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1° edição – Setembro 2023

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS A LANA SILVA

Capa: Snake Designer

Revisão: @gramaticaperfeita
Sinopse

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17
Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Capítulo 23

Capítulo 24

Capítulo 25

Capítulo 26

Capítulo 27

Capítulo 28

Capítulo 29

Capítulo 30

Capítulo 31

Capítulo 32

Capítulo 33

Capítulo 34

Capítulo 35

Epílogo
Agradecimentos

Redes Sociais

Série Estrelas do Alabama


Kimberly Quinn é a rainha da Universidade do Alabama. Temida
por muitos, amadas por outros e há quem a despreze. E ela está disposta a

tudo para manter seu reinado.

Gavin Parker é o recém-chegado, o garoto problema e o rei das

lutas ilegais. Ninguém brinca com Gavin, muito menos uma patricinha

mimada que acredita ser uma rainha.

Gavin está disposto a arrancar sua coroa. Kim está disposta a


destruí-lo.

Eles não têm caráter, eles não têm medo, eles não têm limites...
Vilões, ou mocinhos?
Algumas pessoas não estão em busca de redenção, algumas

habitam na escuridão e outras são a definição de caos...


Um mês antes

Gavin

O som das gotas da chuva atingindo o carro e do para-brisa

girando de um lado para o outro são tudo que consigo escutar. Não há
nenhuma música, ou outro barulho, são três horas da manhã e tudo está

silencioso.

Dirijo por Tuscaloosa enquanto os raios e trovões iluminam o

céu. Olho brevemente para o lado, encaro o GPS e sigo pela rua que ele

está apontando. Nunca estive aqui, não sei para onde estou indo e espero
que o aplicativo esteja certo. Não é uma boa ideia se perder no meio de

uma tempestade.

Ótimo jeito de chegar em minha nova cidade.

O aplicativo indica que cheguei ao meu destino, olho para fora

pela janela e encaro o prédio de cinco andares de aspecto antigo e um


pouco deteriorado, pelo menos fica perto do campus, além disso, é

melhor do que o antigo lugar onde eu morava.

Não há garagem e estaciono em frente ao prédio. Como estou sem

guarda-chuva, saio do carro e sou atingido pela chuva. Está quente, mas

as gotas são frias e minha pele se arrepia.

— Caralho.

Corro até o porta-malas do carro e pego minha mochila e minha


mala, é tudo que trouxe comigo.

Para minha sorte, as chaves do lugar estão em meu bolso, elas

chegaram semana passada por correio. Como não existe porteiro tudo

que preciso fazer é pegar a chaves e abrir a porta.

O corredor é composto por caixas de correspondências de um

lado, a escada logo à frente e uma porta que suponho levar a sala do

zelador. Suspiro e subo os lances de escada até meu novo lar. Existe mais

dos apartamentos no andar, espero que meus vizinhos sejam amigáveis.


Eu vou até a porta 18 e aperto a campainha, tenho as chaves que

abrem a grade e a porta, porém, talvez meu novo colega de quarto esteja

em casa e não quero ser invasivo, ainda me resta um vestígio de

educação.

— Estou indo.

Alguém grita e fico esperando com minha mochila em minhas

costas e a mala em uma das minhas mãos. Não existe um medo do que

irei encontrar, nem uma ansiedade, o vazio costumeiro que preenche meu

peito segue aqui.

Encaro a porta e de repente ela é aberta, um garoto, que aparenta

ter a mesma idade que eu, está a minha frente, assim como eu, existe

tatuagens pelos seus braços e mesmo usando camisa, é possível ver

algumas em seu pescoço.

Nenhum de nós sorri, ou faz algum gesto amigável.

— Gavin?

Assinto.

— Will?

Faz o mesmo gesto que eu acabei de fazer e fica de lado.

— Entre.
Passo por ele e entro em um espaço com um sofá, uma televisão,

uma janela e há apenas um balcão separando a sala da cozinha. É nítido

que os móveis não são novos.

— Bem-vindo ao seu novo palácio.

É óbvio o deboche em sua voz.

— Já estive em lugares piores.

Ele ri.

— Sempre existe uma realidade pior. — Não falo nada, mas

concordo com ele. Não importa quão ruim seja uma situação, sempre

existe como piorar. — Seu quarto é a última porta do corredor e o

banheiro é a porta da esquerda.

— Ok, obrigado.

Viro-me e sigo na direção do corredor.

— Boa sorte.

Paro ao ouvir sua voz, mas continuo sem olhar para ele.

— Com o que exatamente?

— Com tudo, não é uma brincadeira fácil.

Sorrio, um sorriso amargo e irônico.

— Não estou esperando que seja fácil.


Volto a andar e nenhum de nós dois diz mais nada.

Abro a última porta e me deparo com um quarto de tamanho


mediano, há uma cama, uma mesa de estudos e um guarda-roupa de duas

portas. Jogo a mala no chão, a mochila sobre a cama e vou até a janela,

abro a cortina e encaro a chuva caindo lá fora. É possível enxergar a rua e

outros prédios.

O meu celular vibra em meu bolso, pego-o e me deparo com uma

mensagem de Scott.

“Espero que o lugar esteja de seu agrado. Amanhã nós

começamos os preparativos para sua estreia.”

Respondo-o com uma única palavra.

“Ok.”
Kim

Entro na sala de aula com Nancy logo atrás de mim, ela continua
falando sobre o que fez nas férias, sei que ela está esperando saber sobre

o que eu fiz, porém sua tentativa será em vão, continuarei em silêncio.

— Realmente suas férias foram incríveis.

Não me lembro do que exatamente ela fez, mas essa é a resposta

que ela espera. Posso não estar olhando em sua direção, entretanto tenho

certeza de que nesse momento deve existir um sorriso em seu rosto.

— E as suas?
— Incríveis, eu passei ótimos dias na Europa.

Isso é tudo que ela terá de mim.

— Eu vi suas fotos.

Assinto e olho em sua direção assim que nos sentamos uma ao

lado da outra.

— Conseguiu marcar a reunião?

Mudo de assunto, porque não tenho paciência e nem vontade de


continuar conversando sobre nossas férias.

— Das cheerleaders? — Assinto um pouco impaciente. —

Consegui, será meio-dia, enviei as mensagens e a maioria confirmou


presença.

— Ok.

A professora entra em sala e ficamos em silêncio. Olho em frente

e tento prestar atenção, entretanto é chato e cansativo. Aulas iniciais

sempre são horríveis.

Entediada, olho ao redor à procura de alguma fofoca, ou de algo

interessante. Recebo alguns olhares hostis e os encaro da mesma forma.

Não sou uma pessoa amável e algumas pessoas me detestam. Não me

importo de ser odiada.


Não ocorreu nenhuma mudança de um semestre para o outro, as

pessoas bregas continuam bregas, ninguém cortou o cabelo, ou de

repente ficou mais bonita, ou mais feia. Tudo na mesma. Porém me

detenho em alguém sentado ao fundo, nos últimos lugares da sala.

Um cara e nunca o vi em nenhuma outra aula, será que está

apenas fazendo essa matéria para conseguir horas? Mas quem faz essa

porcaria apenas por fazer? Só estou aqui por ser obrigada para me formar.

Analiso-o mais minuciosamente e tenho certeza de que nunca o vi

pela universidade. Ou seja, ou ele é novato, ou é alguém insignificante.

Aposto na segunda opção, já que novatos não podem fazer essa matéria.

Ele está usando boné, o que me impede de ver detalhes do seu

rosto. Desço meus olhos pelo seu corpo e seus braços são repletos de

tatuagem, além dos desenhos subirem pelo seu pescoço. Ele é musculoso

e aparentemente alto.

Ele com certeza chama a atenção por onde passa, como nunca o

vi antes? Como não sei quem é ele? É óbvio que há muitas pessoas na
universidade, mas alguém como ele não passaria despercebido.

— O que você está conferindo?

Nancy sussurra ao meu lado, desvio os olhos do garoto e a

encaro.
— Você o conhece?

Ela olha na direção que estava olhando.

— O de boné?

— Sim.

— Não, nunca o vi.

— Deve ser alguém insignificante.

Concluo com desdém e como aprendi há algum tempo as pessoas

insignificantes são uma perda de tempo, então ignoro esse cara de boné e

resolvo me concentrar na professora a minha frente. A aula segue tão

chata quanto o início e nos minutos restantes me pergunto o que

aconteceria se eu simplesmente desistisse de estudar, provavelmente meu

pai surtaria e eu seria deserdada.

Assim que a professora encerra, guardo meu Ipad e fico em pé.

Nancy me acompanha e uma ao lado da outra deixamos a sala.

— Achei que nunca mais terminaria.

Reclamo.

— A próxima é tão ruim quanto essa.

Nancy me lembra que a tortura irá continuar e faço uma careta.

— Quanto tempo falta para essa droga de curso chegar ao fim?


Caminhamos até a próxima sala que para nossa sorte fica no

mesmo corredor.

— Pra mim menos de um ano e você tem mais a faculdade de

direito.

Ela faz questão de me lembrar do meu martírio.

— Deveria simplesmente desistir da ideia de prosseguir para

faculdade de direito.

— Seu pai iria deserdar você.

Nancy é otimista, meu pai iria me matar. A filha de Frederick

Quinn não pode ser outra coisa senão uma advogada de sucesso. Nós

ficamos em silêncio e seguimos para a próxima aula, algumas pessoas

nos encaram com admiração, outras com certo receio, e a minoria com

repúdio, a minoria insignificante que tem nosso desprezo.

Eu não faço questão de ser amada, eu faço questão de ser temida.

Meu objetivo é que todos saibam quem eu sou, é ser imbatível e

insuperável.

A aula é tão chata quanto a anterior e para piorar, o professor


dessa tem uma voz calma e serena, o que me dá muito sono. Mais uma

vez, olho ao redor da sala e encontro o garoto tatuado sentado ao fundo,

ele parece concentrado. Dessa vez, o lugar em que estou favorece o


ângulo em que o vejo e noto que suas roupas não são luxuosas, além

disso estão um pouco desgastadas. Um bolsista?

De repente, ele se vira e posso ver seu rosto. Ele tem o rosto mais

fino, barba, nariz meio torto, mas não de maneira grosseira, seus olhos

são escuros e sombrios. Uma pena alguém tão bonito ser pobre.

Volto a olhar em frente antes que ele ache que estou interessada

nele, jamais me interessaria em alguém que não pode me dar vantagem

em algo. Todas as minhas relações são baseadas em poder e no quanto

pode ser vantajoso. É assim que o mundo funciona.

A segunda aula finalmente chega ao fim. Nancy e eu não

almoçamos, vamos direto para o prédio de Educação Física e seguimos

para o QG[1] das cheerleaders[2].

Nancy me conta no caminho que apesar de ter se matriculado nas

duas aulas de ciência política que assistimos não irá prosseguir, irá

trancar. Nancy faz relações públicas e estava tentando conquistar horas,

porém são matérias muito chatas. Eu lamento sua desistência, porque ela

seria uma ótima distração.

Somos as primeiras a chegar e como eu sou a capitã do time e

Nancy, a responsável por organizar as reuniões e pelas Atas, sentamo-nos


na imensa mesa que há na sala, uma de frente para a outra, e discutimos

os assuntos que serão abordados.

Nancy anota tudo em seu Ipad enquanto eu retoco a minha

maquiagem. Assim que terminamos, a primeira cheerleader chega, Tessa

Dawson, que logo nos cumprimenta e se senta ao lado de Nancy.

Tessa está no segundo semestre e entrou para o time semestre

passado, ela é boa, porém um pouco afrontosa demais, além de ser um

pouco irritante. Ela e eu não deveríamos ser amigas e nem somos, mas
ela namora alguém que considero um amigo e por isso a suporto.

Tessa e Nancy conversam, eu apenas observo as duas sem


vontade de conversar sobre o que espero do semestre que se inicia. O que

eu espero é que ele chegue ao fim logo.

Aos poucos o restante do time chega e enfim posso começar a


reunião. Eu fico em pé, pego meu Ipad e abro as anotações que Nancy

me enviou por e-mail.

— Espero que todas tenham aproveitado bem as férias, porque

temos muito o que fazer. — Prossigo sem chance de nenhuma delas


reclamar do quanto as férias não foram o suficiente. — As partidas dos

nossos principais esportes estão programadas para iniciar ao fim do


semestre e até lá temos que estar preparadas, então hoje iremos discutir
nosso cronograma.

Elas assentem e eu me viro ficando de frente para o quadro


branco anexado a parede. Pego uma das canetas e começamos a planejar

o andamento do nosso semestre, escolhemos os dias de treino, os dias em


que faremos festas para arrecadação de fundos e conversamos

brevemente sobre as músicas que iremos coreografar e sobre nosso novo


uniforme.

É uma reunião produtiva e deixo o QG satisfeita. Como só tenho

um encontro com a professora que fará o aconselhamento para obter bons


resultados para faculdade de direito no meio da tarde sigo para casa.

Dirijo meu Jeep branco até a residência que divido com Nancy e

Dallas. Estaciono em frente a nossa casa e ao entrar na enorme sala que


fica de frente para a porta de entrada e me deparo com Dallas sentada no

sofá, mexendo em seu celular.

— Olha só quem está de volta.

Provoco-a e ela se vira em minha direção, deixa o celular de lado

e sorri debochada.

— Infelizmente.
Caminho até ela, sento-me ao seu lado e trocamos um rápido
abraço. Dallas é a minha melhor amiga e uma das poucas pessoas em

quem confio, nós crescemos juntas e somos muito parecidas. Nossa única
diferença é a forma como escolhemos brincar com o poder.

— Então, o que você fez nas férias?

Dá de ombros e sorri maliciosa.

— Dei um golpe em um idiota vinte anos mais velho.

Seus olhos brilham e não há nenhum pingo de arrependimento, ou


misericórdia.

— Você estava em Ibiza?

Ela assente confirmando que as fotos que vi em suas redes sociais

eram reais.

— Conheci alguns idiotas que queriam companhia e que

acreditaram que eu era o alvo perfeito. — É possível perceber o quanto


está satisfeita consigo mesma. — Então escolhi um deles, fingi que era

uma garota inocente e há dois dias hackei sua conta e transferi muitos
dólares para minha conta.

Dallas não precisa de dinheiro, mas faz o que faz pelo poder, pela
satisfação e eu não a condeno.
— Você está brincando com o perigo, não sei se tenho medo de

ter que ir te visitar na cadeia, ou de te encontrar morta.

Ela continua rindo como se o que fizesse não fosse nada demais.

— Não corre esse risco, baby, esses idiotas não querem o nome

deles envolvidos em escândalos. — Balanço a cabeça negando como se


realmente estivesse a recriminando. — E você o que fez hoje?

Faço um beicinho triste.

— Nada demais, eu tive duas aulas horríveis pela manhã e uma


reunião com as cheerleaders.

Uma ruga surge em sua testa enquanto me encara e me analisa.

— Vou acreditar que você não ofendeu ninguém.

Curvo meus lábios em um sorriso e deixo claro que sou inocente.

— Nunca ofendo ninguém, as pessoas se ofendem sozinhas. —


Pisco em sua direção e me levanto. — Preciso almoçar, você já almoçou?

— Ainda não.

Deixa o sofá e seguimos para nossa cozinha. Nossa funcionária

esteve aqui ontem e temos comida, então só esquentamos nosso almoço.


O meu tem muito mais verduras e legumes do que o de Dallas.

— Isso é tão horrível.


Dallas faz uma careta quando me sento ao seu lado e encara o

prato que coloco sobre o balcão com desdém.

— Você deveria se alimentar melhor. — Provoco-a. — Verduras e


legumes fazem bem para pele.

Dallas balança a cabeça e muda de assunto.

— Alguma festa hoje, Kim?

Viro-me para ela e a encaro animada.

— Muitas, todos querem comemorar o início do semestre em

grande estilo.

Ergue suas sobrancelhas.

— E qual nós vamos?

Dallas pode ser ótima em hackear sistemas, porém sou eu quem


sempre sei das melhores festas.

— Elliot dará uma festa.

Dallas sorri animada.

— As festas dele sempre são as melhores.

— Se tem uma coisa que o jogador de futebol americano sabe

fazer é uma festa.

Não escondo o deboche da minha voz.


— Sexo ruim?

— Péssimo. — Fico em pé. — Além de pequeno, não sabe usar o

que tem no meio das pernas.

A gargalhada de Dallas ecoa pela cozinha enquanto deixo o prato


sobre a pia.

— Vou me lembrar de nunca ir para cama com ele.

— Você nem gosta de universitários.

Ela faz uma careta e em seguida sorri.

— Não, só se eles forem professores.

Dou um passo para trás e a encaro com um sorriso em meus


lábios. Dallas é a única pessoa que me conhece de verdade, assim como

eu a conheço. Não compartilhamos nossos segredos com Nancy, ela não


entenderia. Ninguém entenderia.

— Eu vou subir para meu quarto.

Ela acena em minha direção.

— Até mais, baby.

Aceno para Dallas enquanto caminho para fora da cozinha.

— Até mais, Darling.


Sigo para meu quarto, fecho a porta e me sento na beirada da
cama. Pego o celular e tento me situar das fofocas que chegam até mim,

se manter informada é sempre importante, um passo à frente, nunca um


atrás.

Perto do horário do aconselhamento sobre a admissão nas

faculdades de direito, saio de casa, entro em meu carro e dirijo outra vez
para o campus.

Entro no prédio, após deixar o carro no estacionamento e ao pisar

no corredor do auditório, encontro o mesmo cara que estava nas aulas de


manhã, com parte do seu corpo apoiado contra a parede ao lado da porta
e com um cigarro em mãos. O que diabos ele está fazendo aqui?

Continua com o mesmo boné e as mesmas roupas. Suas roupas

são pretas assim como os coturnos em seu pé. Em outras pessoas um


visual desses iria ser algo discreto, nele grita problema.

Analiso-o enquanto vou até o auditório e só desvio meus olhos


quando estou perto o suficiente dele. Ignoro-o mesmo que me sinta
tentada a encará-lo e estou quase entrando na sala quando escuto a sua

voz.

— Perdeu alguma coisa?


Sua voz é rouca e repleta de desdém. Continuo sem olhar para ele
e encaro o auditório que está a poucos centímetros de mim.

— Quem é você?

Soo firme e imponho a minha pergunta a ele. Quem manda aqui


sou eu.

— Por que deveria te responder?

Sorrio e me viro para ele.

— Deveria ser uma honra alguém como você me responder uma


pergunta.

Seus olhos escuros encontram os meus e sorri, um sorriso

perverso.

— Responder uma cadela como você nunca é uma honra.


Gavin

A loira que está me observando desde a primeira aula me encara


surpresa por alguns segundos, mas não dura muito e seu olhar volta a ser

maldoso e superior. É óbvio que ela se acha melhor que todos.

— Você não sabe quem eu sou, não é?

Faço uma careta e desço meus olhos pelo seu corpo. Ela está

usando uma minissaia, botas e uma blusa rosa. Seu corpo é bonito e tudo

nela grita dinheiro.


Talvez seja alguém importante, talvez só seja alguém que se ache

importe. Seja como for, não faz diferença. Não tenho medo de ninguém,

não será uma garota estúpida que irá me intimidar.

— Não, eu não sei e não quero saber.

Estreita seus olhos e me encara como se eu estivesse cometendo


um crime, chega a ser cômico a expressão que toma conta do seu rosto.

Vira-se totalmente até estar a minha frente.

— Você realmente não deveria me tratar assim.

Sorrio e trago meu cigarro até meus lábios, deixo que a fumaça
ocupe parte da minha boca, em seguida solto-a e a patricinha faz uma

careta.

— Eu não tenho medo de você.

Abaixo o cigarro, encosto o na parede e o apago.

— Pois deveria.

Dou um passo em frente e fico alguns centímetros da patricinha,

seu olhar encontra o meu e apesar da aparência angelical, seus olhos

verdes são sombrios. Inclino-me para frente e aproximo minha boca da


sua orelha.

Seu perfume me atinge e é uma mistura de Jasmim e rosa, algo


delicado, suave e que não combina com ela. Nada combina com a energia
que emana dela.

— Você é quem deveria ter medo de mim, princesa.

Ela se arrepia e sorrio satisfeito. Dou um passo para trás, olho

uma última vez para ela e entro no auditório. Essa garota pode ter todos

aos seus pés, mas não sou um garoto normal, não estou aqui para brincar.

Jogo o cigarro no lixo e como nas aulas da manhã me sento na

última fileira. Apesar de não estar olhando para o lado, consigo ter um

vislumbre da garota entrando no auditório. Ela ocupa uma das fileiras do

meio. Não muito nerd para as primeiras fileiras e nem muito rebelde para

ocupar uma das últimas.

A professora entra e observo a sua forma de caminhar.

Aparentemente ela é alguém arrogante e soberba, aposto ser a professora

preferida da garota mimada.

Julgar pela aparência é algo socialmente incorreto, mas a

sociedade nunca está certa, ela não sabe de nada. Morais e o

politicamente correto só servem para uma parcela estúpida da sociedade.

Assim que a professora começa a falar, sei que estou certo, ela é

elitista e arrogante. Cruzo meus braços e deixo minhas pernas estendidas

a frente do meu corpo.


Continuo sentindo alguém me observando e quando olho para o

lado, a garota está me observando. Acho que alguém gostou de mim.

Sorrio debochado quando me dou conta de que ela percebeu que estou a
vendo, rapidamente ela volta a olhar em frente.

Ótimo!

A professora finalmente começa a falar sobre as melhores

maneiras de conseguir garantir suas vagas na faculdade de direito, eu

anoto o que é proveitoso e faço uma careta quando ela fala sobre cursos

pagos para as provas. Ela claramente acredita que é preciso de dinheiro

para fazer cursos e se saírem bem nas provas de admissão.

A garota ergue sua mão e espero por alguma idiotice. A

professora permite que ela fale e ela não me surpreende.

— Poderíamos dizer que é algo mais propício a acontecer para

quem tem uma situação financeira favorável?

Uma risada deixa meus lábios, alta o suficiente para receber

alguns olhares. A professora me encara, mas não fala nada.

— O dinheiro facilita muita coisa.

A professora concluí e apenas observo. A garota, que por algum

motivo que desconheço, age como uma cadela, acha que eu não tenho
dinheiro. Será que ela me despreza por causa disso? Não que tenha

interesse em seus motivos, porém algumas coisas são óbvias.

E ela não está errada, não tenho dinheiro, ou tenho. Depende de

como analisar a situação e da perspectiva.

O aconselhamento segue e algumas dicas realmente são úteis.


Entrar em uma faculdade de direito se tornou meu objetivo há alguns

anos, desde que me dei conta de que seria uma forma de obter o controle

da minha vida. E vou fazer de tudo para conquistar meu objetivo, custe o

que custar. Não tenho escrúpulos e nem medo.

Assim que o encontro termina, junto minhas coisas e deixo o

auditório. Algumas pessoas ficam conversando com a professora, mas eu

não tenho mais nada o que fazer aqui. O próximo encontro será na

próxima semana e se não fosse tão importante, nunca mais entraria nesse

auditório.

— Então, você pretende ser admitido em alguma faculdade de

direito.

Sua voz anasalada soa atrás de mim, eu paro e sorrio.

— Não, só estava aqui porque amo gastar meu tempo com coisas

inúteis.
Volto a andar em frente e não dou tempo para que ela continue

falando. Não sei quem ela é e não tenho a mínima vontade de descobrir,

aposto que é uma dessas pessoas que acreditam ser a dona do universo,

só porque são ricas e tem um certo status.

Sigo para o meu carro, um carro antigo e mais velho do que eu,

porém era tudo que poderia comprar. Pego meu celular e abro a conversa

com Josh, clico no endereço que ele me enviou e dirijo conforme as

coordenadas do aplicativo.

Ele está me esperando em um dos cafés espalhados pelo campus,

não demoro a chegar, então deixo o carro no estacionamento e caminho

na direção do estabelecimento.

O lugar é rodeado de grama e árvores, a fachada é de tijolos e tem

uma aparência mais clássica. Assim que cruzo pela porta, encontro o

espaço quase lotado, muitos universitários transitando. Seu interior

transmite aconchego em cada detalhe, desde as luminárias caindo do teto,

as luzes mais quentes, aos bancos estofados, cadeiras mais confortáveis e

as plantas espalhadas pelo local.

Olho ao redor e não demoro a encontrar Josh, meu melhor amigo


desde a infância, que está sentado em um banco com almofadas ao seu

redor e de frente para uma mesa. Eu vou até ele e Josh sorri quando me
enxerga, apenas ergo minhas sobrancelhas. Estou feliz de vê-lo, mas não

preciso demostrar em minhas expressões faciais.

— Olha só se não é o traíra do meu amigo.

Zomba assim que me aproximo e reviro meus olhos enquanto me


sento na cadeira a sua frente.

— Não seja dramático, Josh.

Não preciso ser um gênio para saber do porquê ele está me


chamando de traíra.

— Não estou sendo dramático, você é um traíra. — Aponta o

dedo em minha direção. — Faz um mês que está de volta e só foi me


dizer isso ontem, e por mensagem, eu não merecia nem uma ligação do
meu melhor amigo?

Josh tem a testa franzida e realmente aparenta estar chateado.


Comprimo meus lábios um no outro e faço uma careta. Josh é um bom
amigo, o melhor, mas nossas vidas são opostas. Solto meus lábios e

suspiro.

— Eu precisava resolver algumas coisas.

Ergue suas sobrancelhas.

— Do que você está falando?

Balanço minha cabeça negando.


— Alguns assuntos que você não pode saber.

Todo resquício de diversão e leveza somem do rosto e dos olhos

de Josh.

— Como assim, Gavin?

Josh e eu viemos do mesmo lugar, porém ele tinha alguém capaz


de o resgatar da imundícia em que nascemos. Ele nunca irá entender

algumas situações.

— Eu precisei arrumar um emprego.

Continua me encarando de forma sombria.

— Que tipo de emprego?

Dou de ombros e sorrio.

— Do tipo que pode me colocar em encrencas.

Josh suspira e passa sua mão pelos fios do seu cabelo.

— Porra, Gavin, você não precisa disso.

Ele está errado.

— Então, você está namorando?

Mudo de assunto e Josh me encara com uma expressão nada

agradável. É lógico que ele não está contente com a falta de informação,
eu também não estaria, porém não quero o trazer para o caos e destruição
que é a minha vida.

— Gavin, eu posso ajudar você, não precisa se meter em

problemas.

Josh jamais entenderá os meus motivos. Não é simplesmente por


dinheiro, minhas questões são mais profundas. Talvez meu amigo não

tenha percebido, mas não sou mais aquele garoto, no fundo, acho que
nunca fui quem Josh acha que eu sou.

— Josh, você é meu melhor amigo e sei que faria muitas coisas
por mim, assim como eu faria por você, mas não há nada que você diga

ou possa fazer para mudar as minhas escolhas. — Ele faz uma careta e
não permito que tenha tempo para falar algo. — Então, você está

namorando?

Refaço a pergunta para reafirmar que não vou ceder e muito


menos conversar com ele sobre o que estou fazendo para ganhar

dinheiro.

— Estou.

Responde por fim e pelos próximos minutos, Josh fala sobre a

namorada, eu a conheci brevemente no velório da sua mãe, Dakota


parece alguém doce e combina com Josh.
É surreal alguém estar apaixonado com vinte anos, difícil de

acreditar, entretanto Josh parece encantado. Nós vamos até o balcão,


fizemos o pedido de dois cafés e ele continua falando sobre a namorada.

— Acontecerá uma festa na casa de um dos jogadores de futebol


americano, Dakota e eu estaremos lá e os meninos também, é um ótimo

momento para você reencontrá-los e poder conhecê-los de fato.

Não é uma péssima ideia, porém acho que Josh ainda não
entendeu algumas coisas.

— Você sabe que provavelmente não serei amigos dos seus

amigos, não é?

Olho para o lado e ele faz uma careta.

— Você está julgando meus amigos?

Sorrio, porque não irei mentir. Apesar de não ter muitos

escrúpulos, mentir não é algo que eu preze.

— Sim, eles têm dinheiro, são egocêntricos, se acham as estrelas

dessa faculdade. — Dou de ombros. — A chance de eu gostar deles é


quase zero.

Josh me encara indignado.

— Você sabe que sou assim, não é?


— Sim e você é a exceção, porque conheço desde sempre, você é

a minha quota de playboy mimado.

Apesar de não estar feliz com elogio, Josh acaba rindo.

— Você é um imbecil, Gavin.

Chamam nosso nome e esse assunto chega ao fim. Voltamos para

a mesa após pegarmos os cafés e conversamos sobre as aulas, meu


objetivo de ser admitido em uma faculdade de direito e sobre os jogos de

Josh. Ele é o capitão do time de beisebol e tem muito sobre o que falar.

Josh segue sendo uma das poucas pessoas com que me importo e
sei que ele se importa comigo, mas existe um abismo entre nós, não é

mais como antes, porque eu mudei e ele também. Nós dois nos tornamos
pessoas opostas e com valores incompatíveis. Nossas vidas foram

diferentes, Josh sempre teve um vislumbre do paraíso, e eu sempre estive


no inferno.

Após alguns minutos de conversa, despeço-me dele no


estacionamento, entro em meu carro e dirijo para o apartamento que há

um mês estou dividindo com Will. Conversar com Josh faz com que eu
tenha um vislumbre de outro mundo, um lugar distante das trevas.

E ele não me faz desejar estar na luz, não por ser algo ruim, mas

por ser algo que eu não desejo e não combina comigo. A escuridão faz
parte de mim e de quem eu sou, está enraizada no lugar onde deveria
estar meu coração.
Gavin

Entro no apartamento e fico surpreso ao encontrar Scott e Will


sentados um ao lado do outro. O que Scott está fazendo aqui? O cara

mais velho olha na minha direção e parece um pouco impaciente.

— Finalmente.

Scott resmunga e o encaro com curiosidade.

— Não sabia que tínhamos marcado algo.

Sua expressão muda, sorri, um sorriso irônico.


— Não preciso marcar algo para estar no apartamento de vocês.

— Joga-se para trás, abre os braços e os apoia no sofá. — Como eu que

pago o aluguel, esse lugar é um pouco meu também.

— Então, não deveria estar impaciente com a minha demora.

Franze sua testa, eu fecho a porta como se nada estivesse


acontecendo. Scott não me intimida.

— Você não deveria ser tão mal-educado com seu chefe.

Wil ri e apenas dou de ombros.

— Você não é meu chefe.

— E não sou seu amigo.

Agora quem está impaciente sou eu.

— Scott, você é só alguém que estou usando para alcançar meus

objetivos.

Seu olhar é sombrio enquanto me aproximo, porém há um sorriso

em seus lábios, quase como se ele estivesse orgulhoso de mim.

— Eu deveria acabar com você e mostrar que não tolero

arrogância.

Assim como ele, sorrio e deixo que a escuridão tome conta do

meu olhar.

— Não tenho medo de nada nesse mundo, Scott.


Perder o medo é algo que faz você se tornar praticamente um

monstro. Nada te assusta e nada te comove. Nada tira sua paz e nada é a

sua paz. O sorriso de Scott amplia, mais uma vez, aparenta estar

orgulhoso e satisfeito, acho que essas eram as palavras que ele.

— É por isso que eu te convoquei para fazer parte da Blood

Angels.

Scott fala o nome da organização como se fosse algo simples e

legal. Aproximo-me dos dois e me jogo no sofá ao lado de Will.

— E eu aceitei fazer parte por causa do dinheiro.

Espero que ele entenda que só estou nessa pelos meus objetivos e

porque dinheiro é uma parte essencial.

— Você é objetivo e prático, Gavin, e gosto disso.

Continua sorrindo. Apoio minha cabeça no sofá e encaro o teto.

— E por que você estava me esperando?

— Eu marquei sua primeira luta.

Mesmo enquanto escuto a sua resposta, sigo sem olhar em sua

direção. Saber que ele marcou minha primeira luta causa um frenesi em

meu interior. Ansiedade, adrenalina e euforia. Lutar é o que eu faço de


melhor e o que mais me causa emoção, talvez a única coisa que me faça

sentir algo.
— Quando?

Minha pergunta ecoa pela sala e ele não demora a me responder.

— Sexta, o lugar ainda não foi decidido.

Assinto. Seis dias e faço minha estreia em Tuscaloosa. Não sei se

estão preparados para que eu possa fazer, o fato é que estou preparado

para lutar, sempre estive.

— A primeira luta é algo inesquecível, se fechar meus olhos,

posso lembrar do meu debute.

Acabo rindo da escolha da sua última palavra de Will e ficamos

em silêncio até Scott decidir me perguntar algo.

— Você não quer saber quem será seu primeiro adversário?

Mudo de posição, afasto minha cabeça do sofá, deixo minhas

costas eretas e encaro Scott.

— Não, eu irei vencer de qualquer jeito.

— Você não pode afirmar que irá vencer.

Will está me olhando com deboche e com seu costumeiro olhar

divertido. Não entendo como alguém tão letal quanto ele pode parecer

tão leve e descontraído, mas é assim que ele é. Quando não está lutando,

ele parece ser alguém comum, encaixa-se em quase todos os ambientes e

não chama muito atenção.


— Eu vou vencer, Will, nunca perdi nenhuma luta e não será

agora que irei perder.

Soo convencido, porque tenho absoluta certeza de que eu sou o

melhor. Nunca tive uma lesão grave, o máximo que aconteceu foi ter o

nariz quebrado e uma única vez.

— Mostre tudo que é capaz nessa primeira vez, ninguém te

conhece e as apostas serão baixas, porém se conquistar o público na

próxima, os lances serão maiores. — Seus olhos brilham com a

possibilidade. — E lembre-se, meu lucro é o seu lucro.

Minha maior pressa em lutar é porque preciso de dinheiro. Scott

me prometeu sessenta e cinco por cento das apostas e estou ansioso.

— Todos saíram impressionados do que irão ver na sexta.

Scott e eu estamos concentrados no assunto, mas Will me encara

com um sorriso em seu rosto.

— Você é uma máquina e não me falou?

— Quase isso.

Respondo com arrogância e Will me encara animado.

— Eles juram que não irá vencer, porém se você vence, se

transforma em um deus.
Agora quem está sendo arrogante é ele. Will é quase tão bom

quanto eu, no último mês fui as suas duas lutas e ele realmente é muito

superior a outros lutadores.

— Mantenham-se fazendo exercícios e como sempre nos

encontramos quinta na academia.

Por academia Scott quer dizer o seu quartel general, academia é

apenas uma fachada para os seus negócios. Enquanto pessoas malham,

em algumas salas acontecem outras atividades.

— Estaremos lá.

Will é quem responde e apenas assinto. Scott se levanta, despede-

se e deixa o nosso apartamento. Will me encara e ergue suas

sobrancelhas.

— Ansioso?

Dou de ombros.

— Ansioso talvez, temeroso nunca.

Ele balança sua cabeça enquanto sorri.

— Você se acha um rei, não é?

Olho para ele, curvo meus lábios em um sorriso lateral e não me

faço de modesto.
— Tenho certeza do que posso fazer e de quem eu sou, se isso

significa se autodenominar um rei, eu sou um.

Não finjo que não sei o que posso fazer e nem minto, porque não

preciso de elogios, ou de honras, porque nada disso me levaria a algum

lugar. Will não se choca com a minha soberba e não faz nenhum

comentário, simplesmente muda de assunto.

— Hoje é o primeiro dia do semestre e com isso inicia a

temporada de festas, garotas e bebidas.

Comemora e o encaro com curiosidade.

— E o que isso significa exatamente?

— Significa que um dos jogadores de futebol americano dará uma


festa de comemoração ao início do semestre e ele organiza as melhores

festas.

Acho que ele está falando da mesma festa que Josh me falou mais
cedo.

— Eu fiquei sabendo dessa festa.

Pego um cigarro e um isqueiro do meu bolso.

— Você irá?

Acendo meu cigarro e Will pede um, alcanço-o junto com o


isqueiro.
— Não sei se é uma boa ideia.

Trago o cigarro até minha boca, deixo que o gosto de menta

passeie em minha boca e que a nicotina se espalhe pelo meu sangue e


faça com que eu tenha uma sensação de tranquilidade.

— Não gosta de festas?

Zomba. Solto a fumaça e a observo sair da minha boca e se

dispersar pelo ar.

— Gosto de festas, mas não de me misturar com esses playboys

que acreditam ser o centro do universo, porque têm dinheiro.

Will ri e me devolve o isqueiro.

— Cara, não é porque você gosta de massacrar a cara dos outros


que não pode se misturar, essas pessoas não são tão ruins quanto pensa.

Ele tem razão, só que existe alguns detalhes que ele está

esquecendo.

— Eu sei que não, porém, ou vou ter que agir como se fosse igual

a eles, ou eles irão querer me tratar como um saco de lixo, ou um objeto


de caridade.

— Quantos anos você tem mesmo? Porque está resmungando e

reclamando como um senhor de oitenta e quatro anos.

Apesar do tom de deboche em sua voz, respondo-o mesmo assim.


— Eu tenho vinte e dois anos.

— Então, pare de agir como um senhor de idade e supere o que


aconteceu no passado, não seja um idiota bundão.

Ele joga uma almofada em minha direção.

— Não estou sendo um idiota bundão e não aconteceu nada no


meu passado.

Resmungo.

— Você pode mentir o quanto quiser para si mesmo, mas a

verdade continuará sendo a verdade, a mentira jamais se transforma em


verdade, não importa o quanto você insista.

Ele soa sombrio e quando olho em sua direção, está olhando em

frente, com os braços apoiados nas pernas e o cigarro em mãos.

— De que porra você está falando?

Will tem esses seus momentos misteriosos, nós nunca

conversamos sobre nossos passados, mas é óbvio que esconde algo.

— Nada importante. — Fica em pé e fica de costas para mim. —

Eu irei sair de casa às nove horas.

Ele segue para seu quarto e me deixa sozinho com meus


pensamentos. Enquanto fumo e jogo a fumaça para cima, lembranças do

meu passado ecoam em minha mente. Tudo que tive que fazer para
sobreviver e chegar até aqui, cada maldita humilhação e cada escolha

difícil.

Não são boas recordações e muito menos bonitas, mas elas não

me causam mais dor, não mais, porque faz um tempo que não sinto mais
nada. É como se fosse um simples telespectador da minha própria vida,

como se tivesse desligado todos meus sentimentos e emoções. Restou


apenas a escuridão e o vazio, e não lamento que isso tenha acontecido.

Apesar de continuar achando que não é uma boa ideia ir a essa

festa decido ir, no máximo poderei jogar na cara de Will que eu estava
certo. Assim que apago o cigarro, jogo o restante no cinzeiro que fica na

mesinha ao lado do sofá e vou para meu quarto.

Jogo a mochila sobre a cama e me sento ao lado dela, pego os


cadernos, apoio minhas costas contra a cabeceira e reviso as anotações
que eu fiz.

Entrar em uma faculdade de direito não é algo simples e seria

mais fácil continuar lutando, ou procurar algum emprego na área de


ciência política, mas quero mais, quero poder e ter um diploma em

direito me possibilita a chance de ser um juiz, ou um promotor.

Além de poder, é a minha vingança, é a forma de estar no sistema

que um dia falhou comigo. Se você não pode vencê-los, junte-se a eles.
Estudo, faço algumas anotações e só deixo a cama quando está

anoitecendo. Tomo um banho rápido, visto roupas pretas e vou até a


cozinha preparar algo para jantar. Will sai do seu quarto ao notar que

estou cozinhando, então jantamos e em seguida deixamos o apartamento


e em seu carro vamos até o local da festa.

É uma casa de dois andares, brancas e com uma varanda. Há

pessoas em pé no gramado e bebendo, a música ecoa mesmo ao lado de


fora e não há vizinhos, o que deve facilitar a organização da festa.

Will estaciona na rua e seguimos até a casa. Ele cumprimenta

pessoas no caminho e me apresenta a algumas. Recebo olhares de


curiosidades e é possível notar que se questionam quem sou eu, não faço
questão de explicar, é divertido observar as dúvidas e os julgamentos que

fazem ao meu respeito. Duvido que alguém chegue perto de acertar


quem sou eu e o que estou fazendo em Tuscaloosa.

Entramos na casa, não há ninguém na recepção e Will caminha

pelo local como se fosse a sua casa.

— Você é bastante íntimo do lugar.

Falo alto o suficiente para que consiga ouvir e Will me encara

com um sorriso debochado.

— Elliot organiza muitas festas e o lema é sinta-se em casa.


Leva-me até uma cozinha, abre a geladeira, pega duas garrafas de
cerveja e me entrega uma.

— Divirta-se, Gavin, e se esqueça dos problemas.

Pica em minha direção. Sorrio e levemente balanço minha cabeça


de um lado para o outro. Will acha que estou preocupado, não estou e

nem tenso, simplesmente sou assim. Talvez um dia tenha sido diferente,
porém faz tanto tempo que não tenho nenhuma lembrança.

— Vou te apresentar aos meus amigos.

Sigo-o e Will me apresenta alguns dos caras que chama de


amigos. Eles fazem piadinhas, conversam sobre garotas, bebidas,

esportes e carros. O único assunto que temos em comum são as garotas.

De repente todos ficam em silêncio e encaram o mesmo ponto,


olho na direção e me dou conta de que estão assistindo uma loira entrar

no local, ela não é desconhecida, é a loira que já encontrei outras vezes


em aula e que aparentemente se acha a rainha do campus. Ele está com

mais duas garotas que aparentam ser tão arrogantes quanto ela.

— Quem é ela?

Pergunto para Will enquanto desço meu olhar pelo seu corpo, ela

está vestindo um vestido rodado que deixa boa parte das suas pernas
expostas. Gostosa! Volto a encarar seu rosto e seu olhar encontra o meu,
ela me reconheceu.

— Ela é a capitã das cheerleaders e a rainha do Alabama.


Gavin

Ele soa debochado, eu continuo a encarando e ela faz o mesmo.


Não sei o porquê chamo tanto a sua atenção, ou talvez saiba, ela só é uma

garota mimada que gosta de acreditar que está no controle da situação.

— Qual nome dela?

— Kimberly Quinn.

O sobrenome ecoa em minha mente.

— O nome arrogante combina com ela.

Trago a cerveja até meus lábios e Will sorri.


— Ela é horrível, adora intimidar os outros para se sentir superior

e ama um status, ela já dormiu com a maioria dos atletas da universidade.

Como alguém assim tem tanto prestígio? Deveria ser o contrário.

— Isso a faz famosa? — Sorrio irônico. — Acho que aqui as


morais estão deturpadas, talvez eu até possa ser chamado de herói.

— Acho que você nunca será um herói.

Will tem razão e eu não quero ser um herói, nunca quis. Sorrio,

ergo minha mão e faço um gesto na direção de Kim, ela faz uma careta e
desvia o olhar para longe de mim.

— Acho que eu vou ser sua próxima vítima.

Bebo minha cerveja e olho para o lado. Will está me encarando


com deboche.

— E você irá revidar.

— Claro, ninguém pode me humilhar, muito menos uma

bonequinha mimada.

Nós dois sorrimos e voltamos a prestar atenção no que seus

amigos estão conversando. Eu participo pouco e falo apenas o necessário.

Não vim para Tuscaloosa para arrumar amigos, eu não preciso, eu


preciso de dinheiro e um diploma em uma universidade renomada.
Mais uma vez, todos olham na direção da porta, alguns sorriem,

outros tem uma expressão de admiração em seus rostos e até mesmo há

alguns com inveja e ciúmes. Olho para o lado e me deparo com Josh,

dois dos seus amigos e três garotas, as namoradas.

— As estrelas do Alabama.

Will me conta e curvo meus lábios em um sorriso debochado.

— Que apelido brega, aliás, vocês têm uma tendência para

apelidos bregas, rainha, estrelas do alabama... cadê os duques? Os astros?

Olho ao redor como se estivesse em busca de algo e Will apenas

balança a cabeça de um lado para o outro.

— Só somos criativos.

— Bregas.

Volto a olhar em um ponto fixo, para o trio de jogadores, então

Josh faz um gesto com a cabeça em minha direção e eu o retribuo da


mesma forma.

— Você os conhece?

Will soa surpreso.

— Josh e eu somos amigos.

— Interessante, é bom para os negócios ser amigo do filho do

governador.
Faço uma careta.

— Josh não tem nada a ver com o que eu faço, não o coloque no

meio do que fazemos.

Olho para Will que ergue as mãos para cima em sua defesa.

— Eu só estava brincando.

Bebo o restante da cerveja enquanto Will continua com os olhos

em mim. Ele está tentando decifrar o porquê da minha agressividade.

— Conheço Josh há muito tempo, ele me conhece antes de eu ser

quem eu sou.

É toda explicação que Will terá. Continua tentando me decifrar,

porém depois de alguns segundos desiste. Posso ser ótimo em ler as

pessoas, mas não é tão fácil saber o que eu estou pensando.

— Entendi.

Espero que ele realmente tenha entendido. Josh pode ter

influências, entretanto nunca usarei delas. Ele nem entenderia minhas

escolhas. Afasto-me de Will e vou até Josh. Ele sorri com a minha

aproximação e me encara com deboche.

— Achei que você não viria.

Dou de ombros.

— Mudei de ideia.
Ele sorri e me apresenta aos seus amigos, com exceção de Ethan

que eu já conheço e sua namorada. Todos são receptivos e não aparentam

ser más pessoas, e esse é o problema deles. Dakota, a namorada de Josh,

é uma garota legal e romântica, combina com Josh e é nítido que ele está

apaixonado.

Não é a primeira vez que vejo Josh apaixonado, mas é a primeira

vez que o vejo feliz. Josh merece estar como está, assim como eu sua

infância não foi das melhores, ninguém deveria passar pelo que passamos

e presenciar o que presenciamos.

Por muito tempo, mantemos a sanidade um do outro. Só que hoje

somos diferentes, Josh encontrou a luz e eu permaneci na escuridão,

adentrei ainda mais em trevas.

Não somos mais os mesmos, Josh se tornou o oposto do lugar que

crescemos e eu me tornei exatamente aquilo que esperavam de mim, ou

quase isso. E não me arrependo, não teria feito escolhas diferentes. De

certa forma ainda venci.

A conversa gira em torno da última temporada de futebol

americano quando Kim se aproxima. Ela está sorrindo e olha intrigada

para o grupo.

— Hey.
Ela para entre a irmã de Josh, Tessa, e seu namorado, eles não

parecem odiar a garota como o restante do grupo.

— Hey.

São os únicos a cumprimentarem, porém ela não parece se

importar. Segue sorrindo e nos encarando como se fosse uma rainha

digna de veneração.

— Quem é o novo amigo de vocês?

Ninguém a responde, então Tessa olha para a garota e me

apresenta.

— Esse é Gavin, ele é um velho amigo de Josh.

Kim olha em minha direção com curiosidade. Acho que ela não

esperava que eu fosse amigo de Josh, ele é o capitão do time de beisebol

e pela forma como as pessoas o encaram, quase um deus da universidade,

na verdade... como Will os chamou mesmo? Estrelas da universidade.

— Olá, Gavin.

Sorri vitoriosa por finalmente saber o meu nome.

— Você estava mesmo desesperada em me conhecer, não é?

Refletores de luzes coloridas são a única iluminação, mesmo

assim consigo ver seus olhos verdes com nitidez, por alguns segundos,
ela perde um pouco da malícia, porém não demora a voltar a me encarar

com maldade.

Ela acredita que está no controle de tudo.

— Não, eu só gosto de saber quem são meus adversários, soube


que está tentando as mesmas faculdades de direito que eu. — Ergo

minhas sobrancelhas. Como ela sabe disso? Seu sorriso amplia e mais

uma vez, encara-me vitoriosa. — Eu sempre sei de tudo.

Então, ela deveria saber quem eu posso ser e gostaria deixá-la


saber que não pode me intimidar, porém não posso fazer isso na frente

dessas pessoas.

— Ótimo.

Desvio meus olhos da Barbie a minha frente e encaro Josh ao

meu lado.

— Ela é sempre insuportável?

Não faço questão de sussurrar, não me importo se ela ouvir. Não é


Josh a me responder e sim a namorada de Ethan, um dos amigos de Josh.

— Às vezes ela consegue ser além de insuportável.

Parece que a bonequinha mimada não é amada por todos. Volto a


olhar para ela e ela está sorrindo.

— Também gosto de você, Abby.


Kim não parece nem um pouco perturbada por ser chamada de
insuportável, pelo contrário parece satisfeita. Ela não quer ser amada e

reconheço o sentimento. É péssimo perceber que temos algo em comum.

— Sempre um prazer conversar com vocês. — Olha uma última

vez para mim e se vira para Tessa. — Não se esqueça do nosso treino
amanhã.

— Pode deixar, capitã.

Soa debochada, Kim revira seus olhos e se afasta. Todos ficamos

em silêncio até que ela esteja longe o suficiente para não ouvir.

— Como vocês dois a suportam?

Ethan, o quarterback do time de futebol americano e amigo do

Josh desde os nove anos, pergunta para Tessa e seu namorado. Eu


conheço Ethan, porque é amigo de Josh há muito tempo, porém nunca

fomos próximos, apesar de ser alguém legal, é alguém que vive muito
longe da minha realidade.

— Ela tem seus momentos agradáveis.

Tessa o responde e me pergunto se realmente está falando sério,


porque até o momento tudo que eu vi foi Kim sendo desagradável,

desnecessária e arrogante.
— Sabe, você deveria filmar esses momentos, porque não
consigo acreditar em você.

Dakota que parece ser adorável rebate a cunhada, todos riem e

quando o riso cessa, voltam a conversar sobre assuntos aleatórios, eu


permaneço mais alguns minutos com eles e em seguida, deixo-os e vou

até o jardim.

Há uma piscina que está coberta, algumas espreguiçadeiras e uma


área de lazer. Eu fico em pé logo após a porta, pego um cigarro, o

isqueiro e o acendo.

Não há muitas pessoas aqui do lado de fora e olho em frente,

encaro a piscina e o céu escuro. Aqui não é o pior lugar do mundo, mas
está longe de fazer com que alguma reação percorra meu corpo.

Sem brigas, sem violência, sem adrenalina. Apenas algo normal,

incapaz de me fazer sentir algo.

Continuo fitando a noite até estar satisfeito, então apago o

cigarro, jogo-o em uma lata de lixo que encontro ao lado da porta e sigo
para o interior do lugar.

Caminho na direção da cozinha para buscar mais uma cerveja e

vejo Kim subindo as escadas. Ela está sozinha. Paro e a observo por
alguns segundos. Talvez, esteja no momento da loira saber que não pode

me intimidar.

Espero ela estar no topo da escada e a sigo. Apresso meus passos

e ela está na metade do corredor quando piso sobre ele. Olho ao redor e
não há ninguém. As portas estão fechadas e parece ser apenas nós dois.

Perfeito!

— Então, você gosta de ser a rainha da UA.

Apesar de ainda ser possível ouvir o som da música, é mais suave


e ela consegue me ouvir. Kim se vira para trás, seu olhar encontra o meu

e assim que me reconhece, é tomado por desdém. Ela acredita ser


imbatível.

— É assim que me descreveram para você?

Ela está parada e caminho lentamente em sua direção, como se


estivesse indo atrás da minha presa.

— Eu não sou como eles, Kimberly.

Uso seu nome e ela não aparenta estar surpresa por saber quem
ela é.

— Eu vejo que você não é. — Desce seu olhar pelo meu corpo e

me encara com desdém. — Você não pertence a esse lugar.

Continuo caminhando em sua direção e ela segue parada.


— Por quê?

— Suas roupas. — Volta a olhar para o meu rosto. — Seu

comportamento, suas tatuagens...

Faz um gesto como se estivesse apontando todos meus erros.

— Você parece alguém que eu encontraria em um reformatório e

não em uma universidade de prestígio.

Ela não me ofende e simplesmente sorrio.

— Eu conheço pessoas como você. — Aproximo-me e mesmo

quando estou perto o suficiente para que sinta minha respiração, não
paro, o que faz com que ela seja obrigada a dar passos para trás. —

Bonequinha mimada que acredita ser o centro do universo, intimida e


humilha para se sentir superior, mas seu interior é vazio e podre.

Sou obrigado a parar quando ela apoia suas costas na parede. Ela

continua me olhando nos olhos, com diversão e zombaria. Não há medo e


nem receio.

— Não me importo com que você acha de mim.

Ela pode ser uma cadela, mas é uma garota e não irei encostar
nenhum dedo nela. Todos temos limites e o meu é encostar em garotas.

Apoio minha mão na parede onde a Kim está encostada e a continuo


encarando.
— Você deveria se importar.

Sua respiração atinge meu queixo, sinto seu cheiro, Jasmim e

rosas. Se realmente fosse um caçador e ela uma caça, estaríamos em um


campo.

— Eu não tenho medo de você.

Sorri debochada.

— Pois deveria.

Soo ameaçador. Ela ergue seu dedo e toca meu peito.

— Por quê? Irá me machucar? — Faz um beicinho com seus


lábios carnudos e pintados de rosa. — Seria capaz de fazer algo contra

uma garota? Acho que estou certa, você deveria estar em um


reformatório.

Kim está tentando me desestabilizar, porém suas provocações são


completamente inúteis. Desce e sobe seu dedo pela minha camiseta preta.

— Você não deveria brincar comigo, bonequinha. — Abaixo

minha cabeça e pairo com a boca a alguns centímetros da sua orelha. —


Fique longe de mim.

Afasto-me e ela me encara com a mesma expressão soberba de


sempre.
— Não sei de onde você vem, Gavin, mas aqui sou eu que dito as
regras.

Balanço a cabeça e sorrio. Ela é tão inocente ao pensar que pode

me vencer.

— Eu venho do inferno, Kim.


Kim

Ele tem uma expressão ameaçadora em seu rosto, eu apenas


continuo rindo. Ele realmente acha que pode me vencer?

— Um anjo mau? Ou um demônio?

Continuo debochando e ele, que agora sei que se chama Gavin,


segue me encarando com uma expressão totalmente inexpressiva. É

como se eu estivesse de frente para um iceberg. Acho que ele também

não tem um coração.

— Você não tem noção de com quem está lidando.


Suas ameaças são vazias, porque não existe como ele me

aterrorizar. Não há nada que me faça temer.

— Você, Gavin, não tem noção de quem eu sou.

Dá um passo para trás e aumenta a distância entre nós.

— Não entre em uma guerra comigo, bonequinha.

Ele me chama mais uma vez de bonequinha e é sexy, se ele fosse

outro cara, faria o implorar para estar comigo. Eu fico em silêncio porque

não há o que ser dito e ele fica de costas, caminha na direção das escadas

e o observo partir.

A calça preta é um pouco justa na sua bunda e é uma bela bunda.

Gavin é bonito apesar da aparência de menino mau.

Ele some escada abaixo e curvo meus lábios em um sorriso, foi


engraçado vê-lo tentando me intimidar, entretanto ninguém conseguiria,

só uma pessoa tem essa capacidade e ela está bem distante.

Lembrar-me de Frederick faz com que meu bom humor

desapareça e antes que ele acabe completamente com minha noite, sigo

para o banheiro, afinal foi isso que eu vim fazer aqui em cima.

Qualquer outra pessoa usaria o banheiro do primeiro andar, porém

eu tenho acesso a casa por completo. Elliot e eu nos envolvemos há dois

semestres e não temos mais nada, entretanto temos uma espécie de


amizade. O bom de caras como ele, egocêntricos e arrogantes, é que eles

não descartam você quando percebem que você só estava interessada no

status que estar com atletas te traz. Meio que nós somos iguais, com a

diferença que eu sou pior do que ele.

Após usar o banheiro, desço para o primeiro andar e me aproximo

de Dallas e Nancy, elas estão conversando com alguns jogadores de

basquete.

— Onde você estava?

Dallas sussurra ao meu lado.

— No banheiro.

Falo baixo o suficiente para que apenas ela escute.

— Você demorou, estava com dor de barriga?

Provoca-me e reviro meus olhos.

— Eca, Dallas.

Empurra meu ombro com o seu e leva a garrafa de cerveja que

tem em mãos até sua boca. Depois de beber um bom gole da bebida me

oferece, mas nego. Já bebi o suficiente. Nunca bebo demais, porque a

bebida pode acabar com o meu controle.

Alguns caras veem até mim e os dispenso, hoje não estou a fim,

foi o primeiro dia de aula do semestre, é segunda-feira, amanhã tenho


aulas importantes, treino e a maioria não me traria nenhuma vantagem

além do sexo.

É início da madrugada quando voltamos para casa em meu carro,

Nancy está bêbada e alegre. Ela está no banco de trás e encantada com as

estrelas.

— Por que consideramos ela uma de nós mesmo?

Dallas resmunga ao meu lado.

— Porque você a salvou no primeiro semestre.

Provoco Dallas e estou olhando em frente, porém posso jurar que

ela está revirando seus olhos.

— Você bancou a heroína.

Ela me acusa. Nunca chegamos a um acordo de quem teve o

impulso de salvar Nancy em uma festa que fomos no primeiro semestre,

o fato é que ela decidiu nos perseguir e fazer de nós duas suas amigas

depois que a salvamos de dois garotos mal-intencionados.

— Lá no fundo nós gostamos dela.

Dallas simplesmente bufa, porque sabe que estou falando a

verdade.

— Isso me faz uma vadia menos do mal.


Sorrio e apesar de ser uma brincadeira, há uma porcentagem de

veracidade na frase de Dallas. Nós gostarmos uma da outra e gostar de

Nancy nos faz um pouco melhor, mostra que ainda existe um pouco de

humanidade em nossas almas.

— Vamos para o céu por causa de Nancy, acho que é ela que é

nossa heroína, hein!?

Dallas apenas ri e seguimos o restante do caminho em silêncio.

Estaciono na garagem, Dallas e eu deixamos o carro e ajudamos Nancy.

Ela está muito tonta e sonolenta.

— Juro que mereço uma bolsa nova de presente.

Dallas fala para Nancy que continua em um mundo totalmente

diferente do nosso.

