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Copyright © 2021 A. C.

Nunes

Capa: LA Design
Diagramação: Amanda Nunes
Revisão: Amanda Nunes
Revisão final: Isadora Duarte

Todos os direitos reservados.

_____________________________________________
Deliciosa Obsessão

1. Romance.
2. Literatura Brasileira.

Edição Digital | Criado no Brasil.


Esta obra segue as regras do Novo Acordo Ortográfico.
___________________________________________
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº.
9.610. De Fevereiro de 1998 e punido pelo artigo 184 do Código
Penal.
Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida ou transmitida
sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos,
fotográficos, gravação ou quaisquer outros.
Esta é uma obra de ficção e toda e qualquer semelhança com
pessoas ou situações reais terá sido mera coincidência.
SUMÁRIO
PLAYLIST
SINOPSE
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
EPÍLOGO
LIVRO 2
OUTROS MASSARI
REDES SOCIAIS
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Paola Massari estava magoada. Depois de descobrir que o
marido levava uma vida dupla e que chegou a ter outra
companheira, ela está prestes a pedir o divórcio. Antes disso,
porém, o sentimento de se sentir vingada por anos de traição é
maior e isso a faz tomar uma atitude precipitada de procurar Liam,
advogado e colega do seu futuro ex-esposo , e propor passar uma
única noite com ele.
Há dez anos, desde que voltou para a cidade, Liam Azevedo
cultiva uma paixão platônica por Paola — irmã caçula do seu melhor
amigo —, o que também nunca foi segredo para ninguém. Ao ser
procurado, ele agarra sua chance com ela, mesmo que por apenas
algumas poucas horas.
Era para ser uma única noite. Nada mais que uma noite. Mas
então Paola continua o procurando todas as vezes. O que era para
ser um caso rápido, se torna uma frequência deliciosa e obsessiva
de encontros quentes às escondidas sem que pensem muito nas
consequências que a paixão explosiva deles pode trazer. Liam está
advogando a favor do marido dela no processo de divórcio, além de
ter prometido ao melhor amigo que jamais chegaria perto de sua
irmã caçula.
Como se nada disso bastasse, o coração de Liam está em
jogo. Enquanto ela não quer nada mais que sexo casual porque
ainda não se sente preparada para outra relação tão já, ele aceita
todos os termos e tenta não criar esperanças com a mulher por
quem sempre foi apaixonado.
Dizem que a vingança é um prato que se come frio, mas eu
sou impaciente e vou comê-lo escaldante mesmo.
Ergo os olhos para o edifício à minha frente e inspiro fundo,
tomando mais um pouco de coragem. Eu me identifico na portaria e
o funcionário, um senhor simpático que tenho a impressão de que
faz poucos dias que começou a trabalhar aqui, pede um minuto para
me anunciar. Aguardo impacientemente, sentindo meu estômago se
revirar, e aperto minha bolsa contra o corpo. Troco o peso da perna
e aliso o vestido preto, perguntando-me se fiz a escolha certa para a
ocasião. O vestido, a lingerie, os saltos, a maquiagem, o cabelo.
Não tive muito tempo para me arrumar, então precisei improvisar e
espero que seja o suficiente. O porteiro diz algo ao telefone e depois
se volta para mim, analisando-me de cima a baixo.
Como disse que se chama, senhora?
— Paola Massari.
— Paola Massari. — Repassa a informação ao telefone. —
Sim, sozinha. Tudo bem.
O porteiro coloca o aparelho no gancho e me olha.
— O doutor Azevedo liberou sua subida.
Mordo o lábio inferior segurando uma risadinha. “Doutor
Azevedo”? Acho que nunca vi alguém tratá-lo pelo sobrenome. O
funcionário abre o portão de entrada para mim e me deseja boa-
noite conforme avanço condomínio adentro. Desejo o mesmo e
tomo o elevador até o décimo sexto andar. Mal me aproximo da sua
porta quando ela se abre. O homem surge dentro de um terno muito
bem ajustado, os cabelos castanho-claros perfeitamente no lugar, os
olhos cinzas curiosos com minha presença.
— Doutor Azevedo? — debocho. — Doutor Liam combina
melhor com você, na minha humilde opinião.
Ele se encosta ao batente da porta e abre um sorriso sucinto.
Conheço esse homem há muito tempo e confesso que poucas
vezes na vida vi algo além de seriedade no seu rosto malditamente
bonito.
— Só o Cícero me chama de doutor Azevedo. Não me
pergunte por quê.
Sorrio e, de repente, fico deslocada e desconfortável. O
humor em meu rosto vai esmaecendo. Eu realmente vim procurá-lo
com as intenções que estão permeando minha mente? Vim. O
desejo de desistir está aqui, mas o desejo de me sentir vingada é
maior.
— O que está fazendo aqui, Paola? — pergunta,
completamente sério.
— Podemos conversar?
Ele me olha por um instante inteiro antes de fazer um gesto
subentendido para eu entrar. Seu apartamento está organizado, tem
música baixa tocando em algum lugar e a mesa de jantar está
posta. Fico sem graça ao notar que atrapalhei seu momento.
— Desculpe. Eu posso voltar outra hora.
— Ou você pode ficar e jantar comigo — diz, caminhado até
um armário perto da mesa. Ele retira outro jogo de louça e as
distribui frente a que já está ali enquanto pergunta: — Quer beber
alguma coisa?
Movo a cabeça de um lado a outro. Preciso estar
completamente sóbria para o que quero fazer. Se ele aceitar.
— Agradeço e também dispenso o jantar — digo e olho no
meu pequeno relógio de pulso. — Mal são oito da noite. Um
advogado importante como você não deveria estar trabalhando
ainda?
— Hoje foi uma daquelas raras ocasiões em que consegui
deixar o escritório no meu horário.
Ele me deixa um instante sozinha. Quando volta, está
segurando uma taça de vinho.
— Sente-se. — Aponta para o sofá logo atrás de mim e se
acomoda no outro, ficando à minha frente. Aceito a oferta e deixo
minha bolsa ao meu lado. — Quanto tempo mais vai durar esse
mistério? — Ao perguntar, ele bebe um pouco do seu vinho e apoia
a taça em uma mesinha logo ao lado.
— O Bruno vai te procurar. Em breve. — Liam franze o cenho
e cruza as pernas, a cabeça tombando de lado. — Vou pedir o
divórcio.
O entendimento toma o rosto dele um segundo depois: a
boca se entreabre, as sobrancelhas sobem, e ele se inclina
ligeiramente na minha direção.
— Divórcio? — repete, como se quisesse confirmar que
entendeu direito.
Assinto e meu coração se aperta ao me lembrar do motivo.
Não quero chorar por causa daquele cretino idiota. Eu me segurei
bem até aqui, desde que descobri toda a verdade. Mais cedo, fui
forte e me segurei quando Mattia, meu irmão mais velho, me contou
tudo. Eu me segurei na frente dos meus pais e irmãos durante o
almoço porque não queria estragar o momento no qual o
primogênito contava a novidade que deixou toda a família radiante.
Eu me segurei durante o restante do dia enquanto atendia meus
pacientes na minha clínica odontológica. Agora, entretanto, estou
sentindo que vou desabar a qualquer momento.
Acho que não aguento mais.
Pisco um par de vezes para afastar as lágrimas dos meus
olhos. Ergo a cabeça e me concentro em não chorar. Não na frente
do Liam. Não enquanto não chegar em casa e descarregar toda
minha raiva no idiota que por muito tempo chamei de marido. Só
depois disso, vou me permitir chorar.
— Ele me traiu — sussurro, ainda olhando para cima. Fico
em silêncio por um segundo antes de continuar: — Fui idiota o
suficiente para perdoá-lo porque acreditei na palavra da Lauren de
que tinha sido só uma noite. Fui idiota o suficiente para acreditar no
arrependimento dele.
— Me situa, Paola. Lauren é a garota que dormiu com o
Bruno? Você falou com ela?
Dou uma risada esganiçada e aperto os olhos, dando-me
conta de que Liam não está sabendo o que aconteceu.
— Há algumas semanas, essa menina me procurou, disse
que passou uma noite com o Bruno e engravidou dele. Trigêmeos.
— A expressão de Liam fica mais severa e é toda a indicação de
que está reagindo ao que estou contando. — Lauren me contou que
não sabia que ele era casado, ele pediu para não contar nada, mas
ela não achava justo que eu não soubesse.
— E você o perdoou — indica, roçando o indicador nos
lábios, os olhos concentrados em mim.
— Não vou te dar os meus motivos para eu o ter perdoado —
respondo, dando de ombros. — Não vem ao caso agora. Acontece
que, hoje, Mattia foi me buscar no consultório para almoçarmos em
família porque ele tinha uma novidade para contar. — Movo a
cabeça de um lado a outro, ainda sendo difícil para mim digerir essa
maldita coincidência. — Então, ele comentou da traição do Bruno.
Fiquei surpresa porque não contei para ninguém da minha família.
Foi quando me explicou que conhecia a Lauren, que tinha dormido
com ela um ano e meio atrás, os dois se reencontraram no sábado e
ele descobriu que os trigêmeos são na verdade dele.
— Meu Deus, que enredo de novela mexicana — diz, a voz
um tom mais baixo.
— Bruno e Lauren tiveram um relacionamento por uns dois
anos. — Outra risada sem humor, outro esforço para não desabar
em lágrimas. — Ele a pediu em casamento, acredita? — Liam não
responde. — O desgraçado conseguiu enganar nós duas. Lauren
descobriu a farsa no mesmo dia que conheceu o Mattia e só não me
contou a verdade por completa semanas atrás porque quis me
poupar de uma decepção maior.
Relato a história que meu irmão nos contou hoje em volta da
mesa, como e onde os dois se conheceram. Liam ouve
atentamente, sua expressão sempre séria, pernas cruzadas,
indicador nos lábios.
— Eu o perdoei a primeira vez porque acreditei no
arrependimento dele, acreditei que tinha sido só uma noite. Um
deslize, um erro. Todo mundo comete erros, não é? — Balanço a
cabeça de um lado a outro. — Não sou capaz e nem quero perdoá-
lo por ter tido uma vida dupla. Assim que voltar para casa, vou pedir
o divórcio. Como você é amigo do Bruno e trabalha na área familiar,
ele vai te procurar.
Liam semicerra os olhos na minha direção e ajusta a postura
no seu lugar. Muito calmamente, pega a taça de vinho e dá outro
gole na bebida.
— Certo. E como isso tudo explica sua visita?
Engulo em seco sentindo o coração disparar. Eu já tinha
ponderado que a ideia era vergonhosa e ridícula o suficiente, ainda
assim, vim. Continuo achando a ideia vergonhosa e ridícula o
suficiente, mas não vou voltar atrás. O pior que pode acontecer é
Liam não aceitar.
Devagar, eu me levanto do meu lugar, seus olhos cinzas
seguindo cada movimento meu. Dou um passo na sua direção,
inspiro fundo, levo a mão as alças do meu vestido e abaixo uma por
uma. A peça cai até minha cintura e fica presa ali. Toda a reação de
Liam é se encurvar ligeiramente na minha direção. Meu peito sobe e
desce em uma respiração irregular, meus batimentos cardíacos
acelerados como motor de carro de corrida.
— Eu quero dormir com você — digo em um sussurro.
Liam tomba um pouco a cabeça de lado, observando-me. Ele
fica em silêncio por segundos que acho longos demais. E é nesse
momento que começo a me arrepender. Ele e Bruno são amigos e
não sei até onde vai a lealdade dele em relação ao meu marido.
Não sei até onde vai a lealdade de Liam em relação ao meu
segundo irmão mais velho, Filippo, porque os dois são melhores
amigos há quase quinze anos.
— Quer que eu seja seu brinquedinho de vingança? —
aponta, a voz baixa, rouca, uma pitada de desagrado parecendo
impregnada nas sílabas. Empino o nariz tentando não me deixar
abalar nem sentir vergonha do que estou fazendo. Se ele disser
não, recoloco meu vestido, pego o resto da dignidade que me sobrar
e vou embora. — Não.
Havia cinquenta por cento de chances de ele me dar essa
resposta, e eu vim aqui completamente ciente disso. Mesmo assim,
sua negativa me impressiona. Liam nunca fez questão de esconder
que tem algum sentimento por mim. Isso nunca foi segredo para
ninguém — nem para o meu futuro ex-marido idiota —, e por esse
motivo, sua recusa me pega de surpresa. Eu realmente pensei que
ele fosse aceitar.
— A quem está sendo leal? — pergunto, mantendo-me no
meu lugar. Liam se recosta na sua poltrona, bebe outro gole do seu
vinho e apoia a taça na mesma mesinha ao seu lado. Cada
movimento é feito sem desviar os olhos dos meus. — Está sendo
leal ao sacana do Bruno ou está sendo leal ao meu irmão?
— Sempre respeitei seu casamento com Bruno — responde,
e a calma que esse homem exala começa a me irritar. — Teria
respeitado seu casamento com Bruno até o final mesmo se você
aparecesse nua na minha frente. Isso — ergue o indicador — se ele
tivesse o mínimo de caráter. Pelo que acabou de me contar aqui,
não é algo que esteja sobrando no meu amigo. Então, eu dormiria
com você de qualquer maneira, ainda que quisesse me usar apenas
como um brinquedo sexual de vingança.
Liam troca o cruzar das pernas e mais uma vez se ajeita no
seu lugar, como se procurando por uma posição mais confortável.
Ele não tira os olhos de mim, e eu gosto que sua atenção esteja no
meu rosto na maioria do tempo, não no meu busto à mostra, apesar
de a intenção quando me despi da cintura para cima fosse atrai-lo.
Contenho uma risada histérica pelo ridículo da situação. Eu,
seminua na frente dele depois de receber uma negativa, tendo uma
conversa ainda mais ridícula. Se sua lealdade não está em Bruno,
então está em Filippo. Meu irmão nunca gostou que seus amigos se
envolvessem comigo, e Liam foi leal desde sempre, mesmo nos
momentos em que estive solteira.
— Em relação ao seu irmão… — continua, ainda muito sério.
— Não deixaria de dormir com você por causa dele, e isso nada tem
a ver com lealdade. Você é uma mulher adulta, eu sou um homem
adulto, e Filippo não pode ter controle sobre nossas vidas.
Pisco duas vezes assimilando o que me disse. Se Filippo
nunca foi o problema para Liam se aproximar de mim quando eu era
solteira, por que nunca o fez então?
— O que está me impedindo de sair do meu lugar e te dar o
melhor orgasmo da sua vida, Paola, é não ter certeza do quanto
você de fato quer isso. — Penso em protestar, mas ele segue
argumentando: — Você está magoada, com raiva, agindo por
impulso. Não preciso que amanheça na minha cama e se
arrependa. Além disso, não vou me aproveitar do seu momento de
vulnerabilidade.
Inspiro fundo e termino de tirar meu vestido. Noto quando
Liam trava o maxilar, os olhos descendo até a cinta-liga branca.
— Aprecio sua preocupação. — Passo a peça pelos meus
pés e a chuto na sua direção. Ele agarra o tecido com algum susto
no seu rosto e não diz nada. — Estou, sim, com raiva, magoada e
agindo por impulso, mas só vou me arrepender de dormir com você
se não me comer como eu mereço. E não diga que estou vulnerável
porque não estou. Eu sei muito bem o que quero e quero que você
me coloque naquela sua mesa de jantar e me foda como sempre
desejou.
Ao terminar de falar, sinto meu coração em disparada — mais
do que já estava segundos antes —, mas mantenho minha postura.
Tenho certeza do que quero e não posso dar qualquer
demonstração de que não sei o que estou fazendo. Muito devagar,
Liam se levanta e se aproxima de mim. Preciso erguer meus olhos
aos seus porque o homem mede ao menos um metro e noventa e
isso é pelo menos vinte centímetros a mais do que eu tenho.
Sua mão forte vai delicadamente até minha nuca, e ele me
puxa para seu corpo. Sinto sua respiração muito mais regulada do
que a minha e encaro os olhos sem emoção que ele sempre
carregou consigo.
— Tem certeza do que quer?
Levo minha mão até o vão das suas pernas e sorrio ao sentir
que ele já está duro.
— Eu tenho. — Acaricio seu membro em uma tentativa de
arrancar qualquer outra reação desse homem, mas tudo que
consigo é mais do mesmo: ele trinca o maxilar, as narinas
expandem e as pupilas dilatam. — Preciso deixar uma coisa muito
clara, Liam. Sei que gosta de mim e isso nunca foi segredo para
ninguém. — Ele assente, sua mão na minha nuca em uma carícia
sensual, os olhos nos meus lábios. — Vai ser só uma vez. Apenas
essa noite. Não crie esperanças nem expectativas.
Ele me olha, impassível como sempre.
— Só o seu brinquedinho sexual de vingança — diz, mas não
há raiva, mágoa ou desapontamento no seu tom.
— Vou entender se não quiser. Se não for com você, vai ser
com outro, isso eu garanto.
Um sorriso mínimo surge nele, que se inclina na minha
direção e deixa sua boca muito próxima da minha.
— E perder a chance de sentir o seu gosto e te foder até
você não aguentar mais como eu sempre quis? — Sua mão livre vai
à minha cintura e sou puxada com mais força na sua direção,
chocando-me contra seu tórax firme. — Me use, Paola. Me use
como você bem entender.
— Só essa noite, Liam — reforço, erguendo um pouco os pés
para vencer a pequena distância entre nossos lábios. — Só essa
noite.
Antes de me beijar, ele sussurra:
— Será o suficiente.
A boca dele se choca com a minha, e detesto constatar logo
nos primeiros segundos que seus lábios são incríveis e ele beija
maravilhosamente bem. Liam me beija com firmeza, uma mão na
base da minha coluna, a outra na minha nuca, mantendo-me presa
de todas as formas. Ele é rude e forte, tomando para si todo o meu
ar. Preciso afastá-lo um centímetro para conseguir respirar, ao que
ele se aproveita para beijar entre meus seios e escorregar sua mão
atrevida até entre minhas pernas.
Agarro-me aos seus braços e suspiro quando sinto seu
toque. Abro meus olhos que nem notei que tinha fechado e encaro
suas pupilas dilatadas, apreciando o carinho suave e certeiro que
ele faz na minha intimidade. Liam sequer está me tocando pele a
pele e já estou maravilhada com seus dedos em mim.
— Eu vou comer você, Paola — sussurra na minha boca, sua
mão agora invadindo minha calcinha. — Vou te comer em cima
daquela mesa de jantar e onde mais você quiser. — Ele me penetra
com um dedo e circunda meu clitóris com outro, em uma manobra
deliciosa que poucos homens conseguiram fazer em mim. — Mas
preciso que me peça para parar caso esteja se arrependendo,
desconfortável ou qualquer coisa assim.
Engulo em seco e aperto os olhos, mal dando atenção ao que
está me dizendo porque estou concentrada demais no calor
proporcionado por esse homem e que está invadindo cada célula do
meu organismo.
— Paola — ele me chama com firmeza, seus dedos fugindo
de mim. O sentimento de desespero que me assalta é como se
tivesse me arrancado algo vital. Encontro seus olhos severos. — Me
promete que vai me dizer para parar se notar que estamos cruzando
algum limite. Que estamos cruzando o seu limite, principalmente o
emocional, você sabe, por causa daquele idiota que chama de
marido.
Inspiro, trêmula. É ridículo sentir necessidade de Liam sendo
que mal me tocou, mas é exatamente como me sinto. Abano a
cabeça em positivo, freneticamente, querendo apenas que volte
para mim. O homem agarra meu rosto com as duas mãos e olha
profundamente dentro dos meus olhos.
— Estou falando sério.
— Eu entendi — digo, com um suspiro. — Vou te pedir para
parar se sentir que não quero mais por qualquer motivo que seja.
— Escolha uma palavra.
— O quê?
— Qualquer palavra. Uma fruta, uma cor, um animal. Escolha
uma e se precisar que eu pare, é só dizê-la.
Pisco um par de vezes, ponderando. Durante os breves
segundos em que penso em uma palavra, seus olhos não saem dos
meus. É isso que me ajuda a escolher.
— Advogado.
Ele sobe uma sobrancelha e abre um sorriso sucinto.
— Bem pertinente. — Há um traço de humor na sua voz que
pouco vejo nele. Um instante depois, sua mão está de volta à minha
boceta, o dedo do meio indo fundo em mim, o polegar acionando
meu clitóris.
Encurvo-me um pouco para trás e fecho os olhos apreciando
seu toque. Ele é dedicado e atencioso, e me surpreende que
consiga me foder com os dedos e distribuir beijos entre meus lábios
e meu colo ao mesmo tempo. Eu já estou completamente
encharcada quando ele me priva de suas carícias. Abro os olhos
para vê-lo chupando o indicador com qual me fodeu. É uma das
imagens mais eróticas que já vi.
— Seu gosto é incrível — murmura, passando o polegar no
meu lábio inferior.
Eu ainda estou ordenando uma resposta coerente no
momento em que ele me agarra pelo quadril e me impulsiona para
seu colo. Minhas pernas imediatamente contornam sua cintura, e
outra vez, sua boca está na minha de forma exigente e firme. Ele
me leva para algum lugar e só descubro para onde ao ser colocada
sobre a madeira fria da sua mesa de jantar. Liam permanece entre
minhas pernas, sem parar de me beijar, como se fosse sua primeira
e última oportunidade — o que de fato é — quando afasta a louça
que estava posta.
— Atrapalhei o seu jantar — brinco, ao afastá-lo um pouco
para respirar.
— De forma alguma. — Puxa um dos meus seios para fora e
circunda a língua no mamilo, os olhos cinzas em mim. — Vou comer
algo muito melhor.
Seus lábios escorregam para baixo, alcançando minha
barriga, e seus braços travam minhas pernas no momento em que
sua boca está a um centímetro da minha boceta. Ele me assopra e
me acaricia por cima do tecido em uma provocação que faz minha
temperatura subir com a expectativa do que está prestes a fazer.
Muito lentamente, ele retira minha calcinha e a joga para mim, um
sorriso sacana despontando do seu rosto. Liam apoia meus pés
sobre a mesa e separa mais minhas pernas. Ele se detém por
algum tempo no scarpin preto que ainda visto, até que decide
depositar um beijo no meu tornozelo e vem subindo pela parte
interna da minha pele. Ele chega à minha boceta, agarra minhas
pernas e afunda o rosto entre minhas coxas.
Minhas costas envergam para trás e deixo um gemido
escandaloso escapar de mim no instante em que sua língua se
choca em meu clitóris. Liam me suga forte, sem frescura, passando
a língua por toda minha vagina com dedicação. Eu tento me agarrar
a uma das bordas da mesa para aguentar a corrente de prazer que
faz meu corpo vibrar, mas não alcanço nenhuma. Eu me contorço
de um lado a outro, um desespero gostoso subindo por cada
centímetro do meu corpo. Liam aperta minhas pernas, mantendo-me
no meu lugar, sugando, lambendo e chupando cada vez mais forte e
intenso.
Eu me entrego por completo e me desmancho na sua boca
quando Liam toca meu ponto mais fraco: a língua na minha entrada
e o polegar no meu clitóris. Gemidos roucos saem de mim e
combinam com meu corpo trêmulo ao gozar de uma forma que mal
me reconheço. Gozar com sexo oral é algo que aconteceu poucas
vezes nos últimos cinco anos. Aperto os olhos e me concentro nas
batidas doidas do meu coração ao passo que Liam continua entre
minhas pernas, sua boca agora mais suave e carinhosa, como se
apenas acalmando meu corpo. Quando menos espero, ele está
aqui, beijando meus lábios devagar, seus dedos firmes entre meus
cabelos. Suspiro e ofego, derretendo-me na sua boca que agora
tem meu próprio gosto.
— Seu sabor é mais incrível do que eu imaginei — sussurra e
morde meu queixo com alguma delicadeza. Abro um sorriso
preguiçoso, meus olhos ainda fechados, cansada demais para
qualquer outra resposta.
Outro beijo suave e carinhoso na minha boca antes de ele
trilhar o caminho de volta por entre minhas coxas. Ele me puxa mais
para a borda da mesa, coloca minhas pernas nos seus ombros e me
pede para cruzar os tornozelos em volta da sua nuca.
— Liam… — choramingo porque ele novamente está fazendo
coisas incríveis com sua boca. Agarro seus cabelos bem penteados
e curvo ainda mais minha coluna sobre a mesa, incapaz de
aguentar a eletricidade de prazer que percorre meu corpo sem me
remexer.
Tenho a impressão de que estou gemendo alto demais e que
todos os vizinhos dele estão nos ouvindo no momento em que gozo
pela segunda vez, pouquíssimo tempo depois da primeira. Um
orgasmo duplo. Deus, eu não me lembro se alguma vez na minha
vida eu tive um orgasmo duplo.
— Vou te dar um minuto — murmura, dando uma última
lambida leve na minha boceta antes de vir até mim e deixar um beijo
suculento na minha boca. — Se recupere enquanto pego uma
camisinha. Você só sai daqui depois que eu te foder muito.
Eu fico esparramada na mesa tentando manter meu coração
dentro do peito durante os poucos segundos que Liam me deixa.
Olho para sua luminária bonita acima da minha cabeça e ordeno
meus próprios pensamentos, perguntando a mim mesma como em
algum momento da minha vida, eu achei que meu marido é bom de
cama. Perto de Liam, o desgraçado é só um aprendiz. E olha que
Liam ainda nem me penetrou. Se com a boca ele é capaz de fazer
esse estrago todo, imagine…
Meus pensamentos são interrompidos ao senti-lo sobre mim
de novo, seu tórax quente contra o meu, sua boca tão de repente na
minha naquele seu beijo forte, rude e desesperado, a barba
pinicando minha pele, mas que estranhamente é um incômodo
gostoso. Eu o empurro ligeiramente e fico sobre meus cotovelos
para vê-lo. Não sabia que precisava ver Liam nu até ver Liam nu.
Passo a língua pelo lábio inferior, apreciando a vista, o tamanho.
Subo para seus olhos, e ele está ali, concentrado em mim, o rosto
duro como na maioria das vezes. Ele rodeia o próprio membro e se
masturba por um tempo conforme um sorrisinho vai nascendo nele.
O idiota está se exibindo. É claro que está.
— Venha aqui — diz, puxando-me de cima da superfície.
Fico de frente para a mesa, a bunda empinada na sua direção, seu
tórax nas minhas costas. Liam resvala a ponta do nariz pelos meus
cabelos, inspirando fundo. Eu ainda o sinto se masturbar contra
minha boceta, que se contrai de expectativa. — Uma coisa sobre
mim, Paola. — Ao mordiscar a ponta da minha orelha, sua voz
rouca me deixa de perna mole. — Eu não sei ser delicado.
— Quem disse que preciso de delicadeza? — rebato,
empinando mais a bunda de encontro à sua ereção, quase
implorando. Consigo sentir seu sorriso na minha nuca quando
murmura uma frase suja no meu ouvido e se encaixa na minha
entrada.
Liam enrola uma porção dos meus cabelos na sua mão e os
puxa para trás. Com um único golpe, ele me penetra com vigor e em
uma única vez. Eu me agarro fortemente à borda da mesa e gemo,
desesperada, recebendo-o com todo prazer. Seu ritmo é forte e
impiedoso ao me penetrar, como ele mesmo havia dito. Liam não é
delicado e, minha nossa, como eu amo que não seja delicado.
Como amo que puxe meu cabelo com firmeza cada vez que estoca
na minha boceta, como amo que use a mão livre para me estapear.
Amo muito mais quando ele empurra meu rosto contra a
borda da mesa e intensifica seu ritmo, me comendo vigorosamente,
tão forte que o barulho de pele contra pele é muito alto e os pés da
mesa saem um pouco do lugar. Amo ainda mais que ele não tenha
qualquer pudor de gemer junto comigo, um gemido rouco,
entrecortado e prazeroso que me excita tanto quanto seu membro
poderoso dentro de mim.
— Erga a perna — ordena. Mal tenho tempo de atender ao
comando, ele próprio está me fazendo apoiar a perna direita no
tampo da mesa. Em seguida, Liam pega minha mão e a direciona
para meu clitóris. — Toca seu clitóris enquanto fodo essa sua boceta
gostosa.
— Liam! — grito um instante depois dessas suas palavras, o
choque entre minhas coxas sendo inevitável. Um tapa acerta minha
bunda, junto de uma estocada muito, muito profunda.
— Mandei você tocar seu clitóris. — Ao dizer isso, ele me dá
outro tapa e outra estocada tão funda que sinto uma pontada
deliciosa de dor. É a punição mais gostosa da minha vida.
Imediatamente, eu me masturbo acatando sua ordem. Assim
que meus dedos encontram meu feixe de nervos, uma onda
maravilhosa de prazer percorre minhas veias sanguíneas, causando
um choque incrível em todo meu sistema. Pressiono mais meu
ponto sensível na busca de facilitar o orgasmo, mas minha vagina
está completamente escorregadia e isso dificulta o atrito da
masturbação, embora seja incrível que eu esteja lubrificada dessa
maneira tão intensa, a ponto de escorrer fluidos pelas minhas
pernas e pela minha mão.
Eu nunca fiquei tão molhada.
Nunca.
— Liam… — choramingo de novo, sentindo que meus dedos
em mim são insuficientes. — Por favor, por favor, me toca!
Ele o faz um instante depois, e é como se eu fosse morrer
agora mesmo de tão bom. Dois dedos ásperos e longos no meu
clitóris molhado com a força certa e seu membro entrando e saindo
fortemente de mim são uma combinação mais que perfeita. Eu
cubro sua mão com a minha, por algum motivo sentindo essa
necessidade, e o ajudo a colocar mais pressão no meu ponto
sensível.
— Está sentindo, Paola? Sente como sua boceta está
encharcada? — Liam sussurra no meu ouvido, mordiscando a
pontinha da orelha em seguida. — Completamente escorregadia,
engolindo meu pau com facilidade.
Suspiro, trêmula, gostando da sua provocação e palavreado.
Porque ele não pode ser bom apenas com seu pênis incrível, ou ser
bom apenas no sexo oral, ele também tem que ser bom com
palavras sujas que fazem minha boceta contrair.
— Estou te comendo gostoso, Paola. — Não é uma pergunta.
Ele não quer saber se está gostoso para mim, ele não quer uma
resposta. É uma constatação. Uma constatação de que está bom
para ele. E Liam é tão malditamente convencido e seguro de si que
sabe que está bom para mim também. — Estou te comendo tão
gostoso, porra!
Nesse instante, ele me puxa, minhas costas batendo contra
seu tórax. Liam vira meu rosto para o seu e toma minha boca em
um beijo completamente desesperado. Engulo seus gemidos roucos
e ele engole os meus durante o tempo em que ficamos assim. Até
que, em algum momento, eu estou no sofá, de joelhos, ele
segurando firme nos meus ombros e me comendo com ainda mais
vigor. Levo um segundo para notar que escondo o rosto contra uma
almofada e que mesmo assim, os suspiros e gemidos que deixo
escapar são altos. Muito altos. Deus, o que esse homem está
fazendo comigo?
Estou perdida demais para notar que, mais uma vez, ele
troca nossas posições. Agora estou por baixo dele, deitada de
qualquer maneira no sofá, e seus olhos estão em mim. Outro
choque incrível atinge todo meu organismo ao encará-lo. Até aqui,
ele me comeu de costas para ele, impossibilitando-me de ver seu
rosto. Eu conheço Liam há muito tempo e estou habituada à sua
falta de emoção ou de demonstrar qualquer tipo de sentimento. Mas
agora, enquanto me olha e mete muito fundo em mim, com minhas
pernas enroladas nas suas costas em um ângulo maravilhoso, vejo
além da seriedade do homem engravatado que sempre mostrou.
Vejo paixão, luxúria e prazer nos seus olhos e em cada traço do seu
rosto de feições marcantes. Quando afundo meus dedos nos seus
cabelos e o acaricio, Liam fecha as pálpebras e, mais uma vez, sua
expressão muda. O prazer continua ali, mas há algo de serenidade
ao sentir meu toque.
— Quero gozar, Liam — sussurro, alcançando sua boca para
um beijo.
Ele abre os olhos para mim, nossos lábios ainda unidos. Sua
mão fica entre nossos corpos e ele acerta meu clitóris, estimulando-
me.
— Goza.
Afundo mais no sofá, deliciada com seu toque.
— Goza comigo — peço. — Eu… estou exausta e não vou
dar conta de mais nada se você não gozar agora.
Ele sorri, um sorriso convencido, e me puxa para si. Um
segundo mais tarde, ele está sentado no chão, encostado contra o
assento do sofá, suas palmas por baixo da minha bunda ajudando-
me a flexionar os joelhos e a sentar gostoso nele.
E eu sento gostoso.
Como sento gostoso.
Jogo meu corpo um pouco para trás, distribuindo meu peso
nas duas mãos, e rebolo contra seu pau, sentindo o orgasmo se
formar no meu ventre. Conforme meu pico de prazer se aproxima,
aumento o ritmo procurando por mais do seu pau majestoso,
desesperada para experimentar de novo a sensação incrível que é
gozar com ele.
Liam me estimula com o polegar no meu clitóris, erguendo os
próprios quadris para me foder, gemendo rouco e intenso e me
dizendo palavras sujas. Só leva mais um minuto até eu gozar:
cabeça totalmente jogada para trás, olhos apertados, lábios
entreabertos e suspiros trêmulos, assim como minhas pernas. Eu
quero desabar sobre ele e recuperar as batidas do meu coração,
mas Liam continua auxiliando-me a subir e descer nele, agora ele
próprio procurando pelo seu orgasmo, então me esforço um pouco
mais e continuo a cavalgada.
Procuro pelos seus olhos, e o homem está muito concentrado
na minha boceta. A visão do seu pau entrando e saindo de mim
deve estar incrível e sinto uma pequena inveja por não conseguir o
mesmo. Pisco duas vezes quando ele me puxa, alinhando meu
quadril ao seu, e se desencosta do sofá para me beijar forte. Ele se
arremete para dentro de mim com muito mais força — Deus, como
se isso fosse possível — e transborda emoções no rosto bonito
quando sei que está gozando. Eu aproveito cada segundo para
gravar suas expressões na minha mente porque sei que depois de
hoje, volto apenas a ver severidade em sua feição.
Liam explode dentro de mim com um gemido alto, gostoso e
rouco ao apoiar a cabeça contra o assento do sofá. Ele dá mais três
ou quatro estocadas antes de parar e ficar olhando para cima,
respirando com dificuldade. Sem entender muito bem por quê, eu
me aproximo do seu rosto e o beijo devagar. Sou retribuída e
também recebo um carinho nas costas. Nós nos afastamos, olhos
nos olhos. Ele pega um pouco do meu cabelo loiro grudado no meu
rosto suado e coloca atrás da minha orelha.
— Sabia que você é linda? — Eu pisco um par de vezes, sem
saber exatamente como reagir à sua pergunta. Digo que sim, eu sei
que sou bonita? Retribuo o elogio? Fico quieta porque é uma
pergunta retórica? Murmuro um “Obrigada”? — Me promete uma
coisa, Paola.
Assinto devagar, detestando admitir que gosto da sua carícia
constante de colocar cabelo atrás da minha orelha.
— Vai sair daqui e não vai derramar uma lágrima sequer pelo
Bruno.
Aperto os lábios, a garganta presa, os olhos ardendo. Eu
queria muito poder prometer isso, mas eu não sei… não sei como
vai ser chegar em casa e ter de enfrentá-lo. Se dependesse só de
mim, eu de fato não choraria por aquele cretino. Só que não
depende. Não posso controlar minhas emoções e a última coisa que
vou fazer é sufocar sentimentos. Se eu tiver de chorar para aliviar a
dor, vou chorar.
— Não posso prometer isso — digo, sincera.
Saio de cima dele e fico parada no meio do cômodo,
deslocada, sem saber o que fazer agora. Estou nua, com frio, sem
saber como agir enquanto encaro o homem que acabou de me dar
três orgasmos maravilhosos, que tem algum sentimento por mim, é
advogado do meu marido e melhor amigo do meu irmão. Liam tira a
camisinha e amarra a ponta para descartá-la. Ele se levanta, a
calma em pessoa, e some apartamento adentro. Ele retorna um
pequeno instante depois, trazendo o paletó para mim e vestindo
apenas a calça do conjunto. Ao jogá-lo sobre meus braços, recebo
um sorriso muito pequeno e um olhar avaliativo. Devolvo o sorriso
porque já entendi que ele gosta da imagem. Eu também gosto de
estar acolhida no seu blazer. Olho para mim mesma, e Liam
lentamente fecha os botões. Reparo que a peça me cai quase como
um vestido muito curto.
— Por que está fazendo isso? — eu pergunto.
Ele me olha.
— Você está com frio.
— Eu preciso ir embora, Liam.
Liam assente e dá um passo atrás. Aproveito o momento
para também avaliá-lo. A calça está um pouco baixa demais no cós,
provavelmente pela falta de cinto, o que faz despontar seu pelos
pubianos. Subo para seu tórax bonito e encontro os olhos cinzas.
— Eu sei — responde, por fim. — Mas você vai ficar e jantar
comigo. Depois, vou te foder mais um pouco. Só então, poderá ir
embora.
Suspiro e cruzo os braços, tentada a aceitar a “oferta”.
— Eu disse que era só uma vez.
Ele balança a cabeça de um lado a outro.
— Você disse que era só essa noite. — Liam elimina o passo
que nos distanciou e me segura pelo rosto, fazendo uma carícia
gostosa na minha bochecha. — Se essa é a única noite que tenho
com você, nada mais justo do que trepar comigo mais de uma vez.
Parece-me um bom argumento.
— Eu não sei. Bruno pode notar minha demora e…
— Ainda se importa com aquele cretino idiota? — Sua
pergunta é carregada de severidade.
— Claro que não.
— Então fique.
— Não vou passar a noite, Liam.
Ele suspira e me dá um beijo suave.
— Não passe. Jante comigo, trepe comigo, e eu te levo
embora a hora que for.
Não há como negar qualquer pedido desse homem quando
ele vem acompanhado de um abraço que me desestabiliza por
inteira. E é o que Liam faz. Ele me toma em um abraço apertado e
afetuoso, minando qualquer chance de dizer não para ele.
— Eu gosto de lasanha.
Liam encerra o abraço e me olha, tornando a me acariciar na
bochecha.
— Vou providenciar.
Eu o vejo se afastar até a cozinha.
Por qualquer motivo que seja, eu me sinto solitária.
— Eu me dei conta de uma coisa só agora — digo, sentada
em uma das banquetas da ilha.
Liam está na pia terminando o jantar, descalço e só com a
calça social. Eu aproveito a imagem à minha frente, apreciando a
visão das suas costas despidas. Ele tem músculos bonitos,
alongados e a pele é pontilhada de pintas marrons de todos os
tamanhos, o que eu acho um charme à parte.
— Do quê? — Ele me olha rapidamente por cima do ombro.
Levo a taça de vinho aos lábios e bebo um gole antes de
perguntar:
— Cadê o Zacky?
Ele se vira na minha direção e vem até mim, carregando uma
travessa de salada verde que é apoiada no centro da ilha.
— Eu o prendi no quarto dele antes de você subir. — Liam
volta para o forno e confere a lasanha assando. Mordo o lábio
inferior, meus olhos na sua bunda bonita. — Estranhei que tivesse
vindo até aqui sozinha e ponderei que era algum assunto sério. Se
deixasse aquele labrador safado solto, ele não ia nos deixar em paz.
Solto uma risadinha baixa e tomo mais do meu vinho,
sabendo que é verdade. Zacky é animado e brincalhão e não pode
ver qualquer pessoa que seja. Bruno vinha para cá com mais
frequência, mas não foram poucas as vezes em que nos reunimos
para um jantar ou nos esbarramos na rua e lá estava Liam
passeando com seu cão.
— Posso vê-lo agora?
Liam tira a lasanha do forno com o auxílio de uma luva
térmica e assente, indicando-me o caminho. Sigo por entre os
corredores da sua casa, um pouco desconfortável com o momento
porque não me lembro de alguma vez ter tido acesso a essa parte
de sua privacidade. Encontro a porta certa e chamo pelo cachorro
antes de abri-la. O enorme labrador pula na minha direção assim
que o liberto, todo feliz e agitado, as orelhas em pé, a língua para
fora, o rabo abanando.
— Oi, garoto. — Acaricio seus pelos caramelos e sorrio
quando ele fareja o cheiro de Liam no paletó que ainda uso,
abanando o rabo. Agacho-me na sua altura e rio ao receber uma
lambida feliz no rosto. — Liam é um sem coração por te deixar
preso aí, não é?
Dou uma espiada no quarto dele e balanço a cabeça em
negativo. O lugar é muito arrumado e confortável, como se o
hóspede fosse uma criança, não um cãozinho. Há uma televisão,
uma cama de solteiro, que suponho ser onde Zacky dorme, e uma
decoração toda canina. É nítido que Liam tem um amor fora do
comum pelo animalzinho e por isso o mima além do normal. De
alguma maneira, eu o entendo. Sei que ele foi abandonado quando
ainda era criança e nunca conheceu os pais. Do pouco que nos
contou sobre sua vida, cresceu em uma paróquia sendo criado por
um pároco até os vinte anos. O padre não era a pessoa mais
amorosa do mundo e o criou na rédea curta.
Afago mais as orelhas do cachorro, de repente sentindo um
aperto no peito ao pensar que Liam não conhece o amor de pai e
mãe. Afasto meus pensamentos da cabeça e volto para a cozinha,
Zacky disparando na frente. Quando chego, Liam o está recebendo
com um abraço afetuoso e um beijo na sua pelagem, um sorriso
bonito iluminando seu rosto enquanto brinca com cãozinho. Paro no
meio do caminho e aprecio a vista. É difícil ver esse homem sorrir e
vou aproveitar cada oportunidade que surgir, sim.
Ele ergue os olhos para mim, o sorriso sumindo aos poucos.
Ele me avalia de cima abaixo de novo, sério, quase severo, mas
também com alguma luxúria. Contenho o ímpeto de olhar para meu
próprio corpo. Ainda uso o seu paletó e, por baixo, apenas a
calcinha que recoloquei logo depois que terminamos a primeira
rodada de sexo. Tirei os saltos e estou estranhamente confortável
no seu apartamento, e isso deve ser alguma novidade para Liam.
Não consigo me recordar de já tê-lo visto com uma companheira.
— Está me olhando como se não estivesse habituado a uma
mulher seminua no seu apartamento para quem você está
cozinhando — provoco.
Ele se levanta, dando uma ordem ao cachorro que deita e
fica comportado.
— Não estou. — Ele vai até a pia e lava as mãos. — Nunca
as trago para cá e muito menos cozinho para elas.
Liam seca as mãos em um pedaço de papel-toalha e me
deixa aqui na cozinha. Um minuto depois, ele me chama da sala.
Vou até lá e o encontro com uma camisa branca e a mesa arrumada
com a travessa de lasanha, de salada, vinho, taças e louça. Ele
assobia e ouço as unhas de Zacky derrapando no piso. Novamente,
ele me deixa — suponho que seja para alimentar o cachorro — e
aproveito o momento para ir até seu lavabo e lavar as mãos. Penso
no que me disse dois minutos atrás, “nunca as trago para cá e muito
menos cozinho para elas”, e administro o sentimento de satisfação
que isso me causa. Por que gosto de saber que para ele sou uma
exceção?
Meu celular apita dentro da minha bolsa sobre seu sofá.
Penso em Bruno e na única mensagem que passei para ele antes
de vir — “Não me espere para o jantar, vou sair com uma amiga.
Deixei o carro na garagem.” — e fico tentada a conferir. Resisto
bastante e me afasto da bolsa. Aquele idiota que se foda. Liam não
demora a voltar, sozinho dessa vez. Ele se senta de frente para mim
durante o jantar, e eu conto mais um pouco sobre tudo o que
aconteceu nas últimas horas e sobre os trigêmeos do Mattia.
— Como seu irmão recebeu a notícia? — pergunta, levando
uma garfada de lasanha à boca. — Três crianças de uma única vez.
Eu, com toda certeza, teria entrado em desespero.
Sorrio, gostando do seu humor atípico.
— Soube que ele quase caiu da banqueta. — Liam abre um
sorriso pequeno, os olhos na salada. A visão é bonita e mexe um
pouco comigo. — Mas ele ama crianças, já tinha feito planos de ser
pai. — Suspiro aqui, pensando na fase difícil que meu irmão tem
passado por causa da Natália. — Além disso, ele é filho de seu
Arthur e dona Louise. Não esperava menos dele a não ser assumir
os três e ser um pai maravilhoso.
Liam fica distante nesse momento e sinto que toquei em um
ponto delicado para ele. Mordo o lábio inferior e mexo a comida no
meu prato com a ponta do garfo procurando outro assunto para
acabar com o desconforto. Contudo, não encontro nada muito
rápido e ao me dar conta, já estou perguntando:
— Nunca pensou em procurá-los? Os seus pais.
— Quando eu tinha sete anos de idade, sim. Hoje em dia,
não mais. Ao menos um deles sabia onde me encontrar e nunca se
importou em me procurar. Eu é que não vou mais fazer nenhuma
questão.
Assinto e decido não falar mais disso. Permanecemos em
silêncio por todo o restante do jantar, minha cabeça sendo
bombardeada de imagens de nós dois nessa mesa pouco tempo
atrás, e meu corpo reage à lembrança da sensação que foi tê-lo
dentro de mim, desejando que ele cumpra sua promessa de me
foder um pouco mais antes que eu vá embora.
Ao terminarmos de comer, junto toda a louça e levo para a
cozinha enquanto Liam diz que vai conferir se Zacky comeu toda
sua ração. Estou colocando os últimos pratos na pia e o sinto
agarrar minha cintura e esfregar sua ereção em mim. Suspiro na
mesma hora e me entrego aos seus braços.
— Liam, a louça — sussurro, voz estrangulada. Ele afunda os
dedos nos meus quadris e puxa mais minha bunda de encontro ao
seu pau duro.
Mordo o lábio com força, gostando da provocação. Como
resposta ao meu protesto, ele apenas me encaminha até a ilha, no
centro do ambiente, e me empurra contra a superfície gelada do
mármore. Sua mão escorrega pela minha boceta antes de um tapa
gostoso acertá-la. Eu paro de me importar com a louça quando Liam
se agacha e enfia o rosto entre minhas pernas.

Liam rola de cima de mim, ofegante, e eu fico no meu lugar,


cansada demais para qualquer ação, mesmo que seja mexer um
dedo. Tudo que consigo fazer é sorrir de felicidade pela quinta
gozada na noite. Quinta. Gozada. Na noite. Temos um recorde aqui,
senhoras e senhores.
Sinto minhas pernas bambas — o desgraçado prometeu e
cumpriu — e minha boceta dolorida. Deliciosamente dolorida. Fecho
os olhos e regulo as batidas do meu coração, apreciando a
sensação de bem-estar no meu corpo. Um carinho aleatório acerta
meu tornozelo e sou levada a olhá-lo. Ele está sentado, meu
calcanhar apoiado no seu colo, e se desfez da camisinha, agora em
um cantinho perto do sofá.
— Uma rodada no chuveiro?
Procuro pelas horas no meu relógio de pulso. Já é bem tarde.
— Eu ia adorar, mas tenho que ir para casa.
E ali está a expressão severa tão comum dele. Liam acha
que preciso ir porque ainda tenho alguma consideração por Bruno.
Não tenho. Mas é necessário que eu vá e tenha uma conversa
urgente com o Grande Cretino. Antes que eu possa perceber, ele
está levantando e me puxando junto. Um instante depois, estamos
no chuveiro, suas mãos ensaboando minhas costas.
— Não sei como vou explicar esse cabelo molhado ao chegar
em casa — digo, para ninguém em específico.
Ele para com os movimentos na minha pele.
— Você não vai dizer a ele que estava comigo?
Viro-me na sua direção.
— Não. Ao menos, não agora.
Liam move a cabeça de um lado a outro.
— Seu conceito de “sexo de vingança” não faz sentido se o
Bruno não souber que trepou com o advogado dele.
— Preciso de você para dar entrada no nosso divórcio e de
preferência que me beneficie na partilha dos bens. — Faço um
biquinho, tentando soar engraçada, mas ele permanece sério. —
Não quero que ele saiba ainda, Liam. Depois que o divórcio sair,
posso até contar. Além do mais, se disser agora, posso arrumar
uma pequena confusão para o seu lado. Bruno não tem moral
nenhuma, mas ele vai ficar ofendido e vai querer tirar satisfação
com você.
— Acha que me importo com isso? Bruno tinha meu respeito
até saber que ele é um canalha. Se vier com gracinha para cima de
mim, eu o coloco no lugar dele.
Suspiro e reviro os olhos.
— Liam, você não quer um escândalo na sua firma, quer? Há
dois anos se tornou sócio no escritório, já é considerado o melhor
advogado da região na esfera familiar e ganha rios de dinheiro para
manter esse apartamento caro. Quer mesmo que todo mundo saiba
que dormiu com a esposa de um cliente e colocar sua imagem em
risco?
— Minha reputação não vai ser tão manchada em
comparação à sua. Sabe como funciona, Paola. Eu posso até ser o
amigo fura-olho, mas você vai ser a esposa vagabunda. E não
importa que ele tenha merecido o par de chifres. Você vai continuar
sendo a vadia que não deveria ter se rebaixado ao nível dele. Isso
se não inventarem que já tinha um caso comigo antes das traições
dele.
Dou de ombros, pouco me importando.
— Não estou preocupada com isso. Por favor, Liam, me
prometa que não vai dizer nada ao Bruno. Se disser, também vai
chegar até o Filippo. Sabe que ele é ciumento e sempre detestou
que eu me envolvesse com os amigos dele. Você é o melhor amigo,
o que piora nossa situação.
— Ele tinha motivos, não é? — pontua, um ar de provocação
no ar.
Dou um murro de leve no seu abdômen.
— Me promete? Não tem necessidade de contar nada. Foi só
essa noite. Estou me sentindo vingada o suficiente. Bruno não
precisa saber.
Liam me avalia por alguns segundos, os olhos perscrutando
os meus de um jeito sério, quase austeros. Mordo o lábio inferior e
faço minha melhor carinha de cãozinho que caiu da mudança. Ele
suspira e cede.
— Não vou dizer nada. Agora, termina de tirar do seu corpo
as evidências de que foi muito bem comida porque você tem que ir
para casa.
— Meu cabelo… — resmungo, dando as costas para ele de
novo, que volta a esfregá-las.
— Eu tenho um secador.
Inspiro fundo e controlo todas as minhas emoções antes de
colocar a chave na fechadura e abrir a porta da minha casa. Eu
ignorei todas as mensagens do meu marido nas últimas horas, e
ainda não sei como a família toda não está me ligando querendo
saber do meu paradeiro. A única explicação é que Bruno não os
preocupou com o meu “sumiço”. É difícil saber o que se passa na
cabeça dele agora que seu segredinho sujo foi descoberto e como
vai agir frente a isso. A noite passada toda, eu o senti irrequieto na
cama e só entendi o motivo hoje no horário do almoço. Ontem, ele
foi à casa de Lauren levar o dinheiro da pensão e encontrou o Mattia
por lá. É claro que meu adorável e cretino marido ficou amedrontado
que meu irmão mais velho me contasse sobre sua traição a
qualquer momento, mas ele só contou essa tarde. Parece que foi há
uma vida, mas foi hoje, no caminho entre o consultório e a casa dos
meus pais, dentro do carro dele.
Acendo a luz da sala e jogo minha bolsa na mesinha de
centro. Arranco os saltos e os chuto para longe. A casa está no
escuro e silenciosa, por isso noto quando a luz do corredor do
quarto se acende e ouço passos na minha direção. Bruno aparece
apenas com uma calça velha quadriculada que ele usa de pijama e
meias, cabelos bagunçados, rosto preocupado.
— É mais de uma da manhã. Por Deus, onde você estava?
Cenas de todas as posições que fiquei na mesa e no sofá de
Liam rodam na minha mente e tenho vontade de esfregar na cara
dele que estava trepando gostoso com seu advogado, mas me
contenho. Nós fizemos uma promessa e eu vou cumpri-la.
— Te passei uma mensagem dizendo que ia sair com uma
amiga.
— Eu sei, mas você nunca volta tarde para casa sem ao
menos avisar. — Bruno parece um pouco nervoso e inquieto.
Mais cedo, quando Mattia apareceu no consultório e me
convidou para almoçarmos em família porque tinha uma novidade,
eu liguei para Bruno e avisei que estaria com minha família. Ele
deve ter passado o dia inteiro com o orifício anal nas mãos,
amedrontado.
— É essa mesmo a sua preocupação? — pergunto e cruzo
os braços.
Bruno suspira, trêmulo, e fecha os olhos.
— O Mattia te contou, não é?
— É claro que contou. Esperava que ele não contasse?
Diferente de você, meu irmão tem caráter, Bruno.
Ele abre os olhos e se aproxima de mim. Quero avançar nele
e arranhar sua cara, descontar toda a raiva que está dentro do meu
peito, quero gritar com esse cretino, chorar na sua frente e
perguntar o que diabos eu fiz para merecer que ele me traísse
dessa maneira. Por cinco malditos anos, eu desperdicei minha vida
dedicando-me ao nosso relacionamento, e ele jogou tudo no lixo
sem pestanejar.
— Eu posso te explicar, querida.
— Quero que enfie suas explicações na bunda — digo,
impedindo o choro e a dor que estão aqui, apertando meu coração,
de avançarem sobre mim e me dominarem. Eu me segurei durante
todo o dia e vou desabar a qualquer momento. Mas não agora.
Segure-se mais um pouco, Paola. Só mais um pouco. — Não vai me
dizer mais nenhuma palavra, Bruno. Nenhuma. Já ouvi demais
quando achei que tinha sido só uma noite. Uma única vez. Fui idiota
o suficiente para acreditar em você e te perdoar. Dessa vez, não
tem perdão.
Eu passo por ele e caminho até nosso quarto. Bruno me
segue, insistindo para que a gente converse. Pego uma mochila e
coloco dois pares de roupa dentro dela.
— O que está fazendo? Paola, não está pensando em sair
agora, tão tarde da noite, está?
— Vou dormir na casa do papai — digo, fechando o zíper da
mochila. — Preciso ficar longe de você. Em breve, volto para cá e
só saio daqui se na partilha dos bens eu não for beneficiada com o
imóvel ou tivermos que vendê-lo.
Bruno arregala os olhos.
— Converse com o Liam e peça para ele preparar os papéis
do divórcio. — Tento passar por ele, mas meu marido obstrui a
passagem ficando sob o umbral da porta. — Bruno, não dificulte
minha vida, está bem? — peço, minha voz trêmula e os olhos
marejados. Deus, eu não vou aguentar. — Eu quero o divórcio e
como sei que seu amigo vai fazer de tudo para te beneficiar, o
mínimo que deve fazer por mim é pagar os honorários dele. Não são
nada baratos, mas você ganha bem o suficiente.
— Paola, vamos conversar, por favor?
Eu o empurro com toda força, cansada dessa sua cara de
pau, cansada que ele ache que posso perdoá-lo ou acreditar no seu
arrependimento de novo.
— Quando eu voltar, é bom que tenha ido embora.
— Essa casa também é minha!
— Então leve suas coisas para outro quarto.
Empurro-o mais uma vez e, por fim, consigo passar por ele.
Bruno não me impede e eu sigo meu caminho. Na rua, o carro de
aplicativo que Liam chamou para mim ainda está me esperando.
Bato a porta do passageiro com força e inspiro fundo, mais uma vez
segurando-me. O motorista me olha pelo espelho retrovisor.
— Senhora?
Pisco duas vezes e me recomponho. Informo as coordenadas
do meu próximo destino para o motorista e retiro o celular da minha
bolsa. Liam está acompanhando o percurso para garantir que eu
chegue em segurança e tem uma mensagem dele.
“Conversou com Bruno?”
“Conversei”, respondo. “Já pedi o divórcio. Estou indo dormir
na casa dos meus pais.”
Leva mais um minuto até ele responder.
“Fique bem.”
“Vou tentar.”

Papai me olha assustado assim que atende a porta de casa.


Eu me jogo nos seus braços e as lágrimas que segurei durante todo
o dia encharcam o roupão preto que ele usa. Choro de soluçar e
ignoro todas as perguntas que me faz. “O que aconteceu?”, “Por
que está chorando?”, “Está tarde da noite, você e Bruno
discutiram?”. Ele me leva para dentro e me faz deitar nas suas
pernas, acariciando meus cabelos, ainda muito preocupado.
— Posso apenas ficar aqui? — peço, limpando as lágrimas.
Papai me olha cheio de compaixão e suspira ao deixar um
beijo na minha testa.
— É claro que pode, meu amor. Mas, por favor, não teste o
coração velho do seu pai. Se acalme e quando puder, me conte o
que está acontecendo, está bem? Se envolver a necessidade de dar
uns tapas no Bruno principalmente.
Eu abro um sorriso fúnebre porque seu Arthur sempre tem
uma piadinha para qualquer ocasião, não importa qual.
— Eu vou contar. Só preciso chorar antes e que você me
mime igual fazia quando eu era criança, pode ser?
Papai me beija outra vez e assente.
Fecho os olhos e deixo que as lágrimas desçam com toda
força.
Alguns anos antes

Eu o procuro entre as pessoas e não demoro a encontrá-lo.


Não é difícil. Basta localizar um grupinho de mulheres bonitas e
você encontra Filippo Massari com toda facilidade do mundo. E lá
está ele. Na borda da piscina, só de calção de banho, um sorriso
enorme no rosto, flertando com três garotas. Até o final do dia, uma
delas vai parar na cama dele. Talvez as três. Talvez uma por vez ou
todas juntas.
Eu me aproximo devagar, esperando que meu amigo me note
porque detesto chamar atenção. Não demora para que Filippo
perceba que cheguei e venha até mim com um sorriso enorme para
me receber com um abraço caloroso e apertado.
— Suas namoradas vão ficar com ciúmes — arrisco uma
piada, e ele ergue uma sobrancelha quando se afasta porque senso
de humor não é lá uma das minhas melhores qualidades.
— Eu trocaria qualquer mulher por você, sabe disso —
brinca, acariciando meu rosto como se fosse meu amante. Eu sorrio
um pouco, ao passo que Filippo explode em uma gargalhada
escandalosa.
Qual a probabilidade de duas pessoas completamente
diferentes serem melhores amigas? Filippo é bem-humorado,
invasivo e espaçoso, sociável até demais, malicioso e sempre,
sempre tem alguma piadinha ou frase de duplo sentido na ponta da
língua. Eu sou o total oposto. Evito socializar a todo custo, não sei
contar piadas (quase nem consigo entendê-las muitas vezes), odeio
ter meu espaço invadido e passo a maior parte do tempo em
silêncio — algo terrível para a profissão para qual estou me
preparando. Veja, não sou um cara ranzinza. Demonstro muito
pouco das minhas emoções porque é o meu jeito, mas isso não faz
de mim um homem mal-humorado que detesta todo mundo.
— Estou feliz por ter vindo, Liam. — Há sinceridade na sua
voz e nos olhos claros. — Estava com saudades de você, seu
advogado esnobe.
— Não vir e perder a chance de aproveitar o clube caro que
os pais ricos do meu melhor amigo pagam? Claro que eu viria.
Filippo sorri abertamente e começa a falar alguma coisa
sobre uma garota com quem saiu essa semana. Eu o escuto com
atenção porque senti saudades desse seu jeito namoradeiro. Na
época em que o conheci, ele só tinha quinze anos. Eu tinha dezoito
e estava trabalhando na casa dele como uma espécie de professor
particular para tirar alguns trocados que iam me ajudar a custear a
faculdade de Direito. O arranjo foi feito por amigos de amigos entre
o padre que me criou e o pai dele, o seu Arthur. Eles precisavam de
alguém para ajudar os dois filhos menores em História e
Matemática, duas matérias em que ainda sou muito bom. E foi
assim que, inevitavelmente, fui arrastado para o seio da família
Massari. Continuei por perto porque criamos um laço de amizade
forte demais mesmo quando eles não precisavam mais das aulas de
reforço ou mesmo quando Filippo completou a maioridade e decidiu
que não cursaria nenhuma faculdade. Até que, aos vinte anos, eu
me rebelei contra o sistema e fui embora. Minha rebeldia só durou
dois anos, e cá estou eu de volta à Santa Mônica, precisando de um
lugar para morar porque o padre Ivo não vai me receber mais na
casa paroquial. A menos que eu aceite Jesus e sua ideia maluca de
me colocar em um seminário, é claro. O que não vai acontecer, nem
uma coisa nem outra.
— Como ficou sua história com a Débora? — Filippo
menciona, e eu volto ao mundo real.
Dou de ombros e coloco as mãos nos bolsos da minha
bermuda.
— Vou sobreviver a isso.
Meu melhor amigo parece prestes a dizer alguma coisa, mas
então desiste e muda de assunto, comentando sobre uma escalada
que ele fará em breve com o irmão mais velho. Eu o estou ouvindo
atentamente até que meus olhos captam, por cima dos ombros de
Filippo, a imagem dela. Pisco duas vezes para ter certeza de que é
ela de fato e me nego a acreditar que esteja tão… crescida.
Na nossa direção, Paola Massari caminha de braços dados
com uma amiga. Ela usa um short jeans muito curto e a parte de
cima de um biquini preto. Os cabelos loiros estão revoltos contra
seu rosto, e ela ri alto de uma coisa qualquer que a garota com ela
tenha dito. Um instante mais tarde, seus olhos encontram os meus.
Eu jamais enxerguei a irmã caçula do meu melhor amigo com outros
olhos, até porque ela só tinha quatorze anos quando a conheci e
dezesseis quando eu fui embora. Dois anos transformaram a
adolescente estudiosa que não dava trabalho algum em uma mulher
bonita o suficiente para mexer comigo dessa maneira irreconhecível.
Paola sorri para mim e acena animadamente. Ela vem na
nossa direção toda saltitante e me abraça apertado. Eu retribuo um
pouco sem jeito, em partes porque não sou muito bom em contatos
assim, em partes porque ainda estou me recuperando do golpe que
sua beleza me causou.
— Eu nem acredito que você veio! — ela diz, toda eufórica.
Paola nem deve notar que me segura pelos bíceps e me olha como
se eu fosse um veterano de guerra voltando para casa. — Lipo
comentou que estava de volta à cidade, mas duvidamos que
suportaria um final de semana com tanta gente ao seu redor.
Sorrio de lado e abano a cabeça em negativo.
— Estava com saudades de vocês, então fiz um esforço.
— Vamos a uma boate mais à noite. Topa vir com a gente?
Eu troco um olhar com Filippo, que já sabe que vou declinar
do convite.
— Eu ia adorar, Paola, mas estou na última semana de
provas antes das férias de dezembro e vou aproveitar o final de
semana para estudar. Talvez em uma próxima vez?
— Talvez em uma próxima vez seja eu ocupada com estudos.
Lipo te contou que passei em odontologia? Começo no próximo
semestre. — Ela dá saltinhos, toda sorridente. — Estou muito
animada!
Nós conversamos por mais cinco minutos, Paola o tempo
inteiro me tocando dos braços ao tórax despido. Não é um toque de
provocação ou mesmo com segundas intenções. É só que ela
simplesmente acha que deve tocar nas pessoas quando está
conversando. É assim desde que a conheço. No começo, isso me
incomodava um pouco, mas me acostumei logo à sua mania
irritante. Cansando de mim e de Filippo, ela se afasta com a amiga
para outra área do clube. Eu a acompanho com o olhar, sem fazer
muita questão de ser discreto.
— Nem acredito que ela cresceu — Filippo diz, com um tom
nostálgico. Como se ele próprio não tivesse crescido. — Paola está
um mulherão, não está?
— Está? — Eu me faço de desentendido. — Nem reparei.
Filippo ri e me empurra com os ombros.
— Comeu minha irmã com os olhos o tempo inteiro, Liam.
Não se faça de sonso para cima de mim.
Sinto minhas bochechas esquentarem um pouco e molho o
lábio inferior.
— É, ela está mesmo muito bonita.
Filippo suspira e enfia as mãos nos bolsos do seu calção, o
olhar sobre Paola a alguns metros de nós, agora na piscina,
brincando com uma bola e com outras duas amigas.
— Me promete que não vai nem pensar em chegar perto da
minha irmã.
Demoro a notar que ele está falando comigo porque estou
perdido demais no sorriso bonito de Paola e na alegria contagiante
que exala dela. Viro-me devagar na sua direção e encontro seus
olhos claros muito sérios sobre mim.
— Por que está me pedindo isso? — Não é uma pergunta do
tipo “Claro que não chegaria perto dela, por que está me pedindo
isso?”, mas sim uma pergunta do tipo “Por que eu não posso chegar
perto dela?”
— Porque eu não quero ter de tomar partido de nenhum lado
se vocês se magoarem. — Há uma seriedade incomum no seu tom
de voz. — Você é meu melhor amigo, ela é minha irmã, e amo
vocês por igual. De verdade, Liam, sabe disso. Sabe que te tenho
como um irmão. Não quero ficar entre um e outro, me entende?
Eu entendo. Poderia dizer ao Filippo que eu não seria capaz
de magoar a Paola, que não seria capaz de magoar nenhuma
mulher, mas a verdade é que não posso prometer algo que não sei
se vou conseguir cumprir. Mesmo que não intencionalmente, posso
magoar qualquer pessoa, inclusive Paola.
— Além disso — meu amigo prossegue —, vocês são
incompatíveis em tudo, têm idades e mentalidades diferentes. Não
durariam um mês juntos.
Quero contra-argumentar, mas não tenho nada consistente
para isso. Ele tem razão. Eu tenho vinte e dois anos, prestes a me
formar em Direito, centrado em construir minha carreira,
dispensando festas, baladas e bebidas. Dispenso desde que me
conheço por gente. Paola, não. Ela está no auge dos seus dezoitos
anos, começando a aproveitar a vida, não dispensa nenhuma festa,
balada ou ocasião para beber. Eu nunca me oporia que ela saísse
para se divertir, mas não sei o quanto ela aceitaria que eu não seja
tão sociável quanto ela.
— Por experiência própria, sabe que tenho razão. Você e
Débora mesmo…
Suspiro e aceno com a cabeça. Nós estávamos em sintonias,
idades e mentalidades diferentes, talvez por isso não tenhamos
durado muito.
— Não se preocupa — digo, virando o rosto na direção de
Paola. Ela está nos ombros de um cara, a amiga nos ombros de
outro, enquanto tentam uma derrubar a outra na água. — Não vou
chegar perto da sua irmã.

