Você está na página 1de 435

Copyright 2022 ©

1° edição – julho 2022

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS A LANA SILVA

Revisão: Sônia Carvalho

Ilustração: Layce Design


Sumário
Sinopse

Playlist

Notas

Dedicatória

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14
Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Capítulo 23

Capítulo 24

Capítulo 25

Capítulo 26

Capítulo 27

Epílogo

Agradecimentos

Vem aí

Redes Sociais
Sinopse

Guilherme Barbieri é o CEO da empresa da família.


Cafajeste assumido, tudo que ele não deseja é um casamento e
uma família, mesmo que seja isso que todos falem que ele

deveria ter aos trinta e seis anos.

Anne Almeida é uma empresária e estilista de sucesso.


Viciada em controle, tem toda sua vida planejada. Aos vinte e

cinco anos casamento e família são coisas completamente

descartadas do seu cronograma.

Ela ama controle, ele ama a liberdade.

Os dois são completamente diferentes, porém uma única

noite será suficiente para uni-los para sempre.


Nenhum dos dois ansiava por uma família, muito menos

pelo amor, entretanto eles estão prestes a descobrir que sempre


estiveram completamente enganados.
Playlist

Para conferir a playlist da história abra o Spotify e leia o

código abaixo.
Notas

Esse livro pode conter gatilhos relacionados a abandono


parental, ameaça de aborto, além de conter cenas de sexo
explícito.
Dedicatória
Para todas que como eu amam um boy literário que larga
tudo pela mocinha e a pose de cafajeste não dura nem dois

segundos, nesse livro, no caso, não dura nem seis capítulos.

Boa leitura e espero que você se apaixone por Guilherme

assim como eu!


Prólogo

Apoio meu corpo contra o balcão do bar e observo minha


amiga dançar, ela está envolvida demais com a música e posso
apostar que deve estar pensando no homem que quebrou seu

coração. Estreito meus olhos quando percebo algo em seu rosto,


droga, ela está chorando.

Malditos, homens.

Será que devo ir até ela? Dou um passo em frente, mas


paro, Francesca precisa desse momento.

— O que uma mulher tão bonita faz aqui sozinha?

Um arrepio sobe pelo meu corpo ao ouvir uma voz grave e

sexy. Olho para o lado e encontro o dono da voz. Um cara alto,

musculoso, loiro e de olhos castanhos. Antes de respondê-lo


analiso seu corpo e seus traços, ele parece ser um cafajeste,

deve ter mais de trinta anos e não parece um dos cowboys da


cidade, talvez pela postura um tanto arrogante seja um advogado,

ou um engenheiro, quem sabe até um empresário.

É óbvio que ele é um desses homens de uma noite só,

aquele tipo que não irá te ligar no dia seguinte e muito menos

está procurando alguém para um relacionamento.

Hoje é seu dia de sorte, porque é exatamente o que eu


estou procurando, alguém que não irá me procurar no dia

seguinte e muito menos me prometer coisas que jamais será

capaz de cumprir. Tudo o que preciso é saber como é o seu beijo


e sua pegada, não preciso de um homem que não saiba o que irá

fazer, ou apenas esteja preocupado em gozar.

É com o intuito de fazê-lo me levar para a pista de dança e

me convencer a terminar a noite na sua cama que o encaro com o


meu olhar mais sexy e malicioso possível.

— Estava esperando alguém como você.

Pela forma como seus olhos ganham um brilho repleto de

luxúria ele entendeu o que estou querendo. Sem palavras e sem


um pedido estende a sua mão em minha direção, eu deixo a
garrafa vazia de cerveja sobre o balcão e coloco meus dedos
sobre os seus.

Olha-me nos olhos por alguns segundos, então se vira nos


guiando para a pista de dança. Uma música do Jorge e Mateus

está tocando e ele não hesita em colocar sua mão livre um pouco

abaixo da minha escápula, ele aperta um pouco e apesar do meu

vestido sinto seus dedos e o seu calor. Eu gosto da sensação que

percorre meu corpo.

Estamos um de frente para o outro com nossos dedos

entrelaçados e a palma da sua mão pressionada contra o meu

corpo. No início dançamos como duas pessoas normais apenas

dois passos para o lado e alguns giros. Sempre que posso encaro

seus olhos e ele faz o mesmo comigo, construímos a tensão e o


desejo a cada movimento.

Mesmo que a música seja romântica e não seja o nosso

caso, nós a interpretamos como se realmente fôssemos o casal


da música. No refrão depois de um giro, aperta minha escápula e

guia-me para mais perto do seu corpo. Sussurra as palavras

cantadas pelos cantores em meu ouvido e é tão sexy, a ponto dos

meus seios pesarem em meu sutiã.

“Tá doido que eu vou


Fazer propaganda de você

Isso não é medo de te perder, amor

É pavor, é pavor”[1]

Minha respiração está ofegante quando aproxima seu rosto

do meu.

— Qual é o seu nome, princesa?

— Anne. — Viro meu rosto e minha boca fica a centímetros


da sua. — E o seu?

Seu pomo de adão sobe e desce.

— Guilherme.

Meu olhar recai até seus lábios e não precisamos de mais


nenhuma informação. Nossas bocas se encontram e nossas

línguas duelam por espaço. Não preciso de um segundo para


perceber que ele gosta de controlar e permito que ele assuma o
controle, ou pense estar no controle.

Ele está fazendo exatamente o que eu quero que ele faça.

Uma das suas mãos se infiltra pelos fios do meu cabelo e a

outra desce pela minha barriga. De olhos fechados sinto-o


mordendo meus lábios e aprofundando ainda mais o beijo

tornando-o desesperado e demostrando tudo que é capaz.


Ele sabe o que faz com a língua. Seu toque é possessivo e

meu corpo se anima com a ideia de uma noite com esse homem.
Quando nos afastamos é apenas por alguns segundos, o

suficiente para nos encararmos e encontrarmos o olhar um do


outro repleto de luxúria, então voltamos a nos beijar, repetimos o

ciclo algumas vezes até que me afasto.

— Você quer mais disso, bonitão?

Obtenho uma resposta sua antes de ouvir qualquer

palavra, porque seus olhos brilham e ele me puxa contra seu


corpo até que meus seios estão pressionados contra seu peito.

— Claro, princesa.

Abraça-me e apoio meu queixo em seu ombro, então

procuro por Francesca e a encontro com Diana, assim que Diana


percebe que as estou observando pisca em minha direção, é sua

maneira de dizer que irá ficar com nossa amiga, sorrio agradecida
e me desvencilho dos braços do homem que escolhi para terminar

a noite.

Encara-me sem entender, apenas sorrio e entrelaço meus

dedos com os seus. Guio-o por entre as várias pessoas que


ocupam o local e ele segura a minha mão com força como se
estivesse com medo de se perder de mim.

Assim que estamos perto de uma parede empurro-o contra


ela e fico à sua frente, um sorriso surge em seus lábios e ele põe
suas mãos em minha cintura.

— O que você quer de mim, princesa?

O apelido é genérico e aposto que usa para todas, mas

gosto como deixa sua boca. Não importa quantas ele já chamou
assim, o que importa é que hoje eu serei a sua princesa.

Espalmo minhas mãos em seu peito e aproximo minha


boca da sua.

— Eu quero que você me mostre do que é capaz.

Aperta minha cintura com mais força e meu peito vibra com
satisfação ao perceber que consigo mexer com ele, quanto tempo

até que ele perca o controle?

— Com prazer, princesa.

Ele não perde tempo e sua boca cobre a minha. Dessa


vez, não é sobre descoberta é sobre posse e marca, sobre dar o

melhor de si e nos deixar excitados.


Minhas mãos sobem pelo seu peito, toco seu pescoço e
puxo os fios loiros do seu cabelo. Ele geme em meus lábios e
sorrio, como consequência recebo uma mordida em meu lábio

inferior e sou eu a gemer.

Desce sua boca pelo meu pescoço e suas mãos descem

pelo meu corpo. Beija minha pele e seus dedos apertam as


minhas coxas. Ele me toca logo abaixo da barra do meu vestido,
então giro nossos corpos, minhas costas encontram a parede e

faço com que ele fique de frente para mim.

— Mostre-me do que é capaz de fazer com seus dedos.

Ele está olhando em meus olhos enquanto seus dedos

sobem um pouco meu vestido e esbarram em minha calcinha.

Minha respiração falha ao sentir seus dedos em mim e mesmo

que haja um tecido entre nós é eletrizante.

Ele me desafia a pará-lo e eu o desafia a continuar. Ele

desliza o pano para o lado e seu dedo encontra meu clitóris. Uma

fisgada em meu ventre faz com que feche minhas pernas e ele

sorri.

— Faço você gozar aqui?

— Óbvio, bonitão.
Ele segue me encarando quando seus dedos entram em

mim e mesmo quando fecho meus olhos sinto seu olhar sobre
mim. Tudo se torna insuportável e antes que gritos deixem minha

boca seus lábios encontram os meus.

Gozo e ele se afasta alguns centímetros, abro meus olhos


no exato momento que retira seus dedos da minha boceta e os

leva até a sua boca e mais uma vez estou excitada

— Uma delícia. — Aproxima sua boca da minha e apenas

encosta os lábios nos meus para que possa sentir o meu próprio
gosto. — Próxima vez, você gozará gritando o meu nome.

Suspiro.

— E qual é mesmo o seu nome, bonitão?

Confesso que esqueci seu nome e ele sorri, um sorriso


sexy que molha ainda mais a minha calcinha que já está

totalmente destruída.

— Guilherme, Anne.

Frisa meu nome e sorrio.

— Desculpe, sou ruim com nomes.

Faço um biquinho com meus lábios e ele acaricia minha

barriga logo abaixo dos meus seios.


— Tudo bem, o que realmente importa é: para onde nós

vamos?

Dou de ombros.

— E o lugar importa?

Balança a cabeça negando.

— Não, princesa, tudo que eu preciso é de você.

Nenhum de nós está mais sorrindo.

— E você me terá, Guilherme.


Capítulo 1

“Eu coloco minha armadura, te mostro o quão forte sou


Eu coloco minha armadura, vou te mostrar que eu sou”[2]

Quando você ama controle e planejamento qualquer

problema em algum dos seus cronogramas é uma tragédia. E é


por isso que encaro meu grupo de funcionárias com uma careta.

Isso não deveria estar acontecendo.

— Anne, você precisa entender que imprevistos


acontecem.

A responsável do setor tenta se justificar e sorrio sem

humor.

— Esse imprevisto não deveria estar acontecendo.


Estreito meus olhos e os ombros da mulher à minha frente

cedem como se ela estivesse exausta. Não deveria estar em uma


sala de reunião com as minhas costureiras quinze dias antes do

desfile discutindo o atraso de algumas peças.

— Sentimos muito, mas Margareth ficou doente e faltou

alguns dias, então tivemos um desfalque.

Ergo minhas sobrancelhas.

— Você está dizendo que há um atraso em mais de trinta

por cento das peças por causa de uma única pessoa?

Não consigo permanecer sentada e deixo meu lugar na

ponta da mesa. Minha cabeça está doendo e meu estômago

embrulhado.

— Anne, realmente sentimos muito.

Fecho meus olhos e pressiono meus dedos contra eles na

tentativa de aliviar meu estresse.

— Vocês sentem muito!?

Resmungo no mesmo instante em que o som da porta

sendo aberta e vários suspiros aliviados ecoam pela sala. Não

preciso abrir meus olhos para saber que Francesca acaba de

chegar.
— Cheguei.

Abro meus olhos e me deparo com minha melhor amiga e

sócia sorrindo, como ela consegue estar sorrindo?

— Graças a Deus.

Uma de nossas funcionárias sussurra, mas não baixo o

suficiente e reviro meus olhos.

— Tão ruim assim?

Francesca faz uma careta, enquanto pergunta diretamente


para mim.

— Ruim? É quase uma tragédia.

A dor em minha cabeça piora e algo em minha barriga

ameaça sair pela minha boca. Caralho, não posso vomitar agora.

— Nós temos tudo sob controle.

Ignoro meu mal-estar para encarar minha funcionária.

— Você chama trinta por cento de atraso de sob controle?

Sorrio sem humor e ela encolhe seus ombros.

— Tenho certeza de que podemos resolver a situação.

Francesca olha em minha direção e não preciso de

palavras para entender que ela está me dizendo se acalme que o


estresse não irá nos livrar do problema. E ela está certa o

problema é que odeio imprevistos e principalmente relacionados a


prazos.

Minha amiga se senta na cadeira ao lado da que eu estava


ocupando e faz sinal para que volte a ocupar meu lugar, então eu

faço.

Juntas e em conjunto com nossas funcionárias


conseguimos encontrar uma solução para nosso problema

Assim que a reunião chega ao fim ficamos apenas nós


duas na sala e suspiro, péssimo início de manhã. Vomitei tudo

que tinha e não tinha no meu estômago hoje cedo e ainda


precisei enfrentar essa bomba de atraso de produção sozinha por

longos trinta minutos. De nós duas, Francesca é tão melhor que


eu lidando com problemas.

— Desculpe pelo atraso, eu estava no apartamento de


Nicholas e tivemos um imprevisto.

Bufo irritada.

— Juro que se escutar essa palavra mais uma vez eu mato


alguém.

— Você realmente está irritada.


Movo a cadeira de rodinha para o lado para que possa

olhar para minha amiga.

— Odeio quando o cronograma não é seguido e como se

não bastasse isso, hoje pela manhã eu quase deixei todos os


meus órgãos no vaso sanitário.

Francesca faz uma careta.

— Continua vomitando? — Assinto. — Você deveria

procurar um médico, faz dias que você está assim.

— Depois que o desfile passar.

— Falta quase um mês para o desfile, é muito tempo.

Dou de ombros para o exagero da minha amiga, não falta


quase um mês falta três semanas.

— Não consegui espaço na minha agenda.

Escondo da minha amiga que na verdade, nem tentei


encaixar uma visita ao médico na minha agenda.

— Sério que é essa a desculpa que está utilizando?

Realmente parece bem descrente e suspiro.

— Ninguém morre por vomitar.

Balança sua cabeça indignada.


— Eu juro que vou fingir que não escutei o que você
acabou de dizer.

Dou de ombros e aponto meu dedo em sua direção.

— Você conhece alguém que morreu de vomitar?

— Anne. — Sorrio da repreensão da minha amiga e por

breves segundos esqueço-me do meu estresse. — Você é


inacreditável e para sua informação vomitar causa desidratação.

Faço um gesto de desdém com as mãos.

— Irei ficar bem, deve ser apenas alguma coisa que comi

no final de semana.

Francesca assente, mas não parece nem um pouco


convencida.

— Falando em final de semana, você irá na surpresa que


Enrico está preparado para Diana, não é?

Seus olhos estão brilhando de expectativas e ergo minhas


sobrancelhas.

— Não!?

Encara-me indignada.

— Enrico convidou você.


Assinto e ela me olha com uma expressão que diz, então,
vá.

— Sendo sincera acho que ele me convidou apenas por


educação.

Abre sua boca e me encara como se eu fosse burra.

— Claro que não, ele sabe que vocês se aproximaram

bastante no período que Nicholas e eu estávamos separados.

Francesca fala como se sua briga com o namorado tivesse

acontecido há anos e não há meses.

— Por que você está rindo?

No mesmo instante aperto meus lábios um contra o outro


para parar de sorrir.

— Não estou rindo.

Revira seus olhos e aproxima sua cadeira da minha para

parecer ameaçadora.

— Está sim e não adianta mentir que te conheço há anos.

E porque minha melhor amiga realmente me conhece não

tento mais esconder meu sorriso.

— Você fala como se essa sua briga com Nicholas tivesse

acontecido há anos e há meses.


Dá de ombros e sorri apaixonada.

— É porque parece que fizemos as pazes há tanto tempo e


nós dois temos dividido momentos incríveis.

Faço uma careta diante do comentário romântico de

Francesca.

— Meu Deus, se você continuar assim o próximo pedido de

casamento que irei presenciar será o seu.

Ela não emite sinal nenhum de desdém com a ideia. Minha

amiga está muito apaixonada.

— Provavelmente, não. — Por alguns segundos, encara-

me pensativa. — Porque, nós não somos tão emocionados

quanto Enrico e Diana, acho que somos o tipo que seguirá as

etapas, do tipo namoro, noivado, casamento e filhos.

Ela realmente acredita que eles não são emocionados.

— Você está falando de casamento e filhos com o homem

que era o seu maior inimigo e não são emocionados?

Sorri e dá de ombros.

— Falando nisso Guilherme estará lá.

Ouvir seu nome desencadeia uma série de lembranças e

um arrepio em meu corpo.


— O que alhos tem a ver com bugalhos?

Uma gargalhada deixa a boca da minha amiga e preciso

esperar alguns segundos até ela se recompor.

— Meu Deus, Anne, você tem quantos anos para falar algo

assim?

Aponto a minha língua para ela.

— Eu aprendi esse ditado com a minha avó.

Balança a cabeça, mas segue sorrindo.

— Sobre Guilherme, Diana me contou que vocês se

beijaram naquela noite na boate. — Fico em silêncio, porque não

sei exatamente o que Diana e Francesca sabem, talvez elas não


saibam que terminamos à noite em um motel. — E se me lembro

na semana seguinte você tinha uma marca vermelha em seu

pescoço.

Fico em pé.

— Nós apenas compartilhamos um bom momento. — Vou

até a porta e a abro. — Agora, chega de conversa e vamos

trabalhar, afinal temos um desfile para organizar.

Ela sorri e deixa sua cadeira com as mãos para cima.


— Ok, ok, mas vá para a surpresa e eu se fosse você

investiria no irmão do cowboy.

Pisca em minha direção enquanto passa por mim e

somente reviro meus olhos.

— Ele é um cafajeste e não estou procurando por alguém.

Francesca dá um passo em frente, mas para e olha para


trás.

— Você deveria conversar sobre esse seu medo de

relacionamento com alguém.

Apenas assinto, porque não quero conversar sobre isso


com Francesca, não agora.

Minha amiga segue para a sua sala, eu faço o mesmo e

assim que entro no meu lugar vou até a parede de vidro que fica
atrás da minha mesa e observo o lago que tem logo atrás do

prédio que escolhemos para construir nosso ateliê e nossa loja.

Meu estômago segue embrulhado e eu sei o motivo.

Suspiro e pego meu celular no bolso da minha calça de


alfaiataria, quem sabe ele tenha enviado uma mensagem

desmarcando nosso almoço.

Nenhuma.
Porém, há mensagem da minha mãe avisando sobre o

ensaio para o casamento da minha irmã. Um sorriso amargo

surge em meus lábios ao ler a palavra irmã, nós não somos irmãs.

Ignoro minha mãe, respiro fundo e me sento na cadeira


atrás da minha mesa, o melhor que posso fazer no momento é me

concentrar no trabalho e é o que eu faço pelas próximas horas,

entretanto mais rápido do que gostaria o horário do almoço chega


e como não há nenhuma mensagem sua desmarcando deixo o

prédio onde trabalho e dirijo para o restaurante.

Ao entrar no lugar chique e caro a recepcionista me leva

até a mesa onde ele está me esperando, porque é óbvio que ele
já chegou. Quando ele quer, ele é pontual.

Sigo a mulher mais velha e enquanto caminho pelo

restaurante tento controlar minha respiração e as batidas do meu


coração. Odeio que mesmo aos vinte e cinco anos ele ainda

possa me afetar, pelo amor de Deus não sou mais uma garotinha.

Ele está sentado e ao notar minha presença fica em pé e

abre seus braços, faço uma careta, mas o abraço.

— Olá, querida.

Beija meu rosto e apenas forço um sorriso.


— Olá, pai.

A palavra tem um gosto amargo quando deixa minha boca


e meu estômago embrulha ainda mais. Meus Deus, esse almoço

será um pesadelo.

Nós dois nos sentamos um de frente para o outro e seu

Heitor me encara com expectativas. Ele espera que eu fale, mas


fico em silêncio. Ele me chamou aqui, ele que fale.

— Obrigado ter aceitado almoçar comigo. — Assinto — Sei

que não sou um exemplo de pai, mas você é minha única filha e
quero me aproximar de você.

Suspiro.

— Confesso que não estou confortável em estar aqui, mas

como pediu por favor decidi vir.

Sorri agradecido.

— Eu não posso mais ter filhos, infelizmente a vasectomia

que fiz depois que sua mãe engravidou se tornou irreversível.

Estar aqui à sua frente desencadeia uma série de gatilhos


e desperta a garotinha que queria ser amada pelo pai. Mesmo

depois de anos de terapia, os vestígios do seu abandono ainda

estão aqui.
— Adote um e há inseminação artificial.

Minha voz não soa agressiva e é como se apenas lhe

estivesse sugerindo algo. Estou orgulhosa do meu controle

emocional.

— Por que eu faria isso se há você?

Minha cabeça dói e assim como durante a reunião

pressiono os dedos contra meus olhos.

— Sua mãe já sabe da sua decisão?

Dessa vez, soo totalmente amarga.

— Sua avó não tem nada a ver com as minhas decisões.

Encaro-o e sorrio sem humor.

— Não foi assim no passado e tenho certeza de que ela


preferiria ser torturada a me ter como única herdeira.

Dá de ombros.

— Ela não tem alternativas, mas esse não é o assunto


principal desse almoço eu só quero uma chance de me aproximar

de você, você me deixará tentar me redimir?

Respiro fundo e espero estar tomando a decisão certa.

— Estou aqui, não é!?


Ele sorri e chama o garçom para que possamos fazer
nossos pedidos. O almoço é tão desconfortável como achei que
seria, meu estômago está péssimo e mal toco na comida. Heitor é

o único a falar e seu assunto preferido é a empresa de


automobilismo da família. Jesus, eu não entendo nada de carros.

Estou emocionalmente exausta e assim que retorno para o

trabalho corro direto para o banheiro e vomito tudo que acabei de


comer.
Capítulo 2

“Eu nunca tive ninguém, nem estradas até o lar


Eu quero ser alguém para alguém”[3]

Apesar de estar péssima continuo trabalhando, porque sei

que se for para casa será pior, pois ficarei o dia todo pensando no
maldito almoço. Meu pai decidiu ser meu pai, porque precisa de

um herdeiro. Caralho, é claro que para se fazer presente deveria

haver um motivo.

Balanço a cabeça tentando esquecer do meu pai e foco no

meu trabalho, o meu trabalho só depende de mim, só falho aqui

se eu falhar.
Estou concentrada desenhando algumas peças para a

nossa próxima coleção, que será lançada junto com a nossa loja
no shopping quando meu celular vibra, como ele está ao meu

lado dou uma olhadinha e me deparo com uma mensagem de

Enrico.

Ele está perguntando se irei participar da surpresa para

Diana.

Largo o lápis sobre a mesa, apoio minhas costas


totalmente contra a cadeira e encaro o teto. Diana e eu nos

aproximamos para ajudarmos Francesca a reagir depois de ter

seu coração partido e realmente nos tornamos amigas, então


estar presente no dia que seu namorado irá lhe pedir em

casamento não é um absurdo, não serei uma enxerida.

E será que encontrar Guilherme não será estranho? Não,

dividimos um momento legal que só de lembrar meu corpo se


arrepia e depois cada um seguiu seu caminho, nos despedimos

com um selinho e então cada um pegou um táxi. Foi só alguém

com quem transei, nada demais.

Confirmo minha presença e Enrico agradece, estou

desligando o celular quando recebo uma nova mensagem.

Novamente, é minha mãe falando do casamento da minha irmã.


Todos os problemas familiares decidiram bater em minha
porta hoje?

Mais uma vez, ignoro-a e volto a desenhar. Só paro


quando alguém bate em minha porta.

— Entre.

Francesca abre a porta, mas não entra.

— Todo mundo já foi embora e estou saindo, você vai

ficar?

Encaro-a surpresa.

— Que horas são?

— Sete.

Em choque confiro o relógio em meu pulso.

— Eu estava tão concentrada que não vi o tempo passar.

Volto a olhar para minha amiga que sorri e vem até mim.

— Você estava desenhando?

Assinto e ergo o croqui[4] do vestido em que estive

trabalhando nas últimas horas.

— Sim, estou trabalhando nas peças para a próxima

coleção.
Francesca se aproxima e analisa com cuidado o vestido

longo de tecido leve e com detalhes florais, o que remete ao


campo tema da nossa próxima coleção.

— Está lindo.

— Obrigada.

Afasta-se e me observa.

— Você está bem?

— Estou.

Antes que perceba que estou mentindo começo a recolher


e guardar as minhas coisas que estão espalhadas sobre a mesa.

— Você não parece bem.

Dou de ombros enquanto fico em pé.

— É o estresse de uma segunda agitada.

Minha visão fica um pouco embaçada e respiro fundo para


que minha amiga não perceba meu mal-estar.

— Certeza?

Dou a volta na mesa com cuidado e caminho até a porta.

— Sim. — Seguro-a aberta para que possamos passar. —


Vamos?
Franze a sua testa, mas deixa a minha sala, assim que

Francesca pisa no corredor fecho a porta e andando uma do lado


da outra deixamos o prédio. Conversamos sobre os preparativos

para o desfile e acredito que finalmente consegui fazer com que


minha amiga se esqueça da minha saúde, porém estou entrando

em meu carro e ela no dela quando escuto Francesca gritar.

— Eu juro que se você continuar passando mal irei arrastá-

la até o hospital.

Sorrio e balanço minha cabeça. Não há o porquê se


preocupar é apenas um mal-estar.

Assim que me sento atrás da direção uma imensa vontade


de ver a minha vó ecoa em meu peito, talvez ela possa fazer

aquelas panquecas que tanto amo e possamos jantar juntas.

Dirijo rumo à sua casa.

Sei que o desejo repentino de visitar minha avó é por culpa


da mensagem da minha mãe e do almoço com meu pai. Preciso

encontrar com a parte bonita da minha família e preciso do seu


amor e conforto.

Não demoro a estacionar o carro em frente à casa simples.

Como sempre a porta está aberta e simplesmente entro e procuro


pela pessoa mais importante da minha vida.

— Vovó.

Grito quando não a encontro na sala e nem na cozinha.

— Aqui no jardim.

É claro que ela está com as suas flores. Cruzo a cozinha e


pela porta de vidro saio para o jardim. Encontro dona Heloísa com
as luzes ligadas e regando algumas das suas milhares de plantas

e flores.

— Oi, vovó.

A senhora elegante de cabelos brancos se vira em minha


direção com um sorriso no rosto.

— Olá, meu lírio.

Ouvir o apelido carinhoso faz com que fique emocionada e

lágrimas acumulem-se em meus olhos, no mesmo instante ela


larga o regador e vem até mim.

— Hey, querida, o que está acontecendo?

Toca meu rosto com as suas duas mãos e olho para cima
para afastar as lágrimas dos meus olhos.

— Só estou um pouco emocionada hoje, acho que é a


TPM.
Puxa-me para seus braços e passa as mãos pelas minhas
costas.

— Está tudo bem, meu lírio.

Fecho meus olhos e me permito sentir o conforto que é


estar em seus braços, como se eu fosse aquela garotinha outra

vez, aquela que não tem o carinho nem o amor dos pais.

Quando ela se afasta abro meus olhos e beijo suas


bochechas.

— Obrigada, vó.

Ela sabe que estou agradecendo por sempre estar aqui por

mim e apenas sorri.

— De nada, querida. — Une nossas mãos. — Que tal

preparamos aquelas panquecas que tanto ama?

— É uma ótima ideia.

Tenho certeza de que meus olhos estão brilhando quando


caminhamos para a cozinha, porque posso sentir o gosto das

panquecas em minha boca e minha barriga ronca, parece que

finalmente estou melhor do estômago.

Enquanto minha avó prepara o molho e as massas, eu a


auxilio cortando os temperos. Estamos uma ao lado da outra e é
impossível não me lembrar de quando era criança, era

exatamente assim, ela cozinhava e eu ficava ao seu lado. Gosto


da nostalgia.

Ela conta como estão minha tia e meus primos, narra as

fofocas da vizinhança e me faz rir. Porém, quando está enrolando


as panquecas seu semblante muda.

— Sua mãe me ligou hoje pela tarde.

Faço uma careta, minha mãe não é meu assunto preferido.

— Ela está bem?

Assente.

— Ela reclamou que você não a responde.

Suspiro e apoio meu corpo no balcão da pia.

— Ela quer conversar sobre o casamento da Manuela.

Observo a cozinha que me é tão familiar, os armários de

madeira e a mesa da mesma cor, os azulejos pela parede e a

cristaleira com as louças de estimação da vovó.

— E por que você não está respondendo?

Dou de ombros.

— Porque sei que em algum momento da conversa ela irá

nos comparar e jogar na minha cara o quanto Manuela é perfeita


e eu sou uma mal-agradecida.

Sei exatamente qual será o discurso da minha mãe, porque

sempre é igual.

— Sua irmã gosta de você.

Suspiro.

— Ela não é minha irmã.

Soo amarga e no mesmo instante me arrependo.

— Ela não tem culpa.

Vovó está certa.

— Tenho conversado sobre esse sentimento de rancor que

tenho contra Manuela na terapia, mas as feridas ainda estão aqui

e hoje estão ainda mais profundas.

Manuela não tem culpa pela forma como minha mãe age,

ela não é a culpada, porém o sentimento de mágoa está aqui em

meu peito. Presenciar a forma como minha mãe a trata é


doloroso, porque há carinho, um carinho que não há comigo.

— O que aconteceu hoje?

— Almocei com meu pai.

Viro-me para vovó e ela tem um olhar preocupado em seu


rosto.
— O que ele queria com você?

Sorrio, um sorriso sem humor.

— Ele descobriu que não pode ter mais filhos, então, eu

sou sua única filha e herdeira.

Vovó franze sua testa.

— Ele está tentando se aproximar?

Assinto.

— Depois de vinte e cinco anos ele quer ser um pai

presente. — Bufo. — O pior de tudo é saber que isso é por


orgulho e ego, ele tem medo de que a empresa acabe nas mãos

de alguém que não tenha seu sangue.

Meu peito aperta ao dizer em voz alta o motivo pelo qual

meu pai me procurou.

— Às vezes, eu gostaria de bater em seus pais.

A indignação na sua voz faz com que um sorriso surja em

meu rosto, só minha avó me poderia fazer rir nesse momento e

por isso me abaixo e beijo sua bochecha.

— Eu também, vovó.

Nós duas sorrimos e mudamos de assunto. Terminamos o

jantar e vamos para o jardim, comemos na mesa que há no meio


do jardim e para minha sorte meu estômago está totalmente

curado, porque consigo comer perfeitamente e como muito, como

por todos os dias em que estive doente.

— Uau, você realmente está com fome.

Dou de ombros e ignoro a forma como está me olhando.

— Não estive muito bem da barriga nos últimos dias e

apenas estou comendo pelos dias que não consegui comer.

Ela apenas assente e seguimos jantando, assim que


terminamos recolhemos as louças e as levamos para a cozinha.

Paro em frente à pia para lavar o que sujamos, mas vovó me

repreende e me arrasta até a sala para assistir O programa do

Ratinho [5]enquanto comemos sorvete.

— Eu preferiria lavar a louça.

Resmungo assim que me sento no sofá ao seu lado.

— Hoje é dia de DNA.

Coloca o pote de sorvete e as colheres em meu colo para


que possa ligar a televisão.

— Pelo menos temos sorvete.

Recebo uma cotovelada sua.

— Silêncio que o programa já começou.


Sem alternativas fico em silêncio e abro o sorvete. O que

eu não faço pela minha avó!?

Apesar do péssimo programa, a sobremesa e a companhia

são ótimas. Conforme os minutos passam volto a me sentir mal e

o apresentador está prestes a revelar quem é o pai da criança

quando preciso pular do sofá e correr para o banheiro.

Não há tempo para fechar a porta, simplesmente me

ajoelho e despejo tudo que havia comido no vaso. Droga, sigo

doente. Fico alguns segundos assim e quando não há mais nada


em meu estômago fico em pé e me deparo com vovó apoiada no

batente da porta.

— Querida, você está grávida?

Uma gargalhada deixa minha boca e balanço a cabeça.

— Impossível, vovó. Impossível!

Limpo minha boca com o olhar de vovó sobre mim.

— Você realmente tem certeza? — Assinto. — Você não

transou nos últimos meses?

Assim que estou limpa, ou o mais limpa possível vou até

minha avó e beijo sua bochecha.


— Uma única noite e nós usamos camisinha. —
Tranquilizo-a. — Só preciso de uma ótima noite de sono.

Assente.

— Então, vá para casa, tome uma boa taça de vinho e


durma.

Sorrio, porque tudo para ela pode ser curado com uma taça

de vinho.

— Tá bom, vovó.

Despeço-me da minha vó e enquanto, dirijo para casa

sorrio ao lembrar-me da sua pergunta, eu grávida? Impossível.

Ao chegar em casa, sigo seu conselho e depois de um


banho bebo uma taça de vinho, o truque realmente funciona e

meu estômago se acalma. Apesar do dia agitado adormeço

rapidamente.

Mais uma vez, acordo enjoada e mesmo depois de um

banho sigo me sentindo péssima. Vestindo apenas meu roupão,


sento-me na cama para pedir um remédio para enjoo no
aplicativo, porém assim que desbloqueio o celular deparo-me com

uma nova notificação.

Sua menstruação está uma semana atrasada.


Capítulo 3

“Tudo se tornou demais


Talvez não fui feito para amar”[6]

Não peço um remédio para enjoo, mas três testes de

gravidez e assim que o pedido é aceito pela farmácia deixo a


cama e caminho de um lado para o outro pelo quarto.

Nós usamos camisinha deve ser apenas uma coincidência.

Não acredito que possa estar grávida, mas a possibilidade


aluga um triplex na minha cabeça. Seria como repetir os erros dos

meus pais e faria uma outra pessoa passar por tudo que passei.
De repente, sou invadida pelas lembranças e dores da infância,
sou aquela garotinha esperando por uma ligação do pai e um

abraço da mãe.

Assim como meu pai, Guilherme é um homem mais velho,

milionário e cafajeste, e com certeza ele não quer ser pai. Minha
consciência acusa que eu não sou minha mãe, não estou atrás de

um homem rico, porém como cuidaria sozinha de uma criança?

Como seria o suficiente?

As lágrimas descem pelo meu rosto e o desespero toma


conta de mim.

Minha vó é tudo para mim e não foi o suficiente para


impedir que a ausência do meu pai e a frieza da minha mãe me

machucassem. Seu amor não foi o suficiente.

Não posso permitir que alguém se sinta tão indesejada

quanto eu me senti, ainda mais uma criança que seria meu filho.

Estou uma bagunça quando o interfone toca e é de roupão

com o rosto manchado pelas lágrimas e olhos inchados que vou

buscar os testes, o entregador me encara com pena, mas não diz

nada.

Volto para dentro de casa e vou direto para o banheiro,

com pressa não subo para o segundo andar e uso o da entrada


mesmo. Estou tremendo, mas consigo fazer xixi sobre os bastões
e coloco os três testes sobre a pia. São os três minutos mais

longos da minha vida e enquanto espero o resulto apoio meu

corpo na parede e rezo por um negativo.

Uma gravidez é meu maior pesadelo, é o motivo por

transar tão pouco e evitar relacionamentos, não quero condenar

uma criança ao mesmo que eu. Uso anticoncepcional e

camisinha, não posso ter dado tanto azar.

Minha visão está embaçada quando me curvo para olhar

os testes e um grito deixa minha boca ao me deparar com o

resultado.

Grávida, eu estou grávida.

Meu peito aperta e meu corpo desliza pela parede até eu

estar sentada no chão com os braços apoiados em minhas

pernas e a cabeça entre minhas mãos.

O que eu farei? Como deixei que isso acontecesse? Como

fui tão irresponsável? Como deixar que tudo se repita? Não posso

permitir que tudo se repita.

Não consigo visualizar um bebê, apenas consigo recordar

da dor do abandono e da falta de bons pais. Lembro-me do


desejo de nunca ter nascido e do sentimento de somente estar no

mundo para ser um empecilho para meus pais e minha avó.

Os anos de terapia se transformam em nada e todas as

feridas voltam a sangrar.

Odeio todas as alternativas que ecoam em minha mente e


me recuso a pensar nelas, no momento só gostaria de esquecer

que acabei de realizar esses testes e da responsabilidade que


agora carrego comigo.

Choro por mim, choro pela garotinha machucada que já fui


um dia e choro pela criança que sem pedir e sem merecer está

em minha barriga.

Obrigo-me a deixar o banheiro e vou até a sala, deito-me

no sofá em posição fetal enquanto lágrimas e mais lágrimas


descem pelo meu rosto e atingem a almofada abaixo de mim.

Estou perdida como nunca estive na vida e sozinha, mais


uma vez, sozinha, porque minha vó é muito velha para lidar

comigo, meus pais sequer me atenderiam e não estou pronta


para conversar com nenhuma das minhas amigas. E Guilherme?
Eu sequer tenho seu telefone e provavelmente, ele não se

importaria.
O que farei com essa criança?

Em um gesto automático levo minha mão até minha


barriga, entretanto assim que a toco afasto meus dedos depressa.

Não posso me apegar a isso, não quando não sei o que fazer,
não quando não é sobre mim, nem sobre o que é certo, é sobre o

que é melhor para essa criança.

É como se um caminhão tivesse passado por cima de mim


e a dor emocional provoca uma dor física. Não sei quanto tempo

se passou e nem em que momento começo a ter febre.

Estou tremendo de frio e preciso me levantar do sofá para

tomar um remédio e subir para meu quarto. Envio uma mensagem


avisando Francesca que não estou me sentindo bem e não irei

trabalhar, então me deito na cama com vários cobertores sobre


mim.

Sigo chorando e é chorando que adormeço.

Acordo com o som do interfone ecoando pela casa e meu

celular tocando, preciso de alguns segundos para me orientar.


Primeiro atendo a ligação e em seguida deixo a cama.

— Anne?
Fecho meus olhos ao escutar a voz de Francesca, droga,
não deveria ter dito que não estava bem, é óbvio que ela viria até
aqui.

— Hey.

— Estou aqui na sua casa.

Claro que ela está.

— Você quer entrar?

Abro meus olhos e corro até o espelho.

— Não, Anne, vim até aqui apenas para testar se seu

interfone está funcionando.

Não sorrio da ironia da minha amiga, porque encaro meu

reflexo e estou péssima. Meus olhos estão vermelhos e inchados,


meus lábios ressecados e meu cabelo está tão enrolado quanto o
ninho de um passarinho.

O estado deplorável faz com que me recorde do porquê


estou assim, instantaneamente meus olhos nublam com lágrimas

e meu peito aperta.

— Você não irá me deixar entrar?

— Estou descendo.
Desligo a ligação antes que ela tenha chance de falar algo
e enquanto deixo meu quarto pisco várias vezes para afastar as
lágrimas dos meus olhos e respiro fundo para tentar fingir que

estou bem.

Desço as escadas e vou direto para o banheiro preciso

sumir com esses testes. Enrolo-os no papel higiênico e os coloco


no fundo no lixo. Só depois de garantir que se Francesca entrar
no banheiro não os encontrará e que vou abrir o portão e assim

que o abro meu coração acelera, porque ela não está sozinha.

— Diana e eu íamos almoçar juntas, mas como estou


preocupada com você nós decidimos vir almoçar com você.

Francesca ergue uma sacola com algumas marmitas e

sorrio, um sorriso forçado.

— Vocês não precisavam vir até aqui.

Faz uma careta e vêm até mim, abraçando-me.

— Precisava sim, como você está? — Afasta-se alguns

centímetros e seu olhar percorre o meu corpo. — Dessa vez,

quem está acabada é você.

Sorrio debochada e reviro meus olhos.

— Eu aqui morrendo e você se vingando.


Dá de ombros.

— Não estou me vingando, até mesmo porque a vingança

nunca é plena, mata a alma e envenena. [7]

Ergo minhas sobrancelhas e me viro para Diana.

— Desde quando ela cita Chaves? Aliás, desde quando ela

assiste Chaves?

Francesca dá um passo em frente, afastando-se de mim e


Diana se aproxima.

— Aposto que isso é coisa do Nicholas.

Assinto, porque Diana está certa, ela segue sorrindo e me


abraça.

— E como você está?

É Diana quem pergunta, mas sinto os olhos de Francesca

sobre mim. Antes de respondê-las faço um gesto para que elas


sigam em frente em direção à porta e só respondo Diana quando

as duas estão de costas, elas não estarão encarando meus olhos

quando eu mentir.

— Estou bem, é apenas um resfriado.

— Continua vomitando?
Francesca se vira para mim enquanto abre a porta e faz

sinal para que Diana entre. Ela está me desafiando a mentir e

apesar de querer fazer isso sei que não conseguirei, não com ela
me olhando da forma que está me olhando, como se pudesse ler

meus pensamentos.

— Sim. — Resmungo. — Mas é um resfriado, eu até tive

febre.

Desvio os olhos para o lado e caminho até ela.

— Sabe, eu conheço você há seis anos e desde então

convivemos boa parte do nosso dia juntas e sei que quando você

mente desvia o olhar, porque não consegue mentir olhando nos


olhos das pessoas.

Reviro meus olhos.

— Você está ficando louca, Fran.

Alcanço-a e seguro a porta para que entre, antes de entrar

me olha uma última vez.

— Você está me escondendo algo.

Suspiro e fecho a porta quando estamos as três dentro da


minha casa. Vamos para a cozinha e Diana parece bem

impressionada com o meu lugar.


— Sua casa é uau.

Elogia enquanto nos sentamos as três ao redor do balcão


da ilha que há no meio da cozinha.

— Presente do meu pai.

Como sempre é amargo chamá-lo de pai, porém nunca

consegui chamá-lo pelo nome.

— Não sabia que você era muito rica.

Diana parece bem surpresa e sorrio. Francesca olha para a

amiga e conta as fofocas acerca da minha vida.

— Ela é filha da prefeita, nunca te contei?

— Da mulher do prefeito.

Corrijo Francesca enquanto pego as louças na gaveta ao

lado e as coloco à nossa frente.

— Você é filha do prefeito?

A expressão surpresa de Diana é engraçada e pela

primeira vez no dia sorrio, um sorriso leve e verdadeiro.

— Não, ele só é casado com minha mãe.

Recuso-me a chamar aquele homem de padrasto.

Mencionar minha família, ou o que deveria ser minha família faz

com que lembre do meu problema e o desespero quer tomar


conta de mim outra vez. É uma família dessas que eu quero

proporcionar a alguém?

— Você está bem? — Viro-me para Francesca e assinto.

— De repente ficou pálida.

Empurro minhas preocupações e o fato de estar grávida

para o fundo da minha mente e sorrio.

— Sim, e como está o dia sem mim?

— Um caos.

Sua última palavra faz com que perceba algo, Francesca

sabe que alguma coisa está errada, porque nunca deixaria de

cumprir meu cronograma por causa de um simples resfriado e ela

sabe disso. Droga, eu preciso de uma desculpa.

— É bom você ficar um pouco como chefe já que me

abandonou por quinze dias.

Uso a primeira coisa que consigo pensar que é o tempo em


que estive sozinha, porque ela estava na fazenda brigando e se

apaixonando.

— Cuidado, hein, vingança nunca é plena, mata a alma e

envenena.

— Você realmente gostou dessa frase.


É Diana a provocar Francesca e aproveito esse momento

de interação entre as duas para respirar fundo. Por mais que


tente não pensar no que está acontecendo e nos três testes

positivos, não consigo principalmente, porque Diana é namorada,

futura noiva se disser sim no sábado, de Enrico, o irmão de

Guilherme, ele seria um tio se Guilherme e eu tivéssemos um


filho.

Jesus, como eu acabei nessa bagunça?

— Então, o que você acha?

Francesca chama minha atenção e a encaro sem entender

sobre o que elas estão conversando.

— Acho do quê?

Diana ri e Francesca ergue suas sobrancelhas, ela sabe


que há algo errado.

— Diana, ou eu é a mais emocionada no amor?

Não comenta sobre o fato de ter percebido que estava

distraída e respiro aliviada.

— Lembre-se de que eu demorei muito mais tempo para

perdoar Enrico.
— Não perdoei mais rápido Nicholas até mesmo porque eu
que fui a idiota na nossa relação.

As duas discutem e apenas sorrio.

— As duas são emocionadas. — Concluo e elas me


encaram indignadas. — Você, Fran se apaixonou pelo seu inimigo

em quinze dias, quinze dias, e você, Diana em dois meses estava

imaginando os nomes dos filhos de vocês.

Pelos próximos minutos, debatemos quem é a mais


emocionada enquanto almoçamos. As duas são uma ótima

distração e fico triste quando preciso me despedir da minha

melhor amiga e da sua amiga de infância que está se


transformando em minha amiga também.

Vou com elas até o portão, abraço Diana e em seguida,


viro-me para Francesca que está sorrindo, um sorriso

compreensivo.

— Quando você quiser conversar e contar o que está

acontecendo estarei aqui para ouvir você.

Assinto e uma lágrima desce pelo meu rosto.

— Obrigada.
Abraço minha amiga e ela se despede de mim com um
beijo na minha testa.

Assim que fico sozinha volto para a cozinha e encaro os

pratos que utilizamos, espero que nenhuma delas perceba que


nem toquei na comida. Limpo o que sujamos e vou até o jardim,
deito-me na espreguiçadeira ao lado da piscina e encaro o céu.

E agora, o que eu faço?


Capítulo 4

“Desesperada, tão consumida por


Toda essa dor
Se você me perguntar o porquê, não
Saberei por onde começar”[8]

Quanto tempo você demora para tomar uma decisão


importante? Ou em quanto tempo você consegue descobrir o que

fazer? Cinco dias não são o suficiente para mim.

Encaro o exame sobre a mesinha de centro da minha sala

sem coragem de abri-lo, faz dois dias que o exame de sangue

que confirma ou não uma gravidez está aqui. Estou sentada no


tapete com as costas apoiadas no sofá o e as minhas pernas

dobradas à minha frente com meu queixo sobre meus joelhos e


morrendo de medo do resultado, porque ainda não descobri o que

fazer.

Achei que se seguisse com minha vida uma hora apenas

chegaria a uma solução, mas isso não aconteceu. Nos últimos


dias fui trabalhar e segui com a minha vida normalmente, o mais

normal possível, em todos os momentos possíveis ignorei o fato

de estar grávida, porém em alguns momentos era impossível e o


desespero tomava conta de mim. Não há como esquecer quando

estou vomitando, ou enjoando de algum cheiro, ou quando estou

tonta. À noite, ao deitar me permitia chorar.

