

— Uma ninhada?

— Bem, pelo menos três.

Ele riu enquanto descansava o queixo na cabeça dela e

aninhava-a contra ele. — Eu posso lidar com três, mas só há uma

maneira de garantir que não tenhamos filhos agora. — Ele a

lembrou.

Ela atirou-lhe um olhar descontente. — Bem, isso não vai

acontecer.

Ele riu enquanto a balançava um pouco. — Atrevida.

— Meu aniversário é na próxima semana.

— Eu não sabia disso.


Ela sorriu e encolheu os ombros. — William e eu realmente

não celebramos isso; é apenas mais um dia na mata, e este ano...

Bem, este ano, com o pai ausente, parece ainda menos um motivo

para comemorar. Nunca pensei que chegaria aos dezoito anos,

especialmente depois que fui capturada.

— Acho que devemos comemorar este ano.

— Talvez seja bom. — Ela murmurou, embora não parecesse

convencida.

— Você tem certeza de que pode viver com essa vida? — Ela

franziu a testa para ele enquanto se inclinava para trás. Braith se

levantou e a colocou no chão enquanto gesticulava ao redor do

jardim. — Este não é o seu mundo, Aria. Eu sei disso, você sabe

disso. Eu me lembro como você estava infeliz no palácio, o quanto

sentia falta da sua floresta, sua liberdade. Haverá muitas

exigências sobre nós, muita pressão e até menos liberdade. Mesmo

se você escolher permanecer humana, esta não é a vida que você

esperava.

— Braith...
— Eu quero ter certeza de que você entendeu, Aria. Não vou

forçar você a ficar. Se você escolher ir embora porque não será feliz

aqui, não farei você ficar. Cumprirei seus desejos, mas não posso,

simplesmente não posso ir agora, talvez nunca. — Ele engasgou

com as palavras e precisou de esforço para dizê-las. — Às vezes o

amor…

— Nem sempre é o suficiente. — Ela sussurrou.

— É sempre o suficiente, mas às vezes temos que colocar a

felicidade de outra pessoa à frente da sua. Estou aprendendo a te

deixar mais livre, Aria. E se for necessário, deixarei você ir se me

pedir. Eu te libertarei se for o que você precisa. Ficarei destruído

ao te perder, mas não prejudicarei ninguém, e te deixarei viver o

resto de sua vida em paz. Não vou tirar a sua liberdade de você.

— Eu sei. — Ela levantou-se e caminhou até ele. Seus braços

rodearam sua cintura, a cabeça inclinada para trás para estudá-lo

enquanto as lágrimas deslizavam por suas bochechas. — Sei que

você me deixaria ir, mas eu não quero que precise.

— Você não pode apressar esta decisão.


— Eu não estou me apressando. — Ela sussurrou. — E posso

entrar na floresta de vez em quando, não posso?

— Sempre que puder, vou levá-la para a floresta. —

Prometeu.

— Bom. Acho que posso manter minha sanidade, então. —

Ela sorriu enquanto cutucava seu quadril.

Braith gemeu e a puxou com força contra ele, observando a

figura esculpida do casal na fonte. O casal estava destinado para

sempre a olhar um ao outro, mas nunca se tocando. Ele nunca quis

soltá-la, e ainda assim essa decisão poderia ser a mesma que a

destruiria se ela decidisse escolher a eternidade.


Capítulo Dezenove

A comemoração foi muito maior do que ela esperava. Antes

deste dia, ela e William tinham celebrado seus aniversários

recebendo fatias maiores de carne, geralmente um novo arco e

flechas, e ouvindo os outros cantarem uma canção boba que eles

odiavam. Agora, tinham mais comida do que ela já tinha visto em

sua vida, uma pequena banda tocando instrumentos e um enorme

bolo do qual ela não conseguia tirar os olhos. Sua boca ficava cheia

d'água toda vez que olhava para a coisa elaboradamente decorada,

e tudo o que ela ansiava era uma parte gigantesca dela.

— Eu acho que estou com ciúmes do bolo.

— Hã? — Aria murmurou quando desviou o olhar da enorme

criação da maravilha açucarada no meio da mesa.

Braith riu e deslizou o braço ao redor de sua cintura. — Estou

com ciúmes do bolo; você não consegue tirar os olhos dele.


— Eu nunca vi nada assim. — Ela se maravilhou. — É incrível.

— Mais ainda do que eu?

Ela acenou com a mão desdenhosamente para ele. — Claro

que não, mas uau.

— Você gostaria de um pedaço?

—Não devemos comer primeiro ou cantar, ou algo assim?

— É seu aniversário; você pode fazer o que quiser.

William entrou entre eles. Ele colocou sua muleta na frente

dela, bloqueando seu caminho. Ele estava perfeitamente disposto

a fazê-la tropeçar se ela tentasse pegar um pedaço antes dele. —

Também é meu aniversário e, como irmão mais velho e mais sábio,

eu deveria pegar a primeira fatia.

— Vou lhe dar o crédito do mais velho, mas você certamente

não é o mais sábio. — Retrucou ela. — E como a irmã mais

nova, mulher, eu deveria pegar o primeiro pedaço.

— Como o irmão ainda aleijado e mancando, eu discordo.


Aria bufou. — Eu poderia apenas chutar a muleta debaixo de

você.

— Você não ousaria.

— Só me teste.

— Por que vocês apenas não pegam um pedaço ao mesmo

tempo? — Insinuou Braith razoavelmente.

Aria lançou-lhe um olhar.

— A razão não se aplica aos gêmeos, irmão. Eles não vão calar

a boca até encherem a cara deles. — Informou Jack enquanto

caminhava em direção a eles.

William encolheu os ombros casualmente, mas assentiu

entusiasticamente de acordo. — O homem tem um ponto válido.

Braith pareceu confuso, mas sacudiu a cabeça e se dirigiu para

a mesa. Ela observou as mãos habilidosas de Braith quando ele

deslizou a faca pelo fundo do bolo, cortando uma flor rosa e outra

vermelha. Ela ficou ainda mais fascinada com aquelas mãos do que

com o bolo. Fortes e brutais quando tinham que ser, e ainda assim
dolorosamente ternas e amorosas quando deslizavam sobre

ela. Aria mentalmente se sacudiu de seus pensamentos antes que

eles vagassem para coisas que estavam longe de serem apropriadas

aqui.

Braith estava voltando com dois pedaços grandes. — Posso

mexer com ele um pouco mais? — William perguntou.

— Claro. — Respondeu ela rindo.

Braith entregou-lhe uma fatia de bolo antes de dar a William

o seu. — O dela é maior.

— O que? — Braith perguntou surpreso.

—Você deu a ela o maior pedaço.

Jack deu uma gargalhada alta quando Braith olhou incrédulo

para William. Aria mordeu o lábio superior enquanto tentava não

rir. — Vocês dois são muito engraçados. — Braith murmurou.

Aria não conseguiu reprimir mais o riso, mas sua atenção foi

rapidamente desviada pela fatia gigante de bolo na frente dela

enquanto William ansiosamente mergulhava em seu pedaço. —


Delicioso.

Ela olhou para o irmão com inveja enquanto pegava o

garfo. Ainda achava que os utensílios eram irritantes, mas pelo

menos estava melhorando em usá-los. — Incrível. — Concordou.

Braith estava olhando para ela com uma sobrancelha

levantada e um pequeno sorriso no rosto. — Espero que você goste

bastante também do nosso bolo de casamento.

Ela engasgou com o bolo e William congelou com a mordida

a meio caminho da boca. — Como? — Ela conseguiu falar em torno

dos sólidos socos de Daniel nas costas.

Braith apenas sorriu de volta para ela, da mesma maneira

irritante que William estava sorrindo para ele. — Você me ouviu.

Ela olhou para os irmãos, sem ter certeza de que estava

entendendo direito. O casamento não era algo que ela realmente

pensou antes, mas como mais alguém se tornava uma rainha? Ela

percebeu que nunca pensou muito sobre isso, mas seria preciso um

casamento para solidificar sua posição. Quando ele disse que a

queria como sua rainha, e os vampiros a aceitariam, ele também


estava dizendo que planejava se casar com ela. Ela se sentiu como

uma idiota.

Aria não conseguia pensar em nada melhor do que ser sua

esposa pelo resto de sua vida. Uma inundação de sonhos de

infância rapidamente transbordou sua mente. Houve um tempo

em que ela sonhou com marido e filhos, e uma cerimônia de

casamento debaixo da árvore de banquete com sua família

cercando-a.

Uma onda de lágrimas encheu seus olhos. Ela estava indo

bem hoje, permanecendo otimista; aproveitando seu tempo com

seus irmãos e Braith, tentando não pensar sobre o fato de que seu

pai não estava aqui para celebrar com eles. O sorriso escorregou do

rosto de Braith enquanto ele a observava.

— Eu vou te entregar no altar, Aria. — Daniel ofereceu.

— Nós dois vamos. — William interveio com força.

— Calma, gente. Ela não está acostumada a usar vestidos e

entre os dois, um de vocês acabaria caindo. — Jack sorriu enquanto

tentava aliviar o clima de novo.


— Especialmente se ela estiver usando saltos. — Braith

acrescentou com uma pequena piscadela. Aria se forçou a sacudir

sua melancolia. Era tão raro que Braith fosse alegre, e ele estava

tentando ser assim agora, então ela tinha que tentar também.

— Oh, isso deve parecer como um peixe nadando fora d'água!

— Max declarou com uma risada alta. — Eu realmente não me

importaria de ver!

—Eu gostaria de ver isso também. — Disse William.

— Não é bonito. — Admitiu Aria e seu sorriso não parecia

forçado.

William e Max riram enquanto cutucavam um ao outro e

então riram para ela. Aria revirou os olhos para eles enquanto

lutava contra a vontade de chutar as muletas de William. Braith

pegou o prato vazio da mão dela e passou o braço pela sua

cintura. Ela estava um pouco confusa enquanto o olhava. Ela tinha

acabado de receber uma proposta, ou ele estava apenas a

provocando porque ela e William estavam brincando com ele? Ela

não teve tempo para refletir pois ele a arrastou rodopiando para a
pista de dança.

Aria estava rindo enquanto ele a abaixava de volta. — Eu não

sei dançar.

— Eu vou te ensinar.

Ela olhou ao redor da sala. Embora a festa fosse elaborada,

havia poucas pessoas presentes que ela não conhecia. Um fato do

qual ficou aliviada. Eles não estavam olhando para ela e

sussurrando atrás de suas mãos, como alguns dos outros no

palácio fizeram. Embora a maior parte da atenção que recebeu

parecesse mais curiosa do que maliciosa, ela ainda estava um

pouco preocupada, e feliz por não ter que lidar com isso hoje. Hoje

era uma celebração e era isso que ela pretendia fazer. Não haveria

mais tristeza, decidiu com firmeza. Hoje não.

Ele a puxou para mais perto dele, envolvendo um braço ao

redor de sua cintura enquanto segurava a mão dela e a pressionava

contra seu peito. — Não deveria haver algum espaço entre nós?

— É o que eles dizem, mas eu não concordo. — Ele disse a ela.


— Isso é bom. — Ela descansou a cabeça contra o peito dele,

fechando os olhos, saboreando o delicioso aroma e a sensação de

segurança que a envolvia. — As pessoas dentro do palácio e os

vampiros que lutaram conosco estão curiosos sobre mim.

— Eles estão.

— Eles não nos entendem.

— Não. — Ele confirmou. — Mas isso não importa. Nós

entendemos e, eventualmente, eles também irão. Eu tenho uma

surpresa para você depois.

Ela levantou a cabeça para olhá-lo. — O que é? — Ela

perguntou ansiosamente.

— Não será uma surpresa se eu te disser.

— Não sou muito boa em esperar.

— Não vou fazer você esperar muito tempo, prometo.

Ela ia segurá-lo com essa promessa. — Uma surpresa maior

do que falar de bolos de casamento?


Braith levantou-a e girou-a ao redor. Um pequeno suspiro

escapou dela, e por um momento sentiu como se estivesse

voando. — Eu quis dizer isso também. — Informou-lhe quando ele

parou de girá-la, mas não a colocou de volta no chão. — Eu vou

casar com você.

— Você não deveria me pedir primeiro? — Ela perguntou.

— Achei que isso seria redundante.

— Então você apenas assumiu que eu diria sim.

— Claro.

Bem, como diabos deveria discutir com isso, especialmente

com ele sorrindo para ela assim, e um brilho feliz em seus olhos

vívidos? — Você é arrogante.

— Uhum. — Ele encolheu os ombros enquanto suas mãos

acariciavam suas costas. —E você ama isso.

Ela balançou a cabeça enquanto descansava a mão em seu

peito novamente. —Quando eu era pequena, antes de desistir de

pensar em casamento, sempre imaginava estar casando debaixo da


árvore de banquete.

—Árvore de banquete?

— É uma macieira gigante que William e eu descobrimos. Nós

éramos os únicos dois que sabiam a sua localização.

— Então você vai ter sua cerimônia lá, apenas me diga onde

ela está. — Ele murmurou contra sua boca.

Aria estremeceu quando as emoções do prazer percorreram

sua espinha. Seus dedos se curvaram ao redor de seus bíceps

sólidos enquanto ele continuava a dançar com os pés no

chão. Fechando os olhos, ela deixou a música melodiosa flutuar

sobre ela enquanto se perdia na sensação dele. Eles dançaram mais

três músicas antes de voltarem para onde William estava apoiado

em sua muleta entre Max e Daniel.

— Eu já volto. — Braith beijou o topo de sua cabeça e saiu do

salão.

Ela o observou ir antes de se inclinar contra a mesa. — Para

onde foi todo mundo? — Ela perguntou quando percebeu que


Ashby, Jack, Xavier e Gideon não estavam mais presentes. Um frio

percorreu sua espinha e ela se afastou da mesa. Braith lidou bem

com a revelação dela, mas ela sabia que ele estava furioso quando

lhe contou sobre o plano deles. — Eu volto já.

Daniel entrou na frente dela. — Eles nos disseram para

mantê-la aqui, algo sobre uma surpresa.

Era realmente uma surpresa ou ele iria confrontá-los? Ela

olhou nervosamente de Daniel para a porta pela qual Braith tinha

desaparecido. — Daniel.

— Está tudo bem Aria, realmente.

— Eu espero que sim. — Ela murmurou.

— Já faz mais de uma semana desde que você disse a ele. —

William lembrou a ela quando se inclinou para frente em suas

muletas. — Você não acha que ele já teria feito algo?

— Ou ele simplesmente deixou a raiva inflamar.

— Boa, Max. — Disse Daniel bruscamente.


Max deu de ombros enquanto pegava alguns queijos e

bolachas. Aria torceu as mãos diante dela enquanto se movia de

um pé para o outro e observava a porta. — Vocês irão casar logo?

— William bateu sua panturrilha com sua muleta para chamar sua

atenção.

— Acho que sim. — Ela murmurou.

— E vai se tornar um vamp em breve?

Os três ficaram em silêncio e trocaram um olhar. Ela teve

dificuldade em encontrar o olhar de William. Isso o mataria se ela

decidisse tentar fazer a mudança e não sobrevivesse. O

pensamento disso causou um duro nó na garganta. — Eu não sei.

— Ela admitiu. — Eu ia esperar até depois do nosso aniversário

antes de decidir qualquer coisa.

William assentiu com a cabeça, mas seu olhar viajou para o

bolo. — Quem diria que estaríamos esperando ter algum sangue

de vampiro em nós.

Aria riu baixinho. — Eu com certeza não. Você ainda tem o

desenho de Daniel?
Ele balançou sua cabeça e a tristeza rastejou sobre suas feições

enquanto hesitantemente encontrava seu olhar. — Não, papai viu

um dia e me pediu por ele. Ele gostou muito.

— Oh. — A pressão repentina em seu peito tornou difícil falar.

William apertou o braço dela. — Eu vou te entregar, sabe. Eu

tenho tentado fazer isso por dezoito anos agora.

Ela conseguiu dar uma pequena risada enquanto segurava a

mão dele.

Braith pegou a chave que Ashby entregou-lhe. — Está tudo

pronto como você pediu.

— Bom.

— Você vai para lá para transformá-la? — Jack perguntou.

— Eu não tenho certeza sobre nada quando se trata disso.—

Ele admitiu.
— Ela é mais forte e mais impressionante do que qualquer

outro humano que eu já conheci.— Disse Gideon.

Braith olhou ferozmente para Gideon. — Acreditamos que há

uma razão para isso. Xavier, por favor, diga a eles.

Os olhos escuros de Xavier eram reprovadores enquanto

examinavam Ashby, Jack e Gideon. Em seus tons firmes e

uniformes, ele contou exatamente o que disse a Braith e o que

Braith, por sua vez, relatou a Aria. As bocas de Gideon e Ashby

caíram e Jack parecia ter tido um momento de súbita descoberta

quando colocou as mãos sobre o rosto e começou a assentir.

— Faz muito mais sentido agora. — Jack murmurou. — Havia

tantas coisas... — Jack parou quando suas mãos caíram. — Eu

deveria ter suspeitado de algo assim. Os quatro eram sempre

muito talentosos com armas, tão rápidos. Nós todos vimos o jeito

que Aria se movia através das árvores, e ela ajudou a derrotar

Caleb. Você nunca viu Daniel ou David em um cavalo, eles são

incríveis, e William pode muito bem ser o humano mais rápido que

eu já vi quando ele corre.


— Isso explica completamente o bloodlink. — Ashby

suspirava admirado. — E sua visão. Você foi capaz de se ligar

porque ela tem sangue de vampiro, e tenho certeza disso, mesmo

que você não. Sua visão voltou quando ela apareceu, porque algo

dentro de você a reconheceu como seu elo, e você tinha que ser

capaz de vê-la para reivindicá-la como sua alma gêmea e vínculo.

—No minuto em que vi Melinda, sabia que minha vida

nunca mais seria a mesma. Por ser cego, você não foi capaz de

encontrá-la imediatamente, então algo dentro de você tornou isso

possível de acontecer. Faz sentido você ter uma reação,

considerando que ela não é um vampiro, mas contém algumas das

genéticas. O compartilhamento de seu sangue e a intensidade

crescente de seu vínculo melhoraram sua visão e, por tudo o que

sabemos, um dia poderá curá-lo completamente. Sua linhagem é a

mais poderosa e a mais pura; seu pai era o vampiro mais velho de

todos os tempos. Nunca saberemos do que ele pode ter sido capaz

e nunca saberemos do que você é totalmente capaz, especialmente

quando se trata dela.

—Como não percebemos isso? — Jack exigiu.


— Você estava muito ocupado planejando como levá-la

embora. — Rosnou Braith. Ele havia prometido a Aria que não

quebraria nada, tinha prometido também que não perderia o

controle completo, e pretendia manter essa promessa, mas ele não

prometeu que simplesmente deixaria tudo isso passar. Seu olhar

ficou fixo em Gideon. —Ou até mesmo matá-la.

Ashby deu um passo instintivo para trás quando Braith se

aproximou deles. A mão de Braith disparou e ele agarrou Gideon

pela garganta empurrando-o contra a parede. Gideon permaneceu

imóvel enquanto ele olhava sem piscar para ele.

— Braith, seja razoável. — Insistiu Jack.

— Eu estou sendo razoável, Jack. Ele ainda está vivo. — Os

olhos castanhos de Gideon se estreitaram. — Pela primeira vez,

não estou simplesmente reagindo, certo, Gideon?

— Você tem que admitir, Braith, que você nos encurralou. —

Gideon se irritou.