— É por isso que eu não bebo.

Resmungo enquanto levamos Nancy para seu quarto. Nós tiramos

seu sapato e a colocamos na cama.

— Essa é a boa ação do ano.

Dallas exclama assim que deixamos o quarto de Nancy.

— Acho que o propósito da vida de Nancy é nos fazer sermos

melhor.
Dallas não me responde e seguimos cada uma para seu quarto. Eu

vou para o banheiro, tomo meu banho, faço meu skincare e me jogo em

minha cama. Estou cansada e não demoro a dormir.

....

Acordo com o despertador ecoando pelo quarto, como não dormi

por muito tempo, é pesaroso me levantar, porém não tenho alternativa.


Deixo minha cama e praticamente me arrasto para o banheiro.

Eu me arrumo mais devagar que todos os outros dias. O que é

péssimo, porque odeio me atrasar, pessoas atrasadas não chegam a lugar

nenhum. Assim que termino de me maquiar, pego meus livros, enfio o

celular e algumas canetas na bolsa e saio do meu quarto.

Não terei tempo para tomar nenhum café e desço as escadas

praticamente correndo, eu estou prestes a sair para garagem quando me

deparo com Nancy sentada no sofá, de pijama e com uma xícara em

mãos. Claramente, ela não irá para a aula.

— Nós temos treino hoje. — Aponto em sua direção. — Não

deveria ter bebido.


Ela faz uma careta e abre a boca para se defender, mas balanço

minha cabeça e fico de costas. Não quero suas justificativas.

— Não se atrase e esteja recuperada até o treino.

Sigo para a garagem, entro em meu carro e dirijo para o Campus.


Minha primeira aula é com uma professora que não tolera atrasos. Odeio

sair apressada e prometo a mim mesma nunca mais sair em uma segunda-

feira.

Entro no prédio, após deixar meu carro no estacionamento, sem


café, com três livros em mãos e totalmente de mau humor. Confiro o

horário em meu celular e tenho três minutos para chegar na sala,


praticamente corro na direção do corredor. Devo estar fazendo um papel

ridículo e não costumo ser motivo de chacota, porém é algo totalmente


necessário.

Eu não chego atrasada, não recebo reclamações de professoras,

não tenho notas baixas, sou uma aluna exemplar.

Finalmente, dobro no corredor e estou com tanta pressa que não

consigo parar quando alguém está vindo na minha direção contrária. É


tudo muito rápido, sequer consigo notar quem é, meu corpo encontra o

peito de alguém. Com o esbarrão, meus livros deixam minha mão e me


desestabilizo, estou prestes a cair de bunda no chão, mas para a minha
sorte a pessoa segura minha cintura e impede minha queda.

O aperto é forte e as mãos são grandes, é óbvio que é um homem.


Por alguns segundos, me esqueço da situação e me pego gostando da

forma como ele me segura, além disso o perfume que me cerca é forte e
amadeirado, é excitante. Talvez seja perversa por estar pensando assim?

Talvez.

Sorrio e ergo meu olhar para encontrar o meu herói do dia, espero
que ele não me decepcione e seja alguém bonito.

— Acho que você acaba de ser meu herói...

As minhas palavras morrem assim que vejo a tatuagem em seu


pescoço. Qual a chance de ser outra pessoa com a mesma tatuagem?

Como é mínima dou um passo para trás e sua mão deixa minha cintura.
Por que eu tenho tanto azar?

— Opa, bonequinha, se soubesse que era você, tinha deixado cair

de bunda no chão.

O sorriso some do meu rosto, meu olhar encontra o seu e o encaro


com desdém.

— Nossa, isso é tão nobre da sua parte.

Dá de ombros.
— Eu não sou uma pessoa nobre.

Sorrio, um sorriso debochado e sem humor.

— Eu percebi.

Dou mais um passo para trás e espero que ele se afaste para pegar
meus livros no chão, de jeito nenhum irei ficar abaixada a sua frente em
uma posição humilhante. Ele continua parado e não faz nem menção de

caminhar para longe. Que merda ele está fazendo!?

Ergo minhas sobrancelhas e um sorriso perverso surge em seu


rosto.

— Você não irá pegar seus livros?

É claro que ele quer presenciar minha humilhação. Sorrio e olho

ao redor, Gavin deveria saber que eu não perco. Encontro uma garota
sentada em um dos bancos que há pelo corredor, encaro-a e ela me encara
de volta, seus olhos brilham quando me reconhece. Ótimo!

— Hey. — Ela no mesmo instante olha em minha direção, aponta

para si mesmo perguntando se é com ela que estou falando e assinto. —


Você pode por favor pegar os livros que deixei cair no chão? Eu estou

com a coluna machucada por causa das acrobacias que fiz no último
semestre.

Ela assente e depressa fica em pé.


— Claro.

Ela se aproxima, abaixa e resgata meus livros, enquanto isso,


Gavin continua me encarando com um olhar frio e sem sentimentos. Ele

não demostra absolutamente nada, sem sentimentos e sem emoções.

— Não acredito que você fez isso.

Sussurra e apenas sorrio. A garota me entrega os livros.

— Obrigada.

Sorrio gentilmente e seus olhos brilham como se acabasse de

ganhar um prêmio.

— De nada.

Ela volta para seu lugar e encaro Gavin vitoriosa.

— Você achou mesmo que poderia me vencer? — Faço um

barulho de estalo com a minha língua. — Ninguém consegue me vencer,


eu sou invencível, Gavin.

Dá um passo em frente, abaixa sua cabeça, cerca-me com todo

seu tamanho e posso sentir sua respiração contra meu rosto.

— Isso é o que você pensa, Kimberly.

Fala meu nome com desdém, o que me diverte. Acho que Gavin

está criando uma certa rivalidade comigo e eu amo, porque é óbvio que
irá perder.
— Essa é a única verdade.

Empurro seu peito para trás com a minha mão livre, olho para ele

uma última vez e caminho na direção da sala de aula.

Conversar com Gavin é divertido, ele faz com que adrenalina


percorra pelo meu sangue, faz com que me torne competitiva ao máximo

e obtém de mim o pior. E eu gosto de ser má.

Eu chego um minuto atrasa e a professora me encara indignada,

ela começa a falar o quanto atrasos são inadmissíveis, é horrível,


entretanto meu humor melhora quando Gavin entra na sala, ele está três

minutos atrasado e a professora desvia a atenção toda para ele. O idiota


se atrasou porque estava fumando. É satisfatório vê-lo sendo o alvo da

vaca a nossa frente.

Parece que em nosso placar quem está vencendo sou eu. Kim 2 x
Gavin 0.

Ele continua sem demostrar nenhuma reação e me pergunto o que


é necessário para o desestabilizar?

Enfim, a tarada por pontualidade inicia a aula, apesar de tudo é

uma boa aula e assim que acaba, pego meus livros e saio da sala, para
minha sorte não cruzo com Gavin. Como tenho um período livre, decido

ir para casa almoçar. Rose que trabalha com gente faz comida e as deixa
congeladas, o que é ótimo para manter a minha dieta, muito melhor que
almoçar no campus e ingerir horrores de calorias.

Eu abro a porta e escuto a voz de Dallas.

— Kim, é você?

Ela parece empolgada.

— Sim, sou eu.

— Eu tenho algo para te contar.

Sua voz está vindo da cozinha, então vou até ela. Dallas está em

pé ao lado do micro-ondas e tem uma das vasilhas com comida


congelada em mãos, ela coloca a vasilha sobre o balcão e me encara com

animação. Deve ser uma fofoca muito boa!

— O que você tem para me contar?

— Eu descobri algo.

Faz suspense e a encaro impacientemente.

— Fale logo.

Seu sorriso amplia enquanto eu deixo meus livros sobre a ilha que
ocupa boa parte da nossa cozinha.

— Sabe aquele cara que estava com as Estrelas do Alabama

ontem?
Ela está falando de Gavin, assinto rapidamente. Dallas conseguiu
obter minha atenção por completo. Apoio meu quadril contra a ponta do

balcão e a encaro curiosa.

— O que tem ele?

— Ele luta.

— Então, ele tem bolsa por praticar esportes?

Ela balança a cabeça negando.

— Ele luta cladestinamente, Kim, uma dessas lutas organizadas


por organizações criminosas.
Kim

As palavras de Dallas ecoam em minha mente e demoro a


assimilar o que realmente está falando.

— Ele é um criminoso?

Dallas sorri, é claro que ela está achando isso engraçado.

— Tipo isso, embora, eu não saiba exatamente qual é o nível de


envolvimento dele, tudo que sei é que ele luta e meus contatos me

contaram que ele é muito bom.


Eu deveria ficar com medo, porque ele já me ameaçou, mas tudo

que consigo pensar é que a nossa guerra acabou de se tornar mais

emocionante.

— Interessante. — Sorrio. — Será que é por isso que ele está em

Tuscaloosa?

Dallas assente.

— Ele foi recrutado por essa organização por ser bom.

Mordo meu lábio inferior, algumas coisas começam a fazer

sentido, mas outras não. Se o objetivo é ele lutar, por que está na
universidade? Faz parte de algum plano? Por que está estudando e

fazendo preparações para admissões em faculdades de direito?

— Por que ele está na universidade?

Dallas dá de ombros.

— Essa informação eu não tenho.

Faço um beicinho.

— Deveria saber da fofoca completa.

Dallas estreita seus olhos e me analisa.

— Sei que adora uma fofoca, mas parece mais interessada que o

normal, algo está acontecendo? Qual seu interesse nesse cara?


É claro que Dallas perceberia que estou mais interessada no

assunto que deveria.

— Digamos que ele e eu tivemos um embate.

Um sorriso surge em meus lábios e Dallas ergue suas

sobrancelhas.

— Discorra sobre. — Faz um gesto com sua mão. — Quero

detalhes.

— Ok, mas preciso preparar meu almoço enquanto conto o que

aconteceu.

Dallas concorda, então vou até a geladeira, pego uma das vasilhas

do congelador, e Dallas e eu colocamos as comidas para esquentar

enquanto eu narro os últimos acontecimentos. Não escondo nenhum

detalhe, Dallas fica sabendo que estamos fazendo as mesmas aulas, que

ele também está tentando ser admitido em faculdades de direito, sobre a

noite passada e o esbarrão no corredor.

— E se ele for um perseguidor?

Dallas me provoca e eu dou de ombros.

— Por que ele estaria me perseguindo?

Nenhuma de nós duas realmente acredita nessa hipótese.


— Ele está tentando se vingar de algo que seu pai causou. —

Minha gargalhada ecoa pela cozinha e Dallas continua com suas

loucuras. — Eu adoraria um boy daqueles me perseguindo.

Respiro fundo e paro de rir.

— Ele é pobre e você fugiria dele.

Eu tenho interesse em status, Dallas por dinheiro. Somos iguais,

porém normalmente Dallas acaba com homens mais velhos, são mais

fáceis de roubar e enganar. Eu fico com os filhos e ela com os pais.

— Talvez ele ganhe muito dinheiro em uma das lutas.

Estamos rindo e ficamos alguns segundos sem pronunciar

nenhuma palavra. Terminamos de preparar o nosso almoço e nos

sentamos de frente para a ilha, uma ao lado da outra.

— Ele pode ser perigoso.

Dallas para de rir. Olho para o lado e tem a testa franzida.

— Eu não tenho medo e inclusive, isso só torna tudo mais

interessante. — Dallas bebe um pouco do seu suco e me encara como se

eu fosse maluca. — Não finja que agiria de outra forma.

Um sorrisinho malicioso surge em seus lábios.

— Eu achei quente essa intimidação no corredor.


Apenas balanço minha cabeça e faço uma pergunta que de

repente martela em minha mente.

— Como funciona essas lutas clandestinas?

Se tem alguém que deve saber como isso funciona é Dallas,

minha amiga conhece muitas pessoas com índoles duvidosas.

— Elas acontecem regularmente, mas não tem dias fixos, ou

lugares, para não serem descobertos.

Sua resposta desperta minha curiosidade e tenho uma ideia.

— E você sabe quando irá acontecer a próxima luta?

Olho para Dallas e pelo brilho em seus olhos ela sabe onde quero

chegar.

— Na sexta-feira.

Eu vibro com a possibilidade de estar lá.

— O que precisamos para estarmos nessa luta?

— Convites.

Pelo sorriso em seu rosto é óbvio que os consegue.

— E você os consegue?

— É claro.
Satisfação ecoa em meu peito e mal posso esperar para ver Gavin

lutar. Uma luta clandestina que aposto que ele não quer que ninguém

descubra. Irei descobrir como usar isso contra ele de alguma forma.

Gavin realmente não tem noção de com quem está lidando.

Dallas e eu terminamos de almoçar, então coloco as louças na

máquina de lavar louça, subo rapidamente até meu quarto, deixo meus

livros sobre a mesa de estudo e troco de roupa, coloco algo adequado

para o treino das cheerleaders, pego meu celular e novamente deixo meu

quarto, desço as escadas e sigo diretamente para saída.

Eu dirijo para o complexo do campus que usamos para treinar.

Estou adiantada como sempre, porque gosto de ser a primeira a chegar,

alinhar com a professora de Educação Física que nos auxilia nas

coreografias e acrobacias, é o meu papel como capitã do time.

O espaço que usamos é todo equipado com colchonetes e evita

que nos machuquemos enquanto treinamos. Deixo o celular sobre um dos

bancos que fica a margem do espaço e inicio meu alongamento. Anne, a

professora, é a próxima a chegar, ela se senta no banco a minha frente e

me analisa minuciosamente.

— Você precisa permanecer por mais segundos nos exercícios.


Reviro meus olhos, mas faço o que orienta. Assim que finalizo o

último exercício eu vou até ela e me sento ao seu lado. Anne pega suas

anotações e me informa quais são as suas ideias para esse semestre e para

a próxima temporada. Discutimos algumas questões e chegamos a

algumas conclusões. Ela não é fofa e nem muito agradável, por isso

somos tão boas juntas.

As meninas não demoram a chegar e Anne faz com que elas

alonguem e só depois disso, começamos nosso treino. Hoje focamos nas

partes mais fáceis e leves, nada de pirâmides e movimentos avançados.

Acerto a minha parte, então me sento e observo as garotas. Elas


são boas, mas Tessa é a melhor, ela é quase tão boa quanto eu. Tessa é a

namorada de Dylan, uma das únicas pessoas que considero um amigo,


além dele existe apenas Dallas e Nancy.

Dylan me ajudou em um momento delicado e nunca contou sobre


isso para ninguém. Não sei se teria sido tão nobre quanto ele,

provavelmente não. Ele é o único integrante do quarteto mais famoso da


universidade que gosta de mim, ele faz parte do que chamamos Estrelas

do Alabama, Ethan, o jogador de futebol americano, Aiden, o jogador de


hóquei, Josh, o jogador de beisebol e Dylan, o jogador de basquete. Eles,

exceto Dylan, têm motivos para me odiarem.


Quando você faz de tudo para estar no poder, você acaba sendo
amada, admirada ou odiada. Eu não ligo sobre o que desperto nas

pessoas, só quero o controle absoluto.

Tessa termina sua parte e se aproxima de mim. O que ela quer?

Não somos inimigas, mas também não somos amigas. Tudo bem que eu
fui legal com ela uma vez no semestre passado e seu namorado é meu

amigo, porém é apenas isso.

— Por que você gritou em uma festa repleta de pessoas que


Brooke estava grávida? E como você descobriu?

Pergunta sem rodeios e se senta ao meu lado. O mais irônico é

que eu realmente acho a personalidade de Tessa interessante, ela não é


tão irritante, e por ser direta não desperdiça meu tempo com floreios,

além de que não tenta me elogiar, ou puxar o meu saco.

— Isso foi no semestre retrasado.

Ela dá de ombros.

— Eu sei, mas até hoje não sabemos o que você queria.

Reviro meus olhos.

— Você nem estava na universidade ainda, Tessa, por que está tão
interessada nessa história?

Continua me encarando como se merecesse saber a verdade.


— Porque por um tempo todos culparam Dylan, você sabia que
ele e Aiden ficaram sem se falar por alguns dias?

Faço uma careta.

— Eu nunca soube disso.

É uma droga e realmente me importo com Dylan, de todas as


pessoas que poderiam ter me encontrado naquela noite, eu tive a sorte de

ter sido ele.

— É claro que todos chegaram à conclusão de que não foi ele que
te contou, porém ainda é uma incógnita como você descobriu e agora que

Evelyn nasceu você poderia enfim contar como descobriu.

Tessa está falando como se fosse um motivo muito bom. Encaro a

garota de cabelo rosa sem entender, ela está maluca?

— O que que eu tenho a ver com nascimento da filha do jogador


de hóquei?

Suspira e revira seus olhos.

— Estou tentando encontrar algo que amoleça seu coração de


pedra.

Sorrio debochada.

— Eu não tenho um coração, Tessa.

É a sua vez de sorrir debochada.


— Isso é o que você tenta convencer a todos, mas se realmente

fosse uma sem coração jamais teria estado com Dylan enquanto ele fazia
a tatuagem em minha homenagem e nem teríamos tido aquela conversa

no dia seguinte.

Ela está errada sobre pensar que algo bom em mim, entretanto

não vou insistir, cada um acredita no que quiser.

— Uma vez por semestre eu sou uma pessoa boazinha. — Faço


questão de manter o sarcasmo em minha voz. — No semestre retrasado,

salvei Aiden e Brooke, no passado eu fui legal com você afirmando que
seu namorado não estava apaixonado por mim e contando sobre a

tatuagem que ele tinha feito por você.

E no primeiro semestre salvei Nancy, mas essa informação


mantenho apenas para mim.

— Sou quase uma heroína.

Apesar do meu deboche, Tessa não me encara como se estivesse


surpresa.

— Então, como você salvou Aiden e Brooke exatamente?

Claro que ela só prestou atenção nessa parte. Como ela não irá me
deixar em paz, melhor contar logo o que realmente aconteceu.
— Eu precisava falar com uma professora para pedir

arredondamento em uma nota, então fui até sua sala, ela estava ocupada e
fiquei do lado de fora, no corredor, esperando, conversando com um

outro garoto que também queria falar com a professora, e sem querer
escutamos duas pessoas falando sobre Brooke estar grávida, eu deduzi no

mesmo instante que era a namorada de Aiden e o garoto ao meu lado


também.

Falo mais rápido do que costumo falar, porque tenho pressa em


encerrar o assunto.

— O que você está querendo dizer?

Dou de ombros.

— Ele era um jogador de hóquei e não gostava de Aiden, ele

sabia que Brooke era namorada dele e pelo olhar malicioso de Jagger, eu
soube que ele faria algo para provocar Aiden, não é segredo que Aiden é

explosivo e perde o controle facilmente, então antes que ele pudesse


fazer algo, eu fui lá e fiz, eu contei para todos e impossibilitei dele usar a
gravidez para desestabilizar Aiden.

A garota de cabelo rosa faz uma careta e me encara pensativa.

— Você poderia ter resolvido de outra forma.

Reviro meus olhos e fico em pé.


— Fui assim que eu achei melhor resolver.

Além do mais, não foi totalmente desconfortável contar em uma

festa na frente de todos que Brooke estava grávida, eu poderia estar


fazendo um favor, porém ainda era eu, a maldade e o veneno estão

enraizados em mim. São eles que comandam minhas ações e me


garantem estar no topo.

— Isso foi legal da sua parte.

Estou em pé e um passo de distância de Tessa, olho para trás e a

encaro com desdém.

— Não vou levar isso como elogio.

Tessa sorri debochada e dá de ombros.

— Você é uma cadela, Kim, mas às vezes você é suportável.

Bem melhor!

— Eu vou levar isso como um elogio.

Ela bufa.

— Claro que você vai.

Olho em frente e sem me despedir de Tessa, caminho para longe.


Gavin

Will e eu deixamos seu carro em um estacionamento desativado,


há uma quadra de distância do local em que irá acontecer a luta e

encontramos alguns homens de confianças de Scott, eles irão nos escoltar


até o lugar. Apenas os cumprimentamos com um gesto com a cabeça e

não trocamos nenhuma palavra.

Cubro minha cabeça com o capuz do moletom preto que estou

usando, Will faz o mesmo e andamos um ao lado do outro. Os caras estão

atrás e a nossa frente, somos cinco no total, vestindo roupas escuras e

tentando se misturar a escuridão da noite.


Como é praticamente de madrugada, não há pessoas na rua e

mesmo se tivesse, não iriam achar fora do comum, infelizmente, nesse

bairro é normal esse tipo de movimentação.

— Eu adoro a adrenalina pré-luta.

Ele soa divertido, olho rapidamente para o lado e ele está


sorrindo. Eu permaneço em silêncio e ele segue falando.

— Você não se sente importante com esses caras atrás de você? É


como se fossemos o próprio presidente e precisássemos ser escoltados.

Olho ao redor, para os caras que estão nos seguindo, e sorrio, um


sorriso irônico.

— Estamos sendo seguidos, porque a outra organização

responsável pelo cara que irei lutar pode decidir jogar sujo e nos atacar.

Não que isso me preocupe, sou indiferente sobre, apenas não é

um conto de fadas como Will faz parecer.

— Emocionante e eletrizante.

Balanço minha cabeça e sigo em silêncio. Will não diz mais nada

e sons dos nossos pés tocando o concreto é tudo que conseguimos ouvir.
É uma noite silenciosa.

Os homens a nossa frente param em frente a um prédio de três


andares, em que a fachada está um pouco deteriorada, há manchas e a
tinta está saindo, mais parece um lugar abandonado.

— Chegamos.

Um deles anuncia e continua em frente, nós o seguimos.

Entramos no primeiro andar e é o espaço é uma espécie de galeria com

um corredor e lojas em cada lado, estão fechadas, porém as portas são de

vidro e é possível ver o interior, são lojas variadas, roupas, utensílios de

cozinha, papelaria, entretanto todas tem algo em comum: as prateleiras

são praticamente vazias.

— Um lugar fantasma, apenas um disfarce.

Will explica e faz todo o sentido. Sei que a luta acontecerá no

subsolo, ou seja, os três andares são apenas uma distração do real

negócio que acontece no andar abaixo.

Os homens de Scott nos guiam até a última loja do corredor do

primeiro andar. O lugar é iluminado por pequenos pontos de luzes

amarelas. Olho ao redor e não encontro nenhuma escada, como iremos

descer? Minha resposta é respondida quando um dos responsáveis pela

nossa segurança desloca uma parte do chão e a puxa para cima. Claro,

um alçapão!

— Vamos, garotos.
O cara faz um gesto indicando a passagem. Eu sou o primeiro a ir

até ele e descer pela estreita escada que encontro. Está escuro, porém

conforme avanço começa a ficar iluminado. Uma luz amarela, de baixa


intensidade, assim como nos corredores. O que contribui para o espaço

sombrio. Não me sinto pressionado, ou preocupado, pelo contrário, é

como se algo em mim despertasse a cada degrau.

Assim que termino a descida e piso no chão me deparo com um

espaço enorme. Não é uma simples sala, ou um local perdido e

desorganizado. Há um bar, equipado com bebidas e funcionários

preparando bebidas, a decoração é inspirada em cassinos de Las Vegas,

existe um ringue no meio do lugar e uma música ecoa pelo ambiente.

Dou um passo em frente ao ouvir alguém descendo as escadas e

Will não demora a se juntar mim, ele para ao meu lado.

— Impressionado?

Para Will, nada é novidade, não é a primeira vez que ele está aqui.

— Um pouco, esperava um caos, não algo que me lembre a um

clube da elite.

— Olha se não são os meus rapazes.

Scott surge de um corredor. Ele vem até nós com um sorriso em

seu rosto. Ele está vestindo um terno, mais parecendo um homem de


negócios que um criminoso.

— Gostei do seu look.

Provoco-o e ele continua sorrindo.

— Eu preciso estar apresentável para receber os meus parceiros.

— Para entre nós e apoia suas mãos em nossas costas. — Vamos até o

bar, vocês precisam de uma bebida.

Empurra-nos na direção do bar e nós vamos. Will e eu nos

sentamos nas banquetas enquanto Scott fica em pé com o corpo apoiado

contra o balcão.

— O que vocês querem beber?

— Cerveja.

Will é o primeiro a responder, eu olho para as bebidas expostas e

escolho algo diferente, eu preciso de algo mais forte e mais alcoólico que

uma cerveja.

— Uísque.

Scott faz um sinal para um dos seus funcionários e no mesmo

instante saí em busca das nossas bebidas. Scott sorri satisfeito, olha em

minha direção e a expressão em seu rosto se transforma, não há mais

diversão e nenhum sorriso, inclusive sua postura muda.

— Preparado para a luta?


Ainda falta algumas horas para a luta, o que justifica o local estar

vazio, e apesar de estar ansioso para estar no ringue, não estou receoso e

muito menos nervoso. Nervosismo é uma palavra que não existe em meu

vocabulário.

— Preparado para vencer.

Sorrio e olho em frente. Continuo sentindo o olhar de Scott sobre

mim.

— Prove-me que foi uma ótima decisão trazer você para

Tuscaloosa.

— Foi a melhor decisão da sua vida.

— Um dia quero ser tão soberbo quanto você.

Will brinca. Eu fito o ringue, fecho e abro a minha mão

preparando-a para os socos que pretendo dar.

— O outro lutador não é dos melhores, porém é mais conhecido

que você, então as apostas em você foram poucos, sua sorte é que

algumas pessoas adoram acreditar na sorte de principiante.

— Algumas pessoas ficarão felizes essa noite.

Soo convencido.

— Eu espero que sim e ao fim da noite, entrego a sua parte.


Assinto enquanto o funcionário se aproxima e nos entrega nossas

bebidas, assim que tenho o copo em minha mão, trago-o até meus lábios

e deixo que a bebida amarga desça pela minha garganta e aqueça o meu

corpo.

— Essa é a única entrada?

Faço um gesto na direção do alçapão.

— Sim, espero que não seja claustrofóbico.

Scott me provoca e sorrio.

— Não, apenas estou pensando que alguém poderia invadir o

lugar e matar todos os presentes.

— Você tem uma mente maligna.

Scott não está me repreendendo e nem está assustado.

— Qual organização é responsável pelo lutador?

Mudo de assunto e Scott me responde, conversamos sobre o


lutador e a organização rival pelos próximos minutos, até que tenha que

me retirar para começar a me preparar para a luta.

Scott chama um dos seus homens e o ordena que me leva até a


sala de preparação.

— Logo David chega e irá até você.


Scott está se referindo ao cara que tem sido meu treinador desde
que cheguei em Tuscaloosa.

— Quebre a perna. — Ergo minhas sobrancelhas para Will. — É


como as pessoas desejam boa sorte no teatro.

De onde ele tira essas coisas?

— Não estamos no teatro.

— O que fazemos de certa forma é um espetáculo.

Isso ele tem razão, mas de qualquer forma, balanço a cabeça e


sigo o homem de Scott que me guia até uma sala equipada com um sofá,

uma mesa com comida, água e energético, existe uma espécie de


penteadeira ao canto com os protetores, capas e kits de primeiros

socorros.

O homem fecha a porta e me deixa sozinho, sento-me no sofá e


encaro o teto até que David abre a porta e entra na sala.

— Boa noite, você já decidiu como quer ser chamado?

— Ainda não, na verdade acho que quero esperar para saber


como irão começar a me chamar.

No mundo da luta sempre irão encontrar um apelido para você,

pode demorar, mas acontece, em Montgomery era conhecido como

bloody[3], mas acho que está no momento de uma nova era.


— Ok, vamos começar a preparação, Gavin.

Deixo o sofá e iniciamos a preparação. Primeiro, troco minha


roupa por um calção preto, coloco o protetor genital e em seguida, David

me ajuda a enfaixar minhas mãos. Não usamos luvas, mas enfaixamos


para que a luta se prolongue por mais tempo, se quebramos algum osso

da mão com certeza o tempo será reduzido.

David é tão fechado quanto eu e quase não conversamos. Por fim,


coloca a capa sobre meus ombros, ela é preta e com as asas de um anjo

manchadas de sangue estampadas nas costas. David para a minha frente e


sorri.

— Não preciso dizer o que você deve fazer.

Não, ele não precisa. Lutar é o que eu faço de melhor.

— Não, você não precisa.

Assente.

— Só precisamos esperar pelo sinal que nos indique que podemos

sair.

— Ok.

Enquanto espero, caminho de um lado para outro distribuindo

socos no ar, David me ameaça algumas vezes e treino meu reflexo.

— Você é um monstro, Gavin.


Elogia-me e sorrio. Ele não viu nada.

Finalmente, alguém bate na porta e é o sinal para sabermos que


está na hora. Meu momento chegou! Então coloco o protetor bucal, o

capuz da capa e deixo a sala, David caminha ao meu lado e caminhamos


pelo corredor. Posso ouvir muitas vozes e muito barulho.

Dobramos o corredor e o espaço principal fica visível. O lugar

está praticamente lotado, as pessoas estão aglomeradas ao redor do


ringue, ele é um pouco mais baixo que o nível do chão, permitindo uma

visão melhor de quem está ao redor. Somos um espetáculo.

Em um microfone, o mestre de cerimônia anuncia meu nome, em


seguida o do meu oponente. Ele está no corredor oposto ao meu. Ergo

meus olhos e me deparo com um cara um pouco mais baixo que eu e um


mais musculoso, não olhei nenhuma das suas lutas e nenhuma foto para
deixar tudo mais emocionante.

Seu olhar encontra o meu e me encara com raiva, eu somente o

encaro sem demostrar nenhuma reação. É bom que ele saiba que nada me
desestabiliza.

Gritos ecoam a nossa volta conforme andamos e o chamam de


Hulk, ele realmente parece com o Hulk, só que quando ele está em sua

forma humana. Inofensivo.


Tiro a capa, a entrego para David que fica junto com a plateia e

subo no ringue. Eu me posiciono ao lado do juiz, o outro lutador do outro


lado, então olho ao redor, estão me encarando com curiosidade, tentando

adivinhar do que sou capaz.

Algumas pessoas usam relógios caros e joias, indicando que


algumas delas são abastadas financeiramente, a maioria são homens,

porém há algumas mulheres. Estou prestes a acabar com a minha


inspeção quando meu olhar encontra o seu.

O que diabos ela está fazendo aqui?

Um sorrisinho surge em seu rosto quando se dá conta de que


estou a encarando. Kim está usando um moletom preto com capuz sobre

sua cabeça, e óculos escuros, ela está tentando não ser reconhecida, o que
é bem comum em lugar como esse. Porém, eu a reconheço. Ela está toda

de preto e a cor fica bem nela.

Apesar de ter encontrado com Kim nas aulas, não voltamos a


interagir, ela apenas me encarou durante a semana como se estivesse
prestes a aprontar algo.

Ela estar aqui aumenta o hormônio responsável pela felicidade

em meu corpo. Há algo extremamente divertido em brincar de cão e gato


com a bonequinha mimada. Aumenta a sessão de prazer em meu peito e
faz com que me sinta vivo.

Ela não sabe com quem está brincando, porém eu sei do que sou
capaz.

O juiz faz as apresentações, desvio o foco de Kim e me concentro

na luta. Meu corpo clama por ação, meu coração acelera e quando fico de
frente para o meu adversário, tudo que consigo pensar é em como irei o

derrotar.

Enfim, é dado o comando para o início, o juiz se afasta e


podemos começar. Por alguns segundos, apenas nos encaramos enquanto

damos passos para o lado. Ele está tentando me analisar, assim como eu
estou fazendo com ele. Descubro que o lado esquerdo é seu ponto fraco,
principalmente seu ombro e tornozelo, ele tem resistência a dor,

entretanto irá tentar proteger seu rosto, ele é prepotente e, provavelmente,


baixa a guarda quando acredita estar no controle.

Lutar não é só corporal, e também descobrir tudo que alguém

esconde em seus olhos.

Não avanço, porque quero que ele faça isso e não me decepciona.

Ele parte pra cima e gritos ecoam ao meu redor. Fujo dos socos, inclino
meu corpo para o lado, defendo-me com as minhas mãos e no momento
certo deixo que ele atinja meu rosto. Não sinto dor, porque estou
totalmente concentrado.

Como previ, ele baixa a guarda, então revido o golpe, acerto a

lateral do seu rosto e dou alguns passos em frente o forçando a recuar.


Ele tenta se defender dos socos que desfiro, mas não abro margem. Os

gritos aumentam, a minha adrenalina também, tudo que consigo pensar é


em vencer.

Em certo momento, consegue recobrar o controle e tenta me

acertar, meu reflexo está ótimo e somente acerta o ar.

O juiz percebe que estou com muita vantagem e interrompe a

luta, afinal temos que prolongar o momento. Estou em êxtase.

Voltamos a posição inicial e dessa vez, sou eu que toma a


iniciativa. Mais uma série de socos e o acerto também com alguns chutes,

ele tenta me derrubar, mas é claro que não consegue. Por dentro, eu estou
sorrindo, principalmente, porque ele está perdendo o controle.

Sigo o massacrando e o juiz interrompe mais duas vezes. Eu olho


para ele enquanto iniciamos pela quarta vez e seu supercílio está aberto,
seu olho esquerdo inchado e seus lábios cortados.

Está na hora de acabar com essa luta.


Parto para cima, soco seu rosto, chuto seu tornozelo esquerdo e o
arrasto para o chão, ele cai e continuo desferindo golpes. Tudo que

consigo pensar é em vencer. Não ligo para seu rosto desfigurado e para
sua dor.

Antes que ele desmaie, o juiz me declara vencedor. Afasto-me do


Hulk, tiro o protetor bocal e me viro para a plateia. Procuro por ela e
sorrio assim que a encontro.

Eu venci uma luta e o meu próximo combate será descobrir o


porquê a bonequinha mimada está aqui.
Kim

Seus olhos estão em mim e ele me encara como se estivesse


prestes a me atormentar, a se transformar em meu pior pesadelo. Talvez

devesse estar assustada, mas não estou. Não tenho medo de Gavin. Tudo
que ele me desafia é a vencer dele.

— Isso é um pouco demais até para mim.

Viro-me para o lado e Dallas tem uma expressão de repulsa em

seu rosto.

— Você está enjoada?


Ela faz uma careta e enruga seu nariz.

— Eu odeio sangue.

Um sorriso debochado surge em meu rosto.

— Quem diria que Dallas Cooper tem nojinho de sangue.

Dallas continua como uma expressão nada agradável em seu rosto


e eu volto a olhar em frente. Gavin não está mais no ringue.

— Para onde Gavin foi?

— A luta acabou, ele deve ter ido embora. — Algo me diz que ele

ainda não foi embora, a forma como ele estava me encarando indica que

ele virá atrás de mim e eu não vou fugir. — Aliás, nós devemos ir
embora.

Balanço a cabeça, não podemos ir embora, ainda não.

— Acho que devemos ficar para uma bebida.

— O que diabos você pretende prolongando nosso tempo aqui?

Ela soa indignada. Eu dou um passo em frente e me distancio do

lugar onde estamos. Não precisamos nos manter tão perto do ringue, já

que a luta acabou.

— Não é você gosta dessa coisa de ilegalidade?

Sussurro para Dallas que anda ao meu lado com seu braço

enganchado no meu.
— Não desse jeito, nós poderíamos ser presas se fôssemos pegas

aqui.

Dallas faz tantas coisas que a fariam ir para uma prisão

— Você desvia dinheiro das contas das pessoas e está com medo

de ser presa aqui?

Mais uma vez sussurro para que apenas ela escute, ninguém

precisa saber que minha amiga é quase uma criminosa.

— É totalmente diferente, Kim.

Nós vamos até um lugar mais vazio ao fundo do local, nós


ficamos com as costas para uma parede e olho ao redor procurando por

Gavin. Ele realmente irá vir atrás de mim?

— Por que você está esperando por ele?

— Não estou esperando por ninguém.

Respondo enquanto continuo percorrendo o espaço com meus

olhos. Gavin aparentemente não está aqui, talvez tenha sumido em algum

dos corredores espalhados pelo local.

— Não minta para mim, Kim.

Por que estou esperando por ele? Refaço a pergunta de Dallas a

mim mesma e chego à conclusão de que só tem um motivo para estar

esperando por Gavin. Eu quero confrontá-lo, vou dizer a ele que sei do
seu segredinho sujo, eu anseio por vencer mais uma vez. Para provar que

estou no controle.

— Ele nos viu aqui e irá me procurar.

— Kim, eu sei que você não mede as consequências, mas essas

pessoas são piores do que nós duas juntas, elas provavelmente nos

matariam e jogariam nossos corpos em um terreno abandonado.

Dallas sussurra as últimas palavras, há algo estranho na maneira

que está agindo. Encaro minha amiga e ela está olhando ao redor, seus
olhos denunciam que está preocupada e não demoro a entender o que está

acontecendo.

— Droga, você encontrou alguém.

Provavelmente, alguém que ela já roubou. Dallas suspira e se vira

para mim.

— Infelizmente.

— Ele reconheceu você?

Balança a cabeça.

— Acho que não.

Se ela roubou alguém que está nesse lugar, é uma péssima ideia

continuarmos aqui.

— Vamos embora.
Dallas suspira aliviada e caminhamos na direção da saída. Há

algumas pessoas conhecidas, garotos que estudam na universidade,

alguns até mesmo são atletas e populares, outros são os garotos

problemas, aqueles que ou estão envolvidos com gangues, ou

consumindo drogas ilegais fornecidas pelas organizações.

Para nossa sorte, ninguém nos reconhece. O único que sabe é o

amigo de Dallas, um encrenqueiro que a ajuda com suas trapaças, ele que

nos conseguiu os convites.

Subimos a escada estreita, Dallas está a minha frente e assim

como fomos informadas, soca a abertura que está fechada, esse é o sinal

para indicar que queremos sair.

Alguém abre e nos ajuda a subir. Um cara que está usando roupas

pretas e não olha em nossos olhos. Ameaçador e juro que posso ver o

cano de uma arma saindo da sua cintura.

— O número de vocês?

— 32.

Dallas responde e outro cara, tão apavorante quanto o outro, pega

nossas bolsas e nossos pertences no armário 32. Não é permitido entrar

com bolsas e celulares, único item liberado é dinheiro. Revistas são feitas

e a única mulher entre os homens é responsável por revistar as mulheres,


ela é tão mal-encarada quanto os caras. Olho ao redor procurando por ela

e não a encontro.

Existe homens espalhados pela falsa loja, alguns olhando a janela,

outros na porta, o responsável por abrir e fechar o alçapão e o que está

nos armários. Eles são extremamente organizados.

Assim que o cara nos entrega nossas bolsas, Dallas e eu

caminhamos para a saída. Não trocamos nenhuma palavra enquanto

deixamos a loja e seguimos pelo corredor. O lugar é escuro e tem um

clima estranho, é como se qualquer momento algo fosse acontecer.

Nós saímos do prédio e informamos o mesmo número 32 para

outro homem, ele fala o número por um walkie talkie e manda que

aguardemos. Dalas e eu esperamos na calçada alguém trazer meu carro.

Junto com os convites que o contato de Dallas conseguiu veio um

papel com as informações e diretrizes do lugar. Como a proibição de

celulares, a exigência de roupas pretas e sobre os carros. O carro é levado

até um lugar por um dos colaboradores para ser mantido a descrição e ao

fim do evento, quando solicitamos, ele é trazido até nós.

Todos os carros devem estar nesse lugar, porque a rua está vazia e

sem nenhum veículo.


Finalmente, meu carro para a nossa frente, um homem sai de trás

do volante, aproxima-se e me entrega a chave.

— Obrigada.

Dallas agradece, eu simplesmente sigo até o meu lugar, espero


minha amiga ocupar o banco ao meu lado e dirijo para longe dessa

espelunca. Nunca me imaginei em um lugar como esse. O interior no

subsolo até parece limpinho, mas o exterior? Horrível e decadente. A

primeira coisa que irei fazer é tomar um banho e talvez jogue as roupas
que usei no lixo.

— Eu juro que me senti no próprio filme do poderoso chefão.

A voz de Dallas interrompe meus pensamentos e faço uma careta.

— Acho que o clube da luta seria mais apropriado.

Nunca assisti nenhum dos filmes, porém posso imaginar do que


eles se tratam.

— O que você irá fazer agora que descobriu que Gavin luta
clandestinamente?

Dallas muda de assunto e sorrio com sua pergunta, existe algumas

possibilidades ecoando em minha mente e gosto de todas.

— Usar isso a meu favor, talvez conte para a professora

responsável por nos auxiliar no processo de admissão nas faculdades de


direito, talvez espalhar pela universidade o que ele faz, ou as duas
opções.

Satisfação passeia em meu peito. Gavin me desafiou e vou vencê-


lo da melhor forma possível. Ninguém pode me controlar, ou me parar.

— Você é tão terrível, Kim.

Não há repreensão na voz de Dallas e apenas dou de ombros.

— Ninguém me ameaça. — Cruzo um sinal vermelho e acelero.


— Ninguém pode me vencer.

Dirijo acima do limite de velocidade, porque não há ninguém nas

ruas e porque posso. Algumas vezes, simplesmente devemos fazer o que


queremos, sem motivos, sem escrúpulos, sem limites.

— O que você não pode negar é que ele é gostoso.

A frase de Dallas faz com que me recorde de Gavin no ringue,

apenas de calção. As tatuagens e o abdômen escupido à mostra. A


expressão concentrada e de quem está prestes a destruir tudo ao seu
redor. Obsessivo, ameaçador e cruel.

Sem querer imagino como deve ser a sua fúria na cama, como

deve ser sentir suas mãos pelo meu corpo, afinal sexo é uma ótima
maneira de extravasar, assim como lutar. Ele deve ser bruto, do tipo que

puxa seus cabelos e faz com que se submeta a ele.


Eu gosto das imagens que surgem em minha mente.

— Em que você está pensando? — A voz da Dallas infiltra as


imagens criadas em minha mente e me dou conta em que estava

pensando. Porra! — Kim?

Dallas me chama e aperto a direção com força.

— Em nada.

Soo mais rude do que queria e é claro que Dallas percebe que

algo está me incomodando.

— Claramente, você está pensando em algo. — Não a respondo,


porque não tenho nenhuma desculpa. — Ok, vamos fingir que não estava
pensando no garoto problema nu em sua cama.

— Droga, Dallas. — Repreendo-a e ela ri.

— Você é mesmo uma vadia, Kim.

Sigo em silêncio e Dallas não volta a me atormentar. Nós

chegamos em casa e cada uma segue para seu quarto. Eu vou para o
banheiro, tiro minhas roupas e entro embaixo do chuveiro.

Os últimos acontecimentos continuam a repetir em minha mente.


O lugar, a luta, as pessoas ao redor... e Gavin. É a primeira vez que fui a

um lugar como esse e não me assusta. Deveria, mas não o faz.


Depois de vivenciar alguns pesadelos, outros se tornam, apenas

sonhos.

Enquanto ensaboo meu corpo e tiro a sujeira do lugar que

impregnou em mim, relembro os detalhes da luta e mais uma vez, Gavin


surge em minha mente. Por que algo tão brutal parece sexy? Deve ser a

escuridão que habita em mim. Sorrio com a ironia de tudo e foco na


maneira que vou usar o fato de Gavin fazer algo ilegal contra ele.

Satisfação mais uma vez ecoa em meu peito e ainda há um sorriso

em meu rosto quando desligo o chuveiro e deixo o box. Visto meu


roupão e saio do banheiro patenteando meu cabelo.

Estou olhando em frente e de repente encontro uma sombra

sentada em minha cama. Um grito escapa entre meus lábios e a escova


cai da minha mão.

Por alguns segundos, é como se estivesse fora do meu corpo, é


como se fosse uma telespectadora da minha vida. Meu coração parece

prestes a explodir e todos os meus músculos estão tremendo.

— Boa noite, bonequinha.

Pisco algumas vezes e de repente percebo o que está acontecendo,


melhor quem está aqui.

— Como você entrou aqui?


Odeio que minha voz saia tremida, mas não estava esperando por

isso. Caralho, Gavin invadiu a minha casa!

— Surpresa!?

Ele fica em pé e apenas sigo o observando, odeio estar em


desvantagem. Gavin está no controle e isso me irrita profundamente.

— Você está na minha casa, estava sentado na minha cama... —


Sarcasmo escorre entre meus lábios. — É claro que estou surpresa.

Dou um passo para trás e ele um frente. Encara-me furioso e não

desvio meus olhos dos seus.

— Foi você que invadiu o meu espaço primeiro.

É claro que é uma retaliação por eu ter ido a sua luta. Sorrio e

assumo o controle das minhas emoções. Não preciso temer, eu estou na


minha casa e posso gritar.

— Estava em um lugar público. — Meu sorriso amplia. — Ilegal,

mas aberto a qualquer pessoa com convite.

Dou de ombros e o encaro vitoriosa.

— E eu tinha um convite.

Gavin continua vindo em minha direção e como reflexo dou

passos para trás, até que tenho as costas contra a parede e ele a minha
frente. Assim como da outra vez, ele está me encurralando, tentando me
assustar.

— Tentando fugir, Kim.

Toca a mecha molhada do meu cabelo, inclina a cabeça e desce o


olhar pelo meu corpo. O calor ao nosso redor aumenta e minha

respiração se altera. E não é medo, é algo bem diferente. Volta a encarar


meu rosto e sorrio irônica.

Gavin não é uma boa pessoa, ele é perigoso, mas não me importo

se ele soca a cara dos outros sem remorso. Não me importo com que ele é
capaz de fazer.

— Não, eu nunca fujo, Gavin.


Gavin

Kim me encara sem medo, ela não tem medo de estar em um


quarto comigo e a admiro pela coragem.

— Eu estou em seu quarto, somos apenas você e eu. — Levo

minha mão até seu pescoço e toco a sua pele levemente com a ponta do

meu dedo. — Eu poderia fazer muitas coisas com você.

Sua respiração está acelerada, mas não é medo, ou receio. É como

se ela desejasse saber o que estou pensando.

— Não tenho medo das suas ameaças.


Afasto minha mão do seu pescoço e a apoio na parede ao lado da

sua cabeça ao mesmo tempo que inclino meu corpo na sua direção.

— Por quê, Kim?

— Porque você não me assusta.

Continuo com meus olhos presos ao seus, decifrando cada detalhe

em suas írises verdes. A arrogância e petulância continuam presentes na

sua postura e na sua expressão. Ela segue agindo como se estivesse no


controle de tudo.

— Eu quase fiz um homem desmaiar, ele saiu com rosto


sangrando e inchado enquanto estou quase intacto, isso não te assusta?

Não demostra nenhum medo, será que é tão boa atriz? Ou ela é

tão ruim que simplesmente não sente nada.

— Não fui eu que recebeu aqueles golpes. — Sorri maliciosa e

me desafia. — Vai fazer o mesmo comigo?

Faz um beicinho inocente com seus lábios que não combina em

nada com ela.

— Eu poderia. — Continuo a encarando e ela segue com a


mesma tranquilidade. — Mas para sua sorte, eu tenho alguns princípios.

Sorrio e ela revira seus olhos.

— Patético, um garoto problema como você ter princípios.


Eu dou um passo em frente e torno o espaço entre nós mínimo.

— Algumas pessoas ainda têm princípios, bonequinha. — Mais

uma vez toco seu cabelo. — Mas você não conhece essa palavra, não é?

Ela acabou de sair do banho, estamos em seu quarto e seu cheiro

está por toda parte. Ele é tentador, assim como ela. Pena que Kim é uma

vadia sem escrúpulo.

— Princípios são para os fracos. — Seus olhos brilham e mais

uma vez me desafia. — Como você.

Kim quer que eu perca o controle, essa é à sua maneira de

declarar vitória. Ela não vai conseguir! Olho em seus olhos, deixo que a

raiva que ecoa em meu peito transpareça em meu rosto, então inclino

minha cabeça para o lado e pairo com minha boca a centímetros da sua

orelha.

— Não me tente, Kim, não me faça desejar quebrar meus

próprios princípios.

O cheiro de flores são uma tentação. Despertam meu corpo e faz

com que eu deseje a maldita da garota. Abaixo minha cabeça e meu nariz

encontra sua pele, ela parece ser macia e é um pecado estar tão perto

dela. Ou melhor, o pecado é alguém como Kim ser tão bonita.

— Não me toque.
Sua voz não me passa determinação nenhuma e sorrio.

— Você não parece muito convicta.

Olho para baixo e seu roupão está bem apertado ao redor da sua

cintura. Ele é grande o suficiente para cobrir metade das suas pernas e

não há como ter nenhum vislumbre dos seus seios, apenas sua clavícula

está exposta, porém ela recém saiu do banho, é óbvio que está nua.

— Você está vestindo alguma coisa por baixo, bonequinha?

Sua pele se arrepia ao sentir meu hálito contra sua pele. Ela me

odeia, eu a desprezo e mesmo assim meu corpo não se incomodaria se

me afundasse em seu interior. Faria ela gritar meu nome e a ideia de ter

uma bonequinha mimada clamando o meu nome enquanto atinge o seu

orgasmo me agrada bastante.

O sorriso em meu rosto amplia e levo minha mão até a faixa que
mantém seu roupão fechado.

— Aposto que se eu o abrisse, você não reclamaria. — Sua


respiração se altera e ela entrega que está excitada. Satisfação vibra em

meu peito. — Então, eu excito a bonequinha?

Ela me empurra e dou um passo para trás.

— Não me toque com suas mãos imundas.


Dou mais um passo para trás, coloco minhas mãos nos bolsos

frontais da minha calça e a encaro.

— Confessa que você está morrendo de vontade de ter minhas

mãos pelo seu corpo.

Kim se afasta da parede, traz suas mãos até a frente do seu corpo
e cruza seus braços sob seus seios, o que faz com que uma parte do

roupão caia levemente para o lado e apareça mais pele.

— Pelo jeito evitar assédio não está em seus princípios.

Seus olhos refletem sua raiva, determinação e desejo por controle.

Por que ela gosta tanto de controle? Eu não faço a mínima ideia e no
momento não quero descobrir. Os porquês dessa garota não me

interessam.

— Na verdade, eu não preciso assediar ninguém, as garotas vêm

até mim sem esforço algum da minha parte.

Estreita seus olhos.

— Algumas pessoas realmente se contentam com pouco.

Faz uma careta indicando nojo e eu continuo sorrindo.

— Pode continuar mentindo, Kim, mas eu tenho certeza de que se

a tocasse, você gozaria chamando meu nome e implorando por mais, eu

faria você gritar e implorar por mais.


Balança a cabeça negando e sorri debochada.

— Eu não me relaciono com lixos como você.

A cada palavra que deixa sua boca ela tenta me derrubar e não

consegue. É preciso muito mais que isso para me afetar.

— Não se preocupe, não irei tocar você, porque bocetas é o que

não falta no mundo.

Minhas palavras também não a abalam, não esperava que

fizessem, aparentemente Kim é tão resistente quanto eu, porém se eu

quiser, descobrirei o que é capaz de tirar seu mundo de órbita.

— Ótimo e saia do meu quarto, você está impregnando o meu

espaço com sua presença.

Ela faz um sinal com a mão na direção da porta e sigo exatamente

onde estou. Chega de conversinha, eu invadi sua casa por um motivo e

não foi para ficar perdendo meu tempo com Kim.

— O que você pretendia indo até lá?

Sorri e não gosto da forma como me encara. É como se ela

estivesse olhando para seu oponente e prestes a desferir um golpe final.

— Eu soube que você lutava de forma ilegal e quis conferir.

Assim como supôs ela foi até lá por mim.

— E por qual motivo isso te interessa?


Não há mais o sorriso em meu rosto e mantenho qualquer emoção

longe dos meus olhos. Kim não pode ser capaz de entender o que estou

pensando e muito menos sentindo.

— Isso que você faz é algo ilegal, Gavin.

— O que você quer?

Ela não me responde, apenas vira-se e caminha para longe. Eu a


acompanho com meu olhar. Caminha pelo seu quarto enquanto toca as

abordas dos seus móveis com seus dedos.

— Eu não quero nada, mas você deve querer silêncio, não é!? —
Caralho! Não gosto do rumo dos seus pensamentos. — O que acontece

se todos souberem que você luta cladestinamente, Gavin? O que acontece


se souberem que você faz parte de uma organização criminosa?

Então, esse é o seu plano? Eu tenho que pensar algo rápido,


porque realmente não quero que ninguém saiba sobre as lutas, não

porque quero me esconder, mas porque tenho objetivos.

— Eu se fosse você não faria isso. — Caminho até ela e a rondo,


andando em torno dela, ela me fita e travamos uma batalha enquanto nos

encaramos. — Não faço parte de uma organização criminosa, apenas luto


por ela, mas posso te garantir que eles não querem que nenhuma

patricinha metida a besta os coloque em evidência.


Sussurro de forma ameaçadora as últimas palavras e Kim estreita
seus olhos.

— Você está me ameaçando?

Se Kim espalhar pela universidade sobre as lutas, os Blood


Angels não ficaram felizes, porque pode os colocar em evidência, as lutas

clandestinas não são a única coisa ilegal que eles fazem e eles não
precisam da polícia os investigando.

— Não, eu estou te avisando que algo muito ruim irá acontecer

com você se decidir me prejudicar. — Paro e a observo. — Não serei o


único a perder, Kimberly.

Sorri e dá de ombros.

— Eu não tenho medo, Gavin.

— Deveria, porque eles não ligam se você é a maldita capitã do


time de cheerleaders, ou se você conhece metade desse Campus. — Uma

vozinha sussurra em minha mente que se Kim abrir a sua maldita boca,
estarei extremamente encrencado. — Eles não são os malditos

universitários idiotas com quem você que está acostumada a andar.

Por um segundo, enxergo em seus olhos um certo receio. Espero

que seja o suficiente para detê-la.


— Não existe nada que você me diga que me impeça de fazer o
que irei fazer, Gavin.

Fecho minhas mãos em punho e vou até Kim, paro a sua frente e

abaixo minha cabeça até minha testa estar quase encostada na sua.

— Não ouse abrir sua maldita boca, Kim.

Ameaço-o e ela olha em meus olhos como se estivesse decidida a

pagar para ver.

— O que você irá fazer?

Levo minha mão até seu cabelo e o enrolo ao redor dos meus
dedos. Faço com que ela continue me encarando, porém tomo cuidado
para não puxar os fios e ela simplesmente sorri.

— Não pague para ver, Kim, não me provoque.

Antes que ela possa falar algo, solto seu cabelo e me viro ficando

de costas. Eu preciso sair daqui antes que perca o meu maldito controle,
antes que perca todos os princípios que ainda restam em minha alma.

Eu vou até a porta e estou com a mão na maçaneta quando escuto


a sua voz.

— Você acha que pode me desafiar, Gavin, mas você não pode.

— Isso não é um dos seus malditos joguinhos, Kim.


Abro a porta e deixo o seu quarto. Essa conversa foi pior do que

imaginei que seria, porque Kim é uma maldita arrogante que realmente
acredita que pode tudo. Ela não tem noção do que está pretendo fazer, o

pior é que irá prejudicar todos meus planos, me arrastar junto com seus
joguinhos perversos.

Isso não irá ficar assim.

Desço as escadas da sua casa sem preocupação em ser pego, não


ligo se uma das suas amigas me encontrar. Eu vou até a porta que

arrombei e caminho até meu carro estacionado logo em frente.

Chegar na sua casa foi fácil, porque Will sabia onde é,


aparentemente Kim gosta de dar festinhas. Tudo estava escurando

indicando que todas deveriam estar em seus quartos, se não estivessem


não me importaria de fazer uma cena. Arrombar o lugar também foi fácil,
fechadura sem segurança nenhuma.

O mais complicado foi encontrar qual a porta era a do seu quarto,

porém sabia qual seria pelo cheiro.

Entro em meu carro e repasso a nossa conversa. Porra! Em


nenhum momento ela parecia disposta a não arriscar, o que eu preciso
fazer para fazê-la ficar quieta?
O que me preocupa não são as consequências para Kim, o que me

preocupa são as consequências para mim. Não ligo se ela pode ser
ameaçada, ou o que Scott fará com ela, eu ligo o que irá acontecer sobre

minha admissão na faculdade de direito.

Eu tenho um objetivo e por ele sou capaz de qualquer coisa.

O que faria Kim recuar? Aparentemente ela é alguém intocável,


mas todos temos segredos, todos temos algo que nos atormenta, e eu vou

descobrir qual é o dela.


Kim

Observo Gavin deixar meu quarto e deveria ir atrás dele, porque


ele está sozinho na minha casa e eu sei que ele não é confiável. E se ele

roubar algo? Porém fico exatamente onde eu estou, ele iria se vangloriar
se fosse atrás dele. Foda-se, não me importo se levar algo.

Assim que fecha a porta, eu vou até a janela e o observo entrar


em seu carro. É um carro prata e velho. Acho que o crime não compensa.

O pensamento faz que com que um sorriso surja em meu rosto.

Gavin dirige para longe da minha casa e fico um tempo olhando

para a rua escura. Ele está certo quando diz que posso ser ameaçada, não
sou tão idiota e sei que isso pode acontecer, nem o fato do meu pai ser

um dos mais temidos juízes do país me ajudaria, aliás, só me prejudicaria

ainda mais.

Eu preciso ser cautelosa e inteligente. Se eu contasse para

professora Johnson, ela iria comunicar a polícia? Ela é a responsável por

nos auxiliar no processo de admissão na faculdade de direito e não é um

exemplo de ser humano, ela é elitista, esnobe e prepotente. Porém ela me


adora, talvez se pedir descrição, apenas tenha uma conversa com Gavin,

vê-lo encrencado com ela já seria o suficiente.

O que ele seria capaz de fazer comigo? Ele com certeza não é
alguém com um bom caráter, mas quais são exatamente seus limites? Até

onde ele iria?

Saber que ele está envolvido com organizações criminosas

deveriam me afastar, ou me causar medo, porém pelo contrário, são de


certa forma excitante. Como se fosse tudo que eu precisasse para dar uma

movimentada em minha vida.

Parece que encontrei disposto a me desafiar, embora saiba que ele


não pode me vencer, as coisas se tornam mais eletrizantes. Finalmente,

alguém que usa as mesmas armas que eu.


