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Sei que, para algumas pessoas, este livro pode parecer “estranho”:

como uma mulher pode ficar com sete homens? Isso é um tabu em nossa
sociedade, visto como antiético ou mesmo “anormal” para algumas pessoas.

No entanto, eu gostaria de pedir que abra a sua mente para ler este
romance. Eu garanto que você vai terminar este livro com tanto amor em seu
coração como por outros romances, para os quais já deu uma oportunidade e
não se arrependeu.

É sim, de longe, o meu livro mais hot. Não posso negar. Entretanto é
também um dos livros mais emocionantes, divertidos, engraçados e, acima de
tudo, com lições de vida que podem abalar muitas estruturas. Sim, estou
falando de você que está lendo: este livro pode te marcar para sempre!

Não julgue antes de ler.


Não julgue antes de conhecer os personagens.
Não julgue por ouvir de terceiros.
Leia e tire suas próprias conclusões.

Se já for começar a leitura com o coração cheio de pré-julgamento,


aconselho a não dar continuidade à leitura e parar agora. Agradeço pelo
carinho em ter baixado o ebook ou comprado o livro, mas este romance
necessita ser lido com a alma livre e repleta de amor.

Eu garanto que Summer e seus sete desejos irão conquistar cada um


de uma forma especial e arrebatadora.

E eu estarei aqui na torcida, esperando o seu e-mail ou mensagem nas


redes sociais, para me dizer o que achou do livro.

Um último aviso cheio de carinho:

Prepare seu coração.


Você pode não estar preparadx para viver essa aventura, mas espero
que, ao final dela, ele esteja transbordando de amor por ter se deparado com
um romance tão atípico.

Que sua leitura seja inesquecível.


Este livro é muito especial por vários motivos, mas principalmente
porque ele nasceu de um bate-papo entre minhas leitoras e eu.

Estávamos finalizando uma Leitura Coletiva quando, como uma


brincadeira, nos perguntamos como seria um livro em que uma garota não
ficasse com apenas um cara, mas com vários.

Assim como muitas outras ideias que elas me dão, anotei em meu
caderno aquela dica e, um ano depois, nasceu: Eu e meus sete desejos.
Este livro é uma homenagem às minhas leitoras lindas, que me
incentivam todos os dias. Elas apoiam o meu trabalho, acreditam em mim e
estão ao meu lado em todos os passos dessa caminhada incrível que é criar
novos mundos, dar vida a personagens tão inusitados e oferecer diversão com
as leituras de meus romances.

Hoje tenho um grupo de WhatsApp no qual conversamos todos os dias


e é por lá que elas me fazem sorrir, dividem suas vidas comigo,
compartilhamos fotos, brincadeiras e piadas, e hoje já nos consideramos uma
família. As leitoras do meu grupo ganham cartinhas especiais de aniversário,
seus nomes vão para os livros em forma de homenagem (tem algumas neste
livro) e sabem as novidades sobre os próximos livros em primeira mão. Elas
me ajudam com dúvidas que tenho e, vez ou outra, me descrevem sobre
regiões do Brasil ou respondem enquetes para me ajudar em alguma história.
Meninas, o que dizer sobre vocês, a não ser que são maravilhosas?
Agradeço ao universo todos os dias por ter traçado o destino de cada uma de
vocês junto ao meu. Muito obrigada por tudo!

E se você acompanha meu trabalho, gosta de meus romances e


aguarda cada lançamento com ansiedade, deveria vir conhecer essa minha
família do coração. Basta me chamar por alguma rede social e pedir para
participar do meu grupo do WhatsApp. Tenho certeza de que você irá amar.
Se, assim como eu você adora ler escutando música, a playlist do
livro está disponível no Spotify. Basta fazer uma busca sobre meu nome:
Tyanne Maia.

Ou acessando o link:

https://is.gd/playlist_tyannemaia
Informações especiais – Leia, por favor!
Dedicatória Especial
Playlist
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capitulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Obrigada
Curiosidade sobre o livro
Agradecimentos
Livros já publicados
Sobre a autora
Redes sociais
Em algum momento do futuro

— Anjo? O que você faz aqui?


Continuei deitada, olhos fechados, provei mais um gole da minha
bebida. Eles eram tão reais para mim que podia até escutá-los. Eu havia
mesmo ficado atraída demais por aqueles sete sacanas. E eu estava tão
envolvida por Enrico que a lembrança dele, mais do que a de todos, vinha a
mim com mais força. Tanto que podia jurar ter escutado a voz dele ao meu
lado.

— É a Summer? Mas o que ela faz aqui?

Aquilo já era demais...


Um até podia ser alucinação, mas dois?

Agora tinha certeza de que era Pablo, com sotaque e tudo!

Abri apenas um dos olhos e vi os dois parados à minha frente, altos,


lindos, maravilhosos. Pablo acabava de cruzar os braços na frente do peito
amplo e abria o sorriso. Enrico continuou sério... e gostoso. Por que sempre
tinha que se manter austero daquele jeito?
Eu não tive tempo de pensar.

Adam se jogou em cima de mim e segurou meu rosto. Aquele sorriso


aberto, aqueles dentes perfeitos, aquele volume enorme prensado sobre
minhas coxas... Ai, Jesus, me dê forças!
— Oi, gatinha. Eles duvidaram que era você quando te vimos
caminhando para cá. Eu tinha certeza e eles acharam que eu estava ficando
doido. Aí encontramos você assim, deitada, tão linda, exposta. E eu falei: “Eu
nunca confundiria aquela loira. Jamais vou esquecer aquela garota...” — ele
disse em sussurros, tão gostosos, enquanto passava os lábios de leve por meu
rosto.

Mas o filho de uma puta não se conformou só com aquilo e me


surpreendeu mais ainda quando moveu rápido o rosto e colou seus lábios aos
meus. Exigiu um beijo forte e enfiou sua língua em minha boca. Suguei com
mais prazer do que queria demonstrar. Quando terminou o beijo, ele se
afastou ainda sorrindo, safado, e ficou em pé ao lado dos amigos... enormes.
Enrico estendeu a mão na minha direção e eu a segurei, mas demorei a me
erguer. Minhas pernas estavam moles pelo que Adam havia me feito.

Assim que me recompus, me ergui e fiquei entre os três.

— Oi, rapazes. O que fazem aqui? — Minha pergunta foi direta.

Enrico, sem soltar minha mão, respondeu:

— Fomos convidados pela Mayza Carvalho.


Ele se inclinou e beijou meus lábios com delicadeza, sem exigir tanto
quanto Adam.

Quem era Mayza Carvalho? Ai, meu Deus! Bastava eles estarem
assim tão perto para eu não saber nem quem eu era. Ah, a amiga da Sandra,
dona da festa... Que mico! Ainda bem que não falei em voz alta.

— E o que você faz aqui, guapa? — Foi a vez de Pablo questionar,


inclinar-se e me beijar com delicadeza também.
— Entrei de penetra — soltei, espontânea, já atingida pelo álcool e os
três riram.

— A moranguinho que eu conheço jamais faria isso. — A voz grossa


e sedutora de Ítalo explodiu bem atrás de mim. — É uma garota séria. E esses
muros são altos demais para pular com um vestidinho tão curto.

A mão forte de Ítalo tateou o final da minha coxa e subiu com


delicadeza. Ele parou quando chegou no início da minha bunda e meu corpo
pegou fogo com o toque daqueles dedos. O beijo abrasador veio em meu
pescoço e fechei os olhos para recebê-lo. Eles iam me enlouquecer. Eram
treinados para aquilo.
Dei um passo à frente para escapar do malandro e me virei na direção
dele, colando as minhas costas e a bunda em Enrico.

Minha perdição.

Senhor, o que eu ia fazer? Eu estava completamente perdida...

— Você conhece a Mayza? — Pablo perguntou e me virei


novamente.

Aquilo já estava ficando constrangedor.

— Não muito bem, mas minha amiga Sandra é amiga dela. Por isso
estou aqui...
— Ah, então estamos todos entre amigos.

Adam sorria, safado. Eu já conseguia imaginar várias coisas que


passavam por aquela cabeça imoral.

— Pois é... E será que vocês conhecem minha amiga Sandra? Sandra
Almeida?
Perguntei apenas para desconversar e sorri, sem graça.

Estava tão perdida por vê-los ali. Desejava aquilo. Sonhara com
aquilo, mas no fundo tinha sérias dúvidas se iria encontrá-los novamente. E
ainda mais quatro ao mesmo tempo.

— Não! — responderam juntos.


— Ainda bem — falei sem querer e eles riram.

— Por que o alívio em não conhecermos sua amiga, moranguinho? —


Ítalo perguntou.

Porque ela com certeza daria em cima de um de vocês em dois


tempos.
Afastei-me para o lado, assim podia contemplar a todos, e abracei
meu corpo. Tinha medo de que eles percebessem que eu tremia de leve. Um
tremor não de frio ou de nervosismo por estar perto deles, mas um frêmito de
desejo. E me segurava para não avançar e os agarrar, imitando os casais
espalhados ao meu redor. A bebida de fato começava a me fazer desejar
muitas coisas.

— Por nada. Então, me contem, onde está o resto da gangue?

Joguei a pergunta ao grupo. Adam foi rápido:

— Com saudades dos outros, gatinha? Não se contenta com apenas


nós quatro?

— N-não foi isso que quis dizer...


— Não fique nervosa. E não ligue para esse cretino — Ítalo
sussurrou.

— Não estou nervosa...


— Parece — Adam gemeu no meu ouvido, o que me fez arrepiar.

— Pois saiba que não estou...

Uma mão forte segurou minha cintura e me puxou por trás. Eu colei
minhas costas ao corpo definido de Pablo.

— E se todos nós fôssemos para um lugar mais reservado? — ele


perguntou, rouco, em meu ouvido, mas eu sentia que ele encarava os amigos.

Meus olhos foram para eles e percebi seus olhares queimarem. Desejo
exalava por seus poros. A confirmação que queriam aquilo... tanto quanto
eu...

— Reservado? — repeti disfarçando a ânsia pelo ato.


Ítalo beijou meu ombro e em seguida prendeu-se no lóbulo da minha
orelha direita:

— Gostei da ideia. O que acha, moranguinho?

— Nós... cinco? — insisti na pergunta.


— Sim, os cinco... — Adam disse baixinho.

Ele fazia o mesmo que Ítalo, mas do lado esquerdo. Meus olhos
estavam cravados nas órbitas verdes de Enrico. Ele hesitava. Ele era todo...
Enrico, com seu jeito certinho de ser. Então perguntei a ele:

— V-você virá conosco?


— Você quer que eu vá, anjo?
— Sim. Muito. Mas...

— Mas não faríamos nada que não quisesse, anjo. — Enrico manteve-
se à minha frente, vendo os amigos me provarem onde suas bocas
alcançavam. — Venha conosco, anjo.
Aquilo foi um pedido, uma ordem ou um comunicado?

Eu estava tão entorpecida pelos três homens que não paravam de me


tocar que não fui capaz de diferenciar. Vi a mão de Enrico no ar e a segurei.
Ele me conduziu no meio do tumulto. Os quatro me cercaram e protegeram
meu corpo como se estivessem acostumados a fazer aquilo com frequência.
Passamos pela primeira sala e eles foram cortando os convidados. Fizeram o
mesmo quando atravessamos a segunda sala igualmente cheia e só quando
alcançamos o início da grande escada que se dividia para a direita e para a
esquerda eles se dispersaram. Seguimos para a direita e avançamos subindo.

— Para onde está me levando? — perguntei diretamente a Enrico.


Estava hipnotizada por ele. Não conseguia desviar os olhos das
tatuagens nos braços atléticos.

— Já esteve em alguma festa da Mayza, gatinha?

Era Adam, a voz tão suave...


— Não.

— Garanto que você vai gostar, moranguinho — foi a vez de Ítalo


falar delicadamente.

— Vou?
Ele apalpou minha bunda e dei um pulinho de susto. Seguimos pelo
corredor e passamos pelas inúmeras portas, testando uma a uma, procurando
uma aberta, liberada para tudo o que desejávamos fazer. Quando uma delas
cedeu, acho que todos gememos. Olhei para os quatro, que não desviavam a
atenção de mim.

— Vai entrar nesse quarto com todos nós, guapa? — Pablo


perguntou.
— Todos? — Olhei por cima do ombro para Pablo.

— Sim — ele confirmou.

Olhei para a porta entreaberta e voltei a passear meus olhos por eles.
— Como sabem que podemos entrar aí?

— Sabemos.

— Como?
— É uma festa da Mayza. Ela não te explicou? Se tem porta e não
está trancada, podemos usar... — Adam respondeu. — Como quisermos.

Aquilo me arrepiou, mas me despertou também.

— Vocês vêm sempre às festas dessa Mayza?

Eles não responderam. Virei-me e colei meu corpo à porta. Encarei os


quatro que se posicionavam à minha frente. Eles se entreolharam rapidamente
com aquela maldita comunicação silenciosa.

— Vocês planejavam dividir uma mesma garota hoje? Vocês


costumam fazer isso?

Pablo negou com firmeza:


— Não, guapa.

— Ah! Então vieram preparados para ficar com muitas mulheres?


Eu queria saber. Estava enciumada e acho que não conseguia disfarçar
muito bem.

— Claro que sim, gatinha. — Adam estava tão afoito que parecia a
ponto de pular em cima de mim. — Mas esbarramos com a mais perfeita das
mulheres. E acho que nenhum de nós quer te dispensar hoje.
— É um sem-vergonha mulherengo mesmo! Nem para mentir.

Adam sorriu descaradamente:

— Sou sim. Você sempre soube disso.


— E vocês quatro querem ficar comigo... ao mesmo tempo?

Enrico continuou imóvel. Pablo apenas balançou a cabeça


positivamente. Ítalo passou a língua pelo lábio inferior como se querendo me
provar, como havia feito no passado, e Adam abriu aquele sorriso cafajeste
de sempre.

— E se eu não quiser? — perguntei em um sussurro. — Afinal, vocês


não estavam aqui por mim, estavam para pegar outras garotas.
— Não venha com ceninha de ciúmes agora, gatinha. Você está louca
para nos ter novamente.

— Jura, cafajeste? Vai sonhando que vou querer os quatro...

— Vai querer... — Pablo insistiu.


— E se não quiser? — repeti.

— Você não quer, anjo?

Enrico questionou passando a mão em meu rosto e minha pele se


arrepiou. Ele tinha que perguntar?
Minhas mãos já estavam na parte de trás, em minhas costas. Passei
uma delas no trinco da porta e abri, deixei meu corpo correr para dentro e o
sorriso no rosto dos quatro ampliou-se.

Não demorei a sentir oito mãos percorrerem meu corpo e começarem


a arrancar toda a roupa que me cobria em tempo recorde. O cinto voou para
algum lugar e não sei dizer onde caiu. Quatro mãos, que eu não tinha ideia a
quem pertenciam, ergueram meu vestido e antes mesmo de a roupa passar
pela minha cabeça, ouvi suspiros e grunhidos roucos.

Eu tentaria dar conta de tantos homens.


Preparando-me para viver uma nova aventura

Eu sabia que não seria fácil.


Não seria.

Eu sabia que poucos entenderiam.

Até o momento nem eu mesma entendia.


Ou aceitava.

Mas eu tinha que fazer aquilo.

Para o bem do Travis.


Para o meu bem.

— Venha comigo para a Inglaterra. — A voz de Maisie me trouxe de


volta de meus pensamentos.

— Não. Já te falei umas trezentas vezes.


— Por quê? Será tãããooo legal.

— Você não suporta estar em família, amiga. Eu serei apenas seu


estepe, a pessoa para quem você correrá quando estiver entrando em
parafuso... e não é disso que estou precisando.

— Ahhh, que injusto comigo.


— Sua menininha egoísta e mimada.

— Você sabe que não sou nem uma coisa e nem outra.

Me joguei em cima de minha cama ao lado da amiga de uma vida


toda. Abracei seu corpo de proporções perfeitas e encostei minha cabeça em
seu ombro, usando-a de travesseiro.
— Então me apoie, Maisie. Diga que essa loucura que estou fazendo é
o certo. Por favor, preciso escutar isso.

— O que você está fazendo é uma loucura total, Summer. Quem pede
um tempo de um namoro perfeito com o melhor partido do colégio, que se
formou em Medicina e que hoje é um dos melhores e mais bem-sucedidos
nutrólogos da cidade?

— Eu!
— Pois é! E se esse tempo o levar a notar que há outras mulheres
interessantes além de você? Você tem consciência de que essa possibilidade
existe?

— Você não está ajudando, Maisie. Mas, bem... se isso acontecer, só


vai provar minha teoria... que devíamos conhecer outras pessoas antes de
algo mais sério...

— Summer. Amiga. Você acabou de negar o pedido de casamento do


cara... e ainda pediu um tempo para ele.
Ergui minha cabeça encarando-a.
— Maisie, eu só namorei o Travis a minha vida toda. Ele é o único
homem que conheci na vida. Você sabe disso. Únicos lábios e único na cama.
É justo que eu passe toda a minha vida ao lado dele sem saber o que pode
existir além dessas fronteiras?

— Não. E você conhece muito bem meu lema: aproveite o máximo de


homens possível. Os mais velhos e experientes são os melhores, linda. Então
admita que esta viagem é para poder abrir as pernas para algum cara e
descobrir se o Travis realmente manda bem para caralho e se você quer
passar a vida toda com ele. Ah, me lembrei, tenho algo para você...
Ela foi até sua bolsa e pegou um pequeno embrulho de presente e o
entregou para mim:

—Uma ótima viagem, com muitas descobertas e novas experiências...

Fiquei empolgada, mas quando abri o pacote, descobri que era um


tubo de lubrificante íntimo. Eu o joguei de qualquer jeito dentro de minha
mala, chacoalhei a cabeça e olhei para ela:
— Putz, Maisie. Não dá para manter um diálogo contigo. — Sentei-
me chateada, mas ainda de frente para ela. — O intuito dessa viagem é
justamente o oposto. Não quero conhecer ninguém, quero paz. Quero
primeiro me encontrar, me descobrir e só depois pensar em homens, sejam
terceiros ou o Travis.

— Eu definitivamente desisto de te entender. Primeiro, você me diz


que o motivo disso tudo é que nunca ficou com ninguém além de Travis, e
agora diz que não quer viver novas experiências... que porra é essa, amiga?

— Bem, ainda bem que onde eu vou não vai haver como encontrar
homens. Meu pai sempre foi muito severo com isso.
— E eu não sei? Até hoje implica com o coitado do Travis.

— Amiga, você defende muito o Travis. Pelo amor de Deus, fique do


meu lado. Foco.
— Amiga, como eu vou ficar do seu lado se você vai viajar para o
outro lado do planeta e ainda me diz que nem vai aproveitar um tantinho...?
Meu conselho é: vá conhecer alguns clubes, beba todas e abra essas pernas
para o máximo de caras que quiserem te comer. Esse é o maior favor que
você pode se fazer.

Bati a mão no rosto.

— Como eu posso amar tanto você, Maisie?


— Porque eu te amo na mesma proporção.

A doida se jogou em minha direção e dessa vez foi ela quem ficou por
cima de mim, abraçada ao meu corpo e apoiada ao lado do meu rosto. Ela
beijou minha bochecha e disse baixinho.

— Eu estou muito orgulhosa de você.


— Está?

— Claro que sim. Isso que está fazendo não é fácil. Você pegou seis
anos de namoro e os colocou no bolso. Está querendo refletir se continuar ao
lado desse sujeito super legal é o certo... Summer, não é qualquer pessoa que
teria essa coragem. Temos quase a mesma idade, mas compare nossas
experiências amorosas.

— Não tem como comparar, Maisie.


— Exato. Agora, falando a verdade e sem brincadeiras, acho que você
está agindo com muita sensatez. Imagine se você tivesse aceitado o pedido do
Travis e daqui a quatro anos descobre que queria experimentar novas
aventuras...

— Mas essa viagem não tem esse intuito...


— Eu sei, mas convenhamos. — Ela sentou-se e me encarou séria. —
Summer, se você pediu esse tempo é porque você não morre de amores por
ele. Se amasse de verdade, nem cogitaria esse plano.

Sentei-me também e encarei minha amiga respondendo séria:

— Mas eu amo o Travis...


— Hum... talvez como amigo? — Ela torceu o nariz.

— Não, eu gosto mesmo de...

— Amiga, seja sincera... Consigo mesma, não comigo. Você não me


deve satisfação alguma...
— Eu... o amo... não amo?

— Não sei. Só o seu coração pode dizer. E acho, de verdade, que


tomou uma decisão muito acertada.

— E aquela história de eu ser louca por ter negado o pedido dele?

— Você sabe o quanto eu gosto de infernizar sua vida.

— Gosta mesmo, Maisie.

— Então vamos terminar de arrumar essa mala, Summer. Eu também


tenho que ir para casa e arrumar a minha.
— Como se você fosse chegar em casa e suas malas não estivessem
arrumadas pelas empregadas. — Ela sorriu dissimulada. — Se você me
ajudasse seria mais rápido. Não dobrou uma única camisa.
— Estou cansada. —Ela deixou o corpo cair novamente na cama. —
Summer, não acredito que vamos ficar um mês sem nos ver.

— Nem eu. Quando foi a última vez que ficamos tanto tempo longe
uma da outra?
— Está brincando? Acho que nunca.

— Exagerada.

Ela se divertia.

— Mas, Summer. Falei sério sobre você ir a alguma balada e ficar


com o máximo de caras.

— E eu falei sério dizendo que esse não é o intuito.

Continuei escolhendo as roupas, dobrando e colocando tudo de forma


organizada na mala.
— Mas se aparecer e você tiver oportunidade, aproveite. Assim,
depois, não se arrependerá.

— Amiga, você não está entendendo. Você não conhece o meu pai. O
seu Lúcio é linha-dura. Capaz de eu não sair de casa. Vou passar este mês em
meditação se depender dele.

— Então devia ir comigo para a Inglaterra. Lá eu poderia achar muita


diversão para nós duas.
Era impossível não rir das colocações de Maisie.

— Quero ir para o Brasil. Estou com saudades do meu velho.

— Que pena. Meu irmãozinho vai estar lá comigo, Summer. E não é


porque o cara é meu irmão não, mas ele é um gato.
— Obrigada pela oferta de jogar o Harry para cima de mim, mas não
mesmo... Eca... ele é quase um irmão...

— Não, querida. Ele é meu irmão. Seu não é nada. E até podia ser
uma foda do caralho. Pelas coisas que ele me conta... você não sabe o que
está perdendo.
— Pare de tentar achar caras para transar comigo, sua louca.

— Louca é você por nem pensar nessa possibilidade. — Ela pegou


uma das minhas lingeries e ergueu no ar. — Mas para quem pensa em não
transar com ninguém, essa calcinha conta outra história...

Tomei da mão dela a peça minúscula, rindo sem jeito.


— Todas as minhas calcinhas são assim.

— Micro? Quase precisei de um microscópio para descobri-la...

— Maisie, vá até a cozinha e vai se foder, por favor.


Ela gargalhou antes de se levantar e caminhar até a varanda do meu
quarto.

— Summer, eu posso ir te visitar!

Aquilo não era um pedido. Era uma colocação.


— Não.

— Por que não?

Ela se virou surpresa com a resposta.


— Que parte do “eu estou tentando me encontrar” você não entendeu
ainda? — Fiz aspas com os dedos para reforçar minha colocação.

— Mas se encontre comigo ao seu lado! A Inglaterra vai estar um


gelo. O Brasil pelo menos é quentinho.

— A resposta ainda é não.

— Por favor...

Ela juntou as mãos em um pedido de súplica.

— Maisie, não. Não é não. E não. E pronto. Não.


Ela franziu o nariz e fez uma careta fofa.

— Tem algo por trás desse não.

— Claro que tem, Maisie.


— Eu sabia. Me conta. Por que eu não posso ir te visitar?

Respirei fundo, levei minha mão à testa procurando paciência para


lidar com a minha melhor amiga.

— Se você quer mesmo saber, é porque você vai transar com o meu
pai.
— O quê? — Ela quase pulou, sobressaltada.

— É isso, amiga. Você adora ficar com caras mais velhos e tal...

— Eu não vejo o seu pai há uns cinco anos, amiga. E pelo que
lembro, ele não é essas coisas todas...
Olhei para ela com cara de indiferença.

— E desde quando o cara precisa ser alguma coisa para você se atirar
no pau dele?

— Falando assim faz parecer que sou uma puta.


— Não. Só alguém que gosta muito de foder.
Me virei e peguei o último vestido que queria levar. Escolhi apenas
roupas leves e confortáveis para suportar o calor da cidade. Ao contrário do
hemisfério Norte, que estava gelando, o Brasil era tropical e o clima estava
muito agradável.

— Fala sério, Maisie, você ia se atirar nele na primeira oportunidade.


Meu pai perdeu o pé quando salvou aquele menino no incêndio na Missão de
Paz no Sudão e foi para a reserva militar antes do tempo, mas isso não foi
razão para ele deixar de malhar. Nem dá para perceber que ele usa prótese, e
ele continua fazendo todos os tipos de condicionamento físico, inclusive
corrida. Ele está cada dia mais gato, com um corpitcho de deixar muito
garotão com inveja. E agora que transformou o sítio dele em um campo de
treinamento, trabalha mais que nunca.
— Hum, um herói... e ele tá malhado, é?

— Olha aí, não falei? Vai foder com o ele! Nada de me visitar.

— Aff. Ele nem está mais com a sua mãe.


— Separado da minha mãe não quer dizer que deixa de ser meu pai.
Sua tarada!

— Olhar não arranca pedaço.

— O problema é que você não consegue apenas olhar. Quer logo


sentar.
Pisquei, safada, para ela e a doida sorriu.

Duas batidas na porta aberta fizeram nossos rostos se voltarem para


aquela direção.

— Posso entrar?
— Claro, mamãe. Entre — chamei-a. — Maisie estava me ajudando
com a mala.

Minha mãe riu bem mais alto do que tenho certeza de que ela
gostaria.
— Isso é um complô contra mim? Vocês duas estão unidas, é isso?

Maisie disse fingindo estar ofendida e ainda divertida foi abraçar


minha mãe, que beijou os cabelos negros de minha amiga. Elas se adoravam.

— Conseguiu convencer Summer a ficar?


— Não, tia.

— E a ir contigo para a Inglaterra? — Minha mãe insistia.

— Nada. Fracasso total.


Eu apenas sorria para as duas, que tentavam tramar contra mim.

— Mas a Maisie me deu ótimos conselhos, mamãe. Para eu transar


com o máximo de caras possível — disse, sem vergonha, e percebi o rosto de
Maisie corar.

— Você falou mesmo isso para Summer, Maisie?

— Bem, não foi bem assim... — Ela estava desconcertada.

— Obrigada por ter dado esse conselho, querida. Também acho que
Summer deveria se divertir, já que resolveu fazer essa viagem louca.

— Ufa! A senhora também acha o mesmo? — Maisie aliviou o


semblante.
É claro que minha mãe achava isso. Ela desejava que eu fosse feliz,
tanto ou mais do que a minha amiga. Mas uma ideia louca como aquela
nunca partiria dela.

— Claro que sim. Entretanto, infelizmente, acho que a coitadinha nem


voltará para os Estados Unidos.
— Por quê? — nós duas perguntamos ao mesmo tempo.

— Porque seu pai vai te convencer a entrar em um convento, amor.


Ele nunca vai te deixar chegar perto de um rapaz.

— Ah, por isso — respondi, me divertindo. — Não falei, Maisie?


Meu pai é osso duro de roer...
— Ele é um chato, isso sim — minha mãe falou se soltando de Maisie
e vindo para mim, abraçando-me. — Não deixe que te prenda em casa. Saia,
divirta-se, viva e viva intensamente, pois a vida já é tão curta para não se
aproveitar cada momento e cada segundo dela meu amor. Descubra o que tem
que descobrir e volte para mim. Sabe que eu aceitarei todas as decisões que
tomar e te apoiarei em todos os seus sonhos.

— Obrigada, mamãe.

— Mesmo que o sonho dela for fotografar em cima do Everest, ou


pelos rios do Congo? — Maisie falou, desgostosa, encarando as unhas
perfeitas.
Minha mãe voltou a olhar para mim. Nossos olhos azuis se
encontraram. Eu era muito parecida com ela.

— Sim, querida. Mesmo que queira tirar fotos em cima de uma lhama
em Machu Picchu ou no gelo da Sibéria.

— Obrigada, mãe. Não sabemos se eu serei aceita...

— Se suas fotos não conquistarem a National Geographic[1], temos


muitos outros lugares para enviar seu portfólio, meu amor. E eu serei sua
maior incentivadora e apoiadora. Nem que para isso eu banque todas as suas
viagens.

— Agora eu entendo por que ela não quer se casar. — Maisie foi
irônica.
— Cale a boca, sua amiga ingrata.

Ela veio e abraçou a mim e à minha mãe ao mesmo tempo.

— Amiga ingrata nada. Amiga que te ama.


— Eu também te amo, amiga.

— Já vou indo, coisa chata. Tenho que ver se Mary guardou tudo que
pedi nas minhas malas.

Eu e minha mãe sorrimos. Com apenas 25 anos, Maisie já era


responsável pelas filiais das Américas da empresa de chocolates da família.
Ela trabalhava incansavelmente e era uma empresária capaz de deixar
qualquer pai orgulhoso. Harry, seu irmão, administrava as filiais da Europa, e
o pai deles, a região da Oceania e da Ásia.

— Mimada — disse à minha melhor amiga, em uma brincadeira que


fazíamos desde crianças.

Soltei minha mãe, que nos libertou, dando espaço à nossa união.

Era um abraço sofrido. De despedida. Não fazíamos isso com


frequência. Mesmo quando Maisie viajava a trabalho, nunca se demorava, ou
ela dava um jeito de eu ir junto, onde eu aproveitava para fotografar os
lugares e as pessoas.
— Loira sem graça — ela começou.
— Devoradora de homens.

— Chocólatra.

Soltamos do nosso abraço, encarando-nos.

— Ei... Você não trouxe novos chocolates para mim — reclamei.

Maisie sempre trazia novos sabores para eu experimentar e ver se eu


descobria quais eram os que haviam sido escolhidos para entrarem em linha
de produção. Eu adorava aquele desafio, e acertava sempre.

— Foi mesmo... Summer, criamos uma receita nova com uns


crocantes... não vou contar o que tem nele, quero ver se adivinha. Quando
voltarmos, vou trazer para você experimentar.

— Jura que só vou provar depois da viagem?

— Sinto muito, querida. Agora só quando voltar. A que horas é o seu


voo?
— Às nove da noite. Chego em São Paulo pela manhã.

— Você tem mesmo certeza dessa história de fazer uma surpresa para
o Lúcio, Summer? — minha mãe perguntou e nós duas olhamos para ela.

— Claro que sim. Quero só ver a cara do velho quando me pegar


batendo na porta dele.
— É louca. É louca e está a cada dia mais louca. E se ele estiver com
uma mulher em casa? — Maisie perguntou. — Com todo respeito, tia
Adele...

— Pode falar o que quiser daquele ali. — Minha mãe não nutria mais
nenhum carinho por meu pai.

— Eu pego minha mala e vou para um hotel.


— Bem, você é quem sabe. Agora vou mesmo embora. Parto só
amanhã. Eu vou com vocês para o aeroporto.

Maisie me deu um novo abraço antes de sair do meu quarto e partir.

À noite minha mãe e Maisie estavam comigo no embarque.

— Eu te amo, filha. Assim que pousar, me manda mensagem.

— Pode deixar, mamãe.

Beijei e abracei apertado minha mãe, mais uma vez.

— E quero fotos de todos os caras com quem você ficar — Maisie


disse sorrindo ao me abraçar.
— Não vai receber nenhuma, então. Eu te amo, amiga! Não se
aproveite demais dos homens na Inglaterra.

— Eu também te amo, amiga. E eu vou aproveitar muito.

Rimos juntas.
Olhei para as duas mulheres mais importantes da minha vida.

— Eu amo vocês duas. Até logo.

— Diga para o seu pai...


— Não, mamãe. Eu não vou mandar ele se foder...

— Tudo bem então. Que pena.

— Mais alguém estranhou o Travis não ter vindo, ou só eu? — Maisie


perguntou.
Eu não havia contado a nenhuma delas que eu não havia dito ao
Travis que ia viajar. Sorri de nervoso por dentro.

— Ele tá muito magoado, amiga.

— Bem, no lugar dele eu acho que eu também estaria.

— Infelizmente não posso fazer nada. Estou pensando no nosso bem.


Vamos ver como vamos nos sair quando eu voltar e conversarmos.

— Se é que vão conversar.

Sorri triste. Ela tinha razão. Aquela conversa poderia nunca existir.

Respirei fundo, joguei a mochila nas costas e puxei a alça da mala de


mão. Ergui minha mão para as duas, como um último aceno de despedida.
Parti em direção à sala de embarque e, assim que passei do detector de
metais, sorri feliz.

Pela primeira vez em muito tempo.


Chegando ao Brasil – Conhecendo o sítio

Eu estava ao lado da esteira esperando minha mala quando enviei uma


mensagem para minha mãe e outra para Maisie.
Peguei um táxi e fui direto para o condomínio do meu pai. Na
portaria, fui informada que ele não estava. Havia viajado.

— Como assim viajou? Ele sempre me avisa quando viaja. É


impossível...

Saquei o celular e liguei para ele. O telefone tocou a primeira vez.


Tocou a segunda e a terceira e nada de ele atender. Tocou a quarta vez e
comecei a me preocupar.
— Atenda papai. Atenda.

— Alô, sol da minha vida. — Aquela voz cheia de carinho sempre


fazia meu coração derreter, como se eu voltasse a ter cinco anos de idade.

— Oi, papai. O senhor viajou?


— Estou no sítio, raio de sol. Por que a pergunta?
— É que eu estou em frente ao condomínio do senhor. Surpresa!

O silêncio reinou no aparelho e aquilo me preocupou.

— Papai?

— Você está no Brasil? Em São Paulo?

— Estou! — falei sem jeito e, na segunda vez que pronunciei a


palavra, ela saiu triste: — Surpresa!

— Eu estou no sítio para coordenar um treinamento, Summer. Vou


ficar aqui por pelo menos três semanas.

— Ah, sério? Tudo bem, eu posso ir para um hotel e...

— Em hipótese alguma. Filha minha fica ao meu lado. Venha para o


sítio, Sol da minha vida. Eu estou morto de saudade. Nem acredito mesmo
que quis fazer uma surpresa para o seu velho pai... Garcia, deixe de
preguiça. Quem já viu um homem do seu tamanho com essa falta de
disposição. Vamos! Quando acabar o treino, vai correr cinco quilômetros na
trilha da montanha. Perdão, vida.
— Papai, eu não quero atrapalhar...

— Ah, você nunca atrapalha, meu amor. Venha, vou ajeitar o quarto
de hóspedes. Será tão bom ter você aqui! Vai ficar até quando?

— Na verdade, ainda não decidi.


Não queria revelar de fato quanto tempo eu ficaria. Pelo menos não
ainda. Seria uma tortura me hospedar com meu pai no sítio.

Nossa... Lá eu não teria liberdade alguma. Lá sim eu ia me sentir em


uma prisão. O certo é que eu ficaria apenas alguns dias e voltaria para a
capital e tentaria curtir como a Maisie falou.
— Então está decidido. Vai ficar aqui comigo. Vou te mostrar todo o
lugar, vai adorar as mudanças que eu fiz por aqui. Só para eu saber... Você
veio acompanhada com aquele seu namoradinho molenga? Ou pior: veio
com a sua mãe?

Eu ri.
— Não, papai. Eu vim sozinha.

— Ah, neste caso, que ótimo, meu amor! Você se lembra do


endereço?

— Impossível. Não faço ideia de onde é.


— Então vou te mandar a localização. Vou te esperar.

Algum tempo depois, o táxi entrava pelo portão da propriedade de


papai. Já ali admiti a mim mesma que estava diferente. À medida que o carro
avançava pelo caminho de terra sombreado por grandes árvores, eu tentava
reconhecer o lugar.

Mas nada ali se parecia com o que eu tentava resgatar da mente da


jovem de quatorze anos que eu era da última vez em que estivera ali. Havia
algumas edificações e vi ao longe um grupo de homens correndo em
formação.
O motorista me ajudou com a mala, deixando-a na porta de entrada.
Eu o paguei e liguei novamente para meu pai, mas, antes que pudesse chamar
uma terceira vez, o Troller estacionou em frente à casa.

— Estou aqui, vida.

Papai desceu do carro com um grande sorriso no rosto. Estava


radiante. Antes de se aproximar, abriu os braços fortes e eu correspondi,
abraçando o homem em que mais confiava e que tinha como herói.
— Oi, papai.

— Meu raio de Sol. Minha Summer linda. Por que não avisou que
vinha?
— Eu queria tanto fazer uma surpresa...

— E conseguiu, querida.

Ele afastou-se sem soltar minhas mãos e me admirou.

— Está linda. Cada dia mais linda.

— São seus olhos de pai.

— Tenho certeza de que não. Adoraria que tivesse vindo em outra


época e não agora. Mas já que veio...
— Em outra época? Não gostou que vim passar as festas de fim de
ano com o senhor?

— Não por isso, vida. Mas porque estou aqui no sítio trabalhando...

— Eu não me importo, papai. Enquanto estiver em campo, eu fico


entretida fotografando. Este lugar é enorme, vou adorar me perder por aí e
apreciar a natureza...

— Esse é o problema, Summer. Não sei se quero você passeando por


aí... Estamos com dois grupos em treinamento e são compostos apenas de
homens e...

— Ah, papai. Tenha santa paciência com esse seu ciúme.

Eu me virei e peguei a mala. Tenho certeza de que ele notou meu tom
irritado.
— Deixa que eu pego essa mala mais pesada, querida.
Ele me ajudou, abriu a porta e eu o acompanhei. Ele me levou até o
quarto em que eu ficaria e deixou a mala repousar ao lado do guarda-roupa
antigo.

— Papai, eu gostaria que soubesse de algo.


— O que é, vida?

— Eu pedi um tempo para o Travis. Eu vim para meditar, para me


descobrir, para descansar. Não estou aqui para encontrar novos amores ou
para procurar nenhum homem. Então, por favor, só uma vez na sua vida, não
se preocupe com isso...

Eu pude ver o exato momento em que o rosto do meu pai se iluminou.


Ele sorriu com os cantos da boca e estreitou os olhos. Era a felicidade em
vida.
— Que notícia maravilhosa, raio de Sol.

— Papai! Podia pelo menos disfarçar a alegria.

— Por que eu disfarçaria? Aquele moleque não era para a minha


menina.

— Nenhum cara é, de acordo com o senhor...

— Nenhum mesmo.

— Ahhh, não vou discutir com o senhor.


— Venha, vou mostrar o campo...

— Campo?

— O sítio. Eu transformei em campo de treinamento, lembra?


— Ah... O senhor espera um minuto? Deixe-me tomar um banho e
trocar de roupa? Estou bem cansada da viagem, mas vou com o senhor.

— Se preferir descansar...

— Não, se o passeio for rápido, vou adorar.

— Ah, vai ser ótimo, vida. Este será o melhor Natal e o melhor
Réveillon em muitos anos.

Sorri com sua felicidade e sinceridade.

Ele saiu e tranquei a porta. Olhei para o quarto, que não era tão
grande. Uma cama de casal estava do lado, perpendicular à parede. Duas
mesas de cabeceira apoiavam dois pequenos abajures e acima da parede, três
grandes quadros destacavam-se em lindas molduras negras.

Era... eu... em todos eles.

Detalhe apenas de meus olhos...


Detalhe apenas do meu sorriso...

Detalhe apenas da lateral do meu rosto.

Quando papai havia feito aquilo? Não lembro nem de ter enviado
aquelas fotos a ele.

A porta lateral era a do banheiro, mas antes fui até a janela aberta e
pude admirar a mata. Aquele clima era delicioso. Ouvi pássaros e cigarras.
Outros insetos se misturavam aos sons e fechei os olhos aspirando o cheiro
do lugar.

— Que bom que vim.

Voltei e tomei um banho rápido. Vesti a lingerie, uma liga na coxa —


eu amo esses acessórios — e por cima o vestido clarinho. O clima do lugar
era maravilhoso. Calcei as sapatilhas vermelhas e penteei meus cabelos loiros
e longos, prendendo uma fita por trás deles e deixando um pequeno laço cair
por cima da minha cabeça. Bati os fios que permaneceram soltos e sorri. Não
evitei o batom rosa clarinho, mas não passei mais nenhuma maquiagem, pois
estava em casa e não iria demorar.

Fui à minha mala de equipamentos e peguei minha câmera, acoplei a


lente 35 mm e saí do quarto. Encontrei papai ao celular na varanda, andando
de um lado para o outro. O olhar compenetrado e a cara sisuda. Assim que
me viu, seu rosto se aliviou e ele sorriu, desligando quase que imediatamente.

— Algum problema, papai?

— Nenhum, vida. Pronta?

— Sim.
— Consegue ficar mais linda a cada minuto.

— Papai!

Segurei o braço forte dele e caminhei apoiando minha cabeça em seu


ombro. Ele era bem mais alto que eu, mesmo eu não sendo nada baixa.
Assim que partimos, percebi o quanto o espaço estava diferente.

— Pai, o que o senhor fez aqui? Está tudo mudado!

— Tive que adaptar para os treinamentos, querida.


— Mas o senhor sabe que não precisava mais trabalhar, papai. Devia
descansar. O senhor fez mais do que a sua parte ao salvar aquela criança no
Sudão.

— Ah, meu amor. Eu só aceitei ir para a reserva porque, se ficasse na


ativa, iam me colocar para fazer trabalhos burocráticos e eu não ia aguentar
ficar atrás de uma escrivaninha. Desde que saí de lá, tenho feito tudo o que
posso para não ficar em casa sem fazer nada. Isso aqui é um parque de
diversões para mim. Colocar esses rapazes nos eixos...

Ele riu, entusiasmado.


— O senhor gosta de fazê-los sofrer, hein?

— Que nada. Eu os estou ajudando. Treinando-os para serem


melhores.

— Sei. Conheço o senhor como a palma da minha mão.

Trouxe a câmera ao rosto e usei o zoom digital, que praticamente não


alterava a qualidade da imagem. A minha máquina era uma das melhores do
mercado, inclusive com opção de imagem com infravermelho, para fotos
noturnas.

— O que são aqueles prédios?

— São os alojamentos onde os rapazes dormem.


— E aqueles brancos, com duas linhas vermelhas nas laterais?

— Ali ficam os estandes de tiro com pistolas. Ao lado, a academia de


musculação e o dojo para treino de artes maciais e defesa pessoal... Ah, você
ainda treina jiu-jitsu?

— Sim, papai.
— Conseguiu a faixa preta?

— Sim! Na verdade, a de segundo grau. E segundo dan em krav


maga. —Sorri sem tirar a atenção da lente. Sabia o quanto ele tinha orgulho
disso.

— Essa é minha menina.


— Eu acho que este lugar está maior do que eu lembrava, papai.

— Está mesmo. Comprei vários terrenos nas redondezas para


expandir a área. Temos até um lago agora. E um acordo com algumas
propriedades vizinhas para usar o espaço delas para treinamento,
ocasionalmente.
— Uau!

Pousei a câmera no colo, olhei para ele e percebi que chegávamos a


um grande estacionamento, onde havia muitos carros e motos estacionados.

— O que está acontecendo aqui? Uma festa?


Ele sorriu animado.

— Não, vida. Usamos esses carros para treinamentos. De vários tipos.

— Vejo que terei muito o que explorar por aqui.


— Muito mesmo. Só não quero você se misturando com os alunos.

— O senhor sabe que gosto de fazer amizades. Por que não posso me
misturar com os alunos?

— Logo verá.

— E eu posso fazer o curso também?

Ele gargalhou gostoso.

— Posso te colocar em algumas atividades. Vou adorar te ver sofrer.


— Ah é? Pois vamos ver quem vai sofrer, seu velho rabugento.

Ele sorriu mais, desligou o carro, segurou minha mão e beijou com
carinho.

— Eu não te faria sofrer, vida.


— Ah, se for para eu fazer isso, não quero ser tratada de forma
diferente dos outros alunos.

— Você vai pedir para abandonar o curso antes do final do primeiro


dia, raio de Sol.
— O senhor só está me deixando mais empolgada, papai.

Sorri para o homem de quase cinquenta anos, que sempre me olhava


com um amor imensurável. Estava de fato curiosa e animada com o curso e
perguntei ingenuamente:

— Se por acaso eu falhar em algum dos treinamentos, vou ter que


pagar alguma prenda?
— Prenda? — Ele riu tanto que levou a cabeça para trás. — Você não
pagaria prenda nenhuma, vida. Mas os alunos têm alguns castigos e, por isso,
eles se esforçam tanto para cumprir os exercícios.

— Ah, papai. Eu também quero o castigo.

Ele saltou do carro e eu o segui.


— Não, meu amor, você não quer, não. Vamos conhecer um pouco
mais o campo e você decide se vai mesmo insistir nessa loucura. Nem sabe
para que os rapazes são treinados.

— Verdade. — Levei uma das mãos à boca para cobrir o sorriso. —


Se eu não aguentar, posso simplesmente fotografar tudo.

—Falando nisso, faz tempo que você não envia suas fotos para mim.
Seu talento é uma coisa maravilhosa...
—É, mas o senhor nem sempre pensou assim.

—Eu achava que alguém tão inteligente como você precisava fazer
alguma coisa que tornasse o mundo melhor... Sei lá, descobrir a cura para um
monte de doenças. Mas logo deu para notar que, primeiro, você não levava o
menor jeito para medicina...

—Não mesmo...
—E depois, não dá para deixar de notar a alegria que enche seus olhos
quando você está fotografando. Sem contar que as minhas viagens nas
Missões de Paz me fizeram perceber que há uma imensidão de coisas por este
mundo afora que precisam ser mostradas... Para que todos possam vê-las...
Coisas sérias, coisas lindas, coisas importantes... E isso também faz o mundo
um pouco melhor.

Fiquei emocionada com aquelas palavras.

— É o que eu amo, seu Lúcio. Estou investindo na minha carreira de


fotógrafa mais que nunca.
Eu me virei com a câmera posicionada no rosto e tirei uma foto do
velho. Ele sorria ternamente.

— Comandante.

Uma voz grossa atrás de mim me fez virar e depois voltei para o meu
pai por cima do ombro.
— Comandante?

— É como todos me chamam aqui, vida.

— E se eu resolver fazer o curso vou ter que te chamar assim


também?
— De preferência, sim. Deixe o “papai” para quando estivermos em
casa ou sozinhos. Pode ser?
— Claro, Comandante.

Sorri brincalhona e ele sorriu de volta.

Meu pai caminhou pesado até o rapaz que o chamou.

— Senhor, a primeira equipe já está finalizando os treinos e a minha


equipe já está na quadra, apenas esperando o senhor autorizar.

— Ótimo, Pablo. Pode ir para lá e pode começar. Já vou.

— Sim, senhor.

— Venha, vida. Deixe-me te mostrar alguns lugares.

— De onde ele é? Tem um sotaque forte.


— Assim como o seu sotaque também é forte, linda. Mas ele é
espanhol. É um excelente líder. Estou com duas equipes de uma mesma
empresa. Cada equipe tem um líder.

— Ah. E são equipes de que mesmo?

— Seguranças particulares.
— Uau, que legal.

— Tudo parece legal para você, mocinha.

Passávamos por um prédio e na parte de trás dele havia um campo


aberto.
— Aqui fazemos treino de tiro com armas mais pesadas. Fuzis e
escopetas.

— Uau. Eu também vou poder fazer isso?

Ele apenas me olhou de canto do olho e não respondeu.


— Vê aquelas duas casas e o prédio cinza?

— Estão destruídas.

— São locais para simulação de resgate de reféns.

— Uau! Já quero.

Ele deu apenas um pequeno sorriso.


— Ali em frente é o campo de treino com pistolas de tinta. Essa eu
quero ver você participar. Vai sair toda roxa.

— Ah, para me machucar toda o senhor libera, não é?

Ele riu mais.


— Venha, vida. Aquele prédio, já te falei que são os estandes de tiro e
o dojo. Lá você vai poder treinar seu jiu-jitsu à vontade, para não perder a
forma. — Ele apontou para outra área. — Aquela região está proibida para
você.

Foi a minha vez de rir alto.

— O alojamento dos rapazes?

— Exato. Para lá — Meu pai apontou. — Temos um lago enorme, é


no meio da floresta, mas não fica longe, é só aprender o caminho. Além do
mais, é preciso atravessar um dos campos de treinamento na lama, então é
fácil de encontrar. Ainda temos o espaço para treinos com obstáculos, que
também é mais para dentro da floresta. Mas venha comigo, vamos ver os
exercícios dos rapazes.

Meu pai era um homem alto e tinha um porte imponente que podia
assustar algum desconhecido. Para mim, não passava de um pai babão, lindo
e fofo. Andava com uma postura austera e era absolutamente impossível
perceber que tinha a prótese no lugar do pé. Passamos pelo prédio da
academia e seguimos pela lateral. Eu andava ao seu lado. Joguei a alça da
máquina fotográfica pelo ombro e vez ou outra segurava a saia que insistia
em subir com o vento forte. Percebi a cara fechada do bonitão ao meu lado e
escutei-o dizer nervoso:

— Olha, Summer...
— Não se preocupe, papai. Não vou nem olhar para os seus preciosos
alunos.

— Não é com você que estou preocupado, filha. E você sabe muito
bem disso. Não quero nenhum deles dando em cima de você e, ao menor
sinal de desrespeito de algum dos rapazes, me informe que o bastardo será
castigado severamente.

— Pode deixar, Comandante.


— Mocinha. Estou falando sério.

— Eu também estou. Eu quero distância de qualquer homem no


momento...

Puta que pariu!

O que era aquilo, Brasil?

Meus olhos seguiram o movimento que eles faziam.

Subiam.
Desciam.

Subiam.

Desciam.
Eles estavam todos sincronizados em uma série de apoios de frente.
Alguns com camisetas brancas, suadas e pregadas aos corpos... esculturais...
enquanto outros estavam sem camisa.

Aquilo não podia ser de Deus, não.


Era muita maldade com a minha ingênua e doce pessoa.

— ...entendeu?

— Entendi tudinho, papai.

Puta merda, o que meu pai falou?

— Ótimo, então, são exercícios como esses que a esperam se quiser


mesmo encarar esse treino.

— Hum, posso tentar.


— E vai querer mesmo seguir os castigos? Não vou gostar de saber
que dormiu na mata sozinha depois de caminhar dez quilômetros.