— Eu admito e, por causa disso, não vou te matar. Mas juro

pela sua vida que se você alguma vez tramar pelas minhas costas
novamente, ou sequer pensar em ferir um fio de cabelo da cabeça

dela, eu vou fazer coisas que nem mesmo meu pai teria pensado e

teria ficado com ciúmes. Você me entendeu, Gideon?

Os olhos de Gideon estavam entreabertos quando olhou para

Braith. —Compreendo. Não é como se eu realmente quisesse

matar a garota, e ela me procurou.

Braith afastou a mão antes que acidentalmente quebrasse o

pescoço de Gideon. — Eu sei que ela foi.

— Se algum de vocês tivesse vindo até mim, isso nunca teria

sido um problema. — Advertiu Xavier. Ashby teve a graça de

parecer castigado, Jack e Gideon nem mesmo encontram o olhar de

Xavier.

As mãos de Braith se fecharam e ele olhou para o corredor

enquanto seu estômago se contorcia. — Não haverá mais

conspiração, não entre nós, e não se quisermos ter alguma chance

de torná-lo um mundo melhor do que o meu pai fez.

— Concordo. — Gideon murmurou.


— Supondo que ela concorde com a mudança, o que você vai

fazer se Aria morrer, Braith? — Perguntou Ashby.

— Sobreviver. — Ele murmurou.

— Braith. — Os olhos de Ashby piscaram brevemente sobre

os outros. — Eu não sei se isso é possível.

— Tem que ser possível. Eu prometi a ela que iria, e vou

manter essa promessa, não importa o que aconteça.

— Eu não invejo a sua posição. — Disse Jack.

— Ninguém iria.

— Talvez outra pessoa possa fazer isso se ela decidir tentar.

— Sugeriu Ashby. —Até Jack mesmo, ele é seu irmão.

A boca de Jack caiu e ele balançou a cabeça com força.

— Não. — Disse Braith com firmeza.

— Para você, ser aquele que causa a sua morte é virar um tipo

diferente de monstro. — Ashby persistiu.

Braith se virou quando Aria entrou no corredor; ele deveria


saber que seus irmãos não seriam capazes de mantê-la longe por

muito tempo. Apreensão gravava suas feições e ela o olhou por um

momento antes de seu olhar cintilar sobre os outros e sua

sobrancelha delicada disparar interrogativamente. — Será eu. —

Ele informou, incapaz de tirar os olhos dela. — Ninguém mais vai

tocá-la de tal maneira novamente.

Eles trocaram um olhar desconcertado antes de Jack se virar

para ele. — Eu estarei por aqui amanhã.

— Não destrua o reino enquanto eu estiver fora, Gideon. —

Braith disse a ele.

Gideon riu enquanto esfregava sua garganta avermelhada. —

Não destrua nossa futura rainha, Braith.

— Você é um idiota. — Braith sibilou ao passar por ele.

— Então assim me disseram.

Braith não olhou para trás enquanto se apressava pelo

corredor em direção a Aria.

— Está tudo bem? — Ela exigiu.


—Sim. Você está pronta para sua surpresa?

Ela olhou para os homens atrás dele e assentiu. Braith sorriu

tranquilizadoramente enquanto esticava seu braço e esperava que

ela o pegasse.
Capítulo Vinte

— Onde estamos indo? — Ela exigiu rindo.

—Eu te disse, é uma surpresa. Mantenha seus olhos fechados.

Era impossível ver qualquer coisa de qualquer

maneira. Braith não pareceu confiar que ela não fosse espreitar

quando colocou as mãos sobre os olhos para garantir a cegueira

dela. Estavam na floresta e, embora não pudesse ver as folhas,

sabia que estavam começando a se virar pois o cheiro delas pairava

pesadamente no ar fresco. Keegan se aproximou do seu lado por

um momento e ela sentiu o adeus no gesto antes dele fugir. Aria

sabia que eles veriam o lobo novamente, mas por enquanto Keegan

estava voltando para casa, para sua família.

Braith ajustou as mãos para afastar uma dos olhos dela

enquanto empurrava um membro para trás. Ele parou de repente,

puxando-a contra o peito, segurando-a. O zumbido de antecipação


correu por ela quando praticamente saltou na ponta dos pés.

— Você está pronta?

Seus lábios roçaram seu ouvido quando ele se inclinou para

perto dela. Seu coração pulsava de excitação, mas ela não tinha

certeza se era por causa da surpresa ou por ele.

— Sim.

Ele afastou as mãos dos olhos dela. Por um momento, Aria

olhou ao redor da floresta escura, confusa, ao ver apenas os vaga-

lumes bruxuleantes e uma raposa se escondendo entre as

árvores. Braith a rodeou com os braços e seu peito pressionou

contra suas costas, roçando brevemente a bochecha na dela

enquanto apontava para cima. A cabeça de Aria se inclinou para

trás e sua boca caiu com o choque e a incredulidade que a

inundaram.

Ali, aninhado entre as árvores, havia uma casa espalhada por

cinco grandes bordos e carvalhos. A madeira clara do prédio

brilhava ao luar que refletia nas duas janelas da frente. Uma

passarela sinuosa partia da borda mais distante da floresta e se


curvava em direção ao grande alpendre. Sua mão tremulou em seu

coração, ela não podia respirar através do amor que a

envolveu. Era muito menor do que a criação incerta de Ashby, mas

era impressionante.

— Eu sei que você não está em casa no palácio. E sei que é

aqui que você fica mais feliz, que é quem você é. Eu lhe disse que

te levaria para o bosque sempre que pudesse, mas você vai precisar

de um lugar para ficar quando vier aqui, em algum lugar seguro,

um lar.

— Lar. — Ela sussurrou e sentiu as lágrimas brilhando em

seus olhos quando se virou lentamente para ele. —

Como? Quando?

Seus dedos acariciaram sua bochecha. — Eu comecei depois

que Caleb levou você na esperança de que isso ajudaria a me

manter um pouco mais calmo. Não funcionou muito bem, mas me

manteve um pouco menos preocupado e enlouquecido. Jack,

Ashby e Daniel têm trabalhado nisso ultimamente, e me disseram

que William mancou por aí dando ordens.


Aria riu e balançou a cabeça. Ela se voltou para a casa da

árvore. Mal conseguia respirar enquanto tentava absorver tudo.

Ela era amada, tão incrivelmente amada. Aquele amor estava em

todos os pregos, em cada pedaço de madeira, em cada gota de suor

que foi preciso para juntar tudo. Era incrível e ela adorou, mas

sabia de uma coisa acima de tudo... — Onde quer que você esteja

sempre será meu lar.

Seus braços a envolveram e a giraram dentro deles. Ele a

beijou brevemente antes de se abaixar num joelho e estender uma

pequena caixa preta para ela. Ela só podia ficar boquiaberta de

espanto quando ele abriu a caixa para revelar um pequeno anel de

esmeralda dentro. — Você quer casar comigo, Arianna?

Por um momento ela não conseguiu encontrar sua voz e só

pôde abrir e fechar a boca como um peixe, enquanto seu coração

disparava e lágrimas de alegria queimavam seus olhos. — Eu

pensei que você não tivesse que pedir.

Ah, como ela amava aquele sorriso, adorava vê-lo

regularmente agora, amava como isso iluminava seus olhos e

revelava aquela covinha em sua bochecha. — Isso é um sim?


Ela assentiu ansiosamente e explodiu numa gargalhada

jubilosa quando ele se levantou e a envolveu em um enorme

abraço, beijando-a profundamente. Ela mexeu os dedos enquanto

ele deslizava o anel, estava um pouco grande, mas ela não se

importou. — Eu pensei que uma esmeralda combinava com você

melhor do que um diamante.

— Adorei.

Braith embalou seu rosto e a beijou novamente. Ela se

derreteu contra ele enquanto sua língua tomava posse de sua

boca. Suas pernas envolveram sua cintura e ele a levantou,

segurando-a contra ele. Ela mal o sentiu se mover quando Braith a

levou para cima da passarela. Para a casa deles.

Aria não teve tempo para explorar a noite anterior, ou pelo

menos Braith não lhe deu tempo para fazer nada além de explorá-

lo, mas agora ela apreciava cada centímetro quadrado dos

cômodos. Havia muito mais detalhes do que ela pensou em colocar


em uma casa nas árvores. Daniel deve ter ajudado com isso, já que

algumas das intrincadas esculturas nas portas e nos armários eram

uma obra de arte.

Ela sorriu enquanto passava os dedos pelos armários dentro

da cozinha. Chegando até o balcão, seu estômago roncou ao ver

um pedaço de pão e ela imaginou quanto tempo mais sentiria fome

por algo que não fosse sangue. Aria não tinha certeza se estaria

deixando a casa como uma humana, assim como também não tinha

certeza se estaria saindo daqui viva. Parecia um momento perfeito

para fazer a transformação, jogar a cautela ao vento e ter a

eternidade, mas ela estava com medo de perder esse pouco de

felicidade que eles tinham acabado de descobrir juntos.

Sua vida inteira tinha sido nada além de árdua e tudo agora

que estava indo muito bem. Ela poderia estar contemplando sua

própria morte, e não importava o quanto olhasse para isso, Braith

estava certo sobre uma coisa, ela iria morrer.

Passando seus dedos sobre as delicadas esculturas nos

armários, descobriu que eram folhas de hera. Isso deve ter sido

sugestão de William; ele sabia o quanto ela amava a maneira como


a hera crescia através das árvores em algumas áreas da

floresta. Pensamentos de Max e seus irmãos a entristeceram. Eles

já haviam perdido o pai, ela não sabia como eles sobreviveriam à

sua perda também, especialmente William, se ela decidisse fazer

isso e não sobrevivesse.

Aria suspirou e escorregou seus dedos do armário. Ela não

tinha ideia do que fazer. Uma coisa era morrer por uma

causa; outra coisa era arriscar a sua vida quando não

era totalmente necessário. Pelo menos ainda não.

Ela poderia esperar alguns anos; talvez até fazer uns vinte e

cinco. Era uma idade que ela nunca pensou chegar de qualquer

maneira, seria bom ver isso.

No entanto, se ela esperasse alguns anos, não tinha certeza de

que teria coragem de fazê-lo. E se acidentalmente

engravidasse? Ela nunca correria o risco de deixar seu filho para

trás fazendo algo que poderia muito bem acabar com sua vida.

Aria pensou que esta decisão seria mais fácil, mas agora

estava completamente dividida. Por que ela precisava se tornar


razoável e preocupada com as consequências logo agora ? Ela

desejou que seu pai estivesse aqui para poder conversar com ele e

buscar sua orientação ao tomar essa decisão.

"Eu tenho sangue de vampiro dentro de mim"; ela se agarrou

firmemente a esse pensamento. "Sou mais forte que a maioria, mais

teimosa. Vou sobreviver, eu vou."

Ela traçou os redemoinhos dentro das bancadas verdes suaves

enquanto estudava a cozinha aberta e arejada. Eles não tinham

puxado a eletricidade do palácio e Aria ficou feliz com isso, ela

preferia muito mais o brilho das lanternas penduradas acima dela.

Era mais quente e mais aconchegante com o brilho suave que

iluminava a casa pitoresca.

Ela sentiu os olhos de Braith sobre ela antes de vê-lo

encostado no batente da porta. Os dedos dos pés se curvaram e a

boca ficou seca. Seus olhos ainda estavam encobertos pelo sono e

seu cabelo escuro despenteado na testa. Ele tinha tido tempo para

vestir uma calça que pendia baixa em seus quadris, revelando o

cabelo que corria do cós até o umbigo antes de se dilatar levemente

em seu peito. Os sulcos duros de seu abdômen flexionaram


quando ele cruzou as pernas e a examinou com a mesma fome que

ela estava certa de ter estado em seu olhar.

Ele era muito mais delicioso do que bolo, ela decidiu com

firmeza. E ele era dela . O pensamento fez com que suas mãos se

apertassem e possessão passou por ela. Ele sempre seria dela, não

importava o que ela decidisse.

— Você gosta disso?

— É incrível. — Havia um brilho malicioso em seus olhos

enquanto seu olhar o varria da cabeça aos pés. Sua boca cheia se

curvou em um sorriso predatório. — Tudo é perfeito.

—Estou feliz. Você deve estar faminta.

Seu estômago roncou ansiosamente com suas palavras. —

Acho que estou. — Ela disse rindo enquanto colocava uma mão

contra sua barriga.

— Farei uma coisa para você.

Ela assentiu enquanto ele se afastava da porta com a

facilidade de alguém que estava intrinsecamente ciente de cada


músculo e célula dentro de seu corpo. Ele abriu e fechou armários

enquanto pegava suprimentos e ela se acomodou na mesa. —

Braith?

— Hum? — Ele murmurou enquanto usava a faca para cortar

pão com uma velocidade surpreendente.

— Eu poderei comer comida humana novamente se me tornar

uma vampira?

Ele parou de cortar e olhou para os armários por um momento

antes de olhar para ela por cima do ombro. Seus olhos

cintilaram; algo selvagem, sombrio e faminto cruzou seu rosto

antes que ele o dissipasse. — Você pode, não é o mesmo, mas eu

comi antes. Não acho atraente, mas pode ser diferente para você já

que tem um gosto por isso. Eu nunca tive.

— Oh .— Suas sobrancelhas se uniram enquanto ele

continuava a observá-la. — O sangue, não tenho tanta certeza

disso. Não sei se posso fazer isso com alguém. Eu sei que você tem

bebido o sangue que os seres humanos oferecem de bom grado,

mas... — Ela estremeceu quando realmente pensou sobre o aspecto


de tudo aquilo que estava tentando não pensar.

Braith se virou e ela observou os músculos das costas e dos

ombros dele ondularem com os movimentos das finas fatias da

faca. Ele terminou de cortar o pão e levou um prato de pão e frutas

para ela. Sentado diante dela, se inclinou para frente com suas

mãos entrelaçadas enquanto seus olhos ardiam nos dela.

— Você consumiu meu sangue.

Ela brincou com um pedaço de pão. — Isso é porque

é você . Mas o sangue de outro, o sangue de um estranho , é um

assunto completamente diferente. — O nariz dela enrugou com o

pensamento, a repulsa se contorceu dentro dela. — E depois do

sangue de seu pai, não acho que consigo. — Ele enrijeceu com a

lembrança quando um pequeno grunhido curvou seu lábio. — Foi

horrível, Braith. Eu nunca poderia descrever o quão horrível isso

foi.

— Eu sei.

Ela se inclinou para mais perto dele, apreciando o cheiro de

especiarias e terra que irradiava de seu corpo. — É tão horrível para


você agora, com os outros? É por isso que você não gosta mais de

beber o sangue de outras pessoas?

— Eu não acho que seja tão revoltante para mim. O sangue

não é forçado sobre mim como o do meu pai foi forçado em você,

e seu sangue, sempre foi minha ambrosia. Eu não gosto do sangue

de outros do jeito que gosto do seu. Não me preenche da mesma

forma, não é tão estimulante, e não é nem de longe tão gostoso, não

mais. — Ele balançou a cabeça enquanto se recostava. Ele estava

tentando parecer casual, mas a tensão em seus ombros e peito não

diminuiu. — Eu também não gosto de tocá-los. Não é culpa deles,

mas a ideia disso se tornou ofensiva para mim. Ashby também não

gosta, embora pareça mais disposto do que eu quando necessário.

— O que vai acontecer se eu morrer?

— Não diga isso. — Ele rosnou.

Ela abriu a boca para argumentar, para pressioná-lo ainda

mais. Aria esperava que ele continuasse a viver se ela morresse.

Queria que ele encontrasse outra pessoa mesmo que a ideia disso

a fizesse querer vomitar, mas reprimiu suas palavras. Remoer estas


preocupações não iria conseguir nada além de perturbar os

dois. Ela se forçou a comer uma fatia de pão. Ele não estava mais

olhando para ela; seu olhar estava agora focado nas janelas atrás

dela. — Você não tem que beber o sangue de outra pessoa depois,

eu posso prover para você.

Ela congelou com um pedaço de pão na metade da boca. Sua

testa franziu enquanto ela o olhava em confusão. — O quê?

Seu olhar voltou para ela. — Eu posso fornecer para

você. Meu sangue será mais que suficiente para te sustentar. Terei

que consumir mais, mas não será necessário que você vá para

outro.

Alívio fluiu através dela. — Isso é possível?

—É. — Suas mãos agarraram as dela.

— Mas e você? Não vai estar drenando você?

— Não se eu ficar bem suprido.

— Você acabou de dizer que não gosta do outro sangue,

Braith. Eu sei que você não está se alimentando tão bem quanto
deveria, você não pode esconder isso de mim. Se ainda por cima

perder meu sangue, ficará debilitado.

— Mas não vou perder o seu sangue.— Ele tirou o cabelo do

pescoço dela, seus olhos agarraram suas marcas frescas em sua

pele. — Eu ainda terei o seu, embora não seja suficiente para me

saciar completamente, mas não vou perdê-lo.

Ela engoliu em seco e tomou um grande gole de suco, a fim

de molhar sua garganta repentinamente seca. Há alguns meses, tal

proposição teria sido revoltante. Para um ser humano sensato,

ainda assim seria. Ela não conseguia tirar o olhar do pescoço dele,

os músculos que os ligavam, a rigidez de sua pele macia.

— Você vai... — Ela teve que respirar antes de fazer a

pergunta. — Você vai se alimentar de outras mulheres?

Aria não podia olhá-lo; ela não conseguia respirar enquanto

aguardava a resposta dele. Ela sabia que era necessário para ele

sobreviver, e possivelmente para ela também, mas esse maldito

pensamento quase a quebrava. Braith agarrou as suas bochechas e

virou o rosto para ele, forçando-a a olhá-lo enquanto inclinava a


cabeça para olhar para ela.

— Não. Eu jamais recorreria a uma pessoa real a menos que

isso se tornasse absolutamente necessário para sobreviver, e

mesmo assim odiaria isso. Eu não me importo com outro sangue,

desde que não tenha que tocar a pessoa. Vou usar o programa de

doadores, e você pode se alimentar apenas de mim se decidir fazer

isso.

— Sim. — Ela respirou, aliviada e estranhamente excitada

pelo pensamento de tal proposta. — Eu seria normal depois?

— O que você quer dizer?

— Como vou ser depois? Ainda serei eu, ou serei um pouco

selvagem? Vou perder o controle e tentar matar alguém, ou

começar a tentar me alimentar de todos?

Ele inclinou a cadeira em suas pernas dianteiras em direção a

ela. — Você acha que será um monstro.

— Sim. — Ela resmungou, horrorizada com a possibilidade.

—Não. Você será apenas a Aria. Tenho certeza que levará


algum tempo para se acostumar com certas coisas, mas você será

capaz de controlar a fome, e não vai se tornar uma lunática

sanguinária.

Ela não pôde deixar de rir enquanto balançava a cabeça. — Eu

não achava que seria uma lunática, mas como você pode ter tanta

certeza?

A cadeira estalou contra o chão quando ele se inclinou para

trás novamente. —Porque todos nós podemos controlar o que

fazemos, e porque Xavier me assegurou que os outros que ele

conhece, não perderam a cabeça. Eles não saíram de suas razões e

eram de fato tão normais quanto qualquer outro vampiro nascido

de um humano.

— E se ele estiver errado?

— Há muitas coisas sobre Xavier que não entendo e nunca

saberei, mas se tem uma coisa que é irritante o suficiente, é que ele

nunca está errado sobre as histórias que conta.

— Entendo. — Ela murmurou um pouco mais à vontade.