Eu posso saber que ao fim vencerei, entretanto o trajeto até a

vitória é emocionante.

Afasto-me da janela e deixo para continuar pensando no que

exatamente farei amanhã. Seco meu cabelo, visto um pijama e me deito

na cama. Cubro-me com meu edredom, fecho meus olhos, porém não

consigo desligar a minha mente. Recordo-me de Gavin aqui, das suas

palavras ameaçadoras, do seu olhar frio e sem emoção. Ele parecia um

deus do submundo pronto para aterrorizar.

Não sei em que momento enfim consigo pegar no sono, mas é

tarde. Acordo no final da manhã e a primeira coisa que faço é pegar meu

celular, conferir minhas redes sociais e minhas mensagens. Não há


nenhuma fofoca e nenhum fato interessante, então deixo minha cama,

escovo meus dentes e desço para o primeiro andar.

Encontro Dallas e Nancy na cozinha. Dallas está em pé ao lado


do balcão e esperando a cafeteira preparar o seu café e Nancy está

sentada no banco de frente para a ilha e almoçando.

— Você já está almoçando?

Ela dá de ombros e sorri enquanto me aproximo e me sento a sua


frente.

— Nem todo mundo acorda tarde como vocês duas.


Faço uma careta, olho para Dallas e aponto meu dedo em sua

direção.

— Eu também quero café.

Dallas apenas assente.

— Onde vocês estavam ontem à noite?

Volto a encarar Nancy

— Em um lugar que você iria odiar.

Nancy não é muito adapta a violência.

— Me senti deixada de lado. — Faz um beicinho. — Queria ter

ido junto.

— Você teria detestado, Nancy.

Dallas reforça o que acabei de falar enquanto coloca o café em

duas xícaras.

— O que vocês irão fazer hoje?

Não parece muito satisfeita, mas acaba mudando de assunto.

— Correr a tarde e ir para alguma festa a noite.

Respondo-a antes que ela desista de seguir em frente e peça mais

detalhes sobre o que estávamos fazendo ontem à noite.

— Eu amo início de semestres e as muitas festas ocorrendo.


Dallas exclama anima. Ela vem até mim, entrega-me uma xícara e

se senta ao meu lado. Decidimos em que festa vamos e quem irá dirigir.

Conversamos sobre bebidas, festas e garotos.

Nancy termina de almoçar, limpa o que sujou e sobe para seu

quarto, segundo ela acordou cedo e precisa dormir. Dallas e eu ficamos

sozinhas e aproveito para tirar algumas dúvidas com a minha amiga.

— Você acredita que os caras responsáveis pelas lutas

clandestinas e pelo lugar que fomos ontem são perigosos?

Viro-me para o lado e Dallas tem a testa franzida.

— Por que a pergunta?

Mordo meu lábio inferior e demoro alguns segundos ponderando

se devo ou não contar que nossa casa foi invadida ontem à noite. Por fim

decido contar, não é como se Dallas fosse ficar com medo.

— Ontem Gavin esteve aqui.

Ergue suas sobrancelhas.

— Por que não ouvi ninguém apertando a campainha?

Sorrio maliciosa.

— Ele não apertou a campainha, ele invadiu a casa.

Como suspeitei, Dallas não demostra medo, apenas surpresa.


— Ele queria saber o porquê estava na luta? — Assinto. — Ele te

ameaçou?

— Tentou.

Dou de ombros e faço um breve resumo do nosso encontro.

Dallas olha em frente e apoia os braços sobre o balcão. Ela não demostra

estar preocupada, porém, não está se divertindo totalmente com o fato de

eu estar sendo ameaçada.

— Apesar de adorar hackear a conta das pessoas e ser

extremamente perigoso, nunca estive ligada a uma organização

criminosa, mas acho que sim eles seriam capazes de muitas coisas para

silenciarem alguém.

Faço uma careta.

— Acho melhor eu ir com calma no exposed. — Dallas ri e

assente — Meu primeiro passo será contar para algumas pessoas

estratégicas, quem sabe consiga espalhar o boato sem que associem a

mim.

— É uma ideia, mas Gavin saberá que foi você.

— Eu sei e essa é a melhor parte.

Dallas apesar de rir balança a cabeça de um lado para o outro.


— Você está ficando maluca e obcecada por esse garoto

problema.

— Não, eu apenas gosto de brincar com ele.

Dalla olha para mim e aponta o seu dedo em minha direção.

— Maluca.

Segue rindo e me recordo de algo que esqueci de perguntar a ela

ontem à noite.

— Quem você encontrou ontem à noite?

O sorriso some do seu rosto e demora alguns segundos para me


responder.

— O cara das férias, eu só não tenho certeza se ele estava apenas


assistindo a luta, ou estava envolvido na organização.

Ele estar envolvido na organização não parece ser uma boa coisa

e pela expressão no rosto de Dallas, ela concorda comigo.

— Você acha que ele é algum criminoso?

— Não sei quando o conheci, procurei pelo nome dele nos bancos

de dados e não encontrei nenhuma informação que indicasse estar


envolvido com coisas ilícitas, mas ele pode ter um nome falso.

— Espero que ele só seja alguém interessado em lutas.


Dallas concorda comigo e mudamos de assunto. Nós ficamos um
tempo na cozinha, eu faço uma torrada e após comer, subo até meu

quarto, troco de roupa, escovo meus dentes e saio para correr.

Corro nas ruas ao redor e deixo que o vento atinja meu rosto. Eu

volto para casa depois de correr por quarenta e cinco minutos, eu almoço
e subo para meu quarto, fico assistindo televisão o restante do dia até

descer para comer antes de ir para a festa. Eu encontro Nancy e Dallas e


ficamos jantando e conversando, perto do horário da festa, nos separamos

e volto para o meu quarto, vou para o banheiro, tomo um banho e visto
um roupão para escolher uma roupa.

Eu vou para o pequeno closet que existe no quarto e paro de

frente para o lugar onde ficam os meus vestidos. Amo o fato de estarmos
no verão e poder usar vestidos. Escolho um rosa de alcinha com saia

rodada e bojo que valoriza meus seios. Para calçar em meus pés escolho
uma rasteirinha branca. Deixo meu cabelo solto e passo apenas um pouco

de maquiagem, não quero nada exagerado, porque é a festa na casa de um


dos jogadores de hóquei.

Nancy é quem dirigi. Nós chegamos e como sempre é um


acontecimento, assim que entramos na casa em que a festa está

acontecendo, as pessoas olham em nossa direção, algumas se aproximam


e nos bajulam, respondo quem é interessante e descarto quem não passa
de puxa-saco, querendo ser notado por mim. Não sou estepe social para
ninguém!

Dallas não gosta muito da atenção e se distancia, ficamos Nancy e

eu, Nancy ama a bajulação, eu gosto apenas porque significa que tudo
está conforme o esperado, significa que sou vista como alguém influente.

Depois de alguns minutos, o foco em torno de nós duas diminui e


conseguimos ir até o jardim, onde as bebidas estão sendo servidas, nós

pegamos duas cervejas e socializamos com mais algumas pessoas.

Estamos rindo e nos divertindo até que algo chama minha


atenção. Gavin cruza a porta que liga o jardim e o interior da casa. Ele

está com o mesmo cara que estava com ele na outra festa, um cara que
não sei o nome, já o vi outras vezes, porém nunca fomos apresentados,
ele deve ser alguém insignificante assim como Gavin.

Observo Gavin e não há nenhum vestígio da luta no dia anterior,

nenhum olho inchado, ou lábio cortado, aliás, nem ontem, ele parecia ter
apanhado de alguém.

Seu olhar encontra o meu e ergue suas sobrancelhas, sorrio de


modo diabólico e trago a cerveja até meus lábios.

— Vocês são amigos?


Viro-me para o lado e uma garota que faz algumas matérias

comigo se aproxima.

— Não, eu estou tentando descobrir quem ele é.

Ela sorri satisfeita.

— Eu sei algumas coisas sobre ele.

Agora ela obtém a minha atenção.

— O que você sabe sobre ele?

— Ele é de Montgomery, estudava ciências políticas em uma


faculdade comunitária e pegou transferência nesse semestre para UA.

Assim como imaginei, ele é pobre, ele deve ter algum tipo de

bolsa, ou ser financiado pela organização criminosa responsável pelas


lutas. A cada informação Gavin fica mais em minhas mãos.

— Você sabe algo mais?

Todos sabem que amo informações e de alguma forma elas


sempre chegam até mim.

— Ele é amigo de infância de Josh.

Era por isso que ele estava aquele dia com Josh e as Estrelas do
Alabama.

— Como isso é possível? Eles são tão diferentes...


Josh é rico e influente, Gavin aparenta ser um zé ninguém.

— Não sei, mas ouvi Tessa conversando com outra garota sobre

Gavin.

— Obrigada pelas informações... — Forço minha mente até me


lembrar do seu nome. — Marie.

Seus olhos brilham com o agradecimento e sorri.

— De nada.

Ela muda de assunto, conversa sobre nossas aulas e faz um

discurso de quanto sou uma ótima cheerleaders e quanto gostaria de fazer


parte do time, apenas assinto, pronuncio palavras monossilábicas e bebo

o restante da minha cerveja. Quero escapar daqui, porém ela me foi útil e
não posso simplesmente descartá-la.

Depois de alguns minutos, enfim invento uma desculpa e me

afasto de Marie. Olho ao redor à procura de algo interessante, procuro


por Josh e seus amigos, mas não encontro. Ops, não será agora que ele

ficará sabendo que seu amiguinho é parte de uma organização


criminosa.

Volto para o interior da casa, encontro Dallas dançando e me

junto a ela. Por um momento esqueço meus deveres e objetivo, sou


somente alguém se divertindo, entretanto não dura muito tempo, porque
um arrepio sobe pelo meu corpo e ao olhar para trás, encontro Gavin
vindo até mim.

Ele está todo de preto, seus olhos escuros são ameaçadores, assim
como a expressão em seu rosto, encara-me como se estivesse prestes a

me torturar.

Não desvio o olhar do seu e meu coração acelera em meu peito.


Adrenalina percorre pelo meu sangue e calor irradia pelo meu corpo, uma

faísca diferente ocupa minha alma. É como se estivéssemos prestes a


queimar um ao outro.

Aproxima-se para ao meu lado, inclina-se alguns centímetros em

minha direção e sussurra algo para que somente eu escute. É mais uma
das suas ameaças.

— Eu posso não encostar nenhum um dedo em você, Kim, e


mesmo assim, posso quebrá-la, porque às vezes, nosso maior tormento

está em nossa mente.


Gavin

Ao acordar na segunda, eu tenho certeza de que minhas ameaças


não tiveram efeito sobre Kim, porque ao pegar meu celular me deparo

com uma mensagem de Josh.

“Que porra é essa de você estar envolvido com uma organização

criminosa, Gavin?”

Caralho! Não o respondo imediatamente. Deixo o celular sobre a

cama, levanto-me e vou para o banheiro. Qual problema dessa garota?


Inferno, eu preciso descobrir logo algo que possa usar contra ela. Achei
que o lembrete que sussurrei em seu ouvido a festa no sábado fosse o

suficiente para detê-la por um tempo, mas estava enganado.

Maldita!

Talvez precise invadir seu quarto outra vez e caçar algo, encontrar

algo que possa usar para chantageá-la, ou intimidá-la.

Saio do banheiro, visto uma roupa, arrumo minha mochila, pego

meus cadernos e por fim, sento-me na cama e respondo Josh. Não me


justifico e nem me explico, simplesmente marco de o encontrar no

horário do almoço, algumas coisas precisam ser ditas pessoalmente.

Eu vou para a cozinha, preparo algo para comer e vou para o

campus. Não tenho animação nenhuma de ir para aula, porque sei que

irei encontrar com Kim, não tenho animação nenhuma para seus

joguinhos. Meus pensamentos em relação a ela não são nenhum um

pouco agradáveis, eu tenho mais admiração pelos meus adversários que

por ela.

Chego e ocupo meu lugar ao fundo da sala, para minha sorte Kim

ainda não está aqui, porém sei exatamente no momento que ela chega. Há

uma energia que emana dela que torna sua presença perceptível, ela

ocupa o espaço e o torna seu. Algumas pessoas olham em sua direção, eu


continuo olhando em frente.
A aula não demora a iniciar e sinto seu olhar sobre mim. Sorrio

debochado, porém continuo sem olhar em sua direção. É bom saber que

a bonequinha presta a atenção em mim.

— Nós iremos nos dividir em grupos e debater sobre o sistema de

ingresso nas universidades. — Faço uma careta. Odeio trabalho em

grupo! — Vamos nos dividir nos prós e nos contras.

Para minha sorte, ela permite que escolhamos o lado que iremos

ficar, eu escolho os contras. Nós ficamos no lado esquerdo da sala e o

grupo contrário no direito, somos a minoria e é claro que Kim está do

lado dos prós.

— Preciso que cada grupo escolha um líder.

Eu vejo claramente quando o grupo contrário escolhe Kim, então

me ofereço para ser o líder do meu grupo, ninguém se opõe, a professora

aceita e quando olho para Kim ela tem as sobrancelhas erguidas, dou de

ombros e ela me encara com um olhar mortal.

Não estava a fim de entrar em seus joguinhos, entretanto meus

sentimentos acabaram de mudar.

— Vocês têm vinte minutos para se reunirem com seu grupo e

debaterem sobre os argumentos que irão utilizar.


Como não tenho alternativas, reúno-me com as pessoas que

ficaram no meu grupo e discutimos sobre quais são os melhores

argumentos. Ao fim dos vinte minutos, a professora explica como tudo


irá funcionar, os líderes irão expor a opinião do grupo e não deverão

ultrapassar cinco minutos, após a exposição dos dois lados o debato irá

começar.

— Primeiro, grupo dos contra.

Eu paro entre o meu grupo e o grupo contrário, os meus

companheiros de grupo estão em pé e o restante da turma sentado, e

caminho pelo espaço livre enquanto exponho minha opinião e

argumentos.

— O sistema de admissão em universidades é algo insano,

apresenta uma lista de problemas e variáveis falhas, alegarei as três

principais. — Faço uma pausa. — A primeira delas é que é um sistema

que contribui para desigualdade social visto que um jovem de

vulnerabilidade econômica não terá as mesmas oportunidades de um

jovem com uma condição financeira mais elevada, ele por exemplo não

pode se dedicar a atividades extraclasses, porque precisa estar

trabalhando.

Encaro o outro grupo e alguns deles me encaram surpresos,


outros demostram claramente que repudiam o que estou falando.
Mantenho meu olhar em Kim, ela me fita com tanta aversão que me faz

querer rir.

— Outra questão é o desgastante processo de se empenhar em

obter mais qualificações, são jovens com no máximo dezesseis anos se

esforçando ao máximo para obter os melhores resultados, o processo

pode desencadear problemas emocionais e até mesmo físicos.

Viro-me para a professora que claramente está surpresa e posso

apostar que é pela minha eloquência.

— E por último, o número de inscrições estava cadê vez maior, as

pessoas se inscrevem em várias faculdades, superlotando o sistema e

criando um absurdo e tóxico sistema de competição entre alunos e até

mesmo entre universidades.

Sorrio gentilmente.

— Ou seja, um sistema, ultrapassado e que precisa urgentemente

de uma reforma. — Olho ao redor da sala, encaro meus colegas, demoro-

me propositalmente em Kim, ela tem um olhar determinado de quem fará

tudo para me vencer, e por último volto a encarar a professora. — Por

enquanto é isso.

Ela assente e faz um sinal para o lado que estamos ocupando da

sala.
— Ok, obrigada, Gavin, você e seu grupo podem ocupar os

lugares de vocês.

Fazemos o que ela pede e a professora se vira para o lado direito

do espaço.

— Kim, é a sua vez.

Kim fica em pé e um sinal para seu grupo que a imita, então olha

em minha direção, deixa o seu lugar e inicia o seu discurso.

— O sistema de ingresso é uma ótima forma de garantir sua

admissão em excelentes faculdades sem o degaste de uma prova, seria

muito mais complicado se fossemos reduzidos a fazermos uma prova

com várias questões que claramente não pode abranger todos nossos

conhecimentos, pelo método utilizado somos amplamente avaliados.

Ela fala como se tivesse propriedade no assunto, vendo Kim

dessa forma consigo ver o porquê ela consegue ser tão influente na

universidade. Olha para todos, mas é em mim que mantém seus olhos por

mais tempo.

— O fato de precisarmos nos esforçar para sermos admitidos em

uma universidade nos permitir aprender que nada na vida é fácil, é

preciso ter garra e determinação.


Apesar da sua veemência, faço uma careta. Dúvida que Kim saiba

o que é esforço na vida. Ela percebe minha expressão e franze sua testa.

Eu não concordar com ela e demostrar isso em público a incomoda.

Sorrio vitorioso, existe algo totalmente satisfatório em perturbar

Kimberly.

— Além do mais, podemos enviar nossas cartas de interesse há

várias instituições, não precisamos ficar dependente de uma única

escolha.

Desvia seus olhos de mim e se vira para professora, aproveito que

está de costas para conferir seu corpo. Kim está usando uma saia branca
curta e rodada, um moletom vermelho e tênis branco, está quente e ela

está de moletom, porém não posso negar que é sexy. Suas pernas estão
expostas e analiso cada parte da sua pele, coxas torneadas que adoraria
ter ao redor da minha cintura, se ela não fosse tão insuportável.

A professora está falando com ela, mas não estou prestando a

atenção, porque pensamentos indecentes ocupam minha mente no


momento. Desvio meus olhos de Kim quando me dou conta de que estou

desejando a megera.

— Obrigada, Kim, você e sua equipe podem se sentarem. — Kim

assente e volta para seu lugar, a professora se vira para mim. — Você,
Gavin, e seus companheiros têm dois minutos para rebaterem o
argumento de Kim.

Assinto e fico em pé. Eu tenho coisas para falar.

— Kimberly e sua equipe não falaram mentiras, porém estão


agindo como se estivéssemos pedindo um sistema totalmente novo e

ainda mais arcaico que o já utilizado quando na verdade estamos


ressaltando o que precisa ser modificado. — Faço questão de estar

olhando para Kim, ela me fuzila com seus olhos e preciso me segurar
para não rir. — Continuo frisando que é um péssimo sistema que de certa

maneira sustenta as desigualdades em nosso país, mantendo jovens de


vulnerabilidade longe das universidades, além de tudo é bom salientar

que esses jovens não têm dinheiro para custear o alto custo das
universidades.

Kim bufa e revira seus olhos. É algo totalmente insano, mas ela

fica linda com raiva e uma vontade de fazê-la se render vibra em meu
peito. Kim me desafia de várias formas e nenhuma delas é de uma
maneira sadia.

— Ok, Gavin.

A professora encerra minha participação volto para o meu lugar e


espero pela retaliação de Kim, porque ela virá.
— Kim, assim como Gavin você tem dois minutos.

Kim sorri, fica em pé e para bem a minha frente. Eu jogo meu


corpo completamente para trás, apoio minhas costas contra a cadeira e

olho em seus olhos. Ela não se intimida, mas sua respiração dá uma leve
alterada, Kim está com raiva, porque não cedo a ela.

— Esse seu argumento sobre o sistema colaborar com a

desigualdade social é completamente errôneo, aliás, ele opera de modo


justo que todos possam ter as mesmas chances, só que você precisa se

esforçar, além do mais, bolsas são oferecidas para o custeio dos custos de
quem não pode arcar.

Ergue suas sobrancelhas, apoia suas mãos sobre a mesa a minha


frente e curva seu corpo em minha direção. O que era um debate em

grupo se transforma em uma batalha pessoal entre Kim e eu.

— E não podemos esquecer das universidades comunitárias que


servem de apoio para alguns jovens até eles chegarem nas universidades,

não é!?

Continua tentando me atingir e dessa vez, lembrando-me que fiz a

parte inicial do curso em uma universidade comunitária, como ela


descobriu?
— Bolsas e universidades comunitárias não deveriam ser a

solução para o problema, aliás, são apenas uma maquiagem que esconde
os reais problemas.

Respondo-a e ela faz uma careta.

— O que você está sugerindo é que as universidades abram as


portas para qualquer pessoa? Sem qualificação nenhuma? Seja um circo

repleto de aberrações e formem profissionais ridículos? O que você está


propondo é um caos, Gavin.

Fúria vibra em meu peito, fico em pé, assim como ela espalmo

minhas mãos sobre a mesa e me inclino em sua direção. Meu olhar está
preso ao seu e nenhum de nós dois cede. É como se todos tivessem

sumido da sala e fossemos apenas Kim e eu.

— Devemos manter o sistema, porque prioriza a classe mais alta,

não é? Mantém os jovens sem poder aquisito à mercê de pessoas


esnobes, corruptas e sem caráter.

Apesar da fúria em meu peito, minha voz está controlada, não

deixo transparecer o quanto o assunto me irrita.

— Esses jovens que quer tanto proteger também podem não ter
caráter, não é o dinheiro que define isso sobre uma pessoa.

Ela claramente está me acusando e sorrio.


— Provavelmente, essas pessoas têm motivos, o contrário de

garotas fúteis que o maior problema é combinar as cores da roupa.

Estreita seus olhos e juro que posso ver faíscas vindo minha
direção. Sorrio vitorioso. É tão prazeroso desestabilizar Kim, talvez

devesse fazer isso mais vezes.

— Você não sabe de nada, Gavin.

Kim fala com tanta convicção que quase acredito que realmente

sabe o significado da palavra problema.

— Não sei!?

Desafia-a e ela abre a boca para me responder, porém a professora

nos interrompe.

— Ok, ok, pessoal, debate encerrado. — Continua a encarando e


Kim também não desvia seus olhos de mim. — Kim, Gavin, ocupem o

lugar de vocês.

Não me afasto e muito menos Kim. Seguimos nos encarando,


desafiando um ao outro a recuar.

— Eu preciso terminar com a minha aula. — Kim ergue suas


sobrancelhas e me desafia. — Kim, Gavin, sentem-se.

Droga! Sem alternativa, afasto minha mão da mesa, dou um passo

para trás e olho para Kim uma última vez. Ela sorri debochada e só então
se afasta. Nós dois voltamos para nossos lugares e assim que estamos
sentados, a professora volta a falar.

— Vocês irão formar duplas e fazer um relatório sobre o assunto.


— Caralho, odeio trabalhos em grupo. — E as duplas devem ser

formadas por uma pessoa que participou do grupo de prós e outra pessoa
que participou do grupo de contras.

Tem como essa porra ficar pior!?

— Gavin e Kim vocês serão uma dupla já que foram os líderes

dos grupos.
Gavin

— Professora, você está brincando!

Pela primeira vez, eu tenho que concordar com Kim. Essa merda

tem que ser brincadeira.

— Kim, eu não brinco em aula. — A professora responde Kim de


forma rude e encara o restante da turma. — Enviarei por e-mail de vocês

o restante das informações para a realização do trabalho. O relatório

deverá ser enviado até sexta-feira para o meu e-mail.

Caralho, é um prazo super curto apesar de parecer algum simples.


— Dito isso vocês estão liberados.

Todos deixam os lugares e se organizam para deixar a sala, menos


Kim e eu.

— Isso será impossível.

Pela primeira vez, eu sou obrigado a concordar com Kim.

— É bom que seja possível, porque esse trabalho irá valer metade

da nota do semestre.

— Você não pode fazer isso.

Protesto e ela ergue suas sobrancelhas.

— Eu posso fazer o que eu quiser.

Arruma suas coisas e deixa a sala, eu encaro o teto e suspiro,

quanto mais eu tento fugir dessa garota, mais o universo faz questão de

nos colocar no mesmo lugar.

— Amanhã às sete horas na minha casa.

Abaixo minha cabeça e olho para o lado. Kim está guardando

suas coisas e realmente parece estar considerando fazer esse trabalho.

— Eu não vou a sua casa.

Fica em pé, deixa a bolsa em seu ombro e apoia suas mãos em

sua cintura.
— Levo minhas notas muito a sério, Gavin, então esteja na minha

casa amanhã à noite.

Faço uma careta.

— Isso não vai acontecer.

Dá de ombros.

— Não colocarei seu nome, porque pior do que fazer um trabalho


com você, é fazer um trabalho para você.

Sorrio debochado, cruzo meus braços sobre meu peito e empurro

a cadeira para trás até ela estar apenas sobre seus pés traseiros.

— Você não faz sentido nenhum, Kim, alguém já te disse isso?

Raiva brilha em seus olhos e o sorriso em meu rosto amplia.

— O que seu amigo achou do seu segredinho sujo?

Muda de assunto para me atingir, volto para frente e o barulho

dos pés frontais da cadeira atingindo o chão ecoam pela sala.

— Você deveria manter sua maldita boca fechada, Kim.

Fico em pé e ela não faz nem menção de sair do lugar.

— Não se preocupe, estou usando um perfil fake. — Sorri como

se estivesse falando de algo simples e cotidiano. — Não precisa se

preocupar não corro risco nenhum.


Dou um passo em sua direção.

— Para quantas pessoas você contou? — Não me responde e

continuo caminhando em sua direção. — Quantas. Malditas. Pessoas.

Kim.

Falo entre dentes e meu nariz infla com a raiva reprimida em meu

peito. Essa maldita garota que sempre teve tudo que quis está prestes a

me prejudicar, colocar em risco todos os meus objetivos, acabar com

tudo que eu construí nos últimos anos.

— Não sei, talvez apenas Josh, talvez mais algumas pessoas. —

Segue sorrindo. — Quem sabe na sua próxima luta, tenha mais

universitários assistindo, isso é algo bom, não é? Acho que no final, eu

até estou te ajudando.

As palavras deixam sua boca repletas de veneno. Uma parte de

mim reconhece as emoções refletidas em seus olhos, porque enxergo

apenas maldade na garota a minha frente.

— Você precisa parar, Kim.

Paro a alguns centímetros dela, muito poucos, tornando o espaço

entre nós mínimo, posso sentir sua respiração e seu perfume. O doce

cheiro de flores ... tentador.

— Então, me faça parar.


Ela me desafia. Abaixo minha cabeça e ela inclina a sua para trás.

Nenhum de nós dois está a fim de ceder. Somos ambos obcecados por

vitórias, poder e controle.

— Você não deveria me incentivar, Kim.

Soo ameaçador, porém ela não se importa. Não sei como, mas
Kim e eu habitamos a mesma escuridão.

— Não tenho medo de você, Gavin.

A forma como estou tão perto dela, como ela me encara, a

intensidade com que nos olhamos me excita. Faz com que eu queira

tomar sua boca na minha e a corromper com toda raiva que explode em
meu peito. E Kim olha para mim como se desejasse o mesmo.

Levo minha mão até seu cabelo e o enrolo ao redor dos meus

dedos. Ela inclina sua cabeça para trás e abaixo a minha até quase

encostar minha testa na sua.

— Você é uma maldita garota que gosta de brincar com todos,

mas não vai brincar comigo, Kim. — Seus olhos brilham e passa a língua

pelos seus lábios. Maldita! — Não sou uma das suas marionetes.

Não demostra medo e vejo em seus olhos o mesmo que há nos

meus. Excitação e desejo. E nem sabemos exatamente pelo que.

— Gavin, você já deveria ter entendido que não pode me vencer.


Sua respiração está alterada e sua voz falha. Mais uma vez, não é

medo.

— Você deveria me esquecer, Kim, para seu próprio bem.

A minha própria respiração está irregular. Dividimos o ar, tudo ao

nosso redor perde a importância e meu corpo todo vibra com uma

necessidade inexplicável de tornar ainda mais insignificante o espaço

entre nós.

— Nenhuma das suas ameaças irá surgir efeito, você terá que me

calar de outra forma, Gavin.

Suas palavras acionam uma parte de mim destina ao descontrole,

a parte em que não pensa, apenas faz, então abaixo minha cabeça e cubro

seus lábios com os meus.

Fecho meus olhos assim que o choque do contato percorre meu

corpo. É muito mais do que imaginei. É repentino e assustador. É como

uma droga. Beijo Kim, tomo seus lábios nos meus e ela não me afasta,

pelo contrário me corresponde como se esse beijo fosse tudo que

precisasse.

Não é calmo, é desesperador. Minha mão segue no meio dos fios

do seu cabelo e sou eu a ditar o ritmo do beijo. Dou um passo em frente

quando sua boca abre e minha língua duela com a sua, Kim dá um passo
para trás até que seu corpo encontra uma das mesas. Não hesita e se senta

sobre a mesa, abre suas pernas e pairo entre elas.

Não queremos parar, não sabemos como parar.

Espalmo minha mão sobre sua coxa e aperto sua pele. Se subir
um pouco, posso sentir o calor da sua boceta. Caralho!

Ela afasta sua boca alguns centímetros da minha, apenas o


suficiente para morder meu lábio inferior, abro meus olhos, Kim faz o

mesmo e me desafia a parar. Sorrio e volto a beijá-la enquanto minha


mão sobe ainda mais pela sua pele.

Encontro sua calcinha e o seu calor vindo até mim. Passo

levemente a ponta do meu dedo pelo meio das suas pernas e vejo a
reação do seu corpo, Kim procurando por mais, desejando mais.

Minha língua duela com a sua, explora sua boca. Seu perfume me
cerca e meus pensamentos são uma névoa. Empurro sua calcinha para o

lado e a toco. Ela está molhada e posso sentir sua umidade se


intensificando conforme trabalho meus dedos em sua boceta e a beijo,

como se fosse o último beijo das nossas vidas. Penetro-a com meu dedo e
desejo que fosse meu pau.

Kim me aperta e mudo de um para dois dedos, ela precisa de

mais. Seu corpo diz isso. Fodo Kim como se fosse com meu pau e mais
uma vez, afasta sua boca da minha. Abro meus olhos e ela tem as mãos
espalmadas sobre a mesa. Seus olhos estão fechados, sua respiração está

claramente alterada e seus mamilos apontam pela blusa.

Esqueço todos os motivos pelos quais deveria me afastar. A única

coisa que consigo pensar é no prazer, é no desejo que percorre meu


corpo. Continuo com meus dedos dentro dela e com a mão livre, ergo sua

blusa até a ter sobre seus seios. Minha boca saliva assim que os tenho
descoberto e não hesito, inclino-me para a frente e o tomo em minha

boca.

Seu gosto e a textura da sua pele são inebriantes. Seus gemidos


chegam até meus ouvidos e me perco completamente. Nada mais

importa, tudo que eu quero é que Kim goze em meus dedos e me enterrar
dentro dela. Porém, uma voz faz com que eu pare.

— Desculpe, não sabia que a sala estava ocupada.

Minha boca deixa sua pele e olho para o lado. É um garoto, ele
está em pé e nos observa claramente curioso. Caralho!

— O que você ainda está fazendo aqui?

Digo entre dentes e no mesmo instante ele se vira e sai da sala. Eu

dou um passo para trás e passo a mão pelo meu cabelo. O que diabos nós
estávamos fazendo?
Kim abre seus olhos e baixa sua blusa. Sua respiração segue
alterada e aos poucos volta a si.

— Que merda você pensa que estava fazendo?

Pula da mesa e raiva volta a habitar seus olhos. Sorrio debochado.

— Você estava gostando do que eu estava fazendo.

Seu rosto ainda está corado, seu peito sobe e desce rapidamente,
porém a raiva substituiu a luxúria que antes existia em seus olhos.

— Você está maluco.

Pega suas coisas e se afasta. Ela claramente está perturbada pelo

que acabou de acontecer. Continuo sorrindo.

— Se eu quisesse eu teria a fodido bem aqui e você não teria me

parado.

Ela não me responde, apenas se vira de costas e caminha na


direção da porta. Eu venci dessa vez e caralho a sensação em meu peito é

extremamente satisfatória.

Kim deixa a sala e eu preciso ficar um tempo sozinho e pensando

em coisas aleatórias, preciso acabar com a minha ereção. Mantenho Kim


e a sensação dos meus dedos dentro dela distante da minha mente.

É só quando obtenho o controle total do meu corpo que saio da

sala. Encontro o cara que nos pegou juntos em frente a porta, encaro-o de
forma ameaçadora e faço um sinal de boca fechada.

— Mantenha a boca fechada sobre o que viu.

Ele somente assente assustado, eu olho em frente e sigo na


direção da sala da minha próxima aula sem olhar para trás. Kim já está

no espaço, então ocupo o outro lado.

Durante a aula algumas vezes olho em sua direção e ela está me


encarando. Apenas sorrio e mais uma vez a sensação de vitória ecoa em

meu peito.

Só falta eu descobrir a maneira de fazer Kim parar com a história

de expor as lutas clandestinas e minha vitória será completa. Ela acredita


ser invencível e vou provar o contrário.

Assim que a aula acaba, deixo meu lugar, sequer olho na direção

de Kim, não quero lidar com ela no momento e sigo para o restaurante
que marquei de encontrar Josh.

É perto o suficiente para ir a pé e caminho pelas calçadas

rodeadas de árvores. O lugar é uma estrutura branca com muito vidro o


que deixa o ambiente bem iluminado, há um balcão de pedido e algumas

mesas brancas com cadeiras da mesma cor, as paredes são beges e a


decoração é feita por algumas plantas. Não é muito grande e assim que

entro, encontro Josh, ele está na última mesa, suspiro e vou até ele.
Josh está de costas, então bato em seu ombro e me sento a sua

frente.

— Hey, Josh.

— Hey, Gavin.

Ele não sorri e apenas me encara curioso e decepcionado. Droga,

essa não é o tipo de conversa que gostaria de ter com ele.

— Então, você recebeu uma mensagem?

Sou direto, porque ficar conversando sobre outras coisas não irá

nos levar a lugar nenhum.

— Sim, de um número desconhecido.

— Foi Kim.

Uma ruga surge em sua testa.

— Kimberly? A capitã do time de cheerleaders? — Assinto. —

Por que ela está espalhando por aí que faz parte de uma gangue e
participa de lutas ilegais?

— Porque não me sujeitei a ela como todos e ela me odeia. —

Dou de ombros. — Ela está agindo como se estivéssemos em uma


disputa.

Josh faz uma careta.

— Kim não é uma boa pessoa na maioria das vezes.


Mordo meu lábio inferior, olho para o lado e encaro a vista para o
campus pela parte de vidro da parede.

— Eu também não.

— Você está me falando que a mensagem que recebi é verdade?

Suspiro e volto a encará-lo.

— Em parte sim. — Passo a mão pelo meu cabelo e apoio minhas

costas completamente no encosto da cadeira. — Eu luto cladestinamente,


mas não faço parte de uma gangue, não totalmente pelo menos.

É possível ver a decepção em seu rosto, apesar de não ser algo

agradável não há muito que eu possa fazer. Essa é a minha vida, foi a
forma como encontrei de sair do buraco que eu estava. Foi a minha

liberdade.

— É como se eu fosse um trabalhador terceirizado da Blood


Angels.

Falo em um tom mais leve, mas Josh não ri.

— Por que, Gavin?

Faço uma careta e balanço minha cabeça.

— As coisas não tiveram solução para mim como tiveram para


você, Josh, não o culpo e nem o julgo, mas não tinha um pai com
dinheiro, eu precisava me manter, encontrei nas ruas pessoas dispostas a
me ensinar a roubar, lutar e garantir a minha sobrevivência.

— Eu poderia ter o ajudado

Não me orgulho das minhas escolhas, mas elas me trouxeram até

aqui.

— Você era só uma criança, Josh, assim como eu e já tinha que

lidar com sua mãe, além disso depois que foi morar com seu pai,
perdemos um pouco do nosso contato.

— Sinto muito, eu gostaria de que as coisas tivessem sido

diferentes.

Dou de ombros.

— Está tudo bem, uma parte minha gosta de lutar.

— Você faz algo além de lutar?

Essa é a sua maneira de questionar o quanto estou envolvido com

crimes.

— Você não deveria ter essas informações.

Faz uma careta.

— Jamais o denunciaria, Gavin, você é meu amigo e fez por mim


o que mais ninguém faria.

Assinto e mais uma vez, passo a mão pelos fios do meu cabelo.
— Eu só gostaria de te manter longe disso.

Não costumo me importar com o que pensam de mim, mas Josh é


diferente, eu o conheço há mais de doze anos, nós dividimos os piores
momentos das nossas vidas. Ele é uma das poucas pessoas na vida que

ainda me importo.

— Gavin, o que eu sei e penso de você não irá mudar.

Suspiro e decido dar a informação que está pedindo.

— Eu estou só lutando pela Blood Angels e recebo parte dos

lucros das apostas, porém já fiz outras coisas, já cometi outros crimes
antes de vir para Tuscaloosa. — Sorrio, um sorriso sem humor. — Só
estou nessa faculdade, porque eles estão custeando meus gastos, apesar
das minhas boas notas, não eram suficientes para uma bolsa.

Josh assente.

— Eu posso ir assistir uma delas? — Ele me surpreende e sorri.

— Não concordo com suas escolhas, mas compreendo e se puder estar lá


apoiando você, eu estarei.

Josh fica de ir assistir minha próxima luta e mudamos de assunto,


porque o lugar começa a ficar cheio de pessoas e ficamos com receio de
alguém nos escutar. Fazemos nossos pedidos e almoçamos enquanto
conversamos sobre assuntos aleatórios.
É uma pausa da vida caótica que costumo levar. Após me
despedir de Josh, sigo para o prédio de ciências políticas e para a sala

onde irá acontecer a segunda aula para quem deseja ser admitido em uma
faculdade de direito.

Encontro Kim apoiada ao lado da porta e conversando com uma


garota. Ela sorri debochada ao se deparar comigo. Ergo minhas
sobrancelhas e ela dá de ombros enquanto continua sorrindo.

Ela aprontou mais alguma coisa.


Kim

A mesma garota que me informou sobre Gavin ser um dos


melhores amigos de Josh me enviou uma foto dos dois, ela estava

tentando comprovar seu ponto e acabou me confirmando que a


mensagem que enviei anonimamente para Josh cumpriu o seu objetivo.

Dallas me ajudou a criar um número de telefone aleatório para


enviar a mensagem para Josh e é o mesmo sistema que usarei para enviar

para outras pessoas sobre a luta.

Estou apoiada ao lado da porta conversando com uma das garotas

que também está tentando obter os requisitos para admissão em uma


faculdade de direito quando Gavin se aproxima. Ele olha em minha

direção e eu sorrio, ele acha que está no controle, mas eu estou.

O que aconteceu pela manhã foi um deslize, foi meu corpo

reagindo no automático, Gavin me pegou desprevenida, porém isso não

irá acontecer novamente, mesmo que tenha gostado de ter suas mãos em

mim.

Foi um lapso, uma atração que nunca deveria ter existido. Desço

meu olhar pelo seu corpo e é fácil entender como me deixei levar pelo

momento. Gavin é bonito, as tatuagens espalhadas pelo seu corpo o

tornam interessante, ele provavelmente malha bastante e imagens dele


sem camisa na luta ecoam em minha mente.

Além de tudo, há algo em seu olhar sombrio e assustador que me

atrai. Volto a olhar para seu rosto antes que meu corpo me traia, ele me

encara como se estivesse prestes a me estrangular e a minha única reação


é o achar mais sexy assim.

Não sinto medo e nenhuma preocupação. Depois de alguns

segundos, Gavin desvia o olhar do meu e segue em frente.

— Você sabe quem é ele?

A garota pergunta, sorrio e balanço minha cabeça negando.

— Aposto que é alguém insignificante.


Ela ri da minha resposta e ainda estamos rindo quando a

professora entra em sala e a seguimos. Sento-me ao lado da garota e

Gavin está na parte de trás, como sempre, de capuz e com os braços

cruzados sobre o peito.

Dessa vez a professora explica como é feito a seleção dos alunos,

frisando mais no processo e a aula chega ao fim mais cedo do que na

segunda passada.

— Em quais universidade você irá se inscrever?

A garota que não lembro o nome me pergunta enquanto

guardamos nossas coisas.

— Nas melhores é claro.

Como isso não é óbvio!?

— Legal.

Não pergunto sobre em quais ela pretende se inscrever, porque


não tenho interesse em saber. Despeço-me dela na porta e sigo para o

estacionamento, vou até meu carro e me deparo com um bilhete preso ao

para-brisa. Pego o bilhete e encontro uma simples frase.

Eu estou de olho em você.

A frase está impressa, ou seja, não tenho como analisar a letra da

pessoa, entretanto só existe uma única pessoa que faria algo assim. Um
sorriso surge em meus lábios, Gavin realmente está levando esse nosso

joguinho de cão e gato a sério.

Amasso o papel, jogo-o dentro da minha bolsa e entro em meu

carro. Dirijo para casa com um sorriso em meus lábios.

Ao chegar não encontro Dallas, nem Nancy, vou até a cozinha,

preparo algo para comer e subo para meu quarto. Enquanto como, assisto

um documentário sobre Serial Killers na televisão. Não pretendo matar

ninguém, não sou má a esse nível e nem sinto prazer no sofrimento

alheio, mas gosto da parte da investigação e de ter uma breve

visualização de como funciona a mente dessas pessoas.

Eu estou na metade do documentário quando Dallas invade meu

quarto.

— Existe uma porta para você bater, sabia, vadia?

Ela aponta a língua em minha direção e se joga em minha cama.

— Eu estou entediada e vim alimentar a fofoqueira que existe em


mim. — Pauso o documentário e ergo minhas sobrancelhas. — Você se

encontrou com seu rival?

A última palavra deixa sua boca repleto de deboche e desdém.

— Claro, nós fizemos as mesmas aulas.


Dallas se apoia em seu braço e mantém o seu corpo virado para

mim.

— Ele falou algo para você?

Assinto e faço um breve resumo do nosso embate para Dallas, ela

ri e faz alguns comentários maldosos, entretanto quando conto que nos


beijamos, arregala seus olhos e me encara totalmente surpresa.

— Como assim ele te beijou?

Dou de ombros.

— Foi algo sem intenção, sem querer, estávamos muito tensos.

A incredulidade de Dallas cede lugar ao deboche.

— De repente, a raiva explodiu e se transformou em desejo, não

é?

Reviro meus olhos.

— Nem sei explicar o que merda aconteceu.

E não foi um simples beijo, ele me tocou com seus dedos, chupou

meus peitos. Essa parte não conto para Dallas e fico em pé, porque ao

recordar do que aconteceu faz com que um calor suba pelo meu corpo.

— Duas bocas vivem se encontrando sem querer.

Zomba, faço uma careta e a gargalhada de Dallas ecoa pelo meu

quarto. Fico em pé e caminho de um lado para o outro tentando encontrar


meu raciocino novamente.

— Como foi?

Paro de caminhar e olho para Dallas sem entender.

— O quê?

Ainda há um vestígio das suas gargalhadas em seu rosto, uma

expressão risonha.

— O beijo?

Tento me manter indiferente. Tanto para Dallas quanto para mim

mesma.

— Normal.

Senta-se na cama e franze sua testa.

— Normal? Aquele cara não tem cara de ser um homem normal.

Droga, ela tem razão. Ele não é normal.

— Ok, ok, eu adoraria dar para ele se ele não fosse um imbecil,

fracassado e perdedor.

Mais uma vez, a gargalhada de Dallas reverbera pelo quarto.

— Você é mesmo uma vadia.

Fala quando por fim consegue parar de rir. Sorrio e mudo de

assunto antes que ela continue insistindo sobre esse maldito beijo.
— E ele me deixou um bilhetinho.

— Vocês têm quantos anos? Estão na quinta série outra vez?

Ignoro seu sacarmos e vou até minha bolsa, pego o papel,

desamasso-o e entrego para Dallas, ela lê a frase que está escrita e ergue
seus olhos em minha direção com uma certa preocupação.

— Como você sabe que é ele?

Dou de ombros.

— Quem mais seria? É com Gavin que tenho um problema no


momento.

Não existe possibilidade de ser outra pessoa.

— Um outro inimigo?

Sorrio e balanço minha cabeça.

— Eu não tenho inimigos.

Debocho, porque eu posso não ter um inimigo declarado, mas

várias pessoas me odeiam. Dallas apenas ri, eu me aproximo e me sento


ao seu lado.

— As pessoas me temem, Dallas, jamais me ameaçariam assim,

Gavin é o único e farei questão de acabar com ele.

Entrega-me o papel.
— Se você está dizendo, acredito em você. — Fica em pé, coloca
suas mãos sobre sua cintura e me encara com uma expressão de cachorro

abandonado. — Venha jantar comigo.

— Você está muito carente hoje.

Sorri e assente.

— Estou de TPM.

Levanto-me e caminho na direção da porta.

— Vamos logo.

Dallas comemora e me segue. Nancy se junta a nós e ficamos um


tempo na cozinha mesmo depois que terminamos de jantar. Ao fim da

noite, subo para meu quarto e vou para o banheiro, tiro minha roupa e
vou para baixo do chuveiro.

Minha mente é traiçoeira e imagens das mãos de Gavin em meu

corpo repetem em minha cabeça. Eu queria ter gozado com ele. Meus
seios pesam e o meio das minhas pernas pulsa. Caralho!

Eu preciso transar! Saio depressa do chuveiro, enrolo o roupão


ao redor do meu corpo e volto correndo para o quarto. Pego o celular e

abro meus contatos, percorro minha lista e julgo quem me responderia,


há um garoto que tem me respondido, ele é do atletismo e está afoito para
sair comigo, envio uma mensagem para ele e me responde no mesmo
instante.

Ele está livre e posso ir até sua casa. Visto uma roupa depressa e

sigo para a casa do atleta. Ele está empolgado para ter uma noite comigo
e nos beijamos assim que eu chego e imediatamente me arrependo. Ele

tem mãos leves demais e é bem egoísta, só o prazer dele importa.

Transo com outro pensando em Gavin. E é péssimo, porque ele é


um babaca que goza rápido, termino mais insatisfeita que antes.

Ao chegar em casa preciso me tocar e quando atinjo meu orgasmo


e o nome de Gavin que deixa meus lábios.

Durmo só depois de um banho e totalmente irritada comigo

mesmo, como posso estar tão perturbada por causa de Gavin?

Minha noite é péssima, viro de um lado para o outro, tenho

sonhos estranhos, inclusive com Gavin e quando meu despertador toca é


como se não estivesse dormindo por nenhum segundo. Meu corpo está

doendo, estou exausta e há olheiras abaixo dos meus olhos.

Preciso carregar na maquiagem para parecer bem. Deus, eu estou


péssima!

Assim que estou pronta, desço para a cozinha e claro que Dallas

percebe que algo está errado.


— Você parece estranha.

Suspiro enquanto vou até o armário e pego uma caixa de cereais e


uma tigela.

— Eu tive uma péssima noite, eu saí para transar e fiz uma

escolha horrível.

Ela faz uma careta.

— Sinto muito.

— Eu também, eu também. — Suspiro mais uma vez. — Se eu

pensar muito no assunto, sou capaz de chorar.

Dallas tem a capacidade de rir do meu drama. Eu como cereais


com leite, em seguida vou até meu carro e dirijo para a minha primeira

aula. Como tudo que está ruim sempre pode piorar, a primeira pessoa que
encontro ao entrar no prédio é Gavin.

Entramos ao mesmo tempo no prédio e como temos a mesma


aula, caminhamos na mesma direção. Ele não olha para mim, mas sinto o

seu perfume e é como se ele estivesse ocupando todo o maldito espaço.


Gavin age como se eu não existisse, como ele pode agir assim?

Bufo irritada e ele se vira para mim com um sorriso debochado

em seus lábios.
— O que aconteceu com a bonequinha? — Reviro meus olhos e

sigo em frente sem o responder. — O que pode ter atormentado a rainha


da UA?

Sua voz é repleta de desdém e fecho minhas mãos em punho.

— Encontrei com você logo cedo.

Digo entre dentes e ele ri. Maldito!

É um alívio quando enfim entro na sala e posso me sentar bem


longe dele. Passo a mão pelo rabo de cavalo que estou usando, respiro

fundo e busco o controle das minhas emoções.

Eu estou no controle!

Apesar de Gavin estar ao fundo, continuo sentindo a sua presença

principalmente porque ele está me observando.

A aula é uma tortura e ao fim dela tudo que eu quero é sair


correndo e é isso que eu faço, porém Gavin está ao lado da porta e

bloqueia a minha passagem assim que cruzo pela saída.

— Então, hoje na sua casa?

Estou a alguns centímetros dele. Ergo minha cabeça e meus olhos

encontram os seus.

— De que merda está falando?

— Do trabalho na sua casa.


Toca meu cabelo e dou um tapa em sua mão.

— Não me toque.

Quero-o o mais longe possível de mim.

— Não precisa me mandar o endereço, porque eu sei como

chegar.

Pisca em minha direção e dá um passo para trás.

— Esteja lá às sete horas e não se atrase.

Ele me encara alguns segundos sem dizer nada e de repente,

simplesmente, vira-se e caminha para longe. Observo-o e só saio do meu


lugar quando alguém pede licença, porque estou impedindo as pessoas

que deixem a sala.

Eu vou até um dos restaurantes espalhados pelo Campus e me


junto a alguns jogadores de vôlei que também estão no estabelecimento,
após o almoço, vou para o QG das cheerleaders e fico lá com algumas

das garotas até o horário do nosso treino, no primeiro horário da tarde,


seguimos para o complexo esportivo.

O treino é divertido e produtivo. Apesar disso há um frio em

minha barriga, um anseio por algo que irá acontecer. Tento negar que é
por causa de Gavin, porém lá no fundo eu sei que é por conta do trabalho

que teremos que fazer.


Convenço a mim mesma que é tudo por conta do ódio que sinto
por ele e não por conta da atração que parece existir ao meu redor depois

do nosso beijo.

É como se a cada segundo a tensão em meu corpo aumentasse e


precisasse de libertação. Uma libertação que só ele pode me dar.

Chego ao fim do dia em casa e vou direto para o banheiro,

demoro embaixo do chuveiro e quando saio está quase na hora que


marcamos. Espero que ele não demore.

Visto um short, uma camiseta e fico sem sutiã. Estou penteado


meu cabelo quando a campainha ecoa pela casa, nem Nancy e nem

Dallas estão em casa e sou obrigada a ir abrir a porta. Então deixo o


pente de lado e saio do meu quarto.

A campainha continua apitando até que finalmente abro a porta.

— Você pode tirar o dedo da campainha, sabia?

Ele aperta a campainha mais uma vez e reviro meus olhos. Eu

fico de lado para que ele passe e quando Gavin passa por mim um arrepio
sobe pelo meu corpo. Respiro fundo e ignoro as sensações que de repente
ecoam em meu interior.

Fecho a porta e faço um sinal para que ele me siga. Eu caminho a


sua frente e sinto seu olhar sobre mim, olho para trás e o vejo encarando
a minha bunda. Sorrio e propositalmente empino ainda mais minha
bunda, olho em frente e rebolo enquanto caminho, dou dois passos e ele

segura meu pulso.

Eu paro e Gavin se aproxima, prendo minha respiração quando

encosta seu peito em minhas costas. Traz sua boca até minha orelha e
sussurra.

— Você não deveria me provocar, Kimberly.


Gavin

Sua respiração está alterada, sua pele arrepiada e seu corpo


tensionado. Ela está quase implorando para que a toque, para que

continue fazendo o que estava fazendo quando aquele garoto nos


interrompeu.

— Eu não estou te provocando.

Sua voz soa mais baixa que o normal e sexy. Uma ação que

resulta em uma onda de excitação percorrendo meu corpo e atingindo


meu pau.
— Você está. — Levo minha mão até sua coxa e a aperto. — E se

não quer que eu te foda bem aqui, onde qualquer uma das garotas que

mora com você poderia ver, é melhor você parar.

Posso ver seu peito subindo e descendo e seus mamilos duros

visíveis na camiseta. A maldita nem está usando sutiã.

— Não me toque. — Hesitante dá um passo em frente e se

desvencilha de mim. — Você está ficando maluco.

Caminha em frente e volto a fitar sua bunda. Seu short é curto e

consigo ver muita pele exposta. Kim é bonita e ela sabe disso. Continuo a

seguindo. Ela sobe a escada e piso nos degraus logo atrás dela.

Vamos pelo corredor e ela segue para o seu quarto. Não sei se é

uma boa ideia estarmos em um espaço com uma cama. Respiro fundo e

prometo a mim mesmo que irei sair daqui e ir para um bar, ou qualquer

outro lugar, onde posso encontrar alguma garota disposta a ter sexo, e

apenas sexo, nada de telefones, se puder evitamos inclusive os nomes.

Odeio mensagens no dia seguinte, ou garotas querendo algo mais

do que estou disposto a dar. Não procuro relacionamentos.

Kim abre a porta, entra em seu quarto e a deixa aberta para que

possa entrar no cômodo, assim eu faço e ela aponta para duas cadeiras de
frente para uma mesa de estudos que ocupa toda a extensão de uma

parede.

— Quanto antes terminarmos melhor.

Resmunga.

— Odeio concordar com você, mas dessa vez tem razão. — Vou

até a mesa e ocupo uma das cadeiras. — Quanto mais rápido me livrar de

você melhor.

Kim fecha a porta e se senta ao meu lado.

— Vamos fazer logo essa merda.

Liga seu computador, eu pego o meu na mochila e iniciamos o

relatório. Tentamos focar e não voltamos a discutir. Não conversamos


sobre nada que não tenha a ver com o trabalho e pelas próximas duas

horas é como se estivéssemos em uma trégua, porém, é difícil me manter

concentrado, porque ela está perto demais, meu braço esbarra várias

vezes com o seu e é como se uma corrente elétrica corresse do meu corpo

para o seu.

Algumas vezes, olho para Kim, ela se vira e meu olhar encontra o

seu. Tudo que consigo ver é a mesma escuridão que habita em mim e me

puxa na sua direção. E meus dedos formigam de vontade de tocá-la. Algo

em mim implora para possuí-la.


Seu cheiro é como um veneno irresistível. Eu a desprezo e a

minha mente sabe disso, porém meu corpo ignora totalmente a

informação. É como se existisse algo no ar, é difícil de respirar, de me


manter longe e controlado. Cada segundo que passa se torna ainda mais

insuportável.

Assim que finalizamos, Kim começa a ler o relatório e ao ler os

prós do sistema de admissão das universidades, balanço minha cabeça e

sorrio.

— Seus argumentos são ridículos.

Kim bufa irritada e fica em pé.

— Você que é um fracassado que culpa o sistema.

Eu faço o mesmo que ela e deixo a minha cadeira.

— Não sou um fracassado, afinal estou aqui, não é? Estou aqui ao

lado de uma garota mimada que acha que seu mundinho não pode ser

perturbado por pessoas diferentes dela.

Cada palavra que deixa minha boca é carregada de desdém. Kim

apoia seu corpo na sua mesa de estudo e eu paro a sua frente.

— Ninguém perturba o meu mundo, Gavin.

Ela fala com tanta convicção que quase consegue me convencer

de que é invencível. Encaro-a com raiva e ela me olha da mesma forma.


Se pudéssemos acabaríamos um com o outro nesse momento.

— Ninguém é invencível, Kim. — Inclino-me na sua direção e


fico com meu rosto a centímetros do seu. — E eu vou te provar isso.

— Você nunca irá conseguir, Gavin.

Sinto sua respiração em meu rosto e encaro sua boca que está tão

próxima da minha. Um centímetro e poderia sentir seus lábios, outra vez.

— Não faço ameaças que eu não posso cumprir.

Digo entre dentes e seu olhar encontra o meu. De repente a raiva

se mistura com excitação e se torna impossível se afastar.

— Você deveria ir embora.

Sua voz soa baixa e me desafia com seu olhar. Ergo minhas

sobrancelhas e sorrio.

— É isso que você quer? — Seu peito sobe e desce rapidamente,

o que indica que ela está sentindo essa merda assim como eu. — Vamos,

me responda, Kim.

Ela abre a boca para me responder, porém nenhum som saí da sua

boca. Movido pela excitação que vibra em meu peito, aproximo ainda

mais o meu rosto na sua direção, espero que ela me empurre, entretanto

nada acontece. A única coisa que muda é a tensão ao nosso redor, é a

necessidade gritante que parece existir entre nós.


Kim mantém seu olhar preso ao meu, nenhuma palavra deixa seus

lábios nem quando levo minha mão até seu cabelo e enrolo os seus fios

loiros ao redor dos meus dedos.

— Me mande embora, Kim.

Puxo seu cabelo e faço com se incline ainda mais para trás.

Desafia-a me responder e ela não faz. Segue em silêncio. Sorrio e abaixo

meu rosto até pairar como minha boca a centímetros da sua.

— Eu não vou sair enquanto você não me mandar embora.

Minha voz soa rouca e minha respiração está irregular, a cada

minuto fica ainda mais difícil me manter raciocinando.

— Se você espera que eu implore por um beijo, isso não vai


acontecer.

Suas palavras são tão caóticas quanto as minhas. Estamos ambos

travando uma luta com nossas próprias mentes. Inclino sua cabeça para o
lado, espalmo minha mão livre em sua coxa e abaixo minha cabeça até

tocar seu pescoço com meus lábios.

— Eu posso fazer você implorar, bonequinha.

Beijo sua pele, aperto sua perna e seguro o seu cabelo com força,
mantenho-a na posição que eu quero.

— Faça o seu melhor, Gavin.


É como se estivéssemos à beira de um abismo e pulamos nele.

Distribuo beijo pelo seu pescoço, subo minha mão até tocar sua

barriga e infiltro meus dedos por dentro da camiseta, continuo

percorrendo seu corpo até tocar em seus seios livres de sutiã. Não sou

delicado e o aperto com força. Kim se inclina ainda em minha direção. E

sorrio contra sua pele.

— Você está pronta para implorar?

Ela não me responde, mas traz sua mão até minha cabeça e é tudo
que eu preciso para saber que sim ela está pronta e vou fazê-la implorar.

Desvencilho-me dela, dou um passo para trás, afasto minha mão

do seu cabelo, largo seu seio e levo meus dedos até a barra da sua
camiseta. Encaro-a e tudo que consigo enxergar em seus olhos é luxúria e

desejo.

