Você está na página 1de 270

Trilogia Opostos

Mistaken
Betrayed
Ruined

Contos da Trilogia Opostos


The Turning
The Revelry
The Halloween

Spin-Offs da Trilogia Opostos


Believer
Resumption
Livros Únicos
Summer Camp
Para Sempre Minha: A Redenção do CEO
Sombras do Passado
Nosso Último Adeus
Além do Amor

Trilogia Recomeços
Por mim
Série Gorillas
First Time
Playing For Life
Copyright © 2022 K.A. PEIXOTO
Capa: Lilly Designer.
Ilustração: @bytnart.
RevisãO: Evelyn Fernandes e Marcielle Alves.

Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer


semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, é mera coincidência e não
foi pretendida pelo autor.
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou armazenada em um
sistema de recuperação ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer
meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro, sem a permissão
expressa por escrito do editor.

ISBN: 978-65-00-83526-7
Oi, meus amores, tudo bem?
Eu adoro esse momento em que desejo boas-vindas para quem
chegou agora no KaVerso e um olá gostoso a quem está comigo desde os
outros livros.
Além do Amor é o livro da nossa querida Paola, que apareceu em
outras três ou quatro obras do meu universo, inclusive em Opostos. E como
ela é, essa história tem a intenção de ser leve, gostosa e divertida.
Confesso que ela já falava na minha cabeça há muito tempo e
demorei muito para dar voz a ela, mas espero que toda essa demora tenha
valido a pena.
ADA é um romance contemporâneo + 18, que contém: palavras de
baixo calão, consumo de bebidas alcoólicas e cenas de sexo explícito, além
de uma cena que aborda o tema câncer infantil, que pode gerar gatilhos.
Caso esse assunto seja delicado para você, recomendo que pule o capítulo,
porque isso não afetará em nada no entendimento da história.
O maior gatilho desse livro é que o baby cozinheiro é único e
exclusivo da Paola. E eu me esforcei muito para que as lágrimas de vocês
fossem só por baixo, e acho que consegui.
Se você já leu Opostos e gostou, fiquei sabendo que algumas
pessoas dessa trilogia que virou uma série, irão aparecer para matarmos um
pouco a saudade deles.
Bom, todos os recados foram dados, agora só posso desejar que
tenham uma boa leitura.
Um grande beijo,
K.A. PEIXOTO!
Clique aqui para acessar a Playlist.
“Dedico este livro a Evelyn Fernandes, a maior fã da Paola e uma amiga
que eu desejo que todo mundo tenha uma igual ao lado. Boas amizades
fazem a vida se tornar mais leve, e é assim que me sinto sendo sua amiga.”
Nove anos atrás.
Hoje é meu aniversário de 15 anos e como sempre, meu pai nos
trouxe para almoçar fora.
É sagrado para ele que sempre tenhamos esse momento em família,
só nós quatro, antes de qualquer festa ou outra coisa que queiramos fazer
em nossos aniversários.
Sei que meus amigos estão preparando uma festa surpresa para mim
na casa do JP, ele nunca consegue esconder nada de ninguém. Mas de
qualquer forma, vou fingir que não sabia, só para que nenhum deles fique
chateado.
Só estou torcendo pra ele não fazer igual à minha festa de 13 anos.
O pedi para que desenrolasse a piscina do condomínio onde mora e para
que chamasse os meus amigos, que se resumiam a quatro pessoas, contando
com ele, e o idiota chamou mais de vinte. Eu pensei que teria um treco e
morreria no dia do meu aniversário.
Tirando eles, as demais pessoas que estavam ali, nunca nem
trocaram mais de um “oi” comigo, mas isso não chega a ser um problema
para mim, já que não gosto muito de socializar com muita gente, só que eu
não queria ter que estar com eles naquele momento.
E sendo bem sincero, não entendo quem gosta de ter tantos amigos e
atenção de tanta gente.
Nunca vai entrar na minha cabeça essa necessidade de ser adorado
por muitos ou de ser o centro das atenções. A maioria das pessoas são
falsas, por que vou querer um monte desse tipo ao meu redor?
Mas sei que todos foram por causa da piscina semi-olímpica do
condomínio e não por mim, obviamente.
E foi o pior aniversário da minha vida, disparado!
— Nandinho, gostou do almoço? — meu pai pergunta enquanto me
abraça pelo ombro e me puxa para perto de si. Ele tem um jeito todo
animado e carismático, que com certeza foi algo que não herdei, e é fácil de
qualquer pessoa perceber. Minha mãe também é igual a ele, então não tenho
noção a quem eu puxei. — Queria ter te levado naquela churrascaria, mas
voltaríamos muito tarde.
— Tudo bem, pai. Eu adorei o camarão internacional! Ele foi pra
minha lista de comidas que vou querer pesquisar a receita e fazer em casa.
Eu amo cozinhar, sempre gostei de observar minha mãe na cozinha,
e quando tive idade suficiente para que ela se sentisse segura, comecei a
mexer em certos utensílios e com o fogo, ajudando-a com algumas coisas, e
hoje, normalmente, sou eu que faço nossas refeições aos finais de semana e
feriados.
— Eu compro todos os ingredientes, é só me falar. — Passa a mão
no meu cabelo e depois me solta, indo até a mamãe, que anda mais devagar
atrás de mim, empurrando o carrinho da Flavinha.
Minha irmã nasceu no início de janeiro, dia cinco, e eu não poderia
ter ficado mais feliz!
Quando dona Valéria contou que eu tinha me tornado o filho mais
velho, fiquei alguns dias processando a ideia, e só então comecei a me
animar. De início, veio aquela sensação de que perderia a atenção deles, que
não seria mais tão amado, mas logo entendi que o amor só cresceria.
Meus amigos que têm irmãos mais novos não entendem como gosto
tanto de ficar com ela, mas desde que minha pequena nasceu, parece que
criamos uma conexão na hora, assim que a vi no colo da nossa mãe pela
primeira vez, tive a certeza que amaria aquela garotinha com todo o meu
coração.
Uma das partes mais legais do meu dia é chegar da escola e poder
ficar com ela o máximo de tempo possível. E mamãe ama, porque além de
ajudá-la com as coisas da Flavinha, ela pode descansar um pouco.
A mais velha decidiu sair do emprego quando chegou no sexto mês
de gestação, porque estava passando muito mal e o papai tinha que pedir
para o tio Jorge buscá-la sempre que ficava assim.
— Pai, por que o tio Jorge não pôde vir? — Me viro para perguntar
e caminho lado a lado com eles, aproveitando para olhar minha irmã dentro
do carrinho e a vejo dormindo segurando o seu paninho.
— Ele disse que teve um imprevisto na oficina, aí não deu para vir
com o seu primo — me explica. A oficina dele é bem famosa, sempre tem
gente, e ultimamente, titio está mais ocupado que o normal. — Mas tenho
certeza que depois vai passar lá em casa para te dar um abraço, ele nunca
deixa de te ver.
Concordo e me ofereço para empurrar o carrinho da Flávia, e minha
mãe deixa, se encostando no marido e o abraçando.
O JP vive falando que preciso ser um cara que interage mais nos
grupinhos que tem na escola, mas constantemente digo que estou pouco me
importando com isso e ele responde que assim nunca irei perder o BV.
E até acredito que o meu amigo tenha razão.
Quem, do nada, iria vir falar comigo? Estou sempre na minha, não
costumo olhar para outro lugar que não seja o chão, exatamente para não
encarar alguém sem querer e a pessoa querer vir conversar comigo por
educação ou por qualquer outro motivo que me faria ficar com vergonha e
querer sair correndo.
Meus pais já me levaram em alguns médicos para ver se isso era
algum problema, se eles me fizeram algo que resultou nisso ou qualquer
outro motivo, mas, na verdade, eu só gosto de ficar na minha mesmo.
Isso não deveria ser um problema.
Minha mãe pede para irmos até a barraquinha de sorvete, então nós
atravessamos a avenida, passamos por uns policiais que nos dão boa-tarde,
e assim que o senhor simpático nos atende, paramos para olhar todos os
sabores que têm.
Escuto uma agitação atrás de mim e me viro a tempo de vê-los
olhando estranho em nossa direção. Eles conferem algo no celular e depois
encaram o papai, que está distraído demais para perceber isso.
Sei que essa atitude não é normal.
— Pai! — chamo, mas ele me pede para esperar um pouco. — Pai!
— insisto e ele se vira na mesma hora que um policial tira a arma da cintura
e aponta para ele.
— Senhor, coloque as mãos onde eu possa ver! — diz em um tom
nada amigável.
Os outros também estão com as armas apontadas para ele e
caminham devagar até nós de forma calculada para que a gente fique
cercado por eles.
O que é isso tudo?
Por que estão fazendo isso?
— Jean, o que está acontecendo? — minha mãe pergunta, e sei que
essa é a sua voz assustada. Quem não ficaria?
Sinto meu coração bater muito forte e minha reação é me abaixar
para pegar a minha irmã.
— Fique parado, garoto! — um policial grita para mim, e fico em pé
novamente, sentindo minhas pernas sem forças e meu corpo todo tremer de
medo.
Por que isso está acontecendo?
— Ele é só uma criança! — meu pai grita. — Não precisa apontar
uma arma para ele! — fala com mais calma, mas por causa do seu grito,
minha irmã acorda e começa a chorar.
Olho-a e bem devagar, coloco a mão na alça do carrinho para
balançar e tentar acalmá-la, mas parece que só a faz chorar ainda mais.
— O que está havendo aqui? — mamãe pergunta a um deles, sem
conseguir evitar o choro. — Por que vocês estão apontando suas armas para
nós?
— Não é nada com a senhora! — um outro policial que estava atrás
da gente responde. Eu nem havia visto que ele tinha vindo para cá! — Pelo
menos até onde sabemos, é o seu marido que será preso sem maiores
transtornos se não fizer nenhum movimento brusco.
Preso?
Por que eles vão prender o meu pai?
— Por quê? Meu marido não fez nada, senhor! — minha mãe diz
quando o guarda segura os braços do papai para trás, algemando-o.
Olho ao redor e vejo que tem muitas pessoas aqui, algumas estão
apenas olhando, outras filmando o que está acontecendo, e tem até mesmo
aquelas que estão correndo por medo de tantas armas sacadas ao mesmo
tempo.
Quando guardam as armas, tiro minha irmã do carrinho e a aperto
em meu peito, querendo que fique calma e pare de chorar.
— Os senhores estão me confundindo! — meu pai diz, tentando ter
a atenção deles. — Sou apenas um contador, pago todos os meus impostos e
nunca cometi nenhum crime!
Os policiais riem em sintonia.
— Acha que é o primeiro bandido a nos falar tal coisa? Cada dia
que passa vocês estão menos criativos — o policial que parece ser o mais
irritado diz isso e o empurra com força para a parte traseira da viatura.
— Por favor, isso é um engano! — mamãe diz, desesperada. Tenta ir
até um deles para tentar argumentar, mas a única coisa que ele faz é
empurrá-la, fazendo-a cair no chão.
Isso tem que ser um pesadelo!
Não pode estar realmente acontecendo.
Flavinha não para de soluçar no meu colo quando me abaixo para
ver se minha mãe se machucou, mas ela abraça meu corpo e chora enquanto
assistimos papai ser jogado como lixo dentro do carro e ir embora.
Consigo ler seus lábios quando ele diz: “vai ficar tudo bem”.
Meu pai nunca mente para mim, então tenho certeza de que tudo
ficará bem.
Tem que ficar.
As pessoas ao redor continuam olhando e nos filmando. Os olhares
são maldosos, cheios de julgamento, mas não me importo de ficar ali até
que as duas se acalmem.
Preciso segurar meu choro e ser forte por elas, alguém tem que ser.
Mas a imagem do nosso herói sendo preso, levado dentro de uma
viatura, se repete inúmeras vezes na minha cabeça, fazendo um nó se
formar na minha garganta.
— Vem, eu ajudo vocês! — Uma mulher se aproxima e a encaro. —
Meu carro está aqui perto, posso levá-los para casa ou até para a
delegacia… Qualquer lugar!
— Paola, fazendo caridade novamente? — Um homem aparece
atrás dela, de cara emburrada e nada feliz por ela estar falando conosco.
Deus, é muita coisa para raciocinar ao mesmo tempo.
— Você pode ir embora se quiser, Gael — ela responde sem nem
encará-lo e se abaixa na minha frente. — Vamos? — me pergunta.
Eu sei que aceitar ajuda de um estranho é a coisa menos confiável a
se fazer, ainda mais nessa situação muito inusitada e confusa, mas algo me
diz que é a coisa certa a ser feita nesse momento.
Minha mãe não vai conseguir dirigir nesse estado, muito menos
resolver algo.
— Obrigado! — digo e ela sorri.
É o sorriso mais bonito que já vi em toda a minha vida.
Ela ajuda a mamãe a se levantar, e mesmo sem conhecê-la, a abraça
e depois nos guia até o seu veículo, em um estacionamento bem perto de
onde tudo aconteceu.
A mais velha foi na frente com ela, depois que o tal do Gael se
recusou a estar no mesmo carro que nós, e eu fiquei atrás, carregando minha
irmã, que depois de tanto chorar, acabou dormindo com os olhos inchados e
o rostinho vermelho.
— Meu marido é um homem bom! Genuinamente bom, sabe? Isso
foi um terrível engano. — Presto atenção na conversa delas, e a mulher
realmente parece acreditar.
Não sei quantos anos tem, mas não parece ter mais do que 22 ou 23,
e pelo automóvel, dá para ver que tem muito dinheiro. Adoro pesquisar
sobre carros, e sei que esse é bem caro.
As duas continuam conversando até que a mulher para na frente da
nossa casa, carregando um olhar de aflição pelo estado da minha mãe ao vê-
la saindo do veículo e vindo até mim e pegando minha irmã no colo.
— Guarda isso com você, e se precisarem, me liguem a qualquer
momento, tá bom? — ela fala comigo antes que eu saia e me entrega um
cartão de visita. — É o advogado do meu pai, ele é ótimo. É só falar que foi
indicação da Paola que depois resolvo com ele!
Olho para o papel e depois para ela, sem saber como reagir.
Ela é linda demais para ser real e sinto meu rosto ficar corado pela
atenção que estou recebendo.
— O-obrigado! — É a segunda vez que digo algo para ela, e é a
mesma coisa que antes.
Saio do seu carro e antes que eu entre, a mulher já foi embora.
Vou para dentro de casa e encontro mamãe no telefone, já falando
com o meu tio, então aproveito para ir até o banheiro, onde me tranco, ligo
o chuveiro na intenção de abafar qualquer barulho que eu venha a fazer e
sento na tampa do vaso, abraçando minhas pernas contra o peito e
chorando, sentindo toda a angústia que me domina depois do que
aconteceu.
Precisei ser forte na frente da minha mãe e da minha irmã, sei que é
isso que meu pai espera de mim, mas a cena de hoje, do que fizeram com
ele, nunca vai sair da minha cabeça.
Meu aniversário ficou marcado para sempre, e esse, com certeza, se
tornou o pior.
01

Segunda-feira é sempre o pior dia da semana aqui na empresa.


Amo meu trabalho, sou muito grata por estar na posição de CEO
depois de muito esforço para mostrar ao meu pai que eu realmente merecia
esse cargo por ser boa o suficiente, e não pelo fato de ser filha dele.
E hoje tenho certeza que ele não se arrepende nadinha disso.
A rede de Hotéis e Resorts Santana se tornou um sucesso ainda
maior depois que passei a tomar as decisões importantes.
Papai foi incrível por ter criado todo esse império do zero, mas ele é
o tipo de homem de 60 e poucos anos que não aceita que as coisas precisam
ser atualizadas. Nossas acomodações só ficaram conhecidas no mundo todo,
quando tive como repaginar tudo e mudar o rumo dos projetos.
Por mais que essa afirmação não soe modesta, é a verdade e todos
sabem.
Nosso primeiro resort em outro país está prestes a ser inaugurado, e
temos mais dois hotéis sendo construídos. Um em Orange County, em uma
área muito nobre na Califórnia, e outro em Miami Beach.
— Srta. Santana? — Wilson chama a minha atenção e pisco
algumas vezes, voltando à realidade. — Ouviu o que falei?
— Sim! Preciso definir as atrações de cada Réveillon dos nossos
hotéis, né? — Ele concorda com um sorriso gentil no rosto.
Wilson trabalha aqui desde que meu pai começou, e é meu braço
direito, da mesma forma que foi o do meu velho.
Confio plenamente nele para decidir algumas coisas por mim
quando preciso dar atenção a outras mais importantes, pois sei que ele
conhece muito bem minha linha de raciocínio e até hoje nunca optou por
algo que me desagradasse.
Em cima da minha mesa tem todas as opções de artistas que já
entramos em contato e os nomes dos nossos hotéis, para que assim eu tenha
uma visão melhor.
Por mais que pareça ser uma coisa simples, existe toda uma
estratégia por trás das escolhas, já que envolve a região de notoriedade dos
cantores, o que cada cidade costuma oferecer como evento, o quanto as
pessoas estão dispostas a pagar por cada região e por aí vai.
Aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, cada ingresso apenas para a
festa, que é com sistema all-inclusive, é um valor bem alto. Se a pessoa
decidir incluir estadia, fica ainda mais caro. Exceto apenas as suítes
presidenciais, que já têm direito ao evento.
— Volto daqui a alguns minutos! — o homem diz e pede licença
para se retirar, mas antes de sair, se vira na minha direção. — O Sr. Oliveira
pediu para que ligasse quando tivesse um tempinho.
Agradeço pelo recado e depois ele sai, deixando-me sozinha com
essas escolhas para fazer.
Abro a planilha com os gráficos que já tinha feito de alguns nomes,
e aos poucos começo a decidir.
Os valores dos shows estão exorbitantes, deixando claro o quanto
são procurados nessa época. Mas como nossos Réveillons já são bem
famosos, e na grande maioria frequentado por pessoas que de fato curtem
festas e bebidas, vale a pena o investimento, pois o retorno é incrível.
— Ana Castela e Anitta ficam aqui! — Arrasto o nome delas para a
planilha do hotel em Copacabana.
O telefone começa a tocar e dou uma olhada rápida, vendo que é o
ramal do Gael.
Tiro do gancho e aperto no botão do alto-falante.
— A que devo a honra de ouvir sua voz tão cedo?
— Meu sonho é que essa frase não fosse pura ironia, Paola —
Gael, meu ex-marido, fala do outro lado. — O empreiteiro da obra em
Miami acabou de entrar em contato comigo e parece que recebemos uma
notificação por conta de uma denúncia sobre excesso de barulho.
— Mas nós estamos seguindo os horários permitidos pela região,
correto?
— Correto.
— Então essa denúncia não faz sentido.
— Ele abriu o jogo e foi sincero comigo! Parece que lá naquela
região só tinha um hotel cinco estrelas, só que toda estrutura dele é mais
antiga, mesmo que por dentro seja totalmente moderno, e isso deve estar
preocupando o dono, que tem a intenção de nos prejudicar e atrasar nossa
obra a qualquer custo.
Reviro os olhos ao ouvir e me levanto, agitada demais para
conseguir permanecer sentada.
Antes de qualquer construção de um novo empreendimento iniciar, é
necessário uma pesquisa minuciosa de absolutamente tudo daquele lugar. É
algo bem trabalhoso, mas amo cuidar disso, porque assim acabo tendo que
viajar, o que é uma das coisas que mais gosto de fazer.
Não posso simplesmente chegar em um lugar que acho bonito e
mandar construir qualquer coisa, não é assim que funciona. Mas em uma
das minhas viagens para Miami, há uns três anos, vi que por mais que
existam muitos hotéis, de diversos tipos e valores, têm poucos do patamar
dos nossos.
E foi aí que vi um bom potencial para construir um Santana lá.
— Ainda fico incrédula em como as pessoas passam a perna nas
outras!
— É, eu sei — ele suspira do outro lado da linha. — Estou te
avisando porque devemos nos preparar judicialmente para futuros
problemas reais que possam acontecer. E tomei a liberdade de pedir para
instalarem câmeras de segurança por todo o terreno, sem deixar nenhum
ponto cego! Tudo bem em relação a isso?
E é por iniciativas como essa, que não me importo de ter que ver
meu ex todos os dias.
Ele é engenheiro civil e extremamente bom no que faz. Um dos
melhores, sem sombra de dúvidas.
E não temos uma relação ruim, nos damos bem, mesmo ele ainda
tentando flertar comigo, e quando bebe mais do que deveria, me manda
mensagens falando que sente saudades do nosso relacionamento.
Às vezes paro e penso o porquê de não termos dado certo, mas então
lembro fácil o motivo: Gael é uma pessoa inteligente, linda e educada…
mas sua educação não se estende a indivíduos que estão fora da nossa
realidade.
Ele é o típico homem rico que vive em uma bolha, que olha apenas
para cima e acredita fielmente que cidadãos de baixa renda vivem dessa
forma porque querem. Já que na cabecinha dele, que nasceu em berço de
ouro, quem quer, corre atrás e simples assim tudo acontece.
Tentei por várias vezes explicar que nem todo mundo consegue, que
não é assim, que existem incontáveis fatores que atrapalham algumas
pessoas a fazerem a sua oportunidade, já que nem todo mundo pode contar
com a sorte ou apoio de familiares.
E foi assim que nossas brigas começaram a surgir.
O amei por muito tempo, mas a decepção ao vê-lo agindo assim,
como se fosse um couch sem noção, que diz que a galera que recebe um
salário mínimo consegue sim fazer o dinheiro sobrar para investir, que
entendi que ele não era o homem certo para mim.
Não é esse o exemplo que quero que meus filhos tenham.
E por mais que os pais dele tenham uma parcela de culpa por ele ser
assim, não justifica a falta de interesse de um homem que já passou dos 30
anos, em entender que nem todo mundo teve a base e todos os privilégios
que sempre tivemos.
Foi um divórcio difícil, triste e muito falado entre as pessoas que
conhecemos. E claro que apenas eu fui julgada nessa história toda, mas para
o azar de quem falou e ainda fala, não me importo com esse tipo de
julgamento.
— Você tomou a decisão certa! Eu com certeza pediria para que
colocassem as câmeras.
— É… Te conheço muito bem, Paolinha.
— Mais alguma coisa? — Dou uma cortada sutil, porque ele sempre
começa com os flertes assim, me chamando pelo apelido.
— Sobre o trabalho, por enquanto é só isso — diz. — Você vai para
Búzios quando?
Dou uma olhada no calendário no computador, vendo que programei
tudo para ir na quarta-feira e ficar até o domingo.
Informo a ele, que se decepciona um pouco, já que tinha a intenção
de ir comigo de helicóptero na sexta-feira. Só que diferente de mim, ele
trabalha fixamente aqui no escritório no Rio de Janeiro e só vai para rua
quando precisa visitar alguma obra, então não faz sentido ir tão cedo para
lá.
Encerro a ligação e volto a separar as atrações para os hotéis.
Depois de uns 40 minutos e algumas pesquisas para não ficar
nenhuma dúvida, chamo o Wilson e o deixo fazer a mágica dele com nossa
equipe de marketing e eventos.
Precisamos começar a divulgar para ontem, já estamos na fase do
ano em que as pessoas começam a se planejar para o Réveillon e pesquisam
por eventos e viagens. Nosso marketing é muito bom e sempre alcança o
público certo, fazendo com que nossas festas sempre sejam grandes
sucessos.
Dou uma rápida olhada no meu celular, que sempre tem muita
notificação, mas ignoro a maioria e abro apenas minha conversa com a
Thaís.
Vacuda: Besta, quinta-feira já estará em Búzios?
Vacuda: Tô pensando em ir nesse dia, preciso relaxar antes que eu acabe
cometendo um assassinato dentro dessa fazenda!
Sorrio ao ler a mensagem, porque sei exatamente o motivo do
estresse dela.
Eu: Na verdade, vou na quarta, besta!
Eu: Tomás ainda está te perturbando?
Thaís é a minha melhor amiga e nós nos conhecemos desde que me
entendo por gente.
Mamãe e papai têm uma chácara em Goiás, bem próxima da
fazenda da família dela, e por conta da amizade deles, também nos
aproximamos porque sempre passei minhas férias lá quando era criança.
Fizemos de tudo para não perder contato na adolescência e isso deu
muito certo.
Eu viajava com a família dela às vezes, e ela fazia o mesmo com a
minha. Quando ficamos mais velhas e nossos pais começaram a deixar que
viajássemos sozinhas, conhecemos todo o Brasil juntas e vários outros
países também.
Ela é a minha metade e não consigo passar um único dia sem vê-la,
nossa conexão é diferente.
Vacuda: Parece que ele está seguindo os passos dos pais, que sempre
tentaram acabar com os meus.
Vacuda: Não consigo entender o porquê de ele estar trabalhando aqui na
fazenda se nossas famílias se odeiam desde sempre!
Ela manda uma figurinha de uma criancinha revirando os olhos, e
rio alto.
Eu: Pense que pelo menos você ficará sem vê-lo alguns dias e se tudo der
certo, vai aparecer um homem bem gostoso para acabar com seu estresse.
Vacuda: Estou contando com isso, Paola! Espero que tenha reservado para
mim uma das melhores suítes, com vista e piscina privada.
Abusada!
Eu: Claro, besta! Mas coloquei no lado oposto ao meu, não quero ter que
ficar ouvindo você gritar.
Ela manda uma foto fazendo careta, mostrando o dedo do meio,
sempre muito amorosa comigo.
Esse final de semana vai ser maravilhoso, não tenho a menor dúvida
quanto a isso.
Vai ser ótimo para rever alguns amigos, conhecer pessoas novas, e
também fugir de algumas que não gosto muito, mas que se esforçam para
tentar uma amizade que nunca vai acontecer.
Desde muito nova, meu pai me ensinou que nem todo mundo que se
aproximasse de mim, mostrando simpatia e interesse em ser meu amigo, de
fato estaria sendo sincero.
E eu aprendi a ler esses sinais, dificilmente alguém vai conseguir
esconder sua real intenção comigo.
Vacuda: Comprei agora a passagem para quinta-feira, então!
Vacuda: Nos falamos mais tarde? Preciso ver como os cavalos estão.
Respondo-a e encerramos a conversa.
Thaís é veterinária, uma das melhores do Brasil, inclusive. Além de
cuidar de muitos bichinhos, ela também vive sendo convidada para
palestras, já foi pra África para fazer cirurgia em duas girafas, e é notável
que ela tem muito amor pela profissão.
Talvez eu seja suspeita para falar, porque me considero a fã número
um dela, mas os meus bebês, dois Dogues Alemães, são cuidados única e
exclusivamente por ela.
Checo meus e-mails, abrindo os que ainda não havia visto e anoto
no iPad as coisas que preciso fazer até quarta-feira para conseguir viajar
tranquilamente.
Na verdade, nunca é tão tranquilo assim, porque se alguma coisa
importante acontecer, preciso estar disponível para tentar resolver ou tomar
alguma decisão. Por conta disso, alguns funcionários têm meu número
pessoal.
E quando me ligam, é realmente urgente.
Mas apesar do excesso de trabalho me deixar exausta diariamente,
amo o que faço e amo ainda mais saber que por mais que eu seja a filha do
fundador da empresa, comigo as coisas realmente dão mais certo que antes.
02

Cozinhar sempre foi minha paixão e também a forma de afastar


todos os monstros que vivem dentro da minha cabeça.
Até certo tempo atrás, nunca imaginei que de fato trabalharia com
isso, até porque é um ramo muito disputado, o que faz com que muitos
cozinheiros e chefes não tenham o sucesso que almejam e acabem se
frustrando. Mas depois de tanta merda que já vivi, tenho os pés no chão.
Conseguir essa vaga de auxiliar de cozinha no Costellazione foi algo
inexplicável, e todo dia ao me levantar, confiro se não foi apenas um sonho,
para não aparecer lá como um louco e ninguém entender nada.
O restaurante fica em Copacabana e, com menos de dois anos de
funcionamento, já garantiu a sua primeira estrela Michelin.
Aqui tudo é muito fino, os produtos são frescos e da melhor
qualidade, e diferente do que eu imaginava, ninguém é soberbo ou babaca
só por ter cargos acima do meu.
De fato, nunca trabalhei em outro restaurante e posso ter tirado essa
conclusão apenas dos filmes que assisti, mas desde que comecei a trabalhar
aqui há duas semanas, meus dias têm sido bons de uma maneira que não
acontecia há anos.
E o melhor de tudo, que só descobri depois que consegui a vaga, é
que eles pagam curso de gastronomia para os funcionários interessados em
subir de nível na cozinha.
Inclusive, começo o meu na próxima segunda-feira.
Quais as chances de tantas coisas boas estarem acontecendo na
minha vida de uma hora para outra? Isso não é algo comum!
— A lista dos legumes que você precisa cortar, Fernandinho! —
Owen, proprietário do restaurante e também um dos cozinheiros, deixa uma
lista pregada na parte superior do balcão em que fico. — Consegue dar
conta?
Vejo-a, que por sinal é bem grande e com variados tipos de cortes.
— Claro, senhor.
— Apenas Owen! Lembra que combinamos que toda essa
formalidade não é necessária?
Sorrio ao notar que me esqueci disso e ele acena com a cabeça antes
de voltar para perto da Helena, sua esposa, que também é chefe e dona do
local.
Minha função aqui, basicamente, é cortar legumes, lavar e separar
outros alimentos, conferir e atualizar a tabela com a validade de produtos
não perecíveis e ajudar na conferência dos que chegam todos os dias pela
manhã.
Tem dias que ajudo em algumas outras coisas, como na limpeza e
organização, mas não é algo que cobram de mim, apenas fico um pouco
depois do meu horário e os ajudo.
No total, aqui na cozinha, são doze pessoas e trabalhamos bem e em
sintonia.
Já percebi que a maioria dos funcionários são da família deles, o que
acho bem legal e diferente, mas o clima aqui é tão tranquilo, que eles não
devem ter muitos atritos na questão de misturar o profissional com o
pessoal.
Leio com cuidado o que está na lista e pego o primeiro item, que são
as cenouras. Peso para garantir que peguei um pouco mais de quatro quilos,
levo para o balcão, lavo uma por uma, descasco e começo a cortá-las no
formato julienne, com bastante precisão.
Nunca fiz nenhum curso, mas sou um cara curioso e aprendi
bastante coisa lendo revistas culinárias, assistindo aos reality shows e
também vendo vários vídeos no YouTube. Então domino muitos cortes e
alguns preparos mais básicos, o que me ajudou a garantir minha vaga aqui.
— Oi, querido, tudo bem? Estava tão concentrada limpando os
frutos do mar, que nem falei com você quando chegou — Heloisa, irmã da
Helena, fala ao se aproximar, roubando uma fatia da cenoura e comendo
logo em seguida. — Nossa, é uma delícia tão fresquinha assim.
— Bom dia, Heloisa! Não se preocupe, vi que estava ocupada.
Ela lava a mão e depois arruma seu dólmã, fechando um dos botões
que parece ter aberto sem que notasse.
— Eu tenho uma amiga chamada Priscila, que é dona de um buffet
que a cada dia está ficando mais conhecido. Ontem à noite, ela me disse que
tem um evento enorme para fazer em Búzios e um de seus cozinheiros de
confiança sofreu um acidente, o impedindo de trabalhar.
— Nossa, que chato isso, espero que ele esteja bem.
Minha resposta foi péssima, mas o que eu poderia ter respondido
sobre isso?
Será que ela quer puxar assunto? Acho que se for isso, acabei sendo
meio grosseiro.
— Certo, eu não fui direto ao ponto — diz e solta uma risada ao
perceber que não entendi nada. — Como você ainda não trabalha conosco
aos finais de semana, pensei que poderia ser uma boa oportunidade para
fazer um dinheiro extra.
Dinheiro.
Com certeza preciso disso!
Só consegui essa vaga aqui porque a outra menina que trabalhava
como auxiliar, conseguiu um outro emprego de segunda a sexta. Pelo que
entendi, ela não almejava ser cozinheira ou algo do tipo, foi apenas uma
chance de fazer dinheiro para começar na faculdade.
Se eu não estiver enganado, ela ainda irá trabalhar aos finais de
semana por mais umas cinco semanas, e depois irei substituí-la também
nesses dias.
— Eu topo, com certeza! Mas será que o que sei vai ser suficiente
para o que ela precisa?
Heloisa sorri e concorda.
— Sei reconhecer alguém bom de longe, Fernando. — Ela pisca. —
Posso passar seu número para ela então?
— Sim, com certeza! E… muito obrigado!
Não sei como funcionará e nem o valor que receberei, mas qualquer
cinquenta reais a mais, já faz muita diferença no meu mês.
Volto a me concentrar nas cenouras e ao finalizá-las, mostro ao
Owen só para ter certeza que está tudo certo e depois que ele confirma, vou
para as cebolas que devem ter dois cortes. Primeiro a brunoise, que
normalmente é o que todo mundo faz, cubinhos pequenos que são ótimos
para refogados, e depois vou para o corte meia-lua.
Tiro a casca de todas e as deixo em uma enorme bacia com água
fria, para meus olhos não arderem quando for cortá-las, e aproveito esse
tempo para separar os tomates.
O dia passa e nem percebo, preciso ser informado por alguém, que
também nem me dei conta de quem era, que estava na hora do meu almoço.
O Costellazione funcionava só à noite e o dia todo aos finais de
semana, mas como estamos nos aproximando da época de férias e o
restaurante fica em uma parte muito turística do Rio, eles decidiram se
arriscar.
E, pelo visto, está dando muito certo, porque tem lotado no horário
de almoço.
O cardápio é diferente do jantar, mas ainda assim é de muito
requinte.
Fico aqui até às 17 horas, que é tempo suficiente para deixar todos
os preparos que me pedem prontos e separados para adiantá-los ao máximo.
E pode até parecer que não, mas ter todo o mise en place pronto, é o
caminho para que os demais sejam mais fáceis e tranquilos.
— Vai querer carne ou frutos do mar? — Alice, uma das cozinheiras
auxiliar da parte de sobremesa, me pergunta.
— Carne, por favor.
Ela coloca dois pedaços de filé mignon na frigideira e os cozinha
com perfeição, regando-os com a manteiga temperada até que fiquem bem
dourados por fora e mal-passados por dentro.
Pego um para mim, o coloco no meu prato e depois vou até as
panelas, vendo o que tem ali. Acabo escolhendo o macarrão ao molho
funghi, e preciso me controlar para não colocar mais do que de fato como.
Owen e Helena fizeram questão de deixar claro quando me
contrataram, que todos na cozinha comem tão bem quanto os clientes,
porque precisamos de combustível de boa qualidade e inspiração para estar
cem por cento satisfeitos enquanto trabalhamos.
E em duas semanas, comi melhor do que muita gente de classe
média alta.
Esse trabalho é um sonho!
Atrás da cozinha tem um pequeno refeitório para os funcionários,
que é bem confortável e tem dois sofás retráteis grandes, que também
servem para tirarmos um cochilo quando sobra tempo.
Como minha comida devagar, degustando de cada pedacinho e mais
uma vez encantado com o sabor incrível que eles conseguem colocar em
tudo.
Meu telefone toca assim que dou a última garfada e o tiro do bolso,
vendo que é um número desconhecido.
Não ia atender, porque já havia deduzido ser cobrança de alguma
conta que não consegui pagar, mas me lembrei que a amiga da Heloisa me
ligaria, então aceito a chamada.
— Alô?
— Fernando?
— Eu mesmo!
— É a Priscila, amiga da Helo. Te atrapalho?
Nós conversamos por uns cinco minutos e ela me explica que o
evento começará na sexta-feira à noite, e terminará no final da tarde de um
domingo.
É o casamento de um herdeiro de uma marca famosa de automóveis.
Ele ganhou de presente de uma das madrinhas, que é dona de vários hóteis,
o final de semana inteiro nesse resort em Búzios, que foi todo fechado para
os convidados.
Realmente deve ser muito bom ter tanto dinheiro assim.
Priscila me disse o que iria precisar de mim e para a minha sorte e a
dela também, tudo está ao meu alcance. Então combinamos de nos
encontrarmos na sexta-feira, assim que eu sair do trabalho, para ir direto
com ela para lá.
E vou ganhar mil reais por esses três dias trabalhados.
Porra, mil reais!
Esse valor dá para pagar três meses da escola da Flavinha e ainda
sobra um pouco, que vou enviar para minha mãe comprar a merenda dela
por algumas semanas.
Nem acredito que vou poder ajudá-las com um bom valor, depois de
tantos meses enviando apenas cem ou duzentos reais.
Parece que a maré de azar está começando a diminuir, trazendo um
pouco de sorte para minha vida.
Tudo isso que tem acontecido precisa ser um sinal de que as coisas
vão melhorar.
03

Eu amo Búzios!
De tantos lugares que já viajei, aqui ainda está no meu Top Três de
lugares favoritos do mundo.
Cheguei há dois dias e já foi o suficiente para eu me sentir
revigorada e pronta para uma semana turbulenta, que sei que terei a partir
de segunda. Mas ainda tenho todo o final de semana para aproveitar.
— Eu não deveria ter dormido na espreguiçadeira! — Thaís fala ao
sair do banheiro da sua suíte só de calcinha e sutiã. Na mesma hora, vejo a
marca que o sol deixou em seu corpo e não consigo controlar a gargalhada.
— Não tem nenhuma graça, Paola.
— Tem sim, tem muita! — Sinto uma lágrima escorrer pelo tanto
que rio. — Te falei que não era uma boa ideia o biquíni cheio de alças na
barriga e que iria se queimar demais.
Ela revira os olhos e vai andando pelo quarto igual um pinguim, até
ficar bem no lugar em que bate o vento do ar-condicionado.
— Você é chata, parece uma mãe.
— E você parece uma adolescente que só escuta a mãe depois que
dá merda — rebato e ela mesmo com dificuldade, levanta o braço para me
mostrar o dedo do meio. — Como é o seu vestido de madrinha?
Na mesma hora, ela vira a cabeça para mim, como a mulher do
filme O Exorcista e seu olhar de espanto deixa claro que o vestido não vai
tapar essas marcas que ficaram no decote.
— Puta que pariu, besta! — choraminga. — Ele está pendurado no
closet.
Dou uma corridinha até lá e abro a capa que o protege.
Ele é lindíssimo e sem alças, com o decote reto.
Coço minha cabeça enquanto tento pensar em algo para ajudá-la,
mas nada me vem à mente. Mesmo se o meu tapasse o decote, o que não é o
caso, ainda teria que ajustar, porque o meu silicone é maior que o dela.
Aproveito para pegar um vestido bem soltinho no meio das roupas e
vou até onde ela está.
— Se veste, nós vamos até alguma loja que venda roupa de
madrinha.
— Mas eu fiz aquele sob medida…
— Deixe guardado para um próximo casamento, porque tenho
certeza que você não vai querer chamar mais atenção do que a noiva! —
Senta na cama novamente e concorda, colocando o vestido com cuidado e
resmungando toda vez que alguma parte do seu corpo arde. — Você ainda
deu sorte de ter tapado o rosto com o chapéu, besta! Senão iria ficar igual a
um pimentão.
Ela ri e depois choraminga.
— Você sempre sabe como me reconfortar — debocha.
— Estou aqui para isso, linda!
Depois, a ajudo a passar bastante hidratante no corpo, para refrescar
e melhorar a ardência, e então saímos da suíte até o estacionamento,
parando toda hora no caminho para falar com os convidados que já estão
chegando.
Preciso prender a risada várias vezes, porque Thaís finge que seu
corpo não arde horrores quando recebe esses abraços.
— Sem abraço, por favor — minha amiga diz assim que Gael se
aproxima de nós. — Estou toda ardida, até os fios do meu cabelo ardem.
Ele sorri de lado, vendo a vermelhidão bem aparente nos braços
dela.
— Pelo menos tem gente que acha a marquinha sexy… — Acho que
esse comentário foi na intenção de ajudar, mas não deu muito certo, porque
ela revira os olhos e começa a se abanar com mais calor que o normal. —
Oi, Paolinha! — Ele se aproxima e me abraça rapidamente, beijando minha
bochecha em seguida. — Estão de saída?
— Sim, vamos em uma loja de roupa.
— Ah, não vou oferecer minha companhia porque não vejo
necessidade de estragar minha sexta-feira! — brinca.
Ele deve ter transado, pois seu humor não é tão leve desse jeito.
— Nos vemos depois! — digo e saio andando com a Thaís.
— Nossa, ele ainda quer muito te comer — ela diz quando ficamos
a uma distância segura dele. — Muito mesmo!
— É, eu sei disso. — Destravo o carro que aluguei assim que
chegamos perto dele e ao entrar, já ligo o ar, colocando-o bem forte para
tentar ajudar um pouco a minha amiga. — Mas nem se ele fosse o último
homem da Terra! Já basta as três vezes que fiquei com ele logo depois de
terminarmos e ele achando que tínhamos voltado… foi como terminar com
ele uma segunda vez.
Thaís entra e me pede para dirigir com bastante calma, porque não
tem condições de colocar o cinto.
— Mas pelo menos vocês se dão bem, isso é bom — comenta.
— O Gael não foi um marido ruim, não tenho o que reclamar disso,
tínhamos uma boa relação e ainda a mantemos assim, mas de forma
diferente. — Ela concorda. — Mas não dá, amiga… imagina a gente tendo
um filho juntos e ele falando: tá vendo aquelas pessoas pobres? Elas só são
assim porque querem! — Finjo uma ânsia depois de tentar imitar a voz dele.
Thaís ri sem humor.
— Era torturante essas conversas dele, nunca tive paciência para
ouvir, porque sei que acabaria falando um monte de merda.
Coloco no GPS a loja que já tinha visto no Instagram várias vezes e
chego lá uns dez minutos depois. Paro na vaga reservada aos clientes, e
como sempre, assim que as pessoas me veem e reconhecem quem sou,
quase estendem um tapete vermelho para mim.
Não vou ser hipócrita e falar que não gosto de todo esse tratamento
que recebo, mas sei que não é sincero.
Aqui em Búzios todo mundo sabe que sou a Paola Santana, filha de
um dos homens mais ricos do Brasil e agora CEO da empresa Santana.
Nos demais lugares é mais difícil que saibam, a não ser quem já me
conhece mesmo. Mas como aqui é um local pequeno e venho para cá desde
novinha, já sou conhecida pela maioria dos moradores.
— Srta. Santana, que prazer tê-la aqui em nossa loja. — Uma loira
muito bonita vem falar comigo, já me servindo uma taça de champanhe. —
No que podemos ajudá-la?
— Obrigada! Minha amiga precisa de um vestido deslumbrante para
madrinha, nesse tom aqui. — Mostro no meu celular e ela faz um
movimento positivo com a cabeça, confirmando que conhece e tem. — E de
preferência, que tenha alças largas e um tecido bem fluído.
Ela entende o porquê do meu pedido assim que a Thaís, com muita
dificuldade, entra na loja, já procurando pelo ar-condicionado.
Dou uma olhada nas peças penduradas nas araras e enquanto a Tatá
tenta achar algo que goste, pego uma calça e um vestido para mim. Depois
me sento em uma das poltronas e espero.
Aqui na Rua das Pedras, que é a parte comercial mais badalada de
Búzios, tem absolutamente de tudo. Restaurantes com valores que variam
desde os mais caros, até os mais acessíveis, sorveterias, lojas de todos os
estilos de roupas e sandálias, bares e até mesmo duas baladinhas.
Eu adorava ir à Privilège quando era adolescente, hoje em dia estou
mais cansada para esse tipo de coisa. Menos no Carnaval, que é a época em
que me dou férias e aproveito como se não houvesse amanhã.
E falando em Carnaval…
Pego meu celular e abro as mensagens.
Barbie havia falado comigo mais cedo, mas meu celular descarregou
na hora que ia respondê-lo e depois esqueci.
Barbie: Vou querer dez quartos para o Réveillon no seu hotel em
Copacabana.
Barbie: Aliás, vou querer doze.
Eu: Claro, já são seus.
Eu: Depois me passa tudo por e-mail e já reservo os melhores!
Eu: E você e a Olívia, estão bem?
Conheci o Scott Barbieri, que é apelidado como Barbie, no Carnaval
do ano passado e acabamos ficando. Nessa época, ele ainda era solteiro e
nos demos bem de cara. Mas foi algo além do sexo, foi uma ligação
genuína, tanto que antes mesmo de ele me contar que estava se
apaixonando, nossas conversas não tinham mais nenhum teor malicioso.
A Olívia, que é contadora do escritório de advocacia que ele tem
com os amigos, é uma mulher incrível, e ele fez questão de nos apresentar e
esclarecer que não havia mais nada entre nós, para não ter nenhum tipo de
conflito com ela.
Para minha sorte, ela é dessas que não é insegura e em nenhum
momento me destratou por já ter ficado com ele, pelo contrário, também
nos demos bem de primeira e hoje somos amigas.
Barbie: Estamos ótimos, cada dia com mais gatos!
Rio ao ler essa mensagem.
Barbie: Ela te mandou um beijo e perguntou se você vem pra cá antes do
Réveillon.
Eu: Sim, vou sim! No próximo mês devo passar uns quatro dias aí.
Barbie: Te convidaria para ficar conosco, mas sei que não vai aceitar,
então vou evitar essa pequena discussão.
Barbie: Me avise quando vier, nós te buscamos no aeroporto.
Eu: Aceito a carona!
Conversamos mais um pouco, e guardo o celular quando a Thaís me
chama para ajudá-la a escolher entre dois, dos quinze vestidos que
experimentou.
Finalmente ela escolhe, então pago a conta e escuto a menina que
nos atendeu pedindo para eu divulgar a loja no meu Instagram. Apenas
sorrio enquanto me despeço e depois vamos embora.
Por mais que eu tenha muitos seguidores, não sou blogueira.
Uso meu perfil para mostrar minhas viagens e os passeios que faço,
nem mesmo do meu trabalho falo lá. A maioria das pessoas que me seguem
nem devem fazer ideia de quem sou, provavelmente acham que sou uma
patricinha bancada pelo pai que viaja o mundo todo.
E essa foi, sim, a minha realidade até os meus 19 anos, e não vejo
isso como um defeito, já que aproveitei das regalias para estudar muito e
não só curtir a vida.
E no dia que eu tiver um filho, também darei tudo do bom e do
melhor para ele, inclusive educação para que se torne uma boa pessoa, que
não precise mais depender de mim, mesmo que eu ainda esteja ali para
apoiá-lo de todas as maneiras, igual meu pai é comigo.
Se eu ligar agora para ele e disser que preciso de dez milhões, ele
me dará sem nem perguntar para quê. Assim como se eu falar que preciso
do seu colo, ele virá até mim o mais rápido possível.
Meu pai é realmente o meu herói, a pessoa que mais amo nesse
mundo todo.
Ele deve chegar aqui amanhã cedinho e quero estar de pé para
tomarmos café da manhã juntos.
— O que está rolando ali? — Thaís pergunta enquanto estamos em
uma pequena fila de carros para entrar no resort e vejo que tem três
seguranças falando com um homem ao lado da guarita.
Jogo meu carro para o lado e deixo o pisca-alerta ligado ao sair e me
aproximar deles.
— Estou com o pessoal do buffet, todas as vezes que me
perguntaram, já expliquei isso — o rapaz que está de costas para mim
responde.
Não sou de me meter quando vejo uma situação assim porque meus
funcionários, de todos os hotéis, são bem treinados. Faço questão de pagar
um treinamento à parte quando são contratados, para garantir que irão
seguir um padrão estipulado por nós.
Mas dessa vez, eu simplesmente vim, sem nem pensar direito.
— Boa noite! Está tudo bem por aqui?
Os seguranças me olham surpresos, mas na mesma hora fazem
questão de me explicar o que está acontecendo.
— Esse rapaz disse que está junto com o buffet, mas todos já
chegaram e o nome dele não está na lista — o mais alto deles me responde
e concordo ao ouvi-lo.
— Oi, qual é o seu nome? — Vou para o lado dos seguranças e fico
de frente para o possível penetra.
Ele demora um pouco para levantar o rosto, mas assim que me vê,
sua feição muda, como se eu fosse alguém que nunca imaginaria ver de
perto.
Acabo me perdendo na profundeza de seus olhos azuis claríssimos,
mas saio do transe quando um dos seguranças pigarreia.
— Eu me chamo Fernando Couto e vim no lugar do Pedro Fonseca,
que era o outro funcionário do buffet . Ele sofreu um acidente e não pôde
vir.
A voz é tão grossa que nem parece vir dele.
E ele não desvia o olhar do meu nem por um segundo.
— Certo, vou confirmar e resolveremos isso! — respondo e pego
meu celular na mesma hora, indo até o e-mail de liberação que enviei para o
resort na quarta-feira. — Fernando Couto… está aqui como substituição de
Pedro Fonseca — repito basicamente o que ele acabou de explicar. — Sinto
muito por isso! Provavelmente não enviaram essa informação para os
seguranças daqui. Caso aceite, será um prazer lhe dar um outro final de
semana com tudo incluso como pedido de desculpas.
Vejo-o tensionar um pouco o maxilar e então passa a mão no cabelo,
que é preto como a noite e um pouco grande, o que lhe cai muito bem.
— Obrigado pela preocupação, mas não precisa disso tudo! — Ele
finalmente desvia os olhos para os seguranças. — Posso entrar agora?
— Claro, Sr. Couto! — Uma pulseira laranja é colocada nele. Essa
cor indica que ele é um funcionário de fora que está trabalhando no resort.
Vejo-o entrar sem olhar para trás, andando a passos largos e rápidos.
Converso com os seguranças, pedindo para que eles tenham um
pouco mais de delicadeza quando acontecer algo do tipo, e também os
lembro que o rádio que eles têm poderia ser utilizado para falar com o
gerente, que rapidamente resolveria da mesma forma que fiz.
Volto para o carro e estaciono na minha vaga, Thaís pergunta o que
aconteceu e explico a ela.
— Daqui, o cara parecia ser um grande gostoso! — comenta.
— Ah, ele com certeza é! Tem que ver os olhos… são tão azuis que
nem parecem de verdade.
Ela me lança um olhar malicioso.
— Será que ele cairá nas suas garras?
Bufo.
— Te garanto que ele não demonstrou nem um pingo de interesse
em mim, e acho que ficou constrangido. Nem aceitou o convite de passar
um outro final de semana aqui, mesmo com tudo pago.
— Mas disse que seria na sua cama, junto com você?
Solto uma risada tão alta ao ouvi-la, que preciso depois olhar para os
lados e ver se não tinha ninguém no corredor que possa ter se assustado.
— Thaís, você é uma safada!
— Olha quem fala, né.
04