Ele se inclinou para frente e Aria pensou que ele fosse beijá-

la, mas em vez disso pegou um pedaço de maçã e entregou a ela. —

Coma; você vai precisar de sua força. Nós temos uma semana

inteira aqui juntos e eu tenho muita coisa em mente para cansar

você.

Aria o olhou, nem um pouco satisfeita quando ele riu, beijou

sua testa e levantou-se. Ela mordeu a maçã enquanto ele ainda

sorria. — Eu tenho que voltar ao palácio por um tempo. Há

algumas coisas que preciso cuidar.

— Está bem.

—Eu não vou demorar muito, e Jack está aqui no caso de você

ficar entediada ou querer dar um passeio.

— Eu vou ficar bem. — Ela assegurou. Ele apertou a mão dela

e se virou para ir embora. — Braith, eu sei que você nunca quis me

transformar antes, mas você quer agora porque há uma chance

melhor de que sobreviverei?

Ele congelou na porta e suas mãos agarraram o batente

quando estremeceu, mas não se virou. — Eu quero fazer o que te


faz feliz, mas sim, Aria. Quero transformar você.

Ela abriu a boca para dizer que fazer isso a faria feliz, mas as

palavras congelaram em sua garganta. Ela não conseguia se livrar

do temor de que não sobreviveria e, embora não desejasse nada

além de uma eternidade com ele, tinha medo de perder os anos de

felicidade que poderiam ter se simplesmente permanecesse

humana.

Ele esperou por mais um minuto antes que seus ombros

caíssem e ele escapasse da porta. Seu coração doía pelo tormento

que sentia dentro dele. Não importava mais o que ele tinha dito no

passado, nem o que dissesse agora, ela sabia que o que ele mais

queria era fazê-la imortal.

Aria deveria comer, mas não conseguia colocar mais um

pedaço de comida em sua boca. A porta da frente se abriu e fechou

quando Braith saiu. Ela nunca se sentiu mais sozinha em sua

vida. Ficou sentada por algum tempo, girando preguiçosamente

um pedaço de pão enquanto tentava resolver a bagunça confusa de

suas emoções.
Empurrando-se para longe da mesa, ela se

levantou. Agarrando o manto preto perto da porta, balançou-o ao

redor dos ombros e abriu a porta. O ar fresco a atingiu, anunciando

que o inverno chegaria em breve e pela primeira vez em sua vida,

ela não precisava se preocupar com o congelamento até a morte.

Jack já estava subindo quando ela entrou na varanda. Ele

parou quando a viu, com a cabeça inclinada para o lado. — Eu

gostaria de dar um passeio. — Declarou ela.

Suas sobrancelhas dispararam em sua linha do cabelo e sua

boca se curvou em um pequeno sorriso. — Já dando ordens às

pessoas, Sua Alteza?

Ela fez uma careta para ele. — Você não tem que vir comigo.

— Bem, obrigado pela permissão para ficar para trás.

Ela segurou o manto com mais firmeza em volta do pescoço

enquanto ele se arrastava atrás dela. —Eu sinto muito. — Ela

estava sendo uma idiota, sabia disso, mas se sentia como uma mola

firmemente tensa, prestes a explodir. — Eu só preciso sair um

pouco.
—Eu posso ajudar com isso. — Embora ele estivesse sorrindo,

isso não alcançou seus olhos; olhos que ficavam vivos quando ele

estava verdadeiramente feliz. Ela deslizou o braço que ele lhe

ofereceu e caminhou pela rampa.

— A casa é linda Jack, eu adorei. Obrigada.

Ele acariciou sua mão suavemente, desconfortável com sua

gratidão. — Sim, bem, eu estava entediado. Depois de toda a

empolgação dos últimos dois meses, tive que ter algo para me

manter ocupado.

— Estou feliz que você fez.

Eles deslizaram para a floresta, movendo-se em silêncio

sociável enquanto andavam através das árvores e mais para

dentro. Não foi até que estavam quase lá que ela percebeu onde

estava inconscientemente levando-os o tempo todo.

— A árvore do banquete. — Ela inclinou a cabeça para trás

para olhar em seus enormes galhos frondosos.

Não havia maçãs agora, e as folhas já haviam começado a


transformar-se em tons sutis de dourado e laranja que brilhavam à

luz do sol. Ela soltou o braço de Jack, agarrou o galho inferior e se

ergueu facilmente. Ela não correu para cima da árvore como

quando era criança, não se apressou de ramo em ramo, saltando e

pulando entre os galhos. Em vez disso, demorou-se, saboreando a

sensação da casca e do cheiro da árvore, enquanto esta a envolvia

na segurança das memórias da infância. Ela quase podia ouvir a

risada de William flutuando para ela de baixo, enquanto ele corria

tentando pegar as maçãs que ela arrancava e jogava.

Não foi até que ela estava perto do topo que viu algo

brilhando na árvore. Ela se moveu mais rápido, subindo

rapidamente e com propósito agora. Havia apenas uma outra

pessoa que teria subido até lá, e que teria arriscado a fraqueza dos

ramos superiores. Ela irrompeu para cima, agarrando

desesperadamente o objeto entrelaçado na árvore. Um soluço

queimou sua garganta e lágrimas correram pelo seu rosto quando

ela abriu a mão para revelar o delicado broche de cabeça de cavalo

prateado que tinha sido de sua mãe. Era o mesmo broche que seu

pai deu a Jack quando ele retornou ao palácio em busca dela, o que
a fez saber que poderia confiar nele.

Perto do broche, amarrado em um galho, estava o que parecia

ser algum tipo de tecido impermeável. Ela tirou as cordas da árvore

e desembrulhou a pele. Ela quase caiu, escorregando da árvore em

surpresa, mas conseguiu se segurar nos galhos mais finos. Era o

desenho que Daniel fizera para ela; aquele em que estava sentada

no colo de Braith enquanto ele lia para ela no lago. Daniel

conseguiu captar todo o amor que compartilhavam um com o

outro nas linhas e detalhes.

Ela abriu a mão para estudar o broche e o desenho. Seu pai

sabia que havia uma chance de que ele não sobrevivesse para falar

com ela, para guiá-la, e essa era sua maneira de fazê-lo. Ela e

William pensaram que tinham mantido a localização da árvore em

segredo, mas é claro que o pai os seguiria, é claro que ele saberia

para onde estavam indo. Ele era o pai deles, o protetor deles, e ele

os amava.

Ela foi incapaz de sufocar o soluço que escapou. David sabia

que eventualmente ela viria aqui, e se ele não sobrevivesse, Aria

encontraria essas coisas e saberia que, embora ele estivesse com


medo por ela, ele a apoiava, e confiava em Braith.

Este era o jeito dele de deixá-la ir.

Ela levantou a cabeça para olhar por cima das copas das

árvores para o palácio cintilante ao longe. Ela olhou para ele muitas

vezes quando criança, e questionava o que levava os humanos a

profundidades que traíam sua própria espécie em favor de uma

raça que os escravizou. Ela também especulou sobre essa raça, e o

que os levou a serem tão cruéis, tão brutais e hediondos, e ela os

odiava com todo o seu ser.

Agora, Aria iria se tornar um deles.

Rolando o pergaminho de volta, ela enfiou-o no cós da calça

e começou a descer. Ela sabia que Braith estava lá antes de avistá-

lo abaixo com Jack. Sua cabeça estava inclinada para trás enquanto

ele a observava descer. Ela caiu silenciosamente da árvore. Ele

parecia que a agarraria, mas suas mãos permaneceram em seus

lados enquanto seus dedos se contraíam.

Aria abriu a mão para revelar o broche. O olhar assustado de

Jack disparou de volta para o topo da árvore antes de retornar à


sua mão. Ela puxou o desenho de Daniel e o entregou a

Braith. Seus olhos ficaram sobre ela enquanto ele o desenrolava.

Finalmente Braith olhou para o desenho e de volta para ela, e então

seus olhos voltaram para o pergaminho em sua mão. Jack olhou

por cima do ombro para ele.

— É do lago.

— Eu me lembro. — Braith murmurou com a testa franzida

enquanto estudava o desenho.

— Daniel tropeçou na gente por acidente. Ele disse que este

foi o dia em que percebeu que o que havia entre nós era real e que

era mais do que apenas amor. Eu dei a William para mantê-lo

seguro; mas meu pai descobriu e o guardou. Ele colocou lá com o

broche para que eu o tivesse novamente, para que soubesse que ele

aceitava isso, aceitava a mim e a você. Que apoiava qualquer

escolha que faça. — Ela inclinou a cabeça para trás para olhar para

a árvore novamente. — Você pode ver o palácio lá de cima. Eu

costumava observar quando era criança e me perguntar muitas

coisas. Eu não me pergunto mais.


Braith e Jack estavam ambos olhando para ela agora. As mãos

de Braith tremeram um pouco enquanto segurava o desenho. Ela

abriu o broche e prendeu-o no pescoço para segurar o manto.

— Sem mais dúvidas, sem mais espera. Estou pronta. Hoje.


Capítulo Vinte e Um

Ela estava pronta para a dor, preparada para isso. Braith havia

lhe dito repetidas vezes que doeria, que poderia durar dias. Ela

experimentou dor antes porém; poderia lidar com isso.

Ela só não estava pronta para a felicidade que veio antes desta

dor. A sensação flutuante e irradiante que vinha ao segurá-lo,

sustentá-lo, dar-lhe o que cobiçava e que ainda assim tantas vezes

negara a si mesmo. Ele nunca mais teria que se negar novamente

quando ela não fosse mais humana. Aria seria capaz de dar o

quanto ele precisasse e sempre que precisasse. Seu sangue poderia

não preenchê-lo da mesma forma que o sangue humano, mas o

dela sempre seria o único pelo qual ele ansiaria. O coração dela

martelou com a realização, e excitação formigou quando lembrou

da forma como ele bebeu dela não em goles gananciosos, mas em

puxões suaves que sacudiram a sua essência.

Seus dedos se curvaram através de seu cabelo, mesmo quando


ela sentiu um enfraquecimento em seu corpo que indicava que sua

vida estava se esvaindo. Aria nunca tinha experimentado isso, nem

mesmo naquela primeira vez, quando ele estava tão ansioso para

tê-la que perdeu o controle e quase a matou. Braith iria matá-la

agora e o pensamento disso não a aterrorizou. Pensou estar um

pouco insana por reagir desta forma, mas não conseguia encontrar

medo em seus braços.

Aria sentiu a pulsação enfraquecida de seu coração quando

Braith se afastou dela. Seus dedos eram ternos em seu rosto

enquanto acariciavam sua pele. Ela tentou abrir os olhos para olhá-

lo, mas estava cansada, suas pálpebras incrivelmente pesadas e

ainda assim sentiu a pressão do pulso dele contra os lábios e os

abriu para recebê-lo.

— Eu te amo. — As palavras foram sussurradas contra seu

ouvido, ela ansiava por devolvê-las, mas seu sangue estava fluindo

para dentro de seu corpo. — Não me deixe, por favor, não me

deixe.

As palavras ecoaram o que ele lhe disse naquela primeira vez

quando ela erroneamente pensou que estava sonhando. Aria não


conseguiu encontrar as palavras para dizer que nunca o deixaria, e

que isso era muito mais fácil do que ele disse que seria. Suas presas

afundaram nela mais uma vez enquanto ele continuava a deixar

seu sangue fluir para ela.

Seu corpo endureceu enquanto seu coração pulou uma batida;

diferente do que aconteceu da primeira vez. Ela tentou permanecer

relaxada e manter seu corpo o mais imóvel possível para que ele

não sentisse a ansiedade que a atravessava. Aria sabia que ele

estava com a mão apertada no seu cabelo, hesitando por um

momento. Ela temia que ele recuasse, que mudasse de ideia e não

continuaria a transformação.

Então, com um rosnado baixo, ele mordeu com mais força e

ela percebeu que não teria havido qualquer parada nele, não neste

momento.

Aria inalou bruscamente e seu corpo ficou completamente

rígido. Abrindo os olhos involuntariamente, sentiu seus dedos se

apertando em sua cabeça. Ela estava bem ciente do fato de que seu

coração tinha parado de bater e que não havia ar dentro de seus

pulmões. Um grito ficou preso em seu peito, ela não teve fôlego
para liberá-lo. Aria não esperava esse vazio, essa espera, essa

sensação de estar presa dentro de seu próprio corpo, incapaz de se

mover, mas ainda totalmente consciente de seus arredores e

pensamentos.

Braith estava acima dela com os olhos perscrutadores e

petrificados. Ela estava olhando para ele, vendo-o, mas seus

próprios olhos estavam tão congelados quanto o resto

dela. Trancados e fixos na sua figura, como pedras, tão imóveis

quanto se ela estivesse realmente morta.

Isso a atingiu como uma tonelada de tijolos, ela estava morta e

não havia absolutamente nada que pudesse fazer sobre isso.

Aria se esforçou para não entrar em pânico e isso não foi fácil.

Ela teria preferido muito mais sentir agonia do que essa incerteza

congelada. Ele disse que haveria rigor mortis, mas então era isso?

Tão cedo? Demorava horas depois de uma pessoa morrer para o

rigor mortis finalmente aparecer; ela sabia disso, tinha visto.

Embora esta não fosse uma morte normal. Aria não estava morta,

não completamente. Estava confinada a uma casca que não se

movia mais, e nem lhe oferecia o suporte de vida que uma vez
exigira. Ela podia sentir os dedos dele em suas bochechas; até sentir

a gota de uma lágrima que caiu sobre sua pele, deixando uma trilha

fria em sua bochecha enquanto deslizava em direção ao seu

pescoço. Braith estava chorando por ela, e não havia nada que

pudesse fazer para aliviar sua preocupação.

Aria não sabia por quanto tempo estava presa em um mundo

onde tudo o que tinha eram seus pensamentos, nenhum dos quais

totalmente agradável no momento. Ela queria chorar e fazer

qualquer outra coisa além de simplesmente ficar deitada assim.

Braith sentou-se com ela, enroscando-as em seus braços, com as

mãos no rosto e nos cabelos. O olhar em seu rosto e o medo em

seus olhos eram quase tão terríveis quanto esta interminável

incerteza.

Então uma sensação de aquecimento começou na ponta dos

dedos dos seus pés e gradualmente se espalhou para seus

membros acima. No começo, não foi desagradável, e ela deu boas-

vindas a qualquer coisa sobre o vazio que a cercava. O

formigamento lembrou-a de quando aquecia muito rápido suas

mãos congeladas sobre um fogo. Ele rapidamente se tornou


desagradável, espetando sua pele, mas se pudesse cerrar os dentes,

poderia passar por isso mais facilmente. Infelizmente sua boca

ainda não estava descongelada.

O formigamento percorreu seus braços, até os ombros,

através do pescoço e no peito. Aria tentou cerrar as mãos contra a

dor mas elas não se moveram. A frustração a encheu e ela tentou

gritar, tentou chorar; tentou fazer qualquer outra coisa senão ficar

deitada aqui como um pedaço inútil de carne.

Aria começou a formar um pedido de dentro da sua alma,

mas o único problema era que ela não sabia pelo que estava

implorando no momento. Uma morte verdadeira para libertá-la

dessa dor implacável ou pela vida eterna?

O calor perfurou seu coração; seu coração imóvel que já não

batia mais. Ela nunca experimentou algo assim, nunca esperou

ouvir o silêncio do órgão vital que por tantas vezes pulsou tão

fluidamente dentro dela. Aria até então não tinha percebido o

quanto essa parte dela foi constante até que ela foi coberta pelo

pesado manto de silêncio seguindo à sua cessação.


Gavinhas de calor roçavam o órgão tão suave e quieto quanto

as asas de uma borboleta. O calor recuou por um momento antes

de voltar com força novamente. Escorregando para dentro,

espalhou-se lentamente por toda parte. Ela não sabia o que causava

esse calor, mas imaginou que fosse o sangue de Braith fluindo para

preencher os espaços que o seu sangue deixou para trás. Enchendo

as células, reidratando-as com seu poder; com a vida dele. Ela

tentou manter essa imagem em sua mente que era muito mais

agradável que a incerteza que ameaçava consumi-la.

O calor encheu seu coração novamente e seus dedos picaram

quando ela sentiu um nó no peito antes de acontecer

novamente. Esperança inchou dentro dela. Aria se transformou!

Ela se transformou! Foi apenas um pequeno progresso, mas pelo

menos foi algo diferente, algo melhor do que essa espera hedionda.

O calor começou a aumentar deixando seu corpo em chamas

arrepiando suas extremidades. Ela ficou tonta e sentiu-se

estremecer quando este calor atingiu o coração novamente uma

vez, mas ainda sendo incapaz de fazê-lo bater novamente e ela

sabia que assim permaneceria para sempre. A sensação formigante


em seus dedos piorou e se espalhou em seu torso. Um grito brotou

mas sua boca não se abriu para liberar a agonia que a consumia de

dentro para fora.

Os dedos de Braith roçaram seu rosto quando se inclinou

sobre ela. Sua pele parecia ter sido esfregada para expor suas

terminações nervosas. Seu toque sedoso era mais do que ela podia

suportar. Aria não podia se afastar do contato pois seu corpo ainda

não lhe pertencia; esse que era uma concha carnuda e que se

transformou em seu caixão.

— Aria?

Apenas quando ela pensou que não poderia aguentar mais,

seu corpo se libertou da paralisia. Braith inclinou-se quando ela

abriu a boca, e o grito que não conseguiu soltar durante tanto

tempo, libertou-se num eco interminável deixando a garganta

devastada e o corpo drenado, fazendo-a cair sem vida de volta à

cama.

Braith estendeu a mão mas ela se afastou, incapaz de suportar

seu toque em sua pele brutalizada. Aria se enrolou na posição fetal,


mas mesmo isso era quase demais para suportar. Seu corpo tremeu

e estremeceu, ela estava quente, estava com frio, estava morrendo

e vivendo, e tudo estava acontecendo muito rápido. A mão de

Braith caiu de volta para o lado dele e a falta de esperança encheu

seu olhar quando seus dentes começaram a bater.

Aria ansiava por dizer-lhe que ficaria bem, mas não ia mentir;

ela não estava bem e a mera ideia de mover-se era mais do que ela

podia aguentar agora. Cada músculo em seu corpo gritava, seus

ossos pareciam ter sido quebrados em um milhão de pequenos

pedaços. Tudo dentro dela parecia estar se transformando, e de

alguma forma se reorganizando.

O que foi que ela fez?

O pensamento foi fugaz. Não importava, estava feito. Não

havia como voltar atrás, e não importava o quanto isso doesse, ela

não teria mudado a decisão. Ela forçou a abrir sua mão para

ele. Parecendo sentir que não suportava muito do seu toque, ele

simplesmente colocou levemente dois dos dedos na palma da mão

dela. A pequena conexão ajudou a aliviá-la ligeiramente. Ela

manteve os olhos focados nele enquanto lutava para simplesmente


sobreviver à sua própria morte.

— Você parece horrível.

Braith mal conseguia levantar a cabeça para olhar para Jack.

Ele se sentia espancado e drenado de maneiras que não achava

possíveis. Odiava a si mesmo e a toda essa bagunça terrível;

desejava nunca ter concordado com essa transformação. Aria disse

a ele que a decisão era sua e embora estivesse aterrorizado que ela

morresse, petrificado de perdê-la, havia uma outra parte muito

completamente encantada com a perspectiva de tê-la ao seu lado

para sempre. E então tentou se convencer em acreditar que isso

seria ok, que eles poderiam passar pelo processo com calma e

confiança.