Ela ergue seus braços e jogo a peça de roupa no chão. Seus seios

ficam a minha disposição e sorrio.

— Você não está implorando, mas eles estão implorando por


minha atenção.

Toco-o e aperto o bico intumescido do seu mamilo. Um suspiro

deixa seus lábios e posso ver o esforço que faz para não fechar seus
olhos. Sorrio, curvo-me para frente e tomo o outro seio em minha boca.
Chupo-o, mordo-o enquanto continuo com minha mão sobre o outro.

As mãos de Kim descansam em minha cabeça e me empurra


ainda mais contra seu corpo, ela está perdendo o controle. O gosto da sua

pele explode em minha boca e os gemidos que escapam da sua boca


resultam em pontadas diretamente no meu pau.

Caralho!

Sugo-os com mais força, aperto-os aponto de deixar marcas e

levo minha mão livre até o botão do short, abro-o, puxo o zíper para
baixo, então afasto minha boca, olho para baixo e empurro seu short e

sua calcinha para longe do seu corpo. Kim os chuta para longe assim que
os tem em seus pés, eu sorrio do seu desespero e fico de joelhos.

Eu fico de frente para sua boceta e posso ver o brilho da sua


excitação. Subo minhas mãos pelas suas pernas e toco o meio das suas

pernas com meu nariz. Sinto seu cheiro, percorro sua pele com meus
dedos e aos poucos aproximo meus dedos e minha língua das suas

dobras.

Posso ouvir sua respiração alterada e sentir sua pele arrepiada. Eu


faço o possível para prolongar meus toques o máximo que consigo.
Quero que a demora seja insuportável para ela.
— Gavin...

Não implora com palavras, mas o seu tom de voz deixa claro o
quanto está desesperada. Sorrio e finalmente percorro sua boceta com

minha língua. Seus gemidos ecoam pelo quarto e ela grita quando meus
dedos a penetram também.

Segura minha cabeça e a fodo com minha língua e com meus

dedos. Posso sentir ela me apertando, seus gemidos cada vez mais altos e
sinto que está perto de gozar, então paro.

— Caralho, Gavin.

Dou um tapa na parte lateral da sua coxa.

— Implore, Kim. — Torço seu clitóris quando não faz o que

estou mandando imediatamente e um grito de dor deixa seus lábios,


apesar disso posso sentir sua boceta ainda mais molhada. Ela gosta de

dor. — Se não implorar, não vou continuar.

— Por favor, Gavin, por favor. — Finalmente, escuto as palavras


e fico em pé. Ela abre seus olhos e me encara sem entender. — O que

está fazendo?

Levo minha mão até minha o bolso, pego minha carteira e uma
camisinha.

— Você irá gozar, mas será no meu pau.


Seus olhos brilham e traz suas mãos até a barra da minha

camiseta, puxa-a para cima e ergo meus braços para que possa jogar para
longe a peça de roupa, assim ela faz e percorre meu peito com seu olhar.

O desejo é evidente em seu rosto, toca minha barriga e uma arrepio sobe
pelo meu corpo, suspiro e me seguro para não fechar meus olhos.

Arrasta sua unha pela minha pele e um gemido escapa entre meus
lábios. Está calor e meu pau está cada vez mais duro. Espalmo minhas

mãos na mesa ao lado do seu corpo e Kim empurra a minha calça, junto
com minha cueca, para baixo. Encara meu pau com lascívia e sorrio.

— Você está morrendo de vontade de me ter bem fundo em você,

não é?

Seus olhos brilham indicando que gosta de palavras sujas.

— Vamos ver o que você sabe fazer com esse pau, Gavin.

Kim pega a camisinha das minhas mãos, abre a embalagem e a

coloca em volta do meu pau. Preciso morder meus lábios para não fechar
meus olhos enquanto tem as mãos em mim.

Assim que termina seu trabalho, toco sua cintura e a faça trocar

de posição, ficando de costas para mim. Coloco seu cabelo para o lado e
passo meu nariz pelo seu pescoço, ela se arrepia e deixo minha mão

sobre sua barriga.


— Você gosta de ser uma vadia, não é!? — Desço minha mão até

tocar sua boceta. — Hoje você será a minha vadia.

Um suspiro escapa entre seus lábios e antes que ela possa falar
algo mordo a parte de pele que fica entre ombro e pescoço, Kim grita,

mas sua boceta fica ainda mais úmida.

Não dou tempo para que proteste e inclino seu corpo para frente,
ela espalma as mãos na mesa e flexiona levemente seu joelho, ela sabe o

que eu quero. Por alguns segundos simplesmente encaro sua linda bunda,
empinada para mim e a minha mercê.

Leve minha mão até a protuberância e acaricio. Macia e delicada.


Não resisto e dou um tapa na lateral, Kim grita, porém quando levo meu

dedo até seu interior encontro-o pulsando. Desfiro mais dois tapas e mais
uma vez, escuto Kim implorar.

— Caralho, Gavin, me come logo.

Eu também estou em meu limite, então afasto minha mão e guio


meu pau até sua entrada. Preencho-a e Kim engole meu pau com

maestria. Prazer percorre pelo meu corpo e a necessidade vibra em meu


peito.

Meu pau entra e saí do seu corpo em um ritmo alucinador. Seus

gemidos se misturam ao meu e a fodo com força.


— Porra, Gavin.

Palavras desconexas deixam sua boca e enquanto invisto contra

ela dou mais tapas em sua bunda, ela está vermelha e marcada com meus
dedos.

— Você gosta de ser uma puta, não é?

Levo minha mão até seu cabelo e enrolo os fios ao redor dos

meus dedos. Sua boceta aperta meu pau e rebola contra mim. Fecho meus
olhos e deixo que as sensações guiem meu corpo. O prazer se intensifica

e ganha cada vez mais importância.

Meu pau continua a invadindo, preenchendo-a e Kim segue

correspondendo com o mesmo furor. É como se fôssemos dois animais


no cio.

Kim de repente para, seu corpo tenciona e aperta meu pau com

sua boceta.

— Gavin.

Meu nome deixa seus lábios e ela goza em meu pau. Eu continuo

a penetrando, usando-a até que tudo se torna demais, minha visão torna-
se turva e a sensação de prazer ecoa por todo meu corpo.

Demoro alguns segundos para me recuperar e voltar a si, sigo de

olhos fechados e quando os abro, é como se um choque de realidade me


atingisse.

Eu transei com Kim e caralho, foi uma das melhores fodas da


minha vida.

Ela não me olha e encaro seu corpo. Ela tem marcas dos meus

dedos e da minha boca em seu corpo. Sorrio debochado.

— Marcado com as minhas digitais, quem diria, hein?

Saio de dentro dela e Kim fica completamente em pé.

— Cala a boca, Gavin.

Suas palavras são repletas de raiva, eu tiro a camisinha, amarro-a,


jogo-a no lixo que há embaixo da mesa e puxo minha calça para cima.

Também pego minha camiseta no chão e dou um passo para trás.

— Adorei foder alguém tão influente.

Não deixo o desdém longe da minha voz e Kim se vira, ela ainda
está nua e quase perco meu raciocínio ao se deparar com seus seios.

— Não conte para alguém, aliás, conte, mas eu farei questão de

dizer que é mentira. — Sorri debochada. — Nunca ficaria com alguém


como você.

Mais uma vez, meu olhar percorre o seu corpo.

— As marcas em seu corpo dizem o contrário. — Coloco minha


camiseta e pego minha mochila. — Dá próxima vez, irei gravar para ter a
minha prova.

Franze sua testa e balança a sua cabeça.

— Não haverá uma próxima vez.

Com um sorriso em meu rosto, viro-me e caminho até a porta,


porém paro com a mão na maçaneta.

— Eu já te fiz implorar uma vez, bonequinha, e se quiser, farei


implorar novamente.
Kim

Abro a boca para dizer que ele está terrivelmente enganado, mas
Gavin é mais rápido e sai do meu quarto. O barulho da porta fechando

vibra pelo quarto, eu suspiro, apoio minha bunda na mesa, olho para
cima e encaro o teto.

Meu corpo ainda está tremendo, continuo sentindo a sensação de


plenitude dançando em cada parte de mim. O que eu fiz? Como pude me

deixar levar por um momento? Que merda eu tenho na cabeça?

Eu transei com Gavin. Nunca transei com alguém tão inferior

assim e que não pudesse me favorecer em nada. Deve ser a minha boa
ação do semestre.

Minha consciência acusa que ele me deu prazer, como ninguém


tinha me proporcionado antes. Minha bunda está ardendo e nunca alguém

tinha me tocado assim, só de pensar em seus tapas um arrepio sobe pelo

meu corpo.

Balanço minha cabeça e volto a olhar em frente. Preciso esquecer

o que aconteceu, fingir que nunca tive suas mãos pelo meu corpo. Um

pensamento intruso surge em minha mente, não nos beijamos e lamento

que isso não tenha acontecido, é uma pena não ter sentido seus lábios

sobre os meus novamente.

Caralho! Que pensamento distorcido é esse? É um livramento

que ele não tenha encostado sua boca na minha.

— Porra!

Antes que continue pensando besteira, caminho para o banheiro,

eu preparo um banho na banheira e me deito nela com a cabeça apoiada

na borda. Meu corpo ainda está sobre efeito do orgasmo e se fechasse

meus olhos conseguiria dormir.

A espuma tapa meu corpo e a água me faz relaxar, tanto que

começo a sentir as dores, aquelas provocadas pela intensidade do sexo.

Minha bunda lateja e meu ombro arde graças às suas mordidas.


— Ele é um monstro.

Resmungo, apesar de não acreditar nenhum pouco em minhas

palavras. Eu gostei como ele me fodeu, como apertou meu corpo e não

me tratou com delicadeza nenhuma. Sua escuridão é atraente, estar nas

trevas com ele foi um bálsamo. Tudo poderia se repetir mais uma vez.

— Essa porra não irá se repetir.

Digo em voz alta na tentativa de conseguir me convencer. Não

vou ceder, porque não importa o quanto tenha sido bom, Gavin é

insignificante e pobre, nós não combinamos nenhum um pouco. Se

alguém descobrir o que aconteceu em meu quarto, estarei arruinada,

preciso proteger a minha reputação. Garotas como eu não ficam com

caras como ele.

Eu tenho uma lista de contatos e todos eles são tão influentes

quanto eu. Os garotos que já passaram em minha cama são selecionados

e pensados.

— Gavin foi apenas um deslize e todo mundo tem deslizes. —

Mais uma vez falo em voz alta em busca de justificativa para um ato

inconsequente. — Apenas um deslize.

Empurro Gavin para o fundo da minha mente, ou melhor tento

empurrar para longe, mas simplesmente não consigo. É tudo tão recente,
eu posso inclusive sentir o seu cheiro em minha pele. Sento-me na

banheira e esfrego meu corpo, tenho de conseguir me desvencilhar dele.

Minha pele está toda vermelha, mesmo assim sinto o seu cheiro.

Bufo irritada e me retiro da banheira. Preciso fazer algo, já que se focar

em outra coisa, será impossível continuar pensando nele.

Saio do banheiro enrolada em uma toalha e vou até o closet.

Coloco uma calcinha e um conjunto de pijama: short e blusa de alcinha;

calço meu chinelo; meu cabelo ainda enrolado em um coque e deixo meu

quarto.

Desço as escadas e encontro Dallas no sofá, ela se vira em minha

direção e me encara com um olhar debochado, ergo minhas sobrancelhas

e ela sorri

— Por que o gostoso da luta deixou a nossa casa?

Dou de ombros.

— Porque estávamos fazendo um trabalho.

Respondo-a e sigo para a cozinha. Posso ouvir os passos de

Dallas, ela está me seguindo. Acho que minha amiga desvendou que não

estávamos apenas fazendo um trabalho.

— Ele estava meio descabelado e muito perturbado. — Senta-se

de frente para o balcão da ilha e eu vou até a geladeira enquanto a ignoro.


— Kimberly, não me deixe curiosa.

Pego uma garrafa de água e me aproximo até estar de frente para


ela e do outro lado do balcão.

— Nós sem querer transamos.

Confesso e pego um copo, encho-o com água e o trago até meus

lábios.

— Um beijo sem querer eu até finjo que acredito, mas transar?

Impossível, Kim.

Abaixo o copo.

— O ódio pode ser excitante.

Balança a cabeça incrédula.

— Você transou com o cara que está tentando te destruir.

Aponto o copo em sua direção para frisar o meu ponto.

— Não estou tentado o destruir, eu estou provando para ele que

quem rege a universidade sou eu.

Faz um gesto com a mão.

— É a mesma coisa, Kim.

Faço uma careta.

— Não importa.
Trago o copo até minha boca e bebo o restante da água.

— O que importa é se valeu a pena. — Encara-me curiosa, eu

deixo o copo sobre o balcão e me apoio sobre o mármore. Não consigo

me conter e acabo rindo. — Não precisa nem me responder, sua

expressão diz tudo.

Não nego, porque estaria mentindo e não preciso fingir para

Dallas.

— O que aconteceu entre vocês mudou alguma coisa?

Balanço minha cabeça negando.

— Não, meus planos continuam os mesmos.

— Então, você irá continuar espalhando por aí sobre as lutas?

Assinto e os olhos de Dalla brilham, lá no fundo Dallas

compreende o que estou fazendo e até mesmo faria o mesmo se estivesse

em meu lugar.

— Sábado irá ocorrer outra luta.

Essa é a informação que faz os meus olhos brilharem.

— Talvez, a procura por essa luta seja um pouco maior do que o

normal.

A malícia é presente em minha voz e Dallas segue empolgada.


— Espero que ninguém nunca descubra que somos nós a espalhar

as informações sobre as lutas ilegais.

Não soa nenhum pouco preocupada apesar da possibilidade de

sermos pegas.

— Isso não irá acontecer, porque somos as melhores.

Pisco em sua direção e vou me sentar ao seu lado. Está na hora de


continuar espalhando por aí que Gavin participa de lutas ilegais e talvez

deixe escapar sobre como conseguir os convites.

— Pegue seu notebook e vamos enviar algumas mensagens.

Dallas pula do banco, corre até seu quarto e volta com notebook,
então assim como das outras vezes, criamos números falsos e enviamos a
fofoca anônima sobre as lutas, além disso, informamos como conseguir

os convites.

É divertido causar o caos e ainda mais divertido chegar na sala de


aula no dia seguinte e perceber algumas pessoas encarando Gavin. Elas

claramente estão se perguntando se a fofoca é real.

Não são muitas pessoas, porque estou indo com cautela e


passando a informação para quem irá de alguma forma manter a recente

descoberta longe da polícia. Não quero despertar a ira de nenhuma


gangue.
Gavin ocupa seu habitual lugar ao fundo da sala e hoje
estrategicamente me sento em um lugar onde possa o observar. Eu quero

presenciar suas reações e sorrio quando ele se dá conta de que algo está
errado. Ele faz uma careta e olha ao redor, à procura do que está errado.

Enviei a mensagem para somente sete dos nossos colegas e foi o


suficiente, como achei que seria. Gavin deveria me agradecer, porque

estou o tornando popular.

Assim que a aula acaba, Gavin junta suas coisas, joga a mochila
sobre seu ombro e sai praticamente correndo da sala. Eu estou de muito

bom humor e a prova disso é conversar com um garoto que se aproxima.


Ele não é bonito, não é alguém significante, tudo que ele quer é que eu

seja sua escada de ascensão, acho que ele ainda não entendeu que
ninguém pode me usar.

Aguento-o por dois minutos, é tudo que consigo, então

simplesmente digo que estou saindo da sala e me afasto, sem desculpas e


sem me despedir.

Caminho pelo corredor em direção a sala da próxima aula e de


repente alguém segura meu braço e puxa.

— Que merda é essa!?


Grito enquanto cedo ao puxão, porque não quero cair. Entro em
uma sala de aula aleatória e quando olho para o lado, me deparo com

Gavin, ele fecha a porta e me empurra contra ela.

— O que você fez?

Larga o meu braço, mas para a minha frente. Quase não há


nenhum espaço entre nós dois. Seus olhos estão vermelhos de tanta raiva

e sua mão está espalmada na porta, mantendo-a fechada. A surpresa pela


forma como me puxou cede lugar a satisfação de vê-lo tão transtornado.

— Eu não fiz nada.

Faço um beicinho inocente e a raiva em seus olhos se intensifica.

— Não brinque comigo, porra.

Soca a porta.

— Eu avisei que você não poderia me vencer.

Continuo sorrindo e ele abaixa seu rosto. Sinto sua respiração e

posso ver as veias saltadas em seu pescoço.

— O que merda você fez, Kim?

Sussurra ameaçador e qualquer outra pessoa teria medo, mas não

eu, pelo contrário, tudo que consigo sentir é uma excitação percorrendo
meu corpo.

— Tornei suas lutas conhecidas de algumas pessoas.


Soca novamente a porta.

— Você precisa parar.

— Por quê? Eu estou fazendo um favor para você, tornando-o


conhecido. — Inclino meu corpo para frente e seu nariz encosta em

minha bochecha. — Aposto que terá mais pessoas na sua próxima luta.

Faço um barulho com minha língua e Gavin vira o rosto, seus


lábios quase encostam nos meus, e nossos olhares se encontram.

— A cada dia você complica mais sua vida, bonequinha. — Traz


sua mão até minha cintura e a aperta. — Porque eu não vou hesitar em

destruir você.

— Será divertido ver você tentar.

Seu olhar continua no meu, minha pele queima onde sinto seu
toque e travamos uma batalha. É Gavin a desviar seu olhar do meu,

porque inclina sua cabeça para o lado e sua boca toca minha orelha.

— Eu serei o responsável pela sua queda, Kim.

Um arrepio sobe pelo meu corpo e não tem nada a ver com medo.

Ele dá um passo para trás, sua mão deixa minha cintura e leva consigo o
calor que de repente estava me consumindo.

— Pode ir, Kim, minha conversa com você terminou.

Empino meu nariz e sorrio.


— Será divertido ver você tentar. — Repito e ele simplesmente

continua me encarando sem demostrar nenhuma emoção. — Até mais,


Gavin.

Viro-me e deixo a sala. Sigo para a próxima aula, ocupo um lugar

e sei quando Gavin chega, posso não o ver, mas o sinto. Contenho-me e
não olho em sua direção, nem mesmo quando sei que ele está me

observando.

Eu me concentro no que o professor está falando, porém meu


corpo está todo em alerta, além de ansiar por algo mais.

Assim que a aula termina, pego minhas coisas e me levanto. Viro-


me para caminhar na direção da porta e o encontro em pé no fundo da

sala. Gavin está de moletom e de capuz apesar do calor e seu olhar


sombrio está sobre mim.

Gavin é inexpressivo, tudo que posso ver é uma alteração em seu

olhar quando está com raiva e excitado.

Sou eu a desviar o olhar do seu e sigo em frente. Eu vou para o

estacionamento e ao me aproximar do meu carro, encontro outro bilhete,


pego-o e como da outra vez é um bilhete impresso.

“Estou pensando se você merece uma humilhação pública, ou não. O que

você faria no meu lugar?”


Em que momento Gavin colocou esse bilhete aqui, ele teria
tempo de colocar depois do nosso breve encontro, ou foi antes da aula?

Não tem muita importância, apenas pego o bilhete e entro em


meu carro. Talvez deva começar a colecionar seus bilhetes. Sorrio e

encaro o papel que tenho em mãos.

— Não existe possibilidade de você me vencer, Gavin.


Kim

O lugar é o mesmo da outra vez. O esquema também, então assim


que deixo meu carro e as chaves com um dos caras vestido todo de preto,

entro no corredor e vou até a última loja.

Dessa vez, faço o caminho sozinha, Dallas não veio comigo,

porque chegamos à conclusão de que seria arriscado a sua presença, visto


que semana passada ela encontrou com um dos homens que já roubou.

Não tenho medo de estar sozinha, até mesmo, porque acredito que
os organizadores não querem confusão, apenas dinheiro. O lugar está

escuro e é iluminado apenas por pequenas luminárias com luzes


amarelas. Há um certo fluxo de pessoas e mesmo as que estão em grupo

estão em silêncio.

Luz amarela, silêncio, a noite escura lá fora... tudo remete a algo

perigoso e a adrenalina percorre meu sangue.

Chego na loja e encontro três caras de preto e uma mulher, um


deles está na porta e pede o convite, entrego-o e ele assente, me dá um

número, dessa vez, sou o oito e aponta para seu amigo que está ao lado

dos armários.

— Deixe seus pertences com ele.

Assinto e vou até seu amigo, pego meu celular em meu bolso e

entrego para ele.

— Algo mais. — Balanço a cabeça negando. — Ok, a senhorita


irá fazer alguma aposta?

É interessante como eles são educados.

— Vou.

— Dirija-se até ele.

Aponta para o cara ao fundo da sala, ele está em frente a um

balcão de atendimento.

— Ok.

Sigo até o terceiro cara.


— Qual valor da aposta e em quem será a sua aposta?

— Duzentos dólares no Gavião.

Não sei quem é esse cara, somente vi seu nome no convite e

decidi que iria apostar nele, afinal eu quero que Gavin perca.

— Só aceitamos dinheiro em espécie.

É claro que eles só aceitam dinheiro em espécie! Pego o dinheiro


em meu bolso e o entrego, ele pega o maço de dinheiro da minha mão e

rapidamente confere o valor.

— Tudo está ok. — Olha para o lado e chama pela única mulher
da sala. — Anne.

A mulher se aproxima e começa a me apalpar. Ok, a educação


deles tem limite. Após ter certeza de que não estou escondendo nenhum

objeto perigoso, me conduz até o alçapão, abre-o e eu desço a escada.

O ambiente continua sendo iluminado pela luz amarela assim


como a dos corredores, apenas um pouco mais intensa, apesar disso, é

possível ver o rosto das pessoas com clareza, além dos detalhes do lugar.

Um lugar que é imenso, há um bar e uma decoração impecável, é

realmente como se estivéssemos em um cassino em Las Vegas.

Há muitas pessoas, está praticamente lotado e dessa vez,

reconheço mais rostos. Aparentemente minhas mensagens obtiverem


algum resultado, até mais do que o esperado. Inclusive Josh e Dylan

estão aqui.

Caminho entre as pessoas e vou até eles que estão mais afastados

e observando o lugar como se não acreditassem no que estão vendo.

— Estou realmente surpresa de encontrá-los em um lugar como

esse. — Paro entre os dois e formamos quase um círculo. — Não é um

ambiente que diria que as Estrelas do Alabama frequentam.

Uso o apelido que são conhecidos. Os quatro amigos atletas e


capitães dos esportes mais populares da Universidade do Alabama. É

uma pena que os outros dois também não estejam aqui, eles formam um

quarteto ótimo de se olhar. E de se ter na cama também, mas para meu

azar todos estão namorando e mesmo antes disso, meu tempo com eles já

tinha passado, eles não concordam com o meu jeito de ver a vida, com

exceção de Dylan, ele foi o único com que não transei e o único que

considero um amigo.

— Não entendo a sua surpresa se foi você que me enviou a

mensagem.

Josh me acusa e finjo ser inocente.

— Eu enviei mensagem para você?

Sou cínica e Josh revira seus olhos.


— Gavin me contou que foi você que me enviou a mensagem.

Se Gavin comentou isso com Josh significa que realmente são


amigos.

— Sabe, eu fico curiosa em como alguém como você é amigo de

alguém como Gavin.

Josh é filho do governador, como conheceu Gavin?

— Você não sabe de nada, Kim. — Ele parece irritado e dá um

passo para trás. — Fique com sua amiga que não tenho paciência com

ela.

Avisa Dylan e se afasta, eu estou sorrindo e Dylan faz uma careta.

— Como você está?

Dylan me encara e pergunta. Ele nunca me reprende, embora não

concorde comigo. Ele é um cara legal e nunca entendi como ele pensou

gostar de mim antes de se apaixonar pela namorada.

— Bem e você?

Respondo-o e ele assente. Há alguns meses ele tentaria descobrir

se realmente não estou escondendo meus sentimentos, porém ele

finalmente entendeu que essa sou eu. Dylan me conheceu quando estava

no meio de uma crise de ansiedade se encantou com a possibilidade de


me salvar, o que ele demorou para entender é que eu não precisava ser

salva, e não queria ser.

— Bem, Tessa me contou sobre o porquê você contou sobre a

gravidez de Brooke. — Faço uma careta. — Você deveria contar sobre

para Aiden e Brooke.

— Sua namorada é uma fofoqueira. — Dylan sorri e suspiro. —

Não sou uma heroína, nesse caso só não sou a vilã.

Segue sorrindo e mudo de assunto antes que ele insista com o

assunto.

— Não fez nenhuma outra tatuagem para confessar o quanto está

apaixonado?

Provoco-o já que eu estava com ele quando fez uma tatuagem

para convencer Tessa que estava apaixonado por ela e não por mim,

brega, mas o amor é assim.

— Não.

Balança a cabeça e ri. Continuo mais alguns minutos conversando

amenidades com Dylan, ele é um cara leve, divertido e protetor, e uma

parte minha até tentou gostar dele de outra forma, mas foi impossível,

porque ele é luz demais e em mim só existe escuridão.


Quando o cara responsável por anunciar o início da luta entra no

ringue, despeço-me de Dylan e vou até um lugar mais ao centro, onde

Gavin possa me enxergar. Eu quero que ele saiba que eu estou aqui.

O homem que faz o papel de mestre de cerimônia avisa que a luta

está prestes a começar, a iluminação que já está baixa fica ainda mais

baixa, com exceção da que fica sobre o ringue.

Ele anuncia o oponente de Gavin e um cara surge de um dos

corredores. Ele está coberto por uma capa e não é possível vê-lo, porém é
nítido que é mais baixo que Gavin.

O próximo a ser chamado é Gavin. Ele não tem um apelido e é


anunciado pelo seu nome. Ansiedade vibra em meu peito e encaro o

corredor com o coração acelerado.

Gavin surge do corredor coberto pela capa e mesmo assim é sexy.


Existe uma certa sensualidade inexplicável em vê-lo lutar. Posiciona-se

no ringue de frente para o seu adversário e então os caras que estão os


acompanhando tiram as capas para longe.

Fixo meu olhar em Gavin, ele está vestindo um short vermelho,


seu abdômen perfeito está descoberto e é possível ver seus músculos.

Gostoso! Para piorar a situação está encarando o outro jogador com um


olhar ameaçador.
A visão dele sobre o ringue me deixa levemente excitada e todo
meu corpo vibra com uma necessidade repentina.

A luta é autorizada a iniciar, então os lutadores se encaram e


parecem dançar de um lado para o outro enquanto se olham. Eu observo

Gavin e é como se ele estivesse estudando seu rival pelo olhar, ele já me
encarou algumas vezes dessa maneira.

Sou dominada pela ansiedade e cada parte do meu corpo parece

estar em alerta. O cara enfim parte para cima de Gavin e gritos soam ao
meu redor, mesmo assim só consigo me concentrar na luta a minha

frente.

Gavin recebe um soco em seu rosto e apesar de ter apostado no


Gavião, torço para que ele revida e quando ele soca o cara sorrio. Ele

parte para cima com uma intensidade absurda, seus golpes são certeiros,
e é como se estivesse tão confortável sobre o ringue, como se pertencesse

ao lugar.

O mesmo homem que atua como mestre de cerimônia é o juiz e

para a luta quando se torna demais para o outro cara. Gavin parece ótimo,
sua respiração continua normal e a única evidência é seu peito que está

um pouco brilhoso por causa do seu suor.


Seu olhar encontra o meu, pisca em minha direção e minha boceta
contrai. Merda!

A luta inicia novamente, Gavião é o primeiro a partir para cima e

logo depois do primeiro soco, Gavin revida e toma posse da situação, ele
parece saber exatamente como desestabilizar o adversário, ele é como

uma máquina pronta para destruir quem estiver a sua frente e isso me
fascina.

Cada golpe, a tensão em meu corpo aumenta, as pessoas ao meu

redor se transformam em um borrão. O juiz interrompe a luta mais uma


vez e novamente, Gavin me encara e pisca em minha direção. O calor

está insuportável e a minha vontade é de correr até ele e me jogar em


seus braços.

Mais um round se inicia, Gavin está suando, seu cabelo é uma


bagunça e até mesmo seu lábio cortado pelo soco do adversário o deixa

sexy. Dessa vez, é ele a atacar primeiro e com mais raiva. Ele golpeia
Gavião até ele se apoiar na borda do ringue, totalmente exausto e

derrotado. Gavin continua partindo para cima como um deus, melhor


como um rei.

Gavião está prestes a desmaiar, então o juiz apita, declara a luta


encerrada e Gavin o vencedor. Todos ao meu redor gritam, o barulho é

caótico, entretanto continuo com os olhos fixos em Gavin.


Ele sorri vitorioso, encara-me e é como se eu estivesse prestes a

entrar em combustão. Mantenho meu olhar em seus olhos com todo meu
corpo em alerta, ansiando por algo que nem sei explicar.

Mesmo quando Gavin se afasta, a eletricidade continua


percorrendo meu corpo. Escuto as pessoas ao meu redor, porém sigo sem

reação. Esperando por algo.

Estou atordoada e respiro fundo na tentativa de me controlar e


entender o que merda está acontecendo.

Ainda estou no mesmo lugar quando o cara que estava com

Gavin, que julgo ser seu treinador, aproxima-se.

— Ele está esperando você.

Não me cumprimenta e apenas faz sinal para que eu siga. Deveria

negar, porém não consigo, algo me impulsiona a segui-lo e assim eu faço.


Abre caminho entre as pessoas e me leva para um dos corredores, o lugar

está vazio e até o som está abafado.

Ele para, aponta para uma porta e faz um gesto com sua cabeça
para que eu a abra. Meu coração dispara, minhas mãos estão suando e é

como se existisse um milhão de borboletas em minha barriga.

É como se estivesse atingindo um novo nível de excitação.


Abro a porta e entro em um escritório. Gavin está com sua bunda

apoiada em uma mesa, com os pés a frente do seu corpo e mãos


espalmadas na madeira. Nós nos olhamos e no mesmo instante sinto uma

pontada abaixo do meu ventre, causando um frenesi em mim e me


fazendo desejar algo que não deveria.

Seu lábio está cortado, seu cabelo uma bagunça, ele está suado e

seus olhos estão escuros e sombrios. O proibido é mais atraente e nesse


caso totalmente irresistível.

Não trocamos nenhuma palavra. Ele simplesmente dá um passo

em frente e fico esperando por ele. Não o empurro e nem me distancio


quando sua mão encontra meu cabelo e sua boca a minha, simplesmente
fecho meus olhos e deixo que tenha tudo de mim.

Seus lábios são rudes e massacram minha boca. O beijo tira tudo

de mim ao mesmo tempo que coloca meu mundo em órbita. Ofego, gemo
e levo minhas mãos até seus cabelos.

Suas mãos deixam os fios do meu cabelo e agarra minha bunda,


impulsiona-me para cima e enrolo minhas pernas ao redor da sua cintura.

Estamos ambos desesperados, sedentos.

Nada mais importa a não ser apagar o fogo que de repente ecoa
pelos nossos corpos e nos consome. Gavin me carrega pelo ambiente e
me coloca sentada sobre a mesa.

Sua boca segue sobre a minha e assim que estou sobre a madeira,

suas mãos pairam sobre minha calça jeans, abre o botão e puxa o zíper
para baixo. Seus lábios descem até meu pescoço, chupa e morde minha

pele enquanto levo meus dedos até o calção e toco seu pau.

— É o meu pau que você quer? — Morde meu ombro, grito de


dor enquanto minha calcinha fica ainda mais molhada. — Eu conseguia

ver do rinque o quanto está excitada, o quanto precisa de mim.

Afasta-se alguns centímetros e meu olhar encontra o seu. Seus


olhos são tão escuros quanto os meus.

— E você me quer da mesma forma. — Aperto seu pau e um


gemido deixa seus lábios. — Você está duro e é por mim, Gavin, eu que

te deixei assim.

As palavras são o combustível que ele precisava. Gavin me tira da


mesa, deixa-me em pé a sua frente, fica de joelho e tira minha calça e

calcinha. Eu fico exposta a sua frente, ele morde minhas coxas, seguro-
me contra a mesa e fecho meus olhos.

Sua língua encontra minha boceta e ele me toma com fome, com

brusquidão e aperta minha bunda. Choramingo e as sensações que


percorrem meu corpo me deixam alucinada. Empurro sua cabeça contra
mim e sua boca trabalha em meu clitóris.

— Caralho, Gavin.

Grito e posso sentir o orgasmo se formando em meu interior,

porém Gavin para.

— Que merda.

Empurro sua cabeça de volta para o meio das minhas pernas, mas

ele segura meu pulso e afasta meus braços. Fica em pé e abro meus olhos
no mesmo momento que segura minha perna levantada e sobre sua

cintura.

— Diga o que você precisa, Kim.

Seus dedos me seguram com força e não ligo se ficarei marcada.

No momento apenas uma coisa importa.

— Eu preciso que você me coma.

Sua boca encontra a minha. Fecho meus olhos, abaixo seu short e
o guio para dentro de mim. Ele me preenche e me fode como preciso ser
fodida. Seu pau sai e entra em minha boceta com força.

Arranho e me seguro em seus ombros. Não consigo mais pensar,


meu corpo implora por mais, seus toques são um vício e meu prazer se

intensifica. Descontrole e necessidade me consomem.


Seus lábios deixam o meu e sussurra em meu ouvido.

— Vamos, Kim, goze.

Soca com mais força contra mim e finalmente, uma explosão


acontece em meu interior. É libertador. Respiro aliviada e em êxtase.
Gavin morde meu ombro e goza dentro de mim.

Continuamos parados e me sinto tão bem que continuo de olhos

fechados. Isso é bom demais! É como se estivesse flutuando. Tudo que eu


queria era continuar assim, era nunca ter que abrir meus olhos e encarar
as consequências do que aconteceu.

Gavin se afasta, sinto falta do seu calor e ele diz algo, algo que
faz com que meu coração salte em meu peito ao entender suas palavras.

— Caralho, não usamos camisinha.


Gavin

Abro meus olhos, saio de dentro de Kim e dou um passo para


trás. A visão da bagunça que fizemos escorrendo por entre suas pernas

faz com que a sensação de prazer suma do meu corpo.

— Caralho, não usamos camisinha.

Ela abre seus olhos e me encara totalmente desesperada.

— O quê? — Não há mais tensão entre nós, o desejo desaparece e

resta apenas o desafeto de sempre. — O que merda você fez, Gavin?


— O que eu fiz? — Sorrio debochado. — Você perdeu o controle

tanto quanto eu.

Abaixo-me rapidamente e subo meu calção. Kim me encara com

fúria.

— Sabe-se lá que tipo de DST você tem.

Cruzo os braços sobre meu peito e analiso. Há marcas pelo seu

corpo, dessa e da outra vez. Uma satisfação vibra em meu peito.

— Não tenho nenhuma DST. — Ergo minhas sobrancelhas. — E

de nós dois, você é a mais propícia a me transmitir algo, afinal transou


com metade dos garotos da universidade.

Não que a julgue, mas é a verdade. Seus olhos ganham um brilho

diferente de raiva e não me sinto nenhum um pouco arrependido.

— Você é patético e suas palavras não me atingem, não tenho

nenhuma DST, porque não saio por aí transando sem proteção e não

transo com qualquer pessoa. — Sorri maliciosa. — Você é o meu

primeiro deslize e o último.

Desvia seus olhos dos meus, observa ao redor à procura de algo e

não preciso ser um gênio para saber o que é. Eu vou até o armário de

Scott e pego alguns papéis toalhas, entrego para Kim e ela me encara

horrorizada.
— Isso é tudo que temos.

Dou de ombros, ela os pega com raiva e a observo se limpar. Não

consigo negar, a cena é erótica. E desejo a ter outra vez.

— Para sua informação, eu faço uso de contraceptivo.

Aponto para a lixeira assim que está limpa e joga os papéis fora,

então pega a calcinha, sua calça e as veste.

— Ótimo, não quero filhos e muito menos com você, seria uma

tragédia.

Voltamos a nossa situação normal: Ódio e desprezo. Como duas


pessoas que se odeiam como eu e Kim têm tanta sintonia no sexo?

Inexplicável.

Bastou vê-la me assistindo e me fitando curiosa para acionar uma

onda de excitação em meu corpo que cresceu conforme os minutos de

luta passavam. Tudo pela maldita forma como ela me encarava.

Eu disse a mim mesmo que quando pedi para David trazê-la até

aqui seria para a perguntar que merda ela estava pesando quando

divulgou sobre a luta pra tantas pessoas, porém no momento que ela

entrou no escritório de Scott, eu sabia que precisa tê-la. Eu não estava

raciocinando e vou culpar ao êxtase da luta.


— Espero que você tenha percebido o tanto de pessoal da UA

presente na sua luta.

Debocha e franzo minha testa.

— Você tem que parar, Kim.

Aviso-a mais uma vez e novamente Kim me encara como se não

tivesse medo.

— Por quê? Não é por público que você ganha? Você ganha, não

é?

Suspiro. Eu não suporto mais lidar com essa bonequinha mimada.

Kim passa a mão pelo seu cabelo tentado arrumar os fios sem

preocupação nenhuma. Ela não está levando a sério minhas ameaças.

— Kim, é a última vez que vou avisar você. — Digo entre dentes.

— Você precisa parar e me esquecer para seu próprio bem.

Aviso-a mesmo que esteja decidido a encontrar algo para a

chantagear. Kim poderia parar e ainda sim faria questão de encontrar algo

contra ela, porque ninguém brinca comigo sem retaliação. Porém, ela

tem a chance de amenizar os fatos, tornar sua sentença mais leve.

— Você está me fazendo ameaças demais, Gavin. — Faz um

beicinho. — E não cumprindo nenhuma.


— Não sou um amador como você, Kim. — Sorrio e dou um

passo em frente. — Eu calculo cada passo, não ajo na emoção como

você.

Empina seu nariz e me encara com a sua habitual expressão de

dona de tudo.

— Não ajo na emoção.

Sigo sorrindo enquanto ela segue me olhando friamente.

— Você age e irá descobrir isso quando eu acabar com você.

Posso imaginar a expressão de derrota em seu rosto e é

satisfatório. Mal posso esperar para concluir meus planos.

— Você pode tentar, Gavin, mas nunca vai conseguir. Pessoas

como você não vencem pessoas como eu.

Dou mais um passo em frente e a distância entre nós se torna

mínima.

— Nunca encontrou alguém que pudesse colocar você em seu

devido lugar. — Inclino minha cabeça e pairo com minha boca a

centímetros da sua orelha. — Mas eu farei isso, bonequinha.

Seu perfume me cerca e preciso me segurar para não beijar sua

pele e não voltar a arrancar seus gemidos.

— Enviando-me bilhetinhos infantis?


Debocha, viro-me para o lado, meu nariz quase encosta no seu e

faço uma careta.

— Do que você está falando?

Dá um passo para trás e revira seus olhos.

— Não precisa fingir, eu sei que é você.

Continuo sem entender. Bilhetes? Nunca enviei nenhum bilhete

para Kim.

— Eu não te enviei bilhete nenhum.

— Só para sua informação, eles não me causam medo nenhum.

— Vira-se e caminha na direção da porta, sua mão segura a maçaneta e

para. — Aliás, nenhuma das suas ameaças me causa medo, Gavin, você é

inofensivo.

— Veremos, Kim.

Abre a porta e deixa o escritório de Scott. Passo a mão pelos fios

do meu cabelo e suspiro. Eu preciso encontrar algo que seja capaz de

acabar com Kim, algo capaz de causar uma humilhação pública. Kim

acredita ser a Rainha do Alabama e eu estou prestes a tirar a coroa da sua

cabeça, custe o que custar.

Três batidas na madeira da porta e a voz de Scott interrompe os

meus pensamentos.
— Você está vestido?

Que tipo de pergunta é essa?

— Óbvio. — Abre a porta e ergo minhas sobrancelhas. — Por

que não estaria vestido?

— Uma garota acabou de deixar o lugar.

Sorrio malicioso.

— Não se preocupe, tomo o cuidado de vestir minhas roupas.

Scott bufa irritado, vai até sua mesa e se senta na cadeira.

— Meu escritório não é um puteiro, Gavin.

— Ok, informação anotada, mas se eu fosse você mandaria


limpar a sua mesa.

Empurra a cadeira para trás e ergue as mãos para o alto.

— Minha cadeira?

— Essa está limpa.

Desliza as rodinhas da cadeira ainda mais para trás, abaixa suas


mãos e me encara com uma expressão de desaprovação.

— Só vou tolerar essa situação, porque hoje você me rendeu


muito dinheiro.
Há uma cadeira livre ao canto da sala, então pego-a e me sento de
frente para Scott, do outro lado da mesa.

— Quanto eu irei receber?

— Cinco mil dólares.

— Ótimo.

É uma boa quantia. Uma que irá se juntar a quantia que já tenho
guardada.

— Então, as apostas foram maiores? — Scott assente, porém não


parece contente. — Você não deveria estar feliz?

— Gavin, hoje havia muitas pessoas novas, principalmente

estudantes da UA. — Continuo sem expressar nenhuma reação, embora


saiba quem é a responsável por isso. — E nossa preocupação é como a

informação se espalhou de uma semana para a outra, você sabe que


precisamos manter a descrição e nosso nome longe de policiais.

— Você sabe como a informação se espalhou?

Continuo fingindo não saber de nada.

— Nós vasculhamos os celulares e descobrimos mensagens,


porém de números diferentes. — Faz uma careta e passa a mão pelo seu

cabelo. — Eu presumo que seja algum hacker.


Como Kim faria algo assim? Será que ela sabe mexer nesses
sistemas?

— Você suspeita de alguém?

Continuo o interrogatório e Scott demora alguns segundos para

me responder.

— Na luta passada, Paul viu uma garota que esteve com

Benjamin por um tempo, ela sumiu depois de estar com ele e logo em
seguida, uma quantia sumiu da conta dele.

Benjamim é líder da organização rival, responsável por outros

lutadores, normalmente é contra eles que lutamos. Scott e eles têm tipo
uma trégua, porém todos sabemos que há uma disputa de poder entre

eles.

— Você acha que essa garota é a hacker?

— Talvez.

Algo não faz sentindo. Quem seria essa garota e qual sua ligação

com Kim? Lembro-me da garota que estava com Kim na semana


passada, é a mesma que mora em sua casa. Seria ela a responsável por

criar os números aleatórios? Talvez.

— O que você irá fazer?


— Descobrir quem está causando problemas, identificar os

porquês e agir. — Dá de ombros. — Preciso fazer isso antes que


Benjamin, quem sabe essa garota possa me ser útil.

Seus olhos brilham e o líder da Blood Angels parece pronto para


atacar.

— Só espero que ninguém termine sem língua.

Suas palavras não me surpreendem. Scott não é alguém pacífico,

não tanto quanto aparenta. Ele é alguém disposto a tudo pelo poder e para
se proteger.

— Boa sorte.

Ele assente, inclina-se alguns centímetros para frente e estreita


seus olhos.

— Você e Will fiquem de olho, já que aparentemente essa pessoa

está interagindo com estudantes da universidade que eu pago para vocês


dois estudarem.

Ele claramente está me lembrando a quem devo lealdade e como


resposta assinto. Não sou um traíra.

— Ok, eu estou dispensado?

— Sim, Paul irá acertar o valor com você. — Paul é um dos


homens de confiança de Scott. — E lembre-se, qualquer coisa que
descobrir, me informe.

Assinto, fico em pé e me despeço de Scott. Eu vou até o espaço

ao lado, foi aqui que deixei os protetores depois da luta e antes de me


dirigir para a sala ao lado e pedir para que David chamasse Kim.

Tomo um banho e troco de roupa, em seguida encontro Will no

bar. Ele me parabeniza pela luta e vamos até Paul, recolho meu
pagamento e vamos para o carro. É Will quem dirige até o nosso

apartamento.

Will tenta conversar, mas estou distraído demais e desiste.

Seguimos em silêncio e assim que chegamos, vou direto para meu


quarto. Tudo que consigo pensar é em como posso obter provas de que é

Kim envolvida na troca de mensagens e de que jeito posso usar a


informação contra ela.

Caminho pelo quarto de um lado para o outro e de repente, eu

tenho o plano perfeito. Um plano que custará muito de mim, porém será
a ruína de Kim. Não só diante de todos, mas diante de si mesmo.

Como não posso fazer o que preciso agora de madrugada, vou


para a cama e não demoro a adormecer. E assim que acordo, pego o carro

de Will, porque os seus vidros são totalmente escuros e deixo o meu com
ele.
Como algo no caminho e em seguida dirijo até a rua de Kim,
estaciono a algumas casas de distância e fico aguardando as três garotas

saírem de casa, para minha sorte, isso não demora a acontecer, então a
invado e procuro pelos computadores da casa.

A amiga de Kim não é a única a conseguir hackear os sistemas


operacionais. Não sou o melhor, porém sei o suficiente para burlar as

senhas e fazer uma rápida varredura.

Minha primeira tentativa é com o computador de Kim e não


encontro nada, o segundo é com o da sua amiga e descubro que foi ela

que enviou as mensagens, faço fotos, vídeos e envio um relatório do seu


próprio computador para o meu e-mail. Não só das mensagens, mas

como das transferências bancárias que realizou, ela roubou muitos caras,
inclusive Benjamin.

Eu tenho provas o suficiente para a colocar em apuros.

Levo o computador até o quarto de Kim e fico sentado em sua


cama com o notebook ao lado. É início da tarde quando ela abre a porta e

me encara surpresa.

— O que merda, você está fazendo aqui?

Sorrio.

— Eu vim cumprir minhas ameaças, Kimberly.


Kim

Meus olhos o encontram assim que abro a porta e o grito de


surpresa morre antes de deixar minha boca, porque o reconheço

imediatamente. Gavin está na minha cama, sentado com as costas


apoiados na cabeceira, como se estivesse confortável, como se esse lugar

fosse dele.

— O que merda, você está fazendo aqui?

Pergunto ainda com a mão na maçaneta e a porta aberta. Ele sorri,


um sorriso vitorioso que faz com que um arrepio nada bom percorra pelo

meu corpo. Droga!


— Eu vim cumprir minhas ameaças, Kimberly.

Entro em meu quarto, fecho a porta e controlo minha respiração.


Não há nada que ele possa fazer, Gavin não é alguém que possa me

vencer.

— Você é patético, Gavin.

Ele fica em pé e como sempre está vestido todo de preto,

calçando coturnos e suas tatuagens são visíveis. Ameaçador e bonito.

— Sabia que sua amiga roubou mais de cem mil dólares de um

líder de uma organização criminosa?

Engulo em seco. Não se trata sobre mim, trata-se de Dallas.

Merda!

— O que diabos você quer?

Caminha em minha direção, continuo parada e ele anda em torno

de mim em círculos.

— Apesar de saber que é só uma garotinha mimada, acreditei que

fosse mais esperta. — Desdém e malícia acompanham cada palavra que

deixa sua boca. — Eu avisei sobre o perigo de expor sobre as lutas e


ignorou, não só ignorou como fez questão de deixar claro para todos

como conseguir convites para as lutas.


Ele continua girando ao meu redor e fico parada, mesmo sendo

um incômodo ter esse cara me avaliando, porque ele quer uma reação

minha.

— Ninguém tem como saber que fui eu.

Gavin ri e balança a cabeça de um lado para o outro.

— Todos deixam seus celulares nas mãos dos organizadores,

esses que não têm escrúpulos nenhum, Kim. Você realmente acreditou

que eles não iriam checar os celulares? Você acreditou mesmo que eles

não iriam tentar descobrir por que de repente o lugar estava repleto de

adolescentes idiotas?

Caralho! Eu não pensei sobre isso, como pude ser tão idiota?

Porra, odeio a sensação de derrotada e fracasso que ecoa em meu peito.

Eu não erro.

— Não há como descobrir que fui eu, os números não foram os

mesmos.

Confesso, porque ele com certeza deve saber dessa informação.

Gavin para logo atrás das minhas costas e me controlo para não me virar

e o encarar.

— E voltamos na questão da sua amiga... Dallas, não é?

Engulo em seco outra vez.


— Dallas não tem nada a ver com isso.

Por que tenho a sensação de que deixei escapar algo? Como

voltar a ter o controle da situação? Nenhuma ideia cruza minha mente e

continuo furiosa comigo mesma.

— Como estava dizendo, você sabia que sua amiga roubou mais

de cem mil dólares de um líder de uma organização criminosa? — Dá

mais um passo em frente e posso o sentir ainda mais próximo de mim.

Estou tensa e meu corpo rígido. — Uma organização criminosa não é

composta de amadores, Kim, eles não deixam passar nada.

Enrola meus cabelos em sua mão e me força a inclinar minha

cabeça para o lado.

— Alguém se lembrou da ladra que já esteve com Benjamin

Carter e está associando sua amiga às mensagens.

Merda!

— Eles não têm como chegar até ela.

Resmungo. Dallas é ótima, ela não é uma amadora e me garantiu

que o cara não a tinha reconhecido naquele dia. Gavin está blefando.

— Eu tenho, olhe para a cama, bonequinha.

Sussurra e quando olho para a minha cama, deparo-me com o

computador de Dallas. Pânico pulsa em meu interior. Tento pensar em


algo, raciocinar, porém, falho.

— O que diabos você fez?

Ele ri, inclina minha cabeça ainda mais para o lado e aproxima

seus lábios do meu pescoço. Odeio que isso me excita. Não é o momento

e mesmo assim me vejo pulsando por ele.

— Não sou tão bom hacker quanto a sua amiga, mas sei algumas

coisinhas e digamos que consegui invadir o computador dela e obter

algumas provas de que é ela quem enviou as mensagens e claro, eu tenho

os relatórios das suas transações bancárias. — Um frio se instala em

minha barriga e prendo a minha respiração. — Eu posso entregá-la para

Benjamin, ou para a polícia, ou para qualquer um dos otários que ela

roubou.

Beija minha pele, o pânico e a excitação duelam em meu interior.

Dallas me contou sobre Benjamim, porém me apresentou como um

empresário e pela forma como fugiu na luta passada não contava que ele

fosse alguém metido em problemas. Tenho certeza de que ela não sabe

que é o líder de uma organização. Isso fode tudo.

— O que você pretende fazer com Dallas?

Ele ri com seus lábios contra minha pele bem acima da marca que

ele fez em mim na noite passada. Desgraçado!


— Não sei, isso depende de você, Kim. — Fecho meus olhos

enquanto beija mais uma vez meu pescoço. — Você achou mesmo que

não tornaria minhas ameaças reais?

Abro meus olhos e respiro fundo.

— O que você quer, Gavin?

Odeio as palavras que saem da minha boca, porém por Dallas elas

precisam ser ditas. Ela é a minha única amiga, a única definição de


família que existe em minha vida.

— Lealdade sempre é uma merda. — Espalma sua mão livre

sobre minha barriga e aumenta o calor que de repente me cerca. — É um

dos piores princípios para se ter, parece que mesmo negando você tem

princípios, bonequinha.

Minha respiração está alterada e luto para me concentrar. Eu

preciso encontrar uma saída, não posso ficar na mão de Gavin assim.

— Se ela cair na mão das organizações, eles podem decidir

apagar com ela. — Para reforçar o que está dizendo, traz sua mão até

meu pescoço, ele não o aperta, mas me mantém presa contra seu corpo.

— Ou se ela tiver sorte, acabe ficando sem sua língua.

Eu sei que Gavin não está flertando e uma prova disso são as

lutas em si.
— O que você quer, Gavin?

Refaço a pergunta e novamente sorri contra minha pele.

— Eu avisei você, Kim. — A mão que está em meu pescoço

segura meu queixo e vira meu rosto até estar com minha boca a
centímetros da sua. — Você finalmente encontrou alguém capaz de te

destruir.

Mesmo diante da situação sorrio e o encaro com raiva.

— Você só ganhou dessa vez, Gavin.

Ele ri, segue segurando meu queixo e seus lábios encostam nos

meus. Sigo olhando em seus olhos e nos encaramos como se


estivéssemos prestes a matar um ao outro.

— Isso é apenas o início, Kim.

A tensão em meu corpo parece prestes a explodir.

— O que você pretende?

Pergunto mais uma vez sem baixar minha cabeça.

— Você irá fingir estar apaixonada por mim.

Suas palavras ecoam em minha mente e elas não fazem sentido na

minha cabeça. Eu só posso ter ouvido errado. Ele não pode estar falando
sério.
— Você só pode estar maluco! — Sua expressão não muda e
segue em silêncio. — De tudo que você poderia fazer, você quer que eu

seja sua namorada?

É impossível não começar a rir. Desvencilho-me dele e dou um

passo para trás.

— Inacreditável. — Prendo meu cabelo em um coque. — Eu sei


que tenho uma ótima reputação e estar comigo pode elevar o status de

alguém, mas você me odeia.

Gavin ergue suas sobrancelhas, um sorriso surge em seus lábios, e


então entendo o que ele está querendo fazer.

— Você quer me humilhar.

Sorriso em meu rosto se desfaz e o seu amplia.

— Como será para todos verem você comigo, hein, Kim? Um


fracassado, alguém que não é popular, um garoto problema com a garota

perfeita...

Eu posso ouvir os burburinhos e a raiva cresce em meu peito.

— Você não irá conseguir manchar minha reputação, ninguém irá

acreditar.

Dá um passo em frente.
— Kim, você irá se tornar uma tola, alguém totalmente
apaixonada, você irá ser vista como a garota que corre atrás de mim. —

Balanço minha cabeça e ele se aproxima ainda mais. — Eu vou sair com
outras garotas, falar que estamos apenas ficando enquanto você irá contar

para todos que estamos apaixonados um pelo outro, você não saíra sem
mim, mas eu sairei sem você. Você se tornará a fofoca da universidade.

Meu coração acelera e odeio as imagens que surgem em minha

mente. Eu já zombei desse tipo de garota, todos zombam mesmo aqueles


que sentem pena. Pena. É isso que irão sentir de mim, além de desprezo,
porque parecerei fraca e ninguém suporta gente fraca.

— Além de é claro estar apaixonada por alguém tão


insignificante. — Abaixa seu rosto e sua testa quase toca na minha. —
Ninguém irá entender sua obsessão por mim e como bônus, você ainda

me tornará popular.

Ele quer me tornar uma tola, uma pária, ele quer me destruir.

— Você é patético, Gavin.

Digo entre dentes e seus olhos brilham. Comemora sua vitória.

— Você irá deixar de ser a Rainha do Alabama e eu vou me

tornar o Rei.

Balanço minha cabeça.


— Não vou me submeter a isso.

Ergue um pen drive.

— Então, isso vai parar na mão de quem pode silenciar sua


amiga.

Tento pegar o objeto da sua mão e ele não se esquiva, pelo

contrário deixa-me pegar o pen drive das suas mãos.

— Há uma cópia em meu e-mail. — Afasta-se. — Esse é seu para

você saber que as provas que eu tenho são reais.

— Não vou ceder.

Sorri e dá de ombros.

— A partir de amanhã quero você demostrando a todos o quanto


está apaixonada por mim. — Odeio a forma vitoriosa como me encara.

— E eu fingirei estar apenas usando você.

Gavin fica de costas para mim e aperto o pen drive que tenho em

mãos com força. Não consigo pensar em nenhuma saída e isso me deixa
transtornada.

— Se resistir, Benjamin fica sabendo de Dallas.

Abre a porta e sai do meu quarto. Eu encaro a madeira branca e

lágrimas nublam minha visão.

— Maldito.
Raiva e fúria vibram em meu peito. A sensação de derrota,

fracasso e desespero pesam em mim. Sinto-me anestesiada, aguardando o


pior acontecer enquanto sou uma simples telespectadora.

A porta volta a abrir e Dallas entra em meu quarto.

— Por que o lutador disse que minha vida está em suas mãos? —

Escuto sua voz, porém só consigo enxergar um borrão onde ela está no
momento. — Você está bem, Kim?

Sua pergunta ecoa em minha mente e me dou conta de que


preciso reagir ou perderei totalmente controle. Balanço minha cabeça e

respiro fundo.

— Gavin é um desgraçado.

Ela adentra completamente no meu quarto e fecha a porta.

— O que aconteceu? — Seu olhar percorre pelo quarto e se

depara com seu computador. — O que meu notebook está fazendo aqui?

Volta a olhar para mim e preocupação toma conta dos seus olhos.

— Gavin descobriu que fomos nós que enviamos as mensagens

sobre as lutas.

Suspiro e me preparo mentalmente para lhe contar o que


exatamente está acontecendo.
— E o que ele queria com meu computador? — Sua voz dá uma
leve tremida, mordo meu lábio inferior e demoro a respondê-la. —

Droga, fale logo, Kim.

— Ele queria as provas.

— Por que ele queria as provas de que fomos nós que enviamos

as mensagens?

Dallas entende que há mais. Dallas se senta na beirada da cama,


eu me apoio contra a cômoda e encaro o teto enquanto respondo minha

amiga.

— O cara que você se envolveu, o Benjamin, ele não é um

empresário e sim o líder de uma organização criminosa relacionada com


as lutas ilegais.

Arregala seus olhos e balança a cabeça negando.

— Eu pesquisei sobre seus antecedentes, Gavin está blefando,

Kim.

Volto a olhar para Dallas e gostaria de que ela estivesse certa.

— Foi ele que você viu na luta passada? — Ela assente. — Ele

não está mentindo, Dallas.

Jogo o pen drive em sua direção e ela pega o objeto mesmo sem

saber do que se trata.


— Ele disse que aí estão as provas das mensagens e das vezes que
você roubou dinheiro de outras contas.

Dallas me encara assustada.

— O que ele quer de mim, Kim?

Sorrio, um sorriso sem humor.

— Ele não quer nada de você, Dallas e sim de mim, ele está me
chantageando.

— Você?

Assinto.

— Ele quer que eu finja estar apaixonada por ele, ou irá entregar
você para Benjamin.

Dallas fica em pé, totalmente desnorteada e passa a mão pelo seu

cabelo.