Eu já vi muitos hotéis e resorts pela televisão e também nas redes


sociais. Tem vezes que perco horas olhando vários e imaginando como seria
passar alguns dias em um lugar assim, até mesmo vejo os valores, que
sempre são irreais para mim.
Mas nunca na vida vi um igual a esse.
Claro que conheço a rede Santana, não tem como não conhecer!
Ainda mais trabalhando a uma quadra de distância de um dos hotéis deles.
Mas não tinha noção de como de fato é um cinco estrelas.
Owen me liberou mais cedo do trabalho e informei à Priscila, então
viemos logo para cá, assim conseguiríamos adiantar melhor as coisas. Só
que precisamos tirar alguns minutos para conhecer os ambientes em que
trabalharemos.
Hoje ficaremos perto da piscina e a comida é mais rápida e simples,
o famoso finger food, que basicamente são petiscos que dá para comer com
as mãos, e que tenham tamanhos pequenos para que isso não se torne uma
grande lambança.
Amanhã, que é o casamento em si, o trabalho vai ser mais pesado.
São aproximadamente quinhentos convidados, e o menu do almoço
terá variados canapés para a entrada, quatro opções de pratos principais,
bastante salada e a sobremesa. Fora isso, ainda tem as comidinhas que serão
servidas durante todo o evento, e uma mesa com frios que terá alguém para
servi-los.
E, no domingo, teremos muita massa para ajudar na ressaca, que
pela quantidade de bebida que tem, será horrorosa para muitos dos
convidados.
A Priscila me mostrou o valor das compras de comida para esses
três dias e tive que olhar duas vezes, porque parecia ter zeros demais ali.
Mas os noivos fizeram questão de escolher até algumas marcas de
mantimentos, e foi tanta exigência de temperos e produtos específicos, que
não teria como ser mais barato mesmo.
— Fernando, o que já tem pronto aí na sua estação? — Priscila me
pergunta do outro lado da cozinha e dou uma olhada antes de responder.
— Já tenho quatro tabuleiros de paninni de rosbife e cebola
caramelizada, seis tabuleiros de blinis de carpaccio com pesto e … — Vejo
os de baixo para ter certeza do que são e termino de responder. — Dois com
bagel de salmão.
Priscila me olha estranho e na mesma hora acho que fiz algo errado,
o que me deixa ligeiramente tenso. Ela vem na minha direção e olha todos,
conferindo o que eu disse.
— Você está me dizendo que fez isso tudo nesse tempo que estamos
aqui na cozinha? — Confirmo com a cabeça e ela continua me encarando,
meio desconfiada. — Se importa se eu provar?
— Claro que não, até prefiro sua aprovação antes que saia!
Os outros funcionários também ficam olhando, ansiosos para saber
se ela vai gostar ou se ferrei tudo e além de gastar um monte de produto de
qualidade, atrasarei a cozinha toda.
Ela pega um de cada e vai comendo devagar para não perder
nenhum dos sabores que coloquei ali, e por mais que não demore, parece
durar uma eternidade.
Sinto como se meu coração batesse por todo meu corpo enquanto a
espero falar algo, torcendo para que seja positivo.
— Garoto… você está escondendo mais alguns braços dentro da sua
roupa? Como conseguiu fazer mais de mil porções dessa comida
maravilhosa em tão pouco tempo?
Porra.
Foi um elogio!
Uma tonelada acaba de sair dos meus ombros e um alívio enorme
invade meu corpo, sinto até que posso voar, de tão leve que fiquei.
— Que bom que gostou, dona Priscila.
— Não, eu não gostei… eu definitivamente amei! — Ela rouba mais
um de salmão e suspira ao comê-lo, deixando claro o quanto apreciou. —
Você tem um dom, pode ter total certeza disso.
Ela chama todo mundo para comer e me sinto uma criança no
próprio aniversário, recebendo atenção e elogios de todo mundo.
E eu não gosto nada disso, mas tento sorrir de uma forma que não
pareça forçada demais enquanto escuto os elogios.
Fico aliviado quando eles se afastam e volto a fazer o que amo, que
é cozinhar.
Priscila e sua equipe são dessas que gostam de conversar enquanto
cozinham, sobre várias coisas, inclusive das pessoas.
A famosa fofoca do bem, pelo que entendi.
E por mais que eu não compartilhe do entusiasmo deles para tal
coisa, escuto tudo o que dizem. E assim que ela toca no nome da Paola,
volto a ficar surpreso com a coincidência de hoje.
A mulher com quem sonho desde aquele maldito dia que mudou
tudo na minha vida, estava bem na minha frente, me ajudando em uma
situação complicada.
Por um segundo, pensei que surtaria e travaria na frente dela, mas
consegui fugir antes que tivesse que falar mais do que falei.
Muitas coisas mudaram nesses anos, e não sou mais aquele
adolescente que perdia a fala na frente de uma mulher, mas com ela, não me
surpreenderia se isso voltasse a acontecer.
Demorei alguns minutos para associar tudo o que aconteceu e fiquei
imaginando se ela era a gerente, a dona ou filha dos donos… muitas opções
pairavam sobre a minha cabeça, mas escutei a Priscila falando que ela ficou
no lugar do pai e é CEO da rede Santana há alguns anos.
Ou seja, podre de rica e provavelmente uma mulher muito
inteligente.
E linda… absolutamente linda!
Inexplicavelmente, a pessoa mais bonita que já vi em toda a minha
vida, e mesmo tendo ficado pouquíssimo tempo perto dela nas duas únicas
vezes que nos vimos, sinto que ela emana algo que não consigo entender o
que é, mas é bom.
Pode ser porque ela é a minha crush? Pode!
Mas, ainda assim, ela tem alguma coisa diferente…
E depois de nove anos sonhando e pensando onde estaria a mulher
que ajudou a mim e a minha família a sair de uma situação vergonhosa,
agora estou aqui, trabalhando um final de semana no resort dela.
Sinto a lâmina da faca passar de raspão pelo meu dedo, rasgando a
luva que estou usando e decido que a melhor coisa é parar de pensar nela e
prestar atenção no que estou fazendo.
Preciso focalizar no que é real para mim, e o real é esse bico
incrível, que vai me pagar muito bem por três dias trabalhados.
Uns 20 minutos depois, os garçons começam a entrar e a pegar as
comidas para servirem aos convidados, e então começamos a focar no que é
servido quente.
Priscila me deixa totalmente à vontade para fazer as receitas, sem se
preocupar em provar e liberar cada uma delas.
Ela fica radiante quando o garçom volta falando que as pessoas
elogiaram cada comidinha que saiu e todos comemoram, ainda mais
empolgados e inspirados.
Feedbacks positivos acontecem bem menos do que os negativos. As
pessoas estão sempre motivadas a reclamar, brigar e pontuar o que não
gostaram e dificilmente gastam um minuto do próprio tempo para elogiar,
então entendo o porquê de eles ficarem tão animados.
E, pelo que entendi, todos os convidados vivem indo a restaurantes
de alto padrão. Então se eles gostaram da nossa comida, não estamos
deixando a desejar.
Também não me importaria se esses elogios fizessem com que a
Priscila me chamasse para fazer outros bicos com ela enquanto eu não fosse
efetivado nos finais de semana lá no restaurante.
Todo dinheiro é muito bem-vindo.
Faço uma pausa de 15 minutos quando chega na parte dos doces,
pois quase tudo já está pronto, faltando apenas serem montados.
Vou até o banheiro para jogar uma água no rosto e ao sair, na
intenção de voltar pra cozinha e sentar em uma cadeira qualquer por lá, vejo
uma mulher limpando o que parece ser vinho do seu vestido rosa-claro.
— Merda, merda, merda! — Ela levanta a cabeça e antes que eu
consiga virar e ir embora, a loira me vê. — Oi! Será que você consegue me
arrumar um paninho da cozinha? Papel higiênico não está dando muito
certo.
Realmente não, vejo que ele se esfarelou pela roupa, piorando a
situação.
Ela tem um sotaque diferente, mas não faço ideia de onde seja.
— Quer vir até a cozinha? Acho que vinagre branco pode ajudar a
amenizar a mancha.
— Sério? Isso seria incrível! — Ela sorri e vem na minha direção.
Levo-a até a porta, pego um pano e o vidro de vinagre e vou até ela.
— O cheiro não é muito bom, talvez seja interessante passar uma
água com sabonete só para aliviar.
Ela pega o pano e começa a esfregar com força. Um gritinho
estranho sai dela ao ver que realmente está funcionando.
— Graças a Deus! A Paola me mataria se eu estragasse mais um
vestido dela.
Será que ela está falando da minha Paola?
Não que ela seja minha… enfim! Quais as chances? Tem muitas
pessoas aqui e é um nome comum.
Ela me devolve o tecido e o vinagre ao terminar.
— Thaís? — A loira se vira ao ouvir alguém a chamando, e vejo a
mulher que habita os meus sonhos um pouco mais distante de onde
estamos. — Onde voc… o que houve com sua roupa?
— Desculpa, besta! Mas o imbecil do Yuri esbarrou em mim
enquanto balançava os braços feito um boneco do posto, contando que
comprou mais um jatinho.
— Ele é um saco! — A morena se aproxima e só me vê quando
chega mais perto, e me pergunto por que continuei aqui, era só ter entrado
na cozinha. — Fernando…
Ela sabe o meu nome!
Óbvio que ela sabe, viu na lista mais cedo para liberar minha
entrada.
— Dona Paola… — Cumprimento-a, acenando a cabeça de leve. —
Vou deixá-las à vontade, com licença.
— Obrigada pela ajuda, fico te devendo uma! — A loira, que agora
sei que se chama Thaís, fala para mim.
Entro na cozinha sem dar mais tempo para ficar envergonhado pela
forma que a Paola me olha.
Parece que ela tem uma certa curiosidade, mas não sei no quê.
Talvez sejam meus olhos, muitas pessoas já falaram que ele é tão
azul, e combinado com minha pele ridiculamente branca, de quem não toma
sol nunca, pode acabar chamando atenção.
— Tudo bem, Fernando? — Priscila pergunta ao me ver entrar. —
Parece que viu um fantasma, rapaz!
— Está tudo bem, me desculpe! — Descarto o pano e coloco o
vidrinho com o líquido onde estava. — O que ainda temos para fazer?
— Nada! Nosso serviço de hoje já foi concluído, fizemos
quantidade suficiente para os garçons distribuírem pelo resto da noite. E
quase todos os convidados já foram, imagino que irão acordar cedo para se
arrumarem… bom, pelo menos as mulheres!
Concordo ao ouvi-la e começo a ajudá-los na limpeza. Com todos
limpando ao mesmo tempo, levamos menos de uma hora para deixar tudo
arrumado.
Invento uma desculpa qualquer para ficar um pouco aqui depois que
terminamos e eles vão para os quartos que destinaram a nós.
Daqui, consigo ver um caminho todo iluminado e forço um pouco a
visão para ler o que a placa diz.
Píer de embarque e desembarque das lanchas e jetskis.
Não deve ter ninguém lá a essa hora da noite, e é um lugar calmo,
seria ótimo para conseguir ligar para minha mãe.
Bom, não custa tentar.
Pego esse caminho, e realmente não tem nem uma alma viva além
de mim, então aproveito para ir até a beira do píer, admirando o reflexo da
lua cheia no mar calmo.
Pego o celular que ficou desligado todo esse tempo no meu bolso,
ligo e vejo que minha mãe mandou algumas mensagens.
Já passa da meia-noite, mas ela não costuma dormir cedo às sextas-
feiras. E confirmo isso ao vê-la online. Ligo na mesma hora.
— Nandinho, que bom que conseguiu me ligar! Como estão as
coisas aí?
— Por aqui foi bem corrido, mas está tudo bem, encerrei o trabalho
agora. E vocês, estão bem?
— Estamos, sim. Só com muita saudade!
Suspiro ao ouvi-la e sinto meu coração ficar apertado com a
sensação ruim que é estar longe delas.
Há alguns anos, minha mãe foi morar em Saquarema, onde toda a
família dela também mora. Foi a melhor decisão, porque sem meu pai, não
conseguimos manter o padrão que tínhamos antes.
Não era um padrão alto, mas vivíamos bem, em uma casa grande o
suficiente para Flavinha poder brincar e correr. Só que as contas apertaram
muito, e mesmo que eu tentasse ajudar, não era o suficiente, porque alguém
tinha que ficar em casa para cuidar da minha irmã, já que a nossa mãe
voltou a trabalhar.
Lá em Saquarema, ela tem todo o apoio da família, além de não
precisar custear sozinha os gastos de uma casa, porque está morando com a
minha avó.
— Também estou, mãe! Mas ir todos os finais de semana fica caro,
a passagem está quase quarenta reais e em breve estarei trabalhando no
restaurante praticamente todos os dias.
— Tenho tanto orgulho de você, Nandinho! — Sua voz chorosa
acaba comigo. Minha mãe e a Flavinha são as pessoas que mais amo no
mundo, e é horrível vê-las tão pouco. — Em breve terá seu próprio
restaurante e vai ser um sucesso, tenho certeza disso!
Esse é o meu sonho, mas teria que acontecer um milagre para que
tal coisa se realizasse.
— E aí eu trago vocês de volta pra cá, compro uma casa bem grande
e moramos juntos para sempre.
Ela ri do outro lado e sua risada me alegra.
— Você se casará em algum momento, não sei se minha nora vai
achar essa ideia boa.
Conversamos mais um pouco, peço para que me ligue amanhã
quando minha irmã acordar e me despeço antes de desligar.
Fico olhando para a foto de fundo do celular, que sou eu e a
Flavinha na praia, na última vez que fui lá na Região dos Lagos.
Ela é a única pessoa capaz de me convencer a ir à praia.
Não sou nem um pouco fã.
Escuto o barulho de um sapato de salto batendo nas madeiras do
píer se aproximando e fico quieto, na esperança de que a pessoa vá embora.
— Parece que descobriu meu lugar favorito aqui. — A voz da Paola
é inconfundível. — Não sabia que era você até me aproximar, posso ir
embora se ach…
— O resort é seu, fica à vontade.
Não movo minha cabeça nem um milímetro e quase esqueço de
respirar enquanto espero que ela faça algo.
E ela faz.
Paola senta ao meu lado, tira o salto e coloca os pés dentro da água,
diferente de mim, que estou com eles em cima do píer por causa do tênis.
— Sinto muito pelo que aconteceu mais cedo, Fernando. Sei que a
falha de comunicação da minha equipe te constrangeu, e realmente não sei
como me desculpar.
Ela parece realmente estar preocupada com isso, o que é
surpreendente.
— Está tudo bem! Eles me procuraram depois, pediram desculpas e
explicaram que a segurança é muito rígida e que poderiam perder o
emprego se de fato eu fosse um penetra.
— Não consigo controlar tudo o que acontece, mas contratei uma
equipe de segurança na qual confio, então acredito que de fato foi um erro
que não vai se repetir.
Olho-a e tento não ficar atordoado com a beleza do seu rosto
iluminado pela luz da lua.
— Você já se desculpou, mesmo não sendo culpa sua. Está tudo
bem!
Ela concorda e depois olha na direção do mar.
Preciso confessar que é um tanto estranho estar próximo de alguém
assim, em um lugar como esse, sem nem conhecê-la direito. Mas não
duvido que tenha alguns seguranças no meio do mato, prontos para arrancar
cada membro do meu corpo se eu tentar fazer algo estúpido.
— Você trabalha para o buffet do casamento?
— Mais ou menos.
— Ah… acho que conversar não é muito a sua, né? — ela diz,
parecendo um pouco sem graça e me sinto mal por isso.
Ela está tentando ser gentil e estou aqui igual um babaca com meias-
palavras.
— Desculpa, dona Paola… Só não estou acostumado a ter alguém
de fora querendo falar comigo a troco de nada!
— Dona Paola? Meu Deus, você acabou de aumentar a minha idade
em mais uns 25 anos! — ela diz de forma divertida. — Eu só tenho 28, não
devo ser tão mais velha que você!
O sorriso dela é tão bonito que me faz sorrir.
— Eu tenho 24.
— Na sua idade eu já era casada…
— E não é mais? — a pergunta sai antes que eu consiga pensar, mas
ela não parece se importar.
Paola levanta as duas mãos, mostrando que além de tatuagens e
anéis, não tem nenhuma aliança ali.
— Divorciada! E esse termo faz eu me sentir velha novamente — ri.
— Mesmo se você fosse mais velha, com certeza não precisaria se
importar com isso!
Ela me olha com um sorrisinho de lado.
— Uau! Nossa relação está evoluindo muito rápido, Fernando.
Começamos com um momento constrangedor, depois você fugiu de mim na
cozinha, tentou ignorar a minha conversa ainda há pouco e agora está
flertando? — Seus olhos brilham, divertidos com o que fala. — O que
acontecerá da próxima vez? Nosso casamento?
A morena definitivamente é uma mulher animada e consegue algo
que é quase impossível, tirar uma risada sincera de mim.
— Isso é um pedido de casamento? — Tento entrar na brincadeira e
fico surpreso pela forma natural que isso acontece. — Talvez eu seja um
homem difícil, Paola.
Novamente tenho o prazer de ver o sorriso dela.
— Para a minha sorte, nunca desisto fácil do que quero. — Ela pisca
e logo depois se levanta, arrumando o vestido que embolou um pouco. —
Adoraria continuar evoluindo nosso relacionamento, mas estarei de pé antes
das seis da manhã.
Me levanto também e lhe entrego os sapatos que haviam ficado do
meu lado.
— Tudo bem! — Nos encaramos por um tempo, e agora, de pé na
frente dela, vejo que sou uns vinte centímetros mais alto. — Boa noite,
Paola.
— Boa noite, Fernando.
Coloco as mãos dentro dos bolsos e fico vendo-a ir embora, sem
conseguir manter meus orbes em outro lugar que não seja em sua bunda.
A mulher se vira antes de sumir completamente da minha visão,
acena para mim e então vira para um dos lados que não me deixa vê-la
mais, mas tenho certeza que ela percebeu para onde eu olhava.
Belisco meu braço alguns segundos depois, só para garantir que não
é um outro sonho com ela, e ainda assim fico sem acreditar que acabei de
ter uma conversa decente com a minha crush.
Na verdade, foi uma conversa muito boa, do tipo que tenho com
pouquíssimas pessoas, mas ela conseguiu me deixar à vontade para isso.
E nós flertamos…
05

Definitivamente preciso me segurar na bebida quando me junto com


a Thaís, nunca dá certo e sempre acordo como hoje, parecendo que a
ressaca é uma dengue. Acho que isso é um claro sinal de que eu não
aguento mais as farras que fazíamos antes.
Me levanto da cama muito devagar, sentindo cada centímetro do
meu corpo doer e latejar. E só me dou conta de que dia é hoje, quando
percebo que dormi com o vestido de madrinha e as imagens do casamento
começam a vir como uma avalanche em minha mente.
Meu olho abre com dificuldade, os cílios postiços supergrudados
nos meus naturais.
— Então é assim que é a morte? — pergunto para ninguém, já que
pelo visto estou sozinha, porém gostaria de ter uma resposta.
Tiro o vestido assim que consigo ficar de pé e vou só de calcinha
para o banheiro. Tomo um banho que demora muito mais que o necessário,
lavo meu cabelo para tirar todos os produtos que usaram para manter o
ondulado e ao sair do boxe, me assusto com a minha cara toda borrada de
maquiagem.
Espero que ninguém tenha me visto nesse estado!
Gasto quase todo o demaquilante que tinha na nécessaire e
finalmente consigo ficar com o rosto limpo.
Procuro a roupa mais fácil no closet da suíte e pego um vestido
frente única, bem fresco e soltinho. Ignoro a necessidade de um sutiã e visto
apenas ele e a calcinha. Termino de me arrumar, coloco meu maior óculos
de sol e saio do quarto, indo na direção do restaurante, que está servindo o
café da manhã para os convidados do casamento.
— Dona Paola! Eu ia pedir para um dos funcionários levar o
desjejum no seu quarto. — Acho que a mulher que está falando comigo é a
dona do buffet, mas meus pensamentos ainda estão nublados, então talvez
não seja. — O café já foi recolhido, mas é só falar o que quer e eu trago.
Nossa, que horas deve ser?
Percebo que não trouxe meu celular, mas procuro por um relógio em
alguma parede, e vejo que já passa da uma da tarde.
Não consigo lembrar a última vez que acordei tão tarde assim.
— Vou na cozinha contigo, assim é bom que não preciso ver
ninguém. — Ela sorri e concorda, andando ao meu lado. — Inclusive,
parabéns pelo trabalho. A comida de vocês é impecável e já anotei o seu
número no meu celular, sem sombra de dúvida a contratarei outras vezes.
— Ficarei muito feliz em trabalhar para a senhora novamente.
Realmente a comida deles é muito boa. Quem me indicou foi o
Owen, dono do meu restaurante favorito, mas não tinha noção de que era
bom nesse nível.
Entramos na cozinha e dou boa-tarde a todos, mas meu olhar vai
direto no moreno de olhos azuis, que me fez tocar uma bela siririca na
sexta-feira depois da nossa breve conversa.
Não falamos nada de mais, foi apenas o suficiente para eu saber que
ele é um cara mais na dele, talvez até meio parado no quesito flerte, mas ele
é lindo e tem uma boca que com certeza é uma delícia… Minha imaginação
cuidou do resto.
Fernando apenas responde o meu cumprimento, como os demais e
eu pego um prato para separar algumas coisas para mim.
— Suco de laranja ou café? — um outro rapaz me pergunta,
sorridente demais.
— O suco, por favor.
Procuro um lugar e me sento no balcão vazio.
Percebo que todos ficam um pouco tensos e surpresos com a minha
presença, mas só quero comer em um lugar que ninguém vai querer
conversar comigo. A não ser que seja o Fernando, mas duvido que ele
tomaria tal atitude.
Cada mastigada que dou, parece que um martelo bate com muita
força na minha cabeça, e por conta disso, não consigo comer tudo o que
coloquei no prato.
— Talvez você precise disso mais tarde! — Fernando aparece com
uma embalagem na mão, entregando-me algo. — É um dos doces que fiz
para o café da manhã.
Doce.
Palavra mágica que consegue mudar meu humor na hora que ouço.
Simplesmente amo doces em geral. Até mesmo uma bananada me
deixa muito feliz.
Pego a sacola e dou uma espiada. Tem três potinhos transparentes
tampados com o que parece ser a mesma coisa.
— Obrigada, Fernando! Isso com certeza vai ajudar na ressaca.
— Água também ajuda a melhorar — diz. — Ontem quando veio na
cozinha, dei essa mesma dica.
Ontem quando eu vim na cozinha?
Como assim?
— Eu vim aqui ontem? — pergunto um pouco mais baixo, me
sentindo levemente envergonhada por não lembrar disso. — Todos estavam
aqui?
Ele sorri e balança a cabeça negativamente.
— Já tínhamos encerrado o serviço, mas voltei porque esqueci meu
celular e te encontrei tentando achar um pouco mais do pato!
Pato?
Meu Deus, o que esse homem está falando?
Seguro na mão dele e saio, puxando-o para fora da cozinha, sem
nem pensar que as demais pessoas vão olhar e achar isso bem estranho, mas
preciso que me conte melhor o que fiz.
Quando paramos, ele não sabe se olha para as nossas mãos juntas ou
para mim. O solto, mas continuo em sua frente.
— Por favor, me diga que não fiz nada de absurdo!
Ele fica com o rosto levemente corado e não sei se isso é um bom
sinal.
— Na verdade, foi bem tranquilo, tirando o fato que você queria
mesmo comer o pato que já havia acabado e depois ficou mastigando gelo
porque não conseguiu abrir a garrafa de água.
— Ok, eu posso lidar com is…
— Você também disse que eu sou bonito, que a minha boca parece
macia e que não se importaria se eu te beijasse! — Sinto a vergonha dele
em contar essas coisas, mas minha reação é totalmente diferente e solto uma
risada alta.
Não costumo mais beber desse jeito, ainda mais em um dos meus
hotéis, mas ontem foi um dia atípico e aconteceu, não me arrependo. E nada
do que falei para ele foi uma mentira, mas sóbria eu não o faria.
Pelo menos não da forma bizarra que deve ter sido.
— Desculpa por isso, Fernando! Juro que não costumo ser dessa
forma, mas a bebida entra e algumas verdades saem.
E novamente estou flertando com o cozinheiro gato e novinho.
— Não precisa se justificar, Paola. Imagino que sua vida deve ser
absurdamente corrida, com muito trabalho… Às vezes é bom relaxar! E
você estava entre amigos. A Thaís até tentou te levar para o quarto, mas um
rapaz demorou muito para largar da boca dela e você estava cansada de
esperar.
Como que não lembro de nada disso?
Bem que dizem que o álcool apaga parte da sua memória depois que
o consome muito.
— Sorte que a fechadura abre só encostando o cartão, porque
duvido que se fosse de chave comum, eu teria conseguido. — Percebo que
ele morde as bochechas, segurando uma risada novamente. — O que você
ainda não me contou?
— Eu abri o quarto para você, mas pedi para que uma funcionária
que estava passando te ajudasse a deitar.
Certo.
Quantos outros indivíduos devem ter me visto nesse estado? Preciso
muito ver as câmeras de segurança desse fim de noite caótico.
— Acho que foi o destino tentando equilibrar as situações nas quais
nos encontramos, sempre com algum constrangimento! — digo — Tem
certeza que não quer aquele final de semana de graça aqui? Não sei como
agradecê-lo pela ajuda.
— Você já agradeceu, isso basta.
Bom, não é exatamente assim que funciona com as pessoas que
normalmente me cercam, elas sempre querem algo por uma ajuda que foi
dada.
— Não estou com o celular aqui, mas você pode anotar meu
número? — Ele confirma, mas fica esperando uma explicação. — Me
manda um “oi” e vou anotá-lo! Vou pensar em algo para te agradecer da
forma que merece — digo e ele anota, me mandando um emoji qualquer.
— Olha, realmente não preciso que me dê ou faça algo por mim por
ter lhe ajudado a chegar bem no seu quarto. — Ele guarda o celular e passa
a mão no cabelo. — Tenho uma irmã de nove anos, e faço com outras
mulheres, o que espero que um dia, se precisar, alguém faça por ela.
Isso foi muito fofo e bem maduro.
É inevitável, mas sempre vejo homens mais novos como
naturalmente imaturos, porque normalmente são. E não conheço o Fernando
o suficiente, mas acredito que se eu não soubesse sua idade, não daria
apenas 24 pra ele.
Pode ser coisa da minha cabeça, só porque o achei muito gato, mas
ele parece o tipo de homem que é cheio de camadas.
Talvez sejam camadas ruins, mas algo dentro da minha cabeça diz
que não.
— Você aparenta ser alguém muito interessante, Fernando.
— Não sou, sinto muito.
Essa frase saiu de uma forma pesada e até meio triste, e novamente
fico cheia de questionamentos, querendo saber o porquê ele acha isso.
Por que eu sou assim?
Ontem tive várias oportunidades para transar e beijar na boca, era só
ter dado continuidade nos flertes, mas simplesmente não quis. E agora estou
aqui, a fim de um cara quatro anos mais novo, que parece ser uma caixinha
de surpresas, que não está nem um pouco interessada em ser aberta.
— Só queria dizer que foi bem legal da sua parte se preocupar
comigo naquele estado! Acredite, infelizmente a maioria dos homens não
teria evitado entrar no meu quarto… Ainda mais depois que eu dei em cima
de você.
— Você estava bêbada, não foi sincero. E ainda que fosse, voltamos
para o primeiro quesito: você estava bêbada.
— Eu estava, mas nada do que falei foi mentira! — Os olhos dele
quase pulam para fora do rosto, mas Fernando tenta manter a postura. —
Quem sabe em um próximo encontro por aí, nossa conversa seja diferente.
Me despeço e vou para o quarto, sem nem dar tempo para que ele
me responda.
Se vou encontrá-lo novamente? Não faço a mínima ideia, mas vou
jogar essa questão para o destino.
Por mais que eu sempre vá direto ao ponto e não tenha problema
algum em chegar no homem que estou a fim, senti que isso não daria certo
com ele.
Talvez não termos ficado tenha sido o Universo me livrando de uma
furada… vai que ele não saiba beijar, ou pior, que transe mal.
Mas, se por algum motivo eu reencontrá-lo, vou acreditar que é um
sinal para descobrir o que ele tem atrás desse jeito fechado e mais sério.

◆ ◆ ◆

Uma reunião que deveria ter durado apenas 30 minutos, se estendeu


por quatro horas e estou puro mau humor.
É muito complicado lidar com pessoas, ainda mais quando elas
tentam me diminuir porque sou nova e sempre vista como a CEO que só
conseguiu o cargo por ser filha do dono.
Isso me irrita a níveis extremos, porque sei que sim, consegui a vaga
principalmente por ser filha do dono, mas não pela maneira que as pessoas
pensam. Meu pai vem me preparando desde que me entendo por gente. Não
de uma forma ruim e obsessiva, mas sempre que ele via uma mínima
possibilidade de eu ser a sua sucessora, dava o máximo de si para que eu
seguisse pelo caminho certo.
Fiz duas faculdades, tenho algumas pós, falo oito idiomas, fiz
incontáveis cursos, e desde os meus 16 anos, venho para essa empresa para
aprender com o melhor: o meu pai.
Mas a verdade é que me tornei muito melhor que ele nesse ramo, e
não falo de forma soberba, os números estão aí e não me deixam mentir. E é
exatamente por causa disso que fico tão irritada, porque não é como se eu
não fizesse nada, como se não trabalhasse duro.
Todo resultado é puro mérito meu, tanto que o meu velho se afastou
de vez quando viu que eu conseguiria liderar a empresa sozinha, sem que
ele tivesse que me ajudar.
Tenho tanto amor por tudo o que ele conquistou, e sei que nenhuma
outra pessoa se doaria tanto como me doo. E não vou deixar que me
diminuam, não depois de a cada ano sempre conseguir mostrar um
resultado melhor do que o anterior.
Podem falar o que quiserem, mas jamais poderão dizer que não fiz
essa empresa ser ainda mais conhecida.
— Querida? — Ouço a voz do meu herói e, na mesma hora, um
sorriso cresce em meu rosto. Ele entra na minha sala e me levanto, indo de
encontro a ele. — Você fica muito melhor nessa cadeira do que eu!
O abraço com força e depois sinto seus lábios tocarem a minha testa.
— A que devo a honra dessa visita ilustre?
Ele sorri e me chama para sentarmos no sofá, que fica perto das
enormes janelas de vidro, que trazem uma luz natural e gostosa para o meu
escritório.
— Sua mãe quer uma festa surpresa no aniversário dela.
— Ela pediu uma festa surpresa? — Ele concorda e rio, pois isso
não faz o menor sentido. — E claro que o senhor fará, né?
— E eu sei falar não para você ou para ela?
Tantos anos juntos e eles ainda parecem um casal jovem, cheios de
vida e dispostos a fazer de tudo um pelo outro.
Admiro muito isso neles.
— E o que precisa de mim?
— Na verdade, já resolvi quase tudo, mas preciso de ajuda com o
buffet e a lista de convidados. Tem aquelas amigas chatas dela lá, que não
tenho o contato.
Rio novamente, porque sei exatamente a quem ele se refere.
— Tem o buffet do casamento do Ian! O senhor gostou?
— Eu amei, querida. Você tem o contato?
— Tenho, sim! Quer que eu te passe?
— Na verdade, ia perguntar se não pode resolver essa parte, porque
nunca consigo escolher os doces certos.
— Posso cuidar disso! Só me passa o endereço, horário e que tipo
de decoração será, que escolho tudo para ficar bem harmônico.
— O que seria de mim sem o meu maior feito, hein? — Me abraça
novamente e olhamos juntos na direção da porta quando o Wilson nos
interrompe rapidamente para me entregar uma encomenda. — Não almoçou
ainda, filha?
É uma sacola do Costellazione, mas não pedi nada de lá. Na
verdade, nem sabia que tinha opção de entrega.
Abro e vejo que tem um papel com algo escrito.
“Segundas-feiras costumam ser difíceis, e diante da sua ressaca de
ontem, talvez ainda não esteja cem por cento. Fiz uma terrine de chocolate
e geleia de maracujá, espero que goste!”
Logo abaixo do recado vejo o nome do Fernando, mas a minha
mente buga porque não entendo a sacola. Será que ele já a tinha em casa e a
aproveitou?
Será que ele mora aqui perto?
Muitas perguntas pairam sobre meus pensamentos e minha vontade
é de ligar e tirar todas essas dúvidas, mas o doce está bonito demais para ser
ignorado.
— Come comigo, pai?
Assim que ele vê o que é, concorda na hora.
Meu velho é tão viciado em doces quanto eu. Lembro que ele
sempre levava um pedaço de bolo à noite para o meu quarto e nós
ficávamos lá, comendo e conversando sobre a vida.
Sinto falta da época em que morava com eles, e até cogitei voltar
depois que me divorciei, mas achei melhor viver nos hotéis por um tempo
até encontrar a minha casa ideal. E também, não queria que ele visse que a
sua filhinha não é tão inocente assim.
Seria complicado para o meu pai descobrir que dificilmente passo o
final de semana desacompanhada. Ele sabe que curto muito bem minha vida
de solteira, mas entre saber e ver tudo acontecer, existe um grande abismo
de diferença.
Nós comemos e não sei quem elogia mais a cada garfada.
Confesso que tudo que comi no final de semana estava muito
gostoso, e me pergunto se foi o Fernando quem fez ou se teve alguma
participação dele.
Ele, inclusive, conseguiu me pegar de surpresa com esse doce, foi
bem legal de sua parte, e de fato, minha segunda começou muito
estressante.
Papai conversa mais um pouco comigo e depois vai embora,
informando que hoje é o dia de golfe com os seus amigos.
Nos abraçamos novamente e ele sai. De dentro da minha sala, vejo
os seguranças dele seguindo-o pelo corredor.
Pego meu celular quando termino de comer o que restou do doce e
mando uma foto do recipiente vazio para o Fernando.
Eu: Se você queria deixar a minha segunda melhor, pode ter certeza
que conseguiu com maestria.
Vejo que ele está online e fico ali, olhando a mensagem e o
esperando me responder.
Fernando: Confesso que fiquei na dúvida se levava ou não, mas eu
já tinha feito, então deixei aí.
Ele quem trouxe?
Eu: Você mora aqui por perto?
Fernando: Não, mas trabalho de segunda a sexta no Costellazione.
Conhece?
Eu: Claro que sim, é meu restaurante favorito e vou aí toda
semana! Como que nunca nos vimos?
Fernando: Trabalho dentro da cozinha, Paola. Entro e saio pela
porta dos funcionários, nunca ando pelo salão.
Ah, faz todo sentido!
Nós trabalhamos muito perto um do outro, o que pode ser algo
interessante. Mas o Fernando é diferente, então preciso fazer a abordagem
certa.
Eu: O buffet é um trabalho extra?
Fernando: Sim, na verdade, foi a primeira vez que trabalhei com
eles, mas a Priscila disse que com certeza irá me chamar para outros
eventos.
Pretendo fechar com ela para sábado, no aniversário da minha mãe.
Seria legal se ele fosse, mas preciso evoluir um pouco nossa conversa até lá.
Eu: Isso é bem legal!
Eu: Não sou muito boa na cozinha, sempre tive cozinheiros, então
só sei pegar coisas prontas e esquentar.
Fernando: Nem um brigadeiro?
Eu: Tentei uma vez e ficou tão duro que tivemos que jogar fora o
prato e a colher, porque o doce não soltava nem com reza forte.
Eu: E eu amo brigadeiro!
Fernando: Humm, bom saber então, já anotei.
Eu: Está tentando me conquistar pela barriga, Fernando?
Fernando: Isso daria certo?
Eu: Com certeza!
Fernando: Então eu estou sim!
O quão patético é eu ficar animada com isso que ele acabou de
falar?
Porque eu fiquei bastante, ao ponto de levantar da cadeira e começar
a andar pela sala enquanto releio as últimas mensagens.
Eu: Me convidar para te assistir cozinhar é muito abusado da
minha parte?
Ele demora mais para responder essa mensagem. O “digitando” fica
eternamente aparecendo e fico com medo de chegar um textão como
resposta.
Fernando: Você tem sido extremamente gentil comigo, então acho
que merece a minha sinceridade. Não me sinto à vontade para levar
alguém à minha casa, mas te garanto que não é algo pessoal.
Isso me deixa ainda mais curiosa, mas não vou insistir.
Eu: Na minha tem uma cozinha megacompleta! O que acha?
Fernando: Eu poderia ser um serial killer.
Eu: Tenho doze seguranças na minha residência, câmeras, alarmes
e botões de emergência espalhados por todos os cômodos… Isso te deixa
mais tranquilo para não tentar me matar?
Fernando: Certo!
Fernando: Posso usar as facas só para cozinhar, então.
Isso foi um sim?
Isso com certeza foi um sim!
Me sinto uma grande vitoriosa por ter feito o convite e ele ter
aceitado.
Existe a possibilidade disso ser um caos e ficarmos sem saber o que
falar um com o outro? Sim. Mas realmente estou curiosa sobre quem é o
Fernando, e o porquê desse meu interesse incomum.
06

— Leva camisinha — JP fala, deitado na minha cama com um


pirulito na boca. — Ninguém convida outra pessoa para a sua casa sem
interesse de foder.
Paro de arrumar as roupas que tirei da corda e o encaro, me
perguntando por que esse cara é meu melhor amigo.
Nós somos totalmente diferentes.
Ele é pegador, vive em baladas, deve ter uns cem amigos em cada
bairro do Rio de Janeiro e tem uma condição financeira muito boa.
Ah, e ele faz medicina.
— JP, eu não sei por que te conto as coisas!
— Porque no fundo você quer os meus conselhos.
— Claro, igual da vez que fui ficar com a Maria e você disse para eu
trocar uma ideia com ela sobre a possibilidade de um sexo a três com a
amiga dela.
Ele ri alto ao me ouvir e se senta, ficando animado.
— E no final quem conseguiu transar com as duas juntas? Eu! —
Ele nunca, nunca mesmo, vai me deixar esquecer disso.
Maria é uma amiga dele e alguém que fico de vez em quando, desde
a época do Ensino Médio. Ela é gente boa, transa bem e é legal para trocar
uma ideia.
Mas é só isso também.
Teve uma época em que ela veio com um papo de namoro, tentar
algo sério e fiquei confuso, porque normalmente ela finge que não me
conhece quando estamos na frente de certos amigos dela.
É, Maria tem vergonha de assumir para as demais pessoas que fica
com um homem pobre.
E fiquei pensando: como seria esse namoro?
Mas de qualquer forma, isso não iria acontecer, não tenho esse tipo
de sentimento por ela e nem nunca tive por ninguém. Só quando era bem
novinho que tive uns crushes por umas meninas mais velhas da escola.
— Tá bom, João Pedro! Todo mundo já sabe que você ganhou o
cinturão por ter transado com duas ao mesmo tempo.
Ele finge que está limpando um cinturão imaginário.
Coloco minhas roupas na cômoda e depois o expulso da cama para
poder trocar os lençóis.
— Nandinho, escuta o que eu tô falando: ela quer transar, sexo
louco, selvagem, tapa e puxão de cabelo.
— E você adivinhou isso tudo através da sua telepatia?
Ele ri e me ajuda a esticar o lençol que fica soltando de uma ponta
quando encaixo a outra.
— A mulher tem 28 anos, é bilionária e está te chamando para a
casa dela! Tu acha que ela quer assistir filme, cara? Comer brigadeirinho e
te conhecer melhor?
E é pensando nisso que já cogitei mil desculpas para cancelar.
Não estou conseguindo entender esse interesse da Paola por mim,
não faz o menor sentido.
Ele pega o celular e mostra o Instagram dela.
— Você está com a faca e o queijo na mão, a mulher é gostosa pra
caralho! Qual é o seu problema? — faz a pergunta pausadamente, olhando
na minha cara como se eu fosse um doido.
— Eu nem sei o porquê aceitei ir até lá!
JP esfrega o rosto, agoniado.
— Pelo amor de Deus, Fernando! Parece até que você não tem uma
vida sexual ativa, que não se envolve com outras mulheres…
— Não a porra da mulher que está na Forbes Under 30, que não
deve escovar os próprios dentes sozinha e que provavelmente tem o boxe
do banheiro maior que a minha quitinete.
Ele fica quieto depois de me escutar e arrumo a colcha da cama,
também em silêncio.
Hoje é quarta-feira, meu dia de folga. Não tenho nem curso e nem
trabalho, o que é ótimo para colocar em ordem as coisas aqui em casa.
Meu melhor amigo sempre aparece por aqui, inclusive tem uma
chave e às vezes vem pra cá até quando não estou.
João Pedro mora em um condomínio bom, mas ainda convive
debaixo do teto dos pais, que são megaprotetores e cuidam dele como se
ainda tivesse dez anos.
— Você está inseguro! — fala do nada, mesmo depois de eu ter
achado que o assunto já tinha morrido. — Tá tudo bem, acho que eu
também ficaria.
Não o respondo, não quero prolongar ainda mais esse assunto.
Mil vezes me imaginei tendo a chance de reencontrá-la em um
momento diferente da minha vida e a conquistando. É patético, mas de
alguma forma, ela me marcou naquele dia, então muitas vezes isso passou
pelos meus pensamentos.
Mas era diferente, pois eu sabia que as chances de acontecer eram
mínimas.
Meu telefone começa a vibrar em algum lugar e o encontro perto da
pequena mesa em que faço minhas refeições.
É a minha irmã.
— Nadooooo! — ela diz animada do outro lado do vídeo. — Olha o
que fiz na escola hoje.
Flavinha nem me dá tempo de responder e já vai mostrando sua
atividade, inclusive a nota que tirou com o recadinho da professora.
Minha pequena é muito inteligente, sempre é elogiada e tira notas
incríveis.
É o meu orgulho!
— Parabéns, minha princesa!
— Quando vem me ver? Sabia que eu tenho cinco batons agora?
Você não viu nenhum ainda!
Oh, meu pai!
Batom? Não é cedo demais para isso?
Ainda não estou pronto para vê-la se tornando uma mocinha, quem
dirá uma adolescente. O tempo passa rápido demais, e o medo de não ser
próximo o suficiente me consome todos os dias.
No meu sonho perfeito, as duas estariam mais perto de mim. Queria
poder estar ao lado da minha mãe, contribuindo na educação da minha irmã
e sendo o primeiro melhor amigo dela. Mas a vida não funciona da forma
que queremos, e tragédias acontecem.
— Prometo que vou o mais breve possível, tá bom?
— Jura de dedinho? — Ela levanta o dedo mindinho e faço o
mesmo.
— Juro!
Flávia tem os cabelos cacheados em um tom quase loiro, os olhos
verdes iguais aos do nosso pai e a pele bem clara como a minha. Somos
bem diferentes, já que puxei mais a nossa mãe, mas nosso sorriso é o
mesmo.
— Te amo, irmãozão!
— Te amo, irmãzinha!
Sempre nos despedimos assim, e depois que a tela volta a ficar
preta, já sinto uma saudade absurda dela.
Termino de arrumar minha casa, o que não leva muito tempo porque
é bem pequena, tendo só o banheiro, o quarto e a cozinha, que são
separados por uma meia-parede.
O aluguel é barato e me atende bem. A quitinete fica em uma vila
familiar repleta de vários outros imóveis como o meu.
Aqui do lado, a vizinha mora com o marido e dois filhos, e fico
tentando entender como eles conseguem fazer isso dar certo, mas na
necessidade, sempre conseguimos dar um jeito para esse tipo de coisa.
Além do JP, minha mãe e a Flavinha, nenhuma outra pessoa entrou
aqui. Não tenho vergonha, mas não acho confortável para uma visita. Além
da pequena varanda lá na frente, onde tem dois banquinhos de plástico, não
teria outro lugar para a visita se sentar.
E não é como se eu tivesse muitos amigos mesmo, então
normalmente não passo por nenhuma situação chata de ter que desconversar
sobre a possibilidade de quererem vir aqui.
O João já é de casa, não me importo que venha.
— Já tá na hora, Nandinho! — ele fala enquanto pega a carteira,
celular e a chave do carro. — Precisamos chegar lá em 40 minutos, sabe
que o processo é chatinho para você entrar.
Concordo e troco de roupa bem rápido.
Pego a sacola com as vasilhas de comida que já havia deixado
separada e saímos da vila, que não tem entrada para carros, indo até onde
meu amigo estacionou.
Fico o ouvindo contar sobre a professora que está se envolvendo, e
sobre a aluna nova, a vizinha do andar de cima, a amiga da mãe dele… JP
com certeza já perdeu as contas de quantas mulheres transou.
— Mas a amiga da minha mãe esconde muita coisa nas roupas de
madame que usa — diz animadíssimo.
Se a dona Rosana descobre isso, ele provavelmente será um homem
morto, porque lembro muito bem dela deixando claro para ele, por várias
vezes, que as amigas dela e qualquer prima dele, são territórios totalmente
proibidos.
E João já invadiu todos esses.
Acho que é por isso que a maioria das pessoas não entendem o
porquê de sermos amigos. Eu sou sempre quieto, reservado e na minha,
enquanto ele gosta de ser o centro das atenções por onde passa.
E normalmente consegue.
JP é ainda mais alto do que eu, é bem musculoso e tem uma lábia
que parece ser muito boa.
Nunca o vi levar um fora.
Aumento a música que está tocando no rádio e automaticamente
faço os movimentos com as mãos e os dedos, como se estivesse com o meu
violão.
Vendi há muito tempo, quase tudo que eu tinha de alto valor. As
únicas coisas que me dei o luxo de ficar foram meu violão e a guitarra.
Paramos o carro o mais próximo possível do lugar em que vamos, e
como sempre, meu amigo vem comigo, mesmo que fique do lado de fora.
Ele faz isso para me apoiar nesse momento que sempre me deixa muito
mal.
Vejo que tem uma pequena fila na minha frente, ainda do lado de
fora, onde tem alguns seguranças armados olhando o documento das
pessoas.
JP se despede de mim e diz que ficará na lanchonete do outro lado
da rua, como sempre.
Mostro minha carteira de visitante e a identidade, então o segurança
me libera e caminho até o setor em que é feita a revista das coisas que eu
trouxe e também em mim. Vou para uma sala separada, junto com um
agente penitenciário e faço tudo o que pede enquanto ele me esquadrinha.
Antigamente ficava megaconstrangido com essa parte, mas hoje já
me acostumei.
Minutos depois sou liberado, pego as vasilhas com as comidas e
uma sacola com itens de higiene pessoal e vou até o cômodo enorme, que é
cheio de mesas para que os presos possam receber o visitante.
Avisto meu pai rapidamente, que como de costume, está com o
cabelo bem baixinho, mas que ainda assim deixa à mostra os fios brancos
que antes não existiam ali.
— Nandinho! — Ele se levanta ao ver que me aproximo e seus
braços envolvem o meu corpo com força. Infelizmente seu cheiro não é o
mesmo, mas ainda é o meu pai. — Sempre tenho a sensação de que se
passaram anos desde a última vez que o vi.
Coloco as coisas em cima da mesa depois que nos afastamos e me
sento de frente pra ele.
— Como você está, pai?
É inevitável, mas sempre olho para o seu corpo, preocupado com a
sua integridade, porque no início ele apanhou muitas vezes, mas com o
tempo, parece que as coisas ficaram mais tranquilas aqui dentro.
— Bem, na medida do possível. — Ele sorri, mas o sorriso não
chega até os olhos. — Como está sua mãe e a Flavinha?
Entrego uma foto pequena da minha irmã, no estilo 3x4.
Seus olhos ficam marejados, mas ele tenta disfarçar.
— Elas estão bem, pai! Com saudades do senhor também.
Também coloco em cima da mesa algumas cartas que minha mãe
escreveu nos últimos tempos. Ela sempre tenta atualizá-lo de tudo assim, já
que só vem na delegacia uma vez por ano.
Conversamos um pouco, conto como tem sido minha vida e a todo
momento deixo claro como eu queria que ele estivesse conosco.
— Estou juntando dinheiro para um advogado bom, pai — confesso.
— Não gaste seu dinheiro com isso, filho. Não vale a pena.
— Pai, o senhor está preso há nove anos por um crime que não
cometeu! Não é justo que pague.
Ele suspira e alisa o rosto, deixando claro que já aceitou a derrota.
Mas eu não, e o tirarei daqui, nem que isso seja a última coisa que
eu faça na vida.
Minha vida virou um inferno desde meu aniversário de 15 anos.
Vivo um pesadelo diariamente sabendo que ele está aqui, passando por essa
experiência que o mudará para sempre.
Ele já não é o mesmo há muito tempo.
E sinto que vou o perdendo mais a cada dia.
Papai segura minhas mãos e olha fundo em meus olhos.
— Filho, eu amo vocês mais que tudo no mundo, e quero que vivam
as suas vidas, sem se preocuparem comigo aqui dentro. Não gaste seu
tempo e energia tentando resolver isso, não tem jeito! Quem me colocou
nessa, deve ter contatos grandes.
Nós tínhamos uma boa poupança, que ele guardava para a minha
faculdade e também para a da Flavinha, assim que descobriu que teria mais
uma filha. E gastamos ela toda com advogados.
Foram cinco, e todos eles desistiram do caso do nada, levando
embora todo o investimento que fizemos.
Concluímos que eles ou foram ameaçados ou foram comprados por
alguém.
Só que conheci um advogado muito bom, desses que entra em casos
perigosos sem ter medo de bater de frente com pessoas de poder.
É um desse que precisamos, mas ele é muito caro.
Já tenho um bom dinheiro guardado, mas ainda não é o suficiente.
Talvez agora, fazendo uns bicos e trabalhando no Costellazione, eu consiga
juntar uma quantidade maior em menos tempo.
— Só quero o senhor em casa novamente — respondo.
— A minha casa é no coração de vocês, Nandinho! Não tem um
único momento do dia que eu não esteja pensando na minha família, na
sorte que tive de poder estar ao lado de vocês pelo tempo que pude.
Merda.
A vontade de chorar me sufoca a garganta, mas tento me controlar.
Um agente informa que a visita acabará em cinco minutos, e
falamos o que precisamos nesse tempo, até que ele tenha que levantar e ir
embora.
Dou mais um abraço no meu velho, sem saber quando conseguirei
vê-lo novamente e o vejo ir embora, de volta para o inferno que é a sua vida
atualmente.
Saio do presídio e JP vem na minha direção, mas não fala nada,
apenas vamos até o seu carro e ele dirige para onde moro, deixando-me na
frente da vila.
— Sinto muito por tudo isso, irmão — diz antes que eu saia do
carro.
— Eu também sinto! Obrigado por ter ido comigo mais uma vez,
vou ser grato até depois da morte.
— Nós somos família, Nandinho! Estou aqui por você, sempre.
Agradeço ao meu amigo mais uma vez e entro em casa, desesperado
para tomar um banho e tirar do meu corpo o cheiro daquele lugar.
Me esfrego tanto, que sinto minha pele ardendo, mas só finalizo
depois de me certificar que cada parte do meu corpo foi lavada.
Seco meu cabelo, enrolo uma toalha na cintura e deito na cama,
ligando a TV em qualquer canal. Pego meu celular para mexer em algo e
me distrair.
Entro no Instagram e vejo que alguém me mandou solicitação de
amizade.
Paola Santana.
Eu já tinha fuxicado o perfil dela depois do final de semana, e é bem
capaz de ela ter visto meu rosto nas visualizações dos stories.
Aceito e a sigo de volta.
Rolo pelo feed e curto uma foto dela em uma fazenda, em cima de
um cavalo. Seu sorriso está deslumbrante e os cabelos estão voando,
provavelmente por conta do vento.
@santana.paola: Curtindo foto antiga? Esse truque é bem velho!
Ela manda essa mensagem e respondo na mesma hora.
@fer.nandocouto: Não resisti!
Logo em seguida, aparece que recebi três curtidas dela, e vejo que
duas foram em vídeos em que toco violão e guitarra, e a outra foi com a
minha irmã.
@santana.paola: Flerte devolvido, Fer.
@santana.paola: Seu apelido é esse?
@fer.nandocouto: Fer? Não! É Nando, e as pessoas mais próximas
me chamam de Nandinho!
@santana.paola: Você é grande demais para um apelido desse.
Prefiro Fer! Algo contra ser chamado assim?
Porra, ela pode me chamar do que quiser que não irei me importar.
@fer.nandocouto: Fica à vontade, vou gostar de qualquer forma!
@santana.paola: É surpreendente quando você tem esses
momentos em que fica mais relaxado na conversa!
@fer.nandocouto: Mérito todo seu, não costumo ser assim!
Ela não responde mais depois dessa mensagem e fico me
perguntando se falei algo demais, mas acho que não.
As conversas com Paola têm sido momentos de alívio para a minha
cabeça que está sempre preocupada com algo, e isso é bom.
@santana.paola: Tá de bobeira? Estou saindo do trabalho agora e
pensei em tomar uns drinks! Topa?
Começo a digitar uma desculpa, porque hoje não é um dia muito
bom, mas apago e respondo outra coisa.
@fer.nandocouto: Topo! Me diz o lugar e te encontro lá.
Ela me manda o endereço e vejo que não é muito longe daqui. Tem
um ônibus que passa na principal e me deixa na esquina com esse bar.
Priscila me deu trezentos reais a mais pelo meu serviço do final de
semana, porque Paola deu um bônus pelo trabalho impecável e ela dividiu
com todos da cozinha.
Não tinha a intenção de usá-lo, mas talvez uns cem reais não
desfalque tanto, já que era um dinheiro que eu não estava esperando
receber.
Me levanto e procuro uma boa roupa para ir até lá, tentando não
pensar no lado negativo de estar indo tomar uns drinks com uma bilionária.
07

