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Willers, Wanessa
Como não se apaixonar pelo seu melhor amigo / Wanessa Willers — 1ª ed. — São
Paulo, 2023.
Título original: Como não se apaixonar pelo seu melhor amigo
ISBN: 978-65-00-63996-4
1. Literatura Brasileira. 2. Romance. 3. Chicklit. I. Título
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA
SINOPSE
QUINZE ANOS ANTES
PRÓLOGO
ABRIL
16 de abril
17 de abril
24 de abril
MAIO
19 de maio
20 de maio
21 de maio
22 de maio
25 de maio
27 de maio
28 de maio
29 de maio
JUNHO
04 de junho
07 de junho
10 de junho
11 de junho
12 de junho
13 de junho
15 de junho
16 de junho
17 de junho
18 de junho
19 de junho
20 de junho
22 de junho
25 de junho
26 de junho
JULHO
01 de julho
09 de julho
AGOSTO
27 de agosto
29 de agosto
SETEMBRO
01 de setembro
02 de setembro
03 de setembro
04 de setembro
05 de setembro
06 de setembro
02 de setembro
06 de setembro
10 de setembro
NOVEMBRO
12 de novembro
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
Para meu melhor amigo, Patrick, por ter sido perfeito nessa
função, servindo como inspiração para as cenas recatadas deste livro.
CONTEÚDO ADULTO
— Eu acho que vai ser aos dezoito e espero realmente que não
seja antes, ou vou ter que dar uma lição em Gabriel — Miguel
resmungou, azedo, e os outros riram.
— Boa noite!
— São cinco anos juntos. Você não pode jogar tudo isso no lixo
— argumentou, desesperado.
Sobre o quê? Será que ele não entendeu que o que vi não
precisava de explicação ou conversa?
Nem sabia como chegou na rua, sua raiva era tanta que só
queria se afastar o máximo que podia. Ficou na frente do prédio,
aguardando um táxi passar. Sua mente estava a mil, tentando
processar tudo que aconteceu. Parou um táxi, entrou e desabou no
choro. Passado algum tempo, percebeu que o motorista falava com
ela.
Como ele pôde? Será que tudo foi uma farsa? Conheceu ela
enquanto eu estava viajando? Será que é um caso antigo? Já me
traiu com outras?
Gabriel! É isso!
— Fala, Gaby.
Ele suspirou.
Conheceu Gabriel Vitor Rabello aos seis anos de idade. Ele era
o vizinho do lado, pouco mais que quatro meses mais velho que ela.
Os pais deles viraram grandes amigos e matricularam os dois na
mesma escola. Ele possuía a casa mais bonita da quadra, enorme,
com piscina, mesa de bilhar, sala de cinema, Playstation e uma
quadra de vôlei. Isso o fez bastante popular, todas as crianças
amavam brincar lá, e Isadora não era exceção. Sempre estudaram na
mesma sala, e quando completaram dez anos começaram a ir e voltar
juntos da escola todos os dias. Não demorou muito e tornaram-se
melhores amigos.
— Eu sou um cara.
— Então vou dormir com você nele, já disse que essa noite não
vou te deixar sozinha. — Gabriel a conhecia tão bem, que sabia que
tudo que ela não queria hoje era ficar só.
— Quer um short?
Isadora estava tão triste, que ele não conseguia nem implicar ou
brincar com ela, como habitualmente fazia.
Algo se partia dentro dele toda vez que Isadora chorava, por
isso detestava quando alguém a magoava. A vontade que tinha era de
criar uma bolha ao seu redor, impedindo qualquer um de se
aproximar. Puxou ela para perto de si e a abraçou apertado. Sua
camisa ficou encharcada pelas lágrimas e ficaram assim um tempo.
Quando finalmente os soluços cessaram, Gabriel respirou fundo. Os
próximos dias seriam difíceis.
Assim que teve certeza que ela tinha dormido, fechou os olhos.
A cordou muito cedo, talvez pela posição ruim que
adormecera, com a barriga para cima e Isadora sobre o seu
peito; gostava de dormir de lado. Com muito cuidado
afastou sua amiga e levantou. Tomou um banho e vestiu um jeans
azul, uma camiseta e um tênis branco. Pegou as chaves do carro e as
chaves do apartamento de Isadora na sua bolsa e saiu.
Paulo parecia sincero, mas era difícil para Gabriel entender isso
tudo. Nunca chegou a experimentar esse tipo de brincadeira sexual,
conhecia o básico, mas sabia de uma coisa, envolvendo ou não
sentimento, tocar uma terceira pessoa era traição.
Não tinha nada que fosse melhor para ela do que bolo com café,
e Gabriel sabia disso. Quando moravam juntos, ele sempre comprava
quando estava triste ou de TPM. Ele retirou a tampa de plástico e
entregou uma faca para a amiga.