Suspiro, eu preciso ter certeza, o problema é que não


quero. Não quero tornar tudo ainda mais real. Demorei dois dias

para fazer o exame de sangue, por medo e por medo sigo sem
olhar o resultado.

A enfermeira disse que assim que tivesse certeza deveria


procurar uma obstetra, porque minha pressão estava um pouco

alta e precisava iniciar o pré-natal imediatamente, como? Se não

quero fazer um.

Não quero um filho e não quero ser responsável por todos

os seus traumas.
Meu peito continua apertado e meu coração despedaçado
e o medo ocupa cada canto da minha alma. Fecho meus olhos e

respiro fundo. Talvez tudo seja apenas uma coincidência e o

resultado seja negativo. Talvez não esteja grávida.

Abro meus olhos e pego o envelope. Eu preciso fazer isso

antes que Francesca chegue. Encaro o papel em minhas mãos e

enquanto o rasgo meu coração acelera e meu estômago

embrulha. Estou nervosa e angustiada como nunca estive na

vida.

Por favor, Deus, um negativo.

Estou retirando o resultado de dentro do envelope quando

o celular vibra em meu bolso. Pego o aparelho e é uma

mensagem de Francesca.

“Estamos esperando por você em frente à sua casa”

Droga, não vai dar tempo, então enfio o papel no bolso da

minha calça jeans, pego minha bolsa e saio para encontrar minha

amiga e o namorado. Assim que entro no carro de Nicholas,

cumprimento os dois e iniciamos uma conversa descontraída de

como Enrico deve estar nervoso, afinal ele organizou uma

surpresa para pedir Diana em casamento.


Apesar de estar conversando e parecer animada, é como

se o papel em meu bolso estivesse queimando. Sorrio e finjo


normalidade quando meu coração está acelerado e minhas mãos

suando e se Guilherme estiver lá?

Uma parte minha tem esperanças de que ele não

compareça ao noivado do irmão, afinal ele mora em outra cidade


e é um empresário importante, não pode abandonar tudo, não é!?

Não deveria ir a esse noivado, mas que desculpa usar?

Francesca saberia que estou mentindo e não quero que o medo


vença, não quero que minha vida mude. Estou tentando provar a

mim mesma que tudo continua igual. A louca por controle em mim
está tentando garantir que tudo está sob controle.

Conforme nos aproximamos o nervosismo toma conta de


mim e não consigo mais fingir que estou bem. O casal conversa
entre eles e eu somente observo a paisagem pela janela.

Não seria estranho encontrar Guilherme se eu não


suspeitasse estar grávida, mas agora como vou encará-lo?

Deixamos o carro em frente à casa de Diana e vamos para


o local da surpresa caminhando, Francesca guia nós dois e
vamos conversando sobre o tempo que ela e Nicholas ficaram

aqui.

— Essa fazenda é ótimo lugar para você encontrar o amor.

Pisca em minha direção e faço uma careta.

— Você sabe que eu não estou procurando um

relacionamento.

Dá de ombros e olha para Nicholas com carinho.

— Eu também não estava.

Eles sorriem apaixonados e fico feliz por eles e pelo amor

que compartilham. Para algumas pessoas o amor funciona e eu


sempre soube que eu não seria uma dessas pessoas.

O lugar que Enrico escolheu está decorado com uma tenda


branca de tecido leve e sobre a grama há várias almofadas e
pétalas de rosas, é delicado e romântico. Mesmo eu que não sou

romântica estou encantada. Há várias pessoas presentes, todos


que são importantes para o casal, porém me recuso a procurar

por ele, propositalmente, não olho ao redor e apenas


cumprimento quem cruza meu caminho.

Enrico está nervoso e somente agradece a nossa


presença, ele está andando de um lado para outro. Estou de pé e
bebendo um suco quando sinto um arrepio subir pelo meu corpo.
Meu Deus, não pode ser ele.

— Hey, princesa.

Fecho meus olhos ao ouvir sua voz sexy e respiro fundo.


Eu preciso agir normalmente. Quando tenho certeza de que

conseguirei me controlar abro meus olhos e viro-me para trás.

— Hey, bonitão.

Deparo-me com Guilherme Barbieri e seus intensos olhos


castanhos. Ele é tão lindo, principalmente sorrindo, esse sorriso

cafajeste e repleto de promessas, promessas que sei que ele é


capaz de cumprir.

— Quer dizer que você é amiga da minha cunhada?

Assinto e sorrio.

— Preciso dizer que sempre soube que você é irmão do

Enrico.

Ergue suas sobrancelhas.

— Diana te contou? — Assinto. — Ela não me contou que

conhecia você.

Soa indignado e dou de ombros.


— Ela sabe que você não é do tipo que liga no dia seguinte
e estava tentando me alertar o quão perigoso e cafajeste pode
ser.

Sussurro como se fosse um segredo. Nós dois sabemos


que não é.

— Eu poderia ser alguém que liga no dia seguinte.

Olha em meus olhos com a mesma intensidade daquela


noite.

— Mas não é.

Sorrio e ele me encara como se realmente fosse alguém

inocente.

— Mal sabe ela que foi você quem me seduziu, princesa.

Suas palavras são repletas de malícia e meu corpo todo

desperta. Como ele é capaz de mexer comigo apenas com uma


frase?

— Eu fui apenas mais uma vítima sua, bonitão.

Faço um biquinho infantil e ele abre a boca para responder,

porém antes que consiga dizer algo Enrico chama a atenção de

todos e pede para que ocupemos nossos lugares, porque ele está
indo buscar Diana.
— Bom, princesa, eu preciso ir.

Guilherme beija minha bochecha e se afasta.

Duas coisas nessa nossa conversa me deixam assustadas,

o fato de ter gostado de conversar com Guilherme e ter esquecido

do grande problema que criamos e não sei como resolver. Mesmo


quando me sento ao lado de Francesca sobre uma das

almofadas, meu coração segue acelerado e minha cabeça uma

bagunça.

Pelos próximos minutos, acompanhamos Enrico pedir


Diana em casamento, o casal se completa de uma forma

maravilhosa e é emocionante presenciar a maneira como eles se

amam e declaram esse amor.

Apesar do momento sigo estranha, é como se estivesse


presenciando tudo em câmera lenta. Droga.

Depois do sim ficamos em pé e comemoramos com o

casal, converso e sorrio, mas não estou sendo verdadeira.

Como eu acreditei que poderia seguir em frente

normalmente?

Guilherme e eu não voltamos a conversar, mas eu sinto

seu olhar sobre mim, algumas vezes viro-me em sua direção e


nossos olhares se encontram. Como ele reagiria se soubesse que

eu estou grávida?

Da mesma forma que meu pai reagiu, eu sei exatamente

como essa história termina.

É uma tortura continuar aqui e não deveria ter vindo de

carona. Todos estão felizes e empolgados e por esse motivo

decidem prolongar o momento para um jantar na casa dos pais de


Diana.

Sequer consigo pensar em comida e estou me sentindo

sufocada por esse motivo, recuso o convite e deixo claro para

Francesca que posso voltar para casa de Uber, minha amiga


protesta, mas acaba cedendo.

Acompanho os convidados até a casa dos pais de Diana,

porque preciso ir ao banheiro. É Francesca a me mostrar onde


fica o cômodo e minha amiga me espera no corredor.

Assim que saio do banheiro, encontro Francesca com um

papel em mãos e não preciso de dois segundos para reconhecê-

lo.

— Isso caiu do seu bolso. — Estende-me o papel, porém

não o pego. — Não queria ler, mas sem querer acabei esbarrando
na palavra beta HCG, é por isso que você está tão estranha? Por

que está grávida?

Fecho meus olhos e respiro fundo tentando não entrar em

pânico.

— Então, o resultado deu positivo?

Abro meus olhos e Francesca me encara surpresa.

— Você não sabia?

Suspiro e apoio meu corpo contra a parede ao lado da

porta.

— Só tinha feito os testes de farmácia. — Dou de ombros.

— E não tinha tido coragem de conferir o resultado do exame de

sangue.

Uma lágrima escorre pelo meu rosto. Francesca se


aproxima e para ao meu lado.

— O pai é o Guilherme?

— Sim, é ele.

Sussurro.

— E você irá contar a ele?

— Não sei, eu não consigo encontrar uma solução. — Um

soluço escapa entre meus lábios. — Você entende que a história


está se repetindo?

Francesca me puxa em sua direção e deixo que minha

amiga me abrace.

— Vocês não são os seus pais, Anne.

— Como não? Ele é exatamente igual ao meu pai,

Francesca e eu posso não ser uma caça fortuna como minha

mãe, mas também não tenho um por cento de instinto maternal


em mim.

Apoio minha cabeça em seu ombro e minha amiga apenas

me conforta.

— Irá ficar tudo bem, Anne, saiba que independente do

que decidir estarei ao seu lado.

— Obrigada, Fran.

Ficamos abraçadas por um tempo e só me desvencilho de

Fran quando estou mais calma.

— Eu realmente preciso ir para casa.

Assente e une nossas mãos.

— Nicholas e eu levamos você e depois voltamos.

Balanço a cabeça negando.

— Não, eu posso ir de Uber.


— Não vou deixar você sair sozinha daqui.

Como não deixa espaço para ser contrariada aceito sua


oferta.

— Tudo bem.

— Agora, venha comigo que conheço um caminho por

onde não encontraremos ninguém.

Faço uma careta.

— Preciso me despedir de Diana e Enrico.

Caminha pelo corredor me levando junto com ela e

ignorando meu protesto.

— Irei dizer que você passou mal e precisou ir embora.

Por uma porta lateral saímos da casa e assim como

Francesca previu não encontramos com ninguém. Enquanto

espero no carro, minha amiga volta para chamar o namorado. Os


dois não demoram e em silêncio vamos para minha casa.

Nicholas é gentil e em nenhum momento pergunta o porquê estou

chorando.

Despeço-me deles em frente à minha casa e fico sozinha.

Entro no lugar que chamo de lar despedaçada.

O que eu vou fazer?


Há duas alternativas que doem horrores, mas se me
perguntassem se preferiria não ter os pais que eu tive com

certeza diria que sim. Eu quero fazer o melhor, mesmo que doa e

crie em mim feridas que irei carregar para sempre.

Ligo as luzes e vou até meu quarto, pego o meu notebook

e desço para a sala. Retiro meus sapatos e com as pernas

cruzadas sob meu corpo apoio meu computador sobre elas e abro

duas abas no navegador. Uma sobre aborto e outra sobre


adoção.

Lágrimas escorrem pelo meu rosto enquanto leio cada

artigo.

Acabo em um blog de uma mulher que se arrependeu do

aborto que fez aos dezesseis, é um relato doloroso e sei que me


sentiria como ela se optasse por essa alternativa. Há outros

relatos e meu coração se aperta ao ler cada um.

Será que a adoção é menos cruel? Será que consigo

garantir que a criança ficará com pessoas que a amem?

Abro o primeiro artigo sobre adoção, mas não consigo ler


nem a primeira linha, porque o som do interfone ecoa pela casa.

Droga, quem é a essa hora?


Deixo o computador sobre o sofá ao meu lado e vou até o
corredor de entrada da minha casa atender o interfone,
provavelmente é engano.

— Olá.

— Anne, sou eu Guilherme.


Capítulo 5

“O que está acontecendo?


Eu estava em paz quando você chegou”[9]

Acordo com o despertador, abro os olhos aos poucos e me

deparo com as luzes entrando pela janela. Caralho. Estico meu


braço e pego o celular que está sobre o cômodo ao lado, desligo

o despertador e jogo o aparelho para o lado.

Como tenho um voo para pegar desvencilho-me da mulher


que está fazendo do meu peito seu travesseiro e toco seu ombro.

— Hora de acordar, bela adormecida.

Assim que a loira abre os olhos deixo a cama e recolho as

suas roupas do chão.


— E hora de ir embora.

Ela se senta na cama e seus bonitos seios ficam livres, ela

é realmente uma gostosa. Pena que não estou com tempo,

porque se tivesse com certeza repetiríamos o que fizemos na


noite passada

— Nenhum café da manhã? Ou beijo de despedida?

Balanço a cabeça e jogo suas roupas em sua direção.

— Estou sem tempo, bela adormecida.

Viro-me ficando de costas para a mulher na minha cama.

— Precisa de dinheiro para ir embora?

— Não, você não vai pedir meu número?

Olho para trás e encontro seus lábios comprimidos em um

biquinho sedutor, linda e gostosa, mas é preciso bem mais do que

isso para me convencer a repetir uma noite.

— Não, feche a porta ao sair.

Olho em frente e sigo para o banheiro. Ao sair do meu

banho não há mais sinal da mulher em meu apartamento. Graças

a Deus, ela não é das mais insistentes.

Com a toalha ao redor da minha cintura vou até a cama

para pegar meu celular e encontro um papel com seu número de


telefone, sorrio e o amasso.

— Sinto muito, querida.

Jogo o papel amassado na lata de lixo que há ao lado da

cama e pego o celular, tenho trinta minutos para chegar no

aeródromo[10], para não me atrasar não posso tomar café da

manhã.

Visto uma roupa confortável para a breve viagem e pego

minha pequena mochila com os poucos pertences que estou

levando, afinal é apenas um final de semana na casa do meu

irmão. Com tempo sobrando deixo meu apartamento, não é que


eu tinha tempo para uma rapidinha!

Sou o primeiro a chegar no aeródromo privado da nossa


família e uso o tempo livre para checar alguns e-mails e conversar

com o piloto que será responsável por nossa viagem.

Meus pais são os segundos a chegarem e papai estaciona

seu carro ao lado do meu. Mamãe caminha em minha direção e

meu pai pega as malas no porta-malas.

— Sempre tão pontual esse meu filho.

Dona Eleonora realmente parece orgulhosa e sorrio.


— Alguém nessa família precisava saber cumprir horários,

não é? — Revira seus olhos e a puxo para perto de mim. — Pode


confessar, mãe, eu sou seu filho preferido.

No mesmo instante que beijo o topo da sua cabeça recebo


um tapa em meu braço.

— Gosto de todos os meus filhos iguais, mas meu preferido

no momento é o Pedro. — Afasto-me dela e a encaro indignado.


— Porque, ele irá me dar um netinho.

Ergue suas sobrancelhas e me desafia.

— Sabe, eu nem queria ser o preferido mesmo.

Dou de ombros e minha mãe suspira.

— Eu ainda não perdi a esperança em você, Guilherme.

Não preciso ser um gênio para saber que está falando de


me ver casado.

— Pois deveria, mãe.

Antes que possa me dar um sermão meu pai se aproxima e


corro em sua direção para ajudá-lo com as malas.

— Jesus, vocês não irão ficar apenas três dias, por que

três malas?

Meu pai somente suspira.


— Sua mãe gosta de ser prevenida.

Ele revira os olhos, mamãe bate palmas contente com a


resposta do marido, antes de socorrer meu pai beijo sua

bochecha já que ele está impossibilitado de me abraçar.

— Bom dia, pai.

— Bom dia, filho.

Finalmente, pego uma das malas e ele respira aliviado, no

mesmo instante percebo o porquê.

— Meu Deus, tem o que aqui, mãe?

Dá de ombros e sem nenhuma piedade de mim e papai


observa nós dois colocarmos as malas no avião com a ajuda do
piloto.

Meus irmãos e Alexa não demoram a chegar e finalmente


podemos nos ajeitar na aeronave e voarmos até a fazenda de

Enrico.

O trajeto é tranquilo e aproveitamos o tempo para

fofocarmos enquanto jogamos pife[11]. Estamos animados com o

fato de Enrico estar planejando pedir a namorada em casamento,


porque ele está feliz e realizando um sonho. Meu irmão mais
velho sempre buscou o amor, ele é o romântico da família e eu o
cafajeste.

Aterrissamos no aeroporto da cidade que meu irmão


escolheu para viver e alugamos dois carros, só então vamos para
a fazenda. Pietra é quem dirige o carro em que estamos ela e eu,

o outro está Pedro, Alexa e nossos pais. Nós tentamos não


conversar sobre trabalho, mas falhamos e acabamos no assunto

que domina nossas vidas, a empresa da família.

Assim que Pietra estaciona em frente à casa de Enrico


deixo o carro e fico em pé parado e observando o lugar. A imensa

casa, e ao redor, muito verde. Estar aqui é tão diferente e ao


mesmo tempo nostálgico, por algum tempo quando crianças,

vivemos na fazenda da nossa família, a mesma que hoje é


administrada por Pedro.

— Alguma vez, você já se arrependeu das escolhas que


fez?

Pietra para ao meu lado e sei que está falando sobre ter
escolhido o mundo executivo ao invés da vida no campo.

— Não, e você?
Nunca fui igual a Pedro e Enrico que amam estar no
campo, eu sempre preferi a cidade. Pietra demora a responder e
quando olho para a minha irmã ela aparenta estar em outro lugar.

— Algumas vezes.

Antes que possa questionar o que aconteceu, o resto da

nossa família junta-se a nós e invadimos a casa de Enrico.

Mamãe vai direto para a cozinha, nós ficamos pela sala rindo e
conversando, nenhum de nós acorda Enrico e, simplesmente,

agimos como se a casa fosse nossa.

Mamãe está demorando com a comida e por isso vou até a


cozinha, porém ela se recusa a me alimentar.

— Mãe, eu irei morrer de fome.

Revira os olhos enquanto segue fritando alguns ovos.

— Pare de me aborrecer como se fosse um adolescente,


você tem trinta e sete anos.

— Trinta e seis.

Corrijo-a e ela me ignora, então abro a boca para mais uma

vez implorar por um pão, mas escuto a voz de Enrico.

— Ele acordou.
Comemoro como uma criança e deixo a cozinha. Hora de

provocar meu irmão.

— Você destruiu o meu carro.

É o que eu falo assim que o encontro sentado no sofá ao

lado de Pietra. Enrico olha em minha direção e suspira.

— Deixe de ser um bebê chorão que o seguro cobriu todo

estrago.

Nós dois sabemos que não ligo para o que aconteceu com

meu carro a última vez que estive aqui, mas é algo com que gosto
de provocá-lo. Sento-me na poltrona de frente para Pietra e

Enrico e suspiro.

— Como se não bastasse ter destruído meu carro, no dia

seguinte fugiu com a namorada e nós tivemos que resolver todos


os problemas.

Faço meu drama e Enrico joga uma almofada em minha

direção.

— Cale a boca.

Não tenho tempo de seguir com a minha provocação,

porque nossa mãe nos interrompe.


— Não reclama que ele estava empenhado em me dar um

netinho.

Ela tem uma bandeja em mãos com comida, finalmente irei

comer, enquanto Enrico conversa com mamãe e Pedro, Pietra e


eu vamos nos sentar ao redor da mesa e esperar por comida. Não

importa quantos anos temos quando estamos com nossa família

nos tornamos adolescentes outra vez.

Depois de alguns minutos estamos todos ao redor da mesa

e tomando nosso café da manhã. Enrico aproveita o momento

para explicar como irá funcionar o pedido de casamento.

No fim da manhã vamos todos para a fazenda vizinha,


onde acontecerá o pedido, e ajudamos Enrico a organizar o lugar.

Meu irmão está nervoso, porém o brilho em seus olhos

deixa evidente o quanto está feliz. Enquanto o observo sorrir e


fazer planos para o futuro percebo que o amor pode ser incrível,

mas existe algo melhor que ser solteiro?

E a prova que ser solteiro é maravilho não demora a

chegar. Anne, a loira, que fiquei na última vez que estive aqui
chega acompanhada de um casal. Não costumo ficar mais de

uma vez com a mesma mulher, porém como não moramos na


mesma cidade, não há problema, não é!? Principalmente, porque

ela foi uma das minhas melhores transas

No momento que Enrico está desocupado vou até ele.

— Quem é ela?

Faço um gesto com o queixo em direção à loira.

— Uma amiga de Diana.

Encaro-o indignado.

— Por que minha cunhadinha, não me disse que a garota

da boate era sua amiga?

Ergue suas sobrancelhas.

— Por que ela iria falar? Você ligaria no dia seguinte?

Sorrio e dou de ombros.

— Não. — Enrico balança a cabeça e me olha com um


olhar que diz: está explicado o porquê ela não me contou. — Você

está certo, não tinha motivos para ela me contar, agora, se me dá

licença vou lá garantir o sexo de hoje.

Meu irmão faz uma careta enquanto me afasto e vou até a


loira. É fácil conversar com ela e adoro o fato de como ela me

responde, ela é atrevida e engraçada. E é uma pena quando


tenho que me afastar, porque chegou o momento de Enrico ir

buscar Diana.

O pedido é lindo e emocionante, porém o mais importante

é como meu irmão está feliz. Enrico e eu sempre fomos próximos


e sei o quanto ele desejava viver esse tipo de amor, o mesmo

amor que há entre nossos pais.

Apesar do casal apaixonado à minha frente em todo


instante possível, procuro por Anne e aprecio sua beleza, mal

posso esperar para dividirmos mais uma noite, tudo que preciso é

de um tempo com ela para convencê-la que devemos terminar o

dia de hoje juntos e dessa vez, em um hotel, o mesmo hotel em


que estou hospedado.

É na intenção de falar com ela que assim que vamos para

casa dos pais de Diana saio à sua procura, a última vez que a vi
ela estava com uma amiga e como elas não estão na sala de

jantar deixo o cômodo. Cruzo a sala de estar e estou quase

entrando no corredor quando escuto vozes, paro e tento

identificar quem é.

— É por isso que você está tão estranha? Por que está

grávida?
Droga, é uma conversa íntima e particular, dou um passo

para trás, mas antes que possa sair do cômodo escuto a sua voz.

— Então, o resultado deu positivo?

É Anne, ela está grávida!?

— Você não sabia?

Não deveria, mas sigo ouvindo a conversa.

— Só tinha feito os testes de farmácia. — Sua voz está

falhando, ela parece nervosa. — E não tinha tido coragem de

conferir o resultado do exame de sangue.

— O pai é o Guilherme?

Meu coração para ao ouvir o meu nome.

— Sim, é ele.

Sua voz é um sussurro, porém alta o suficiente para que eu

possa ouvir.

— E você irá contar a ele?

— Não sei, eu não consigo encontrar uma solução.

Não consigo mais entender o que ela está falando, porque

é como se meu mundo estivesse paralisado. Como assim, eu,


pai? Nós usamos camisinha. Ela só pode estar enganada.
É isso, ela está se confundindo.

Viro-me e deixo o cômodo, volto para a sala de estar e

tento esquecer tudo que acabei de ouvir. Ela apenas está se

confundindo.

Apesar de tentar esquecer o assunto enquanto converso

com outras pessoas, não consigo. Anne está grávida. A mulher

que transei há um mês e meio está grávida.

Mas usamos camisinha, camisinhas são seguras, não


são!?

Sorrio, porém minha cabeça dói. Tento me lembrar de cada

momento daquela noite, e tenho certeza de que coloquei


camisinha nas duas vezes que transamos. Porra, é o método

mais seguro.

Porém, na segunda vez quando retirei a camisinha ela

estava mais melada que o normal, achei que Anne tivesse


ejaculado, mas e se ela estivesse furada? Droga, mil vezes droga.

Caralho, e se ela estiver grávida?

Sigo conversando, enquanto meu coração bate

desesperado em meu peito. Eu não quero ser pai, o que eu faço?


Finjo que nunca ouvi a conversa? Afinal, ela mesmo disse que
não sabe se irá me contar. Poderia viver sabendo que talvez
tenha um filho? Poderia ignorar um filho?

Porra, é claro que não.

É com a convicção de que jamais poderia abandonar uma


criança que imploro para Diana o endereço de Anne e assim que

tenho a informação pego um dos carros que alugamos e dirijo


como um maluco até sua casa.
Capítulo 6

“Pensei: Nem os céus podem me ajudar agora


Nada dura para sempre
Mas isso vai acabar comigo”[12]

Meu coração está acelerado, minhas mãos estão tremendo


e estou suando, enquanto aperto o interfone e espero por uma

resposta. O que irei dizer? Como será a nossa conversa?

— Olá.

Respiro fundo.

— Anne, sou eu, Guilherme.

Por alguns segundos, não obtenho nenhuma resposta.


Será que ela desligou?
— Oi, Guilherme. — Sua voz está estranha, ela está

chorando!? — O que você faz aqui?

Não há como mentir e nem evitar o assunto, precisamos

nos resolver o quanto antes.

— Eu ouvi a sua conversa com Francesca e sei que você


está grávida, nós podemos conversar?

Mais silêncio e juro ouvir as batidas do meu coração.

— O que você ouviu exatamente?

Passo as mãos pelo meu cabelo e dou um passo para trás.

— Eu ouvi quando você disse que eu sou o pai do seu

filho.

— Estou abrindo o portão.

Um barulho indica que o portão está aberto.

— Obrigado.

Empurro o metal e entro em sua casa. Estou nervoso e


angustiado, tudo se torna um borrão e apenas caminho em

direção à entrada, não reparo o que há ao redor, ou em como é a

fachada.

Ela abre a porta no exato instante que piso no chão da

varanda e assim que meus olhos encontram os seus sei que ela
estava chorando. Encaro-a sem saber o que falar, ou sem saber
como reagir.

— Você não precisava vir até aqui.

Não olha em meus olhos e na sua voz é possível perceber

o quanto está angustiada.

— Eu precisava, porque está grávida de um filho meu.

Eu gostaria que a situação fosse tão fácil como soa, mas

não é e nós dois sabemos disso.

— O que realmente você quer, Guilherme?

Suspira e finalmente, olha em meus olhos.

— Quero saber que se o que disse para Francesca é

verdade.

Desvia seus olhos dos meus e demora a responder quando

o faz seus olhos estão repletos de lágrimas.

— Eu não quero conversar com você sobre isso.

Tenta fechar a porta, mas a impeço colocando meu pé


entre a abertura.

— Anne, eu preciso saber.

Para de aplicar força contra a porta e me encara com um

sorriso, um sorriso tão triste que faz com que meu peito aperte.
— Eu falar que estou grávida muda o que na sua vida,

Guilherme?

— Muda tudo.

Balança a cabeça e se vira ficando de costas para mim.

— Você não sabe do que está falando.

Segue para o interior da sua casa e mesmo sem ser


convidado a sigo. Nós precisamos conversar.

— Sim, eu sei exatamente do que eu estou falando.

Só para quando chegamos em uma sala, então se vira e


me encara com desdém.

— Não, você não sabe.

A forma como ela parece ter certeza dos meus sentimentos


me deixa irritado e preciso respirar fundo para não perder o

controle e acabar dizendo algo que irá magoá-la.

— Anne, se esse filho realmente for meu irei assumi-lo.

Apesar das minhas palavras caminha de um lado pelo

outro em sua sala com um sorriso irônico em seu rosto, por que
ela não acredita em mim?

— Você acha que é fácil, não é? Você acha que é só


assinar um papel e me deixe adivinhar, acredita que tudo que
uma criança precisa é de dinheiro.

Passo as mãos pelo meu cabelo. Droga, o que irei fazer?


Essa conversa não está nos levando a lugar nenhum.

— Anne, nós precisamos conversar e você precisa parar


de supor coisas a meu respeito.

Ela para e me encara com um olhar tão quebrado que meu


peito aperta.

— E o que você vai fazer com uma criança, Guilherme? O


que você vai fazer morando em outra cidade? E a sua empresa?

E as noites que adora aproveitar? — Sua voz é repleta de


desdém. — Você pode estar acreditando que pode ser um pai,
mas a verdade é que você não pode ser um pai.

Suas palavras são como receber um tapa e a encaro


indignado, irritado e magoado.

— Quem você pensa que é para me dizer o que posso e


não posso ser, Anne?

Em segundos caminha em minha direção e para a


centímetros de mim.

— Sabe o que acontece quando alguém como você é pai?


— Sorri sem humor e uma lágrima escorre pelo seu rosto. — Você
apenas destrói a criança.

Seu olhar é desesperado, mas eu não tenho culpa. Eu não

sou seu saco de pancadas. Dá um passo para trás e dou um


passo em frente, então quase me desequilibro ao enrolar meu pé
no tapete e ao abaixar meus olhos para arrumar o que acabei de

desarrumar me deparo com seu notebook ligado, há duas abas


abertas, uma sobre adoção e outra sobre aborto.

— Então, é isso, você não quer o bebê. — Sorrio sem

humor e volto ao olhar para a mulher à minha frente. — Todo esse


teatrinho é porque você não quer ser mãe.

As palavras mal terminam de sair da minha boca quando


recebo um tapa em meu rosto.

— Você não sabe de nada, Guilherme, você não entende


nada.

Grita e se afasta de mim.

— Eu posso ficar com ela.

Ignoro seu tapa, ignoro seus gritos, não é sobre ela, essa
discussão sequer é sobre nós.

— O quê? — Lágrimas descem pelo seu rosto quando me


encara sem entender. — O que você está querendo dizer?
— Se você decidir pela adoção. — Aponto para o
notebook. — Eu posso ficar com ela.

Quero dizer que não concordo com o aborto, implorar para


que não faça, mas não tenho esse direito, não quando não sou eu
que terei que carregar por nove meses alguém que não desejo.

— Você acha que é sobre não querer? Que é sobre mim?

Lágrimas deixam seus olhos, seus ombros cedem em um


sinal de derrota e é como se o seu brilho a abandonasse, não há

vida em seus olhos e uma sombra paira sobre eles, eu nunca vi

alguém tão triste.

— É sobre o que, Anne?

Sussurro e imploro, porque a verdade é que quero

entender o que está acontecendo e com o que estamos lidando.

— Eu não quero que uma criança se sinta indesejada por


minha causa, não quero que ela chore porque o pai não veio

visitá-la, ou porque, nem um dos pais estava presente na

apresentação da escola, não quero que as reuniões do trabalho

sejam mais importantes, não quero que ela escute da avó paterna
que ela é uma bastarda, não quero que ela seja abandonada

quando um dos pais encontrarem outra família, não quero que ela
fique horas esperando por um pai que não virá, não quero que ela

se pergunte o porquê ela não é amada, não quero que ela deseje
nunca ter nascido.

Eu vejo em seus olhos o quanto dói cada uma das suas

lembranças e não sei como reagir. Não sei como tranquilizá-la, ou


enxugar as suas lágrimas. Eu não sei como consertar o seu

coração.

— Então, se eu precisar destruir meu coração para evitar

que ela sofra, eu vou.

Seu choro é alto, soluços escapam entre seus lábios. Faço

a única coisa que posso fazer, vou até ela e a abraço. Ela não me

afasta e a seguro enquanto suas lágrimas molham a minha


camisa.

Gostaria de dizer que tudo ficará bem, mas não faço

promessas que não posso cumprir.

Quando ela se desvencilha de mim as lágrimas seguem


descendo pelo seu rosto e seus olhos seguem sem vida.

— Eu não quero fazer um aborto.

Acaricio a lateral do seu rosto com as pontas dos meus

dedos.
— Eu estou falando sério quando disse que posso ficar

com ela, Anne.

Baixa seus olhos para que não tenha que me encarar.

— Não consigo acreditar que alguém como você possa ser

o que uma criança precisa. — Sussurra e mesmo sem ver seus

olhos, sei que está presa em suas próprias lembranças. — Você é

CEO de uma empresa, você ama sair à noite e ter várias


mulheres à sua disposição, o máximo que consigo imaginar é

você deixando uma criança com uma babá, ou com seus pais e

Guilherme, é difícil entender que está tudo bem em não ter um


pai, ou uma mãe, ou ser criado pelos avós, porque por mais

amado que você seja tudo que você pode desejar é a

normalidade.

Suspira e volta a olhar em meus olhos.

— Eu só queria ser capaz de dar a essa criança o que eu

nunca tive.

E enquanto olho em seus olhos entendo cada um dos seus

medos, não porque entendo o que é não ser amado, é porque


conheço o que é ter uma família, porque é esse amor que queria

que meu filho tivesse.


— Eu abriria mão de tudo por uma criança, Anne, se você

quiser a gente casa, a gente dá um jeito, eu não sei. — Faço a


proposta mais indecente que já fiz na vida. — E tenho certeza de

que também podemos fazer funcionar separados, uma família não

tem um padrão, a gente só precisa de amor e por mais que esteja


negando, você também ama essa criança.

Abaixo minha mão e toco sua barriga, no mesmo instante

ela fecha seus olhos e um tipo de amor que nunca senti na minha

vida preenche o meu peito.

— Se você não a amasse não pensaria no seu bem-estar

acima do seu próprio.

Afasto minhas mãos e dou um passo para trás.

— Não importa o que decida, Anne. — Ela abre seus olhos.


— Eu estarei aqui e apoiarei você, eu só queria ser informado

pelo que decidir, tudo bem?

Assente e eu pego meu celular.

— Qual o seu número? — Anne não hesita em dizê-lo e

assim que o salvo ligo para ela, o som do seu celular tocando

ecoa de algum lugar da casa. — Agora, você tem o meu número.

Sorri, um sorriso tímido e agradecido.


— Obrigada.

Assinto e nos encaramos sem saber o que falar e é como

se estivéssemos segurando o mundo em nossas costas.

— Eu estou em um hotel aqui na cidade se precisar de algo


me chame.

— Tudo bem.

Nós dois estamos exaustos, a conversa que tivemos sugou

toda nossa energia.

Despeço-me de Anne com um beijo em sua testa e deixo

sua casa. Enquanto dirijo para o hotel só consigo pensar em

nossa conversa e em seu olhar desesperado e perdido.

Eu sequer consigo imaginar o que ela deve ter passado

para reagir assim.

Faço check-in no hotel e subo para o quarto. Estou no

automático e é como se tivesse vivido dias em horas. Sento-me


na cama com os cotovelos sobre minhas pernas e meu rosto

entre minhas mãos.

Como tudo mudou de repente?

Hoje de manhã, éramos apenas eu e a minha vida, e agora


tenho um filho. Puxo meus cabelos na tentativa de pensar com
clareza. Seria mesmo capaz de tudo por uma criança?

Não preciso pensar muito para saber que sim. Eu tive pais
que me amam e embora nunca tenha pensado em filhos, quero

ser alguém assim como meu pai. Jamais conseguiria abandonar

um filho, mas Anne está certa, eu posso ser o suficiente? Eu

posso ser o que uma criança precisa?

Eu odiaria saber que machuquei alguém que deveria amar.

Caminho pelo quarto transtornado e com o coração

acelerado. E se eu realmente a destruir? E se Anne estiver certa?


E se não puder ser um pai?

Paro em frente ao espelho e me odeio. Odeio que seja

alguém inadequado para ser pai. Repleto de raiva e ódio de mim

mesmo soco o espelho e no mesmo instante vejo o sangue


deixando minha pele.

A dor não me incomoda, o sangue não me incomoda e

simplesmente amarro uma toalha ao redor da minha mão.

Quando me deito na cama tudo que consigo pensar é que

odeio ser alguém em quem Anne não confia. Adormeço com seus

olhos perdidos ecoando em minha mente.


Acordo com o celular tocando no meio da noite e assim
que vejo seu nome na tela do aparelho meu coração aperta, eu

sei que algo está errado mesmo antes de ouvir a sua voz.

— Eu estou sangrando, Guilherme.


“Não fuja, não revire seus olhos
Eles dizem que o amor é doloroso, então, querida,
vamos nos ferir esta noite”[13]

Assim que Guilherme fecha a porta, eu desmorono, choro,

soluço e grito. Odeio a dor e os sentimentos em meu peito. Todos


meus fantasmas estão soltos. O medo e a insegurança que senti
ao longo da vida são liberados todos de uma vez.

Não importa o que superei e nem os anos de terapia. Eu


sou aquela garotinha outra vez, esperando por amor, implorando

por atenção e desejando uma família.

Sento-me no sofá com os pés apoiados no estofado,

pernas dobradas e com meus braços ao seu redor e o queixo


apoiado em meus joelhos. Encaro a parede à minha frente e

deixo que as lágrimas simplesmente desçam pelo meu rosto.

Eu sou uma bagunça, um caos que há muito tempo não

era.

Não consigo me desligar das minhas lembranças e me


recordo exatamente de olhar a plateia de cima do palco da escola

e não encontrar os meus pais, dos cartões de presente atrasados

enviados pelo meu pai, do dia que fiquei horas na varanda


esperando por ele, e do dia que minha mãe me deixou com vovó

para ir morar com sua nova família.

Foi doloroso e ainda é doloroso.

Precisei de anos de terapia para entender que a culpa não


era minha. Não é fácil quando você é apenas uma criança

entender que seus pais não te amam como a maioria dos outros

pais.

Não é fácil ser uma criança com uma família diferente e

não é fácil superar os traumas originados de uma infância

complicada. Eu carrego machucados até hoje.

Aos poucos as lembranças dolorosas são substituídas pela

conversa com Guilherme. E pela primeira vez, me pergunto se é


possível. Será que tudo seria diferente se eu tivesse amor de um
dos meus pais? Se vovó desde o início estivesse ao meu lado?

Talvez ainda seja difícil, ainda sinta falta de um pai, ou de uma

mãe, mas com o amor seja mais fácil. Assim como foi mais fácil

quando a minha avó materna passou a ser a responsável por

mim.

Talvez, o amor seja o suficiente.

Fecho meus olhos e respiro fundo. Eu seria capaz de ser

tudo que alguém precisa? Conseguiria eu ser diferente dos meus

pais? Seria capaz de provar para uma pessoinha que a amo e

esse amor é tudo que importa? Uma vozinha em minha mente

sussurra que Guilherme quer ser essa pessoa, ele quer ficar com

a criança, porém eu não confio nele. Ele é igual ao meu pai, mas
eu seria igual à minha mãe?

A diferença que existe entre nós é o suficiente para me

fazer alguém capaz de amar um filho acima de qualquer coisa?

Não sei por quanto tempo fico ponderando se posso ser

uma mãe, mas em algum momento minha cabeça começa a doer


e minha visão está um pouco turva.
A exaustão vence e subo para meu quarto, deito-me na

cama e apesar do caos que é minha mente não demoro a dormir,


porém acordo de madrugada com muita dor de cabeça e em meu

abdômen, assim que me levanto para ir ao banheiro sei que tem


algo errado, porque sinto algo entre as minhas pernas, algo
molhado. No mesmo instante abaixo minha calça e encontro

sangue em minha calcinha.

Meu peito aperta e pânico domina cada parte de mim. Eu

estou sangrando e isso só pode significar uma coisa, eu estou


abortando.

— Não, não, isso não pode estar acontecendo.

Lágrimas escorrem pelo meu rosto e balanço a minha

cabeça. Coloco minha calça e pego meu celular ao lado do meu


travesseiro. Sem pensar muito ligo para ele e assim que ele
atende as palavras deixam a minha boca.

— Eu estou sangrando, Guilherme.

Minha voz falha, um nó se instala em minha garganta e


medo vibra em meu peio.

— Eu estou indo até a sua casa.


Assinto mesmo que ele não esteja me vendo e me sento

na beirada da cama com o celular ainda em minha orelha.

— Eu estou com medo.

Pânico domina o meu coração e faz com que eu perceba


que não quero perder o bebê.

— Droga. — Escuto derrubar algo. — Fique tranquila, eu


estou chegando.

— Eu não quero perdê-lo.

Pela primeira vez, toco a minha barriga e me permito senti-

lo. E talvez, seja a última. E se for tudo minha culpa? E se ele me


deixar porque o rejeitei por dias?

— Ok, respire. — Bate uma porta e posso ouvir sua

respiração irregular. — Preciso deligar, mas estou chegando, está


bem?

— Está bem.

Encerro a chamada e encaro o aparelho em minhas mãos.

Não está nada bem. A dor em minha barriga se intensifica e a


pressiono com a palma da minha mão.

— Por favor, me dê a chance de ser sua mãe.


Deixo a cama e mesmo com dor consigo descer e espero
por Guilherme sentada embaixo do interfone com as costas
apoiadas na parede.

— Você precisa me dar uma chance.

Não sei quanto tempo demora para ouvir o som do

interfone, mas parece uma eternidade e quando enfim Guilherme


chega, apenas fico em pé e aperto o botão para abrir o portão. O
movimento faz com que a dor se intensifique e sinta o sangue

escorrendo pelas minhas pernas.

— Anne.

Seu grito ecoa e porque não consigo mais andar sem sentir
dor grito de volta.

— Aqui.

Estou com o corpo curvado e com uma das minhas mãos

apoiada na parede e a outra em minha barriga quando Guilherme


me encontra. Ele não hesita em se aproximar e me pegar em seu

colo. Não protesto, porque não consigo dar um passo sem sentir
dor e no momento nada importa.

— Você está sangrando muito?


Caminha depressa comigo em seus braços em direção à
porta.

— Eu acho que sim. — Seguro em sua camisa e apoio


minha cabeça em seu peito. — Eu sei que disse que não sabia o
que fazer, mas não quero perder o meu bebê.

— Faremos o possível para que isso não aconteça.

Continuo chorando enquanto Guilherme caminha para o


carro. Com cuidado coloca-me sentado no banco e então, corre

para ocupar o lugar ao meu lado.

Guilherme pergunta-me para qual hospital devemos ir e

assim que tem o endereço no GPS liga o carro. Não trocamos


nenhuma palavra durante o trajeto até o hospital e Guilherme

dirige o mais rápido possível.

As lágrimas seguem descendo pelo meu rosto enquanto


observo a noite lá fora. Rezo para que tudo fique bem.

Assim que Guilherme estaciona deixa o carro e vem até

mim, mais uma vez me toma em seus braços e dessa vez, me

carrega para a emergência.

Tudo se torna um borrão e é como se estivesse

presenciando a vida de outra pessoa, porque estou no


automático. Respondo as perguntas feitas pelo médico o mais

depressa possível e faço tudo o que ele pede. Os exames me


deixam agoniada e quando vou para um quarto eles precisam me

sedar, porque estou muito nervosa e tudo fica escuro.

Abro meus olhos e me deparo com o teto branco, não


demoro dois segundos para lembrar que estou no hospital, então

olho para o lado e encaro uma janela, apesar de existir uma

cortina consigo perceber uma luz tentando se infiltrar pelo tecido,

já amanheceu.

Desvio os olhos da janela e foco no cara sentado na

poltrona ao lado da cama, ele está dormindo e todo torto, não

parece uma posição muito confortável.

— Guilherme? Guilherme?

Preciso chamá-lo duas vezes. Ele acorda assustado e

procura por mim.

— Você está bem? Precisando de algo?

Deixa a poltrona e vem até mim parando ao lado da cama.

— O que aconteceu?

Não consigo fazer a pergunta que realmente preciso fazer,

não consigo perguntar se perdi meu bebê.


— Está tudo bem. — Continuo o encarando, esperando

pelas palavras que irão destruir com meu coração. — Ela

realmente está bem, Anne.

Lágrimas se acumulam em meus olhos.

— Meu bebê realmente está bem?

Assente.

— Não sei explicar os termos certos. — Passa a mão pelo

cabelo, ele está nervoso. — Mas está tudo bem, mais tarde o
médico passará aqui para conversar com você.

Respiro aliviada, fecho meus olhos e levo minha mão até a

minha barriga. Está tudo bem, meu bebê está bem. Eu prometo
que farei o melhor por essa criança, mas será um melhor ao meu

lado, por mais egoísta que seja não conseguirei renunciar a ela.

Ficamos em silêncio e quando abro meus olhos deparo-me


com Guilherme encarando minhas mãos sobre a minha barriga.

— Obrigada por ter ficado aqui comigo.

Seu pomo de adão sobe e desce e quando seu olhar volta

a encontrar o meu há uma intensidade que não sei decifrar, muito


menos interpretar.
— Eu estava falando sério quando disse que iria apoiar

você, Anne, em qualquer situação.

Por mais que saiba que não deveria julgar Guilherme sem

conhecê-lo, eu simplesmente não consigo. É impossível não o

comparar com o homem que chamo de pai.

— Você precisa saber que eu não faço promessas que não

poderei cumprir, Anne.

Sua voz não falha, seus olhos não desviam dos meu e há

tanta convicção em suas palavras. Por alguns segundos, encaro-


o tentando procurar por uma hesitação, por uma prova que ele

somente está agindo com a emoção e não encontro.

Eu procuro por uma falha sua e Guilherme mantém os

olhos fixos em mim.

A tensão que de repente se instalou no quarto é quebrada

quando o médico abre a porta e adentra o cômodo.

— Bom dia.

Cumprimentamos o médico sem desviarmos os olhos um


do outro.

— Como você está se sentindo, Anne?


Olho uma última vez para Guilherme e então me viro para

o médico que se aproxima e para aos pés da cama e de frente

para mim. Antes de respondê-lo, faço uma análise de como estou

e me dou conta de que não sinto dor, apenas estou um pouco


tonta.

— Sem dor, e um pouco tonta.

Assente e anota alguma coisa na prancheta que tem em


mãos.

— Ok. — Volta a olhar para mim. — Vocês estão bem,

Anne, e o que aconteceu com você foi um deslocamento de

placenta, ou seja, um acúmulo de sangue entre a placenta e o


útero formado pelo deslocamento, é algo que com repouso,

alimentação certa e a acompanhamento médico adequado irá

desaparecer, porém se não seguir o recomendado seu caso pode


agravar, então realmente fique de repouso e precisa ficar de olho

na sua pressão, ela está um pouco alta.

— Farei o que for necessário.

Ele assente.

— Você já tem uma obstetra?


Balanço a cabeça um pouco envergonhada com meu

descaso.

— Procure por mim se precisar de indicações.

— Obrigada, doutor.

Sorrio agradecida e ele mais uma vez assente.

— Você pode ir para casa, Anne, mas antes vocês


gostariam de ver o bebê por uma ultrassonografia?

— Claro.

Guilherme e eu falamos ao mesmo tempo.

— Quando foi a data da sua última menstruação, Anne?

Faço o cálculo diante da mensagem que recebi há alguns

dias alertando do meu atrasado.

— Foi há um pouco mais de cinco semanas.

Faz mais algumas anotações em sua prancheta.

— Vamos fazer um Ultrassom Transvaginal e como é uma

gravidez recente de cinco semanas não será possível escutar o

coração. — Assinto. — Vou pedir para uma enfermeira


comparecer para me auxiliar e já volto.

O médico deixa o quarto, e nós dois ficamos sozinhos mais

uma vez, então me viro para Guilherme.