Agora, Braith sabia que estava completamente errado. Ele

faria qualquer coisa para tirar o sofrimento dela, mas não havia

nada que pudesse fazer. Ele não podia nem tocá-la sem fazê-la

gemer ou gritar. Ele tinha visto muita desgraça e morte em sua


extensa vida, mas nunca havia experimentado algo assim. Mesmo

a única tentativa da mudança que testemunhou não foi nada

comparada a isto, mas então aquela pessoa não tinha sido Aria, e

ele não se importou com o que suportaram ou se sobreviveriam.

Aria era a pessoa mais forte que ele conhecia, e ela estava

desmoronando diante dos seus olhos, inundada pelo pesadelo que

ele criou para ela. Braith nunca se odiou tanto e não fazia ideia de

como fazer tudo isso melhorar. No atual momento, ele teria

voluntariamente oferecido sua própria vida para voltar no tempo

e decidir não fazer isso. O que ele estava pensando?

Ele não tinha pensado direito e agora Aria era a única que

pagava por sua falta de bom senso. Ashby disse uma vez que,

eventualmente, ele acabaria transformando-a, não importando o

motivo, que ele não seria capaz de resistir. Ele não acreditava que

fosse verdade e acreditava que poderia ter se abstido de fazê-lo. No

entanto, não podia negar o fato de que, quando ela concordou com

isso, uma parte dele, a parte mais sombria e primitiva, emocionou-

se com a perspectiva e nada nem ninguém teria condições de

impedir.
Era um pedaço de si mesmo que ele não gostava, mas nos

últimos meses aceitou que não havia como negar isso, ou o fato de

que a pessoa que o manteve sob controle, foi Aria.

— Quão ruim está, Braith?

Ele cansadamente passou a mão pelo cabelo suado e

emaranhado. Seus músculos estavam enrijecidos por estarem

tensos ao seu lado a noite toda; estava exausto pela falta de sono, e

ainda assim deveria ser pior, ele deveria estar ainda mais

infeliz. Não era nada comparado ao que ela estava passando. Ele

mal conseguia segurar o olhar de Jack por mais de um

momento. — Ruim, muito ruim.

Xavier ficou atrás de Jack, com a cabeça baixa e as mãos

envoltas em sua volumosa capa. Jack colocou uma jarra de sangue

na mesa da cozinha. — Você conseguiu dormir?

Braith sacudiu a cabeça. —Não.

—E ela?

—Ela está dormindo agora, mas não bem.


— Você deveria dar um tempo. Por que não nos deixa vigiá-

la enquanto toma um banho, talvez tire uma soneca?

— Não.

— Braith...

Ele balançou a cabeça enquanto olhava por cima do ombro

para o quarto sombreado, tentando captar alguma pista de que ela

havia despertado e que precisava dele. Ele não estava fazendo

nada certo, mas faria tudo o que pudesse por ela, especialmente

porque qualquer segundo poderia ser o seu último. Com os dentes

cerrados e suas mãos tensas ao redor do batente da porta, ele teve

que lutar contra o desejo de rasgar algo em pedaços; ele queria

rasgar-se em pedaços.

— Se ela morrer... — Ele parou enquanto se esforçava para

dizer as palavras. — Eu terei sido o único a matá-la.

Jack e Xavier trocaram um olhar. — Você disse que podia lidar

com isso, Braith. — Disse Jack, preocupado.

Braith balançou a cabeça, lutando contra o desejo de começar


a gritar, para destruir tudo ao seu redor. Ele enlouqueceu quando

ela o deixou, mas Aria ainda estava viva na época. Agora ele estava

certo de que ela estava morrendo, que não iria sobreviver ao que

acontecia com seu corpo. Ela era forte, seu sangue era poderoso,

mas poucos conseguiram passar pela transformação e agora ela

mal se agarrava à pequena briga que restava em seu corpo.

Como ele acreditou que poderia suportar as consequências

disso?

Porque precisava, ele lembrou a si mesmo. Simplesmente

precisava. Havia muitas vidas na balança agora. Muito o que ainda

precisava ser feito e que ele pretendia realizar, e prometera a ela

que sobreviveria. Então ele iria, de alguma forma, mas nunca mais

seria o mesmo se Aria morresse, nunca estaria inteiro

novamente. Ela entrou em sua vida e virou-a de cabeça para

baixo. Ele sempre teve o que precisou desde o nascimento, mas

estava completamente vazio até que a viu de pé naquele palco,

orgulhosa e desafiadora, mesmo enquanto enfrentava a própria

morte. Ele tinha tudo, mas na verdade não tinha nada até aquele

momento.
Braith sobreviveria sem ela, mas nunca mais voltaria a

viver. Ashby estava certo, afinal. Ele percebeu que os bloodlinks

não poderiam viver um sem o outro. Eles simplesmente existiam.

— Eu posso lidar com isso. — Disse Braith.

Jack cruzou os braços sobre o peito e recostou-se. — Você

deve se alimentar.

—Eu já me alimentei mais do que suficiente. — Ele

murmurou.

Ele mais do que se satisfez com ela, e pela primeira vez em

meses não sentiu a sede de sangue retorcer em seu peito e

intestino. Ele preferia morrer de fome. — Você tem que manter sua

força.

Seu olhar deslizou de volta para seu irmão. Os olhos de Jack

estavam sombrios e escuros, o cabelo despenteado e

desordenado. — Acredite em mim, Jack, eu tive muito, e nunca me

senti mais forte do que agora.

Era verdade, ela estava mais fraca, despedaçada e


atormentada, e ele estava impregnado com o poder do sangue dela.

Houve um momento em que Jack não pareceu compreender

o que Braith estava dizendo, e então seus olhos se fecharam e seus

ombros caíram. — Sim, suponho que sim. Vou deixar isso aqui

para você de qualquer maneira.

Um gemido, tão suave que ele sabia que Jack e Xavier não

perceberiam, chamou sua atenção. Braith se virou e ficou imóvel

enquanto esperava para ver se mais alguma coisa se seguiria, mas

ela ficou quieta mais uma vez. — Como estão as coisas no palácio?

— Ele perguntou.

Jack puxou uma cadeira e se jogou nela. — Ainda há brigas,

mas isso é esperado por algum tempo.

— Sim. — Concordou Braith, mas ele mal estava prestando

atenção.

Desta vez, o gemido foi mais alto. Ele deixou seu irmão e

Xavier e foi para o quarto. Mesmo que ela ainda estivesse num

estado semi consciente, ele deixou o lampião do banheiro aceso e a

porta aberta apenas no caso de ela acordar. Braith se dirigiu até ela,
sabendo que tocá-la poderia machucar, então se moveu ao redor

da cama e se ajoelhou diante dela. Aria estava enrolada em uma

bola com os olhos fechados e os lábios comprimidos em uma linha

fina. Seu cabelo estava liso e úmido de suor, caindo em seu rosto

artificialmente pálido. Ele afastou uma mecha do cabelo e colocou-

o atrás da orelha.

Seus olhos se abriram e por um momento ele ficou congelado

enquanto olhava para ela. Seu corpo já não parecia como o seu

próprio, já que seus normalmente brilhantes olhos azuis brilhavam

em um tom vibrante de vermelho. — Aria. — Ele sussurrou.

Ela o olhou sem ver e ele tinha a sensação de que ela nem sabia

que ele estava lá. Aria virou o rosto para o seu pulso, sua boca

pressionada contra ele. Ela se movia com uma velocidade

surpreendente enquanto abria a boca e mordia. Braith estremeceu

de surpresa quando suas presas afundaram em sua veia. Ele quase

instintivamente se afastou, mas logo o profundo puxão em seu

sangue provocou algo primitivo e possessivo dentro dele. Isso

nunca aconteceu antes. Ele compartilhou seu sangue com ela, mas

nunca realmente teve outro vampiro se alimentando dele,


drenando-o. Seu coração inchou e prazer e o amor o inundaram,

mas foram rapidamente apagados.

Seu tormento o engolfou quando a mente dela fluiu adiante

para se misturar com a dele. Ela era nova, não tinha ideia do que

estava fazendo com ele, mas Braith agora estava enredado dentro

da agonia que a consumia, e se permitiu ser arrastado para ela. Ele

não suportava o pensamento dela enfrentando e suportando tudo

isso sozinha.

Braith empurrou o cabelo para trás e acariciou sua têmpora

enquanto as lágrimas queimavam seus olhos. — Aria — Ele

sussurrou em seu ouvido.

Um movimento chamou sua atenção. Jack pairou na porta,

com os olhos preocupados e apreensivos. Uma onda de proteção

tomou conta de Braith e um grunhido baixo escapou quando ele

acenou para Jack voltar. Este era o seu momento e por tudo o que

ele sabia, poderia muito bem ser um dos seus últimos com ela. Ele

não iria compartilhar com ninguém, especialmente com seu

irmão. Jack escorregou nas sombras, desaparecendo de vista

quando Aria abruptamente o soltou.


Um violento grito irrompeu e ela caiu na cama. Braith se

inclinou para cima e pulou para os ombros dela, mas logo se

afastou. Ele ansiava tocá-la, mas não se atreveu pois sabia que isso

só a machucaria mais.

Jack reapareceu na porta com a boca entreaberta e os olhos

arregalados. Xavier pairava nervosamente atrás dele. — Saiam! —

Braith rugiu para eles.

Jack deu um passo à frente antes de dar outro menor de

volta. — Quase acabou, de uma forma ou de outra, acabará em

breve. — Assegurou Xavier enquanto puxava Jack para longe.

Braith se aproximou e bateu a porta; o que não fez nada para

aliviar o nó de tensão e terror que constringia seu peito. Ele tremia

quando Aria começou a gemer e as lágrimas escorriam pelo seu

rosto. Ele se enrolou na cama ao lado dela com dois de seus dedos

descansando levemente na palma de sua mão estendida. Seus

olhos, agora lindos e brilhantes azuis novamente, encontraram os

dele por um breve momento. O amor brilhou neles antes que a

morte se levantasse para arrastá-la de volta às suas profundezas

avassaladoras mais uma vez.


Capítulo Vinte e Dois

Aria acordou preguiçosamente e seus olhos mal se abriram


antes dela fechá-los novamente. Ela sofria dor em todos os
lugares; os músculos que nem sabia que tinha estavam com
cãibras. Nós retorciam seu corpo enquanto ela permanecia
completamente imóvel, com medo de se mover. Até mesmo seus
cílios doíam e pareciam pesados demais, mas não era a mesma dor
que ela vinha passando nos últimos dias, semanas, horas...? Ela
não sabia mais, perdeu a noção do tempo.

— Aria. — A palavra, sussurrada tão esperançosamente,

continha tanto amor que seu coração amortecido quebrou. Era

diferente agora, completamente parado, mas esse coração era dele

e sempre seria. — Aria.

— Eu estou viva. — Ela sussurrou.

Seus dois dedos na palma da mão se contraíram um

pouco. Suas pálpebras se abriram novamente para encontrá-lo

deitado em frente a ela. Braith era magnífico, bonito e estava


dolorosamente confuso enquanto seu olhar observava o rosto

dela. O mundo era mais brilhante, ele era mais brilhante. As

cicatrizes ao redor de seus olhos eram mais claramente visíveis;

assim como tudo em volta. Pela primeira vez, ela notou que a linda

faixa azul que rodeava sua íris estava realmente cheia de partículas

de cor safira e azul celeste, que a fascinavam.

— Aria?

Aqueles dois dedos eram como plumas contra sua bochecha,

apenas ali, uma sugestão de carícia que a fazia desejar mais. Ele

estava hesitante em tocá-la, e ela não o culpou depois dos eventos

que aconteceram. O toque mais leve tinha sido demais. Ela tinha

sentido tanta sensibilidade de suas terminações nervosas ao ponto

de parecer que carvões quentes estavam continuamente

pressionando contra sua pele. Ela vestia uma camisola, mas em um

ponto sabia que tinha arrancado isso de si mesma, incapaz de

aceitar o tecido fino contra sua pele. Aria ainda se sentia sensível,

mas não estava nem de longe tão ruim quanto antes.

— Acho que estou bem, acho que consegui.


Ele reverentemente examinou seu rosto e parecia com medo

de acreditar que o que ela estava dizendo era verdade. Braith

parecia quase tão quebrado e espancado quanto ela se

sentia. Linhas que nunca notou antes estavam gravadas em seu

rosto; havia sombras escuras sob seus olhos e seu cabelo estava

emaranhado na testa. Ambos cheiraram mal, ela percebeu

vagamente, e quase riu alto da percepção. Aria tinha estado

horrivelmente fedorenta quando ele a reivindicou como sua

escrava de sangue, e ela estava tão ruim agora que ele a reivindicou

novamente. Desta vez, para sempre.

— Como você se sente? — Ele perguntou.

— Como se tivesse morrido. — Ela respondeu honestamente.

Seus dedos deslizaram por suas bochechas traçando uma

linha até seus lábios. O choque cintilou através dela quando sentiu

uma formigante sensação em resposta a sensível cutucada dele nos

seus caninos. O assombro a encheu quando eles se alongaram e

afiaram contra seu dedo. Seu olhar fixou no pulso de Braith e nas

duas marcas vermelhas marcando o interior dele.


Aria traçou a marca da mordida enquanto franzia a testa. —

Eu fiz isso?

— Você fez.

Ela não sabia o que fazer com esta informação. Parte dela

queria chorar e a outra parte estava estranhamente excitada. Ela

não se lembrava de fazê-lo, mas tinha uma lembrança sombria de

algo doce e delicioso que a enchia, e se lembrava vagamente de

algo que conseguiu romper a angústia por um breve momento, e

agora entendia porquê. — Eu machuquei você?

— Nem perto do tanto quanto eu te machuquei.

— Você não fez nada que eu não pedi. Nós dois queríamos

isso. — Ela conseguiu um sorriso pálido. —E funcionou.

Ele ainda não parecia estar completamente convencido. —

Parece ter. — Ela agarrou a mão dele, estremecendo quando o

movimento fez pulsar seus músculos maltratados. —Você ainda

está com dor. — Ele acusou.

— Estou dolorida. — Ela admitiu. — Mas está muito melhor


do que antes.

Sua mão espalhou-se pelo rosto dela enquanto a embalava. —

Talvez um banho ajude.

— Parece incrível. — Ela concordou ansiosamente.

Braith se moveu cautelosamente da cama, com cuidado para

não perturbá-la quando saiu do quarto. Ela escutou enquanto ele

se movia ao redor do banheiro anexo, surpresa com a intensidade

dos sons, a agudeza com que os ouvia. Estava tão determinada a

acabar com isso, que não tinha pensado sobre como seria depois. O

que o mundo se tornaria para o seu corpo recém-morto, mas ainda

melhorado. Era tão assustador quanto espantoso.

A água foi ligada e ela quase podia sentir o calor

abençoadamente abrangendo seu corpo delicado. Ele estava de

volta ao lado dela com olhos perturbados quando se ajoelhou ao

seu lado. — Posso? — Ele perguntou enquanto estendia seus

braços para ela.

Aria permaneceu imóvel, cautelosamente olhando para os

braços dele. Ela desesperadamente desejava estar neles, mas a


lembrança da dor ainda estava fresca em sua mente. Reunindo

coragem, conseguiu um dar um pequeno aceno de cabeça. Ela se

preparou enquanto seus braços deslizavam cuidadosamente por

baixo do seu corpo. Foi um pouco desconfortável, mas a sensação

foi rapidamente enterrada sob a onda de prazer que inundou sua

pele sensibilizada. Os dedos dos pés se curvaram quando ela se

aproximou dele, hipnotizada pela emoção que a percorreu ao

sentir sua pele nua contra a dela. Pele que poderia sempre sentir

eletrificada pelo seu toque, ela começava a perceber.

— É diferente. — Ela sussurrou. — É tudo muito mais ...

intenso.

Com a testa franzida, ele parou de andar para estudá-la. — É

desagradável?

— Não, apenas um pouco esmagador. O mundo é mais claro,

mais barulhento; minha pele parece como se raios estivessem

passando por ela. É uma sensação incrível, mas é, ah, é...

— É desumano. — Ele forneceu.

— Sim. — Ela sussurrou. — É isso que você sente o tempo


todo?

— Eu nasci assim, Aria, nunca conheci nada diferente. Eu vou

te ajudar através disso; nós vamos passar por isso juntos.

— Eu não tenho nenhuma dúvida. — Ela respondeu com um

pequeno sorriso, e colocou os braços ao redor de seu pescoço,

encostando a cabeça na cavidade quente de sua garganta.

— Você aguenta ficar em pé sozinha?

A pergunta, feita dias atrás, a teria ofendido. Agora ela tinha

que pensar sobre isso. — Eu não tenho certeza. — Ela odiava

admitir.

Ele a sentou na beira da banheira. O vapor subiu em torno

dela, aquecendo-a enquanto flutuava no ar. Ele se ajoelhou e

estendeu a mão para testar o calor da água. Suas mãos

descansaram em seus joelhos quando ele se aproximou dela. A

sensação de Braith envolveu-a e aqueceu-a mais do que o calor do

banheiro. Ele empurrou o cabelo sobre os ombros dela e seus dedos

se demoraram em suas marcas em sua pele. As mordidas deixadas

por seu pai e irmão haviam desaparecido rapidamente durante a


transição e quase não eram mais visíveis. Ela não achava que seria

capaz de vê-las mais se ainda fosse humana.

Suas mãos eram gentis quando ele ajudou a colocá-la na

banheira. Um gemido de prazer escapou quando ela foi engolida

pelo calor abençoado da água. — Nós estamos fedidos. — Ela

murmurou.

— Nós estamos. — Ele concordou enquanto pegava uma

barra de sabão e xampu da pia. — Tem sido intermináveis três dias.

— Durou apenas esse tempo?

— Sim.

— Parecia mais, pensei que nunca fosse terminar. — Ela

engoliu em seco quando ele voltou para ela. Aria o viu pousar o

xampu e o sabonete e rapidamente tirar as calças. Sua boca ficou

seca enquanto observava seu magnífico e poderoso corpo. Braith

deslizou para dentro da grande banheira atrás dela e suas pernas

seguraram seus lados. Colocando-a em seu colo, descansou as

costas dela contra seu peito enquanto lentamente esfregava e

massageava seus músculos doloridos. Aria se inclinou para ele,


saboreando o jeito terno que ele a tocou, e a nova maneira excitante

que ele parecia contra sua pele. Ele trabalhou firmemente sobre o

corpo dela, esfregando e massageando-a com uma ternura que

ninguém jamais tinha visto dele, ou jamais iria.

— Você ficou comigo todo o tempo. — Ele sussurrou

enquanto seus dedos trabalhavam em seus braços.

— Eu te disse que iria. — Suas mãos pararam de se mover

sobre ela e a envolveram contra ele. — Ainda estou preocupado.

— Eu sei; eu também. — Ela admitiu.

Braith virou sua cabeça para ele e mordiscou o lábio inferior

enquanto a beijava. O calor crepitou através dela quando uma

sensação de excitação, diferente de tudo que ela já tinha

experimentado, passou por seu corpo. Seus beijos sempre a

derreteram, mas isso era diferente, parecia que ela estava

realmente se dissolvendo contra ele. Aria precisava sentir a

realidade da pressão de seus lábios contra os dela, do calor de sua

língua acariciando sua boca. Ela esteve muito assustada pensando

que nunca sentiria algo assim novamente.


Braith se afastou lentamente e seus olhos estavam intensos e

ardentes quando encontraram os dela. A sombra escura que

revestia sua mandíbula fazia com que ele parecesse mais duro e

mais perigoso enquanto seus dedos se arrastavam pelos cabelos

eriçados. Mas ele era glorioso, e era dela para sempre.