— Você ainda não aprendeu que bolo e pizza a gente come com
a mão? — o repreendeu.
— Não gosto de ficar com as mãos sujas, eu não sou um ogro
— provocou, e Isadora virou os olhos com a sua resposta.
— Eu posso te ajudar.
— Não estou falando isso para você me ajudar. Vou ter que
vender os móveis, mas será difícil alguém pagar o valor pelo que
compramos.
— Isa, você pode morar aqui comigo. Onde vive um, vivem
dois. Trabalhamos na mesma empresa, nem com transporte você
precisa se preocupar — ponderou.
Ele bufou.
— Falar com você. Ele acredita que ainda tem volta, disse que
você não apagou as fotos do Instagram.
— Pedi para ele não voltar mais aqui e mandei separar todas as
suas coisas. Ele vai ligar para confirmar o dia que poderemos pegar
tudo. — Gabriel sentou no sofá.
— Pronto.
— Para, Gaby! — Ela revidou o ataque e ele riu, mas não parou
com a brincadeira. — Estou falando sério. Para agora! — gritou com
gravidade e ele acatou dessa vez. Os dois estavam com a respiração
acelerada e rindo. — Nós não somos mais crianças — relembrou,
ainda sorrindo.
Ele pegou a câmera e tirou uma selfie.
— Eu sei, justamente por isso você não tem que ligar. Aliás,
acho que ela tem uma quedinha por você.
Maldita Marcela!
— Você não tem que ligar para essas coisas — ela conseguiu
dizer e resolveu apagar aquela parte da conversa, para o caso dele
olhar e somar dois mais dois. Ele entrou no closet e saiu depois com
uma calça de algodão azul-marinho.
A parte mais complicada foi contar aos seus pais por chamada
de vídeo sobre o rompimento. Sua mãe se ofereceu para avisar aos
amigos e familiares, além de resolver a parte burocrática do
cancelamento da festa. Estava muito grata pela sua oferta, seria
realmente muito doloroso lidar com essa situação.
Ela se dava bem com todas as colegas, mas não era amiga
realmente de nenhuma. Isadora sempre teve mais facilidade em fazer
amizade com homens, com exceção da faculdade, já que sua turma
era formada somente por mulheres e suas atuais amigas perceberam
sua dificuldade e praticamente a adotaram. No ambiente de trabalho,
a que se dava melhor com ela era Pietra, uma jovem estagiária muito
animada e levemente avoada. Já Amanda era muito fechada,
raramente dava abertura para conversas. E como Maria, uma senhora
de cinquenta anos, adorava um mexerico, evitava se aproximar dela.
Era quinta-feira de manhã e Isadora encontrava-se envolvida
em um projeto novo, a construção de uma clínica odontológica em
um prédio antigo. Estava tendo algumas dificuldades com os desejos
do cliente e o espaço disponível. Para deixar a entrada de luz natural
em um dos consultórios, teria que diminuir o tamanho da recepção.
Enviou um e-mail explicando e foi até a copa pegar um cafezinho. Se
surpreendeu quando encontrou Gabriel prensando uma loira contra a
parede e a beijando avidamente. Era Pietra. Pigarreou alto, fazendo
os dois se sobressaltarem, e riu da cara de ódio do seu amigo. A
jovem saiu correndo, muito vermelha, e sumiu de vista.
— E precisa?
Gabriel suspirou.
Chamou o garçom.
— Piña colada.
Seu celular tocou. Se fosse seu toque normal, ele ignoraria, mas
era All Star, de Smash Mouth, a música tema de Shrek, o toque que
ele colocou para Fiona. Se afastou dos seios voluptuosos e pegou o
smartphone no bolso.
Ela suspirou.
— Sim.
— Não mesmo.
— E? — Gabriel incentivou.
Esse era o apelido de uma senhorinha que dera aula para eles no
ensino médio. A professora Valentina amava a cor rosa e sempre
tinha uma ou mais peças nessa cor, além da maquiagem carregada,
brilhosa e muitas vezes borrada. Ela andava em um fusca velho e
cor-de-rosa. O apelido era uma alusão à personagem Penélope
Charmosa. Antes que Isadora surtasse, pegou a bolsa rosa e a sua
mão, puxando-a para fora.
Isadora: Estou bem, mas acho que vou pra casa. Pode
ficar, eu vou pedir um Uber.
— Você não?
Seu amigo não era de todo ruim, sabia que fazia sucesso com as
mulheres, o seu choque foi somente por não achar que esse fosse o
tipo de Isadora. Estava confuso. De nerds magrelos, Isadora passou a
se interessar por pseudo-surfistas sarados?