Chego no bar e espero Fernando por uns 20 minutos. Nesse meio-


tempo até penso que ele não virá mais, mas o vejo entrar e me procurar
enquanto mexe em seu cabelo liso, que por sinal, parece ser bem macio.
Seus olhos azuis se estreitam ao me ver e ele vem até a mesa em que
estou, em uma parte mais reservada, onde os seguranças conseguem ficar
disfarçados sem que eu pareça a filha de um rei cercada de guardas.
— Pensei que não viria — digo e me levanto para cumprimentá-lo.
Sou pega de surpresa quando o sinto encaixando a mão em minha
cintura ao mesmo tempo que apoio uma das minhas para beijar o seu rosto.
Essa mão deve ser ótima para dar uns tapas!
— Não faria isso com você — responde e se senta na minha frente.
— O ônibus demorou um pouco.
Fernando está de calça jeans escura, uma camisa lisa e casaco de
couro preto. O look combina com ele.
— Então te dou carona para sua casa!
— Vai dirigir? — Aponta o queixo na direção do meu copo de gin
pela metade.
— Não, um dos meus seguranças fará isso!
Concorda com a cabeça e depois olha ao redor, tentando achá-los no
meio das pessoas.
Seus dedos batem na mesa, mas sem emitir som e sinto que ele ficou
desconfortável.
Será que falei algo errado?
— Está tudo bem? Olha, se eu estiver sendo insistente, por favor,
me diga. Não quero me parecer com esse tipo de pessoa que normalmente
abomino.
Ele passa a mão no queixo e depois me olha fixamente, respirando
pausadamente antes de falar:
— Não quero soar como um homem inseguro, mas não estou
entendendo seu interesse em mim.
Sinto minhas sobrancelhas quase se unirem ao ouvi-lo falar isso.
— Você é bonito, solteiro e me atraiu! O que não entendeu?
— Paola, eu sou pobre! Tipo, muito pobre mesmo. Moro em uma
quitinete na vila, compro roupa quando as que tenho começam a rasgar, não
ando de Uber nunca porque sempre penso quantas passagens de ônibus
poderia pagar com o dinheiro da corrida, e tenho agora o maior salário que
já tive em toda minha vida: dois mil e quinhentos reais. — Ele solta todas
essas informações de uma vez. — Não tenho vergonha da minha condição,
mas existe um abismo infinito entre a sua realidade e a minha!
Bebo um pouco do meu drink para conseguir digerir tudo, e ainda
assim fico um tempo sem conseguir respondê-lo.
Como assim, não tenho uma resposta na ponta da língua?
— Fer… fiquei intrigada contigo desde o momento em que te vi no
resort. Me interessei bastante, e o fato de você não ter correspondido, me
deixou querendo ainda mais. Sabe aquilo de querer quem não nos quer? —
Ele faz que sim com a cabeça. — Então… foi isso. Estou acostumada com
os homens disputando minha atenção, e você não fez questão, até mesmo
fugiu de mim. Sua condição financeira não me importa.
Realmente não importa para mim.
Não sou imbecil, na primeira vez que nos falamos, já sabia que ele
era de uma classe social distante da minha. Só não imaginei que isso seria
um problema pra ele.
— Só queria que tivesse conhecimento da minha realidade, caso nos
tornemos bons amigos — responde.
Um sorriso toma conta dos meus lábios sem que eu consiga me
controlar.
— Bons amigos? — Ele concorda. — Inicialmente, gosto dessa
ideia.
— E o que quer dizer com isso?
— Quero te conhecer e descobrir o porquê estou intrigada assim, até
porque, isso não é algo normal para mim. Mas gosto da ideia de podermos
mudar esse status em algum momento, se necessário.
Dessa vez é ele quem sorri.
E é um sorriso malicioso, que esquenta meu corpo e me acende
inteira.
— Fique à vontade para alterar nosso status.
A voz dele ficou mais rouca e sensual para um caralho.
Pelo amor de Deus! Quem foi que desligou o ar desse bar? Não é
possível que só eu esteja sentindo esse calor de 40 graus.
Fernando desencosta do estofado da cadeira e tira a jaqueta,
colocando-a sobre o braço do móvel.
É… definitivamente, não sou apenas eu que estou sentindo calor.
E agora tenho uma vista privilegiada do seu corpo sem tantos
tecidos por cima: a camisa é ligeiramente apertada no seu peito largo, ao
ponto de ficar visível a definição daquela parte, e os braços também são
fortes e definidos.
Com certeza ele tem força o suficiente para me carregar!
— Prefere que eu coloque a jaqueta de novo?
Adoro o Fernando que flerta e que fica mais à vontade comigo.
— Eu preferia que tirasse a camisa, mas acho que o bar não permite.
Sua risada alta é bem gostosa e ele mexe no cabelo mais uma vez.
Deve ser uma mania, já que os fios são ligeiramente grandes e ora
ou outra cai em sua testa.
— Não vai beber nada? — pergunto ao perceber que até agora não
pediu nada. — Vamos combinar uma coisa? — Ele apoia os antebraços na
mesa, ficando com o rosto mais próximo para ouvir atentamente. — Quem
convidar o outro para sair, paga a conta! Assim eu saberei aonde posso te
levar e você também.
Ele pondera um pouco e depois concorda.
Chamo o garçom, pois minha bebida já acabou e ele aproveita e faz
um pedido.
Caipirinha.
Não sei se é o que ele realmente quer ou se escolheu por ser o drink
mais barato do cardápio, mas não vou contestá-lo quanto a isso.
Começo a perguntar um pouco sobre a vida dele e percebo que é um
filho muito amável e um irmão apaixonado pela caçula.
— Eu sou filha única — digo. — Minha mãe quase morreu quando
me teve, e acho que isso deixou meus pais um pouco traumatizados.
— Vocês se dão bem?
— Sim, muito! Eles são incríveis e temos uma relação ótima, mas
meu pai é a minha pessoa favorita no mundo, não tem nenhum defeito.
Ele sorri enquanto me ouve.
— Espero que não se importe, mas acabei pesquisando sobre você!
— Não me importo, eu faria o mesmo se estivesse saindo com
alguém conhecido. E descobriu algo interessante?
— Na verdade, fez parecer que você é uma mulher que apenas
trabalha e não curte a vida — diz. — Até tinha fotos suas em vários
eventos, mas nada que mostrasse que de fato estava curtindo.
Sorrio.
Só eu sei quantos repórteres já tive que molhar a mão para não soltar
algumas fotos comprometedoras.
Nenhuma era tão escandalosa, mas muitas vezes me empolguei e
fiquei com alguns famosos em eventos badalados.
E se tem uma coisa que não me agrada de jeito algum, é ser
vinculada a essas pessoas, porque eu deixaria de ser a Paola Santana para
ser a “mulher que ficou com fulano de tal”.
— Paolinha! — Gael vem falar comigo e está acompanhado da sua
nova secretária. — Boa noite!
Ele cumprimenta o Fernando, que é educado e fala com ambos.
— Fer, esse é o Gael, o engenheiro da minha empresa! E a ruiva
tímida e linda é a secretária dele. — Ela sorri com o elogio.
— Podemos nos juntar ou isso é um en…
— Sim, é um encontro — respondo rápido e isso faz com que ele dê
uma nova analisada no Fernando e depois se retira, pedindo licença. — Ele
é meu ex-marido também.
O moreno concorda.
— Eu lembro dele!
Lembra dele?
— Das pesquisas?
— Humm… bom, se estamos nos tornando amigos, acho que a
sinceridade deve ser um ponto alto. — Concordo. — Nove anos atrás, nos
vimos pela primeira vez!
O que ele está falando?
Não estou entendendo nada.
O garçom traz uma terceira rodada da minha bebida e a segunda
caipirinha dele.
— Preciso de mais informação do que isso!
— Talvez não se lembre, mas você deu uma carona para mim,
minha mãe e a Flavinha, minha irmã. Meu pai tinha acabado de ser preso no
meio da rua, na frente de todo mundo.
Ai, meu Deus!
É claro que lembro.
Fiquei meses pensando naquela família e me perguntando o porquê
de não terem ligado depois que ofereci ajuda.
— Não estou acreditando que aquele garotinho era você! — Ele
concorda. — Que mundo pequeno.
Fico com vontade de perguntar o que aconteceu com o pai dele
depois de tudo, mas não quero que nosso rolé se torne algo ruim com
assuntos pesados.
Mas foi legal ele ter contado, é bom saber que poderemos contar
com a sinceridade do outro.
Quanto mais vamos bebendo, mais os assuntos vão fluindo! Já tirei
meu blazer e prendi o cabelo em um rabo de cavalo.
— Sabe uma maneira muito adolescente, mas ótima para
descobrirmos coisas sobre o outro? — Ele fica esperando que eu responda
minha própria pergunta. — Eu nunca! Conhece?
— Claro que sim! Já estamos nesse nível de perguntar putaria?
Fernando está levemente alterado e já notei que isso o deixa mais
solto para falar as coisas e depois não ficar corado de vergonha.
Preciso lembrar de sempre andar com uma minigarrafa de qualquer
álcool na bolsa, para conseguir deixá-lo assim.
— Eu sou curiosa, e essa é uma maneira de apenas falarmos sim ou
não e deixar a mente do outro criar mil possibilidades!
— Tudo bem, mas talvez você se decepcione!
Fico animada e quase dou uns pulinhos na cadeira. O moreno ri com
a minha reação e pego meu celular, porque claramente tenho um aplicativo
desse joguinho.
E nada melhor que as perguntas que já vêm nele.
Nem só de trabalho vive uma jovem de 28 anos. Às vezes é bom
lembrar que ainda sou nova e me dou ao luxo de viver como minha idade
permite.
Coloco na opção de +18 e espero a primeira pergunta aparecer.
— Eu nunca transei com mais de cinco pessoas em toda a minha
vida!
Ele não bebe, eu sim.
Com certeza foram bem mais que cinco, bem mais mesmo.
— Eu nunca encontrei com alguém do Tinder.
Nós dois bebemos.
— Eu nunca fiquei com alguém do mesmo sexo.
Apenas eu bebo.
— Eu nunca usei uma fantasia ousada.
Dou até mais de um gole, porque se tem uma coisa que gosto, é de
usar fantasia.
Fernando engole em seco, e tenho certeza que a cabecinha dele já
está imaginando várias coisas.
E é exatamente isso que quero.
Qual a graça de estar em um encontro e não levar o homem à
loucura? Mesmo sabendo que não passaremos a noite juntos, tenho certeza
que minha imagem ficará na cabeça dele… nas duas cabeças,
provavelmente.
— Eu nunca fiz vídeo íntimo com um parceiro.
Nós dois bebemos.
Porém minha boca se abre em completo choque, porque não
esperava por essa resposta dele.
— Mentira que você fez isso — digo e ele ri, concordando. —
Merda, fiquei com vontade de assistir.
— Use a imaginação… não foi isso que me disse antes de
começarmos?
Touché.
Preciso controlar minha vontade de subir nessa mesa e beijar a boca
desse homem! Pois a cada hora que passa, ele vai ficando mais solto e mais
sexy.
Muito mais do que pensei que seria.
— Eu nunca pratiquei BDSM.
Nós dois bebemos.
Ele vira o copo.
Fernando simplesmente bebe todo o conteúdo e sinto que minha
boceta é uma cachoeira tendo uma queda d’água!
Me abano, sem me preocupar que saberá que estou excitada e o
bonito ri, achando graça da minha situação.
— Quem inventou de brincar disso? Foi uma péssima ideia! — digo
e ele morde o cantinho da boca. Acho que nem percebe o que faz. — Sério,
Fernando… você conseguiu me enganar com esse jeito mais na sua.
— Não é porque não sou um cara atirado, que não vivi bastante…
Também sou curioso, gosto de aprender coisas novas, em todos os sentidos.
Se eu tentar arrastá-lo para o banheiro, será que ele vai?
— Pelo visto, você é uma caixinha de surpresa.
— Digo o mesmo de você, Srta. Santana, CEO da famosa rede de
hotéis e resorts. — Pisca para mim. — Eu chutaria dizer que você tem duas
facetas: a profissional séria e responsável, e a mulher de 28 anos que quer
curtir as coisas boas da vida, sem se arrepender de não ter feito algo.
Acho que ninguém nunca me definiu tão bem como ele acabou de
fazer.
— Eu gostei de você, Fer! Definitivamente, você é muito mais do
que deixa transparecer para as pessoas.
Ele sorri de uma forma diferente e é um sorriso muito bonito.
E não consigo lembrar qual último encontro foi tão divertido e
descontraído quanto esse está sendo.
08

O início do curso de culinária está sendo bem fácil, já que a


introdução à cozinha é algo que já tenho certo conhecimento, mas ainda
assim faço questão de prestar atenção em cada coisa que o professor está
falando.
Para a minha sorte, todo o material e uniforme já estão inclusos nas
parcelas que o restaurante paga para mim, assim evito maiores gastos.
— Não lembro se já perguntei, mas algum de vocês já têm
experiência profissional na cozinha? — ele pergunta e além de mim, outras
quatro pessoas levantam a mão. — Isso é bom, porém agora ficarei de olho,
hein — fala em um tom descontraído.
Não sou o melhor em retribuir esse tipo de brincadeira, mas ao
menos sorrio para não parecer que achei ruim.
Apesar de ser recente, a experiência de estar estudando novamente,
com certeza está sendo absurdamente diferente do que foi na época da
escola.
Aqui todos são adultos e tentamos nos ajudar, ainda mais os alunos
que de fato não tinham familiaridade nenhuma com a cozinha.
Até fizeram um grupo no WhatsApp e me colocaram.
Já falei lá? Não! Mas fico de olho, para ver se tem algum assunto
que possa me interessar.
A aula termina e o professor informa o cronograma da próxima
semana, bem como os materiais que devemos trazer e os livros que seriam
bons de lermos para termos uma ideia do que faremos.
Dou um tchau para todos e vou até o vestiário trocar de roupa.
Cada aluno tem um pequeno armário, e aproveito para deixar todas
as facas aqui, prefiro evitar qualquer tipo de problema no transporte
público. Também deixo meu celular aqui enquanto estou na aula.
Dou uma olhada e vejo que tem mensagem da minha mãe e também
da Paola.
E falando em Paola… porra, que mulher é essa?
Sendo bem sincero, ainda não sei o que se passa na cabeça dela para
ter esse interesse em mim, mas como o JP sempre diz, vou aproveitar a
oportunidade sem ficar procurando o lado negativo.
Ela quer me conhecer e ficar comigo? Ótimo! Com certeza isso não
tem como ser algo ruim para mim.
E, por conta disso, baixei todas as minhas barreiras para ela, mesmo
sabendo que isso não vai dar em nada além de alguns encontros.
Paola tem alguma coisa que me faz ser sincero e o mais transparente
possível, com absolutamente tudo.
A sensação que tive ao estar com ela, foi de estar em uma história
que não é minha, como se eu estivesse lendo um livro e tentando me
colocar no lugar do mocinho sortudo.
Quais as chances de uma mulher linda, divertida, inteligente, rica e
absurdamente carismática estar a fim de mim? Pois é, nenhuma.
Porém, eu seria idiota demais de deixar essa oportunidade passar.
Pelo menos no futuro isso pode se tornar uma ótima lembrança.
Destravo o celular e leio a mensagem dela.
Paola: Acredita que esse é um dos meus programas favoritos?
Embaixo da mensagem tem uma foto com uma televisão enorme
passando MasterChef.
Eu: Temos algo em comum, pelo visto!
Largo o telefone dentro do armário para poder tirar essa roupa suja e
coloco-a dentro da mochila, já vestindo outra camisa para ir embora.
Já passa das 22 horas, e isso significa que terei que ir de van para
conseguir chegar em casa em um horário razoável e descansar o suficiente.
Meus próximos meses serão bem agitados, porque o curso e o
restaurante irão tomar todo meu tempo, mas é por um ótimo motivo. Só
preciso conseguir encaixar meus treinos em algum momento.
Treinar me ajuda a manter a sanidade, assim como tocar violão e
guitarra.
Uma galera também está saindo e acabo indo na mesma direção que
duas pessoas da minha turma.
— Fernando, né? — A ruiva que sei que se chama Bárbara, pergunta
meu nome e confirmo. — Você também mora no Catete, né? Pegamos a
mesma condução esses dias.
— É, moro lá sim.
Ela sorri e nós três andamos até o ponto em que as vans param. A
outra menina, que não lembro o nome, pega uma que vai para o Vidigal e
nós dois ficamos esperando pela nossa.
Fico grato por ela não tentar puxar assunto enquanto estamos ali,
mas acabamos sentando lado a lado ao entrarmos. Já pego meu celular, na
intenção de manter o silêncio entre nós.
— Sua namorada? Que linda! — diz quando vejo a foto da Paola
que estava passando no storie dela. E, pelo visto, minha tática não deu
certo.
— Não, é só uma amiga.
— Não acredito em amizade entre homens e mulheres.
É, ela quer conversar.
— Nunca teve um amigo homem? — pergunto, aceitando minha
derrota.
— Já, mas aí a gente transou! Tentei amizade com mais dois outros
que pareciam querer só amizade mesmo, mas nos pegamos também.
Pisco algumas vezes, porque não estava esperando por esse tipo de
detalhe.
— Bom, não tenho muita experiência em ter amizade com mulheres,
só tenho um amigo.
— Você não acabou de dizer que ela é sua amiga?
Ah, ela está atenta mesmo.
— Não somos amigos, só falei porque achei uma resposta mais
prática!
— Então vocês ficam?
Que mulher curiosa, meu Deus!
— Estamos nos conhecendo, eu acho.
Parece que ela se dá por satisfeita com essa resposta e fica quieta de
novo, até acho que acaba cochilando porque encosta a cabeça no banco e
fecha os olhos. Aproveito para ver o que Paola me respondeu.
É mais uma foto, só que dessa vez parece que aconteceu um
acidente na bancada da cozinha dela.
Paola: Eu sempre acho que vou conseguir imitar algum prato que eles
fazem, e já deve ser a vigésima vez que só acabo estragando a comida!
Amplio a imagem para ver cada ingrediente que tem ali e respondo
rápido, torcendo para que ela não tenha jogado as coisas fora.
Eu: Não joga fora!
Eu: Tudo que está aí dá para usar e fazer ótimas coisas, talvez só o
que você já colocou na panela que não dê para reutilizar.
Paola: Se eu guardar, você faz uma janta pra nós com isso? Além
do brigadeiro que já havíamos combinado?
Um sorriso brota do meu rosto ao ver a mensagem.
Eu: Já até criei uma receita, acho que vai gostar.
— Fala que você vai passar o brigadeiro nela! — Bárbara fala ao
meu lado e levo um susto, porque já tinha esquecido da existência dela. —
Ainda não estão nessa fase?
Me viro para encará-la, na intenção de reclamar por estar lendo
minha conversa, mas ela parece tão empolgada, que perco a coragem.
— Ainda não estamos nessa fase, Bárbara.
— Então marca logo esse encontro, homem! É bem sexy assistir um
bofinho bonito igual você cozinhando.
Uma risada me escapa, porque parece que JP está disfarçado dela
para me atormentar da forma que está fazendo.
— Não é como se eu fosse cozinhar só de cueca e avental.
— E por que não? — pergunta, como se fazer o que falei fosse a
coisa mais comum do mundo. — Ela com certeza te quer, e não me
surpreenderia se ela fosse a sobremesa.
— Meu Deus, Bárbara!
Ela dá de ombros.
— Sou mulher, sei do que estou falando — diz com muita certeza e
depois informa ao motorista que vai descer no próximo ponto. — Vocês se
querem e esse joguinho inicial até que é bem legal, mas a ação é bem
melhor…
A van para, ela desce e fico ali com cara de babaca, sem acreditar
que a menina que faz curso comigo acabou de me dar conselhos que não
pedi, como se fôssemos amigos de longa data.
Que porra acabou de acontecer aqui?
O próximo ponto já é o que desço, então guardo o celular na cintura,
por dentro da calça e saio do veículo quando ela para, andando rápido até
chegar logo na minha rua, que fica a uns cinco minutos daqui.
Nunca fui assaltado, mas tento tomar o máximo de cuidado possível
porque se alguém levar meu celular ou qualquer outra coisa de valor, não
sei quando conseguirei comprar outro.
Não que eu tenha um aparelho supermoderno, mas consigo usar as
redes sociais e falar com as pessoas, então meu iPhone 5c azul, que não
atualiza absolutamente mais nada e não me permite ter uma única foto na
galeria, ainda me serve.
Tiro meu chaveiro do bolso lateral da mochila e entro na vila, dando
boa-noite às pessoas que estão na calçada.
O bom de morar em um lugar que a rua é privada e só entra quem
tem a chave, é que dá para ficar na porta de casa sem preocupação alguma.
Aqui tem muitas crianças e elas adoram passar horas e mais horas
brincando e os pais ficam tranquilos porque sabem que todos os moradores
são bem responsáveis em relação ao portão se manter trancado.
Assim que chego em casa, vou direto tomar um banho e visto uma
samba-canção para ficar bem à vontade.
Queria poder acordar tarde amanhã, mas preciso estar na casa dos
pais da Paola às sete da manhã, com o buffet da Priscila, para preparar todas
as comidas da festa surpresa da senhora Santana.
E algo me diz que a morena irá até mim, nem que seja para fazer
com que sua imagem não saia da minha cabeça pelo resto do dia.
No nosso encontro, Paola deixou muito claro que provocar é um dos
seus hobbies.
Seu pé roçou “sem querer” na minha perna várias vezes, os toques
sutis na minha mão aconteceram a noite toda, e aquele maldito Eu Nunca
me deixou de pau duro. Foi um inferno conseguir me acalmar para ir ao
banheiro.
Fazer xixi com uma ereção, independente do estágio dela, é terrível.
E aquela mulher sabe perfeitamente o quanto é sensual em cada
mínino detalhe, até mesmo na jogada de cabelo ou na forma que movimenta
os lábios.
E não só acho que Paola vai aparecer na cozinha, como espero que
ela o faça, só para que eu a veja por alguns minutos, apenas para me sentir
sortudo por ter a atenção dela.

◆ ◆ ◆

Ainda não consigo acreditar que apenas duas pessoas moram nessa
mansão.
Não faz o menor sentido!
Eles têm quarenta e dois funcionários e, dentre eles, doze moram
aqui, incluindo os cinco cozinheiros fixos que nos atenderam bem cedo e
têm sido muito solícitos conosco. Eles passaram as primeiras duas horas
mostrando onde tudo estava, como funcionavam os eletrodomésticos
diferentes e ainda nos ajudaram a descarregar as comidas que trouxemos.
Mas eles também são convidados, o que achei bem legal, então vão
aproveitar a festa e nós cuidaremos de tudo.
Confesso que demorei mais que o normal carregando as caixas
porque me distraía com a magnitude de tudo que tem aqui.
— É uma cozinha dos sonhos, né? — Priscila pergunta ao meu lado,
cortando alguns legumes enquanto limpo os camarões e mexilhões.
— Eu nem tinha tanta imaginação para sonhar com algo assim!
Ela ri e concorda.
— Tem pouco tempo que consegui uma cartela de clientes desse
nível, então não me acostumei em como tem pessoas que são absurdamente
ricas, a ponto de terem luxos que para nós, meros mortais, parecem coisas
bizarras! — comenta. — Sabia que eles são bilionários?
Sim, eu sabia disso.
Fiz uma grande pesquisa sobre a rede de hotéis há alguns dias, e fui
dormir quase duas horas da manhã vendo tudo.
A história do pai dela é a famosa “uma em um milhão”. Ele
começou sendo concierge de um hotel quando tinha 21 anos, fez faculdade
de administração e se tornou gerente. O dono do lugar onde ele trabalhava
tinha um grande apego nele, então acabou colocando em seu testamento que
deixaria 50% de tudo pra ele, já que não tinha filhos, e quando faleceu, o
deixou com uma boa herança.
Não tinha muitos detalhes no site, mas concluí que depois disso, ele
se especializou ainda mais no ramo e abriu seu primeiro hotel aqui no Rio
de Janeiro, e como as coisas foram dando certo, abriu mais alguns e criou
seu império.
— Uns com tantos, e outros com tão pouco — respondo-a.
— A vida não é justa, Fernando! Mas tenho certeza que tem gente
que nos olha e gostaria de ter o que temos.
É, ela está certa.
Sei que as coisas poderiam ser bem piores e por isso sou grato a
cada vitória, mesmo que a que eu mais deseje, ainda não tenha sido
conquistada.
— Bom dia! — Escutamos a voz de um homem e nos viramos para
ver quem é. — Espero que o espaço seja suficiente para o trabalho de
vocês.
Priscila limpa rápido as mãos e se aproxima dele.
O pai da Paola.
— Sr. Santana, é um prazer conhecê-lo pessoalmente. — Ela não
estende a mão, porque ainda continuam sujas, mas ele sorri e estende a dele.
— Você é a dona do buffet que a minha filha tanto elogiou, correto?
— Pri confirma. — Bem, estou ansioso para provar. Paola tem um ótimo
gosto para tudo, tenho certeza que não irão me decepcionar.
— Daremos o nosso melhor.
Ele dá uma volta na cozinha, apenas por curiosidade, vendo o que
estamos fazendo e para na minha frente.
Theodoro Santana está diante de mim, avaliando o que estou
fazendo.
— Graças a Deus… camarões limpos de verdade! — fala, aliviado.
— Nós ficamos traumatizados com o último que contratamos… eles não
limparam direito e como eram enormes, tudo acabou se tornando nojento
demais.
— Irei garantir que não fique nenhum resquício, senhor.
— Vou lembrar disso ao indicá-los aos meus amigos.
Sua simpatia é radiante e todo mundo na cozinha fica feliz com a
visita dele, que ainda vai até os outros cozinheiros e pega algumas uvas
verdes, depois de perguntar se pode levá-las.
Por fim, o senhor sai da cozinha, mas antes deixa avisado que
qualquer coisa que precisarmos, podemos procurar pelos funcionários que
trabalham na parte interna da casa, que eles saberão nos auxiliar.
Todo mundo se encara depois que o homem sai, surpresos com a sua
educação.
— Na minha cabeça, pensava que essa gente com muito dinheiro era
esnobe e soberba. Já estava esperando por um esporro! — Jorge, o
responsável pelas carnes vermelhas, fala lá do outro lado. — Coroa gente
boa!
E claro que começa todo um falatório sobre ele, mas me abstenho e
foco em limpar os demais camarões com perfeição. Conferindo um por um
ao terminar, porque mesmo que tenha feito um elogio, a pressão ficou ainda
maior em agradá-lo.
Theodoro não é só um cliente, é o pai da Paola, e não quero
decepcioná-lo, mesmo que ele não faça ideia de que a filha está saindo
comigo.
09

— Ele beija bem? Fode bem? Me conta, Paola! — Thaís me


pergunta assim que saímos do helicóptero. Ela se conteve porque o fone que
usamos para nos comunicar é aberto para todos que estavam lá dentro, e
graças a Deus, ela ainda tem senso para não ficar falando sobre essas coisas
na frente de outras pessoas.
Rio do desespero dela e fico fazendo um suspense a mais.
— Amei seu vestido! Depois, me empresta para eu manchá-lo igual
você faz com quase todas as minhas roupas?
Minha amiga revira os olhos.
— Já disse que poderia ter pago por todas elas.
— Estou só implicando, besta!
Ela segura na minha mão e me faz parar de andar.
— Por que tanto mistério com o baby cozinheiro?
Quase berro ao ouvir o nome que ela deu para o Fernando e até sinto
meu peito doer com a risada longa demais.
Thaís tem um apego em criar apelidos para todo mundo, ninguém
escapa dela, basta a pessoa aparecer em sua vida vezes o suficiente para
chamar sua atenção, que a loira vai e cria um.
— Gostei desse apelido! — Passo o dedo embaixo do olho para
limpar a lágrima que escorre. — E não te falei nada sobre isso, porque não
rolou nem beijo, muito menos sexo.
Ela ri, achando que é uma piada, mas a risada vai morrendo quando
vê que permaneço da mesma maneira, sem esboçar nada.
— Mentira! — Arregala os olhos. — Nem um beijinho, Paola?
— Nada!
Thaís coça a cabeça, coloca as mãos na cintura e olha ao redor,
totalmente confusa. A cena é hilária.
— Ele gosta de mulher? Talvez você esteja investindo no tipo errado
de homem.
— Olha, não sei se ele é bissexual, mas pela forma que me olhou,
com certeza gosta de mulher — afirmo.
— Então não estou entendendo mais nadica-de-nada!
Voltamos a andar em direção a casa, onde toda a decoração está
pronta e os convidados estão chegando para conseguirmos fazer a surpresa
– que não é uma surpresa – já que foi minha mãe que pediu.
Thaís continua com sua cara em choque e rio todas as vezes que
olho para ela.
— Amiga, o Fernando é diferente — digo e me sinto meio boba por
usar essa fala, já que normalmente é usada quando estamos muito iludidas
com alguém que estamos ficando e depois quebramos a cara. — Ele não é
como os homens que costumamos nos envolver.
— E você acha isso… atraente?
— Sim!
Ela coloca as costas da mão na minha testa e depois no meu
pescoço.
— Você não está com febre, então não é um delírio.
Entendo a reação dela, Fernando não é meu tipo de homem. Nunca
gostei dos que são mais calados, que não tomam atitude, mas pelo visto, ele
está sendo a minha exceção.
Queria muito tê-lo beijado no bar, mas aí perderia toda a graça do
seu diferencial.
Fico com um frio na barriga quando nos falamos, porque nunca sei o
que esperar de uma conversa com ele. Às vezes sai um flerte, uma indireta
gostosa ou apenas conversamos para nos conhecermos melhor.
E convenhamos, quem hoje em dia primeiro conhece a pessoa para
depois ficar? Normalmente, nós já pulamos essa etapa e vamos para a
sacanagem. O que não é ruim, mas acaba sendo superficial, e desde que me
separei do Gael, todos os meus envolvimentos foram assim.
Isso quando não aparecia um doido se fazendo de bom moço,
achando que ia conseguir me conquistar e se tornar o namorado de uma
mulher como eu. E não falo em relação à minha aparência ou aos meus
estudos, a questão aqui é o dinheiro.
Fernando poderia ser esse tipo de pessoa? Sim. Mas duvido muito
que seja.
— Deixa de ser idiota, Thaís! Tenho sexo à vontade, inclusive,
posso pagar muito bem para algum garoto de programa bem gostoso, mas
desde Gael, não teve outro homem que eu quisesse conhecer a fundo.
— Só para ter certeza, você não está me zoando, né?
— Claro que não!
Ela concorda e pensa um pouco.
E assim como eu, é estranho quando minha amiga não tem uma
resposta na ponta da língua.
— Fala alguma coisa, besta!
— Eu só tô… processando todas as informações! Claro que isso é
uma coisa muito normal, nós que somos da putaria e fugimos disso. Mas
não te vejo assim há muito tempo, acho que o meu choque é por isso — diz.
— Se você está a fim do baby cozinheiro, vai lá e faça o que achar melhor,
amiga.
Sorrio ao ouvi-la.
É meio bobo, porque sou uma mulher adulta que inclusive já foi
casada, mas me sinto como uma adolescente tendo uma chance com aquele
garoto que sempre quis ficar.
E talvez seja exatamente isso que eu precise: novas sensações.
— Mas você sabe que agora seu contato no meu celular será papa-
anjo, né?
— Ele só é quatro anos mais novo — me defendo e ela ri. —
Provavelmente tem muito mais energia do que os homens de 40 anos.
— Que fofa, já está defendendo o seu amor! — Coloca as mãos
sobre o peito, fingindo estar emocionada. — Me chama para ser madrinha
desse casamento também? Eu posso até ajudar na despedida de solteiro
dele… várias fraldas, mamadeiras e brinquedinhos para a criança que ele
ainda é.
Eu não queria rir, mas essa garota é ridícula demais.
— Já falei que te odeio? — digo entre as risadas.
— É, você fala todo dia.
Thaís envolve seu braço no meu e nós finalmente chegamos até
onde todos os convidados estão e ela me acompanha enquanto falo com
cada um deles. Ouço a todo momento o quanto estou crescida, que até
pouco tempo eu era uma adolescente que só sabia ouvir Rebelde e que
mulheres como eu são o futuro do Brasil.
É sempre o mesmo assunto, mas não me incomodo.
Pelo menos hoje, que é aniversário da minha mãe, quase todos os
convidados são pessoas agradáveis e gentis.
Exceto pela família do Gael, eles não aceitam de jeito nenhum que
me divorciei do filho deles e sempre falam alguma coisa para me alfinetar, é
terrível.
— E se a gente fingir que não viu a mesa onde eles estão?
— Impossível, Thaís — murmuro a resposta enquanto vamos até
eles. — Sr. e Sra. Oliveira, que bom vê-los aqui!
Solto o braço da minha amiga e os cumprimento, torcendo para que
não tentem puxar nenhum assunto.
— Quanta formalidade, querida! Somos seus sogros, acho que já
passamos da fase de chamar pelo sobrenome — Denise, mãe do meu ex,
responde enquanto alisa meu cabelo. — Sentimos sua falta na última
viagem.
Não é possível que ela sempre se fará de sonsa assim.
— Os senhores sabem que Gael e eu já estamos separados há alguns
anos, né? Ele está seguindo a vida dele e eu a minha. Sem a mínima chance
de reconciliação, nenhuma mesmo — falo no meu tom mais educado,
tentando não sair andando e deixá-los sozinhos.
— Conheço olhares apaixonados, e vocês ainda se amam, é apenas
bobagem de jovens. — Dessa vez é o pai dele, Rubens, quem responde e
tenho que me controlar muito para não revirar os olhos. — Sinto que ainda
esse ano irão reatar e encher nossa casa de netos.
Talvez eu deva seguir o que Thaís falou e ignorá-los nos próximos
eventos.
Eles sugam meu brilho e minha felicidade, parecem até
Dementadores.
— Acho que já passou da hora de os senhores entenderem que
acabou tudo entre eles. — Thaís se mete e ambos olham apavorados pra ela.
— Inclusive, em breve, ela anunciará o novo relacionamento, melhor se
prepararem.
— Com licença! — Ela sai me puxando para longe e começa a rir
quando ficamos fora da visão deles. — Você é maluca, Thaís!
— Me poupe, Paola. Aqueles dois são um saco! Seus ex-sogros
sempre quiseram que você engravidasse para garantir uma união eterna com
a família Santana! Aquela velha cheia de botox é uma bruxa, não a suporto!
Realmente ela nunca foi a pessoa mais agradável do mundo comigo,
nem mesmo quando estava com o filho dela.
Denise é o tipo de mãe que quer manter a cria embaixo da asa dela,
mesmo ele já sendo adulto. Ela se metia em nosso relacionamento e até
mesmo queria dar palpites sobre as nossas decisões.
A preparação do casamento foi infernal e tive que falar para o Gael
que não me casaria se ela continuasse se metendo. Além dele, não conheço
uma pessoa que goste dela. Nem o próprio marido a ama, isso levando em
conta que ele tem várias amantes e nem se esforça para escondê-las.
Um funcionário aparece onde os convidados estão e anuncia que
minha mãe está chegando. Nós duas vamos até a mesa que separei para nós
e a esperamos entrar e então gritamos surpresa.
Claudia Santana é uma comédia e uma mulher incrível que tenho o
prazer de ter como mãe. Nossa relação sempre foi muito boa e temos até
hoje muita liberdade para conversarmos sobre qualquer assunto.
Ela sorri e finge espanto, já que o aniversário foi ideia dela.
O pianista volta a tocar depois que ela entra e ficamos a esperando
falar com as demais pessoas, até que finalmente vem à nossa mesa.
— Parabéns, mãe! Gostou do presente? — A abraço apertado e
beijo seu rosto com cuidado para não estragar sua maquiagem.
A mais velha dá uma voltinha, mostrando que a roupa coube
perfeitamente e sorri.
— Você não erra nunca, meu bem! E ainda teve esse conjunto de
colar e brincos que a Thaís me deu… Estou muito bem com vocês duas. —
Damos um abraço triplo e depois nos afastamos. — Já falou com a sua
sogrinha, filha? — pergunta em ironia.
A loira ao meu lado ri e bufo.
— Já! Um amor, como sempre! Mas a minha querida amiga aqui,
deu uma resposta bem dada para ela, talvez se queixe com você.
Minha coroa finge uma cara de zangada.
— Que feio, Thaís! Como teve coragem de fazer isso sem que eu
estivesse por perto para assistir?
— Vocês são terríveis! — meu pai fala ao se aproximar. — Nem
preciso ouvir o que disseram para saber de quem estão falando.
O cumprimentamos e ele fica ao meu lado com um braço mantendo
meu corpo perto do seu e faço carinho em sua mão.
— Só falei que a Paola iria apresentar o novo namorado em breve!
— Você está namorando? — meus pais perguntam em uníssono.
Eu rio, porque eles parecem até empolgados com a ideia, mas é
mentira.
— É mentira dela, gente!
— Será que é? Não tenho tanta certeza!
— Não deem ouvidos a ela. Quando isso acontecer, serão os
primeiros a saber.
Dona Claudia fica com aquele olhar de quem acha que tem algo a
mais, mas não insiste no assunto.
Os dois ficam conosco mais um tempo e depois se dividem para dar
atenção aos convidados.
— Quem é aquele garçom? — Minha amiga aponta para um rapaz
de costas, que parece estar usando uma roupa apertada demais, de tanto que
seus músculos ficam em evidência enquanto ele segura a bandeja.
Não faço ideia, até porque, não conheço a equipe de garçons que
meu pai contratou.
— Não sei, amiga!
Me viro para o outro lado, vendo a outra parte da festa e sorrio para
algumas pessoas.
— Ele está vindo nos servir…
— Boa tarde, senhoritas! — Eu conheço essa voz… — Aceitam
champanhe?
Me viro novamente com um sorriso no rosto, sabendo que
encontrarei Fernando.
Não faço ideia do porquê ele está nos servindo, mas pego uma taça e
quase me perco na imensidão do seu olhar.
— Puta merda! Você que é o baby cozinheiro? Quase nem te
reconheci do resort! Estava tão atordoada que nem te olhei direito.
Um dia ainda vou assassinar a Thaís e farei questão de enterrá-la
com as minhas próprias mãos.
— Como? — o moreno pergunta, confuso.
— Fernando, essa é a minha melhor amiga, Thaís! Eu falei de você
para ela… lá em Búzios não tive a chance de apresentá-los.
Ele abre um sorriso contido na direção dela.
— É um prazer conhecê-la formalmente, Thaís!
— O prazer é meu! — responde e também pega uma taça. — Ele é
lindo mesmo, amiga. Agora entendi tudo… Vai fundo — fala como se ele
não estivesse bem na nossa frente.
É… com certeza não vai ser uma morte bonita, vou matá-la
dolorosamente.
— Desculpe, Fer! Acho que ela não tem nem um parafuso preso.
— Qualquer coisa, estou à sua disposição! — ele diz, pede licença e
se retira, indo servir outras pessoas.
Thaís se abana, fingindo estar com calor.
— À sua disposição! Gostei disso… quero alguém à minha
disposição também. Será que tem algum candidato interessante naquela
cozinha?
Fico assistindo enquanto ele vai de mesa em mesa, com um sorriso
simpático, porém limitado. Aproveito e dou uma conferida na sua bunda,
que é ótima, por sinal.
— Quero chegar na parte em que transo com ele logo! — Viro toda
minha bebida e a coloco na mesa. — Eu vou enlouquecer imaginando como
ele deve ser na cama.
Ela solta uma risada maliciosa.
— Talvez ele esconda um grande segredo!
— Um segredo grande, grosso e que faça loucuras… — completo e
ela continua rindo. — Será que é assim que os homens se sentem quando
precisam nos conquistar para depois nos levar pra cama?
— Sim! Mas no meio disso, eles se distraem comendo outras,
amiga… você pode fazer isso.
A ideia é ótima, mas por ora, ao pensar mais sobre isso, acabo não
tendo vontade de ficar com outro.
Tenho ótimos vibradores, eles vão me ajudar por um tempo.
— Vou esperar, e provavelmente assustá-lo quando acontecer,
querendo fazer valer a pena todo esse tempo sem sexo.
Ela se arrepia e depois faz uma careta.
— As palavras sem e sexo na mesma frase, me deixam mal. Serão
dias difíceis para você, querida amiga!
É, serão.
Sou uma mulher que gosta muito de sexo, e não tenho nenhum
problema em assumir tal coisa, já que é maravilhoso e todo mundo deveria
fazer pelo menos uma vez na vida para saber se gosta ou não.
Eu me sinto poderosa, gosto de seduzir, provocar e ver os homens
desesperados por mim. É uma sensação sem igual, não sei explicar, mas
adoro.
E, ainda assim, não estou me importando de fazer as coisas devagar
com o Fer.
Mas confesso que estou ansiosa para ficar sozinha com ele, em um
lugar tranquilo e ver o que acontecerá sem ninguém ao nosso redor.
Ele passa por nós novamente, deixa mais duas taças e seu perfume
atinge minhas narinas dessa vez.
É bom, amadeirado e forte.
Será que ele tem compromisso amanhã? Domingo seria um ótimo
dia para fazer o brigadeiro que está me devendo.
10