— Eu tenho uma dúvida. — A voz de Filippo invade meu


escritório e, ao erguer o olhar, ele está pendurado no batente da
porta, metade do corpo para dentro da minha sala. Afasto alguns
papéis para o lado e aceno para que ele entre.
— Que dúvida? — Cruzo as mãos e apoio os cotovelos na
mesa, tombando a cabeça um pouco para o lado, ao mesmo tempo
que ele se senta em uma poltrona à minha frente.
— Se eu assassinar alguém e for condenado, consigo
converter a pena em serviços sociais ou cumprir em prisão
domiciliar? Sabe, por causa do meu réu primário.
— Quem você está querendo assassinar?
— O idiota do Bruno.
Disfarço bem a emoção que o nome me causa e suponho
que, a essa altura do campeonato, Paola já tenha contado para a
família o que me contou na segunda à noite. Confesso que precisei
fazer algum esforço para não procurar por Bruno logo no dia
seguinte e agir precipitadamente. Eu não consigo acreditar que ele
foi capaz de fazer o que fez com Paola, com aquela outra moça.
— Ele aprontou? — pergunto, entrando no papel do
personagem que não sabe de nada.
— Acredito que sim. — A resposta me deixa curioso. — A
Paola está na casa dos meus pais desde segunda à noite. Chegou
abalada e está lá até agora, trancada no antigo quarto, apenas
chorando e se entupindo de sorvete. Ela ainda não disse o que
aconteceu, mas tenho certeza que tem dedo do Bruno. Ele não
procurou pela esposa desde então. Hoje já é quarta, Liam.
Eu travo o maxilar, uma raiva diferente tomando conta do
meu corpo. O desgraçado nem foi homem o bastante para procurá-
la e enfrentar as consequências junto da família dela. Quero ver
quanto tempo vai levar até ele me procurar para que eu dê entrada
no divórcio. Isso se ele me procurar. Não duvido nada de que resista
e Paola é que precise entrar com o pedido. Faço uma nota mental
para entrar em contato com ela para dizer que se Bruno não der
entrada nos papéis, eu advogo a seu favor e foda-se o meu cliente.
— Você não o tem visto, tem? — Filippo pergunta.
— Não. — O que é verdade. A última vez que tivemos
contato foi na sexta-feira passada pouco antes do almoço. Bruno
estava apressado para ir fazer algum exame médico que não me
contou qual era. — Trabalhando muito, atolado de trabalho como
sempre. — Aponto para ele. — Mal tenho visto você, que é meu
melhor amigo. Tinha uma época que não desgrudávamos por nada.
Chegaram a pensar que éramos um casal.
Ele ri e abana a cabeça porque isso não aconteceu só uma
vez.
— É por isso que estou aqui também — diz, ao se recuperar
da sua crise de risos. — Minha família vai se reunir no final de
semana porque vamos ganhar três novos membros. — Todo
animado, Filippo relata a história do irmão mais velho, e preciso
fingir estar surpreso com toda informação. É nítido, contudo, a
felicidade dele em ter ganhado três sobrinhos. — Mattia vai levar os
pequenos para conhecermos. Você é família, então… queria que
viesse. Faz tempo que não passa um final de semana comigo na
casa de campo.
Suspiro, sentido em ter que declinar o convite.
— Filippo, sinto muito, mas não vou poder ir. Como disse,
estou atolado de trabalho.
— É final de semana, Liam. Precisa desacelerar um pouco,
sabia?
Aceno em positivo.
— Não costumo trabalhar aos sábados e domingos, mas
dessa vez, não vai ter jeito.
Ele suspira e concorda.
— Promete que no próximo final de semana nós vamos sair?
Quero aproveitar que estou na cidade por um tempo. Depois, só
Deus sabe quando.
Abro um sorriso pequeno e aceno. Filippo é dono de uma
empresa de aventuras e por isso sempre está viajando para todo
lugar, acompanhando clientes que querem um pouco da emoção
que escaladas, alpinismo e rapel proporcionam.
— Seria pedir demais que você arranje algo sem muitas
pessoas? — peço, quase implorando.
— Seria, sim. — Ele ri e se levanta. — Vou te levar ao lugar
mais atolado de pessoas que eu encontrar.
Rio baixinho e balanço a cabeça em negativo porque é
verdade. Filippo vai me arrastar para o lugar mais cheio de gente
que encontrar.
Meu coração erra uma batida assim que a porta se abre e eu
me deparo com Paola dentro de um robe de seda preto. Desde que
ela atendeu o interfone e liberou o portão de entrada, eu vim
preparado para lidar com os sentimentos que me acometem toda
vez que a vejo, mas não foi o suficiente. Aperto a alça da bolsa
transversal que eu carrego e impeço que as imagens da noite de
uma semana atrás sejam o motivo de uma ereção indesejada.
— Bruno me ligou — explico, quebrando o silêncio entre nós.
— Me pediu para vir para cá. Não esperava que você estivesse
aqui.
Ela dá espaço para que eu entre.
— Já tem uns dias que voltei. Ele está dormindo em outro
quarto. Só saio daqui se tivermos de vender a casa ou se ele ficar
com o imóvel.
Assinto, vendo-a caminhar até a cozinha americana. Ela pega
uma xícara e se vira para mim.
— Café?
— Obrigado, mas não.
Fico parado no meu lugar tentando regular as batidas doidas
do meu coração. Nunca escondi que gosto de Paola há muito tempo
e isso nunca foi problema para mim quando era necessário ficar
perto dela. Nunca agi estranho, nunca fui inadequado e era fácil
controlar minhas emoções. Isso porque ainda não tínhamos trepado.
Porque agora eu simplesmente não consigo ficar perto dela sem
pensar nas posições em que a coloquei na semana passada.
Desejo sentir o seu calor ao meu redor de novo, de novo e de novo.
Paola deixou bem claro que seria só aquela noite, e eu garanti que
seria o suficiente. Porra, não foi e eu quero repetir a dose mais um
milhão de vezes.
— Ele finalmente te ligou, então? — murmura, levando a
xícara à boca. Seus olhos verdes me encaram com atenção e sinto
todo desejo que exala deles mesmo daqui, a bem quatro metros de
distância.
— No sábado à noite, mas não adiantou o assunto.
— Espero que seja sobre o divórcio. — Pigarreio e assinto.
Deixando a xícara por ali, Paola sai detrás do balcão e indica os
fundos da casa. — Pode esperá-lo no escritório. Vai ser mais
confortável.
Eu a sigo até lá, não evitando uma espiada na sua bunda e
nas pernas despidas. O robe é curto o suficiente para dar uma
amostra da sua pele e de provocar reações inapropriadas no meu
corpo ao me lembrar que sei como ela é nua. Paola abre a porta do
escritório e se encosta ao batente, o olhar sobre mim.
— Você está bem? — sussurro e não sei por que sussurro.
Ela dá de ombros.
— Na medida do possível, sim. Já me entupi de sorvete para
descontar minhas emoções, chorei muito e fiz sexo de vingança.
Não necessariamente nessa ordem.
Ela morde o lábio inferior e não desfaz o contato visual. Paola
está brincando com meu juízo quando me olha desse jeito. É sexy
pra caralho. É sedutor e provocante. Ela disse que seria só aquela
noite, e se para mim não foi o suficiente, tenho a impressão de que
não foi para ela também.
— Ótima maneira de superar uma traição. — Desvio os olhos
para sua boca e sou bombardeado de lembranças de como é a
textura dela, seu gosto, seu beijo. Sem que eu note, dei um passo
na sua direção e estou quase prensando-a contra o batente. — Está
arrependida de algum deles?
— Dos potes de sorvete. Descontar emoção em comida não
é o melhor caminho.
— Por que tenho a impressão de que se arrependeu do sexo
de vingança também?
Um sorrisinho malicioso surge nela. Paola se desencosta do
batente da porta e pega no meu membro.
— Quer ver o quanto estou arrependida, Liam?
O ar falta nos meus pulmões porque escapa todo com o
gemido estrangulado que solto ao sentir seu toque em mim. Paola
me acaricia provocantemente, os olhos nos meus por todo tempo,
sua boca muito, muito perto da minha.
— Paola, não me provoque.
O sorriso em seu rosto ganha tamanho, como meu pau
dentro da cueca.
— O que vai fazer se eu não parar de te provocar, Liam? —
pergunta, mantendo a carícia deliciosa em mim. — Me foder em
cima daquela mesa até eu ficar toda dolorida e de pernas bambas?
Inspiro ar com toda força, afastando a imagem erótica da
minha cabeça. O desejo está pulsando em mim, não vou negar, mas
seria loucura consumá-lo justamente aqui. Bruno pode chegar a
qualquer momento. Por mais que ele mereça o par de chifres, penso
muito mais no que um flagra entre nós dois pode resultar para Paola
do que para mim. Penso muito mais nisso do que na satisfação de
ver aquele cretino irritado.
— Se é isso que vai acontecer — ela prossegue, seus lábios
a uma distância muito, muito curta dos meus —, então vou continuar
te provocando. Não vou parar até que esteja me comendo como na
semana passada.
Fecho os olhos e exaspero junto ao gemido baixo de prazer.
O modo como ela acaricia meu pênis mais as suas palavras é bom
demais para aguentar.
— Eu não faço objeção em te comer gostoso como na
semana passada — consigo dizer entre um gemido e outro —, mas
não aqui. É perigoso demais.
— Temos um tempinho. Bruno ainda vai demorar.
Encosto minha testa na sua, procurando resistir à tentação,
mas Paola é o meu ponto fraco. Meu maior ponto fraco. Não há
maneira nenhuma de eu conseguir resistir a essa mulher. Não
quando ela beija meus lábios levemente e enfia a mão por dentro da
minha calça, alcançando meu membro pulsante.
— Você disse que seria só aquela noite. — Minha voz sai
baixa e rouca, e me praguejo por dizer isso ao invés de erguer sua
perna e me enfiar na sua boceta quente.
— Eu disse. Mas o que eu faço se desde então não paro de
pensar em você, Liam? Se não paro de pensar naquela noite, no
seu pau dentro de mim, me dando nada menos que cinco orgasmos,
se não paro de pensar na sensação deliciosa da sua língua em mim,
me fazendo ver estrelas?
Paola aperta as coxas e sei, nesse momento, que ela está
excitada. É minha perdição quando ela sobe o robe e toca a boceta
nua com a mão livre, a outa ainda em mim. Eu tenho certeza que
ela me recebeu nesses trajes de propósito. Encontro um último
resquício de autocontrole e não sucumbo ao desejo insano de me
agachar aqui e enfiar a língua no seu clitóris.
— Último aviso, Paola — sussurro e avanço um passo para
encostá-la contra o batente. — Não me provoque ou serei obrigado
a foder sua boceta gostosa.
Como resposta, ela me beija em um ímpeto ao mesmo tempo
em que me masturba com mais força — o tanto quanto o aperto na
minha calça permite. Nesse instante, esqueço de qualquer ética no
trabalho e a empurro para dentro do escritório, mais do que disposto
a cumprir minha palavra.
A porta bate forte às nossas costas e eu me afasto da boca
dela apenas o suficiente para tirar a bolsa transversal e deixá-la no
meio do caminho. Um segundo mais tarde, estou colocando-a
sentada sobre a mesa do escritório de Bruno. Meus dedos
encontram seu clitóris sensível, e Paola geme contra meus lábios,
abrindo mais as pernas para mim, receptiva demais. Eu gemo em
resposta, excitado ao senti-la tão quente, escorregadia e disposta a
se entregar. Não desgrudo da sua boca por segundos inteiros e a
devoro como se fosse minha última chance com ela. Beijo-a rude e
forte sem deixar de massagear seu ponto sensível, adorando a
umidade que escorrega por entre meus dedos.
Gostosa demais.
Molhada demais.
Desamarro o cinto do seu robe, desesperado, e deslizo meus
lábios pelo seu corpo. Dou uma atenção rápida ao par de seios,
circulando o bico deles com a língua, mordiscando a pele sensível.
Paola agarra forte nos meus cabelos e suspira alto, contorcendo-se
devagar sob meu toque.
— Eu confesso — murmuro e assopro seu sexo nu, meu
polegar ainda circundando seu clitóris — que pensei muito na nossa
noite também. — Sem deixar de tocar seu feixe de nervos, eu beijo
sua boceta bem devagar, só um roçar provocante. — Não sabe o
quanto desejei te chupar de novo, sentir seu gosto.
Passo a língua nela, de cima para baixo, apenas a pontinha,
levando-a devagar à beira do precipício. Paola geme e se contorce.
Sua mão na minha cabeça tenta me empurrar para o meio das suas
pernas, mas eu resisto um pouco mais.
— Não sabe o quanto eu desejei colocar suas pernas em
volta do meu quadril e te comer duro até você gozar no meu pau —
sussurro e dessa vez beijo sua boceta como se estivesse beijando
sua boca.
— Liam… — Meu nome sai desesperado dos seus lábios,
seu corpo remexendo-se sobre a mesa, e o gemido que escapa dela
se torna meu som favorito no mundo inteiro.
Agarro com firmeza suas pernas e a puxo para mais perto,
enfiando com vontade minha língua e meus lábios nela. Sugo sua
boceta, mantendo suas pernas bem apertas e ligeiramente
inclinadas para cima, em uma posição devassa demais que é toda a
minha perdição. Paola à minha mercê acaba comigo e sinto que vou
explodir dentro das minhas calças. Porra de mulher gostosa.
Agarrada nos meus cabelos, Paola força mais meu rosto de
encontro à sua boceta, e dessa vez, não resisto. Deixo que ela
feche com força os dedos nos meus fios, rebole na minha cara e me
faça afundar a boca em seu sexo pegando fogo. Quero ficar mais
tempo aqui, chupando e lambendo, mas sei que o cretino pode
chegar a qualquer momento e não existe chance nenhuma de eu
não fazer essa mulher gozar comigo.
Abro a braguilha da calça o suficiente para tirar meu membro
e volto para ela. Paola me puxa para sua boca, completamente
desesperada. Eu retribuo e a penetro em uma estocada forte. Nós
dois gememos juntos, meus dedos afundados no seu quadril, suas
unhas afundadas na minha cerviz. Eu me movimento rápido para
dentro dela e encosto sua testa na minha, segurando-a pela nuca
para encontrar um bom ponto de apoio e manter o ritmo alucinado.
Não consigo mantê-la presa a mim por muito tempo.
Segundos mais tarde, Paola se inclina para trás, espalmando contra
a mesa. Seus cabelos loiros balançam à medida que estoco nela
quando ela joga a cabeça toda para trás e entreabre os lábios,
gemendo sem parar. Aproveito a posição para acionar seu clitóris
com o polegar, o que arranca dela um suspiro ainda mais alto que
deixa até minhas bolas duras.
— Goze agora, Paola — ordeno, pondo mais pressão no seu
clitóris. Eu detesto sexo rápido e, por mim, eu passaria a próxima
hora fazendo essa mulher gozar, mas eu sequer sei quanto tempo
temos.
Ela volta para mim nesse instante, seus braços rodeando
meu pescoço, os olhos nos meus, sua boca na minha. Paola me
beija com fome, com sede, com tesão, com desespero. Ela se
agarra a esse beijo como se fosse algo extremamente essencial.
Depois de provar dessa mulher, de tê-la desse jeito tão insano e
obsceno, não existe maneira alguma de eu não querer mais dela.
De eu não me apaixonar mais do que já sou apaixonado por ela.
— Goza comigo, Liam — pede entre um gemido e outro.
Como bom garoto que sou, eu obedeço.
Firmo sua cintura entre meus dedos e estoco com mais força
nela. Somos uma confusão de gemidos, suor e beijos. Ela anuncia
que está gozando e eu anuncio o mesmo. O ritmo da sua boca na
minha vai diminuindo, assim como meus movimentos para dentro
dela. Estou dando as últimas estocadas no momento em que
ouvimos o portão automático da garagem abrir.
Antecipo a sensação vazia que vai me assaltar no instante
em que Paola se afastar bruscamente, mas não acontece. Ela fica
mais dois segundos grudada em mim, beijando-me devagar,
saboreando meus lábios. Sou eu que cesso nosso contato ao sair
de dentro dela e erguer as calças. Ela pula de cima da mesa,
colocando o robe no lugar e ajeitando os cabelos.
Então a porta do escritório se abre, Eu estou sentado em
uma das poltronas frente à mesa do escritório, a bolsa transversal
no meu colo, e Paola em pé perto da janela fingindo conversar
comigo. O olhar de Bruno vai de mim para a futura ex-mulher, a
quem ele avalia com mais atenção. Algum tipo de desagrado
atravessa seus olhos ao reparar no traje de Paola.
— Faz tempo que chegou, Liam? — pergunta e caminha até
a cadeira atrás da mesa. Ele me olha com atenção enquanto
desabotoa uma casa do seu blazer.
Fingir e esconder emoções é a coisa mais fácil do mundo
para mim; por isso, não encontro qualquer dificuldade ao responder:
— Cinco, dez minutos, no máximo. Paola estava me
contando sobre o Mattia. Três bebês, hein?
— É. — Bruno olha para a esposa rapidamente, um pouco
desgostoso. Paola força um sorriso para ele e diz que vai nos deixar
a sós. Ela se aproxima de mim e se inclina para deixar um beijo
rápido no meu rosto. Seu olhar vai para o marido, e não sei quem
ela está provocando. Talvez nós dois.
— Até mais, Liam — murmura antes sair.
Assim que ela sai e fecha a porta, eu trato de desviar o foco
da atenção de Bruno imediatamente porque a expressão no rosto
dele é de quem quer esganar a Paola.
— Então, o que quer conversar comigo?
Seus olhos vêm até mim e não gosto do sentimento negativo
que vejo ali.
— Você realmente não sabe? Nem sequer desconfia?
Sinto que estamos pisando em terreno perigoso e não sei
exatamente do que Bruno está falando. Ele me chamou aqui porque
já descobriu sobre a noite que Paola passou comigo? Ele me
chamou aqui para falar do divórcio e está supondo que eu deva
saber sobre isso pois sou melhor amigo do irmão da mulher dele?
Arrisco a última opção e digo:
— O Filippo me contou.
O que não é mentira. Na quarta-feira passada, meu amigo
me procurou para aquele convite e contou sobre a irmã estar na
casa dos pais e que desconfiava ter dedo do Bruno no sofrimento
dela. No domingo à noite, ele foi até meu apartamento e me contou
o que eu já sabia havia pelo menos uma semana. Inevitavelmente,
Paola teve de ser franca e expor as canalhices do marido e ela fez
isso na quinta-feira, um dia antes de ela e a família passarem o final
de semana na casa de campo com Mattia, Lauren e os trigêmeos.
Bruno afaga o rosto em um gesto inconsolável e suspira.
— A Paola quer se divorciar.
— Esperava que ela não quisesse?
Bruno não responde à minha pergunta. Ao invés disso, diz:
— Quero te pedir para dar entrada nos documentos. Depois
você me passa o valor dos seus honorários. — Bruno não me olha,
ocupado ajeitando algumas pastas e documentos que saíram do
lugar porque Paola e eu estávamos trepando sobre sua mesa não
tem muito tempo. — Eu vou te pagar muito bem para tentar me
beneficiar o máximo possível, Liam.
Travo o maxilar, entendendo a que ele se refere.
— Eu quero ficar com a casa — prossegue, distraído. — Veja
que tipo de acordo podemos fazer para que isso seja possível. —
Bruno segue seu monólogo, informando parte dos bens que ele tem
no seu nome e que gostaria de ser beneficiado. No meu lugar, eu
me seguro muito para não soltar um soco na cara dele. Ao terminar,
ele finalmente me olha. — Isso nem é assunto para agora, não é?
Prepare os papéis primeiro e quando for o momento, me liga e
falamos disso.
— Tudo bem. Te mando por e-mail a relação do que vou
precisar para dar entrada no processo.
— Tem mais uma coisa. A minha questão com a Lauren, a
mãe dos trigêmeos que achei que eram meus… — Recosto-me na
cadeira, curioso com o que vai me pedir. — Por meses eu paguei
uma pensão que não era obrigação nenhuma minha. Podemos pedir
reembolso, não é?
Eu sou muito bom em disfarçar emoções, mas isso quando
quero. Quando não quero, não faço questão nenhuma de esconder
o que estou sentindo. E é o que acontece agora. Deixo a indignação
escorrer por mim com uma risada seca.
— Está falando sério?
Bruno franze o cenho e me encara seriamente.
— Claro que estou. É mais do que justo. Lauren agiu de má-
fé comigo. Ela sabia que os filhos não eram meus e ainda assim,
teve a cara de pau de me procurar e pedir pensão.
Abano a cabeça de um lado a outro.
— Você não pode pedir restituição nesse caso, Bruno.
Mesmo que ela soubesse sobre a paternidade das crianças. O
dinheiro era destinado para a subsistência dos trigêmeos, por isso,
pensão não é passível de reembolso. O máximo que você teria
direito seria a uma indenização se conseguisse provar que saiu
muito prejudicado, o que não é o caso.
— É o caso, sim — rebate, indignado. — Meu casamento
está acabando por causa disso!
— Seu casamento está acabando porque você traiu a sua
esposa — rebato, entredentes.
— Afinal, Liam, de que lado você está? Achei que fosse meu
amigo.
— Eu sou. — Levanto-me do meu lugar, dando por encerrada
essa conversa. — Mas isso não significa que vou passar pano para
as suas merdas, Bruno. E como seu advogado, estou te dizendo:
não há nenhuma possibilidade de conseguir o direito à restituição do
valor pago às crianças. Eu poderia até tentar uma indenização por
danos morais, mesmo sabendo que é causa perdida, ganhar em
cima disso porque meus honorários deverão ser pagos você
ganhando ou perdendo, mas não vou fazer isso porque sou seu
amigo.
Pego minha bolsa e a penduro no ombro. Dou uma última
olhada nele e completo:
— E só para ficar claro: mesmo que fosse possível, era mais
fácil eu advogar em favor da mãe dos trigêmeos do que a seu favor.
Alguns anos antes
Viro um shot goela abaixo e bato o copinho no balcão do bar,
não dando muita atenção à conversa de Bruno. Ele está me falando
algo sobre uma promoção que ganhou na empresa em que trabalha
e está orgulhoso por ocupar um cargo que geralmente só seria
possível conseguir tendo muita experiência na área e alguns anos a
mais. Estou feliz que tenha ganhado essa promoção antes dos trinta
anos, de verdade, mas não estou com saco para esse lugar.
Eu detesto lugares lotados de pessoas. Detesto som alto e
músicas que eu não colocaria no meu repertório nem se me
pagassem — e é exatamente o que não para de tocar nas malditas
e enormes caixas de som do estabelecimento. Tolero um pouco de
álcool e detesto fingir que estou me divertindo. Aceitei vir porque
sou um completo idiota. Um idiota esperançoso que quer ter a
chance de ver Paola.
O convite veio de Filippo porque ele vai comemorar mais um
êxito da sua vida maluca de aventuras: ele, o irmão, a cunhada e
alguns clientes da sua empresa conquistaram o cume do
Aconcágua, a montanha mais alta do continente americano. Além
disso, também foi a primeira expedição internacional do Aventura
Selvagem, então é claro que merece uma comemoração.
Vim não só porque quero compartilhar com ele esse marco
na sua vida, mas também porque quero ter a chance de estar perto
da irmã dele. Eu venho cultivando uma paixão por Paola desde
aquela primeira semana de dezembro quando voltei para a cidade e
nos reencontramos no clube. Isso já tem cinco anos. Nesse meio-
tempo, eu a vi entrar e sair de relacionamentos, chorar por babacas
que não valiam a pena, se divertir com caras aleatórios e se dedicar
aos estudos. Mantive minha palavra de não me aproximar
principalmente porque a cada ano que passava, eu me convencia
que Filippo tinha mesmo razão: nós não duraríamos um mês juntos.
Por mais incompatíveis que possamos ser, isso não me
impediu de me apaixonar por ela e desejá-la. Cheguei a querer me
declarar, mas recuava toda vez porque ela aparecia falando de
algum outro homem qualquer com quem estava saindo ou de quem
estava gostando. Por fim, desisti de me aproximar e me convenci de
que o melhor era não investir nela. Por precisar desejá-la quase em
segredo, procuro não perder as oportunidades que surgem de ficar
por perto. Se isso me obriga a socializar e tolerar músicas que não
suporto, eu faço um sacrifício. Bruno cutuca minha costela e eu viro
na sua direção, voltando ao mundo real.
— Está aí perdido em pensamentos. O que está havendo?
Dou de ombros.
— Nada. Só não me sinto muito confortável em ambientes
como esse.
— Eu sei. Até achei estranho quando me convidou. — Abro
um sorriso sucinto, lembrando-me da expressão dele ao fazer o
convite. — Seu amigo vai demorar a chegar?
Olho melhor ao redor e depois confiro as horas. Filippo me
avisou que chegaria um pouco atrasado porque eles
desembarcariam hoje no país. Foi por esse motivo que convidei o
Bruno. Não queria ficar sozinho nesse lugar horroroso sem ao
menos um rosto conhecido até meu melhor amigo chegar.
Até parece que o conjurei porque no instante seguinte, ele
surge na entrada do bar. Filippo acena para algumas garotas
sentadas em uma das primeiras mesas, carrega o enorme sorriso
que parece sempre estar com ele, não importa o quanto seu dia
tenha sido uma merda, e cumprimenta um ou outro conhecido aqui
e ali. Logo atrás, o irmão mais velho entra observando ao redor com
cuidado. Ele está abraçado à cintura da namorada, Natália, que ri e
conversa com o namorado que parece não a ouvir direito. Ao me ver
aqui, Mattia acena e chama por Filippo, apontando a direção em que
estou.
Quando meu melhor amigo começa a vir até mim é que ela
aparece. Malditamente bonita dentro de uma saia muito curta, muito
justa e um cropped verde com um decote que mexe com todas as
partes certas e erradas do meu corpo. Agarrada ao braço de uma
amiga, Paola mostra o sorriso bonito que revela o quanto é
extrovertida e que é um dos poucos motivos que me dá vontade de
sorrir também.
Desvio o olhar no instante em que um par de braços me
aperta. Leva só um segundo para entender que é Filippo que não
apenas me abraçou, mas também está me bombardeando de
informações. O cara está feliz, imensamente feliz ao contar sobre
sua incrível experiência na Cordilheira dos Andes. Eu mal tenho a
chance de apresentá-lo a Bruno. Filippo já pediu uma rodada de
cerveja, aperitivos e nos encaminhou até uma mesa do bar para
ficarmos mais confortáveis. Mattia é quem precisa mandá-lo calar a
boca para que eu possa finalmente falar.
Depois que são apresentados, Filippo e Bruno engatam em
uma conversa. O pior erro de um novato é perguntar ao meu melhor
amigo como é sua vida aventureira. Quando menos se espera, ele
está contando animadamente sobre todas as montanhas e rochas
que já escalou. Enquanto os dois conversam um pouco, eu olho ao
redor de novo, sentindo falta de Paola. Eu a vi entrar, mas ela não
se juntou a nós.
— A Paola não veio? — pergunto como quem não quer nada
e procuro resposta em Mattia porque Filippo segue ocupado com
Bruno.
A namorada dele também inspeciona o lugar às minhas
costas.
— Ela chegou com a gente.
— Chegou — Mattia confirma, jogando um braço por cima
dos ombros de Natália. — Ela disse que ia retocar a maquiagem
dela e da amiga no banheiro antes de se juntar a nós. É capaz de
irmos embora e ela ainda estar se maquiando.
Natália ri e deixa um beliscão na costela do namorado. Ela se
vira para mim e começa a narrar sobre a aventura dos três no
Aconcágua. De repente, eu me pego interessado na narrativa. A
conversa com Mattia e a namorada converge para relatos
impressionantes e fico muito admirado e fascinado com a coragem
que eles têm em se aventurar em lugares tão perigosos.
Parece que passou uma vida desde que chegaram, mas não
deve ter passado mais que meia hora. Filippo vai buscar mais
aperitivos, Mattia e Natália deixam a mesa pois ela o arrasta até a
pista de dança porque sua música favorita começou a tocar e é
claro que ela precisa submeter o pobre-coitado a essa humilhação
em público.
— É você mesmo ou estou vendo uma miragem? — A voz de
Paola sobressai à música alta.
Eu me viro na sua direção e coloco um sorriso de lado. De
repente, ela está invadindo meu espaço pessoal e se inclinando
para me abraçar forte. Eu retribuo da melhor maneira que consigo,
ouvindo-a dizer que não acredita que eu esteja mesmo aqui.
— Meu melhor amigo conquistou o Aconcágua. Claro que eu
viria. Isso e porque ele prometeu que pagaria tudo o que eu
consumisse.
Paola ri como se eu tivesse contado a melhor piada do
mundo, mas não contei. Nem mesmo fiz uma gracinha porque é
verdade. Tudo que consumi até agora foi parar na conta dele. Ela se
senta do meu lado e cumprimenta o Bruno com a mesma simpatia
que cumprimenta todo mundo, seja uma pessoa conhecida ou não.
— Abandonou sua amiga? — pergunto para desviar a
atenção dela para mim. Não vou negar que fico incomodado pelo
modo como Bruno olha para Paola.
— Aquela traidora? Nesse momento, deve estar com a língua
na garganta do Filippo. — Rio baixinho e olho discretamente para
seu decote. — Vê como meu irmão é hipócrita? Os amigos dele não
podem nem respirar perto de mim, mas ele pega minhas amigas
como se não houvesse amanhã.
— Eu não o julgo por ser ciumento — Bruno comenta e há
uma nota de malícia na sua voz.
Paola parece não gostar muito e faz um discurso sobre como
isso é completamente idiota e machista. É um discurso pronto,
daqueles que ela já tem na ponta da língua de tanto que precisa
distribuir por aí.
— Filippo tem que ser muito inocente se acha que eu não
saio com os amigos dele. Já saí com um monte. Dos Mattia
também. A diferença que faço no sigilo para não ter que ficar
ouvindo sermão dele depois.
— Acho que terei de me aproximar do seu irmão e ficar
amigo dele, então — Bruno brinca e isso remexe no meu estômago
de uma maneira que não gosto.
Ao contrário de Paola, que ri e até se apoia nas coxas de
Bruno. Um segundo depois, os olhos dela estão em mim.
— O que sobra no meu irmão falta em você, não é, Liam?
Nunca te vi com namorada ou qualquer coisa assim.
Bruno acena em concordância.
— Acho que ele foi fortemente influenciado pelo padre que o
criou.
Eu me ajeito no meu lugar e abro um sorriso cínico.
— O fato de nunca ter me visto com uma mulher não significa
nada. Eu só sou muito discreto.
Em partes é verdade. Eu não me envolvo com as mulheres
com a mesma intensidade e constância que o Filippo. Ele troca mais
de mulher do que de cueca. Não faz meu estilo, mas também não fiz
voto de castidade. Quero dizer, eu fiz um aos quinze anos, mas o
quebrei quando decidi que não serviria para a vida sacerdotal que o
padre Ivo queria que eu seguisse. Eu estou em um meio-termo:
nada tão promíscuo quanto Filippo, mas também nada muito casto.
— Você é um dos poucos amigos do Filippo que eu não
peguei — Paola comenta inocentemente.
Não tem qualquer provocação na sua voz. É só uma
observação. A vontade de dizer “Podemos mudar isso agora
mesmo” está presa na minha garganta e eu preciso ter muito
autocontrole para não verbalizar meus pensamentos.
— Eu gosto de estar vivo — digo como se eu não me
importasse com o fato —, então vamos continuar assim.
Ela ri e abana a cabeça em positivo.
— Você também gosta de mim que eu sei. Nunca foi
necessariamente discreto quanto a isso.
Assinto porque não há motivos para mentir ou negar. Nunca
menti e neguei, e não vai ser agora que farei isso. Paola não diz
mais nada sobre o assunto “você gosta de mim que eu sei” e
quando começa a tocar uma música animada, ela convida Bruno
para uma dança.
— Eu convidaria o Liam — diz, puxando meu amigo pelo
punho —, mas ele detesta dançar.
Porra, garota. Eu abriria uma exceção pra você.
— Se divirtam — digo apenas. Ela me dá um sorriso pequeno
e se afasta com Bruno até o centro da pista.
Fecho os punhos e sinto as unhas curtas perfurarem minha
palma. Só então me dou conta de que estou queimando de ciúmes.
Ele está de costas para mim quando chego ao seu andar.
Não evito dar aquela espiada na sua bunda, agora muito mais em
evidência por conta da calça social justa, e sorrio para mim mesma,
deliciada ao saber que eu já tive o privilégio de vê-lo nu. Paro no
meio do escritório e o observo conversar com o que me parece ser
um estagiário ou advogado novato. Pelo modo firme e severo que
Liam dá suas instruções, apontando para alguns papéis que carrega
em mãos, e pela maneira como o outro homem — na faixa de uns
vinte e dois anos — acena freneticamente, é mesmo um funcionário
inexperiente.
Ele dispensa o garoto entregando-lhe os documentos, e se
vira. No momento em que seus olhos encontram os meus, ele não
consegue fazer o que faz de melhor: esconder suas emoções. Noto
a surpresa que corta suas íris cinzas e prendo a respiração, afetada
por esse homem. O desgraçado está lindo dentro de um terno preto
de três peças, apenas a camisa branquinha contrastando com todo
o resto. Liam se aproxima rapidamente, a frieza e severidade tão
comuns retornando aos seus traços.
— O que faz aqui?
— Vim falar com você sobre o divórcio — respondo, alto o
suficiente para que os demais funcionários nos nichos de trabalho
ouçam.
Liam acena e me encaminha para sua sala, as mãos na base
da minha coluna. Ele fecha a porta e se encosta na frente da mesa,
cruzando os braços.
— O que quer saber sobre o divórcio?
Eu o avalio de cima a baixo, perguntando-me como eu nunca
seduzi esse homem com mais afinco. Por um tempo, eu até tentei.
Dei alguns sinais sutis de que o queria, tentava provocá-lo ou tirar
alguma reação dele falando de outros caras. Em uma dessas, me
envolvi com Bruno e me casei com aquele cretino porque me
apaixonei de verdade. Nunca deveria tê-lo convidado para dançar
só porque queria fazer ciúme em Liam na esperança de ele me
pedir uma chance. Se arrependimento matasse…
— Paola?
Pisco e volto ao mundo real.
Giro nos calcanhares, passo a chave na fechadura e fecho as
cortinas do seu escritório. Ao me voltar para ele novamente, Liam
ajeitou a postura. Os braços continuam cruzados, mas ele está mais
ereto, o maxilar mais apertado.
— Estou obcecada — confesso, caminhando na sua direção
até estar entre suas pernas. Ele não descruza os braços e segue
encarando-me seriamente, a respiração mais ruidosa, as narinas
expandidas. — Não paro de pensar em você.
Brinco com os botões do seu colete e vou abrindo um por um.
— Não para de pensar em mim ou não para de pensar em
como te fiz gozar gostoso? — pergunta. A frase deveria vir
acompanhada de alguma malícia, mas tem mais rigidez do que
lascívia.
Ergo meus olhos na sua direção e passo seu paletó pelos
seus braços. Em nenhum momento, ele cria resistência.
— Em como me fez gozar gostoso — admito.
É a verdade. Há muito tempo não penso em Liam da maneira
como eu pensava antes, como uma paixãozinha platônica. E mesmo
quando pensava nele, entre meus dezoito e vinte e tantos anos, o
pensamento era mais por causa da atração física que tinha por ele.
Nunca envolveu qualquer sentimento mais poderoso a não ser
simples e puro desejo.
— Só seu brinquedinho sexual, não é? — Agora, tiro seu
colete.
— Podemos parar — sussurro e começo a desabotoar a
camisa branca.
— Gosto de ser seu brinquedinho sexual.
Sorrio um pouco e aliso seu tórax assim que está à mostra.
Fecho os olhos e encosto os lábios na sua pele bronzeada. Ouço-o
suspirar e seus dedos encontram meu rosto em um carinho que é
suave e obsceno ao mesmo tempo. Subo meus lábios, encontro seu
queixo barbado e, em seguida, seus lábios. Liam me beija com
paixão, e eu me derreto nesse pequeno gesto. Uso seu corpo como
apoio e o apalpo em todo centímetro que minhas mãos alcançam.
Ele me afasta um pouquinho e me olha.
— Veio aqui para falar do seu divórcio ou veio para me
seduzir?
— Vim para te seduzir. Tive uma brecha no consultório e
aproveitei… — Meus olhos vão para a mesa atrás dele. — Não vou
negar, Liam. Pensei em trepar com você nessa sua mesa do
escritório a semana inteira.
Sinto seu corpo se enrijecer sob mim e não sei decifrar esse
sinal direito. Não sei se ele gostou ou não do que eu disse.
— Pensou? — ele devolve, um pouco surpreso.
Assinto.
— Tem algo de excitante em imaginar você me comendo
gostoso enquanto tem gente do outro lado dessas paredes.
Liam ergue uma sobrancelha e uma mão boba escorrega até
minha bunda.
— Então, você gosta da ideia de sexo em público, do perigo
de ser flagrada e tudo mais?
Assinto mais uma vez.
— Parece que as coisas ficam mais excitantes. — Deslizo os
dedos até a braguilha da sua calça. — Você não acha?
— Não é meu fetiche favorito, mas…
Ele deixa a frase no ar e eu finalmente consigo me livrar do
seu cinto. Abro o botão da sua calça e enfio a mão por dentro dela,
encontrando seu membro quente. Não tiro meus olhos dos dele
quando o masturbo devagar, apreciando sem pressa seu calor
gostoso entre meus dedos.
— É injusto eu ainda não ter provado você — murmuro, ao
abaixar sua calça e tirar seu pau ereto para fora. Ele parece ficar
ainda mais duro na minha mão e suspira. Seus dedos emaranham
meus cabelos e sou levada a olhá-lo. Liam não diz nada, apenas me
olha e me acaricia.
Coloco uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e me
inclino na sua direção. Fico a centímetros de distância do seu pau.
Ergo os olhos para ele e o engulo sem desfazer nosso contato
visual. Ele enrijece o maxilar e expande as narinas, os dedos
apertando com firmeza meus cabelos. Vou até o meu limite e volto,
deixando-o bem úmido e dançando a língua na sua pele agridoce.
Liam junta meu cabelo em um rabo de cavalo e acompanha
meus movimentos gemendo baixinho. Sinto que ele precisa se
segurar para não me empurrar ou investir com os quadris contra
minha boca. Pego-o entre meus dedos e acompanho o sobe desce
dos meus lábios, e com a mão livre, massageio seus testículos.
— Porra, Paola… — ele geme, puxando-me para longe de si.
Penso em protestar ou voltar para o que estava fazendo, mas sou
impedida. Liam me toma em um beijo voraz e cheio de necessidade
e eu retribuo na mesma medida, mantendo o ritmo dos meus dedos
ao seu redor.
— Me deixa te chupar mais, Liam — peço contra seus lábios
inchados, ofegando com ele. — Você é tão gostoso.
Ele me empurra para baixo, sem delicadeza, e eu o engulo
outra vez com toda vontade do mundo. Liam respeita meu ritmo e
deixa mãos e quadris comportados. Quando estou confiante o
suficiente, peço para que foda meus lábios. Ele trava minha
mandíbula e se arremete para dentro da minha boca começando
devagar.
— Me belisca se estiver demais para você — diz, deslizando
para fora dos meus lábios e depois voltando vagarosamente. — Não
tem como dizer “advogado” enquanto estiver me engolindo, não é?
— Força um pouco mais e o sinto todo na minha garganta.
Eu o belisco na lombar, e Liam se afasta imediatamente.
Inspiro fundo e me recomponho por um instante antes de voltar a
engoli-lo. Dessa vez, ele vai mais fundo, com um pouco mais de
força e consigo aguentar seu ritmo por mais tempo. Então, eu o
belisco de novo.
— Vamos do seu jeito — murmura, colocando em minha boca
apenas o que eu aguento, empurrando-o lentamente. — Me
masturba junto — comanda, os dedos afundados no meu cabelo
fazendo um carinho que destoa desse momento.
Eu obedeço ao comando, e a imagem dele rendido — cabeça
para trás, olhos fechados, lábios entreabertos — me dá um choque
no vão das pernas e é nesse momento que percebo que estou muito
molhada. Dedico-me mais ao oral nele, deliciando-me com suas
expressões, com os gemidos, as palavras sujas e obscenas que
escapam da sua boca.
Estou adorando que esteja à minha mercê quando ele me
afasta e, em um giro rápido e rude, me empurra contra sua mesa de
madeira. Minha saia vai parar no meio da barriga e minha calcinha é
posta de lado. Levo um segundo para entender que Liam já está
deslizando para dentro de mim do seu jeito duro e delicioso. Eu teria
gritado escandalosamente, mas ele é mais rápido e tapa minha
boca.
— Shh — sussurra, sua mão ainda mim, os olhos nos meus,
nublados de prazer e luxúria conforme me come vigorosamente. Eu
suspiro, desesperada, e sua palma abafa meus ruídos que nos
denunciariam com facilidade. — Eu sei que gosta da ideia de deixar
todo mundo saber que está dando gostoso pra mim. Que está
dando muito gostoso pra mim…
Liam faz uma pausa pequena — apenas o suficiente para
que sua frase suja assinta em minha mente e ventre — e desliza a
mão por entre nossos corpos apertados até alcançar meu clitóris e o
acionar. Quando meu cérebro, por fim, interpreta o que me disse, no
mesmo instante que tenho meu ponto estimulado, eu me sinto entrar
em combustão e preciso morder sua palma para não nos entregar.
— Eu também gosto da ideia, Paola — murmura contra meus
lábios, e noto que se esforça para ele próprio não se descontrolar.
— Mas isso vai complicar a minha vida. Foda meu pau sem fazer
muito barulho. — Ele me dá uma estocada profunda e, mais uma
vez, eu faço um esforço descomunal para não gemer alto. — Mais
tarde, no meu apartamento, eu te como de novo e você geme o
quanto quiser, quão alto quiser. Agora, eu preciso que me dê essa
boceta em silêncio.
Isso acaba comigo. O palavreado, a promessa indecorosa,
seu pau maravilhoso indo fundo em mim, sua mão abafando meus
gemidos. Nem noto quando minha visão nubla e minhas pernas
tremem, preludiando meu orgasmo. A pressão da sua mão na minha
boca aumenta e levo um segundo para compreender que outra vez
estou me descontrolando e ele precisa me calar.
Sua mão é substituída pela sua boca no instante que sinto
meu orgasmo escorrer pelo seu pau. Liam murmura forte e rouco
nos meus lábios, e engulo seus gemidos com prazer. Seu ritmo para
dentro de mim vai diminuindo, assim como o movimento dos seus
lábios nos meus. Acaricio seus cabelos enquanto recuperamos a
respiração e os batimentos cardíacos. De súbito, ele me abraça
amorosamente e beija meu pescoço.
— Já notou que não podemos ver uma mesa?
Eu rio de tremer o estômago e o afasto de mim. Beijo seus
lábios com carinho e permito que a sensação de bem-estar e
felicidade vá tomando conta do meu organismo.
— Posso mesmo passar no seu apartamento à noite? —
murmuro, com cuidado. — Está um inferno dividir a casa com
Bruno.
Liam deixa um beijo casto no canto dos meus lábios.
— Eu vou chegar mais tarde hoje. Tenho uma audiência de
conciliação às seis. — Ele suspira alto e faz um carinho gostoso na
minha lombar. Liam se afasta e me puxa da mesa. Eu coloco tudo
no lugar e ele faz o mesmo. — Vou ligar na portaria e deixar sua
entrada autorizada. — Ao dizer isso, ele contorna a mesa e anota
uma sequência de números em um pedaço de papel, entregando-
me em seguida. — A senha da minha fechadura.
Eu tomo o papel em mãos sentindo que isso é íntimo demais,
errado demais. Ainda assim, não volto atrás.

Saio de cima dele completamente acabada. Liam permanece


deitado no sofá, os olhos fechados, a cabeça um pouco pendida, um
semblante sereno nos traços bonitos, e ele ofega. Ofega muito.
Sorrio para mim mesma e me acomodo no seu tórax pingando de
suor, agraciada com seu cheio almiscarado. Enquanto descanso da
segunda rodada de sexo do dia, brinco com a pele do seu peito. Ele
tem alguns fios escuros entre as mamas que vão descendo pela
barriga e se conectam aos pelos pubianos.
— Acho que nunca trepei tanto na vida como estou trepando
na última semana — ele comenta, os olhos ainda fechados. Indício
de um sorriso malicioso começa a surgir nos seus lábios, o que me
faz sorrir junto.
— Isso é uma reclamação? — Subo nele outra vez, minhas
pernas ficando um pouco para fora.
— Definitivamente, não estou reclamando. — Ele abre seus
olhos cinzas para mim e, sem que eu espere, estala um beijo rápido
na minha boca. Eu rio e o estapeio. — Hoje foi uma loucura, não
foi? — sussurra e coloca uma mecha do meu cabelo atrás da
orelha.
Assinto e fecho os olhos, gostando da carícia e das
lembranças. Transamos na mesa de novo, mas dessa vez Liam se
deitou sobre ela para que eu o cavalgasse e depois me colocou de
joelhos. Fomos para o sofá e experimentamos todas as posições
que conseguimos imaginar: de quatro, de lado, cavalgada ao
contrário, cavalgada tradicional, de bruços no braço do sofá para
que eu sentisse o tecido esfregando meu clitóris conforme ele me
comia. Liam propôs uma posição que precisei de um pouco de
contorcionismo, mas que o fez ir muito fundo em mim. Acabamos no
tapete, em posição tradicional, e voltamos para o sofá porque ele
queria gozar enquanto eu cavalgava nele. Nessa brincadeira, gozei
duas vezes.
Devolvo o carinho no seu rosto e assinto.
— Vou amanhecer toda dolorida.
— Isso é uma reclamação?
Abro um sorriso gostoso.
— Definitivamente, não estou reclamando — devolvo. — Vou
reclamar de não ter comida nessa casa, isso sim. Estou com fome
desde que cheguei.
Liam me dá um sorriso suave e pequeno e me tira de cima
dele.
— Vou comprar algo pra nós. Preferência?
— Italiana.
— Não nega o sobrenome que carrega — menciona, com
uma pitada de humor que não é muito típico dele. Liam veste a
cueca, a calça e passa o cinto. — Tem um restaurante italiano na
esquina. Vou eu mesmo buscar porque esse horário a entrega leva
uma vida.
Eu assinto e olho para sua camisa esparramada no chão
perto da porta de entrada. Como ela foi parar ali é um mistério. Liam
olha para mim, depois para sua camisa e adivinha meus
pensamentos. Dou um salto do sofá e me adianto para alcançar a
peça. Ele agarra minha cintura e me suspende no ar. Gargalho e
esperneio para tentar me soltar da sua pegada, mas ele é mais forte
que eu e consegue uma vantagem ao me descer no chão longe do
meu objetivo.
— Eu quero vestir — protesto e tento pegar a camisa da sua
mão. Só que ele é bem uns vinte centímetros mais alto que eu e
ainda ergue o tecido acima de sua cabeça.
— E eu saio assim na rua? — pergunta, apontando para si
mesmo.
— A mulherada ia gostar — respondo, avaliando seu
abdômen gostoso.
Liam dá um passo para frente e veste sua camisa em mim.
Eu me aconchego nessa peça de um modo que não deveria,
principalmente porque o sentimento é potencializado quando os
seus olhos estão nos meus e seus dedos fecham os botões
vagarosamente. É quase um ritual dele fazer isso comigo. Não nego
que amo seu zelo.
— Você não tem ciúmes? — A pergunta vem cautelosa,
quase como uma inspeção.
— O que é belo precisa ser mostrado. — Puxo-o para mais
perto de mim pelo cós da sua calça, e o choque entre nossos corpos
gera uma sensação gostosa em mim. — Além do mais, tudo o que
elas poderão fazer é olhar. Mas eu… — Escorrego a mão pelo seu
tórax quente e suspiro. — Só eu vou poder fazer maravilhas com
você.
Um sentimento diferente atravessa os olhos de Liam e não
sei dizer o que é exatamente. Eu disse o que disse na esperança de
levantar um pouco seu ego, talvez até seduzi-lo, mas tenho a
impressão de que é… desagrado o que trespassa seus olhos
cinzas. Liam é bom em esconder emoções quando quer, e eu sou
péssima em ler as pessoas.
— Vou buscar outra camisa.
Ele passa por mim, mas não me deixa sozinha. Junto comigo,
fica essa sensação estranha de que eu disse alguma coisa errada.

Enquanto Liam sai buscar nossas comidas, eu aproveito para


brincar com Zacky. Enrolada no paletó dele porque eu decidi que só
a camisa não bastava e porque meu corpo esfriou, eu vou até o
quarto do cãozinho. Abro a porta devagar e o encontro deitado na
sua cama, mordendo um brinquedo e há uma televisão ligada que
ajuda a distrai-lo.
Suas orelhas se erguem assim que nota a visita, e Zacky
corre na minha direção, todo feliz. Ele pula em mim querendo
brincar. Passo os próximos dez minutos correndo pelo apartamento
de Liam com o labrador no meu encalço, esquecendo-me por um
momento que tenho vinte e oito anos. Quando descubro que ele
sabe brincar de pique-esconde, a brincadeira se torna mais
divertida. Zacky fica ainda mais eufórico toda vez que me encontra.
Pula em mim, late e lambe meu rosto. Agora, estou escondida na
lavanderia, espremida em um beco entre a máquina e o tanque,
apenas esperando. Estranho quando o animalzinho demora a me
encontrar. Saio do meu esconderijo e o chamo, mas ele não vem.
Procuro-o pelo apartamento e o encontro no quarto do dono.
Liam deixou a porta entreaberta, o que facilitou a invasão canina.
Entro com cuidado no seu espaço pessoal e avalio ao redor. O
cãozinho não fez nenhum estrago aqui. Tudo está perfeitamente no
lugar. O lençol cinza bem esticado, os chinelos sobre um tapete
perto da cama, as cortinas inteiras. As cores predominantes no
quarto dele são cinza e preto e estranhamente gosto da
combinação. Um som alto vem do closet dele e corro até lá. Acendo
a luz e encontro Zacky com um sapato do dono na boca e uma
caixa-organizadora revirada no chão. Muita coisa se espalhou por
todo lado e eu me apresso a juntar. Acho que Liam não vai ficar
nada feliz em saber que invadi seu espaço privado.
Enquanto junto seus pertences — agendas, blocos de notas,
itens de papelaria e cadernetas sem pautas —, me dou conta de
que nunca vim para cá. Liam nunca transou comigo na sua cama e
me pego curiosa para entender o motivo. Zacky se aproxima
sorrateiro e tenta pegar uma agenda. Puxo-a da sua boca e o
bichinho cria alguma resistência.
— Solte, Zacky — ordeno e ponho um pouco mais de força.
O cãozinho solta a agenda, que cai no chão aberta em uma página
onde tem uma fotografia.
Eu a tomo em mãos, analisando-a. Liam está na imagem,
bonito dentro de um terno todo preto, abraçado a cintura de uma
mulher negra que usa um vestido muito elegante. Ela sorri
abertamente e ele apenas mostra seu sorriso pequeno de sempre.
Apesar disso, dá para notar pelos seus olhos que está feliz, que a
foto foi batida em um momento importante. Reviro suas coisas mais
um pouco, sabendo que estou cometendo um erro enorme ao
xeretar sua privacidade, mas estou curiosa demais para frear
minhas ações.
Encontro outra foto deles. Os dois estão de perfil, ela se
erguendo nos pés para ficar na mesma altura de Liam, o sorrisinho
dele, suas mãos em volta da cintura dela, seus lábios quase se
tocando. Uma troca apaixonada de olhares. Ela aparenta ter uns
trinta e poucos anos, e ele… Reconheço o corte de cabelo que usou
entre dezoito e vinte e três anos: raspado nos lados, mais cheio em
cima.
— O que aconteceu aqui? — A voz de Liam invade o closet,
e eu me assusto.
Zacky se encolhe sob o olhar severo do dono e solta o sapato
que voltou a morder. Eu junto tudo rapidamente, nervosa como uma
bêbada pega roubando bebida, e fecho a caixa-organizadora. Liam
se agacha na minha altura e a pega das minhas mãos. Ele está
calmo ao colocá-la de volta em um nicho acima das camisas.
— Então? — Ele se vira para mim e cruza os braços. Seu
olhar vai de mim para Zacky, cabisbaixo sobre suas patas
dianteiras. Vai se fazer de sonso, quer ver?
— Você deixou as portas do seu quarto e do closet abertas.
Zacky entrou e fez toda essa bagunça — explico. — Eu só estava
arrumando.
O cachorro chora e esconde o rosto entre as patas. Não sem
antes me lançar um olhar rápido, como se tivesse entendido que o
dedurei.
— Eu sei. Quando ele está solto, mantenho meu quarto
fechado. Como ele estava no quarto dele…
Oh.
Levo uma mão à boca, e uma sobrancelha dele sobe.
— Só queria brincar com ele. Não imaginei que fosse fazer
tanta bagunça.
Liam suspira e não parece chateado.
— Tudo bem. Vamos comer antes que esfrie.
Ele dá uma ordem ao cachorro que obedece prontamente e
se retira. Liam começa a liderar o caminho até a sala, mas eu o
seguro pelo punho e o faço se virar para mim.
— Está aborrecido ou irritado?
Ele tomba a cabeça um pouco de lado e me avalia com os
olhos semicerrados.
— Porque você soltou meu cachorro e ele comeu um sapato
caro ou porque você estava espiando minhas coisas? — Mordo o
lábio inferior, sem saber o que dizer exatamente. — Não estou
chateado, Paola.
Fico um pouco mais aliviada.
— De verdade?
Ele segura meu rosto e abre um sorriso pequeno, as íris
cinzas em mim, quase perfurando-me. Não de um jeito ruim. O
modo como me olha…
— Se espera descobrir algum segredo obscuro meu, está
perdendo seu tempo. Eu não tenho um passado traumático ou um
segredo sombrio. — Seguro uma risadinha e me ergo nos pés para
beijá-lo. — Sou um livro aberto pra você, Paola — diz sinceramente,
e eu assinto, sem conseguir desfazer nosso contato visual. — Tudo
que quiser saber de mim, eu conto.
A importância que essa frase ganha é grande demais para
que eu saiba gerir corretamente. É como um sinal de que eu deveria
me afastar de Liam. Era para ter sido só uma noite, uma única vez,
e avisei para não criar expectativas. E aqui estou eu fazendo esse
homem criar expectativas, não estou?
— Estou curiosa para saber quem é a mulher da foto —
confesso.
— Eu te conto depois do jantar.
Liam me puxa pelos punhos e me leva até a sala. Depois de
comermos, tomamos um banho juntos e fazemos nossa estreia de
sexo debaixo do chuveiro. É delicioso quando ele me prensa contra
os ladrilhos e me come com força, ou quando espalmo contra o box,
e ele me come com força. Depois, usando uma camisa dele como
pijama, eu me acomodo no sofá e o observo escolher um filme para
assistirmos. Espio sua bunda bonita — eu amo a bunda dele — e
mordo o lábio inferior, apreciando como a cueca boxer agarra bem
sua cintura. Zacky está no tapete com um brinquedo e bem
quietinho. Liam finalmente escolhe um filme e se deita debaixo das
cobertas comigo.
Eu o abraço e me aconchego no seu tórax. Algo dentro de
mim me diz que eu deveria ir embora. Tínhamos combinado apenas
sexo. Ficar e assistir um filme deitado no peito dele não estava no
combinado. Nunca deveria estar no combinado. Afasto meus
pensamentos da cabeça e decido que vou apenas aproveitar.
Alguns anos antes

Ao passar pelas portas do hospital, procuro por um rosto


conhecido antes de ir até a recepcionista. Encontro Paola na sala de
espera, andando de um lado a outro, os braços em volta do próprio
corpo em uma postura que denota aflição.
— Paola — chamo-a, com cuidado, e caminho rapidamente
na sua direção.
Ela vem ao meu encontro e antes que eu espere, a garota
está nos meus braços, aos prantos. Afago suas costas em um gesto
de acalento e me esforço para eu mesmo não desabar aqui e agora.
— Vim assim que vi sua mensagem. Como eles estão?
Ela não responde de imediato. Pelo contrário. À minha
pergunta, chora ainda mais, de soluçar. Um medo de que o pior
possa ter acontecido aperta meu peito. Paola está inconsolável. Eu
a levo até um dos sofás na recepção e peço para se acalmar. A
garota faz algum esforço e quando ergue os olhos para mim, o
branco neles está vermelho, as pálpebras inferiores inchadas, os
cílios encharcados. Onde está o Bruno no momento que a
namorada mais precisa dele, pelo amor de Deus?
— O Filippo está inconsciente — diz, a voz muito trêmula. —
Muito mal. Não sei se ele vai conseguir sair dessa, Liam.
Aperto seu rosto entre minhas mãos e a faço me olhar.
— É claro que vai. Não existe pessoa mais obstinada que o
Filippo. — Seco suas lágrimas com os polegares e ofereço um
sorriso fúnebre. — Não pensa no pior, Paola. — Ela aperta os olhos,
e mais gotas encharcam seu rosto. — E o Mattia?
— Fisicamente bem — responde. — Sem qualquer lesão. —
Ela move a cabeça de um lado a outro. — Mas está em choque.
Mamãe está com ele agora, tentando consolá-lo. Ele… ele… —
Paola para, ofega, chora mais. — A Natália não resistiu.
Ela cai no choro mais uma vez e eu a tomo em outro abraço,
precisando de algum autocontrole para não transbordar em lágrimas
também. Natália era uma garota legal e nos víamos com alguma
frequência. Criamos uma amizade bacana por forte influência de
Filippo que sempre nos reunia. Ela estava quase me convencendo a
fazer algumas aventuras com eles. Meu melhor amigo sempre
tentou me arrastar para essa vida maluca, e quando Naty propôs
que eu começasse a escalar, ele ficou eufórico por encontrar uma
parceria para tentar me convencer e a apoiou muito. O que significa
que os dois estavam o tempo inteiro me azucrinando sobre isso.
— Eu sinto muito, Paola — consigo dizer algum tempo
depois.
— O Mattia está arrasado, Liam. A Natália era toda a vida
dele. — Sua voz sai abafada porque ela está com o rosto enfiado no
meu peito. — E não sei… não tenho ideia de como vou conseguir
contar para eles com isso tudo acontecendo.
Afasto-a de mim um pouco, sem entender.
— Contar o quê?
— Ontem à noite… o Bruno me pediu em casamento.
Eu não sei por que meu coração parece tão despedaçado ao
ouvir a informação que chega até mim. A essa altura, minha paixão
por ela já deveria ter morrido. Já deveria ter superado essa mulher.
E pensei mesmo que tinha. Mas o sentimento que me assalta
quando me diz isso é pior do que eu senti assim que os dois
começaram a namorar. Sem perceber, afasto-me um centímetro
dela e corto contato visual, administrando a dor que atinge meu
peito, sem me preocupar em perguntar por que contar que está
noiva é um problema.
— No meio das coisas da Natália — ela continua, e levanto
meus olhos na sua direção —, encontramos uma aliança de
noivado. Eu ainda não sei se o Mattia a pediu em casamento antes
da escalada e ela guardou, ou se ele escondeu nas coisas dela para
que ela achasse mais tarde porque isso seria bem a cara dele. —
Paola move a cabeça de um lado a outro e mais lágrimas descem
pelo seu rosto. — Ele mal disse uma palavra desde que o
resgataram lá na pedra, mas entende que havia um plano de se
casarem e ele a perdeu? Como eu conto para eles justamente agora
que Bruno e eu vamos nos casar em três meses? Vai magoar tanto
o meu irmão, Liam. Tanto.
Ela volta para meus braços, e eu sou uma confusão de
pessoa enquanto tento gerir tudo o que recebo. Paola vai se casar
em três meses. Mattia perdeu a namorada com quem ia se casar.
Paola vai se casar em três meses.
Três meses. Com meu amigo. Meu amigo que não está aqui
para consolar a noiva que está arrasada depois de um acidente em
uma das escaladas dos irmãos. Meu amigo que sempre soube que
eu gostava dela e mesmo assim não se importou comigo e começou
a flertar com ela por que “Se você é bobo o suficiente para não
investir nessa garota por causa do Filippo, eu não sou”. Amigo. Eu
larguei tudo e viajei quatro horas para saber do meu melhor amigo,
para saber dela, e o desgraçado do noivo não. está. aqui. Por que
Paola ainda vai se casar com esse cretino?
Eu não sei mais o que dizer para ajudá-la nesse momento.
Por isso, eu apenas a abraço forte e permito que desabe suas
lágrimas no meu peito. Paola chora por muito tempo até que está
mais calma. Isso acontece no exato instante em que Bruno cruza as
portas da recepção e nos vê. Não gosto muito do modo como ele
olha para nós dois, mas decido ignorar. Ela deixa meus braços para
ir para os dele e me machuca ainda mais a sensação de vazio que
me toma.
Ele a abraça e olha para mim por cima dos ombros da noiva
com algum desagrado. Aproveito que seu Arthur vem de lá de
dentro para quebrar o clima esquisito que pairou sobre nós. Ele nos
dá notícias dos filhos: Filippo sem melhoras, Mattia ainda em
choque. Paola quer entrar para vê-los, e como a recomendação é
apenas um por vez, ela deixa o noivo para trás. Seu Arthur diz que
vai buscar alguns itens necessários para o mais velho — roupas,
produtos de higiene pessoal e comida —, e vai procurar um quarto
de hotel para se hospedarem uma vez que terão de ficar na cidade
até tudo se resolver.
— Precisam de alguma coisa, rapazes?
Eu nego, e Bruno pede um lanche porque a viagem foi longa
e ele está morrendo de fome. Quando estamos sozinhos, ele se vira
para mim.
— Devo me preocupar, Liam? — A pergunta é calma e
implícita.
— Sabe que não. Posso ser qualquer coisa, mas não sou um
amigo fura-olho.
Bruno apenas assente e vai se acomodar em um dos sofás
da recepção, esperando pela noiva. Eu decido ir tomar um ar para
ajudar a juntar os pedaços do meu coração.