— Freira não, mas antes do Paulo você era quietinha, quase não
ficava com ninguém, e que eu saiba, Paulo foi o seu único.
— Eu não disse que você tem que beijar todos. — Passou uma
mão nervosamente pelo cabelo. — Acho que o problema está na
escolha do parceiro, você tem o dedo podre, Fiona. Sempre teve,
olha o Paulo.
— Agora temos uma missão, vamos sair todos os dias até você
conseguir o teu companheiro de foda. — Marcaria de tarde com a
garota e de noite ajudaria sua amiga.
Gabriel: 15h?
— Ainda não.
— É impressão sua.
Caralho!
“Cara de safado.”
“Parece um psicopata.”
“É sério?”
“Muito novo.”
“Muito velho.”
“Parece um tarado.”
— Ai, meu Deus, ele está olhando para cá! — disse, ficando
vermelha. Tinha dificuldades de sustentar encaradas diretas, nunca
foi boa na arte da paquera.
— Para de olhar pro chão, amiga, desse jeito ele vai achar que
você não está interessada. — Sabia que sua amiga tinha razão, mas
era bastante difícil para ela. — Olha dentro dos olhos dele e dá um
sorrisinho, isso deve bastar — orientou.
— Faz esse olhar pro loirinho, duvido se ele não vai correr até
aqui. — Para Júlia era fácil. Isadora passou anos namorando,
esquecera completamente como era paquerar. — Se preferir,
podemos ir diretamente até ele — ameaçou.
Os três saíram e Isadora nem olhou para trás. Por sorte, Gabriel
não estava ali. Conhecia o gênio dele, e não seria tão pacífico como
Ângelo. Voltaram para a mesa onde deixaram seus amigos e se
surpreendeu com a cena, já que os dois estavam se beijando
intensamente.
— De jeito nenhum, seria como ficar com uma irmã. — Ele fez
careta.
Será que ele está querendo dizer que não vai conseguir
resistir?
— Qualquer coisa que você faça, por mais sexy que seja, eu
vou achar engraçado! Simplesmente porque é você. — Ele podia
estar certo, teria que tentar contornar essa fragilidade.
— You Can Leave Your Hat On? Sério, Fiona? — Ouviu Gabriel
rindo. — Você sabe que não vai funcionar! Você já dançou essa
música para mim, eu quase morri de tanto rir.
O fato é que não podia transar com a sua melhor amiga, isso era
algo indiscutível. Ia dar a vitória para ela e convencê-la que isso
tudo era loucura e certamente uma péssima ideia. No momento em
que ia manifestar sua resolução, a lanterna voltou a acender,
novamente no ombro, mas dessa vez a alça do sutiã estava frouxa.
Ela ia mostrar os seios.
Que merda!
Porra!
Ele entrou com ela no boxe e ligou a água quente. Ela ficou
embaixo do chuveiro e deu um suspiro satisfeito. A água escorrendo
pelo corpo voluptuoso era muito estimulante. Gabriel a ajudou a
lavar o cabelo e se ensaboar, adorando essa parte. Quando ela estava
pronta, foi a vez dele, e embaixo do chuveiro lavou os próprios
cabelos.
Silêncio.
Ele suspirou.
Se tinha uma coisa que Isadora tinha certeza é que transar com
ela não estava nos planos do seu amigo. Ele teve inúmeras
possibilidades para se aproveitar dela bêbada, ao longo da amizade
deles. Aos dezessete anos, os pais de Gabriel viajaram, e eles
fizeram uma festinha somente com convidados mais íntimos,
surrupiaram um uísque do escritório do pai dele e tomaram um porre
daqueles.
Além disso, Isadora não fazia o tipo dele. Gabriel tinha uma
preferência por loiras, magras e peitudas. A descrição perfeita de
Clara, seu grande amor do passado. Desconfiava que seu amigo
nutria uma paixão mal curada pela loira e buscava em outras algo
que só encontraria nela. Diferente de todas essas mulheres, Isadora
era ruiva, cheia de sardas e magra, mas seu quadril era grande
demais para o padrão modelo/Barbie que ele era acostumado, e seus
seios eram medianos e sem graça.
— Que aposta?
— Você fez uma performance de You Can Leave Your Hat On.
— Ela sorriu, erguendo uma sobrancelha, descrente.
— Fico muito feliz por saber que isso não vai afetar nossa
amizade. Confesso que o fato de não lembrar ajuda bastante. — Ele
desviou o olhar, cabisbaixo.
— Ai, Gaby, não precisava fazer isso, você sabe que eu não
gosto! — Começou a refazer o penteado.