— Obrigada por tudo, Guilherme, se quiser ir embora fique
à vontade.

Ergue suas sobrancelhas.

— Eu quero ver o meu filho.

Somente assinto, sem saber exatamente como reagir. Eu

posso exigir que ele não faça parte das nossas vidas? Talvez não,

mas tenho certeza de que em algum momento ele irá perceber

que não quer ser pai.

Ficamos em silêncio até o retorno do médico, ele está

acompanhado de uma enfermeira e os dois são responsáveis

pela realização do exame. Embora não possa ouvir seu coração,


apenas vê-lo faz com que uma emoção preencha cada parte do

meu coração e lágrimas se acumulam em meus olhos.

Meu filho, meu bebê.

Tanto eu quanto Guilherme recebemos algumas cópias do

exame, são as fotos em preto e branco e abstratas mais lindas


que eu já vi.

Sou retirada do soro, o médico passa as últimas

recomendações e recebo alta médica e assim que os dois


profissionais deixam o quarto vou até o banheiro e troco a bata
hospitalar pelas minhas roupas. Minha calça está manchada de
sangue, mas não tanto quanto imaginaria que estaria. O
desespero fez com que acreditasse que a situação estivesse bem

pior do que realmente estava.

Ao sair encontro Guilherme apoiado na parede e com o


celular em mãos, ver o seu aparelho faz com que perceba que

estou sem o meu.

— Você pode me emprestar seu celular para que possa


pedir um Uber?

Olha em minha direção e balança a cabeça negando.

— Eu levo você.

Abro a boca para recusar, porém não tenho tempo, porque


ele caminha em minha direção e me pega em seus braços.

— O que você está fazendo?

Caminha comigo em seu colo até a saída.

— Repouso, lembra?

Encaro-o indignada.

— Não posso fazer esforços e ficar muito tempo em pé,

caminhar não está restrito.


Ele me ignora e segue pelos corredores. Deus estamos
protagonizando uma cena e tanto.

— O seguro morreu de velho, princesa.

Reviro meus olhos.

— Não me chame de princesa.

Ignora-me completamente e segue comigo em seus

braços, só para quando chegamos em seu carro e com cuidado


me coloca sentada no banco, ele inclusive passa o cinto pelo meu
corpo.

— Obrigada.

Assente e fecha a porta, segundos depois ocupa o banco

ao meu lado e em silêncio dirige para a minha casa, sou eu a


interrompê-lo.

— Eu vou ficar com o bebê e estou o informando assim


como pediu para que fizesse.

— Eu fico feliz pela decisão.

Viro meu rosto e encaro as ruas pela janela.

— Você não precisa fazer parte disso tudo, eu farei o

possível para ser tudo que essa criança precisa.


Guilherme segue em silêncio e quando estaciona em frente
à minha casa deixa o carro e vem até mim.

— Você pode tentar me afastar, Anne, mas eu não vou. —


Pega-me em seus braços novamente. — E vou provar a você que

posso ser um pai.


Capítulo 8

“E tudo que eu quero


É uma chance de provar pra você
Mostrar tudo o que eu posso fazer”[14]

Por mais que tente não consigo formular nenhuma

resposta, sequer consigo pensar sobre o significado das suas


palavras. Eu nem sei se quero deixar que ele faça parte

da vida do meu filho.

Abro o portão com a minha digital e Guilherme segue para


dentro, ele abre a porta e segue em direção às escadas.

— Você pode me colocar no chão.

— Onde é o seu quarto?


Não desiste e sobe os degraus, só o respondo quando

para no corredor do segundo andar da minha casa.

— Segunda porta à direita.

Ele não hesita em caminhar até lá, abre a porta e somente

para depois de me colocar sobre a cama.

— Você deveria tentar descansar.

Observa-me e o encaro sem entender o que ele está

fazendo.

— Guilherme, obrigada por tudo. — Assente e continua me

observando. — Você deveria ir embora, eu posso me virar a partir

de agora.

Ergue as sobrancelhas.

— Você irá chamar alguém para ficar com você?

Sento-me com as costas apoiadas na cabeceira da cama,

porque é péssimo conversar deitada e com alguém te observando


como se estivesse analisando cada respiração sua.

— Não.

— Então, eu ficarei.

Senta-se na cama ao meu lado.


— Eu posso contratar alguém para ficar comigo se for
necessário.

Mordo meu lábio inferior. É péssimo, mas a realidade é que


não tenho ninguém para ligar. Minha avó é uma senhora, minhas

amigas ocupadas, e meu pai e minha mãe são dois estranhos,

além do mais nenhum deles largaria tudo para vir ficar comigo.

— Eu ficarei, você está com fome? Posso cozinhar algo


para a gente, o que acha?

Suspiro.

— Guilherme, o que diabos você está fazendo?

Fica em pé e me olha como se fosse óbvio.

— Estou apoiando você e provando que posso ser um pai.

Dá de ombros.

— Você não tem uma empresa para administrar?

Ele se aproxima e curva seu corpo até ter os lábios sobre

minha testa.

— Não se preocupe, eu darei um jeito.

Beija minha testa por longos segundos e assim que se


afasta caminha para longe, estou sem reação e de boca aberta

enquanto ele simplesmente sai do meu quarto.


Que merda foi essa? Beijo na testa, sério?

— O que esse idiota pensa que está fazendo?

Com cuidado deixo a cama, dou alguns passos testando

meu equilíbrio e ao perceber que estou bem deixo o quarto.


Guilherme não pode sair assim e muito menos agir como se a
minha casa fosse sua, ele sequer é bem-vindo aqui.

Estou descendo as escadas quando escuto a porta sendo


aberta, será que ele está indo embora? É claro que ele deve estar

fugindo. Piso no último degrau quando escuto a voz de uma


mulher. Não é Francesca, nem Diana, quem será? Alguém

entregando algo?

Curiosa e com o coração acelerado. Por que ele está

acelerado? Vou até o hall de entrada e me deparo com Guilherme


e uma loira, ela é alta, magra e apesar de vestir um jeans e uma

camisa o ar ao seu redor grita rica e elegante.

Eles estão um de frente para o outro e apenas ela

consegue me ver.

— Você é a Anne?

A mulher me pergunta animada e Guilherme olha para trás.

— Você deveria estar lá em cima descansando.


Ignoro a sua careta e observo a mulher, ela é familiar.

— Eu conheço você?

Estreito meus olhos e tento me lembrar dela.

— Sim e não.

Assim que as palavras deixam sua boca recordo de tê-la

visto no pedido de casamento de Enrico e Diana.

— Você estava no noivado de Diana e Enrico.

Sorri confirmando que estou certa e olha para Guilherme.

— Eu sou irmã de Enrico. — Aponta para Guilherme. — E

desse idiota também.

Continua sorrindo e eu a encaro sem reação, o que ela

está fazendo aqui na minha casa? E ela está segurando uma


mochila?

— Prazer?

Não deveria soar como uma pergunta, mas soa e a bonita


mulher à minha frente não parece se importar, porque continua

sorrindo.

— O prazer é meu, afinal você será a mãe da minha

sobrinha, ou do meu sobrinho.

Ergo minhas sobrancelhas e me viro para Guilherme.


— Você contou para sua família?

Como assim, ele saiu espalhado que estou grávida?

— Não, apenas para minha irmã, porque eu precisava da

sua ajuda.

Suspiro.

— Ok.

Respiro fundo, porque não está tudo ok. Será que eu estou
dormindo e vivendo um pesadelo?

— Eu acho que vou deixar vocês sozinhos.

Volto a encarar a loira que agora parece um pouco


envergonhada e deslocada.

— Desculpe, é que tudo está um pouco confuso, você não


precisa ir embora.

Recobro minha educação e finalmente, sorrio.

— Realmente, não quero incomodar e só vim entregar isso


para o Guilherme.

Ergue a mochila.

— Obrigado, maninha.
Guilherme pega a mochila das mãos da irmã e me sinto
mal por ter sido tão mal-educada com ela.

— Você tem certeza de que não quer entrar?

Assente.

— Vocês precisam conversar. — Vira-se para o irmão. —

Mantenho você informado e não seja um idiota.

Guilherme sorri.

— Eu nunca sou um idiota.

Ela revira seus olhos e olha em minha direção.

— Ele é sempre um idiota, mas tem suas qualidades. —

Pisca para mim e é impossível não sorrir. — Foi um prazer


conhecer você, Anne, e a propósito meu nome é Pietra.

— Prazer, Pietra.

Ela sorri, então se vira, abre a porta e ficamos mais uma

vez apenas Guilherme e eu. Observo-a deixar minha casa. Droga,


eu estou mais perdida do que antes.

— Você deveria estar descansado.

Ignoro-o e caminho para a cozinha, não preciso olhar para


trás para saber que ele está me seguindo. Assim que entro no

cômodo, ele segura meu pulso.


— Você precisa de algo?

Viro-me e encaro o local onde ele está me tocando, seu


toque é quente e reconfortante.

— Vou preparar algo para comer.

Sussurro ao mesmo tempo que ergo minha cabeça e olho


em seus olhos, ele não solta meu pulso.

— Eu posso preparar algo.

Acaricia minha pele e um arrepio percorre meu corpo, não

é um arrepio de desprezo. Droga.

— Guilherme, de verdade, você não precisa fazer nada

disso.

— Disso o quê?

Dá um passo para trás e afasta seus dedos da minha pele,


automaticamente sinto falta do seu toque.

— De estar aqui. — Viro-me e vou até a geladeira. — Eu

posso muito bem me cuidar sozinha, não preciso de ninguém.

Abro a geladeira e a encaro a procura de algo para fazer.

— Anne, não importa o que você diga irei ficar aqui e

cuidar de você e do meu filho. — Vem até mim e para ao meu


lado. — E até que algum médico diga que você está bem, você

fica de repouso.

Largo a porta da geladeira e cruzo meus braços sob meus

seios.

— Você nem tem certeza se o filho é realmente seu.

Odeio que minha voz falhe, eu poderia ser uma mentirosa

melhor.

— O filho que você espera é meu, Anne?

Pela forma como as palavras deixam a sua boca, ele não

tem nenhuma dúvida e olha em meus olhos me desafiando a

negar. Abro a boca para dizer que não, mas não consigo, mesmo
quando desvio os olhos dos seus não consigo negar.

— Se esse filho não fosse meu jamais teríamos tido aquela

conversa e você jamais teria ligado para mim, Anne.

Vira-se para a geladeira e seu olhar percorre pelos itens


nas prateleiras.

— Você não me conhece, eu posso apenas estar tentando

o manipular.

[15]
— O que você acha de uma salada Caesar e de um bife

grelhado de frango?
Ignora-me completamente.

— Pode ser.

Concordo, porque ele não parece alguém que irá desistir,

então me afasto dele e ocupo uma das banquetas altas que ficam

em frente à ilha presente no meio da minha cozinha.

Enquanto, ele cozinha, eu o observo.

Guilherme prepara a comida e para achar os utensílios

necessários acaba me perguntando onde estão, são as únicas

palavras e frases que trocamos. É estranho ter um homem se


movimentando pela minha cozinha, ainda mais um quase

estranho. Deus, eu vou ter um filho com um homem que não

conheço. E é na tentativa de descobrir mais sobre o homem à

minha frente que decido interromper o silêncio que existe entre


nós.

— Sua irmã deve ter tido uma péssima impressão sobre

mim.

Suspiro e ele só dá de ombros.

— Pietra é muito tranquila e tenho certeza de que ela

entendeu que a situação pela qual estamos passando pode nos

tirar um pouco do eixo.


— Ela é sua irmã mais nova?

— Sim, a ordem lá de casa é Pedro, Enrico, eu e Pietra. —

Responde-me sem olhar para mim, porque continua cortando as

alfaces. — E você tem irmãos?

— Não, sou filha única.

Não menciono Manuela, porque nós não somos irmãs.

— Eu gosto de ter irmãos.

É nítido o quanto ele está se esforçando para mantermos a


nossa conversa.

— Deve ser legal ter irmãos.

De repente minha boca fica seca e deixo a banqueta para


pegar um pouco de água no mesmo instante Enrico se vira em

minha direção com um olhar de repreensão.

— Você realmente deveria ficar quieta.

Ergo minhas mãos em sinal de rendição.

— Só vou pegar um pouco de água.

Balança a cabeça e larga as alfaces.

— Eu pego para você.


Volto a sentar e espero ele pegar um copo no armário e

uma jarra na geladeira, assim que tenho os objetos à minha


frente, olho em seus olhos enquanto coloco a água no copo.

— Obrigada.

Assente e volta a cortar as alfaces.

— De nada.

Voltamos a ficar em silêncio e é assim que permanecemos

até ele terminar de preparar o nosso almoço. Almoçamos um do

lado do outro e por mais que não troquemos nenhuma palavra

não é desagradável.

Sua companhia não é desagradável.

Quando terminamos, Guilherme retira as louças que

usamos e leva até a pia.

— Estava uma delícia.

Sorri, um sorriso de lado muito sexy. Jesus, porque ele é

tão lindo!?

— Sou ótimo na cozinha, princesa.

Reviro meus olhos.

— Você precisa parar de me chamar de princesa.

Segue sorrindo.
— Você precisa se acostumar, porque é assim que irei
chamar você.

Bufo irritada.

— A sorte é que não preciso conviver com você.

Desliga a torneira, seca as suas mãos no pano de prato e

fixa seus olhos nos meus.

— Quem disse que não?

Sorrio.

— Eu estou dizendo.

— Anne, eu não estou deixando meu filho.

Dou de ombros.

— Você nem mora aqui, Guilherme, aliás quando você vai


voltar para casa?

Desafio-o e ele apenas segue me encarando como se


tivesse tudo sob controle.

— Não sei.

— Como não sabe? Pelo amor de Deus, você não é o CEO


da empresa da sua família?
Essa é uma informação que tenho graças a Diana, ela me
disse que seu cunhado é um cafajeste, não morava na cidade e é
o CEO da empresa da família, ela estava tentando proteger meu

coração, mal sabe ela é que precisava proteger o meu útero.

— Não mais, desde hoje de manhã o cargo é da minha


irmã.

— O quê?

Praticamente grito, o que ele fez? O que ele está fazendo?

— Eu estava falando sério quando disse que se você


estivesse grávida tudo mudaria.

Encaro-o boquiaberta sem reação e totalmente surpresa.


Eu realmente não estava esperando por isso.

— Você não deveria ter feito isso.

Dá de ombros enquanto caminha em minha direção.

— Eu irei auxiliar minha irmã no que ela precisar daqui.

Gira a banqueta e me pega em seus braços.

— Hey, o que você está fazendo?

Grito e ele apenas caminha comigo em seu colo.

— Levando você para o quarto, porque você precisa


descansar.
Protesto durante todo trajeto até o meu quarto e ele
somente me ignora. Depois de me colocar sobre a minha cama
beija minha testa e se afasta.

— Irei ocupar o quarto ao lado qualquer coisa só gritar.

Sai e me deixa sozinha no quarto. Caralho, o que esse


homem pensa que está fazendo? Quem ele pensa que é para
invadir minha vida e meu espaço?

Uma parte minha quer levantar e o desafiar, a outra sabe


que devo ser prudente e realmente descansar. E é porque tenho

que pensar no bebê em minha barriga que tomo um banho


demorado, coloco meu roupão e me deito para um cochilo.

O cochilo demora mais do que previa e quando acordo está

anoitecendo. Minha vontade é continuar deitada, porém escuto


vozes e me levanto. Será que é Francesca? Ou um dos seus
irmãos?

Visto um vestido e deixo meu quarto. Estou descendo as


escadas quando escuto a sua voz. Não pode ser ela! Droga, o
que ela está fazendo aqui?

Meu coração acelera e meu peito aperta ao me dar conta

de que realmente é ela. Sigo o som das vozes e encontro


Guilherme conversando animadamente com minha mãe

— Mãe, o que você está fazendo aqui?

Vira-se em minha direção com um olhar de repreensão.

— Por que você não me contou que está noiva?


Capítulo 9

“O que é um arranhão pra quem já tá fudido?”[16]

Eu nunca pensei que ficaria com tanto medo de perder


alguém que sequer conheço como fiquei. Nunca quis um filho,

mas saber que ele existe mudou tudo e ver Anne chorando com
dor e sangrando foi terrível. Naquele momento, enquanto levava
Anne para o hospital, eu compreendi que faria tudo pela minha

filha, então quando o médico me explicou o que tinha acontecido


com Anne e dos cuidados que precisaríamos ter, eu soube que

não poderia ir embora, até mesmo porque depois de ver o quanto

Anne estava em pânico percebi que ela não conseguiria abrir mão

do bebê, assim como eu.


Enquanto estava sentado na poltrona ao lado da cama

onde Anne dormia enviei uma mensagem para Pietra. Minha irmã
trabalha ao meu lado e é a pessoa perfeita para ficar no meu

lugar.

Escolher entre a minha filha e a empresa foi fácil.

Mesmo quando Pietra veio até a casa de Anne para

entregar as minhas coisas que pegou no hotel não me arrependi

da minha escolha.

A parte mais difícil de toda essa situação será provar para

Anne que posso ser um pai. Sei que provavelmente ela foi
machucada pelo pai, talvez pelo pai e pela mãe e é diferente de

tudo que já vivi, meus pais são os melhores e tudo que eu

conheço é o amor. Quão profundas são as marcas deixadas pela

ausência dos pais?

Minha única certeza é que farei o possível para nunca

machucar o meu filho.

Nunca cozinhei para uma mulher, muito menos na sua

casa, mas apesar da nossa situação incomum não é

desagradável cozinhar para Anne, e ela até tenta conversar


comigo. Talvez, nós possamos realmente fazer isso funcionar.
Quando ela fala sobre irmãos sinto que há algo mais,
porém não a conheço o suficiente para perguntar qual é

realmente a sua história.

Almoçamos em silêncio e é óbvio que ela fica surpresa ao

saber que abandonei meu cargo de CEO, uma satisfação vibra

em meu peito por surpreendê-la.

Assim que termino de limpar o que sujei a carrego para seu


quarto, porque ela precisa descansar e não dou chance para ela

protestar quando informo que estou indo ocupar o quarto ao lado.

Ao deixar o seu quarto percebo que seu perfume está

impregnado na minha camisa, deve ser por causa do tanto que a

carreguei em meus braços nas últimas horas, sorrio da minha

constatação e é sorrindo que desço para buscar a minha mochila.

Antes de pegar a mochila que deixei jogada no hall de

entrada, aproveito que estou sozinho para observar a sua casa. É

uma casa grande, mas aconchegante, com muitos quadros e

porta-retratos espalhados pelos cômodos, os móveis e objetos

são claros com exceção da cozinha que é preta com


eletrodomésticos em inox.
Na sala há muitas cortinas, então abro uma delas e

encontro paredes de vidros e um jardim incrível, a casa está no


alto e há uma piscina de borda infinita no fundo o que permite

uma visão da cidade a quem estiver utilizando-a. Há muitas


plantas e flores, Anne gosta de flores.

Fecho novamente as cortinas e pelos próximos minutos me


concentro nos porta-retratos, há muitas fotos de viagens, encontro
algumas com o que devem ser amigos e com uma senhora, como

elas têm os mesmos olhos e sorriso aposto que é a sua avó.

Pego um porta-retrato que está sobre uma lareira, é uma

imagem dessa senhora e de uma Anne criança. No mesmo


instante que meus olhos passeiam pela foto uma garotinha muito
parecida com Anne ecoa em minha mente, o mesmo sorriso e os

mesmo olhos.

Coloco o objeto no lugar e suspiro. Caralho, eu vou ter uma

filha.

Porque posso não conhecer Anne, mas é nítido em seus

olhos o quanto não sabe mentir, aliás seus olhos são totalmente
expressivos e ela tem certeza de que esse filho é meu. E mesmo

que eu tivesse dúvidas todas elas foram para o espaço com a


nossa conversa naquela noite e com a sua ligação, ela jamais

ligaria para mim se realmente não fosse o pai do seu bebê.

Finalmente, pego minha mochila e subo para o quarto ao

lado do seu, é um alívio que tenha um banheiro no quarto, então


apenas pego minha toalha e vou para o banho.

Enquanto a água cai sobre meu corpo, tudo que aconteceu


nas últimas horas ecoa em minha mente. Como tudo mudou em
um dia? Eu descobri que serei pai, deixei de ser um CEO e estou

invadido a casa da mãe do meu filho, porque duvido que Anne


tenha compreendido que estou me mudando para sua casa.

Não consigo visualizar meu futuro, é como se estivesse me


jogando em um buraco escuro e mesmo assim não estou com

medo.

Procuro por algum receio dentro de mim e não encontro.

Essa não é a vida que eu planejei, nunca quis nada disso, por que
não estou em pânico? Por que não estou lamentando a vida que

estou deixando para trás?

O que farei com o meu cargo na empresa? Pietra

concordou em assumir apenas por um tempo, sei que minha irmã


tem suas próprias questões. E a solidão que tanto prezava? E as
mulheres em minha cama? E a minha liberdade? O prazer de
viver sem amarras?

Um vazio ecoa em meu peito, não por estar sentindo falta


do que estou abandonando, mas porque não há sentimentos, não
há saudade, ou desespero por tudo estar prestes a mudar.

Será que eu realmente amava a vida que tinha escolhido


para viver?

Não chego a nenhuma conclusão enquanto estou no


banho, e assim que saio do banheiro vestindo apenas uma toalha
ao redor da minha cintura decido ignorar todas minhas dúvidas e

viver como sempre vivi. Um dia de cada vez e aproveitando ao


máximo a minha vida. Mesmo que esse máximo a partir de agora

seja trocando fraldas e embalando um bebê em meus braços.

Retiro as minhas roupas da mochila e as jogo sobre a

cama, ao me deparar com as poucas peças de roupas, faço uma


careta.

— Caralho.

Eu preciso lavar as peças que estava usando e comprar


outras urgentemente, talvez alguém da minha família possa me
enviar as minhas roupas, porém irão demorar alguns dias para
chegar. Eu terei que fazer compras.

Visto as roupas que ainda tenho e com as que estava


usando em mãos saio do quarto, caminho em direção às escadas,
porém me detenho assim que passo pela porta do seu quarto,

será que ela está bem? Não resisto e bato na porta, como ela não
me responde abro-a e me deparo com Anne dormindo, observo-a
por alguns segundos e é somente quando tenho certeza de que

ela está bem que me afasto.

Sigo para a lavanderia e coloco as minhas roupas para


lavar, em seguida vou para sala e me sento no sofá, confiro

alguns e-mails no celular, mas como é fim de semana não há

muito o fazer e responder. Estou entediado e por esse motivo ligo

para uma livraria, a do shopping que está aberta, e faço o pedido


de alguns livros, como ofereço uma boa quantia de dinheiro

consigo convencê-los a me entregarem a compra.

Enquanto espero pelos livros abro as cortinas e fito a


piscina, seria incrível transar em um lugar assim, à noite, ou ao

pôr do Sol, no mesmo instante imagens minha e de Anne surgem

em minha mente, ela com as costas apoiadas contra os azulejos e


as pernas ao redor da minha cintura... Droga, caralho, não posso

ter esse tipo de pensamento com a mãe da minha filha.

Respiro fundo, afasto-me do vidro e caminho pela sala

tentando pensar em qualquer outra coisa. Como será que meus

pais irão reagir quando souberem que terei um filho? Como seria
transar com Anne sem camisinha? Afinal ela já está grávida.

Fecho meus olhos, será que consigo trabalhar daqui? Ou deveria

procurar um emprego? Como será que Anne ficaria em um

biquíni?

— Porra, Guilherme, foco.

Ligo a televisão e escolho um canal de esporte, um jogo de

futebol irá conseguir me distrair e para meu alívio consigo me


concentrar no jogo e esquecer Anne.

O goleiro de um dos times é um frango e deixa que o time

adversário faça um gol pelo meio das suas pernas, resmungo o

xingando, em outra situação estaria gritando, mas Anne está


dormindo e não a quero acordar e é tentando evitar que algo a

perturbe que quando o interfone toca corro até ele e o atendo o

mais rápido que posso.

São os meus livros.


Assim que pego os oito livros com o entregador e me

despeço dele com uma boa gorjeta volto para sala e retiro a

minha encomenda das embalagens, eu os folheio enquanto


termino de assistir ao jogo. Quando o juiz apita o fim da partida,

sento-me no chão e começo a ler um dos meus novos livros.

Estou entretido na minha leitura quando mais uma vez o

som do interfone ecoa pela casa, depressa, eu fico em pé e corro


até o aparelho, no caminho inclusive bato meu dedinho em um

dos móveis, mesmo assim não paro.

— Caralho.

Espero que Anne não acorde, porque eu quase perdi meu


dedinho tentando evitar que algo a perturbasse. Sem olhar para a

pequena tela que mostra a imagem do portão retiro o interfone do

gancho e levo-o até a minha orelha.

— Oi.

— Quem é? Eu quero falar com a Anne.

Faço uma careta e olho para a tela.

— Anne está ocupada no momento, quem gostaria de falar


com ela?
Estreito meus olhos e me deparo com uma mulher vestindo

uma roupa elegante, bem maquiada e que deve ter mais de


quarenta anos, talvez quase cinquenta.

— Sou eu, Cecília.

Acho que eu deveria saber quem é ela. Observo-a mais


atentamente e me dou conta que ela tem o mesmo formato e cor

dos olhos de Anne, ela só pode ser a sua mãe.

— Claro, irei abrir o portão.

Devo deixar sua mãe entrar, não é? Aperto o botão para


abrir o portão e me dirijo para a porta, assim que a abro deparo-

me com uma mulher com uma expressão esnobe em seu rosto.

Não deveria julgar as pessoas pela aparência, mas ela

parece aquelas socialites muito esnobes e chatas do tipo que


acreditam ser melhores que todos, porque têm dinheiro. Conheço

muitas delas dos eventos organizados pela minha mãe.

Conforme se aproxima seu olhar percorre meu corpo e um


brilho de reconhecimento surge em seus olhos.

— Você é Guilherme Barbieri, não é?

Sorri, um sorriso falso e interesseiro, sei reconhecer a sua

intenção, porque não é a primeira vez na vida que me deparo com


algo assim.

— Eu mesmo.

Para à minha frente e curva seu corpo, sem alternativa a

cumprimento com três beijinhos no rosto.

— É um prazer conhecer você, Guilherme.

Soa animada e apenas sorrio gentilmente.

— O prazer é meu, Cecília?

Assente e faço gesto para que entremos, e assim que ela


passa por mim, vira-se em minha direção com uma ruga em sua

testa.

— Você está namorando a minha filha? — Abro a boca


para negar, mas ela é mais rápida. — É óbvio que não.

Sorri e se vira caminhando do hall para a sala, sigo-a e

escuto tudo que ela está dizendo sobre Anne.

— Anne jamais conseguiria conquistar alguém como você

e eu sinto muito, porque eu tentei ensinar aquela garota, mas ela


é rebelde e preferiu ser uma mulher promíscua, que homem quer

casar uma mulher assim? Ainda mais você, rico e influente.

Odeio a forma como fala de Anne e mais de uma vez, tento


defendê-la, mas a maldita da sua mãe não cala a boca.
— Você precisa de alguém que irá preservar o seu nome,

ser a esposa perfeita e a mãe ideal para seus herdeiros, alguém


como Manuela.

Para no meio da sala e olha em minha direção com uma

expressão desolada em seu rosto.

— É uma lástima que minha outra filha esteja noiva de


Hugo, ele é filho de um senador e tenho certeza de que seguirá a

carreira do pai.

Como assim outra filha? Por que Anne disse que é filha
única?

— Porém, conheço algumas moças de ótima índole que

posso apresentar a você e garantir que todas são diferentes da

minha filha.

Ela fala com tanto desprezo da filha, um desprezo que

explica a dor nos olhos de Anne. Uma raiva ecoa em meu peito e

não sei o que estou fazendo e nem que merda tenho na cabeça,

mas abro minha boca e digo algo que jurei nunca dizer na vida.

— Na verdade, nós estamos noivos.


Capítulo 10

“Eu tô envolvidão
Logo eu que pensava só em sacanagem”[17]

Arregala seus olhos e abre e fecha sua boca sem saber o


que falar. Sorrio satisfeito era isso mesmo que eu queria, só não

deveria ter mentido, o que diabos eu faço agora? Não posso dizer

que é mentira, porque isso seria péssimo para Anne,


provavelmente essa escrota que ela chama de mãe iria

menosprezar ainda mais a filha.

Podemos enganar sua mãe por um tempo, não é? E não

deve ser tão difícil, nós vamos ter uma filha juntos, o que pode dar

errado?

Merda, tudo pode dar errado. Anne irá me matar.


— Você está falando sério?

Estreita seus olhos e me analisa, ela está procurando por

um sinal de que estou mentindo. Ela realmente acredita que a

filha não possa estar com alguém como eu, pelo amor de Deus,
minha reputação é horrível. Eu conversei menos de dez minutos

com essa mulher e já a odeio.

— É claro.

Sigo mentindo e meu peito aperta. Porra, o que foi que eu

fiz? Como vou sair dessa? Eu tenho trinta e seis anos deveria ser

mais esperto.

— Irei adorar saber como se conheceram, que tal preparar

um café para nós dois?

Senta-se no sofá e me observa. Ela está tentando


descobrir se serei capaz de achar as coisas para preparar um

café, porque quer ter certeza de que Anne e eu estamos nos

relacionando.

Maldita.

— Claro.

Sorrio e dou as costas para a mulher detestável. Caminho

para a cozinha tentando recordar onde estão as coisas


necessárias para preparar um café, posso ter cozinhado mais
cedo, mas porra foi uma única vez.

Ainda bem que minha memória é ótima e consigo me virar


bem, não demoro muito para ter duas xicaras, um pote com

açúcar e um bule com café sobre uma bandeja. Retorno para a

sala e me deparo com a mãe de Anne folheando um dos meus

novos livros.

— É por isso que está com ela?

Fecha o livro que tem em mãos e olha para mim com uma
expressão vitoriosa em seu rosto. Antes de respondê-la deixo a

bandeja sobre a mesa de centro ao lado dos livros. O que eu

falo? Mentir não é uma boa opção, mas quais são minhas outras

alternativas?

Sorrindo me viro para a mulher.

— Não, esses livros são para o meu irmão. — É uma

mentira? Sim, mas poderia ser verdade, porque Pedro e Alexa

estão prestes a ter um filho. — Com açúcar?

— Não, açúcar estraga o café. — Contenho a vontade de


revirar meus olhos e apenas derramo o café em uma xicara e a

entrego para a avó da minha filha. — Obrigada.


Assinto e sirvo a outra xicara com café e açúcar, assim que

tenho meu café em mãos, sento-me ao seu lado.

— Espero que esteja ao seu gosto.

Sorri e assente.

— Ótimo, mas não é café o ramo da sua família, não é?

Vocês plantam soja?

Bebe um pouco do líquido em sua xicara enquanto mantém

os olhos fixos em mim.

— Sim, mas não é o nosso principal produto, nosso

principal ramo é a pecuária.

Seus olhos brilham como se realmente estivesse


entendendo tudo que estou falando.

— Seu irmão mais velho tem uma fazenda nos arredores


da nossa cidade, não é?

Bebo um pouco do meu café para ganhar tempo e demorar


um pouquinho para respondê-la, eu não suporto mais conversar

com essa mulher.

— Sim, Enrico possui uma fazenda aqui.

— Eu fiquei sabendo que ele está namorando.

Como ela sabe tanto sobre a minha família?


— Na verdade, ele está noivo.

Deixa a xícara sobre o pires e cruza suas pernas. Tudo


nela soa tão falso.

— Como primeira-dama, sempre sei tudo sobre a cidade e


seu irmão é um dos principais produtores da região, além de ter

negócios com os Medeiros, então assim que ele chegou à cidade


pesquisei tudo sobre ele e sua família.

Tento não parecer surpreso com o fato da mãe de Anne ser


a mulher do prefeito, porque afinal é algo que saberia se
realmente fôssemos noivos.

— E costumo me manter informada sobre as pessoas e


famílias de prestígio.

Acho que ela está elogiando minha família e por esse


motivo sorrio.

— Fico lisonjeado em saber que aprecia minha família.

Não poderia me importar menos com a sua opinião.

— Ótimo, mas mudando de assunto como você conheceu


a minha filha?

Olha em meus olhos mais uma vez está procurando por


algo que indique que não tenho nada com Anne. Estou prestes a
contar como realmente nos conhecemos, essa parte não preciso
mentir ou omitir, porém a voz de Anne nos interrompe.

— Mãe, o que você está fazendo aqui?

Droga, Anne irá me matar. E tenho certeza de que é isso


que irá fazer quando sua mãe se vira em sua direção com um

olhar de repreensão.

— Por que você não me contou que está noiva?

Rapidamente, viro-me para Anne, ela está sem reação


nenhuma, quando enfim compreende as palavras da mãe suspira.

— Não estou noiva.

Sua mãe sorri vitoriosa enquanto Anne caminha em nossa


direção. Anne com certeza não precisa de alguém para ser feliz,

mas sua mãe acredita que sim e acredita que Anne não é capaz
de compartilhar a vida com alguém. Jesus, a mulher é uma

megera.

— Não precisa mais esconder nosso relacionamento,

princesa, eu acabei contando para sua mãe que estamos noivos.

Anne está passando por nós para ocupar a poltrona que

fica ao lado do sofá, porém seguro seu pulso e a faço se sentar


sobre minhas pernas. No mesmo instante que a tenho em meu
colo um arrepio percorre meu corpo. Anne se vira e seu rosto fica
a centímetros do meu.

— Guilherme, o que diabos você está fazendo?

Tenta sair do meu colo, mas levo minhas mãos até suas
costas e a impeço.

— Querida, não precisamos mais fingir.

Olha-me com raiva e ergo minhas sobrancelhas.

— Quem diria que você conseguiria encontrar alguém,


Anne.

A voz da insuportável interrompe nossa conversa

silenciosa e suas palavras desencadeiam algo em Anne, porque a


expressão em seu rosto muda e quando olha para o lado encara

a sua mãe com desdém e ódio.

— Pois é, eu encontrei.

Espalma as mãos em meu peito e se aproxima ainda mais


de mim. Tê-la tão perto faz com que sinta seu perfume e meu

coração acelera. Minha boca fica seca e minhas mãos estão

completamente rígidas em suas costas.

— É por isso que não respondeu minhas mensagens e


nem atendeu as minhas ligações?
Por alguns segundos, empenho-me em manter minha

respiração normal e não pensar na noite que dividimos cada vez


que sinto o seu perfume.

— Também.

A forma como Anne é rude chama minha atenção e


finalmente consigo me controlar, então volto a observar as duas.

— Filha, antes de você nos interromper Guilherme estava

prestes a me contar como vocês se conheceram.

Sorri e simplesmente ignora o claro sinal de que Anne está


chateada com ela. Cada minuto que eu passo na presença dessa

mulher meu desprezo por ela aumenta.

— Guilherme é irmão do noivo de uma amiga.

O sorriso se desfaz e franze a sua testa.

— Você é a amiga da namorada de Enrico Barbieri? — A

sua expressão de surpresa não demora a ser substituída por

arrogância. — É claro que ela é sua amiga, lembrei que ela é


apenas uma veterinária, muito esperta ela por sinal.

Odeio a maneira como sorri debochada e raiva vibra em

meu peito. Ninguém ofende ninguém da minha família e Diana faz

parte dela, ninguém a chamará de interesseira.


— Peço que não ofenda a minha cunhada, ou serei

obrigado a pedir para que vá embora da minha casa.

A idiota sequer pisca.

— Sua casa?

É claro que ela só escuta o que convém.

— Estou morando aqui.

Encara Anne indignada.

— Vocês estão morando juntos antes de se casar?

Como Anne pode suportar uma mãe dessas?

— Mãe, isso não é um problema seu.

Sorri, um sorriso que finge ser amável.

— Eu só quero seu bem, querida.

Anne não permite que a mãe consiga intimidá-la e sorri, um

sorriso mais falso que nota de três reais e preciso me conter para

não rir.

— Como pode ver estou ótima.

Mais uma vez, ignora a filha e volta sua atenção para mim.

— E há quanto tempo estão juntos?

Com meu dedo traço um seis nas costas de Anne.


— Seis meses.

Dizemos juntos e Cecília apenas assente.

— E como foi o pedido de casamento?

Anne olha para mim e entendo que eu devo inventar e

contar como foi o nosso pedido de casamento. Tenho que ser

rápido e elaborar algo digno de um filme de comédia romântica


para impressionar a insuportável da sua mãe.

— Em uma viagem para Veneza[18], enquanto cruzávamos

os canais da cidade de gôndolas.[19]

Enquanto conto a mentira visualizo apenas nós dois em

uma pequena embarcação e eu ajoelhado fazendo o pedido.

Seria algo totalmente romântico.

— E você usou um anel?

Caralho, é um interrogatório?

— É claro.

Utilizam-se anéis em pedidos de casamento, não é!?

— Mostre-me seu anel, Anne, estou curiosa para saber se

Guilherme tem um bom gosto.

Droga.
— Infelizmente, esqueci no ateliê.

Anne mente, porém noto que desvia os olhos da mãe ao

fazer, será que ela sempre faz isso ao mentir?

— Não se retira um anel de noivado do seu dedo, Anne,


você realmente não aprendeu nada comigo?

Anne somente suspira.

— Bom, mãe, obrigada pela visita, mas Guilherme e eu

temos um compromisso, você pode se retirar?

Não parece nem um pouco perturbada com a forma que

Anne claramente a está expulsando e somente fica em pé com

sua pose soberba e arrogante.

— Claro, vocês me acompanham até a porta?

Anne assente e se levanta do meu colo. Sinto a ausência

do seu corpo contra o meu, porque foi agradável tê-la por perto.

As duas seguem para a porta. Eu deixo o sofá e as


acompanho. Nenhum de nós fala nada e somente Cecília se vira

para nós quando Anne tem a porta aberta.

— Espero vocês no jantar de ensaio do casamento da sua

irmã na quarta-feira.
E assim sem se despedir ela sai, nós dois observamos a

insuportável caminhar pelo caminho de pedrinhas brancas até o


portão e é só ela passar por ele e fechá-lo para que Anne se vire

em minha direção.

— Que merda é essa de que estamos noivos?

Dou de ombros.

— Desculpe, mas sua mãe é insuportável e precisei mentir.

Revira seus olhos.

— Você precisou mentir? Caralho, Guilherme, a

insuportável da minha mãe acha que estamos noivos.

Afasta-se da porta e caminha pelo hall de entrada de um

lado para o outro.

— Sinto muito, e não quero relatar o que ouvi, só que não


poderia deixar ela falar de você como estava falando.

Para e me encara com um olhar que não consigo decifrar.

— E agora, o que faremos? — Cruza os braços sobre os

seios. — Como vamos desfazer essa mentira?

Fecha seus olhos e suspira.

— Ela irá ser um pesadelo quando descobrir que nunca

estivemos noivos, Guilherme.


Abre seus olhos e a fragilidade em seu olhar faz com que
meu peito aperte.

— Ela não precisa saber.

Ergue suas sobrancelhas.

— O que você está sugerindo?

Aproximo-me de Anne determinado a fazer com que as

sombras de tristeza em seus olhos sumam, nesse momento, seria

capaz de qualquer coisa por ela.

— Vamos fingir para sua mãe que estamos noivos Anne,

vamos deixá-la acreditar que estamos loucamente apaixonados.


Capítulo 11

“E você diz que não é merecedora


Fica presa em suas falhas
Mas, ao meu ver, você é perfeita como você é”[20]

Encaro o homem à minha frente e sorrio, um sorriso sem

humor.

— Você está louco.

Dá de ombros como se a ideia de fingirmos estarmos

noivos não fosse um absurdo.

— Não, acho que é uma ótima ideia. — Viro-me de costas


para o maluco e caminho em direção à cozinha. — Estou falando

sério, Anne, podemos fingir e depois de um tempo simplesmente

dizemos que não funcionamos juntos.


Suspiro, eu fui dormir e de repente o pai do meu bebê

mentiu para minha mãe, a insuportável Cecília Almeida que ama


jogar na minha cara o quanto a sua enteada é muito melhor que

eu.

— Ótimo e vou ouvir o resto da vida o quanto sou tão

insuportável que meu noivo me abandonou.

Droga, por que não acabei com essa mentira quando tive

chance? Claro, porque ouvir os insultos da minha mãe


desencadeou o pior de mim, ódio e raiva e por um momento eu

quis vencer.

Caralho. E agora jamais irei vencer, porque quando ela

descobrir será terrível, posso inclusive imaginar seus insultos, “se

tivesse aprendido comigo ele jamais teria lhe abandonado”, “você

é tão sem graça que ele não aguentou”, “você deveria ter se

empenhado mais”.

— Vamos dizer que foi você que me largou.

Olho para trás ao ouvir sua voz.

— E ela irá me chamar de burra o resto da vida.

Olho em frente e entro na cozinha.

— Desculpe fazer essa bagunça.


Ele realmente parece arrependido. O problema é que o
arrependimento não irá me tirar dessa situação. Paro no meio da

cozinha e quando olho em sua direção, ele está com o corpo

apoiado na parede e há uma expressão pensativa em seu rosto.

— Por que você disse para minha mãe que nós estamos

noivos?

Faço a pergunta que tem ecoado em minha mente desde


que ele me incentivou a continuar mentindo para minha mãe.

Guilherme encolhe seus ombros e desvia os olhos dos meus.

Provavelmente, Cecília deve ter me insultado como sempre faz.

— Ela chegou aqui e perguntou se eu era seu namorado, e

ela mesma respondeu que não e começou a insultar você, em

seguida falou do quanto sua irmã é perfeita e preciso de uma

mulher como ela, porém ela está noiva, e por fim se ofereceu para

encontrar a mulher perfeita para mim. — Nenhum dos seus

insultos me surpreende, entretanto, ainda assim é vergonhoso


que uma outra pessoa os tenha escutado. — Não suportei vê-la

insultar você e acabei dizendo que estávamos noivos, foi algo

totalmente sem pensar, só que, caralho, Anne, ela estava agindo

como se fosse impossível você estar com alguém como eu.


Suas palavras fazem com que meu coração bata de uma

maneira diferente. Ele mal me conhece e me defendeu, de uma


forma totalmente errada, mas me defendeu.

— Sinto muito que tenha ouvido o que ouviu. — Ele volta a


olhar em meus olhos e a intensidade que há nos seus faz com

que uma sensação estranha se instale em minha barriga. — Mas


não precisava ter me defendido, já estou acostumada com os
seus insultos.

Antes que seja consumida pelo seu olhar viro-me de


costas.

— Ela é uma mãe terrível, Anne.

Apesar de estar de costas para Guilherme sigo sentindo

seu olhar sobre mim.

— Eu sei.

— É por isso que tem receio em ser mãe?

Não o respondo de imediato, embora saiba a resposta, ela

está aqui na ponta da minha língua. A questão é, eu realmente


quero falar sobre isso com ele? Os prós e contras ecoam em
minha mente enquanto pego as coisas necessárias para um

sanduiche na geladeira, quando coloco tudo que preciso sobre o


balcão chego à conclusão de que não há um motivo para

esconder o quanto meus pais me machucaram durante a vida.

— Sim, meus pais foram terríveis, Guilherme.

Ele vem até mim e senta-se na banqueta que há no outro


lado do balcão ficando à minha frente.

— Eu sinto muito. — Assinto sem saber o que falar. — Mas


sendo sincero acredito que você será uma mãe incrível.

Olho em seus olhos tentando encontrar algo que prove que


apenas está tentando ser legal, mas ele realmente parece

acreditar nas palavras que acabaram de sair da sua boca.

— Você me conhece há um dia, como pode acreditar em

algo sobre mim?

Dá de ombros.

— Eu vi como antes de pensar em você, você pensou no

bebê, e ontem quando achava que o estava perdendo você


estava totalmente desesperada, pode não acreditar, mas já é uma

mãe muito melhor que a sua.

Lágrimas se acumulam em meus olhos e preciso olhar para

cima para não as deixar descerem pelo meu rosto.

— Essa emoção toda é culpa dos hormônios.


Ele somente sorri e enquanto tento controlar as minhas
emoções ele pega o pão e começa a preparar nossos
sanduiches. Assim que as lágrimas desaparecem preparo um

suco e quando tudo está pronto sento-me ao seu lado e


compartilhamos uma refeição em silêncio.

Ao terminar olho para o lado e limpo minha garganta, há


um assunto que precisamos conversar.

— Guilherme. — Olha em minha direção ao me ouvir

chamá-lo. — Sei que já conversamos sobre isso, mas quero


deixar claro que tenho certeza de que você é o pai do meu filho.

Não demostra qualquer reação e engulo em seco.

— Eu não costumo transar sempre. — Sinto meu rosto

esquentar, droga, estou ficando vermelha. — Só às vezes,


quando realmente faz muito tempo, porque tentava transar o

menos possível para evitar uma possível gravidez, naquela noite


fazia um ano que não transava com ninguém.

É vergonhoso assumir que por medo de engravidar


transava pouco e irônico. Mesmo evitando transar, usando

anticoncepcional e camisinha acabei engravidando e em uma


única noite.
— Você fica adorável corando.

Guilherme sorri, ignora tudo que eu falei e está sorrindo.

— Sério que enquanto eu estava falando você estava

prestando atenção no quanto estou vermelha?

É óbvio que estou indignada, contei algo super íntimo e ele

ignorou completamente.

— Como já disse, eu sei que sou o pai.

Dá de ombros. A expressão em seu rosto é tranquila e sem


nenhum sinal de incertezas.

— Sabe, eu acho que você ainda está em choque com a

notícia e quando realmente se der conta do que está acontecendo


sairá correndo.

Não é possível que ele esteja lidando tão bem com tudo.

— Anne, eu realmente sei o que está acontecendo. —

Aproxima-se de mim tornando o espaço entre nós minúsculo. —


Nós vamos ter uma filha e eu farei de tudo por ela.

Sua respiração em meu rosto e o seu perfume dominando

o meu espaço faz com que fique um pouco zonza. Preciso dar um

pulo e deixar a banqueta para me recuperar e conseguir pensar


com clareza.
Ele apenas me observa como se estivesse tentando

entender o porquê da minha reação. Ter Guilherme por perto é


um perigo, ele faz meu corpo despertar. Foi assim quando me

puxou para seu colo e foi assim agora. Não sei lidar com a sua

proximidade e por isso pego os copos que sujamos e os levo para


a pia.