Como era difícil desviar os olhos daqueles deuses se exercitando, mas


me obriguei a isso e encarei meu pai depois daquela declaração.

— Sério? Dormir na mata sozinha? Pai, eu viajo o tempo todo para


tirar fotos no meio da natureza, vivo acampando...
— Apesar de saber que não correria perigo algum por estarmos
isolados e seguros, não gostaria de saber que estaria sozinha à noite, passando
frio, ao relento...

— Frio, a poucos dias do começo do verão brasileiro? Até parece...


Vai ser divertido, papai.

— Você está encarando como uma brincadeira, não está, Summer?


— Vou negar para o senhor me deixar participar.

— Venha mais para perto.

Nos aproximamos mais da equipe. O espanhol que havia falado com


meu pai estava na frente do grupo e comandava os exercícios, fazendo a
contagem.

— 56, 57, 58, 59, 60, 61...

— São quantos, pap... Comandante? — perguntei curiosa.

— Cem apoios de frente.

— Caralho, acho que aguento uns sessenta no máximo.

— Vai ficar muito de castigo, mocinha. — Meu pai sorriu e arrancou


um sorriso de mim.
— O senhor falou que são duas equipes.

— Sim, a outra está na pista de obstáculos agora. Vamos lá quando


sairmos daqui.

Enquanto revezava meu olhar e minha atenção entre meu pai e os


rapazes, percebi que um ou outro ergueu o rosto para ver quem se
aproximava, mas ao notarem meu pai ao meu lado, tratavam logo de abaixar
o pescoço e voltar aos exercícios.
— 78, 79, 80, 81, 82, 83...

— E todos os dias têm exercícios, Comandante?

Queria saber tudo. Já posicionava a máquina e tirava algumas fotos


dos rapazes subindo e descendo.
— Todos os dias são táticas diferentes. — O celular dele tocou. — Só
um minuto, Summer, já volto.

Meu pai começou a dar alguns passos para longe de mim.

Sem ele por perto, eu voltei a me concentrar nas minhas fotos. Eu fiz
detalhes de algumas gotas de suor que escorriam dos músculos dos braços de
um, passeei descarada pela bunda de outro, pela cintura fina e definida do
cara do lado e, quando foquei nas gotículas do rosto de mais um, percebi que
ele encarava a tela.

Havia parado o exercício.

Ah, que vergonha.


Baixei a câmera e tenho certeza de que estava corada. Agora todos me
encaravam. Alguns deitados ofegando... ah... ofegando... outros haviam
sentado. Um deles passou o antebraço pela testa e segui aquele movimento de
forma quase lenta.

O que é isso? Afasta de mim esses pensamentos impuros, Jesus!

Como havia sido pega no flagra por eles, olhei para trás e meu pai já
estava longe, sem tirar o telefone do ouvido. Me virei rápido para seguir os
passos dele e aquele foi o meu erro. Ao rodar meu corpo de forma tão
abrupta, a saia do vestido subiu com a ajuda do vento.
Levei uma das mãos à boca pelo susto e a outra para tentar controlar a
saia no lugar, mas foi tarde demais. Tentei disfarçar e dei a volta em um
grande arbusto florido, fingindo fotografá-lo. Assim que saí do campo de
visão deles, os comentários começaram, baixos, mas audíveis:

— Puta que pariu, você viu isso, Adam?

— Eu só vi uma bunda linda. Onde estava a calcinha?


A voz grossa do primeiro já havia me balançado, mas foi a voz jocosa
do segundo que me fez fechar os olhos de vergonha.

— Foi impressão minha ou a tigresa estava com uma liga na coxa?


— Tava... Que delícia...

— Nem vi essa liga, Garcia.

Várias vozes distintas se misturavam baixinho, mas eu conseguia


escutar uma parte do que diziam.

— Mas sério, galera, ela está sem calcinha? — a voz divertida voltou.

— Tinha calcinha, sim, Adam, mas estava todinha enfiada na bunda,


você não viu mesmo? Era branca...

Era o cúmulo. Tinha que pôr um fim naquilo, será que eles sabiam de
quem estavam falando?
Saí de trás do arbusto e encarei seus rostos. Eu havia fechado a cara e
estreitado os olhos. Sabia que estava vermelha, porque meu rosto estava
queimando.

Percebi vários deles com pequenos sorrisos no rosto, um deles ficou


sério. Um manteve um enorme sorriso no rosto, mas todos, sem exceção, não
tiravam os olhos de mim. Pensei no que devia dizer, mas desisti. Sou péssima
para dar respostas rápidas.

Pelo menos haviam se calado. Voltaram a me respeitar. Funguei alto


para mostrar que não havia gostado das piadas e me virei novamente para ir
até meu pai.
Vento filho de uma puta.

Levantou novamente meu vestido.


Alguns riram alto e desisti de ficar por ali, escutando os absurdos que
vinham deles.

— Agora eu vi a calcinha.
— Cara, que bundinha mais linda.

— Parece um coração de tão perfeita.

Ergui o dedo médio para eles, sem olhar para trás. Estava possessa de
raiva, mas determinada a não contar nada para o meu pai, ou ele não me
deixaria participar do treinamento.
Pediria a ele para ficar com a outra equipe.

Quando me aproximei, ele finalizou a ligação e me entregou as


chaves do carro e da casa:

— Pegue, Summer. Volte para casa, raio de Sol. Eu vou ter que
resolver alguns problemas burocráticos aqui e não poderei te mostrar mais
nada hoje. O pessoal do refeitório já vai entregar o jantar, vou pedir a eles
que tragam comida para você também. Mas não precisa me esperar...
— Nós não vamos jantar juntos?

— Acho que não, vida, pois não sei a que horas vou chegar.

— Tudo bem, papai. E amanhã? A que horas começo o treinamento?


Ele me olhou fixo e sério.

— Você vai mesmo querer fazer isso, filha?

— Querer eu quero, mas eu posso fazer, digamos, um período de


teste? Eu me esforçarei muito, muito mesmo, mas se não aguentar, poderia
apenas acompanhar e quem sabe... fotografar...
— Podemos fazer um teste sim. E com castigos mais brandos...

— Ainda haveria castigos?

— Claro que sim, ou você não teria incentivo para cumprir as metas.

— Hum... muito justo. Aceito até os mais severos. Se não forem


muito severos. E não quero mesmo que ninguém saiba que sou sua filha, ou
vão ficar cheios de cuidados comigo.

Meu pai gargalhou e eu o abracei.

— Então não poderá fazer isso enquanto estivermos aqui, raio de Sol.

— Ah, esqueci, papai. É que é tão bom estar com você novamente.

— Eu sei, também estou adorando, linda. Volte para casa. Teremos


muito tempo para conversar. E lembre-se, esteja de pé às cinco da manhã.
— Às cinco? Vou reconsiderar esse treinamento.

— Tarde demais. Já está inscrita para o curso. Vou ver você pagar
muito mico.

— Eu vou poder escolher minha equipe? Quero a...

— De forma alguma. Nada de regalias por ser minha filha.

— Estou lascada, não estou?

— Não tanto quanto eles. — Ele apontou com o queixo para os


rapazes que continuavam seus exercícios.
— Tá bom. Posso dar só um beijinho pequenininho?

Ele sorriu e abaixou-se o suficiente para eu beijar sua bochecha.

— Te amo muito, seu Lúcio.


— E eu te amo mais que minha própria vida, Summer. Quero dizer,
Mitchell.

— Olha, vai me chamar pelo sobrenome da mamãe?


— Sim.

— Tá legal. Será divertido.

Eu me afastei e ele também. Mas antes de estarmos muito distantes,


eu me virei e falei alto.

— Comandante — chamei e ele se virou parando para me escutar. —


E eu venho vestida como? Calça jeans?

— Não, sua louca. Você usará sua roupa de treinamento, vou levar
para você hoje à noite. Provavelmente vai ficar um pouco grande, porque só
temos no tamanho dos rapazes, mas eu já vou requisitar um uniforme menor
para você, para depois de amanhã.

— Combinado! — Ergui um polegar, animada, e ele riu.


Parti para casa radiante por participar daquilo. Realmente estava
louca. Nunca na minha vida pensei em fazer algo parecido: um treinamento
para segurança particular.

Ri alto e sozinha.

— Será que, se eu gostar, seu Lúcio vai me deixar ser segurança


particular?
Ri ainda mais com esse pensamento.

— É mais fácil ele me internar em um hospício do que me deixar


correr riscos.

Em meio à empolgação, foi inevitável que minha imaginação vagasse


até aqueles homens enormes se exercitando. Que delícias eles eram!

Claro que quando os ouvi não sabia quem havia dito o quê, mas sabia
que existia um Garcia, um Adam e o Pablo, que eu já conhecia como o
espanhol. Ah, eles não contavam que eu tinha uma memória visual e auditiva
muito boa. Logo saberia quem havia dito o quê. E eu estaria preparada para
saber responder à altura para cada um.
— Ah, se estaria.
Início do treinamento

Acordei com um pulo.


O alarme do celular tocou e já escorreguei da cama, empolgada.
Ainda estava escuro, mas o sorriso já se estampava no meu rosto.

— Quero só ver o que meu pai vai dizer.

Corri ao banheiro, usei o sanitário e na mesma animação vesti um


sutiã atlético e a roupa que meu pai havia me entregado na noite anterior.
Além de uma camiseta branca, havia uma calça cáqui, enorme, que ficou
bastante folgada. Suspirei me lembrando que essas roupas haviam sido feitas
para homens parrudos, como...
Foco, Summer!

Por cima dela, coloquei o casaco de brim grosso, também enorme, na


mesma cor da calça, imaginando o quanto iria suar quando o tempo
esquentasse mais tarde.

Fui para a cozinha e meu pai terminava de passar o café.


— Bom dia, papai. — Encostei em seu ombro e beijei seu rosto.
— Final do dia.

— O quê?

— Dou até o final do dia para você desistir do treinamento.

— Ah, eu estou adorando...

— Eu também.
Eu apertei os olhos na direção dele enquanto me sentava na mesa.

— O senhor tem certeza de que vou passar muito vexame nesse


treinamento, não tem?

— Muita, Summer.
— Eu também tenho, papai.

Ambos rimos.

— Mas quero testar meus limites, ver até onde consigo chegar.
Afinal, se tudo correr na minha vida do jeito que eu planejo, vou sempre
enfrentar situações estranhas, nos lugares mais remotos do planeta... Assim,
posso estar melhor preparada. E se for o caso, rir de tudo no final.

— Meu campo de treinamento não é brincadeira, mocinha. Haverá


simulações muito sérias e que exigirão muita tensão e estresse. Seus
companheiros vão precisar de você.

— Eu estou levando a sério, papai.

— Tudo bem.
Tomamos nosso café e saímos de casa antes das cinco e meia. Papai
foi no Troller e me emprestou o outro carro, assim eu poderia voltar para casa
quando estivesse destruída por causa do treino. Foram as palavras dele.
Apenas ri e encarei aquilo como mais um desafio. Assim que estacionamos,
ele tomou um rumo e eu o segui. Passamos pelo lugar onde os rapazes
haviam se exercitado no dia anterior e continuamos. Mais à frente, vários
deles já estavam ali, esperando.

— Bom dia, Comandante.


Todos cumprimentaram meu pai. Eu fiquei atrás dele, com os braços
cruzados embaixo dos seios. Ficaria quietinha até ele se pronunciar em
relação a mim. Também não ergui meus olhos, fiquei olhando para o chão e
fiquei mexendo uma pedrinha com o bico da botina.

— Hoje o treino será puxado...

— Quando não é, Comandante?


Um dos rapazes disse sorrindo, e me arrependi de não estar encarando
o grupo, pois foi o mesmo que havia sentido falta da minha calcinha no dia
anterior.

— Pelo jeito o Ferreira está achando tranquilo o treinamento — meu


pai observou, sério e carrancudo. — Que tal começarmos com uma corrida
para aquecer? Silva vai ficar com vocês hoje.

— Sim, senhor.
— Hoje vocês terão treino de tiro com fuzil, pilotagem com manobras
em alta velocidade e pista de obstáculos. Entendido?

— Isso tudo? — cochichei atrás dele.

— Ah, quase esqueci. Vocês terão uma nova companheira. Essa é a


Mitchell. Ela vai ficar na Equipe Dois, Silva. Ela não tem experiência
alguma, mas quer fazer um teste para saber se conseguiria trabalhar como
segurança. Trate-a como a qualquer outro dos homens.
— Tem certeza, senhor?

Aquela pergunta fez minha espinha gelar.

— Sim. Nada de moleza para a moça. Estarei de volta no final do dia.


Bom treino, rapazes. Já conhecem o Silva. Sabem como ele trabalha e que ele
não pega leve... com ninguém. Podem ir para a corrida e agradeçam ao
Ferreira por essa atividade extra que todos vão ter que fazer.

— Obrigado, cabeção.

Vi quando um dos rapazes deu um tapa na cabeça de um jovem loiro,


lindo. Ele apenas sorriu e passou a mão na cabeça.
Meu pai saiu de perto sem nem mesmo olhar para mim. Eu
continuava ali, parada, encarando-o se distanciar. Eu tinha certeza de que ele
permaneceria por perto, para me apoiar caso eu precisasse de ajuda.

— Está esperando o quê, Mitchell? Correndo!

A voz veio bem do lado do meu ouvido e a última palavra foi um


grito que fez meu corpo inteiro tremer. Silva era um homem grande e passava
muita seriedade. O que me assustou um pouquinho.

— S-sim.

Comecei a correr atrás do grupo de homens que já estava longe. A


trilha era uma subida, que começou por uma mata e se abriu quando
chegamos mais acima. Os rapazes mantinham um ritmo incrível. Mas percebi
que dois deles ficavam mais para trás. Não tinha certeza se era de propósito.

Agradeci aos céus por sempre ser focada em exercícios físicos, ou


não teria aguentado os primeiros quinze minutos. Para piorar tudo, a calça
insistia em querer cair. Tentei apertar o cinto, mas também era imenso e não
ajudava muito.
O lugar era lindo e estávamos quase sempre dentro da mata, envoltos
pela natureza, mas a maior parte do caminho era subida, o que dificultava
mais o trajeto.

Depois de quase uma hora correndo, chegamos de volta à base. Eu


estava exausta. Me joguei no chão assim que vi o cimento firme. Fechei os
olhos, abri braços e pernas e tentava respirar de forma controlada. Ouvi os
risos dos homens à minha volta e abri os olhos.

— Estão rindo do quê? Não me digam que não estão exaustos?

— Nem começou ainda, coração.

Um homem negro, lindo... tentador, eu diria... aproximou-se e


estendeu a mão em minha direção.
— Levante-se, Mitchell, ou não aguentará o próximo treino.

Aceitei a mão dele e me coloquei em pé.

— Segura!
Mal ouvi o grito e já olhei para o lado no momento em que a garrafa
de água foi jogada em minha direção. Segurei a tempo, evitando que ela
explodisse bem no meio do meu rosto.

— Não beba muito, apenas molhe a garganta.

— Vocês estão sendo legais comigo porque foram uns escrotos


ontem?
Perguntei para o homem negro à minha frente.

— Não. Porque você faz parte da nossa equipe. E todos temos que
chegar inteiros no final do dia se não quisermos passar pelos castigos do
Comandante.
— Eu estou na equipe... — apontei para ele e depois para os outros
que estavam distraídos entre beber água e conversar com os companheiros.
— Jura, que pap... o Comandante me colocou com vocês?

— Aham. Bem-vinda à equipe.


Outro rapaz se aproximou.

Ele havia tirado momentaneamente o casaco e eu via mais tatuagens


que pele em seu corpo. Percebi que era o mais sério entre eles.

— Você não vai causar muitos problemas para a minha equipe, vai,
anjo?
— Ah, vou sim. Não sei nada sobre ser segurança.

Um outro chegou perguntando:

— Você já atirou? Precisa ter boa mira...


— Sério? Só se for com uma máquina fotográfica...

— Mas já segurou uma arma antes? — ele insistiu.

— Nunca na vida.

Os rapazes se entreolharam.

— Pelo menos sabemos que ela aguenta uma hora de corrida


ininterrupta. A gatinha tem fôlego.

Ah, foi você, seu filho de uma puta.


Eu já conseguia identificar todos eles. Ligar as vozes aos rostos.

O maior de todos chegou e falou, divertido:

— Você vai chegar ao final do dia morta, tigresa.


— Vocês poderiam parar de me chamar por esses apelidos horríveis?
Se não quiserem me chamar de Mitchell, podem me chamar de Summer.

Eles se entreolharam e alguns sorriram entre si.


— Prazer, Summer. Sou Enrico Soares. Este é Adam Ferreira, ele é o
palhaço da turma...

— Percebi.

Todos riram, menos Adam.

— Não teve graça, senhorita Summer Mitchell.

Ele disse o nome com um ar afetado, de um jeito tão engraçado que


eu fiz careta para ele:

—Se é para me chamar usando esse tom, acho que prefiro os apelidos
mesmo...
— Esse grandão aqui é o...

— Garcia. — Ele tomou a frente e estendeu a mão para mim.

— E não tem um primeiro nome? É só Garcia mesmo?

— Sim. Só Garcia está ótimo, tigresa.

Ele afirmou e achei estranho. Vi alguns meninos segurando o riso,


mas Enrico fez um barulho limpando a garganta e ganhando minha atenção
novamente.

— O galã acolá é o Ítalo Ribeiro, cuidado para não se apaixonar pelo


rosto lindo dele...
— Não se preocupe, não corro esse risco.

Ítalo piscou para mim.


— Cuidado com suas palavras, Mitchell — Ítalo recomendou.

— Esse cara sexy é o Raul Souza. É o nosso dançarino.

O homem negro, realmente sexy, reclamou:

— Porra, Enrico, pare de me apresentar assim!

— Você dança o quê?


— Qualquer coisa, Summer — respondeu.

— Aquele bonitão ali que fala pouco é o Uriel Barone. — Acenei


para ele. O cara estava sentado, apoiando os braços nos joelhos e bebendo
água. — E nosso espanhol, Pablo Alfaro.

— Prazer, Pablo.
— Então seremos sua equipe. Você dependerá de todos nós e nós
dependeremos de você. Podemos confiar nossas vidas a você, anjo? —
Enrico perguntou.

— Se eu fosse vocês, não confiaria a vida de vocês a mim não. Não


sei atirar, não sou gigante como vocês, e o máximo que sei fazer é correr, e
posso muito bem correr para longe do perigo e não para cima dele se
precisarem de ajuda, então... fui uma péssima escolha para a equipe de vocês.

Falei tudo quase sem tomar fôlego. Eles pareciam não ter entendido o
que eu havia dito, ou pelo menos achei que não, pois dez segundos depois a
explosão de gargalhadas foi tão alta que me assustou. Tanto que levei uma
mão ao coração.
— Você é hilária, gatinha.

—Vamos, Silva já está chamando — Uriel se manifestou pela


primeira vez.
— Como assim sou hilária? — Eu os seguia de perto. — Eu falei
sério.

Chegaram rindo ao campo de treino de tiros.


— Pablo, você se encarrega de ensinar Mitchell a carregar e atirar
com o fuzil. — Silva deu a ordem e Pablo me olhou de canto de olho.

— Sim, senhor.

— Como assim atirar com fuzil. É sério?

— É sim, Mitchell.

— Mas são balas de tinta, não são?

— Claro que não. São balas verdadeiras. É importante se acostumar


com o peso e o coice das balas de verdade. Venha que te explicarei tudo que
precisa saber.
Eu estava tão nervosa que não sabia se havia entendido todas as
instruções que ele havia passado. Mas finalmente aprendi como carregar e
preparar a arma. Já era possível escutar os disparos há algum tempo e Pablo
se preocupou em colocar protetor de ouvidos em mim. Me entregou o fuzil,
que achei muito pesado.

— Ai, estou com medo.

— Não tenha, ele está travado, como já expliquei. Poderá atirar


deitada do chão. Este exercício não tem tempo, ele é de precisão. Precisa ter
uma boa visão e calma.
Caminhei ao lado do homem, que passava segurança no que dizia.
Parecia ser um bom líder mesmo, como meu pai havia dito. Vários rapazes se
espalhavam pelo grande campo. Alguns alvos estavam posicionados no final
de uns trinta metros e eles se revezavam atirando parados ou aproximando-se
com cautela. Em turnos de segurança, protegiam uns aos outros.

— Aqui está bom. Venha.


Pablo parou e jogou-se no solo. Fiz o mesmo. Ele ficou com o peito
apoiado no chão e ajeitou a arma em suas mãos. A mira foi ajustada em seu
olho direito e ele mantinha a respiração controlada. Eu segui o seu nariz
afilado e a boca que se fechou, apertada, mostrando apenas um fio fino. O
queixo era fino também, assim de perfil, pois, de frente, tinha o rosto
quadrado. O pescoço era longo e algumas veias saltavam ali.

Será que aquelas veias protuberantes saltavam apenas ali? Summer,


pare com esses pensamentos!

Os músculos dos braços moveram-se firmes e tensos e foi quando


escutei o tiro bem do meu lado.
— Ahhh... — soltei um grito com o susto.

— O que foi, Summer?

Os tiros de todo o campo pararam.

— Desculpem-me. Eu apenas me assustei. Não vai mais acontecer.

Ergui as duas mãos no ar e alguns riram, mas, quando olhei para


Silva, ele estava sério e prometia algo ruim com aquele olhar. Droga, me
perdi tanto nas feições de Pablo que não prestei atenção no exercício.

— Está mais calma? — ele perguntou atencioso.


Seu sotaque era lindo.

— Estou sim. Perdão mesmo. — Sorri tímida.

— Vamos, tente você agora.


— Sério? Ai, vamos lá.

Deitei-me da mesma forma que ele, de barriga para o chão. Apoiei os


cotovelos no chão arenoso e senti a dor neles.
— Tá doendo. As pedrinhas nos meus cotovelos.

Ele riu ao meu lado.

— Até o final do curso, muito mais vai ficar doendo. Tem que
aguentar...

— Você parou... Ia me dar um apelido ridículo também, não ia?

— Ia.

— Certo, vamos, se concentre, Mitchell.


Apoiei o fuzil, ajustei a mira no olho. Era como olhar pela
teleobjetiva de uma máquina fotográfica. Aquilo seria fácil. Puxei o gatilho
empolgada e... nada! Ouvi o riso gostoso, que arrepiou minha nuca, bem no
meu ouvido.

— Não esqueceu nada?

— Deitei de barriguinha no chão, mirei e puxei o gatilho. Não. Tudo


aqui.
— Esqueceu a trava.

— Ah, tem razão.

Pablo me ajudou e me posicionei novamente.


— Respire com calma.

A voz veio sussurrada em meu ouvido e senti meu corpo se arrepiar


de novo. Me ajeitei e puxei o gatilho. Senti o recuo da arma quase acertar
meu rosto. E sorri de lado, encontrando o rosto de Pablo bem ao meu lado.

— Parabéns... Tente novamente.

Segui todos os passos novamente. Ajeitei-me, apoiei a arma em


minhas mãos e, quando já ia puxar o gatilho, ele disse baixinho:

— Concentre-se e puxe o gatilho. Tenha certeza de que está mirando


a cabeça dele.

Puxei. Outro solavanco e o cheiro de pólvora tomou o lugar. Encostei


o fuzil no chão e olhei o alvo ao longe.
— Muito bom. Só mais um e você atira sozinha.

— Certo — respondi.

Já estava ficando fácil aquele negócio de me ajeitar para atirar. O que


não facilitava era a proximidade de Pablo, que a cada novo tiro, parecia que
falava mais perto do meu ouvido e mais baixo. E a próxima frase me fez
perder toda a compostura:
— Você está usando uma calcinha igual à de ontem?

Meu dedo foi ao gatilho sem que eu realmente quisesse. O tiro ecoou
no espaço e ergui os olhos incrédulos para ele, que apenas sorriu como se não
tivesse dito o que disse.

— Está ficando cada vez melhor, vamos ver quanto acertou...


Summer.
Ele travou minha arma, ergueu-se, caminhou até o alvo e trouxe o
cartaz em formato de tronco e cabeça humana.

— Veja seu resultado.

Me entregou o papel e eu encarei a folha intacta.


— O que isso significa?

— Que você errou todos os tiros. Parabéns. Vou devolver seu alvo e
você continuará tentando. Eu vou ficar no alvo vizinho, treinando, e se
precisar de ajuda, basta pedir.
— Tá bom.

Ao final daquele treino, meu papel ficou com apenas dois buracos e
eu desconfiava que um deles tinha sido feito por Pablo, pois estava muito
próximo à cabeça e eu jamais acertaria ali. Ele negou até o fim, mas seu
sorriso sacana não me deixava acreditar nele.

Silva nos avisou que iríamos para outro treinamento e fomos andando
até a pista projetada para os exercícios com veículos. Vi vários obstáculos no
centro da pista e Silva chegou sério.
— Sua equipe será a primeira. Organizem a ordem dos pilotos — deu
o recado e partiu para falar com a outra equipe.

— Sabe dirigir, bella? — Uriel perguntou.

— Ah, isso eu sei.

— Mas sabe pilotar acima de cem quilômetros? — Ítalo provocou.

— Quem não sabe?

Meus companheiros de equipe se animaram.


— Então você começa. — Adam passou a bola para mim.

— Nada disso. Eu tenho que saber o que deve ser feito. Vai alguém
na frente e sou a segunda. Assim sei o que tenho que fazer. Olha a sacanagem
comigo.

Eu estava tremendo como vara verde.


— Certo, eu vou primeiro. — Enrico tomou a frente.

Ele entrou no carro e mal ligou, saiu cantando pneus. Passou pelos
obstáculos, deu um cavalo de pau no final da pista e praticamente encostou os
pneus no meio-fio. Acelerou novamente fazendo os pneus cantarem, deu uma
volta ao longo na pista e voltou cortando os obstáculos novamente. Finalizou
a volta perigosa e parou ao nosso lado.
Assim que estacionou, dei vários pulinhos e bati palmas animada. Só
percebi depois da terceira palma que eu era a única a fazer aquilo. Parei
encabulada e recebi as chaves do carro de Enrico.

— Tente fazer com o menor tempo, Mitchell — ele alertou. — Ao


final, o Silva vai somar todos os tempos, das duas equipes, para ver quem fez
mais rápido.

— Sério?
Fiquei triste com a revelação, mas ele baixou um pouco a voz e tentou
me consolar:

— Sim, mas fique tranquila, porque temos Ítalo, Garcia e Raul do


nosso lado. Eles são incríveis na direção.

Enrico levantou meu astral.


— Não só atrás da direção.

Escutei um deles falando e virei o rosto para o grupo. Todos se faziam


de bobos, mas mantinham os sorrisos safados nos rostos.

Ajustei o banco, os retrovisores e coloquei o cinto. Coloquei a chave


na ignição...
— Puta que pariu, o carro é manual!
— Na sua hora, anjo. Só conta o tempo quando liga o carro.

Enrico apoiou os dois braços na janela e sorriu.

— O carro é manual, Enrico.

— É sim. Não sabe usar?

— Sei, mas já faz tempo que...


— Use as marchas sem ligar o carro... Só um segundo, Silva — ele
gritou e entrou no carro. — Pise na embreagem para mim, coloque a mão
aqui na marcha, deixa eu te mostrar. — Ele colocou a mão em cima da minha
e guiou. — Primeira marcha, segunda, terceira, quarta e quinta. Se quisermos
ganhar, tem que chegar à quinta. Essa é a ré. Aqui é o freio de mão, mas não
use para fazer nada que não se sinta segura e não coloque sua vida em risco.
Se quiser, um de nós pode ir contigo aqui dentro.

— Não precisa, eu sei dirigir muito bem, só realmente não lembrava


direito as marchas manuais. Meu carro é automático. Então é primeira,
segunda, terceira, quarta e quinta marcha, certo?

— Certo, anjo. Agora vai lá. O mais importante é terminar o percurso.


Passe por dentro dos obstáculos, estacione lá no final da pista e retorne.

— Combinado.

— Confio em você.

Ele tocou minha mão novamente e suspirei perante as tatuagens que


cobriam seu braço e mão esquerdos.
— Vamos lá, Mitchell! Você consegue!

Liguei o carro e pisei o pé no acelerador. Assim que o carro saiu,


ganhei velocidade, passei a segunda... terceira... quase imediatamente. Cortei
os cones em um ziguezague frenético e nem me importei se havia derrubado
algum no meio do caminho. Quando peguei a reta com o foco do
estacionamento no final da pista, acelerei ainda mais, quarta... quinta... estava
quase chegando quando diminui a velocidade, engatei a terceira e puxei o
freio de mão fazendo o carro girar na pista. Senti o pneu de trás encostar no
meio fio.

Obrigada, seu Lúcio, por me incentivar a fazer todas aquelas aulas


de direção perigosa.

Esperei um segundo e fiz o carro cantar os pneus, forçando o motor


de segunda... terceira e de volta aos obstáculos, feliz por ter descoberto que
não havia derrubado nenhum. Acelerei como se minha vida dependesse disso.
Estava ofegante, a adrenalina percorria minhas veias e eu não conseguia
enxergar mais nada, a não ser o ponto final onde eu deveria estacionar.

Puxei novamente o freio de mão para dar o novo cavalo de pau e


dirigi desesperada para o final do treino. Estacionei, tirei o cinto, abri a porta
do carro e saí dando pulos de alegria, comemorando sozinha a volta elétrica e
louca que acabara de fazer.

— Uhuu. Eu sou demais...

Erguia os braços acima da minha cabeça. Quando olhei para os


homens, tanto para os da minha equipe quanto para os da equipe vizinha,
estavam todos estáticos, com olhos esbugalhados e bocas abertas.

— Excelente, Mitchell. — Silva quebrou o silêncio.

— Obrigada — respondi envergonhada.


— Quem é o próximo da equipe? — ele pediu.

— Sou... eu. — Raul ergueu o braço.


— Ai, esqueci a chave no carro. Tem problema? — falei sem graça.

— Nenhum, coração.

— Eu fui tão mal assim? — perguntei a Enrico.

— Você foi espetacular, Summer. — Bateu o ombro forte no meu e


sussurrou já prestando atenção na pilotagem de Raul. — Espetacular!

Depois que todos cumpriram o desafio, Silva anunciou que a nossa


equipe havia sido a melhor e eu comemorei com pulos de alegria.

— Não comemore, tigresa. Fomos os piores nos tiros — Garcia torceu


a boca.

— Como assim, piores nos tiros?

— Você só acertou dois tiros, gatinha. Ainda bem que recuperou aqui
no treino com o carro.
— Mas os tiros contavam pontos?

— Tudo conta pontos aqui — Ítalo falou.

— Pablo, você não falou isso.

— Não queria te deixar mais nervosa do que já estava. Se eu


colocasse mais essa pressão, não teria acertado nem aquele... aqueles dois...

— Poxa, gente. Sinto muito. Eu não sei atirar, foi minha primeira vez.

— Não ligue, as primeiras vezes são as mais gostosas — Uriel soltou


e vários deles riram safados.
— Muito engraçado. Para onde estamos indo?

— Para o refeitório. Não está com fome? — Pablo perguntou.

— Morta de fome.
— Depois do almoço, temos uma hora de descanso. O treino da tarde
é na pista de obstáculos — Enrico esclareceu. — Acho que devemos ser
gratos a você por não termos treinamento hoje à noite.

— A mim? — perguntei sem entender.


— Sim, verdade, Enrico — Garcia falou pensativo. — Talvez porque
você ainda seja muito nova no ramo, o Comandante não quis forçar a barra
hoje. Mas amanhã é quase certo que tenhamos. Prepare-se.

— Como assim treinamento à noite?

— Treinamento a qualquer hora, coração — Raul falou.


— Posso perguntar uma coisa para vocês?

— Claro! — vários deles responderam.

— Por que vocês dois correram mais devagar hoje de manhã? —


perguntei diretamente para Raul e Ítalo.
— Já explicamos, Summer. Porque você faz parte da nossa equipe —
Raul começou.

— E não deixamos ninguém para trás — Ítalo disse também. — Tudo


bem que você estava bem lá atrás, mas se não diminuíssemos a marcha, você
poderia até errar a trilha e se perder.

— Não queríamos transformar uma corrida simples em uma missão


de resgate — Adam comentou.
— Obrigada, equipe linda!

Estava emocionada com a declaração deles e ergui minha mão para


que eles batessem.

— Vamos lá! Vão me deixar no vácuo?


Eles estavam rindo e só depois de algum tempo começaram a tocar a
palma de minha mão também.

— Você é estranha, garota — Uriel comentou.


— Eu sou estranha? Olha quem fala. O que um bando de homens
como...

Olhei para eles, para os corpos deles, para os... putz... diga que não
olhei para a direção dos pintos deles. Levei as mãos ao rosto e escutei as
gargalhadas.

— Pode olhar, gatinha. Não tira pedaço. — Era a voz do safado do


Adam.
Não, Adam. Eu não posso olhar.

Caminhamos juntos até o refeitório e eu não parava de pensar nas


minhas ações.

Eu não sou assim. O que está acontecendo? Eu tinha ido para


aquelas férias para pensar, para refletir, não para ficar admirando aqueles
corpos perfeitos. Que bundinha linda a do Raul! Pare, Summer! Pare agora!

Lá dentro peguei uma bandeja e um prato. Me servi o mais rápido que


pude e me sentei em uma mesa vazia. Aos poucos os lugares à minha volta
começaram a ser ocupados por todos eles.

— Mas... tem tantas mesas...

— Gostamos de ficar em equipe — Pablo comentou.


— Unidos é mais gostoso — Adam completou.

— Vocês não facilitam.

— Não sabemos do que está falando, Summer — Ítalo emendou.


— Complete o seu pensamento, anjo. O que ia dizer de todos nós
aqui, no treinamento — Enrico pediu.

— O que eu ia dizer, antes de olhar... Bem... é que o que vocês estão


fazendo aqui, nesse treinamento e não em casa, com suas famílias... pais,
irmãos, namoradas, esposas e filhos?
— Estamos de castigo — Garcia disse seco.

— Sim. Porque alguns de nós fizeram um trabalho porco na Europa


— Adam comentou chateado.

— Vai começar novamente com essa história? — Ítalo reclamou. —


Só eu e o Garcia estávamos lá e sabemos o que tivemos que enfrentar. A
merda estava fora de controle lá em Ibiza. Não foi nossa culpa, foi do
Anderson que não deixou o Carlos levar a equipe toda. Se todos nós
estivéssemos lá, duvido que a Beatriz tivesse ficado para trás.
— Em primeiro lugar, ela e a Jéssica nem teriam sido esquecidas... —
Enrico disse seco. — Acho melhor pararmos mesmo a discussão.

— Ah... vocês esqueceram alguém que deveriam proteger?

— É mesmo uma longa história, bella. Podemos deixar para outro


momento esse assunto que exalta o ânimo de muitos aqui? — Apenas assenti
— Nos fale de você. De onde é e o que faz aqui? Seu português é muito bom,
mas me atrevo a tentar adivinhar que é americana.
— E acertou. Moro lá. Na Califórnia. Com a minha mãe. Meu pai é
brasileiro.

— E o que te fez pensar em ser segurança particular? — Garcia


perguntou.

— Não sei. Opções para a vida. Adoro novos desafios.


— Que interessante — Adam comentou, divertido, perguntando em
seguida. — E vai ficar no nosso alojamento? Tem uma cama vazia embaixo
do meu beliche.

— Você é muito folgado, garoto. Eu não vou ficar no alojamento dos


homens. O Comandante arrumou um quarto para mim na casa dele.
— Tranque a porta à noite — Adam disse ainda divertindo-se. — E se
precisar de segurança noturno, é só me chamar.

— Gente, ele é sempre assim? Tão atirado?

— Sim...
— Aham...

— É...

— Sempre...
Cada um respondeu de uma forma, descontraídos.

Depois do almoço, alguns rapazes se dispersaram e eu fui até o prédio


da academia conhecer os arredores. Dei algumas voltas por ali e voltei a
tempo para a formação do último treino do dia.

Caminhamos pela mata até encontrar o que seria o início do exercício


de obstáculos.
—Mitchell, fique aqui no final da formação, assim poderá ver como
os rapazes fazem o percurso e poderá imitá-los — Silva ordenou e eu apenas
concordei.

Depois de ver um a um sumir escorregando no meio da lama, pular


por cima de pilhas de paletes segurando-se em cordas e escalar elevações de
terra batida, sumindo por trás delas, foi a minha vez.
Era muito nojento me rastejar na lama pegajosa e marrom, sujando
não apenas minhas roupas, mas meu corpo, meu rosto e meus cabelos. Eu já
havia me enlameado muito em diversas excursões fotográficas, mas nunca
ficara num estado como aquele. Saí do outro lado pingando, sacudi as mãos e
olhei chateada para Silva, que apenas ria. Ele apontou para a corda acima de
mim. Eu me agarrei a ela e pulei os obstáculos, sofri horrores para consegui
escalar o morro de areia e cheguei lá em cima toda arranhada. Assim que
alcancei o topo, vi do outro lado uma trilha onde os rapazes já corriam ao
longe. Vi todos mergulharem em novas poças de lama e voltei a encarar
Silva, que apenas fez sinal para que eu prosseguisse. Chateada, continuei.

O final do percurso, que durou quase uma hora e meia, exigia que se
tocasse uma boia no meio de um lago e voltasse à terra. Eu estava sozinha
nesse momento. Já estava morta, cada braçada pesava toneladas e pensei em
desistir várias vezes no meio do percurso, mas a voz de meu pai dizendo que
eu desistiria até o final do dia me deu forças para continuar. E quando
cheguei à margem, apenas me entreguei à fraqueza, deixando meu corpo
relaxar ali. Barriga no chão, mão apoiando o rosto.
Só queria morrer em paz.

— Você está bem, anjo? — Eu achava que era Enrico, só ele me


chamava assim.

— Acho que foi demais para a gatinha.


Ergui meu dedo médio na direção da voz que eu tinha certeza de que
era do Adam.

— Ela está bem, veja, Adam, esse aí é especial para você. — Sorri
com a colocação de Pablo. Era ele por causa do sotaque gostoso.

— Deixa eu te ajudar, tigresa.


Senti os braços fortes de Garcia segurando minha cintura e meu
ombro. Me apoiou e me colocou em pé. No mesmo momento percebi o rosto
de todos da minha equipe se abaixarem, focando uma direção específica.
Acompanhei os olhares e quando percebi, ruborizei instantaneamente.

As calças, as malditas calças enormes e largas haviam simplesmente


caído até os meus pés e lá estava eu, apenas com uma calcinha branca
minúscula e completamente transparente.

Me atrapalhei um pouco, mas fui rápida em subir a calça e me virar.

Puta merda. Puta merda. Puta merda.

Criei coragem, abaixei o rosto e passando no meio daquele corredor


de homens fabulosos, comecei a caminhar para longe deles.
No dia anterior haviam visto minha bunda. Agora minha boceta. O
que faltava? Ai que vergonha gigantesca.

E a droga da calça não parava no lugar. Sempre querendo descer com


o peso que havia ficado, completamente molhada.

Ouvi alguém se aproximar de mim correndo.

— Por favor, sai daqui — falei sem saber quem era.

— Ei... moranguinho. Pegue. Se cubra com isso.

Olhei para trás e vi Ítalo se aproximar estendendo seu casaco de


treinamento na minha direção. Amarrei a peça na cintura, deixando a calça
cair finalmente. Ele não ria, estava sério e tinha muita compaixão no olhar.
— É do Raul, depois você devolve. Deixe a calça aí no chão que a
gente leva para a lavanderia.

Falei ainda sem encará-lo:


— Obrigada.

— Ei, não fique triste. Isso poderia ter acontecido com qualquer um...

— Vocês são todos homens. Passei uma vergonha desgraçada agora.


— Sentia as lágrimas querendo se formar. — Por favor, eu vou morrer de
vergonha se o Comandante ficar sabendo disso...

— Nenhum de nós vai contar nada. Prometo.

Olhei para ele por cima do ombro e vi o sorriso lindo em seu rosto,
como se daquele jeito, só seu, apenas quisesse me proteger.
— Por que moranguinho? — perguntei.

— Eu acho que você deve ter esse gosto.

Abri a boca surpresa com a resposta. Não esperava por isso. Me virei
e andei apressada na direção do carro.
Por que estou sentindo uma tempestade na barriga quando me
aproximo deles, quando na verdade deveria ignorá-los? Eu não estou aqui
para procurar afeto masculino. Estou correndo dele, já que acabei de me
afastar de Travis. O que está acontecendo com você, Summer Mitchell?

Eu não conseguia parar de me questionar.

Eu estava de fato quebrada do dia.


Suspeitava de que no dia seguinte estaria ainda mais. Quando
cheguei, meu pai não estava. Graças a Deus! Depois de tomar um banho, fui
para a cozinha e olhei na geladeira. A comida do refeitório me pareceu
pesada demais, então peguei uma lata de sardinhas no armário, salteei alguns
legumes e aquele foi meu jantar. Uma salada improvisada. E uma manga.

Nossa, como eu gostava de mangas!


Com a barriga cheia, caí morta na cama.

Nem me lembrei da existência de um possível castigo para a equipe


que havia se dado mal no dia. E era certo que havia sido a minha.
De tiros às árvores

— Summer, meu amor, acorde, eu já estou de saída.


— O quê?

— São mais de cinco e meia, hoje o treino começa às seis.

— Mas eu coloquei meu alarme...


Eu estava bêbada de sono.

— Sei que colocou, vida. Ele tocou até parar e você não acordou.
Durma mais um pouco. Descanse. Está fatigada de ontem, você se saiu muito
bem, o Silva me contou.

— Não, eu tenho que... — Me sentei, aflita. — Minha equipe depende


de mim.
— Descanse, Summer. — A voz saiu quase como uma ordem e eu
congelei meus olhos nos dele. — Se estiver mais descansada, à tarde você
treina com sua equipe.

— Mas, papai...
— Descanse. Vamos combinar assim. O Silva me falou que você foi
péssima com os tiros. Tome um café da manhã reforçado e vá para os
estandes de tiros para um curso relâmpago. Amanhã você precisará usar uma
arma.

— Eu vou ter que matar alguém?


O sono ainda dominava parte do meu cérebro. Meu pai não deixou de
sorrir enquanto continuava a falar:

— Sim, querida. De preferência todo o time inimigo. Será apenas uma


simulação, minha louquinha linda.

— Tá bom. Mas não castiga minha equipe porque eu faltei ao treino,


por favor, Comandante lindo e bonzinho. Você é o melhor do planeta. O
Comandante mais fofo que eu conheço. O mais...
— Tudo bem, sua aproveitadora de pais carentes. Eu já entendi o
recado. Vou pensar no seu caso, se vou ou não castigar sua equipe.

— Por favor, papai. — Juntei as mãos em súplica.

— Eu não faria isso, meu amor. Você não é profissional, não tem
treinamento em diversas áreas e não está acostumada a tanta pressão. Agora,
descanse. Isso é uma ordem. Ah, seus uniformes novos já chegaram. Quatro
conjuntos completos. Estão em cima do sofá...
Graças a Deus!

Eu sorri e esperei o beijo no topo da minha cabeça. Ele saiu do meu


quarto e eu voltei a me jogar na cama. Eu estava de fato a-ca-ba-da.

— Puta que pariu, até as unhas e os cabelos! Tudo dói!


Levantei, fiz minha higiene pessoal, levei a roupa do dia anterior e o
casaco do Raul para a máquina de lavar. Fui tomar café da manhã. Estendi a
roupa no varal atrás da casa e fiquei encantada com a mata. Entrei e peguei
minha máquina fotográfica.

Passei alguns minutos admirando a natureza e tirando fotografias


espetaculares. Usei uma lente macro para conseguir aproximações fantásticas
em insetos exóticos, borboletas lindas e todo o micro-habitat do lugar.
Encantada com o resultado do meu trabalho, corri para o computador e salvei
as fotos, tanto no meu HD gigantesco quanto no meu banco de dados pessoal
na nuvem. Não correria nenhum risco de perder aquele trabalho.
Ainda não eram nem oito horas, mas eu precisava assumir as
responsabilidades com a minha equipe. Corri para me trocar, notando que o
uniforme tinha um caimento perfeito.

Sem vexames hoje, Summer, por favor!

Tomei mais um copo de suco, peguei minha câmera, as chaves do


carro e parti para o campo.
Assim que cheguei, a base estava bem vazia. Fui para o escritório ao
lado e apenas um rapaz mexia no computador.

— Bom dia.

— Bom dia, Mitchell.


— Ah... você sabe quem sou?

— É a única garota do campo. Então... acho que você é a senhorita


Mitchell, certo?

— Certo. Você é o... — Olhei o nome dele, estampado no tecido


destacável, acima do peito direito. — Barata. Sabe onde está meu... o
Comandante?
— Está em treinamento com as equipes. Ele pediu para que eu a
levasse até o estande de tiros assim que chegasse. Um minuto, por favor.

Ele saiu e eu também. Tirei a proteção da lente e comecei a caçar


cliques, apontando para a mata. Ou eu estava apenas procurando os rapazes
escondidos nela? Cada pensamento que me levava até eles me fazia sofrer em
agonia por não me reconhecer. Eu parecia uma versão falsificada de Maisie.
De uma forma ou de outra, não percebi a aproximação e a frase me pegou de
surpresa.

— Você é fotógrafa ou é hobby?

— Puta que pariu... Não podia chegar fazendo barulho?

Vi o sorriso aberto, mostrando os dentes perfeitos de Ítalo, me receber


quando virei.
— Você está louco? Quer matar os outros do coração?

— Não foi a intenção, eu juro.

— Ah, não foi? E chegar assim sorrateiro você chama de quê? Porra,
garoto.

Eu ainda tentava me recuperar do susto. Estava tão concentrada nas


fotos...

— Me desculpe mesmo, moranguinho.

— Moranguinho o caralho. O que você está fazendo aqui?


— Serei seu instrutor de tiro.

— Meu instrutor?

— Sim, o Comandante me mandou ficar para trás e te esperar. Vou te


dar aulas. Vamos? Pelos meus cálculos, está uma hora atrasada.
— E eu tinha hora para chegar?

— Bem, todos temos que cumprir horários aqui... Então... sim.

— Ah, o Comandante não me falou nada. Nesse caso, vamos, tenho


que recuperar o atraso.

— Sim. Venha.

Caminhamos lado a lado. Recoloquei a proteção da lente e acomodei


minha câmera ao meu lado.

— Não respondeu. — Ítalo recomeçou a conversa.

— Não respondi o quê?

— Você é fotógrafa mesmo ou apenas curte tirar fotos?


— Ah, eu estou tentando carreira. Amo o que se revela à frente da
lente da máquina fotográfica. O mundo tem uma nova perspectiva, sabe?

— Sei.

— Sabe?
— Sei. Sempre que fazemos o que amamos, tudo ganha perspectivas
que só a gente consegue vislumbrar. Quem está fora do nosso campo de
sonhos e realizações não percebe o quanto aquilo é importante para a gente.

— Poxa. É isso mesmo. Você fala como se sofresse na pele a rejeição


de algo, como se não fosse apoiado e... ahhh... Alguém não apoia sua
profissão?

— Meus pais.
— Hum, que merda, Ítalo. Sinto muito. Sem querer ser intrometida,
mas já sendo, você tem quantos anos?
Entramos no prédio e atravessamos a grande sala de treinamentos.
Passamos por uma porta fechada de metal e lá dentro vi as várias baias. Ele
parou à minha frente e continuou falando.

— Vinte e sete.
Ai, meu Deus, vinte e sete anos de puro músculo e beleza!

O filho de uma mãe sabe que é bonito e se aproveita disso, tenho


certeza. Ítalo havia me aprisionado com aqueles olhos castanhos lindos. Eu
estava fazendo um esforço sobre-humano para não suspirar bem na frente
dele.

Leva de mim esses pensamentos, Senhor!


— Está explicado. Ainda mora com seus pais, Ítalo?

— Na verdade não, mas não ter a aprovação deles é duro, sabe?

— Ah, se sei...
— Seus pais também não aprovam?

— Na verdade eles me apoiam, embora no começo meu pai talvez


preferisse que eu seguisse por outro caminho...

Ele esticou um dos braços e o passou por minha cabeça. Aproximou o


corpo e o rosto de mim. Meu corpo já estava gritando: Ou agarra ou corre,
Summer. Tortura a essa hora da manhã, não dá.
— O que está fazendo, Ítalo?

— Pegando o equipamento de proteção.

— Ah.
Eu me virei e o vi retirar os óculos e o protetor para os ouvidos de um
armário de apoio atrás de mim. Voltei-me para ele novamente e estávamos
tão próximos que eu sentia a respiração dele.

— Vamos colocar primeiro os óculos — ele disse baixinho, sem


desviar os olhos dos meus. — E agora os protetores, para abafar o barulho
dos disparos. Você tem olhos lindos, moranguinho.
— O-obrigada.

Ele afastou-se dizendo:

— Você vai atirar com um revólver de calibre 22. Tem um impacto


menor e será mais fácil se adaptar.
— Tá bom.

— Essa é a trava. Aqui é o tambor onde vamos colocar a munição.


Assim... Olha o que estou fazendo, moranguinho.

— Ah, estou olhando.


Não estava. Sorri internamente.

— Pensando bem, acho que antes de começarmos a atirar, você


precisa aprender como manusear e carregar as armas, inclusive as de
paintball que usaremos no treino de amanhã.

Percebi que ele estava levando o treinamento a sério, me envergonhei


um pouco e resolvi tentar prestar atenção. Rapidamente ele me ensinou a
mexer nas armas, dando atenção especial às que iríamos usar no dia seguinte.
Quando ele teve certeza de que eu estava bem segura de tudo o que
havia ensinado, finalmente propôs:

— Chegou a hora de treinar para valer.

Ele pegou novamente os óculos de proteção e os colocou lentamente


em meu rosto, voltando a me olhar com aquela intensidade que me
desconcertava inteira.

— Sempre que colocar a arma sobre uma bancada, deixe-a apontada


para a frente. Não importa se a arma estiver carregada ou não. Mesmo que
tenha certeza absoluta de que disparou os seis tiros ou de que está travada,
deixe a arma sempre apontada para frente quando a apoiar. Não se esqueça
disso, certo?

— Sim, senhor.

— Venha, fique aqui. — Fui para onde ele mandou e fiquei em pé


bem em frente a ele. — Segure a arma, cuidado que está destravada. Segure
com as duas mãos, você ainda não tem firmeza nos braços.

Ele foi para trás de mim e cobriu meu corpo, passou os braços pelos
meus e me ajudou a posicionar a arma à frente do meu rosto.
— Agora, feche um olho e, com o outro, procure com a mira onde
quer acertar o alvo.

