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Copyright © 2021 Patrícia Rossi

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos, são produtos de imaginação do autor. Qualquer semelhança
com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Revisão: Isabel Góes


Capa: Patrícia Rossi e Layce Design
Diagramação Digital: Layce Design

Todos os direitos reservados.


São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte
dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o
consentimento escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº. 9.610./98
e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Edição Digital | Criado no Brasil.


Agradecimentos
Notas da autora
Playlist
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Epílogo
Sobre a autora
Outras obras
Contato
Primeiramente, agradecer a Deus. 2021 foi um ano de provações.
Mas, com Sua Graça, tudo há de ser melhor no futuro.
Agradeço pela total recuperação do meu marido Marcio, que passou
pelo vírus da Covid. Te amo demais, meu companheiro de vida!
A minha bebê, minha filhota Bárbara, por entender todas as vezes que
a expulsei do escritório, por que eu precisava escrever. kkkkkkkk Te amo,
filha!
Meu filho, William, por me ajudar e dar tanto apoio! Te amo muito,
filho!
Mãe, pai, obrigada por toda torcida e oração. Amo muito vocês!
Elissande, por me ouvir e me aguentar em todos os momentos.
Sama, obrigada por ser minha beta, amiga. Você foi uma preciosa!
Alechandra, minha outra beta linda! Que me deu ideias incríveis!
Você sabe que salvou a vida do Mark, né? kkkkk
Laizy! Meu amor! O que eu faria sem você??? Eu não consigo nem
pensar! Muito obrigada, amiga! Por tudo! Por sempre me salvar na última
hora. kkkkkkkk
Bel Góes, minha revisora linda e amiga fiel! Também sou grata
demais a você!
Meninas do Grupo Highlanders, foi um ano difícil, né? Mas, com a
Glória de Deus, sairemos fortalecidas também! Eu creio! Obrigada também
pelo apoio e ajuda de todas! Amo muito vocês!
E, enfim, agradecer às minhas leitoras fiéis, que nunca me
abandonaram. Vocês são as razões pela qual eu não vou desistir nunca da
escrita, por mais que tudo esteja difícil. Muito obrigada, de coração!
O que dizer de Tudo o que eu queria? Eu simplesmente amei escrever
essa história! Ela fluiu como há muito tempo não acontecia.
Eu me apaixonei por Peter, Vanessa e todo o elenco. E já ensaiando
um spin-off de Bennett e Diana. E até mesmo o doutor Gabriel Ross me deu
ideias!
Espero que vocês também gostem. Que se apaixonem por esse
enredo, como eu.

Beijos da titia Patt.


Para ouvir a playlist de “Tudo o que eu queria” no Spotify, abra o app no
seu celular, selecione buscar, clique na câmera e posicione sobre o code
abaixo.

Ou clique no link abaixo:


Spotify
— Eu definitivamente odeio os homens! — Vanessa bufou jogando
sua bolsa sobre a primeira poltrona que avistou, assim que entrou no
escritório da prima Diana.
A prima sorriu calmamente. Já imaginava bem o tinha acontecido:
— Encontrou com Jacob de novo? — questionou.
— Sim, e ele não estava sozinho! — Vanessa reclamou, jogando-se
sentada, com braços e pernas cruzados na cadeira em frente à mesa de
Diana. — Acho que vou ter de passar a frequentar outra padaria! Ele ainda
mora no mesmo bairro que o meu, e mesmo eu tendo mudado um pouco
meus horários, vez por outra acabamos nos encontrando… Inferno! — Ela
se sacudia toda, muito irritada. — Que ódio! Eu amo o bolinho de milho
daquela confeitaria!
— É só encontrá-lo que você fica assim!
— Ah, e eu me odeio por isso! — ela grunhiu, os dentes cerrados,
abrindo as mãos e flexionando os dedos com força. — O que há de errado
comigo afinal? Por que sinto tudo isso por aquele cretino ainda?
— É como ele lhe disse, Vanessa. — Diana começou devagar, já
conhecendo o gênio da prima. — Não era para ser…
— Não era para ser? — Arqueou as sobrancelhas, já desconfiada do
que viria a seguir.
Logo Vanessa explodiu:
— Depois de seis anos e meio de relacionamento, sendo dois de
casamento, ele decide que não era para ser? — Ela agora se colocava de pé,
caminhando de um lado para o outro.
— Bom… — Diana ainda tentou — esse seu temperamento explosivo
e ciúmes demais contribuíram, lembra?
— Bah! — Expirou forte. — Você o está defendendo!
— Não! — Diana replicou sem se abalar. — Só repetindo o que ele
disse. E você mesma, cansou de repetir isso. Quantas vezes disse que devia
ter se controlado mais?
— Eu só estava cuidando do que era meu! Jacob sempre foi muito
bonito e, além disso, tinha de ser rico! As mulheres vêm até ele como
abelhas ao mel!
— E olhe o que essa sua superproteção fez? O espantou!
— Por isso que eu te amo! — ironizou Vanessa. — Você não mede
suas palavras!
— Aprendi que com você tem de ser assim. Mas, não se abale! O dia
será lindo hoje! Vamos selecionar os bebês e lindos bichinhos para o
comercial de leite, lembra? Você adora isso!
— Hoje eu estou num daqueles dias de ser insuportável! —
resmungou, jogando-se pesadamente de volta à cadeira, a boca mau abrindo
ao falar. — Nada me agrada! E se eu fizer algo que te ofenda ou incomode,
dê-me um desconto, OK?
— Obrigada pelo aviso! Mas relaxe, Vanessa. E é hora de admitir que
nós não tivemos sorte no amor, minha querida! Não vê meu caso com Jed?
A outra curvou os lábios:
— Bom, temos de admitir que seu caso é um pouco pior, não? O meu
ainda prefere mulheres… — Ela se interrompeu, ao notar a outra a
encarando com olhos estreitados e ela arregalou os seus, endireitando-se na
cadeira. — Desculpa! Foi mais forte que eu.
Diana riu da cara de cachorrinho arrependido da prima. Depois de
meses passados, ela até conseguia rir do acontecido:
— Mas, sabe o que penso? — Diana se levantou e, com sua
inseparável máquina fotográfica em punho, começou a tirar fotos de
Vanessa, que nem se importou. — Eu ainda acredito no amor!
— Maluca! — a outra retrucou, dando de ombro.
— Você e eu, temos apenas 27 anos! O cara certo ainda pode
aparecer…
— Qual parte do ‘eu odeio os homens’ você não entendeu? Eu não
quero saber de homem algum na minha vida! Escreva o que eu digo: eu
nunca mais vou me apaixonar!

— Cara, eu definitivamente amo as mulheres! — Peter disse, os


braços abertos, ao adentrar na In The Skin Studio com uma de suas
trezentas camisetas do Metallica de mangas cortadas e o inseparável
chapéu, estilo Pork Pie, de abas curtas, preto, no alto da cabeça. — Elas são
as mais belas invenções do Pai! — Apontou para o céu, com os dedos
indicadores.
Bennett riu e acrescentou:
— Essa declaração de amor tem a ver com a morena… voluptuosa de
ontem à noite? — Ele fez um gesto diante do peito, indicando seios
grandes.
— Porra, homem! Pode apostar suas bolas que sim!
— Resolveu dar uma chance a ela? Estava no seu pé há tanto tempo!
— Bom, ela estava num lance com um conhecido. Eu não queria ser
um fura olho. Ontem ela me disse que tudo havia acabado, então, ninguém
tinha nada a perder. E a coisa estava tão quente, até rolou uma preliminar
num beco por aí.
— Cuidado com o que vai dizer. Lembre-se que a Crystal é uma
mocinha! — Apontou a outra tatuadora do lugar.
Essa riu com gosto:
— Deixei de ser mocinha há muito tempo, patrão!
— E a Crystal adora ouvir minhas sacanagens, que eu sei!
— Sim, elas me fazem lembrar de nunca abrir minhas pernas para
você! — retrucou a outra, divertida, passando por ele.
Bennett aproximou seu punho fechado para que a moça batesse nele.
— Você pode ficar tranquila, amiguinha! Eu não costumo comer as
colegas de trabalho… — Então lançou um olhar sugestivo. — Diferente do
patrão aqui…
— Ah, cara! Cala essa boca! — Bennett aproximou-se, olhando para
os lados. — Sabe que foi só uma vez e eu estava bêbado! E Sheila já está
por aí — referiu-se a recepcionista, com quem tivera a infelicidade de cair
em tentação! — Então, mantenha a merda da boca fechada, OK?
O cara, que era um pouco mais alto que ele, fez sinal de que zipava a
boca e jogava a chave fora… Até que avistou Sheila vindo do fundo da loja:
— Hey! Falávamos de você!
— De mim? — Os olhos da loira se arregalaram, enquanto os dedos
de unhas compridas e cobertas de esmalte vermelho pousavam acima dos
seios fartos e mal cobertos pela blusa azul-claro.
— O Bennett aqui vai te explicar! — disse batendo no peito do outro
e indo para sua sala com um sorriso maquiavélico nos lábios.
— O que falava de mim, patrão? — A moça se chegou, perto além do
que se devia dele.
Bennett colocou uma mão na cintura e a outra correu pela nuca, sem
graça:
— Você conhece o Peach… fala demais! — resumiu, provavelmente
fazendo uma nota mental de cortar a língua do amigo, e seguiu para sua
sala.
Peter ajeitava suas tintas, ajeitando-as para logo começar sua arte,
quando o celular vibrou. A alma dele gelava, toda vez que o aparelho
chamava. Pensava que podia ser alguma notícia ruim sobre o irmão mais
novo. Ou o próprio! Não sabia qual era pior, na verdade.
Mas, era somente um cliente, um garoto de recém completados
dezoito anos, que dizia que atrasaria para a sessão. Tão logo se tornou
maior de idade, o jovem começou sua jornada no mundo das tatuagens.
Dizia que sonhava um dia ficar como ele, com tatuagens coloridas e
exóticas pelo corpo. Peter o aconselhava a pensar muito bem no que estava
fazendo, por que era um caminho sem volta. Ou bem doloroso e caro, caso
resolvesse apagar com lazer mais tarde.
No entanto, o mesmo garoto o interpelou, perguntando se ele tinha se
arrependido do que fizera no corpo. Ele nem pestanejou. A resposta era
uma única: não. As tatuagens agora eram parte do que ele se tornara.
Primeiro uma criança que tivera uma infância relativamente feliz, um jovem
que viu o sofrimento. Então, um homem que zelava pelo pai adoentado,
uma pequena e linda sobrinha… e um irmão perdido no mundo das drogas.
Depois de responder à mensagem do cliente, guardou o celular no
bolso frontal da calça e pensou que já havia um bom tempo que não sabia
do irmão. De novo, não sabia se isso era bom ou ruim.
Suspirando profundamente colocou de volta os tubos de tintas que
apertava firmemente entre as mãos sem notar.
O dia seria longo e, depois da noite de sexo selvagem que tivera,
deixar a culpa o dominar estava fora de cogitação. Estava com o corpo
exausto e tinha de fazer o mesmo com sua mente, para que assim tivesse
uma boa noite de sono, sem ter que recorrer ao uísque ou remédios para
dormir. Estava limpo já há anos, mas, temia uma recaída… O pesadelo de
terminar como o irmão sempre o assombrava.
Ainda que tentasse, as lembranças da criança que Mark, seu irmão
fora o assaltavam, como um fantasma que sempre o rondava, trazendo de
volta o fato de que sua vida não era nada perfeita. Muito menos a de
Mark…
Esse, de uma criança insegura que sempre o seguia para onde fosse,
sucumbira ao álcool e drogas pesadas e agora vivia por isso. Já havia
perdido as contas de quantas vezes tivera de pagar sua fiança e quantos dos
26 anos ele havia passado em uma cela por conta de seus delitos. Ainda não
havia matado ninguém, mas, Peter temia que esse dia não tardaria a
chegar… Mark estava ficando cada vez mais sem controle. As várias
internações, muitas delas à revelia, nunca surtiram efeitos sobre ele.
Acabava sempre pior que antes.
Já fazia meses que fora visitar a pequena Sophia, sua filha. Lembrou-
se da última vez que aparecera. Mal se sustentava sobre as pernas, o estado
lastimável. Os cabelos desgrenhados, as roupas em trapos, um odor que ele
queria esquecer… Parecia que havia muito que não se banhava. Havia
perdido mais um dente.
Não permitiu que se aproximasse da menina daquela forma. Mesmo
que ao final dessa visita ele descobrisse que Mark havia levado um relógio
valioso do velho e vergonhosamente o porquinho de economias da própria
filha, o qual Peter quase enlouqueceu para substituir antes que Sophie desse
por falta, achou que valera a pena. Ao menos para a pequena, que o enchia
de perguntas sobre o pai.
Recordou-se de que o obrigara a se banhar em seu apartamento que
ficava no segundo andar, entregou-lhe algumas peças de roupas, que,
obviamente ficaram enormes nele. Peter sempre fora mais alto, mas agora
que malhava bastante na pequena academia que havia montado na garagem,
ganhara muita massa muscular. Já Mark… Esse parecia que seria levado
pelo vento a qualquer momento. Era possível ver nitidamente os ossos de
seu rosto. Quando se despiu para o banho… Desde então, Peter rogava aos
céus que o fizessem esquecer das tatuagens grotescas espalhadas pelas
costas do irmão. Provavelmente haviam sido adquiridas em uma de suas
muitas prisões. Para Peter que amava a arte da tatuagem, que estava sempre
procurando melhorar, aquilo era um sacrilégio. Contudo, não eram o
desenhos esverdeados que mais o atormentavam. Havia marcas de
queimaduras de cigarro… de tiros e facadas já cicatrizadas. Ele já estivera
entre a vida e a morte várias vezes. E era isso que temia. Que um dia o
telefone tocasse… para avisar que daquela vez ele não conseguira…

— O pior… — Vanessa disse, já adentrando no salão que utilizavam


como auditório na agência, interrompendo-se, o dedo no ar, de um lado para
o outro — ou melhor, eu ainda não consegui decidir — meneou a cabeça e a
mão rapidamente —, foi o que aconteceu ontem à noite.
Após cumprimentar o pessoal da produção rapidamente, Vanessa
prosseguiu com sua narrativa, já acomodando-se ao lado da prima nas
poltronas de onde assistiriam os testes:
— Eu fiquei de babá do Pulga, o doguinho da minha vizinha…
Detalhe, ela tem 76 anos e saiu para um encontro. Pois bem. Lá pelas dez,
eu fui dar uma volta com ele e o levei a um parque, para que fizesse suas
necessidades. Quando ele terminou e já estávamos voltando, eu ouvi um
som vindo de um beco. Parecia que alguém estava em agonia. Curiosa e
preocupada, me esgueirei na escuridão e fui verificar e… descobri que
realmente havia alguém em agonia, mas não o tipo de agonia que eu estava
pensando. Havia uma mulher de joelhos, dando aquele boquete num cara.
Puta merda, que cara! Acho que era o homem mais bem-feito que eu já vi
na terra. E eles não pareciam muito preocupados em se esconder não,
porque o beco era bem iluminado. A careca dele reluzia sob a luz, o rosto
coberto por uma barba, as veias saltadas do pescoço, cada vez que se
contorcia num gemido ou praguejava algo como um incentivo. O peito
estava exposto pela camisa aberta, as calças arriadas… pena que da cintura
para baixo minha visão estava comprometida pela garota. Mas, o peito
dele… — ela se abanou. — Que peito! Mesmo à distância, eu pude notar
como era esculpido, um tanquinho cheio de gominhos — fez os gestos
sobre sua barriga, como se desenhando os tais gominhos — e era coberto
por tatuagens… Oh, Deus, e os sons que ele fazia, estirando o pescoço para
trás… a forma como segurava os cabelos dela… — Moveu os lábios,
engolindo, como se a boca estivesse cheia. — Juro! Eu salivei! E então o
Pulga começou a latir e tive de praticamente sair correndo dali, muito
embora eu ache que eles não se importavam mesmo que alguém os
estivesse observando, como já disse. Mas, resumo da minha noite, Maggie,
minha vizinha de 76 seis têm mais vida amorosa que eu e meu fim de noite
foi tendo de me aliviar por um cara que eu provavelmente nunca mais verei
na vida! Eu sou mesmo uma piada!
— Uau. Estou boba. Você, falando de outro homem que não seja o
ex? Isso é novidade!
— É que esse era o homem. Você precisava ver. E, sabe como eu sou
apaixonada por tatuagens, que ainda não fiz as minhas por conta da
sargento, não é? — Sargento era o apelido carinhoso que havia dado para
sua mãe, por conta de seu gênio. — E ele era coberto delas. Coloridas,
parecendo exóticas, até onde eu pude ver, por conta da distância.
— Só imaginando você chegando perto da titia com um homem
desses. — Diana ria divertida.
— Caralho, ela me matava! Ela diz que tatuagens são uma heresia.
Sério, minha mãe tem uma mente tão pequena!
Quando as mamães começaram a entrar com seus bebês, a garganta
dela se fechou e ela teve de fazer força para engolir um suspiro. Aquela
sensação de vazio que estava se tornando sua companhia mais constante,
ameaçando invadi-la novamente.
Diana deve ter notado algo, pois apoiou uma mão em seu joelho e
perguntou se tudo estava bem. Vanessa logo abria um largo sorriso,
cruzando uma perna sob o corpo, para melhor se acomodar:
— Tudo OK. Foi só uma pequena tontura, mas já passou. É o que dá
não me alimentar direito pela manhã! — exclamou. — Acabei perdendo o
apetite, depois que encontrei o ex! — Fez uma careta.
A prima riu e fuçou uma vez mais em seu joelho:
— Vou pedir que lhe tragam um suco, OK?
— Hum, você vai? — Ela fez um beicinho de manha, vendo a outra
revirar os olhos.
Provavelmente não havia no mundo quem Vanessa amasse mais que
Diana. Eram amigas, irmãs, confidentes. Mas, havia alguns fatos tão
dolorosos em sua vida, que nem mesmo para a prima, ela havia tido
coragem de dizer. Era quase como que uma piada suja e sem graça, que não
se atrevia a dizer em voz alta.

— Sophie, o que foi que eu te disse? Nada de brincar com o seu pó


mágico dentro de casa! — Ele entrou no quarto da pequena com um tênis
minúsculo enfiado na ponta do dedo do pé. — Olha! Você encolheu meu
tênis!
A garotinha de seis anos revirou os olhos, riu e então bateu uma mão
na testa:
— Tio Pitt, seu bobo! Esse é o tênis do senhor Coelho! — Ainda
rindo ela foi resgatar o calçado, logo enfiando no pé de seu inseparável
amigo de pelúcia.
— Ufa, que alívio! Ele se parece muito com meu tênis favorito. Eu
estava começando a ficar preocupado.
— Às vezes você é tão burro, tio! — A menina ainda ria, parecendo
tão incrédula.
Peter simplesmente amava fazer aquela garota rir. Fazia seu coração
querer explodir no peito:
— Ah, está bem, sua pequena gênio! Nem todo mundo é esperto
como você! Eu soube que você já se banhou, já encheu a pança. Já escovou
os dentes? — Apontou um dedo em riste.
Sophie ficou em pé na cama e lhe mostrou os dentes muito brancos:
— Deixe-me ver o bafo. — Gesticulou com a mão. A menina soprou
sobre o rosto dele. — Ah, perfeito! Agora, dormir! Deite-se que vou te
cobrir.
Ela obedeceu, colocando-se toda ereta na cama, os bracinhos junto do
peito, à espera das cobertas e do senhor Coelho. Como costumavam fazer
sempre que Peter a colocava na cama, o ritual era esse: inspeção dos dentes,
cama, o senhor Coelho era colocado em seus braços e então as cobertas a
envolviam. Logo ele se curvava para dar um beijinho na ponta do nariz
bem-feito e arrebitado.
— Boa noite, meu anjinho. Eu te amo.
— Também te amo, tio bobão.
Peter simulou cócegas nela rapidamente, ajeitando mais uma vez as
cobertas e colocando-se de pé:
— Olha o respeito, garota!
Então ele acendeu o pequeno abajur na cômoda ao lado da porta e
apagou as demais luzes. Sophie nem sempre tivera medo do escuro. Porém,
depois acordar com seu pai ao lado da cama numa madrugada,
completamente embriagado e sabe-se mais o que, ela não quis mais dormir
sozinha ou com as luzes apagadas. Foi aí que o senhor Coelho entrou na
vidinha dela e também o pequeno abajur. Peter reforçou todas as tranças da
casa após esse fato. Mark nunca mais entraria naquela casa sem passar por
ele antes.
Deixando a porta do quarto da pequena entreaberta, calçou sua bota
que havia deixado no corredor para fazer a brincadeira com a sobrinha e
rumou para os fundos. Encontrou o pai na cozinha:
— Está com fome? Fiz bastante comida, se quiser jantar…
Como na maioria das vezes, Peter mal olhou para o velho e rumou
para a cozinha:
— Eu comi algumas besteiras quando saí do estúdio — disse,
caminhando para a porta. — Estou sem fome. Boa noite. — Então saiu sem
praticamente fazer barulho.
Já havia tentado melhorar sua relação com seu pai, principalmente por
conta de tudo que o velho fazia por Sophie, cuidando dela quando não
estava por perto, mas… Não sabia se havia como consertar aquilo que se
quebrara há anos.
Subindo de dois em dois os degraus da escada que ficava na lateral da
casa, chegou a seu apartamento. Assim que a porta bateu fechada, Peter
despiu a camiseta, deixando-a por aí e buscou um suco gelado. Na verdade,
desejava uma cerveja gelada, mas, isso pertencia ao seu passado.
Então se jogou no sofá, apoiou os pés sobre a mesinha de centro,
cruzando os calcanhares e ligou a televisão. Gostava de noites como aquela.
Sophie estava limpa, alimentada e segura em sua cama.
Desejou poder dar o mesmo para o irmão, mas infelizmente, não era a
realidade que Mark queria para sua vida.
— Está ocupada essa noite? — Diana perguntou quando deixavam o
auditório. — Pensei em pedir pizza e a gente podia beber algumas cervejas
e falar mal de todos os homens da face da Terra. Que acha?
— Infelizmente hoje é aniversário da Sargento Susan. — Ela revirou
os olhos, pensando na mãe. — Se eu não for vê-la, a próxima guerra
mundial estará declarada. Deus sabe que eu preferia mil vezes beber com
você a enfrentar aquela fera.
— Oh… droga. Eu sinto muito… quero dizer…
— Eu também sinto, Di, fique tranquila. — Apressou-se em acalmar
a prima. — E, sinceramente, estou pensando na possibilidade de tomar
algumas cervejas antes de ir até a casa dela. Para poder suportar essa visita.
— Você sabe que tia Susan é quase como um cão farejador. Notaria
seu hálito alterado em dois tempos.
— Sim, infelizmente tem isso. — Tornou a revisar os olhos.
— Comprou um presente para ela? Titia não é fácil de agradar…
— E acha que eu não sei? E sim, comprei algo que sei que ela não vai
gostar, mas… ao menos tentei. E é algo bem caro, então… Consciência
limpa aqui — concluiu enquanto levantava uma mão.
— Já pensou em dar dinheiro? Aí ela vai e compra o que quiser.
— Sim, eu já tive essa brilhante ideia. Ela olhou para mim como se eu
tivesse cometido um crime e perguntou o que de tão importante eu andava
fazendo para não ter tempo de comprar um presente decente.
Diana não pode evitar rir:
— Meu Deus, isso é muito a cara dela. Acho que mamãe não se
lembrou que é aniversário da titia. Ela não disse nada.
— Bom, ela faz bem em não lembrar. Eu mesma gostaria muito de
esquecer.
Enquanto caminhava para sua sala, pensou no porquê de sua mãe
exigir sua presença naquele dia. Susan não fazia muita questão de vê-la em
outras ocasiões. Aliás, ela não fazia questão de vê-la em nenhuma ocasião.
Suspirou, acomodando-se em sua mesa e ligando o computador. Só de
lembrar a dor de cabeça de ficar procurando um presente que que pudesse
agradá-la minimamente… Pensar que ela, com certeza, falaria de seu
casamento desfeito…
Sua relação com a mãe era das mais complicadas. Tinham gênios
totalmente diferentes. Vanessa era do tipo moderno, que gostava de
liberdade. Já Susan, era uma religiosa fervorosa e extremamente retrógrada.
Não tinha nada contra religiões, era uma mulher que acreditava em Deus,
mas… a religião de sua mãe mais parecia uma seita… Tudo o que era fora
de sua igreja, era do “mundo”, sujo e sem valor para Deus. Ser adolescente
e viver na mesma casa que ela fora muito complicado. Furos em suas
orelhas só pode ter depois dos dezoito e, ainda assim, quando já morava
sozinha. Vanessa, apesar de ser muito sensível à dor, sonhava em fazer
algumas tatuagens. Tinha o desenho de cada uma delas guardadas para o dia
em que realmente tivesse coragem. Ainda assim, tinha certeza de que as
teria de esconder da mãe, senão… O inferno desceria sobre a Terra. Quantas
não foram as brigas por conta disso quando era mais jovem. Assim como as
vezes em que fora se refugiar na casa de sua tia Evie, mãe de Diana. Se não
fossem essas duas e o pai dela, que fora praticamente seu pai também, não
sabia como teria sobrevivido à puberdade.
Pensar que teria de passar algumas horas na companhia de sua mãe…
acabava com seu dia.
Chegou, pontualmente às oito da noite, na casa enorme que Susan
insistia em manter. Ela morava sozinha.
Tomou três longas respirações antes de bater à porta e entrar. Como
sempre sua mãe estava impecável, cabelos presos num coque perfeito, um
vestido sóbrio e sapatos de salto moderado. Era como se recordava da mãe.
Sempre dessa maneira. Sempre bem arrumada, como se à espera de visitas.
Que, além do pessoal da igreja, não havia outras.
— Feliz aniversário, mãe — cumprimentou, polidamente, encostando
a face na da mulher, simulando um beijo. — Espero que goste. —
Estendeu-lhe a pequena caixa e ficou à espera que a outra abrisse, já
preparada para tudo.
Susan desembrulhou o presente sem muito ânimo. Bom, ela nunca
estava animada. Talvez se tivesse o hábito de sorrir de vez em quando
pareceria a mulher de menos de 50 anos que era.
O relógio que escolhera era sóbrio, porque ela tinha apenas de ter a
função de mostrar as horas, nunca ser uma joia. Porém era óbvio que de
alguma coisa ela iria reclamar:
— Branco, Vanessa? Você nunca se lembra de que eu não gosto dessa
cor? Isso vai gritar no meu pulso. Bom, eu posso carregá-lo dentro da
minha bolsa — disse, colocando a peça numa mesa qualquer.
— Como quiser, mãe. — Ela nem se abalara.
— Eu não tinha certeza se viria, então nem encomendei um bolo… —
Susan disse, encaminhando-se para a cozinha.
— Você sabe que eu venho todo ano… — balbuciou, aliviada em
seguida por não ter sido ouvida.
— Mas, tenho suco e posso preparar algo para você comer. Sabe que
eu janto muito cedo, então…
— Não precisa de nada, mãe. Eu só vim cumprimentá-la mesmo.
— Deve estar doida para dar o fora, certo? — A mulher soltou sem
qualquer rodeio.
Era assim que ela era. Já fazia algum tempo que nem fingiam ter uma
boa relação:
— Não é como se tivéssemos muito para conversar, certo? — Vanessa
também foi direta.
— Isso é verdade, porque eu não me interesso em saber do tipo de
vida que anda levando, assim como você não deve ter algum sobre a
minha.
— Exatamente, porque a senhora deve pensar que vivo na
promiscuidade, ainda mais depois de me tornar uma mulher separada. Estou
errada?
— Sabe bem o que minha igreja pensa sobre casamentos desfeitos…
— A senhora também teve um casamento desfeito…
— Ele me abandonou! — redarguiu, o semblante fechado. — É
diferente!
— Por que seria diferente, se Jacob praticamente também me
abandonou?
— Você poderia ter se esforçado mais para mantê-lo. Como eu fiz,
sendo mãe, uma coisa que eu nunca desejei! — A mulher exclamou
simplesmente.
Vanessa tentou fingir que não havia ouvido. Ou que aquela frase não a
havia machucado de inúmeras maneiras diferentes. No entanto, no fundo de
seu coração… Sentiu que sangrava:
— Parece que no seu caso não adiantou muito, não? Por que no meu
funcionária?
— Talvez seu pai não tenha te amado o suficiente para ficar…
— Ou talvez ele te odiasse mais ainda para se submeter…

Vanessa estava irritada demais para dormir. Deitada em sua cama, só


conseguia repassar as palavras de Susan na cabeça. Não tivera nenhum
pudor em dizer que nunca desejara ser mãe. Bom, isso não era nenhum
segredo, pela forma como foi criada. Entretanto, ouvir da boca da própria
mãe era outra coisa…
Nem se lembrava de como havia saído daquela casa, antes que
começassem a gritar uma com a outra. Bom, com sorte, agora ficariam
muito tempo sem se ver. Seu desejo era ter ido chorar no ombro de Diana,
mas, ultimamente, andava preferindo se isolar.
Suspirou exasperada. Por que Susan era assim? Mulher amarga, cruel,
que não se importava em magoar quem estivesse por perto. Por isso seu pai
fora embora tão cedo e ter sido afastada dele era algo que nunca perdoaria.
Era apegada a ele e ele tentou participar de sua vida, mas Susan dificultou
tanto essa proximidade que quando começou sua nova família… acabou
desistindo de Vanessa. Não conseguia culpá-lo. O inferno que a mãe fazia a
cada visita, a cada pedido de passar a tarde com a filha. Entendia porque o
homem havia se cansado. Como viajava demais a trabalho, não pudera lutar
por sua guarda.
Muito inquieta, resolveu tomar um pouco de vinho para tentar relaxar.
Encheu uma taça e acomodou-se no sofá.
Ser mãe era uma dádiva, nunca um fardo. Por que algumas tinham
tanta sorte? Outro suspiro e ela sorveu três longos goles da bebida.
Em momentos como aquele, depois de mais uma discussão com sua
mãe, Jacob sempre a consolava. Principalmente com sexo. Que era algo que
não tinha há muito tempo.
Desde que a deixara, não tivera qualquer interesse por outra pessoa.
De repente, as cenas da noite anterior, diante daquele carro no beco
lhe vieram à mente. Recordou-se do corpo daquele homem.
Mordeu os lábios. Um daqueles a faria quebrar seu jejum de sexo:
— Ah, inferno! — Esfregou as coxas uma na outra, sentindo um
formigamento em seu centro, muito frustrada, recordando-se das expressões
que o cara fazia ao receber o boquete. — Você é patética, Vanessa! —
Sentir tesão por um homem que nunca mais veria na vida era demais!
Ainda recordando como ele agarrava os cabelos da mulher… a forma
que a guiava para que fizesse do jeito que gostava… desejou que fossem
seus cabelos… sua cabeça… sua boca.
De repente, ela estava gemendo, apertando os seios duros, subindo a
camisola de seda e se tocando. A imagem do pescoço grosso, másculo e
estirado, prestes a gozar… As pernas longas e fortes bem separadas. O som
gutural que lhe chegou aos ouvidos…
Vanessa riu de frustração de novo, segundos antes de alcançar o
clímax. O corpo sendo sacudidos por pequenos espasmos.
— Patética! Você é patética demais…

Era isso. Havia se decidido por fazer sua tatuagem. Talvez fosse uma
atitude de rebeldia tardia por conta de sua discussão com a Susan na noite
anterior, ou o que seja. Uma coisa era certa. Estava decidida. Assim, depois
de uma curta pesquisa, estava ali, diante da In the Skin. O fato de ser um
tanto longe de onde morava nem era um empecilho. Vira algumas imagens
assinadas por um tal Peter Reyes que simplesmente lhe tirara o fôlego.
Então decidiu que ele era o escolhido para fazer sua tão sonhada tatuagem.
Estava distraída diante de um enorme painel, admirando as inúmeras
fotos dispostas, enquanto aguardava ser atendida pela atendente que estava
ocupada, quando sentiu alguém parar próximo.
— Será que eu posso ajudá-la? — A voz máscula lhe chamou a
atenção.
— Você! — exclamou, olhos arregalados de surpresa.
Diante dela estava ninguém menos que o cara da transa no beco. Ela
ficou tão instantaneamente molhada que teve medo de que sua umidade
escorresse pelas pernas e fizesse uma poça no chão.
— Eu? — O cara apontou para si mesmo, confuso, logicamente.
Como que acordando de um transe, Vanessa tratou de se recompor
antes que fosse tarde demais:
— Me desculpe! Era para ser uma pergunta. — Acrescentou
rapidamente, tropeçando nas palavras. — Você trabalha aqui? Era isso. —
Gesticulava muito, junto com as palavras. — Era para ser isso.
Então ela se deteve um minuto e expirou fortemente, os olhos
fechados, as mãos num movimento de descida:
— Eu estou nervosa. É isso. — Naquele momento por mais de uma
razão.
— Ah, saquei. Primeira tatuagem, certo?
— Isso.
Caralho, ele era muito lindo! Olhos grandes, de um castanho-
esverdeado, incríveis. Sobrancelhas espessas. Brincos em círculos grandes
em suas orelhas, pretos com estrelas pintadas neles. Nariz grande e afilado.
Lábios finos quase ocultos por uma barba fechada. Uma careca reluzente.
Não se atreveu a descer os olhos para examinar o resto do corpo. Ela se
recordava muito bem daquele peito… Acabaria passando uma grande
vergonha. De todos os lugares do mundo, tinha de encontrá-lo justamente
ali?
Percebendo que devia ter ficado tempo demais a examiná-lo, onde
também teve a face perscrutada pelo homem, meneou a cabeça para sair do
transe:
— Estou procurando por Peter Reyes. Eu vi algumas tatuagens dele
pela net e fiquei encantada!
— Acaba de encontrar, morena. — O homem fez um gesto amplo
para si mesmo.
Ela arregalou os olhos e mordeu o lábio. O mundo realmente era
pequeno. Aquele homem colocaria suas mãos em seu corpo? Ainda mais
onde pretendia fazer a tatuagem… Quase tremeu por antecipação.

Quando Peter viu aquela morena escultural na sala de espera da In the


Skin o queixo dele caiu. Era a mulher mais linda que já tinha visto na vida!
Longas pernas expostas pela curta saia jeans, um ventre chato, seios alvos
sob uma blusinha leve, cabelos longos serpenteando seu pescoço delgado,
descendo até o meio de suas costas.
Bennett estava ao seu lado quando ela entrou e começou a examinar
os desenhos na parede. Peter espalmou a mão grande sobre o peito do
amigo:
— Caralho, estou apaixonado!
O outro bufou:
— Quando é que você não está? Não pode ver uma mulher, que…
— Dessa vez é diferente. Olhe para tudo aquilo! Que garota!
— Só é uma pena que, como dono do lugar, eu tenha de recepcioná-
la, não é? — dizia, ajeitando a gola da camisa e ensaiando um primeiro
passo em direção à morena.
— O que? — Peter novamente espalmava a mão no peito do outro,
mas, dessa vez para impedi-lo de seguir caminho. — Eu a vi primeiro!
— Sigo sendo o anfitrião, então…
— Cara, não! Isso não é justo! Ela é o amor da minha vida!
Bennett riu, contendo-se para não rir alto e chamar a atenção da
moça:
— Você sequer sabe o nome da garota, idiota!
— Mas eu sinto, no fundo do meu coração, que aquela mulher —
apontou com as duas mãos —, vai ser a mãe dos meus filhos. Eu juro, cara.
— Você está mais exagerado que de costume… — e de novo
começou seu caminho em direção à moça.
— Vamos tirar no pedra, papel e tesoura! — Foi a ideia – infantil – de
Peter.
Bennett esfregou as mãos, comemorando:
— OK, você sabe que sou bom nisso.
— Inferno! — praguejou Peter, depois de ter perdido por três rodadas.
— Lá vou eu…
— Eu lavo sua pick up por três semanas seguidas.
— Você odeia lavar carros, que dirá a minha pick up!
— Para você ver meu desespero, homem.
— Sim, estou vendo. — Riu meneando a cabeça. — Vá em frente e
conheça a sua morena. Mas, não toque no meu carro!
Quando a garota disse que procurava justamente por ele, ergueu os
ombros para Bennett, como quem diz Era o destino!
— Peter Reyes, ao seu inteiro dispor. — Tomou a mão dela com a
sua.
— Vanessa Thomas.
— E então, Vanessa? Tem algo em mente? — inquiriu, sem soltar sua
mão.
Bom, ela não estava com pressa de usar aquela mão mesmo. Sendo
assim, umedeceu os lábios e jogou os cabelos para trás:
— Eu tenho uma ideia — disse fuçando no bolso traseiro de sua saia,
retirou um pequeno pedaço de papel e estendeu a ele.
Só então ele soltou sua mão, mas talvez porque a situação exigia.
— Hum, interessante. Você desenhou? — Apontou para a pequena
máquina fotográfica bem estilo vintage no papel.
— Sim. Tenho esse desenho guardado há anos! E vi algumas rosas em
uma das suas tatuagens na net, que acho que ficariam muito interessante
junto da câmera. — Buscou outro pedaço de papel, onde estava impresso a
tatuagem em questão.
— Verdade! Farão um lindo conjunto! Eu estou no meu horário de
intervalo, mas se quiser adoraria atendê-la! — Indicou um rumo com seu
braço musculoso estendido.
Um frisson percorreu Vanessa. Primeiro porque o cara era muito sexy,
viril! E segundo… estava a caminho de ter sua primeira tatuagem… pelas
mãos de um homem daquele tamanho.
Quando adentrou na pequena sala, um frio se instalou em seu
estômago:
— Eu acho que devo avisar que sou bem sensível a dor — anunciou,
uma palma batendo na outra.
— Não se preocupe. Faremos no seu tempo. E primeiro farei um
esboço, para que observe e tenha certeza se é isso que deseja.
— OK, então.
— Bom, se puder me mostrar onde deseja fazer a tatuagem…
Ela mordeu o lábio, virou-se de costas para ele e espalmou a mão
logo acima do bumbum, que era onde sempre imaginara ter aquela imagem
gravada em seu corpo. Por uma breve fração de segundo, pensou em mudar
de lugar, por nervoso, por ser aquele homem quem a tatuaria. No entanto,
estaria se auto sabotando. Dessa maneira, resolveu que a escolha já estava
feita há tempos, não seria aquela situação inusitada que mudaria seus
planos.
Notou também que o homem assumiu uma posição profissional,
assim que entraram em sua sala de tatuagem. Isso lhe deu um pouco mais
de confiança. Era óbvio que ele já devia ter feito tatuagens em mulheres e
homens, em lugares muito mais inusitados que aquele!
— Então eu tenho de lhe pedir que desça um pouco a saia e deite-se
de costas aqui na maca. — Apontou
Vanessa só então observou seu figurino:
— Bom, acho que não estou vestida apropriadamente para o
procedimento… — Nunca conseguiria subir naquela maca sem mostrar
demais.
— Fique tranquila. — Estendeu-lhe uma toalha, informando. — Você
pode usar isso para se cobrir e eu vou aguardar lá fora até que se acomode,
OK?
— Oh, muito obrigada por isso! — agradeceu, apertando a toalha nas
mãos.
— Não tem de quê — o homem enorme respondeu, abrindo a porta.
— Eu volto daqui há alguns minutos, está bem? Fique à vontade. — Então
saiu praticamente sem fazer barulho.
Sozinha, ela então suspirou, para tentar afastar o nervosismo:
— Destino — sussurrou olhando para o alto —, você é bem filho da
mãe! Isso é peça que me pregue? Esse é o meu momento e você tinha de
intensificar tanto? — O ar condicionado do lugar marcava 22º, mas ela se
abanou, porque estava acalorada.
— Cara! — Peter se aproximou de Bennett que estava na cozinha,
esfregando as mãos pelo rosto. — Eu sou um profissional, você sabe. Mas,
tenho de confessar que será muito difícil tatuar aquela morena! Ela é de
tirar o fôlego! Meu autocontrole será muito testado hoje! E ela está toda
assustadinha! Eu vou tratar essa garota como um neném precioso, para que
ela nunca mais se esqueça de mim.
— Desde que mantenha o pau dentro das calças aqui no
estabelecimento…
— Você sabe que eu nunca comi uma garota no meu estúdio… Uns
amassos eu não nego. E tem outra, essa mulher é um banquete, não merece
ser devorada com rapidez. Ela merece toda a cortesia desse mundo! Cara,
ela cheira tão bem! Tem um sorriso tão lindo! — Esfregou o rosto
novamente.
— Já esqueceu a peituda de noites atrás? Achei que estivessem se
vendo.
— O lance entre Lilly e eu é só diversão. Nada que nos prenda. Mas,
se essa morena, de lindo nome Vanessa, quiser me prender… Seja com suas
pernas ou como for… Eu aceito tranquilamente. Agora — terminando em
um único gole o café que colocara na xícara, Peter se apressou —, eu
preciso voltar para minha beldade. Não quero deixá-la esperando.
Antes de entrar, ele bateu à porta e aguardou pela autorização dela.
Então aquela mulher estava deitada de barriga para baixo, as pernas
cruzadas à altura dos tornozelos e uma toalha lhe cobrindo parcialmente as
coxas e traseiro redondo. A blusa havia sido erguida um pouco e sua cintura
fina e uma parte generosa do quadril estava exposto.
Orou mentalmente para ter autocontrole:
— Bom, farei um esboço e então te mostro, OK?
— OK — ela suspirou.
Peter riu baixinho:
— Sem dores, por enquanto. — Acomodando-se num banquinho
redondo com rodinhas ele deslizou até um canto, colocando uma música
baixinha e, mesmo parecendo ser um rock, era bem calmante. — Se
importa? — Apontou o som.
— Não, tranquilo.
— Agora, se me der licença… — ele pediu instantes antes de aplicar
um pedaço de algodão com álcool em sua pele, fazendo-a saltar pela
surpresa.
Ele riu baixinho de novo e Vanessa decidiu que era um som que ela
apreciaria ouvir muitas vezes:
— Fique tranquila. Não vai doer agora — reafirmou.
— Certo.
— Bom, se qualquer coisa a incomodar, por favor, fique à vontade
para me dizer, OK?
— OK…
Depois de ouvir outro com licença sussurrado, as mãos dele estavam
sobre sua pele. Um braço dele tinha de ficar praticamente sobre seu
bumbum. Sim, era meio constrangedor, mas de alguma forma, ele lhe
passava tranquilidade.
Porém se viu mordendo o lábio. Não podia negar que estava excitada.
Talvez por uma junção de fatores, já estava há um bom tempo sem sexo,
sem o toque de homem algum em seu corpo. Até porque não tivera
interesse em nenhum desde a separação e isso já fazia quase um ano. E…
bem, era aquele homem. Ela praticamente vira seu corpo inteiro e, talvez se
não corresse o risco de ser descoberta, provavelmente o veria fodendo outra
garota…
Inferno, Vanessa! Afaste esses pensamentos!, recriminou-se acabando
por se remexer:
— Tudo bem aí?
Oh, Deus, será que eu gemi em voz alta?, tentou se recordar,
arregalando os olhos:
— Não… quero dizer, sim. Só antecipando… a dor, eu acho. Por
favor, não ligue para mim, estou muito nervosa. — Por vários motivos e eu
não posso dizer quais.
— Prometo que serei gentil, Vanessa…
Porra, por que ele dissera aquilo num tom tão profundo? Ela teve de
engolir em seco… aliás, não tão em seco, já que estava salivando.
Quase riu de si mesma. Sentia tesão e tudo mais pelo ex, enquanto
estavam juntos… bom, depois também. Sabia que vergonhosamente não
teria recusado mesmo uma transa casual com ele, se a tivesse procurado,
mas estava experimentando uma espécie de sentimento diferente ali. Ou
ainda, fazia tanto tempo que não flertava, que não sabia muito bem como
proceder, para demostrar interesse… Se bem que estava mais do que na cara
que o sujeito estava muito na sua.
— Bom. Temos um esboço. Vou fotografar para que possa ver
melhor. — logo ele trazia o celular e ficava perto… bem perto dela, para lhe
mostrar o resultado.
Vanessa pode sentir o cheiro másculo dele. Uma colônia não muito
forte, mas que lhe deu vontade de esfregar o nariz no pescoço grosso para
poder apreciar mais. Perguntou-se o que mais poderia ser grosso nele…
— Uau! — Assim que conseguiu prestar atenção ao desenho que ele
lhe mostrava, ficou encantada. — Está muito mais bonito do que eu
imaginava! É exatamente o que eu quero, Peter.
Seu tom animado, sua proximidade e a forma como havia dito seu
nome fizeram-no ter de se controlar muito para não emaranhar os dedos em
seus cabelos castanhos e descobrir o gosto daquela boca que não estava
muito longe da sua.
— Então… posso prosseguir? — perguntou num tom macio, cheio de
significados.
Quando Vanessa umedeceu os lábios discretamente, também olhando
para a sua boca, ele quase se perdeu.
— Sim, você pode… — ela respondeu.
Peter só não se rendeu porque ainda tinha um trabalho a fazer. No
entanto, de alguma forma, sabia que um beijo já estava garantido e seu pau
pulou dentro das calças. Afastou-se rapidamente para ajeitar suas tintas e
máquinas, antes que sucumbisse e para esconder seu estado também.
— Sinto muito, morena, mas, terei de te causar um pouco de dor
agora. Mas, prometo que o resultado valerá a pena.
— Oh, Deus, lá vamos nós!
— Seja forte! — confortou, afagando seu ombro.
No final a dor não era assim tão insuportável e Vanessa estava
aguentando de boa.
À certa altura a atendente veio lhe avisar de que Diana a procurava na
recepção. Pediu que deixassem a prima entrar, mas ao que essa visualizou
um cara enorme, debruçado sobre seu corpo, ela quase gritou:
— Tire já suas mãos de cima dela!
O tatuador delícia às ergueu, imediatamente, a máquina de tatuagem
em uma delas:
— Eu juro que o que estava acontecendo aqui era consensual! —
disse ele.
— Vanessa, está louca?
— Não, só fazendo uma tatuagem…
— Sua mãe vai te matar!
— Provavelmente, ela nunca vai saber… — Até porque não pretendo
visitá-la tão cedo e não que ela tenha algum interesse em meu corpo,
poderia ter acrescentado.
— Até parece que não estamos falando da mesma Susan!
— Bom… eu hesitei um pouco no começo…
— Um pouco? — O tatuador enorme brincou, limpando seu
equipamento.
— OK! Talvez mais que um pouco, mas decisão tomada, aqui estou
eu!
Diana examinou o desenho, logo acima da lateral esquerda de seu
bumbum. Tinha de admitir que não estava nada feio… fora o sangue:
— Não está mal, mas…
— Diana, quieta! Não posso mais voltar atrás! Não depois de toda a
dor que já senti! Peter, prossiga, por favor!
— Peter sou eu! — O homem lhe sorriu, movendo seus pés para que
seu banquinho de rodas se posicionasse de volta perto da maca onde
Vanessa estava deitada — Olá!
— Olá. Diana — ela se apresentou, ainda parecendo contrariada.
— Perdeu alguma coisa por aqui, Bennett? — Peter inquiriu de bom
humor, ao notar o amigo parado à porta, olhos fixos na recém-chegada.
— Suas bolas, Peach¹ (pêssego)! — o outro resmungou.
— Pêssego? — Diana e Vanessa repetiam em uníssono.
— Pitt! Ele disse Pitt, meninas! — corrigiu o cara rapidamente, com
um sorriso sem graça, e então caminhou para a porta, fechando-a com um
chute, na cara do outro, pouco depois de lhe dizer — Suma daqui, porra!
Vanessa ergueu a cabeça, trocando um olhar divertido com a prima e
Diana conseguiu ler de seus lábios um: Você viu o tamanho desse cara?, e
então ela revirou os olhos.
Diana conteve o riso.
Peter teve praticamente que se debruçar sobre Vanessa novamente,
para continuar a desenhar em sua pele. Essa trocou um olhar lascivo com
Diana, erguendo as duas sobrancelhas rapidamente.
— Você é mesmo um artista! — Diana admirava, curvada sobre o
corpo de Vanessa, para examinar a tatuagem que estava sendo concluída. —
Isso está incrível!
— Oh, obrigada, pequena! — O sujeito lhe sorriu de lado, charmoso.
— Sua vez agora? — ofereceu.
Diana riu, nervosa e deu um passo atrás:
— Não vamos exagerar! Achei simplesmente linda, mas… isso. —
Apontou para o equipamento em sua mão. — Definitivamente, não é para
mim!
— Covarde! — Vanessa fingia tossir. — Eu estou às cegas aqui! —
reclamou. — Posso ver a minha tatuagem? Por favor?
— Claro, morena! — Peter disse, erguendo seu corpo grande da
cadeira e indo buscar um espelho.
Ah, Deus! O jeito como ele a chamara de morena. Que merda, estava
caidinha por aquele homem.
Notou que não era só ela. Havia uma atração ali. Tanto em seu jeito
de falar, ou como lhe perguntava, vez após vez, se estava tudo bem com ela,
enquanto a tatuava. Ou quando parecia acariciar a pele dela. Cada um
desses detalhes estava deixando sua calcinha encharcada.
Por vezes se via mordendo o lábio, ou se abanando, muito acalorada.
Qualquer um diria que era por causa da dor, mas Diana a conhecia como a
palma de sua mão! Notou que o cara mexia com ela, pelo sorrisinhos que
trocavam.
Ele lhe passava as instruções de como se cuidar, até a próxima sessão,
falando mansamente. O sorriso bonito brincando em sua boca, a postura
projetada, tal qual um pavão. Se bem que ele nem precisava disso. Tinha
um belo, malhado e grande corpo.
Vanessa ouvia com atenção, ainda encantada com sua nova aquisição,
que examinava pelo espelho. E, logicamente muito encantada com seu
tatuador:
— Bom, se já terminamos por aqui, podemos ir, Vanessa? — Diana
interrompeu, quebrando o clima. — Eu estou faminta! E, já que não
consegui evitar que fizesse a bendita tatuagem, essa pode ser minha última
refeição! Sua mãe vai me matar! — resmungou.
— Di, ela não precisa saber que a fiz — disse a outra, contrariada.
— Um dia ela vai descobrir, acredite em mim!
— Mas, por hora, seu pescoço está livre.
— Por hora…
— Hey, garotas… — Peter se manifestou. — Meu horário por aqui
está acabando e eu sei de um lugar perto que tem uma comida decente!
Seria um prazer, acompanhá-las até lá! — Ofereceu, ansioso por passar
mais algum tempo ao lado daquela bela morena.
— Para mim parece ótimo! — Vanessa não escondeu o
contentamento.
Enquanto Peter pegava sua jaqueta e a vestia, Diana esgueirou o
pescoço para fora do corredor, perguntando:
— Peter… seu amigo. Pode me dizer onde fica a sala dele?
— Bennett? — O outro estranhou, endireitando sua gola de
apontando a porta no final do corredor.
— Te espero lá na frente, OK? — Vanessa comunicou seguindo atrás
de Peter, perguntando-se em que momento Diana havia se aproximado do
outro cara. Não sem antes apontar para o traseiro bem-feito dele, moldado
na calça de brim preta e justa — Olha essa bunda? — sussurrou-lhe.
Mal contendo uma gargalhada, ela seguiu para a direção oposta.
— Vanessa, eu só tenho de resolver alguns detalhes com a Sheila ali
— apontou a atendente na sala de recepção —, e te encontro ali fora, OK?
— OK.
Assim que Vanessa saiu, Peter correu até a Sheila:
— Você tem de me salvar nessa, anjinho! — Usou um tom de súplica,
as mãos unidas.
— O que houve, bonitão? Onde é o incêndio?
— No meu peito, porque eu sou um homem apaixonado que não quer
se afastar da mulher da sua vida! — Dramatizou, as mãos agora sobre o
coração.
— A bonitona ali é a da semana? — Observava Vanessa pela janela.
— Essa não é da semana, Sheila! É a mulher da minha vida!
— Exagerado… — cantarolou a outra —, mas no que posso te
ajudar?
— Aaron está vindo para uma sessão e é a última do dia. Ligue e diga
que preciso desmarcar. Explique a situação, ele é homem, vai entender.
— OK, farei isso…
— Obrigada, loirona! Te devo essa! — Tascou-lhe um beijo na testa,
saindo em seguida.