Sinto seus braços na minha cintura quando Paola se


aproxima de mim — estou na pia preparando duas xícaras de chá.
Eu me viro para ela e sorrio um pouco, gostando dos seus dedos na
base da minha coluna.
— Zacky? — pergunto e dou uma olhada rápida por cima do
meu ombro.
— Dormindo frente à televisão — responde, passando
devagar as pontas dos seus dedos no meu tórax despido. — Eu não
aguento comer mais nada, Liam.
Estico a xícara para ela.
— É só um chá. E não adocei.
Ela bica a bebida sem tirar os olhos de mim.
— Eu gosto sem açúcar.
— Sei disso.
Voltamos para sala, e Paola torna a se enrolar nas cobertas
sobre o sofá. Não tem mais nada de interessante na televisão, por
isso a desligo. Eu me sento ao seu lado e ela estica as pernas sobre
as minhas, um sorriso gostoso nos lábios.
— Vai me contar quem é a mulher da fotografia? — pergunta,
olhando-me por cima da borda da sua xícara.
Procuro pelas horas no meu relógio de pulso e constato que
já está bem tarde. Mais de uma da manhã. Não fiz objeção que ela
ficasse até a essas horas, mas nunca falamos se ela vai passar a
noite. Não quero que ela passe a noite.
— Vou. Termine seu chá. Te conto no caminho para casa.
Paola se ajeita no seu lugar e recolhe as pernas. Vejo
decepção atravessar seus olhos, mas mantenho minha decisão. A
última coisa de que preciso é dessa mulher na minha cama,
dormindo comigo, acordando comigo. Vai ser demais para meu
coração que bate loucamente por ela, vai ser demais para minha
mente que não consegue se livrar dela. Ela não diz mais nada e
nem me olha. Paola termina o chá e vai se vestir. Eu faço o mesmo.
Cerca de quinze minutos depois, já estou na estrada, levando-a
embora.
— É minha ex-esposa.
Paola se vira para mim, mas eu continuo com a atenção na
estrada à frente.
— O quê?
— A mulher da fotografia. É minha ex-esposa.
Há um silêncio breve entre nós.
— Espera. Quando você foi casado?
Mordo o lado interno da bochecha e a olho rapidamente.
Compreendo sua surpresa. Pouquíssimas pessoas sabem sobre
isso. Filippo é uma delas e eu pedi que ele nunca mencionasse com
ninguém.
— Durante o período que estive fora da cidade. Aliás, eu
voltei exatamente porque me divorciei.
Paola fica quieta por alguns segundos, como se processando
a informação.
— Você foi embora com vinte anos e retornou com vinte e
dois — aponta. O questionamento e a dúvida implícitos estão ali.
Ainda assim, ela pergunta: — Quanto tempo ficou casado?
— Quatro meses. Meu relacionamento todo durou seis.
— Está brincando comigo, não está? Por que Filippo nunca
comentou nada disso comigo?
Suspiro e nego com a cabeça. É exatamente por esse motivo
que não gosto de falar dessa parte da minha vida. As pessoas ficam
desacreditadas e ao mencionar o motivo de ter me divorciado, me
tratam como se eu tivesse ganhado na loteria e ficado pobre em
dois meses. Viro em uma rua à esquerda e estaciono no meio-fio
em um local adequado. Tudo bem, se vou ter essa conversa com
ela, vai ser com calma.
— Não estou brincando. Eu realmente me casei com a
Débora com dois meses de namoro. E meu casamento durou só
quatro meses. Foi ela quem me deixou. O Filippo só soube quando
eu voltei para cá. Não contei nada na época porque eu queria
prepará-lo. Sabia que ele ia me azucrinar por eu ter me casado tão
rápido. Tinha planos de contar mais para frente.
Paola olha para mim como se não me reconhecesse.
— O que aconteceu?
— Eu a conheci na faculdade. Foi minha professora em um
dos meus semestres. — A mulher arregala os olhos e não contenho
um sorriso pequeno, divertindo-me com sua surpresa. — Só nos
envolvemos depois, Paola, quando ela não estava mais me dando
aulas e nem lecionava mais na mesma instituição que eu estudava.
Eu tinha acabado de completar vinte e dois anos. Ela tinha trinta e
sete.
— Certo. — Ela assente, olhos atentos em mim.
Volto-me para frente e me apoio ao volante.
— Foi tudo muito rápido.
— Foi mesmo — concorda, com uma pitada de graça.
Rio por um instante e suspiro.
— Eu flertei com ela em uma vez que nos reencontramos, e
ela retribuiu. Saímos uma noite e começamos a namorar. Eu sabia
que Débora era uma mulher ocupada demais. Ela advogava e dava
aulas, mas eu não me importava. Pelo contrário, eu a apoiava em
cada decisão, comemorava cada conquista. Foi por isso que nos
divorciamos.
— Liam, explica logo — pede, impaciente.
— Quatro meses depois que nos casamos, ela recebeu um
convite para trabalhar na Europa. Porra, era uma oportunidade e
tanto, não concorda? — Olho para Paola, que confirma. — Débora
estava feliz demais porque era um salto na carreira que abriria
portas incríveis para ela. E eu estava feliz por ela, Paola. De
verdade.
Paola toca no meu braço e faz um afago gostoso em mim.
Até acho que é algum tipo de ato de consolo. Não importa. Eu gosto
e me sinto acolhido.
— Se ela ia embora, eu deveria ir junto. Mas não quis. Eu
ainda tinha uns dois semestres pela frente e sabia que ia demorar a
me adaptar na Europa. Eu não falo francês, você fala? — Paola dá
uma risadinha e nega. — Além disso, eu tinha meus próprios
projetos de carreira aqui. Débora não aceitou que eu ficasse. Tentou
me convencer a ir de todo jeito, mesmo eu garantindo que
poderíamos manter nosso casamento a distância. Ao menos por um
tempo. O contrato dela era de cinco anos, ou seja, depois disso, ela
poderia voltar. Eu não ia me arriscar depender de Débora em um
país estrangeiro. — Balanço a cabeça em negativa. — Não mesmo.
— Entendo seu ponto. Não foi mesmo uma decisão fácil para
você, foi?
— Eu a apoiei. Incondicionalmente. Em momento nenhum
tentei fazê-la ficar, não me opus, não reclamei. Se tivesse de
incentivá-la a escolher entre mim e a carreira, eu a faria escolher a
carreira. Sempre. Eu lhe dei opções para lidarmos com o casamento
a distância. Ela vinha ao Brasil quando pudesse, eu ia para França
quando pudesse.
— Liam… — Tenta dizer alguma coisa, mas não deixo.
— Isso deveria ser visto como um ato de amor, não deveria,
Paola? Amar tanto uma pessoa que se abre mão de estar perto dela
para que ela realize seus sonhos. — Suspiro e balanço a cabeça de
um lado a outro. — Débora não viu assim. Disse que não confiaria
em mim aqui, ela na Europa. Isso acabou comigo e ela pediu o
divórcio ao ver que eu não iria embora junto dela.
Paola não faz qualquer comentário e espero pelo seu
julgamento. Todo mundo julga. Fui idiota de ter perdido a chance de
morar na Europa; fui idiota de deixar uma mulher incrível como
Débora escapar por entre meus dedos. Ninguém nunca se
preocupou em perguntar como me senti quando ela partiu porque
logicamente se a deixei ir, eu não a amava o suficiente.
— Você entende — Paola diz, com cuidado — que teria
oportunidades melhores na Europa, não entende?
Assinto.
— Mas eu tinha planos aqui, Paola. Projetos, sonhos,
objetivos. Eu não exigi que Débora deixasse todas as suas
ambições pelo nosso relacionamento, mas ela não fez o mesmo por
mim. Em momento algum, quis que ela ficasse e abrisse mão da
sua carreira, mas ela queria que eu fizesse isso. — Solto uma risada
sem humor. — Se eu tivesse me oposto, discutido com ela porque
não queria que ela fosse, eu seria visto como um marido de merda
que não apoia a esposa nos seus sonhos. Mas a apoiei, incentivei.
Ainda assim, me disseram que eu não a amava o suficiente, ou eu
teria ido. Continuei sendo visto como um marido de merda.
Aperto o volante entre meus dedos e suspiro.
— Não sei se entende meu ponto de vista. Tudo bem se não
entender. As poucas pessoas que sabem sobre isso não me
entendem.
Ela move a cabeça de um lado a outro.
— Faz sentido o que me disse. Ninguém nunca julgou a sua
ex-esposa por ter ido, não é? Provavelmente dizem que teriam feito
o mesmo, que se escolhe a carreira, não um relacionamento que
pode acabar. Você fez o mesmo. Apoiou a carreira dela, escolheu a
sua. Mas por não ter uma ambição tão grande, por ter escolhido
crescer na sua profissão aqui…
— É isso aí.
Paola suspira e vem até mim, dando-me um abraço sem jeito.
Sua cabeça encosta no meu ombro e ela me faz um carinho gostoso
no dorso da minha mão no volante.
— Entendo seu lado. Sinto até orgulho, sabia? — Seus olhos
se erguem aos meus, um sorriso que confirma o que acabou de me
dizer estampado no seu rosto. — Poucas pessoas tomariam essa
atitude que você tomou. Não querer se mudar, mas também não se
opor e apoiar o parceiro. Tem razão, Liam. Foi um gesto de amor.
Um sentimento bom cresce dentro do meu peito. Significa
muito para mim que Paola compreenda meu lado nessa história. Em
um ato impetuoso, eu a puxo e a beijo. Ela se agarra à minha nuca,
toda entregue, e eu faço a única coisa que me pediu para não fazer.
Criar expectativas.

— Tenho duas opções para você — Filippo diz, ao se sentar


na mesa do restaurante em que eu o espero. Nós combinamos de
almoçarmos juntos e ele está atrasado. Como sempre. Antes de me
explicar melhor, chamo o garçom para finalmente fazermos nossos
pedidos. Só depois disso, ele vira a tela do seu celular para mim e
termina: — Vampiro gostoso ou roqueiro gostoso?
Espio a imagem que me mostra no telefone. Do lado
esquerdo da fotografia, um cara com calças de couro, uma capa,
presas e maquiagem vampiresca. A do lado direito, o mesmo
modelo veste calças e jaqueta de couro, completando o look com
óculos escuros.
— O que isso significa?
— Ei, me prometeu que sairíamos juntos no final de semana,
lembra? Um dos meus clientes ricaços fechou uma casa noturna e
vai dar uma festa à fantasia. Ele me convidou e posso levar dois
acompanhantes. — Ele aponta para mim. — Você vai.
Não é um convite. É uma ordem. Suspiro e avalio as opções
novamente, nenhuma delas agradando-me.
— Por que tenho que ir mostrando meus mamilos?
Filippo ergue o indicador, enumerando seus motivos.
— Um: você é gostoso e precisa se exibir, sim. — Ele ergue
um segundo dedo. — Dois: está precisando encontrar uma garota e
transar. E três: — outro dedo sobe — você vive pro trabalho, Liam.
Precisa se divertir um pouco. — Debruçando-se sobre a mesa,
recebo um sorriso cínico. — Aposto que está criando teia de aranha
dentro da sua cueca.
Uma risada baixa escapa de mim por causa da sua idiotice e
porque se ele soubesse…
— Você ficaria surpreso se soubesse o quanto trepei essa
semana.
Ele arregala os olhos e se recosta na cadeira.
— Sério? Quem é a azarada que teve de fazer sexo com
você por dois minutos?
Amasso um guardanapo e jogo nele. Filippo gargalha,
chamando atenção de todo mundo, e, nesse instante, eu me sinto
culpado por não contar para ele que a “azarada” é Paola. Eu fiz uma
promessa, dez anos atrás, e a quebrei sem nem pensar duas vezes.
Faço uma nota mental para conversar com ela. Não quero esconder
do meu melhor amigo que estou dormindo com a irmã dele. Ele não
vai ficar contente com nosso envolvimento, nem com nossa
omissão, mas continuar omitindo vai apenas agravar nossa
situação. Uma hora ou outra, Lipo vai saber e é melhor que não
descubra da pior maneira possível.
— Então, vampiro ou roqueiro gostoso? — insiste, batendo o
dedo na tela do telefone.
Suspiro e reviro os olhos.
— Por que não posso ir fantasiado de advogado?
Filippo faz cara de assustado, como se eu tivesse xingado a
mãe dele.
— Me apareça de terno e gravata e eu mesmo te expulso da
festa na base da bicuda.
Sorrio um pouco e, sem opções, declaro:
— Roqueiro gostoso.
Ele parece satisfeito e guarda o telefone no bolso.
— Ótimo. Agora só preciso convencer a Paola a trocar a
fantasia dela por uma de freira.
Ergo os olhos a essa menção, um pouco surpreso.
— Paola também vai?
Filippo assente, os olhos distraídos para algum ponto do
outro lado do restaurante.
— Ela é outra que precisa se divertir. Sei que não está mais
necessariamente chorando pelos cantos por causa do imbecil do
Bruno, mas um pouco de diversão não mata ninguém, certo? —
Nesse momento, ele me olha. — Você que está cuidando do
divórcio deles, não é? — Filippo muda de assunto rapidamente, mas
ainda estou processando a questão dos trajes dela.
— Qual o problema com a fantasia da Paola?
Filippo joga a cabeça para trás e solta um suspiro
exasperado.
— É muito indecente. — Ele ri sem humor algum. — Eu não
sei onde ela estava com a cabeça quando escolheu uma fantasia de
coelhinha. Com pompom na bunda e tudo mais.
Eu quero impedir meu cérebro de imaginar Paola dentro de
uma fantasia indecente de coelhinha, mas as sinapses que
controlam esse meu órgão são mais rápidas e então é tarde demais.
Meu pau ganha vida com um impulso forte e demoro um instante
para ficar incomodado com o espaço dentro das minhas calças que
de repente ficou pequeno demais. Disfarço um pouco e o ajeito
melhor, espantando da minha cabeça aquela mulher em trajes
indecorosos. Sem que eu perceba, estou mais animado do que
deveria para essa maldita festa.
— Está procurando alguém? — Filippo grita sobre a
música alta.
Afasto-me um pouco dele porque o garoto chegou bem no pé
do meu ouvido. A minha masculinidade não é frágil, mas meus
tímpanos, sim. Entendi muito bem o que me perguntou, mas me
faço de bobo para ganhar tempo e uma resposta convincente.
— O quê? — Eu me ajeito no sofá em que estamos na área
vip da casa noturna e tomo mais um gole da minha bebida alcóolica
que eu não faço ideia do que seja. Foi Filippo que me trouxe e se
negou a me contar o conteúdo no copo. Tudo o que sei é que é forte
e colorida.
— Parece que está procurando alguém.
E estou. Sua irmã dentro da maldita fantasia de coelhinha
com pompom na bunda e tudo mais. Penso em dizer isso, mas ao
invés, movo a cabeça de um lado a outro em um gesto em negativo.
— Só estou observando a festa — respondo, também
gritando. É por isso que odeio esses lugares.
Volto a observar a casa noturna lotada de pessoas
fantasiadas de todo tipo — fantasias comportadas, esquisitas, sexy,
patéticas — e continuo procurando-a por entre as pessoas. Pensei
que ela viria conosco, mas só quando estávamos a caminho que
Filippo contou que ela viria mais tarde por qualquer motivo sem
explicação. Tenho por mim que Paola está me atiçando, criando
algum suspense.
— Viu alguém interessante? — Filippo pergunta, malicioso.
— Posso te ajudar.
Olho para ele, meio incrédulo. Nunca precisei de Filippo para
conseguir uma mulher, não vai ser agora que vou precisar. Ele está
sendo completamente sarcástico e só noto isso quando suas íris
claras brilham em peraltice.
— Ninguém interessante.
— Tem uma morena fantasiada de freira bem ali — comenta
despretensiosamente e entorna uma dose da sua bebida vermelho-
gritante, indicando a garota com a cabeça. Viro na direção
mencionada e a encontro com facilidade. É um traje pouco
comportado. Um religioso diria que é heresia.
— Ah, era essa a fantasia de freira que você queria que
Paola usasse? — A implicação o faz rir e me empurrar com os
ombros.
— E então, gostou dela? — insiste.
— Te disse que estou saindo com alguém, Filippo.
Ele assente, um olhar criterioso sobre mim.
— É exclusivo? — indaga ao apoiar seu copo de bebida na
mesa à nossa frente.
Abro e fecho a boca um par de vezes, sem saber o que
responder. Paola e eu estamos apenas transando tem quase duas
semanas e nunca falamos sobre essa relação estranha. Eu não sei
se ela saiu com outros caras nesse meio-tempo, mas eu
definitivamente não saí com outras mulheres. Não tenho interesse
de sair com outras mulheres enquanto estiver com ela, seja da
forma que for.
— Não sei — respondo sinceramente. — Não conversamos
sobre isso ainda.
— Se não é exclusivo, você não deve nada a ela.
Queria que essa fosse a questão, mas não é. Eu gosto de
Paola o bastante para não querer me divertir com outra garota. Não
importa se nossa relação não é exclusiva, não importa que seja só
sexo casual, não importa nem mesmo que não tenha uma
nomenclatura para o que estamos fazendo.
— Nós não conversamos sobre isso ainda — repito. — E não
vou correr o risco de magoá-la por causa de uma mulher aleatória.
Sei manter meu pau dentro das calças.
Ele ergue as mãos em rendição.
— Quer saber, você está certo. Se vocês ainda não falaram
sobre isso, é melhor mesmo evitar choro e dor de cabeça.
Abano a cabeça em positivo e torno a olhar para o local cheio
de gente. E então, eu a vejo. Minha respiração para imediatamente
e sinto aquele pulsar violento dentro da cueca. Maldita Paola.
Maldita fantasia de coelhinha. Não existe a mínima chance de eu
manter minhas mãos longe dela essa noite.
Ela caminha por entre a multidão, os olhos virando de um
lado a outro como se a procura de alguém. Entre os dedos, carrega
um copinho de shot. Todo mundo sabe que gosto da Paola, mas eu
sou discreto quanto aos olhares que jogo para ela quando estamos
no mesmo ambiente. Não agora. Agora, eu não me importo que seu
irmão esteja literalmente do meu lado e a como com os olhos
porque… Porra, ela está bonita demais. Gostosa demais. É
impossível não olhar para ela.
Os cabelos loiros estão ondulados e caem por cima dos seus
ombros. Na cabeça, carrega um par de orelhas de coelho. A
maquiagem é pesada e imita a face do animalzinho da sua fantasia.
Desço os olhos pelo seu corpo e constato o que Filippo me disse
dois dias atrás: é indecente. Malditamente indecente. Ela usa um
body preto que aperta os seios e os deixa mais levantados, um par
de meias sete-oitavos preta e uma saia de tule que bate mais ou
menos no meio das suas coxas.
Um sorriso ilumina seu rosto ao nos ver. Sobre os saltos
meia-pata, ela vem até nós, sorridente como garotinha em noite de
Natal. Filippo resmunga algo ao meu lado, mas estou preso demais
no monumento de mulher que se aproxima de mim que não dou
muita atenção.
— Desculpa a demora — ela grita, fazendo Filippo abrir
espaço para que ela possa se sentar entre nós dois. — Tive uma
paciente de última hora. Emergência, sabe? E depois apanhei para
fazer a maquiagem. — Paola se vira para mim, sorri e deixa um
beijo no meu rosto. Sua mão na minha coxa e um olhar nada
inocente é todo o seu sinal de que sabe que está gostosa pra
caralho e eu estou simplesmente… arrebatado. — Como você está,
Liam?
Seus olhos descem pelo meu corpo e ela ignora o irmão que
pergunta se não vai cumprimentá-lo também. Sua inspeção causa
algum efeito em mim e fico feliz que meus trajes — a maldita calça
de couro, coturnos e só uma jaqueta preta — atraiam sua atenção.
— Odiando essa maldita festa — digo, rabugento. Ela ri e
passa a mão no meu tórax despido de uma forma provocante. O
contato dura dois segundos porque ela sabe que não podemos dar
bandeira perto de Filippo.
Paola vira o shot de uma única vez e larga o copo em cima
da mesa. Então, em um segundo, está em pé e me puxando pelos
punhos, mas eu me mantenho no meu lugar.
— Ótimo. Você vai dançar comigo.
— Paola, estou aqui, você viu? — Filippo protesta. Ela revira
os olhos e se volta para o irmão.
— Oi, Filippo. Posso tirar seu amigo para dançar ou você
quer ficar agarrado nesse abdômen gostoso que ele tem?
Filippo mostra o dedo do meio para ela e resmunga que vai
procurar uma garota para dar uns amassos. Não sem antes se
curvar sobre meu ouvido e murmurar:
— Acho melhor manter suas mãos bem comportadas sobre
minha irmã, Liam, ou eu vou cortar suas bolas fora.
Sua ameaça não me intimida, Paola ri da cara dele e ele sai
pisando firme. Então, sou puxado mais uma vez.
— Você vem, Liam?
Garota, eu iria até o inferno se você me pedisse.
Eu não crio mais resistência e a acompanho. Ela me leva até
o centro da pista e joga seus braços em torno da minha nuca. Um
sorriso gostoso, os olhos brilhantes. Minhas mãos agarram sua
cintura e as mantenho comportadas porque Filippo é dos que
cumpre sua palavra.
— Você está uma delícia, Liam — murmura.
— E você está gostosa.
Ela morde o lábio inferior.
— Eu sei. Pensei em você quando escolhi essa fantasia.
Seguro a respiração e a encaro por longos segundos. Nós
dois destoamos de todo o resto da boate porque não estamos
dançando conforme a música animada. Eu não me importo com
isso. Paola não se importa com isso. A gente só quer ter a
oportunidade de tocar um ao outro. Para nossa sorte, a batida
eletrônica acaba e dá lugar a uma melodia mais romântica. Os
casais ao nosso redor se juntam e não somos mais os únicos
agarrados.
— Somos exclusivos, Paola? — pergunto.
Ela pisca duas vezes.
— Exclusivos?
— Nós dois. — Molho os lábios e a giro sob meus braços.
Quando está de volta, explico melhor: — Antes de você chegar,
Filippo tentou me jogar para cima de uma garota qualquer. Eu não
quis e disse a ele que estou saindo com alguém.
Ela fica assustada e sei que está interpretando tudo errado.
Paola até tenta dizer alguma coisa, mas eu não deixo. Pressiono
dois dedos em seus lábios.
— Ele perguntou se era exclusivo, e eu não soube responder.
De qualquer maneira — sou eu quem giro sob o braço dela agora,
precisando me abaixar um pouco para isso —, não quero estar com
outra garota. Mesmo se quisesse, eu conversaria com você antes
porque não quero te magoar.
Paola desvia os olhos de mim e morde o lábio inferior. Ela
fica em silêncio por segundos que acho longos demais, mas
respeito seu momento. Talvez esteja digerindo a informação, talvez
não saiba como reagir. Talvez esteja ponderando que estamos indo
longe demais com essa nossa relação. Era para ser apenas casual,
era para ser só uma noite de sexo, e aqui estou eu, perguntando se
somos exclusivos, admitindo que ela é o bastante para mim e que
não desejo machucá-la.
Deus, acho que fodi com tudo.
— Paola — chamo-a para mim e ela me olha no mesmo
instante. — Está tudo bem se me disser que quer parar, ou que
estou exigindo demais dessa relação. — Engulo em seco, sentindo
uma pontada estranha no coração ao dizer essas palavras. — Você
deixou claro que é casual, mas nunca me disse se éramos
exclusivos.
— Você se importaria se eu quisesse sair com outro cara? —
inspeciona.
Meu peito se comprime de um jeito insano. Eu me importaria.
Deus, como me importaria.
— Me importaria, sim — sou sincero. — Só que não posso
exigir nada de você porque é casual. Sempre soube disso e não vou
me portar como um menino mimado.
Ela sorri um pouquinho.
— Você também basta para mim, Liam. Não preciso de outra
pessoa. Só que eu… não quero uma relação agora. Mal tem duas
semanas que saí de uma. — Assinto, entendendo seu ponto. —
Podemos apenas nos divertir?
Suspiro e aperto mais sua cintura entre meus dedos. Olho ao
redor, à procura de Filippo. Não o encontro nos dez segundos que o
procuro e arrisco enfiar minha mão por dentro da saia de Paola,
alcançando sua bunda. Brinco com a borda do body na curva da sua
nádega e encaro seus olhos verdes.
— Podemos ser exclusivos e nos divertir? — pergunto de
volta. — Não gosto da ideia de te dividir com outro homem, Paola.
— Ela está para dizer alguma coisa, mas a interrompo: — Tudo bem
se me disser não. Mas se for assim, pelo meu próprio bem, eu
prefiro parar.
— Eu disse que ter você é suficiente. — Paola alcança meus
lábios e eu arregalo os olhos, surpreso pelo ato em público. Ela se
afasta rapidamente e me dá um sorriso peralta. Avalio o nosso
entorno e fico aliviado que Filippo não esteja por perto. — Mas
vamos deixar combinado, Liam, que se surgir qualquer pessoa, para
qualquer um de nós…
Concordo antes mesmo que termine, selando nosso acordo.
A música romântica acaba e uma mais sensual e animada começa.
E é todo meu inferno porque Paola me provoca. Ela roça sua virilha
na minha, seus seios em mim. Ela se vira de costas e desce até o
chão. Quando sobe, tem a audácia de roçar sua bunda gostosa no
meu pau. Agarro sua cintura com as duas mãos e a ajudo no
movimento, ignorando que Filippo possa nos ver, ignorando que é
quase um atentado ao pudor o modo como ela esfrega a bunda em
mim. Eu a trago na minha direção, suas costas batendo no meu
peito, nossos corpos se mexendo no compasso da música. Paola
joga os braços por trás do meu pescoço e sorri, depravada.
Mordisco a pontinha da sua orelha e murmuro:
— Essa sua fantasia me deixa com vontade de enterrar
minhas bolas em você.
Ela suspira, trêmula, e se vira para mim.
— Eu tenho uma proposta, Liam — diz, voz luxuriosa, olhar
devasso. Ela escorrega o indicador pela minha pele de um modo
que faz meu pau ganhar ainda mais vida. — Realize uma fantasia
sexual minha, e eu realizo uma sua. Qualquer uma.
— Qualquer uma?
— Qualquer uma — concorda.
Assinto devagar.
— Casar e ter filhos comigo, o que acha? — Ela gargalha e
eu abro um sorriso divertido junto. Em partes é uma piada, em
partes tem alguma sinceridade. — Que tipo de fantasia?
Paola me olha sério, nossos corpos ainda se remexendo ao
som da música eletrônica.
— Sexo em público. — Entreabro os lábios, querendo dizer
algo, mas ela continua: — Nada explícito, é claro. Algo como você
me arrastar para o banheiro feminino dessa boate e me comer lá.
Me comer em uma das cabines enquanto outras garotas usam o
banheiro. Ou irmos para um dos corredores escuros. Ou
disfarçadamente você me comer naquele sofá. — Ela aponta a
cabeça para onde estávamos.
Eu não sabia que queria essa fantasia sexual até Paola me
pedir. A ideia de fodê-la nessas condições faz meu pau pulsar
dentro da cueca e, quando percebo, estou respirando com
dificuldade por causa do tesão que me corta de ponta a ponta.
— Você quer isso agora? Não tenho camisinha aqui.
Ela dá um sorriso travesso e enfia a mão no vão dos seios,
tirando um pacotinho de preservativo.
— Coloca quando for gozar porque quero te sentir sem
nenhuma barreira, como no outro dia no seu escritório. Pode ser?
Eu mal concordo com um movimento de cabeça e Paola
começa a me arrastar em direção aos banheiros. Ela me deixa no
lado de fora enquanto vai conferir se o lugar está vazio. Só tem
umas duas garotas na porta, mas não sei se estão esperando para
entrar. Paola ressurge um instante depois e me puxa pelos punhos.
As meninas soltam uma risadinha ao perceberem o que vamos
fazer. Sou empurrado para dentro de uma das cabines, a porta se
fecha, a tranca é ativada, e cochichos preenchem o banheiro.
Discrição não existe no vocabulário de Paola e, consequentemente,
deixa de existir no meu.
— Paola, tem outras mulheres usando o banheiro.
— Eu não sou cega, Liam — diz, esbaforida, enquanto tenta
abrir minha calça. — Está tudo bem. Não se preocupe.
— Não preciso de um processo por atentado ao pudor.
Paola ri.
— Elas não vão fazer nada. Garanti isso, não se preocupa —
acalenta, tirando meu pau para fora. Paola me masturba um pouco,
as íris verdes em mim. Fecho os olhos e ignoro o fato de que ela
contou para aquelas garotas o que faremos aqui porque seu toque
em mim deixa minha mente nublada para qualquer outra coisa.
Ela me masturba por trinta segundos antes de se virar de
costas e erguer a saia.
— Me ajuda com o body — pede, uma nota de desespero na
sua voz.
Esfrego meu pau na sua bunda e sorrio um pouco.
— Você está doida para que eu te coma, não é?
Ela suspira pesadamente e leva a mão até os botões na
vestimenta entre suas pernas.
— Estou subindo pelas paredes. Por favor, Liam… Só tira
abre a droga desse body e me fode.
No próximo segundo, a peça está aberta, um dos seus pés
está sobre a tampa do vaso e eu estou deslizando para dentro dela.
Paola geme gostoso quando eu a preencho por inteira, indo o mais
fundo que consigo. Meus dedos apertam sua cintura, afundando na
pele macia, e eu soco nela rápido e com força, completamente
motivado pela sua umidade e calor em torno do meu membro. É
meu inferno na Terra senti-la sem qualquer barreira, é meu inferno
na Terra essa saia de tule em torno da sua cintura, é meu inferno na
Terra as meias sete-oitavos, os saltos, o modo como ela geme sem
qualquer pudor, em como seus gemidos se misturam aos meus e ao
som das nossas peles se chocando.
Ela se inclina mais, empinando a bunda na minha direção,
ambas as mãos apoiadas na parede logo à frente. Eu junto seus
cabelos loiros e os puxo para trás ao mesmo tempo em que
impulsiono meu quadril contra sua bunda um pouco mais forte que
antes. A estocada pega um ponto fundo nela, e Paola grita. Sinto
sua boceta ficar ainda mais úmida e escorregadia e sei que ela está
gozando.
Levo meu indicador até seu clitóris e o estimulo, o que faz
com que seu corpo trema por inteiro. Agarrado nela e ligeiramente
sobre suas costas, sussurro:
— Gozou gostoso no meu pau, Paola? — Belisco seu feixe
de nervos e ela suspira, perdendo a firmeza das pernas. Eu a
amparo, fazendo-a voltar a sua posição inicial e massageio seu
ponto sensível.
— Continua, Liam! Não para!
Eu forço um pouco mais sua coluna para baixo e aumento o
ritmo das minhas estocadas. Vou para dentro dela alucinadamente,
sentindo o orgasmo subir pelas minhas bolas, e afundo o dedo na
carne da sua bunda para aguentar a vontade de gozar dentro dela.
Quase perco todo meu autocontrole quando ela anuncia que está
gozando. Gozando de novo. Eu a puxo para mim ao notar que está
cansada e sem forças. Tomo sua boca em um beijo calmo e aprecio
o calor das suas costas no meu peito enquanto Paola ofega nos
meus lábios e rebola devagar em mim. Alguém entra na cabine ao
lado e ela ri baixinho logo depois de um sorriso travesso e uma
mordida no meu lábio inferior.
— Sua vez — murmura, esticando-me a camisinha.
Eu me revisto e ela empina a bunda para mim de novo. Olho
toda a imagem erótica à minha frente mais uma vez antes de
penetrá-la. Começo devagar, retomando meu ritmo aos poucos. Ela
me ajuda a chegar lá rebolando em mim e me incentivando com
palavras sussurradas. Eu não aguento mais e ela murmura:
— Gozei gostoso no seu pau, Liam. Goza gostoso na minha
boceta agora.
Cravando meus dedos na sua lombar, dou mais duas
estocadas e gozo com um gemido rouco e alucinante. Fico mais
alguns segundos dentro dela, recuperando meu fôlego. Descarto a
camisinha e nós nos limpamos com o papel higiênico. Ajudo-a a
recolocar o body e a arrumar os cabelos.
— Será que Filippo vai desconfiar? — pergunta, quando já
estamos voltando para a pista de dança. — Nós sumimos ao
mesmo tempo.
Aperto sua mão na minha, incomodado com nosso segredo.
Faço uma nota mental de que precisamos conversar sobre isso.
— É capaz de ele próprio estar em algum canto comendo
alguém.
Ela ri e concorda.
Voltamos para nossos lugares e Paola chama o garçom,
pedindo duas cervejas. Assim que ele se afasta, ela se vira para
mim e sorri:
— Podemos fazer isso de novo, não podemos? Na próxima
vez, nesse sofá. — Sua boca se aproxima perigosamente da minha
orelha. — Tenho uma saia um pouco mais longa. Perfeita para eu
sentar em você sem que as pessoas notem.
Inspiro devagar para controlar meus batimentos cardíacos.
— Eu faria isso mais mil vezes se você quisesse.
Não vejo, mas sei que está sorrindo contra minha pele do
pescoço, o nariz a um centímetro de mim, subindo e descendo
como se inalando meu cheiro.
— Estou ansiosa por isso e para saber da sua fantasia.
Ela se afasta e me olha, curiosa. Coloco um sorriso de lado e
limpo um pouco do seu batom borrado com o polegar.
— No momento certo, você vai saber.
O garçom traz nossas cervejas e nos salva de um flagra
comprometedor que Filippo teria presenciado se nós não
tivéssemos nos afastado para receber as bebidas. Ele cai sentado
ao lado de Paola e joga a cabeça para trás.
— Onde você estava? — a irmã pergunta.
Filippo ri e faz um movimento para cima e para baixo com os
quadris. Paola gargalha e dá um murro no ombro dele. Balanço a
cabeça em negativo e bebo um gole da minha cerveja, meu coração
aflito por estar mentindo para meu melhor amigo tão
descaradamente.
Paola aperta a borda da pia da cozinha e empina um pouco
mais o traseiro para mim. Meus dedos afundam na carne do seu
quadril e eu aperto os olhos, concentrado no orgasmo que começa a
se formar. Não é difícil chegar lá. Não com ela. Não quando essa
mulher está de cinta-liga, calcinha fio-dental de lado, saltos e
usando uma das minhas camisas. Não quando está gemendo
gostoso.
Excitante demais.
Leva só mais um minuto até eu me desfazer dentro dela com
um estocada funda. Agarro seu corpo quente e apoio o rosto nas
suas costas, recuperando o fôlego conforme diminuo meu ritmo.
Abro um sorriso largo — tão raro em se tratando de mim —
contaminado por uma sensação de bem-estar e felicidade.
Louvada seja a endorfina.
Descarto a camisinha e nos limpamos. Eu visto uma calça,
Paola troca a calcinha e coloca uma das minhas cuecas. E então
voltamos para a cozinha continuar o que começamos antes de
cedermos aos nossos desejos.
Ela está inclinada sobre o balcão no centro do ambiente, os
olhos atentos na receita que pula da tela do computador, enquanto
eu sirvo duas taças de vinho. Paola sorri e eu lhe entrego a bebida e
deixa um beijo rápido nos meus lábios, agradecendo em seguida.
Tomo um gole do meu vinho e me inclino sobre a superfície junto a
ela.
— Foi justamente essa posição sua que tirou nosso foco,
para começo de conversa — comento e faço um carinho suave na
sua bunda.
Ela ri de uma forma deliciosa e me empurra com os ombros.
— Vamos nos concentrar no jantar, Liam, ou teremos que
pedir hambúrguer. Você não quer um jantar romântico com
hambúrguer, quer?
Abano a cabeça em negativo. Eu planejei o momento e quero
que seja perfeito. Deveria estar tudo pronto quando ela chegasse. A
comida, a mesa, o vinho. Mas preferi que estivesse aqui para
cozinhar com ela. Temos passado muito tempo juntos, a maior parte
à noite, depois que chego do escritório. A maior parte estou dentro
dela. Não estou reclamando porque amo estar dentro dessa mulher,
amo o sexo obsceno, insano e delicioso que fazemos. Mas essa
semana, de repente, depois de praticamente um mês que estamos
fazendo sexo sem compromisso, eu senti que precisávamos de algo
que fugisse do roteiro “Paola e Liam trepam loucamente”. Desejei
um jantar romântico, beijos despretensiosos no sofá com uma
comédia romântica rodando na televisão sem que estejamos de fato
assistindo. Desejei taças de vinhos, sorrisos bêbados e segredos
confidenciados. Então, aqui estamos.
— Decidiu o que fazer? — pergunto, passando os olhos na
receita aberta. — Torta de frango? Eu gosto da ideia.
Ela assente com um sorriso, os lábios contra a borda da taça.
— Torta de frango, então — determina. Ela rola a tela e lê as
instruções de preparo. — Você prepara o recheio e eu sovo a
massa.
Pego todos os ingredientes que precisamos e distribuo tudo
na bancada central. Começo picando a cebola para refogar a carne,
e Paola se prepara para sovar. Quando a massa está descansando
na geladeira e o peito de frango está na pressão, limpamos a pouca
bagunça que ficou. Ao estar tudo organizado, eu a ponho sentada
sobre a ilha e me encaixo entre suas pernas. Coloco uma mecha do
cabelo atrás da sua orelha, ela sorri e bebe um gole do seu vinho.
— Como foi seu dia no escritório? — pergunta e apoia a taça
ao seu lado.
Paola joga seus braços em torno do meu pescoço, me beija
rapidamente e me olha com atenção, interessada na minha
resposta. Faço carinho na sua cintura notando que é a primeira vez
que ela me faz essa pergunta desde que começamos a transar.
Sempre fizemos muito sexo, mas também sempre conversamos. Só
nunca nos importamos em perguntar “ei, como foi seu dia?”. Nunca
foi preciso na verdade porque Paola sempre começava a tagarelar
sobre um paciente qualquer sem que eu pedisse. Quando eu dava
por mim, estava contando sobre meu dia para ela também.
— Doido e cansativo como é na maioria das vezes. Todo
santo dia saio daquela firma com o desejo de esfaquear alguém. —
Paola ri e encosta a testa no meu ombro, o corpo tremendo pela
risada exagerada. Não sei qual foi a graça porque meu intuito no
que disse não foi soar engraçado. Não importa. Eu amo ouvir o som
da sua risada e amo saber que sou o motivo por trás do seu sorriso.
— De manhã, eu lidei com um casal em divórcio amigável. Sem
dramas para dividir os bens ou a guarda do único filho; então estou
representando os dois. Depois, tive de aturar um pai que estava em
busca de revisão de pensão.
Paola ergue os olhos para mim e faz um carinho gostoso
atrás da minha orelha.
— Ele tirou sua paciência, né? — supõe.
Assinto.
— Não peguei o caso e ainda notifiquei a ex-mulher dele,
afirmando que se precisasse de um bom advogado para conseguir
aumento na pensão se ele entrar com a revisão, eu estou à
disposição para advogar a favor dela. — Ela ri um pouquinho e me
olha de um jeito diferente. Parece orgulhosa da minha atitude. —
Um dos sócios da firma ficou puto da vida comigo porque o cliente
tem dinheiro. Muito dinheiro. — Dou de ombros e pego a taça dela
para beber um pouco do seu vinho. — Eu batalhei muito para ter
algum poder de decisão dentro daquela firma. Não vou me deixar
abalar por um idiota ambicioso. Eu advogo por um motivo, Paola, e
não é para ajudar gente babaca.
Outro carinho gostoso atrás da minha orelha, outro olhar de
orgulho.
— E o que mais? — incentiva.
— Fiquei a tarde toda preso com uma tia que quer a guarda
da sobrinha. A mãe deixou a criança com ela cinco anos atrás,
sumiu no mundo e agora reapareceu querendo criar a filha. —
Suspiro e dedilho sua lombar, desviando os olhos rapidamente. —
Tia e sobrinha ficaram muito apegadas, e a menina até a chama de
mãe. É uma causa social, então vai sair tudo do meu bolso.
— Você tem de lidar com cada coisa naquela firma que…
Meu telefone toca nesse momento, interrompendo o que
Paola estava dizendo. Deixo-a sobre a bancada e atendo à
chamada.
— Doutor Azevedo? — É o porteiro do outro lado da linha. —
Estou ligando para avisar que o seu Filippo está subindo.
Sinto minha espinha congelar na mesma hora. Meu melhor
amigo é uma das poucas pessoas que têm acesso autorizado ao
meu apartamento e, como protocolo do condomínio, a portaria
apenas me notifica da presença dele, sem necessidade de confirmar
previamente se a subida dele está mesmo liberada.
— Obrigado, seu Cícero.
— O que foi? — Paola pergunta assim que boto o telefone no
gancho.
— Seu irmão está subindo.
Ela dá um salto do balcão, assustada, e sua atitude me
desagrada sobremaneira. Sua reação seria completamente
compreensível se fosse o marido devotado vindo para meu
apartamento. Mas é só o irmão dela.
— Filippo não pode me ver aqui.
Ela faz menção de sair correndo da cozinha, mas seguro
seus punhos e a impeço.
— Por que você não quer que ele saiba que estamos juntos,
Paola?
— Não estamos juntos, Liam — rebate de um jeito ácido
demais.
Eu a solto nesse instante e dou um passo atrás, não
conseguindo esconder que o que me disse não me atingiu. Paola
nota que me magoou e dá um passo na minha direção.
— Liam, não foi o que eu quis dizer — explica, com cautela e
uma pitada de arrependimento.
— Não tem motivo para não contarmos para ele —
argumento enquanto tento ignorar a dor que assalta meu coração.
Não estamos juntos. — Aceitei no começo, Paola…
— Liam.
— … porque você me disse que era só aquela noite. Mas já
tem um mês que estamos trepando. Entendo que o Bruno não pode
saber…
— Me ouve, Liam.
— … por motivos óbvios e de conflito de interesses, mas não
acho justo ficar me escondendo do seu irmão como se nós
tivéssemos quinze anos. Eu entendo que…
De repente sua mão está na minha boca e seus olhos estão
nos meus, arregalados, implorando para eu ficar quieto. Só então
noto que me distanciei demais do ponto onde estávamos e disse
palavra por palavra cabisbaixo, sem coragem de olhá-la.
— Você está certo. Coberto de razão — murmura, a voz
calma. — Não tem motivos para não contarmos para o Filippo sobre
estarmos… juntos. — Fico atento nela, retido no que está me
dizendo. — Por que mesmo ainda não contamos para ele, Liam?
Balanço a cabeça em negativo, sem uma resposta adequada.
Na festa à fantasia, pouco mais de duas semanas antes, eu até fiz
uma nota mental de falar com Paola sobre isso, mas não falei
porque sempre que a vi, nas vezes seguintes, minha boca ia direto
para a sua ou para a sua boceta e eu me ocupava inteiramente com
ela, louco de saudade, querendo apenas aplacar meus desejos e a
falta que eu senti. Porque algumas vezes, ela só vinha, transava
comigo e logo ia embora, não dando muito espaço para
conversarmos direito sobre qualquer coisa. Não estou reclamando
de nos vermos só para transar, até porque acho que sou muito
melhor com Paola quando estou dentro dela e foi esse o combinado,
mas em nossa comunicação, nos momentos em que tínhamos
oportunidade de conversarmos, acabávamos por criar uma bolha
em que o tópico “contar para o Filippo que estamos trepando” não
entrava em pauta.
— Estávamos ocupados demais transando, Paola —
respondo e tem alguma severidade na minha voz. — Mas era só
mandar a droga de uma mensagem, fazer a droga de uma ligação.
“Filippo, estou dormindo com seu melhor amigo. Você não tem nada
a ver com isso e eu sou uma mulher adulta e livre para sair com
quem eu bem entender, então sem surtos”.
Não gosto de como estou sendo grosseiro com Paola, mas
também não consigo evitar. Estou me sentindo magoado com essa
situação e não vou esconder minhas emoções dessa vez. Não vou.
— Liam, eu sei — Paola diz e aperta seus dedos nos meus.
— Mas não é justo com Filippo que ele saiba dando um flagra em
nós dois. Que ele só saiba porque veio te ver e me encontrou aqui,
seminua na sua cozinha. Sabe que ele vai se sentir traído. Por favor,
nos dê uma chance de contarmos para ele, nós dois juntos, com
calma.
Sou pego pelo seu argumento e fecho os olhos, odiando ter
que concordar com ela. Paola está certa. Agora não é a melhor
maneira de Filippo saber.
— Paola, me promete que vamos contar o mais breve
possível, por favor? Eu detesto ter que esconder isso do meu
melhor amigo, eu detesto que você me esconda dele.
Ela move a cabeça em positivo.
— Vamos contar, Liam, eu prometo.
Paola beija meus lábios no instante que minha campainha
toca. Ela vai se esconder no meu quarto e vejo apenas o seu vulto
dobrando a esquina do corredor no exato momento em que Filippo
abre a porta, um minuto depois de se anunciar. Ele tem a senha da
fechadura e só toca a campainha para me avisar que está aqui e
evitar qualquer flagra, como por exemplo, me pegar batendo uma
punheta no sofá. Normalmente, aproveito o aviso para esconder
minhas garrafas de vinho ou barras de chocolate. O combinado
funciona como uma segurança para caso eu não tenha atendido a
portaria que me avisaria de sua presença.
— Acho que você esqueceu que tem um melhor amigo —
reclama, fechando a porta.
Reviro os olhos e cruzo os braços na frente do tórax nu.
— Eu te vi tem dois dias, Filippo.
Ele se vira para mim e ergue o indicador.
— Você foi me dar uma bronca tem dois dias, quer dizer.
— Veio até meu apartamento, pegou meu cachorro sem
autorização e o levou para passear só para cantar a ex-mulher de
um cliente meu. O que esperava que eu fizesse?
— Eu tentei roubar um dos meus sobrinhos — comenta,
estalando a língua no céu da boca. — Criança normalmente
funciona melhor que animais quando se trata de flertar. Quem não
ama um pai solo, não é? Mas o Mattia não deixou — diz, batendo o
pé como uma criança birrenta.
Solto uma risada baixa e ele gargalha. Filippo está abrindo a
boca para dizer alguma coisa, mas então, olha melhor ao redor,
como se só agora notando o ambiente. É quando eu reparo que o
vestido da Paola está jogado em cima da mesinha de centro, e a
bolsa dela está no meu sofá. Engulo em seco, amedrontado que ele
por acaso reconheça os pertences da irmã caçula.
— Está acompanhado?
— Estou. Te disse esses dias que estava saindo com alguém.
Ele arregala os olhos, surpreso.
— Não achei que fosse sério. — Filippo dá uma espiada por
cima do meu ombro e sei que seus olhos vão para a mesa de jantar
posta. — Pelo visto, é bem sério. Jantar romântico e tudo mais,
hein?
Ofereço apenas um sorriso forçado e troco o peso das
pernas.
— É bem sério — repete, como se refletindo. — Você nunca
traz as garotas com quem sai para cá. Nem mesmo cozinha para
elas. — Ele fareja o ar.
— Ela é especial, Filippo.
Meu melhor amigo me avalia por um instante.
— Você está apaixonado?
Engulo em seco. É difícil admitir isso em voz alta.
— Estou.
Ele assente devagar.
— Ela está apaixonada de volta?
Sinto meu coração partir nesse momento e me esforço para
não demonstrar que a pergunta — cuja resposta é não — não me
deixa abalado.
— Está, sim — minto para ele e para mim também, porque
talvez, desse modo, eu seja capaz de mascarar o sofrimento que o
fato de Paola não estar apaixonada por mim me causa.
Sem que eu espere, Filippo está me abraçando, animado, e
me dando tapinhas nas costas.
— Estou feliz por você, Liam. Sempre torci para que
encontrasse alguém que gostasse de você de volta. É bom ter
desencanado da Paola.
Eu disfarço um pouco e dou um passo atrás. Ele me olha,
suspira e diz:
— Não fica assim, Liam.
— Assim como?
— Pode conseguir esconder de outras pessoas a cara de
bunda que faz quando está incomodado com algo, mas eu sou seu
melhor amigo. Te conheço do avesso, Liam. Ficou chateado por eu
ter falado da minha irmã.
Balanço a cabeça em negativo e tento esconder tudo o que
estou sentindo com essa conversa.
— Não é isso. É que você diz como se a Paola não pudesse
ter sido capaz de gostar de mim de volta. Só saberíamos disso se
eu tivesse tido uma chance com ela. Chance que não tive porque
prometi pra você que não chegaria perto dela.
— Eu pedi pro bem de vocês, mesmo, Liam. Por que não
consegue entender isso? Aliás, nem adianta discutimos por isso
agora. Você já a esqueceu e está com uma garota nova. Vamos
mesmo criar conflito?
Aperto o maxilar com força e expando as narinas querendo
desentalar tudo o que tenho na garganta sobre esse assunto. Por
um lado, eu entendo os motivos dele e por muito tempo, até
concordei. Paola e eu somos incompatíveis em muitas coisas fora
da cama, mas no último mês, descobri que nós nos completamos
nas nossas diferenças.
— Tem razão — concordo a contragosto.
Ele sorri e me dá outro abraço.
— Eu posso conhecê-la? — pede, olhando por cima do meu
ombro, procurando-a.
Eu nem tenho tempo direito de encontrar um “não”
convincente para ele. Filippo já está se esgueirando apartamento
adentro chamando por “Ei, garota do Liam, venha aqui que quero te
conhecer”. Eu o alcanço nos corredores dos quartos e barro seu
progresso.
— Cara, não é o melhor momento.
— Por que não? Quero conhecer essa garota e saber quais
as intenções dela com meu melhor amigo.
Sorrio de lado — meu modo de demonstrar que achei
engraçado o que disse — e me recomponho em seguida.
— Ela é tímida — improviso uma justificativa. — E está
seminua porque nós acabamos de transar. Vamos deixar para outra
hora, pode ser?
Filippo suspira e concorda.
— Pode passar dois recados para ela em meu nome? —
Assinto, um pouco curioso. — Primeiro: diga que se ela te magoar,
eu serei obrigado a chutar a bunda dela daqui até a China. — É uma
gracinha, mas ao invés de achar engraçado, eu fico tocado pela sua
preocupação. Filippo me ama de verdade e eu o amo em igualdade.
— Segundo: se você a magoar, eu tenho um ombro amigo. Um pau
amigo também.
Empurro-o fortemente e rio um pouco.
— Sai daqui, Filippo!
— Eu vim na esperança de te convencer para algum
programa de sexta à noite. — Filippo gira nos calcanhares e começa
a sair. — Mas vou te deixar com a sua garota. — Ele inspeciona o
vestido e a bolsa na sala mais um pouco. Volta-se para mim. — Eu
quero você no próximo final de semana todo para mim. Só nós dois
dessa vez.
— Por favor, nada de lugares cheio de gente.
Ele ri e dá de ombros.
— Claro, vou realizar esse seu desejo, sim. Confia.
Balanço a cabeça em negativo e o acompanho até a porta.
Assim que ele se vai, Paola reaparece a passos vagarosos. Ela
puxa a barra da minha camisa e morde o lábio inferior. Estranho sua
postura e vou ao seu encontro.
— Ele já foi?
— Uhum. Você está legal?
Paola me encara por alguns segundos, o semblante que não
consigo decifrar. Parece afetada com algo.
— Estou, sim. Vamos terminar o jantar?
Ela pega na minha mão e fecha os dedos nos meus. Sem
esperar por uma resposta minha, ela me leva até a cozinha.

Coloco a última taça de vinho no armário e Paola seca a pia.


Ela ainda está usando minha camisa e ficou assim durante todo o
jantar, o que foi um completo teste de resistência para mim. Quando
se vira na minha direção e me pega no flagra, ela sorri e vem na
minha direção. Ao encostar a mão úmida e gelada na minha nuca, ri
porque dou um pulinho para trás por causa da diferença de
temperatura das nossas peles.
Prendo seus lábios entre meus dentes e sorrio contra sua
boca, contagiado pela felicidade dela. Meu coração aperta mais um
pouco com o desejo de ter como meta de vida fazer essa mulher
feliz me tomando por inteiro, mas sabendo que provavelmente
nossa relação nunca vá passar de sexo casual. Afasto os
pensamentos da cabeça porque decido que não vou me aborrecer
com isso agora. Deslizo minhas mãos até sua bunda, apertando-a,
e, com um impulso, eu a trago para meu colo, levando-a até a
bancada no centro do ambiente.
Paola suspira pesadamente e me afasta.
— Eu preciso voltar para casa.
Também não gosto da perspectiva.
— Ainda é um inferno morar com Bruno?
Paola dá de ombros.
— Eu saio antes dele e volto bem mais tarde. Pouco o vejo.
Por sorte, ele não se atreve a desviar o percurso para o consultório
e ir me perturbar. Aliás, como andam os papéis do divórcio?
Traço o contorno do seu rosto com o indicador, admirando
seus traços bonitos. Ao encontrar seus olhos verdes, respondo:
— Ele levou um tempo para me entregar os documentos
necessários. Comecei a redigir a papelada não tem muitos dias.
Logo vou marcar uma reunião com vocês dois para tratarmos da
partilha dos bens. — Ela assente, um pouco triste, e morde o lábio
inferior de uma maneira que eu sei que está segurando a tristeza. —
Sei que não vão estar de acordo, Paola — aviso. — Por isso,
precisa procurar um advogado. Eu prometo que vou fazer de tudo
para que o Bruno aceite a proposta do seu representante.
— Ele quer ficar com a casa, não é?
Confirmo com um gesto breve de cabeça, e ela fica ainda
mais abatida. De repente, ali está o carinho gostoso que ela faz
atrás da minha orelha e que me desarma por inteiro.
— Não faz muito tempo que quitamos o financiamento —
comenta, negando-se a me olhar. — E não faz muito tempo que
terminei de pagar a arquiteta que adaptou o espaço do consultório
no térreo.
Fico atento às suas palavras, por um motivo estranho
gostando da conversa, da confissão, do desabafo. Por mais que
tenha me doído ver a mulher por quem eu sou apaixonado casada
com outro homem, não dói agora que ela esteja falando da vida que
levou com ele. Porque Paola está comigo. Não deveria bastar para
mim, mas basta.
— Quando compramos a casa, o Bruno tinha mais
estabilidade financeira que eu. — Ela ergue os olhos na minha
direção e sorri um pouco. — Eu só tinha dois anos de formada,
estava dividindo o consultório com uma dentista mais experiente,
ganhando bem menos que hoje, e decidi não aceitar ajuda
financeira dos meus pais. Ele acha que por ter feito o financiamento
no nome dele, por ter colocado mais dinheiro na entrada da casa,
tem mais direito a ela. — Seus dedos resvalam levemente pela
minha pele. — Eu dei todas as minhas economias por aquela casa,
Liam. Foi meu sonho idiota se tornando realidade.
Uma lágrima escorrega pelo seu rosto e eu me apresso em
limpá-la.
— Não chora por causa do Bruno, Paola. Não vale a pena.
Ela balança a cabeça em negativo e inspira fundo.
— Não estou chorando por causa dele. Estou chorando
porque fui uma idiota que fez planos idiotas: um casamento longo e
feliz, dois filhos, uma casa dos sonhos. Eu planejei tudo, até o
consultório perto de mim para eu conseguir conciliar a maternidade
com meu trabalho. Bruno acabou com todos os meus sonhos. É por
isso que estou chorando.
— Está errada, Paola. Ainda pode ter isso tudo com alguém
que te ame pra valer. — Baixo os olhos um instante, tentado a dizer
que desejo ter a chance de provar que posso ser essa pessoa. —
Não se sinta idiota por ter planejado nada disso. Um dia, ele vai
acordar e perceber o que perdeu por ter feito tudo o que fez.
Quando isso acontecer, eu tenho certeza que você estará feliz e
realizada com seu casamento longo, seus dois filhos e o consultório
perto de casa.
Paola me abraça e esconde o rosto no meu pescoço.
Ficamos um tempo assim, apenas trocando carinhos e beijos
suaves em outras áreas além dos nossos lábios. Eu aprecio o seu
calor no meu corpo, da sua pele na minha, e fico feliz com cada
segundo dessa noite. De como foi divertido cozinharmos juntos
seguindo a receita, jogando farinha um no outro, tendo que
recomeçar a massa porque salgamos demais, trocando beijos
carinhosos e inocentes durante todo o tempo. Fico feliz do nosso
momento em torno da mesa durante a refeição, ouvindo-a falar dos
sobrinhos, do Mattia, de uma especialização que está pensando em
fazer, de uma viagem para o exterior no próximo verão, de histórias
engraçadas com pacientes. E então a limpeza que fizemos dividindo
uma barra de chocolate, outra taça de vinho e comentando como o
vizinho do lado assiste televisão alto demais.
Desvio meus lábios do seu pescoço e vou até sua boca,
beijando-a devagar e suculento. Subo minhas mãos por dentro da
camisa que usa, buscando pelos seios sustentados pelo sutiã de
renda que é uma tentação. Eu a puxo de cima do balcão sem
desgrudar nossos lábios e suas pernas me abraçam pela cintura na
mesma hora. Deixo a cozinha para trás e a levo até meu quarto.
Paola está surpresa quando a coloco sobre meu colchão, eu ainda
entre suas pernas. Ela olha ao redor e tateia a cama.
— Estamos no seu quarto?
Sorrio de lado.
— Ainda não batizamos minha cama.
Ela faz um gesto negativo com a cabeça.
— Não mesmo. Transamos em muitos lugares, menos aqui.
— Vamos mudar isso agora — sussurro, ao deixar um rastro
de beijos entre o pescoço e seu colo.
Paola se contorce sob mim e aperta mais minhas pernas em
torno da minha cintura.
— Liam… não quero ficar até muito tarde.
Afasto-me um centímetro, apoiando no meu cotovelo, e
acaricio seu rosto. Eu não deveria pedir o que estou prestes a pedir,
mas o desejo insano está me atormentando há dias. Há dez anos.
— Passe a noite comigo, Paola.
Ela abre os olhos para mim, surpresa. Eu nunca permiti que
ela ficasse, pelo meu próprio bem, só que hoje, pelo meu próprio
bem, eu quero que ela fique. Que transe comigo nessa cama,
depois converse comigo debaixo do chuveiro esfregando minhas
costas, então que se deite ao meu lado com uma xícara de chá e
que eu possa dormir agarrado ao corpo dela em seguida.
Ela não responde com palavras. Um sinal em afirmativo com
a cabeça é tudo o que me oferece. No instante seguinte, minha
boca está na dela e começamos as preliminares para uma noite que
promete.
Desperto sentindo os dedos dele enroscados nos meus
seios. A ereção matinal desponta contra a base da minha coluna, e
estou confortavelmente aconchegada entre seus braços. O ronronar
baixo de Liam, apenas uma respiração serena e ritmada, de repente
se torna meu som favorito esta manhã que mal começou. Eu me
viro devagar e fico de frente para ele. Observo-o dormir por alguns
instantes e a imagem é… Deus, ele é lindo demais. Eu me aproximo
mais e escondo o rosto contra seu tórax quente. O cheiro da sua
pele me faz sorrir um pouco e me sinto ainda mais acolhida quando
ele, talvez inconscientemente, deixa um beijo nos meus cabelos e
me aperta mais contra seu corpo. Não leva muito tempo até eu cair
de novo no sono.
Não sei por quanto tempo durmo outra vez, mas quando
acordo, a cama está vazia e o quarto tem uma atmosfera úmida. Ao
abrir os olhos, eu posso estar muito bem em alguma espécie de
paraíso. Porque Liam só com uma toalha enrolada na cintura é
sinônimo de paraíso. Ele está parado na porta do seu closet com um
sorriso sucinto, segurando uma bermuda e regata.
— Bom dia, dorminhoca — diz e se aproxima de mim,
inclinando-se para me dar um beijo nos lábios. — Levanta. Vou levar
o Zacky para passear e aproveitamos para tomar café da manhã.
— Eu não tenho roupa aqui, Liam.
Ele dá de ombros.
— O vestido de ontem parece ótimo para mim.
A toalha é arremessada na cama e não consigo desviar os
olhos do seu membro.
— É muito formal para um passeio no parque. — Ergo os
olhos na sua direção e vejo alguma diversão nas suas íris cinzas. É
claro que massageei o ego desse homem ao apreciar que esteja nu
a poucos centímetros de mim.
— Podemos dar um jeito. — Ele sobe uma cueca box preta
bem justinha e eu faço bico por ter sido privada da imagem
maravilhosa. — Talvez passar na sua casa para pegar roupas
limpas?
— É sábado. — Balanço a cabeça em negativo e me levanto,
tendo uma ideia. — Bruno pode estar lá e nos ver juntos. Ou pode
me azucrinar por eu ter passado a noite fora. Mas eu já sei o que
fazer. Pega o cinto do meu vestido para mim, por favor? — peço,
indo em direção ao seu closet. — E minhas botas também.
Ele assente e vai até a sala, passando a regata pela cabeça.
No seu nicho de roupas, eu avalio suas opões de camiseta até
encontrar uma preta de banda de rock. Eu nem fazia ideia de que
Liam curtia bandas de rock a ponta de ter camisetas. Tiro-a do
cabide e meço seu cumprimento. É um pouco maior do que ele está
habituado a usar.
— Aqui. — Ele surge no closet, esticando-me o cinto e as
botas. Tem um ponto de interrogação nos seus olhos quando ele
nota a sua camiseta nas minhas mãos.
Agradeço pela gentileza e visto a peça. Como supus, fica
comprida o suficiente e um pouco larga. Aperto o cinto e ajusto até
que pareça um vestidinho. Giro trezentos e sessenta graus e
procuro a aprovação de Liam.
— O que achou?
Ele pisca duas vezes e tomba a cabeça de lado.
— Acho que nunca mais vou te deixar usar suas próprias
roupas.
Rio um pouquinho e calço as botinhas de cano e salto baixo,
que completam o look.
— Estou pronta.
Liam vem até mim e contorna minha cintura com os braços
fortes. Seus olhos sempre tão impassíveis estão sobre os meus
agora e noto algo diferente da frieza comum. Sempre soube da sua
paixão por mim, mas o homem conseguiu a vida toda esconder
muito bem suas emoções. Ele nunca me olhou desse jeito… com
paixão descarada. Não há disfarces nesse olhar. Está ali tudo o que
sente por mim. Em cada canto do cinza das suas íris. Isso mexe
com algo dentro de mim que não sei explicar.
Ele não diz nada. Simplesmente me beija, devagar, exigente,
profundo. Meu coração erra uma batida e não demora nada para
estar entregue.
— Vou buscar aquele labrador safado.
Liam deixa o closet e de repente, eu sinto falta dele como
nunca senti antes.