— Na cabeça.

Ouvi o riso gostoso dele bem no pé da minha orelha. Aquilo era


tortura. O homem era todo lindo e tinha um encaixe perfeito nas minhas
costas.
— Então é só mirar e atirar na cabeça quando você quiser,
moranguinho.

Ele não se afastou, permaneceu colado. Colado demais. Colado a


ponto de eu sentir a firmeza de seus músculos. Colado a ponto de eu sentir o
volume nada pequeno em minha bunda. Respirei fundo, tentando me
concentrar.
— É como encontrar o caminho para tirar uma fotografia
maravilhosa, Summer.

Aquilo foi a melhor coisa que ele poderia dizer. Tudo ficou mais
tranquilo depois daquilo. Ajeitei o protetor auricular, estiquei os braços e
senti as mãos dele irem para minha cintura. Mirei como se olhasse através da
lente da minha câmera e atirei.
Ajeitei a cabeça e a bati contra o ombro de Ítalo. Ele riu.

— Acertei?

— Tente os outros tiros. Depois eu puxo o alvo.


— Tá bom.

Repeti o procedimento e, tiro após tiro, eu achava aquilo cada vez


mais fácil. A arma era bem mais leve e fácil de manusear do que o fuzil. Mas
também, que ideia idiota, colocar um fuzil nas minhas mãos no meu primeiro
dia.

Quando as balas acabaram, pousei a arma apontada para frente, como


ele indicou, descansando-a em cima do balcão.

Ele apertou um botão ao nosso lado e a folha de papel veio voando de


forma rápida, pelo mecanismo automático, em nossa direção. A mão direita
dele ainda estava presa na minha cintura e eu não reclamei. Estava eufórica
para saber o resultado.

Havia seis buracos de balas no papel.

— Veja só, que resultado maravilhoso, Summer.


— Acertei os seis! Acertei os seis!

Ergui as mãos no ar e me virei, abraçando-o de alegria.


— Acertou o papel seis vezes, o corpo do cara só uma, mas já é um
grande avanço. — Ele ria da minha alegria, aceitando meu abraço
contagiante. — Vamos praticar mais, porque amanhã teremos um pelotão
inteiro para matar.

— Um pelotão de bonecos, você quer dizer...


Me afastei, mas mantive nossos rostos muito próximos.

Eu não ia resistir, que cara lindo da porra.

— Nada disso. O Comandante já adiantou que amanhã teremos


batalha de paintball. Equipe contra equipe. Então vamos ter que praticar o
que pudermos. Quero ver você atingir pelo menos uns dois caras amanhã.
Minhas mãos ainda estavam nos ombros dele, as dele ainda estavam
na minha cintura, nossos corpos estavam parcialmente colados e nossos
rostos estavam perto demais. Perto demais. Uma das mãos de Ítalo foi ao
meu rosto e deslizou por minha bochecha.

— Ainda estou me perguntando se você tem gosto de morango.

— Gosta de morangos?

— Adoro.

— Experimente e descubra.

Ele não esperou um segundo convite. Inclinou-se lentamente e colou a


boca na minha.
E eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Eu não era assim.
Eu sou uma garota bem-comportada...

Não sou?

Eu estou looouuucaaa...
Ele aprofundou o beijo puxando minha nuca, fazendo nossas salivas se
misturarem. Minha língua procurou a dele e não demorou para
estarmos nos devorando. Ele me prensou contra o balcão atrás de mim
e o senti ainda mais armado. Meu corpo também respondeu àquele
contato tão urgente.

Meus dedos se afundaram nos cabelos curtos e praticamente não


consegui me agarrar ali. Nossas bocas não se desgrudavam, mesmo quando
havia o risco de faltar fôlego. Apesar de todo o fogo que me consumia — que
nos consumia — Ítalo não avançava além do beijo, como se tivesse medo de
alguém entrar ali a qualquer momento. Fui eu quem espalmou a mão no peito
forte e definido dele e o afastei com calma e carinho. Voltamos a nos encarar,
hesitantes, ofegantes e sorridentes. Passei os lábios um no outro e os lambi
antes de falar:
— E aí? Tenho gosto de morango?

— É muito melhor.

Sorri novamente. Estava vermelha. Qualquer coisa me deixava assim.


Mas a vermelhidão que me tomava eu não tinha certeza se fora causado pelo
beijo maravilhoso ou por minha ousadia ao provocá-lo a me beijar. Eu nunca
me imaginara beijando um estranho tão facilmente.
Quem é você e o que você fez com a Summer que eu conheço? A
Summer de uma semana atrás nunca teria sido ousada desse jeito!

— Vamos voltar ao treino. Tenho que matar uns dois amanhã de


acordo com você.

Me virei como se aquele beijo gostoso, delirante, do outro mundo,


nunca tivesse acontecido e o senti se encaixar atrás de mim novamente.
— Se ficar tão boa com os tiros, como é beijando, terá que acertar três
ou quatro.

Continuamos as aulas, mas não houve mais menção de Ítalo tentar


avançar. Respeitou o treino e era um excelente instrutor. Paciente e atencioso.
Depois de treinarmos mais um pouco com o revólver, nos concentramos
totalmente nas armas que seriam usadas na batalha do dia seguinte.
No final da manhã eu já estava conseguindo manter os tiros apenas
dentro do contorno da figura humana, sem grande precisão em relação aos
pontos vitais, mas me saindo muito melhor do que com o fuzil do dia
anterior. Com certeza estava.

— Com fome?

Ítalo perguntou para mim enquanto me ajudava a retirar o


equipamento de segurança.
— Muita fome. Sabe o que tem hoje para o almoço?

— Não. Mas acho que os rapazes ficarão felizes com seu retorno.

Saímos do prédio e caminhamos direto para o refeitório.

— Que nada, tenho certeza de que torcerão os rostos, desesperados:


“Ah, não. Ela voltou”, “Estragou o dia, vai atrapalhar nosso treino”, “Por que
ela insiste com isso? Sabe que não tem jeito” ... São apenas algumas coisas
que vão passar pela cabeça deles.

Ítalo riu.

— São coisas que o Adam diria, sim, mas de brincadeira, só para


provocar você. Mas aposto que ele não vai dizer nada.
— Qual é o problema dele? Ele é muito galinha!
— Esse é o problema dele. Ainda é muito novinho, se acha o garotão
da turma e imagina que todas as mulheres vão cair aos pés dele.

— Ah, nada a ver, você é supernovo e nem por isso deve achar que
todas as mulheres caem aos seus pés.
Olhei para ele e ele mantinha o sorriso mais sacana e safado que já o
vira dar desde que o conhecera.

— Putz, você se acha irresistível também.

— Um bocado, sim. Eu consegui um beijo seu, não consegui?


— Seu filho da mãe. — Refleti um pouco e disse incrédula. — Ítalo,
por favor, não me diga que toda aquela história que contou, dos seus pais não
compreenderem sua profissão, foi apenas para eu ter pena e cair na sua lábia!
Ahhh, se for, eu ficarei com muita raiva e...

— Não, moranguinho... aquilo foi sério. Abri meu coração.

— Ah! — Fiquei sem jeito. — Desculpe-me.


— Não. Tudo bem.

— Sobre o beijo, será que podemos...

— Não se preocupe. Seu segredo é o meu segredo. Afinal, eu sei que


está louca para fazer o mesmo com os outros rapazes.
— O quê? Você está...? Quem você pensa que eu sou...?

— Não esquenta, garota. Somos vividos, não julgamos.


Aproveitamos.

— Aproveitam?
— Bem...
— Olha só quem voltou!

A voz de Uriel também tinha um sotaque lindo. Era mais envolvente e


sedutor. E mesmo depois de tantos exercícios, ele continuava com um cheiro
tão bom...
— Alegrou o dia, vai fortalecer o time, anjo. — Enrico amolecia meu
coração com aquele “anjo”.

— Melhorou no tiro... Mitchell? — Pablo perguntou. — Você será


essencial amanhã.

— Sim, fez muita falta hoje, gatinha, mas sabemos que estava
aprimorando suas técnicas infalíveis de tiro.
— Demos o nosso melhor para recuperar a falta que vocês dois
fizeram — Garcia admitiu. — E só para saberem, saímos na frente. O
Comandante ficou impressionado.

Eu já podia chorar? Eles eram uns lindos! Falaram exatamente o


oposto do que eu havia imaginado. Estavam me apoiando em tudo, me
aceitaram na equipe e não importava o quão ruim eu era, eles fariam de tudo
para me ajudar a superar minhas dificuldades. Uma verdadeira equipe.

— Ai, gente! Vocês são os melhores.


Raul passou a mão pelos meus cabelos presos no rabo de cavalo:

— Não chore, coração. Você é linda demais para chorar. E vamos


precisar de toda a sua alegria e motivação na parte da tarde.

— Vão? O que vamos fazer à tarde?


Eu terminava de encher meu prato de comida.

— Vamos ter que fazer alpinismo em árvores, atravessar pontes de


cordas. Bem light hoje. — Garcia comentou rindo.

— Que legal! Qual a altura dessas árvores?

— Uns quinze metros, se tanto. — Ítalo comentou como se não fosse


nada demais.

— Então até que é tranquilo mesmo. Mas e essas pontes de cordas?


Isso já me preocupa um pouco...

— Não se preocupe antes do tempo, anjo. É bem fácil, você verá.

— Quase me esqueci de perguntar. Qual equipe perdeu ontem? — Eu


estava curiosa.

— O Silva resolveu não apontar nenhum vencedor ontem. — Uriel


comentou. — Ele percebeu como você ficou... depois do rio... então...

— Então nossa equipe havia perdido. — Entendi sem que nenhum


deles precisasse dizer nada. — Perdão, gente. Acho que, enquanto eu estiver
na equipe, vocês sempre vão perder.
— Ei, tigresa. Não nos importa ganhar ou perder. — Garcia falou
sério, encarando-me com aqueles olhos negros. — O que importa é o
aprendizado. E estamos aprendendo muito com você na nossa equipe.

Depois do almoço, todos se dispersaram como no dia anterior, e eu fui


caminhar. Alcancei a mata numa entrada próxima ao refeitório. Com minha
máquina a postos, comecei a procurar pelas sombras perfeitas, casadas à
fauna tímida que encontrava no lugar. Escutei um galho estalar atrás de mim.

— Se você me der um novo susto, Ítalo, eu te bato.


— Não sou o Ítalo.

Aquele sotaque...
Deixei a câmera parada, congelada na posição em que pretendia tirar a
foto e olhei para o lado. Era Pablo que chegava de fininho.

Tão lindo, meu Deus!


Eu não entendia o porquê de estar sentindo aquilo, mas, cada vez que
me aproximava de um deles, sentia o chão tremer embaixo de mim.

— Ah... oi. Perdão. É que mais cedo eu estava justamente


enquadrando para tirar uma foto quando o filho da mãe do Ítalo quase me
provocou um infarto.

Ele sorriu de lado.


— Não sabia que você fotografava.

— Nenhum de vocês sabia, mas aos poucos estão descobrindo...

Voltei a olhar pelo visor da câmera e escutei o clique quando apertei o


botão. Eu teria bons resultados com as fotos daquela viagem. O lugar era
lindo em vários momentos do dia. As luzes e sombras formavam contrastes
maravilhosos em vários ambientes. Abaixei meu instrumento de trabalho e
voltei a olhar para Pablo. Ele estava escorado em uma árvore, com a cabeça
de lado, hipnotizado por mim.

— O que foi, Pablo?

— Nada.

Ergui-me e fui até ele, ajustando minha lente. Apontei na direção dele,
que riu alto, erguendo a cabeça e deixando o pomo de adão mais ressaltado.
— Você não vai querer estragar suas outras fotos.

— Vamos, olhe para mim — pedi.

Ele olhou. Sério. E apertou aqueles olhos lindos. Uau! Nossa! Parecia
profissional. Meu coração se acelerou, descompassado. Tirei uma foto atrás
da outra. O cavanhaque apontando. A pele bronzeada e deliciosamente
definida. Aquela veia no pescoço que eu já conhecia. Os cabelos levemente
desarrumados em cima. Ele passou uma das mãos por eles nesse exato
momento, fechando os olhos e os abrindo, voltando-os para mim novamente.
Meu Deus, é muita tentação! Abaixei a máquina fotográfica e dei mais alguns
passos até ele.

— Você faz parecer que já fez isso antes.

— E se já tiver feito?

— Você já trabalhou como modelo profissional?

— A verdade?
— A verdade.

— Já. Em Barcelona.

— Ca-ra-lho, que legal. Como foi?


— Muito trabalho, pouca comida, nenhuma adrenalina e muito
mimimi...

Eu ri.

— Uma maravilha — brinquei.


— O oposto disso, gu...

Parou. Ele sempre parava.

— Do que você quer me chamar, mas sempre para na última hora?


— Você pode não gostar. Melhor não falar.

— Ah, agora eu quero saber.


Já estávamos tão próximos. Ah...

— Guapa[2].

— Guapa?

— Sim. Você é...

— Parou por quê? Vamos, o que significa guapa?


A luxúria explodiu nos olhos ligeiramente amendoados dele. O
sorriso safado apareceu ali como um alerta. Duas mãos foram rápidas em
agarrar minha cintura e me virar, prendendo-me entre a árvore em que ele
estava apoiado há pouco e o seu corpo alto e musculoso. Ele abaixou e
gemeu, quase colando seus lábios nos meus.

Ah, porra. Eu não sou assim. Mas uma parte de mim quer ser. Cada
vez mais.

— Te chamo assim porque você é muito bonita, garota.


As palavras da Maisie soaram em minha cabeça:

Se aparecer alguma oportunidade, aproveite. Fique com o máximo de


caras possível. Assim, depois, não se arrependerá.

— Você também é muito guapa, Pablo! — sussurrei.


Ele gargalhou, tão espontâneo...

— Sou? Sua guapa?

— Como?
— Guapa é para mulheres bonitas. É o feminino...

— Ah. Então você é meu guapo. É assim?


— Sim. Fico feliz em ser guapo para você.

Ele atravessou o espaço que faltava entre nossas bocas, e nossos


lábios se colaram. Seu beijo era tão doce. Diferente da potência contida no
beijo de Ítalo. Ele beijava com calma e não se limitou à minha boca. Seus
lábios foram para meu pescoço e para a orelha, voltando a mordiscar meu
lábio inferior e a seguir sugou ali. O beijo era de uma maciez que me arrepiou
inteira. Suas mãos não se afastavam do meu rosto, assim como minhas unhas
queriam atravessar sua camiseta.

Foi ele quem deu o passo para trás. Demorei três segundos para abrir
os olhos e o encontrar sorridente, hipnotizado como da última vez. Ele ainda
tinha a mão depositada na lateral do meu rosto e passava o polegar por ali.

Eu não queria acordar daquele sonho. Sim, só podia ser um sonho. Eu


havia beijado dois homens incríveis em um só dia. Em um só dia!

Meu Deus, o que está acontecendo comigo?


— Posso continuar te chamando de guapa, Summer?

— Agora que explicou, claro que sim...

Ouvimos vozes e vimos alguns elementos da outra equipe passando


por fora da mata.
— Vamos, Pablo...

— Vamos sim, guapa.

Ah, eu morro com aquele sotaque me chamando de guapa.


— Galera, já vamos partir para o treino.

A voz de Adam nos chamou.

Deixei minha máquina fotográfica no carro antes de partir para a mata


ao lado deles. Os rapazes estavam animados e sorriam, conversavam e
brincavam sem parar. Eu estava mais contida e um tanto envergonhada, pois
afinal eu estava ao lado de dois caras que eu havia acabado de beijar em um
intervalo curtíssimo de tempo.

O que eu estava fazendo? Eu prometi a mim mesma que não ficaria


com ninguém. E foi só conhecê-los, já beijei dois!
Ao chegarmos, vi meu pai ao lado da árvore que escalaríamos.

— Equipe 1, a postos? Vai... — A voz autoritária deu a ordem.

Os rapazes começaram a escalada. Eu os vi segurando-se em pedaços


de madeiras presos estrategicamente e os pés iam ali também. Subiam rápido,
como se fizessem aquilo há tempos. Ao chegar ao topo, havia uma
plataforma fixa, eles prendiam uma corda no material de segurança que
estava em volta da cintura e começavam a atravessar até a outra árvore, dez
metros à frente. A ponte de cordas, como minha equipe havia chamado, eram
apenas três cordas, uma grossa sobre a qual se andava, e outras duas mais
finas, na altura da cintura, para apoio das mãos.
A subida da árvore não me preocupava muito. Eu já havia feito
alpinismo em montanhas de baixa dificuldade e em paredes de academia.

Mas aquela ponte de cordas...

De qualquer forma, resolvi me divertir um pouco com eles e não


contei a ninguém que tinha alguma experiência com alpinismo.
— Erga o pé, coração.

Raul pediu. Ele estava de joelhos na minha frente. Apoiei em seu


ombro e aceitei que ele colocasse o equipamento de segurança por uma perna
e depois por outra.
— Muito bem, deixa eu prender aqui em sua cintura. Vou apertar só
um pouco, se estiver muito apertado me avise.

— Tá bom assim. Raul, tem certeza de que aquela ponte não vai cair?
— Não vai. Mas, se cair, esse cabo de segurança aguenta até o Garcia
que é enorme, imagina você que deve pesar o quê? Uns 65 quilos?

— Sessenta.

— Então, está de boa, coração. O pior que pode acontecer é você


descer em câmera lenta até o chão. O Comandante preza antes de tudo por
nossa segurança aqui.
— Tá bom.

Virei o rosto e procurei os olhos do meu pai, que estavam fixos em


mim. A cara dele estava fechada, com os braços cruzados, presos embaixo do
peito forte. Desviei o rosto, envergonhada, imaginando o que ele acharia se
soubesse que eu havia beijado dois dos seus homens depois de prometer que
nem olharia para eles.

— Equipe 2, vai. — A voz de trovão do meu pai explodiu e os


rapazes se organizaram.

—Mitchell, vou primeiro, venha atrás de mim. Ferreira, venha atrás


dela, assim nós dois a ajudamos lá em cima — Enrico falou sério.

— Sim, senhor!

Adam respondeu e eu o imitei:


— Sim, senhor!

Os rapazes sorriram para mim. Enrico prendeu o gancho no cinto de


proteção na minha cintura e conferiu se estava firme. Conferiu se Raul havia
prendido o equipamento direito e então falou sério:

— Pise onde eu pisar, se puder e conseguir. Se você se cansar, fique


tranquila, suba no seu ritmo. O Ferreira vai estar atrás de você.
— Tá bom. Obrigada.

Todos nós estávamos presos pelo equipamento de segurança.

Realmente papai devia prezar muito pela segurança. Afinal, nem


quero imaginar o que aconteceria se alguém caísse lá de cima.

Era muito diferente escalar uma árvore. Não era tão alta, mas
relativamente estreita e dava uma certa sensação de insegurança que eu não
tinha quando subia em uma montanha. Enrico partiu como uma bala. Esses
homens comem o quê no café da manhã? Quero duas porções, por favor.
Comecei a subir logo depois e, mesmo com Enrico mais à frente, não pude
deixar de me deleitar com a bunda linda dele. Ah... era perfeita para morder.
Arrebitada e redonda... putz... Isso me fez lembrar de algo.

— Tá boa a visão aí, Adam?

— Você não tem ideia do quanto, gatinha.

Eu ri. Eram todos iguais. Uns safados gostosos. Ah, eu ia morrer...


por estar me envolvendo aos poucos com eles e pela queda que ia levar
daquela ponte de corda.

— Estou indo o mais rápido que posso, lindo.

— Vai no seu tempo, gatinha. Estou logo atrás de você.


— Sei o quanto atrás gostaria de estar...

— Não, Summer. Você não faz nenhuma ideia.

Ri mais.
— Safado.

— No que pensou, garota?

— Eu? Em nada...

Cheguei ao topo e Enrico me ajudou a ficar firme. Adam pulou atrás


de mim no mesmo instante.

— Você estava mesmo atrás de mim.

— Como falei, não tanto quanto gostaria.

Enrico riu, se divertindo com a frase de duplo sentido.

— Levem o exercício a sério.


— Eu quero levar, chefe. Ela é quem fica me levando para o mau
caminho.

Dei um tapa no peito de rocha do loiro gostoso e ele apenas abriu o


sorriso.

— Vamos lá, anjo. Esta pode ser a parte mais difícil, porque as cordas
ficam balançando de um lado para o outro, mas basta não olhar para baixo.
Vou estar do outro lado. Fique olhando para mim, apenas para mim, certo?
— Enrico orientou e eu concordei.
Ele começou a travessia e percebei outros rapazes subindo a árvore.
Também vi que nem para o Enrico aquela era uma tarefa fácil.

— Adam, por que vocês estão chamando o Enrico de chefe hoje?

— Ele é o líder de hoje.


— Ah. Ontem era quem? Ninguém chamou ninguém de chefe.

— Era eu. — Nós dois rimos. — Não tenho moral nenhuma, eu sei.
Sou melhor seguindo ordens que orientando. Qualquer outro dos rapazes é
melhor do que eu como líder.

— Que é isso, não se menospreze...


— Não é questão de me menosprezar. Eu prefiro seguir ordens...

— Em todos os sentidos de sua vida? — perguntei capciosa.

— Se está se referindo à cama, aí não. Na cama quem manda sou eu.

— Olha aí, tá vendo? Já achou um diferencial.

— Venha, Mitchell. — Enrico gritou.

— Por que ele está me chamando assim? — perguntei apenas para


mim, mas Adam respondeu baixinho.
— Quando em operação, principalmente na presença do Comandante,
temos que usar nossos nomes de guerra, gatinha. Isso facilita a comunicação
em momentos que requerem rapidez.

— Ah!

Engoli o medo e dei os primeiros passos na corda, bem no momento


em que um vento forte a atingiu e ela balançou para valer. Congelei a trinta
centímetros de Adam.
— Eu não consigo. Eu não consigo — comecei a sussurrar um mantra
de terror.

— Calma, Summer — Adam repetia.

— Se você achar que não vai conseguir, volta, moranguinho!


Mesmo lá embaixo, meu pai percebeu minha hesitação e explodiu:

— Ela ficou com medo? Volte e desça, Mitchell!!


Aquilo me fez pensar que definitivamente eu não era a mesma
naquele ambiente. Eu nunca fugia de um desafio e não seria agora que iria
começar.

Eu não me atrevi a olhar para baixo, mas fechei os olhos e apenas


senti o vento mover meu corpo para frente e para trás, presa àquela corda.
Senti uma mão segurar a minha e uma voz calma dizendo:
— Venha, moranguinho. Volte para a plataforma.

— Calma. Eu só preciso me recompor. Me dá só um segundo.

— Certo. Estamos aqui.


A voz grossa e gostosa de Garcia estava agora do meu lado. Ele já
devia estar na plataforma.

— No seu tempo, coração. — A voz de Raul vinha mais de baixo,


deveria estar na árvore, esperando espaço para subir.

Certo. Meu pai ia ver quem era a menina mimada. Eu podia ter
hesitado e estar prejudicando toda a equipe por estourar o tempo, mas eu ia
terminar o treinamento, não ia deixar meus companheiros na mão. Abri os
olhos e olhei na direção de Enrico. Ele estava parado do outro lado,
segurando as cordas, em cima da outra plataforma. Era tão lindo e confiante.
— Você consegue.

Vi sua boca formar as palavras e não precisei do som para


compreender. Sorri e acenei.

— Estou pronta, rapazes.


— Tem certeza, gatinha? Não precisa se...

— Tenho sim.
Dei mais um passo na direção de Enrico. Mais um e a corda balançou
muito. Soltei um grito e depois parei. Voltei a olhar para Enrico, que não se
moveu. Ele estava me esperando do outro lado, com a mão estendida para
mim, passando-me força e confiança com aquele olhar. Continuei ganhando
ritmo e coragem. Quando cheguei à outra árvore, estendi a mão e Enrico a
segurou e me puxou para ele. Me pegou quase no ar e me abraçou forte.

— Eu consegui. Eu consegui.

— Você conseguiu, anjo. Eu tinha tanta certeza de que conseguiria.

Era o abraço mais gostoso que já tinha recebido na vida, por cuidar de
mim de forma tão acolhedora e por me passar tanta segurança. Me afastei
dele e olhei para a corda, Adam vinha depressa e já chegava e, assim que o
fez, me abraçou também.

— Você conseguiu, gatinha. Que orgulho.


— Vou descer, Adam. Encontro vocês lá embaixo — Enrico não
esperou a comemoração acabar para continuar o exercício.

— Certo.

— Eu desço depois de você, Enrico? — perguntei.

— Isso. — Ele já descia.

— Então é a minha vez de olhar sua bunda, Adam. Adorei.

— E a minha vez de olhar a sua — Enrico falou sumindo da


plataforma.
Eu fiquei rubra na hora, o que fez Adam rir de forma descontrolada.
Quando Ítalo chegou, não entendeu por que o amigo se acabava de rir.

— Parabéns, moranguinho, você conseguiu. Qual a graça?


— O Enrico vai apreciar a bunda da gatinha aqui enquanto ela desce a
árvore. — Adam respondeu e eu dei um murro falso em seu tórax.

— Precisava revelar até para o Comandante? — reclamei.


— Para ele nunca — Ítalo comentou. — Vai logo, Summer. Ou o
Enrico não poderá olhar quase nada.

Ele também começou a rir. Desci com raiva dos dois, e depressa,
tentando recuperar o tempo que eu havia perdido na travessia da ponte.
Quando já estava poucos metros acima do chão, vi Enrico lá embaixo, com as
mãos na cintura, olhando para cima. Disfarçava o olhar para a corda, mas
havia momentos em que eu sabia que ele olhava para mim.

Para a minha bunda.


Quando todos chegaram ao chão, fomos ao encontro do Comandante,
que fazia anotações em uma prancheta. Não falávamos nada. Era possível
ouvir os insetos da mata que nos cercava.

— Esse foi o pior tempo que já tivemos aqui no campo de


treinamento.

O quê? Ele estava mesmo marcando tempo? É claro que havia sido o
pior: Eu estava na equipe!
— O senhor não pode levar em consideração o tempo contando
comigo... senhor. Eu não sou profissional...

— Você faz ou não faz parte da equipe? — ele perguntou sério.

— Faço, mas...
— Então encare a realidade, Mitchell. É o segundo dia em que são os
piores, terão como castigo...
— Não é justo!

Eu me posicionei na frente dele, ergui o queixo e enfrentei meu pai.

— Tudo bem, Mitchell, pagamos o castigo do dia de bom grado —


Enrico comentou.

— Não é justo, você não entende? — Eu virei para a minha equipe.


— Vocês não entendem? Só ficaram para trás por minha culpa, sou a única
culpada. E você quer castigar a todos?

Apontei o dedo bem no peito do meu pai.


Pelo canto do olho, percebi os olhares horrorizados dos meus
companheiros de campo, das duas equipes. Meu pai olhou lentamente para
baixo, encarou meu dedinho lindo e frágil enfiado no meio do seu peito forte
e depois voltou a erguer o rosto.

Sério. Carrancudo. E assustador.

— Você tem razão, Mitchell. A culpa foi exclusivamente sua.


Fodeu.

— E vai passar a noite na mata, sozinha, para refletir em como e o


que pode fazer para não atrapalhar mais sua equipe.

— O quê? — respondi perplexa.


— Dê uma mochila de sobrevivência básica para ela, Barata. Vá
agora se não quiser que o castigo piore e tenha que ir para a mata sem
mochila nenhuma.

— Mas, pa...

Ele estava com raiva. Muita raiva.


— Vá agora, Mitchell!

Torci os lábios e acatei a ordem.

— Sim, senhor Comandante... bunda mole — balbuciei a última parte


quase só para mim. — Onde pego a merda dessa mochila, Barata?

— Venha comigo, Mitchell.

O acompanhei e não olhei para nenhum dos meus companheiros de


equipe.

— Amanhã quero todos no pátio às sete da manhã. — Ouvi meu pai


dizer e os rapazes concordarem. — Vamos...

Enquanto caminhávamos, Barata recebeu uma mensagem no celular,


leu e desligou. Ele olhou para mim e, pela cara dele, deu para sentir que a
mensagem era do meu pai.

Chegamos e permaneci em silêncio enquanto o rapaz arrumava uma


mochila e marcava alguma coisa em um mapa.
— Onde eu devo ir, Barata? Onde é essa tal mata?

— O ponto de acampamento está marcado no mapa. Dentro da


mochila há uma bússola, mas só porque faz parte do equipamento. O local
que o Comandante designou é bem perto e há muitos pontos de referência.

— Perto quanto?
— Mais ou menos uns dois quilômetros.

—Não é tão mal assim. Vinte minutos de caminhada...

—Você deu sorte. Normalmente ele manda os rapazes até para as


propriedades ao redor, no mínimo uns dez quilômetros de caminhada em
terreno acidentado...
— Porra. Tudo isso? E o que tem dentro da mochila?

— O mínimo necessário para passar a noite. Uma pá dobrável, uma


faca de caça multifunção, uma caneca, um cantil, uma panela pequena, linha
de pesca e anzol, pastilhas de cloro para purificar água, pederneira de sílex
para acender a fogueira... No seu caso, o Comandante mandou incluir uma
caixa de fósforos à prova d’água. Se você for fazer uma fogueira, lembre-se
de achar um lugar limpo e cavar um pequeno fosso em volta. Não vamos
querer você causando um incêndio aqui, certo?

— Com isso você não precisa se preocupar, eu adoro acampar. E só


faltava essa, eu causar um incêndio por aqui. Aí o meu... o Comandante me
mata de vez.

— Não reclame não... O lugar que ele escolheu para você é lindo, do
lado de um lago, há uma fonte de água mineral bem visível, diversas árvores
frutíferas carregadas...

— Já ficou de castigo lá?


— Não. Primeiro, porque só trabalho aqui, e segundo porque, como
eu disse, para quem conhece o comandante, esse seu castigo está mais para
passeio do que para punição...

— E, pelo jeito, esse Comandante está mais para Lúcifer do que para
Comandante.

— É o jeito dele ensinar. Tem bons resultados, sabia?


— Duvido, mas se você diz...

Barata me disse que eu não poderia levar nada além da mochila


comigo. Então, com dor no coração, peguei a câmera e as lentes no carro e as
deixei com ele, recomendando infinitos cuidados. A noite estava úmida e
havia ar condicionado na base, o que era muito melhor para o equipamento.

Depois de alguns minutos de caminhada e com o céu indicando o fim


do dia, avistei o lago. Era uma visão deslumbrante e ao mesmo tempo que
agradeci o castigo, amaldiçoei a falta da minha câmera.
Mas apreciei a luz morrendo, o laranja e o púrpura mesclando-se em
uma dança erótica, formando um dos gradientes mais deslumbrantes que já
tinha visto na vida.

Apoiei as costas na mochila, jogada ali de qualquer forma e continuei


me deslumbrando com aquele espetacular pôr do Sol, até não ter mais luz
alguma e ser engolida pelo céu estrelado, com a Lua começando sua fase
cheia.

Era o paraíso.
Meu pai não havia me enviado para um castigo, havia me enviado
para descobrir as belezas da noite daquele lugar que ele amava tanto. E era
óbvio que eu voltaria àquele lago munida de todo o meu equipamento.

Ouvi um galho ser partido atrás de mim e o medo tomou conta do


meu corpo. Me encolhi atrás da mochila amarela que quase brilhava na noite.
Olhei para os lados e não vi onde eu poderia me esconder. Quem poderia ser?
Mantive-me o mais parada possível até que vi um deles sair da escuridão da
mata.
Noite de castigo

Em seguida saiu mais um, e outro, e em pouco tempo toda minha


equipe estava vindo em minha direção. Só era possível reconhecê-los pela luz
da lua, mas eu reconheceria aqueles corpos mesmo na mais profunda
escuridão.
Se pudesse apalpar todos, teria mais certeza... O que é isso, Summer?

Ri sozinha com meus pensamentos. Uriel trazia... o que era aquilo?


Galhos? E todos tinham mochilas parecidas com a minha.

— O que vocês fazem aqui?


— Não achamos justo você pagar a penitência sozinha — Pablo disse
aproximando-se.

— O Comandante sabe que estão aqui?

Eu duvidava muito daquilo. Meu pai jamais deixaria sete homens


lindos, gostosos e potenciais pretendentes tão próximos da filha à noite
inteira. A parte do gostosos e lindos acrescentei por minha conta e risco.
— Não mesmo.
Adam riu jogando sua mochila perto da minha e esticou-se, alongando
os braços longos acima da cabeça.

— E como souberam que eu estaria aqui?


— Passamos horas procurando na floresta... — Ítalo comentou
dissimulado.

— Ah, por isso demoraram tanto?

Respondi no mesmo tom e ele riu de forma tão linda, direto para mim,
que fez minhas pernas ficarem moles. Quando parou de rir, confessou:
— O Barata entregou sua localização. É um linguarudo aquele lá.

Ele se sentou ao meu lado e começou a abrir a mochila:

— Mas não viemos de mãos vazias. Segundo as regras do castigo,


você não pode trazer nada além do que está dentro da mochila, mas ninguém
falou nada sobre receber ajuda de estranhos encontrados no meio da noite...
Meus olhos brilharam quando o vi retirar cuidadosamente minha mala
de equipamentos de dentro da mochila. Ele me entregou e continuou:

— Não mate o Barata, por favor... Ele não queria me deixar pegar isso
de jeito nenhum. Achei que a gente ia precisar nocauteá-lo para conseguir
trazer sua câmera para você.

Enrico sentou-se ao meu lado, também abrindo a mochila:


— Mas não é só isso... Também trouxemos comida enlatada, bebida,
miojo...

— E um castelo portátil para a princesa...

Pablo colocou à minha frente um volume, que imediatamente deduzi


ser uma barraca de acampamento. Raul complementou:
— Princesa é bem o termo. O Comandante também deve achar isso,
já que escolheu esse lugar super agradável, bem perto do centro de
treinamento... Normalmente a gente é mandado para bem mais longe e
precisa usar água barrenta para beber...

— Por que ainda não fez a fogueira, tigresa? — Garcia quis saber.
— Fiquei distraída com o pôr do Sol, que estava lindo, e quis
contemplar o céu por um tempo...

Adam perguntou, provocando:

— Mas você sabe acender uma fogueira, gatinha?


A pergunta fez com que eu me sentisse ligeiramente ofendida:

— Vai se lascar, garoto. Claro que sei! Deixe eu pegar os fósforos que
vocês já vão ver ...

Garcia se espantou:
— Fósforos?

— É, o Barata falou que o Comandante mandou colocar fósforos à


prova d’água na minha mochila...

— É que normalmente a gente tem que fazer fogo usando a


pederneira...
Raul não se conteve e brincou:

— Que foi que eu disse? Protegida do Comandante! Isso não é


castigo, é um spa de luxo...

Todos caíram na gargalhada. Até eu, que imaginei meu pai, bravo,
mas pensando em como dar algum conforto para a filhinha.
— Então vamos reformular: sei acender uma fogueira com fósforos,
mas adoraria aprender a usar a pederneira.

— Venha aqui, bella. Eu te ensino.


Uriel me chamou e me aproximei.

Enquanto preparávamos o terreno para a fogueira, Garcia, Enrico e


Pablo foram buscar água na fonte. Adam e Raul em pouco tempo armaram
uma barraca pequena, amarela.

Escolhemos alguns gravetos para dar início ao fogo e Uriel, com


muita paciência, me ensinou como fazer. No início foi um pouco complicado,
apagamos e recomeçamos algumas vezes, e logo eu estava conseguindo fazer
o fogo como se fosse a coisa mais fácil do mundo.
— Da próxima vez que estiver perdida no mato com uma pederneira
ou até mesmo com um isqueiro sem fluido, já sabe.

— Obrigada, Uriel, você é meu herói. Todos vocês são. E são uns
loucos. Não precisavam mesmo vir.

— Ah é? E você ia dormir ao relento? — Raul perguntou, apontando


para a barraca completamente montada.

— Claro! A noite está tão linda. Mas não vou desmerecer o trabalho
de vocês. A princesa agradece aos súditos pelo lindo castelo...

Fiz um gesto de reverência e todos caíram na risada.

— Eu só não entendo uma coisa. Para mim, uma parte desse


treinamento maluco não faz sentido algum. Vocês são seguranças
particulares. Por que se preocupar com sobrevivência no meio do mato, por
exemplo?
Eu estava de cócoras observando o macarrão instantâneo e as latas de
comida que os rapazes traziam para perto da fogueira. Enquanto colocava no
chão duas panelas com água, Enrico respondeu:

—A parte mais importante desse treinamento não são os exercícios


em si, mas sim a maneira como a equipe se integra e como age em conjunto.
Por isso, todo esforço que exija cooperação ajuda que a gente conheça melhor
uns aos outros. Quando surge uma emergência, é fundamental ter uma ideia
precisa do que se passa na cabeça de cada um... Tanto que, na primeira
semana do treinamento, as equipes se misturavam para sentir como é
trabalharmos com pessoas com as quais estamos menos acostumados. Mas
agora cada time permanece fechado, para aprimorarmos a integração entre
nós.
— Trabalhamos atendendo pessoas muito importantes. Nossos chefes
exigem sempre que estejamos preparados para tudo — Garcia revelou.

— Somos a elite da empresa deles, entende, moranguinho? A outra


parte dos melhores virá para o treinamento depois das festas. São os casados
e com família, como você comentou ontem.

— Ah, e vocês se dispuseram a vir agora nas festas?

— Sim, porque nossos clientes estão viajando — Enrico esclareceu.

— E quem está substituindo vocês?

— Iiii... nem queira saber a confusão que foi isso. O Carlos quase
pirou, mas todos foram sem segurança. — Adam abria uma lata de
sardinhas.
— Todos? São quantos? — Eu estava ao lado dele e abria a primeira
lata de feijoada.
— Você é mais americana que brasileira. Nem deve conhecer a banda
Tensão Elétrica.

— Como assim não conheço? É claro que conheço. Escuto muito e...
Para tudo... vocês são os seguranças... da banda... — Eu não tirava os olhos
de Adam e ele apenas assentiu sorrindo. — Puta que pariu... Por essa eu não
esperava.
— Vai já dizer que os caras são mais lindos que a gente. — Pablo
reclamou.

— Ah, vocês seriam uns hipócritas de negar que o Alex, o Roberto, o


Bill e o Gustavo são uns gatos do caralho.

— E todos casados... bem, pelo menos comprometidos — Uriel disse


também demonstrando estar um pouco chateado.
— Sério? Eu não posso achar os caras uns gostosos?

— Na nossa frente? — Raul fez careta.

— O quê? Por quê?


— Somos sua equipe, lembra? — ele completou.

— Ah, tá. Vou lembrar disso quando acharem a Alita gostosona.

— Quem? — Ítalo perguntou.


— Alita. Aquela cantora morena gostosa. Com um bundão. Linda.

— Anitta? — Ítalo finalmente entendeu.

— Essa aí mesmo.
Os rapazes caíram na risada. Eu também. Eram tão lindos,
descontraídos daquele jeito.
— Ah, não se preocupe, não vamos falar que outras mulheres são
bonitas na sua frente. — Enrico disse.

— Mas podem falar. Por mim, tudo bem.


O fogo já estava crepitando, esquentando e iluminando tudo em volta.
Adam jogou o conteúdo de três latas da feijoada dentro de uma panela, já
bem amassada e a deixou colada ao fogo. Despejou as sardinhas em uma
panela com água e a pôs para ferver, para preparar o macarrão.

Garcia começou a tirar algumas latas de sua mochila, mas não eram
latas de feijões, nem de sardinhas. Ele as jogava na direção de cada amigo.

— Você bebe, tigresa? — Garcia perguntou.


— O que é isso?

— Cerveja quente.

— Quero.
— Não vai se embriagar com uma latinha, vai? — Enrico ergueu as
sobrancelhas.

— Não, senhor. Não.

Peguei a lata no ar, segurei minha câmera e fui me sentar entre Enrico
e Garcia. Eram os dois maiores da turma e me arrependi um pouco da
decisão. Uriel sentou-se ao lado de Raul, quase à nossa frente. Adam ficou
com Pablo e Ítalo cuidava da comida.
— Falem mais — pedi enquanto tomava um gole da bebida.

— O que quer saber? — Raul perguntou.

— Como é conviver com os rapazes da Tensão Elétrica?


— Pensei que não íamos falar sobre eles — Garcia reclamou.

— Ah, por favor. Vocês convivem com astros do rock, todos devem
querer saber como eles são.
Ouvi Enrico respirar pesado do meu lado e ele começou:

— Eles são caras bem bacanas. Humildes. Tratam a gente como


amigos. Mas normalmente o trabalho é puxado porque estão sempre cercados
de fãs. Mas, quando estamos mais tranquilos, em viagens, ou quando os
acompanhamos com suas famílias para algum lugar, somos muito bem
tratados.

— E eles são muito divertidos — Adam continuou. — Gustavo e


Roberto principalmente. Sempre que podem estão aprontando com alguém,
seja com algum deles, seja conosco.
— Mas agora que estão todos comprometidos estão mais calmos —
Raul disse.

— Mais ou menos. O Gustavo ainda insiste em sair muito — Pablo


comentou.

— É o normal dele, Pablo.

— E o Alex é o que mais dá trabalho, porque as fãs não dão sossego e


voam em cima. Tenho pena dele às vezes — Uriel comentou.

— Vocês ainda terão muito o que sofrer... — Raul comentou para


Uriel.

— Alex é sempre o mais perseguido, Uriel — Ítalo lembrou. — Na


Itália foi pouco porque ele não era reconhecido facilmente, mas, aqui no
Brasil, o cara não tem paz.
— Você é novo na equipe, Uriel? — perguntei.

— Eu e o Pablo. Fomos convidados pelo Carlos depois que


trabalhamos com ele na turnê que a banda fez pela Europa.
— Ah, que legal. Isso quer dizer que vocês fizeram um bom trabalho
por lá.

— Na verdade...

— Não começa, Adam!

Garcia o interrompeu engrossando a voz e o Adam sorriu.

— O que ele ia começar?

— Ele ia dizer que por causa da incompetência dos que foram para a
Europa é que estamos nesse treinamento... — Ítalo falou chateado.
— Por favor, esclareçam o que aconteceu. Eu serei a juíza desse
impasse. E o que eu decidir estará decido e ninguém mais poderá reclamar no
futuro.

Fui imperativa, erguendo minha lata de cerveja.

— Embebedamos a filha alheia — Adam brincou.

Eu peguei uma pedra e joguei nele.

— Eu não estou bêbada, seu idiota. Vamos, contem, por favor.

— Tudo bem — Garcia concordou. — Todos nós trabalhamos na


Lynx Segurança. Quando estava planejando o esquema de segurança para a
turnê na Europa, Carlos, nosso chefe, tinha certeza de que levaria não apenas
nós, mas o pessoal da outra equipe que está aqui também. Entretanto,
Anderson, o empresário da Tensão Elétrica na época, resolveu que ele só
poderia levar dois seguranças daqui do Brasil.
— Que absurdo! Para uma turnê internacional? — perguntei aflita.

Garcia olhou para Adam, que apenas sorria balançando a cabeça. Ele,
Pablo e Ítalo já colocavam as porções de comida nas canecas de cada um.
— Continuando. Anderson alegou que seria mais barato contratar
seguranças locais para completar a equipe. Resumindo, o Carlos inicialmente
aceitou as equipes contratadas por Anderson, mas os caras não estavam
preparados para o fenômeno de fama que é a Tensão Elétrica.

— Quero deixar claro que eu não estava nessa equipe ainda. Fui
contratado depois, em Barcelona.

Pablo fez o comentário rindo e entregando uma lata para Uriel e outra
para Raul, que concordou:
— Verdade.

— E o que aconteceu? — Eu estava prestes a explodir de curiosidade.

— Foi marcada uma apresentação de última hora em Ibiza, e foi


necessário contratar uma equipe dali mesmo, às pressas. Fomos cercados
pelas fãs, e os caras locais, que só estavam acostumados a fazer segurança de
casas noturnas, não conseguiram manter a formação. Fomos engolidos. A
sorte é que conseguimos tirar os integrantes, mas, infelizmente, no tumulto,
uma pessoa foi deixada para trás.
— Quem?

— A Triz — Ítalo comentou enquanto comia. — Na época ela era a


estilista da banda. Hoje ela é a nova empresária. E namorada de Roberto, o
guitarrista da banda. Imagine a encrenca.

Recebi minha caneca com a feijoada, o macarrão e as sardinhas


misturados. Estava quente e a coloquei no chão à minha frente. Peguei-a
novamente com cuidado e assoprei ao mesmo tempo que os rapazes enfiavam
a comida quente na boca.

— Caralho. E quem de vocês estava lá?


— Eu e o Ítalo — Garcia disse.

— E depois?

Ítalo respondeu com a boca cheia:

— Foi uma confusão, mas depois desse incidente tudo correu bem.
Isso porque Carlos confrontou Anderson e a partir daí fez questão de montar
as equipes ele mesmo. Contratou o Pablo que tinha ótimas referências e
conhecia homens competentes em Barcelona. Foi dele a indicação para
procurarmos a empresa em que Uriel trabalhava quando fomos para Roma. O
cara é bom.

— Obrigado, obrigado — disse Pablo.

— E agora, estão aqui neste treinamento para?


Já estava conseguindo segurar minha caneca e comecei a comer.

— Para nos aprimorarmos — Raul comentou, finalizando seu jantar e


colocando mais comida para esquentar. — Mas o Carlos está sempre nos
mandando para treinamentos mesmo.

— Ah, então neste caso minha sentença final é...


Ergui minha colher e olhei para todos eles antes de pronunciar. Era
bom demais ter a atenção de todos aqueles gatos presa a mim.

Eu estava muito fodida, meu Deus!

— Que você deve parar de implicar com Garcia e Ítalo, Adam. Eles
não têm culpa. O culpado foi esse empresário que não levou a melhor equipe
de seguranças que eu conheço. Concordo que, se todos estivessem lá, nada
assim teria acontecido.

— Ah, está vendo? A Summer deu seu veredito. Parou com as


brincadeiras.
Garcia estava feliz. Ele virou-se e beijou o meu rosto. Eu fechei os
olhos para receber o beijo e sorri.

— Obrigado, tigresa.

— De nada, grandão.
Adam sorriu para mim e para Garcia antes de falar:

— Então, já que você tirou minha diversão de verão, fale-nos um


pouco mais sobre você, gatinha.

— Eu? — Raspei o fundo da latinha com a colher e a levei à boca. —


Não tenho nada a dizer sobre mim.
— Fale sobre suas fotos — Ítalo pediu.

— Ah, se eu começar a falar sobre isso, vocês vão virar a noite me


escutando...

— Eu quero escutar, anjo — eu pedi.

Summer colocou a caneca no chão, perto de Garcia, e pegou a


máquina fotográfica que estava em seu colo. Ela manuseava aquilo com tanto
cuidado e devoção. Retirou a tampa da lente e a ajeitou na frente do rosto.

— Esse aqui é meu bem mais precioso. É por ela que eu vejo o
mundo — ela disse com paixão. Ajustou a máquina, apontou-a para o fogo e,
em seguida, a ergueu na direção de Uriel e Raul.

— Olha a sacanagem... Esse não é meu melhor ângulo — Raul


reclamou.
— Qual é o seu melhor ângulo?

— Pelado, na horizontal.

Ela tirou a câmera da frente do rosto e abriu a boca, perplexa.

— Eu esperava uma resposta assim do Adam, não de você.

— Ei, olha a sacanagem... — Adam reclamou. — Esse também é meu


melhor ângulo. Se quiser, posso posar para você, gatinha.

— São uns depravados.


Ela riu. Era linda. Perfeita.

Ela demorou a parar de rir. Será que Summer tinha alguma noção do
poder que estava exercendo sobre mim? Sobre nós? Sim, todos nós. Eu
conhecia aqueles marmanjos há tempo o bastante para saber que estávamos
todos doidos para foder com ela.
— Meu forte é natureza, seu depravado, não nu artístico.

— Eu posso ficar pelado e me jogar nas folhas — Adam continuava


com as brincadeiras, fazendo todos rirem. — Aí você tira foto da natureza. Eu
ao natural, as folhas ao natural...

— As formigas ao natural no seu pau — Garcia brincou e


gargalhamos.

— Como é que se ganha a vida sendo fotógrafa?

Eu me arrependi da pergunta assim que a fiz. Ela devia saber que


quando acompanhávamos a banda vivíamos cercados por fotógrafos
profissionais e provavelmente pensou que sou meio idiota. Mas foi a primeira
coisa que me ocorreu, pois eu só queria que ela não parasse de falar. Aquele
sotaque dela era muito sensual.

— Bem, de várias formas. Acho que, como em muitas profissões, não


deve ser fácil. Mas estou esperançosa de que meu portfólio agrade à National
Geographic para eu poder em breve expor meu ponto de vista sobre a
natureza, a cultura e acontecimentos em todas as regiões do planeta.

— Uau. É um grande sonho — Enrico disse.


— E vai conseguir, bella — Uriel concordou.

Como eu queria que todos aqueles putos sumissem do nada. Eu só


queria uma oportunidade de me enfiar dentro daquela mulher que estava me
deixando de pau duro quando eu menos esperava.
Que garota gostosa!

Não consigo tirar aquela bunda suculenta do meu pensamento desde


aquele vento safado.

A voz dela soava como música:


— O que eu adoro mesmo é fotografar as flores e os pequenos
animais que as cercam: insetos, aranhas, caramujos...

Os olhos azuis na pele clara eram lindos. E ela era tão proporcional.
Os peitos médios, firmes, que eu notava quando ela estava apenas de
camiseta. A cinturinha fina se destacando junto ao quadril arredondado em
formato de coração. Ah, que gostosa! E estou duro. De novo. Droga.
— Leve ali mais comida para Uriel e Raul, Adam — Ítalo me pediu.

— Vai lá cara. Estou bem aqui.

Se eu me levantasse agora, meu pau ia saltar na frente da calça. Eles


iam zoar comigo até o final do treinamento.
— Eu levo — Pablo se dispôs.

Ah, aqueles lábios. Eu tinha que beijá-la novamente. Era um doce.


Entreguei a comida de Uriel e Raul e me sentei ao lado de Garcia com
os olhos fixos em Summer. Era fácil ficar fascinado por ela. E também era
fácil notar que a mesma coisa se passava na cabeça dos outros. O tempo todo
eu surpreendia algum dos rapazes olhando para ela.

Será que ela tinha alguma noção de que tinha todos nós em suas
mãos?