O pior de tudo era a culpa que sentiu quando percebeu que ela
não se lembrava de nada. Ela era sua melhor amiga, deveria ter
resistido à mulher sedutora que se transformou. Não suportava
homens que se aproveitavam de mulheres bêbadas, e a ressaca mais
dolorida era justamente a moral. Passados alguns minutos, Isadora
saiu do quarto, estava com o cabelo molhado e usando outro vestido.
O cabelo solto e úmido fez reviver na sua mente o sexo no chuveiro.
Se mexeu desconfortável na cadeira, quase teve uma ereção só de
olhar um cabelo molhado.
Mas que porra é essa?
Ela sempre fazia isso, mas essa imagem jogou uma descarga de
energia no seu corpo. Gabriel pegou um pires e uma colher e colocou
na frente dela.
— Pega, para você comer o bolo — explicou.
— Você sabe que eu prefiro comer com a mão, tem muito mais
sabor. — Ela empurrou a louça para o lado.
— Por quê?
IDIOTA!
Desse jeito ela ia pensar que ele era um cretino. Não estava
conseguindo agir naturalmente, normalmente ele implicava com
organização e limpeza, mas agora tudo parecia errado ou impróprio.
Teria que se afastar, só hoje. Somente até sua mente e seu corpo
voltarem à normalidade. Mas não podia deixar Isadora sozinha, era o
segundo dia que não chorava e não queria que ela tivesse nenhuma
recaída.
— Isa, será que a Ana não pode ficar com você hoje? Lembrei
que eu tenho que buscar o carro, voltamos de Uber ontem, e depois
eu tenho um compromisso.
— O dia todo.
Mas não estava tudo bem, Gabriel percebeu que ela ficou
nervosa e o clima ficou muito estranho. Estava sendo ridículo, mas
precisava de um tempo a sós. Depois eles se entenderiam e tudo
voltaria a ser como antes.
Será que Marcela ficou brava comigo? Será que fiz alguma
coisa ruim para Júlia também? Até Gabriel não quer mais saber de
mim.
Se ao menos lembrasse de tudo, seria mais fácil lidar com essa
situação. Passava das cinco horas da tarde quando Júlia ligou para
ela.
Confiável? Será que teria que lembrar sua amiga que ela o
conheceu há menos de vinte e quatro horas? Até onde Isadora sabia,
ele podia muito bem ser um psicopata. Depois, em particular, teria
uma conversa séria com ela.
Então...
Ainda não sabia se queria contar para suas amigas sobre ela e
Gabriel.
— Eu quero denunciar.
Complementou:
— Precisamos conversar.
Ele suspirou.
— Estamos bem?
— Estou com muita dúvida, qual você acha que é mais gostoso?
— Claro.
— Ainda não, por quê? — Sabia que ele faria outro convite, e
isso era um ótimo sinal.
— Que horas?
— Muito interessante.
— Oi! — cumprimentou.
— Oi, Fiona.
Júlia: Kia Ora. Boa ideia, amiga. Acho que hoje tem
música ao vivo lá.
Marcela: Chama o Gaby e pede pra ele levar alguns
amigos gostosos. Ana??? Cadê você?
— Rique e Marcos.
— Entendi.
— Sabe sim. Você não está falando direito comigo. Está quieto
demais. Você não é assim...
Ele suspirou.
— Só estou cansado.
Como se ela pudesse acreditar nisso. Não conhecia ninguém
mais enérgico que seu amigo. Bufou e ficou quieta. Discussões não
levavam a nada, ainda mais quando a outra pessoa se fazia de surdo,
cego e mudo. Até a discussão parecia unilateral e irritantemente sem
sentido.
— Então, Isadora, já que você está aqui hoje, posso supor que
já concluiu a planta do projeto do restaurante? — Marcos perguntou
com ar profissional, fazendo-a tomar um susto. Ela gelou na hora,
ficando tensa demais para responder.
— Você tinha que ter visto a tua cara, foi hilário — Marcos
disse, animado.
Isadora assentiu.
— Não sabia que você era tão sensível, senão já teria te pedido
em casamento — Gabriel brincou e começou a fazer carinho no pulso
de Isadora com o polegar, enquanto continuava falando com Marcos.
Para ela, era como se fosse o primeiro homem com quem faria
sexo após o noivo. Sabia que tinha transado com Gabriel, mas como
não lembrava, era como se não tivesse acontecido. Guilherme
prometeu que a próxima vez que viesse para sua casa teria um bom
vinho para ela tomar. Ele era atencioso e muito querido, sempre
falava no futuro, como se fossem se ver muitas vezes ainda.
— Isso te incomoda?
Ela adorou ouvir isso. Eles voltaram a se beijar, dessa vez não
tão lentamente, e sentiu Guilherme tocando-a sobre a calcinha.