— Isso é ridículo, vocês se odeiam. — Encara-me assustada. —


Você não irá ceder.

— Não tenho alternativa, Dallas, eu terei que fingir estar

apaixonada por Gavin até encontrar uma forma de reverter a situação.


Gavin

Acordar em plena segunda-feira não é tão horrível e por um


motivo especial, hoje Kim deve começar a demostrar a todos o quanto

está apaixonada por mim e iniciar sua própria queda.

Não é saudável o tipo de joguinho que estamos jogando um com

o outro, mas é excitante e combina perfeitamente com quem somos, Kim


e eu habitamos na escuridão, nossas almas respiram nas trevas.

Dirijo para o campus com adrenalina pulsando em meu sangue.


Sei que Kim irá fazer o que exigi, eu soube no momento em que vi a

lealdade por Dallas em seus olhos.


Irá ser horrível ter a garota por perto, porém será por pouco

tempo, até ter destruído com sua reputação. Kim não irá mais reinar

sobre UA. Nunca pensei que seria tão prazeroso vencê-la e mal posso

esperar para sentir a satisfação da vitória final em meu peito.

Eu entro no prédio, caminho na direção da sala e assim que estou

no corredor, avisto Kim conversando com uma garota em frente a porta.

Ótimo! Meu olhar encontra o seu e faço um sinal para que dispense a
garota e fique sozinha. Franze sua testa, porém faz o que estou

mandando.

Ela fica sozinha e esperando por mim. Vou até ela, sorrio e paro a
sua frente, apenas alguns centímetros estão nos separando.

— Pronta?

Sussurro para que apenas ela escute, Kim está me fuzilando com

os olhos e é prazeroso desencadear esse tipo de sentimento nela.

— Jamais estarei pronta.

Dou de ombros.

— Faça o seu melhor, Kim. — Bufa irritada e meu sorriso amplia.

— Vamos lá, é só agir como age quando está tentando seduzir um atleta.

A raiva em seu olhar ganha ainda mais intensidade e quando ela

dá um passo em frente, posso sentir toda sua fúria emanando do seu


corpo.

— Só que você não é um atleta. — Ergue sua mão e seus dedos

tocam meu peito. — Não um atleta convencional, não é mesmo?

Apesar do seu gesto continua destilando ódio em minha direção,

qualquer pessoa que olhar para nós dois terá uma visão diferente, como

se estivéssemos flertando.

— Sou muito melhor que qualquer playboy metido a besta que já

cruzou seu caminho.

Enquanto ela tem as mãos em meu peito, levo meus dedos até seu

pescoço onde há uma marca causada por mim e que ela cobriu com

maquiagem.

— Você não é ninguém, Gavin.

Suas palavras não me causam desconforto nenhum.

— Então, me conte, eles já fizeram você gritar como eu fiz?

Abaixo meu rosto e seus olhos permanecem fixo nos meus..

— Você não é um deus, Gavin, só por conseguir fazer uma garota

gozar, isso é o mínimo.

Sorrio e balanço minha cabeça.

— Continue mentindo a si mesma e eu continuarei fazendo você

implorar.
Dou um passo para trás, afasto-me dela e ela abaixa seu braço.

Ela abre a boca para falar algo, mas viro-me de costas e entro na sala.

Não volto a olhar em sua direção, mas posso sentir seus olhos sobre mim.

Durante a aula só olho para Kim uma única vez e pisco em sua

direção. Tudo faz parte do nosso falso flerte. Ela sorri, mas no fundo dos

seus olhos, consigo ver a sua raiva, qualquer pessoa não notaria,

entretanto eu noto.

A professora está falando sobre a economia global quando uma

notificação brilha em meu celular que está sobre a mesa, eu o pego e é

uma mensagem de Josh.

“Daremos uma festa hoje na Star House.”

Ele também me envia o endereço do lugar. Faço uma careta e

digito uma resposta.

“Star House? Sério? Vocês são tão bregas.”

Recebo uma nova mensagem logo após o envio da minha.

“Cala a boca, Gavin.”

Acabo rindo enquanto pergunto que horas a festa irá começar,

Josh me responde e confirmo minha presença. Essa festa é uma ótima

oportunidade para pôr meus planos em prática e preciso falar com Kim,

por isso assim que a aula termina, espero ela sair e só então deixo a sala.
Ao entrar na sala da próxima aula, ela já está sentada e vou até

Kim, sento-me ao seu lado e ela me encara com deboche.

— Achei que o intuito fosse eu correr atrás de você e não você

correr atrás de mim.

Ignoro sua gracinha.

— Você irá a festa na casa de Josh e irá correr atrás de mim, faça

seu melhor, Kim.

— Festa? Que Josh? — Não preciso a responder, porque se dá

conta de quem estou falando. — Josh, o jogador de Beisebol? Você está

falando que as Estrelas do Alabama irão dar uma festa?

— Sim.

É a única resposta que ela precisa para um sorriso malicioso

surgir em seu rosto.

— Achei que eles estivessem domesticados.

Sua voz é repleta de veneno e não me importo o que ela pensa

deles.

— Você irá demostrar na frente de todos o quanto está interessada

em mim e eu é claro que vou demostrar o quanto não me importo com

você, o quanto você é apenas mais uma.

Estreita seus olhos e se inclina na minha direção.


— Você acha que ganhou, não é!? — Sorri. — Mas eu vou

descobrir como acabar com essa palhaçada e você irá se arrepender desse

seu joguinho, Gavin.

Toco o seu queixo, seu sorriso se desfaz e aproximo minha boca

da sua. Beijo seus lábios rapidamente, é como se uma corrente elétrica

percorresse do meu corpo para o seu e preciso resistir à vontade de

aprofundar o beijo.

— Acostume-se com a ideia de que você perdeu, Kim. — Toco

seus lábios com meus dedos. — Curta as últimas horas do seu reinado,

porque ele está prestes a ruir.

Kim se afasta e me encara com deboche.

— Você não vai conseguir, Gavin.

— Veremos, Kim, veremos.

Continuo com meu olhar preso ao seu e ela também não faz
questão de desviar seus olhos de mim. Só acabamos com a batalha que

estamos travando quando a professora entra em sala, então olhamos em

frente, porém sigo ao seu lado.

Sinto sua presença a cada instante e mesmo fingindo que ela não

existe em minha mente, meu corpo segue em alerta. A aula chata não
ajuda a me distrair e desisto de tentar, abro meu caderno, rasgo uma

folha, pego uma caneta azul e escrevo no papel.

“Qual é o seu número?”

Entrego-a para Kim sem olhar em sua direção e ela não demora a

me passar o papel de volta. Encontro a sua resposta escrita em rosa.

“Voltamos a quinta série trocando bilhetinho no meio da aula?”

Reviro meus olhos enquanto escrevo uma resposta.

“Kim, simplesmente escreva o seu número nesse maldito papel.”

Alcanço o papel outra vez para Kim e novamente, ela me


responde com outra pergunta.

“Por que eu te daria o meu número de telefone?”

“Porque eu quero. Preciso te relembrar o porquê deve me obedecer?”

Dessa vez, o papel retorna com o seu número. Olho para o lado e

pisco em sua direção, Kim me mostra o seu dedo do meio e sorrio


satisfeito.

Voltamos a prestar a atenção no professor e só volto a olhar para

Kim ao fim da aula.

— Não se esqueça da festa e do que deve fazer.

Revira seus olhos, eu não espero por uma resposta, pego minhas

coisas e deixo a sala. Ótimo, tudo está se saindo conforme o planejado.


Vou para casa e preparo algo para comer. Enquanto almoço um
sanduíche, assisto alguns episódios de uma série sobre investigação

criminal. Pela tarde troco de roupa, coloco algo confortável e deixo o


apartamento.

Não haverá a aula sobre os aconselhamentos para admissão nas


faculdades de direito, então dirijo até a academia de Scott, uma academia

e que aparentemente é um estabelecimento normal, porém é apenas uma


fachada, ela é utilizada por seus homens e por pessoas envolvidas em

seus negócios, como Will e eu.

Ele não aceita novos alunos e a desculpa é sempre que não há


mais vagas, na verdade ela não está disponível.

Eu entro no prédio e vou direto para área para treino de lutas, para

minha sorte não há ninguém. Coloco meus fones de ouvido, tiro minha
camiseta, tênis, meias e fico só de calça. Escolho uma playlist, largo meu

celular junto com as minhas coisas, sobre uma bancada ao canto da sala e
enfaixo minha mão.

É como entrar em um mundo só meu. Em algum lugar em minha


mente, repleto de adrenalina, tensão, lembranças e objetivos. Os

sentimentos se misturam, transbordam em emoções e me transforma em


alguém furioso.
Assim que tenho as faixas ao redor da minha mão me aproximo

do saco de boxe e enquanto Believer[4] ecoa em meus ouvidos desfiro o

primeiro soco.

“Em primeiro lugar

Vou dizer tudo que estou pensando

Estou irritado e cansado do jeito

Como as coisas têm sido”

A letra da música faz com que me lembre da minha infância, de

uma mãe prostituta e viciada em cocaína, um pai que nunca existiu,


alguém que nunca conheci. A miséria, a fome e os caras entrando e
saindo da minha casa. O pó branco sobre a mesa e minha mãe curvada

sobre. O caos em minha mente e o desespero por um futuro.

“Em segundo lugar

Não me diga o que você acha que eu poderia ser

Sou eu quem comando o barco, eu sou o mestre do meu mar”

Eu precisava de uma saída e Martin apareceu, ele me libertou de


um inferno e me apresentou as maravilhas presentes na escuridão.
Roubo, lutas ilegais, drogas e um mundo ilícito. Vendi minha alma, não

tive alternativa e me tornei o melhor lutador que consegui.


Tentei salvar minha mãe e nunca consegui, ela continua no

mesmo bairro e na mesma casa decadente. Viciada e se prostituindo. Tão


viciada que não se lembra de mim. E para completar o show de horrores

que é minha vida, encontrei a mãe de Josh morta.

“Eu fui destruído desde pequeno

Levando meu sofrimento pelas multidões

Escrevendo meus poemas para os poucos

Que me encaravam, me levavam, me sacudiram, me sentiram”

Tracei um objetivo em minha mente, não iria sucumbir como


minha mãe, não iria continuar preso a um mundo amaldiçoado. Eu me

tornei o melhor lutador, deixei as ruas e o roubo e comecei a lutar.


Ganhei dinheiro e investi em uma faculdade comunitária, e o restante

guardava para concluir o curso de ciências políticas em uma universidade


e para o curso de direito.

Eu me tornei o melhor e Scott me achou, um dos maiores líderes

do Alabama. O Estado é seu. Ele me ofereceu parte dos lucros e contas


pagas, todas, inclusive minha universidade. Martin não podia recusar

pelo seu poder e eu não podia recusar o dinheiro. Essa é a minha


oportunidade e nada irá me parar.

“Cantando com um coração partido pela dor


Captando a mensagem que está em minhas veias

Recitando minha lição de cabeça

Vendo a beleza através da dor!”

Eu posso ter nascido um perdedor, mas não vou perder.

Descarrego toda minha raiva no saco de box, suor escorre pela


minha testa, não descanso e só paro quando meus braços não aguentam

mais, estão doloridos e queimando.

Eu pego minha mochila e vou para o vestiário. Entro e encaro


meu reflexo em um dos espelhos. Meu rosto está vermelho e meus olhos

continuam inexpressivos, como se eu não sentisse nada.

Na verdade, eu sinto tudo.

Tomo um banho rápido, coloco a roupa que trouxe na mochila e

deixo a academia. Meus pensamentos se normalizam e ao chegar em


casa, encontro Will na sala, sento-me ao seu lado no sofá e aviso da festa

na casa de Josh, ele comemora, pedimos pizza e perto do horário da festa


saímos do nosso apartamento.

Will dirige até uma mansão. O lugar é enorme, muito para apenas

quatro universitários, mas não me surpreende, Josh e seus amigos são


ricos, muito ricos.
Seguimos do carro até a casa e o local está repleto de pessoas, o
que comprova o quão populares são. Adentramos o lugar e há uma sala

transformada em uma pista de dança.

Meu olhar percorre pelo ambiente e não demoro a encontrá-la.

Kim está cercada de outras pessoas, sendo admirada e ovacionada como


sempre. Como se percebesse que estou a encarando, vira o rosto e seu

olhar encontra o meu.

Ela me encara com desprezo, então ergo minha sobrancelha e sua


expressão muda. Para as outras pessoas, ela está me olhando com desejo,

porém eu enxergo a raiva lá no fundo dos seus olhos.

Sorrio e sutilmente faço um gesto para que venha até mim. Will e
eu entramos ainda mais na sala e nos misturamos com outras pessoas,
entretanto sigo com olhar sobre Kim. Ela está falando algo ao seu grupo

de admiradores de repente afasta-se deles.

Enquanto caminha até mim, seus olhos estão presos aos meus.
Paro e Will continua em frente, espero-a e quando a tenho perto o

suficiente, toco sua cintura, aperto sua pele e aproximo minha boca da
sua orelha.

— Hora do show, bonequinha.


Kim

— Qual é o seu plano?

Continuo fingindo que estamos flertando quando na verdade

minha vontade é chutar seu saco e correr para longe. O que aconteceria

se eu fizesse isso?

— Eu pegaria você.

Como ele sabe o que eu estava pensando?

— Lendo pensamentos?
Apesar do seu toque ser um intruso, o lugar onde descansa seus

dedos está queimando, transportando calor para o restante do meu corpo,

acordando todas minhas células.

— Não, apenas está exposto na forma como está me olhando.

Ergo minha mão e a espalmo sobre seu peito.

— Eu estou olhando normalmente para você.

Contenho a vontade de revirar meus olhos e o imbecil ri. Gavin é

um desgraçado e odeio estar em suas mãos.

— Qualquer pessoa acreditaria nisso, menos eu, sou ótimo

decifrando olhares alheios, bonequinha.

Odeio como ouvir o apelido deixando sua boca me excita. Meu

corpo é um traidor.

— Qual é o plano?

Pergunto novamente. Mesmo que ele esteja usando uma camiseta

preta eu consigo sentir seus músculos. O toque faz com que me lembre o

quanto ele parece a escultura de um deus quando está sem nenhuma

roupa. Ou quase nu, já que nunca vi ele completamente sem nenhuma


peça de roupa.

— Primeiro, vamos ficar aqui, um perto do outro, fingindo


estarmos flertando. — Seus dedos aplicam mais força em minha cintura.
— Depois, eu vou beijar você, então acharemos um banheiro, eu vou te

foder e quando sairmos, encontrarei outra garota e você é claro irá olhar

para a cena desolada.

Odeio a sua narrativa, claramente ele está querendo me humilhar

e irá conseguir, os olhares de todos sempre estão sobre mim, a

perspectiva me deixa enjoada e me forço a não deixar transparecer o

quanto estou atordoada.

— Você não irá me foder em um banheiro.

Ele dá de ombros.

— Não me importo, só achei que fosse querer usar da

oportunidade para implorar pelo meu pau.

Um sorriso sem humor escapa entre meus lábios.

— Cada momento ao seu lado será uma tortura.

Ele dá um passo em frente, abaixa sua cabeça até seu nariz


encostar no meu e sua respiração atinge meu rosto. Seu cheiro me cerca e

um arrepio percorre o meu corpo.

Gavin me encara de um modo apavorante, posso ver a escuridão

através dos seus olhos e me atrai de uma forma que me faz esquecer de

todos os motivos pelos quais eu deveria me manter longe dele.


— A forma como sua respiração está alterada me diz ao contrário,

aposto que está ansiando pelo momento do banheiro, não é?

Forço um sorriso, tento normalizar as batidas desenfreadas do

meu coração e minha respiração. Repito em minha mente que Gavin é

um desgraçado, um cara normal, que é só eu estalar os dedos que aparece

aos montes.

— Você está muito enganado, Gavin. — Diminui o volume da

minha voz, porém continuo com os lábios curvados em um sorriso. —

Qualquer um faz o que você faz.

Balança sua cabeça. Sua mão em minha cintura aperta minha pele

ainda mais e a outra sobe até minha nuca, ele me mantém a sua mercê.

Estremeço com o toque e desejo por mais. Não é nada demais, tento me

convencer e falho, meu corpo continua prestes a entrar em combustão.

— Você é uma mentirosa, Kim. — Abaixa ainda mais sua cabeça,

inclina a cabeça para o lado e sua boca acaricia a lateral do meu rosto. —

Uma maldita mentirosa.

Minha respiração falha, fecho meus olhos e espalmo minhas mãos

em seu peito para o empurrar, foda-se essa merda de ter que fingir.

Porém, não consigo o empurrar, pelo contrário inclino-me em sua


direção. Ele ri e sua boca cobre a minha. Esqueço que todos estão vendo

e me concentro na forma como seus lábios exploram os meus.

Sua mão segue em minha nuca e a outra em minha cintura, sua

boca pede tudo de mim, abro meus lábios e sua língua duela com a

minha. Ondas de desejos ecoam pelo meu corpo, transformando as

faíscas em chamas, aquecendo e me deixando faminta.

Gavin interrompe o beijo e inebriada pelo desejo, abro meus

olhos, seus olhos estão tão escuros quanto os meus e morde meu lábio

inferior, fazendo com que meus seios pesem contra o vestido que estou

usando.

— Você pode tentar não implorar, Kim, mas seu corpo faz isso

por você.

Não tenho tempo de o revidar, porque volta a me beijar. Seu beijo

me consome, reivindica cada célula minha e o tempo perde a

importância, assim como onde estamos.

Enrola os dedos nos fios do meu cabelo e dita o ritmo do beijo.

Morde meus lábios, assim como eu mordo os seus. Rápido demais Gavin

afasta sua boca da minha e minha respiração está totalmente irregular.

Abro meus olhos e ele está me encarando com os olhos escuros, seu
pomo de adão desce e sobe em sua garganta. Ele pode tentar fingir,

entretanto está tão transtornado quanto eu.

— Vamos pegar algo para beber.

Entrelaça nossos dedos e me guia até a cozinha. O lugar está

lotado de pessoas e posso ver os olhares curiosos enquanto passamos.

Olho para Gavin é há um sorrisinho vitorioso em seu rosto, ele está

conseguindo o que quer.

Ele pega duas cervejas, entrega-me uma e bebo o líquido como se

fosse água. Talvez ela consiga fazer com que eu volte a raciocinar.

Voltamos em silêncio para a sala, cruzamos com as estrelas do Alabama,

Josh faz uma careta para Gavin, que apenas dá de ombros.

Gavin me leva até o canto da sala, apoia-se na parede e me puxa

até que eu esteja com as costas em seu peito. Bebo minha cerveja, a

música ecoa pelo lugar e continuamos sendo alvo dos olhares.

— Olhe como estão tentando decifrar o que estamos fazendo.

Sussurra em minha orelha. Eu olho ao nosso redor enquanto um

arrepio sobe pelo meu corpo. Gavin não se afasta e seu nariz segue

tocando minha pele. Minha respiração está irregular e um suspiro deixa

meus lábios quando espalma sua mão em minha barriga.


Bebo do copo de cerveja que tenho em mãos. Realmente, as

pessoas estão nos observando e sei que o objetivo de Gavin será atingido.

Eu preciso o quanto antes descobrir como acabar com essa palhaçada,

porém não consigo pensar. Não quando Gavin morde o lóbulo da minha

orelha, ou quando beija o meu pescoço.

Os olhares se tornam algo secundário e a necessidade do meu

corpo ganha cada vez mais intensidade. Minha boceta vibra e meus seios

estão pesados. Empurro minha bunda contra ele e sinto seu pau duro.

— Não me provoque, bonequinha.

Sua voz soa rouca e sexy, o que faz com que a dor entre minhas
pernas fique mais forte. Gavin morde levemente meu pescoço, no mesmo

local coberto por muita base, porque há uma mancha roxa causada por
seus dentes. Não deveria gostar de ser marcada por ele, mas eu gosto.

— Por que, Gavin? Está com medo de implorar?

Inclino minha cabeça para o lado e facilito o acesso ao meu


pescoço. Há marcas dos seus dedos e dos seus dentes pelo meu corpo, e

isso não me assusta pelo contrário, são lembranças que aumentam a


necessidade por mais.

— Você acha mesmo que conseguiria me fazer implorar?


Ele ri contra minha pele e volto a rebolar contra ele. Gavin pode
negar, porém seu corpo entrega o quanto estou o levando ao limite. A

música continua tocando, as pessoas dançando e conversando, entretanto


tudo está em segundo plano.

Levo minha mão até a frente da sua calça e aperto a protuberância


evidente, Gavin geme em meu ouvido e faço novamente. Sua mão aperta

minha barriga e quase não há espaço entre nós.

— É a sua vez de implorar.

Assim que as palavras deixam minha boca, afasta-se da parede e


continua com a mão em minha barriga, ele faz com que ande em frente,

pega minha cerveja e a deixa sobre um balcão junto com sua.

Leva-me na direção das escadas e eu vou, o clima entre nós não

mudou, ele continua duro e minha boceta vibrando. Subimos o primeiro


degrau e ele faz com que eu me vire ficando de frente para ele.

— Aposto que você sabe onde há um banheiro nessa casa.

Sussurra com seus lábios quase encostados no meu. Assinto e ele

faz um sinal para que continue subindo os degraus, viro-me em frente e o


guio até o segundo andar, entro no banheiro que fica no corredor, ele me

segue e fecha a porta assim que estamos no cômodo.


Viro-me, espalmo minha mão em seu peito e o empurro contra a
porta.

— É a sua vez de implorar.

Seus olhos brilham.

— Faça o seu melhor, bonequinha.

Ainda escuto o som da festa, mas caralho, ela perdeu a


importância. Levo minhas mãos até a frente da sua calça, abro o botão,

puxo o zíper e meus dedos adentram a cueca. Toco-o enquanto olho em


seus olhos.

Ele pulsa em minha mão e a veia em seu pescoço parece prestes a


explodir. Seu olhar e escuro e posso ver a sua força para resistir.

— O que você quer, Gavin? Gozar em meus dedos.

Faço uma pausa propositalmente e analiso o rosto de Gavin, ele

está tentando manter sua expressão neutra, porém não está conseguindo.
Sorrio vitoriosa e o continuo tocando.

— Ou em minha boca? Ou em minha boceta?

Aperto-o e um gemido escapa entre seus lábios. Sua respiração


está totalmente irregular, assim como a minha. Tê-lo aqui a minha

disposição deixa-me excitada. Inclino-me para frente e pairo com minha


boca a centímetros da sua.
— O que você irá preferir?

— Fique de joelho, Kim.

Sorrio, subo e desço minha mão pela sua extensão.

— Implore, Gavin.

Brinco com a ponta do seu pau e Gavin joga sua cabeça para trás
até estar apoiada na porta e fecha seus olhos.

— Porra, Kim, fique de joelhos e me tome em sua boca.

Continuo-o masturbando.

— Implore, Gavin. — Ele fica em silêncio e grunhido deixa sua


boca. — Implore, Gavin.

Repito e dessa vez, ele faz o que estou pedindo.

— Por favor, Kim.

Assim que as palavras deixam seus lábios, fico de joelhos a sua


frente, puxo sua calça e cueca para baixo e seu pau fica exposto para

mim. Volto a tocá-lo e aproximo minha boca, minha língua brinca pelo
seu cumprimento, ele suspira alto e traz sua mão até minha cabeça,

empurra-me na sua direção e continuo o torturando.

Aos poucos o tomo em minha boca, sua respiração ecoa pelo

banheiro, seus dedos puxam meu cabelo e ele perde completamente o


controle.
— Caralho, Kim.

Chupo-o e ele fode minha boca. Seu desespero aumenta a cada

segundo e antes que goze em minha boca abandono-o e fico em pé. Ele
abre os olhos e me encara transtornado. Ele precisa gozar.

— Implore, Gavin.

Rapidamente, vira-me, deixando-me de frente para o espelho e


para a pia. Inclino-me para frente e espalmo minhas mãos sobre a pia.

— O que você quer, Kim? — Ergue meu vestido, enrola ao redor

da minha cintura. — Quer que eu implore para foder sua boceta?

Não tenho tempo de o responder, porque enrola minha calcinha

em seus dedos e a rasga.

— Você quer que eu implore para me enterrar em sua boceta?

Arfo quando um tapa atinge minha bunda e antes que possa me


recuperar, ele se abaixa, morde minha bunda, abre minhas pernas e seu

nariz encontra minha boceta.

— Por favor, Kim.

Minha única resposta é um gemido, então Gavin fica em pé,

segura minha perna e guia seu pau para dentro de mim. Preenche-me e
nós dois gememos. Inclino-me mais para frente e o tenho ainda mais

fundo.
Enquanto ele entra e sai de dentro de mim, nossos olhares estão
presos no espelho. A cada estocada ele está mais fundo, o prazer vibra

pelo meu corpo e me transporta para outro lugar.

E quando ele traz seu dedo até meu clitóris, desfaço-me. O

orgasmo vibra pelo meu corpo e pela minha mente. De olhos fechados as
sensações vibram e me fazem esquecer de tudo.

Quando volto a mim, Gavin está gozando e se derramando em

minha boceta. Continuamos assim por alguns minutos e quando ele sai de
dentro de mim, não trocamos nenhuma palavra.

Puxa meu vestido para baixo e nos limpamos ainda em silêncio.

Não olho em sua direção e raiva por mais uma vez ceder ao desejo ecoa
em meu peito. Gavin é desprezível e o deveria manter longe de mim. Ele
pega minha calcinha e a coloca em seu bolso.

— Isso é meu.

— Coloque em destaque como um troféu.

Debocho e ele mantém o olhar inexpressivo.

— Não se esqueça de demostrar estar magoada.

Não tenho tempo de fazer perguntas, porque Gavin abre a porta e


me deixa sozinha no banheiro. Caralho! Olho para o espelho e encaro

meu reflexo, eu pareço alguém que foi muito bem fodida.


Maldito, Gavin!

Lavo minhas mãos, arrumo meu cabelo e saio do banheiro. O que


Gavin quis dizer com demostre estar magoada? De que merda ele estava

falando?

Eu entendo o que ele estava querendo dizer assim que desço o


último degrau da escada, porque me deparo com ele conversando com

duas garotas, ele tem os braços sobre as duas.

A cena me causa repulsa e minha consciência procura algo para

usar contra as garotas, algo que possa as transformar em párias.

As pessoas estão olhando em minha direção, porque é claro que


viram nós dois subindo para o segundo andar. Elas estão esperando a

minha reação. Não se esqueça de demostrar estar magoada.

Meu olhar encontra o seu e Gavin ergue suas sobrancelhas. Então,


encaro-os e meus olhos nublam de lágrimas.

O maior problema é que não estou fingindo.

Respiro fundo e caminho na direção da saída enquanto escuto

sussurros ao meu redor.


Kim

Assim que entro em meu carro, as lágrimas escorrem pelo meu


rosto. Odeio chorar, principalmente por esse motivo. Raiva, vergonha e

humilhação vibram em meu peito.

O olhar de Gavin segue em minha mente. Ele estava lá esperando

pela minha reação enquanto ainda sinto a evidência do que fizemos no


meio das minhas pernas.

E todo mundo percebeu o quanto ele me humilhou.


Dirijo para casa, tentando me controlar, porém sigo arrasada.

Entro em casa, subo para meu quarto e vou direto para o banheiro. Entro

embaixo do chuveiro e esfrego minha pele como se isso fosse capaz de

me fazer esquecer do que acabou de acontecer.

A água que cai sobre meu corpo se mistura com minhas lágrimas.

É horrível e deplorável pensar no que os outros estão pensando de mim,

na humilhação e em Gavin com aquelas garotas. Como se eu não fosse o


suficiente.

Minha vontade é de gritar, socar algo, perder o controle, porém

tudo que faço é sair do chuveiro, colocar meu roupão e ir para minha
cama. Adormeço enquanto me sinto um lixo. Enquanto meu mundo ruí

ao meu redor.

...

Acordo tão devastada quanto na noite anterior. A maquiagem

precisa cobrir a minha cara de derrota. Não tenho muita fome, mesmo

assim desço para a cozinha e preparo cereal com leite para comer.

Sento-me de frente para a ilha com a tigela e colher em mãos, eu

tento comer, porém não tenho a mínima vontade. Não paro de pensar na
noite passada, torço para que as pessoas esqueçam do que aconteceu e

para eu não ser o assunto vergonhoso do dia.

Talvez o plano de Gavin não tenha dado certo. Deixo a tigela

sobre o balcão e deslizo a colher de um lado para o outro. Eu preciso

urgentemente encontrar um jeito de parar Gavin, deve ter algo capaz de

pará-lo e eu só preciso descobrir o que.

— Hey.

A voz de Dallas interrompe meus pensamentos. Olho para cima e

a encontro caminhando em minha direção.

— Hey, eu não vi você entrar.

Minha voz soa sem emoção.

— Você está distraída.

Para a minha frente com o balcão entre nós e me analisa

minuciosamente a procura do que está errado.

— Minha noite foi péssima.

— Foi tão ruim assim?

Sorrio sem humor e abandono a tigela com cereal ao meu lado.

Não conseguirei comer.

— Definir a noite de ontem com adjetivos como ruim e péssima é

um elogio perto do horror que realmente foi.


— Sinto muito. — Faz uma careta. — Eu tentei fugir da palestra,

mas não consegui.

— Tudo bem.

— Você quer conversar sobre?

Balanço minha cabeça negando.

— Por enquanto não, só quero esquecer. — Ela assente. — Como

foi a palestra?

Mudo de assunto e Dallas me conta sobre a palestra que foi

obrigada a participar ontem à noite enquanto prepara algo para comer.

Minha amiga consegue me distrair e estou mais calma ao sair de casa,

porém meu coração volta a acelerar quando deixo o carro no

estacionamento do prédio.

E tudo piora quando pego meu celular e me deparo com uma

mensagem de Gavin. Estou caminhando pelos corredores quanto abro a

notificação.

“Lembre-se de me procurar, aliás sente-se ao meu lado.”

Merda! Não existe nada que não possa piorar. Sigo até a sala de

aula, morrendo de vontade de correr na direção contrária. Maldito Gavin,

eu estava vivendo minha vida perfeitamente antes de ele aparecer, ele

bagunçou tudo, transformou tudo em um caos.


Guardo o celular em meu bolso e assim que piso no corredor da

sala, uma garota caminha em minha direção.

— Hey, Kim.

Não me lembro do nome dela, tento recordar e simplesmente, não

consigo.

— Hey.

Ela caminha ao meu lado e seguimos pelo corredor.

— Soube que você protagonizou uma cena na noite passada.

Viro-me para ela e ela está me encarando com um olhar ingênuo.

— Você não estava na festa? — Balança a cabeça. — E o que

você ficou sabendo?

Ela consegue chamar a minha atenção e seus olhos brilham

quando se dá conta disso.

— Que você flertou com Gavin e esteve com ele, além de sair

chorando ao vê-lo com outras garotas.

O plano de Gavin deu certo, engulo em seco e tento disfarçar meu

desconforto.

— Estão falando isso?

O pânico em meu peito cresce.


— Sim, o que exatamente aconteceu?

Minha vontade é falar que é mentira, rir e ser venenosa, porém

não posso. Não quando devo fingir, então respiro fundo e minto.

— Eu só achei que ele pudesse ser diferente.

Soo como se estivesse apaixonada e arrasada. Por dentro quero

gritar de raiva, correr até Gavin e arranhar seu rosto bonito, fazer o que

nenhum lutador foi capaz de fazer. Idiota, imbecil...

— Ohh... você realmente gosta dele?

Ela me encara com pena e meu estômago embrulha. As pessoas

não sentem pena de mim. Caralho! Eu preciso desmentir essa merda e

abro a boca para fazer exatamente isso, porém eu o vejo saindo da sala.
Olho para Gavin e ele está me encarando.

Como se soubesse o que estou pensando, faz um sutil gesto com a

cabeça. Ele está mandando que continue.

— Eu gosto.

Faço um beicinho convincente e essa garota faz uma careta.

— Ele não te merece, Kim.

Assinto e continuo fingindo estar desolada.

— Eu sei, mas quem manda no coração.


Meu estômago embrulha outra vez. Jamais diria algo assim, eu

sequer acredito no amor e ainda estou me referindo a Gavin. Nesse

momento, eu preferiria que um raio me atingisse.

— Muito triste.

Segue me encarando com pena.

— Mantenha segredo.

Uma parte em mim torce para que ela faça o que estou pedindo, a
outra sabe que isso só irá a incentivar espalhar a informação.

— Claro.

Sorri gentilmente e espero que ela seja mesmo gentil. Eu em seu

lugar espalharia a informação. Ela e eu nos aproximamos da porta,


então Gavin, que está apoiado na parede ao lado, faz um gesto para que

vá até ele.

— Boa sorte.

Sussurra, sorri e entra na sala. E me recordo do seu nome, Marie,

ela sempre está em meu caminho tentando se aproximar, porém ela é


sonsa e não gosto de pessoas sonsas.

Eu me obrigo a ir até Gavin. Forço um sorriso e ele também está


sorrindo, um sorriso vitorioso. Daria tudo para conseguir alguma forma

de arrancar a expressão do seu rosto.


Paro a sua frente e ele dá um passo em frente tornando o espaço
entre nós mínimo.

— Bom dia, bonequinha.

Seus olhos brilham e para qualquer outra pessoa, estamos tendo


um momento íntimo.

— Péssimo dia.

Digo entre dentes para que apenas ele escute. Inclina sua cabeça e
sussurra perto da minha orelha.

— Você parecia estar se divertindo tanto com sua amiga.

A combinação da sua respiração atingindo minha pele e do seu

perfume me cercando faz com que um arrepio percorra pelo meu corpo.

— Você não imagina o quanto.

Ignora minha ironia, sua mão para sobre minha cintura e a aperta,

fazendo com que estremeça, odeio o quanto ele é capaz de me despertar.

— Espero que esteja cumprindo com a sua parte no acordo.

Viro meu rosto e meu nariz encosta no seu.

— Nós não temos um acordo.

Seu olhar escuro e ameaçador encontra o meu.


— Nós temos e posso relembrar você. — Sussurra com sua voz
rouca. — Eu protejo sua amiga e você finge que está loucamente

apaixonada por mim.

Escuto vozes ao nosso redor, porém só consigo me concentrar


nele.

— Isso não é um acordo, isso é chantagem.

Sorri.

— Eu chamo de acordo.

Encaro-o determinada.

— E eu chamo de chantagem.

Ficamos em silêncio enquanto meus olhos seguem presos aos

seus até que Gavin aproxima-se ainda mais e seus lábios cobrem os
meus. Um beijo rápido e que me deixa com vontade de mais.

— Vamos.

Dá um passo para trás e leva consigo a energia que de repente nos


cercava. Estende-me sua mão e a encaro com desdém.

— Precisamos mesmo disso?

— Sim e sorria, Kim.

Forço um sorriso e coloco minha mão sobre a sua. O pior é que


seu toque não me causa repulsa, pelo contrário faz com que o meu
sangue bombeia mais rápido. Gavin assente satisfeito e me guia para a

sala, assim que cruzamos a porta, puxa-me até que encoste minhas costas
em seu peito e sussurra para que apenas eu escute.

— Sempre sorria quando estiver comigo.

— Saiba que todos meus sorrisos são falsos quando estou com
você.

Sussurro de volta e me desvencilho dele para ocupar um lugar ao

fundo da sala, ao lado do lugar que ele sempre escolhe.

— Muito bom.

Parabeniza-me quando se senta e reviro meus olhos. Gavin

realmente está tornando minha vida um inferno.

A professora entra em sala, inicia a aula e durante suas


explicações posso sentir alguns olhares em nossa direção. Nunca foi tão

difícil ser o centro das atenções.

Gavin me entrega um papel. Um bilhete. Pego-o e o abro sobre

minha mesa.

“Você está fazendo caretas.”

“Não posso mais fazer caretas?”

Escrevo logo abaixo da sua frase e passo o papel para ele outra
vez. Gavin não demora a me responder e me entregar o bilhete.
“Não, porque está parecendo que você não gosta da minha companhia.”

Não consigo mais me concentrar na aula e continuo conversando


pelo papel com Gavin.

“Eu não gosto da sua companhia.”

“Finja que você gosta.”

Por um momento eu quase esqueço que o odeio.

“As pessoas estão fofocando sobre mim, eu posso estar fazendo uma

careta.”

“O que elas estão dizendo?”

Odeio escrever a verdade, mas não tenho alternativa.

“Seu plano está funcionando, Gavin, as pessoas estão fofocando sobre


mim e sobre a minha humilhação ontem à noite.”

De repente, é como se existisse um fardo em minhas costas, um

que há muito tempo eu não sentia.

“Você está se sentindo exatamente como as pessoas que você humilhou se

sentiram.”

Bufo diante da sua resposta. Agora ele é o herói das pobres

pessoas indefesas?

“Devo começar a rezar para que você apanhe e sinta a dor que os caras
que você vence sentem?”
É uma comparação distorcida demais, mas é a verdade. Ele não é
herói de ninguém. Gavin não é muito melhor do que eu.

“É diferente, Kim. Eu faço o que faço para sobreviver.”

“Eu também, Gavin.”

Ele com certeza não acredita em mim e não volta a me entregar o

pedaço de papel. A aula chega ao fim, ele segura minha mão quando
estou saindo e faz com que espere por mim.

Deixamos a sala com seu braço sobre meu ombro.

— Eu odeio você.

Digo entre dentes enquanto ele me guia na direção do


estacionamento. Gavin vira seu rosto e o inclina para baixo, parece uma

posição carinhosa, porém é só ele me dizendo que também me odeia.

— Esse sentimento é recíproco.

Reviro meus olhos, ele ri, volta a olhar em frente e seguimos.

— Onde está seu carro?

Pergunta assim que deixamos o prédio.

— Isso é mesmo necessário?

Por que ele prolonga tanto nossa tortura? Não é possível que ele
não se sinta tão desconfortável. É horrível, principalmente, porque é

como se uma corrente elétrica percorre do seu corpo para o meu, onde ele
está me tocando queima, além de parecer que o ar está mais denso
quando ele está ao meu redor.

— Sim, afinal é uma lei do casal se pegar nos estacionamentos da

universidade.

— Eu não faço esse tipo de coisa.

Olho para o lado e Gavin está sorrindo.

— Exatamente.

Ele não precisa me dizer mais nada para entender que isso
também faz parte do objetivo, vamos humilhar Kim e a transformar em

uma bobona. Contrariada e morrendo de raiva guio Gavin até o carro,


então ele me prensa contra o veículo e para a minha frente, com uma das

suas mãos apoiadas no carro.

— Você irá arranhar o meu carro.

— Eu não ligo. — Inclina-se na minha direção e sua boca se


aproxima da mim. — E tenho certeza de que você também não.

Seu olhar encontra o meu e sua boca cobre a minha. Não é um


simples beijo mentiroso. É um beijo real que me faz estremecer, aquece-
me e me transforma em uma fraca.

Arranca tudo de mim e me faz querer mais. Sua língua duela com

a minha, explora minha boca e o desejo corre pelo meu corpo. Roubando
meu fôlego e fazendo minha respiração falhar.

Gavin afasta sua boca da minha e beija meu pescoço. Espalmo


minha mão e em seu peito e cedo ainda mais acesso a minha pele.
Caralho! Ele continua a tortura e fecho meus olhos.

Distribui beijos pelo meu pescoço, morde o lóbulo da minha

orelha e rápido demais dá um passo para trás. Abro meus olhos e me


deparo com seu rosto, lábios inchados e olhos brilhando, tão atordoado
quanto eu.

— Não esqueça, Kim, aja como se estivesse apaixonada por mim.


Kim

Gavin caminha para longe, respiro fundo e entro em meu carro.


Minha respiração está irregular, meu coração acelerado e meus lábios

dormentes. Caralho!

Dirijo no automático, mantenho meus pensamentos longe e

controlados. Não quero pensar na forma como meu corpo reage e nem no
fato de manter a merda dessa mentira.

Opto por um restaurante mais afastado e com pouco movimento,


não quero encontrar com ninguém e muito menos conversar. Tudo que

preciso é de paz.
É irônico, mas eu, Kimberly Quinn, preciso de paz.

O restaurante é cercado por árvores e transmite a paz que eu


preciso. Aos poucos volto a mim e coloco meus pensamentos no lugar,

ou quase, já que continuo preocupada com a questão fingir que estou

apaixonada por Gavin.

Qual é a saída para esse problema? Não é possível que não exista

uma brecha.

Para minha sorte, não encontro ninguém e almoço sozinha. É

início da tarde quando deixo o restaurante e dirijo para o complexo

esportivo, para o treino das cheerleaders.

Ainda é cedo e nenhuma das meninas chegou, sou a primeira a

chegar, então troco de roupa no vestiário, deixo minhas coisas no armário

e sigo para a quadra.

Eu pego os colchonetes e espalho pelo chão. Começo a me

perguntar se as meninas estão sabendo sobre a fofoca, e se elas estiverem

sabendo sobre a cena que protagonizei ontem à noite?

Assim que as primeiras meninas chegam, descubro que elas

sabem sobre apenas pela forma como me encaram. Caralho!

Tessa é a última a chegar, olha em minha direção, ergue suas

sobrancelhas e dou de ombros. A namorada de Dylan é perspicaz, ela


sabe que existe algo de errado e tenho certeza de que fará perguntas. Eu

estou tão encrencada.

As garotas trocam de roupa, a professora responsável por nos

auxiliar chega e iniciamos o treino. Primeiro, alongamento e

aquecimento e em seguida começamos a ensaiar as novas coreografias.

Conforme os minutos passam, as perguntas surgem. Meninas

diferentes se aproximam e me fazem diferentes questionamentos. Todas

estão curiosas. Entre os movimentos e exercícios as respondo, com um

falso sorriso e com uma imensa vontade de ser capaz de desaparecer.

Você realmente estava com Gavin? Eu confirmo.

O que está acontecendo entre vocês? Respondo que estamos nos

conhecendo.

Como vocês se conheceram? Estamos na mesma aula, essa é uma

das únicas vezes que falo a verdade.

É somente, mais um dos seus contatos, não é? É doloroso negar e

dizer que Gavin é diferente e que eu realmente gosto dele.

Ele pode ficar com outras garotas enquanto estamos juntos? Paro

de sorrir, faço uma careta e com pesar respondo que infelizmente.

Eu tenho certeza de que pareço uma tola e idiota. O tipo de garota

que sempre evitei ser e sempre critiquei.


Erro os movimentos que nunca errei e angústia cresce em meu

peito. Se o time todo de Cheerleaders sabe sobre a fofoca, significa que a

fofoca se espalhou por todo o campus. Estou me tornando uma chacota!

Se tornar alguém admirado leva tempo, porém para se tornar

alguém digno de desprezo não é preciso de muito, apenas de um erro.

Ao fim do treino, estou exausta, é como se um caminhão tivesse

passado por cima de mim. É assim que as pessoas se sentem quando

fracassam?

Estou deixando a quadra quando sinto alguém se aproximando,

Tessa se posiciona ao meu lado e caminhamos rumo ao vestiário.

— Soube que você e Gavin estão juntos.

Ela soa curiosa e sorrio.

— É, eu sou a fofoca do momento.

Não deveria deixar o meu ressentimento transparecer em minha

voz, porém não consigo o esconder.

— Gavin é o melhor amigo do meu irmão e ele não parece

alguém que se envolveria com você.

Olho para o lado e a encaro com deboche.

— Vou considerar isso um elogio, Tessa.

A garota de cabelos rosa dá de ombros.


— Apenas a verdade.

— Você não sabe de nada.

Volto a olhar em frente.

— Algo nessa história não está batendo, Kim.

É a minha vez de dar de ombros.

— Você não precisa acreditar, Tessa.

Entramos no vestiário e não dou mais explicações para Tessa. Eu

vou até os armários, pego minhas coisas, jogo a mochila em meu ombro

e sem trocar de roupa, tento deixar o vestiário, porém Nancy me impede.

Ela se aproxima assim que cruzo a porta.

— Você está bem?

Ela não me fez nenhuma pergunta durante o treino, sequer se

aproximou de mim.

— Estou.

Nancy me encara decepcionada e antes de ouvi-la sei qual é o

problema. Nancy mora comigo, somos amigas e eu não contei sobre

Gavin, ela ficou sabendo através de fofocas.

— Você não me contou sobre Gavin.

Suspiro e dou um passo para o lado para não trancar a entrada e

saída do vestiário, Nancy faz o mesmo.


— Eu estive muito ocupada.

Odeio ter que dar satisfação para as pessoas, porém dessa vez, eu

devo uma explicação para Nancy. Até nisso Gavin está interferindo.

— Nós não somos amigas?

Caralho!

— Somos, eu ia te contar sobre, só estava esperando o momento

certo.

Mordo meu lábio inferior e torço para que minha desculpa seja o

suficiente.

— Vocês realmente estão juntos?

— Não e sim, Gavin está um pouco resistente.

Odeio as palavras que deixam minha boca. Resistente? Que

merda de mentira.

— Então, é verdade o que estão dizendo?

Controlo minha vontade de revirar meus olhos.

— O que estão dizendo?

Sigo fingindo inocência.

— Que você está mais interessada nele do que ele em você.


Meu estômago embrulha. Não faz nem vinte e quatro horas e as

coisas estão nesse nível.

— É só uma questão de tempo até conquistá-lo.

— Tenho certeza de que sim, Kim, você é incrível.

Meu Deus, Nancy, parece estar confortando uma criança.

— Eu preciso ir.

Ela assente e me garante que iremos nos encontrar mais tarde em

casa. Aceno em sua direção e me afasto. Caminho depressa para o


estacionamento. Não consigo lidar com mais perguntas e olhares

curiosos.

Como vou consertar a merda dessa bagunça?

Como o dia de merda ainda não acabou assim que me aproximo

do meu carro, deparo-me com mais um bilhete preso ao para-brisa. Pego-


o e as palavras impressa no papel fazem com que um arrepio percorra

meu corpo.

“Espero que você esteja gostando da humilhação... é só o início.”

Não basta estar me chantageando, acabando com a minha

reputação e me humilhando, ele precisa me enviar bilhetinhos. Maldito!

Amasso o papel e jogo dentro da mochila e entro no carro. Soco o


volante descontando minha raiva e frustração.
É como se a fúria me dominasse, tudo que consigo pensar
enquanto dirijo para casa e nas perguntas que ouvi ao longo do dia, nos

olhares curiosos, nos sussurros e zombarias.

O pior de tudo é que não posso fazer nada.

Deixo o carro na garagem e entro em casa tensa, com raiva em

meu sangue, como se eu estivesse prestes a explodir. Dallas está na sala e


olha em minha direção.

— Acho que alguém não está em seu melhor dia.

Encaro minha amiga e sorrio sem humor.

— Está competindo para ganhar o título de um dos piores dias da


minha vida.

Eu me aproximo e me sento na poltrona, ao lado do sofá branco

que ela está ocupando.

— Tão ruim assim?

Dallas morde seu lábio inferior indicando que está apenas

tentando amenizar a situação. Ela ouviu as fofocas.

— Você ouviu as fofocas.

— Eu ouvi. — Confirma embora eu não tenha feito uma


pergunta. — Está todo mundo falando sobre você e Gavin.

Jogo a mochila no chão, atiro-me para trás e encaro o teto.


— Como algo que aconteceu ontem à noite ganhou uma
proporção enorme tão rápido?

Dallas não me responde e bufo irritada. Não temos respostas,

porque não há uma explicação.

— Sinto muito.

— De repente minha vida se tornou um inferno.

Lamento, porque é tudo que posso fazer. Porra! Ajeito-me e volto

a olhar para minha amiga.

— Eu estive pensando e você não precisa fingir, Kim, talvez


Gavin nem faça o que está prometendo, e se fizer, posso enfrentar
Benjamin.

Dá de ombros como se não fosse nada demais e balanço minha


cabeça.

— Não é uma opção, Dallas, além do mais... — Aponto meu


dedo em sua direção. — Ele tem os extratos das suas transações, não

quero visitar uma amiga na cadeia.

Dallas conferiu o pen drive e realmente Gavin copiou

praticamente todas as informações do seu computador. Ela pode acabar


na mão da polícia, ou de um cara perigoso.
— E se tentarmos encontrar algo contra Benjamin, ou essa

organização que Gavin trabalha?

Apesar de ser algo perigoso, é algo que talvez possa funcionar.

— Você acha que consegue?

Dá de ombros mais uma vez.

— Eu posso tentar encontrar algum sistema, ou hackear algum


computador.

Franzo minha testa.

— Então, nós o chantagearíamos?

Assente e sorri satisfeita.

— Isso é perigoso. — A ideia me agrada, porém me preocupo


com as possíveis consequências. — Eles são pessoas que vivem na

ilegalidade e aposto que não temem ninguém.

Dallas não parece preocupada.

— Eu não ligo e será divertido. — Seus olhos brilham. — Você


sabe, eu não me importo com a ideia de ter que enfrentá-los.

Dallas tentou me convencer a não ceder a Gavin, porque


realmente não tem medo, entretanto não aceitei. Lá no fundo não quero

perder, não sem lutar.


— Ok, mas você terá cuidado e só iremos agir se tiver algo

concreto, não faremos ameaças infundas.

Dallas pula do sofá animada.

— Irei pegar meu computador.

Eu a espero e quando Dallas volta, me sento ao seu lado.

Observo-a tentar descobrir os computadores usados por eles com base no


endereço das lutas, porém não encontra nada, nem o vestígio de algo.

Desistimos quando Nancy entra em casa.

Dallas segue tentando encontrar algo nos dias seguintes e não é


bem-sucedida. Enquanto ela tenta, eu sigo sendo alvo de fofocas. Gavin

continua me fazendo orbitar ao seu redor, fingimos conversar antes e


entre as aulas, sento-me ao seu lado, ele me leva até o estacionamento e

me beija.

Todos acreditam que estamos juntos e que eu estou apaixonada,

porque na quarta ele é visto com outra garota, uma qualquer, sonsa e
insignificante. Eu sou mais bonita, mais popular, mais talentosa e é uma

humilhação ser trocada por alguém assim.

Meu humor está péssimo e nos treinos desconto nas minhas


colegas de time. Não consigo manter conversas agradáveis com Nancy e

nem com Dallas, tudo que consigo pensar é em como gostaria de matar
Gavin. É uma tortura ter que olhar para e fingir estar apaixonada quanto
na verdade adoraria ter minhas mãos ao redor do seu pescoço,

enforcando-o.

Na sexta-feira antes de sair de casa me deparo com uma

mensagem de Gavin.

“Não importa com quem esteja conversando, venha até mim.”

Merda, o que ele está aprontando? Dirijo e entro no prédio

apreensiva. E assim que estou no corredor da sala de aula, deparo-me


com ele ao lado da porta conversando com uma garota.

A garota é a mesma que esteve com ele na quarta-feira e a garota

que me forneceu informação sobre ele, ela é a puxa-saco que sempre está
ao meu redor, Marie. Ela está com as costas apoiadas na parede, ele está

com a mão espalmada ao lado do seu rosto e inclinado na sua direção.


Como se estivessem flertando!

A sua mensagem ecoa em minha mente e compreendo o que ele


quer fazer. Me humilhar mais uma vez. Não dessa vez, eu vou em direção

a porta sem olhar para ele, porém a voz da garota me impede de


continuar.

— Hey, Kim.
Se seguir ele irá achar que ganhou, então forço um sorriso e olho
para o lado.

— Hey... não lembro seu nome.

Minto e ela me encara como se eu fosse uma deusa, mas noto a

sua mão espalma sobre o peito de Gavin. Sua mão poderia cair.

— Nome dela é Marie.

Gavin é quem responde e não olho em sua direção.

— Gavin e eu estávamos falando sobre você.

— Como nós dois não temos nada.

Gavin complementa, eu não consigo mais fingir e faço uma


careta.

— Vou deixar vocês dois falando de mim.

Viro-me e sigo para dentro da sala. Raiva ecoa em meu peito.


Quem essa garota pensa que é?

Sento-me ao fundo da sala, ao lado do lugar que Gavin sempre


ocupa, espero por ele, porém, ele não se senta ao meu lado, ele ocupa o

lugar mais a frente, ao lado dela.


Kim

Tudo que consigo sentir é raiva. Raiva me domina e sequer


consigo prestar atenção na aula. As pessoas cochicham e sei que é porque

ele não me escolheu.

Fecho minhas mãos em punho e cravo as minhas unhas em minha

pele, tenho certeza de que me deixará marcas.

Dessa vez, não é comigo que ele deixa a sala de aula e não me

acompanha até o estacionamento. Ele vai com ela, mostrando para todos
que não temos nada.
Que ele não sente nada por mim. Ele está me desprezando em

público. Não consigo me concentrar em nada, apenas no fato dele estar

me tratando como uma idiota.

Desde o início da sua brincadeirinha, não recebo mais mensagens

como antes, os olhares em minha direção não são mais de admiração. Eu

estou perdendo tudo que conquistei. O prestígio e o controle estão

escorrendo das minhas mãos.

Odeio chorar, mas não consigo impedir que as lágrimas caiam

pelo meu rosto. Dirijo para casa e me sinto sozinha assim como no

passado.

Limpo meu rosto com a manga da blusa que estou usando antes

de sair do carro, mesmo que não tenha ninguém em casa. Chega de

lágrimas.

Entro em minha casa e a sensação de solidão passeia em peito.

Um vazio que há muito tempo não sentia se faz presente. Sigo para a

cozinha, esquento meu almoço e me sento de frente para o balcão, mexo

na comida com o garfo e até tento comer, entretanto não tenho vontade
nenhuma.

Estou tentando ser forte, porém a cada segundo me sinto mais


fraca. Como me afasto do abismo? Não estou preparada para ser
empurrada e cair.

Subo para meu quarto após almoçar e tento esquecer o caos que

minha vida enquanto estudo e quase dá certo, porém no meio da tarde

recebo uma mensagem de Gavin.

“Não se esqueça de estar na minha luta amanhã à noite, afinal uma

garota apaixonada não perde uma luta do seu amado.”

Apoio a minha testa na minha mesa de estudos e desejo que tudo

seja um pesadelo. Infelizmente, é tudo real. Ergo minha cabeça e o

respondo, porque não consigo o ignorar, não com o ódio ecoando em

meu coração.

“Eu espero que você tome uma surra.”

“Isso não vai acontecer, bonequinha.”

Jogo meu celular ao lado e passo a mão pelos fios do meu cabelo.

Espero que ele perca, espero que alguém quebre o seu maldito nariz. Mas

não é isso que acontece, mais uma vez ele parece um maldito rei no

ringue.

Eu me misturo as pessoas que assistem a luta, porém quando

começam a chamá-lo de The King, fico em silêncio. Eles com certeza

estão malucos.
A primeira pausa acontece e Gavin olha para o público com os

olhos brilhando. Ele gostou de ser chamado de Rei. Tão egocêntrico.

Olha ao redor e detém seus olhos em mim, ele estava me procurando.

Ele parece um maldito deus vestindo apenas um calção, suado,

com os cabelos bagunçados e um corte nos lábios. Pisca em minha

direção e volta a encarar seu adversário, o cara está destruído no primeiro

round. Essa será uma luta rápida.

E estou certa, o adversário de Gavin desiste no segundo round.

Ele recebe vaias e Gavin é aclamado, seu nome é entoado e o chamam de

The King. Ele sorri para a multidão que o cerca, mas é em mim que

mantém seu olhar.

Ele só desvia seus olhos quando se afasta e caminha na direção de

um dos corredores. O corredor privado, em que o acesso ao público é

proibido e que fica o escritório que usamos da última vez.

Novamente meu corpo está em alerta e anseio por mais. Mais de

Gavin. Quero seu olhar ameaçador sobre mim, quero ele me observando

como faz com seus adversários, quero ele me encarando como se fosse

capaz de descobrir meus pecados.

E é por isso que sigo o cara que se aproxima de mim e outra vez,

guia-me até o escritório em silêncio, abre a porta e a fecha assim que


entro no cômodo. Gavin está apenas de short, apoiado na mesa e com os

pés em frente ao corpo. Seus olhos contêm o mesmo brilho e mesmo

fervor da luta.

Aproximo-me, porque não consigo continuar longe. Algo me

puxa na sua direção e se torna impossível não ir até ele. Seu olhar

permanece fixo no meu, como se ele estivesse prestes a me consumir.

— Eu venci. — São as palavras que deixam sua boca quando

paro a alguns centímetros dele. — E você é o meu prêmio.

Ele não está me tocando, mas meu corpo o sente, energia vibra do

seu corpo para o meu. É como se existisse um campo elétrico em torno

de nós dois.

— Porque não chamou a... — Encaro-o com deboche. — Como é

o nome dela mesmo? Marie... Ela deveria ser o seu prêmio.

Toca minha cintura e me puxa na sua direção. Alívio e um anseio

por mais se intensificam pelo meu corpo.

— Porque eu prefiro a sua boquinha. — Sua boca paira a

centímetros da minha. — Eu prefiro você.

Meu coração acelera e sua boca cobre a minha. Fecho meus olhos

e me permito sentir. De repente nada importa e tudo se torna


insignificante. Ele faz com que o mundo entre em espera e me perco na

forma como seus lábios tomam os meus.

Por esse momento ele me reivindica.

Suas mãos descem até minha bunda e ele a aperta. A força que

aplica é o suficiente para fazer um gemido deixar meus lábios. Toco seu

peito e acaricio seu abdômen, minhas unhas raspam sua pele e sinto o

calor do seu corpo através dos meus dedos.

Sua mão sobe pelas minhas costas e enrola os fios do meu cabelo

em seus dedos, então afasta sua boca e puxa minha cabeça para trás.

Abro meus olhos e encontro os seus. Escuro, brilhando e me

consumindo.

— O que você quer, Kim?

Travamos uma briga. Uma que estou morrendo de vontade de

perder. Gavin leva sua mão até a barra da minha camiseta, puxa-a para

cima e seus dedos tocam minha barriga. É como um choque de frio com

calor, uma sensação que aumenta o calor que ecoa pelo meu corpo.