— ...e minha mãe já está sabendo. Mas, embora meu pai hoje em dia
aprove a profissão que escolhi, ainda tenho medo de como ele vai encarar
quando eu contar que vou viajar pelos lugares mais inóspitos do mundo, caso
consiga o trabalho na National Geographic.
— Imagino que você seja maior de idade. Dona do seu nariz —
Enrico falou.

— Claro que sou.


— Então não deve satisfação a ele. Agradeça-o pelos anos de amor e
dedicação e parta para viver a sua vida.

— Isso mesmo. Enrico tem razão, tigresa. E todos nós sabemos que
você tem garra. Você fez algo que nenhum de nós teve coragem de fazer.

— O quê?

Ela era tão inocente às vezes. E aquele comportamento a deixava mais


linda e desejável.

— Você enfrentou o Comandante — Garcia disse rindo. — Sabe


quando algum de nós fez algo assim? Nunca.
— Não é a primeira vez que vocês vêm para este campo de
treinamentos?

— Não — respondi. — Mas é a primeira vez que temos o prazer de


ter a companhia de uma mulher no treino. Está sendo, no mínimo, inusitado.

— E acho que estamos aprendendo muito — Enrico falou.


— Isso com certeza — Ítalo concordou.

— O que estão aprendendo comigo aqui? A chegarem atrasados?

Todos os rapazes riram com vontade, e eu também.


Ela tinha aquele poder. Sempre nos fazia rir.

— Não, anjo. Apendemos a respeitar — Enrico disse.

— Compreender o próximo — Uriel o seguiu.

— Entender os limites dos companheiros — falei também.

Pablo, Ítalo e Garcia também se manifestaram respectivamente:


— Trabalhar em equipe.

— Dividir conhecimento.

— Ser solidário.
E Adam finalizou:

— E a olhar a bunda dos amigos quando eles estão em posições muito


favoráveis.

Todos caímos na gargalhada.


— O quê? Vai dizer que não olhou para a bunda do Enrico? E para a
minha? E para as dos meninos quando eles estavam descendo a árvore?

— Eu não...

— Sonsa do caralho. — Adam ria mais que todos. — Pois eu olhei, e


muito, a sua.

Ela começou a ficar vermelha.

Corava com muita facilidade. Era preciosa. Seus cabelos loiros ainda
estavam presos no rabo de cavalo com que havia chegado para o treino.
Tirando o dia em que o vento ergueu seu vestido, que estava de cabelos
soltos, ela sempre os prendia daquele jeito.

— Pode me emprestar? — Uriel pediu a máquina fotográfica dela.


— Promete tomar cuidado?

— Com a minha vida. Não sei se sabe, mas sou segurança particular.

Rimos. Ela estendeu seu bem mais precioso na direção do italiano.


Com todo o cuidado, ele pegou a máquina e a analisou minuciosamente.

— E por que vocês escolheram ser seguranças? — ela jogou a


pergunta no ar.

Já não comíamos mais. O fogo estava quente e vivo. Clareava tudo


em volta. As poucas latas de cerveja que eu havia levado acabaram antes de
as coisas melhorarem e ela estava ali, mantendo um papo animado com todos
nós.

— Adrenalina...
— É...

— É...

— Adrenalina...
— E grana...

Cada um foi dizendo algo parecido e ela apenas ia desviando o olhar


entre um e outro, seguindo o caminho das respostas.

— E mulheres.
Adam. O idiota não podia passar sem falar merda.
— Ah, ser segurança facilita com as mulheres?
Ela perguntou e percebi Enrico e Garcia fuzilarem Adam com os
olhos, mas o idiota ainda soltou:

— Claro. Qual mulher não cai de amores por corpos esculturais como
esses?

— Ah, meu querido. Mas um corpo escultural sem cérebro não tem
nenhuma graça — ela respondeu decidida e foi o fim do palhaço.
— Toma para calar a boca — Raul disse.

— Agora cala de vez, babaca — Garcia também disse.

Mas Adam apenas olhou para a bella como se a desafiasse. Ele


parecia um lobo pronto para pular sobre o cordeiro a qualquer momento. Eu
tinha certeza de que ele só não agia porque os outros lobos da matilha não o
deixavam avançar. Tinha que manter a calma se não quisesse espantar a
presa.

Apontei a lente e dei o primeiro clique enquanto ela olhava para


Enrico. Apertei mais duas vezes até que ela percebesse.

— Ei. Isso é virar o jogo. Não me fotografe...

— Por que não? Você tirou fotos de mim e do Raul. E você é muito
mais bonita que nós.
Ela corou novamente.

— Tudo bem, tire mais uma. Venha aqui, Enrico... Garcia... juntem
mais. Enquadre direitinho nós três. Sorrindo, garotos.

Eles até podiam estar no quadro, mas eu só conseguia focar no sorriso


dela. Eu tinha que beijar aquela boca maravilhosa.
Que tentação!

— Pronto, bella. Não tenho seu talento, mas acho que, mesmo com
esses dois feiosos estragando as fotos, a sua beleza deixou todas
maravilhosas.

Entreguei a câmera a ela. Ela abriu as últimas fotos e sorriu.


— Você tem talento, Uriel. Ficaram lindas!

— A modelo ajudou.

Ela me encarou sorrindo.

— Quem vai tomar banho de lago antes de dormir? — Adam ficou


em pé arrancando a camisa.

Puta merda. O que ele queria dizer com aquilo?


— Demorou — Ítalo o seguiu tirando a camisa antes de ficar em pé.

— Vocês vão tomar banho no lago? — perguntei aflita.

— E você não vai? Vai dormir suja? — Adam perguntou safado,


cheio de malícia.
— Mas vocês vão ficar de...

— Pelados — Pablo disse já baixando a calça e deixando o volume,


coberto apenas pela boxer, saltando bem à minha frente.

Abri a boca chocada. Encarei o meio das pernas dele, sem conseguir
desviar o olhar.
— E pensávamos que você poderia nos acompanhar, coração.

Raul fez o mesmo e o amigo dele era maior que o de Pablo. Eu tinha
que sair dali. Ai, minha nossa. Socorro. Alguém. Levantei-me desesperada.

— Obrigada pelo convite, vou dormir suja mesmo. Vejo vocês


amanhã às sete.
— Às cinco e meia, anjo. Às sete já temos que estar prontos, na frente
do Comandante.

— Certo. Boa noite. Aproveitem o lago. Obrigada por virem ficar


comigo. Adoro vocês.

Pulei dentro da minha barraca e fechei o zíper. Estava tão nervosa que
sentia a pele suar.
Era tentação demais, meu Deus!

Eu os ouvi, apenas palavras desconexas, enquanto se afastavam. Não


tive coragem de colocar a cara para fora, mas depois de algum tempo abri o
zíper com muito cuidado e espiei com cautela, tentando ser o mais sorrateira
que eu pude e vi toda a perfeição de um deles saindo do lago.

Água escorrendo pelo corpo nu. Grande. Grosso. E delineado.


Eu ia ter sonhos muito quentes naquela noite. Tão quentes como o
meio das minhas pernas. Voltei a fechar o zíper e me joguei por cima do saco
de dormir, enterrando o rosto ali.

— A Maisie vai explodir de euforia quando souber o que está


acontecendo aqui. Ela vai querer pegar o primeiro voo para fazer esse curso
também. — Sorri sozinha. — Vai ficar mais louca quando souber que estou
me transformando nela! Em pensamentos e ações.

Demorei a dormir, pois os escutei voltando. Eles ainda conversaram


até tarde, quando tudo se silenciou. Só então peguei no sono.

— Bom dia, bella.

Senti o toque suave em meu rosto.


— O quê?

— Bom dia, já está na hora de acordar.

Uriel estava ao meu lado. Falava tão baixinho com uma voz tão
doce...
— Já são cinco e meia, Uriel?

— Sim.

— Eu vi você pelado ontem à noite. — Eu ainda estava tonta pelo


sono.

Ele sorriu. Quase com carinho.

— Gostou do que viu?

— Muito.
— Não hesite em provar quando quiser.

— Safado.

Ele passou um dedo pelos meus lábios e eu não conseguia desviar dos
olhos dele.
— Pode me dar um beijo de bom dia? — pedi.

— Com todo prazer.

Ele inclinou-se um pouco e me beijou com delicadeza. Seus lábios


estavam quentes e foi um beijo comportado e rápido.

— Um beijo assim... quase roubado, dentro de uma barraca, é pouco


demais para o que quero fazer contigo, bella. Vamos nos levantar. Não quero
que os rapazes escutem seus gritos de prazer se eu começar o que tenho em
mente.

O centro do meu ventre explodiu com aquela declaração. Ele saiu da


barraca, me deixando em brasa viva. Meu desejo era correr para o lago e me
jogar em suas águas frias, para tentar abrandar o fogo.
— Ela acordou? — Raul perguntou.

— Acordou, já está saindo.

— Beleza, vamos ter que correr, pois vamos comer no refeitório.


Saí da minha barraca e já estavam todos prontos para sair. Só faltava
eu. Como sempre, atrasando a equipe.
A matadora

Passei correndo em casa para me trocar e não tive tempo nem para
tomar um banho. Por sorte, papai já havia saído. Pelo jeito, eu ia ter que
começar a deixar pelo menos um dos uniformes no armário da central de
treinamentos.
Os membros da minha equipe chegaram juntos ao pátio. Meu pai já
estava lá e tinha cara de poucos amigos. A outra equipe chegou logo depois.

— Passou bem a noite, Mitchell? — ele perguntou.

— Muito bem, Comandante.


— Conseguiu pelo menos acender a fogueira?

— Consegui, sim, senhor. Meu pai me ensinou muito bem. Devo tudo
o que sei sobre sobrevivência a ele.

Percebi um fragmento de desconforto no rosto dele.


— Equipes, preparem-se para a batalha de paintball. Equipe 1, seu
líder hoje será o Alves. Vocês serão a equipe de assalto. Sua missão é
recuperar a bandeira que a Equipe 2 poderá esconder em qualquer lugar fixo
que desejar dentro de um raio de meio quilômetro tendo como centro o prédio
de treino da Área Amarela.

— É muito terreno para bater, Comandante — Alves falou quase


chateado.
— Boa sorte, Alves.

Assim vai ser fácil. É só enterrar ou esconder a bandeira em algum


lugar que eles nunca vão...

— E nada de tentarem dar uma de espertinhos. A bandeira tem que


estar sempre à vista, erguida, guardada por pelo menos dois dos elementos da
equipe defensora.
Agora meu pai vai começar a ler meus pensamentos, é isso?

— Garcia, venha pegar a bandeira. Vocês vão ter trinta minutos de


dianteira antes da outra equipe sair para o resgate.

— Sim, senhor.
Meu pai se afastou com Garcia ao seu encalço.

— Venha, anjo — Enrico me chamou. — Vamos nos vestir.

— Já não estamos vestidos?


— Não o suficiente para o paintball. Amanhã vai estar toda roxa.

— Você se lembra de como segurar a arma, moranguinho?

— Sim. Respirar, ter calma e mirar na cabeça.


Alguns riram.

— Que medo! O que você andou ensinando a essa menina, Ítalo?

— Só para constar, ela acertou todos os tiros no alvo. O lance de


atirar na cabeça é coisa dela.

— Evite mirar na cabeça, coração — Raul explicou. — Qualquer


canto, menos na cabeça.
— E nas bolas — Adam disse rápido. — Se não quiser ver um desses
marmanjos chorando na sua frente, não atire nas bolas deles. Nem nas nossas
por acidente.

Eu ri alto.

Na academia, as duas equipes começaram a se paramentar. Os


homens tiravam a roupa como se eu fosse um deles. Em seguida vestiam
blusas de moletom e calças camufladas. Peguei minhas roupas e fui até o
banheiro para me trocar. Quando retornei, Garcia já estava de volta e tirava a
calça para poder colocar a vestimenta. Fiquei paralisada com a visão daquele
corpo enorme, escultural e quase nu à minha frente.
— Feche a boca que está escorrendo baba, bella — Uriel soprou ao
meu ouvido e eu me virei encabulada.

— Vocês deviam ser proibidos de ficar só de cueca, assim, na minha


frente.

— Normalmente estaríamos todos pelados. Só mantivemos as cuecas


em respeito a você.
— Precisa de ajuda? — Pablo chegou carregando alguns
equipamentos.

— Prenda melhor o cabelo, bella.

Prendi.
— Pronto, Pablo, me passe a balaclava.
O tecido negro cobriu o meu rosto como se fosse uma máscara, e me
senti como um daqueles ladrões de filmes clássicos.

— Agora o colete, guapa.


Uriel olhou para Pablo e riu perguntando:

— Que merda é essa de guapa?

— Piada interna. — Ele ficou sem jeito e eu sorri.

— Acho melhor nem saber mesmo.

Eles me ajudaram a vestir o colete pesado e cheio de bolsos.

— Nesses bolsos aqui da frente e nesses aqui das laterais você vai
colocar os reservatórios de munição.
— Certo.

— Mande os óculos de proteção dela — Ítalo chegou entregando o


objeto a Pablo, que começou a ajustá-lo em mim.

— Estou me sentindo um tanto sufocada aqui dentro.


— Quando acabar, venha nos agradecer — Uriel brincou.

— Está pronta, tigresa? — Garcia perguntou e eu olhei para meus


preparadores e eles assentiram. — Está linda.

Eu sorri de volta, mas ele não podia ver meu sorriso.


Garcia foi até o Alves e apertou a mão dele. A camuflagem da Equipe
1 era mais cinza e a nossa mais preta. Ele falava alguma coisa com ele, mas
eu tive que conter minha admiração quando Adam chegou afobado.

— Essa é sua munição, gatinha. Aqui. Aqui e aqui. Controle, não


desperdice. É tudo o que cada um vai carregar. Munição extra com... — Ele
procurou e apontou Raul. — Apenas com Raul e Garcia. Se você não estiver
perto deles, fodeu. É morte. Então só atire se for para matar.

— Aqui, equipe.
Garcia chamou. Chegamos a ele, e os rapazes terminavam de colocar
o equipamento do rosto.

— Turma, eu tenho uma proposta. Vamos plantar a bandeira no


último andar do prédio. Embora seja o lugar mais óbvio, é também, de longe,
muito mais fácil de ser defendido. Se nos posicionarmos corretamente,
mesmo que eles consigam invadir o edifício, vai ser praticamente impossível
eles conquistarem a bandeira. Alguém tem outra proposta?

Nos entreolhamos e parecia que todos estavam de acordo.


—Então, vamos lá!

— Certo, chefe — vários responderam.

— Certo, chefe — respondi atrasada, imitando-os.


Eles riram e então Garcia continuou:

— Mas como somos em oito, vamos ficar dois por andar e, se


percebemos o cerco apertar, quem estiver mais em baixo, vai subindo. Os
andares são amplos e dá para fazer boas emboscadas.

— Como será a divisão? — Adam perguntou.


— Eu vou ficar com a Summer no térreo...

— Eu já vou ficar para morrer?

Alguns voltaram a rir novamente.


— Você não vai ficar para morrer, tigresa. Tenho certeza de que vai
matar uns quatro dos deles. Mas todos temos que fazer o que é melhor para a
equipe. Se ficamos na linha de frente, poderemos deixar Enrico e Pablo no
alto, tomando conta da bandeira, e eles são nossos melhores atiradores,
conseguem acertar lá de cima quem estiver perto da entrada do edifício. Raul
e Adam ficam guardando a escada acima de nós e Ítalo e Uriel se encarregam
de proteger Enrico e Pablo. Entenderam?

— Sim, chefe — todos respondemos.

Eu já estava pegando o jeito daquilo.

— Certo, teremos trinta minutos para reconhecimento do perímetro e


nos organizarmos a partir do momento que sairmos daqui. Summer, Ítalo me
falou que ontem vocês treinaram por algum tempo com uma arma igual à que
estou lhe dando, então acredito que você já saiba como ela funciona e como
carregá-la. Lembre-se que o gatilho é muito sensível, se você segurar com
muita força, ela dispara um monte de tiros.

— Entendido.
— Os tiros doem muito, então se você acertar algum adversário e ele
erguer os braços, pare de atirar, para não machucar o “morto”. Se você for
atingida, erga os braços acima da cabeça imediatamente ou ficará levando
tiros e isso machuca mesmo. Eu não estou exagerando, entendeu, tigresa?

— Sim.

—Acho que é tudo. Estão prontos?


— Sim, chefe.

— Prontos, Alves. Estamos partindo.

— Certo, Garcia. Boa sorte.


— Boa sorte, irmão.

Partimos em corrida leve e chegamos rapidamente ao prédio. Garcia


fez todos irem até o último andar para um reconhecimento. Enrico se
encarregou de vigiar a bandeira enquanto Pablo ficou em prontidão na escada
de acesso. O prédio parecia destruído, cheio de manchas de tinta, com
paredes quebradas, faltando portas e azulejos. A vegetação invadia o lugar,
como se ele tivesse sido esquecido ali desde tempos remotos e, a cada andar
que descíamos, essa impressão ficava mais forte.

Por fim, descemos apenas Garcia e eu. Cada companheiro de equipe


ocupou sua respectiva posição, esperando sua vez para proteger nossa
bandeira. A adrenalina tomava conta do meu corpo, eu podia ouvir meu
coração bater descompassado.

— Está tudo bem, tigresa?

— Estou muito nervosa.


— Não fique. É só um jogo. Uma brincadeira.

— Que se perdemos vamos pagar novamente. E provavelmente será


por minha causa.

— Que nada, tigresa. Temos os melhores atiradores na nossa equipe.


Eles só têm o Silva.
— Não subestime um time determinado a vencer. Eles farão qualquer
coisa, Garcia.

Ele se dobrou para rir e nesse momento uma mancha de tinta azul
explodiu na parede atrás de nós, pouco mais de meio metro acima da cabeça
dele.

Entramos rapidamente e nos protegemos, um de cada lado da abertura


onde um dia existira uma porta.

— Estão vindo, Mitchell. Vá pela direita. Esconda-se se achar que


corre perigo e use a abertura das janelas para ver o que está acontecendo. Vá,
tigresa.
Fui. Olhei para trás uma última vez e vi um líder concentrado, com a
atenção voltada para a mata, procurando o alvo ainda invisível para nós. Era
muito charmoso, com braços tão grossos que davam dois dos meus.

Eu me virei e comecei a percorrer as ruínas do lugar abandonado.


Eram salas, quartos, banheiros. Eu não parava em um único lugar, mantinha a
arma apontada para frente, visão fixa e dedo no gatilho. Ouvi passos do lado
de fora, mas não sabia de onde vinham. Comecei a recuar e a voltar para
perto da escada, mas estava longe, sabia que tinha tomado uma decisão ruim
ao me afastar tanto.

Foi em um segundo.
Uma virada em uma parede.

Um encontro inesperado.

Lá estava a camuflagem cinza e vários tiros.

— Ahhhhhhhhh...

Eu gritei aterrorizada.

— Ai, meu Deus.


Vi o soldado erguer os braços imediatamente e o peito, braços e
pernas e parede todos pintados de verde-limão. Ele tirou os óculos e
arregaçou a balaclava para trás revelando o soldado.

— Rodrigues? Ai, meu Deus. Me perdoe? — Ergui meus óculos e


subi minha balaclava também, correndo até ele e o abraçando. — Por favor,
me perdoe, eu não quis te matar. E te matar tanto. Tá doendo?

Ele apenas sorria.


— Está tudo bem, Mitchell. Saia daqui, meus companheiros estão
chegando.

— Minhas balas acabaram...

Ele sorriu e perguntou:

— Quer que eu recarregue para você?

— Não precisa... — Mesmo assim ele me ajudou com a arma. —


Nossa, você é o morto mais bonzinho que eu já conheci na minha vida. Muito
obrigada, Rodrigues.

— Por nada, Mitchell. Agora saia daqui...


— O que aconteceu? Você gritou, Mitchell? — Garcia chegou aflito e
Rodrigues saiu da sala.

— Eu matei o Rodrigues, tadinho. — Eu me aproximei dele com os


olhos tristes. — Eu não sei se quero mais brincar de matar os outros não.

Ele riu.
— Parabéns, tigresa. Sabia que ia matar uns quatro hoje.

Garcia era bem mais alto que eu e, assim tão próximos, não resisti.

Eu já estava para assumir de vez o lado Maisie dentro de mim, e


aquela seria minha iniciação ao clube “tocadas pela depravação”. Você
ganhou, amiga, eu vou ficar com o máximo de caras lindos que conseguir.
Puxei a balaclava dele lentamente, deixando a boca e o queixo,
cobertos pela barba escura, expostos.

— O que está fazendo, tigresa?

— Eu? Nada... — sussurrei já colando meus lábios nos dele.

Nossas bocas moveram-se com a mesma força que sempre imaginei


que ele teria. Garcia fora feito para dominar. Ele enlaçou minha cintura e nos
aproximou enquanto devorava meus lábios. Não pudemos continuar, pois
ouvimos passos e ele nos afastou.

— Ajeite-se, vamos subir.


Fiz o que ele mandou e partimos em direção às escadas. Assim que
chegamos, escutamos os disparos e Garcia gemeu. Quando me virei, ele já
estava erguendo os braços, mirei no assassino do meu líder e disparei vários
tiros atingindo o peito e a parede perto dele. Ele também ergueu os braços.

Droga, droga, droga. Se eu não tivesse beijado o Garcia, ele ainda


estaria vivo. Droga. Eu só faço merda.

Sem nem pensar direito, enfiei as mãos nos bolsos de Garcia e


consegui pegar dois reservatórios de munição. Ele tomou um susto e sorriu
quando percebeu o que eu estava fazendo. Ia pegar mais, mas ouvi ruídos de
gente se movendo e subi correndo para o outro andar.
Quando cheguei lá, me movi com cautela, com medo dos meus
companheiros atirarem em mim.

— Onde está o Garcia, coração? — Ouvi apenas a voz de Raul.

— Ele morreu.
— Matamos algum dos deles?

— Dois.
— Faltam seis então. Vai para o andar de cima, já vamos subir.

Fiz o reconhecimento e não vi nem Uriel nem Ítalo. Em pouco tempo


ouvi disparos e fui naquela direção. Era Ítalo atirando para o lado de fora. Ele
olhou rapidamente para mim e disse sorrindo.
— Atingi um, moranguinho.

— Essas bolinhas chegam tão longe?

— Chegam sim. E ainda chegam doendo.

— Matei dois.

— Sério? Eu podia te dar um beijo agora mesmo para comemorar,


mas acho melhor comemorar só depois.

— Nem me fala. Garcia morreu.


— Porra. Ele é muito bom com a mira e tem metade da munição.

— Falando nisso...

Entreguei a ele as cargas de munição, enquanto muitos disparos


vieram do andar inferior.

— Vai, vai, vai, vai... reforço, são três de uma vez — Adam pedia
ajuda.

Raul apontou primeiro, seguido por Adam. Eles foram por caminhos
diferentes e um dos soldados teve o corpo quase completamente pintado
quando apontou na escada. Eu ri e Ítalo deu um tapinha divertido na minha
cabeça.

— Pelo menos está se divertindo, moranguinho.


— Eu ainda estou apavorada.
— Sobe para o último andar, vai. Te damos proteção.

Mal acabei de subir, ouvi disparos e mais disparos. Silêncio e


disparos. A equipe que estava perdendo estava investindo com força total
agora.
— Venha para cá, anjo — Enrico chamou.

— Só restam uns três da outra equipe. E do nosso lado, só o Garcia


morreu, se ninguém mais foi morto nesse último ataque — eu os informei.

— Certo. Essa já está no papo. — Ouvi a voz de Pablo passar por nós
e os passos sorrateiros afastarem-se.
Mais disparos. E passos de corrida. Adam e Ítalo apontaram na
escada.

— Porra, cara, só sobraram dois, mas são muito bons. Derrubaram


Raul e Uriel.

— E lá se vai toda nossa munição extra — Enrico reclamou. —


Espalhem-se.
Fizemos o que ele mandou. Cada um para um canto. Ouvi disparos e
só torcia para que fossem os caras da outra equipe levando os tiros. Mais
disparos e, sem que eu esperasse, um inimigo apareceu na minha frente. Eu
congelei de medo e, no momento que o inimigo ergueu a arma para atirar,
percebi a sombra se projetar e um corpo tomar a minha frente.

— Aí, caralho! — Era o Adam. — Atira, gatinha.

Ele tinha morrido para me proteger?


Ele ergueu as duas mãos e se jogou no chão. Na mesma hora eu
disparei na direção do inimigo, acertando vários lugares do corpo dele. Ele
também gritou de dor e ergueu os braços. Foi só aí que parei de atirar. Ouvi
mais disparos nas salas do lado seguidos de silêncio.

— Equipe 2 fazendo varredura de perímetro — Pablo anunciou.


Ele alcançou o local onde eu, Adam e o inimigo estávamos. Adam
continuava no chão, deitado. O nosso inimigo retirava a proteção do rosto e
vi que era Silva. Fui até ele e me ajoelhei em sua frente.

— Por favor, me desculpe, Silva.

— Não tem por que se desculpar, Mitchell. Você jogou muito bem.
Parabéns. Ser a equipe de assalto é sempre mais difícil.
— Eu te machuquei muito?

— Não, estou bem. — Ele sorriu.

— Ah, aqui está o último inimigo morto. Estava procurando você.


Fim de jogo, Enrico. Eliminamos todos.
Eu me levantei e fui até Adam, que continuava deitado no chão com
um dos braços cobrindo o rosto.

— O que foi, gatinho? — chamei o apelido que ele usava para mim.
— Não dormiu bem?

— Eu preciso ser levado para a enfermaria do campo.


— O quê? Para de brincadeira!

— É sério, Summer. Uma abelha me picou. Eu sou alérgico.

— Puta merda, por que não falou antes?


— Eu estava salvando a sua vida.

— Socorro! — eu gritei feito uma louca. — O Adam está morrendo.


Morrendo de verdade. Não faz parte da brincadeira não.

— O que é isso, mulher louca? Não é assim que funciona! — Adam


não sabia se me acalmava ou se ria.
— O que aconteceu? — Silva já estava do nosso lado e Pablo chegou
em seguida.

— Ele foi picado por uma abelha e é alérgico — respondi.

— Onde ela picou, Adam? — Pablo perguntou.

— Na minha mão esquerda. Quando fui encostar no parapeito de uma


janela, eu não vi a infeliz.

— O que está acontecendo? — Enrico quis saber e eu expliquei.

— Venha, vamos. Eu te levo para a emergência — Silva se


prontificou.
Pablo o ajudou a colocar Adam em pé.

— Eu vou junto — eu disse, já seguindo os dois.

Do lado de fora encontramos todos os mortos, dos dois times,


conversando animadamente. Quando perceberam que Adam estava sendo
escoltado, quiseram saber o motivo, mas mesmo depois da explicação, apenas
eu e o Silva partimos com ele.
Na sala, um médico estava de prontidão e atendeu Adam. Silva partiu,
mas eu resolvi permanecer ali. O médico resolveu aplicar um antialérgico
diluído em soro. Quando Adam sentiu a picada, reclamou da dor. O médico
nos deixou e eu fiquei sentada em uma cadeira em frente a Adam. Era um
frasco pequeno de soro e já estava acabando quando eu tive coragem de
tomar a iniciativa.
— Obrigada por morrer para me salvar.

— Não seja boba, gatinha. Teria feito o mesmo por qualquer


companheiro de equipe.
— Ahhh!

Baixei a vista e fiquei mexendo em um dos muitos botões do meu


colete.

— Mas eu não ficaria por qualquer um, picado pela abelha. Mas por
você sim, Summer.
Ergui meus olhos e sorri. Ele também sorria. Era muito fofo, com seu
nariz levemente arredondado e barba loira de dois dias. Ergui os olhos para o
soro e ele estava perto do fim. Ele fez o mesmo e falou sem olhar para mim.

— Eu podia ganhar um beijo de agradecimento.

Fixei-me nele. Seus lábios abriram-se naquele sorriso safado que


apenas ele sabia fazer.
— O que foi? Não estou cobrando nada, mas se quiser...

Meu coração se acelerou quando pensei em realizar aquele pedido.


Eu já estava fazendo tanta coisa que nunca fizera antes na vida! Beijar o
Adam seria apenas mais uma das coisas que acrescentaria à minha lista!

Eu me ergui da cadeira e vi os olhos azuis e apertados dele se


expandirem de surpresa. Aproximei-me rápido, já segurando as laterais do
seu rosto e o beijei. Senti sua língua brincar com meus lábios e lhe ofereci a
minha, que ele sugou de imediato. Ele me puxou pela cintura e me fez sentar
em seu colo. Assustei-me com o puxão, mas obedeci. Nossos rostos moviam-
se na mesma intensidade que nossas bocas e línguas. Senti o volume dele se
animar embaixo de mim e ri.
— Eu sei do que está rindo.

Falou quando se afastou e colou a testa na minha.

— Sabe?

— A porra do meu pau tá implorando para te comer.

— Você é sempre tão romântico com as garotas que beija pela


primeira vez?

— Eu só falei a verdade, gatinha.

— Você parece tão cafajeste quando me chama assim...

— E vai negar que gosta?


— Nem nego, nem afirmo... — Olhei para o soro e ele havia acabado.
— Vou chamar o médico, já volto.

— Vai me deixar duro aqui sozinho?

— O que queria que eu fizesse? Um boquete em você, correndo o


risco de o médico entrar a qualquer momento?
— Algo assim.

— Vai sonhando, Adam.

Eu me levantei e o deixei sozinho. Avisei o médico e saí de lá.


Meu pai vinha na minha direção quando abri a porta da enfermaria.

— Como o Ferreira está?

— Está bem. Veio vê-lo? — perguntei seca.


— Sim.

— O senhor construiu um lugar muito bem equipado aqui. Tem até


atendimento médico.

— É difícil alguém se machucar, mas acontece, e temos que estar


preparados para tudo.
— Ah!

Abracei meu corpo e parti na direção do carro.

— Vida — ele chamou.

— O nome é Mitchell, Comandante — respondi.

— Deixe de besteira, Summer.

Ele se aproximou de mim.


— Besteira, papai? Eu pedi tanto ao senhor para não castigar os
rapazes por eu fazer parte da equipe. Eles sempre vão perder comigo ao lado
deles. É justo isso?

— Até onde sei, você conseguiu matar três hoje no paintball.

— Sorte de principiante. O medo me fez puxar o gatilho como uma


louca. Eu teria atirado nos meus companheiros se eles tivessem me assustado.

Meu pai riu, divertindo-se com a revelação.

—Espero que esteja preparado para não me ver em casa à noite, já


que, pelo jeito, vou passar todas elas na floresta. Vou para casa tomar um
banho, porque não tomo desde ontem. Estou fedendo.

Eu me virei e me afastei.
Uma surpresa para os rapazes

Em casa, tomei um longo banho, troquei de roupa e comi algo que


preparei rapidamente na cozinha. Não almoçaria com os rapazes e já sentia
falta deles. Eu estava me envolvendo com aqueles sacanas e não conseguia
entender como e em tão pouco tempo.
Fui ao varal pegar o casaco de Raul e ele não estava mais lá. Entrei
em casa e procurei, achando toda a roupa que havia colocado lá no dia
anterior, dobrada sobre o sofá.

— Aí, que vergonha. Papai viu minha lingerie!

Quando saí, de volta para o que quer que o Comandante fosse mandar
a gente fazer à tarde, levei o casaco de Raul comigo.
Assim que cheguei, vi Rodrigues, que provavelmente tinha acabado
de sair do refeitório.

— Desculpe novamente, Rodrigues.

— Sério, não precisa se preocupar, Mitchell.


— Já sabe o que será o treino da tarde?
— Só sei que temos que ir para o dojo e colocar o quimono.

— Quimono?

— Não se preocupe, o Barata deve ter providenciado um para você, é


só passar no escritório.

— Ah, ótimo.

Peguei o quimono, fui para o prédio da Academia e me troquei


imediatamente.

A área de musculação era muito bem equipada, mas meu intuito era
sentir o tatame e foi o que fiz imediatamente.

Estiquei os braços acima da cabeça, alonguei a coluna, desci o corpo,


abracei uma perna, depois a outra, encostando a testa em cada joelho.
Alonguei a coluna novamente, sempre prestando atenção na respiração.

— Então você está aqui.


Virei a cabeça antes do corpo. Vi Raul chegando.

— Estávamos preocupados. Não tivemos notícias suas depois que


deixou o Adam.

— Fui para casa tomar um banho. Eu precisava.


— Entendo. Está se sentindo melhor?

— Trouxe um uniforme extra para quando for passar a noite na


floresta novamente.

Ele riu alto.


— Hoje não vai ser necessário.

— Só vencemos o primeiro desafio do dia. Não sabemos o que


esperar agora à tarde.

— Será uma disputa de artes marciais entre as equipes.

— Sério?

Meu pai havia feito aquilo de propósito?

Eu estava gritando por dento de tanta felicidade!


— Vai precisar de ajuda com alguma técnica, coração?

— Bem... — torci o nariz. — O que está disposto a me ensinar?

— Sei krav maga, tae kwon do e jiu-jitsu.


— Nossa, o cara das artes marciais.

— Todos nós precisamos saber alguma arte marcial.

— É permitido misturar as técnicas?


— Normalmente, sim.

— Me mostre qualquer uma delas.

— Fique aqui, na minha frente. Abra as pernas, assim. Segure meu


quimono... assim...

— Ah, lembrei, eu trouxe seu casaco. Obrigada por me emprestar.


Está lavado e limpinho.

— Não precisava, coração. Eu poderia ter lavado... Se bem que acho


que eu não lavaria, não... Para ficar com seu cheiro.

Eu sorri.
— Diga o que tenho que fazer com minhas mãos aqui...

— Sim. Você segura com força e...


Eu virei o corpo, encaixei meu quadril no ventre dele, rodei o tronco e
em uma fração de segundo estava jogando o marmanjo de mais de oitenta
quilos no chão. Pulei em cima dos quadris dele, imobilizei suas pernas com
as minhas e puxei seu braço com força, de uma forma que sabia que seria
doloroso. Ele deu três batidas no chão e fez careta de dor. Eu o soltei para
aliviar a dor, mas não saí de cima de Raul.

— Que merda foi essa, Summer?

— Eu sou faixa preta de segundo grau em jiu-jitsu, coração. E


segundo dan em krav maga.

— Mentira?

— Não é não. Eu devo conseguir derrubar até o Garcia, facinho,


facinho.
— Puta merda, não conte nada aos rapazes, quero só ver a cara deles.

— Vai ser engraçado.

Ele levou as duas mãos até minhas coxas e as passou ali, subindo e
descendo. Inclinei o corpo, indo em direção ao rosto dele.

— Qualquer dia desses posso te dar umas aulas de jiu-jitsu — disse


maliciosa. — Em troca de umas aulas de dança.

Ele riu aberto.

— Cuidado, coração. Eu posso aceitar a troca de aulas.


— Quem sabe...

— Você tem noção de que ambos vamos nos esfregar muito?

Em uma reviravolta do jogo, ele laçou minha cintura com as pernas e


virou meu corpo, jogando-me no chão e dominando-me, ficando agora por
cima de mim. Foi a vez dele de se aproximar do meu rosto, imponente e
lindo. Passou a língua por meus lábios e a suguei, fechando meus olhos e
envolvendo aquele toque macio e sedutor.

Eu passei as pernas pela cintura dele e o descarado fez um movimento


lento e maravilhoso de ir e vir, que me fez ficar na dúvida se ele já estava
ensaiando as aulas de dança ou de artes marciais. Raul era brasa acesa. O
beijo — e o tesão — foi interrompido pelas risadas que vinham de fora.

Ele saiu apressado de cima de mim. Eu continuei deitada e ele ficou


ao meu lado rindo.

— Ah, ela já está aqui — Ítalo falou animado.

— Que bom — Garcia disse. — A maior matadora do dia.


— Vocês vão me infernizar a vida até o final do curso, não vão? —
falei depois de uma boa gargalhada.

— O quê? Por que matou três no susto? — Pablo brincou.

— No susto nada. Só para constar, apenas o primeiro foi no susto. O


segundo foi por ódio, por ele ter matado meu líder. E o terceiro foi estratégia.
Quando o Adam caiu morto, investi fogo cruzado no idiota... Ai, idiota não.
O Silva é muito legal, gente.
Eles gargalharam.

— Sentimos sua falta no refeitório — Uriel comentou.

— Fui em casa tomar banho. Desde ontem sem tomar banho! Gente,
eu estava fedendo...
— Impossível — Enrico me corrigiu.

Os rapazes da outra equipe chegaram e meu pai vinha conversando


animado com um deles.

O Comandante pediu silêncio e começou:

— Boa tarde a todos. Vamos ver como estão as competências com


artes marciais de vocês. Tenho o nome de todos das esquipes e faremos um
sorteio para ver quem enfrentará quem e a ordem de entrada no tatame. Como
Ferreira está se recuperando, o membro da outra equipe que ficar por último
no sorteio ficará de fora. Poderão usar quaisquer artes marciais, desde que
sejam usadas com respeito a sua arte e suas técnicas. Preservando o bem-estar
do companheiro. Em caso de empate, já que são seis duplas, a equipe que
somar os menores tempos de vitória será a vencedora. Os primeiros serão...
Costa e Souza.

Raul e Costa foram para o centro do tatame. Eu estava curiosa para


saber quais das técnicas Raul iria usar e quais Costa sabia. Até então, não
tinha ideia das técnicas que qualquer um que estava ali dominava. Eles se
cumprimentaram e começaram. Senti a mão em meu ombro e desviei o olhar.

— Anjo, se não quiser competir não tem problema — Enrico disse


preocupado.
— Tudo bem, eu posso participar. Vou fazer o melhor que eu
conseguir.

— Os próximos serão Ribeiro e Lopes. Silva e Soares, por favor,


acompanhem as lutas. Mitchell, me acompanha um minuto?

Meu pai não esperou resposta, saiu da academia e eu fui obrigada a


segui-lo. Eu não queria, pois desejava assistir às lutas.
— Eu gostaria de acompanhar as lutas, Comandante.

— Summer, acho melhor você parar com esse curso.


— Por quê? Nunca fiz nada parecido, papai. É uma ótima forma de
passar minhas férias aqui...

— Eu soube que os homens da sua equipe foram ficar com você no


lago.
Cruzei os braços embaixo dos seios e baixei a guarda. Eu não trataria
mais meu pai como o Comandante duro que liderava aquele campo. Eu o
trataria como meu pai.

— Foram sim, papai.

Acho que ele percebeu a suavidade na minha voz.


— Isso é inadmissível, vida. Eles foram sem a minha autorização... —
Ele passou as mãos pelos cabelos. — Você ficou vulnerável, no meio do
mato com sete homens e...

— Papai, em primeiro lugar... o senhor sabe muito bem que a última


coisa que sou é vulnerável. Em segundo, eles são minha equipe, foram ficar
ao lado da companheira deles, apoiando-me... Isso deve mostrar o quanto eles
são honrados, não acha? E eles trouxeram uma barraca para sua pobre filha
frágil e vulnerável. — Eu e meu pai rimos. — Eles foram uns cavalheiros, me
levaram comida, conversamos um pouco e depois me “tranquei” na barraca,
papai. Eu juro que não aconteceu nada ontem à noite.

— Mas, raio de Sol... — A voz dele também havia se suavizado.


— Papai, eu estou adorando. Por favor, não tire isso de mim. Estou
aprendendo tanto. — Eu havia me aproximado dele e segurei suas mãos. —
Não tire isso de mim. Ninguém sabe que sou sua filha, então podemos
continuar fingindo trocar farpas e, em casa, prometo que serei a filha mais
amorosa do mundo.
Eu acho que o conquistei ali. Ele me puxou e me abraçou, sem se
importar se alguém nos veria.

— Eu te amo tanto, vida — ele declarou.


— Eu também te amo muito, papai.

— Tudo bem, pode continuar no curso.

Sorri para ele.

— O treino de hoje à tarde o senhor fez especialmente para mim, não


foi?

— Não sei do que está falando, raio de Sol.

— O senhor sabe que posso derrotar qualquer um da outra equipe


com uma mão amarrada nas costas...
— Não conte vantagem, mocinha, você não conhece os homens da
outra equipe, não sabe o que lutam, nem as técnicas deles.

— Mas o senhor me conhece. Acha mesmo que eu perderia para


alguém dentro daquela academia?

— Nem mesmo para mim, vida. Nem mesmo para mim — falou
orgulhoso e me abraçou mais uma vez antes de voltarmos para dentro.
Assim que entramos, vimos Ítalo e Lopes se cumprimentarem e
deixarem o tatame.

— Atualizem-me — meu pai pediu.

— Souza ganhou de Costa na primeira luta, e agora Lopes ganhou de


Ribeiro.
— Obrigado. Os próximos são Rodrigues e Soares.
Enrico entrou confiante, mas precisou de algum tempo para vencer.
Uriel também ganhou com dificuldade, mas Pablo errou um golpe perdeu
logo no começo da luta.

Estávamos ganhando por três a dois. Mas muito atrás na contagem de


tempo. Se eu perdesse...
A batalha decisiva seria eu enfrentando Resende.

Um homem negro e alto, tão forte quanto qualquer um naquele lugar.


Tinha o sorriso solto de quem já tinha ganhado. Antes de começarmos,
chegou a perguntar a meu pai se deveria mesmo competir contra mim, com
medo de me machucar. Achava covardia ter que lutar contra uma mulher.

Aquilo ferveu meu sangue.


Os rapazes se preocuparam, pois perceberam que depois que o
Comandante o autorizou a me tratar como um membro qualquer, o homem
inchou o peito, já comemorando a vitória.

— Ainda podemos falar com o Comandante, tigresa. — Garcia estava


apreensivo.

— Eu luto.

— Ele é um touro, moranguinho. O cara é enorme.

Eu estava muito calma:

— Quanto maior a montanha, maior a queda.


— Deixem a menina se divertir — Raul declarou ao meu lado, já
sabendo do que eu era capaz.

— Ela vai ser engolida pelo troglodita — Adam também estava


receoso.
Ele não pôde lutar, mas não abandonou a equipe.

— Se eu perder, bem... sinto muito por decepcioná-los, equipe...


Prometo que farei o melhor que puder para ganhar.
Entrei.

Nos saudamos e, mal assumimos posição de combate, ele foi direto


em minhas pernas, tentando segurá-las para me imobilizar, mas o meu forte
sempre foi agilidade e rapidez. Eu consegui me livrar rápido, mas não tão
rápido. Ele segurou meu quimono e eu fiz o mesmo com o dele.
Mantínhamos nossos corpos à distância, apesar das cabeças estarem quase
coladas.

Ele tentou entrar de queda, para me levar ao chão, mas me


desvencilhei novamente. Tentou chutar minhas pernas, sem nenhuma
efetividade. Não parávamos de nos estudar, e eu já comemorava por ele focar
no jiu-jitsu também. Em um golpe rápido, ele me levou ao chão, mas antes
que ele montasse guarda em cima de mim, consegui fazer uma raspagem
nele, jogando-o longe. Todos que estavam assistindo gritaram de
empolgação, pois sabiam o quanto aquele movimento era difícil, ainda mais
aplicado sobre um homem tão grande.

Levantamos e ajeitei o quimono. Tirei os fios de cabelo que teimavam


em vir para a frente e colar no suor do meu rosto. Ele havia esquecido que
estávamos ali em uma competição amistosa e percebi seu rosto tomado pela
raiva. Sabia que era o que faltava para ele se desequilibrar.

Raiva não combina com artes marciais.

Assumimos novamente nossas posições, procurando brechas para


voltarmos a segurar o outro. E o fizemos. Estávamos os dois agarrando o
quimono um do outro novamente. Esticando-os. Pressionando. Afastávamos
as pernas para não sermos acertados pelos golpes de pés. Fiz uma entrada por
dentro e, quando ele perdeu o equilíbrio tentando escapar, fui rápida em uma
saída por fora do corpo dele e quase montei em sua cintura, aplicando um
estrangulamento com mata leão. E fomos os dois ao chão.

O cara era enorme e pesado, eu não ia conseguir derrubá-lo tão


facilmente. Eu precisava usar tudo que sabia. Ele tentou me tirar de suas
costas e me jogar, mas eu continuei atracada nele e, em um vacilo de sua
postura, rodei por seu tronco e consegui segurá-lo pelo braço, finalizando a
luta com uma chave de braço. Ele estava completamente imobilizado. Só
sairia dali se aceitasse a derrota.
Deu as três batidas no tatame anunciando que eu o havia superado.
Liberei seu pescoço e a cabeça de minhas pernas e seu braço de minhas mãos.
Pulei longe dele, caso a raiva ainda estivesse presente e ele quisesse revidar
de alguma forma, mas ele ergueu-se amistoso e esticou a mão para mim.

— Você lutou muito bem, Mitchell.

— Você também. É um grande adversário em todos os sentidos.


Obrigada.
Meus companheiros me cercaram em questão de segundos e me
ergueram em seus ombros. Eu sorria com a alegria deles e, ao mirar meu pai,
notei que ele também se divertia com a minha felicidade.

— Me larguem, seus loucos.

— É melhor fazer o que ela manda, ou ela pode dar estrangulamento


em todos nós — Adam brincou.
— Por que não nos disse que sabia jiu-jitsu? — Uriel perguntou.

— E estragar a surpresa?
— Rapares, vocês já estão liberados. Hoje a Equipe 2 saiu ilesa das
atividades, podem ir descansar. A Equipe 1 terá uma corrida de dez
quilômetros amanhã, com o dia clareando, ao meu lado. Ah, e amanhã,
simulação de sequestro às oito da manhã, no pátio dos automóveis. Tenham
uma boa noite.

Papai saiu da academia.


— Olha só, vitoriosos pelo menos uma vez — comentei feliz.

— E até onde sabemos tudo, graças a você. Salvou o dia! — Ítalo


afirmou.

— Acordei empolgada. A noite foi boa, adoro conversar com os


amigos — contei.
— Então vamos passar a noite conversando novamente — Pablo
sugeriu.

— Na verdade, pensei em ir para casa e tomar um banho de verdade.


Lavar os cabelos, dormir na minha cama confortável...

Quanto mais divulgava meu trajeto certo, mais eles riam e faziam cara
de safados. Eram uns lindos gostosos.

— Rapazes, hoje foi muito, muito divertido mesmo. Obrigada.

— Não tem que agradecer nada, tigresa. Nós também nos divertimos
muito.

— Garcia, você poderia me acompanhar até o carro?


Todos o olharam desconfiados e ele assumiu uma postura séria.

— Claro, tigresa.

Me despedi formalmente de todos e fui na direção do carro. Ele


caminhou a meu lado.

— Garcia, eu queria te pedir desculpas.

— Pelo quê, Summer?

Será que ele realmente não sabia?

— Pelo beijo que te dei hoje de manhã.


— Você está brincando comigo?

— Claro que não. Se eu não tivesse te beijado daquele jeito, naquele


momento, você não teria morrido no jogo. Foi culpa minha, eu atrasei a
equipe.

— Tigresa, eu morreria, perderia, chegaria atrasado, faltaria em todas


essas competições idiotas se pudesse receber beijos seus... Eu adorei te beijar,
Summer. E só não te beijo novamente agora mesmo porque o Comandante
está na janela dele olhando para gente. Não olha para lá.
— Putz. Sério?

— Muito sério.

— Ah, Garcia. Vou entender por suas palavras que você aceitou
minhas desculpas...
— Repito, sua louca, não tem que pedir desculpas. Não por isso.
Melhor eu ir andando para não gerar problemas para você. Parece que o
Comandante é muito protetor em relação a você...

— É mesmo... Recomendação de meu pai... Daí, já viu.

— Tudo bem. Boa noite, tigresa.


— Boa noite, grandão.
Entrei no carro e, de lá, realmente, vi meu pai em pé, olhando na
minha direção com o telefone na orelha. Era um superprotetor mesmo.

Parti para casa cansada, passando antes no refeitório para pegar nosso
jantar. Quando cheguei, levei a comida para o fogão e corri para um banho
demorado. Vesti minha camisola e meu roupão de banho por cima. Caminhei
até a cozinha, imaginando se deveria ou não esperar meu pai para comer.
Nesse exato momento a porta se abriu.

— Bem na hora. Me acompanha? — o chamei.

— Claro. Nada como uma refeição ao lado da minha filhinha querida.

Rimos, pusemos a mesa, nos servimos e jantamos conversando


animadamente.
Sabia que ele não tinha nenhuma namorada fixa há quase um ano,
mas arranquei do velho a confissão de que ele estava encontrando uma
mulher esporadicamente. Mas ele se recusou a dizer a idade ou o nome dela.
Estávamos muito mais leves e até brincávamos. Quando acabamos, o
convenci a ir tomar um banho e deitar-se, já que ele acordaria muito cedo
para correr com a equipe perdedora do dia. Ele aceitou e eu fiquei sozinha
para lavar a pouca louça e organizar a cozinha.

Fui para o quarto, tirei o roupão e me joguei na cama, quebrada ao


final daquele dia, mas feliz.

Feliz por não ter levado nenhum daqueles tiros que os rapazes
disseram que doía tanto, eufórica por ter lutado jiu-jitsu, o que eu adorava...
E mergulhada em pensamentos.

Lembrando cada beijo que eu havia dado naquele dia e no dia


anterior. Eu não acreditava que tinha beijado quase todos num intervalo tão
curto de tempo. Eu estava virando uma devassa.

O sono já estava quase chegando quando escutei um barulhinho no


vidro da janela. Ergui a cabeça, confusa, em dúvida se havia escutado direito.
Ouvi o barulhinho novamente e me sentei.
Cautelosamente, fui até a janela e vi o momento em que a pedrinha
atingiu o canto inferior da janela. Coloquei a cabeça de lado e vi Enrico
acocorado do lado de fora, perto da mata. Sorri e abri as duas folhas da
janela. Ele acenou para que eu fosse até ele.

Colocando meio corpo para fora, eu olhei para os dois lados


conferindo se não havia mais ninguém por ali. Entrei, me cobri com o roupão
e voltei até a janela, pulando-a com facilidade.

— Você é louco? — sussurrei. — O que faz aqui a uma hora dessas?


— Só queria um pouco de companhia... — Ele já estava em pé antes
que eu chegasse. — Quer caminhar um pouco?

— Agora?

— É essa a ideia.

Olhei novamente para a noite. Agradeci a lua estar cheia.

— Ok. Você veio andando até aqui?

Começamos a caminhar, lado a lado.


— Sim. Correndo.

— Gosta de correr?

— Gosto.
— O que mais gosta de fazer?
— Muitas coisas, anjo.

— Conte uma.

— Gosto de pilotar carros.

— Ah, eu também.

— Percebi.
— E o que mais?