— Quando acha que podemos falar com Filippo? — pergunto


para Liam enquanto caminho ao seu lado. Abaixo os olhos para
nossas mãos unidas e sorrio um pouquinho, estranhamente
gostando desse contato. Gostando de como ele apertou seus dedos
nos meus assim que saímos do seu prédio e tomamos as calçadas
do bairro.
Algumas garotas da região o cumprimentaram no caminho e
não esconderam a surpresa por vê-lo comigo. Compreensível. Eu
mesma nunca o vi com qualquer mulher que seja e também ficaria
surpresa se o visse caminhando de mãos dadas com uma delas em
um sábado de manhã.
Meu irmão ficou surpreso ontem ao notar que ele tinha levado
alguém para seu apartamento. “Ela é especial, Filippo”, Liam disse,
e eu ouvi boa parte da conversa entre os dois porque sou curiosa
demais e me mantive escondida por um tempo. Não consegui
aguentar ouvir mais nada no momento em que Liam admitiu estar
apaixonado por mim e mentiu ao dizer que eu estava apaixonada de
volta. Isso por algum motivo apertou meu coração e decidi voltar
para o quarto dele.
Levanto os olhos no instante em que Liam me encara,
sorrisinho de lado. Ele não é de sorrisos abertos, de emoções
expressadas. Mas quando demonstra o que está sentindo, não é
difícil decifrá-lo. Seu sorriso agora, embora bem pequeno, revela
que está feliz com meu interesse. Afinal, ele esteve certo o tempo
inteiro. Não faz sentido escondermos nossa relação — por mais
casual que seja — do Filippo.
— Podemos aproveitar o final de semana antes — determina,
tornando a dar atenção ao cachorro na coleira. Zacky está todo feliz
com o passeio, eufórico para que seja solto e possa correr
livremente. Há um parque não muito distante do condomínio dele e
só lá Liam vai soltá-lo. — Na segunda, fazemos um jantar lá em
casa e contamos para ele.
— Tudo bem. Acha que ele vai ficar aborrecido?
Liam suspira.
— Ele me pediu para ficar longe de você e estamos
transando há um mês. Filippo não vai ficar aborrecido, vai ficar puto
da vida porque já faz um mês, Paola. Demoramos demais.
Assinto, sentindo-me culpada por deixar as coisas chegarem
a esse ponto. Filippo sempre foi o mais ciumento e exageradamente
protetor quando se tratava dos meus relacionamentos. Ele nunca
gostou que eu me envolvesse com seus amigos e estava o tempo
inteiro garantindo que um idiota qualquer não me machucasse. O
que não adiantou muito porque muitos idiotas quaisquer me
machucaram. Mattia é do tipo que não interfere na minha vida ou
nas minhas decisões, mas não significa que não se importe. Ele se
importa. E se eu tivesse dado ouvido a ele cinco atrás de que o
Bruno não era bom o suficiente para mim, eu não estaria passando
por um divórcio hoje.
— Demoramos — respondo tardiamente. — Mas na segunda
vamos contar tudo, está bem?
— Como eu conto que só estou comendo a irmã dele? — A
pergunta é séria, sem qualquer implicação ou piadinha maliciosa.
Ele está mesmo preocupado. — Não estamos necessariamente em
um namoro, você sabe.
— Definitivamente, não é um namoro — digo, incisiva. Liam
fica mudo ao meu lado e ali está a expressão fria e vazia de quando
está tentando esconder suas emoções. Apesar disso, não é difícil
entender que o que eu disse não o agradou. — Eu não estou pronta
para um relacionamento agora, Liam — tento explicar meu lado.
— Eu sei. Você ainda é casada e mal tem um mês que pediu
o divórcio. Eu sei e entendo. Ainda assim, não ameniza o fato de
que vou ter de contar ao meu melhor amigo que entre mim e a irmã
caçula dele é só sexo. Ele não vai gostar.
Dou de ombros.
— Filippo não tem que gostar de nada. — Suspiro. — Seria
mais fácil com o Mattia. Ele só ia pedir para a gente usar camisinha
e não se magoar.
— Filippo vai criar tempestade em copo d’água — Liam
sussurra.
Concordo. Ciumento demais. Possessivo demais. Amigo
demais. Irmão demais. Tudo muito demais.
— Apesar de ele não ter qualquer moral pra isso. É o que ele
mais faz. Sexo casual com a irmã de alguém, a mãe de alguém, a
filha de alguém, a prima de alguém, a amiga de alguém. Não duvido
nada de que com a mulher de alguém também — completa.
Parecia simples contar para Filippo, agora parece muito
complicado. O assunto fica de lado quando chegamos ao parque. O
bairro de Liam é distante o suficiente de Bruno e Filippo, por isso
ficamos despreocupados com qualquer tipo de flagra. Liam solta
Zacky da coleira, arremessa o frisbee, e o cãozinho corre animado
atrás do objeto. Nós brincamos um tempo com o cachorro e
trocamos beijos, sorrisos e abraços carinhosos entre uma jogada e
outra. Minutos mais tarde, Zacky encontra meia dúzia de crianças e
se entretém com elas. Liam aproveita o momento e corre até a
padaria do outro lado da rua para comprar nosso café da manhã.
Ele retorna com tudo em dobro de café com leite, croissant
sem recheio e bolo de chocolate. Ajeitamos toda a comida no
gramado e sobre a mochila que ele trouxe com itens necessários
para passear com Zacky. Liam conversa pouco porque é o normal
dele, e eu tagarelo quase sem parar, o que é o meu normal. Minha
faladeira não parece incomodá-lo. Pelo contrário. Sinto que tenho
toda a sua atenção. É difícil encontrar alguém que aguente uma
tagarela. Se falo sem parar por mais de três minutos, alguém me
manda ficar quieta. Mas Liam ouve palavra por palavra por minutos
a fio sem um pio de reclamação, sem uma expressão de tédio, sem
se distrair. Completamente atento em mim.
A manhã já está acabando quando decidimos voltar para o
apartamento. Fazemos uma parada para Zacky e suas
necessidades fisiológicas. Liam limpa a bagunça com um coletor e a
descarta em uma lixeira orgânica.
— Deus, ele é desastrado — comento assim que adentramos
sua sala e Zacky corre em disparada na direção do seu quarto. As
patas deslizam no piso e ele esbarra em um monte de móveis quase
derrubando uma fotografia de Liam com meu irmão.
— Mas tem saúde e é o que importa — Liam brinca. Eu me
viro para ele, rindo um pouquinho, e vejo um sorriso tomar conta do
seu rosto. Ele não é muito de fazer piadas. Às vezes, diz coisas
engraçadas sem o intuito de soar engraçado e isso é uma das
coisas que mais gosto nesse homem.
— Planos para hoje à noite? — pergunto e deslizo o indicador
pelo seu tórax.
Liam ergue uma sobrancelha e deixa a mochila cair perto da
porta de entrada.
— Você tem?
— Queria voltar naquela boate. — Molho o lábio inferior e
deixo que a sugestão incutida na frase assente em suas ideias.
As pupilas dele dilatam um segundo depois ao me
compreender, o maxilar trava e a respiração fica um pouco menos
regular. Liam dá um passo na minha direção e envolve minha
cintura. As pontas de seus dedos fazem um carinho suave e sedutor
na base da minha coluna e eu não quero que ele pare com isso.
— Parece que meus planos para essa noite é te fazer gozar
em público.
Massageio seu membro sob a bermuda de moletom e me
delicio com a expressão que corta seu rosto.
— Estou doida por isso, Liam, e para saber a sua fantasia
que vou ter que realizar.
Ele movimenta os quadris devagar contra meu toque e
suspira.
— Te conto hoje, depois da boate.
Ergo-me nos pés para alcançar seus lábios e o beijo devagar.
— Combinado.
Aperto seus punhos entre meus dedos e sigo atravessando o
mar de pessoas na boate lotada. Liam diz algo que não compreendo
por cima da música alta. Olho por sobre meu ombro e reconheço um
par de olhos cinzas rabugentos. Rio da sua cara sabendo que ele
detesta lugares lotados de pessoas. Como se não bastasse o
Filippo arrastá-lo para todo lugar apinhado de gente, agora eu.
Paro no meio da pista de dança e o puxo para mim. Sua mão
atrevida logo está na fenda do meu vestido longo, a ponta dos
dedos brincando com a meia sete-oitavos que coloquei
especialmente para nós dois. Para mim, porque me sinto sexy e
poderosa, para ele porque sei que gosta, mesmo que
especificamente hoje ele tenha apenas que fechar os olhos e
imaginar a peça em mim.
— No nosso próximo programa, prometo que vamos a um
lugar calmo e sem aglomeração — digo no seu ouvido, tendo que
me erguer nos pés um pouco para isso.
Ele balança a cabeça em negativo e encosta seus lábios no
meu ouvido.
— É a primeira vez que você está me arrastando para esse
lugar horroroso e só vim porque fui ludibriado por uma promessa
deliciosa. Podemos fazer isso ao menos uma vez no mês se você
quiser.
Dou um beliscão na sua bunda por ser um safado atrevido e
jogo meus braços em torno do seu pescoço. Uma música com uma
batida gostosa começa a tocar. Balanço meu corpo contra o seu,
seguindo o ritmo da batida, e Liam aperta minha cintura com força,
acompanhando-me em seguida. Ele bate seu quadril no meu
mostrando-me sua potência. Eu me viro de costas para ele e, tal
qual quinze dias atrás, eu me esfrego nele, ele se esfrega em mim.
Não demora para eu estar pegando fogo, desejando esse homem
gostoso entre minhas pernas. Liam me gira na sua direção e me
beija antes que eu tenha tempo de raciocinar.
— Vamos logo para aquele sofá, garota — diz, mordiscando
meu lábio inferior.
Terminamos o percurso até a área vip e nos esparramos no
sofá. Uma garçonete vem nos atender. Liam só quer água, e eu
peço uma caipirinha. Assim que a menina se retira para trazer
nossos pedidos, ele me devora com um beijo indecente demais. Sua
língua exige mais espaço para minha boca, sua mão na minha nuca,
mantendo-me presa nos seus lábios. Ele suga, arrastando os dentes
pela parte inferior da minha boca, e eu aproveito o segundo antes
de ser beijada de novo para respirar. Empurro-o delicadamente
precisando de ar. Liam encosta sua testa na minha e respira com
dificuldade.
— Você está faminto. — Abro um sorriso contra seus lábios e
afago seus cabelos.
— Você me atiça de todas as maneiras e não quer que eu
esteja desesperado por você? — Mordica meus lábios e me beija
outra vez, agora mais calmo. — Fica mais de lado — orienta, sua
língua fazendo um caminho perigoso para a parte sensível atrás da
minha orelha. — Vou começar minha missão de te fazer gozar.
Ofego quase sem perceber e atendo seu comando. Eu me
apoio sobre minha coxa direita, e Liam faz o mesmo, ficando de
frente para mim. Ele prende um pouco dos meus cabelos na sua
mão, firmemente, e toma minha boca em um beijo devagar e
suculento. Um instante depois, sua mão está invadindo por dentro
da minha saia através da fenda. Suspiro na sua boca, antecipando o
prazer, e ele me tortura quando o indicador sobe devagar,
deslizando lentamente pela minha pele.
— Liam… — quase imploro.
Ele se afasta.
— Obrigado — diz, e eu então noto que ele agradeceu a
garçonete por trazer nossas bebidas. Ela diz algo em resposta e nos
deixa a sós de novo.
Eu ainda estou processando os últimos segundos e sua boca
está em mim mais uma vez, sua mão retornando para dentro do
meu vestido. Ele passa pela beira da meia sete-oitavos e brinca um
instante com a renda na barra antes de seguir seu caminho até
minha calcinha. Seu calor em mim me faz suspirar nos seus lábios e
contrair meus músculos vaginais.
Liam brinca um pouco comigo, acariciando-me por cima do
tecido rendado. É um vai e vem delicado e gostoso que vai tomando
forma aos poucos. Um minuto depois, a delicadeza não existe mais
e seu toque é forte, abrasador e obsceno. Ele aperta minha boceta
com vontade, gira o polegar no meu clitóris e afunda o dedo dentro
de mim tanto quanto o tecido permite, levando-o o junto. Tudo isso
sem parar de me beijar.
Estou prestes a implorar para que me toque diretamente
quando ele o faz por si só. Minha calcinha é colocada de lado e logo
sinto seu indicador ente meus lábios vaginais, buscando meu
clitóris. Ao ser acionada pelo meu ponto mais sensível, gemo contra
os lábios de Liam, que ainda continuam nos meus, devorando-me
em um beijo delicioso. A carícia dura alguns segundos até que ele
me penetra. Fundo. Forte. Com uma estocada violenta e gostosa
que faz meu corpo balançar junto. É demais para mim e preciso me
afastar dele um centímetro para ser capaz de respirar, ofegar e
gemer baixinho.
— Por que você tem que ser tão gostoso, Liam? — sussurro
ao me derreter inteira no momento que ele adiciona o dedo médio à
penetração. — Por que tão fodidamente bom com a língua, com o
pau e com os dedos?
Aperto os lábios, contendo um suspiro agoniado e um gemido
alto. A música da boate abafaria qualquer escândalo meu, mas
prefiro evitar. Gosto apenas da perspectiva do perigo de ser
flagrada, não do flagra em si.
— Eu sou um menino aplicado — ele sussurra de volta, a voz
rouca ao pé do meu ouvido, os dois dedos girando loucamente
dentro da minha boceta. — E porque eu amo foder você e saber que
goza comigo, Paola. Que goza pra mim. — Um beijo acerta minha
têmpora. — Não existe imagem mais linda no mundo que não a sua
gozando no meu pau, na minha língua ou nos meus dedos.
Eu o trago para mim nesse instante, calando suas palavras
porque de repente preciso dos seus lábios nos meus. Liam retribui
na mesma intensidade, aumentando os movimentos dentro do meu
canal. Então, ele posiciona os dois dedos de maneira que possa
tocar o meu clitóris com o polegar sem parar de me foder. O impacto
que isso causa no meu corpo é devastador.
— Liam, eu preciso sentar em você. Urgentemente.
Seus dedos saem de dentro de mim e vão para sua boca. Ele
saboreia meu gosto com veneração sem tirar seus olhos dos meus,
um sorriso safado nos lábios. Eu o empurro contra o encosto do
sofá e monto nele, cansada da sua demora. Tomo sua boca na
minha, faminta dele, e me esfrego devagar na sua ereção. Um
segundo depois, suas mãos estão entre nossos corpos procurando
abrir a braguilha da calça. Ele cessa o beijo e olha ao redor, talvez
se certificando que não estamos chamando muita atenção e que
ninguém está vendo a safadeza que estamos prestes a fazer aqui.
— Ah. Meu. Deus — solto, quando ele encaixa o pau na
minha entrada e desliza lentamente para dentro de mim.
Inclino-me sobre Liam e encosto nossas testas, sentindo-o
me comer devagar. Ele uma vez me disse que não sabia ser
delicado, mas está provando o contrário agora. Se realmente não
sabe, está sendo obrigado a ser porque aqui ele não pode me foder
com toda força.
— Paola… — Meu nome sai dos seus lábios entre um
gemido e outro. — Isso é… tortura. E é bom. É uma maldita tortura
boa. — Ele enfia a mão por dentro da minha saia e acaricia a pele
da minha bunda. Liam me beija um pouco mais, intenso e obsceno,
antes de completar: — Quero socar forte na sua boceta.
— Você não pode — sussurro, ofegante, e movo os quadris
para trás e para frente. — Não aqui.
Ele solta um gemido de agonia e joga a cabeça para trás, os
lábios entreabertos. Pesco sua boca de novo, querendo senti-la na
minha e também para mascarar um pouco da nossa safadeza. A
pouca luminosidade, a música alta, nosso sofá em um lugar mais
reservado… Para todo caso, estamos só trocando beijos
indecentes. Ninguém vai desconfiar que estou com seu pau gostoso
enterrado na minha boceta.
Liam trava meus quadris, obrigando-me a parar de me mexer
para que ele possa ditar seu próprio ritmo para dentro de mim. Seus
movimentos são lentos, mas certeiros, e eu me contraio toda ao seu
redor. Isso arranca dele outro gemido de prazer que é toda minha
perdição. Liam geme e acaba comigo.
— Faz isso de novo — pede, os olhos arregalados, narinas
expandidas. Eu faço, e Liam geme mais uma vez. — Porra, isso é…
bom demais.
Ele continua devagar para dentro de mim, vez ou outra
apenas conferindo se não tem ninguém reparando que o casal
indecente no sofá da área vip não está só trocando beijos quentes.
Ao que tudo indica, porém, todo mundo está ocupado demais
bebendo, dançando, se divertindo e beijando bocas aleatórias,
desconhecidas.
— O que está sentindo, Paola? — pergunta, ao erguer o
quadril com um pouco mais de força. Seu pau atinge um ponto
sensível dentro de mim que me arranca um suspiro de prazer. — O
que está sentindo ao sentar no meu pau perto dessas pessoas
todas? Você gosta de se exibir, safada? — Nesse instante, sua mão
aperta forte minha bunda, e eu fico ainda mais excitada.
— Com você, eu gosto, Liam — admito.
Ele me puxa de novo para outro beijo rude. Se não pode me
comer com força, vai me beijar com força. E é incrível como
continua funcionando para me fazer encontrar meu orgasmo. Liam
me come devagar; em qualquer outra situação, eu dificilmente
conseguiria gozar assim, lento demais. Mas Liam trabalha outros
pontos sensíveis em mim, mostrando-me que posso encontrar
minha satisfação de outras maneiras, sem depender só de
penetração vaginal ou estímulo no meu clitóris. Encontro prazer no
modo como ele beija e lambe a areazinha atrás da minha orelha, ou
como chupa meus lábios, acaricia minha perna, ou quando
escorrega perigosamente o indicador até meu traseiro e fica ali,
brincando comigo enquanto me diz todo tipo de palavras obscenas.
— Liam… eu vou gozar — anuncio, não aguentando mais a
combinação perfeita.
Roço meu clitóris na sua pele conforme ele dá suas
estocadas e não para com seu palavreado, nem o beijo, nem a
acaricia na entrada da minha bunda. Demoro só mais um segundo e
me desfaço em cima dele em uma gozada alucinante que me faz
ver estrelas. Caio sobre seu corpo quente e escondo o rosto contra
seu tórax. Fico quietinha no seu colo enquanto ele segue me
comendo para encontrar seu ápice. Liam também não demora e
beija minha boca no instante em que está gozando dentro de mim.
Permanecemos alguns segundos atados um no outro, recuperando
um pouco do fôlego que foi embora com nossa insanidade.
— Olha o que você fez comigo — ele diz muito sério. Afasto-
me do seu peito, assustada com seu tom de voz, e o olho, mas ele
está com as pálpebras fechadas. — Que caminho sem volta é esse
que você me enfiou, Paola? — Ele abre os olhos e me encara,
oferecendo-me um sorriso pequeno em seguida. — Vamos fazer
isso de novo em breve.
Rio um pouquinho, aliviada que não esteja bravo comigo por
qualquer motivo que seja, e concordo.
— Gosta de se exibir, seu safado? — devolvo, inclinando-me
para beijá-lo.
— Com você, eu gosto, Paola.
— Tem mesmo que ir? — Liam pergunta parando do outro
lado da rua frente à minha casa. São quatro da manhã e estou
exausta. Tudo o que eu queria era terminar a noite na cama dele,
mas precisei vir para casa. Estou sem uma calcinha naquele
apartamento, escova de dentes, maquiagem. Sem nada. — Podia
dormir comigo mais essa noite.
— Preciso mesmo — digo com uma dorzinha no coração por
ter que deixá-lo. — Vejo você amanhã, se quiser.
Ele me olha como se eu fosse uma estranha.
— É claro que quero.
Inclino-me um pouco na sua direção e deixo um beijo nos
seus lábios.
— Te vejo à noite, então. É domingo e papai reúne a família.
Liam assente, cabisbaixo, e sinto que fica um pouco
entristecido. Meu coração aperta em uma dor diferente. Dói em mim
a dor que uma família faz falta para Liam.
— Deveria vir junto — convido. Ele ergue os olhos na minha
direção, surpreso. — Filippo ficaria feliz em te ver. E meus pais
também gostam muito de você. Vem almoçar com a gente, Liam.
— Não quero incomodar, Paola. Além disso… se eu aparecer
do nada na casa dos seus pais, vai levantar suspeitas. Vamos
conversar com Filippo na segunda, lembra?
Acaricio seu rosto bonito e sorrio um pouquinho.
— Vem almoçar com a gente. Prometo que encontro uma boa
desculpa.
Ele suspira e assente.
— Vou aparecer.
Despeço-me dele com um beijo e estou prestes a sair do
carro quando Liam segura meu punho e me faz girar na sua direção.
— Sua proposta de realizar uma fantasia sexual minha ainda
está de pé?
— Claro que está. Essa noite foi tão incrível que esqueci de
te perguntar o que quer que eu realize.
Liam morde o lábio inferior e cessa nosso contato visual por
um instante. Acho que está tomando coragem, talvez… escolhendo
as palavras certas para me dizer qual é sua fantasia Será que ele
quer um ménage à trois com outra garota? Talvez com outro
homem? Talvez sexo anal?
— Pegging — diz algum tempo depois.
Franzo o cenho, não reconhecendo o termo.
— Pegging? — Ele assente, os olhos o tempo todo em mim
agora. — Não faço ideia do que é isso — confesso. — Esperava
que você me pedisse a porta de trás.
Então, sou pega de surpresa e me assusto quando ele solta
uma gargalhada sonora. Alta. Contagiante. Ah, Deus, e é o melhor
som do mundo inteiro a risada desse homem. Dura só três
segundos, mas é o bastante para mim.
— Podemos incluir na lista, quem sabe. Mas não, eu não
quero sua porta de trás. Ao menos, não por enquanto. — Rio e dou
um tapa nele. — Pesquise pelo termo — sussurra, vindo até minha
boca. — Depois, me diz se você topa.
Assinto e deixo um último beijo antes de descer do carro. Ele
fica parado no outro lado da rua até eu entrar em casa e ir para meu
quarto. Da janela, envio um sinal com a lanterna do celular de que
estou bem, em segurança e sem Bruno vindo tirar satisfação. Como
resposta, Liam vai embora. Acompanho o trajeto do veículo até
sumir da minha vista.
Antes de ir tomar um banho e dormir algumas poucas horas
até me reunir com minha família, pego meu celular, abro o
navegador, digito pegging e clico em pesquisar.
No final das contas, não precisamos encontrar qualquer
desculpa para eu aparecer na casa dos pais de Paola. Filippo me
liga logo de manhã, pouco depois das nove, e me convida para
almoçar com eles.
— Traz o Zacky para entreter os pestinhas — pediu.
E agora, lá está o labrador safado no meio do jardim da casa
dos Massari alegrando os pequenos enquanto pula de um lado a
outro e late. Os trigêmeos gargalham com cada mínimo gesto do
animal. Viro outro gole da minha cerveja sem desviar os olhos de
Paola supervisionando os sobrinhos com o avô dos meninos. Eu
não sei por que acho tão bonita a imagem dela segurando um bebê
no colo, toda feliz. É algo que me deixa feliz também e me faz
querer sorrir.
— Eu me preocupei com ela quando nos contou da
sacanagem do Bruno — Filippo diz, sentando-se do meu lado ao
aparecer muito de repente. Ele estava comigo dez minutos atrás e
voltou lá para dentro para buscar outra cerveja para si. —
Principalmente por causa dos bebês.
Franzo o cenho, sem entender direito o que está me falando.
— O que tem os bebês?
Filippo se vira para mim e suspira.
— Eles estavam tentando um.
A informação me pega de surpresa porque eu não sabia.
Bruno não era de compartilhar comigo qualquer coisa da sua vida
de casado com Paola — o que é completamente compreensível —,
e se Filippo alguma vez comentou algo sobre isso, não me lembro.
— Eu não sabia.
— Acho que não tinha muito tempo. Menos de um ano talvez.
— Assinto. — Paola sempre sonhou com a maternidade, tanto é que
planejou sua casa de maneira que facilitasse para ela na hora de
conciliar trabalho e filhos.
Filippo fica quieto e acabo por compreender um pouco por
que se preocupou com a irmã.
— Um mês atrás, quando ela contou toda a porra da
situação… — Filippo prossegue, uma nota de raiva no seu tom de
voz —, eu vi que ela estava devastada, sabe? Por um tempo, ela
acreditou que esses bebês eram do cretino do marido dela e nem
gosto de pensar o quanto isso não deve tê-la machucado.
— Eu não entendo como foi que ela perdoou o Bruno antes
disso — digo e sou sincero. Naquela noite em que me procurou,
Paola foi bem categórica ao dizer que não me daria seus motivos. E
não deu mesmo. Até hoje.
Filippo move a cabeça de um lado a outro e toma um gole da
sua cerveja depois de um suspiro.
— Também não. Eu me preocupei tanto. — Ele me encara
agora e vejo nos seus olhos todo zelo, amor e preocupação que ele
tem com Paola. — Não queria que ela sofresse mais do que já
estava sofrendo. Fiquei receoso que os bebês do Mattia e ele tendo
sua chance de tocar a vida depois da morte da Natália pudessem
causar mais sofrimento nela, que Paola se isolasse como nosso
irmão fez.
Volto meu olhar para Paola a alguns metros de nós, agora
conversando animadamente com o menino no seu colo. O sorriso
no seu rosto é enorme e ela está mesmo muito feliz em lidar com o
pequeno causador de problemas.
— Ela parece bem.
— Paola está bem — Filippo me corrige. — Ama essas
crianças como se fossem dela. — Aponta na direção deles com a
cabeça. — O idiota do Bruno não foi capaz de tirar toda a luz da
minha irmã. Ela chorou tudo que tinha de chorar naqueles dias que
ficou aqui e agora está bem. Torço para que seja feliz e tenha os
filhos que tanto almeja. E se for pra ela ser feliz com alguém e
construir uma família, que encontre um cara melhor que o sacana.
Não digo nada em resposta, sentindo o coração alfinetado.
Bebo outro gole da minha cerveja e engulo junto o nó na minha
garganta. Estou com ciúme desse cara hipotético que vai construir
uma família com Paola, estou com raiva porque Filippo nunca
sequer considerou que eu posso ser, sim, um companheiro bom
para a irmã dele, entristecido porque a própria Paola talvez não
enxergue em mim nada além de um pau amigo. Ele apoia a mão no
meu ombro, o que chama minha atenção. Viro-me para ele de novo
e vejo um sorriso pequeno no seu rosto.
— Você teria sido um cara legal pra Paola se fossem um
pouco mais compatíveis. Sabe o que dizem, não sabe? Os opostos
se atraem, mas os iguais se completam. Ou qualquer coisa do
gênero.
— Não somos tão opostos assim — defendo meu ponto. Na
cama a gente se dá muito bem, quero adicionar.
Filippo move a cabeça em negativo.
— Consigo fazer uma lista do porquê não dariam certo — diz.
— Se não fosse isso e a grande chance de se magoarem por serem
tão diferentes, teriam todo o meu apoio para namorarem. — Eu
penso em dizer alguma coisa, contudo, ele continua: — Mas
esquece isso, cara. Você encontrou sua garota agora, não foi?
Desencanou da Paola e tudo mais. — Filippo aperta meu ombro em
um gesto fraterno e de carinho. — Confiei que não quebraria sua
promessa e você não me desapontou. Poucas pessoas são fiéis
como você foi, Liam. Te amo muito mais por isso.
Sinto meu coração estraçalhado dentro do peito, a culpa
batendo com toda força. Então, de repente, sinto medo de verdade
de perder a amizade de Filippo quando contarmos. Ele confiou em
mim e estou omitindo dele toda essa maldita história com Paola.
Sem dizer nada, torno meu olhar para o meio do jardim. Ela está
olhando para cá agora, o sorriso extravagante de sempre enquanto
faz o pequeno no seu colo acenar para nós.
— Diga oi para o tio Lipo e tio Liam, Gabriel. “Oiiiiii”. — E faz
o menino balançar os bracinhos. Ele ri, contagiado pela felicidade da
tia, e diz “Oi”. Filippo responde o menininho e vai até ele.
Viro mais um pouco da minha cerveja garganta a baixo e
pondero voltar atrás e não contar nada. Paola tem data de validade
na minha vida. Eu não sei quanto tempo vai durar nossa relação,
mas sei que, um dia, vai acabar. Pergunto-me se vale a pena
colocar minha amizade com Filippo em risco por causa disso. Sou
perdidamente apaixonado por essa mulher, de verdade, mas
também amo o irmão dela com todo meu coração. Somos amigos
há tanto tempo, passei por tanta merda e ele esteve lá em cada uma
delas para não me deixar desistir…
Acabo entendendo os motivos dele em não nos querer juntos.
Ao menos a parte em não estar disposto a tomar partido de
ninguém. Estou exatamente assim agora. Paola é tudo para mim e
eu daria o mundo por uma chance de verdade com ela. Filippo é
mais do que meu melhor amigo. Ele é o irmão que não tive. A
definição de família que eu não tive. A primeira pessoa que
demonstrou amor por mim sem quaisquer reservas. Padre Ivo dizia
que me amava — mais dizia do que demonstrava, sempre rígido em
tudo — e eu cresci na incerteza se era verdade. Não foi assim com
esse garoto bem-humorado. Ele é a pessoa mais aberta que eu
conheço.
Engulo em seco e afago a barba, indeciso. Ele vai ficar puto
da vida, talvez até deixe de ser meu amigo, talvez pare de falar
comigo, talvez nunca mais olhe na minha cara. Depois, eu perco
Paola, porque nossa relação um dia terá um fim. No fim das contas,
fico sem a mulher que amo e sem meu melhor amigo.
Mas se eu deixar as coisas como estão e Filippo nunca
descobrir… Só vou perder um deles.
Aperto os olhos e viro outro gole da cerveja. O gosto amargo
que toma minha boca com certeza não é o da cevada.

— A proposta de divisão de bens para mim está ótima —


Bruno diz, mastigando um pouco da sua comida. Aponta para o
papel em mãos e ergue os olhos na minha direção. — A casa
continuar comigo é o que mais importa para mim.
Bebo água da minha taça para engolir a vontade de mandar
esse filho da puta à merda. Só eu sei o quanto redigi esses papéis
querendo apertar o pescoço dele. Um monte de vezes quis desistir,
pegar o telefone, ligar para ele e dizer para arrumar outro advogado
porque eu estava caindo fora. Só não o fiz porque é uma bela
oportunidade de arrancar dinheiro desse sacana.
— Entrei em contato com a Paola e marquei uma audiência
de conciliação para daqui quinze dias — digo, ao apoiar a taça de
volta à mesa do restaurante em que estamos.
Estou sem muita fome, mas acabei por pedir apenas uma
salada da casa para não ficar sem nada no estômago. Meu
estômago, o mesmo que está apertado pela falta de contato de
Paola. Já tem mais de uma semana que saímos para aquela boate,
que transamos com o perigo de sermos flagrados e contei do meu
fetiche. Eu a vi no domingo passado na casa dos pais, trocamos
poucas palavras e, em uma dessas vezes, eu a convenci de que
não estava preparado ainda para contar ao Filippo e se poderíamos
esperar mais alguns dias. Ela aceitou e eu fui embora logo. Desde
então, não tenho mais notícias dela. Exceto por uma mensagem
assim que saí de lá. Ela ia ficar na casa dos pais por mais tempo e
não ia passar no meu apartamento à noite. “Te ligo em breve”,
escreveu no final da mensagem. Mas nunca ligou. Estou com medo
de a ter espantado com minha fantasia sexual.
— Acha que ela vai aceitar? — Bruno pergunta, os olhos no
documento ao levar outra garfada de comida à boca. — É mesmo
uma boa proposta. Os outros bens cobrem a parte dela na casa.
— Sinceramente? Acho que não. Não é nem pela questão
monetária, Bruno. A Paola tem o consultório dela lá, ela planejou
aquele lugar. Tem o valor sentimental também e nenhum preço ou
outros bens materiais é capaz de cobrir isso.
Ele suspira e apoia o documento na mesa.
— Se não entrarmos em acordo, teremos que vender o
imóvel, não é?
— Sim.
— Se ela não aceitar nossa proposta, pode tentar convencê-
la a aceitar que eu compre a parte dela?
Estou prestes a respondê-lo quando alguém se aproxima da
mesa e interrompe minha ação. Um envelope recheado cai sobre a
superfície, perto do prato dele, e demoro um segundo para
reconhecer o homem que acabou de chegar.
— Aqui está — Mattia diz e noto que falta muito pouco para
não partir para cima de Bruno aqui mesmo.
Olho para o envelope e entendo exatamente do que se trata
muito antes de Mattia explicar o conteúdo dele. Pigarreio para mim
mesmo, não acreditando que Bruno teve coragem de fazer isso.
— A Lauren disse que ia depositar — Bruno menciona,
olhando para Mattia.
— Não é dinheiro dela, é meu. E ela não sabe disso. Ao
menos, não por enquanto. — Aponta para o envelope. — Entendo
que esteja precisando. — Seu olhar vem para o meu, mas ele não
está com raiva de mim. — Contratou o melhor advogado familiar da
cidade, e os honorários não são baratos. Tire mesmo cada centavo
desse sacana, Liam.
Mattia faz menção de ir embora, mas Bruno não deixa.
— Me entenderia se estivesse no meu lugar. Não estaria com
tanta raiva de mim se fosse com você. Por meses, paguei uma
pensão que não tinha obrigação nenhuma. Ela sabia que eles não
eram meus, mentiu para mim, agiu de má-fé. É justo me reembolsar,
Mattia.
Ele balança a cabeça de um lado a outro.
— Acha que estou irritado assim por causa da porra do
dinheiro, Bruno? Por pelo menos cinco meses, você achou que
aquelas crianças eram seus filhos. Agora que sabe que não são
seus, tudo com que se importou foi com a porra do seu dinheiro.
Não ficou sentido porque criou uma ligação afetiva e teve de se
afastar, não se preocupou se por acaso eles estavam sentindo sua
falta. Só se preocupou com a merda do dinheiro. Estou irritado
porque foi um pai de merda pelo pouco tempo que foi pai deles, e
um marido de merda para minha irmã durante todo o tempo. É por
isso que estou irritado.
Mattia não lhe dá mais chances de responder e vai embora.
Assim que ele deixa o restaurante, eu me curvo sobre a mesa e
digo, entredentes:
— Você foi pedir o valor da pensão de volta?! Porra, Bruno, o
que foi que eu te disse?
Ele move as mãos no ar, em um ato de desdém, e volta a
comer tranquilamente.
— A justiça nesse país é falha, Liam. A Lauren agiu de má-fé
comigo. Era justo que me devolvesse. Eu a pressionei um pouco,
coloquei um pouco de medo, disse que ia falar com você…
— Como se não bastasse, colocou meu nome no meio!
— Foi só para fazer uma pressão, Liam. Ela me garantiu que
não ia contar nada ao Mattia. Mas é claro que contou para que ele
arranjasse o dinheiro e ela se safasse de ter que mexer no próprio
bolso. Não acreditei na ladainha de que Lauren não sabe de nada.
Eu me recosto na minha cadeira e bufo. Inacreditável o que
esse cretino fez. Jurei para mim mesmo, quando decidi por Direito,
que não ia beneficiar gente babaca. Bruno não vai ser minha
primeira exceção. Por isso, eu pego o envelope e confiro o valor.
Tem muito dinheiro aqui. Tiro uma parte pequena para mim e enfio
no meu bolso.
— O que está fazendo? — pergunta, assustado.
— Pegando um pouco dos meus honorários. Não pense que
vai me pagar só no fim do processo, não. — Guardo o envelope
com a outra quantia no bolso interno do meu paletó. — O restante?
Vou doar para um abrigo de animais.
Calmamente, eu volto a comer minha salada.
— Está brincando comigo, não está?
— Não.
— Liam…
Aponto o garfo na sua direção, completamente irritado com
ele. Não sou de explodir fácil, de perder a paciência fácil. Mas
Bruno… Esse traste conseguiu essa maldita proeza.
— Não vem com “Liam” pro meu lado, não, Bruno. Fui bem
claro quando te disse que pensão não é passível de reembolso e eu
não advogo em favor de gente escrota como você.
Ele me olha totalmente assustado com meu tom de voz e
com a merda do meu palavreado, sempre polido. Eu não vou ser
educado com esse cretino que merece ser colocado na porra do seu
lugar.
— Estou te mantendo dentro da lei. Não vai ficar com esse
dinheiro. E aliás, Mattia está certo em tudo o que te disse.
Ele balança a cabeça de um lado a outro, inconformado.
— Eu pensando que você era meu amigo.
— Amigo? — Solto uma risada sem humor. — Foi meu amigo
quando resolveu ficar com a Paola sabendo que eu gostava dela?
Foi meu amigo quando tirou de mim a chance de ser pra ela tudo o
que você não foi?
Vejo seus olhos ficarem furiosos e me arrependo um instante
depois de ter dito o que eu disse. Sempre engoli minhas injúrias
para o Bruno porque sabia que não valia pena, porque eu que dei
mancada de não ter tentado me aproximar, falar com Filippo,
convencê-lo de que eu seria bom para sua irmã. Perdi a chance de
estar no lugar do Bruno e a culpa é noventa e nove por cento minha.
Um por cento é dele, porque se tivesse mesmo sido meu amigo,
teria me ajudado com a situação, não trepado com a mulher que eu
amo!
— Não me culpe se não teve coragem o suficiente de flertar
com ela e enfrentar o Filippo. Você quem foi covarde e por isso não
ganhou o coração da Paola. Agora, não adianta ficar puto comigo.
Dou um soco na mesa, que faz pratos, talheres e taças
trepidarem. Bruno se assusta com meu ato, que também chama
atenção de outros clientes ao nosso redor, mas não se intimida.
Continua com a postura arrogante e inabalável de quem acha que
está com a razão.
— Não estou puto porque você, como meu amigo, ficou com
a garota de quem eu gostava. Estou puto porque depois que a
conheceu, tudo o que quis foi uma trepada fácil e sem sentido, mas
eu queria mais. Estou puto porque com isso, você tirou de mim a
oportunidade de ser um bom marido pra Paola e ainda desperdiçou
a chance de fazê-la feliz, de ser um companheiro fiel, de formar uma
família com ela.
Eu me levanto do meu lugar, cheio de ódio. A raiva, a tristeza
e a decepção acumuladas por anos desadormecendo de dentro de
mim e voltando de forma impiedosa. Não vou mais me controlar.
Não vou mais esconder minhas emoções.
— Estou puto porque você a machucou, destruiu todos os
sonhos daquela mulher incrível e como se não bastasse… — digo e
o seguro pelo colarinho da camisa. Um garçom vem até nós tentar
apaziguar a situação, mas não lhe dou o mínimo de atenção. —
Como se não bastasse, continua tentando sair por cima e ferir a
Paola. É esse o motivo de eu estar puto, Bruno.
Desço um soco forte nele, que o desestabiliza por completo.
Ele cai da cadeira, levando uma parte da louça junto. Uma comoção
se forma atrás de mim, e o funcionário me pede calma enquanto
outro vem correndo ajudar o escroto.
— Estou calmo — afirmo e inspiro fundo. Eu me aproximo
dele e o levanto. Bruno tenta resistir, mas sou mais forte que ele e o
coloco em pé. — Vai mandar uma mensagem para a Lauren
dizendo que o Mattia já te deu a porra do seu dinheiro. Eu não sei
quando ele vai contar isso pra ela, mas não queremos que por um
acaso o valor seja depositado novamente, queremos? E juro por
Deus, cara, se não a avisar com a intenção de recuperar o valor que
está comigo, levo um processo no rabo, mas eu acabo com a sua
raça, está me ouvindo?
Bruno se solta de mim, furioso, mas assente.
Tiro a quantia que separei para meus honorários e entrego na
mão garçom.
— Divida entre a equipe, é uma doação. — Viro-me para
Bruno. — Não sei se depois dessa, vai querer que eu ainda te
represente. Se quiser, esteja no meu escritório em duas semanas,
às seis, para a audiência de conciliação. — Pego minha bolsa e a
ajeito no ombro. — A conta fica pra você pagar.
Deixo o restaurante me sentindo um pouco mais aliviado por
descontar minha raiva naquele cretino.
Por algum milagre, consigo deixar a firma ao final do meu
expediente. Aproveito a oportunidade e levo Zacky para um passeio
e para uma corrida de quarenta minutos em volta do lago no parque
perto do meu condomínio. Preciso desestressar do meu dia hoje
porque aquela história mais cedo do Bruno e do reembolso da
pensão me deixou muito irritado. Assim que chego ao meu
apartamento, perto de nove da noite, sou pego de surpresa quando
a encontro aqui, sentada no meu sofá sobre as próprias pernas. Os
saltos descansam ao lado do móvel, e sua bolsa está pendurada no
cabideiro logo na entrada. Paola parece confortável ao me esperar,
como se fosse dona do espaço.
Zacky sai em disparada ao encontro da mulher, a guia
escapando dos meus dedos com facilidade porque estou atordoado
o suficiente com a presença dela que me distraio. O cachorro pula
no sofá direto para o colo dela, que o afaga carinhosamente e
conversa com ele.
— Senti saudades de você, meu menino — fala para o
animalzinho, amaciando sua pelugem. Ela ergue os olhos na minha
direção e me avalia. Não estou nos meus melhores trajes: regata,
bermuda, tênis, todo suado e vermelho feito um pimentão pelos oito
quilômetros de corrida. Zacky fez dois e me esperou terminar meu
percurso descansando sob a copa de uma árvore. — Oi.
Eu volto ao mundo real e termino de adentrar meu
apartamento. Deixo a mochila logo na entrada e me sento no outro
sofá.
— Oi — digo por fim. — Você…
— Sumi, eu sei. — Ela não me olha quando diz isso,
concentrada em acariciar o cachorro. — Fiquei com meus pais o
restante daquele domingo e a semana que passou foi… exaustiva.
Trabalhei muito, mas também pesquisei muito sobre pegging. — Ela
me encara nesse momento. — Queria entender a prática antes de
qualquer coisa.
Eu me endireito no meu lugar, preso nos seus olhos que me
encaram sem qualquer sentimento negativo. Talvez tenha um pouco
de curiosidade, mas estão livres de preconceitos e julgamentos.
— E então?
Paola suspira e dá mais carinho a Zacky, agora com a
cabeça deitada no colo dela.
— E então que você acabou de chegar, está cansado, suado,
provavelmente com fome. — Paola sorri e me olha. — Vamos
conversar com calma mais tarde. Antes, eu sei que tem que cuidar
dessa coisa linda aqui — diz, dando um afago e um cheiro nos pelos
do cachorro. — Cuidar de você também. Ajudo no que precisar.
Preparo o jantar? Limpo o quarto do Zacky? Esfrego suas costas no
banho? — A última parte vem com alguma malícia e isso arranca de
mim um sorriso pequeno.
Assinto e me levanto, pegando o cachorro pela guia.
— Prepara o jantar e eu dou conta do resto. Vem, Zacky. —
Puxo-o pela guia e o levo lá para dentro.
Enquanto Paola fica encarregada de preparar a comida, eu
alimento Zacky, troco sua água, limpo o quarto dele, recolho as
fezes do Weasy e descarto no vaso sanitário. Só depois de cuidar
do meu amigo, eu vou tomar um banho. Visto um moletom e uma
camisa branca apenas e me encaminho para a cozinha, onde ela
está terminando um macarrão à parmegiana. Eu a ajudo com o
refratário quente e levo para a mesa da sala de estar, já arrumada
com louças e vinho.
— Você voltou atrás na decisão de contar sobre nós a Filippo
— aponta, colocando um pouco do macarrão no meu prato.
Eu sirvo duas taças de vinho e suspiro.
— Não estou preparado para isso ainda. — Quero
acrescentar que meu medo é perder a amizade dele e não sei se
vale a pena. Engulo minhas palavras para mim mesmo, receoso em
magoá-la.
Paola se senta de frente para mim e também se serve.
— Entendo. Confesso que também estou com um pouco de
medo. O Filippo não vai reagir muito bem. — Ela ergue os olhos
para mim, virando outra colherada de macarrão no seu prato. —
Não quero prejudicar sua amizade com meu irmão, Liam. Sei que o
ama muito e não o quer magoar.
Baixo os olhos para meu próprio prato e suspiro.
— Nós dois vamos desapontá-lo, essa é a verdade. Mas as
chances de ele nunca mais olhar na minha cara é maior do que ele
nunca mais olhar na sua cara.
O assunto morre na mesa. Sequer nos preocupamos em
combinarmos algum outro dia para essa conversa com Filippo.
Acordamos implicitamente que vamos deixar tudo como está. Até
quando, não dá para saber. Talvez seja melhor assim.
Paola fala muito mais do que eu sobre sua semana. Ela não
está estranha depois de desaparecer por mais de sete dias, e me
pego não me importando com o fato. Não quando agora ela está na
minha mesa, tagarelando sem parar com um sorriso enorme no
rosto ao contar sobre alguns projetos que tem para o consultório
assim que o divórcio sair e com um pé atrevido apoiado na minha
coxa.
— Vou manter meus planos mesmo se precisar mudar o
consultório de endereço — explica, esperançosa. Paola não está se
deixando abalar pela perspectiva de perder a casa para o sacana do
Bruno e fico muito feliz e orgulhoso dela por causa disso.
Recolho a louça no final do jantar e levo tudo para a cozinha.
Estou prestes a começar a lavá-la, mas ela me puxa pelo punho e
me leva até o sofá, montando nos meus quadris. Sem que eu
espere, Paola está me beijando. Um beijo exigente, cheio de
saudade, que me desarma. Um milésimo de segundos depois, meu
braço está contornando sua cintura e a trazendo mais para mim.
Meus dedos se emaranham nos seus cabelos e eu suspiro contra
sua boca, um suspiro de alívio de tê-la entre meus braços de novo
depois desses dias todos. Eu não sei como vou tocar minha vida
depois que Paola sair dela. Estou tão apegado, tão apaixonado,
quase dependente.
— Senti saudades, Liam — confessa, passando a mão pelo
meu rosto.
Ergo uma sobrancelha.
— Sentiu saudades de mim ou sentiu saudades de como te
faço gozar gostoso? — implico e ela sorri um pouquinho.
— Uma coisa não exclui a outra. — Ela deixa um último beijo
nos meus lábios e desmonta meus quadris, sentando-se do meu
lado. — Então… pegging, hum? — Seus olhos vêm aos meus. —
“Prática sexual em que uma mulher penetra um homem utilizando
uma cinta-peniana” — repete o texto que deve ter encontrado na
sua pesquisa.
— Fez o dever de casa. — Acaricio seu rosto e coloco uma
mecha do seu cabelo atrás da orelha. — Perguntas?
Paola pondera por um instante e move a cabeça em positivo,
devagar.
— Não sobre a prática em si. Li o suficiente sobre o assunto.
Na teoria, estou muito boa — brinca, passando o polegar pelo meu
rosto. — Só estou curiosa em saber como você…
— Eu saí com uma sexóloga por um tempo, nada sério. Uma
vez, estávamos conversando, ela trocando experiência comigo
porque naquela época eu não era muito experiente e estava
interessado em aprender.
— Quantos anos tinha?
— Vinte, eu acho. Eu ainda era virgem quando a conheci.
Paola arregala os olhos em surpresa.
— Aos vinte você ainda era virgem?
Sorrio um pouco e belisco sua costela. O gracejo está ali,
estampado no seu rosto e nos seus olhos.
— Se esqueceu de que cresci com um padre, minha
educação foi toda cristã e que havia planos de eu ir para o
seminário? É claro que aos vinte eu era virgem. — Ela balança a
cabeça e segura uma risadinha. — A minha vida toda mudou depois
que rompi com a paróquia e fui viver sozinho. Você sabe, até
minhas crenças sofreram com isso.
Paola assente e pega na minha mão, fechando nossos
dedos.
— Você é ateu. Me lembro de ter contado ao Filippo sobre
como nunca se sentiu encaixado na paróquia, mesmo com toda a
educação católica que recebeu. Sempre guardando
questionamentos e porquês para si mesmo. Também nunca se
encontrou em nenhuma religião.
— Não. Nunca concordei com nenhuma delas, sempre tinha
algum questionamento pra fazer e nunca havia uma resposta
satisfatória para as minhas perguntas. Ao contrário do que muita
gente me pergunta, eu não tenho raiva de Deus porque ele tirou
tudo de mim, porque não conheci meus pais ou porque fui
abandonado. — Dou uma risada sem humor reviro os olhos. — O
estereótipo de ateu mais besta que já vi. Minha transição para o
ateísmo foi gradual e aconteceu porque estudei muito sobre um
monte de assuntos: astronomia, biologia, história, sociologia, física.
Até que um dia, a ideia da existência de qualquer divindade não
fazia mais sentido para mim.
— Nós nos desviamos do assunto — Paola pontua e acaricia
minhas mãos. — Culpa minha.
Movo a cabeça de um lado a outro e baixo os olhos para
nossas mãos juntas.
— Então, essa sexóloga estava me contando sobre pegging,
que ela tinha um ex-namorado que gostava e tal. Eu não conhecia o
termo, e ela me explicou o que era. Aos poucos, com muita
conversa quando nos encontrávamos, fui me livrando dos
preconceitos que eu tinha em relação à prática, entendendo que o
fato de um homem gostar que uma mulher o penetre não muda
nada sua sexualidade. — Dou de ombros. — Um tempo depois, eu
quis experimentar.
— Você faz sempre?
Nego com um gesto vigoroso.
— Não. Sequer faço com qualquer mulher. O nível de
confiança que preciso ter com uma garota para fazer isso é exigente
demais. Preciso confiar muito, Paola, muito mesmo. — Baixo os
olhos por um instante e depois torno a olhá-la. — Preciso ter a
confiança de que não serei julgado ou ter minha vida íntima exposta
de alguma forma. Por isso, não faço com qualquer mulher. Confesso
que você ter sumido me assustou. Pensei que tinha errado em
confiar em você ao te contar.
— Eu não vou mentir que fiquei um pouco… surpresa quando
descobri sobre o termo. Achei estranho que gostasse. Cheguei a
duvidar da sua masculinidade e sexualidade. — Ela diz com cuidado
e fecha um dos olhos, em uma expressão engraçada que me faz rir
um pouquinho. — Mas juro que tirei esses dias para ler muito sobre
a prática e compreendê-la.
Não julgo porque já pensei igual. Embora masculinidade frágil
nunca tenha sido um problema com qual convivi, eu já tive — e
talvez até ainda tenha — meus próprios pré-conceitos.
— Se leu bastante, entende que gostar disso não fere em
nada minha masculinidade, que não muda em nada minha
heterossexualidade, não é? Não é como se eu desejasse que um
bombadão peludo me comesse.
Paola ri alto e extravagante, pendurando-se no meu ombro.
Sua risada é o meu mundo inteiro e demoro a notar que sorrio com
muito mais frequência quando estamos juntos.
— Eu entendo, sim, Liam. E quer saber? — Ela volta para
meus quadris e afunda os dedos nos meus cabelos. — Acho que é
o sonho de toda mulher.
Dou outro beliscão na sua lombar, o que a faz rir ainda mais.
Sua boca está na minha um segundo depois em um beijo suave e
carinhoso. Paola se afasta e arranca minha blusa, alisando meu
abdômen.
— Vamos nos preparar. Eu e você. Comprar os itens que
precisamos e tomar todos os cuidados para que seja prazeroso. —
Paola me fita e tem algum desejo nas suas íris verdes. — Eu sou
bem inexperiente, então… vou precisar que me ensine.
Começo a abrir os botões da sua blusa.
— Serei um ótimo professor. — Caio entre seus seios, dando
toda a atenção que merecem, e fico duro quando ela geme. —
Prometo.
Cinco minutos mais tarde, estamos matando a saudade um
do outro.

Nos próximos dias, nós nos preparamos. Vamos até um sex


shop para escolher uma boa cinta-peniana que não machuque
nenhum dos dois. Ela fica animada ao escolhermos uma com dildo
duplo, o que significa que me penetrando, vai ter seu clitóris
estimulado.
Na cama, experimentamos algumas “preliminares” antes de
partirmos para a cinta. Primeiro, ela me acariciou na região, só na
superfície, normalmente quando eu estava dentro dela. Depois,
Paola me fez um beijo-grego que me deixou duro como nunca tinha
ficado antes. Passado alguns dias, ela avançou e me penetrou com
dois dedos. Ficamos nisso por um tempo até que conversamos e
decidimos que era hora.
— Você está nervoso? — pergunta, acariciando meu tórax,
sentada no meu colo na beira da cama.
Paola fez o dever de casa e preparou meu quarto. Tem uma
música baixa e relaxante, a cama foi delicadamente arrumada, tudo
o que podemos precisar está a distância de um braço, e ela colocou
uma lingerie sexy pra caramba.
— Não — digo e sou sincero. — Confio em você. — Acaricio
sua coxa nua e a tomo em um beijo suave. — Você está?
Ela suspira e acena em positivo.
— Um pouco. Tenho medo de não ser boa o suficiente. De
não fazer direito, de te machucar e, no fim das contas, você não ter
qualquer prazer.
Coloco uma mecha do seu cabelo atrás da sua orelha e beijo
o canto da sua boca.
— Conversamos bastante por esses dias, Paola. Temos
gestos e palavras de segurança caso estejamos ultrapassando
algum limite. Se lembra de tudo?
— Lembro. — Assente com um gesto de cabeça. — Gestos:
belisco, erguer o braço direito, piscar três vezes seguidas. Palavras:
“advogado” para mim. “Vermelho” para nós dois. — Sua carícia no
meu peito sobe e alcança meu rosto, seus olhos amáveis nos meus.
— Vermelho ainda faz parte de um conjunto de palavras de
segurança.
— Isso mesmo. “Verde”, estou adorando o que está fazendo,
continua. — Ela sorri e eu dedilho sua coluna. — “Amarelo”, estou
um pouco desconfortável, vamos conversar e ver o que é melhor
para nós dois. “Vermelho…”
— … estou completamente desconfortável ou ultrapassando
algum limite físico ou psicológico. Quero parar. O mesmo para
“advogado”. Uma vez dita uma dessas duas palavras, temos que
parar imediatamente. Mesma coisas para os gestos. Se usarmos
qualquer um deles, é sinal para parar.
— Viu só? Você está preparada. Vai dar tudo certo.
Ela move a cabeça para cima e para baixo e me beija. Com
um único movimento, eu a coloco na cama, por baixo de mim, e fico
entre suas pernas. Venero seu corpo e beijo cada centímetro de
pele que encontro pelo caminho. Vou descendo até o vão das suas
coxas e afasto sua calcinha branca. Chupo sua boceta com
vontade, sugando-a e lambendo. Paola se remexe sob meu toque,
os gemidos descontrolados que tanto amo ouvir preenchendo o
quarto. Suas mãos voam para meu cabelo e me agarram forte,
empurrando meu rosto. Distribuo beijos no lado interior das suas
coxas antes de voltar para seu sexo e lhe dar mais atenção. Ela
goza pela primeira vez na noite minutos depois, e me lambuzo na
sua excitação, adorando seu cheiro, seus fluidos, seu gosto.
Paola me puxa para cima, implorando para eu me enterrar
nela. Encaixo minha boca na sua, meu pau na sua entrada e roubo
um beijo desesperado quando deslizo para dentro dela. Seu calor e
umidade pulsam meu membro, deixando-me ainda mais excitado.
Ergo suas pernas na altura do meu ombro e me arremeto para
dentro dela forte, intenso, fundo e sem dó, como sei que ela gosta.
Ela não precisa de delicadeza e não quero ser delicado nem
romântico. Quero ser bruto, obsceno e safado. E faço isso tudo com
ela pelos próximos vinte minutos que fodo sua boceta. Seu segundo
orgasmo chega com ela de quatro para mim, o rosto enterrado no
colchão, meu pau enterrado nela, a bunda arrebitada na minha
direção. Suas pernas tremem, e os lençóis abafam seu gemido
escandaloso ao anunciar que está gozando.
— Agora, Paola — peço quando ela está cavalgando em
mim, os movimentos mais devagar para recuperar o fôlego de ter
gozado duas vezes em vinte minutos. — Me fode agora.
Ela me beija ferozmente antes de sair de cima de mim e se
preparar. Eu fico na cama, me masturbando enquanto a espero
vestir a cinta e colocar uma camisinha no brinquedo para preservá-
lo. Regulando minha respiração, antecipo o prazer ao fechar os
olhos e aumentar a velocidade da punheta. Dois minutos depois,
Paola está de volta e fica entre minhas pernas. Ela tira minhas mãos
de mim e me acaricia devagar; depois, aumenta o ritmo, subindo e
descendo rápido. Isso é toda a porra do céu para mim. Paola me
engole até o fundo, e um gemido alto escapa da minha garganta,
um dedo delicado no meu traseiro, começando com um carinho
suave e superficial, até ela me penetrar. Sua língua rodeia minha
glande, os lábios me apertam, e uma mão continua em mim,
subindo e descendo em sincronia com a sua boca e com o entra e
sai do seu indicador. Quando está cansada de me torturar dessa
maneira, volta para mim e me beija gostoso, profundo, exigente, e
me deixa sem uma partícula de ar nos pulmões.
— Pronto, Liam? — sussurra em mim, a ponta do pênis de
plástico roçando lentamente na minha bunda.
— Nunca quis tanto isso com alguém como quero com você
— declaro, puxando seu rosto para mais perto do meu. — Me use,
Paola. Me use como bem entender.
Ela se afasta, pega o lubrificante na mesinha ao lado e não o
economiza em mim e na cinta-peniana. Minhas pernas rodeiam sua
cintura e eu ergo um pouco mais os quadris para facilitar o acesso.
Paola vai empurrando devagar, seus olhos atentos nos meus para
qualquer sinal de que deve parar, sua mão leve batendo uma
punheta suave.
O prazer me atinge aos poucos, conforme ela me penetra e
estimula minha glândula prostática. Afundo no colchão com um
gemido rouco, gostando de toda a porra do conjunto. O prazer não
vem só das suas mãos me masturbando, ou do movimento bom de
vai e vem dentro de mim. Vem também porque isso tudo está sendo
feito por Paola. O prazer é físico, mas é também psicológico. As
sensações que envolvem o pegging e até mesmo o sexo tradicional
são diferentes com Paola. São diferentes porque envolvem meus
sentimentos por ela, porque envolvem a paixão, o amor que cultivo
por essa mulher há tempo demais. Isso tudo potencializa o prazer e
o eleva a um nível em que eu nunca estive.
— Liam… — ela me chama e então abro os olhos, notando
só agora que os fechei.
Entendo o tom da sua voz e movo a cabeça de um lado a
outro.
— Verde — digo entre um gemido e outro. — Verde — repito,
meio desordenado. — Continua assim. Ah, porra. Está bom
demais…
Paola sorri e aumenta o ritmo das suas estocadas e da
masturbação. Com a mão livre, ela fecha seus dedos nos meus, e o
ato amoroso em meio à nossa indecência me dá um choque de
satisfação indescritível. Ela me olha em um misto de carinho,
safadeza, deleite…
— Estou adorando ter você assim — sussurra e sua mão
deslaça nossos dedos para amaciar meu peito. — Não pensei que
seria tão bom, Liam. Estou amando te possuir, te ver rendido e
tendo prazer. — Paola faz um movimento circular e geme gostoso
em seguida. — Meu clitóris está chorando com esse dildo…
— Estimule mais — oriento. — Quero seu clitóris e sua
boceta pegando fogo para mim quando eu for te foder de novo.
Paola joga a cabeça para trás, os lábios entreabertos, a
expressão de puro deleite com o que eu disse. Seguindo meu
comando, ela se move para dentro de mim com mais força e mais
rápido, e por consequência, o dildo na cinta-peniana estimula seu
clitóris ao roçar nele. O aumento do estímulo a faz suspirar e gemer.
Suspiros e gemidos que se misturam aos meus. Suspiros, gemidos
e estímulos que logo me levam para o primeiro orgasmo.
— Eu vou gozar — anuncio, quase com um grasnado.
Paola me masturba mais rápido, me fode mais rápido e me
pede para esporrar para ela. Meu orgasmo vem com força,
avassalador, potente. Não escondo os sons altos, roucos e
descontrolados que escapam da minha garganta quando ejaculo
intensamente. Ela acalma meu corpo e diminui o ritmo enquanto
restabeleço minha respiração e os batimentos cardíacos. Sou
deixado na cama e fico aqui, afundando no colchão, apreciando a
sensação de estar no paraíso, a sensação de ser a porra do dia
mais feliz da minha vida, de ser a melhor trepada que já tive. A
sensação de que vai ser difícil superar essa mulher. Ainda mais
depois de hoje.
— Você ainda aguenta? — Paola pergunta, montando nos
meus quadris, agora sem a cinta. Devagar, ela roça o clitóris no meu
pau melado, indo para frente e para trás. — Ou quer um tempinho
para descansar e recuperar as energias?
Como resposta, ergo-a pelas nádegas, encaixo-me na sua
entrada e a faço sentar.
— Eu disse que queria essa boceta gostosa pegando fogo
pra mim. — Dou um tapa na sua bunda que a faz dar um gritinho
gostoso. — Senta, Paola. Cavalga a porra da noite inteira nesse
pau.
— Me fode, Liam — pede, lamuriosa. — Me fode como bem
entender.
E eu atendo seu pedido.
Arranho suas costas e aperto minhas pernas em torno da
sua cintura conforme Liam se arremete para dentro de mim a toda
potência. A cama range com seus movimentos bruscos e
impiedosos, e a cabeceira bate contra a parede. Ele geme e pede
para que eu finque mais as unhas na sua pele. Atendo seu pedido, e
como resposta, ele estoca com mais força em mim. Então, meu
corpo dá sinais do abalo intenso que acompanha meu orgasmo.
Encolho os dedos dos pés, afundo a unha nas suas costas e
contraio a boceta ao seu redor. Liam vem logo depois de mim,
encontrando o próprio ápice enquanto me beija.
Um instante depois, ele desaba ao meu lado, cansado, um
sorriso no rosto e olhos fechados. Eu me deito sobre seu peito e
espero que meus batimentos cardíacos voltem ao normal.
— Não sai daqui — pede, pulando da cama em seguida. Ele
veste uma cueca rapidamente e deixa o quarto.
Liam volta dez minutos depois com uma bandeja de café da
manhã. Suco, salada de frutas com aveia em flocos e algumas
torradas. Tudo em dobro porque vai comer comigo. Fico um pouco
mexida com seu gesto e sinto um quentinho no coração.
— É a primeira vez, sabia? — digo, pegando um dos
recipientes.
— O que é a primeira vez? — indaga, sentando-se ao meu
lado com seu próprio potinho de fruta. Ele dá uma garfada em um
morango e o leva à boca.
— Café na cama.
Liam franze o cenho para mim, mastigando devagar.
— Bruno nunca te fez esse agrado? — Balanço a cabeça em
negativo. No máximo, ele me levava um copo com água, isso
porque eu pedia. Liam baixa os olhos para nossa comida e fica
quieto por segundos que acho longos demais. — Não esquece da
audiência de conciliação hoje mais tarde. Isso se eu ainda for
advogado dele.
— O que quer dizer com isso?
Liam me conta o que aconteceu dias atrás no restaurante, e
se eu achei que não poderia ficar ainda mais decepcionada e
aborrecida com aquele cretino, estava redondamente enganada.
— Ele chegou mesmo em casa cheio de raiva e com um olho
roxo — digo, segurando uma risadinha. Senti satisfação em vê-lo
naquele estado, mesmo sem saber o motivo. Até perguntei o que
havia acontecido, o que foi completamente no automático, mas ele
não me disse nada. — Alguém precisava ter feito o que você fez.
Não entendo por que não me contou isso antes.
Liam abre um sorriso de lado e me olha, as íris cinzas com
um brilho que dificilmente vejo nele.
— Foi libertador — murmura e sinto que tem um significado
oculto nessas duas pequenas palavras. — Ele merecia outra surra
só por nunca ter levado café na cama pra você. — Ele se aproxima
da minha boca e sussurra: — Não contei antes porque estive bem
ocupado nos últimos dias, sabe?
Encosto a cabeça nos ombros de Liam e abro um sorrisinho
de satisfação. Não satisfação porque o cretino apanhou em público,
mas pela demonstração de preocupação de Liam, pelo ato singelo
de ter me trazido café na cama, pela lembrança das duas últimas
semanas. Passei algumas poucas noites aqui, muito por conta da
agenda no consultório e da distância longe entre minha casa e o
apartamento de Liam.
— Liam, posso te fazer uma pergunta? — questiono algum
tempo depois.
Ele está terminando seu pote de frutas e me olha, a cabeça
um pouco inclinada para o lado.
— Faça.
— Mesmo gostando de mim esse tempo todo, você nunca se
aproximou. Sempre achei que era por causa do meu irmão. Mas
uma vez, me disse que não deixaria de dormir comigo por causa do
Filippo. Então, o que te impediu?
Ele dá de ombros.
— Não sei. Por um tempo, fui fiel ao Filippo e dei ouvidos ao
que me disse sobre sermos incompatíveis. Não duraríamos um mês
juntos e a última coisa que eu queria era que saísse magoada de
uma relação comigo.
— Somos incompatíveis? — Minha dúvida é sincera.
Não parecemos incompatíveis no último mês.
Ele sorri um pouco e me empurra com os ombros.
— Está brincando comigo? Claro que somos, Paola.
Divergentes em tantas coisas. Você é agitada e sociável; eu odeio
pessoas ou lugares lotados delas. Sua playlist tem músicas que são
tortura para mim. Temos visões muito diferentes sobre Deus e
espiritualidade. E você fala. Jesus, como você fala. — Eu gargalho e
dou um beliscão na sua lombar. — Bem, e eu sou mais na minha,
mais quieto.
Coloco meu potinho vazio sobre a bandeja na cama e
suspiro. Parece que está certo. Mas até hoje, nossas diferenças
nunca criaram qualquer conflito entre nós porque acho que
passamos a maior parte do tempo pelados e ele dentro de mim.
— O Filippo deixou claro que não queria tomar partido de
ninguém — Liam continua. — E sermos tão diferentes tinha uma
chance enorme de magoarmos um ao outro. — Assinto porque ouvi
o mesmo argumento do meu irmão uma vez. — Talvez por isso eu
nunca tenha me aproximado. Aí depois, você encontrou o Bruno e
qualquer oportunidade minha com você foi por água abaixo.
— Seus pensamentos sobre não sermos compatíveis ou sua
lealdade a promessa que fez ao meu irmão mudou quando te
procurei?
Liam dá de ombros e me olha com um sorriso malicioso
— Filippo me disse: “me promete que nunca vai nem pensar
em chegar perto dela.” Quem veio até mim foi você, não o contrário.
Tecnicamente, mantive minha palavra.
Balanço a cabeça em negativo e deixo o assunto morrer. Eu
me levanto, me enrolo em um roupão e junto a louça da cama
enquanto ele vai se arrumar para ir à firma. Vinte minutos depois,
Liam está pronto e gostoso dentro de um terno azul-marinho, os
cabelos penteados de lado, perfumado e óculos escuros.
— Precisa de uma carona? — ele pergunta, ajeitando a bolsa
no ombro.
Movo a cabeça em negativo.
— Vim com meu carro. Vou ficar e dar uma ajeitadinha na
nossa bagunça. — Rodopio o indicador ao redor. O quarto dele está
uma confusão de roupas pelo chão, toalhas de banhos, lençóis e
cobertas. — Depois da reunião — dou um passo à sua frente e o
pego pela gravata —, é uma boa ideia eu vir te ver?
— Se prometer passar a noite comigo, será muito bem-vinda.
Ergo meus olhos aos seus, mas não consigo ver nada além
do meu reflexo nos óculos escuros.
— Se importa se eu trouxer alguns itens pessoais para
passar a noite?
Ele se inclina na minha direção e deixa um beijo suave em
mim.
— Traga tudo o que precisar.
Ele está para sair quando o puxo de volta e o beijo. Acaricio
sua barba rala e ignoro a batida errática que meu coração dá ao
sentir Liam apertando-me mais contra seu corpo em um gesto
apaixonado.
— Tenho um bom-dia, Liam — sussurro contra seus lábios.
Ele sorri, devolve o afago na minha bochecha e murmura de
volta.
— Já estou tendo, Paola. Já estou tendo.