Antes de sair ao encontro da morena, parou um instante à porta, para


admirar aquela mulher. Era linda demais! Seu tom de pele, bronzeado
naturalmente, os longos cabelos que voavam ao vento… Correu uma mão
pela barba. Era incrível como ela o impressionava!
— Ainda doendo? — perguntou ao parar ao seu lado, quando a notou
tocando a tatuagem.
— Ah, não! Não dói mais. É só que eu não acredito que a tenha feito.
— Pretende fazer outras?
— Olha… a tentação é grande. Não pretendo me fechar como você!
— Riu e apontou para os braços dele, imaginando como elas seriam sobre
seu peito, suas costas. — Mas, gostaria sim de fazer outras. É só que… eu
tenho uma mãe meio… retrógrada e… bom, já não temos a melhor relação.
— Seu tom era desanimado. — Outras tatuagens, principalmente onde ela
possa ver, com certeza seriam um problema.
— Entendo. Minha mãe gostava. Só nunca teve coragem de fazer.
— Eu cheguei a pensar que também não faria. — Ficou pensativa. De
alguma forma, sua última discussão com sua mãe fora a gota d'água. Se não
havia feito nenhuma antes, fora até por respeito à Susan. Porém, estava
óbvio que a mesma não nutria pela filha qualquer consideração. Assim, por
que se poupar de algo que sempre sonhara? — É… acrescentava, quase que
para si mesma. — Eu farei outras…
— E eu espero ter exclusividade sobre sua pele…
Vanessa quase se sobressaltou e deu com um olhar preguiçoso dele
sobre seu corpo.
Ela riu:
— Eu gostei do seu trabalho. Acho que é possível que tenha essa
exclusividade. — Empurrou-o com um ombro.
— Fico feliz.
O silêncio caiu entre eles, mas não era nada desconfortável. Havia um
clima de cumplicidade, algo raro. Vanessa sentia-se bem ao lado dele.
— Eu acho que está rolando algo entre sua prima e meu amigo… —
ele disse, depois de algum tempo, mal escondia um sorriso maroto,
enquanto adentrava novamente no estabelecimento.
— Se sabe — ela o seguia —, por que está indo interromper?
— Não é óbvio? Por que isso vai irritar muito o Bennett… —
Esfregou as mãos uma na outra, com ar diabólico, pronto para bater à
porta.
Vanessa mordeu o lábio para segurar o riso.
Peter esmurrou a porta:
— Hey, pequena! Estou faminto aqui! Você vem ou não? — Quase
colou o ouvido à madeira para ouvir o que se passava lá dentro. Então a
porta foi aberta, abruptamente. — Oh! — Era a exclamação forçada do
tatuador, apontando de um para o outro, enquanto sorria docemente. —
Interrompi algo? — fingiu arrependimento.
— Sim! — Bennett respondeu…
— Não! — … ao mesmo tempo que Diana, que sorriu e baixou sua
cabeça.
Peter riu, assim como Vanessa, alguns passos atrás dele no corredor:
— Eu resolvi que vou com vocês! Peter não é um homem de
confiança! — balbuciou conduzindo Diana pela porta a fora, uma mão
pousada em suas costas de forma possessiva. Peter sabia que ele estava
marcando território. Entretanto, o alvo dele já estava escolhido…
Peter bufou um lamento ofendido:
— Você fere o meu coração, cara! O que as meninas vão pensar de
mim?
— Que você é um pervertido?
— OK. Talvez um pouco, mas eu sei me controlar. — Uma vez de
volta à calçada, Peter apontou. — Bom, a lanchonete é ali. Mas, tenho logo
de avisar que lá serve comida de verdade, nada natureba ou cheia de
frescura, OK? — comunicou, debochado.
Vanessa se fez de ofendida:
— Está nos chamando de frescas?
— Isso dói, sabia? — Diana emendou. — E, com a fome que estou,
eu comeria um leão! — disse, começando seu caminho.
O lugar era bem modesto, mas, o aroma de hambúrgueres e frituras
abriu o apetite de Vanessa. Estava indiferente aos olhares curiosos que
despertava. Seu foco estava em Peter, aquele homem enorme que fazia
questão de ficar muito perto dela. O cheiro másculo que emanava dele…
Não sabia identificar se era um perfume ou um cheiro natural dele, mas…
era inebriante.
Fizeram os pedidos, hambúrgueres e fritas, como não poderia deixar
de ser. A garçonete jogou todo seu charme para os homens na mesa,
conversando com eles com intimidade. Logicamente ignorando as garotas.
Peter era muito engraçado. Era impossível estar perto dele sem rir. No
momento, contava sobre um cliente gay, que exigiu que fosse ele a lhe
colocar um piercing íntimo:
— Tipo, cara, eu sou um profissional e posso fazer isso! Mas o sujeito
me olhava como se quisesse meu corpo nu! — ele fingiu estremecer,
arregalando seus olhos esverdeados.
Vanessa riu, mordendo a ponta de um dedo, e olhou para Diana como
quem dizia: Eu posso entender o cara!
Ela estava de fato encantada com o tatuador. Ele não era discreto em
demonstrar que também tinha interesse.
— E eu acho que o… Cliente gostou muito do que Peach fez com ele
— Bennett acrescentou.
— Peach? — Vanessa inquiriu, confusa. Era a segunda vez que
entendia aquela palavra.
— Não, meu anjo! — Peter fulminou o amigo com o olhar e tomou a
mão dela entre as suas — É Pitt! Você não ouviu direito! Não é mesmo,
cabeção?
Bennett riu, mas não se corrigiu:
— Bom, o fato é que Peter deve tê-lo tratado com muito carinho, pois
ele regressou dias depois para uma tatuagem. Onde mesmo, amigo?
Peter fechou a cara:
— No traseiro! — murmurou contra vontade.
Todos riram.
— Mas, dessa vez, o meu amigo Bennett veio em meu socorro!
— Bom, eu tinha de fazer algo! Você parecia desesperado!
— Pois é! O cara era lindo, todo malhado! Eu não sei por quanto
tempo eu resistiria, entende? — Ele revirou os olhos.
— E como você o ajudou? — Diana quis saber.
— Eu…
— Ele fingiu ser o meu macho! — Peter soltou e depois lançou um
beijo para Bennett, que fingiu o pegar no ar.
— O que? — Vanessa bufou.
— Bom, eu tinha de salvar o meu amigo! Deus sabe o que ele estaria
fazendo agora, se eu não interferisse! Talvez ouvindo Lady Gaga, Barbra
Streisand, Madonna…
— Nada contra, mas… Abençoado seja o meu bom Heavy Metal!
— E como exatamente… foi isso? Eu juro que estou tentando
entender a dinâmica da situação! — Diana insistiu.
— Bennett ficou por ali, como se estivesse marcando o território. Ele
sugeriu que trocássemos um beijo, mas eu achei que isso não era
necessário… — deu de ombros.
— Claro, era a desculpa perfeita para beijar essa sua boca bem-feita!
— O outro bufou.
Peter voltou a lhe endereçar outro beijo:
— Mas, a pior parte vem agora. — Ele quase se engasgou com a
bebida ao relembrar. — O cara enfim bateu real, disse que estava muito a
fim de mim… Bom, eu não o condeno… — Torceu os lábios para baixo,
abrindo o peito para se mostrar. — Afinal, quem resiste?
— Sim! — Bennett correu uma mão sobre o peito dele.
— Hey! Olhe, mas não toque! — O outro se esquivou. —
Prosseguindo. Ele disse que estava mesmo a fim de mim, que não era
ciumento e que não se importava se Bennett viesse conosco para um bar de
público seleto…
Bennett gargalhou muito alto agora:
— Cara, ele deve mesmo ter te achado muito gay!
— Eu juro! Não lhe dei qualquer esperança! E eu sempre deixei claro
que meu lance era mulher! — Aproveitou para jogar um braço sobre o
encosto da cadeira de Vanessa, sugestivamente.
— Pobrezinho, você quebrou o coração dele, então?
— Eu tive de fazer, meu bem! E perdi um bom cliente, mas tinha de
ser sincero sobre minhas convicções. — Riu. — E o cara era bem bonitão,
não deve ter ficado sozinho por muito tempo.
A conversa rolou animada, como se fossem um grupo de amigos de
longa data.
Vanessa não sabia se era por conta de sua fome, mas a comida do
lugar acabou por ser muito boa. A cerveja estupidamente gelada, como ela
gostava. Notou que ele havia pedido um refrigerante.
— Você já sabe que eu sou tatuador, bebê, mas agora eu quero saber
mais sobre você. — Peter se voltou para Vanessa, enquanto Bennett e sua
prima pareciam num mundo à parte.
— Bom… Meu nome é Vanessa… — ela começou, toda charmosa,
enfiando uma frita na boca dele, que apoiava um cotovelo na mesa para
melhor observá-la.
— OK, isso eu já sei. Que aliás, é um nome lindo, para uma mulher
linda.
— Tenho 27 anos e sou divorciada…
— Uou, agora eu fiquei surpreso. Por duas razões. Puta que pariu,
você se casou cedo, caralho!
Ela havia notado que ele falava muito palavrão, mas, achou que isso
fazia parte de seu charme. Um homem meio do estilo cru. Másculo.
— E outra. Como um homem teve a oportunidade de te prender a seu
lado pela eternidade e te deixou escapar?
— Pois é… — ela zoou, deu um gole em sua cerveja.
A verdade era que não queria olhar nos olhos dele naquele instante.
Os motivos de seu divórcio… Bom, eles ainda doíam demais:
— E eu tenho uma pequena produtora junto com minha prima…
— Ah, espera! — Peter a interrompeu, as duas mãos abertas diante do
corpo. — Então você é rica, vai poder me sustentar quando a gente se
casar.
Vanessa gargalhou tão alto que ficou com vergonha em seguida,
tapando a boca e olhando ao redor:
— Assim eu nunca mais serei explorado pelo Bennett aqui. — O
outro pouco se importou com ele, ocupado com Diana. — Eu estou falando
de você, babaca! — Peter bateu no ombro do amigo que docemente o
mandou se foder.
— Esqueça, querido. — Ela se recompôs, jogando os cabelos para
trás. — Eu não nasci para sustentar marmanjos e tão pouco desejo me casar
novamente.
Ele montou seu sorriso mais sexy, estendeu o braço no encosto da
cadeira dela de novo e se aproximou mais:
— Isso era porque você não tinha me conhecido ainda.
O homem estava tão perto que ela podia sentir seu hálito morno:
— Você é bem convencido, certo?
— E não é para ser? — Apontou para si mesmo.
Não se fazendo de rogada Vanessa o examinou com minúcia, então
aproximou os lábios de seu ouvido, dizendo com voz macia:
— É… parece que você tem um bom material aí… — Pretendia se
afastar, mas ele a manteve no lugar, segurando seu pulso.
— Você não viu nada ainda, morena — sussurrou de volta, a boca
muito perto de seu pescoço.
Então, estavam muito de perto, ele com seus olhos fixos na boca dela.
Se tentasse beijá-la ali, estava perdida, porque talvez não resistisse. Queria
muito descobrir o quão bom era o beijo dele. Porque devia ser. Impossível
um homem tão sexy beijar mau. Mesmo que fosse o caso, estava tão
necessitada de um, que ela poderia fazer todo o trabalho.
— OK… — Ela limpou a garganta e tratou de colocar um pouco de
distância entre os dois… mas não demais, ainda mais quando ele colocou
uma mão sobre seu joelho. — Há quanto tempo trabalha com Bennett?
— Já há quase dez anos.
— Sempre trabalhou com tatuagens?
— Não. Na verdade, era mecânico antes de ir trabalhar na In the Skin.
Fazia uma ou outra tatuagem em amigos. Eu conheci o Bennett na oficina,
ele viu algumas tatuagens que eu tinha feito em mim mesmo, gostou e quis
saber quem era o artista.
— Espera! Você se tatuava? — espantou-se ela.
— Claro! Eu me usava de cobaia. — Mostrou-lhe algumas de seus
desenhos nos braços, em ambos, inclusive.
— Você tatua com as duas mãos?
— Sim… — aproximou-se novamente, murmurando. — Tenho mãos
muito habilidosas.
Vanessa apenas comprimiu os lábios e colocou uma mecha de cabelo
atrás da orelha. Esperava ter coragem de experimentar daquelas mãos mais
tarde…
— Então… — Ele voltou para seu lugar. — Bennett quis fazer um
teste, eu o tatuei e logo estava contratado. Eu nunca esperei viver de
tatuagens, mas com certeza dá mais grana que como mecânico.
De canto de olho, notou que Diana já havia bebido um pouco demais
para ficar um pouco mole. A prima não era muito resistente ao álcool.
Do nada, Bennett levantou-se, despediu-se e partiu, deixando todos
meio atônitos na mesa, inclusive Diana. Isso ficou mais óbvio quando ela
saiu, não tão firme das pernas, atrás dele.
— O que será que aconteceu? — Vanessa inquiriu, observando a
prima deixar o lugar, preocupada.
— Bennett é meio estranho. Tem medo de mulher.
— Eu acho que vou atrás dela… — Fez menção de se levantar, mas
Peter a impediu.
— Espera. Olha. — Apontou pela janela. — Ela está com Bennett.
Acho que vão se entender…
De repente, ele a levantava do chão, carregando-a em seus braços,
enquanto ela se debatia…
— Eu não acho que aquilo seja se entender… — De novo fez menção
de se levantar e ir atrás da prima.
— Provavelmente ele vai levá-la em casa. — Segurou-a no lugar de
novo. — Fique tranquila. Bennett é um cara de confiança.
— Como eu posso confiar? Acabei de conhecer vocês dois agora há
pouco.
— Eu te entendo. É que não estou preparado para te deixar ir ainda…
— lamentou ele, mas, logo em seguida se colocava de pé. — Mas, você está
coberta de razão. — deixou algumas notas sobre a mesa e esperou que ela
recolhesse suas coisas e da prima que haviam ficado para trás.
Seguiam devagar, atrás dos dois. Era óbvio que estavam voltando
para a In the Skin. Logo seu celular acusava uma mensagem recebida.

“Esse palhaço vai me levar para casa, porque, segundo ele, tem muito
álcool no meu sistema. Achei que teria uma noite de sexo, mas o idiota
está me tratando como se fosse meu irmão mais velho!”
Vanessa mordeu os lábios, segurando um riso:
— Acho que está tudo bem com eles… — logo a pick up cruzava
com eles e Bennett buzinava brevemente. — Ele só a está levando para casa
mesmo.
— Eu te disse que não precisava se preocupar.
Logo estavam em frente a In the Skin:
— Onde está seu carro, morena? — Ele procurou ao redor.
— Então… Eu não dirijo — ela comunicou.
— Não? — espantou-se Peter. — Isso é novidade nos dias de hoje.
— Pois é, eu tentei, mas, eu tenho muito medo e pronto! Admito!
— Tranquilo, morena. Eu até fico aliviado com isso, porque assim,
poderei te oferecer uma carona.
— Não precisa. Eu posso pegar um táxi… — Vanessa fez charme.
— De jeito nenhum! — emendou rapidamente. — E acha que eu
perderia a oportunidade de passar mais um tempinho ao lado de uma garota
como você?
Ela sorriu, disfarçadamente. Era tudo o que queria ouvir:
— Se você insiste…
— Sim, insisto. Por aqui, por favor. — Apontou para o
estacionamento da In the Skin. — E então, você pode conhecer minha
belezinha. — Apontou para seu carro.
O queixo de Vanessa quase caiu. Era uma máquina incrível:
— Uau! Eu não entendo de carros, mas esse com certeza me parece
uma antiguidade!
— Sim! Um 1969 Mustang Fastback GT, totalmente restaurado por
mim! — acrescentou com orgulho, alisando o capô do automóvel laranja
com três faixas pretas que o cruzavam, da frente até a traseira.
Ela contornou o carro, boba:
— Meu Deus, ele tem nome e sobrenome!
— Sim, mas você pode chamá-lo e GT 69 e está tudo certo.
— Quanto tempo levou para deixar essa beleza assim?
— Foram muitos anos! Eu comprei, praticamente uma carcaça e fui
refazendo todo o resto.
— Olha, essa é uma máquina que um dia eu gostaria de dirigir!
— Quem sabe um dia eu te dê algumas aulas?
Torcendo as mãos, nervosa somente com a hipótese de dirigir uma
raridade como aquela:
— É só um sonho, amigo! Acabei falando um pensamento em voz
alta. Eu não me imagino dirigindo carro algum nessa vida!
— Talvez você não tenha encontrado o instrutor certo. — Fez um
gesto amplo para si mesmo.
— Claro! — Ela não o estava levando a sério. — Você diz isso
porque nunca me viu atrás de um volante!
— Não é possível que você seja assim tão ruim! — Estava recostado
na lateral do capô, os braços trabalhados cruzados, assim como seus
calcanhares. Suas coxas fortes destacadas na calça preta. Ele exalava
masculinidade crua.
Ela teve de se deter um instante para examiná-lo. Então se lembrou
que ele dissera algo e saiu de seu transe:
— Você não faz ideia!
— Bom, por hora eu posso te levar para casa. — Abriu a porta do
passageiro para ela, fazendo uma reverência.
Vanessa passou por ele, muito perto, encarando-o por sobre um
ombro. Peter estreitou os olhos. Tentou se sentar o mais comportada
possível, mas o carro baixo e a saia curta não eram uma boa combinação.
Assim, uma boa porção das coxas roliças ficaram expostas. Ela notou um
sorriso satisfeito nos lábios dele, pouco antes de fechar a porta. Também
acabou sorrindo. Estava, descaradamente o seduzindo.
Quando ele acionou o motor, o som rouco e alto fez a pele dela
arrepiar. Encarou-o surpresa e esse deu com um sorriso orgulhoso. Vanessa
meneou a cabeça e revirou os olhos. Homens e seus brinquedinhos!
Enquanto percorriam o trajeto que lhe havia indicado, seus olhos se
prenderam na paisagem da janela. De repente, perguntou-se se não estava
indo rápido demais… Um frio se instalou em sua barriga. Acabara de
conhecer o cara… bom, ao menos sua personalidade. A verdade era que
estava procurando um pouco de diversão descompromissada. Acontece que
ela não era desse tipo. Em quase um ano de divórcio, não tivera tanta
necessidade assim de um homem. No fundo, como uma idiota, só esperava
por um. Porque Peter chamara tanto sua atenção, era quase um mistério,
fora ele ser lindo, bem humorado e um gostoso do caralho.
Ainda assim, não sabia se estava pronta para dar um passo fora de sua
bolha. Dessa forma, quando o carro parou diante de seu prédio, ela era um
poço de confusão:
— Wow, você mora muito bem!
— Não tenho do que reclamar.
Peter tinha um meio sorriso nos lábios, agora enquanto a examinava
com olhar lascivo.
Sentiu de novo um frio na barriga, mas esse diferente do outro. Era
antecipação. Sua boca estava seca e de repente, sentia-se uma adolescente
prestes a ter seu primeiro beijo.
Porém, quando ele se curvou em sua direção, ela colocou o dedo
indicador sobre os lábios dele e impediu o beijo. Sorriu ao notar que ele
fechou os olhos e seus ombros se retesaram com um suspiro frustrado.
— Nos vemos dentro de uma semana…
— Nos vemos? — foi a pergunta animada dele.
Vanessa quase pode ver o brilho nos olhos deles e seus dentes brancos
à vista, na penumbra do interior do carro:
— E não? Você não disse que queria ver a tatuagem, se precisaria de
retocar…
— Ah… Isso. Caralho, sim!
Ela teve de conter uma gargalhada. Então se virou para deixar o
automóvel, ouvindo outro suspiro frustrado dele.
Vanessa parou com a porta aberta, mordendo os lábios e os dedos
tamborilando na maçaneta. O que estava fazendo? Queria beijar aquele
homem e ponto! Inferno, seria só um beijo!
— Foda-se, eu não consigo esperar uma semana! — assim dizendo,
bateu a porta, fechando-a de novo, voltou-se para ele…
— Graças a Deus por isso! — Ouvi-o balbuciar entredentes, pouco
antes de tomar seu rosto entre as mãos, exigindo o beijo que passara a tarde
toda desejando.
Peter devorou seus lábios de forma urgente, sugando, já invadindo
com sua língua, testando o território. Uma vez e outra e outra. Ele sabia que
ia se perder, uma vez que provasse daquela boca cremosa, aveludada. Era
receptiva, imitando seus movimentos, dando pequenas mordidas ardidas no
processo. Os pelos da nuca dele se eriçaram e seus dedos bagunçaram a
massa luxuriante castanha dos cabelos dela.
Logo foi puxada para os braços dele, sem qualquer hesitação. O
abraço não parecia suficiente para Vanessa, então, sem se importar que sua
saia estivesse subindo, foi parar sobre o colo dele, de pernas abertas.
Quando seu sexo úmido sentiu o contato com a crista firme, ela gemeu e
mordeu os lábios dele mais uma vez.
Peter não perdeu tempo e espalmou as mãos grandes sobre as nádegas
macias, incitando o movimento contra si:
— Porra, morena! Você é gostosa demais! Eu desejei te ter assim logo
que coloquei meus olhos sobre você!
Vanessa sorriu, sensualmente, fazendo o mundo dele parar por um
segundo, voltando a beijá-lo.
Seria a hora de ela confessar que desejava aquilo, desde que o vira
quase foder uma garota num beco? Achou melhor não. Deixou a língua dele
puxar a sua, sugando. Obedeceu aos comandos das mãos grandes e rebolou
sobre seu colo, arrancando uma maldição baixinha dele.
Ela sabia que gozaria daquele jeito e precisava daquilo.
Quando ele subiu sua blusa, com movimentos bruscos, sem pedir
qualquer permissão, ela gemeu, surpresa. Logo ele tirava um seio de dentro
da taça do sutiã, sentia seu peso na mão, brincando com botãozinho escuro
com o polegar e, como se não pudesse suportar mais não o provar,
umedeceu os lábios e então tomou o mamilo em sua boca, de forma gulosa.
Ela quase se perdeu, um longo hmmm ecoando no interior do carro.
Não era tão tarde e qualquer um que passasse na rua, poderia vê-los.
No entanto, nenhum dos dois se importava.
Ele logo alcançou o outro seio, sugando, mordiscando, a barba
fazendo uma cócega gostosa em sua pele:
— Vanessa, eu posso gozar nas minhas calças, só fazendo isso. — Ele
juntou os seios, em suas mãos e brincava com eles.
— Oh, Peter! — gemeu, as costas curvadas para trás, para lhe dar
mais acesso, mãos espalmadas nas coxas fortes, concentrada em esfregar o
ponto certo sobre o eixo dele.
Peter abraçou forte sua cintura, cadenciando ainda mais seus
movimentos, bruto, como se precisasse de mais e mais.
Vanessa rendeu-se, abraçando-o, seus cabelos numa bagunça,
cobrindo o rosto dele que tinha os dentes cravados na lateral de seu seio.
Ela sentia dor na medida certa para ficar ainda mais ligada.
O cheiro dele, as coisas sujas que ele dizia, como ordenando que ela o
cavalgasse a levaram para a borda.
Quando o êxtase a tomou, seu corpo estremeceu e então ela ficou
imóvel, um grito preso em sua garganta, enquanto apreciava cada nuance de
seu quase transe. Então, sorriu, satisfeita e boba, enquanto Peter a acalmava
com beijos ao longo de seu pescoço e as mãos grandes deslizando de cima
para baixo em suas costas.
Minutos depois, tentando dar uma ordem nos cabelos e em sua blusa,
Vanessa evitava o olhar dele, com um sorriso envergonhado:
— Eu não acredito no que eu fiz…
— No que nós fizemos, morena. — A voz dele era baixa, rouca. —
Eu estive bem presente o tempo todo.
Ela abriu a porta do motorista e desceu do colo dele,
desajeitadamente, agora ocupada em voltar sua saia para o lugar. Então
fechou a porta e se curvou diante dela, para ficar na altura dos olhos dele:
— Achei que tinha dito que gozaria nas calças, do jeito que…
estávamos brincando.
Peter fechou os olhos e fez um gesto com os dedos:
— Faltou muito, muito pouco! Mas, sou um garoto grande e consegui
me controlar… — observou o decote que ela não tentava cobrir. — Eu tive
de ser muito forte!
— Sinto muito por não… resolver o seu problema…
— Essa noite era sobre você. Espero que haja oportunidades para
você me retribuir…
Vanessa sorriu, do jeito que fazia o coração dele disparar e veio lhe
roubar um último beijo, antes de partir rebolando provocativamente.
Peter ficou observando até que ela sumiu no interior do prédio. Então
suspirou e correu as duas mãos pela barba. Aquela morena tinha bagunçado
seu mundo, em muito pouco tempo. Não conseguiria sobreviver àquela
noite, duro como estava. Precisava, rapidamente correr para casa e bater
uma, pensando nos seios generosos e deliciosos de Vanessa, assim como em
seu cheiro e nos sons que ela fazia, enquanto esfregava sua vagina molhada
contra seu eixo. Salivou. Como esperar mais uma semana para ter algo
parecido? Pensou que talvez pudesse ligar para Lilly e resolver seu
problema… mas, subitamente, seu interesse na garota parecia ter sumido.
Sorte ter trocado telefones com a morena. Quem sabe ela não ligasse
num momento de carência? Ou ele poderia persuadi-la…