— O que você quer, Kim?

Repete enquanto inclina ainda mais minha cabeça para trás. Seus

olhos desviam dos meus e sua boca cobre meu pescoço. Ele beija o local
onde ainda há vestígios das marcas das suas mordidas, marcas que tenho

certeza de que ele as fará novamente e eu quero que ele me marque.

Sobe seus dedos até tocar meus seios, um gemido escapa entre

meus lábios e ele morde meu pescoço. A dor mistura se com prazer e o

meio das minhas pernas vibra.

Eu preciso tanto dele.

— Eu quero você.

Digo por fim e o descontrole nos atinge. Continua com a boca em

meu pescoço enquanto sua mão segue em meu seio. Aperto seus ombros
com minhas mãos e ele me mantém em pé.

Gavin para, abro meus olhos e protesto.

— Calmo, bonequinha.

Beija carinhosamente meu pescoço, um arrepio sobe pelo meu


corpo, algo diferente. É quase terno. Ele me vira e fico de costas para ele,

beija meu pescoço e fica de joelhos. Um suspiro deixa meus lábios


quando puxa minhas calças e calcinha para baixo e beija o final das

minhas costas. Seus lábios são capazes de causar um incêndio.

Sua boca continua tocando minhas coxas e minhas pernas


enquanto tira meus tênis e as minhas peças de roupa. Assim que as
empurra para longe, abro minhas pernas, inclino-me para frente, espalmo
minhas mãos na mesa e fico totalmente disponível para ele. Gavin
aproxima sua boca da minha boceta e sua língua percorre meus lábios.

Contraio meus músculos e gemidos deixam minha boca. Todo


meu corpo encontra-se tenso, dolorido e implorando por mais. Por uma

libertação que só ele pode me dar.

— Me chupe com vontade, Gavin.

Ele dá um tapa na lateral da minha coxa.

— Não diga o que eu devo fazer.

— Então, faça logo.

Ele morde meu clitóris e choramingo enquanto uma nova onda de

desejo percorre meu corpo. Meus seios pesam e minha buceta pulsa.

Seus dedos abrem meus lábios e Gavin me fode com sua língua.
Rebolo contra sua boca e me perco nas sensações que me provoca.

Esqueço-me de tudo e me concentro no meu prazer até que se torna


demais e uma explosão acontece em meu interior.

Meu corpo está convulsionando de prazer, é como se estivesse em


outro lugar. Posso sentir Gavin se afastando, mesmo assim continuo

perdida na sensação que me predomina.

Ainda estou sentindo as consequências do meu orgasmo quando


passa o braço pela minha cintura, espalma sua mão em minha barriga e se
guia para dentro de mim.

Gemidos voltam a deixar minha boca, ofego, grito, imploro por


mais e Gavin me penetra com força. Buscamos o ápice do nosso prazer

sem se importar se alguém irá nos ouvir, ou com o lugar que estamos.

Nada do que aconteceu até agora importa, apenas o agora. Apenas


as emoções que de repente ocupam meu coração.

Eu gozo novamente, em seguida Gavin se derrama dentro de


mim. Espasmos percorrem meu corpo e estou ofegante. Dessa vez, foi

diferente, foi como se compartilhássemos algo...como se


compartilhássemos a mesma alma.

Demoro a voltar a mim, a me tocar o que aconteceu e onde estou.

Porra!

Gavin beija meu ombro, um toque delicado e estremeço, porque é

tão terno. Continuo de costas para ele enquanto me limpa, dessa vez com
uma toalha. Nenhum de nós dois fala nada e seguimos em silêncio

quando finalmente me viro e coloco minhas calças.

Sei que deveria estar com raiva, com ódio de mim mesma e de
Gavin, porém simplesmente não consigo. Culpo o sexo e o orgasmo. Não

olho para Gavin e caminho na direção da porta e estou com a mão na


maçaneta quando escuto a sua voz.
— Isso não significou nada, Kim.

Sorrio, um sorriso sem humor e continuo sem olhar para ele.

— É claro que não significou, Gavin.

A raiva finalmente desperta em meu peito. Eu odeio Gavin! Saio


do corredor e sem olhar para trás deixo o lugar.

Um turbilhão de sentimentos se mistura em meu peito e me torna


uma bagunça. Um caos. É assim que continuo o final de semana e para

minha sorte não encontro Gavin, eu acho que não saberia como agir, ou
como manter o meu controle.

Não saio para nenhuma festa e sábado à noite Nancy, Dallas e eu

ficamos na piscina e eu as forço a contar o que estão falando sobre mim,


elas hesitam, porém, acabando cedendo. Eu ainda estou sendo o alvo de

fofocas.

Alguns dizem que estou apaixonada por Gavin, outros dizem que
estou obcecada por ele porque ele não me quer, também que sou um

brinquedo em suas mãos. Alguns debocham e dizem que estou pagando


por tudo que já fiz a outras pessoas. Sou a trouxa apaixonada, ingênua e

inocente enquanto sua popularidade cresce. Gavin está ganhando fãs, se


tornando popular pelas suas lutas e por conseguir o que ninguém

conseguiu, me derrubar.
Além de tudo, estão rindo por eu estar sofrendo enquanto ele está

com outras, principalmente com Marie, uma garota patética. Eu fui


trocada por uma garota patética.

Meus seguidores nas redes sociais têm diminuído drasticamente,

as pessoas não me param nos corredores da universidade, eu não sou


mais o centro das atenções. Ele está conseguindo atingir seus objetivos.

Gavin em pouquíssimo tempo fez um estrago em minha vida. E

mesmo assim sonho, preciso me tocar e me proporcionar prazer


pensando nele.

Quando não estou sonhando com ele, estou me revirando na


cama, minhas noites têm sido péssimas. Até minha aparência está

péssima, olheiras, meu cabelo está mais fraco e caindo por conta do
estresse.

Não me reconheço e na segunda-feira estou tão derrotada que não

vou para a aula. Eu fico em casa assistindo séries e pela tarde Dallas e eu
tentamos descobrir algo que me tire dessa, porém não encontramos nada.

Na terça, me forço a levantar para ir para o campus, porém não


tenho ânimo para me arrumar e saio de casa vestindo uma calça de

moletom, regata, tênis e cabelo preso em um rabo-de-cavalo.


Faço de propósito e me atraso, ao entrar na sala de aula todos já
estão presentes e Gavin está com Marie. É como receber um soco em

meu estômago e preciso respirar fundo.

Saio da sala antes do fim da aula para não cruzar com Gavin e

assim que chego em meu carro no estacionamento encontro outro bilhete.

“Eu vou derrubar você, Kim.”

Lágrimas se acumulam em meus olhos e odeio estar perdendo o

controle. Preciso fazê-lo parar, ou realmente irá me destruir.

Sigo para o restaurante, aquele mais retirado, porém quase não


toco na comida. Não tenho fome, não quando tenho que descobrir como

impedir a minha queda.

Após almoçar, vou para o complexo esportivo e finalmente

encontro um pouco de paz. Amo esse lugar e treinar, estar aqui é tudo
que preciso. Assim que as meninas se juntam a mim, não abro brecha

para fofocas e me mantenho longe delas, apenas converso com Tessa e


Nancy.

Encontro um pouco do meu controle, porém o descontrole volta a

me assombrar quando meu olhar se depara com Gavin. Ele entra e se


senta na arquibancada, fixa seu olhar em mim e sorri.
Gavin

Entro no complexo de esportes e subo até a arquibancada. Estou


subindo os degraus quando percebo que Kim se deu conta da minha

presença. Ótimo!

Sento-me em um dos bancos do meio, nem muito perto e nem

muito longe. Perfeito para que ela consiga me ver e eu consigo a


observar. Posso ver a expressão em seu rosto e seus movimentos

nitidamente. Mantenho meu olhar sobre ela e raiva emana dos seus olhos.

Sorrio, apesar de haver uma certa confusão em meus sentimentos.


Uma parte em mim se sente satisfeito, porém outra, uma parte

traidora, se preocupa. Kim não veio para a aula ontem, inclusive faltou o

aconselhamento e até onde eu sei, ela é uma ótima aluna, além disso,

hoje estava sem maquiagem, com uma roupa simples e cabelo amarrado.

Suas olheiras são visíveis e o cansaço está refletido em seu rosto.

Desvio meus olhos dos seus e olho para baixo, fito seu corpo de

cima a baixo. Ela está usando um top e leggings, sua barriga está de fora
e seus seios saltam do tecido, principalmente porque sua respiração está

irregular.

Volto a encarar seus olhos e há uma sombra de tristeza, como se


ela estivesse assumindo sua derrota. Sinto uma pressão em meu peito.

Não era isso que eu queria?

Esse é o meu objetivo, então por que não me sinto completamente

feliz? Por que há uma hesitação em meu peito?

É a minha vingança. É a prova que poderia a derrubar, além disso

estou libertando algumas pessoas e protegendo outras, estou evitando que

Kim continue fazendo vítimas. Mas eu nem ligo para essas pessoas!

Não devo sentir remorso, ou ressentimento, ela não merece,

mesmo assim quando olho em seus olhos, continuo não conseguindo me


sentir complemente satisfeito.
Caralho!

Sigo sorrindo embora meu interior esteja um caos. Kim se vira e

meu sorriso se transforma em uma careta. Passo a mão pelo meu cabelo e

suspiro.

Não é para sentir pena de Kim que eu vim aqui. Eu descobri o

horário do seu treino com Marie para atormentá-la. Não devo tornar as

coisas mais fáceis para ela, pelo contrário eu tenho que tornar sua vida

insuportável.

Até que ponto? E até quando? Não sei. Ainda estou tentando

descobrir quando devo parar. Inclino meu corpo para frente, apoio meus

cotovelos em minhas pernas e observo Kim.

Eu sei que estou conseguindo desestabilizá-la quando ela erra

alguns movimentos. Nunca a vi em ação, porém dizem que ela é incrível.

A melhor cheerleader. No momento ela é uma sucessão de erros.

Há mais garotas, inclusive a irmã de Josh, porém só consigo olhar

para Kim, mesmo quando tento olhar para o lado, algo me puxa para ela

novamente. Ela é linda, gostosa e imagens do nosso último encontro na

sala de Scott invadem minha mente e me atormentam.

Tudo foi tão intenso, como se estivéssemos consumindo ao outro,

como se estivéssemos compartilhando algo único, como se uma parte


minha estivesse interligado diretamente com uma parte sua. Naquele

instante nada teve importância e esqueci a vingança, as chantagens e

qualquer briga que tivemos.

E quando ela saiu da sala, me senti vazio. Um sentimento novo e

obscuro.

Ela continua errando, porém os movimentos deixam suas curvas

salientes. O meu propósito, meus questionamentos e meus objetivos

ficam esquecidos no fundo da minha mente e anseio por tocá-la, por ser o

alvo dos seus olhares, por ver o ódio e raiva se transformam em algo

sombrio e sedutor.

Às vezes, quando estamos nos beijando, eu sinto como se a minha

escuridão reconhecesse a sua, como se habitássemos o mesmo lugar.

Franzo minha testa e balanço minha cabeça, eu estou perdendo o

foco. Kim tenta uma vez subir sobre os ombros de duas garotas e formar

uma pirâmide, mas não consegue, ela cai sobre os colchonetes. Espero

que ela não tenha se machucado.

Continuo a observando atentamente, ela tenta mais uma vez e cai

novamente. A posição com que atinge o colchonete não parece muito

confortável. Ela faz uma careta ao se levantar, a professora pergunta algo

e ela balança a cabeça.


Na terceira vez ela consegue e sorri. Um sorriso que nunca vi em

seus lábios, ele parece tão genuíno. Ela realmente está feliz e todo seu

rosto se ilumina. Sua habitual arrogância volta a estampar seu rosto e ela

parece uma deusa. Poderia continuar a olhando e admirando a forma que

assumiu, mas seu sorriso se desfaz quando seu olhar encontra o meu.

Deveria me sentir feliz, é para isso que estou aqui, mas é ao

contrário. Meu peito aperta e sinto que fracassei.

Caralho!

Ela não é uma boa garota, não há motivos para querer vê-la sorrir.

Empurro minhas emoções para o fundo da minha alma, onde aprisiono

todos os outros sentimentos e me concentro em analisar o que está

acontecendo em quadra.

Mais alguns movimentos são colocados em prática e elas se

posicionam em uma roda, a professora e Kim falam algo, consigo apenas

ouvir que estão falando de uniformes. É nítido que Kim é uma líder pela

forma como fala e pela sua postura gosta disso.

A professora encerra o treino e as meninas se dispersam, seguem

para o mesmo lugar e aposto que deve ser para o vestiário. Kim continua

na quadra conversando com Tessa. O que ela e a irmã de Josh têm em


comum? Nunca tive muito contato com Tessa, mas tenho certeza de que

não é alguém maldosa como Kim.

Não consigo ouvir o que estão conversando e nem fazer leitura

labial. Por fim Tessa sorri e se afasta. Ela olha em minha direção e me

encara desconfiada, ergue suas sobrancelhas e dou de ombros. Não devo

nenhuma satisfação a ela.

Kim fica sozinha em quadra. Ela se vira ficando de frente para

mim, estreita seus olhos e continuo a encarando. Eu vou ficar aqui até ela

ficar.

Kim sorri debochada e me desafia. Ela está me desafiando a

continuar aqui. Eu ficarei!

Ela se alonga, treina algumas acrobacias e enquanto isso as outras

garotas deixam o vestiário e se despedem dela. Ficamos apenas ela e eu.

Cruzo meus braços, apoio-me no banco acima e fico a encarando.

Não vou a lugar nenhum, não enquanto ela estiver aqui.

A postura de derrota e fracasso somem e sua personalidade volta,

arrogante, soberba... dona do mundo. Meu coração acelera e uma onda de

excitação percorre meu corpo. Uma que me faz querer descer até ela e

provar quem ela é realmente e quem eu realmente sou.

Ela me desafia e me transforma.


Os minutos passam e ela segue em quadra. Faz piruetas nos

colchonetes e executa movimentos perfeitos. O que mudou desde o

treino? Por que agora ela está conseguindo?

A luz natural acaba e as luzes são acessas pelo sensor de

movimento. Olho para cima e encaro os vidros do teto, não há mais Sol

no céu e a noite tomou seu lugar.

Porra até que horas iremos continuar aqui?

Eu marquei de ir para a academia com Will, iríamos treinar


juntos, porém não conseguirei ir. Levo minha mão até meu bolso e não

encontro meu celular. Caralho, espero que o tenha deixado em meu carro
e não tenha perdido.

— Preocupado com a hora?

Ela grita, olho para baixo e sorrio debochado.

— Não, eu poderia continuar aqui a noite toda.

Kim revira seus olhos.

— Eu tenho mais o que fazer.

Vira-se e caminha na direção do que julgo ser o vestiário. Então,

rapidamente fico em pé e desço da arquibancada até a quadra. Sigo por


onde ela foi e entro na porta que acabou de cruzar. Deparo com pias e
algumas portas que levam a cabines com privadas e ao fundo existe uma
abertura que liga o banheiro ao vestiário.

Fecho a porta e caminho até a abertura. O vestiário é imenso, com


armários e bancos espalhados pelo local. Kim está de frente para o

armário ao fundo do local e se vira em minha direção assim que percebe


minha presença.

— O que merda você está fazendo aqui?

Dou um passo em frente, ela me encara furiosa e sorrio. Como ela

pode ficar ainda mais bonita com raiva?

— Todos dizem que você é uma ótima líder de torcida, porém não

foi o que vi hoje.

Provoca-a e por breves segundos seu olhar vacila, indicando que


consegui atingir um dos seus pontos fracos.

— Vai se foder, Gavin.

Volta a ficar de frente para o armário e me ignora. Eu vou até ela,


paro logo atrás dela com alguns centímetros apenas entre nós.

— Só se for com você.

Jogo seu rabo-de-cavalo para o lado, inclino-me para frente e

beijo seu pescoço. Vejo a consequência do arrepio em sua pele e ela


demora alguns segundos a reagir.
— Mantenha-se longe.

Ela traz seu braço para trás e atinge minha barriga com seu
cotovelo, o golpe é repentino me pega desprevino, dói e dou um passo

para trás.

— Porra, bonequinha.

Kim se vira e me aponta seu dedo.

— Me deixe em paz, Gavin. — Seus olhos têm um brilho

diferente, ela está com raiva, mas é além disso. — Você precisa de plateia
para seu plano dar certo e olha só não temos ninguém aqui.

Abre seus braços e faz um gesto para representar o nosso arredor.

— Somos só você e eu. — Sorri maliciosa. — Ou está querendo

me usar, como faz após as suas lutas? Está viciado em me foder? É por
isso que está aqui?

Espalma suas mãos em meu peito e me empurra para trás.

— É isso, Gavin? Além de me destruir, você quer me estragar


para qualquer outra pessoa?

Suas palavras são repletas de raiva, seu peito sobe e desce


rapidamente. Ela está transtornada. Seguro seu pulso e olho em seus

olhos.
— É isso que está acontecendo? — Dou um passo em frente,

abaixo minha cabeça e sigo com meus olhos fixos nos delas. — Estou
estragando você para todos os outros caras?

A possibilidade do fato ser real faz com que meu coração bata
acelerado e uma ansiedade grita em meu peito. Um monstro de

possessividade e necessidade acorda em mim e faz com queira marcá-la


como minha.

Travamos uma batalha, nenhum de nós dois está disposto a

confessar o que está pensando. Não temos tempo de decidir quem irá
perder, porque de repente as luzes se apagam e um grito escapa dos

lábios de Kim.

Eu me afasto dela e tento identificar o que está acontecendo.


Ainda há um pouco de iluminação, por causa dos vidros das pequenas
janelas, porém é algo mínimo, somente o suficiente para conseguirmos

enxergar onde estamos e o que está a nossa frente.

— Gavin.

Kim soa apavorada.

— Foram apenas as luzes, deve ser o sensor de horário, eles


costumam ser acionados sempre no mesmo horário, costuma ser o de

fechamento...
Assim que a palavra deixa minha boca, me toco de algo, então

corro na direção da porta. Eu espero que eles não tranquem todas as


portas, assim que chego puxo a maçaneta e nada.

O lugar está trancado!

Puxo novamente e uso da força, porém nada acontece.

— Porra.

Olho a fechadura para tentar arrombar e descubro que é


automática. Assim como as luzes ela tranca conforme o horário, isso

significa que irá abrir apenas no horário programado.

— Caralho!

Única solução seria hackear o sistema, mas não tenho meu

computador comigo, sequer estou com meu celular, espero que Kim
esteja com o seu. Eu volto até o vestiário e a cena a minha frente faz com

que fique totalmente sem reação.

— Kim? — Ela está sentada no chão com o corpo apoiado no


armário, joelhos dobrados e a cabeça apoiada sobre eles. — Kim?

Ela não me responde. Saio do meu choque e corro em sua


direção. Abaixo-me e fico a sua frente.

— O que está acontecendo? — Ela continua não me respondendo.

Toco sua mão e a aperto. — Kim, eu estou aqui.


Não faço a mínima ideia do que fazer, ou como agir. Levo minha
até seu rosto e a faço erguer sua cabeça. Kim tem os olhos fechados e

lágrimas escorrem pelas suas bochechas.

Merda!

— Kim, abre seus olhos. — Acaricio a lateral do seu rosto. — Eu

estou aqui.

Demoro alguns segundos, mas ela abre seus olhos e me deparo


com pavor, medo e desespero.

— Você tem medo de escuro? — Ela não me responde, mas


assente. — Caralho, bonequinha.

Sento-me no chão e a puxo para meus braços. Abraço Kim como

se ela fosse um bebê e beijo o topo da sua cabeça.

— Eu estou aqui. — Entrelaço minha mão com a sua. — Eu estou aqui.


Kim

Assim que as luzes se apagam, as imagens de um lugar escuro


ecoam em minha mente, aquele lugar no meu passado. A solidão, o medo

e a dor me cercam. Fecho meus olhos e meu peito aperta. De repente, eu


estou lá novamente. Não consigo me manter em pé, é difícil de respirar,

porque está doendo.

Não há como voltar. Estou presa na escuridão, em memórias e em

dor. Angústia toma conta de mim. Esqueço os motivos pelos quais devo

continuar respirando.
É como se algo estivesse pressionando meu peito. Escuto meus

gritos, os gritos de anos atrás. Sinto o mesmo desespero. Eu só queria

alguém para me resgatar e nunca encontrei.

Estou sozinha, sem ajuda, sem ter como me libertar, cercada pelos

monstros e fantasmas que insistem em me atormentar.

Alguém me toca, escuto uma voz, é um toque suave. Alguém

dizendo que está aqui, mas eu estou sozinha, não estou? Ergue minha

cabeça e pede para que eu abro meus olhos, mando meu corpo o

obedecer, porém mesmo quando abro meus olhos, só enxergo a

escuridão.

De repente, sinto braços ao meu redor. Alguém está me segurando

como se fosse um bebê. Beija o topo da minha cabeça e escuto sua voz.

— Eu estou aqui. — Segura minha mão na sua e pela primeira

vez, sinto como se alguém realmente estivesse ao meu lado. — Eu estou

aqui.

Apoio minha cabeça contra seu peito e posso sentir e escutar as

batidas do seu coração. Beija novamente minha cabeça e continuo

sentindo seu coração bater. Respiro conforme o ritmo do seu coração,

encontro-me e saio daquele lugar de escuridão da minha mente enquanto


me recordo de que não estou mais lá.
Eu não sou mais aquela garotinha.

— Eu estou aqui, Kim, você não precisa ter medo, eu irei te

proteger.

Apesar do medo continuar aqui, uma explosão acontece em meu

peito e me liberta completamente da prisão em que minha mente estava.

Transformo o vestígio da dor em choro, um choro compulsivo. A dor se

transforma em alívio. E as lágrimas descem pelo meu rosto. Gavin

continua com os braços ao meu redor. E sussurrando palavras de conforto

em minha orelha.

— Irá ficar tudo bem.

Eu acredito nele. Aos poucos o choro cessa e resta apenas a

escuridão e o silêncio. Antes que seja tragada de novo para as piores

lembranças que ocupam minha mente escuto a sua voz.

— Eu vi suas quedas enquanto tentava concluir uma pirâmide e

pareciam doloridas.

Eu entendo o que Gavin está fazendo. Ele está me mantendo aqui.

— É um pouco dolorido. — Confesso enquanto continuo com

minha cabeça apoiada em seu peito. — Ser cheelearder é um perigo.

— Não sabia.
— Nós fazemos muitos movimentos complexos, principalmente

os que envolvem altura, e às vezes fraturas acontecem, algumas sérias,

toda vez que ousamos nas acrobacias, estamos assumindo um risco.

As batidas do meu coração se normalizam e mesmo na escuridão

consigo voltar a respirar.

— Nunca pensei nos riscos que vocês se colocam.

— A maioria das pessoas acredita que é algo fútil, mas para nós é

mais que isso. Para mim é o meu ápice, é onde me encontro da melhor
forma.

Confesso, sem me importar de estar me abrindo demais para um

cara que quer me destruir. No momento nada importa, só quero me

manter distraída e longe da escuridão que permeia minha mente.

— Por que é onde você se encontra?

Respondo-o no mesmo instante e a verdade. Uma verdade que

nunca tornei em voz alta para ninguém.

— Porque é onde tenho meu controle total... ou tinha.

Hoje eu perdi meu controle no lugar que é meu bálsamo.

— Eu te fiz perder o controle. — Sim, ele fez. Eu fico em silêncio,

porque simplesmente não quero conversar sobre. — Por que você precisa

de controle?
Gavin prossegue não deixando que o silêncio ganhe espaço,

impedindo que minha mente se disperse para aquele lugar onde só

consigo lembrar da dor.

— Porque eu sei o que acontece quando você perde o controle da

sua própria vida.

— Eu sei como é essa sensação.

É estranho reconhecer que temos algo em comum ao mesmo

tempo que é certo. Tudo nesse momento é estranho, porém não me sinto

deslocada, ou sozinha. É como se estivesse onde deveria estar.

— Estou sem meu celular e o seu?

— Está sem bateria.

Respondo-o e não faço menção de sair dos seus braços. Não

conseguiria e não quero. Quero que ele continue fazendo com que me

sinta segura.

— Desde quando você luta?

Preciso que ele continue conversando comigo e faço a primeira

pergunta que se passa em minha mente, espero que Gavin hesite, ou

mude de assunto, porém ele me surpreende e me responde honestamente.

— Desde os doze.
— Uau, você era muito novo, apenas uma criança. — Não

consigo imaginar uma criança lutando. — Como isso aconteceu?

Mais uma vez, espero por uma mudança de assunto, mas Gavin

não hesita em me responder com a verdade.

— Minha mãe é uma prostituta drogada, então eu precisei ganhar

dinheiro muito cedo, ou morreria de fome, ou seria um fracassado igual a

ela, comecei furtando as pessoas na rua com um cara que governava o

meu bairro, eu tinha dez anos e aos doze ele me disse que se lutasse

ganharia mais dinheiro, então aprendi a lutar e me tornei o melhor.

Não há emoção em sua voz, mas posso sentir as batidas do seu

coração mudar. Não preciso de mais explicações para entender que assim

como eu em algum momento Gavin precisou ter o controle da sua própria

vida. É por isso que ele entende a sensação de conquistar seu próprio

controle.

Afasto-me do seu peito, viro-me e me sento em seu colo com as

pernas ao redor da cintura e meu olhar encontra o seu. Apesar de tudo

estar escuro, posso ver o brilho dos seus olhos e a forma do seu rosto

através da pouca iluminação que se infiltra pelas pequenas janelas.

Deixo minhas mãos sobre seus ombros e ele espalma as suas em

minhas costas me mantendo presa a ele.


— Sempre achei que você habitasse na escuridão, Kim.

— Eu estou na escuridão, Gavin, eu apenas não posso vê-la. —

Nossas respirações estão no mesmo ritmo e se misturam. — Eu posso

senti-la, desejá-la, tocá-la, porém não posso vê-la.

Eu não sei se ele entende o que estou querendo dizer, nem eu

entendo muito bem, mas é isso. Eu amo a escuridão que habita em meu

coração, mas quando as luzes se apagam os fantasmas da minha alma me

atormentam.

— O que você precisa, Kim?

Mantém seu olhar preso ao meu e inclino meu rosto na sua

direção.

— Eu preciso de você. — Meus lábios pairam sobre os seus. —

Preciso que você me lembre o porquê a escuridão é perfeita.

Seus lábios encontram os meus e não importa onde esteja, ou se


não há luz ao nosso redor. Tudo que importa é como Gavin faz com que

eu me sinta.

O beijo é calmo, um bálsamo, mas que ganha intensidade


conforme os segundos passam. Transforma-se em uma necessidade

absurda. Seus dedos puxam meu top para cima, interrompe nosso beijo,
ergo meus braços e ele joga a peça para longe.
Posso sentir seu olhar repleto de desejo sobre meus seios e antes
que os toque, ou traga sua boca até eles, levo minhas mãos até sua

camiseta e a tiro do seu corpo, a peça junta-se ao meu top.

Gavin toca minha barriga, e seus dedos causam uma espécie de

choque em minha pele.

— Você é tão bonita.

— Você nem está conseguindo me ver direito.

Ele sorri, inclina-se para frente e beija meu pescoço.

— Eu sei que você é linda, cada detalhe do seu corpo está

memorizado em minha mente.

Seus beijos descem pelo meu pescoço até chegar em meus seios,
então os toma em sua boca, fazendo um revezamento e me arrancando

gemidos.

Minhas mãos seguram sua cabeça contra mim e rebolo contra ele
friccionando minha boceta contra seu pau. Ele está duro e ondas de
prazer circulam pelo meu corpo.

Gavin abandona meus seios e faz com que eu fique em pé, ele faz

o mesmo e me empurra até a parede. Sua boca volta a cobrir a minha e


temos pressa.
As sensações que compartilhamos é alucinante. Todo meu corpo
está desperto, encontra-se implorando por mais, cada célula anseia por

seu toque.

Empurro-o, ele dá um passo para trás, eu olho em seus olhos e


levo minhas mãos até a frente da sua calça, aperto-a e um gemido escapa

entre seus lábios. Sorrio e mordo meu lábio inferior, então abaixo-me e
fico de joelhos. Gavin tira seus tênis e eu empurro sua calça e cueca para

baixo, jogo-as para o lado e me concentro em seu pau à minha


disposição.

Seguro-o, meus dedos percorrem seu comprimento e o guio até

minha boca, então o tomo e ele traz sua mão até minha cabeça. Fecho
meus olhos e preencho minha boca o máximo que consigo, até tocar
minha garganta.

— Porra, bonequinha.

Deixo que ele foda minha boca, arranco seus gemidos e testo os

músculos do meu rosto, porém quando sinto que ele está quase gozando,
fico em pé. Tiro meus tênis, legging e calcinha. Gavin abre seus olhos e
me encara com tanta luxúria que meu corpo se arrepia.

— Quero que você goze dentro de mim.


Assim que a última palavra deixa minha boca, Gavin cobre meus

lábios com os seus. Mais uma vez, reivindica-me, toma tudo de mim e eu
cedo tudo de mim a ele.

Não há nada entre nós, nenhum ódio, nenhuma desavença, nem


um receio, tudo se evaporou e perdeu a importância.

Segura minha perna ao redor da sua cintura e se guia para dentro

de mim. Preenche-me completamente, Jogo minha cabeça para trás e


beija meu pescoço.

Gavin continua me penetrando com vigor, enquanto suas mãos

marcam minhas coxas e sua boca meu pescoço. Arranho suas costas e
nossos gemidos ecoam pelo lugar vazio.

E quando sinto que estou gozando, abro meus olhos e encontro os


seus. Ele segue me preenchendo e me segurando contra ele, porém

continua me encarando. Há uma intensidade na forma como nos


olhamos, algo que torna o momento mais irreal.

O orgasmo explode pelo meu corpo, faz com que os dedinhos dos

meus pés se encolham e minha nuca se arrepie. Continuo de olhos


abertos e vejo o exato momento em que o prazer domina Gavin.

Seus olhos brilham e fecho os meus. Prazer ecoa em meu peito e

me sinto tão bem. Gavin apoia sua testa em meu ombro e espalmo
minhas mãos em suas costas e ficamos assim por um tempo, até que ele

se afasta, sai de dentro de mim, e abaixa minha perna.

— Nossa sorte é que há chuveiros aqui.

Abro meus olhos e sorrio, então ele entrelaça minha mão na sua e
vamos até um dos chuveiros. Dividimos um banho, água cai sobre nós

dois enquanto nos beijamos. Voltamos molhados e correndo para os


armários, eu pego minha mochila e para nossa sorte tenho uma toalha.

Gavin e eu nos secamos e colocamos nossas roupas.

Improvisamos um travesseiro com minha mochila e nos deitamos

no chão, eu me deito sobre seu peito e meus dedos traçam círculos


invisíveis em seu abdômen definido. A escuridão começa a ficar visível

demais, fecho meus olhos, respiro fundo e pergunto algo bobo para
Gavin afim de me distrair.

— Onde você treina?

Gavin me responde com o nome da academia, explica-me onde


fica, quais os dias em que treina e adormeço enquanto ele ainda está

falando sobre como funciona os seus treinos.

Acordo com a luz incomodando meus olhos e ao abri-los,


encontro as lâmpadas acessas e os braços de Gavin ao meu redor. Ergo

meu rosto e ele está me encarando.


— Como você está?

— Bem. — Seus olhos não demostram absolutamente nada, como

sempre, pergunto-me se é uma consequência da forma como cresceu.


Desvencilho-me dele e me sento. — Será que a porta já abriu?

— Irei conferir.

Ele fica em pé e vai até a porta. Olho ao redor do vestiário e as

cenas da noite passada surgem em minha mente. Há algo diferente entre


nós e não sabemos como agir. Ainda somos nós dois, porém é como se

algo tivesse mudado.

— A porta está aberta e é melhor irmos embora logo antes que

alguém nos pegue aqui.

Assinto, fico em pé e recolho minhas coisas. Eu vou até Gavin e


deixamos o vestiário. Para nossa sorte, não cruzamos com ninguém e

seguimos em silêncio para o estacionamento, porque não há o que ser


dito, ou melhor há muito a ser dito, palavras que nem temos coragem de

dizer no momento. Não estamos prontos para uma trégua mesmo que
seja isso que queremos.

Ele me acompanha até meu carro, então olho em sua direção e

mordo meu lábio inferior. Quero agradecê-lo, perguntar o que ele está
pensando, pedir para que não conte para ninguém sobre meu medo,
entretanto, seu olhar é tão frio e distante.

— Tchau, Gavin.

É tudo que consigo dizer.

— Tchau, Kim.

Engulo em seco e olho em frente, há um peso em meu estômago e


em meu peito. Dou alguns passos em frentes, toco na maçaneta e escuto a

sua voz.

— Kim, eu não vou contar nada do que aconteceu aqui.

Nada sobre mim? Ou sobre o que aconteceu entre nós? Caralho

que confusão.

— Nem eu, Gavin. — Olho para trás e sorrio. — Obrigada.

Ele assente, seus olhos não transmitem nada, então olho em frente
e entro em meu carro.
Kim

Eu vou para casa, tomo um banho, troco de roupa e volto para o


campus. Há um sentimento estranho pulsando em meu peito, anseio por

algo e uma necessidade absurda de saber o que acontece a partir de


agora. Muda algo na forma como estamos nos tratando? Serei capaz de

continuar o odiando sabendo que ele esteve lá quando mais precisei de

alguém?

Como faz para empurrar para longe todos os sentimentos que de

repente ecoam em meu peito?


Dirijo até o prédio de ciências políticas, deixo meu carro no

estacionamento e enquanto caminho pelos corredores, listo todos os

motivos pelos quais odeio Gavin, ele é um garoto problema, ele está

tentando me destruir, ele não tem nenhuma significância, não é popular,

não tem status, não tem dinheiro, acredita ser alguém que pode me
enfrentar... Uma vozinha irritante interrompe meus pensamentos.

— Soube que você não foi tão excelente como diz ser no treino
ontem.

Eu olho para o lado e me deparo com uma garota insignificante.

Ela é alguém sem popularidade, sequer sei seu nome e a encaro com
desdém.

— Fui bem o suficiente para continuar sendo a capitã do time de

cheerleaders e você continua sendo uma fracassada.

Ela bufa irritada, desvio meu olhar e continuo andando em frente.

A resposta arrogante faz com que uma dose de controle percorra pelo

meu corpo e me sinto bem, quase como a Kim de uma semana atrás que

tinha controle sobre sua vida e era admirada por todos.

Franzo minha testa ao me tocar que ela sabe sobre o treino de

ontem, ela não faz parte do time e não é amiga de nenhuma das meninas,
como ela sabe? Quem contou e quem espalhou o boato? Meu coração

acelera, porque só pode ter sido Gavin.

É claro que ele continua com seu maldito objetivo, terei sorte se

não usar meu surto para acabar ainda mais com minha reputação. A noite

de ontem não significou nada para ele, digo para mim mesma que

também não significou nada para mim, porém a decepção cresce em meu

peito e preciso respirar fundo.

Não significou absolutamente nada. Já o agradeci e isso é o

suficiente. Apesar de continuar repetindo a mim mesma que está tudo

bem e que não significou nada, não consigo acreditar nas palavras que

ecoam em minha mente.

Caralho!

Eu não sou sentimental, não deixo que os sentimentos falem

acima da razão, sou racional e manipuladora, então por que simplesmente

não consigo me desligar de ontem?

Existe uma batalha interna, uma parte minha está tentando me

convencer de que não significou nada, a outra está em desespero porque

Gavin não sentiu a mesma conexão que eu. Porra, nem existiu uma
conexão!
Estou tentando parecer normal, mas por dentro eu sou apenas

raiva e aumenta quando piso no corredor e Marie está na porta, ela olha

em minha direção e sorri. O que acontece se eu colocar meu pé em frente


para que ela caia quando passe por mim?

Ela era alguém sem importância até semana passada, mas de

repente Gavin esteve com ela e se tornou assunto do campus, além de

algo nela estar me incomodando.

Meu objetivo é cruzar por ela sem parar, sem olhar em sua

direção e sem conversar, porém, esse não é o seu objetivo.

— Hey, Kim, está tudo bem? Você caiu ontem, não é?

Respiro fundo, olho para ela e Marie está me encarando como se

estivesse preocupada. Estreito meus olhos e analiso minuciosamente sua

expressão. Falsa!

— Claro que está tudo bem, erros e quedas são normais. — Sorrio

debochada, porque me recordo que ela tentou entrar para o time. — É

algo normal na vida de quem faz parte de um dos melhores times de

cheerleaders dos Estados Unidos.

Uma tristeza toma conta dos seus olhos e eu quase acredito nela.

Quase...
— Posso imaginar, eu tentei entrar para o time nas últimas duas

audições.

— Eu lembro. — Dou um passo em frente, porém lembro de algo

e me viro novamente para Marie. — Quem falou sobre minhas quedas

para você?

A expressão inocente abandona seu rosto e finalmente enxergo a

verdadeira Marie.

— Eu tenho meus informantes.

Pelo seu deboche ela está falando de Gavin, odeio me sentir

traída, mas é como me sinto. Sou uma otária. Viro-me em frente, ignoro-
a e entro na sala. Foda-se!

Sento-me na frente, longe do lugar que Gavin costuma ocupar.

Não olho para trás, porém, eu sei quando ele chegou. Meu corpo sabe,

um arrepio percorre meu corpo e preciso respirar fundo.

Durante a aula, não olho sem direção, é insuportável, mas resisto

e em certos momentos tenho certeza de que ele está me encarando. Eu

tento me concentrar na aula, entretanto, apenas faço uma quantidade

absurda de anotações.

Assim que a professora finaliza a aula, junto minhas coisas e fico

em pé, ao me virar para sair da sala, deparo-me com Gavin, Marie está ao
seu lado, falando algo e rindo, porém, ele está me encarando.

A forma como me encara faz com que um calor suba pelo meu

corpo e rapidamente desvio meus olhos e sigo para o corredor. O que

merda ele está fazendo comigo!?

Sigo para próxima aula e o evito da mesma forma, continua sendo

insuportável me manter distante, principalmente quando imagens da

noite passada me assombram. Mesmo quando fecho meus olhos, é ele

que eu vejo.

A segunda aula termina, não olho em sua direção e saio da sala.

Como não há mais nenhuma aula no dia, vou para casa. Eu passo o

restante do dia recordando o que aconteceu e tentando estudar, a noite eu

me junto a Nancy e Dallas e não conto sobre o que aconteceu.

É um segredo entre Gavin e eu.

A quinta-feira é tão estranha quanto o dia anterior, os cochichos

sobre mim continuam, seguem dizendo o quanto sou uma tola e uma

megera, eles zombam de mim e me colocam como uma vilã.

É insuportável, mesmo eu respondendo as provocações,

apontando seus erros e fracassos, continuo sendo a mesma Kim venenosa

de antes, entretanto é diferente, porque eles não me temem.


Não sou mais adorada e sim sou motivo de chacota. A vingança

de Gavin continua, mas ele não me provoca durante as aulas, não me

obriga a sentar ao seu lado e nem zomba de mim. O que ele está fazendo?

Tentando me atacar por trás e com outros boatos?

E nas raras vezes quando meu olhar encontra o seu, vejo algo em

seus olhos que não via antes, um brilho diferente e o vislumbre de

emoção. Não entendo, como pode me encarar assim e continuar me

difamando?

Almoço mais uma vez sozinha e dessa vez, sou ignorada por

pessoas que sabem quem eu sou. Digo a mim mesma que não preciso
delas e não sou atingida pela falta de pessoas ao meu redor.

Não preciso de ninguém!

A tarde eu vou para o treino e uma parte em mim espera vê-lo,


porém, ele não aparece e me sinto decepcionada. O que está

acontecendo? Estou me tornando uma masoquista? Alguém que procura


alguém que está me machucando?

O treino é ótimo e não caio nenhuma única vez. Faço a pirâmide


perfeita, filmo e coloco em minhas redes sociais. Ele pode acreditar que

irá me derrubar, mas não conseguirá tão fácil, precisa de muito mais.
No fim do dia ao se aproximar do meu carro, deparo-me com
mais um bilhete.

“Como está sendo provar do seu próprio veneno?”

O que merda ele está querendo dizer? Gavin não cansa de


provocações e ameaças? Amasso o papel, entro no carro e dirijo para

casa determinada a dar um basta nessa palhaçada.

Dallas e eu passamos a noite procurando por algo, e finalmente

Dallas descobre qual é o sistema, porém falha em invadi-lo.

Caralho, eu estou ficando sem tempo, a cada maldito dia o meu


controle se esvai mais um pouco das minhas mãos. O que irá restar de

mim?

...

Minha noite é péssima, não consigo dormir e quando faço, sonho


com Gavin, acordo desejando seus beijos, seus toques, sua voz
sussurrando que tudo ficará bem.

Mais uma vez, não consigo reagir, saio da cama na força do ódio.

Encaro meu reflexo no espelho e tento me obrigar a me arrumar, porém,


não consigo. Estou esgotada.
Por um breve instante eu acreditei que tudo pudesse voltar a ser
como antes, acreditei que Gavin iria retroceder, mas estava enganada e

porra isso dói. Pela primeira vez, admito a mim mesma que aquela noite
enquanto estava em seus braços, acreditei que tudo ficaria bem.

Como a tarde será a prova do novo uniforme das líderes de

torcida, visto algo básico e rápido de tirar, apenas uma camisa do time de
futebol americano, calça jeans, um boné também do time e tênis. Não é

meu melhor look, mas é o que temos.

Saio atrasada de casa e quando chego na sala de aula, todos já


estão ocupando seus lugares inclusive Gavin, ele olha em minha direção

assim que passo pela porta e me encara como se estivesse com ciúmes.
Ergo minhas sobrancelhas e ele estreita seus olhos.

O que merda está acontecendo?

Eu vou para o meu lugar, porém, continuo sentindo seu olhar


sobre mim. Como ele pode me olhar dessa forma e continuar acabando

comigo pelos corredores? Incentivando as pessoas a me desprezarem?

Qual é o seu maldito problema? E por que seu desprezo me

incomoda tanto?

A aula segue o seu normal e eu continuo tensa. Assim que acaba,


respiro aliviada. Até que enfim! Arrumo minhas coisas, jogo minha
mochila sobre meu ombro e fico em pé. Preciso sair daqui de uma vez e

quando estou passando pela porta, sinto sua aproximação. Caralho!

Apresso o passo, mas ele é mais rápido e assim que cruzo pela

porta, o sinto se aproximar, seu peito praticamente encosta em minhas


costas e um arrepio sobe pelo meu corpo. Ele se inclina e sussurra contra

minha orelha.

— Eu preferiria que estivesse vestindo algo que lembrasse a mim.


— Quase fecho meus olhos, mas me contenho e respiro fundo. — Você

não pertence a ninguém do futebol americano, Kim.

Merda! Eu tenho vontade de me virar e confrontá-lo. Como assim


ele está insinuando que eu sou sua depois de tudo? Depois de me ignorar

e continuar espalhando coisas sobre mim? Mas não faço nada disso,
fecho minhas mãos em punho e caminho para longe, totalmente
perturbada e fervendo de raiva.

Quem ele pensa que é?

Atordoada, sigo para o estacionamento, e, mais uma vez,

encontro com um dos seus bilhetinhos.

“Prepare-se, eu tenho uma surpresa mais tarde.

P.S: as coisas estão prestes a esquentar para você.”


Maldito! Lágrimas se acumulam em meus olhos de raiva e olho

para cima, evitando que escorram pelo meu rosto. Eu não faço a mínima
ideia de quando ele deixou isso aqui, mas não tem importância.

Até quando ele irá continuar brincando comigo?

Contenho a vontade de chorar e vou me encontrar com Nancy e

Dallas. Nós almoçamos em um restaurante do campus, e após contar a


merda que está acontecendo entre Gavin e eu, elas me ajudam a xingá-lo

e até fazem com que eu me sinta um pouco melhor.

Estou menos angustiada após nosso almoço, e Nancy e eu

seguimos para a prova do novo uniforme das cheerleaders. Vamos para o


complexo e as outras meninas e a professora já estão em quadra, os

uniformes estão em uma arara de roupa, e assim que nos juntamos ao


grupo, temos autorização para cada uma pegar o seu.

O novo uniforme é lindo, saia e top vermelhos, com listras

brancas e um prendedor de cabelo combinando. Cada uma pega o seu e


vamos para o vestiário, nos trocamos e voltamos para quadra. É lindo e o
testamos com alguns movimentos, é absolutamente perfeito e está

aprovadíssimo. Sorrimos e tiramos algumas fotos.

Estamos felizes quando vamos outra vez para o vestiário para


colocarmos nossas roupas de volta. Eu sou uma das últimas a entrar no
espaço, e as meninas estão todas paradas, encarando uma parede,
algumas olham em minha direção com receio ao notar minha chegada.

Então, eu fito a parede e há letras sob a tinta branca, formando palavras.

“A capitã do time é uma surtada. O seu medo de escuro desencadeia

ataques de pânico…”

Ao ler o que está escrito, é como se algo estivesse pressionando


meu peito e lágrimas se acumulam em meus olhos. Porém, a dor é

substituída por raiva ao me dar conta de quem fez isso.

Uma raiva descomunal preenche cada espaço do meu coração,

tudo que consigo pensar é no quanto ele é podre. Algumas meninas falam
comigo, mas as ignoro. Vou até meu armário, pego minhas coisas e deixo

o vestiário.

Eu me recordo na nossa conversa e sei que ele está treinando na


academia e é para lá mesmo que eu vou.

Gavin passou de todos os limites.


Gavin

— Vamos lá, Will, estou esperando pelo seu melhor. — Dou um


passo para trás enquanto o desafio. — Você não irá ganhar sua luta

amanhã se continuar batendo igual a uma garota.

Encara-me com raiva e avança até mim. Will desfere socos e me

desvio deles.

— Vamos lá.

Grito, Will estreita seus olhos e, mais uma vez, parte determinado

em minha direção. Sorrio enquanto ele, finalmente, consegue me acertar.


— Isso aí, caralho!

Aproveita minha distração, acerta outro soco em meu ombro e dá


alguns passos para trás.

— Eu estou exausto.

Ergue sua cabeça, fecha seus olhos e suspira. Ele realmente deve

estar cansado, faz horas que estamos aqui trabalhando nele, porque é Will

quem lutará amanhã.

— Podemos acabar por aqui, já treinamos o suficiente.

Volta abrir seus olhos e a me encarar. Ele parece tão aliviado.

Balanço minha cabeça e começo a tirar as ataduras das minhas mãos.

Will sai do ringue e escutamos alguns gritos, gritos femininos.

Ele se vira e ergue suas sobrancelhas, eu dou de ombros porque


não faço a mínima ideia do que está acontecendo. De repente, alguém

entra correndo no espaço que estamos utilizando e olho para o lado, para

minha surpresa, deparo-me com Kim. O que ela está fazendo aqui?

Encara-me com raiva e de uma forma como nunca vi antes. Que

merda é essa? A recepcionista está logo atrás, com um olhar de pânico

em seu rosto.

— A senhorita não pode invadir o espaço assim.

— Mande-a deixar eu ficar.


Declara, enquanto continua me fuzilando com seus olhos.

— Ela pode ficar, Lara.

Estou falando com Lara, a recepcionista, mas continuo encarando

Kim. Ela está vestindo seu uniforme de Cheerleaders, suas adoráveis

pernas estão de fora, sua barriga à mostra, usa meias e o cabelo

amarrado. Porra, ela está linda!

— Vamos, Lara, eu estou saindo e irei te acompanhar.

Olho rapidamente para o lado e Will deixa o ringue, ele vai até

Lara e segue com ela para fora da sala, fecha a porta, nos deixando

sozinhos. Volto-me para Kim.

— O que você está fazendo aqui?

A raiva continua refletindo em seus olhos, sua postura corporal

também entrega o quanto está furiosa. Eu não entendo o que está

acontecendo. Por qual motivo Kim está assim se tenho me mantido

distante? A única vez que me aproximei foi hoje de manhã, pois não

suportei vê-la vestindo uma camiseta do time de futebol americano.

Kim adentra ainda mais a sala de treinamento de lutas, sobe no

ringue e caminha em minha direção. Seu rosto está vermelho e sua

respiração alterada. Ela parece prestes a explodir.

— Como você teve coragem?


Quando está perto o suficiente, espalma as mãos em meu peito e

me empurra, eu permito e dou um passo para trás. Fito o seu rosto e não é

só raiva que encontro em seus olhos, ela está magoada.

— O que aconteceu, Kim? Não estou entendendo.

Ergo minhas mãos para o alto e ela ri, uma risada sem humor e

fria.

— Não se faça de desentendido.

Suspiro. Ela está me irritando.

— Se eu estou dizendo que não estou entendendo, é porque não

estou entendendo, porra! — Balança a cabeça em um gesto incrédulo. Dá

um passo para trás e mantém seu olhar triste fixo ao meu. — Por que

você está magoada, Kim?

Sussurro e dou um passo à frente. Seu olhar é ferido e não gosto

do que vejo. Não gosto de ver a dor e a tristeza em seus olhos verdes.

— Eu preciso saber o que aconteceu. — Dou mais um passo à

frente e ela recua um. — Por favor, Kim.

Volta a sorrir, ao mesmo tempo que uma lágrima desce pelo seu

rosto.

— Eu acreditei quando disse que não iria contar para ninguém.

— Do que você está falando?


Ela me encara magoada e decepcionada, e uma pontada atinge

meu peito. Não quero que ela me olhe assim, não mais. Porra!

— Sabe o pior, além de acreditar em você, eu jurei que estivesse

desejando uma trégua, assim como eu.

Mais uma lágrima desce pelo seu rosto e eu me aproximo até


estar a centímetros dela. Inclino minha cabeça e prendo seu olhar ao meu.

— Eu juro que não estou entendendo, bonequinha.

— Eu queria que aquela noite tivesse significado algo para você,

assim como significou para mim.

É nítido que está sendo uma tortura confessar o que está

confessando. E sigo perdido. Sei que ela está falando da noite que

ficamos presos no vestiário, mas por que está magoada?

— Significou, Kim, significou tanto que me mantive distante de

você, nunca desisto de algo, nunca falhei. Porém, falhei em continuar

meus planos em acabar com você, desisti de ganhar por você, isso não é

o bastante?

Minhas palavras não são doces e meu tom de voz não é


controlado. Como ela pode acreditar que tudo continuou igual?

— Você chama de “desistir” continuar incentivando as fofocas

sobre mim? Chama de “desistir” continuar colocando os malditos


bilhetes em meu carro? — Soca meu peito, e deixo que desconte um

pouco da sua raiva. — Chama de “desistir” escrever em uma parede que

tenho medo do escuro e ataques de pânico?

Seguro seu pulso ao ouvir suas palavras.

— Kim, eu não fiz nada disso.

— Não minta para mim, Gavin.

Seus olhos imploram para estar errada.

— Não estou mentindo, bonequinha. — Torno mínimo o espaço

entre nós e apoio minha testa na sua. — Eu não fiz nada disso, não sei de

que bilhetes está falando, jamais iria usar o seu medo contra você, e juro

que estou mantendo minha boca fechada. Nenhuma palavra contra você
escapou dos meus lábios.

Seus olhos estão brilhando com as lágrimas. Solto seus pulsos,

ergo minha mão e acaricio a lateral do seu rosto.

— Você precisa acreditar em mim. — Com as pontas dos meus

dedos, limpo suas lágrimas. — Você precisa acreditar em mim.

Repito as palavras, Kim fecha os olhos, respira fundo e se

mantém em silêncio alguns segundos. Abaixo minha mão e a deixo em


sua cintura. Meus dedos tocam sua barriga nua e trançam círculos

invisíveis em sua pele.


— Você não tem me mandado bilhetes?

Abre seus olhos e eles não refletem mais tanto desespero.

— Não, eu nem sei do que você está falando.

Fragilidade cede espaço para seu habitual olhar superior. E eu

gosto disso. Caralho, eu gosto disso nela!

— Alguém tem deixado bilhetes no para-brisa do meu carro. —

Dá um passo para trás e se desvencilha de mim. — Com ameaças, e eu


achei que fosse você, porque comecei a encontrá-los quando você decidiu

me desafiar.

Caminha de um lado para o outro.

— Alguém, além de mim, está tentando destruir você,


bonequinha.

Continua andando pelo ringue, mas é nítido que está mais calma e
controlada.

— Sim, e eu preciso descobrir quem é.

Kim se aproxima da borda do ringue e apoia suas costas e seus


braços nas cordas. Desço meu olhar pelo seu corpo e me perco no tanto

de pele que está exposta. Meus dedos anseiam por tocá-la e até mesmo
meu pau reage. Preciso me concentrar e voltar a olhar para seu rosto.

Kim ergue suas sobrancelhas e me encara com malícia.


A tensão ao nosso redor se transforma, não há mais desespero,
desconfiança, mágoa, ou angústia, apenas a vontade insuportável de

estarmos perto um do outro, como se fôssemos atraídos por um imã.

— O que exatamente aconteceu para você invadir a academia

vestida de cheerleader?

Forço a não me deixar ser dominado pelo meu pau e foco em ser
racional. Uma sombra de tristeza volta a ocupar os olhos de Kim e vou

até ela, até estar inclinado em sua direção, com minhas mãos sobre a
corda e com ela entre meus braços.

— Alguém escreveu na parede do vestiário: a capitã do time é

uma surtada. O medo do escuro desencadeia ataques de pânico.

Raiva explode em meu peito ao pensar em Kim vendo isso. Eu

percebi como ela ficou aquela noite, estava em meus braços e só de


imaginar como ela deve ter se sentido, fico furioso.

— Eu não fiz isso.

Kim assente e continuo olhando em seus olhos, eu quero que ela

tenha certeza.

— Eu acredito em você.

— Eu estive o tempo todo aqui na academia com Will essa tarde,

você pode confirmar com ele.


Eu preciso que ela saiba que não fui eu, e que jamais faria algo
assim.

— Hey, eu acredito em você, Gavin. — Sigo com os olhos presos

aos seus. — Pensei que foi você porque estava com medo, acreditando
estar iludida, no fundo, sempre desejei estar errada.

Ficamos em silêncio, até que me inclino ainda mais em sua

direção e toco seu pescoço com meu nariz.

— Vou ajudar você a descobrir quem está te ameaçando, então

iremos destruí-lo.

Seu perfume me atinge e tudo que consigo pensar é no quanto a


quero.

— Você irá me ajudar?

— Vou. — Beijo sua pele. — Ninguém pode ameaçar você, Kim.

Sua pele está arrepiada e continuo distribuindo beijos pelo seu


pescoço. Ainda há algumas marcas causadas por mim, o que faz com que

a minha parte possessiva pulse mais intensamente.

Minha!

Levo minha mão até sua coxa e meus dedos tocam sua pele.

— Ninguém toca no que é meu.

— O que você quer dizer com isso?


Ergo minha cabeça e meu olhar encontra o seu.

— Isso quer dizer que você é minha. — Subo minha mão e trago
sua saia para cima. — Isso quer dizer que ninguém irá mais te tocar.

Paro com os dedos na borda da sua calcinha.

— Somente eu.

Seus olhos estão escuros e repletos de desejo.

— Ninguém irá tocar você, Gavin, chega de Marie com as


garrinhas sobre você.

Aproximo-me ainda mais, toco sua nuca e apoio minha testa na

sua.

— Nunca toquei em Marie, não como toco você. — Beijo o canto


da sua boca. — Nunca transei com ela, Kim.

Confesso e Kim sorri, satisfeita.

— Você esteve com alguém depois de mim?

Volto a encará-la, enquanto desço meus dedos até o meio das suas
pernas e empurro a calcinha para o lado. Kim suspira e balança a cabeça

negando.

— Ninguém.

— Ótimo, não vou precisar bater em ninguém.


Kim está molhada e toco seu clitóris, ela estremece e ofega.

— A porta não está trancada.

Sorrio malicioso e a penetro com dois dedos.

— Você não se importa.

— Eu não me importo.

Confessa, eu continuo o que estou fazendo enquanto fico de


joelhos, coloco sua perna sobre meu ombro e a toco com minha boca.
Morde seus lábios para conter seus gemidos e se sustenta nas cordas.

A visão de ter Kim descontrolada, com minha boca em sua boceta


no ringue da academia, me deixa duro pra caralho. Tão duro que assim
que goza em meus lábios, fico em pé, abaixo minha calça e a penetro.

Eu a beijo enquanto a preencho com meu pau e engulo nossos

gemidos. A possibilidade de sermos pegos é tão atraente, que amplia o


prazer que percorre nossos corpos.

Kim goza primeiro e interrompo o beijo para ver a expressão de


satisfação plena em seu rosto.

— Linda pra caralho. — Sussurro em seu ouvido enquanto saio e

entro nela. — E minha.

Gozo em sua boceta e precisamos de alguns segundos para


voltarmos a si. Beijo seu ombro e saio de dentro dela, puxo minha calça
para cima e dou um passo para trás.

— Gavin, eu preciso de um banho.

Kim abre seus olhos e eles estão brilhando de satisfação.

— Podemos usar um dos chuveiros, você tem alguma roupa?

Assente.

— No carro.

— Ok, vamos buscar.

Estendo minha mão, ela coloca seus dedos sobre os meus e


seguimos até seu carro. Ela pega a mochila, voltamos, e seguimos para o

chuveiro.

— Essa academia é meio vazia.

Kim me diz enquanto ensaboa seu corpo.

— Não é uma academia normal, apenas os caras ligados a Scott a

utilizam.

— Scott, o líder?

Assinto e terminamos o banho em silêncio. Assim que

finalizamos, saímos para o vestiário, tranco a porta, então, nos vestimos


sem pressa. Acabo primeiro e me sento em um dos bancos espalhados

pelo local, observando-a.


— Precisamos descobrir quem está te ameaçado.

Olha-me enquanto abotoa suas calças, a expressão em seu rosto é


de desdém.