— Gosto da adrenalina quando precisamos proteger os integrantes da


banda porque há muitas fãs. É muito estresse, mas é muito revigorante.

— Hum... Você gosta mesmo é de ter um monte de mulheres se


esfregando em você.
Ele riu alto.

— Não, não é isso não.

— Você conhece os rapazes com quem você trabalha esse tempo


todo?
— Como dissemos ontem, uns há mais tempo, outros nem tanto.

— Parecem grandes amigos.

— Nós somos. Precisamos confiar nossas vidas uns aos outros.


— Isso é muita coisa, Enrico.

— É sim.

— Por que está mesmo aqui?


— Como?

— Qual o motivo real de ter vindo, Enrico?


Ele parou e eu parei ao lado dele.

— Eu queria apenas sua companhia para uma caminhada calma...

— É só por isso mesmo?

— Que outro motivo haveria, Summer?

— Tem certeza de que não veio com segundas intenções...?


— Eu não sou meus amigos, Summer — a voz dele saiu dura. —
Vamos voltar.

— Ei, calma...

Eu estava confusa, mas ele não parou. Apertou o passo em direção à


casa e eu dei uma pequena corrida para o acompanhar.
— Calma, Enrico, eu só queria entender...

— Eu expliquei quando perguntou a primeira vez.

— Certo. Podemos continuar...?


— Perdeu a graça. Vou te levar em casa em segurança.

— Poxa, Enrico, me desculpe...

Voltávamos muito mais depressa do que havíamos ido.


— Tudo bem, anjo. Não tem problema.

A voz dele havia mudado de levemente chateada para levemente


triste. Segurei sua mão e o puxei de leve. Ele parou, virando-se para mim.
Dei um passo e me aproximei muito, mas não colei nele.

— O que aconteceu, Enrico? Por que está triste? Por que quis
conversar?
— Não é nada...

— É algo. — Passei os nós dos dedos em seu rosto e na barba por


fazer. — Por favor, me conte.
— É que... — Ele hesitou, mas continuou. — Esse período do ano, eu
fico meio triste. Não costumo estar isolado como estou aqui.

— E por que fica triste?

— Eu perdi minha mãe há quatro anos... em um mês de dezembro e


essas datas me doem ainda, não sei se vai compreender...
— Eu compreendo sim. E sinto muito. Muito mesmo.

— Obrigado.

— E o resto da sua família?


— Tenho uma irmã mais nova, mas ela é casada e eles moram com
meu pai. Cuidam dele, digamos assim. E você, anjo, tem irmãos?

— Não, sou filha única. Então... costuma passar as festas de fim de


ano com seus familiares?

— Não. Estar entre eles me lembra de minha mãe. Então é mais fácil
me perder na noite, em festas, bebidas, mulheres e amigos...
Não sei por que ouvir o “mulheres” me doeu tanto.

— Entendi... Mas lembre-se de que não está sozinho, estará com os


rapazes, que são seus amigos, e eu também tentarei estar com vocês na noite
de Natal... Ainda não sei como será, mas procurarei saber com o Comandante
amanhã e te falo.

— Não precisa se colocar em encrenca por minha causa.


— Ei. Eu não vou me colocar em encrenca nenhuma. Enquanto eu
lavava a louça do jantar, eu estava pensando sobre isso. Como eu adoraria
passar a ceia de Natal com vocês. Com você...

Nossos olhos já faziam o que nossos corpos desejavam. Eles se


comiam em silêncio, mas Enrico mantinha-se firme em não avançar.
— Summer.

— Oi.

— Eu sei... sei que você e os rapazes... que todos vocês já...


— Foram apenas beijos... Eles contaram? Não acredito, que
vergonha...

— Não, nenhum deles contou.

— Então... como sabe?


— Algumas coisas não precisam ser ditas... basta ler nas entrelinhas...
E algumas são mais transparentes que a água daquele lago.

Sorri sem graça. Ele estava certo.

— Estou tão envergonhada. — Abaixei o rosto, e ele o ergueu


segurando meu queixo.
— Não fique.

— O que você deve estar pensando sobre mim...

— Que é uma mulher incrível, surpreendente e dona de si. Que sabe


aproveitar os momentos e viver a sua vida. — Ele continuou preso em meu
olhar e eu no dele por algum tempo. — Venha, está na hora de se deitar.
— Sério que você não vai tentar me beijar? — questionei.
— Como eu disse, alguns de nós são transparentes, anjo. Acho que
você sabe muito bem que eu estou louco por isso, mas eu não consigo te
decifrar. Você não é transparente para mim, é uma caixa de surpresas.

— Ah, Enrico... Olhe melhor... Estou louca para provar sua boca...
Aproximei-me dele já entreabrindo a boca e fechando os olhos.
Segurei sua nuca e a gola da camisa polo que ele vestia. Exigia que ele se
aproximasse mais e ele correspondeu. Me puxou pela cintura e pelo pescoço.

Provávamos com delicadeza dos lábios um do outro. Ele tinha lábios


carnudos e, entre um beijo e outro, dava pequenas mordidas em algum de
meus lábios. Sua língua brincou no céu da minha boca e a minha língua
partiu para sua boca também. Demoramo-nos ali. Eu era prensada pelos
braços fortes e completamente tatuados daquele homem que mantinha um
respeito que me assustava. Ao interromper o beijo, ele ainda passou a ponta
da língua pelos meus lábios e aquele gesto tão singular fez a brasa acesa entre
minhas pernas se incendiar de vez.

Eu estou no meu limite aqui. Já posso abrir as pernas?


Aquela foi a fagulha que incendiou meu interior. Eu não sei o que
aconteceu, mas, em um único beijo, Enrico despertou em mim um desejo que
não sentia nem por Travis. Um carinho e um cuidado que eu nunca sentira
antes por ninguém. Tive que respirar fundo para tentar manter-me em pé,
ainda presa em seus braços fortes, sentindo seu cheiro entorpecente.

— Volte para dentro, anjo.

— Poderíamos...
— Poderíamos. Mas, se fizéssemos isso, todos ficariam sabendo,
porque eu só ia desejar ficar com você e não ia ligar mais para o treino. Eu
estaria fodido.

Eu ri.

— Tudo bem, donzela. Vou te respeitar e não vou abusar do seu


corpinho.

— Obrigado, você é mesmo um anjo.

Passei uma das minhas mãos pelo rosto dele, levando-a para trás por
seus cabelos.

— Fique bem, Enrico. Se ficar triste, venha até mim e me abrace. Não
importa o que estejamos fazendo. Quem estiver ao nosso lado, mesmo que
seja o Comandante. O que mais quero é ter a certeza de que serei algum tipo
de porto seguro.

— Obrigado, anjo.

— Vou mesmo tentar passar o Natal com vocês.


— Tenho certeza de que vai.

Encaramo-nos por mais um tempo e aproximei-me dando apenas um


selinho em seus lábios.

— Boa noite, Enrico.


— Boa noite, Summer.

Pulei a janela e entrei no quarto. Quando me virei, ele já não estava


ali, como se nunca tivesse estado, na verdade. Fechei as folhas da janela e fui
me deitar.

Agora sim eu estava perdida.


E muito ferrada.
Havia beijado os sete.

E os sete mexiam comigo.

O que eu deveria fazer?


Summer é sequestrada

Mais um dia feliz em que acordo duro por causa daquela maldita loira
linda. Abro e fecho minha mão esquerda à minha frente, na altura dos meus
olhos, para conferir que ela não está mais inchada. Graças ao antialérgico.
Levo a mão direita para baixo do lençol, desço a bermuda e sinto meus dedos
quentes envolvendo meu pau latejante. Agradeço por estar na cama de cima
do beliche, já que aquele ritual virou uma constante.
Os olhos fechados, o maxilar trincado e o aperto suave, misturados
aos pensamentos libertinos que tenho com aquela safada que me tentou no
dia anterior, com um dos beijos mais deliciosos que já provei. Ah, Summer.
Se eu tenho a oportunidade de te comer de quatro, só para encher seu traseiro
lindo de palmadas. Sinto minha mão ficar cada vez mais babada com meus
fluidos, e aquilo me dá mais prazer. Só de imaginar tirando a calcinha fio
dental que ela usava, toda enfiada no traseiro eu vou ao... ahhh... que delícia...
ahhh...

Mais uma manhã maravilhosa pela frente.

Eu subo o short e desço do beliche. Caminho direto para o banheiro,


levando toalha e o material de higiene. Encontro Raul e Garcia mijando nos
mictórios. Passo por eles desejando bom-dia.

— Bom dia — respondem juntos.


Me tranco em uma das cabines individuais de banho.

— Como será a simulação de hoje?

Falo alto, jogando a pergunta para quem estiver lá fora disposto a


responder.

— O Comandante falou que seria uma simulação de sequestro. — Foi


Pablo quem respondeu. — Acho que uma equipe deve sequestrar e outra
proteger alguém.

— Será?

Saio do banho com a toalha jogada no ombro e vejo Uriel e Ítalo


entrando no banheiro.
— Adeus, água quente — brinquei. — Os dois mais limpinhos vão
tomar banho agora.

— Adam, por acaso eu já mandei você se foder hoje? — Ítalo


perguntou.

— Não, ainda não.


— Então vai se foder.

Dei um murro no seu braço e ele tensionou o músculo para receber o


golpe. Ambos rimos e fui me vestir.

Meia-hora depois estávamos todos prontos e já tomando café no


refeitório. Eu estava de costas para a porta e vi primeiro o olhar de Enrico
prender-se na entrada.
Ele congelou com a xícara no ar.

Depois foi a vez de Raul e Uriel fazerem a mesma coisa. O que eles
estavam vendo? Eu me virei apenas para cair na mesma teia de feitiço.
Summer estava dentro do refeitório, de costas para nós, segurando uma
bandeja e terminava de se servir com café. Ela virou-se procurando a gente e,
quando nos viu, acenou e veio em nossa direção.
— Ela está linda. — A voz de Pablo quase se enrolou.

— Uma tigresa — Garcia opinou com sua voz grossa.

— Um verdadeiro anjo — Enrico balbuciou antes que ela chegasse e


se sentasse conosco.

Meu moranguinho suculento, maduro e delicioso. O vestidinho azul


de alças justíssimo na parte de cima, valorizava cada maldita curva daquele
corpo perfeito. Os seios pareciam querer saltar do decote super sensual e,
quando ela andava, a saia se movimentava, exibindo parte das suas coxas
grossas.

Era uma tentação aquela mulher.


Tenho certeza de que eu não era o único a estar suando ali, muito
menos era o único a ter o pau dando sinal de vida.

— Bom dia, equipe.

Seu sorriso era tão luminoso quanto a luz do dia. Tinha um batom
clarinho nos lábios e o cabelo estava solto.
— Não vai participar da simulação hoje, coração? — Raul perguntou.

— Claro que vou.

— E vai...

Percebi Adam engolir em seco e sorri. Devia estar sofrendo mais que
todos, o garanhão.

— Vai assim, gatinha?

— Na verdade, acho que não. O Comandante só me informou que eu


não precisava vir de uniforme, pois eu iria me trocar aqui...

Ela queria mesmo explodir as bolas não apenas de nós sete, mas de
todos os caras que estavam em treinamento. Em uma conversa com Garcia e
Enrico, comentamos que havíamos percebido alguns caras da outra equipe
com olhos cobiçosos para nossa garota.

Nossa garota... que engraçado! Mas era um fato. Ela era nossa garota,
fazia parte de nossa equipe, certo?
Decidimos marcar cerrado e prestar mais atenção. E caso
comprovássemos algum interesse de algum deles, daríamos um jeito de os
fazer perder as esperanças de ter qualquer envolvimento com Summer. Sim,
éramos caras territorialistas e apenas estávamos tomando conta do que era
nosso.

— Isso não deve ser bom — Uriel disse por fim me trazendo de volta.

— O que quer dizer, irmão? — Raul quis saber.


— Se o Comandante avisou que ela vai se trocar aqui, isso só pode
significar uma coisa: o traje laranja... — ele continuou.

Summer tomou mais um gole de café, mas estava curiosa:


— Ah, que legal. O que isso quer dizer?

— Você será a cliente da simulação, anjo — foi Enrico quem


respondeu.
Ela quase se engasgou com o líquido quente. Estendi um guardanapo
para ela, que aceitou agradecida.

— Eu que vou ser raptada?

— Mais ou menos isso... Uma das duas equipes terá que te proteger
enquanto a outra tentará te sequestrar.
— Putz. Isso é sério?

— Provavelmente. Acho que também concordo com a dedução do


Uriel — Garcia disse enfim. — Já, já vamos descobrir.

Saímos do refeitório e fomos para o pátio dos automóveis. Ela


segurava muito bem a saia e nós brincávamos eventualmente para ela deixar
o vento fazer seu serviço. Ela brigava conosco e reclamava, mas mantinha o
bom humor.
O Comandante chegou segurando uma prancheta e conferindo alguma
coisa ali. Ergueu o rosto e não disfarçou a expressão reprovadora quando
deslizou o olhar por todo o corpo de Summer. Aquele olhar tão exploratório e
duro me incomodou muito.

— Mitchell. Acompanhe-me.

Summer o seguiu e, mesmo ao longe, pudemos ver uma espécie de


conversa mais fervorosa. Ela abria os braços e gesticulava. O Comandante
levava uma das mãos ao rosto, respirava fundo. Depois falava novamente e
apontava para o corpo de Summer e ela recomeçava a discutir até que
pararam e retornaram.

— Bom dia, rapazes. A simulação vai começar. Cada equipe assumirá


um papel. Uma agirá como sendo o grupo que vai sequestrar a cliente e a
outra equipe deverá proteger a cliente, evitando o sequestro.

— Eu sou a cliente — Summer falou e ergueu a mão antes que o


Comandante a indicasse.

— Isso. Equipe 1, vocês deverão proteger a cliente. Equipe 2, vocês


serão os sequestradores.

— Droga — ouvi Uriel reclamar baixinho atrás de mim.


Eu também reclamava internamente. Eu queria proteger Summer.
Sabia que, se ela estivesse conosco, jamais a perderíamos para
sequestradores.

— Depois as equipes vão inverter os papéis.

— Agora sim — Raul sussurrou.

— As regras são as mesmas para as duas simulações. A missão da


equipe de defesa é levar a cliente com segurança do estande de tiro até o
interior do aeroporto, representado pelo prédio de treinamento da Área Azul.
Como alternativa, a missão será considerada executada, mas de forma
incompleta, caso a equipe de defesa consiga resistir ao ataque e traga a cliente
de volta para o ponto de origem. O objetivo da equipe de assalto é capturar a
refém, colocá-la dentro de um de seus carros e sair de lá com ela viva. Repito,
viva. A cliente usará o traje de proteção laranja, que todos já conhecem, para
que seja facilmente identificável à distância. Caso ela seja atingida, será
considerado que não houve vencedor da etapa. Ambas as equipes têm total
liberdade de escolher as estratégias de assalto e de defesa: trajeto, distância
entre os carros, velocidade, ponto de ataque, distribuição de pessoal... Todos
estarão munidos com pistolas de paintball estilo glock, com munição de cores
diferentes para cada equipe. Caso algum dos motoristas seja atingido com o
carro em movimento, será dado tempo de pausa nas ações contra esse carro
até ele ser estacionado, e ele não poderá voltar a rodar até o final da etapa do
exercício, mas os demais ocupantes do carro permanecem vivos. A equipe de
assalto terá quinze minutos de dianteira para elaborar sua estratégia.
Entendido?

— SIM, COMANDANTE!
— Certo. Coloquem seu equipamento e me avisem quando estiverem
prontos para começarmos a marcar o tempo.

— Quem serão os líderes, Comandante? — perguntei.

— Como eu disse, é um exercício completamente livre. Isso fica a


cargo de vocês. Mitchell, me acompanhe. Vamos colocar o traje de proteção
sobre essa sua roupa.

Partimos para pegar os coletes e as pistolas. Eu tinha uma ideia e a


expus para os outros:

— Gente, eu acho que o melhor momento para montarmos nosso


ataque será quando eles estiverem descendo dos carros para entrar no
edifício. Os carros deles não conseguem chegar perto da porta de entrada, há
lugares ao redor onde podemos nos proteger, e eles vão ficar completamente
expostos.

Enrico acrescentou:
— Eu gosto desse plano. E a principal vantagem é que evitamos
atacar os carros em movimento. Os rapazes são profissionais, sabem como se
proteger no caso de alguma batida, mas Summer pode se machucar...

Todos concordaram.
Já estávamos entrando nos carros para partir quando vimos Summer
voltando. A roupa de proteção laranja era extremamente berrante, e a garota
olhou para nós desolada, como se perguntasse “Que merda horrível é essa
que estou vestindo?”.

Rimos e partimos.

Durante o trajeto, discutimos como seria nosso posicionamento no


ponto de ataque. Enrico propôs:
— Há um lugar ótimo para esconder os carros, e podemos ficar ali
mesmo até eles chegarem. Os mais rápidos são o Adam e o Ítalo. Podemos
dar cobertura a eles para que avancem e tragam-na para nós. Raul, você será
o motorista do carro de fuga.

— Certo.

Já havíamos feito outras simulações no campo e não seria tão


demorado, mas a adrenalina era boa. Fazia o sangue correr mais rápido no
corpo.
Quando chegamos, explicamos aos demais nosso plano. Conseguimos
esconder um dos carros atrás de uma touceira de bambus e deixamos o outro
logo depois de uma curva na continuação da estrada.

Percebemos os carros deles chegarem. Os seguranças do carro de trás


saíram primeiro e cercaram o primeiro carro. Era a última etapa do trajeto e, a
essa altura, evidentemente eles sabiam que nosso ataque se daria aqui.
Percebemos a porta traseira do carro da frente abrir, Silva desceu e logo atrás
veio Summer, seguida por outro segurança.

Foi a nossa deixa.


Raul e Enrico aceleraram e, em segundos, cercamos os carros deles,
saímos e cercamos seguranças e cliente em questão de segundos. Atiramos
em alguns deles e rapidamente dois haviam caído. Silva protegeu Summer
com o próprio corpo e fiquei feliz por aquilo, mas ouvi um grito dela. Aquilo
machucou meu coração. Mais alguns disparos e não conseguimos avançar,
pois eles revidaram com organização e rapidez. Voltaram para o carro
levando a cliente e avançaram contra um dos nossos carros, batendo na lateral
e cortando a barreira improvisada, escapando. Nos demos por rendidos e
abaixamos as armas.

Voltamos para dentro dos carros e em seguida para o pátio. Assim que
chegamos, percebemos uma aglomeração e partimos para lá quando
descemos dos automóveis.

Foi horrível ver o estado de Summer. Parecia que ela havia chorado
muito.

O Comandante tinha as duas mãos em seus ombros e conversava com


ela.

— O que aconteceu? — Adam perguntou preocupado.


— Ela deslocou o ombro — Silva falou.

— Ela já está bem — o Comandante disse.


— O ombro? — Enrico quase perdeu a voz.

Corremos todos até ela.

— O que aconteceu, Mitchell? — Pablo estava angustiado.

— Foi quando eu me joguei de volta no carro...

— Desculpe-nos, Mitchell — Ítalo engoliu seco, tentando disfarçar o


sofrimento.

— Não há por que se desculpar. — O Comandante foi duro. — Vocês


estavam em um sequestro. As proporções poderiam ser muito piores. A
Equipe 1 conseguiu cumprir o objetivo parcial: não levou a cliente até o final,
mas conseguiu frustrar o ataque e trazê-la de volta à origem sem ser atingida.
Vamos para a segunda etapa.

— Não sei se Mitchell está bem para isso, senhor — Raul observou e
alguns homens da outra equipe concordaram.

— Você está bem, Mitchell?


Ela passou os olhos por todos nós e respondeu com a voz mais calma.

— Estou sim... Eu consigo fazer isso. Agora já sei o que esperar.

— Equipe 1, prepare-se para partir. Equipe 2, aguarde minha ordem


para sair.
Caminhamos até os carros, nos afastando da outra equipe e do
Comandante.

— Você está mesmo bem, anjo?

— Estou, Enrico, obrigada. Foi mesmo o susto.


O nariz dela ainda estava vermelho.
Garcia começou:

— Acho que podemos partir do princípio de que eles não vão copiar
nossa estratégia...
Pablo ficou sério:

— Concordo. Vão nos atacar em movimento.

— Isso mesmo. Eles vão interceptar a gente antes de chegarmos ao


aeroporto — Adam disse, reflexivo. — Provavelmente naquela curva no
final da subida maior. Ali somos obrigados a reduzir a marcha e é um lugar
perfeito para uma emboscada. Acho que a estratégia é deixar a Summer no
segundo carro e não no primeiro, como é comum transportarmos os clientes.
— Pode ser uma boa mesmo, mas no segundo carro ela pode ficar
mais vulnerável — Garcia comentou.

— Acho que captei a ideia do Adam — Raul disse. — Se


mantivermos alguma distância entre os carros, eu poderia aproveitar aquele
espaço que se abre do outro lado da pista para desviar e sair com a Summer
em segurança enquanto eles atacam o carro da frente. Enquanto vocês
atrasam a equipe, corro até o aeroporto e cumpro a missão.

— Talvez quem estiver no carro da frente vá morrer, mas a cliente


estará a salvo — Ítalo comentou.
— Ah, eu não quero que nenhum de vocês morra — Summer pediu e
rimos.

— Obrigada por se preocupar, anjo. Mas estamos mais preocupados


em te proteger. — Enrico tinha uma voz carinhosa. — E desta vez não vamos
deixar que você se machuque. Prometo.

Vários de nós olhamos para o ombro dela, instintivamente.


— Então vamos seguir o plano de Adam.

Fui no carro da frente, ao lado de Ítalo, que dirigia, e com Adam no


banco de trás. No outro carro, dirigido por Raul, Garcia ia na frente e
Summer no banco de trás, entre Enrico e Pablo.
Como previsto, assim que estávamos chegando ao final da subida
antes da curva, os carros apareceram cortando nossa passagem. Os caras
pularam dos carros já disparando, sem se importar com a segurança da
cliente, eram tiros para matar.

Percebemos o carro de Raul acelerar e passar por nós, quase


atropelando um dos companheiros da outra equipe. Eles cercaram nosso carro
e abriram as portas fazendo com que nos rendêssemos, mas nossa cliente já
deveria estar a salvo de volta ao pátio. Éramos de fato muito bons juntos.

Vimos os inimigos chegarem rápido e fecharem o cerco. Raul estava


atento e havia sido cauteloso em deixar a distância que havíamos combinado.
O que estranhamos foi a equipe adversária descer do primeiro carro rápido e
começar a atirar sem discriminação. Se as bolinhas de tinta fosse balas
verdadeiras, eles teriam matado todos dentro do veículo.

Mas Raul não esperou os adversários do carro de trás se


aproximarem, puxou o carro para o lado e acelerou, aproveitando o
alargamento da pista e conseguindo se livrar do bloqueio. Quando olhei para
o lado, Enrico estava com o corpo em cima de Summer, que abraçava as
pernas, em posição de emergência.

O cheiro de borracha queimada impregnou o interior do carro, mas


Raul não parou. Só quando estacionamos na porta do prédio que era nosso
objetivo, Enrico ergueu o rosto para mim e eu acenei para ele.

— Pode levantar, anjo.


Nós dois a ajudamos e vimos seus olhos marejados, e uma lágrima
escorreu por sua pele branca.

— Algo como isso pode mesmo acontecer no trabalho de vocês? Na


vida real de vocês? — ela perguntou.

— Pode ser pior, guapa — respondi. — Aqui estávamos em uma


situação controlada, em que sabíamos parcialmente o que ia acontecer.
— Exato. Na vida real, tudo tem proporções muito maiores. Não
sabemos de onde o perigo pode vir — Raul falou com o corpo virado em
nossa direção. — E no nosso caso em particular, que passamos muito tempo
acompanhando astros famosos, nosso maior desafio é conter a multidão de
fãs, sempre tentando antecipar se um perigo iminente pode vir do meio delas.
E além de tudo, temos que tomar cuidado para não machucar os fãs...

— Nossa, gente... — Ela passou as mãos pelo rosto. — Eu entendo


agora quando falaram que havia adrenalina, mas não sei se é uma adrenalina
boa não.

— Vai desistir de se tornar segurança? — brinquei, pois sabia que ela


não estava ali para isso.
E a verdadeira razão, nenhum de nós era capaz de decifrar.

— Vou terminar o curso, mas acho que não vou seguir carreira não.

Ela sorriu e sorrimos de volta. Reféns daquela mulher que estava


conquistando todos nós.
— Venha, anjo. Vamos caminhar até aquele prédio, cumprir nossa
missão e voltar para mostrar ao Comandante que você está viva.

Quando chegamos de volta ao pátio, os outros carros já estavam lá.


Enrico abriu a porta e Summer saiu em seguida.

Raul e eu acompanhamos os dois até onde o Comandante estava.


Sentado em uma cadeira, conversando ao celular, olhando para nós enquanto
nos aproximávamos. Guardou o aparelho quando estávamos a apenas alguns
passos.

— Imagino que conseguiram cumprir a missão — ele comentou. —


Mas perderam mais da metade da equipe para realizar a manobra.
Enrico respondeu com um mau humor que não era dele:

— A outra equipe chegou atirando sem dó. Mataram todos do


primeiro carro. Parecia que queriam matar até a cliente.

Eu complementei:
— O carro ficou parecendo uma pintura de Miró.

Rodrigues, que estava ao lado, explicou:

— Foi intencional. Se conseguíssemos matar a cliente, ninguém


cumpriria a missão nessa etapa, e nós ganharíamos por termos completado
meia missão na etapa anterior...
O Comandante estava com as duas mãos na cintura encarando o carro
preto, com várias manchas de tinta verde-limão.

— Muito interessante, Rodrigues, mas acabou não funcionando. E,


pelo jeito, hoje foi o dia das ideias insólitas. A outra equipe usou uma
estratégia muito pouco convencional, que é transportar o cliente em um carro
mais vulnerável, mas isso salvou a vida de Mitchell.

— Sim, senhor, eles foram muito criativos — Silva concordou,


demonstrando resignação pela derrota sofrida.
— Vamos aos últimos informes — o Comandante começou. —
Amanhã é véspera de Natal.

— Sim...

— Isso...

— É...

Vários rapazes responderam.

Eu estava mais atrás e vi Summer entrelaçar os dedos nos de Enrico.


As mãos dele estavam para trás e foi fácil disfarçarem aquele gesto de afeto.
— Então resolvi dar o resto do dia e da noite de folga para vocês...

— Ieee...

— Aêêê...
— Boa, Comandante!

Todos nós comemoramos animados.

Summer e Enrico soltaram as mãos e ela bateu palmas como sempre


fazia quando estava muito alegre. Dava pulinhos e sorria de forma
espontânea, procurando os olhos de todos nós. Era muito linda mesmo. Não
havia mais nenhum resquício de preocupação ou angústia em seu semblante.
Eu e os rapazes nos abraçávamos e nos cumprimentávamos, caminhando pelo
pátio. Parei quase ao lado do Comandante, com uma visão privilegiada da
minha guapa.
— O que vou propor agora não estava nos planos, mas, se vocês
quiserem, eu posso liberar a volta de vocês para casa nos dias 24 e 25 para
passarem o Natal em família. Para os que resolverem ficar, estarão livres para
executar apenas exercícios leves e localizados em qualquer período. E
amanhã à noite farei um jantar para todos os que quiserem ir à minha casa.

Summer congelou sua alegria contagiante e encarou o Comandante


com muita atenção. Havia mais que respeito naquele olhar. Havia afeto,
carinho e um certo tipo de orgulho daquele homem. Por que ela o encarava
daquela forma?
— Mas... — Paramos as comemorações. — Como a Equipe 1 perdeu
a prova da simulação, eles irão pagar cem burpees e duzentos agachamentos.

— Sério? — Rodrigues reclamou já arrancando a camisa para


começar os exercícios.

— Sim, vamos lá!


— Vamos poder sair do campo de treinamento hoje, Comandante? —
A pergunta veio de Adam e esperamos a decisão do líder.

— Estão liberados, sim.

— Obrigado, senhor. — Adam se alegrou e bateu na mão de Garcia.

— Para onde vamos? — Uriel perguntou empolgado.

— Para a enfermaria — Enrico disse sério e lembramos do ombro de


Summer.
— Verdade. Como você está, coração? — Raul disse, encarando-a
com preocupação.

— Não está mais doendo muito. Só quando eu levanto o braço assim.


—Ela esticou o braço para cima. — Ai. É, com certeza isso dói. Mas não
preciso ir para a enfermaria não.
Summer baixou o zíper frontal do macacão e começou a tirar o traje,
voltando a revelar aquele corpinho lindo no interior do vestido delicado.

— Tem certeza? — Pablo perguntou.

— Sim. Então, Adam... Para onde vamos hoje à noite?


Eu perguntei, desconcertado:

— Você vai conosco?

Eu fiquei surpreso por ela se convidar. Pelo visto, ela estava tão
empolgada quanto eu.
— Ah, o convite não era para mim também? Então me desculpem,
eu...

— Claro que você será muito bem vinda, moranguinho. Eu entendo a


preocupação do Adam. É porque normalmente só vamos até um bar aqui
perto e bebemos um pouco. Ele deve ter achado que não é um lugar
apropriado para você e...

— Um bar? Tá de sacanagem comigo, Adam? — ela falou ofendida.


— Tem algo lá que não quer que eu veja? Ou que não quer que eu participe?
— Não... — respondi sem graça.

— Então me digam se vocês querem que eu vá ou não. Se não


quiserem, não tem problema.
Ela colocou as duas mãos na cintura e esperou nossa resposta. Ela
com certeza não tinha noção de como ficava linda quando estava zangada.

— É claro que queremos que vá, tigresa — Garcia respondeu por


todos, já que era nosso desejo mesmo. — Mas você pode ir? Você está
hospedada com o Comandante, sei lá...
— Deixe que, com ele, resolvo eu. A que horas encontro vocês aqui?
Pode ser às oito?

— Às oito está ótimo, bella. Vamos te esperar — Uriel concordou.

— Ótimo, rapazes, até à noite. Aproveitem a tarde para descansar.


Ela acenou e virou-se rápido na direção do seu carro, fazendo o
vestido esvoaçar pelo ar e nos dar uma visão privilegiada do seu traseiro
redondo e perfeito, com uma calcinha minúscula enfiada completamente em
sua fenda.

— Droga! — ela reclamou levando as mãos à saia e apressou o passo


abaixando a cabeça.

— Ela faz de propósito, não faz? — perguntei ajeitando meu pau que
já crescia dentro da calça.

— Tenho certeza de que não — Ítalo respondeu ao meu lado.

— Mas ela bem que poderia só treinar com esses vestidos folgados —
Pablo disse. — Garanto que treinaríamos com muito mais empenho.

Todos rimos.
— Se dermos a ideia hoje, será que ela topa? — Raul propôs, já
caminhando na direção do alojamento.

— Bem, ela só pode dizer sim ou não. Vai que ela responde sim —
Uriel disse, também se divertindo.

— Acho melhor não — eu disse, enfim. — Aí só vou treinar de pau


apontando o horizonte.
Eles gargalharam.
Um bar, sete delícias e uma garota bêbada

Cheguei em casa e fui direto para o banheiro. Examinei o ombro e


havia um grande hematoma. Estava feio mesmo. Mas eu ia sobreviver.
Cansada da comida do refeitório, fui à cozinha, mexi nos armários e
na geladeira analisando o que tinha de bom para cozinhar para o almoço. Não
demorei em escolher os ingredientes para improvisar um yakisoba no
capricho. Enquanto a água fervia, liguei para o meu pai avisando para
cancelar o pedido de almoço e que o esperaria para comer.

Ele chegou perguntando:

— Como você está, vida?


— A boa notícia é que não vou precisar amputar o braço.

Eu servi nossas porções enquanto ele se sentava.

— Não brinque, menina.


— Eu estou bem, papai.

— Fiquei apavorado quando te vi chorar daquele jeito.


— Perdão, Seu Lúcio. Foi só o susto mesmo. Eu caí de mau jeito
quando pulei para dentro do carro, e na hora doeu muito.

Comemos mais um pouco e continuei.


— Fiquei tão orgulhosa por ter providenciado a ceia de Natal para os
rapazes aqui em casa.

— Sim, acho que será divertido. Podemos montar uma mesa no


quintal e fazer um churrasco. O que acha? Aqueles monstros adoram carne.

Ri.
— Adorei. Posso fazer...

— Você não precisa fazer nada, vida. Vou providenciar toda a ceia.
Amanhã quero que descanse. Deve estar exausta.

— Estou mesmo. Vou aproveitar então para tirar umas fotos por aí.
— Faça isso, querida.

— Papai, hoje os rapazes vão em um bar aqui perto e eu me convidei


para ir com eles.

Ele parou de comer e ficou me encarando em silêncio.

— Filha minha não anda em bar acompanhada de um monte de


marmanjos, Summer.

— E quando foi que o senhor me renegou, que não estou sabendo,


papai? Porque eu só estou avisando que irei.

— Sua mãe te criou muito errado mesmo. Desde quando responde a


seus pais assim, menina?
— Minha mãe me criou com liberdade porque ela sempre confiou em
mim. E veja só a garota esperta, durona e independente bem à sua frente,
papai. Deixe esses princípios antiquados no século passado, Seu Lúcio. Eles
são amigos e vamos apenas tomar uma cerveja juntos.

— Summer, eu não queria mesmo que fosse.


— Papai!!!

— E, além do mais, hoje eu vou...

Ele estava tão corado quanto eu costumava ficar às vezes.

— O senhor tem um encontro? Vai passar a noite fora? Que legal,


papai. Aproveita. Então prometo que chego bem cedo em casa.

Ele me encarou, como se tentasse decifrar o que eu acabara de dizer.

— Você vai de qualquer jeito para esse bar, não vai, vida?
— Vou sim, papai. Por favor, eu me sentiria tão mais feliz se o senhor
apenas aceitasse e ficasse feliz por mim, por estar fazendo amizades... Eu
estou muito feliz que o senhor vai namorar.

— Eu não disse que eu ia... namorar.

— Aham. Vou fingir que não, então, se isso o deixar mais feliz.

Ele sorriu, vencido.

— Estará em casa às dez?

— Às dez.
— E se algum deles tentar algo contigo, você enfia a mão na cara
deles?

— Prometo.

— Então vá se divertir com seus amigos, raio de Sol.


Ele liberou? Eu estava delirando? O ombro deslocado havia afetado
minhas faculdades mentais? Mas era o ombro, não a cabeça... Ele liberou
que eu saísse! A maior vitória de todas.

Me ergui da cadeira e o abracei empolgada, dando muitos beijos em


sua bochecha.
— Obrigada, obrigada, obrigada, papai... E, o senhor, bem... aproveite
a noite!

Saí saltitante para o meu quarto.

Tirei uma soneca à tarde e depois cuidei do corpo e dos cabelos.


Escolhi um vestido tubinho, com mangas curtas para cobrir aquele hematoma
horroroso e para não correr risco que a saia se erguesse novamente com o
vento.
Meu pai veio se despedir de mim e passou outro monte de restrições
antes de sair todo lindo para seu encontro amoroso. Estava tão feliz por ele...
Havia passado a tarde organizando a ceia do dia seguinte. Ele era um fofo
quando queria ser.

Jantei sozinha, apenas alguns legumes e ovos cozidos. Não gostava de


comida pesada à noite. Escovei os dentes e depois penteei os cabelos
novamente. Caprichei na maquiagem: a sombra estava mais escura,
destacando o azul claro das minhas íris, assim como o batom de alta fixação,
que era um vermelho mais fechado. Conferi o visual várias vezes antes de me
perfumar e sair ao encontro deles.

Havia decidido que a garota limitada e meiga seria colocada de lado e


assumiria de vez seu lado conquistador.
Eu estava mudando, sentia isso.
Não sabia se para o bem ou para o mal, mas tinha momentos que nem
eu me reconhecia mais. Entretanto, eu gostava daquelas mudanças. Eu
parecia uma borboleta saindo de um casulo, descobrindo tantas coisas
novas... Algumas assustadoras, como ficar com tantos homens ao mesmo
tempo, mas por outro lado, revigorantes. Eu finalmente sentia que, pela
primeira vez em toda a minha vida, eu estava realmente vivendo.

Livre!

Foi mais do que esperávamos. Quando Summer saiu daquele carro,


tenho certeza de que não foi só eu que me babei por aquela loira. Ela estava
com um vestido preto muito colado ao corpo, sandálias altas e tão linda que
seria capaz de parar o trânsito.

— Oi, turma. Estão todos prontos?


Gostosa.

— Sim.

Nem sei quem foi que conseguiu abrir a boca, sem babar, para
responder. Eu só fiquei admirando toda aquela perfeição.
— Como está o ombro, Summer? — Enrico perguntou, preocupado.

— Está... ok até agora. Obrigada por perguntar. Em que carro eu vou?

— Comigo.
— Não, comigo.

— Eu vou dirigindo — falei tentando trazê-la para mim.


— Eu vou dirigindo o outro carro — Enrico disse em seguida.

Ela se limitou a sorrir. Estava se divertindo com o nosso desespero de


machos alucinados.
— Faz assim, eu vou em um carro e volto no outro. Pode ser?

— Ótimo, vai comigo — declarei esticando a mão para ela, que


aceitou, e a conduzi para o banco da frente do carro.

— Deixe a tigresa ir atrás conosco — Garcia reclamou.

— De forma alguma. Vai na frente comigo. É mais confortável.

Os rapazes do outro carro riam do desespero dos meus companheiros.

Na entrada do bar, Ítalo a avisou:


— O bar é simples, moranguinho. Mas podemos animar o ambiente...

Havia muitas mesas vagas, duas mesas de sinuca sem serem usadas
no canto e, na caixa de som, soava uma música estilo sertanejo universitário.
Seguimos Garcia e Adam, que nos fez sentar no canto à esquerda, mais perto
das mesas de sinuca e da pista de dança.

Era evidente que Garcia estava louco para jogar:

— Podemos fazer duplas para assumir as mesas de sinuca.

— Vamos pedir primeiro. — Uriel ergueu a mão para uma garçonete


que se aproximou.

Todos, menos eu e Enrico, pediram chopes ou cervejas. Nós,


motoristas, tivemos que nos contentar com refrigerantes.
— E você, tigresa? Vai fingir que não joga nada e no final se mostrar
uma expert em sinuca só para nos humilhar? — Garcia estava animado.
— Não sei nada de sinuca, a não ser que a bola branca deve bater nas
outras.

Rimos.
— É um começo — Adam afirmou. — Sou do time da gatinha aqui.

— É uma porra. Você joga muito mal. Vão perder na certa. Fique no
meu time, tigresa. Adam vai com o Ítalo.

— Vai jogar o traste do Adam para mim, é? — Ítalo reclamou


brincando.
Eu e Enrico continuamos esperando nossas bebidas enquanto Uriel e
Pablo começaram um jogo na outra mesa.

Os rapazes tentavam ensinar Summer, sempre aproveitando para tirar


uma casquinha dela, enlaçando seu corpo para demonstrar alguma jogada. Eu
e Enrico nos fartávamos quando Summer se inclinava para poder alcançar a
bola. Era uma visão maravilhosa daquela bunda arredondada. Chegávamos a
quebrar o pescoço às vezes.

Já estávamos ali há algum tempo e, assim que os copos se


esvaziavam, pedíamos mais. Quando outra partida terminou, eu me levantei e
fui até a mesa de sinuca, estendi minha mão na direção de Summer e ela me
entregou o taco.
— Não, coração. Eu não quero jogar sinuca. Eu quero te jogar
naquela pista de dança.

Ela riu e segurou minha mão depois que coloquei o taco na mesa. A
guiei para a pista.

— Fodeu. Perdemos a Summer para o dançarino!


Adam reclamou e ergui meu dedo médio para ele, antes de colar o
corpo dela ao meu. Segurei sua cintura e sua mão direita.

— Eu não sei dançar Raul.


— Eu ajudo.

Guiei os primeiros passos rebolando para os lados e levando Summer


comigo. Era muito gostoso ter aquele corpo colado em mim. O sertanejo
continuava tocando e eu não desviava os olhos dela enquanto rodava nossos
corpos e mexia nossas pernas, batendo nossas coxas e virilhas.

— Você dança muito bem, Raul.


— Obrigado.

— E é um bom professor. Não reclamou nenhuma vez por eu ter


pisado no seu pé.

Eu ri. Não precisava estar bebendo nada alcoólico, estava bêbado com
o perfume dela. Estava linda. Ela é linda. A música acabou e voltamos para a
mesa.
Ela sentou-se ao meu lado e tomou mais da cerveja. Estava corada por
causa dança.

— Você é resistente à bebida, anjo. É o seu quinto copo, não é?

— Não sei mais qual é. Não estou contando. E não sou resistente, não.
Bora dançar também, Enrico?
— Eu não sei dançar, anjo. O dançarino da turma é esse bonitão aqui.

— Aprendemos juntos. Venha.

Ela agarrou a mão dele e o puxou.


— A Summer já está bêbada — Enrico brincou e deixou-se ser guiado
por ela.

Eu gargalhei da aflição do meu amigo. Eles se enrolaram mais que


dançaram e a risada dos dois era muito gostosa de se ouvir. Enrico rodava a
Summer mais do que dançava com ela. Ela reclamava de tantas piruetas e,
quando achava que finalmente ia dançar, Enrico a rodopiava novamente,
fazendo-a gargalhar. Eu comecei a desconfiar de que ele estava fazendo
aquilo apenas para fazê-la rir.

— Você é mesmo horrível dançando! Vem, Adam, dança comigo —


ela gritou para ele, que estava olhando os dois, apoiado na mesa de sinuca.

— Opa, na hora.

— Melhor, anjo.
Enrico se afastou, me encarou e continuou rindo. Adam assumiu seu
lugar e tentou fazer o melhor que pôde, dançando colado a ela. Era um
aproveitador mesmo. Não desperdiçava uma oportunidade de se esfregar
nela. Garcia deu dois tapinhas no ombro dele e assumiu a próxima dança.
Adam veio se sentar ao nosso lado reclamando.

— Quem Garcia pensa que é? Tirando a mina assim de mim?

— Até onde sei, ele tem o mesmo direito de dançar com a Summer
que você — Enrico chamou a atenção dele.
— Olha o Garcia dançando. — Eu ria. — É um desengonçado.

— Até eu danço melhor que você, Garcia — Enrico gritou zoando


com o cara.

Uriel e Pablo sentaram-se em nossa mesa.


— Vão tirar a Summer para dançar também? — perguntei.

— Não mesmo. Não sei nem para onde vai esse tipo de música —
Uriel disse rápido.
Summer e Garcia voltaram à mesa e ela bebeu mais um gole.

— Vem, Uriel. — Ela puxou a mão dele.

— Eu não sei dançar isso não, bella.

— Eu também não sei dançar não. É a primeira vez que escuto essas
músicas. Venha, homem!

Ele não teve escolha, foi com ela e foi a dança mais engraçada da
noite. Quando acabaram, Pablo se levantou rápido com a desculpa de ir ao
banheiro e Ítalo assumiu a dança. Era muito bom também e se esbaldou de
dançar com ela. Quando Pablo estava voltando, Summer soltou Ítalo e correu
até ele, agarrando-o e dançando com ele também.

— Eu acho que a menina está muito bêbeda — Garcia comentou.

— Está — eu falei preocupado.

— Vem você de novo, Raul! — Summer o puxou novamente.


— Senta aqui um pouquinho, coração. Descansa um pouco. — Ele
tentou fazê-la se acalmar.

— Não quero descansar, quero aproveitar. Alguém quer jogar mais


um pouco?

Ela já ia pegar o copo novamente e Uriel a impediu:


— Você já bebeu muito, bella.

— Vamos pedir a conta — Garcia falou sério.

— Ah, não. Vamos ficar um pouco mais, por favor. Eu nunca saio...
Por favor...

Nós nos entreolhamos e não conseguimos negar o seu pedido.

— Venha, eu danço contigo. — Raul foi para a pista com ela.

Dançando com ela para todos os lados. Ela não parava de sorrir.

— Cara, eu tô muito fodido por essa garota. — Todos desviamos a


atenção do casal dançando e olhamos para Adam.

— Você sabe que não é o único, não é, bonitão? — Ítalo argumentou.


— Porra. Eu tô acordando duro todos os dias — Adam passou uma
das mãos pelos cabelos desarrumados. — Temos que dar um jeito de sortear
quem vai ficar com ela.

Aquilo me deixou irritado e eu usei um tom mais sério que o de


costume:

— Ela não é um troféu, Adam. Ou um objeto, para ser sorteada. Ou


ser apostada em uma competição, coisa que tenho certeza de que deve ter
passado por essa sua cabeça de vento!
— Eu não quis... Eu só estou ficando maluco...

— Quem não está, Adam? — Pablo declarou calmo, tomando sua


cerveja. — Olha aquele corpo.

— É mais que um corpo. Bella é uma simpatia. Amiga e divertida —


Uriel disse sorrindo, encarando nossa garota.
— Acho que o que você está supondo, Adam, não depende de
nenhum de nós. Deve partir dela. Se ela quiser, é ela quem deve escolher com
quem quer ficar.

Abaixei os olhos para a mesa. Eu podia ter ficado com ela na noite
passada, mas não fiquei. Metade de mim estava arrependido, mas a metade
responsável não. Voltei a encarar o anjo dançando no meio do salão. Ria
solta, tropeçando em Raul. Nem eu, nem nenhum dos rapazes permitiríamos
que ela fosse usada por qualquer um de nós. Ela era muito especial.

Pedi a conta com um gesto e o garçom concordou.

Raul a convenceu e voltaram para a mesa.

— Quem vai dançar comigo agora?


— Já pedimos a conta, gatinha. Hora de partir — Adam anunciou
virando o restante de sua bebida.

— Logo agora que estava tããããão bom!

— Podemos voltar outra noite, se o Comandante liberar — Ítalo disse


também virando seu copo.

— Podemos dançar amanhã lá em casa. Vou providenciar um som.

— Na frente do Comandante? Não acho uma boa ideia, coração... —


Raul falou.

A conta chegou, cada um calculou a sua parte e colocou algo a mais


para pagar a de Summer. O garçom levou a conta paga, enquanto ela ainda
tentava achar algo dentro da bolsa.
— Tá procurando o quê, anjo? — perguntei.

— Minha carteira, para pagar a... cadê a conta?


— Já foi paga. Vamos — chamei.

Nos dirigimos para o carro e ela veio conosco, cantando pedaços de


músicas que tentava se lembrar. Mais errava que acertava e fazia todos rirem.
Cada grupo foi para seu carro e ela se lembrou:
— Eu vou voltar nesse carro agora.

Apontou para o carro que eu ia dirigir.

— Só se quiser, anjo.

— Foi o acordo. Você pode me esperar só um instante, Enrico?

— Claro.

Ficamos todos do lado de fora dos veículos aguardando para ver o que
ela ia aprontar.
Ela foi primeiro até Raul e lhe deu um beijo na boca. O cara ergueu as
mãos acima da cabeça e ficou nitidamente assustado, mas correspondeu ao
beijo.

— Obrigada por dançar comigo.

Ela sorriu e partiu para Uriel, que estava logo atrás dos dois, e fez o
mesmo. Beijou o cara na boca e depois agradeceu. Um a um, ela foi beijando
e agradecendo à noite maravilhosa que havia tido, por ter dançado, jogado
sinuca ou simplesmente pela companhia. Fui deixado por último e falei antes
que ela me beijasse.
— Não precisa me beijar...

Beijou. Ah, que beijo gostoso o dela.

Tão macios, seus lábios...


Correspondi, como alguns colegas fizeram, mas a interrompi logo.

— Obrigada, Enrico. Mesmo não sabendo dançar, você dançou


comigo.
— Não precisava agradecer.

— Eu queria. Queria agradecer todos vocês.

Ela se virou olhando a todos com olhos anuviados e um sorriso


embriagado. Desconfiei que ela fosse recomeçar os agradecimentos. Mas eu
não deixaria, ela estava vulnerável e sem saber o que estava fazendo. Pedi,
enquanto a orientava até o carro:
— Entre, anjo. Vamos te levar em casa.

— Meu carro ficou lá no pátio.

— Amanhã levo para você. Entre.


Ajeitei-a no banco de trás e ajustei o cinto de segurança. Esperei Uriel
se acomodar ao lado dela, e Ítalo no banco da frente. Vi o carro de Raul
começar a andar e partimos. Quando chegamos à entrada do campo, olhei
para trás e vi o rosto de Summer inclinado de lado.

Ela dormia profundamente.

— O que vamos fazer, Enrico? Vamos bater na porta do Comandante


e entregar a garota completamente bêbada? — Ítalo perguntou e o encarei
pelo retrovisor.
— Claro que não.

— E o que vamos fazer?

— Não sei. Ainda.


Enquanto o carro de Raul foi para o pátio, parti em direção à casa do
Comandante. Estacionei o carro e não vi o Troller do Comandante ali.

— Acho que ele não está em casa — Uriel disse e eu concordei.


— Vamos verificar se a casa está aberta — Ítalo foi na frente e a casa
estava fechada.

— Podemos olhar a bolsa dela e procurar a chave da casa. Ela está


dormindo e não acredito que vá acordar. Podemos entrar juntos, apenas
colocamos ela na cama. O que acham?

— É o melhor que podemos fazer nessa situação.


Fui para o lado da porta dela, entreguei a bolsa para Uriel e peguei
Summer no colo. Ítalo achou logo a chave da casa, mas antes de abrir, bateu,
apenas para se certificar que o Comandante realmente não estava ali. Abriu a
porta e entramos com cautela. Uriel achou o quarto de Summer e a coloquei
em sua cama. Retirei as sandálias dela e a cobri com todo o cuidado.

— Ela é muito linda, não é? — Ítalo falou baixinho, admirado.

— Muito — Uriel concordou com palavras e eu, com o coração.

— Vamos sair daqui — chamei.

Uriel deixou a bolsa em cima da mesinha lateral da cama e Ítalo


deixou as chaves ao lado. Partimos para nosso alojamento e tenho certeza de
que aquela foi uma noite sofrida para todos, pois, ao contrário do que Adam
podia achar, ele não era o único que estava acordando todas as manhãs com o
pau duro por ter tido sonhos sacanas com aquele anjo delicioso.
Preparando o terreno

Minha cabeça estava doendo como os infernos. Ergui o corpo e...


— Como diabos eu vim parar aqui?

Depois do quarto copo de cerveja eu não lembrava de praticamente


mais nada.

Eu dancei?
— Mas eu não sei dançar...