O aniversário da minha mãe foi impecável, com direito a tudo que


ela merece e fiquei feliz em saber que fiz parte disso, que de alguma forma
ajudei para que o dia fosse especial.
Agora que a maioria dos convidados já foram embora e o buffet já
foi encerrado, depois de deixarem várias coisas que sobraram e recebido um
bom valor adicional pelo meu pai, que amou toda a comida, estou do lado
de fora da cozinha esperando que eles saiam para falar com o Fer.
Já tinha combinado com ele, para ter certeza se estava tudo bem
ficar mais um pouco para conversarmos.
Deixei claro que meus pais já haviam saído, que foram fazer uma
viagem porque amanhã é aniversário de namoro deles e que mesmo juntos
há mais de 40 anos, eles ainda comemoram a época em que se conheceram.
Thaís está em qualquer lugar por aí, depois de ter conhecido um
primo meu que é bem distante e que quase nunca vejo, pois mora fora do
país. E pelo que notei no corredor lá de cima, os dois se deram muito bem,
já que estavam competindo qual boca engolia mais a outra.
Um pouco nojento, mas liberei um quarto de hóspedes para eles.
— Desculpa a demora, Paola. — Fer aparece na minha frente com
uma outra roupa. Lindo como sempre. — Quer ir ali na cozinha? Separei
um doce pra você!
Meus olhos brilham e confirmo, indo até lá com ele.
Na mesa em que eu costumava tomar café da manhã todos os dias
enquanto morei aqui, tem um pedaço de uma torta, diferente da que foi
servida mais cedo, e me sento de frente pra ela, vendo que está com uma
cara ótima.
— Você que fez?
— Sim! — Ele se senta ao meu lado, bem próximo de mim.
Precisaria só movimentar um pouco minha perna esquerda para encostar na
dele. — Na verdade, fiz ontem em casa e trouxe um pedaço.
O encaro e ele sorri.
Maldito homem bonito!
— Costuma ser atencioso assim com todo mundo? — Pego o garfo
que ele deixou separado e tiro um pedaço da torta, levando-a até a boca e
sentindo meu corpo todo borbulhar de felicidade por estar comendo algo tão
gostoso. — Nossa, isso é muito bom! — digo depois de engolir e já pego
mais.
— Acredito que sou atencioso com as pessoas que gosto, mas não
são muitas — pontua.
Demoro um pouco para responder porque realmente é difícil parar
de comer.
— Então você gosta de mim? — pergunto em tom de brincadeira.
— Sempre foi uma pessoa mais fechada?
Ele concorda.
— Na infância e adolescência era pior, mas depois fiquei um pouco
mais sociável — explica. — Não sou tímido como muita gente acha, eu só
não sou muito aberto a fazer novas amizades.
Já eu, adoro conhecer pessoas novas, mesmo que não se tornem
meus amigos.
— E como isso funciona em relação a se envolver com alguém? —
Termino de comer e limpo a boca com o guardanapo. — Se não quiser falar,
tudo bem.
Fernando pensa antes de responder e aproveito esse tempo para virar
um pouco a cadeira e ficar de frente para ele. Uma das minhas pernas acaba
ficando entre as dele, mas o dono dos olhos azuis à minha frente não parece
se incomodar.
— Acho que a primeira vez que fiquei com alguém foi a mais
difícil, porque eu só tinha meu melhor amigo para me dar alguma base
sobre como era flertar, e ele é um grande idiota, que falava umas coisas que
não tinha nada a ver, mas aí a menina achou engraçado e acabamos ficando.
— Apoio meu braço no encosto da cadeira e tombo a cabeça para o lado,
querendo ouvir mais sobre ele. — Depois acho que foi fluindo, até porque
não é como se as mulheres se jogassem aos meus pés, então sempre acabo
saindo com alguém que já conheço.
Ele não parece se importar em estar contando essas coisas, o que é
bom.
Entendo que é reservado, mas se ele fosse alguém que não gostasse
de conversar, acho que as coisas ficariam mais difíceis de acontecer.
— Eu poderia chutar que com certeza tem mulheres ao seu redor te
querendo, mas você nem deve notar. — Ele dá de ombros, como se isso não
fosse algo com que se interessasse. — Já namorou alguma vez?
— Não, nunca nem cheguei perto disso.
— Nem uma ficante premium?
— No máximo uma menina que às vezes a gente fica.
Fica?
No presente?
Hum…
— Então eu tenho concorrência? — brinco, mas na verdade espero
que ele responda algo do tipo “agora só tenho olhos para você, deusa do
meu paraíso”.
Ele sorri e sinto sua mão quente se apoiar um pouco acima do meu
joelho. Os dedos alisam a pele descoberta, bem onde é a fenda do vestido, e
por mais que seja um toque sutil, meu corpo entende de outra forma.
— Você não teria concorrência de jeito nenhum, Paola. — Ele está
com a voz mais rouca de novo. Acho que não é de propósito, mas faz com
que a minha respiração fique mais pesada, ansiosa para algo a mais. —
Precisamos levar em conta que tenho um crush em você desde os meus 15
anos, e isso já faz muito tempo.
Meu ego vai tão lá em cima, que se ele fosse algo material, teria
quebrado o teto da casa.
— Mas só me viu uma vez, rapidinho.
— E você já era linda pra caralho!
Não consigo parar de sorrir ao ouvir esses elogios.
Desvio meus olhos dos dele e desço até a sua boca, depois desvio
novamente e vejo seus dedos que não param de alisar minha perna, de um
jeitinho bem suave e gostoso, que toda hora me faz arrepiar.
Eu quero muito beijá-lo!
— Fique à vontade para me elogiar o quanto quiser… eu adoro!
— Anotado!
O telefone dele, que havia deixado em cima da mesa ainda há
pouco, começa a tocar, e ele até queria ignorar, mas digo que não me
importo se precisar atender.
— Oi, minha princesa! — fala com alguém do outro lado. — Peraí,
vou colocar na videochamada.
Assisto enquanto muda e assim que vê a outra pessoa, seu rosto todo
se ilumina. E a curiosidade de saber quem é me consome.
— Nado, por que você tá trabalhando tanto? Tô com saudades!
Pela voz infantil, deduzo ser a irmã dele.
— Estou trabalhando para conseguir dar tudo que você quer,
Flavinha — responde com toda paciência e jeitinho para que ela entenda. —
Você não gosta de todos os presentes?
— Gosto, mas prefiro te ver! Posso ficar sem boneca nova, não tem
problema.
Oh, meu Deus!
Por que estou com vontade de chorar?
Que criança mais fofa.
Percebo que isso o abala um pouco, mas ele se mantém sorrindo no
vídeo, sem deixar a irmã ver que também está triste com isso.
— Vou tentar ir aí no próximo final de semana, pode ser?
— Tá, pode ser.
— Desculpa, filho! Hoje ela está chorosa e ficou querendo falar
com você o dia todo, mas sabia que estava trabalhando. — Agora é a voz
de uma mulher madura.
— Tudo bem, mãe. Eu queria ir aí amanhã, mas vai ficar muito
cansativo.
— Venha quando der, filho. A Flavinha entende que você está muito
ocupado, é que tem dias que são mais difíceis… E ela achou uma foto do
pai, ficou ainda mais triste. — A voz da mãe dele também parece bastante
abalada e me sinto uma intrusa por estar ouvindo algo tão pessoal. — Bom,
você deve estar cansado. Nos falamos amanhã?
— Claro, mãe. Boa noite!
Eles se despedem e vejo que o humor dele mudou um pouco, o que
é bem compreensivo.
— Desculpa ter lhe feito ouvir essa conversa.
— Não se desculpe por isso, Fer — digo e coloco minha mão por
cima da dele. — Você disse que elas moram longe, né?
Ele concorda.
— É, em Saquarema! Não é muito longe, mas para ir e voltar de
ônibus no mesmo dia, acaba sendo cansativo.
Na mesma hora, minha cabeça começa a borbulhar com várias
ideias, e sei que é demais já que estamos nos conhecendo agora, mas sou
incapaz de não oferecer isso depois de ouvir essa conversa.
— Você estará livre amanhã? — Ele confirma. — Se eu te chamasse
para ir em Saquarema comigo, o que responderia?
— Não precisa fazer isso, Paola. É demais.
— Eu já ia te convidar para fazer algo, talvez ir na minha casa ou
algo assim, mas a ideia de voarmos até lá é muito mais interessante.
Ele ergue uma sobrancelha, sem entender coisa alguma que eu disse.
— Voar até a casa da minha família?
— Sim! De helicóptero. É rapidinho, não levaríamos muito tempo
para ir e voltar. — Olho que horas são. — Ainda consigo falar com o piloto
para ele ver um heliponto disponível para o pouso… o que acha?
Fernando ainda não parece acreditar que estou falando sério, mas
não quero ter que falar que me comovi com a conversa deles. Não quero
que pense que estou com pena, porque de fato não estou.
Só vi uma boa oportunidade de fazer algo legal, já que ele tem sido
tão atencioso comigo, e ainda de bônus, consigo passar uma parte do dia na
companhia dele.
— Não sei se é uma boa ideia!
— Por que não seria?
— Não sei, mas parece… errado.
— Errado é você ter a chance de ver sua irmãzinha, que está cheia
de saudade e ainda de brinde sair com uma gata como eu, e estar recusando
esse convite — brinco para tentar aliviar o clima e acho que dá certo,
porque ele sorri. — Só aceita!
O baby cozinheiro ainda pondera um pouco antes de responder:
— Tudo bem, podemos fazer isso!
— Ótima escolha. — Pisco para ele.
Ligo para o piloto, que atende na mesma hora e diz já saber o lugar
exato para pousarmos. Depois disso, combino um horário com o Fer, que
depois de muita insistência, aceita que um dos motoristas da minha família
vá buscá-lo em sua casa, para podermos ir.
O brilho dele parece ter voltado depois de saber que verá seus
familiares, e decidiu que não vai falar nada para nenhuma das duas, chegará
lá de surpresa.
E eu me sinto extremamente realizada em saber que vou
proporcionar esse encontro.
Fernando diz que precisa ir embora, mas hoje não aceita a carona
que ofereço, já que para ele, é demais aceitar dois dias seguidos, então o
levo até o portão de entrada, onde o mototáxi ficou de pegá-lo.
— Sabe que isso mesmo sendo algo bobo para você, significa muito,
né? — me pergunta assim que chegamos perto da porta. — E vou ser
eternamente grato! Minha família é tudo para mim e qualquer pessoa que
faça algo por nós… se torna alguém especial.
Seguro em sua mão e ele aperta a minha de leve.
— Eu gosto da ideia de ser alguém especial para você!
— É, também gosto.
Um clima recai sobre nós e novamente a vontade de beijá-lo vem
com tudo, mas me recuso a deixar que nosso primeiro beijo seja na frente
de quatro seguranças que fingem não estar nos vendo, além das várias
câmeras que têm ao redor.
Fico na ponta dos pés para poder abraçá-lo e seus braços envolvem
meu corpo, nos fazendo ficar bem juntinhos.
E a sensação é… diferente.
Nosso abraço se encaixa perfeitamente e me sinto tão confortável,
que é difícil querer me afastar, mas fazemos isso quando ouvimos uma
buzina e um dos seguranças vai conferir antes de dar o ok para nós.
— Até amanhã, Paola!
— Até amanhã, Fer!
Fico olhando enquanto ele coloca o capacete, sobe na moto e depois
some, indo para a rua principal.
O que esse garoto tem que me deixa assim?
Faz apenas alguns dias que estamos nos falando e só consigo pensar
que quero conhecê-lo mais, descobrir tudo sobre a vida dele, seus gostos…
tudo!
Fernando pode até não acreditar, mas não lembro a última vez que
fiquei tão animada em conhecer alguém.
Nem com o Gael foi assim. Mesmo que houvesse um interesse da
minha parte, eu não fazia muita questão e fiquei com outras pessoas até o
dia em que ele me pediu em namoro.
Por que estou tão interessada nele?
11

Fico olhando para o helicóptero que nos levará até Saquarema,


sentindo o vento que as hélices fazem batendo com tudo em mim.
Ainda estou com dificuldade para acreditar que irei voar dentro
disso.
— Está pronto? — Paola pergunta, segurando a parte do cabelo que
está batendo em seu rosto e me olha com um sorriso contagiante.
Faço que sim com a cabeça e ela segura minha mão para entrarmos.
Gosto quando tenho qualquer contato pele a pele com ela. A energia
que emana parece se tornar palpável quando nos tocamos.
Ela entra primeiro, sem nenhuma dificuldade, provavelmente
acostumada a entrar em um helicóptero e me enrolo um pouco, mas entro e
sento ao seu lado.
O piloto que já havia se apresentado lá fora, deu algumas
explicações básicas e agora fala conosco pelo fone, confirmando se já
podemos partir.
Confiro se meu cinto está preso assim que percebo que saímos do
chão e novamente sinto a mão de Paola sobre a minha.
— Te garanto que da próxima vez já vai se sentir bem mais
tranquilo — ela diz, olhando para mim.
Será que vai ter uma outra vez?
— Vou torcer para que seja verdade.
A morena sorri e diz para eu aproveitar a vista, que é linda.
E ela não mentiu.
O Rio de Janeiro pode ter seus defeitos, como vários outros estados,
mas é lindíssimo! E tenho a sensação que o piloto faz um caminho mais
longo que o necessário, provavelmente para aproveitarmos mais a viagem.
Lembro de ontem ter escutado ele falando que demorava um tempo menor
do que estamos levando, mas isso não é ruim.
Ele foi pontuando por onde estávamos passando, falando das praias
e até falou um pouco sobre a história da invenção do helicóptero.
Reconheço que estamos em Saquarema assim que avisto a Paróquia
Nossa Senhora de Nazaré, que é a igreja que fica no centro da cidade, em
um ponto alto entre a Praia da Vila e a Praia de Itaúna.
— Nós vamos pousar.
Eu queria ter tirado algumas fotos, mas meu celular não me dá esse
tipo de luxo.
Sinto um leve nervoso enquanto descemos, mas foi bem rápido e
antes que desse tempo de ficar enjoado, já estávamos em terra.
Dessa vez, eu desço primeiro e estendo a mão para ajudar Paola, que
agradece e se apoia nela.
Olho ao redor e vejo que já tem um carro nos esperando, com um
segurança do lado de fora.
— Você está sempre cercada de seguranças?
— Aqui no Brasil, sim. Quando viajo, não! — Ela ajeita o cabelo e
coloca os óculos escuros. — É estranho, né? Mas já estou acostumada. É
assim desde que sou pequena, então para mim, não é nada de mais
Realmente acho estranho, mas entendo a necessidade disso.
— Pelo menos você está sempre segura, isso é bom.
— Uhum! — Nós vamos direto para o carro e o motorista já sabe o
endereço, só confirma se é esse mesmo.
Na verdade, é bem perto de onde estamos, então não levamos nem
dez minutos no veículo. E nesse meio-tempo, notei que Paola aproveitou
para ler e responder alguns e-mails.
Avisto a casa da minha avó assim que o carro para e meu coração já
bate forte, sabendo que verei a minha irmã depois de alguns meses.
— Me manda mensagem quando estiver livre e fazemos algo — ela
diz. — Vou me ocupar com algo enquanto isso.
Hã?!
— Não vai entrar comigo?
— Ér… você quer que eu entre?
Ela tinha alguma dúvida sobre isso?
Acho que é o mínimo, já que ela quem fez com que essa visita
acontecesse.
— Claro que sim, Paola! — digo bem certo disso, para que não reste
nenhuma dúvida. — Todo mundo vai adorar te conhecer. Talvez elas
estranhem, porque nunca me viram acompanhado de uma mulher, mas
depois explico que você não é a minha namorada.
— Sendo assim, então quero conhecer sua família! — Ela parece
realmente animada com isso, o que me deixa extremamente feliz.
Não que ela precise disso, mas Paola só tem ganhado pontos comigo
desde ontem.
Saímos do automóvel e vamos até o portão de madeira. Toco a
campainha, mas fico mais para o lado, para que a pessoa que vier atender
não consiga me ver.
Escuto os passos pesados da minha mãe e assim que ela abre o
portão e me vê, penso que vai desmaiar, mas ganho um abraço forte.
— Não acredito que você veio, filho! — Segura meu rosto com as
duas mãos e sustenta um sorriso enorme. — Você está ainda mais alto e
mais forte… tão lindo!
Rio dos comentários dela.
— Parei de crescer há alguns anos!
— Então eu que estou diminuindo! — Sorri e se vira, notando só
agora a presença da Paola. — Você… Ah, meu Deus! — Ela vira
novamente para mim. — Essa é aquela moça que nos ajudou? — Faço que
sim com a cabeça e minha mãe também a abraça, com o mesmo carinho que
teve comigo.
Minha acompanhante é pega de surpresa, mas retribui com um
sorriso tão largo quanto o dela.
— Espero que não se importe que eu tenha vindo com ele, Sra.
Couto!
— Querida, você está em minhas orações desde que foi gentil
conosco e nos tirou do olho do furacão tantos anos atrás. — Paola fica com
os olhos marejados, mas disfarça. — Pode me chamar de Valéria, por favor.
Minha velha nos chama para entrar e vai andando ao lado da
morena, ambas na minha frente, conversando sobre coisas bobas.
Já imaginava que as duas se dariam bem e também sabia que mamãe
ficaria surpresa com a presença dela. Sei que depois ela vai me encher de
perguntas, tentando entender como isso aconteceu.
Flavinha aparece na varanda, provavelmente porque nossa mãe está
demorando e coloca as mãos na bochecha, abrindo a boca em choque ao me
ver ali.
Sem que eu consiga pensar, ela vem correndo em minha direção e só
consigo abaixar rápido para pegá-la no colo.
— Nado, você veio! — diz, muito animada. — Sabia que o papai do
céu iria ouvir o que pedi várias e várias vezes.
A aperto em meus braços, enchendo-a de beijos e ouvindo sua
risada gostosa.
Flavinha já tem nove anos e está enorme, cada dia mais linda e
vaidosa, o que me deixa enlouquecido.
— Claro que eu vim, não aguentava mais de tanta saudade! —
Dessa vez é ela quem me dá um beijo bem estalado na bochecha e depois
sai do meu colo.
— Seu cabelo tá tão bonito! Não tá usando mais Seda? — A
pergunta faz todo mundo rir. — Vovó diz que Seda é horrível!
Bom, ainda uso porque é o que o dinheiro dá, mas não preciso entrar
nessa discussão.
— O seu também está lindo, princesa!
Ela balança, mostrando os cachos bem definidos que deve ter
tomado um bom tempo da minha mãe para aprontá-los.
— Flavinha, essa é a Paola, uma amiga minha! — apresento as duas
e a morena que veio comigo sorri.
— Nossa, você é tão bonita! Parece com aquela blogueira que vende
maquiagem. — Minha irmã vai até ela e a abraça. — Você é namorada do
Nado? Não conto para a mamãe, pode deixar — sussurra para ela, que
precisa prender a risada.
Paola fala alguma coisa no ouvido da pequena e as duas riem
baixinho, com direito a minha irmã fazer um xis com os dedos na frente da
boca, em uma clara promessa de que guardará segredo.
Agora eu que fiquei curioso.
Nós quatro entramos e por mais que eu tente não fazer isso, fico
observando a Paola, vendo se ela se sentirá desconfortável em uma casa
simples, que não tem nenhum dos luxos que provavelmente está
acostumada. Mas ela não parece se importar com nada e se senta no sofá, ao
lado da minha irmã que quase fica em seu colo, na sua costumeira
ansiedade em conhecer alguém novo.
— E a vovó, mãe? — pergunto.
— Foi namorar! — Flávia responde e quase engasgo com a saliva.
— Mentira, seu bobo. A vovó é velha e todo dia fala que tá com as tetas
caídas e o mato alto, que por isso não namora mais. Mas o mato aqui do
quintal tá sempre capinado, acho que a vovó tá doidinha.
Paola tenta se controlar dessa vez, mas acaba rindo alto e coloca a
mão na boca para se conter, pedindo desculpas, mas a pequena cai na
gargalhada com ela.
— É por isso que estou cheia de cabelos brancos! E a sua avó foi no
sacolão, cismou que quer suco de abacaxi com hortelã — minha mãe diz,
voltando da cozinha com dois copos de água e a garrafa para nos servir. —
Estou fazendo costela com batata, vocês vão ficar para almoçar?
Olho para a morena, querendo saber se tudo bem e ela faz um leve
movimento com a cabeça, confirmando.
Minha coroa fica toda boba com a resposta e depois se senta
também, começando de forma sutil, a fazer as perguntas que está com
vontade.
Claro que o foco é todo na Paola, que responde tudo.
— Assim que o meu marido foi… embora, trabalhei alguns meses
no Santana de Copacabana!
Nossa, verdade!
Já nem me lembrava mais disso.
— Jura? — pergunta e depois olha para mim. — Você nem me
contou, Fer.
Percebo o sorrisinho da minha mãe ao notar o apelido diferente.
— Tinha me esquecido totalmente disso.
— Foram apenas seis meses. Fiquei no lugar de uma amiga que era
camareira! Ela teve que me ensinar tudo em um final de semana, mas acho
que deu tudo certo.
Minha avó chega e me levanto para falar com ela e ouvir que estou
muito magro, que deveria estar comendo mais arroz, feijão e batata doce.
— Demorou a trazer uma namorada, mas caprichou! — Vovó não
controla a língua e solta essa, mesmo eu tendo apresentado a Paola como
uma amiga. — Pensei que ia morrer e nunca veria esse menino com
alguém! Qual o seu segredo, querida?
Ela não fica envergonha, apenas ri.
— Acho que o convenci no cansaço.
Minha vó ri e alisa o braço dela.
— Você é das minhas, então! Meu falecido marido, tive que dar um
chá para que ele parasse de vagabundear por aí e me pedisse em casamento.
Meu Deus… eu não queria ter ouvido isso!
— Foi chá de camomila, vovó? Eu adoro!
E só piora.
Minha mãe tá tão roxa de prender a risada, que vai pra cozinha e me
deixa ali com elas.
— É, algo parecido com isso!
— Vou lembrar disso, caso eu precise, dona Jussara!
Ela também vai para a cozinha e leva Flávia junto, deixando Paola e
eu sozinhos.
— Talvez você seja adotado, Fer! Desculpa ser eu a pessoa a dar a
notícia, mas com certeza não puxou em nada o jeito da sua família — diz,
ainda rindo enquanto se senta ao meu lado no outro sofá. — E elas são uns
amores, obrigada por ter me convidado para entrar.
— Fico feliz que tenha gostado delas, porque eu as amo mais que
tudo nessa vida! Até essa velha que fica falando putaria, me fazendo querer
enfiar a cabeça no primeiro buraco e nunca mais tirar.
Ela ri alto novamente, encostando a lateral do corpo no meu.
— Acho que nunca vou esquecer desse dia, juro! Elas são muito
divertidas, cheias de vida… isso é encantador.
Realmente é, e as admiro demais por serem assim.
A pequena aparece correndo na sala, coloca um álbum de
fotografias no colo da Paola e volta pra cozinha gritando.
— Vovó disse que é tradição mostrar o álbum do neném pelado para
a namorada!
— Então será assim que terei um primeiro nude seu? — diz
enquanto abre o álbum, sem nenhuma cerimônia. — Oh, meu Deus! Que
gracinha!
As primeiras fotos são tranquilas e bem bonitinhas, mas chegando
no final, tem as que estou nu na banheira.
— Em minha defesa, a água estava muito fria! — me defendo, o que
a faz gargalhar novamente. — Péssimo primeiro nude!
— Algo me diz que o próximo que eu receber irá me agradar. —
Pisca e termina de ver as fotos.
Porra, não posso ficar excitado aqui.
E ela falou com tanta naturalidade, que ficou ainda mais sensual.
— Vamos almoçar? — mamãe diz, avisando que já está pondo a
mesa.
Paola coloca o álbum na mesinha de centro, levanta e segura na
minha mão, com a intenção de me puxar para ir também.
— Pode ir na frente!
— Ué, não vai vir agora?
Bom, como explicar?
— Houve um pequeno imprevisto… na minha calça! E como já
deve ter percebido, elas não vão deixar passar batido se verem.
As pupilas da morena dilatam ao entender e ela morde o canto do
lábio, o que não me ajuda nem um pouco.
— Vou distraí-las, então!
Agradeço pela generosidade, mas ela sai rebolando a bunda grande e
bonita de propósito, o que só piora aquilo que já estava bem ruim para mim.
É, vai ser um dia bem longo!
12

Passar a tarde com a família do Fernando foi uma experiência única.


A irmã dele é inteligente e tem umas sacadas muito engraçadas, a
avó é dessas que a gente morre de rir, que fala várias besteiras, e a mãe dele
é um doce, unindo tudo isso de uma forma suave.
De fato, ele é muito diferente delas, mas é lindo ver como se amam.
Teve um momento que o Fer foi no quarto da Flavinha para dar um
pouco mais de atenção a ela antes de irmos embora, e a Valéria veio
conversar comigo para me conhecer melhor, até porque, fui a primeira
mulher que ele lhes apresentou, mesmo não sendo namorada e nem nada do
tipo.
A conversa foi tranquila até certo ponto, depois que ela falou do
marido, foi quase palpável a sua tristeza.
Quando Fer tocou no assunto, não quis perguntar muito porque
imaginei que o desfecho poderia ter sido negativo, e realmente foi. Pelo que
me contou, ele foi preso injustamente, acusado de estar envolvido com a
milícia, o que é algo muito perigoso e infelizmente comum aqui no Rio de
Janeiro.
Ela falou com muita certeza que ele é um bom homem e que jamais
faria algo do tipo. Não sei se o cara mentia muito bem ou se realmente foi
injustiçado. Porque aquela mulher acredita fielmente que seu marido é
inocente, e isso me partiu o coração, pois a vida deles desandou totalmente
depois disso.
E não é para menos, né.
Perguntei também o porquê de não ter me procurado, já que havia
dado meu cartão, mas Valéria disse que perdeu no mesmo dia no desespero
de revirar a casa tentando achar qualquer coisa que o culpasse, mas como
imaginava, não achou nada e só acabou perdendo o contato.
Ofereci novamente, ela anotou meu número, mas duvido que irá me
procurar para tal coisa, ainda mais agora que sabe que conheço seu filho e
que estamos… próximos.
Ir embora foi difícil para o Fer, mas jurei que ajudaria a trazê-lo
novamente e a avó dele me prometeu que fará o doce de banana, que foi
muito bem falado por todos e me deixou com água na boca só de imaginar.
— Minha mãe te alugou muito? — pergunta, fazendo com que eu
coloque meus pensamentos de lado.
— Não, ela é um amor! Só conversamos um pouco, acho que ela
não costuma desabafar muito com vocês, para não sobrecarregá-los, então
acredito que tenha sido bom falar com alguém de fora.
Ele concorda e depois suspira.
— Ela te falou sobre o meu pai, né? — Concordo. — Meus pais
sempre foram muito apaixonados, então sei que ambos sentem falta um do
outro, e deve ser difícil em níveis diferentes para os dois. — Ele para um
pouco, olha para os pés e depois continua. — Foi um baque muito forte
para ela e a minha irmã não tinha nem um aninho ainda. Comecei a fazer
vários bicos, trabalhava em festa infantil, era garçom de vários bares e
ficava de babá dos filhos dos vizinhos, mas ainda assim conseguia pouco
dinheiro. Ela acabou voltando a trabalhar e eu ficava cuidando da Flávia,
mas era notável que aquilo não fazia bem a nenhum de nós três.
— Sinto muito, Fer — digo com a mais pura sinceridade. — Sua
mãe é uma guerreira e ela tem sorte de ter um filho como você, que faz de
tudo para ajudá-las.
Valéria também me contou que ele ajuda muito nas despesas da
Flavinha, que faz de tudo para que ela tenha o máximo de conforto e o
melhor estudo possível dentro da realidade deles.
A real é que saí de lá querendo ajudá-los, mas não sei como fazer
isso sem ofendê-los ou parecer que estou fazendo caridade.
Ainda não tenho esse tipo de intimidade com eles, mas acabei tendo
uma ideia muito boa e já irei colocá-la em prática amanhã mesmo.
— Eu só tento fazer com que as coisas sejam mais fáceis para elas,
mesmo que isso signifique ficar pesado demais para mim. — O moreno de
olhos azuis dá de ombros, como se não se importasse.
Queria que as coisas fossem menos complicadas para eles.
Conheço tanta gente ruim, com vidas incríveis, mas que com certeza
não merecem isso, enquanto pessoas boas como ele e sua família, não têm
um terço disso.
— Tenho certeza que vai dar ainda mais orgulho para seus pais, Fer.
Sua estrela vai brilhar muito e vou sempre torcer pela sua vitória!
Ele se aproxima lentamente e vejo quando sua mão vem para perto
do meu rosto e afasta meu cabelo para trás da orelha, aproveitando para
alisar a minha bochecha.
— Você foi incrível hoje, Paola! — Seu tom de voz é cheio de
gratidão e carinho. — Não só por ter me levado até lá, mas por ter tratado
minha família tão bem, sem se importar com nada e isso… isso não tem
preço!
Sei que Fernando ainda espera que em algum momento eu me
mostre alguém soberba e prepotente. Não posso nem julgá-lo por pensar
que pessoas da minha classe social são assim, porque de fato a maioria é.
Mas o que ele ainda vai entender, é que meus pais sempre mantiveram suas
raízes e passaram isso para mim.
Gosto de luxo, afinal, tenho fácil acesso a ele, mas não me importo
de estar em lugares mais simples. E a casa da avó dele tem aquele clima
bom de casa de avós, seria impossível não me sentir bem lá.
— Gosto quando você se aproxima — sussurro. — Sempre fico
ansiosa para saber o que irá fazer.
Fernando sorri e percebo que olha para minha boca.
— E eu gosto de ficar próximo!
Seu polegar alisa meu maxilar e fico imaginando se todo o corpo
dele é tão quente como a m…
— Srta. Santana… — um dos seguranças me chama e quase choro
pela interrupção, mas nenhum deles faz isso se não for algo sério. —
Aconteceu alguma coisa com Matheus e Kauan.
Meu coração quase para ao ouvi-lo.
— Merda! Tentou falar com a Fabrícia? — Ela é a minha
governanta e mora lá em casa, me ajudando em praticamente tudo.
— Ela que me ligou.
O que será que houve com eles?
Nem penso muito e chamo o Fernando para ir comigo. Ele não
entende nada, mas entra no carro e o motorista dirige em direção ao Alto da
Boa Vista, onde moro.
Fer coloca uma mão em minha perna quando percebe que estou
nervosa e balançando-as com força.
Como já estávamos em Copacabana novamente, na cobertura do
meu hotel, não demoramos muito até chegarmos.
O carro para e já saio correndo em direção aos fundos e vejo que o
doutor César já está lá com eles, o que me tranquiliza um pouco.
— O que houve? — é a primeira coisa que consigo perguntar e me
abaixo ao lado dos cachorros.
— Parece que eles comeram alguma plantinha que os fizeram
vomitar, mas acredito que não são venenosas, senão infelizmente, o cenário
seria outro. Provavelmente foi apenas o estômago deixando claro que não
gostou.
Faço carinho na cabeça dos dois, que estão deitados e aparentemente
abatidos.
— Oh, meus filhos, por que vocês fizeram isso, hein? — Quase
deito sobre eles para conseguir beijar a testa de cada um, que soltam um
som como se fosse uma resposta. — Vocês querem ficar sem mãe, é? Quase
tive um troço do coração.
Me levanto e converso rapidamente com o veterinário, que é um
amigo da Thaís que trabalha aqui perto e sempre me ajuda quando a minha
amiga não está.
O agradeço, faço o pagamento e deixo que Fabrícia o leve até a
garagem, onde ele deixou o carro.
Já tinha me esquecido do Fernando, mas viro e o vejo distante de
onde estou, observando tudo.
Não era assim que eu queria que fosse a primeira visita dele aqui em
casa.
Guardo a receita que o César me deu e já anoto no celular para
comprar os remédios amanhã bem cedo.
Matheus e Kauan continuam deitados e deixo que fiquem ali
mesmo, já que o veterinário informou que nas primeiras seis horas eles
ficarão enjoados e deitados a maior parte do tempo.
Sei que não vou conseguir dormir essa noite e ficarei toda hora
vindo aqui vê-los, mas não me importo desde que fiquem bem.
— Desculpa! Não era bem esse o desfecho que eu queria para o
nosso dia. — Ando até onde o Fer está e falo com ele.
— Eles estão bem? — Confirmo. — Eles são cachorros mesmo?
Porque parecem cavalos.
Rio do comentário dele. De fato, meus bebês são enormes.
— A raça é Dogue Alemão, costumam ser grandes mesmo!
— Você não cortou a orelha deles, né?
— Jamais! Acho isso cruel demais e o veterinário falou que não
havia necessidade, então não fiz. E acho um charme as orelhas grandonas.
O moreno fica quieto e depois deixa escapar uma risada que devia
estar segurando há um tempo.
— Matheus e Kauan? Jura?
— Ué… sou fã deles! Nada mais justo que homenageá-los.
— Gosta de sertanejo, então?
— Muito! Os dois são minha dupla favorita, sei todas as músicas e
já fui em diversos shows.
Depois que os ouvi pela primeira vez, não consegui mais parar, e
desde então é assim. Escuto todos os dias quando levanto, durante o dia e
também quando vou fazer minha skin care.
— Conheço uma ou outra das mais famosas!
— Vou te passar a minha playlist do Spotify e você passa a sua! O
que acha?
Ele mexe no cabelo e depois tira o celular do bolso, me mostrando o
aparelho.
— Não tenho Spotify.
— Agora tudo faz sentido! — digo e ele fica confuso. — Você faz
pratos lindos e não posta nenhuma foto deles no seu Instagram, o que
poderia te ajudar a ficar conhecido como cozinheiro… mas acho que o
celular não deve mais suportar fotos, né?
Ele concorda.
— Me serve para o básico.
— Então terei que fazer com que fique um dia inteiro comigo para
ouvir as músicas que gosto. — Me aproveito da situação.
— E mais um dia para ouvir as que eu gosto! — rebate e estendo a
mão, selando um acordo com ele. — Posso até trazer meu violão e tocar
alguma coisinha.
Na mesma hora, me vem na cabeça a imagem dele com o
instrumento, igual nesses filmes adolescente que o cara mais gato também
canta e toca, fazendo todo mundo babar nele.
— Você cozinha, é gentil, educado, amoroso com sua família, toca
violão… o que mais está guardando de bom?
Acho que todo homem tem seu momento de quinta-série, que não
consegue controlar o instinto infantil, e percebo que ele não foge da regra,
já que fica todo vermelho e solta uma risada boba, denunciando seu
pensamento.
— Desculpa, foi involuntário!
— Te desculpo se você me provar que essa risadinha não é só um
blefe.
Ele respira fundo e seus olhos ficam mais escuros, cheios de desejo,
assim como os meus também devem estar.
Não consigo me controlar o tempo todo, às vezes solto umas
provocações sem nem perceber.
— Paola…
— O que foi? — Me faço de desentendida, só para ver o que vai
falar.
— Você tem certeza mesmo que quer ir por esse caminho? —
pergunta com calma, mas consigo sentir o peso da sua pergunta. — As
coisas podem ficar mais intensas do que imagina!
Intensas?
Intensas como?
Eu gosto de intensidade! Ainda mais se for na cama.
— E se eu estiver disposta a descobrir que intensidade é essa?
Ele umedece os lábios com a ponta da língua, o que prende minha
atenção e depois sorri.
— Você está me subestimando, linda! Mas gosto disso… gosto de
mostrar que meu jeito mais calado é só uma das minhas versões e não me
define.
Ok.
Quem é esse homem na minha frente e o que ele fez com o Fer?
— Se você queria me deixar ainda mais curiosa, conseguiu.
Fernando olha por cima do meu ombro, e me viro para ver o que é,
mas é só meus seguranças mudando de plantão, o que acaba gerando uma
pequena movimentação.
— Preciso ir embora, mas ainda estou te devendo aquele jantar.
— Pode ter certeza que irei cobrá-lo!
O rosto dele se aproxima do meu e imagino que irei receber um
beijo na bochecha, como normalmente faz, mas sinto seus lábios tocarem o
canto da minha boca.
E foi por uma questão de segundos que não me virei e o beijei.
— Boa noite, linda!
Nem tenho coragem de vê-lo indo embora, porque não sei se de fato
deixaria que fosse. Não depois do que falou e desse maldito beijinho.
Quando for sair com ele, vou ter que começar a usar absorvente para
minha excitação não escorrer pelas pernas.
Que maldição!
13

Essa semana foi bem puxada no restaurante porque dois cozinheiros


pegaram uma virose muito forte e não tinham condições de trabalhar. Então
acabei me oferecendo para ajudar em mais coisas, o que resultou em um
cansaço absurdo, porém foi uma coisa boa, já que o Owen e a Helena viram
que sou bom em outras coisas também.
E tenho quase certeza que Priscila me elogiou para eles, porque
tenho notado que estão prestando mais atenção no que venho fazendo.
— Fernandinho, nós queríamos conversar com você! — Meu patrão
me chama antes do meu expediente acabar e fico meio nervoso, porque
nunca sabemos o que esperar, mas o acompanho até sua sala, encontrando
sua esposa lá dentro, já nos esperando. — Não precisa ficar tenso, é por um
bom motivo.
Nem me sento, fico de pé perto deles, nervoso.
— Tudo bem, podem falar.
— Ontem recebemos uma família que sempre frequenta nosso
restaurante, e eles perguntaram por você — começa a explicar. — Parece
que encantou paladares sofisticados no buffet com as comidas que fez, e
além deles, a Priscila te elogiou muito, falando que estamos perdendo um
ótimo cozinheiro, pois o colocamos na função errada.
Família?
Será que foram os Santana?
Não, não tem como ser… ou tem?
— O que meu marido está falando, é que queremos fazer um teste
durante duas semanas com você, para ficar como o nosso rôtisseur.
Olho para os dois, só para garantir que estão falando sério mesmo.
Sair de auxiliar, para ser o responsável pelos assados e grelhados, é
uma responsabilidade muito grande, mas que com certeza eu quero.
— Mas ainda estou no início do curso, vocês têm certeza disso?
Os dois concordam.
— Faremos um teste, porque já havia nos dito que não tinha muito
contato com carnes nobres, mas depois de tudo que ouvimos da Priscila,
que é alguém que confiamos, temos certeza que se sairá muito bem junto
com a Amélia, nossa outra rôtisseur.
— Eu quero, com certeza! — digo, animado. — Prometo que darei
cem por cento de mim. Já estudei sobre muitas carnes, as formas de assar e
grelhar… não os decepcionarei.
— Nós sabemos disso, garoto — Owen diz e coloca a mão em meu
ombro. — Você tem o mesmo brilho no olhar que minha esposa sempre
teve, então sabemos que tê-lo conosco é um privilégio.
Sorrio, ainda em choque com essa oportunidade.
Conversamos por mais um tempo, acertando todos os pontos e
Helena me dá alguns livros que acredita que irão me ajudar.
Ela também comentou sobre o interesse em me ter no restaurante à
noite, quando o movimento é maior, e para isso eu teria que trocar o horário
do curso, mas acho que não tem problema.
Hoje mesmo já vou procurar saber sobre isso.
Coloco os livros no meu armário, porque não irei conseguir levá-los
hoje por conta do peso e pego minha roupa para tomar um banho, mas meu
celular acende e vejo que tem três chamadas não atendidas.
Pego para ver se foi a minha mãe, mas é um número desconhecido.
Estranho… Os únicos números que me ligavam assim, eram de São
Paulo, para me cobrar alguma conta atrasada, mas consegui regularizar tudo
que estava devendo com o que recebi por ter trabalhado no aniversário da
mãe de Paola.
O número liga novamente e atendo.
— Alô?
— Oi, boa tarde! Falo com o Fernando Couto? — um homem com
a voz bem madura fala do outro lado da linha.
— Sim, sou eu!
— Ah, que bom! Pensei que tinha anotado seu número errado. —
Ele faz uma pausa, pigarreia e depois continua. — Eu me chamo Jeremias
Silva, sou advogado da rede de hotéis e resorts Santana.
Isso é estranho.
Por que o advogado deles estaria me ligando?
— No que eu posso ajudar?
— A princípio, preciso dos nomes dos advogados que pegaram o
caso do seu pai, Jean Couto, certo?
— Certo… mas não estou entendendo, senhor.
— A Paola não te falou? Bem, na segunda ela me chamou e contou
toda a história, e fez um pedido pessoal para que eu pegasse o caso e
finalmente pudesse tirá-lo da cadeia.
Minhas pernas perdem as forças e me apoio na primeira parede que
vejo.
— Agradeço pela ligação, mas com certeza não consigo pagá-lo.
— Não precisa! O Theodoro salvou minha vida muitos anos atrás,
Fernando. Devo uma eternidade de favores a eles, e aceitei de bom grado
pegar esse caso. Até consegui pesquisar algumas coisas sobre ele, mas
como ainda não sou oficialmente o advogado do seu pai, não tenho acesso
a tudo.
Não acredito que isso está acontecendo.
Sinto como se fosse a primeira chance real de tirá-lo daquele lugar,
porque uma empresa como a Santana, deve ter uma equipe muito boa e que
não desistirá do nada, sem nenhuma explicação plausível.
— Me passa seu e-mail e te envio tudo, pode ser?
— Claro! Já marquei uma visita para conversar com seu pai e ver o
que ele tem para me falar.
— Eu não sei nem como agradecer por isso, Dr. Silva.
— Agradeça à Paola. Foi a primeira vez que ela fez um pedido
desse tipo e eu não poderia recusar, ainda mais com o aval do Theodoro.
Ela falou sobre isso com o pai? Será que falou de mim?
Respiro algumas vezes para tentar me acalmar, e termino de
conversar com o homem antes de desligar.
E é impossível não ficar absurdamente esperançoso.
O que mais desejo no mundo é conseguir tirá-lo de lá, devolver a
vida que lhe foi roubada de uma forma triste e cruel.
Vou tomar banho, sentindo todo meu corpo eletrizado por causa da
ligação, depois me seco e visto minha roupa.
São duas notícias incríveis em um único dia. Acho que minha sorte
está realmente mudando e o azar está indo embora aos poucos.
Vou para o curso e sei que as pessoas irão estranhar, porque não
consigo tirar o sorriso do rosto, mas hoje está sendo uma das melhores
sextas-feiras que já tive. Para ficar completa, precisava apenas conseguir
ver a Paola e agradecê-la da forma correta. Nós temos conversado todos os
dias e os assuntos sempre fluem de forma muito natural.
A morena teve que viajar essa semana, e nosso encontro de quarta
ficou para outro dia, depois que ela voltar. E eu quase sinto como se
estivesse lá com ela, que manda várias fotos e vídeos, inclusive da
construção, mesmo eu não entendendo absolutamente nada do que está
acontecendo.
Inclusive, a melhor amiga dela começou a me seguir no Instagram e
me mandou a seguinte mensagem: “Estou de olho em você, baby
cozinheiro. Sou veterinária e sei mexer com bisturi, então, não apronte com
a minha besta.”
Primeiro eu ri, depois fiquei meio tenso e preferi nem responder
nada.
Fiquei tentando entender o porquê de elas se chamarem de besta,
mas amizade é um negócio único e peculiar, e já sei que Thaís gosta de
colocar apelido nos outros.
— Oi, Fernando! — Bárbara fala comigo assim que chego na frente
do curso. — Não vamos ter aula, acabei de ver o recado na porta da nossa
sala.
— O que houve?
— A professora teve um problema pessoal e não conseguirá chegar
a tempo. Depois eles vão escolher um sábado para repor, e quem não puder,
escolherá outra data — explica sem nem me olhar, mexendo no celular. —
Bora ali no barzinho da esquina? Acho que a turma toda está lá.
A primeira coisa que me vem à cabeça é falar um redondo e sonoro
não, mas aí lembro que hoje é um bom dia e que eu deveria comemorar.
— Tem problema se eu chamar um amigo?
— Depende! — Ela me olha. — Ele é gato e solteiro?
Pego meu celular, entro no Instagram do JP e mostro para ela, que
na mesma hora vê o nome de usuário dele e o segue.
— Se você não chamá-lo, eu mesma o chamo.
Eles com certeza se darão muito bem.
Mando uma mensagem para meu amigo, que disse que estava saindo
de casa para arrumar alguma coisa pra fazer. Passo o endereço e ele diz que
chegará em alguns minutos.
— Boa noite! — falo com todos de uma vez só e já peço uma
cerveja para mim.
Não tenho o hábito de beber muito, mas não me incomodo em tomar
uns drinks ou algumas cervejas de vez em quando. Desde que eu não fique
bêbado, para mim, está tranquilo.
Odeio a ideia de alguém ter que me ajudar a chegar em casa ou até
mesmo me manter de pé. Prefiro ser aquele que ajuda as pessoas bêbadas,
que no caso é sempre o JP.
— E a sua amiga que não é amiga? Se pegaram? Foi na casa dela e
passou o chocolate naquele corpitcho? — a ruiva me pergunta, tomando a
cerveja que acabou de chegar.
— Não rolou nada disso.
Ela bufa e revira os olhos.
— Cara, você tá dando mole demais!
Não respondo, porque talvez ela esteja certa mesmo.
Já entendi que Paola está disposta a fazer as coisas diferentes porque
não sou igual aos caras que conhece, mas também não posso me tornar um
cara entediante e é por isso que já tenho algo em mente.
JP chega alguns minutos depois, e o filho da puta vai direto falar
com a Bárbara, me ignorando por um bom tempo, porque pelo visto, o
flerte ali está bem interessante.
Os dois são rápidos, então provavelmente irão competir em quem
flerta mais.
Pego meu celular só para me distrair com algo enquanto eles estão
falando putaria alto o suficiente para que eu consiga ouvir.
E na mesma hora aparece uma mensagem da Paola.
Paola: Está no curso?
Eu: Não! A aula foi cancelada e só descobri quando cheguei lá.
Desinstalo o aplicativo do Instagram para conseguir mandar uma
foto da minha mão segurando a cerveja, porque a memória desse aparelho é
quase inexistente e depois passo um sufoco para conseguir baixar
novamente.
Paola: Olha… fazendo coisas de jovem!
Paola: Você fica muito bem de roupa preta, já te falei isso?
Olho novamente a foto que mandei, procurando onde está
aparecendo minha roupa, mas ela não mostra nada além do meu braço e
mão.
Paola: Olha do outro lado da rua!
Levanto a cabeça, olhando na direção em que ela fala e a vejo
dentro de um carro todo preto, no lugar do motorista e com um sorriso
lindo.
Coloco o aparelho no bolso e espero o sinal fechar para poder
atravessar.
— Pensei que ainda estava em Orange County — digo ao chegar
perto da janela do automóvel, que para a minha sorte, é bem alto e não
preciso ficar tão agachado para falar com ela. — E sem seguranças… o que
houve?
— Não se engane, baby cozinheiro! — Ela aponta com o queixo
para o retrovisor e olho para trás do veículo dela, vendo que tem outro igual
e um dos seguranças dá uma piscada na lanterna, como se estivesse dando
um olá. — Vim fazer uma surpresa e ia sequestrá-lo depois do curso… mas
podemos nos ver outro dia.
— Ou você pode ir ali no bar comigo, apenas para eu te apresentar
ao meu amigo, que está morrendo de curiosidade de saber quem é você, e
depois deixo que me sequestre...
O sorriso se estende ao me ouvir e me afasto para que possa ir até o
estacionamento, um pouco mais para frente de onde estamos.
Quando volta na minha direção, fico meio atordoado em como ela é
linda.
Paola está com uma saia creme, que vai até o meio das coxas
torneadas, uma blusa de gola alta preta, que desenha seu corpo perfeito e
um sapato preto que parece um coturno, mas provavelmente deve ter outro
nome que não sei.
Ela é maravilhosa, está sempre muito bem vestida e com o cabelo
impecável.
Não me surpreenderia se já acordasse perfeita desse jeito.
— Você está incrível, Paola — digo quando chega perto de mim e
decido surpreendê-la ao aproximar nossos rostos e lhe dar um selinho.
— Um elogio e um beijinho? — pergunta quando me afasto, sem
conseguir esconder a surpresa. — O que aconteceu hoje para você ficar tão
animado assim?
Seguro em sua mão para levá-la até a mesa em que estou.
Percebo que seus seguranças ficam mais afastados, tentando parecer
que são apenas homens do tamanho de um guarda-roupa se divertindo em
uma sexta-feira.
— Te conto mais tarde! — respondo.
JP, que até agora não tinha falado comigo, para de dar atenção à
ruiva, que pela boca avermelhada, deduzo que já se beijaram nesse tempo
que estive falando com a Paola, e a apresento a ele.
— Preciso confessar que estava achando que o Nando não queria me
apresentar a você, com medo de que acabasse escolhendo a mim ao invés
dele.
A morena ri ao ouvir e o cumprimenta com dois beijinhos.
— Ele não corre esse risco!
Ela falou isso para entrar na brincadeira, mas senti meu ego
levemente massageado por conta disso.
— É, irmão… casa com ela! Não existe outra no mundo que prefira
você entre nós dois. — Implica e depois volta a falar com a Paola. —
Brincadeiras à parte, é um prazer te conhecer. Meu amigo só tem falado de
você ultimamente.
Ela me olha com um sorrisinho bobo.
— Espero que só coisas boas.
— E o que de ruim eu teria para falar de você? — falo perto do
ouvido dela.
JP começa a bater palmas do nada, chamando a atenção das pessoas
ao redor.
— Esse é o meu pupilo… flertando como gente grande.
— Não liga pra ele, acho que esqueceu de amadurecer depois que
completou 13 anos.
Apresento Bárbara pra ela também, que faz comentários tão caóticos
quanto o JP, mas a morena parece lidar bem com isso, e levando em conta
que a amiga dela parece ser desse jeito também, acho que está acostumada.
Paola bebe só uma água, porque está dirigindo e eu tomo mais uma
cerveja para não fazer desfeita ao JP, que saiu de casa e veio me encontrar.
Não que ele se importe, já que está prestes a ir embora com a ruiva. Vou me
aproveitar disso para ir também.
— Agora é a hora que te sequestro? — a mulher que tem estado nos
meus pensamentos pergunta, já me puxando pelo braço em direção ao lugar
que estacionou.
— Espero que sim!
Entramos em seu carro e ela dirige até sua casa com os seguranças
atrás de nós.
Sinto um frio na barriga de ansiedade, mas finjo que é apenas mais
um encontro como qualquer outro, sem expectativas.
14