Enquanto lavo o que sujamos Guilherme segue me

encarando. Respiro fundo e penso sobre algo que possa

interromper esse silêncio estranho em que estamos.

— Por que você sempre fala filha?

Ele abre e fecha a boca alguma vezes e sorrio da

expressão surpresa que toma conta do seu rosto.

— Eu não sei.

Ergo minhas sobrancelhas.

— Então, você chama nosso bebê no feminino sem

querer?

Segue surpreso.

— Acho que sim, quer dizer só imagino uma garotinha, não

tinha percebido que eu estava fazendo isso. — Ele está chocado

e é impossível não sorrir. — Por que você está rindo de mim?


Mordo meu lábio para parar de rir.

— Porque você está surpreso por perceber que se refere

ao bebê no feminino.

Encara-me assustado.

— Imagina se for um menino e ele me odiar, porque o

chamava de filha.

Ele realmente parece estar com medo e preciso morder

meu lábio ainda mais forte para não sorrir e quando enfim consigo
me controlar aponto meu dedo em sua direção.

— Respeite o meu filho que ele não terá uma

masculinidade frágil.

Guilherme segue perturbado e enquanto termino de lavar a

louça ele guarda as coisas que utilizamos. Algumas vezes, olho

em sua direção e ele continua um tanto transtornado. Assim que


finalizo, desligo a torneira e apoio minha bunda contra o balcão.

— Então, você acha que será uma menina?

Guilherme para de passar o pano no balcão e olha em

minha direção.

— Não sei, mas é uma garotinha que visualizo quando


penso no nosso bebê.
Assinto e no mesmo instante a imagem de uma garotinha

ecoa em minha mente.

—Talvez seja seu instinto paterno.

Ele sorri e dá de ombros.

— Talvez.

Por alguns segundos, apenas nos olhamos em silêncio.


Não é algo desagradável. É só estranho, porque é como se

estivéssemos compartilhando algo.

Quando tudo se torna demais desvio o olhar do seu e dou

um passo em frente.

— Vou ficar um tempo no jardim.

Ele assente e deixo a cozinha. Pela porta lateral que fica

entre a sala e cozinha saio para o jardim, cruzo o gramado e me


sento em uma espreguiçadeira em frente à piscina.

A noite está começando e o céu está em um tom

alaranjado. Observo o Sol se pôr enquanto meus pensamentos

são uma confusão. Em menos de uma semana tudo mudou.

Faz seis dias que estava estressada porque o cronograma

do meu trabalho estava atrasado e agora o cronograma da minha


vida está uma bagunça. Todos meus planejamentos precisam ser

refeitos.

No automático levo minhas mãos até a minha barriga e a

acaricio. Minha vida toda irá mudar e uma outra pessoa irá
depender de mim.

Suspiro. Ainda não conversei com Francesca, sequer

respondi as últimas mensagens que recebi da minha amiga,


porém preciso fazer e avisar que preciso de uns dias trabalhando

em casa, e talvez precise de uns dias de folga, tudo dependerá de

como o bebê estiver.

Meu cronograma será refeito a partir de outra pessoa


desde já.

É um pouco assustador, mas estou feliz que ele esteja

aqui, depois de ontem tenho certeza de que se acontecesse

qualquer coisa com ela eu ficaria destruída.

Sorrio ao me dar conta de que pensei no bebê como ela.

Acho que Guilherme está certo, é uma garotinha.

— Aqui é um bonito lugar.

Viro-me para o lado e me deparo com Guilherme sentado

na espreguiçadeira olhando em frente, encarando a vista. Quando


meu pai me deu essa casa de presente sabia que não poderia

recusar, porque essa vista é maravilhosa.

A casa está no alto como se estivesse sobre uma

montanha possibilitando enxergar parte da cidade e à noite é um

festival de luzes, além de parecer ser possível tocar as estrelas

daqui.

— Eu amo esse lugar.

Assente e olha em minha direção.

— Sabe, eu estava pesando e a ideia de fingirmos não é

tão ruim, porque vamos ter um bebê juntos de qualquer maneira.

Sorrio, porém não é sorriso engraçado, ele é um tanto

triste.

— Minha mãe irá perceber e de qualquer forma irá me


atormentar.

Dá de ombros.

— Melhor ela te insultar por ter me abandonado, do que

porque precisou mentir que estava noiva.

Guilherme tem razão, Cecília irá ser cruel se souber que

terminei com ele, porém se descobrir que mentimos será mil

vezes pior, serei uma chacota, aquela que precisou mentir que
tem um noivo, quase um atestado de mentirosa porque nunca
conseguiria um feito desses.

— E o que você ganha com essa farsa?

Seus olhos brilham.

— Eu só quero uma chance.

Ergo minhas sobrancelhas.

— Uma chance?

Sorri.

— Sim, quero que você me dê uma chance para provar

que não sou quem exatamente você pensa que eu sou, quero que

você se permita me conhecer, ignore todos seus pré-conceito e

me dê uma chance — Aproxima-se até que suas pernas toquem a


minha. — Mais que isso, Anne, quero que nós sejamos amigos, o

que você acha?


Capítulo 12

“Não, não tenha medo que eu vá te amarrar


Mas eu preciso de um pouco mais”[21]

Engulo em seco e o encaro sem ter uma resposta. Será


mesmo que fingir algo é uma boa solução? Deus, parece um

péssimo caminho.

— Nós vamos ter um filho juntos e devemos ser amigos.

Ele insiste e fecho meus olhos. Uma parte em mim, aquela

racional, sabe que não posso julgá-lo com base no meu pai,
porém é tão difícil.

— Não quero pressioná-la, mas quando digo que estarei

aqui, eu estou falando sério, Anne. — Deixa sua mão sobre minha
perna. — Eu não vou abandonar a minha filha e sempre estarei
na sua vida a partir de agora, portanto realmente é melhor que

nós sejamos amigos.

Abro meus olhos e me deparo com os seus, a

determinação que enxergo neles faz com que acredite em


Guilherme, não cem por cento, porém não significa que não

possa vir a acreditar. Ele está certo, podemos ser amigos e posso

dar-lhe a chance de me provar que é diferente de tudo que estou


supondo a seu respeito.

— Nós podemos ser amigos, mas realmente não

precisamos fingir que estamos noivos.

Dá de ombros.

— Você que sabe, mas se precisar fingir estou aqui.

Aperta o meu joelho e afasta a sua mão. Onde ele me


tocou segue formigando. Respiro fundo e ignoro a sensação que

percorre meu corpo.

— Eu me lembrarei disso.

Sorrio e ele faz o mesmo, então desvio meus olhos dos

seus e encaro a vista à minha frente. Ficamos algum tempo em

silêncio enquanto observamos as estrelas aparecerem no céu e


as luzes brilharem lá embaixo.
— Por que você disse que não tinha irmãos?

É claro que uma hora ele me faria essa pergunta já que

minha mãe fez o favor de mencionar Manuela.

— Ela não é minha irmã, ela é filha do marido da minha

mãe, nós somos da mesma idade e minha mãe a adotou quando

se casou com o seu pai.

Não me viro para Guilherme e as lembranças ecoam em

minha mente.

— Filha do prefeito?

Assinto.

— Sim, quando tinha dez anos minha mãe se casou com o

prefeito, eu fiquei com a minha avó, porque ele não queria que a
nova mulher levasse a filha para morar com eles. — Suspiro. —

Minha mãe me abandonou e foi ser a mãe de Manuela.

Manuela nunca foi meu real problema, mas ela teve a mãe

que eu nunca tive.

— Eu odeio cada vez mais a sua mãe.

Sorrio e balanço a cabeça.

— Ela não merece que sinta raiva dela, porque ela não

merece que você sinta algum sentimento por ela.


— Sei que não é da minha conta, mas por que você

continua mantendo contato com ela?

Ele faz a pergunta que sempre me faço.

— Não sei, acho que é porque ela é minha mãe.

Voltamos a ficar em silêncio e quando olho para Guilherme

depois de alguns minutos para falar que estou ficando com frio e
irei entrar deparo-me com seu olhar em mim.

— O que você está olhando?

Apenas balança a cabeça e passa a mão pelos fios do seu

cabelo.

— Nada, você só está muito bonita. — Coro e ele sorri. —


Volto a dizer que você fica adorável corando.

Reviro meus olhos e fico em pé.

— Estou entrando.

Ele também deixa a espreguiçadeira.

— Eu vou com você.

Sigo para dentro com Guilherme logo atrás de mim e assim


que entramos no espaço que separa sala e cozinha, viro-me para

ele.

— Você pretende ir embora que horas?


Ergue suas sobrancelhas.

— Ir embora?

Dou um passo para trás mesmo de costas.

— Sim, não que esteja expulsando você nem nada, mas


você sabe a cidade está perigosa.

Na verdade, eu o estou expulsando sim, tudo bem que


vamos ser amigos, mas preciso da minha privacidade de volta.

— Eu não estou indo embora.

Abro a boca e o encaro indignada.

— Como assim, não vai embora?

Dou um passo para trás e Guilherme dois para a frente.

— Não tenho um apartamento na cidade, meu irmão mora


longe, hotéis são caros e seu quarto de hóspede é ótimo. — Dá

mais um passo em frente ficando a centímetros de mim. — Além


do mais você precisa de mim aqui.

Bufo irritada.

— Eu não preciso de você aqui.

Nunca precisei de ninguém, não será agora que precisarei.

— Você é a mãe da minha filha e cuidarei de você.


Dou um passo para trás, porém tropeço no tapete e antes
que caia de bunda no chão Guilherme passa o braço pela minha
cintura e impede a minha queda.

— Estava vendo como você precisa de mim aqui?

Estamos ainda mais próximos e é difícil respirar.

— Não preciso.

Desafio-o e ele apenas sorri debochado.

— Você sozinha é um perigo, princesa.

Espalmo as minhas mãos em seu abdômen para empurrá-

lo e me afastar, entretanto sinto os seus gominhos, no mesmo


instante, memórias da noite que compartilhamos há um mês e
meio se reproduzem em minha mente. Droga, ele é tão gostoso. E

as tatuagens que existem em seu peito são tão sexys.

Caralho, eu não posso pensar nele assim e por isso o

empurro e dou um passo para trás desvencilhando-me dos seus


braços.

— Você irá embora.

Aponto em sua direção e ele sorri.

— Eu irei ficar.

Reviro meus olhos e fico de costas para ele.


— Realmente, estou bem e você pode ir embora.

— Como eu disse para sua adorável mãe, nós estamos

morando juntos.

Caminho em direção às escadas e antes de subir o


primeiro degrau grito para que ele escute.

— Espero que quando eu voltar a descer para jantar, você

já tenha ido embora.

Não espero por uma resposta sua e subo para meu quarto.

Quando desço para jantar, depois de conversar um tempo por

mensagens com Francesca, Guilherme não está na sala, será que

ele realmente foi embora? Era isso que eu queria, não é?

Meu coração bate acelerado e se normaliza quando o

encontro na cozinha, ele está de frente para o fogão cozinhando

algo. Respiro fundo e me sento em uma das banquetas.

— Achei que tivesse deixado claro que você deveria ir

embora.

Para minha sorte minha voz soa normal, Guilherme dá de

ombros.

— E eu deixei claro que não irei.


Não falamos nada por alguns segundos e quando ele se

vira está sorrindo.

— Espero que você goste de arroz carreteiro.

Simplesmente ouvir o nome da comida faz com que fique

com água na boca.

— Só porque eu gosto você pode ficar para jantar. —

Aponto em sua direção — Mas assim que lavar a louça você irá

embora.

Apenas sorri debochado.

— Veremos, princesa.

Ficamos em silêncio e é assim que permanecemos,

inclusive quando nos sentamos um ao lado do outro para jantar.

Estou levando um garfo à minha boca para provar o que


Guilherme preparou quando meu celular que está sobre a mesa

vibra, olho para baixo e é uma mensagem da minha mãe. Mesmo

sem clicar na notificação consigo ler o que ela acabou de me


enviar.

“Embora esteja duvidando que realmente esteja noiva de

alguém como Guilherme Barbieri, espero os dois na quarta.”


Suspiro, como ela pode ser tão cruel? Sua crueldade

desperta minha raiva e é porque estou com ódio e morrendo de

vontade de provocá-la que olho para Guilherme e sorrio.

— Ainda está disposto a fingir que está loucamente


apaixonado por mim?

Ergue suas sobrancelhas.

— Mudou de opinião? — Assinto. — E posso saber o


porquê?

— Porque minha mãe é uma megera.

Mostro a mensagem para ele.

— Ela irá ficar com muita raiva quando nos ver na quarta,
princesa.

Sorrio, porque ele tem razão.

— Estou contando com isso.

— Pode apostar que vamos deixar sua mãe morrendo de


raiva. — Sorri vitorioso e é a minha vez de erguer as minhas

sobrancelhas. — E como vamos fingir e sua mãe acha que

estamos morando juntos terei que ficar aqui.

Reviro meus olhos.

— Alguém já disse que você é extremamente irritante?


Dá de ombros.

— Meus irmãos algumas vezes.

Balanço a cabeça e o encaro indignada.

— E você ainda não se convenceu?

Nós nos provocamos o restante do jantar e depois que

lavamos a louça, mais uma vez Guilherme me leva para o quarto


em seus braços, por mais que proteste ele me carrega como uma

criança e me deixa sobre a cama. Mais uma vez, se despede com

um beijo em minha testa.

O que esse homem está fazendo e o que ele pretende?

Assim que ele sai do meu quarto suspirando, deixo a cama

e vou até o banheiro. Ele não deveria ser assim, ele deveria ser

um cafajeste sem coração.

Ao olhar para o meu reflexo no espelho que há sobre a pia

enquanto lavo meu rosto e escovo meus dentes, não é raiva, ou

incerteza que enxergo em meus olhos e sim esperança.

Meu coração acelera e volto para o quarto com medo de


estar me iludindo rápido demais, porém assim que me deito, toda

inquietação some e adormeço rapidamente. Sonho com uma

garotinha e Guilherme.
Acordo com o despertador como sempre, porém não me

arrumo para ir para o trabalho, porque assim como combinei com

Francesca não irei trabalhar essa semana no ateliê e ficarei

trabalhando de casa.

É estranho não ir trabalhar em um dia de semana, porém

pelo meu bebê sou capaz de tudo.

E é ele que me faz pular da cama e correr para o banheiro,


é horrível começar o dia vomitando e quando desço para o

primeiro andar tudo que eu quero é um copo de água gelada,

entretanto assim que piso no último degrau da escada sinto um

cheiro de café.

Merda.

Preciso correr para o banheiro social e ao sair estou

deplorável e é assim com uma expressão de derrota que entro na

cozinha.

— Você está bem?

Sequer olho para Guilherme e apenas me sento na cadeira

ao redor da mesa.

— Seu filho detesta manhãs e cafés.


Sinto-o se aproximando e de repente, ele tem uma das

mãos em minhas costas.

— Você precisa de algo?

— Uma água bem gelada.

Resmungo e segundos depois tenho um copo cheio de

água gelada e uma jarra à minha frente.

— Obrigada.

Bebo a água como se estivesse em um deserto e há dias

sem beber. Guilherme faz uma careta e se senta na cadeira à

minha frente.

— Acho que não devo preparar café pela manhã.

Assinto.

— Por favor.

Ele abre a boca para falar algo, mas meu celular toca,
então ergo minha mão e peço para que ele espere. É a minha

médica, provavelmente, ela recebeu a mensagem que enviei

ontem à noite para ela.

Aceito a ligação e consigo um horário com ela daqui a trinta

minutos, assim que encerro a chamada me viro para Guilherme.


— Consegui um horário com a minha ginecologista que
também é obstetra daqui à meia-hora.

— Ok, estaremos lá.

Como umas bolachinhas de água e sal e Guilherme uma


torrada, então subimos para os quartos e nos arrumamos o mais

depressa possível. Quinze minutos depois estamos no carro e eu

estou apreensiva.

— E se algo estiver errado?

Ele para o carro em um sinal e toca a minha perna.

— Não se preocupe tudo ficará bem.

Mesmo com as palavras de conforto de Guilherme não


consigo me tranquilizar e só me acalmo quando a médica nos

mostra um pontinho na ultrassonografia. O nosso pontinho.

Segundo ela, apesar do sangramento e do deslocamento,


tudo está bem e apenas preciso manter uma alimentação

saudável e um repouso moderado. Guilherme pergunta se posso


caminhar pelo shopping e ela responde que se não exagerar não
há problemas. Não entendo o porquê da sua pergunta e por isso

que assim que deixamos o consultório viro-me para ele.

— Por que, precisamos ir a um shopping?


Sorri, um sorriso encantador de lado, um que rouba meu
fôlego e faz meu coração bater mais rápido.

— Porque, estou precisando de roupas novas, e além do

mais precisamos comprar o seu anel de noivado.


Capítulo 13

“Eu sosseguei
Mudei a rota e meus planos
O que eu tava procurando
Eu achei, em você”[22]

Anne me encara sem entender e dou de ombros.

— Você precisa de um anel para mostrar para sua mãe.

Enfim parece entender e balança a cabeça negando.

— Podemos inventar uma desculpa.

Coloco minhas mãos em suas costas a incentivando a

andar, afinal precisamos sair da frente do consultório.

— Óbvio que não, porque do jeito que ela é uma megera


irá desconfiar.
Não falo em voz alta que estou ansioso por ver a

expressão da bruxa ao nos ver juntos, talvez esteja mais


empolgado do que deveria com essa farsa.

— Você tem razão.

Como estamos caminhando um do lado do outro abaixo-


me e deixo minha boca a centímetros da sua orelha.

— Eu sempre tenho razão, princesa.

Ela revira seus olhos enquanto eu endireito minha postura

e olho em frente. Em silêncio seguimos para o estacionamento.


Assim que estamos no meu carro abro a porta para que ela entre

e em seguida ocupo o lugar ao seu lado.

— Mais tranquila?

Viro-me para ela antes de ligar o carro e ela assente.

— Sim, está tudo bem com o pontinho e agora posso ficar

calma.

Faço uma careta.

— Pontinho?

Sorri empolgada.

— Sim, porque o bebê é apenas um pontinho no momento.


Ligo o carro e olho em frente ao mesmo tempo que balanço
a cabeça indignado.

— Pobre criança nem nasceu e já tem apelidos cafonas.

Bate em meu braço levemente.

— Hey, é um apelido carinhoso.

Sorrio e balanço a minha cabeça.

— É brega, princesa. — Recebo mais um tapa em meu

braço. — Pare de ser agressiva que você será uma mãe.

Não estou olhando em sua direção, mas posso apostar que

ela está com suas sobrancelhas arqueadas e com um biquinho

infantil em seus lábios.

— É carinhoso e aposto que ele gostará mais de ser

chamado de pontinho de que ela.

Sei que deveria parar de chamar o bebê de ela, porém é

mais forte que eu, é inconscientemente e quando penso no bebê

só consigo visualizar uma garotinha com mesmo olhar e sorriso


de Anne.

— Então, agora você acha que é um menino?

Paro em um sinal e aproveito para olhar em sua direção,

ela tem uma expressão pensativa em seu rosto.


— Não, mas pode ser um menino, as chances são de

cinquenta por cento, querido.

Assinto e olho em frente.

— Sabe, como é o homem que contribui com os


cromossomos que definem se será uma menina, ou menino,
realmente acho que estou certo na minha intuição.

Meu argumento é brilhante e até eu mesmo me convenço


que estou certo, será uma menina.

— Olha, temos aqui o rei da biologia.

Dou de ombros.

— Era minha matéria preferida na escola, e a sua?

— A minha o quê?

— Qual era a sua matéria preferida na escola?

Ela demora a responder e fico com uma vontade imensa de


olhar para o lado, é uma droga que tenha que prestar a atenção

no trânsito.

— Artes é claro, e história.

Franzo minha testa.

— Como assim é claro?


— Sempre amei desenhar, é era a única matéria que

poderia fazer o que eu realmente amava.

Faço uma careta ao me dar conta que não sei exatamente

com o que Anne trabalha, pelas revistas espalhadas pela sua


casa talvez seja algo relacionado à moda.

— Você trabalha com desenhos?

Escuto o som da sua risada e mais uma vez, tenho que me

controlar para não olhar para o lado.

— Sou formada em moda, Guilherme e hoje tenho minha

própria marca de roupas, então, sim de certa forma trabalho com


desenhos. — Assinto. — E você?

— Você o quê?

Não entendo a sua pergunta, ela quer saber se trabalho


com desenhos?

— Com o que você trabalha?

Não respondo sua pergunta, porque estamos chegando ao

shopping e prefiro respondê-la enquanto a estiver olhando. Assim


que estaciono viro-me para ela.

— Sou formado em administração e tenho um mestrado


em gestão de agronegócios e até dois dias atrás era o CEO da
empresa da minha família, uma empresa de frigorifico.

Liberto-me do cinto e sinto seu olhar sobre mim.

— E você irá voltar a ser o CEO da empresa?

Dou de ombros.

— Ainda não sei, tentarei trabalhar daqui como um dos


diretores, e talvez abra uma outra empresa.

Conto os planos que ainda não contei a ninguém para


Anne.

— Uma outra empresa?

Assinto e deixo o carro, então dou a volta e abro a sua


porta.

— Sim, algo ligado à soja, quem sabe uma parceria com


Enrico. — Dou de ombros e estendo a minha mão. — Mas é

apenas uma ideia por enquanto.

Ela coloca seus dedos sobre os meus e a ajudo a sair do

carro, assim que estamos um de frente para o outro fecho a porta


e mais uma vez, apoio minhas mãos em suas costas, é

automático.

Entramos no shopping e a primeira loja que vamos é uma


de roupa masculinas.
— Odeio fazer compras.

Resmungo e Anne sorri enquanto caminha até a primeira

arara.

— Por quê?

Ela parece bem animada e faço uma careta, nada é mais

aterrorizante que uma mulher que goste de fazer compras, eu

tenho experiência com Pietra.

— Porque, não sou bom em combinações.

Vira-se para mim e me estende uma camiseta que acaba

de retirar da arara.

— Sua sorte do dia é estar com uma mulher formada em


moda.

Não demoro a descobrir que minha sorte é na verdade, um

azar, porque Anne pega muitas roupas e me faz experimentá-las,


sair do provador vestindo as combinações feitas por ela para que

ela possa aprovar, ou reprovar. Sinto-me como se fosse o próprio

boneco Ken.

Deixamos a loja com muitas sacolas e Anne está sorrindo.

— Arrasei nas roupas que escolhi para você.

Acabo sorrindo com a sua empolgação.


— Você só poderia ter se empolgado um pouco menos. —

Ergo as sacolas que estão penduradas em meu braço. — Porque


acho que trouxe toda a loja comigo.

Revira seus olhos.

— Deixa de ser exagerado.

Caminhamos lado a lado pelo shopping e decido provocá-

la.

— Talvez nunca mais possamos voltar a essa loja.

Olha em minha direção.

— Por quê?

— Porque você brigou com a vendedora.

Mordo meu lábio inferior para não sorrir ao relembrar da

cena e Anne apenas bufa irritada.

— Não briguei com ninguém, só que ela queria saber mais

que eu e eu sou formada em moda, querido. — É impossível não

rir ao recordar de Anne brigando com a vendedora que insistiu em

nos atender mesmo quando Anne disse que não precisava. — E


sabe, aposto que ela estava tão disposta a ajudar você, porque é

bonito.

Encosto meu ombro no seu.


— Então, você me acha bonito?

Provoco-a e ela olha em minha direção com seus olhos

brilhando e repletos de deboche.

— Não, apenas acabei grávida, porque eu decidi dar uma

chance a um feio.

Minha gargalhada ecoa pelo shopping enquanto Anne

segue em frente. Assim que consigo parar de rir caminho em sua


direção disposto a alcançá-la e continuar a provocando, porém

paro ao me deparar com uma loja de joias.

— Anne, nós precisamos comprar seu anel.

Grito e ela olha em minha direção, faço um gesto com a


cabeça para indicar a loja à minha frente, ela faz uma careta e

vem até mim.

— Não vamos comprar um anel nessa loja.

Ela parece indignada e ergo minhas sobrancelhas.

— Por que não?

Bufa e cruza os braços sob os seios.

— Porque é uma loja extremamente cara.

Dou de ombros.

— Dinheiro não é o problema, princesa.


— É um anel para um noivado falso, Guilherme.

Mais uma vez, dou de ombros.

— Realmente, não me importo e sua mãe saberá se

comprarmos algo bagaceiro.

Dou um passo à frente. Ela revira os olhos e me segue.

— Tudo bem, mas eu pago.

Ela não irá pagar, mas ela não precisa saber disso por

enquanto. Entro na loja e assim que sou parado por uma

vendedora peço para olhar os anéis de noivado mais caros da

loja.

— Qual a necessidade disso?

Sussurra assim que a vendedora passa por nós.

— O melhor para você, princesa. — Ela revira os olhos e


dá uma cotovelada em minha barriga. — Estou apenas entrando

no personagem.

Ela está prestes a protestar quando a vendedora chama

por nós e entrelaço minha mão na sua.

— Não deveríamos estar fazendo isso, Guilherme.

Eu a ignoro e sigo a vendedora até uma salinha privada,

Anne mesmo protestando continua com os dedos presos ao meus


e me acompanha. Sentamo-nos os dois em um sofá enquanto a

senhora se senta em um poltrona de frente para nós.

— Esses são os mais luxuosos da nossa nova coleção.

Ela pega algumas caixinhas e abre uma por uma


mostrando os anéis, são todos lindos, porém não é neles que

estou prestando a atenção e, sim na mulher ao meu lado, observo

a sua reação ao ver cada um dos anéis e quando seus olhos


brilham viro-me para a vendedora.

— Posso?

Estendo minha mão, ela assente e coloca a caixinha sobre

a palma da minha mão. Então, retiro o anel da caixinha e me viro


para Anne.

— Deixe-me ver como ele fica no seu dedo, princesa.

— Isso é mesmo necessário?

Sussurra, ela está tão perto que seu perfume domina meu
espaço. O lugar onde estamos torna-se insignificante e é como se

existíssemos apenas nós dois no universo.

— Sim, quero ver se combina com você.

Oferece-me a sua mão e enquanto coloco o anel em seu


dedo mantenho meus olhos fixos nos seus. O anel combina com
Anne, ele é simples, mas o diamante em formato redondo é

brilhante e brilha ainda mais conforme encontra as luzes.

— É lindo.

Mesmo se não tivesse pronunciado as palavras saberia

que gostou do anel pela maneira como seus olhos estão

brilhando.

— Irei levar.

A vendedora sorri.

— O senhor fez uma ótima compra. — Vira-se para Anne.

— Precisará de ajustes, senhora?

Anne retira o anel e balança a cabeça.

— Nós não iremos levar.

— Vamos sim.

Franze a testa e me encara como se estivesse prestes a


me matar.

— Não iremos.

Dou de ombros.

— Se não comprar agora voltarei nesse shopping e


comprarei esse mesmo anel.
Travamos uma batalha, enquanto nos olhamos e por fim,
Anne suspira e se vira para a senhora.

— Não precisa de ajustes, ele ficou perfeito.

— Ele estava esperando por você, princesa. — Recebo


uma cotovelada em meu braço. — Agressiva.

A senhora apenas ignora a nossa interação e sorri.

— Irei finalizar o pedido.

Estende a mão pedindo pelo anel, mas balanço a cabeça.

— Ela irá ficar usando o anel.

Assente.

— Ok, vamos ao caixa?

— Só um minuto e já seguimos a senhora.

Ela nos encara um pouco desconfiada assim que as

palavras deixam minha boca, mas se afasta.

— Aposto que ela deve estar pensando que somos


golpistas, Guilherme. — Anne fica em pé ao mesmo tempo que

coloca o anel em seu dedo, observo como a joia combina com


ela. Realmente, é como se tivesse sido feita para ela. — Vamos?

Chama minha atenção, assinto e fico em pé.


— Vamos.

Caminhamos lado a lado até o caixa e assim que estamos


de frente para a vendedora pego a minha carteira do bolso.

— Vai ser metade, metade.

Ignoro Anne e estendo meu cartão para a senhora.

— Todo o valor no débito.

— Guilherme, você não pode pagar sozinho por esse anel.

— Continuo a ignorando e pego meu celular para autorizar a


compra. — Se continuar me ignorando vou fazer você engolir
esse anel.

Autorizo a compra e me viro para a irritadinha ao meu lado.

— Considere um presente por estar carregando minha


filha.

Estreita seus olhos e suspira.

— Ótimo agora me sinto como uma barriga de aluguel.

A senhora me alcança a sacola da loja com a caixinha do


anel e a nota fiscal.

— Obrigado.

Coloco minha mão espalmada nas costas de Anne e a guio


para a saída da loja. Ela segue com uma expressão nada
amigável em seu rosto e se vira para mim ao deixarmos a
joalheria, abre a boca para dizer algo, mas somos interrompidos.

— Uau, sua mãe não estava mentindo, você está noiva de


Guilherme Barbieri.

Olhamos para o lado e nos deparamos com uma senhora


elegante, tudo nela grita dinheiro e antipatia.

— E a senhora é?

Anne pergunta e sorri, um sorriso mais falso.

— Sua mãe e eu somos amigas. — Anne apenas assente.

— Ela é realmente uma sortuda, uma das filhas, noiva do filho


senador e a outra de um Barbieri.

Ficamos em silêncio e a mulher se aproxima.

— Que falha a minha nem me apresentei. — Beija nossas

bochechas, como se realmente fôssemos conhecidos. — Fátima


Salles.

Ela fala como se seu sobrenome significasse algo, eu não

faço a mínima ideia de quem seja. Nós a cumprimentamos e


damos um passo à frente.

— Foi um prazer encontrar a senhora.

Ignora a tentativa de despedida de Anne.


— Lindo seu anel.

É claro que ela perceberia o anel, Anne sorri.

— Guilherme tem um ótimo gosto.

Anne sorri para mim e eu sorrio de volta, em seguida olho


para a mulher e ergo a sacola que está em minha mão.

— O anel é lindo e merecia joias para combinar com eles.

— A mulher arregala os olhos impressionada. — Trouxe Anne


aqui para escolher suas novas aquisições.

— Joias sempre são ótimas aquisições.

Sorri enquanto apenas assinto.

— Bom, Fátima, foi ótimo encontrar você, agora


precisamos ir.

Anne se despede e entrelaça sua mão na minha.

Seguimos em frente e quando estamos longe o suficiente para


não sermos ouvidos Anne para de frente para mim.

— O que foi essa história de joias para combinar com o


anel?

Encara-me irritada.

— Sua mãe pensa que já tinha o anel. — Dou de ombros.

— Apenas tentei prevenir um possível furo.


Acho a minha sacada genial, mas pela expressão de Anne

acho que ela não concorda comigo.

— Guilherme, isso não vai dar certo.

Aproximo-me de Anne e beijo sua testa.

— Relaxe, princesa e vamos escolher a primeira roupinha

do nosso bebê.

Fecha seus olhos rapidamente e suspira.

— Ok, mas é sério, nada mais de mentiras.

Assinto e vamos de mãos dadas até uma loja de bebê. Não

compramos apenas a primeira roupinha, compramos a segunda e


terceira também. É tudo tão pequeno e delicado, a vontade é
levar tudo para casa. Olhar para as roupinhas torna tudo ainda

mais real, nós realmente teremos um bebê.

Estamos emocionados e perdidos em pensamento quando


saímos da loja e é assim que vamos até o carro. É na metade do

caminho que meu celular toca e aceito a ligação via bluetooth, no


mesmo instante escutamos a voz da minha mãe.

— Guilherme Barbieri, que história é essa de que você está


noivo?
Capítulo 14

“Porque eu não posso admitir que você tem todas as


cordas
E sabe como puxá-las”[23]

Caralho!

— Como você chegou a essa informação, mãe?

É uma merda estar dirigindo, porque não posso olhar para

Anne. Merda, ela deve estar em pânico.

— Recebi uma ligação de uma tal de Cecília que me disse


com todas as letras que você está noiva da sua filha. — É

possível perceber o quanto dona Eleonora está indignada. — Ela


ainda disse que é um absurdo nossos filhos estarem vivendo em

pecado, eu fui vítima de uma pegadinha, é isso?


Abro a boca para tentar explicar a situação, entretanto

minha mãe volta a falar.

— E para piorar quando fui contar para o seu pai sobre

essa ligação absurda eu fiquei sabendo que você largou a


empresa, simplesmente jogou na sua irmã o cargo de diretor

executivo. — Droga, com os últimos acontecimentos esqueci de

pôr a minha intrometida família a par de tudo. — Não acredito que


você largou tudo por uma mulher, Guilherme.

— Ah, meu Deus, sua mãe irá me odiar.

Anne sussurra.

— Ah, meu Deus, você realmente está noivo?

Claro que com a super audição da minha mãe ela ouviria o

que Anne falou.

— Mãe, precisamos conversar, mas agora estou dirigindo.

— Estou prestes a me despedir da minha mãe, porém um alerta

surge em minha mente. — O que você disse para ela?

— Disse para quem, Guilherme?

Dona Eleonora pergunta impaciente.

— Para a tal da Cecília, o que você disse quando ficou

sabendo que estou noivo?


Espero que ela não tenha dito que não sabia de noivado
nenhum, se bem que podemos dizer que estávamos escondendo

o nosso relacionamento da minha família, assim como estávamos

escondendo da sua. Um romance secreto soa bem romântico.

— Eu disse que iria entrar em contato com meu filho e

depois retornaria à ligação, lógico que assim que encerrei a

chamada bloqueie o número da maluca.

Sorrio, porque sei que minha mãe realmente bloqueou o

número de Cecília, é algo que ela faria. Minha mãe é mesmo

maravilhosa, se eu pudesse bloquearia Cecília da vida de Anne.

— Ok, mãe, estou dirigindo e ao chegar em casa ligo para

você.

— Tchau, filho e se não me ligar em trinta minutos eu irei

ligar novamente para você.

— Tchau, mãe.

Encerro a ligação.

— Guilherme, essa situação só fica pior.

Anne resmunga e limpo minha garganta, o que eu posso

dizer?

— Agora, não temos como voltar atrás, princesa.


Cecília infernizaria Anne, ainda mais depois de termos

mentido para uma das suas amigas que posso apostar ser uma
fofoqueira, só uma fofoqueira pararia a gente no shopping como

ela nos parou.

— Então, você fará o quê? Mentir para a sua família?

É impossível mentir para a minha família, eles acabariam

descobrindo e é impossível contar a verdade para sua mãe. Só há


uma solução.

— Não, irei contar a verdade para minha família. — Sua


gargalhada ecoa pelo carro. — Eu estou falando sério.

Aos poucos seu sorriso morre e mesmo sem olhar em sua


direção posso sentir seu olhar sobre mim.

— Você não pode estar falando sério, Guilherme, sua


família irá me odiar quando descobrir que você está mentindo

estar noivo.

— Minha família irá nos apoiar e vamos continuar mentindo


para sua mãe.

Cecília merece ser enganada.

— E depois o quê? Nos casamos de mentirinha?

Dou de ombros.
— Eu estou aí disponível. — Brinco, mas pela falta de

resposta de Anne ela não gostou da minha brincadeira. —


Prometo que irei encontrar uma maneira de livrar você de lidar

com a sua mãe.

Posso não saber como, mas irei acabar com o nosso

noivado de uma forma que não prejudique Anne.

— Impossível, Guilherme.

Estaciono em frente à sua casa e olho em sua direção.

— Hey, confie em mim. — Ergo minha mão e afasto alguns

fios de cabelo do seu rosto. — Sei que não deveria ter mentido, a
culpa é toda minha e eu irei consertar o estrago que eu fiz.

Fecha seus olhos e eu desço meus dedos pela lateral do


seu rosto, acariciando-a e faz com que queira me aproximar e
sentir seus lábios, desejo mais uma vez sentir o seu gosto. Antes

que faça algo que não deva, Anne abre seus olhos e se afasta.

— Eu espero que você saiba o que está fazendo,


Guilherme.

Sai do carro e a observo caminhar até o portão.

— Eu também espero que saiba o que estou fazendo,


princesa.
Sussurro e saio do meu carro. Anne deixa o portão aberto
e ao passar por ele paro para observar a fachada da sua casa, é
elegante e toda trabalhada na modernidade com recortes

quadrados e paredes de vidros, a cor é um bege e a porta e as


janelas são em branco, é clean e combina com seu jardim bem-

cuidado.

Ao entrar encontro Anne na cozinha, ela está com o celular

na orelha e caminha com um copo com água em mãos.

— Há algum escritório que possa usar?

Vira-se para mim e aponta para o corredor.

— Só um minuto, Francesca. — Afasta o celular da sua


orelha. — No final do corredor.

— Obrigado.

Ela assente, então vou até onde ela indicou e me deparo

com um escritório repleto de estantes com diversos livros e uma


parede de vidro, é possível enxergar o jardim e a cidade. Nunca

pensei que seria tão incrível ter uma casa no alto de um morro.

Pego meu celular em meu bolso e faço uma ligação de

vídeo para minha mãe, ela me atende no mesmo instante.

— O que está acontecendo, Guilherme?


Sua voz deixa claro que ela quer saber de tudo e não irá
permitir que esconda nada dela. Suspiro, por onde irei começar?

— Você pode chamar o papai?

Melhor contar logo para os dois. Enquanto minha mãe


chama pelo meu pai, sento-me na cadeira atrás da escrivaninha,

apoio meu celular em alguns objetos que há sobre a mesa e

quando meu pai surge na tela do celular junto com a minha mãe,
eu conto tudo para os dois. Sobre Anne, a gravidez e a mentira

que contei para a avó da minha filha.

— Guilherme, eu não sei o que dizer.

É preocupante escutar isso do meu pai e ainda mais


preocupante encarar a expressão da minha mãe.

— Primeiro de tudo, você tem certeza de que esse filho é

seu?

Faço uma careta diante da pergunta da minha mãe, não

quero que eles desconfiem de Anne.

— Claro que eu tenho.

Assente e para meu alívio, sorri.

— Ah, eu terei mais um netinho.


— Acho que é uma netinha. — Sorrio e como um bobo

pego uma das imagens da ultrassonografia do meu bolso e


mostro para os meus pais. — Essa é a minha filha.

Minha voz embarga e lágrimas nublam a minha visão.

— Incrível, filho.

Minha mãe compartilha da minha emoção, mas meu pai

parece preocupado.

— Você precisava mesmo abandonar tudo?

Apoio minhas costas contra a cadeira e assinto.

— Sim, porque se minha filha está aqui, é aqui onde eu

estarei.

— Você tem certeza disso?

A pergunta do meu pai ecoa em minha mente, eu tenho


certeza? É isso que eu quero? E não há dúvidas.

— É a maior certeza que já senti na vida.

Finalmente, parece se convencer das minhas escolhas.

— Você sabe que sempre apoiaremos você, não é?

— Eu sei, pai.
Ele sorri e se afasta deixando que mamãe se aproxime da

tela do celular.

— Agora que história é essa de noivado falso? Você tem

trinta e seis anos, Guilherme, não poderia ter agido como um


adulto?

Sorrio e dou de ombros.

— Eu agi como um adulto e defendi a mãe da minha filha.

Minha mãe revira os olhos.

— A mãe dela é realmente tão má assim?

Bufo.

— Má? Ela é tipo vilã de contos de fadas.

Narro tudo que ouvi de Cecília e minha mãe escuta com


atenção.

— Ela parece péssima, mas ainda acho que você não

deveria ter mentido.

— O que está feito está feito, tudo que preciso fazer agora

é manter a mentira até que descubra a melhor forma de acabar

um noivado, uma forma que proteja Anne daquela maldita mãe


dela.

Minha mãe inclina a cabeça para o lado e me analisa.


— Por que, você está protegendo essa moça?

— Porque ela é a mãe da minha filha.

Não é só isso, eu sei, mas como pôr em palavras algo que

não sei explicar?

— Não é só por isso.

É claro que dona Eleonora perceberia que há mais.

— Eu só sinto vontade de protegê-la.

Meus pais trocam um olhar e quando minha mãe volta a

olhar para mim há um sorriso em seu rosto.

— Nós iremos ajudá-lo a manter a mentira.

— Obrigado, mãe.

Faz um sinal de desdém com as mãos.

— Não precisa agradecer, o que você precisa fazer é me


contar como a megera da sua sogra descobriu meu número.

— Ela é mulher do prefeito e tenho certeza de que ela deve

conhecer alguém que conhece você.

Suspira.

— Malditas fofoqueiras.
Sorrio e me despeço dos meus pais. Assim que encerro a

chamada olho para o teto e refaço a pergunta feita pela minha

mãe “Por que, estou protegendo Anne? Por que, estou tão

empenhando em protegê-la da sua mãe?”

Imagens suas daquela noite em que conversamos ecoam

em minha mente, ela estava tão frágil e quebrada. Eu não quero

que ela continue assim. Eu quero que ela seja feliz. O motivo? Eu
não sei, apenas algo me puxa em sua direção, algo em meu peito

vibra toda vez que meu olhar encontra o seu. É inexplicável o

desejo em meu coração de ser o seu herói.

Onde esses sentimentos irão nos levar?

Pensativo pego meu celular e deixo o seu escritório, mas

tudo some da minha cabeça ao entrar na sala e encontrar Anne

sentada no tapete vestindo uma calça e apenas um top enquanto


folheia os livros que eu comprei.

— Esses livros são seus?

Pergunta sem olhar em minha direção, como ela percebeu

que entrei na sala? Não faço a mínima ideia.

— São, eu comprei.

Aproximo-me e me sento ao seu lado.


— O que esperar quando se está esperando. — Coloca o

livro ao seu lado e pega o próximo. — Boas-Vindas, Bebê 1.

Coloca o livro sobre o outro ao seu lado, e pega o próximo,

assim como os outros dois e lê o título em voz alta.

— Boas-Vindas, Bebê 2.

Ela faz o mesmo com o restante dos livros o Boas-Vindas,


Bebê 3, Vou ser pai – o manual da sobrevivência, Como Nascem

os Pais, Diário de um Grávido e Criando Bebês Felizes.

Por fim, tem uma pilha de livros ao seu lado e quando se

vira para mim está sorrindo.

— Precisava disso tudo?

Dou de ombros.

— Serei um pai prevenido.

Assente e me encara debochada.

— Com esse tanto de livro tenho certeza de que estará

pronto para qualquer situação.

— Fique rindo, mas serão eles que nos ajudarão a sair de


situações complicadas.

Aponto para os livros e ela segue me encarando

debochada.
— Tenho certeza de que sim.

— Hey, tenha mais fé nos meus livros.

Apoia as costas contra o sofá e cruza os braços sob os

seios.

— Então, me diga, como posso melhorar do enjoo?

Desafia-me e odeio perder.

— Ainda não cheguei nessa parte.

Ela sorri vitoriosa e por alguns segundos, me perco na sua


beleza. Ela tem o cabelo preso em um coque desleixado, sua pele

está brilhando e os seus olhos são encantadores. Maravilhosa.

— Quando chegar a essa parte por favor me informe,

porque vomitar é péssimo.

Assinto, sem saber como reagir, porque estou muito

distraído com sua beleza. Na tentativa de encontrar meu foco,


olho para baixo, o que é uma péssima ideia, porque me deparo

com seus seios espremidos no pequeno top. Caralho. Antes que


tenha pensamentos impuros olho para o lado e me concentro na
primeira coisa que encontro.

— O que é isso?

Observo alguns papéis que estão sobre o tapete da sala.


— São meus planejamentos.

Curioso pego um deles e é um cronograma, um


cronograma anual.

— Você tem um cronograma anual? Meus Deus, Anne


você é uma controladora.

É a minha vez de debochar.

— Apenas sou organizada.

Encara-me irritada e ergo minhas sobrancelhas.

— Agora, ser controladora tem outro nome?

Estreita seus olhos e tenta pegar o papel da minha mão,


afasto-me para que ela não consiga. Olha-me determinada e

somente sorrio. Mais uma vez, tenta pegar o cronograma e ergo


minha mão.

Anne fica de joelho e vem em minha direção, porém se

desequilibra, no mesmo instante seguro sua cintura e ficamos


muito próximos um do outro. Ela ergue sua cabeça e seu nariz
toca no meu.

Olho em seus olhos e meu mundo paralisa.

Tudo que consigo pensar é o quanto eu gostaria de beijá-


la.
Capítulo 15

“Me disseram que você


Estava chorando
E foi então que eu percebi
Como lhe quero tanto”[24]

Nós estamos próximos demais, tão próximos que posso


sentir sua respiração. Meus olhos estão fixos nos seus, meu
coração está acelerado e meu corpo vibra querendo algo que não

pode ter.

E é porque não podemos nos beijar que me afasto e volto

a sentar-me ao seu lado.

— Só estou organizando algumas datas, porque tenho

coleções para criar.


Tento com que minha voz soe normal, mas falho, é como

se eu tivesse corrido uma maratona. Como fui capaz de perder o


fôlego tão rápido?

— Você quer ajuda?

Olho para ele sem entender.

— Com o que exatamente?

Entrega-me a minha folha com o meu cronograma anual.

— Para organizar o seu cronograma, quem sabe assim me


anime e faça meu próprio.

Dá de ombros e o encaro sem reação. Nunca dividi meus

planejamentos com ninguém. Ele me olha com expectativas e por

isso, mesmo assustada, assinto.

— Adoraria a sua ajuda.

Ele sorri, e pelos próximos minutos organizo minha agenda

e meu cronograma. Guilherme mais tenta entender como minha


rotina funciona do que de fato ajuda, porém é divertido.

— Então, basicamente, você marca os grandes


compromissos no cronograma anual e com base nisso faz o seu

planejamento mensal e a partir daí elabora o diário?


Aceno com a cabeça e para que ele entenda ainda mais
coloco o papel estendido sobre a mesinha de centro.

— Como antes tudo em minha vida era sobre o meu


trabalho, o primeiro de tudo era marcar quando lançaríamos

novas coleções que normalmente acontecem alguns meses antes

da troca de estação e assim conseguiria planejar quando deveria

começar as pesquisas e a desenhar, basicamente é como um

quebra-cabeça.

Sinto-o se aproximar e parar ao meu lado.

— Acho que isso realmente funciona.

Viro-me para o lado e ele encara o papel, parece

concentradíssimo.