Era terça-feira e Vanessa entrou no escritório de Diana sorrindo da


última mensagem enviada de Peter. Ele disse que possivelmente devia ter
machucado um nervo no encontro com ela, pois esse permanecia rígido e
dolorido, ainda teve a cara de pau de perguntar se ela queria fotos. Apenas
respondeu uma carinha com os olhos tapados. Sabia bem de que nervo ele
falava.
— Vanessa! — foi o cumprimento meio espantado de Diana, assim
que a viu. — Já chegou? Está tudo bem?
A outra estranhou e estacou, olhando desconfiada para a prima:
— Tudo certo… Por que?
— Ah… não! Nada! É só que não a vi chegando. Já tomou café? —
Empurrou-a para a cozinha.
Diana estava estranhamente falante aquela manhã. Parecia que queria
manter Vanessa distraída:
— Você está especialmente agitada essa manhã, Di. O que houve?
Bennett deu sinal de vida? — Acabou por se arrepender imediatamente de
dizer isso, porque a outra se encolheu.
— Nada! E ele sabe onde me encontrar. Só não quer mesmo, mas ele
deixou claro que era só sexo. E estou tentando não criar expectativas,
mas… — suspirou profundamente com a caneca de café fumegante entre as
mãos. — É que a noite foi tão incrível! Eu achei que ele voltaria para uma
segunda rodada. Acho que me superestimei! — Deu de ombros, torcendo os
lábios. — Mas, e quanto a você e Peter? Pretende revê-lo?
Vanessa sorriu, sentando-se, e rolando uma mecha de cabelo em um
dedo:
— Eu ainda não sei, mas… É possível. O cara é quente! Faltou pouco
para não o arrastar para meu apartamento! — confidenciou.
— Ele realmente mexeu com você, não foi? — A pergunta soou um
tanto ansiosa.
— Sim! Muito mais do que eu gostaria de admitir. Deixou meus
hormônios atiçados… Ah, que homem! — Abanou-se e revirou os olhos.
— Faz tempo que não te vejo assim por um homem e isso me anima.
Talvez você esteja saindo do luto pós-divórcio.
Foi a vez de Vanessa dar uma murchada, apoiando os cotovelos sobre
a mesa e encarando os dedos:
— Eu estou confusa. Não sei direito o que pensar. Essa é a verdade. E
é verdade também que nenhum outro homem havia mexido comigo
desde… do ex — bufou. — Mas… eu não sei se Peter é o cara certo e…
Ah, o que estou dizendo? Cara certo para quê, exatamente? Quem garante
que ele não seja como o Bennett? — fez um gesto em direção a prima. —
Que, assim que conseguir o sexo, não vai desaparecer do mapa? E será que
não é isso mesmo que eu quero? Uma foda sem compromissos? E… bom…
nós temos de admitir, Di. Eles são muito diferentes de nós. Como algo
assim funcionaria?
Diana vinha sentar-se frente a ela:
— Eu entendo o que quer dizer. Pertencemos a mundos diferentes
mesmo e acho que foi isso que despertou o nosso interesse, sabe? No
entanto, o nosso problema é que saímos de relações estáveis e longas. Não
sei se estamos prontas para esse tipo de aventura.
— Ah, mas eu queria uma provinha dessa aventura. — Vanessa
adicionou, sorrindo de canto de boca. — Senhor, e que aventura! Quando eu
penso naquele homem… — Voltou a se abanar. — Eu sinto uns calores!
A outra jogou a cabeça para trás e gargalhou:
— Eu entendo do que fala! E como entendo! Mas, falando sério. Eu
gosto de te ver animada por outra pessoa. Talvez… isso possa significar que
o que sentia por… pelo ex esteja diminuindo.
Dando um longo suspiro, Vanessa ficou observando seus dedos:
— Eu gostaria que fosse isso. Mesmo! Seria como me soltar de
amarras. Mas eu não sei se um dia serei livre de verdade…
O dia foi corrido e ela não mais pôde responder Peter. Estavam presas
na produção de um novo comercial e as coisas só davam errado. As duas já
estavam a ponto de perderem as cabeças de preocupações! E havia a forma
como Diana a espreitava o dia todo, cheia de cuidados… Aquilo a estava
preocupando.
Já era quase noite quando, enfim, tudo se encaixou e o comercial
andou. O restante das gravações seria feito no dia seguinte.
Exaustas, as duas se jogaram no sofá do escritório de Diana,
respirando aliviadas:
— Que dia infernal!
— Nem me fale! Achei que ia enlouquecer! — Diana tomou o último
gole de água de sua garrafinha. — Que acha de pedirmos pizza e cervejas
essa noite? Merecemos!
— Ah, não! Eu só quero minha cama!
— Vai ficar sozinha essa noite? — foi a pergunta meio alarmada da
outra.
— Agora chega, Diana! — Vanessa explodiu, assustando a prima.
— O que foi?
— Você passou o dia cheia de dedos comigo! Me olhando como se
soubesse de algo que eu não sei! Desembucha! Fala logo o que está
acontecendo de uma vez! — interrompeu-a quando essa, obviamente vinha
com outra desculpa. — Sem rodeios, por que eu não sou idiota!
Soltando um suspiro e afundando-se no assento, Diana encarou sua
garrafinha vazia, como se fosse a coisa mais importante de sua vida no
momento:
— É… pelo jeito não chegou a você mesmo… — falou, quase que
para si mesma.
— O que não chegou?
— Você disse sem rodeios, então, lá vai. — Virou-se de frente para a
outra e a encarou, séria. — Jacob e a outra garota lá terminaram. E parece
que é definitivo.
Vanessa ficou muda. Sua expressão murchou. Deve ter empalidecido,
pois Diana a fitava preocupada:
— Eu sabia que essa merda ia mexer com você. Justo agora que se
animou por outra pessoa!
— Como você soube disso? — perguntou, quando enfim recuperou a
voz.
— Sabe que minha mãe e a mãe do Jacob são amigas. E mamãe me
ligou logo cedo, para investigar se você já sabia.
— Mas… como sabe que é definitivo?
— Parece que brigaram muito feio. E que Jacob disse que não tinha
volta.
Vanessa puxou o lábio inferior entre os dentes. Sua cabeça estava
girando. Parecia que estava voltando à estaca zero. Quando sua vida parecia
pegar um rumo… Inferno de coração que estava se enchendo de esperanças
novamente! E ela odiava isso!
Se eles haviam terminado, podia bem…
Colocou-se de pé e rumou para a porta, mas parou assim que a prima
a chamou:
— Você está bem?
— Eu só preciso ficar um pouco sozinha, Di.
— OK…
Na solidão de seu escritório escuro, tentou analisar o que ainda sentia
por Jacob. Como Diana muitas vezes lhe disse, parecia mais uma obsessão
que amor. Enquanto estavam juntos, era como se precisasse dele para
respirar. Dependência… E, saber que agora ele estava de novo sozinho…
Inferno, sentia tudo voltar com força, atingindo-a como um trem!
O celular acusou uma mensagem. Era de Peter… Ela escondeu a
cabeça entre as mãos. O que tivera nos braços dele tinha sido muito bom!
Havia feito com que se sentisse viva novamente. Mas… não sabia se havia
um futuro ali. Nem mesmo sabia o que queria.
Jacob era… segurança… Talvez.
Sabia que estava se antecipando, criando um milhão de expectativas,
no entanto, o que ela e o ex-marido haviam vivido, era muita coisa. Quem
sabe ele tivesse percebido isso? Apertou ainda mais a cabeça entre as mãos
e o sorriso fácil de Peter lhe veio à mente. O sabor de seu beijo, o jeito
como deixava sua pele ardendo de desejo…
Levantou-se e começou a andar de um lado para o outro. Sua cabeça
ainda girava num turbilhão.
Não podia arriscar um futuro por alguém que ela nem sabia se a
levaria à sério! E lá estava ela de novo se iludindo! E seria uma grande
mentirosa se não admitisse que esperava que Jacob a procurasse. Tinha
certeza de que eram almas gêmeas e ele poderia ter redescoberto isso…
A verdade era que, apesar de saber que ele estava com outra, Vanessa
ainda tinha esperanças de que um dia acordasse e enxergasse que ela era a
mulher de sua vida… A despeito de tudo que lhe dissera quando
terminaram, depois de mais uma crise de ciúmes dela. Palavras que nunca
havia ousado repetir. Nem mesmo para Diana. Cada palavra ainda estava
vívida em sua mente e doía, sangrava cada vez que as recordava. Tentava se
apegar ao fato de que ele estava bêbado, mas… Precisava parar de tentar se
enganar. Ele quisera dizer todas aquelas palavras e suspeitava de que as
tivesse guardado por muito tempo. E se odiava cada vez mais, por, mesmo
após tudo isso, sentir que precisava tanto dele.
Vanessa nem sempre fora o poço de insegurança e ciúmes na qual
havia se transformado. Apenas quando deixara sentir-se uma mulher de
verdade era que tudo havia mudado… Um lado dela havia morrido naquele
dia. O que doía era que… as palavras ditas pelo ex faziam todo sentido na
cabeça dela. Isso a rasgava por dentro. Vivia em uma eterna luta diária para
tentar não sucumbir. Sob a carapuça da alegre Vanessa, batia um coração
despedaçado…
Sentia-se impotente, porque mesmo sabendo que muito de sua tristeza
era culpa das palavras dele… como uma masoquista, ainda ansiava por
aquele homem. Jacob era o típico cara perfeito. Rico, bonito, esportista e…
uma escolha que sua mãe aprovava. Fingia que isso não importava, mas
sabia que, no final, pesava na balança.
Com a esperança de ser procurada pelo ex… Vanessa parou de
responder a Peter…
— Que cara é essa, Peter? — Crystal perguntou da porta, vendo o
homem pensativo, encarando o celular.
Esse então levava uma mão ao peito e fazia uma careta:
— Meu peito está doendo…
— É infarto? — A outra riu e ele a seguiu.
— Infelizmente não. Acho que é coração partido mesmo. Acho que
levei um fora…
A risada de Bennett, vindo de seu escritório os alcançou e Peter
fechou os olhos:
— Peach perdeu seu encanto!
— Ah, cara, vá à merda! Respeite o meu sofrimento!
— Não disse que ela era a mulher da sua vida?
— Ela é! Só que…
— Acho que ela não concorda com isso, babaca!
— Babaca aqui é você, que teve uma garota como a pequena, está
doido por ela e fica com essa frescura de “não quero me envolver!” — Ele
fazia gestos afetados, para imitar o amigo que agora estava sério.
— Vai se foder, idiota! Ao contrário de você, eu deixei minha garota
sedenta por mais…
— Minha garota! — Peter riu alto. — Você mesmo cansou de dizer
que ela não é sua garota!
— Você entendeu o que eu quis dizer, palhaço!
Crystal olhava de um para o outro, mexendo o café recém adquirido:
— É sério que vão ficar medindo quem tem o maior pau bem aqui, no
meio do salão?
— Sou eu e ele sabe disso! — Peter puxou a camiseta, erguendo o
queixo.
— Mas não foi capaz de segurar a “mulher da sua vida” com esse
pauzão! — Mostrou dedo do meio e afastou-se para seu escritório.
— Filho da… — O outro seguiu em seu encalço e parou à porta. —
Mas, eu estava pensando aqui… Já que parece que a morena já era… E
você já não tem interesse na pequena… — ele notou que tinha a atenção do
outro, quando esse, que estava de costas, enrijeceu os ombros. — Acho que
vou investir…
Ele saltou longe, antes que um pesado livro o acertasse:
— Chupa meu pau, idiota!
A gargalhada dele só durou até ter a porta de seu estúdio fechada. Já
havia perdido a noção de quantas vezes havia consultado o celular nos
últimos dois dias. Não havia nada lá. Tudo estava indo bem, ela ria de suas
mensagens, retribuía suas cantadas e de repente… silêncio. Peter havia
relido todas as mensagens enviadas, ouvido todos os áudios, para encontrar
onde havia errado, sem encontrar nada.
Tinha de admitir que seu orgulho estava muito ferido. Assim como
outra parte de seu corpo também doía, só de pensar nela. Doía ainda mais
ao notar que nunca teria chance de conhecer a fundo aquele corpo cheio de
curvas que lhe tirava o sono. Não provaria mais daqueles lábios carnudos e
deliciosos. Não teria qualquer parte da anatomia dela em sua boca…
Correu as mãos pela barba. Caralho, a garota tinha mesmo sacudido
seu mundo e então lhe enfiado um belo pé na bunda. Bufou um riso
inconformado e triste e caminhou até o notebook onde ficava a playlist do
lugar e colocou Pink Floyd, Wish you were here para tocar a todo volume e
gritou do meio da sala:
— Eu estou sofrendo, então, todo mundo vai sofrer comigo!
Algumas cabeças se voltaram para observá-lo. Crystal e Sheila
bufaram um riso na recepção e Peter e as encarou com um olhar estreitado.
Elas se encolheram e fizeram gestos de rendição, sumindo da frente dele.
— Pequena! — surpreendeu-se ao notar a garota entrando meio
ressabiada na loja. — Que surpresa tê-la por aqui de novo! — Peter falou
num tom bem alto e, logicamente Diana entendeu sua intenção, porque
sorriu e estreitou os olhos.
— O homem que eu procurava! — disse batendo em seu peito.
— Decidiu fazer uma tattoo e vai me dar a honra de desvirginar essa
pele? — Correu uma mão por seu ombro e descendo por seu braço,
enquanto fazia um gesto rápido com a cabeça. Notou que ela percebeu que
Bennett os espreitava do fundo do corredor, pois comprimiu os lábios para
segurar o riso. Se o amigo não admitia que estava de quatro pela garota,
daria uma ajudinha.
Diana colocou uma mecha de cabelo para trás, fingindo-se
encabulada:
— Nem em sonhos, cara!
— Ah, o que é isso, pequena! Eu prometo ser gentil. — Ele apoiou
um cotovelo no balcão, usando todo seu charme com ela, segurando uma de
suas mãos e a levando aos lábios.
— Você não presta! — ela disse baixinho, só para ele.
Peter se curvou e sussurrou em seu ouvido:
— Não tenho culpa se meu amigo é um babaca…
— Oh, sim, ele é!
— Então, vamos fazê-lo sentir o que está perdendo…
— Eu não sei se devemos…
— Relaxa, pequena. Confie em mim. — Seguiu lhe falando ao
ouvido. — Agora finja que eu lhe disse algo muito engraçado…
Ela hesitou um instante, mas em seguida, jogou a cabeça para trás e
riu gostosamente:
— Boa menina… Agora pode me dizer o que a trouxe aqui. —
Curvou-se para ela, como se contassem segredos um para o outro.
— Bom… — Diana fingia tirar um pelo da camiseta que ele estava
usando. — Vanessa me pediu que a encontrasse aqui…
Ele se enrijeceu imediatamente, o sorriso se congelando na boca…
— Oh… — sussurrou mau segurando o riso. — Acho que tenho sua
atenção agora, não?
— Ahm… ern… — ele riu suavemente e meneou a cabeça. — Esse é
um tópico sensível, garota. Sua prima… ela… bom, eu acho que ela me
dispensou.
— Vanessa é… Ela teve uns dias difíceis. Eu acho. Mas, ela deve
chegar a qualquer momento e acho que vai ficar bem… incomodada em ver
como estamos nos dando bem. Talvez o que você está tentando fazer com
Bennett, funcione com ela também. — Ela arqueou as sobrancelhas,
sugestivamente.
Peter jogou a cabeça para trás e gargalhou alto. Então envolveu Diana
num abraço caloroso, no momento em que notou Vanessa parada à porta,
olhos fixos nos dois.
— Será que estou interrompendo alguma coisa? — Era a voz seca de
Bennett que brotava à suas costas.
Peter se endireitou, mas manteve uma mão nas costas de Diana, como
se marcando território:
— Na verdade, está sim…
— Acho que você está se esquecendo que esse é um lugar de
trabalho, não?
— Calma, cara! Eu só estava cumprimentando minha amiga…
— Não foi o que pareceu…
— E o que te pareceu, então?
Bennett mau conteve um suspiro e se dirigiu à Diana:
— Será que podemos conversar um minuto?
— Sobre o que? — Peter o interrompeu, fingindo muito interesse.
— Estou falando com ela, babaca! — respondeu enquanto a tirava
dos braços dele, com possessão.
— Pequena, não se esqueça de me procurar antes de ir embora, OK?
— Peter riu para si mesmo. Sabia que havia deixado Bennett muito puto.
Então voltou-se e deu com Vanessa, de braços cruzados e expressão
fechada. Sorriu de lado e aproximou-se devagar, fazendo um gesto amplo
com os braços:
— Vanessa! A que devemos a honra?
A garota estreitou os olhos:
— Oh, você me notou?
— Como não te notar? — Fez um gesto para todo o corpo dela.
— Bom, você parecia ocupado. — Seu tom era duro.
— Só estava cumprimentando uma amiga. Mas o que a traz aqui? —
ele perguntou, torcendo intimamente que tivesse vindo por ele…
— Você já se esqueceu? — Foi o tom acusativo dela. — Me disse que
voltasse em uma semana para que examinasse minha tatuagem…
— Oh, isso! Claro! Mas — correu uma mão sobre o pescoço —,
confesso que achei que não fosse aparecer… — Olhou-a de forma meio
acusativa e ela se encolheu. A expressão perdida que fez… o encheu de
vontade de pegá-la nos braços e a cobrir de beijos. Bom, essa vontade
nunca passou verdadeiramente desde que a havia conhecido. — Vamos para
a minha sala. — Apontou e esperou que ela fosse na frente.
Não conseguiu deixar de examinar o bumbum arredondado,
contornado pela saia jeans de cintura baixa.
Deslizou uma mão pela barba. Mais um pouco e estaria babando por
aquela mulher.
Assim que fechou a porta atrás de si, Peter seguiu e acabou por
esbarrar nas costas dela, que havia parado no meio do caminho
abruptamente.
Para não a derrubar com seu impulso, agarrou seus braços e firmou os
pés no chão:
— Me desculpe! Eu não te vi aí!
Ele afrouxou o toque, mas ela não se moveu, quase colada a seu peito.
Um sorriso brotou no canto dos lábios dele. Era um bom sinal:
— Você está bem? — perguntou baixinho, não querendo quebrar o
momento.
Ela virou a cabeça de lado, sem no entanto encará-lo e deu um
meneio. Peter adiantou um passo mais próximo. Seus dedos acariciando a
pele dela, suavemente. Então seu nariz mergulhou nos cabelos macios,
delicadamente. Vanessa não recuou:
— Eu amo o cheiro dos seus cabelos… — Então afastando-os com o
rosto, deslizou o nariz no pescoço delgado, numa carícia suave e sentiu que
ela se inclinou um pouco, como se para lhe dar mais acesso. — E o cheiro
da sua pele.
Depois de uma semana de espera, onde só recebeu silêncio de seu ex,
Vanessa sentia-se ridícula. Uma imbecil por ainda esperar algo daquele
homem. Estava óbvio que ele já a havia superado.
Dessa forma, decidiu que não queria saber de homem algum. Eles
traziam apenas complicações. Também decidiu que se manteria afastada de
um certo careca tatuado, de corpo musculoso, de lindos olhos castanho-
esverdeados… Ele era um perigo!
No entanto, não conseguia esquecer dos momentos passados dentro
do GT 69. E a forma como havia gozado fácil com alguns beijos e sua
pegada forte. Mesmo esperando sinais de vida de Jacob, via-se necessitada
de se aliviar, ao pensar em Peter.
Assim, no sábado, comecinho de noite, lá estava ela, parada na porta
da In the Skin, furiosa por vê-lo se jogar sobre Diana, descaradamente, no
meio da recepção, com outros tantos clientes por ali. Era mesmo um safado!
Por que tinha se achado especial para ele? Era apenas mais uma! E o
inferno do homem estava quente como o inferno, na camiseta preta com
mangas cortadas, uma caveira enorme na frente, mostrando a língua. A
frente era enfiada no cós do jeans claro, chamando a atenção para suas
coxas fortes. Hoje ele usava alargadores pretos nas orelhas e um boné
branco gasto, uma grossa corrente no pescoço e um anel de caveira em um
dos dedos. Era a personificação do pecado.
Foi só sentir o peito largo às suas costas, suas mãos fortes a
segurando firme e já estava derretida. Odiou-se por isso. Então, mordida,
endureceu-se e disse, seca:
— Você é mesmo um descarado! Há pouco estava dando em cima de
Diana e agora está aqui, se esfregando em mim! — Fez menção de se
afastar, sendo impedida por ele, que a manteve no lugar.
— Sua prima é linda…
Ele começou, deixando-a ainda mais furiosa e forçando-se para se
desvencilhar:
— Se acha isso, por que não vai atrás dela?
Peter a segurou um pouco mais firme e lhe deu um leve chacoalhão,
para silenciá-la:
— Vai me deixar terminar?
Vanessa cruzou os braços e virou o rosto:
— Sua prima é linda! Mas, você… — Chegou-se mais a ela,
encostando uma ereção rígida em seu traseiro, fazendo-a dar um leve pulo.
— Ah, você me deixa sem fôlego, morena!
Pronto! Ela já estava à beira de se entregar, sentindo um leve torpor a
tomar. Por que você é assim, Vanessa?, ralhou consigo mesma.
— Só está dizendo isso porque estou aqui e ela lá! — resmungou,
tentando arduamente resistir para não rebolar contra ele.
— Não mesmo, garota! — Espalmou as mãos nos quadris dela,
aumentando a pressão e sua boca estava muito próxima de seu ouvido. —
Sempre foi você, morena. — Esfregou a barba e então os lábios,
suavemente sem seu pescoço. — Eu nunca tive interesse em sua prima…
— Então por que estava se espalhando como um pavão sobre ela, há
pouco?
— Eu só queria provocar o Bennett…
— O Bennett?
— Sim. Ele está doido por Diana, mas é um bundão e fica dizendo o
contrário. Então eu tive de dar um empurrãozinho. — Ele mordeu o lóbulo
de sua orelha, fazendo as pernas dela bambearem.
— Era só isso mesmo?
— Eu juro! Eu estou totalmente na sua, Vanessa! — Girou-a em seu
eixo, fazendo-a ficar de frente para ele.
Ela se recusou a encará-lo. Não queria que a achasse tão fácil assim…
Tão idiota! Assim, fitava seu peito:
— Apesar de ter achado que nunca mais a veria, já que parou de me
responder… — acusou, acariciando os braços dela.
Vanessa mordeu os lábios e começou a brincar com a corrente dele:
— Eu tive dias complicados…
— Oh, é mesmo? — Peter colocou uma mecha de cabelos sedosos
atrás de sua orelha, afagando sua cabeça, docemente, quando ela deu um
meneio leve. — Confesso que meu ego ficou bem avariado com seu
silêncio… — Ele torceu os lábios.
— Ah, pobrezinho! — Ela espalmou as mãos em seu peitoral e o
sentiu tão firme sob suas palmas. Aquele homem devia ser um espetáculo
sem camisa, visto de perto.
— Agora que você está aqui, nos meus braços, já estou me sentindo
muito melhor… — Segurou o rosto dela entre as mãos acrescentando
baixinho. — Sobre a sua semana de merda… será que alguns beijos te
fariam sentir melhor? — Os olhos fixos em sua boca.
Vanessa então correu a língua lentamente por eles, de forma
convidativa:
— Eu não sei — Segurou a cintura estreita dele, aproximando-se
mais, a cabeça erguida para ele —, mas, não custa tentar…
Peter sorriu de lado e o ventre dela se contraiu. Puta que pariu, aquele
homem era sexy!
Ele então virou a aba de seu boné para trás e veio tocar sua boca com
a dele. Um arrepio a percorreu toda e foi impossível não gemer. Sentiu o
sorriso dele se alargar e gemeu de novo, dessa vez de frustração, por se
entregar daquela forma:
— Parece que alguém também sentiu minha falta… — Ouviu-o dizer
baixinho.
Sem lhe dar tempo para responder, voltou a tomar sua boca,
esmagando-a com a sua. Tinha os dedos emaranhados em seus cabelos e as
usava para direcionar sua cabeça, aproveitando todos os ângulos possíveis
para explorar cada canto de seu interior. Oh, ele sabia beijar muito bem,
usando a língua para estimulá-la, provocando. Os sons molhados
competindo com o som do rock pesado tocando no lugar.
Eles já estavam colados, o eixo duro dele contra sua barriga, mas ele
deslizou as mãos por seus cabelos, então suas costas e logo se depositavam
em seu bumbum firme, apalpando, puxando-a ainda mais e mais. Ela
ficando quase nas pontas dos pés.
Vanessa sorriu contra sua boca e ergueu os braços para envolver seu
pescoço:
— Achei que você fosse olhar minha tatuagem…
— Eu vou… — A voz dele saiu abafada, pois sua boca estava
ocupada em percorrer a curva de seu ombro, mordendo, sugando. — Daqui
a pouco. — E voltou a beijá-la, longamente, como se nunca tivesse o
suficiente dela.
O beijo terminou aos poucos, Vanessa aprisionando o lábio inferior
entre seus dentes no final:
— Acho que estou pronto para dar uma olhada na sua tatuagem
agora… — Ele então puxou seu banquinho, sentava-se e colocou Vanessa
em pé entre suas pernas.
Sem nunca deixar de encará-la, os dedos grossos soltaram o botão de
sua casa e então desceu um pouco o zíper da saia dela. Ela prendeu a
respiração, enquanto ele fazia isso. O cós de sua calcinha de renda vermelha
ficou à mostra e ela mordeu o lábio, um pouco encabulada. Não queria que
ele tivesse ideias sobre sua peça íntima… ou queria? O sorriso tênue que o
viu esboçar lhe dizia que havia apreciado sua peça íntima.
Peter puxou um pouco a peça jeans para baixo, para poder expor a
tatuagem e então correu os dedos sobre o desenho, suavemente:
— Tudo perfeito por aqui. Você não precisa de retoques… Agora…
— A mão grande se espalhava pelo ventre chato dela e ela arfou. —
Precisamos falar dessa sua calcinha…
Ela gemeu e puxou os lábios entre os dentes:
— Não precisamos não… — interrompeu-se quando um dedo grosso
deslizou pelo elástico da peça rendada.
— Você sempre veste essas coisinhas sexys? — Outra mão alcançava
sua coxa, sob a saia.
— Eu meio que sou viciada em comprar lingeries…
— Agora eu estou muito curioso sobre seu guarda roupa íntimo… —
A mão em sua perna subia perigosamente…
Mais um pouco e ele notaria o quanto estava molhada… A poucos
centímetros de seu sexo, ela o deteve:
— Aqui não, Peter… — pediu e ele parou imediatamente, levantando
seus olhos verdes para ela.
— Então onde? Quando? — Colocou-se de pé, fechando o zíper e o
botão dela. — Eu acabei de te beijar, mas ainda estou sedento por mais! —
Como se para provar isso, beijou-a com sofreguidão uma vez mais. — Eu
quero te ter só para mim por horas!
Ele voltou a tomar seus lábios e Vanessa se derreteu. Aquele homem a
deixava com um frio no estômago constante e isso era delicioso! O toque
dele lhe provocava arrepios. Ela queria sempre mais e mais. Só que todas
essas sensações a assustavam um pouco. Parecia que tudo estava indo
rápido demais e não sabia se tinha controle sobre isso. Ela mal conhecia
aquele homem, mas a química que experimentava era intensa.
— Que tal essa noite? — ela disse, num ímpeto.
Peter fez uma careta e segurou o rosto dela entre as mãos:
— Ah, bebê! Não faça isso comigo! Hoje eu estou preso aqui na loja.
Quase a noite toda.
Vanessa suspirou. Não sabia se de alívio, por ter sido precipitada ou
de frustração. Aquele homem estava mexendo com seus hormônios!
— Amanhã eu vou jogar boliche com a minha prima. Você poderia
aparecer por lá, com o Bennett, se as coisas saírem bem entre eles.
Já estavam no boliche há uns 20 minutos e Vanessa não escondia a
ansiedade. Não sabia se Peter realmente viria. Ele havia dito que não sabia
se teria de ficar na loja de plantão novamente.
— Por que você não para de olhar para a entrada, garota? — Diana
inquiriu, pegando outra bola desajeitadamente.
Elas eram horríveis naquele esporte, mas adoravam jogar mesmo
assim. Davam muitas risadas.
— Nada! — dissimulou. Não havia dito à prima que os rapazes
poderiam aparecer. — O que eu poderia estar olhando?
Então ela se deteve. Peter e Bennett estavam adentrando o lugar. Seus
olhos se fixaram naquele homem enorme que vestia uma camisa preta com
mangas arregaçadas, poucos botões fechados, deixando o peito amplo e
colorido à mostra. Usava um jeans claro, colado às coxas fortes, botas estilo
militar e tinha um lenço preto com estampa branca amarrado na cabeça.
Vanessa suspirou.
Que estilo!
Que homem!
Que inferno de homem sexy!
De repente, as expressões de quando era saboreado pela garota no
beco lhe vieram à mente. Prendeu a respiração por uma fração de segundos
e um sorriso brotou em sua boca.
Muitos olhares se voltaram para encará-los. Obviamente, tipos
estilosos e bonitos como aqueles não passariam despercebidos.
— Você os convidou! — Diana ria, indo rapidamente ao encontro de
Bennett.
Vanessa ajeitou os cabelos, jogando-os sobre os ombros, engoliu em
seco e umedeceu os lábios se preparando para a aproximação de Peter.
Tentava manter a postura e não demonstrar o quanto a imagem dele a
afetava:
— Não tinha certeza se vinha…
— Nem eu tinha. Consegui trocar de turno com um amigo — disse,
sem disfarçar seu olhar que a percorreu inteira. — Você está um espetáculo
nesse jeans justo, morena!
— Obrigada. Você também não está mal…
— Me vesti especialmente para você. — Fez um gesto amplo para si
mesmo.
Ela mordeu a ponta da língua:
— Não errou em nada!
— Eu sei! — respondeu ele, sem modéstia. — Agora, me mostre o
que sabe. — Esfregou as mãos e apontou a bola que ela segurava.
Vanessa riu:
— Não crie expectativas. Minha prima e eu somos as piores
jogadoras de boliche do mundo! Porque ainda insistimos é um mistério.
— Eu posso te dar algumas aulinhas… — disse, presunçoso.
— Você é bom nisso? — Olhou-o com desconfiança.
— Eu te mostro rapidinho. — Indicou que lhe entregasse a bola.
Ele se posicionou na frente a pista que levava aos pinos. Levantou a
bola à altura do queixo e então, com gestos graciosos, jogou e essa foi logo
de encontro aos pinos, derrubando todos.
Peter comemorou se voltando para ela de braços abertos:
— Exibido!
Deu de ombros e foi buscar outra bola, entregando para ela:
— Agora, vamos ver do que você é capaz. — Então afastou-se para
avaliar a jogada dela.
Vanessa suspirou, e fez seu melhor… A bola foi direto para a
canaleta.
— Isso foi horrível, morena! — Ele se aproximou, mal contendo um
riso.
— Eu avisei para que não criasse expectativas.
Parando muito perto, Peter espalmou as mãos na cintura dela:
— Você está fazendo a jogada com o corpo muito duro. — Sacudiu-a
levemente.
Para manter o equilíbrio, Vanessa apoiou as mãos em seus ombros.
Pôde sentir o cheiro másculo que emanava dele. Além de sexy, lindo, era
cheiroso.
Ergueu o queixo de forma desafiadora, remexendo-se no lugar, quase
se esfregando nele:
— OK, sabichão. O que você pode me ensinar?
Peter examinou preguiçosamente o decote generoso da blusa dela e
então limpou a garganta:
— Eu tenho muitas coisas em mente…
— Você sabe que estou falando de boliche, certo?
Ele estreitou os olhos verdes:
— Ora, mas eu também! Garota estranha! — fingiu indignação e foi
buscar outra bola. — Use esses dedos — instruiu quais devia usar. — Então
você tem de se posicionar aqui, fazer a sua mira… — Levou a bola à altura
do queixo. — Dar uns cinco passos até aqui. Agora, observe minha postura
enquanto lanço a bola, OK?
— OK — assentiu, notando a desenvoltura dele em todo o processo.
E logo ele obtinha outro strike:
— Não é tão difícil, viu?
— Para você, talvez. — Deu de ombros.
— Agora é sua vez de tentar.
Logo ela empunhava outra bola e seguia as instruções dele. Depois de
ter dado os cinco passos sugeridos por ele, sentiu-o se posicionar à suas
costas, as mãos de volta a sua cintura e então falou quase ao seu ouvido:
— Agora, concentre-se e não se esqueça de fazer sua mira.
— Como quer que eu me concentre com você tão perto, cara? —
acusou.
Peter bufou um riso em sua orelha, que lhe provocou um arrepio.
Odiava como era transparente com ele. Satisfeito, ele se afastou:
— Boa sorte.
Antes de lançar a bola, mirou e então imitou os gestos dele ao lançar.
Cinco pinos caíram. Ela ficou exultante!
Voltou-se para ele, pulando de felicidade:
— Eu nunca na vida derrubei tantos pinos! — Ria alto, quando foi
abraçada por ele.
— Ah, pobrezinha! Agora use as mesmas técnicas e tente derrubar o
restante.
— OK — concordou, sem muita confiança de que conseguiria.
Mas, conseguiu. Deu um grito de felicidade, correndo para os braços
dele novamente:
— Boa menina! Aprende rápido.
Logo Bennett e Diana se juntaram a eles. Pela primeira vez nas vidas
delas, as duas conseguiram fazer alguns strikes.
Algum tempo depois, quando elas já estavam realizadas pelos pontos
feitos, todos rumaram para as mesas dispostas no fundo do salão. Os
homens, com seus jeitos possessivos, colocavam os braços nos encostos das
cadeiras das meninas, como se marcando território. Diana e Vanessa se
entreolharam e bufaram um riso, mas, estavam adorando o gesto.
Num dado momento Vanessa se aproximou de Peter e lhe
confidenciou ao ouvido:
— Eu nunca gostei de apelidos. E, justamente por isso, acabei
conquistando muitos deles. Principalmente, no colégio. Nessa, Van,
Nessinha e o mais famoso! A garota do lago Nessy, um trocadilho…
— O monstro do lago Ness — Peter terminou para ela.
— Isso mesmo. Mas… — sentou-se bem próxima, então deixou sua
boca a milímetros da dele — quando você me chama de morena e me olha
com esse jeito lascivo… — ela revirou lentamente os olhos — eu fico toda
boba, arrepiada e com a calcinha molhada.
— Ah, puta que pariu, morena! — Ele correu as mãos por sua barba
meio ruiva, trancando os dentes. — Você não pode soltar isso assim, em
público! Olha como me deixou! — Apontou para seu colo, escondido sob
mesa, onde uma bela ereção se insinuava sob o jeans claro. — Estou com
três pernas agora.
Ela riu, jogando a cabeça para trás, deliciada e surpresa com o
tamanho do volume dele:
— Eu só achei que você precisava dessa informação.
Segurando o rosto dela, ele a trouxe de volta para perto, sussurrando
em seu ouvido:
— Morena, morena, morena! — disse em tom de advertência. — Se
não estivéssemos em público, eu ia te mostrar o que fazer com essa
informação!
Erguendo o queixo em desafio, apoiou as mãos nas coxas fortes,
muito próximo de seu… eixo:
— Me diga o que, exatamente…
— Primeiro — ele não hesitou em começar, ainda em seu ouvido, os
sussurros dele arrepiando a pele dela —, eu ia verificar a sua calcinha. Ah,
caralho, estou me imaginando fazendo isso agora, Vanessa! — O nome dela
saiu possessivo, forte.
Então ele era chacoalhado e ela percebeu que Bennett o havia
acertado com um chute na canela:
— Ah, o que você quer, cara? — Peter retrucou.
— Eu ia sugerir que arranjassem uma cama. Vocês estão quase se
comendo em público.
— E está com ciúmes, neném? Eu posso cuidar de você mais tarde, se
tiver paciência.
— Mal posso esperar, querido.
Vanessa ria das brincadeiras dos dois, quando notou um grupo de
homens entrando no salão. Ela logo reconheceu Jacob entre eles. O sorriso
morreu em seus lábios. Sentiu que o sangue sumir de sua face. Desde que
mudou sua rotina matinal, nunca mais o havia visto. Agora ele estava ali,
bem diante dela.
Engoliu em seco, sem conseguir desviar seu olhar. Estava bonito,
como sempre. Elegante, com cabelos sempre bem penteados… Tentou
identificar o que estava sentindo ao revê-lo. Ansiedade? Frustração? Notou
que não pensava nele há um tempo. Principalmente ao lado de Peter…
Esse, de repente, segurou suas mãos entre as dele:
— O que houve, linda? Você parece pálida, suas mãos estão frias…
Vanessa não conseguiu responder e seus olhos se fixaram de novo em
Jacob que agora a encarava, seu olhar voando entre ela e o homem a seu
lado, parecendo muito surpreso:
— Você conhece aquele cara? — o tom de Peter soou ríspido.
Engolindo novamente, não conseguiu responder.
Bennett e Diana estavam de novo entretidos um com o outro e não
notaram a situação.
Estreitando os olhos, Peter pareceu entender a situação, rapidamente:
— É o seu ex, certo?
— Sim. É ele. — Sorriu brevemente, notando que o outro fechava seu
semblante e remexia-se no assento.
Que situação!
Então Jacob passou ao lado da mesa deles a cumprimentando com um
leve meneio e outra avaliação sobre seu companheiro. Peter devolveu a
encarada, estendendo um braço para o encosto da cadeira de Vanessa, sem,
no entanto, tocá-la.
Só depois da passagem do outro foi que Diana pareceu se dar conta
do que acontecia, trocando um olhar nervoso com a prima.
Por sorte, Bennett começou um assunto que envolvia a todos, alheio
ao clima tenso. Impossível não notar que Peter estava mais quieto, mas
respondia às gracinhas do amigo à altura, com sarcasmo e provocação de
sempre. No entanto, agora, sua postura estava mais rígida e quase não a
encarava. Merda! Sentiu falta daqueles olhos verdes sobre ela, devorando-
a.
Vanessa o examinou. Era completamente diferente de Jacob e não
somente na aparência. Era leve, divertido, fazia com que ela se sentir
preciosa, importante. Era fácil sorrir com ele.
Tinha certeza de que, onde quer que estivesse naquele lugar, seu ex a
estava julgando por estar com um homem… tão oposto a ele. Que fosse
para o inferno! Peter lhe fazia bem e era isso que importava.
De repente, um pensamento confuso cruzou a mente dela. Conhecia
Peter Reyes há tão pouco tempo, não sabia quase nada de sua vida, e, ainda
assim, estava completamente encantada com ele.
Julgava que o que sentia por Jacob nunca fosse desaparecer… Bom,
ainda havia algo lá. Algo que ainda não conseguia identificar. Afinal,
haviam sido marido e mulher, mesmo que por pouco tempo. O que sentia
por ele era um redemoinho de coisas. Paixão, frustração, rancor e…
obsessão. Julgava que não poderia viver sem ele, até muito pouco tempo
atrás. Quando soube que seu relacionamento havia terminado, esperança e
ansiedade a dominaram. Se fosse alguns dias antes, ela pensaria em ligar.
No entanto, não sentiu esse ímpeto. O que foi um alívio.
O fato era que pensava muito em Peter. Desejava conhecê-lo melhor,
estar em torno dele. Sendo sincera consigo mesma, isso também era
aterrorizante. Vinha de uma separação muito recente e dolorida. Não sabia
se era hora de se jogar de cabeça em outra relação. Tudo isso a deixava
ainda mais confusa, porque não sabia bem no que tudo aquilo, com aquele
brutamontes com jeito marrento, riso fácil e completamente diferente de
todos os outros com quem saíra na vida ia dar.
Assim, decidiu que viveria apenas o momento. Seria algo novo para
ela, mas tentaria. Só desejava que Peter não fosse o próximo a quebrar seu
coração.
Dessa forma, cutucou as costelas dele, para fazê-lo encará-la. Quando
ele o fez, ela mostrou-lhe a língua e fez uma careta.
Um sorriso de lado surgiu na boca quase encoberta pelo bigode e
barba. Então tocou a ponta de seu nariz com um dedo, lançou novamente
um braço sobre o encosto da cadeira dela, dessa vez puxando-a mais para
si.
Vanessa sentiu-se mais segura sob aquele abraço. Inferno, por que se
sentia tão vulnerável?
Peter seguia carinhoso, mas ela notou que estava cuidadoso. Como se
testando o terreno.
Assim que o carro parou frente ao prédio de Vanessa, Peter tomou o
rosto dela entre as mãos e exigiu um beijo possessivo, longo. Quando esse
terminou, observou-a bem de perto, os polegares acariciando sua face:
— Você me deixa louco, morena! — grunhiu, entredentes e então a
beijou de novo.
Ao fim os dois estavam ofegantes. Peter encostou sua testa na dela e
falou suavemente:
— Eu tenho a leve intuição de que não vai me convidar para subir,
certo?
Vanessa baixou os olhos e mordeu os lábios:
— Tenho medo de estar indo rápido demais, Peter. Não me envolvi
com ninguém desde… o fim do meu casamento — acrescentou
rapidamente. — Por favor, não pense que estou brincando com você,
porque não é isso!
— Fique tranquila. Isso não me passou pela cabeça — Peter disse,
num tom meio triste, sombrio, voltando para o seu assento e ficou quieto
por um momento, olhando para frente. Então disse, baixinho. — Você me
quer. A química entre nós… Bom, não dá para esconder. Pegamos fogo
quando estamos juntos. E então você me disse todas aquelas coisas lá no
boliche… — Esfregou uma mão grande na nuca. — Mas, você nunca se
entrega completamente. E eu não estou dizendo isso só porque estou louco
para te ter na porra de uma cama. Posso esperar o tempo que você quiser.
Acontece que eu acho que não está nisso de cabeça, como eu. Está sempre
com um pé atrás. Só que hoje eu entendi porquê. Pela forma como olhou
para o seu ex. Você ainda tem sentimentos e foi duro notar isso. E eu já
estive nesse lugar de ser a segunda opção e não é nada agradável. Portanto,
mesmo estando completamente louco por você, não vou me colocar nessa
situação de novo.
Vanessa engoliu em seco. Estava entendendo direito? Peter estava
desistindo dela? Seu coração batia tão rápido e forte que ela sentia que
podia ouvi-lo. Teve medo de perguntar e então se manteve quieta:
— Sendo assim, eu vou dar um passo atrás. Até que se resolva e
decida que realmente me quer. E não é fácil dizer isso, Vanessa, porque…
puta que pariu — meneou a cabeça, como se para reforçar suas palavras —,
você balança meu mundo de um jeito que nunca aconteceu antes! Mas,
quero que esteja certa de que realmente me quer, antes do próximo passo.
Ele a perscrutou por alguns segundos. Talvez esperando que ela
dissesse algo, mas, Vanessa estava confusa demais naquele momento para
se manifestar.
Peter baixou sua cabeça. Vanessa desceu, então ele partiu, sem
esperar que ela entrasse dessa vez.
Ficou ali na calçada observando o GT 69 sumir de seu campo de
visão. Pensou que nunca antes havia se sentido tão sozinha. Abraçou-se e
um arrepio lhe percorreu o corpo, mesmo a noite não estando fria.
Peter seguiu meio sem rumo. Estava receoso. Aquela mulher mexia
de fato com ele. Estava louco para foder aquele corpinho, mas… era
estranho. Não parecia ser só atração física. Sentia uma inquietação, uma
vontade de conhecê-la melhor, tê-la ao redor por mais tempo.
No entanto, tudo indicava que não devia mergulhar de cabeça… e ele
era bem de fazer isso. Não muito tempo atrás, havia se jogado num
relacionamento conturbado. A garota, além de encrenca, acabou por
descobrir que era casada com um cara bem barra pesada. Aquela aventura
quase lhe custara a vida.
Não que a situação com Vanessa fosse chegar àquele extremo, mas
podia sim representar problema. Do tipo, ele cair de quatro por ela e ela,
que obviamente não havia esquecido o ex, meter o pé na bunda assim que
uma reconciliação fosse possível.
Ele meneou a cabeça negativamente, rindo com ironia. Não sabia se
aguentava outra desilusão, em tão pouco tempo.
Um pensamento também lhe cruzou a mente. Talvez já estivesse na
hora de se ajeitar na vida. Precisava dar à sua sobrinha uma família estável.
Uma figura materna. Uma mulher que fosse capaz de amar a garotinha
como ela merecia.
Coçou a barba e torceu os lábios. Se Vanessa representasse apenas
mais uma aventura arriscada… ele devia cair fora.
No entanto, sabia que não seria fácil arranjar alguém que aceitasse
seu passado…
Não fora exatamente um bom moço. E devia muito à Bennett. Podia
dizer que o amigo o havia salvado de um destino tenebroso. Dera-lhe um
emprego digno, amizade, apoio e uma boa dose de esporro. Também o
afastara das más companhias que faziam seu pior lado aflorar.
Bennett também tinha seu passado sujo e havia conseguido superá-lo.
Fora graças a isso que conseguira ajudar Peter.
Vanessa havia tomado um banho, vestido uma camisola e agora
mordia uma unha. As pernas cruzadas, um pé balançando inquietamente.
Ela podia estar quebrando a cama com um enorme cara tatuado e
musculoso, mas, seu momento de incerteza impediu isso.
Entretanto, tinha de admitir que ainda estava dividida. Queria
conseguir ter uma transa sem compromisso, mas… Já fazia tanto tempo que
não ficava com outro homem que não Jacob! Não sabia como reagiria.
Desejava muito não criar expectativas.
Jogou a cabeça para trás, no assento da poltrona, frustrada. Seu corpo
clamava por Peter, apesar dos conflitos em sua mente.
Estava úmida, os seios duros, inchados, ansiosos pelo toque, pela
boca daquele homem.
Ao lembrar do que fizeram dentro do GT 69… A facilidade com que
havia gozado… ela queria aquilo de novo e muito mais!
Num ímpeto, pegou o celular e chamou o número dele. Foi atendida
ao terceiro toque:
— Vanessa? — a voz densa fez seu nome soar grave.
Os pelos da nuca dela se eriçaram:
— Peter… — O nome dele saiu quase que como uma súplica. Ela
engoliu em seco. Mordeu o lábio, sem saber bem como seguir. — Onde
você está? — perguntou, meio atropelada. Agora que ele atendera, não
sabia bem o que dizer.
— Estava muito agitado para ir para casa. Então, acabei vindo para a
loja, espairecer um pouco. Está tudo bem? — perguntou, quando ela seguia
calada do outro lado da linha.
— Sim, está… —falava aos tropeços — é que… bem, eu… — então,
com um suspiro, acabou por confessar. — Eu quero você! É isso! — Ao
final, estava ofegante. Dessa vez, foi Peter quem ficou calado e ela sentiu
um frio no estômago. — Peter? Está aí?
Sim, ele estava. Recostado no GT 69, apertando o celular entre os
dedos. Havia decidido que não mais ficaria pulando de cama em cama.
Precisava sossegar…
— Estou aqui, Vanessa.
— Você vai ficar furioso comigo, se eu te pedir para voltar? —
inquiriu, receosa.
Após uma longa respiração, ele respondia:
— Estou a caminho! — Seu tom era decidido. A resolução de
minutos atrás se esvaindo com o vento, evitando pensar no quanto estava
sendo fraco…
Vanessa quase deu um grito de satisfação e nervoso. Disse a ele que
deixaria o porteiro avisado sobre sua vinda, informou o andar e número do
apartamento. Sua respiração ainda estava agitada, estava nervosa como uma
virgem.
Em menos de 10 minutos, a campainha tocou. Sobressaltou-se. Ele
devia ter voado. Devia estar tão ansioso quanto ela. Sorriu e foi abrir a
porta.
Quando o olhar dele a alcançou, ficou momentaneamente sem
palavras, o queixo caindo, ao examinar as longas pernas desnudas. Os seios
mau ocultos pelo decote de renda…
Correndo as mãos pela barba ruiva, num gesto que ela descobriu amar
vê-lo fazer, ele parecia que estava salivando:
— Morena, você é uma visão! Me deixa perto de perder o juízo! Está
uma tentação nessa coisinha!
— O que? Isso? — Puxou a alça da camisola, dando de ombro, num
tom falsamente inocente. — É só um pedaço de pano.
— É a porra do pedaço de pano mais sexy que eu já vi!
— Sexy é um certo careca, cheio de atitude, que está tirando a minha
paz! — Mordeu os lábios o encarando. — Que me deixa doida para repetir
o que fizemos dentro daquele carro!
— Ah, morena, se eu te disser tudo o que eu tenho vontade de fazer
com você! Talvez você fuja de mim.
Ela o observou inteiro, lentamente, degustando de cada parte máscula
daquele corpo grande:
— Não. Com certeza eu não vou fugir dessa vez! — Deu alguns
passos atrás e o chamou com as mãos, convidando-o para entrar.
Com passadas largas, Peter estava dentro do apartamento, fechando a
porta com estrondo.
O olhar faminto que ele lançava sobre seu corpo a fez ficar ofegante
de novo. Mais alguns passos e tinha as mãos pousadas possessivamente em
sua cintura e a testa dele encostada na sua. Quando falou, sua voz era
arrastada, grave:
— Você tem certeza disso, Vanessa? Porque, eu estou a ponto de
explodir por você, mas, eu posso esperar…
Ela o calou tomando seu rosto entre as mãos e então deslizando seus
lábios sobre os dele, colando suas curvas aos músculos duros:
— Você não está entendendo, Peter! — sussurrou contra sua boca. —
Eu te quero! Muito! Eu preciso de você! Agora!
— Você me tem, morena! — Emaranhou os dedos entre os cabelos
dela, dizendo entredentes. — Você me tem todo!
Esmagou a boca macia com a sua, num beijo ansioso. Um grunhido
ecoou do fundo de sua garganta. Fazia uma prece mental para que ela não
desistisse novamente, por que seu pau estava tão rijo que doía. Precisava
enterrá-lo nas dobras daquela mulher com urgência! Mas, não sem antes
conhecer cada curva, cada nuance do corpo de Vanessa, com suas mãos,
com sua boca.
Com as pernas enrodilhadas numa confusão, as bocas nunca se
desgrudando, passos incertos e ele deu com as costas na parede.
Numa luta íntima para ver quem tinha maior domínio, Peter girou o
corpo e ela acabou batendo o quadril no aparador. O abajur foi para o chão
e Vanessa riu:
— Afinal de contas, nos vamos transar ou brigar?
Peter segurou-a pelos ombros e a trouxe para o meio da sala:
— Só fique paradinha. — Indicou com as mãos. — Bem aí.
Ela assentiu com a cabeça, ainda divertida.
— Eu não quero que você fique toda marcada, neném… não de
contusões — concluiu, sugestivamente.
Então se afastou alguns passos, admirando-a novamente, de forma
preguiçosa. Voltou a se aproximar, brincando com as tiras das alças da
camisola de seda, que prendiam a peça por dois delicados laços. Muito
lentamente, puxou uma e depois a outra, observando o tecido deslizar pelo
corpo suave.
Seus olhos se detiveram nos seios generosos, um pouco trêmulos, por
conta de sua respiração agitada:
— Não me esqueci do quanto eles são lindos! — murmurou,
depositando uma mão aberta sobre o pescoço delgado e então descendo, até
tomar um peito, apalpando gentilmente, como se para sentir seu peso. —
Nem do quanto eles são deliciosos na minha boca!
Curvando-se, pincelou um mamilo com sua língua, sem deixar de
encará-la. Ela estremeceu, os lábios entreabertos em antecipação:
— Não sabe o quanto eu sonhei repetir isso, morena! — Sugou uma
auréola escura para dentro de sua boca, com gula, enquanto a puxava pela
cintura.
Vanessa deslizou fora o lenço que ele ainda trazia amarrado à cabeça.
Depois, as unhas fincaram em seus ombros, sobre a camisa preta. Uma
perna veio se enrodilhar na dele, necessitando de mais contato.
A mão grande alcançou uma nádega, apertando-a.
Ela se dobrou toda para poder comprimir seu ventre contra ereção
dura.
Peter migrou para o outro seio, os dedos agora indo tocar o centro
úmido e quente dela:
— Puta que pariu, Vanessa! Tão molhada! — Num movimento
rápido, levou a mão dela para tocar seu pau, depois voltou seus dedos para
o sexo dela. — Sinta como ele pulsa por você!
Vanessa aproveitou para apertá-lo, sentindo sua circunferência.
Gemeu. Ele era grande ali também.
Ela ainda vestia uma sumária calcinha. Peter afastou-a de lado e a
penetrou com dois dedos. Vanessa arfou, agarrando-se ainda mais aos
ombros dele.
O homem fazia loucuras lá embaixo. Girava os dedos, retirava-os um
pouco e então voltava a meter. Não conseguiu evitar um grito. Estava na
borda, muito na borda.
De repente, afastou-o, mordendo o lábio, ofegante:
— Não estava gostando, bebê? — Peter sorriu, diabolicamente.
— Estava! Demais! Mas, eu não quero gozar tão rápido. — Então
veio fuçar nos botões da camisa dele. — Eu quero conhecer seu corpo
antes. — Já com a peça aberta, examinou, maravilhada, o tórax amplo, todo
colorido.
Sua boca veio percorrer os músculos definidos do peito, a língua
deslizando por sua pele, mordiscando seu abdome trincado.
Peter a observava se colocar de joelhos, afagando seus cabelos, como
estímulo. Foi impossível ela não se recordar da primeira vez em que o vira.
Um sorriso brotou em seus lábios:
— O que será que está passando por essa cabecinha, hein, neném?
— Você não faz ideia…
Usando o polegar, acariciou os lábios dela:
— Você pode colocar cada ideia em prática, morena…
Ela veio beijá-lo com volúpia, agora alcançando o zíper do jeans dele,
descendo-o. Logo, invadia sua boxer e tomava seu comprimento entre os
dedos:
— Não me tente, homem!
— É você quem está com meu… amigo em suas mãos. Quem está
tentando quem?
— E que amigo, hã? — Manuseou-o e ele saltou fora, todo
exuberante. — Mas… O que é isso?
Sob o sorriso satisfeito de Peter, Vanessa vislumbrou… Um piercing
no… Lá. Bem atrás da glande.
— É um apadravya, neném. — Ele seguia satisfeito, agora
manuseando seu eixo, o queixo erguido, olhando-a de cima. — Aposto
minhas bolas como está curiosa em como é tê-lo na sua…
— Sim, eu estou! — ela o interrompeu, beijando-o novamente,
enquanto terminava de despi-lo da camisa e ele se livrava das calças e
boxer. Essas ficaram presas em suas botas.
Rindo, ele se afastou, sentando- se no sofá, para descalçá-las e
terminar de retirá-las. Vanessa parou diante dele e fez a minúscula calcinha
descer por seus quadris e então por suas pernas, movendo-se sinuosamente,
enquanto lhe dirigia um sorriso devasso. Ela vislumbrou a ereção dele bater
em seu abdome, como se tivesse vida própria:
— Você enche minha boca d'água, morena!
Girou a diminuta peça entre os dedos e então jogou-a para ele, que
prontamente a levou aos lábios e nariz:
— Ah, como eu amo seu cheiro, garota! — Puxou-a pela cintura,
beijando o ventre plano e descendo…
Logo se punha de joelhos e alcançava o sexo liso. Dessa vez, foi ele
quem sorriu de forma devassa, quando ela prendeu a respiração. Sua língua
afiada pincelou o clitóris e ela arfou:
— Venha aqui, neném… — pediu, puxando uma perna dela para seu
ombro. — Deixe-me cuidar de você…
Ele, literalmente abocanhou sua boceta, chupando o botão agora duro.
Então, a língua seguia explorando, conhecendo seus contornos.
Praticamente sem apoio, Vanessa lutava para se equilibrar em uma
perna só. A cabeça pendia para trás, apertando um seio e os outros dedos
emaranhados em sua cabeleira, enquanto mordia os lábios.
Peter agora a fodia com sua boca, fazendo-a estremecer a cada
investida:
— Oh, Deus, Peter! Eu não aguento isso! — lamuriou-se,
entorpecida.
— Aguenta sim, bebê. — Puxando-a pelos quadris, deitou-a no sofá,
sem sair do meio de suas pernas.
Prosseguiu com suas investidas, Vanessa agora movendo-se contra
ele, instigando-o. Para acabar de vez com a sanidade dela, um dedo veio
brincar em clitóris ultra sensível.
Ela já não tinha nenhum controle sobre si, gritando o nome dele,
gemendo, contorcendo-se.
Sentia os olhos verdes sondando-a. Encarou-o por um breve segundo.
Logo gozou, suas costas deixando o sofá, curvando-se. Choramingou
sua explosão, enquanto Peter ainda a infernizava. Só quando o corpo dela
desabou, quase sem vida, é que ele saiu do meio de suas pernas, limpando a
boca e a barba, com um sorriso diabólico nos lábios.
Afastou-se somente para buscar um preservativo na carteira, vestiu-o
rapidamente e logo separou os joelhos dela, acomodando-se e não lhe
dando muito tempo de se recuperar. Deslizou-se entre as dobras
escorregadias e sensíveis:
— Está comigo, neném? — Deteve-se dentro dela, segurando seu
queixo para que o encarasse.
— Você não tem piedade? — ela resmungou, mas suas pernas vieram
enrodilhar em torno dos quadris dele, já sedenta por mais.
— Eu precisava sentir meu pau dentro da sua boceta quente, minha
morena! — Arremeteu lentamente, para que se acostumasse com seu
tamanho. — Porra, você é tão apertada, como um punho fechado! — Outra
arremetida. — Eu amo isso!
Vanessa não sabia dizer se era pelo tamanho dele ou por conta de seu
adereço, mas havia algo diferente. A cada investida, sentia que seu corpo
entrava em transe:
— Olhe para mim, Vanessa! — Peter pediu entredentes, agora
estocando sem piedade, as mãos sob suas nádegas macias.
Ela o fez e não resistiu em buscar um beijo. Mordiscou seu lábio
quando uma onda de torpor a dominou:
— Peter… — gemeu o nome dele inúmeras vezes, seu corpo
sacudido pelos movimentos dele e pelos espasmos que ameaçam explodi-la
em mil pedacinhos.
Não costumava ser muito barulhenta no sexo, mas com aquele
homem, ela simplesmente não conseguia se conter. Seus vizinhos deviam
estar tendo alguma diversão, mas pouco ligou.
Quando sentiu que o ápice a tomava, Peter voltou a tomar um bico
rijo de seu seio, sugando-o duramente.
Convulsionou sob ele e sentiu que ele vinha em seguida, gritando um
palavrão e um gemido vindo do fundo de sua garganta, enquanto estirava
seu pescoço para trás.
Então, sentiu o peso do corpo dele sobre o seu. Parecia tão esgotado
quanto ela. Aquele momento fora tudo o que esperava ou mais. Estava
tomada pela satisfação. Cada músculo relaxado. Ambas as respirações
ofegantes, quase em uníssono. Peter era um amante incrível!
Quando se sentiu um pouco dono de si, ele afagou os cabelos dela e
afastou-se para se livrar do preservativo. Retirou-o, amarrou e o colocou de
volta na sua embalagem original. Então voltou a se ajeitar nos sofá com ela,
sua cabeça pousada o ventre liso:
— Isso foi incrível, morena! Caralho, você é gostosa demais! — Uma
mão estava sobre um seio, o polegar afagando a pele macia.
Vanessa deixou uma perna descansar sobre o traseiro bem-feito dele:
— Eu sou mesmo incrível, não há surpresas nisso…
O riso dele a deixou encantada:
— Ainda bem que você sabe!
Ela moveu-se languidamente sob ele:
— Eu tenho uma cama bem grande lá no quarto. Que acha de
migrarmos para lá?
Peter soltou uma longa respiração, mal se movendo:
— Eu adoraria te foder numa cama agora, mas infelizmente, eu tenho
de ir! É domingo, dia de levar minha garotinha ao parque…
Vanessa estacou:
— Espera. Que garotinha? — espantada, apoiou-se sobre os cotovelos
para observá-lo. — Você tem… uma filha?
Peter bufou um riso, pela surpresa dela:
— Não… — um dedo deslizava no vão entre os seios dela agora. —
É minha sobrinha.
Ela deixou-se desabafar de volta ao sofá:
— Achei que era agora que ia revelar que é casado e tem um monte
de filhos!
— Não. Sophie é filha do meu irmão e mora comigo e com meu pai.
— Posso perguntar onde estão os pais dela? — Meio que se
arrependeu de ter feito a pergunta, pois a mudança no semblante dele foi
muito visível. Tornou-se fechada, talvez triste.
— Bom… a mãe morreu pouco tempo depois do nascimento da
garotinha. Meu irmão… é complicado… — Ele fazia desenhos desconexos
no ventre dela, parecendo distante.
— Se não quiser falar…
— Não, tudo bem. É que meu irmão é um viciado de merda. Não é
responsável nem por sua vida, que dirá pela de uma criança! — Correu uma
mão pela barba e então pela cabeça lisa, suspirando pesadamente. — Eu
nem faço ideia de onde ele está!
— Eu sinto muito por isso! — Pousou uma mão na face dele e o
beijou docemente.
Quando se afastou, ele a espreitava, como se num conflito interno:
— O que foi?
— Eu… não sei bem se é hora de falar sobre isso… — Baixou sua
cabeça.
Ela segurou seu queixo e o fez encará-la de novo:
— Falar sobre o que?
— Nós acabamos de ter nossa primeira transa, não é como se
tivéssemos num relacionamento, então, não vou despejar toda a minha
merda sobre você… — Ele se levantou e começou a recolher suas roupas
do chão.
Vanessa se apoiou novamente sobre os cotovelos e ficou observando-
o se vestir, enquanto evitava seu olhar. O fato de ainda estar completamente
nua, não a incomodava:
— Peter. Fale comigo, por favor. Eu sinto que de repente, você está se
fechando.
Ele havia vestido a boxer e as calças e, no momento, calçava uma de
suas botas. Parou e só então voltou a encará-la.
Após um denso suspiro, começou:
— Não sei onde tudo isso vai dar, morena, mas… Eu não quero que
tenha surpresas sobre mim. Eu não tenho um passado muito… bonito.
— O que exatamente quer dizer?
Ele parecia realmente desconfortável, correndo uma mão pela nuca:
— Eu fiz coisas das quais me envergo… Era um imbecil revoltado,
fiz muita merda! — Então, veio se ajoelhar em frente a ela, tomando seu
rosto entre as mãos. — Juro! Hoje sou um homem melhor! — Acariciou a
face dela com os polegares. — Sei que somos muito diferentes. Tenho
certeza de que não sou o tipo de homem com quem costuma se envolver…
Então… vou entender, se… quiser que eu me afaste… — A última frase
pareceu muito difícil para ele dizer.
Os olhos verdes a perscrutavam, na espera de sua resposta.
Vanessa lhe devolveu o olhar. Era verdade que ela imaginava que ele
não era nenhum santo. Tinha de admitir que havia um frio no estômago
dela. Talvez um pouco de medo.
No entanto, ele parecia tão vulnerável ali, diante dela! E precisava
admitir que não conseguia pensar em se afastar dele, tão logo…
Colocou uma de suas mãos sobre a dele em seu rosto:
— Eu também tenho esqueletos no meu armário, Peter. Talvez, não
tão pesados como os seus, mas tenho. E, quanto a nós… — Beijou seus
lábios suavemente. — Vamos apenas nos curtir e ver onde isso vai dar,
OK?
Um sorriso doce foi se formando nos lábios dele, pouco antes de
tomar seus lábios novamente:
— Acho que é um ótimo plano, morena! — Então, pegando-a nos
braços, encaminhou-se para o centro da sala. — Onde mesmo disse que fica
aquela cama?
— Tio! Tio!
Peter foi acordado pela voz afobada de Sophie, que o chacoalhava:
— Acorda! Já estamos atrasados!
Ainda meio atordoado, ele despertou e se sentou na cama. Consultou
o relógio. Se havia dormido duas horas, era muito:
— OK, OK! Estou acordado!
— Então vai tomar seu banho logo, porque já estamos atrasados!
— Onde é o incêndio, garota? — Colocou-se de pé, coçando um olho,
sendo levado pela mão, rumo ao banheiro.
— A Cindy ligou. Já está no parque me esperando. A Becca e a
Melissa também vão para lá! Então, estamos atrasados! — Batia no pulso
minúsculo, como se ali tivesse um relógio.
— Está bem, está bem! Vou tomar um banho rápido…
— Rápido mesmo! Eu vou contar até trinta e você já deve ter
acabado, OK?
— OK, pequena bruxinha. — Mostrou a língua para a pequena, sendo
retribuído no gesto.
Já vestido, recolhia as chaves do GT, a carteira e o celular:
— Você já tomou café?
— Sim! — Sophie gritou de volta.
— Já escovou essa boca? — Abaixou-se para vistoriar e a menina lhe
mostrava os dentinhos muito brancos. — OK. Então vamos. — Entregou-
lhe o senhor Coelho, que ela havia deixado numa cadeira.
Não resistiu e puxou seu rabo de cavalo. Sabia que ela odiava aquilo:
— Pare, seu bobo!
— Você está descabelada.
— Mentira! O vovô prendeu meu cabelo. Está lindo!
— Cabeluda!
— Pelo menos, eu tenho cabelo — ela provocou e saiu correndo para
o carro.
— O que você disse? — Com poucas passadas, ergueu-a do solo e a
jogou sobre um ombro. — Onde aprendeu a ser tão abusada?
— Como você, tio bobão!
— Você vai aprender a me respeitar, garotinha! — Começou a fazer
cócegas nela.
Estava exausto, faminto, mas se dissesse à pequena que precisava
comer, ela teria um ataque. Comeria algo no parque.
Amava como a garotinha falava sem parar, entusiasmada. Agora, já
acomodados no GT, observou-a. Era tão pequena, tão linda! Cabelos
compridos e lisos, escuros. Olhos verdes. Era a cópia de Mark, quando
criança. Sua versão feminina. Impossível não se lembrar dele, toda vez que
a fitava.
Suspirou. Por onde ele andaria? Estava perdendo a infância da filha.
Algo tão valioso!
Assim que chegaram no parque, ela se desvencilhou de sua mão e foi
ao encontro das amiguinhas.
Ele acomodou-se num banco e sacou o celular. Vanessa ainda estaria
dormindo? Era quase certeza, já que a noite fora bem agitada. Não pode
evitar sorrir.
Tirou uma foto de Sophie e enviou. Para sua surpresa, ela logo
respondeu:

“Meu Deus! Que garotinha mais linda!”


“Já acordada, morena?”
“Sim… exausta, mas acordada. Mas, ainda estou na cama.”
“Também estou exausto! Você acabou comigo, morena!”
“E você comigo, barbudo. Não que eu esteja reclamando!”
“Disse que ainda está na cama? Me mande uma foto.”
Ela o fez. Seu corpo mal coberto pelo lençol.

“Agora terei de disfarçar meu pau duro. Você é gostosa demais,


garota!”
“Se passar por aqui depois, posso resolver seu problema… “
“Está combinado. Vou te foder, te levar para jantar e então te foder de
novo.”
“Nessa ordem exata?” (risos)
“Nessa ordem exata.”
“Vou aguardar ansiosa! Agora, me mande mais fotos dessa menina
linda!”
“Só se me mandar mais fotos suas.”
“Eu posso fazer isso. Mas, você tem de ser forte!”

Mandou várias fotos, uma mais insinuante que a outra, mas sem
nunca se mostrar totalmente nua.

“Puta que pariu, morena! Estou tão duro, que nem parece que
fodemos há pouco!”
“Eu ainda estou dolorida…”
"Pobrezinha! Prometo cuidar de você mais tarde.”

Tirou algumas fotos de Sophie, enviou e pretendia prosseguir com a


conversa com ela, mas o celular acusava uma ligação de um número
desconhecido. Um frio tomou o estômago dele.

Vanessa estranhou que ele parou de conversar. Deu de ombros e


virou-se na cama, espreguiçando. Devia estar cuidando da garotinha. Era
tão linda! E Peter parecia apaixonado por ela. Com certeza, ele daria um
ótimo pai…
Suspirou. Uma sombra de tristeza pairou sobre ela. As palavras de
Jacob ecoando em sua cabeça…
Levantou-se de um pulo. Não ia deixar aquilo abatê-la. Havia tido
uma noite incrível! Ia tomar um longo banho de banheira, então, correr um
pouco, comer algo delicioso e aguardar por Peter. Mal podia esperar para
repetir tudo o que haviam feito na madrugada!
Ele era um amante maravilhoso! Além de lindo, gostoso! Um sorriso
brotou novamente em sua boca. Ah, que homem!

Já estava quase anoitecendo e não teve mais notícias de Peter. Ele


sequer respondera suas últimas mensagens. Também tentou ligar algumas
vezes, mas não foi atendida…
Ficou ansiosa. Havia mudado de ideia sobre visitá-la de novo? OK,
mas poderia ao menos lhe responder.
Examinou o celular novamente, coisa que fizera há dois minutos
atrás. Não havia nada lá. Deixou o aparelho sobre o balcão da cozinha e
correu os dedos pelos cabelos. Algo poderia ter acontecido… Como
descobrir? Não sabia nem onde ele morava! Não que cogitasse ir até lá!
Bennett! Talvez ele soubesse de alguma coisa. Correu de volta para o
celular e ligou para Diana:
— Oi, Di! Tudo certo?
— Sim, tudo certinho. Não me ligou hoje. O que fez o dia todo?
Fiquei esperando um macho me ligar…
— Vegetei a tarde toda. — Forçou um riso. — E você? Está com
Bennett? — Mordeu o lábio, esperando não ter parecido muito direta.
— Sim… passamos o dia juntos.
— Oh, isso é muito legal! Por acaso, vocês viram o Peter? — Agora
mordia uma unha, aguardando a resposta.
— Não o vimos. Mas, ele ligou para o Bennett e disse que precisava
fazer uma viagem de última hora…
— Viagem de última hora?
— Bennett disse que ele costuma fazer isso…
— Entendo… — Ficou pensativa.
— Algum problema, prima?
— Não! — disse rapidamente. — Nenhum! Liguei à toa…
Conversou um pouco mais com a prima, mas sua cabeça agora estava
distante.
Então, ele fora viajar… E nem lhe dissera nada… Não que lhe
devesse satisfações, mas…
Inferno, tinha dito que viria vê-la! E ela, idiota, ficou à espera! Podia
ao menos ter ligado e dito que não poderia ir. Havia feito ela de palhaça!
Deu com uma mão na testa. Havia enviado mensagens preocupadas…
sentia-se tão imbecil agora! Havia criado tantas expectativas!
— Burra, burra, burra! Eu te disse para não fazer isso! Ele não é o
príncipe num cavalo branco! Está muito longe disso, pelo jeito!
Não teve nem a dignidade de lhe avisar que não poderia ir! No fundo,
Vanessa não passava de uma noite de transa sem importância para Peter…
Quem poderia garantir que não teria ido atrás de outra garota?

Assim que saiu do prédio, na manhã seguinte, ela viu Peter saindo de
seu GT 69. Apertou o passo até chegar à porta de seu táxi:
— Vanessa, por favor! Precisamos conversar… — Ele tentou segurar
seu braço, mas ela fugiu de seu toque.
Peter notou que seria difícil, mas, não desistiria tão fácil.
— Um inferno que precisamos! Eu estou atrasada para o trabalho, e
mesmo que não estivesse, eu não iria querer conversar com você!
— Morena, por favor, você tem de me ouvir…
— Eu não tenho de ouvir porra nenhuma! — Vanessa entrou no carro
e bateu a porta com força. — E sem essa de morena! É Srtª. Thomas para
você!
— Vanessa, eu te imploro! Me deixa explicar! — Ele se curvou até a
janela dela, que ela tentava freneticamente fechar, quase se colocando de
joelhos.
— Moço, por favor! Feche a merda dessa janela! — Só então o vidro
começou a subir.
Peter passou a bater na janela, ainda implorando:
— Vá, moço! Por favor! — O carro arrancou rapidamente.
Não demorou muito e ela notou o GT 69 tentando alcançá-la. Para
isso, fazia manobras arriscadas, costurando no trânsito:
— O que que ele está tentando fazer? Se matar? — murmurou,
preocupada.
— O cara quer mesmo falar com a senhorita, hein? — Até mesmo o
taxista tinha notado a perseguição. — Quer que eu chame a polícia?
Com olhos arregalados, ela olhou para o homem:
— Não! — falou de sobressalto. — Não será preciso. Eu acho…
Assim que chegou à B&T Produtora, pediu ao taxista que a deixasse
no estacionamento interno do prédio, onde Peter não teria acesso. Logo as
ligações começaram a pipocar. Ela ignorou cada uma delas.
Ele havia sumido do mapa logo depois de foder com ela uma noite
inteira e agora reaparecia assim, querendo dar explicações? Que fosse para
o inferno! A cada segundo que se recordava de suas mensagens
preocupadas, quando ele apenas tinha ido viajar… Sentia-se ridícula por ter
enviado cada uma delas!
Quando percebeu que ela não atenderia às suas chamadas, passou a
lhe enviar mensagens. Vendo que não teria paz e sabendo que não poderia
desligar o celular devido aos compromissos, bloqueou o número dele. O
aparelho silenciou no mesmo instante.
Muito nervosa, entrou em sua sala e jogou suas coisas no sofá, não se
importando que poderia quebrar o notebook dentro da valise.
Chutou os sapatos longe, correu as mãos entre os cabelos, bufando
ainda furiosa. Estava furiosa por mais de uma razão. Por ele ter
desaparecido daquela maneira, e porque, no momento em que o vira, por
uma fração de segundos, toda sua raiva desapareceu, dando lugar a
saudades, vontade de puxá-lo pela gola e repetir tudo o que haviam feito na
última noite juntos. Ela se odiou por isso! Mas, não voltaria a ser essa
garota. Não se humilharia de novo por homem nenhum! Mesmo sendo
aquele, enorme, sexy e delicioso espécime.
Jogando-se em sua cadeira, pegava o telefone para pedir um café…
ou uma dose de uísque, quando Diana apontou na porta:
— Você soube que o Peter voltou?
— Sim, e… — Já estava com o dedo em riste para dizer que o tinha
dispensado e como estava furiosa com a audácia dele em procurá-la, mas a
prima prosseguiu:
— Notou se ele estava machucado? Bennett disse que parece que se
envolveu em alguma encrenca. Algo a ver com o irmão dele… — Assim
como tinha surgido, a outra desapareceu, deixando-a muito confusa, ainda
com o dedo em riste.
O irmão dele… Peter o havia citado vagamente. Era um viciado de
merda, como ele dissera.
Agora ela mordia uma unha, preocupada. Teria sido precipitada?
Devia tê-lo ouvido?
Oh, merda, Diana havia dito que ele estava machucado… Seria
grave?
Decidiu que precisava vê-lo!
Dessa forma, pegou o celular, desbloqueou o número dele e enviou:

“Onde você está?”

Recebeu apenas uma localização. Era a de um bar próximo.

“Estou indo te encontrar.”

Em minutos, descia do táxi frente ao prédio onde o encontraria.


Assim que entrou no lugar, sentiu cheiro de cigarro, gente suada e bebida.
Com certeza resquícios da noite passada.
Peter estava no balcão, bebendo algo em uma xícara. Devia ser café.
Quando se aproximou, ele não se moveu. Nem mesmo a encarou.
Com certeza, quem estava bravo no momento era ele. No entanto, ela
decidiu que não se culparia até ouvir toda a história.
Então notou o avermelhado do lado da boca dele… e em seu olho
esquerdo:
— Meu Deus, o que houve com seu rosto?
— Oh, agora você está interessada, Srtª. Thomas?
— Se você for irônico comigo, essa conversa nunca vai acontecer! —
bufou.
— Bom, eu queria muito conversar mais cedo, mas quem não estava
disposta era você, lembra?
— OK, me procure quando quiser conversar de novo… — Fez
menção de se afastar, mas ele a segurou pelo pulso.
— Você veio até aqui! Agora não vai a lugar nenhum até me ouvir!
Vanessa nunca o vira ser tão duro assim. Espantou-se. Ele sempre fora
tão doce com ela.
Soltando o pulso num puxão, pediu:
— Pelo menos podemos ir a lugar decente? — Baixou o tom de voz,
pois o barman parecia bem interessado na conversa.
Notando isso, Peter jogou uma nota sobre o balcão e encarou o
homem:
— Está olhando o que, idiota? — Arrastou-a para fora, apontando seu
carro estacionado perto dali.
Já acomodados no automóvel, ele se voltou:
— Aqui está bom, ou ainda não está à sua altura?
— Ah, inferno! Se vai ficar me tratando assim, é melhor deixar essa
conversa para outro dia… — Já se preparava para deixar o carro, mas ele a
impediu com as mãos erguidas em gesto de paz:
— OK! Me desculpe! É que estou… exausto, furioso… frustrado…
— então gemeu baixinho ao se acomodar melhor no carro — e dolorido. E
minha cabeça está me matando, depois de dirigir a noite toda!
Vanessa engoliu em seco, muito preocupada. Cruzou os braços, para
evitar confortá-lo sem antes de saber do que havia acontecido:
— Então, fale logo o que houve.
— Eu tive de viajar às pressas para o interior do estado.
— Interior? Mas, por quê?
— Eu recebi uma ligação do meu irmão, dizendo que estava com
problemas por lá. Eu fui tentar ajudá-lo…
— Que tipo de problema, Peter?
— Acabou em encrencas por dívida de drogas. E estava em poder de
um grupo de traficantes. Me ligou quando eu estava no parque com Sophie,
me dizendo que iam matá-lo se eu não fosse até lá pagar sua dívida…
— Oh, meu Deus! — Vanessa estava horrorizada, toda arrepiada de
pavor.
— Então, eu não pensei duas vezes e corri para lá. Era meu irmão,
afinal de contas!
— Sim, eu entendo… Mas, por que não me ligou, me avisou do que
estava acontecendo?
— Quando saí daqui, não pensei em nada. Meu irmão estava em
pânico quando me ligou. Eu nem sabia se o encontraria vivo quando
chegasse! E quando enfim cheguei lá, eles confiscaram meu celular e me
deixaram preso, para ter certeza de que eu não havia chamado os
policiais…
— Oh, meu Deus, oh meu Deus! — Examinou-o todo, como se para
ter certeza de que ele estava inteiro.
— Então, era óbvio que eu não tinha como te avisar…
— Sim, eu entendo agora! — A culpa a atingiu forte. — Mas, eu não
sabia o que pensar! Me perdoe, mas eu fiquei tão… perdida, sem notícias. E
então o Bennett simplesmente disse que você tinha ido viajar… Que você
às vezes fazia isso…
— Sim, eu faço e todas elas foram por meu irmão.
— Mas, por que te agrediram?
— Por que eles queriam mais do que o combinado.
— Malditos!
Ajoelhando-se no assento, ela voltou-se para ele, segurando seu rosto,
examinando seus ferimentos:
— Você está bem? Tem outros machucados? — Apalpou o peito dele,
à procura de novas feridas.
Quando tocou suas costelas, ele se curvou e retirou as mãos dela:
— É melhor irmos a um hospital, Peter! Você pode estar mais
machucado do que pensa…
— Não! — Ele cortou. — Sem hospitais. — Jogando a cabeça de
encontro ao encosto, olhou-a com carinha de cãozinho perdido. — Eu só
preciso descansar e de alguns beijos da minha morena. — terminou fazendo
beicinho.
— Oh, pobrezinho! — Segurando o rosto dele entre as mãos com
todo cuidado, passou a distribuir pequenos e suaves beijos por todo seu
rosto. — Me perdoe por ter te julgado, mas, eu não fazia ideia…
— Tudo bem, morena, eu entendo! E, mesmo que pudesse, talvez não
teria entrado em contato… — Ele engoliu várias vezes, seu pomo-de-adão
subindo e descendo em seu pescoço. — Nem mesmo sabia se sairia de lá
com vida…
— Por favor! — Tapou sua boca, impedindo-o de prosseguir. — Não
diga isso! Só vamos para casa, para que eu possa cuidar de você direito.
Já em seu apartamento, colocou a banheira para encher e veio ajudá-
lo a se despir:
— E como está seu irmão?
— Eu não faço ideia! Assim que cheguei com a grana, o liberaram e
me seguraram. Eu mal o vi!
— Filho da mãe mal-agradecido! — Então se arrependeu, pois, afinal,
era o irmão dele. — Me desculpe! Foi mais forte que eu… Mas, ele nunca
devia ter te deixado sozinho com homens perigosos!
— Tudo bem. Ele é mesmo um idiota mal-agradecido. Sempre foi…
— Terminou num fio de voz, como se falasse consigo mesmo, o olhar
distante. — Mal-agradecido e egoísta. No entanto, ele está um arremedo de
gente. Não seria de grande ajuda…
Ele estava sentado, descalçando as botas, sem prestar muita atenção
ao que fazia. Vanessa deixou a camisa dele que estava em suas mãos numa
cadeira próxima e se aproximou, encostando a cabeça dele e seu ventre:
— Eu sinto muito que tenha de passar por isso, Peter! — Afagou sua
cabeça com ternura.
Então, ele ficou inquieto, colocando-se de pé e afastando-se:
— Ah, porra! O que eu estou fazendo? Eu dirigi a noite toda para ver
você… Mas, eu não tenho direito de te meter no meio das minhas merdas!
Vanessa, me desculpe! Eu nem devia estar aqui! Só que, quando me
devolveram o celular e vi suas mensagens preocupadas… Eu não pensei
direito! — Recolheu a camisa e fez menção de vesti-la, gemendo de dor no
processo.
— Peter! Pare!
— Eu vou para casa. Nós conversamos depois… — Ele parecia
desconfortável, sem jeito.
Vanessa agarrou a ponta da camisa dele, impedindo-o de prosseguir:
— Pare! Está bem? — Só então ele se deteve e a encarou. — Eu
decido se quero fazer parte disso ou não, OK? E o que eu quero no
momento — abraçou Peter, envolvendo seu pescoço e distribuindo
pequenos beijos em sua face e pescoço. — É cuidar de você.
Ele suspirou, parecendo derrotado:
— Me desculpe, morena… — falou baixinho.
— Agora eu sei que você não teve culpa de nada disso, Peter. — Fez
um beicinho e brincava no peito dele com um dedo. — Eu achei que você
pudesse ter ido procurar outra mulher…
— Ah, Vanessa! — Ele segurou seu querido, fazendo-a encará-lo. —
Como eu poderia procurar por outra mulher, depois de ter você, minha
deusa? Depois de esperar tanto por você? Só se eu fosse louco!
Ela deu de ombros e ergueu o queixo para encará-lo:
— Não é?
— É sim… — Então beijou-a, uma, duas, três vezes, agarrando o
traseiro bem-feito.
Quanto Peter tentou se curvar para acariciar seu pescoço, contorceu-
se de dor e levou uma mão às costelas:
— Inferno! Se eu estivesse inteiro, eu ia venerar seu corpo de novo e
de novo e de novo.
— Quando você melhorar, você pode fazer isso. Agora, termine de se
despir e venha tomar um banho quente…
No que você está se metendo, Vanessa?, ela pensou, observando
aquele enorme homem esparramado em sua cama. Ela o deixou na banheira
e foi preparar algo para que comesse. Peter terminou o banho, enrolou-se
num toalha e agora estava adormecido.
Como ele havia dito, não precisava se meter nas merdas dele. Mas…
simplesmente não podia deixá-lo, quando parecia que precisava tanto dela.
Parecia um grande animal ferido.
Fechou a porta sem fazer barulho e foi tomar uma xícara de café no
balcão da cozinha.
Sempre fora a garota certinha. Tivera uma infância razoável, tenho a
mãe que tinha. Quando seu pai ainda estava por perto. Havia estudado em
bons colégios, fizera uma boa faculdade. Não fora uma adolescente
revoltada e isso foi devido aos pais de Diana, que foram praticamente os
pais dela também, deixando-a sempre com os pés no chão. Seus namorados
pertenciam ao seu meio… nada havia sido exatamente emocionante, até
conhecer Jacob. Ele era encantador e ela tinha se apaixonado muito rápido.
Logo veio o casamento e as decepções…
Estaria se rebelando tardiamente ao se envolver com alguém tão
diferente? Já não era nenhuma mocinha. Devia cair fora?
Inferno! Mal conhecia o homem, mas sentia-se completamente
envolvida, fascinada por ele. Suspirou. Tentaria viver o momento. Apenas
isso. Ou estaria se enganando?
Ela nem mesmo sabia o que desejava para seu futuro, uma vez que
seus sonhos haviam sido despedaçados…
Ligou para Diana, explicou por cima o que havia acontecido e que
não compareceria no escritório no período da manhã. A prima compreendeu
e disse que estava tudo bem. Sabia que compreenderia, pois também estava
envolvida por Bennett…
Ainda perdida em pensamentos, ouviu-o chamá-la do quarto:
— Me perdoe! Sua cama me pareceu tão convidativa, que acabei
adormecendo…
Ele estava apoiado sobre os cotovelos, as pernas bem separadas e uma
enorme ereção era vista sob a toalha, formando uma verdadeira barraca…
que ele não tinha nenhum pudor em exibir. Muito pelo contrário. Seus olhos
estavam cheios de segundas intenções:
Ela o admirou. Era tão lindo! Um corpo grande, bem-feito, todo
esculpido, coberto pelas tatuagens coloridas. Parecia uma obra de arte. Suas
pernas também eram cobertas por elas. Até o pé chato dele era bonito. Puta
que pariu! O homem era quente e exalava sexo. Causava um estrago na
mente e no corpo dela.
— Ora, ora, ora… Mas o que temos aqui? — Sorriu de lado, um
ombro apoiado no batente da porta.
— O que? — ele então retirou a toalha e começou a manipular o
membro teso, seu piercing brilhando na semi-escuridão. — Isso aqui? O
que posso dizer? Ele tem vida própria….
Vanessa salivou, aproximando-se:
— E que vida, não? — Parou aos pés da cama, mordendo o lábio. —
O que fazer sobre isso, uma vez que você está todo dolorido?
— Bom… minhas costelas estão imprestáveis, mas… meu amigo está
prontinho para a batalha.
— Oh, Deus, você não presta! — bufou um riso.
— Nenhum pouco, querida. Eu posso estar com meus movimentos
comprometidos, mas… sabe? Você gosta de cavalgar? — sugeriu,
arqueando uma sobrancelha espessa.
— Oh, sim… — Despiu a blusa e então se livrou da saia, ficando com
um sexy conjunto de calcinha e sutiã negros, que ele apreciou muito. — Eu
gosto muito! Se bem que já faz um tempo que eu não faço isso…
— Sabe como dizem, neném. É como andar de bicicleta. Você nunca
esquece. — Ele seguia se tocando.
Ela subiu na cama, engatinhando para perto:
— Acho que vou usar meu lado amazona hoje… Mas… antes… —
Parou entre as pernas dele, substituindo a mão dele em seu pênis pela sua.
Admirou seu tamanho. Como ele cabia inteiro dentro dela, era um mistério.
— Tem algo que eu quero experimentar…
Quando ela juntou os cabelos e os jogou de um lado, inclinando o
corpo, deixando o traseiro para o ar, ele ficou muito sério:
— Ah, morena! Eu não sei se sou forte o bastante para suportar sua
boca no meu pau!
— É o que vamos descobrir… — Ficou muito próxima, admirando
seu apadravya. — Uau! Isso é muito interessante! — Então deslizou uma
lambida longa por sua ponta e ele arfou.
Ela estava prestes a realizar sua fantasia, desde que o vira com a
garota, recostado em seu GT 69:
— Eu tenho algo para confessar. — Manuseou-o algumas vezes, sua
glande brilhando pelo pré-sêmen.
— Nesse exato momento? — Ele cruzou os dedos atrás da cabeça,
gemendo agoniado, ela não sabia se de dor ou pelo que fazia.
Sem aviso prévio, mergulhou o máximo dele que podia em sua boca.
Um bom tanto ainda ficou de fora…
— Porra, morena! — ele grunhiu.
Deixou-o saltar fora, com um som molhado:
— Na loja, no dia na minha tatuagem… — voltou a manuseá-lo —
não foi a primeira vez que eu te vi… — Tomou-o de novo, gemendo
longamente no processo.
Ele tentou se curvar para ela, mas deitou-se de novo, tocando as
costelas doloridas:
— Não?
— Não! — Lambeu a extensão dele, encarando-o. — Eu te vi…
recebendo um boquete, num beco, algumas noites antes.
— Ah, danadinha… Então foi você?
— Você me viu? — Vanessa parou o que fazia.
— Não… — Gesticulou para que não se detivesse. — Ouvi os latidos
e então alguém se afastando… Por isso ficou surpresa ao me ver na loja…
Vanessa sorriu de forma sedutora:
— Sim! Não consegui acreditar que o destino estava fazendo aquilo
comigo. Depois daquilo, você infernizava meus sonhos… eu tive de brincar
sozinha, pensando em você muitas, muitas vezes… — Endereçou-lhe um
beicinho, sempre fazendo um lento movimento de subir e descer no eixo
dele.
O pau dele saltou em sua mão:
— Isso é o que acontece quando você diz que brincava sozinha,
pensando em mim, quando nem mesmo me conhecia! — Apontou o amigo,
num gesto de cabeça. — Agora, eu estou imaginando essa cena… Puta que
pariu! — Deslizou um dedo pelos lábios úmidos dela.
— Um dia eu deixo você me assistir… — prometeu, tomando-o no
interior de sua boca novamente.
— Caralho! — xingou, quando ela o chupou, ao mesmo tempo que o
manuseava.
Juntou os cabelos dela e os enrolou em seu punho, dizendo a ela
palavras de incentivo. Vanessa caprichava, o levando até o fundo de sua
garganta. As exclamações que soltava a cada chupada… eram melodias
para seus ouvidos. A visão era uma loucura. Ela com seu membro em sua
boca deliciosa, os seios quase saltando das taças rendadas, a bunda redonda
para o ar… Todo esse conjunto o deixava muito na borda.
As costelas pareciam que iam se arrebentar de dor, mas, ele nunca
ousaria dizer isso a ela.
— Vanessa, pare, por todos os santos! — Com um puxão em seus
cabelos a fez soltar seu pau, esse pulando ao sair de seu recanto dourado.
Ela lambeu os lábios, lançando-lhe um olhar pecaminoso:
— Você não estava gostando? — perguntou, fingindo inocência.
— Pode apostar as minhas bolas que eu estava amando a porra toda!
Mas, eu não quero gozar na sua boca… — Deslizou o polegar por sua boca
novamente. — Não agora. Eu preciso te foder, senão, vou ficar louco, bebê!
Agora, na minha carteira. Vai encontrar um preservativo lá.
Descendo da cama de forma sinuosa, calculou cada mínimo
movimento para mantê-lo concentrado somente nela:
— Se você tivesse noção do quanto é gostosa! — Ele continuou se
manuseando.
Vanessa alcançou o preservativo e o segurou entre os dentes,
enquanto desabotoava o sutiã:
— Isso… Bem lentamente… — Ela obedeceu e então jogou a peça
para ele.
Fez o mesmo com a calcinha, que ele logo levou ao nariz:
— Ah, o seu cheiro! Eu posso sentir o cheiro da sua excitação,
morena!
Seus olhos, agora mais verdes, estavam presos aos seios dela, que
balançavam um pouco a cada passo:
— Porra, toda uma deusa sensual!
— Eu posso fazer as honras? — Ela havia voltado para a cama,
colocando uma perna ao lado de cada coxa dele e sacudindo o preservativo
no ar.
— Esteja à vontade, neném.
Então ela o vestiu com gestos precisos:
— Agora, você está prontinho para mim…
— Deixe-me ver se você está prontinha para mim… — Ele gesticulou
para que ela trouxesse seu quadril mais para perto.
Segurando na cabeceira da cama, pairou sobre o abdome dele. A mão
dele logo veio tomar seu sexo na palma, investigando:
— Ah, sim… molhada… Mas, não o bastante… Vou deixá-la no
ponto, morena. — Dois dedos sumiram dentro dela e Vanessa gemeu
languidamente, movendo o corpo em direção ao toque.
— Ah, Peter… Sim!
— Você se sente bem, preciosa?
— Sim… — ela respondeu longamente, serpenteando.
— Caralho! Você está pingando agora! Eu adoraria te chupar, mas eu
preciso da sua boceta no meu pau agora, Vanessa! — implorou.
— Eu posso fazer isso… — Então ela encaixou a ponta aveludada
dele na sua entrada e começou a descer, devagar, seu corpo se acostumando
com a espessura.
— Oh Deus… — Vanessa se lamuriou. — Isso é tão bom —
sussurrou, lágrimas quentes lhe sondando os olhos.
— Porra! Sim! — Ele queria poder se curvar, segurar suas nádegas
macias e a ajudar a cavalgá-lo, mas suas costelas não lhe permitiam. Ele
beliscou um seio. — Seja uma boa menina e traga essas belezinhas até a
minha boca, querida. Eu preciso muito chupar esses biquinhos
provocadores.
Voltando a se apoiar na cabeceira da cama, curvou-se para ele,
mantendo seus movimentos de quadris:
— Eu sabia que você era uma boa amazona, morena… — murmurou,
pouco antes de tomar um mamilo entre os lábios.
— Quando vai me dizer por que alguns dos seus amigos te chamam
de Peach? — ela havia vestido a camisa dele, que ficou enorme, e abotoado
um único botão. Peter tinha a cabeça repousada em seu colo. Ainda estavam
na cama.
— Quem sabe? Tipo… Nunca?
Segurava a mão dele contornando com a ponta do dedo, a tatuagem
de cores vibrantes sobre ela:
— Qual é? — protestou. — Eu estou morrendo de curiosidade! E não
venha com essa de Pitt, porque não é como Bennett te chama!
— Ah, morena, você realmente não vai querer saber…
— Eu vou sim! Estou curiosa para saber a história por trás desse
apelido.
— Ah, merda! — Correu as mãos sobre a careca. — OK, OK! Eu vou
contar esse trecho vergonhoso do meu passado e depois não me diga que eu
não te avisei!
— Conta! — Ela bateu as mãos, excitada
— Bom… alguns me chamavam realmente de Pitt, diminutivo de
Peter e alguns já me chamavam Peach por conta da minha cabeça, mas…
depois de um certo evento… Bom, passei a ser o Peach!
— Que evento?
— Uma garota…
— Ah! — acrescentou entusiasmada. — Eu sabia que envolvia uma
garota!
— Bom, nós estávamos numa festa, todo mundo bem animado. Ela
havia bebido demais e acabou me arrastando para um canto e… me fez
aquele boquete!
Parecia que as mulheres adoravam fazer boquetes nele, ela pensou,
sorrindo enigmática. Agora, sabia bem porquê…
— Oh, meu Deus! — Vanessa levou as mãos aos lábios, já prevendo o
que viria a seguir. — Eu sabia que tinha a ver com a sua cabeça… só não
sabia com qual delas… — gargalhou.
— Isso! Vai rindo! — Fez um gesto, rodando a mão, para que ela
prosseguisse. — Depois que ela terminou o que tinha de fazer… saiu
gritando que meu pau era tão macio e suave quanto um pêssego.
Vanessa voltou a gargalhar:
— Ah! Que bom que isso te fez rir! — Peter gesticulou frustrado.
— Bom… Sabe? — Correu a língua pelos lábios. — Ela não deixa de
ter razão… — provocou.
— Oh, não! Não comece você também!
— Mas, por que isso te incomoda tanto? — perguntou enxugando as
lágrimas, causadas pelo riso.
— Você não conhece meus amigos! Eles não vão me deixar esquecer
isso nunca mais na vida! E já me colocaram em muitas situações
constrangedoras por conta disso!
— É o que os amigos fazem, não é?
— Você diz isso, por que não conhece os meus!
— Boa tarde, cambada! — Peter gritou assim que entrou na In the
Skin. — Coloque uma música bem agitada que eu quero entrar no clima! —
Apontou para Sheila.
— A noite foi boa, hein, patrão? — Carl, um dos outros tatuadores do
lugar disse passando por ele. Chamava-o dessa forma, porque quando
Bennett não estava no lugar, ele era o responsável. — E bem violenta, não?
— Mostrou sua cara marcada.
— A noite foi de merda, mas, a manhã… — esfregou as mãos —
compensou tudo! — Seguiu direto para os fundos.
— Então? Vai me dizer o motivo do seu último ato de
desaparecimento? — Bennett perguntou, assim que o outro entrou em seu
escritório.
Ao se acomodar no grande sofá da sala, Peter gemeu e tocou as
costelas:
— O que você acha? O de sempre!
— Mark!
— O próprio! — suspirou pesadamente, quando o amigo veio se
sentar diante dele, assustando-se ao notar seu estado.
— Wow! Cara! O que houve dessa vez? Parece que foi atropelado! —
Pareceu preocupado. — Se sabia que as coisas sairiam do controle, devia
ter me chamado…
— Sabe que eu nunca te meteria nos meus… — interrompeu-se e
corrigiu — nos problemas do meu irmão! Eu nem imaginava que as coisas
fossem chegar ao ponto que chegaram. — Apoiou os pés sobre a mesinha
de centro, mesmo sabendo que Bennett odiava isso, e esticou os braços no
encosto do sofá, arrependendo-se em seguida e gemendo. As costelas ainda
incomodavam muito, mesmo após tomar um analgésico fraco, já que não
podia com nada muito forte, devido ao seu passado de vícios. — Estou
zerado de novo! Eles me limparam! E foi a razão de levar a pior. Queriam
mais do que eu tinha.
— Caralho, Peach! Devia ter me ligado! Eu resolveria isso!
— Não! Se eu ceder uma vez, terei de ceder sempre… Porque,
infelizmente, essa não será a última vez… — concluiu baixinho.
— Você precisa de um adiantamento?
— Não! Não se incomode. O dia do pagamento já está perto. Não
quero lhe dever mais esse favor. Daqui a pouco, terei de lhe dar as minhas
bolas para pagar tudo que já devo! — Lançou-lhe um beijinho, junto com
uma piscadela.
— Vou lhe dizer onde enfiar essas bolas… — Mostrou-lhe o dedo do
meio. — Como está o Mark? Fazia já um tempo que não o via.
— É como se não o tivesse visto da mesma forma. Assim que cheguei
com a grana, eles o liberaram e eu mal o vi. Eu já devia ter desistido dele…
— Meneou a cabeça, negativamente.
— É seu irmão. Você nunca vai desistir.
— Minha espinha gela toda vez que a porra do celular toca. Estou
cansado, sabe? Às vezes é complicado passar por tudo isso… limpo…
— Estar alto, de alguma forma amenizaria essa situação?
Peter o encarou sabendo que o amigo tinha razão:
— Ao contrário. Deixaria tudo ainda pior. Então, quem cuidaria de
Sophie? De seu pai? A propósito. Contou para ele?
— Para quê? Só para deixá-lo ainda mais preocupado?
Peter ficou quieto, fitando nenhum ponto específico no chão:
— Eu sei no que está pensando. E sabe que eu discordo. A culpa não
é sua. Mark já não era nenhuma criança quando entrou para esse mundo.
— Mas, eu fui o exemplo. Então, de alguma forma, eu sou sim
culpado dessa merda toda! — Levantou-se, muito rápido e seu corpo
dolorido reclamou. — Eu preciso trabalhar um pouco…
— Você devia ir para casa, se deitar um pouco…
Agora Peter tinha um largo sorriso na boca, mesmo tocando as
costelas:
— Eu já tive todo o cuidado que precisava da minha morena hoje de
manhã. Agora, tenho de manter minha cabeça ocupada — forçou um
suspiro exagerado. — Eu estou apaixonado! Vanessa é uma garota foda
demais! — Parou à porta e voltou-se para o chefe. — E quanto a você e a
pequena? Como anda esse lance?
Bennett esfregou a nuca:
— Eu não sei, cara. Eu não quero me enrolar…
— Lá vem ele com essas baboseiras! — Peter revirou os olhos.
— Você sabe o que eu penso sobre relacionamentos…
— Você sabe o que eu penso sobre relacionamentos? — Peter o
imitou, com jeito afetado. — Deixa de ser fresco. Existem coisas que não
controlamos. Diana parece uma boa garota. Eu espero, do fundo da porra do
meu coração que você não a machuque! Além disso, ela é prima da minha
morena. E se ela fica triste, Vanessa fica e então eu também fico triste. E
você não quer me ver triste, não é mesmo? — Usou um tom de ameaça. —
E parece que a pequena conseguiu chamar a sua atenção. Então apenas se
entregue, cara.
— Vai para o caralho com seus conselhos sentimentais, Peach. —
Com um pontapé, fechou a porta na cara do outro.
— Você sabe que eu sempre tenho razão, seu idiota! — Peter gritou
do lado de fora.