Eu me arrumo mais do que o normal para comparecer à


audiência de conciliação. Ondulo meus cabelos, faço uma
maquiagem bem produzida e escolho minha melhor roupa do
armário: uma saia plissada preta e curta e uma camisa social azul,
deixando alguns botões abertos para um decote meio comportado,
mas também atraente. Enquanto me olho no espelho e gosto da
imagem que vejo, pergunto-me se quero estar sim para seduzir
Liam ou se para afetar o idiota do Bruno. No final das contas, eu só
quero me sentir bem comigo mesma, me sentir poderosa. E chego à
conclusão que me vesti para mim. Talvez eu queira arrancar alguma
reação daqueles dois, mas definitivamente eu me vesti para mim.
Chego no horário combinado no escritório e para minha sorte,
o traste também já está aqui, sentado à mesa ao lado de Liam, com
um copo de água. Bato na porta aberta antes de entrar e me sinto
muita satisfeita quando vejo a boca de Bruno cair ao me ver. Um
sorriso de satisfação surge em mim conforme me aproximo.
— Boa noite, Liam — cumprimento-o, sem me dar ao luxo de
fazer o mesmo com Bruno.
Liam está severo e impassível, como é de seu costume,
conforme me avalia, mas por dentro eu sei, de alguma maneira, que
está desejando arrancar minha roupa e me comer em cima dessa
mesa.
— Boa noite, Paola — ele responde, a voz neutra. — Sente-
se, por favor. — Aponta para uma cadeira de frente para os dois. Ele
arrasta um maço de papéis na minha direção assim que me
acomodo no meu lugar.
— Oi pra você também, Paola — Bruno alfineta.
Toda minha resposta é uma olhada rápida e um sorriso
forçado antes de me voltar para Liam e os papéis.
— Essa é a proposta do Bruno para a divisão dos bens. Se
estiver de acordo, damos prosseguimento ao divórcio sem maiores
dor de cabeça.
Liam se levanta da sua mesa e caminha até um frigobar na
sala enquanto me explica alguns pontos do documento. Eu me
esforço para que meus olhos fiquem entre o papel e a parte de cima
do corpo dele, embora eu esteja muito tentada em espiar sua bunda
que fica perfeita dentro da calça. Ele retorna para a mesa com outro
copo e uma garrafa de água.
— A casa vai ficar com o Bruno? — pergunto, apesar de não
estar mesmo surpresa. Eu já suponha que esse cretino fosse querer
o imóvel e o próprio Liam me alertou sobre isso. Liam serve um
pouco de água para mim e arrasta o copo na minha direção. —
Tenho meu consultório lá.
— Isso sequer é empecilho, Paola, pelo amor de Deus —
Bruno intervém na conversa. — Você pode arrumar outro lugar com
muita facilidade para o seu consultório.
— Não é tão simples, não — rebato, já começando a ficar
irritada com esse homem e a audiência mal começou! — Meu
consultório está projetado a atender minhas necessidades e as
necessidades dos meus pacientes, Bruno. Não vou arrumar outro
lugar com uma adaptação tão boa.
— Nós dois teremos que começar muitas coisas do zero,
Paola — ele insiste e bebe um pouco da água no seu copo. — Você
pode reconstruir seu consultório. — Bruno exibe um sorriso cínico.
— Pra você não vai ser nada difícil porque pode pedir ajuda ao seu
papaizinho rico.
Eu me controlo muito para não jogar minha água na cara
desse safado. Encontro os olhos de Liam, que de repente ficou
quieto e está apenas acompanhando a conversa. Ele está recostado
à cadeira, indicador nos lábios, olhos atentos em nós dois.
— Não vou discutir com você, Bruno. — Arrasto o documento
na direção dele. — Não estou de acordo com a divisão dos bens,
pronto e acabou.
— Nesse caso — Liam intervém —, preciso que procure um
representante, Paola, e apresente uma proposta.
Eu assinto e estou dando essa reunião por encerrada, mas
Bruno toca no meu punho e me impede de me levantar do meu
lugar.
— Paola, escuta. Não vamos tornar esse processo mais
longo que o necessário e mais difícil do que já está sendo, tudo
bem? Aceita a minha proposta. Todos os outros bens cobrem o valor
da sua parte na casa. Por que relutar tanto?
— A casa está projetada do jeito que eu sempre sonhei,
Bruno. Cada azulejo! Preciso te lembrar que você não participou em
absolutamente nada das decisões mais importantes? Eu escolhi
tudo sozinha!
— Você escolheu tudo do seu jeito! — Ele ergue a voz para
mim e aponta o dedo na minha cara. — A minha única participação
foi entrar com dinheiro que você gastava como se não houvesse
amanhã!
No caminho até aqui, prometi para mim mesma que não ia
ficar abalada com nada que esse cretino dissesse. Mas agora estou
me esforçando muito para não desabar porque dói sua acusação
injusta. Ele diz como se eu não tivesse investido um real na nossa
casa.
— Já sei o que vai me dizer — ele continua, sorriso cínico —,
que também colocou dinheiro no projeto, na reforma, na entrada e
nas parcelas. Mas eu coloquei muito mais. Setenta por cento de
todo o investimento, eu paguei, Paola. Aquela casa é minha! — O
grito junto do tapa que ele dá mesa reverberam pelas paredes e me
assusta.
— Bruno, ou você se acalma, ou terei que tirar dessa sala —
Liam adverte, cerrando o maxilar. — E preciso te lembrar que não
importa quanto tenha investido na casa? Vocês a compraram juntos,
investiram tudo juntos. A casa é dos dois. Vamos entrar em um
acordo pacífico, entendeu?
Bruno sai do seu lugar e anda de um lado a outro, irritado.
— Não estou te pagando horrores para ficar contra mim. Ou
age como meu advogado, ou eu vou arrumar outro.
— Arrume — Liam responde, também se levantando, frio
como só ele consegue ser. — Não vou ficar nem mais rico nem mais
pobre perdendo você como meu cliente.
Isso deixa Bruno ainda mais irritado, que solta uma risada
esganiçada e se vira para mim, apontando na minha direção.
— Já entendi por que faz tanto questão da casa. Logo vai
enfiar um macho lá, não é? Ou você acha que não sei que já está
abrindo as pernas para alguém por aí? Dias fora de casa, chega
tarde da noite, cheiro de perfume de homem no meio das suas
calcinhas. Até na porta de casa ele foi te deixar esses dias. Eu não
sou cego, Paola!
Quero gritar com esse cretino ordinário, perguntar com que
maldita moral ele vem exigir qualquer coisa de mim. Ao invés disso,
eu mantenho minha postura e me delicio ao ver Liam perdendo a
linha com o desgraçado e o prensando contra a parede mais
próxima. Ele está visivelmente irritado com as baboseiras que Bruno
me falou, dá para notar a irritação saltar dos seus olhos, no modo
como o segura pelo colarinho e diz, entredentes e com a voz baixa,
que ou Bruno se acalme, ou ele vai lhe dar outro olho roxo.
— Entro em contato assim que tiver uma proposta — digo, ao
pegar minha bolsa sobre a mesa. Ajusto-a nos ombros e troco um
olhar rápido com Liam que está soltando Bruno agora.
Não espero por qualquer resposta e deixo a sala de reunião
orgulhosa de mim por não ter chorado ou perdido as estribeiras com
Bruno. Por não sentir nada além de repulsa por esse homem.

Alguns anos antes


Eu o avisto em uma cadeira de praia na borda da piscina e
me aproximo como quem não quer nada. Liam está distraído e
tomando sol, o abdômen definido à mostra, só uma sunga branca
que, por estar molhada, marca o contorno perfeito do seu pênis.
— Chega pra lá — digo, empurrando-o um pouco. Ele se
assusta com minha chegada repentina e rio do pulinho que dá na
cadeira.
— Paola! — exclama, erguendo o tronco para me dar um
abraço desajeitado. Ele se afasta um pouco e me dá espaço. Eu me
sento na borda da cadeira e finjo que não noto a avaliada que dá em
mim e no meu biquíni. — Filippo disse que ia passar o feriado
prolongado com umas amigas e com Bruno.
Dou de ombros.
— Ia, mas decidi vir para cá. — Direciono meu rosto para a
luz do sol e fecho os olhos, deliciando-me com o calor bom que faz
hoje. — Há muito tempo não venho para a casa de campo dos meus
avós. Senti falta desse lugarzinho. — Um pouco é verdade, um
pouco é porque meu irmão contou que havia conseguido convencer
Liam a tirar uns dias de folga do escritório e a vir para cá. Então,
mudei meus planos só para ver esse monumento de homem.
— Legal. — Ele tira os óculos escuros e se ajeita melhor na
cadeira. — Bruno não quis vir? Desde que começaram a namorar,
ele não larga de você.
Movo a cabeça em negativa.
— Bruno não é meu namorado, Liam. Estamos só ficando.
Passo a mão na sua barriga pretensiosamente, gostando do
calor e das gotículas de água e suor que formam na camada de pele
na ponta dos meus dedos. Acho que deveria ser mais direta com
Liam e dizer que estou interessada nele, que posso dispensar o
Bruno para nós dois nos divertimos. Não é nada sério com o amigo
dele, mas combinamos de não sairmos com outras pessoas
enquanto estamos ficando. Eu realmente deveria ser mais direta
porque meus sinais de que gosto dele não parecem claros e
objetivos o bastante ou Liam é muito fiel ao Filippo.
— Só ficando — ele repete, a voz baixa, seus olhos no meu
toque.
— É, você sabe. Apenas uns amassos de vez em quando e
sexo sem compromisso.
— Entendo. — Liam recoloca os óculos de sol e volta à sua
posição de antes com seu semblante frio de sempre. — Não deixa
seu irmão ouvir isso. Você sabe. — Virando um pouco o rosto para
mim, abre um sorriso bem pequeno e malicioso. — Ele pode comer
a irmã de todo mundo, mas ninguém pode comer a irmã dele.
Estapeio seu peito e rio alto. O pior de tudo é que ele tem um
pouco de razão.
— Falando em Filippo, você sabe onde ele está?
— Tem uns quinze minutos que entrou. — Indica com a
cabeça a casa atrás de nós. — Estava com uma garota.
— É claro que estava. — Rolo os olhos e me levanto
apoiando minha mão propositalmente bem próximo ao cós da sua
sunga. — Vou ver se ele se desocupou.
Brinco com a saída de praia em torno da minha cintura
enquanto caminho para dentro de casa, sabendo que Liam está
espiando. Na sala, eu encontro Mattia e Natália trocando beijos e
risadas. Eles nem notam minha presença e eu vou direto para o
quarto do Filippo. Eu não preciso bater na porta, que se abre no
momento que minha mão fechada vai contra a madeira, e uma
garota de traços asiáticos quase esbarra em mim. Ela fica um pouco
sem graça, me cumprimenta e diz que vai dar um mergulho na
piscina.
— Cheguei bem na hora — brinco, adentrando o quarto.
Filippo está de cabelos molhados e de costas para mim, ajeitando o
calção de banho. — Só vira se não estiver nada marcando, pelo
amor de Jesus.
Com uma gargalhada escandalosa, ele gira nos calcanhares
e vem na minha direção. Ele me esmaga em um abraço de urso e
deixa um beijo suave no meu rosto.
— Então, você percebeu que não sabe viver sem mim e veio
para cá?
— Você é insuportável, Filippo. Seria a coisa mais fácil do
mundo viver sem você. Vim pelo Mattia.
Ele enfia os dedos nas minhas costelas e me faz cócegas. Eu
me contorço inteira e rio escandalosamente enquanto tento fugir das
suas mãos. A tortura dura quase um minuto inteiro. Filippo não para
até me ver perdendo o ar. Pego um chinelo que encontro perto da
porta e bato na sua bunda.
— Seu idiota.
Filippo pisca para mim.
— Você me ama.
Mostro a língua para ele, bem quinta série mesmo. Ele ri e
então me conta sobre os planos que tem para o final de semana.
— Vou tentar arranjar alguma garota para o Liam — comenta
distraidamente enquanto seguimos para fora do seu quarto até a
cozinha procurar algo para comer. — Se eu não der uma de cupido,
aquele cara não sai com ninguém. Meu Deus. Será que ainda faz
voto de castidade?
Rio da sua bobeira e devolvo as cócegas de um minuto atrás.
Mas ele é mais rápido e mais forte e consegue sair em disparada
até a cozinha. No meio do percurso, Mattia grita para ele não correr
e Filippo responde com uma malcriação. Meu irmão mais velho e a
namorada me cumprimentam rapidamente e converso com eles por
um minuto antes de ir atrás de Filippo. Ele está terminando de
preparar uns aperitivos quando encosto na pia ao seu lado.
— O Liam está solteiro, então? — Tento fazer a pergunta do
meu modo mais desinteressado, como se meu único interesse fosse
conversar, não dormir com seu melhor amigo.
Mas Filippo não é idiota e não demora nada para notar
minhas reais intenções. Ele se vira para mim, mastigando um
pedaço de salaminho, e balança a cabeça com vigor.
— Nem pensar, Paola. Tira os olhos do Liam.
Bufo, emburrada, e me penduro nos seus ombros, meus
olhos como os de um cachorrinho abandonado.
— Ah, mas por que não? Você já pegou mais da metade das
minhas amigas, Filippo! Não é justo.
Ele suspira e afasta o prato com os cubinhos de queijo e
fatias de salame que está preparando e cruza os braços na frente
do peito, olhando-me com atenção e seriedade.
— Certo. Quais são suas intenções com Liam?
Pisco duas vezes, pega pela pergunta. Filippo é um palhaço.
Herdou o gene piadista do papai, que sempre tem uma gracinha na
ponta da língua, mas agora sua pergunta não é uma ironia, não é
um deboche, não é brincadeira. Ele realmente… está falando sério.
— Você gosta dele de verdade — continua, o mesmo tom
severo na voz — ou só quer diversão, como está sendo com Bruno?
Mordo o lábio inferior e desvio os olhos. Filippo é ciumento
quando se trata de mim, mas ele nunca tentou reprimir minha vida
sexual. Ele sabe que eu transo, que eu faço sexo casual com caras
que mal conheço, que também namoro sério se surge um cara
bacana. Ao perguntar se o que quero com Liam é só diversão, sua
preocupação não é com minha liberdade sexual. É com Liam. E
demoro um segundo para notar isso.
— É só diversão — confesso. — Você se diverte com minhas
amigas. — Tento o mesmo argumento de sempre.
— É, mas nenhuma delas gosta de mim, Paola. Não como
meu amigo gosta de você. Vai querer se divertir, mas ele não vai
querer que o procure de vez em quando só para transarem e
acabou. Quer se divertir? Se divirta, mas não faça isso com Liam já
que o coração e os sentimentos dele estão em jogo.
Filippo não diz mais nenhuma palavra. Termina de ajeitar os
aperitivos na bandeja, toma-as em mãos e passa por mim. Quando
já está alcançando a saída, ele completa:
— Pensa nisso, Paola. E se você se importa com meu melhor
amigo, não vai se aproximar dele se tiver só diversão para oferecer.
Seu argumento é meu xeque-mate para eu enterrar qualquer
vontade de me aproximar de Liam.
O prazer que atinge cada célula do meu corpo é
indescritível. O dildo estimula meu clitóris ao passo que o penetro
em um ritmo cadenciado. O estímulo do acessório em mim, os
gemidos roucos e deliciosos de Liam e a sensação de dominação
fazem minha boceta contrair e ficar cada vez mais molhada e
escorregadia. Já gozei umas duas vezes só assim.
— Liam — chamo seu nome ao escorregar a palma pelas
suas costas. Ele está deitado debruço na cama, joelhos ligeiramente
dobrados, o suficiente apenas para que eu tenha espaço para
masturbá-lo nessa posição. Seu rosto está enterrado entre os
travesseiros, as mãos fortes e de veias salientes apertando o lençol.
— Liam — chamo de novo na intenção de confirmar se continuo ou
paro.
— Verde — sussurra, entre um gemido e outro.
Eu ainda me acho muito inexperiente nisso e tenho medo de
machucá-lo, de não estar bom, de fazer algo errado. Por isso, sinto
necessidade de que ele converse comigo quase o tempo inteiro
usando nosso código de segurança.
Assinto e sorrio um pouquinho, escorregando mais minha
palma pelas suas costas quentes e suadas. Inclino-me sobre ele e
aperto mais meus dedos em torno do seu membro duro,
aumentando o ritmo da masturbação e da penetração, o que
arranca dele suspiros maravilhosos de prazer. Dois minutos depois,
ele goza em uma toalha sobre o lençol. Saio de cima dele, que gira
na cama, exausto, respiração ofegante, olhos fechados e cabelos
suados. Mas o sorriso de satisfação está ali, estampando seu rosto
bonito.
— A cara de quem foi bem comido — brinco, tirando a toalha
suja da cama e me livrando da cinta-peniana em seguida.
Ele ri baixinho e assente, mordendo o lábio inferior. Eu monto
seus quadris e o cavalgo devagar, como já se tornou do nosso
costume, até atingir meu terceiro orgasmo. Sua ereção está mais
potente do que antes, então é fácil chegar lá porque também estou
muito excitada.
Caio ao seu lado na cama, suada dos pés à cabeça. Deito
sobre seu tórax e ficamos algum tempo apenas deitados e
conversando coisas sem muita importância. Ele brinca com meus
dedos ou faz um carinho nos meus cabelos durante quase todo
esse período até decidirmos tomar um banho juntos.
— Procurou um advogado? — pergunta, esfregando minhas
costas. Parece que a reunião de conciliação foi há uma década,
mas tem pouco mais de uma semana. Assinto e lhe dou mais
acesso ao meu pescoço. Logo a esponja está nessa minha parte,
suave e delicada. — Vai ser uma disputa difícil.
— Sei que vai. Bruno pretende fazer pirraça, não é?
— Temo que sim. — Liam me vira para ele, deixa um beijo
nos meus lábios e me dá as costas, esticando a esponja para mim
por cima do seu ombro. Tomo-a em mãos e passo a esfregar sua
pele, por algum motivo gostando desse contato simples muito mais
que o comum.
— Estou cansada, Liam — confesso, lavando sua pele
vagarosamente e aproveitando para admirar suas costas bonitas. —
Morar com Bruno está cada vez mais impossível, ainda mais depois
da audiência. Ele vive de indiretas, malcriações e ironias para o meu
lado.
— Você sabe que pode sair da casa até entrarem em um
acordo para partilhar os bens, não é? Você não sai prejudicada,
Paola. Bruno teria que te pagar aluguel correspondente à metade do
valor de locação do imóvel.
— Eu sei. Quero dizer, eu sei que posso sair de lá, não sabia
essa do aluguel. — Movo as mãos nas suas costas, para cima e
para baixo, e dou um apertão na sua bunda firme quando a alcanço.
— Não saí por causa do consultório, Liam. Não vou encontrar uma
casa perto o suficiente de lá. É bom estar a poucos metros do seu
local de trabalho.
— Queria esse privilégio — murmura, com uma pitada de
graça. — Eu tenho que atravessar a cidade.
— Então entende por que quero ficar. Mas lidar com ele está
me deixando exausta. Queria que o processo de divórcio fosse mais
rápido para eu me livrar de uma vez daquele idiota. Mesmo que a
gente decida vender o imóvel, eu tenho certeza de que ele vai tentar
dificultar a partilha dos demais bens o máximo que conseguir. Só
para me deixar irritada.
Termino de ensaboar suas costas e parece que o assunto
morre. Liam não diz mais nenhuma palavra. Eu o giro na minha
direção e brinco com seus cabelos molhados.
— O que foi?
— Só estou preocupado — responde, com um suspiro. —
Bruno sabe que você está se envolvendo com alguém. Se ele
decidir descobrir quem é, não vai ser nada difícil.
— O máximo que vai acontecer é você deixar de ser
advogado dele.
— Espero que seja isso mesmo. — Ele me dá um sorriso
pequeno e envolve minha cintura. Sou puxada na direção do seu
tórax duro e beijada com paixão. — Quero comer você de novo —
sussurra e me empurra contra a parede, puxando minhas pernas ao
redor do seu quadril.
Suspiro na sua boca e o recebo com facilidade, sentindo-o ir
para dentro de mim centímetro por centímetro.
— Temos que ser rápidos, está bem? — peço e o beijo
rapidamente entre gemidos baixos. — Preciso ir ajudar a Lauren
com o aniversário dos pequenos.
— Rapidez e garantia de uma boa gozada — diz, entre os
dentes, arremetendo-se para dentro de mim.

— Esse vestido deixa seu traseiro uma delícia — Liam


sussurra aproximando-se de mim na mesa de docinhos, onde
termino de organizar os brigadeiros.
Procuro pelos seus olhos e vejo alguma diversão neles.
Estou prestes a lhe dar uma resposta maliciosa, mas sou pega de
surpresa quando ele aperta minha bunda e depois me dá um tapa
gostoso. Liam olha rapidamente ao redor para garantir que ninguém
está vendo nossa interação sem pudor. Filippo está do outro lado do
jardim com Arthur no colo, balançando-o enquanto uma música
infantil ressoa das caixas de som e faz o pequeno rir e se divertir.
Todos os demais estão distraídos o suficiente para não nos notar.
— Eu sei — respondo por fim, voltando a dar atenção aos
docinhos que tiro da caixa e distribuo na mesa, não me opondo à
carícia que ele faz na minha coxa. — Por isso mesmo eu o escolhi.
Liam ri baixinho e sinto seu hálito quente bem perto do meu
ouvido.
— Seria muito indecente eu propor encontrarmos um meio de
fugirmos até o banheiro do Mattia para eu foder gostoso sua
boceta?
Prendo a respiração, odiando admitir que a ideia me tenta.
— Seu safado — murmuro de volta, com um sorrisinho,
dando uma olhada rápida no vão das suas pernas.
— Não me culpe. Você é gostosa o suficiente para eu não
conseguir deixar minhas mãos e minhas bolas longe de você.
Estou elaborando uma resposta safada, mas ele se afasta
muito de repente e só entendo o porquê um segundo mais tarde, ao
ouvir a voz do meu pai depois de Liam dizer “Olá, seu Arthur”.
— Eu vou roubar um docinho. — Papai estica a mão e dou
um tapa de leve nela.
— Nem pensar, pai! Vai esperar como todo mundo.
Os olhos de seu Arthur vão até Liam, que está muito sério
agora. Ele me indica com a cabeça e diz:
— É por isso que você não deve ter filhos. Você cria, dá amor
e carinho, e é assim que te tratam. Negam um docinho a um velho
como eu. — Papai me olha agora, falso desapontamento nos olhos
avelãs. — Vai me deixar com vontade? Posso morrer a qualquer
momento, sabia? Eu nunca te neguei nada, Paola. Te criei como
uma princesinha.
Rio e reviro os olhos com seu drama. Pego um brigadeiro e
entrego para ele. Ofereço um para Liam, que não aceita. Termino de
ajeitar os doces na mesa enquanto papai e Liam conversam sobre
um assunto qualquer. Até que Filippo grita pelo amigo, e Liam vai
em sua direção. Gargalho quando meu irmão simplesmente solta o
sobrinho nos braços do melhor amigo e sai correndo, dizendo que
precisa usar o banheiro. Ele parece não saber o que fazer com a
criança no seu colo e está visivelmente perdido. O pequeno Arthur
começa a resmungar alguma coisa e logo Liam consegue contornar
a situação encontrando uma bexiga e distraindo o menino. Não sei
por quê, mas fico comovida com a cena.
— Tem um sorriso bonito demais no rosto — papai diz ao se
pôr ao meu lado e juntar as caixas vazias que vão para a
reciclagem. — Qual é o motivo? Dinheiro, carreira ou homem?
Pestanejo e me viro na sua direção rapidamente, movendo a
cabeça de um lado a outro.
— O quê? Homem? Que homem? Não. Claro que não.
Obviamente não.
Seu Arthur ergue uma sobrancelha, e eu tomo as caixas da
sua mão para descartá-las no local apropriado. É claro que papai
não vai deixar barato e por isso me segue até os fundos da casa.
— Paola, você é minha filha. Eu reconheço esse brilho de
felicidade nos seus olhos.
Amasso as caixas no lixo da reciclagem e me viro para meu
pai.
— Faz dois meses que pedi o divórcio e me livrei de um peso
na minha vida. É motivo o suficiente para eu estar feliz, não é?
Papai pondera a resposta, mas ele sabe que tem homem
envolvido, sim. Um homem incrível, orgasmos múltiplos, fetiches
sexuais e café na cama aos finais de semana. Tem como eu não
estar feliz?
— Eu sei como é — responde e suspira em seguida. Ele vem
até mim e me abraça pela cintura, guiando-me de volta à festa. —
Sabe que me livrei de um relacionamento abusivo quando conheci
sua mãe. — Aceno. Conheço a história dos meus pais de trás para
frente. — É como se desfazer de um grande fardo.
— Eu não sabia que Bruno era um fardo até descobrir as
traições e a vida dupla. Ainda me pergunto como eu nunca
desconfiei de nada, pai.
Ele para a meio caminho e me segura pelo rosto.
— Se sua mãe te ouve dizer isso, ela tem todo um discurso
pronto. — Rio um pouquinho porque é verdade. Se papai sempre
tem uma piada para contar, mamãe sempre tem um bom conselho
para dar. — Eu também demorei a notar que Beatriz era ruim para
mim, meu amor. — Ele faz um carinho gostoso no meu rosto,
completamente paterno, o mesmo carinho de quando eu era
criança, de todas as vezes que apareci na sua porta chorando por
um babaca qualquer. — Não se culpe, Paola. Foi ele quem te
enganou. Não se culpe por ter sido enganada ou por ter amado uma
pessoa que não merecia. Tudo bem?
Suspiro e concordo, deitando a cabeça no seu peito.
Voltamos a caminhar para a festa, e meu pai me anima com uma
das suas gracinhas. Ele me deixa para ir dizer algo à mamãe. No
percurso, ele passa por Liam e o aperta nos ombros, sem dizer
qualquer palavra. Franzo o cenho, confusa com esse seu ato, e
Liam olha para mim, ainda segurando meu sobrinho. Tem um
enorme ponto de interrogação nas suas íris cinzas, e eu faço um
gesto de “não sei de nada”. Ele direciona um olhar curioso para meu
pai, agora rondando mamãe que vem com os salgadinhos da festa.
Fica claro o que papai queria “conversar” com dona Louise.
Tenho a impressão de que meu pai sabe o que está
acontecendo entre mim e Liam, mas decidiu não dizer nada. Eu o
amo um pouquinho mais por isso.

Depois dos “Parabéns” eu ajudo Mattia a levar os trigêmeos


para a cozinha enquanto mamãe e Lauren distribuem os pedaços de
bolo aos convidados. Os pequenos vão comer um bolo especial
porque meu irmão e a mãe das crianças se preocuparam em não
dar açúcar aos pequenos antes dos dois anos de idade. Ele prende
Lavínia no cadeirão, enquanto eu estou prendendo o Gabriel. Meu
coração se enche de amor e felicidade em ver meu irmão mais
velho feliz de novo, com um sorriso no rosto, os olhos brilhantes ao
distrair e conversar com os filhos.
A partida brusca de Natália foi um duro golpe para Mattia. Por
mais de dois anos, ele se isolou e viveu seu luto, sua tristeza,
chafurdando em culpa ao se deixar responsabilizar pela morte da
namorada. Ele abandonou a vida de aventuras e Filippo até tentou o
convencer a voltar. Não sei se fico feliz ou triste por conta disso. Por
um lado, não há mais motivos para me preocupar com seu bem-
estar físico. Por outro, era o que ele amava fazer e sinto muito que
tenha parado depois de um trauma sério.
De qualquer forma, ele está se encontrando de novo e agora
tem nos filhos a motivação que precisava. Soube que voltou para a
terapia para ser um bom pai e um bom namorado, ainda mais agora
que trouxe Lauren e as crianças para morar com ele, apenas dois
meses depois que a reencontrou. Ao pensar nisso, penso em Bruno,
que por alguns meses acreditou que esses pequenos eram dele;
inevitavelmente, penso na minha primeira noite com Liam porque eu
estava ferida e querendo me sentir vingada. Foi uma noite intensa,
deliciosa, o começo da minha obsessão por esse homem. E com
isso, eu me lembro da sua voz ao pé do meu ouvindo me propondo
indecorosamente para transarmos no banheiro do Mattia.
— Fica bem com eles? — pergunto, terminando de amarrar
Gabriel no cadeirão. — Preciso ir ao banheiro — invento uma
desculpa.
— Claro, vai lá.
Corro até minha bolsa na sala, pego meu celular e envio uma
mensagem a Liam. “Brecha aberta. Te espero no lavabo social”. Só
leva dois minutos para ele se encontrar comigo. Ele mal entra no
banheiro e o estou prensando contra a porta, desesperadamente
pedindo por um beijo. Liam atende meu desejo, enfiando sua língua
em mim, as mãos devassas indo à minha bunda e me amaciando.
Abro os botões da sua camisa, meus dedos ágeis e desesperados,
nossas bocas alucinadas uma pela outra.
— Você me enlouquece — rouqueja ao pegar minha mão e
descer até sua ereção. Ele se esfrega em mim, a boca vindo até a
curva do meu pescoço. — Eu passo toda a droga do meu dia
pensando em te foder, Paola.
Liam me conduz para longe de onde estamos, seus dedos
ainda apertando minha bunda. Com um único impulso forte, ele me
ergue e me coloca sentada na bancada da pia. Sua língua um
instante depois está no meu colo, suas mãos vigorosas abaixando
meu decote com força para dar acesso a ele. Jogo-me para trás e
seguro um gemido mordendo o lábio inferior. Sua dedicação nos
meus seios com a língua e seus dedos longos enveredando para
dentro da minha calcinha são o motivo por não demorar nada para
eu estar completamente excitada.
Ele enfia um dedo dentro de mim e com o polegar aperta
deliciosamente o meu clitóris. Um gemido escandaloso quase
escapa da minha garganta, mas consigo tapar meus lábios a tempo.
Liam nem mesmo se preocupa com isso, continua apenas chupando
meus peitos e me fodendo com os dedos. Um minuto depois, ele me
faz apoiar os pés na bancada de mármore e me abre mais para ele.
Coloca minha calcinha de lado, brinca com minha boceta e só então
a chupa do seu jeito forte e sem frescuras, os lábios afundados em
mim. Agarro nos seus cabelos, empurrando seu rosto com mais
força na minha direção, como se eu pudesse fundi-lo a mim. Sua
língua rodopia meu clitóris, sobe e desce por toda minha extensão,
me penetra e me suga. Isso é meu fim, meu começo, meu céu e
meu inferno.
Eu choramingo no meu lugar, lutando contra toda a vontade
de ser escandalosa. Quando não aguento mais e deixo um gemido
escapar do fundo da minha garganta, ele está aqui, sufocando-me
com um beijo apertado e exigente ao mesmo tempo que se afunda
em mim com uma estocada vigorosa. A braguilha da sua calça bate
contra a pedra da bancada e continua batendo enquanto ele entra e
sai de mim, mas nós não nos preocupamos com isso.
Liam me puxa para mais perto da beira da bancada e estoca
furiosamente, seu membro deslizando com facilidade pelos fluidos
que pingam da minha boceta. Porque é assim que eu fico sempre
que ele me come. Pingando, piscando, subindo pelas paredes,
desejando mais, mais forte, mais fundo, mais beijos, mais dele em
todas as suas versões.
Eu estou quase gozando quando o trinco da porta do
banheiro se move. Eu me assusto e direciono o olhar para a
madeira, entendendo que tem alguém tentando usar o banheiro.
Liam para de se mover, os olhos um pouco assustados.
— Está ocupado! — aviso e tento esconder o cansaço e a
surpresa no meu tom de voz.
Torço para quem quer que esteja do outro lado entenda o
recado e volte mais tarde. Não existe a mínima chance de eu sair
desse banheiro com Liam logo atrás de mim. Qualquer imbecil com
metade de um cérebro entenderia o que estamos fazendo.
— Está tudo bem, Paola?
— Porra — Liam murmura e sai de dentro de mim assim que
ouve a voz de Mattia.
Eu pulo da bancada e ajeito minha calcinha no lugar ouvindo
Liam perguntar o que vamos fazer enquanto coloca a calça no lugar
e fecha a braguilha. Eu não tenho ideia do que vamos fazer!
— Responde alguma coisa, Paola! — sussurra, já que havia
me esquecido completamente de dar uma resposta ao meu irmão
mais velho.
— E-está sim. Eu já estou saindo.
— Não demora. Preciso usar também.
Meu Deus, era só o que me faltava. Engulo em seco e respiro
fundo, regulando minha respiração.
— Tem outro banheiro, Mattia! O do seu quarto. Use o de lá.
— Quero usar o lavabo social. — É claramente uma
provocação. — Estou esperando — avisa, esticando a letra “o”.
Como na nossa infância, ele está só me azucrinando, como quando
eu queria assistir ao meu desenho favorito e ele ficava passando na
frente da televisão o tempo inteiro só para atrapalhar.
— Mas que droga — reclamo baixinho, e Liam passa a mão
pelos cabelos, visivelmente nervoso.
Olho para ele, pedindo socorro. Mattia não vai sair de lá de
fora e nós não temos escolhas a não ser deixar o banheiro. Liam
afaga a barba e inspira fundo.
— Tudo bem — sussurra, segurando-me pelos braços. — Ele
vai me ver, vai entender tudo, mas não acho que vai avançar em
mim ou qualquer coisa do tipo porque não pretende estragar a festa
de aniversário dos filhos. — Continua falando baixinho.
— O Mattia é mais tranquilo, mas isso não significa que não
vai ficar bravo por estarmos transando no banheiro dele.
— Acha que ele vai contar ao Filippo? — A preocupação de
Liam está nos seus olhos e no seu rosto. Ele pouco se importa que
Mattia descubra ou que dê uma dura nele. Sua preocupação é com
Filippo, com a iminência de perder a amizade dele.
Nós decidimos, semanas atrás, em um acordo silencioso e
implícito, que não contaríamos nada ao meu irmão do meio. Liam
me disse que não estava preparado para contar sobre nosso caso e
acabamos por deixar as coisas simplesmente… acontecerem.
— Se eu pedir para guardar segredo, ele guarda.
Ele apenas assente e endireita a postura. Inspiro fundo uma
última vez, me viro e abro a porta. Só depois disso eu me dou conta
que meu vestido está um pouco desajeitado — o decote torto
denuncia que Liam o tirou do lugar para finalidades nada inocentes
— e que eu nem lembrei de conferir minha aparência no espelho. O
batom deve ter saído um pouco na boca dele e meus cabelos
provavelmente estão bagunçados. Liam vem logo atrás e aposto
qualquer coisa que sua cara nem deve estar queimando. O
entendimento vai tomando o rosto do meu irmão assim que ele vê o
homem atrás de mim.
— Jesus Cristo — exclama.
Faço um gesto de “calma” com as mãos e tento dizer:
— Mattia, eu…
Ele balança a cabeça de um lado a outro, olhos fechados.
— Não poderiam ter se segurado um pouco? Eu nunca mais
vou conseguir entrar nesse banheiro.
Aperto os lábios, querendo segurar uma risada. Não sei por
que de repente me deu vontade de rir, provavelmente é por conta da
cara de desesperado do meu irmão tentando não me imaginar com
Liam naquele banheiro, fazendo coisas que ele claramente também
faz.
— Foi inadequado — Liam diz devagar atrás de mim, e o
controle e frieza na sua voz me surpreendem. Antes que possa
terminar de se justificar, Mattia interrompe:
— Não. Sem explicações. Só não façam mais isso no meu
lavabo social. E parem de se pegar pelas costas do Filippo.
Mattia gira nos calcanhares e nos deixa sozinhos,
provavelmente indo para o banheiro do seu quarto. Eu me viro para
Liam, o rosto impassível, maxilar duro, olhos perdidos. Até dois
meses atrás, eu não conseguiria ler esse homem, não conseguiria
entender a falta de emoção nos seus traços ou o que estaria
sentido. Agora, sou capaz de compreendê-lo. Mesmo que esteja
escondendo muito bem, ele não está indiferente. Liam está
morrendo de preocupação.
— Ele não vai contar — tento acalentá-lo. — Pode confiar no
Mattia.
Liam fecha os olhos e suspira.
— Certo.
— Eu vou me ajeitar melhor — digo, correndo até minha
bolsa e pegando a maquiagem para retocá-la — e vamos lá comer
um pedaço de bolo.
— Vou indo na frente para não levantar suspeitas. — Liam
deixa um beijo rápido nos meus lábios e se vai.
Eu corro para o banheiro.

Assim que a festa acaba e os convidados vão embora, a


família fica encarregada de limpar a bagunça. Mamãe e Filippo se
responsabilizam em cuidar dos pequenos, dar-lhes banho e colocá-
los para dormir. Meu pai e Lauren ficam com a responsabilidade de
limpar a cozinha e guardar as sobras de comida. Meu irmão e eu
ficamos com a missão de juntar o lixo do quintal. Ele está logo atrás
de mim, juntando os copos descartáveis quando pergunta:
— Há quanto tempo isso está acontecendo?
Eu sabia que essa conversa aconteceria, uma hora ou outra.
Suspiro e, sem parar com meu trabalho de juntar os pratos e copos
de plástico e jogá-los no saco de lixo, respondo:
— Pouco tempo. Desde a noite em que decidi que ia pedir o
divórcio. — Dou de ombros. — Eu sou uma mulher adulta, então,
nada de sermões — aviso.
Ele levanta as mãos em sinal de rendição e depois joga uma
pilha de pratinhos no saco preto.
— Tudo bem, mas… tinha que ser justamente com o
advogado do seu ex-marido e melhor amigo do Filippo, Paola? Você
perdeu o juízo.
— É por isso que se chama “sexo de vingança”, Mattia.
Precisava ser com alguém perto daquele cretino. Aproveitei que o
Liam sempre teve uma queda por mim e… bom, aconteceu.
— E quantas vezes pretende se vingar do Bruno dormindo
com o Liam? — Ele se aproxima mais de mim, vindo pegar o lixo da
outra mesa. — Porque pelo que entendi, estão se vendo com
frequência.
Suspiro, quase como agonia, porque tudo saiu do meu
controle. Era para ter sido só uma noite, não ter virado uma
frequência deliciosa na sua cama. Não era para existir passeios no
parque com seu cachorro, nem realizar fantasias sexuais incríveis,
nem levar alguns pares de roupa, itens de higiene pessoal e um
pouco de maquiagem para seu apartamento. Não era para ter
jantares regados a bom vinho, conversas sobre nosso dia ou sexo
na ilha no centro da sua cozinha.
— Era para ter sido só uma veizinha — digo e volto a
recolher o lixo da mesa do bolo. — Eu deixei bem claro isso, ele
aceitou os termos, e eu nem esperava que fosse bom, só que…
Mattia, ele é bom demais. Eu não consigo ficar perto daquele
homem sem pensar em arrancar a roupa dele.
Meu irmão engasga com a própria saliva, e rio da sua reação.
Ele deixa seu saco preto em um canto e vem até mim.
— Não estou preocupado com quem dorme ou com quem
deixa de dormir, Paola. É sua vida e não vou interferir. Mas me
preocupa que tenha se precipitado assim. Seu divórcio ainda nem
saiu e você já está mergulhando…
Movo a cabeça de um lado a outro, vigorosamente.
— Não é sério, Mattia. É só diversão. Olha, eu passei cinco
anos tendo sexo mediano que eu achava que era bom, e o Liam me
mostrou o que é sexo bom e incrível de verdade, me ofereceu algo
maravilhoso, quase transcendental. Só estou me divertindo e
aproveitando. Não vai rolar sentimentos.
Ele dá uma risada baixa e suspira.
— Da sua parte pode ser que não, mas… você mesma disse
que o Liam sempre teve uma queda por você. Essa relação pode
magoá-lo, Paola. Além do mais, o Filippo não sabe disso. É o
melhor amigo dele, e não disseram nada para nosso irmão. Ele vai
ficar furioso e magoado quando souber.
Considero seu conselho e assinto devagar. Liam esteve
determinado a contar ao Filippo, mas voltou atrás, e, de alguma
maneira, compreendo seu medo. Mas Mattia tem razão. Tem razão
sobre mentirmos para Filippo, tem razão sobre os sentimentos de
Liam. Eu já recebi um conselho parecido anos atrás de Filippo e isso
freou minha vontade de me aproximar do seu melhor amigo porque
eu sempre tive apenas diversão para oferecer. Cinco anos depois,
eu estou fazendo exatamente o que não deveria estar fazendo:
oferendo apenas diversão quando sei que aquele homem gosta de
mim.
— Eu sei. Filippo se preocupa demais — digo, tentando não
revirar os olhos para as preocupações exageradas do meu segundo
irmão mais velho. — Vou contar para ele e pensar no que me disse
sobre o Liam. A última coisa de que preciso é magoá-lo. Mas ainda
não estou disposta a entrar em um relacionamento nem abrir mão
do sexo incrível que ele me oferece. Vou ter que achar um meio-
termo. — Sou completamente sincera.
Não quero magoar Liam, não quero entrar em um
relacionamento agora, mas também não quero abrir mão do nosso
sexo incrível.
— Dá pra parar de falar em fazer sexo com o Liam na minha
frente, Paola? Ainda te vejo como minha irmãzinha.
Gargalho e me jogo nos seus braços.
— Guarda esse segredo para mim, não é? — peço, mais
preocupada com a amizade de Liam e Filippo do que comigo.
Ele solta um suspiro e assente.
— Se resolva logo ou vai acabar virando uma bola de neve,
Paola. Vai ser terrível quando o Bruno souber que está dormindo
com o amigo e advogado dele, vai ser terrível quando Filippo souber
que nós mentimos para ele. Está só se metendo em encrencas,
garota, e está me levando junto.
Beijo suavemente no seu rosto e volto à minha tarefa.
— Vou resolver isso tudo, não se preocupa.
Eu acordo com um chacoalhar incomum na cama e um
peso sobre meu corpo. Um instante depois, algo com pelo está
entre mim e Paola e levo só um instante para entender que é Zacky.
Ela desperta logo em seguida e sorri, alegre em ver o cachorro
implorando por atenção, a guia entre seus dentes. Confesso que
estou em falta com ele desde que Paola me procurou naquela noite,
dois meses atrás, tendo meu foco, tempo e dedicação todo quase
na loira que mexe com todas as minhas estruturas. Acaricio seus
pelos e tento fazê-lo se deitar e ficar quieto porque mal são sete da
manhã de sábado e eu quero descansar. Mas o cachorro não
colabora. Sobre as quatro patas, ele pula e anda de um lado a outro
na cama pedindo pelo passeio.
— Você está carente, Zacky? — Paola pergunta, abraçando-
o e deixando um beijo nos pelos dele. — Liam está sendo um
péssimo dono, não é? Quando foi a última vez que passearam?
Como se Zacky pudesse responder. Ele late e balança a guia.
— Na quarta-feira — respondo, em minha defesa. — Ele que
está com ciúme, isso sim. Não sou um péssimo dono — reclamo,
franzindo o cenho.
Paola ri e se levanta, obrigando-me a fazer o mesmo e a
levarmos Zacky para passear no parque. Resmungando, eu saio do
quentinho da minha cama e vou me trocar. Meia hora mais tarde,
depois de tomarmos um café reforçado, estamos caminhando pelas
calçadas do bairro, meu cachorro todo serelepe na coleira, a garota
dos meus sonhos ao meu lado segurando na minha mão, dentro de
uma legging que a deixa gostosa demais.
— Não conversamos sobre ontem — digo, com cuidado. —
Evitei o Mattia o resto da festa.
Ela ri um pouquinho e deita a cabeça no meu braço.
— Ele prometeu guardar segredo e me deu alguns conselhos
sobre você.
Franzo o cenho.
— Sobre mim?
Ela assente e fica em silêncio até chegarmos ao parque.
Solto Zacky da guia, que sai em disparada atrás de alguns patos na
beira do lago. Paola me leva até uma árvore e nos sentamos sob a
copa, eu contra o tronco, ela de frente para mim.
— Liam, você está confortável com essa… — Paola para,
parece escolher bem as palavras. — Com essa nossa relação?
Analiso sua pergunta que tem um tom de preocupação.
Analiso o que sinto quando penso que entre nós é exclusivo, mas
nada sério, embora não pareça. Nosso relacionamento tem cada
vez mais se parecido com um namoro, mas Paola gosta de afirmar
que não é um.
— Eu não quero magoar você — ela continua, notando minha
falta de resposta. — Então, se estiver desconfortável que a gente
esteja só se divertindo, me fala.
— Se eu disser que estou desconfortável, o que vai fazer?
— O que for melhor para nós dois. — Sua resposta vem sem
qualquer hesitação. — Podemos parar ou podemos encontrar outro
meio de eu continuar cavalgando em você sem que estejamos em
uma relação porque ainda não estou pronta para uma, Liam.
Desvio os olhos e travo o maxilar quase sem perceber,
incomodado com a última parte. Não gosto de saber que ela só me
enxerga como uma trepada e nada mais. Talvez eu devesse mesmo
parar. Talvez eu devesse lhe dizer que não quero mais essa
incerteza do que somos, de quanto tempo temos juntos. É o certo a
se fazer, mas eu ainda não consigo.
— Gosto de estar com você — ela continua. É claro que
continua. Paola sempre tagarela demais enquanto eu sempre ouço
mais do que falo. — Gosto do que temos. É muito egoísta eu não
querer abrir mão do nosso sexo, mas também não querer nada
sério?
— É egoísta pra caralho, Paola — respondo, mais rude do
que eu queria. Noto um segundo depois a rudeza em minha voz e
me viro para ela. Paola está cabisbaixa, provavelmente atingida pela
minha malcriação. Suspiro e acaricio seu rosto. — Eu estou ciente
do que temos, de que é só diversão, e por enquanto está tudo bem
para mim — digo, muito mais calmo agora. — Quando não estiver
mais, eu vou te falar.
— Liam, tem certeza? — pergunta, cautelosa.
Não.
— Tenho certeza. Entendo que não queira uma relação agora
e está certa. Também gosto do que temos apesar de querer mais,
Paola. — Sou franco e sustento nosso olhar por alguns segundos.
— Você foi sincera comigo desde o começo e eu aceitei. Está tudo
bem.
Beijo o canto da sua boca delicadamente para firmar que sim,
está tudo bem. Lá no fundo, entretanto, não estou tão certo disso.