Ansiosa, abaixou a peça de roupa sozinha, não ia aguardar ele tomar
a iniciativa. Agora sim, ele a tocou como ela gostaria, e ela fez o
mesmo, enfiando a mão dentro da cueca boxer. Interessante, era
maior e mais grosso que o do ex-noivo. Ele gemeu, já estava bastante
duro, e ela molhadinha.
— Já estou bem.
Que grosseria!
— Claro, eu entendo!
Isadora não queria admitir nem para si mesma, mas queria saber
se Gabriel demoraria para chegar em casa. Ao invés de dormir, ficou
assistindo televisão até cair no sono.
A arrumação para a mudança começou na sexta-feira à noite.
Faltaram na academia e foram direto para casa depois do
trabalho. Começaram a embrulhar toda a louça e objetos
da cozinha com jornais. Deixaram em cima da mesa um pacote de
copos descartáveis, dois pratos, uma colher, dois garfos e duas facas
para usarem, e todo o restante colocaram em caixas de papelão que
Gabriel tinha arrumado. Quando finalmente terminaram de organizar
a cozinha, Isadora estava exausta.
— Está bem.
Nós dois?
Não tinha dito nada para Gabriel, já que na época ele disse que
se sentia culpado, então ficou com medo de contar e ele acabar se
afastando dela. Mas agora estava com raiva. Sabia que estava sendo
injusta de jogar a culpa somente nele, provavelmente já eram os
hormônios da gravidez. Ela, grávida? Nem conseguia pagar as
próprias contas e uma casa para morar.
— Quem fez isso? Que merda, Isa, por que não me contou?
Ela suspirou.
— Você fala, não quero falar sobre nada disso com eles.
Tinha vinte e cinco anos, mas isso não queria dizer que se
sentia tranquila em conversar certos assuntos com seus pais.
— O que mais complica é que eles não estão nem esperando por
isso. Se você engravidasse do Paulo seria um choque menor, afinal,
sabiam que vocês transavam.
Isadora fez uma careta. Sua mãe sempre falou para ela que
qualquer envolvimento amoroso entre eles poderia resultar no fim da
amizade, que gostava de Gabriel como filho e não queria que isso
acabasse por um capricho deles. Além disso, Gabriel contou que,
quando tinha dezesseis anos, a mãe dela deu uma pressão nele e o fez
prometer que nunca ia ter segundas intenções com a sua filha.
— Sobre a gravidez, sim. Como você acha que ele vai reagir?
— perguntou, apreensiva.
— Demos vitória para o teu pai, Gabriel, ele foi o único que
apostou que vocês não ficariam juntos — Diana explicou.
— Como assim, pai? Miguel disse que você foi o único que
apostou que não ficaríamos juntos.
— Por quê?
— Essa é a verdade.
— Gaby, acho que você precisa de uma namorada. Por que não
dá uma chance para a Nádia? — Mudou de assunto de repente.
Ele suspirou.
— Entendi.
Isadora não iria com eles, apesar de Gabriel dizer que estava
tudo bem. Conhecia bem demais as mulheres, podia ser somente um
joguinho de conquista. Por ora, era melhor se manter distante. Iria
ficar em casa arrumando suas coisas no guarda-roupa, já que a loja
tinha entregado na quarta-feira os móveis e o montador estava
finalizando as montagens. Finalmente teria um quarto e uma cama só
para ela.
A cara de choque das três foi muito cômica. Ela sentiu como se
tivesse contado que era uma alienígena vinda do espaço. Se não
estivesse tão tensa, teria rido.
— Cadê a Nádia?
Isadora sentiu o rosto arder, talvez não tivesse sido uma boa
ideia Gabriel estar ali. A médica colocou um gel lubrificante e
introduziu em sua vagina. Percebeu, aliviada, que seu amigo estava
olhando fixamente para a parede.
Foram informados que estava tudo bem com o bebê. Teria que
retornar mensalmente e continuar tomando as vitaminas, além de ter
uma alimentação saudável e se exercitar. A ioga estava liberada. A
doutora Fátima entregou o cartão de uma clínica que trabalhava com
ioga para gestantes, disse que poderia ser interessante ela fazer,
ajudaria a melhorar a saúde emocional nesta etapa com tantas
mudanças. Gabriel pegou o cartão e agradeceu. Saíram mais leves
dessa consulta. Ligaram para a clínica e pegaram valores e horários.
T rês aulas de ioga depois, Isadora estava se sentindo outra
mulher. Não era somente o nervoso que foi embora, parecia
que conseguia pensar mais racionalmente. Uma constatação
que teve é que amava muito seu melhor amigo e não queria perder
sua amizade. Então parou de ser implicante e relaxou, logo eles
voltaram ao clima de camaradagem.