Tudo o que ela tinha acabado de suportar tinha valido

completamente a pena.

Seus dedos começaram a trabalhar sobre seus músculos

novamente e ele lavou o cabelo de Aria com xampu antes de lavar

o próprio e ajudá-la a sair da banheira. Suas pernas estavam

trêmulas, parecia um potro recém-nascido, e supunha que de certa

forma ela fosse. Conseguiu ficar de pé enquanto ele a enxugava,

enrolava um roupão e amarrava o cinto frouxo. — Você quer que

escove seu cabelo para você?

Embora parecesse atraente, ela não gostava de sentir-se tão

impotente e carente. —Não, acho que posso lidar com isso.

Ele assentiu, mas ficou dentro do banheiro, encostado na

bancada enquanto a observava. Ela se sentiu um pouco


desconfortável com o seu escrutínio. — Eu não vou a lugar

nenhum. — Assegurou.

—Eu não sei ainda Aria, não com certeza.

— Sinto muito pelo que você passou.

Braith franziu a testa para ela e cruzou os braços firmemente

sobre o peito. — O que passei não foi nada comparado ao que você

passou. Eu faria tudo ao meu alcance para tirar o que você acabou

de experimentar.

— Valeu a pena. — Ele permaneceu duvidoso, apenas a

examinando. — Eu faria tudo de novo por esse resultado,

Braith. Nunca duvide disso. As memórias da dor desaparecerão e

as milhões de memórias que faremos juntos durarão para

sempre. A vida é tão frágil e delicada o tempo todo, então temos

que aproveitar cada momento juntos e apreciar cada presente que

nos foi dado, e este é o tal presente, Braith. Podemos ficar juntos

para sempre.

Aria não percebeu que estava chorando até que ele se inclinou

sobre a bancada e enxugou as lágrimas com as pontas dos


polegares. — Eu aprecio isso. — Ele sussurrou contra seus lábios

descansando a testa contra ela. — E também a você. Estou ansioso

para cada uma dessas memórias.

— Bom. Agora, você pode parar de me olhar como se

estivesse com medo de eu ficar feia de novo a qualquer momento?

Ele riu baixinho e a beijou. — Está bem.

Aria relutantemente se afastou dele e limpou o vapor do

espelho. Olhando para seu reflexo, ficou surpresa com a visão da

mulher olhando de volta. Ainda era ela. Estava cansada, esgotada

e com um olhar abatido, mas ainda era ela. O alívio a

encheu. Apesar do que Braith havia dito sobre ser a mesma, ela

ainda estava aterrorizada por ser confrontada por um monstro

meio enlouquecido com olhos vermelhos e presas, ou uma sombra

da pessoa que ela fora uma vez. Em vez disso, era simplesmente

uma garota de cabelos ruivos escuros, mais escuros ainda pela

umidade, olhos azuis brilhantes e um rosto que se esvaiu da

tristeza, olhando para ela.

Braith apoiou as mãos nos ombros dela. — Você está bem?


— Ainda sou eu, — sussurrou.

— É. — Seus dedos deslizaram sobre o espelho enquanto

traçava suas feições. —Deixe-me. — Ela não discutiu quando ele

pegou a escova da mão dela e começou a passar pelos cabelos. —

Você estava esperando outra pessoa?

— Eu não sabia o que esperar. — Ela admitiu. — Meio que

temia ser um monstro.

Braith encontrou o olhar dela no espelho, segurando-o por um

momento pungente. — Você nunca poderia ser um monstro,

Arianna.

Ela sorriu trêmula para ele, ciente do fato de que, quando se

tratava dele, ela poderia muito bem ser um monstro para garantir

que ele sobrevivesse. Ela fechou os olhos e saboreou a sensação

reconfortante dele passando a escova pelo seu cabelo. Ela também

estava se tornando consciente de um novo perfume e um novo

desconforto crescendo dentro de sua barriga. Ela não entendeu o

que era, e quando farejou o ar de forma hesitante, não conseguiu

identificar o aroma delicioso.


Braith guardou a escova e levou-a para o quarto. Aria caiu na

cama, cansada e ainda um pouco dolorida. Essa pontada crescente

em seu estômago estava começando a se espalhar. Na verdade,

estava bastante desconfortável e ela se mexeu na cama na tentativa

de aliviar um pouco disso que crescia dentro dela.

Os olhos de Braith se estreitaram. — O que há de errado?

— Eu não sei. — Ela admitiu. Sua mão voou até o peito e ela

engoliu em seco quando uma onda de saliva encheu sua boca. —

Mas não me sinto bem. Tem alguma coisa, está aqui, está doendo.

— Ela pressionou as mãos na barriga e no peito. Ela não conseguia

encontrar as palavras para descrever a crescente angústia de seu

corpo.

— Ah. — Disse ele em entendimento. — Você está com fome.

Ela franziu o cenho ferozmente para ele e sacudiu a cabeça. —

Não, estou surpreendentemente sem fome.

Seu sorriso era triste e compreensivo. — Sim Aria, você só não

está mais com fome de comida mortal, não mais.


Ela se sentiu como uma idiota e sua boca se abriu. — Oh. —

Sussurrou quando a compreensão a encheu. — Entendo. — Seu

olhar desviou para o pescoço dele e para os músculos sólidos que

os ligavam, assim como a veia que ela viu correndo logo abaixo da

superfície. Aria desviou o olhar da pele molhada quando o

desconforto se transformou em um fogo escaldante. — É isso que

você experimenta o tempo todo?

— Não o tempo todo.

— Desde que você me conheceu?

Ele tirou o cabelo do rosto dela. — Nem sempre.

Ela estremeceu, sofrendo pelo tormento pelo qual ele passou

e que ela não tinha sido capaz de entender até agora. — É uma

sensação horrível, como você lidou com isso?

— Anos de experiência e você. Só estar com você fez tudo

valer a pena. — Seu desconforto foi esquecido quando o amor fluiu

através dela. Aria continuava pensando que não era possível amá-

lo mais, mas ele sempre conseguia provar que ela estava errada. —
Eu vou te ensinar como controlá-la, mas se você se alimentar bem,

e muitas vezes, será mais fácil. Você não terá que se sentir assim de

novo Aria, vou me certificar disso.

Seu olhar voltou para a veia dele. Ela estremeceu quando o

desejo rasgou e a deixou abalada. Não era seu corpo que ela

ansiava por agora, mas algo a mais e isso a assustava. Ela se

alimentou dele uma vez, mas não se lembrava e nem sabia como

tinha feito isso, ou se tinha feito certo. — Braith. — Ela engasgou.

— Está tudo bem. — Suas mãos foram para a sua cintura,

erguendo-a e a colocando no seu colo. — Tudo bem, Aria.

Sua mão envolveu a parte de trás de sua cabeça. Ela

permaneceu inflexível em suas mãos enquanto a incerteza, pavor e

uma onda de desgosto guerreavam incessantemente dentro

dela. — E se eu te machucar?

— Você não vai. — Ela lambeu os lábios, se surpreendendo

quando sentiu a picada severa de seus dentes. Um gemido

involuntariamente escapou dela. Ele girou seu pulso, revelando as

marcas. — Isso não doeu.


— Eu estava completamente descontrolada, não sabia o que

estava fazendo.

— Você sabia o que estava fazendo naquele momento, e

saberá o que está fazendo agora. Apenas deixe seus instintos

assumirem; eles guiarão você através disso.

Braith guiou a cabeça dela para o oco de seu pescoço e a

descansou lá. Ela podia sentir o cheiro doce do sangue flutuando

dele. Era delicioso, sedutor e a enlaçava com seu perfume de

especiarias e terra, e ela. Aria pressionou os lábios contra a pele

quente dele e provou sabão e algo mais, algo masculino, sombrio e

poderoso. Algo que ela ansiava com um tendência frenética que a

assustava, mas isso não seria negado.

Como ele conseguiu controlar esse tipo de sede perto dela?

Ela tentou não pensar e calar seu cérebro enquanto deixava os

instintos de que ele falou tomarem conta. Seus lábios se afastaram,

seus dentes, não, não eram mais dentes, eram presas afiadas, e

agora doíam para serem enterrados em sua pele macia. Um

pequeno arrepio de antecipação a abalou quando ela pressionou


suas presas contra a pele. Ela hesitou, beijando-o por um longo

momento antes de mordê-lo. Suas mãos apertaram as costas dela e

um gemido baixo escapou dele quando ela tirou o sangue. Prazer

a inundou. Ela apertou mais quando o doce fluxo de seu sangue

encheu sua boca. Ela não sentiu repulsa, e nem estava enjoada com

o sabor e o calor dentro de sua boca. Era a coisa mais deliciosa que

já provou, sentindo suas mentes surgindo para se misturarem.

Seus dedos cravaram em suas costas enquanto a alegria dele

se misturava com a dela. Ela tinha experimentado isso como

humana, mas agora, como uma vampira, era ainda mais profundo

e aberto. Não havia barreiras entre eles. Braith estava

completamente exposto a ela. Aria sentiu o fluxo e o refluxo da

escuridão dentro dele, a extensão e a profundidade da brutalidade

a que ele iria por ela e pelos outros que protegia. Ele revelou a

verdadeira profundidade de seu medo por ela, a extensão de sua

instabilidade dentro dos Vales e o terror de quando ela foi levada

por Caleb.

Todo esse conhecimento a sacudiu, humilhou e levou-a às

lágrimas. Ela sempre soube que ele era poderoso e que tinha sido
estressante quando se tratava dela, mas ele não tinha revelado a

verdadeira profundidade daquela tensão até agora. Ele não

revelou as profundidades verdadeiras de sua antipatia, e o

desprazer e insatisfação que experimentou com o sangue de

qualquer outra pessoa.

Aria se aproximou mais, incapaz de obter o suficiente desse

vislumbre dele, dessa completa exposição da alma do homem que

amava tão desesperadamente. Ela simplesmente não conseguia se

aproximar o bastante enquanto expunha tudo o que tinha para ele,

e revelava todo o seu amor e preocupações para ele, como ele fazia

com ela.

Aria estava enredada em seu prazer, apanhada em seu amor

enquanto se aninhava mais perto. A dor em seu corpo diminuiu e

seus músculos soltavam-se ainda mais na medida em que

consumia. Ela mordeu mais fundo em seu pescoço, saboreando o

sangue e a energia que a infundia.

Um gemido baixo escapou dele, e a cabeceira caiu da parede

quando Braith bateu a mão contra ela na tentativa de curvar o

crescente desejo que sentia rodando por seu corpo. Aria


choramingou quando ele soltou a cabeceira da cama e enterrou a

mão no cabelo dela. Sua boca pressionou com força contra seu

ombro e suas presas rasparam sua pele antes de morder. Se ela

tivesse alguma dúvida de que ele não acharia o sangue dela tão

atraente, isso foi rapidamente esmagado por seu intenso deleite ao

engoli-la.

Ela envolveu as pernas ao redor de sua cintura quando ele a

colocou no seu colo. Aria estava consumida de amor e se perdeu

ao toque e a sensação dele. O prazer de Braith a envolveu. Ela não

podia separar seu próprio êxtase do dele enquanto era consumida

por sua infinita maravilha e realização.

O resto do mundo desapareceu quando pela primeira vez ela

se entregou a ele sem medo do que o futuro reservava. Pela

primeira vez, ela conheceu segurança e proteção total. Ela sabia

que não havia nada que pudesse separá-los novamente.


Capítulo Vinte e Três

Aria brincou ansiosamente com as mangas da blusa. Braith

ergueu uma sobrancelha e segurou as mãos dela dentro das

suas. — Vai tudo ficar bem.

Ela engoliu em seco e deu um pequeno aceno de cabeça

quando Braith abriu a porta do apartamento recém reformado. A

mobília agora era de um verde-floresta profundo e o carpete havia

sido substituído por um piso de madeira reluzente. O apartamento

era lindo antes, mas muito masculino. Estava mais feminino agora

e Aria suspeitava que Melinda tivesse tido uma ótima mão em

escolher os móveis e as cores.

— Eu pensei que você gostaria de escolher as pinturas. —

Braith disse a ela.

Ela assentiu, olhando ao redor das paredes nuas. Ela não

tinha pensado muito em como o apartamento seria ou como


deveria ser decorado. Estava muito consumida por sua dor e

incerteza. Mas quando olhava para as paredes agora, se coçava

para cobri-las com algumas das belas pinturas e obras de arte que

Daniel havia criado desde que se mudou para o palácio.

Braith tirou do casaco um desenho dos dois. Lágrimas

queimaram seus olhos, mas ela manteve-as suprimidas quando ela

tomou dele. Seria a primeira coisa que ela colocaria na

parede. Uma batida sutil na porta lembrou-a do porquê estava tão

nervosa a poucos momentos atrás. Ela enrolou o desenho de volta

e colocou-o na mesa.

Braith abriu a porta para William, Daniel e Max. Se ela ainda

tivesse um batimento cardíaco, teria certeza de que estaria batendo

descontroladamente em seu peito. A quietude era um pouco

enervante, mas nem de perto tão enervante quanto encarar os

três. Braith agarrou a sua mão quando ela começou a se mexer

novamente.

Aria estava preocupada pensando que eles ficariam bravos

com ela, não porque ela era uma vampira agora, mas por ela não

ter dito que faria isso. Ela temia que Max se ressentisse dela. Ele
estava muito melhor, mas ela ainda não sabia como ele reagiria a

essa notícia.

William, finalmente livre de suas muletas, sorriu para ela

quando entrou no quarto, levantando-a no ar e dando-lhe um

abraço esmagador. Ele a soltou e segurou sua mão, aparentemente

alheio ao fato de que ela não era mais humana. — Belo anel.

— Estou feliz que você aprove. — Comentou Braith

secamente.

Aria sorriu timidamente para William enquanto ele sorria

para Braith e torcia a mão dela dentro da sua. Max e Daniel se

aproximaram para abraçá-la e oferecer seus parabéns. Ela queria

mover as mãos novamente, mas pensou melhor quando Braith lhe

lançou um olhar. Ela não sabia como dizer a eles, só deixar escapar:

"Ah, a propósito, eu morri". Ou talvez a abordagem "Eu não sou

mais humana." funcionasse melhor.

— Eu… ah… eu… — As palavras morreram em sua garganta,

não podia impedir seu olhar de ir até Max.

Sua testa franziu enquanto ele olhava para ela


interrogativamente. Então sua expressão clareou quando a

compreensão surgiu em seus olhos. — Uma vampira.

As cabeças de William e Daniel se voltaram para ela e os olhos

deles a observaram. Braith pegou a mão dela e a envolveu nas

duas. — Você fez isso? — William perguntou.

Aria estremeceu com a raiva em sua voz. — Eu não sabia que

faria. — Ela disse. — E então encontrei o desenho que o pai deixou

para mim.

— O que você quer dizer? — Os olhos azuis de Daniel se

estreitaram nela.

Aria contou o que descobriu na árvore de banquete. — Eu

realmente não saí com a intenção disso acontecer. — Disse a ele.

Ela se mexeu desconfortavelmente sob o escrutínio intenso

deles. — Você está bem? — William se preocupou.

Foi um pouco desconcertante, mas ela ouviu a diferença no

batimento cardíaco de William enquanto ele circulava em torno

dela. Seu pulso acelerou e houve uma leve batida enquanto a


adrenalina jorrava através dele. Isso não a seduziu, mas estava

perturbada pelo fato de que podia até ouvir isso para

começar. Levaria algum tempo para se acostumar com todas as

novas visões, sons e sensações que seu novo status lhe oferecia.

Braith deslizou o braço ao redor de sua cintura e a puxou

contra seu lado quando pareceu sentir seu desconforto. — Eu estou

bem. — Ela assegurou a William.

— Então, acho que isso significa que temos um pouco de DNA

vampiro em nós.

—Eu diria que sim. — Confirmou Braith.

— Max? — Aria perguntou nervosamente.

Seu olhar estava focado na janela atrás dela. Seus dedos

apertaram as costas de Braith enquanto as lágrimas queimavam

seus olhos. Por favor, ela implorou silenciosamente. Por favor não

me odeie novamente. Ele finalmente a olhou e, embora estivesse

triste, ofereceu-lhe um pequeno sorriso. — Estou feliz que você

tenha sobrevivido. Estou feliz por você. — Assegurou ele.


Um soluço baixo escapou quando ela soltou Braith e deu um

passo à frente para abraçar Max e seu irmão novamente. Outra

batida na porta a afastou deles. Melinda enfiou a cabeça para

dentro sentindo primeiro o ar antes de abrir um sorriso

brilhante. Ela abriu a porta e saltou pelo chão até eles. Livre do

manto da opressão de seu pai e de sua separação de Ashby,

Melinda se transformou em uma mulher animada e exuberante.

William lançou-lhe um olhar descontente quando Melinda

lhe deu uma cotovelada para tirá-lo do caminho, agarrou a mão de

Aria e puxou-a para ela. Os olhos de Aria se arregalaram quando

Melinda soltou um grito de alegria. Ashby entrou atrás dela e

agora estava ao lado de Braith, sorrindo em diversão quando

Melinda começou a tagarelar. —Temos tantos planos para

fazer! Tanta coisa para fazer! Vai ser incrível!

— Eu realmente gostaria de uma pequena cerimônia. — Aria

disse a ela.

— O casamento de uma rainha nunca pode ser pequeno! —

Retrucou Melinda.
Aria lançou um olhar suplicante para Braith quando sua irmã

começou a empurrá-la para o sofá. Ele saltou para frente, sorrindo

agradavelmente para Melinda enquanto tirava o braço de Aria do

aperto de morte de Melinda. — Nós podemos fazer as duas coisas.

— Braith aplacou.

Aria sabia que argumentar seria inútil, Melinda estava certa,

e se ela ainda tivesse a cerimônia que queria, não veria a diferença

que faria desde que se casasse com Braith.


Capítulo Vinte e Quatro

Nos dias que se seguiram, Melinda manteve-a ocupada com

detalhes intermináveis, a maioria dos quais ela nunca teria

pensado. Era opressivo, além de tentar se ajustar às suas novas

habilidades de vampiro. Ela acidentalmente arrancou a maçaneta

da porta da biblioteca e quebrou a fechadura quando se esqueceu

de que estava mais forte agora. Ela continuou tentando respirar

mesmo tendo perdido a batida de seu coração, e ainda estava

tentando se ajustar às sensações desconhecidas de sua pele

sensibilizada.

Mesmo que se sentisse sobrecarregada, ela também nunca se

sentiu tão segura e feliz. Aria dormia nos braços de Braith todas as

noites e acordava para encontrá-lo ao lado dela todas as manhãs.

Quando Melinda não estava exigindo seu tempo, ela saía com Max,

Xavier, Jack e William para ajudar na reconstrução da cidade.


Daniel e Braith ainda estavam entrincheirados nas complexidades

do estabelecimento do novo governo, e lidando com os problemas

que surgiam entre as pessoas e os vampiros que ainda lutavam

para assimilar as mudanças.

Melinda lhe dissera que construção não era algo que uma

futura rainha deveria estar fazendo, mas Aria não se importava.

Ela não queria estar envolvida na administração da casa, e planejar

um casamento era além de tedioso. Além disso, com sua nova

força, ela era muito melhor na construção e mais rápida do que

jamais teria sido no passado.