— Cerca da metade do campus me odeia, será difícil descobrir

quem decidiu se vingar.

Cruzo meus braços sobre meu peito.

— Existe alguém que saiba sobre seu medo?

Ela demora a me responder.

— Existe uma pessoa, ele me encontrou em um dos meus surtos,


porém, nunca soube o motivo.

Ela não parece muito convencida de que essa pessoa esteja a

ameaçando.

— Talvez ele tenha descoberto.

Balança a cabeça negando.

— Dylan seria incapaz de me ameaçar.

Não gosto de como ela o defende.

— Como você pode ter certeza?

— Porque ele é muito gente boa. — Ergo minhas sobrancelhas.


— Estou falando de um dos caras que mora com Josh, seu amigo.
Recordo-me dele e realmente parece inofensivo. E ele tem
namorada.

— De qualquer forma, você deve falar com ele, talvez ele possa
ter falado para alguém, ou algo parecido.

Fico em pé e pego sua mochila.

— Você quer eu vá falar com Dylan agora?

— Sim, e eu vou com você.


Kim

Espero Gavin estacionar seu carro logo atrás do meu, e só então


abro a porta e saio. Não acredito que eu estou na casa das Estrelas do

Alabama com Gavin para interrogar Dylan, sobre o dia em que me


encontrou em meio a um ataque de pânico.

Naquele dia, eu estava no banheiro quando a luz simplesmente se


desligou, eu tentei não ser dominada por lembranças, mas foi impossível,

e quando a luz voltou, corri para o primeiro quarto que encontrei e me

sentei no chão, chorando como um bebê. E foi assim que Dylan me

achou.
Gavin sai do seu carro e caminha até mim. Ele está todo de preto,

com suas tatuagens pelos braços à mostra e usando coturnos da mesma

cor das peças de roupa. Lindo, perigoso e com um olhar fatal. E todo

meu!

Não trocamos nenhuma palavra e, ao estender sua mão,

simplesmente deixo meus dedos sobre os seus.

— Preparada?

Sorrio maliciosa.

— Eu nasci preparada, baby.

Olhamos em frente e seguimos em direção à entrada. O desespero

não está mais ecoando em meu peito, pois, a maior razão daquele

sentimento era porque acreditei que Gavin era o responsável pelas


ameaças, mas não é ele, além do mais, está ao meu lado. É tudo que eu

preciso para descobrir quem é o idiota que está me ameaçando e destruir

com ele.

Não será dessa vez que eu deixarei de ser uma rainha.

Eu aperto a campainha e me viro para Gavin:

— Esses caras e as namoradas deles me odeiam, com exceção de

Tessa e Dylan.

— Com razão?
Sorrio, debochada.

— As pessoas sempre têm razão para me odiarem.

— Você é tão adorável, Kim.

Dou de ombros.

— É o meu charme.

Gavin tem seu olhar preto sobre mim, inexpressivo. Quando serei

capaz de decifrá-lo? Continuo o encarando e ele ergue suas sobrancelhas,

estou prestes a respondê-lo quando a porta é aberta.

Viramo-nos e nos deparamos com Ethan Lewis, o jogador de

futebol americano. A expressão em seu rosto deixa claro que está

surpreso em nos ver aqui.

— Kim? Gavin? O que vocês estão fazendo na porta da minha

casa? E juntos? É algum apocalipse zumbi?

Reviro meus olhos e o respondo:

— Nós queremos falar com Dylan.

Ele continua parado em frente à porta, com um olhar travesso.

Porra, por que ele tem que ser assim?

— Não sei, depende. Vocês irão o transformar em um zumbi?

— Cala a boca, Ethan.


Digo, ao mesmo tempo que Gavin tenta explicar a situação para

Ethan.

— Cara, é algo urgente, se você puder parar com as piadinhas.

Ethan revira seus olhos e fica de lado, enquanto segura a porta

aberta para que possamos passar. Gavin e eu desvencilhamos nossas

mãos, e, sem precisarmos de um convite, seguimos em frente.

— Odeio pessoas sem senso de humor.

Reclama enquanto passamos por ele.

— Você é tão irritante, Ethan!

Ele ergue suas sobrancelhas ao ouvir a minha exclamação.

— Não era isso que você dizia enquanto me perseguia e

implorava para estar comigo.

Paramos no hall de entrada e Gavin fuzila Ethan com seus olhos.

Ethan não demora a entender o porquê Gavin está o encarando assim.

— Nunca quis nada com ela, é toda sua. — Ergue suas mãos para

cima. — Não quero arrumar confusão com alguém que soca as pessoas

por prazer.

Gavin suspira, por fim, e passa a mão pelo seu cabelo.

— Você é sempre assim?


— Bonito? Engraçado? E divertido? — Dá um passo à frente e

faz um sinal para o seguirmos. — Quase sempre.

Gavin me encara enquanto seguimos o quarterback e dou de

ombros.

— Ele é sempre irritante.

Respondo à pergunta ainda explícita em seus olhos, e seguimos

em silêncio. Ethan nos leva até a cozinha e encontramos Dylan, Josh e

Tessa. Os três param de fazer o que estão fazendo e nos encaram como se

fôssemos dois fantasmas.

— O que você está fazendo aqui, Gavin? E com Kim?

Josh observa o amigo, chocado, e reviro meus olhos.

— Eu amo o carinho com a minha pessoa.

Soo sarcástica.

— Você está bem?

Tessa me questiona enquanto adentramos a cozinha. Eu já estive

aqui outras vezes, em festas, e não me surpreendo por ser espaçosa.

— Por que não estaria?

Tessa e Dylan estão em pé, cozinhando, aparentemente, e Josh

está sentado à frente deles. A garota de cabelo rosa bufa irritada e revira

seus olhos.
— Não se faça de forte, Kim. Eu vi você deixar o vestiário

transtornada.

Tessa estava no vestiário.

— Esse episódio meio que já foi superado.

Gavin se senta ao lado de Josh e eu ocupo o banco ao seu lado.

— Por que você está com Kim? Vocês se encontraram por acaso?

Você quer falar comigo?

Josh realmente parece perdido e Gavin passa a mão pelo seu

cabelo. Ele não tem muita paciência para conflitos.

— Longa história.

Gavin resmunga, e Ethan responde por ele logo em seguida.

— Eles são um casal. Cuidado com que vai falar, porque eu fui

ameaçado.

— Não te ameacei.

Gavin o fita sem humor e Ethan segue para além da porta, com

uma expressão de deboche em seu rosto.

— Você não verbalizou, mas me ameaçou com seu olhar, eu senti.

Gavin encara o quarterback incrédulo e sem paciência.

— Você está com Kim?


Gavin suspira e se vira para Josh.

— Depois nós conversamos.

— Agora quem está agindo como um casal são vocês dois.

Provoco Gavin e Josh, e recebo um olhar atravessado dos dois.

— Nós podemos resolver o que viemos fazer aqui?

Gavin soa mal-humorado. Mordo meu lábio inferior para não rir,

e assinto.

— Gavin nunca teve senso de humor, não liga.

Josh debocha, quando se depara com a expressão fechada de


Gavin. Gavin apenas revira seus olhos, e, por alguns segundos, somente

rimos e quase me esqueço do que vim fazer aqui. Entretanto, eu me


recordo e respiro fundo, fitando Dylan. Não posso mais fugir.

— Dylan, eu preciso conversar com você.

Ele assente e, no mesmo instante, Josh fica em pé.

— Esse é o convite para nos retirarmos, Ethan.

O quarterback lamenta.

— Sempre perco as melhores conversas.

Josh o chama de fofoqueiro e os dois deixam a cozinha. Tessa faz

menção de os seguir, mas balanço minha cabeça negando.


— Tessa, você pode ficar.

Não sei se Dylan contou sobre como nos conhecemos, mas não

importa, ela pode ficar sabendo se ainda não sabe. Essa não é a questão
no momento.

— Certeza?

Assinto e ela permanece onde está.

— Tessa te contou o que aconteceu no vestiário?

Pergunto pra Dylan, ele apoia suas mãos no balcão e inclina seu
corpo levemente para frente.

— Sim, eu sinto muito, Kim. — Seus olhos deixam claro o

quanto realmente lamenta. — Sei que sempre tentou esconder isso de


todos.

— É uma merda, mas a questão do momento é quem escreveu

aquilo na parede, porque ela está me ameaçando e preciso descobrir


quem é para pará-la.

Dylan faz uma careta.

— Você está desconfiando de mim?

Reviro meus olhos.

— Óbvio que não, você seria incapaz de chantagear alguém.


— Kim, Dylan nunca me contou que sabia sobre seu medo, eu
fiquei sabendo agora.

Tessa se defende, então a encaro e suspiro.

— Dylan não sabia sobre meu medo, ele me encontrou enquanto

estava surtando. Nunca soube por qual motivo, até hoje.

Explico.

— Eu encontrei Kim chorando em um quarto enquanto uma festa

acontecia, ela estava em meio a um ataque de pânico e eu ajudei, aliás,


foi assim que nos conhecemos.

Dylan complementa.

— Naquela noite, minutos antes de Dylan me encontrar, eu estava

no banheiro e, de repente, a luz se apagou e fiquei no escuro, o que


ocasionou o meu surto. Minha sorte foi que consegui me controlar o
suficiente para correr para o quarto. — Aponto para Dylan. — Onde você

me encontrou.

— E por que você está aqui exatamente?

Tessa faz a pergunta que também está explicita no rosto de Dylan.

— Porque ninguém nunca soube disso, Tessa. Meu único deslize

foi quando conheci Dylan e há três noites, porém, sei que essa pessoa não
sabe sobre a última vez, pois estávamos apenas Gavin e eu em um lugar
trancado e sem acesso, ou seja, impossível essa pessoa ter presenciado o

que aconteceu.

— Então ela deve saber sobre aquela noite.

Dylan conclui, olho em sua direção e assinto.

— Exatamente.

— Eu não contei para ninguém, Kim.

— Acredito em você, Dylan, só que, de algum jeito, essa pessoa


descobriu e eu não sei como. — Suspiro. — Talvez você tenha

comentado com alguém e essa pessoa tenha escutado…

É a única possibilidade que surge em minha mente, mas Dylan


balança a cabeça negando.

— Nunca falei sobre isso, Kim, nem com Tessa. — Nós ficamos

em silêncio, até que Dyaln faz uma careta e parece lembrar de algo. —
Naquela noite, eu vi alguém no corredor. Quer dizer, um vulto.

Isso explicaria muita coisa, a pessoa teria me visto correndo do


banheiro para o quarto.

— Você sabe quem era?

Pergunto esperançosa, mas Dylan nega.

— Sinto muito, Kim, eu não estava prestando atenção, apenas vi


um vulto e não consigo nem te dizer se era homem ou mulher.
Decepção assola meu peito.

— Ou seja, não temos pista nenhuma de quem seja quem está te

ameaçando.

Gavin exclama, frustrado.

— Deve ser alguém que te odeia muito.

Sorrio irônica ao ouvir Tessa.

— Muitas pessoas me odeiam e teriam motivos para querer se


vingar de mim.

— O que você irá fazer?

Dylan pergunta, e é Gavin a responder.

— Iremos descobrir quem é a pessoa por trás das ameaças e a

destruir.

Não há um pingo de misericórdia em sua voz, o que me faz sorrir.

Eu gosto tanto da parte sombria de Gavin.

— Vocês dois realmente combinam.

Tessa revira seus olhos, eu continuo sorrindo e fico em pé.

— Obrigada pelas informações. — Tessa e Dylan assentem.

Gavin também se levanta e entrelaça minha mão na sua. — Estamos


indo.
Declaro, e Dylan dá um passo para trás.

— Acompanho vocês até a porta.

Ele e Tessa nos guiam até a entrada, e nos despedimos com

palavras breves. Não esbarramos nem com Josh e nem com Ethan. Assim
que Dylan fecha a porta, caminhamos na direção dos nossos carros,

observo o de Gavin e faço uma careta.

— Seu carro é meio ultrapassado.

— É por esse tipo de comentários que você está sendo ameaçada.

Olho para o lado e ele está me encarando com um brilho em seus

olhos.

— Faz parte de quem eu sou.

— Eu sei.

Ele soa orgulhoso e faz com que fique de frente para ele, assim

que nos aproximamos do meu carro. Traz suas mãos até minha cintura e a
aperta. Meu corpo todo desperta e, porra, meu coração.

— Amanhã à noite, esteja pronta às nove, irei buscá-la para ir à


luta de Will comigo.

— Isso é um encontro.

Inclina-se, morde meu lábio inferior enquanto mantém seus olhos

fixos aos meus.


— Isso é um maldito encontro, Kim. — Sua boca cobre a minha,
um beijo que rouba meu fôlego e, ao se afastar, leva consigo uma parte

de mim junto com ele. — Até amanhã, Kim.

Estou desnorteada quando entro no carro, e dirijo para casa


pensando sobre o que aconteceu; tudo o que aconteceu em um único dia.

E então, só consigo pensar em Gavin e nas palavras que me disse.

“Significou, Kim, significou tanto que me mantive distante de


você, nunca desisto de algo, nunca falhei. Porém, falhei em continuar

meus planos em acabar com você, desisti de ganhar por você.”

Entro em casa distraída e mais feliz do que deveria estar. Porra,

alguém está me ameaçando, sabe de algo que lutei tanto para esconder e
expôs isso para minhas colegas de time. Ainda assim, é como se eu

estivesse nas nuvens.

Dallas está sentada no sofá com o computador em mãos, olha em


minha direção e sorri animada.

— Eu consegui hackear o sistema, Kim.


Gavin

No horário que especifiquei para Kim, eu estaciono em frente à


sua casa. Saio do carro, dou a volta e apoio meu corpo contra a porta,

então pego o celular em meu bolso e envio uma mensagem, avisando que
estou a esperando aqui.

Guardo o aparelho quando tenho certeza de que leu a mensagem e


fico com os pés à frente do meu corpo, encarando a porta fechada. A

noite está um pouco quente e bastante iluminada por conta da lua cheia e

do céu estrelado.
A porta não demora a ser aberta e Kim passa por ela, ela está

usando calças justas pretas, uma blusa de alcinha da mesma cor e

coturnos. Gostosa pra caralho e toda minha.

Para completar, está com cabelo preso em um rabo de cavalo e

seus lábios estão pintados de vermelho. Ela está sorrindo, vem até mim e

para à minha frente. Coloco minhas mãos em sua cintura, trago meus pés

para trás, inclino-me para frente e a puxo em minha direção, deixando o


espaço entre nós o mínimo possível.

— Gostei do seu look dark.

Sorri maliciosa.

— É para combinar com você.

Olho para baixo, fixo meus olhos nos seus e quase encosto meus
lábios nos seus.

— Você está incrível.

Subo minha mão até sua nuca e a seguro na posição que eu quero

e preciso.

— Você irá borrar o meu batom.

— Foda-se.

Fecho meus olhos, meus lábios cobrem os seus, peço passagem e

ela cede, exploro sua boca com a minha língua. Sinto seu gosto, ela sente
o meu. Dito o ritmo, e ela ofega contra mim. Minha mão aperta sua

cintura e intensifico o beijo.

Beijo-a com tudo de mim, reivindico cada parte sua, roubo seu

fôlego, sua alma e as batidas do seu coração. E quando nossos lábios se

separam, nossas respirações são uma bagunça.

Abro meus olhos e encontro os seus ainda fechados. Assim que os

abre, encontro perdidos na mesma névoa que eu me encontro.

— Vamos, antes que eu desista dessa maldita luta.

Dou um tapa em sua coxa.

— Controle-se.

Pisca em minha direção e tenta dar um passo para trás, porém,


continuo a segurando. Olha em meus olhos, ergue suas sobrancelhas e eu

me distancio do carro, sem largá-la. Dou um passo à frente e a obrigo a

dar um passo para trás.

— Você é o meu descontrole.

Beijo-a mais uma vez, aperto sua nuca e mantenho minha boca
sobre a sua. Meu coração está acelerado e ondas de prazer percorrem

meu corpo. Energia vibra do seu corpo para o meu e tudo que eu queria

era levá-la para dentro, para seu quarto e me enterrar em sua boceta.
Uma vozinha em minha mente sussurra que preciso estar lá para

Will, assim como ele está nas minhas lutas.

Droga!

Chupo seus lábios, mordo o inferior, suspiro, e entrelaço minha

mão na sua.

— Vamos, Kim.

Dou um passo para trás, ela abre seus olhos e a encaro, fascinado.

Seus lábios estão inchados e o vermelho não é mais tão brilhante. Ela

sorri ao perceber que estou contemplando sua boca.

— Você tem batom em seus lábios.

— Droga. — Tento limpar com meus dedos, o que é ainda pior,

porque mancho minha pele. — Caralho.

Kim segue sorrindo.

— Vamos para carro que eu ajudo você.

Então, guia-a até o seu lugar e dou a volta no carro, ocupo o

banco em frente ao volante e Kim me ajuda a me livrar do batom. Em

seguida, dirijo em frente e ela retoca sua maquiagem.

— Você é da mesma cidade de Josh?

Ela me questiona enquanto passa seu batom.

— Sim, Birmingham.
— Então você aprendeu a lutar lá? — Assinto. — Como você

veio parar em Tuscaloosa e na UA?

Pelo canto do olho, a vejo parando com o batom e olhando em

minha direção. Observa-me com curiosidade e, pela primeira vez, eu

tenho vontade de compartilhar com alguém sobre a minha vida.

— Scott é líder dos Blood Angels, e digamos que ele é muito

influente no Alabama. Blood Angels é uma das maiores organizações do

estado, eles detém o poder de boa parte da região.

— Organização, você quer dizer uma gangue?

Faço uma careta.

— Eles não gostam de ser chamados de gangue.

Ela ri, incrédula.

— Eles preferem ser chamados de clubinho de preto?

Debocha e acabo sorrindo com a sua piada.

— Organização.

Reforço.

— Organização criminosa?

— Tipo isso.

É o que eles são, mas tento dar uma suavizada no assunto.


— Ótimo, estou saindo com um criminoso.

Sussurra e sorrio.

— E você está amando esse fato.

— E como você veio parar aqui mesmo?

Ela muda de assunto, mas sei que concorda com a minha

declaração. Estar aqui comigo, indo para um lugar escondido e uma luta

ilegal, a excita.

— Um dos negócios de Scott são as lutas ilegais, e ele recruta os

melhores lutadores do estado, sempre tem alguém de olho para ele e, para

minha sorte, ele me encontrou, e como Tuscaloosa é o maior polo de

lutas, ele me ofereceu uma vaga aqui.

— Você ganha para lutar?

Segue com seu interrogatório enquanto eu dirijo.

— Sim, além de custear minha faculdade.

— E você fazia direito mesmo em faculdade comunitária?

— Sim, e estava juntando dinheiro para conseguir uma

transferência, já que lutas ilegais não fornecem bolsas. — Sorrio

debochado. — Mas quando Scott chegou até mim, me ofereceu o custeio

e claro que não neguei.


Scott pode ser o vilão para muitos, porém, para mim, é uma

espécie de herói, mesmo que ganhe muito dinheiro comigo.

— Josh sabia que você luta?

— Não.

— Qual é a relação entre vocês?

Fico em silêncio, formando a melhor resposta, não quero

esconder nada de Kim, porém, isso não é algo que diz respeito apenas a
mim.

— Josh e eu somos ligados pela infância, mas ele tinha um pai,

algo que nunca tive.

— Você não irá me contar a história completa, não é?

— Não, porque não é uma história apenas minha.

— Ok, eu posso viver com isso.

Ela ri e faço o mesmo.

— Mais alguma pergunta?

— Por que o desejo pela faculdade de direito?

Viro à esquerda enquanto a respondo. Acho que nunca respondi


tantas perguntas assim na vida.
— Porque parecia o plano mais adequado e rentável. Graduação,
faculdade de direito e um concurso para juiz.

— Esse é o seu plano?

— Sim, eu não posso lutar para sempre e me recuso a acabar a


vida como minha mãe. — Antes que ela pergunte sobre minha mãe,

porque ela fará, mudo de assunto: — E você, Kim, por que você quer ser
admitida em uma faculdade de direito?

Ela demora a me responder, e entendo sua hesitação quando sua

voz soa repleta de desdém e mágoa.

— A filha do poderoso Albert Quinn não poderia seguir outra

carreira.

Eu não preciso pedir explicações, porque eu conheço esse nome.


Eu sei quem é seu pai.

— Você é filha do Albert Quinn?

Pergunto, ainda incrédulo.

— Você conhece o meu pai?

— Todos conhecem seu pai, ele é uma lenda, o juiz mais famoso
do estado, ele é uma referência.

— Realmente, uma lenda.


O deboche e o desdém escorrem junto com as palavras que
deixam sua boca. Paro em um sinal, olho para Kim e ela não parece feliz.

— Vocês não se dão bem?

— Não somos as pessoas preferidas um do outro.

Ela está olhando para frente, mas, mesmo pelo seu perfil, posso
perceber o quanto o assunto a perturba. Volto a encarar a rua e não

prossigo com o assunto, não é o momento.

— Will é um bom lutador?

— Sim, Scott só recruta os melhores, mas não tanto quanto eu. —


Sorrio malicioso. — Eu sou o melhor.

Nós dois rimos, o assunto pais é deixando de lado, e Kim vai me

provocando sobre minha declaração pelo restante do caminho. Assim que


entro no bairro onde fica o prédio utilizado para as lutas, é a minha vez
de provocá-la.

— Quem diria que Kimberly Quinn estaria em um encontro em

um lugar clandestino e na parte mais pobre da cidade?

— Não se vanglorie muito, querido, porque você está em um

encontro comigo. Quem diria, hein?

Ninguém realmente apostaria em nosso encontro, porém, a vida é


imprevisível, na maioria das vezes negativamente, mas, às vezes, ela
consegue nos surpreender de maneira positiva.

Dirijo até o estacionamento e, ao parar o carro, olho para o lado e


encontro Kim me encarando, curiosa.

— Você não deixa seu carro com os homens de preto na entrada?

Sorrio debochado e balanço minha cabeça.

— Eu sou quase um deles, ou seja, posso saber onde fica o


estacionamento. E você, como minha garota, pode ficar sabendo também.

Seus olhos brilham ao ouvir o minha garota. Desvencilho-me do

cinto, inclino-me em sua direção e levo minha mão até sua nuca.
Mantenho-a me encarando e mordo seu lábio inferior, ela suspira assim

que o solto, e nossas respirações se misturam.

— Você adora quando a chamo de minha garota, não é?

— Não é isso que eu sou? — Ela faz o mesmo que eu fiz com ela,
morde meu lábio. — Sou a sua garota, Gavin.

— Sim, você é.

Minha boca cobre a sua e minha língua duela com a sua. O


contato é pouco, precisamos de mais, mas não temos tempo, portanto, me

afasto dela, nós dois suspiramos e, contrariados, deixamos o carro.

Nós nos encontramos em frente ao carro, minha mão segura a


sua, entrelaço meus dedos nos seus e é assim que seguimos na direção do
prédio. Kim me acompanha, nossos passos estão sincronizados e quando

entramos, continuamos caminhando como se fôssemos os donos do lugar.

A luz amarela ecoa pelo corredor escuro, deixando-o sombrio e


intimidante, mas não para nós dois. É reconfortante de certa forma, e

quando olho para Kim, eu tenho certeza de que ela também sente o
mesmo.

Vamos até a última loja e os homens de Scott me reconhecem,

eles fazem menção de aproximarem de Kim, mas nego com a cabeça.

— Ela está comigo.

Eles assentem, então, abrem o alçapão. Kim é a primeira a descer,

em seguida desço as escadas e a encontro me esperando. Volto a segurar


sua mão, e adentramos o espaço.

O lugar está cheio, as pessoas estão bebendo, conversando e há


música saindo das caixas de som espalhadas pelo local.

— Você quer beber algo?

Sussurro em seu ouvido e Kim assente, nós vamos até o bar e

peço duas cervejas. Apoio-me contra o balão e Kim se apoia contra o


meu corpo. Olhamos ao redor e observamos as pessoas animadas e em

êxtase. Elas amam estar aqui, amam jogar seus dinheiros em apostas e
contar com a sorte.
— Essas pessoas fazem apostas?

Sua pergunta comprova a sintonia que nos encontramos.

— Sim, e movimentam esse lugar, enchendo o meu bolso. —

Sussurra para que apenas ela escute. — A maioria são pessoas com muito
dinheiro brincando com a sorte e com controle.

Recebemos nossas cervejas e a trago até meus lábios.

— Por que alguém colocaria o seu dinheiro e o controle nas mãos


de outras pessoas?

A bebida amarga explode em minha boca e demoro alguns

segundos para responder Kim.

— Porque controle, poder e dinheiro são o que elas mais têm. É


algo comum e elas precisam de algo que as desafie, que torne a vida mais

divertida.

— Isso não faz nenhum sentido.

Beijo seu pescoço e sorrio.

— Pessoas ricas não fazem sentido.

Kim bebe um pouco da sua cerveja e se vira, ficando de frente

para mim.

— Eu sou rica.

Olha em meus olhos e me desafia. Eu sorrio e aceito seu desafio.


— E você usa as pessoas para manter seu ego intacto.

— Não, eu as uso para ter controle.

Franzo minha testa.

— E não é a mesma coisa?

— Não, eu poderia manter meu ego intacto sem o controle.

Ela tem razão.

— Por que o controle é tão importante para você?

— Porque foi como eu aprendi a me defender. — Espalma suas


mãos em meu peito. — Você precisou aprender a lutar e eu precisei ter o

controle absoluto.

Seus olhos deixam claro que há muito mais por trás dessa sua
frase, porém, não é o lugar para essa conversa.

— Eu acho que nós somos a dupla perfeita.

— Eu também acho.

Kim concorda comigo e me inclino para beijar seus lábios, porém


somos interrompidos. O início da luta é anunciado, então Kim se vira,
ficando novamente com as costas apoiadas em meu peito e nos

concentramos no ringue à nossa frente.

O adversário de Gavin é o primeiro, o mesmo cara que derrotei na

semana retrasada, e o homem de Benjamim. Se ele perder, Scott sairá


ganhando, pois tem mais lutadores vencendo. Na teoria, isso não
significa nada, na prática, aumenta a rivalidade entre eles e alimenta a

guerra-fria existente.

Assim que Will é anunciado e sai de um dos corredores, o seu

apelido ecoa pelo espaço. Knight[5].

— Por que o chamam assim?

— Não faço a mínima ideia. Às vezes, os apelidos não fazem o


mínimo sentido.

Ela ri e ficamos em silêncio pelos próximos minutos. A luta se


inicia, e, caralho, é uma boa luta. Will com certeza é o melhor, porém, é

debochado, o que aumenta a raiva do seu oponente e recebe alguns


golpes.

Grito palavras de incentivo e xingo seu adversário, Kim é mais


contida e apenas fica rindo das minhas reações. Demora cinco rounds,
mas Will vence e assobio comemorando.

Os dois deixam o ringue, com o treinador do cara o carregando, e


Will erguendo seus braços e pedindo por mais aplausos, bem

exibicionista. Eles somem pelos corredores e Kim fica de frente para


mim. Apoio minhas mãos em sua cintura e a fito.
A luz não é tão intensa, o que faz uma sombra em seu rosto, seus
olhos têm um brilho perverso e seus lábios estão curvados em um quase

sorriso.

— Ele luta bem, mas você é bem melhor. — Espalma as mãos em


meu peito. — Bem mais excitante.

Inclino meu rosto e quase toco seus lábios.

— Ótimo que você fica excitada apenas comigo lutando, ou teria


que acabar com todos os lutadores do mundo.

Olho em seus olhos e estou pronto para cobrir meus lábios com os
seus, quando somos interrompidos por Scott.

— Odeio atrapalhar o casalzinho, mas preciso conversar com a


sua namorada, Gavin.
Gavin

Scott está nos interrompendo, ou seja, o assunto não é algo trivial.


Afasto meu rosto do de Kim, continuo com minhas mãos sobre seu corpo

e olho para frente. Scott está logo atrás de Kim, encarando-nos com um
olhar nada amigável.

— O que está acontecendo, Scott?

Ele olha em meus olhos e continua com uma postura tensa. Seus

olhos também deixam claro que algo aconteceu. Caralho! O que merda
pode ter acontecido para que Scott esteja querendo falar com Kim?
Desvio os olhos para Kim e seu olhar entrega que ela sabe o

porquê ele está a procurando.

— O que você fez?

Resmungo e é óbvio que não me responde. Simplesmente se vira

e dá um passo à frente, como se estivesse pronta para enfrentar Scott. O


que ela pensa que está fazendo?

— Você deve ser o Scott.

Sua voz soa normal, ela acredita que está no controle da situação

e espero que realmente esteja.

— E você é Kim, Kimberly Quinn, não é? Filha do juiz Albert

Quinn. — Ele fez uma pesquisa sobre ela, mas por quê? Encaro-o e ergo
minhas sobrancelhas, entretanto, sou ignorado, e Scott segue com sua

atenção sobre Kim. — Nós precisamos conversar.

Antes que Kim possa negar ou possa dizer algo, ele se vira,

ficando de costas.

— Siga-me.

— Eu estou indo junto.

— Achei que viria, não combinaria com você abandonar sua

namorada.
Mantenho-me em silêncio, embora esteja irritado. Não quero

brigar com Scott, mas faria qualquer coisa para defender Kim. Apoio

minhas mãos nas costas dela e seguimos Scott. Ele nos leva para o seu

escritório, o mesmo que usamos das outras vezes.

Abre a porta, entra e a deixa aberta para que possamos entrar. Eu

sou último a cruzar pela porta e a fecho. Scott se posiciona atrás de sua

mesa e se senta em sua cadeira, Kim e eu permanecemos em pé e ele nos

encara com uma expressão de decepção. Ele está fingindo.

— Eu deixei você usar meu escritório para se encontrar com seu

namorado e, em troca, recebo uma invasão aos meus computadores?

Olha para Kim e eu faço o mesmo. Que merda é essa?!

— O quê?

Pergunto e Kim fecha seus olhos rapidamente, suspirando.

Quando volta a abri-los, fita Scott, que no momento está falando comigo:

— Presumi que você não soubesse. Você não me trairia, não é?

Faço o mesmo que Kim e encaro Scott.

— Lógico que não, eu não tenho motivos para querer invadir seu

computador, embora, se quisesse, conseguiria.

Joga seu corpo completamente para trás.

— Mas sua namorada sim.


Volto a fitar Kim e ela se vira em minha direção.

— O que você estava pensando?

Ergue suas sobrancelhas. Ela não parece nem um pouco

arrependida. Como ela não tem dimensão do que fez?

— Eu queria uma forma de conseguir me livrar de você, e Dallas

estava tentando invadir o sistema daqui, à procura de algo que pudesse

usar para chantageá-lo. Ontem, ela conseguiu concluir a invasão. — Dá

de ombros e suspiro. Porra! — Dallas me contou quando cheguei em


casa, depois que você e eu nos entendemos, então, eu disse que não era

mais necessário, que não precisava de motivos para chantageá-lo.

Volta-se para Scott.

— Não salvamos nenhuma informação, aliás, nem chegamos a

explorar os conteúdos dos computadores.

Scott inclina seu corpo para frente, apoia os cotovelos na mesa, e

estreita os olhos para Kim. Antes das palavras deixarem sua boca, eu sei
que ele sabe que Kim não está falando a verdade.

— Você está mentindo.

Kim franze sua testa. Droga, ela realmente acredita que sua amiga

não bisbilhotou as informações.


— Eu expliquei para Dallas que não precisava mais das

informações e que poderia deixar isso para lá.

— Meus computadores seguem sendo monitorados, Kim.

— Scott, elas são duas universitárias inofensivas.

Intervenho antes que as coisas fiquem complicadas para Kim e

Dallas. Não quero ter que brigar com Scott nem arrumar confusão com

ele. Porra, o cara praticamente comanda o estado.

— Você sabia que a tal Dallas deu um golpe em Benjamin?

Se mentir e ele descobrir, será pior.

— Isso não vem ao caso.

— Claro que vem ao caso. — Força seu corpo a relaxar para

assumir uma postura gentil. Ele irá nos encurralar sem parecer estar

fazendo isso, já o vi agindo assim outras vezes. — Eu vou ser legal,

Gavin, e fingir que você não sabia, ignorar esse o seu pequeno lapso de

não ter me contado que alguém que estava se relacionando com a amiga

de uma golpista que já tinha aplicado um golpe em meu rival.

Age como se estivesse sendo bondoso.

— Apenas quero ter uma conversinha com a golpista.

— Nem pensar.

Kim resmunga.
— Faça sua namorada colaborar comigo, Gavin.

Scott está nos dando um aviso. Ele pode ser um cara legal, mas

ainda é o líder de uma organização criminosa, sem escrúpulos, e que não

irá deixar nada atrapalhar seus planos.

— Iremos ligar e ela virá até aqui.

Kim me encara como se eu estivesse maluco.

— Ela não virá.

Kim protesta e Scott a ignora, ele sabe que farei a garota vir até

aqui.

— Vou deixar vocês fazerem a ligação para a garota, e nem

pensem em irem embora antes dela chegar.

Levanta-se e sai da sala. A porta fecha e Kim caminha de um lado

para o outro enquanto me fuzila com seus olhos.

— Não irei ligar para Dallas, não vou por minha amiga em

perigo.

Sem paciência, apoio minha bunda contra a mesa de Scott e

encaro o teto.

— Não temos uma opção, Kim.

— Você não pode estar falando sério.

Encaro-a outra vez e assinto.


— Kim, Scott irá atrás da sua amiga, de qualquer forma. Pelo

bem dela, é melhor que ela venha até ele.

Para de andar e faz uma careta.

— E se não ligar?

— Ele provavelmente irá nos prender aqui, ir até ela e encontrar

uma forma de nos castigar.

Não tenho medo, mas é exatamente o que Scott fará se Dallas não
vier até ele.

— Ele é seu amigo.

Dou um sorriso sem humor.

— Não seja ingênua, Kim. Ele é o líder de uma organização


criminosa, Scott não tem amigos, ele tem parceiros e, se precisar, ele os

elimina.

— Não me chame de ingênua e nem aja como se eu fosse uma


idiota.

Seu rosto ganha um tom de vermelho e suspiro.

— Então não aja como uma, pegue a porra do seu telefone e ligue
para sua amiga.

— Você é um imbecil, Gavin.


Seus xingamentos não me machucam, e apenas continuo a
observando enquanto pega o celular em seu bolso e liga para Dallas. Ela

explica basicamente para a amiga o que está acontecendo, eu grito ao


fundo que é melhor ela não tentar fugir, Kim parece prestes a me matar e

assim que a chamada chega ao fim, sou o alvo de sua ira.

— Dallas jamais fugiria.

Ela me encara com sua soberba e arrogância de sempre, porém,

não me causa mais repulsa. Pelo contrário, sou livre para a achar atraente.

— Não a conheço.

— Eu a conheço.

É possível ver a raiva em seus olhos. Afasto-me da mesa de Scott

e dou um passo em sua direção.

— Sua amiga está vindo?

— Sim, ela não é uma maldita fujona.

Continuo me aproximando de Kim, ela caminha para trás, até ter

as costas apoiadas na parede. Eu paro à sua frente e levo minhas mãos até
sua cintura.

— Gosto de quando você assume essa personalidade de vadia do

mal. — Seus olhos brilham, perdem a intensidade da raiva, que é


substituída por satisfação, mas tenta disfarçar. — Não adianta tentar
esconder de mim, sei que gostou do meu elogio.

— Achei que fosse contra essa minha personalidade.

Provoca-me, ergo minha mão e acaricio seu pescoço.

— Eu não me importo com ela, eu não gostava de você me


desafiando, Kim. — Inclino sua cabeça para o lado e aproximo minha

boca da sua orelha. — Eu queria derrotá-la porque não gosto de perder,


porém, lá no fundo, sempre achei você atraente, esse seu jeito...

Aproximo-me ainda mais e aperto sua bunda, beijo sua pele e ela

estremece em meus braços.

— Que bom, porque não irei mudar, Gavin.

— Eu não espero que você mude, você me completa exatamente


assim.

Ela vira seu rosto, olha em meus olhos e, por alguns segundos,
simplesmente ficamos nos encarando, até que tudo se torna demais e

cubro meus lábios com os seus.

É urgente, repleto de desespero, como se precisássemos um do

outro para respirar, no entanto, uma batida à porta põe fim ao nosso
momento.

— Desculpa interromper, mas preciso do meu pagamento.


É Will. Caralho! Apoio minha testa na de Kim, abro meus olhos e

encontro os seus ainda fechados.

— Eles estão transando na minha sala outra vez?

Essa é a voz de Scott, Kim abre seus olhos e os encontro nublados

com luxúria, eles quase fazem com que eu volte a beijá-la, mas antes que
faça exatamente isso, dou um passo para trás. Continuamos nos

encarando e Will volta a bater à porta.

— Sério, pessoal, eu estou preciso acertar com Scott o meu


pagamento.

Reviro meus olhos, puxo Kim até estar à minha frente, com seu
corpo cobrindo a minha ereção. Apoio-me na parede e Kim segue me

escondendo.

— Podem entrar.

No mesmo instante, Will entra no escritório, seguido de Scott.


Will tem o olho esquerdo inchado, um lábio cortado e um roxo na lateral

do rosto.

Scott vai até sua mesa e Will fica à sua frente. Eles parecem

concentrados um no outro e Kim utiliza esse momento para empurrar sua


bunda contra mim. Porra!

— Não faça isso.


Sussurro contra seu ouvido para que nenhum dos dois perceba

que Kim está me provocando, entretanto, para meu azar, Will se vira em
nossa direção e percebe que algo está acontecendo. Ele faz uma careta e

desvia a atenção de nós dois.

— Caralho, vocês dois poderiam se comportar?

Ele soa debochado e reviro meus olhos.

— É por você ser debochado que está com o rosto deformado.

— Eu gosto de ação, Gavin, nem todos somos chatos igual a

você.

Continua olhando para frente.

— Considero sua ação burra.

— E eu considero você um chato.

Poderíamos continuar discutindo como duas crianças, mas Scott

entrega para Will sua parte das apostas e o obriga a conferir se tudo está
correto. Em seguida, se senta em sua cadeira e encara Kim e eu.

— Melhor todos nós nos sentarmos enquanto esperamos pela


golpista, e aproveitarmos para conversar sobre a próxima luta.

— Eu vou pegar o uísque.

Will vai até o bar na lateral da sala.

— Você está dispensado, Will.


— Vou ficar, obrigado.

É claro que ele irá ficar. Kim e eu ocupamos o sofá, Will serve as

bebidas e se senta à frente de Scott. Scott fornece as informações da


próxima luta e me conta que meu nome tem crescido entre os

apostadores, inclusive, eu tenho um apelido: The King. Combina


perfeitamente comigo.

Estamos no segundo copo de uísque quando alguém bate à porta.

— Ela chegou.

É um dos homens de Scott.

— Mande a golpista entrar.

Kim fica em pé com a menção da amiga. A porta é aberta e Dallas


cruza por ela.

— Quem está querendo falar comigo?

Mantém a cabeça erguida e não aparenta estar com medo. Dallas,


assim como Kim, grita problema.

— Eu, querida. — Ela encara Scott e não recua. — Vocês podem


sair, eu tenho que conversar a sós com a golpista.

— Não vou deixar minha amiga sozinha.

Fico em pé e vou até Kim.


— Ela ficará bem, bonequinha. — Entrelaço minha mão na sua.
— Vamos.

Will deixa a sala e mantém a porta aberta. Kim resiste, mas, por

fim, acaba suspirando e me deixando a guiar para fora.

— Se algo acontecer a Dallas, eu irei matá-lo.

Os caras de Scott olham em sua direção com a testa franzida.

— Ela está brincando.

Digo entre dentes.

— Você é corajosa. Gosto da sua namorada, Gavin. — Fuzilo


Will e ele ergue as mãos para cima. — Apenas como pessoa.

Haja paciência para lidar com essa gente! Como sei que Kim

não irá querer se distanciar da amiga, ficamos no corredor, logo em frente


à porta, Will nos deixa sozinhos e segue para o bar.

— Se ela gritar, invado a porra da sala! Não ligo se ele é um

criminoso.

— Ele não irá machucá-la.

Scott não faria algo assim, com nós dois a uma porta de distância.
Provavelmente, ele tem um plano.

— Espero que não.


Kim fica impaciente ao meu lado, eu tento conversar com ela,
porém, não consegue se concentrar. Ficamos em silêncio pelos minutos

seguintes e Kim só volta a respirar aliviada quando Dallas deixa o


escritório de Scott com um sorriso no rosto.

— O que merda está acontecendo para você estar sorrindo?

Kim indaga à amiga, que segue sorrindo.

— Eu tenho um emprego.
Kim

Encaro Dallas sem entender.

— Do que você está falando?

Dá de ombros e um passo à frente.

— Scott me ofereceu uma vaga de emprego.

Ela fala como se não fosse nada demais.

— Você irá trabalhar para um criminoso?

Soo em choque e incrédula.

— Hey, eu trabalho para um criminoso.


Gavin me provoca e me viro para ele.

— Não é o momento para brincadeiras.

Volto a olhar para Dallas.

— Você está bem?

Percorro meu olhar pelo seu corpo, à procura de algo que indique
está sob influência de alguma droga ou algo do tipo, mas ela parece

perfeitamente bem.

— Estou, tudo está em ordem, Kim.

Seus olhos dizem exatamente isso. Alguns questionamentos

ecoam em minha mente, porém, não tenho tempo de continuar meu


interrogatório, pois Scott abre a porta e para à nossa frente.

— Vocês estão liberados para irem embora.

Dallas se vira para Scott e eles têm uma troca de olhar estranha. O

que eles acertaram exatamente?

— Até mais, Scott.

— Até mais, golpista.

Ele pisca para Dallas, que somente revira seus olhos e se volta

para mim.

— Você vai comigo ou com seu lutador?


— Com você.

Embora queira mais tempo com Gavin, eu preciso entender em

qual roubada Dallas está se colocando dessa vez.

— Eu vou com vocês até a entrada.

Assinto, então ele une nossas mãos e seguimos pelo corredor, o

local que parece um cassino de Vegas continua quase tão lotado quanto

durante a luta, as pessoas estão aglomeradas e comemorando suas

vitórias.

Gavin e eu vamos em frente e Dallas nos segue. Como estamos

com Gavin, os caras de preto simplesmente entregam os itens de Dallas,

nenhuma pergunta, nenhuma observação.

— É bom estar com alguém importante. — Dallas zomba

enquanto caminhamos para fora da falsa loja. Gavin e eu ainda estamos

de mãos dadas e ela atrás de nós. — Vocês parecem o rei e a rainha do

submundo.

Continua com seu deboche. Eu fico em silêncio, assim como

Gavin, mas Dallas tem razão, é como se fôssemos um rei e uma rainha.

Um dos caras vai buscar o carro de Dallas, então me viro para

Gavin e enrolo meus braços ao redor do seu pescoço.

— Eu adorei nosso encontro.


Abaixa seu rosto e seus lábios pairam sobre os meus.

— Para ser perfeito, precisa acabar com você em minha cama.

Olho em seus olhos.

— Nem sempre temos tudo que queremos.

Sua boca cobre a minha e só paramos de nos beijar quando Dallas

resmunga que irá me esperar no carro. Mordo seu lábio inferior e ponho

um fim no nosso beijo.

— Até mais, Gavin.

Beija meus lábios rapidamente e afasta suas mãos do meu corpo.

— Até mais, Kim.

Olho para ele uma última vez e corro para o carro. Sento-me no

banco ao lado de Dallas, fecho a porta e ela coloca o carro em

movimento.

— Esse negócio de vocês é mesmo sério, não é?

— Sim, não faz da nossa personalidade definirmos o que existe


entre nós, mas é totalmente sério.

Encaro Dallas e ela parece pensativa.

— Ontem, quando você me contou, eu achei que não fosse assim,

tão sério, acho que levei como se fosse uma trégua… um fim no embate

entre vocês. Não achei que vocês estivessem apaixonados um pelo outro.
Dallas usa a palavra apaixonados, o que é um pouco assustador,

porém, faz sentido.

— É por isso que continuou com os computadores conectados ao

seu?

Morde seu lábio inferior e demora a me responder.

— Não, eu continuei, porque achei que poderia encontrar alguma

conta e as informações necessárias para a transferência de dinheiro.

— Dallas. — Repreendo-a. — O que você estava pensando? Eles

não são os empresários tolos, os quais está acostumada a roubar.

Sei que, assim como eu, Dallas gosta da sensação do perigo e de

estar no controle, mas, dessa vez, ela foi longe demais.

— Eu já roubei Benjamin, que recentemente descobrimos ser o

líder de uma organização criminosa, por que não poderia fazer de novo?

Suspiro e balanço a cabeça, negando.

— Estou começando a acreditar que está maluca, Dallas, nós duas

sabemos que não faz isso por dinheiro.

— Faço por satisfação.

Ela não tenta nem negar.

— Como foi sua conversa com Scott?

Dá de ombros e segue concentrada na rua à sua frente.


— Ele me chamou de golpista, apontou meus erros, me deu um

sermão, de como não sabia com quem estava lidando, me explicou o

quanto é perigoso e poderia acabar comigo, e todo blá, blá, blá de cara

mau. — Revira seus olhos. — E, no final, me chantageou. Ou eu

trabalhava para ele hackeando alguns sistemas, ou ele iria me castigar.

Dallas sorri e a encaro, sem entender.

— Por que você está sorrindo?

— Porque ele jurou que seria uma escolha difícil, mas eu adorei a

ideia.

— Dallas, você está completamente maluca.

Para em um sinal e me fita.

— Você está saindo com alguém que luta ilegalmente, não é tão

mais mentalmente estável assim.

— É diferente.

— Não é.

Vamos discutindo até chegarmos na nossa rua, pois, o que vemos,

faz com que o deboche seja substituído por desespero. Há bombeiros em

frente à nossa casa.

Dallas simplesmente acelera e assim que estaciona atrás do

caminhão de bombeiros, saímos correndo do carro. Nós vamos até um


dos bombeiros, que está parando na calçada e encarando a fachada

intacta da nossa casa. Existe fumaça, porém não parece ter dano algum.

— O que está acontecendo?

Dallas pergunta e o cara se vira para nós duas.

— Houve um princípio de incêndio, vocês sabem quem mora

aqui?

— É a nossa casa.

Sou eu a responder. Ele franze sua testa e sua postura relaxada


muda, assumindo um ar mais profissional.

— Ao que tudo indica, o fogo iniciou na cozinha, não

encontramos ninguém em casa e conseguimos controlar as chamas.

— Não faz nem uma hora que eu saí de casa, como tudo

aconteceu tão rápido?

O homem ao nosso lado não parece ter uma resposta para Dallas.

— Chegamos faz quinze minutos depois de uma ligação e não

sabemos quem ligou. — Dá de ombros. — Como era recente, não foi


difícil controlar o fogo.

Dallas me encara com a testa franzida.

— Eu tenho certeza de que não deixei nada ligado em casa que

pudesse causar um incêndio.


— Vocês podem abrir um inquérito para descobrir o que causou o
incêndio, porém, precisaremos interditar o local para a perícia e acionar a

polícia. — Uma sensação ruim ecoa em meu peito e piora quando lembro
o que estava escrito em um dos bilhetes. P.S: as coisas estão prestes a

esquentar para você. — Posso ligar para a polícia?

— Claro.

Dallas é quem responde e eu não sei se é a melhor ideia. Porra, e

se realmente foi intencional? O que irei fazer? Além disso, precisarei


ligar para o meu pai. Estremeço apenas por saber que talvez vá precisar

dele.

— Você está bem?

O bombeiro se afasta para fazer a ligação e Dallas me encara,

preocupada.

— Lembra dos bilhetes? — Dallas assente. — Em um deles,


estava escrito que as coisas estavam prestes a esquentar para mim.

— Isso significa que foi intencional, Kim. — Arregala seus olhos.

— E essa pessoa é perigosa. Ela colocou fogo na nossa casa para te


atingir, não é apenas uma brincadeira.

Suspiro e assinto.

— Você precisa informar a polícia sobre isso.


— Eu sei.

Caralho! Olho para o céu escuro, são três horas da madrugada e


terei que resolver questões sobre um incêndio, ou quase isso. Que merda!

É como se eu estivesse em um maldito filme, vivendo a vida de outra


pessoa.

Eu vou descobrir quem está brincando comigo e vou o destruir.

— Os policiais estão a caminho, as senhoritas têm onde ficar?

— Daremos um jeito.

Dallas o responde, ele assente e volta a se afastar.

— Precisamos avisar Nancy, ela está em uma festa.

Eu argumento, ela assente e pega seu celular. Dallas avisa a

Nancy, e após a tranquilizar dizendo que o dano foi mínimo, Nancy


informa que não virá para casa, irá dormir na casa de uma amiga.

Dallas e eu ficamos na calçada em silêncio, perdidas em

pensamentos, eu não paro de pensar que isso foi um aviso, a pessoa não
está brincando.

Os policiais chegam, eles nos fazem perguntas e conto sobre os


bilhetes, eles me pedem os bilhetes e nos acompanham até dentro de

casa. Dallas e eu aproveitamos para pegarmos nossas coisas, roupas que


usaremos nos próximos dias, pois, nossa casa ficará interditada por três

dias.

Enquanto Dallas vai até seu quarto e o de Nancy para pegar suas

coisas também, eu vou até o meu, com um dos policiais me


acompanhando. Abro a porta e encontro o lugar totalmente revirado.

Alguém esteve aqui.

— Você tinha deixado seu quarto assim antes de sair?

— Não.

Nego e adentro em meu quarto, as coisas estão jogadas pelo chão,

roupas, papéis, objetos, fotos… tudo espalhado. Raiva explode em meu


peito.

— Provavelmente, alguém queria que você soubesse que esteve

aqui. — Abaixo-me, pego uma das minhas roupas e ela está toda cortada.
— Pergunto-me se você acionar a polícia sempre foi o plano dela, ou é

alguma amadora?

Ignoro-o, fico em pé e chuto as roupas que encontro pelo


caminho. O ódio cresce em meu peito a cada passo, e prometo me vingar.

De repente, algo brilha no chão e me chama atenção, um chaveiro


que não é meu, e não demoro a reconhecer quem tem um desses

chaveiros pendurados na mochila.


Vadia! Como ela teve coragem?

Deveria falar para os policiais, mas não, ainda não. Abaixo-me,

pego-o e o guardo em meu bolso.

— Iremos analisar seu quarto também.

Apenas assinto, não conseguiria pronunciar nenhuma palavra, a

raiva dominou meu corpo, está transbordando, a ponto de lágrimas se


acumularem em meus olhos.

Eu pego minha mochila, computador e faço uma pequena mala

com as poucas roupas que a vadia deixou em meu closet. Enquanto estou
em meu closet arrumando minha mala, ligo para Gavin.

Eu preciso dele e, para meu alívio, não demora a aceitar minha


chamada.

— Kim.

Só de ouvir sua voz me sinto melhor. Protegida!

— Invadiram minha casa, Gavin. — Respiro fundo e impeço que


lágrimas escorram pelo rosto. — Coloram fogo na cozinha e mexeram no

meu quarto.

— Você está bem?

Soa preocupado e encaro o teto enquanto o respondo.


— Eu estou bem, mas com raiva. — Uma lágrima acaba
descendo pela minha bochecha. — Foi a pessoa dos bilhetes, Gavin.

— Eu estou indo até aí.

— Ok.

Gavin desliga, limpo a lágrima e termino de arrumar minhas


coisas. Saio do meu quarto com uma mochila e uma mala seguida do

policial. Encontro Dallas no corredor e ela percebe que algo está errado.

— Aconteceu mais alguma coisa?

— Alguém esteve no meu quarto, cortou minhas roupas e

espalhou minhas coisas.

Dallas me encara horrorizada, larga a sua mala, vem até mim e


passa seus braços ao redor dos meus ombros, puxando-me para si.

— Kim, eu sinto muito.

A forma como me encara, o seu abraço, faz com que mais


lágrimas se acumulem em meus olhos.

— Eu estou bem. — Digo, mais para tentar me convencer do que


a ela. — Eu só estou com raiva, eu vou destruir quem está fazendo isso

comigo.

— Vamos senhoritas?
Um dos policiais que está nos acompanhando chama nossa
atenção. Desvencilho-me de Dallas e assinto para que ela saiba que estou

bem. Pegamos nossas malas e seguimos na direção da escada.

— Você pegou as coisas de Nancy?

Dallas assente.

— Vou levar até a casa da sua amiga, ela disse que podemos ficar

lá também, porém, acho melhor irmos para casa do Alex, gosto mais dele
do que da amiga de Nancy.

Concordo com ela, é melhor ficarmos com seu melhor amigo.

Não tenho nada contra o amigo de Dallas nem contra a amiga de Nancy,
mas ela é um pouco demais.

— Ok. Eu liguei para Gavin, vou precisar esperá-lo chegar.

— Você irá ficar com ele?

Pergunta-me enquanto descemos as escadas e dou de ombros.

— Não falamos sobre isso.

Nós duas vamos até a cozinha dar uma olhada e realmente o dano
foi mínimo, a pessoa não queria causar estrago, apenas dar um sustinho.
A cortina está queimada, o teto e parede estão parcialmente cobertos de
fuligens e parte do armário está comprometido. Duvido que aquela vadia
faria algo mais arriscado, ela não é tão corajosa, somente está fingindo
ser.

Ela quer que eu fique com medo, o que ela se esqueceu é que não
tenho medo de nada.

Dallas e eu voltamos para a calçada, os bombeiros e policiais nos

explicam o que acontecerá a partir de agora, perícia e laudo, e quando


tudo estiver terminado, poderemos voltar para casa. Como meu carro
estava na garagem e tudo deve ser analisado ficarei sem ele pelos
próximos dias.

Gavin estaciona logo atrás do carro de Dallas quando os


bombeiros e policiais estão deixando a rua. Estou exausta, como se esse

dia tivesse durado uma eternidade, aliás, essa semana está demorando
muito para acabar.

Gavin sai do carro e caminha até mim, seu olhar preso ao meu, e
uma sensação de alívio toma meu peito. Assim que ele está perto o
suficiente, me puxa para seus braços e eu o abraço.

Ele me segura como se fosse capaz de me proteger de tudo.

Ficamos assim por segundos, talvez minutos, e poderíamos


continuar, porém, nos afastamos e Gavin percorre meu corpo com seu

olhar, procurando por algum dano.


— O que exatamente aconteceu?

Pergunta-me enquanto suas mãos seguem em minha cintura. Seu


toque é reconfortante.

— Quando Dallas e eu chegamos, havia bombeiros em frente à

nossa casa.

Explico o que aconteceu, sobre Dallas ter certeza de que não

deixou nada ligado na cozinha que fosse capaz de causar um incêndio,


sobre meu quarto, minhas roupas espalhadas pelo chão e o bilhete.

— Caralho, Kim, essa pessoa cruzou todos os limites. — Apesar


do seu olhar continuar o mesmo de sempre, lá, no fundo, eu consigo
enxergar a raiva refletida em suas írises. — Essa pessoa pode ser

perigosa.

Balanço minha cabeça, negando.

— Acho que não, acho que ela só quer parecer perigosa. —

Sorrio sem humor. — Ela é uma fraude.

Antes que Gavin possa falar algo Dallas nos interrompe.

— Kim, você vem comigo?

— Para onde você vai?

Gavin me questiona.

— Para casa de um amigo de Dallas.


— Ela não vai com você. — Ergo minhas sobrancelhas. — Você

virá comigo.

— Eu vou com ele.

Reforço sua frase e travamos o olhar um no outro.

— Ok, tenham uma boa noite.

Desvio os olhos de Gavin por alguns segundos, viro-me para


minha amiga e me despeço dela. E assim que Dallas está em seu carro,

volto a olhar para Gavin e pego o chaveiro em meu bolso.

— Eu sei quem está por trás das ameaças, Gavin.


Gavin

Kim tira um chaveiro do bolso, a réplica de um tênis, rosa e com


muito brilho. Ele não me é estranho, mas não consigo me lembrar onde o

vi.

— Encontrei no chão do meu quarto, em meio às minhas roupas.

Continuo encarando o pequeno objeto que está sobre a palma da

sua mão.

— Você sabe a quem ele pertence?


Desisto de descobrir onde já o vi e ergo meu olhar. Kim assente e

seus olhos brilham, repletos de raiva e ódio.

— Esse chaveiro é da Marie.

Volto a observar o chaveiro e uma imagem dele preso à mochila

de Marie ecoa em minha mente.

— Então foi ela que esteve no seu quarto?

— E que colocou fogo em minha cozinha.

Marie tentou se aproximar de mim e sempre soube que escondia

algo, só não imaginei que fosse isso.

— Por que ela estaria fazendo isso?

— Desde o primeiro semestre, ela tentou se aproximar de mim,

mas ela é sonsa demais. Não gosto de gente sonsa e a ignorei, ela tentou

entrar para as cheerlearders, mas é péssima. — Suspiro. — E fui ríspida

com ela na frente de outras pessoas, transformando-a em uma chacota, ou


seja, por minha culpa, a maioria do campus acredita que ela é uma piada.

— Ela está se vingando.

— Sim.

Confirmo, embora ele não esteja fazendo uma pergunta.

— Você é uma cadela com muitas pessoas, uma hora ou outra

alguém ia tentar se vingar.


Dou de ombros.

— Não tenho medo.

Sua cabeça continua erguida, sua postura é a mesma arrogante de

sempre.

— Ela colocou fogo em sua casa.

Sorri, debochada.

— E vou acabar com ela. Ela achou que ser uma piada era ruim?

Vai ser muito pior, eu vou fazê-la querer sumir da cidade.

Suas palavras não me surpreendem, nem a determinação em seus

olhos. Kim é assim, ela pode ter medo da escuridão, mas é lá que sua

alma habita.

— Já descobriu como irá fazer isso?

Balança a cabeça, negando.

— Não, mas eu vou.

Assinto.

— Vamos?