Por que ele mentiu? Sentiu uma dor no peito, que atribuiu ao
fato de seu amigo mentir.
— Vamos.
Segurou a mão dela e a puxou. Não teve tempo de protestar ou
se despedir de suas amigas. Fez uma varredura rápida com os olhos
no local e viu elas dançando. Era Henrique falando no ouvido de
Marcela? Nem sabia que ele estava ali. Estavam todos tão entretidos,
que nem viram eles saírem.
Ele sorriu.
— Sim, e quero que vocês prometam que não vão falar nada
para os pais do Gabriel, nós queremos dar a notícia.
— Vocês têm certeza que não tem volta? — seu pai perguntou.
— Digo, agora que tem um bebê, deveriam pelo menos tentar.
— Por que você não tira a blusa e deita? — A voz grave e baixa
dizendo essas palavras fizeram um calafrio percorrer seu corpo. —
Vai ficar mais fácil fazer a massagem. — Na mesma hora percebeu
que estava sendo ridícula e riu.
“Quantos meses?”
“Quem é o pai?”
— Se eu permitir.
Isadora usava um vestido, e ele estava com a mão sobre ele. Ela
pegou a mão dele com a sua e puxou para baixo da barra do vestido,
subindo pelas suas pernas, até alcançar a pele de sua barriga. Dessa
forma, o vestido subiu junto com o braço dele, fazendo a lateral de
sua calcinha cor-de-rosa aparecer.
Isadora sabia que isso tudo era muito errado, ele era seu melhor
amigo e também comprometido com Nádia. Lembrou que nunca mais
tinha ouvido Gabriel falar ou sair com a loira.
— Não sei, não falo com ela desde a festa. — Sua voz saiu
bastante rouca.
— Sim.
— Por quê?
Ela não queria parar para pensar agora ou fazer qualquer coisa
que fizesse com que o desejo deles se aplacasse. Colocou uma mão
no seu pescoço e o puxou para um beijo. Os dois fecharam os olhos e
os lábios se tocaram, e aquilo pareceu tão certo. Os lábios dele se
moviam sobre os dela, explorando, sentindo. Ele mordiscou seu lábio
inferior e ela entreabriu a boca.
Naquele momento, Gabriel aprofundou o beijo, explorando sua
boca com a língua. Ela suspirou de prazer e começou a própria
exploração. Depois de alguns minutos, Gabriel abandonou a sua
boca, fazendo uma trilha de beijos e mordiscadas pela sua
mandíbula, até alcançar o pescoço, e desceu até o vale dos seus
seios.
Com a mão livre, ele tentava abaixar sua calcinha. Assim que
conseguiu, tocou novamente seu ponto mais sensível, e ela achou que
fosse morrer de tanto prazer. Gabriel abandonou seus seios e desceu
beijando seu umbigo, em seguida continuou descendo.
Ela ficou com a boca seca diante da sua nudez. Na primeira vez
que o vira nu, não registrara muitos detalhes, a pouca luminosidade e
o choque atrapalharam. Claro que já tinha visto os ombros largos e o
peitoral musculoso diversas vezes, mas a visão do conjunto completo
era demais. As pernas grossas, o quadril estreito e os ombros
largos... Era uma surpresa para ela sentir essa atração por Gabriel.
Nunca sentiu isso por nenhum homem musculoso. Mesmo quando
tentou ficar com Henrique, não foi por se sentir atraída fisicamente
por ele, ela só queria ficar com alguém, mas agora estava muito
excitada com a imagem de sua nudez.
Além disso, Marcela tinha razão, era enorme e grosso. Nunca
tinha visto um tão grande. Ela podia ver uma gotinha de lubrificação
na ponta, e umedeceu os lábios, com vontade de sentir o seu gosto
também.
Ela estava sentindo dor, mas sabia que não era nada relacionado
à gravidez. Somente não estava acostumada ao seu tamanho. Estava
fazendo de tudo para não transparecer seu desconforto, conhecia
muito bem seu amigo, e caso percebesse, pararia na hora.
— Eu quero que você goze pra mim — ele pediu, e ela queria
tanto. Sentiu a mão de Gabriel entre eles, chegando até o seu clitóris,
e gemeu alto quando ele começou a estimular aquele volume sensível
sem parar de penetrá-la. — Você é muito gostosa!
Meu Deus! Ela não estava brincando quando disse que uma
mulher ia virar minha cabeça e depois me esnobar.
Se ele tivesse amor-próprio, fugiria correndo dali, mas tudo o
que mais queria era ficar perto dela, mesmo que isso machucasse.
— Tem certeza?