Talvez não fosse o que as outras rainhas haviam feito, mas era

o que ela faria, e não havia nada que mudaria isso. Estava disposta

a não estar na floresta todos os dias, a usar as roupas íntimas e os

vestidos quando eram necessários. Ela cuidaria das coisas que

tinha que fazer quando fosse rainha, mas não ficaria presa naquele

palácio e não seria relegada a administrar a casa. Melinda gostava

de fazer isso e Aria preferia estar com todas as pessoas e vampiros

da cidade.

Ela escutava os problemas que eles estavam tendo, o que


precisavam, e ela fez o melhor que pôde para resolver os que

surgiram, ou levava-os para a atenção de Braith e do Conselho. Ela

gostava de trabalhar lado a lado com eles em direção a um objetivo

comum, pois todos tentavam assimilar suas novas vidas. Também

ajudava a aliviar a dor e tirar sua mente do buraco vazio de sua

vida. Ela sabia que seu pai teria ficado emocionado ao ver todas as

mudanças que estavam ocorrendo, e orgulhoso de seus filhos

ajudando a fazer essas mudanças.

Aria recuou quando entregou as últimas tábuas para William

e o estudou com o coração pesado. Ele disse a ela esta manhã que

planejava ir com Jack, quando a reconstrução fosse feita aqui, para

ajudar a construir as cidades nas áreas afastadas. Eles planejavam

expandir o território, buscar água e criar um mundo florescente de

prosperidade e esperança onde agora não havia nenhum.

Ela assumiu que William ficaria com Daniel e aprenderia mais

sobre como as coisas seriam feitas, mas ele mostrava cada vez

menos interesse por ele todos os dias, e tinha pedido a Max que

assumisse o controle completamente para ele ontem. Ela sabia que

era por causa da morte do pai deles, mas também sabia que
William não falaria sobre isso. Talvez quando voltasse de sua

jornada, mas não agora. Ela entendia sua vontade de fugir, mas

isso ainda estava rasgando-a por dentro, e ela rezou para que ele

encontrasse o que quer que estivesse procurando e voltasse para

ela em breve.

Teve que se esforçar para não chorar quando ele lhe disse, e

ela podia sentir as lágrimas queimando seus olhos novamente. Ela

ansiava em dizer-lhe para ficar, que ela precisava dele, mas ele

nunca a confinou ou desaprovou suas decisões. Isso era algo que

ele tinha que fazer e ela não tentaria dissuadi-lo, não importando o

quanto quisesse.

— Você é a única que gosta de altura, então não deveria estar

aqui em cima? — Ele protestou do telhado de uma das novas casas

sendo erguidas no pátio.

Aria sorriu e limpou as mãos nas calças sujas. — Eu tenho um

casamento para ajudar a planejar. — Ela lembrou a ele. — A menos

que você queira que Melinda venha aqui me recuperar de novo?

William fez uma careta e balançou a cabeça rapidamente. A


última vez que Melinda tinha saído aqui para recuperar Aria, ela

forçou William e Max para o palácio, a fim de serem vestidos com

os smokings. Ambos tinham saído de seu caminho para evitá-la

desde então. — Vai! Vá! — Ele insistiu com um rápido aceno de

mão antes de se afastar às pressas. Sua mão reapareceu para acenar

para ela mais uma vez, mas ele não olhou novamente.

Aria riu e se afastou da casa, caminhando até os estábulos com

seu companheiro constante ao seu lado. Havia um cavalo com

cólica que ela queria verificar antes de se retirar para o palácio. —

Você está pronto para mais planejamento de casamento?

Xavier curvou uma sobrancelha para ela enquanto balançava a

cabeça. — Eu nunca soube que havia tantas flores diferentes antes.

— Nem eu.

Xavier a seguiu até o estábulo e esperou enquanto ela entrava

na baia da égua. Aria ficou aliviada ao encontrar a égua mais

relaxada e ver um pouco de esterco fresco no canto. Batendo nas

costas e no pescoço da égua, ela se moveu lentamente ao redor

enquanto falava suavemente com o animal por alguns instantes.


— Xavier, você pode me trazer um pouco de feno? Acho que

ela pode estar pronta para comer agora. — Aria pousou a mão no

pescoço do cavalo enquanto esperava por uma resposta, ou por seu

guardião aparecer. Ela não ouviu nada, e o estábulo permaneceu

estranhamente silencioso. — Xavier?

A luz fraca dançava e balançava e as sombras esvoaçavam ao

redor do interior sombrio do celeiro. Um calafrio deslizou pela

espinha de Aria e sua mão caiu do pescoço da égua enquanto um

farfalhar de movimento se aproximava dela. — Xavier? — Ela

chamou, tentando afastar o nervosismo de sua voz.

O silêncio continuou a cumprimentá-la. O cheiro de feno,

palha e cavalo parecia ainda mais agudo agora que permanecia

imóvel. Seu corpo respondia ainda de maneiras que nunca poderia

acontecer se ela fosse humana. Pela primeira vez, não lamentou a

perda da batida de seu coração enquanto seus ouvidos captavam

sons que a batida teria silenciado. A calma se assentou e seu senso

aguçado se abriu enquanto ela procurava os arredores do lado de

fora da baia.

Um cheiro que nunca experimentou antes chegou a ela. Era


um odor corporal, um cheiro de decadência e podridão, tudo em

uma mistura nojenta. Era velho e decrépito, mas também

estranhamente poderoso. A imagem de um cadáver ambulante se

filtrou em sua mente e um farfalhar suave a alcançou. Ela abriu a

boca para chamar Xavier novamente, mas pensou melhor. O que

quer que estivesse lá fora, não era Xavier.

Uma sombra caiu sobre a porta da baia segundos antes de pés

aparecerem. Se ela ainda tivesse um batimento cardíaco, estaria

prestes a explodir. Ela não conseguia desviar o olhar daqueles pés

imundos com suas unhas encravadas e cortes irregulares. A parte

de baixo da calça estava esfarrapada e tão incrivelmente suja que

ela não conseguia mais discernir a cor delas. Um nó se formou em

sua garganta e lágrimas queimaram seus olhos quando olhou a

camisa repugnante que estava na mesma condição, mas o buraco e

a mancha de sangue nela ainda eram claramente discerníveis.

Levou cada grama de coragem que tinha para forçar os olhos

a continuarem para cima. As feições abatidas, obscurecidas por

sujeira e decadência, eram quase indiscerníveis. A pele

acinzentada já havia cedido e o contorno do crânio estava


claramente visível, enquanto as maçãs do rosto se destacavam

severamente e os olhos estavam afundados. Um pedaço do lábio

inferior, da orelha direita e da metade do lado esquerdo do nariz

tinham desaparecidos. A náusea se contorceu através dela quando

percebeu que estas partes provavelmente foram comidas enquanto

ele estava enterrado. Talvez mais ainda estivesse faltando pedaços,

mas, mesmo enquanto observava, as lesões no rosto e nos braços

pareciam estar se encaixando e se reconstruindo.

Com o nariz enrugado, ela recuou do cheiro irradiante

dessa coisa na sua frente com olhos rubis brilhantes. A égua bufou

e Aria se mexeu nervosamente na baia quando um relincho baixo

escapou e o animal girou de repente. Aria conseguiu evitar ser

derrubada quando a égua a empurrou para a criatura medonha na

frente da baia.

Um grito subiu por sua garganta e ela recorreu à sua força de

vampiro recentemente adquirida para lançar-se de volta. Ela não

foi rápida o suficiente, e ainda que estivesse decadente e levemente

podre, o rei ainda era mais rápido. Ele agarrou a sua garganta,

impulsionando-a para trás e jogou-a contra a parede com força


suficiente para sacudi-la. Dor lancinou através de suas costas. A

égua guinchou e saiu correndo da baia.

Aria invejou o cavalo quando a monstruosidade que a

segurava baixou o rosto para o dela. Seus pálidos lábios revelaram

os dentes pontiagudos e pretos, assim como suas gengivas

negras. Um tremor de repulsa ondulou e ela tentou virar a cabeça

para longe, mas ele segurou suas bochechas e apertou. O cheiro de

putrefação a sufocou e Aria nesse momento desejou ainda ser

humana para então não sentir esse cheiro podre de forma tão

potente. Um pequeno gemido escapou quando ela finalmente

conseguiu colocar as mãos entre eles.

Embaixo da camisa, ela podia sentir a flexibilidade de sua

pele, e por um momento pensou que seus dedos afundariam

diretamente nela. Aria engasgou involuntariamente, mesmo que

não pudesse respirar, sentiu-se em espiral em direção a um ataque

de pânico.

Isso não poderia ser possível! Ela viu Caleb matá-lo! Estava lá

quando isso aconteceu! E no entanto, enquanto seus dedos

cavavam em suas bochechas para forçar seus lábios, e sua língua


negra deslizou para roçar contra sua boca, ela não podia negar a

realidade, não importando o quanto quisesse. Ela quase vomitou

quando ele se empurrou contra ela.

— Alguém não é mais humana. — Ele murmurou contra seu

ouvido enquanto cheirava-a ao longo de seu pescoço. Um tremor

percorreu-a e bile subiu por sua garganta. — Meu filho acha que

pode ficar com você, mas ele está errado. Eu vou ficar com você.

— Como? — Ela resmungou quando ele forçou sua cabeça

para o lado.

— Você acha que uma simples estaca me mataria? Eu tenho

quase mil e quinhentos anos de idade, há muito que você não sabe

sobre mim, puta. Eu sei muito sobre você, especialmente onde você

está, sempre. — Seus dedos voaram para cima e para baixo em seu

pescoço antes de descansar sobre as marcas que Braith havia

deixado em sua última noite. — Eu vou fazer você pagar, e vou

fazer meu filho pagar. Ninguém pode me derrotar.

A dor, diferente de qualquer outra que já conheceu, explodiu

através dela quando aqueles dentes afundaram em seu pescoço e


ele começou a reabastecer sua força esgotada com a dela.

Gideon entregou a Braith o acordo de trégua que foi realizado

com as cidades fronteiriças. Ele conhecia a maioria das concessões

e promessas que haviam sido feitas dentro do acordo, mas mesmo

assim leu cuidadosamente para ter certeza de que tudo estava de

acordo com sua aprovação. As cidades fronteiriças enviariam um

representante eleito para se juntar ao Conselho na próxima

semana. Em troca, consentiriam que os representantes do palácio

se mudassem para as cidades por um período não especificado

garantindo que toda a escravidão fosse encerrada. Braith assentiu

enquanto pegava a caneta e apressadamente acrescentava sua

assinatura ao documento. Sua palavra estava garantida, no final

das assinaturas. Eles finalmente estavam chegando ao fim,

finalmente formando uma união sólida com todos que estiveram

envolvidos na guerra. Braith flexionou os dedos e se recostou na

cadeira, examinando a sala.


As coisas não estavam perfeitas, longe disso, mas estavam

melhores do que ele achava que seriam nesse estágio. Já formaram

alianças, estavam se reconstruindo, o centro de doações não estava

prosperando a todo vapor, mas cada vez mais pessoas se

aproximam com a perspectiva de doar seu sangue. Ainda havia

luta, e haveria violência contínua por algum tempo, mas mesmo

isso começava a desacelerar à medida que a estabilidade retornava

na forma de casas, empresas e um governo sólido.

Braith também tinha Aria. E isso era mais do que ele jamais

poderia ter esperado, mais do que nunca esperou em toda a sua

vida. Ele teria uma eternidade para desfrutar do casamento e para

apreciá-la . O pensamento provocou um pequeno sorriso em seus

lábios. Ele sabia que ela viria em breve para se encontrar com

Melinda, e pensou que poderia escapar por alguns minutos para

interceptá-la. Inconscientemente, começou a bater na caneta com

mais força enquanto planejava sua breve fuga.

A caneta bateu com mais força na mesa e ele não percebeu que

seu pé havia caído no chão quando uma sensação desconfortável

começou a se enrolar em seu estômago.


— As coisas estão ficando mais tranquilas. — Daniel disse

enquanto assinava o documento e o passava adiante.

A caneta estalou na mão e tinta correu para cobrir os dedos

enquanto ele se levantava devagar. Uma sensação de desgraça

deslizou como uma serpente através dele enquanto procurava na

sala por qualquer perigo que sentia lambendo sua pele. Mesmo

enquanto procurava, percebia que tudo o que estava errado não

vinha daqui, mas de algum outro lugar.

Era Aria, algo estava errado com Aria. Ele não sabia como ou

por que estava tão certo disso, mas tinha a certeza de que algo não

estava certo com ela.

— Braith?

Um grunhido involuntário foi arrancado quando Gideon se

levantou de sua cadeira. Gideon deu um passo assustado para

trás. — Aria.

Ele não olhou para trás quando saiu da sala mais rápido do

que já tinha corrido em toda a sua vida.


Após a explosão inicial de agonia que quase a afogou em suas

profundezas escuras, Aria conseguiu recuperar controle suficiente

de si mesma para começar a lutar. Suas mãos se fecharam

ineficazmente presas contra o peito mole. Ela se contorceu contra

ele enquanto tentava levantar as pernas entre eles, a fim de obter

alguma influência contra seu ataque selvagem. Usando a palma da

mão, ele pressionou-a contra o rosto dela enquanto empurrava-a

com força contra a madeira da baia.

Aria chutou-o mas com o corpo dele contra o dela, não foi

possível ter um bom impacto. Ela finalmente conseguiu soltar uma

de suas mãos presas e ele a impediu de socá-lo, mas com as garras

de seus dedos, ela foi capaz de raspar o lado do rosto do rei. Um

grito sufocado escapou dela ao sentir os insetos sob a pele mole que

ela conseguiu soltar, junto com um odor vil que quase a dominou.

Suas lutas aumentaram, mas era como colocar um leão contra

um cordeiro quando ele rosnou baixo e mordeu com mais


força. Mesmo meio morto, ele era dez vezes mais forte do que ela,

e sua força aumentava à medida que a dela enfraquecia. Aria

colocou cada grama de poder que tinha em suas pernas e braços e

fez uma última tentativa para empurrá-lo longe.

Um grito assustado escapou e ela caiu em sua bunda quando

o rei abruptamente a soltou. Olhando para cima a tempo, viu

Braith levantando-o com uma das mãos pelo seu ombro. A parede

de madeira cedeu, desmoronando sob o impacto do corpo do rei

que foi jogado contra ela. Aria olhou incrédula para os destroços

enquanto a madeira arruinada continuava a cair sobre o rei.

Sua mão escorregava na trilha de sangue, impedindo-a de

estancar o fluxo que fluía de sua garganta, onde os dentes dele

conseguiram abrir. Braith estava de repente diante dela, com as

mãos nas bochechas enquanto virava a cabeça para ele. — Você

está bem? — Ele exigiu.

— Estou bem. — Ela assegurou. — Estou bem.

— Quem fez isso? — Seu lábio superior se curvou quando

seus olhos brilharam vermelhos.


— Você não viu quem era? — Ela engasgou. Ele balançou a

cabeça enquanto puxava a mão dela para examinar seu pescoço. —

Braith, é seu...

Ela parou quando os fragmentos quebrados de madeira

explodiram. Braith envolveu-a com seu corpo enquanto lascas,

tábuas e vigas caíam ao redor deles. Ele grunhiu sob o impacto dos

escombros enquanto a protegia da madeira perigosa que batia

contra seu corpo.

O silêncio encheu a baia quebrada depois que a última tábua

caiu no chão. O rosto de Braith estava quente contra o dela,

raspando a barba rala na bochecha enquanto ele esperava para ver

se havia algo mais vindo sobre eles. — Segure-se em mim.

Suas mãos rodearam seus bíceps e seus músculos se

flexionaram sob seu aperto quando ele a ergueu e se

levantou. Soltando-a, ele plantou as duas mãos de cada lado da

cabeça dela e apertou mais perto , virando para encarar a nova

ameaça.

Os músculos de seus braços vibraram ao lado de sua cabeça


enquanto suas presas se estendiam sobre seu lábio inferior. Na

verdade, ele deu uma segunda olhada quando seu pai saiu dos

destroços com muito mais desenvoltura do que Aria esperava de

um homem usando farrapos e ainda perdendo parte de seu

nariz. O rei parecia revigorado e melhor do que antes, graças ao

sangue dela. Ele limpou o sangue do rosto de onde ela arranhou,

mas as marcas já haviam desaparecido. Endireitando os restos de

sua camisa, ele olhou para os dois com diversão.

— Pai. — Braith terminou por ela.


Capítulo Vinte e Cinco

Braith não conseguiu esconder seu espanto quando seu pai

deu outro passo para longe da parede arruinada. Era uma visão

que ele nunca imaginou que veria, não importando

a experiência real . Havia uma parte dele que parecia criança

novamente, encolhida sob a mão pesada do pai, incapaz de se

defender dos golpes repetidos e de escapar do abuso que seu pai

tão jovialmente infligiu a ele.

Outra parte dele, a adulta, o rei, a que protegia Aria, queria

rasgar todo o celeiro e despedaçar o homem olhando-o com tanto

prazer. Vermelho sombreou sua visão quando o cheiro do sangue

de Aria derivou para ele e um grunhido curvou seu lábio. Ele se

atreveu a tocá-la novamente e Braith ia fazê-lo pagar por isso.

Depois de tudo que esse homem fez a Aria, a ele e a inúmeros

outros inocentes, Braith sabia que não poderia deixá-lo sobreviver


a isso. Não havia como permitir que aquele homem a tocasse de

novo ou que estivesse no comando novamente; de jeito nenhum

permitiria que ele desfizesse tudo de bom que já haviam criado

aqui.

Braith não tinha certeza se havia alguma maneira de detê-lo.

Seu pai havia levado uma estaca no coração, e mesmo sem sangue

para sustentá-lo e revitalizá-lo, a ferida ainda havia conseguido se

curar. Era óbvio que seu pai não teve muito alimento antes de

voltar ao palácio, mas Braith suspeitava que ele parecia muito pior

do que isso quando se arrastou pela primeira vez do túmulo. Braith

não sabia há quanto tempo ele andou por aí, mas o fato de ter

voltado para cá significava que ele achava que era forte o suficiente

para ser uma ameaça a Braith e a qualquer outra pessoa com quem

se deparasse.

Ele parecia um cadáver em decomposição, mas sob o exterior

podre, Braith sentiu o pulso vibrante de poder que ainda possuía.

Seu corpo estava se curando rapidamente e seus ombros se

endireitaram quando ele os empurrou para trás e arqueou uma

sobrancelha em diversão. Seu lábio superior se curvou para revelar


longas presas que brilhavam na luz turva do estábulo. Mesmo que

seu queixo estivesse erguido e seus olhos estreitados, um pequeno

arrepio percorreu Aria e atingiu-o enquanto seu pai a nivelava com

seu olhar e lambia seus lábios.

Um rosnado baixo subiu pela garganta de Braith quando ele

empurrou Aria para trás. A tensão em seu corpo aumentou e a sede

de sangue começou a atravessá-lo enquanto a protegia. Ele tinha

muito mais controle sobre seus instintos primitivos agora, mas

mesmo assim mataria a criatura em frente a ele antes de permitir

que seu pai tocasse em um fio de cabelo de sua cabeça novamente.

— Xavier! — A cabeça de seu pai inclinou para o lado quando

o grito assustado de Gideon ecoou pelo estábulo. Braith tinha visto

a figura caída de Xavier no crepúsculo, mas não teve tempo de

verificar se o vampiro estava vivo ou não. A julgar pelas marcas no

pescoço de Xavier e a cura rápida de seu pai, Braith suspeitava que

Xavier tivesse morrido. Só o sangue de Aria não poderia ter

causado as mudanças que estavam rapidamente transformando

seu pai.

