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como uma mulher pode ficar com sete homens? Isso é um tabu em nossa
sociedade, visto como antiético ou mesmo “anormal” para algumas pessoas.
No entanto, eu gostaria de pedir que abra a sua mente para ler este
romance. Eu garanto que você vai terminar este livro com tanto amor em seu
coração como por outros romances, para os quais já deu uma oportunidade e
não se arrependeu.
É sim, de longe, o meu livro mais hot. Não posso negar. Entretanto é
também um dos livros mais emocionantes, divertidos, engraçados e, acima de
tudo, com lições de vida que podem abalar muitas estruturas. Sim, estou
falando de você que está lendo: este livro pode te marcar para sempre!
Assim como muitas outras ideias que elas me dão, anotei em meu
caderno aquela dica e, um ano depois, nasceu: Eu e meus sete desejos.
Este livro é uma homenagem às minhas leitoras lindas, que me
incentivam todos os dias. Elas apoiam o meu trabalho, acreditam em mim e
estão ao meu lado em todos os passos dessa caminhada incrível que é criar
novos mundos, dar vida a personagens tão inusitados e oferecer diversão com
as leituras de meus romances.
Ou acessando o link:
https://is.gd/playlist_tyannemaia
Informações especiais – Leia, por favor!
Dedicatória Especial
Playlist
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capitulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Obrigada
Curiosidade sobre o livro
Agradecimentos
Livros já publicados
Sobre a autora
Redes sociais
Em algum momento do futuro
Quem era Mayza Carvalho? Ai, meu Deus! Bastava eles estarem
assim tão perto para eu não saber nem quem eu era. Ah, a amiga da Sandra,
dona da festa... Que mico! Ainda bem que não falei em voz alta.
Minha perdição.
— Não muito bem, mas minha amiga Sandra é amiga dela. Por isso
estou aqui...
— Ah, então estamos todos entre amigos.
— Pois é... E será que vocês conhecem minha amiga Sandra? Sandra
Almeida?
Perguntei apenas para desconversar e sorri, sem graça.
Estava tão perdida por vê-los ali. Desejava aquilo. Sonhara com
aquilo, mas no fundo tinha sérias dúvidas se iria encontrá-los novamente. E
ainda mais quatro ao mesmo tempo.
Uma mão forte segurou minha cintura e me puxou por trás. Eu colei
minhas costas ao corpo definido de Pablo.
Meus olhos foram para eles e percebi seus olhares queimarem. Desejo
exalava por seus poros. A confirmação que queriam aquilo... tanto quanto
eu...
Ele fazia o mesmo que Ítalo, mas do lado esquerdo. Meus olhos
estavam cravados nas órbitas verdes de Enrico. Ele hesitava. Ele era todo...
Enrico, com seu jeito certinho de ser. Então perguntei a ele:
— Mas não faríamos nada que não quisesse, anjo. — Enrico manteve-
se à minha frente, vendo os amigos me provarem onde suas bocas
alcançavam. — Venha conosco, anjo.
Aquilo foi um pedido, uma ordem ou um comunicado?
— Vou?
Ele apalpou minha bunda e dei um pulinho de susto. Seguimos pelo
corredor e passamos pelas inúmeras portas, testando uma a uma, procurando
uma aberta, liberada para tudo o que desejávamos fazer. Quando uma delas
cedeu, acho que todos gememos. Olhei para os quatro, que não desviavam a
atenção de mim.
Olhei para a porta entreaberta e voltei a passear meus olhos por eles.
— Como sabem que podemos entrar aí?
— Sabemos.
— Como?
— É uma festa da Mayza. Ela não te explicou? Se tem porta e não
está trancada, podemos usar... — Adam respondeu. — Como quisermos.
— Claro que sim, gatinha. — Adam estava tão afoito que parecia a
ponto de pular em cima de mim. — Mas esbarramos com a mais perfeita das
mulheres. E acho que nenhum de nós quer te dispensar hoje.
— É um sem-vergonha mulherengo mesmo! Nem para mentir.
— Você sabe que não sou nem uma coisa e nem outra.
— O que você está fazendo é uma loucura total, Summer. Quem pede
um tempo de um namoro perfeito com o melhor partido do colégio, que se
formou em Medicina e que hoje é um dos melhores e mais bem-sucedidos
nutrólogos da cidade?
— Eu!
— Pois é! E se esse tempo o levar a notar que há outras mulheres
interessantes além de você? Você tem consciência de que essa possibilidade
existe?
— Bem, ainda bem que onde eu vou não vai haver como encontrar
homens. Meu pai sempre foi muito severo com isso.
— E eu não sei? Até hoje implica com o coitado do Travis.
A doida se jogou em minha direção e dessa vez foi ela quem ficou por
cima de mim, abraçada ao meu corpo e apoiada ao lado do meu rosto. Ela
beijou minha bochecha e disse baixinho.
— Claro que sim. Isso que está fazendo não é fácil. Você pegou seis
anos de namoro e os colocou no bolso. Está querendo refletir se continuar ao
lado desse sujeito super legal é o certo... Summer, não é qualquer pessoa que
teria essa coragem. Temos quase a mesma idade, mas compare nossas
experiências amorosas.
— Nem eu. Quando foi a última vez que ficamos tanto tempo longe
uma da outra?
— Está brincando? Acho que nunca.
— Exagerada.
Ela se divertia.
— Amiga, você não está entendendo. Você não conhece o meu pai. O
seu Lúcio é linha-dura. Capaz de eu não sair de casa. Vou passar este mês em
meditação se depender dele.
— Não, querida. Ele é meu irmão. Seu não é nada. E até podia ser
uma foda do caralho. Pelas coisas que ele me conta... você não sabe o que
está perdendo.
— Pare de tentar achar caras para transar comigo, sua louca.
— Por favor...
— Se você quer mesmo saber, é porque você vai transar com o meu
pai.
— O quê? — Ela quase pulou, sobressaltada.
— É isso, amiga. Você adora ficar com caras mais velhos e tal...
— Eu não vejo o seu pai há uns cinco anos, amiga. E pelo que
lembro, ele não é essas coisas todas...
Olhei para ela com cara de indiferença.
— E desde quando o cara precisa ser alguma coisa para você se atirar
no pau dele?
— Olha aí, não falei? Vai foder com o ele! Nada de me visitar.
— Posso entrar?
— Claro, mamãe. Entre — chamei-a. — Maisie estava me ajudando
com a mala.
Minha mãe riu bem mais alto do que tenho certeza de que ela
gostaria.
— Isso é um complô contra mim? Vocês duas estão unidas, é isso?
— Obrigada por ter dado esse conselho, querida. Também acho que
Summer deveria se divertir, já que resolveu fazer essa viagem louca.
— Obrigada, mamãe.
— Sim, querida. Mesmo que queira tirar fotos em cima de uma lhama
em Machu Picchu ou no gelo da Sibéria.
— Agora eu entendo por que ela não quer se casar. — Maisie foi
irônica.
— Cale a boca, sua amiga ingrata.
— Já vou indo, coisa chata. Tenho que ver se Mary guardou tudo que
pedi nas minhas malas.
Soltei minha mãe, que nos libertou, dando espaço à nossa união.
— Chocólatra.
— Você tem mesmo certeza dessa história de fazer uma surpresa para
o Lúcio, Summer? — minha mãe perguntou e nós duas olhamos para ela.
— Pode falar o que quiser daquele ali. — Minha mãe não nutria mais
nenhum carinho por meu pai.
Rimos juntas.
Olhei para as duas mulheres mais importantes da minha vida.
Sorri triste. Ela tinha razão. Aquela conversa poderia nunca existir.
— Papai?
— Ah, você nunca atrapalha, meu amor. Venha, vou ajeitar o quarto
de hóspedes. Será tão bom ter você aqui! Vai ficar até quando?
Eu ri.
— Não, papai. Eu vim sozinha.
— Meu raio de Sol. Minha Summer linda. Por que não avisou que
vinha?
— Eu queria tanto fazer uma surpresa...
— E conseguiu, querida.
— Não por isso, vida. Mas porque estou aqui no sítio trabalhando...
Eu me virei e peguei a mala. Tenho certeza de que ele notou meu tom
irritado.
— Deixa que eu pego essa mala mais pesada, querida.
Ele me ajudou, abriu a porta e eu o acompanhei. Ele me levou até o
quarto em que eu ficaria e deixou a mala repousar ao lado do guarda-roupa
antigo.
— Nenhum mesmo.
— Campo?
— Se preferir descansar...
— Ah, vai ser ótimo, vida. Este será o melhor Natal e o melhor
Réveillon em muitos anos.
Ele saiu e tranquei a porta. Olhei para o quarto, que não era tão
grande. Uma cama de casal estava do lado, perpendicular à parede. Duas
mesas de cabeceira apoiavam dois pequenos abajures e acima da parede, três
grandes quadros destacavam-se em lindas molduras negras.
Quando papai havia feito aquilo? Não lembro nem de ter enviado
aquelas fotos a ele.
A porta lateral era a do banheiro, mas antes fui até a janela aberta e
pude admirar a mata. Aquele clima era delicioso. Ouvi pássaros e cigarras.
Outros insetos se misturavam aos sons e fechei os olhos aspirando o cheiro
do lugar.
— Sim.
— Consegue ficar mais linda a cada minuto.
— Papai!
— Sim, papai.
— Conseguiu a faixa preta?
— O senhor sabe que gosto de fazer amizades. Por que não posso me
misturar com os alunos?
— Logo verá.
Ele sorriu mais, desligou o carro, segurou minha mão e beijou com
carinho.
—Falando nisso, faz tempo que você não envia suas fotos para mim.
Seu talento é uma coisa maravilhosa...
—É, mas o senhor nem sempre pensou assim.
—Eu achava que alguém tão inteligente como você precisava fazer
alguma coisa que tornasse o mundo melhor... Sei lá, descobrir a cura para um
monte de doenças. Mas logo deu para notar que, primeiro, você não levava o
menor jeito para medicina...
—Não mesmo...
—E depois, não dá para deixar de notar a alegria que enche seus olhos
quando você está fotografando. Sem contar que as minhas viagens nas
Missões de Paz me fizeram perceber que há uma imensidão de coisas por este
mundo afora que precisam ser mostradas... Para que todos possam vê-las...
Coisas sérias, coisas lindas, coisas importantes... E isso também faz o mundo
um pouco melhor.
— Comandante.
Uma voz grossa atrás de mim me fez virar e depois voltei para o meu
pai por cima do ombro.
— Comandante?
— Sim, senhor.
— Seguranças particulares.
— Uau, que legal.
— Estão destruídas.
— Uau! Já quero.
Meu pai era um homem alto e tinha um porte imponente que podia
assustar algum desconhecido. Para mim, não passava de um pai babão, lindo
e fofo. Andava com uma postura austera e era absolutamente impossível
perceber que tinha a prótese no lugar do pé. Passamos pelo prédio da
academia e seguimos pela lateral. Eu andava ao seu lado. Joguei a alça da
máquina fotográfica pelo ombro e vez ou outra segurava a saia que insistia
em subir com o vento forte. Percebi a cara fechada do bonitão ao meu lado e
escutei-o dizer nervoso:
— Olha, Summer...
— Não se preocupe, papai. Não vou nem olhar para os seus preciosos
alunos.
— Não é com você que estou preocupado, filha. E você sabe muito
bem disso. Não quero nenhum deles dando em cima de você e, ao menor
sinal de desrespeito de algum dos rapazes, me informe que o bastardo será
castigado severamente.
Subiam.
Desciam.
Subiam.
Desciam.
Eles estavam todos sincronizados em uma série de apoios de frente.
Alguns com camisetas brancas, suadas e pregadas aos corpos... esculturais...
enquanto outros estavam sem camisa.
— ...entendeu?
Sem ele por perto, eu voltei a me concentrar nas minhas fotos. Eu fiz
detalhes de algumas gotas de suor que escorriam dos músculos dos braços de
um, passeei descarada pela bunda de outro, pela cintura fina e definida do
cara do lado e, quando foquei nas gotículas do rosto de mais um, percebi que
ele encarava a tela.
Como havia sido pega no flagra por eles, olhei para trás e meu pai já
estava longe, sem tirar o telefone do ouvido. Me virei rápido para seguir os
passos dele e aquele foi o meu erro. Ao rodar meu corpo de forma tão
abrupta, a saia do vestido subiu com a ajuda do vento.
Levei uma das mãos à boca pelo susto e a outra para tentar controlar a
saia no lugar, mas foi tarde demais. Tentei disfarçar e dei a volta em um
grande arbusto florido, fingindo fotografá-lo. Assim que saí do campo de
visão deles, os comentários começaram, baixos, mas audíveis:
— Mas sério, galera, ela está sem calcinha? — a voz divertida voltou.
Era o cúmulo. Tinha que pôr um fim naquilo, será que eles sabiam de
quem estavam falando?
Saí de trás do arbusto e encarei seus rostos. Eu havia fechado a cara e
estreitado os olhos. Sabia que estava vermelha, porque meu rosto estava
queimando.
— Agora eu vi a calcinha.
— Cara, que bundinha mais linda.
Ergui o dedo médio para eles, sem olhar para trás. Estava possessa de
raiva, mas determinada a não contar nada para o meu pai, ou ele não me
deixaria participar do treinamento.
Pediria a ele para ficar com a outra equipe.
— Pegue, Summer. Volte para casa, raio de Sol. Eu vou ter que
resolver alguns problemas burocráticos aqui e não poderei te mostrar mais
nada hoje. O pessoal do refeitório já vai entregar o jantar, vou pedir a eles
que tragam comida para você também. Mas não precisa me esperar...
— Nós não vamos jantar juntos?
— Acho que não, vida, pois não sei a que horas vou chegar.
— Claro que sim, ou você não teria incentivo para cumprir as metas.
— Então não poderá fazer isso enquanto estivermos aqui, raio de Sol.
— Ah, esqueci, papai. É que é tão bom estar com você novamente.
— Tarde demais. Já está inscrita para o curso. Vou ver você pagar
muito mico.
— Não, sua louca. Você usará sua roupa de treinamento, vou levar
para você hoje à noite. Provavelmente vai ficar um pouco grande, porque só
temos no tamanho dos rapazes, mas eu já vou requisitar um uniforme menor
para você, para depois de amanhã.
Ri alto e sozinha.
Claro que quando os ouvi não sabia quem havia dito o quê, mas sabia
que existia um Garcia, um Adam e o Pablo, que eu já conhecia como o
espanhol. Ah, eles não contavam que eu tinha uma memória visual e auditiva
muito boa. Logo saberia quem havia dito o quê. E eu estaria preparada para
saber responder à altura para cada um.
— Ah, se estaria.
Início do treinamento
— O quê?
— Eu também.
Eu apertei os olhos na direção dele enquanto me sentava na mesa.
— Muita, Summer.
— Eu também tenho, papai.
Ambos rimos.
— Mas quero testar meus limites, ver até onde consigo chegar.
Afinal, se tudo correr na minha vida do jeito que eu planejo, vou sempre
enfrentar situações estranhas, nos lugares mais remotos do planeta... Assim,
posso estar melhor preparada. E se for o caso, rir de tudo no final.
— Tudo bem.
Tomamos nosso café e saímos de casa antes das cinco e meia. Papai
foi no Troller e me emprestou o outro carro, assim eu poderia voltar para casa
quando estivesse destruída por causa do treino. Foram as palavras dele.
Apenas ri e encarei aquilo como mais um desafio. Assim que estacionamos,
ele tomou um rumo e eu o segui. Passamos pelo lugar onde os rapazes
haviam se exercitado no dia anterior e continuamos. Mais à frente, vários
deles já estavam ali, esperando.
— Sim, senhor.
— Hoje vocês terão treino de tiro com fuzil, pilotagem com manobras
em alta velocidade e pista de obstáculos. Entendido?
— Obrigado, cabeção.
— S-sim.
— Segura!
Mal ouvi o grito e já olhei para o lado no momento em que a garrafa
de água foi jogada em minha direção. Segurei a tempo, evitando que ela
explodisse bem no meio do meu rosto.
— Não. Porque você faz parte da nossa equipe. E todos temos que
chegar inteiros no final do dia se não quisermos passar pelos castigos do
Comandante.
— Eu estou na equipe... — apontei para ele e depois para os outros
que estavam distraídos entre beber água e conversar com os companheiros.
— Jura, que pap... o Comandante me colocou com vocês?
— Você não vai causar muitos problemas para a minha equipe, vai,
anjo?
— Ah, vou sim. Não sei nada sobre ser segurança.
— Nunca na vida.
Os rapazes se entreolharam.
— Percebi.
—Se é para me chamar usando esse tom, acho que prefiro os apelidos
mesmo...
— Esse grandão aqui é o...
— Prazer, Pablo.
— Então seremos sua equipe. Você dependerá de todos nós e nós
dependeremos de você. Podemos confiar nossas vidas a você, anjo? —
Enrico perguntou.
Falei tudo quase sem tomar fôlego. Eles pareciam não ter entendido o
que eu havia dito, ou pelo menos achei que não, pois dez segundos depois a
explosão de gargalhadas foi tão alta que me assustou. Tanto que levei uma
mão ao coração.
— Você é hilária, gatinha.
— Sim, senhor.
— É sim, Mitchell.
— Até o final do curso, muito mais vai ficar doendo. Tem que
aguentar...
— Ia.
— Certo — respondi.
Meu dedo foi ao gatilho sem que eu realmente quisesse. O tiro ecoou
no espaço e ergui os olhos incrédulos para ele, que apenas sorriu como se não
tivesse dito o que disse.
— Que você errou todos os tiros. Parabéns. Vou devolver seu alvo e
você continuará tentando. Eu vou ficar no alvo vizinho, treinando, e se
precisar de ajuda, basta pedir.
— Tá bom.
Ao final daquele treino, meu papel ficou com apenas dois buracos e
eu desconfiava que um deles tinha sido feito por Pablo, pois estava muito
próximo à cabeça e eu jamais acertaria ali. Ele negou até o fim, mas seu
sorriso sacana não me deixava acreditar nele.
Silva nos avisou que iríamos para outro treinamento e fomos andando
até a pista projetada para os exercícios com veículos. Vi vários obstáculos no
centro da pista e Silva chegou sério.
— Sua equipe será a primeira. Organizem a ordem dos pilotos — deu
o recado e partiu para falar com a outra equipe.
— Nada disso. Eu tenho que saber o que deve ser feito. Vai alguém
na frente e sou a segunda. Assim sei o que tenho que fazer. Olha a sacanagem
comigo.
Ele entrou no carro e mal ligou, saiu cantando pneus. Passou pelos
obstáculos, deu um cavalo de pau no final da pista e praticamente encostou os
pneus no meio-fio. Acelerou novamente fazendo os pneus cantarem, deu uma
volta ao longo na pista e voltou cortando os obstáculos novamente. Finalizou
a volta perigosa e parou ao nosso lado.
Assim que estacionou, dei vários pulinhos e bati palmas animada. Só
percebi depois da terceira palma que eu era a única a fazer aquilo. Parei
encabulada e recebi as chaves do carro de Enrico.
— Sério?
Fiquei triste com a revelação, mas ele baixou um pouco a voz e tentou
me consolar:
— Combinado.
— Confio em você.
— Nenhum, coração.
— Você só acertou dois tiros, gatinha. Ainda bem que recuperou aqui
no treino com o carro.
— Mas os tiros contavam pontos?
— Poxa, gente. Sinto muito. Eu não sei atirar, foi minha primeira vez.
— Morta de fome.
— Depois do almoço, temos uma hora de descanso. O treino da tarde
é na pista de obstáculos — Enrico esclareceu. — Acho que devemos ser
gratos a você por não termos treinamento hoje à noite.
Olhei para eles, para os corpos deles, para os... putz... diga que não
olhei para a direção dos pintos deles. Levei as mãos ao rosto e escutei as
gargalhadas.
— Sim...
— Aham...
— É...
— Sempre...
Cada um respondeu de uma forma, descontraídos.
O final do percurso, que durou quase uma hora e meia, exigia que se
tocasse uma boia no meio de um lago e voltasse à terra. Eu estava sozinha
nesse momento. Já estava morta, cada braçada pesava toneladas e pensei em
desistir várias vezes no meio do percurso, mas a voz de meu pai dizendo que
eu desistiria até o final do dia me deu forças para continuar. E quando
cheguei à margem, apenas me entreguei à fraqueza, deixando meu corpo
relaxar ali. Barriga no chão, mão apoiando o rosto.
Só queria morrer em paz.
— Ela está bem, veja, Adam, esse aí é especial para você. — Sorri
com a colocação de Pablo. Era ele por causa do sotaque gostoso.
— Ei, não fique triste. Isso poderia ter acontecido com qualquer um...
Olhei para ele por cima do ombro e vi o sorriso lindo em seu rosto,
como se daquele jeito, só seu, apenas quisesse me proteger.
— Por que moranguinho? — perguntei.
Abri a boca surpresa com a resposta. Não esperava por isso. Me virei
e andei apressada na direção do carro.
Por que estou sentindo uma tempestade na barriga quando me
aproximo deles, quando na verdade deveria ignorá-los? Eu não estou aqui
para procurar afeto masculino. Estou correndo dele, já que acabei de me
afastar de Travis. O que está acontecendo com você, Summer Mitchell?
— Sei que colocou, vida. Ele tocou até parar e você não acordou.
Durma mais um pouco. Descanse. Está fatigada de ontem, você se saiu muito
bem, o Silva me contou.
— Mas, papai...
— Descanse. Vamos combinar assim. O Silva me falou que você foi
péssima com os tiros. Tome um café da manhã reforçado e vá para os
estandes de tiros para um curso relâmpago. Amanhã você precisará usar uma
arma.
— Eu não faria isso, meu amor. Você não é profissional, não tem
treinamento em diversas áreas e não está acostumada a tanta pressão. Agora,
descanse. Isso é uma ordem. Ah, seus uniformes novos já chegaram. Quatro
conjuntos completos. Estão em cima do sofá...
Graças a Deus!
— Bom dia.
— Ah, não foi? E chegar assim sorrateiro você chama de quê? Porra,
garoto.
— Meu instrutor?
— Sim. Venha.
— Sei.
— Sabe?
— Sei. Sempre que fazemos o que amamos, tudo ganha perspectivas
que só a gente consegue vislumbrar. Quem está fora do nosso campo de
sonhos e realizações não percebe o quanto aquilo é importante para a gente.
— Meus pais.
— Hum, que merda, Ítalo. Sinto muito. Sem querer ser intrometida,
mas já sendo, você tem quantos anos?
Entramos no prédio e atravessamos a grande sala de treinamentos.
Passamos por uma porta fechada de metal e lá dentro vi as várias baias. Ele
parou à minha frente e continuou falando.
— Vinte e sete.
Ai, meu Deus, vinte e sete anos de puro músculo e beleza!
— Ah, se sei...
— Seus pais também não aprovam?
— Ah.
Eu me virei e o vi retirar os óculos e o protetor para os ouvidos de um
armário de apoio atrás de mim. Voltei-me para ele novamente e estávamos
tão próximos que eu sentia a respiração dele.
— Sim, senhor.
Ele foi para trás de mim e cobriu meu corpo, passou os braços pelos
meus e me ajudou a posicionar a arma à frente do meu rosto.
— Agora, feche um olho e, com o outro, procure com a mira onde
quer acertar o alvo.
— Na cabeça.
Aquilo foi a melhor coisa que ele poderia dizer. Tudo ficou mais
tranquilo depois daquilo. Ajeitei o protetor auricular, estiquei os braços e
senti as mãos dele irem para minha cintura. Mirei como se olhasse através da
lente da minha câmera e atirei.
Ajeitei a cabeça e a bati contra o ombro de Ítalo. Ele riu.
— Acertei?
— Gosta de morangos?
— Adoro.
— Experimente e descubra.
Não sou?
Eu estou looouuucaaa...
Ele aprofundou o beijo puxando minha nuca, fazendo nossas salivas se
misturarem. Minha língua procurou a dele e não demorou para
estarmos nos devorando. Ele me prensou contra o balcão atrás de mim
e o senti ainda mais armado. Meu corpo também respondeu àquele
contato tão urgente.
— É muito melhor.
— Com fome?
— Não. Mas acho que os rapazes ficarão felizes com seu retorno.
Ítalo riu.
— Ah, nada a ver, você é supernovo e nem por isso deve achar que
todas as mulheres caem aos seus pés.
Olhei para ele e ele mantinha o sorriso mais sacana e safado que já o
vira dar desde que o conhecera.
— Aproveitam?
— Bem...
— Olha só quem voltou!
— Sim, fez muita falta hoje, gatinha, mas sabemos que estava
aprimorando suas técnicas infalíveis de tiro.
— Demos o nosso melhor para recuperar a falta que vocês dois
fizeram — Garcia admitiu. — E só para saberem, saímos na frente. O
Comandante ficou impressionado.
Aquele sotaque...
Deixei a câmera parada, congelada na posição em que pretendia tirar a
foto e olhei para o lado. Era Pablo que chegava de fininho.
— Nada.
Ergui-me e fui até ele, ajustando minha lente. Apontei na direção dele,
que riu alto, erguendo a cabeça e deixando o pomo de adão mais ressaltado.
— Você não vai querer estragar suas outras fotos.
Ele olhou. Sério. E apertou aqueles olhos lindos. Uau! Nossa! Parecia
profissional. Meu coração se acelerou, descompassado. Tirei uma foto atrás
da outra. O cavanhaque apontando. A pele bronzeada e deliciosamente
definida. Aquela veia no pescoço que eu já conhecia. Os cabelos levemente
desarrumados em cima. Ele passou uma das mãos por eles nesse exato
momento, fechando os olhos e os abrindo, voltando-os para mim novamente.
Meu Deus, é muita tentação! Abaixei a máquina fotográfica e dei mais alguns
passos até ele.
— E se já tiver feito?
— A verdade?
— A verdade.
— Já. Em Barcelona.
Eu ri.
— Guapa[2].
— Guapa?
Ah, porra. Eu não sou assim. Mas uma parte de mim quer ser. Cada
vez mais.
— Como?
— Guapa é para mulheres bonitas. É o feminino...
Foi ele quem deu o passo para trás. Demorei três segundos para abrir
os olhos e o encontrar sorridente, hipnotizado como da última vez. Ele ainda
tinha a mão depositada na lateral do meu rosto e passava o polegar por ali.
— Tá bom assim. Raul, tem certeza de que aquela ponte não vai cair?
— Não vai. Mas, se cair, esse cabo de segurança aguenta até o Garcia
que é enorme, imagina você que deve pesar o quê? Uns 65 quilos?
— Sessenta.
— Sim, senhor!
Era muito diferente escalar uma árvore. Não era tão alta, mas
relativamente estreita e dava uma certa sensação de insegurança que eu não
tinha quando subia em uma montanha. Enrico partiu como uma bala. Esses
homens comem o quê no café da manhã? Quero duas porções, por favor.
Comecei a subir logo depois e, mesmo com Enrico mais à frente, não pude
deixar de me deleitar com a bunda linda dele. Ah... era perfeita para morder.
Arrebitada e redonda... putz... Isso me fez lembrar de algo.
Ri mais.
— Safado.
— Eu? Em nada...
— Vamos lá, anjo. Esta pode ser a parte mais difícil, porque as cordas
ficam balançando de um lado para o outro, mas basta não olhar para baixo.
Vou estar do outro lado. Fique olhando para mim, apenas para mim, certo?
— Enrico orientou e eu concordei.
Ele começou a travessia e percebei outros rapazes subindo a árvore.
Também vi que nem para o Enrico aquela era uma tarefa fácil.
— Era eu. — Nós dois rimos. — Não tenho moral nenhuma, eu sei.
Sou melhor seguindo ordens que orientando. Qualquer outro dos rapazes é
melhor do que eu como líder.
— Ah!
Certo. Meu pai ia ver quem era a menina mimada. Eu podia ter
hesitado e estar prejudicando toda a equipe por estourar o tempo, mas eu ia
terminar o treinamento, não ia deixar meus companheiros na mão. Abri os
olhos e olhei na direção de Enrico. Ele estava parado do outro lado,
segurando as cordas, em cima da outra plataforma. Era tão lindo e confiante.
— Você consegue.
— Tenho sim.
Dei mais um passo na direção de Enrico. Mais um e a corda balançou
muito. Soltei um grito e depois parei. Voltei a olhar para Enrico, que não se
moveu. Ele estava me esperando do outro lado, com a mão estendida para
mim, passando-me força e confiança com aquele olhar. Continuei ganhando
ritmo e coragem. Quando cheguei à outra árvore, estendi a mão e Enrico a
segurou e me puxou para ele. Me pegou quase no ar e me abraçou forte.
— Eu consegui. Eu consegui.
Era o abraço mais gostoso que já tinha recebido na vida, por cuidar de
mim de forma tão acolhedora e por me passar tanta segurança. Me afastei
dele e olhei para a corda, Adam vinha depressa e já chegava e, assim que o
fez, me abraçou também.
— Certo.
Ele também começou a rir. Desci com raiva dos dois, e depressa,
tentando recuperar o tempo que eu havia perdido na travessia da ponte.
Quando já estava poucos metros acima do chão, vi Enrico lá embaixo, com as
mãos na cintura, olhando para cima. Disfarçava o olhar para a corda, mas
havia momentos em que eu sabia que ele olhava para mim.
O quê? Ele estava mesmo marcando tempo? É claro que havia sido o
pior: Eu estava na equipe!
— O senhor não pode levar em consideração o tempo contando
comigo... senhor. Eu não sou profissional...
— Faço, mas...
— Então encare a realidade, Mitchell. É o segundo dia em que são os
piores, terão como castigo...
— Não é justo!
— Mas, pa...
— Perto quanto?
— Mais ou menos uns dois quilômetros.
— Não reclame não... O lugar que ele escolheu para você é lindo, do
lado de um lago, há uma fonte de água mineral bem visível, diversas árvores
frutíferas carregadas...
— E, pelo jeito, esse Comandante está mais para Lúcifer do que para
Comandante.