— Tá, tá. Vou desligar. — Com tudo que aconteceu nos últimos
dois dias, acabou esquecendo do programa.
— Eu vou junto.
— Fui sim!
— Ele disse que não devem, não que não podem — cochichou
de volta.
— Isa, não acho uma boa ideia, não vamos nos perdoar se algo
acontecer com o bebê — Júlia falou com carinho.
— Tenha dó, Gaby. Não acredito que você está perdendo tempo
fazendo isso — disse, rindo.
— Tá mudando de assunto.
Ela não tinha mais nada a perder, mais molhada não dava para
ficar, então revidou o ataque. Assim que cansou, parou, sua
respiração estava ofegante pelo esforço, mas ficou satisfeita ao
constatar que fez um bom trabalho. Ele estava encharcado e foi a vez
de ela rir. Seu amigo se aproximou, colocou uma mão na sua cintura
e puxo-a, ao mesmo tempo a outra foi parar na sua nuca, guiando seu
rosto até o seu.
— Gaby, as regras!
— Relaxa, já vai passar. — Ele passou uma mão pelo seu braço.
— Amo quando você fica arrepiada, mesmo quando não sou eu o
responsável.
— Não gosto quando você vira os olhos para mim. — Ela virou
de novo. — Acho que você está merecendo uma lição.
— O que você vai fazer? — perguntou, preocupada. — Gaby,
eu estou grávida! — suplicou. Não sabia o que era, mas nunca era
coisa boa.
— Qual?
— Seja lá o que for, não é uma boa ideia. As pessoas podem ver
— o repreendeu.
— Eu sei.
— Você não vem? — Ele pegou a mão dela e colocou sobre sua
sunga. Ela arregalou os olhos, sentindo sua ereção, e ruborizou.
— Puta que pariu! Você deu um apelido pro meu pau! E tinha
que ser zinho? — Sorriu, descrente.
— Bom dia!
— Está.
— Não esse.
— De jeito nenhum.
— Não posso.
— E agora, Christian?
— Pede, Isa. O que você quer que eu faça agora? — Ela sentia
sua respiração bem perto do local que mais queria que ele estivesse.
— Onde?
— Gabriel! — reclamou.
— Gabriel! — gritou.
Ela suspirou.
— É surpresa.
— É só isso?
Que descarado!
— Gaby — chamou.
— Oi.
— Percebi.
— Tem certeza?
— Você é um idiota.
Ela o seguiu até o seu quarto e deitou na sua cama. Seu amigo
desligou a luz e se acomodou ao seu lado, puxando-a e trazendo-a
para seu peitoral. Ela sentiu um frio na barriga de expectativa,
imaginando que eles fossem transar, mas, surpreendendo-a, Gabriel
começou a fazer cafuné em sua cabeça.
— Puta que pariu! Não me olha mais assim que eu posso gozar!
— Ela mordeu o lábio inferior, provocando-o. — Como você é
malvada.
O que deu nela? Não pode ver seu amigo e já quer beijá-lo?
Tinha que conseguir se controlar. O pior de tudo foi que acabou
ficando sem água e irritada, porque saiu da copa e deixou os dois
sozinhos. Será que Gabriel ia beijar ela também? Seu celular vibrou.
Será que saindo com ele, poderia proteger seu coração? Marcela
diria que sim, e Gabriel ficava com várias e parecia imune aos seus
encantos. Não entendia como seu amigo conseguia ter um sexo
incrível com ela e logo depois já dar em cima de outras mulheres
como se fosse a coisa mais natural do mundo. Sabia que foi ela
mesma que impôs essa regra, mas Gabriel precisava ficar com uma
diferente todo dia? Isadora tinha que ser como ele, por isso as coisas
estavam ficando confusas. Não se esforçou o mínimo para cumprir
com a sexta regra. Poderia sair com Guilherme hoje.
Guilherme: Por favor, Isadora! Eu fui um
idiota!
— Com quem?
— Guilherme.
— Ah, não, você não vai sair com esse cara! — Bufou, irritado.
— Por que não? Você sai com várias. — Por essa não esperava.
O idiota achava que só ele podia sair com outras pessoas?!
— Você não pode estar falando sério. Quer dizer, você pode, e
eu não? Está com ciúmes?
— Vou ser sincero com você, Isadora. Fiquei com muito ciúme
e com muita raiva. No começo, eu achei que estava certo, mas
conforme o tempo passou, a saudade bateu. Tive bastante tempo para
pensar... e não acho que você tinha motivos para mentir para mim.
Acredito em você. Que você não me traiu... que não está envolvida
com Gabriel. — Isadora desviou os olhos, constrangida. Na época,
realmente não estavam envolvidos. Se ele soubesse do tipo de
relacionamento que desenvolveram, iria surtar. Guilherme pegou sua
mão. — Eu quero que você me dê uma chance. Não consigo viver
sem você. Quero você, quero esse bebê.