— Ele estava delicioso. — Seu pai murmurou.


Aria estremeceu e um pequeno som de angústia escapou

dela. — Xavier. — Ela sussurrou.

— Quase tão bom quanto sua prostituta aqui. — Seu pai

ronronou.

As mãos de Aria se apertaram em seus braços e ele se recusou

a enfrentar a provocação de seu pai quando puxou-a para mais

perto dele. Pressionando-a contra o seu corpo, espalhou suas mãos

pelo oco de suas costas. Por um momento, saboreou a sensação

dela enquanto ainda podia.

O olhar de Aria disparou atrás dele ao som de pés derrapando

para fora da porta do estábulo. — Puta merda! — William soltou.

— Atticus? — A cabeça do pai girou para o lado e um sorriso

torceu os lábios na pergunta incrédula de Calista.

— Você parece tão bonita quanto eu me lembro, Calista.

Talvez quando isso acabar nós possamos nos reunir. —Ele disse

sugestivamente.

O aperto de Braith em Aria diminuiu um pouco. Se havia uma


coisa que ele sabia com certeza era que nenhum vampiro voltava

depois de ter sua cabeça arrancada. Os olhos dela estavam

selvagens quando se voltaram para ele e seus dedos apertaram em

torno de seus braços antes que ela se soltasse relutantemente. Ele a

olhou por um longo momento antes de ela dar um sutil aceno de

cabeça e acariciar brevemente seus bíceps.

Ela soltou-o e ele entrou em movimento. Seu pai se virou para

ele, preparando-se para o impacto quando Braith baixou o ombro

e colidiu com o homem. As mãos de seu pai caíram sobre seus

ombros e seus dedos cravaram em sua pele enquanto Braith os

impulsionava para trás. Eles caíram através do divisor da baia já

arruinado e em outra parede.

Ele era repugnante, tudo sobre a criatura medonha que

outrora fora um rei, era repulsivo. No entanto, a força em suas

mãos era ainda maior do que Braith havia se preparado, mesmo

sabendo que seu pai era mais forte do que aparentava. As paredes

cederam e ele perdeu o equilíbrio caindo no chão. Eles rolaram por

cima um do outro enquanto tentavam ganhar o topo.

Braith conseguiu alguns golpes nas costelas inferiores do pai


que pareciam tão esponjosas quanto o resto dele. Ele realmente

estava se deteriorando quando seu corpo voltou à vida, Braith

percebeu. Ele não tinha chegado a ficar faminto e emaciado como

seus troféus lamentáveis, mas seu corpo tinha realmente começado

a quebrar antes de voltar à vida.

O nariz de Braith enrugou-se e o lábio curvou-se num sorriso

de escárnio quando ergueu o pai com os pés e o virou sobre a

cabeça. Ele saltou de volta de pé, mas mesmo em seu estado, seu

pai foi mais rápido e voltou para ele em um instante. Eles tinham

mais ou menos o mesmo tamanho desde que Braith atingiu a

maturidade, mas agora ele tinha uns bons trinta quilos a mais que

seu pai, e mesmo assim foi empurrado para trás pela força de seu

peso e ímpeto.

Eles bateram na parede do fundo com força suficiente para

quebrar a madeira. Poeira choveu quando pedaços das vigas

caíram por cima deles. Um grunhido alto escapou de Braith

quando seu pai cravou os dedos em seu estômago e rasgou sua

carne. Ele lutou para soltar o controle de seu pai sobre ele, mas ele

continuou a rasgar e cavar até o fogo irromper dentro do intestino


de Braith e rapidamente se espalhar por seus membros.

Um rugido de fúria irrompeu dele. Braith enfiou o cotovelo

no nariz do pai com força suficiente para derrubá-lo. Ele segurou a

mão que ainda se agarrava ao seu estômago firmemente e puxou-

a de volta. Seu pai gritou em seu ouvido e seu aroma fétido lavou

Braith enquanto ossos e pele se rompiam ao seu alcance. Braith se

aproveitou do aperto frouxo do pai para colocar as pernas entre

eles e empurrá-lo.

Atticus bateu na parede, mas Braith não demorou a se

recuperar enquanto o atacava, segurando sua garganta e o

empurrando para a parede novamente. Eles caíram com um forte

estrondo para fora do celeiro quando a parede cedeu. Mas logo

saltaram pelo chão e voltaram a ficar de pé.

Braith estava vagamente consciente de gritos enquanto

humanos e vampiros corriam para sair de seu caminho fugindo a

toda velocidade. Braith sentiu como se tivesse se deparado com

uma parede de tijolos quando seu ombro se deslocou com o

estrondo reverberante de um taco acertando uma bola. Seus dentes

cerraram e um assobio baixo escapou dele.


Braith tentou agarrar a garganta do pai, mas o pai segurou a

mão dele. Antes que Braith soubesse o que ele pretendia, o homem

afundou suas presas na parte carnuda da palma da sua mão. Braith

grunhiu com a invasão indesejável e, reagindo por instinto, deu um

golpe esmagador que causou o colapso do olho do pai. Isso só o fez

morder mais forte.

Enfurecido, Braith lançou uma série rápida de socos nele, mas

Atticus se agarrou como um cachorro no osso enquanto ganhava

força do sangue de Braith. Rangendo os dentes, Braith puxou a

mão para trás. Pele e nervos rasgaram, mas ele finalmente

conseguiu se libertar de seu pai. Abaixando a cabeça, atacou o

homem, passou os braços ao redor de sua cintura e o empurrou

para trás uns bons quinze metros antes de chegarem a uma

casa.

Estremecendo com o impacto, manteve-se firme quando seu

pai conseguiu de alguma forma fazer com que ele se virasse e

ficasse embaixo dele. Braith não viu o pedaço de madeira nas mãos

de seu pai até que ele estava mergulhando-a para baixo. Ele

conseguiu levantar o braço para desviar um pouco do golpe, mas


o peso de seu pai continuou sua trajetória descendente. Ele bateu

em sua parte superior do peito e deslizou pelo ombro, rasgando-o

através de carne e osso quando explodiu do outro lado.

Um grunhido de dor escapou de Braith e suas pernas

reflexivamente chutaram para cima enquanto seu corpo

instintivamente tentava se curvar para dentro para se

proteger. Vermelho encheu sua visão quando ele levantou o braço

e segurou seu pai duramente sob o queixo. Batendo o pai de lado,

Braith conseguiu se erguer com o braço bom. Estendendo a mão,

tirou a ponta da tábua e a jogou de lado. Ele se agachou quando

seu pai se lançou novamente. As mãos de Braith seguraram suas

costas quando eles caíram em uma das casas recém construídas.

— Solte-me! — Aria gritou enquanto tentava arrancar seu

braço do aperto de Gideon.

Ela não sabia o que a possuiu, ou talvez soubesse, mas nunca

tinha experimentado isso antes, quando um rosnado feroz


arrancou dela e seus dentes se alongaram instantaneamente. Um

estranho brilho cintilou enquanto a linha entre a luz e a escuridão

pareciam se espalhar diante dela. Uma linha que a fez perceber

com o que Braith tinha lutado tão ferozmente durante todo esse

tempo. Ela poderia dar um passo acima daquela linha e deixar tudo

ir, poderia abraçar o poder que espreitava logo abaixo da superfície

e deixar a escuridão tomar conta. Destruir, assim como ela queria

muito destruir o homem que machucou Braith.

Como Braith controlava isso tão bem? Ela sentiu como se

fosse desmoronar, como se já não fosse mais ela mesma. Sua pele

estava arrepiada com a energia que chiava para cima e para baixo

em seu corpo. Ela queria arrancá-la de seu corpo e sabia que a

única coisa que melhoraria isso seria a morte.

— Calma, Aria. — Gideon pediu. Ele a soltou e ergueu as

mãos enquanto se afastava. — Calma.

Ela se afastou dele e deu um passo à frente antes de parar

abruptamente. Braith e seu pai haviam desaparecido na casa; as

paredes ainda estavam tremendo com a força de sua luta. Ela

começou a correr para frente, mais rápido do que podia piscar, mas
Jack apareceu na sua frente. Ela não sabia de onde ele tinha vindo.

Ele não estava no estábulo com os outros, mas estava aqui agora e

não a deixava ir enquanto segurava seus braços.

— Solte-me Jack!

Jack inclinou-se para ficar ao nível dos olhos dela. — Você não

tem utilidade aqui, Aria. Fique fora do caminho, você é apenas

uma distração. — Ele empurrou-a suavemente para trás e soltou

seus braços. Outras mãos se apoderaram dela e precisou de esforço

para não chutar Ashby na canela enquanto ele a segurava. Jack se

virou e correu em direção à casa. Aria lutou contra Ashby, mas

quanto mais ela lutava, mais ele a segurava.

— Aria, por favor, pare. — Ele implorou contra seu ouvido

jogando-a para o chão e se envolvendo sobre ela.

Um grito cresceu em sua garganta e lágrimas queimaram seus

olhos enquanto ela continuava a lutar contra ele, mas era

inútil. Gideon e Calista passaram correndo por ela, seguidos por

Daniel, Max e William. Um gemido baixo de angústia escapou e

ela se balançou para a frente enquanto Ashby a mantinha no chão.


Um barulho alto ecoou de dentro da precária casa, um minuto

antes de desmoronar completamente.

As tábuas pegaram-no com força nas costas e o deixaram de

joelhos. Braith jogou o braço bom para cima tentando proteger a

cabeça do telhado caindo sobre ele. Ele foi enterrado sob o peso,

empurrado para baixo sob a força golpeando seu corpo já ferido e

quebrado. Levou um momento para recuperar-se quando as

últimas vigas caíram com um ruído surdo no monte. Reunindo sua

força, empurrou para trás algumas das tábuas enquanto se

esforçava para acabar com isso de uma vez por todas.

Braith saiu de debaixo das tábuas, empurrando-as enquanto

inspecionava as ruínas da casa. A frente do prédio ainda estava de

pé, mas um vento forte a derrubaria com facilidade.

Em toda a confusão, ele conseguiu perder o pai. Afastando-se

da bagunça confusa que o rodeava, Braith o viu. Ele já havia se

livrado dos escombros e estava tentando escapar quando Braith se


levantou e correu atrás dele. Se seu pai conseguisse se libertar

agora, ele aguardaria seu tempo, e ficaria mais forte para tentar

recrutar um exército. Braith suspeitava que ele tivesse vindo aqui

com a intenção de reivindicar Aria e tentar controlar Braith.

Não importava o que ele esperava, tudo o que Braith sabia era

que ele não iria sair daqui vivo. Ele nunca mais teria a chance de

tocar em Aria novamente. Arrastando alguns dos últimos

resquícios de sua força, ele avançou, agarrou a camisa de seu pai e

o puxou de volta. Braith não percebeu que seu pai estava

segurando uma tábua até que ela bateu contra o lado do rosto dele.

Estrelas explodiram diante de seus olhos quando sua mandíbula

quebrou. Piscando pela visão embaçada, Braith tirou a tábua das

mãos de seu pai, girou-a e virou-a contra a lateral do homem. Ele

cambaleou pela força do golpe e sua mão voou para suas costelas

desmoronadas.

Jack apareceu do outro lado, cercando o pai enquanto um

sorriso cruel curvava seus lábios. Braith nunca tinha visto aquele

olhar no rosto de Jack antes, tampouco aquele brilho vingativo em

seus olhos. — Pai. — Cumprimentou Jack, movendo-se para


interceptá-lo enquanto a criatura tentava ir em outra direção.

Gideon estava sorrindo quando avançou, bloqueando outro

caminho enquanto Calista se movia para bloquear um outro. Max,

William e Daniel bloquearam o outro lado. Os olhos do pai dele

giraram loucamente antes de se concentrar em algo ao

longe. Braith seguiu seu olhar para Aria enquanto ela se

aproximava lentamente do círculo. Ashby estava quente em seus

calcanhares, parecendo envergonhado enquanto esfregava a

mandíbula avermelhada. Braith nunca tinha visto isso antes, mas

os olhos de Aria estavam da cor de rubis brilhantes quando

encontraram os dele, e depois os de seu pai. Ele sentiu a devastação

sob a aparência exterior calma e moveu-se para interceptá-la

quando ela alcançou o círculo.

— Estou bem. — Seus olhos vermelhos se concentraram no

pedaço da tábua ainda saliente em seu ombro. Seus dedos roçaram

brevemente os dela enquanto ele procurava acalmá-la. —

Realmente, Aria.

William e Max a flanquearam. Eles não seriam capazes de

segurá-la, não mais, mas a presença deles parecia ter um efeito


calmante sobre ela, enquanto seus dedos se envolviam brevemente

em torno de sua mão.

— Qual era o seu plano aqui, Atticus? — Gideon perguntou

com uma inclinação de cabeça e uma sobrancelha arqueada.

— Ele planejou recuperá-la ou matá-la. — Braith respondeu

categoricamente.

— Eu planejo fazer muitas coisas para ela, filho. Todas que

vou realmente apreciar. — Um brilho do outro lado do círculo

chamou a atenção de Braith. Jack conseguira recuperar um

machado afiado de um dos canteiros de obras. Ele torceu-a em suas

mãos quando encontrou o olhar de Braith por cima da cabeça de

seu pai. — Vocês não podem me matar!— Seu pai começou a rir

histericamente e abriu os braços girando em um círculo. — Olhem

para mim! Eu sou invencível! Vocês não podem parar-me !

Seu pai ainda estava rindo enquanto Braith avançava. Atticus

não estava enganado, em vez de encontrar Braith de frente, ele se

virou para confrontar Jack. As presas de Jack brilharam quando ele

jogou o machado em Braith e mergulhou em seu pai com alegria


desenfreada. Braith esperava a ação quando saltou no ar e segurou

o cabo com a mão boa. Jack bateu o ombro no pai deles, e o

empurrou para trás. Em sua descida, Braith balançou o machado

com toda a força de seu poder.

Atticus se virou para ele quando o machado assobiou pelo

ar. Braith teve que segurá-lo com as duas mãos enquanto seu braço

era abalado pelo impacto do metal contra carne e osso. A boca de

Atticus se abriu em um O, e seus olhos vermelhos se arregalaram

quando o machado cortou seu pescoço. Braith deu um passo para

trás quando a cabeça saltou pelo chão e o corpo desmoronou. Não

houve satisfação na ação, mas sim uma sensação estranha de

conclusão e alívio quando o machado escorregou de seus

dedos. Desgosto enrolou através dele quando limpou os respingos

do sangue de seu pai de seu rosto.

— Não é tão absolutamente invencível afinal. — Jack cuspiu

enquanto cutucava a cabeça com o pé.

Os ombros de Braith caíram e agora que a adrenalina não

estava trabalhando, e a ameaça havia sido removida, precisou se

esforçar para ficar de pé quando a perda de sangue começou a


cobrar seu preço. Aria estava ao lado dele em um instante, o braço

dela envolvendo sua cintura enquanto ela pressionava contra o

lado dele. Ele agarrou a mão dela enquanto ela retirava o pedaço

de tábua quebrado que se projetava de seu ombro. Ele não podia

ser fraco, não aqui, não na frente de tantos.

Braith apertou a mão dela contra o peito dele. Seus ossos

quebrados e feridas estavam latejando e ele precisava

desesperadamente de algum sangue, mas havia algo que precisava

fazer primeiro. — Caleb. — Ele disse rispidamente. — Nós temos

que ter certeza que Caleb e Natasha ainda estão em seus túmulos.

— Braith, você precisa de sangue. — Ela sussurrou.

Ele olhou-a, aliviado ao encontrar os olhos dela de volta para

sua cor cristalina de safira. — Não podemos correr o risco de que

Caleb esteja lá fora agora.

— Eu vou contigo.

Braith começou a protestar, mas decidiu contra isso. Ele se

sentiria melhor tendo ela com ele apenas no caso de seus irmãos

estarem lá fora. Sua mão apertou seu braço quando Saul emergiu
do celeiro com o braço de Xavier em volta de seu ombro. Xavier

estava pálido sob sua pele escura, segurando a mão no ferimento

ainda sangrando em seu pescoço.

— Ele está bem. — Lágrimas brilharam nos olhos de Aria

enquanto ela observava Xavier. Braith teve que admitir que estava

aliviado em vê-lo ainda vivo, Xavier ainda conseguia irritá-lo de

vez em quando, mas ele era um trunfo e se tornou amigo de Aria.

Melinda se apressou, empurrando a multidão quando chegou

à beira do círculo. Sua boca caiu e seus olhos voaram

descontroladamente antes de pousar em Ashby. Um pequeno grito

escapou quando ela correu pelo círculo e se jogou em seus braços.

Aria foi dar um passo em direção a Xavier, mas parou quando

olhou nervosamente para Braith e colocou o outro braço ao redor

de sua cintura. — Saul, junte os restos e coloque-os no

estábulo. Nós vamos queimá-los mais tarde. — Saul concordou

com a ordem de Braith. — O resto de vocês, peguem pás, algo para

acender uma fogueira e venham comigo.

Os dedos de Aria se aprofundaram em sua pele enquanto a


multidão que se reuniu durante a luta se separava para deixá-los

passar. — Eu acho que não há mais nenhuma dúvida de que você

merece ser rei.

Ele olhou para as palavras murmuradas de Aria enquanto a

multidão abaixava a cabeça e se ajoelhava ao redor deles. Pelo

menos alguma coisa boa tinha vindo dessa bagunça terrível, ele

percebeu quando a puxou para mais perto de si. Embora não

pudesse entender como isso tinha acontecido para começar. —

Parece que sim.

Aria respirou aliviada quando eles passaram pelos portões e

entraram na cidade. Ao entrarem na floresta, ela o soltou e se virou

para encará-lo. — Deixe-me ver. — Ela ordenou.

— Temos que verificar Caleb e Natasha.

— Eles ainda estão mortos ou já estariam vagando pela terra

novamente. Alguns minutos não vão mudar esse resultado de

qualquer maneira. Agora, deixe-me ver. — Ele podia decapitar o

pai e lutar contra vinte homens de uma só vez, mas ainda achava

difícil dizer não a ela. Ele se forçou a não estremecer quando seus
dedos gentilmente cutucaram a madeira incrustada em seu

ombro. — Precisamos tirar isso.

— Mais tarde.

Suas sobrancelhas se uniram quando ela franziu a testa para

ele. — Se Caleb rastejou para fora de sua cova, você estará em

melhor forma para enfrentá-lo se já estiver se curando.

— Tudo bem. — Ele cedeu, sabendo que ela estava certa. —

Jack.

Braith a soltou e se apoiou no tronco de uma árvore. Com os

dentes cerrados, ele se preparou quando Jack se aproximou. Jack

colocou a mão brevemente nas suas costas antes de agarrar a

prancha e soltá-la com um puxão forte. Um gemido baixo de dor

reverberou nos dentes de Braith enquanto ficava de cabeça baixa e

os ombros arfando. Seus dedos cavaram a casca da árvore e ele

lutava contra o berro que queria irromper.

Aria apoiou a mão em seu braço, mas ainda se passaram

alguns instantes antes que ele pudesse abrir os olhos para olhá-

la. Abaixando-se sob seu braço, ela entrou entre ele e a árvore. Com
dedos ágeis, ela puxou sua camisa para examinar o ferimento

irregular. O sangue ainda vazava do buraco, mas com a tábua

removida, ele já podia sentir seu corpo trabalhando para se

curar. O rasgo entalhado em seu estômago já estava quase

completamente fechado.

— Você precisa de sangue. — Ela murmurou.