Paola quer brincar com a porra do meu juízo. Não existe


outra explicação para ela estar nesse momento parada sob o umbral
da porta entre o quarto e meu banheiro com a maldita fantasia de
coelhinha. Maquiagem forte, cabelos soltos, o body suspendendo os
seios, saltos e meia-calça preta.
Acaricio meu pau, já duro e doido por ela, e não desvio meus
olhos quando ela vem até mim, ajoelha na cama e monta nos meus
quadris. Sexta, nove da noite, e eu prestes a transar com a mulher
mais linda e gostosa que já conheci. Os processos sobre a mesa do
meu escritório que eu jurei que ia dar atenção que lutem.
Paola beija meus lábios com carinho, esfregando-se em mim
bem devagar. Ela desvia a boca para meu queixo, clavícula e tórax
nu. Até que sua mão está dentro da minha cueca, masturbando-me
lentamente e, sem muita demora, sua boca está em mim. Paola me
engole até o fundo, uma mão nas minhas bolas, outra
acompanhando o ritmo dos seus lábios úmidos. Jogo a cabeça
contra a parede, suspirando alto. Afundo meus dedos nos seus
cabelos e os aperto um pouco, conduzindo-a devagar em direção à
minha ereção.
— Vem aqui — ela pede, puxando-me pelos punhos.
Eu simplesmente vou sem pensar muito e quando me dou
conta, estou contra uma parede e ela está agachada na altura dos
meus quadris, colocando-me de volta na sua boca. Mais fundo. Mais
úmido. Mais devasso. Movo um pouco os quadris na sua direção,
enfio os dedos nos seus cabelos e a empurro para mim no mesmo
ritmo, respeitando seus limites. Paola me belisca e sei que é sinal
que está demais para ela. Jogo a cabeça para trás, um suspiro
agoniado escapando do fundo daminha garganta, e me esforço para
deixá-la comandar o momento. A vontade de deslizar rápido e duro
para dentro da sua boca está me matando.
Suspiro de frustração no momento em que ela me deixa, mas
isso dura só um instante. Sua mão substitui a boca em uma carícia
rápida e firme, e quando vou gemer, ela invade meus lábios em um
beijo exigente. Excitado demais, eu tomo controle da situação,
agarro seu corpo e a viro contra a parede, a bunda empinada para
mim. Abro os botões do body entre suas pernas e tenho acesso à
sua boceta sob a meia-calça. Provoco-a por um momento antes de
rasgar o tecido fino e acariciá-la. Deslizo um dedo para dentro dela,
apreciando seu calor e umidade. Sempre tão gostosa, molhada,
disposta. Entregue.
Encaixo-me na sua entrada e a penetro devagar. Fico ainda
mais duro uma vez dentro dela e não faço qualquer esforço para me
controlar ou ser delicado. Aperto seus quadris e a fodo
alucinadamente, prensando seu corpo contra a parede cada vez
mais. Incontrolável. Profundo. Devasso. Sem qualquer pudor.
— Empina mais — ordeno, soltando um tapa na sua bunda.
Paola atende a ordem quase imediatamente ao se encurvar mais
para baixo, espalmando contra a parede. Ela está muito
escorregadia que chega a gotejar pelas pernas e isso é demais para
mim. Puxo seu cabelo na pegada que ela gosta e sussurro: — Vou
te arruinar para qualquer outro homem, Paola. Duvido que um dia
encontre alguém que foda sua boceta como eu fodo. — Escorrego
um dedo pelas suas pernas sentindo sua lubrificação. — Duvido que
um dia encontre outro que te deixe tão molhada assim.
Ela geme, trêmula, e bate a bunda na minha direção. Viro-a
para mim, sem parar de prensá-la contra a parede, faço-a contornar
as pernas na minha cintura e a fodo duro. O desespero que Paola
se agarra a mim e me beija é delicioso.
— Quer se exibir? — indago baixo contra sua boca, meu pau
entrando e saindo dela a toda força. — Quer me dar a boceta
sabendo que existe a possibilidade de sermos flagrados?
Paola rola os olhos e suspira.
— Quero.
Sem sair de dentro dela, eu a levo até minha varanda e a
faço se apoiar contra a balaustrada, ainda de costas para mim. As
luzes noturnas da cidade pincelam a paisagem à nossa frente, o
vento refrescante contra nossas peles, a iminência de algum vizinho
dos prédios nas redondezas nos ver. Nada disso importa. Só o que
importa é nossa conexão, a realização do seu fetiche, seu gozo
escorrendo pelo meu pau. Ela está dando sinais de que vai gozar
quando a puxo para o estofado na varanda.
— Cavalga — ordeno, apertando sua bunda e a ajudando a
subir e descer em mim ao mesmo tempo que ergo os quadris e
meto gostoso nela. Paola está cansada e ofegante, completamente
sem controle, os gemidos altos sendo levados pela brisa, o que
denuncia que está quase chegando lá. — Geme sentando no meu
pau, Paola. Geme.
— Liam — choraminga, rebolando intensamente em mim. Ela
se apoia no meu ombro e aumenta o ritmo da cavalgada como uma
verdadeira amazona. — Vou gozar — anuncia e finca as unhas na
minha pele.
O gemido que ela dá perto de atingir seu ápice não é desse
mundo e me deixa muito, muito mais duro do que já estou. Ela senta
vigorosamente, o corpo balançando sem controle, olhos fechados,
lábios entreabertos, suspiros escandalosos. É tudo excitante demais
e não me seguro nem mais um segundo.
— Goza — incentivo, puxando seu rosto para o meu. Choco
nossos quadris com muito mais força, o som de pele contra pele
reverberando noite adentro, meu pau fundo nela. — Eu vou encher
sua boceta de porra, Paola — aviso, com um gemido agoniado e
estoco. Estoco fundo, com força, descontrolado, rápido.
Meu coração parece prestes a sair do peito quando gozo
dentro dela e ela vem comigo, gritando que está gozando gostoso.
Paola cai sobre meu tórax, acabada e respirando com dificuldade.
Eu abraço seu corpo e inspiro seu cheiro almíscar. Com cuidado, eu
me levanto e a levo para dentro. Deito-a na cama e fico entre suas
pernas, distribuindo beijos suaves pelo seu rosto.
— Tem razão — sussurra, ainda cansada, olhos fechados. —
Você me arruinou para qualquer outro homem.
— Se te consola, você me arruinou para qualquer outra
mulher há muito tempo.
Decidimos pedir pizza para o jantar. Aviso a portaria que tem
um pedido a caminho e que pode liberar a subida assim que chegar.
Enquanto esperamos pela entrega, tomamos um banho e temos um
momento divertido de conversas e risadas sob a água quente. Ela
relembra a festa de aniversário dos trigêmeos uma semana atrás e
ri da minha cara ao recordar como fiquei meio desesperado quando
Filippo me entregou uma das crianças e simplesmente sumiu por
alguns minutos. A campainha toca no exato momento em que
terminamos de nos vestir. Eu vou atender a porta, e Paola se
encarrega de buscar talheres e o vinho. No percurso, meu telefone
toca, mas ignoro porque provavelmente é a portaria avisando da
subida do entregador.
Pago a pizza no cartão e dou uma gorjeta ao motoboy. Ele
está saindo e eu estou fechando a porta do apartamento, mas uma
figura conhecida surge. Dá para ver que Bruno está nervoso e não é
pouco. Nesse momento, eu me praguejo por não ter tirado o nome
dele da lista de pessoas autorizadas a subir. Por não ter atendido ao
telefone dois minutos atrás.
— Cadê a Paola, Liam? — pergunta, irritação escorrendo por
cada sílaba pronunciada. O motoboy dá uma olhada rápida entre
mim e o homem que acabou de chegar, provavelmente entendendo
tudo errado, e vai embora rapidamente.
Eu nem me dou ao luxo de responder porque está claro que
ele sabe que ela está aqui. Tudo o que faço é barrar seu avanço
colocando meu corpo sob o umbral. Bruno dá uma risada de
nervoso e balança a cabeça de um lado a outro.
— Vai embora, Bruno.
Paola surge atrás de mim tagarelando alguma coisa sobre a
pizza e tira a oportunidade do ex-marido de me responder. Ela
estaca assim que o vê, olhos arregalados e lábios entreabertos.
Bruno a avalia com uma expressão de nojo no rosto ao notar a
minha camisa no corpo dela.
— Eu sabia — Bruno diz, empurrando-me para avançar
apartamento a dentro. Eu controlo a raiva nos pulsos e encosto a
porta. Apoio a caixa de pizza no aparador e ele se vira para mim: —
Não perdeu tempo, não é, Liam? Não demorou nada para estar
comendo a minha mulher.
— Ex-mulher — Paola corrige, irritada. Eu olho para ela e a
vejo se segurando para não avançar nesse cretino e dar uma surra
nele. Entendo o sentimento. Estou me segurando para a mesma
coisa.
— Ainda não assinei os papéis. Minha mulher — provoca,
agora voltando-se para Paola.
— Ah, pelo amor de Deus, Bruno. Só vai embora — Paola
diz, cansada.
Eu já me preparo para ter que enxotá-lo daqui caso comece a
dar o seu showzinho, mas o homem não parece que vai fazer
escândalo. Ele se vira na minha direção de novo, o semblante ainda
irritado, e balança a cabeça em negativo.
— Estamos quites, não é?
— Quites? — questiono, confuso.
Ele assente e dá de ombros.
— Você gostava da Paola, eu trepei com ela na primeira
oportunidade que tive. Paola é minha esposa, você trepou com ela
na primeira oportunidade que teve. Sem mágoas, de verdade. Eu
teria feito o mesmo se fosse o contrário.
— É por isso que você é um filho da puta, e eu não —
respondo, mantendo-me no controle. — Não tenho dormido com a
Paola para me vingar de você.
Ele dá um sorrisinho de escárnio e tomba a cabeça um pouco
de lado.
— É, eu sei que não. Mesmo depois de tanto tempo, você
ainda gosta dela, o que eu acho patético. Mais patético ainda? É
deixá-la te usar para se vingar de mim. Está bem claro por que ela
veio abrir as pernas justamente pra você.
— Liam, tira esse homem daqui — Paola pede, com a voz
trêmula.
Ele faz um gesto com as mãos para ela e se volta para mim
de novo.
— Ela dormiu com você pra se sentir vingada, então… isso
faz dela uma grande filha da puta, não é? Ainda mais porque Paola
sempre soube da sua paixão por ela.
Engulo em seco e travo o maxilar. Bruno não está dizendo
nenhuma inverdade . Paola chegou aqui aquela noite e deixou clara
as suas intenções. Eu sempre soube que ela estava apenas me
usando. Por algum motivo, ouvir essa constatação da boca dele me
dá um sentimento diferente.
— Me poupe das suas provocações — digo, com um
sussurro. — Eu sei muito bem quais eram as intenções da Paola
quando me procurou. Não vai me afetar, Bruno. Agora, vai embora.
Ele assente devagar, parecendo conformado, e então se vira
para a ex-mulher.
— Se apaixonou por ele, Paola? Durante esse sei lá quanto
tempo que estão trepando, foi capaz de se apaixonar pelo Liam? Ou
só está curtindo o sexo? Ou só o está usando constantemente para
curar suas feridas, superar o fim do nosso casamento?
Eu a vejo piscar diversas vezes, a boca entreaberta, a
expressão denunciando que ou não tem uma resposta ou sua
resposta vai me machucar. Mas não preciso que ela diga nada. Eu
sei que a reciprocidade entre nós é só na cama. Ela não está
apaixonada por mim e sei lidar com isso. Não sei lidar com o
restante do que Bruno disse.
Que fui seu brinquedinho sexual de vingança sempre estive
ciente, mas nunca me passou pela cabeça o verdadeiro motivo de
ela continuar vindo e vindo e vindo até mim. De continuar me
procurando para transarmos. Achei que fosse o sexo incrível a
razão de ela não sair da minha casa, da minha cama, debaixo de
mim. Mas talvez não seja. Talvez ela esteja me usando para
esquecer o ex-marido. A constatação dói em mim de um jeito
insano.
— Não tem sequer o direito de estar se sentindo assim —
Paola diz, trazendo-me ao mundo real, e agora noto que ela chora
timidamente. — Não tem o direito de se sentir traído quando me
traiu muito mais. Quando levava a porra de uma vida dupla!
— Não fuja da pergunta, Paola! Responde, vai! Você gosta
do Liam ou só está tentando me esquecer?!
Cansado dessa merda toda, eu puxo Bruno pela gola da
camisa e o jogo para fora do meu apartamento. Bato a porta com
toda força e encosto a testa na madeira, tentando regular as batidas
alucinadas do meu coração. Eu a sinto se aproximar pelas minhas
costas e parar a um centímetro de mim.
— Liam… não dê ouvidos ao Bruno.
Fico tentado a repetir a pergunta, a exigir uma resposta. Ao
invés disso, aperto os olhos com força e afasto de mim essa
vontade. Não quero saber a resposta. Eu tenho medo de saber a
resposta.
— Tudo bem — murmuro, devagar e calmo. — Vamos comer
a pizza antes que esfrie.
Pego as duas caixas e as levo até a mesa.
E assim, em um passe de mágica, minha noite de sábado
perfeita é arruinada.
Filippo diz alguma coisa, mas eu me distraí ao conferir uma
mensagem no meu celular e perdi o que me disse. É Bruno dizendo
que não me quer mais como seu representante por motivos óbvios.
Eu não sei se fico aliviado ou se sou indiferente ao ler a parte final
da mensagem. “Não pretendo fazer nada a respeito de você dormir
com Paola junto aos demais sócios do escritório, fica tranquilo.” Se
ele resolvesse tomar alguma providência, eu estaria mesmo bem
encrencado.
— Mensagem da garota especial? — Filippo pergunta,
empurrando-me com os ombros e tentando ver a mensagem.
Guardo o telefone rapidamente no bolso da calça, volto para ele,
forço um sorriso e decido não responder. Pego minha cerveja sobre
a mesa e dou um gole. — Falando nisso, quando vou conhecê-la?
Já tem mais de um mês que me falou dela e até agora nada.
Filippo vira um gole da sua cerveja e olha ao redor. Estamos
na casa dos pais dele em um churrasco de família. Eles não
esperam qualquer ocasião especial para se reunirem e fazer algo no
fim de semana. Qualquer motivo é motivo para colocar carne na
brasa e abrir umas cervejas. Ontem à noite, logo depois da pizza
com Paola — em um momento que de repente ficou estranho
demais entre nós —, recebi uma ligação do meu melhor amigo me
convidando para a ocasião.
— Ela é tímida. — Uso o mesmo argumento de antes e sigo
seu olhar, observando ao redor. Paola está conversando
animadamente com Lauren, que cuida de organizar a mesa com a
comida para o almoço que logo vai ser servido. — Mas prometo que
em breve, vou te apresentar a ela. — Soo sincero.
Essas omissões já deram. Eu não posso mais esconder isso
do Filippo e dormir com minha consciência tranquila. Vou conversar
com Paola mais tarde, dizer que estou pronto.
— É isso mesmo ou está com medo de eu traçar a sua
namorada? — pergunta e ri em seguida. Dou um soco no seu braço
e balanço a cabeça em negativo. — Pode ficar tranquilo, Liam. Não
vou roubar sua garota.
— Sei que não.
Uma gargalhada infantil ressoa no quintal, e direcionamos o
olhar para o pequeno playground em que estão se divertindo os
trigêmeos com o avô. Eu perguntei do Mattia mais cedo e soube que
ele está de plantão no hospital em que trabalha como pediatra. Volto
meu olhar para Paola outra vez e não tiro meus olhos dela por
segundos suficientes para Filippo notar.
— Isso não é legal — diz, sussurrando no meu ouvido. —
Nem comigo, nem com a garota especial.
Baixo os olhos, sem dizer uma palavra, e entorno outro gole
da minha bebida para engolir junto a vontade de contar tudo para
ele. Prometi a Paola que faríamos isso nós dois juntos e pretendo
cumprir minha promessa.
— Você ainda gosta da Paola, não é?
Ergo os olhos na sua direção e encontro um par de íris claras
atentas e sérias sobre mim. É uma seriedade diferente. Filippo não
está com raiva ou ciúmes de constatar isso. Acho que está
preocupado. Viro outra dose da minha bebida e suspiro.
— Gosto.
A admissão o faz balançar a cabeça em positivo.
— Então, aquela história de garota especial…?
Aperto os olhos e massageio as têmporas, odiando o rumo
que essa conversa está tomando, odiando o caminho que minhas
omissões estão me levando.
— É complicado, Filippo.
Ele não diz nada por longos segundos e eu não tenho
coragem o bastante para manter contato visual.
— Eu sempre torci pra você encontrar uma garota bacana. Aí
você me disse que tinha encontrado uma, estava apaixonado, ela
apaixonada de volta. Mas se ainda gosta da Paola… Liam, isso não
é justo com a mulher com quem está saindo.
Mordo o lábio inferior e não respondo nada. Ergo os olhos
para Paola de novo, meu coração apertado ao ver seu sorriso
enquanto interage com a mãe dos trigêmeos. Ficamos um pouco
estranhos ontem à noite, mas logo tratei de esquecer as merdas que
o Bruno disse e nos entendemos. Eu não deveria ter feito isso.
Deveria ter exigido uma resposta dela; para o meu próprio bem, eu
deveria saber a resposta. Ao invés disso, acabei no meio das suas
pernas.
— Eu gosto da Paola, Filippo — digo, preparando o terreno
para quando for contar a verdade. — Ela está se divorciando agora
e talvez eu possa ter uma chance.
Filippo balança a cabeça de um lado a outro.
— Não. Esquece isso, cara. Vocês dois nunca…
Bufo, irritado e cansado do discurso “vocês não dariam
certo”. A vontade de dizer que já estamos dando certo está entalada
na minha garganta.
— Como você pode saber, Filippo? — devolvo e não faço
qualquer cerimônia para controlar o rancor na minha voz. — Como
pode ter tanta certeza de que Paola e eu não daríamos certo?
Filippo suspira e se vira para mim, apoiando sua cerveja no
tampo da mesa.
— Quer mesmo que eu te aponte o óbvio, Liam? — Ele se
ajeita no banco e abana a cabeça em positivo. — Tudo bem. Em
primeiro lugar, ela está saindo de um casamento agora. A última
coisa que Paola precisa é entrar em outra relação. O que ela tem de
fazer então? Talvez se divertir muito. Mas a última coisa que você
precisa é que ela te use para se divertir. De um lado, Paola
querendo se divertir; do outro, você querendo algo sério. Já temos
aí uma receita catastrófica em que você sairia magoado.
Penso em rebater, mas fico quieto porque talvez ele tenha
razão. Embora nós estejamos mesmo nos divertindo e eu esteja
ciente desde o começo que é só diversão, ele está certo em dizer
que quero algo mais sério, mais certo, mais seguro. Paola não. E
quando ela se cansar de mim, se encontrar outra pessoa, vai me
deixar e eu não vou ficar bem. Não depois desses dois meses em
que ela contaminou cada célula do meu sistema.
— Em segundo lugar, vocês são simplesmente incompatíveis
em tudo, Liam. Paola é o tipo de mulher que vai continuar
frequentando casas noturnas até ter osteoporose, que é a única
coisa que vai impedi-la de ir. Ela é do tipo que ama ocasiões sociais,
que ama lotar a casa com família e amigos em datas especiais ou
sem qualquer motivo para isso. Cara, te convencer a se reunir com
a minha família sempre é um sacrifício porque você detesta. É um
milagre ter ido ao aniversário dos meus sobrinhos na semana
passada, ter vindo hoje aqui.
Não deve ser difícil adivinhar porque eu tenho aceitado com
mais facilidade me reunir com a família Massari. Suspiro e afago o
rosto.
— Filippo, por que isso seria um problema para mim e Paola?
Ela gosta de casas noturnas e quer frequentá-las até os noventa
anos? Que vá. Sabe que eu não vou impedir. Eu só não vou
acompanhá-la com a mesma frequência.
Ele assente.
— Por quanto tempo isso não será um problema, Liam? Uma
hora ou outra, isso pode gerar atrito sério entre vocês. — Ele
suspira, bebe mais da sua cerveja e ergue três dedos. — Terceiro
motivo: você é ateu, ela é cristã.
Reviro os olhos e procuro por Paola rapidamente no quintal.
Ela está olhando para cá agora, atenta a nossa conversa. Das
nossas incompatibilidades, ela acreditar em Deus e eu ser um
completo cético é a menor de todas. Já conversamos sobre o
assunto, chegamos a ter um debate bacana sobre ciência e religião,
mas nunca discutimos porque sempre houve respeito de ambas as
partes.
Filippo continua elencando os motivos pelos quais não
daríamos certos: divergências políticas; ela se atrasa, eu sou
pontual; Paola é escandalosa — do tipo que fala e ri alto quando
está em rodas de conversa —, tagarela quase sem parar e é ligada
nos 220V; eu sou mais tranquilo e discreto. Paola é impaciente para
tudo; eu sou a calma em pessoa. Ela gosta de sertanejo
universitário; eu detesto.
— Paola é do tipo que se sacrifica pela relação, Liam. —
Nessa parte, eu me viro na sua direção, cenho franzido ao notar
uma leve insinuação na sua voz. — Porra, ela perdoou a traição do
Bruno na primeira vez porque tem esse ideal de “até que a morte
nos separe”, porque amava tanto o desgraçado que achou que valia
a pena perdoá-lo.
Travo o maxilar, não gostando do que pode estar por vir.
— E você é do tipo… Você sabe.
— Não, não sei — respondo, controlando a raiva atrás dos
dentes. — O que quer dizer com isso?
Filippo suspira.
— Seu casamento durou quatro meses, cara.
Dou uma risada sem humor.
— Débora quem me deixou.
— E você não fez absolutamente nada para impedir que ela
te deixasse. Não lutou pelo seu casamento, Liam. Simplesmente…
aceitou que ela fosse embora. Se fosse a Paola, ela teria ficado
arrasada.
Isso me atinge com uma força esmagadora e me deixa aflito.
Muito aflito. Levanto-me do meu lugar, decidido a não discutir com
meu amigo, e começo a atravessar o jardim para ir embora.
— Liam, espera! — pede e, ao me virar, ele está vindo na
minha direção. Filippo atrai a atenção dos outros, que passam a
assistir nossa interação. — Eu disse sem pensar.
Balanço a cabeça em negativo.
— Você disse exatamente o que pensa.
— Vamos conversar, cara.
— Estou de saco cheio dessa merda, Filippo. Eu esperava
isso de qualquer pessoa. Qualquer pessoa mesmo, menos de você.
Não quero discutir. Então, só me deixa ir embora em paz.
Ele não diz mais nada e, sob o olhar curioso dos demais, eu
continuo meu percurso. Paola corre até mim e me segura pelos
punhos.
— Liam, o que aconteceu? — pergunta, preocupada.
Movo a cabeça de um lado a outro, negando-me a falar sobre
isso. Deixo um beijo suave na sua testa e me desfaço do seu toque.
Vou embora e dessa vez ninguém me impede.
Recebo mensagens de Paola querendo saber o que houve
entre mim e o irmão dela, mas ignoro todas as suas cinco tentativas
de contato. Filippo me envia mensagens pedindo para
conversarmos com mais calma. Ignoro todas as suas três
mensagens. Em casa, eu pego Zacky e vou até o parque da cidade.
Ele fica brincando com uma molecada que está jogando peteca, e
eu corro em torno do lago, tentando usar o exercício como via para
desestressar. Depois de voltar para casa e tomar um banho,
espalho alguns processos sobre a mesa da sala de jantar e tento
me concentrar um pouco no trabalho.
Apenas tento. Eu mal leio o primeiro parágrafo de um
processo de guarda compartilhada e meu telefone vibra sobre a
mesa. A foto de Filippo aparece na tela e ignoro sua ligação. Ele
tenta de novo em seguida. Inspiro fundo e aceito dessa vez.
— Cê se acalmou? — pergunta assim que atendo. Só mesmo
o Filippo para conseguir arrancar uma risada involuntária de mim
quando estou bravo com ele.
Suspiro e afago o rosto.
— Estou tentando trabalhar, Filippo. — Busco pelas horas no
meu relógio de pulso e constato que já está beirando oito da noite
de um sábado. — E não, eu não me acalmei. Me dá o espaço que
eu preciso, está bem? Não estou com humor pra conversar com
você.
— Liam…
Não espero pelas suas desculpas e encerro a ligação. Para
garantir que Filippo vai me deixar em paz, desligo meu aparelho.
Pela próxima meia hora, eu me esforço para conseguir me
concentrar no trabalho, mas não paro de pensar nas palavras duras
do meu melhor amigo. “Você não fez absolutamente nada para
impedir que ela te deixasse.”, “Não lutou pelo seu casamento”. Bufo
e me concentro nas linhas do processo, mas ainda assim, não sou
capaz de deixar a mágoa e o rancor de lados. Não consigo engolir o
que está entalado na minha garganta em relação a tudo o que me
disse. Preciso dizer o que penso. Em um ato meio impensado,
ponho uma roupa melhor, pego as chaves do carro e rumo até o
condomínio dele.
— Viu só? — diz, assim que atende a porta e me vê do outro
lado. Filippo não expressa surpresa porque a portaria avisou que eu
estava subindo. — Não sabe viver sem mim.
Empurro-o e adentro sua sala, parando no meio do ambiente.
Ele encosta a porta e se vira para mim, olhos semicerrados, testa
um pouco franzida.
— Não estou com humor pra você, já disse. — Cruzo os
braços na frente do peito. — Vim porque você está errado, Filippo.
Em tudo o que me disse. Normalmente, eu pouco me fodo para o
que as pessoas pensam de mim, para o julgamento delas. Mas não
vou engolir desaforos vindo de você.
— Eu falei merda, Liam — diz, com um suspiro,
permanecendo no seu lugar. — Entendo que o que fez pela Débora
foi um gesto grandioso, que a amou de verdade. Ela quem quis se
divorciar, ela quem não quis um relacionamento a distância. Fez o
melhor pela sua relação com ela.
— O melhor foi tê-la deixado ir construir sua carreira. O fato
de ter aberto mão do meu casamento para que Débora fosse viver
seus sonhos não anula nada do que senti por ela, não torna meus
sentimentos menos reais, nem menos verdadeiros. É injusto você
querer dizer por mim se eu amei ou não a minha ex-mulher.
— Não foi o que eu disse.
— A insinuação estava no seu tom de voz. — Suspiro e solto
os braços ao lado do corpo.
— Liam, só queria mostrar a diferença entre você e Paola
nessa questão. Não foi minha intenção colocar em dúvida nada do
que já teve pela sua ex, está bem? Talvez eu tenha escolhido a
forma errada de dizer, mas juro que não quis ser um idiota.
Desvio meu olhar do dele, ainda chateado. Agora, não com o
que me disse em relação a Débora. Acho mesmo que está sendo
sincero quando afirma que não teve intenção de ser um completo
babaca. Estou chateado porque Filippo segue não acreditando que
Paola e eu teríamos um futuro por sermos tão diferentes. Estou
cansado de isso determinar um relacionamento nosso. Estou
casando da sua falta de fé em mim, em nós dois. Estou cansado de
ele estar muito errado nessa questão e eu não poder provar que
está errado. Paola e eu daríamos certo. Magoado o suficiente, já
não suportando mais essas omissões, eu solto:
— Você vive dizendo que Paola e eu não duraríamos um
mês, que não daríamos certo, mas nos últimos dois meses, Filippo,
nós temos dado muito certo.
Ele me olha com atenção agora, seu rosto tomando a
compreensão do que acabei de dizer aos poucos. Não dou tempo
para que diga qualquer coisa, porque continuo:
— Tem razão quando diz que a Paola tagarela sem parar e
eu sou mais quieto. Isso faz de mim um bom ouvinte, Filippo. Eu
não via a hora de sair daquela firma, chegar em casa e encontrá-la
lá, pronta a despejar todo o seu dia em mim porque amo a voz dela,
amo ouvi-la falar. Detesto boate e lugares apinhado de gente, mas
Paola me arrastou para esses lugares ao menos duas vezes. Eu fui
e me diverti porque estava com ela. Porque depois, nós fizemos um
programa caseiro com pizza e filmes, passeamos no parque com
Zacky ou fizemos um jantar romântico.
Faço uma pausa rápida apenas para tomar um pouco de ar.
Ele está estático, os olhos atentos em mim, seu maxilar apertado.
— Minha falta de fé nunca foi um problema para ela. As
crenças dela nunca foram um problema mim. Chegamos a entrar
em um debate saudável sobre ciência e religião uma vez, discutimos
um pouco, demos risadas e terminamos na cama. Não me importo
que ela goste de reunir a família, ou seja a mais escandalosa nas
rodas de conversa. Por que isso tem que ser um problema? Porque
eu detesto ocasiões sociais e ela vai encher nossa casa de gente?
Nada que me isolar de todos eles não resolva.
Afago o rosto e suspiro.
— Somos muito diferentes, Filippo, mas nós nos
completamos nas nossas diferenças. Nos encaixamos
perfeitamente. Agora, mais do que nunca, eu sei disso. Depois de
dois meses com ela, eu sei que podemos dar certo. Por mais
incompatíveis que possamos ser, existe respeito entre nós e é isso
que importa.
Ele não diz nada por um ou dois segundos.
— A garota especial… era minha irmã? — Sua voz está
calma, mas tem uma nota de mágoa e decepção.
Estou prestes a responder quando sou interrompido:
— Contou pra ele? — Eu me viro imediatamente e dou de
cara com Paola a um metro de mim. Pisco duas vezes, confuso com
sua presença. Ela estava aqui o tempo todo? — Contou pra ele sem
mim? Liam, era pra fazermos isso juntos!
Vejo desgosto cortar seu rosto bonito e os olhos lacrimejarem
levemente. Engulo em seco, sentindo que fiz merda. Que fodi com
tudo. Não tenho tempo de responder. Paola vira nos calcanhares e
avança apartamento adentro. Eu tento segui-la, mas ela vai só até a
cozinha, pega a bolsa e passa por mim. Trinta segundos depois, ela
foi embora. Eu caio no sofá de Filippo, derrotado. Um segundo
depois, ele está ao meu lado.
— Estavam juntos esse tempo todo. A garota especial era
ela.
Aperto a ponte do nariz, sem qualquer humor para lidar com
meu melhor amigo agora. Ainda mais sem Paola aqui. Suspiro e
encontro seus olhos claros. Filippo está magoado, como eu achei
que ficaria, mas sua reação calma me surpreende. Tinha certeza de
que ele faria tempestade em copo d’água.
— Sim — confirmo, com um gesto de cabeça. — Ela me
procurou na noite antes de pedir o divórcio e me contou sobre as
sacanagens do Bruno. Ela estava magoada e querendo… se sentir
vingada. Paola me disse que seria só uma noite, Filippo. Nada mais.
Eu aceitei, aproveitei a única chance que teria com ela. Paola me
pediu para não contar nada pro Bruno nem pra você.
— Por dois meses?
Suspiro e engulo em seco.
— Paola me procurou todas as outras vezes e eu sou atraído
demais por ela para ter sido capaz de resistir. Então, de repente, já
tinha um mês que estávamos nos vendo e eu quis te contar. Sua
irmã concordou, mas eu acabei voltando atrás porque tive medo de
você ficar furioso, de perder sua amizade.
Filippo volta seu olhar para frente e permanece em silêncio
por alguns segundos.
— Pretendiam esconder de mim esse namoro pelo resto da
vida?
— Não é um namoro — trato de explicar a parte mais confusa
dessa história. — Paola não quer nada sério. É só sexo, Filippo. —
Minha garganta fica seca nessa última parte. Não sei se porque é
difícil dizer para ele que estou só trepando com sua irmã ou se é
difícil para mim estar só trepando com sua irmã. — É por isso que
não quis te dizer nada. Eu senti medo de que ficasse com raiva e
deixasse de ser meu amigo. Uma hora ou outra, vou perder a Paola.
Eu não queria perder você também.
Mais uma vez, ele fica em silêncio.
— Se te consola, eu tomei coragem e tinha planos de te
contar. Ia falar com a Paola para contarmos juntos amanhã.
— Não consola — responde, mas ainda continua calmo.
— Você está chateado? — pergunto, embora pareça bastante
óbvio que ele está chateado.
Ele dá uma risada sem humor e suspira.
— Chateado pra caralho, Liam. Vocês mentiram pra mim.
Podiam ter me contado.
— Dá um desconto, Filippo. Você sempre me pediu para ficar
longe da Paola, sempre foi ciumento com ela em relação aos seus
amigos. Havia algum motivo para termos receio em te contar.
Filippo acena vagarosamente em positivo e me olha.
— Não sou ciumento — defende-se, franzindo o cenho. —
Sou preocupado. É bem diferente.
Rio baixinho e movo a cabeça de um lado a outro.
— Sua irmã é uma mulher adulta. Que tal começar a aceitar
isso?
— É, eu sei. — Ele solta um suspiro cansado e se curva
sobre os próprios joelhos. — A diferença de idade entre nós é de
pouco mais de um ano, mas eu sinto que sou muito mais velho, ela
muito mais nova. Só quero protegê-la do mundo, sabe?
— Sei que quer, mas não pode, Filippo. Nem pode se
comportar como um hipócrita. Não gosta que seus amigos se
aproximem dela, mas não tem uma amiga da Paola com quem não
tenha dormido.
Ele faz cara de ultrajado e leva a mão ao peito.
— Que calúnia, Liam. Eu não dormi com a Luana.
— Porque ela é lésbica e casada.
Rimos juntos por um segundo. Meu coração fica mais aliviado
agora porque Filippo não parece a ponto de apertar meu pescoço.
Pelo contrário. Quando ele apoia uma mão na minha coxa e
pergunta como estou com essa minha relação com sua irmã, a nota
de preocupação está ali.
— É casual, mas você gosta dela. Isso não te magoa, cara?
Eu me sinto um grande idiota por, em algum momento, ter
pensado que eu poderia ter perdido sua amizade. Deveria ter lhe
dado um voto de confiança. Peso sua pergunta sem saber o que
responder exatamente. Não é segredo que, por mim, Paola e eu
teríamos algo mais certo, mas se o modo de a ter por algumas
horas do dia é aceitar que seja apenas casual, então eu aceito.
— Não sei. — Sou sincero. — Por enquanto, estou bem
assim.
Filippo acena. Um instante depois, seu rosto fica sério.
— Não deixa a Paola te magoar, Liam. Me promete isso?
— A essa altura do campeonato, já deveria saber que sou
péssimo em cumprir promessas quando se trata da sua irmã.
Ele ri baixinho e me dá um soco no ombro.
— Só não aceite nada menos do que você merece, ok? Por
mais que goste de Paola, pense antes no seu bem-estar. — Ele
fecha a mão e o direciona para mim. — Não a magoe e seja sincero
sempre. De acordo? — Olho para sua mão fechada na minha
direção e bato com a minha, também fechada.
— De acordo.
Ele me empurra do seu sofá.
— Agora, vai atrás dela limpar essa merda. Você quebrou
uma promessa e deve um pedido de desculpas.
Eu o puxo para um abraço e deixo um beijo no seu rosto.
— Obrigado por tudo, Filippo.
— Não me agradeça porque se fizer minha irmã chorar, eu
corto suas bolas fora.
Tento entrar contato com Paola, que não atende nenhuma
das minhas tentativas. Penso em procurá-la na sua casa, mas é
improvável demais que esteja lá depois de sexta passada. Talvez
ela tenha ido para a casa dos pais ou do Mattia e penso em procurá-
la nesses lugares. Ao conferir as horas, entretanto, eu desisto. Não
vou incomodar ninguém. Confiante de que ela está apenas brava o
suficiente para não querer falar comigo, envio uma mensagem
pedindo desculpas e que me dê um sinal de que está bem. Ao
chegar ao meu apartamento, sou recebido por Zacky. Ele late e pula
em mim, as orelhas em pé, o rabo abanando. Agacho-me à sua
altura e faço um afago nele.
— Oi, seu grande bobão.
Beijo sua pelagem e brinco com ele por um instante até notar
que a luz da minha cozinha está acesa. Franzo o cenho porque não
deixei a luz da cozinha acesa. Quando vou até lá, encontro Paola
sentada na minha ilha, vestida com uma camisa preta social que me
pertence, uma taça de vinho ao lado do seu corpo e uma barra de
chocolate belga nas suas mãos. Ela me estica a barra e sorri.
— Essa sua harmonização de vinho e chocolate está horrível
— digo. Paola gargalha e, mais uma vez, não sei onde está a graça
porque não foi uma piada. Ela está tomando vinho tinto seco com
chocolate ao leite. Caminho até meu armário, tiro uma barra 75%
cacau e entrego para ela. — Experimente essa combinação agora.
Vai ver como é muito melhor.
Ela me olha, curiosa, mas tira um pedaço da barra, coloca o
chocolate sobre a língua e o degusta um instante antes de sorver a
bebida. Paola fecha os olhos e geme de prazer.
— Tem toda razão — confirma. — Você tem um gosto
refinado, sabia? Mas eu consigo deixar essa combinação ainda
melhor.
— Consegue?
Ela assente, tira outro pedaço da barra e o leva a boca,
esperando o chocolate derreter um pouco para só então beber uma
dose do vinho. Estou esperando ver onde é que está a combinação
melhor e, de repente, ela me puxa para um beijo. Um misto de sabor
explode na minha boca e eu não resisto nem por um segundo.
Contorno sua cintura, puxando-a mais para mim, e afundo mais
meus lábios nos seus.
— E então, o que achou? — sussurra, mordiscando a parte
inferior da minha boca.
— Ainda não tenho muita certeza — sussurro de volta. —
Preciso de mais uma amostra.
Paola sorri e quebra o terceiro pedaço da barra, mas ao invés
de ingeri-lo, ela o oferece para mim. Degusto um pouco do
chocolate até que ela me entrega sua taça de vinho. Ainda estou
engolindo o líquido quando ela me beija mais uma vez, suas mãos
agora desesperadas pelo meu corpo.
— Aprovado, doutor Azevedo?
— Aprovadíssimo, doutora Massari. — Acaricio seu rosto,
seus olhos nos meus. — Não está furiosa comigo?
— Agradeça ao seu Cabernet e ao chocolate belga que me
acalmaram. — Sorrio um pouco e coloco uma mecha do seu cabelo
atrás da orelha. — Como foi com Filippo?
— Me deixou lá para lidar com ele sozinho — acuso,
falsamente ofendido.
— Você decidiu contar sozinho, nada mais justo que enfrentar
a fera sozinho. E então?
— Ainda somos amigos. Deve ser um bom sinal. Filippo só
me pediu pra não te magoar. — Ela assente, os olhos amáveis em
mim, sua mão macia no meu rosto. De repente, ela cruza as pernas
em volta da minha cintura e me puxa mais para perto dela. — Pode
me dizer o que estava fazendo lá?
Antes de me responder, Paola come mais um pedaço de
chocolate, dessa vez sem o vinho.
— Fui tentar arrancar algo dele sobre por que discutiram. Ele
não estava me dizendo de jeito nenhum. Por que discutiram? —
Conto a situação inteira desde o começo. — Por isso ele não queria
me dizer. Filippo não sabia se podia me contar que foi casado.
Sorrio fraco, ainda me sentindo um idiota por não ter dado um
voto de confiança ao meu melhor amigo.
— É. Ele é um cara legal.
Dividimos o resto da barra de chocolate, o vinho na taça e
trocamos beijos intensos. Leva apenas cinco minutos até eu a estar
fodendo sobre a ilha da cozinha, sua calcinha de lado roçando no
meu pau, seus gemidos altos perto da minha boca, misturando-se
aos meus próprios gemidos altos. Paola se agarra com força nos
meus cabelos, movendo os quadris o quanto consegue em direção
ao meu, à procura demais de mim. Dez minutos depois, estamos no
meu quarto, ela de joelhos na beira da cama brincando com o
clitóris, minha mão em volta de uma porção do seu cabelo enquanto
eu estoco nela com toda força.
— Eu… eu vou gozar, Liam!
Puxo-a da cama e a prenso contra parede, mantendo meu
ritmo para dentro dela. Deslizo minha língua pelo seu pescoço e
mordisco o lóbulo da sua orelha, dois dedos meus encontrando seu
feixe de nervos.
— Vou te comer por trás prensada nessa parede e tocar na
sua boceta até você gozar, Paola. — Ela suspira, trêmula, e vejo
quando aperta os olhos com toda força. — Depois, vai fazer o
mesmo comigo.
Aumento a pressão dos meus dedos no seu clitóris e a
velocidade para dentro de sua boceta. Paola está completamente
fora de órbita ao gozar. O grito escandaloso, o corpo trêmulo, a
respiração ofegante, o movimento dos quadris de encontro ao meu.
Mantenho-a prensada no concreto, agora a penetrando mais
devagar enquanto se recupera. Eu a viro para mim, coloco suas
mãos para o alto e a beijo, um beijo lento, mais com afeto do que
com lascívia. Eu não sei por que raios penso no conselho de Filippo
nesse momento, suas palavras invadindo minha mente sem
permissão. “Não deixa a Paola te magoar, Liam”, “Só não aceite
nada menos do que você merece, ok?”
Suspiro e afasto os pensamentos da minha cabeça,
concentrando-me em aproveitar o sabor da sua boca, minha ereção
contra sua virilha, o calor do seu corpo contra o meu que me
proporciona uma sensação incrível de paixão e aconchego.
— Sua vez — sussurra, conseguindo trocar nossas posições.
Fico contra a parede, ela encaixada entre minhas pernas,
beijando-me e acariciando meu pau duro. Seus beijos escorregam
dos meus lábios para meu queixo, tórax, mamilos, abdômen. Até
que Paola está me chupando. Intenso, forte e fundo. Jogo a cabeça
contra o concreto e aperto os olhos, respirando pela boca. Afundo
os dedos nos seus cabelos e a empurro de leve, acompanhando
seu ritmo e limite. Um minuto depois, o controle está comigo, o ritmo
está comigo, e eu a faço me engolir da maneira que eu quero.
Recebo um beliscão na coxa e paro imediatamente. Sua língua
rodeia minha coroa, desce provocante e úmida até minha base e
volta.
— Paola… — gemo seu nome, não conseguindo aguentar
mais. — Eu preciso que me foda.
Ela sobe até mim e beija minha boca, afastando-se em
seguida até o banheiro para se preparar. Parece uma espera eterna,
e tudo o que consigo fazer é ficar encostado contra a parede
batendo uma violentamente. Quando Paola retorna para mim, estou
completamente desesperado. Mais uma vez ela me beija e me
bombeia, pedindo para eu me virar de costas. Sinto o gelado do
lubrificante na minha pele um instante antes de ela começar a me
penetrar devagar. Sua mão esquerda segura no meu pau e me
masturba no compasso que me penetra. Aos poucos, Paola ganha
ritmo para dentro de mim, e o prazer que atinge meu corpo é forte,
cru, devasso e ganha sons através dos meus gemidos roucos. Ela
ergue meus braços contra a parede e o segura assim conforme me
fode.
— Está gostoso, Liam? — sussurra ao pé do meu ouvido,
minutos depois. Paola enfia os dedos no meu cabelo e puxa minha
cabeça para trás. O choque envia uma onda de excitação para as
minhas bolas, que ficam mais duras imediatamente. — Era assim
que você queria?
— Porra… — suspiro e jogo a cabeça mais para trás, na
direção do seu repuxe. — Você faz tudo certo, Paola, tudo certo.
Sinto seu sorriso contra minhas costas, e ela me bombeia
mais rápido, apertando mais meu pau em torno dos seus dedos.
Solto um murmuro indistinguível com isso, o que a faz hesitar por
um instante.
— Liam…?
— Verde. — Cerro os dentes e aperto os olhos com toda
força, concentrando-me para não ejacular agora. — Aperta mais o
meu pau.
Ela atende de imediato e é todo o paraíso para mim. Minha
nuca encontra seu ombro, e Paola me beija o quanto a posição
permite, intercalando com sussurros obscenos que me levam à
beira do abismo. “Minha boceta está pegando fogo, Liam…”, “É tão
bom te comer e sentir meu clitóris estimulado…”, “Quando você
gozar, vou sentar no seu pau bem gostoso e gozar de novo nele…”
Eu paro de impedir meu orgasmo quando seu último sussurro
é uma promessa de sentar em mim com sua bunda. O gemido vem
da minha garganta alto e potente, tão potente quanto o jato de
sêmen que espirra no chão do meu quarto. Preciso de um esforço
para não perder a força das minhas pernas e uso a parede para me
escorar enquanto recomponho as batidas do meu coração. Paola
sai de dentro de mim e a ouço se livrando da cinta-peniana para me
cavalgar. Tornou-se meio que um padrão sempre que ela me
penetra.
— Vem, Liam — sussurra, puxando-me para a cama. —
Verde ainda? — pergunta, sentando-se nos meus quadris. Assinto
em positivo, cansado e me recuperando do gozo esplêndido. Um
segundo mais tarde, ela se encaixa em mim e desce de uma vez só.
Paola cavalga com força, as mãos contra meu tórax,
procurando seu segundo orgasmo na noite. Preciso de uns dois
minutos para ser estimulado novamente e encontrar energia para
ajudá-la. Pego na sua cintura e acompanho seu sobe e desce. E é
aqui, enquanto ela está sobre mim e de olhos fechados, que eu
sinto algo diferente. O temor de me magoar quando ela me deixar
sempre esteve aqui, o ressentimento de não ser mais que um pau
amigo para ela sempre esteve aqui, a vontade de querer muito mais
do que sexo casual sempre esteve aqui. Mas eu aceitei todos os
termos dela porque era o modo como eu a teria. Eu me contentei
com suas migalhas porque achei que merecia suas migalhas.
Porque achei que valia a pena ter suas migalhas.
“Por mais que goste de Paola, pense antes no seu bem-
estar.”, “Só não aceite nada menos do que você merece, ok?”.
Aperto os olhos com força, impedindo que uma dor e uma
tristeza repentinas avancem sobre mim nesse momento. Por mais
que eu me esforce, contudo, não consigo. Não consigo impedir, não
consigo mais continuar com isso. Não dá mais para viver na
incerteza do que somos, do quanto tempo ainda tenho com ela, de
saber que vou ficar arrasado quando ela se cansar de me usar.
Cansada de me usar para esquecer o Bruno. Eu mereço mais do
que ser só seu amigo colorido, seu brinquedinho sexual, o seu meio
de se vingar do marido — ou seja lá o que somos.
“Durante esse sei lá quanto tempo que estão trepando, foi
capaz de se apaixonar pelo Liam? Ou só está curtindo o sexo? Ou
só o está usando constantemente para curar suas feridas, superar o
fim do nosso casamento?”
— Paola — murmuro, voz engasgada, a vontade de chorar
consumindo-me dos pés à cabeça. — Vermelho. Vermelho, Paola,
vermelho. — Ela para no mesmo segundo e desmonta meus
quadris, um olhar aterrorizado sobre mim.
— Liam, o que houve? Eu te machuquei?
Quero dar uma risada completamente insana. Se você me
machucou, garota? Não respondo nada. Apenas me levanto e vou
para o banheiro. Fecho a porta e me tranco aqui dentro sob os
protestos de Paola. Ela bate na madeira e não para de perguntar o
que aconteceu. Encurvo-me sobre a bancada da pia e regulo minha
respiração. Tento controlar a vontade de desabar em lágrimas, mas
não consigo. Leva só um instante para meu rosto estar molhado e
meu coração estraçalhado.

Demoro uns cinco minutos para me recompor. Encontro um


roupão pendurado atrás da porta do banheiro e me enrolo nele.
Quando saio para o quarto mais uma vez, ela está dentro da minha
camisa preta social, andando de um lado a outro, a postura aflita.
Assim que me vê, vem até mim rapidamente querendo me abraçar.
Dou um passo atrás e espalmo para que não avance mais nenhum
passo.
— Liam, me diz o que aconteceu, por favor.
Inspiro fundo e tomo coragem de dizer:
— A pergunta do Bruno de uma semana atrás… responde ela
agora. — Paola solta os braços ao lado do corpo, o semblante
dolorido. — Está me usando pra superar seu ex-marido?
— Liam…
Fecho os olhos e exaspero tentando ignorar as alfinetadas no
meu coração.
— Paola, só me responde a droga da pergunta. Esse tempo
todo que veio atrás de mim, veio por causa do sexo bom ou por que
está me usando para esquecer a porra do Bruno?
O quarto fica em silêncio por muito tempo. Quando abro
meus olhos de novo, deparo-me com uma Paola arrasada. Seus
olhos estão marejados e os lábios tremem levemente.
— Eu não sei — responde com um sussurro, baixando os
olhos para o chão e cruzando os braços na frente do peito. — No
começo, eu achei que fosse por causa do sexo. Você… — Ela ofega
um pouco e leva a mão aos lábios, segurando um soluço. — Você
me comeu gostoso! — Despeja em um rompante de raiva e tristeza.
— Tinha muito tempo que eu não tinha uma transa que me deixasse
fora de órbita.
Paola dá um passo à frente, tentando vir até mim, mas eu
recuo outro e movo a cabeça de um lado a outro em um pedido
silencioso para respeitar meu espaço. Ela para imediatamente a um
metro de mim.
— Durante a primeira semana, depois daquela noite aqui —
ela continua, sua voz ainda baixa e entrecortada —, eu não parei de
pensar em você, no nosso sexo. Não menti sobre isso, Liam. Juro
por Deus. Mas…
— Mas…? — resmungo e cruzo os braços na frente do peito,
já entendendo o que vem depois disso.
Ela morde o lábio inferior e desvia o olhar de mim novamente.
— Pensar em você era o que me ajudava a não pensar no
Bruno, em tudo o que me fez, no divórcio e em como a vida que eu
tinha como perfeita desmoronou do dia para a noite bem na frente
dos meus olhos.
A compreensão vai me tomando aos poucos e nem sei
dimensionar o quanto isso me machuca. Que ela me usou aquela
noite para se vingar eu sabia, fiz sexo com ela ciente disso. Mas me
usar para esquecer a merda que se tornou sua vida, vir até mim
para não ter que pensar no escroto do marido, trepar comigo como
meio para superar o fim do seu casamento… Isso é baixo demais e
me quebra de uma maneira que não sabia que era possível.
— Liam — sua voz está cuidadosa quando me chama —, sei
que parece cruel dizer essas coisas, mas entenda que eu realmente
gosto de você.
Movo a cabeça de um lado a outro, o que também me ajuda
a segurar as lágrimas.
— Você gosta do que te proporciono. O orgasmo, a chance
de ocupar sua cabeça e não ter que pensar no seu marido traíra.
Não é de mim que você gosta, Paola. Isso saiu da sua boca. Nunca
sentiu minha falta de verdade. Sentiu falta do que te ofereço: um
bom orgasmo e se refugiar da vida real por algumas horas.
Paola não diz uma palavra sequer. Ela seca algumas
lágrimas que escorrem pelo seu rosto e não deixa de me encarar
por entre seus olhos molhados. A dor no meu peito começa a me
deixar insano e não sei mais como manter o controle, por isso
simplesmente não me seguro mais e choro na sua frente.
— Ainda ama o Bruno? — pergunto, ao me encostar contra
uma parede. Respiro com dificuldade e me praguejo por ter feito
uma pergunta tão imbecil. — É claro que ama. Você não ia esquecê-
lo só porque descobriu a vida dupla dele, só porque numa noite
qualquer foi bem comida. — Fecho os olhos e balanço a cabeça
com toda força. — Não se supera um relacionamento de cinco anos
em uma noite ou em dois meses de sexo casual. É claro que você
ainda o ama.
— Liam, por favor, me escuta. Eu nunca quis te magoar…
Explodo em uma gargalha sem qualquer humor. Ela não quis
me magoar, mas de boas intenções o inferno está cheio.
— Você não teve um pingo de responsabilidade afetiva
comigo, Paola! — acuso, apontando um dedo na sua direção. Ela
recua um passo, assustada com a acusação, os olhos arregalados,
o rosto contraído. — Mas a culpa não é toda sua. Eu deixei que
brincasse comigo, que brincasse com meus sentimentos e me
magoasse. Eu deixei você partir o meu coração.
O pior de tudo é que é verdade. Ela me pediu para não criar
esperanças, expectativas. Eu sempre estive ciente de todos os seus
termos e consenti com cada um deles. Mas eu deveria ter sido mais
responsável comigo mesmo, com meu coração, com minha saúde
mental. Eu deveria saber que ela não esqueceria o marido do dia
para a noite, deveria ter pensado o quão danoso seria para mim
aceitar apenas sexo casual com a mulher que amo.
— Me desculpe, Liam — pede, a voz chorosa, e mais uma
vez tenta vir até mim. — Eu nunca tive…
Balanço a cabeça novamente, magoado demais para
desculpá-la agora, e ela para de avançar na minha direção.
— Preciso ficar sozinho, Paola. — Olho no relógio sobre a
mesinha de cabeceira e constato que está muito tarde. Por mais
magoado que eu esteja com ela, não vou permitir que vá embora
sozinha em horas tão avançadas. — Vou dormir no quarto do Zacky,
e você fica aqui. — Ergo meus olhos na sua direção e dói proferir as
palavras seguintes: — Mas amanhã cedo, prefiro que não esteja
mais no meu apartamento.
Paola chora, mão na boca para abafar os soluços, enquanto
eu pego cobertores e travesseiros. Tranco-me no quarto de Zacky,
que acorda logo em seguida e parece notar minha tristeza, vindo até
mim e roçando minhas pernas.
Eu o abraço com toda força e choro um pouco mais.
Na manhã do dia seguinte, pondero tentar conversar com
Liam, procurá-lo no quarto de Zacky, mas desisto. Ele me pediu
para ficar sozinho e vou respeitar seu momento. Assim que deixo
seu apartamento, eu desabo em lágrimas de arrependimento. Eu o
magoei. Não foi minha intenção, mas o magoei. Dói constatar que
fui irresponsável o suficiente com os sentimentos dele.
Vou direto para casa dos meus pais, meu único refúgio nesse
momento, e eles mal acordaram quando chego arrasada, jogando-
me nos braços de papai, muito semelhante a pouco mais de dois
meses atrás. Mais uma vez, ele me pergunta o que aconteceu e me
leva para dentro. Deito sobre suas pernas no sofá e fico por algum
tempo aqui, apenas chorando e me sentindo culpada por tudo que
fiz. Papai não diz uma palavra, apenas acaricia meus cabelos e
tenta me acalmar enquanto minha mãe me prepara um chá de
camomila e maracujá.
— Foi o Liam quem te magoou? Ou esse choro é por causa
do Bruno? — meu pai pergunta, e minha mãe me entrega a xícara
de chá.
— Quem te contou do Liam, pai? Mattia ou Filippo?
Meus pais trocam um olhar rápido.
— Nenhum deles, meu amor. Talvez eu tenha visto o Liam se
aproximar de você na festa dos trigêmeos de um jeito que ele não
se aproximaria se não estivessem tendo alguma coisa. E então? —
insiste, complacente.
— O Liam não me magoou. Eu magoei o Liam.
— Quer nos contar a história desde o começo, querida? —
mamãe incentiva
Bebo um gole do meu chá, tomando alguma coragem de
contar tudo desde o início.
— Liam e eu estávamos saindo — sussurro, cabisbaixa. —
Eu o procurei na segunda à noite que pedi o divórcio. — Suspiro
alto, odiando ter que remexer essas lembranças. — Estava
magoada demais com Bruno e agi por impulso. Só queria… só
queria me sentir um pouco vingada.
Eu tomo o chá até a metade da xícara e a deixo sobre a
mesa de centro.
— Era para ter sido só aquela noite, mas quando dei por
mim, eu procurava o Liam com frequência. Era bom estar com ele.
— Prendo o lábio inferior entre os dentes, entendendo agora que
gostava da sua presença porque eu realmente fugia da realidade,
esquecia do Bruno. — Demorei a notar que o procurava porque
queria usá-lo para esquecer meu marido. Era inconsciente, mãe.
Juro que era.
Papai vai mais para o meu lado e me faz apoiar a cabeça no
seu ombro. Mamãe continua no outro sofá, de frente para nós, olhos
de compaixão sobre mim.
— Não era minha intenção iludi-lo — sussurro e limpo as
lágrimas. — No começo, disse que era apenas para nos divertirmos,
nada sério, porque eu não queria uma relação. O Liam aceitou e
estava ciente de tudo. — Movo a cabeça de um lado a outro. —
Ontem à noite, acho que ele entendeu que eu… estava sendo uma
escrota. Eu mesma só notei que estava sendo uma escrota ontem à
noite. Liam me disse que não tive responsabilidade afetiva com ele,
mas eu realmente achei que estava fazendo tudo certo para não o
magoar. Nunca quis magoá-lo. Juro que nunca quis.
Mamãe pega a xícara de chá e me faz tomar o resto para
manter a calma. Enquanto tomo a bebida morna aos poucos, ela me
diz:
— Não queria te dizer isso, Paola, mas o Liam está um pouco
certo. — Assinto porque não vou tentar justificar ter sido uma idiota
com ele. Não fiz de propósito, mas isso não me exime do meu erro.
— Faltou responsabilidade afetiva de sua parte, querida. — Mamãe
vem até mim agora e se senta ao meu lado, apoiando uma mão na
minha coxa. — Foi correta ao esclarecer que não queria nada sério,
que seria uma relação casual, mas você propôs isso a um homem
que nutre sentimentos por você há sei lá quanto tempo, filha.
Fecho os olhos e inspiro fundo, só notando agora como isso
realmente soa absurdo. Eu fui tão burra em não ter pensado nisso
antes. Mesmo que eu tenha pedido para Liam não criar
expectativas, é claro que ele criaria. Porque ele gosta de mim.
— Se o magoou tanto assim, entende que, de alguma forma,
você criou falsas expectativas no Liam mesmo deixando claro que
não queria uma relação séria? Vê-lo com frequência, muitos
programas juntos, se instalar no apartamento dele, usá-lo para
esquecer seu marido… — Eu não preciso dizer que realmente fiz
isso tudo nos últimos dois meses. De alguma forma, minha mãe
sabe. — Paola, meu amor, se sua intenção era só se divertir, não
levar a relação a outro patamar, deveria ter evitado muitas, muitas
coisas.
A culpa me acerta como uma faca afiada e eu seguro o
choro. Não sei onde estava com a cabeça quando achei que tudo o
que estávamos vivendo poderia ser casual, que não o faria criar
expectativas demais e que no final, ele não sairia de coração
partido. Não justamente com Liam.
— Ele estava ciente da relação de vocês, mas… talvez só a
sua proposta já o tenha iludido, Paola. Talvez ele tenha enxergado
uma oportunidade de te conquistar e ter uma chance decente com
você. Não posso julgá-lo por criar falsas esperanças se você deu
falsas esperanças ao Liam.
— Resumindo — papai intervém, calmamente —, se sua
intenção não era ficar na vida dele, um homem que nunca escondeu
os sentimentos por você, jamais deveria ter proposto apenas
diversão, jamais deveria ter se infiltrando tão profundamente na vida
de Liam.
— Não sei o que fazer agora — admito, baixando os olhos
para minha caneca vazia. Mamãe a toma das minhas mãos e se
levanta.
— Vai esperar a poeira baixar e depois vai fazer a única coisa
que precisa ser feita: pedir desculpas ao Liam e parar de se
encontrar com ele se não pretende suprir as expectativas de um
homem que te ama.
Assinto devagar e sinto uma dorzinha no fundo do coração.
— O Liam pode nunca me perdoar.
— É um risco, meu amor — mamãe diz suavemente. — Se
acontecer, terá de lidar com isso da melhor maneira possível e dar
tempo ao tempo. — Dona Louise se inclina para mim, deixa um
beijo no meu rosto e sussurra que vai preparar outra xícara de chá
porque ainda estou precisando.
Eu fico sozinha com meu pai, que se manteve quase o tempo
todo calado. Ele pega nas minhas mãos e as afaga lentamente, com
todo carinho.
— No passado, quando conheci sua mãe — papai começa, a
voz baixa e calma —, eu teria cometido um erro parecido com o seu.
Eu o olho com atenção, curiosa com o que vai me contar.
Tenho a impressão de que nunca ouvi essa parte da sua história
com a mamãe.
— Eu tinha acabado de sair de um noivado complicado. Era
uma relação completamente tóxica, que me fazia mal e que chegou
a envolver abuso sexual. — Eu me sento sobre minhas pernas, de
frente para ele. — Eu precisava lidar com minhas questões não
resolvidas, sabe? Viver o fim de um relacionamento que durou
quatro anos, tratar as feridas que ficaram. Mas logo que terminei
com Beatriz, me sentia atraído pela Louise. Sabia que tinha algo por
ela e teríamos começado um namoro logo em seguida se
dependesse só de mim.
— Mamãe quem não quis, não é? — pergunto, porque essa
parte da história eu conheço.
— Não. Ela sabia que eu poderia estar confuso, querendo um
relacionamento por medo de ficar sozinho ou procurando um meio
de tapar o buraco no meu coração. Me mandou para terapia e me
deu um ano para ter certeza do que eu sentia. “Cuida da sua mente
e do seu coração antes, depois você pensa em um novo romance”,
foi o que me disse tantos anos atrás.
Aceno devagar, entendendo aonde papai quer chegar.
— Eu deveria ter feito isso. Lidado com minhas questões não
resolvidas, viver o fim do meu relacionamento, ao invés de ter
mergulhado em uma relação com Liam, por mais casual que tenha
sido. Não deveria tê-lo usado para me sentir vingada, me sentir bem
comigo mesma ou me esquecer da minha vida que virou de ponta-
cabeça.
— Ainda dá tempo de você fazer isso, meu amor. — Papai
acaricia meus cabelos e me oferece um sorriso amoroso. — Espere
a poeira baixar, converse com o Liam, se desculpe e se dê um
tempo. Talvez, lá na frente, você possa retribuir o amor dele. Mas
antes disso, precisa se colocar acima de tudo, entender seus
sentimentos, seus desejos e amar quem você é sozinha. Quando for
capaz disso tudo, estará pronta para um novo relacionamento se
você quiser.
Eu o tomo em um abraço apertado, agradecida pelo seu
conselho.
— Como soube que estava pronto para a mamãe depois de
se dar um tempo, pai? Como soube que não queria estar com ela
apenas para tapar um buraco no seu coração?
Papai se afasta e me segura pelo rosto com as duas mãos,
um sorriso complacente iluminando o rosto bonito aos sessenta e
cinco.
— Eu soube quando entendi que queria estar com sua mãe
porque ela me fazia bem, não porque só com ela eu me sentia bem,
como se fosse uma dependência emocional, entende? — Ele brinca
com uma mecha do meu cabelo loiro e sorri mais um pouquinho. —
Quando entender que não precisa mais do Liam ou de qualquer
outro homem para não pensar no Bruno, vai saber que está pronta
para quem quer que seja.

Um bater suave na porta desvia minha atenção do livro que


estou lendo. Ergo os olhos na direção da entrada do meu antigo
quarto e encontro Filippo parado no limiar, um olhar atento sobre
mim que tem uma seriedade incomum nele. Meu irmão do meio
raramente expressa esse semblante sério, sempre bem-humorado
em tudo.
— Eu liguei pra ele pra saber se tinham se entendido — diz,
sem sair do seu lugar e cruzando os braços. — Descobri que você
magoou o meu melhor amigo ao invés disso.
Filippo adentra o quarto e se senta na cama comigo. Eu não
tenho qualquer palavra em minha defesa, por isso fico quieta.
— Há uns anos, pedi para não se aproximar do Liam se tudo
o que tivesse a oferecer fosse diversão. Te pedi isso exatamente
porque sabia que meu melhor amigo sairia machucado, Paola.
— Filippo… — Tento dizer alguma coisa, mas ele não me
deixa continuar.
— Não me deu ouvidos, e agora aconteceu o que eu não
queria que acontecesse. Um de vocês está magoado e estou
decepcionado com o outro, tendo que tomar partido de um dos
lados. Não queria ter que tomar partido de ninguém; não queria
estar triste com você, Paola.
— Não o magoei de propósito — digo, em minha defesa. —
Achei que estava tomando as precauções certas. Eu disse ao
Liam…
Meu irmão suspira alto, interrompendo-me mais uma vez, e
ele realmente está triste e irritado comigo como poucas vezes ficou
na vida. Filippo não é do tipo que deixa seu humor ser abalado com
facilidade.
— Você disse a ele para não criar expectativas. É, eu sei.
Mas, por Deus, Paola, o homem é apaixonado por você e nunca fez
questão de esconder. Será que não pensou nem por um segundo
que ele ia, sim, criar expectativas? Foi exatamente por esse motivo
que pedi…
— Já entendi, Filippo. Mamãe e papai já me disseram o
mesmo, está bem? — corto seu sermão porque não preciso mais
ouvir as pessoas me dizendo o quanto fui irresponsável com os
sentimentos de Liam.
Eles estão certos, entretanto. Eu deveria ter parado para
pensar que mesmo pedindo para ele não criar esperanças, ele
criaria da mesma forma. Como se não bastasse, alimentei suas
ilusões quando o procurei com frequência, passei muito tempo na
sua cama fazendo programas românticos que casais tradicionais
fariam.
— Vou dar um tempo ao Liam — digo, com um sussurro. —
Depois vou procurá-lo e tentar arrumar um pouco a bagunça.
Sem que eu espere, Filippo me toma em um abraço e depois
me dá um tapa na cabeça. Eu rio um pouquinho e ele me
acompanha.
— Ele vai ficar bem, Filippo?
Meu irmão suspira baixo e assente devagar.
— Vai, sim. Não é a primeira decepção amorosa dele.
Assinto de volta, desviando os olhos para a janela do quarto.
— Como faço para Liam me perdoar?
— Eu não sei, Lola — murmura, usando meu apelido de
infância. — Vai ter que descobrir sozinha.