— Realmente funciona.

Sorrio, ele vira seu rosto e olha em meus olhos.

— Tudo era sobre o seu trabalho?

Suspiro, é como se fizesse anos que era a Anne viciada


em trabalho e na verdade, faz dias desde que algo em mim

mudou.

— Nunca quis ter uma família, porque o que eu conheço

como família faz com queira fugir para o outro planeta, então tudo
que me sobrava era minha carreira.

Assente e apoia as costas contra o sofá.

— Eu entendo, embora minha família seja a melhor nunca

quis a minha própria família.

Franzo minha testa.

— Por quê?

Dá de ombros.

— Porque, eu amava minha liberdade e acreditava que


estar na noite repleto de mulheres era o melhor da vida.

— Por que você está se referindo ao passado?

Desvia os olhos dos meus e encara a parede à nossa

frente.

— Porque eu acho que talvez só acreditasse que era o

melhor.

Uma parte em mim ainda não acredita que Guilherme seja


capaz de largar as noites de farra, mas mantenho essa dúvida só

para mim, porque como prometido estou dando uma chance para
ele.

— E sua relação com o trabalho?

Volta a olhar em minha direção.


— Sou um ranzinza no trabalho, meus funcionários me

odeiam e odeio atrasos.

— Meus funcionários também me odeiam, temos isso em

comum.

Encara-me divertido.

— Nós temos muitas coisas em comum, Anne.

Ele tem razão, a cada conversa descobrimos o quanto

somos parecidos, será que isso significa algo? Provavelmente,


não.

— Então, irá fazer o seu próprio cronograma?

Olha para o cronograma sobre a mesinha.

— E quando o cronograma não segue como planejado?

Sorrio ao recordar das minhas reações quando meu

cronograma não é seguido.

— Você surta e grita.

— Sério?

Pergunta assustado e meu sorriso amplia.

— Não, quer dizer, eu surto, porém em seguida respiro


fundo procuro uma solução e refaço meus planejamentos. — A
forma como ele me olha como se eu fosse a pessoa mais
importante da sua vida me desestabiliza e preciso respirar fundo
para manter a minha linha de raciocínio. — Sempre existe algo
que sai do seu controle, mas algumas coisas são mais fáceis de

lidar do que outras.

— O bebê foi algo difícil, não é?

Sem que me dê conta do que estou fazendo trago minhas


mãos até minha barriga e a acaricio.

— A mais difícil de todas, porque era algo que jamais


estaria em meu cronograma por vontade minha. — Ele tem os
olhos fixos em minha barriga e a encara como se a quisesse

tocar, então pego em suas mãos e as aproximo do meu corpo. —


Ainda não dá para sentir nada.

Assente, mas espalma as mãos contra minha barriga.

— Hey, querida, aqui é o seu pai.

Fala olhando para minha barriga e há tanto carinho em sua


voz. Lágrimas se acumulam em meus olhos e quando me lembro

do tanto que eu quis um pai elas descem pelo meu rosto. Eu


espero que realmente minha filha tenha o pai que eu nunca tive.
Meu choro se intensifica e um soluço escapa da minha boca.
— Princesa, o que está acontecendo? — Tento abrir a boca
e explicar, mas não consigo, tudo que eu consigo fazer é chorar.
Quando Guilherme me puxa para seus braços, não hesito e apoio

minha cabeça em seu peito. — Em um dos livros que eu comprei


explica que a gravidez deixa as mulheres mais sensíveis.

Beija o topo da minha cabeça e eu só sigo chorando.


Choro por alguns minutos e só me afasto de Guilherme quando
estou mais calma.

— Desculpe por isso.

Não estou em seus braços, mas continuo próxima a ele.

— Você não precisa pedir desculpas. — Ergue sua mão e


retira alguns fios de cabelo do meu rosto, colocando-os atrás da

minha orelha. — Está tudo bem?

Afasto-me completamente dele e me apoio no sofá.

— Sim, eu só espero que minha filha tenha um pai melhor

do que o meu.

Droga, meus olhos voltam a ficar repleto de lágrimas.

— Seu pai não foi um bom pai?

Sorrio, um sorriso sem humor.


— Se é que podemos chamar Heitor de pai. — Guilherme

não faz nenhum comentário, ele espera que eu continue e


prossigo. — Minha mãe sempre foi uma caça-fortuna e meu pai

foi sua primeira vítima, porque ele é o único herdeiro da família,

uma família muito rica, eles são donos de uma empresa de


carros.

Não conto a minha história para muitas pessoas, porém é

importante que Guilherme saiba, nós iremos ser a família de uma

criança.

— A intenção da minha mãe era que ele se casasse com

ela, por isso engravidou, mas seu plano deu errado, porque os

pais de Heitor e ele próprio não aceitaram a gravidez,


principalmente porque minha mãe era pobre e interesseira. —

Respiro fundo antes de dizer minhas próximas palavras, porque

elas são dolorosas. — Minha mãe só seguiu com a gravidez,


porque a pensão seria generosa e assim que nasci correu para a

justiça e obrigou meu pai a me assumir, Heitor me assumiu,

porque foi obrigado e na cabeça dele tudo que eu precisava era

de dinheiro.

As lembranças inundam minha mente e meu peito se

aperta.
— Minha mãe continuou no foco de achar um marido rico e

nunca foi alguém amorosa, além do mais, sempre gostou de me

humilhar, boa parte da minha vida ela me culpou por não ser
capaz de fazer o meu pai se interessar por ela e por mim. — Olho

para cima para não chorar. — Eu queria ter um pai como toda

criança e ligava para ele, implorava por sua atenção e ele

prometia me visitar, ir as festas dos Dia dos Pais, e me buscar nas


férias, porém nunca aparecia.

Guilherme entrelaça nossas mãos e o seu conforto

ameniza o aperto em meu peito.

— E a única vez que ele me levou à sua casa sua mãe me

humilhou, me chamou de bastarda e disse que jamais me

aceitaria, eu tinha oito anos na época, faz dezoito anos e ainda

dói, mesmo depois de anos de terapia, algumas vezes ainda dói.


— Ele acaricia minha mão com a ponta dos seus dedos e é a

força que eu preciso para continuar. — Minha mãe finalmente

conseguiu seu marido rico quando eu tinha dez anos, o prefeito, e


como ele já tinha uma filha e não queria outra ela me deixou com

a sua mãe, avó mais perfeita do mundo, minha avó foi a única

que me amou e me ama.

Encaro-o e ele me olha com pesar.


— Quando considerei o aborto e adoção era porque queria

evitar que alguém sofresse o que eu sofri, evitar que ela sentisse
o que eu senti, não quero que ela se sinta rejeitada, Guilherme.

Ele se aproxima e beija minha testa.

— Prometo que farei de tudo para que ela nunca se sinta


rejeitada, Anne.

Ele beija minha testa e apoio minha cabeça em seu ombro.

— Eu também.

Permanecemos em silêncio pelos próximos minutos e

Guilherme segue traçando círculos invisíveis em minha mão com


a ponta dos seus dedos. Aos poucos o clima dramático nos deixa

e então ele solta a minha mão.

— Tem mais alguém para você avisar sobre o nosso falso


noivado?

Estou prestes a negar quando me lembro de alguém.

— Minha avó.

Merda, como irei contar para dona Heloísa que estou


grávida e noiva? Um noivado falso.

— Você acha que ela nos receberia para o almoço?

— É claro.
No mesmo instante que escuta a minha resposta

Guilherme fica em pé.

— Então, vamos?

Oferece-me a sua mão e assim que coloco meus dedos


sobre os seus me ajuda a levantar.

— Vamos, eu só preciso dar um jeito no meu rosto.

Aponto para meu rosto e ele assente. Corro para o

banheiro e enquanto limpo meu rosto que está todo borrado de


rímel me deixando parecendo um panda, penso em como contar

para vovó as novidades.

Ela irá amar ser uma bisavó e claro irá nos recriminar pela

mentira.

Assim que estou apresentável novamente encontro

Guilherme na sala, ele está andando de um lado para o outro e

mexendo no celular.

— Estou pronta.

Olha em minha direção, encara-me por alguns segundos e

então assente.

— Vamos?
Aceno com a cabeça concordando e ele vem até mim.

Seguimos para o carro e mais uma vez, ele tem as mãos em


minhas costas. Ele abre a porta do carro e assim que estamos

sentados um do lado do outro viro-me para ele.

— Iremos contar toda a verdade para a minha avó.

Ele apenas assente e durante o trajeto até a casa da minha


avó, conto o seu nome e como ela para Guilherme e planejamos

como iremos contar sobre o bebê e sobre o falso noivado.

Guilherme estaciona em frente à casa onde cresci e a


observo com carinho.

— Minha avó é simples, mas é incrível.

Ele sorri.

— Tenho certeza de que sim.

Nós dois deixamos o carro e um ao lado do outro seguimos

até a entrada, antes mesmo de chegarmos na varanda a porta é

aberta e minha avó surge.

— Eu senti que você estava chegando, meu lírio.

Vamos até ela e a abraço, é tão bom estar em seus braços

e sentir seu cheiro familiar.

— Olá, vovó.
Desvencilha-se dos meus braços, sorri e então se vira para
Guilherme.

— E esse, quem é?

É nítido pela forma como está olhando para ele com


malícia que acha que temos algo.

— Esse é Guilherme, um amigo.

Ergue suas sobrancelhas, mas não diz nada, apenas o

abraça.

— É um prazer, Guilherme.

Ele sorri assim que está longe dos braços da minha avó, o

sorriso cafajeste que tenho certeza ser o responsável pelas


mulheres não conseguirem resistir a ele.

— O prazer é meu, Heloísa.

Dona Heloísa se vira para mim ficando de costas

— Gato. — Não emite sons para que ele não escute e

reviro meus olhos. — Entrem, crianças, irão ficar para almoçar?

Dessa vez, sua voz é alta.

— Sim, vovó.

Apenas assente, então segue para dentro e nós a

seguimos. Vamos os três para a cozinha. Minha avó cozinha,


enquanto faz um interrogatório a Guilherme e conta histórias
comprometedoras a meu respeito. Nós rimos horrores e a
expressão de vovó só fica séria assim que nos sentamos ao redor

da mesa.

— Então, qual motivo da minha neta estar em minha casa


no horário que deveria estar trabalhando?

Guilherme e eu nos olhamos e revelo para minha avó que

estou grávida.

— Eu já desconfiava, e o que mais? Porque, está claro no


rosto de vocês que há mais a ser dito.

Suspiro e conto à minha avó sobre o noivado falso e para


minha surpresa ela fica empolgada e promete que nos ajudará a
enganar a sua filha, porque ela está merecendo uma lição.

Estamos sorrindo ao fim do almoço e quando estou me


despedindo da minha avó ela coloca suas mãos sobre a minha
barriga e sorri.

— Você será uma ótima mãe, meu lírio.

Abraço e agradeço, antes de me afastar ela aproxima sua


boca da minha orelha e sussurra.

— E vocês serão uma linda família.


Não entendo o que ela quer dizer, mas não tenho tempo de
questioná-la, porque ela se afasta para abraçar Guilherme.

Nós vamos para casa conversando o quanto minha avó é


incrível e assim que chegamos cada um vai para um canto
trabalhar, só voltamos a nós ver na hora do jantar.

Guilherme prepara o jantar e eu tento elaborar um


cronograma para ele com base nas informações que ele me

passa, porém não sou bem-sucedida, porque ele ainda não sabe
muito bem o que fará nos próximos meses. Nós mais rimos do
que de fato conseguimos planejar algo.

Depois de jantar limpamos o que sujamos e quando


terminamos, dessa vez Guilherme não me leva até o meu quarto

em seus braços, mas antes que eu deixe a cozinha ele beija a


minha testa.

Subo para o quarto sentindo seus lábios em minha pele e

assim que me deito na cama as palavras da minha vó ecoam em


minha mente.

E vocês serão uma linda família.


Capítulo 16

“Tá escancarado
Vai negar pro coração
Que você tá com sintomas de paixão”[25]

É uma quarta-feira totalmente diferente de todas as outras.

Não vou para o ateliê, compartilho as refeições com Guilherme e


trabalho do escritório da minha casa, além do mais à noite será o
jantar de ensaio do casamento da enteada da minha mãe e irei

com o meu noivo falso.

Quando, eu poderia imaginar viver algo assim?

Às vezes, é como se eu estivesse vivendo uma outra vida,

porque tudo saiu do meu controle. Paro com o lápis sobre o


papel, mas não desenho e olho para o lado e encaro o jardim pela

parede de vidro. E o que eu faço a partir de agora?

Não estou mais sozinha, há um bebê em minha vida e um

homem que jura que irá ficar e ser um pai. Um homem que é
engraçado, protetor e tudo que sempre evitei, viciado em trabalho

e um cafajeste.

É tão fácil esquecer que Guilherme é um libertino, porque

quando estamos conversando é fácil, normal e por mais que seja


difícil admitir, eu gosto das nossas conversas e de estar com ele.

Hoje, eu preparei o café da manhã e ele o almoço e


enquanto isso nós dois conversamos sobre diversos assuntos e

quanto mais assuntos temos mais eu descubro sobre ele. Agora,

sei que ele morre de medo de avião, adora implicar com os

irmãos e é sempre o que tenta obter as fofocas da família, gosta

de vermelho, é palmeirense e ama filmes de super-heróis.

Quanto tempo será que ele pretende ficar? Será que

podemos ser amigos? O que acontece se eu me acostumar com


ele aqui?

As minhas dúvidas são interrompidas pelo toque do celular,


empurro tudo para o fundo da minha mente e aceito a chamada
de vídeo da minha amiga.

— Olá, Fran.

Sorrio animada, porque é tão bom ver minha amiga, ela é a

minha normalidade diante do que está acontecendo.

— Olá, Anne, como você está?

Minha amiga está em sua sala em nosso ateliê, eu gostaria

de estar lá.

— Eu estou bem. — Faço um biquinho infantil com meus


lábios. — Mas com saudades.

— Não se preocupe que estou tomando conta do nosso

cantinho.

Faço uma careta.

— Eu sei que sim, mas amo esse lugar e trabalhar de casa

não é a mesma coisa.

Dá de ombros.

— É por uma boa causa.

Suspiro.

— É sim.

Francesca sorri e seus olhos brilham.


— E como está o meu afilhado?

Ergo minhas sobrancelhas e sorrio debochadamente.

— Que afilhado?

Revira seus olhos.

— Eu sei que essa criança será meu afilhado, assim como

a de Diana.

Arregalo meus olhos ao mesmo tempo que ela tapa a sua

boca.

— Como assim? Diana está grávida? — Francesca segue


com a boca tapada. — Francesca Bittencourt.

Afasta a mão do seu rosto e suspira.

— Diana irá me matar, não era para eu contar para


ninguém, nem Nicholas sabe.

Aceno com a cabeça, mas na verdade, não estou


prestando atenção na minha amiga, porque há algo mais nessa

história.

— Nossos filhos serão primos.

Encara-me ainda mais animada.

— Meu Deus, meus afilhados são priminhos. — Apenas


reviro meus olhos e sorrio, mas não é um sorriso sincero e é claro
que Francesca percebe. — Por que essa ruga de preocupação

em sua testa?

Meus ombros cedem e encaro a mesa à minha frente.

— Porque acabo de perceber que se Guilherme for embora


a família dele ainda estará por aqui, talvez meu filho não tenha

um pai, porém sei que a família dele procurará pela criança e será
um lembrete de que o pai se afastou. — Meus pensamentos são
uma bagunça. — Ele sempre irá ter alguém para perguntar do pai.

Nem sei se faço sentido, mas o medo se instala em meu


peito.

— Eu achei que você estivesse dando uma chance para


Guilherme.

— E eu estou.

Francesca ri, uma risada irônica e sem humor.

— Não, você não está, porque está esperando que ele


falhe, apenas está deixando que ele fique e prove que você está

certa.

Suas palavras são como um tapa.

— Há certos medos impossíveis de serem deixados de


lado.
Olho para Francesca e ela tem a cabeça inclinada e está
me encarando como se estivesse me analisando.

— Você tem medo de que ele te deixe.

Balanço a cabeça negando.

— Eu tenho medo de que ele deixe a minha filha.

Dá de ombros.

— Se é nisso que você quer acreditar, tudo bem, mas se


permita dar uma chance para o amor.

Não entendo o que Francesca quer dizer.

— Amor?

— Você está pior do que eu e um conselho de amiga, o

amor pode ser tão rápido quanto um cometa, então não se


assuste quando se der conta que está amando.

Sorrio sem compreender nada do que minha amiga está


falando.

— Estar namorando com Nicholas está acabando com

seus neurônios.

— Não se preocupe em breve você irá entender do que eu


estou falando.
Ela está louca, é isso, e como com louco não se discute,
mudo de assunto.

— Hoje é o jantar de ensaio do casamento da Manuela, o


que você acha que eu devo vestir?

Pelos próximos minutos debatemos qual é o melhor look

para um jantar de ensaio, porém nosso assunto é interrompido

por um grito de Francesca.

— Meu Deus, que anel é esse, Anne?

Olho para o anel que Guilherme comprou e faço uma

careta, como eu me esqueci de contar do noivado falso para

Francesca?

— Guilherme e eu iremos fingir estarmos noivos para

minha mãe.

É obvio que minha amiga faz com que eu conte toda


história com o máximo de detalhes possíveis e ao terminar de

narrar os acontecimentos ela está sorrindo e seu olhos brilham.

— Caralho, Anne, essa história de vocês está melhor do

que os filmes de romances preferidos de Nicholas.

— Só espero que não termine em drama.


Resmungo e Francesca me encara com uma expressão

divertida.

— Na verdade, o final dessa história é bem óbvio.

— Qual?

Dá de ombros e sorri.

— Isso vocês precisam descobrir.

Depois das suas frases enigmáticas minha amiga se

despede e encerramos a chamada. Assim que desligo o celular

volto a olhar para o jardim e a pensar em Guilherme.

Droga, eu estou pensando muito nele.

Para interromper o rumo dos meus pensamentos me

concentro no meu trabalho e só paro quando escuto alguém bater

à porta.

— Entre.

Guilherme entra e ele está segurando uma bandeja com

suco e sanduíches.

— Você está há muito tempo sem comer.

Empurro meus croquis para o lado.

— Eu não percebo o tempo passar quando estou

trabalhando.
Guilherme coloca a bandeja sobre a mesa e ocupa a

cadeira à minha frente.

— Eu também não.

— Então, como está sendo trabalhar de Home Office[26]?

Pego o sanduíche e o provo com cuidado, nunca se sabe o


que me fará passar mal. Aparentemente, o bebê gosta do

sanduíche e para meu alívio posso comê-lo sem querer vomitar a

cada mordida.

— Diferente, mas estou me adaptando.

Limpo minha boca com o guardanapo que Guilherme

trouxe.

— Você sabe que se precisar ir embora não há problema.

Debruça-se sobre a mesa e pega o outro sanduiche que há

na bandeja.

— Eu já disse que não irei a lugar nenhum, Anne.

A intensidade com que me olha faz com que acredite nele.

— Tudo bem.

Assente e apoia suas costas completamente contra a

cadeira.
— E o seu trabalho, como está?

Nosso trabalho é o assunto da vez e mesmo quando


acabamos com o sanduíche e o suco seguimos conversando. E

por mim continuaríamos aqui, porém confiro o horário e preciso

me arrumar.

— Preciso começar a me arrumar, ou iremos nos atrasar

para o noivado e como você deixou claro, odeia atrasos.

Ele sorri.

— Obrigado por lembrar, princesa.

Fico em pé e me afasto da mesa.

— Irei subir para meu quarto e me arrumar.

É tão estranho dizer o que vou fazer para outra pessoa.

— Eu estarei na sala esperando por você.

Estou na metade do caminho entre a porta e a


escrivaninha onde estava, então olho para ele.

— Você não irá se arrumar?

— Claro que eu vou.

Sorrio debochada.

— E quem garante que será o primeiro a ficar pronto?


Ele fica em pé e pisca em minha direção.

— Eu estou garantindo.

Sorrindo, viro-me e caminho até a saída.

— Sabe, se eu não demorasse tanto para me arrumar, eu


entraria nesse desafio.

Abro a porta no mesmo instante que escuto o som da sua

risada. Saio do escritório e vou para meu quarto sorrindo.

Escolher uma roupa não deveria ser tão difícil, nunca é,


porque sou decidida e de moda eu entendo, porém, dessa vez eu

quero estar deslumbrante. Digo a mim mesma que é por causa da

minha mãe, mas uma vozinha insiste em dizer que quero estar

bonita porque estarei acompanhada, ignoro-a e depois de um


banho demorado escolho um vestido rosa de cetim, ele é de

alcinhas e com uma fenda na perna direita, elegante, discreto e

sensual.

Opto apenas por um brinco pequeno, cabelos soltos, uma

sandália nude e uma maquiagem básica. Ao me olhar no espelho

gosto do que eu vejo, porém sinto uma leve pressão em minha


barriga. Droga, eu nunca fui insegura antes e me recuso a ser

agora.
[27]
Sorrio, pego a minha clutch branca e deixo meu quarto.

Estou descendo as escadas quando Guilherme surge e me

espera no último degrau. Ele está lindíssimo vestindo um terno


com uma camisa branca e alguns botões abertos deixando parte

do seu peito exposto.

Meu olhar encontra o seu e enquanto desço a escada

segurando o corrimão, sigo com meus olhos presos aos seus. Ao


pisar no último degrau ele me estende a sua mão e coloco meus

dedos sobre os seus.

Seu toque é firme e eletrizante. Recordações daquela noite


ecoam em minha mente. Um calor sobe pelo meu corpo e desejo

que tudo se repita.

É como se algo me puxasse em sua direção e quando paro

à sua frente preciso me conter para não espalmar minhas mãos


em seu peito.

Guilherme solta minha mão e no mesmo instante o calor

em meu corpo se perde.

— Você está linda.

Coro.

— Obrigada.
Nenhum de nós se afasta e continuamos com o olhar preso
um no outro.

Não sei por quanto tempo ficamos assim, poderiam ser

segundos, como poderiam ter sido anos, o tempo se torna


irrelevante.

Nenhum de nós diz nada, apenas desviamos o olhar um do

outro e seguimos para o carro.

O silêncio entre nós é gritante, porque não é como se não


existisse nada para ser falado, pelo contrário há muito a ser dito.

Durante o caminho a música é o único barulho e sequer

comentamos o fato de estar tocando música sertaneja romântica.

Guilherme estaciona, sai do carro e vem até mim, abre a


porta e me oferece a sua mão.

— Pronta?

Coloco a minha mão sobre a sua e entrelaço meus dedos

com os seus.

— Pronta.

De mãos dadas seguimos para a recepção, o lugar é um


salão no centro da cidade e grita luxo. Há manobrista e
fotógrafos, provavelmente haverá uma página no jornal sobre o
evento, afinal é o noivado da filha do prefeito e do filho do
senador.

A recepcionista confere nosso nome na lista e libera nossa

entrada. O lugar está decorado com lustres e flores, apesar de ser


extremamente luxuoso está lindo.

Manuela e o noivo estão recepcionando os convidados e


assim que se depara com nós dois, um sorriso surge em seu

rosto. Sorrio de volta, mas é um sorriso nervoso, Guilherme


percebe e aperta minha mão com mais força.

— Você consegue.

Sussurra e assinto, ele está certo e me aproximo dos


noivos. Manuela se desvencilha do noivo e vem até mim, ela não
hesita em me abraçar.

— Eu fico feliz que vocês tenham vindo.

Ela parece animada e minha consciência pesa.

— Obrigada pelo convite.

Seus olhos estão brilhando quando nos afastamos e sorrio,

um sorriso de verdade.

Manuela se vira para abraçar Guilherme e eu abraço Hugo,


seu noivo. Depois de nos cumprimentarmos ficamos os quatro em
uma rodinha e observo Hugo e Manuela, a forma como eles se
olham deixa claro o quanto se amam.

— Boa noite, filha. — Um arrepio percorre meu corpo


quando ela toca minhas costas e para ao meu lado entre
Guilherme e eu. — É tão bom ver as minhas duas filhas juntas.

Nenhum de nós quatro diz nada e nem precisa, porque


Cecília fala por todos.

— Você sabia que sua irmã está noiva, Manuela?

Manuela olha em nossa direção com uma expressão

animada.

— Sério?

Sinto meu rosto ficando vermelho, mas mesmo assim, ergo


minha mão e exibo meu anel.

— Sim.

— Uau, parabéns.

Mais uma vez me abraça e me sinto mal por estar

mentindo para ela. Assim que Manuela se afasta Cecília olha em


minha direção com um sorriso orgulhoso em seu rosto.

— No final do mês iremos oficializar esse noivado. — Vira-


se para Guilherme. — Sua mãe e eu temos conversado.
Ele apenas assente.

— Estamos pensando em um almoço na fazenda do seu

irmão.

Almoço?

— Como assim?

Olha em minha direção com as sobrancelhas erguidas.

— Algum problema?

Suspiro e estou prestes a dizer que um almoço está fora de


cogitação quando outros convidados se aproximam para
cumprimentar os noivos e somos obrigados a nos afastar.

Guilherme, minha mãe e eu caminhamos lado a lado até um canto


mais afastado.

— Não terá almoço algum.

Faz uma careta e um sinal de desdém.

— Está decidido e com licença que preciso falar com

outros convidados.

Deixa-nos sozinhos e me viro para Guilherme.

— Não haverá almoço algum.

Ele dá de ombros.
— É só um almoço, princesa.
Capítulo 17

“Você é perfeito da forma como você é


Então me mostre cada marca e cada cicatriz”[28]

Encaro-o indignada.

— Você não pode estar falando sério.

Mais uma vez dá de ombros.

— Por que não estaria falando sério?

Faço um gesto com as mãos que nem eu mesmo entendo.

— Porque não faz sentindo fazermos um almoço para

oficializamos um noivado.

Ele coloca suas mãos sobre meus ombros.


— Relaxe, princesa, minha família e a sua avó sabem que

é mentira.

Sussurra.

— Esse é o problema, Guilherme, qual motivação de fazer

um noivado que todos sabem que é mentira?

Enganar minha mãe, ok, mas fazer um almoço é uma

loucura, por que ele não está surtando como eu? Ele parece tão
tranquilo.

— Guilherme. — Suspiro. — Você percebe que minha mãe


quer organizar um noivado na fazenda do seu irmão e nós não

estamos noivos de verdade?

Assente.

— Sim, Anne e não vejo problema nenhum, será uma

chance de você conhecer a minha família e eu a sua, podemos

não estarmos noivos, mas teremos uma filha o que é muito mais

duradouro do que qualquer noivado.

Absorvo suas palavras e sua linha de raciocino faz sentido.

— Você realmente acha que é uma boa ideia?

Diminui ainda mais a distância entre nós e olha em meus

olhos.
— Sim, é uma ótima ideia, além do mais podemos contar
sobre o bebê para sua família e o restante da minha.

Mordo meu lábio inferior, apesar de conseguir entender o


que Guilherme está sugerindo ainda tenho um pouco de receio.

Sem que eu perceba ele ergue sua mão e aproxima seus dedos

da minha boca.

— Eu estou aqui e você não precisa surtar.

Passa o dedo pelo meu lábio e o libertar dos meus dentes.

Minha respiração falha e meu coração acelera.

Estamos perto demais e ele está me tocando.

— Se tudo der errado a culpa será sua.

Sorri.

— Tudo bem, princesa, mas acredite em mim tudo ficará

bem.

Seu olhar é determinado.

— Você não pode me garantir isso.

Abaixa sua mão e apesar de não ter mais seu toque

continuo o sentindo em minha pele.

— Você tem razão, mas posso prometer que farei o

possível e o impossível para que tudo fique bem.


A forma como está me encarando deixa evidente o quanto

ele está sendo sincero e isso faz com que meu coração se
tranquilize. Guilherme consegue me acalmar.

— Tudo bem.

Assente e não se afasta, ele segue aqui tão perto a ponto


do seu perfume estar dominando o meu espaço.

A tensão que há entre nós é capaz de fazer com que tudo


ao nosso redor perca a importância. É como se estivéssemos

presos em uma bolha, uma bolha só nossa.

Um barulho chama nossa atenção, então dou um passo

para trás e ele também. Nós voltamos para o mundo e ao olhar


para o lado percebo que minha mãe está batendo um talher em

uma taça, ao seu lado está o prefeito, seu marido, pai de Manuela
e o meu padrasto.

— Nós gostaríamos de falar algo antes de iniciarmos o


jantar.

Todos ficam em silêncio à espera das palavras do casal

que está sobre um palco no fim do salão e de frente para as


mesas.
— É um imenso prazer estar aqui essa noite celebrando a

futura união da nossa filha e de Hugo. — Olha para os dois e joga


um beijo na direção deles. — Como todos sabem, Manuela é a

minha filha do coração e sou grata por ela ter me acolhido e me


deixado ser sua mãe.

Ficamos todos em pé enquanto minha mãe e seu marido


se declaram para Manuela e seu noivo. No discurso de Cecília ela

destaca o quanto é grata por Manuela ter entrado na sua vida,


chamá-la de mãe e ser uma filha perfeita.

Suas palavras não me incomodam, apesar de ser um

pouco doloroso, porém eu não tenho culpa de não ser a filha


perfeita e nem Manuela.

Guilherme se aproxima e passa sua mão pela minha


cintura, deixando-a sobre a minha barriga e apoio minhas costas
contra seu peito. Não é estranho, pelo contrário seu toque é

reconfortante.

Depois do discurso de Cecília e do seu pai a cerimonialista


sobe no palco e pede para que todos ocupem seus lugares, os
lugares estão indicados em uma plaquinha com o nome sobre a

mesa. Guilherme e eu estamos em uma mesa com alguns


familiares de Manuela, sentamo-nos um do lado do outro e me
dou conta que essa é a parte da família que minha mãe construiu,
uma que eu não faço parte.

É a vez de amigos e padrinhos fazerem um discurso para o


casal que agora ocupa uma mesa de frente para o palco. Alguns
compartilham histórias do casal e é legal saber mais um pouco

sobre os dois.

— Eles parecem ser um casal de verdade.

Guilherme sussurra e me viro para ele.

— Como assim?

— Achei que sua irmã pareceria com sua mãe já que ela a
venera tanto, então esperava que ela estivesse se casando por

interesse, porém os dois parecem ser apaixonados.

Faz um sinal discreto com o queixo apontando para


Manuela e Hugo.

— Eu acho que eles se amam.

Guilherme apenas assente e voltamos a prestar atenção

aos discursos, a parte de histórias cede para conselhos e é um


tédio, preciso me controlar para não bocejar, posso culpar o sono

a gravidez, não posso?


Alguém está falando o quanto um casal precisa ter
paciência quando Guilherme toca meu braço de leve com seu
cotovelo e desliza algo pela mesa, olho para baixo e me deparo

com um guardanapo em forma de coração.

— Para mim?

Minha voz soa rouca, caralho, eu estou emocionada!?

— Sim.

Pego o coração com cuidado e o seguro como se fosse

algo precioso, e talvez seja.

— Obrigada.

Olho para ele e Guilherme dá de ombros.

— De nada.

Sei que provavelmente ele apenas estava entediado e fez

algo para se distrair, porém guardo o coração em minha bolsa,

para mim ele tem um significado.

Guilherme olha em frente e eu faço o mesmo, entretanto

não consigo voltar a me concentrar no que estão dizendo, só

consigo pensar no coração em minha bolsa. Como algo tão

simples pode significar tanto?


Os discursos terminam e o jantar de fato inicia, mas quase

não toco na comida, porque uma dúvida me perturba, por que


ganhar o coração de guardanapo de Guilherme significou algo?

— Hey, você está bem?

Sorrio enquanto olho em sua direção.

— Por que não estaria?

Encara o prato à minha frente.

— Porque você quase não tocou na comida.

Dou de ombros e invento uma desculpa qualquer.

— Estou indo com calma, porque quero ter certeza de que

não terei que sair correndo para o banheiro.

— Isso é inteligente da sua parte.

Empurro seu ombro com o meu.

— Eu sou muito inteligente, tão inteligente que espero que

nossa filha herde a minha inteligência.

Inclina sua cabeça para o lado e aproxima seu rosto do

meu.

— Você finalmente aceitou que teremos uma filha, hein?


Sorrio e me dou conta que com poucas frases Guilherme

foi capaz de me distrair. Uma parte de mim quer surtar por causa

disso, mas estou cansada de surtar e a ignoro. Nós estamos nos


tornando amigos, é apenas isso.

— Espero que seja uma garota, ou ele irá nos odiar para

sempre.

— Como se fosse possível odiar você, princesa.

Nós dois sorrimos.

— Você é ótimo para meu ego, Guilherme.

Dá de ombros e me encara convencido.

— Sempre que precisar é só chamar.

Reviro meus olhos e volto a comer, meu apetite retorna e

acabo com a comida que há em meu prato.

Comer implica em beber que implica em ir ao banheiro e

estou saindo dele quando encontro com Manuela.

— Eu estava procurando por você.

Sorri.

— Estava?

Aproxima-se e engancha seu braço no meu.


— Sim e Guilherme me disse que você tinha vindo ao

banheiro. — Ela caminha para longe do banheiro e a sigo. — De


verdade estou feliz que esteja aqui.

Sorrio sem graça.

— Por quê?

Ergue suas sobrancelhas.

— Por que estou feliz por você estar aqui? — Assinto e ela

suspira. — Porque você é filha de Cecília e não concordo com o

fato de você nunca ter vindo morar com a gente.

Sua voz é tão tranquila e carinhosa.

— Eu sempre quis uma irmã e adorava suas visitas.

Meus olhos se enchem de lágrimas ao ouvir suas palavras

e me lembrar das vezes que brincávamos juntas nas raras vezes


que Cecília me levava até a sua casa.

— Eu também gostava.

— Eu sinto muito por não sermos a família que você

merecia e só queria que você não me odiasse.

Pisco várias vezes para evitar chorar.

— Não odeio você, só que Cecília foi algo para você que

nunca foi para mim.


Desvencilha seu braço do meu e segura minha mão com a

sua.

— Eu sei e por isso estou feliz por estar aqui hoje.

Aperto sua mão.

— Estou feliz de estar aqui e só não irei ao seu casamento,

porque é no dia do desfile da minha marca de roupas.

Solta minha mão e dá um passo para trás.

— E eu só não irei ao seu desfile por ser no dia do meu


casamento.

Não há mágoa em seus olhos e seu sorriso é sincero.

— Podemos tentar ser amigas?

Surpreendo a nós duas e Manuela não hesita em


responder.

— É claro.

Nós duas sorrimos e alguém a chama, antes dela se


afastar beija minha bochecha. Assim que fico sozinha solto a

respiração que estive prendendo, apesar da conversa tranquila e

esclarecedora estou tensa e é por isso que deixo o salão pela

porta lateral e vou para o jardim.

Sou atingida pelo ar da noite e encaro o céu estrelado.


Perdoar sempre é algo interessante na terapia,

principalmente quando um novo ciclo inicia. Mesmo que talvez


meus pais não mereçam, eu preciso perdoá-los.

Olho para o anel em meu dedo e mentir não é uma boa

ideia, é péssima. Como irei sair dessa?

— Sabe, é difícil as estrelas competirem com seu brilho.

Sorrio e olho para trás, Guilherme caminha em minha

direção.

— Era assim que você conquistava as mulheres?

Dá de ombros.

— Não sei, me diga você, como eu a conquistei?

Faço uma expressão de desdém e olho em frente.

— Você só era o cara certo no momento certo.

Para ao meu lado de modo que seu braço toque no meu.

— Você é péssima para meu ego, Anne.

Sorrimos e ficamos alguns segundos em silêncio.

— Por que está tensa?

Franzo minha testa e me viro para Guilherme.

— Quem disse que eu estava tensa?


Segue encarando o céu.

— Você estava esfregando um dedo no outro e faz isso

quando está tensa.

Abro a boca indignada.

— Eu não faço isso.

Assente e olha para mim com suas sobrancelhas erguidas.

— Sim, você faz.

Quero continuar dizendo que não esfrego o dedo um nos


outros quando estou tensa, mas eu faço.

— Você é muito observador.

Resmungo, ele só sorri e dá de ombros.

— Eu sou. — Brinca com uma das mechas do meu cabelo.


— Então, conversa difícil com sua irmã?

Balanço a cabeça negando.

— Conversa necessária.

Encaro hipnotizada, ele enrolando e desenrolando o dedo

dos fios do meu cabelo.

— Conversas necessárias são boas.

Respiro fundo e desvio os olhos dos seus dedos.


— Sim, são.

Volto a fitar as estrelas o obrigando a soltar o meu cabelo.


Uma estrela cadente atravessa o céu e no mesmo instante fecho

meus olhos e faço um desejo.

— O que você desejou?

— Se eu contar ele não se realiza.

Dou um passo em frente e ele faz o mesmo.

— Se você me contar, eu conto o que pedi.

Caminhamos pelo pequeno jardim repleto de arbustos.

— E você fez um?

Mesmo sem vê-lo posso apostar que há um sorriso

convencido em seu rosto.

— Segredo que só revelo se você me contar o que


desejou.

Dou de ombros.

— Não sou tão curiosa assim.

Ele coloca o blazer sobre meus ombros.

— Está frio.

Seguro o tecido.
— Obrigada.

— Meu objetivo é servir a você, princesa.

Ele está sorrindo e me pergunto quando foi que nos


tornamos esse tipo de amigos que fazem piadinha um com o

outro. Não tenho uma resposta, mas gosto de nossa relação.

— Bom, então é hora de levar a princesa embora.

— Seu pedido é uma ordem. — Faz uma mesura. — E


como um ato de gratidão ao seu súdito deveria contar qual foi o
seu desejo.

Sorrio e balaço a cabeça, ele não precisa saber que


desejei que ele ficasse.
Capítulo 18

“E eu preciso que você saiba que nós estamos caindo


muito rápido
Nós estamos caindo como as estrelas”[29]

Escuto seus passos no quarto ao lado e me pergunto se


ela continua nervosa. Será que deveria ir conferir se ela precisa

de algo? Nas últimas duas semanas presenciei o quanto mesmo


longe do ateliê ela se dedicou para o dia de hoje.

Visto a calça azul de alfaiataria que combina com meu


blazer da mesma cor e repasso o dia de hoje, eu fiz tudo o que

poderia para tornar o dia do seu desfile agradável? Eu me


esforcei para preparar as melhores refeições e até mesmo assisti

alguns realities de moda com ela pela tarde.


— Guilherme.

Seu grito chega aos meus ouvidos e no mesmo instante

saio correndo. Meu coração está acelerado e morro de medo de

estar acontecendo algo. Não bato na porta e apenas entro em seu


quarto.

— O que está acontecendo?

Procuro por algo errado, mas tudo parece em seu devido


lugar e Anne está em frente ao espelho com um sorriso

envergonhado no rosto.

— Eu preciso de ajuda.

— Você está bem?

Assente e posso respirar aliviado.

— Eu só preciso de ajuda com o zíper desse vestido. —


Encaro suas costas nuas enquanto o tecido preto cai para os

lados. — Engordei com a gravidez e não consigo fechá-lo.

Ela cora.

— Eu fecho para você.

Preciso dar apenas 3 passos em sua direção e estou de

frente para suas costas. Anne tem as mãos sobre os seios

segurando o vestido. Levo minhas mãos até o final das suas


costas onde o zíper está e meus dedos tocam a sua pele e sinto a
sua leveza e delicadeza.

Enquanto fecho seu vestido, mantenho meus olhos presos


aos seus pelo reflexo do espelho. Conforme o zíper sobe, meus

dedos deslizam pelas suas costas, prolongo o momento e me

torturo, faz quanto tempo que não toco em uma mulher? Com

certeza é um dos meus recordes, mas se for sincero não tenho

vontade, a não ser que essa mulher seja Anne.

Não deveria, mas a desejo e a cada dia que passo ao seu

lado esse desejo aumenta. É impossível não pensar, e se ao

invés de estar fechando seu vestido, eu estivesse abrindo?

Encaro nosso reflexo, eu estou sem camisa e com as mãos

no zíper do seu vestido, Anne está vestindo seu vestido preto

longo que valoriza seus seios e o maldito colar que está usando

chama a atenção logo para essa parte do seu corpo, além do

mais seu cabelo está preso em um coque. Ela está linda e


irresistível.

Não consigo mais adiar e sou obrigado a fechar o vestido


por completo no mesmo instante Anne abaixa suas mãos, o que

faz com que perceba as alças finas do vestido caídas, então as

subo até seu ombro, o contato faz com que meus dedos esbarrem
em seu pescoço e não resisto, acaricio a curva formada pelo seu

ombro e pescoço. Qual seria a reação se eu a beijasse bem aqui?

Está difícil respirar ainda mais que a cada respiração sinto

o seu perfume, ela está dominando meu espaço e a minha


cabeça.

Meu olhar encontra o seu e enxergo em seus olhos a

mesma luxúria que há nos meus. Ela também está sentindo essa
tensão que nos puxa na direção um do outro.

— Obrigada.

Sua voz falha, porque ela está ofegante.

— De nada, princesa.

Minha voz está rouca.

— Você precisa terminar de se vestir, ou chegaremos


atrasados e eu não posso chegar atrasada.

Sorri e não me afasto. Acaricio sua pele mais uma vez e


ela fecha seus olhos. Eu poderia abaixar minha cabeça e beijá-la,

mas eu não faço, reúno todo controle e coragem existentes em


mim, afasto minhas mãos do seu corpo e dou um passo para trás.

— Esperarei você na sala.


Anne abre seus olhos, beijo sua bochecha demoradamente

e deixo seu quarto. Caralho, o que acabou de acontecer?

É claro que a desejo, faço isso desde a primeira noite em

que nos vimos e a cada dia quando a vejo, quero tomar a sua
boca e fazê-la minha, porém isso que compartilhamos agora é

insano. É um desejo que nunca senti com nenhuma outra mulher,


é uma necessidade de reivindicá-la.

Entro abruptamente no quarto de hóspedes que estou

ocupando há duas semanas. Eu não posso perder a minha


mente, não posso ceder ao meu pau, não dessa vez, porque

Anne e minha filha são meu tudo, não posso perdê-las por um
capricho meu.

Caminho pelo quarto e passo as mãos pelo meu cabelo.


Talvez devesse sair depois do desfile e encontrar alguém para
passar a noite, mas a simples ideia de fazer algo assim embrulha

meu estômago.

Respiro fundo e busco me controlar. Sou um homem adulto


e consigo pensar apenas com a minha cabeça de cima, não sou
mais um adolescente hormonal.
Respiro fundo uma dezena de vezes, jogo uma água em
meu rosto e finalmente recobro minha razão.

Depressa termino de me arrumar e quando desço para sala


encontro Anne me esperando.

— Olha quem foi mais devagar dessa vez.

Ela sorri e me dou conta que por esse sorriso sou capaz de
tudo.

— Queria fazer com que você tivesse a experiência de


esperar por mim.

Revira seus olhos e em seguida fica de costas.

— Vamos?

Ela caminha à minha frente e eu apenas a sigo.

— Vamos.

O vestido é colado ao seu corpo e marca suas curvas. Ela


está deslumbrante e duvido que haja uma mulher mais bonita que

ela essa noite.

Chegamos na garagem e abro a porta para que ela possa


entrar, porém antes que ela faça toco sua cintura.

— Você está linda.

Cora e sorri.
— Obrigada.

Assinto e assim que ela ocupa seu lugar fecho a porta, dou

a volta no carro e me sento atrás do volante.

Ela coloca o endereço no GPS e seguimos para o local


onde o desfile irá ocorrer.

— Nervosa?

— Um pouco, não é meu primeiro desfile, porém a cada


lançamento as borboletas continuam aqui em minha barriga e o

medo de ninguém gostar faz morada em minha cabeça

— É óbvio que irão gostar.

Bufa irritada.

— Você não entende nada de moda.

Dou de ombros.

— Mas eu vi as peças e amei, se eu que não entendo de

moda gostei todos irão gostar.

— Você sabe que isso nem faz sentido, não é?

— Para mim faz.

Ela bufa mais uma vez, porém posso apostar que dessa

vez está sorrindo.


O restante do caminho é em silêncio e quando saio do

carro em frente ao evento encaro o lugar fascinado. Há muitas


luzes, fotógrafos e um tapete vermelho.

Ajudo Anne a descer e cedo as minhas chaves a um

manobrista, em seguida seguimos para o tapete vermelho e


muitos flashs nos atingem.

— A estrela chegou.

Sussurro e Anne sorri.

— Nosso momento de fingirmos ser celebridades.

Balanço a cabeça sorrindo e espalmo minhas mãos em

suas costas. Ao chegarmos na entrada os fotógrafos pedem fotos

e me afasto, Anne posa para algumas. Ela é simpática e natural

com todos, observo-a admirado e depois de alguns segundos ela


me chama, faço uma careta, porém vou até ela.

— Meu noivo tem que aparecer em algumas fotos, não é?

Nós dois sorrimos e pelos próximos segundos tiramos


algumas fotos juntos. Não demoramos e enfim entramos no

evento, a decoração é belíssima em azul e prata. Alguém chama

por Anne e ela olha em minha direção com uma expressão de

pesar.
— Desculpe, eu preciso ir.

Sorrio.

— Juro que consigo me virar sozinho.

Ela solta minha mão que estava presa à sua desde o


momento das fotos e me deixa sozinho. Um garçom passa por

mim com taças de champanhe e fico tentado a pegar uma, porém

estou dirigindo. Antes eu pegaria, afinal é só uma, entretanto não


estou sozinho minha filha e Anne estão comigo;

— Olha só se não é o meu irmão. — Viro-me e encontro

Enrico e Diana. — Aquele docinho, que está há duas semanas na

cidade e não foi nem um dia nos visitar.

Reviro meus olhos.

— Também é um prazer ver você, Enrico.

Meu irmão sorri e desvencilha-se da noiva para que

possamos nos abraçar, logo depois afasto-me dele para abraçar


Diana.

— Então, está gostando da cidade?

É a primeira pergunta que minha cunhada me faz assim

que nos cumprimentamos e os dois param à minha frente


abraçados, acho que se eles ficarem muito tempo sem se tocar

um deles é capaz de morrer.

— Estou.

A verdade é que não tenho saído de casa, porque não

tenho muito o que fazer e nem vontade, gosto de estar dividindo


meus dias com Anne.