Levantei-me para ir ao banheiro e ainda estava vestida. Passei a mão


pelo vestido e tentei me lembrar de algo. Nada. Caminhei até o banheiro, tirei
a roupa e a joguei no cesto. Precisava lavar a roupa. Me enfiei embaixo do
chuveiro com a água fria e molhei a cabeça, com a intenção de fazer a dor
passar. Antes de terminar o banho, passei os dedos por meus lábios.

— Eu beijei algum deles? Óbvio que não, estávamos todos juntos!


Saí do banho e vesti uma camiseta e um short bem curtinho. Calcei
meus chinelos de dedo e parti para a cozinha.
— Bom dia, raio de Sol.

— Bom dia, papai.

Fui até ele no sofá e me joguei ao seu lado. Primeiro o abracei, dando
um beijo em seu rosto, e depois apoiei a cabeça em seu colo.

— Como foi o namoro? — perguntei primeiro.

— Não foi namo... — Ele respirou fundo e respondeu. resignado. —


Foi muito agradável, vida. Como foi seu passeio?

— Acho que bebi muito, uma dor de cabeça me tortura agora...

— Summer Mitchell Ferraz! Eu não acredito que você se embebedou


e ficou vulnerável a vários homens...

— Hey, me respeite, senhor Lúcio. — Sentei-me séria. — Não perdi o


controle um minuto sequer. Só disse que a bebida me deixou com dor de
cabeça. Tem café?
— Tem sim, vida. E remédio na gaveta do armário também. A da
esquerda.

— Obrigada. Vou lavar roupa hoje, então coloque sua roupa perto da
lavadora.

— Vou sentir sua falta quando partir.


Sorri. Eu praticamente não fazia nada na casa. Ele era um fofo
mesmo. Devia se sentir sozinho.

— Como anda a organização da ceia para mais tarde?

— Tudo pronto. Só dois rapazes vão voltar para São Paulo. Os demais
vão ficar por aqui.
Tomei o remédio e enchi a xícara de café. Passei manteiga no pão e o
mergulhei no líquido fumegante.

E comecei a refletir sobre as palavras do meu pai.


Dois não passarão o Natal conosco? Será algum dos meus meninos?
Se for, por que eles não me falaram ontem à noite? Se bem que podem até ter
falado e eu não lembro... Que bosta, não se lembrar do que aconteceu...

— Quem, papai? — Tentei ser o mais neutra possível.

Olhei para ele de onde eu estava na cozinha e meu pai apenas virou o
rosto na minha direção.
Sério.

Desmantelando toda a minha cara de pôquer.

Merda.
— Não se preocupe, não será ninguém da sua equipe.

— Ah... Nem tinha pensado nisso...

Levei a xícara rapidamente aos lábios para tentar fugir do olhar


interrogativo dele antes de me entregar ainda mais.

— Pensei em fazer uma torta de limão para mais tarde.

— Não precisa, vida. Vai ter muita comida.

— Eu gostaria... — Meu celular começou a tocar dentro do quarto. —


Eu pensei que ele estava no silencioso. Já volto, papai.
Levantei levando o café comigo.

Olhei a tela e o nome me fez ficar elétrica.

— Bom dia, amiga...


— Eu te odeio, Summer. Já se passaram dias e nenhuma mensagem
sequer. Você é a pior amiga que eu já tive na vida.

— Você só tem a mim como amiga, gata.


— Então está na hora de arrumar novas amizades.

— Deixe de ser melodramática. Como está tudo em Londres?

— Um tédio. Frio e chato. E no Brasil?

— Interessante!

— Hum... Começo a pensar em te perdoar... Conte mais. As partes


interessantes envolvem um pau enorme no meio das suas pernas?

— Maisie, pelo amor de Deus! Espero que esteja sozinha quando diz
essas coisas.
— Estou em um café, na verdade. É claro que estou sozinha, amiga
louca. Acha que sou tão insana assim?

— Acho mesmo, Maisie.

— Não sou. Vamos, conte tudo, não me esconda nada. Faça das suas
férias interessantes um oásis na minha monotonia.

Contei a ela, de forma resumida, tudo o que aconteceu naqueles


últimos dias, e tive que parar várias vezes devido aos gritos eufóricos e
histéricos dela a cada revelação, desde a minha participação no curso até os
momentos com cada uma das delícias da minha equipe.

— Puta que pariu, Summer. Você está muito bem servida aí. E eu
aqui doida para dar e não tenho para quem.

— Ah, é? Você está louca, Maisie? Como que eu vou dar para um se
tem mais seis olhando? Me conte? Esses caras não se separam nunca.
— Dá para os sete ao mesmo tempo.

— Ah, vai se foder com o maior vibrador que encontrar por aí, vai.
Porra, eu tentando ter uma conversa séria e você brincando com a minha cara.
Você tem ideia de como está a minha cabeça? Eu estou confusa para caralho,
amiga. Eu saí de casa procurando paz e encontro esse mar de tentações, cada
homem mais lindo que outro. E o pior é que desejo como nunca cada um
deles. Como isso pode estar acontecendo?

— Realmente isso não é nem um pouco típico de você, Summer. Você


é mais certinha que uma freira. Ainda bem que começou a escutar meus
conselhos!

— Ah, Maisie. Eu aqui, achando que poderia me ajudar com toda essa
confusão que estou sentindo, e você só sabe brincar.

— Ei... eu não estou brincando. Falei muito sério.


— Maisie. Mas eu não sou você...

— Obrigada.

— Maisie, sério... Será que... Será que, se eu chegar mesmo a fazer


isso, eu não estarei traindo o Travis?

— Querida... Ele já deve ter dormido com metade da California.

— Ele não faria isso.

— Você está prestes a dormir com um... ou com sete, querida. O que
o impede de fazer o mesmo? E não esqueça que quem pediu o famoso
“tempo” foi você...
— Você tem razão. Eu pedi esse tempo para nos conhecermos,
vivermos novas experiências, nos encontrarmos. Espero... espero que ele
esteja vivendo este momento da melhor forma possível. Mas... Mesmo
sabendo que eu deveria estar aproveitando este momento, eu me sinto tão
suja com a possibilidade de ficar com mais de um cara ao mesmo tempo!

— Não se sinta assim, Summer. Você é jovem e ficou amarrada a um


namoro por anos. E você deve mesmo aproveitar o máximo que puder.
Pensar em você, viver coisas novas, sem medo de tabus impostos pela
sociedade. Faça isso nem que seja uma vez na sua vida!

— Não faço ideia se algo vai mesmo acontecer. Ou como isso poderia
acontecer, mas...

— Se enfie dentro do mato e puxe um deles. Abra as pernas e


aproveite. Muito fácil.

Eu ri alto e minha cabeça latejou.


— Faça o mesmo por aí.

— Nessa merda de frio é capaz de os pintos dos caras terem caído.

Ri novamente.
— Maisie, vou desligar. Tenho que lavar roupa e vou preparar uma
torta de limão para hoje à noite.

— Promete me contar todas as novidades?

— Se eu esquecer porque estou suspirando aqui, você me cobra?


— Não se preocupe que vou cobrar.

— Então fechou. Conto tudo. Tchau, melhor amiga.

— Tchau pior, amiga.


Desligamos. Voltei para a cozinha e vi meu pai no quintal. Ítalo e
Garcia estavam com ele. Deixei minha xícara vazia na pia e fui até lá.

Papai falou sorridente:

— Summer, os rapazes vão ajudar a trazer as mesas aqui para fora.

Ele estava mesmo empenhado naquele jantar. Eu coloquei as mãos na


cintura e fiquei olhando toda a arrumação que estava sendo feita ali.

— Onde o senhor falou que a churrasqueira está? — Garcia


perguntou.

— No quartinho ali atrás, junto com as mesas.

— Vou lá.

Enrico, Raul e Uriel chegaram carregando mesas; Silva, Rodrigues,


Adam e Pablo, cadeiras.
— O senhor quer que compre algo além do carvão?

— Não, Ribeiro, só o carvão mesmo. O resto da comida chega mais


tarde.

— Espalhamos as mesas pelo quintal, senhor? — Raul perguntou.

— Isso, assim podemos circular e...

— Não — eu interrompi e todos olharam para mim.

— É uma ceia de Natal. Devemos nos manter unidos. Podemos


montar uma mesa só, ou algo como a formação em “C”. É melhor nos
mantermos unidos, em vez de um monte de grupinhos fechados em
panelinhas... O que acham?
Demoraram para me responder e, enquanto meu pai estava preso em
seus pensamentos, percebi os olhos dos meus colegas de equipe correndo por
meu corpo.

— Gostei da ideia, Summer.

Meu pai não estava me chamando de vida ou raio de Sol, mas


também não estava me chamando de Mitchell. Ainda bem.

— Rapazes, por favor, juntem as mesas, uma ao lado da outra, aqui.


Coloquem as cadeiras dos dois lados, vamos fazer como ela sugeriu.

— Sim, senhor — Silva respondeu e eles começaram a organizar


tudo.
— Vou entrar para fazer a torta e lavar roupa. Se precisarem de mim,
por favor, não hesitem em chamar. Vou fazer um suco bem gelado e já trago
para todos.

Sorri, agradecida por estarem ajudando, e entrei.

Depois que coloquei a roupa para lavar, me dediquei à minha torta de


limão com merengue e massa amanteigada. Assim que a levei ao forno, fiz o
suco e o levei para os rapazes. Deixei em cima de uma das mesas e voltei
para dentro de casa correndo para pegar minha máquina.

Os rapazes estavam bem à vontade, de bermudas, vários deles com


camiseta regata, sem a habitual farda do dia a dia dos treinos.

Sentei-me na soleira da porta e tirei uma série de fotografias deles.


Dei ênfase a detalhes dos músculos dos braços, do tórax, dos abdomens e dos
sorrisos, olhos, coxas... Uau... os abdomens... e alguns volumes entre as
coxas... Certo. Me fixei por um longo tempo ali, em alguns deles.

Percebi algumas cicatrizes, me empolguei com as tatuagens,


enquadrei os queixos com aquelas covinhas sensuais, barbas por fazer, suor
escorrendo por peles bronzeadas. Devia ser uma delícia enxugá-las com a
língua...

Ainda registrei covinhas de sorrisos, trapézios firmes, bundas


arredondadas, panturrilhas grossas...
Eu mantinha as pernas bem fechadas, pois sentia meus fluidos
escorrerem de mim sem pena. Estava no limite de pular sobre eles ou arrastar
qualquer um para o mato, como Maisie sugeriu.

Aquela não era uma má ideia.

Será que meu pai daria por falta de mim? Ou de algum deles?
A lavadora parou e fui até ela. Porra, eu estava muito excitada. Corri
até o banheiro e tive que me lavar.

Em seguida, recolhi a roupa e a levei até o varal que ficava além de


onde os rapazes estavam. Comecei a colocar a roupa e percebi que haviam
acabado o serviço e já se despediam de papai. Silva e Rodrigues foram
embora, mas os meus rapazes vieram até mim bem no momento em que eu
estendia minhas calcinhas.

Eu merecia esse castigo.

— Até à noite, anjo — Enrico falou primeiro.

— Porra, gatinha. Isso aí e nada é praticamente a mesma coisa!

Adam observou com sofreguidão e eu sorri, pois sabia que ele estava
falando das minhas calcinhas.
— Minha melhor amiga acha a mesma coisa, mas o que posso fazer
se é o que eu gosto de usar?

Garcia ficou estático enquanto Raul e Enrico suspiravam. Uriel e


Pablo abriram a boca, mas Adam sorriu, safado. Gostoso.
— Tenho certeza de que cada um de nós gostaria de ganhar uma delas
de presente de Natal... — Adam continuou sem perder a compostura
descarada. — Mas a minha eu vou querer usada, nada de lavá-la antes de me
entregar....

— Já falou merda demais, vamos embora, cabeça de vento — Garcia


reclamou. — Até à noite, tigresa.
— Até, grandão... — hesitei, mas falei sentindo o rosto esquentar
imediatamente. — E quem sabe não ganham o que o Adam pediu? Mas só se
tiverem sido bons garotos durante o ano. Será que foram?

— Eu posso garantir que fui — Adam respondeu quase se engasgando


e eu ri, já me virando para o varal.

— Até mais tarde, rapazes.


— Até — eles se despediram e eu terminei de estender a roupa.

Quando entrei na cozinha, meu pai estava no fogão, esquentando


nosso almoço, que havia chegado há um bom tempo. Estava feliz e
cantarolando a canção que ouvia no celular, ao lado dele.

Depois que almoçamos, peguei uma vassoura para varrer a casa.


Assim que abri a porta de entrada, vi o carro estacionar e Ítalo descer.
—Eu só vim deixar o carvão que o Comandante pediu para eu
comprar. Sabe onde eu posso colocar?

— Lá atrás, ao lado da churrasqueira. Quer ajuda?

— Não precisa, moranguinho. É pesado.


Ele pegou o saco de carvão, jogou no ombro e partiu para onde eu
havia indicado. Eu o segui, de olho nos ombros, na bunda e nas pernas
daquele exemplar magnífico de ser humano masculino. Ele colocou a carga
no chão e meu pai apareceu na porta do quintal.

— Está aqui, senhor.


— Obrigado, Ribeiro. Até mais.

Papai disse apenas isso e voltou para dentro.

Tão sutil o Seu Lúcio...

Ítalo apenas abriu aquele sorriso lindo, modelo “molha calcinha”, e


falou:

— Você vai continuar me seguindo até o carro?

— Posso?
— Vou adorar.

Mas não o segui. Andei do seu lado, mas, antes que chegássemos à
frente da casa, ele segurou minha cintura e me prendeu com seu corpo contra
a parede. Segurou meu rosto e balbuciou com os lábios quase colados aos
meus:

— Eu estou louco para repetir aquele beijo de ontem à noite,


moranguinho.
— O... ontem?

— Você não se lembra?

— Não.
— Quer se lembrar?

— Qu-quero.

Ah, como é doce morrer nos braços de uma perdição dessas! E em


lábios suculentos e sedentos como aqueles. Ítalo sabia mesmo usar sua boca...
Será que sabia usá-la em outros lugares?

O filho de uma mãe beijava muito bem.


Não nos demoramos, pois sermos flagrados pelo Comandante poderia
significar uma expulsão do treinamento para ele e uma verdadeira sentença
de morte para mim.

— Lembrou?

— Acho que vou precisar de mais um para ativar minha memória...


Ele riu alto e as borboletas no meu estômago voaram todas ao mesmo
tempo com o timbre delicioso daquele som.

— Você estava muito bêbada, moranguinho.

— E eu te beijei na frente dos outros rapazes?


Ele sorriu maroto, respondendo em seguida:

— Você beijou todos nós, um depois do outro.

Abri a boca surpresa, sem acreditar naquilo.

— Você está mentindo.

— Não estou não. Depois desmaiou no banco do carro e tivemos que


te carregar até sua cama.

Eu estava mais chocada a cada revelação.


— Eu tentei...? Não tentei, tentei?

Ele riu novamente.

— Você não estava em condições de tentar nada, moranguinho. Você


apagou de vez. Eu, Enrico e Uriel a deixamos o mais confortável possível em
sua cama e saímos de fininho. Você dormiu direitinho?

Ai que vergonha. Ai que vergonha.

— Eu acordei com uma puta dor de cabeça.

— Acredito. Está melhor?

Ele se inclinou e beijou minha testa. Eu olhei para o mato atrás da


gente e o pensamento me tentou. Eu daria ali. Agora. Tranquilamente.

— Ítalo... Eu...

— Summer? — A voz do meu pai explodiu dentro da casa e nos


afastamos.

— Aqui fora, seu Lúcio. — Olhei para aquela perdição e falei


baixinho. — Vamos voltando para seu carro, Ítalo.
Eu o acompanhei até o carro e papai saiu bem na hora em que Ítalo
dava a partida.

— Até mais tarde.

Ergui a mão e ele retribuiu.

— O que estavam conversando esse tempo todo?

Pense rápido!

— Ele estava explicando uma ideia que adorei. E eu estava pensando


como convencer o senhor, cara grandão do mal.
Sorri alegre e me agarrei à cintura do meu pai, que logo soltou um
riso solto.

— E qual seria essa ideia?

— Que tal levarmos o equipamento de som para o quintal e


montarmos um karaokê? Como fazíamos quando eu era menor?

— Eu fazia aquilo para te entreter, vida. Eu não quero pagar mico na


frente dos meus alunos.
— Ah, papai. Pagar micos é a melhor coisa que existe. Deixa essa
vida dura mais leve. Vamos, por favor. Curta a vida só um dia no ano. Eu
estou aqui e às vezes ficamos tanto tempo sem nos encontrarmos... Vai...
aceita!

— Essa ideia vai custar ao Ribeiro um castigo infernal!

— Ah, vai nada... — Será que ia? — Não vai não, né, pai?
Ele gargalhou.

— Para te ver sorrir, não darei nenhum castigo a ele, raio de Sol. Mas
para você o castigo vai ser me ajudar com o equipamento.

— Yes! Ajudo sim.


Beijos roubados

Eu e papai já estávamos com tudo pronto quando os carros


começaram a chegar. Fomos juntos recebê-los na varanda.
— Sejam bem-vindos — papai disse primeiro.

— Entrem, por favor.

Eles eram muitos. Treze alunos do curso e dois funcionários do centro


de treinamento. Meu pai guiou um grupo que entrava animado. Eu permaneci
ali, esperando meus queridos amigos de equipe, para entrar na companhia
deles.
Garcia já chegou me elogiando:

— Você fica perfeita de vermelho, tigresa.

— Obrigada.
— Você fica perfeita de qualquer jeito. E suspeito que sem nada fique
ainda mais espetacular.

A malícia explícita de Adam, sacana como sempre, fez meu estômago


gelar.

— Aposto que por baixo há uma lingerie que também é vermelha...


Ardente...
O comentário veio de Raul, e aquilo me arrancou um suspiro.

Apenas com palavras eles já estavam à beira de me levar à loucura. E


para piorar, todos estavam arrumados, perfumados, lindos ... Era perturbador
encarar qualquer um deles por muito tempo e resistir à vontade de me atirar
naqueles braços fortes e atacar aquelas bocas...

Aaaaahhhhh, pare de desejar esses homens!!!!!


— Vão ficar sem saber.

— Ah, não. Eu vou morrer de curiosidade imaginando qual é a cor de


sua calcinha... — Pablo sussurrou, o que fez eu me encharcar na hora.

Eu desejo esses homens.


Ahhh! E como desejo...

— Então está bem... quero vocês todos vivos. É vermelha mesmo. E a


liga na minha coxa esquerda também.

Acelerei o passo e imaginei os sete descendo o olhar para o meu


traseiro, que não parou de rebolar até chegar ao quintal. Apontei a mesa e as
cadeiras e eles se espalharam.
— Rapazes, tem cerveja aqui no freezer, podem ficar à vontade.

O jeito acanhado dos homens com meu pai me fez sorrir. Demorou
um pouco, mas um a um, todos foram se soltando e interagindo em volta da
mesa farta, se deliciando com as carnes que meu pai não parava de servir e
com a cerveja gelada.
— Não vai beber, Mitchell? — Rodrigues perguntou.

— Por favor, não estamos em treinamento, pode me chamar de


Summer mesmo. Até o Comandante está me chamando assim hoje... Estou
bebendo muito pouco hoje. Exagerei ontem.
Sorri e passeei os olhos por todos os meus desejos.

Sim, eu os desejava. Então eram meus... meus desejos.

— Gente, podem comer à vontade... — Ao terminar a frase, percebi


vários olhos brilhando em minha direção. — A comida... A comida está uma
delícia. Já provei de tudo um pouco.
— É verdade. — Meu pai sorriu, se aproximando da mesa. —
Summer já enfiou a colher em todos os pratos. Se ela não morreu até agora,
podem estar certos de que a comida não está envenenada.

Eles riram.

— Só falta minha torta de limão. Vou pegar.


— Pode me dizer onde fica o banheiro, Summer? — Adam
perguntou.

— Claro, venha comigo.

Não tive tempo de entrar na cozinha. Ele me prensou contra o balcão,


segurou minha nuca e procurou meus lábios com um beijo intenso e
profundo.
— Tá... louco...

Ele voltou a me beijar. Eu correspondi, puxando-o para mim,


enfiando a língua em sua boca. Ele a chupou com voracidade e eu o empurrei
novamente.
— O Comandante pode aparecer e...

Ele inclinou a cabeça rapidamente para o lado.

— Ele tá na churrasqueira ainda.

Voltamos a nos beijar. Passei a mão por cima de sua camisa e pelo
peito forte, ele escorreu a mão por minha cintura e pelos meus quadris até
apertar a dobra de minha bunda. Eu estava pronta para me sentar no balcão.

Eu tinha que dar para um deles aquela noite. Meu Deus!

Ouvimos passos, e Adam se afastou. Abri a geladeira e peguei a


garrafa de água. Pablo entrou em seguida.

Sorri com o coração tão acelerado que pensei que ele ia sair pela boca.

Puta merda, aquilo estava ficando perigoso demais!


Peguei um copo e servi água a Adam, que bebeu de uma vez. Ele
encarava o amigo, sério e meio chateado.

— Eu vim beber água também — Pablo explicou e eu me virei para


pegar um copo para ele.

— Vou voltar para a mesa — Adam falou e saiu da cozinha.

Estendi um copo cheio para Pablo e ele o deixou sobre balcão ao


nosso lado.

— Estava beijando o Adam? — Foi direto, aproximando-se.

— Eu... eu...
— Eu também, Summer... Estou louco para te beijar também.

— Você não se incomoda? De me beijar... sabendo que acabei de...


beijar seu amigo?
— Se eu me der bem ganhando um beijo seu, não.

— Eu tô muito ferrada...

Ele deu um meio sorriso canalha antes de tocar meus lábios com os
dele. Foi tão delicioso quanto o de Adam, mas tão diferente... Ele demorou-se
sugando meus lábios antes de aprofundar o beijo.

— Pablo...

— Sei.

Afastou-se querendo continuar, mas sabia dos riscos que corria.

— Estou feliz com o beijo. Cada vez fica melhor.

Ele pegou o copo e jogou a água na pia.


— Não vai beber? — perguntei.

— E tirar seu gosto dos meus lábios? Não, deixe ele aqui por mais um
tempo.

Saiu da cozinha. Peguei o copo que ele deixou sobre a pia e o enchi,
bebendo dois copos em seguida. Escutei novos passos e pensei quem poderia
ser.

Eu não estava preparada para mais emoção. Eu me virei e vi meu pai


entrando.

— Está fazendo o que aqui, filha?

— Ah... Oi, papai. Eu vim... Vim... Vim pegar a torta... Isso. Vim
pegar a torta.
— Ah, ótimo, vida. Vamos voltar para a festa. Acho que está na hora
de colocar o karaokê para funcionar.
— Agora mesmo, papai.

Cheguei, interrompi o som e ajeitei o notebook com uma lista de


músicas.
— Gente, vamos preparar o som para um karaokê e...

Vi o espanto no rosto de todos. Parecia que eu estava falando em uma


língua obscura e que ninguém estava entendendo nada.

— Você podia começar, Ribeiro, já que foi ideia sua — meu pai
disse.
Vi o momento em que Ítalo cuspiu a cerveja fora.

— Minha ideia, senhor?

Ele foi pego de surpresa e não conseguiu disfarçar. Eu tive que


intervir.
— Sim, Ítalo. Quando conversamos hoje à tarde, na lateral da casa. —
Fiz diversas caras e bocas para ele.

— Ahhhh... claro. Eu não imaginei que ia mesmo levar a sério a nossa


conversa... Era brincadeira.

— Tivemos um trabalhão para trazer tudo isso aqui para fora, então o
senhor pode tratar de cantar.
Meu pai fingiu estar bravo e Ítalo se levantou mais pelo medo do que
por vontade.

— E eu vou cantar o quê?

Tadinho. Meti ele em uma fria. Resolvi socorrê-lo.


— Eu canto contigo. Mas vou precisar de álcool para isso.
Fui até a mesa e virei de uma vez um copo de cerveja.

— Bebendo assim você canta até em alemão — Lopes falou


brincando.
— Vai com calma, Summer. — Enrico era sempre tão preocupado...

Pisquei para ele e falei baixinho.

— Você é o próximo a cantar comigo.

— Nem sonhando. Não inventa.

— Já pode ir escolhendo uma música.

— Só se for para te fazer passar vergonha.


— Aceito.

Girei o corpo e dei de cara com Ítalo, parado, me encarando.

— Sorry. — Formei a palavra com os lábios, sem emitir som.


— Já escolhi.

— Ei, cuidado com o que vai escolher. Não sou familiarizada com as
músicas daqui.

— Aceite as consequências. Eu faço a primeira voz e você é a


segunda.
— Tá bom.

Como que eu vou dizer pra ela

Que eu gosto do seu cheiro, da cor do seu cabelo,


Que ela faz minha pupila dilatar?
Eu tentei seguir o ritmo que ele havia imposto:

Eu quero dizer pra ele

Que a rima fez efeito,

Agora, eu penso o dia inteiro:


Só ele faz minha pupila dilatar

Cantamos o próximo trecho juntos, olhando um para o outro e


sorrindo:

Ta tara tara
Ta ta ta

Ta tara tara

Ta ta ta

Ta tara tara

Taa

Ele deu continuidade:

Sabe, depois que eu te conheci,


Ficou difícil de viver.

Eu fico aqui imaginando coisas com você, viu?

O nosso som é parecido,

Será que isso é obra do destino?

Pensando bem, contigo até combino.

Como que eu vou dizer pra ela

Que eu gosto do seu cheiro, da cor do seu cabelo,


Que ela faz minha pupila dilatar?

Ele indicou o momento em que eu devia entrar:

Eu quero dizer pra ele

Que a rima fez efeito.

E agora, eu penso o dia inteiro:

Só ele faz minha pupila dilatar.

Ta tara tara
Ta ta ta

Ta tara tara
Ta ta ta

Ta tara tara

Taa

Faz de conta que eu te conheço bem.


Quero algum atalho pra te convencer

Que a gente se combina, só você não vê.

Mas eu vejo, eu vejo, ah!


Ensaio no espelho pra tentar ligar,

Invento mil acasos pra te esbarrar por aí...

Não sei o que eu faço...


Eu quero mais, eu quero mais de ti...

Ítalo retomou:

Como que eu vou dizer pra ela

Que eu gosto do seu cheiro, da cor do seu cabelo


Que ela faz minha pupila dilatar?

Eu quero dizer pra ele


Que a rima fez efeito.

E agora, eu penso o dia inteiro:


Só ele faz minha pupila dilatar.

A essa altura, nós dois já estávamos em sintonia:

É bom demais querer alguém!


Eu quero você (E eu quero você)

Eu quero você!

É bom demais querer alguém!


E é você que eu quero (E é você que eu quero)

E é você!

Como que eu vou dizer pra ele

Que eu quero aquele beijo,

Que eu sei guardar segredo?

Ninguém precisa nem desconfiar...

Eu quero dizer pra ela

Que eu amo o seu jeito,


Que o seu óculos é maneiro,

Que ela faz minha pupila dilatar

Ta tara tara
Ta ta ta

Ta tara tara

Ta ta ta

Que ela faz minha pupila dilatar

Ta tara tara
Ta ta ta

Ta tara tara

Ta ta ta
Ta tara tara

Taa

(Pupila - Anavitória)

— Adorei essa música!

Dei vários pulinhos, rodando de alegria e acabei encarando meu pai,


que sorria para mim.

— Você canta muito bem, Summer — Ítalo reconheceu.

— Obrigada.
Voltei até a mesa e tomei mais um gole de cerveja.

— Sua vez, Enrico.


— Por que você sempre me chama para essas enrascadas?
— Se não quiser se enrascar comigo, eu chamo outro.

— Eu vou, Summer. — Ele ergueu-se e me acompanhou. — Eu


escolhi uma música que é um dueto entre Ben Harper e uma cantora
brasileira maravilhosa. Não sei se você conhece... Se chama “Boa
sorte “.
— Good Luck?

— Sim.

— Conheço. Gostei da ideia! Assim eu fico com a parte em inglês.


Pode ser?
— Ia sugerir isso.

Assim que a música começou, Enrico atacou:

É só isso.
Não tem mais jeito.

Acabou, boa sorte.

Não tenho o que dizer,

São só palavras,

E o que eu sinto
Não mudará.

Tudo o que quer me dar,


É demais.
É pesado.

Não há paz.

Tudo o que quer de mim,

Irreais
Expectativas,

Desleais.

That's it.

There is no way,

It's over, good luck.

I have nothing left to say.

It's only words,

And what l feel

Won't change.

Tudo o que quer me dar

(Everything you want to give me)


É demais,

(It's too much,)


É pesado.

(It's heavy.)

Não há paz.

(There is no Peace.)

Tudo o que quer de mim,

(All you want from me,)

Irreais
(Isn't real)

Expectativas,

(That expectations.)
Desleais.

Mesmo, se segure,

Quero que se cure,

Dessa pessoa

Que o aconselha.

Há um desencontro,
Veja por esse ponto:

Há tantas pessoas especiais...


Now even if you hold yourself,

I want you to get cured

From this person

Who advises you.

There is a disconnection.

See through this point of view:


There are so many special people in the world...

So many special people in the world in the world...

All you want...


All you want...

Tudo o que quer me dar

(Everything you want to give me)

É demais,

(It's too much,)


É pesado,

(It's heavy,)
Não há paz.

(There is no Peace.)
Tudo o que quer de mim,

(All you want from me,)

Irreais

(Isn't real)
Expectativas.

(That expectations.)

Desleais.

Now we're falling (Falling)

Falling (Falling)
Into the night(Into the night)

Falling (Falling)

Falling (Falling)

Into the night(Into the night)

Um bom encontro é de dois...

Now we're falling (Falling)


Falling (Falling)

Into the night(Into the night)


Falling (Falling)

Falling (Falling)
Into the night

(Boa Sorte/Good Luck - Vanessa da Mata feat. Ben Harper)

Eu estava explodindo de tão empolgada.


E percebia que o clima da festa estava muito leve. Os rapazes das
duas equipes agora formavam uma grande família, misturados, como deveria
ser sempre.

Papai não devia tê-los separado em equipes. Dava para sentir que eles
eram todos próximos. Percebi Garcia e Raul se aproximando e pedindo a vez.
Enrico foi para a mesa conversar com Silva e me aproximei de meu pai. Os
rapazes começaram uma canção que eu não conhecia:

Oh oh oh
Oh oh oh

Ela me hipnotizou,

Quase que paralisou,

Deixou marcas em meu rosto mesmo sem batom.

Se ela me chama eu vou,


O que ela pede eu dou,

Desaprendi a dizer não.


É toda alto astral,

Sereia de água e sal,

O samba enredo do meu carnaval.

É brincalhona até falando sério,

Um livro aberto cheio de mistérios.

Eu vou seguindo os seus passos,

Descobrindo fatos sobre você,


Escalando alto pra te merecer.

É, é, eu vou, eu vou
Surfando as ondas do seu cabelo.

Sua beleza é um exagero.

Tô jogado aos seus pés tipo Cazuza,

Vidrado nos seus olhos de Medusa.

Ela me hipnotizou,

Quase que paralisou,


Deixou marcas em meu rosto mesmo sem batom.
Se ela me chama eu vou,

O que ela pede eu dou,

Desaprendi a dizer não.

(Hipnotizou – Melim)

— Me dá um pedacinho daquela picanha deliciosa?

Papai cortou uma lasca de carne e a entregou para mim, espetada em


um garfo.
— Está muito divertido, não é?

— Está sim, vida. Estou mais feliz ainda por perceber que você está
gostando.

— Estou e muito. O senhor devia ter chamando sua paquera.


— Summer! Não comece!

— Ora, falo sério!

Os rapazes conversavam, descontraídos. Bebiam e comiam com


vontade. Silva e Rodrigues assumiram o karaokê e ri quando os outros
rapazes começaram a tirar onda deles.
— Deixem os dois se divertirem — gritei. — Depois temos que cantar
algo juntos, seu Lúcio.

— Nem pensar.

— Já vai pensando. Quero uma bem antiga. Antiga mesmo. Daquelas


que cantávamos quando eu era criança.
— Não apronta comigo, menina.

Apenas sorri e voltei para o meu lugar. Peguei o copo de Garcia e


bebi um imenso gole de cerveja. Eles apenas me olharam, sérios.
— O quê? Só um gole, gente.

Não falaram nada. Eu mordia a ponta da unha imaginando como eu ia


fugir com um dos meus desejos dali. Eu já havia beijado três deles naquele
dia, faltavam quatro e eu não podia ser injusta com nenhum, não é mesmo?
Fiquei de olho no meu pai, que estava se divertindo com a cantoria dos
rapazes, e, quando ele se virou, sussurrei no ouvido de Garcia:

— Quero te beijar. Como eu faço isso sem o Comandante perceber?


— Você quer beijar só a mim? — Ele respondeu com uma pergunta e
eu neguei com a cabeça, encabulada. — Imaginei. Quem você ainda não
beijou hoje?

— Você, Raul, Enrico e Uriel.

Ele sorriu:
— Então vamos elaborar uma estratégia infalível para você poder
completar essa missão.

— Sério?

Tomei outro gole de cerveja, nervosa com a declaração. Eles sabiam


uns dos outros. Eles sabiam e não se importavam. Sabiam, não se
importavam e deviam me achar uma devassa, uma qualquer e...
— O que está te preocupando, anjo? — Enrico chegou, falando
baixinho, e segurou minha mão esquerda.

— Nada.
— Tem algo sim. Quando se preocupa, uma ruguinha se forma bem
aqui. — Ele apontou o meio da minha testa, perto das sobrancelhas.

— O senhor não vai cantar, Comandante? — Rodrigues perguntou.


— Eu não canto...

Eu o interrompi:

— Vou cantar mais...

Imediatamente me ergui e acenei para meu pai:

— Vem!

Ele negou com muita firmeza. Fui até ele e o arrastei pela mão até o
notebook.
— Vamos cantar o quê? Uma antigona.

— Não sei, Summer.

— Aquela da praia. Eu não lembro direito, era pequena...


— Da praia?

— Sim, que o casal se encontra só por um verão, se amam e ela parte.


É uma das músicas que mais me lembram o senhor...

— Sério? Eita, essa é velha mesmo... Não deve nem ter na playlist
do... olha só... tem!
Foi um sonho de verão...

Numa praia,

Quatro semanas de amor,


Em noites de luar,
Sob a luz das estrelas,

Eu e você...

O seu nome eu escrevi

Na areia
A onda do mar apagou...

Em cada pôr de Sol,

A saudade incendeia
Meu coração.

Te amo.
Não me esqueça,

O sonho não acabou.

Eu vou ficar te esperando,

Não quero dizer adeus.

Sem você, eu vou ficar


Tão sozinho

Quando o inverno chegar...


Mas quando o Sol nascer,

Vai ser tão lindo,


Eu e você.

O seu nome eu escrevi

Na areia.

A onda do mar apagou,


Em cada pôr de Sol,

A saudade incendeia

Meu coração.

Te amo.

Não me esqueça,
O sonho não acabou...

Eu vou ficar te esperando,

Não quero dizer adeus...

Sem você, eu vou ficar

Tão sozinho
Quando o inverno chegar...

Mas quando o Sol nascer,


Vai ser tão lindo.

Eu e você, eu e você, eu e você...


(Quatro semanas de amor - Luan e Vanessa)

Terminei de cantar em lágrimas. Aquela música me fazia recordar


momentos em que minha família era unida e meus pais ainda se amavam.
Papai sempre se empenhara em ajudar os outros e vivia fazendo parte de
Missões de Paz. Passava longos períodos em viagem. Sempre que voltava,
fazia questão de cantar comigo, e aquela canção sempre estava em nosso
repertório. As brigas entre os meus pais se intensificaram quando eu ainda era
menina e a separação foi inevitável.

Momentos como aquele me faziam tanta falta... E percebi que ele


também sentia isso.

Sem me importar com quem nos olhava, com segredos, disfarces ou


mais nada, virei-me e abracei meu pai, afundando meu rosto em seu peito.
Ele me abraçou de volta e, com o aparelho de som momentaneamente
desligado, todos podiam nos escutar.
— Eu te amo tanto — falei ainda emocionada.

— Eu também te amo, vida.

— Sinto tanto sua falta. Todos os dias.


— Eu também, meu amor... Prometo que tentarei te visitar nos
Estados Unidos no próximo ano.

— Promete?

Ergui os olhos ainda lacrimosos e ele os limpou.


— Prometo, raio de Sol. Não chore, parte meu coração.

Tentei sorrir para ele.


Quando olhamos para a mesa, vimos uma coleção de expressões de
surpresa e espanto. Não larguei meu pai, pelo contrário, o apertei ainda mais
pela cintura e apenas esperei a declaração que sabia que ele faria a seguir.

— Acho que é o fim do meu disfarce, papai.


— Eu acho bom, vida. Não aguentava mais ter que te tratar como uma
estranha na frente dos outros.

Ele chamou a atenção de todos e comunicou:

— Rapazes. Summer Mitchell Ferraz é minha filha. Nos desculpem


por termos ocultado isso de vocês.
Eles ficavam a cada minuto mais engraçados. Abriam e fechavam a
boca atônitos. Era impagável.

Mas havia tristeza em minha voz quando expliquei:

— Eu pedi para papai que não contasse nada, pois não queria ser
tratada de forma diferente no curso. Eu queria mesmo ser uma de vocês.
— E espero que isso não mude, rapazes. Summer queria muito
participar do treinamento, e eu permiti. Falem alguma coisa, homens.

Eles ainda se olharam por algum tempo, como se procurassem as


palavras certas. O silêncio constrangedor foi quebrado pela voz sensual de
Pablo, que se ergueu da cadeira e pronunciou:

— Minha vez de cantar, podem desocupar o karaokê?


Ri agradecida por ele desmontar o climão que se formou, e ele veio
em nossa direção. Começou a cantar “Bailando”, de Enrique Iglesias. Nos
refrãos, ele dançava e requebrava e eu fiquei ao seu lado, tentando
acompanhar seus passos. Ele me girava, fazendo todos gargalharem.
Yo quiero estar contigo, vivir contigo,

Bailar contigo, tener contigo

Una noche loca... (una noche loca)

Ay besar tu boca... (y besar tu boca)

Yo quiero estar contigo, vivir contigo,

Bailar contigo, tener contigo una noche loca...

Con tremenda nota...


(Ooooh, ooooh, ooooh, ooooh)

(Bailando - Enrique Iglesias)

— Venha aqui, Comandante, venha cantar uma música comigo —


Pablo chamou meu pai.

— Não, eu não. Já foi minha cota de músicas por hoje. Chame minha
filha.
Sentei-me perto dos meninos.

— Nada disso. Vamos, escolha uma música, homem. Também não


conheço muitas músicas brasileiras. Pode ser Roberto Carlos?

Pablo acertou em cheio. Meu pai era muito fã do Roberto.


— Então deixa eu escolher esta música, Alfaro.

Meu pai se animou.


— Quando eles começarem, vamos para a frente da sua casa. — Ouvi
a voz de Raul em meu ouvido e todos os pelos do meu corpo se arrepiaram.

Olhei para trás e descobri olhos dissimulados me devorando. Vários


deles.
— Antes de o seu pai acabar, eu vou assumir outra música com ele —
Ítalo disse. — Já que a ideia foi minha.

E meu pai começou a cantar. Senti gelo e fogo correrem em minhas


veias. O que será que eles tinham em mente? Vi que Garcia já não estava
mais na mesa. Uriel se ergueu e saiu para o corredor lateral externo. Raul
escapuliu para dentro da casa.

— Gatinha, está perdendo tempo. Vá para a cozinha — Adam disse.


— O que...

— Vá para a cozinha. Você não tem muito tempo — Ítalo lembrou-


me e eu me ergui.

Minhas pernas tremiam, mas fui. Assim que pisei na cozinha, duas
mãos fortes me seguraram e me puxaram para o lado. Eu estava de frente
para Raul e Uriel.

— Já beijou dois caras ao mesmo tempo? — Uriel perguntou.

— N-não.

Ele me beijou, provando meus lábios e senti a boca de Raul em minha


orelha e descer por meu pescoço, fazendo um caminho pelo meu queixo. Eu
ainda chupava a língua de Uriel quando ele se afastou e a segunda boca
assumiu. Foi a vez de Uriel lamber e beijar meu ombro direito. Eu deixava
Raul invadir minha boca e sentia as mãos dos dois em meu corpo.
Meu Deus, eu estava completamente perdida!

Raul era muito intenso e, quando pensei que iria se aprofundar, ele
deu passagem para Uriel voltar a meus lábios. Ele era muito sedutor, assim
como seus beijos. Ouvi Raul sussurrar.
— A primeira música acabou.

Uriel não demorou, e Raul deu um último beijo apressado.

— Não saia daqui, bella!

Uriel pediu, sumindo pela cozinha rumo à porta dos fundos,


acompanhado por Raul, que antes de sair deu um rápido assobio.

Uma sombra enorme surgiu vinda da sala e Garcia assumiu o lugar


que antes era ocupado por dois. Ele segurou meu rosto com delicadeza e se
inclinou para me beijar. Exigindo tudo que eu podia dar.

— Gostou da estratégia que eu tracei?


— Adorei.

Ele voltou a me devorar e me tomar, prensada contra a parede.

— Ainda falta um, Garcia...

— Enrico tem todo um código de ética que o impede de fazer algumas


coisas...

— É?

— Eu tenho a impressão de que só pode ser isso para ele ser tão
certinho.
Me deu um último beijo fogoso que me acendeu inteira.

— Vou voltar para mesa. Não vá de imediato e saia pela porta dos
fundos.

— Entendido, senhor estrategista....

Ele já ia em direção à porta da frente, imaginei que daria a volta na


casa.

— Garcia.

— Oi?

— Obrigada.

— Disponha sempre, tigresa.

Meus lábios estavam inchados. Meu Deus, que loucura. Entrei e fui
até o banheiro do meu quarto. Passei água atrás do pescoço tentando refrescar
o calor que sentia. Eles estavam sugando toda minha sanidade com cada beijo
que me davam.
Encarei-me no espelho e não reconheci aquela mulher. Falei comigo
mesma:

— Quem é você, nova Summer? A antiga Summer era insegura e


medrosa. Não era uma mulher que ficava com sete caras ao mesmo tempo.
Eu era a mulher que ficou com o mesmo namorado a vida toda. Que só havia
beijado ele, só havia transado com ele... Agora estava ali, desejando entregar-
me para aquelas sete tentações.

Saí do quarto ainda nervosa e segurei meu celular. Escrevi uma


mensagem e a enviei para Maisie.
Summer: Amiga, eu vou ficar louca. Eles estão me deixando louca.
Eles sabem que estou a fim deles, de TODOS, e aceitam isso... Será que
esperam que eu escolha com qual deles quero ficar? Porque não quero ter
que escolher. Será que você me entende? Eu vou pirar, Maisie... Eles não
param de me provocar e de me beijar. O que faço?

Summer: E antes que pergunte: são todos eles me provocando ao


mesmo tempo.
Summer: E para piorar tudo, estou me achando uma vadia fácil que
quer dar para todos. Será que eles acham o mesmo de mim?

Ouvi batidas na minha porta:

— Vida? Tudo bem?


— Oi, papai. Pode entrar. Estou bem sim.

Ele abriu a porta:

— Você sumiu da festa.


— Eu vim mandar mensagens de feliz Natal para mamãe e para
Maisie. Durante o dia, eu esqueci.

— Ah. Então fique à vontade, querida. Quando acabar, volte.

— Volto já, papai. Se divertindo?

— Muito, raio de Sol.

— Agora todos sabem que sou sua filha...

— Na verdade achei ótimo, assim esse monte de homens saberá qual


o lugar deles. Bem longe da filha do Comandante.
— Isso mesmo, papai. Se eles já não se aproximavam de mim,
imagine agora!

— Vou deixar você com suas mensagens. Sei que quando começa a
conversar com Maisie, demora um tempão.
— Provavelmente. Obrigada, papai. Volto logo.

— Tudo bem, filha.

Ele saiu do meu quarto e olhei novamente o celular. Maisie ainda não
havia visualizado nada. Enviei mensagens fofas para minha mãe, que
respondeu quase imediatamente com uma dose ainda maior de fofura. Deixei
o aparelho em cima da mesinha ao lado da minha cama e peguei a máquina
fotográfica. Ao pousar a mão no trinco, o senti girar e a porta ser aberta. No
instante seguinte, Enrico surgiu à minha frente.

— Eu não costumo fazer essas coisas, anjo. Eu não sou homem de


invadir o quarto de uma mulher e... — Ele olhou fixamente para os meus
lábios. — Eu não sou homem que divide quem deseja com mais ninguém,
mas...

— Me beije.
Ele me beijou.

Ahhhh... Pronto!

Podem vir ETs.

Pode cair um meteoro.

Pode se abrir um buraco no chão e me levar.

Podia morrer.
Eu estava completa aquele dia.

Eu estava feliz!

Flutuando no beijo delicioso que era o de Enrico. Ele me colava em


seu corpo enorme e musculoso. Meus dedos brincavam com sua barba por
fazer e apertavam sua nuca, ao mesmo tempo que ele fazia pressão em minha
cintura e em meus quadris exigindo mais aproximação.

Delicioso, delicioso, mil vezes delicioso.

Ele tentou se afastar e eu o puxei de volta. Ele sorriu antes de voltar a


me beijar.

— Precisamos... voltar se... quisermos que... ninguém desconfie... de


nada.

— Eu quero... mais... Enrico.

Ele me encarou e vi a luxúria brilhar ali. E tinha certeza de que ele via
a mesma coisa em meus olhos.

— Não podemos, anjo... O Comandante... Porra, Summer, o


Comandante é seu pai!

— É.
— Isso vai complicar tudo, anjo.

— Não vai não.

— Vai sim. Mas vamos dar um jeito. Se você quiser.

— Vamos?

Ele sorriu e beijou meus olhos com carinho.

— Vamos. É melhor você voltar para a festa. Eu vou dar um tempo


por aqui.
— Enrico...

Não falei mais nada, apenas o beijei novamente, agora de forma doce
e calma. Ele saiu do quarto e eu voltei para a festa, que durou até a
madrugada.
Meu pai aparentemente não havia desconfiado de nada, e por vários
momentos eu consegui trocar pequenos carinhos com os rapazes. Uma mão
dada, um toque na coxa, um ombro com ombro. Eram pequenos gestos,
demonstrações sutis, mas que nos faziam sorrir. E quando a casa ficou vazia,
senti falta deles.

Imediatamente.
Banho no lago

Acordei depois das dez da manhã. Estava preguiçosa e me estiquei,


manhosa. Peguei o celular e descobri que Maisie havia respondido:
Maisie: Oi, amiga, só agora vi que você me escreveu. Desculpe. Em
primeiro lugar, não se julgue dessa forma. O corpo é seu, a vida é sua, você
tem direito de ficar com quem, quantos, quando e como quiser... Viva,
Summer. Pelo menos uma vez na vida, viva!!!!!

Maisie: Volte dessas férias renovada, outra mulher. Que se descobriu


e aprendeu a viver. Logo você vai estar largada nesse mundão, tirando suas
fotos sabe lá Deus onde e tendo que lidar com novas situações.

Maisie: Posso dar um conselho de amiga? Se eu fosse você, eu teria


uma conversa com eles. Diria o que está sentindo e tentaria entender o que
esses caras têm em mente. O que desejam com toda essa sedução: se é te
fazer escolher apenas um deles ou se é te dar a opção de ficar com todos
(torço ardentemente que seja a segunda!).
Maisie: No mais, estou por aqui, querida. Hoje estarei em casa.
Papai está animado com um novo amigo que chegou do Brasil. GATO. Vou
ficar por perto, sondando e conhecendo-o melhor. Beijinhos. Mande um
beijão para o seu pai e um feliz Natal para ele.

Sorri com a última mensagem. Eu me levantei, fiz minha higiene


pessoal, vesti um biquíni, uma calça de lycra, uma camiseta, calcei os tênis e
prendi os cabelos. Enviei uma mensagem para Maisie antes de sair do quarto:
Summer: Obrigada, amiga. Você é a melhor. Ainda estou meio sem
saber o que fazer, mas acredito que logo vou descobrir.

Não encontrando meu pai na casa, peguei um iogurte na geladeira, fui


para o quintal e lá estava ele, conversando alegremente com Silva.

— Bom dia, rapazes — cumprimentei e beijei meu pai no rosto.


— Bom dia — responderam.

Sentei-me à mesa junto com eles.

— Vai correr, filha?


— Vou, papai. Melhor não parar o corpo, já que retomamos as
atividades amanhã e só o senhor sabe o que exigirá de nós.

Ele riu.

— Vocês dois surpreenderam a todos — Silva falou. — Ninguém


suspeitou que eram pai e filha.
— Não mesmo? — papai perguntou.

— Claro que não, Lúcio. Mesmo porque você colocou Summer de


castigo na primeira oportunidade.

— Essa mocinha foi muito ousada. Mereceu.


— Ah, que é isso? O senhor abusou um pouco... Sabia que eu estava
me borrando de medo lá em cima daquela ponte de cordas ridícula. E eu não
tenho a experiência dos rapazes, como podia exigir que eu competisse em
tempo com eles? Não foi justo, papai. Um dia o senhor terá que admitir.

Ele gargalhou.
— Uma coisa é certa: ela puxou muito de você. — Silva também ria.
— Bem, vou andando. Tchau, gente.

— Tchau, Silva — nos despedimos.

— Dormiu bem, vida?


— Sim. E o senhor?

— Muito bem. Me diverti muito ontem.

— Então devia fazer mais esses encontros. Não esperar apenas por
Natais. Poderia fazer sempre no final de cada curso, como uma despedida
para os rapazes que estiverem concluindo. Seria legal, o que acha?
— Hum, não é uma má ideia.

— Antes que eu esqueça, a Maisie mandou um feliz Natal para o


senhor.

— Ah, muito simpático da parte dela. Mande para ela também.


O telefone dele tocou, ele encarou o visor e me olhou.

— Pode atender, papai.

— Hum... Alô... Também. Sim. Não sei se posso hoje... Não é por
isso... Hoje é Natal e eu não queria deixar minha filha sozinha novamente...
Quase joguei meu iogurte no chão e acenei para ele como uma louca
desvairada.
— Ela quer sair contigo? Ela quer? Hoje?

Eu sussurrava e tentava gesticular ao mesmo tempo. O coitado tentava


dividir a atenção entre a ligação e a doida à sua frente e apenas assentiu.
— Aceite, papai. Aceite.

— Só um minuto, por favor. O que é isso, vida? Você vem de tão


longe e quer que eu passe a noite fora, longe de você?