Meu Deus! O que não daria para ter ouvido essas palavras
meses atrás? Mas, agora, tudo isso soou tão distante, tão errado... até
mesmo indigesto. Ela puxou as mãos e abaixou os olhos. O assunto
morreu e se instaurou um silêncio constrangedor.
O que será que Gabriel está fazendo? Por que não paro de
pensar em meu amigo? Preciso tirá-lo urgentemente da cabeça, não
é justamente esse o motivo de estar aqui?
— Dezoito de fevereiro.
— Sim, gostou?
Tocou seu rosto com a mão livre, acariciando sua bochecha com
o polegar, e beijou seus lábios. O beijo foi estranho e desajustado.
Isadora ficou contando os segundos para acabar. A diferença entre o
beijo de Guilherme e Gabriel era gritante. Seu amigo sabia beijar
como ninguém. Não era à toa que ele tinha muita experiência com o
sexo oposto. Esse pensamento fez seu peito doer e sentiu uma falta
de ar. Então interrompeu o beijo e abaixou os olhos.
— O que aconteceu?
— Como?
— Ei!
— Você precisa fazer ela ter muito ciúme, ela precisa sentir que
pode te perder. Precisa sentir vontade de mudar essa regra sobre ficar
com outras pessoas.
— Não precisa ficar, basta que ela pense que você está ficando.
Igual fizemos hoje. Você disse que ia jantar com uma pessoa, ela vai
pensar que é mulher. A semente do ciúme já está plantada.
Ele fitava o teto da sala, deitado no sofá preto, mas sua atenção
não estava no forro de gesso ou na lâmpada quadrada. Sentia ânsia só
de imaginar Isadora e Guilherme juntos. Nada disso fazia sentido.
Naquela manhã, quando ela o beijou no trabalho, sentiu uma alegria
enorme, acreditou que estava começando a gostar dele. Não podia
estar mais enganado. Se virou de lado no sofá desconfortável, já
estava com dor nas costas. O interfone tocou, levantou e atendeu.
— Oi — cumprimentou, tímida.
— Oi, pode entrar. — Deu um passo para o lado, dando
passagem.
— Ah... oi, Isadora, vou deixar vocês a sós — disse, dando uma
piscadinha para Gabriel e voltando para o quarto. Anotou
mentalmente que esganaria o amigo depois.
— Sim.
— O quê?
— Sim! No três.
— Jack, então.
“Mas um dia vi você chorando depois que ninguém quis brincar com
você.”
“Eu quis cuidar de você, porque ver o teu choro partiu meu coração.”
“Hoje eu sei.”
“Minha Christian.”
— É lindo!
— É da cor dos seus olhos. Quando vi, soube que era esse. —
Pegou sua mão e beijou em cima do anel.
Ela pegou a criança dos seus braços e ele pegou a caixa das
mãos pequenas do seu filho. Já sabia o que seria, uma camiseta do
seu time. Já possuía várias, mas é claro que iria amar de qualquer
jeito. Isadora colocou Dylan no chão e segurou sua mãozinha.
Gabriel retirou o laço e levantou a tampa. Olhou atônito o pequeno
body. “Sou tricolor igual o papai” e embaixo das letras um símbolo
do São Paulo. Ficou emocionado e olhou Isadora com carinho.
— Estamos grávidos! — Ela sorriu e ele retribuiu o sorriso.
— Diga por você, não gostei nada de não poder mais apostar —
Miguel murmurou, rabugento. Ele usava somente uma bermuda
cinza, e assim como os outros segurava uma latinha de cerveja.
— Não faz nem um mês que ela descobriu que está grávida,
ainda tem tempo — a ruiva cochichou, conspiratória.
— Até agora não entendi porque ela nos fez prometer acabar
com as apostas. — Foi a vez de Raul reclamar, antes de tomar um
gole grande de sua cerveja.
Fim
Primeiramente ao meu pai, que acreditou em mim e tornou isso
possível.
[1]
O BDSM pode ser descrito como uma espécie de jogo na hora do sexo. A sigla, que vem de
palavras em inglês, é um acrónimo para a expressão Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão,
Sadismo e Masoquismo. Ou seja, pode rolar algum tipo de agressão, como tapas, e isso dar prazer
sexual aos envolvidos.
[2]
Alexandra Burnier, conhecida como Lelê Burnier, é uma influencer famosa no TikTok
e Instagram, que conquistou milhares de corações com seus looks coloridos.
[3]
Trecho retirado do site Astro Centro.
[4]
Trecho retirado do site Fetal Med.