— E você e Anne?

Não entendo a pergunta do meu irmão e ergo minhas

sobrancelhas.

— O que tem a gente?

— Estão conseguindo se entender, ou ela já descobriu que

você é um chato?

Aponto meu dedo do meio em sua direção.

— Nós somos ótimos amigos se quer saber.

Sorri debochado e dou de ombros.

— Deixando o assunto de lado, você convenceu mamãe

que a ideia de um noivado é uma boa ideia?

Assinto.

— Sim, sua única condição foi que conheça Anne antes,

então na sexta iremos jantar e apresentarei Anne a ela e o


noivado será no sábado

Meu irmão faz uma careta.

— Tudo isso na minha fazenda?

É a minha vez de encará-lo com deboche.

— É claro.

— Folgado.

Resmunga e aponto em sua direção.

— Isso é uma vingança por ter puxado a fofoca na semana


passada no grupo da minha família a meu respeito.

— Que foi uma vingança por eu ter sido informado que

você tinha abandonado a empresa, ia ter um filho e estava

morando aqui na cidade por Pietra.

Dou de ombros.

— Eu não tive tempo de informar vocês.

Ergue suas sobrancelhas e está prestes a protestar

quando a cerimonialista anuncia que o desfile irá começar, então


ocupamos nossos lugares e assistimos as modelos desfilarem

com as roupas desenhadas por Anne e Francesca. Por fim, as

duas sobem na passarela e fazem um discurso.

Meu peito infla de orgulho ao observar Anne.


O desfile chega ao fim e todos são convidados a ficarem

para um coquetel. Deixamos as cadeiras ao redor da passarela e


vamos para um segundo ambiente onde todos ficam em pé,

apesar de existirem sofás distribuídos pelo espaço.

Permaneço ao lado de Enrico e Diana e em um certo

momento Nicholas Medeiros junta-se a nós, conversamos sobre


negócios e aproveito para propor uma reunião entre ele, Enrico e

eu para que eu possa apresentar um projeto para os dois.

Mesmo longe meus olhos sempre procuram por Anne e em


certo momento a encontro conversando com um homem. Ele a

está tocando? Ele tem as mãos em seu braço e ela está sorrindo.

Peço licença aos três e vou até lá. O que eles tanto estão
conversando? E por que, ela está sorrindo?

Meus passos não parecem rápidos o suficiente e preciso

me segurar para não correr. O sorriso de Anne amplia quando

percebe que estou me aproximando e olho para o homem ao seu


lado com um sorriso vitorioso, o sorriso do idiota some do seu

rosto.

Paro ao seu lado, mas continuo encarando o homem. Anne

olha de mim para ele.


— Hey, Guilherme, esse é o Dominic, ele é um dos nossos
fornecedores de tecido, e Dominic, esse é um amigo.

O homem volta a sorrir. Porra, ele acha que ela está

disponível. Diminuo a distância entre nós e passo meu braço pelo


corpo de Anne fazendo com que suas costas fiquem apoiadas em

meu peito e espalmo minha mão em sua barriga.

— Prazer, Guilherme.

— O prazer é meu, Dominic.

Ele não está mais sorrindo, porém segue encarando Anne

como se quisesse algo com ela. Eles estavam flertando? Por que

essa possibilidade me incomoda? É movido por esse sentimento


esquisito que aproximo minha boca da sua orelha e sussurro, um

sussurro alto suficiente para nosso amigo ouvir.

— Você está precisando de algo, princesa?

Anne se vira para mim com a testa franzida, mas não tem a

chance de dizer nada, porque nosso amigo é mais rápido.

— Bom, foi ótimo reencontrar você, Anne, até mais.

Ele se afasta e Anne se desvencilha dos meus braços.

— O que diabos foi isso?

Dou de ombros.
— Nada, apenas estou agindo como sempre agi.

Ergue suas sobrancelhas.

— Você não agiu como sempre. — Não encontro nenhuma


justificativa e graças a Deus não preciso continuar procurando por
uma, porque algo chama a atenção de Anne. — O que Manuela

está fazendo aqui? Ela deveria estar se casando.

Sigo seu olhar e me deparo com ela.

— Eu não a tinha visto.

— Nem eu, fique aqui que irei falar com ela.

Anne vai até a meia-irmã e eu observo as duas, a conversa


parece um pouco tensa e assim que Anne volta descubro que

Manuela não se casou, porque o noivo a estava traindo. Ela está


péssima e Anne prometeu ajudá-la, sim, a mãe da minha filha é
alguém incrível.

O restante da noite eu fico ao lado de Anne e a protegendo


de homens inadequados, não posso deixar que qualquer um se
aproxime da minha filha. Estou apenas cuidando das duas.

Na volta para casa Anne dorme, então quando chegamos


para não a acordar subo com ela em meus braços e a deposito
sobre sua cama. Antes de deixar seu quarto beijo sua testa e
mesmo que ela não esteja me ouvindo faço uma promessa.

— Prometo que sempre cuidarei de você, princesa.


Capítulo 19

“E ela me faz tão bem


E ela me faz tão bem
Que eu também quero”[30]

Encaro meu irmão, Nicholas Medeiros e Calebe


Albuquerque ansiosos, e se minha ideia for péssima? Posso ser

ótimo administrando uma empresa, mas posso montar uma do

zero? Os três leem os documentos concentrados e eu bato meus


pés no chão.

Meu irmão finalmente termina de ler os papéis, porém, ao


invés de olhar em minha direção começa a reler os documentos.

— Pelo amor de Deus, fale algo.

O idiota sorri e deixa os papéis sobre a mesa.


— Eu já tenho uma resposta e apenas estava o

provocando.

Reviro meus olhos e desejo bater em Enrico.

— Eu estou aqui morrendo de nervosismo e você rindo de

mim?

Dá de ombros.

— É para isso que servem os irmãos.

Não tenho tempo para provocá-lo de volta, porque Nicholas


e Calebe também finalizam a leitura.

— Eu gosto da proposta.

Respiro aliviado ao ouvir a opinião de Calebe, agora só

preciso convencer Nicholas e Enrico.

— Na minha opinião precisa de alguns ajustes, mas é uma

ótima ideia.

Sorrio animado para Nicholas, ele e Calebe concordando

facilitam muito a minha vida, então olho para Enrico esperançoso,

o idiota sorri e faz um suspense.

— Eu também gosto da sua proposta, Guilherme.

Faço um gesto comemorando, nem um pouco maduro e

depois da minha expressão de felicidades iniciamos nossa


conversa sobre como melhorar a proposta e a colocar em prática.
Não será fácil montar uma empresa com objetivo de facilitar a

comercialização de soja e carne, os dois produtos são bem

distintos, mas com o apoio desses três que conhecem o ramo

farei dar certo.

Saímos da sala de reunião da Medeiros direto para um bar,

é uma segunda-feira, mas precisamos comemorar nossa nova

parceria.

Assim que nos sentamos ao redor de uma mesa de frente

para o palco que hoje está vazio Calebe ri e aponta para

Nicholas.

— E foi aqui que Nicholas fez a melhor apresentação da

sua vida.

— Eu fiquei sabendo dessa presepada.

Meu irmão ri e faço uma careta.

— Do que vocês estão falando?

— Você não sabe? — É Calebe quem responde à minha

pergunta e balanço a cabeça negando. — Melhor do que explicar

o que aconteceu é mostrar o que aconteceu.


Pega o seu celular, abre em um vídeo e me passa o

aparelho. Nicholas está nesse mesmo palco cantando evidências


e chorando. É impossível não rir e minha barriga está doendo

quando entrego o celular para Calebe.

— Nós temos atos estranhos quando estamos

apaixonados.

Nicholas dá de ombros e não parece nem um pouco


envergonhado.

— Eu tenho que concordar com Nicholas.

É claro que meu irmão concorda com Nicholas.

— Sim, eu me recordo de você sujo e sem tomar banho

com dois cachorros de companhia quando Diana deixou você.

Nós três rimos de Enrico, que faz uma careta.

— Não são boas lembranças.

O garçom nos interrompe e só voltamos a conversar depois


que ele deixa um litrão de cerveja e quatro copos sobre a mesa.

— Eu nem posso falar muito de vocês. — Calebe aponta


para Enrico e Nicholas. — Porque, eu me casei aos dezesseis

anos.

Encaro-o surpreso.
— Você faz parte do time dos emocionados.

Dá de ombros e não demostra nem um incômodo com a


minha observação.

— Acontece e acredite aprendi muito com esse casamento.

Enrico bate nas minhas costas.

— E você também faz parte desse time, querido irmão.

Viro-me para ele.

— Óbvio que não.

Ergue suas sobrancelhas.

— Você abandonou o cargo de CEO, mudou de cidade, e


ainda está fingindo estar noivo.

Sorrio enquanto coloco cerveja em meu copo.

— Olhando por esse lado realmente sou um pouco

emocionado.

Nós quatro rimos e mudamos de assunto, pelas próximas

horas bebemos cerveja e conversamos. Esgotamos com dois


litrões e como estamos dirigindo decidimos encerrar a noite.

Apesar de estar satisfeito com nosso Happy Hour estou


ansioso para chegar em casa e dirijo o mais rápido possível.
Como um lugar pode ter se tornando um lar em tão pouco tempo?
Talvez eu esteja um pouco ferrado.

E tenho certeza de que estou muito ferrado quando entro

em casa e a primeira coisa que eu faço é procurar por Anne.

— Princesa?

Nenhuma resposta. Ela não está na sala e nem cozinha,

onde ela pode estar?

— Princesa?

Será que ela saiu? Estou pegando o celular em meu bolso


para enviar uma mensagem quando escuto a sua voz.

— No jardim, regando as plantas.

No mesmo instante deixo o celular sobre o aparador e

corro até lá, encontro-a vestindo um vestido floral, o cabelo preso


em um rabo de cavalo por uma presilha colorida e está de pés
descalços, ela está adorável.

— Então, como foi a reunião?

Pergunta animada e curiosa. É tão bom ter alguém com


quem dividir certas preocupações e vitórias.

— Eles aprovaram a proposta.

Abro meus braços e no mesmo instante ela larga o regador


e vem até mim.
— Isso é incrível, Guilherme, parabéns.

Puxo-a para meus braços e a abraço.

— Obrigado.

Ela passa os braços pelo meu corpo e encosta a lateral do


rosto em meu peito, então apoio meu queixo na sua cabeça.

— Eu estou realmente feliz por você.

Aperto-a ainda mais contra meu corpo.

— Eu estou feliz em estar dividindo esse momento com

você.

Nunca pensei que fosse tão bom ter alguém torcendo por

você e vibrando com as suas conquistas.

— Eu senti o mesmo enquanto você estava lá por mim no

sábado.

Minhas mãos sobem e descem pelas suas costas, o desfile

há dois dias foi um sucesso e ontem saímos para almoçar e


comemorar. A conquista foi de Anne, mas estou feliz por ela, tão

feliz quanto estou por ter conseguido a aprovação da minha

proposta.

— Você foi um sucesso.

— E você foi um sucesso hoje.


Ficamos em silêncio ouvindo os grilos e observando o

início da noite, as luzes das casas estão começando a ser


acessas e as estrelas tomam conta do céu.

É uma linda noite e quando meu olhar cruza com a piscina

tenho uma ideia.

— Que tal comemorarmos?

Mesmo sem ouvir a sua resposta retiro a minha carteira

bolso e a jogo no chão ao meu lado.

— Claro e como iremos comemorar? — Não a respondo,


apenas a pego em meus braços como se fosse um bebê. — O

que você está fazendo, Guilherme?

— Vamos comemorar, princesa.

Com cuidado corro em direção à piscina.

— Guilherme, não ouse me jogar na piscina.

— Não se preocupe você não irá sozinha.

Assim que tenho certeza de que ela está trancando a

respiração pulo na piscina. Ficamos alguns segundos submersos


e quando voltamos à superfície Anne afasta os cabelos molhados

do seu rosto.

— Você é um maluco.
Sorrio como uma criança.

— Talvez.

E como uma criança giro pela piscina, Anne gargalha e


som da sua risada faz com que algo em meu peito vibre. Ao parar

ela está sorrindo e seus olhos estão brilhando.

— Se eu vomitasse em você iria culpar o nosso filho.

Ela deixa meus braços e apoia seus pés na piscina. Como

estamos um de frente para o outro levo minhas mãos até sua


barriga.

— Nós deveríamos escolher um nome.

Ergue suas sobrancelhas.

— Nós nem sabemos se é mesmo uma menina.

— Nós saberemos essa semana, não é?

Se não estiver totalmente perdido, essa semana ela tem

uma consulta e além de podermos escutar o coração do nosso


filho pela primeira vez Anne poderá fazer o exame que nos

permite descobrir se teremos uma menina ou um menino.

—Francesca acha que devemos fazer um chá revelação.

Ela faz uma careta fofa, o que torna bem difícil fazer
qualquer objeção, por que eu preciso ser tão mole?
— Quando?

Ainda com as mãos em sua barriga dou um passo à frente


e ela um para trás.

— No final de semana seguinte ao noivado.

Faz uma aspa com as mãos ao dizer noivado.

— Tão longe assim? Eu sou curioso.

Suas costas colidem com a borda da piscina e espalma as

mãos em meu peito. Seu toque não é estranho, é familiar, e meu

corpo todo entra em alerta esperando e desejando mais.

— Podemos cancelar esse noivado logo e fazer o chá

revelação no próximo fim de semana. — Empurra-me para trás e

se vira ficando de costas para mim e de frente para as luzes da

cidade. — Aliás, realmente acho que deveríamos contar logo a


verdade para Cecília.

Ela apoia seus braços na borda da piscina e descansa sua

cabeça nele, então vou até ela e paro ao seu lado.

— Por quê?

Sorri, um sorriso triste que não combina nada com ela.

— Eu achei que esse noivado falso poderia me trazer uma

satisfação, porque finalmente iria vencer e ter a atenção da minha


mãe, mas não senti nenhuma satisfação e sei que ela irá acabar

comigo quando descobrir tudo, só que está na hora de esquecer

qualquer laço sanguíneo e me afastar de vez dela. — Encara as

luzes à nossa frente. — Por mim e pela minha filha, um novo ciclo
irá se iniciar na minha vida e não posso mais continuar presa ao

passado.

Mordo meu lábio inferior ao lembrar-me de algo.

— Duas coisas, apesar do noivado ser falso ainda

precisamos conhecer a família um do outro, porque será a família

da nossa filha e segundo, sua mãe me enviou uma mensagem

me intimando para um evento beneficente no final do mês e eu


confirmei nossa presença, é um evento grande e pegará muito

mal se desmarcamos e seremos cancelados no twitter.

Ela simplesmente sorri.

— Podemos fingir até lá, mas você sabe, chá revelação só


daqui a duas semanas.

Suspiro e Anne somente ri do meu drama.

Pelos próximos minutos ficamos em silêncio e eu a


observo, ela está linda com o vestido colado ao corpo, cabelos

molhados e admirando a vista. E novamente, imagino como seria


se a beijasse, lembranças da única noite que compartilhamos

ganham espaço na minha cabeça e mais uma vez, desejo fazê-la


minha aqui, nessa piscina.

Balanço a cabeça e dou um passo para trás.

— E o que iremos preparar para jantar?

— Eu estou morrendo de vontade de comer um peixe frito.

Por que, é tão difícil de dizer não para essa mulher?

— Você sabe que não pode comer fritura.

Ela olha em minha direção com um olhar pidão, mas é a

sua boca que detém a minha atenção, ela está fazendo um


beicinho e é a minha tentação, porque eu poderia muito bem

puxar seus lábios com meus dentes. Merda, Anne.

Dou um passo à frente e apoio minha testa na sua, no


mesmo instante sua expressão muda e ela ofega. Nós dois

estamos sentindo o ar ao nosso redor mudar. Ela fecha seus

olhos, então ergo minhas mãos e seguro os fios do seu cabelo

com força. Ela está aqui tão perto, seus lábios estão tão perto,
com meu nariz toca a lateral do seu rosto e por fim, beijo a sua

bochecha.

— Eu encomendarei o peixe frito.


Afasto-me e saio da piscina. Estou duro e tenho certeza de
que minhas bolas ficarão eternamente roxas depois disso, mas o

que eu poderia fazer? Nós estaremos na vida um do outro para

sempre, não somos mais apenas nós dois, nós somos três e
seremos eternamente responsáveis por um outro ser humano.

Depois de um banho faço o que prometi a Anne e

encomendo os malditos peixes fritos. Quando desço para a sala

ela já não está mais na piscina, suspiro e me sento no tapete e


escolho um canal qualquer na televisão.

Os peixes ainda não chegaram quando Anne entra na sala

com seus cabelos molhados e vestindo uma calça e um dos seus


tops.

— Acho que finalmente minha barriga começou a aparecer.

Viro-me em sua direção e ela está com as mãos em sua

barriga. Uma barriga que é quase imperceptível, porém não serei


eu a apagar o brilho de seus olhos.

— Você está certa.

Sorrindo caminha até mim e se senta ao meu lado.

— Nosso pontinho é um montinho.

— É sim.
Ficamos o resto da noite assistindo programas aleatórios
na televisão, inclusive comemos os peixes sentados no tapete da
sala.

Em certo momento ao fim da noite Anne apoia a cabeça


em meu ombro e adormece, então a trago para meus braços e
deixo que ela siga dormindo em meu peito. Demoro a levá-la para

seu quarto, porque quero tê-la por mais tempo em meus braços.
Capítulo 20

“Porque amigos não fazem as coisas que fazemos


Todo mundo sabe que você também me ama
Estou tentando ser cuidadosa com as palavras que
uso”[31]

Esfrego meus dedos um no outro enquanto Guilherme

dirige para a fazenda de Enrico. Nós iremos encontrar a sua

família e um frio se instalou em minha barriga.

— Você não precisa ficar nervosa.

Reviro meus olhos.

— Fácil para você falar.

Dá de ombros.
— Pensa que poderia ser pior se de fato estivéssemos

noivos.

Ele está sorrindo, mas a frase faz com que meu coração se

encolha. Nós não estamos noivos, não de verdade e nos últimos


dias, em alguns momentos, eu desejei que fosse real.

Fecho meus olhos por breves segundos e respiro fundo,

isso não é hora de confundir as coisas.

— Seria menos constrangedor.

— Por quê?

Para em um sinal e se vira para mim. Ergo minhas

sobrancelhas

— Porque, eu sou a mulher que engravidou de você em


uma noite e eles sabem disso.

Só sorri e volta a olhar em frente.

— Se você tem medo da minha família te julgar fique


tranquila.

Mordo o lábio inferior, será? Quando você não tem o amor


de alguém que deveria amar você na infância isso irá refletir na

sua vida adulta e a insegurança irá andar de mãos dadas com

você.
Na maioria das vezes quando vou conhecer alguém
consigo controlar o medo de rejeição, porém hoje é muito

importante. Eles são a família da minha filha.

— Princesa, você quer voltar? Podemos deixar isso para

amanhã, ou depois.

E são gestos assim que fazem com que meu coração bata

mais forte e eu deseje algo que não deveria.

Balanço minha cabeça e forço um sorriso.

— Não, vamos logo fazer isso. — Assente. — Só se por

acaso sua família não gostar de mim podemos não dormir por lá?

O plano é dormimos na fazenda, porque amanhã é o

almoço do nosso falso noivado, porém como dormir em um lugar

se as pessoas não gostarem de mim!?

— Claro, princesa. — Oferece a sua mão, não hesito e

coloco meus dedos sobre os seus. — Mas é sério, relaxe, porque

minha família irá amar você.

Aperta minha mão contra a sua, apesar de um contato

breve é o suficiente para me tranquilizar o restante do caminho.

Quando chegamos as luzes da casa de Enrico estão

acesas e pelas janelas é possível ver a movimentação.


Meu estômago embrulha e respiro fundo, não é o momento

de vomitar. Fecho meus olhos e Guilherme espalma as mãos em


minhas costas.

— Se você quiser podemos ficar alguns minutinhos aqui


fora.

Aproxima-se ainda mais e beija a minha cabeça.

— Não. — Abro meus olhos. — Vamos entrar.

Dou um passo em frente e com a mão de Guilherme em


minhas costas seguimos para a entrada. Não precisamos abrir a
porta, porque ela é aberta por uma senhora de cabelos curtos e

loiros e olhos castanhos iguais aos de Guilherme, ela é elegante,


mas o brilho em seus olhos é aconchegante.

— Eu estava esperando por vocês.

Sorri e eu sorrio de volta, um sorriso tímido e

envergonhado, mas é um sorriso.

— Claro que você estava, mãe.

Ignora o filho e se aproxima de mim.

— Você deve ser a Anne?

Assinto.

— E a senhora deve ser a mãe de Guilherme?


— A própria, mas por favor nada de senhora. Meu nome é

Eleonora. — Abre seus braços. — Eu posso te dar um abraço?

A forma como a pergunta deixa seus lábios faz com que

lágrimas se acumulem em meus olhos.

— Claro.

Ela me abraça e retribuo o abraço. Seus braços ao redor


do meu corpo são aconchegantes e me lembram a minha avó.

Quando nos afastamos uma lágrima escorre pelo meu rosto.

— Desculpe. — Limpo meu rosto rapidamente com as

pontas dos meus dedos. — São os hormônios.

Sorri e engancha meu braço com o seu.

— Sei bem como eles são terríveis, passei por isso quatro

vezes. — Dá algumas tapinhas em minha mão. — Agora, vamos


que irei lhe apresentar a minha família.

Entramos na casa e respiro fundo.

— E eu, mãe? Não recebo um boa noite? Um abraço.

A mãe olha para trás e sorri.

— Boa noite, querido e amado filho.

Olha em frente e seguimos para uma sala com Guilherme


resmungando atrás de nós.
Encontramos seus irmãos e seu pai na sala, eles sorriem e
coro. Sei que já havia conhecido sua família no noivado de
Enrico, mas com exceção de Enrico nunca troquei mais que

breves palavras com os outros.

Todos são extremamente simpáticos e após receber abraço

dos três, Enrico, Pedro e seu pai, Eleonora me leva até a cozinha
onde encontro Diana e Pietra. Minha amiga é a primeira a me

abraçar.

— Bem-vinda à família.

— Obrigada e fiquei sabendo que você irá aumentá-la.

Sussurro e quando nos afastamos me encara indignada.

— Como você sabe? — Não preciso respondê-la, porque


ela se dá conta. — Francesca, é claro.

Revira os olhos e dou de ombros.

— Ela me contou sem querer.

Sorri e assente.

— Ainda não contamos para a família. — Sussurra. —

Estamos esperando um bom momento.

Seus olhos estão brilhando e é nítido o quanto ela está feliz


com a gravidez.
— Vocês deveriam contar hoje.

Faz uma careta.

— Hoje é sobre você e Guilherme e não queremos tirar o

foco de vocês.

— Nós adoraríamos que vocês tirassem o foco da gente.

Pisco em sua direção e ela sorri.

— Vou conversar com Enrico.

— O que as duas tanto cochicham?

Pietra se aproxima e para ao nosso lado.

— Elas devem estar comentando o quanto você é feia.

Guilherme provoca a irmã ao entrar na cozinha, então olho

para ele.

— Guilherme.

Sua mãe e eu o repreendemos ao mesmo tempo e o idiota

só ri.

— É a verdade.

— Você é uma criança, Guilherme e a única pessoa feia

aqui é você. — Pietra provoca o irmão e em seguida olha para

mim. — Espero que essa criança tenha a aparência da mãe.


Sorrio e compartilhamos um abraço.

— Como você está conseguindo suportar o idiota do meu


irmão?

Dou de ombros assim que nos separamos.

— Ele é uma ótima pessoa quando quer.

— Eu sempre sou uma ótima pessoa.

Vêm até nós e passa seu braço pelos meus ombros. Apoio

minhas costas contra seu peito.

— Não exagere.

— Não estou exagerando, princesa.

Nós dois sorrimos e sua mãe olha em nossa direção com

um olhar estranho, em seguida sorri como se tivesse ganhado na

megasena.

— Por que a senhora está rindo, mãe?

Ergue uma das sobrancelhas e segue sorrindo.

— Não posso mais rir? — Vira-se para o fogão. — Vocês

podem fazer o favor de me ajudarem a preparar a janta?

Dou um passo em frente, mas Guilherme me puxa contra

ele.
— Você não, princesa, você é visita.

— Isso mesmo, sente-se e Guilherme irá me ajudar.

— Eu sou uma visita, mãe.

Protesta, porém, vai ajudar a mãe. Sento-me em uma das


cadeiras ao redor da mesa e presencio a família cozinhar. Eles

são engraçados, trocam de assunto a todo momento e falam ao

mesmo tempo.

Toco minha barriga. É uma família assim que eu desejo


para a minha filha.

Sentamo-nos todos ao redor da imensa mesa na sala de

jantar para jantarmos e é mais uma vez uma bagunça.


Provocação e risadas para todo lado. Em nem um momento me

sinto excluída ou uma intrusa, eles fazem com que me sinta em

casa, como se fizesse parte da família.

Eu presencio uma família de verdade e tenho vontade de

pertencer a ela.

Estamos na sobremesa quando Diana e Enrico ficam em

pé. Sorrio ao me dar conta de que eles irão contar.

— Nós temos algo para contar.


Pela primeira vez todos fazem silêncio e encaram Enrico,

ele olha para Diana que faz sinal para que ele continue falando.

— Nós teremos um bebê.

Eleonora bate palmas, o pai segura as lágrimas e os

irmãos sorriem emocionados, com exceção de Guilherme.

— Uma das porquinhas está grávida? Ou é um dos seus


cachorros? Ou agora adotaram mais um animalzinho? Um

coelho?

É claro que Guilherme tinha que fazer alguma piadinha.


Viro-me para ele e bato em seu peito.

— Comporte-se.

Dá de ombros.

— Nossa filha terá um priminho da mesma idade.

Sussurra e sorri. Sorrio com ele.

— Ela terá.

Depois da revelação, as crianças tornam-se o assunto

principal, Pedro que está sozinho, porque Alexa ficou em casa


com o filho conta que assim que ele estiver mais acostumado irá

apresentá-lo à família e mostra muitas fotos do pequeno.

Eleonora e Afonso são só risadas, eles estão muito felizes com o


fato de ganharem três netos de uma única vez. Pietra está feliz,

porém há uma sombra em seus olhos.

Terminamos a noite jogando truco e descubro que eles são

competitivos. Ficamos horas jogando, porém o cansaço começa a


bater e um por um se retira para o quarto. Por fim, restamos

apenas Guilherme e eu.

— Acho que está na nossa hora. — Assinto. — Mamãe e


Diana queriam preparar dois quartos para a gente, mas disse que

não precisava.

Encaro-o assustada.

— Nós vamos dormir juntos?

Dá de ombros como se não fosse nada demais.

— Sim, afinal nós somos amigos, não é?

Aceno com a cabeça concordando, realmente dois amigos

podem dividir uma cama

— Vou lá buscar as nossas coisas.

Assinto e Guilherme vai buscar as nossas mochilas no

carro. Será que é mesmo uma boa ideia dormimos juntos? Meu

coração aperta e uma ansiedade estranha cresce em meu peito.


Ele retorna e vamos para o quarto, ele me indica onde é o

banheiro, então pego minhas coisas e vou até lá. Minha


respiração está irregular enquanto tomo meu banho e por mais

que tente negar, sei o porquê estou assim, é porque iremos dividir

uma mesma cama.

Os últimos dias têm sido perturbadores, porque as


lembranças da noite que dividimos insistem em permear a minha

cabeça. Ainda teve aquele momento na piscina. Droga, eu não

quero ser somente amiga de Guilherme.

Quero que a gente repita o que já fizemos, porém não

podemos. Não quando nada é tão simples. E se não soubermos

lidar com nosso envolvimento? E se nos magoarmos?

Amaldiçoo a mim mesma ao colocar a minúscula camisola,


por que eu não escolhi outra? Demoro a sair do banheiro e

quando faço ele está sentado na cama.

Guilherme olha em minha direção e seu olhar percorre o


meu corpo, ele consegue fazer com que me excite apenas pela

forma como me encara. Seus olhos brilham com luxúria e seu

pomo de adão sobe e desce repetidamente em seu pescoço.

— Eu vou tomar um banho.


Corre para o banheiro e eu para cama. Cubro meu corpo
completamente com o edredom e fecho meus olhos. Durma,

Anne. É impossível dormir, principalmente quando há uma dor no

meio das minhas pernas e meus seios pesam contra a camisola.

Estou deitada de costas para a porta do banheiro, mas

escuto seus passos pelo chão. Meu coração acelera e quando ele

se deita ao meu lado seguro a minha respiração.

— Boa noite, princesa.

Respiro fundo.

— Boa noite, Guilherme.

Minha voz treme e sigo de costas para ele, o que

aconteceria se eu me virasse?

Guilherme se aproxima e deixa o seu braço sobre meu

corpo.

— Você sente o mesmo que eu, não é?

Minhas costas encontram seu peito e seus lábios o meu


pescoço.

— Obrigado por me permitir seu amigo, mas eu não


suporto mais ser apenas seu amigo, princesa.
Capítulo 21

“Você é uma das poucas coisas que tenho certeza


Você é uma das poucas coisas que eu já conheço”[32]

Distribui beijos pela minha pele fazendo com que todo meu
corpo desperte. Viro-me ficando de frente para ele e estamos a

centímetros um do outro. Em seus olhos há o mesmo medo que

existe nos meus.

— Você acha que podemos fazer funcionar?

Mordo meu lábio inferior assim que as palavras deixam a


minha boca e ele ergue sua mão tocando minha boca e libertando

meu lábio dos meus dentes.

— Toda vez que você faz isso eu tenho vontade de mordê-


los.
Toca meus lábios e um suspiro deixa minha boca.

— Você sabe, não sou mais alguém que irá passar pela

sua cama, sempre serei a mãe da sua filha e sempre manteremos

contato.

Apoia sua testa na minha.

— Nunca mais estive com ninguém desde que passamos a

morar juntos. — Percorre a lateral do meu rosto com seu nariz. —


Você tem dominado cada pensamento meu.

Espalmo as mãos em seu peito e sinto as batidas do seu


coração.

— Eu estou morrendo de vontade de sentir seus lábios no


meus e sentir seu gosto outra vez.

Um brilho surge em seus olhos ao ouvir as minhas palavras

e sua mão desce pelo meu corpo, aperta a minha bunda e um

gemido escapa entre meus lábios.

— Não mais que eu, princesa. — Puxa a minha camisola e

enrola o tecido em sua mão. — Eu estou morrendo de vontade de

tocar a sua boceta e como naquela boate fazê-la gozar em meus

dedos.
Sussurra enquanto percorre meu rosto com a sua boca.
Meus seios pressionam minha camisola e não suporto mais a

pressão entre o meio das minhas pernas por isso pego a sua mão

e a coloco sobre a minha coxa, logo abaixo da tira da minha

calcinha.

— Eu preciso gozar e preciso que você faça isso.

Guilherme não hesita e sua mão cobre a minha boceta, ele


mal me tocou e há um tecido entre nós, mas é o suficiente para

que feche meus olhos e impulsione meu corpo em sua direção.

— Você quer os meus dedos, princesa?

Sobe e desce as pontas dos dedos por entre minhas

pernas, ele está tão perto e ao mesmo tempo tão longe.

— Eu preciso que você me foda com seus dedos.

Empurra a calcinha para o lado e seu dedo encontra o meu

clitóris.

— Vou foder você com os meus dedos, mas é o meu pau

que eu gostaria de meter em você. — Dois de seus dedos entram

em mim enquanto seu outro dedo segue pressionando meu

clitóris. — Você tem noção do quanto eu desejo você? Sabe


quantas vezes eu sonhei que estava transando com você naquela

piscina?

Choramingo e ele aumenta o ritmo.

— Você tem dominado todos os meus pensamentos e os


meus sonhos, princesa.

Gozo em seus dedos gemendo o seu nome. Ele mantém


seus dedos em mim e só os retira quando abro meus olhos, então
os leva até seus lábios.

— Eu amo o seu gosto.

Meu olhar encontra o seu e eles são tão intensos que é


como se ele estivesse enxergando a minha alma, é como se ele

estivesse me tomando para si.

Encarando-o levo minha mão até o seu pau, porém nem


tenho tempo de tocá-lo, porque ele segura meu pulso.

— Não, princesa. — Traz minha mão até seu rosto e beija


os nódulos dos meus dedos. — Se você me tocar, não

conseguirei parar e nós dois sabemos que precisamos parar.

Suspiro, porque ele está certo. Nós nem deveríamos ter ido

tão longe. Sorrio e tento me virar, mas ele me segura e beija


minha testa.
— Boa noite, princesa.

Beijo sua bochecha.

— Boa noite, bonitão.

Ele sorri ao ouvir como o chamei naquela noite. Nenhum


de nós se arrepende do que acabamos de fazer, mas sabemos

que cruzar mais uma barreira é algo que talvez ainda não
estejamos prontos para fazer.

Viro-me e fico de costas para ele, Guilherme segue com os


braços ao meu redor e espalma as mãos em minha barriga.

É assim que adormecemos, mas não é assim que acordo.


Acordo sozinha e decepção ecoa em meu peito, porém ao me

virar encontro uma flor e um bilhete.

“Bom dia, princesa.”

Cheiro a rosa e como uma adolescente suspiro. Merda, nós

estamos muito ferrados.

Depois de um banho e de vestir uma roupa adequada

deixo o quarto e encontro todos na cozinha, eles estão


preparando o café. Mais uma vez todos agem como se eu fosse

parte da família.
Vamos para a mesa de jantar tomar café da manhã. Mais
uma vez Guilherme e eu nos sentamos um do lado do outro.

— Então, como será essa história de almoço de noivado


falso?

Abro a boca para responder Pedro, mas Pietra me

interrompe.

— Estou adorando finalmente usar aquelas aulas de teatro

que tive na escola.

Bate palmas empolgadas.

— E você se lembra de algo? Foi há oitenta e quatro anos.

— Guilherme, você está me chamando de velha?

Pietra e Guilherme entram em uma discussão.

— Você que é um velho, você quase tem idade para ser o

avô da sua própria filha.

Os xingamentos e argumentos são ridículos, mas eles

realmente agem como se fosse uma briga séria.

— Deixe de ser exagerada, Pietra.

— Eu juro que eu tentei educá-los.

Viro-me para Afonso que está ao meu lado e sorrio.


— Vocês têm uma família linda.

Assente.

— E você faz parte dessa família maluca agora.

— Minha filha terá sorte de ter vocês.

Eu não faço parte da família, mas gostaria de fazer.

— Vocês irão fazer um chá revelação e já sabem que é

uma menina?

Olho para Pedro e o encaro sem uma resposta.

— Mais ou menos.

Para minha sorte Guilherme desiste da briga com Pietra e

decide me socorrer.

— Como assim? Terei uma neta ou não?

— Então, mãe, nós temos certeza de que é uma menina.

— Passa o braço pelos meus ombros. — Mas ainda não sabemos

o resultado do exame.

Eleonora assente.

— E o nome?

Pelos próximos minutos discutimos os nomes que estamos

cogitando e sua família vota em qual gosta mais.


O café da manhã é agitado e engraçado e gostaria de

prolongá-lo por mais tempo, porém não é possível e somos


obrigados a deixar a mesa e começar os preparativos para o meu

falso noivado.

Apesar de estar um pouco nervosa e não ser algo real, nos


divertimos organizando. Entretanto assim que visto o vestido azul-

claro que escolhi e me encaro no espelho do quarto em que

dormimos uma angústia preenche meu coração.

É uma lição para minha mãe, mas perdeu a importância


nos últimos dias. Enquanto estou me tornando mãe, a minha está

perdendo a importância em minha vida.

Alguém bate na porta.

— Entre.

Guilherme entra no quarto e seu olhar passeia pelo meu

corpo, seus olhos brilham e aquecem meu peito. Por fim, mantém

seu olhar preso aos meu através do reflexo no espelho.

— Você está linda.

Sorrio e é a minha vez de inspecionar o seu corpo, ele

veste uma calça jeans e uma camisa branca que deixa à mostra

algumas das suas tatuagens.


— Você nunca me contou qual significado das suas

tatuagens.

Dá de ombros enquanto caminha em minha direção.

— Só achei os desenhos bonitos e então as fiz. — Sorri e

me preparo para escutar algumas das suas gracinhas. — E você

sabe as mulheres costumam achar gostoso homens com

tatuagens.

Reviro meus olhos no mesmo instante que ele para a

alguns centímetros das minhas costas.

— Você é realmente um cafajeste.

O sorriso some do seu rosto.

— Eu era.

Encaro nosso reflexo, nós dois estamos tão próximos e o

olhar que compartilhamos é repleto de sentimentos.

Ele era um cafajeste antes de mim. Algumas palavras não


precisam ser ditas.

— Eu trouxe algo, princesa.

Tira algo do seu bolso, uma caixinha e coloca seus braços


à minha frente, abre-a e revela um par de brincos.

— Eles são lindos.


— São aqueles brincos que disse para a amiga da sua mãe

que estava comprando para combinar com o seu anel.

Ofego surpresa.

— Mas era mentira.

Dá de ombros.

— Eu tornei a mentira uma verdade.

São um simples ponto de luz com diamante e combinam

perfeitamente com o anel que desde aquele dia nunca mais tirei

do meu dedo.

— Obrigada, Guilherme.

Coloco-os em minha orelha e Guilherme empurra meu

cabelo para o lado.

— Você ficou linda, mas você ficaria linda usando qualquer


coisa.

Abaixa o rosto e beija meu pescoço.

— Você deveria parar de dizer essas coisas.

Sorri o que provoca cócegas em mim, tento me


desvencilhar dele, mas ele me segura contra seu corpo.

— Pare de fugir, princesa.


Desvencilho-me dele, caminho em direção à porta e a

mantenho aberta enquanto olho para Guilherme que está me

encarando sem entender o que está acontecendo.

— Não fui eu quem fugiu na noite passada.

Faz uma careta.

— Você é má, princesa.

Dou de ombros e deixo o quarto. Ainda no corredor

Guilherme me alcança e entrelaça nossas mãos.

— Hora de esperar nossos convidados, princesa.

Suspiro.

— Por que estamos fazendo isso mesmo?

Sorri e dá de ombros.

— Porque sua mãe é uma megera e confesse, está

divertido.

— Não será divertido quando ela descobrir que tudo não


passou de uma farsa.

Beija a lateral do meu rosto.

— Relaxe, curta o momento e não esqueça que esse

almoço também serve para você contar para sua mãe e seu pai
do bebê.
Suspiro.

— Realmente precisamos fazer isso?

— Realmente precisamos.

Guilherme mais uma vez beija a lateral da minha cabeça e

de mãos dadas seguimos até a varanda para esperar minha

família e Francesca e Nicholas.

Para nossa sorte Francesca e Nicholas são os primeiros a

chegar, com eles está minha avó e depois de cumprimentar meus

amigos é ela que eu abraço.

— Está preparada para mentir para sua mãe, meu lírio? Eu


com certeza estou.

Desvencilha-se dos meus braços sorrindo.

— Vovó.

Repreendo-a e ela somente dá de ombros.

— Quem sabe assim ela aprenda algo.

Assim que eles entram minha mãe com seu marido e

Manuela chegam, Cecília me abraça como se fosse uma mãe,


Vicente como se não tivesse me renegado. Os dois se merecem.

A única que retribuo o abraço é a Manuela, ela sorri, mas

percebo que é um sorriso falso.


— Como você está?

— De coração partido.

— Porque quer, Hugo já disse que nunca a traiu.

Nós duas ignoramos Cecília e a abraço mais uma vez.

— Se precisar de algo, eu estou aqui.

Assente e se junta a Cecília e ao seu pai. Meu pai é o

último a chegar e para minha surpresa junto com ele está sua

mãe, a avó que me odeia e minha madrasta. Guilherme percebe


quando vacilo e se aproxima de mim.

— Está tudo bem?

— Está sim.

Eles vêm até nós e trocamos abraços desajeitados com


exceção de Brigite que age normalmente como se nunca tivesse

me chamado de bastarda indesejada.

Como todos chegaram entramos e os encontramos na

sala. Guilherme segura minha mão e nos guia até o centro.

— Obrigado pela presença de todos. — Olha para cada


um. — E como todos sabem esse é o momento para
oficializarmos nosso noivado.

Vira-se para mim e meu coração dispara.


— Anne entrou em minha vida de repente e não estava
procurando pelo que encontrei quando esbarrei com ela, mas a
cada momento que compartilhamos eu tenho certeza de que fiz a

escolha certa para minha vida.

Ele não está mentindo e quando ele se aproxima não me


afasto. Ele apoia a testa na minha e todos somem.

— Eu estive enganado a vida toda e você foi a responsável

por abrir meus olhos.

Não estamos encenados quando sua boca cobre a minha e


reivindica cada parte de mim. Meu coração bate acelerado e se

preenche de um sentimento que nunca senti antes.

É arrebatador e só percebemos onde estamos quando


precisamos nos afastar por falta de ar. Nossa família bate palma,

mas ignoramos e sorrimos.

Antes de irmos almoçar nos beijamos mais uma vez.

O almoço é menos desastroso que imaginamos, porque


todos ignoram a minha mãe, mesmo quando ela é insuportável e

inclusive quando faz um comentário maldoso quando contamos a


ela e ao meu pai do bebê. É claro que ela diria que agora
entendeu o porquê do noivado. O surpreendente é a reação do
meu pai, ele realmente parece emocionado e é por isso que
aceito conversar com ele depois do almoço.

Nós dois nos sentamos no banco que fica na varanda e


observamos a paisagem à nossa frente.

— Guilherme parece alguém bacana.

Sorrio.

— Ele é.

— Ele será um ótimo pai. — Assinto e me dou conta de


que não tenho mais medo de que ele seja igual ao meu pai.

Guilherme conseguiu derrubar todas as minhas barreiras. — Algo


que nunca fui.

Sua voz falha e engulo em seco. Eu não estava preparada


para isso.

— Sinto muito por nunca ter sido o pai que você precisava.
— Sigo em silêncio, porque não há nada a ser dito. — E sei que é
muito tarde para pedir perdão e nunca serei capaz de reparar os

danos que causei em você.

Suas palavras são sinceras e seguro sua mão com a


minha.
— Nunca é tarde para pedir perdão. — Sorrio. — Embora
talvez ele demore um pouco para ser completo.

Talvez ele não mereça o meu perdão, mas o fato é que eu


mereço me livrar do rancor, eu mereço o perdão.

— Prometo ser para meu neto, ou minha neta tudo aquilo


que eu não fui para você e enquanto estiver vivo farei de tudo

para conquistar o seu perdão.

Uma lágrima desce pelo seu rosto e apoio minha cabeça


em seu ombro.

— Neta, nós achamos que é uma menina.

Pelos próximos minutos conversamos sobre o bebê. Pela

primeira vez na vida nós realmente conversamos. Ele é o último a


ir embora e eu fico sozinha sentada no banco, mas não por muito
tempo.

— Diana buscou os cachorros e as porquinhas na casa dos


seus pais e está tentando nos convencer a ter uma mini porca.

Olha para o lado e encaro Guilherme indignada.

— Definitivamente não.

Ele sorri e aproxima seu rosto do meu.


— Imaginei que não, não somos o tipo que tem uma mini

porca como animal de estimação.

— E nós somos de que tipo?

Ergo minhas sobrancelhas.

— Que tem um coelho.

— Nem pensar.

Protesto e ele me encara indignado.

— Por que, não?

Discutimos qual animal deveríamos ter ou não e não

chegamos à conclusão nenhuma, então ele me puxa para seus


braços e simplesmente ficamos admirando o Sol se pôr.

Estar com Guilherme é tudo, menos complicado.


Capítulo 22

“Que preenche a vida vazia


Manda embora a agonia
E que trouxe paz pro coração”[33]

Assim que vejo Anne entrando na sala vestindo um vestido

muito curto e muito decotado me arrependo de ter aceitado sair


para dançar com meus irmãos e Nicholas e Francesca. Ela está

deslumbrante, sexy, provocativa e linda, mas todos irão olhar para

ela e eu deveria ser o único a fazer isso.

Desde quando sou possessivo? Aparentemente desde que

Anne chegou em minha vida.

— Você irá sair assim?


Ela sorri debochada, porque sabe exatamente o que está

causando em mim.

— Irei, gostou?

E para piorar ela gira e o maldito vestido gira junto exibindo

suas longas pernas, pernas que eu gostaria de ter ao redor da


minha cintura enquanto estou dentro dela. O simples pensamento

faz com que fique duro. Caralho, a noite será um pesadelo.

— Eu não gostei da cor.

Minto, ela fica ótima de azul, inclusive desde hoje mais


cedo azul passou a ser a minha cor preferida.

— Cadê o homem que me disse você ficou linda, mas você


ficaria linda usando qualquer coisa?

Imita a minha voz e reviro meus olhos.

— Desapareceu assim que você surgiu vestindo esse

minúsculo tecido.

Deixo o sofá e caminho em sua direção. Enquanto sigo em

frente, mais uma vez meu olhar sobe e desce pelo seu corpo. O

vestido é de um azul escuro, o tecido é fino, na frente são dois

tecidos um em cada seio formando um generoso decote e

amarrado no pescoço, a partir da cintura ele é rodado e chega só


até o meio das suas coxas. Para completar o seu sapato é de um
vermelho chamativo e alto.

— Eles parecem perigosos.

Aponto para seu sapato e olho para o seu rosto, ela

continua sorrindo.

— Não são e qualquer coisa, você me segura, não é?

Faz um beicinho infantil e praticamente rosno.

— Não me provoque, Anne.

Diminuo a distância entre nós e ela fica entre a parede e

eu.

— Ou o quê?

Ela está me desafiando a jogar tudo para o alto e beijá-la,

não que já não tenhamos feito isso, mas a próxima fase não tem

volta. Depois que fizê-la minha estaremos totalmente perdidos.

— Devemos ir, ou chegaremos atrasados.

Dá de ombros.

— Você que sabe.

Sai da sala e segue em direção à entrada rebolando e

fazendo com que o vestido suba ainda mais. Deus, como

sobreviverei a essa noite?


Assim como sobrevivi ontem à noite e hoje, embora hoje

não tenha conseguido me controlar e se é que podemos chamar


aquilo de ontem à noite de controle. O fato é que está

insuportável ficar ao seu lado e não a tocar, ou a beijar.