Era o paraíso.
Meu pai não havia me enviado para um castigo, havia me enviado
para descobrir as belezas da noite daquele lugar que ele amava tanto. E era
óbvio que eu voltaria àquele lago munida de todo o meu equipamento.
Respondi no mesmo tom e ele riu de forma tão linda, direto para mim,
que fez minhas pernas ficarem moles. Quando parou de rir, confessou:
— O Barata entregou sua localização. É um linguarudo aquele lá.
— Não mate o Barata, por favor... Ele não queria me deixar pegar isso
de jeito nenhum. Achei que a gente ia precisar nocauteá-lo para conseguir
trazer sua câmera para você.
— Por que ainda não fez a fogueira, tigresa? — Garcia quis saber.
— Fiquei distraída com o pôr do Sol, que estava lindo, e quis
contemplar o céu por um tempo...
— Vai se lascar, garoto. Claro que sei! Deixe eu pegar os fósforos que
vocês já vão ver ...
Garcia se espantou:
— Fósforos?
Todos caíram na gargalhada. Até eu, que imaginei meu pai, bravo,
mas pensando em como dar algum conforto para a filhinha.
— Então vamos reformular: sei acender uma fogueira com fósforos,
mas adoraria aprender a usar a pederneira.
— Obrigada, Uriel, você é meu herói. Todos vocês são. E são uns
loucos. Não precisavam mesmo vir.
— Claro! A noite está tão linda. Mas não vou desmerecer o trabalho
de vocês. A princesa agradece aos súditos pelo lindo castelo...
— Iiii... nem queira saber a confusão que foi isso. O Carlos quase
pirou, mas todos foram sem segurança. — Adam abria uma lata de
sardinhas.
— Todos? São quantos? — Eu estava ao lado dele e abria a primeira
lata de feijoada.
— Você é mais americana que brasileira. Nem deve conhecer a banda
Tensão Elétrica.
— Como assim não conheço? É claro que conheço. Escuto muito e...
Para tudo... vocês são os seguranças... da banda... — Eu não tirava os olhos
de Adam e ele apenas assentiu sorrindo. — Puta que pariu... Por essa eu não
esperava.
— Vai já dizer que os caras são mais lindos que a gente. — Pablo
reclamou.
— Essa aí mesmo.
Os rapazes caíram na risada. Eu também. Eram tão lindos,
descontraídos daquele jeito.
— Ah, não se preocupe, não vamos falar que outras mulheres são
bonitas na sua frente. — Enrico disse.
Garcia começou a tirar algumas latas de sua mochila, mas não eram
latas de feijões, nem de sardinhas. Ele as jogava na direção de cada amigo.
— Cerveja quente.
— Quero.
— Não vai se embriagar com uma latinha, vai? — Enrico ergueu as
sobrancelhas.
Peguei a lata no ar, segurei minha câmera e fui me sentar entre Enrico
e Garcia. Eram os dois maiores da turma e me arrependi um pouco da
decisão. Uriel sentou-se ao lado de Raul, quase à nossa frente. Adam ficou
com Pablo e Ítalo cuidava da comida.
— Falem mais — pedi enquanto tomava um gole da bebida.
— Ah, por favor. Vocês convivem com astros do rock, todos devem
querer saber como eles são.
Ouvi Enrico respirar pesado do meu lado e ele começou:
— Na verdade...
— Ele ia dizer que por causa da incompetência dos que foram para a
Europa é que estamos nesse treinamento... — Ítalo falou chateado.
— Por favor, esclareçam o que aconteceu. Eu serei a juíza desse
impasse. E o que eu decidir estará decido e ninguém mais poderá reclamar no
futuro.
Garcia olhou para Adam, que apenas sorria balançando a cabeça. Ele,
Pablo e Ítalo já colocavam as porções de comida nas canecas de cada um.
— Continuando. Anderson alegou que seria mais barato contratar
seguranças locais para completar a equipe. Resumindo, o Carlos inicialmente
aceitou as equipes contratadas por Anderson, mas os caras não estavam
preparados para o fenômeno de fama que é a Tensão Elétrica.
— Quero deixar claro que eu não estava nessa equipe ainda. Fui
contratado depois, em Barcelona.
Pablo fez o comentário rindo e entregando uma lata para Uriel e outra
para Raul, que concordou:
— Verdade.
— E depois?
— Foi uma confusão, mas depois desse incidente tudo correu bem.
Isso porque Carlos confrontou Anderson e a partir daí fez questão de montar
as equipes ele mesmo. Contratou o Pablo que tinha ótimas referências e
conhecia homens competentes em Barcelona. Foi dele a indicação para
procurarmos a empresa em que Uriel trabalhava quando fomos para Roma. O
cara é bom.
— Que você deve parar de implicar com Garcia e Ítalo, Adam. Eles
não têm culpa. O culpado foi esse empresário que não levou a melhor equipe
de seguranças que eu conheço. Concordo que, se todos estivessem lá, nada
assim teria acontecido.
— Obrigado, tigresa.
— De nada, grandão.
Adam sorriu para mim e para Garcia antes de falar:
— Esse aqui é meu bem mais precioso. É por ela que eu vejo o
mundo — ela disse com paixão. Ajustou a máquina, apontou-a para o fogo e,
em seguida, a ergueu na direção de Uriel e Raul.
— Pelado, na horizontal.
Ela demorou a parar de rir. Será que Summer tinha alguma noção do
poder que estava exercendo sobre mim? Sobre nós? Sim, todos nós. Eu
conhecia aqueles marmanjos há tempo o bastante para saber que estávamos
todos doidos para foder com ela.
— Meu forte é natureza, seu depravado, não nu artístico.
Os olhos azuis na pele clara eram lindos. E ela era tão proporcional.
Os peitos médios, firmes, que eu notava quando ela estava apenas de
camiseta. A cinturinha fina se destacando junto ao quadril arredondado em
formato de coração. Ah, que gostosa! E estou duro. De novo. Droga.
— Leve ali mais comida para Uriel e Raul, Adam — Ítalo me pediu.
Será que ela tinha alguma noção de que tinha todos nós em suas
mãos?
— ...e minha mãe já está sabendo. Mas, embora meu pai hoje em dia
aprove a profissão que escolhi, ainda tenho medo de como ele vai encarar
quando eu contar que vou viajar pelos lugares mais inóspitos do mundo, caso
consiga o trabalho na National Geographic.
— Imagino que você seja maior de idade. Dona do seu nariz —
Enrico falou.
— Isso mesmo. Enrico tem razão, tigresa. E todos nós sabemos que
você tem garra. Você fez algo que nenhum de nós teve coragem de fazer.
— O quê?
— Dividir conhecimento.
— Ser solidário.
E Adam finalizou:
— Eu não...
Corava com muita facilidade. Era preciosa. Seus cabelos loiros ainda
estavam presos no rabo de cavalo com que havia chegado para o treino.
Tirando o dia em que o vento ergueu seu vestido, que estava de cabelos
soltos, ela sempre os prendia daquele jeito.
— Com a minha vida. Não sei se sabe, mas sou segurança particular.
— Adrenalina...
— É...
— É...
— Adrenalina...
— E grana...
— E mulheres.
Adam. O idiota não podia passar sem falar merda.
— Ah, ser segurança facilita com as mulheres?
Ela perguntou e percebi Enrico e Garcia fuzilarem Adam com os
olhos, mas o idiota ainda soltou:
— Claro. Qual mulher não cai de amores por corpos esculturais como
esses?
— Ah, meu querido. Mas um corpo escultural sem cérebro não tem
nenhuma graça — ela respondeu decidida e foi o fim do palhaço.
— Toma para calar a boca — Raul disse.
— Por que não? Você tirou fotos de mim e do Raul. E você é muito
mais bonita que nós.
Ela corou novamente.
— Tudo bem, tire mais uma. Venha aqui, Enrico... Garcia... juntem
mais. Enquadre direitinho nós três. Sorrindo, garotos.
— Pronto, bella. Não tenho seu talento, mas acho que, mesmo com
esses dois feiosos estragando as fotos, a sua beleza deixou todas
maravilhosas.
— A modelo ajudou.
Abri a boca chocada. Encarei o meio das pernas dele, sem conseguir
desviar o olhar.
— E pensávamos que você poderia nos acompanhar, coração.
Raul fez o mesmo e o amigo dele era maior que o de Pablo. Eu tinha
que sair dali. Ai, minha nossa. Socorro. Alguém. Levantei-me desesperada.
Pulei dentro da minha barraca e fechei o zíper. Estava tão nervosa que
sentia a pele suar.
Era tentação demais, meu Deus!
Uriel estava ao meu lado. Falava tão baixinho com uma voz tão
doce...
— Já são cinco e meia, Uriel?
— Sim.
— Muito.
— Não hesite em provar quando quiser.
— Safado.
Ele passou um dedo pelos meus lábios e eu não conseguia desviar dos
olhos dele.
— Pode me dar um beijo de bom dia? — pedi.
Passei correndo em casa para me trocar e não tive tempo nem para
tomar um banho. Por sorte, papai já havia saído. Pelo jeito, eu ia ter que
começar a deixar pelo menos um dos uniformes no armário da central de
treinamentos.
Os membros da minha equipe chegaram juntos ao pátio. Meu pai já
estava lá e tinha cara de poucos amigos. A outra equipe chegou logo depois.
— Consegui, sim, senhor. Meu pai me ensinou muito bem. Devo tudo
o que sei sobre sobrevivência a ele.
— Sim, senhor.
Meu pai se afastou com Garcia ao seu encalço.
Eu ri alto.
Prendi.
— Pronto, Pablo, me passe a balaclava.
O tecido negro cobriu o meu rosto como se fosse uma máscara, e me
senti como um daqueles ladrões de filmes clássicos.
— Nesses bolsos aqui da frente e nesses aqui das laterais você vai
colocar os reservatórios de munição.
— Certo.
— Aqui, equipe.
Garcia chamou. Chegamos a ele, e os rapazes terminavam de colocar
o equipamento do rosto.
— Entendido.
— Os tiros doem muito, então se você acertar algum adversário e ele
erguer os braços, pare de atirar, para não machucar o “morto”. Se você for
atingida, erga os braços acima da cabeça imediatamente ou ficará levando
tiros e isso machuca mesmo. Eu não estou exagerando, entendeu, tigresa?
— Sim.
Ele se dobrou para rir e nesse momento uma mancha de tinta azul
explodiu na parede atrás de nós, pouco mais de meio metro acima da cabeça
dele.
Foi em um segundo.
Uma virada em uma parede.
Um encontro inesperado.
— Ahhhhhhhhh...
Eu gritei aterrorizada.
Ele riu.
— Parabéns, tigresa. Sabia que ia matar uns quatro hoje.
Garcia era bem mais alto que eu e, assim tão próximos, não resisti.
— Ele morreu.
— Matamos algum dos deles?
— Dois.
— Faltam seis então. Vai para o andar de cima, já vamos subir.
— Matei dois.
— Falando nisso...
— Vai, vai, vai, vai... reforço, são três de uma vez — Adam pedia
ajuda.
Raul apontou primeiro, seguido por Adam. Eles foram por caminhos
diferentes e um dos soldados teve o corpo quase completamente pintado
quando apontou na escada. Eu ri e Ítalo deu um tapinha divertido na minha
cabeça.
— Certo. Essa já está no papo. — Ouvi a voz de Pablo passar por nós
e os passos sorrateiros afastarem-se.
Mais disparos. E passos de corrida. Adam e Ítalo apontaram na
escada.
— Não tem por que se desculpar, Mitchell. Você jogou muito bem.
Parabéns. Ser a equipe de assalto é sempre mais difícil.
— Eu te machuquei muito?
— O que foi, gatinho? — chamei o apelido que ele usava para mim.
— Não dormiu bem?
— Mas eu não ficaria por qualquer um, picado pela abelha. Mas por
você sim, Summer.
Ergui meus olhos e sorri. Ele também sorria. Era muito fofo, com seu
nariz levemente arredondado e barba loira de dois dias. Ergui os olhos para o
soro e ele estava perto do fim. Ele fez o mesmo e falou sem olhar para mim.
— Sabe?
Eu me virei e me afastei.
Uma surpresa para os rapazes
Quando saí, de volta para o que quer que o Comandante fosse mandar
a gente fazer à tarde, levei o casaco de Raul comigo.
Assim que cheguei, vi Rodrigues, que provavelmente tinha acabado
de sair do refeitório.
— Quimono?
— Ah, ótimo.
A área de musculação era muito bem equipada, mas meu intuito era
sentir o tatame e foi o que fiz imediatamente.
— Sério?
Eu sorri.
— Diga o que tenho que fazer com minhas mãos aqui...
— Mentira?
Ele levou as duas mãos até minhas coxas e as passou ali, subindo e
descendo. Inclinei o corpo, indo em direção ao rosto dele.
— Fui em casa tomar banho. Desde ontem sem tomar banho! Gente,
eu estava fedendo...
— Impossível — Enrico me corrigiu.
— Nem mesmo para mim, vida. Nem mesmo para mim — falou
orgulhoso e me abraçou mais uma vez antes de voltarmos para dentro.
Assim que entramos, vimos Ítalo e Lopes se cumprimentarem e
deixarem o tatame.
— Eu luto.
— E estragar a surpresa?
— Rapares, vocês já estão liberados. Hoje a Equipe 2 saiu ilesa das
atividades, podem ir descansar. A Equipe 1 terá uma corrida de dez
quilômetros amanhã, com o dia clareando, ao meu lado. Ah, e amanhã,
simulação de sequestro às oito da manhã, no pátio dos automóveis. Tenham
uma boa noite.
Quanto mais divulgava meu trajeto certo, mais eles riam e faziam cara
de safados. Eram uns lindos gostosos.
— Não tem que agradecer nada, tigresa. Nós também nos divertimos
muito.
— Claro, tigresa.
— Muito sério.
— Ah, Garcia. Vou entender por suas palavras que você aceitou
minhas desculpas...
— Repito, sua louca, não tem que pedir desculpas. Não por isso.
Melhor eu ir andando para não gerar problemas para você. Parece que o
Comandante é muito protetor em relação a você...
Parti para casa cansada, passando antes no refeitório para pegar nosso
jantar. Quando cheguei, levei a comida para o fogão e corri para um banho
demorado. Vesti minha camisola e meu roupão de banho por cima. Caminhei
até a cozinha, imaginando se deveria ou não esperar meu pai para comer.
Nesse exato momento a porta se abriu.
Feliz por não ter levado nenhum daqueles tiros que os rapazes
disseram que doía tanto, eufórica por ter lutado jiu-jitsu, o que eu adorava...
E mergulhada em pensamentos.
— Agora?
— É essa a ideia.
— Gosta de correr?
— Gosto.
— O que mais gosta de fazer?
— Muitas coisas, anjo.
— Conte uma.
— Ah, eu também.
— Percebi.
— E o que mais?
— É sim.
— Ei, calma...
— O que aconteceu, Enrico? Por que está triste? Por que quis
conversar?
— Não é nada...
— Obrigado.
— Não. Estar entre eles me lembra de minha mãe. Então é mais fácil
me perder na noite, em festas, bebidas, mulheres e amigos...
Não sei por que ouvir o “mulheres” me doeu tanto.
— Oi.
— Ah, Enrico... Olhe melhor... Estou louca para provar sua boca...
Aproximei-me dele já entreabrindo a boca e fechando os olhos.
Segurei sua nuca e a gola da camisa polo que ele vestia. Exigia que ele se
aproximasse mais e ele correspondeu. Me puxou pela cintura e pelo pescoço.
— Poderíamos...
— Poderíamos. Mas, se fizéssemos isso, todos ficariam sabendo,
porque eu só ia desejar ficar com você e não ia ligar mais para o treino. Eu
estaria fodido.
Eu ri.
Passei uma das minhas mãos pelo rosto dele, levando-a para trás por
seus cabelos.
— Fique bem, Enrico. Se ficar triste, venha até mim e me abrace. Não
importa o que estejamos fazendo. Quem estiver ao nosso lado, mesmo que
seja o Comandante. O que mais quero é ter a certeza de que serei algum tipo
de porto seguro.
— Obrigado, anjo.
Mais um dia feliz em que acordo duro por causa daquela maldita loira
linda. Abro e fecho minha mão esquerda à minha frente, na altura dos meus
olhos, para conferir que ela não está mais inchada. Graças ao antialérgico.
Levo a mão direita para baixo do lençol, desço a bermuda e sinto meus dedos
quentes envolvendo meu pau latejante. Agradeço por estar na cama de cima
do beliche, já que aquele ritual virou uma constante.
Os olhos fechados, o maxilar trincado e o aperto suave, misturados
aos pensamentos libertinos que tenho com aquela safada que me tentou no
dia anterior, com um dos beijos mais deliciosos que já provei. Ah, Summer.
Se eu tenho a oportunidade de te comer de quatro, só para encher seu traseiro
lindo de palmadas. Sinto minha mão ficar cada vez mais babada com meus
fluidos, e aquilo me dá mais prazer. Só de imaginar tirando a calcinha fio
dental que ela usava, toda enfiada no traseiro eu vou ao... ahhh... que delícia...
ahhh...
— Será?
Depois foi a vez de Raul e Uriel fazerem a mesma coisa. O que eles
estavam vendo? Eu me virei apenas para cair na mesma teia de feitiço.
Summer estava dentro do refeitório, de costas para nós, segurando uma
bandeja e terminava de se servir com café. Ela virou-se procurando a gente e,
quando nos viu, acenou e veio em nossa direção.
— Ela está linda. — A voz de Pablo quase se enrolou.
Seu sorriso era tão luminoso quanto a luz do dia. Tinha um batom
clarinho nos lábios e o cabelo estava solto.
— Não vai participar da simulação hoje, coração? — Raul perguntou.
— E vai...
Percebi Adam engolir em seco e sorri. Devia estar sofrendo mais que
todos, o garanhão.
Ela queria mesmo explodir as bolas não apenas de nós sete, mas de
todos os caras que estavam em treinamento. Em uma conversa com Garcia e
Enrico, comentamos que havíamos percebido alguns caras da outra equipe
com olhos cobiçosos para nossa garota.
Nossa garota... que engraçado! Mas era um fato. Ela era nossa garota,
fazia parte de nossa equipe, certo?
Decidimos marcar cerrado e prestar mais atenção. E caso
comprovássemos algum interesse de algum deles, daríamos um jeito de os
fazer perder as esperanças de ter qualquer envolvimento com Summer. Sim,
éramos caras territorialistas e apenas estávamos tomando conta do que era
nosso.
— Isso não deve ser bom — Uriel disse por fim me trazendo de volta.
— Mais ou menos isso... Uma das duas equipes terá que te proteger
enquanto a outra tentará te sequestrar.
— Putz. Isso é sério?
— Mitchell. Acompanhe-me.
— SIM, COMANDANTE!
— Certo. Coloquem seu equipamento e me avisem quando estiverem
prontos para começarmos a marcar o tempo.
Enrico acrescentou:
— Eu gosto desse plano. E a principal vantagem é que evitamos
atacar os carros em movimento. Os rapazes são profissionais, sabem como se
proteger no caso de alguma batida, mas Summer pode se machucar...
Todos concordaram.
Já estávamos entrando nos carros para partir quando vimos Summer
voltando. A roupa de proteção laranja era extremamente berrante, e a garota
olhou para nós desolada, como se perguntasse “Que merda horrível é essa
que estou vestindo?”.
Rimos e partimos.
— Certo.
Voltamos para dentro dos carros e em seguida para o pátio. Assim que
chegamos, percebemos uma aglomeração e partimos para lá quando
descemos dos automóveis.
Foi horrível ver o estado de Summer. Parecia que ela havia chorado
muito.
— Não sei se Mitchell está bem para isso, senhor — Raul observou e
alguns homens da outra equipe concordaram.
— Acho que podemos partir do princípio de que eles não vão copiar
nossa estratégia...
Pablo ficou sério:
— Vou terminar o curso, mas acho que não vou seguir carreira não.
Eu complementei:
— O carro ficou parecendo uma pintura de Miró.
— Sim...
— Isso...
— É...
— Ieee...
— Aêêê...
— Boa, Comandante!
Eu fiquei surpreso por ela se convidar. Pelo visto, ela estava tão
empolgada quanto eu.
— Ah, o convite não era para mim também? Então me desculpem,
eu...
— Ela faz de propósito, não faz? — perguntei ajeitando meu pau que
já crescia dentro da calça.
— Mas ela bem que poderia só treinar com esses vestidos folgados —
Pablo disse. — Garanto que treinaríamos com muito mais empenho.
Todos rimos.
— Se dermos a ideia hoje, será que ela topa? — Raul propôs, já
caminhando na direção do alojamento.
— Bem, ela só pode dizer sim ou não. Vai que ela responde sim —
Uriel disse, também se divertindo.
Ri.
— Adorei. Posso fazer...
— Você não precisa fazer nada, vida. Vou providenciar toda a ceia.
Amanhã quero que descanse. Deve estar exausta.
— Estou mesmo. Vou aproveitar então para tirar umas fotos por aí.
— Faça isso, querida.
— Você vai de qualquer jeito para esse bar, não vai, vida?
— Vou sim, papai. Por favor, eu me sentiria tão mais feliz se o senhor
apenas aceitasse e ficasse feliz por mim, por estar fazendo amizades... Eu
estou muito feliz que o senhor vai namorar.
— Aham. Vou fingir que não, então, se isso o deixar mais feliz.
— Às dez.
— E se algum deles tentar algo contigo, você enfia a mão na cara
deles?
— Prometo.
Livre!
— Sim.
Nem sei quem foi que conseguiu abrir a boca, sem babar, para
responder. Eu só fiquei admirando toda aquela perfeição.
— Como está o ombro, Summer? — Enrico perguntou, preocupado.
— Comigo.
— Não, comigo.
Havia muitas mesas vagas, duas mesas de sinuca sem serem usadas
no canto e, na caixa de som, soava uma música estilo sertanejo universitário.
Seguimos Garcia e Adam, que nos fez sentar no canto à esquerda, mais perto
das mesas de sinuca e da pista de dança.
Rimos.
— É um começo — Adam afirmou. — Sou do time da gatinha aqui.
— É uma porra. Você joga muito mal. Vão perder na certa. Fique no
meu time, tigresa. Adam vai com o Ítalo.
Ela riu e segurou minha mão depois que coloquei o taco na mesa. A
guiei para a pista.
Eu ri. Não precisava estar bebendo nada alcoólico, estava bêbado com
o perfume dela. Estava linda. Ela é linda. A música acabou e voltamos para a
mesa.
Ela sentou-se ao meu lado e tomou mais da cerveja. Estava corada por
causa dança.
— Não sei mais qual é. Não estou contando. E não sou resistente, não.
Bora dançar também, Enrico?
— Eu não sei dançar, anjo. O dançarino da turma é esse bonitão aqui.
— Opa, na hora.
— Melhor, anjo.
Enrico se afastou, me encarou e continuou rindo. Adam assumiu seu
lugar e tentou fazer o melhor que pôde, dançando colado a ela. Era um
aproveitador mesmo. Não desperdiçava uma oportunidade de se esfregar
nela. Garcia deu dois tapinhas no ombro dele e assumiu a próxima dança.
Adam veio se sentar ao nosso lado reclamando.
— Até onde sei, ele tem o mesmo direito de dançar com a Summer
que você — Enrico chamou a atenção dele.
— Olha o Garcia dançando. — Eu ria. — É um desengonçado.
— Não mesmo. Não sei nem para onde vai esse tipo de música —
Uriel disse rápido.
Summer e Garcia voltaram à mesa e ela bebeu mais um gole.
— Eu também não sei dançar não. É a primeira vez que escuto essas
músicas. Venha, homem!
Ele não teve escolha, foi com ela e foi a dança mais engraçada da
noite. Quando acabaram, Pablo se levantou rápido com a desculpa de ir ao
banheiro e Ítalo assumiu a dança. Era muito bom também e se esbaldou de
dançar com ela. Quando Pablo estava voltando, Summer soltou Ítalo e correu
até ele, agarrando-o e dançando com ele também.
— Ah, não. Vamos ficar um pouco mais, por favor. Eu nunca saio...
Por favor...
Dançando com ela para todos os lados. Ela não parava de sorrir.
Abaixei os olhos para a mesa. Eu podia ter ficado com ela na noite
passada, mas não fiquei. Metade de mim estava arrependido, mas a metade
responsável não. Voltei a encarar o anjo dançando no meio do salão. Ria
solta, tropeçando em Raul. Nem eu, nem nenhum dos rapazes permitiríamos
que ela fosse usada por qualquer um de nós. Ela era muito especial.
— Só se quiser, anjo.
— Claro.
Ficamos todos do lado de fora dos veículos aguardando para ver o que
ela ia aprontar.
Ela foi primeiro até Raul e lhe deu um beijo na boca. O cara ergueu as
mãos acima da cabeça e ficou nitidamente assustado, mas correspondeu ao
beijo.
Ela sorriu e partiu para Uriel, que estava logo atrás dos dois, e fez o
mesmo. Beijou o cara na boca e depois agradeceu. Um a um, ela foi beijando
e agradecendo à noite maravilhosa que havia tido, por ter dançado, jogado
sinuca ou simplesmente pela companhia. Fui deixado por último e falei antes
que ela me beijasse.
— Não precisa me beijar...
Eu dancei?
— Mas eu não sei dançar...
Fui até ele no sofá e me joguei ao seu lado. Primeiro o abracei, dando
um beijo em seu rosto, e depois apoiei a cabeça em seu colo.
— Obrigada. Vou lavar roupa hoje, então coloque sua roupa perto da
lavadora.
— Tudo pronto. Só dois rapazes vão voltar para São Paulo. Os demais
vão ficar por aqui.
Tomei o remédio e enchi a xícara de café. Passei manteiga no pão e o
mergulhei no líquido fumegante.
Olhei para ele de onde eu estava na cozinha e meu pai apenas virou o
rosto na minha direção.
Sério.
Merda.
— Não se preocupe, não será ninguém da sua equipe.
— Interessante!
— Maisie, pelo amor de Deus! Espero que esteja sozinha quando diz
essas coisas.
— Estou em um café, na verdade. É claro que estou sozinha, amiga
louca. Acha que sou tão insana assim?
— Não sou. Vamos, conte tudo, não me esconda nada. Faça das suas
férias interessantes um oásis na minha monotonia.
— Puta que pariu, Summer. Você está muito bem servida aí. E eu
aqui doida para dar e não tenho para quem.
— Ah, é? Você está louca, Maisie? Como que eu vou dar para um se
tem mais seis olhando? Me conte? Esses caras não se separam nunca.
— Dá para os sete ao mesmo tempo.
— Ah, vai se foder com o maior vibrador que encontrar por aí, vai.
Porra, eu tentando ter uma conversa séria e você brincando com a minha cara.
Você tem ideia de como está a minha cabeça? Eu estou confusa para caralho,
amiga. Eu saí de casa procurando paz e encontro esse mar de tentações, cada
homem mais lindo que outro. E o pior é que desejo como nunca cada um
deles. Como isso pode estar acontecendo?
— Ah, Maisie. Eu aqui, achando que poderia me ajudar com toda essa
confusão que estou sentindo, e você só sabe brincar.
— Obrigada.
— Você está prestes a dormir com um... ou com sete, querida. O que
o impede de fazer o mesmo? E não esqueça que quem pediu o famoso
“tempo” foi você...
— Você tem razão. Eu pedi esse tempo para nos conhecermos,
vivermos novas experiências, nos encontrarmos. Espero... espero que ele
esteja vivendo este momento da melhor forma possível. Mas... Mesmo
sabendo que eu deveria estar aproveitando este momento, eu me sinto tão
suja com a possibilidade de ficar com mais de um cara ao mesmo tempo!
— Não faço ideia se algo vai mesmo acontecer. Ou como isso poderia
acontecer, mas...
Ri novamente.
— Maisie, vou desligar. Tenho que lavar roupa e vou preparar uma
torta de limão para hoje à noite.
— Vou lá.
Será que meu pai daria por falta de mim? Ou de algum deles?
A lavadora parou e fui até ela. Porra, eu estava muito excitada. Corri
até o banheiro e tive que me lavar.
Adam observou com sofreguidão e eu sorri, pois sabia que ele estava
falando das minhas calcinhas.
— Minha melhor amiga acha a mesma coisa, mas o que posso fazer
se é o que eu gosto de usar?
— Posso?
— Vou adorar.
Mas não o segui. Andei do seu lado, mas, antes que chegássemos à
frente da casa, ele segurou minha cintura e me prendeu com seu corpo contra
a parede. Segurou meu rosto e balbuciou com os lábios quase colados aos
meus:
— Não.
— Quer se lembrar?
— Qu-quero.
— Lembrou?
— Ítalo... Eu...
Pense rápido!
— Ah, vai nada... — Será que ia? — Não vai não, né, pai?
Ele gargalhou.
— Para te ver sorrir, não darei nenhum castigo a ele, raio de Sol. Mas
para você o castigo vai ser me ajudar com o equipamento.
— Obrigada.
— Você fica perfeita de qualquer jeito. E suspeito que sem nada fique
ainda mais espetacular.
O jeito acanhado dos homens com meu pai me fez sorrir. Demorou
um pouco, mas um a um, todos foram se soltando e interagindo em volta da
mesa farta, se deliciando com as carnes que meu pai não parava de servir e
com a cerveja gelada.
— Não vai beber, Mitchell? — Rodrigues perguntou.
Eles riram.
Voltamos a nos beijar. Passei a mão por cima de sua camisa e pelo
peito forte, ele escorreu a mão por minha cintura e pelos meus quadris até
apertar a dobra de minha bunda. Eu estava pronta para me sentar no balcão.
Sorri com o coração tão acelerado que pensei que ele ia sair pela boca.
— Eu... eu...
— Eu também, Summer... Estou louco para te beijar também.
— Eu tô muito ferrada...