— Boa noite, seu Cícero — digo, com um sorriso pequeno ao


porteiro simpático do prédio de Liam.
— Boa noite, dona Paola! Andou sumida ou tem vindo de
dia? — pergunta sem qualquer discrição. Como ele é do período
noturno, estava habituado a me ver durante a noite e ir embora
cedo, antes de seu expediente acabar.
Fico um pouco sem graça diante à sua pergunta, apesar de
não me importar mesmo com sua invasão de privacidade, e aperto a
bolsa contra meu corpo. Tem oito dias desde a última vez que estive
aqui. Eu teria dado mais algum tempo e espaço a Liam, mas por
força maior, vim vê-lo.
— Eu fiquei mesmo uns dias sem vir, seu Cícero — explico.
— Sabe se Liam já chegou do trabalho?
O homem dá uma conferida no seu relógio de pulso — pouco
depois das sete — e diz que não tem muita certeza.
— Ouvi alguém me cumprimentar agorinha, mas estava
agachado pegando umas canetas que caíram no chão. Tenho quase
certeza que era o doutor Azevedo. A senhora pode subir se quiser
que eu interfono e…
— Prefiro confirmar se o Liam libera minha subida. Sabe, nós
dois meio que estamos brigados e existe a chance de ele não
querer me ver nem pintada de ouro.
— Ah, claro. — O homem parece ficar um pouco abatido,
mas assente, voltando para seu posto e interfonando para o
apartamento de Liam. — Doutor Azevedo, boa noite, tudo bom?
Tudo bem por aqui também, trabalhando muito como sempre. Sim,
sim, a pizza que o senhor mandou ontem estava ótima. Dividi com o
Edgar do almoxarifado. Muito obrigado, viu?
Cícero se vira para mim e arregala os olhos, como se
lembrasse que estou aqui, esperando.
— Ah, doutor Azevedo, eu interfonei porque a dona Paola
está aqui embaixo, sabe? Tá bonita. — Seguro uma risadinha. Ele
está dando uma de cupido para cima de nós dois? — Ela quis
confirmar antes se pode subir conversar com o senhor. Tá bom. Até
mais. — Cícero coloca o telefone no gancho e se vira para mim. —
Pode subir, dona Paola.
— Obrigada, seu Cícero.
Eu mal passo por ele quando o ouço:
— Espero que se entendam, dona Paola. Vocês formam um
casal bonito.
Sorrio um pouco e fico comovida com seu desejo. Eu vim
atrás de Liam para me desculpar e ter uma segunda conversa
importante com ele. Não vim pedir segundas chances, não vim
querendo sair daqui como namorada dele. Vou seguir os conselhos
dos meus pais e me dar um tempo, viver o fim do meu
relacionamento, ocupar minha cabeça com trabalho e estudos, me
colocar acima de tudo antes de decidir se quero ou não uma nova
relação.
Vago nos meus pensamentos que demoro a notar que já
cheguei ao andar dele, e Liam me espera na porta, malditamente
lindo dentro de um terno preto, encostado ao batente. Isso me
lembra mais de dois meses atrás quando o procurei a primeira vez.
É quase como um déjà vu. Eu me dou conta agora que, inclusive,
uso o mesmo vestido daquela noite.
— Em que posso te ajudar, Paola? — pergunta, severo, a
mesma expressão neutra de sempre. Eu me habituei a ver um outro
lado dele, um lado de sorrisos, ainda que poucos, de brilhos nos
olhos, de humor atípico. É estranho vê-lo todo impassível agora.
— Queria conversar com você. Se importa se eu entrar? —
Toda sua resposta é me dar caminho. Lá dentro, ele se acomoda em
um sofá e eu me acomodo no de frente para ele. — Como você
está?
Deixo que minha pergunta seja a mais genérica possível.
Pode ser um “como você está depois de eu ter sido uma
irresponsável com seus sentimentos?” ou “Tudo bom, como você
está?”
Liam ergue uma sobrancelha e cruza as pernas. Ele suspira e
responde:
— Cansado. Tendo que lidar com os sócios da firma porque
perdi o Bruno como cliente e ele não estava nos pagando pouco.
— Estão muito insatisfeitos com você?
— Estariam mais se eu não tivesse conseguido um caso
milionário. Irmãos gêmeos idênticos, uma garota grávida que não
sabe quem é o pai porque não sabia que estava dormindo com os
dois. Além do reconhecimento de paternidade da criança, vamos
entrar com um processo de estupro porque ela consentiu sexo
apenas com um dos gêmeos. Ela nada no dinheiro, então…
A frase fica no ar e eu concluo o restante com facilidade.
— Boa sorte com esse seu caso. — Liam apenas assente e
espera. — Eu vim me desculpar com você — sussurro, desviando
os olhos por um momento. — Não foi minha intenção te magoar,
mas te magoei mesmo assim. Não pensei nas consequências de te
propor sexo casual, mas juro que nada do que fiz foi deliberado.
Há um instante de silêncio entre nós até Liam dizer:
— Talvez eu tenha sido muito duro com você no outro dia.
Estava emotivo demais e acabei falando bobeira.
Movo a cabeça em negativo.
— Não falou, Liam. Eu realmente não fui responsável com
seus sentimentos e demorei a notar isso, demorei a notar que te
procurava pra tentar superar o fim do meu casamento. Te fiz criar
falsas esperanças e te magoei com isso. Sinto muito de verdade.
— Pensei muito durante esses dias. Você deixou claro que
era casual, apesar de nosso relacionamento todo não parecer nada
casual. — Concordo com ele agora. Não parecia mesmo, acho que
por isso Liam se iludiu. — Foi transparente comigo na maioria das
vezes, disse o que éramos, o que estávamos fazendo e o que não
queria. Eu aceitei tudo.
— Não deveria ter proposto sexo casual, Liam.
— E eu não deveria ter aceitado. Talvez só a primeira noite,
mas depois… — Ele baixa a cabeça por um segundo e suspira. —
Também não fui responsável comigo mesmo. A culpa não é toda
sua.
— Ainda assim — reforço —, a maior parte é minha culpa e
te peço desculpas por tudo.
Ele não diz nada. Apenas roça dois dedos nos lábios, o olhar
em mim. Assinto e engulo em seco sabendo que a chance de não
ser perdoada existe. Eu me levanto do meu lugar, pronta a ir
embora. Fiz minha parte de me redimir, agora tenho que dar o
espaço que esse homem precisa. Embora eu não saiba como vai
ser se…
— Tem mais uma coisa — digo, revirando minha bolsa. Pego
um envelope de laboratório e entrego para ele. Liam o toma em
mãos, cenho franzido, e olha para mim, confuso. — Pensei muito se
te contava ou não. — Minha voz sai baixa e arrastada, a emoção
ameaçando falar por mim. — Pensei muito, mesmo. Talvez eu
devesse confirmar minhas suspeitas antes de jogar a bomba assim
no seu colo, ainda mais na situação em que estamos.
Ele continua quieto, agora abrindo o envelope e tirando o
conteúdo de lá de dentro.
— Mas acho que seria melhor você se preparar, não ser pego
tão de surpresa se o filho for seu.
Noto quando ele para de respirar, os olhos cinzas fixos no
teste de gravidez que fiz não tem muitos dias. Eu não estou calma.
Estou medicada. Só mesmo medicamento adequado para minha
condição me ajudou a não surtar de vez. Estou lidando com isso
tudo sob efeito de medicamento porque se não fosse isso, eu
provavelmente estaria em posição fetal agora no meu antigo quarto
na casa dos meus pais, chorando rios de lágrimas.
— Tem uma chance de ser do Bruno — continuo, minha voz
um pouco mais baixa e triste. — Estávamos tentando…
Procuro pela sua reação, e ali está ele. Impassível, maxilar
tenso, olhos fixos no papel, narinas expandidas.
— Assim que completar as semanas necessárias, vou fazer o
teste de paternidade. — Liam continua quieto, ainda olhando para o
maldito exame. — Descobri uns dias atrás, quando notei que estava
mais atrasada que o normal. Minha menstruação não é muito
regular, e ficou ainda mais doida depois que parei com o
anticoncepcional para tentar engravidar. Por isso não desconfiei
antes.
Mais silêncio entre nós. Isso me mata, acaba comigo. Queria
que ele dissesse qualquer coisa. Qualquer coisa. Por um lado,
entretanto, entendo sua falta de reação. Estou vivendo o mesmo
dilema. Eu queria muito ser mãe e deveria estar feliz pelo bebê no
meu ventre. Mas não estou. Não consigo ficar feliz com a
possibilidade de esse filho ser do Bruno, que vai me ligar a ele pelo
resto da minha vida. Não consigo ficar feliz se o filho for do Liam
porque nós não estamos em um bom momento e não sei se um dia
voltaremos a estar em um bom momento. Seja como for, estou
fazendo o meu melhor, esforçando-me para ver o lado bom nessa
tempestade em alto mar. Eu vou ter um bebê.
— Liam, diz alguma coisa — peço, o choro entalado na
garganta.
— Não sei o que dizer — responde, erguendo os olhos para
mim agora.
— Então me diz o que está sentindo.
— Não sei o que estou sentindo. — Liam suspira
pesadamente e levanta do seu lugar, entregando-me o envelope.
— Tudo bem — digo, com um aceno. Não vou ficar
ressentida porque não esperava por gritos de felicidade da parte
dele. — Eu te deixo informado. — Guardo o exame de volta na
minha bolsa e a penduro no ombro. — Até mais, Liam.
Ele mal se despede de mim, e eu deixo seu apartamento com
um grande aperto no coração. Desço os andares esforçando-me
para não desabar em lágrimas e me perguntando onde foi que eu
errei para a vida estar me surrando dessa maneira. Despeço-me de
seu Cícero na portaria, e pelo sorriso frio dele, o homem sabe que
não me resolvi com Liam. A brisa no lado de fora me recebe com
um beijo refrescante e isso ajuda um pouco a controlar minhas
emoções. Estou prestes a atravessar a rua até meu carro quando
ele me chama.
— Paola!
Eu me viro, e Liam corre na minha direção. Sou tomada por
um abraço de desespero, invadida por um soluço de choro. Ele…
ele está chorando. Liam me afasta um centímetro e noto seus olhos
marejados.
— Não sei o que dizer dessa situação toda, não sei o que
sentir dessa situação toda — diz, a voz um pouco embargada. Ele
engole em seco e continua. — Mas de uma coisa eu sei, Paola. Não
importa de quem seja esse bebê, você não vai lidar com isso
sozinha. Se for meu, eu não quero lidar com isso sozinho.
Liam deixa um beijo suave na minha testa e depois segura
minhas mãos.
— Vamos passar por isso juntos, ok? Se for meu, se for do
Bruno, você tem todo meu apoio. Ouviu bem?
Assinto devagar, deixando que as lágrimas agora rolem pelo
meu rosto sem cerimônia.
— Então vocês se entenderam? — A voz de Filippo ressoa
dentro do carro de Liam pelo alto-falante do celular dele.
Estamos parados frente à minha casa, esperando Bruno
chegar do trabalho para eu também conversar com ele. Eu estava
saindo para meu horário de almoço dez minutos atrás quando Liam
apareceu. Ele está ciente de que preciso contar ao meu ex da
gravidez e quer estar presente na conversa para garantir que ele
não seja um idiota comigo. Fico muito agradecida com sua
preocupação, mas preciso fazer isso sozinha.
Troco um olhar rápido com Liam sentado no banco do
motorista. Eu não sei se nós realmente nos entendemos, talvez
ainda estejamos no caminho, mas colocamos mágoas e desafetos
de lado por enquanto. Se em algumas semanas eu confirmar que o
filho é do Bruno, não sei como vamos ficar. Ele prometeu que
passaríamos por isso juntos, independente de quem seja o filho,
mas não sei se vai manter sua palavra se o bebê não for dele.
— Estamos tentando — Liam responde, com cautela porque
ainda não contei para ninguém da minha família. — Ela só veio
conversar comigo, Filippo. Não faça disso um evento. — Improvisa
uma mentira.
Sorrio um pouco e direciono o olhar para o outro lado ao
notar que meu ex-marido está chegando. Ele normalmente almoça
no restaurante perto da empresa onde trabalha, mas passei uma
mensagem para ele e pedi que viesse para cá para conversamos
privadamente. Liam estava tentando me convencer a deixá-lo entrar
comigo quando Filippo ligou para ele para avisar que fez boa
viagem e chegou em segurança — ele está em alguma expedição
no sul do país com clientes da empresa.
— Se precisarem de conselhos, eu tenho experiência em
continuar sendo amigo de uma garota que me cavalgou.
Liam ri — aquela gargalhada sonora muito rara dele — e
move a cabeça em negativo. Fico um pouquinho contagiada e sorrio
junto.
— Numa dessas aí, um dia você vai ficar preso pelas bolas
— Liam brinca.
— Mais fácil a Terra parar de girar, amigo. Não sou homem
de uma mulher só.
— Vou até anotar isso aqui. — Filippo ri alto e conversa por
mais um minuto com Liam até se despedir para ir descansar um
pouco antes de começar a se preparar para a escalada.
Assim que Liam encerra a ligação, eu digo:
— Bruno acabou de chegar. Preciso ir lá conversar com ele.
Liam se vira para frente e vejo seus dedos apertarem o
volante.
— Não quer mesmo que eu vá com você?
— Não. Preciso fazer isso sozinha.
Ele assente devagar e não diz mais nada além de que vai
ficar me esperando. Em casa, eu encontro meu ex-marido no
escritório, ao telefone com um cliente qualquer, andando de um lado
a outro no ambiente. Para assim que me vê, diz a quem quer que
seja que retorna mais tarde e encerra sua ligação.
— Veio saber sobre o divórcio? Se for isso, meu novo
advogado ainda está redigindo o documento.
Eu me sento em uma das cadeiras de frente para a sua mesa
e, como resposta, apenas retiro o envelope que mostrei a Liam
poucos dias atrás e o arrasto sobre a superfície da mesa. Bruno
enruga o cenho, confuso, mas não move um músculo para fora do
lugar.
— O que é isso?
— Um teste de gravidez — respondo. — Deu positivo.
Cinquenta por cento de chance de ser seu. — Ele tem uma reação
parecida com a de Liam: olhos fixos no exame, maxilar levemente
travado. — Estou de dez semanas. Assim que completar quinze,
faço o teste de paternidade.
— Não precisa — Bruno diz, enfático demais para o meu
gosto. — Esse bebê é do Liam.
Suspiro, cansada desse homem.
— Bruno, a data da nossa última relação coincide com as
semanas gestacionais. Pode ser seu. Não vamos tornar isso…
Ele bufa e abre com força uma das gavetas na mesa. De lá
de dentro, retira também um envelope de um laboratório e o atira na
minha direção.
— Testei na sexta-feira antes de me pedir o divórcio.
Estávamos tentando por muito tempo e desconfiei que não era
normal não termos conseguido, ainda mais porque eu acreditava
que tinha três crianças com Lauren. Não fazia sentido nenhum.
Fiquei um pouco desconfiado da paternidade dos trigêmeos
também, então… — Exaspera lentamente e se senta de frente para
mim. — Pensando nisso, eu quis tirar a dúvida, mas preferi não te
preocupar sem necessidade, te fazer sofrer antecipadamente ao
considerar que o problema de infertilidade poderia ser com você, por
isso me submeti ao teste.
Pego o envelope e tiro o resultado, analisando-o com cuidado
enquanto Bruno continua falando:
— Como pode ver no exame, eu tenho azoospermia não-
obstrutiva. Sou estéril, Paola.
Parece que um peso enorme sai de cima do meu peito. Deus,
estou tão aliviada que não seja dele. Um bebê de Bruno agora
atrapalharia até nosso processo de divórcio e o estenderia por ainda
mais tempo.
— É reversível com cirurgia, apesar disso — ele continua,
quase divagando. — Sofri um trauma nos testículos aos quinze
anos, o que pode ser a causa da esterilidade.
— Que pena — digo, erguendo os olhos na sua direção. —
Que seu problema seja reversível, é claro. Ainda pode passar seus
genes adiante.
Ele semicerra os olhos na minha direção, não gostando nada
da piadinha. Bruno pensa em responder, mas seja lá o que ia me
dizer, engole suas palavras para si. Eu me levanto do meu lugar,
pronta para ir embora uma vez que não há mais motivos para ficar.
— Eu queria te pedir para não fazer pirraça e dificultar nossa
vida, Bruno. Não adianta querer ficar com essa casa porque não vou
aceitar. Nos poupe de perder tempo, está bem? Peça para o seu
advogado redigir outra proposta que não envolva você ficar com o
imóvel.
Ele dá uma risada baixa e sem humor.
— E acha que vou querer que você fique com a casa? Acha
mesmo que vou aceitar que traga Liam para cá para ver o casal de
pombinhos e seu filhinho vivendo felizes para sempre na casa que
eu ralei para comprar e pagar?
— Nós ralamos para comprar e pagar, Bruno — corrijo-o e o
poupo de minha história mal resolvida com Liam. Provavelmente,
não vamos viver como um casal de pombinhos felizes para sempre.
— Se não entrarmos em um acordo, vamos ter que vender a casa e
dividir o valor. Então, faça um favor a nós mesmo: não perca seu
tempo tentando me convencer a deixar o imóvel com você.
Sem mais nada a ser dito, eu o deixo para trás.
— Como foi? — Liam pergunta assim que entro no seu carro.
A voz está séria, o semblante severo. Seus olhos vão
rapidamente para cima do meu ombro, como se pudesse visualizar
Bruno lá na casa. Tenho a impressão de que ele vai sair daqui
furioso dependendo da minha resposta.
— Foi tranquilo — digo, com um sorriso pequeno. — Liam…
o bebê é seu.
Ele me olha com atenção por um segundo inteiro e pisca
muito nesse pequeno intervalo de tempo, como se estivesse
processando a informação. Enquanto digere o que acabei de dizer,
conto sobre o exame do Bruno e sua azoospermia.
— O Bruno me mostrou o teste e está tudo certo. Não é falso.
Liam se vira para frente, o maxilar ficando um pouco tenso.
Eu dou o tempo que ele precisa para assimilar tudo e permaneço
em silêncio, respeitando seu momento. Alguns segundos depois, ele
sussurra:
— Vamos ter um bebê.
Assinto.
— Vamos.
Outro silêncio um pouco constrangedor paira sobre nós.
— Liam… — digo, minha voz soando baixa e cautelosa. —
Sei que não estamos no nosso melhor momento. Você precisava de
um tempo longe de mim porque eu te fiz muito mal. — Engulo em
seco, ainda sem acreditar que consegui a proeza de magoar esse
homem. — Não vou te isentar das responsabilidades desse bebê
porque não fiz sozinha, mas vou entender se quiser ficar afastado
por uns meses até… — Suspiro e desvio os olhos para a janela ao
meu lado. — Até não estar mais magoado comigo. Ou ao menos até
não estar tão magoado comigo.
Ele não diz nada, os olhos ainda para frente, os dedos ainda
em volta do volante. Seu silêncio dura um minuto inteiro.
— Eu disse que não queria ter que lidar com isso sozinho. —
Seu tom de voz está rouco, até um pouco embargado. — Não quero
que você lide com isso sozinha porque, como bem disse, não fez
esse filho sozinho. Em relação a nós dois — ele fica cabisbaixo —,
eu vou ficar bem. Não se preocupe comigo.
— Eu me preocupo, sim.
Ele sorri um pouco e se vira para mim. Sem que eu espere,
Liam pega na minha mão e aperta nossos dedos.
— Vamos ter um bebê — diz de novo, o sorriso ganhando
tamanho no seu rosto. De repente, ele está me abraçando forte,
sem dizer mais nenhuma palavra.
Eu simplesmente retribuo.

O lado bom de ser dentista e tagarela é que você pode


bombardear um paciente de conversas enquanto o atende que não
será interrompida. Costumo fazer isso apenas com dois tipos de
pacientes: com que eu tenho muita intimidade ou com meus
familiares.
Acredito que Mattia vai entrar em estado comatoso se eu não
parar de falar enquanto faço uma raspagem nos seus dentes, ele
murmurando apenas “uhum” atrás de “aham”. Ele não pode me
culpar, ora essa! Chegou aqui falando dos filhos e eu engatei na
conversa porque os pequenos passaram o sábado passado com
meus pais. Uma vez que estou temporariamente instalada na casa
deles, nós nos divertimos muito. Minha assistente segue quieta,
dando uma risadinha aqui ou ali com a minha faladeira e com as
expressões de desespero do meu irmão. Meu monólogo infinito me
ajuda a me distrair um pouco e a ignorar uma dorzinha estranha
que, acredito eu, seja na uretra. O que é estranho porque tenho
bebido dois litros de água diariamente.
Quando termino, esguicho um pouquinho de água nos seus
dentes e peço para ele cuspir.
— Você e Lauren aproveitaram o final de semana? —
pergunto, enquanto ele limpa os lábios com um pedaço de
guardanapo. — Filippo disse que ia ficar com os pequenos no
domingo para vocês saírem.
— Aproveitamos. Quero saber como você e Liam estão, isso
sim. Papai me contou ontem o que aconteceu. Eu pouco vi vocês
desde o aniversário dos pestinhas e estava desatualizado.
Suspiro e olho para minha assistente, que entende meu
recado e se retira logo em seguida.
— Estamos nos entendendo. Eu fui uma escrota, mas aquele
homem é um príncipe para ficar muito tempo guardando rancor de
mim. — Arrasto meu banquinho para trás e dou espaço para Mattia
se levantar após o procedimento. — Acho que ele só resolveu
engolir os desafetos por causa… do bebê.
Mattia está se levantando e quase cai para trás de novo
quando menciono isso. Dou uma risadinha para sua expressão de
surpresa e coloco a mão no abdômen. Só tem um dia desde minha
conversa com Bruno e a confirmação de que o Liam é o pai, mas já
parece uma vida.
— Por que tenho a impressão de que sou o primeiro da
família a saber? — pergunta, voltando a se sentar na poltrona de
atendimento.
— Porque é. Queria reunir todo mundo e contar. Liguei para o
Filippo ontem e ele não tem sequer previsão de retorno para a
cidade. Além disso… você foi o primeiro a saber de mim e Liam,
nada mais justo que saber primeiro que vai ser tio.
Ele ri um pouquinho e abana a cabeça em positivo.
— Como Filippo reagiu quando contaram para ele? Deus, eu
quase dei bola fora no domingo sobre vocês. Peguei o cretino
trepando no meu banheiro com a melhor amiga da Lauren. —
Gargalho alto, e Mattia me fuzila com os olhos.
— O que você disse?
— “Não bastasse a Paola…”
Rio mais e preciso tampar meus lábios para que os pacientes
na sala de espera não ouçam.
— Bom, a essa altura ele já estava sabendo — digo. — O
Liam contou e aparentemente foi tudo bem. Filippo ficou magoado
por termos escondido dele, mas nada se compara a como ficou
triste comigo quando me desentendi com Liam. — Suspiro pesado e
mordo a pontinha do lábio inferior. — Ai, Mattia, se arrependimento
matasse, eu já estava morta, enterrada e carcomida pelos
bichinhos.
Mattia pega nas minhas mãos e me faz um carinho fraterno.
— Não fica assim, Lola. Todo mundo erra. Sei que não fez de
propósito.
Abano a cabeça em positivo.
— Não fiz.
Meu irmão está prestes a dizer alguma coisa, mas sinto uma
pontada diferente no abdômen. É um pouco intensa demais e me
faz curvar o tronco.
— O que foi, Paola? Você está bem?
— Não sei. — De repente, minha vagina fica úmida sem que
eu saiba o motivo. — Me dá licença, Mattia.
Corro até o banheiro no consultório, livrando-me de máscara
e luvas no meio do caminho. Baixo a calça e a calcinha e prendo a
respiração ao notar sangue no tecido. Não é muito, mas o suficiente
para me deixar assustada. Lavo as mãos rapidamente e volto para o
consultório. Meu irmão ainda está aqui, o rosto preocupado.
— Paola, o que aconteceu?
— Preciso ir ao hospital. Estou sangrando — digo, a voz
trêmula.
— Estou com meu carro. Vem, eu te levo.
Mattia joga um braço por cima do meu ombro e me leva para
fora do consultório. Peço para minha assistente desmarcar todos
meus pacientes e cuidar daqueles que ainda estão aguardando para
serem atendidos.
Quero pensar positivo, não sentir medo, mas não consigo.

— Paola — Liam me chama, já adentrando o quarto de


hospital. Mal tenho tempo de assimilar sua presença e estou sendo
tomada por um abraço apertado. — Eu vi a mensagem do Mattia
vinte minutos atrás quando saí do Fórum. Eu teria vindo antes se…
— Não se preocupa — digo, tentando manter o choro preso
na garganta.
Ele se afasta um pouco e me olha, aflito.
— Como você está?
Engulo em seco e movo a cabeça de um lado a outro.
— Eu estou bem, mas perdi o bebê.
Pisco duas vezes e lágrimas tímidas descem pelo meu rosto.
Liam dá um passo atrás, olhos tristes sobre mim. Eu já tinha notado
que ele queria esse filho quando confirmamos a paternidade. O
sorriso dentro do carro, o brilho nas íris cinzas, o abraço que me
deu. O modo como de repente fica triste com a perda do bebê
evidencia ainda mais como desejava mesmo essa criança. Por um
instante, ele fica meio apático, quase perdido, até que deixa a
tristeza abatê-lo por completo e está chorando na minha frente.
— Vem aqui, Liam — sussurro, e um segundo mais tarde seu
rosto está na curva do meu pescoço, que abafa seu soluço alto.
Atravesso a multidão de corpos no meio do caminho e
sinto meu coração bater nos tímpanos junto com o ritmo da música
alta. É difícil passar pela barreira de homens e mulheres dançando e
pedir licença não é uma opção. Ninguém vai ouvir mesmo. O jeito é
empurrá-los delicadamente para que eu consiga chegar até o outro
lado da boate. Não demoro a encontrá-lo sentado em uma das
banquetas do bar, debruçado sobre o balcão, o irmão mais velho ao
lado, provavelmente tentando convencê-lo a ir embora. Aproximo-
me e me sento na banqueta ao lado dele. Mattia me lança um olhar
de piedade e socorro, como se somente eu fosse capaz de fazer
Filippo se levantar e ir para casa.
— Não acha que já bebeu demais? — pergunto próximo ao
seu ouvido. Tem um monte de copinhos de shot perto dele e Filippo
deve estar bêbado feito um gambá.
— Um homem não pode mais afogar suas mágoas? —
questiona, indignado. Sua voz está mole, mas não tanto quanto
achei que estaria, o que significa que não está tão bêbado.
Eu vivi para ver Filippo Massari sofrendo por causa de uma
garota.
— Um homem qualquer pode — argumento —, mas você é
Filippo Massari. Você não sofre por mulher alguma.
Ele dá uma risada bêbada e suspira.
— Pelo jeito, perdi minha virgindade nesse quesito.
Mattia dá uma risadinha e balança a cabeça de um lado ao
outro. Ele apoia uma mão no ombro do mais novo e diz sobre a
música alta:
— Vá pra casa, Filippo. Toma um banho, um café forte e bem
doce pra curar um pouco a bebedeira, dorme umas horinhas.
Depois, você liga para a Bianca e…
Filippo gira sobre o banco rápido demais e enfia o dedo
indicador nos lábios do irmão mais velho.
— Não invoque o pequeno demônio! — Eu rio no meu lugar.
Não deveria porque ele claramente está sofrendo, mas a cena é um
pouco cômica, convenhamos. Eu disse que um dia Filippo iria se
amarrar em alguém e ele não acreditou. — Como a Lauren pode ser
amiga de uma pessoa tão horrível como a Bianca? — pergunta,
direcionando-se para Mattia.
— O que a Bianca fez, afinal, que te deixou nesse estado? —
pergunto porque ainda não entendi que diabos aconteceu.
Tudo o que é sei é que recebi uma ligação de Mattia em
plena sexta-feira duas da manhã dizendo que Filippo estava bêbado
em uma boate e se negando a ir para casa. Depois de muito tentar e
não ter qualquer resultado, ele me ligou acreditando que o irmão me
daria ouvidos. Meu melhor amigo se debruça no balcão de novo,
completamente derrotado.
— Eu estava prestes a me declarar. — Troco um olhar rápido
com Mattia. — Estava a isso aqui de dizer que a amo, de pedi-la em
namoro. — Filippo ergue o braço direito e mostra o quanto se
referiu, o dedo indicador e o polegar separados por muito pouco. —
Mas ela me deu um pé na bunda. Simplesmente me dispensou
como se… os últimos meses entre nós não tivessem existido, como
se não tivessem sido nada. Nada.
— Era amizade colorida, Lipo. — Mattia tenta argumentar.
O irmão mais novo abana a cabeça de um lado a outro.
— Eu sei que era, mas ela sabe que eu estou apaixonado. E
aí… e aí…— Estala os dedos. — Me deu um fora sem pensar duas
vezes.
— Talvez tenha sido melhor assim, Filippo — argumento,
pensando na minha própria história com a irmã dele. Talvez Bianca
não possa retribuir os sentimentos e decidiu que o melhor era não o
deixar criar expectativas. Se Paola tivesse feito o mesmo, eu não
estaria de coração remendado. Esteve partido até meses atrás, mas
já me recuperei um pouco do golpe. — Melhor uma verdade
dolorosa agora do que uma mentira que vai te partir ao meio
amanhã.
Filippo funga e limpa o nariz com o dorso da mão.
— Como fez para superar a Paola?
Outra vez, troco um olhar com Mattia.
— Não superei.
Meu melhor amigo solta um gemido doloroso e enfia a
cabeça entre os braços novamente.
— Vem, Lipo, eu te levo para casa — digo, tentando levantá-
lo da banqueta.
— Não quero ir pra casa. Tem coisas dela lá. Roupa,
perfume, maquiagem. — Filippo bufa, frustrado. — Eu trepei com
Bianca em cada maldito metro quadrado daquele apartamento e
tudo me faz lembrar dela. Não quero ir pra casa.
— Eu te levo para o meu apartamento, não tem problema —
argumento. — Mas precisa sair daqui. Não vai curar dor nenhuma
enchendo a bunda de cachaça.
Ele ri, risada de bêbado, e Mattia faz o mesmo. Franzo o
cenho. Parece tradição entre esses irmãos rir de coisas que eu digo
quando não tive a intenção de soar engraçado.
— Me deixa só mais um pouquinho aqui — Filippo pede,
fazendo biquinho. — Só mais uma ou vinte doses para garantir que
vou tirá-la do meu sistema.
— Tá, tudo bem. — Mattia assume uma postura mais severa
e séria, talvez começando a perder a paciência. — Ou você vai
embora com o Liam agora ou não tem escalada de despedida.
— Não seria capaz de voltar atrás, Mattia. Você me
prometeu!
— Não é nem um pouco difícil eu voltar atrás, Filippo. Sabe
disso muito bem.
Ele faz cara de contrariado, resmunga feito uma criança
mimada e, por fim, se levanta da banqueta. O irmão mais velho
pede a conta ao barman, acerta o consumo exagerado de Filippo
enquanto ele se escora no meu ombro e depois me ajuda a tirá-lo
da boate até meu carro. Mal damos dois passos quando Mattia diz:
— Da próxima vez que me ligar numa sexta-feira de
madrugada que estou de folga do hospital, é bom que esteja
morrendo. Se for porque está sofrendo por mulher, eu vou chutar
sua bunda até estar curado da sua bebedeira, me ouviu?
Em resposta, Filippo só explode em uma gargalhada meio
triste, meio insana.

É minha décima volta na pista em torno do lago do parque no


meu bairro quando a noto aqui. Quase perco o ritmo da corrida
porque já tem umas boas semanas desde a última vez em que a vi.
O coração dispara — e não é por conta do esforço — e preciso de
alguma concentração para não me sentir abalado demais.
Paola acena na minha direção, sentada sob a copa da árvore
que Zacky costumeiramente fica enquanto me espera terminar meus
quilômetros. Ela faz um afago no cachorro, feliz com sua presença.
Os últimos meses não foram fáceis nem para o labrador safado, que
sentiu falta dessa mulher perambulando meu apartamento.
— Não pare por mim — grita, ao me ver diminuindo a
velocidade conforme me aproximo dela. — Termina seu treino
primeiro.
Assinto e olho no contador do relógio. Só mais dois
quilômetros. Passo por Paola e Zack para as últimas quatro ou cinco
voltas e me esforço para não pensar nos motivos de ela ter vindo
até meu bairro. Nós tivemos uma perda brusca de contato desde o
aborto espontâneo. Umas duas semanas depois do ocorrido, assim
que ela melhorou um pouco do choque — assim que eu melhorei
um pouco do choque — decidimos em comum acordo que
precisávamos de espaço e de tempo. As feridas que ficaram por
causa do nosso relacionamento súbito e mal resolvido ainda
estavam abertas e precisavam cicatrizar. Já teríamos feito isso se
não fosse a gravidez. Eu estive disposto a deixar mágoas e
desafetos de lado pelo bebê, para estar presente na vida dele, mas
meus planos mudaram quando Paola abortou. Pelo meu próprio
bem, pelo próprio bem dela, nós nos afastamos.
Filippo me manteve informado sobre a irmã. Ela se instalou
de vez na casa dos pais até o divórcio sair definitivamente. Seguiu
meu conselho, contratou um advogado e pediu aluguel do imóvel
referente à metade do valor de locação. O processo chegou ao fim
um mês atrás, o que faz dela uma mulher oficialmente divorciada.
Bruno não dificultou mais a vida dela, então eles acordaram em
vender a casa e dividir o dinheiro. Fizeram isso com praticamente
todos os bens.
Acabo a corrida e estou cansado e pingando de suor. Ela me
entrega a garrafa de água de dentro da minha mochila e entorno
quase tudo.
— Oi — digo, por fim, ofegando de cansaço. — Vou dar uma
volta caminhando só para esfriar o corpo. — Estalo os dedos para o
Zacky, que logo vem me acompanhar. — Pode vir comigo se quiser.
Paola acena e se levanta, caminhando ao meu lado.
— Soube que ajudou o Filippo na sexta. Ele deu muito
trabalho?
Franzo o cenho e suspiro só de lembrar o estado em que
ficou meu tapete da sala.
— Vomitou pra todo lado. Eu nunca vi seu irmão tão mal por
causa de uma garota.
— Eu também não — concorda, com um sussurro.
Eu estive me segurando até aqui, mas não consigo mais
resistir e dou uma espiada na sua bunda. A calça legging que ela
usa deixa seu traseiro fenomenal. Não faço qualquer cerimônia
porque ela não fez qualquer cerimônia para olhar meu abdômen
despido.
— Vou inaugurar o novo consultório na semana que vem —
ela conta com um sorriso animado. Dá até alguns saltinhos que
fazem o rabo de cavalo se movimentar de um lado a outro. — Estou
animada.
— Mattia me contou mesmo.
— Você vai, não é?
Assinto devagar e volto minha atenção para frente. Zacky
está farejando tudo que encontra pelo caminho, enfiando o focinho
em arbustos e gramados, comendo flores ou arrumando intriga com
outros animais. Paola continua tagarelando sem parar e isso
arranca algum sorriso de mim. Porra, eu senti falta disso. Ela agora
está contando que o pai comprou a casa dela com Bruno para
agilizar o divórcio. Ele quis devolver o imóvel à filha, mas Paola
negou.
— Nem foi por orgulho, sabe? — comenta distraidamente,
pouco se importando que esteja há mais de cinco minutos falando
sem parar. — Mas aquela casa tem lembranças da minha vida com
o Bruno. Nenhuma reforma no mundo mudaria isso. Estou com o
dinheiro da venda guardado, vou procurar outro lugar em breve e
recomeçar a vida.
Terminamos a volta em caminhada e demoro a notar que
começamos, juntos, a fazer o percurso até meu condomínio. Paola
ainda fala.
— Como eu recusei o presente, papai vai transformar a casa
em uma das sedes da Conecta Mídia. Ele disse que já estavam
estudando um novo estúdio mesmo e…
Ela continua falando até chegarmos ao meu prédio. Seu
Cícero, excepcionalmente hoje cobrindo o turno matutino, fica todo
alegre ao vê-la, mas não sei se sua felicidade exagerada é por
causa de Paola ou por causa de Paola comigo. Nesses últimos seis
meses, ele sempre estava perguntando sobre ela. Eles trocam um
abraço afetuoso e Cícero me envia um olhar diferente. Assim que o
porteiro permite, nós subimos até meu apartamento. Eu não a
convidei a subir, mas ela me acompanha mesmo assim.
— Paola, eu não quero parecer rude nem nada — digo, com
cautela assim que fecho a porta. Zacky já disparou na direção do
seu quarto, como do seu costume, para ir comer e descansar. —
Mas pode me dizer o que quer comigo?
— Acabou de correr dez quilômetros. Vai tomar um banho
primeiro e comer alguma coisa. Aí conversamos.
Suspiro e aperto a ponte do nariz. Estou impaciente para
saber o que ela quer, mas decido acatar sua ordem. Quando retorno
do banho, ela está na minha cozinha, terminando de mexer uns
ovos. Deveria estar bravo com sua invasão, deveria mesmo,
entretanto, apenas sorrio, feliz com sua invasão. Paola coloca o
prato com os ovos mexidos sobre a ilha da pia e me faz comer
enquanto lava a louça que sujou.
— Você não vai querer comer nada?
— Comi antes de sair de casa.
Assinto apenas e forro o estômago, espiando vez ou outra
sua bunda fenomenal dentro da calça. Termino de comer e levo o
prato até a pia. Encosto-me à borda e cruzo os braços, esperando
uma explicação.
— E então?
Paola sacode as mãos dentro da cuba e termina de secá-las
com papel-toalha. Só depois disso ela se vira para mim com um
sorriso pequeno, quase tristonho.
— Senti sua falta.
Quatro palavras, mas o abalo nas minhas estruturas é
potente. Desvio meus olhos dos dela e travo o maxilar na minha
tentativa fútil de esconder minhas emoções. Paola já me conhece o
suficiente para saber o que exatamente estou sentindo mesmo
quando me camuflo.
— Sentiu minha falta ou sentiu falta…
A mulher não me deixa terminar de falar. Um dedo indicador
cola nos meus lábios, seus olhos claros em mim, quase
desesperados.
— Senti a sua falta, Liam. Falta da sua companhia, de
passear com Zacky no parque, de tagarelar na sua cabeça sobre
meu dia, do seu corpo agarrado ao meu no início da manhã, do café
da cama aos finais de semana, dos poucos sorrisos que me dava.
Senti falta dos seus beijos, dos carinhos, dos abraços, das nossas
mãos juntas.
— Não sentiu falta de como te faço gozar gostoso?
Ela abre um sorriso bonito e acaricia meu rosto.
— Senti muita falta de como me faz gozar gostoso. — Paola
se ergue um pouco mais nos pés, sua boca se aproximando da
minha. — Senti falta do seu cheiro e da sua pele, de esfregar suas
costas no banho e de cada pequeno detalhe insignificante que
tínhamos juntos, Liam.
Suspiro e fecho os olhos, sentindo-me patético por estar tão
facilmente rendido a essa mulher. Ela pode simplesmente estar
brincando com meus sentimentos outra vez, e aqui estou eu,
deixando-a se aproximar porque ainda não aprendi a resistir a Paola
Massari.
— Não parei de pensar em você nos últimos meses — ela
continua, a voz sussurrada, seus lábios agora muito, muito
perigosamente perto dos meus. — E não parei de pensar em você
porque era meu meio de fugir da realidade, de esquecer da minha
vida que virou de ponta-cabeça. É porque amo você, Liam.
Abro os olhos no mesmo segundo, pego pela sua declaração.
— Você me ama?
Ela assente com um sorriso pequeno, mas bonito.
— Não sei se sempre amei e não me dei conta antes, se
passei a amar depois das nossas poucas semanas juntos e não
notei porque estava magoada demais por causa do fim do meu
casamento, se aprendi a amar depois que te perdi. Não sei e não
me importa saber como ou quando aconteceu porque nada muda o
fato de que te amo.
— Paola… — É tudo que sai de mim. Eu nem mesmo sei
mais o que dizer.
— Chega de diversão, Liam — declara e há uma convicção
na sua voz que não tinha visto antes. Paola pega nas minhas mãos
e entrelaça nossos dedos. — Se me der uma segunda chance,
quero ser sua namorada.
Eu não tenho qualquer outra reação a não ser trazê-la para
minha boca. Nosso beijo é forte, intenso e cheio de saudade. Paola
se pendura no meu pescoço e eu quase que imediatamente a
seguro pela cintura e a trago para meu colo, suas pernas abraçando
minha cintura com toda força como se ela nunca mais quisesse me
deixar.
— Mesa — sussurra na minha boca quando estou para
sentá-la na ilha da cozinha.
Sorrio e a levo para lá. Nós nos beijamos de novo, com o
mesmo desespero de antes, mãos agora adicionadas pelos nossos
corpos. Apalpo sua cintura, suas coxas, seus seios, seguro-a pela
nuca e a mantenho presa nos meus lábios, resvalo dedos por entre
suas pernas, alcançando a boceta. Com ânsia igual, Paola tateia
meu tórax, se agarra aos meus cabelos, acaricia meu pau, tenta
abaixar minha bermuda. Entre beijos molhados e estalados, a
saudade, respiração ofegante, o desejo, coração disparado.
— Paola — murmuro, afastando-a um centímetro de mim. —
Tem certeza do que quer? Do que está sentindo?
Ela encosta sua testa na minha e sorri um pouco.
— Tenho, Liam. Não teria vindo até você se não tivesse
certeza do que quero, do que sinto. Não sabendo que eu poderia te
magoar de novo por causa disso. Não vou repetir o mesmo erro de
antes.
Baixo os olhos por um instante, ainda na dúvida. Ela não
pode me culpar por hesitar.
— Tomou o tempo que você precisava?
Paola assente.
— Tomei. Nos últimos seis meses vivi o fim do meu
relacionamento, me permiti sofrer, me autoconhecer, investir em
mim, no meu consultório, me divertir com leituras, festas em família
e brincadeiras com meus sobrinhos. Me dei o tempo que precisava
para entender que posso ser feliz sozinha e posso ser feliz ao seu
lado, Liam. E eu quero isso, você não imagina o quanto. — Ela sobe
uma mão pelo meu rosto e me acaricia. — Pode confiar em mim e
nas minhas intenções.
— Eu confio — sussurro e tomo sua boca na minha mais uma
vez. Agora, é Paola quem me afasta um pouco.
— Fomos bastante imprudentes da última vez. Não queremos
um bebê agora, ou queremos? — Balanço a cabeça que não. —
Camisinha sempre que for gozar, está bem? — Aceno e capturo
seus lábios de novo, sedento por Paola, morto de saudade dela.
Arranco sua camisa regata e caio entre seus seios, seu
corpo arqueando para trás conforme minha língua trabalha nos
mamilos intumescidos. Fico mais duro cada vez que ela geme e se
agarra aos meus cabelos, forçando meu rosto no seu corpo. Desço
meus lábios pela sua pele até chegar à sua virilha, me livro dos
seus tênis de academia e puxo a calça pelas suas pernas. Encho
minha mão com sua boceta e sorrio quando sinto que o tecido já
está úmido. Procuro seus olhos verdes e insiro um indicador nela,
testando seu calor, aperto e umidade. Meu pau aperta dentro da
cueca e protesta. Brinco com ela por alguns segundos, apertando o
clitóris ou entrando e saindo do seu canal apertado, até chupá-la da
forma como eu gosto, da forma que Paola gosta.
Jogo suas pernas por sobre meus ombros e travo bem seus
quadris com meus braços ao enfiar minha língua nela. Chupo, sugo
e lambo cada centímetro do seu sexo delicioso, suportando a
vontade imensa de pular as preliminares e me perder entre suas
pernas. Os gemidos escandalosos dela ecoam pela sala, seu corpo
se remexe sem parar sobre o tampo da mesa e sinto na ponta da
minha língua sua boceta ficar cada vez mais escorregadia. Minutos
depois, ela goza a primeira vez. Seu gosto continua incrível e
delicioso. Acalmo seu êxtase ao tomá-la nos meus lábios. Paola
ofega, afunda os dedos nos meus cabelos e remexe os quadris de
encontro à minha pélvis conforme me beija e se recupera.
— Me come, Liam. — Seu pedido é quase uma súplica.
— Como. — Eu a puxo e a coloco de pé, de frente para a
mesa. Encurvo seu corpo para baixo e a visão me deixa ainda mais
excitado. Abaixo um pouco sua calcinha e me livro da minha
bermuda. — Empina.
Paola fica na ponta dos pés e obedece. Encaixo meu pau na
sua entrada e me forço para dentro dela, indo devagar, tomando-a
aos poucos. Aperto sua nuca com uma mão e a outra esmaga sua
cintura quando começo a entrar e sair de sua boceta sem piedade.
Ela contrai os músculos ao meu redor e isso é toda a minha
perdição. Jogo a cabeça para trás, a sensação do seu aperto
misturada à da calcinha roçando meu pau à medida que estoco
nela. Porra, é gostoso demais.
— Toca seu clitóris — ordeno, fazendo-a erguer uma perna e
apoiá-la na mesa. Acho linda e excitante essa posição, melhorada
por causa da calcinha só um pouco abaixada. Paola não faz o que
pedi, e não sei se ela não ouviu ou não quer obedecer. De qualquer
forma, pego uma mão sua e a levo até seu feixe de nervos.
Mantenho a minha mão sobre a sua e a ajudo a friccionar seu ponto
sensível. — Toca seu clitóris — dessa vez, sussurro no seu ouvido.
O gemido que escapa dela é delicioso e obsceno. Paola me
obedece e gosto de como minha mão acompanha seus
movimentos. A excitação cresce nas minhas bolas e estou me
segurando muito, mas não quero mais me segurar.
— Paola… — gemo e aperto os olhos. — Preciso gozar.
Ela ri entre um gemido e outro, mas não me incomoda que
esteja debochando da minha cara. Roço o nariz na sua nuca e
inspiro fundo seu cheiro.
— Juro que na segunda rodada vou durar mais e surrar muito
sua boceta.
— Liam… — Sua voz sai estrangula e entrecortada, seus
quadris agora batendo fortemente de encontro ao meu. Como essa
mulher ainda quer que eu não goze? Afundo os dedos na sua
cintura e a ajudo a se mover, meus próprios movimentos
encontrando os seus. — Camisinha.
Deixo-a por um minuto para buscar a camisinha e Paola não
se mexe. Chupo sua boceta um pouco mais nessa posição, amando
todos os efeitos que causo em seu corpo com isso, antes de voltar
para dentro dela já revestido.
— Vou gozar com você — anuncia, os dedos firmes e
acelerados no clitóris. — Me come mais forte, Liam.
Eu atendo seu pedido e um minuto depois, estamos gozando
juntos em uma mistura doida e deliciosa de gemidos, fluidos e
palavras obscenas. Fico um tempo dentro dela, ainda me
recuperando, ela ainda se recuperando.
— Isso é real? — indago ao pé do seu ouvido, abraçando seu
corpo no meu. — Você aqui é real? Seus sentimentos, sua
declaração, esse sexo…Tudo isso é real, Paola, ou eu enlouqueci
de vez?
Ela me empurra com os quadris e me desencaixo dela. Paola
se vira para mim e me abraça pelo pescoço. Toda sua resposta é
me dar um beijo apaixonado na boca. Nesse momento, a dúvida
acaba.
Tudo isso é real.

Tiramos meia hora para recuperarmos a energia antes da


próxima rodada. Durante esse tempo, ficamos enroscados um no
outro no meu sofá, Paola tagarelando sem parar sobre a
inauguração do novo consultório, e eu ouvindo tudo e acariciando
seu cabelo. Não menti para o irmão dela quando disse que amo
ouvi-la. Nunca foi assim o tempo todo. Havia momentos em que eu
estava estressado demais, que não estava nos meus melhores dias
e sem paciência para nada mais. Se ela começava a faladeira e eu
não estava com cabeça para dar a atenção que essa mulher
merece, eu era franco com Paola, e ela imediatamente compreendia
e ficava em silêncio comigo pelo tempo que fosse necessário.
Energias recuperadas, recomeçamos tudo de novo sobre a
mesa da sala, experimentando novas posições.
— Liam… — ela me chama baixinho, rebolando no meu pau.
Abro os olhos que demorei a notar que fechei e encontro suas íris
verdes revirando de prazer, Paola deitada na mesa, eu de pé entre
suas pernas, ligeiramente inclinado na sua direção. — Me deixa te
foder nessa mesa também.
O pedido envia uma onda prazerosa no meu corpo e fico
ainda mais duro dentro dela.
— Você sabe onde ficam nossos brinquedos — sussurro a
um milímetro de sua boca e saio de dentro da sua boceta.
Enquanto Paola vai se preparar, eu me acomodo no seu lugar
e fecho os olhos, tratando de acalmar meu corpo com minha própria
mão. Ela retorna um momento depois e só me dou conta disso no
momento em que a sua boca explora a minha em um beijo profundo
e exigente. Eu me agarro forte ao seu corpo e a trago para mais
perto de mim. Suas mãos percorrem minha pele conforme seus
lábios dançam nos meus desesperados e rigoroso. Um minuto
depois, uma mão se fecha ao meu redor, delicada, suave, e me
masturba, enquanto um dedo desliza para dentro da minha área
erógena. Suspiro na sua boca e fico mais duro na sua mão, mais do
que agraciado com seu toque.
Eu perco toda e qualquer noção de tempo e espaço durante
os segundos que ela me estimula no pau e no ânus, excitado
demais, perdido demais, apaixonado demais. Meu tórax bate de
encontro ao seu quando Paola me puxa para si com força. Ela
captura meus lábios e me penetra devagar, os olhos o tempo inteiro
nos meus, seus dedos ainda fechados ao meu redor. Seu ritmo é
cadenciado no começo, tão diferente de mim ao penetrá-la. Paola é
carinhosa, lenta, amorosa. Até apoiar as mãos nos meus joelhos
dobrados. Então, ela aumenta a velocidade para dentro de mim, sua
atenção toda fixada entre minha mão que me masturba e do
brinquedo estimulando minha glândula prostática.
Todo o conjunto me deixa extremamente excitado. Paola em
pé me comendo, eu sobre a mesa, joelhos dobrados e separados,
completamente à sua mercê, apoiado nos cotovelos e me
masturbando tão rápido quanto suas estocadas. Quando menos
espero, ela está aqui, me tomando em um beijo abrasador,
substituindo minha mão pelas suas, uma ao meu redor, subindo e
descendo, outra massageando minhas bolas. E mais uma vez, eu
perco a noção de tudo, tanto que demoro a reparar que em algum
momento, fomos parar no meu quarto. Sentados de frente um para
o outro, suas pernas contornam minha cintura, minhas pernas
contornam sua cintura, e eu a beijo como se fosse nosso último
momentos juntos enquanto ela me fode gostoso.
— Seja sincero, Liam… — sussurra contra minha boca, a
testa encostada na minha, os quadris batendo na minha direção. —
Também sentiu saudade de como te faço gozar gostoso, não é? —
Ela pega no meu pau e me masturba mais, mais rápido, com mais
vigor.
Aperto os olhos e o maxilar ao sentir a excitação percorrer
meus vasos sanguíneos. O único momento em que Paola não fala
tanto é durante o sexo, mas amo quando ela me estimula ou se
estimula com seu palavreado indecoroso. Envolvo sua nuca com
minhas mãos e aprisiono seu lábio inferior entre meus dentes.
— Senti — admito, ofegante, sentindo meu segundo orgasmo
se formar e ameaçando vir. — Somos bons juntos, não somos? Eu
te como gostoso, você me come gostoso. Perfeitos um para o outro.
— Abro um sorriso de prazer e movo minha pélvis de encontro à
sua. — Vou gozar.
Paola me puxa imediatamente para sua boca e me beija com
toda paixão do mundo, os dedos ao meu redor mais empenhados,
suas investidas mais rápidas. Um instante depois, eu estou gozando
daquela maneira alucinante e deliciosa que só sinto com Paola, que
só sinto no pegging com Paola. Ela brinca comigo por mais alguns
segundos, os dedos deslizando facilmente pela minha ereção.
Como de costume, ela me deixa, se livra da cinta-peniana, volta
para mim e me cavalga até atingir o próprio ápice. Ao terminar,
estamos exaustos. Eu estou afundado no colchão, recuperando os
batimentos cardíacos, ela ainda montada nos meus quadris, rosto
escondido na curva do meu pescoço, respiração irregular. Um
minuto mais tarde, estamos debaixo do chuveiro, eu esfregando
suas costas.
— Paola — eu a chamo e abraço seu corpo —, também amo
você.
Ela vira o rosto um pouco na minha direção e sorri.
— Somos mesmo bons juntos, não é? Você me come
gostoso, eu te como gostoso. Você me ama, eu te amo. — Paola se
vira para mim e me olha nos olhos, os braços em torno do meu
pescoço. — Somos perfeitos juntos.
Paola se ergue nos pés e me beija.
— Sabe mais do que senti falta, Liam? — Movo a cabeça em
negativo. — Do que você me proporciona. Não só um orgasmo bom.
Amor, fidelidade, companheirismo, amizade, confiança. Senti falta
disso tudo.
Sorrio e a tomo em um beijo lento, deixando que meu amor
por ela se manifeste nesse pequeno ato. Diferentes e incompatíveis,
mas incrivelmente perfeitos juntos.

— Você se lembra quando foi a última vez que veio aqui? —


Paola pergunta assim que estaciono o carro no gramado da casa de
campo dos seus avós.
Desprendo o cinto e puxo minha memória, encontrando
dificuldade em me recordar exatamente quando foi.
— Não sei. O Lipo até me convidou para vir com ele naquele
final de semana que vocês conheceram os bebês do Mattia, mas eu
estava com muito trabalho acumulado e dispensei.
Ela assente com um sorriso e se vira para mim depois de
também soltar o cinto de segurança.
— Tenho quase certeza que foi no aniversário do Filippo de
vinte seis ou vinte e sete anos. Eu lembro porque ele te arranjou
uma garota.
Sorrio um pouco e confirmo.
— Acho que foi isso mesmo.
Tiramos as bagagens do porta-malas e levamos lá para
dentro. Paola ainda tem seu próprio quarto na casa de campo dos
avós, que continua limpo e organizado. A família dela vem para cá
com alguma frequência, o que explica as boas condições do lugar.
Faz alguns poucos dias que nós nos entendemos e
combinamos de passar esse final de semana aqui por dois motivos:
sair um pouco da rotina de sexo no apartamento e comemorarmos a
reinauguração da sua clínica. Não que a gente já não tenha
comemorado com um sexo forte e safado na banheira do melhor
motel da cidade, mas não vou reclamar de ter um tempo longe de
tudo e de todos com Paola.
Ela entra primeiro no quarto, deixando a mala perto da porta,
e corre abrir as janelas para iluminar o ambiente. É quase dez da
manhã e o dia promete ser bem ensolarado, o que vai ser muito
bom para os planos dela de pegar marquinha de biquíni na beira da
piscina e me deixar ainda mais ensandecido. Desfazemos as
bagagens e guardamos tudo em uma cômoda de madeira maciça
que parece muito antiga dado ao modelo dos puxadores, mas que
está bem preservada. Não evito um sorriso ao ver uma foto nossa
ali. Tomo-a em minhas mãos, recordando-me daquele dia. Filippo
tinha me convencido a ir jogar boliche. Paola e uma paquera do
irmão ganharam, e ela estava toda debochada nessa ocasião. Quis
por que quis uma…
— … foto da vitória — Paola diz com uma pitadinha de graça.
— Você estava todo rabugento nesse dia porque perdeu a partida.
— Não estava rabugento porque perdi a partida.
— Estava sim, olha. — Aponta para a minha cara de tédio ao
seu lado, toda sorridente e pendurada nos meu ombro.
— Mas essa é a minha cara para absolutamente tudo, Paola.
— Ela gargalha e pega a moldura das minhas mãos.
Ficamos um tempo em silêncio, apenas observando a
imagem, deixando o sentimento de nostalgia assentar em nós. Para
ser franco, não sinto um pingo de saudade dessa época. Eu tinha de
vê-la com outro homem e me doía não ter uma chance com ela. Não
faz sentido eu ter saudades de um período que me fazia mal.
— Quando foi que trouxe essa foto pra cá? — pergunto,
curioso.
Na época dessa foto, ela já tinha começado a namorar o
Bruno. Seria mais adequado ter trazido uma foto dela com o
namorado, não comigo.
— Não fui eu quem trouxe. Foi a vovó. A fotografia ficava no
aparador da sala da casa dos meus pais com outras da família. Um
dia, ela foi lá e roubou um porta-retrato de cada neto e trouxe para
cá.
— De tantas fotos suas, ela escolheu uma que você está
comigo?
— Todo mundo sempre adorou você — Paola argumenta,
colocando o retrato no seu lugar. — Não sei por que a surpresa.
Tanto é que a do Filippo que ela roubou você também está junto.
— Mentira. — Dou uma risadinha baixa.
Paola se vira para mim e se pendura no meu pescoço. Ela
ergue os pés para me alcançar e deixa seus lábios bem rentes nos
meus.
— A mais pura verdade. Dona Elisa chegou a me dizer que
preferia que eu te namorasse. Você é família, Liam.
Um aconchego bom preenche meu peito. De repente, sou
bombardeado por todas as lembranças que tenho com os Massari e
me dou conta que a vida toda fui recebido como um integrante
deles. O sentimento de pertencimento a um lugar, a uma família
amorosa, a um lar me aquece como nunca tinha sentido antes.
— Você é um de nós — ela completa e me beija.
Contorno sua cintura e afundo mais meus lábios nos dela,
uma necessidade imensa de tê-la me domina de uma maneira nova.
Puxo-a comigo até a cama atrás de nós e a mantenho entre minhas
pernas, eu sentado no colchão, ela sentada na minha coxa. Dedilho
sua lombar e desvio os beijos para a área do seu pescoço e
clavícula. Inspiro seu cheio incrível e leva só mais um segundo para
o espaço na minha cueca ser pequeno demais. Paola me empurra
até eu estar deitado e ela montada nos meus quadris, beijando-me
suavemente. Suas mãos abrem os botões da minha camisa e ela
acaricia minha pele assim que está exposta.
Com um movimento rápido, troco nossas posições. Com o
calcanhar, arranco meus sapatos e me ajeito melhor entre suas
pernas sem tirar minha boca da sua. Escorrego minha mão por
dentro da sua blusa até alcançar um dos seios e lhe fazer um afago.
— Posso te pedir uma coisa?
Ela abre os olhos para mim e abraça minha cintura com as
pernas.
— Peça.
— Quero ir devagar agora. — Fecho meus dedos nos seus
em um gesto de carinho e sustento nossos olhares. — Quero
aproveitar nosso momento de uma maneira nova.
— Diz logo “fazer amor”, Liam — ela brinca.
— Morro antes de me submeter a essa expressão. Vamos
foder devagarinho, é isso o que vamos fazer.
Minha namorada ri baixo e acena. Beijo seus lábios de novo
e não demora nada até estarmos nus, minha boca em sua boceta
molhada antes de me encaixar em suas pernas e penetrá-la.
Mantenho o ritmo cadenciado que desejei, meus dedos ao redor dos
seus em um aperto afetuoso, e não consigo desviar meus olhos dos
de Paola.
— Você é tão linda… — murmuro e pego em suas coxas,
puxando-as mais para cima para que eu atinja um ponto mais fundo
em seu canal escorregadio. — É tão linda e eu te amo tanto, Paola.
Sinto seus dedos afundarem nos meus fios e repuxá-los com
um gemido alto. Estoco mais algumas vezes até que não aguento
mais e gozo dentro dela. Beijo e aperto mais nossas mãos nas
últimas estocadas. Ela se satisfaz em seguida, eu rolo de cima dela
e amarro a ponta da camisinha para deixá-la em um canto no chão.
Paola se deita sobre meu tórax e esconde o rosto no meu pescoço,
o nariz roçando de leve na minha pele.
— Realiza uma fantasia minha que eu realizo uma sua — ela
murmura e brinca com meu abdômen.
A frase é a mesma que me disse muitos meses atrás na
boate. Sem perder a chance de recriar aquele diálogo, pergunto:
— Qualquer uma?
— Qualquer uma — responde e ri baixo contra a minha, com
certeza lembrando-se do mesmo que eu.
— Casar e ter filhos comigo, o que acha?
— Eu topo. — Paola se afasta um pouco para me encarar e
tem um sorriso bonito iluminando todo seu rosto.
— Você topa?
— Talvez daqui um ou dois anos, mas, sim, eu topo. —
Aperto mais seu corpo no meu e a tomo em um beijo apaixonado. —
Eu amo você.
Rolo por cima dela e digo o mesmo, mas dessa vez, com
meu corpo.
EPÍLOGO

Um latido estridente e uma lambida no meu rosto me


despertam. Ao abrir os olhos, vejo Zacky terminando de se sentar
sobre as patas traseiras e pegar a guia no chão com os dentes.
Sorrio, um pouco sonolenta, e suspiro ao constatar as horas no me
celular sobre a mesinha de cabeceira. Mal são sete da manhã.
— Ele quer passear? — Liam sussurra atrás de mim, a voz
morosa, e me aperta mais contra seu tórax.
— Quer.
Liam resmunga e, com alguma dificuldade, deixamos a cama.
Antes de levarmos o cãozinho para sua atividade favorita,
preparamos uma refeição leve para o pré-treino. São sete e
quarenta e cinco de um sábado quando já estamos na rua,
devidamente vestidos para a corrida, Zacky apressado na guia. O
cão nos acompanha nos primeiros dois quilômetros e enquanto
fazemos o restante do percurso, ele fica brincando com outros
animais. Preciso de algum esforço e de incentivos de Liam para não
desistir no meio do percurso e fico feliz em conseguir terminar o
trajeto. Só tem alguns meses que comecei a correr e estou
gostando de ver meu progresso.
— Seus irmãos chegam hoje de viagem, não é? — Liam
pergunta depois de tomar um gole generoso de água. Estamos
descansando da atividade física debaixo das copas de uma árvore,
observando Zacky pular de um lado a outro com uma cadela com
quem fez amizade.
— Chegam. Estava aflita durante essa semana que estiveram
fora. Mattia garantiu que foi a última escalada dele, para se despedir
dessa vida doida e que não pretende voltar. — Suspiro forte e tomo
um gole da minha água. — Mas não vou mentir, Liam. Tenho medo
de ele gostar o suficiente para querer se aventurar de novo.
— Acho que Mattia está decidido a abandonar o esporte de
vez — meu namorado comenta, os olhos ainda atentos no animal de
estimação a alguns metros de distância. — Ele tem a Lauren, as
crianças. Não sei se vai querer se arriscar. É diferente de quando
estava com a Naty, que embarcava com ele nas aventuras.
Sorrio um pouco e aceno.
— Bianca podia ter esse efeito no Filippo, né? Mesmo
apaixonado, namorando sério há algum tempo, ele ao invés de
querer deixar essa vida, tenta arrastar a pobre garota com ele.
Ouço uma risadinha baixa de Liam, que move a cabeça de
um lado a outro.
— Entendo que essas expedições e escaladas deixam vocês
todos preocupados — Liam diz suavemente. — Mas é o que Filippo
ama fazer. Mais do que isso, é de onde ele tira o próprio sustento. A
empresa de aventuras dele está crescendo e ganhando destaque.
Desistir agora é perder todos esses anos em que seu irmão investiu
no sonho dele.
Concordo com cada palavra de Liam. Filippo ama o que faz,
apesar de todos os riscos e testes cardíacos que submete a família
toda. Nada abala aquele homem. O acidente de anos atrás não o
abalou, mesmo quase tendo perdido a vida. Filippo vai morrer
escalando, não duvido nada.
— Ele poderia ter uma meta de vida menos perigosa.
Liam ri baixinho e joga um braço sobre meu ombro, roubando
um beijo meu em seguida. Ficamos mais algum tempo no parque,
aproveitando o sábado de sol. Meu namorado compra algo para
comermos em uma padaria nas redondezas, em um dos nossos
momentos que já virou costume. Conversamos um pouco, eu
falando muito mais do que ele, como sempre, e conto dos meus
planos com a casa nova. Tenho morado de aluguel desde que o
divórcio saiu, em um bairro mais próximo do meu trabalho, mas
venho estudando alguns imóveis que me permitam montar meu
consultório agregado, como era na minha antiga casa. Estou
decidida a um dia ter um filho — biológico, adotado, estando casada
ou solteira — e vai facilitar muito minha vida que meu trabalho e
minha casa estejam próximos.
As horas já estão se aproximando do almoço quando
decidimos ir embora. Ainda vamos viajar até o aeroporto
internacional para recepcionar Mattia e Filippo que chegam de
viagem depois de terem escalado o Matterhorn — uma montanha
que fica na divisa com a Suécia e a Itália.
Zacky vai para seu quarto, e nós dois vamos tomar banho
juntos. O momento debaixo do chuveiro rende algumas risadas,
beijos quentes e sexo rápido contra a parede de ladrilhos. Liam está
esfregando minhas costas no momento em que a sua pergunta me
pega de surpresa:
— Você se casaria comigo?
Eu me viro na sua direção, devagar, e encaro seus olhos
cinzas. Fizemos um ano de namoro na semana passada, e os
últimos doze meses têm sido… bons demais. Liam é maravilhoso
comigo, foi mais do que bem acolhido na minha família, e apesar de
vez ou outra termos que lidar com nossas diferenças, no geral,
somos um casal que se dá muito bem.
— Isso é um pedido de casamento? — indago de volta.
Uma sobrancelha dele sobe.
— Depende da sua resposta.
Rio um pouquinho e alcanço seus lábios.
— Eu me casaria, mesmo com esse pedido nada romântico
debaixo do chuveiro.
Ele ri baixo e laça minha cintura.
— Eu precisava saber antes de fazer um pedido romântico.
Já pensou se preparo tudo e recebo um “não”? — Liam se curva um
pouco na minha direção, seu tórax esmagando meus seios, e
sussurra: — Amanhã, vou te levar para jantar fora e fazer o pedido
formal. Depois, vou te comer gostoso no banheiro do restaurante.
Minhas coxas apertam e eu gemo quase involuntariamente.
— Promete? Me comer no banheiro do restaurante.
Um sorriso surge nele porque sim, é toda minha preocupação
no momento. Promessa é dívida.
— Prometo. — Sou içada nos seus braços e prensada contra
o ladrilho novamente. — Abra bem as pernas porque vou te foder de
novo.
Eu obedeço sem qualquer resistência.