Eu não suporto mais.

Será que deveria continuar suportando? Afinal, tudo que eu

disse hoje antes do almoço é verdade. Eu sequer penso no


singular, tudo que consigo é pensar em nós três.

Talvez esteja no momento de admitirmos o que estamos


sentindo.

Assim que chegamos na garagem a ajudo a entrar no carro


e como faz toda vez, Anne liga o som do carro.

— Minha irmã já te falou para qual lugar eles estão indo?

Pergunto assim que ocupo meu lugar atrás do volante e ela

sorri.

— Você não sabe? — Ligo o carro ao mesmo tempo que

balanço minha cabeça negando. — Para a boate onde nos


conhecemos.

Engulo em seco. Porra, o universo tirou o dia para me


torturar?
— Coloque o endereço no GPS, por favor, porque não sei

onde fica.

Digo entre dente, ela faz o que eu peço e ligo o carro. No

meio do caminho uma música ecoa pelo carro e suspiro. Sério!?

“Que preencha a vida vazia

Mande embora a agonia

E que traga paz pro coração

É você, é você”[34]

Nenhum de nós fala mais nada o restante do caminho e


juro que a tensão entre nós poderia ser cortada por uma faca.

Estou de mau humor quando chegamos.

— Tem certeza de que não quer ir embora?

Resmungo.

— Depende.

— Depende?

Olha para Anne e ela assente.

— Do que vamos fazer.

Suspiro.

— Não iremos fazer nada, Anne.


Ela dá de ombros e sai do carro, nem espera para que eu
abra a sua porta. Sem alternativas a sigo. Não demoro a alcançá-
la e espalmo minhas mãos em suas costas e percebo algo que

não havia percebido por causa do seu cabelo, suas costas estão
totalmente expostas.

— Meu Deus, Anne.

Olha para trás e sorri.

— Gostou?

Empurro seu cabelo para o lado e encontro suas costas

nuas. Sua bunda é a única parte coberta e muito pouco.

— Odiei.

Balança a cabeça e olha em frente.

— Tudo bem, eu tenho certeza de que outras pessoas


acharão lindo o meu vestido.

Sua frase é confirmada pelos olhares que recebe enquanto


caminha até a entrada. Faço questão de manter sua mão presa á

minha e encarar cada homem que olha em sua direção.

— Da próxima vez, eu vou sair sem camisa.

Resmungo assim que entramos.

— E você seria proibido de entrar.


Inclina a cabeça para o lado e sorri inocentemente.

— Você fez isso de propósito, não é?

Pisca diversas vezes e me encara indignada.

— É claro que não, seria incapaz de fazer algo assim.

Aceito que meu carma é ser torturado, fico em silêncio e


seguimos caminhando pelo local à procura dos meus irmãos e de

nossos amigos. A cada passo sou invadido por lembranças.

Essas lembranças jamais saíram da minha mente.

Encontramos o pessoal perto do bar, eles estão bebendo,

com exceção de Enrico e Diana, e conversando.

— Por que será que eles estão atrasados?

Reviro os olhos para Nicholas e paro ao lado de Enrico,

meu irmão de todos é o mais contido e será o único a me deixar

em paz.

— Pela expressão de Guilherme não é o que você está


pensando, Nicholas.

Viro-me indignado para Enrico.

— Até você, Enrico? — Todos estão rindo, inclusive


Francesca que está entre Anne e Diana. — Vocês todos irão

arder no fogo do inferno.


Ignoro os idiotas e Anne e me viro para o bar e peço uma

cerveja sem álcool. Droga, não deveríamos ter vindo de carro,


porque eu definitivamente precisava beber.

— Então, qual o motivo do mau humor?

Pietra se debruça sobre o bar ao meu lado.

— Por que você escolheu essa maldita boate?

Sussurro mesmo que ninguém seja capaz de me ouvir por

causa da música alta.

— Eu não lembrei.

É obvio que está mentindo.

— Vocês estão armando para mim?

Olho para o lado e minha irmã está tentando não sorrir.

— É claro que não.

Suspiro.

— Ninguém precisa armar para mim.

Ergue suas sobrancelhas.

— E por que ainda não estão juntos?

Dou de ombros e pego a cerveja que o barman me

alcança.
— Porque nossa prioridade é a nossa filha.

Bebo da cerveja e quase acabo com a garrafa em um único

gole.

— Só não deixe que o amor escape entre seus dedos.

Pietra parece triste e frágil.

— Algo aconteceu?

Balança a cabeça negando.

— Nada importante.

Empurro seu ombro com o meu.

— Sempre é algo importante quando é sobre a minha irmã.

Ela não tem chance de falar, porque Francesca se

aproxima e toca seu braço.

— Vamos dançar. — Aponta seu dedo em minha direção.

— Pegue a sua garota e venha também.

Todos seguem para a pista de dança, então espalmo


minhas mãos nas costas de Anne e os sigo. Não sei de onde a

pessoa surge, mas alguém toca meu braço.

— Hey, Guilherme Barbieri?


Uma ruiva e uma loira param à minha frente. Estreito meus

olhos e não as reconheço.

— Eu conheço vocês?

Uma delas sorri e a outra faz um biquinho com os lábios

que antigamente consideraria sexy. Então, eu me dou conta que


provavelmente já transei com uma delas, ou com as duas.

Caralho.

— Nós estamos aqui para uma visita.

A ruiva é mais contida e ela deve ser uma das Ariel que
passou pela minha vida.

— Nem imaginávamos que encontraríamos você aqui.

A loira é muito mais desinibida, Cinderela ou Bela

Adormecida?

— Esse mundo é mesmo pequeno.

Resmungo enquanto tento me afastar, mas a loira

pressiona ainda mais sua mão contra meu peito.

— Muito pequeno.

Mais uma vez a loira tenta soar sexy. Como um dia

considerei algo assim sensual?


Anne está se afastando e como não consigo me

desvencilhar das duas mulheres seguro seu pulso e ela vem até

mim.

— Podemos nos encontrar mais tarde, o que acha?

É a ruiva quem pergunta e sua amiga acena concordando.

Minha atenção não é de nenhuma delas, mas sim da mulher ao

meu lado que tem as sobrancelhas erguidas e uma expressão de


raiva em seu rosto.

— Pequena sereia, hoje não.

Sei que disse a frase errada assim que Anne se solta de

mim.

— Eu vou deixar você à vontade com as suas amigas.

Afasta-se e nem tenho a chance de ir atrás dela.

— Elas não são minhas amigas.

É óbvio que ela não ouviu. Porra!

— Nós realmente não somos suas amigas.

A loira sorri com malícia, então perco minha paciência e

retiro suas mãos do meu peito.

— Realmente não estou interessado em nenhuma de


vocês. — Sorrio e ergo minhas mãos para o alto. — Não que haja
nada de errado com vocês, mas aquela mulher é tudo que eu

quero.

Não espero para ver a reação delas e caminho o mais

depressa que consigo atrás de Anne, é uma droga porque o local

está cheio. Encontro meus irmãos e ela não está com eles, nem

com Francesca e Nicholas que estão se beijando enquanto


dançam.

Será que ela foi embora? Eu sou mesmo um idiota.

Envio uma mensagem e como ela não me responde sigo


procurando por ela. Seus cabelos são a primeira coisa que

enxergo e respiro aliviado, ela está em canto contrário ao dos

meus irmãos. Minha tranquilidade não dura dois segundos,

porque há duas mãos em sua cintura. Mãos de homens.

Quem ousa a estar tocando?

Caminho em sua direção com minha visão embaçada pela

raiva. Ninguém a deveria estar a tocando.

Ele está falando algo em seu ouvido. Eu vou matá-lo.

Perco minha razão e meu controle e assim que estou perto

o suficiente do homem o empurro.

— Você não viu o maldito anel no dedo dela, seu idiota?


Quero socar sua cara e descontar toda minha frustração
em seu rosto, porém antes que o faça sinto as mãos de Anne em

minhas costas.

— Pare Guilherme.

Dou um passo na direção do homem e ele ergue as mãos

para cima.

— Desculpe, cara.

Antes que possa quebrar a sua cara ele corre para longe.
Bundão.

— O que pensa que está fazendo?

Viro-me para Anne e me aproximo dela, não dou tempo


para ela fugir e enrolo os fios de seu cabelo em minha mão.

— Ninguém toca o que é meu, entendeu?

Faço com que continue olhando para mim e ela me encara


com raiva.

— Não sou sua.

Toco sua cintura

— Ahh, você é sim.

Apoio minha testa na sua e sou alvo do seu olhar furioso.


— Quer dizer que você pode ficar brincando por aí e eu
não?

Sorri debochada e tenta se afastar, mas não deixo.

Pressiono ainda mais minha mão contra sua cintura e seguro com
mais força seu cabelo.

— Não estava brincando com ninguém.

Espalma as mãos em meu peito e me empurra.

— Acho que a Pequena sereia acreditou que vocês iriam


brincar.

Sua voz é repleta de desdém e sorrio. É claro que o

apelido a incomodaria.

— Sabe, Anne, antes de você apelidava todas as mulheres


com nomes de princesas, Ariel, Cinderela, Pequena Sereia,
porque era mais fácil, elas sempre se tornavam uma das

princesas, porque esquecia os seus nomes. — Sua respiração se


torna mais ofegante e para de tentar me empurrar. — Mas quando
eu vi você naquela noite, eu não consegui a associar a nenhuma

princesa.

Desço meu rosto e meu nariz toca o seu.


— Agora, eu entendo o porquê, você sempre foi única e a
minha princesa.

Meus lábios cobrem o seu e não sou delicado, eu tenho


pressa e ela precisa entender que é minha. A mão que está em
sua cintura desce e toco a sua perna. Ela é minha.

Exploro sua boca com a minha língua e faço com que ela
sinta a intensidade do meu desespero.

Gemidos deixam seus lábios, minha mão sobe e acaricio a


sua bunda.

— Você é minha, princesa.

Afasto minha boca da sua e ela protesta. Sorrio e a viro de


costas, empurro seu cabelo para o lado e aproximo minha boca

da sua orelha.

— Vamos sair daqui antes que eu coma você aqui nessa

pista de dança.

Ela não discorda e deixamos a boate com meus braços ao

redor da sua cintura e suas costas contra meu peito.

Assim que estamos em frente ao meu carro a empurro


contra a porta e volto a beijá-la. Ela acaba com meu controle.
Nós nos beijamos como dois desesperados e meu pau
pede por libertação.

— Você tem noção do quanto quero te foder contra esse


carro?

Distribuo beijos pelo seu pescoço e ela crava as unhas em


minhas costas. Ela está tão excitada quanto eu. E quando puxo

sua calcinha para o lado encontro sua boceta molhada.

— Vamos para casa, princesa.

Coloco sua calcinha no lugar e dou um tapa em sua bunda.

Ela se vira e antes de entrar no carro empurra sua bunda contra o


meu pau.

— Só para deixar claro, eu adoraria ser fodida por você


contra esse carro.

Jesus, eu vou morrer de tesão.

— Você vai ser a minha morte, princesa.

Nunca um caminho pareceu tão longe e assim que


chegamos ela desce primeiro e a sigo.

Ela entra e eu fecho a porta, Anne caminha em frente e

antes que siga, sabe-se lá Deus para onde, pego o tecido do seu
vestido e a puxo em minha direção.
— Hey, cuidado esse vestido é caro demais para você

rasgá-lo.

A primeira coisa que faço é desamarrar o seu vestido e


deixar seus seios expostos.

— Eu posso não rasgar esse maldito vestido, mas a sua

calcinha não me escapa.


Capítulo 23

“Mas eu cansei de correr, que se foda


Agora, estou correndo com você”[35]

Apenas suas palavras são o suficiente para fazer minha


boceta latejar e desejo que ele faça exatamente o que está

falando.

— Eu não me importo com as minhas calcinhas.

Ele sorri enquanto admira meus seios.

— Você está morrendo de vontade que eu rasgue a maldita

da sua calcinha. — Abaixa seu rosto e o deixa a centímetros dos


meus seios. — Uma calcinha que aposto já estar destruída de tão

molhada que você está.


Não tenho tempo de concordar e muito menos negar,

porque sua boca encontra um dos meus seios e perco qualquer


linha de raciocínio que possa ter. Aperta o seio livre com sua mão

e o desejo entre minhas pernas aumenta. Levo minhas mãos até

sua cabeça e o incentivo a continuar o que está fazendo.

Posso sentir a umidade aumentar em minha calcinha com

seus chupões e beliscões. Minha boceta dói e implora por mais.


Preciso me livrar da sessão de dor, fecho minhas pernas e

contraio os músculos da minha boceta na tentativa de alcançar o

meu prazer.

Meus seios estão sensíveis e conforme Guilherme continua


os arranhando com seus dentes gemidos deixam minha boca. Eu

preciso tanto gozar e quando estou quase lá Guilherme se afasta.


Caralho!

— Você deve estar tão molhada.

Empurra-me contra a parede e não ofereço nenhuma

resistência. Estou ofegante e faria qualquer coisa para sumir com


a dor entre minhas pernas.

— Eu preciso que você me foda, Guilherme. — Aproximo


minha boca da sua. — Ou eu mesma farei isso com meus dedos.
Sorri e espalma suas mãos na parede ao lado da minha
cabeça.

— Eu farei você gozar. — Inclina a cabeça para o lado. —


Nos meus dedos, na minha boca e por fim no meu pau.

Minha respiração está alterada e meus seios excitados e

agora molhados sobem e descem chamando a sua atenção.

— Eles estão maiores.

— Consequência do bebê.

Beija minha pele entre meu ombro e pescoço.

— Talvez, eu deva deixar você grávida sempre.

Sorrio, mas meu sorriso se desfaz assim que uma de suas

mãos toca minha perna e empurra meu vestido para cima.

— Esse seu vestido é uma maldita tentação. — Sua mão

sobe pela minha perna e onde ele toca deixa minha pele

queimando. — Você foi uma garota muito má expondo o que é

meu.

Viro meu rosto até que minha boca esteja a centímetros da

sua orelha.

— Farei isso muitas outras vezes. — Mordo o lóbulo da sua

orelha. — Mas não se preocupe sempre quem irá me deixar nua é


você.

Guilherme rosna e no mesmo instante sua outra mão junta-

se a que está no meio das minhas pernas e ele finalmente rasga

a minha calcinha.

— Farei muito mais que isso. — Seus dedos entram em


mim. — Foderei você como nem um outro fez.

Jogo minha cabeça para trás e a encosto na parede.

— Não me faça promessas, me faça gozar.

— Com prazer, princesa.

Seus dedos entram e saem de mim em um ritmo torturante

e sua boca passeia pelo meu corpo.

Agarro seu cabelo impulsionando meu corpo para a frente,


mais um dedo junta-se ao outros três e a pressão em mim cresce.
Choramingo. Ele toca meu clitóris e um grito deixa meus lábios.

Deus, eu estou tão sensível.

— Eu posso sentir você apertando meus dedos.

Morde meu seio e aperta com força minha cintura, então


puxo os fios do seu cabelo e deixo que meu corpo encontre a

libertação que preciso.


Leveza se mistura a prazer e gozo com seu nome deixando

meus lábios.

Estou com meus olhos fechados, mas sinto Guilherme me

pegando em seus braços e caminhando comigo em seu colo.


Apoio minha cabeça em seu peito e respiro fundo.

Não preciso de muito tempo para me recuperar e perceber


que apesar de ter gozado, eu quero mais.

Abro meus olhos enquanto ele está subindo as escadas.


Guilherme me encara com um sorrisinho idiota em seu rosto.

— Espero que você tenha energia para mais alguns


orgasmos, princesa.

Sorrio debochada.

— E você tem energia suficiente para me dar o tanto de


orgasmos que preciso?

Ele não me responde, apenas apressa seus passos. Assim


que entramos no quarto me coloca sobre a cama e não tenho

chance de fazer nada, porque ele volta a me provocar com sua


boca.

— Se eu tenho energia? — Morde meu pescoço e um


gritinho surpreso escapa da minha garganta ao mesmo tempo
que minha boceta vibra. — Eu estou há semanas desejando esse
momento.

Distribui beijos pela minha pele e conforme sua boca desce


pelo meu corpo meus suspiros ecoam pelo quarto. Com sua
língua toca meus seios e os deixam ainda mais Intumescidos.

— Guilherme!

— O quê?

Sorri, o maldito sorri.

— Chupe-os.

Ele não hesita em fazer o que eu imploro, mas para


quando esfrego minha boceta em sua coxa.

— Acho que alguém precisa de atenção.

Beija minha barriga, empurra o vestido para cima e abre as

minhas pernas. Suas mãos percorrem minhas panturrilhas, mas


param em meus joelhos. É uma caricia torturante, sempre acho
que ele irá subir e me tocar.

— Guilherme pare de me torturar.

Para com a boca sobre minha boceta.

— O que você quer, Anne?

— Eu quero que você chupe a minha boceta.


Seus dedos a abrem e ele a encara admirado. A cena
aumenta a tensão em meu corpo, levo minha mão até sua cabeça
e a empurro.

— Tão apressada, essa minha princesa.

Para de resistir e sua boca encontra minha boceta, primeiro

é a sua língua explorando e me arrancando gemidos, mas é

quando seus lábios começam a brincar com meu clitóris que o


calor me domina, perco o controle, ergo meu corpo da cama em

sua direção enquanto minhas mãos massacram o lençol abaixo

de mim.

— Vamos, princesa, goze para mim.

Tento fechar minhas pernas, mas Guilherme as mantém

abertas com suas mãos. As sensações crescem em meu corpo

até que se tornam demais e explodem em milhões de fragmentos.

Por alguns segundos, é como se estivesse flutuando e

quando volto a mim. Guilherme está em pé à frente da cama e me

observando. Há um sorriso em seus lábios úmidos e um brilho de

luxúria em seus olhos dilatados e escuros.

— Você fica linda enquanto goza, sabia?


Apesar do cansaço pós orgasmo vou até ele e me sento na

beirada do colchão à sua frente.

— Está na hora de eu ver você gozando, bonitão.

Seus olhos estão presos no meu. Enquanto abro o zíper da

sua calça e a empurro para baixo junto com sua cueca, ele retira
a sua blusa e chuta suas roupas para longe, então tenho-o nu à

minha frente. Como ainda tenho o vestido enrolado ao redor da

minha cintura o tiro e os meus sapatos também.

Ambos estamos nus, não é a primeira vez, mas é diferente,


é mais íntimo.

Mantenho meu olhar no seu ao pegar no seu pau e

percorrer minhas mãos por todo seu cumprimento.

— Você está me torturando.

Seus olhos brilham e seu pau pulsa em minhas mãos. Dou

de ombros.

— Vingança.

Coloca suas mãos atrás da minha cabeça, mas não me


empurra, quanto tempo até ele perder o controle? Desço minhas

mãos até suas coxas e paro com minha boca na ponta do seu

pau, porém não o encosto.


— Princesa.

Ignoro sua advertência e subo minhas mãos pelas suas

pernas enquanto minha língua toca seu pau em uma leve caricia.

Seu pomo sobe e desce, seu rosto está vermelho e as veias em


seu pescoço evidentes.

— O que você quer, Guilherme?

— Eu quero a sua boquinha em meu pau, princesa.

Diz entre dentes e sorrio satisfeita. Então o coloco em


minha boca, chupo-o em um ritmo lento e sua mão pressiona a

minha cabeça levemente. Ele está prestes a perder o controle.

Levo-o o máximo que consigo até que ele toque minha


garganta.

— Porra, Anne.

Empurra-me contra ele e perde o total controle. Ele fode a

minha boca e me usa para conquistar o seu prazer.

Seus gemidos ecoam pelo quarto. Ele tem a cabeça jogada

para trás, olhos fechados e segura meus cabelos com força.

— Essa sua boquinha é uma delícia.

Rosna e me dou conta que ele está se segurando. Ele quer

gozar dentro de mim. E como é isso que eu também quero paro


com a minha boca na ponta do seu pau, sentindo seu gosto e me

afasto. Ele não oferece resistência.

— Você irá gozar dentro de mim, não é?

Abre seus olhos e me encara com tanta malícia que minha

boceta aperta.

— Vou. — Curva seu corpo e segue com as mãos em meu


cabelo. — Vou fazer você gritar no meu pau.

Inclina minha cabeça para o lado e beija meu pescoço.

— Você prefere de quatro enquanto eu deixo sua bunda

vermelha com meus tapas? — Suspiro. — Ou irá montar em mim


enquanto eu tenho seus peitos em minha boca?

Empurro e giro nossos corpos até que ele esteja deitado e

eu sobre ele.

— Eu vou montar você, Guilherme.

Ele coloca suas mãos em minha cintura e nos impulsiona

para cima.

— Monte em mim, princesa.

Passo minhas pernas pela sua cintura e as posiciono ao

lado do seu corpo. Ele suspira ao me sentir em sua pele. Sorrio

satisfeita.
— Eu já disse que você será minha morte, princesa?

Vou mais para a frente e ergo meu corpo até estar com

minha boceta sobre seu pau.

— Por favor, só morra depois de me fazer gozar.

Ele sorri, mas seu sorriso se desfaz assim que minha

boceta toca a ponta do seu pau. Meu olhar está preso ao seu e

conforme desço pelo seu cumprimento, nós dois suspiramos.

Não o tenho completamente dentro de mim de primeira,


vou até a metade e ergo meu corpo, repito o movimento várias

vezes e suor escorre pela minha testa, preciso de todo meu

controle para continuar nos torturando.

— Princesa, por favor.

— Por favor, o quê?

Ele não me responde, simplesmente segura minha cintura

com suas mãos e me empurra contra ele ao mesmo tempo que


impulsiona seu corpo para cima.

Nós dois gememos quando ele está completamente dentro

de mim.

Minha boceta aperta o seu pau e ele chupa meus seios.


Apoio minhas mãos em seus ombros e acelero nosso ritmo.
Palavras desconexas deixam nossas bocas e marcamos o

corpo um do outro com mordidas, chupões e arranhões.

Estou tão perto e rebolo contra seu pau. Guilherme

percebe e enrola sua mão em meu cabelo puxando minha cabeça

até minha boca estar sobre a sua.

— Vou gozar em sua boceta e você irá gozar junto comigo.

Seu dedo encontra meu clitóris, sua boca a minha e

atingimos o orgasmo juntos.

Caio exausta sobre ele até que Guilherme se desvencilha

de mim e deixa a cama. Estou exausta demais para perguntar


aonde ele irá.

Estou quase adormecendo quando escuto seus passos no

quarto e em seguida ele me pega em seus braços. Resmungo


sem abrir meus olhos.

— Banho, princesa.

Suspiro e me aconchego contra ele.

Guilherme nos leva para banheira e eu apenas fico


apoiada contras suas costas enquanto eles nos limpa.

— Acho que dessa vez, eu venci.

Olho para o lado e o encaro sem entender.


— Venceu?

— Sim, eu tive mais energia do que você.

Sorrimos e terminamos nosso banho. Voltamos para o

quarto e só deixo seus braços para colocar uma camisola,


Guilherme fica apenas de cueca e quando nos deitamos, eu

coloco meu rosto sobre seu peito e ele tem os braços ao redor da

minha cabeça.

— Você é minha, princesa?

Beija o topo da minha cabeça e fecho meus olhos.

— Completamente sua.
Capítulo 24

“Talvez seja a maneira como você diz meu nome


Talvez seja a maneira que você joga o seu jogo
Mas é tão bom, eu nunca conheci ninguém como você
Mas é tão bom, eu nunca sonhei com ninguém como
você”[36]

Acordar ao lado de alguém nunca me pareceu tão certo

antes. Meu coração está acelerado e preenchido com os mais


sublimes sentimentos enquanto tenho Anne em meus braços.

Alguma vez, já foi assim? Tenho certeza de que não.

Nunca me senti tão completo com alguém como me sinto

com ela.

Ela dorme profundamente mesmo com a luz do dia se

infiltrando pela janela e segue dormindo quando me desvencilho


dela e pairo com meu corpo sobre o seu e com meu rosto em

frente à sua barriga.

— Hey, querida. — Apoio meu corpo em meu antebraço

para que possa acariciar sua barriga. — Como você está?

Minha voz embarga e respiro fundo para não chorar

—Eu te amo e queria te agradecer por ter me apresentado

à sua mãe.

Será que eu deveria mesmo contar para minha filha que

ela é consequência de uma noite com uma estranha? Bom, a


sinceridade é sempre o melhor caminho.

— Preciso confessar a você que mamãe e eu fizemos você


em uma única noite. — Sorrio, porque parece que tudo foi há

tanto tempo. — Sim, nós nos conhecemos e fomos transar, aliás


nunca faça isso, transar no caso.

Meu peito aperta e faço uma careta.

— Nunca transe, porque juro que não é tão bom quanto

parece. — Nesse caso não preciso ser sincero, não é!? —

Continuando, nós fizemos tudo direitinho e usamos camisinha,

mas acho que você está com muita vontade de vir a esse mundo
e acabamos formando você.
Apoio meu cotovelo na cama e a cabeça em minha mão e
sigo acariciando a barriga de Anne, dessa vez traço círculos

invisíveis com as pontas dos meus dedos.

— Confesso que no início, eu fiquei com medo e

assustado, afinal não queria filhos e muito menos uma família. —

Como eu fui tolo. — Esse é outro motivo que preciso agradecer a

você, obrigado por ter me apresentado a um mundo totalmente

novo e muito melhor que o anterior.

Como pude achar que felicidade era a liberdade de não

estar com ninguém? Como acreditei que seria feliz na solidão?

— Apesar de tudo, não me arrependo de nada, porque

tudo que vivi me trouxe até a vocês — Mais uma vez preciso

segurar as minhas lágrimas. — Você chegou e me mostrou dia

após dia que a liberdade não se compara a estar com alguém,

você e a sua mãe bagunçaram meu mundo e o colocaram em

órbita, porque sempre estive perdido no espaço.

Eu estive tão enganado todos esses anos.

— E a sua mãe? Sua mãe é controladora, irritante e a

mulher mais incrível que eu conheço. — Automaticamente um


sorriso surge em meu rosto. — No início ela teve medo, mas eu

sempre soube que ela amava você, assim como eu sempre amei.

A mão de Anne se junta a minha em sua barriga e ao olhar

para cima me deparo com seu sorriso.

— Há quanto tempo você está acordada?

Seu sorriso se desfaz e abre seus olhos.

— Eu não sou irritante.

Forma um biquinho com seus lábios e me ajeito na cama


até estar com a minha boca a centímetros da sua.

— Só um pouquinho. — Beijo seus lábios rapidamente. —

Bom dia, princesa.

— Bom dia, bonitão.

A maneira como olha em meus olhos faz com que meu

coração bata acelerado em meu peito e tenha certeza de que o


melhor lugar que poderia estar é aqui, ao seu lado.

— Como você está?

— Bem, mas preciso avisar que meu estômago está um


pouco estranho e como todas as manhãs daqui a pouco

precisarei sair correndo para o banheiro.

Faço uma careta.


— Achei que você estivesse enjoando menos.

Suspira.

— Durante o dia sim, mas de manhã continua sendo

terrível.

Beijo sua testa e acaricio sua barriga.

— Acho que nossa filha não será muito matinal. — Assente


e no mesmo instante pula da cama e corre para o banheiro. —

Ela realmente não é muito matinal.

Sigo Anne e seguro seu cabelo enquanto ela está

ajoelhada no chão e deixando tudo que há em seu estômago na


privada. Assim que ela termina levanta-se e para de frente para a

pia.

— Você não deveria estar aqui.

Dou de ombros e apoio meu ombro no batente da porta.

— Eu deveria estar aqui desde a primeira vez que isso


aconteceu.

Balança a cabeça e pega a sua escova.

— Você nem me conhecia.

Dou de ombros.

— A ordem dos fatores não altera o produto.


Sorri e escova seus dentes. Eu continuo a observando e
memorizando cada um dos seus gestos. Quando ela termina se
aproxima e espalma as mãos em meu peito.

— Então, o que tudo isso significa?

Ergo minhas sobrancelhas.

— Tudo isso o quê?

Revira seus olhos.

— O que fizemos ontem à noite e nós dois.

Encara-me com expectativas. Como ela ainda tem

dúvidas? Coloco minhas mãos em sua cintura e diminuo ainda


mais a distância entre nós dois.

— Não sei para você, mas para mim significou tudo,


princesa.

Beijo sua testa e a abraço. Apoio meu queixo no topo da


sua cabeça e minhas mãos sobem e descem pelas suas costas.

Eu não tenho dúvidas sobre nós e sobre o que sentimos


um pelo outro. É óbvio.

— Para mim também significou tudo, Guilherme.

Não solto Anne e continuo com meus braços ao seu redor.


Amo o quanto ela parece se encaixar perfeitamente em mim.
Seguimos assim por um tempo e poderia ficar aqui para
sempre, mas infelizmente não podemos.

— Como você está?

Desvencilha-se de mim e sorri.

— Bem.

Assinto e entrelaço nossas mãos.

— Então, vamos descer e preparar nosso café.

De mãos dadas seguimos para a cozinha e preparamos

nosso café, um café sem café, porque ela continua enjoando ao

sentir o cheiro da bebida. Nós nos beijamos sempre que podemos

e nos tocamos a todo momento. Estamos viciados um no outro.

Não é o primeiro domingo que passamos juntos, mas é o

nosso primeiro dia como casal e é por isso que enquanto estamos

sentados um ao lado do outro em frente ao balcão faço uma


pergunta que jamais imaginaria que eu faria.

— O que um casal faz aos domingos?

Vira-se para mim e o seu olhar é divertido.

— Você não está me fazendo essa pergunta.

Cruzo meus braços em meu peito.

— Por que não?


— Porque você tem trinta e seis anos, Guilherme.

Morde seu lábio para não sorrir. Não entendo o motivo da


graça.

— E daí?

— Não é possível que você não saiba o que casais façam.

Eu deveria saber, mas meus relacionamentos do passado


foram baseados em sexo e em conveniência.

— Não sei.

— Você nunca namorou?

Desafia-me e dou de ombros.

— Algumas vezes, mas nunca foi nada tão sério, a gente

basicamente conversava sobre trabalho e transava.

Seu olhar segue divertido. Ela está se divertindo às minhas


custas.

— Quanto tempo durou seu relacionamento mais longo?

Não deveria ser uma pergunta difícil, mas é.

— Não sei, talvez seis meses.

Ela sorri e balança a cabeça.

— Nem durante a adolescência você namorou?


— Deveria?

Faço uma careta. Na adolescência só queria ficar com o

máximo de garotas possíveis e estudar.

— Meu Deus, você é um cafajeste pior do que eu

imaginava.

Ela está sorrindo, porém algo em sua frase me incomoda.

— Não sou mais um cafajeste, você sabe disso, não sabe?

Pula do seu banco, para a minha frente e passa seus


braços ao redor do meu pescoço.

— Eu sei.

Beija meus lábios e aproveito para enrolar minhas mãos


nos fios do seu cabelo e aprofundar o beijo. Minha boca explora a

sua e quando nos falta fôlego apoio minha testa na sua.

— Confesso que também não sou a melhor expert no

assunto, nunca quis um relacionamento e só namorei uma única


vez quando tinha dezessete anos. — Cora e beijo a ponta do seu

nariz. — E naquela época assistíamos bastante filme e ficávamos

de amasso no sofá.

Meu peito aperta ao pensar em Anne com uma outra


pessoa.
— Acho que não quero saber o que você fazia com outra

pessoa.

— Por quê? — Morde meu lábio inferior. — Ciúmes?

— Com certeza.

Pulo do banco e a pego em meus braços.

— Vamos assistir a um filme e fazer você esquecer


qualquer momento com esse cara do passado, aposto que ele era

um frangote, sou muito mais bonito, não sou?

Nós vamos para sala e pela próxima hora assistimos um

filme, só paramos quando está no horário do almoço e decidimos


pedir algo.

— Eu quero peixe frito. — Nego. — Por favor, é a sua filha

que quer!

Olho para o lado e me deparo com Anne de joelhos no sofá

e me encarando com um olhar pidão. Deus, como dizer não!?

— Alimentação regrada, lembra?

— Eu estou melhor. — Resmunga como uma criança


birrenta. — E é só hoje.

Fecho meus olhos e suspiro. Eu estou tão perdido.


Comemos o maldito peixe frito na sala e logo em seguida

voltamos a assistir filmes, ou melhor fingirmos que estamos

assistindo, dessa vez, estou muito mais empenhado em beijar a

mulher ao meu lado do que desvendar quem é o assassino.

Não passamos de beijos e mãos bobas, realmente nos

comportamos como dois adolescentes. E é quando o Sol está se

pondo que decido por uma das minhas fantasias em prática.

— Você deveria colocar um biquíni.

Anne que está apoiada em meu peito vira-se e franze sua

testa.

— Por quê?

— Porque estou morrendo de vontade te comer naquela


piscina.

Ela empurra sua bunda em minha direção e beija meu

queixo.

— Vou subir e vestir um biquíni.

Observo-a sair correndo para o quarto e suspiro.

Finalmente, vou foder com aquela mulher naquela piscina.

Anne não demora a descer e minha respiração falha ao vê-


la vestindo um mini- biquini vermelho, ele mal cobre seus seios e
a parte debaixo deixa sua bunda totalmente exposta.

Uma deusa que faz com que meu pau desperte.

— Vamos?

Ela passa por mim e caminha para o jardim. A maldita

rebola e me hipnotiza. Sigo-a e paro quando ela entra na piscina.

Os últimos raios de Sol a atingem e ela brilha.

— Você vai ficar aí parado?

Sorri maliciosa e no mesmo instante retiro minha roupa e

fico só de cueca. Então corro até a piscina e me junto a ela.

A água fria é um contraste com minha pele que está


queimando. Queimando por ela. Anne vem até mim e deixa seus

braços ao redor do meu pescoço enquanto coloco minhas mãos

em sua cintura.

— Nosso primeiro beijo quase ocorreu aqui.

Sei do que ela está fazendo, mas decido provocá-la.

— Nosso primeiro beijo foi naquela boate, princesa.

Bate em minhas costas levemente e revira seus olhos.

— Estou falando daquela noite.

Paro de sorrir e mantenho meus olhos presos aos seus.


— Naquela noite foi insuportável não beijar você e fazê-la
minha. — Ergo minha mão e acaricio seu rosto. — Tudo que eu

queria era possuir você aqui e marcá-la para sempre.

Toco o contorno dos seus lábios com as pontas dos meus


dedos.

— Eu queria que você tivesse me beijado.

Minha boca paira a centímetros da sua.

— Na minha primeira noite aqui na sua casa, eu desejei


você. — Meu nariz toca o seu e fecho meus olhos. — Eu sempre

desejei você, Anne.

Finalmente, beijo-a e entregamos tudo nesse beijo.

Luxúria, desejo e paixão. Empurro-a contra a borda da piscina e


ela mantém suas mãos em meu pescoço.

Ao abrir os meus olhos encontro os seus e juro encontrar


tudo nele. Cada motivo da minha existência.

Dessa vez, enquanto minhas mãos percorrem seu corpo e


minha boca sua pele, estamos silenciosos, nossos gemidos e
suspiros são os únicos sons.

Não perdemos o controle como na noite passada e não


temos pressa.
Não marco a sua pele, apenas beijo as marcas que deixei
na noite passada. Ela não arranha minhas costas, apenas
mantém suas mãos em meus ombros buscando por equilíbrio.

Meus dedos não têm pressa quando empurro a parte de


baixo do seu biquíni para o lado. E demoro para tornar a caricia
uma penetração.

Ela não goza em meus dedos, assim como não gozo

quando ela toca meu pau com suas mãos.

Apesar da necessidade que temos um pelo outro, dessa


vez é mais que apenas desejo reprimido por semanas.

Estou olhando em seus olhos quando ela cruza as pernas


ao redor da minha cintura e nos tornamos um só. Nosso ritmo é
lento e o prazer ganha intensidade aos poucos.

Mantemos o olhar um no outro até que seja possível, mas


quando é impossível continuarmos nos segurando Anne apoia
sua testa em meu ombro e eu fecho meus olhos.

Gozamos juntos novamente e ficamos por um tempo

absorvendo a intensidade do momento.

Não trocamos nenhuma palavra quando Anne se


desvencilha de mim e se vira ficando com as costas apoiadas em
meu peito.

Observamos o céu em um tom vermelho e laranja e o Sol

se pondo.

Não preciso de palavras e espero que Anne também não,

espero que ela entenda que a amo.


Capítulo 25

“Mas agora eu sei uma maneira perfeita de deixar você ir


Dou o meu último olá, espero que valha a pena
Aqui está o seu perfeito”[37]

— Nós realmente precisamos ir?

Resmungo pela décima vez enquanto coloco meus


sapatos.

— Sim.

Guilherme responde mais uma vez. Amarro minha sandália

e olho em sua direção. Ele está em frente ao espelho e arruma a


sua gravata.

— Você fez essa promessa à minha mãe há semanas.

Dá de ombros.
— Eu nunca descumpro uma promessa.

Suspiro, porque sei que não conseguirei fazê-lo desistir

desse baile beneficente.

— Quem faz um baile beneficente em plena quarta-feira?

Claro que esse não é o principal motivo que me faz querer

ficar em casa, mas contribui para o meu ranço.

— Não vamos demorar. — Vira-se. — Nós fazemos uma

rápida aparição e viremos embora.

Assinto, mas não estou prestando atenção de fato no que

ele disse, porque meus olhos estão percorrendo seu corpo e a

sua beleza está me distraindo. Ele está usando um terno, camisa


branca e uma gravata borboleta preta.

— Eu já disse o quanto você fica gostoso de terno e

gravata?

Sorri malicioso enquanto caminha em minha direção.

— Todos os últimos três dias quando eu saio para trabalhar

e quando eu volto.

Encara-me divertido e dou de ombros.

— E não falei antes, porque isso não é o tipo de coisa que

um amigo diz para o outro.


Sorri debochado e me estende a mão.

— Ainda bem que faz três dias que não somos mais

amigos.

Coloco meus dedos sobre os seus e ele me ajuda a ficar

em pé.

— Você está contando.

Paro à sua frente e nossas mãos seguem unidas.

— E você não está?

Ergue sua sobrancelha e eu sorrio, porque ele está certo.

Eu estou contando quantos dias fazem que admitimos para nós

mesmos que não somos apenas amigos e pais de uma criança.

Nós compartilhamos sentimentos, sentimentos sem rótulos e sem


definição, mas ainda assim sentimentos.

— Sim, eu estou.

Suspiro derrotada e dou um passo para o lado, mas

Guilherme segura meu pulso. Desce seu olhar pelo meu corpo e
analisa cada detalhe do meu vestido vermelho longo e com uma

fenda até minha coxa esquerda.

— Você está linda, princesa.


Seu olhar é o suficiente para um calor subir pelo meu

corpo. É basta ele me olhar para conseguir me tirar dos eixos.


Guilherme diminui a distância entre nós e aproxima sua boca da

minha orelha.

— Irei adorar tirar esse maldito vestido do seu corpo.

Assim como ele se aproximou ele se afasta, de repente, e

mesmo que tenha sido por pouco tempo preciso respirar fundo.

— Irei contar os minutos para esse momento. — Abre e

fecha a boca e sorrio. — Dois podem jogar esse jogo, bonitão.

Encara o teto e suspira.

— Definitivamente dois podem jogar esse jogo.

Nós dois estamos sorrindo quando deixamos o quarto, um

quarto que desde a primeira noite que dormimos juntos não é só


meu, suas coisas estão aos poucos se misturando às minhas.

Como sempre assim que chegamos no carro Guilherme


abre a porta e me ajuda a entrar, em seguida ocupa o lugar ao

meu lado. Observo-o e me dou conta de que já sei como é o seu


padrão, como arruma o banco e o retrovisor, até mesmo há uma
maneira de pegar na direção.
Nós nos conhecemos há algumas semanas, talvez quatro,

talvez cinco e é como se fizesse anos.

Eu sei como gosta do seu café, das suas manias e das

suas roupas preferidas. Sei o quanto é protetor e engraçado.

— Por que você está tão quieta?

Sorrio e balanço minha cabeça.

— Nada demais.

Ele está dirigindo e não posso ver o seu rosto, mas sei que
está com a testa franzida.

— Você está com receio de encontrar a sua mãe?

Minha mãe sequer passou pela minha cabeça nos últimos

dias.

— Não.

— Princesa, se for isso podemos voltar para casa.

Meu coração acelera.

— Você seria capaz de descumprir uma promessa por


mim?

Sorri, aquele sorriso de lado que tanto amo.

— Eu seria capaz de qualquer coisa por você, Anne.


Apesar do seu sorriso suas palavras são determinadas, ele
está falando sério. Engulo em seco.

— Não precisamos voltar.

Para em um sinal e se vira para mim.

— Certeza?

— Certeza. — Sorrio para que ele acredite em mim. —


Minha mãe não pode fazer nada que irá me machucar, não mais.

Assente e volta a olhar em frente e viro para o lado. Encaro


a noite pela janela. O céu está estrelado e a noite agitada, há

muitas pessoas pelas calçadas. Enquanto observo o movimento


lá fora, volto a pensar em tudo que está acontecendo.

Eu estou grávida, o desfile da minha marca foi um sucesso

e estou em um relacionamento com alguém. Tudo mudou em


pouquíssimo tempo e embora tenha ficado assustada no início,

não estou mais, não completamente pelo menos.

De repente, havia alguém em minha vida me ajudando com

os meus cronogramas e beijando minha testa. Sem percebermos


estávamos comemorando a vitória um do outro. E quando ele

começou a trabalhar, eu voltei para a minha própria empresa e


nossa rotina se misturou, tomamos café juntos e vamos de carona
um com o outro para o trabalho. Nossas conversas são
profundas, mas também superficiais. Não sei em que momento
ele se tornou a minha pessoa preferida, mas ele se tornou e foi

antes de sentir seus lábios nos meus.

Lágrimas nublam minha visão e emoção domina meu peito.

— Princesa, você está me deixando preocupado. — Volto a

olhar para Guilherme, que mais uma vez está em um sinal. —


Você está chorando?

Sua voz soa extremamente preocupada e sorrio.

— São lágrimas de felicidades, eu juro.

Segue com uma expressão angustiada.

— Não estou entendendo nada.

Dou de ombros e ele olha em frente.

— Você ainda não aprendeu com os seus milhões de livros

que mulheres grávidas ficam mais emotivas?

As lágrimas se dispersam dos meus olhos. Realmente, a

gravidez está deixando meus sentimentos um caos.

— São somente oito livros.

— Dez com os outros dois que comprou na semana

passada.
Debocho e ele só balança a cabeça. Ligo o som e pelo

restante do caminho vamos em silêncio. Assim que chegamos


Guilherme me ajuda a sair do carro e caminhamos para a entrada.

Há alguns fotógrafos e nós tiramos algumas fotos, assim

como no dia do desfile, porém agora não somos apenas dois


estranhos se conhecendo.

Enfim entramos no evento e fico deslumbrada com o lugar

por alguns segundos. É uma antiga casa que foi transformada em

um local para eventos e a sua aparência faz com que pareça que
estamos em um baile do século passado.

Está tocando uma música e algumas pessoas estão

dançando, então Guilherme me oferece a sua mão.

— Dança comigo?

Sorrio e coloco a minha mão sobre a sua.

— Claro.

Nós esquecemos onde estamos e dançamos como se


fôssemos apenas nós dois.

— Você sabe, nós estaríamos vivendo um escândalo se

estivéssemos no século passado, princesa.

Ergo minhas sobrancelhas.


— Estaríamos?

Assente.

— Sim, porque está grávida antes do casamento.

Sussurra como se fosse um segredo e preciso me segurar


para não gargalhar.

— Meu Deus, Guilherme você é péssimo.

Dá de ombros e seguimos dançando. A maneira como nos

olhamos faz com que cada palavra pareça real, como se nós
realmente estivéssemos dispostos a nos amar por mil anos.

A música chega ao fim e Guilherme beija a lateral da minha

cabeça.

— Você é uma ótima dançarina, princesa.

Sorrio.

— O parceiro ajuda, confesso.

Nós dois sorrimos e deixamos a pista de dança. Pelos


próximos minutos andamos pelo local cumprimentamos algumas

pessoas e vamos até a mesa de salgados disposta mais à lateral

do salão.

— Queria saber o porquê tão pequenos! — Encaro


indignada o mini salgadinho em minha mão. — Precisarei comer
uns cinquentas para me sentir satisfeita.

Guilherme ergue suas sobrancelhas.

— Não seja exagerada, princesa.

Empurro seu ombro com o meu.

— Hey, eu estou comendo por dois.

Ele abre a boca, mas não tenho tempo para descobrir o


que iria falar, porque somos interrompidos.

— Boa noite, queridos.

Sorri, mas é um sorriso falso, aliás tudo em Cecília grita

falsidade.

— Boa noite.

Dizemos ao mesmo tempo e sem animação nenhuma.

— Como vocês estão?

Respondo-a e somos cordiais por alguns minutos,


conversando sobre assuntos superficiais, mas Cecília não

consegue ser cordial por muito tempo.

— Estive pensando e se vocês estiverem noivos apenas


por causa da criança. — Encara a minha barriga e coloco minha

mão protetoramente sobre ela. — Deveriam repensar, porque hoje


em dia há muitos casais que criam seus filhos maravilhosamente

bem e separados.

É claro que ela precisava lembrar-me de um noivado falso

que eu nem lembrava, o anel pesa em meu dedo.

— Estou apenas pensando no bem-estar de vocês.

Sorrio, um sorriso sem humor algum.

— É claro que você está. — Guilherme abre a boca para

me defender, mas balanço a cabeça, está na hora de eu enfrentá-


la. — Por que, você sempre está tentando me machucar?

Franze sua testa.

— Não estou tentando machucar você, você é a minha filha


e estou te protegendo. — O pior é que ela acredita em cada

palavra que está dizendo. — O mundo é mais cruel do que você

imagina.

Um sorriso cruel escapa dos meus lábios.

— Eu sei, pode apostar que eu sei e você faz parte da

crueldade que existe em meu mundo.

Olha-me chocada por alguns segundos e como ela irá dizer

algo, porque ela sempre tem algo a dizer dou um passo em frente
e me afasto dela.
Preciso de ar e passo pela primeira porta aberta que

encontro. Saio em um imenso jardim e no mesmo instante o ar frio


da noite me atinge, respiro fundo.

— Você está bem?