— O que nós estamos fazendo, Di? — Vanessa perguntou,


bebericando seu uísque.
Haviam acabado de sair da empresa e ido a um bar por perto:
— Esses caras… Eles cheiram a encrenca e o que nós fazemos?
Corremos atrás deles!
— O problema é que nós duas estamos completamente encantadas
pelo perigo.
— Sim! E nós não éramos assim! Quando eu estou com o Peter… Eu,
sequer me lembro que Jacob existe! Tem noção do que isso representa?
Você sabe tudo o que eu fiz por aquele homem!
— Sim, eu sei. Se tornou uma pessoa deplorável… Me desculpe por
dizer isso, mas era o que você parecia. Deixou de ser a garota orgulhosa e
independente que sempre foi!
Olhou para a prima, mas não a enxergava. Estava pensando no quanto
ela tinha razão e no que havia por trás de toda aquela sua mudança. Gostaria
de se abrir com a prima, sobre tudo aquilo, mas… ainda não se sentia
pronta.
— Eu espero, realmente, que aquela Vanessa tenha morrido, sabe?
Não me orgulho dela!
— Nem eu! Eu senti muita a falta da Vanessa original. — Riu. —
Espero que Peter a esteja trazendo de volta!
A outra girou as bolas dos olhos nas órbitas:
— Ah, Di! Você não sabe o que aquele homem faz comigo! Eu não te
contei… — Aproximou-se, para confidenciar algo. — O Peter… Ele tem
uma coisinha… — levou a mão à boca — lá, no… Você sabe! É um
piercing. Se chama apadravya…
— Meu Deus! Eu já li sobre isso! E? Vamos, me dê detalhes!
Agora sua mão descia para seu peito, enquanto mordia o lábio:
— Você não tem ideia! O estrago que aquele pequeno adereço faz! —
Revirou os olhos de novo.
— Eu acho que teria medo.
— O que eu posso dizer? Eu estava tão… ligada, que sequer tive
tempo de sentir medo… As coisas que aquele homem me faz sentir… Juro
que às vezes fico assustada…
— Sem querer cortar o seu barato, mas… O que vai fazer, se isso for
adiante e… Bom, tem a tia Susan… O Peter é bem… Exótico, então…
Vanessa fechou a cara e fitou seu copo, os ombros se tornando
rígidos:
— Sim, você cortou meu barato! Eu ainda não sei no que isso tudo
vai dar. Mas, o que eu faço de certo para a sargento, me diz? Para ela, meu
único acerto foi me casar com Jacob. E nós sabemos como terminou.
— Não sei o motivo de ela ser assim, tão diferente da minha mãe…
— Ela é amarga. E não queria filhos. Então, eu sou sua maior
frustração e ela não faz questão de esconder isso…
— Sinto muito, prima. — Diana tocou seu braço, num afago.
— Eu também sinto…
Vanessa decidiu viver um dia de cada vez. Dias repletos de Peter.
Fosse nas mensagens quentes que trocavam, fosse nos encontros tórridos no
final do dia. Ela se acostumou muito fácil a tê-lo por perto. Ela sorria,
somente de pensar nele.
Conheceu um pouco mais sobre dele. Soube que morava no sobrado
sobre a casa do pai e sua sobrinha. Era apaixonado pela garota, mas não
tinha uma boa relação com o pai. Não entrou em detalhes, ao que parecia,
tinha a ver com a morte da mãe. Contou que Mark era seu irmão mais novo,
que tiveram uma infância feliz, normal, como todas as crianças, mas que a
adolescência de ambos havia sido conturbada. Esse foi um ponto ele não
quis tocar muito. Ela respeitou.
Vanessa contou a ele sobre sua relação conturbada com a mãe. Sobre
a ausência de seu pai e que não o culpava de tudo. Contou também sobre
seu casamento, mas logo mudou de assunto. Ainda será um tópico sensível.
Naquela noite, iriam a um show improvisado de um grupo de amigos.
Ela tinha de admitir que ficou nervosa. Era a galera dele. Alguns ela já
conhecia da In The Skin, já que ela e a prima se tornaram frequentadoras
assíduas do lugar. Esses eram bem simpáticos, mas na enorme casa de dois
andares, havia muito mais gente, pessoas que ela ainda não conhecia. A
grande maioria coberta por tatuagens, com inúmeros piercings pelo corpo.
Alguns bem mal-encarados. Só estava um pouco mais tranquila por que
Diana e Bennett também estavam por lá.
Assim que chegaram, notou que um grupo de garotas as olhavam com
um pouco mais de interesse. Uma delas, Vanessa reconheceu. Era a garota
do beco com Peter, na outra noite. Era difícil não a reconhecer, já que era
exuberante, a blusa tomara que caia pouco escondendo dos seios fartos.
Tinha um estilo pin-up. Cabelos vermelhos, um penteado que a fazia
lembrar de Amy Winehouse, tatuagens coloridas pelos braços e pernas. Era
linda! Mas, seu olhar lhe dizia que não era bem-vinda em seu território.
De qualquer forma, fez questão de engatar seu braço no de Peter e lhe
mostrar que agora ele tinha dona.
Em algum momento os rapazes se afastaram. Um para ir ao banheiro,
outro para buscar bebidas. Foi quando a garota pin-up e seu grupo resolveu
se aproximar:
— Não estão um pouco longe de casa não, meninas?
— Só estamos tentando nos divertir. Não queremos encrenca… —
Diana se adiantou e Vanessa percebeu que ela estava um pouco assustada.
Assim, colocou-a atrás de si e dirigiu-se à ruiva, que parecia ser a
cabeça do pequeno grupo:
— Se está incomodada, é só não se aproximar.
A outra que usava uma lente muito azul, cruzou os braços e a
examinou inteira:
— Então, é com você que Peter anda se divertindo? Uma coisinha…
tão sem graça!
— Não é o que ele acha — rebateu Vanessa.
— Não provoque! — Diana lhe disse ao ouvido.
— Só estou respondendo!
— Não vai durar, madame! — Cruzou os braços e se aproximou ao
falar. — Você é só um passatempo, um brinquedinho novo e diferente. Logo
ele vai se cansar e voltar ao que ele realmente gosta! — declarou e apontou
para si mesma.
Ela sabia que não devia, mas não conseguiu segurar um riso:
— Meu Deus, você é tão infantil!
A irritação na outra foi visível, fechando os punhos ao lado do corpo:
— Quer que eu lhe mostre quem é infantil aqui? — ameaçou.
— Acha mesmo que vou cair na sua provocação?
— Mas é claro que não, por que a dondoca não vai brigar pelo seu
macho! — disse com voz um pouco mais alta, fazendo o restante das
meninas de seu grupo rirem. — Ela realmente não pertence ao nosso meio!
— O que está acontecendo por aqui? — era Peter quem se
aproximava e enlaçava a cintura de Vanessa. — Algum problema, Lilly?
— Nada, anjo! Só conhecendo sua nova… amiga. — Aproximou-se
dele, quase encostando os seios enormes no peito dele. — E para te avisar
que estarei disponível, quando se cansar dessa… coisinha.
Vanessa engoliu a raiva e revirou os olhos, cruzando os braços e se
controlando muito para não afastar aquela mulherzinha de Peter. O tempo
de brigar por homem já tinha passado, mas o sangue estava fervendo em
suas veias, ao ver a outra quase se esfregando nele!
Por sorte, ela se afastou, toda rebolando:
— Tudo bem, morena?
Vanessa forçou um sorriso para ele. Não queria estragar sua noite:
— Tudo OK, barbudo.
— Espero que as garotas não tenham assustado vocês…
— Não se preocupe com isso! Agora, preciso ir ao banheiro… —
avisou antes de se afastar. Não queria que ele percebesse que estava irritada
pelas palavras da outra.
Ela seria mesmo um brinquedo novo para ele? De repente, percebeu
que pensar aquilo mexia com ela. Peter estava se tornando algo muito
importante na vida dela. E não sabia se isso era bom…
Meio distraída, foi parar no segundo andar e abriu a primeira porta
que encontrou. Deu com um cara… muito sinistro. E ele estava…
espalhando o que lhe pareceu ser cocaína por uma pequena mesa…
— E aí, forasteira? Está a fim? — Apontou algumas carreiras já
prontas para serem usadas. — Eu tenho algumas balinhas também, se
preferir…
Antes que pudesse recusar, muito surpresa, Peter apareceu e a
envolveu em um dos braços, respondendo por ela:
— Ela não curte esses lances, Josh…
— E você, Peach? Vai uma balinha? — Apontou um pequeno saco
com alguns comprimidos coloridos.
— Você sabe que não uso mais essas coisas, cara…
— Sempre se pode mudar de ideia — respondeu e se curvou para
cheirar uma carreira.
Peter fechou a porta, desconfortável:
— Eu estava procurando o banheiro… — ela reafirmou.
— É por aqui… — indicou.
Assim que deixou o cômodo, deu com ele ao lado da porta:
— Eu achei melhor esperar por você. Vem. Vamos lá fora um pouco.
— Guiou-a por um longo corredor, pegando uma lata de refrigerante e uma
cerveja na cozinha. Logo alcançavam o quintal e ele a levou para um canto
vazio da varanda escura. — Eu sinto muito… — começou, ainda parecendo
desconfortável. — por aquilo. Eu tenho todo tipo de amigos, sabe? —
Estendeu a cerveja a ela.
— Está tudo bem…
— Inferno, eu não sei se foi boa ideia te trazer para cá. As garotas
invocando com vocês e agora isso!
— Peter, está tudo bem! — Enlaçou-o pela cintura, colando seu corpo
ao dele. — Eu sou bem grandinha para me assustar tão fácil assim…
— Eu duvido que esteja acostumada com esse tipo de coisa! —
Evitou o olhar dela.
— Bom, não estou, mas…
— Eu juro! Existem pessoas boas no meio de tudo isso…
— Eu sei! E eu conheci algumas delas hoje. Você não tem de ficar
preocupado…
— Eu… meio que não consigo evitar. Isso… me mostra o quanto
somos diferentes, morena. — Só então a encarou.
A respiração dela ficou suspensa. Ele não deixava de ter razão…
— Isso não muda nada…
— Será que não? Como vai ser, se um dia me apresentar para seus
amigos? Sua mãe?
Vanessa engoliu em seco. Bom, se fossem de fato seus amigos, eles o
aceitariam. Mas, pensou que não se importava muito com isso. Agora… sua
mãe…
— Pelo pouco que me falou dela, ela dificilmente me aceitaria.
— Minha mãe… Ela é bem complicada. Mas, vamos pensar nisso
quando tiver de acontecer, está bem? — Segurou o rosto dele e o voltou
para ela, mordiscou seu lábio. — Hey. Viemos aqui para nos divertir. Não
foi? — Envolveu seu pescoço, iniciando um beijo longo.
Peter logo a apertou contra si, o corpo reagindo imediatamente. Abriu
caminho em sua boca, com a língua, buscando a dela e a sugando. Ele
nunca se cansava de beijar aquela garota!
— Porra, morena! — Sem se importar que pudessem ser vistos,
apertou o traseiro dela com suas mãos grandes. — Se pudesse imaginar o
quanto sou louco por você!
— O que eu posso dizer? — Tirou o pequeno chapéu estilo Pork Pie
que ela usava da cabeça dele, colocou na sua e então acariciou a careca
dele, voltando a morder seus lábios. — Eu entendo. Também sou louca por
você, barbudo!
— Vocês vão se comer aí mesmo? Para todo mundo ver? — Foi a voz
de Bennett que os interrompeu.
— Ah, cara! Por que você não leva essas suas bolas lá para dentro e
me deixa em paz um pouco?
— É que não vivo sem você, careca. Já estava sentindo sua falta.
— Você está mesmo cuidando do homem aí, pequena? — dirigiu-se a
Diana, que vinha sob um braço dele. — Porque essa obsessão dele
comigo… Bom, ele me assusta, de vez em quando!
— Nada fará o amor encubado que tenho por você sucumbir, Peach!
Apenas aceite isso. Você está preso a mim. Agora vamos entrar, que os
caras vão começar a tocar…
Acomodadas no fundo da sala, Vanessa e Diana se entreolharam,
quando o grupo começou a tocar um pesado heavy metal. Como eles
podiam considerar aquilo como música? Ao que tudo indicava, somente
elas não estavam gostando muito. O restante, incluindo Peter e Bennett,
estavam apreciando bastante.
Segurando um riso, Vanessa teve de se conter para não tapar os
ouvidos. Essa sessão de tortura durou pela próxima meia hora. Até um
ponto em que ela já estava até se acostumando. Ou era a terceira garrafa de
cerveja que estava fazendo efeito…
À certa altura, Peter puxou Bennett pela gola, arrastando-o para o
palco:
— Venha. Vamos mostrar para esses caras como é que se canta de
verdade.
— Eles cantam? — Diana lhe perguntou.
— Eu não faço ideia!
Assim que alcançaram o pequeno palco improvisado, Peter conversou
com os músicos rapidamente, pegou um microfone e entregou outro à
Bennett:
— Quem conhecer a letra, segue aí — anunciou Peter.
Vanessa esperava outro heavy metal… Recebeu I want it that way, de
Back Street Boys.
Vanessa tapou a boca para abafar sua gargalhada. Uma salva de vaias,
risadas e assobios soou no ambiente. Alguns lançaram latas vazias em
direção ao palco.
O pior era que a voz de Peter lembrava muito a de A.J., cantor do
grupo.
Bennett, que a princípio parecia muito incrédulo, agora entrava na
onda, cantando muito bem a sua deixa.
Logo a sala toda estava cantando junto e outros caras, fortes, tatuados
e cheios de piercing subiam no palco, cantavam e até faziam a coreografia,
guiada por Peter.
Vanessa e Diana riam muito, mas logo estavam cantando a música a
todo pulmão.
Quando a música acabou, eles foram exaltados com uma enxurrada de
palmas e assovios.
— O que achou do show? — Peter lhe perguntou, assim que se
aproximou.
Vanessa voltou gargalhar, deliciada:
— Eu amei!
— Eu notei que você não estava curtindo muito heavy metal, então…
— Você tem muitos talentos escondidos…
— Ah, sim, eu tenho! Talvez, mais tarde eu te mostre outro deles…
Haviam acabado de ter outra foda sensacional e ele realmente lhe
mostrara algumas coisinhas, deixando-a extasiada e exausta. Agora, Peter
estava acomodado entre as pernas dela e traçava alguns desenhos
desconexos em seu ventre:
— Quando vai me deixar te tatuar de novo? Eu imagino coisas
incríveis sobre essa sua pele de seda.
— Eu acho que num futuro breve…
Então, os dedos subiram para um seio:
— Eu estive pensando sobre isso aqui.
— Esteve pensando sobre meu mamilo? — perguntou, quando ele
contornava o biquinho que ia ficando rijo.
— Oh, eu penso muito sobre seus peitos, você sabe? Mas, eu preciso
dizer… Você podia me deixar colocar um piercing nele…
— O que? Está louco?
— Ele ia ficar ainda mais lindo do que já é… E, sabia que ele pode
ficar ainda mais sensível?
— Sensível? Como assim?
— Você sente isso? — lambeu a auréola escura, em seguida o
mordiscou e então o chupou, olhando fixo para ela, observando suas
reações.
Vanessa suspendeu a respiração. Sim, haviam acabado de transar, mas
seu corpo ainda reagia a ele:
— Com certeza eu sinto… — sussurrou.
— Pois então… Intensifique por dez…
— Uau… Você está me deixando muito tentada… Mas… acho que o
outro também precisa ser testado…
— Oh, precisa, é? — murmurou migrando para o outro seio.
— Eu tenho um pedido a lhe fazer…
— Tudo o que você quiser, morena… — Os dedos desceran pela
barriga dela…
— Espera! — Ela o deteve. — Se você prosseguir, eu não serei capaz
de falar.
Peter obedeceu. Não sem antes dar uma última mordida no seio dela:
— Pronto. Tem toda a minha atenção.
— Eu já conheço muito dos seus amigos. Acho que é hora de você
conhecer os meus.
Ele rolou de lado, saindo do meio das pernas dela e fitou o teto:
— Para te dizer a verdade, não estou muito ansioso por isso…
— Por que?
Peter ficou subitamente quieto, cruzando os dedos sob a cabeça:
— Tem medo que eles não te aceitem?
— Eu ligo uma foda para isso. — Só então a encarou. — Mas tenho
medo que isso importe muito para você. — sua voz era grave, quando
terminou.
Vanessa apoiou a cabeça no peito dele:
— Meus amigos não são bichos de sete cabeças, Peach. E, como já
disse, se não o aceitarem, é por que eles não valem a pena. — Alisou a
barba densa dele. — Só você importa para mim… — Seu tom foi rouco e
cheio de emoção. Porque era verdade. Peter lhe era realmente muito
importante.
Um sorriso tênue se formou nos lábios finos. Ele correu uma mão
pelos cabelos dela, com carinho e a beijou docemente, parecendo também
um pouco emocionado:
— Como você quer fazer isso?

Algumas noites depois Vanessa tinha de admitir que estava nervosa.


Era aniversário da B&T Produtora, ela e a prima haviam organizado uma
festa no estúdio da agência, com todos os seus amigos, já os pais de Diana
não compareceram, pois estavam viajando. Havia enviado um convite para
sua mãe… por obrigação, logicamente. Sabia que ela não compareceria e
isso a deixava aliviada, no final das contas. Ainda não era capaz de
confrontá-la sobre seu relacionamento com Peter…
Peter que ainda não havia chegado. Daí o frio constante em sua
barriga. Ele conhecer seus amigos significava um grande passo na relação
deles. Estava pronta para isso, mas não conseguia evitar um certo
nervosismo.
Ela o viu assim que apontou na entrada, seguido por Bennett. Havia
lhe dito que poderia se vestir como desejasse, que desejava que ele estivesse
completamente à vontade. Para sua surpresa ele vestia um conjunto de terno
risca de giz e uma camisa vermelha e uma cara de mau. A respiração dela
ficou suspensa. Ele estava incrível demais! A roupa só destacava seu corpo
grande e o deixava muito sexy. De repente, sentiu muita necessidade de
beijá-lo.
Assim praticamente deixou uma amiga falando sozinha para caminhar
em direção a ele, com um sorriso enorme nos lábios. Assim que se
aproximou, foi recebida nos braços forte, num abraço apertado que a tirou
do chão e beijada com sofreguidão.
— Você está incrível! — ela murmurou junto aos lábios dele.
— Eu sei! — Vanessa riu da segurança dele. — Eu decidi que seu
evento pedia uma roupa adequada, mas eu não podia negar meu estilo.
— E você acertou em tudo!
— Agora, deixe-me olhar para você… — pediu, soltando-a,
segurando uma mão a fazendo girar em seu eixo.
Vanessa usava um vestido verde-escuro, colado ao corpo, delineando
suas curvas. O complemento eram os saltos muito altos. Com eles, ela
quase se igualava à altura dele:
— Porra, morena! Você está estonteante! — Aproximou-se do ouvido
dela. — Confesso que fiquei com muita vontade de rasgar esse seu lindo
vestido… Mas, acho que isso chocaria um pouco seus amigos. Talvez te
deixe apenas com os saltos…
Ela comprimiu os lábios, imaginando a cena. Com certeza, seria uma
fantasia que realizaria para ele. Usar apenas os saltos…
Enlaçando o braço dele, começou a apresentá-lo para seus amigos.
Como imaginara, a maioria o aceitou bem. Alguns os olhavam com uma
certa desconfiança. Algumas garotas ficaram um pouco mais acesas…
Inclusive, as mais audaciosas vinham lhe encher de perguntas sobre ele,
mas Vanessa fazia questão de deixar claro que ele lhe pertencia.
Diana e ela estavam cumprimentando alguns clientes que haviam
acabado de chegar:
— Oh, Deus… — a outra murmurou, de repente, quando o pequeno
grupo se afastou.
— O que foi?
— Não olhe agora, mas… Jacob está vindo para cá…
— Espera, quem o convidou?
— Eu não fui! Deve ter vindo por conta própria… — Então Diana
colocou um sorriso forçado em sua boca e cumprimentou o recém chegado.
— Olá você! — Esticou-se para receber o beijo que lhe era oferecido.
— Diana! Há quanto tempo não nos vemos!
— Pois é!
— A festa está incrível!
— Obrigada!
— Olá, Vanessa…
Só então essa se voltou. Havia ficado rígida ao anúncio de sua
chegada. Na verdade, não sabia como reagir à presença do ex. Ainda mais
com Peter por perto:
— Olá! — Também forçou um sorriso, os olhos vagueando o lugar, à
procura de Peter. Esse estava entretido numa conversa com alguns de seus
amigos e Bennett. — Tudo bem?
— Comigo está tudo bem. E com você?
— Eu estou ótima!
Ele a estudou por um instante e então disse:
— Será que podemos conversar um segundo?
Vanessa trocou um olhar com Diana, que meneou a cabeça indicando
à prima que poderia ir:
— Eu vou dar uma circulada…
Já sozinhos, Jacob aproximou-se mais do que Vanessa gostou:
— Eu… soube de algumas coisas e confesso que fiquei preocupado.
De alguma forma, ela sabia onde aquela conversa ia parar:
— Mesmo? — Encarou o copo entre os dedos. — E o que é que ficou
sabendo?
— Que você… anda saindo com aquele sujeito com quem a vi aqui,
no outro dia.
“Eu sabia!”, ela pensou:
— Que, inclusive, o trouxe apresentar aos nossos amigos!
— Bom, a resposta é sim, para as duas perguntas.
Então lá estava ele, perscrutando-a de novo. Então bufou:
— O que está havendo com você, Vanessa?
— Eu juro que não sei onde você quer chegar, Jacob. — Encarou-o,
de verdade pela primeira vez naquela noite. Ela ainda o achava bonito,
mas… Havia algo diferente nela sobre ele. Não sentiu o frisson que sempre
sentia à presença dele. Percebeu que há muito não pensava nele. Estaria,
enfim, livre de sua obsessão por ele?
— Não acha que está um pouco tarde para bancar a rebelde?
— Meu Deus, você terá de ser mais específico! É sério! Não estou
entendendo aonde quer chegar! — De fato, ela sabia bem onde ele queria
chegar. Só queria ver se ele teria coragem de ir até lá.
— Estou falando de você andar com um homem tão… diferente… de
nós. É isso que quero dizer.
Ele poderia ter bem dito diferente dele, mas com certeza, tentou ser
sutil. Estava, de fato, sendo tanto quando um elefante numa loja de cristais:
— Defina diferente. — Vanessa fingiu uma paciência que estava bem
longe de sentir.
— Isso não é óbvio? Ele é todo… — Parecia procurar a palavra certa.
— Vamos começar pela aparência dele. Você realmente gosta daquilo? —
Seu tom era chocado.
Sorrindo de forma enigmática, respondeu docemente:
— Você não faz ideia…
A cor pareceu sumir da face do outro:
— E o que ele faz para viver?
— Ele é um tatuador…
— E isso lá é uma profissão?
— Senhor, Jacob! Você está sendo bem ignorante agora! — bufou um
riso, a paciência se esvaindo muito rapidamente. — E por que esse súbito
interesse na minha vida particular?
— Bom, nós temos uma história! É natural que eu me preocupe com
você…
— Eu te garanto, não há nada com o que se preocupar…
— Você está mesmo envolvida com esse… sujeito?
Vanessa lançou um olhar para onde Peter estava, admirando-o. No
momento, ele ria de algo, jogando sua cabeça careca para trás. Ela o achou
tão sexy!
— A resposta é sim! — Encarou o ex, bem séria.
— E Susan sabe disso?
Vanessa o fuzilou com o olhar. Ele bem sabia como aquela mulher
era:
— Eu sou uma mulher adulta, Jacob. Não devo satisfação nem a você
e nem à minha mãe! — respondeu seca.
— Vanessa — ele tomou uma de suas mãos entre as dele —, eu estou
realmente preocupado que esteja se envolvendo com gente perigosa…

Peter procurou Vanessa com os olhos… E a encontrou com um sujeito


segurando sua mão… Sabia bem de quem se tratava. Ele nunca esquecia um
rosto. Assim, fechando a cara, marchou para onde estavam com passos
duros. Parou ao lado dela, enlaçou sua cintura e lhe deu um beijo rápido,
mas possessivo na boca:
— Olá, morena. — Então seus olhos se fixaram na mão segurando a
dela, até que o outro a soltou, lentamente.
— Oi, Peter. Esse é…
— Jacob Willianson. — O homem se adiantou, estendendo uma
mão… que Peter ignorou:
— Que bom pra você! — resmungou e voltou sua atenção para
Vanessa. — Está tudo bem por aqui, anjo?
— Claro! Tudo certo! Seu copo está vazio. Precisamos fazer algo
sobre isso. Que acha de irmos até o bar? — ela sugeriu, louca para afastar
aqueles dois.
— É uma ótima ideia, neném! — Caminhou, trazendo-a bem perto do
corpo. — O que aquele engomadinho queria com você? — perguntou
quando já estavam longe.
— Ah, nada de mais. Só queria me cumprimentar…
— Eu não gosto dele perto de você! — disse com a expressão
fechada. — Definitivamente, não gosto!
Vanessa segurou o rosto dele entre as mãos, fazendo beicinho:
— Hum, ciúmes, é?
— Porra, sim! Eu vejo como os caras te olham! — Sinalizou para o
salão. — E, afinal de contas, ele é seu ex! Vocês têm uma história…
— Isso é passado, Peter.
— Há pouco tempo, você ainda se incomodava ao vê-lo… — disse
baixinho, desviando o olhar.
— Isso também é passado. — Forçou-o a encará-la de novo e agora
estava bem séria. — Eu estou com você agora! — Acariciou sua face e
terminou, docemente. — Só com você!
O olhar de Peter se iluminou e ele a tomou para um beijo possessivo,
não se importando com as pessoas ao redor.
A festa estava quase no final, a maioria das pessoas já havia partido,
mas ela notou, tensa, que Jacob ainda estava por ali, com seus amigos e esse
havia bebido bastante… O jeito que passara a noite à espreitá-la… Os
olhares… Num outro momento, talvez tivesse apreciado. Naquela noite,
eles a incomodavam. Principalmente porque Peter parecia notar toda a
situação. A tensão tomava conta dela.
— Eu decidi que vou te levar para casa! — Jacob anunciou pegando-a
pelo pulso, quando passou pelo grupo.
Vanessa logo se alarmou e olhou para onde Peter e os demais
estavam. O grupo conversava baixinho e não viram a cena. Assim, tentou se
desvencilhar da mão que segurava:
— O que pensa que está fazendo? Me solte! Eu não vou a lugar
nenhum com você! E você está bêbado! — Torcia o pulso que ele não
soltava.
— Eu vou tentar colocar um pouco de juízo na sua cabeça.
— Jacob, pelo amor de Deus! Não faça uma cena! — Continuava
tentando desvencilhar a mão, sem sucesso.
De repente, Peter estava a seu lado, libertando-a e empurrando Jacob,
que cambaleou para trás e só não caiu, pois seus amigos o seguraram:
— Está ficando louco, seu filho da puta! Nunca mais ouse colocar
essas suas mãos em cima da minha garota! — berrou partindo para cima do
outro novamente.
Temendo o pior, Vanessa foi para a frente dele, espalmando as mãos
em seu peito:
— Peter, por favor! Deixe isso para lá! Ele está bêbado! Vamos
embora!
Peter parecia surdo a seus apelos, ainda indo para cima do outro que
mal se sustentava de pé. — Peter, por favor! — implorou uma vez mais e só
então, muito contrariado, o outro parou, sem deixar de encarar mortalmente
seu ex.
Bennett e Diana também tinham se aproximado e Bennett ajudava a
segurar o amigo:
— Vamos, Pitt. Não vale a pena…
— Eu não sou nem louco de enfrentar sujeitos como vocês! — Jacob
gritava, sorrindo feito um louco. — Vai que um de vocês tem uma arma,
uma faca. — Ria, sendo acompanhado dos amigos. — Ou uma gangue…
Peter tentou avançar sobre o outro novamente, mas foi empurrado
para longe por Bennett:
— Cara, não caia nessas provocações, caralho! É tudo que ele quer!
O outro ainda estava tomado pela ira, mas, parou ao ouvir o amigo e
deixou-se ser carregado para longe.
— Vocês! — Vanessa falou com os amigos que seguravam Jacob. —
Levem ele embora daqui, inferno!
Quando Jacob saiu, praticamente carregado, Peter deixou um grito de
frustração lhe escapar da garganta.
Vanessa veio até ele. Bennett e Diana se afastaram para deixá-los à
sós:
— Peter… eu sinto muito…
— Nada disso teria acontecido se você não o tivesse convidado! —
acusou, ainda furioso, entredentes.
— Hey, eu não o convidei! Ninguém o convidou!
— Então, ele se acha cheio de direitos, para aparecer assim!
— Isso é com ele! Eu não dei qualquer esperança!
— Mas, eu duvido que não tenha ficado mexida com a presença dele!
Os lábios dela se abriram numa exclamação ofendida. Então, respirou
fundo e respondeu:
— Eu sei que é a sua raiva falando, mas eu não gostei nenhum pouco!
Eu estou indo embora e só me procure quando estiver mais calmo! —
comunicou, deixando o lugar com passos firmes.

No domingo, dia seguinte à festa, já passava das duas da tarde e Peter


não havia ligado… Ainda estava furiosa com a acusação dele.
Principalmente quando tinha acabado de se descobrir completamente
apaixonada por ele…
Deitava no sofá, suspirou. Percebeu que Jacob não mais mexia com
ela. Estava livre. Também percebeu que precisava de Peter como se
precisasse de ar! Seria uma mentira para si mesma, se não admitisse que
aquilo a assustava. Descobriu que odiava ser dependente emocionalmente
de um homem.
Só esperava que Peter Reyes também não lhe quebrasse o coração.
Que a aceitasse como era, com todos os defeitos que ela mesma não
aceitava…
Esperava que aquela discussão besta não se transformasse em algo
grande. Precisava dizer a ele o quanto era importante para ela.

O dia de Peter havia começado mal. Após a discussão idiota com


Vanessa, havia bebido, como não costumava mais fazer. Resultado? Estava
com uma merda de uma ressaca. Além de muito envergonhado por conta de
seu comportamento. Tinha bancado um idiota com ela, por conta de seu
ciúmes. Por isso estava sem coragem de ligar.
Para ajudar, era o aniversário de morte de sua mãe… Um dia cinza,
como seu espírito.
Naquela tarde, deixou Sophie com Bennett na loja, quando chegou ao
cemitério deu com seu pai ao lado do túmulo. Suspirou. Tudo o que menos
desejava era o velho tentando se aproximar de novo.
Como ele, Terrence havia trazido um grande buquê de petúnias, as
preferidas de Joanna.
Os dois se entreolharam e trocaram um breve aceno de cabeça.
Mesmo morando tão perto, quase não se viam. Quando Peter não estava no
trabalho, pegava a sobrinha, e, ou ia passear com a garotinha, ou ficavam no
quintal, brincando. Ou mesmo em seu apartamento, assistindo os filmes
infantis que ela tanto gostava. Ele sempre dava um jeito de evitar o velho.
Às vezes, sentia-se mau por seu comportamento, mas a mágoa ainda estava
lá.
Terrence suspirou profundamente, antes de começar:
— Nem parece que já se passou tanto tempo.
— Verdade… Me lembro de tudo, como se fossem ontem… — Seu
semblante se tornou triste. De fato se lembrava de tudo.
Do dia em que a mãe foi internada e nunca mais voltou. O tumor em
seu cérebro fez seus últimos dias serem muito tristes. Já não reconhecia os
filhos… Não chamava mais pelo marido ausente… Peter também se
lembrava de ouvir o irmão, que se trancava no banheiro para chorar. E,
quando ela partiu, numa manhã chuvosa de junho, foi o início da
tempestade na vida de Peter. Já tinha dezoito anos e nunca havia bebido
tanto em sua vida. Não diminuiu com o passar dos dias. Ao contrário. Logo
partiu para coisas mais fortes… Conhecia caras da pesada e começou a
participar de coisas das quais se envergonhava muito. Então, Mark tentou
segui-lo. Brigou feio com ele, quando esse apareceu onde se encontrava
com a turma. Chegou até mesmo a lhe dar uma surra… Arrependeu-se
disso, pois estava sob influência das merdas que usava. Tentou evitar que o
irmão embarcasse naquele mundo e conseguiu que ele não frequentasse o
mesmo meio que ele. Infelizmente, Mark conseguiu encontrar sua própria
galera.
Nesse período, Terence se mostrara arrependido por ter se afastado no
momento em que Joanna mais precisava dele. Só que um revoltado Peter
não o aceitou de volta. Mark já havia se perdido e praticamente não
aparecia mais. Peter nem mesmo permitiu que o pai voltasse a morar na
casa em que cresceram. Isso só aconteceu quando Sophie entrou na vida
deles.
— Quando sua mãe ficou doente… — Terence começou, parecendo
ler os pensamentos de Peter — e eu soube que não havia o que fazer, que
era uma questão de tempo… Eu fiquei louco! Eu a amava demais para
aceitar que eu a perderia assim. Então, me tornei um covarde. Me entreguei
à bebida, fui me afastando cada vez mais dela, de você e Mark. Na minha
cabeça idiota, eu achava que se eu me afastasse dela, principalmente, seria
menos doloroso quando partisse…
— Esse seu pensamento egoísta só a fez sofrer mais, em seus últimos
dias! — acusou Peter, duramente.
De repente, o velho soluçou, os ombros retesados, entregue ao
sofrimento:
— Foi minha forma de lidar com a partida dela.
— Uma forma muito idiota! — foi o murmúrio de lamento de Peter.
— Sim. Foi. E eu soube no momento em que ela se foi, que nada
daquilo tinha funcionado. Eu senti a dor da perda rasgando meu peito, me
deixando tão desorientado que eu só queria morrer também. E eu teria feito
alguma loucura comigo mesmo, se não fosse por você e Mark.
O silêncio imperou por um instante, os dois olhando para a lápide de
Joanna. Então era a vez de Peter suspirar profundamente, enquanto brincava
com uma folha recolhida do chão:
— Você se recordou que tinha filhos tarde demais. Nosso laço já
estava desfeito.
Terrence ficou olhando para o filho, por um longo momento. Então
disse:
— Eu sei. E sinto muito por isso. E temo que nunca vá me perdoar,
como eu mesmo não consigo me perdoar. Joanna já estava sofrendo e eu
não fui apoio que ela precisava. Sei que fui covarde, egoísta. Se fosse
possível voltar no tempo… — O homem recomeçou a chorar. — Se fosse
possível! Uma única vez!
Peter fechou os olhos, segurando as próprias lágrimas. Então
espalmou uma mão no ombro de seu velho, confortando-o:
— Infelizmente não há como voltar, mas fico aliviado que entenda
que o que fez foi errado e se arrepende disso. Agora vamos deixar o
passado no passado e tentar seguir em frente…
O pai já era idoso. A saúde já não andava muito boa… Peter pensou
que talvez fosse a hora de darem uma trégua. Era grato demais a Terence
pelo que fazia por Sophie. Ele nunca esqueceria o abandono, mas o velho já
havia sofrido muito. Perdera a esposa e podia se dizer que também havia
perdido o filho mais novo…
Terence partiu e Peter ficou por ali, limpando algumas ervas daninhas
que cresciam ao redor do túmulo. Quando um movimento adiante lhe
chamou a atenção. Foi como vislumbrar um fantasma, mas era Mark. O
choque o alcançou. O homem era quase um vulto, de tão magro e pálido. Os
cabelos muito crescidos, assim como sua barba. As roupas muito
amarrotadas.
Quando notou que havia sido visto, o rapaz tentou correr:
— Mark, não fuja! Fique! Por favor!
O outro pareceu ponderar. Então, aproximou-se, ressabiado. Trazia
um ramo de flores. Provavelmente roubado de algum canteiro por aí:
— Como está, irmão?
Peter notou que Mark estava num raro momento de sobriedade:
— Acho que melhor que você… — não pode evitar de dizer.
— Isso é nítido! — concordando, sorriu um sorriso falho, por conta
da alta de alguns dentes. — Eu vi o velho sair há pouco. Como ele está?
— Relativamente bem. Ele se preocupa muito com você.
— Claro! — bufou, com escárnio.
— Eu também me preocupo muito, Mark.
— Você já devia ter desistido de mim, cara… Eu mesmo já desisti…
— Eu nunca vou desistir de você! Você é meu irmão! Eu sempre vou
me preocupar! Se houvesse um meio…
— Não há! — Mark o cortou. — Você sabe que não há, então, nem
perca seu tempo.
— Sophie sempre me pergunta sobre você…
O jovem baixou sua cabeça e Peter o viu engolir em seco… ou estaria
mesmo emocionado:
— Ela está muito melhor sem mim… — sussurrou. — Eu nunca vou
me cansar de te agradecer por cuidar dela…
— Eu a amo. Não é uma obrigação para mim, de todo modo.
— Desculpe pelo outro dia…
— Quando me deixou sozinho nas mãos daqueles caras? — acusou.
— Você nem devia se espantar. — Riu, mas era um riso amargo. —
Sabe que sou um covarde de merda. E eu tinha certeza de que ia se sair
bem. Você sempre consegue… — Terminou, cheio de significados.
— Se você colaborasse, Mark! Se decidisse sair dessa vida de
verdade…
— Acha mesmo que eu já não tentei?
— Eu consegui! Você poderia também, se se esforçar…
— Eu sou um fraco, Peter! Eu já estou perdido! — Deixou as flores
tão amarrotadas quanto ele sobre o túmulo. — Diga a Sophie que eu mandei
um beijo. Te vejo por aí…
Então partiu, deixando Peter com aquela sensação de impotência. E
culpa…
A noite chegou e encontrou-se diante da porta de Vanessa, batendo
timidamente. Havia se vestido com ela gostava. Um lenço vermelho com
estampas brancas em sua cabeça, uma camisa preta com poucos botões
fechados, que deixava seu corpo tatuado à mostra e uma bota estilo militar.
Quando ela abriu, não foi recebido com o sorriso largo que amava:
— Oi… — Começou, suavemente.
— Olá. — foi a resposta séria dela.
Recostou-se no batente, deixando todo seu estado de espírito
transparecer:
— Será que você pode me perdoar por sido tão idiota? — suspirou, a
cabeça pendendo para o lado. — Meu dia foi de merda e, tudo o que eu
preciso, é do seu corpo quente, morena.
Ela pareceu ponderar, olhando para sua cara miserável. Então,
suspirou e lhe estendeu os braços abertos. Ele correu abraçá-la, escondendo
seu rosto na curva do pescoço dela:
— Meu domingo também foi de merda, por causa da nossa discussão
idiota…
— Eu sinto muito, anjo! Eu deixei a merda do meu ciúmes me
dominar! Fui mesmo muito idiota…
— Sim, você foi! Seu bobo! Será que não vê o quanto eu… — ela se
interrompeu, como se não soubesse se devia prosseguir.
Peter a trouxe junto da parede, ao lado da porta. Uma perna entre as
suas, uma mão pousada possessivamente na cintura fina e outro braço
apoiado na parede, ao lado da cabeça dela. Então a olhou de cima, os olhos
fixos nos lábios carnudos:
— O quanto você o que, anjo? Termine o que dizia. Me deixou
curioso.
Vanessa brincou com a gola da camisa dele, fazendo um beicinho:
— Não sei se você merece ouvir. Foi um garoto muito mau ontem!
— Eu sei que fui… — Esfregou seu nariz no pescoço delgado,
enquanto murmurava: — O que eu posso fazer para você me perdoar?
— Me beije. — Enlaçou seu pescoço grosso, erguendo a cabeça para
ele.
— Eu estou louco por isso, de qualquer forma… — Tomou seus
lábios, provando sua textura.
Logo invadia o recanto úmido, pedindo passagem entre seus dentes.
As mão grandes indo apertar as nádegas sob o vestido curto que ela vestia:
— Mas… o que é isso? — ele se surpreendeu, quando notou que ela
não usava uma calcinha.
Vanessa sorriu com falsa inocência:
— Talvez… só talvez, eu estivesse esperando por você…
— Ah, morena, eu acho que estou apaixonado!
O beijo se inflamou rapidamente, tornando-se necessitado, urgente.
Logo ele estava mordendo o lóbulo dela, puxando suas pernas para enlaçar
seus quadris:
— Por favor, me diga que está tomando pílulas! — implorou,
descendo as alças do vestido e desnudando os seios fartos.
Ela mentiu, meneando a cabeça e arfando quando ele tomou um bico
túrgido em sua boca:
— Você não tem de se preocupar com isso…
Apressadamente, ele apoiou o peso dela com um braço e o sentiu
remexer no cinto e no zíper do jeans. Logo o sentiu em sua entrada, mas,
não a penetrou ainda. Esfregou a ponta sedosa de cima para baixo, algumas
vezes. Vanessa experimentou o geladinho de seu piercing perturbando seu
clitóris já sensível:
— Oh, Peter! Eu preciso de você! — lamuriou-se, necessitada dele.
— Onde você precisa de mim, Vanessa? — posicionou seu pau em
sua entrada novamente. — Aqui? É aqui que precisa de mim, Vanessa?
Seu nome soava tão possessivo na voz dele! Ela amou isso!
— Sim! Eu preciso de você aí…
Ele continuou apenas se esfregando nela, provocando-a, deixando-a
cada vez mais louca de desejo:
— Então me deixe saber o que ia dizer.
Ainda grudada ao pescoço dele, ela o encarou, sentindo uma névoa de
excitação tomar conta de seu corpo:
— Eu ia dizer que… — mordiscou seu lábio — eu gosto de você…
Peter estacou por um instante, olhando-a, maravilhado:
— Você gosta, é? — Então a penetrou numa única estocada.
Ela gritou, seu corpo se acostumando ao tamanho dele devagar:
— Sim! Eu gosto!
— Quanto? — Estocou de novo. — O quanto você gosta de mim,
Vanessa?
— Muito! — Buscou a boca dele, lágrimas quentes rolando por suas
faces. — Eu gosto muito de você, Peter Reyes!
Peter sorriu de satisfação. Ajustou a posição dela, enganchando os
braços por debaixo de suas coxas e mantendo-as muito separadas. As costas
dela pressionadas contra a parede:
— Eu também gosto muito de você, bebê! Você não faz ideia!
Depois de um banho Peter vestiu a boxer e a calça, Vanessa trocou de
vestido e agora estavam no sofá. Ele com a cabeça no colo dela, falando
sobre seu dia de merda:
— Ver meu irmão tão… Ele está acabado, sabe? Sua aparência mais
se assemelha a de um mendigo.
— Eu nem sei o que te dizer, além de que sinto muito por isso,
Peach!
— Essa porra toda é uma merda! A única coisa boa da minha tarde,
foi que, acho que me entendi com o velho. Eu percebi que já é tarde para
guardar essas mágoas.
— Isso é muito bom, Peter… — batidas secas na porta a fizeram
sobressaltar. — Que estranho… Não estou esperando ninguém… — disse,
levantando-se, enquanto Peter vestia a camisa e indo atender. — O que
significa isso? — Vanessa ficou surpresa quando Jacob, seguido por sua
mãe, invadiram sua sala.
Susan estacou quando deu com Peter. Ela o analisou inteiro, com cara
de nojo:
— Eu tinha de ver com os meus próprios olhos! É com isso que anda
envolvida, Vanessa?
— Eu não acredito que você foi correndo contar para ela! — acusou,
fuzilando o ex com os olhos. — Isso é tão infantil!
— Alguém tinha de colocar juízo na sua cabeça! Eu imaginava que
estivesse por aqui — dirigiu-se a Peter. — E isso é ótimo! Já que você é o
assunto. — Jogou uma pasta sobre a mesa de centro.
— O que é isso? — Vanessa quis saber.
— A ficha corrida desse sujeito! — comunicou Jacob. — E nem foi
difícil conseguir! Algumas ligações e estava feito. Você não sabe com que
tipo de homem está se envolvendo, Vanessa! — disse apontando para Peter
com desdém.
— Esse homem não passa de um viciado, um bandido! — Susan
pegou a pasta da mesa e entregou para ela. — Eu li as atrocidades que ele
foi capaz de fazer! Veja por si mesma! E eu espero que depois disso, você
se afaste dele de vez!
Um silêncio pesado pairou na sala, onde Peter e Jacob se encaravam
com ódio mortal e Vanessa segurava a pasta contra o peito. Sua respiração
era pesada. De alguma forma ela sabia que Peter só estava se segurando por
conta da presença de sua mãe.
Então, erguendo o queixo, Vanessa começou:
— Mãe, eu sei que Peter tem um passado complicado, mas…
— Complicado? Você não faz ideia! Que ele foi um delinquente, dá
para saber, só de olhar para ele! — Examinou-o com desdém. — Mas, eu
duvido que ele tenha lhe dito tudo que já fez nessa vida!
— Eu vou conversar com ele e…
— Não! Ele pode muito bem mentir para você! Eu quero estar aqui
quando você ler o que está escrito nesse documento!
Vanessa olhou para Peter. Esse evitou seu encará-la. Ela engoliu em
seco. Estava assustada. Não sabia o que fazer.
— Se eu fosse você, dava o fora, quando ainda tem tempo! — Jacob
ameaçou.
— Por que você acha que eu tenho medo de você? Juro, ontem eu não
acabei com a sua cara porque você estava bêbado! Nada me impede que eu
o faça hoje! — Peter revidou, aproximando-se perigosamente. — Talvez
você é quem deva cair fora, enquanto eu ainda estou com paciência, filho da
puta!
— Você acha que vai nos assustar com sua cara de mau, seu tamanho
e sua boca suja? — Susan atacou.
— Tenho certeza que, no fundo — o ex encarava o outro muito de
perto —, você sabe que Vanessa não vai mais querer olhar essa sua cara
imunda, depois que ler sua ficha criminal!
— É melhor você calar a sua boca…
— Ou o que?
— Peter, Jacob! Por favor! — Vanessa suplicou, pouco antes de ver
seu ex empurrar o peito de Peter, de forma provocativa.
Ela soube que tudo estava perdido. Peter pegou o dedo de Jacob,
torceu e então agarrou seu braço, puxando enquanto acertava com o joelho
na cara.
O que se seguiu foi um pesadelo. Os dois se engalfinharam,
destruindo tudo o que tinha pela frente.
— Seu animal! — Susan gritava. — É assim que resolve suas coisas?
Seu porco imundo!
— Mãe, cale a boca! Você não está ajudando! Peter! Por favor! Pare!
Contudo o homem estava surdo a seus apelos. Ele era maior que
Jacob e esse estava levando uma surra.
No momento, ele estava caído e apanhando muito. Vanessa temia pelo
pior. Assim, agarrou-se no braço de Peter, para evitar um último golpe:
— Peter, pare! Você vai matá-lo!
Tudo foi muito rápido. Acabou sendo lançada para a parede com
violência. Bateu as costas e a cabeça. Sentia muita dor, quando notou Peter
se aproximando.
— Vanessa! Você está bem?
Num impulso, encolheu-se e ele estacou.
— Seu depravado! Saia dessa casa antes que eu chame a polícia! —
Susan gritou, empurrando um chocado Peter, que mal se movia, os olhos
muito verdes fixos nela.
Ele então olhou para as próprias mãos, cobertas do sangue de Jacob.
À essa altura, o corredor estava cheio.
Um pouco tonta, ela vislumbrou quando ele saiu pisando duro do
lugar.
Então Susan e Jacob estavam sobre ela, colocando-a de pé. Falavam
juntos, deixando-a ainda mais tonta.
Acomodada no sofá, segurou a cabeça entre as mãos. E os dois
falando à sua frente, sem parar. Estavam deixando-a louca!
— Saiam! — gritou, de repente! — Eu quero que vocês saiam! —
Colocando-se de pé, começou a empurrá-los rumo à porta.
— Você vai me colocar para fora assim? Aquele animal acabou
comigo!
— Você o provocou, seu imbecil! Eu não vou cuidar de você! Procure
um hospital!
— Vanessa, você não pode me tratar assim! Eu sou sua mãe! Estou
tentando te salvar desse lixo de homem…
— Mãe, por favor! Cale a boca!
— Não fale comigo assim! Eu exijo respeito!
— Você respeitou minha casa? Você respeita minhas vontades? Não!
Então, não exija algo que não dá!
— Eu só estou tentando te ajudar…
— Me ajudar? Você? Desde quando se preocupa com meu bem estar?
Soube que eu estava feliz e isso te incomoda!
Susan a olhou do alto, com desprezo:
— Sua ingrata! Não duvido que mesmo depois de ler tudo o que tem
ali, ainda fique enrabichada com aquele sujeito!
— Sou uma mulher adulta, mãe! Sei cuidar de mim! Quanto a você
— lançou um olhar para Jacob, todo inchado e sujo de sangue —, desde
quando se importa tanto comigo?
— Não seja injusta! Eu sempre vou me preocupar com você! Afinal,
temos um passado juntos!
— Sim! Um passado e é só isso! Apenas notou que que eu não era
mais a idiota que corria atrás de você e isso mexeu com seu ego! Não ouse
se aproximar de mim novamente! — Então, notando alguns vizinhos mais
curiosos pelo corredor, gritou. — O show já acabou, seus imbecis! — gritou
antes de bater a porta com força.
Sua cabeça girava. Só conseguia se lembrar do olhar desamparado de
Peter quando viu o que tinha causado a ela…
Olhou ao redor. Sua sala parecia uma zona de guerra. Então seus
olhos pousaram nos malditos papéis que haviam se espalhado pelo chão.
Começou a recolhê-las.
Havia ao menos umas seis, sete páginas. Sentando-se, abandonou a
pasta sobre a mesinha de centro, uma das únicas coisas que permanecia
inteira na sala. Estava amedrontada.
Ele havia lhe dito que não fora um santo… Ela nunca inquiriu sobre
isso, talvez por receio… Mas, ele nunca disse que seu passado envolvia
polícia…
Tomou a cabeça entre as mãos novamente. Ainda estava um pouco
tonta, suas costas doloridas.