Ele deu um meio sorriso canalha antes de tocar meus lábios com os
dele. Foi tão delicioso quanto o de Adam, mas tão diferente... Ele demorou-se
sugando meus lábios antes de aprofundar o beijo.
— Pablo...
— Sei.
— E tirar seu gosto dos meus lábios? Não, deixe ele aqui por mais um
tempo.
Saiu da cozinha. Peguei o copo que ele deixou sobre a pia e o enchi,
bebendo dois copos em seguida. Escutei novos passos e pensei quem poderia
ser.
— Ah... Oi, papai. Eu vim... Vim... Vim pegar a torta... Isso. Vim
pegar a torta.
— Ah, ótimo, vida. Vamos voltar para a festa. Acho que está na hora
de colocar o karaokê para funcionar.
— Agora mesmo, papai.
— Você podia começar, Ribeiro, já que foi ideia sua — meu pai
disse.
Vi o momento em que Ítalo cuspiu a cerveja fora.
— Tivemos um trabalhão para trazer tudo isso aqui para fora, então o
senhor pode tratar de cantar.
Meu pai fingiu estar bravo e Ítalo se levantou mais pelo medo do que
por vontade.
— Ei, cuidado com o que vai escolher. Não sou familiarizada com as
músicas daqui.
Ta tara tara
Ta ta ta
Ta tara tara
Ta ta ta
Ta tara tara
Taa
Ta tara tara
Ta ta ta
Ta tara tara
Ta ta ta
Ta tara tara
Taa
Ítalo retomou:
Eu quero você!
E é você!
Ta tara tara
Ta ta ta
Ta tara tara
Ta ta ta
Ta tara tara
Ta ta ta
Ta tara tara
Ta ta ta
Ta tara tara
Taa
(Pupila - Anavitória)
— Obrigada.
Voltei até a mesa e tomei mais um gole de cerveja.
— Sim.
É só isso.
Não tem mais jeito.
São só palavras,
E o que eu sinto
Não mudará.
Não há paz.
Irreais
Expectativas,
Desleais.
That's it.
There is no way,
Won't change.
(It's heavy.)
Não há paz.
(There is no Peace.)
Irreais
(Isn't real)
Expectativas,
(That expectations.)
Desleais.
Mesmo, se segure,
Dessa pessoa
Que o aconselha.
Há um desencontro,
Veja por esse ponto:
There is a disconnection.
É demais,
(It's heavy,)
Não há paz.
(There is no Peace.)
Tudo o que quer de mim,
Irreais
(Isn't real)
Expectativas.
(That expectations.)
Desleais.
Falling (Falling)
Into the night(Into the night)
Falling (Falling)
Falling (Falling)
Falling (Falling)
Into the night
Papai não devia tê-los separado em equipes. Dava para sentir que eles
eram todos próximos. Percebi Garcia e Raul se aproximando e pedindo a vez.
Enrico foi para a mesa conversar com Silva e me aproximei de meu pai. Os
rapazes começaram uma canção que eu não conhecia:
Oh oh oh
Oh oh oh
Ela me hipnotizou,
É, é, eu vou, eu vou
Surfando as ondas do seu cabelo.
Ela me hipnotizou,
(Hipnotizou – Melim)
— Está sim, vida. Estou mais feliz ainda por perceber que você está
gostando.
— Nem pensar.
Ele sorriu:
— Então vamos elaborar uma estratégia infalível para você poder
completar essa missão.
— Sério?
— Nada.
— Tem algo sim. Quando se preocupa, uma ruguinha se forma bem
aqui. — Ele apontou o meio da minha testa, perto das sobrancelhas.
Eu o interrompi:
— Vem!
Ele negou com muita firmeza. Fui até ele e o arrastei pela mão até o
notebook.
— Vamos cantar o quê? Uma antigona.
— Sério? Eita, essa é velha mesmo... Não deve nem ter na playlist
do... olha só... tem!
Foi um sonho de verão...
Numa praia,
Eu e você...
Na areia
A onda do mar apagou...
A saudade incendeia
Meu coração.
Te amo.
Não me esqueça,
Na areia.
A saudade incendeia
Meu coração.
Te amo.
Não me esqueça,
O sonho não acabou...
Tão sozinho
Quando o inverno chegar...
— Promete?
— Eu pedi para papai que não contasse nada, pois não queria ser
tratada de forma diferente no curso. Eu queria mesmo ser uma de vocês.
— E espero que isso não mude, rapazes. Summer queria muito
participar do treinamento, e eu permiti. Falem alguma coisa, homens.
— Não, eu não. Já foi minha cota de músicas por hoje. Chame minha
filha.
Sentei-me perto dos meninos.
Minhas pernas tremiam, mas fui. Assim que pisei na cozinha, duas
mãos fortes me seguraram e me puxaram para o lado. Eu estava de frente
para Raul e Uriel.
— N-não.
Raul era muito intenso e, quando pensei que iria se aprofundar, ele
deu passagem para Uriel voltar a meus lábios. Ele era muito sedutor, assim
como seus beijos. Ouvi Raul sussurrar.
— A primeira música acabou.
— É?
— Eu tenho a impressão de que só pode ser isso para ele ser tão
certinho.
Me deu um último beijo fogoso que me acendeu inteira.
— Vou voltar para mesa. Não vá de imediato e saia pela porta dos
fundos.
— Garcia.
— Oi?
— Obrigada.
Meus lábios estavam inchados. Meu Deus, que loucura. Entrei e fui
até o banheiro do meu quarto. Passei água atrás do pescoço tentando refrescar
o calor que sentia. Eles estavam sugando toda minha sanidade com cada beijo
que me davam.
Encarei-me no espelho e não reconheci aquela mulher. Falei comigo
mesma:
— Vou deixar você com suas mensagens. Sei que quando começa a
conversar com Maisie, demora um tempão.
— Provavelmente. Obrigada, papai. Volto logo.
Ele saiu do meu quarto e olhei novamente o celular. Maisie ainda não
havia visualizado nada. Enviei mensagens fofas para minha mãe, que
respondeu quase imediatamente com uma dose ainda maior de fofura. Deixei
o aparelho em cima da mesinha ao lado da minha cama e peguei a máquina
fotográfica. Ao pousar a mão no trinco, o senti girar e a porta ser aberta. No
instante seguinte, Enrico surgiu à minha frente.
— Me beije.
Ele me beijou.
Ahhhh... Pronto!
Podia morrer.
Eu estava completa aquele dia.
Eu estava feliz!
Ele me encarou e vi a luxúria brilhar ali. E tinha certeza de que ele via
a mesma coisa em meus olhos.
— É.
— Isso vai complicar tudo, anjo.
— Vamos?
Não falei mais nada, apenas o beijei novamente, agora de forma doce
e calma. Ele saiu do quarto e eu voltei para a festa, que durou até a
madrugada.
Meu pai aparentemente não havia desconfiado de nada, e por vários
momentos eu consegui trocar pequenos carinhos com os rapazes. Uma mão
dada, um toque na coxa, um ombro com ombro. Eram pequenos gestos,
demonstrações sutis, mas que nos faziam sorrir. E quando a casa ficou vazia,
senti falta deles.
Imediatamente.
Banho no lago
Ele riu.
Ele gargalhou.
— Uma coisa é certa: ela puxou muito de você. — Silva também ria.
— Bem, vou andando. Tchau, gente.
— Então devia fazer mais esses encontros. Não esperar apenas por
Natais. Poderia fazer sempre no final de cada curso, como uma despedida
para os rapazes que estiverem concluindo. Seria legal, o que acha?
— Hum, não é uma má ideia.
— Hum... Alô... Também. Sim. Não sei se posso hoje... Não é por
isso... Hoje é Natal e eu não queria deixar minha filha sozinha novamente...
Quase joguei meu iogurte no chão e acenei para ele como uma louca
desvairada.
— Ela quer sair contigo? Ela quer? Hoje?
— Sim, poderei passar a noite aí, mas tenho que estar de volta às
cinco. Amanhã recomeçamos os treinos. Tá ótimo. Chego aí lá pelas nove.
Até à noite. Tchau.
Chutei uma pedra e por muito pouco eu não fui ao chão com o
tropeção que levei, pois patinei no cascalho por alguns segundos. Ai que
vergonha. Ai que vergonha. Isso que dá não olhar por onde anda e ficar
cobiçando os maravilhosos corpos alheios. Foquei na estrada à frente e
continuei minha trajetória.
Era Ítalo.
Quanto mais avançava, mais seu corpo ficava à mostra. Quando
estava próximo o suficiente para que a visão de seus pelos pubianos se
prenunciasse entre aquele “V” deliciosamente delimitado, logo abaixo de
tantos gominhos perfeitamente moldados, percebi que ele não estava usando
nada por baixo. E a minha certeza foi confirmada por suas palavras:
Abri minha boca surpresa e o calor subiu rápido para o meu rosto. Eu
me virei de solavanco e ainda cobri o rosto. Ah, como eu queria conferir se o
“documento” acompanhava toda aquela perfeição.
Ítalo era lindo, sabia disso e abusava dessa vantagem.
— Vai sonhando...
— Desisti do banho...
— Não desista, moranguinho. Por favor, nos dê de presente a visão
desse seu corpo lindo em um biquíni, que espero que seja tão minúsculo
quanto suas calcinhas.
— Acha mesmo que seu cheiro de fêmea não vai atrair outros seis
machos em questão de segundos? Não passou por nenhum dos rapazes
enquanto vinha para cá?
— Passei e...
Nos olhamos.
Puta merda.
Maisie: Você quer dizer: uma mulher e sete homens? Quer dizer que
se fosse um homem com sete mulheres tudo bem? Isso não existe, amiga. Os
tempos são outros.
Maisie: A vida é sua e você pode fazer dela o que desejar. Se todos os
envolvidos sabem e concordam com o que vão fazer, se for bom para você, se
isso a fizer feliz e você conseguir se divertir com tudo que acontecer, deixe
que o resto do mundo te julgue. Nossa vida é curta demais curta para nos
prendermos a padrões e tabus.
Maisie: Vou ficar torcendo sim. Que alguém te coma hoje, amiga. Ou
melhor ainda... “alguéns”.
— Eu adoraria.
— Quer ajuda com a cerveja?
Ele carregou seis latinhas, Garcia pegou a tábua de frios e eu, uma
taça para servir Uriel.
Ítalo me interrompeu:
— Querem começar?
— Bella, acho que você já percebeu que cada um dos presentes aqui
está a fim de ficar contigo.
— E vocês? Já perceberam que eu estou a fim de... vocês?
Garcia propôs:
Enrico reforçou:
— Só se você gostar da ideia, anjo.
Eu arfei de desejo.
Peguei meu celular, que ainda estava abandonado ali, e levei minha
taça até a mesa da cozinha.
Ele beijava meu pescoço, meus ombros, meus lábios, meu rosto.
Ansiava por tudo de mim.
— Muito. Muito.
— Eu também vou.
—Ahnn? O quê?
— Oi, anjo.
— Oi.
Eu sabia que com ele seria o momento mais difícil. Não me procurou
afoito como Raul. Fui eu quem caminhei até ele:
— Enrico, você tem certeza de que não vai se magoar com essa
história? Tudo o que você me disse naquela noite está me deixando...
— Tenho que...
— Obrigada.
— Muito desse plano tem dedo seu, não tem? — perguntei na hora
que a porta se fechou.
Ele segurou minha nuca com uma única mão e me puxou possessivo.
— Você tem noção de que quase fez nossos paus explodirem na porra
daquele lago, moranguinho?
— Por quê?
— Pingando...
— Como eu gosto.
Ele me beijou novamente, com fome. Batidas na porta nos fizeram
parar.
— Aceite, linda, por favor. Pode ter certeza de que todos nós só
queremos isso...
— Você também é.
— Hmmmm...
— Claro que não, guapa. Nosso desejo por você está nos unindo
ainda mais.
— Preto.
— Certo.
Sorri e o vi sair.
Ah, meu italiano sedutor entrou, lindo, com aqueles olhos negros
presos aos meus.
— Quero. Te desejo. Não sonho com mais nada desde o momento que
aquele bendito vento ergueu seu vestido.
Eu sorri.
— Eu...
Batidas na porta.
— Eu o quê, bella?
— Curiosidade.
— Shhhh...
— Que bom.
— Também...
— Sempre o homem dos planos... Mas não acha que isso é uma
loucura?
— Azul.
— Como você...?
— Vai se foder! Eu fiquei por último, devia ganhar pelo menos uns
dois minutos a mais.
— CINCO minutos, ou arrombo a porta.
Ele veio com sofreguidão e o choque nos fez desabar sobre a cama.
Eu ri alto e ele apenas procurou minha boca, colocando-se entre minhas
pernas. Desceu deslizando beijos pelo pescoço até meu busto e seus dedos
procuraram abrir minha camisa, mas eu o impedi, puxando-o novamente para
meu rosto.
— Não.
— Quero.
— Que pena.
— Por quê?
Ri vitoriosa.
Eu precisava respirar,
Estava a mil.
— Como assim?
— Aceita tudo, moranguinho? — Foi a vez de Ítalo falar. — Sexo
vaginal, anal, oral...
— O resto, tudo!
— Nossa, como vocês são diretos. Gente, não sei. Nunca fiz nada
muito fora do comum, então... me surpreendam. Se eu achar que gosto, na
hora a gente vê...
— Como assim nunca fez essas coisas, Summer? Você não é virgem,
né? — Pablo questionou.
— Teremos que ter muito cuidado com o seu pai, então vamos
precisar improvisar muito. Infelizmente — Raul lamentou. — O ideal seria
que todos conseguissem a mesma quantidade de tempo para ficar com você,
mas temos consciência que isso será praticamente impossível.
— E como saberemos qual será o dia de quem?
— Sim. Nós não vamos ter tanto tempo assim para desperdiçar uma
noite completamente livre...
— Uau. Não pensei que fôssemos... — Olhei para todos e sabia que
quem fosse sorteado estava pronto para ficar comigo por um longo tempo,
pois meu pai só voltaria ao nascer do dia.
— Aceito. Mas com uma condição. Adoro surpresas. Então não
vamos fazer o sorteio completo hoje. Mas quero saber na véspera quem será
o do dia seguinte. Então fazemos assim: hoje sorteamos o primeiro e o de
amanhã. E daí para frente, um nome para saber quem será o felizardo do dia
seguinte...
— Vocês terão que prometer não contar para os outros o que fizermos
entre nós. É algo íntimo, pessoal, que eu não quero que seja compartilhado
por todos.
Eles estavam sempre se olhando, como se pudessem conversar entre
si.
Garcia
Demorei um pouco até pronunciar para todos ouvirem:
— Garcia.
— Sim.
— Deus me livre ele sonhar que estou fazendo algo assim! Ele morre
de ciúmes de mim. Capaz de me matar e castrar todos vocês. — Eu ri ao ver
Adam levar as mãos para suas partes baixas. — É bom ter mesmo medo,
gatinho.
Raul se lembrou:
Todos beijaram meu rosto antes de deixar a casa. Fui até a varanda e
vi os carros se distanciando. Tinha a mão sobre o peito e sentia o nervosismo
no coração.
Eu iria mesmo fazer aquilo?
Garcia jogou o rosto para trás e ficou claro que não esperava me
encontrar vestida daquela forma. Passou a língua pelo lábio inferior como se
pudesse me saborear à distância.
— Venha aqui, tigresa.
Fui.
— Tigresa, sei que impôs tão poucas regras, talvez por ter pouca
experiência com outros caras... Eu não sei... Mas quero te pedir uma coisa
muito importante antes de começarmos.
— Tá bom.
— Tá bom.
— Tá bom?
Suas mãos imensas foram direto para as duas bandas de minha bunda
e começaram a me mover sobre seu pênis. Já as minhas seguravam seus
ombros fortes, para não me desequilibrar e cair.
— Continue rebolando em cima de mim, tigresa.
Ele voltou a massagear meus seios. Inclinou-se para frente e sua boca
tépida alcançou o cume do meu peito esquerdo. Sugou forte uma primeira
vez, causando dor, depois soltou e passou a língua sem pressa pelo mesmo
lugar, como se quisesse acalmar a ardência provocada pelo chupão. Depois
repetiu o mesmo processo no outro seio. E outra vez e outra vez, se
alternando entre eles. E a cada nova investida meu útero respondia e minha
vagina inchava mais.
— Me possua, Garcia.
— Calma, tigresa.
— Então tire-a.
Sentir a explosão que me tomou pouco depois foi uma das sensações
mais maravilhosas que pude sentir na minha vida, pois eu não precisei forçar
aquele prazer, ele veio forte e espontâneo. Devastando-me e amolecendo meu
corpo.
— Você tem muita experiência. — Ele apenas riu. — Será que vou
saber retribuir tanto prazer?
— Você está louca para enfiar meu cacete em sua boquinha, não está?
— Estou.
— Ah, você não tem noção de como estou louca para descobrir como
ele vai caber dentro de mim.
Ele riu aberto.
— Ah, Garcia. Desse jeito, você me faz desejar pular o oral e ir direto
para a foda.
— Não, não, por favor, não pule nenhuma etapa.
Rimos juntos.
Ele saiu de cima de mim e trocamos de lugar. Ele tirou a cueca antes
de se ajeitar embaixo de mim e seu membro ereto estava apontado para o
teto.
Era enorme, assim como o dono.
Mais uma vez segurei o pau e minhas mãos deslizavam da base até a
glande. Seu pré-sêmen brilhava na ponta da cabeça robusta, e eu aproveitava-
me dele para lambuzá-lo ainda mais. Debrucei-me sobre o órgão e expus
minha língua, encostando-a na ponta da cabeça do pau.
Ele estremeceu.
Tive que abrir muito a minha boca para acomodar aquela delícia
dentro dela. Fui ao meu limite e voltei, demorando-me e chupei com mais
devoção a ponta. Ele gemeu alto.
— Por favor.
— Hum...
Ela fez como eu pedi, ficando quase de joelhos. Abri um pouco mais
suas pernas e a senti tremer também.
— Relaxe, Summer.
Entrei mais um pouco. Ia com calma, sabia que era grande e grosso.
Fui me introduzindo naquela bocetinha apertada ao mesmo tempo que fui me
acabando no prazer que era estar dentro dela. Saía o suficiente para voltar a
entrar e ganhar mais espaço a cada avanço. Quando minhas bolas bateram em
suas coxas, aquilo me arrancou um gemido rouco e alto. Ela me acompanhou.
Sua maciez me envolvia completamente, quente e melada.
Ele me puxou pelo tronco e colou meu corpo ao dele, sem parar de se
enfiar dentro de mim. Segurou-me pelos seios e me comia com ainda mais
força. Ouvia o rosnar de prazer em meu ouvido e eu delirava a cada estocada.
Era demais para mim, que nunca havia saído do básico.
— Nunca?
Ele beijava onde conseguia. Sem parar. Sorrindo a cada novo beijo.
— Vou sofrer agora uma semana até ser minha vez novamente —
sorriu safado.
— Tá de brincadeira? — reagi à sua declaração. — Só faltam seis
dias de curso...
— Então... Fique sabendo que foi algo muito especial, tigresa. Mesmo
que esta tenha sido nossa única vez.
— Não quero parecer o cara que apenas fodeu a mocinha e saiu fora,
mas é exatamente isso que vai acontecer, querida.
Eu gargalhei.
— Para você.
— Para mim? — Ele estava surpreso.
— Verdade.
Fui para o meu quarto e vesti um shortinho de baby doll, por baixo da
camisola transparente. Passei pela cozinha e servi mais água para nós dois.
Limpei o sofá, agradecendo por ele ser de couro e não de tecido, pois
havíamos feito uma bagunça dos infernos ali. Garcia guardou a camisinha
cheia no bolso da bermuda, disse que iria se livrar no caminho para o
alojamento.
Sorrimos, acenei antes que ele se virasse para pegar o caminho para o
alojamento e entrei quando ele sumiu na curva.
Voltei para dentro, conferindo mais uma vez se a sala estava em
ordem, se a cozinha estava em ordem, se o lixo estava em ordem e se meu pai
não desconfiaria de nada.
Acordei às sete.
Excitada. Muito excitada. Minha pele recoberta pela memória do que
havia feito com Garcia. Imaginei como iria encará-lo logo mais. Mergulhei
meu rosto no travesseiro, suspirando, me lembrando de como ele havia sido
tão intenso e atencioso comigo.
— Ótimo.
Ele levantou-se, levou sua louça para pia e beijou minha cabeça antes
de ir para o seu quarto. Terminei de tomar meu café e também levei a louça
para a cozinha. Corri até meu banheiro e escovei os dentes.
Papai jogou as chaves do outro carro para mim e as peguei no ar. Fui
logo atrás dele e estacionamos um ao lado do outro. Segui seus passos de
perto e, quando chegamos ao pátio, os rapazes já estavam lá. Alguns se
alongando, outros fazendo exercícios leves, mas todos esperando.
— Bom dia, senhores. Vamos começar com um treino leve para
voltarmos do Natal com calma e não forçar nenhuma distensão muscular.
Como vocês sabem, tanto Carlos como Barbosa pediram para dar uma ênfase
especial aos treinos de direção. Vamos focar muito nessa habilidade nesses
últimos dias de curso.
— Bem lembrado. Aquilo foi foda demais. Mais de 170 mil pessoas...
Silva parou de falar ao notar o olhar furioso de meu pai.
—SIM, SENHOR!
Fiquei exultante. Adorava a pista de corrida, e quem sabe o que
poderia acontecer por lá...
— Como como vocês dominam muito bem o volante, mas ainda estão
tendo alguma deficiência no manejo das armas, os três vão passar o dia todo
no estande de tiro. Quero uma melhora significativa no desempenho de vocês
nessa área.
Droga! Eu tinha que tentar algo.
— Mas, Comandante...
— Acho que isso não vai acontecer, bella — Uriel concordou com
Ítalo.
— NÃO!
Adam respondeu depressa e bem mais alto que pretendia. Depois
prosseguiu, balbuciando:
— Perdi a fome.
— Desculpe, Summer.
— Obrigada, Adam.
Saí do refeitório e fui direto para o alojamento dos rapazes. Era a
primeira vez que entrava ali e percebi que ele era dividido em duas alas, com
letreiros nas portas: Equipe 1 e Equipe 2.
Entrei na da Equipe 2.
Eu jamais poderia com a potência que era Enrico. O homem era quase
tão grande quanto Garcia.
Mas bastou aquele contato suave para que ele parasse. Fui para sua
frente e minha mão encontrou o seu rosto.
— Eu queria pedir desculpa.
— Me perdoa?
— Claro... anjo.
— Eu aceitei. — Beijei-o novamente. — Aceitei o plano B, que vocês
imaginaram.
— Não faça isso, por favor! — Quase perdi a voz com a declaração
dele.
— Porque eu não te quero apenas por uma hora. Não quero que o que
tivermos seja corrido, apressado. Ah, Enrico... — Eu o beijei, devassa. —
Quero satisfazer nossos desejos por horas.
Ele gemeu no meio do nosso beijo. Estávamos tão aflitos por nos
provar e nos possuir que sentíamos o cheiro da nossa excitação no ar.
— Então saia logo daqui, anjo. Porque não está faltando nada para eu
te jogar na minha cama e te possuir.
Apenas assenti.
Saí de lá queimando. Parecia que estava com febre. Voltei para o
refeitório e ele estava vazio. Eu me servi novamente e comi. Imaginava como
seria aquela loucura a partir do dia seguinte. Será que eu conseguiria dar
conta de dois deles no mesmo dia? Eram homens vigorosos e aparentemente
nada pequenos.
— O quê?
— Erre. De propósito se for preciso, mas não acerte muito, anjo.
— Tá. Tá bom.
Ele esperou eu dar o primeiro tiro e, com a ajuda dele, acertei o alvo,
dentro do contorno da figura humana.
— Mas...
— Claro.
Ajeitei a arma e quando ia puxar o gatilho ouvi o fio de voz em meu
ouvido.
— Erre.
Ele ajeitou-se atrás de mim e, enquanto sua mão direita apoiava meus
punhos para que eu ajustasse a mira, seus dedos da mão esquerda abraçavam
meu corpo e faziam um carinho discreto na minha barriga. Ela estava gelada
e eu estava tão desconcentrada que acertei o alvo sem querer.
— Muito bem, Mitchell. Mas ainda tem que melhorar muito. Não sei
como acertou tantos adversários no paintball se erra tanto aqui. Deve ter sido
sorte de principiante.
Dessa vez eu fiquei irritada mesmo. Virei lentamente meu rosto para
ele com o intuito de fulminá-lo. Mas o safado apenas sorriu.
— Não me olhe assim, Mitchell. Não com uma arma em punho. Dá
medo. Mas não muito, com essa sua pontaria horrível. Vamos voltar às aulas.
Claro!
— Como assim?
— Entendido, senhor.
— Não sei quanto tempo consigo para vocês, mas vou ver se consigo
segurar os rapazes por umas duas horas.
— Valeu, cara.
— E tranque a porta, Adam. Vocês não vão querer nenhuma surpresa.
Ele deu um passo na minha direção, encarando minha boca, mas dei
um passo para trás, colando minhas costas ao balcão.
Ele estava mais perto. Eu estava fixa naqueles olhos verdes lindos.
— N-não.
— Minhas bolas quase explodiram quando imaginei que finalmente
eu ia poder te comer...
— Eu nem comecei.
Era divina.
Para que ela usava calcinha se elas eram tão pequenas que sumiam
naquela bunda fenomenal? Eu só conseguia ver um pequeno triângulo na
parte superior. Segurei as maçãs da bunda e apertei com força, abrindo-as
levemente, deixando-me ver o volume de sua boceta que melava o tecido que
se atritava ali.
Cerro o maxilar quando sinto meu mastro deslizar para dentro dela
com certa brutalidade. Me regozijo mais ao perceber que ela adora aquilo.
Estou perdendo todo o controle. Ela é perfeita. Perfeita. Vou até bem fundo,
sinto cada fodido espaço dentro dela, estrangulando meu pau. E a desgraçada
começa a rebolar na minha frente, fazendo o atrito entre nós aumentar.
Levo a cabeça para trás por um momento, deleitando-me com essa
sensação delirante. Eu estava me acabando de tesão. Volto a inclinar-me
sobre o corpo dela, unindo nosso suor, nossas peles e nossos muitos fluidos.
Estava alucinado, tendo meu peito colado em suas costas. Desci os lábios
sobre seu pescoço e mordi ali, mas depois me lembrei das malditas marcas.
Não podíamos deixar marcas um no outro.
Queria marcar muito aquele corpo clarinho. Como tatuagens, para que
ela se lembrasse de mim por um longo tempo.
Desisto de tentar controlar aquela atração. Dou outro tapa em seu
traseiro lindo e redondo e escuto um novo gemido. Retiro parte do meu ferro
para fora, o suficiente para poder me enfiar em seu interior novamente,
resvalando fora e voltando a enterrar fundo. Forte. Em golpes rápidos. Sinto
Summer estremecer colada em meu peito, cada estocada ficando mais e mais
gostosa.
Ela tenta comandar um ritmo para ajudar com o meu vaivém e isso só
amplia minha tentação, pois, ao fazer isso, ela recebe mais e mais do meu pau
dentro dela.
Dou outro tapa em sua bunda e a marca da minha mão fica ali,
vermelha sobre a pele.
— Ai...
Levo minha mão para a frente de seu corpo e meu dedo resvala em
seu centro nervoso. Começo uma fricção cadenciada em sua carne sensível e
ela já não controla a respiração nem os sons que solta. Não demora a se
derreter, me sentindo enterrado até a base dentro dela, apertando-me com
carinho e me fazendo ficar louco.
Sou atropelado pelo gozo mais foda que já tive na minha vida! Um
rolo compressor de tesão!
Abraço sua cintura com força enquanto tento fazer minha alma voltar
para o corpo. Beijo suas costas sem parar. Meu pau ainda está enterrado nela
e eu não quero sair dali.
Como eu conseguiria viver ao lado dela aquela semana sem poder
tocá-la? Eu não ia conseguir!
Eu o tratei pela forma carinhosa que ele usava para me chamar e que
me irritara tanto logo que nos conhecemos.
Aquilo me entristeceu:
— Mas não se esqueça que ainda estamos no seu dia... Não acha
melhor aproveitarmos ainda mais?
— O que quer dizer...?
— Mas eu...
Abaixei-me, peguei minha calcinha e a entreguei.
— Bem, essa você tem prova de que foi usada. Como você queria.
— Não.
— Mas está perto de conseguir assim mesmo.
Ele levou minha calcinha até o nariz e aspirou com força. Fiz uma
careta ao ver aquela demonstração. Por que homens gostavam de fazer isso?
— Não tenho nem ideia, mas acho que o treino já acabou há algum
tempo... Se eu não aparecer logo, o Enrico vai me fritar em óleo.
— E eu preciso ir logo para casa para não levantar suspeitas. Meu pai
já deve estar chegando.
— Adam!
— Eu sei. Prometo que não vai me escutar mais reclamar, mas não
posso prometer não lhe roubar um beijo quando menos esperar.
— Vamos, Adam.
— Vamos, gatinha.
— Eu era obrigada a avisar o Enrico que estava indo embora? Vou ser
castigada?
Ele gargalhou levando o rosto para trás e expondo o pomo de adão e
aquele queixo com a covinha. A beleza daquele homem ainda ia me matar.
Pablo
Mostrei a ele. Peguei o próximo e repeti o processo:
Uriel
— Putos fodidos — Ítalo reclamou.
— Que pena, Ítalo! Não vejo a hora de estar contigo...
Rimos juntos.
— Oi.
— Poderia, por favor, dizer aos rapazes que vou correr às cinco da
manhã?
Ele me encarou por um momento e assentiu malicioso, entendendo
imediatamente:
— Chegou, vida?
— Acabei de chegar.
— Eu acabei chegando um pouco mais cedo e me deu vontade de
fazer um jantarzinho gostoso para a minha filha. Pode colocar a comida que
você trouxe na geladeira, porque hoje o Comandante está operando as
panelas.
Que fofo!!!
— Mais ou menos.