Assim que estaciono o carro em casa, saímos dele e já escuto o


barulho dos meus bebês correndo em nossa direção.
Os adestrei quando ainda eram bem novos, só para conseguir ter um
maior controle, já que eles são enormes. Mas ambos são bem dóceis e
tranquilos, que é um ponto alto da raça.
Quando chegam perto de mim, preciso fazer apenas um breve
movimento com as mãos para que não pulem em nós.
— Eles não mordem, Fer. Pode se aproximar e fazer carinho, isso
vai garantir que você se torne uma pessoa que eles gostam.
O moreno ao meu lado se abaixa entre os dois, coloca uma mão em
cada um e afaga a cabeça de ambos.
Matheus é o mais dengoso, ele já deita no chão e vira a barriguinha
para cima, indicando onde quer o carinho. Já Kauan enfia o focinho na axila
dele, procurando um lugar quentinho para se esfregar.
— Que dengosos! — comenta, sem saber a quem dar mais atenção.
— Vocês são lindos demais, carinhas. — E assim como qualquer pessoa
que gosta de animais, ele faz uma voz infantilizada para falar com meus
filhos.
E eu amo ver isso.
Qualquer um que trate bem meus cachorros, já ganha muitos pontos
comigo.
Me abaixo ao lado dele e também faço carícias nesses monstrinhos,
que ficam ainda mais felizes.
— Eles têm quantos anos?
— Três — digo. — Quando eu era casada, meu ex não gostava de
ter nenhum animal em casa, e isso era terrível pra mim porque meu sonho
sempre foi ter vários, tanto que temos diversos em nossa chácara —
explico. — Então, assim que me separei, meu pai me deu os dois de
presente.
— Matheus e Kauan são lindos… nossa, ainda não me acostumei
com esses nomes! — Fernando ri e eu também.
Todo mundo acha estranho ou engraçado, mas acho que é a cara
deles.
Nos levantamos e os dois vão correndo para os fundos, onde ficam
as casinhas deles e também o playground que criei especialmente para meus
bebês.
— Pronto para finalmente conhecer meu lar? — pergunto a ele, que
confirma enquanto anda ao meu lado até a porta da frente.
Destravo a fechadura eletrônica e empurro a porta enorme, que é
bem levinha por conta do mecanismo que fizeram nela. Assim que
entramos, coloco minha digital no pequeno visor que desliga os alarmes
para não dispararem.
A primeira vista que temos é da minha sala integrada com a cozinha,
ambas grandes e espaçosas, ocupando todo o primeiro andar juntamente
com dois lavabos.
— Eu jurava que você gostava de coisas coloridas.
— Acho que em casa prefiro algo mais clean e coloco cor em alguns
detalhes. — Aponto para uns quadros e obras de artes espalhadas pelo
ambiente de forma estratégica. — Essa é a sala, não costumo usar muito,
mas os cachorros adoram o sofá! E aqui é talvez o lugar que você mais
goste, a cozinha.
Fernando vai até ela e percebo seu encanto com cada coisa que tem
ali.
— Ela é realmente um sonho! — Passa a mão por cima do cooktop e
para na frente das duas geladeiras. — Recebe muita visita?
— Na verdade, não! Tirando meus pais e a Thaís, dificilmente tem
alguém diferente aqui. E comprei essa casa esse ano.
Se vira para mim.
— Me sinto honrado, então.
— Vamos conhecer os outros andares! Depois deixo que fique o
tempo que quiser aí na cozinha. — Estendo a mão para ele, que a segura na
mesma hora.
Subimos para o segundo andar e mostro o quarto de hóspedes, a sala
de cinema e, por fim, vou até meu dormitório.
— Eram cinco quartos de hóspedes, dois aqui e três lá em cima no
terceiro piso! Aí peguei um desse andar para fazer um closet bem grande e
na parte superior, fiz uma área de lazer aberta, tem uma hidro bem grande,
sinuca, churrasqueira… para diferenciar um pouco!
Ele toma cuidado para não encostar em nada e praticamente fica na
porta, sem nem entrar direito.
— Você tem muito bom gosto! Sua residência é muito melhor do
que qualquer uma dessas que já vi na internet. Com certeza custou muito
dinheiro!
— O total, com a reforma e decoração que fiz, deu em torno de 19
milhões, se não me engano.
— Caralho! Isso é muita grana.
Realmente é, mas valeu a pena para mim. A casa é perfeita e me
vejo morando aqui pelo resto da minha vida.
— Quando eu tiver filhos, terei apenas que modificar algumas
coisas por conta da segurança deles, mas não pretendo sair daqui nunca
mais. Demorei muito tempo para achar um local que fosse exatamente do
jeitinho que eu queria.
Fernando sorri e coloca as mãos nos bolsos, como costuma fazer.
— Pretende casar novamente?
— Sim, pretendo, mas não agora — digo e o chamo para entrarmos
na sala de cinema, que tem poltronas bem confortáveis e é um bom lugar
para conversar quando não está passando nenhum filme. — Gosto da minha
vida de solteira e quero ficar assim por mais alguns anos, focando mais no
trabalho sem ter que me preocupar em ser de fato presente na vida de
alguém que esteja comigo, entende?
Ele concorda.
— Entendo! Também não me imagino em um relacionamento sério,
mas por outros motivos, além de não ter muito tempo.
Sentamos em cadeiras que estão lado a lado, mas me viro de frente
para ele, querendo prestar atenção.
— E que coisas são essas?
— Quero poder proporcionar conforto a quem estiver comigo e no
momento, mal tenho para mim — diz, bastante sincero. — Quero poder
levá-la a um bom restaurante, nem que seja uma vez no mês, comprar
presentes, fazer boas refeições… Sei que não conseguiria nada disso
atualmente.
— Isso é bem legal! Mulheres gostam desse tipo de cuidado —
pontuo. — Mas e se você se apaixonasse por alguém antes de estar
preparado da forma que deseja? Deixaria que ela escapasse por conta disso?
Acho que o pego de surpresa com a pergunta, porque ele precisa
parar e pensar um pouco.
— Depende. Se eu me apaixonasse por você, por exemplo, de fato
nunca conseguiria lhe dar o que realmente merece.
— Não quero ser babaca, mas dinheiro não é algo que me falta! —
falo da forma mais educada possível para não soar como soberba. — Eu
prefiro mil vezes um homem que me trate bem, dê carinho, atenção, e seja
realmente companheiro, a um tão rico quanto eu, mas que seja um grande
imbecil.
— Ainda assim eu me sentiria mal.
Suspiro ao ouvi-lo.
— Mas e se fosse ao contrário? Você, o cara cheio da grana, e eu, a
mulher que não poderia te dar um presente caro?
— Ok, já entendi aonde quer chegar, Paola — ele diz e mexe no
cabelo. — Acho que nós homens fomos criados para ter esse tipo de
pensamento, e acabamos sendo intimidados por alguém como você!
Exatamente.
E isso é um saco, para ser bem sincera.
— Eu acho que o problema é que vocês acreditam que terão que ser
submissos para que o relacionamento com uma mulher mais abastada dê
certo. E talvez, até precise ser em alguns, mas isso não significa que é uma
regra.
— Talvez você seja uma das poucas exceções.
— Nós dois, por exemplo… estamos nos conhecendo, eu quero ficar
com você e talvez as coisas fluam. Não tenho a intenção de entrar em um
relacionamento, mas podemos nos tornar ficantes, amigos coloridos, sei lá!
— Ele estreita os olhos ao me ouvir, surpreso e interessado no que ainda
tenho para falar. — Se eu quiser te levar em um final de semana comigo
para o lugar que me der na cabeça, para curtirmos, nos pegarmos e fazer o
que tiver ao nosso alcance… você toparia ou iria deixar de aproveitar
porque seria eu a pessoa que bancaria tudo?
Fernando mexe nos dedos, entorta os lábios e demora a responder.
— Eu nem teria roupa para viajar com você!
— Eu te levo no shopping e você compra o que quiser.
Ele ri sem humor.
— Isso é irreal para mim, Paola.
— Mas para mim, não! E não estaria te pedindo nada em troca além
da sua atenção e companhia.
— Sendo bem sincero, eu acho que toparia porque qualquer tempo
que puder estar contigo, vale a pena. Mas não vou negar que não acabaria
me sentindo mal em alguns momentos, mas tentaria fazer com que isso não
atrapalhasse nossa viagem.
É uma resposta melhor do que pensei que ele me daria, o que me faz
sorrir.
— Se pudesse te dar um conselho, diria apenas para aproveitar a
presença dessa grande gostosa que eu sou e deixasse o resto pra lá!
Seu olhar desce pelo meu corpo e depois engole em seco,
concordando.
— Que tal você fazer um brigadeiro para nós e depois assistirmos a
um filme?
Pretendo assistir no meu quarto, mas ele pode descobrir isso só
depois.
— Acho uma excelente ideia.
Descemos até a cozinha e já me sento na bancada ao lado da pia,
deixando-o conhecer melhor o ambiente e descobrir onde fica tudo, até
porque, nem eu sei muito bem onde as coisas estão.
Ele pega os ingredientes, coloca-os ao lado do cooktop, junto com a
panela e tira o celular do bolso, pondo ao meu lado em um lugar seguro.
Nunca pensei que poderia ser tão hipnotizante ver alguém fazer um
simples brigadeiro, mas não consigo desviar meus olhos dele.
O moreno vai me falando algumas coisas sobre culinária e concluo
que cozinhar é realmente um dom, porque parece ser difícil demais.
— Eu quero provar.
Fernando coloca um pouco mais na colher que já está lambuzada e
vem até mim para me dar. Só que do nada, ele passa a colher nos próprios
lábios, mas só preciso de alguns segundos para entender o que está fazendo.
Sem me importar por estar de saia, abro as pernas o suficiente para
que ele se encaixe entre elas e assim que se aproxima, passo a língua no
lábio superior dele, sentindo o gosto bom do doce e em seguida chupo o
inferior com um pouco de força, puxando-o para mim.
— Gostoso? — me pergunta quando solto sua boca e passa a língua
por onde passei a minha, segundos atrás.
— Traz aquela panela pra cá, Fernando. — Praticamente ordeno e
ele faz na hora. Lambuzo minha boca também e o encaro. — Prova você e
me diz se está bom mesmo.
Ele deixa a colher que estava segurando cair em cima da bancada,
encaixa sua mão em minha nuca e puxa meu rosto contra o dele, iniciando
um beijo delicioso e bem melado.
Sua língua não perde tempo e passeia por cada cantinho da minha
boca, travando uma batalha com a minha. Nossos lábios se encaixam
ridiculamente bem, como se fossem moldados um para o outro.
Sua outra mão livre segura minha cintura e ele a aperta com uma
certa força, mas é gostoso. Eu apoio as minhas na sua bunda, apenas para
empurrá-lo para frente, fazendo com que cole seu corpo no meu. Depois
aliso seus braços e enfio meus dedos pelo seu cabelo, enrolando-os nos fios
que realmente são macios.
Fernando desce a mão que estava em minha nuca e vai fazendo um
caminho lento pelas minhas costas, arrepiando-me dos pés à cabeça.
Mordisco seu lábio inferior e ele suspira forte na minha boca, mas
não para de me beijar, muito pelo contrário, intensifica ainda mais o nosso
beijo.
Sinto o peitoral e barriga firmes encostados em mim, e também tem
mais uma coisa dura roçando levemente na minha perna.
Uma ansiedade para poder tocá-lo mais cresce no meu íntimo e
enfio minhas mãos por dentro da sua camisa, passando as unhas em seu
tanquinho definido.
Sinto seu corpo arrepiar e finalmente ele aperta minha bunda,
puxando meu quadril na direção da sua virilha, deixando-me sentir sua
ereção.
E é muita ereção!
Não estava esperando que nosso primeiro beijo fosse tão… porra,
tão gostoso!
Simplesmente não quero parar.
Enrosco minhas pernas na cintura dele, prendendo-o ali, coladinho
em mim e o sinto sorrir entre o beijo.
Fernando sabe perfeitamente que estou gostando e se empolga ainda
mais, passando a língua ao redor dos meus lábios, mordiscando meu queixo
e voltando a me beijar sem que eu consiga me concentrar em apenas uma
sensação.
E só paramos quando nós dois estamos quase sem ar.
Ficamos com os rostos próximos e misturando nossas respirações
ofegantes, ambos atordoados.
— Você beija bem demais para a minha sanidade — digo, ainda
com a respiração descontrolada.
— E você é gostosa demais para que eu consiga me manter longe.
Sorrio ao ouvir e tombo um pouco meu corpo para trás, querendo
vê-lo melhor.
— Isso é fácil de resolver… é só não se manter longe, baby
cozinheiro!
Ele olha meu corpo novamente, mordendo o lábio ao ver que a saia
subiu ao ponto de deixar minha calcinha à mostra.
E não me importo.
Por mim, estaria sem ela.
— Porra, isso é demais para mim!
Ele volta a me beijar, e tenho a sensação que nunca beijei uma boca
tão gostosa como a dele.
15

Paola conseguiu me convencer a ficar na casa dela e a nossa


intenção era uma bem diferente de dormir, mas quando fomos assistir ao
filme no seu quarto, a morena começou a sentir uma dor e descobriu que
estava menstruada.
Ela ficou frustrada porque tinha outros planos, mas não me importei,
porque isso não impedia que continuássemos nos beijando e foi o que
aconteceu, tanto que o filme de terror que ela queria ver foi totalmente
ignorado.
Sempre vi minha mãe reclamar muito de cólica, então peguei a
bolsa térmica da Paola, a esquentei e trouxe para pôr em seu ventre.
Aproveitei também para cortar umas frutas para que ela comesse com o
brigadeiro, que foi algo que disse que gostava. Ficamos conversando até
umas três horas da manhã, que foi quando ela dormiu.
Fiquei um bom tempo olhando para o teto, pensando na nossa
conversa de mais cedo e como a forma que ela pensa me surpreende e até
me deixa um pouco mais tranquilo, mas não muda o fato de que me sinto
mal por saber que não irei conseguir proporcionar a ela uma experiência
legal como já fez comigo ao me levar até minha família de helicóptero.
Acordei um pouco antes das seis e resolvi ir até o jardim.
Os seguranças parecem estátuas e fingem que não estão ali, mas é
impossível não ver aqueles homens enormes, vestidos de preto no meio de
um jardim tão verde.
Os cachorros estavam brincando perto da piscina e vou até eles, que
correm em minha direção e quase me derrubam na água, afinal, não sei o
comando que a Paola faz para que eles não pulem.
— Ei, ei… fiquem calmos!
Ganho a lambida de um e o outro fica querendo minha atenção,
então decido sentar ali na grama para não acabar caindo.
— Isso, calminhos. — Eles sentam também e cada um apoia uma
cabeça em uma das minhas pernas. Aproveito para fazer carinho neles, que
até acabam dormindo ali.
Perco a noção do tempo, mas quando o sol começa a incomodar
minha pele, me levanto e prometo que ainda hoje volto para dar mais
atenção aos dois.
Deixei meu celular no quarto dela e não sei que horas são, mas acho
que preparar o café da manhã pode ser interessante.
Entro novamente, me sentindo um estranho por estar sem camisa,
mas Paola acabou adormecendo sobre ela e vou até a cozinha, onde
encontro uma mulher já fazendo algumas coisas.
— Bom dia! — digo e ela levanta a cabeça para me ver.
— Olá, bom dia. Não sabia que a dona Paola estava acompanhada
— diz. — O senhor gosta de algo específico no café?
— Não, o que tiver está perfeito. Obrigado!
Ela sorri e volta aos seus afazeres.
Não sei se me acostumaria em ter alguém fazendo todas as minhas
refeições. Gosto muito de cozinhar e talvez tivesse ciúmes da minha
cozinha sendo comandada por outra pessoa.
Fico sem saber o que fazer e para onde ir, então decido voltar para o
quarto dela.
— Ei, bom dia! — ela me diz, já sentada em sua cama, com o
notebook no colo. — Te mandei mensagem para saber onde estava, mas aí
seu celular vibrou aqui ao meu lado — fala e bate a mão no lado da cama
onde dormi e me sento ali. — Preciso só responder esse e-mail e aí a gente
já desce para tomar café, pode ser?
— Pode, claro!
Me aproximo e dou um beijo em seu rosto, sussurro um bom-dia
baixinho e ganho um selinho dela.
Pego meu celular para me distrair enquanto ela trabalha e fico no
Instagram, passando as publicações mais recentes e o que mais aparece é
receita.
Tem uma solicitação nova de amizade e abro para ver quem é.
Jullie.
Tenho quase certeza que é uma menina que faz curso comigo, mas
seu perfil é trancado e pela foto ali, não tenho tanta certeza assim, por isso
não aceito e nem a sigo de volta.
— Entre essas duas cores, qual você acha mais bonita? — Olho para
a tela do computador e vejo dois tons de azul muito parecidos, sendo que
um é mais fosco e o outro brilhoso. — Seria para as suítes presidenciais.
— Acho que a fosca é melhor. — Aponto.
— Ótimo, era essa mesmo que eu tinha preferido.
Ela acaba me mostrando outras coisas, inclusive os móveis que
serão usados em um dos hotéis fora do Brasil.
É tudo de muito bom gosto e vejo os valores abaixo. Mas faz
sentido que seja tão caro e de qualidade, toda a rede é muito famosa e um
dos motivos é por tudo ser tão impecável.
Em todos os sites de avaliações de hotéis e resorts, eles têm ótimas
notas e ganham vários prêmios.
— Como está se sentindo? — pergunto por causa da cólica da noite
anterior.
— Estou bem! Normalmente sinto dores só nas primeiras horas e
depois fico um pouco melhor, só um leve incômodo.
Menos mal, eu acho.
— Se eu te chamasse para ir em um lugar comigo, você iria?
Ela sorri animada e confirma.
Pego meu celular para mandar mensagem para a mulher responsável
pelo local e na mesma hora ela me responde que será de grande ajuda se
pudermos comparecer.
Descemos para tomar café, depois Paola vai cuidar dos cachorros,
toma seu banho e vamos até minha casa para que eu consiga trocar de roupa
e pegar meu violão.
Ela vai ser a primeira mulher que já fiquei que entra lá, mas deixei
claro que é uma vila e moro em uma quitinete menor que qualquer cômodo
de sua casa, mas ela apenas revirou os olhos e me disse para parar de ser
chato.
Dessa vez ela decidiu ir com o motorista ao invés de dirigir, então
ele para o carro na rua e aguarda lá fora com os seguranças e nós entramos.
As vizinhas que nunca me viram com ninguém, ficam curiosas e sei
que acabarei sendo assunto por pelo menos um ou dois dias, até que elas
procurem outra fofoca para fazer.
Destranco o portão e depois abro a porta, dando passagem para ela
entrar.
— Bem-vinda ao meu lar!
— Obrigada, Fer. — Ela dá uma breve olhada e depois vira para
mim. — Posso me sentar em sua cama?
— Claro, fica à vontade.
Pego uma outra roupa, tomo um banho bem rápido e quando saio do
banheiro, a encontro olhando meus CDs, curiosa para descobrir meu gosto
músical.
— Nada de Heavy Metal? — pergunta ao notar minha presença.
— Não, não faz meu estilo.
— Decepcionante! Pensei que ia tocar uma música bem pesada com
a sua guitarra — brinca e depois continua olhando. — Também adoro
Coldplay.
— É uma das minhas bandas favoritas.
— Escuto eles todos os dias… Matheus e Kauan, Maroon 5,
Rebelde e mais algumas cantoras pops — me conta e depois vem até onde
estou. — Minha canção favorita da vida é Meu Oxigênio, de M & K.
Não lembro de já ter ouvido, mas com certeza escutarei mais tarde
para conhecer a letra.
— Não sei se tenho alguma favorita, mas gosto muito do Simple
Plan.
— Também curto — diz. — Parece que não iremos sofrer ouvindo
as músicas um do outro, pelo menos.
Pego meu violão no suporte acima da minha cama, o coloco dentro
da capa, a apoio em meu ombro e a chamo para irmos embora. Voltamos
para o carro e dou o endereço ao condutor, que nem questiona, e apenas nos
leva até lá.
Paola fica todo o caminho tentando descobrir aonde vamos, mas
nenhuma das suas respostas chegam perto.
Assim que chegamos no INCA, acho que a ficha dela cai e a vejo
engolir em seco.
Eles conseguem colocar o carro no estacionamento privado para
funcionários e o motorista diz que ficará lá, enquanto o segurança nos
acompanha.
— Acho que você não esperava por esse tipo de passeio, mas tenho
certeza que vai se sentir a melhor pessoa do mundo depois de fazer o dia
dessas crianças serem um pouquinho melhor por conta de sua visita.
Paola concorda, já com os olhos marejados.
— Você é voluntário há muito tempo? — ela pergunta enquanto nos
encaminhamos para a sala onde os demais voluntários ficam, com roupas e
maquiagens à disposição.
— Desde os meus 18 anos.
— Isso é um ato muito lindo, Fer. — Ela aperta minha mão ao falar
e sorrio.
JP perdeu a irmã para o câncer quando ela ainda tinha apenas seis
anos e isso mexeu muito com ele e com todos que eram próximos dela.
Foram meses de um luto muito cruel, e antes mesmo de ela falecer,
começamos a vir na ala infantil aqui do Hospital do Câncer.
Inclusive, ele está estudando medicina por causa disso.
Meu amigo diz que quer se especializar nessa área e dar tudo de si
para salvar o máximo de pessoas possíveis que têm essa doença terrível.
Ele pode ser um babaca na maior parte do tempo, mas seu coração é
muito bom.
Assim que entramos na sala, apresento Paola para as pessoas que já
conheço e ela vai até a arara para ver alguma fantasia para usar. Pego a que
uso sempre, do Capitão América e vou até o banheiro para me trocar.
Quando volto, a encontro vestida de Mulher-Maravilha.
— Será que faremos um crossover dos universos rivais?
— A única coisa que eu sei é que você dá de 10 a 0 na Gal Gadot e
na Lynda Carter.
Ela sorri e depois pisca para mim.
Guardamos as roupas no cantinho e pego meu violão, esperando que
mais umas duas ou três pessoas se juntem a nós para começarmos a ir de
quarto em quarto.
— Oi, gente. Quero muito agradecer a presença de vocês, é sempre
um dia bom quando nossas crianças conseguem se divertir um pouco — a
enfermeira chefe nos cumprimenta e depois suspira. — Tem como irem
primeiro no quarto 21A? Nossa menininha está muito fraquinha, achamos
que ela não passará dessa semana.
Merda.
Isso é terrível.
Crianças não deveriam conhecer a dor tão cedo assim.
É injusto e doloroso demais de assistir, mas qualquer coisa que a
gente possa fazer que alivie, mesmo que momentaneamente, já é algo
positivo.
Todos nós vamos até onde a paciente está, ela se chama Karen.
— É aqui que tem uma super-heroína chamada Karen? — uma outra
voluntária vestida de Jean Grey pergunta e a menina que está visivelmente
muito abatida abre um sorriso enorme, que ilumina todo o ambiente.
— So-sou eu! — ela diz, bem fraquinha enquanto olha para cada um
de nós. — Mulher-Maravilha, você veio me ver?
Paola mantém um sorriso no rosto, mesmo com os olhos prestes a
derramar algumas lágrimas.
— Claro que sim, eu vi seu chamado.
— Viu mesmo? Q-que legal. — Ela tosse depois de responder e a
enfermeira lhe dá um pouco de água pelo canudo. — Estou esperando você
para irmos embora, eu quero descansar.
A situação fica ainda mais difícil quando a criança tem noção do
que está sentindo e prefere partir, porque sabe que é melhor dormir para
sempre do que ter que sentir tanta dor diariamente.
— E nós iremos juntas para onde você quiser.
Paola está se saindo muito bem.
Nós perguntamos qual é a música favorita dela, e ela diz que é a do
Tiago Iorc, Amei Te Ver. Chego um pouco mais perto da cama e começo a
dedilhar as cordas com as primeiras notas da música que já conheço, e todo
mundo vai cantando comigo.
Ela se esforça para conseguir acompanhar, mas na maioria do tempo
apenas sorri e balança um pouco a cabeça.
Enquanto continuo tocando, os outros vão colocando alguns balões
no quarto, para deixar com um clima mais descontraído e mesmo que exista
uma possibilidade de ela não conseguir brincar, colocamos um kit com
vários jogos, massinhas, lápis de cor e desenhos para colorir ao lado da sua
cama.
Karen pede um abraço especial da Mulher-Maravilha e depois
recebe um em grupo, que é basicamente todos nós abraçando a cama dela. E
antes de irmos embora, tiramos uma foto com essa pequena guerreira.
Sempre que saímos de um quarto, tomamos uns cinco minutos até
entrar em outro porque é muito pesado, ainda mais no estado que ela está, e
Paola aproveita esse momento para deixar as lágrimas que tanto segurou,
escorrerem.
Todo mundo no início passou por isso, e em determinados casos,
ainda passamos.
A abraço, beijo sua testa e depois lhe dou um selinho.
— Quer continuar?
— Sim, quero muito. — Ela limpa próximo do rosto e passo meu
polegar na última lágrima que ainda escorria pela sua bochecha. —
Obrigada por ter me trazido, isso com certeza é algo único.
Sorrio e dessa vez recebo um beijinho dela.
Essa madrugada serviu muito para pensar sobre muitas coisas,
inclusive nas diferenças de nossas vidas. E ela foi bem clara em dizer que
tem dinheiro suficiente, então a única coisa que me cabe é pelo menos ser
uma boa companhia e tentar fazer com que todos os nossos momentos
sejam únicos… até quando tudo durar.
16

De todos os lugares que ele poderia me levar, nunca imaginei que


seria em uma ala infantil do Hospital do Câncer para fazer aquele
voluntariado lindo.
Nós passamos toda a manhã e metade da tarde lá, dando um pouco
de cor nos dias nublados daquelas crianças.
E isso me fez refletir sobre tantas coisas.
Não sei o que faria se fosse um filho meu ali, e a enfermeira disse
que têm pais que quase nem vão lá vê-los, que praticamente os
abandonaram por acreditar que não tem mais solução.
Como eles são capazes? Isso é cruel demais.
No final, chamei todo mundo para uma churrascaria, por minha
conta. Pessoas que dispõem do seu tempo para fazer aquilo, merecem ser
compensadas.
E por mais que eu tenha chorado cada vez que saí de um daqueles
quartos, me disponibilizei para participar do projeto sempre que pudesse.
Todos ficaram felizes, porque é sempre bom.
Também vou fazer uma doação anônima para eles. Percebi que
muita gente ali mal tem o dinheiro da passagem para ir ao hospital, então
não tem tantos recursos, e também para comprarem outras fantasias e
fazerem mais kits com os brinquedos.
Fernando só tem me surpreendido.
Se eu achava que o coração dele era bom, agora tenho toda certeza
do mundo, e isso faz com que eu queira mantê-lo próximo.
É bom ter alguém como ele ao meu lado.
Pego meu celular quando o sinto vibrar e vejo o rosto do meu pai na
tela.
— Oi, pai! Tudo bem?
— Oi, minha vida, tudo sim! Você viu que saiu uma notícia sua
naquele aplicativo que sua mãe adora usar?
Notícia minha no Instagram?
Que estranho!
— Vi não, pai! É alguma coisa ruim?
— Não, filha. Mas já recebi algumas mensagens de repórteres
querendo saber sobre as caridades que nossa família faz.
Será que foi alguma foto no hospital? Acho que só pode ter sido
isso.
— Pai, o senhor sabe que não gosto de ficar falando sobre essas
coisas. Sempre soa como se fizéssemos com a intenção de parecermos boas
pessoas aos olhos dos demais, parece que é forçado.
E tenho essa sensação porque a maioria dos eventos beneficentes
que participamos, é repleto de gente medindo o quanto precisam doar para
serem notícia.
Sei que por bem ou por mal, pelo menos estão ajudando, mas acho
muito feio querer mídia em cima de assuntos delicados.
Não compactuo com isso e mesmo doando milhões por ano para
diversos institutos diferentes, sempre peço para que meu nome não saia nas
listas de doadores.
Realmente só quero ajudar, mais nada.
— E é por isso que você é meu orgulho! — meu pai diz do outro
lado e sorrio. — Só queria garantir que ter recusado todos eles foi a
decisão certa.
— Sempre será, pai. Não precisamos disso!
— E falando nisso, em três semanas acontecerá o leilão
beneficente. Você irá?
Esse leilão é puro caos e competição de pessoas famosas e ricas
querendo aparecer, porque o criador do evento é megafamoso e acaba indo
repórteres de todos os canais de comunicação para ficarem falando sobre.
Mas é importante estarmos nele por conta do network.
— Vou sim, claro!
— Precisa de algum convite a mais? Receberemos os nossos nesta
semana.
— Só mais um, por favor.
Não sei ao certo se vou chamar alguém, mas talvez eu convide o Fer
para ir comigo. Vou esperar chegar mais perto do evento para tomar essa
decisão.
Encerramos a ligação na hora que o motorista chega no hangar em
que o jatinho da minha família fica, aguardando que um de nós precise usá-
lo para algo.
Vejo que Gael já está lá fora, esperando por mim.
— Bom dia, Gael.
Ele me cumprimenta com dois beijinhos e depois subimos na
aeronave e nos sentamos. Já pego meu notebook e o coloco na mesinha de
frente à minha poltrona.
— Lembra de todas as loucuras que já fizemos aqui?
— Hummm, não.
— Jura? — Ele sai de onde estava e senta à minha frente. — Nem
da vez que usamos a suíte par…
— Gael, não são nem dez horas da manhã! Não começa, tá?
Ele levanta as duas mãos, como se estivesse se rendendo e coloco o
cinto quando o piloto informa que vamos decolar.
Espero até poder tirá-lo novamente e ligo o computador para
trabalhar enquanto viajo para Hamptons, em Nova Iorque.
Hoje é segunda-feira e minha intenção era ficar lá até quarta, mas
voltarei na quinta porque amanhã é a festa de Halloween do Noah, Barbie e
Jacob, que fazem aniversário em datas próximas e sempre deixam a
comemoração para esse dia que já é muito festejado nos Estados Unidos.
Barbie quem garantiu minha fantasia.
O tema deste ano é Disney, porém tem que ser no clima de terror, e
ele que é o mais animado com isso, decidiu que eu seria a Jasmine zumbi.
Até a maquiadora já entrou em contato comigo, mostrando as
opções de maquiagem e eu amei, ela parece ser muito boa.
Abro o meu e-mail e leio todos os que chegaram hoje cedo e que
ainda não tinha visto. Anoto no outro arquivo que já foi feito o pagamento
dos 50% de todos os artistas para o Réveillon. Aproveito para pegar a lista
de pessoas que já falaram que querem estadias em alguns dos hotéis e envio
essas informações para cada administração, pois assim eles mesmos entram
em contato com a galera para passar valores e quartos disponíveis.
— Você vai ficar no hotel de Copacabana, Gael? — pergunto,
porque ele sempre fica lá.
— Vou, sim! Ainda tem suíte de frente para a praia?
Entro no sistema de reservas de vagas e vejo que tem apenas quatro.
Começamos as vendas há poucas semanas, mas sempre acabam
muito rápido, porque as pessoas que já foram e querem ir novamente, se
programam para não ficarem sem o quarto que desejam.
— Já reservei para você. Ainda hoje devem mandar todos os dados e
o valor.
— Vai cobrar de mim, amor?
Reviro meus olhos com tanta força que chega a doer o meio da
minha testa.
— Por que eu não cobraria? Você tem dinheiro suficiente para
bancar seus luxos.
— Você está mais seca do que o normal comigo… Aconteceu algo?
Demoro a respondê-lo porque dou prioridade ao e-mail que estou
lendo, e só depois o encaro para falar.
— Gael, apesar de tudo, tenho um carinho muito grande por você e
admiração pelo seu lado profissional, mas tem hora que seus flertes são
muito chatos — explico de maneira educada. — Já tem três anos que nos
separamos, não vai rolar nada, sabe disso! Podemos nutrir uma boa amizade
ou você pode me irritar com essas piadinhas.
Ele me olha sério, o que não é muito comum da parte dele, que é
sempre sorridente para mim.
— Isso tem algo a ver com aquele cara do bar?
— Que cara do bar?
De quem ele está falando?
— Aquele com cara de criança que estava com você algumas
semanas atrás.
— Não, isso não tem nada a ver com o Fernando. Isso sou eu
cansada de fingir que não me irrito com seus flertes para não acabarmos
tendo um atrito — pontuo. — E aproveitando que tocou no assunto do
bar… não me importo que funcionários se relacionem fora da empresa, mas
se você fizer alguma merda e isso gerar problema para mim, não o pouparei
e a demissão virá.
Ele ergue uma sobrancelha, sem acreditar no que digo.
— Sou descartável até como profissional?
— Você é o melhor engenheiro que já tive a oportunidade de
conhecer, mas fiquei sabendo que fez um acordo de sigilo com sua antiga
secretária e não sou idiota.
Seu maxilar trinca e ele se levanta, indo até o bar do avião.
Depois que nós nos separamos, Gael mostrou um lado que eu não
conhecia, que era o pegador.
Não foi algo que me incomodou porque não existia mais amor da
minha parte, mas era estranho vê-lo daquela forma. Até nas festas lá em
casa, ele sempre aparecia com uma mulher diferente e se comportava de
forma inadequada na frente de outras pessoas.
E ele continuou assim por muito tempo, até que começou a abafar
seus casos.
Está tudo certo ele querer comer meio mundo, se esse tanto de gente
quiser dar para ele. O problema é quando limites são ultrapassados, e acho
que ele ultrapassou alguns com a antiga funcionária.
Meu ex se senta novamente, agora com um copo de uísque na mão e
um olhar de derrota.
— A verdade é que meus pais me infernizam querendo que eu volte
para você a qualquer custo — confessa. — E é como se eles conseguissem
fazer uma lavagem cerebral e acabo acreditando que vou conseguir se for
insistente demais.
— Eles nunca gostaram de mim! Só gostam do fato de eu ser uma
Santana, e a única herdeira do meu pai. — Ele nem me encara enquanto
escuta o que falo, pois sabe que é verdade. — E eles já passaram muito do
limite, Gael. Pedi aos meus pais que não os convidassem mais para nenhum
dos nossos eventos.
Ele concorda enquanto fixa o olhar no copo em sua mão.
— Acho que eu também queria reatar, sabe? Bem lá no fundo, sinto
sua falta, de verdade. Mas infelizmente não sou quem você quer que eu
seja.
— E tenho certeza que não faltarão pessoas que vão te amar do jeito
que você é — digo com a voz mais tranquila. — Você é do bem, Gael. Mas
o fato de não enxergar fora da nossa bolha, é um grande defeito para mim.
Ele vira a bebida e depois coloca o copo no suporte.
— Seria mais fácil se você fosse fútil igual essas mulheres que
tenho ficado.
— E eu acabaria sendo só mais uma que passou pela sua cama.
Seu olhar encontra o meu e ele sorri.
— É, você tem razão… prometo que vou deixar de ser
inconveniente!
— Agradeço imensamente por isso.
Ele é um bom exemplo que os pais podem tanto ensinar para o bem
quanto para o mal. Imagino que de fato deve ser horrível querer estar com
sua família e eles só falarem sobre uma terceira pessoa, forçando que o
filho faça algo que não é legal.
Não tocamos mais nesse assunto durante o voo, e depois de adiantar
o máximo de trabalho possível, decido tirar um cochilo porque a viagem é
bem longa.

◆ ◆ ◆

Adoro Nova Iorque, ainda mais em época de Halloween, que toda a


cidade fica enfeitada e é quase uma competição de quem faz a melhor
decoração nas casas.
Acordamos hoje bem cedo para irmos até a obra. Por mais que eu
não entenda muito da parte de construção, sempre me faço presente.
Chegamos em um ponto que quase tudo está pronto.
Contratei a empresa da Elizabeth e da Jô, mãe e sogra do Noah
Cooper, para fazerem a decoração interior e o paisagismo. Elas ouviram
cada coisa que pedi e fizeram um projeto incrível. Quase não mudei nada
porque realmente ficou muito lindo.
E vendo agora pessoalmente, valeu muito a pena contratá-las. Fora
que as duas são maravilhosas, pessoas incríveis de se trabalhar e lidar.
Depois de ter dado consentimento para algumas coisas da
finalização da obra e aprovado tudo que já foi feito, vim para o hotel me
arrumar e me maquiar para a festa.
Enquanto a menina finaliza meu cabelo, pego meu celular para ver
as mensagens, mas ignoro todas e abro direto a do Fer.
Fer: Tenho certeza que você vai ficar ainda mais gostosa nessa roupa.
Eu havia mandado a foto da fantasia para ele e pelo visto, foi
aprovada.
Depois de termos ficado pela primeira vez, parece que o meu baby
cozinheiro se soltou mais. Gosto muito dessa versão safada dele, e isso me
deixa muito à vontade para também mostrar meu lado malicioso.
Assim que fico com o cabelo e maquiagem prontos, faço o
pagamento da menina e ela vai embora. Fico sozinha no quarto e decido
mandar uma fotinho para o Fer.
Tiro o roupão, ficando só com a lingerie, vou para a frente do
espelho e mando para ele.
Eu: Olha como a maquiagem ficou incrível.
Me faço de sonsa e fico esperando a resposta dele.
Fer: Porra.
Fer: Puta que pariu, Paola.
Fer: Eu não estava preparado para uma maquiagem tão bem feita…
incrível!
Fer: Tão incrível que fiquei animado aqui.
Rio enquanto leio, me sentindo a mais gostosa de todas.
Eu: Queria ver o quão animado está.
Fer: Não me importaria de mostrar, mas meu celular não permite.
Merda, tinha esquecido disso.
Eu: Uma pena… eu tô sozinha aqui, seria ótimo me distrair um pouco
antes da festa.
Eu: Bom, vou me arrumar.
Eu: Beijos, baby cozinheiro.
Visto minha fantasia, coloco os acessórios, a bota e perco alguns
minutos tentando tirar uma boa foto para postar mais tarde.
Me admiro mais um pouco no espelho, me amando com a
maquiagem e a roupa que meu amigo escolheu pra mim, e depois desço
para pegar um táxi até o condomínio onde eles moram.
A festa será na casa do Noah, e Olívia me mandou algumas imagens
mais cedo de como estava a decoração. Eu amo que eles são mega-
animados e dão tudo de si para que fique impecável.
Meu nome já está na lista de convidados e o carro me deixa na
frente da casa.
— Paola! — Olívia também está chegando agora e na mesma hora
que me vê, vem em minha direção, abraçando-me. — Meu Deus, você está
deslumbrante.
Ela está vestida de Cinderela morta, com metade da fantasia perfeita
e a outra metade toda destruída, como se sua costela estivesse exposta e o
rosto machucado.
— Obrigada, Olívia! Amei sua produção, ficou perfeita.
Nós já aproveitamos para tirarmos uma foto juntas e depois
entramos.
No Carnaval em que passaram no Brasil, acabei fazendo amizade
com todos e os adorei de cara. Eles são um grupo enorme de amigos que se
tornaram uma família linda e muito unida.
É difícil ver tantas pessoas diferentes se darem bem, mas eles
conseguem com maestria.
— Nunca pensei que uma Pocahontas com o pescoço dilacerado
seria tão linda — falo ao encontrar com a Kath, que me dá um abraço forte
e já me puxa para ver as crianças, que agora são muitas.
Me perco enquanto ela mostra quem é filho de quem, e até descubro
que a Liz e o Justin adotaram outros dois meninos, que parecem ter se dado
muito bem com toda a família.
Milla está cada dia mais linda e enorme, além de ter mudado muito
desde a última vez que a vi. Mas parece tão animada brincando, que nem a
atrapalho agora e deixo para dar um beijinho nela depois.
— E você, continua solteira? — Kath me pergunta enquanto vamos
até a mesa onde o rapaz está fazendo vários drinks.
— Sim, sigo solteira!
Ela me olha com atenção e sorri.
— Mas…?
— Mas estou conhecendo um cara. É bem recente, só que tenho
pensado muito nele e percebi que perdi o interesse em outras pessoas, sabe?
Nem flerto mais só por diversão.
— Se eu fosse te dar um conselho, falaria para aproveitar sem
pensar muito nas coisas — ela diz e pega nossas taças temáticas com as
bebidas. — Ele é do seu ramo?
Faço que não com a cabeça.
— Ele trabalha no restaurante dos pais da Emma.
— Mentira?
— Juro para você!
— Falando nela… — Emma vem até onde estamos, ganho mais um
abraço gostoso e um elogio. — Jacob conseguiu lidar bem com você saindo
de casa com essa fantasia? — Kath pergunta, já com uma risada entalada na
garganta.
A ruiva, que está fantasiada de Ariel que tem uma perna humana
toda nua, uma parte com a cauda toda machucada, e um generoso decote
também ferido, revira os olhos ao ouvir a pergunta da amiga.
— Olha, se eu não o amasse tanto, já teria dado uma injeção de ar na
veia dele.
Rio ao ouvi-la, mas sua cara séria não dura nem meio minuto.
— Vocês dois são incríveis juntos! — comento.
— Somos, né? — ela responde, toda bobinha e com o olhar de
apaixonada.
— Não gosto de fazer fofoca, mas fiquei sabendo que um dos
funcionários do Costellazione ganhou a atenção de uma amiga nossa.
Emma me olha surpresa e curiosa.
— Quem?
— O Fernando! Conhece?
— Não pessoalmente porque ele é novo lá, mas meus pais têm
falado muito bem dele ultimamente. Inclusive, ontem mesmo eles falaram
do jovem que com certeza, ainda será muito famoso no ramo da culinária.
Sorrio ao ouvir isso.
Conversamos um pouco sobre ele e atualizo-as de como estamos.
Barbie se aproxima de nós para falar comigo, me dando um abraço
apertado e um beijo no rosto.
— Eu sabia que a roupa ficaria ótima em você! — ele diz,
totalmente orgulhoso da sua decisão. — E o que estão falando para estarem
tão animadas assim? É homem, né?
— Paola está conhecendo um rapaz que trabalha no restaurante dos
meus pais. — Emma se adianta, animada com a fofoca como se fosse algo
absurdo.
Barbie me olha e ergue as duas sobrancelhas.
— E ele é mais novo que ela! — Kath completa.
— Então você é do time do Jacob, que curte pessoas com cheirinho
de leite?
A ruiva dá um tapa no braço do nosso amigo, que está vestido de
príncipe Henry, que assim como a Olívia, também é metade morto e metade
vivo. Até spray para escurecer o cabelo ele usou, entrando totalmente no
personagem.
Eu não dou muito assunto para o Barbie porque ele é muito
implicante, mas acabo mostrando uma foto do Fer para eles.
— Até que é bonitão — diz meu amigo.
— Ele é um gato, Paola! — Emma fala.
Depois de um tempo, consigo fugir desse assunto e vou falar com
quem ainda não tinha visto, aproveitando para pôr o papo em dia com a
maioria das pessoas.
Todo mundo aqui é incrível e eu queria poder morar perto deles para
estarmos sempre juntos. Mas toda vez que nos vemos é especial e único.
Durante a noite, vou fazendo vários stories, tirando muitas fotos e
também curtindo o máximo possível, o que me faz chegar no hotel quase às
três da manhã.
É tarde demais para enviar mensagem ao Fer, mas mesmo assim
mando só uma.
“Faltou você aqui!”
Depois disso, tiro a maquiagem, arranco a fantasia do corpo e caio
na cama morta de sono.
17