Já era tarde da noite. O movimento no estúdio estava mais calmo. A


maioria do pessoal estava na recepção, rindo, falando bobeiras. Peter estava
ali, bem no fundo da sala, meio alheio a tudo. A vontade de beber algo,
batendo forte, mas temia começar com uma bebida e acabar indo para
outros caminhos. A tentação sempre estava lá…
Haviam se passado duas noites, desde o episódio no apartamento de
Vanessa. Ela não havia ligado. Ele não tivera coragem de entrar em contato.
A verdade era que nem sabia se a veria de novo. Se tivesse juízo, nunca
mais se aproximaria de um sujeito como ele. Com um passado tão feio.
Vanessa era como uma princesa proibida. Havia vivido um tempo
bom com ela. Cogitar um futuro já era audácia demais.
Por Sophie, sabia que devia sossegar, dar à garotinha uma família,
mas quando isso acontecesse, devia ser alguém do seu meio. Observou as
garotas do lugar. Todas muito bonitas. No entanto, nenhuma lhe despertava
o corpo como aquela morena fazia. De alguma forma, sabia que sua ligação
com ela já não era somente uma questão carnal. E isso assustava muito.
Disfarçou um suspiro. Seria difícil esquecer uma mulher como ela…
Principalmente, quando ela entrava na loja naquele momento, logo atrás de
Diana.
Peter empertigou-se, muito atento. Ela cumprimentou a todos, os
olhos dourados vagueando o lugar, até encontrá-lo e se detiveram nele. Os
pelos de sua nuca se eriçaram. O poder que a simples presença dela tinha
sobre ele…
Vanessa não se aproximou. Ela já era bem amiga de todos ali, porém
de alguma forma sabia que estava ali por ele. Seus olhos não conseguiam
deixar aquele corpo que conhecia tão bem.
Num dado momento, onde ela o encarava de volta, levantou-se e
rumou para seu estúdio. Esperava que ela pegasse a deixa.
Sim, ela havia entendido seu chamado mudo e logo entrava pela porta
que ele deixou aberta.
Por alguns instantes, ficaram apenas se encarando.
— O que veio fazer aqui? — Ele começou.
— Acho que precisamos conversar…
— Mesmo depois de ver aqueles papéis?
— Sim. Principalmente, depois de ver aqueles papéis.
— Eu te disse que não fui nenhum santo…
— Sim, mas… Acho que me assustei um pouco com o que vi no
relatório… — confessou.
— O que tinha lá?
— Brigas, agressões, posse de drogas… roubo de carro…
Peter baixou a cabeça, batendo um punho fechado numa coxa:
— São verdades?
Ele suspirou e cruzou os braços:
— Fui um jovem bem revoltado com a morte da minha mãe e o
abandono do meu pai. Eu fiz muita merda! — Esfregou as mãos pela
cabeça lisa, num gesto nervoso. — Sei que não é desculpa. Eu sei que
deveria ter enfrentado tudo isso, mas… acabei optando por um caminho…
mais fácil — bufou um riso irônico. — Que se revelou não ser tão fácil
assim. Vivia alto. Qualquer mínima coisinha era motivo para brigar. Numa
dessas, achei que dava conta de dois caras num bar. Levei a pior. Então, tive
a brilhante ideia de roubar o carro de um deles. Não foi difícil, mas… Usei
tanta merda naquela noite, que os policiais me encontraram dentro do
automóvel ainda, apagado. Peguei oito meses e saí por bom comportamento
e por conta do bom advogado que o Bennett bancou. Foi quando eu
percebi… com a ajuda do esporro do Bennett, que eu tinha de parar com
tudo aquilo, senão, não teria mais volta. Foi muito difícil, mas consegui sair
daquela vida. — Seu tom e seu olhar, fixos no chão, tornaram-se tristes e
sombrios. — Meu irmão não teve a mesma sorte… Eu não o levei para esse
caminho! — defendeu-se, como se lendo a mente dela. — Briguei muito
com ele para que não me seguisse. Não adiantou. Posso não tê-lo levado
pela mão, porém fui o exemplo. Então, se ele é o que é hoje em dia —
correu as mãos pela cabeça novamente —, a culpa é toda minha!
Vanessa ainda assimilava as palavras dele. Sentia muita pena do
jovem que ele havia sido. Também lhe cortava o coração saber que se
achava culpado pelo destino do irmão.
— Você… ainda usa… ? — ela não sabia bem como perguntar
aquilo.
— Não! Depois da prisão, eu parei de vez. Não bebo nem álcool
mais.
Peter levantou a cabeça um instante, então riu de forma amarga e lhe
deu as costas:
— Porra, eu não consigo te olhar nos olhos! Estou muito
envergonhado… — concluiu num murmurinho. — Posso não ser mais
aquele jovem, mas ainda sou um animal que perde o controle muito fácil,
quando provocado. Você viu do que sou capaz de fazer — falou baixinho.
— A propósito… eu sinto muito pelo seu apartamento. Faço questão de te
ressarcir de qualquer prejuízo… E… me perdoe por todo o resto… Você se
machucou? — Seu tom era grave agora. — Quando… quando a empurrei?
— Ele a olhava de lado e podia ver que engolia em seco várias vezes, seu
pomo-de-adão subindo e descendo com o movimento.
— Não, eu estou bem…
— Vanessa, eu juro! Nunca te machucaria deliberadamente! Nunca!
Aquele homem enorme se assemelhava com uma criança vulnerável
no momento.
— Eu sei…
— Como pode saber? Mal me conhece!
— De alguma forma, eu sei.
— Mas, eu senti que teve medo de mim… Quando tentei me
aproximar.
— Eu acho que foi o reflexo, Peter. Eu sei que não me machucaria
voluntariamente.
O silêncio tomou a sala. Peter ainda estava de costas. Parecia que
ainda não ousava encará-la:
— Eu acho que sua mãe tem razão… — disse tão baixo que ela mal
ouviu.
— O que?
— Não sou homem para você. Talvez seja melhor se afastar.
— Você quer que eu me afaste?
— Não! — a resposta veio rápido. — Mas, talvez seja o certo.
O coração de Vanessa batia tão descompassado! A respiração
suspensa. Afastar-se de Peter? De seu sorriso lindo? Do riso contagiante
que eram carícias para seus ouvidos? Do abraço aconchegante que só ele
tinha? Dos beijos que a faziam esquecer de todo o resto? Nunca mais ser
amada pelo corpo dele? Aquele corpo que já conhecia como a palma de sua
mão?
Num ímpeto caminhou até ele. Abraçou-o por trás, encostando sua
cabeça nas costas largas:
— Talvez você tenha razão. Talvez eu devesse me afastar, mas eu
sequer consigo pensar nessa ideia!
Os ombros largos se retesaram a cabeça meneando negativamente:
— Eu tenho medo de te decepcionar, morena.
— Eu também posso fazer isso com você, Peter. Eu posso não ter um
passado tão complexo quanto o seu, mas eu não sou perfeita!
Ele, enfim se voltou e tomou o rosto dela entre as mãos:
— Você é perfeita para mim! — Acariciou sua face, ajeitou seus
cabelos atrás da orelha, examinando sua face com ternura. — Eu sou louco
por você, Vanessa!
— E eu por você, barbudo!
Beijou-a com paixão, trazendo seu corpo muito junto, até quase serem
um só. A língua ávida em busca da dela. As mãos grandes explorando,
erguendo a saia curta, apalpando as nádegas redondas.
Vanessa gemia, colocando-se nas pontas do pés, para sentir a ereção
dura contra seu sexo. Ele percebeu isso e esfregou-se nela, a boca indo
explorar seu pescoço.
Segurando-a pelas coxas, ele a fez enlaçar seu quadril com as pernas.
Então, encaminhou-se para uma mesinha lateral. Com uma mão, jogou
todas as tintas que havia naquele lugar para o lado. Algumas foram para o
chão, mas ele não se importou. Depositou Vanessa nessa mesinha, agora
ocupando-se em abrir a blusa dela. Quando o sutiã surgiu, ele sorriu:
— Abençoado seja o sujeito que inventou o fecho frontal! — Assim
dizendo, soltou-o e os seios dela pularam livres. Peter abocanhou um bico,
massageando o outro com os dedos.
Vanessa se esfregava nele, rebolando, as pernas firmemente engatadas
na cintura estreita:
— Oh, Deus, Peter! Isso é tortura! — Suas mãos agarravam o traseiro
dele, para trazê-lo ainda mais para perto, se é que isso era possível.
— Sim, eu sei! Ah, morena! Eu nunca fodi uma garota aqui no meu
estúdio. Estou cogitando, sinceramente, que você seja a primeira… —
Voltou a tomar os lábios dela com sofreguidão. Fazia movimentos de subir
e descer, instigando-a ainda mais.
Vanessa choramingava e se contorcia, quase fora de controle.
Quando o polegar veio atormentar seu clitóris inchado, ela levou a
mão dele à sua boca, para abafar os gritos que ameaçavam lhe escapar da
garganta, enquanto as ondas de prazer se espalhavam por seu corpo, os
olhos inflamados fixos aos dele. Quando explodiu, agarrou-se a ele,
apertando-o com suas pernas:
— Ah, porra! Eu quase gozei nas minhas calças, vendo você explodir
assim!
Alcançando a ereção dele, apertou-a por sobre o jeans:
— Eu posso te ajudar com isso? — sugeria, lambendo os lábios.
Peter voltou a agarrar os cabelos dela, trazendo seu rosto para bem
perto:
— Caralho, garota! Não me provoque! Eu ainda preciso trabalhar. Eu
sei que você pode cuidar dele mais tarde.
— Sim! Eu posso! — Beijou-o uma última vez e então se olhou no
enorme espelho. — Meu Deus! Olhe para mim! Parece que eu fui fodida…
— Bom… — Peter estava num canto, limpando os dedos num
punhado de guardanapos de papel. — Você foi… — Sorriu de forma
pecaminosa.
— Sim, mas ninguém lá fora precisa saber — retribuiu o sorriso de
forma cúmplice, enquanto tentava se ajeitar.
— Eu quero te apresentar a alguém… — ele comunicou, no final de
semana seguinte.
O laço entre eles havia se estreitado ainda mais nos últimos dias. Só
havia um porém. Haviam decidido que não haveria mais segredos entre os
dois… Vanessa sentia-se culpada, porque não estava sendo 100% aberta
com ele. Sabia que um dia teriam aquela conversa, mas… não se sentia
pronta ainda.
Jacob ligava, vez por outra. Vanessa não o atendia. Teve mesmo a
audácia de vir procurá-la em seu prédio. Deixou o porteiro avisado de que
não era para deixá-lo subir. Também o repreendeu por deixar sua mãe subir,
dias antes. Argumentou de que era sua mãe, mas foi enfática. Susan não
tinha autorização para subir, quando bem quisesse. Essa não a procurou
mais… não ficou surpresa.
— Oh, Deus! — Ela arregalou os olhos e levou as mãos à boca. —
Você vai me levar para conhecer sua sobrinha!
— Isso mesmo. Ela está muito curiosa sobre você…
— Você já falou sobre mim com ela?
— Com certeza! — Veio lhe envolver a cintura. — Disse que tenho
uma… amiga muito linda e que estou caidinho por ela.
— Amiga, é? — Abraçou seu pescoço, usando um tom de acusação.
Peter riu, um pouco sem jeito:
— Eu não poderia entrar em detalhes sobre o que fazemos…
— Logicamente que não! — respondeu rindo. — Mas, se vou
conhecê-la, eu não posso ir de mãos abanando! Precisamos ir às compras!
Pouco depois já se encontravam num shopping, em uma loja de
brinquedos. Vanessa não fazia ideia do que dar à menina. Peter foi em seu
socorro:
— Eu dei um desses para ela, há um tempo. — Pegou um coelho com
longas pernas. — Ela o apelidou de Senhor Coelho. Prometi a ela que
encontraria a Senhora Coelho, mas, ainda não tive tempo.
Vanessa então fuçou por toda a sessão de pelúcias, terminando
frustrada:
— Não há uma Senhora Coelho por aqui!
— Sim, eu notei.
De repente, os olhos dourados dela se iluminaram:
— E se a gente levar esse coelho, comprar roupas de criança,
calçados e um laço e o transformar em Senhora Coelho?
— Isso pode funcionar…
Na hora do pagamento, Peter estendeu seu cartão para vendedora. No
entanto, Vanessa não permitiu:
— De jeito nenhum! — Substituiu o cartão dele pelo dela. — Eu
estou presenteando, então, eu pago!
— Ela nem vai saber disso… — insistiu ele.
— Mas eu sim! — respondeu enfática, dizendo à vendedora que
poderia descontar de seu cartão.
Pouco depois, encontravam-se na praça de alimentação, fazendo a
transformação do coelho:
— Ah, isso é tão legal! — Uma animada Vanessa, vestia o bicho de
pelúcia.
Peter sorriu com carinho. Ela parecia tão entusiasmada com algo tão
simples. Não resistiu e lhe beijou docemente a testa.
Tinha de admitir que também estava nervoso com aquele encontro.
Desejava que as duas mulheres de sua vida se dessem bem. Se isso
acontecesse, ele seria a porra do homem mais feliz de todo o mundo.
— Olhe isso! — Vanessa elevava a agora Senhora Coelho para o ar.
— Ficou simplesmente perfeito! Seja sincero e me diga. Acha que Sophie
vai gostar?
— Eu tenho certeza de que ela vai adorar!
— Vamos torcer por isso! Agora só precisamos de um grande
embrulho…
Quando estacionaram o GT 69 na frente da casa de dois andares,
Vanessa lhe estendeu as mãos:
— Olhe! Estão geladas!
Ele riu e as beijou:
— Sophie não é um bicho de sete cabeças não, morena!
— Eu sei que crianças são as coisinhas mais sinceras do mundo! E se
ela não gostar de mim?
— Isso é impossível, anjo! Venha!
Quando chegaram à sala da casa, um senhor que era a cópia de Peter
os recebeu. A diferença era que esse ainda tinha cabelo:
— Vanessa, esse é o meu pai…
— É um prazer conhecê-lo, senhor Reyes.
— O prazer é meu, Vanessa, mas me chame apenas de Terence, OK?
— OK, senhor… Terence — corrigiu-se.
Peter havia desaparecido de seu lado, mas logo voltou, carregando
uma garotinha sob um braço:
— E essa pestinha aqui é a Sophie. Diga olá para minha amiga
Vanessa. — Ele a ergueu e a colocou diante da outra.
— Olá, Vanessa — a garotinha disse, rindo da forma como o tio a
segurava.
Vanessa ficou simplesmente encantada. A menina também era uma
cópia de Peter. Os olhos eram impressionantemente iguais aos dele!
Qualquer um diria que era a filha dele. Uma súbita angústia a tomou, mas
disfarçou com um sorriso:
— Olá, Sophie! Você é simplesmente linda!
— Como é que se diz? — Peter a sacudiu.
— Obrigada! — a menina gritou, ainda rindo.
— Eu trouxe algo para você. — Vanessa estendeu o embrulho que
segurava junto às costas. — Espero que goste.
— Oba! Presente! — A menina foi colocada no chão e correu pegar o
pacote. — Quando terminou, deu uma longa exclamação. — A Senhora
Coelho! Olha tio! — Mostrou, esfuziante.
— Você gostou? — uma ansiosa Vanessa perguntou, abaixando-se
para ficar no nível da criança.
A resposta veio na forma de um abraço que a menina lhe deu,
pendurando-se em seu pescoço:
— Eu amei! — Tão logo começou o abraço terminou, pois a
garotinha disparou para seu quarto, trazendo o outro coelho consigo. —
Olhe! — Estendeu para ela. — Agora eles são um casal.
— O Senhor Coelho também é lindo!
As duas se enredaram numa conversa animada e o coração de Peter se
acalmou. Sentou-se numa poltrona perto, sorrindo feito bobo, enquanto as
admirava. Ele ousou sonhar que um dia seriam uma família…
Vanessa estava simplesmente apaixonada pela pequena. Era muito
esperta para a idade dela. Fez questão de lhe mostrar seus cadernos e de
como já sabia escrever seu nome. Levou-a até seu quarto para conhecer sua
coleção de pelúcia. Pegou seu vestido preferido do guarda-roupas, que
havia ganhado do tio no último aniversário. Enquanto lhe mostrava as fotos
de sua festa, Vanessa suspirou. Ela era um sonho de criança. Seu sonho.
Ainda mais se fosse um filho de Peter… Um nó se formou em sua
garganta.
Que ela disfarçou, enchendo a criança de perguntas sobre as imagens
dispostas. Muitas delas tinham Peter, que havia se vestido de palhaço para
entreter as crianças. O coração dela quase explodiu no peito. Aquilo era
tudo com que sonhava, tudo o que queria…
Ao final de algumas horas, a pequena Sophie estava esgotada por
conta de tanta excitação. Vanessa parou à porta do quarto e ficou
observando Peter colocar a menina para dormir. Falava baixinho, como que
ninando a criança.
Em dado momento, ele lhe estendeu uma mão:
— Ela quer um beijo seu para dormir.
Vanessa logo se aproximou. Curvou-se e beijou docemente a face da
garotinha:
— Durma bem, Sophie…
— Você ainda vai estar por aqui quando eu acordar:
— Eu não sei. Mas, prometo que virei vê-la de novo em breve, OK?
— Estendeu o dedo mindinho que a outra logo cruzou com o seu.
— OK. — Então se voltou para o lado, caindo quase que
imediatamente no sono.
Assim que deixaram o quarto, sem fazer barulho, Vanessa enlaçou o
pescoço dele, emocionada:
— Ela é simplesmente incrível, Peter!
— Eu sei! E ela amou te conhecer! Eu te disse!
— Obrigada por me proporcionar este encontro tão lindo! — Beijou-o
de forma terna.
— Acredite, o prazer foi todo meu. Agora, quero que conheça o meu
canto.
— Estou ansiosa por isso também!
Segurando sua mão, levou-a por uma escada lateral e então abriu a
porta do apartamento. A decoração era bem básica. Poucos móveis, em sua
maioria, escuros. Uma guitarra apoiada num pedestal, num canto:
— Você toca?
— Digo a mim mesmo que sim, mas não vou te submeter a essa
tortura. Você está com fome? — Encaminharam-se para a cozinha.
— Não… — Haviam feito um piquenique improvisado com Sophie
no quintal. — Ao menos não de comida… — Abraçou seu pescoço,
colando o corpo curvilíneo ao dele. — Você tem uma cama por aqui,
barbudo?
— Ah, com certeza eu tenho… — Então, jogando-a por sobre o
ombro, rumou para o quarto.
A noite os encontrou entre os lençóis, o silêncio quebrado pelos
sussurros e gemidos dos amantes…
Vanessa se apegou à menina muito rápido, muito fácil. Assim como
Diana também. Ela era um sonho de criança.
Sempre inventava um passeio a três, Peter, Sophie e ela. Quando tinha
um tempo livre e ele estava trabalhando, pegava a garotinha para passarem
a tarde juntas. Todos na produtora já a conheciam e a mimavam. Ela era
como a filha que tanto sonhava…
Era final de tarde de uma sexta, ela buscou Sophie na escola e depois
a levou para o trabalho, no final do dia foram lanchar no shopping. Ao
chegar, deram com Peter a espera das duas:
— As duas mulheres da minha vida! — disse, beijando Vanessa e
pegando Sophie que lhe estendia os braços, contando toda animada, a tarde
que tiveram. — Você se comportou, pirralha? — perguntou, enchendo a
menina de cócegas e beijos.
— Ela é um anjo, Peter! — Abraçou a cintura dele e os três subiam as
escadas que davam ao apartamento dele. — Agora vou dar um banho nela,
porque deve estar toda suada.
— Sim, ela está fedendo a rato morto! — Ele torceu o nariz, depois
de cheirar a barriga da pequena.
— Eu não cheiro a rato morto não, seu bobo! Eu sou uma fada! Fadas
não fedem! — disse, muito séria.
— OK, dona fada! — Colocou-a no chão e bateu continência. — Se
você diz… — então voltou-se para Vanessa. — Enquanto isso, farei algo
para comermos, OK?
— OK, amor! Nós comemos no shopping, mas, já estou morrendo de
fome de novo!
— Eu também! — Sophie ergueu a mão.
— Quando é que você não está com fome, seu pequeno dragão?
— Dragão, não! Eu já disse! Sou uma fada!
— Uma fada com estômago de dragão.
A menina riu e Peter e Vanessa a observavam, feito bobos.
Após o banho tomado, comeram e foram se acomodar na sala. Sophie
trouxe alguns álbuns de fotografia para mostrar a Vanessa. Logo essa se
entretinha com a televisão. Com o álbum em mãos, Vanessa foi se sentar no
chão, acomodando-se entre as pernas dele que estava sentado numa
poltrona:
— Olhe! Você nem sempre foi careca! — Riu alto, apontando uma
foto dele, de cabelos bem compridos.
— Sim, eu tenho cabelos… se eu quiser. Mas, a careca agora faz parte
de quem eu sou — disse correndo uma mão sobre a cabeça lisa.
— Você fica muito bem assim! Eu adoro! — Ela se virou de lado para
lhe pedir um beijo e foi prontamente atendida.
— Eu amo isso! Chegar em casa e te encontrar… E te ver com
Sophie… Isso acalma meu coração. Eu quero sossegar, sabe? Me casar, ter
meus próprios filhos…
Por sorte, ele não a encarava no momento. Pois tinha certeza que o
sangue havia sumido de sua face.
— Dar uma família a Sophie, sabe? Não quero que ela cresça
sozinha…
Vanessa tentou lhe sorrir, quando a encarou rapidamente. A garotinha
pediu por ajuda e Peter foi até ela. Ficou a observá-los… Ele era tão
atencioso com a menina! Seus olhos brilhavam amor! Ele seria um ótimo
pai…
Uma crise de pânico ameaçou tomá-la, o choro lhe subindo pela
garganta. Engoliu várias vezes, tentando impedir que as lágrimas rolassem.
Quando ele se voltou em sua direção, apontou o celular, como se
estivesse recebendo uma ligação e que precisava atender. Assim, correu e
trancou-se no banheiro. Juntou as duas mãos, fechou fortemente os olhos, a
respiração muito acelerada.
A realidade dura a atingindo. Ela não era uma mulher completa…
Não era mulher o suficiente para um homem amoroso como Peter Reyes.
Ele merecia mais… Merecia algo que ela não poderia lhe dar… Merecia
tudo.
Era como se tivesse sido atingida por um soco no estômago. Um dia,
ela alcançaria sua felicidade completa? Deus, era algo que parecia tão
difícil, quase impossível.
Peter Reyes podia ser diferente… Então, ela se lembrou das palavras
de Jacob… Cruéis. Duras. Realistas. Elas nunca saiam de sua mente.

Jacob e ela haviam acabado de voltar de um jantar na casa de seus


sogros. Uma prima dele acabara de voltar de uma viagem a França. Nunca
gostara muito da garota. Principalmente da forma como olhava e falava
com Jacob. O encontro acabou coincidindo com uma fase na qual Vanessa
andava sensível, amargurada. Desiludida. Insegura. O ciúmes pelo marido
atingindo um patamar que nem ela mesma suportava. Isso porque notícias
recentes haviam derrubado seu mundo. Tudo o que havia planejado para sua
vida com Jacob tinha sido destruído. Ela nunca poderia ser mãe. Era
incapaz de conceber… Seus nervos estavam em frangalhos. E não era coisa
de sua cabeça, quando notava que o marido estava distante dela, após o
diagnóstico…
Andava insegura, até mesmo com sua aparência. Então, lá estava a
garota. Jovem, bonita. Saudável. Além de muito atenciosa com seu marido.
Comentou com Jacob que não estava gostando do comportamento da
prima com ele, mas o homem já havia começado a beber. Um hábito recém-
adquirido. Brigou com ela, ameaçou-a e pediu que não começasse uma
cena.
À certa hora da noite, os dois desapareceram. Vanessa foi à procura e
os encontrou, conversando baixinho e muito próximos na biblioteca. Ela
perdeu a cabeça. Como muitas vezes acontecia nos últimos tempos. Fez um
escândalo e acabou partindo para agredir a prima do marido, quando essa a
provocou.
A garota a chamou de meia mulher e Vanessa ficou horrorizada ao
perceber que o marido havia dito a ela, o que escondia de todos, mesmo de
sua mãe e Diana, sua confidente e melhor amiga no mundo. Tomada pela
fúria, agarrou os cabelos da outra a jogou no chão, desfechando vários tapas
naquela carinha bonita.
Jacob a arrastou para casa, onde continuou bebendo:
— Você devia procurar um psiquiatra, Vanessa! — gritou-lhe. —
Você precisa cuidar dessa sua cabeça!
— Como ousa dizer àquela cadela que eu não posso ter filhos? Isso é
um assunto só nosso!
— Eu não aguento mais esse segredo idiota! Eu odeio que tenha me
feito prometer não dizer a ninguém!
— É meu corpo! Só eu posso decidir sobre isso!
— Seu corpo, meu futuro! Tem ideia do que é para um homem não
seguir com sua linhagem, porque sua mulher não pode conceber?
Ela ficou desnorteada ao ouvir aquilo. Ele nunca havia sido tão duro.
Culpou a bebida…
— Nós podemos contratar uma barriga de aluguel, Jacob… — tentou
amenizar.
— O inferno com isso de barriga de aluguel! — vociferou. — Eu
quero que minha mulher possa parir meus filhos! Eu não quero ter de pagar
para uma estranha me dar filhos!
— Muitas pessoas recorrem a isso…
— Eu nunca farei isso! Nunca será a mesma coisa ter seus filhos com
uma estranha! Isso não é normal! Não é natural! E, no fundo, no fundo,
homem nenhum nunca se sentiria completamente realizado! Muitos podem
fingir, mas eu — bateu no próprio peito —, como homem, eu sei da
verdade! Você não pode me dar um filho! Você faz da minha vida um
inferno e eu estou preso com você! Você é como uma gaveta vazia,
Vanessa! Uma mulher pela metade…
Ela enxergou tudo vermelho. Quando deu por si, havia acertado o
rosto dele com força. Jacob a segurou e a jogou no sofá:
— É só o que falta agora! — Cambaleou, mais por conta da bebida
que por causa do golpe. — Vai começar a me agredir? Por que não suporta
ouvir umas verdades? Para mim chega, Vanessa! Chega! Eu não aguento
mais essa merda toda!
Ainda chocada, no sofá para onde fora lançada pelo marido o viu sair
do apartamento deles para nunca mais voltar. Ela chorou pelo resto da noite.
Aquelas palavras impressas em sua mente. Alguns dias depois, também se
mudou. Não conseguia viver naquele apartamento cheio de lembranças.
Amava Peter demais! Não sabia se teria coragem de submetê-lo
àquelas escolhas. De repente, era como se acordasse e percebesse que não
havia futuro para ela e o homem de sua vida. Porque sim. Peter Reyes era
de fato o homem de sua vida! Ela o amava tanto que até lhe doía pensar que
teria de abrir mão dele! Estava aterrorizada com a hipótese de perdê-lo!
Alguns minutos depois, sentindo-se um pouco mais controlada ela
saiu e o encontrou sozinho na sala:
— Sophie queria se despedir, mas estava caindo de sono.
— Pobrezinha! Nossa tarde foi agitada mesmo. Devia estar esgotada!
Peter veio até ela, analisando seu rosto. Então correu as mãos em seus
cabelos, ajeitando-os atrás da orelha:
— Está tudo bem, Vanessa?
Ela escondeu sua cabeça na curva do ombro dele, enlaçando-o pela
cintura:
— Só me abrace, Peter! Bem apertado!
Ele o fez, subitamente preocupado:
— O que houve, anjo?
— Eu acho que é cansaço, talvez… — mentiu. Estava farta de mentir
para ele…
Foi embalada, carinhosamente por ele, enquanto lhe beijava a fronte:
— Eu te amo, morena! — disse baixinho ao ouvido. — Por que não
vem morar comigo?
Vanessa congelou nos braços dele:
— Lógico, se você quiser se casar, igreja, festas e essas coisas, eu
também estou dentro. Eu só quero ter você para mim o tempo todo!
Ela teve de sair dos braços dele, colhendo o rosto entre as mãos e
dando-lhe as costas. Já não podia segurar o choro:
— Morena! O que houve? — a pergunta agora vinha carregada de
preocupação. — Você não me ama? — Riu, um tanto nervoso. — É isso?
— Virou-a para ele.
— Eu te amo tanto que dói, Peter! — confessou, ainda em lágrimas.
— E é dessa forma que me diz isso? Por que me amar lhe causa dor,
amor?
— Porque você merece alguém melhor que eu… — Encarou-o,
engolindo em seco, a face molhada, uma expressão de angústia em seus
olhos.
— Por que está dizendo isso, Vanessa? Você é a melhor para mim!
Você é perfeita…
— Eu não sou, Peter! — Desvencilhou-se dos braços dele, afastando-
se. — Perfeita é tudo o que eu não sou!
— Você está me assustando, morena. O que quer dizer com tudo isso?
Suspirando fundo, deixando os braços caírem ao lado do corpo, numa
postura de completa derrota, ela começou:
— Eu não posso me casar com você, porque eu… eu não posso lhe
dar a família que tanto sonha! — Então, num fio de voz, disse o que lhe
apertava tanto a garganta e o coração. — Eu não posso ter filhos, Peter! Eu
não posso ter os seus filhos…
Ela notou quando a tristeza atingiu os olhos verdes, como um soco no
estômago. Ela sabia como era a sensação, pois passara pelo mesmo, quando
constatara que não poderia gerar uma criança:
— Ah, meu bem! — Ele a trouxe para seu peito, voltando a embalá-
la. — Eu sinto muito saber disso! Você tem certeza? Chegou a fazer exames
para saber qual era o problema?
— Jacob se negou e eu estava completamente esgotada por tantas
vezes que vi aquele negativo. E ele já havia engravidado uma namorada do
colégio. A garota perdeu o bebê, mas estava claro que o problema era
comigo…
— Eu nem sei o que te dizer, além de que sinto muito, meu anjo!
— Estou aliviada por lhe contar isso… Eu nunca disse a ninguém…
porque eu nunca aceitei. — As lágrimas voltaram a lhe escorrer pela face.
— Eu sempre quis uma família grande, como a que eu não tive! E então,
esse sonho me foi tirado…
— Amor, mas essa não é a única forma de ser mãe…
— Eu sei e pretendo um dia adotar uma ou quem sabe duas
crianças…
— E por que não podemos fazer isso juntos?
— Porque eu sei que você nunca se sentiria totalmente realizado! —
Os soluços lhe sacudiam os ombros agora. — Você disse que quer ter seus
próprios filhos! Eu não sou capaz de gerá-los! E eu não posso tirar isso de
você!
— Vanessa! — Peter a segurou pelos braços e a sacudiu levemente.
— Se um dia quisermos uma criança nossa, existem outros meios. Existe a
possibilidade de uma barriga de aluguel…
— Eu sei que mesmo isso não lhe seria suficiente… — sussurrou,
derrotada, baixando a cabeça.
— Por que você acha que sabe como eu penso?
— Não seria eu a gerar essa criança… — Seu tom era meio débil,
como se não tivesse ouvido o que ele dissera.
— Eu não posso acreditar que pense dessa forma, amor!
— Não é como eu penso. É como vocês homens pensam…
— Espera! Foi o imbecil do seu ex quem lhe disse essas merdas? —
constatou rapidamente. — Pelo amor de Deus, Vanessa! — ele se exaltou
pela primeira vez naquela noite. — Está mesmo me comparando com
aquele lixo?
Ela se abraçava, não conseguindo encará-lo:
— Ele disse que sou uma mulher pela metade… uma gaveta vazia…
— repetia as palavras que lhe martelavam a cabeça, por todo aquele tempo.
— Cretino! Filho da puta! — Peter voltou a segurá-la pelos braços. —
Amor, olhe para mim! Olhe para mim! — Foi brando, quando ela não o
obedeceu. Então ela voltou seus olhos dourados e brilhantes pelas lágrimas.
— Esqueça tudo o que esse bastardo lhe disse, está me ouvindo? Você é a
mulher mais linda, perfeita e completa que eu conheço na vida!
— Só está dizendo isso por que me ama…
— Sim, porra! Eu te amo porque você é completa para mim! E não
poder gerar um filho nunca te faria menos perfeita, meu amor! Por favor,
não pense dessa forma! Nunca mais!
— Depois de saber tudo isso… você ainda me quer?
— Sim! — Peter respondeu prontamente, antes mesmo que ela
terminasse a frase, beijando-a de forma sôfrega. — Nada do que me disse
muda meus sentimentos por você! Nada!
— Você… — ela falava aos tropeços, por ainda era sacudida pelos
soluços. — adotaria uma criança comigo?
— Nada me faria mais feliz nesse mundo! E eu juro do fundo da
porra do meu coração!
Ele se assustou quando ela começou a chorar alto, lágrimas em
abundância lhe escorrendo pela face:
— Amor! Por favor, não faça isso! Caralho! — Acolheu-a em seu
peito uma vez mais. — Me diga o que fazer para que pare de chorar! Eu
faço qualquer coisa!
Vanessa então riu, tentando enxugar as lágrimas:
— Esse choro agora é de felicidade… — Então, ficando nas pontas
dos pés, beijou-o de forma apaixonada várias e várias vezes. — Eu te amo,
Peter Reyes! Eu te amo! Eu te amo tanto!
Ele agora ria, recebendo o ataque de beijos, e a recebeu também,
quando veio lhe enlaçar a cintura com as pernas, ainda o beijando:
— Você é tudo o que eu sonhava num homem, Peter Reyes! É lindo,
sexy, gostoso e ainda me aceita como sou…
— Por que não há o que mudar em você, Vanessa Thomas!
Ela encostou sua testa na dele, olhando com admiração e amor,
segurando seu rosto entre as mãos:
— Eu te amo, Peter!
— Eu te amo, minha morena… — ele disse cada palavra com vagar.