— Ah, papai. Aproveite. A gente vai ficar o dia todo juntos. Se a


mulher quer te encontrar e o senhor tem a opção de passar uma noite bem...
Como dizer aquilo sem me constranger e constranger papai?

— ...legal... Aproveite! Eu não vou embora amanhã, lembra? Ainda


vou ficar no Brasil alguns dias, vamos aproveitar muito.

Ele me encarou sério e voltou à ligação.


— Oi. Sim, conversei com ela agora. Ela me liberou para passar a
noite contigo.

Ele riu um pouco encabulado, pois brincara com a palavra liberou.

Era um lindo meu papis fofo!!!

— Sim, poderei passar a noite aí, mas tenho que estar de volta às
cinco. Amanhã recomeçamos os treinos. Tá ótimo. Chego aí lá pelas nove.
Até à noite. Tchau.

— Quando eu vou saber o nome dela?

— Ainda estamos nos conhecendo. Se ficar sério, a gente vê...


— Ah, traga ela aqui em casa qualquer dia para eu conhecê-la antes
de partir. Quero bater um papo sério com ela, saber se ela vai tratar bem meu
pai. Tenho que mostrar à madame com quem ela vai ter que lidar caso
machuque seu coração.

Ele gargalhou e se levantou, me abraçando forte.


— Eu te amo, filha. Mas não se preocupe. Normalmente sou eu quem
machuca corações, lembra?

— Ah, papai. Os tempos mudaram... Você sabe onde errou com a


mamãe e não vai mais repetir os erros. Bem, vou para a minha corrida. Até
mais tarde, papai.

Passei por dentro de casa e joguei a embalagem de iogurte no lixo.


Peguei uma garrafa de água e parti. Saí correndo pelo caminho que me levava
na direção do campo de treinamento. De carro eram menos de cinco minutos,
mas era uma boa corrida.
Cheguei ao pátio já suada e vi alguns rapazes fazendo exercícios.
Acenei para eles.

Aff! Três dos meus desejos estavam lá, fazendo abdominais, só de


shorts: Pablo, Uriel e Adam.

Eram uma tentação aqueles homens...

Chutei uma pedra e por muito pouco eu não fui ao chão com o
tropeção que levei, pois patinei no cascalho por alguns segundos. Ai que
vergonha. Ai que vergonha. Isso que dá não olhar por onde anda e ficar
cobiçando os maravilhosos corpos alheios. Foquei na estrada à frente e
continuei minha trajetória.

Queria chegar ao lago.

A mata estava tão calma... Uma delícia...


Imediatamente me arrependi de não ter trazido minha câmera.
Cheguei ao lago e parei para respirar. Meu coração estava acelerado e tomei
um longo gole de água. Fui até perto da margem ainda tentando controlar a
respiração e percebi roupas abandonadas em um tronco. Olhei novamente
para o lago e não vi ninguém. Olhei em volta e chamei.

— Olá? Tem alguém aqui?


Nada.

Escutei algo na água e percebi ondas se formando. Ainda estava


longe, mas braçadas revelavam o nadador se aproximando rapidamente. A
alguma distância ele parou e, ao me ver, sorriu. Ficou em pé com o tórax para
fora da água e passou as mãos pelos cabelos e pelo rosto.

Era Ítalo.
Quanto mais avançava, mais seu corpo ficava à mostra. Quando
estava próximo o suficiente para que a visão de seus pelos pubianos se
prenunciasse entre aquele “V” deliciosamente delimitado, logo abaixo de
tantos gominhos perfeitamente moldados, percebi que ele não estava usando
nada por baixo. E a minha certeza foi confirmada por suas palavras:

— Agora é aquela hora em que você se vira para eu poder pegar


minha roupa ou vai constatar se o documento aqui é do tamanho que vem
sonhando...

Abri minha boca surpresa e o calor subiu rápido para o meu rosto. Eu
me virei de solavanco e ainda cobri o rosto. Ah, como eu queria conferir se o
“documento” acompanhava toda aquela perfeição.
Ítalo era lindo, sabia disso e abusava dessa vantagem.

Senti o beijo frio em meu pescoço, perto do ombro.


— Hum, salgadinha. Pode se virar, moranguinho.

Virei-me dando de cara com seus olhos castanhos e o peito ainda


descoberto.
— Por que você nada pelado?

— Porque é uma delícia... Vai dizer que nunca nadou pelada?

— Claro que não!

— Então não sabe o que está perdendo. A sensação de liberdade é


incrível. — Ele afastou-se alguns passos sacudindo os cabelos e indo pegar a
camiseta. — Devia experimentar qualquer dia desses.

— Vai sonhando...

— Estava apenas correndo?


— E vim tomar banho no lago, mas você chegou primeiro.

— Que é isso, linda... Fique à vontade. Eu já saí. Não corre mais


nenhum risco de uma cobra te picar. — Ele sorriu safado. — Se quiser, posso
ir embora, ou... posso ficar e apreciar a paisagem. Eu adoraria que escolhesse
a segunda opção.

— Desisti do banho...
— Não desista, moranguinho. Por favor, nos dê de presente a visão
desse seu corpo lindo em um biquíni, que espero que seja tão minúsculo
quanto suas calcinhas.

— Como assim nos dê? Só tem você aqui...

— Acha mesmo que seu cheiro de fêmea não vai atrair outros seis
machos em questão de segundos? Não passou por nenhum dos rapazes
enquanto vinha para cá?
— Passei e...

— Então, eles já estão chegando. Confie em mim.

— Mais um motivo para não entrar na água e ir embora antes que...

— Ah, moranguinho. Pare de brincar conosco.

Ele segurou meu braço e encostou o nariz no meu pescoço cheirando


profundamente ali. Sua língua deslizou morosa pelo comprimento dele até
sua boca envolver o lóbulo de minha orelha.

— Eu... eu não estou brincando com ninguém... Ítalo.

— Então pare com esses joguinhos, arranque essa roupa e vá tomar


seu banho tranquila.

Ele se afastou e sentou-se no tronco onde há pouco estava sua roupa.

Eu nunca precisei de tanta força de vontade para evitar avançar sobre


uma mulher do que quando estava perto de Summer. Ela estava deixando não
apenas eu, mas todos os meus companheiros, alucinados. Todos estávamos
loucos para comer essa garota, mas esperávamos por ela, pelo desejo dela de
se entregar a um de nós. Para que ela perdesse algum medo que ainda a
impedia de avançar sobre nós, ou que ela desse permissão que avançássemos.

E para piorar toda a situação, descobrimos que o Comandante era seu


pai.
Ela ficou ali, em pé, parada por um tempo, com aqueles grandes olhos
azuis fixos em mim. Tirou primeiro um dos tênis, depois o outro...
Porra, ela ia entrar mesmo na água!

E só eu estava ali para apreciar aquilo...

Tomara que os rapazes demorem um pouco mais para chegar.

Tirou as meias e, quando ajeitou a postura, virou-se de costas. Puxou


a camisa e vi as tirinhas e os lacinhos do biquíni. Escutei ruídos na mata e,
quando vi os outros chegando, pedi silêncio com o dedo à frente da boca.
Eles se aproximaram sorrateiramente.

Meu pau já estava inchado e apertado dentro da boxer e do short. Ela


estava longe de estar nua, mas já era o suficiente para me deixar babando. A
calça de lycra cobria a parte inferior de seu corpo, mas modelava de forma
precisa as duas bandas da bunda, afirmando sem sombra de dúvida que ela
estava de fio dental. Algo que eu ansiava por ver novamente, mas não apenas
por alguns segundos graças a algum vento safado que parecia estar sempre do
nosso lado. E foi quando ela segurou as laterais da calça e inclinou-se para
retirá-la.
PUTA QUE PARIU.

Summer abaixou-se em uma inclinação perfeita, sem dobrar os


joelhos e por um instante foi possível observar na contra luz a fresta
iluminada que se formava entre sua boceta e suas coxas. Eu já passava a mão
por cima do calção, sem conseguir conter a dor dos latejos que vinham dele.
O triângulo do biquíni era minúsculo e deixava seu traseiro todo exposto. Ela
não olhou para trás e entrou no lago, nadando para longe.

— Eu vou entrar também.


A voz de Adam estava carregada de ansiedade e, quando olhei de
lado, a bermuda dele montava uma barraca.
Eu ri, mas fiquei sério quando avisei:

— Ei, cara, não! Eu sabia que vocês não demorariam e prometi a


Summer que nenhum de nós entraria.
— Você não podia ter prometido por nós, seu filho da puta.

— Podia sim e prometi. Ou ela nem ia entrar na água.

— Olha essa minha situação, Ítalo. Eu preciso comer essa mulher...

— E você acha que está tudo tranquilão aqui embaixo? — Apontei


para o meio das minhas pernas. — Na verdade, você acha que qualquer um
de nós está diferente? Olha os outros caras. Estão todos loucos para comer
essa mulher, mas não depende de nós, seu puto escroto.

Eu me chateei e fui até a roupa de Summer, que recolhi do chão e


coloquei em cima de uma pedra perto da água.

Enrico interferiu com sua seriedade e sabedoria:


— O Ítalo tem razão, Adam. Não depende de nós se alguém aqui vai
conseguir ou não ter algo a mais com Summer. E se cada um começar a
pressioná-la demais, ela pode simplesmente se afastar. Haja o que houver,
tem que partir dela e sempre será dela a última palavra. É ela quem vai
decidir.

Pablo concordou, resignado:

— O máximo que podemos fazer é provocar e ter esperanças.


Garcia não se conteve:

— Vou para o banheiro do alojamento. Eu preciso me aliviar de


qualquer jeito.

— Eu vou para o mato! Não vai dar tempo de chegar até o


alojamento. Vocês viram a luz atravessando o vão entre as pernas dela? —
Raul praticamente gemeu, passando a mão por cima da bermuda.

— Gente, ela está voltando — Uriel observou.


— Com é que se faz para disfarçar isso? — Adam estava desesperado
apontando para o pau.

— Cara, senta... Sentem todos. Deem um jeito — falei rindo da


situação. — Quando foi que nos enfiamos em algo assim antes?

— A resposta é nunca. Nunca estivemos todos a fim da mesma


garota, sem ter a menor ideia do que se passa na cabeça dela em relação a
nós... — A voz de Enrico estava chateada.
Ela nadou mais devagarinho quando percebeu a presença de todos nós
ali.

— Oi — ela falou ainda dentro da água.

— Oi, tigresa — Garcia respondeu.


— Oi — outros responderam.

Eu sorri para ela:

— O que eu falei? Tinha certeza de que eles iam aparecer...


— Verdade, você disse mesmo.

Uriel se mostrou cavalheiro:

— Bella, nós vamos indo para deixá-la à vontade para se vestir.


— Obrigada. Mas esperem um pouco... Vocês têm algum
compromisso hoje à noite?

— Hoje? — Pablo perguntou.


— Sim. A partir das nove da noite.

Adam se antecipou a todos, com convicção:

— Não. Não temos.

— Querem dar uma passada lá em casa?

Ela mexia de leve os braços dentro da água.


Enrico ficou desconfiado:

— Na sua casa, anjo? E seu pai?

— Ele vai para São Paulo. Eu estarei... sozinha. A noite toda...


Droga de pau traidor. Pau traidor que lateja quando não devia.

Nos olhamos.

O convívio intenso, num trabalho que exigia comunicação e


compreensão imediatas, fazia com que tivéssemos um jeito só nosso de
entender o que se passava na cabeça dos outros, apenas com uma troca de
olhares. Era muito fácil conversarmos daquela forma.
Era evidente a intenção de todos.

— Claro, moranguinho. Estaremos lá... às nove.

— Legal. Espero vocês.


Ela vai esperar a gente.

Puta merda.

Dei a volta no tronco, ainda agachado. Somente quando fiquei de


costas para ela foi que me levantei e sai em direção à mata.
— Até mais tarde, Summer. — Me despedi e escutei meus colegas
fazendo o mesmo.

Voltamos juntos, conjecturando o que esperar daquela noite.


Um acordo inusitado

Estava nervosa desde a hora que meu pai saiu de casa.


Eu havia tomado banho e me arrumado. Havia colocado algumas
bebidas para gelar e preparado uma tábua de frios para beliscarmos.

Que ideia havia sido aquela de convidá-los para vir aqui?

Achei que Maisie ia gostar de saber sobre isso:


Summer: Convidei os sete para virem aqui em casa hoje à noite.

Maisie: E seu pai?

Summer: Ele vai passar a noite fora.


Maisie: E o que os gostosões responderam?

Summer: Que virão!

Maisie: AAAAAAHHHHH!!! É HOJE QUE VOCÊ ABRE AS


PERNAS PARA ESSES CARAS, AMIGA!
Summer: Podia ser menos escandalosa...
Maisie: Um único conselho: aproveite.

Summer: Vou tentar. Mas e se o Travis descobrir? E se...

Maisie: E daí se ele descobrir? Vocês não deram um tempo?

Summer: Ai, estou nervosa.

Maisie: Por que amiga?


Summer: Eu não paro de pensar que as pessoas iriam pensar se
soubessem que estou me comportando assim. Eu com sete homens. Tenho
tanto medo de ser julgada por isso...

Maisie: Você quer dizer: uma mulher e sete homens? Quer dizer que
se fosse um homem com sete mulheres tudo bem? Isso não existe, amiga. Os
tempos são outros.

Maisie: A vida é sua e você pode fazer dela o que desejar. Se todos os
envolvidos sabem e concordam com o que vão fazer, se for bom para você, se
isso a fizer feliz e você conseguir se divertir com tudo que acontecer, deixe
que o resto do mundo te julgue. Nossa vida é curta demais curta para nos
prendermos a padrões e tabus.

Maisie: Viva, Summer. Viva amiga.

Maisie: Você sempre se podou a vida toda, querendo ser certinha,


educada e boa garota.

Summer: Ah, Maisie. Obrigada por estar a meu lado, me aconselhar


e me fazer entender que o que estou fazendo não é errado. Eu não estou
enganando ninguém. Eles estão cientes de tudo e se eu fizer mesmo essa
loucura, somos adultos e saberemos lidar com a situação.
Maisie: Isso mesmo, amiga. Espere esses homens chegarem e arrase.
A campainha tocou e dei um pulo do sofá.

Summer: Acho que acabaram de chegar.

Maisie: Então vai lá. Depois me conte tudo.

Summer: Combinado. Torça por mim.

Maisie: Vou ficar torcendo sim. Que alguém te coma hoje, amiga. Ou
melhor ainda... “alguéns”.

Summer: Ai, doida. Tchau.

A campainha soou novamente e fui atender. Abri a porta e eles


estavam todos do lado de fora. Os sete. De cabelos úmidos, perfumados,
lindos e gostosos.

— Entrem. Fiquem à vontade, temos sofá para todos. Bebem o quê?


— Tem cerveja ainda? — Raul perguntou.

— Claro, sobrou bastante de ontem.

Uriel apontou para a garrafa na mesinha de centro:


— Você está bebendo vinho, bella?

— Sim. Está servido?

— Eu adoraria.
— Quer ajuda com a cerveja?

Pablo se ofereceu e me acompanhou até a cozinha.

Eu coloquei as latas em cima da pia e pedi:


— Por favor, se puder levar algumas...

Ele carregou seis latinhas, Garcia pegou a tábua de frios e eu, uma
taça para servir Uriel.

Adam estava sentado no braço do sofá e eu peguei uma almofada,


jogando-a no chão e me sentando sobre ela.
— Sente no sofá, Adam, eu fico aqui perto da mesa de centro.

— Não, gatinha, senta aqui que eu fico no chão.

— Não é problema nenhum para mim ficar no...

O primeiro deles escorreu do sofá e sentou-se no chão. Um a um,


foram fazendo o mesmo e logo todos estavam sobre o tapete da sala, usando
os sofás para apoiarem as costas.

Bebiam e comiam cautelosamente.

Começava a se formar um climão: todos sabíamos que estávamos


loucos para nos pegar, mas ninguém tinha ideia de como começar ou mesmo
como conversar sobre aquilo.
— Rapazes, queria falar algo com vocês...

Ítalo me interrompeu:

— Nós também temos algo a dizer, Summer.

— Querem começar?

Uriel tentou começar, um tanto inseguro:

— Bella, acho que você já percebeu que cada um dos presentes aqui
está a fim de ficar contigo.
— E vocês? Já perceberam que eu estou a fim de... vocês?

— De todos nós? — Enrico perguntou.

Droga, justamente o único que havia me dito abertamente que não


gostaria de me dividir com ninguém... Ou algo assim... Eu estava tão louca
para beijá-lo novamente que não consegui me lembrar exatamente das suas
palavras.
E se ele não aceitasse que eu ficasse com todos? E se nenhum
aceitasse?
Abaixei o rosto e encarei a calça capri folgada que eu estava usando.
Eu enrolava a ponta do tecido procurando uma resposta. E se eles não
gostassem da minha resposta?

Garcia surgiu para aliviar um pouco meu coração:

— Tudo bem se você estiver a fim de todos nós, Summer.


— É isso mesmo. Estou a fim de todos vocês — falei passeando meu
olhar entre eles. — Mas...

— Mas o quê, guapa? — Pablo falou.

— O que vocês pensam sobre isso? Eu preciso saber!


— Nós conversamos muito, tentando... Summer, é importante que
você saiba que nós nunca fizemos algo assim antes — Raul explicou. —
Nunca nem havia passado pela cabeça de qualquer um de nós, aqui...
Compartilhar a mesma garota... entre todos... Entende?

Assenti, tentando assimilar suas palavras.

— Mas estamos muito a fim de ficar contigo, gatinha. Muito mesmo


— Adam era mais transparente em relação a seus sentimentos. — E
aceitaríamos até ficar contigo um de cada vez... um a cada dia, sei lá... como
você quisesse... se você aceitasse essa loucura.
— Um de vocês por dia? — Eu escutei certo?
— Parece loucura e a probabilidade de você aceitar é praticamente
zero, mas não conseguimos descobrir muito bem o que fazer ou o que propor!
Se você tiver uma ideia melhor... — Havia angústia na voz de Ítalo.

— Eu... — Virei o líquido rubro da minha taça de uma vez e respirei


fundo antes de continuar. — Eu estava preocupada com o que vocês iam
achar de mim por estar gostando dos sete ao mesmo tempo... apenas
gostando, entendam... Agora me pergunto o que vão achar de mim se eu... se
nós... se... se acontecer... se formos até o fim... se...

— Se todos nós transarmos contigo — Adam falou o que eu não tive


coragem.

— Éééé... O que vão pensar de mim...

Garcia interveio, com aquele vozeirão:


— Tigresa, você é claramente maior de idade, dona da sua vida e não
deve nada a ninguém. Se você nos deseja como te desejamos, acredite, não
vamos te pressionar um minuto sequer. Afinal isso tem que partir de você. E
só para que saiba, vamos adorar cada segundo ao seu lado e faremos o
possível para tornar nossos encontros especiais e inesquecíveis.

— Nossa... — Eu ainda estava nervosa.

— Que tal conversar com cada um de nós em particular, anjo? —


Enrico perguntou. — Pode ser mais tranquilo para você, para você poder
imaginar como pretende lidar com essa situação tão difícil. Depois podemos
nos reunir e tirar qualquer dúvida que tenha ficado das conversas particulares.
E escutarmos se vai aceitar ou não.
— Pode ser interessante, bella. Como aquele jogo em que se passa um
tempo no armário com alguém. Nos conhecermos melhor e...
— Sete minutos no céu? — perguntei. — Não estamos meio velhos
para isso?

— Poderia ser apenas cinco minutos... — Pablo pediu.


Eu sorri. Sabia o que cada um desejava era ter um tempinho para
aproveitar comigo. E eu ia adorar ter esse tempo com eles.

Garcia propôs:

— Vá para seu quarto e vamos sortear a ordem de entrada. Quando


ouvirem uma batida na porta, quem estiver lá dentro sai, dando a vez para o
próximo.
Eu ainda estava em dúvida:

— Sério? Vamos mesmo fazer isso?

Enrico reforçou:
— Só se você gostar da ideia, anjo.

Eu arfei de desejo.

Peguei meu celular, que ainda estava abandonado ali, e levei minha
taça até a mesa da cozinha.

— Até onde eu sei, vocês... ou pelo menos alguns de vocês... já sabem


onde fica meu quarto.

Fui para lá e esperei. Joguei o telefone de qualquer jeito sobre a cama.


Meu coração estava para explodir de tanto nervosismo. Eu andava de um lado
para o outro. As primeiras batidas na porta soaram e eu me senti petrificada
no meio do quarto.

Foi Raul quem entrou.


Ele estava com uma camisa polo rosa e um bermudão jeans. Tinha
barba por fazer e, mal fechou a porta, se atirou em minha direção, segurando-
me pela cintura e beijando-me os lábios.

— Ah, coração... Estava louco por isso... um tempo a sós.


— São apenas cinco minutos...

Tentávamos conversar enquanto nos devorávamos.

— Raul, eu tenho medo de que essa situação acabe causando algum


problema entre vocês...
— Não mesmo, Summer. Mas é importante você ter certeza de que
quer isso. Ninguém quer que você fique arrasada por algum arrependimento
depois.

Ele beijava meu pescoço, meus ombros, meus lábios, meu rosto.
Ansiava por tudo de mim.

— Não sei, Raul. Nunca fiz nada assim antes.


— Você me deseja?

— Muito. Muito.

Ele moeu seu membro em meu ventre e eu tremi... Era enorme... E


crescia...
— Vamos fazer isso, coração. Eu vou adorar.

— Eu também vou.

Batidas na porta nos fizeram sofrer.


— Tenho que ir.

Ele se afastava e perguntei antes que ele saísse do quarto.


— Responda rápido: branco, amarelo, vermelho, azul ou preto?

—Ahnn? O quê?

—Não pense, responda: branco, amarelo, vermelho, azul ou preto?

— Ahnnnn... Sei lá... Branco. Mas o quê...

— Nada não, é só uma coisa que eu estou imaginando...


Ele saiu e Enrico entrou.

— Oi, anjo.

— Oi.
Eu sabia que com ele seria o momento mais difícil. Não me procurou
afoito como Raul. Fui eu quem caminhei até ele:

— Enrico, você tem certeza de que não vai se magoar com essa
história? Tudo o que você me disse naquela noite está me deixando...

— A pergunta é: você está bem com tudo isso?


— Eu... não sei. Acho que saberei lidar melhor se eu perceber que
você estará bem. Que ficará à vontade e não se arrependerá depois... Que os
rapazes não vão sofrer também... E principalmente, que isso não será capaz
de destruir essa amizade tão forte de vocês.

Coloquei minha mão em seu rosto, nossos corpos se colaram, os olhos


dele fixos em mim como chamas.

Mas ele se continha.


Ele sempre se contém. Mas havia algo a mais. Ele carregava muita
preocupação no olhar.

— Você sempre se preocupa primeiro com os outros, não é?


— Não consigo evitar.

— Ah, Enrico. Isso é sexy para caralho, sabia?

Era meu limite.

Tomei a iniciativa e nos beijamos com ardor. Ele correspondia com


uma ânsia que parecia represada há uma eternidade.

Como podia um homem daquele tamanho me roubar o ar daquela


forma? Batidas na porta e eu não queria desgrudar dele.

— Tenho que...

— Da próxima vez, conversamos menos e beijamos mais.

Nós dois rimos.


— Enrico... sem pensar, responda: branco, amarelo, vermelho, azul ou
preto?

—Hummm... Ah! Vermelho, claro! Só consigo pensar em como você


estava perfeita ontem, anjo.

— Obrigada.

Ele saiu e Ítalo entrou.

— Muito desse plano tem dedo seu, não tem? — perguntei na hora
que a porta se fechou.

— Meu, do Garcia e do Adam.


— Que o Adam tinha um dedo nisso, eu também tinha certeza. Venha
aqui. Estou doida para te beijar desde o lago.

Ele segurou minha nuca com uma única mão e me puxou possessivo.

— Você tem noção de que quase fez nossos paus explodirem na porra
daquele lago, moranguinho?

Ele me beijou sedento. Sua língua brincava em meus lábios e na


minha língua. Tocava o céu da minha boca e exigia mais e mais de mim.
Era uma brasa viva aquele homem.

— Eu estou doido para que você aceite nos dividir, Summer.

— Por quê?

— Porque eu preciso saber se sua boceta tem o mesmo gosto


delicioso de morango que a sua boca.

PUTA QUE PARIU! QUEM IA EXPLODIR DE TESÃO ERA EU!

— Assim quem não aguenta sou eu, Ítalo.


— Tá melada?

— Pingando...

— Como eu gosto.
Ele me beijou novamente, com fome. Batidas na porta nos fizeram
parar.

— Aceite, linda, por favor. Pode ter certeza de que todos nós só
queremos isso...

—Escolha: branco, amarelo, vermelho, azul ou preto?


— Azul...? Mas...

— Não é nada, não...

Ele se foi e Pablo entrou.


— Ah, cinco minutos é muito pouco com você, guapa.
— Então não perca tempo: aproveite.

Ele veio. Agarrou-me e me beijou com volúpia. Minhas carnes já


estavam pegando fogo! Eu latejava de desejo e queria qualquer um deles
naquela noite. Eu estava em chamas.
— Você é deliciosa, guapa.

— Você também é.

Ele desceu a mão por minha cintura e apalpou minha bunda, me


puxando para si. Era insaciável, me tirava o fôlego.
— Pablo...

— Hmmmm...

— Tem uma coisa que me preocupa muito nisso tudo...


— Hmmmm...?

— Vocês não vão acabar brigando por minha causa, vão? Eu me


sentiria horrível.

— Claro que não, guapa. Nosso desejo por você está nos unindo
ainda mais.

Ele percorreu o meu pescoço demoradamente com os lábios quentes...

— Que bommmm... Ouvir isssso...

— Não fale. Só quero te provar.


E provava. Cada pedaço da minha boca.

Batidas na porta anunciaram a troca.

— Não, não, não, não... — ele sofreu.


— Antes de ir: branco, amarelo, vermelho, azul ou preto?

Ele não titubeou:

— Preto.

— Certo.

Sorri e o vi sair.
Ah, meu italiano sedutor entrou, lindo, com aqueles olhos negros
presos aos meus.

— Quer dizer que deseja a todos nós? — perguntou.

— Sim. Mas só vou tomar uma decisão definitiva quando tiver


certeza de que nenhum de vocês vai acabar se indispondo com os outros.
—Bella mia, se você resolver ir adiante com isso, tenho certeza de
que você nunca encontrará em sua vida sete amigos mais felizes. E é tão bom
saber que faço parte desse grupo.

Uriel me virou de costas e jogou meus cabelos para os lados.


Encaixou seu volume em minha fenda e enquanto passeava com beijos pelo
meu ombro e meu pescoço, movia-se de forma sensual atrás de mim. Me
virou de uma vez e tocou meu rosto com o polegar, sentindo minha pele,
depois o passou por meus lábios e os abriu de leve.

— Você é perfeita de tantas formas, bella.


Não respondi nada.

Ele mordeu de leve meu lábio inferior e o sugou em seguida.

— Será de todos nós, bella?


— Você quer que eu seja?
— Você ainda tem alguma dúvida?

— Quero escutar você dizer.

— Quero. Te desejo. Não sonho com mais nada desde o momento que
aquele bendito vento ergueu seu vestido.

Eu sorri.

— Eu...

Batidas na porta.

— Eu o quê, bella?

— Branco, amarelo, vermelho, azul ou preto? Responda rápido, Uriel!


— Preto. Por quê, bella mia?

— Curiosidade.

A porta abriu e olhamos para Garcia parado do lado de fora. Uriel


passou o polegar mais uma vez por meu rosto e saiu fechando a porta atrás de
si.
— Garcia...

— Shhhh...

Ele me segurou pela cintura, me girou e provou meus lábios. Só


paramos quando minhas costas foram de encontro à porta. Ele abaixou-se e
segurou minhas coxas, abrindo-me e erguendo-me, encaixando-me em seus
quadris. Ele se movia com lascívia, comendo-me de roupa.
— Ahhhh... você vai me enlouquecer, homem.

— Que bom.

Prosseguiu em suas investidas e eu podia sentir o quanto desejava me


possuir.

— Então foi ideia sua também? — Tentava conversar.

— Também...

— Sempre o homem dos planos... Mas não acha que isso é uma
loucura?

— Acho que será delicioso.

Ele apertava minhas coxas e me fazia arfar quando me prensava ainda


mais contra a madeira. Nossas bocas não se desgrudavam e as batidas na
porta foram um golpe duro em nós dois.

Ele me colocou no chão e beijou com suavidade meus lábios.

— Azul.
— Como você...?

— Os caras não falam de outra coisa lá fora. Vai matar todos de


curiosidade.

— Mas não é nada demais...

— Se não fosse nada, não estaria perguntando, tigresa.

As batidas se tornaram mais fortes.

— O Adam vai entrar com tudo — ele me advertiu.


— Vou me afastar da porta então — brinquei e ele riu.

— Melhor. — Fui para perto da cama e Garcia abriu a porta. — Em


cinco minutos venho bater nessa porta, Adam.

— Vai se foder! Eu fiquei por último, devia ganhar pelo menos uns
dois minutos a mais.
— CINCO minutos, ou arrombo a porta.

Adam ergueu o dedo médio enquanto Garcia fechava a porta, rindo


com uma alegria contagiante.
— Cinco minutos e contando, gatinha.

Ele veio com sofreguidão e o choque nos fez desabar sobre a cama.
Eu ri alto e ele apenas procurou minha boca, colocando-se entre minhas
pernas. Desceu deslizando beijos pelo pescoço até meu busto e seus dedos
procuraram abrir minha camisa, mas eu o impedi, puxando-o novamente para
meu rosto.

— Deixa, gatinha. Eu estou louco para...


— Não, ninguém avançou tanto. Você é o único que está na cama
comigo, já é muito, não acha?

— Não.

Ele voltou a me beijar, safado, passando a mão em várias partes do


meu corpo. E ficamos apenas nos beijos quentes e ousados. Quando as
batidas na porta anunciaram o final do tempo ele choramingou como uma
criança que havia deixado o pirulito cair no chão.

— Quer saber qual daquelas cores eu escolho?

— Quero.

— Só digo se me disser para quê.


— Nada especial.

— Então não vou dizer.

— Que pena.
— Por quê?

— Você vai ficar sem saber se não me disser.

— Que droga, mulher. Então tá. Preto, vai.

Ri vitoriosa.

Saímos da cama e a porta se abriu. Pablo e Ítalo estavam ali.


— Vieram me escoltar? — Adam zombou.

— Melhor prevenir. O garotão estava tão animadinho...

— Vou de livre e espontânea vontade, não se preocupem. Você não


vem, gatinha?
— Vocês podem me dar só dois minutos?

Os três sorriram, concordaram e foram para a sala, fechando a porta.

Eu precisava respirar,
Estava a mil.

Coração palpitando, boca latejando, sangue fervendo, corpo febril de


excitação. Eles sabiam me tirar completamente dos eixos. Respirei várias
vezes para tentar me acalmar. Saí do quarto e não encontrei ninguém na sala.
Olhei para os lados e vi a porta da cozinha aberta. Estavam lá fora.

Caminhei até lá e vi todos sentados próximos a uma mesa.


Conversavam, sérios e compenetrados.
Eu me aproximei e eles acompanharam meus passos. Meus pés
estavam cobertos apenas pelos chinelos de dedo, e o tecido da minha calça
capri folgada esvoaçava. Cheguei e me sentei, encarando a todos.

— Como vamos fazer isso? — perguntei primeiro.


— Vamos fazer? — Adam sorria, ordinário.

— A primeira regra é inegociável. Vocês terão que usar camisinha.

Enrico concordou imediatamente:

— Evidentemente. Isso nem se discute.

— Mas só de curiosidade: você não usa anticoncepcional, bella? —


Uriel quis saber.

— Não. Todos me causam efeitos colaterais muito ruins.

— Bem, já que estamos estabelecendo regras, é bom deixarmos tudo


muito claro: até onde podemos ir? — Pablo perguntou.

— Como assim?
— Aceita tudo, moranguinho? — Foi a vez de Ítalo falar. — Sexo
vaginal, anal, oral...

Abri a boca em choque. Eu não conseguia acreditar que estava mesmo


tendo aquela conversa.

— Eu nunca havia pensado nisso.

— É bom que pense. Assim saberemos nossos limites.

— Oral e vaginal — respondi.

Adam não conseguiu se conter:


— Droga!

— E eu...? Poderei fazer tudo com vocês? Vocês aceitam tudo?

Eles gargalharam animados.


— Bom, já que anal está fora, direitos iguais: nada de enfiar o dedo
onde não deve — Raul disse rindo.

Adam voltou a se animar:

— O resto, tudo!

— E oral, muito oral, por favor — Ítalo falou lascivo.

— E você topa fantasias, tapas no bumbum... Gosta de ser amarrada?


— Essa veio de Garcia.

— Nossa, como vocês são diretos. Gente, não sei. Nunca fiz nada
muito fora do comum, então... me surpreendam. Se eu achar que gosto, na
hora a gente vê...

— Como assim nunca fez essas coisas, Summer? Você não é virgem,
né? — Pablo questionou.

— Não, não sou.


— Então, já deve ter experimentado algumas variações... nem que
seja de curiosidade — ele continuou e fiquei extremamente encabulada.

— Nada além do básico. — Percebi eles se entreolhando e mordi os


lábios. — Como faremos para nos encontrar?

— Teremos que ter muito cuidado com o seu pai, então vamos
precisar improvisar muito. Infelizmente — Raul lamentou. — O ideal seria
que todos conseguissem a mesma quantidade de tempo para ficar com você,
mas temos consciência que isso será praticamente impossível.
— E como saberemos qual será o dia de quem?

— Podemos fazer um sorteio como fizemos agora — Uriel respondeu.

— Mais alguma pergunta?


— Gosta que chupem seus seios? — Adam saltou com a pergunta. —
Gosta de ser fodida com força ou devagar?

— Meu Deus, vou morrer de vergonha antes de foder com vocês.


Eles riram alto.

— Gosto sim que lambam, beijem e chupem meus seios. E em relação


a força... depende do momento, de como as coisas rolarem, do lugar, se
estaremos em uma situação tranquila ou mais apressada... — Eu ri
encabulada. — Ai, gente, mais alguma pergunta constrangedora?

— Seria possível começarmos hoje? — Pablo perguntou.


— Hoje?

— Sim. Nós não vamos ter tanto tempo assim para desperdiçar uma
noite completamente livre...

— Uau. Não pensei que fôssemos... — Olhei para todos e sabia que
quem fosse sorteado estava pronto para ficar comigo por um longo tempo,
pois meu pai só voltaria ao nascer do dia.
— Aceito. Mas com uma condição. Adoro surpresas. Então não
vamos fazer o sorteio completo hoje. Mas quero saber na véspera quem será
o do dia seguinte. Então fazemos assim: hoje sorteamos o primeiro e o de
amanhã. E daí para frente, um nome para saber quem será o felizardo do dia
seguinte...

Apenas Adam e Ítalo não gostaram muito da ideia e tentaram


argumentar que sofreriam menos se soubessem a ordem logo de cara, mas
acabaram sendo convencidos pelos outros, um tanto a contragosto.

— Só mais uma regra antes de começarmos o sorteio: o que acontecer


entre a gente, fica entre a gente.
— Como assim? — Pablo perguntou.

— Vocês terão que prometer não contar para os outros o que fizermos
entre nós. É algo íntimo, pessoal, que eu não quero que seja compartilhado
por todos.
Eles estavam sempre se olhando, como se pudessem conversar entre
si.

— Certo. Acho ético — Garcia assentiu.

— Que bom que aceitaram. Então, como faremos o sorteio?


— Agora há pouco, usamos um aplicativo para sortear. Prefere pegar
uma folha de papel e anotar nossos nomes?

— Prefiro. Do jeito tradicional.

Corri até a sala, anotei o nome dos sete em um pedaço de papel,


rasguei os sete pedaços. Eles entravam quando os encontrei na cozinha.
Peguei um copo limpo e mostrei os sete nomes. Comecei a enrolar os nomes
e coloquei todos no fundo do copo.
— O primeiro que sair já fica comigo hoje. O segundo fica amanhã. A
partir de amanhã vocês podem fazer o sorteio e apenas me comunicam.

— Certo, coração. Faça logo esse sorteio — Raul falou ansioso.

— Só mais uma coisa. — Ergui um dedo. — Ninguém pode ser


culpado pelas circunstâncias.
— Como assim, anjo? — Enrico fez uma ruguinha entre as
sobrancelhas.

— Se eu ficar com um de vocês por uma hora e com outro só


conseguir trinta minutos ou quatro horas, que fique bem claro que não será
culpa de ninguém. As circunstâncias e a sorte que vão decidir isso. Tudo
bem?

Adam se apressou em responder:


— Por mim, tudo bem.

— Esse vai ser o primeiro a resmungar se ficar com Summer pouco


tempo — Raul disse rindo.

Adam já foi dizendo:

— Eu não vou, gatinha. Esses caras implicam comigo.

— Tá bom. Prometo que farei de tudo para tentar ficar o máximo de


tempo com o meu desejo do dia. E se perceber que ficaremos pouco tempo,
tentarei compensar de algum jeito.

— Um bem gostoso, espero — Adam frisou.


Rimos dele. Fechei os olhos, enfiei a mão dentro do copo e puxei o
primeiro papel. Meu coração palpitava, pressionando meu peito. Ergui os
olhos, abrindo-os para eles e só depois abaixei o rosto e li o nome que fez
meu coração pular de euforia:

Garcia
Demorei um pouco até pronunciar para todos ouvirem:
— Garcia.

Voltei o rosto para ele, que me olhou incrédulo. Entreguei-lhe o papel


e um pequeno sorriso se formou em seus lábios.

— Agora o de amanhã, anjo — Enrico me trouxe para a realidade.


Rapidamente, repeti o processo e dessa vez li logo, sem drama:
— Adam.

— Yes. Amanhã seremos só nós dois, gatinha.

— Sim.

— Então acho que a noite se encerrou para o resto de nós... — Uriel


disse já indo até a sala.

— Se vocês quiserem ficar só mais um pouco...

— Nada disso. Só vamos ajudar você a arrumar essa bagunça e


desaparecemos daqui. Logo o Comandante está de volta e vocês dois ainda
têm que dormir para aguentar o treinamento de amanhã — Ítalo lembrou. —
Seu pai não pode desconfiar de nada, moranguinho.

— Deus me livre ele sonhar que estou fazendo algo assim! Ele morre
de ciúmes de mim. Capaz de me matar e castrar todos vocês. — Eu ri ao ver
Adam levar as mãos para suas partes baixas. — É bom ter mesmo medo,
gatinho.

Com a ajuda de todos, deixamos a casa impecável. Nada parecia


haver acontecido ali. Terminaram de carregar o lixo nos carros e começamos
a nos despedir.

Raul se lembrou:

—Tem camisinha, Garcia?

— Tenho sim, cara. Valeu a lembrança.


— Temos que dar um jeito de alguém ir à cidade amanhã comprar um
monte de preservativos para todos nós — Adam falava como se divagasse só
para ele.

— Ele pensa que sou coelho? — brinquei.


— Não quero nem imaginar o que se passa naquela cabeça... Boa
noite, guapa — Pablo beijou meu rosto e partiu.

Todos beijaram meu rosto antes de deixar a casa. Fui até a varanda e
vi os carros se distanciando. Tinha a mão sobre o peito e sentia o nervosismo
no coração.
Eu iria mesmo fazer aquilo?

Não parava de me perguntar.

Havia um homem enorme dentro da casa do meu pai, esperando para


transar comigo e eu... desejava aquilo ardentemente!
Sim, eu ia fazer aquilo!
Primeiro Desejo

— Sabe o que eu estava me perguntando, Garcia?


— Não tigresa. O quê?

— O que mais é grandão em você.

Ele deu um sorriso sem-vergonha, respondendo em seguida:


— Você vai descobrir logo.

Pedi para Garcia me esperar na sala. Eu precisava me preparar. Corri


até o guarda-roupas, escolhi a calcinha que tinha em mente e estava pronta
para a surpresa que planejara. Eu estava melada, sentindo meus fluidos
escorrendo por causa de toda a excitação da noite. Fui ao banheiro e tomei
um banho relâmpago, sem molhar os cabelos. Vesti a calcinha que separara e
uma camisola provocante por cima, com o bojo fechado, mas o resto
transparente. Dei vários pulinhos nervosos e balancei os braços e a cabeça.

— Eu vou fazer isso. Eu vou fazer isso. Você consegue, Summer, é só


sair daqui e abrir as pernas, como a Maisie falou.
Saí do quarto e o vi sentado no sofá, de costas para mim. Eu me
aproximei e me inclinei, pousando as mãos em seus ombros largos. Soprei
baixinho em seu ouvido:

— Quer vir para o quarto comigo?


— Pensei que o que temos em mente pode ser feito aqui mesmo...

Parecia que eu nunca ia parar de me surpreender.

Garcia jogou o rosto para trás e ficou claro que não esperava me
encontrar vestida daquela forma. Passou a língua pelo lábio inferior como se
pudesse me saborear à distância.
— Venha aqui, tigresa.

Dei a volta no sofá e parei em frente a ele. Deixei que ele me


observasse, devorando meu corpo de cima a baixo, apenas com seu olhar
quente. Era um gozo me sentir tão desejada. Ele respirou fundo, como se
buscasse o ar que lhe faltava e ajeitou-se no estofamento. Suas mãos
procuraram as minhas coxas, bem na dobra da minha bunda e ele me puxou
para que me aproximasse.

— Venha aqui, Summer.

Fui.

Eu já estava completamente lubrificada novamente. Não adiantou


nada o banho, eu precisava dele... deles dentro de mim. Com urgência. Eu
abri minhas pernas e me encaixei em cima do jeans de sua bermuda. Eu havia
me sentado exatamente sobre seu volume, que estava bem perceptível. Acho
que aquilo era prova suficiente para me dar a certeza de que ele era um dos
grandes, sim.

— Tigresa, sei que impôs tão poucas regras, talvez por ter pouca
experiência com outros caras... Eu não sei... Mas quero te pedir uma coisa
muito importante antes de começarmos.

Eu o encarava, séria, escutando com atenção.

— Tá bom.

— Eu quero que, se não estiver bom, a qualquer momento, por favor,


não hesite: é só pedir para parar, que paramos na hora, seja lá o que for.

— Tá bom.

— Tá bom?

— Tá. — Sorri e me inclinei sobre ele, buscando sua boca.

Suas mãos imensas foram direto para as duas bandas de minha bunda
e começaram a me mover sobre seu pênis. Já as minhas seguravam seus
ombros fortes, para não me desequilibrar e cair.
— Continue rebolando em cima de mim, tigresa.

— Tá — balbuciei, soltando o ar.

Garcia subiu minha camisola, passeando com delicadeza os dedos por


minha pele. Suas mãos estavam mornas, assim como meu corpo, que parecia
fogo. Ao chegar aos meus seios, ele os desnudou lentamente, revelando os
bicos empinados em sua direção. Suspirou mais uma vez quando viu meus
mamilos prontos para ele.
— Erga os braços, tigresa.

Ergui e ele arrancou a camisola, deixando-a ao nosso lado. Suas mãos


tomaram meus seios e se fecharam em concha ali. Uma massagem firme e
poderosa em volta deles me fez fechar os olhos e gemer baixinho. Ele estava
me dominando só com suas mãos ágeis.

Eu o queria da mesma forma: nu.


Comecei a puxar sua camisa. Ele facilitou essa ação e foi uma visão
de outro mundo estar de frente para aquele peito peludo, imenso... os braços
enormes e firmes... Ele segurou minhas mãos e as pousou ali. Eu comecei a
explorar cada pedaço de seu corpo, com curiosidade e gana.

— Gosta de tocar em mim, tigresa?


— Gosto.

— Eu também adoro tocar em você.

Ele voltou a massagear meus seios. Inclinou-se para frente e sua boca
tépida alcançou o cume do meu peito esquerdo. Sugou forte uma primeira
vez, causando dor, depois soltou e passou a língua sem pressa pelo mesmo
lugar, como se quisesse acalmar a ardência provocada pelo chupão. Depois
repetiu o mesmo processo no outro seio. E outra vez e outra vez, se
alternando entre eles. E a cada nova investida meu útero respondia e minha
vagina inchava mais.
— Me possua, Garcia.

— Calma, tigresa.

— Não temos a noite toda.

— Mas ainda temos muito tempo.

Segurou minha cintura e me ergueu. Rodou meu corpo e me deitou no


sofá, ficando por cima de mim. Beijou-me novamente, demoradamente. Senti
seu peito nu prensando os meus seios. Aquilo era muito erótico. E tudo era
intensificado pelo volume que ele forçava no meio de minhas pernas.

A boca deslizava por minha pele, demorou-se um pouco em meus


seios, escorreu por meu abdômen e parou em meu ventre.
— Azul!

Sorri levando uma mão ao rosto.

— Descobriu minha surpresa. Gostou?

Ele mordeu a borda da calcinha azul e puxou de leve, soltando-a em


seguida.

— Adorei. Mas sabe que vou preferir você pelada, não é?

— Então tire-a.

— Seu pedido é uma ordem, tigresa.

Ele começou a puxar minha calcinha para baixo e eu fiquei


completamente pelada sobre o sofá. Ele estava em pé, ao meu lado,
observando-me inteira.
— Tire a bermuda. — Minha voz saiu imperativa.

Garcia a desabotoou e liberou o zíper. Teve que usar as mãos para


puxar a bermuda, já que seu volume a impediu de escorregar sozinha. O
membro estava quase saltando da cueca. Era ainda maior do que eu havia
imaginado. Eu estava muito fodida em pensamento. E fisicamente, em breve.

Ele se jogou no meio das minhas pernas e as abriu. Soltei um gritinho


de susto quando sua boca molhada encontrou minhas dobras febris. Sua
língua me penetrou com fome e eu gritei ao sentir a força com que me sugou
em seguida.
Travis nunca havia feito nada igual.

Garcia deliciava-se com minha lubrificação e demorou-se em meu


clitóris, consumindo toda minha sanidade com o prazer que estava me
proporcionando.
Minha boca nunca havia provado algo tão bom.
Ela estava inchada e já pronta para se entregar, mas não estava pronta
para mim ainda. Eu era grande e grosso, ela merecia ser preparada para me
receber.

Chupei seu clitóris e mordisquei ali. Ela gritou e eu voltei a sugá-la,


sem dar trégua. Desci a língua por seus grandes lábios e eles estavam
babando de tanto tesão. Será que ela já havia sentido algo assim antes? Ela se
entregava com uma intensidade enorme, como se aquilo fosse uma completa
novidade.

Mordisquei ali, provocando mais gritos e ela se contorceu, agarrando


meus cabelos e apertando-os com força. Fiz um caminho de beijos pelo
interior de suas coxas e voltei a deslizar minha língua por sua fenda quente e
melada.
Demorei-me novamente no seu grão do prazer.

Eu poderia passar a noite assim, apenas provando e provocando


aquela mulher. Não precisava de mais, me daria por satisfeito e vencido. Era
delicioso estar entre aquelas pernas. Subi minhas mãos por suas panturrilhas
e prossegui até as coxas, apertando suas carnes, até sentir o calor do seu
centro de prazer em minha mão direita. Meu dedo brincou em sua entrada, e
tudo que eu desejava era afundá-lo ali.

Enfiei o dedo sem pressa, penetrando-a e percebo ela erguer os


quadris para recebê-lo melhor. Aquilo era foda demais!
Eu não parava de chupar seu gominho inchado e ela não parava de
gemer com meus avanços. Vez ou outra eu dava pequenas mordidas em seu
sexo e ela voltava a gritar a cada investida.

Eu já estava explodindo de tesão, meu pau já estava para saltar da


cueca de tanto que ele pulsava. Era forte demais e não resisti. Enfiei um
segundo dedo dentro dela e a comi com meus dedos e minha boca. Eu gemia
na mesma medida que ela arfava. Summer não soltava meus cabelos e havia
momentos de pura dor, quando ela os puxava e os apertava
involuntariamente, mas eu estava ali para aguentar tudo que viesse dela. E foi
quando eu senti a explosão vinda de seu ventre. Pequenos tremores a
dominaram e pouco depois ela relaxou completamente.

Sentir a explosão que me tomou pouco depois foi uma das sensações
mais maravilhosas que pude sentir na minha vida, pois eu não precisei forçar
aquele prazer, ele veio forte e espontâneo. Devastando-me e amolecendo meu
corpo.

Garcia retirou delicadamente os dedos de dentro de mim, mas


demorou-se ainda em dedicar carinhos com sua boca à minha boceta. Ele
sugava todo o meu prazer e isso intensificava-o e prolongava-o. Ele ergueu-
se e veio para cima do meu corpo.
— Você é deliciosa, tigresa.

— Você tem muita experiência. — Ele apenas riu. — Será que vou
saber retribuir tanto prazer?

— Você já está retribuindo, e muito...


Ele me beijou, ainda faminto. Da posição que estávamos eu enfiei
minhas mãos por dentro da cueca e puxei a ereção de encontro à minha
barriga. Enorme, grossa e latente. Passei as duas mãos por todo o
comprimento e um dos dedos pela glande e ele fechou os olhos, entregue ao
prazer. Senti as veias incharem em minhas mãos, assim como o pau.

Como ele podia ficar maior?


Um grunhido rouco saiu de sua boca quando intensifiquei os
movimentos.

— Deitado, Garcia. É minha vez de te provar.

— Você está louca para enfiar meu cacete em sua boquinha, não está?
— Estou.

— E está doida para senti-lo inteirinho dentro de você?

— Ah, você não tem noção de como estou louca para descobrir como
ele vai caber dentro de mim.
Ele riu aberto.

— Vai caber, tigresa. Garanto.

— Ah, Garcia. Desse jeito, você me faz desejar pular o oral e ir direto
para a foda.
— Não, não, por favor, não pule nenhuma etapa.

Rimos juntos.

Ele saiu de cima de mim e trocamos de lugar. Ele tirou a cueca antes
de se ajeitar embaixo de mim e seu membro ereto estava apontado para o
teto.
Era enorme, assim como o dono.

Mais uma vez segurei o pau e minhas mãos deslizavam da base até a
glande. Seu pré-sêmen brilhava na ponta da cabeça robusta, e eu aproveitava-
me dele para lambuzá-lo ainda mais. Debrucei-me sobre o órgão e expus
minha língua, encostando-a na ponta da cabeça do pau.
Ele estremeceu.

Tive que abrir muito a minha boca para acomodar aquela delícia
dentro dela. Fui ao meu limite e voltei, demorando-me e chupei com mais
devoção a ponta. Ele gemeu alto.