É a sua vez de assentir, então pego sua mala e vamos para o meu

carro. Kim se senta ao meu lado, e dirijo para uma outra parte da cidade.

— O que você acha que Marie estava procurando em seu quarto?


Kim demora alguns segundos para me responder.

— Não sei, acredito que ela estava apenas querendo me assustar,

por que estaria procurando algo?

— E se ela estivesse procurando algo que te comprometa?

Ela cortou as roupas de Kim, mas sinto que existe algo mais no

seu propósito e estamos deixando-o escapar.

— Talvez, mas não existia nada em meu quarto que poderia me

comprometer.

— Ótimo. — Paro em um sinal e olho para Kim, há uma questão

nessa história que me deixa curioso. — Você tem algum palpite do

porquê Marie demorou tanto para agir? Se você desde sempre tem a

tratado mal, por que só agora decidiu se vingar?

Kim dá de ombros e volto a olhar para frente.

— Não sei, confesso que nunca imaginei que ela fosse capaz de

algo, para mim, ela sempre foi só uma sonsa.

Suas palavras são repletas de desdém e apenas sorrio.

— As poucas vezes que prestei atenção nela, eu percebia algo em

seu olhar, como se fosse uma raiva escondida no fundo da sua alma,

porém, achava que era questões pessoais dela. Jamais imaginei que fosse

destinada a você.
Nunca prestei a atenção em Marie porque ela só foi alguém que

usei para atingir Kim, não me importei, de fato, com ela.

— Como vocês se conheceram?

O desdém continua presente em sua voz, porém ainda mais

intenso, pois, ela tem ciúmes dos breves momentos que passei com
Marie.

— Marie quem me procurou em uma festa, e eu só aproveitei a

oportunidade para dar segmento ao meu plano de fazer você ser vista

como uma boba apaixonada.

— Vadia, aposto que ela procurou você para se unirem e me


destruírem.

— Nunca recebi essa proposta.

Kim bufa, claramente irritada.

— Aposto que acreditou que poderia usar você para me atingir.

— Essa é uma boa aposta, Marie poderia ter acreditado que poderia

atingir Kim através de mim, ela estando ou não apaixonada por mim. —

O que aconteceu exatamente entre vocês?

Franzo minha testa, que tipo de pergunta é essa?

— Entre nós?

— Sexo? Beijo? Mão boba?


Sorrio, debochado.

— Não acredito que você está me perguntando isso.

— Dependendo da sua resposta, posso intensificar ou amenizar a

minha vingança.

Continuo sorrindo.

— Ciúmes não é um sentimento muito bom, bonequinha.

— Para pessoas normais. Nós não somos normais, baby.

Ela tem razão, e por isso a respondo.

— Não transamos, mas a beijei.

— Vadia!

Seu ciúme é divertido, porém, não prossigo com o assunto, pois


estaciono em frente ao prédio. Kim olha pela janela enquanto tiro a chave

da ignição.

— Você mora aqui?

Vira-se para mim com uma careta em seu rosto.

— Eu moro aqui.

Claramente, ela não aprova o prédio decadente. Saio do carro e

ela faz o mesmo, pego sua mala e vou até ela, que está encarando a

fachada do lugar.
— Deveria ir para um hotel.

Provoca-me. Seguro sua mão e me inclino até estar com a boca a

centímetros da sua orelha.

— Você irá ficar aqui. — Mordo o lóbulo da sua orelha. —


Dormindo comigo e na minha cama.

Encolhe-se e um arrepio percorre seu corpo. Afasto-me e a puxo


na direção da entrada. Sem hesitar, Kim me segue. Subimos as escadas e

é claro que ela reclama.

— Odeio escadas.

— Você odeia muitas coisas, Kim.

Ela continua resmungando e quando entra em meu apartamento, o


observa com certo receio. Sua expressão de quem está julgando o lugar

me diverte.

— Meu novo hobby é fazer você visitar lugares que, antes de

mim, nunca frequentaria.

— Você é péssimo, Gavin.

Espalmo minhas mãos em suas costas e a empurro na direção do

corredor.

— Eu amo a sua expressão de patricinha mimada indignada com


os lugares.
Levo-a até meu quarto, fecho a porta e ela para no meio do
cômodo.

— Seu quarto é pequeno.

— É o suficiente.

Deixo sua mala ao lado da porta e ela faz uma careta.

— Eu me sinto claustrofóbica.

Dou um passo em sua direção e a forço a caminhar para trás, até

estar com a bunda apoiada na minha mesa de estudos.

— Deixe de ser uma patricinha mimada. — Enrolo os fios do seu


cabelo minha mão, puxo-os para trás e faço inclinar sua cabeça.

Aproximo minha boca do seu pescoço e distribuo beijos pela sua pele. —
Não importa o lugar em que você estiver, Kim, seu corpo irá implorar por

mim.

Subo os beijos até sua boca.

— Você irá implorar por mim.

Cubro sua boca com a minha, e pelos próximos minutos, faço

Kim implorar, gritar meu nome e gozar com meu pau em sua boceta.

Está amanhecendo e seguimos para o banho, um banheiro no


corredor que eu divido com Will, para o horror e desespero de Kim.

Quando voltamos para o quarto, visto uma cueca, ela minha camiseta e
nos deitamos em minha cama. Kim dorme com parte do seu corpo sobre
o meu e mantenho meus braços ao seu redor.

...

Acordamos na metade da tarde, eu preparo o almoço enquanto


Will fica nos provocando, segundo ele, ouviu alguns barulhos, eu o
recomendei usar fones e Kim o mandou arrumar alguém para foder.

Após almoçarmos, voltamos para meu quarto, Kim ainda está

com minha camiseta, de pé e observando o meu espaço.

— Não há nenhuma decoração e nem fotos.

Sento-me na beirada da cama enquanto ela analisa alguns livros


que estão sobre a minha mesa.

— Ninguém era importante o suficiente para ter fotos pelo meu


quarto.

— Talvez deva trazer algumas fotos minhas.

Vira-se e sorri.

— Talvez você deva.

Seu sorriso se desfaz e me encara com uma expressão mais séria.


— E a sua mãe?

— Provavelmente se drogando. — Ela fica em silêncio, à espera


de mais informações. — Eu passei os últimos anos tentando levá-la para

a reabilitação, eu tentei salvá-la, mas não consegui, então, simplesmente


desisti.

Deveria haver algum sentimento de remorso? Minha consciência

deveria me acusar? Porque tudo que consigo pensar é no alívio de não


estar mais por perto para vê-la se drogando.

— Eu encontrei a mãe de um amigo morta por causa das drogas e,

provavelmente, esse é o destino da minha própria mãe. — Dou de


ombros. — Não posso salvá-la e também não poderia continuar

esperando pelo dia em que a encontraria morta.

Kim assente, olho em seus olhos, mas não consigo decifrá-la.

— O que você está pensando?

— No quanto você é alguém incrível, apesar da situação da sua

família e do lugar em que nasceu.

Eu gosto de saber que ela me admira e satisfação vibra em meu

peito.

— Você elogiando alguém? É um tipo de milagre?

Sorrio e ela caminha em minha direção.


— Guarde esse momento, porque não é sempre.

Kim se senta em meu colo, apoio os joelhos na cama ao redor da

minha cintura, e ela passa suas mãos pelos fios do meu cabelo.

— Haverá uma festa na casa de uma das garotas do time de


cheerleader, você vem comigo?

— Eu vou.

Inclino-me para frente e mordo seu lábio inferior. Ela sorri e, por
fim, cubro sua boca com a minha.

Beijo-a até que nossos lábios fiquem dormentes e me afasto


quando precisamos respirar, então nos deitamos na minha cama e

ficamos assistindo uma série de terror, até precisarmos nos levantar para
comer. Jantamos, e em seguida nos arrumamos para a festa.

Kim se veste à minha frente e é um espetáculo.

Saímos do meu apartamento perto da meia-noite, eu dirijo e Kim

me mostra o caminho. O lugar é na parte mais nobre da cidade, uma casa


branca de dois andares com uma varanda e um jardim bonito.

Estaciono o mais perto possível do local, deixamos o carro e, de


mãos dadas, seguimos para a entrada. A música está alta e há muitas

pessoas espalhadas pelo local.


É a primeira vez que chegamos juntos à uma festa e recebemos
alguns olhares. Surpresa, admiração e inveja são algumas das expressões

estampadas nos rostos alheios.

Sabemos que os cochichos são sobre nós, porém, nenhum de nós

dois se importa. Foda-se o que estão pensando e falando, não ligamos de


sermos o assunto do momento.

Kim e eu adentramos à casa e o lugar está cheio, as pessoas

dançam, formam círculos de conversa e bebem. Uma garota se aproxima


de Kim, a dona de casa, elas conversam e ela se dirige a mim algumas

vezes, não faço questão de estar envolvido e a respondo monossilábico.

Não faço questão de socializar, mas Kim sim. Pegamos bebidas e


ela fica caminhando pelo local, eu fico ao seu lado enquanto ela conversa
com a maioria das pessoas.

Suspiro aliviado quando, enfim, não há ninguém ao seu redor.

— Você conversa demais.

Passa os braços ao redor do meu pescoço e sorri, debochada.

— Estou criando conexões e recuperando a minha reputação, que


você fez questão de prejudicar.

Bate levemente em meu peito.

— Não me arrependo.
— Sei que não.

Vira-se de costas e se apoia contra meu peito. Continuamos assim


por um tempo, até que Kim se afasta para buscar mais bebidas, eu fico a

esperando e quando ela está voltando, vejo um garoto se aproximar, no


mesmo instante dou um passo em sua direção.

— Hey, Kim, quando você se cansar do seu novo brinquedinho,

eu estarei aqui, à sua disposição. — Sorri, como se fosse o cara mais


engraçado do universo. — Soube que você é ótima em boquetes.

Seus amigos riem, Kim revira seus olhos e caminho até ele.
Primeiro acerto um soco em seu rosto, em seguida, o prenso contra a

parede enquanto seguro-o pela sua camiseta.

— Você nunca irá encostar um dedo nela.

Largo-o e antes que ele tenha chance de revidar, abaixo minha


mão, aproximo-me da sua e puxo um dos seus dedos para trás, até ouvir o

estalo e ter a certeza de que quebrou.

— Você quebrou meu dedo?!

Ele grita enquanto segura seu dedo fraturado com a mão intacta.

— A próxima vez será seu braço, ou seu pescoço.

Dou de ombros, viro-me, e Kim está me observando com um

sorriso em seu rosto. Vou até ela, passo meu braço pelos seus ombros e
nos afastamos.

— Você realmente quebrou o dedo dele?

— Quebrei.

— Ele é jogador de vôlei.

Ela não parece nem um pouco chateada. Nem eu.

— Uma pena para ele.

Ela sorri, mas para de andar e me detém. Olho para Kim e ela faz
um sinal para que olhe para o lado, então faço, e me deparo com Marie,
subindo as escadas.

— Eu vou atrás dela.

Desvencilha-se de mim.

— Se você demorar mais de quinze minutos, irei atrás de vocês.

Ela assente e sorri.

— Você não irá precisar.


Kim

Espero ela sumir e me afasto de Gavin, subindo as escadas atrás

de Marie. A raiva pulsa em meu peito a cada passo, e tudo que consigo

pensar, é em acabar com essa garota.

Vadia dos infernos!

Subo o último degrau e, ao pisar no corredor, ela entra no

banheiro, então, espero em frente, com o corpo apoiado na parede. Os

últimos acontecimentos ecoam em minha mente e o ódio aumenta. É


como se nesse momento eu fosse feita de apenas ódio e raiva.
Ela não demora, e assim que abre a porta, se depara comigo.

— Hey, Kim.

Sua voz é suave e seu olhar gentil, como se gostasse de mim e

fosse uma boa pessoa.

— Não precisa mais fingir.

Ela tem a cara de pau de fingir que não está entendendo do que eu

estou falando.

— Do que você está falando, Kim?

Afasto meu corpo da parede e dou um passo à frente.

— Você não precisa mais fingir, Marie, sei que é você que tem me

enviado bilhetinhos com ameaças.

Continua fingindo e balança sua cabeça.

— Não sei do que você está falando.

— Vou refrescar sua memória. — Sorrio, um sorriso sem humor.

— Ameaças, fogo em minha cozinha, roupas cortadas… lembrou?

É a minha vez de a encarar com uma expressão cínica em meu

rosto.

— Kim, não sou eu.


— Marie, eu encontrei o seu maldito chaveiro, então, pare de

fingir. — Dou mais um passo à frente e paro a alguns centímetros dela.

— Não precisa mais usar mais essa sua máscara de boa moça.

Seu olhar muda, seu peito sobe e desce mais rápido, mas não

confessa.

— Sempre soube que você é uma sonsa, mas, sendo sincera, me

surpreendeu. — Sorrio, debochada. — Porque, além de sonsa, é burra,

você achou mesmo que eu não descobriria?

Seu nariz infla e entrega que ela está prestes a perder o controle.

— Você nunca irá me vencer, Marie.

Raiva assume seu olhar e perde o controle.

— Você pensa que é invencível, não é? Uma deusa capaz de ditar

quem deve ou quem não deve ser popular. — Ri. — Despreza quem julga

inferior, humilha, e faz com que a pessoa se torne uma pária.

Balanço minha cabeça, incrédula.

— Eu não tornei você um pária, Marie, você sempre foi alguém


sem capacidade de ser popular, isso não é culpa minha.

— Você poderia ter me deixado ser sua amiga, você poderia ter
permitido que eu entrasse no time de cheerleaders, você poderia ter me

tornado popular.
Ela está louca!

— Marie, eu não poderia fazer um milagre, você seria uma

péssima líder de torcida e eu não suportaria ser sua amiga. Eu só

desprezei você e a humilhei, porque você me procurava, você insistia…

não sou obrigada a ser boazinha com ninguém, aliás, não sou obrigada a

nada.

— Você me arruinou.

Completamente maluca!

— Eu não arruinei ninguém. — Sorrio, sem humor. — Marie, eu

não tenho culpa se você é uma sonsa.

— Arruinou, Kim, você me transformou em uma piada.

Balanço minha cabeça, negando.

— Você se transformou em uma piada, Marie, você que correu

atrás de mim, você que continuou vindo atrás de mim, mesmo quando a

desprezei.

— Você poderia ter sido minha amiga, Kim, mas escolheu não ser

e agora vou destruir você.

Seus olhos brilham, ela realmente acredita que irá conseguir me

vencer. Dou um passo para trás, essa conversa está me cansando, porque

Marie é mais louca do que pensei que fosse.


— Por que está fazendo isso depois de tanto tempo? — Melhor

obter algumas respostas, já que ela está à minha frente. — Faz três anos

que nos conhecemos e você me viu naquela noite, não é? Transtornada?

E por isso, você sabia sobre meu medo do escuro.

Ela caminha de um lado para o outro, à minha frente.

— Eu vi você com medo e assustada, no mesmo instante, soube

que tinha medo de escuro, ou de apagões… tanto faz. — Passa a mão

pelo seu cabelo. — Estava esperando o melhor momento para agir e

estava decidindo se iria te chantagear e obrigar a me tornar popular, ou se

iria destruir você.

Volta a me encarar e a expressão em seu rosto só deixa claro o

quanto está transtornada.

— Esperei pelo momento certo, aquele que me colocaria

exatamente onde queria: no topo. E quando Gavin começou a te atacar,

eu soube que precisava agir. — Sorri, vitoriosa. — Você sabia que era eu

a todo tempo, espalhando sobre como você estava apaixonada por ele?

Além do mais, eu me aproximei de Gavin, fingi ser uma pobre garota

indefesa, o fiz me usar contra você e continuei os boatos, espalhei

mentiras sobre vocês dois e sobre você. Vocês dois foram peões no meu

jogo, pena que o idiota se apaixonou por você.


Lamenta e volta a caminhar de um lado para o outro. A maldita já

está me deixando tonta e com dor de cabeça com toda essa sua

historinha.

— Vou destruir você, revelar que fui eu a destruir você para

todos, e me tornar a mais temida. Eu vou assumir o seu lugar, Kim. —

Sorri. Ela realmente acredita no que está dizendo. — Não sou uma burra

como você me acusou.

Reviro meus olhos.

— Você é, você colocou fogo na minha casa. Isso é um crime,

você pode ser presa, sabia?

— Foi apenas um sustinho, Kim. — Revira seus olhos. — Só

coloquei fogo na cortina, inclusive fui eu a ligar para os bombeiros

depois de alguns minutos.

Sorri como se não fosse nada demais, eu suspiro e balanço minha

cabeça.

— Você deveria estar em um hospício.

— Você se acha muito esperta, Kim, mas eu vou surpreender

você. — Continua me encarando com uma expressão vitoriosa em seu

rosto. — Assim como já tenho surpreendido, você sabia que espionava

seus treinos? Para saber o momento de colocar os bilhetes e quando você


falhou estava lá para espalhar que você tinha falhado. A incrível Kim, a

rainha da universidade, falhou. Foi tão divertido ver você se apagando...

Encaro-a e tento entendê-la, porém, não consigo, ela não faz

sentido nenhum. Meneio a cabeça. Chega, não suporto mais essa garota.

— Não vou continuar aqui conversando com uma maluca.

Viro-me e caminho para longe.

— Seu reinado está chegando ao fim.

Ela grita, mas a ignoro e sigo em frente. Desço as escadas e


encontro Gavin parado ao lado do último degrau, apoiado contra a

parede. Ele não me nota, então vou até ele e paro à sua frente. Assim que
seu olhar encontra o meu, traz suas mãos até minha cintura e me segura
com carinho, proteção e possessão.

— Você demorou, o que aconteceu?

— Ela é uma maluca, ela me culpa por não ser popular e está

crente que irá me destruir e assumir o meu lugar.

Faço um breve resumo do que conversamos.

— Ela é maluca.

Concorda comigo e espalmo minhas mãos em seu peito.

— Maluca e burra. Ela realmente acredita que pode me vencer.

Ele inverte nossas posições e minhas costas colam na parede.


— Só há uma pessoa que seria capaz de vencê-la.

Ergo minhas sobrancelhas enquanto passo meus braços pelo seu

pescoço.

— E quem seria essa pessoa?

Meus olhos estão presos aos seus e não importa que estejamos em
uma festa repleta de pessoas. Tudo que importa é nós dois.

— Eu. — Aproxima o rosto do meu e morde meu lábio. — Eu


seria o único capaz de vencê-la.

— Você não iria me vencer.

— Eu iria.

Não continuamos a discussão porque nos perdemos em um beijo,

o que é muito mais importante que qualquer discussão.

Gavin olha em meus olhos quando se afasta e sei que ele está

pensando. Nós precisamos sair daqui. Então, entrelaço minha mão na sua
e deixamos a festa.

Enquanto ele dirige, provoco-o. Minhas mãos sobem pela sua

coxa, aperto seu pau sobre a calça e resmungos escapam de seus lábios.
Amo vê-lo perder o controle.

Assim que estaciona, deixamos o carro, sua mão volta a encontrar

a minha e estamos subindo os degraus quando cola seu peito em minhas


costas, pressionando seu pau contra minha bunda. Joga meu cabelo para
o lado e morde meu pescoço.

— Amo minhas marcas em seu corpo.

— Amo tê-las em meu corpo.

Confesso, ele chupa e beija o local que acabou de morder.


Subimos o restante dos degraus, ele segue com sua boca em meu pescoço

e sou eu a abrir a porta. Assim que passamos por ela, vira-me, pressiona-
me contra a parede e sua boca cobre a minha.

Minhas mãos sobem e descem pelo seu peito e ele reivindica cada

parte de mim. Eu sou completamente dele.

Vamos para o seu quarto aos beijos, ele fecha a porta com um

chute e paramos alguns centímetros da cama. Nós temos pressa e tiramos


as roupas um do outro, ambos estamos nus quando paro à sua frente.

Levo minhas mãos até meu pescoço e meu olhar encontra o seu.

— Por que você sempre mantém seus sentimentos longe dos seus
olhos?

O desejo continua nos guiando, porém, é um momento tão íntimo

que existe algo mais forte, bem mais forte ao nosso redor.

— Porque o olhar entrega tudo, Kim. — Traz suas mãos até meu

pescoço, enrola seus dedos nos fios do meu cabelo, puxa-os e faz com
que incline a minha cabeça para trás, mantenho meus olhos nos seus. —

Porque, pelo olhar, enxergamos as fraquezas, os sentimentos, os medos,


tudo está lá… manter os sentimentos longe me torna mais forte.

Espalmo minha mão sobre o seu coração.

— Deixe-me ver você.

Ele não me responde, mas seu olhar se suaviza. De repente, tudo


que ele mantinha preso está ali. Sentimentos, desejo, emoção, e a

intensidade vem à tona. O que nos atrai se torna mais forte.

Quando seus lábios encontram os meus, é diferente de todas as

outras vezes. Meu coração acelera em meu peito e sinto o seu bater da
mesma forma contra a palma da minha mão.

Gavin se senta na cama, sento-me sobre ele e o guio para dentro

de mim, nós dois gememos quando me preenche. Sou eu a ditar nosso


ritmo e suas mãos percorrem meu corpo e meus olhos seguem fixos aos

seus.

É como se o mundo estivesse parado. O tempo não existe mais, as


pessoas são irrelevantes, nenhum acontecimento é mais importante do

que nós dois juntos nesse momento.

É aqui o que nos une, aquela força, aquela atração, se torna

impossível de ser desfeita.


....

Estar com Gavin tem suas vantagens, mas é estressante estar


longe da minha casa. O apartamento que ele divide com Will é minúsculo

e há um único banheiro, o que é meu pesadelo. Gavin me provoca o


tempo inteiro, segundo ele, estou fazendo um intensivo de como é não ter

dinheiro.

No domingo, ficamos em seu quarto e aproveitamos que estamos


juntos para estudarmos algumas matérias. Estamos na cama, um ao lado

do outro lendo um artigo quando meu telefone toca. Meu pai, melhor, a
assessora dele, me pergunta se algo aconteceu, já que o seguro da casa foi

acionado. Eu conto sobre o princípio de incêndio e ela diz que irá


repassar para o meu pai.

Ele sequer teve a decência de falar comigo. A distância e sua


frieza não deviam me machucar, mas machucam. Gavin percebe, então

ele me abraça e encontro o conforto que preciso em seus braços, ele não
me pressiona a falar, apenas me segura.

A segunda inicia caótica, porque trouxe poucas roupas e é um


transtorno encontrar algo que me agrade. Gavin me observa e ri da minha

desgraça.
Ele prepara o nosso café e, após comermos, vamos juntos para o
campus. Entramos no prédio de mãos dadas e, assim como na festa do

último sábado, chamamos atenção.

A sensação de estar no topo novamente é incrível, porém, pela

primeira vez, eu tenho alguém ao meu lado. Gavin não é meu estepe, não
é alguém que estou usando, não há intenções quando estamos juntos.

Gavin e eu nos sentamos um ao lado do outro e as aulas se tornam

muito mais interessantes, principalmente quando ele me faz gozar em


seus dedos enquanto o professor explica sobre direito internacional. Sou

obrigada a manter a expressão em meu rosto indecifrável.

Marie não está em nenhuma das aulas e não tenho dúvidas de que
ela está aprontando algo. Eu preciso ser mais rápida e encontrar uma
forma de aniquilá-la, porém, deixo para depois, ela não irá agir tão

rápido, não depois do nosso breve encontro.

A terça é tão caótica quanto segunda, sigo com meu drama por
causa das minhas roupas e Gavin segue rindo da minha cara, mas, ao

entrarmos no prédio, eu sei que existe algo errado, os olhares em nossa


direção estão diferentes. Olhares de pena, deboche e curiosidade. Viro-

me para Gavin e ele balança a cabeça, negando.

— Não sei o que está acontecendo.


Assim que pisamos no corredor, nos deparamos com muitas
folhas espalhadas pelo chão, então solto a mão de Gavin, abaixo-me e

pego um dos papéis. São cópias de algo escrito à mão, eu fico de pé


enquanto leio o que está escrito e não demoro a reconhecer.

É um diário. Meu diário de quando eu tinha 10 anos, que esqueci

completamente a existência, e eu sei exatamente o que está escrito para


receber olhares de pena. Meu coração se aperta e uma sensação horrível
pressiona o meu peito.
Kim

Abaixo-me novamente, pego mais folhas, encontrando mais


detalhes do meu diário. De uma parte específica, Marie o encontrou e

agora há milhões de cópias espalhadas pelo corredor, onde ficam as salas


de aulas do nosso curso.

Eu tinha esquecido que esse diário estava guardado em meu


closet. Não escrevo em um diário há anos, mas tenho alguns guardados e

esse é especial. Era especial. Lágrimas acumulam em meus olhos, com

as lembranças que ecoam em minha mente.


— O que é isso? — Gavin me pergunta, entrego a folha para ele e

dou meia volta. Não posso ficar aqui. — Kim, não estou entendendo?

Você conhece quem escreveu isso aqui?

Sinto os olhares na minha direção, mas não os encaro de volta,

não vou suportar, não agora. Ignoro-os e sigo em frente, em direção ao

estacionamento. Gavin me acompanha, ele abre o carro, ocupa o lugar

atrás da direção e me sento no banco ao seu lado, não me pressiona e


dirige para longe do campus.

— Aquela folha é uma cópia do meu diário, um diário que escrevi

quando tinha dez anos e tem relatos extremamente pessoais. — Uma


lágrima escorre pelo meu rosto enquanto a dor pressiona meu peito e se

alastra pelo meu coração e alma. — Minha mãe morreu quando eu tinha
dez anos. Todos meus sentimentos e minhas dores estão expostas

naquelas folhas.

As lembranças da minha mãe e da forma como ela morreu ecoam

em minha mente e se misturam com a dor de ver meus sentimentos

expostos desta maneira.

É tão insuportável.

Mais lágrimas deixam meus olhos e não me importo. Odeio


chorar, mas, no momento, não consigo me importar com isso. Gavin
estaciona em frente ao seu prédio e sequer saio do carro, é ele que abre a

porta, pega-me em seus braços e me carrega para dentro.

Apoio minha cabeça em seu peito e choro enquanto ele me

segura. Gavin sobe as escadas comigo em seu colo, abre a porta e me

leva para seu quarto. Senta-se na cama com as costas apoiadas na

cabeceira e continuo em seus braços, como se fosse uma criança

desesperada. E eu sou, lá no fundo, estou chorando pela garotinha de dez

anos que viu a mãe morrer.

— Pode chorar, eu estou aqui.

Beija o topo da minha cabeça e soluços escapam dos meus lábios.

Pela primeira vez, desde a morte da minha mãe, eu tenho alguém para me

segurar enquanto estou sofrendo.

Não estou mais sozinha e é como se tudo que tivesse mantido só

para mim nos últimos anos se libertasse. Meu coração no momento está

tomado pela dor, os acontecimentos do passado ganham uma proporção

que nunca permiti ganhar, pois, finalmente, não preciso ser forte.

Choro por segundos, minutos, talvez por horas, e Gavin segue me

segurando da mesma forma. As minhas lágrimas ensopam sua camiseta


preta e ele continua dizendo que está aqui.
O choro intenso ameniza e resta apenas as lágrimas escorrendo

pelas minhas bochechas. Minha voz está rouca quando pronuncio as

minhas palavras e Gavin me aperta ainda mais contra seu corpo.

— Minha mãe sempre foi alguém controlada, primeiro pelos pais.

Fez direito e se casou com meu pai como eles queriam. Depois pelo meu

pai, engravidou porque ele queria, não foi uma gravidez fácil, e após eu

nascer, seu útero foi retirado, minha mãe não poderia ter mais filhos e eu

era uma menina. Meu pai sempre a culpou por isso.

As imagens da minha mãe triste, das brigas, dela sendo acusada

de ser uma inútil, dos olhares de decepção do meu pai sendo dirigidos a

ela e a mim perturbam minha mente. Odeio minha infância e odeio meu

pai.

— Minha mãe era infeliz, e meu pai um idiota autoritário, eu era

uma criança retraída, vivendo em um ambiente péssimo e, na maioria das

vezes, estava com babás. — Dou um sorriso triste. — Nunca recebi amor,

ou afeto, minha mãe e meu pai não sabiam amar, e quando tinha dez

anos, minha mãe surtou.

As memórias são tão nítidas, tão reais… é como se eu estivesse

vivendo esse pesadelo outra vez.


— Era de madrugada quando ouvi gritos, alguém estava brigando

e não demorei para reconhecer a voz dos meus pais, então eu me levantei,

e quando saí do meu quarto, me deparei com minha mãe no corredor. Ela

dizia que não suportava mais, que precisava de um fim, ela estava

transtornada e fui atrás dela, eu chamei por ela, mas continuou em frente.

Estou outra vez naquele corredor, chamando pela mãe e a vendo

se afastar.

— Ela mandou que eu voltasse para cama, mas não fiz e quando

ela foi para garagem, fui atrás, ela entrou no carro e fiz o mesmo. Gritou

para que eu saísse e não saí, então ela ligou o carro e deixou a garagem.

Recordo-me do seu olhar perdido e exausto.

— No caminho, ela dizia o quanto precisava dar um basta em sua

vida e eu comecei a ficar com medo. Implorei para ela voltar, mas ela

continuou e dirigiu para fora da cidade, entrou em uma rodovia escura e

o pânico me dominou.

Posso ouvir sua voz pedindo perdão, posso ouvi-la dizendo que

era mesmo melhor eu ir junto com ela, porque não seria controlada como

ela foi, não seria condicionada a viver a mesma vida que ela.

— Minha mãe não aguentou continuar vivendo uma vida que

nunca tinha sido sua escolha e jogou o carro em um barranco. Ela morreu
na mesma hora, como queria, mas eu não. Eu continuei acordada, presa

no carro, sem conseguir sair, eu gritava por socorro, por ajuda, mas tudo

que existia ao meu redor era a escuridão e a minha mãe morta ao meu

lado. — Fecho meus olhos e respiro fundo. — Só encontraram o carro de

manhã, eu passei a noite toda acordada, gritando, implorando por socorro

e com medo.

São lembranças dolorosas e preciso recordar a mim mesma várias

vezes que são apenas lembranças.

— Todos acham que foi um acidente, mas, na verdade, minha

mãe se matou. Meu pai continuou sua vida, com seu trabalho, suas

amantes e eu fui criada por babás, ele não se importa comigo e, sendo

sincera, não me importo com ele. — A dor continua pulsando e Gavin

me aperta contra seu corpo. Nesse momento, é como se ele estivesse

segurando meu coração e o mantendo batendo. — Essa é a parte mais


feia da minha vida, esse é o momento que me tornou quem eu sou e me

moldou pra sempre.

— Sinto muito, Kim. — Beija o topo da minha cabeça. — Sinto

muito por tudo que aconteceu. Uma parte minha odeia sua mãe, e odeio

seu pai completamente.

Ficamos em silêncio e as lágrimas param de descer pelo meu

rosto, os minutos passam, e sinto a dor amenizando, deixando-me e


tornando apenas um vestígio, ocupando o lugar que deve ocupar, apenas

as lembranças.

— Nenhum de nós dois teve sorte com pais.

Brinco quando a pressão abandona meu peito e minha respiração


se normaliza. Gavin ri e seus dedos sobem e descem pelas minhas costas.

— Desprezados pelos pais, uma infância de merda, dois idiotas


sem paciência com outras pessoas, ordinários com objetivos traçados e

sem dó de passar por cima de quem precisar. — Enrola uma mecha do


meu cabelo em seu dedo. — Somos uma bela dupla.

Desvencilho-me dos seus braços para conseguir mudar de

posição, então sento-me de frente para ele e sorrio quando meu olhar
encontra o seu.

— A melhor dupla. — Espalmo minha mão em seu peito. —


Obrigada por estar aqui.

Inclino-me para frente e deixo um rápido beijo em seus lábios.

— Pela primeira vez na vida, eu fui o herói de alguém.

Volto a ficar com as costas eretas e faço uma careta.

— Não vamos exagerar.

Provoco-o porque ele está certo, ele foi meu maldito herói. Ele
apenas ri e continua com seus olhos presos nos meus.
— Sua história estava naquele diário, não é?

Assinto e suspiro.

— Tudo, e nunca quis falar sobre com ninguém, nunca quis que
soubessem da minha história.

Ergue sua mão e coloca parte do meu cabelo para trás da minha
orelha.

— Imagino que esteja doendo e, se quiser continuar chorando,


estou aqui.

— Obrigada, mas chorar demais resulta em rugas. — Pisco em

sua direção e ele ri, balançando a sua cabeça. — Está doendo, mas chorei
o que precisava e agora eu preciso focar em descobrir em como me livrar

de Marie.

Raiva ecoa em meu peito apenas por pensar na vadia.

— Nós precisamos encontrar um jeito de destruí-la, bonequinha.

A frase dita por Gavin faz com que a minha raiva diminua e algo

além de ter que destruir Marie chama minha atenção.

— Por que você me chama de bonequinha?

Gavin sorri, debochado.

— Porque você é uma bonequinha mimada.

Reviro meus olhos e dou um tapa de leve em seu peito.


— Tenho certeza de que heróis não fazem esse tipo de
comentário.

Inclino-me para frente e pairo com meus lábios sobre os seus.

— Não sou um herói convencional.

Morde meu lábio inferior, pede passagem, eu cedo e sua língua


duela com a minha enquanto nos beijamos. É um beijo que me faz

esquecer de onde estamos, dos últimos acontecimentos, teletransporta


para um lugar totalmente diferente. Lamento quando me falta fôlego e

preciso o interromper. Apoio minha testa contra a de Gavin e fito seus


olhos, há muitas coisas sendo ditas enquanto nos olhamos.

— O único herói que eu preciso.

Ele volta a me beijar e dessa vez é mais terno, é muito mais que
desejo e luxúria. E, ao nos separarmos, apoio minha cabeça em seu

ombro e Gavin me abraça. Ele me segura como se fosse capaz de me


proteger de qualquer coisa e ficamos em silêncio. Até mesmo o silêncio

entre nós é agradável.

De repente, um pensamento ecoa em minha mente e sei


exatamente o que devo fazer. Endireito minha postura e Gavin ergue suas

sobrancelhas assim que se depara com meu olhar.

— Você é um bom hacker, não é?


— Sim, eu sei o suficiente para conseguir invadir muitos

sistemas.

Soa orgulhoso e sorrio.

— Ótimo, nós iremos invadir o computador de Marie.

Eu poderia ligar para Dallas, minha amiga jamais me negaria uma

ajuda, porém Gavin está aqui, e como ele mesmo disse, é o meu herói.

— Você acha que pode encontrar algo que a comprometa?

Dou de ombros.

— Talvez, afinal, ela é maluca.

Gavin assente, e então saio do seu colo, ele fica em pé e pega seu

computador. Sentamo-nos os dois em sua cama e Gavin se concentra em


hackear as redes sociais de Marie, segundo ele, é mais fácil hackear seu

computador se primeiro tivermos acesso à sua conta, não discuto com


ele, porque não entendo nada do assunto.

Eu o observo e Gavin fica muito sexy concentrado e invadindo


contas alheias.

— Você se daria muito bem em algum curso ligado à

computação.

Ele sorri enquanto continua encarando a tela do notebook.


— Se eu tivesse feito algum curso da área, teria que fazer um

juramento que me impossibilitaria de cometer crimes como esses.

Nós dois sorrimos, porque sabemos que é apenas uma desculpa,


nada pararia Gavin, muito menos um juramento bobo.

Nós dois ficamos boa parte do dia na cama e Gavin buscando o

acesso às contas de Marie, só paramos para comer as comidas que


pedimos por delivery.

É início da noite quando ele, enfim, consegue acesso ao e-mail de


Marie, e, do seu e-mail, consegue acesso ao seu computador e outras

redes sociais. O que encontramos é bem mais grave do que


imaginávamos que fôssemos encontrar.

Ela tem algumas contas fakes e repletas de comentários e posts

racistas, transfóbicos e fascistas. Marie é um ser humano horrível. Ela


participa de comunidades que incitam o ódio e, em alguns, ameaça

invasões terroristas em escolas e faculdades.

— Você com certeza irá destruí-la, Kim.

— Eu vou.

Pelos próximos minutos, Gavin salva as informações e enquanto

isso encontro os seus perfis falsos e procuro um jeito de me relacionar


com ela, criamos provas baseadas nos perfis e nas informações.
Criamos um perfil anônimo e começamos a denunciá-la. Primeiro
para a direção da universidade, depois para a polícia e, por fim, criamos

um exposed na internet.

Não demora para viralizar, e em menos de vinte minutos, todos

odeiam Marie.
Kim

O exposed não é o suficiente para nós dois, a resposta por e-mail


da direção dizendo que irá investigar o caso é meio vago. Nós queremos

mais, queremos nos divertir e não deixar espaço para que Marie consiga
se livrar das consequências de seus atos.

É por isso que colocamos roupas totalmente pretas e discretas e


deixamos o apartamento de Gavin. Ele dirige, paramos em um posto,

compramos latas de spray e fazemos algumas cópias dos posts mais

escrotos de Marie.
Com sua mochila carregada do que precisamos, seguimos para o

Campus. Ainda há movimento nas ruas por conta de quem trabalha e

mora no campus, porém, não é o bastante para nos parar.

Não há vigia no prédio de Ciências Políticas, então colocamos o

capuz dos nossos moletons sobre nossas cabeças, invadimos o prédio e

cuidamos para não mostrarmos nossos rostos e evitarmos as câmeras.

Nunca foi tão útil não ter alarme espalhados pelo prédio.

Gavin e eu seguimos de mãos dadas, paramos em frente à

primeira parede, olho para ele, que sorri e se curva em minha direção,

seus olhos estão brilhando porque ele ama a adrenalina tanto quanto eu.

— Preparada?

— Preparada.

Beija meus lábios rapidamente e quando se afasta, tira a mochila

dos seus ombros. Nós pegamos os sprays e começamos a manchar a

parede com nossas acusações.

Nós deixamos claro o que Marie é. Racista, criminosa, fascista.

Os xingamentos que escolhemos não são suficientes para descrever o

quanto sem caráter ela é.

Pichamos as paredes e colamos as cópias dos seus posts pelo

prédio. Não há remorso algum, nenhum peso na consciência, ela merece


algo muito pior. Ela tentou acabar comigo e eu acabei com ela, além do

mais, merecia muito mais, ela não é só maluca ou uma simples vadia, ela

é um tipo de ser humano desprezível.

Gavin e eu gostamos do que fazemos, existe algo mágico em

estarmos executando algo proibido. Provavelmente, se formos pegos, ou

se alguém descobrir que fomos nós os responsáveis pelos rabiscos nas

paredes, teremos problemas, mas isso nos excita. E quando nossos

olhares se encontram, existe uma intensidade arrebatadora que aumenta a

nossa excitação.

Somos o par perfeito.

Gavin e eu saímos do prédio com uma sensação de satisfação e

dever cumprido. Há um sorriso em nossos rostos e nossos olhos estão

brilhando. É o tipo de sentimento que só nós dois somos capazes de

entender.

Olha para o lado enquanto seguimos na direção do seu carro e ele

me encara com desejo e luxúria. Meus seios pesam contra a camiseta


preta, uma camiseta que é sua e minha boceta vibra.

Há um desespero na forma como nos encaramos e apressamos o


passo, assim que chegamos no carro, Gavin empurra-me contra ele e se

posiciona à minha frente.


Continua com os olhos nos meus e a forma como me olha puxa-

me em sua direção, torna-me desesperada por ele. Eu preciso dele.

Não sei quem toma a primeira atitude, mas nossas bocas se

encontram. Um beijo intenso e que nos tira de órbita. Seus lábios

consomem os meus, nossas línguas duelam. Suas mãos apertam minha

cintura e mantenho as minhas em seu ombro.

Calor sobe pelo meu corpo, minha boceta pulsa, meus seios

incham e minha alma implora por mais. Gavin afasta sua boca da minha

e arrasta seus lábios pela minha pele. Com os olhos fechados, inclino

minha cabeça para trás até estar completamente apoiada no carro.

Morde, chupa, beija minha pele e gemidos escapam dos meus

lábios. Seus dedos sobem pela minha barriga e apertam meus seios, o

gesto resulta em uma pontada entre minhas pernas e suspiro como se

estivesse com dor.

— O que você precisa, Kim?

— Eu preciso de você.

Suas mãos descem até minha bunda, dá um tapa ao lado da minha

coxa e entendo o que ele quer. Abro meus olhos, enrolo minhas pernas ao

redor da sua cintura e Gavin me carrega até o capô do carro, deixa-me

sentada sobre ele e dá um passo para trás.


Seus olhos estão completamente escuros, o desejo no seu mais

alto nível refletido na maneira como me encara. Meu corpo inteiro está

tenso, ansiando por mais, gritando por uma libertação.

Gavin joga sua mochila no chão e volta a se aproximar, suas mãos

pairam sobre a borda da minha legging e ele me encara com luxúria.

— Alguém pode nos pegar aqui.

Provoco-o e sorrio.

— Eu não me importo.

Ele sorri e me coloca de pé. Tira a legging do meu corpo, eu

abaixo suas calças e o toco. Sua ereção pulsa em meus dedos e nos

encaramos. O ar da noite não nos assusta, a possibilidade de sermos

pegos não nos estagna e somos guiados pelo desejo.

Gavin volta a me colocar sobre o capô, abre minhas pernas, paira

entre elas e guia seu pau para dentro de mim. Espalmo minhas mãos no

carro e ele me preenche.

É tão bom.

Fecho meus olhos enquanto ele me penetra. A sensação ecoa pelo

meu corpo, minha boceta pulsa ao seu redor e nos perdemos no prazer

que nos cerca.


Ele atinge os pontos que me arrancam gemidos e palavras

desconexas. Bate em minha coxa e mantém um ritmo acelerado. Minha

boceta o engole, o aperta, e me faz perder o raciocínio.

— Abra seus olhos, eu quero vê-los quando gozar.

Faço o que ele manda, meu olhar encontra o seu. Alucinado,

assim como eu, e se empurra contra mim, arrancando nossos gemidos e

me fazendo explodir.

Continuo de olhos abertos enquanto meu corpo se liberta e Gavin

goza dentro de mim.

Somos uma bagunça e nos sentimos da melhor forma possível,

como se tivéssemos vencido, e realmente vencemos.

Gavin beija minha testa, puxa suas calças para cima, ajuda-me a

colocar a minha legging e calcinha, pega sua mochila e entramos no

carro.

— Como você está se sentindo?

Pergunta-me e sorrio.

— Como uma rainha.

...
A terça-feira inicia da melhor forma possível, acordo nos braços

de Gavin e, ao pegar meu celular, me deparo com uma mensagem de

Marie.

“Isso não vai ficar assim, Kim, você não pode ter vencido.”

“Eu venci e você sabe disso.”

Bloqueio-a e espero nunca mais receber nenhuma mensagem sua.

Gavin e eu compartilhamos um banho e estou me vestindo quando


recebo uma ligação da polícia, eu posso voltar para casa e realmente foi

um incêndio criminal. Eu relato sobre Marie, então, eles me concedem


uma medida protetiva contra ela.

Eles não têm nenhuma prova, mas conhecem meu pai, não

querem nada acontecendo contra a filha de um dos principais juiz do


estado. Meu pai é um idiota que nem liga para mim, mas eles não sabem

disso e vou usar da sua influência para meu benefício.

Apesar de poder ir para casa, opto por ir direto para o campus do

apartamento de Gavin, porque vamos juntos.

Ele e eu entramos de mãos dadas pelo prédio, um prédio


completamente arruinado pelas nossas pichações e as folhas com os posts

de Marie. Não nos intimidamos, não temos medo algum, é como se tudo
ao nosso redor nos pertencesse de alguma forma.
Olho para o lado, Gavin se vira para mim, ele não sorri, mas
posso ver exatamente o que está pensando em seus olhos.

Então olhamos para frente, eu sorrio debochada e seu olhar se


torna inexpressivo. Caminhamos pelos corredores de mãos dadas e

somos alvos da atenção de todos. Eles sabem que fomos nós e os olhares
em nossa direção voltam a ser de admiração, inveja e de medo.

Entramos na sala de aula, ocupamos os lugares um ao lado do

outro e a professora olha em minha direção com um olhar de repressão,


ela sabe que fomos nós. Ergo minhas sobrancelhas e ela dá de ombros, é

tudo que preciso para saber que não será levado em consideração, Gavin
e eu não seremos punidos.

Realmente, um dia adorável!

É óbvio que Marie não apareceu para as aulas e segue sendo a


fofoca no campus. Há ódio presente sempre que seu nome é pronunciado,

ela não será perdoada e duvido que consiga andar outra vez pela
universidade sem ser hostilizada.

— Você está preocupada com que irá acontecer a Marie?

Gavin me pergunta com um sorriso nos lábios, assim que estamos

saindo da sala de aula, ele sabe a minha resposta.

— Nem um pouco.
Nós dois sorrimos e seguimos para a saída. Eu vou com ele até
seu carro e nos despedimos, pois irei almoçar com Dallas e a atualizar de

tudo o que aconteceu.

— Mais tarde passo no seu micro apartamento para pegar as


minhas coisas.

Enrola meu cabelo em seus dedos e aproxima meu rosto do seu.

— Você irá sentir falta dele.

— Posso sentir falta de você, mas daquele lugar? Jamais.

Ele morde meu lábio inferior e continua me encarando.

— Aposto que antes de domingo a terei em minha cama outra


vez.

Seus olhos brilham e aceito o desafio.

— Dessa vez você não irá ganhar, Gavin.

Continua me encarando por alguns segundos, até que seus lábios

cobrem os meus. Quando nos afastamos, meus olhos estão brilhando


assim como os seus, aceno para ele e me afasto.

Eu almoço com Dallas e, em seguida, vou para o treino. As

meninas estão indignadas com Marie e fico sabendo que ela será expulsa
da faculdade, além disso, será processada e investigada.
Não, ninguém pode me vencer. Talvez, Gavin pudesse, mas não

somos mais inimigos, pelo contrário, somos parceiros um do outro,


somos tudo que precisamos.

Estar com ele me torna ainda mais forte, assim como eu o torno
mais forte. Somos perfeitos juntos, perfeitos existindo na mesma

escuridão, habitando nas trevas. Não temos uma redenção, porém, temos
uma Perfeita Escuridão.

Eu vou buscar minhas coisas em seu apartamento e volto para

casa, nossas interações mudam, trocamos mensagens e ele me espera no


estacionamento do prédio de Ciências Políticas no dia seguinte, beija-me

e me reivindica, então seguimos de mãos dadas para aula.

Não somos mais uma novidade, mas permanecemos sendo alvos


da atenção de todos. Eu amo, e Gavin simplesmente não se importa.

Tudo continua sendo igual era antes das ameaças de Marie, a


única diferença, é que não estou mais no comando sozinha. Gavin está

comigo, principalmente porque o fato de participar de lutas ilegais se


espalha pelo campus e o torna uma espécie de lenda, um deus, um rei.

Nós dois, um ao lado do outro, nos tornamos invencíveis.

Na quinta, ficamos sabendo que Marie foi internada em uma

clínica psiquiátrica e saímos para comemorar, vamos para um bar e


terminamos a noite em seu apartamento, comigo em sua cama.

Na sexta, é a sua luta e, dessa vez, eu estou na primeira fila,

gritando e o vendo massacrar seu oponente. Ele pisca em minha direção


entre os rounds e eu jogo um beijo para ele.

É impressionante ver em ação, a forma como ele encara o

adversário, como o derrota. E um orgulho ecoa em meu peito, porque ele


é todo meu.

Meu!

A maioria dos presentes grita e o chama de The King, e eu grito


junto. Ele comemora e faz um gesto, me chamando para ir até ele, não

hesito e subo no ringue. Suas mãos pairam sobre minha cintura e seus
olhos estão brilhando enquanto os mantém presos aos meus.

— Todo rei precisa de uma rainha, não é?

— E toda rainha precisa de um rei.


15 anos depois

Gavin

Descarto o processo que estou lendo na pilha à minha esquerda, o

que significa ler uma segunda vez e analisá-lo mais minuciosamente, e


pego o próximo, porém, não tenho tempo de sequer abri-lo porque o

telefone da minha sala toca.

Um olhar no visor e percebo que é o ramal da minha secretária,

aperto-o e aceito a chamada.

— Senhor Parker.
Morgan, que está comigo desde que assumi o cargo de juiz, soa

receosa. O que a faria estar receosa? Depois de três anos comigo, ela

conhece o meu pior, ela lida todos os dias com meu temperamento.

— Sim.

— Ligaram da escola da senhorita Nelly.

— Porra. — Levanto-me no mesmo instante. — O que aconteceu

dessa vez?

— Ela está na sala da diretora.

Pego meu celular.

— Ok, eu estou indo.

Desligo a chamada e, sem blazer e gravata, deixo a minha sala

enquanto ligo para Kim, ela não atende, o que indica que ela deve estar

em alguma audiência, ou com algum cliente.

Passo por Morgan, aceno em sua direção e sigo para a saída.

Deixo o fórum e vou até meu carro no estacionamento. Assim que ocupo

o banco atrás da direção, meu celular vibra em minhas mãos, é Kim.

“Estou com um cliente.”

“Sua filha aprontou novamente.”

Envio a mensagem e jogo o celular no banco ao lado. Pela

segunda vez no mês, dirijo para a escola da minha filha; ainda estamos
no dia vinte.

Ao chegar na escola, sou direcionado para a diretoria e a diretora

está à minha espera. Nelly está à sua frente e pula da cadeira assim que

nota a minha presença.

— Papai.

Corre em minha direção, abaixo-me e a recebo em meus braços.

Nelly joga seus braços ao redor do meu pescoço e beijo a lateral do seu

rosto, e então ela me encara com uma expressão muito inocente.

— O que você fez?

Sorri, o que faz com que as covinhas em suas bochechas fiquem

salientes.

— Nada demais.

— Ela puxou as tranças de uma colega, a chamou de feia e deu

um soco em seu rosto.

A diretora frisa as últimas palavras e não preciso a encarar para

saber que crianças de cinco anos não deveriam saber socar outras
crianças. Fecho meus olhos por alguns segundos, e suspiro quando volto

a abri-los, observando a garotinha que tem os mesmos olhos de Kim e a

mesma arrogância.

— Nelly, você não pode fazer esse tipo de coisa.


Empina seu nariz e sei que está prestes a se justificar.

— Ela me chamou de idiota porque errei a minha tarefa, ninguém

ri de mim, papai.

Ela tem um ponto e não deveria, mas sinto um certo orgulho da

minha garotinha. Ela sabe se defender. Fico em pé e entrelaço minha mão

com a sua.

— Sinto muito.

Não sinto, porém, é o que devo falar. A diretora que está sentada

atrás da sua mesa assente.

— O comportamento da sua filha é inadequado, senhor Parker,

você e sua esposa precisam conversar com ela.

Não gosto do seu tom de repressão.

— Pode apostar que nós conversamos, e a senhora deveria

ensinar seus alunos a não chamarem um ao outro de idiota.

Seu rosto fica vermelho, indicando que está com raiva.

— Medidas estão sendo providenciadas, senhor Parker.

Assinto.

— Ótimo, estamos resolvidos?

— Sim, o senhor só precisa assinar a advertência da sua filha e

ela está suspensa por dois dias.


Dou um passo à frente e assino a advertência.

— Espero que a garota que a chamou de idiota esteja suspensa


por dois dias também. — A diretora apenas continua com uma expressão

patética em seu rosto. — Tenha um bom dia.

Segurando a mão de Nelly, saímos da sala da diretora e quando


estamos a uma boa distância, paro, e me agacho à sua frente.

— Você machucou a sua mão quando socou a sua colega?

Balança a cabeça e sorri.

— Não, papai, eu fiz exatamente como você me ensinou.

Beijo sua testa.

— Ótimo.

Nelly tem os olhinhos brilhando e se inclina na minha direção.

— Papai, eu acho a diretora uma idiota.

Sussurra.

— Vou te contar um segredo. — Sussurro, assim como ela. — Eu

concordo com você.

Nós dois rimos, então volto a ficar em pé e seguimos na direção

da saída do prédio.

— Aonde nós vamos, papai?


— Tomar um sorvete, o que você acha?

— Você sempre tem as melhores ideias, papai.

Kim

Entro na sorveteria e não demoro a encontrar Gavin e Nelly. A

garotinha está na última mesa do estabelecimento com seu pai, há uma

taça de sorvete diante dos dois.

Observo-os. Gavin está usando apenas uma camisa com as

mangas enroladas no meio dos braços e alguns botões abertos, o que

permite um bom vislumbre das suas tatuagens. Gavin fica um

acontecimento de terno e gravata, mas, sem as peças de roupa e com esse

aspecto despojado, ele fica muito gostoso.

A garotinha ao seu lado está de uniforme, os cabelos loiros estão


presos em duas tranças, tranças que eu fiz pela manhã. Adorável e uma

mistura perfeita de nós dois.

— Mamãe.

Corre em minha direção, abaixo-me e abraço. Beijo seu rostinho e

fico em pé com ela em meus braços. Eu vou até Gavin e me sento no

lugar antes ocupado por Nelly, com ela em meu colo. Gavin me encara e
eu o encaro de volta, então ele traz sua mão até minha nunca e me puxa

em sua direção, inclino-me e seus lábios encontram os meus.

O beijo causa o mesmo arrepio e o mesmo desejo em meu corpo

que há quinze anos. Gavin é capaz de despertar cada parte minha.

— Chega de beijo.

Nelly empurra o pai e somos obrigados a nos separar. Gavin e eu


compartilhamos um sorriso cúmplice e volto a minha atenção para a

garotinha em meu colo.

— O que você aprontou, Nelly?

Ela me olha com os seus olhos da mesma cor dos meus e, se não a
conhecesse tão bem, diria que é um anjinho.

— Eu apenas não deixei que rissem de mim, ninguém pode rir de

mim, porque sou a mais resplandente, assim como significa o meu nome.

Nelly responde com naturalidade.

— E como você exatamente fez isso?

Ela me conta o que fez e tenho que me conter para não rir, apesar
de achar que a garota bem que mereceu, eu sou uma adulta e uma mãe.

— Você não pode fazer isso, Nelly.

— Não se preocupe, mamãe, eu não machuquei os meus dedos,

eu fiz exatamente como papai me ensinou.


Mais uma vez, eu tenho que me conter para não rir.

— Estou falando sobre bater nas suas colegas.

Suspira e lamenta.

— Eu sei, papai e eu já conversamos.

— Conversaram?

Viro-me para Gavin, que assente.

— Nada de socos, não por enquanto.

Ele pisca em minha direção e Nelly ri. Nós três rimos por fim e
focamos em terminar o sorvete. Então, quando saímos do

estabelecimento, Nelly pede para ir para a academia, a academia de


Scott, a mesma que Gavin usava para treinar e um dos escritórios de

Scott. Gavin e eu fizemos sua vontade e Nelly segue com ele enquanto eu
vou sozinha em meu carro.

Chego depois dos dois e sigo até o lugar preferido de Nelly, o


local utilizado para o treino de lutas, porém, me encontro apenas Gavin.

— E Nelly?

Gavin, que está no ringue, olha em minha direção e faz um sinal

na direção do escritório, que fica ao fim do corredor.

— Ela está com Dallas.

Meu olhar encontra o seu enquanto caminho até ele.


— Com saudades do seu tempo de glória?

Provoco-o e encontro no ringue.

— Eu continuo no meu tempo de glória.

Paramos um de frente para o outro e nos rodeamos como se


realmente fôssemos dois adversários.

— Não mais como um lutador.

Por fim, Gavin dá um passo em minha direção e toca minha


cintura.

— Não, mas sou o melhor pai, o melhor marido, o melhor juiz e,

ainda por cima, resolvo algumas questões para Scott.

Empurra-me, até que tenho meu corpo apoiado contra as cordas

da borda do ringue.

— Tão encrenqueiro quanto a sua filha.

Inclina-se em minha direção e espalma suas mãos na corda,

deixando-me entre elas.

— Você sabe ela é tão encrenqueira quanto você.

Reviro meus olhos.

— Você que adorava socar as pessoas.


Seu rosto paira sobre os meus e me encontro em seu olhar escuro.

O olhar que é a minha bússola há quinze anos. Gavin e eu somos um do


outro e juntos fomos para a faculdade de direito, voltamos para o

Alabama, eu me tornei uma das melhores advogadas criminais do país e


ele se tornou um juiz influente.

Comigo ao seu lado, ele lutou até o fim da faculdade de direito,


com ele ao meu lado, eu fui a capitã das cheerleaders até o fim da

graduação. Juntos, formamos a família que nunca tivemos.

— E você adorava me ver no ringue.

Sua mão toca minha coxa e puxa meu vestido para cima.

— Isso você tem razão, eu amava estar ao seu lado como uma

rainha.

Seus olhos brilham e enxergo o amor que também existe em meus


olhos.

— Você continua sendo a minha rainha.

Espalmo minhas mãos em seu peito e sorrio.

— Eu também te amo.
Hey, gente...

Escrever Kim e Gavin foi um desafio, surtos atrás de surto e estou

feliz de tê-los entregado a vocês, espero que vocês tenham gostado e


aprendido a amá-los. Estou ansiosa pelos feedbacks, não esqueça da

avaliação e me chamem no insta (lanasilva.sm).

Muito obrigada por ter chegado aqui, muito obrigada para quem

me acompanha de outras livros e se você me conheceu agora bem-vindo


ao meu mundo.

Muito obrigada as minhas betas, Silvia, Priscylla, Liv e Larissa,


obrigada por suportarem meus surtos. Obrigada as meninas do grupo do

whats, vocês são incríveis ❤️.


Bjsss e até mais ❤️❤️❤️
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Facebook: Lana Silva

TikTok: lannaa_silva
SÉRIE ESTRELAS DO ALABAMA

Se você ficou curiosa com Dylan, Josh, Ethan e Aiden pode

conhecer a história deles clicando aqui

[1]
Quartel General
[2]
Líderes de torcidas
[3]
Sanguinário
[4]
Música da banda Imagine Dragons.
[5]
Caleiro em inglês.

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