Vanessa fez questão de estar lá quando Sophie acordasse, para lhe dar
as notícias. Estava tão ansiosa pela reação dela!
— Bom dia, mocinha! — Abraçou-a por trás, quando encontrou essa
sentada num banquinho na cozinha, tomando café da manhã. — Bom dia,
Terence.
— Bom dia, Vanessa. Aceita um café?
— Com certeza!
— Nessa! — A pequena estendeu seus braços para ela. — Você veio
me levar para a escola?
— Sim! E — segurou a mão de Peter que se aproximava e beijava a
garotinha —, nós temos uma notícia para dar.
Terence a olhou e então seu olhar pousou sobre a barriga dela.
Vanessa quase riu e soltou de uma vez:
— Nós vamos nos casar! — Mal conseguia esconder sua animação.
Recebeu um beijo carinhoso de Peter em sua testa.
A expressão de Sophie desarmou e então seus olhinhos se encheram
d'água e um biquinho se formou em sua boca. Todos se assustaram,
principalmente Peter que a acolheu no peito, quando essa lhe estendeu os
bracinhos:
— Meu bem, o que houve? — Ele a embalava, confuso.
— Anjinho! — Vanessa se preocupou, esfregando as costas dela. —
Você não gostou da notícia?
Ela então estendia os braços para Vanessa que logo a envolveu:
— Você vai ser minha titia? — disse, aos solavancos, pois ainda
soluçava.
— Sim, amorzinho!
— Eu posso te chamar de mãe? — sussurrou no ouvido dela.
Vanessa estendeu a mão gelada para Peter, seu olhos se enchendo de
lágrimas imediatamente:
— Sim, meu anjinho! — Sua voz já estava embargada de emoção. —
Você pode!

Na segunda, assim que encerraram o expediente na agência, Vanessa


e Diana rumaram para a In The Skin. Encontraram os rapazes no pequeno
café do lugar.
Assim que se aproximou, foi colhida num abraço e recebia um beijo
apaixonado:
— Eu posso contar as novidades para eles? — Pediu ansiosa.
— Oh, eu sabia que você estava me escondendo algo! — Diana
acusou. — Passou o dia todo com esses olhos brilhantes, como se soubesse
de algo que eu não sei. Você está grávida? — Apontou.
Peter e Vanessa trocaram um olhar cúmplice:
— Bom, eu gostaria, mas, não é isso… Nós vamos nos casar! —
comunicou, toda empolgada.
— Cara! — Bennett soltou, parecendo despontado. — Me perdoe,
Vanessa! Nada contra você! — desculpou-se, percebendo que poderia ter
falado demais. — É que eu não sou muito fã de casamento.
— Perdeu uma oportunidade de ficar calado… — Diana, chateada,
bateu no peito dele. Então virou-se para a prima e falou antes de abraça-la:
— Estou muito feliz por você, prima!
— Bom… — Peter começou. — Não foi bem um pedido de
casamento. Foi mais uma conversa… — Então se colocou de joelho e tirou
uma caixinha de veludo do bolso da calça. — Esse sim é um pedido. —
Abriu a caixinha, ostentando um solitário brilhante dentro dela. — Vanessa
Thomas, você aceita se casar comigo?
Tanto Vanessa e Diana tinham as mãos sobre as bocas:
— Seu bobo! Você não devia! Mas, eu amei! — Estendeu o dedo para
que ele colocasse o anel. — A resposta é sempre sim! — Então voou para o
pescoço dele.
A essa hora todos do lugar aplaudiam e assobiavam. Os amigos mais
próximos vinham cumprimentá-los. Crystal logo veio examinar seu anel,
ficando fascinada:
— É perfeito! Ao menos algo que esse cabeçudo fez é legal…
— Eu sei que você também me ama, garota!
— Felicidades ao casal… — Sheila disse, sem nem mesmo sair da
recepção. Ela não era muito fã de Diana e Vanessa e não fazia muita
questão de disfarçar isso.
— Obrigada, Sheila… — Vanessa agradeceu com o mesmo ânimo.
— Só tem um porém… — a prima perguntou, quando todo mundo
dispersou. — Como é que você vai contar isso para sua mãe?
— Bom — ela se acomodou no colo de Peter, que havia se sentado
numa das cadeiras do lugar, enlaçando seu pescoço —, acho que ela não faz
questão de saber, uma vez que ela não nos aprova de qualquer forma.
— Eu sinto muito por isso, morena. — Peter colocou uma mecha do
cabelo dela atrás da orelha. — Deve ser importante para você…
— Você é importante para mim! — disse com firmeza e com todo
amor em sua voz. — Você, Sophie e até mesmo Terence serão a minha
família. — Segurando o rosto dele entre as mãos e o beijou com ternura.

Quando o porteiro anunciou a chegada de Susan, Vanessa já sabia que


teria de encarar uma tempestade. Diana havia ligado pouco antes avisando
que a mulher a ouvira comentar com a mãe sobre seu casamento… Disse
que havia ficado enfurecida e saiu pisando duro. De alguma forma,
desconfiava que ela terminaria ali, na sua porta. Bom, uma hora, aquela
conversa teria de acontecer. Que fosse logo de uma vez:
— Me diga que o que eu ouvi na casa de seus tios é mentira! — A
mulher já foi soltando, assim que irrompeu sua sala. — Você não vai se
casar com aquele bandido!
— Primeiro, Peter não é nenhum bandido! E não, não é mentira. Eu
vou me casar com ele.
— Nunca! — Os olhos dourados, idênticos aos seus, brilhavam de
puro ódio. — Eu não vou permitir que você suje meu nome assim!
— A senhora não tem de permitir nada — rebateu, ainda tentando
manter a calma. — Eu sou adulta. Faço o que bem entender da minha vida!
— Eu sou sua mãe!
— Estranho que encha sua boca para dizer isso! — acusou. — Chega
a ser irônico! — Riu com amargura. — A senhora perdeu qualquer direito
sobre mim quando disse que não queria ser mãe.
— Eu nunca quis mesmo, mas eu fui! Então, você me deve respeito!
— De novo. Não exija algo que não dá.
Susan a encarou, ofegante, num misto de nojo, raiva, rancor…
Mesmo que tentasse não deixar que aquilo mexesse com ela, era
impossível. Doía muito ver tudo aquilo nos olhos da mulher que havia lhe
dado à luz:
— Eu juro, Vanessa! Se insistir nessa ideia, eu nem sei do que sou
capaz!
— Por que se importa tanto, afinal?
— É meu nome em jogo também! O que meus amigos vão dizer
quando virem o tipo com quem está se juntando?
— Se eles não tiverem a mente pequena como a sua, reagirão bem.
Não que eu me importe com que pensem sobre isso! — Deu de ombros.
A respiração da mulher foi se tornando ainda mais acelerada e ela via
a ira se formando na outra. De repente, estava sob uma chuva de socos e
tapas de uma descontrolada Susan, enquanto essa esbravejava uma
enxurrada de xingamentos. Pega completamente de surpresa, Vanessa só
tentava se proteger:
— Eu sempre soube que esse era o seu final! Que se tornaria uma
rameira! Você nunca me enganou com sua cara de santa!
— Mãe! Pare! Você está louca? — Vanessa deu com as costas no
aparador, com violência, mas mesmo isso não fez o ataque da outra cessar.
Susan a agarrou pelos ombros e a jogou no chão, colocando o dedo
em riste diante de seu nariz:
— Eu juro! Você vai se arrepender do que está fazendo! Vai se
arrepender amargamente de me fazer passar por essa vergonha! — Então
sem se importar que seu ataque de fúria a tivesse deixado completamente
descabelada, deixou o apartamento, batendo a porta com estrondo.
Vanessa ainda estava no chão. Ofegante, mal conseguia se mexer,
ainda surpresa. Sentia a pele arder onde fora acertada pela mulher. Achou
que até mesmo devia estar sangrando, pois sentia gosto de sangue em sua
boca.
Então, quando a realidade foi atingindo-a, ela tirou os cabelos
desgrenhados de seu rosto e as lágrimas vieram. O pranto que a tomou a
sacudia inteira. Ainda não estava acreditando no que tinha acontecido.
Rastejando, foi até a mesinha de centro e pegou o celular:
— Peter… — murmurou, assim que ele a atendeu.
— Vanessa? — Ele pareceu se alarmar. — O que houve? Você está
chorando?
Ela tentou conter as lágrimas, respirou fundo, mas era incapaz de
conter o choro:
— Eu preciso de você!
— Amor, pelo amor de Deus! Você está bem?
— Eu preciso tanto de você! Você pode vir?
— Estou a caminho… — disse ele, prontamente.
Em menos de dez minutos, ele abria a porta abruptamente:
— Vanessa? — chamou, nervosamente.
Ela estava no mesmo lugar de onde havia feito a chamada, mas ao vê-
lo, levantou-se e correu para seus braços, o choro ganhando forças:
— Babe, você está tremendo! Me diz que porra aconteceu, por favor!
Eu estou quase enlouquecendo de preocupação! — falou enquanto a
embalava em seus braços, afagando seus cabelos.
Entre soluços, tentando enxugar o rosto, ela o encarou:
— Susan esteve aqui…
— Puta que pariu! Ela te deixou nesse estado?
— Ela descobriu sobre o nosso casamento… Ficou enfurecida, me
disse coisas horríveis… me agrediu… — concluiu num murmúrio amargo,
enquanto Peter examinava seus braços arranhados e com marcas
avermelhadas, assim como seu rosto. — Ela nunca tinha feito isso antes!
Peter a acolheu em seu peito novamente, afagando seus cabelos:
— Eu sinto muito, anjo! — Seu tom era amargurado. — Eu sinto
muito que eu seja o motivo disso tudo…
Vanessa forçou-se a parar de chorar e o encarou:
— Você não é o motivo de nada disso, Peter! Susan é que está cada
vez mais louca! — Tomou o rosto dele entre as mãos. — Por favor, nunca
pense em me deixar por causa da insanidade da minha mãe, está bem? —
implorou. — Você é a razão da minha vida agora, entendeu? Eu preciso
tanto de você!
Ele encostou a testa na dela:
— Minha mente me diz que me afastar seria o melhor para você… —
ela meneava a cabeça, freneticamente, em negação —, mas meu coração
não pode sequer conceber essa ideia. Eu não tenho coragem de imaginar um
futuro onde não tenha você! Então, nós vamos enfrentar tudo juntos, OK?
No dia seguinte, seria o aniversário de Vanessa e ela estava animada.
Pela primeira vez em muito tempo, estava se sentindo completa, com a
certeza que havia encontrado sua alma gêmea. Peter Reyes era tudo o que
poderia sonhar num homem. Se era possível, ela o amava ainda mais,
depois de lhe contar a verdade e de sua reação. Teria enfim a família que
tanto sonhava!
A única coisa que a deixava para baixo, era recordar sua discussão
com Susan… Como sua mãe deixou claro que não aceitava sua escolha
Vanessa decidiu a riscaria de vez de sua vida. Foi a decisão mais difícil que
tomou na vida, mas tinha de ser assim, se queria ser feliz.
Como fariam uma comemoração na agência, Peter e o pessoal da In
The Skin resolveram antecipar uma confraternização em sua homenagem
para aquela noite. Vanessa ficou toda emocionada. Haviam fechado o lugar
para clientes, enfeitado com balões coloridos, montado uma linda mesa com
bolo, doces e pequenos lanches.
A trilha sonora, ao contrário do sempre pesado heavy metal, era
composta de um pop leve. Ela agradeceu por isso e riu muito quando Peter
disse que ele mesmo tinha feito a seleção.
Era próximo da meia-noite. Haviam improvisado uma pequena pista
de dança e Crystal se esparramava nela, dançando como se não houvesse
amanhã. Outros se animaram e a seguiam. Ela achou que, possivelmente era
a bebida fazendo efeito.
De repente batidas altas e secas foram ouvidas na porta de vidro da
frente do estabelecimento. Todos ficaram alarmados ao notar que era a
polícia:
— Será que estamos com o som muito alto? Algum vizinho se
incomodou? — ela perguntou a Peter, que a tirava de seu colo, onde estava
sentada, para ir com Bennett atender a porta.
— Não, eu creio que não. Nossos vizinhos, na grande maioria, são
estabelecimentos comerciais e já se encontram fechados.
Vanessa e Diana seguiram no encalço dos rapazes:
— Boa noite, policial. Algum problema? — Bennett inquiriu.
— É o que vamos saber daqui a pouco… — um oficial mal encarado
resmungou, examinando o lugar. — Sou o detetive Hamilton e esse é o
detetive Powers. Estamos aqui porque recebemos uma denúncia anônima.
Qual de vocês é Peter Reyes?
Vanessa já ficou alarmada, tomando apertado a mão dele entre as
suas, enquanto ele se adiantava:
— Sou eu. O senhor disse denúncia anônima?
— Pode me mostrar onde é o seu local de trabalho aqui dentro? —
Ergueu um papel. — Temos um mandado para examinar o lugar.
— Mas, para procurar o que?
— Drogas.
— O que? — ele quase gritou, todo o lugar agora atento ao que
acontecia. — Isso só pode ser um engano! Eu sequer uso mais essas
merdas!
— Pode nos mostrar o seu lugar de trabalho? — repetiu, parecendo
não querer muita conversa.
— Claro! Por aqui… — Indicou o caminho.
Eles começaram a revirar o lugar.
— Isso é um absurdo! — Peter se justificava com os amigos. — Só
pode ser uma brincadeira de mau gosto!
Vanessa ainda estava ao lado dele, agarrada a seu braço. Uma
sensação estranha tomando conta dela. O coração parecendo bater na
garganta:
— Fique tranquila, morena! — Ele pareceu notar seu estado e a
confortou, beijando sua testa. — Eles não vão encontrar nada, por que não
há nada para ser encontrado…
— Então, o senhor não usa mais… — Hamilton começou, num tom
irônico. — Mas vende essas merdas, certo? — disse, ostentando um saco
cheio de comprimidos e saquinhos com pó branco.
— Oh, Deus! — Vanessa se agarrou ainda mais a ele.
— Isso não é possível! — Os olhos verdes dele estavam muito
arregalados de surpresa. — Isso não é meu!
— Claro que não! — Powers se aproximou e tirou uma algema no
cinto. — Nós nunca ouvimos essa, não é Hamilton? Peter Reyes, o senhor
está preso por posse de drogas…
— Policial, isso é um engano! — ele protestou quando era virado de
costas e algemado. — Bennett, Vanessa, eu juro! Isso não é meu! — Seu
olhar agora era suplicante. — Só podem ter armado para mim!
— Eu sei disso, Peter! — Bennett assentiu, com veemência. — Isso
só pode ter sido armado.
— Vanessa… — ele chamou, desesperado. — Vanessa, meu bem, eu
juro! Isso não é meu! — repetia.
— Eu sei! — Ela tentava segurar o rosto dele, tremendo muito,
apavorada, vendo-o ser arrastado para longe dela. — Moço, ele é inocente!
Você não vê que isso foi plantado?
— É mesmo, senhorita? Então ele terá de provar isso.
— Você não pode levá-lo! — Agarrou-se ao braço dele, já aos
prantos. — Por favor, nós vamos provar que tudo isso é um engano! Deixe-
o, por favor!
— Só estou cumprindo meu dever, moça.
— Vanessa — Peter a chamava assim que foi arrastado pela porta
afora —, tudo vai se resolver. Eu prometo! Bennett, cuide da minha garota,
por favor!
— Pode deixar. E vamos te livrar de tudo isso logo, você vai ver.
Bennett e Diana seguravam Vanessa, enquanto essa tentava se soltar,
desesperada:
— Peter! Peter! Não o levem, pelo amor de Deus!
Porém, ela não era ouvida e ele era colocado na parte de trás da
viatura. A cena mais horrenda que vira em toda sua vida. Peter algemado,
como um criminoso, sendo levado pela polícia:
— Tenham cuidado ao dizer para o Terence, está bem? — Peter gritou
lá de dentro.
Bennett foi se informar para que distrito ele estava sendo levado, logo
sacou o celular e fez uma ligação:
— Eu vou ligar para Ross. Ele é um cliente nosso, é advogado —
explicava para as meninas. — Venham, vamos para delegacia. — Apontou
que o seguissem rumo à caminhonete enquanto conversava rapidamente
com alguém no aparelho, explicando a situação e desligou. — Ross está
indo para a delegacia.
— Meu Deus! Isso é um pesadelo! — Vanessa, acomodada no banco
traseiro do automóvel, era amparada pela prima — Di, isso não pode estar
acontecendo!
— Calma, prima! Tudo vai se resolver, você vai ver! Não é Bennett?
— Sua voz era carregada de nervosismo.
Esse as encarou pelo retrovisor, enquanto dirigia feito um louco, para
alcançar a viatura à frente:
— Eu vou fazer o possível e o impossível para tirar Peter dessa. Eu
prometo!
— Foi a Susan, Di… — Vanessa colocou sua suspeita em voz alta.
— O que? Não! Como ela faria isso?
— Eu não sei, mas tenho certeza que deu um jeito de armar para o
Peter. Só pode ter sido ela, só para dar um jeito de nos separar…
— Meu Deus, será que tia Susan jogaria tão baixo?
— Eu não sei como ela fez isso, mas foi ela, Di!
— Isso é algo muito sério, Vanessa — Bennett se manifestou.
— Eu sei e estou morrendo de vergonha por isso, acredite. Agora,
como vamos descobrir quem pode ter plantado aquelas… coisas lá?
— Eu vou fazer uma lista dos clientes do Peter. Dos três últimos dias.
Só pode ter sido um deles.
Chegaram à delegacia ao mesmo tempo que a viatura, praticamente.
Ainda tiveram tempo de vê-lo sendo retirado do veículo:
— Essas algemas… — Vanessa se dirigiu ao policial que segurava
Peter. — Elas são mesmo necessárias? Ele está cooperando, pelo amor de
Deus!
— Amor, está tudo bem. Ele só está fazendo o trabalho dele. Fique
calma, por favor, meu bem.
Ela meneou a cabeça, tentando cessar as lágrimas:
— OK. Eu vou tentar.
Não pode mais falar com ele, pois foi levado para os fundos,
provavelmente para uma cela… só de pensar naquilo, o desespero
ameaçava tomá-la de novo. Escondeu seu rosto no ombro da prima.
— O que nós fazemos agora? — Diana se dirigiu a um preocupado
Bennett.
— Temos de esperar o Ross chegar e ver o que ele diz.
Não passou meia hora e o doutor Gabriel Ross chegou. Era um
homem bem apessoado, muito alto. Talvez tão alto quanto Peter. Se era
tatuado, já que era cliente da In The Skin não se podia ver, pois o terno de
três peças escondia isso:
— Em que encrenca nosso amigo Reyes se meteu? — perguntou a
Bennett, depois de tê-lo cumprimentado e sido apresentado às meninas. —
Me explique com o máximo de detalhes que puder.
O homem ouviu tudo atentamente e então foi procurar o delegado
para conversar. Quando voltou, seu semblante era preocupado. Isso deixou
Vanessa muito alarmada, as mãos unidas diante do peito e já havia perdido
a noção de quantas orações mentais havia feito nos últimos vinte minutos:
— Eu estou tentando uma fiança, mas — ele disse, correndo uma mão
pela nuca —, confesso que estou preocupado. Peter não é réu primário, o
que em si já complica um pouco. E a quantidade e tipo de drogas
encontradas. Vou dizer. São coisas da pesada.
— Você está dizendo que ele pode ficar na prisão?
— Infelizmente, essa é uma possibilidade, senhorita. Pelo adiantado
da hora, não creio que encontre um juiz disposto a atender meu pedido de
fiança, mas eu vou tentar.
— Meu Deus! — Ela se abraçou com Diana e então se voltou de novo
para o advogado. — Quanto tempo você acha que ele pode ficar aqui?
— Bom, isso depende muito do juiz que pegar o caso.
Vanessa colheu a cabeça entre as mãos, fechando os olhos com força:
— Que pesadelo! Por que tudo isso? Justo com Peter? —
Prontamente era confortada por Diana. — Doutor, eu tenho uma suspeita.
— Ela respirou fundo antes de prosseguir. — Acho que minha mãe está por
trás disso tudo…
Explicou rapidamente ao homem os motivos que a levavam a
desconfiar da mulher:
— Bom, nesse caso, o melhor é tentar encontrar quem pode ter
plantado a droga no local.
— Eu vou trabalhar nisso — Bennett comunicou.
— E torcer para ter sorte, encontrá-lo e que ele aceite delatar quem é
o mandante. Entretanto, a senhorita está ciente de que haverá uma punição
para sua mãe, caso ela seja pega? — o advogado lhe explicava, muito sério.
— Sim, eu tenho noção disso. — Baixou sua cabeça. — Tudo o que
quero é Peter fora desse lugar, o quanto antes! Ele é inocente! Não merece o
que está acontecendo!

Logo Bennett e Diana a deixavam frente à casa de Terrence. Tudo


estava escuro, o que indicava que, logicamente, por conta da hora avançada,
ele já estivesse dormindo, assim como Sophie:
— Vanessa, você vai mesmo ficar aqui sozinha? — Diana perguntou
pela terceira vez.
— Sim, Di. Quero estar aqui, logo cedo, para falar como Terrence.
Não quero correr o risco de que ele saiba por outra pessoa e… Deus me
livre, acabe passando mal. Também terei de conversar com Sophie… Como
eu vou explicar isso para ela?
— Diga apenas que ele viajou — sugeriu Bennett. — Ela não ia
entender de qualquer maneira.
— Sim, você tem razão. — Ela se abraçou, ainda muito abalada.
— Você tem certeza de que não quer que eu fique com você?
— Não, prima. Pode ficar tranquila. Eu vou ficar bem.
— OK — Diana murmurou, ainda não convencida —, mas me ligue a
qualquer hora se precisar, está me entendendo? — Tomou-a nos braços,
apertando-a.
Bennett também envolveu Vanessa num abraço acolhedor e lhe disse:
— Eu prometo que não vou medir esforços para tirar Peter daquele
lugar, está bem?
Sentindo as lágrimas lhe sondarem os olhos novamente, ela apenas
meneou a cabeça e então subiu as escadas para o apartamento. Usando as
chaves que ele havia lhe dado, entrou. O silêncio que a recebeu era
aterrador. O lugar parecia enorme sem Peter por ali. Contendo uma enorme
vontade de gritar, correu para o quarto, então se jogou na cama, pegando o
travesseiro dele e o usando para abafar seus soluços.
Lembrou-se dos olhos perdidos, da expressão de medo no rosto dele.
A impotência a tomava, como uma facada no estômago.
Será que era aquilo que Susan desejava para ela? Vê-la tão
destroçada? Se ela não fora feliz, a filha também não merecia ser?
Vanessa não sabia como tinha lágrimas ainda, mas seguia chorando
copiosamente. Já sentia tanto a falta dele! Acariciou seu lado da cama…
Quando ele estaria ali de novo?
Como provariam que tudo foi armado? Como provariam que Susan
havia planejado tudo aquilo?
Sua vontade era de confrontá-la. No entanto, seria apenas sua
desconfiança falando. Não tinha qualquer prova. Ainda. E não daria a
Susan, o prazer de ver seu estado…
De repente, seus olhos pousaram num pequeno embrulho na mesinha
lateral da cama. Era o presente que Peter havia dito que lhe entregaria mais
tarde. Ela pegou a caixinha e a levou ao peito. Só a abriria quando Peter
estivesse ao seu lado novamente.

— Você dormiu? — Diana perguntou, assim que se encontraram


frente a In The Skin, na manhã seguinte.
— Muito pouco. Quando já estava amanhecendo… — Seu tom de
voz demonstrava todo seu cansaço e estado de espírito.
— Pobrezinha! Tome. — Estendeu um copo de café que trazia
consigo. — Você precisa mais que eu.
— Obrigada, Di.
— Bennett também, praticamente não dormiu — disse ela, abrindo a
pesada porta de vidro da loja. — Ficou inspecionando aquela lista de
clientes do Peter…
— Você encontrou algum suspeito? — perguntou a ele, assim que se
aproximaram.
— Três nomes muito fortes. Esses venderiam a mãe, por uma
pequena soma de dinheiro.
— E agora? Qual o próximo passo?
Bennett suspirou, parecendo tão cansado e abatido quanto Vanessa:
— Eu não sei ainda. Provavelmente, terei de conversar com eles
pessoalmente.
— Mas isso não é perigoso? — Diana grudou em seu braço.
— Talvez… Só que eu tenho de tentar algo. Não posso ficar de braços
cruzados.
— Meu Deus, quando tudo isso vai acabar? Precisamos tirar o Peter
daquele lugar o mais rápido possível! Eu nem sei se posso visitá-lo, se
posso levar roupas, comida…
— Ross deve saber de tudo isso. Eu vou perguntar… — Afastou-se,
acionando o celular.
— Você conversou com Terrence? — Diana quis saber.
— Sim! — suspirou. — Ele ficou desolado! Mas, está tentando ser
forte por Sophie. Por sorte, ela não tem aulas por esses dias, então pode
mantê-lo distraído.
— E para ela? O que disseram?
— Fizemos como Bennett sugeriu. Dissemos que Peter teve de viajar.
— Vanessa esboçou um sorriso triste. — Ela ficou muito brava que ele se
foi sem se despedir dela — suspirou. — Melhor assim.
— Sim, melhor poupá-la disso tudo. Seria muita coisa para a
cabecinha dela.
— Bom, conversei com Ross — Bennett retornou. — Ele disse que
você pode deixar roupas e comida na delegacia e os guardas entregam para
o Peter. Infelizmente, as visitas são somente aos domingos.
— O que? Ainda é quinta! Como eu vou suportar ficar sem vê-lo até
lá?
Bennett só pode suspirar e fazer um gesto impotente com os ombros:
— E tem um porém. — Parecia receoso em prosseguir.
Vanessa deixou-se cair sobre uma cadeira, já temendo o que viria:
— O que é?
— Se as investigações demorarem… Peter… — meneou a cabeça de
lado — pode ir para um presídio…
— Não! Não podemos deixar isso acontecer, Bennett! — Ela
estremeceu.
— Faremos de tudo para que não chegue a isso. Falei com Ross,
sobre os suspeitos. Ele vai dar uma passada aqui mais tarde. Se for preciso,
irá comigo conversar com os caras.
— Bom, eu vou ter de deixar vocês resolvendo esse assunto. Preciso
ir para a agência. — Diana se colocou de pé e ajeitou a bolsa sobre um
ombro. — Qualquer novidade, me liguem, OK?
— Di — Vanessa estendeu a mão —, você entende que não tenho
cabeça para ir para a produtora hoje, não?
— Claro, prima! Fique tranquila! Eu cuido de tudo. Inclusive da festa.
Vamos cancelar, certo?
— Oh, Deus, eu nem me lembrava disso! — Ela emaranhou os dedos
entre os cabelos bagunçados. — É outra coisa que, com certeza, eu não
tenho cabeça hoje!
— Eu cuido de tudo, fique tranquila.
Vanessa se levantou para abraçar a prima:
— Obrigada, Di! — agradeceu antes de ver a prima partir.
O pessoal da loja começou a chegar. O clima entre eles também era
triste. Todos sentiam muito pela situação que Peter estava passando. Eram
amigos de verdade. Dirigiam a Vanessa e Bennett mensagens de apoio.
Certa hora, Vanessa notou que Bennett estreitava os olhos e encarava
a janela de vidro da loja. Olhando na mesma direção ela notou um rapaz
que usava a mãos ao lado do rosto para poder enxergar melhor lá dentro:
— É o Mark… — Bennett disse enquanto sinalizava para o jovem
entrar.
Esse entrou meio ressabiado, olhando para os lados com
desconfiança.
Ela aproveitou para examinar o irmão de Peter. Vestia-se com roupas
gastas, largas. Tinha aparência cansada, cabelos muito compridos e
desgrenhados. Vanessa sentiu pena:
— E aí, Bennett? — cumprimentou, meio sem jeito, ao se aproximar.
— Eu soube sobre o Peter. Eu pensei em passar lá em casa, mas… Eu não
sei o quanto o velho sabe, então…
— Eu contei para ele essa manhã. — Ela se adiantou. — Está lidando
como pode.
— Essa é Vanessa, a garota do Peter — Bennett a apresentou.
— E aí? — cumprimentou-a, com um gesto de cabeça.
— E aí? — ela retornou.
— Podem me explicar como meu irmão caiu nessa?
— Bom, nós achamos que tudo foi armado para cima dele… —
Bennett explicou.
— Eu também acredito nisso. Eu conheço Peter! Ele nunca se
envolveria com essas merdas! Principalmente para vender! Vocês suspeitam
de alguém?
— Tenho a lista dos últimos clientes de Peter e cheguei a esses três
nomes. — Entregou a ele um papel com os nomes escritos.
— Eu conheço esses caras — Mark disse. — Eu vou investigar.
Sacando da carteira Bennett retirou todas as notas e estendeu ao
rapaz, de forma hesitante, como se não tivesse certeza de que estivesse
fazendo a coisa certa:
— Talvez você precise disso para fazer alguém abrir a boca.
— Isso vai ajudar muito. Se um deles estiver envolvido, eu vou
descobrir.
— Cara, se você conseguir fazer isso, vai nos ajudar demais!
— É o mínimo que eu posso tentar fazer pelo meu irmão, por tudo o
que ele faz por mim e por minha Sophie…
Horas mais tarde Vanessa se encontrava frente ao guarda-roupas de
Peter. Alisou algumas peças. Suspirou. Como estaria a cabeça dele? Sem
poder fazer nada?
Peter era uma pessoa tão boa! Não merecia nada daquilo!
Pegando a jaqueta dele deixada numa poltrona, levou-a ao nariz. O
cheiro dele estava impregnado nela. Seus olhos se encheram de lágrimas.
De novo! Já estava cansada de chorar. Sentia tantas saudades!
Se realmente ficasse provado que havia sido Susan a armar tudo
aquilo, ela nunca a perdoaria! Nunca! Mulher infeliz, incapaz de amar! Por
isso não aguentava ver a felicidade dos outros! Ela pagaria por aquilo!
Pagaria por tudo o que estava causando a Peter!
Antes que as lágrimas rolassem de novo, ajeitou uma mochila com
algumas trocas de roupas, acessórios básicos de higiene e foi a um
supermercado. Comprou frutas, alguns petiscos para ajudá-lo a se distrair…
se é que aquilo era possível…
Era quase hora do almoço. Passou em uma lanchonete e comprou o
cheeseburger e refrigerante que ele tanto adorava! Já na delegacia, implorou
que a deixasse vê-lo. Foi em vão… Saiu de lá ainda mais arrasada.
Enquanto aguardava notícias de Mark, ela ficou sem saber o que fazer
com sua tarde. Não podia ficar grudava em Bennett, como se ele fosse sua
tábua de salvação. Ele estava sobrecarregado, fazendo o que lhe era
possível. Ela era muito agradecida por isso. Aquele homem era realmente
um bom amigo!
Pensou em pegar Sophie para passear um pouco. No entanto, ela não
conseguiria esconder seu estado de espírito. Ligou várias vezes para
Terence, para saber como os dois estavam. Pobre homem! Estava desolado!
Ela o entendia. Também estava desolada, sentindo-se impotente. Era uma
sensação horrível!
Pulou o almoço. Não tinha qualquer apetite, de qualquer forma.
Porém, seu estômago sentiu o baque, pois estava revoltado. Náuseas e uma
forte azia o dominavam. Comprou uma água com gás para amenizar os
sintomas.
Eram quase três horas da tarde e ela vagava, sem saber para onde ir,
quando o celular tocou. Ao notar que era Bennett, interrompeu um gole em
sua água para atender rapidamente:
— Sim?
— Mark retornou e trouxe novidades — comunicou ele.
— Estou a caminho — disse, já sinalizando para um táxi.

Em poucos minutos, desembarcava na In The Skin. Bennett, Ross e


Mark a aguardavam:
— Quais são as novidades? — Foi direta, assim que se aproximou,
muito ansiosa.
— Nós estávamos esperando você para que Mark começasse —
Bennett comunicou.
Todos os olhos estavam voltados para o rapaz agora:
— Eu descobri quem é o cara…
— Meu Deus, é sério? — Vanessa se aproximou dele,
instintivamente. — Ele estava na lista de Bennett?
— Sim. É Gino Francesco. É um vendedor bem conhecido no meio. E
um cara sem moral alguma. Faz qualquer coisa por uns trocados. Ele se
acha muito esperto, mas acabou cometendo uma grande burrada que pode
nos ajudar.
— O que? — Ross inquiriu.
— A mercadoria que ele colocou aqui… o idiota retirou de um
estoque que ele devia vender. Achou que o chefe não notaria! Acontece que
ele notou. Resumo, Francesco não tem a grana para repor, porque já torrou
tudo o que recebeu para plantar as drogas e agora está escondido.
— E por que acha que isso pode nos ajudar? — Bennett quis saber.
— O merda precisa de grana para saldar a dívida. É muita grana, mas
se vocês tiverem como levantar…
— E o que ele pode fazer por nós, se fizermos o pagamento? —
Vanessa quis saber.
— Bom, para se livrar da dívida e continuar vivo, ele está disposto a
se entregar. Prefere a prisão a morrer.
— E ele vai dizer quem é o mandante disso tudo? — Ross indagou.
— Sim, também está disposto a entregar o mandante. A mandante, no
caso.
— Então é uma mulher? — Vanessa perguntou, tendo a certeza agora
de quem tinha esquematizado tudo aquilo.
— Sim. Ele a chama de madame. Ela só lhe pagou metade da grana.
O restante está combinado para ser entregue daqui há alguns dias.
— Nós poderíamos armar um flagrante! — sugeriu Ross, animado. —
Você tem certeza de que ele vai se entregar?
— Se receber o pagamento, com certeza!
— De quanto estamos falando?
Quando ele disse a soma, algumas exclamações escaparam dos
demais. Era uma pequena fortuna…
— Eu devo ter pouco mais da metade no banco… — Ela fez as
contas. — Eu vou dar um jeito de levantar o restante…
— Eu faço questão de dar a metade — Bennett anunciou. — E isso
não é negociável. — Completou, assim que ela ameaçou protestar. —
Entretanto, só faremos o pagamento depois que o sujeito se entregar e
conseguirmos pegar a mandante. OK? — Voltou-se para Mark.
— Eu vou falar com ele.
— Vanessa, tem certeza de que quer participar disso? Eu vou entender
se quiser se afastar. Afinal de contas, é da sua mãe que estamos falando…
— Bennett se aproximou dela.
— Com certeza eu quero participar! — ela o interrompeu, decidida.
— É a única forma de tirar Peter daquele lugar! E quanto a ela ser minha
mãe… Susan não liga para isso! — bufou um riso amargo. — Se fez tudo o
que fez, foi para proteger o próprio nome! Ela tem de pagar por tudo isso!
— Terminou, decidida.
— Bom, se estamos combinados, eu vou para a delegacia, falar com o
delegado e deixar Peter a par dos nossos planos. — Ross pegou sua valise e
se encaminhou para a saída. — Me mantenham atualizado, certo?
— Ross, por favor! Diga a ele que eu o amo muito! — Vanessa
pediu.
— Eu direi.

A ansiedade a consumia! Na tarde seguinte, estavam em frente à


delegacia, ela, Bennett e Ross, o tal sujeito havia prometido se entregar às
três da tarde. Faltavam alguns minutos ainda, mas o medo de que ele
pudesse desistir a dominava. Era a única chance de livrar Peter daquele
pesadelo. O delegado também já estava à espera.
Seus nervos estavam em frangalhos! Havia tido outra noite mal
dormida, não conseguia comer, o estômago reclamava… Só esperava que
tudo aquilo acabasse de uma vez!
Pouco depois das três Mark apareceu com outro cara. Esse vestia uma
jaqueta de couro e tinha os cabelos engomados como John Travolta e
parecia bem assustado, olhando para os lados, constantemente:
— É ele. — Apontou o irmão de Peter.
Assim que a avistou, o sujeito correu um olhar de apreciação por todo
o corpo dela, sorrindo de lado e lhe estendendo uma mão:
— Gino Francesco, senhorita.
— Olá, Gino… — Ela aceitou sua mão. — Obrigada por aparecer.
Apesar do que você fez com o Peter… — Alfinetou, retirando a mão em
seguida.
— Eu achei que ele fosse seu amigo! — comentou Bennett.
— Cara, eu estou nessa pela grana! Amigos, amigos. Negócios à
parte…
— Mas o Peter não merecia isso! — Vanessa reforçou.
— Ninguém merece, boneca. O jogo é duro, fazer o que? Só que
agora eu vou livrar a cara dele, não vou?
— Não sem um preço, não é? — Ross o lembrou.
— Bom, nós temos um acordo, certo? — Gino abriu os braços,
desconfiado. — Vocês vão mesmo desenrolar aquela grana, não é?
— Se você fizer o que combinamos, sim! Você pode ter certeza de
que receberá a grana — Bennett assegurou.
— Vou cumprir… Eu não tenho outra alternativa. É isso ou… — Fez
um gesto, correndo um dedo pela garganta. — E esse grã-fino aqui? —
Apontou para Ross. — É o advogado? Ele vai me defender também?
Ross trocou um olhar com Bennett que acenou em aprovação:
— Se fizer tudo como acordamos, eu te defendo sim.
— Olha! — Ele ajeitou a gola da jaqueta, sorrindo de lado. — Vou ter
um advogado grã-fino! E eu terei alguns benefícios, se entregar a madame,
não é?
— Sim, já conversei com o delegado — Ross explicou. — Sua pena
pode ser reduzida. Se dizer onde conseguiu a mercadoria, pode ter ainda
mais benefícios…
— Aí você quer me complicar, homem! Isso eu não posso falar não!
Se não, estou morto de qualquer forma!
— Bom, essa parte é entre você e o delegado — prosseguiu o
advogado. — Nós só queremos Peter fora dessa.
Com um suspiro, a expressão de Gino murchou ao encarar o prédio à
frente.
— Eu não pensei que voltaria para esse lugar tão cedo… Vamos logo
com isso, porque minha vontade é de sair correndo… — disse se
encaminhando para a porta da delegacia.
— Eu fico por aqui — Mark anunciou. — Não sou muito fã de
delegacias…
Vanessa se aproximou dele e beijou sua face, ternamente, sem se
importar que o outro não estivesse em seu melhor estado de higiene:
— Obrigada, Mark! O Peter vai saber de tudo o que você fez, está
bem?
O rapaz ficou tímido e se afastou:
— OK… Só dê um abraço nele por mim. Adeus.
Gino se entregou. Prometeu colaborar com as investigações e delatar
a mandante. Reforçou que Peter Reyes não tinha nada a ver com aquilo
tudo. Que fora apenas um bode expiatório.
Do fundo da sala, ela acompanhava tudo. As mãos unidas, geladas,
tomava pela ansiedade que era uma constante companhia nos últimos dias.
Então ela ouviu do delegado, as palavras que tanto desejava:
— Tragam Peter Reyes — ordenou para alguém. — Ele está livre das
acusações.
— Sim! — Bennett exclamou, os dois punhos fechados em
comemoração e então piscou para Vanessa.
Ela se conteve para não dar um grito de satisfação. Com o coração
acelerado, deixou a sala do delegado, no encalço do policial que saía para
seguir a ordem. Ficou parada, encarando o corredor por onde ele sumia.
Quando Peter apareceu no final do mesmo corredor, Vanessa correu
para seus braços, sem esconder suas lágrimas:
— Meu amor! — ele sussurrou em seu ouvido, tirando os pés dela do
chão. — Porra, eu senti tanto a sua falta! Não chore! — pediu, porém sua
voz também estava embargada. — Acabou!
— Eu jurei não chorar… — disse entre soluços. Então recomeçou o
choro, meneando a cabeça e terminou num murmúrio. — Eu não
consigo…
— Ô, pobrezinha! — Embalou-a docemente, esfregando o nariz no
dela. — Obrigado por não desistir de mim!
— Nunca! — Vanessa disse contra os lábios dele. — Eu nunca
desistiria de você! — Então foi beijada com sofreguidão, com todo o poder
da saudade de ambos.
Era esmagada contra o peito largo. Suas lágrimas molhavam o rosto
dele, mas Peter não se importava. Seguia beijando-a, devorando seus lábios,
sussurrando que a amava.
— Vocês vão se comer bem aqui? No meio da delegacia mesmo? —
A voz de Bennett que os interrompeu.
— Por que? Você também quer um beijinho? — Peter então
desgrudava de Vanessa, mas virou-se para o amigo. — Se bem que você
está merecendo…
— Deixe seus beijos para Vanessa. Eu aceito só um abraço, seu
babaca…
Peter colheu o outro junto ao peito, batendo com um punho fechado
em suas costas:
— Te devo mais essa, amigo. Eu nunca vou me esquecer disso!
Nunca! — Afastou-se e o encarou, emocionado. — E prometo lhe devolver
cada centavo, está me ouvindo?
— Não estou preocupado com isso. Você em liberdade, livre dessa
injustiça, já está de bom tamanho para mim.
— OK! Agora se afaste de mim — disse empurrando o amigo e
trazendo Vanessa para debaixo de seu braço novamente —, antes que eu
comece a chorar e estrague minha pose de mau. Eu tenho uma reputação a
zelar!
— Mau como um cordeirinho… — murmurou Bennett, indicando
que ele fosse para a porta de saída. — Quando eles souberam que você
poderia sair, a turma toda quis vir… — Bennett apontou para a pequena
multidão que os aguardava do lado de fora da delegacia.
— Filhos da… — Os olhos de Peter se inflamaram de novo, ao notar
todos os amigos, inclusive os funcionários da In The Skin ali, aguardando-
o. — Vocês querem me foder, não é? — disse em voz alta, tendo de limpar
a garganta.
Palmas, assovios, palavras de apoio foram ouvidas. Logo alguém
começou:
— Discurso! Discurso! — Sendo seguido pelos demais.
Peter ergueu as mãos, pedindo que se acalmassem:
— Eu não vou fazer nenhum discurso. Só vou agradecer por
confiarem em mim e acreditarem na minha inocência…
— Nós sempre soubemos que você não presta, Peter, mas daí a ser
um traficante… — Crystal gritou do meio do povo.
Ele espalmou uma mão sobre o coração, soltando um suspiro:
— Você me deixa emocionado, Crystal!
— Você ganhou outra tatuagem lá dentro, Peach? — alguém gritou,
fazendo os demais rirem.
— Você acha mesmo que eu deixaria alguém tocar nesse corpinho?
Eu sou uma obra de arte, cara! Só minha morena tem toda a permissão para
me tocar… — Trouxe a noiva bem para perto, beijando-a uma vez mais, de
forma preguiçosa.
— OK, cambada! — Bennett anunciou. — Em comemoração a esse
momento especial, expediente encerrado por hoje… — A pequena multidão
ameaçou a começar outro alvoroço, mas Bennett os impediu, com as mãos
erguidas, pedindo calma. — Agora, vamos dissipar, antes que sejamos
presos por baderna… E a comemoração é por minha conta lá no bar do
Moe’s… — De novo fazia um gesto amplo com as mãos, acalmando o
povo.
— Bennett… — Peter chamou, tocando no braço do outro.
— Eu faço questão!
— Eu não ia te impedir não. — Riu alto. — Só agradecer mesmo.
— Você não presta mesmo! — Bennett também riu, meneando a
cabeça, muito feliz.
— Eu só vou passar em casa, para ver o velho e Sophie. E tomar um
banho e encontro vocês.
— OK. — Estendeu bas chaves do carro. — Os caras trouxeram seu
GT 69. Eles acharam que você estava com saudades dele também.
— E acertaram em cheio! — falou enquanto alisava o capô da
máquina. — Olá, belezinha. — Bennett se afastou e Peter trouxe Vanessa
para junto de seu peito de novo, olhando para ela de forma preguiçosa. —
Para casa agora, morena… — Colou os lábios em sua testa, concluiu —,
porque eu preciso matar minha fome desse seu corpinho também!
— Você leu minha mente, barbudo. — Segurando o rosto dele o
beijou de forma lenta, longa e sem pressa.