— Claro, querida. Foi por isso que eu coloquei você para atirar o dia
todo hoje. Você nunca havia segurado uma arma antes. Pelo menos até onde
eu sei...
— Não mesmo, papai.
— Então como quer saber atirar como esses homens que já lidam com
armas profissionalmente há anos? Estranho seria se você acertasse de
primeira... Não viu a cara deles quando você deu aquele show no tatame?
Mas para isso você treina, e muito, desde pequenininha. Certo?
— Certo.
— Então, qual seria o resultado daquela luta se você tivesse a mesma
experiência de jiu-jitsu que tem de armas?
— Dois tiros.
— Que pena, raio de Sol. Mas eu mandei para o estande de tiro todos
os que não estavam desempenhando bem nessa área. Você mesma falou que
queria levar o curso a sério e pediu que eu não a tratasse com favoritismo,
certo?
— Combinado.
Summer: Não.
Adele: Sim. Mas acabei percebendo que ele não sabia, então
desconversei. Disse que era para espairecer, para se encontrar, para
descansar.
Adele: Mas ele sabe que você está com seu pai no Brasil, meu amor.
Summer: Poxa, mamãe...
Summer: Fazer o quê? Bem, pelo menos a senhora não disse quando
eu ia voltar, disse?
Adele: Não contei, eu juro.
Summer: Tudo bem, mamãe. A culpa foi minha, a senhora não tinha
como adivinhar... Desculpe se pareci ríspida nas mensagens.
Summer: Eu também.
Maisie: Ah, amiga, sempre falei que tinha que ter aproveitado mais
os paus do mundo. Os caras mais velhos são uma delícia.
Maisie: Summer, quer matar a amiga de curiosidade? Estou quase
pegando um voo para São Paulo.
Summer: Oi, sua louca. Estou aqui agora. Você está por aí?
Maisie: Espero que fazendo o que estou pensando que está fazendo.
Summer: Também.
Maisie: AAAAAAAHHHHHHHHH... ADORO!!!
Summer: Maisie?
Maisie: Pode ir, mas vou querer detalhes depois. Você omitiu todos
eles.
— Demorou, vida.
— Ai, tadinho.
Nós nos sentamos e começamos a comer.
Voltei para a cama abalada. Ele, mais do que todos, tinha o dom de
me fazer estremecer daquela forma profunda, com apenas um beijo inocente.
Era muita tentação, Senhor!
Era Pablo.
Eu não parava de admirar seu porte físico, enquanto ele dava passadas
firmes à minha frente. As pernas grossas no calção curto e folgado. A
camiseta clara, mostrava o caminho do suor descendo por suas costas e
deixando parte do trapézio e dos músculos dos braços à mostra. Ele diminuiu
o ritmo e fiz o mesmo.
Finalmente virou-se, prendendo meus olhos aos dele.
— Nunca.
— Veio correr hoje por nossa causa?
Eu beijei seu peito, livre de pelos e firme como uma rocha. Desci os
lábios por sua pele e encontrei a resistência da cueca. Ergui meus olhos e o vi
com os braços apoiados com firmeza na árvore atrás de mim. Tinha o olhar
concentrado em mim e aguardava meu próximo passo.
Determinada, puxei a boxer para baixo lentamente e expus o eixo, que
saltou à frente, rígido, quase atingindo meu rosto.
— Hermosa de mi corazón[5].
— Fale mais.
— O que é?
— É sua.
— Minha?
— Sim. Um presente meu. Preta. A cor que você escolheu naquele dia
no meu quarto. Mas só se você quiser.
— Vou na frente... Talvez seja melhor você sair pelo outro lado,
assim não levantamos suspeitas. O que acha?
Delícia demais.
Quando me ergui e senti o pé, percebi que devia ter torcido algo.
— Ai. Tá doendo muito, Rodrigues. Será que você pode chamar meu
pai?
— Eu aguento, Soares.
Falei com jeitinho, mas percebi que ele entendeu minha verdadeira
intenção.
Que vergonha!
— Acho que não, ou a dor seria muito pior. Nem está doendo tanto
quanto antes.
Entramos na enfermaria e ele me colocou em uma cadeira, ajoelhou-
se à minha frente e segurou meu rosto.
Minhas palavras não foram o suficiente. Ele foi até a mesa ao lado,
pegou gaze e álcool e avisou:
— Tem um arranhão no seu joelho. Vou limpar. Pode doer um
pouquinho.
— Foi uma torção leve. Vá para casa e não o force por dois dias. Vou
receitar um anti-inflamatório. Faça compressas com gelo.
— Meu pai vai ficar louco. E eu não quero passar as minhas férias
trancada em casa, de cama.
Será que podia chamá-los assim? Acho que só por aquele curto
período, protegida por aquele louco acordo, eu queria acreditar que sim.
Se eles imaginavam que estavam se aproveitando de mim? Bem, isso
era possível. Muito provável, na verdade, já que eles aceitaram muito
facilmente esse acordo e eram homens. Vários homens comendo a mesma
mulher. O que talvez eles não imaginassem é que eu também sentia que
estava me aproveitando muito deles.
— Oi?
Ele sorriu:
— Você vai para o mundo da Lua quando se coloca atrás dessa sua
máquina, menina.
— O que o senhor queria?
— Ah, eu estou ótima, papai. Não sinto mais nada mesmo. Olha só!
Mexi meu pé para todos os lados, mas não foi o suficiente.
Fui ao carro e peguei uma manta. Caminhei calmamente pela mata até
chegar a um ponto em que o horizonte se descortinava exibindo uma paleta
de tons laranja e púrpura inacreditáveis. Não era muito perto do lago, mas
havia tantos elementos lindos que resolvi me instalar ali. Estendi a manta,
armei o tripé de forma a colocar a câmera quase rente ao chão, deitei-me de
barriga para a manta e comecei a fotografar. Consegui um enquadramento
perfeito, equilibrando na imagem a clareira e o lago com o céu fulgurante.
Enrico e Garcia conversavam sobre algo sério, pois nenhum dos dois
sorria.
Seis?
Espere, onde está Uriel?
— Totalmente.
— Evidentemente.
— E resolveu aproveitar para espiar os rapazes nadando pelados?
— Claro.
— N-não preciso.
Bella mia.
Belissima.
Ela havia montado o tripé de forma a deixar a câmera quase roçando o
chão, o que permitia que ela permanecesse deitada sobre uma manta que
repousava sobre a relva macia, quase sensual. E eu me perguntava há quanto
tempo ela estava ali.
— Ah, Uriel...
Ela parou para poder aspirar o ar. Já estava sôfrega e eu nem havia
começado nada ainda.
— É mesmo... ahhh...
— Não sei.
— Descreva tudo...
Cheguei ao limite do meu comprimento e depois fui deslizando
lentamente para fora, quase a ponto de me desconectar daquele paraíso. E
voltei ansioso, mas devagar, para frente, para trás, para frente, para trás...
Deixei que ela desfrutasse de cada movimento, vagarosamente, sentindo meu
pau inchar ainda mais, dilatando seu canal com minha grossura.
— Raul também... tirou a cueca... como Adam....
Sorri enquanto não parava de resvalar para fora dela até a glande e
voltar a me enterrar até a base. Eu podia passar uma semana inteira comendo
aquela mulher daquele jeito moroso, com ela de quatro, empinada para mim.
A última visão que tive antes de Uriel começar a me comer com tanto
vigor foi Garcia livrando-se de toda a roupa para mergulhar, e Enrico o
seguiu, ainda de cueca. Antes disso, havia visto o quanto o pau de Raul era
grande quando ele tirou a cueca brincando e a jogou para o alto antes de se
perder na água também. Não queria nem pensar no que ia acontecer comigo
no dia dele.
— Nem eu...
— Deliciosa, Summer.
— Digo o mesmo.
— Claro, bella.
Ele foi comigo até o prédio da academia para não levantar nenhuma
suspeita e me acompanhou até o carro. Ele me prensou contra a parede do
prédio e me encheu de beijos antes de me deixar partir.
Cheguei em casa e meu pai não estava, mas havia um bilhete em cima
da mesa:
“Querida, vejo que anda se esforçando mais que deveria.
Descanse, por favor. Volto lá pelas onze da noite, não precisa me
esperar para jantar. Te amo mais que tudo, Lúcio.”
Sorri sozinha.
Assim que entrei no quarto, vi um vulto do lado de fora da janela e
gritei de susto.
Abri as duas folhas da janela e levei a mão ao coração, que ainda batia
acelerado. Ele segurou a outra mão e a beijou, apertando as sobrancelhas,
angustiado por ter me assustado.
— Claro que desculpo. O que faz aqui? Vai vir todas as noites agora?
— Posso?
— Vou adorar.
— Estamos quebrando todas as regras, sua danada. Mas não vim para
ganhar outro beijo de boa-noite, apesar de ainda desejar o beijo.
Raul
Mostrei para Enrico, e ele concordou com a cabeça. Escolhi o
segundo e o abri, o coração acelerando a cada dobra reveladora:
Ítalo
— Raul e Ítalo.
— Certo. Vou avisar os dois. Pode ser que a ordem dos dois tenha que
ser invertida, dependendo das circunstâncias. Está cada vez mais difícil
arranjar alguma brecha ao longo do dia. Tudo bem?
— E serei só sua.
Para piorar tudo, minha camisola ainda ficou presa e ela estava
erguida até a cintura, deixando toda minha retaguarda de fora. Eu devia ter
feito algo muito ruim na minha outra encarnação, para que meu traseiro
sempre acabasse dando um jeito de ficar exposto.
— Não devia ter descido de jeito nenhum. Que ideia louca foi essa,
garota?
Cafajeste.
Cafajeste lindo.
Ele correu o beijo pelo queixo e beijou a lateral do meu rosto antes de
voltar à minha boca. Sua mão desceu quase tímida por minha bunda e apertou
de leve ali. Dei um pequeno sorriso, que ele percebeu, e em resposta mordeu
de leve meu lábio inferior, afastando-se.
Ele também nunca prolongava os nossos beijos.
Cafajeste covarde.
Eu quero mais...
Muito mais...
— Não estou acostumado com isso. Nunca fiz isso, Summer — ele
falou sério e eu não sabia o que dizer. — Eu aceitei fazer parte do jogo por
você, mas eu preferiria não estar te dividindo com ninguém...
— Eu...
— Por favor, me deixe terminar. Por outro lado, gosto de saber que
faço parte de um momento em que você está vivendo algo novo. Na noite que
firmamos o acordo, você afirmou que nunca havia feito nada além do
básico... Bem... Gosto de saber que está tendo novas experiências, se
descobrindo. E que, como disse, eu faço parte disso...
— Eu sei. Obrigado.
Enrico
Como eu o desejava!
Olhares e Morangos
Maravilhosamente bem.
Estonteantemente bem.
Fodidamente bem.
— Sei que pode, querida. É que tenho uma nova missão para você.
— Tem?
— Sim. Sabe, observei você ontem, fotografando a tarde toda, e
pensei... Será que eu não poderia usar esse seu enorme talento para a
fotografia?
Ele queria ver as fotos que tirei ontem? Mas noventa por cento delas
eram os meus desejos, seminus...
Fodeu.
— Minhas fotos?
Ufa!
— Fique livre para soltar sua imaginação. Você sabe que eu adoro o
seu trabalho e eu não quero meras imagens de divulgação, mas algo mais
artístico, que traga um ar sofisticado para o site. Quanto aos alunos, pode
deixar que falo com eles. Você faria isso para o seu velho?
— Claro que sim, papai. Finalmente poderei colocar meu talento a seu
favor.
— Uma hora isso ia ter que acontecer. Suas fotografias sempre me
encheram de orgulho, você sabe...
— Papai!
— Legal.
— Hum. Tá bom.
Será que em suas casas, livre das ordens do meu pai, eles
continuavam a ser esses monstros de organização? Ri sozinha.
Continuei a passear pelo alojamento e passei os dedos por um dos
beliches. Apenas sete deles tinham travesseiros e cobertas. Peguei o
travesseiro mais perto de mim e, quando o levei ao rosto, reconheci o
perfume imediatamente.
Uriel.
Ah, aquele cheiro que despertou minha libido era de Uriel. Sem
dúvida nenhuma. Eu adorava aquela fragrância.
— Homem cheiroso.
Fui até o próximo beliche, sentei-me sobre a cama e fiz o mesmo. Era
de Adam. Coloquei o travesseiro de volta e tentei desamassar a fronha e
esticar novamente o lençol, mas não conseguia de forma alguma deixar tudo
tão perfeito como estava.
Pablo fez o mesmo que Adam e beijou meus lábios com delicadeza.
— Tudo bem.
Ele partiu também e foi uma tortura escutar a água dos chuveiros
caindo. Já ia saindo quando senti um grande vulto se aproximar.
— Como?
— Prontinho, anjo.
— Obrigada.
Fechei os olhos e fiz biquinho. Nem dei chance para ele se recusar a
me beijar dessa vez, abri apenas um dos olhos e o vi sorrir, mostrando todos
os dentes.
Eu estava inquieta. Queria falar com Ítalo, queria pedir para ele me
encontrar em casa assim que pudesse, mas como eu conseguiria dizer isso
para ele sem que Raul notasse? Embora tivesse ficado combinado que nesse
dia a ordem dos dois seria em função das oportunidades que aparecessem,
tecnicamente Raul era o próximo.
Se eu simplesmente levantasse da mesa e dissesse: ”Bom, pessoal vou
para casa descansar enquanto meu pai não está...”, seria quase certo que
Raul é quem iria para lá.
Mas eu tinha planejado algo para o safado do Ítalo que tinha que ser
executado lá em casa. Que droga.
Costa fazia todos rirem e a última coisa que alguém fazia era prestar
atenção em mim. Já estava ficando irritada.
Queria, mas como eu ia dizer a ele que queria avisar a outro que
queria transar? Logo ele?
— Eu dou um jeito...
Ao contrário de Enrico, Adam sussurrou nada delicado:
Cobri o rosto com uma das mãos para tentar disfarçar a vergonha e
peguei o prato sujo, afastando a cadeira e saindo da mesa.
— Já vou, rapazes. Continuem e divirtam-se.
Ouvi três batidas na porta e ergui a cabeça para ver pelo vidro,
imaginando que devia ser Raul.
Era Ítalo!
Sério?
— Você está me devendo um beijo — ela disse tão natural que meu
pau pulsou dentro da calça.
— Por quê?
— Todos os rapazes me beijaram no alojamento, menos você e o
Raul.
Enfiei uma das mãos por dentro de seu micro shortinho e a apalpei
com vontade, prendendo alguns dedos na fenda de sua bunda, e conduzi sua
outra mão até meu eixo, para que sentisse como eu estava duro por ela.
Summer simplesmente gemia a cada investida e, ao sentir seus dedos
fecharem-se sobre meu pau, enlouqueci. Eu a suspendi do chão e a levei até o
sofá atrás dela. Coloquei-a deitada ali e fui para cima daquela mulher
deliciosa, encaixando-me entre suas pernas.
— Mas... então...?
— Mas o castigo que o senhor vai receber não vai ser nada inocente...
Prensei meu pau contra sua boceta e suas pernas abriram-se mais. Eu
a desejava. Ah, como eu a desejava.
— Pelo que entendi, eu já paguei o beijo que devia...
— Não... tá doido?
Minha língua correu por uma costela e beijei seu umbigo, fazendo-a
sorrir.
— Eu não sabia que era você quem vinha, Ítalo — falou manhosa.
Dei uma mordidinha em sua boceta, por cima da renda branca do que
ela chamava de calcinha.
Quando ela voltou, eu não acreditei em meus olhos. Trazia uma tigela
de morangos e um spray de chantilly.
— Sempre achei que você adoraria me provar com morangos, por
isso...
Não a deixei continuar. Agarrei-a pelas coxas e pela cintura e a deitei
novamente no sofá.
Onde estava essa mulher esse tempo todo? Ela existia mesmo?
— Vou provar cada pedacinho dessa pele com morangos e chantilly,
Summer.
Ela abriu um grande sorriso e fui até ela, prensando-a sob meu corpo,
sentindo seu calor embaixo de mim. Eu a beijei muito antes de esticar a mão
e pegar a primeira fruta, levá-la até sua boca e vê-la morder de forma
apetitosa, deixando o vermelho vivo do morango desaparecer em sua boca e o
sumo escorrer no canto de seus lábios. Passei a língua por ele e suguei o
líquido delicioso. Mordi o resto do morango jogando o caule no chão. Provei
os lábios de Summer mais uma vez, com nossos gostos se misturando.
Puxei a calcinha um pouco, mas ela não desceu, pois Summer estava
aberta demais. Juntei suas pernas, fechando-as, trazendo seus pés até meu
peito e voltei para tirar a última peça que ainda cobria a minha deusa loira.
Fiz Summer apoiar uma perna de cada lado do meu corpo novamente,
deixando-a escancarada para mim.
Meu pau não tinha mais o que crescer, ele estava dolorido de tão
inchado, implorando liberdade para se afundar sem pudores naquela mulher.
Afastei-me, deixando-a relaxar sobre o estofado e minha boca se atirou
certeira entre suas pernas. Eu me deliciei com seu gosto, e Summer gritou ao
sentir meus dentes arranharem os lábios delicados de sua intimidade.
Nenhum morango na Terra era tão doce e gostoso quanto Summer. Ela sim
era perfeita.
Fiz uma leve pressão com a língua em sua entrada, depois escorreguei
livremente a minha língua por toda aquela extensão de prazer pulsante. Ela
jorrava fluidos e gemidos na mesma intensidade. Eu envolvi o clitóris com a
língua e a torturei mais um pouco.
— Por favor, eu quero você...
Tragava cada gota que havia escorrido por entre sua abertura,
provando-a profundamente e com intensidade, arrancando gritos torturantes e
súplicas para que eu a comesse logo, mas eu a queria ainda mais louca, eu a
queria...
— Um minuto!
— Mais ou menos.
— E isso quer dizer o quê?
— Com meu namorado... Uma vez comi algumas uvas sobre a barriga
dele, mas foi mais uma brincadeira do que algo sexual...
— É enrolado.
— É um ex-namorado então?
Eu vou socar tanto nela hoje que o Raul não vai conseguir nem
encostar nela mais tarde. Puta que pariu.
Minha mão correu entre nossos corpos e meus dedos invadiram sua
cueca. Eu podia sentir o caminho dos pelos e as veias pulsando em meus
dedos. Assim que eles se fecharam em volta do seu membro, Ítalo gemeu. O
pau ganhou vida e pulou na minha mão uma, duas, três vezes. Passei o dedo
por sua glande e senti o fluido sair pela cabeça. Queria aquele pau na minha
boca. Imediatamente.
— Vire-se. Minha vez de ficar por cima.
— Porra.
Assim como Ítalo fez comigo, eu queria fazer com ele. Peguei o
chantilly que ele havia deixado ao nosso lado, no sofá e quando ia começar
meu trabalho sobre o pau, ele falou, malandro:
— Se me melar com esse troço, vai ter que chupar até não sobrar uma
gota.
Ele arfou, rouco, e voltou a soltar a cabeça para trás. O jato cremoso
começou a pintar o membro que não parava de pulsar, excitado. Coloquei a
embalagem ao nosso lado novamente.
Ítalo não parou de gemer. Era interessante, pois ele era o primeiro a
demonstrar de forma tão audível o prazer que sentia.
Vi as embalagens de preservativos em cima da mesa de centro. Saí do
meio de suas pernas e fui pegar um preservativo. Tirei-o da embalagem e o
coloquei entre meus lábios.
— Puta que pariu, você vai fazer o que estou pensando que vai fazer?
— Ítalo perguntou, mas não respondi com palavras.
Mas Ítalo era um homem lindo e sabia o que queria ao foder uma
mulher. Era muito intenso, e eu me sentia tão excitada e dominada por ele
que não demorou para eu ser arrebatada por um novo orgasmo.
Gritei jogando o corpo para trás, mas Ítalo mexeu os quadris, sem
deixar os movimentos cessarem. Eu estava fora de mim, só me deixava guiar
por ele, que não parava de me comer, como um cão faminto, selvagem.
— Quê?
— Quer gozar na minha boceta ou na minha boca? — repeti.
— Perfeito.
— Ahhhhh...
Sorri.
— Fico feliz em saber.
Rimos juntos.
— Será que estamos falando dos mesmos morangos?
— Sei lá. Não consigo mais pensar em nada depois do que acabamos
de fazer.
Rimos ainda mais. Ergui meu corpo e saí de cima dele. Se aquele sofá
do meu pai falasse, eu estava muito fodida.
— Nunca. Tendo uma gostosa dessas à minha frente, acha mesmo que
vou fechar os olhos?
— Fecha, Ítalo.
— Não vou fechar. O que tem aí atrás das costas? Me mostra.
— É a intenção.
— O que foi?
— Ahhh.
— Deliciosa.
— Louco.
— Sim. Muito.
— Você acabou de me dar um presente. Nada mais justo que lhe dar
outro em troca. — Sorriu safado.
— Não te dei a calcinha para que me desse algo em troca.
Nós dois rimos e saí de cima do pilantra, que não parava de me tocar
e me beijar até o momento em que saiu da casa e me deixou solitária ali.
Fui arrumar a sala e limpar tudo. Depois voltei para organizar as fotos
e tive que recomeçar do zero, pois nem me lembrava mais o que eu estava
fazendo antes de ter sido atingida pelo tornado Ítalo.
Pare, Summer!
Concentração.
— Claro, papai.
Ai! Meu coração começou a sangrar e eu sentia a fenda por onde ele
vertia o sangue. Estava doendo muito mentir para ele. Achei melhor me calar
e fingir demência. Virei para o lado e dei alguns cliques aleatórios de mato
desfocado e sujo. Só queria escapar daquela conversa.
O campo de tiro foi um dos primeiros lugares em que estive e foi
onde Pablo tentou me ensinar a atirar, mas, quando chegamos lá, a área de
treinamento estava diferente.
— Sim, senhor!
Assim que meu pai deu o comando, Adam partiu. Logo que ele sumiu
atrás do primeiro obstáculo, eu segui meu parceiro.
Dei o último tiro e voltamos por fora da pista para o ponto inicial.
Barata apareceu trazendo os alvos e os entregou a Adam. Fez sinal e meu pai
deu a ordem para os próximos seguirem.
— Como fomos, Adam?
— Mas, papai...
— Nada de mas... Você pediu para fazer esse curso. Você pediu para
ser tratada como qualquer outro dos alunos daqui. O que você acha que eu
faria com o Garcia ou com o Rodrigues se um deles fizesse o que você fez?
No mínimo iam passar uma noite inteira dentro do lago. Isso se eu não os
expulsasse imediatamente do campo aos berros.
Permaneci estática, com os olhos arregalados.
— Pap...
— Que droga.
Ele passou por mim e foi para o quintal. Eu fiquei encarando as folhas
espalhadas em cima da mesa. De fato, eu tinha acertado todos os alvos, e
haviam sido bons tiros, olhando de uma forma mais calma e depois daquela
super bronca. Eu me levantei, segui os passos dele e o encontrei encarando a
mata.
— Eu sei.
Ele envolveu os braços por mim e apertou forte.
— Eu vou lá agora...
— Você pega amanhã...
— Certo.
— Ah, legal. Eles são muito bons mesmo. Fico feliz por eles.
— Sei que fica, sua doidinha. Agora vai de uma vez pegar seu celular,
antes que tenha um troço.
— Sim.
— Ah, você nem sonha o que eu gostaria de fazer com você dentro e
fora de um carro, coração.
— Sim.
— Ah, vamos logo então, porque eu não faço ideia do que você pode
fazer comigo dentro e fora de um carro.
Segurei sua mão e o puxei na direção do automóvel. Escutei ele rindo
atrás de mim. Entrei no banco do motorista e esperei que ele ajustasse o
banco e o cinto no lado do passageiro.
Estava nervosa?
Como?
Ela já havia se deitado com os meus outros amigos. Não deveria estar
para lá de acostumada a trepar com os caras?
— Certo.
Não havia muito para onde ir, o espaço na mata só cabia praticamente
o carro e não tinha acostamento. Era de fato apenas desligar o automóvel e
aproveitar.
— P-pode.
Soltei o cinto dela e me aproximei, sedento por tocar seus lábios com
os meus.
Mas apesar de ter adorado seu gosto, eu estava ali para foder. Foder
aquela mulher linda. Era meu único intuito, queria tê-la rebolando em cima
do meu pau.
Puxei mais seu rosto e absorvi tudo dela. Ela gemia entre os beijos e
meu membro pulsava a cada novo miado manhoso da garota. Desci minha
mão por seu pescoço e agarrei seu seio esquerdo, apertando-o por cima do
sutiã. Tinha que fazê-la minha o quanto antes. Antes de minhas bolas
explodirem.
Desci a outra mão por sua barriga delgada e continuei o percurso até
encontrar sua calça e abri o botão e o zíper.
Segurei sua mão direita e a levei até o meio das minhas pernas,
fazendo-a pressionar meu membro duro. Queria que ela sentisse o que a
esperava. Não podia evitar, meu volume crescia em sua mãozinha, rijo e
forte, pulsando e implorando liberdade.
— Você quer sentir meu pau dentro de você?
Foi quando eu percebi seu olhar preso em meu pênis. Eu tinha noção
do que se passava naquela cabecinha e ri sozinho.
— Assustada com o tamanho?
— Do jeito que estou louco por você, eu não sei se posso prometer
isso, não...
Eu tinha certeza de que quando ela se acostumasse com as minhas...
dimensões, era ela quem iria implorar para ser comida com força.
— Relaxa, coração. Você está tensa demais. Prometo que não vou te
machucar.
— Tá...
Virei meu corpo com Summer sobre mim, tirei meus calçados e com
dificuldade a roupa presa em meus pés. Saí do veículo levando Summer
conectada a mim e, do lado de fora, a posicionei sobre o capô do carro.
Puta merda!
Ai meu Deus!
Eu já havia gozado e eu acho que ele nem havia percebido, pois
parecia um animal no cio, mas era maravilhoso ser tomada por aquele macho
afoito. Assustei-me quando ele parou e retirou-se de mim e me tirou de cima
do carro.
Filho da puta!
Já ia abrir a boca para reclamar quando ele se movimentou mais, em
meus dois canais e me fez arfar sem fôlego. Seus carinhos eram torturantes e
deliciosos demais. Ele ia me matar, era certeza. E foi quando eu senti o
orgasmo de Raul através de estocadas cadenciadas e elétricas. Ele gemeu
forte e deixou-se levar pelo prazer.
Não ousei me mexer porque eu tinha medo de cair. Não sentia minhas
pernas e o filho da puta demorou a sair de mim, ainda entrando e saindo,
lentamente e me fazendo desejar que ele recomeçasse tudo novamente. Até
que saiu e eu continuei ali, largada, acabada e sem saber se ainda estava viva.
— Estou.
— Eu te machuquei?
— Isso eu estou. Muito, muito mesmo. Pegue. Nem lembro mais que
cor você escolheu. Ainda estou zonza com tudo o que aconteceu.
— O que é isso?
— Sim. Presente. Ah, é amarela. Acho que essa não é a cor que você
escolheu aquele dia...
— Não, foi branca, mas gosto muito de amarelo, é uma cor vibrante e
alegre, como tudo o que fizemos aqui. — Ele me beijou novamente. —
Nunca vou me esquecer de hoje, sabia?
— Por mais que eu adorasse, não posso, Raul. Falei para o meu pai
que ia só pegar o celular no escritório central. E já estou fora há meia hora.
Gargalhamos.
— Nem eu.
Quando entrei, não vi meu pai. Ele já devia ter ido para o quarto.
Depois do banho e de me jogar na cama, esperei as pedrinhas de
Enrico, mas elas não vieram.
— Dê-se por feliz de não ganhar nenhum castigo por ter chegado
atrasada e corra!
Estava me sentindo o máximo! Era muito bom ser mais rápida que
todos, comandar a fila e... Droga, os primeiros rapazes começaram a me
passar com menos de dez minutos de corrida... ou era eu que estava ficando
para trás?
Foi uma corrida de quase uma hora e, assim que cheguei ao pátio, me
joguei no chão, exausta. Mal havia conseguido beber um pouco mais de água
que o Uriel trouxe para mim quando meu pai já chegou todo autoritário,
mandando o grupo fazer formação e começarmos os apoios de frente.
Os burpees eram o pior! Aquilo não havia sido inventado por Deus,
não! A cada um que eu completava eu tinha certeza de que estava mais perto
da morte. Quando os agachamentos chegaram, eu já nem sentia mais meu
corpo e acho que só consegui pela inércia da repetição.
Acabamos e papai enfim se pronunciou:
— Nop!
— No carro, senhor.
— Vá pegar.
— S-sim, senhor.
— Não sei.
— Então. Claro que não vou fazer você executar o exercício. Por isso
pedi para pegar a máquina fotográfica, pois teria o que fazer enquanto eles
treinam. Rodrigues, repita o percurso mais uma vez. Você ainda foi muito
devagar e dessa vez esbarrou em dois cones.
— Sim, senhor.
Meu pai não estava mesmo animado aquele dia. Será que ele havia
descoberto algo? Meu Deus, será que ele ia me chamar para alguma conversa
séria logo mais e estava esperando o momento certo? Ai, meu coração. Eu
não podia me preocupar com algo tão impactante àquela hora da manhã. Eu
estava morta de fome e...
— Mitchell!
Eu me assustei tão feio que minha câmera só não voou para o chão
porque eu nunca esquecia de prender muito bem a tira no meu pescoço.
— Sim, Comandante.
Ele sabia. Papai sabia de tudo e eu estava muito ferrada.
— Eu não consigo parar de pensar que isso é a única coisa que ele
pode ter para falar comigo, Ítalo.
— Vá conversar em paz, tigresa. Se for isso e ele der uma bronca em
você, venha nos chamar que conversamos com o Comandante.
— Aí vocês morrem todos juntos comigo, né, Garcia? Não estou tão
louca ainda. Vou logo lá descobrir o que é.