É claro que ele viria atrás de mim. Sua voz me tranquiliza e

suspiro.

— Sim, só nunca entenderei como ela pode ser tão cruel.

Viro-me para trás e ele se aproxima de mim.

— E a crueldade tem explicação?

Ele está certo, ser cruel nunca pode ser justificado.

— Sabe, eu nem me lembrava desse maldito noivado falso.

— E como eu sempre soube vocês nunca estiveram

noivos. — Cecília caminha em nossa direção com um sorriso

vitorioso em seu rosto. — Você achou que conseguiria me


convencer com esse teatrinho, Anne?

Guilherme segura a minha mão com a sua e foco em

nossas mãos unidas. Minha mãe não tem o poder de me destruir.

— Você quer saber era uma mentira, porque você é

insuportável e nem o pai da minha filha suportou o jeito como

você fala comigo.


Ela sequer pisca ao ouvir minhas palavras.

— Sabe Anne, eu sempre quis proteger você, porque nós

somos iguais. — Sorri, porém dessa vez é um sorriso triste. —

Você pode achar que não, mas você é minha filha e mulheres
como nós precisamos ser espertas.

Dá um passo em minha direção.

— Guilherme nunca vai te escolher, assim como seu pai

não nos escolheu. — Lágrimas se acumulam em seus olhos. —


Na primeira oportunidade ele irá se casar com alguém que tenha

o que você não tem, seja influência, beleza ou jovialidade.

— Cecília você não sabe do que está falando.

Apenas sorri diante as palavras de Guilherme e encara


nossas mãos unidas.

— Então, vocês acham que estão apaixonados!? — Soa


amarga e desvia o olhar em minha direção. — Aposto que ele

nunca disse que te ama e aposto que só estão emocionados com


a ideia de família.

Olha para nós dois como se fosse a pessoa mais sábia do

mundo.
— Um dia, vocês irão se tocar que tudo não passa de
emoção. — Cada palavra é dita com desdém. — E perceber que
só agiram no calor do momento, Guilherme vai querer voltar para

a vida de solteiro e você, Anne, irá acabar com uma filha e um


coração partido.

Eu estava enganada, Cecília ainda é capaz de me

machucar. Suas palavras ecoam em minha mente Aposto que ele


nunca disse que te ama. E se realmente, estivermos só
emocionados?

— Cecília você não sabe do que está falando. —

Guilherme rosna e dá um passo em frente. — Você não entende


nada de paixão e amor, porque é incapaz de amar.

Seus olhos estão vermelhos de raiva, antes que ele faça,

ou fale algo que se arrependa, desvencilho minha mão da sua e


fico a sua frente, entre ele e Cecília.

— Você é amargurada, rancorosa e cruel. — Abre a boca,

mas balanço a cabeça. — Não quero mais ouvir você, nunca mais
quero ouvir você e apesar de ser minha mãe quero você longe da
minha vida.

Simplesmente dá de ombros.
— Dói ouvir a verdade, não é!? — Sorri. — Não se
preocupe, eu entendo a sua raiva.

Olha para mim e depois para Guilherme.

— Tenham uma boa noite.

Ela volta para dentro do salão como se não tivesse


pisoteado meu coração.

— Você sabe que tudo que ela falou é mentira, não é?

Continuo olhando na direção que ela saiu, porque não


consigo olhar para Guilherme.

E se ela não estiver mentindo?

— Eu preciso ir embora.

E pensar.

— Vamos.

Aproxima sua mão das minhas costas, mas pela primeira


vez recuso o seu toque.

— E se ela estiver certa, e se for apenas emoção?

A simples ideia de perder Guilherme é insuportável.

— Princesa, ela estava apenas sendo cruel.


Fecho meus olhos, mas suas palavras seguem ecoando
em minha mente “Um dia, vocês irão se tocar que tudo não passa

de emoção. E perceber que só agiram no calor do momento,


Guilherme vai querer voltar para a vida de solteiro e você, Anne,
irá acabar com uma filha e um coração partido.”

— Eu preciso ir embora.

— Vamos para o carro.

Balanço a cabeça negando.

— Eu vou sozinha. — Meu coração quebra em meu peito.

— Eu preciso pensar, Guilherme.

Viro-me e caminho para longe do homem que eu amo.


Capítulo 26

“Querida não tenha medo


Eu te amei por mil anos
Eu te amarei por mais mil”[38]

Observo Anne caminhar de volta para o evento com o

coração partido. Como assim ela precisa pensar? Como ela pode
acreditar que sua mãe tem razão?

Será que ela tem dúvidas? É aterrorizador pensar que

talvez ela não sinta o mesmo que eu. Será que ela realmente está
apenas emocionada com a ideia de construir uma família?

Olho para cima e encaro as estrelas no céu. O que eu


faço? Simplesmente deixo a mulher que eu amo partir?
O amor não é isso? Não é deixar quem você ama tomar

suas próprias decisões e ser feliz, mesmo que seja uma felicidade
longe de você? Pensar em não estar com Anne é sufocante, é

como perder o ar e não ser mais capaz de respirar.

Nossos momentos ecoam em minha mente, eles pareciam

tão reais, tão cheios de sentimentos. Como posso ser o único a

estar apaixonado? A forma como ela me olha é tão intensa.

Talvez ela ainda não saiba, mas ela me ama assim como
eu amo. Passo as mãos em meu cabelo, e se fizer ela se

apaixonar por mim? Eu posso, não posso?

Caralho, o que eu faço?

Como um idiota repasso em minha mente tudo o que


acabou de acontecer e me dou conta de algo. Aposto que ele

nunca disse que te ama e aposto que só estão emocionados com

a ideia de família.

Será que ela acha que eu não a amo? Será que ela tem

dúvidas sobre meus sentimentos? Será que ela continua não

acreditando em mim?

Eu deixei tão óbvio em cada gesto e atitude, mas e se ela

não percebeu? Anne foi machucada por quem deveria amá-la.


Ela não está duvidando de mim, está duvidando dela
mesmo e da sua capacidade de ser amada.

Talvez esteja totalmente enganado e ela apenas não me


ame, mas não me importo. Corro atrás dela, porque por Anne

seria capaz de qualquer coisa.

Ela está quase na saída, há muitas pessoas e não

conseguirei chegar a ela a tempo. Olho ao redor procurando por


uma solução mágica. Ela precisa saber que a amo.

Meus olhos se deparam com um microfone sobre o palco,


provavelmente reservado para os anfitriões do evento. Corro até

lá e subo no palco, os funcionários ao redor me encaram como se

eu fosse um louco, eles estão prontos para me tirar daqui.

— Só preciso me declarar para a mulher que eu amo. —

Seguem caminhando em minha direção, droga! — Eu doo cem mil

para instituição que será beneficiada com o evento.

Eles finalmente param e depressa vou até o microfone.

— Princesa. — Procuro por ela e ela está quase saindo do

evento. — Não vá antes de me ouvir.

Ela para e se vira em minha direção. Dói ver lágrimas

escorrendo pelo seu rosto.


— Desculpe a todos, mas eu preciso que a mulher que eu

amo saiba que eu a amo. — Apesar de estar falando com os


convidados sigo olhando para Anne. — Eu não sei se você sabe,

princesa, mas eu te amo.

Seus olhos estão fixos no meu.

— Eu realmente nunca quis uma família e por muito tempo

acreditei que ser solteiro era a melhor coisa da vida, até mesmo
mais incrível que o amor. — Sorrio. — Eu só acreditava nisso,

porque nunca havia amado, porque nunca tinha me deparado


com o amor, mas então você entrou na minha vida, Anne e

quanto mais tempo eu passava ao seu lado mais eu queria estar


ao seu lado.

As lágrimas seguem descendo pelo seu rosto, mas ela está


sorrindo e como sempre, ela é capaz de iluminar o meu mundo
com o seu sorriso.

— Estar com você se tornou tão essencial quanto respirar.


— Caminha em minha direção e as pessoas abrem espaço para

que ela passe. — Não sei quando comecei a amar você, mas o
fato é que te amo e não tem nada a ver com a nossa filha,

embora tenha sido ela a nos me aproximar eu não me apaixonei


pela minha mãe da minha filha, eu me apaixonei por você, Anne.
Em nenhum momento meu olhar desvia do seu e quando

ela para em frente ao palco, pulo e paro à sua frente, então apoio
minha testa na sua e ela espalma as mãos em meu peito.

— Você me ama, Guilherme?

Sorrio.

— Amo, Anne, eu amo você.

— Eu estava com medo de que Cecília estivesse certa, eu

estava com medo de você não me amar.

Afasto as lágrimas do seu rosto com as pontas dos meus

dedos e acaricio as suas bochechas.

— Como eu não poderia te amar?

Olha em meus olhos e toda a sombra de dor nos seus se


dissipa.

— Eu amo você, Guilherme. — Coloca suas mãos sobre


meu coração. — Você chegou em minha vida, quebrou todas as
barreiras em meu coração e me mostrou que sempre estive

enganada em evitar o amor.

Meu coração bate acelerado a cada palavra sua. Ela me

ama.
— Você juntou os pedaços do meu coração, o consertou e
então o tomou para si.

Fecho meus olhos e abaixo meu rosto.

— Sempre cuidarei muito bem do seu coração, Anne.

Minha boca encontra a sua e a beijo. Meus lábios

reivindicam os seus enquanto reivindico seu coração.

Palmas interrompem nosso momento e me dou conta de

que não estamos sozinhos.

— Quando estou com você eu esqueço de tudo e todos,

princesa.

Sorri, beijo sua testa e Anne entrelaça minha mão na sua.

— Vamos para casa.

Assinto e a pego em meus braços

— Vamos para casa, princesa.

Caminho com ela em meu colo em direção à saída


enquanto as pessoas abrem espaço.

— Você é um maluco.

Sorrio.
— Depois de subir em um palco, doar cem mil reais e me
declarar para você, eu preciso de uma saída triunfal.

— Você doou cem mil reais!?

Encara-me divertida

— Sim, acabei de doar o dinheiro da faculdade da nossa

filha para uma instituição. — Ela gargalha — Não ria que foi por

sua causa, porque foi a maneira deles me deixarem usar o


microfone.

Morde os lábios e para de rir, porém a expressão em seu

rosto segue divertida.

— Espero que alguém tenha filmado, bonitão.

— Cuidado com o que deseja, depois fico famoso e todas

irão me desejar. — Bate em meu peito. — Já posso imaginar meu

fã clube e aposto que a foto de perfil seria uma em que estou sem
camisa.

— Esses seus músculos nem são grande coisa.

Revira seus olhos, mas continua sorrindo. Apenas beijo

sua testa, porque o manobrista entrega a chave do carro, então


deixo Anne em seu lugar e assumo o meu.
Nós não conversamos e a música preenche o silêncio

causado por nós, não porque não há o que ser dito, mas porque
precisamos chegar logo em casa. Trocamos olhares durante o

trajeto e eles são repletos de significado.

Dirijo o mais rápido possível e assim que entramos em


casa a puxo em minha direção.

— Eu te amo, Anne.

Ela apoia suas costas em meu peito e beijo o seu pescoço.

— Eu te amo, Guilherme.

Distribuo beijos pelo seu pescoço enquanto ela tem as

suas mãos sobre o braço que tenho ao redor da sua cintura.

— Todas as palavras que eu disse são reais, você é tudo

que eu preciso hoje e tudo que eu sempre precisarei.

Vira-se em meus braços ficando de frente para mim.

— Eu fui uma tola, não é?

Balanço a cabeça e coloco alguns fios do seu cabelo para

trás da sua orelha.

— Não, você só ficou com medo.

Dou de ombros e ela sorri.

— Obrigada por ter insistido e ido atrás de mim.


— Confesso que fiquei desesperado quando você foi para

longe e acreditei que você não me amasse, por alguns segundos

imaginei como poderia fazer você se apaixonar por mim. —


Acaricio seu braço. — Mas me lembrei de como você parecia tão

entregue quando estávamos juntos, das palavras da sua mãe e

me dei conta de que talvez você estivesse com dúvidas de si

mesma.

Suspira.

— É difícil aceitar o amor quando as pessoas que deveriam

te amar não o fizeram.

Abraço-a e beijo a lateral da sua cabeça.

— Eu te amo e vou passar o resto da minha vida provando

o quanto te amo.

— Você não faz promessas que não pode cumprir, lembra?

Desvencilho-me de Anne e novamente, pego-a em meus

braços.

— Exatamente e vou começando a provar nesse exato

momento.

— Vai?
Seus olhos brilham, um brilho malicioso. Ela sabe o que

iremos fazer.

— Vou, irei amar você com minha boca, minhas mãos. —

Aproximo minha boca da sua orelha. — E com o meu pau.

Anne beija meu pescoço e segue distribuindo beijos pela


minha pele enquanto subimos para o segundo andar. Seus beijos

são o suficiente para me fazer querer mais, principalmente porque

seu cheiro está em mim.

Deus, eu amo essa mulher.

Assim que entramos no quarto a coloco no chão de costas

para mim e empurro seu cabelo loiro para o lado, abro o zíper do

seu vestido lentamente e sussurro em seu ouvido.

— Hoje seremos aqueles que vamos foder como dois


enlouquecidos ou faremos amor intensamente?

Beijo seu pescoço enquanto um suspiro deixa seus lábios.

— Me surpreenda.

Minha boca deixa sua pele e sorrio.

— Como você quiser, princesa.

Abro o zíper do seu vestido e desço meus lábios pela sua

pele. Beijo suas costas e seu corpo se arrepia. Assim que tenho
seu vestido totalmente aberto empurro as alças pelos seus

ombros e ele cai no chão. Meu olhar percorre seu corpo e me

detenho na pequena calcinha vermelha de renda.

— Eu adorei sua calcinha. — Diminuo ainda mais a


distância entre nós até que suas costas estejam completamente

contra o meu peito e a sua bunda contra o meu pau. — Será uma

pena rasgá-la.

Empurra seu corpo contra o meu.

— Eu a coloquei na intenção de você rasgá-la.

Desço minhas mãos pelo seu corpo e seguro o tecido em

meus dedos, então o puxo até que ceda.

— Porra.

Anne protesta quando o elástico da minúscula peça bate

em sua cintura.

— Você não gostou da dor? — Toco o meio das suas


pernas. — Você está tão molhada que aposto que gostou.

Ela não diz e bato na sua coxa.

— Você não irá me responder?

— Caralho, gostei.
Sorrio satisfeito e deixo que um dos meus dedos entre

nela. Brinco lentamente para torturá-la e ela se contorce à procura


de mais.

— Você é gulosa, não é?

Mais um dedo se junta ao primeiro e massageio seu clitóris

com meu dedão. Cada vez que ela rebola em minha mão fico
ainda mais duro. Mal posso esperar para estar dentro dessa

mulher.

Seus gemidos se tornam mais regulares e sua boceta


aperta meus dedos, o que indica que ela está prestes a gozar, por

isso intensifico meus movimentos e só afasto minha mão quando

tenho uma Anne satisfeita em meus braços.

Minhas mãos percorrem seus braços e beijo seu pescoço.


Ela se vira em minha direção com os olhos brilhando e um sorriso

preguiçoso em seu rosto.

— Você está muito vestido, querido.

Abro meus braços e deixo que ela tire meu blazer e em

seguida traz suas mãos até os botões da minha camisa. Abre um

por um e no momento que meu peito é exposto curva seu corpo e

o beija.
Sua boca em mim é uma tentação e respiro fundo para não
perder o controle. Suas mãos descem e tocam o meu pau por

cima da calça.

— Anne.

Aviso e sinto-a sorrindo. Maldita provocadora. Abre o zíper

da minha calça e seus dedos se infiltram pela minha cueca

percorrendo toda minha extensão e um grunhido deixa minha


garganta.

Ela morde meu mamilo e é o que basta para perder o

controle. Puxo-a pelos cabelos e faço com que fique com a boca

a centímetros da minha.

— Eu preciso de você, princesa.

Caminhamos em direção à cama e enquanto a beijo,


tiramos a minha calça, jogo-a para longe e Anne se deita sobre o

colchão. Retiro meu sapato e em seguida o seu, então distribuo


beijos pela sua perna e sigo beijando seu corpo até que estou

com o rosto a centímetros do seu.

Olho em seus olhos e encontro neles tudo que preciso.

— Eu te amo, Anne.

Meu nariz toca o seu.


— Eu te amo, Guilherme.

Quando desço meu corpo sobre o dela é muito mais que


sexo, são duas pessoas que se amam e se tornando uma só. Não

é só meu pau procurando por libertação, meu coração também


está em sincronia com o seu.

Procuramos o prazer um no outro enquanto mantemos


nossos olhares presos. Nossos gemidos ecoam pelo quarto junto

com o barulho do choque entre nossos corpos.

— Mais forte, Guilherme.

Aumento o ritmo e quando ela grita sei que está gozando e

me permito gozar. Por alguns segundos, eu permaneço sobre ela


e com meu rosto apoiado em seus seios, porém para não a
sobrecarregar jogo-me para o lado e a trago para perto.

Anne apoia a cabeça em meu peito, passo os braços ao


redor do seu corpo e beijo sua testa.

— Eu te amo, princesa.
Capítulo 27

“Amar pode curar


Amar pode consertar a sua alma
E é a única coisa que eu sei, sei”[39]

Encaro as plantações pela janela e estralo meus dedos.

— Você sabia que estralar os dedos pode causar uma


doença articular degenerativa?

Sorrio e desvio o olhar para Guilherme que está dirigindo

concentrado.

— E como você sabe disso? — Abre a boca para me


responder, mas sou mais rápida. — Já sei, você leu nos livros que

tenha como tema gravidez.

Revira seus olhos.


— Você deveria parar de debochar dos meus livros,

inclusive eu vi você lendo um deles na noite passada.

Dou de ombros.

— Não sou contra os livros, sou contra o seu exagero, já

temos doze livros em casa sobre gravidez, Guilherme.

Para minha surpresa ontem chegaram mais dois livros,

talvez o cara ao meu lado esteja viciado em adquirir livros de


gravidez.

— Sou um pai prevenido, Anne e para sua informação,


uma vez procurei no google se estralar os dedos fazia mal. —

Tento não rir, mas é impossível. — Deveria ser pecado você ficar

rindo do pai da sua filha.

Resmunga e eu preciso respirar fundo algumas vezes


antes de conseguir parar de rir.

— Você ainda não sabe se é uma filha.

Guilherme simplesmente dá de ombros e acaricio minha

pequena barriga.

— Estamos prestes a descobrir, princesa.

Ele soa tão tranquilo enquanto meu coração volta a bater

acelerado em meu peito.


— Você não está nervoso?

— Não.

Contradizendo a si mesmo aperta a direção, a ponto das

suas mãos estarem brancas.

— Você está mentindo.

Sorri, um sorriso misterioso.

— Não deveríamos estar ansiosos para descobrir se o

bebê é menino, ou menina, afinal iremos o amar da mesma forma.

É claro que ele está fingindo tranquilidade.

— Mas você acha que é uma menina, não irá ficar

decepcionado se for um menino?

Minha maior preocupação é a nossa reação se

descobrirmos estarmos errados, não quero que meu bebê se sinta

rejeitado.

— Não, porque podemos tentar uma menina da próxima

vez.

— Próxima vez?

Gaguejo. Como assim próxima vez?

— Sim, ou você pretende ter um filho só?


Abro e fecho a boca sem reação e sem uma resposta. Até

pouco tempo atrás, eu acreditava que nem queria filhos, ou seja,


nem deu tempo de pensar em quantos filhos eu quero e se quero

mais de um.

— Eu ainda não sei.

Ele estaciona o carro em frente à casa de fazenda da

Francesca, porque é claro que ela e Diana organizaram o chá de


revelação aqui.

— Bom, eu amo meus irmãos e não conte isso a eles por


favor. — Dá de ombros. — E adoraria que nossa filha tivesse

alguém com quem compartilhar a infância, então meu voto é


irmãos sim e quanto mais melhor.

Deixa o carro e como sempre vem até mim, abre a porta e


me ajuda a sair.

— Sabe, quero ver se você irá continuar com toda essa


animação quando nossa filha nascer e o acordar pela madruga.

— Espalmo minhas mãos em seu peito. — Além do mais você


está bem perto dos quarenta, será que terá energia para todas
essas crianças?

Provoco-o e ele me encara indignado.


— Você sabe que tenho energia de sobra.

Subo minhas mãos pelo seu peito e as deixo sobre seu


ombro.

— A questão é por quanto tempo?

Aperta meu quadril com suas mãos.

— Pode apostar que por muito tempo, princesa. — Pisca


em minha direção. — Tanto para fazer todas essas crianças

quanto para cuidar delas.

Um grito de Francesca chama nossa atenção e somos

obrigados a abandonar nossa batalha. Olhamos para o lado e


minha amiga está deixando a varanda e caminhando em nossa

direção.

— Olha só, o nosso casal chegou.

Francesca bate palmas enquanto deixa a varanda da casa

e caminha em nossa direção.

— Alguém está animada com a nossa chegada, princesa.

Aceno concordando com Guilherme.

— E nós nem chegamos atrasados.

É muito engraçado como minha amiga está feliz e


empolgada.
— Estamos todos ansiosos esperando por vocês.

Ergo minhas sobrancelhas.

— Quem já chegou?

Minha amiga se aproxima e me abraça.

— Todo mundo.

Grita animada ao se afastar de mim e em seguida abraça

Guilherme.

— Então, a revelação já pode acontecer?

Guilherme é quem pergunta, isso porque ele está tranquilo.

— Já. — Entrelaço minha mão com a de Guilherme e ele


aperta meus dedos. Nós estamos nervosos. — Vamos que irei

levá-los até o lugar que Diana e eu decoramos.

De mãos dadas seguimos Francesca que não para de falar,

ela está empolgada, e nós só assentimos.

Ela nos leva até um lugar mais afastado da sua casa onde
está decorado com muitos balões azuis e rosas, há duas caixas

sobre a grama, uma mesa com bolo e docinhos e as pessoas


importantes para nós dois estão aqui.

Sua família, Nicholas e Francesca, minha avó, meu pai que


está tentando ser alguém melhor e Manuela. Cecília não está aqui
e nunca mais estará presente em nossas vidas, há três dias eu a
expulsei da minha vida.

Somos cercados pelas pessoas que nos amam, eles nos


abraçam e tocam minha barriga enquanto fazem suas apostas.

— Eu ainda acho que será um menino.

Pietra provoca Guilherme.

— Meu sentido de pai está certo, pirralha, você vai ver.

— E os nomes vocês decidiram?

Pedro pergunta e Guilherme e eu trocamos um olhar. Ainda

não contamos a ninguém sobre os nomes que escolhemos.

— Devemos revelar?

Todos ficam quietos ao nosso redor.

— Você que sabe, princesa.

Então, viro-me para os nossos convidados e sorrio.

— Se for uma menina será Antonella, se for menino será


Dante.

A mãe de Guilherme sorri emocionada, porque são os

nomes dos seus pais e vem até nós.


— É uma linda homenagem. — Abraça nós dois, melhor

nós três. — Eles iriam adorar.

Uma lágrima escorre pelo seu rosto quando se afasta e se

abaixa na altura da minha barriga.

— Você será muito amado, seja, Antonella ou Dante.

Beija minha barriga com carinho. Minha filha terá tudo

aquilo que eu não tive, uma família que a ama. Eleonora nos

abraça mais uma vez quando fica em pé e assim que se afasta

Francesca chama a atenção de todos.

— Vocês estão prontos?

Olha para nós dois e tanto eu quanto Guilherme

assentimos. Ela pede para que fiquemos de frente para mesa e

ao lado das duas caixas imensas. Encaro Guilherme, unimos


nossas mãos e sorrimos.

— Finalmente, iremos descobrir se você está certo.

Dá de ombros.

— É claro que estou certo.

Soa confiante e tranquilo, apenas balanço minha cabeça

sorrindo e seguimos para o local indicado por Francesca.


Minha amiga, Diana e Pietra estão em frente às caixas, as

três têm um sorriso enigmático e um frio se instala em minha

barriga. Praticamente esmago a mão de Guilherme. Meu pontinho


que agora é um montinho ganhará um nome e seu rostinho em

minha mente características mais reais, ele se tornará mais real.

As meninas iniciam a contagem e são dez longos

segundos, os dez segundos mais longos da minha vida e quando


Francesca se abaixa meu coração acelera em meu peito.

Tudo é tão rápido e tão lento e de repente simplesmente há

balões azuis voando pelo céu. O suspiro de surpresa é coletivo.


Sempre estivemos errados.

Não é decepcionante, é surpreendente e no mesmo

instante consigo visualizar um garotinho correndo pela casa. Amor

preenche cada parte do meu coração e lágrimas se acumulam em


meus olhos. Eu vou ter um garotinho.

Viro-me para Guilherme e encontro a mesma emoção em

seus olhos.

— Sempre estivemos errados, Guilherme.

Assente e sorrimos.
— Minha intuição de pai é uma farsa. — Faz uma careta.

— Mas, eu tinha tanta certeza, vocês têm certeza de que vocês


entenderam certo?

Pergunta para as mulheres ao nosso lado e elas apenas

seguem sorrindo.

— É melhor você aceitar que sua intuição é um fracasso,

bonitão.

Olha em minha direção e seus olhos estão brilhando.

— Eu estou feliz por ser um garoto, princesa.

Diminui a distância entre nós e apoia sua testa na minha.

— Eu também estou.

Lágrimas de felicidade descem pelo meu rosto e Guilherme

aproxima seus lábios do meus, porém antes que possa me beijar


escutamos a voz de Francesca.

— Quem disse que acabou?

Ambos olhamos para o lado e as três estão sorrindo.

— O que você está querendo dizer, Fran?

Minha amiga não me responde, apenas aponta para Diana

que se abaixa e abre a outra caixa. Dessa vez, balões rosas

voam pelo céu.


— Eu sabia que não estava enganado.

Guilherme grita animado e eu encaro minhas amigas com o

coração batendo forte em meu peito.

— Vocês apenas nos enganaram para ver nossa reação se


fosse um menino, não é?

— Óbvio, princesa, ou você acha que teremos uma criança

metade menina metade menino?

Guilherme debocha e olho em sua direção com as


sobrancelhas erguidas. Ele não demora a entender o que estou

querendo dizer e no mesmo instante fica pálido.

— É só uma brincadeira, não é?

Encaramos as responsáveis pelo chá repletos de

expectativas e antes mesmo de uma delas dizer algo, eu vejo a

verdade nos olhos de Francesca. Caralho!

— Serei titia de dois.

Pietra comemora e pânico ecoa em meu peito. Jesus,

como cuidarei de duas crianças?

— Sim, o meu filho e o de Enrico.

Escuto a voz de Guilherme, mas tudo que consigo pensar


são nas duas crianças chorando e querendo atenção ao mesmo
tempo.

— Não, Guilherme, não estamos falando do meu bebê


estamos falando dos seus dois bebês.

Diana explica para o cunhado. Ao olhar para Guilherme o

encontro em estado de negação. Cadê o homem que estava

querendo várias crianças?

— Gêmeos, maninho, gêmeos.

Pietra explica para o irmão.

— Puta que pariu.

— Olha a boca, menino.

Eleonora repreende Guilherme que a ignora e olha para

mim em pânico.

— O que faremos com duas crianças?

O surto deixa meu peito e percebo que é claro que


daremos conta de duas crianças, pode ser difícil, mas

conseguiremos. O essencial é o amor e nós a iremos a amar,

então dou de ombros.

— Temos mais de seis meses para descobrir.

— Eu juro que não estava esperando por essa, princesa.


Sorrindo dou um passo em sua direção e espalmo as mãos
em seu peito.

— As melhores coisas são as inesperadas, não são?

Ele sorri e assente.

— Com certeza.

Sua boca cobre a minha e quando se afasta seus olhos

estão brilhando e a expressão de desespero abandonou o seu

rosto.

— Sou muito incrível. — Ergo minhas sobrancelhas. — Fiz

logo dois de uma vez.

Reviro meus olhos e bato em seu peito, ele apenas dá de


ombros e fica de joelhos.

— Antonella, Dante, desculpa a reação do papai, mas não

estava esperando dois de vocês. — Acaricia minha barriga e


deposita um beijo sobre ela. — Na verdade, não tínhamos

encomendado nenhum de vocês, quanto mais dois.

Bato em seu ombro e ele só ri. Assim que Guilherme fica


em pé nossa família vem até nós e recebemos abraços e

felicitações. Passamos o resto do dia comemorando com eles,


inclusive jantamos juntos e só voltamos para casa ao fim da noite.
Entramos em casa e decidimos ir até o jardim. Guilherme
se senta em uma espreguiçadeira e me sento junto com ele entre
suas pernas e com as minhas costas em seu peito.

— Que surpresa, hein?

Coloca as mãos sobre a minha barriga e eu faço o mesmo.

— Jamais esperava por isso.

Ele apoia o queixo em minha cabeça

— Nem eu, princesa.

Encaro o céu sobre nós e me dou conta de algo.

— Se nós tivéssemos ficado sabendo antes que eram dois


eu teria surtado.

— Tudo tem seu tempo certo de acontecer.

Beija minha cabeça.

— Inclusive nosso encontro, bonitão.

— Inclusive isso, princesa. — Segura minha mão e brinca

com meus dedos. — Nós fizemos tudo ao contrário.

— Fizemos?

— Sim, você ficou grávida, eu vim morar com você e nos

apaixonamos.
Ele está certo.

— Você mudaria algo?

Inclino meu lado para olhar para o seu rosto.

— Nem uma vírgula, princesa, e você?

Sorrio e volto a ficar de costas para ele.

— Não, tudo aconteceu exatamente como deveria

acontecer.

Ficamos um tempo em silêncio e de repente uma estrela

cadente cruza o céu. Dessa vez, não faço nem um pedido e


apenas agradeço.

— Sabe, princesa, na primeira vez que vimos uma estrela

cadente juntos eu desejei que você me deixasse ficar.


Epílogo

”Eu escorrego e me pergunto o que faria


Se você nunca me encontrasse e eu nunca te encontrasse
Eu não sei o que eu faria”[40]
Dois meses depois

Anne

Estou apoiado no batente da porta e encarando o quarto à

minha frente quando o sinto se aproximando. Mesmo sem ver sei


que ele está caminhando em minha direção e não me surpreendo

ao sentir suas mãos em minha cintura.

— O que você está fazendo?

Afasto-me da porta para apoiar minhas costas contra o seu


peito.
— Acho que aqui é o lugar perfeito para o quarto dos

bebês, o que você acha?

Ele deixa as mãos sobre minha barriga e a acaricia.

— É um bom lugar, então ficaremos nessa casa?

Inclino meu corpo para o lado e olho para o seu rosto.

— Por mim, sim ou você quer escolher uma outra casa?

Sorri e balança a cabeça.

— Meu lar é onde você está, princesa.

Beijo seu peito e volto a olhar em frente.

— Quando meu pai me deu essa casa jamais imaginei que


um dia uma família moraria nela.

O sol se infiltra no quarto pela janela iluminando o lugar,

realmente um ótimo quarto para crianças.

— Falando em seu pai ele me perguntou se não gostaria

de trabalhar com ele na empresa.

Ergo minhas sobrancelhas surpresas.

— E você?

— Disse que iria pensar na proposta, porque tenho a

empresa que é recente e os números são animadores, porém não


descartei a ideia de conhecer o negócio e aprender sobre, afinal é
seu e dos nossos filhos.

Deixo minhas mãos sobre as suas.

— Obrigada, porque se depender de mim vendo a

empresa, não sei nada de carros e meu forte não é

administração.

Beija o topo da minha cabeça.

— Somos um ótimo time, princesa.

— Um muito bom e para o quarto dos próximos integrantes

estou pensando em uma decoração em amarelo, o que acha?

— Amo a ideia e podemos colocar alguns ursinhos para

decoração, que tal?

Pelos próximos minutos, projetamos o quarto dos nossos

bebês e enquanto olho ao redor, os móveis brancos e a cama de


casal cedem lugar para dois berços e vários brinquedos em minha

mente.

— Mal posso esperar para ter o quartinho deles pronto e os

ter em meus braços.

— Eu também, princesa.
Assim que Guilherme diz sua última palavra sinto uma

vibração em minha barriga, é mais forte que de outras vezes que


já senti, é como se alguém tivesse me empurrando levemente.

Os bebês estão mexendo.

— Você sentiu isso, Guilherme?

Novamente, eles se mexem.

— Eu senti.

Ele se desencilha de mim e se ajoelha à minha frente.

— Hey, o que vocês estão fazendo? — Espalma as mãos


em minha barriga e faço o mesmo. — Aposto que brigando.

Bato em seu ombro.

— Não incentiva eles a brigarem.

Olha para mim e sorri, um sorriso capaz de iluminar o mais

escuro dos dias.

— Briga é a linguagem de amor dos irmãos, princesa.

Reviro meus olhos e ele volta a conversar com nossos


filhos, continuamos aqui por um tempo e nossas risadas ecoam
pela casa.
Seis meses depois

Guilherme

Há lágrimas em meus olhos quando a enfermeira pede

para que eu corte os cordões umbilicais.

Há lágrimas em meus olhos quando os médicos deixam os

bebês sobre o peito de Anne e nós dois olhamos para a perfeição


que criamos. Eles são perfeitos.

Há lágrimas em meus olhos quando mostro meus filhos por


uma janela de vidro para nossa família.

E as lágrimas seguem em meus olhos enquanto seguro


minha filha em meu colo e Anne amamenta nosso filho. Minha

família.

Anne está hipnotizada encarando nosso filho e eu sorrio.

— Ele é lindo igual ao pai.

Ela olha em minha direção e revira os olhos.

— Eles são tão pequenos e enrugados e nem


conseguimos distinguir com quem eles realmente parecem.

Caminho até Anne e me sento na beirada da cama ao seu

lado.
— Você só não quer admitir que eles são parecidos
comigo.

Ela só sorri e olha para nossa filha. Encaro Anne e ela


nunca esteve tão bonita, mesmo depois de horas de parto ela
continua incrível, a mulher mais bonita do mundo.

— Casa comigo?

Ergue olhos e me encara divertida.

— Um pedido assim do nada?

Dou de ombros.

— Justo que seja aqui na presença deles, afinal foram eles


que me trouxeram até você.

Nós dois sorrimos e Anne assente.

— É claro que eu me caso com você.

Curvo meu corpo com cuidado e beijos os lábios. Não é o


pedido romântico como aquele que inventamos para Cecília,

porém é perfeito, porque é real assim como nosso amor.

Dois anos e meio depois

Guilherme
Caminho de um lado para outro e meus irmãos que estão
ao meu lado riem.

— Vocês dois são dois idiotas e nem deveria ter chamado


vocês para padrinhos.

Pedro e Enrico seguem rindo. Idiotas! Passo as mãos pelos

cabelos e mamãe se aproxima.

— Por que você está tão nervoso?

Afrouxo a gravata em meu pescoço.

— Não sei.

Anne e eu estamos juntos há dois anos e meio, moramos

juntos e é claro que ela não irá desistir, mesmo assim meu
coração bate acelerado em meu peito.

— Ela já está chegando.

Dona Eleonora sorri e assinto. Na tentativa de me acalmar

olho para os nossos convidados sentados nas cadeiras dispostas


ao lado do espaço destinado para as entradas.

É um casamento pequeno, só para quem amamos e

conheço cada rosto presente. Eles tiveram ao nosso lado em

vários momentos nos últimos dois anos. Eles fazem parte da


nossa história.
Olho ao redor e observo cada detalhe, assim como Diana e

Enrico e Francesca e Nicholas estamos nos casando na fazenda.


A decoração é com lírios e tecidos leves.

Finalmente, um carro se aproxima e a música inicia. Meu

coração acelera ainda mais. Primeiro sua avó deixa o carro, então
nossos filhos, seu pai e por último ela. Meus olhos se detêm nela.

Em seu vestido de alças finas rendado e que marca seu corpo

como se ela fosse uma sereia, em seu cabelo que está quase

todo solto e apenas finalizado com uma tiara de flores, e por


último em seu rosto quase sem maquiagem.

Linda.

Deslumbrante.

Perfeita.

Os primeiros a caminharem em minha direção são as

minhas outras duas perfeições, as pequenas misturas de nós

dois. As lágrimas nublam minha visão enquanto nossos filhos vêm


até mim.

Abaixo-me e os recebo em meus braços, beijo as suas

bochechas gordinhas e em seguida minha irmã pega os dois.


Volto a ficar em pé e meu olhar encontra o seu.
Anne caminha em minha direção junto com sua avó, mas

não consigo esperar e vou até elas. Estendo minha mão para

Anne e sorrio.

— Mal posso esperar para me casar com você.

Seus dedos encontram os meus.

— Então, vamos nos casar, bonitão.

Sua avó nos deixa sozinhos e vai para o altar ocupar o

lugar ao lado do Heitor que já está no altar. Nós dois vamos de


mãos dadas até o juiz de paz.

Ele diz as palavras padrões de um casamento e nenhum

momento minha mão solta a sua.

Para trocarmos as alianças ficamos um de frente para o

outro e enquanto coloco a aliança no mesmo dedo em que está

aquele anel de dois anos atrás, eu faço os votos.

— Prometo sempre te amar e apoiar você, prometo estar


ao seu lado nos bons e maus dias, prometo ser seu companheiro

e cuidar do seu coração, porque eu sei que o tenho todos os dias

da minha vida.

Anne coloca a aliança em meu dedo e repete as mesmas

palavras que eu. Nós dois sorrimos quando enfim estamos


casados e finalmente posso beijar minha esposa.

Cinco anos depois

Anne

Escuto gritinhos pelo corredor e sei que tenho visitas

mesmo antes da porta ser aberta com brusquidão, como uma

criança de cinco anos consegue abrir uma porta com tanta força?
É um mistério.

— Mamãe, eu quero conversar com você.

Minha filha entra na minha sala e caminha em minha

direção, antes mesmo que chegue até mim, meu filho também
entra na sala.

— Mamãe, eu que preciso conversar com você.

Então Antonella se vira para Dante.

— A ideia é minha.

Ele aponta a língua para ela e suspiro. Eles irão começar

uma briga e antes que um comece a xingar o outro deixo minha

cadeira e vou até eles.

— O que está acontecendo?

Abaixo-me entre os dois e eles olham para mim.

— Eu tenho um planejando, mamãe.


Antonella é a primeira a me responder.

— Eu tenho um planejamento, mamãe.

Dante repete as palavras da irmã e ela o encara com a

testa franzida.

— Mamãe nunca deveria ter resgatado você do lixo.

— Antonella, não fale assim com seu irmão.

Ela cruza os braços e faz um beicinho de choro.

— Desculpe, querida, mas eles se soltaram das minhas


mãos e saíram correndo.

Olho para o lado e me deparo com meu pai na porta, ele

está vermelho e sem fôlego, claramente estava correndo atrás


dos netos.

— Tudo bem.

Deixo os dois e fico em pé. Estou sorrindo quando vou até

meu pai e o abraço. Nossa relação evoluiu muito nos últimos anos

e ele está cumprindo o que prometeu, ele é um avô muito melhor


do que foi como pai.

— Obrigada por ter pegado eles na escola e os trazido até

aqui.

Beija minha bochecha.


— É sempre um prazer estar com meus netos.

Sorrio e me viro para os meus filhos que seguem brigando.

— Você sabe o porquê eles estão brigando?

— Não, eles já estavam brigando quando os busquei na

escola e tudo o que sei é que tem a ver com planejamentos e

cronogramas.

Suspiro.

— Espero que eles não estejam planejando fugir de casa.

Nós dois rimos, então meu pai me alcança as mochilas dos

dois e os chama para irmos para casa.

— Mas nós precisamos conversar, mamãe.

Minha adorável filha resmunga e sorrio.

— Podemos conversar no carro enquanto vamos para o

carro.

Eles estão emburrados quando deixamos a minha sala,

mas assim que chegam no corredor saem correndo à nossa

frente. Observo os dois com um sorriso no rosto. Eles são tudo


em minha vida.

Minha maior conquista é como mãe, nada se compara a

conseguir ser uma boa mãe, nem mesmo a sensação de ver a


nossa marca se tornar uma das mais reconhecidas no Brasil
chegou perto ao sentimento que vibra em meu peito cada vez que

um deles diz eu te amo.

Cecília e eu nunca fomos parecidas. Meu sorriso se desfaz


ao pensar na mulher que deveria ser minha mãe e nunca foi.

Hoje, eu sei que quem perdeu foi ela e não eu. Foi ela que não

teve mais contato algum comigo desde aquele baile beneficente,

foi ela que nunca conheceu os netos e ela que nunca irá saber o
que é o amor. Sei que ela pergunta de mim para minha avó, mas

seu ego não permite que ela me procure.

Até mesmo minha avó paterna me pediu desculpas e


minha mãe não consegue. No fim, só quem perde é ela.

Despeço-me do meu pai no estacionamento depois que ele


me ajuda a colocar as crianças no carro e ocupo meu lugar atrás

da direção.

— Então, sobre o que vocês queriam conversar?

Pergunto assim que ligo o carro e me arrependo quando


eles começam a falar que fizeram um planejamento para que eu
tenha um bebê. E eles brigam, porque Antonella quer uma irmã e

Dante um irmão.
Apenas deixo que eles sigam falando até em casa. Eles
entram gritando pelo pai e encontram Guilherme na sala com Bob,

nosso Golden Retriever[41], os dois correm para o braço do pai e


claro contam do cronograma.

Guilherme ri e vem com os dois, um em cada braço, em


minha direção.

— Ninguém mandou você dizer que ter um bebê não


estava no cronograma.

Beija meus lábios rapidamente e assim que ele se afasta


suspiro dramaticamente.

— É bom que esse cronograma esteja muito bem

elaborado. — Guilherme ergue suas sobrancelhas e retiro o teste


de gravidez que fiz essa tarde do meu bolso. — É, bonitão, você
será papai outra vez.
Agradecimentos
Hey, gente! Primeiro de tudo quero agradecer a você que
chegou até aqui e espero que tenha se divertido com Anne e

Guilherme, além de ter ficado encantada com Guilherme e até


mesmo um pouco emocionada com a história. Desejo que você
termine esse livro com o coração repleto de bons sentimentos e

satisfeita com a leitura. (Não vou desejar uma ressaca literária


porque é maldade kkkkk)

Enfim, espero que tenha apreciado a leitura. E gente, não


esqueçam de deixar aquela avaliação sobre o que acharam do
livro.

Quero agradecer a Silvia, Kamila, Lívia, Larissa, Dessa e


Krol que betaram esse livro, muito obrigada.

E para quem ficou curioso sobre os livros de Enrico e

Diana, e Francesca e Nicholas é só clicar nos links abaixo.

O CEO que eu odeio – Nicholas e Francesca (CLIQUE


AQUI)

O Cowboy que mentiu pra mim – Diana E Enrico (CLIQUE


AQUI)
Bom, beijos e até mais (P.S confira o próximo vem aí,

porque é de uma personagem que aparece no livro cof, cof)


Vem aí
Pietra Barbieri em Meu amor do passado é um CEO

Pietra Barbieri não esperava encontrar Sebastian Gonzales


na sala de reunião na sua empresa, não depois de tanto tempo.

Sebastian Gonzales não é só o CEO da empresa parceira,


ele é o seu amor do passado.

Vê-lo e ter que conviver com um homem que já amou


completamente irá despertar suas lembranças e o desejo de amar
outra vez.

Será que esse amor do passado pode


Redes Sociais
Instagram: lanasilva.sm

Facebook: Lana Silva

TikTok: lannaa_silva

[1]
Trecho da música Propaganda da dupla sertaneja Jorge e Mateus
[2]
Trecho da música Unstoppable da cantora Sia
[3] Trecho da música Someone To You do cantor Banners
[4]
Um croquis costuma se caracterizar como um desenho de moda
[5]
Programa de auditório transmitido pelo canal de televisão SBT
[6] Trecho da música Atlantis da banda Seafret
[7]
Famosa frase do seriado Chaves
[8]
Trecho da música Take Me Home da cantora Jess Glynne
[9] Trecho da música Relicário do cantor Nando Reis
[10]
Qualquer superfície, terrestre ou aquática, que possua infraestrutura destinada
à aterragem, à decolagem e à movimentação de aeronaves
[11]
Pife é um jogo de cartas para até 8 participantes. O objetivo é combinar cartas
iguais
[12] Trecho da música Wildest Dreams da cantora Taylor Swift
[13] Trecho da música Let´s Hurt Tonight da banda OneRepublic
[14] Trecho da música I Believe In You do cantor Michael Bublé
[15]
Caesar salad, salada Caesar ou salada César é uma salada preparada com
alface romana e molho Caesar.
[16] Trecho da música Arranhão da dupla Henrique e Juliano
[17] Trecho da música Envolvidão do cantor Gustavo Mioto e Luan Santana
[18]
Veneza, a capital da região de Vêneto, no norte da Itália, é formada por mais
de 100 pequenas ilhas em uma lagoa no Mar Adriático
[19]
A gôndola é uma embarcação típica da Lagoa de Veneza, na Itália
[20] Trecho da música Conversations In The Dark do cantor John Legend
[21] Trecho da música Title da cantora Meghan Trainor
[22] Música Sosseguei da dupla Jorge e Mateus
[23] Trecho da música I Think I'm In Love da cantora Kat Dahlia

[24] Trecho da música Quase Sem Querer da banda Legião Urbana


[25]
Trecho da música Aí já era da dupla Jorge e Mateus
[26]
Trabalhar de casa
[27]
Bolsas de mão
[28]
Trecho da música Flaws do cantor Calum Scott
[29] Trecho da música Falling Like The Stars do cantor James Arthur
[30]
Trecho da música Tão bem do cantor Lulu Santos
[31] Trecho da música Just a Friend To You da cantora Meghan Trainor
[32] Trecho da música The Few Things do cantor JP Saxe
[33] Trecho da música Duas metades da dupla Jorge e Mateus
[34]
Trecho da música Duas metades da dupla Jorge e Mateus
[35] Trecho da música Positions da cantora Ariana Grande
[36] Trecho da música Dandelions da cantora Ruth B.
[37] Trecho da música Here’s Your Perfect do cantor Jamie Miller

[38] Trecho da música Thousand Years da cantora Cristina Perri


[39] Trecho da música Photograph do cantor Ed Sheeran
[40] Trecho da música Biblical do cantor Calum Scott
[41]
Raça de grande porte de cachorros

Você também pode gostar