Já em casa, foi encontrar seu pai na cozinha. Esse tinha os olhos


marejados e sorriu aliviado ao vê-lo. Então estendeu sua mão para ele:
— É bom te ter de volta, filho.
— Também estou feliz em voltar, pai… — De repente a pequena
invadiu o cômodo, vindo de seu quarto.
— Tio! Você chegou! — gritou feliz antes de se lançar nos braços
dele.
Peter a tomou, tendo de se conter muito para não chorar. Tivera
muitas preocupações no período em que havia ficado naquela cela. Pensava
muito em Vanessa, em seu pai e seu grande amigo Bennett. Porém, sua
maior preocupação era com aquela garotinha. Ela dependia dele em tantos
aspectos! Era a figura paterna dela, apesar de ter também o avô. Temia que
sua prisão se estendesse e ela pudesse sofrer com isso.
Ficou aliviado quando Vanessa lhe disse que inventaram uma viagem
qualquer sobre sua ausência. Ela não precisava saber de toda aquela sujeira:
— Sim, minha pequena! Eu cheguei! Eu senti tanto a sua falta!
— Eu também, tio! Você nem se despediu de mim! — a menina
acusou, cruzando os bracinhos.
— Eu juro que não tive tempo, meu anjinho! Isso não vai acontecer
mais! Eu prometo! Você se comportou na minha ausência?
— Sim, eu fui uma boa garota! Não fui, vovô?
— Sim, ela foi um anjo, como sempre — Terence confirmou.
— Viu? Você me trouxe um presente? — ela inspecionou o lugar,
talvez atrás de um pacote.
— Dessa vez eu não tive tempo, eu amor, mas prometo que vamos
àquela loja de brinquedo que gosta, amanhã e vamos comprar alguém bem
legal para você, OK?
— OK! Está combinado!
— Agora eu preciso tomar um banho, OK? — Colocou-a no chão. —
Vamos jantar juntos hoje, está bem? Vamos fazer aqueles sanduíches que
você tanto gosta. O que acha?
— Sim! Sim! Sim! — ela gritava e pulava pela cozinha.
Peter segurou o pequeno rostinho entre suas mãos grandes e a beijou
ternamente na testa:
— Eu te amo, sabia?
— Também te amo, tio bobo. — Logo se entreteve com os
brinquedos espalhados pelo chão.
Ele ainda a olhou um pouco mais, com um sorriso nos lábios. Buscou
a mão de Vanessa e, lançando um olhar de agradecimento para Terrence,
encaminhou-se para os fundos.
Na escada que levava ao seu apartamento, fez com ela subisse na
frente para poder apreciar seu traseiro bem-feito. Ela percebeu, pois lhe
lançou um olhar provocativo por sobre o ombro e começou a requebrar.
Peter riu abafado e espalhou as duas mãos na bunda redonda, empurrando-a
degraus acima.
Dentro do apartamento Peter a prensou entre a porta e seu corpo
grande, as mãos ao lado de seu corpo:
— Eu estou louco para te foder, morena! — disse, com voz grave. —
Você não faz ideia!
— E o que te impede? — Ela projetou o quadril para a frente,
esfregando o ventre na ereção mais que pronta dele.
— Eu preciso tomar um banho… Tirar toda a carga ruim daquele
lugar de mim. Juro que não vou me demorar…
— Espero que não demore mesmo… — Vanessa o empurrou, despiu
a regata que vestia e afastou-se para o meio da sala. — Ou eu vou começar
sem você… — provocou desabotoando o jeans, lentamente.
Peter coçou a barba, curvou a cabeça de lado e ficou admirando o
espetáculo…
— Você não disse que ia tomar um banho? — ela o lembrou.
— Ah, sim.. eu ia… quero dizer… eu vou… — Atropelou-se, agora
que ela despia a calça e ficava somente de sutiã e calcinha.
Salivando, ele começou a se despir rapidamente, enquanto caminhava
para o banheiro:
— Porra, eu não vou demorar!
A gargalhada de Vanessa o seguiu, quando ele saiu quase caindo, com
as pernas presas em suas próprias calças.
Ele se esfregou com vigor, tentando manter seu pensamento no corpo
bem-feito da mulher em sua sala, e não nas noites tenebrosas de incertezas
naquela cela fria. Sentia que precisava limpar muito bem sua pele, para
poder ter o privilégio de amar de novo o corpo de sua garota. Ela era tão
linda que lhe tirava o fôlego! Pensar nela foi o que o manteve um pouco
mais sereno nos últimos dias. Sentia-se cada vez mais apaixonado por
aquela mulher!
Instantes depois, ouviu a porta de vidro do box se abrir e Vanessa se
materializou entre a fumaça do vapor, em toda exuberância. Encarou-a por
sobre um ombro, com um sorriso torto nos lábios:
— Eu não pude esperar mais… — ela disse simplesmente. — Espero
que não se incomode.
— Não me incomodo. — Peter se virou, sua ereção dura todo o
caminho balançando em direção a ela. — Eu tinha esperanças de que
aparecesse.
— Alguém parece bem animado! — Vanessa tomou o pau dele em
uma das mãos e o ergueu junto a seu ventre, para então poder colar seu
corpo ao dele. — Espero que esse efeito seja por minha causa…
— Ah, baby… Com toda a certeza desse mundo é você a razão! É
tudo sobre você… — Ele beijou seus lábios, uma, duas, três vezes e então
se inflamou.
Ela gemeu quando teve as costas coladas na parede gelada, mas logo
era aquecida pelo corpo grande, tinha a boca tomada de novo, de forma
intensa, com urgência. O peito dele arfava, sua respiração pesada. Tomou os
braços dela, fazendo-a enlaçar seu pescoço, uma perna entre as coxas
roliças, a água do chuveiro correndo por seus corpos:
— Eu sei que foram poucos dias, mas… caralho, Vanessa! Eu senti
tanto a sua falta!
— Também senti, Peter. Essa casa, aquela cama… pareciam tão
vazias sem você! — Ela fez um beicinho.
— Eu estou aqui agora e vou te preencher toda, morena! — prometeu.
— Você vai?
— Oh, eu vou… — As mãos juntaram os seios fartos, os polegares
torturando os mamilos rijos. — Eu também senti falta dessas belezinhas na
minha boca… — Umedecendo os lábios, baixou a cabeça para alcançar um
mamilo e o pincelar com a língua. Então o tomar entre os dentes,
mordiscando. Com um gemido abafado, como se não pudesse mais se
segurar, passou a sugar duramente, um e depois o outro, fazendo-a gemer
alto. — Você está pronta para mim, bebê?
— Estou sempre pronta para você, Peter… — sussurrou de volta.
— Deixe-me ver isso… — Num gesto brusco a fez girar no eixo e
então estava de frente para a parede, as mãos espalmadas no ladrilho
gelado. Separando suas pernas, correu uma mão por toda a extensão de seu
sexo, de forma quase rude, um dedo a invadindo fundo, deixando-a
extasiada. Ela sentia a respiração dele em sua nuca. Pesada, profunda, como
um animal, prestes a atacar. — Sim! Pronta! — Ele continuou sua inspeção
lá embaixo, espalhando sua cremosidade. — Ah, porra! Eu preciso provar
isso! — Caindo de joelhos, puxou o quadril dela para trás e afundou seu
rosto entre as pernas dela.
Quando a língua dele alcançou seu clitóris ultrassensível, ela
descobriu que amava aquilo. Seus olhos giraram em suas órbitas e uma
lamuriação agoniada lhe escapou dos lábios:
— Oh, Deus… Peter… — gemeu, perto de convulsionar, quando ele
começou a fodê-la sem piedade, enquanto da garganta dele brotavam sons
animalescos.
Um olhar para baixo e ela notou que ele se manuseava ao mesmo
tempo em que a saboreava. A imagem mais erótica que já tinha visto em
toda sua vida.
Peter a puxava, cada vez mais aberta para sua degustação. Vanessa
arfou, ficando nas pontas dos pés. Seus quadris seguindo o ritmo que ele
impunha. Chupou seu pequeno botão inchado e então voltou a invadi-la,
parecendo ele mesmo fora de controle.
Foi uma perdição para ela. Gozou duro, com um gemido profundo,
rouco e longo ecoando pelo espaço coberto de vapor. Logo, seu corpo
entrava em convulsão. Ela teve de se apoiar mais a parede e a Peter, que
ainda a torturava para não cair:
— Peter… eu não posso mais… — implorou, fraca.
Só então ele a deixou, mas foi só o tempo de se endireitar e encaixar a
ponta grossa e macia de seu eixo entre suas dobras sensíveis:
— Ah, você pode sim, morena… Você vai me tomar inteiro agora! —
Uma mão segurava seu queixo, fazendo-a virar a cabeça de lado, para lhe
alcançar a boca. — E sabe o que é mais incrível?
Vanessa não respondeu. Não tinha forças. Apenas ergueu seus olhos
dourados para ele:
— Mesmo você estando tão molhada, ainda é duro entrar em você,
porque você é apertada como um punho fechado! — disse, empurrando-se
devagar entre suas carnes macias e inchadas. — Eu tenho de tomar todo o
cuidado para não te machucar… caralho, eu amo isso!
Quando estava todo dentro dela, cada centímetro, espalmou as mãos
nas coxas dela:
— Você é tão gostosa que transar com você é sempre um teste de
resistência! Estou sempre a ponto de gozar, só de estar dentro dessa sua
boceta apertada! — Buscou sua boca e a devorou uma vez mais.
Os movimentos começaram lentos e longos, ele quase se retirando
inteiro. Ao que ela reclamava. Então ele segurava sua cintura fina e a
matinha no lugar, a frequência aumentando, a fricção erótica fazendo-a
gritar. O quadril dele batendo duro no traseiro dela.
Mesmo quando ela veio outra vez, ele não diminuiu seu ritmo, até
urrar e alcançar sua liberação.
Ele deixou o banheiro primeiro. Quando voltou para o quarto, ele
tinha uma toalha enrolada na cintura e segurava a caixinha que era seu
presente:
— Você não abriu?
Vanessa se aproximou, enrolando-se numa toalha também:
— Eu me prometi que só a abriria quando você estivesse comigo. —
Alcançou a caixinha da mão dele. — Eu posso?
— Você deve!
Animada, abriu rapidamente, ficando sem ar ao se deslumbrar com o
objeto em seu interior. Era uma corrente com o pingente sendo a réplica de
sua tatuagem, a máquina fotográfica e as rosas. Até mesmo as cores eram
idênticas. Uma exclamação lhe escapou da garganta:
— Peter! Como você conseguiu isso? — Virou-se de costas para que
ele colocasse a corrente em seu pescoço e correu para a frente do espelho,
para se admirar.
— Eu tenho clientes merdas, como o Gino Francesco, mas tenho
clientes que são verdadeiros artistas. Um deles fez para mim.
Sem se importar com a toalha que caia, ela começou a saltitar, toda
feliz:
— Eu simplesmente amei!
— OK, então agora traga essa bunda gostosa até aqui e me agradeça
direito.
Ela foi até ele e o beijou longamente. Então, ainda o abraçando,
tornou-se subitamente séria:
— Você sabe que Susan está por trás de tudo o que aconteceu, não
sabe?
— Sim. Ross me disse. — Ele acariciava seus cabelos úmidos.
— Eu nem sei o que te dizer. Só que sinto muito. E pedir desculpas…
— Hey! — ele a interrompeu. — Não tem de me pedir desculpas!
Você não tem nada a ver com o que ela fez!
— Nunca pensei que ela pudesse chegar tão longe! Acho que a
subestimei.
— Não vamos mais falar dessa mulher. Acabou. É isso que importa
agora. E temos uma comemoração para participar, lembra-se? Então, trate
de se vestir, antes que eu te jogue naquela cama e nós só sairemos dela de
manhã…

Quando chegaram ao Moe’s o lugar estava tomado pelos amigos de


Peter que o saudaram assim que entrou. Ele cumprimentou alguns com
apertos de mãos, recebeu muitos tapinhas nas costas e então se
encaminhavam para uma mesa ao fundo, onde estavam Bennett, Diana e
Ross.
Diana logo se levantou e correu abraçá-lo:
— Bem-vindo de volta, Peach! — cumprimentou emocionada.
— Obrigada, pequena… — Então estendeu-se mais no abraço,
propositalmente. — Olhe, Bennett! Ela também me ama!
— É melhor tirar suas mãos imundas de cima de minha garota e trazer
sua bunda para a porra dessa cadeira, idiota!
Ele riu e soltou Diana, trazendo Vanessa para junto de si:
— Não pense que o estou obedecendo. É só que eu tenho toda a
diversão que posso desejar aqui. — Apontou para sua garota.
Ajudou-a a se acomodar e então estendeu a mão para Ross:
— Cara, obrigada por tudo o que fez!
— Ah, que isso! Eu não fiz praticamente nada. Sua garota, seu amigo
e seu irmão são os que merecem os créditos.
— Eu gostaria de poder agradecer a Mark pessoalmente… —
exclamou, pensativo —, mas não faço nem ideia de onde o encontrar! —
Seu tom terminou exasperado.
— Sinto muito por isso, Pitt! — Vanessa o puxou para beijar a face
dele.
— Espero que esse encontro aconteça um dia! — Então, meneando a
cabeça, sorriu para ela. — Você quer uma cerveja, babe?
Ela fez uma careta e espalmou a mão sobre o abdome:
— Sem álcool para mim. Meu estômago não tem andado muito bem,
então só uma água com gás, OK?
— Certo, amor. — Beijou o alto de sua cabeça e rumou para o bar.
Logo ele voltava com duas água com gás, virava a cadeira a seu lado
para se acomodar, o encosto dessa ficando em seu peito:
— Eu sei que ela tem de pagar pelo que fez… — Vanessa começou
com cuidado. — Mas, Ross, o que pode acontecer com Susan?
— Bom, eu chuto que ela pegue uma pena um pouco mais branda.
Até por ser primária. Se ficar na prisão, será por pouco tempo. Deve pagar
com serviços comunitários.
Ela baixou o olhar para a garrafa suada em sua mão e suspirou.
— Eu ainda sinto tanta vergonha pelo que ela fez!
— Já disse que não deve se sentir assim! — Peter logo veio acarinhar
suas costas docemente.
— Acho que ela não pensou nas consequências, prima. Mas, também
acho que você não deve se sentir culpada pelo que ela fez.
— Ah, eu não consigo evitar! Afinal, ela é minha mãe…
— Uma coisa que eu estava me esquecendo de falar — Ross
prosseguiu. — Uma vez que ajudaram a pegar o verdadeiro culpado, o
delegado disse que poderiam participar da emboscada contra a mandante…
— Oh, Deus! Não! — Vanessa segurou a cabeça entre as mãos. — Eu
não quero participar disso!
— Está tudo bem, anjo — Peter a tranquilizou. — Nós não vamos.
— Vanessa, sinto muito — o advogado se desculpava. — Eu não
posso imaginar como tudo isso possa estar sendo difícil para você!
— Pois é… Parece tudo tão surreal!
Um súbito silêncio tomou a mesa. Vanessa, dando uma pesada
respiração, ergueu sua garrafa.
— Mas hoje é sobre festejar, certo? — Puxou Peter para mais um
beijo terno. — Nosso Peach está de volta!
Todos da mesa levantaram suas bebidas em comemoração. Depois de
alguns goles, Vanessa se colocou de pé:
— Eu só preciso ir ao banheiro… — No entanto, voltou a cair
sentada, quando uma tontura a tomou.
— Amor, o que houve? — Peter se preocupou, prontamente a
amparando.
— Eu… acho que me levantei rápido demais. Foi só isso…
— Você tem certeza de que está bem? Está tão pálida! — Ele seguia
preocupado.
— Eu acho que sei o que é isso. — Diana apontou. — Falta de
alimentação! Eu desconfio de que ela não venha se alimentando bem nesses
últimos dias.
— Ah, pobrezinha! Eu estou aqui agora e vou cuidar dela!
— Você vai? — Ela fez beicinho, segurando o queixo dele.
— Eu vou! Com toda certeza… — disse com ternura, beijando seus
lábios docemente.
— Acho melhor a gente procurar outra mesa… — Começou Bennett.
— Sim, acho que esses dois querem ficar a sós… — Ross emendou,
fingindo que ia se colocar de pé.
— Ah, vão se foder! — Peter puxou Ross de volta a sua cadeira. —
Um cara não pode matar as saudades de sua garota em paz?
— Você esteve fazendo isso nas últimas horas, seu idiota! — Bennett
resmungou.
— Você está com ciúmes, bebê?
— É claro! — retrucou Bennett. — Eu ajudei a livrar seu rabo
daquele maldito lugar e eu não tive a droga da sua atenção ainda!
Peter estendeu uma mão e pegou a do amigo sobre a mesa:
— Prometo que serei todo seu mais tarde, está bem, benzinho? —
Mandou-lhe um beijo e uma piscadela.
Diana riu alto e acrescentou:
— Eu acho que agora são esses dois que precisam ficar a sós, turma.
— Nada! — Bennett a puxou mais para perto. — Eu sei me
comportar em público…
— Não foi o que pareceu, quando estava tentando obter minha
atenção momentos atrás, babaca. — Peter alfinetou.
— Eu só estava apontando a sua falta de consideração…
— Meninas — Ross brincou —, eu não sabia dessa de relação desses
dois. Estou chocado que esconderam tão bem assim!
— Oh, eles não escondem, meu caro — Vanessa o informou. — É só
que você andou pouco com eles para notar.
Todos na mesa caíram na risada e a conversa girou animada sobre o
tipo de relação entre Peter e Bennett.
Ross os deixou saber sobre a prisão de Susan. Como havia sido pega
em flagrante, foi enviada para uma penitenciária no interior do estado.
Vanessa teve uma crise de choro, sendo consolada por Peter. Ela sabia que
aquilo aconteceria. Entretanto, nunca estaria de fato pronta. Não podia
imaginar o que tudo aquilo significava para sua mãe. Ela parecia uma
mulher tão distante! Tão estranha! Quase uma desconhecida.
Vanessa insistiu que precisava vê-la. Peter e Diana eram contra aquela
decisão, mas ela bateu o pé. Assim, no dia de visita, Peter dirigiu por
algumas horas para levá-la até onde sua mãe estava:
— Você tem certeza disso, amor? — Ele segurava sua mão, antes de
ela sair do carro. — Temo que nada disso te faça bem.
— Eu preciso, Peter. Nem que seja para colocar um ponto final nisso
tudo.
Ele torceu os lábios, ainda não convencido. Então levou a mão dela
aos lábios e a beijou:
— OK. Boa sorte, anjo.

Vanessa olhou ao redor. Era uma sala enorme, com várias mesas e
cadeiras. Um lugar bem iluminado, mesmo assim, com uma aura tenebrosa.
Talvez por conta das grades rodeando o lugar, os guardas espalhados pelo
lugar.
Poucas mesas estavam ocupadas e as conversas sussurradas eram de
dar agonia.
Quando Susan surgiu, vestindo um macacão laranja, o coração de
Vanessa se apertou ainda mais. Ela se colocou de pé, esperando a
aproximação da outra.
Notou que, mesmo naquele traje, Susan mantinha sua cabeça erguida,
olhando ao redor com desdém;
— O que você veio fazer aqui? — A mulher logo atacou. — Conferir
o lugar maldito onde me enfiou?
— Se você está aqui, é totalmente por mérito seu.
Elas se encararam por um longo momento. Susan poderia tentar
manter sua pose altiva, mas as olheiras escuras sob seus olhos, os sulcos
profundos ao lado de sua boca denunciavam seu estado interior. O coração
de Vanessa se apertou.
Limpando a garganta, começou:
— Como você conseguiu arranjar aquele cara?
Susan bufou um riso irônico:
— Isso nem foi difícil. Foi só espreitar e reparar na clientela seleta do
lugar onde seu companheiro trabalha. Opção era o que não faltava! Foi só
acenar com um pouco de dinheiro e o primeiro bastardo aceitou.
— Eu nunca pensei que você fosse descer tão baixo!
— Era isso ou oferecer uma boa quantia para o seu gigolô se afastar.
Mas, eu queria mais! Eu queria mesmo vê-lo atrás das grades, que é o lugar
de um sujeito como ele!
— Por que você o odeia tanto, se nem o conhece?
— Porque aquele sujeito representa tudo o que eu mais abomino num
homem! Ele é um herege! Um bandido! Que ousa achar que pode transitar
no meu meio, com um de nós!
— Como você pode ser tão preconceituosa? Tão pobre de espírito?
Julgar alguém por sua aparência…
— Eu não só me baseio na aparência medonha dele! Ele tem um
passado, você sabe!
— Peter sofreu com os erros. Aprendeu e mudou. E eu esperava que
você também pudesse mudar…
— Eu não quero mudar! Sou feliz com quem eu sou!
— Eu duvido! Você é uma mulher sozinha. Não tem amigos. Você se
esconde atrás da sua religião, da sua igreja. Mas, quantos deles lhe
estenderam a mão nesse momento?
— Eu não preciso deles! Eu não preciso de ninguém! Sei me virar
sozinha!
— Sozinha. É o que você é. E isso é triste. Eu tenho pena de você,
Susan…
— Eu não preciso da sua pena! — Ela bateu na mesa, colocando-se
de pé. Tinha seus olhos arregalados, as narinas dilatadas e a respiração
acelerada.
Recebeu uma bronca de um dos guardas e voltou a se sentar, muito
contragosto:
— Você já terminou de tripudiar sobre a minha desgraça?
— Bem se vê que você não me conhece!
— Você teve a opção de escolher quem ficava na prisão. E escolheu a
mim! Sua mãe!
— Eu nunca deixaria um inocente pagar por um crime que não
cometeu! Ainda mais o homem que eu amo!
— Eu só quis lhe dar uma visão do futuro. Uma premissa de algo que
vai acontecer, pode ter certeza!
Vanessa deu um longo suspiro, sentindo suas energias serem drenadas
pelo lugar, pela mulher à sua frente:
— Peter e Diana tentaram me avisar de que era um erro vir.
Entretanto, eu acho que precisava dessa última conversa. Eu só vim colocar
um ponto final na nossa relação. Não pense que é fácil. Mas, creio que seja
o melhor para nós duas.
— Está aí algo no que eu concordo com você.
Ela teve de engolir em seco. A mulher que lhe dera a vida estava
concordando que se afastar de sua única filha era a opção de vida…
— Só não diga que eu não te avisei, quando aquele homem te
decepcionar feio!
Vanessa se colocou de pé:
— Peter nunca vai me decepcionar. Agora, você vive fazendo isso. Te
desejo toda sorte do mundo, Susan. — Vanessa partiu sem olhar para trás.

Eles decidiram que não queriam esperar muito para o casamento.


Peter sugeriu um mês, Vanessa lhe pediu ao menos dois, para poder
organizar tudo. Não fariam uma festa muito grande. Apenas os amigos mais
próximos. Depois de sua inesperada prisão, queria viver tudo mais
intensamente. Foi um grande susto. Como reviver o passado que ele tentava
esquecer. Mesmo sabendo que era inocente, sentiu-se sujo. De novo.
Morariam no apartamento de Peter, que não era pequeno, até para não
ficarem longe de Sophie e não a tirar do lar confortável que ela já conhecia.
A verdade era que praticamente já moravam juntos.
Peter estava feliz, como há muito tempo não se lembrava de estar.
Vanessa era maravilhosa, tudo o desejava numa mulher! O amor e
admiração só faziam crescer. Soube, no momento em que colocou seus
olhos naquela morena, meses atrás, que ela mudaria sua vida. Era destino
dela ser dele e ele dela. A forma como havia lutado por sua liberdade o
comovia. Estava em eterna dívida com ela e Bennett. Ela o completava e
amava Sophie como uma filha! As duas viviam grudadas. A mãe que tanto
sonhou para sua garotinha! A única coisa que o impedia de sentir a
felicidade completa, era não saber de Mark…
O sorriso não deixava a face de Vanessa. Sentia-se num sonho. Havia
encontrado seu príncipe encantado e uma pequena princesa como brinde.
Um enorme e improvável príncipe tatuado e com um piercing que ela
adorava, que sabia ser doce e rude nas horas certas. Estar com ele fazia a
vida ter sentido. Nunca tinha imaginado amar tanto alguém assim! A
família que um dia tanto sonhara, estava prestes a ser formada. Peter,
Sophie e ela. E, num futuro muito próximo, uma ou duas crianças adotadas
para completar o lar perfeito.
Diana revirava os olhos, rindo a cada novo suspiro, ela também estava
muito feliz por ela, Vanessa sabia. Também torcia para que a relação meio
incerta que vivia com Bennett um dia se estabilizasse. Sabia que sua prima
estava completamente apaixonada.
O único incômodo de Vanessa era que seu estômago não dava sinais
de melhoras. Ocupada com os arranjos do casamento e com a produtora a
que tinha negligenciado um pouco nos últimos tempos ia levando a base de
antiácido. Ao que tudo indicava havia adquirido uma bela gastrite.
Certa manhã, logo após o café, uma forte náusea a fez correr para o
banheiro e colocar tudo para fora:
— Amor, você realmente não acha que há algo errado? — Peter
inquiriu, sentado na beirada da cama, assim que ela terminou o que tinha de
fazer.
— O que? Você acha que eu estou doente? — preocupou-se.
Ele a encarou com um olhar doce:
— Baby, seu estômago não anda bem, você tem tido muita azia,
episódios de tontura… e agora vômito? — ele disse, como se devesse fazer
sentido.
Vanessa meneou a cabeça, ergueu os ombros e deixou as palmas das
mãos viradas para cima, completamente confusa:
— Quando foi a última vez que as suas regras vieram?
— Minhas regras? O que elas… — a expressão dela desarmou e seus
olhos se arregalaram. — Peter, não me faça ter ideias! Eu já passei por isso
muitas vezes! É frustrante!
Ele veio acariciar os braços dela:
— Me perdoe, morena! Mas, estou apenas ligando os pontos. Você
sempre foi saudável, até onde me lembro! E foi só nós começarmos a fazer
sexo sem proteção e esses sintomas começam?
A respiração dela era pesada, as mãos unidas frente ao corpo. Não
conseguia formular um pensamento:
— Vamos fazer assim. Eu vou comprar um teste, está bem? — ele
falou cuidadoso com as palavras. — E você faz, só… para tirarmos isso do
caminho, certo?
Ela meneou a cabeça, concordando, ainda sem conseguir emitir
nenhuma palavra:
— Eu já volto, OK?
Assim que Peter saiu, Vanessa sentou-se no lugar onde ele estivera
pouco antes. Recordou-se das inúmeras vezes em que Jacob havia se
animado e corrido para uma farmácia, para comprar um teste, ao mínimo
sinal de atraso em sua menstruação… e de como tudo aquilo terminava…
Pensou que não passaria por aquilo com Peter… Ela já tinha
conversado com ele! Ela lhe disse que não era capaz! Lágrimas crisparam
seus olhos. Tudo o que desejava era não ter de passar por toda aquela
situação de novo. O medo e o vazio ameaçaram tomá-la de novo. Já fazia
um tempo que aqueles sentimentos ruins não apareciam. E não havia
sentido nenhuma falta deles.
Quando ele retornou, trazendo uma sacolinha, tentou esconder seu
estado de espírito:
— Eu não sabia qual trazer, então peguei os dois primeiros que
encontrei… — informou. — Está tudo bem, amor? — Afagava seu ombro.
— Eu imagino que tudo isso deva estar sendo estressante para você… E me
perdoe por insistir… é só que… eu tenho essa intuição, sabe? — Esfregou o
peito.
Vanessa o encarou com seus olhos dourados, brilhantes. “Oh, Deus!
Não me deixe decepcionar esse homem! Não deixe eu que eu me
decepcione outra vez!", rogou intimamente:
— Só vamos fazer isso de uma vez! — Fechou-se no banheiro sem
esperar uma resposta.
Fez todo o procedimento que sabia de cor e tomou um tempo,
recostada junto à porta:
— Baby? E aí? — A voz de um ansioso Peter se fez ouvir.
O coração dela se apertou e ela fechou os olhos. Limpando a
garganta, abriu a porta e saiu, trazendo os dois dispositivos consigo:
— Calma, homem! Não é assim tão rápido! — Então engoliu em seco
e tomou outra respiração. — Amor, tente não criar expectativas, está bem?
Eu não quero que se decepcione com o resultado… — Engoliu de novo, um
nó se formando em sua garganta. — Então, por favor, quando… —
interrompeu-se ao fitar os bastões em suas mãos.
Ele se aproximou, preocupado, olhando na mesma direção que ela:
— O que houve?
— Esse… Esse resultado nunca apareceu antes…
— E isso quer dizer?
— Eu não sei… Eu… Os dois… Os dois resultados deram… —
Vanessa deixou os testes caírem no chão e levou as mãos ao rosto, cobrindo
os olhos. — Meu Deus! O que isso significa?
Correndo até o banheiro, Peter voltou com as caixinhas dos produtos,
examinando com atenção. Então, um sorriso nervoso brincava em sua face:
— Anjo, os dois testes deram positivo…
— Não pode ser! Eu não posso…
— Você acha que não pode — pontuou ele. — Você nunca foi atrás
de verdade.
— O que nós fazemos agora? Eu não sei se podemos confiar nessas
coisas! — Seu tom era agoniado, quando veio abraçar a cintura dele, sendo
acolhida prontamente. — Eu estou assustada, Peter!
— Não fique assim, morena! Só nos resta fazer um exame de sangue
e então teremos total certeza.
— OK. Vamos fazer isso.

— Eles vão nos ligar, daqui há algumas horas, com o resultado… —


Vanessa informou, ao sair da sala de coleta.
— OK. — Ele enlaçou os ombros dela, beijando sua fronte. — Você
está bem, meu anjo? — perguntou, pela milésima vez.
— Eu estou… anestesiada, eu acho. Ainda não quero criar
expectativas, Peter! — Ela o encarava com olhos suplicantes.
— Eu te entendo, amor! Só nos resta aguardar esse resultado… Suas
mãos estão geladas! — falou esfregando as mãos dela e as beijava em
seguida. Então a encarou de forma doce. — Vanessa, seja qualquer o
resultado desse exame, saiba que nada muda, está bem? Eu te amo e sempre
vou te amar, independente de qualquer coisa. Você é completa e perfeita
para mim! Nunca pense diferente, OK? Eu te amo, morena! — Segurou seu
queixo, tocando seus lábios num beijo doce.

O dia seguinte era um sábado, Vanessa não foi à produtora e Peter


trocou seu horário para ficar com ela. Eles ocuparam sua tarde com Sophie,
levaram a menina para passear e lanchar no shopping. Suas mãos geladas
seguiam, suadas. Um frio no estômago constante. Aguardar aquele
resultado estava sendo uma tortura! Ele notava isso e a acalentava, sempre a
enchendo de carinhos e beijos apaixonados.
Já passavam das quatro quando chegaram em casa. Colocaram uma
exausta Sophie para dormir e subiram para o apartamento. Ela tomava um
copo de água quando seu celular tocou. Ao notar que se tratava do
laboratório, largou-o sobre a pia, como se fosse um tijolo, sua respiração se
acelerando imediatamente:
— Atenda, amor. — Peter surgiu do seu lado, ansioso.
— Eu não posso! Atende você, por favor! — pediu, afastando-se para
a sala.
Estava à beira de ter um ataque de ansiedade. Quando ele pegou seu
aparelho, ela lhe deu as costas e tapou os ouvidos. Por Deus, sentia que ia
enlouquecer!
Alguns segundos depois, sentia as mãos dele pousarem em seus
ombros. Então a virou devagar e ergueu seu queixo para que o encarasse.
Ela encontrou um sorriso emocionado e olhos brilhantes:
— Amor, nós estamos grávidos! — A voz dele era embargada,
quando beijava as mãos dela, sondando sua reação.
— O que? — Vanessa sussurrou, não confiando em seus ouvidos. —
Repete, por favor…
— Você está grávida, meu anjo…
As pernas dela cederam. Peter logo a amparou, assustando-se:
— Baby, você está bem? — Sentou-se no sofá trazendo-a para seu
colo, tirando os cabelos de sua face.
— Você tem certeza?
— Absoluta, morena! Eles disseram! Temos um positivo no exame de
sangue também.
Os olhos dela se crisparam e logo ela desabava em um pranto,
escondendo o rosto no ombro dele:
— Não chore, amor! Eu achei que você ficaria feliz…
— E eu estou! — soluçou, tentando enxugar as lágrimas. — Sabe o
quanto isso significa para mim? Um sonho do qual que já tinha desistido…
Ah, Peter! Eu vou ser mãe! — Caiu no choro outra vez, feito uma criança.
Ele também se esforçou para não cair nas lágrimas, embalando-a com
carinho:
— Sim, você será mãe! A mãe mais incrível desse mundo!
— Eu vou te dar um filho! Você tem noção disso?
— Eu acho que agora sou eu quem está anestesiado!
— Você está feliz? — Ela acariciou a face dele.
— Porra, meu peito parece que vai explodir de tanta felicidade! Eu
acho que sou o homem mais feliz desse mundo! — Beijou-a ternamente,
sussurrando o quanto a amava.
— Você acha que a Sophie vai aceitar bem?
— Eu acho que ela vai amar a ideia!
— Mal posso esperar para contar para ela! — Então se colocou de pé,
levantou blusa e acariciou o ventre. — Você consegue realizar isso? Tem
uma vidinha crescendo aqui dentro!
Peter a trouxe entre suas pernas e acariciou a barriga dela, de forma
protetora:
— Uma vidinha que eu já amo muito! — murmurou com voz
embargada, pouco antes de colar seus lábios no ventre ainda chato.
— E nós também te amamos, papai!
A cerimônia e festa de casamento foi realizada no estúdio da B&T
Produtora. Ela chorou. Ele chorou. Principalmente quando Sophie trouxe as
alianças. Estava um anjo, toda boba com seu enorme vestido branco.
Parecia uma pequena fada, com flores enfeitando os longos cabelos escuros.
Também fazia questão de dizer a cada um que encontrava que teria uma
irmãzinha. Não haviam feito qualquer exame para saber o sexo, mas, ela
estava convencida de que se tratava de uma garotinha. Até já havia
escolhido o nome: Bárbara.
Ela não deixava Vanessa ou Peter sentados por muito tempo. Queria
dançar a toda hora. A sorte é que ela também arrastava Bennett e Diana
com ela. Só assim uma faminta Vanessa podia comer, uma vez que, estando
medicada, os enjoos e mal-estar do estômago haviam diminuído muito.
Como Ross havia lhe dito, Susan não ficou muito tempo na prisão.
Pagou uma gorda fiança e agora fazia trabalhos comunitários para
completar a pena. Vanessa não a convidou para a cerimônia, uma vez que
tinham cortado de vez os laços. Seu pai não pudera vir, por questões de
trabalho. Vanessa nem se abalou. Já estava acostumada com a ausência
dele. Seu tio Harry, pai de Diana a levou até o altar.
Com muito custo Peter conseguiu que Sophie sossegasse um pouco e
se sentasse para comer:
— Tio, eu posso te chamar de papai Peter? — A pequena soltou, de
repente, enquanto esse ajeitava seu prato de comida.
Ela não deve ter notado, mas as mãos dele se tornaram trêmulas, o
coração batendo acelerado em seu peito, sua expressão desarmada:
— Eu sei que tenho o papai Mark, mas eu quase nem o vejo —
prosseguiu ela, sem notar o impacto que suas palavras tiveram nele. —
Agora que a Vanessa vai ser minha mamãe, eu queria te chamar de papai.
Vanessa ouviu e notou os olhos crispados do marido. Os dela também
se nublaram e ela enlaçou o braço dele, a cabeça descansando em seu
ombro.
Quando ele falou, foi com muito esforço para não deixar transparecer
o estado em que aquela confissão o havia deixado:
— Eu vou adorar ser o seu papai, pequena! Nada me deixaria mais
feliz! — Trouxe a garotinha para seus braços, enquanto sua esposa lhe
enxugava uma lágrima teimosa que lhe escorria pela face.

Meses depois…

Sophie decidiu que queria um chá de revelação para o bebê.


Logicamente Vanessa e Peter aceitaram. Diana ficou encarregada de tudo.
A pequena queria que a revelação fosse feita através de balões que ela
mesma fez questão de estourar. Claro que o palpite dela se concretizou.
Bárbara estava a caminho. Uma emotiva Vanessa chorou muito, sendo
acalentada pelo carinhoso marido.
Uma vez que o sexo do bebê havia sido revelado, a pequena logo teve
pressa de montar o quartinho da irmã. Assim, num domingo os três foram
passear no shopping e fazer umas comprinhas.
— Vanessa? — Jacob a chamou, olhando-a muito espantado. O olhar
fixo em sua barriga proeminente.
Ela quase riu da cara dele. Esfregando uma mão no braço do marido,
ela pediu:
— Amor, vá na frente com Sophie. Eu já te encontro.
Peter primeiro lançou um olhar mortal para o outro. Então beijou sua
mulher e se afastou com a falante garotinha:
— Você está… — O homem ainda estava incrédulo, observando-a.
— Totalmente grávida? — Ela acariciou o ventre volumoso de seis
meses, com um sorriso sereno. — Sim, estou.
— Mas… mas… — O tom dele era incrédulo. — Como pode? Você
fez algum procedimento?
— Sem procedimentos.
— Então fez algum tratamento?
— Também não. Apenas… — deu de ombros — aconteceu…
— Mas, então… — A realidade parecia atingi-lo e ele caiu sentado na
cadeira mais próxima, os olhos bem arregalados. — Meu Deus! Então… o
problema é comigo? — Terminou, num sussurro.
Vanessa acomodou-se ao lado dele. Não devia estar sendo fácil para o
ex. E, no fundo, ela sentiu pena:
— Talvez você devesse procurar um médico… Fazer alguns exames.
Eu nunca fui atrás disso e achava que era incapaz… — Acariciou a barriga
novamente. — Porém, eu fui abençoada!
O olhar dele era mortificado. O orgulho dele devia estar muito ferido.
Entretanto, havia coisas que ela precisava desabafar:
— Sabe? Você me disse coisas horríveis quando me deixou naquela
noite. Eu sempre tentei amenizar, dizendo que eram efeitos da bebida,
quando eu ainda era obcecada por você… Mas, depois, eu enxerguei que
isso não era verdade. Era como você pensava. A bebida só te deu coragem
para colocar para fora. E as suas palavras minaram ainda mais a minha
segurança em ser uma mulher de verdade. Elas quase acabaram comigo! —
Ele manteve o olhar baixo, talvez sem coragem de encará-la. — Quase
destruíram meu sonho… E então eu conheci Peter. Um homem oposto a
você em tantos níveis! E ele me aceitou como eu acreditava que era. Uma
mulher que não podia gerar uma vida. E me amava mesmo daquela forma.
— Encarou-o com olhar acusador. — Coisa que você não foi capaz de fazer.
Me abandonou quando eu mais precisava… — fez uma longa pausa,
encarando um derrotado Jacob.
Colocando-se de pé o olhou do alto:
— Eu guardei muito ressentimento sobre você por um longo tempo!
Só que eu acho que a maternidade me fez mais… compreensiva. E hoje eu
só desejo que seja tão feliz como eu estou sendo agora. Adeus, Jacob.
Então foi ao encontro do marido que a aguardava na loja de enxovais
de crianças. Foi recebida com um abraço afetuoso e pelos chamados de
Sophie que estava encantada com tudo. Já que estavam montando o quarto
de Bárbara, resolveram também renovar o de Sophie, para que não se
sentisse excluída. Essa estava amando a ideia! Se era possível, andava ainda
mais grudava em Vanessa, conversando muito com sua barriga.
Se a felicidade tinha um rosto, esse rosto era o de Vanessa Thomas
Reyes, enquanto ela admirava sua família, acariciando sua barriga.
Patrícia Rossi nasceu e mora no interior de São Paulo. Casada, tem
dois filhos, é mãe de pet. Sua família é a razão de sua vida.
Tem 43 anos e começou a escrever aos dez anos, por sempre terminar
frustrada com os finais dos livros que lia (escondido de sua mãe).
Não parou mais. Mas só em 2013 foi que começou a mostrar suas
obras num blog próprio. Depois lançou Ethan em livro físico por uma
editora. Suas obras são Ethan, Zane, Hawk, Esse Cara e Tudo o que eu
queria.
ZANE

Disponível em e-Book
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Disponível em físico
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Sinopse

Zane Hudson.
Motoqueiro.
Músico.
Tatuado.

Quinn Armentrouth.
Alta sociedade, luxo, glamour.
Tudo no mundo para separá-los.

Ele sabe o que é abandono.


Ela já foi traída.
Uma ex perseguidora.
Um ex que não aceita perder.
Eles pertencem a mundos diferentes.
Mas nem por isso a química entre eles é menor.
A atração é explosiva, instantânea.
Uma mãe que abandona...
Outra que repreende.
Percalços.
Sexo, romance... amor.
Essa paixão seria forte o suficiente para mantê-los unidos?
ETHAN
O amante secreto

Disponível em e-Book
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Sinopse

Quando Aléxis foi incumbida de entregar um recado de sua chefe


para o ex amante, ela foi contrariada. Mas quando conheceu Ethan Marcus,
sabia que estava entrando em problemas. Principalmente porque não
esperava se sentir atraída de forma tão instantânea por ele. O grande
problema era que Amanda Shepherd, sua patroa, o queria de volta! E Aléxis
precisava muito daquele emprego, pois sonhava subir na empresa.
Ethan Marcus é um cara tranquilo que se vê encantado com a doce e
encabulada secretária de sua pegajosa ex. Aléxis Morgan é simplesmente
linda e sexy, apesar de se esconder sob roupas que não a favorece. Ele
precisa provar daqueles lábios perfeitos, conhecer cada curva escondidas
em seus trajes sóbrios, mas a garota é difícil. Não que ele vá desistir por
isso...

— Eu sabia — ele murmurava, quando fez uma pausa para respirar. — que essa sua boca tinha
um gosto delicioso... — Ethan... — ela protestou... Precisava se afastar. — Shhhhhh! — ele a
silenciou, segurando sua cabeça entre as mãos. — Não fale, não pense... só beije-me!
HAWK: O DEMOLIDOR
Sempre te pertenci

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Sinopse

Ele é um lutador.
Não por opção.
Nunca foi seu sonho.
Depois de ser traído pela mulher que amava, deixou que seu pai
adotivo guiasse sua vida.
Odiá-la era seu dever!
Tenta apagar o sabor de seus beijos e a lembrança de seu pequeno
corpo quente em outras mulheres. Mas a frustração o domina e ele a
extravasa no octógono.
Ele não tem piedade de seus oponentes. Por isso, é conhecido como o
Demolidor.
Hawk Cameron tem tudo. Ou acha que tem...
Ele sabe que deve odiar Michaella Tate. No entanto é impossível
esquecer a mulher de cabelos vermelhos que destruiu seu coração.
Como um masoquista, precisa vê-la uma vez mais...
ESSE CARA

Disponível em e-Book
Compre aqui!

Sinopse

Dom sentia que não se encaixava em sua família. Até mesmo sua
aparência destoava. Ele tem suspeitas que não tem coragem de expor...
Nunca sonhou em ser um executivo na empresa da família. É bom no que
faz, mas sua natureza o instiga a fazer algo completamente diferente. Não
admite, mas, está nos negócios, numa tentativa de criar um vínculo com seu
pai exigente... Mas é isso. O que não adianta muito. Sem contar sua relação
de muito ódio com o irmão. Então, quando é traído de forma cruel e por
quem menos espera, sabe que é o sinal mais que claro e parte. Depois de
meses distante, voltou para ser padrinho no casamento do amigo... E
conheceu Tate Sullivan, a loirinha que mudaria sua vida.
Tate terminou o noivado a pouco. Ainda está tentando colocar sua
cabeça no lugar, quando Dominic Elliott cruza seu caminho. Literalmente.
Ele é lindo, sexy, intenso. E um sem vergonha. O homem bagunça sua vida
certinha, sua cabeça, sua cama... E ela gosta muito disso. Até que os
problemas surgem. Sexo, traições, ameaças, chantagem. Tudo conspira para
separar o casal. O que os une, será forte o bastante para superar essas
provações?
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