— E não esqueça de nos contar depois o que foi — Adam pediu.
— Sim. Você insistiu tanto que falei com ela... — ele respirou pesado
e continuou. — Falei com a minha namorada e ela vai jantar conosco lá em
casa hoje.
— Papai, eu não sou mais uma criança. Um dia o senhor vai aceitar
essa dura realidade, não é?
— Acho que vamos pedir algo, Summer. É mais fácil, rápido. Vou
buscá-la depois do treino da tarde. Não sei mesmo o que deve esperar, vida.
Só vamos jantar e depois vou deixá-la em casa.
— Ela mora em São Paulo?
— Sim.
— Então vou para casa! Quero fazer pelo menos alguma coisa para
servir para ela.
— Como assim vai para casa, menina?
— Alô?
— Oi, Summer.
— Tra-Travis?
Puta merda!
O que eu deveria responder? O que eu poderia responder?
— Travis... querido... não responda nada ainda... Como foi seu Natal?
— Péssimo. Longe de ti. E vejo que a virada do ano será tão ruim
quanto.
— Pare, Travis. Pare, por favor. Não vê que me fere? Que já tivemos
essa conversa? Eu precisei desse tempo justamente porque não estou
aguentando a pressão. Será que você não entende?
— Mas, Summer...
— Travis, eu me inscrevi para trabalhar na National Geographic. —
Pronto, contei. — Será que consegue entender agora meu desespero? E se eu
for aceita? E se eu for trabalhar do outro lado do planeta? Como vai ser a
nossa vida? Você vai aguentar me ver partindo e voltando o tempo todo,
passando semanas ou meses longe, sem nos vermos? Ou vai largar tudo para
viver dentro do mato ou cobrindo alguma reportagem de guerra comigo?
— Estou, Summer.
— Tchau, Travis.
— Tchau, Summer.
Desliguei.
— Puta que pariu, o que foi isso?
— Nada...
— Eu sei que aconteceu algo, Summer.
— Estou bem.
Ele veio até onde eu estava e me beijou a cabeça. Olhou a tela do
computador e acompanhou comigo toda a sequência de fotos que eu havia
escolhido. Ele riu quando chegou ao fim.
— Está uma belezura, raio de Sol. Você é muito boa com esse
negócio de mexer em computador. Vou tomar um banho e vou pegar minha
namorada em casa. E me encarrego de trazer o nosso jantar.
Sozinho.
Enruguei a testa, intrigada, e ele começou, encabulado:
Lília?
Era por isso que papai ficava tão temeroso quando eu perguntava
sobre a namorada! O grande Comandante estava ali ao lado, tenso,
angustiado, sem saber o que dizer. Ele tentou esboçar uma explicação.
— Minha filha me desculpe... Eu devia ter contado antes, mas...
— Como acha que conquistei esse gostoso? Quero dizer... seu pai...
Falei com todo respeito, Summer!
— Pode falar o quanto quiser que meu pai é lindo, porque ele é
mesmo.
— Modos, Summer. Modos.
— É sim. E dessa vez quem chegar atrasado vai ter que pagar castigo
mesmo!
— Como?
— E se seu pai...
— Ele só vai voltar amanhã de manhã. Vai passar a noite na casa da
namorada.
Saí da frente da janela e fiz sinal com a mão, dando total liberdade
para ele entrar. Enrico sorriu, pulou o parapeito e ficamos muito próximos.
Eu ainda segurando meu lençol e ele sem saber o que fazer com as mãos.
Nervoso.
Será que ele era mais inexperiente que seus amigos? Logo ele, aquele
cara todo lindo e grandão...
Tatuagens e Cheesecake
— Por que está segurando esse lençol como se fosse sua vida? —
perguntou rindo.
— Por causa disso...
— Claro.
— Você... — Ele segurava meu rosto com as duas mãos sem desviar
nosso olhar. — Como vou perguntar isso, Jesus?
— Perguntando.
— Você não está cansada... pera, não era isso que eu queria dizer...
dolorida... por ter... transado com tantos caras?
Ao terminar de falar eu abri sua calça e puxei sua ereção para fora.
Envolvi meus dedos por aquela grossura e lambi o queixo de Enrico. Ele
sugou minha língua antes de me afastar e seu pau pulsou ainda mais em
minha palma. Ambos já gemíamos, enlouquecidos pela luxúria que nos
consumia e cegava.
Ah! Se eu já estava delirando com aquele dedo, como seria com o seu
pau... mergulhado no meu interior melado, apertado e quente? Eu não
aguentava mais. Eu precisava de Enrico agora mesmo.
Ele não fazia com força. Não fazia com pressa. Ele parecia querer me
conhecer, apreciar, com carinho, ahhh... eu era uma iguaria a ser degustada
daquela forma... lentamente... entrava até a base... eu gemia e ele saía...
morosamente... eu o puxava para um beijo... ele voltava... ahhh... podíamos
foder a noite toda daquela forma... que maravilha...
O que ele tá fazendo...
Seu corpo estava coberto por gotículas de suor, que ressaltavam suas
tatuagens. O peito largo e os braços fortes subiam e desciam com os
movimentos frenéticos que eu fazia. Nossa respiração parecia uma só, veias
saltavam em seu pescoço e em seus ombros, pela força que ele exercia.
Quando sua boca não estava colada em mim, estava entreaberta, mas
seus olhos não se fechavam, estavam sempre explorando meu corpo ou fixos
nos meus.
Era uma tentação!
Fui tomada completamente pelo êxtase e joguei meu corpo para trás,
mas ele me segurou e continuou metendo com rapidez. Os espasmos
percorreram meu corpo, deixando-me bêbada, inebriada, arrebatada por tanto
envolvimento. E senti o membro latejar dentro de mim. Ele me puxou,
abraçando-me, e ejaculou, potente, rosnando contra meu ombro, vibrando
embaixo de mim, apertando-me e colando-me ainda mais a ele.
Procurávamos o ar com dificuldade. Olhávamo-nos com carinho,
quase sem piscar. Passei as mãos pelos cabelos dele, e Enrico voltou a me
deitar, deslizando para fora de mim com delicadeza e cuidado, deitando-se ao
meu lado. Ele beijou meu rosto antes de beijar a minha boca. Deitamo-nos de
lado, encarando-nos.
— Como é?
— Foi confirmado. O Comandante anunciou hoje à tarde.
Como assim eles iam partir amanhã? Eu não os veria mais? Mas eu
própria partiria em alguns dias e não era para logo ali, eu iria para outro país.
Mas, mesmo assim, eu não conseguia deixar de ter o coração apertado,
esmagado por uma dor invisível, e...
Olhei para Enrico, que continuava passando os dedos por meu rosto e
pelos meus cabelos. Era por ele. Era por Enrico que eu sentia uma atração
incrível. Era ele que despertava em mim algo que não sentia há muito tempo.
Se é que já havia sentido. Mas havia os outros rapazes, e havia Travis e...
Eu estou tão confusa. Eles vão embora amanhã!
— Fico feliz que tenha vindo, que tenhamos ficado juntos antes de
partir. Que bom que tudo deu certo no final.
— Sim.
— Já volto.
Vesti meu roupão e saí para a cozinha. Peguei duas taças e a garrafa
de vinho que ainda estava pela metade na geladeira. Fui até o quarto e vi que
ele havia se ajeitado e jogado o lençol por cima de seus países baixos... Que
pena...
— O que é isso?
— Prove. Se gostar, fui eu que fiz, se não gostar, nego até a morte.
Ele riu mais e aceitou a colher com o doce que coloquei em sua boca.
Provei do mesmo doce e pedi uma das taças que descansava sobre a
mesinha ao lado da cama. Ele a entregou e eu tomei um gole.
— Então já começam a trabalhar depois da virada do ano?
— Sempre.
— Sabe que esse é um jogo que pode ser jogado por dois, não sabe,
anjo?
— Então vou aproveitar enquanto estou jogando.
Eu a puxei mais para cima de mim e a beijei com devoção. Não queria
que aquela noite acabasse nunca mais, queria meus lábios assim, colados aos
dela por muito tempo, por mais tempo do que iria durar aquele acordo...
— De quatro? Adoro.
Ela encheu as bochechas e expirou, nervosa.
— C-claro.
— Não. Nenhum...
Comigo.
Apenas comigo.
O que será que aquilo significava? Porra, meu pau dava sinais de vida
desde o momento que descobri a possibilidade de comer aquela bundinha
linda.
— Uma vez. Mas não foi nada prazeroso, por isso coloquei a regra.
Meu namorado não foi muito... atencioso, se é que me entende! Foi há muito
tempo...
— Ah! Então o que você quer é experimentar com outra pessoa?
— Isso.
— Isso.
Ela assentiu.
— Vamos conversar.
Sabia que uma garota daquelas não podia estar sozinha. Estava
aproveitando o tempo em que estavam separados para viver novas
experiências. Ela certamente voltaria para o namorado quando retornasse para
casa.
Droga!
— Quero.
— Como eu desejar?
Ri de sua resposta:
Virei-a para baixo de mim e soltei parte do meu peso sobre ela. Desci
beijos por sua pele, parei nos seios, unindo-os e sugando-os juntos, lambendo
e mordiscando os mamilos intumescidos e rosados. Prossegui aquele caminho
de desejo e só parei quando minha língua encontrou e se afundou na fenda
encharcada.
Ela rebolou na minha cara e meu pau reclamou novamente por eu
ainda não estar socado dentro dela. Remexeu os quadris e passou as mãos por
meus cabelos curtos, miando chorosa.
Parece que ela tenta se colar em mim, como uma das minhas
tatuagens.
— Vire-se, anjo.
Parei quando estava todo dentro dela, até o fundo. Que sensação
maravilhosa!
Ela negou.
— Mas gostou?
— Adorei.
— Ainda bem, né? Acho que agora vou ter que ir para o banho...
— Dormiu bem?
— Muito bem. Nem queria acordar...
Papai!
— Meu pai chegou, Enrico. Você tem que ir.
Pulamos da cama ao mesmo tempo. Ele foi vestindo a roupa de
qualquer jeito e eu corri para o banheiro, catando a minha e começando a me
vestir também. Quando retornei, peguei a calcinha que havia ficado no chão e
a enfiei no bolso da calça dele, antes que ele pulasse a janela. Eu o puxei pela
mão e nos beijamos uma última vez antes que ele sumisse pela mata em
direção ao seu alojamento.
— Combinado.
Servi a mesa e me sentei, já adiantando meu café.
Fiquei perdida nas lembranças dos carinhos de Enrico. Cada vez que
nos tocávamos, percebíamos o quanto estávamos atraídos um pelo outro e foi
maravilhoso descobrir isso na prática, pois Enrico o demonstrava a cada
toque, cada beijo, cada contato. Ele não era imediatista ou parecia apenas
desejar sexo, ele parecia querer...
— Menina, acorde.
— O quê?
— Hum... tudo bem. Apesar de ainda achar que você deveria voltar
comigo só amanhã. Vai perder a despedida dos rapazes.
— Que outro lugar, Seu Lúcio? Está louco? Vou só escovar os dentes
e já vamos.
— Então você resolveu participar do treino da manhã?
— Batalha de paintball.
— Que ótimo! Foi a única vez que eu me dei bem com as armas.
Achei tão divertido... E papai, por favor: não conte a ninguém que eu vou
embora no meio do dia, eu odeio me despedir, e eu me apeguei aos rapazes.
— Aaaahhh... Papai! Eles foram minha equipe por todos esses dias.
Acha mesmo que eu não ia criar vínculos com eles?
Ele analisou a minha resposta e o meu rosto.
— Obrigada.
Ao chegarmos ao campo, papai foi direto para seu escritório e eu fui
vestir meu uniforme. Vi alguns rapazes saírem do vestiário já prontos,
animados e sorridentes.
— Bom dia, Mitchell.
— Bom dia!
Estava difícil segurar as lágrimas, pois eu sabia que não ia mais vê-
los.
Ele deslizou o polegar por meu rosto. Neguei e percebi que os rapazes
já tinham saído, exceto Ítalo, que ainda estava por ali. Ao escutar a pergunta
do amigo, veio até nós.
— Só queria que soubesse que esses dias que passei aqui contigo
foram inesquecíveis, gatinha. Eu nunca ri tanto e nunca senti tanto tesão por
esperar a porra de uma mulher... peraí... Você não é porra... Você entendeu,
não entendeu?
Adam olhou para Ítalo e deu um tapinha no ombro dele antes de lhe
entregar minha balaclava e sair.
— Vamos.
— Você está muito distraída hoje, tigresa. Preste atenção onde pisa ou
vai torcer o pé novamente.
Olhei para os lados e percebi que Garcia e eu éramos os últimos da
fila.
— Queria que você soubesse que adorei tudo que fizemos. Você é
incrível.
Eu perguntei inocentemente:
— Mas pelo centro é quase um campo aberto... Quem for por ali não
vai ser um alvo fácil? Só se for para servir de isca...
— Exato — Enrico respondeu um tanto afobado.
— Ainda acho uma injustiça, mas vamos lá. Eu te protejo, Uriel. Não
se preocupe.
— Me beija?
— Oi, Pablo.
— Eu também, lindo.
— Que bom.
Ele puxou nossas máscaras e me beijou. Aceitei aquele carinho tão
gostoso e quente. Ele ajeitou nossas balaclavas e partiu novamente. Olhei
com cuidado para depois da árvore e atirei antes de avançar. Senti dois
solavancos em minha barriga e a dor me acertou. Fui ao chão, dobrando-me
sobre onde havia sido atingida. Doía muito. Fiquei deitada esperando a dor
passar e, quando consegui, ergui a arma primeiro e depois as duas mãos. Fui
caminhando pela lateral do caminho, seguindo em direção ao pátio.
— Eu também, coração.
Lá fora, olhei para os lados e imaginei que os rapazes tinham ido para
o alojamento. Fui até lá e entrei no quarto da Equipe 2. Percebi meus desejos
me olharem com curiosidade. Eu procurava apenas um deles, e ele não estava
ali. Caminhei em direção ao banheiro coletivo e entrei.
Enrico!
O homem que me vem roubando o sono e preenchendo meu coração.
— Até, anjo.
— Não estou.
A ele.
Mas eu não conseguiria. E não teria forças de pronunciar as palavras
necessárias. Seria fraca.
Carregaria aquela mágoa para sempre, mas pelo menos tive forças
para me distanciar. Não sabia como conseguiria fazer para continuar a viver
normalmente.
Tudo o que fiz quando entrei na casa de papai foi levar as malas para
o meu quarto e me jogar na cama.
Acordei com batidas na porta. O quarto estava escuro, mas alguma luz
vinda da casa o invadia e quebrava a escuridão, deixando-o na penumbra.
Levantei-me apressada e corri até a porta. Abri sem perguntar quem
estava do outro lado. Dei de cara com Lília, e ela sorriu, mas seu sorriso foi
esmorecendo aos poucos. Ela disse meio sem jeito:
— Bem, pode-se dizer que você não está tão linda quanto ontem. Seu
pai já voltou?
— Não, só amanhã pela manhã.
— Não.
— Ei, vamos entrar... — Deixei que ela me guiasse e nos sentamos no
sofá. — Quer me contar o que aconteceu?
— Ei, saiba que o seu pai não saberá de uma única palavra do que
conversarmos. Talvez eu não seja tão íntima de você como a minha irmã é,
mas sou sua amiga. Antes de ser a namorada do seu pai, eu sempre fui sua
amiga. E eu adoraria que você continuasse confiando em mim como sempre
fez.
— Obrigada, Lília, mas é porque é tão complicado e... pode ser que
você considere a situação toda um tanto depravada. Não sei o que você
pensaria de tudo...
— Ah, querida! Eu estou aqui para te ajudar, não para julgar. Mas só
conte se achar melhor mesmo. Jamais te forçaria a falar nada.
— Eu gostaria muito de ter alguém para desabafar, na verdade.
— E Lúcio...
— Não! Pelo amor de Deus, meu pai não pode saber de nada!
— Ei, calma. Não é nada disso, eu não vou contar nada. O que eu ia
perguntar era se Lúcio não desconfiou de nada.
— Só você pode avaliar como tudo isso a afetou, mas posso só dizer
algo?
Assenti.
— É... bem... Você não tem o contato deles? Se for o caso, seu pai
sabe onde eles trabalham. É amigo dos chefes deles.
— Acha mesmo que eu teria coragem de perguntar ao meu pai onde
eles trabalham? Nem morta. Meu pai é muito ciumento. A única coisa que ele
me pediu enquanto estive no campo foi para não me envolver com nenhum
dos rapazes. E papai é tão ciumento que nem o Travis ele aceitava na minha
vida.
— Mas e você?
— Cada vez mais eu acho que não tem mais volta. Principalmente
agora.
— Posso saber por que principalmente agora?
Nossa, como era fácil conversar com Lília! Ela arrancava as coisas de
mim com tanta facilidade.
— Eu não... não sei. Mas mesmo que sim, eu não posso, entende? Foi
um acordo entre eu e eles. Começamos essa “brincadeira” já sabendo que
tinha prazo de validade. Logo eu volto para a Califórnia, e então? Como fica
tudo?
— É, já vi. Mas me tire uma última dúvida. Esses homens não são
daqui de São Paulo?
— São.
— Lília. Você não acha mesmo estranho eu ter ficado com sete
homens?
— A vida é sua, Summer. Você acha estranho eu ficar com seu pai?
Temos mais de vinte anos de diferença de idade.
— Claro que não. Inclusive tenho uma amiga que só fica com caras
bem mais velhos.
— E eu já tive sua idade. Tudo bem que faz pouco tempo, mas sei
muito bem o que é querer aproveitar. Nunca namorei tantos caras, mas já
namorei uns três ao mesmo tempo. Agora é a minha vez de pedir, a sério:
Lúcio não pode saber disso de jeito nenhum. E, você, não fique com pulga
atrás da orelha, que eu não faço mais isso. Seu pai dá conta do serviço.
— Eu não precisava de detalhes. — Rimos juntas. — Lília, obrigada
por conversar comigo. Eu ainda não sei o que vou fazer, mas acalmou muito
o meu coração.
Ela foi até a mesa, pegou uma caneta e escreveu em uma folha de um
bloco, como se já conhecesse a casa muito bem. Estendeu o pedaço de papel
em minha direção e sorriu, dizendo:
— Esse é o meu telefone.
— De nada, querida.
Eles ou ele?
Lília sorriu e fiz meu pai me olhar por cima dos ombros, também
sorrindo.
— O que eu posso fazer se sou completamente apaixonado por você
desde o dia em que nasceu, vida? Você é minha alegria todos os dias e sabe
disso.
Enchi minha xícara com o café e senti Lília tocar minha mão e apenas
balbuciar:
— Obrigada.
Papai sorriu.
— Eu disse apenas que você teve que vir para São Paulo mais cedo,
por isso não pôde se despedir. Mas eles ficaram chateados. Deu para
perceber.
— Me arrependo agora de não ter ficado. Fiz de fato boas amizades
ali.
— Bem, mas não ficou e assim eu não precisei ficar vendo você de
abracinhos e beijinhos no rosto com aqueles marmanjos.
— Que é isso, Lúcio? Deixe Summer ter amigos, pelo amor de Deus!
— Lília protestou.
— Nada disso. Nada de minha filhinha se engraçando para marmanjos
não.
— Alô...
— Você sente alguma falta de mim? — A voz triste da minha amiga
do outro lado da linha me atingiu fundo.
— Maisie! É claro que sinto sua falta. O tempo todo, mas é que...
— Deveria mesmo.
— Estou me sentindo péssima.
— E não era para ser? Assim que eles subiram para o quarto,
recomeçamos de onde havíamos parado e ele me comeu ali mesmo, na sala,
por longas horas. Ah, foi demais!
— Estou feliz por você.
— Voltamos.
— Então continue a suruba por aí, ora!
— Eu já pensei nisso, mas ainda não tenho certeza. Para você ter uma
ideia, eu saí fugida, sem me despedir ou pegar o contato de ninguém. E na
verdade, não sei se quero continuar com todos.
— É que eu acho... Ainda não sei direito... Mas acho que adoraria
passar algum tempo a mais só com um deles!
— Hummm... vai ficar com o que fode melhor?
— Não sei. Acho que a química entre nós foi a melhor. E ele é tão...
carinhoso, cuidadoso, atencioso...
— É muito “oso” para um cara só. Então... Vai atrás só desse.
— Muito sério.
— Sei que vai. E quero saber mais detalhes dos encontros passados.
Ainda estou esperando.
— Ai, Sandrinha, nem sei se quero. Não fui muito feliz da última vez
que bebi muito.
— Então beba pouco, gata.
Ele desligou e voltou a nos olhar. Estávamos sérias, esperando que ele
acabasse a ligação.
— E é mesmo.
— Lynx Segurança.
— Hum, é aquela ali na Avenida Paes de Barros, na Mooca?
— Não. Mas já passei em frente. Só não sabia que era um lugar tão
bem frequentado, com um monte de homens lindos, Seu Lúcio.
Ele virou imediatamente o rosto para mim, mas perguntou para ela:
— Cada um deles tem o seu forte, querida. Por que você acha que o
Silva saiu vivo no final do último treino? Ele é o melhor atirador da Lynx.
— Que mulher de pouca fé. Olha só, parou um carrão lá. Deve ser
cliente.
— Eu falei para você que isso é perda de tempo. E mesmo que eles
estivessem lá, o que eu iria fazer?
— Entrar lá e dizer que ficou com saudades deles e quer marcar algo.
Simples.
— Eu já cansei de repetir que não quero que eles pensem que eu estou
atrás deles.
— E que devem custar uma fortuna. Não. Isso está fora de questão.
— Vamos ligar e perguntar quanto custa então.
— Você ligou!
— Claro. Foi um homem que atendeu. Será que era um dos seus
rapazes?
— Claro que não, sua louca! Eles são seguranças, não recepcionistas.
— Então vamos embora logo antes que alguém nos flagre aqui. É
muito suspeito o que estamos fazendo, sua doida.
— Ele quem?
— É.
— Enrico.
— Olha só, é a coisa mais simples do mundo. A gente espera ele sair,
não importa quanto vai demorar, e você fala com ele...
— Sandra, não! Você falou que achava que tinha um plano para que
eu me encontrasse com eles como se fosse por acaso. Vamos para casa, a
gente vê se isso é possível. Se não for, eu decido se deixo a minha vergonha
de lado e vou atrás deles com a cara e a coragem ou se desisto de vez de
voltar a vê-los.
Ela ficou visivelmente irritada:
— Ai, Sandra. Por favor, vamos ter cuidado para isso não ganhar
proporções grandes demais.
— Confie em mim, Summer. Eu nunca colocaria uma amiga minha
em saia justa. Você vai conseguir reencontrar seus gatos. Não. Se meu plano
der certo, seus gatos vão reencontrar você...
Como Sandra havia dito, Mayza era uma milionária entediada que
conhecia uma infinidade de pessoas, e suas festas eram enormes e muito
conhecidas. Todos faziam o possível para serem convidados.
Eu não podia acreditar que, no fim, aquele plano doido podia acabar
dando certo. Sandra, por outro lado, ficou tão empolgada que contratou
mesmo dois seguranças da Lynx.
O único problema era que tinha gente demais sabendo dessa história,
e eu não estava nada confortável com isso.
— Tomara mesmo!
— Eu tenho uma novidade. Vocês elogiaram tanto esses rapazes que
eu também contratei alguns seguranças da Lynx para “proteger” a festa.
— Nossa, Mayza. Nem sei o que falar. Ou como agradecer. Estou até
um tanto envergonhada.
— Ah, não brinca! Eu estou adorando essa caçada. Animou muito
minha festa. Veja, ali está um dos seguranças.
Ela riu
— Claro que não, querida. Isso aqui é só a recepção. Como estava
dizendo, temos festas distintas em dois salões da casa, na parte externa perto
da piscina e, se precisarem usar, os quartos no andar superior estão liberados.
Bem, não apenas os quartos, qualquer lugar que tenha porta. Fiquem à
vontade. Vou receber mais alguns amigos.
Ao dizer isso, virei meu copo e fiz uma careta descomunal com o
líquido que desceu queimando pela minha garganta. A doida beijou meu
rosto e disse:
A sala estava lotada. Não havia meio de passar por tanta gente. Como
alguém poderia conhecer tantas pessoas? Todos dançavam ao som do brega-
funk que soava nos alto-falantes da casa luxuosa.
Era um sinal.
Ele...
Espere.
Ele?
Só ele?
Só percebi que havia dito isso em voz alta — e bem alta — quando
alguns rostos se viraram na minha direção. Uma moça sorriu, outra arregalou
os olhos e um cara passou a língua sobre os lábios. Cobri o rosto tentando ser
discreta e me afastei dali. Fui até um dos bares espalhados em vários pontos
da enorme mansão e pedi:
Meu susto foi tão grande quanto a satisfação. Ítalo e Pablo caíram de
boca em mim. Cada um de um lado, sugando um mamilo. Quase gritei com a
sensação. Mas não tive tempo para me restabelecer. Uma terceira boca se
afundou nas carnes de minha bunda. Beijava e mordia com a mesma
intensidade. Senti dedos em meu rosto e ele foi levado para o lado. Fixei-me
nos olhos sóbrios de Enrico.
— Você será nossa hoje, anjo.
— Serei...?
Adam pegou uma camisinha entre as muitas que estavam sobre uma
mesa de canto e se posicionou atrás de mim. Eu não podia ver o que ele
estava aprontando, mas ele mantinha o mastro muito próximo à minha bunda.
Sem que eu esperasse, ele fez meu corpo ir à frente e tive que tirar as mãos
dos rapazes e me apoiar apenas em Ítalo para não cair. Minha boca ficou na
altura do membro dele, e o puxei, gulosa, introduzindo-o quase inteiro em
minha boca. Escutei Ítalo gemendo de prazer em uníssono com o urro de
regozijo de Adam quando se enterrou pela primeira vez dentro da minha
boceta.
Eu estava extasiada.
— Isso, Summer. Hoje vamos te fazer gozar tanto que você vai achar
que atravessou os portais do paraíso — ele advertiu, continuando a socar em
mim, até que parou e me largou.
Desci meus olhos até Enrico, que ergueu o rosto para mim.
— Não.
— Como assim, não? Claro que vai. Veja como você quer. Quer foder
com dois caras ao mesmo tempo... Está preparada e relaxada, é só socar...
Deixa, vai...
— Não, Adam. Aprenda que não é não... — gemi já cansada de tantos
movimentos. — Você não.
— Vou.
Sim, poderia.
Eu o segurei e comecei a masturbá-lo, levando-o até minha boca para
lambê-lo e chupá-lo sempre que tinha forças para fazê-lo.
— Saia, Enrico.
Nada podia me deixar mais acesa do que aquela declaração dita com
malícia safada em meu ouvido. Como se confessássemos segredos apenas
nossos. Era muito íntimo, muito quente, muito nosso.
— Estou?
— Muito.
Ele afundou-se em mim sem pena e sem esperar por Enrico, latejando
dentro da minha boceta, inteiro e duro. Minha vulva palpitava, apertada,
estrangulada pelos dois. Eles continuaram me comendo, cada vez mais
rápido.
O ar começou a me faltar:
Ele mergulhou mais uma vez dentro de mim, mas desta vez em minha
boceta. Ergueu minhas pernas, prendendo-as em seu tórax para conseguir ir
ainda mais fundo em mim. Nossos olhos não se desviavam e eram cúmplices
em uma conversa só nossa. Eu podia quase ler a paixão naqueles lindos olhos
verdes. Mas não tinha certeza do que via.
— Quero que goze primeiro, anjo.
Enrico soltou minhas pernas e veio para cima de mim, ainda com
nossos sexos unidos.
Me beijou de uma forma tão doce e carinhosa...
Ele sorriu e me beijou mais uma vez. Com a mesma devoção e amor.
— Eu também.
Nosso amasso não durou, pois os rapazes estavam no quarto. Saímos,
e fui de um em um beijando-os individualmente e demoradamente. Depois
fui para a cama.
Não havia lugar melhor para estar. Com Summer deitada à minha
frente.
Ítalo mantinha um olhar de admiração para ela também. Será que
nutria a mesma paixão que eu? Percebi que Pablo se afastou da cama quando
percebeu que ela adormecera. Eu continuei acarinhando meu anjo
adormecido e inocente que se surpreendia tanto a cada descoberta.
Ela fazia questão de criar esses momentos. Eu não a vi fazer isso com
nenhum dos rapazes. E aquele lance de dar o cuzinho só para mim, quase
explodiu minhas bolas. Porra de mulher linda. Eu estava quase duro
novamente. Podia foder com ela a noite toda. Mas acho que exageramos...
Melhor que ela descansasse mesmo.
— Sério que você vai procurar outras garotas para foder depois do
que fizemos aqui?
— Aposto que você vai ficar aqui com ela, não vai? Então ela vai
estar protegida. Não tem por que ficarmos todos...
Sorri.
— Saíram, Summer.
Sua voz a denunciou e pela primeira vez notei que ela havia bebido
muito.
Summer jogou a bolsa e o celular em cima do sofá e, em seguida,
pegou a roupa e partiu em direção ao banheiro. Fiz o mesmo e vesti a cueca e
o jeans esperando-a voltar. Peguei minha camisa do chão e a joguei no
mesmo sofá onde estavam suas coisas. Quando ela apareceu, estava com
lágrimas nos olhos e aquilo me preocupou.
— Como é, anjo?
— Pare de me chamar assim. Esses apelidinhos fofos foram só para
me seduzir e me levar para cama. Foder comigo.
— Summer, você não é nada disso... para mim. Para mim você não é
só sexo. E infelizmente foi você quem partiu sem se despedir, sem deixar
nenhum contato. Eu já estava ficando louco. Ontem eu até fui falar com o
Carlos para pedir o telefone do Comandante, mas ele não estava. Eu queria te
encontrar novamente antes de você partir, Summer. Eu tinha que te ver por
que eu acho que...