Consegui fazer a mudança de horário do curso, o que deixou


Bárbara chateada, já que agora ela disse que somos amigos, mesmo sem
acreditar que homens e mulheres podem de fato ter uma amizade.
Não me surpreendi ao chegar na primeira aula de manhã e encontrá-
la ao lado de uma cadeira vazia, animada com a minha chegada.
— Não acredito que você fez isso!
— Eu sei que não seria fácil não ter mais a minha presença, então
fiz esse esforço por você.
Uma risada me escapa porque ela fala como se realmente
acreditasse nisso, mas não vou reclamar, a companhia da ruiva é boa,
mesmo ela sendo uma tagarela.
Nosso curso é completo, o que significa que também tem a parte de
pâtisserie, em que aprendemos a fazer doces e bolos.
Gosto muito desse módulo, mesmo que não seja do meu interesse
trabalhar com isso. Mas poder aprender com perfeição as técnicas de
confeitaria é incrível. E a Paola adora meus doces, tenho certeza que
gostará ainda mais.
Ela volta hoje de viagem, porém, agora que estou trabalhando à
noite, não conseguirei vê-la nesse horário, porque saio tarde do restaurante.
Contudo, amanhã já é sexta e poderemos nos ver, caso ela não
durma cedo.
Nós vamos até o laboratório, que no caso é a cozinha, e começamos
a colocar em prática o que aprendemos essa semana.
Minha amiga está indo muito bem em tudo que faz e temos recebido
muitos elogios, o que é muito bom e nos anima a continuarmos dando nosso
máximo.
— Vamos almoçar no boteco ali da esquina? — Ela me convida
quando estamos saindo. — Falaram que ali vende um bife de fígado com
purê muito gostoso. O que acha?
— Valeu, Bárbara, mas hoje preciso resolver umas coisas lá em
casa.
Ela reclama um pouco, porém se despede e vou para o ponto,
andando distraído pela calçada.
A fila está enorme, o que não é normal e me faz pensar que as vans
estão atrasadas, mas não tenho muito o que fazer, então fico ali esperando.
Vinte minutos e nada.
Quarenta minutos e nada.
Isso me deixa um pouco irritado e pego meu celular para me distrair.
Obviamente, vou até o perfil da Paola e vejo que ela postou um
carrossel com as fotos da festa de Halloween dos amigos dela de Nova
Iorque. Depois vou no perfil de cada uma das pessoas que ela marcou.
É, estou stalkeando os amigos da mulher que sou a fim.
A que ponto eu cheguei?
Todos com certeza são bem de vida e tem uma que parece ser
famosa, mas não conheço.
Será que ela já ficou com algum deles? Ou pior, será que ela ficou
com alguém lá nessa viagem?
Não deveria ter esse tipo de pensamento, mas é involuntário porque
esses homens com certeza fazem o tipo dela.
Merda.
Odeio me sentir inseguro. Mas como não me sentir assim estando
com uma mulher como ela?
É horrível, porém não consigo controlar esse sentimento.
E como se sentisse que estou pensando nela, a morena me manda
uma mensagem.
Paola: Você vai trabalhar nesse final de semana?
Eu: Não, nesse estou livre! Por quê?
Paola: Ótimo!
Paola: Vamos a Goiás comigo?
Paola: Thaís mora lá e é aniversário dos pais dela. Eu iria gostar
se você fosse.
O que eu respondo?
Quero ir para passar um tempo com ela, mas não sei se devo. Nem
tenho roupa para o evento, que sem dúvidas, deve ser muito luxuoso.
Paola: E antes que fale que não tem roupa, isso não é um problema!
Vamos ao shopping no sábado bem cedinho e compro umas para mim e
você vê algo que te agrade.
Eu: Eu topo desde que você me deixe comprá-las na C&A ou na
Riachuelo.
A palavra “digitando” aparece, some, aparece de novo e, por fim, a
mensagem vem.
Paola: Só homem mesmo para perder a oportunidade de comprar
uma Balenciaga, Hugo Boss, Ralph Lauren…
Paola: Mas se essa é a sua condição, por mim, tudo bem!
Eu: Então eu vou, sim.
A questão é que nessas lojas que citei, consigo pagar se comprar
apenas umas duas ou três peças, e aí ela não precisa gastar dinheiro comigo.
Nas que ela falou, acho que nem me deixariam entrar.
A van finalmente chega, vou para minha casa e depois de conferir
que tranquei bem a porta, pego a caixa que escondo atrás do guarda-roupa e
vejo quanto de dinheiro tenho ali.
Essa grana era o que eu estava juntando para o advogado do meu
pai, mas agora que a Paola conseguiu um para mim, não precisarei custear
mais o processo.
Conto todas as notas com atenção, incluindo as que coloquei
recentemente ali e totalizaram doze mil reais.
Meu salário irá aumentar se eu realmente trocar de função lá na
cozinha, e irei receber quatro mil por mês, o que é muito dinheiro para mim.
Tanto a ponto de eu conseguir mudar muitas coisas, poderia até ver um
lugar um pouco maior para morar, talvez mais perto do restaurante.
Conseguiria enviar facilmente mil reais todo mês para minha mãe,
ajudaria bastante nas despesas e ainda compraria alguns presentes para ela e
a Flavinha.
Preciso muito conseguir essa nova vaga.
Escuto alguém bater palma na frente de casa e guardo rápido a
caixinha para ir atender.
É um entregador, alguém deve ter deixado entrar.
— Fernando Couto?
— Sim, sou eu!
— Entrega para você — diz e vou até o portão. — Pode assinar aqui
e aqui, por favor. — Ele mostra os lugares e assino, confuso, mas realmente
é meu nome e meu endereço certinho.
Agradeço e entro com o pacote, que não é muito grande e já pego
uma tesoura para conseguir abrir com cuidado.
Não tem nome de nenhuma loja e está bem embalado. A etiqueta foi
feita a mão, o que é bem estranho. Se eu tivesse algum inimigo, ficaria meio
bolado com isso.
Consigo abrir a caixa e vejo outra, com um bilhete em cima.
“Não fica chateado com o presente, mas essa é a minha forma de
agradar as pessoas que gosto. E será muito útil, porque além de conseguir
tirar ótimas fotos dos seus pratos para o Instagram, também vai conseguir
me enviar algumas sem precisar desinstalar outro aplicativo. E tive uma
ideia muito boa, mas converso sobre ela pessoalmente.”
Tiro o papel e vejo que é o iPhone 15 Pro Max.
Ela não me deu apenas um celular, ela deu o mais recente e na
melhor versão com memória para dar e vender.
Releio o recado algumas vezes e fico esperando me chatear ou algo
assim, mas acabo sorrindo e abrindo a embalagem para ver o telefone.
Ele é lindo e bem grande, muito maior que o meu.
Coloco para carregar e já mando uma mensagem para Paola.
Eu: Acredita que acabei de ganhar um iPhone?
Paola: Mentira?
Eu: Eu acho que a mulher que me deu está super na minha, sabe?
Paola: Olha, eu só daria um presente assim para alguém que
realmente estivesse muito a fim.
Paola: Se eu fosse você, a surpreenderia com uma massagem bem
gostosa.
Paola: Dentro de uma banheira, de preferência.
Não aguento mais ficar de pau duro conversando com ela, já está
sendo doloroso e nem quando era adolescente, eu tocava tanta punheta
como estou tocando agora.
Eu: Ela me convidou para uma viagem… irei surpreendê-la nesse
final de semana, então.
Levanto da cama e sinto todo meu corpo agitado e ansioso.
Isso realmente vai acontecer.
Porra, nem quando eu era virgem fiquei tão nervoso assim. Mas
tenho total certeza que aquela mulher vai acabar comigo.
E vai ser de uma forma muito gostosa.
18

Pensei que seria mais difícil convencer o Fer a vir comigo para
Goiás, mas ele topou bem fácil e também não reclamou muito quando
fomos ao shopping.
A verdade é que ele é um amor, foi superpaciente enquanto eu
entrava em várias lojas, carregou minhas sacolas, comprou um docinho para
mim enquanto eu estava distraída vendo umas joias novas, e não negou
quando comprei duas calças de alfaiataria da Reserva para ele.
Tive que fazer isso sem que o moreno visse, mas o fiz vestir quando
fomos em casa para pegar as minhas malas, e acertei em cheio. Ele ficou
lindo e ainda mais gostoso com uma calça naquele corte. Percebi que o
cozinheiro também adorou.
O que ele comprou na Riachuelo, para minha surpresa, também é
bonito, só não sei se também posso elogiar a qualidade, mas ele é tão gato
que a roupa é só um mero detalhe.
Infelizmente meu pai teve que usar o jatinho para uma emergência e
só o usaremos na volta, pois meus velhos também virão para a festa.
Comprei passagens de primeira classe e em pouco mais de uma hora
chegamos no estado em que minha amiga mora.
Informei aos caseiros da nossa chácara que chegaríamos por volta
das 15:00 horas e eles deixaram tudo pronto para nos receber.
Amo esse lugar e a energia maravilhosa que tem aqui, o que me faz
pensar que preciso me organizar melhor para vir mais vezes.
— Bem-vindo à chácara Santana! — digo assim que saímos do
carro. — Pronto para conhecer o lugar em que passei quase todas as minhas
férias da infância?
— Precisaremos de mais de um dia para essa tour.
Fernando ia pegar sua mala, mas um dos funcionários pede com
educação para que deixe isso com ele.
A casa tem nove suítes, duas salas de TV, uma de jantar e outra de
jogos, um bar e adega no andar subterrâneo, área de lazer enorme e bem
rústica com direito a uma piscina que caberia facilmente umas cem pessoas,
e a parte onde ficam os animais, que é bem grande e que mostrarei depois.
— É tudo muito lindo, Paola.
— É mesmo, né? Eu sou apaixonada pela decoração daqui, acho que
combina muito.
Subimos para o segundo andar e mostro os quartos, exceto o do
meus pais e por último vou no meu, que fica no lado oposto ao deles.
— E aqui passaremos a noite de hoje!
Deixo que ele olhe tudo e vou até a janela para ver os animais, da
mesma forma que fazia quando era criança, imaginando por horas como
seria se eu vivesse na chácara quando adulta.
Sinto o calor do Fernando quando ele encosta em mim e me abraça
por trás, jogando meu cabelo todo para um lado, deixando meu ombro livre,
onde deposita beijos suaves, que arrepiam todo o meu corpo.
— Gostou do quarto?
— Ele é ótimo, tem tudo o que precisamos… até uma banheira!
Me viro de frente para ele, que não demora a capturar meus lábios
com os seus, iniciando um beijo gostoso e cheio de promessas.
Ao se afastar, mordisca o inferior e depois beija meu pescoço.
— E iremos precisar da banheira?
Ele sorri de lado e sobe a mão pelo meu braço, alisando-o em um
vai e vem.
— Com certeza!
E se não formos para a festa que começa ainda agora e já pularmos
para a parte que colocamos esse quarto abaixo?
— Acho que quanto mais rápido chegarmos lá, mais rápido
poderemos voltar — sussurro com nossas bocas próximas, antes de beijá-lo
novamente. — E estou doida para voltar.
— Concordo com você!
Escuto quando deixam nossas malas do lado de fora e aproveito a
deixa para pegar a minha, abri-la em cima da cama e pegar a roupa que já
tinha deixado separadinha para não demorar.
Vou ao banheiro, mas não fecho a porta, porque apesar de saber que
ele não virá aqui, quero-o imaginando como seria se tivesse coragem de
entrar e me encontrar nua no chuveiro.
Eu já estou com tanta expectativa, que tenho até medo de me
decepcionar. Mas se no final ele for ruim de cama, trouxe vibradores
suficientes para me ajudar com o que o Fer não for capaz.
Tomo um banho rápido, tomando cuidado para não molhar o cabelo
que já fiz bem cedinho e ao sair do chuveiro me seco toda, visto a lingerie e
antes de colocar o vestido, chamo o Fernando.
— Pode me ajudar aqui?
Abro o fecho do sutiã de propósito para fingir que não consigo
fechá-lo sozinho. Fernando trava na porta quando me vê seminua e fico
olhando para ele pelo espelho.
Deixo-o admirar o meu corpo pelo tempo que achar necessário, até
porque, adoro essa atenção e o vejo engolindo em seco antes de se
aproximar.
— Consegue fechar meu sutiã?
— Claro!
Seus dedos tocam suavemente minhas costas e ele fecha com muita
facilidade, mas não se afasta e sinto sua mão escorregar lentamente até
minha bunda, bem na renda da calcinha.
Solto um suspiro quando ele a alisa e respira pesado perto da minha
nuca, me arrepiando mais uma vez.
— Deve ser difícil para você no dia a dia não conseguir fechá-lo —
ele sussurra. — Espero que também precise de mim para abri-lo.
Talvez terei que trocar de calcinha.
— Vou precisar de ajuda com muitas coisas, Fer.
Vejo através do reflexo quando ele fecha os olhos, respira fundo
novamente e passa por mim, indo para perto do boxe.
Se achei que estava arrasando na provocação, não imaginei que isso
resultaria em vê-lo se despir totalmente na minha frente.
Fernando está completamente nu. E ele fica de frente
propositalmente antes de ir até o chuveiro tomar banho.
Não consigo sair daqui, muito menos desviar meus olhos do seu
pau.
Essa é uma parte do corpo do homem que não costuma ser bonita,
mas até ali ele consegue ser.
Esse cara com certeza não precisa falar “tamanho não é
documento.” E se realmente fosse, ele teria um puta de um documento
grande e bem robusto.
Pisco algumas vezes para conseguir voltar à realidade e pego meu
vestido, colocando-o aqui mesmo, sem ter forças para sair desse banheiro.
Fer lava o pau me olhando e queria muito que fosse minha mão no
lugar da dele, ou até mesmo outras partes do meu corpo.
— Vai ser uma festa muito difícil! — comento e ele ri. — Não
deveria ter ficado nu na minha frente.
— E você não deveria ser tão gostosa, linda!
Sempre achei o linda um elogio meio genérico, mas não é assim
quando sai da boca dele.
Vou até o quarto antes que de fato desista de ir e ligo o ar para
conseguir terminar de me arrumar, porque o calor que estou sentindo seria
capaz de fazer todo meu corpo derreter.
O moreno gostoso sai do banheiro com apenas uma toalha enrolada
na cintura e fica pelado ali antes de começar a se vestir.
— Como você consegue esconder essa sua versão? Eu só consigo
ser sempre uma safada!
Ele ri ao me ouvir, arrumando o cabelo com a mão.
— Te falei, linda! Não sou nem um pouco tímido, e você conseguiu
me deixar à vontade desde o início. Então não vejo problema de ser eu
mesmo quando estou ao seu lado.
— Pode ser assim sempre, estou amando essa sua versão.
Ele sorri e se aproxima, encurralando-me na parede atrás de mim.
— Sempre é tempo demais! Tem certeza? Quer mesmo que eu seja
safado em qualquer lugar que estivermos?
— A possibilidade disso parece ser um sonho!
Fernando me dá um selinho suave, porque já estou de batom e
depois se afasta.
— Lembre-se que foi você quem pediu.
Terminamos de nos arrumar e vamos para a festa, que é na fazenda
onde Thaís mora com os pais, quase ao lado da minha chácara. Mas o
terreno deles tem tantos hectares, que mesmo de carro, demoramos um
pouco para chegar.
A mão do Fer ficou o tempo todo em minha coxa e em alguns
momentos, ele mexeu seus dedos na parte inferior dela, mas fingia que nada
estava acontecendo.
Ele está disposto a me provocar e eu com certeza responderei à
altura.
O resto do dia será muito longo!
19

Paola e eu atravessamos qualquer barreira que ainda existia entre


dois possíveis amigos e duas pessoas que querem loucamente transar.
E decidi que mostraria o que ela tanto queria ver em mim: meu lado
safado.
Esse lado existe e é difícil de controlar depois que ele me domina.
Agora, por exemplo, estou com minha mão centímetros acima da
bunda dela enquanto esperamos em uma pequena fila para falar com os
donos da festa. O problema é que às vezes ela escorrega um pouco.
Claro que só faço isso porque sei que não tem ninguém atrás de nós,
mas a vontade é de tacar o foda-se e levá-la embora para fazer o que
queremos.
— Minha linda, que saudade! — a mãe da Thaís fala com a Paola e
fico ao lado dela. Enquanto estávamos no carro, fui bem sincero e perguntei
como queria que eu me apresentasse: como um amigo ou alguém com quem
ela está, e ela escolheu a segunda opção. — E quem é esse cabôco lindo?
— Sou o Fernando, senhora Lima! — Estendo minha mão, mas ela
me puxa para um abraço, como se me conhecesse há muito tempo.
— Se está com a nossa menina é da família. E, por favor, pode me
chamar apenas de Tânia!
Sorrio e depois falo com seu marido, que é tão simpático quanto ela.
Os parabenizo pelo aniversário de casamento e depois passamos por eles
para irmos até onde a festa está acontecendo.
Paola enxerga a amiga de longe e assim que chegamos onde está, a
loira não consegue disfarçar quando nos vê de mãos dadas e solta uma
risada.
— Vocês são fofos, que saco! — Ela nos abraça ao mesmo tempo.
— Fernando, você está um gato! E, amiga, você é linda o tempo todo!
As duas se elogiam, o que vejo que é algo normal de mulheres
fazerem quando gostam da outra com quem está falando.
— Está tudo tão lindo, amiga. Vocês reformaram a casa?
— Sim! Ficou pronta há uns dois dias, a obra foi infernal e acabei
ficando em um hotel porque estava impossível de dormir.
— Imagino.
Thaís volta a me olhar, sorrindo.
— Como tem sido lá no restaurante, baby cozinheiro?
— Tudo muito bem… inclusive, fui promovido oficialmente ontem!
Ainda não tinha contado à Paola e ela me olha surpresa, com um
sorriso enorme e os olhos brilhando, como se de fato estivesse orgulhosa.
— Isso é incrível, Fer. — A morena me abraça e depois me dá um
selinho. — Por que não me contou? Precisamos comemorar!
— Parabéns, cu!
— Cu? — pergunto sem entender.
— Cu-nhado!
Demoro um tempo para entender e solto uma risada inesperada.
A loira é muito espontânea e isso a torna engraçada e divertida.
— Obrigado, Thaís!
— Não, você tem que me chamar de cu de volta, se não fica paia
demais!
— Obrigado, cu! — me corrijo e ela sorri, satisfeita.
Paola não parece se incomodar com o que a amiga fala e apenas ri,
achando graça.
As duas conversam um pouco e aproveito para dar uma olhada nos
demais convidados, percebendo uma notável diferença entre pessoas que
provavelmente são daqui e as que não são.
O chão é todo gramado e tem mulheres de salto fino, passando
sufoco enquanto outras estão com saltos mais grossos ou botas.
Minha morena sempre fica radiante na presença da amiga e fico
feliz em saber que ela tem uma amizade verdadeira e sincera. Sei a
importância de ter ao menos uma.
Não tenho dúvidas que minha vida sem o JP seria bem pior. E por
mais que ultimamente não tenhamos nos visto muito, porque nossos
horários não estão batendo, nunca deixamos de nos falar.
— Não acredito que meus pais convidaram ele! — O tom raivoso da
voz da Thaís acaba chamando minha atenção e escuto o que elas estão
falando.
— É o Tomás? — Paola pergunta e a amiga confirma. — Nossa, ele
está bem diferente.
A loira revira os olhos e sai andando em direção ao convidado
indesejado, cheia de ódio.
Me aproximo novamente da minha acompanhante e nos sentamos
nas cadeiras que da mesa em que estamos.
Apoio a mão em sua coxa grossa e ela pisca para mim.
— Meus pais estão chegando! — ela comenta e concordo.
Mas aí me toco que estamos juntos aqui, como se fôssemos um casal
e a família dela está vindo para cá, provavelmente para ficar na mesma
mesa que nós.
Minha respiração se embola e sinto que vou acabar tendo uma crise
de falta de ar a qualquer momento.
— Paola… seus pais sabem que você está com alguém?
— Sabem!
— E tudo bem? Quer dizer… Costuma fazer isso?
— Na verdade, você é a primeira pessoa que eles irão ver comigo
depois do Gael — diz, na maior tranquilidade do mundo. — Mas relaxa,
eles são ótimos e não serão inconvenientes.
Relaxa?
Como vou relaxar?
Não estava preparado para isso. E se eu falar algo errado?
Não demora muito e os dois chegam, vindo direto pra cá e me
levanto para cumprimentá-los.
Paola faz uma breve apresentação.
— Sr. e Sra. Santana, é um prazer conhecê-los.
— Nós nos conhecemos? — o pai dela me pergunta, mas fico sem
saber o que responder. — Ah, claro que sim! Você é o jovem que estava no
buffet, correto?
— Sim, senhor!
Eles se sentam, mas não parecem aborrecidos ou incomodados com
minha presença.
A mãe dela puxa assunto, claramente querendo ser gentil e o pai fica
me observando por um tempo, o que me deixa um pouco tenso.
— Servidos? — Um garçom aparece com uma bandeja cheia de
taças de champanhe e aceito, só para ter com o que me distrair.
— Fiquei muito feliz em saber que o rapaz cuidadoso com os
camarões trabalha no restaurante que adoro — Theodoro fala, quebrando o
clima estranho. — Até comentei com Owen!
— Ele me falou, senhor — digo. — Os comentários que me fizeram,
abriram portas para mim na cozinha e sou muito grato por isso.
A mãe dela é extremamente simpática e sorri o tempo todo, tecendo
elogios e falando coisas leves para manter o clima agradável.
— Isso é bom, rapaz. Sei como o feedback na sua área é algo
importante.
Ainda não sei se ele está sendo apenas educado ao falar essas coisas
ou se é sinceridade.
Paola coloca a mão por cima da minha, alisando-a de leve, como se
quisesse me acalmar, mas não sei se isso adianta muita coisa.
Os três começam a conversar entre si e só balanço a cabeça às
vezes, com medo de falar qualquer coisa que chame demais a atenção do
pai dela para mim.
Em certo momento da festa, os dois pedem licença e vão dançar a
valsa que está tocando, mostrando que são um casal apaixonado e sem se
importarem com mais nada.
— Desculpa, não tinha pensado que isso poderia ser desconfortável
para você.
— Não é isso… só não quero que seu pai tenha uma primeira
impressão ruim.
Ela sorri e aproxima o rosto do meu.
— E o que ele pensa de você, importa?
— Importa desde o momento em que eu sei que você o ama mais do
que tudo. Não quero ser alguém que ele não goste.
Ela me dá um beijo casto e depois alisa meu rosto.
— Você é diferente mesmo, né? — pergunta sem esperar por uma
resposta. — E sei que papai não te odiou, já é um bom começo.
Me beija novamente.
Nós ficamos mais um tempo na festa e depois a morena me chama
para ir embora e fala para a amiga que está com muita cólica.
— Usem camisinha, hein! — a loira diz depois que se despede da
gente e eu fico meio sem graça, mas Paola sorri.
— Ela sabe perfeitamente que não estou com dor — me explica.
O motorista nos deixa na Chácara e volta para a festa, ficando à
disposição dos pais dela e nós sabemos que temos um bom tempo para
aproveitarmos sozinhos. Ou melhor, sem os pais e apenas com os
funcionários.
Paola tranca a porta, começa a tirar todos os seus acessórios e vai
até a banheira para ligá-la, garantindo que a temperatura fique do jeito que
deseja.
Tiro o meu sapato, a camisa e me aproximo dela quando volta para
perto da cama.
— Quer ajuda com o sutiã novamente? — pergunto, cheio de
maldade. E ela entra na minha, respondendo que sim.
Para isso, ela tira a roupa me encarando e deixa que caia tudo sobre
os seus pés.
Depois, vira de costas e eu encosto o meu corpo no dela, mesmo que
sem necessidade, apenas para que me sinta excitado, e abro o seu sutiã.
Paola fica de frente novamente e assiste a minha reação quando
libera seus seios do tecido que ainda os tampavam.
Nem preciso olhar para o espelho para ter certeza que as minhas
pupilas dilataram ao me deparar com os mamilos mais lindos e perfeitos
que já vi.
— O que acha de irmos para a banheira? — me pergunta e eu topo
na hora, mas antes tiro a minha calça e fico apenas com a cueca preta. —
Humm, talvez a gente possa pular direto para a cama.
Eu sorrio e a abraço, grudando seu peito no meu.
— Temos a noite toda, gostosa!
— Gosto assim.
Vamos para o banheiro e eu entro primeiro na banheira, que está
com a água bem quente, mas sem ficar desconfortável e ela senta entre as
minhas pernas, ficando de costas para mim.
Paola prende o cabelo em um coque e eu encaixo as minhas mãos
em seus ombros, começando uma massagem naquela área, forçando o
polegar em algumas partes.
— Você disse que nunca se relacionou com alguém sem
compromisso, né? — pergunta.
— Nem com e nem sem.
— Acha a ideia de termos algo casual ruim?
Percebo que ela faz as perguntas com certa cautela, com receio de
falar algo errado e acabar com o clima, mas acho que nada seria capaz de
me desanimar para a nossa noite.
— É o que você quer?
— Sim!
— Então, tudo bem para mim.
Ela vira a cabeça e me olha por cima do ombro.
— Tem certeza?
Aproveito para esticar um pouco o meu corpo para a frente, dou um
selinho nela e depois beijo a sua nuca.
Minhas mãos descem pelos seus braços, alisando-os e depois vou
até a sua cintura, me aproximando da lateral dos seus seios, deixando-a
ansiosa para receber atenção ali.
— Tenho! — sussurro a resposta, sem conseguir pensar em mais
nada.
— Acho que vamos nos dar muito bem, então.
Paola segura nas minhas mãos e coloca em cima dos seus mamilos,
sem conter a ansiedade e eu começo a massageá-los.
Sua bunda se aconchega mais em mim, roçando propositalmente no
meu pau e eu respiro fundo para não perder o controle logo cedo.
Eu definitivamente não estou pronto para toda a potência dessa
mulher.
20

O pau do Fernando está bem encaixado na minha bunda e eu não


consigo me concentrar muito bem em mais nada, mas as suas mãos em
meus seios, nessa massagem gostosa também me enlouquecem.
Deixo que fique livre e depois de um tempo a sua mão desce pela
minha barriga, chega em meu ventre e seus dedos curiosos passeiam pela
alça da minha calcinha.
Eu abro um pouco as pernas, dando um claro sinal que fique à
vontade e ele entende perfeitamente.
Por mais que a água esteja quente, seus dedos queimam quando ele
afasta a calcinha e roça dois deles entre meus lábios, fazendo com que as
minhas pernas fiquem moles na mesma hora.
Seguro na borda da banheira e aproveito quando ele acha o meu
clitóris com facilidade e começa a fazer leves movimentos nele.
Só de ter achado fácil me deixou extremamente excitada e eu dobro
os dedos dos meus pés enquanto ele dá atenção a esse ponto sensível do
meu corpo.
Sua outra mão não para de massagear um dos meus seios, e eu solto
um gemido espontâneo enquanto o sinto.
Fernando beija as minhas costas, minha nuca e meu ombro.
Estou sem transar há tanto tempo que tudo isso me deixa
absurdamente sensível.
Eu me viro e me sento de frente no colo dele sem nenhuma timidez
e roçando a minha boceta no seu pau por cima da cueca.
Fernando me beija cheio de vontade e sem nem um pouco de
delicadeza, bem do jeito que eu gosto, me tirando todo o ar.
— Eu preciso te sentir dentro de mim, agora!
Levanto da banheira, seco meus pés ao sair e espero ele pegar a
camisinha no quarto, sem me preocupar que deixaremos tudo molhado.
Ele volta nu, vestindo a camisinha e novamente eu fico admirando o
seu pau e louca para senti-lo dentro de mim.
Fernando me surpreende ao segurar o meu cabelo, me virar de
costas para ele e fazer com que eu fique de quatro, o encarando pelo
espelho.
Um tapa forte estala na minha bunda e porra, eu adoro isso.
Empino-a e abro um pouco as pernas. Sinto o seu pau roçar pela
minha boceta, antes de se encaixar e entrar todo em mim de uma única vez
e me arrancar um gemido alto.
Seu pau é grosso e me preenche perfeitamente, é como se a minha
boceta o abraçasse.
— Caralho, Paola!
— Eu sei…
Fernando começa os movimentos de vai e vem devagar, precisando
se recompor depois desse primeiro contato, mas eu preciso de mais e jogo
meu quadril contra o dele.
Ele entende o que eu quero e segura firme a minha cintura,
começando a me estocar com força e indo fundo.
Me apoio na bancada para não cair e aproveito disso para fazer
movimentos contrários aos dele, dando mais impacto.
Nosso corpo faz um barulho alto, mas os meus gemidos parecem
estar ainda mais.
Eu aperto o pau dele e na mesma hora ele me dá outro tapa na
bunda.
— Caralho, Paola!
— Não fiz nada… — me faço de fingida.
— Safada do caralho!
Ele se empolga nos movimentos e eu preciso me segurar com força
para não bater com o rosto no espelho e sinto minha boceta escorrer de
tanta excitação.
Fernando sai de mim, vira meu corpo e me suspende, travando as
minhas pernas em sua cintura e me penetrando novamente.
Minhas costas se chocam contra a parede gelada, ele apoia as mãos
nela para ter um pouco mais de apoio e volta a me foder.
Ele cai de boca em um dos meus seios, chupando meu mamilo que
ficou ainda mais sensível depois que coloquei o silicone.
— Isso! — gemo baixinho.
Fernando passa a mão pelos meus mamilos, alisa o meu pescoço e
eu sei exatamente o que ele quer fazer. E eu dou a iniciativa para que ele me
enforque.
E até nisso ele é muito bom.
Fer me encara enquanto enfia com ainda mais força, aproveitando
que a posição ajuda tudo a ficar mais intenso.
Sinto o seu dedo me estimular novamente e sei que vou gozar a
qualquer momento, mas não falo nada e deixo que continue me fodendo
com força.
Sua boca cola na minha novamente e os gemidos que escapam dela,
fazem com que eu goze no seu pau, deixando tudo ainda mais melado.
Fernando percebe e dá umas estocadas mais fortes até gozar
também.
— Caralho… você é muito gostosa! Pelo amor de Deus!
Com a ajuda dele, volto para o chão e me apoio porque minhas
pernas estão sem forças.
— Quantas vezes você já transou em um dia? — pergunto, indo
direto ao ponto e ele me olha um pouco assustado.
— Uma vez.
Deixo escapar uma risadinha e assim que ele tira a camisinha e joga
no lixo, me aproximo novamente.
— Sinto informar que hoje você fará isso mais umas duas vezes,
pelo menos.
— Só preciso de uns 10 minutos e estarei pronto para outra, amor!
O beijo novamente e ele me agarra pela cintura, mostrando que o
pau já está duro, roçando-o em minha barriga.
— Tem certeza que precisa de 10 minutos?
— Talvez seja só uns 5!
A gente decide tomar banho juntos, e transamos lá, depois vamos
para a cama e transamos mais uma vez.
Sinto a minha boceta latejar e ficar megasensível, então decido parar
por aqui, mas no que depender de mim, amanhã ainda aproveitarei mais um
pouco antes de irmos embora.
21

Existe sexo bom, existe sexo muito bom e existe isso que fizemos
juntos, que acho que não há uma definição ainda.
Eu já sabia que Paola era gostosa, mas ainda assim, não fui capaz de
mensurar o quanto.
Não sei como as coisas serão daqui para frente, ela foi sincera e
disse que não deseja nada sério, porém me quer por perto e isso basta para
mim.
Depois de conversarmos e termos transado mais uma vez, minha
morena dormiu. E foi interessante porque ela já havia falado que gosta de
dormir livre, sem ninguém a abraçando ou de conchinha, mas quando
acordei, ainda há pouco, tive que ter cuidado ao tirá-la de cima do meu
peito.
Tomei um banho para despertar, vesti uma roupa e vim até a
cozinha. Já imaginava que teria algum funcionário, mas me ofereci para
fazer o café mesmo assim e ele disse para que eu ficasse à vontade, que
aproveitaria para ir buscar peixes frescos para o almoço.
A cozinha daqui é tão completa e espaçosa quanto a da Paola. Dei
uma olhada em tudo o que tinha e comecei pelo cheesecake de morango,
que é o mais demorado. Depois fui arrumar a mesa onde o cozinheiro falou
que normalmente o pessoal toma o desjejum, que fica na varanda de trás.
Levei queijo, presunto parma, já que era o único que tinha,
requeijão, cortei algumas frutas que estavam deliciosas, peguei o leite que
descobri ser fresco, de uma das vacas daqui, o café que deixei na cafeteira
para ficar bem quente, preparei ovos mexidos e bacon, pão de queijo, e
coloquei tudo na mesa.
Não sei ao certo o que eles comem, mas ficou tudo muito bonito e
bem servido.
— Eu sabia que esse cheiro diferente não era da comida do Osvaldo
— Theodoro diz e me viro, um pouco sem graça, mas sorrio. — Bom dia,
rapaz. Você fez isso tudo?
— Fiz sim, senhor.
— Só Theodoro está de bom tamanho. — Ele dá um tapinha no meu
ombro e passa por mim para se sentar na mesa. — Não sei nem por onde
começar, tudo parece estar ótimo.
Isso me faz lembrar do doce.
Vou até a geladeira e pego a travessa dele e o deixo no lugar que já
havia separado, meio da mesa.
— Não sei se a Paola falou, mas esse vício em doce que ela tem,
puxou totalmente de mim. — Seus olhos brilham enquanto admira o doce à
sua frente. — Sente-se, tome um café comigo! As duas já acordaram,
devem descer em breve.
Me sento do outro lado da mesa, pego um pratinho e coloco algumas
coisas para mim.
— A chácara de vocês é muito bonita.
Ele olha ao redor quando me escuta.
— Ela é mesmo! Sabia que comprei na intenção de fazer um hotel
fazenda?
— Sério?
Theodoro confirma e toma um gole da sua bebida quente antes de
prosseguir.
— Na época, Paola já tinha três anos e existia apenas uma pequena
casa, cercas velhas e quebradas e o lago que não conseguimos ver daqui,
apenas do segundo andar. — Dá uma mordida no pão e belisca um pedaço
de bacon. — Mas não tive coragem depois de vê-la correndo, dizendo que
queria uma casa de boneca grande e um pônei.
— Vocês são muito unidos, né? — Ele sorri como se isso fosse
música para seus ouvidos. — Ela não sabe falar do senhor sem ficar com os
olhos brilhando de admiração.
— Nós somos e isso é a coisa que mais me alegra no mundo! A
Paola é uma mulher de ouro, e não digo isso porque sou o pai dela, digo
como o amigo que tenho sorte de também ser.
É muito bonito a forma que eles falam um do outro.
Isso me faz sentir ainda mais saudade do meu pai, mas tenho fé que
em breve poderei estar tomando café com ele.
— Sua filha é incrível mesmo.
Ficamos um tempo em silêncio, apenas comendo, mas depois ele
apoia as duas mãos sobre a mesa e volta a me encarar.
— Eu já estive na sua posição, Fernando. E não gosto de me meter
na vida pessoal dela, mas no seu lugar, se alguém pudesse me orientar sobre
como sobreviver a esse mundo, eu seria grato.
— Como assim?
— Já fui o homem de poucos recursos saindo com uma mulher
muito rica. — Eu não fazia ideia disso. — Claudia vem de uma família
poderosa e milionária, com várias gerações antes dela que já eram muito
prósperas e me lembro de como era intimidante estar no meio daquelas
pessoas.
— Estar apenas com ela já é intimidante. — Me sinto à vontade para
ser sincero e espero não me arrepender por isso. — Nossas vidas são
absurdamente diferentes.
Ele concorda.
— A Paola puxou algo muito bom da mãe, que é enxergar a pessoa
pelo que ela é e não pelo que tem — diz. — Vivemos rodeados de gente
endinheirada e ela poderia ter trazido qualquer outro homem aqui, mas
trouxe você e isso já diz muito. Minha filha tem 28 anos, já foi casada e, em
todo esse tempo, só conhecemos o Gael, que até é um bom homem, mas
faltou a parte humana nele para que o casamento desse certo.
Minha morena não falou muito sobre seu antigo relacionamento,
mas a Thaís, que se denomina uma boca de sacola, me contou ontem
enquanto ela tinha ido ao banheiro. Falou que o segredo era não ser um
babaca como o Gael, que se achava melhor em tudo e se colocava em uma
bolha.
E deduzi que era no quesito financeiro.
— O dinheiro não é a coisa mais importante para ela — concluo.
— Exatamente. Isso aquela mulher tem de sobra, rapaz! A fortuna
dela é maior que a minha, e mesmo que eu também tenha bastante, ela tem
uma conta na qual eu e Claudia temos acesso, com o aval dela, para
pegarmos o que quisermos — relata. — Não falo isso para te assustar ainda
mais, muito pelo contrário. Quero que entenda que minha filha nunca irá se
importar se pode dar a ela um carro zero de presente ou levar um doce em
seu trabalho nos seus dias difíceis… Ela só quer que seja de coração.
Ouvir isso de outra pessoa é diferente, porque vindo dela pode soar
como se estivesse falando só para me tranquilizar.
Mas o pai dela não teria nenhum motivo para isso.
— Obrigado, sen… Theodoro!
— Apenas não desista quando as coisas parecerem ruins! Seria bom
ter um genro como você, com o coração bom — ele fala isso com muita
convicção, como se soubesse mais de mim do que está falando, e acho que
acabo olhando-o de forma estranha e ele percebe. — Não me leve a mal,
rapaz, mas pesquisei sobre sua vida no dia em que minha filha teceu muitos
elogios a você no Costellazione — explica. — Não é nada pessoal, apenas
uma forma de garantir que ela não está se envolvendo com alguém
perigoso.
— Já sabia que estávamos nos conhecendo?
Ele sorri e afirma.
— Como eu disse, não me meto nos relacionamentos dela, mas
quando os seguranças dela veem que tem alguém com potencial para se
tornar realmente próximo, ele me informa e o libero para me trazer todas as
informações.
Engulo em seco, porque mesmo sabendo que nunca fiz nada de
errado e nem cometi nenhum crime, é meio assustador.
Mas o entendo.
O mundo é cruel e a cada dia as pessoas são mais maldosas. Se eu
tiver como fazer isso pela minha irmã quando ela começasse a namorar, lá
pelos 30 anos, também faria.
— Eu o entendo e fico tranquilo, porque sei que a única coisa que
achou foi sobre meu pai.
— E lamento por isso. Silva me informou que Paola o pediu para
que pegasse o caso do seu pai e ele só pegaria se chegasse a conclusão de
que é inocente. Não consigo mensurar quão ruim deve ser passar um dia na
cadeia, imagina nove anos.
— E agradeço ao senhor por permitir que ele me ajudasse. Isso é
algo que nunca irei esquecer e sempre serei grato a vocês, mesmo que o
resultado não seja o esperado.
Theodoro olha por cima dos meus ombros e ouço a risada da Paola e
sua mãe.
— Tenho certeza que ele estará em casa antes mesmo do que
imagina! — O homem à minha frente se levanta para dar um beijo em sua
esposa e repete o mesmo em sua filha, só que na testa. — Bom dia,
meninas.
Cumprimento Claudia e depois falo com a morena ao meu lado, mas
sem saber como me comportar na frente dos pais dela.
Ela percebe e segura uma risada, mas não me provoca e serve a
bebida quente que fiz.
— Perdemos muita conversa? — Claudia pergunta enquanto fica na
dúvida do que colocar em seu prato. — Rapaz, você está convidado a
dormir em nossa casa quando quiser, desde que faça um café da manhã tão
bonito quanto esse — brinca e sorrio.
— Tivemos uma boa conversa, Fernando com certeza é alguém que
sempre será bem-vindo — Theodoro diz e vejo Paola abrir um sorriso
enorme.
Mesmo ela não precisando da aprovação do pai, como já havia
falado, é diferente saber que ainda assim ele nos apoia, mesmo que não
tenhamos nada sério.
É confuso, não posso negar.
Na minha cabeça, um relacionamento sem compromisso não
envolve levar a outra pessoa para a casa dos pais, nem ao aniversário de
casamento dos pais da melhor amiga e muito menos em uma festa
beneficente famosa, que ela me convidou ontem.
Mas talvez para pessoas como eles, isso seja diferente.
Só preciso sempre ter em mente que não posso confundir e colocar
meu coração nessa história.
Sei que é algo passageiro e um raio não cairá sobre a mesma família
uma segunda vez. Não terei a sorte que o Theodoro teve com a esposa e
serei descartado, como acontece com qualquer relacionamento assim
quando um enjoa do outro.
É só não colocar o coração no meio dessa história.
Preciso repetir isso vezes o suficiente até que se torne real.
— Bom dia, família bonita! — Thaís aparece do nada, com um
humor bem diferente de ontem. — Esse cheiro bão tá indo lá em casa! —
Ela me olha e sorri. — Agradando os sogros pela barriga, né? Inteligente,
gostei!
Sinto meu rosto ferver de vergonha, mas os pais da minha garota
riem e a convidam para tomar café.
— Você é sempre muito sutil, amiga — Paola diz.
— Eu sei, é meu ponto forte! — responde em tom de deboche. —
Vai se acostumando, cu. É disso para pior.
Dá para notar que Theodoro e Claudia gostam muito dela, e que
com certeza já estão acostumados com esse jeito exótico que a amiga da
minha morena tem.
Minha não, apenas morena.
Todos entramos em uma conversa calorosa sobre natureza e vejo
que eles fazem questão de me deixar à vontade o tempo todo, sem me cortar
ou fingir que não estou aqui.
Ao terminarmos, Thaís nos chama para cavalgar, mas isso pode ser
um problema.
— Eu nunca andei a cavalo! — Já deixo claro.
— Para a sua sorte, eu era professora de equitação na adolescência e
estou em um bom dia para ver alguém passar um pouco de desespero em
cima do Pe Lu!
— Pe Lu? Isso é uma raça?
Paola começa a rir e a loira revira os olhos.
— Infelizmente, nomeei alguns dos meus cavalos na época em que
era fã do Restart.
Tá, mas e daí?
Ah, não. Não é possível que ela tenha feito isso.
— E esse é o nome de um dos integrantes da banda? — Ela
confirma e também não consigo controlar a risada. — Pensa pelo lado
positivo, pelo menos eles estão fazendo uma tour para os fãs.
— Você acha que eu não sei? Já fui ao show que teve no Rio de
Janeiro!
E pior que consigo imaginá-la perfeitamente com aquelas calças
coloridas, várias pulseiras e fazendo uns gestos estranhos com as mãos
enquanto fala que é muito fã dos meninos.
22

Trabalhar à noite tem sido bem mais corrido porque o restaurante


fica muito lotado e com uma fila de espera bem generosa. Minha função
também requer bastante atenção, porque não tenho o luxo de ter horas antes
para fazer as coisas e começar do zero sem pressa se algo der errado.
Mas até agora está tudo indo muito bem e os garçons têm vindo com
muitos elogios, em especial nas carnes, o que tem me deixado feliz e meus
patrões ainda mais satisfeitos por terem mudado meu cargo.
Hoje temos uma mesa especial, que é a do Eduardo, filho da
Heloísa. Ele está com a namorada e vários amigos.
Já o conhecia porque quando tem mais tempo, ele sempre ajuda em
algo na parte da manhã ou da tarde.
Ele é delegado e ouvi umas fofocas que a sua atual namorada, na
verdade é a ex que voltou depois de anos fora. Parece que eles se deram
uma segunda chance e estão bem.
Preparei todos os assados e grelhados da mesa deles enquanto
Helena colocou as guarnições que já havia preparado e montou os pratos
perfeitamente, chamando o garçom para servi-los.
Ainda fico impressionado com a harmonia que a cozinha tem. Até
mesmo quando precisam dar algum esporro, é de uma forma muito educada
e sutil. Às vezes fica difícil para entender que é um puxão de orelha.
As comandas vão chegando no visor que todos conseguem ver e
falamos alto o que cada um irá fazer apenas para termos certeza que todo o
prato ficará pronto e não faltará nada.
— Mesa 18, tem nove pessoas que acabaram de ser acomodadas.
Disseram que vieram por indicação da Paola Santana, e que ela recomendou
os pratos que mais têm saído — o garçom informa e depois me olha. —
Eles pediram para que eu garantisse que você seria a pessoa a fazer as
carnes.
Heloísa e Helena olham para mim, tentando entender o que está
rolando.
— Querido, capriche, ok? — Helena fala.
— Está rolando um romance entre vocês? — Heloísa pergunta. —
Como que os jovens falam mesmo? Vocês estão se pegando?
Fico sem saber o que responder porque não quero colocar Paola em
uma situação na qual ela não deseja.
— Nós somos amigos. — E isso não é mentira, então acho que está
tudo bem.
Elas não ficam satisfeitas com essa resposta, mas por ora, será a
única que terão.
O resto da noite passa rápido, afinal é tanto trabalho, que não dá
nem tempo de perceber o que está acontecendo ao redor.
Limpo minha área e aproveito para já anotar as carnes que
precisaremos para amanhã, assim quando fizerem as conferências cedo, já
terão noção de quando precisaremos pedir mais aos fornecedores.
Fim de ano sempre tem um movimento maior, ainda mais com as
pessoas começando a receber o décimo terceiro salário. Então acabamos
pedindo mais coisas do que o normal e mais vezes na semana.
— Parece que sua amiga veio jantar com os pais e está lá sozinha na
mesa esperando por você, o grande amigo dela, para irem embora juntos —
Owen fala em um tom de brincadeira. — Está ferrado, rapaz. Minha esposa
e a irmã dela não o deixarão em paz até assumir que tem algo a mais que
amizade!
Dou uma olhada pela abertura da cozinha, onde dá para ver o salão
do restaurante e ela está lá, mexendo no celular.
Tomo um banho rápido para tirar o cheiro de comida do corpo e pela
primeira vez, vou até o salão para sair por ele ao invés de pelos fundos.
— Oi, Fer!
— Oi, gostosa! — Ela sorri ao me ouvir chamando-a assim e se
levanta para falar comigo.
Paola me dá um selinho e tenho certeza que todo mundo da cozinha
está nos assistindo para ver como seria nosso contato. Mas já que foi ela
quem me beijou, a seguro pela cintura e retribuo com outro selinho.
— Vim te fazer uma proposta.
Lá vem ela!
— Qual?
— Não é nada de mais… Só queria que dormisse lá em casa!
Podemos passar na sua, você pega o que precisa e vamos pra minha. O que
acha?
Como eu diria não para a oportunidade de ficar mais uma noite com
ela?
Nem se eu fosse o mais louco do mundo inteiro. E para melhorar,
amanhã é quarta-feira, minha folga e aniversário da minha mãe. Talvez eu
saia bem cedo da casa dela e vá para Saquarema.
Acho que dá tempo.
— Eu topo sim, gostosa!
— Alguma chance de você esquecer meu nome e só me chamar
assim pelo resto de nossas vidas?
— O que você quiser. — Ela sorri e segura na minha mão para
irmos até seu carro, no estacionamento do restaurante.
Entramos, mas antes de colocar o cinto, jogo minha mochila para
trás e seguro sua mão.
Ela me olha sem entender, mas segundos depois me lança um
sorriso malicioso.
— O que você quer? — me pergunta, fingindo inocência.
— Estou com saudade, quero que sente no meu colo e me deixe
beijá-la.
A respiração dela fica pesada só por me ouvir e sem cerimônia
alguma, monta no meu colo, sentando bem em cima do meu pau.
Uma pena que ela está de calça hoje.
— E agora? — me pergunta.
Eu a beijo, sentindo o gosto bom da sua boca e os lábios macios nos
meus.
O corpo dela é todo perfeito, totalmente lapidado e funciona em
mim como se fosse a minha kryptonita.
Reclino um pouco o banco e ela escora o corpo no meu,
pressionando os seios em meu peito, ficando empinada, e aproveito para
apertar a sua bunda gostosa.
Paola intensifica nosso beijo e vira o rosto para o lado oposto ao
meu, se esfregando no meu pau que já está acordado.
Os gemidos que ela solta baixinho me enlouquecem e aperto-a na
cintura e na bunda ao mesmo tempo, forçando seu corpo para baixo,
querendo senti-la mais.
— Te beijar é tão bom! — diz, sem desgrudar os lábios dos meus.
— Te beijaria todos os dias.
Isso agita ainda mais meu pau e manda uma informação confusa
para meu coração, mas ignoro essa segunda questão.
— Estou todos os dias à sua disposição!
Ela afasta a boca da minha, mas me dá vários selinhos antes de sair
do meu colo e voltar para o banco.
— Na outra semana, você vai começar a trabalhar aos finais de
semana também, né?
— Vou sim! Por quê?
— Preciso me organizar para conseguir te ver, né.
O tempo agora vai ficar mais escasso, porque ela trabalha durante o
dia e eu à noite e nos finais de semana só tenho as tardes livres. E além da
minha quarta, terei dois domingos de folga a cada quinze dias.
Não posso negar que isso me preocupa porque gosto de estar com
ela e as coisas estão indo muito bem, mas também não desperdiçarei a
chance que estou tendo lá no restaurante.
— E se eu levasse almoço para você umas duas ou três vezes na
semana?
— Amor, não quero que gaste seu tempo para me servir.
Amor.
Ela me chamou de amor.
Será que ela falou mesmo ou estou ouvindo coisas?
— Seria um prazer para mim e teríamos um tempinho juntos, que
não te atrapalharia também. Mas a decisão é sua, também não quero
ultrapassar nenhum limite.
Ela liga o carro e começa a dirigir em direção à minha casa, sendo
seguida pelos seguranças, como sempre.
— A ideia de te ver e comer da sua comida é ótima, não dá para
negar — diz. — Eu aceito se você deixar que te busquem e te levem
embora depois.
— Não precisa disso!
— Acho que isso é o mínimo. Deve ser horrível ter que carregar
comida dentro de um ônibus e você perderia ainda mais tempo no
deslocamento.
É horrível andar de ônibus de qualquer forma.
Ela para na minha vila e em menos de dez minutos pego tudo que
preciso e volto para o carro.
— Tudo bem, eu topo se for o necessário para conseguir te ver.
— Sim, é necessário! — Coloco uma mão em sua coxa, mas deixo
que fique um pouco mais perto da virilha. — Não me provoque… estou
dirigindo e sou capaz de parar no meio do caminho e arrancar sua roupa.
Nossa, eu pagaria muito dinheiro para que isso acontecesse. Mas
não é muito seguro, então afasto a mão um pouquinho, só que a safada vai
lá e coloca onde estava, o que me faz rir.
Chegamos na casa dela e vou direto falar com Matheus e Kauan,
que correm em minha direção para receber carinho.
— Ei, carinhas! Como vocês estão? — Automaticamente a voz fica
mais fina e ganho algumas lambidas.
— Eles nem me dão mais ideia quando você está aqui, acho isso um
absurdo!
Paola faz um bico e me levanto, pronto para beijá-la, mas escuto
uma risada muito familiar e a cara dela muda na mesma hora.
Minha morena está aprontando alguma coisa.
— O que está me escondendo?
— Tem uma coisa para você na cozinha!
Fico a encarando, tentando pescar alguma coisa, porém não consigo
imaginar o que seja e ela me puxa para entrarmos.
Penso em várias coisas, mas essa mulher sempre me surpreende e
nunca sei o que achar. Mas creio que nada me preparou para a cena que
vejo quando chego na cozinha.
É a minha família unida.
Minha mãe, a Flavinha … e meu pai!
Como assim?
Como o meu pai está aqui?
Assim que os três me veem, meu velho é o primeiro a vir em minha
direção, me abraça sem conter a emoção e começa a chorar.
Ainda estou em choque e demoro para retribuir o abraço, mas
quando consigo, minhas lágrimas saem sem controle algum.
— Você conseguiu, filho! — Ele se afasta para me olhar e limpa o
rosto. — Você conseguiu me tirar daquele inferno e eu … eu não sei como
serei capaz de agradecê-lo por todo esforço, por ter cuidado da sua irmã e
da sua mãe enquanto eu não pude.
— Pai… — Nem consigo raciocinar. — Você está aqui! Não estou
sonhando, né? — Toco nos braços dele, querendo senti-lo só para ter
certeza que não é apenas um surto pelo cansaço.
Meu velho me abraça novamente e vejo Paola ao lado da minha
mãe, ambas chorando.
Isso não está certo.
Como alguém faz tudo isso por mim e serei capaz de não colocar
meu coração no meio?
Não tem como, é algo desumano.
— As coisas voltarão a ser como antes, meu filho! — Ele segura
meu rosto, sorrindo. — Irei recuperar tudo o que perdemos e voltaremos a
ser uma família unida e feliz.
Concordo, porque não sei se sou capaz de falar muitas coisas.
Minha mãe e minha irmã se juntam a nós e nos abraçamos. Mesmo
Flavinha não lembrando do pai, porque ele foi preso quando ela ainda era
um bebê, sempre fizemos o máximo para que soubesse quem é Jean Couto.
— Foi o melhor presente de aniversário de todos os tempos! —
mamãe diz e vejo no relógio da cozinha que já é quase uma hora da manhã.
— Vem aqui, querida.
Ela chama Paola, que tenta secar o rosto ao se aproximar e a morena
é pega de surpresa quando ganha um abraço apertado.
— Feliz aniversário, dona Valéria! Vocês merecem ser felizes de
verdade. Estou muito emocionada, não consigo parar de chorar — diz
enquanto ri e chora ao mesmo tempo.
— Você foi um anjo enviado para as nossas vidas, querida! Eu sabia,
desde a primeira vez que te vi, que seu coração é bom e puro.
Meu pai também se aproxima das duas.
— O Silva informou que foi você quem pediu para que ele pegasse
o meu caso e que desse uma maior atenção para ele até que fosse resolvido.
— Ele estende a mão para ela, que aceita na mesma hora. — Obrigado,
menina. Prometo que pagarei pelos honorários dele assim que conseguir me
reerguer.
— Não precisa, foi um presente para vocês.
— Demorou, mas escolheu uma boa namorada, filho! — meu pai
diz sorrindo e eu já iria corrigi-lo, mas Paola não pareceu se incomodar. —
Nem consigo acreditar que finalmente estou fora da cadeia.
Minha irmã está tão animada, que só agora vem falar comigo, e me
abaixo para apertá-la bastante.
— A gente vai voltar a morar juntos, Nado?
— Vamos sim, filha! — minha mãe responde por mim e as notícias
só melhoram. — Vamos nos organizar para conseguir fazer isso até janeiro.
Flavinha começa a pular, comemorando.
— Graças a Deus! Estou morrendo de saudade de comer os doces
do meu irmão. Vovó só faz bolo e doce de banana, não aguento mais.
Todo mundo ri da espontaneidade dela.
— Podemos conversar? A sós? — pergunto à Paola e ela confirma.
Peço alguns minutos ao meu pai e vamos para fora da casa, ficando fora da
visão deles.
E antes que ela fale qualquer coisa, a encosto na parede e a beijo.
É um beijo de felicidade e gratidão. A mantenho presa em meus
braços enquanto nos beijamos, sem querer que vá para longe de mim e ela
se aconchega ali, me abraçando pela cintura.
Sinto quando uma lágrima escorre pelo meu rosto e acaba molhando
a bochecha dela.
— Você realmente existe? — pergunto quando afastamos nossas
bocas. — Por que tem feito tudo isso por mim?
Ela coloca uma mão em meu rosto, alisando-o com carinho.
— Gosto de você, Fernando! Gosto mesmo e sinto como se já
tivéssemos vivido uma vida toda juntos, não parece ser apenas dois
meses… e fazer com que as coisas sejam melhores para ti, me deixa muito
feliz porque com certeza você é merecedor disso tudo.
Olho em seus olhos enquanto a ouço, e me sinto meio idiota por
achar que esse gostar é de forma romântica.
Mas só penso assim porque já nutro sentimentos por ela, mesmo
negando isso a mim mesmo o tempo todo.
— Você é muito especial para mim, sabe disso, né? — Ela concorda,
ainda me fazendo carinho no rosto. — E também sabe que vai fazer um
estrago no meu coração, né?
Ela não responde, apenas me beija novamente.
23