— Isto pode esperar.

Aria pressionou suas costas contra a árvore enquanto

inabalavelmente encontrava seu olhar e puxava a gola de sua

camisa para baixo. O olhar dele se fixou nas marcas que seu pai

havia deixado e um rosnado involuntário escapou. Ele passou o

braço em volta da cintura dela e puxou-a contra ele. Usando seu

corpo para protegê-la dos outros, inclinou a cabeça para o lado do

pescoço dela que não estava ferido. — Tudo bem, eu estou bem. —

Ela disse quando ele hesitou.

Braith brevemente a acariciou antes de afundar suas presas

nela. Suas mãos se enrolaram em torno de seus braços enquanto

ela se fundia contra ele. Ele tomou apenas o suficiente para


recuperar um pouco de sua força antes de se afastar e oferecer seu

pulso. Ela levou-o ansiosamente e seus olhos estavam fechados de

prazer quando ela mordeu. Soltando-o, ela ergueu os olhos para

ele. — Como isso foi possível? — Ela perguntou baixinho.

Braith balançou a cabeça e soltou a árvore, se afastando

dela. Embora ainda precisasse de sangue humano, ele já podia

sentir a força do sangue dela curando seus ossos quebrados e

outros ferimentos. — Eu não sei.

— Ele me disse que tinha quase mil e quinhentos anos e que

uma estaca não era suficiente para detê-lo. — Braith cerrou os

dentes, as mãos cerradas com a lembrança de que seu pai teve a

chance de lhe dizer uma coisa dessas. — Alguma coisa assim já

aconteceu antes?

— Eu nunca ouvi falar de uma coisa dessas. — Xavier estava

começando a recuperar um pouco de sua cor e as mordidas em seu

pescoço tinham curado quase completamente quando se

aproximou deles. — Mas Atticus era o mais velho de nossa espécie,

e sua linha é a mais pura. Ele deve ter sido muito mais poderoso

do que qualquer um de nós percebeu. Nunca o ouvi chegando,


nem sabia que ele estava lá até que já estivesse em cima de mim e

aí foi tarde demais.

— Ele me rastreou. — Aria murmurou.

Braith passou o braço em volta da cintura e puxou-a para o

lado dele. —Ele nunca será capaz de fazer isso de novo.

Ela assentiu e inclinou a cabeça para trás para estudá-lo. —

Você também pode ser capaz de sobreviver a uma coisa dessas?

— Isso é uma possibilidade. — Disse Xavier.

— Eu não estou disposto a descobrir. — Disse Braith.

— Nem eu. — Aria estremeceu contra o seu lado.

— Nós provavelmente nunca saberemos do que você é capaz,

ou Jack e Melinda. — O olhar de Xavier pousou em Aria enquanto

eles subiam a colina até onde Caleb havia sido enterrado sem

cerimônia. — Embora seja óbvio que é mais do que o resto de nós.

No topo da colina, Braith liderou o caminho em direção a uma

área da floresta que era árida e escura. Nada crescia sob os altos
arcos dos pinheiros sombreando o chão da floresta. O ambiente

inóspito parecia ser o local perfeito para colocar seu pai e seus

irmãos. Sujeira tinha sido levantada em torno do buraco que seu

pai havia sido enterrado, mas as outras duas sepulturas pareciam

estar intactas.

Calista sorriu ao entregar as pás a Gideon e Ashby. —

Divirtam-se, meninos.

Eles não protestaram quando começaram a escavar a terra e

começaram descobrindo uma criatura que Braith nunca pensou

que veria novamente. As mãos de Caleb apareceram primeiro e

depois o peito e o rosto. Seu rosto estava afundado, sua pele

acinzentada e faltando pedaços. A mão de Aria apertou ao redor

dele e ela estremeceu e se virou quando começaram a descobrir

Natasha.

— Queimem eles. — Ordenou Braith rispidamente, sem

vontade de arriscar a chance de que possam apenas ressurgir

também daqui a um mês ou dois..

Calista e Gideon acenderam as tochas e as jogaram nas


sepulturas. Braith não se importou em ver o resultado final; ele não

queria Aria lá por mais tempo do que o necessário. — Se eles ainda

estão em seus túmulos, isso significa que você não sobreviveria a

uma estaca? — Ela perguntou calmamente enquanto ele a

conduzia pela floresta.

— Eu não sei. Pode ter sido a idade do meu pai que permitiu

que tal coisa acontecesse, pode ter-lhes levado mais tempo para

rejuvenescer, ou pode ter sido simplesmente a linhagem dele. —

Aria assentiu enquanto se inclinava contra o seu lado. — Você tem

certeza que está bem?

Sua mão distraidamente voou para seu pescoço e seus olhos

escureceram enquanto ela assentia brevemente. — Eu vou ficar

bem. A escuridão, Braith. Não sei como você lidou com isso.

Ele beijou sua têmpora brevemente, inalando seu perfume

doce sob o feno, sangue e suor. — Por sua causa.

—Sim, por sua causa. — Ela murmurou.

— Eu entendo a escuridão, Aria. Isso nunca vai te dominar

e você não precisa temê-la.


Ela o olhou por baixo dos cílios e ele apertou o seu ombro. —

A menos que algo aconteça com você.

— Isso não vai acontecer. — Ele assegurou. —

Aparentemente, há uma chance de eu ser ainda mais difícil de

matar do que qualquer um de nós pensou.

Uma pequena risada escapou dela. — Pelo visto sim.

Ele lutou contra as ondas de raiva que o inundaram enquanto

limpava o sangue do pescoço dela. — Isso nunca vai acontecer de

novo.

— Espero que não. Se ele voltar de uma decapitação, acho que

podemos dar-lhe a coroa, dar uma festa e admitir a derrota.

— Felizmente isso não é uma possibilidade.

— Bom, há apenas alguns choques que meu coração pode

suportar, batendo ou não. — Ele riu enquanto beijava o topo de sua

cabeça, entrando novamente na cidade.


Capítulo Vinte e Seis

Ao longo dos reparos e da reconstrução, as correntes de ouro

foram recuperadas dos destroços da cidade e colocadas onde ficava

o palco. Naquela noite, depois de algum tempo para se recuperar

e consumir um pouco de sangue do centro de doação, Braith reuniu

todos os ocupantes do palácio, cidades e florestas para queimar as

correntes com os restos mortais de seu pai. O sol estava começando

a se pôr quando ele acendeu uma tocha e entregou à ela. — Eu

pensei que você gostaria das honras.

As chamas aqueceram suas bochechas enquanto ela girava a

tocha dentro de suas mãos. Ela sorriu antes de dar um passo à

frente e jogá-la na pilha de gravetos. Ela nunca tinha visto nada tão

satisfatório quanto assistir todas aquelas correntes, e os restos

mortais do rei, pegar fogo. Braith enfiou a mão no bolso e tirou

algo. Ela se inclinou quando ele abriu a mão para revelar o anel de
sinete que simbolizava a Casa Valdhai que ele usava quando o

conheceu pela primeira vez.

— Braith?

— É um novo começo em todos os sentidos, Aria. — Ele deu

um passo para frente e jogou o anel nas chamas. Deslizando os

braços ao redor de sua cintura, ela descansou a cabeça em seu peito

e saboreou o momento. O fogo se espalhou pela grande

quantidade de madeira e subiu mais alto. Faíscas dispararam e

saltaram no ar quando a fumaça se elevou na escuridão da

noite. Foi um dia horrível, mas esse momento fez tudo valer a

pena.

Um grande aplauso irrompeu da multidão quando os últimos

símbolos de opressão do antigo regime se transformaram em

cinzas. Comida e álcool foram trazidos, música começou a

rodopiar pelo ar enquanto a multidão de vampiros e humanos

riam e dançavam em comemoração.

Ainda havia muito trabalho a ser feito, ainda um longo

caminho a percorrer antes que a confiança fosse totalmente


estabelecida, mas quando o calor das chamas bateu contra sua pele,

e Braith a girou na alegria, ela sabia que eles poderiam fazer

isso. Que juntos poderiam conquistar qualquer coisa e fazer um

mundo que nenhum deles tinha imaginado, mas que ambos

estavam dispostos a sacrificar qualquer coisa.

Ela pensou na escuridão que ameaçou arrastá-la para baixo

antes, mas, em vez de ter medo disso, encontrou forças no poder

que sabia percorrê-la agora. Uma força que a ajudaria a superar os

dias e anos à frente. Dias e anos que ela mal podia esperar para

experimentar com ele.

No dia seguinte, Aria concordou em dar toda a atenção a

Melinda até que a cerimônia de casamento e coroação

terminasse. Melinda bombardeou-a com detalhes intermináveis, e

Aria estava chegando ao ponto de ruptura quando Maggie entrou

no apartamento com uma braçada de vestidos. — Eu pedi a ela

para vir. — Melinda sussurrou no ouvido de Aria.


Aria levou um momento para superar a surpresa ao ver

Maggie novamente. — Você não tem que servir a mim.

Maggie sorriu para ela enquanto colocava os vestidos no

braço do sofá. — Eu não estou aqui como serva. Eu vim de boa

vontade.

— Toda rainha exige uma dama de companhia. — Disse

Melinda formalmente. Aria ficou ainda mais desconfortável com

essa perspectiva. Melinda começou a folhear os vestidos que Aria

agora percebia serem na verdade vestidos de noiva. — Eu pedi ao

alfaiate para subir também.

Aria estremeceu com a perspectiva. Ela sabia que tinha que

começar a se ajustar a essas coisas se fosse passar uma eternidade

dentro dessas paredes, mas mesmo assim, não podia deixar de

sonhar em fugir com Braith para a casa da árvore novamente em

breve. Maggie assistiu divertida enquanto Melinda segurava os

vestidos na frente de Aria, balançava a cabeça e os jogava para o

lado com rapidez.

Eles estavam quase no fim da pilha quando Melinda segurou


um que fez Aria se inclinar para frente. Ela puxou-o para mais

perto enquanto olhava para o lindo vestido com admiração. —

Este. Este é o escolhido.

Os olhos cinzentos de Melinda brilharam quando ela

sorriu. — Eu sabia que você gostaria. Eu não te disse que essa seria

a escolha dela? — Ela exigiu de Maggie.

— Você disse. — Maggie concordou.

— Vamos experimentar rápido antes do meu irmão decidir

bisbilhotar.

Aria ajudou-as a manobrá-la para o vestido marcante. De pé

diante do espelho era incapaz de acreditar que era ela realmente,

enquanto encarava a si mesma com espanto. Era o único vestido

que realmente gostou, e além de mal poder esperar para usá-lo,

também não queria tirá-lo.

Melinda afofou por baixo e deu um passo para trás para

examiná-lo com cuidado. Um sorriso radiante iluminou seu lindo

rosto enquanto ela assentia com aprovação. — Você não é a rainha

mais convencional, mas pode usar um vestido quando for


necessário.

Aria riu enquanto girava na frente do grande

espelho. Alimentar-se de Braith tinha acrescentado curvas que não

estavam lá desde seu primeiro cativeiro dentro do palácio. Seu

sangue deu a ela um brilho de saúde que trouxe um rubor rosado

para sua pele. Ela ficou impressionada com a mudança drástica

que sua vida havia tomado. Como uma criança selvagem e sem

mãe, ela nunca teria sonhado que um dia estaria aqui, uma

vampira sem pai, cercada por mais entes queridos do que jamais

sonhou em ter, e casando-se com um rei.

Embora tenha precisado de todo o seu autocontrole, ela

conseguiu ficar parada e não se mexer, enquanto o alfaiate fazia

alguns ajustes antes de acenar com aprovação.

Melinda bateu as palmas entusiasticamente enquanto olhava

para Aria com aprovação.

— Você está pronta para se casar?

— Mais que preparada.


— Muito bom. O casamento é amanhã. — Aria ficou

boquiaberta quando Melinda sorriu maliciosamente e

compartilhou um olhar aguçado com Maggie. — Eu disse a Braith

para ficar afastado durante a noite, já que temos muitos planos

para fazer, e também porque eu gosto de atormentá-lo.

— É muito cedo para um casamento tão grande. — Protestou

Aria.

— Não a grande festa, Aria. Amanhã será seu

casamento. Aquele que você sonhou. Esse outro pode esperar até o

final do mês.

Lágrimas queimaram sua garganta e olhos enquanto ela

jogava seus braços ao redor de Melinda. Sua futura irmã era quase

o seu exato oposto, mas naquele momento Aria não poderia ter

pedido por uma amiga melhor. Ela abraçou Maggie depois; grata

ao ver a jovem que tinha sido a coisa mais próxima de uma amiga

que teve enquanto era escrava de sangue. Ela nunca esteve tão

nervosa e animada em sua vida, mas mal podia esperar para ser

tornar uma rainha.


Epílogo

William sorriu para ela enquanto segurava suas mãos e

esticou seus braços diante dela. — Você pode não estar usando

saltos, mas só o vestido já valeu a pena.

Aria revirou os olhos enquanto deslizava o braço pelo dele e

sorria. — Não se acostume com isso.

— Eu não planejo isto. — Ele assegurou a ela. — Você está

linda, a propósito.

— Você acabou de me fazer um elogio?

Seus olhos brilhavam e ele apertou a mão dela. — Não se

acostume com isso.

— Eu não planejo isto. — Ela disse rindo.

— Você está pronta?

— Tenho certeza que este é o menor passo que dei


recentemente.

— Sim, mas você será uma rainha depois deste, que parece

um pouco mais intimidante do que morrer.

Aria desatou a rir e se inclinou contra o lado dele. — Eu acho

que você pode realmente estar certo sobre isso.

Sua expressão ficou sóbria enquanto ele a estudava. —

Contudo você vai ser boa nisso.

— Acredito que sim. Você fará bem também com Jack.

Ele encolheu os ombros enquanto puxava ansiosamente as

bordas da túnica verde clara que usava. Embora fosse de melhor

qualidade que as roupas que usavam na floresta, era no mesmo

estilo. — Estou ansioso por isso.

— Eu vou sentir sua falta. — Ela mal conseguia pronunciar as

palavras através da súbita constrição em sua garganta.

— Não tenho certeza se seu futuro marido vai.

Aria riu novamente e balançou a cabeça. — Ele também vai


sentir sua falta. Eu vou irritá-lo o suficiente por nós dois.

— Não tenho dúvidas disso.

Aria se inclinou para frente enquanto tentava espiar onde

Braith esperava com os outros na Árvore de Banquete. Ela estava

nervosa com a cerimônia maior no final do mês, mas pura emoção

a enchia com essa.

Hoje era só para eles.

William a puxou de volta e balançou a cabeça em

reprovação. — Não espreite.

Aria franziu o cenho impaciente, mas resignou-se a esperar

um pouco mais. Embora a maioria das folhas ainda estivesse nas

árvores, elas começaram a se agitar. A clareira estava viva com os

redemoinhos laranjas, amarelos e vermelhos que flutuavam

preguiçosamente em direção ao solo. O ar estava mais seco, mas

ela não sentia o frio tão intensamente como na época em que era

humana.

Ela brincou com o simples buquê de rosas amarelas pálidas e


mosquitinhos laranjas em suas mãos. Max se aproximou de onde

os outros esperavam por ela, sorrindo e bonito na mesma camisa

que William usava. Diversão brilhou em seus olhos quando seu

olhar passou por ela e ele assentiu com aprovação.

Aria tinha sido abençoada com a eternidade, mas tudo tinha

um preço. Ela se lembrou desse fato enquanto olhava entre Max e

seu irmão. Um dia, ela os perderia, mas por enquanto iria saborear

o pequeno momento de perfeição que encontrou em uma vida com

a qual nunca esperou ser abençoada.

— Eles estão prontos, se você estiver. — Informou Max.

Ela sorriu para ele e assentiu entusiasticamente. Ela nunca

esteve mais pronta para nada em sua vida. — Completamente. —

Ela respondeu e deslizou seus braços nos de Max e de William.

Alguém, ela suspeitava que Melinda, havia instruído que as

folhas coloridas fossem reunidas e espalhadas para servir como o

corredor por onde ela passaria. Não havia enfeites, exceto a

esplêndida cor do dia de outono em torno deles enquanto entrava

pelo corredor improvisado. Gideon, Xavier, Saul, Calista, Adam,


Frank, Ashby, Melinda e Maggie estavam adornados em trajes

simples ao lado do corredor improvisado, mas seus olhos foram

imediatamente atraídos para Braith com Jack ao seu lado.

O orgulho floresceu em seu peito, e amor girou e edificou-se

dentro dela quando as lágrimas queimaram seus olhos. Ele estava

magnífico com o cabelo escuro escovado perfeitamente para trás e

seu queixo bem barbeado. A túnica verde escura que usava

ajustava-se perfeitamente em sua grande estrutura. Ela tinha que

admitir que gostava dele em roupas simples; ele parecia mais à

vontade no traje do povo da floresta. E aquele sorriso, bem, ela

nunca se cansaria daquele sorriso enquanto iluminasse seu rosto e

brilhasse em seus olhos.

Max e William se afastaram quando chegaram ao final do

corredor com ela. Braith não pôde deixar de sorrir quando

estendeu a mão e segurou a dela. Ela estava linda, com um brilho

de felicidade e amor que irradiava por todos os poros enquanto

olhava para ele com lágrimas de alegria brilhando em seus olhos.

Aria odiava vestidos, ele sabia disso, mas o vestido simples

que ela escolheu era o ideal para ela. A cor creme lisonjeava contra
a pele beijada pelo sol. Entrelaçada por sua barriga, através do

vestido, havia fios sutis de ouro que acentuavam sua cintura

fina. Mais fios de cor laranja percorriam o corpete justo e as mangas

dos ombros. Seu cabelo caía sobre os ombros em cachos vermelhos

profundos, entrelaçados com minúsculas flores amarelas e

douradas.

Ela era uma visão de outono e terra, e era toda dele.

Daniel pigarreou para chamar a atenção deles. Sua outra mão

envolveu a dele quando Daniel começou a recitar os votos que

havia escrito. Embora não fossem tradicionais, Braith os reconhecia

como pertencentes ao povo da floresta, a Aria e aos seus entes

queridos. Daniel falou das árvores e das estações, do crescimento e

da perda, das mudanças que todos tiveram que suportar. Braith se

viu arrebatado pelo discurso, pela emoção que rodopiava nas

palavras e o fervor que irradiava de seu olhar.

— Embora possa resistir a tempos difíceis, o amor deve ser

tão durável quanto o carvalho ondulante, tão firme quanto o sol

nascente, e tão evoluído quanto a lua que se modifica. — Daniel os

encarou antes de limpar a garganta e corar ligeiramente. — Você


pode beijá-la agora. — Disse ele quando percebeu que tinha

esquecido dessa parte.

Risadas baixas acompanharam sua declaração, mas Braith

não ouviu nada disso quando a puxou contra ele e a beijou. Sua

boca era flexível contra a dele e os braços dela envolveram seu

pescoço, se fundindo contra ele. Aplausos altos e assovios

ressoaram ao redor enquanto ele terminava o beijo, antes que não

pudesse.

Aria sorriu para ele. Seus olhos brilhavam travessos e sua

boca estava ligeiramente inchada de seu beijo. Braith não estava

inteiramente certo se para sempre seria o suficiente para ele. Ele

sabia que, não importasse o que acontecesse, essa mulher, que uma

vez foi a sua escrava de sangue, para depois ser a sua maior queda,

e finalmente sua salvação; nunca deixaria de surpreendê-lo, de

trazer a alegria e o amor para a sua vida, e o manteria cativo para

a eternidade.

Fim

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