— Que o quê, Enrico? Que está apaixonado por mim? Você é louco
ou idiota? Que homem apaixonado assiste outro cara transar com a garota de
quem ele gosta? Quem dirá vários? Por que ficou? Por que não foi com seus
amigos?
— Porque eu me importo contigo...
Ela berrou algo para ele, que ainda tentava entender o que o havia
acertado. A acompanhante dele se afastou, tentando fugir da confusão. Sem
esperar Adam se recompor, Summer correu para a saída. Eu a perdi de vista
no próximo salão. Enquanto a procurava, vi que Resende estava por ali e
corri até ele.
— Enrico! Tudo bem, garoto? O Ítalo estava por aí também, mas acho
que foi embora.
— Beleza. Não quero saber dele. Você viu para onde a Mitchell foi?
— A Mitchell? Aqui? Nessa loucura?
— Sim.
— Valeu, cara.
Voltei correndo ao quarto, mas quando tentei abrir a porta, ela não
cedeu.
— Droga! Agora essa!
— Não!
Deslizei o dedo pela tela e a imagem de Summer apareceu. Ela
abraçada a outra garota de cabelos negros e olhos claros, como os de
Summer. As duas tinham os rotos colados e estavam felizes. Muito felizes.
Foi então que percebi que o aparelho exigia uma digital para ser
desbloqueado.
Desci as escadas ainda encarando o aparelho e fui para o meu carro
com esperança de que ela ligasse para recuperá-lo, mas cheguei em casa e
nada. Ou ela não se deu conta do esquecimento ou estava com tanta raiva que
decidiu dá-lo como perdido de uma vez.
Como Sandra não quis me dar as chaves do carro, pois eu ainda
estava meio alta do álcool, ela me ajudou a pegar um Uber. Ele me deixou em
frente do condomínio e fui caminhando para casa.
— Oi, gente.
Me sentia suja.
— Ele ficou e eu o tratei super mal por estar com raiva dos outros.
Mas ele ficou. Ficou comigo, ao meu lado.
Quando voltei, fui fazer o café e esperar que papai e Lília acordassem.
Ainda não sabia se ela dormia ali todos os dias ou apenas esporadicamente.
Fui ao quarto e troquei de roupa antes de voltar para a cozinha e começar a
comer sozinha.
— Já acordada, filha?
— Estou vendo. Vou esperar Lília acordar para tomar café com ela.
— Papai!
Ele voltou.
— O senhor me empresta seu celular um minuto?
— Cadê o seu?
— Obrigada, papai.
Ele foi para o quarto novamente. Passei o dedo pela tela e procurei
meu nome.
— Enrico?
— Acho melhor não, Enrico... Eu ainda estou muito irritada com tudo
o que aconteceu. E estou morrendo de vergonha pela maneira como eu tratei
você. Fiquei com raiva dos outros e descontei em você, que ficou ao meu
lado... Para falar a verdade, da maneira como estou me sentindo nesse
momento, eu acho que eu queria mesmo era esquecer toda essa história,
deixar isso para trás...
— Ei, ei, calma, Summer. Pensei em te levar para jantar. Apenas isso.
— Um jantar?
Mas Enrico ficou. Ele ficou. E se ele for de fato diferente dos outros?
Levei o aparelho de volta ao ouvido.
— Sim. Vamos.
— Sei.
— Ei! É apenas para isso mesmo.
Ri alto.
— Ah, sei muito bem quem são. Menina, você estava muito bem
protegida, viu? Os caras são muito bons.
— Bem, pelo menos parte do plano deu certo. Pena que descobrimos
que os infelizes eram uns cafajestes.
— Pois acho que vai ser a minha vez de dar uma de cupido para o seu
lado.
— Eu aceito. Aceito. Já disse que aceito?
Rimos juntas.
— Claro que tenho, papai, pelo amor de Deus... Não vim para cá para
ficar atrapalhando os encontros com a sua namorada.
— Tá bom, papai.
— Não precisa esperar por mim. Quando chegar, tranque tudo.
Quando ainda faltavam dez minutos para as oito horas, fui para a
frente do condomínio, pois ele não sabia que meu pai havia saído e
provavelmente ia evitar pedir que o porteiro me avisasse que havia chegado.
Assim que o carro parou, eu o reconheci e ele estava sorrindo.
Caminhei até o lado do passageiro e entrei.
— Já vai me entregar?
— Por que não entregaria? Eu não quero usar o celular como refém,
Summer. Gostaria que saísse comigo por vontade própria.
Eu abaixei o rosto para o telefone e estranhei o carro não estar se
movimentando. Voltei a encará-lo, e ele me olhava de uma forma muito
intensa.
— Perdão...
Uma tristeza invadiu sua voz, e eu fiquei em silêncio, mas ele voltou a
sorrir:
— Gosta de frutos do mar?
— Gosto.
— Ótimo.
Summer não fazia ideia de como era linda quando ficava encabulada.
Outro botão se soltou perto do umbigo. Era o tipo de vestido que você
consegue abrir ao meio com apenas um puxão!
— Eu... Enrico.
Ela pediu minha mão por cima da mesa e eu a cedi. Eu cederia a tudo
que aquela mulher me pedisse.
— Devia deixá-lo aberto. Assim, ele não tem como abrir de novo... —
sugeri.
— Você ia adorar isso, não ia?
— Claro que ia, mas é mais para você não ficar preocupada o tempo
todo em colocá-los no lugar.
— Ei, claro que continuaria. Só que com uma nova paixão. Talvez só
não saiba qual ainda.
— Não sei.
— Com ciúmes?
— Agora sim.
— Agora?
Achei melhor abrir meu coração e expor o que sentia. Eu sempre fui
assim, racional e lógico nas minhas decisões. Ela poderia continuar desejando
aquela loucura, mas eu não suportaria ver outro cara comendo a mulher que
eu queria apenas em meus braços, e não apenas para a cama, mas para meus
carinhos, minha atenção e...
Meu amor?
Será?
— Ei, você acha mesmo que eu vou querer foder com aqueles filhos
da puta novamente? Nem sonhando.
Ri satisfeito com a resposta. Por mais que ela não fosse mais querer
ficar comigo, pelo menos não ia mais querer ficar com aqueles três sacanas.
— Eu tenho que reconhecer que seu soco de direita é bem forte.
— Melhor.
Já havíamos acabado de jantar e o garçom trocava os pratos sujos
pelas taças de sobremesa.
— Sério?
Eu tinha que tentar. Não podia deixar aquela garota escapar tão fácil.
— Claro que sim. Vou adorar.
Fui para sua frente e ela segurou minhas mãos. A saia folgada
balançava com o vento que soprava ali fora e outro botão abaixo do umbigo
teimou em se soltar e eu fiz questão de prendê-lo.
— Eu vou jogar esse vestido fora quando chegar em casa.
— Não faça isso, Summer! Você ficou tão linda neste vestido e esses
botões, ah, eu os adoro na mesma proporção que os odeio, sabia? — Ela
gargalhou, e eu adorava aquele som. — Mas, voltando ao assunto, por que
quer me agradecer?
Pedi.
Implorei.
— Eu fico...
Ah, o que senti foi comparável ao melhor orgasmo que tive com
Summer. Eu a teria por mais uma semana. Eu a teria, e apenas para mim.
Nada de dividi-la com nenhum outro homem. Eu mostraria àquela mulher o
que era receber carinho e ser paparicada de todas as formas que ela merecia.
— Você não tem noção de como estou feliz, anjo.
— Vamos sim.
Quando nos afastamos, o vestido dela só não foi ao chão porque três
botões o salvaram da queda livre. Parte das coxas, a barriga e as curvas dos
seios de Summer ficaram completamente à mostra e eu precisei de uma força
de vontade descomunal para que minhas mãos não corressem a ajudar
aqueles últimos botões a se soltarem também.
— Puta que pariu — o gritinho dela me fez sorrir de leve.
— Estava nos planos, depois que você aceitou passar esta semana
comigo.
— Uau!
— Sim, vamos.
— Por quê?
— Não faça isso comigo, anjo. Puta que pariu, que maldade...
Ela parou com as pernas abertas, bem em cima do meu pau, que
inchava com o contato da mulher sobre ele. A saia subiu e deixou a liga, que
eu já havia visto, mais à mostra.
— Você sempre usa esses adereços sexy?
— Sim. Adoro.
— Tanto quanto suas calcinhas fio dental?
— Tanto quanto.
— Ah, veja o que faz comigo, sua doida.
Segurei sua bunda e a fiz se esfregar mais sobre meu pau, moendo-o
sôfrego sob a boceta da mulher. Ela segurou-se em meu pescoço e gemeu
baixinho, desfrutando do contato, fechando os olhos e me beijando em
seguida.
— Você ia mesmo pedir o telefone do meu pai para o seu chefe?
— Fui sim. Mas, como falei, o Carlos não estava. Quem estava lá era
o Barbosa. Como não sou tão próximo dele, eu ia voltar lá amanhã para falar
com o Carlos mesmo.
— E o que você teria dito quando o meu pai atendesse o telefone? Ia
simplesmente pedir meu número?
— Claro que não. Ia dizer: “Oi, seu Lúcio. Aqui é o Soares, tudo bem
com o senhor? Sabe o que é? Eu me apaixonei por Mitchell enquanto estava
no treinamento e gostaria de sua autorização para eu convidá-la para sair”.
— E se estiver?
— Não quero pensar nisso.
— Por que eu vou sofrer quando você for embora?
— Sim. Também.
É, eu também não quero imaginar como vai ser quando você for
embora, anjo.
— Então não vamos pensar sobre isso. Vamos apenas aproveitar essa
semana, tudo bem?
— Tchau, lindo.
Ela se inclinou sobre a janela e a beijei. Dei um sorriso aberto quando
ela se afastou.
— Quer olhar para o outro lado, por favor? —pedi. — Não vê que já
estou ajudando minha namorada?
Virei meu corpo, me colocando entre ela e o porteiro. Finalmente, eu
e Summer conseguimos nos entender com aquele pedaço de pano. Aos
poucos ela conseguia fechar os botões restantes, mas vários haviam voado
com o puxão do carro. Enquanto ela segurava o vestido na altura dos seios,
tirei minha própria camisa e entreguei a ela, que a colocou por cima do
vestido.
— Estou bem, Enrico, acho que as merdas dos botões estavam tão
folgados que o vestido só... foi. Me deixando nua em... ai, que vergonha,
meu Deus.
— Louco por você. — Olhei para trás e vi o porteiro ainda ali, parado.
— O que ainda está fazendo aqui, cara?
— Me desculpem, eu só queria mesmo saber se a senhorita está bem...
— Boa noite.
Ele é tão perfeito. Ou só está tentando ser para me levar para a cama
novamente?
Summer: Oi.
Enrico: Obrigado. Pena que não sei o que dizer de você. Quer me
dar uma dica de como é? Qual a cor dos seus cabelos?
Enrico: Tenho.
Enrico: Não.
Que porra era aquela?
Enrico: Parou por quê, anjo? Não vai continuar a tentar me seduzir?
Filho da puta!
Ele sabia que era eu!?
Summer: Eu confio.
Enrico: Confia?
Summer: Sim.
Enrico: Não diga isso. Por favor. Quero vê-la nele novamente.
Summer: Rsrsrsrs... Já falei que você é um safado hoje?
Acordei muito cedo, não eram nem quatro e meia da manhã, quando
escutei alguma coisa e me levantei atenta. Vesti o roupão e fui ver o que
estava acontecendo. Dei de cara com meu pai na cozinha.
Fui até meu pai e o abracei com força. Ele retribuiu o abraço com
carinho e senti um beijo em minha testa.
— Ah, filha, não fala assim que vou ficar com remorso de ter que
trabalhar.
— Não fique, papai. Sua vida não pode parar só porque eu apareci
assim sem avisar. Eu compreendo e vou ficar bem.
— Você não está tirando nada, raio de Sol. Você apenas acrescenta. E
o seu passeio, foi bom?
Pelo jeito, o senhor não parou para uma conversinha com o porteiro
da noite quando voltou para casa.
— Eu sei, papai.
— E não traga nenhum homem para casa...
— Papai!
— Não custa nada reforçar, certo?
Bati continência:
— Entendido, Comandante!
— Tá bom, papai.
Ela concordou com a cabeça e partiu para casa abraçada a uma grande
blusa de moletom que eu suspeitava ser de papai.
— Boa tarde.
— Não?
Virei Summer e mostrei a entrada da Casa das Rosas. Ela abriu um
bocão e me olhou sorrindo, mas não perdeu tempo e se dirigiu a um canteiro
de flores. Ela parecia uma criança se lambuzando com um monte de doces.
Depois de um longo tempo fotografando, ela virou-se de uma vez e me
perguntou:
Fomos até o café dentro do centro cultural e nos sentamos lado a lado.
— Não valeu, seu trapaceiro. — Ela ria. — Vamos tentar mais uma.
Fizemos a nova pose e fiz o mesmo, mas desta vez beijei seu pescoço
cheiroso.
Olhamos as selfies, mas eu nem notei como eu havia saído nas fotos.
Eu só conseguia olhar para a imagem dela ao meu lado.
Ela puxou minhas mãos e me fez abraçá-la com mais força, colando-
nos mais. Apoiei meu queixo em seu ombro e aquilo era bom demais.
Apreciar a noite caindo sobre as luzes da cidade que começavam a se
acender, com Summer em meus braços. Ela virou-se, colocando-se de frente
a mim e nos encaramos profundamente.
— Um beijo.
Passei minha língua em meus lábios e a beijei com calma. Provando
seu sabor inconfundível e delicioso.
— Saiba que é recíproco, então. Antes dessa viagem, minha vida era
uma rotina sem fim. Eu tinha certeza de que seria esposa de Travis... — Ela
parou de repente. — Desculpe. Eu não queria falar dele...
— Não tem problema, Summer. Eu sei que você tinha uma vida antes
de me conhecer. Não sou louco de te cobrar nada.
— É!
— Então tá bom, namorado.
— Vamos jantar? Não quero te levar muito tarde para casa, seu pai
pode não gostar.
— Não. Sei que você mesma pedirá para ir quando estiver pronta.
— Certo, namorado temporário.
Não gostava. Parecia que ela levava o que eu havia dito na brincadeira
e eu não era muito de brincar. Se ela não havia gostado de eu tê-la chamado
assim, deveria ter me dito logo, mas sempre que ela me chamava daquele
jeito... Não. Melhor parar logo antes que um dos dois se magoasse mais.
— Eu prometo não comentar mais que você é minha namorada, anjo.
— Ei... pronto, não chamo mais você assim. Me desculpe. Não vamos
terminar a noite chateados, por favor. — Ela puxou meu rosto e me beijou,
falando com os lábios colados aos meus. — Eu gosto quando me chama de
namorada.
Sorriu e se afastou.
— Só está dizendo isso porque me chateei.
— Não. Eu gosto mesmo. E sabe mais? Pena que sou sua namorada
apenas de uma semana.
Aquilo era verdade. Eu poderia repensar toda a minha vida para
mantê-la ao meu lado por muito mais tempo.
— Sim.
Havia uma profunda tristeza no olhar dela. Passou a mão pelo meu
rosto como havia feito em cima do mirante. Percorrendo-o da testa ao queixo.
Sentindo-o com a ponta dos dedos. E eu adorava aquele toque suave.
— Hoje não tinha como ficar sem roupa, está de jeans, Summer.
Parti triste. Não queria manter distância daquela menina doce. Mas
um passo de cada vez.
O dia seguinte seria mais um dia divertido com a minha Summer.
Minha?
Pelo menos durante poucos dias, acho que poderia dizer que era
minha.
Um dia Maravilhoso
Eu estava nervosa.
No dia anterior, Enrico havia me levado para conhecer mais alguns
lugares de São Paulo que me deixaram encantada.
A princípio, Enrico ficou arrasado, pois ele havia feito planos para
aquela manhã, mas o convenci que poderia acompanhá-lo até a Lynx e de lá
poderíamos ir ao passeio que ele havia programado. Eu só queria vê-lo sorrir
novamente, e ele estava bem triste.
— Não sei se é uma boa ideia.
— Por quê?
— Eu vou estar ao seu lado, não vou? Isso é tudo que importa!
Vesti uma calça jeans e a camisa mais bem comportada que encontrei
entre as minhas coisas. Foi um esforço consciente para deixar claro que eu
queria evitar qualquer tipo de tensão sexual em relação aos rapazes.
— Tudo.
Ele ligou o motor e partimos.
— Summer, entenda. Uma coisa é dizer isso entre a gente, ficar entre
nós... outra é expor esse... namoro. É tudo que mais quero, mas não sei você,
anjo. Você tem certeza... certeza de que quer fazer isso?
— Tenho. Claro que tenho, Enrico. Eu não sei por que sua dúvida, sua
confusão.
Ele não me esperou falar mais nada, me puxou e nos beijamos ali
mesmo, quase na porta da empresa. Retribuí cada avanço, cada mordida, cada
chupão delicioso.
— Prazer.
— Não sei nada. Deve ser para organizar as escalas para a retomada
do trabalho. Os rapazes da Tensão já estão por aí. O Raul já está na lida
substituindo o José desde o dia 2. O Alex deu folga a ele por uma semana.
— É, deve ser isso mesmo. E você, vai ficar esperando esse meu
amigo feioso até acabarmos a reunião? — ele perguntou diretamente para
mim enquanto segurava o ombro de Enrico.
— Bem, não sei de quem você está falando, já que vou esperar esse
lindão aqui. — Abracei a cintura de Enrico e ele sorriu me abraçando de
volta.
— Mitchell!
Enrico deu um sorriso quase tímido para mim. Acho que ele não
gostava muito de sorrir perto dos amigos. Tentava manter aquela pose durona
o tempo todo quando estava com eles.
— Sim — eu reforcei.
— Vamos ter que entrar agora, querida. Espero que não se incomode
em esperar seu namorado. Pode ser que demore.
— Tudo bem. Mas, Carlos, será que eu poderia fazer uma pergunta?
— Claro.
— Claro que é!
— Ele também o considera assim. Ele lhe estima muito, tenha certeza
disso.
— Moranguinho.
— Moranguinho um caralho. O que você quer?
— Não. O que passou, passou e eu não quero mais falar sobre isso. Eu
sou uma pessoa adulta, ninguém me obrigou a fazer nada que eu não
quisesse. O nosso acordo era claro, ninguém devia nada a ninguém e eu não
tenho o direito de cobrar nada de vocês, isso eu sei. Mas eu achei que, para
além do acordo, eu havia me tornada pelo menos uma amiga de vocês. Ou no
mínimo um ser humano que merecesse respeito. Mas a atitude de vocês três
naquela festa... Só por curiosidade: se o Enrico não tivesse ficado comigo,
vocês teriam me abandonado sozinha naquele quarto?
Eu juro que achava que já havia superado tudo, mas aquilo me tirou
do sério:
— Summer.
— Não. Não é, Ítalo. Ele falou apenas que vocês voltaram para a
festa, não acusou ninguém de ter ficado com nenhuma mulher.
Dei as costas a ele, e Ítalo segurou meus ombros, mas eu dei um passo
pra longe dele.
— Summer.
— Não me toque.
— Não vai ser assim. Entramos nessa sabendo os riscos. Ítalo, por
favor, volte para a sua reunião.
— Vou voltar mesmo. E, Summer, sinto muito. Sinto muito mesmo.
Eu não devia ter saído daquele quarto. Eu devia ter ficado ao seu lado. Só
saiba que me arrependo muito, muito mesmo. Você é uma mulher incrível e
desejo do fundo do meu coração que realize todos os seus sonhos.
Ele ainda me encarou por algum tempo. Tinha um olhar tão intenso,
tão profundo. Por fim, acenou com resignação e voltou para a sala de
reuniões.
A reunião ainda demorou mais algum tempo até os rapazes
começarem a sair. A grande maioria veio até mim e me abraçou novamente
antes de ir embora, se despedindo e me desejando boa viagem. Enrico estava
do outro lado da sala, conversando com Carlos e Garcia.
Pablo veio até mim desta vez, mas apenas estendeu a mão.
— Queria lhe desejar um bom retorno e... lhe pedir desculpas pelo
que aconteceu no sábado.
— Obrigada por ambos.
— Mereceu mesmo.
— Eu não devia ter feito o que fiz e a acredite, aprendi a lição. Nunca
mais farei algo parecido com mulher alguma.
— Vamos.
— Tchau, querida — Garcia me abraçou novamente. — Raul mandou
um beijão. Ele está em serviço.
— Deixo.
Enrico segurou minha mão e fomos para o carro.
A reunião havia tomado a manhã inteira, então fomos almoçar.
— Cansada?
— Um pouco.
— Mais um? Nossa. Imagino o que ainda vem por aí até domingo.
— Ah, ainda tenho mais alguns lugares bem legais para te mostrar
nesta cidade.
— Tem certeza de que pode ficar esse tempo todo longe do serviço?
— Claro que sim. Eu não ficarei um dia longe de você por causa de
trabalho, anjo. Não com você...
— Hum. Obrigada por querer passar esse tempo ao meu lado, Enrico.
Sabe... Não sei como te dizer, mas não queria terminar nosso dia sem te
contar algo.
— O que é, anjo?
— Disse que ele deveria ser como você, que ficou ao meu lado, e não
ter me abandonado naquele quarto. E que eu o perdoava, pois não quero mais
pensar naquilo. E que era louco por estar apaixonado por mim.
— Repita, Summer.
— Eu acho que...
— Obrigado, anjo.
Ele passou o polegar por meu rosto e me admirou.
— Vamos embora? Já está tarde. A não ser que ainda queira parar em
algum lugar para comer algo.
— Você se importa?
— Você programou isso, Summer? Vir para minha casa hoje. Vir toda
de vermelho?
— Não estou toda de vermelho... Minha calça é jeans.
Puxei-a, também sedento, para baixo da água que fluía sem parar.
Ela beijava e lambia meu peito, ao mesmo tempo que sua mão direita
acompanhava a água em nossos corpos e escorria por meu abdômen até
enlaçar meu pau duro. Ela o massageava e eu fazia miséria em sua boca,
provando tudo que ela era capaz de me dar.
Deslizei meus dedos por seu corpo acetinado e puxava-a para mim.
Ela começou a descer os beijos e eu já sabia o que aquela boca sedutora
procurava com avidez.
— Ainda não, anjo. Primeiro eu vou te comer, depois você pode me
comer como quiser.
— Nem sonhando.
Me desgrudei dela e fui procurar minha calça, que eu não sabia onde
ela havia jogado. Encontrei-a e peguei o preservativo. Cobri o membro,
voltando para a água e a visão de Summer molhando-se na ducha era de outro
mundo. Era um pedaço de mau caminho, aquela mulher. Summer passava as
mãos pelos cabelos, de costas para mim, aproveitando a água que caía tão
suave sobre sua pele.
— Quero.
Fundo.
Sem pena.
Foi quando senti Summer se ondular para mim. Ah, como eu adorava
sentir aquela mulher gozando para mim. Se entregando para mim.
Não a soltei até sentir seu corpo se acalmar.
— Dou.
Mergulhei novamente naquela gostosura e voltamos a nos devorar
enquanto eu impulsionava o quadril para frente e para trás em uma dança
erótica e sem pausas.
E não parávamos.
— Oi, vida.
— Papai, eu não estou bem. Acho que estou doente. O senhor poderia
vir para casa?
— O que você tem, Summer?
— Tá bom, papai.
Forcei?
Liguei a primeira vez aquele dia. Chamou algumas vezes e ela não
atendeu.
Desliguei e passei as mãos pelos cabelos. Estava nervoso.
Será que ela tinha ido embora sem se despedir como fez no campo de
treinamento?
Ela atendeu?
Finalmente atendeu?
Graças a Deus, ela atendeu!
— Alô, Summer?
— Sei quem você é, Soares. Por que está ligando para a minha filha?
E por que seu nome está identificado como “Anjo”?
— Senhor...
— Sabemos disso, senhor. Por favor, senhor. Summer está bem? Ela
não me atendeu ontem, estou preocupado.
— Ela esteve muito doente. Ontem à noite foi para o hospital com
uma febre muito alta, mas agora está descansando.
— Não. Minha filha está fraca, e a última coisa que precisa agora é
de agitação. Se você se preocupa mesmo com ela, finja que ela já voltou para
a Califórnia e deixe-a descansar.
Desligou?
Ele desligou?
Aconteceu o esperado:
— Não sou suposto, não, dona, eu sou o namorado dela. Meu nome é
Enrico Soares.
— Oi, tudo bem? Meu nome é Lília. Sou namorada do Lúcio. Pode
me seguir com o carro. Deixe o porteiro comigo.
Me colocou para dentro e fui seguindo seus passos delicados até ela
parar em frente a uma casa onde o Troller do Comandante estava
estacionado. Parei o carro e fui até ela.
— Não ligue para o mau humor do Lúcio. Ele só é preocupado
demais com a filha.
— Ela está dormindo, mas pode entrar. Deixe a porta aberta, só para
deixar Lúcio mais calmo — Lília falou do meu lado.
Essa mulher é espetacular!
— De nada, querido.
Tão linda.
— Papai.
— O Soares já me contou que estão namorando, mocinha. Depois que
melhorar, os dois terão muito o que se explicar comigo.
— Tá bom, papai.
— Obrigada.
Seus olhos se fecharam e ela não demorou a dormir novamente.
Percebi outro vulto e olhei na direção da porta. Meu pai estava ali,
parado encarando-nos. Ele tinha cara de poucos amigos, mas não desviava os
olhos. Voltei a olhar para Enrico e o toquei, fazendo-o ficar alerta.
— Oi, anjo. Está tudo bem?
Enrico e eu nos viramos para o meu pai, que abandonou seu posto na
porta do quarto e saiu.
— Ele estava ali há muito tempo? — Enrico perguntou.
— Desculpe novamente.
Não o beijei para não o contaminar. Não sabia se o que eu tinha era
contagioso.
— Sim, papai.
Olhei de volta para Enrico e ele piscou o olho sorrindo para mim.
— Você ficou com a Summer mesmo sabendo que ela era minha
filha.
— Sei muito bem, papai. Mas me deixe ser feliz só esses últimos dias.
Obrigada por ter deixado o Enrico entrar. Obrigada. Ele cuida de mim, me
respeita, me faz rir, ama e apoia minha profissão...
— Fala como uma mulher apaixonada — meu pai reconheceu.
Olhei para Enrico e segurei sua mão antes de sorrir para ele.
— E estou.
— Eu também estou, Comandante.
Meu pai sorriu com certo orgulho. Abaixou os olhos para seu prato e
continuou comendo. Eu e Enrico fizemos o mesmo, mas a próxima frase fez
ambos se engasgarem.
— Mas eu não quero saber de você comendo minha filha, ouviu bem,
Soares?
— O que foi, filha? Só estou tendo uma conversa franca com meu
genro de três dias. Ela está fraquinha e tem que se recuperar. Nem cogite
querer fazer coisas com a minha filha naquela cama.
— Eu quero morrer! — Cobri o rosto com as duas mãos e escutei o
riso vindo do meu lado.
— Sim senhor, Lúcio. Pode deixar. Prometo não fazer coisas com sua
filha naquela cama. E concordo com o senhor. Ambos queremos ver essa
menina bem, logo.
— Muito bem. Vamos, vida. Termine toda sua comida ou
infelizmente vou ter que entrar em contato com Adele e avisar a ela o que
você vem aprontando por aqui.
— Perfeito.
Enrico sentou-se ao meu lado e passou logo o braço pelo meu ombro,
entregando-me a bacia com as pipocas. Encostei a cabeça em seu peito e
apertei o botão para iniciar o filme. Escutei pelo menos duas vezes Lília dizer
baixinho para meu pai: “O filme é na televisão, Lúcio. Preste atenção,
homem”. Tinha certeza de que nesses momentos ele devia estar com os olhos
grudados em nós dois. Apesar de haver uma certa tensão no ar, foi muito
divertido aquele programa, a não ser quando Enrico percebeu minha febre
querer voltar.
— Você vai passar a noite aqui, não vai? — perguntei e ele arregalou
os olhos, surpreso com o pedido.
— E você sabe me dizer se seu pai guarda armas dentro de casa? Quer
me ver morto?
Eu gargalhei alto e aquilo chamou a atenção de seu Lúcio.
— Desde que deixem a porta aberta a noite toda, você pode ficar de
vigília ao lado de Summer, caso a febre volte, certo, Enrico?
— Você sabe que paz não é bem o que eu vou ter sabendo que tem
um homem dormindo no quarto da minha filha, não é, Lília?
— Bem. Eu confio nos dois. Sei que não vão aprontar nada, ainda
mais sabendo que o Enrico quer que a Summer se recupere logo. Não é
mesmo, rapaz?
— Com certeza, senhora.
— Nada de senhora, por favor. E para você ficar bem mais tranquilo,
eu passo a noite com você, amor. O que acha?
— Prometo, papai.
Tive que esperar ele medir minha temperatura e conferir que a febre
havia abrandado com o banho. Me beijou novamente e saiu.
— Não fechem a porta...
— Vai ficar aberta. Prometemos — respondi.
— Como?
— Cale a boca, Lúcio. Por favor! — Lília reclamou, puxando meu pai
para o outro lado do saguão do aeroporto.
Fez uma chamada de vídeo para meu pai e me colocou para falar com
o rabugento. Assim, ele teria certeza de que a filhinha estava bem. Preparou
nosso café da manhã com o que encontrou na cozinha e fez nosso almoço,
também improvisado.
— Que outro tipo de besteira você pensou quando não conseguiu falar
comigo? — perguntei.
— Quer mesmo saber, anjo?
— Pensei: será que ela voltou para os Estados Unidos sem se despedir
de mim?
— Não, não pensei bem assim, mas fiquei com medo de que, no calor
da empolgação, eu tivesse, sem perceber, te forçado a algo que você não
queria.
— Ah, meu querido! Duas coisas: primeiro, você transa bem para
caralho. E segundo, você nunca me levou a fazer nada que eu não quisesse.
— O quê, anjo?
Eu o puxei levando-o até a porta do meu quarto e retirei sua camisa.