Planejar essa surpresa para o Fernando foi um pouco difícil, porém


aconteceu antes do que eu imaginava. Silva deu seu sangue para conseguir
correr atrás das provas e ficou embasbacado ao entender que era
extremamente fácil evidenciar a inocência do pai do Fer.
O que foi bem estranho e também deixou claro que os outros
advogados foram comprados. Com isso, ele descobriu quem o incriminou e
achou melhor eu conversar primeiro com o Jean e depois contar para o
cozinheiro, porque é um problema familiar.
Porém decidi focar na parte boa, que é o fato de ele estar livre. Pedi
mais um favor ao meu segurança, que era levá-lo até o barbeiro e comprar
algumas roupas novas para ele, que deve ter mudado as medidas enquanto
estava na cadeia.
Conheci-o à tarde, quando chegou aqui em casa. Conversamos por
um tempo, mas precisei ir buscar a Valéria e a Flávia em Saquarema.
Trouxe elas dizendo que o Fernando pediu.
Foi lindo ver o reencontro dos três.
Convidei-os para dormir aqui em casa, pedi pra cozinheira fazer
uma janta que eles gostassem e fui para o restaurante pegar meu baby
cozinheiro.
Acabou dando tudo certo e estou me sentindo radiante por saber que
contribuí de alguma forma para que eles estivessem juntos novamente.
Hoje cedo, quando encontrei o Jean no quintal com a filha e
brincando com meus cachorros, conversei com ele sobre uma possível vaga
na minha empresa.
Não é uma coisa que costumo fazer, porque só procuro por pessoas
realmente qualificadas para trabalhar lá, mas o próprio Silva me falou do
currículo dele e conversamos que seria difícil para ele se empregar
novamente, pois teria que explicar o porquê de ter ficado nove anos parado.
E apesar de ter sido inocentado, ficaria aquele receio, afinal ele
viveu quase uma década com pessoas realmente perigosas.
O senhor Couto era contador e trabalhou em uma boa empresa,
então ofereci o cargo, já que um dos nossos se aposentará em breve e Jean
parece ser igual ao filho, difícil de aceitar as coisas, mas, por fim, topou.
Combinamos que faríamos um mês de experiência e que receberá o
salário de qualquer forma, sendo efetivado ou não, mas vi sangue nos olhos
do homem, sei que ele dará tudo de si para garantir a vaga.
Segunda-feira já será seu primeiro dia e vou tentar dar todo o
suporte nessa primeira semana para que consiga estar por dentro de tudo o
mais rápido possível.
Quero muito que isso dê certo.
Hoje pedi para fazerem um belo almoço, muito bem servido e com
várias opções para comemorarmos o aniversário da Valéria, sem que o
Fernando tivesse que trabalhar no seu dia de folga.
Chamei meus pais, pois assim eles se conhecem logo e também
deixei livre para o Fer chamar quem quisesse, mas o cozinheiro só ligou
para o JP. Infelizmente, não tinha como a avó dele vir, porque ela tem toda
uma rotina na casa dela e idosos são mais resistentes a qualquer alteração
em cima da hora. Fora que ela também ficou com medo quando soube que
eu estava indo buscá-las de helicóptero.
— Você estava certa!
— Sempre estou! — brinco. — Mas no caso, está se referindo a
quê? — pergunto depois que o baby cozinheiro fala ao meu lado.
Ele me entrega seu celular com a última postagem, que foi um
belíssimo prato de cordeiro que fez ontem e como colocou o Instagram do
Costellazione como colaborador, ganhou muitas curtidas e vários
seguidores.
— Sabe o que é uma boa ideia? — digo e ele espera a resposta. —
Gravar os preparos! Eu mesma perco horas no Insta vendo as pessoas
cozinhando, e tenho certeza que você bombaria… Só não faça igual àqueles
homens que parecem estar fodendo a comida, é bem nojento e nada
excitante.
Ele ri.
— A ideia é ótima, sem a parte de foder a comida, óbvio — pontua.
— Mas não tenho um espaço bom pra isso lá em casa, além da minha
cozinha ser bem escura.
Me levanto da espreguiçadeira para me enfiar entre as pernas dele.
— Que bom então que eu tenho uma incrível!
— Estou achando que a senhorinha está arrumando desculpas para
me manter mais tempo na sua casa…
— Não sei se só o meu corpo nu, em cima do seu, é o suficiente
para te prender aqui.
Ele ri alto e segura meu rosto antes de me dar um beijo.
Cada dia que passa sinto uma paz crescendo dentro de mim quando
estou ao lado dele. Desde que me tornei CEO, meus dias são muito
turbulentos, mas parece que esse homem tem o dom de deixar tudo calmo,
tranquilo e confortável.
E sinto falta disso nos dias que não o vejo.
Fernando me traz uma leveza que nunca senti, e jamais pensei que
precisava, até de fato vivenciá-lá. Ao mesmo tempo que estou adorando,
também estou assustada.
Tudo é muito recente, mas sinto como se não fosse. Não sei explicar
direito, e isso também me espanta, pois sempre tenho uma resposta para
tudo, mas Fer simplesmente me faz um bem absurdo e sem nenhum
esforço.
— Só de estar contigo, já é suficiente para que eu queira ficar mais
— responde. — Mas preciso confessar que você nua me estimula mais
ainda. — Pisca para mim.
Como que eu resisto? Ainda por cima é um gostoso, que fode muito
bem e me deixa louca.
Mas, eu tenho medo de termos nos encontrado no momento errado e
eu acabar não suprindo algo que ele possa vir a querer.
Não posso entrar em um relacionamento sério agora, não consigo
me doar cem por cento para alguém enquanto tenho tantos projetos para a
empresa.
— O que vai fazer no Réveillon? — pergunto, tentando tirar esses
pensamentos da cabeça.
— Normalmente, eu passo com minha família!
— Podíamos passar todos juntos. — O que estou fazendo? — Meu
pai e o seu com certeza se deram muito bem. — Olhamos na direção dos
dois, que estão conversando animados sobre algo e rindo como se fossem
velhos amigos. — E a essa altura, sei que minha mãe já contou toda a
história de vida dela para a sua.
Até tento não pensar, mas é incrível ver que meus pais gostaram dos
dele, porque não era assim com os Oliveira. E entendo o motivo de não os
apreciarem, a família do Gael nem disfarçava o interesse.
E isso claramente não existe aqui.
— Você está nos convidando por convidar ou realmente quer passar
a virada de ano conosco?
E é aí que está, eu realmente quero.
Gostei da mãe e irmã dele de cara, até a avózinha poderia se juntar a
nós. E quero passar com o Fer, que sei muito bem que depois de tantos anos
sem comemorar essas datas com o pai, vai querer a presença dele.
Minha cabeça tem me deixado louca ultimamente, tenho me
distraído durante o trabalho, pensando nele e quando iremos nos ver ou o
que iremos fazer aos sábados e domingos, e até mesmo como ter tempo
para encontrá-lo, já que irá começar a trabalhar de noite nos finais de
semana também.
— É um convite real e sincero! — digo e ele entrelaça os dedos nos
meus, olhando nossas mãos juntas. — Podemos ficar em Copacabana, em
Búzios, ou qualquer outro lugar, até… até mesmo na chácara.
Fernando me olha, pensando em uma resposta.
— Vou falar com meus pais e te dou uma resposta mais tarde, pode
ser?
Concordo e tento manter o sorriso no rosto, mas fico levemente
decepcionada com a possibilidade de a resposta ser um não.
— Vocês não vão entrar na piscina? — Flavinha grita, sentada nos
ombros do JP, que está toda hora jogando-a para o alto. — Nossa, namorar é
muito chato! Vocês não fazem nada além de ficar juntos?
Meu baby cozinheiro ri do que a irmã fala e nos levantamos.
Tiro o vestido, ficando só de biquíni e o Fer tira apenas a camisa e já
mergulha com tudo na água, indo até a irmã e a roubando dos ombros do
amigo.
Sento na borda da piscina e João se junta a mim.
— Sua casa é muito bacana…
— Obrigada, JP. — Ele passa a mão no cabelo para tirar o excesso
da água e sinto que quer falar algo comigo, mas não sabe como iniciar a
conversa. — Pode falar! O que foi?
Ele olha para o amigo brincando com a irmã, genuinamente feliz.
— Isso vai soar muito clichê e acredite, nunca imaginei estar nessa
posição, mas aquele cara é o meu melhor amigo desde sempre, esteve ao
meu lado nos piores e melhores momentos, além de já ter me tirado de mais
furadas do que consigo me lembrar… — Já sei aonde ele quer chegar, mas
vou deixar que conclua. — Você é uma mulher maneira e percebi que gosta
dele, porém meu amigo nunca se apaixonou antes e tenho medo da forma
que lidará com uma primeira decepção amorosa.
Bom, eu não esperava esse final.
— E você acha que eu serei uma?
— Com todo respeito, acho sim.
Mais sincero e direto que isso impossível, e por mais que ouvi-lo me
chateie um pouco, entendo totalmente sua preocupação.
— Não tenho a menor intenção de fazer algo que magoe o Fer, pode
ter total certeza disso.
— Mas existe uma linha tênue entre não ter a intenção e acabar
fazendo — diz. — O que estou querendo dizer é que apenas seja sincera
com ele. Fazer tudo isso que está fazendo por ele, pode não significar tanta
coisa assim para você, porque tenho certeza que é dessas que ajuda todo
mundo, mas na cabeça e no coração do meu amigo, as coisas são diferentes.
— Ele falou algo sobre isso?
— Não, mas o conheço bem demais.
Viro-me para o Fernando, que toda hora dá uma olhadinha para nós
dois, certificando-se que está tudo bem e sorrio para não preocupá-lo.
— Você é um bom amigo, João.
— Eu tento ser… E não me leve a mal, tá bom? Gosto de você e
tenho plena convicção de que está fazendo muito bem ao meu amigo, meu
medo mesmo é só do tombo que ele pode levar lá na frente.
Também tenho esse medo, mas por nós dois.
Não são só os sentimentos do moreno de olhos azuis que estão em
jogo nessa relação a qual deixei claro que não quero nada sério, porém, ao
mesmo tempo, eu morreria de ciúmes se soubesse que ele vive a vida de
solteiro com outras mulheres.
Hipocrisia? Sim, total.
E já reparei em como ele chama muita atenção aonde vai e
realmente parece não perceber, o que é ótimo para mim, mas sei muito bem
que hoje em dia as mulheres têm atitude suficiente para chegar em quem
elas querem.
Eu sou assim, e se estamos ficando, é porque fui levemente
insistente.
E se outra também for?
— Se serve de consolo, JP, nesse momento estou quase surtando
com a possibilidade de uma outra mulher se aproximar dele… tudo
hipoteticamente.
Ele ri ao meu lado e depois entra na piscina de novo.
— O cara é bonitão. Meio lento, mas bonitão… é bom você ficar
esperta! — O filho da mãe mergulha depois de me provocar e vai até onde o
amigo está.
Decido entrar na água também, e assim que volto à superfície,
Fernando está na minha frente, com os olhos um pouco avermelhados e o
sorriso mais lindo que já vi.
— Não sei o que ele falou, mas já peço desculpas.
Passo meus braços ao redor do seu pescoço e beijo o canto da sua
boca.
— Ele não falou nada de mais, só estava fazendo o papel de melhor
amigo.
Suas mãos deslizam pela minha cintura, descendo e subindo e fecho
os olhos por um momento, curtindo o carinho, o sol batendo em nossos
corpos e a água em uma temperatura gostosa.
— Você consegue ficar ainda mais bonita sem maquiagem! Já falei
isso? — ele sussurra e sinto seu hálito bom bater em meu rosto. — É uma
obra de arte.
— Com certeza você é a única pessoa do mundo que acha isso.
— Bom, pelo visto, só eu sei enxergar o que realmente é belo.
E com certeza ele não me ajuda nessa confusão que estou por dentro
enquanto fala essas coisas.
24

Tive que dar o braço a torcer e vir em uma loja comprar uma roupa
sob medida para o evento de mais tarde.
Paola fez questão de me trazer no alfaiate que faz os ternos do pai
dela, e o cara está há meia hora tirando minhas medidas e reclamando que
sou muito alto, que meu peito é muito largo e que eu deveria parar de
malhar.
Ela segura a risada enquanto fica sentada olhando descaradamente
para minha cueca e fazendo caras e bocas quando o homem com os
alfinetes na mão fica distraído.
Depois que saímos dali com um terno grande que ele pegou e
ajustou para me servir bem, porque não tinha tempo de começar um do
zero, fomos buscar o vestido dela que é lindíssimo e sei que vai me deixar
louco a noite toda.
Todos devem ir de preto no evento, e o dela é todo brilhoso, pois se
tem uma coisa que ela gosta, é de se destacar.
Paola também me preparou para o tipo de gente que terá lá, que na
sua grande maioria são pessoas famosas e que por conta disso terá muitos
paparazzis e talvez ela seja chamada para algumas entrevistas rápidas.
Perguntei algumas vezes se ela tem certeza que quer que eu vá,
porque não sou alguém muito sociável e não quero parecer um bicho do
mato ao lado dela, mas a morena disse que vai dar tudo certo e que não
devo me preocupar.
Sendo assim, fiquei mais tranquilo.
E ao chegar no hangar, lugar que eu nem sabia que iríamos,
descubro que o evento é em São Paulo e que iremos de jatinho.
A primeira vez que andei de avião foi com ela, quando fomos para
Goiás, há alguns dias, e agora vamos voar em um que é ainda mais luxuoso
e melhor do que a primeira classe que ficamos.
Entendo o porquê das pessoas se acostumarem rápido com o luxo, é
bom demais.
Preciso ter alguns restaurantes cinco estrelas para conseguir um dia
ter um jatinho como esse.
Os pais dela já foram para São Paulo ontem, então estamos apenas
nós dois, o piloto e mais alguns seguranças.
— Vamos esperar decolar e depois ficamos na suíte, é mais
confortável. — Sentamos nas poltronas e colocamos o cinto. Mas assim que
o piloto avisa que podemos ficar à vontade, vamos até lá. Paola tranca a
porta e se vira para mim, com um sorriso bem malicioso. — O que será que
conseguimos fazer em uns 40 minutos?
Ela nem espera uma resposta e já tira a blusa, liberando seus seios
incríveis, e em seguida tira a saia, ficando só com uma calcinha minúscula,
que praticamente não tampa nada.
Paola não precisa de muita coisa para me enlouquecer e sabe disso,
só seu corpo já é a minha ruína.
Não perco tempo e tiro minha roupa, deixando a camisinha na cama
para não ter que tirar da carteira depois e a puxo para se sentar no meu colo.
— Eu te foderia o dia todo!
— Eu iria amar sentir seu pau dentro de mim por todo esse tempo.
Minha morena me beija, devorando minha boca sem nenhuma
cerimônia e sua mão ágil vai direto para meu cacete, começando uma
punheta devagar e bem apertada, que faz todo o meu corpo se arrepiar.
Ela elevou o sexo para mim em um nível inexplicável.
Sua boca desce para meu pescoço e encaixo minha mão em seus
seios, massageando-os, doido para abocanhá-los, mas Paola tem outra ideia
em mente, pois me empurra na cama, fazendo com que eu me deite.
Ela fecha minhas pernas, apoia um dos joelhos ao redor delas e
empina bem a bunda, me dando uma visão incrível enquanto toma meu pau
de uma só vez, engolindo-o por completo e me fazendo gemer.
Porra, nunca foi tão bom receber um boquete!
Sua boca aveludada desce e sobe, em uma sucção gostosa e lenta. Já
sua mão acaricia minhas bolas, colocando a pressão certa para tornar tudo
ainda mais gostoso.
Minha ereção pulsa entre seus lábios.
Junto todo seu cabelo e o seguro com uma mão, apenas para não
atrapalhá-la e ela me encara, provavelmente querendo me matar de tesão.
Sua língua nervosa rodeia a cabeça do meu pênis e depois chupa só
aquela área, masturbando o comprimento com a mão. E não sei se presto
atenção nas sensações de um movimento ou de outro.
O líquido pré-ejaculátorio escorre e ela lambe, pegando a camisinha
ao seu lado e vestindo-o com perfeição.
Paola passa a língua no canto do lábio, limpando a própria saliva e
se ajeita, colocando a calcinha pequena de lado, posicionando a boceta no
meu pau e escorregando nele todo, se forçando para baixo até que cada
centímetro esteja dentro dela.
Aperto a fronha da cama e depois seguro em sua cintura quando ela
começa a rebolar, sem parar de forçar e me fazendo sentir a quentura
gostosa da sua intimidade.
— Caralho, você é muito gostosa! — resmungo entre gemidos.
— Sou? — ela pergunta ao mesmo tempo que ergue o quadril e
depois senta com força. — Tem certeza? — Repete o mesmo movimento e
cravo as unhas na sua cintura, depois faço a mesma coisa em sua bunda
grande. — Melhor nos certificarmos disso.
A gostosa começa a quicar, segurando os próprios peitos e
massageando os mamilos com os polegares.
É uma cena gostosa pra caralho.
Não satisfeita, ela decide virar de costas e quicar nessa posição, com
a bunda se chocando em minha barriga e fazendo com que eu veja um lugar
que adoraria conhecer.
Dou um tapa forte no lado direito e a escuto gemer alto, repito do
lado esquerdo e ela geme mais alto ainda, se apoiando nas minhas pernas
para rebolar.
— Caralho, amor… assim você acaba comigo.
Ela me olha por cima do ombro e pisca, deixando claro que é
exatamente isso que deseja fazer.
Paola sai novamente do meu pau e me preparo para mudarmos de
posição, mas a morena o segura, encaixa a cabeça bem na entrada do seu cu
e rebola devagar ali, quase miando como uma gata e bem aos poucos vai
descendo.
Porra.
Caralho.
Puta que pariu.
O aperto absurdo começa e só vai aumentando à medida que ela vai
me deixando entrar.
Preciso lembrar de respirar porque é demais sentir tudo isso e ainda
assistir essa cena que nunca sairá da minha cabeça, nenhuma das duas.
Depois que toda minha extensão está lá dentro, ela faz movimentos
lentos para se acostumar, mas o tesão a empolga e minha morena aumenta a
velocidade. Já eu, preciso me concentrar muito para não gozar, e tento
prolongar esse momento ao máximo.
Paola com certeza está gostando muito, porque até seu gemido é
diferente, o que também me faz enlouquecer.
— Queria poder tatuar essa cena no meu corpo.
Ela ri de um jeito bem safado.
— Meu celular está ao seu lado… fique à vontade para tirar umas
fotos ou gravar.
Porra.
Quase gozei só de ouvi-la falar.
— Tem certeza?
— Tenho, desde que fique no meu telefone e a gente assista juntos.
Estico meu braço e o pego na mesma hora, passando o dedo para o
lado, acessando a câmera.
Aviso quando começo a gravar e ela se empolga, rebolando com
mais vontade, quase deixando meu pau todo sair para entrar novamente.
A gravação vai ficar repleta dos nossos gemidos, mas estou pouco
me importando com isso.
— Safada do caralho! — Bato forte na sua bunda e ela gosta,
mostrando que realmente faz jus ao que acabei de chamá-la.
— Eu vou gozar… — A voz dela sai arrastada enquanto aumenta a
velocidade, fodendo meu pau com seu cu e assim que goza, deixo minha
porra encher a camisinha e desligo a câmera.
Minha respiração está tão descontrolada, que não consigo falar nada
por alguns minutos e ela sai de onde está e deita ao meu lado, querendo ver
o vídeo.
Assistimos juntos e tenho certeza que se eu ver mais uma vez, meu
pau fica duro novamente.
— Nossa, eu sou muito gostosa mesmo, né?
Rio sem força.
— Sim, meu amor… você é a porra da mulher mais gostosa desse
mundo.
Ela larga o celular e vira para mim.
— Seu pau é uma delícia! Precisamos repetir o que fizemos hoje.
— O sexo anal ou o vídeo?
Ela ri e morde o lábio inferior.
— Os dois, né.
Será que ela aceitaria casar comigo se eu pedisse agora?
Essa mulher é boa em absolutamente tudo o que faz.
25

Chegamos no hotel em São Paulo e já tínhamos que nos arrumar


para o evento, mas não resisti e tomei um banho com o Fernando, o que
acabou demorando mais que o planejado.
Duas meninas vieram fazer meu cabelo e maquiagem, e o Fer
aproveitou para falar por videochamada com os pais, pois queria saber se
eles estavam bem e também ver a irmã.
Não tive coragem de falar com o Jean, muito menos com meu baby
cozinheiro sobre a prisão do seu pai. Eles estão tão felizes, e não quero ser
eu a pessoa a acabar com isso. Mas sei que precisam saber até mesmo para
não voltarem a confiar nessa mesma pessoa.
Depois que termina, ele fica na varandinha do quarto, me deixando à
vontade com elas para me arrumar.
Demoro em torno de uma hora para terminar e as dispenso depois de
fazerem suas mídias comigo para ajudar no engajamento, e na mesma hora,
reposto um dos stories, porque realmente fiquei muito maravilhosa.
— Fer? — chamo-o depois de colocar meu vestido e ele entra no
quarto. — Fecha pra mim, por favor?
— Claro, minha gostosa! — Seus dedos encostam de leve nas
minhas costas enquanto fecha o zíper e até isso ele consegue transformar
em algo sexy, deixando-me acesa. — Só isso?
Me viro de frente, ajusto meu colar e arrumo meus seios no decote,
deixando um pouco mais de pele aparente.
— Ficou bom?
— Bom não é nem perto do quão incrível você está, amor.
— Se você aprovou, então está ótimo.
Termino de colocar as joias, pego a bolsa pequena, conferindo se
não esqueci o que preciso e vejo que o Fer colocou duas camisinhas ali, e
isso me faz rir.
— Nunca se sabe… vai que tem algum cantinho lá!
— Não promete o que não vai cumprir, hein.
— Vamos ver, então. — Pisca para mim e depois que confirmo que
estou pronta, saímos.
Meus seguranças entram no elevador conosco e sinto que o
Fernando está começando a se acostumar com eles. Antes ele ficava
receoso de falar algo e só sussurrava em meu ouvido, mas agora já conversa
normalmente e entende que transar perto de onde eles estiverem, significa
que com certeza saberão o que estamos fazendo.
Mas eles são pagos para serem discretos e também não faço nada
que irá constrangê-los.
Entramos no carro e ele me ajuda com a cauda do vestido para não
amassar. Pegamos um pouco de trânsito na caótica São Paulo.
Queria ter vindo de helicóptero, mas o tempo hoje não está bom e o
piloto não quis arriscar uma viagem assim.
Pego uma sacolinha que havia deixado aqui no carro e coloco no
colo do Fernando.
— O que é isso?
— Um presente pela sua promoção no restaurante — digo. — E não
reclama, só aceita, por favor. É de coração e acho que você vai amar.
Ele me olha desconfiado, mas não protesta, apenas pega a caixinha
dentro da sacola, se deparando com um relógio lindo.
É um Boss que comprei na Vivara, e não é caro.
Por mim, teria dado um Rolex ou algo do tipo, porque ele merece,
mas não quero colocá-lo em perigo por causa de um relógio desse valor. Sei
que tem muitos assaltos em ônibus e vans, então optei por um que não
chamasse atenção, mas que é muito bonito.
— Eu amei, obrigado. — Ele me dá um beijo suave e depois o
coloca. — Também tenho uma coisa para você, mas quero te dar no final da
noite! Pode ser?
— Claro… vou tentar não surtar de ansiedade até lá.
Ele sorri e ajusta o horário.
Chegamos ao evento e esperamos até o carro parar na frente do
tapete de entrada.
Fernando sai primeiro e estende a mão para me ajudar, e aceito de
bom grado.
Confiro se minha roupa não está bagunçada, entrelaço meus dedos
aos dele e entramos no museu onde acontecerá o leilão.
A mão dele está fria e tento fazer carinho com meus dedos, tentando
acalmá-lo de alguma forma, mas acho que assim que chegamos no salão
principal e a imensidão de pessoas aparece na nossa frente, ele fica ainda
mais nervoso.
No caminho até nossa mesa, vou falando com algumas pessoas que
conheço, apresentando-o em todo tempo, fazendo de tudo para que não
fique muito deslocado, e ele é simpático com todos, até mesmo com aqueles
que o olham meio estranho.
Minha mãe diz que tem rico que sente de longe o cheiro de uma
pessoa menos afortunada, e hoje estou vendo que isso é verdade.
Ele poderia se misturar perfeitamente entre as pessoas, está
arrumado à altura do evento, mas ainda assim parece ter pessoas que sabem
que esse não é um lugar que normalmente alguém como ele frequenta.
Quase dou graças a Deus quando encontro meus pais, mas como
nada é perfeito, eles estão conversando com os Oliveira, que parecem estar
sentados na nossa mesa, mesmo o nome deles não estando ali.
Merda.
Isso pode ser constrangedor.
Eu ia me virar e ir para outro lugar, mas Denise me vê antes que eu
consiga fazer isso.
— Querida… não diga que iria fugir de nós?
Que mulher insuportável, forçada e debochada.
Como alguém pode ser assim?
— Oi, Sra. Oliveira. Tudo bem? — Não me esforço nem para
esboçar um sorriso que mostre os dentes. — Boa noite, Sr. Oliveira! Espero
que estejam bem e que a noite seja agradável para todos.
— Você é…?
Ela me ignora e fala com o Fer, sem mostrar nenhuma simpatia e
deixando claro que independente de quem ele seja, ela não está feliz com
sua presença.
— Fernando Couto, muito prazer.
— Humm… Couto? — Ela se vira para o marido. — Rubens, quem
são os Couto?
Meu ex-sogro se aproxima e tudo acontece tão rápido, que nem
consigo ter tempo de responder.
— Seus pais são os donos da rede de mercado?
— Não! — Fernando responde depois de respirar fundo.
— Donos da marca de cosméticos? — Rubens continua
perguntando.
— Também não.
— Então não faço a mínima ideia de quem sejam… Ninguém
importante, pelo visto.
— E não é da conta de vocês, até onde eu sei — digo, sem aumentar
meu tom de voz, mas com vontade de mandá-los para a puta que pariu. —
Se puder nos dar licença, gostaríamos de nos sentar e ter uma noite
tranquila.
Fernando já soltou minha mão há algum tempo e colocou as dele
para trás do corpo. Seu maxilar está tão tensionado, que não me
surpreenderia se quebrasse alguns dentes pelo excesso de força.
— É uma decepção que você tenha trocado o nosso filho, que
nasceu em berço de ouro, é um homem inteligente e bem-sucedido, para um
menino como esse… que nem tem sobrenome.
— Denise, Rubens… vocês só frequentam esses eventos por conta
da nossa influência, e se desejam continuar, peço para que se afastem sem
falar mais nenhuma palavra. — Em 28 anos, é a primeira vez que vejo meu
pai alterado, sem se importar com quem quer que esteja olhando. — É uma
vergonha que vocês estejam beirando os 60 anos e não saibam se comportar
como a idade recomenda. — Meu pai olha para o Fer e preciso me controlar
para segurar o choro. — Me desculpe, Fernando, mas como você pode ver,
dinheiro nenhum no mundo é sinal de boa educação.
Os dois saem bufando e nós nos sentamos.
Minha mãe percebe que quero chorar e por isso tenta entrar em um
outro assunto para mudar o clima, mas não adianta.
Não acredito que isso acabou de acontecer.
É humilhante em níveis que nem sou capaz de mensurar e não
consigo abrir a boca para falar nada com ele porque sei que irei chorar.
Então apenas coloco minha mão sobre a dele, apoiada em sua coxa e a
aperto, torcendo para que pelo menos por ora, isso seja o suficiente.
Meu moreno fica em silêncio por mais de uma hora, apenas
balançando a cabeça enquanto meus pais conversam com ele e de vez em
quando tenta esboçar um sorriso, só para fingir que está tudo bem, porém
sabemos que não está.
— Meu Deus, finalmente achei vocês! — Thaís aparece sorridente,
mas percebe que o clima não está bom. — O que aconteceu? Que clima de
enterro.
— Vou ao banheiro, já volto — Fernando diz e pede licença ao se
afastar da mesa.
Olho na direção que ele vai, mas acabo o perdendo de vista.
— Olha, filha… mesmo que você não tivesse pedido para que eles
não frequentassem mais a nossa casa, isso pararia de acontecer depois de
hoje — minha mãe diz, demonstrando seu choque, agora que o Fer se
afastou. — Nunca na minha vida tive tanta vontade de bater em alguém
como agora.
— Gente, o que houve? — minha amiga pergunta novamente.
Meu pai explica o que aconteceu e até ela fica com os olhos
marejados.
— Não acredito que aqueles filhos do capiroto fizeram isso.
Malditos! — Ela senta no lugar de Fernando, bufando de ódio. — Eu te
falei há anos que deveríamos ter feito o boneco de vodu deles! Agora era só
a gente quebrar os pescoços e estava tudo resolvido.
Estou tão chateada que nem minha amiga consegue me fazer rir.
— Vou lá falar com o Fernando — meu pai diz, mas antes vem até
mim e beija minha testa. — Eu entendo o que ele está passando, vivi mais
dessas cenas do que gosto de lembrar.
— Obrigada, pai.
Fer já foi sincero comigo sobre suas inseguranças em relação à
nossa diferença de classe social, e sei que isso deve tê-lo magoado. E estou
me sentindo a pior pessoa do mundo por não ter feito mais alguma coisa,
mas eu não queria piorar a situação para ele e acabar fazendo uma cena
ainda maior.
— Sinto muito, amiga — Thaís diz, fazendo carinho em meu
ombro. — Quer ir embora? Conheço um segurança do museu, posso
perguntar se tem uma saída que não seja a principal, para vocês acabarem
não chamando muito a atenção.
— Consegue fazer isso?
— Claro que sim! — Ela se levanta e me pede pra esperar um
pouco, pois resolverá tudo para que eu consiga ir embora com o Fer.
Mas foi só a minha amiga sair, que uma repórter chega na mesa,
pedindo para fazer umas perguntas rápidas e não posso negar, pois cairia
mal.
Só que esses questionamentos tomam quase vinte minutos do meu
tempo, e com isso a Thaís já veio aqui, voltou ao segurança, e sumiu.
Estou tão enjoada que não comi nada do que foi servido e tomei
apenas água, querendo empurrar o bolo que se formou em minha garganta.
Pego meu celular na bolsa, na intenção de falar com ele e o chamar
para irmos embora, mas já tem uma mensagem dele.
Fer: Fui embora, gostosa. Desculpa não ter conseguido ficar, mas acho
que não preciso passar por esse tipo de situação a troco de nada. Seu pai
foi incrível, veio falar comigo e tentar resolver as coisas, mas a culpa não é
de vocês e não precisam se preocupar com isso. Não temos como controlar
o que as pessoas pensam ou falam. Só não quis correr o risco de continuar
e ser tratado assim novamente.
Fer: Você está deslumbrante, a mais linda da noite. Continue aí e curta o
evento com a sua família e a Thaís. Ela também veio falar comigo e me
ajudou a sair. Peguei um táxi e estou indo para o hotel. Sei que um evento
como esse é importante para a imagem da sua empresa, então, por favor,
não precisa vir antes por causa de mim. Vou ficar bem.
Percebo que estou chorando quando uma lágrima cai na tela do
celular.
Ele não pode ser gentil até quando uma merda dessa acontece!
Aviso à minha mãe que vou embora e ela me apoia, dizendo que é a
coisa certa a se fazer, e que ela e o papai continuarão lá para representar a
empresa.
Mas antes de ir, procuro pela mesa do Gael, onde os pais dele estão
e assim que os encontro, vou até eles, tentando controlar a raiva para não
passar dos limites.
— Ah, sabia que vinh…
— Denise, vou deixar algo bem claro para você, na verdade, para
vocês, para que entendam de uma só vez — interrompo-a e ela me olha
surpresa, já que não falo assim com ninguém. — Vocês nunca mais
colocarão os pés na minha empresa, nem nos meus resorts, e no dia que me
virem na rua ou em algum evento, finjam que não me conhecem, estão
entendendo? — Olho para ela e depois para seu marido.
— Isso tudo é por causa daquele aprendiz de cozinheiro? — Rubens
pergunta, em puro desdém.
Meu olhar vai direto para Gael, que provavelmente contou aos pais
quem ele é, e meu ex-marido desvia os olhos dos meus.
— Fernando pode não ter o dinheiro que vocês têm, mas ele é rico
de uma coisa que vocês são miseráveis: educação! — Sinto meu rosto
ferver enquanto falo. — Espero que tenham entendido muito bem meu
recado. Não se atrevam a ir contra o que estou falando, porque os senhores
não têm noção do que sou capaz para ter paz.
— Paola, você está ameaçando meus pais? — Gael me pergunta.
— Sim, Gael! Cansei de todos esses anos ter que aturá-los, não
estamos mais juntos, não tem o porquê de eu ter que vê-los. — Volto a olhar
para os dois. — Vocês são desprezíveis, mal-educados, interesseiros e a
verdade é que ninguém gosta de tê-los por perto.
Respiro fundo, tentando me recompor e a mãe dele tenta fazer uma
cena, como se estivesse chorando, mas ela é tão imprestável, que nem para
isso serve.
Quando me viro, vejo que Thaís não só estava assistindo tudo, como
gravou disfarçadamente com o celular dentro da bolsa, apenas com a
câmera para fora.
— Sabe que essa ameaça pode te gerar problemas, né? — minha
amiga fala depois que enrosca o braço no meu, saindo comigo da festa.
— Sim, eu sei! Mas eles não colocariam em risco o emprego do
filho, que recebe muito bem na minha empresa.
Ela solta uma risadinha.
— Graças a Deus você disse a eles o que mereciam.
— Foi libertador — digo, sentindo como se toneladas tivessem
saído do meu corpo. — Espero que tenham entendido o recado.
— Acho que seria impossível não entender. — Chegamos na saída
lateral que a loira havia descoberto para nós e meus seguranças já estão ali.
— Vai lá e conversa com seu homem! Ele com certeza não deve estar nada
bem.
Agradeço-a e entro no carro.
Espero que o veículo se afaste um pouco e deixo o choro que estava
entalado na minha garganta sair com força.
26

Assim que cheguei no hotel, tomei um banho bem demorado,


querendo que a sensação de humilhação saísse com a água, mas de nada
adiantou.
Desde então, estou recostado na cama, só de cueca e repensando
toda minha vida e meus últimos meses.
O que leva uma pessoa a tratar outra assim? Será que o dinheiro é
tão mais importante do que todas as demais coisas que alguém tem a
oferecer? Será que enquanto eu estiver com a Paola, sempre vai ser assim?
Muitas questões rondam em minha cabeça e todas as respostas que
encontro não me agradam.
Não adiantou roupa cara, relógio de marca e perfume que é metade
de um salário mínimo para que eu me misturasse com aquelas pessoas. Eles
parecem ter um identificador de quem é pobre, e com certeza apitava muito
em cima de mim quando eu passava.
Fico olhando no celular a foto nossa que saiu no momento em que
estávamos entrando.
Paola me olha com um sorriso lindo enquanto estou segurando sua
mão, andando ao seu lado e falando alguma coisa.
É claro que uma mulher dessa é demais para mim, é irreal que isso
possa dar certo, e hoje foi um claro exemplo disso.
Estou fingindo que contos de fadas acontecem, que histórias raras se
repetem e que tenho estômago para lidar com essas coisas, mas a real é que
não tenho.
Mesmo pobre, me considero uma pessoa boa e digna.
Olho outras fotos que tirei de Paola enquanto estávamos juntos e ela
estava distraída. Meu coração parece nem conseguir se manter no peito só
de vê-la pela tela de um celular.
Estou apaixonado por uma mulher que não quer um relacionamento
sério e que também está fora do meu alcance.
Não deveria ter deixado isso chegar nesse ponto.
Ouço o barulho da porta destravando e ela aparece com a
maquiagem borrada e os olhos vermelhos.
Isso acaba comigo e a chamo para sentar na cama.
— Aconteceu alguma outra coisa? — Passo meu dedo pela sua
bochecha, tirando a mancha da maquiagem que escorreu com a lágrima.
— Além de eu ter ameaçado os pais do Gael? Nada mais.
— Não precisava fazer isso, amor.
Ela suspira e fecha os olhos, parecendo tão derrotada quanto eu.
— Não foi justo o que eles fizeram, Fernando. Eles são pessoas
péssimas, sempre foram, mas isso passou de qualquer limite minimamente
aceitável — diz, sem desviar o olhar do meu. — E estou me sentindo
culpada porque deveria ter imaginado que isso poderia acontecer.
— Não se sinta assim, por favor. — Ela volta a chorar.
Abraço-a forte, querendo tirar toda essa culpa dela.
Um tempo depois ela se levanta, tira o vestido, a maquiagem e volta
para a cama de calcinha e sutiã, mas sem malícia nenhuma, apenas para
ficar à vontade.
— Não teria te levado se soubesse que isso aconteceria.
— E é por isso que você não me levará em mais nenhum desses
eventos e nem nas festas dos seus amigos. — Sei o peso do que estou
falando, mas falo o mais tranquilo possível. — Devo saber onde é meu
lugar e entender que nossos mundos são diferentes e que por mais que isso
seja uma merda, não somos compatíveis.
— Fer… não fala assim!
Eu não queria ter que dizer nada disso, essa é a verdade.
Queria que tudo fosse perfeito, que as pessoas não fossem nos
julgar, que esse julgamento não me afetasse ou que ao menos fosse forte o
suficiente para aguentar toda essa merda. Mas não sou, nem um pouco.
E talvez seja esse um dos motivos das mulheres gostarem dos
homens mais velhos, eles costumam ser mais corajosos e dar a cara a tapa.
Mas já passei por tanta merda, que não tenho mais forças para gastar com
isso.
— Não quero parar de ficar com você, sinto que estou viciado e não
quero ter a tal da abstinência, mas o melhor é fazer o que deveríamos ter
feito desde o início: nos às vezes nos encontramos, eu faço um jantar, a
gente namora, passa um tempo e vou embora… Nenhum de nós dois quer
um relacionamento, e ainda assim estamos quase vivendo um.
Essa merda é mentira, porque eu queria tudo com ela.
Mas preciso me defender e bloquear meus sentimentos, pois
sabemos que uma hora isso vai acabar e não quero que a porrada seja forte
demais quando ela der um fim.
Paola não me responde mais nada, apenas concorda com um olhar
triste e a puxo para se deitar comigo.
Não era esse o fim de noite que eu planejava, então olho para a
mesinha ao meu lado, com a caixinha pequena ali e o presente que
pretendia dar a ela.
Já sabia que algo assim ia acontecer, só foi mais rápido do que
pensei.
◆ ◆ ◆

Duas semanas depois.