Os trigêmeos correm na direção do pai assim que Mattia


surge entre as pessoas na área de desembarque do aeroporto. Os
pequenos estão morrendo de saudade dele ou só estão
interessados nos chocolates suíços que ele prometeu trazer.
Recepcionamos os rapazes com abraços e beijos e seguimos para
a casa dos meus pais, onde tem um jantar especial esperando por
eles. O jantar é regado de muitas conversas sobre a aventura dos
meus irmãos, e ao terminarmos, nós nos reunimos na sala para
jogar conversa fora.
Meus sobrinhos estão em um cantinho comendo o chocolate
que ganharam quando de repente eles saem correndo até os pais,
que estão trocando um abraço afetuoso depois de uma conversa
que ficou apenas entre os dois. Sorrio diante à imagem, tão linda e
familiar.
— Também vou querer três — sussurro mais para mim do
que para Liam ao meu lado, conversando com meu pai sentado no
outro sofá. Sinto-o virando-se para mim e encontro seus olhos
cinzas em seguida. — Três filhos. Acha que é demais?
— Se for comigo, não — responde, e rio da sua graça. —
Não tive pai, nem mãe, nem irmãos. Apenas rodeado de padres,
freiras e funcionários da paróquia. — Ele beija meu rosto e sorri
pequeno. — Três filhos, dois cachorros, talvez alguns gatos?
Eu rio e apoio o rosto conta seu peito.
— Quer mesmo uma família grande?
— A maior que pudermos sustentar.
— Três é ótimo — papai intervém — e mantém o padrão. —
É claro que ele faria alguma das suas gracinhas costumeiras.
Movo a cabeça de um lado a outro e volto minha atenção
para Mattia, que agora desfez o abraço e está colocando os filhos
sentados no sofá. Filippo está com Bianca junto à mamãe em uma
conversa animada.
— Eu vou me casar — digo em voz alta, e isso chama
atenção de todos para mim e Liam. — Vou me casar com Liam. —
Ele entrelaça nossos dedos e me olha, um sorriso apaixonado nos
lábios.
Só leva um segundo para Bianca, Lauren e mamãe virem me
puxar para um braço e para ver Liam envolvido também nos braços
do meu pai e dos meus dois irmãos, em um momento de família que
preenche meu coração. Sempre estivemos aqui um pelo outro. E
sempre, sempre estaremos.
Liam me coloca com toda força sobre a bancada da pia do
banheiro do restaurante, sua boca desesperada, firme, exigente,
devorando-me enquanto suas mãos tentam subir meu vestido. Eu o
ajudo enrolando o tecido em torno da minha cintura e abro mais as
pernas para recebê-lo. Acesso liberado, é a vez de ajudá-lo com
suas calças. Meus dedos trabalham desesperadamente na
braguilha do seu zíper até que consigo trazer seu membro duro para
fora.
Liam me penetra sem qualquer piedade ou delicadeza, seu
pau delicioso estocando dentro de mim com um único movimento
potente o bastante para dar um tranco no meu corpo. Jogo a cabeça
para trás e abro os lábios para gemer, mas sua mão forte abafa
qualquer som que pudesse nos denunciar.
— Você não quer ser flagrada me dando a boceta, quer? —
sussurra para mim sem parar de me comer com vigor. Deus, Liam é
incansável, insaciável, delicioso e obsceno. — Então fode meu pau
em silêncio. E rápido. Logo alguma mulher vai precisar usar o
banheiro e vai descobrir que está trancado.
Aceno em positivo e toco meu clitóris furiosamente, deixando
que o orgasmo se forme no meu ventre. Liam aperta minha cintura,
os dedos afundando na minha carne, possessivo, sua boca rente à
minha murmurando as palavras mais obscenas para me ajudar. Eu
gozo em um minuto e ele vem em seguida, desfazendo-se dentro de
mim ao atacar minha boca. Ficamos uns segundos conectados,
nossas testas encostadas umas nas outras, sorrindo e recuperando
as energias.
— Eu gozei dentro de você — murmura, a respiração
ofegante. — A camisinha estava no bolso, mas eu…
— Está tudo bem — acalento-o, afundando os dedos nos
meus cabelos. — Não estou nos dias férteis e para garantir,
passamos na farmácia de volta para casa e compramos uma pílula.
— Afago carinhosamente seu tórax e mordo o lábio inferior. — Ou
podemos deixar… como nossa primeira tentativa.
Liam me olha atentamente por um segundo inteiro e pisca
duas vezes.
— Quer mesmo isso? É o momento certo?
— Estamos noivos e não tenho qualquer outra certeza na
vida a não ser que quero um filho com você, uma família a maior
que conseguirmos sustentar. Estou entrando na casa dos trinta,
Liam. Não quero esperar mais. Mas isso não depende só de mim.
Se disser que devemos esperar mais um pouco, vou entender.
Ele sorri um pouquinho e assente.
— Primeira tentativa e contando… — brinca, saindo de
dentro de mim.
Nós nos limpamos com papel higiênico, ele coloca a calça no
lugar, e eu ajusto meu vestido. Deixamos o banheiro sem qualquer
flagra e voltamos para nossa mesa, braços enroscados. No
caminho, meu noivo pergunta:
— Gostou do pedido?
Sorrio para mim mesma e procuro pelos seus olhos cinzas.
Ele não fez qualquer pedido espalhafatoso. Não bateu a colher na
taça para chamar atenção dos outros clientes, ou se ajoelhou para
pedir minha mão, ou fez qualquer declaração poética. Liam apenas
tirou a caixinha de veludo de dentro do bolso do paletó depois do
jantar, abriu-a e me mostrou a aliança. “Só para confirmar, você
ainda quer se casar comigo, não é?”, perguntou, no seu atípico
senso de humor. Eu disse sim de novo, e ele colocou a aliança no
meu anelar direito, pegou o outro par e colocou no dele. Ele chamou
o garçom, que trouxe um petit gâteau para comemorarmos.
— Para mim foi perfeito — digo, alcançando seus lábios em
seguida. — Amo você, Liam.
Seus olhos brilham e o sorriso mais lindo que já vi nele surge
no seu rosto.
— Eu amo você, Paola. — Liam se inclina e me beija. É um
beijo amoroso, cheio de afeto, paixão e promessas de um futuro
juntos.
O que era para ter sido apenas uma noite vai se tornar toda a
minha vida.
Em breve, conheça o segundo livro da duologia, Deliciosa
Rendição. 16 de novembro na Amazon!

SINOPSE:
Filippo Massari sempre teve três únicas grandes certezas na
vida. A que ele não sabe ficar sem mulher, a que não sabe ficar
apenas com uma mulher e que um dia vai escalar o Monte Everest.
O mulherengo convicto e divertido está confiante de que jamais vai
se render a alguém e que não existe a menor chance de se
apaixonar. Nunca.
Ao perder uma aposta para o melhor amigo, Filippo precisa
passar os próximos trinta dias com apenas uma garota. Ele pode
escolher quem quiser, desde que cumpra o único requisito de não
se encontrar ou transar com mais ninguém.
Bianca Paiva jurou a si mesma que nunca mais se prenderia
a homens que trocam mais de mulher do que de camisa. Com
experiências ruins no passado, ela quer distância de caras como
Massari. Apesar disso, ela aceita ser a garota com quem ele vai
passar um mês — afinal, ela também precisa da ajuda dele para
espantar um pretendente indesejado — e está confiante de que no
primeiro sinal de velhos hábitos vai cair fora.
Então, os dois estão certos que não vão se envolver mais do
que deveriam. Entre momentos divertidos, quentes e muita
confusão, eles se rendem deliciosamente pouco a pouco, quase
sem nem perceber, enquanto tentam lidar com os novos
sentimentos que estão nascendo e com os reflexos do passado que
Bianca carrega interferindo no rápido relacionamento deles.
CAPÍTULO 1

Filippo

Meu irmão mais velho cruza os braços na frente do tórax e


ergue uma sobrancelha inquisidora.
— Pode confiar em mim, Mattia. — Coloco uma mão no peito,
teatralmente indignado de sua desconfiança. — Acha que não sou
capaz de cuidar dos meus sobrinhos?
— Capaz você é. — Ele faz um gesto de cabeça em positivo,
os quadris encostados na mesa do seu consultório no hospital. Vim
pentelhar meu irmão no trabalho porque é difícil nossos horários
coincidirem. — Eu tenho medo do que se passa nessa sua cabeça
aí. A última vez que quis ficar com um dos meus filhos, toda sua
intenção era flertar com uma mulher.
Dou de ombros porque não é mentira. Para meu azar, ele não
deixou. De qualquer maneira, eu usei outros artifícios e levei a
mulher para a minha cama da mesma forma.
— Dessa vez, juro que só quero passar um tempo com os
trigêmeos. Na terça vou sair em expedição e não tenho previsão de
quando volto para cá. Vai, Matt, me deixa passar o domingo à noite
com meus sobrinhos.
Eu preferia que fosse durante o dia, mas ele tem planos de
sair com a namorada e os filhos. Mattia suspira e revira os olhos.
— Lauren e eu vamos sair no domingo à noite depois do
piquenique com as crianças, e a Bianca vai cuidar dos pequenos pra
nós. Não pode ser no sábado ou na segunda?
Semicerro os olhos, tentando me recordar quem é Bianca.
Leva só um segundo para ligar o nome à pessoa. Eu a conheci
umas duas semanas atrás, mais ou menos, no aniversário de um
ano dos trigêmeos, e a garota é a melhor amiga da namorada do
meu irmão. Trocamos apenas cumprimentos, mas não nego que me
interessei. Eu me interesso pela maioria das mulheres que conheço.
Eu durmo com a maioria das mulheres por quem me interesso. Teria
flertado com ela não fosse o momento inapropriado e porque ela
ficou grudada na melhor amiga por todo tempo que conseguiu.
— Não — respondo sua pergunta, por fim. — No sábado, já
tenho planos. — Quero dizer que vou tentar arrastar meu melhor
amigo para a farra porque ele está de coração partido, mas deixo
para lá. É uma história longa demais e não pertence só a mim. — E
na segunda vou ficar o dia todo me preparando para a viagem na
terça. Precisa ser no domingo.
— Bom, se não se importar, pode ficar junto com a Bianca. É
bom que vocês dividem o trabalho. São três crianças pequenas,
Filippo. Não é fácil.
Considero a opção e aceno.
— Por mim tudo bem.
Mattia aponta para a saída do consultório.
— Ótimo. Me deixa trabalhar agora.
Eu deixo seu consultório e sigo com minha motocicleta até a
sede da minha empresa, Aventura Selvagem. Há sete anos, abri a
empresa no ramo de esportes radicais com apoio do Mattia, que foi
quem me inseriu nessa vida, para começo de conversa. Ele é três
anos mais velho do que eu e a vida toda me espelhei nele. Quando
Mattia começou a praticar esportes, aos dez anos, eu o segui. Aos
dezoito, ele começou a se preparar para desportes perigosos e se
apaixonou perdidamente por escaladas. Eu só tinha quinze anos e
jurei que seria seu companheiro. E foi assim que aconteceu. Com
dezessete anos, eu sabia que não faria nenhuma faculdade como
ele — que já cursava medicina com pretensões para pediatria — e
minha irmã mais nova, que desde os doze tinha objetivos para
odontologia. Eu só queria viver de esportes radicais.
Por muitos anos, Mattia foi meu companheiro nas nossas
aventuras. Ele apaixonado por escaladas em rochas, eu o maior fã
de alpinismo e montanhas altas. Se tiver temperaturas negativas, é
melhor ainda. Quando completei vinte anos, decidi que abriria uma
empresa no ramo e uniria o útil ao agradável: ia fazer o que eu
amava e ganhar dinheiro com isso. Há nove anos no ramo, o
Aventura Selvagem vem ganhando destaque aos poucos. Com
apenas quatro anos de existência, levei meus primeiros clientes
para escaladas fora do país e tivemos êxito ao conquistarmos o topo
do Aconcágua sem quaisquer imprevistos ou problemas maiores.
Nosso foco maior é escalada e alpinismo, mas a empresa oferece
pacotes para outros esportes radicais: paraquedismo, rapel, rafting,
bungee jumping etc.
Meu maior sonho — além de conquistar o Everest — era que
Mattia conquistasse o Everest comigo. Por causa de um incidente
quase três anos atrás durante uma das nossas escaladas —
incidente esse em que eu quase morri, aliás — meu irmão mais
velho ficou traumatizado e resolveu parar com essa vida perigosa.
Tentei convencê-lo a voltar, mas ele nunca se sentiu preparado para
isso. Agora que reencontrou Lauren e conheceu os filhos que até
então não sabia que tinha, ele tem mais motivos para não voltar a
escalar do que para voltar. De qualquer maneira, eu o convenci a
uma última aventura para nos despedirmos da vida radical. Ele me
pediu um ano para se preparar e estou ansioso por isso.
Passo parte do dia na sede da empresa terminando de
organizar o cronograma das próximas expedições e pacotes com
clientes. Por volta de três da tarde, deixo todo o restante sob os
cuidados da minha equipe e rumo até o escritório onde Liam
trabalha. Dou duas batidas leves na porta que está aberta. Meu
melhor amigo ergue os olhos na minha direção e não diz uma
palavra quando invado seu espaço. Ele é assim. Pouco demonstra
emoção, os olhos sempre frios e impassíveis. Durante umas
semanas, notei que ele estava um pouco diferente, talvez mais…
feliz. Descobri um tempo depois que tinha uma “garota especial”,
como ele mesmo disse, mas não soube quem era. Só fui descobrir o
motivo de tanto mistério menos de uma semana atrás.
— Vou fazer uma viagem dentro de cinco dias para uma
expedição — digo, sentando-me em uma das poltronas frente à sua
mesa. Ele volta seus olhos para uns papéis que está trabalhando,
deve ser contrato nupcial, pedido de partilha de guarda de filhos ou
algum divórcio, e continua quieto. — Nós dois vamos sair no sábado
à noite. — Gesticulo de mim para ele. — Eu te arrastaria para
alguma boate lotada de mulher em que você poderia se enfiar no
meio das pernas de uma delas, mas como sei que detesta esse tipo
de lugar e a última coisa que quer agora é se envolver com uma
garota, vamos a um lugar mais calmo. Deixo você escolher.
Liam segue quieto, os olhos atentos em seja lá no que esteja
trabalhando. Nunca foi fácil arrastá-lo para locais abarrotados de
gente, mas sempre arrastei. É difícil ver qualquer emoção ou
sentimento por trás do casco que ele criou em torno de si, e mesmo
que agora esteja tentando esconder o que de fato está sentindo, ele
é meu melhor amigo. É como meu segundo irmão mais velho.
Conheço esse homem do avesso.
— Você está lidando com isso tudo se entupindo de trabalho,
não é?
— Eu sempre estou entupido de trabalho, Filippo.
— Então o gato não comeu sua língua — brinco e vejo um
sorriso muito curto e muito rápido surgir nele, toda a indicação de
que achou graça no que disse.
— Não, não comeu. — Liam me encara agora e suspira. —
Não estou com cabeça para farra, Lipo. Desculpa.
— Não desculpo, não. Vou ficar uns dias fora da cidade a
trabalho. O mínimo que tem de fazer por mim é ir se divertir comigo.
— A última coisa que vai fazer se me levar com você para
qualquer canto que seja é se divertir. Não estou numa boa semana
e sabe disso melhor do que ninguém. Não quero atrapalhar sua
noitada com meu mau humor de quem está sofrendo por uma
mulher. Então… faça um favor a si mesmo e não me leve para lugar
algum com você.
— Ei, você é meu melhor amigo! — protesto, encarando-o
seriamente. — É meu dever te colocar para cima nos seus piores
momentos. Não seria a primeira vez que te levo para farra porque
não está em uma boa semana. Nem a primeira vez que te levo para
a farra porque está sofrendo por causa de uma mulher. Está de
coração partido por causa da minha irmã, e agora mais do que
nunca me sinto na obrigação moral de tentar te animar um pouco.
Vai, Liam! Por favor.
Liam aperta a ponte do nariz e suspira, dando-se por vencido.
— Não estou com qualquer saco para boate ou afins.
— Sessão de cinema no meu apartamento, o que acha?
Ele sorri muito pouco, é até um sorriso triste, e acena.
— Perfeito. Eu escolho os filmes.
Eu contorno sua mesa e o abraço, deixando um beijo na sua
bochecha em seguida. Quero dizer que ele vai se recuperar da
merda que minha irmã fez na sua vida, mas engulo minhas palavras
ao invés disso porque tenho a impressão de que nada do que eu
digo vai ser suficiente para Liam.

As crianças ficam todas eufóricas dentro do cercado no


centro da sala assim que chego na casa de Mattia. O que posso
fazer se sou o melhor tio do mundo e esses pequenos me adoram?
Eu tiro um dos módulos do ambiente e liberto os pequenos
terroristas que vêm a passos bobos na minha direção.
— Ah, não me diga que já estão os três andando sem
qualquer apoio! — exclamo, agachando-me para recebê-los em um
abraço apertado.
Mattia aparece logo atrás de mim e para ao meu lado.
— A Lavínia e o Gabe deram os primeiros passos sozinhos
hoje à tarde, durante o piquenique. Arthur já tem uns dias que
consegue andar sem se apoiar.
Pego os três nos meus braços e me levanto como se não
pesassem nada. Vantagens de ser um alpinista e escalador: muita
força nos braços. Olho para meu irmão, que olha para os filhos com
todo orgulho do mundo. Ele dá um passo à frente e acaricia o
rostinho de cada um deles com todo amor.
— Vai mesmo ficar bem com eles, Lipo? — pergunta e se
direciona para mim.
— Não vou estar sozinho, lembra? Mesmo se fosse ficar. —
Balanço os três nos meus braços animadamente. — Nós quatro nos
daríamos muito bem, não é? Sabem onde o papai guarda os
chocolates para comermos tudo assim que ele e a mamãe saírem?
Ele me dá um murro no braço.
— Nada de chocolate. Nada de doce. Aliás, tudo o que eles
precisam e podem comer está na geladeira separado em porções. A
Lauren também fez uma lista…
Explodo em uma risada exagerada que faz meus sobrinhos
rirem comigo. Coloco-os no chão e os incentivo a irem explorar o
cômodo, ficando de olho neles.
— Não se preocupa, Matt. Já sei que você é todo preocupado
com a alimentação deles. Não vou dar nada que não queira que eu
dê pra eles. — Mattia assente com um sorriso leve no rosto e logo
precisamos nos adiantar e tirar os pequenos de lugares perigosos.
Lauren aparece um minuto depois, descendo as escadas, e
está muito bonita para a noite de domingo deles. Meu irmão fica
todo idiota ao ver a namorada e isso me deixa muito feliz. Nos
últimos quase três anos, desde o acidente, meu irmão passou por
uma fase difícil que deixou todo mundo preocupado. Ele está bem
agora que tem a namorada e os filhos na sua vida. Voltou para a
terapia, tem sorrido mais e está claramente apaixonado de novo.
Isso é bom. Isso é muito bom.
— A Bianca já está chegando — Lauren anuncia logo depois
de me cumprimentar. — Podem nos ligar se precisarem de qualquer
coisa.
Balanço a cabeça em negativo firmemente.
— Nem pensar. É a noite de vocês. O mundo pode estar
acabando, não vamos interromper.
Lauren ri e concorda. Ela me passa mais algumas instruções
básicas para ficar com as crianças até sua amiga chegar. Somos
apresentados novamente, e a garota diz que se lembra de mim da
festa dos trigêmeos duas semanas atrás. Os pequenos também
gostam dela pelo jeito como ficam alegrinhos e correm na sua
direção assim que a vê. Abro um sorriso pequeno ao vê-la interagir
com os pequenos. É uma mulher bonita. Talvez uns vinte e cinco
anos, cabelos e olhos castanhos, baixinha, não deve ter mais que
um metro e sessenta.
— Melhor irmos — Mattia chama a namorada.
— Se divirtam — Bianca deseja.
Os trigêmeos não choram nem fazem escândalo quando os
pais se despedem e ficam entretidos comigo, com Bianca e com
alguns brinquedos no centro da sala.
— Você é mesmo alpinista? — ela pergunta, um minuto
depois que meu irmão e a namorada deixam a casa. — Lauren me
falou um pouco de você.
Estou sentado sob minhas pernas segurando um tubarão de
borracha e batendo o nariz do brinquedo no nariz de Gabriel quando
recebo essa pergunta. Ela está a poucos centímetros de mim, os
olhos atentos nos outros dois em pé e dançando ao ritmo da música
infantil que passa na televisão.
— Me dedico mais ao alpinismo, mas gosto de todo tipo de
esporte radical — respondo com um sorriso. — Então você e a
Lauren andaram falando de mim, hein? — Balanço as sobrancelhas
sugestivamente, e a garota revira os olhos.
— Convencido você, não é? Não falamos nesse sentido. A
Lauren me explicou sobre o Mattia, o trauma dele e tudo mais.
Inevitavelmente me contou que você vive de aventuras também.
Você não tem medo?
Bato o nariz do tubarão no nariz de Gabriel mais uma vez e
ele ri. Sorrio junto com o menino, contagiado pela sua alegria e
descobrindo que cada dia que passa, amo esses pivetinhos cada
vez mais. Peso por um instante sua pergunta, sem chegar a uma
resposta satisfatória.
— Não sei. Gosto da adrenalina, da sensação de perigo, do
sentimento de vencer meus próprios limites. Não sinto medo quando
decido por uma aventura, mas já senti em situações mais
específicas, quando realmente me deparo com um cenário perigoso.
Bianca não diz mais nada e o assunto morre. Conversamos
muito pouco durante a próxima uma hora e meia. Aproveito bem o
momento com meus sobrinhos porque vou demorar uns dias para
vê-los novamente. Nós nos divertimos bastante com brincadeiras e
gargalhadas. Quando já está dando o horário de os três irem dormir,
Bianca fica encarregada de preparar os berços e mamadeiras, e eu
tenho a missão de vigiá-los. Ao finalmente estarem dormindo, nós
vamos para a cozinha e eu peço uma pizza para comermos.
Bianca está distraída no celular e eu me pego olhando-a mais
do que deveria. Ela é bonita e não vou esconder meu interesse.
Nunca escondo meu interesse. O máximo que vou levar é um “não”.
Ela parece notar que está sendo observada e ergue os olhos na
minha direção.
— O que foi?
— Nada, só estou te olhando. Gosto de apreciar coisas
bonitas. — Balanço as sobrancelhas, e ela ri um pouquinho,
movendo a cabeça de um lado a outro. — A menos que esteja se
sentindo intimidada, aí eu paro.
— Está tudo bem. Pode continuar olhando, é o máximo que
vai ter de mim.
Recosto-me na cadeira e cruzo os braços, curioso com sua
sentença.
— Não faço seu tipo?
Bianca me avalia de cima em baixo, como se ponderando.
— Até faz. O problema é que evito homens do seu tipinho.
A palavra tipinho vem acompanhada de um desdém, o que
me deixa ainda mais interessado na conversa.
— O meu tipinho? E de que tipinho eu faço parte? —
Debruço-me sobre a mesa e a encaro, esperando uma resposta.
Bianca se levanta do seu lugar e pega água na geladeira. Enquanto
se serve de um copo, responde:
— Ah, você sabe. Não para com mulher alguma, cantadas
bregas, hétero top que não sabe receber um não. — Ela volta para
seu lugar sorvendo um gole da água gelada, seus olhos estão em
mim com toda convicção do mundo do que acabou de me dizer.
Bianca acabou de me estereotipar.
— Você só acertou uma coisa sobre mim, a que não paro
com mulher alguma. Gosto de ser livre, não vejo porque isso é um
problema. Todo o mais que supôs sobre minha pessoa — faço uma
reverência exagerada — está redondamente enganada. Minhas
cantadas são as melhores e você me ofende quando me chama de
hétero top. — Tremo o corpo propositalmente. — Viu, só? Me dá até
um tremelique ser confundido com um cara desse tipo.
Bianca prende uma risada e bebe o resto da sua água.
— Isso é o que todo hétero top diz — rebate.
Levo a mão ao peito, em um falso sentimento de indignação.
Por fim, concordo que esteja com a razão. Todo cara babaca insiste
em dizer que não é babaca, que é diferente dos outros, o
desconstruidão que mais tarde se revela um grandessíssimo idiota.
— Com o que você trabalha? — mudo de assunto porque
não vou mesmo ficar aqui tentando convencê-la de que não sou um
babaca de marca maior.
Bianca franze o cenho, como se perdida um pouco com o
rumo da conversa, afasta o copo para se debruçar sobre a mesa e
me olhar nos olhos com atenção.
— Tenho um bar temático.
Ergo as sobrancelhas, surpreso com sua resposta.
— Bar temático? Me deixa adivinhar. — Bianca sorri um
pouco e mantém os olhos em mim enquanto tamborilo minha
bochecha, pensando. — Você tem o bar da Barbie. Todo rosa, do
chão ao teto, inclusive os drinques que serve. Acertei?
A mulher ri e balança a cabeça em negativo.
— Por que você acha que meu bar é com o tema de uma
boneca?
— Porque você é uma garota e garotas gostam de boneca.
Bianca revira os olhos.
— Que sexista você.
Bato a mão na mesa e aponto o indicador na sua direção.
— É ruim quando você é estereotipada, né?
Ela gargalha gostoso e eu a acompanho por um instante.
— Tudo bem, me pegou nessa. Desculpe se fiz mal juízo sem
nem te conhecer direito.
Nesse momento, nossa pizza chega e vou receber o
entregador. Quando retorno com a pizza, Bianca arrumou a mesa
esticando uma toalha com pratos e talheres e colocou o refrigerante
bem no meio. Apoio as caixas ao lado da garrafa e a encaro
enquanto ela dobra delicadamente duas folhas de papel-toalha e as
distribui perto dos pratos.
— Pra que isso tudo? — pergunto. — É um encontro
romântico e não estou sabendo?
Ela me olha prendendo outra risada e eu não faço qualquer
questão de esconder que rio das minhas próprias baboseiras.
— Sou uma pessoa muito visual para tudo. Gosto que o
ambiente esteja bem ajeitadinho nas refeições. Me dá mais prazer e
satisfação na hora de comer.
Pisco duas vezes e me sento no meu lugar, tirando a tampa
da caixa.
— Está me dizendo que você fica mais satisfeita quando
come em um ambiente visualmente organizado? — pergunto e tiro
uma fatia da pizza, colocando-a no meu prato.
— É algo que aprendi quando me consultei com um
nutricionista. Por algumas semanas, eu até fiz algumas experiências
e constatei que me satisfaço com mais facilidade, e
consequentemente como menos, quando a comida no prato é
visualmente bonita, assim como o ambiente em que estou comendo
— explica, retirando uma fatia para si. — Então, sim, eu gosto de
esticar a toalha, arrumar a louça e essas coisas.
— Que bacana — comento. — Me conta mais sobre isso.
Bianca está levando um pedaço da pizza à boca quando para
e me olha criteriosamente. Não sei o que foi que disse de errado
para me encarar como se eu não fosse desse mundo, mas a
expressão boba no seu rosto dura só um segundo até engatarmos
em uma conversa fácil sobre tipos de comedores. Ela me explica o
que aprendeu com sua nutricionista, por que começou o tratamento
— passou a comer por emoção depois de terminar um namoro —, e
todo tipo de informação interessante que adquiriu durante o
tratamento.
Quando menos espero, estamos serpenteando pelas minhas
aventuras com alpinismo e escalada. Bianca está apoiada nos
cotovelos, atenta na minha narrativa, quando noto que passamos
muito tempo conversando em volta da mesa e já está bem tarde. Eu
me levanto e recolho a louça suja, colocando-a na cuba da pia para
lavar. Enquanto ensaboo, e ela seca, mudo o rumo do assunto de
novo:
— Ainda não me disse qual o tema do seu bar.
— Hard rock.
Viro-me na sua direção, gostando da resposta.
— Me passa o endereço que eu vou lá conhecer e levar o
Liam junto.
Bianca explica onde fica e não preciso de muito para saber
onde é e como chegar. Enquanto seca a pouca louça que sujamos,
conta sobre a idealização do bar, que surgiu em parceria com o
irmão mais velho, os dois muito fãs do gênero. Ela conta da
decoração, do cardápio e da playlist e eu fico muito ouriçado para ir.
— Assim que voltar da minha expedição, vai ser o primeiro
lugar para qual vou.
— Vai ser muito bem recebido.
Em comum acordo, vamos até o quarto dos pequenos, espiar
se está tudo bem. Os três dormem feito anjinhos, apenas Arthur se
descobriu porque esse menino dorme de bunda arrebitada, o que
acho muito engraçado. Jogo de volta a manta sobre ele e deixo um
beijinho no seu rosto.
— A melhor coisa que aconteceu a essas crianças foi Mattia
ser o pai delas, sabia? — Bianca comenta ao lado do berço de
Lavínia. — Foi uma confusão danada essa história, mas no final o
que importa é que eles têm um pai de verdade agora. Bruno era um
babaca idiota e as vezes que me segurei para não o procurar e dar
na cara dele foram muitas.
Suspiro e aceno em positivo, pensando em tudo o que
aconteceu nos últimos dois meses. Mattia ainda estava mal, vivendo
o próprio luto, quando descobriu sobre os filhos — frutos de uma
relação de uma única noite. No meio disso tudo, descobrimos que o
homem que acreditava ser pai dos pequenos era casado com minha
irmã.
— Eu também me segurei muito para não o procurar e
arrebentá-lo na porrada — murmuro, meus olhos ainda presos no
pequeno que leva o nome do meu pai. — Aquele miserável fez
minha irmã sofrer e merecia tanto uma surra. Paola quem me
convenceu que não valia a pena.
Bianca fica em silêncio e eu procuro por seus olhos. Ela está
me encarando de uma forma diferente que não sei explicar. Deve ter
sido algo que disse sobre Paola.
— Como ela está, falando nisso? Sua irmã. Mattia comentou
algo sobre divórcio e é tudo que eu sei.
— Está bem. — Indico a saída e ela me acompanha para fora
do quarto. Encosto a porta com cuidado e voltamos a passos lentos
para a sala. — O Bruno não foi capaz de apagar o brilho dela,
embora… — Faço uma pausa, pensando no Liam e no modo como
ela o magoou ao se envolver com meu melhor amigo, mas sei que
não o fez de propósito.
— Embora…?
— Ela cometeu alguns erros. — É tudo que digo.
Bianca não insiste no assunto e terminamos o percurso até o
andar debaixo. Estou indo até a televisão para procurar algo nos
canais abertos ou plataformas streaming enquanto espero Mattia e
Lauren chegar quando sinto um aperto no meu pulso. Eu me viro
para Bianca parada à minha frente, mordendo a pontinha do lábio
inferior.
— Eu te julguei mal — diz e coloca uma mecha do cabelo
atrás da orelha. — Achei que você era outro idiota que não sabe
manter o pau dentro das calças.
— Mas eu não sei manter o pau dentro das calças — rebato,
e ela dá uma risada. — Isso não significa que eu não saiba ouvir um
não, Bianca. Eu sei. Aliás, algo que aprendi muito com meus pais é
sobre consentimento. Se me interesso por uma garota e ela não
quer nada comigo, eu não faço drama. Só parto para outra. Mulher é
o que não falta nesse mundo. Não assedio, não intimido. Passei
essa impressão pra você? De ser um cara escroto?
Ela parece considerar dizer sim.
— É o estereótipo — explica. — Já lidei com alguns do seu
tipo. — Cruzo os braços e a olho seriamente. — Quero dizer… —
segura uma risadinha. — Já lidei com alguns héteros tops
mulherengos e não foi a melhor experiência. Você me parece só
mulherengo mesmo.
— Sou e não nego. Se te consola, eu não saio por aí
magoando as garotas com que eu saio. Sou muito transparente com
todas elas.
Bianca assente devagar, os olhos descendo vagarosamente
para os meus lábios.
— Isso parece bom — sussurra e não sei se está falando da
minha boca ou sobre eu ser transparente com as garotas com quem
durmo.
— Quer experimentar? — sussurro de volta, supondo que se
refere aos meus lábios.
Seus olhos sobem aos meus no mesmo instante, arregalados
como se pega no flagra. Dou um passo na sua direção e Bianca
recua, encostando contra a parede mais próxima. Meu corpo quase
prensa o seu e a respiração dela fica um pouco irregular. Ela está
intimidada de um jeito bom. É a tensão sexual que, de repente, está
entre nós.
— Estou doido para te beijar desde que te conheci — falo
baixinho, colocando um braço acima da sua cabeça.
Noto seu peito subir e descer em uma respiração forte.
Bianca empina o nariz e sussurra:
— Beija.

Continua…
Conheça os livros anteriores da família Massari. Disponíveis
na Amazon e Kindle Unlimited.

Operação Bebê a Bordo | Louise e Arthur


Disponível: https://bit.ly/OBaBDO

SINOPSE
O maior sonho de Louise Ventura sempre foi ser mãe.
Fugindo de relacionamentos e preferindo não conceber um bebê por
vias não-convencionais, ela arrisca engravidar de um desconhecido
qualquer cuidadosamente escolhido em um site de relacionamentos,
se dedicando à maternidade solo e ao seu trabalho no ramo de
multimídia.
A vida de Arthur Massari sempre foi focada em trabalho, com
pretensões ambiciosas de fazer seu negócio em produção de
multimídia crescer cada vez mais. Ao fundir sua empresa com outra,
ele reencontra a garota fogosa com quem dormiu meses antes. Para
sua surpresa, ela está grávida. Ter um filho fora do atual noivado era
a última coisa que ele esperava, mas é exatamente o que acontece
quando descobre que o filho é seu. Ele pretende fazer seu papel de
pai, mesmo que isso signifique ter de lidar com uma noiva abusiva e
comprometer seu noivado.
Acompanhando o pré-natal, um sentimento de carinho, amor,
amizade e cumplicidade nasce entre os dois e fica cada vez mais
impossível resistir a um iminente romance.
CAPÍTULO 01
Louise

Momentos desesperados pedem medidas desesperadas.


Engravidar de um completo estranho que ainda vou conhecer
pessoalmente é uma medida muito desesperada? Talvez. Mas é o
que temos para hoje.
Mordo a pontinha do dedo indicador, meus olhos fixos na tela
do celular — “Arthur está digitando…” — enquanto penso na loucura
que estou prestes a cometer e o espero responder à minha
mensagem. Eu o escolhi a dedo semanas atrás. Alto, cabelos
castanhos e ondulados, barba não muito cheia, mas também não
muito rala, e olhos âmbar. Pelas fotos dele sem camisa do aplicativo
de namoro, mantém a academia em dia. Abençoada seja a sua
genética porque é com ele que vou fazer um filho.
Sempre quis ser mãe, como sempre repeli relacionamentos.
Então, uma coisa puxou a outra, e aqui estou. Perto de entrar na
casa dos trinta anos, já com a vida estabilizada, é hora de ter um
bebê. De uma forma um pouco mais tradicional, isso acabaria por
exigir que eu tivesse um homem a tiracolo. A maternidade solo
existe mesmo na vida de mulheres casadas, mas se é para ser mãe
solo, prefiro ser sem ter um marmanjo como brinde desagradável.
Eu poderia optar por uma inseminação artificial, mas a
probabilidade de uma gestação gemelar é de quinze por cento
contra um por cento de chance por vias naturais. Vou ficar satisfeita
e muito feliz em ter apenas um bebê; por isso, prefiro não arriscar.
Além do mais, já tem alguns meses desde a última vez em que
estive com um cara. Vou juntar o útil ao agradável.
“Estou ansioso para te conhecer. Duro só de pensar nas
coisas que vamos fazer no motel”.
Sorrio um pouco, digitando uma resposta. Nós temos flertado
desde que demos match no app. Arthur não foi acanhado na nossa
primeira troca de mensagens e já começou com baixaria. Não nego,
amei. Ele não fez nada que eu não tenha dado liberdade para fazer
e, por isso, ganhou um pontinho positivo comigo. Durante as
semanas em que fomos nos conhecendo até eu me decidir se ele
seria ou não o pai do meu filho, trocamos todo tipo de mensagens.
Das mais picantes às mais banais, e de alguma forma, ele
conquistou meu carisma. O homem aparenta ser bacana. Não me
falou muito da sua vida pessoal ou profissional, tudo o que sei é que
trabalha em uma empresa importante (em que cargo, fica o
mistério), tem trinta e dois anos e vem de uma família de classe alta.
Eu também não falei muito de mim para ele — ora, se o moço quer
fazer suspense, também vou fazer — e comentei apenas o básico, o
que, de qualquer forma, pareceu o suficiente para decidirmos
marcar um encontro. A intenção é só dar uma trepada.
Desnecessário saber qualquer coisa além do básico.
“Cê tá muito seguro de si. Vamos ver se é isso tudo”.
“O que ganho se eu for ‘isso tudo’?”.
É impossível não sorrir. Ele não me parece do tipo
egocêntrico convencido com mania de grandeza. Talvez seja muito
seguro de si ou é só um cara com um humor contagiante.
“Se quiser, mais encontros”.
Mordo o ponta do dedo indicador, esperando pela sua
resposta. Quero garantir que vou engravidar desse homem. Por
isso, planejei minuciosamente que eu o encontre mais algumas
vezes durante meu período fértil. Depois, dou uma pausa até
confirmar que engravidei e, confirmado, sumo do mapa. Não tenho
pretensões nenhuma de contar para ele sobre a gravidez.
“Prometo que vou ser um menino bem empenhado, nesse
caso. Nem te experimentei, mas já quero repetir a dose”.
Balanço a cabeça de um lado a outro porque, estranhamente,
gosto do humor de Arthur. Mesmo que ainda não o tenha conhecido
frente a frente, ele desperta algo diferente em mim. Eu envio:
“E se eu não for isso tudo?”
“Não duvido que seja um mulherão da porra na cama e fora
dela. Confie no seu potencial. E que potencial, hein?!”, responde e,
junto, manda um print de uma foto minha que ele deve ter achado
no meu álbum de fotos do Facebook. A fotografia em questão tem
três anos e eu estava no litoral, ao pôr do sol, de costas para o
fotógrafo e com os braços estendidos.
“Stalkeando minhas redes?”
“Lógico. Uma gata que nem tu e eu não ia te perseguir
ciberneticamente?”
“Besta. Vou me arrumar, Arthur. Te vejo em breve. Beijos.”
Deixo o celular de lado e me levanto, correndo para o
banheiro tomar um banho. Escolho uma lingerie sexy, me perfumo
mais do que o comum e faço uma maquiagem básica. Confiro se
estou com todos meus pertences — carteira, documentos, dinheiro,
celular, carregador e camisinhas. Camisinhas todas furadas.
Comprei meia dúzia delas e violei a embalagem com um alfinete.
Ele nem vai desconfiar.
Como não sou nenhuma irresponsável de furar camisinhas e
correr o risco de pegar uma DST, inventei qualquer desculpa que eu
poderia querer sexo oral entre nós, mas que detestava fazer com
preservativos. É como chupar bala com a embalagem. Então,
combinamos de fazer exames das principais IST, incluindo a HPV
que merece um exame específico. Ele me mandou os dele dois dias
atrás tudo bonitinho: seu nome completo no exame, a data de que
foi feito naquela semana, clínica conhecida na cidade, carimbo do
médico que avaliou os resultados com CRM, que, claro, fui procurar.
Confiro as horas. Quase sete da noite. Preferia que a gente
se encontrasse mais tarde, mas acabou que nós dois temos
compromissos. Eu combinei de encontrar umas amigas em um
barzinho não muito longe do motel onde vamos estar (escolhi um
logo nas redondezas para não me atrasar muito), e ele não
especificou que compromisso tem, mas disse que tem. Combinamos
que vamos ficar juntos por, no máximo, uma hora. Em uma próxima
oportunidade — que garanti que seria amanhã — vamos nos ver de
novo e fazer “direito”. Podíamos ter deixado para o dia seguinte e
aproveitarmos melhor, mas não quero perder o primeiro dia do meu
período fértil e também porque essas semanas todas de flertes e
trocas de mensagens safadas mexeram com todos meus hormônios
e estou que não me aguento para dar para ele.
Chamo um Uber e, no trajeto, compartilho minha localização
com Arthur por segurança. O percurso é rápido e, quando chego,
ele está me esperando na porta do motel, em um carro esportivo
como indicativo que ele realmente trabalha em uma empresa
importante em um cargo alto. Talvez muito alto. Prendo o ar
conforme avanço na sua direção. O homem é tão bonito que deveria
ser pecado capital e crime contra a humanidade. Se Deus fez coisa
melhor, guardou só para ele. Encostado ao Ford Mustang branco,
Arthur usa um terno casual azul-royal e sapatos que devem custar
meu salário do mês. O sorriso nele ilumina toda a noite e faz minhas
pernas bambearem por um instante. Bonito, rico, carismático. Se for
bom de cama, é capaz de eu me apaixonar.
Mentira. Não vou me apaixonar, não. Por mais bonito, rico,
carismático e bom de que cama ele possa ser. Risca isso da lista
porque essas qualidades também são sinônimos de encrenca.
Longe de mim me amarrar a homem que vai me dar dor de cabeça.
— Você é ainda mais linda pessoalmente — Arthur diz,
desencostando-se do carro e vindo na minha direção.
Solto o ar que estava preso até agora e sorrio, um pouco sem
jeito com o elogio. Avalio-o dos pés à cabeça e preciso concordar
com a mesma coisa. Ele é ainda mais bonito em carne e osso.
Sequer tenho tempo de retribuir o elogio porque, no instante
seguinte, sua mão direita está na minha cintura e sua boca está
vindo para a minha. Ele me puxa com força de encontro ao seu
tórax duro — Deus, e que tórax duro! — e me dá um beijo exigente,
cheio de pegada. Fico sem ar conforme me devora, intenso, lascivo,
quente e apaixonante. Se o homem é bom assim apenas com um
beijo, vou ficar devastada na cama. Adoro.
— Acho que já perdemos tempo demais, não acha, Louise?
— Meu nome na sua boca faz minhas coxas apertarem. É sexy e
gostoso de ouvir.
Com apenas um aceno, ele me leva para seu Mustang, abre
a porta do passageiro e contorna o veículo. Avançamos motel
adentro, e ele resmunga alguma coisa sobre preferir ter ido me
buscar. Dou uma desculpa de que não queria incomodá-lo, mas a
verdade é que não quero que saiba meu endereço. Se ele gostar da
fruta, Deus me livre ir me procurar e descobrir que estou grávida.
Pode ser que ele faça como quase seis por cento dos homens
brasileiros e não assuma a criança, mas pode ser daqueles que
quer assumir, estar presente, por mais raro que seja. Prefiro me
prevenir.
Cinco minutos depois, estamos no quarto. Arthur reservou
uma suíte bem luxuosa, com uma cama redonda bem no meio do
ambiente, espelho no teto e banheiro com hidromassagem. Ele
entra primeiro e fecha a porta. Ainda estou observando tudo à minha
volta quando o homem me puxa pelo punho e vem na minha
direção. Preparo-me para o impacto da sua boca na minha, que vem
como um tsunami. Arthur é exigente. Ele segura na minha cintura
com força, aperta-me e depois começa a desabotoar minha camisa
cambraia.
Não ofereço nenhum tipo de resistência e me entrego. Sou
conduzida até a cama, ele vindo por cima do meu corpo. Seus
beijos se espalham por toda minha pele, começando ao pé do
ouvido e descendo até meu colo exposto agora pela camisa aberta.
Ergue o olhar para mim quando se depara com o sutiã de renda e
brinca um instante com a peça antes de enfiar o rosto entre meus
peitos e puxá-los para fora, circulando a língua nos meus mamilos
endurecidos. Suspiro, gostando do choque que seus dentes causam
nessa parte sensível.
— Vamos mesmo fazer sexo oral? — pergunta, esfregando
lentamente sua virilha na minha. Sinto sua ereção em mim e dou
uma olhadinha para baixo. Parece ter um tamanho considerável.
— Eu ponderei e tudo mais, só que…
— Só que…? — Ele me olha, sua boca ainda presa ao meu
seio esquerdo.
— Podemos ir com calma? Achei que estivesse confiante o
suficiente, mas não me sinto à vontade ainda para fazermos isso.
— Não deu tempo de deixar a depilação em dia? — sussurra,
resvalando o nariz pelo meu pescoço. — Se for isso, eu não me
importo. Não tem que se importar também.
Rio um pouco, impressionada com a falta de filtro desse
homem.
— A depilação está em dia, sim. Só não estou preparada
como achei que estaria. Mais especificamente, não me sinto
preparada para fazer com você.
Não é mentira. Eu não consigo me sentir bem em receber ou
fazer sexo oral com um cara que não tenho certa intimidade. Arthur
é só uma trepada casual que, assim espero, não vai durar mais que
uma semana. Pretendo repetir a dose durante meus dias férteis,
mas não vou procurá-lo mais a ponto de pegarmos intimidade para
que possamos nos proporcionar esse tipo de prazer.
— Tudo bem. Quem está perdendo uma linguada deliciosa na
boceta não sou eu.
Estapeio seu ombro e gargalho por um momento, sua risada
rouca e grave me acompanhando. Até a risada desse homem é
perfeita. Universo, me ajuda aqui, por favor? Manda só um
defeitinho. Um assim, de nada, que eu possa usar como pretexto
para não querer mais vê-lo nunca mais. Porque confesso que está
difícil.
— Vamos parar de falar tanto e ir ao que interessa? Por que
ainda está vestido, para começo de conversa? Tira logo essa roupa
que eu quero te usar.
Ele dá outra daquela risada gostosa e se ajoelha na cama,
passando a se despir. Arthur tem um aroma gostoso que,
convenhamos, não sou capaz de descrever porque sou uma
capivara para perfumes masculinos. Mas é um cheiro forte,
inebriante e delicioso. Tem cheiro de perfume importado e caro —
isso sou capaz de reconhecer. Sento-me na cama, apreciando o
espetáculo que se desenrola na minha frente. Primeiro, ele tira o
blazer. Depois, sem desfazer nosso contato visual, ele desabotoa a
camisa branca.
— Nesse tanquinho, eu lavava roupa todo dia — brinco,
mordendo a pontinha do lábio inferior.
— O tanquinho não faz nada sem uma boa torneira, não
concorda? — devolve, em um tom que é uma linha tênue entre o
bom humor e a malícia.
Maneio a cabeça concordando, ansiosa pela parte mais
interessante e esperada desse show particular. Lentamente, o
homem tira a calça. A boxer preta bem colada nos quadris marca
sua ereção. Passo a língua pelos lábios, admirando seus atributos.
Ele sorri daquele jeito convencido e baixa a cueca. Seu pau pula
para fora, completamente ereto. Não é nenhum vinte e cinco
centímetros — e Deus me livre que fosse porque gosto de fazer
sexo, não de procurar petróleo no meu útero —, mas tem um
tamanho satisfatório. Dezesseis. Dezessete. No máximo, dezoito.
Do tamanho que gosto. É fácil de acomodar e, se um dia acontecer,
fácil de engolir.
— Quer sentir o estrago que ele faz, Louise? — Arthur
pergunta, envolvendo as mãos em torno do membro pulsante.
Abro outro sorriso. Que autoestima da porra.
— Você tá fazendo promessas demais, Arthur — sussurro,
subindo minha saia e me expondo para ele. — Não prometa o que
não pode cumprir. — Pego minha bolsa sobre a cama, retiro o
primeiro pacotinho de camisinha e jogo nele.
O homem pega no ar e enrola o látex em sua extensão. Ele
vem para mim, tomando-me em um beijo quente, suas mãos voando
para o meio das minhas pernas.
— Vai ver que sou homem de palavra. Eu prometo, eu
cumpro, Louise.
Derreto-me nesse momento. Derreto-me com seu toque na
minha boceta, sua boca no meu pescoço, e meu nome nos seus
lábios. Ele não precisa de muito para me deixar completamente
entregue e excitada. Não sei se é a abstinência ou se ele que é bom
demais com sua língua e dedos, mas a facilidade com que fico
molhada é impressionante. Rebolo nos seus dedos, que brincam
comigo e com a minha sanidade. Nem me importo com o sorrisinho
convencido que dá enquanto circula meu clitóris, sabendo que estou
totalmente entregue e que ele é completamente incrível.
— Vem sentir o estrago, Louise — diz, ajoelhando na cama e
me puxando para si. Ergue minha perna esquerda até seu ombro e
mantém a direita em torno da sua cintura.
Segurando o pau, ele o direciona para minha boceta e me
penetra devagar. Agarro nos lençóis, gostando da sensação que me
acomete quando o tenho dentro de mim. O homem mal começou a
me comer e sei que está certo. Ele vai fazer estrago. Arthur se move
devagar, mas a lentidão dura pouco tempo. Em um minuto ou
menos, ele está me comendo tão vigorosamente que a cama sai do
lugar.
Arthur promete e cumpre.
O estrago é delicioso.
Pulo do Uber depois de pagar a corrida e caminho para o bar.
Minhas amigas já estão aqui, animadas em uma conversa. Junto-me
a elas na mesa, que me recebem com beijos e abraços. Peço
alguns aperitivos e cerveja e, por algum tempo, jogamos conversa
fora e conto sobre meu encontro, poupando-as da parte de que
estou tentando engravidar. Laura vai embora cerca de meia hora
depois que chego, precisando ir levar o jantar para o irmão, que ela
comprou por ali mesmo. Só nós duas, Bianca quer saber como
andam meus projetos na Conecta, e conto uma coisa ou outra
porque não quero saber de trabalho agora. Não muito tempo depois,
ela também precisa ir.
Aceno e me despeço com um beijo. Fico na mesa,
terminando minha cerveja e meu aperitivo sozinha. Confiro meu
celular e tem uma mensagem dele.
“Gostou do estrago?”
Rio um pouquinho e respondo:
“Acho que preciso de mais uma demonstração para ter
certeza”.
“Seu pedido é uma ordem. Amanhã, às 22h?”
Mordo a pontinha do lábio inferior, meus olhos fixos na sua
foto de perfil do aplicativo de mensagem. Se o filho que fizer em
mim tiver um terço dessa beleza vai ser de bom tamanho.
“Amanhã, às 22h., no mesmo motel.”
Três Vezes Pai | Mattia e Lauren
Disponível: https://bit.ly/3Fzk0T6TVPDO

SINOPSE

Eu estava quebrado.
Após um trauma brusco e doloroso, o homem que fui um dia
não conseguia encontrar o caminho de volta. Até que, em uma noite
chuvosa, me deparei com uma desconhecida na estrada que me
ofereceu uma carona. Tão quebrada quanto eu, ela decidiu que uma
única noite de sexo casual sem envolver nomes era uma boa para
um coração partido. Apenas uma noite, nada de nomes, apenas um
bilhete de despedida na manhã seguinte que me deixou arrasado.
Eu não poderia prever que aquela ocasião traria três
pequenas e adoráveis consequências. Sei que a garota teve que
lidar com elas da melhor maneira que pôde enquanto, aos poucos,
curava seu coração. Foi por acaso que nós nos reencontramos e eu
descobri que tínhamos três filhos. Agora, havia uma razão para eu
superar e seguir em frente: três crianças que precisavam de um pai
de verdade e a garota linda da noite chuvosa que eu nunca fui
capaz de esquecer.

CAPÍTULO 1
Lauren

A chuva está impiedosa e bate com força contra o para-brisa


do meu carro. Os limpadores trabalham arduamente e, ainda assim,
é difícil enxergar a estrada à minha frente. Uma música que não
gosto muito começa no rádio e pulo três faixas até uma que não me
faça lembrar dele. Procuro pelas horas e noto que são dez da noite.
Torço para que, a essa altura, ele já tenha ido embora. Torço para
que quando eu chegar em casa, suas coisas já não estejam mais lá.
Eu lhe dei algumas horas para que se mudasse. Rodei por cidades
a tarde inteira nesse meio-tempo, convencendo-me de que foi a
melhor decisão.
Claro que foi.
Limpo uma lágrima teimosa que escorrega pelo meu rosto e
seguro o volante com mais força. Não vou chorar por causa dele.
Não vale a pena. Inspiro fundo e me concentro na música para
afastar a tristeza que ameaça avançar sobre mim de novo. Aquele
homem já teve lágrimas demais de minha parte. Chega de lágrimas.
Estou atenta à estrada quando vejo uma silhueta se formar
sob os faróis do carro. Alguém está caminhando no acostamento, à
minha direita. Aperto os olhos para melhor enxergar e diminuo a
marcha. Conforme me aproximo, reconheço que é um homem. É
alto, usa roupas esportivas — bermuda, regata e tênis — e caminha
debaixo de chuva em passos que não são nem apressados nem
lentos demais. A postura um pouco encurvada, entretanto, passa
uma impressão de abatimento.
Quase parando, passo ao seu lado. O homem olha através
do vidro do passageiro, seus olhos encontrando os meus. Na
pequena fração de segundos em que fazemos contato visual, noto
que é jovem, talvez entre vinte e cinco e trinta anos. E bonito. Freio
a cinco metros dele, em uma atitude impensada, engato a ré e
acelero. Paro ao seu lado e abro a porta do passageiro.
— Quer uma carona? — ofereço de forma completamente
irresponsável.
Dar carona a um homem desconhecido em uma estrada
quase deserta a essas horas da noite? É praticamente pedir para
morrer. Ainda assim, não me importo o suficiente para ter medo ou
me preocupar. Ele não parece perigoso e confio nos meus instintos
que sempre foram muito bons.
O rapaz fica imóvel. Os pingos de chuva encharcam seu
cabelo loiro escuro e caem sobre suas pálpebras, as íris fixas em
mim por longos segundos. Ele olha melhor ao redor, talvez
ponderando se aceita a oferta, talvez calculando quanto ainda falta
para chegar ao seu destino.
— Para onde está indo? — pergunta, piscando diversas
vezes para afastar os pingos d’água.
— Santa Mônica. Você está indo para lá também? — Ele
assente. — Entra — insisto. — Eu te dou uma carona.
Ele aceita com um sorriso pequeno. Não pergunto o seu
nome, embora fique curiosa em saber por que estava solitário na
estrada. Coloco o carro para andar e dirijo por dois minutos em
silêncio.
— Está com frio? — Ao olhar para o rapaz, ele parece
perdido enquanto observa o lado de fora através do vidro. — Devo
ter um casaco masculino no banco de trás.
Ele se vira para mim, sem sorriso dessa vez, as íris abatidas,
até um pouco sombrias. Não sinto medo apesar disso. Ele não
aparenta ser perigoso. Só… entristecido. Com um movimento
silencioso de cabeça, ele encurva o corpo para trás e encontra o
casaco, jogando-o sobre o ombro, sem de fato vesti-lo.
— Não acha perigoso dar carona a um estranho? — Sua voz
é baixa e um pouco rouca. Por um instante, desvio o olhar para ele
e percebo que o rapaz não está me olhando de volta. — Eu posso
ser um maníaco.
Dou de ombros, pego meu celular no bolso da minha calça e,
com atenção redobrada, tiro uma foto dele quando o chamo e ele se
vira para mim.
— Mandei sua foto para uma amiga e estou compartilhando
minha localização com ela em tempo real a partir desse momento.
— Ele ergue uma sobrancelha, e um sorriso muito pequeno surge
no canto da sua boca. — Vai pensar duas vezes antes de me fazer
algum mal.
Guardo o celular de volta depois de mandar um áudio para
Bianca avisando que dei uma carona a um rapaz estranho e que
devo chegar à cidade em mais ou menos meia hora.
— E você… não tem medo de andar por aí no acostamento a
essas horas da noite? Com essa chuva e a parca visibilidade não
seria difícil ser atropelado.
O rapaz dá de ombros.
— Estou acostumado com o percurso, mas a chuva me
pegou desprevenido. Não tinha nada que eu pudesse fazer a não
ser voltar para casa assim mesmo.
Assinto e suspiro ao entender que ele estava correndo.
— De quem é? — pergunta, algum tempo depois. Olho-o de
relance e entendo que está referindo-se ao casaco.
— Do meu ex-noivo. Pode ficar para você. — Com um
sorriso, avalio-o rapidamente, dividindo minha atenção com a
direção. — Parece que vai servir perfeitamente.
— Ele não vai querer de volta?
Aperto o volante entre meus dedos.
— Ele nem vai se lembrar desse casaco. Fique pra você
porque se não ficar, vou atear fogo. Vou atear fogo nesse casaco e
em todos os pertences dele que ainda estiverem na minha casa, se
por acaso ele não tiver tirado tudo como eu mandei.
Há um pequeno silêncio entre nós.
— Uau. Ele pisou mesmo na bola com você.
Abro um sorriso amargo.
— “Pisar na bola” é eufemismo. Bruno… foi um completo
sacana comigo.
— Sinto muito.
Não respondo. Dirijo por mais uns dez minutos, em silêncio,
apenas as músicas da minha playlist preenchendo o carro. Vez ou
outra, eu me pego avaliando-o rapidamente. Há algo nele que me
chama a atenção, que me atiça à curiosidade. Há uma aura de
mistério que o ronda, disso tenho certeza, e desejo desvendar tudo
o que se passa na sua cabeça. O que ele está sentindo para
parecer tão entristecido? E por que mesmo quero saber disso tudo?
Como se não bastasse, eu me atento à sua aparência. Ele é
bonito. Rosto barbado, sobrancelhas grossas, braços fortes —
braços de quem faz muito exercício físico. Não resisto e tento espiar
um pouco o abdômen. A camisa molhada marca um pouco seus
músculos e dá para ver os gominhos salientes.
Suspiro, afastando a ideia maluca da minha cabeça.
Lauren, pelo amor de Deus, ele é um completo estranho.
— Você tem namorada? — Quero saber. Sinto meu coração
acelerar levemente porque não consigo, de nenhuma forma, afastar
a ideia que brotou em meus pensamentos.
Você nem o conhece!
Mas eu não sou nenhuma puritana e não seria a primeira vez
que faria sexo com um estranho. O último homem desconhecido
com quem transei, dois carnavais atrás, virou meu noivo e minha
vida de ponta cabeça.
Eu posso arriscar. Foda-se. Não precisamos de nomes, só de
uma noite. Uma única noite.
Ele não responde nada por segundos que acho longos
demais. Não me olha, mas posso ver, pelo reflexo do vidro da janela
do passageiro, que a menção causou um efeito negativo nele.
— Tinha.
— Terminaram há muito tempo?
Outra leva de segundos de silêncio. O rapaz se vira para
mim, ajeitando o casaco sobre os ombros, e bate o queixo de frio.
— Ela morreu. Fez um ano na semana passada. — Engole
em seco e pausa por um minuto inteiro. Um minuto inteiro que eu
me praguejo por ter feito essa pergunta, mas também aliviada por
entender a tristeza por trás dos seus olhos. A curiosidade ia me
matar se eu não descobrisse. — Foi minha culpa.
— O que aconteceu? — murmuro, compadecida dele. Dou
seta e pego uma saída à direita.
Ele balança a cabeça de um lado a outro.
— Não quero falar disso.
Respeito sua decisão e apenas assinto.
— Por que a pergunta? — Sinto seu olhar atento e analítico
sobre mim. — Por que queria saber se eu tinha uma namorada?
De novo, aperto os dedos com força em volta do volante.
Pondero se devo ser sincera ou se arranjo uma desculpa qualquer.
Tenho medo de ofendê-lo com minhas reais intenções. Talvez ainda
ame aquela garota e a ideia de se envolver com uma estranha seja
terrível para ele. Ou talvez ainda ame aquela garota e a ideia de se
envolver com uma estranha seja um modo de aliviar a dor. Como é
o meu caso.
— Preciso gozar — digo, sem cerimônias. Ouço quando ele
se engasga com a própria saliva, pego por eu ter sido tão direta. —
Passei os últimos dois anos da minha vida em uma relação meia-
boca em que ele não me fazia gozar. Eu gosto de gozar sozinha, sei
gozar sozinha, mas especificamente hoje, necessito de um cara que
me faça gozar.
— Ah, meu Deus — ele sussurra. — Eu preocupado com
você dando caronas a estranhos por aí, mas você é que deve ser
uma maníaca.
Não controlo uma risada baixinha. Ficamos mais um tempo
em silêncio e confiro as horas. Estamos quase chegando agora. Só
mais uns quinze minutos de viagem.
— Faríamos no carro? — Sua pergunta me dá um pequeno
susto. Eu me viro na sua direção por um instante. — Se fôssemos
trepar, faríamos no carro?
Pigarreio e olho melhor o entorno, reconhecendo onde
estamos.
— Tem um motel não muito longe daqui que frequento.
— Não tenho dinheiro comigo agora. Desculpa.
Inclino-me ligeiramente até o porta-luvas e retiro um cartão
de crédito no nome do meu ex-noivo de lá de dentro e, o estico para
o desconhecido. Bruno me emprestou na noite passada, antes de
eu descobrir sua canalhice, para que eu comprasse um lanche
quando voltasse do trabalho.
— Nada mais justo, não acha?
Ele ergue as sobrancelhas.
— Ele ficou com você por dois anos e não te fez gozar
nenhuma vez. É um preço mais do que justo a pagar.
— Além do mais, ele foi sacana comigo.
— É, ele foi sacana com você.
Sorrimos um para o outro e, em silêncio, entramos em um
consenso.
— Vou tomar um banho antes. Pra me limpar e me aquecer
— o estranho diz, assim que entramos no quarto de motel.
Eu assinto e ele se retira enquanto pego meu celular e faço
uma chamada de vídeo para Bianca. Ela me atende sem demora,
querendo saber onde estou e por que diabos resolvi dar carona para
um homem desconhecido.
— Eu não sei. — É toda minha resposta. — Ele estava na
chuva, a quinze quilômetros de casa. Só quis ajudar.
— Lauren, você é completamente doida. O Bruno fodeu de
vez com sua mente, sabia? Onde estão agora?
Dou de ombros, sentando-me na cama. Em um ponto ela tem
razão. O Bruno fodeu de vez com meu psicológico.
— Ele é bonito — digo, olhando rapidamente na direção ao
banheiro. — E vamos transar. O cara prometeu que vai me fazer
gozar, algo que não aconteceu nos últimos anos com o Bruno.
— Laudo: maluca — Bianca diz, um tom de indignação e
ironia ao mesmo tempo. — É um homem, Lauren. Acreditou na
palavra dele?
— Não custa tentar. Ele pode ser bom. Se não for, paciência.
Um suspiro pesado atravessa a chamada de vídeo.
— Tudo bem, você é adulta e sabe o que faz. Só que eu não
vou ficar tranquila enquanto não chegar. Qual o nome dele? Me
manda uma foto dos documentos dele, qualquer coisa assim, caso
seja necessário. Embora eu torça para que não precisemos. —
Nisso, ela bate os nós dos dedos na madeira da mesa.
Mordo o lábio inferior.
— Ele está sem documento. Estava correndo. Não sei o
nome dele e não quero saber.
— Lauren… — O tom é de advertência.
— Eu vou ficar bem, Bianca. Estamos em um motel, tem
registro dele nas câmeras de segurança, e, por precaução, eu pedi
que deixasse o nome com o recepcionista. Não ouvi porque fiquei
longe. Eu realmente não quero nada dele além de uma noite incrível
de sexo. Espero que ao menos isso seja capaz de me proporcionar.
— Ele pode ter mentido sobre o nome dele.
Abano a cabeça em negativo.
— O recepcionista o procurou nas redes sociais, o adicionou
e tudo mais. O funcionário me garantiu que ele passou o nome
verdadeiro. Esse cara não vai me fazer mal. Não se não quiser
parar atrás das grades.
Outro suspiro.
— Me mande mensagens constantemente, tá?
— Pode deixar.
Encerro a ligação, deixo meu celular sobre o aparador perto
da porta e caminho até o banheiro. O estranho ainda está sob o
chuveiro e não faço cerimônia de invadir seu espaço. Arranco minha
roupa sob seu olhar analítico, silencioso, e entro no box só de
calcinha. Mordo o lábio inferior, analisando seu corpo. Ele é gostoso.
Direciono os olhos para seu pau, já duro.
— Posso? — pergunto, aproximando minha mão do seu
membro.
Ele ergue uma sobrancelha.
— Por favor.
Fecho meus dedos em torno da sua ereção e o bombeio
devagar. A respiração dele falha um instante e, quando o olho, seu
maxilar está trincado, as pupilas dilatadas, os olhos azuis fixos em
mim. Antes que eu espere, ele me puxa para um beijo rude e
profundo. Faço menção de não o tocar mais, contudo, ele envia um
sinal de que não devo parar. Ele me beija indecentemente conforme
o masturbo, deliciando-me com o gemido rouco que escapa da boca
dele para a minha. Nesse instante, eu sei. Eu, simplesmente, sei
que a noite vai ser mágica.
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