Quando eu ia entrando, ele me segurou:
— Isso é sério?
Ele tirou lentamente a camisa que eu vestia, expondo meus seios nus e
me puxou pela mão.
Ele me guiou até o quarto dos fundos e fizemos amor a tarde inteira.
À noite, recebemos Lília e Sandra em casa, e foi muito divertido. Lília
me garantiu que papai só viria para casa pela manhã e que faria um churrasco
apenas para a gente, no quintal. Ele adorava aquilo, e o faria para minha
despedida.
Rimos todos.
— Faça esse favor, meu querido. Minha irmã precisa parar em um
galho só — Lília divertia-se.
— Tá me chamando de macaca?
— Hum.... Sim!
Ríamos todos.
— Mas eu tenho que ir, Sandrinha. Minha vida é lá. Mas eu prometo
que venho nas próximas férias.
Rimos.
— Obrigada por toda a ajuda, Lília. Sei que não conseguiria sem
você.
— Claro que vou. Só não garanto nada porque o cara consegue ser
mais sério que eu às vezes.
— Isso é verdade.
— Uau! Vamos ver se eu não consigo fazer o cara sorrir na cama. Ele
vai parecer um abobado por uma semana. Eu garanto.
Eu e Enrico rimos.
— Eu entendo, Summer.
— Aviso.
Nos calamos. Não nos soltávamos. Não desviamos os olhos um do
outro.
— Summer...
— Oi?
— Quando você voltar para casa, você vai retomar o namoro com o
seu ex?
Até risadas Enrico estava conseguindo arrancar do meu pai. Eu, Lília
e Sandra nos divertíamos com aquela demonstração explícita de papai em
aceitar Enrico perto de mim.
Ele digitou.
— Vai, Enrico.
— Obrigada.
Beijei Enrico, tentando saborear cada momento que tinha com ele.
— O Carlos?
— Sim.
— Vai lá, bonitão. Vou voltar para o quintal — disse enquanto Silva e
Enrico foram na direção do jardim falando no viva-voz do aparelho.
Silva foi falar com quem havia ficado no quintal e eu segui Enrico.
Ele já estava com a mochila que havia trazido na noite anterior nas costas.
— E amanhã? Você...?
— Me espere amanhã.
— Eu sei.
Vimos Silva e meu pai caminhando em nossa direção. Silva beijou
minha cabeça e se despediu.
Nos beijamos mais uma vez e ele foi para o carro. Enrico olhou para o
meu pai e acenou com a cabeça. Papai apenas retribuiu o cumprimento da
mesma forma. Me agarrei a meu pai, que estava logo atrás de nós.
— Amanhã será bem pior, vida.
— Eu sei, papai.
Ergui o rosto e encarei papai e Lília. Ela demonstrava tanta dor que
não conseguia disfarçar.
— Eu sei.
— Obrigada por estar ao lado do meu pai e por cuidar dele com tanto
amor.
— Ai, fico tão feliz por vocês! Esse meu velho merece ser feliz.
Foi a vez de abraçar meu pai amado. Ah, como eu amava esse
homem, que me ensinou tantos valores, me apoiou e sempre acreditou mais
que todos em mim!
— Papai, obrigada.
— Levarei, vida.
— Você veio?
Fiquei em pé pulando em seu pescoço.
Lindo mesmo!
— Eu também, Enrico.
— Aviso sim.
Nos beijamos novamente tendo a atenção roubada pela última
chamada para o voo.
— Adeus, Enrico.
— Adeus.
Corpos que atraem – Desejos latentes
Pouco mais de sete anos no futuro
Não tinha ideia de como seria reencontrar a mulher que roubara meu
coração há tantos anos.
Por algum tempo, acompanhei sua carreira pela internet, mas aos
poucos aquilo foi se tornando doloroso demais, e parei.
— Será que ela vai falar comigo? Talvez ela nem te conheça mais, seu
idiota — eu proferi para o cara do outro lado do espelho.
Linda, certamente.
Vesti meu terno, passei a mão pelo cabelo uma última vez e saí.
Assim que entrei no Instituto, percebi a grande quantidade de pessoas
por todo o grande hall. Eu me misturei a elas e meus olhos foram atraídos
pelo enorme retrato de Summer, que cobria parte da parede ao lado da
entrada de uma das galerias. Ela estava sentada no chão, com as pernas
cruzadas em “X”, segurando uma máquina fotográfica e olhando para a lente
que a fotografava. Seus cabelos estavam presos no alto da cabeça e vestia-se
de forma muito despojada.
By: A. Mitchell.
– porque o amor transpassa gerações –
Era eu!
A legenda na placa dizia:
By: S. Mitchell
– poder acordar ao lado de quem se ama é uma dádiva –
By: S. Mitchell
– com o suor do nosso trabalho, temos o reconhecimento do nosso
talento –
Era eu.
By: S. Mitchell
– poder acordar ao lado de quem se ama é uma dádiva –
Continuei a apreciar as fotos e desta vez lia cada legenda atentamente.
Quando cheguei ao final da exposição, virei-me. Procurava algum porto
seguro, alguém que pudesse me apoiar depois daquele baque.
Mas, ao passar pela porta que dividia os dois ambientes, meu coração
parou.
Vermelho!
— Sim. Vamos.
— Eu o quê?
— Casado também?
— Oi... anjo.
— Oi, Mitchell!
— Obrigada, Enrico.
— Sim.
— Que bom ouvir isso. — Ela olhou para o lado quebrando nosso
encanto e depois voltou a me olhar apontando em uma direção. — Eu tenho
que...
— Você sabe que aquele pau é meu, não sabe? — ele respondeu rindo
mais e fazendo todos nós gargalharmos. Já chamávamos atenção.
— Vai se foder, Garcia. — Eu me despedi de meus companheiros e
eles partiram. Aproximei-me da mesma representante de antes. — Boa noite,
eu gostaria de reservar o quadro de número 4587.
Olhei para trás procurando Summer. Ela não podia fazer aquilo. Eu
queria comprar minha foto. Já não tinha quase nenhum convidado no hall.
Voltei para dentro da galeria e a vi conversando com... aquilo era
inacreditável. Ela estava ao lado de Jéssica Lins e Amanda Dantas.
Há quanto tempo não as via...
Aproximei-me e escutei:
— Querida, eu queria estar no seu lugar tirando essas fotos. Puta que
pariu, só caras gostosos — Amanda falou sem nenhum pudor.
— Amanda. Pelo amor de Deus! — O comentário de Jéssica fez as
três sorrirem.
Ela olhava de mim para as duas e de volta para mim, sem saber como
agir diante o meu pedido.
Ao me ver, Jéssica quase gritou:
Ela veio até mim e beijou meu rosto e depois me deu um abraço
apertado.
— Vocês se conhecem?
Ela olhou para trás na direção do quadro e voltou a olhar para mim.
Assenti, sério.
Percebi seus olhos arregalarem um pouco por ter percebido que havia
falado demais.
— O prazer é todo meu, querido. E sim, eu te conheço.
— Bem, se não formos demorar, posso jantar com você, Enrico. Mas
apenas para que certas pessoas não reclamem no futuro.
— Sua foto?
Eu ainda estava preso no olho do tornado, sem conseguir entender
quase nada do que acontecia à minha frente. Saber que Summer havia tido
um filho era uma coisa. Encontrar aquela criança meiga, espertíssima e
absolutamente encantadora como a própria mãe era outra.
— Eu que tirei.
Ele apontou depois para si, colando seu dedinho no próprio peito.
— Foi você?
— Isso mesmo.
— Mas você vai tirar de letra. — Fiquei de cócoras para falar com
ele. — Você é muito inteligente. Quantos anos você tem?
— Seis anos e meio. Quase sete!
Eu tentava.
Juro que tentava disfarçar o nervosismo, mas era quase impossível.
— Por isso pensei em te levar lá. É bem perto. Infelizmente só não sei
se terá pudim.
— Ah, isso. Não liga não. O Andrew adora conhecer coisas novas e,
quando gosta de algo, quer que a experiência se repita. É algo só nosso.
— Como assim?
— Sente-se, Summer.
Ele puxou a cadeira e eu me sentei, colocando a bolsa no colo. Ele
retirou o paletó e a gravata, os deixou sobre o espaldar da cadeira e sentou-se
à minha frente. Olhei para os lados e vi como o lugar era movimentado.
— É sim.
Fizemos os pedidos e Enrico não desviou os olhos de mim depois que
a garçonete se afastou.
— Sério? Mas o que você anda fazendo então? Pelo visto, algo que
continua exigindo bom preparo físico.
Abaixei meus olhos o suficiente para apreciar seu peitoral e seus
braços enormes, que se destacavam na camisa social branca. Percebi tarde
demais que não fui nada discreta e voltei a olhá-lo. Seu cabelo começava a
apresentar alguns fios brancos nas laterais e eu achei aquilo um charme sem
tamanho.
— Sei que não foi. Quando você partiu, segui seu conselho.
Eu não estava conseguindo raciocinar direito. Tentei me lembrar, mas
não consegui:
Eu não estava ali para isso. Mas ainda não estava preparada também.
Continuava tentando ganhar coragem e resolvi continuar com as amenidades
por enquanto:
— Eu não sabia... Papai e eu nunca conversamos sobre... Por isso o
Rodrigues te chamou de professor!
— Sim. Ele é um dos alunos mais dedicados. Uma graça. Diz que
também vai terminar os estudos para trabalhar comigo no box. Participa de
muitos campeonatos.
— Ah, Enrico. Estou muito feliz por você. Você venceu mesmo na
vida.
— Obrigado.
— Não será uma conversa nada fácil. Entende isso, Enrico? Não será
fácil para eu contar e não será fácil para você escutar.
Respirei fundo, pois a história não era apenas longa, era muito
complicada.
— Quando cheguei em casa...
— Eu entendo, sim.
— Você sabe muito bem por que, Enrico. — Curvei meu rosto
observando-o melhor. Tinha certeza de que a minha tristeza transparecia
claramente. — Por isso resolvi pôr um fim no meu sofrimento, não te
respondendo mais. Não entrando em contato. Mudando o número do meu
telefone. Sumindo para você. Eu tinha que te arrancar do meu coração. De
uma forma ou de outra...
— E conseguiu?
Não responderia aquilo. Simplesmente continuei:
— Mas...
— Mas quando a viagem estava chegando quase ao final, descobri
que estava grávida.
— Summer!
— Puta merda.
— E você foi?
— É louca.
— O Andrew é grego?
— É sim.
Rimos os dois.
— Bem. Minha mãe foi para lá me ajudar. Ficamos apenas dois meses
e voltamos para os Estados Unidos. Consegui mais dois meses de folga do
trabalho, já que havia adiantado muitas fotos para eles. Quando voltamos,
finalmente fizemos o teste de DNA.
— Isso seu pai deixou escapar. Travis é o...
— Até onde sei, ele pode ser de qualquer um de vocês sete. E é por
isso que eu...
— Você errou, Summer. Você errou feio, sabia? Você não tinha o
direito de fazer isso. Não podia ter escondido o nascimento dessa criança.
Eu estava me sentindo acuada, e aquilo não era bom. Ergui meu dedo
na altura do seu peito e o encostei ali, cuspindo minhas palavras com ódio e
fazendo Enrico recuar alguns passos:
— Ei, vamos deixar uma coisa muito clara: o Andrew é meu filho. Só
meu. Por todos esses anos! Nós não precisamos de ninguém! Somos só nós
no mundo!
Senti as mãos enormes de Enrico segurarem meus ombros, e seu
corpo me conduziu para trás. Assustei-me com a sua agressividade e só
percebi tarde demais quando ele me colou na parede e senti seus lábios nos
meus.
— Nem lembro qual foi a última vez que fui beijada à força.
Que cachorro... lindo... Porra, Enrico. Por que faz tudo ser mais
difícil do que já é? Passei minhas mãos por cima das mangas de sua camisa,
sentindo os músculos dele. Cheguei a seus ombros largos e envolvi seu
pescoço, finalmente sentindo o calor que vinha daquele corpo bronzeado. Tão
diferente do meu.
— Será?
Assenti.
Meu hotel não era longe de onde estávamos e logo chegamos lá.
Quando já ia descer, ele segurou meu pulso e, assim que me virei, puxou-me
pela nuca, para mais perto de seu rosto. Minhas mãos foram quase de forma
involuntária para seu ombro e desta vez fui eu quem o beijou. Provando os
lábios dele, devorando sua língua e deixando que devorasse a minha.
— Até, Enrico.
Quando entrei no quarto, minha mãe e meu filho já dormiam. Eu me
deitei e abracei o corpinho de Andrew, que dividia a cama comigo. Ele
reclamou do meu aperto e o soltei um pouco. Tudo o que eu queria era não o
largar nunca mais e protegê-lo de qualquer mal.
Acordar aquele sábado foi diferente. Minha mente vagou até Summer
e Andrew. Meu peito doía ao imaginar que eu poderia ser pai e que perdi os
primeiros anos do meu filho.
— Um filho. Será mesmo real?
— Acho que ela não vai poder conversar, Enrico... Ela tem mais umas
duas ou três entrevistas pela frente — Adele comentou.
— Uau! Bem, mas respondendo à sua pergunta, Andrew, vim em
outra missão. Imaginei que Summer estaria bem ocupada com a exposição,
então, gostaria de saber se querem dar uma volta pela cidade. Vocês dois.
— Mas voltem cedo. Andrew janta sempre antes das oito, Enrico.
— Pode deixar, eu falo com ele. — Voltaram e, desta vez, foi ela
quem me convidou para nos afastarmos de Andrew e Adele. — O que você
está aprontando?
— Eu? Nada!
— Está louco?
— Acho que sempre fui. Vai dizer que também não está louca para
me beijar?
— O quê?
— Ele pediu que... Bem, se ele precisar ir ao banheiro, se você
poderia acompanhá-lo.
— Como é?
— É porque quando ele sai com a minha mãe, ela o leva sempre ao
banheiro feminino para ele poder fazer as necessidades, e ele diz que tem
vergonha. Sempre quer usar o banheiro dos homens, então... — Summer fez
movimentos divertidos com as mãos em frente ao corpo. — Como você
também é homem, se ele precisar, poderia acompanhá-lo dentro do banheiro
masculino. Não precisa entrar em pânico. Ele já sabe fazer tudo sozinho, não
é nenhum bebê que precisa trocar fraldas.
Ela emendou a fala como um foguete e eu apenas ri quando ela
acabou, jogando uma dúvida para ela imediatamente.
— Você falou que, quando ele sai com a sua mãe, ela o leva ao
banheiro feminino.
— Isso.
— Sim. O quê? O que está passando por essa sua cabecinha, rapaz? O
Andrew me avisa quando não tem homens lá dentro. OK? E quando estamos
dentro, eu tranco a porta para que nenhum entre de surpresa.
— Mas vai dizer que nunca entrou com ele apertado e...
— Já! Tá bom? Era isso que queria escutar? Já peguei alguns caras
mijando enquanto entrava com meu filho no banheiro de um shopping.
— Tá bom.
Ainda inseguro, ele começou a subir e teve que recomeçar umas duas
vezes até se sentir confiante para avançar mais que um metro e começar a
escalar o paredão com firmeza. Eu o ajudei a escalar vários paredões
diferentes e, em pouquíssimo tempo, ele já estava se enturmando e fazendo
amizades. Era tão espontâneo e cativante quanto a mãe.
— Queria ver isso na prática. Aquele menino tem mais energia que
eu, você e Summer juntos.
— Não duvido.
— Pensei que ela não fosse deixar que ele saísse comigo.
— Maisie?
— Sim, a madrinha dele. Andrew só vê o avô Lúcio muito
esporadicamente. Você foi o primeiro homem que Summer permitiu que
levasse o filho para um passeio...
— Não. Ela mantém tudo bem separado na vida dela. E sendo muito
sincera, minha filha praticamente não tem tempo para relacionamentos mais
sérios. A vida da Summer são as viagens, as fotografias e Andrew.
— Poxa. Não sei se fico feliz ou triste ao ouvir isso... — Olhei de
lado, quase envergonhado ao dizer aquilo em voz alta. — Mas tenho que
admitir que mais feliz que triste.
— Tutores on-line. Ele sempre estudou assim. Até aqui ele tem aulas
on-line.
— Mas e amigos? Quando o menino fará amigos? — perguntei
angustiado.
— Pode dizer, por favor. — Ela segurou minha mão e senti muito
carinho e conforto com aquele gesto.
— Eu ia dizer que já o amo. De alguma forma, que não sei explicar, já
o amo. Isso me dá alguma certeza de que ele é meu filho.
— Ah, meu querido. Isso é lindo, mas não seria melhor esperar o
resultado?
— Sei que seria o melhor a fazer, mas como controlar nosso coração,
Adele? Acho que basta saber que aquele menino tão esperto vem dela para...
Parei e abaixei a cabeça.
— Eu vi, meu amor. Acho que sua mãe vai ficar tão orgulhosa —
Adele falou satisfeita e Andrew ergueu os braços no ar.
— Claro que sim. Voltamos logo, Adele. Não escale nenhuma parede
sozinha, espere por nós dois.
— Não. Sei fazer xixi sozinho. É só porque mamãe fala que não posso
vir sozinho, pode ser perigoso.
— Ela tem razão, vou ficar aqui fora, na porta. Tipo um guarda-
costas. Não vou deixar ninguém entrar.
Quando acabou, foi até a pia e embora eu soubesse que ele seria capaz
de alcançar a pia destinada às crianças, fiz questão de o erguer para ajudá-lo a
lavar as mãos. Qualquer oportunidade de sentir seu cheirinho gostoso era
muito bem-vinda.
Ele de fato já era especial para mim.
— Meninos, acho que já temos que ir. Já está tarde — Adele chamou
nossa atenção.
— Ainda não, vovó. Aqui é muito legal.
— Sim. E Summer não vai ficar nada feliz se você jantar muito tarde.
— Vão logo os dois. Vou ligar para Summer e avisar que vamos
jantar quando sairmos daqui. Sei que a bronca vai sobrar para mim. Vão logo,
estão esperando o quê? Só mais meia-hora.
Peguei Andrew no colo e saí correndo com ele para o paredão infantil
mais próximo. Queria aproveitar muito com ele aquele tempinho a mais que
nos foi concedido.
— O que ele tem? — Ela pousou uma mão nas costas de Andrew.
Ela ainda estava brava. Ficava muito sensual assim. Imaginava aquela
gata brava na cama, usando as unhas...
— Eu levo vocês.
— Não precisa...
— Tinha que ter visto o Andrew brincando, filha. Tão feliz! Tirei
inúmeras fotos para te mostrar.
Eu a lembrei:
— Eu também?
— A senhora também.
— Ah, então está decidido: vamos passear com o Enrico pela manhã e
depois vamos todos juntos para esse almoço. Se vou ter que aturar o traste do
seu pai, pelo menos quero me divertir antes. Enrico me prometeu que vai
levar um skate para eu aprender a andar.
Eu ri alto com aquela declaração.
— Talvez esteja... Indo almoçar com o seu pai. Nos vemos amanhã às
nove, querido. Boa noite.
Adele me deu um beijo no rosto e foi até uma mala que estava aberta
no chão.
Eu virei para sair e, assim que alcancei o corredor, senti uma mão me
puxar.
— O que você está pretendendo com essa aproximação toda, Enrico?
— Ah! — Seu hálito estava tão próximo a mim que eu podia sentir o
seu calor.
Ela abraçou minha nuca e colou nossas bocas.
Porra, do jeito que estávamos, não faltava nada para nos entregarmos
sem pudor a tanto desejo. Mas, como sempre, era ela quem me afastava,
fazendo-me sofrer.
Rimos juntos.
Finalmente.
Um dia de confissões e choros
— Está.
Ah, como meu coração se aliviou ao escutar aquilo. Mas então, ele
completou:
— O seu pai mora aqui no Brasil, Andrew, mas eu não sei quem ele é
ainda. Eu posso tentar descobrir, mas apenas se você quiser.
— Ele mora aqui?
— Sim.
Se ele soubesse que o Enrico era uma das opções... Mas quanto a isso,
eu já me decidira a não contar ainda, para não alimentar esperanças nele.
— Mas, se não for, vamos aprender a lidar com um pai mais ou
menos legal. O que você acha?
— Isso mesmo, meu amor. Nada vai mudar entre nós. Você vai
continuar viajando comigo para onde eu for.
— Então pode ser, mamãe. Mas como a gente faz para descobrir?
— Ai, vamos lá, né? Fazer o quê? — Mamãe reclamou e Enrico foi
ao nosso lado, ainda carregando Andrew nos ombros.
— Milhões de dólares?
— Sim, foi o Andrew que me contou. Eu avisei a ele que os milhões
iriam para a conta da universidade dele.
— Eles se adoram! — Mamãe era tão coruja com Andrew quanto era
de Enrico.
— Enrico é muito esperto. Sabe que se conquistar Andrew, terá o
coração da minha filha.
— Tudo bem. Eu estou com fome, vou pedir comida para a minha
avó.
Ele largou Enrico e correu na direção da minha mãe.
— E ele disse que queria que o pai fosse como eu? Porra, Summer.
Eu surtei quando ouvi isso.
— Não se empolgue, bonitão. Ele não tem muitos parâmetros de
comparação. Claro que Andrew está encantado contigo.
Olhei sem chão para Andrew, depois para Enrico, que empalideceu, e
depois para o meu pai, que foi ganhando um vermelho vivo que assustava.
Levantei-me rápido e fui na direção dos três.
— Não foi bem assim que aconteceu, Lúcio. Eu nunca soube que
havia uma chance de eu ser o pai...
— O Enrico pode não ser o pai. Vamos testar todos os possíveis pais
para descobrir quem é.
O soco veio tão rápido e de forma tão inesperada que Enrico não
conseguiu se desviar. Ele cambaleou para trás esbarrando em mim. O caos
estava formado. Ele olhou para mim e perguntou.
— Está tudo bem, amigão. Vovô já está bem, ele não machucou
ninguém.
Enrico falou diretamente com Andrew, abaixando-se para falar com
ele, passando a mão em seus cabelos e tentando limpar as lágrimas do
rostinho assustado.
Enrico saiu, passando por minha mãe, que estava parada na porta da
cozinha, com as mãos na boca. Eu fui até ela com Andrew em meus braços e
pedi:
— Mamãe, por favor, peça para o Enrico ficar com o Andrew só um
minuto dentro do carro. Andrew, eu preciso que você vá com a vovó e tome
conta do Enrico para mim. Eu só vou demorar um minuto. Mamãe, depois
que arrumar as coisas do Andrew, vá para o carro também.
— Claro que isso me chocou, como me chocou saber que você fez
isso traindo a minha confiança. Mas o que está me deixando louco, fora de
mim, é a sua covardia e o seu egoísmo.
— Papai, me desculpe...
— P-papai?
Foi quando senti as mãos da minha amiga Sandra nos meus ombros.
Ela me guiou para fora da casa. Eu tive que parar na sala.
Chorei muito, chorei como nunca havia chorado na vida. Eu nunca
imaginei que magoaria meu pai daquela forma, e foi um dos piores
sentimentos que já havia experimentado na vida. Eu tinha que me acalmar
antes de ir encontrar Andrew.
— Tá.
Ele deitou a cabecinha no meu peito. Algum tempo depois, ele pegou
no sono no meu colo. Quando Enrico terminou de estacionar, me ajudou com
Andrew e subimos juntos até nosso quarto. O clima estava horrível e
permanecíamos todos calados.
— Desculpe.
Enrico foi solidário, mas eu podia sentir que ele ainda estava
preocupado comigo.
— Eu preciso mesmo fazer isso logo, Enrico.
— Eu acho que você está certa, linda. Vou indo. Boa noite, gente.
Ele beijou meus cabelos, fez o mesmo com Andrew e apertou a mão
da minha mãe. Saiu em seguida.
Senti seu sorriso em meio ao beijo e ele me puxou ainda mais para
seu corpo, provando-me com paixão. Não apertamos nenhum botão e
estávamos entregues ao destino. A porta se abriu para dar passagem para
algumas pessoas vindas da recepção. Olhamos desconcertados e descemos.
Fui abraçada a Enrico até o carro dele.
— Boa noite.
— Hum, eu sei. Mas sabe que essa folga é só nessa viagem, não é
mesmo?
— Ele subiu. Mas deixou outro instrutor no lugar dele. Quer falar
com ele? — A garota fez um barulho como se limpasse a garganta e
Rodrigues olhou para ela. — Mitchell, essa é a Jack, minha namorada. Ela
trabalha aqui meio-período para ajudar o professor.
Ele gargalhou alto, e Enrico nos olhou sem entender. Vi quando Raul
e Uriel também entraram.
— O que foi que esse otário fez com você, coração? — Raul abriu os
braços para me abraçar e fui até ele para receber o carinho.
— Eu não tenho culpa se você estava babando pelo meu amigo sem
camisa. Ainda bem que vestiu logo essa camiseta, Enrico. A garota estava
quase pulando em cima de você.
— Quem vai cortar suas bolas fora sou eu, se imaginou mesmo isso.
— Você complicou minha cabeça. Se não era para propor algo
indecente, então por que quis reunir todos nós novamente?
— Eu sei.
Pablo e Uriel vieram para perto de Raul, pedindo para ver a foto
novamente.
— Como você sabe que ele é de um de nós? — Adam não ria mais.
— Eu queria pedir, por favor, para todos vocês fazerem um teste, para
eu descobrir quem é o pai biológico de Andrew.
Ele sorriu com carinho para mim e lhe agradeci com os olhos.
— Ei, espere — Pablo segurou o braço dele. — Por que você não?
— Quer dizer que a bonitona descobre que está grávida, tem um filho
que pode ser de um de nós e decide que o pai da criança não merece saber da
existência do menino! Aí, anos depois, acorda um dia, resolve que agora é
conveniente para ela descobrir de quem é essa criança e vem interferir na
vida dos outros, sem saber que consequências isso vai trazer para o tal pai?
Não, obrigado!
— Ele nunca esqueceu que foi trocado pelo Enrico, Summer — Adam
falou.
— Não, Adam. Ele estava com muita raiva, mas o que ele disse não
deixa de ser verdade. Eu devo desculpas a todos vocês. Eu não devia ter
escondido isso por tanto tempo.
— Summer, minha noiva não pode sonhar que estou fazendo esse
exame. Falei sério que também não quero fazer essa merda, mas vou fazer
por você, pelo Andrew... — Adam avisou.
— Eu não sei como isso daria certo, Uriel. Mas podemos pensar em
algo. Sempre há comunicação a distância e quem for o pai, se quiser, poderá
nos visitar onde quer que estejamos no mundo.
— Isso pode não ser suficiente, Summer, você sabe disso — Pablo
também questionou.
— Mas vai ter que ser assim. Como eu disse, somos eu e Andrew no
mundo.
Enrico veio para o meu lado e segurou minha mão. Ele disse me
apoiando:
— Hoje a Summer é uma mulher independente. Ela tem a profissão
dela, viaja constantemente pelo mundo, desenvolveu toda uma rotina com
Andrew, já que o cria sozinha há sete anos. Vamos combinar que todos nós
mudamos. Acho que o que ela está querendo dizer é que, independentemente
de quem seja o pai, Andrew não vai entrar na vida dessa pessoa para ser um
fardo. Ele entrará para somar. Somar apenas alegrias, porque o garoto é
incrível.
— Por favor.
— Obrigada, Garcia.
Um a um, todos vieram me abraçar e se despedir de mim. Quando
todos já tinham ido embora, me virei para Enrico e falei:
— Tá bom.
Ele desceu e eu fiquei sozinha no apartamento. Fui até o guarda-roupa
e abri a porta, passando a mão pelas roupas dele, sentindo o perfume
maravilhoso de Enrico. Fechei e voltei a me sentar na cama. Depois de algum
tempo, ele retornou segurando duas sacolas com sanduíches e aquilo me fez
rir.
— Adoro.
— Ele foi um escroto, sim, mas ele disse quase a mesma coisa que o
meu pai. E acho que os dois têm razão em muita coisa... Eu fiquei tão
envolvida no mundo que eu criei para o Andrew, tentando protegê-lo, que eu
me fechei lá dentro e não consegui ver mais nada à minha volta. Nem mesmo
o fato de que eu estava impedindo meu filho de conhecer o pai.
— Também acho.
Comemos calados, mas nos encarando.
— Você falou sério sobre aquele lance de não retornar ao Brasil tão
cedo? — ele perguntou e eu quase me engasguei.
— Falei, Enrico. Quando voltarmos, viajaremos em pouco tempo para
a Europa, tenho uma série de contratos a cumprir por lá e...
— Aí não. Aqui.
Ele veio até mim e passou a língua no outro lado, no canto de minha
boca. Senti o calor e a maciez de sua língua tocarem minha pele e o calor
percorreu minhas pernas e minha espinha.
— Quanto?
Ele socava dois dedos dentro de mim e mordia meu ombro, fazendo
com que eu me arrepiasse inteira.
— Sim...
— Quer meu pau dentro de você?
— Eu não queria que esta noite acabasse — ele falou com os lábios
colados aos meus cabelos.
— Imaginei que sim. Eu também não queria.
— Qual?
— Você vai ter que sair de cima de mim para poder ver.
— Jura?
— Você fez...?
Ele segurou minha nuca e me puxou para um novo beijo. Quando ele
me soltou, me virei para me levantar e me faltou cama. Fui ao chão como
uma manga madura de encontro ao solo. Ele ergueu-se depressa para me
ajudar e o fez rindo.
— Não, não. Prometo que paro. É tão linda brava! É linda de todos os
jeitos.
— Eu acho que eu não posso, mas talvez a vovó Adele possa também.
Não perguntei quantos podem entrar contigo — Enrico explicou.
— Sim.
— Sim, senhora.
— Você fala isso porque você é grande. Eu sou pequeno. Vai doer.
— Como falei, se doer, será rapidinho. Logo passa. E sua mãe vai
estar lá. Ela vai dar beijinhos para passar mais rápido.