Paola teve que viajar para os Estados Unidos na semana seguinte ao
evento que foi caótico, e as coisas entre nós deram uma esfriada, o que já
era de se esperar.
Ainda nos falamos todos os dias, ela me conta o que tem feito,
mostra vários vídeos, conta sobre seus amigos e também a acompanho pelo
Instagram, babando em cada foto que compartilha e sentindo inveja das
pessoas que estão ao seu redor. Mas não conversamos nada sobre nós.
Ela volta hoje e também não falamos nada de nos vermos.
E, porra, estou morrendo de saudade dela.
— Nandinho, trouxe a caixa? — minha mãe pergunta e percebo que
me distraí novamente, então pego a bendita caixa cheia de pratos e copos
que ela pediu, subindo o pequeno lance de escadas da nossa nova casa.
Hoje é a nossa mudança oficial.
Eu já havia trazido minhas coisas porque meu contrato de aluguel
encerrou quatro dias atrás, e fiquei dormindo aqui mesmo sem luz, usando o
carregador portátil que o JP me emprestou só para conseguir me comunicar
com as pessoas caso desse alguma merda.
Paola me ofereceu sua casa para eu ficar, mas desconversei e ela
também não tocou mais no assunto.
Conseguimos alugar uma boa residência em Botafogo, em uma
parte mais antiga do bairro, com construções mais velhas que a minha avó,
mas que precisa apenas de pequenas reformas.
Foi um grande achado e por um ótimo valor.
Tem três quartos, sala de TV, de jantar, cozinha e dois banheiros.
Além de um bom quintal e garagem para quando meu pai conseguir
comprar um carro novamente.
Os pais da Paola realmente gostaram dos meus velhos e parece que
eles estão se tornando amigos, até marcaram um jantar aqui depois que tudo
estiver pronto para inaugurarmos.
— Boa tarde! Aqui é a casa do… — O cara do caminhão faz uma
pausa para ler o que está escrito no papel. — Jean e Valéria?
— Sim, é aqui sim. Posso ajudar em algo?
Me aproximo do portão e ele já sai do carro junto com outro homem
que descarrega móveis, abrindo a parte traseira do baú do caminhão.
— Entrega para eles!
Ele me dá um papel e leio.
São móveis para um quarto, além de vários equipamentos para
cozinha.
Tento procurar por alguma outra informação e vejo que a compra foi
feita em nome de Theodoro Santana.
Isso deve ser um engano…
Eles começam a descarregar tudo e fico confuso, mas minha irmã
começa a gritar e pular quando vê a penteadeira rosa.
— É minhaaaaaa!
— Como assim sua, filha? — minha mãe pergunta.
— A tia Claudia me mostrou um monte de fotos de quartos prontos
e perguntou qual eu mais gostava, aí escolhi o que tinha essa penteadeira.
Mamãe olha para mim e depois para meu pai, que agora está ligando
para o Theodoro e se afasta para falar com ele.
Meu velho volta uns três minutos depois, com um sorriso meio sem
graça no rosto.
— Eles nos deram de presente! Disse que a nossa pequena era
merecedora de móveis novos para seu primeiro quarto individual e também
para o Fer, que é um cozinheiro incrível e merece os melhores
equipamentos que uma cozinha pode ter.
Acho que já sei de quem Paola puxou no quesito “presentear as
pessoas”, independente do valor.
Mando uma mensagem para Theodoro, agradecendo-o por tudo que
nos deu hoje.
Espero um dia ficar bem o suficiente para poder fazer o mesmo
pelas pessoas que gosto e admiro.
Vou para a cozinha desembalar todas as coisas e colocá-las no
devido lugar, empolgado para usar tudo e com certeza fazer um bom jantar
e chamá-los para agradecer da maneira que deve ser feito.
27

Tive reunião a manhã toda, mal consegui beber água e estou com
um mau humor daqueles, que ninguém consegue ficar perto de mim.
— Entrega! — Wilson entra na minha sala e deixa uma sacola do
Costellazione. — Está tudo bem, Paola?
Olho para a bolsa parda e sinto meu coração ficar apertadinho.
— Você já se apaixonou, Wilson?
Ele sorri ao ouvir a pergunta e se senta na cadeira à minha frente.
— Já sim, várias vezes!
— Várias?
— Sim… se apaixonar é ótimo, indico pra todo mundo — pontua e
cruza os braços. — Mas apenas uma vez eu amei com todo o meu coração.
Janaina era a mulher mais linda que vi em toda minha vida, seu cabelo vivia
sempre arrumado e eu sentia que meu mundo parava quando ela falava
comigo — diz de uma forma saudosa. — Lutei muito para conquistá-la e a
pedi em casamento com três meses juntos. Foi tudo muito intenso, lindo e
incrível enquanto durou.
Ele fala com muito amor, mas também com tristeza.
— O que aconteceu?
— Minha amada morreu com leucemia, descobrimos tarde demais
para tentarmos tratamento, e até hoje ainda sinto falta dela. E isso já tem
quase vinte anos.
Que história triste.
— Sinto muito, Wilson! Não fazia ideia disso.
— Tudo bem, já faz muito tempo… mas por que essa pergunta?
Suspiro antes de falar:
— Acho que estou apaixonada por alguém que vive uma realidade
muito diferente da minha.
— O rapaz dos doces? — Aponta com o queixo para a sacola e
concordo. — E o problema está sendo por causa dos seus pais? Não consigo
imaginá-los se preocupando com isso.
Eu tento explicá-lo o que houve e nem consigo me reconhecer,
desabafando com alguém que não é a Thaís ou o Barbie.
Ele me ouve atentamente, balançando a cabeça o tempo todo.
— Isso deve ser difícil para vocês dois, e pelo visto, está mesmo
apaixonada pelo rapaz. — Concordo com o que diz. — Já falou isso para
ele? Às vezes a insegurança dele é por achar que você não o deseja dessa
forma.
— Mas e se ele não me quiser mesmo assim?
— É um risco que todos nós corremos, Paola. Mas nunca vi alguém
ter o cuidado de fazer doces e trazê-los quase todos os dias para uma
pessoa, e não ter o mínimo de sentimento por ela.
Wilson se levanta, mas ainda permaneço confusa com meus
pensamentos e sentimentos.
— Se eu puder dar só mais um conselho, diria para aproveitar
enquanto pode. Nós nunca sabemos quando a vida irá nos tirar alguém que
amamos. — Ele pede licença e depois sai da sala, me deixando aqui com a
cabeça ainda mais confusa.
Olho para meu celular, querendo que aparecesse alguma mensagem
dele, mas não tem nada ali.
Pego o doce que ele trouxe, dessa vez sem nenhum bilhete, e como
pedaço por pedaço, conseguindo visualizar na minha cabeça Fer na cozinha
picando cada fruta, misturando a massa e todo o preparo com um sorriso
lindo no rosto.
Ao terminar, decido que irei falar com o pai dele.
Antes de resolver qualquer coisa, preciso lhes contar logo sobre o
motivo do Jean ter sido preso.
Pego o elevador para ir até o andar administrativo e peço para
conferirem se o homem já saiu para o almoço.
— Paola, tudo bem? — Ele sai da sala que divide com mais outros
quatro contadores e me cumprimenta formalmente. — Aconteceu algo?
— Está com fome? Podíamos almoçar no restaurante daqui. O que
acha?
— É… claro, vou só pegar minha carteira e o celular.
Concordo e o espero.
Minutos depois, ele volta e subimos até o último andar. Fazemos
nossos pedidos assim que sentamos, e percebo que Jean está tenso,
provavelmente pensando que aconteceu algo ruim na empresa.
— Eu estou um pouco nervoso, desculpa.
— Tudo bem, eu que estou fazendo muito mistério, é que nem sei
como começar esse assunto.
— Da forma que achar melhor, estou preparado para o que vier.
Respiro fundo e penso um pouco antes de falar.
— O Silva conversou bastante comigo sobre seu caso, e depois que
conseguiu sua liberdade, ainda continuou fazendo algumas pesquisas… e
ele descobriu quem te incriminou. Mas como o senhor disse que não queria
mais ter que lidar com isso, queria apenas voltar para casa, nosso advogado
me contou e deixou nas minhas mãos a decisão de compartilhar isso com
você ou não.
Jean realmente é pego de surpresa.
— Quero saber, sim, por favor.
E eu ainda tive a esperança de que ele falasse que não queria…
— Foi o seu irmão, Jorge Couto.
A reação dele é diferente do que eu esperava. O homem suspira e
deixa que uma avalanche de tristeza preencha seus olhos.
— Eu comecei a suspeitar disso depois que fui preso! Lá dentro, a
gente fica sabendo de muitas coisas, e uma delas é que meu irmão era
envolvido com milícia de TV à cabo e internet. Demorei muito para
acreditar, mas depois que vi um dos presos falando com ele no telefone
clandestino que tinha lá, vi que era verdade. Não queria crer que ele faria
algo que prejudicasse a mim ou a minha família, mas a ganância subiu à
cabeça.
— Sinto muito por isso, Jean.
— Eu também sinto! — Nossa comida chega e esperamos o garçom
sair para continuar. — Jorge prometeu que ajudaria a cunhada e os
sobrinhos na única vez que foi lá na cadeia, mas em uma das cartas que a
Valéria escreveu para mim, ela disse que ele nunca mais os procurou, nem
mesmo o Nandinho, que era apaixonado por ele.
E foi exatamente por isso que decidi contar, porque o Fernando fala
muito do tio, que quer se programar para visitá-lo quando tiver um tempo,
já que ele se mudou para o interior de Minas Gerais. O cara provavelmente
deve ter feito alguma merda e está se escondendo.
Fiquei com muito medo de que algo acontecesse e não é justo que
ele continue com essa imagem de bom-moço para ninguém.
Pego um pen drive na bolsa e empurro na direção dele.
— Aí tem todas as provas que o incriminam, fica à sua escolha o
que fazer.
Jean agradece e me pede para eu não falar nada com o filho, que
conversará com ele quando encontrar o melhor momento.
— Posso te fazer uma pergunta que não tem nada a ver com isso?
— Claro.
Já até imagino o que irá perguntar.
— Você e o Fernando terminaram?
— Bom… sendo bem sincera, eu não sei.
— Ele está tocando mais do que o normal, e só músicas tristes.
Então pensei que poderia ter acontecido algo, e como você ainda não
apareceu na casa nova… enfim, não quero me meter, apenas fiquei curioso.
Nossa, esqueci completamente da mudança deles, e o Fer ainda
tinha me contado.
Nós almoçamos, ele insiste em pagar a conta e quando descemos,
digo que lhe darei uma carona e aproveito para ir ver sua esposa e filha, já
que o filho estará trabalhando mesmo.
Talvez eu o espere lá, não sei.
Mas eu preciso vê-lo, nem que seja por alguns minutos. Não estou
mais me aguentando de tanta saudade e essa sensação de vazio está me
sufocando a cada dia que passa.
Ao invés de voltar para minha sala, vou ao shopping comprar um
presente para eles, porque toda conquista deve ser comemorada, e
conseguirem voltar para cá, que era algo que queriam muito, é um grande
motivo para isso.

◆ ◆ ◆

— O Nado tá muito chato depois que você sumiu! — Flávia diz


enquanto tenta, pela vigésima vez, fazer uma trancinha no meu cabelo. —
Agora você voltou, né?
— Espero que sim — respondo com a maior sinceridade do mundo.
Além de fazer meu cabelo, ela também me maquiou e até passou o
batom direitinho. Mas vou precisar de um bom demaquilante para tirar toda
essa sombra que a pequena espalhou por vários lugares do meu rosto.
— Flavinha, você tem q… oh, meu Deus! — Valéria coloca as duas
mãos na boca para não rir ao me encontrar desse jeito caótico. — Filha,
você precisa escovar os dentes e dormir.
— Mas ainda tá cedo, mãe.
— Amor, já passou das 23 horas e eu só deixei ficar acordada até
agora porque a Paola está aqui.
Me levanto depois que a garotinha sai do quarto emburrada para
fazer o que a mãe pediu e ajudo Valéria a arrumar tudo o que ela espalhou.
— Vou te dar alguns lenços, acho que vai ajudar.
— Obrigada.
Ela sai do quarto e aproveito para desfazer os nós que a pequena fez
em todo meu cabelo.
— Boa noite, Paola! Obrigada por ser a primeira cliente do meu
salão, mas da próxima vez, vou ter que te cobrar pelo trabalho, tá? Senão eu
vou ficar dura.
— Ah, com certeza! E eu vou voltar, adorei a maquiagem!
Flavinha ri, me dá um beijo no rosto e vai para a cama.
Paro no espelho que tem no corredor, tento tirar o máximo de
sombra e glitter e depois jogo tudo fora.
— O Nandinho deve estar chegando daqui a pouco, quer esperar no
quarto dele?
— Não tem problema ficar lá?
— Claro que não, meu bem. Fica à vontade.
Eu abro a porta com cuidado, entro e depois a encosto. O cheiro dele
me atinge com tudo e a saudade só aperta.
Dou uma fuxicada básica e vejo que o espaço aqui é bem melhor do
que na sua antiga casa, deu até para comprar uma cama maior, que coube
muito bem no ambiente.
Me sento para esperá-lo, mas a hora vai passando e ele não chega.
Decido deitar só um pouco, na intenção de me distrair mexendo no
celular, mas acabo dormindo agarrada a um dos travesseiros dele.
28

Ontem acabei ficando até mais tarde do que o normal no restaurante,


porque a Helena estava nos ensinando uma receita nova que quer colocar no
cardápio e pediu para que todos provássemos.
Ficou incrível, como absolutamente tudo o que ela faz.
E ela pediu que eu desse uma atenção maior, porque a estrela do
prato é um pato muito bem feito, dourado e molhadinho por dentro.
Repliquei a mesma técnica que ela fez em outros oito pedaços e
comemos depois. Preciso acertar apenas a temperatura da panela antes de
colocar a carne, e sei que ficará perfeito como o dela.
Além disso, também estamos nos preparando porque ficamos
sabendo que um grande crítico irá lá na próxima semana, o que significa
que tudo tem que estar divino. A bebida tem que harmonizar com a comida,
o ambiente tem que estar agradável e o atendimento precisa ser impecável.
Ou seja, tudo tem que estar perfeito ou ganharemos uma avaliação
negativa. E não podemos de jeito nenhum receber uma assim, por causa da
estrela Michellin.
Mas o ponto alto da noite foi quando cheguei em casa e levei um
susto ao ver Paola deitada na minha cama, em um sono profundo e
parecendo muito confortável. Troquei de roupa, preparei as coisas para
dormir e deitei ao lado dela.
Já acordei há alguns minutos, mas no meio da noite, a morena jogou
metade do seu corpo por cima do meu e não tenho coragem de tirá-la para
poder levantar.
Inclusive, me aproveito disso para ficar fazendo carinho em seu
braço, matando um pouco da saudade que estou de tê-la tão perto de mim.
Paola começa a despertar, mas continuo quieto.
— Ah, meu Deus… — Ela se assusta ao me ver. — Desculpa, Fer!
Ontem vim conhecer sua casa nova e acabei cochilando enquanto te
esperava. Aliás, pelo visto, acabei capotando.
Ela se afasta um pouco, mas continua deitada, naquele momento
preguiçoso após acordar.
— Não tem problema, não é como se já não tivéssemos dormido
juntos antes!
Seu olhar recai sobre meu corpo e depois volta até meu rosto.
— Senti saudade disso!
— Eu também senti… como foi sua viagem?
— Foi boa, fiquei alguns dias resolvendo a obra de Miami e depois
fui para o Hamptons — me conta. Eu já sabia disso, mas puxo um assunto
qualquer, só para termos o que falar e um clima estranho não se instaurar
entre nós. — Você tem que ir lá, tenho certeza que vai amar o resort.
— Não tenho dúvidas, você tem um ótimo gosto.
Paola sorri e passa a mão nos cabelos, conferindo se está tudo no
lugar. Mas ainda se estivesse bagunçado, nada é capaz de deixá-la algo
menos que perfeita.
Merda.
Eu estou com mais saudade do que achava que estava.
— É estranho me sentir dessa maneira perto de você.
— Dessa maneira como? — pergunto.
Ela suspira antes de responder:
— Sinto que não posso te tratar da forma que tratava antes e isso me
incomoda, porque gosto da nossa intimidade e nossa amizade. E parece que
estou perdendo as duas coisas.
— Você não me perdeu, Paola. Nós só precisamos entender nosso
novo ritmo.
— De só sexo e conversar de vez em quando? — me pergunta, mas
não respondo. — Não foi assim lá no começo, por que seria agora? — Ela
senta na cama, de frente para mim e também me sento. — Você acha que
isso funcionaria, Fernando? Sendo bem sincero.
Passo a mão no meu cabelo e depois no rosto.
— Eu não sei.
Ela bufa e cruza os braços.
— Não quero desse jeito! Esquece tudo que falei antes sobre não ter
compromisso, sobre não querer namorar por falta de tempo… apenas
esquece.
— E então?
— Eu te quero, simples assim! O pacote completo, só para mim,
com exclusividade, trilhando uma vida juntos, transando o tempo todo, você
fazendo comidas maravilhosas e eu sendo a sobremesa… só quero você,
apenas isso.
Eu não estava preparado para ouvir essas palavras, e acabo
travando, porque nem nos meus maiores sonhos, pensei que Paola jogaria
tudo isso em cima do meu colo, do nada.
— Você quer um relacionamento sério?
— Eu quero continuar de onde estávamos, juntos e deixando tudo
acontecer da forma mais natural possível. — Paola se aproxima e sua coxa
encosta na minha, o que é suficiente para eu querê-la ainda mais perto.
— Mas nosso maior problema ainda existe e acho que sempre
existirá!
Ela fica de joelhos, agitada e sem pensar muito, acabo puxando-a
para se sentar no meu colo e não vejo nenhuma recusa da parte dela, que se
acomoda ali.
— Nós só precisamos focar em nós mesmos e o que achamos um do
outro. Não me importo com a sua condição financeira, muito pelo contrário,
quero te dar o mundo se você aceitar. — Ela toca meu rosto e depois mexe
no meu cabelo. — Te apoiar na correria que eu sei que será sua vida a cada
vez que for subindo de cargo na cozinha, quero te ajudar a montar seu
próprio restaurante, ser a sua sócia, te levar para conhecer o mundo comigo,
criarmos memórias juntos em cada pedacinho dos países… Quero uma vida
inteira com você, Fer.
Minha respiração está tão pesada que acho que vou ter uma crise de
asma, mesmo sem nunca ter tido uma.
Não consigo respondê-la, mas a beijo com toda a saudade que estou
dessas semanas que ficamos sem nos ver.
Seu corpo pressiona com força contra o meu, e minhas mãos
escorregam por dentro do vestido, indo de encontro com sua cintura
puxando-a para sentar em cima do meu pau.
— Seus pais — sussurra entre o beijo.
— Levaram a Flavinha para a natação — respondo e já a viro na
cama, ficando por cima dela e encaixando-me entre suas pernas. — Não
tenho mais condições de ficar tanto tempo longe de você! — Roço meu pau
duro nela para que entenda o que estou falando, e minha morena solta um
gemido baixinho.
— Então me mostra que está com saudade!
— Seu pedido é uma ordem.
Subo o vestido dela e tiro sua calcinha, no desespero de senti-la
novamente.
Sua boceta é sempre lisinha e cheirosa.
Abro seus lábios, passo lentamente a língua neles e vejo seu corpo
se arrepiando com meu toque. Deixo a ponta da língua rígida, passo pela
sua virilha, depois volto para sua boceta e circulo sua entrada.
Paola segura o lençol com força, e vou bem onde sei que ela deseja
ser tocada, em seu clitóris. Faço movimentos circulares com meu dedo,
mudando de velocidade até descobrir qual ela prefere e não paro enquanto a
vejo contrair as pernas.
Paro apenas para sugá-lo e quando a sinto puxando meu cabelo, vou
para cima dela, já colocando meu pau para fora da bermuda e esfregando-o
na boceta encharcada.
Pego a carteira debaixo do travesseiro, tiro uma camisinha e a visto
antes que eu ignore a existência desse látex.
— Me fode! — ela suplica e não demoro nem meio segundo para
me enterrar por completo dentro dela, sentindo-a me apertar. — Que
saudade disso!
E eu poderia dizer o mesmo, mas preciso de alguns instantes para
me recompor. Estar dentro dela é sempre uma delícia e fico tonto de tanto
prazer.
Apoio as mãos na parede e começo a estocá-la, fazendo um vai e
vem gostoso e bruto, do jeito que sei que ela gosta.
Paola geme alto e arranha meus braços, mas pouco me importo com
isso.
Puxo a alça do vestido e ela abre o sutiã que tem o fecho na frente,
deixando-me ver os seios incríveis se movimentando a cada estocada que
dou.
Mudamos de posição e ela fica por cima, rebolando sem nenhuma
pena de mim e toda hora fazendo aquela técnica que aperta a boceta.
Essa porra é uma delícia.
Eu aperto os seios dela enquanto cavalga com raiva e tento
memorizar cada sensação de quando estamos juntos.
Meu cacete lateja em desespero, doido para gozar e Paola começa
uns movimentos ainda mais rápidos, querendo também liberar toda a
excitação e saudade desses dias que ficamos separados.
Ela começa a esfregar o clitóris e faço movimentos por baixo, indo
de encontro aos dela. Minha gostosa geme alto quando goza no meu pau e
desaba no meu corpo logo depois.
Ouvimos o barulho da porta da frente e ela levanta o rosto para me
encarar.
— Será que eles nos ouviram?
— Acho que não, mas foi por pouco. — Beijo-a e depois nos
levantamos, tentando nos arrumar um pouco para não ficar tão na cara o
que acabamos de fazer. — Quer tomar café com nós?
— Eu iria amar.
Pego uma camisa qualquer para que ela se limpe e jogo o
preservativo na lixeira perto da escrivaninha.
As coisas parecem ter voltado ao normal entre nós, mas tenho algo
em mente que mudará tudo.
29

Reatar com o Fernando era a coisa que me faltava para voltar a ficar
bem, com o mau humor bem longe de mim. Mas depois de tudo que eu
falei, ele não me deu nenhuma resposta exata, e isso ainda está me deixando
tensa, porém talvez ele precise de um tempo para pensar sobre isso e está
tudo bem.
O que importa é que estamos juntos de novo e com o tempo vamos
acertando as coisas que estão fora do lugar.
Essa semana já é o Réveillon e quando os convidei para passarmos
juntos, todos eles toparam, e mesmo com o nosso pequeno
desentendimento, mantive o quarto familiar deles aqui, que além de uma
suíte, tem mais um quarto, que servirá muito bem para a Flavinha.
A virada de ano é no domingo e hoje é quarta-feira.
Vim pessoalmente no hotel para garantir que tudo esteja em ordem e
acabo encontrando um grande grupo na piscina, cheio de pessoas que adoro.
— Oi, gente! — Me aproximo deles, que me cumprimentam de
volta.
— Nossa… sua pele está ótima! — Laura, irmã do Barbie, comenta.
— Parece até que alguma coisa voltou para a sua vida e está te fazendo
muito bem.
Essas mulheres me ouviram falar do Fernando em todo o tempo que
fiquei lá, e faltou muito pouco pra elas mesmas pegarem meu celular e
enviarem uma mensagem para o meu baby cozinheiro.
— Até seu sorriso está diferente! — Noah comenta, com o seu jeito
muito cordial e educado. — O amor faz dessas coisas, né? — Abraça a
esposa e a beija no ombro.
Não sei qual dos casais mais admiro, e cada um deles têm suas
histórias e dificuldades, mas eles deram um jeito de contorná-las para
ficarem juntos.
E além disso, também tenho o exemplo dos meus pais.
Theodoro Couto já esteve na mesma posição do Fernando e não
desistiu da minha mãe porque a amava muito.
Só preciso que aquele moreno tenha o mínimo de sentimento por
mim, para que queira lutar pelo que já temos e tudo que ainda poderemos
ter.
Consigo me imaginar facilmente lá em casa, com umas três crianças
correndo, todas com os olhos azuis como os do pai e com a minha teimosia.
Converso com eles um pouco, pergunto como foi o Natal e também
conto sobre o meu, que foi ótimo, mas faltou o Fernando e a sua família
conosco.
Tudo que faço com meus pais, imagino meu baby cozinheiro e os
seus familiares junto.
Depois de ficar um tempo com os meus amigos, vou até a
administração do hotel e confiro algumas coisas, inclusive, toda a segurança
na parte da frente e se já informaram aos convidados que a rua fica fechada
e que depois de certo horário não conseguirão mais chegar aqui de carro,
somente pela entrada de serviço, que é liberada especialmente nesse dia.
Reforço ainda mais a segurança porque milhões de pessoas passam
aqui na entrada, e o hotel ser cinco estrelas significa que além de beleza e
conforto, eles também estarão seguros.
Faço algumas anotações para os funcionários, depois tenho uma
reunião com a equipe extra que contratamos para as festividades, tirando
todas as dúvidas deles e conferindo se todos fizeram o treinamento.
Ao sair da sala, dou uma conferida no celular e vejo que o Fer
mandou mensagem.
Meu baby: Amor, preciso de uma ajuda!
Meu baby: Qual das duas você prefere?
Ele manda uma foto de duas lingeries lindíssimas: uma é toda
branca e tem uma sainha, já a outra é vermelha e toda trançada, com direito
a cinta-liga e calcinha com pompom.
Meu baby: Deixa, comprei as duas.
Eu: Obrigada por ter comprado minha roupa do Réveillon, ainda não tinha
visto uma e você me deu duas.
Meu baby: Sabia que pessoas com 24 anos também infartam?
Meu baby: Dentro da suíte, você pode vestir o que quiser, amor.
Rio ao saber que a provocação deu certo.
Eu: Ciúmes, amor?
Meu baby: Não, só protegendo o que é meu.
Como que mantenho meu lado feminista lendo isso?
Não tem como.
Depois de resolver tudo, espero Thaís chegar e depois vamos ao
shopping.
Ela sempre costuma passar o Ano-Novo comigo e dessa vez não
será diferente.
— Preciso te contar uma grande merda que fiz — ela diz
despretensiosamente enquanto pega umas roupas da arara para ver se gosta.
Paro na frente dela, esperando que conte.
— O que foi?
— Eu transei com o Tomás.
— O quê? — Minha voz sai muito mais alta do que pensei que
sairia e peço desculpas para a senhora que se assustou ao meu lado. —
Como assim, Thaís Lima?
Ela larga a roupa de volta no cabide e suspira.
— Para ser sincera, eu nem sei como aquilo aconteceu, mas
estávamos discutindo dentro do celeiro, para variar, e do nada, eu estava
igual uma égua sendo domada por ele.
Coloco a mão em cima da boca dela e a safada ri, e depois
choraminga.
— Pelo menos foi bom?
— Esse é o problema… foi bom demais, amiga! Ele é gostoso, bruto
e meu Deus, eu gozei duas vezes e foi uma transa de uns 20 minutos.
Me abano ao ouvi-la, fingindo ter ficado com calor.
— Está parecendo aquelas histórias de filmes em que os dois se
odeiam, aí começam a transar porque é bom e daqui a pouco estão
apaixonados, cheio de crianças correndo pela casa e gritando que querem
mais Nescau.
— Você sabe como animar uma pessoa — reclama e voltamos a
procurar uma roupa.
Eu idealizei um vestido na minha cabeça, mas até agora não estou
conseguindo achar nada como ele, o que está me frustrando porque não
tenho um plano B. E se eu for na costureira é capaz de ela arrancar o meu
couro, já que faltam pouquíssimos dias para o evento.
— Mas fora isso, tem algum outro problema?
— Nada…
— Tem certeza?
— Não usamos camisinha.
Puxo-a para dentro de um trocador e fecho a portinha de madeira.
— Você é maluca, Thaís?
— Pelo visto, sim!
— Amiga, isso é muito sério — digo, deixando claro toda a minha
preocupação e ela concorda. — Como que você, logo a mais chata com
essas coisas, deu um mole desse? E se ele tiver alguma coisa? E se você
engravidar?
— Em nome de Deus pai todo poderoso, eu não estarei com nada
disso, nem alguma infecção e muito menos uma criança aqui dentro!
Fico olhando-a, querendo ter certeza que não está me zoando, mas a
falta de um mínimo esboço de sorriso deixa claro que isso aconteceu
mesmo.
— Dois adultos dando mole como se fossem adolescentes
inconsequentes!
— Eu sei, mãe! Desculpa, isso não irá se repetir.
Depois que me acalmo, saímos da loja, e não consigo me conter
porque de frente tem uma infantil. Digo para ela que vou ao banheiro e a
peço para segurar minha bolsa ali, mas na verdade, eu entro no outro
estabelecimento e compro um body de recém-nascido.
Não deixo a menina nem colocar na sacola e levo na mão mesmo.
— Amiga, achei o look certo para você.
Coloco a roupinha na frente do meu corpo, onde está escrito:
“dindinha ama, dindinha cuida” e a loira me xinga até minha última
geração, mas rio tanto que quase acabo fazendo xixi nas calças.
30

Para a minha sorte, o restaurante não funciona dia 30 e 31 de


dezembro e nem primeiro de janeiro, porque eles têm as próprias tradições
para essa data, da mesma forma que não funciona na véspera e no Natal
também.
Hoje já é dia 31 e viemos para o hotel da Paola ontem mesmo.
Conheci os amigos dela, mas foi um pouco complicado porque
quase nenhum falava português e também acabei conhecendo a Emma, filha
dos donos do Costellazione. Descobri, inclusive, que deram esse nome ao
restaurante em homenagem à filha, que é carinhosamente chamada assim
pelo Jacob, seu noivo.
Quando Paola me falou que tinha absolutamente de tudo nesse
grupo, eu não acreditei até vê-los pessoalmente.
Tem uma ex-patinadora, uma modelo, um italiano que está o tempo
todo emburrado, uma fotógrafa que pegou o amigo do irmão, o doido que
tem apelido de boneca e até um ator muito famoso.
E isso é só o que lembro.
Mas entendi o que a minha gostosa quis dizer quando falou que
tinha muitos exemplos de pessoas que mesmo sendo opostas, lutam e dão
um jeito de ficarem juntas e serem felizes.
E, na verdade, depois que ela foi lá em casa, eu já estava decidido a
aceitar voltarmos de onde tínhamos parado, mas depois que os pais dela
foram lá também, em um dia que ela não pôde por conta de uma reunião de
emergência, conversei com a dona Claudia, e ela me mostrou o ponto de
vista da Paola nisso tudo.
Costumamos pensar que gente muito rica não passa por problemas
nem fica triste ou então falamos que pelo menos eles sofrem em Paris,
coisas do tipo, mas ainda assim é sofrimento, é tristeza.
E o que as pessoas falam, diz muito mais sobre elas do que sobre
nós.
A mãe da minha gostosa contou que Theodoro e ela fizeram alguns
combinados, que assim não ficaria ruim para eles, e que tem certeza que sua
filha estaria disposta a fazer as coisas de uma maneira que fique confortável
para ambos.
A realidade é que isso tudo é complicado e vai me incomodar por
muito tempo ainda, mas prefiro esse incômodo e tê-la ao meu lado, do que
perder a mulher que amo.
É, eu a amo.
E não foi difícil chegar a essa conclusão, não quando pareceu que
meu mundo perdeu toda a graça. Até a cozinha – que é uma das coisas que
mais gosto – não estava sendo suficiente para me animar.
Olho para a caixinha com o presente que iria dar pra ela depois do
leilão, e coloco dentro do bolso quando a escuto se aproximando de mim.
— Aprovado?
Me viro e vejo a roupa da Paola, sentindo o meu amigão no meio
das calças querendo ficar animadinho.
Ela está com um vestido que é transparente da cintura pra baixo,
mas tem um forro que tampa o que só eu vou ver daqui até o final das
nossas vidas, se tudo der certo. Ah, e os médicos também, mas só eles.
As rendas na saia deixam tudo ainda mais bonito e o decote
avantajado é a minha perdição.
— Está incrível, amor.
Ela sorri e se aproxima, abrindo dois botões da minha camisa de
linho branco, deixando com uma pegada mais despojada.
— Melhor assim, só preciso ficar de olho porque esse hotel está
lotado e você é gostoso demais para ficar fora do meu campo de visão.
— Não sairei de perto… por mim, estaria até dentro de você,
agorinha mesmo.
Ela ri e me dá um selinho, pedindo para sairmos logo porque já são
quase 23:00 horas e as pessoas estão lá desde cedo e nada da gente.
Acontece que ela vestiu uma das lingeries que dei de presente e eu
não consegui resistir, tive que aproveitá-la com a roupa e depois sem, do
meu jeito preferido.
Nós vamos até a sacada do hotel, que ficou como se fosse um
camarote e a parte em que estão as demais pessoas. Tem um palco montado,
com caixas de sons bem grandes viradas em nossa direção, acredito que na
intenção de fazer com que o barulho do show lá de fora não atrapalhe e já
tem uma atração cantando.
Alguns dos amigos dela me olham de tempos em tempos,
provavelmente ansiosos com a surpresa que pretendo fazer e que ela nem
imagina que acontecerá.
Na verdade, nem eu mesmo acredito, não sei o porquê fui inventar
essa ideia, mas não tenho dúvidas que ela irá amar.
Tomo alguns drinks, converso com as pessoas, brinco um pouco
com minha irmã que provavelmente vai ficar sem voz de tanto que grita as
músicas da Ana Castela, e toda hora olho no relógio, que parece estar
girando ao contrário.
— Precisamos tirar uma foto, amor. Não temos nenhuma juntos, só
nós dois.
— Nosso vídeo não conta? — sussurro baixinho, falando do vídeo
que gravamos enquanto transávamos na hidro do último andar da casa dela,
ou enquanto ela me chupava debaixo da bancada da cozinha… bem, acho
que temos alguns comprometedores guardados a sete chaves.
— Para de ser safado… não estou dando conta.
— Quer mesmo que eu pare?
Ela sorri e nega com a cabeça.
Paola entrega seu celular a Thaís, que primeiro nos zoa, falando que
somos pombinhos e muito apaixonados e depois tira umas duzentas fotos,
nas quais eu fico na mesma posição e a minha gostosa muda a dela.
A contagem regressiva inicia e fico do lado dos meus pais, com a
Flavinha na minha frente e a Paola ao meu lado, todos contando juntos até
que chegamos ao número um e gritamos em uníssono: “Feliz ano-novo”.
Começa aquele desespero de troca de abraços, beijos e
agradecimentos.
Me controlo bastante para não chorar quando abraço meu pai, mas
quando chego na Paola fica bem difícil, porque muita coisa que aconteceu
de bom para mim e para minha família nesse ano, de alguma forma teve o
apoio dela.
— Você é a mulher mais incrível que tive o prazer de conhecer.
Ela sorri, com os olhos marejados.
— Não me faça chorar!
— Tenho uma coisa para você, pode esperar alguns minutos? —
Assim que concorda, quase saio correndo e no meio do caminho, volto a
pensar do porquê ter escolhido fazer algo que irá chamar a atenção de todo
mundo. Vou me sentir como na época da escola em que tinha que apresentar
trabalho lá na frente.
Ao chegar na lateral do palco, um dos funcionários que me ajudou
com tudo pede para que eu suba e fico esperando até aparecer o vídeo no
telão.
— Oi, Paola, nós somos o Matheus e o Kauan — a dupla de irmãos
fala juntos e consigo uma pequena fresta entre o tecido do palco para ver a
reação dela, que já está com as mãos na frente do rosto. — Ficamos
sabendo que você é nossa grande fã e até batizou seus cachorros com
nossos nomes — o vocalista principal diz e uma imagem rápida aparece
dela brincando com os dois e depois volta a focar nos cantores. — Olha,
tem um rapaz aqui, que deu muito duro para conseguir falar conosco para
gravar esse vídeo. Ele pediu para que cantássemos uma música
especialmente para você…
Os dois começam a cantar Meu Oxigênio à capela mesmo, e
praticamente todo mundo vai cantando junto, o que me faz arrepiar e
também ficar um pouco emocionado.
Respiro fundo antes de acabar e apareço lá na frente do palco
quando os dois somem do telão.
Merda.
Eu vou travar.
Foco toda a minha atenção na mulher que eu quero que seja minha
para sempre e me sinto um pouco mais calmo.
— Depois de tanto ouvir essa canção, entendi que a letra diz sobre o
meu amor por você… porque você é o meu oxigênio, minha sina, meu
destino, a metade do caminho que falta para eu caminhar! Você é o meu
melhor momento, meu barulho, meu silêncio… você é o meu lugar —
recito um pedaço da música e depois finalizo com a parte mais importante.
— Paola, você aceita namorar esse cara que não tem como te dar o mundo,
mas que te dará muito amor até o fim de nossas vidas?
Ela coloca as mãos ao redor da boca e grita um enorme sim.
Todo o pessoal começa a bater palmas e comemorar.
Saio correndo para ir até onde ela está, controlando a respiração
para não desmaiar no meio do caminho por conta das escadas e ao chegar
lá, já a tiro do chão, beijando-a na frente de todos, ouvindo os assobios e
gritos das pessoas.
Tiro do meu bolso a caixinha que tem uma aliança de prata e uma
pedra bonita, que Thaís me ajudou a escolher sem que custasse uma
fortuna.
Ela olha para a pequena joia como se fosse o presente mais incrível
que ganhou em toda a sua vida, e isso me deixa ainda mais feliz. Coloco-a
em seu dedo, dando um beijo em cima dele depois que ela confere como
ficou.
— Eu te amo, minha gostosa.
— Eu te amo, meu baby cozinheiro.

Paola Santana Couto.


Quatro anos depois.

Hoje é a inauguração do restaurante do meu marido e sinto que


estou mais nervosa do que ele.
Depois de insistir para que começasse a gravar vídeos para seu
perfil, ele topou minha ideia e começou a dar muito certo.
Profissionalizamos as gravações e até mesmo uma equipe nos ajudava.
Criamos a rotina de tirar uns dois dias na semana para fazer o conteúdo para
o Instagram e eu o ajudava a entender como a plataforma funcionava.
Hoje ele tem mais de quatro milhões de seguidores, um monte de
mulher que fica falando o quanto ele é gato ao invés de focarem na comida
e tento não surtar muito.
Até do Masterchef ele já participou como convidado em uma prova
de serviço. Além de vários eventos que costuma ir, depois que ficou famoso
nesse ramo.
Eu só consigo ter orgulho do quanto ele tem crescido e se esforçado
na profissão que tanto ama, é a coisa mais linda de ver.
Em menos de um ano lá no Costellazione, ele se tornou subchef e
ficou assim até uns meses atrás, quando se desligou do restaurante,
agradeceu imensamente aos ex-patrões pela experiência incrível que foi
trabalhar lá, e então demos início ao seu sonho.
— E se não for ninguém, gostosa? — ele me pergunta enquanto
dirige nosso carro, como sempre, somos seguidos pelos seguranças que
agora são nossos. — E se eu estiver tentando colocar a mão onde não
alcanço?
— Amor, você é um sucesso! Todas as reservas esgotaram no
mesmo dia em que anunciamos a inauguração… tenho certeza que dará
tudo certo.
Ele respira fundo e aos poucos vai se acalmando. E eu fico
admirando-o, lembrando de tudo que já passamos nesses quatro anos de
relacionamento.
Tiveram momentos complicados e ainda têm, mas infelizmente é
algo que não podemos controlar. Depois que uma fofoca foi espalhada de
que meu pai baniu os Oliveira por terem destratado seu genro, ninguém
nunca mais sequer olhou torto para ele. E ainda que a maioria das pessoas
sejam falsas, pelo menos não passamos mais por uma situação como aquela.
Outro momento difícil foi quando meu sogro contou pra ele sobre o
tio, poucos dias antes de levar à delegacia todo o material que tinha para
prendê-lo.
Foi uma semana bem complicada para o Fer, que sempre o teve
como um exemplo.
Ele até foi visitá-lo uma vez, para enfrentá-lo e o Jorge confessou,
pediu desculpas e depois teve a cara de pau de perguntar se o Silva poderia
pegar o caso dele.
Fico feliz por nunca tê-lo conhecido, porque só sendo muito
desprezível para fazer esse tipo de coisa com o próprio irmão, que cuidou
dele como se fosse um filho quando os pais deles faleceram.
Mas o que importa é que agora tudo está bem e as nossas famílias se
tornaram uma só. Nossos pais se adoram, são grandes amigos e até viajam
juntos de tempos em tempos.
Quando o Fernando para na frente do restaurante, vejo o olhar de
surpresa ao perceber o quanto está lotado e com uma fila enorme.
— Isso é real ou estou vendo coisa?
Sorrio e tiro meu cinto para sairmos.
Seguro forte na sua mão quando ele chega ao meu lado.
— Isso não só é real como é puro mérito seu, meu amor.
Fer me olha, abaixa um pouco a cabeça e me dá um beijinho.
— Não estaria onde estou sem você, amor.
— Nós somos uma equipe! — Pisco e ele sorri.
Vamos juntos até a entrada e me afasto um pouco quando algumas
pessoas pedem para tirar foto com ele. Por mais que eu tenha ciúmes
porque ele é tudo para mim e algumas mulheres são abusadas, tenho tanto
orgulho que às vezes acho que irei sufocar.
Entramos depois de um tempo e ele vai de mesa em mesa, dando
boas-vindas aos convidados que já conhecemos, que são nossos amigos e
família e aqueles que provavelmente se tornarão clientes fiéis.
O sucesso dele na internet fez toda a diferença, sem sombra de
dúvida, e no que depender de mim e da minha vontade de ajudá-lo, esse
lugar será famoso no mundo inteiro.
Me junto aos meus pais na mesa que reservaram, onde a minha
amiga está com seu noivo e ficamos ali tentando escolher o que pedir.
Eu provei todos os pratos antes dele definir o cardápio e sou
suspeita para falar, porque tudo que meu amor faz é perfeito e sou muito
apaixonada para achar algo diferente disso.
— Boa noite, gente! — Gael se aproxima para falar conosco, e me
levanto para cumprimentar ele e a Bárbara, sua esposa.
Não sei como isso aconteceu, mas depois que ela parou de se
relacionar com o JP, os dois se conheceram em uma festa e desde então
estão juntos. Imagino como os pais dele tenham ficado, já que ela também é
cozinheira, o que para eles é pouco demais.
Fer até a chamou para trabalhar, mas ela preferiu ficar um período
em casa, cuidando dos gêmeos que completaram um ano há pouco.
Com o tempo, minha relação com Gael melhorou, meu marido
também se dá bem com ele hoje em dia e vivemos em harmonia. Porém
acho que isso só aconteceu porque ele decidiu se afastar dos pais, coisa que
deveria ter feito anteriormente.
Mas, como diz o ditado, antes tarde do que nunca, né.
Fico a noite toda assistindo ao meu marido andar de um lado para o
outro, atendendo todo mundo e fazendo de tudo para que cada pessoa ali se
sinta confortável.
A hora vai passando e só os mais próximos vão ficando.
E quando ele finalmente fecha a porta, nos levantamos e estouramos
alguns champanhes para uma comemoração mais intimista.
Pego uma taça e fico enrolando com ela na mão, sentindo um
nervosismo que não é normal para mim, tomar conta do meu corpo.
Quando arrumo uma brecha nas conversas das pessoas, bato com
cuidado no cristal do copo e todos me olham.
— Como todos aqui são família e amigos, pessoas que nós amamos
e fazem parte da nossa vida, achei que seria importante compartilhar uma
coisa com vocês.
Fernando se aproxima, curioso porque também não sabe que notícia
é essa.
Seguro na mão do meu baby cozinheiro e olhando para ele, digo
para todos ouvirem.
— Estou grávida!
Os olhos do meu marido se arregalam e depois um sorriso
gradualmente vai ganhando seu rosto.
— Sério? Tem certeza?
— Tenho! — digo, já com vontade de chorar. — Parabéns, meu
amor… você agora é papai.
Ele segura meu rosto e me enche de beijos, depois se abaixa e
também beija a minha barriga, me fazendo rir.
As demais pessoas vêm me parabenizar e eu amo todo o carinho que
sinto de cada um deles, mas não consigo tirar os olhos do meu marido, que
sorri todo bobo, comemorando com os amigos.
— Eu serei titia? — Flavinha se aproxima, agora uma adolescente
vaidosa, tranquila e muito bonita. — Estou tão feliz! Vou amar cuidar dele
ou dela para que vocês passeiem, namorem…
— Eu vou lembrar disso, cunhadinha.
— Pode lembrar, eu serei uma titia muito babona.
Ela me abraça e eu beijo sua testa.
Fer se aproxima novamente quando a galera termina de falar comigo
e me leva para a cozinha do restaurante, que já está vazia e totalmente
limpa.
— Não acredito que seremos pais! — Ele me coloca sentada em
cima de uma das bancadas e faz carinho em meu rosto. — Eu te amo tanto,
meu amor… sou muito grato por ter você em minha vida.
Meu baby cozinheiro me beija, me tirando o fôlego, mas nos
controlamos, e depois beija minha barriga novamente.
— Nós te amamos também, meu amor — digo, com a mão
repousando no meu abdômen. — Essa criança aqui vai ser apaixonada pelo
pai da mesma forma que eu sou!
— Porra, eu estou muito ansioso!
— Em breve estarei enorme e talvez não possa transar — digo e ele
dá de ombros.
— Tenho certeza que poderei fazer muitas outras coisas com você
além da penetração. — Fernando me dá mais um selinho e depois ficamos
ali, imaginando como o nosso filho será.
E se há 4 anos eu pensava que não poderia ser mais feliz depois do
pedido de namoro, realmente não tinha noção do que a vida ainda preparava
para nós dois.
FIM
Finalizamos mais uma história juntos! E eu espero que a experiência
tenha sido ao menos divertida. Já vou pedir que não esqueça de avaliar na
Amazon e no Skoob, isso me ajuda muito e faz com que os meus livros
cheguem em mais pessoas!
Sua opinião é muito importante para mim e eu estou aberta a
ouvi-la, caso encontre algum erro gramatical ou algo que de alguma forma
tenha soado ofensivo. Todos somos passíveis de erros, mas estou sempre
em busca de corrigi-los para não se repetirem. Fique à vontade para falar
comigo no meu Instagram.
Que alegria ter você comigo até aqui, onde eu tiro um tempinho para
expressar minimamente a minha gratidão por pessoas que de alguma
maneira foram importantes para mim e também para a conclusão desse
livro.
Vou começar agradecendo a você, leitor, que deu mais uma chance
para um livro meu e eu espero de coração ter suprido a sua expectativa. Mas
caso isso não tenha acontecido, tudo bem, faz parte. Ainda assim, sou grata
a vocês por terem lido uma obra minha.
Um agradecimento megaespecial à Evelyn Fernandes, que é a
minha melhor amiga, beta, revisora e mais um monte de outras coisas,
inclusive a primeira pessoa que não me deixa desistir quando tudo está um
caos. Obrigada por ser quem é, amiga! Eu te amo!
Um agradecimento megaespecial para Marcielle Alves, que topou
ajudar na revisão três dias antes do lançamento e fez um trabalho ótimo
junto com a Evelyn.
Quero agradecer a mim também, acho que eu nunca tirei um
tempinho para fazer isso. Mesmo diante de dores diárias, mil coisas para
resolver no meu dia a dia e uma voz no fundo da minha cabeça que sempre
quer me fazer desistir, eu sigo aqui, tentando sempre evoluir
profissionalmente para trazer bons livros a vocês.
Mais um livro concluído com muito trabalho, dedicação e
desespero!
Espero reencontrá-los em uma próxima obra.
Um grande beijo.
K.A PEIXOTO!
Sombras do Passado

Sinopse:
AGE GAP + ROMANCE PROIBIDO + MELHOR AMIGO DA MÃE +
FOUND FAMILY + HOT
Algumas pessoas passam por situações que deixam uma marca em sua alma
para o resto da vida.
E é exatamente isso que aconteceu com André Nolasco.
Mesmo tendo conseguido se livrar das garras das pessoas que o faziam
conhecer a dor da forma mais cruel, ele cresceu com o seu passado o
assombrando todos os dias.
Hoje ele é um renomado diretor de TI em uma grande empresa
multinacional, é divorciado e vive bem a sua vida desse jeito.
Alana Ruas é uma dentista recém formada muito festeira, animada e que
ama viver a vida como se cada dia fosse o último.
Mas depois de um acontecimento no carnaval, ela vê a sua vida tomando
um rumo que não imaginava que aconteceria tão cedo.
Ela está grávida!
E o pior disso tudo, é que ela engravidou do melhor amigo da sua mãe, o
André.
Os dois haviam prometido que jamais falariam sobre o que aconteceu
naquele feriado, acreditavam que foi um erro que jamais seria descoberto
por ninguém.
E as coisas só se complicam, porque André não quer e nunca pretendeu ser
pai por causa de tudo que ele passou na infância. E a Alana não abrirá mão
do filho.
Até que ponto as Sombras do Passado irão decidir o destino da vida do
André?
Para Sempre Minha: A Redenção do CEO - (Livro único).

Sinopse
CHEFE X FUNCIONÁRIA + FAST BURN + AGE GAP + GRUMPY X
SUNSHINE.
Marcus Castelo é fundador e CEO da Imobiliária Castelo.
Ele é um homem fechado, sério e de poucos amigos. Depois de ter passado
por coisas muito difíceis, ele não se acha mais digno e nem merecedor do
amor das pessoas ao seu redor.
Frequentador assíduo de um clube de swing, ele se vê interessado demais
em uma mulher que ficou e se foi logo depois, sem dar chances para que ele
a conhecesse.
O que ele jamais imaginaria, é que a morena que ficou rondando os seus
pensamentos, é a sua nova estagiária.
Gabriela Paranhos acabou de fazer 20 anos e conseguiu o estágio dos
sonhos na maior e melhor imobiliária do Rio de Janeiro. Para comemorar,
foi ao clube de swing com a sua amiga e se envolveu com um homem que a
fez sentir coisas jamais experienciadas.
Sua primeira semana no trabalho novo é empolgante ao mesmo tempo que é
tensa, porque ela não entende a razão do seu chefe não gostar dela sem
motivo algum. E é quando ela volta à casa de swing e o encontra lá, que
descobre o porquê das atitudes dele.
O tesão entre os dois falará mais alto que a razão, e eles se verão em
situações difíceis sem conseguir separar o pessoal do profissional.
Série Gorillas - Livro 01

Sinopse
Comédia Romântica + Enemies to lovers + Vizinhos + Quarterback x
Fisioterapeuta + Slow burn
Hope Donavan tem 25 anos e é fisioterapeuta. Há pouco tempo recebeu
diversas propostas dos maiores times de futebol americano, depois da sua
clínica e seu trabalho ganharem relevância no mercado esportivo.
Christopher Galanis é o quarterback do Gorillas, um dos maiores times da
NFL. O QB é muito conhecido fora do campo por sua vida íntima estar
sempre envolvida em polêmicas e exposta em todos os veículos de notícias.
Os dois são vizinhos há dois anos e não se gostam.
Hope reclama que ele sempre faz festas barulhentas demais, tirando a sua
paz. E ele acha que ela reclama sem necessidade, apenas para atrapalhar a
sua vida.
Mas agora ela foi contratada pelo Gorillas e os dois trabalharão lado a lado,
tendo que suportar a presença um do outro todos os dias.
E para piorar o que já era ruim, uma foto comprometedora dos dois é
divulgada e eles precisam fingir que estão namorando para que suas
carreiras não sejam arruinadas.
Instagram/twitter: @autorakapeixoto
Amazon: K.A. PEIXOTO

Você também pode gostar