Andrew concordou, mas com muita relutância. Ele veio para o meu
colo e agarrou-se ao meu corpo, fechando e apertando os olhos. Dentro da
sala, ele ficou no meu colo e fez todos os procedimentos iniciais. O último,
de fato, foi furar o dedo e nessa etapa ele abriu um berreiro, mas a enfermeira
colheu o sangue em sete lâminas de vidro e depois colocou um curativo
colorido em seu dedinho. Eu dei muitos beijinhos no dedinho dele, mas ele
estava muito dengoso, e demorou a parar de chorar. Quando saímos da sala,
Enrico estava estacado do outro lado da porta e não demorou a pegar Andrew
no colo e afastar-se, acalentando meu filho com conversas divertidas.
— Sim, meu amor. Ele se apegou muito rápido a ele. Parece que o
ama há toda uma vida.
— E talvez ame, mãe. — Olhei para ela com carinho. — Ele ama
Andrew até demais. Meu medo é ele não ser o pai. Isso pode partir o coração
dele.
— Mas independentemente de quem seja o pai, o mais importante é
descobrirmos a verdade e revelarmos isso a Andrew. Nosso menino é a coisa
mais importante nisso tudo.
Minha mãe ajudou Andrew a ficar de pé, e Enrico pediu ajuda a ele
para se colocar em pé também, mas levantou-se sozinho, fazendo meu filho
acreditar que ergueu um homem daquele tamanho sozinho.
— Ítalo, parabéns!
— É o nosso primeiro. Estamos bem felizes. Eu tenho medo,
Summer. Estou apavorado que uma informação como essa possa afetar de
alguma forma nosso bebê ou nosso relacionamento. Porra, Summer, eu sei
que estou falando merda aqui, isso não é desculpa, mas...
— Bem, vou indo então. Boa sorte. Espero de verdade que aquele
meu amigo seja o pai de Andrew, ele merece ser feliz.
Apenas sorri levemente concordando com a cabeça. Ele acenou e
partiu. O último que veio até mim foi Adam. Ele ficou sem jeito, como se
tentasse me dizer o que tinha em sua mente e, sem que eu esperasse, falou:
Meu Deus. Ele não está fazendo isso. Como pôde dizer isso? Nem
sabe o resultado ainda. Eu não sentia minhas pernas, meu corpo não
respondia direito aos comandos mais básicos, eu apenas falei:
— Isso não tem nada a ver, Adam. Não se preocupe, ela não precisa
saber. Se for você, coisa que ainda não sabemos, basta você se apresentar a
ele como seu pai e pronto... Não precisa ver nenhum de nós dois nunca mais
na sua vida.
— Não... não dá, Summer.
— Apenas para ter a certeza. Para não passar o resto da minha vida
com essa dúvida, mas vai dar negativo. Tem que dar. Eu não posso ser o pai.
Bem, vou embora agora. Estou realmente feliz por você.
Eu não tinha palavras para argumentar depois do que eu acabei de
ouvir.
— Eu sinto muito por tudo que falou, Adam. Sinto mesmo. Porque,
apesar de eu ter criado o Andrew sozinha, ter guardado ele apenas para mim,
em um ato egoísta e mesquinho de protegê-lo, ele não foi gerado sozinho.
Mas tudo bem, como sempre disse a mim mesma minha vida toda, eu posso
criá-lo sozinha. Eu espero de verdade que seja feliz, Adam. — Minha voz
nunca saiu tão irônica em toda a vida. — Seja muito feliz com sua futura
esposa. Eu envio mensagem na sexta avisando o resultado.
— Vou esperar. — Ele apertou de leve minha mão e depois a soltou.
— Adeus, gatinha.
— Adeus, Adam.
Papai, por outro lado, me evitou ao máximo. Não atendeu aos meus
telefonemas e passara a semana toda no campo de treinamento. Eu
conversava muito com Lília e ela apenas me pedia para ter paciência.
Aquela sexta também se alongava infinitamente, pois quando liguei
pela manhã para o laboratório, me disseram que o resultado estaria disponível
no final da tarde. E claro, só saiu bem no final mesmo. Eram quase cinco e
meia quando saí de lá e fui direto para o box de Enrico. Ele já me aguardava
e, quando cheguei, subimos para seu apartamento.
Eu poderia ter visto o resultado pela internet, mas era algo importante
demais... Eu precisava de uma prova física, de algo concreto...
— E aquele “se”?
Resultado: Negativo
Eu não soube disfarçar meu choque. Foi isso. Enrico pegou a folha do
exame das minhas mãos muito facilmente. Eu não sentia as pernas. Ele não
era o pai. Aquilo não estava acontecendo. Não estava.
— Só me dê um minuto, Summer.
Ele estava desolado. Ele sofria tanto quanto eu.
Resultado: Negativo
Respirei profundamente aliviada e, dessa vez, não escolhi: peguei o
próximo exame em cima da pilha: Pablo.
Resultado: Negativo
Raul.
Resultado: Negativo
— Quem é, Summer?
— Como eu vou falar isso para um homem que disse que está feliz
com a esposa e que ela está esperando um filho dele?
Enviei uma mensagem para cada um dos rapazes cujo teste dera
negativo e fiquei olhando, parada, para o exame de Ítalo:
Resultado: Positivo
— Aham.
— Ítalo, peguei os resultados. Deu positivo. Você é o pai do Andrew.
— O quê?
— Claro.
— Rasgue esse teste e jogue fora. Eu não posso ser o pai dele. Sinto
muito.
— Vamos pensar em algo, anjo. Ítalo pode ter falado isso porque
ficou nervoso.
— Tá louco, Enrico?
— Enrico...
Ah, meu coração, como não derreter com uma declaração dessas?
— Eu vou pensar então, apesar de ainda achar uma loucura. Mas eu
não vou mais mentir para o meu filho, Enrico. Veja onde isso me trouxe. Se
for preciso, vou achar um jeito de contar a ele que o pai biológico não quer
saber dele. Não tenho nem ideia de como eu vou fazer isso. Mas não vou
mentir.
Bati uma primeira vez e esperei. Bati mais algumas vezes e esperei
mais. Olhei para o carro do meu pai, estacionado bem à frente da casa.
Quando ia bater novamente, a porta se abriu.
Eu neguei, me recompondo.
— Estou bem. Obrigada. Está tudo bem contigo e com a bebê, Lília?
— Ah, papai, eu não vim aqui para que você me desse sermão. Eu
vim pedir colo.
O abracei com força e ele retribuiu o abraço.
— Ele me explicou que não quer assumir a criança, que não quer ser
reconhecido como pai, porque a atual esposa dele não pode saber que ele já
tem um filho.
— Quer dizer que o Andrew vai pagar porque o filho da puta não quer
que a esposa saiba das merdas que ele fez no passado?
— Papai. Por favor. Eu estou me fodendo para o que ele pensa ou
deixa de pensar. Eu nunca precisei desse cara para sustentar o meu filho,
muito menos para dar amor a ele. Minha única preocupação é: como eu vou
dizer para o meu filho que o pai não quer conhecê-lo?
— Mas, meu amor, então vamos ter que convencer o Ribeiro a mudar
de pensamento.
— Outra, Summer?
Acenei com a cabeça.
— Ele é louco?
— Ele me ama.
— E você aceitou?
— Ainda não.
— Ainda?
— Ele ficou tão arrasado quando descobriu que não era o pai. Ele
falou que o que sente por ele não mudou em nada ao descobrir que o pai é o
Ítalo. Ele falou que quer se casar comigo. O Andrew terá um pai.
— Mas, Enrico...
— Ela não te pediu nada. Não vai te pedir nada, você sabe disso. Se
você quiser, a Cíntia nem precisa saber de nada. Você sabe disso.
— Lembra?
— Sim. Em muitos momentos eu tentava identificar quem o menino
me lembrava, mas só depois de ter a comprovação, eu consegui me dar conta.
Ele tem esse sorriso frouxo, que conquista corações. O menino será tão
lindão quanto o pai.
— Eu não posso, Enrico. Cíntia não pode saber. Ela vai ficar
chateada, você conheceu a fera.
— Está louco, cara? Se você quiser fazer parte da vida dele, eu vou
achar muito bom. O Andrew só ganha com isso. Terá dois pais.
— Dois pais?
— Eu vou lutar pela Summer, Ítalo. Vou lutar para que ela me aceite
na vida dela. Eu amo o Andrew como a um filho. Eu quero ser pai dele
também, se a teimosa da Summer aceitar meu pedido.
— Você a pediu em casamento?
— Pedi.
— Obrigado.
— Você sabe que não é fácil para mim dizer isso, não sabe?
— Assim como não é fácil para mim vir pedir que se aproxime dela e
do filho dela. Vir pedir a você que converse e fale com o menino que eu já
considero meu filho. E que você parta o coraçãozinho dele nessa conversa.
— Será que poderia ser hoje? Assim acabávamos logo com isso.
— Farei. Eu prometo.
— Tá complicado, amor?
— Só um pouquinho, mamãe.
— Quer ajuda?
— Esse.
— Isso.
— Tá bom.
— Sim. É o Enrico?
— Bem, ele vai te explicar melhor, meu amor. Mas ele tem os
motivos dele para explicar. Só queria que soubesse antes para não ficar muito
triste.
— E ele é fortão!
— Enrico!
Ouvi seu grito e escutei seus passos se afastando.
Ítalo.
Meu sangue gelou. Havia chegado a hora e eu não tinha como prever
como seria aquela conversa. Eu não sabia como poderia proteger meu filho e
aquilo me apavorava.
— Estou vendo!
— Mas eu só sou inteligente porque minha mãe me ensina muito. Eu
tenho que estudar todos os dias.
— E você me ama?
Eu tinha que ser cuidadoso com as palavras. Andrew merecia somente
a verdade e eu devia isso a ele.
— Andrew. Eu não sabia que você existia até uma semana atrás. Até
sua mãe vir perguntar a mim se eu poderia fazer o exame.
— Sim. Até as ruins, tipo quando diz que vai me colocar de castigo
quando eu faço algo muito errado.
— Mamãe me falou que você não quer ser meu pai. Não quer por
quê? Por que só me ama um pouquinho?
— Hum.
Ele não parava as perninhas, olhava-me como se tentasse assimilar
minhas palavras. Será que ele compreendia bem o português? Só nesse
momento me liguei daquilo.
— Sim.
— Igual ao Enrico?
Ele apontou na direção dele e olhei para o casal, que ficou alerta com
o dedinho de Andrew apontado na direção deles.
— Mas você vai ficar triste se ele também for meu pai?
— Claro que não, Andrew. Eu ficarei muito feliz, sabe por quê?
— Por quê?
— Hum! Mas será que você podia falar comigo no meu aniversário?
Uau! Que pedido enorme. Como eu poderia negar algo tão grande?
— Ou fazer chamada de vídeo, que nem meu avô faz. E minha avó
quando estamos na Europa.
— Sim. Muitão. Mas tia Maisie sempre vai para todos os meus
aniversários, não importa onde eu esteja. Ela diz que tem um radar Andrew.
Que sempre sabe onde eu estou. Ela deve estar escutando a nossa conversa
agora. Acho que ela tem superpoderes. Ela é muito esperta.
— Não tenho dúvidas. Tem que ser mesmo muito esperta para te
achar escondido pelo mundo.
— É sim. É a madrinha mais esperta dos Estados Unidos. E ela sabe
fazer chocolates, então é a melhor madrinha também.
— Então você me perdoa por não estar sempre presente na sua vida se
eu fizer chamadas de vídeo no seu aniversário?
— Perdoo. Eu vou fazer chamada de vídeo no seu aniversário
também. Eu posso?
Foi demais.
— Tá bom. Prometo.
Ergui os ombros.
— Tudo é possível.
Puta merda. Ele precisa ser sempre tão verdadeiro... como uma certa
mulher que eu conhecia e que estava bem à minha frente.
— Você falou...?
Ela perguntou para mim e eu ergui as mãos.
Olhei para Enrico, que estava com os olhos marejados. Ele sempre foi
muito sério e concentrado quando trabalhava conosco. Era muito estranho vê-
lo emotivo daquele jeito. Parecia uma manteiga derretida, aquele meu amigo.
Ele saiu do banco e abaixou-se em frente a Andrew.
—Você quer que eu seja seu pai do coração?
Ele concordou com a cabecinha, mas falou logo em seguida:
— Não. Eu quero que você venha morar comigo e com a minha mãe
na Europa.
Ele pegou o menino nos braços e o abraçou tão forte que pensei que ia
perder o filho que havia acabado de ganhar. Summer ergueu-se também e
abraçou os dois. Enrico a puxou para seus braços e os três se abraçaram. Eles
já eram uma família, só não haviam se atentado disso ainda.
— E o que foi?
Fui até Enrico e Andrew e o chamei para meus braços. Era mais
pesado do que supus vendo Enrico erguê-lo com tanta facilidade.
— Bem, foi um prazer te encontrar e descobrir que sou seu pai.
— Sim. A mamãe que sabe ligar o vídeo, tá bom? Aí eu vou ter que
esperar ela para ligar.
E eu teria uma conversa muito séria com a Cíntia. E isso não poderia
demorar.
— Ah, mãe!
Ele partiu chateado e Adele o seguiu para ajudá-lo. Me aproximei de
Summer rapidamente e lhe roubei um beijo rápido.
— Aqui não — ela ralhou comigo, mas me puxou para um novo beijo
me fazendo sorrir no final.
Quando Andrew voltou, ele já estava de pijama e subiu na cama,
deitando-se no centro dela.
Ele riu mais, enchendo o quarto de alegria. Como deveria ser gostoso
ter aqueles risos preenchendo todos os momentos do dia.
Summer fechou os olhos e passei as costas dos dedos por seu rosto
suave. Também fechei os meus olhos. Eu pensava que a melhor forma de
dormir era ter Summer colada a mim. Não imaginava que estar daquela forma
era ainda melhor. Perto dos dois amores da minha vida.
— O quê?
— Eu aceito, Enrico.
— Tá bom.
Senti primeiro algo tocar a pontinha do meu nariz e sabia que era o
dedinho de Andrew. Fiz esforço para não rir, nem espirrar.
— Ele não acorda, mamãe.
— Vai de novo.
— AAAHHHHHHHH...
Levei seu dedinho que ainda estava esticado até minha boca e o mordi
com os dentes protegidos por meus lábios e ele enlouqueceu, tentando se
livrar do meu ataque.
— Ei, seu delator. Tem que sustentar o segredo da parceria até sob
tortura, viu? — Summer cutucou a barriga dele e ele riu com as cócegas.
— Ah, então tem cócegas? — falei, me divertindo: aquilo eu já sabia!
— Eu nunca mais vou largar essa barriguinha — falei com uma voz
rouca e Andrew não parava de rir.
Sem que esperássemos, a porta do quarto se abriu de uma vez e nós
três olhamos na direção de Adele, que, ao entrar segurando algumas sacolas,
parou vendo a cena em cima da cama: Andrew deitado com a camisa erguida
e a barriga babada, eu sentado sobre os joelhos ao lado dele e Summer em
cima de mim, presa ao meu corpo.
Será que ela iria contar para eles sobre nós? Para o Andrew?
— Exato, querido.
Eu não estava acreditando. Ela ia mesmo falar sobre nós para o filho.
Eu não havia sonhado. Ela havia dito que aceitava se casar comigo na
noite passada.
— Claro que sim, amigão, sua opinião é super importante para a gente
— falei nervoso em saber qual seria a resposta dele.
— Não chore, Enrico. Eu quero mesmo que você seja meu pai do
coração, mas você sempre chora quando eu falo isso.
Não queria saber quando ela ia embora. Não queria imaginar os dois
longe de mim.
— Em uma semana.
— Uma... semana?
— Sim. Parece que nossas vidas sempre devem ser decididas em uma
semana, não é mesmo?
— Tá bom.
Ele saiu maluquinho, correndo e gritando para o banheiro. Adele se
virou para nós dois e falou.
— Obrigada, mamãe.
— Obrigado, Adele.
Teria que começar a repensar minha vida e sabia que muitas decisões
seriam bem difíceis. Mas eu tinha a oportunidade de recomeçar ao lado da
mulher que amava e que não deixaria fugir novamente e do filho maravilhoso
que a vida acabara de me dar.
— Hum, sei sim. Sei muito bem qual o intuito desse convite.
— Se sabe, então só posso ficar imaginando como estará vestida.
Passei a tarde no Instituto Tomie Ohtake, tanto para dar atenção aos
visitantes da exposição, como para acertar os detalhes do encerramento, na
próxima semana.
— Tenho uma notícia boa e uma ruim. Não vou te deixar escolher,
anjo. Vou começar pela boa.
— Sim. E ele vai alugar meu apartamento também, assim é uma renda
que vai entrar enquanto organizo a vida nova.
Ele me ajudou a colocar os sacos de papel em cima da mesa e depois
me colocou sentada ali, ao lado da comida e segurando meu rosto.
— Não é isso, Enrico. É que pensei que íamos conversar antes, pensei
que, quando soubesse como é minha vida, fosse ficar tão contrariado que
pudesse desistir e...
— E tem mais uma coisa, anjo. Algo que queria conversar sério
mesmo contigo. — Ele me olhou de forma muito profunda.
— Sério?
— Sim. Eu sei que seu trabalho exige que viaje pelo mundo. E que
não gosta de deixar o Andrew com a sua mãe para não dar trabalho a ela, mas
acho que podemos começar a pensar em colocá-lo em uma escola tradicional,
com alguns amiguinhos da idade dele, na Califórnia, e eu cuidaria dele. Sua
mãe poderia me ajudar e...
Parei de rir.
— Depende do contrato, mas... posso rever com meu chefe e... Você
está mesmo falando sério?
— Estou sim, Summer. Já imaginou? Eu posso me estabelecer na
cidade em que você mora, ficar cuidando do Andrew enquanto trabalha e,
sempre que voltar para a gente, encontrará nosso lar cheio de amor para te
receber. E claro, sempre que Andrew estiver de férias, poderíamos viajar
contigo. O que acha?
Eu achava que estava fazendo algum tipo de careta, pois ele meio que
me imitou.
— A não ser que essa cara signifique que odiou minha ideia e ache
que me precipitei e não imaginava que eu já pretendia me mudar com vocês
e... Que merda de cara é essa, Summer? Você está tendo um AVC?
— Não... é... é... É que... Você está mesmo falando sério? Em se
mudar, cuidar do Andrew, lar cheio de amor, essas coisas...?
— Por que fica me perguntando isso sem parar? É claro que estou,
anjo. Eu te amo. Eu te amo e não quero mais ficar contigo só uma semana.
Quero ficar uma década... — Ele me beijou. — Duas décadas... — Um novo
beijo. — Três décadas... Posso continuar por muitas décadas se isso significar
novos beijos.
Sorri.
— Enrico... Nem em todos os meus sonhos mais lindos, nem nos mais
safados também, imaginei que fosse me propor algo assim tão maravilhoso.
— Posso. Claro que posso, anjo. Não sou nenhum louco ditador que
vai chegar na vida do moleque impondo um monte de coisas novas. Eu sei
que a minha presença na vida de vocês já será algo muito diferente.
— Será mesmo. Ei, espere. Não que eu queira, mas você está me
devendo a notícia ruim.
— Não, não vamos, meu amor. Mas eu prometo que esta semana eu
não largarei vocês. Que te encherei de tanto carinho e amor que vai querer
ficar mais uma semana.
Ri, inclinando-me para trás e ele se aproveitou para beijar meu
pescoço.
— Adoro! Vou comer meu sushi em cima do seu corpo nu. E tomar
saquê no seu umbigo. Mas só depois que me fartar de você.
Ele me agarrou pela bunda e me levou até a cama. Eu soltei um grito
pela pressão que fez ao colar nossos sexos e perceber a ereção monstruosa
que ele já exibia. Era um insaciável mesmo aquele gostoso que inventei de
escolher como futuro marido.
— Sei.
Ele não parava de me beijar. Beijava minha testa, minha cabeça, meu
pescoço, meus lábios.
— Leio sim.
— Vamos aprender a ler em português também, né? — disse Enrico.
Foi então que vimos Ítalo ao longe. Vinha abraçado a uma mulher
jovem e muito bonita, com uma barriguinha aparente. Quando chegaram, ele
fez as apresentações:
— Oi, gente. Esta é Cíntia, minha esposa. Estes são Summer, Enrico e
o Comandante... — Ítalo tentava sorrir para o meu pai, mas não conseguia. —
Seu Lúcio. E esse aqui é o carinha super especial de quem te falei, amor. É o
Andrew.
Ítalo passou a mão pelos cabelos de Andrew e tocou seu rosto com
muito carinho.
— Ahhh... Não!
Andrew foi até Enrico e abraçou as pernas dele, procurando segurança
e consolo.
— Ei, o que é isso? Logo, logo eu estarei com vocês. Será tão rápido
que você não vai nem perceber. E vamos poder fazer aquelas videochamadas
que a mamãe e você me ensinaram. Vamos poder nos falar sempre que você
sentir saudades.
— Eu vou poder falar contigo todos os dias então?
— Nunca mais vamos falar sobre aquilo, vida. Não há mesmo o que
perdoar. Tudo foi esclarecido e somos uma família que só cresce, pelo visto.
— Sim. Ela só cresce e logo será ainda mais linda com a minha
irmãzinha maravilhosaaa! — Fui até Lília e a abracei com carinho. — Cuide
muito bem dessa Ferrazinha.
— Ah, essa aí será mais, Lília. Porque ela terá muito das Almeida
também, e você e sua família são mais guerreiras que eu.
Ela me abraçou novamente.
Enrico enfim me abraçou uma última vez e me virou para que seu
corpo enorme escondesse dos parentes o beijo apaixonado que me deu.
— Eu te amo. Te amo. Te amo. Nunca se esqueça disso, anjo.
— Summer?
— Isso não é uma aliança, isso não é nem mesmo um anel, mas quero
que saiba que te amo, amo de todo o meu coração e que mantenho meu
pedido, case-se comigo. Seja minha esposa. Eu serei o marido mais feliz e
abençoado por tê-la como mulher e ainda ganhar Andrew como meu filho. Eu
te amo, Summer. Eu te amo tanto.
Olhei para a mão e o que era antes um cordão, agora formava a mais
linda aliança de casamento. Várias voltas da prata enroscavam-se desenhando
meu futuro. Meu futuro ao lado dele.
Apressei meu passo até eles e abandonei meu carrinho para poder
abraçar os dois. Beijei a mulher da minha vida primeiro e ajudei a tirar meu
filho de suas costas, abraçando-o com força.
— Será que estava com mais saudades que eu, Andrew? — perguntei.
— É claro, papai.
Ah, aquela palavra, dita por ele, não tinha preço. Voltei a abraçar
Summer com Andrew preso ao meu peito e estava finalmente completo
novamente.
— Acho que é mais que maravilhoso. E acho que rapidinho você fará
ainda mais amigos.
— Obrigada, Enrico.
— Pelo quê, anjo?
Muitas felicidades!
Muitos anos de vida!
— Ainda tem que ser a passos lentos, Ítalo. Aqui as coisas são bem
burocráticas. Ainda não tenho cidadania e isso complica tudo. Só quando nos
casarmos é que conseguirei a licença para ministrar as aulas, levando em
consideração meu diploma do Brasil. E eu já me inscrevi para dar
continuidade nos estudos por aqui também. Vou fazer um mestrado na área
do crossfit, isso vai facilitar.
— Andrew, vamos desligar agora, mas você sabe que pode ligar
quando quiser, né?
— Sim. Pensei que ele fosse esquecer. Fazia tanto tempo que
tínhamos nos falado, só quando a Malu nasceu.
— Verdade, mas acho que ele não esquece de você, amigão — Enrico
falou atrás dele, beijando sua cabeça. — É impossível esquecer de um dos
garotos mais especiais que todos nós conhecemos.
— Aham.
Sorrio e beijo o topo de sua cabeça. Ela anda cansada porque o bebê
troca a noite pelo dia.
Iiii... ela fez uma pausa dramática. Isso não era bom.
— O que foi, querida?
— Summer! — ralhei com ela, mas sabia que era impossível prender
aquela mulher. — Para quando precisam de você?
— Sim, anjo.
Ligo o aparelho ao lado do berço e levo comigo o receptor. Sentamo-
nos à mesa, que já estava posta e com a comida fria. Coloco a babá eletrônica
entre mim e Summer e começamos a nos servir.
Eu sou completo.
Estou muito feliz que tenha chegado até aqui. Isso quer dizer que você
deu uma chance ao romance. Uau! Que felicidade!!! Muito obrigada por ter
lido.
Escrevo esta parte com o coração transbordando alegria, pois sei que
leu o livro todo. Obrigada. Obrigada. Obrigada.
Beijos,
AHA!
Você está prestes a saber o final do romance, então este é o seu último
aviso.
rsrsrsrsrsrs
MAS
HahahAHahaHahAha
MEU DESEJO DE ROCK
Sinopse:
Quando Jéssica Alves descobre que sua banda de rock preferida vai
tocar na cidade, a alegria logo é substituída pela tristeza ao perceber que não
tem como pagar pelo ingresso. Um milagre vem na forma de um encontro
inesperado e Jéssica consegue ir ao show.
Só que esse momento muda tudo.
Recebendo uma proposta de emprego que exige que ela se mude para
São Paulo, a garota tem de escolher entre trabalhar na equipe da banda
Tensão Elétrica e seguir seus maiores ídolos ou ficar e continuar o curso de
Psicologia que ela tanto ama.
Quando um futuro certo e o futuro dos sonhos colidem, qual caminho
seu coração seguirá?
Sinopse:
Uma mulher.
Dois irmãos.
Sinopse:
Graduanda em moda e secretária particular de uma das maiores
estilistas do Brasil, a jovem Eduarda Santos não tem muito tempo livre para
se preocupar com a sua vida amorosa. Por isso, sua chefe e, no momento,
única amiga, consegue convencê-la a usar um famoso aplicativo de
relacionamentos.
Sinopse:
Os integrantes da banda Tensão Elétrica querem férias e eles vão
infernizar o empresário para consegui-las.
Sinopse:
Vanessa é uma arquiteta renomada que conquistou o sucesso de sua
carreira por conta própria. Independente e focada, é obcecada por seu
trabalho. Até que um jovem bonito e charmoso cruza o seu caminho de forma
curiosa.
Sinopse:
Sinopse:
Sinopse:
Venha viver tudo isso e descobrir se ela terá forças para ultrapassar
todas as barreiras e alcançar o sonhado final feliz com seu amado.
Sinopse:
Rafaela é uma jovem de 18 anos que passa pela perda recente da mãe.
Entretanto, ela descobrirá que essa ausência lhe custará muito mais que a
saudade.
Sinopse:
Alice é a mais extrovertida de todas as irmãs Agnelli. Sabe o que quer
e nunca desiste de seus sonhos. Mas ao decidir cursar a faculdade em outro
estado com o namorado, enfrenta seu primeiro grande desafio: a resistência
do pai.
Ela não nega a atração irresistível que sente por esse professor, mas
também não quer abrir mão do seu namoro. Quem disse que o amor precisa
caber em uma caixinha da normalidade? Essa irmã Agnelli vai mostrar
diferentes formas de amar e ser amada.
Sinopse:
Sarah se casou com um homem que, a exemplo de seu pai, é egoísta e
autoritário, e agora se vê forçada a viver uma submissão sofrida. Uma mulher
que sempre havia sido forte e independente, aos poucos se tornou incapaz de
entender que o amor não habita um relacionamento marcado por abusos
físicos e psicológicos, e se conforma em tê-lo sempre às margens de sua vida.
Mal sabe ela que o grande e verdadeiro amor existe. Ele pode estar
mais perto do que imagina, na figura de Miguel, um amigo de infância, que a
ama em segredo. Algo está prestes a se romper na vida de Sarah, quando seu
coração se torna palco de um duelo entre dois sentimentos controversos:
permanecer presa ao duro destino, ou arriscar tudo e se entregar ao amor?
Sinopse:
De volta ao Brasil, cada casal terá que enfrentar seus próprios
desafios!
Sinopse:
Os rapazes da banda Tensão Elétrica estão de férias! Como os bons
meninos que são, passarão o Natal e a virada do ano com suas famílias.
Sinopse:
Ela escreve desde criança, mas quando nova, não entendia que as
letras poderiam se tornar, um dia, sua profissão. Escrever sempre foi algo
muito natural, que a acompanhou a vida toda, não lembrando exatamente
quando começou, mas sabendo que ainda não parou. Ela costumava dizer que
não se sentia sozinha, pois estava sempre acompanhada de seus personagens.
Hoje dedica-se exclusivamente a seus romances. Apesar de seus
livros terem teor erótico, esse não é o foco de suas histórias, e os temas
abordados vêm em primeiro plano. Então estejam preparados para encontrar
assuntos atuais, polêmicos e que merecem ser discutidos, mesmo que as
narrativas venham mascaradas em forma de clichês dramáticos.
Estou sempre pelas redes sociais e caso queira bater um papo, fale
comigo:
Instagram: @tyannemaia
Wattpad: @tyannemaia
Site: www.tyannemaia.com.br
Playlist: https://is.gd/playlist_tyannemaia
[1]
Revista da National Geografic Society, dedicada a reportagens fotográficas destinadas ao estudo da
natureza e das culturas humanas e suas realizações ao redor do planeta.
[2]
Linda, bonita.
[3]
Paixão.
[4]
Feiticeira maldita. Você quer tirar minha sanidade?
[5]
Linda do meu coração.
[6]
Te quero tanto. Muito mais.
[7]
Linda é você.
[8]
Você é uma delícia de mulher.
[9]
Lente de aproximação, utilizada especialmente para fotos à distância.
[10]
Lente teleobjetiva.
[11]
Fetiche sexual que consiste em se excitar enquanto se observa outras pessoas nuas ou envolvidas
em ato sexual
[12]
Perseguidor obsessivo.
[13]
Agora eu, mamãe.
[14]
Boa tarde
[15]
Sim. Vamos logo.