Eu estava prestes a gozar. A boquinha de Summer era pequena para


acomodar meu pau, mas ela não se intimidou nem desistiu. Enfiou tudo até
onde conseguiu e voltou, sugando-me a glande de forma alucinante. Ela
segurava a base com uma das mãos e massageava as bolas com a outra.

O que eu poderia querer mais? Era perfeita me chupando!

Afundou a boquinha novamente e foi mais fundo. Voltou e investiu


novamente. Sentia o fundo de sua garganta e via as lágrimas escorrerem em
seu rosto. Tive certeza de que não estava acostumada a um pau daquele
tamanho. Não sabia quem devorava quem: se sua boca macia e ávida me
arrancando prazer ou se era eu que comia aquela delícia.
Só sei que fazíamos amor de uma forma intensa e avassaladora.

Ela livrou-se do meu mastro para poder respirar e voltou beijando a


lateral dele, descendo até a base e depois voltando. Passava a língua babando
pelo meu talo e, quando ela o afundou novamente até o limite, eu explodi. Ela
suportou toda minha porra em sua boquinha e tomou tudo de mim.

Eu delirei com aquilo, com tamanho fervor vindo dela.


Ela passou um dedo pelo canto da boca e o chupou em seguida,
mostrando-me que não queria desperdiçar nada. Eu me ergui e a abracei.

— Summer, que boquinha mágica...

Beijei-a várias vezes, puxando-a para cima de mim quando voltei a


deitar-me. Ela se apoiava em meu tórax, com a cabeça meio erguida e
também me beijava feliz.
— Eu devo confessar, Garcia. Pensei que não fosse dar conta.

Eu gargalhei da desenvoltura da loira. Era linda demais.

— Você foi maravilhosa, tigresa.


Ela levantou-se e foi até a cozinha.

— Quer água, grandão?

— Por favor.

Ela trouxe e nos sentamos um ao lado do outro. Ela ergueu as pernas


sobre o sofá e as abraçou. Tomei minha água de uma vez e coloquei o copo
no chão, ao lado do sofá. Virei em sua direção e passei a mão por seus
cabelos.

— Você vem sempre visitar o Comandante, tigresa?

— Na verdade, venho muito pouco. E desta vez, vim de surpresa.


Quase mato meu velho do coração.
Eu ri.
— Onde você mora lá nos Estados Unidos?

— Na Califórnia. Com minha mãe.

— Hum...

Eu passava uma das mãos por sua coxa, subindo e descendo.

Queria mais de Summer.


Sabia que ela desejava mais também, porque assim que percebeu
meus carinhos, desceu as pernas e pediu passagem para meu colo novamente,
ficando de frente para mim.

— E você é de onde, Garcia?

— De São Paulo mesmo.


Segurei sua cinturinha, movendo-a para cima e para baixo. Meu pau
já estava quase em sua potência total novamente, friccionando-se naquela
entradinha úmida.

— Você tem quantos anos? — ela perguntou.

— Tenho trinta e quatro. E você?

— Não vou dizer. — Rimos, mas respondeu em seguida. — Vinte e


três.

— É uma idade ótima. Aproveite muito.

— Sua idade não é ótima?


— Ah, é sim. Mas a sua é de descobertas. A minha já é mais de tentar
se firmar, responsabilidades.

Abaixei meus lábios sobre seus seios novamente e chupei um de cada


vez, suavemente, agora. Ergui os olhos para falar:
— Acho que está na hora de me dar dessa bocetinha, tigresa.

— Acho que já passou da hora, grandão.

Tirei-a do meu colo e saí do sofá em busca da minha bermuda. Meu


pau já incomodava de tanto que voltou a latejar. Peguei um preservativo de
dentro da carteira. Rompi a embalagem e olhei para os grandes olhos
redondos que acompanhavam cada passo que eu dava.

— De quatro, tigresa — pedi.

Ela ajeitou-se no comprimento do sofá, empinando aquele rabinho


lindo e meu pau tremeu em minha mão.
— Assim não, Summer. Se apoie no espaldar e empine a bundinha
aqui para mim, para fora do sofá.

Ela fez como eu pedi, ficando quase de joelhos. Abri um pouco mais
suas pernas e a senti tremer também.

— Promete que será gentil?


Eu dei um sorriso maroto:

— Só enquanto desejar, tigresa.

Passei o dedo médio por sua fenda e a senti pingar.


Que loucura, essa mulher!

Vesti meu falo e em seguida o segurei na abertura ávida, pincelando


ali, lambuzando-o todo. Pressionei apenas o suficiente para iniciar a entrada e
ela gemeu.

— Relaxe, Summer.
Entrei mais um pouco. Ia com calma, sabia que era grande e grosso.
Fui me introduzindo naquela bocetinha apertada ao mesmo tempo que fui me
acabando no prazer que era estar dentro dela. Saía o suficiente para voltar a
entrar e ganhar mais espaço a cada avanço. Quando minhas bolas bateram em
suas coxas, aquilo me arrancou um gemido rouco e alto. Ela me acompanhou.
Sua maciez me envolvia completamente, quente e melada.

Movi os quadris e comecei a comer minha perdição.


Summer era deliciosa. Ela não demorou a querer rebolar em meu pau,
e seus movimentos acompanhados com meu ritmo nos enlouqueciam.
Quando a senti completamente entregue e relaxada, comecei a empurrar com
mais força, metendo desvairado pelo tesão e prazer que me cegavam.

Ele metia com força e eu podia sentir minha boceta sugá-lo,


implorando que ele não parasse. Estava louca por querer mais de um homem
tão grande. Eu nunca havia transado com outro homem que não o Travis, e
agora estava ali, aberta, exposta e sendo devorada por alguém que me comia
sem piedade.

Era delicioso demais.

— Mais, quero mais... — implorei, louca de desejo.

Foi como dar uma ordem a um escravo.


Ele segurou minha cintura por trás e deu início a um atrito frenético e
constante. Ele estava muito duro e muito grande. Eu podia senti-lo completo
dentro de mim, estocando, alcançando até muito fundo. Parecia um
explorador que descobria meu corpo pela primeira vez e queria se embrenhar
nos lugares mais secretos.

Comecei a gritar a cada investida.

Aquilo era bom DEMAIS!!!!

Ele me puxou pelo tronco e colou meu corpo ao dele, sem parar de se
enfiar dentro de mim. Segurou-me pelos seios e me comia com ainda mais
força. Ouvia o rosnar de prazer em meu ouvido e eu delirava a cada estocada.
Era demais para mim, que nunca havia saído do básico.

Gritei ensandecida, o orgasmo me atingindo de forma avassaladora.


Eu sentia meu gozo escorrer pelo pau que me invadia, lambuzando-nos. A
sensação em minha pele evoluiu do êxtase ao sublime em uma fração de
segundo e ele não parou de se enfiar atrás de mim. Eu estava entregue àquele
momento e queria ainda mais.
— Deita no sofá, tigresa.

Sem deixá-lo sair de dentro de mim, me estendi no sofá e ele me


soltou. Baixou meu torso e empinou ainda mais meu traseiro. Segurou
minhas ancas e passou a investir freneticamente sobre mim. Minha boceta
palpitava com o contato dele em volta dela, mamando nele, melada e sôfrega.

Era o sexo mais louco e selvagem da minha vida.


Eu o senti travando e os espasmos chegarem, acompanhados do
rosnado animalesco. Ele havia atingido o clímax também.

Nossos suores se misturavam. Ele inclinou-se e beijou minhas costas


antes de sair de dentro de mim.

Assim que o fez, senti a solidão e sua falta.


Ele havia me mostrado um caminho sem volta.
Nunca mais eu seria capaz de me contentar apenas com o trivial,
como fizera a minha vida toda.

Eu me virei e ele veio para cima de mim. Nossas bocas se


encontraram e nosso beijo foi afoito.
— Você foi perfeita, Summer.

— Nossa... Você também foi. — Ainda tentava recuperar o fôlego. —


Nunca fiz algo assim na vida.

— Nunca?
Ele beijava onde conseguia. Sem parar. Sorrindo a cada novo beijo.

— Nunca. Foi maravilhoso.

— Vou sofrer agora uma semana até ser minha vez novamente —
sorriu safado.
— Tá de brincadeira? — reagi à sua declaração. — Só faltam seis
dias de curso...

— Verdade. Mas nada impede que possamos continuar essa aventura


em São Paulo...

— Não sei se irei para São Paulo.


Eu vi seu sorriso murchar aos poucos.

— Então... Fique sabendo que foi algo muito especial, tigresa. Mesmo
que esta tenha sido nossa única vez.

— Para mim foi uma descoberta maravilhosa, grandão.


Ele passou um dedo pelo meu rosto e o beijou em seguida.

— Você é linda, Summer. Espero que consiga ser a fotógrafa que


sonha ser. Que realize todos os seus sonhos.

— Obrigada. Significa muito, Garcia.

— Não quero parecer o cara que apenas fodeu a mocinha e saiu fora,
mas é exatamente isso que vai acontecer, querida.

Eu gargalhei.

— Eu já ia te expulsar mesmo, grandão. Os rapazes tinham deixado a


sala tão arrumadinha... Agora vou ter que limpar esse sofá e esconder todos
os vestígios antes de o papai chegar.
— Venha, eu te ajudo.

Nós nos levantamos e começamos a catar nossas roupas. Coloquei


minha camisola e ele terminava de se vestir, quando coloquei minha calcinha
entre suas mãos.

— Para você.
— Para mim? — Ele estava surpreso.

— Presente. Mas nada de falar para os rapazes que eu te dei, certo?


Vou dar para eles também...

— Essa sua frase ficou uma tentação, tigresa.


Ri ao perceber aquele duplo sentido, totalmente involuntário.

— Eu não vou contar nada a eles. Tem minha palavra.

Eu pulei no pescoço dele e o abracei.


— Garcia, é sério. Eu nem sei o que dizer. Foi fantástico. Você é
fantástico.

— Que é isso, Summer? Você que arrasou, rebolando para mim e


empinando a bunda daquele jeito.

— Pare ou vamos começar tudo de novo...

— Verdade.

Fui para o meu quarto e vesti um shortinho de baby doll, por baixo da
camisola transparente. Passei pela cozinha e servi mais água para nós dois.
Limpei o sofá, agradecendo por ele ser de couro e não de tecido, pois
havíamos feito uma bagunça dos infernos ali. Garcia guardou a camisinha
cheia no bolso da bermuda, disse que iria se livrar no caminho para o
alojamento.

O acompanhei até a porta da frente e nos perdemos por mais algum


tempo ali, entre beijos e amassos.
— Tchau, tigresa.

— Até daqui a pouco, Garcia.

Sorrimos, acenei antes que ele se virasse para pegar o caminho para o
alojamento e entrei quando ele sumiu na curva.
Voltei para dentro, conferindo mais uma vez se a sala estava em
ordem, se a cozinha estava em ordem, se o lixo estava em ordem e se meu pai
não desconfiaria de nada.

Parti para o banho e, quando olhei o celular, já eram quase três da


manhã. Teria pouquíssimo tempo de sono, mas antes de fechar os olhos vi
que havia uma mensagem do meu pai informando que o treino só começaria
às oito da manhã e agradeci aos céus por isso.

Ia desligando o aparelho quando lembrei de enviar uma mensagem:


Summer: Maisie! Dei! Dei e dei gostoso, para o maior de todos, o
Garcia. Só faltou eu explodir de tesão. Foi maravilhoso. Delicioso. Uma
coisa de outro mundo. O que eu fiz a vida toda que não estava aproveitando
os paus espalhados pelo planeta, como você? Te amo, amiga.
Mudança de regras

Acordei às sete.
Excitada. Muito excitada. Minha pele recoberta pela memória do que
havia feito com Garcia. Imaginei como iria encará-lo logo mais. Mergulhei
meu rosto no travesseiro, suspirando, me lembrando de como ele havia sido
tão intenso e atencioso comigo.

— Vai ser difícil não pular nesse homem hoje.

Batidas na porta me trouxeram de volta à realidade.

— Summer querida. Toque da alvorada.

— Já estou acordada, papai. Saio em cinco minutos.

Troquei de roupa e saí do quarto aos pulos, encaixando as botinas nos


pés. Papai já tomava o café da manhã e assistia ao jornal na TV da cozinha.
Fui até ele e lhe dei um beijo no rosto.
— Aproveitou bem a noite, seu Lúcio?

— Sim. Foi muito boa.

Sorri faceira para ele, que desviou os olhos de mim.


— E por aqui, tudo tranquilo?

— Ah, tudo normal. Li um pouco, joguei conversa fora com a Maisie.


Ela disse que a Inglaterra está um gelo.
— Imagino.

— O que vamos ter hoje de atividade, papai?

— Acha que por ser minha filha terá regalias?

— Não... Não quis insinuar nada...

— Saberá quando chegarmos ao pátio. À tarde terei que sair e um dos


rapazes assumirá os treinos. Não dê trabalho, vida.

— Eu nunca dou trabalho, papai. Sou suuuuuuper bem comportada.


— Às vezes você é impossível de lidar.

Sorri, enfiando o último pedaço de pão na boca.

— Volta logo? Da sua saída da tarde?


— Por que quer saber, vida?

— Hã? Nada... Só para saber se espero o senhor para jantar ou como


sozinha.

Essa foi por pouco!


— Acho que podemos comer juntos. Eu devo voltar até as sete.

— Ótimo.

— Vamos, termine logo o café, estamos quase atrasados.


— Sim, senhor Comandante.

Ele levantou-se, levou sua louça para pia e beijou minha cabeça antes
de ir para o seu quarto. Terminei de tomar meu café e também levei a louça
para a cozinha. Corri até meu banheiro e escovei os dentes.

Papai jogou as chaves do outro carro para mim e as peguei no ar. Fui
logo atrás dele e estacionamos um ao lado do outro. Segui seus passos de
perto e, quando chegamos ao pátio, os rapazes já estavam lá. Alguns se
alongando, outros fazendo exercícios leves, mas todos esperando.
— Bom dia, senhores. Vamos começar com um treino leve para
voltarmos do Natal com calma e não forçar nenhuma distensão muscular.
Como vocês sabem, tanto Carlos como Barbosa pediram para dar uma ênfase
especial aos treinos de direção. Vamos focar muito nessa habilidade nesses
últimos dias de curso.

— Quem são Carlos e Barbosa? — perguntei.

Silva já foi respondendo:


— São os donos da empresa de segurança para quem trabalhamos,
Mitchell. Os dois são irmãos e, embora cada um normalmente lidere um de
nossos grupos dentro da Lynx, muitas vezes as equipes se complementam.

— Verdade. Quando a Tensão Elétrica tocou no Maracanã no ano


passado, o Carlos teve que pedir reforços ao irmão e alguns de vocês foram
— Enrico se lembrou.

— Bem lembrado. Aquilo foi foda demais. Mais de 170 mil pessoas...
Silva parou de falar ao notar o olhar furioso de meu pai.

— Mitchell! Soares! Silva! Posso continuar a preleção ou vou


interromper a conversinha?

Nós três respondemos em uníssono:


— Perdão, Comandante!

—Cinco voltas no pátio antes de começar o treino da manhã para os


três poderem pôr as fofocas em dia. Posso continuar agora?
—SIM, COMANDANTE!

— Como estava tentando dizer antes de ser interrompido, os treinos


de direção perigosa serão o centro de nossas atenções nestes últimos dias.
Para otimizar o uso da pista de corridas, hoje as equipes se dividirão. Pela
manhã, a Equipe 2 fará os exercícios de direção e a Equipe 1 irá para as baias
de tiro ao alvo. Quero todos preparados para outra simulação de paintball que
está planejada para esta semana. Barata vai acompanhar o treino no estande
de tiro, para cuidar do armamento e da munição. Do que precisarem, é só
pedir a ele. À tarde, invertem os treinamentos. No final do dia as equipes se
juntam para alguns exercícios leves. Pela manhã vou acompanhar a Equipe 2
na pista. Silva ficará no comando da Equipe 1 e Soares no da Equipe 2.
Entendido?

—SIM, SENHOR!
Fiquei exultante. Adorava a pista de corrida, e quem sabe o que
poderia acontecer por lá...

— Rodrigues! Costa! Mitchell!

Ai, meu Deus! Outra bronca?


— Sim, Comandante!

— Como como vocês dominam muito bem o volante, mas ainda estão
tendo alguma deficiência no manejo das armas, os três vão passar o dia todo
no estande de tiro. Quero uma melhora significativa no desempenho de vocês
nessa área.
Droga! Eu tinha que tentar algo.

— Mas, Comandante...

— Acho que alguém está achando pouco cinco voltas no pátio...

— Desculpe, senhor Comandante!

— Equipe 2, me acompanhe até a pista. Equipe 1, pode ir para o


estande de tiros. Mitchell, Silva e Soares, para o pátio!

No caminho para o pátio, eu olhava disfarçadamente para os lados,


em busca dos olhares dos meus desejos e, em um momento ou outro, tinha-os
presos a mim, trocando sorrisos tímidos.

Aquilo me acalmou um pouquinho, mas eu estava muito irritada.


Além de perder o treino de direção e ter que passar o dia todo atirando, o que
me deixava mais angustiada é que ia passar uma manhã inteira afastada
deles...

Silva e Enrico mantiveram um ritmo um pouco mais lento para


terminarem o castigo comigo. Suspirei ao me separar de Enrico e acompanhei
Silva até o estande de tiro.

Silva ficou ao meu lado, me ajudando no treinamento. Aos poucos eu


ganhava confiança e começava a melhorar sensivelmente.

Mas só me alegrei realmente quando me juntei à minha maravilhosa e


linda equipe na mesa do refeitório.

— Estava me perguntando se meu pai vai também fazer uma reunião


para comemorar a virada de ano ou se...
— Acho que na passagem de ano todos vão para casa, para suas
famílias, tigresa — Garcia falou encarando-me.
— Ah... Que boba eu, pensar que iriam ficar por aqui...

— Recebemos uma ligação do Carlos ontem, moranguinho. Ele e o


irmão conversaram com o seu pai, e é provável que o treinamento termine
mais cedo, e nós não voltemos para os dois dias de curso que ficariam
faltando — Ítalo ratificou.
— Ele não pode... — cochichei indo à frente. — Temos que ter pelo
menos os seis dias que faltam!

— Acho que isso não vai acontecer, bella — Uriel concordou com
Ítalo.

— Mas... o que vamos fazer? E nós? Nosso acordo?


Eles não responderam. Alguns abaixaram a cabeça e outros se
entreolharam conversando naquela linguagem misteriosa de olhares, como se
eu não os percebesse.

— Vocês querem... parar? É isso? Querem encerrar o nosso acordo?

— NÃO!
Adam respondeu depressa e bem mais alto que pretendia. Depois
prosseguiu, balbuciando:

— Hoje é minha vez, gatinha. Não vamos parar nada.

Eu empurrei o prato ainda cheio. Havia perdido o apetite.


— Coma, anjo — Enrico pediu.

— Perdi a fome.

— Não fique tristinha, guapa. Vamos dar um jeito.


Pablo tentou me animar, mas eu sabia que ele também estava triste.
Eu busquei os olhos de cada um e tentei desvendar o que eles
escondiam de mim.

— Vocês já pensaram em algo!


Eu estava mais esperançosa que convencida.

— E estão com medo de me dizer qual o novo plano.

Eles abaixaram os rostos, todos de uma vez.

— Poxa... não acredito... — disse chateada. — Pensei que


estivéssemos nisso juntos.

— E estamos coração... Mas...

Parou. O desgraçado do Raul parou de falar.


— Mas o quê, Raul? Continua.

— Tivemos uma ideia, mas pode ser que seja demais.

— Demais para quem? Se expliquem logo, pelo amor de Deus.


Adam fez um rápido reconhecimento do perímetro, então falou
disfarçadamente:

— Pensamos que a partir de hoje poderíamos sortear dois nomes e


não apenas um.

Era um descarado lindo mesmo!


— Dois?

— Sim — Ítalo continuou. — E se você tivesse oportunidade e


conseguisse, ficaria com os dois naquele dia.

— Com dois ao mesmo tempo? — falei aturdida e fiz dois com os


dedos. — Eu nunca fiz essas coisas, gente. Eu acho que não consigo.
Adam, Ítalo e Raul riram.

— Não ao mesmo tempo, coração — Raul prosseguiu. — Se surgir a


oportunidade com um, você fica e se, por acaso, surgir a oportunidade com o
outro, você... também... Mas pensamos que isso poderia ser... muito...
Entende?
— Agora eu entendi.

Baixei o rosto para meu prato e mexi na comida, sem ânimo.

— Aproveita que está brincando com a comida e come só mais um


pouquinho, anjo.
— Eu não quero essa porcaria, Enrico. Que saco!

— Desculpe, Summer.

Ele se levantou da mesa e saiu do refeitório, deixando sua bandeja no


lugar apropriado.
— Pegou pesado com ele, bella.

— Não enche também, Uriel.

— Summer — Garcia falou sério e ergui meus olhos para ele. — Só


queremos o seu bem. Nos preocupamos com você. Mais do que possa
imaginar. Enrico tem razão de se chatear e acho que falo por todos que, se
soubéssemos que nosso tempo seria menor e que ficaria tão chateada com
isso, não teríamos nem proposto nada.
— Garcia tem razão, Summer — Pablo tomou a vez. — Passamos a
manhã toda tentando pensar em algo, uma solução, mas essa foi a única saída
que conseguimos encontrar. E se for para ficar triste ou chateada, talvez seja
melhor até parar mesmo.
— Não, não vamos parar nada — Adam estava desesperado.

— Não vamos parar nada, Adam. Fique tranquilo — disse


diretamente para ele. — Vamos seguir com o plano B. Também acho que é a
melhor solução.
— Tem certeza, coração?

— Tenho, Raul. Agora, me dão licença? Preciso encontrar Enrico e


pedir desculpas a ele.

— Ele vai estar no alojamento — Adam informou. — Ele sempre vai


para lá depois do almoço.
— Certo. Se ele não estiver lá?

— Aí só vai vê-lo na hora do treinamento. O cara consegue se


esconder muito bem.

— Obrigada, Adam.
Saí do refeitório e fui direto para o alojamento dos rapazes. Era a
primeira vez que entrava ali e percebi que ele era dividido em duas alas, com
letreiros nas portas: Equipe 1 e Equipe 2.

Entrei na da Equipe 2.

Era um espaço amplo, com vários beliches postos um ao lado do


outro, com lugar para vinte e quatro pessoas. Uma porta no final do cômodo
estava aberta e eu consegui perceber o azulejo branco e o barulho da água
correndo.
Comecei a caminhar até lá.

Será que ele está tomando banho? É tentação demais.

Meu pensamento se interrompeu quando vi Enrico sair enxugando os


cabelos com uma toalha.

Ele parou e me perguntou, sério:

— O que faz aqui?

— Eu... Eu vim pedir desculpas...

— Não precisava. Volte para o refeitório.


Ele ia passando por mim, mas segurei seu braço.

Eu jamais poderia com a potência que era Enrico. O homem era quase
tão grande quanto Garcia.

Mas bastou aquele contato suave para que ele parasse. Fui para sua
frente e minha mão encontrou o seu rosto.
— Eu queria pedir desculpa.

— Não precisa, Summer.

— Anjo. Me chame de anjo.


Eu me ergui na ponta dos pés e toquei seus lábios com os meus. Ele
cedeu e segurou minha cintura, aprofundando o beijo. Aquele encaixe era
perfeito demais.

— Me perdoa?

— Claro... anjo.
— Eu aceitei. — Beijei-o novamente. — Aceitei o plano B, que vocês
imaginaram.

— Summer, você acha...?

— Anjo. Sempre que puder, me chame de anjo. Eu adoro. — Minha


voz saía sexy, embaçada pelos beijos que eu insistia em continuar dedicando
aos lábios deliciosos de Enrico. — Não vejo a hora da sua vez chegar!

— Pensei em sair desse jogo...

— Não faça isso, por favor! — Quase perdi a voz com a declaração
dele.

— Você já tem seis para te satisfazer.

— Enrico... Mas aí eu não terei você...

Nossos olhos se encontraram e mantivemo-nos nessa posição por


algum tempo.

— E eu quero você — soprei em agonia.

— O quanto você me deseja, anjo?


— Tanto que eu poderia me deitar em uma dessas camas agora, mas...
apesar de toda minha ânsia de sentir você dentro de mim, eu não faria isso
agora.

— Por que não, anjo?

— Porque eu não te quero apenas por uma hora. Não quero que o que
tivermos seja corrido, apressado. Ah, Enrico... — Eu o beijei, devassa. —
Quero satisfazer nossos desejos por horas.
Ele gemeu no meio do nosso beijo. Estávamos tão aflitos por nos
provar e nos possuir que sentíamos o cheiro da nossa excitação no ar.

— Então saia logo daqui, anjo. Porque não está faltando nada para eu
te jogar na minha cama e te possuir.

Sorri. Sedutora. Maliciosa. Enfeitiçando-o.


— Então vou mesmo. Te vejo logo mais no treinamento, senhor.
— Sim. Anjo. — Virei-me. — Por favor, coma algo. Tem que manter
suas forças para os exercícios mais tarde. Todos os exercícios. Entende?

Apenas assenti.
Saí de lá queimando. Parecia que estava com febre. Voltei para o
refeitório e ele estava vazio. Eu me servi novamente e comi. Imaginava como
seria aquela loucura a partir do dia seguinte. Será que eu conseguiria dar
conta de dois deles no mesmo dia? Eram homens vigorosos e aparentemente
nada pequenos.

No estande de tiro, colocamos o material de proteção e Enrico me


mandou para a última baia.

Barata se aproximou e perguntou se eu precisava de ajuda, mas eu


recusei, agradecendo.
Me preparei toda e já ouvia os disparos ao meu lado quando percebi
Enrico aproximar-se de mim. Ele parou bem atrás de mim e colou seu corpo
forte ao meu, posicionando meus braços à frente do meu rosto. Meu
estômago não respondia mais ao meu cérebro e eu me perguntava o que fazia
ali, já que minhas pernas estavam para perder as forças.

— Acerte o mínimo que puder, anjo — ele sussurrou muito próximo


ao meu ouvido.

— O quê?
— Erre. De propósito se for preciso, mas não acerte muito, anjo.

Pelo jeito, uma estratégia já estava em andamento.

— Tá. Tá bom.
Ele esperou eu dar o primeiro tiro e, com a ajuda dele, acertei o alvo,
dentro do contorno da figura humana.

— Parabéns, Mitchell — ele elogiou num tom bastante alto e se


afastou.
Eu estava nervosa. O que eles estavam planejando?

Eu segurava a arma à frente do rosto, mirava o alvo a minha frente,


mas desviava para o lado e disparava. Repetia o processo: mirava no centro
do alvo, desviava para baixo e disparava. Era certo que o que menos fazia era
acertar. Quando meu pente acabou, chamei Enrico.

Ele apertou o botão para conferirmos o alvo. Olhamos de perto e com


exceção do primeiro tiro, eu naturalmente havia errado todos os outros. Ele
substituiu o alvo.
— Costa — Enrico gritou. — Venha ocupar essa cabine. Mitchell, por
favor, sente-se ali em um dos bancos.

— O quê? Por quê?

— Porque você ainda terá que treinar muito.


Aaaahhh... Acho que estava começando a entender. Barata estava ali
por perto e resolvi entrar no jogo.

— Mas...

— Mitchell, por favor, sente-se.


Ele estava muito sério, então eu cruzei os braços abaixo dos seios e
fui me sentar, fingindo estar muito irritada.

Fiquei olhando os rapazes atirarem e vi Enrico ao lado de Barata,


explicando algo. Quando terminaram, veio em minha direção.

— Pode vir comigo, Mitchell? — ele me chamou.


Ele estava à minha frente e ergui os olhos para ele. Seu rosto não
mostrava nenhum sentimento. Levantei com um ar emburrado e o segui.
Fomos até a cabine onde Adam estava.

— Ferreira, por favor, você poderia dar algumas instruções a


Mitchell?
— Claro, senhor.

Enrico estava colocando Adam para me treinar.

— Venha, fique aqui na minha frente. — Adam ficou atrás de mim.


— Lembra-se das aulas do Ítalo?
— Sim.

— Então vamos tentar repetir tudo?

— Claro.
Ajeitei a arma e quando ia puxar o gatilho ouvi o fio de voz em meu
ouvido.

— Erre.

Puxei o gatilho e errei.

— Mas que merda!

Reclamei bem alto e ouvi Costa e Rodrigues rirem.

— Eu sei que é difícil, Mitchell. Mas vamos continuar tentando.


E ia ficar cada vez mais difícil, pois eu ia errar sem medo. Muito. Mas
eu estava morrendo de curiosidade e sussurrei:

— O que vocês estão aprontando?

— Olho no alvo, Mitchell. — O filho de uma puta abriu um sorriso


lindo e descarado. — Vamos tentar mais uma vez.

Ele ajeitou-se atrás de mim e, enquanto sua mão direita apoiava meus
punhos para que eu ajustasse a mira, seus dedos da mão esquerda abraçavam
meu corpo e faziam um carinho discreto na minha barriga. Ela estava gelada
e eu estava tão desconcentrada que acertei o alvo sem querer.
— Muito bem, Mitchell. Mas ainda tem que melhorar muito. Não sei
como acertou tantos adversários no paintball se erra tanto aqui. Deve ter sido
sorte de principiante.

Ele praticamente gritou. Costa, Rodrigues e Barata ouviram e caíram


na gargalhada.

Dessa vez eu fiquei irritada mesmo. Virei lentamente meu rosto para
ele com o intuito de fulminá-lo. Mas o safado apenas sorriu.
— Não me olhe assim, Mitchell. Não com uma arma em punho. Dá
medo. Mas não muito, com essa sua pontaria horrível. Vamos voltar às aulas.

Ele continuou me provocando e, depois de alguns tiros, em que me


esforcei para errar mais do que para acertar, ele assumiu meu lugar e fez sua
sequência de disparos perfeitos.

— Está vendo como se faz, Mitchell?


Aquilo já era provocação! Era bom esse plano funcionar muito bem,
senão eu ia matar um ali.

— Quem for acabando, vá para o pátio, vamos começar os exercícios


— Enrico pediu.

Os primeiros rapazes começaram a sair e esperei Adam terminar sua


segunda rodada de tiros. Quando ele começou a tirar o material de proteção,
fiz o mesmo e comecei a guardar o equipamento.
— Você não, Mitchell — Enrico falou vindo na minha direção.

Claro!

Vi Costa ali ao lado e disfarcei.

— Como assim?

— Acho melhor você ficar e treinar mais. Seu desempenho foi


sofrível. Você pode ficar com ela para treiná-la, Ferreira?

— Entendido, senhor.

Eles estavam tramando para me deixar sozinha com Adam!

— Recoloque o equipamento de proteção, Mitchell — Adam pediu


enquanto colocava os óculos em mim.
Enrico foi o último a sair da sala de treino e falou antes de partir:

— Não sei quanto tempo consigo para vocês, mas vou ver se consigo
segurar os rapazes por umas duas horas.

— Valeu, cara.
— E tranque a porta, Adam. Vocês não vão querer nenhuma surpresa.

Adam acompanhou o amigo e apertou a trava, trancando-nos ali


dentro.

Mantive a posição de treinamento e comecei a atirar antes que ele


chegasse até onde eu estava. Adam ficou parado atrás de mim, vendo meu
progresso e, quando acabei e coloquei a arma sobre o balcão, apertei o botão
puxando a folha de papel que mostrava que todos os tiros haviam acertado o
alvo. Claro, nem todos em pontos vitais, mas acertei todos. Virei-me para ele
e ele ainda encarava o alvo.
— Parabéns, Mitchell. Eu tinha certeza de que minha experiência e
habilidade a fariam evoluir muito.

— Seu filho de uma puta cínico. Podiam ter me contado todo o


esquema.
— E como, gatinha? Com o Barata, o Costa e o Rodrigues escutando?

Ele deu um passo na minha direção, encarando minha boca, mas dei
um passo para trás, colando minhas costas ao balcão.

— Podiam ter dito no almoço...


— O Garcia só teve a ideia quando estávamos vindo para cá. Eu só
fiquei sabendo aqui, e sabe de uma coisa?

Ele estava mais perto. Eu estava fixa naqueles olhos verdes lindos.

— N-não.
— Minhas bolas quase explodiram quando imaginei que finalmente
eu ia poder te comer...

Adam segurou minha nuca e o beijo foi certeiro e forte.

Começamos a nos devorar na mesma velocidade com que


arrancávamos nossa roupa. Ele me beijava inteira, assim como eu fazia com
seu corpo bronzeado e atlético. Arrancou meu sutiã e o deixou cair ao lado.
Admirou meus seios antes de prendê-los em sua boca e em suas mãos. Ele
não era nada gentil, era afoito e parecia ter só um alvo em vista: o meio das
minhas pernas.
Sua língua macia passeou pelo contorno do meu mamilo direito,
turgindo-o imediatamente e, sem demora, ele abriu mais a boca e o sugou,
com força a princípio, depois com calma, provocativo, me tirando dos eixos.
Recebi pontadas em meu ventre quando ele deu a mesma atenção ao outro
seio. Já começava a me desesperar com tanta dedicação e cravei minhas
unhas em seus ombros, arranhando os músculos.

— Apesar de eu adorar, gatinha, não marque minha pele. Como


vamos explicar aos outros suas garras de gata marcadas em mim?
— Ai, desculpa... é que você... está me enlouquecendo.

— Eu nem comecei.

Seus beijos desceram por minha barriga até meu ventre.

Era divina.

Para que ela usava calcinha se elas eram tão pequenas que sumiam
naquela bunda fenomenal? Eu só conseguia ver um pequeno triângulo na
parte superior. Segurei as maçãs da bunda e apertei com força, abrindo-as
levemente, deixando-me ver o volume de sua boceta que melava o tecido que
se atritava ali.

Afundei a boca naquela fenda tentadora e comecei a lambê-la e


mordê-la. Ela dava gritinhos que faziam meu pau pular dentro da cueca. Duas
horas não era nada para o que desejava fazer com aquela mulher.

Comecei a distribuir beijos pela sua nádega direita e depois ia para o


outro lado e mordia ali sem piedade. Minha língua e meus lábios deixavam
rastros de saliva. Eu estava babando por toda aquela formosura suculenta.

Segurei as laterais da calcinha, e ainda de cócoras, atrás dela, a puxei


com tanta força que o tecido rasgou, tamanho era meu desespero de possuir
aquela mulher. Summer estremeceu quando percebeu o que eu havia feito e
entreabriu as pernas empinando a bunda em minha cara. Aquilo foi minha
perdição, pois eu me acabei na visão daquela xota inchada, vermelhinha e
implorando por minha vara.

Retirei a cueca e enfiei com urgência uma camisinha no pau. Ainda


bem que estava preparado o dia todo só esperando esse momento! Eu me
conhecia, não ia me segurar por muito tempo. Era um filho da puta ansioso,
que implorava o tempo todo para estar dentro de uma boceta apertada. E
aquela parecia deliciosa demais para ficar desperdiçando tempo.
— Você é linda, gatinha — sussurrei em seu ouvido, colando meu
corpo no dela. Faço-a sentir o quão grande e louco estou para começar a
comê-la.

Eu a pego de surpresa quando estalo um tapa em seu traseiro, ela


geme alto e se inclina ainda mais, quase fazendo-me enfiar minha tora em seu
rabo lindo. Eu não resisto mais, se ela quer pau, pau é o que essa vadia vai
ter.

Acerto outro tapa ainda mais forte e a puxo mais, deixando-a


vulnerável ao meu amigo. Vou me ajeitando em sua entrada e soco de uma
vez, todo, fundo e forte, preenchendo Summer com meu pau que pulsa de
satisfação, afogado por aquele calor úmido.
Ah, como eu estava com saudade de me perder em uma bocetinha
quente assim!

Fecho os olhos para afundar-me mais no prazer que sinto em comer a


cadela. Meu vaivém começa a ficar frenético e já sinto o suor, mesmo sem ter
nem começado o que pretendo fazer com Summer.

— Gosta de sentir meu pau dentro de você, gatinha?


Puxo seu cabelo com força e a escuto reclamar em um murmúrio
baixo. Puxo mais e seguro seu rosto levando-o para trás. A maldita empina
ainda mais a bunda contra mim. Beijo lascivo suas bochechas e empurro seu
rosto de lado para poder beijar seus lábios, exijo sua língua e ela me dá.
Chupo-a, me deliciando mais uma vez com o seu gosto viciante. Meu pau
chora por mais, começo a socar com mais força, arrancando gemidos mais
altos da gatinha que está mais para gata selvagem, para me aguentar desta
forma.

Cerro o maxilar quando sinto meu mastro deslizar para dentro dela
com certa brutalidade. Me regozijo mais ao perceber que ela adora aquilo.
Estou perdendo todo o controle. Ela é perfeita. Perfeita. Vou até bem fundo,
sinto cada fodido espaço dentro dela, estrangulando meu pau. E a desgraçada
começa a rebolar na minha frente, fazendo o atrito entre nós aumentar.
Levo a cabeça para trás por um momento, deleitando-me com essa
sensação delirante. Eu estava me acabando de tesão. Volto a inclinar-me
sobre o corpo dela, unindo nosso suor, nossas peles e nossos muitos fluidos.
Estava alucinado, tendo meu peito colado em suas costas. Desci os lábios
sobre seu pescoço e mordi ali, mas depois me lembrei das malditas marcas.
Não podíamos deixar marcas um no outro.

Ah, que merda de situação!

Queria marcar muito aquele corpo clarinho. Como tatuagens, para que
ela se lembrasse de mim por um longo tempo.
Desisto de tentar controlar aquela atração. Dou outro tapa em seu
traseiro lindo e redondo e escuto um novo gemido. Retiro parte do meu ferro
para fora, o suficiente para poder me enfiar em seu interior novamente,
resvalando fora e voltando a enterrar fundo. Forte. Em golpes rápidos. Sinto
Summer estremecer colada em meu peito, cada estocada ficando mais e mais
gostosa.

A gatinha lança sua bunda contra meu pau e eu resfolego, soltando


urros guturais vindos não sei de onde.
Essa mulher toma tudo de mim.

Ela tenta comandar um ritmo para ajudar com o meu vaivém e isso só
amplia minha tentação, pois, ao fazer isso, ela recebe mais e mais do meu pau
dentro dela.

Dou outro tapa em sua bunda e a marca da minha mão fica ali,
vermelha sobre a pele.
— Ai...

Desta vez ela reclamou e me arrependo da força que investi.

— Desculpe, gatinha... me empolguei...


— Tudo bem... é bom... só foi forte... demais...

— Você gosta das minhas palmadas, gatinha brava?

— Dá mais um para eu poder te responder melhor.

Ela queria pegar minhas bolas com a boceta e esmagá-las, bem à


minha frente. Summer está me enlouquecendo ao fazer aquele pedido de
forma tão manhosa e lasciva.

Acerto um novo tapa enquanto não paro de comê-la. Eu queria foder


até a alma daquela mulher. Ela choraminga, dengosa, e eu não resisto,
acompanho o tapa com outro, fazendo tremer ainda mais. Sim, ela gosta das
minhas palmadas e gosta ainda mais de me tomar inteiro, forte dentro dela.

Levo minha mão para a frente de seu corpo e meu dedo resvala em
seu centro nervoso. Começo uma fricção cadenciada em sua carne sensível e
ela já não controla a respiração nem os sons que solta. Não demora a se
derreter, me sentindo enterrado até a base dentro dela, apertando-me com
carinho e me fazendo ficar louco.

Continuo o movimento, para dentro, para fora, para dentro... Não


quero parar. Não quero abandonar aquele interior acolhedor. Não quero...
Não quero... Nunca mais... Ahhhhh...
— Porra, nããããããooooo...

Sou atropelado pelo gozo mais foda que já tive na minha vida! Um
rolo compressor de tesão!

Abraço sua cintura com força enquanto tento fazer minha alma voltar
para o corpo. Beijo suas costas sem parar. Meu pau ainda está enterrado nela
e eu não quero sair dali.
Como eu conseguiria viver ao lado dela aquela semana sem poder
tocá-la? Eu não ia conseguir!

Aquelas merdas daquelas regras teriam que ser mudadas de algum


jeito!

Raul estava coberto de razão.

Eu ia reclamar. Eu ia reclamar e muito até poder ter Summer


novamente, nem que fossem apenas beijos.

— Tudo bem aí, gatinho?

— Tudo, gatinha deliciosa.


Adam saiu de trás de mim e continuei apoiada no balcão de tiro por
algum tempo. Minhas pernas estavam falhando. Adam era intenso demais e o
sexo com ele não foi diferente. Ele me ajudou a ficar de frente e, assim que o
fez, me beijou, exigindo minha língua. Apesar do beijo duro, eu podia sentir
algo mais, algo como... cumplicidade!

— Você é muito gostosa, Summer.


— Você também é, gatinho.

Eu o tratei pela forma carinhosa que ele usava para me chamar e que
me irritara tanto logo que nos conhecemos.

— Os rapazes tinham razão... Eu acho que não vou conseguir parar de


reclamar, Summer. Agora eu vou ficar desejando você, todos os dias, só para
mim...
Eu ri. Como um homem podia ser tão fofo?

— Então é melhor você aprender a lidar com isso, seu assanhado.

— Eu não vou conseguir. Eu vou te agarrar na primeira oportunidade.


Viver sem seus beijos é o mesmo que...

Aquilo me entristeceu:

— Não continue, Adam. Você sabia que tínhamos prazo de validade...


Eu vou voltar para Califórnia logo...

Ele abaixou o rosto derrotado.


— Eu sei, gatinha. Mas transar contigo apenas uma vez é pouco,
muito pouco mesmo...

— Mas não se esqueça que ainda estamos no seu dia... Não acha
melhor aproveitarmos ainda mais?
— O que quer dizer...?

Segurei o pênis com a mão e o músculo ganhou vida imediatamente.


Seus olhos, anuviados pela surpresa, aprisionaram os meus.
Cobri de carícias toda a extensão que ia da glande até a base. Pude
sentir minha mão se enchendo mais e mais e sorri maliciosa enquanto ele
virava os olhos com meus avanços.

Abaixei o rosto e acompanhei as contrações involuntárias de seu


ventre, dando ainda mais vida ao membro pulsante, rosado e já firme em
minha mão. Abaixei-me e o envolvi com a boca, já salivando pela expectativa
de ter aquele pedaço de carne dura na minha boca.

Não consegui me conter mais.


Caí sobre ele, envolvendo-o inteiro, até quase a garganta. E
lentamente comecei a sugá-lo, chupando-o com uma delícia gananciosa,
aumentando o ritmo aos poucos e levando Adam para além do que ele podia
suportar. Ergui o rosto para encontrar os olhos dele em mim.

A luxúria me devorava completamente.

Ele segurou meus cabelos e começou a me conduzir por seu


comprimento. Ele queria mais e mais, forçando-me a tomá-lo por inteiro.
Senti as lágrimas nascerem e buscarem caminhos sinuosos por meu rosto,
mas ele não parou. Não parou de me olhar e não parou de foder minha boca
da mesma forma que havia fodido minha boceta. Ele com certeza adorava ser
devorado por mim. De todas as formas. E eu adorava senti-lo.
O sêmen jorrou na minha boca no meio de uma chupada mais
vigorosa e voraz.

Ele grunhiu alto e estremeceu ao me entregar até a última gota de sua


porra. Me apoiei em suas coxas grossas, já sem sentir minhas pernas
dormentes devido à péssima posição em que me encontrava. Adam me
segurou por baixo dos braços e me ergueu. Demorei a me firmar nos pés e
aquilo nos fez rir muito.

— Ainda bem que o Enrico não vai me mandar correr cinco


quilômetros por eu ter ido mal no treino de tiro...
— Se ele mandasse, eu correria por você, gatinha.

— Tão cavalheiro... Obrigada por se oferecer.

Ele me beijou com ardor.


— Você piorou tudo, gatinha. Agora quero te foder ainda mais.

— Não temos mais tempo, gatinho. Podemos ser flagrados a qualquer


momento.

— Mas eu...
Abaixei-me, peguei minha calcinha e a entreguei.

— Bem, essa você tem prova de que foi usada. Como você queria.

— Você vai me dar sua calcinha?

— Da cor que você escolheu. Preta.

— Summer, você quer me enlouquecer?

— Não.
— Mas está perto de conseguir assim mesmo.

Ele levou minha calcinha até o nariz e aspirou com força. Fiz uma
careta ao ver aquela demonstração. Por que homens gostavam de fazer isso?

Peguei minha camisa e quando ia começar a me limpar, ele me


impediu.

— Não. Use a minha camisa. Ou não vai conseguir sair daqui


apresentável, senhorita Mitchell.
Ri e aceitei a oferta. Nos ajeitamos minimamente e nos vestimos.
Organizamos o lugar e guardamos todo o material antes de sair. Passamos
pela quadra da academia, agradecidos por não encontrar ninguém e quando
saímos percebemos o sol bastante baixo.

— Ficamos quanto tempo lá dentro? — perguntei.

— Não tenho nem ideia, mas acho que o treino já acabou há algum
tempo... Se eu não aparecer logo, o Enrico vai me fritar em óleo.
— E eu preciso ir logo para casa para não levantar suspeitas. Meu pai
já deve estar chegando.

Adam me puxou novamente para dentro da academia e me beijou


várias vezes antes de me libertar.

— Vou sentir tanta falta desse beijo, gatinha.


— Eu também vou, mas...

— E do seu corpo. De foder você.

— Adam!
— Eu sei. Prometo que não vai me escutar mais reclamar, mas não
posso prometer não lhe roubar um beijo quando menos esperar.

Sorri complacente. Eu adoraria os lábios dele caindo sobre os meus


de surpresa.

— Vamos, Adam.
— Vamos, gatinha.

Seguimos destinos opostos. Fui para o carro e ele foi para o


alojamento.
Assim que liguei o motor, vi Ítalo correr em minha direção. Esperei
com o vidro da janela baixo. Ele se aproximou e não tirava aquele maldito
sorriso matador do rosto.

Puto lindo dos infernos.

— Já estava indo embora, moranguinho?


— Sim. E ainda tenho que passar no refeitório para pegar o jantar
para mim e para o meu pai.

— Não estava esquecendo de nada?

— Eu era obrigada a avisar o Enrico que estava indo embora? Vou ser
castigada?
Ele gargalhou levando o rosto para trás e expondo o pomo de adão e
aquele queixo com a covinha. A beleza daquele homem ainda ia me matar.

— Não, não é isso, moranguinho. Pegue. — Ele me entregou dois


papeizinhos dobrados. — Queríamos que você abrisse.

— Quem será amanhã?


— Sim.

— Você não olhou enquanto vinha me entregar?

— Prometo por todas as forças do Universo que eu não olhei. Eu


estou torcendo para meu nome estar aí. Pode revelar logo?
Encarei os dois pedacinhos de papel. Deixei um em meu colo e abri o
outro:

Pablo
Mostrei a ele. Peguei o próximo e repeti o processo:

Uriel
— Putos fodidos — Ítalo reclamou.
— Que pena, Ítalo! Não vejo a hora de estar contigo...

— Ah, Summer. Logo, logo... E garanto que você não se arrependerá


de esperar.

Aquela declaração fez meu estômago gelar e o meio das minhas


pernas respondeu com um desejo líquido. Eu estava virando uma louca por
sexo. Era essa a única explicação.
— Leve os papéis e conte aos rapazes.

— Amanhã será o dia dos estrangeiros! Uma americana, um espanhol


e um italiano.

Rimos juntos.

— Pelo jeito sim. Até amanhã, Ítalo... no treinamento... quero dizer.

Ele riu ainda mais, erguendo a mão e se afastando.

— Até amanhã, moranguinho.


— Ítalo — chamei antes que ele se afastasse.

— Oi.

— Poderia, por favor, dizer aos rapazes que vou correr às cinco da
manhã?
Ele me encarou por um momento e assentiu malicioso, entendendo
imediatamente:

— Darei seu recado, moranguinho.


— Muito obrigada.

Cheguei em casa feliz, completamente satisfeita com o que havia


acontecido entre mim e Adam. Se ele estava sofrendo, como ele imaginava
que eu iria ficar?

Ele foi maravilhoso!


Um galho no meio do caminho

Papai já havia chegado?


Estacionei ao lado do carro dele e entrei. Fui pega de surpresa pelo
cheiro delicioso que invadia o lugar. Vi papai na cozinha, de costas para a
entrada. Estava com fones de ouvido e não me viu chegar. Me aproximei de
forma que me visse, assim não se assustaria. Coloquei as sacolas de comida
sobre a mesa da cozinha, enquanto ele tirava os fones de ouvido.

— Chegou, vida?

— Acabei de chegar.
— Eu acabei chegando um pouco mais cedo e me deu vontade de
fazer um jantarzinho gostoso para a minha filha. Pode colocar a comida que
você trouxe na geladeira, porque hoje o Comandante está operando as
panelas.

Que fofo!!!

Ele soltou uma gostosa gargalhada e eu o acompanhei.


— Adorei, papai. Fiquei muito feliz.
— O treino foi puxado, raio de Sol?

— Mais ou menos.

Eu respondi sem muita motivação. Eu estava morta, mas não podia


dizer o real motivo para meu pai.

Sentei-me na cadeira ao lado da mesa da cozinha.

— O que aconteceu, vida? — Ele sentou-se ao meu lado.

— Essa história de passar o dia inteiro atirando. Eu sou péssima! Errei


tanto hoje que o Enrico me colocou de castigo novamente.

Papai deu um sorriso malicioso:

— Ah, não sou só eu que te coloco de castigo?


— Não foi bem um castigo. Ele colocou um dos rapazes para me
ajudar a treinar, depois que todos foram para o campo. E continuei treinando
até agora há pouco. E mesmo assim não acertei quase nada, papai.

Ele riu, se divertindo:

— Claro, querida. Foi por isso que eu coloquei você para atirar o dia
todo hoje. Você nunca havia segurado uma arma antes. Pelo menos até onde
eu sei...
— Não mesmo, papai.

— Então como quer saber atirar como esses homens que já lidam com
armas profissionalmente há anos? Estranho seria se você acertasse de
primeira... Não viu a cara deles quando você deu aquele show no tatame?
Mas para isso você treina, e muito, desde pequenininha. Certo?

— Certo.
— Então, qual seria o resultado daquela luta se você tivesse a mesma
experiência de jiu-jitsu que tem de armas?

— Eu nem tinha subido no tatame.


— Pois é, vida. Então não fique tristinha. Vá tomar um banho
enquanto eu termino nosso jantar.

— Tá bom. Sabe, é que não quero decepcionar o senhor...

— Você nunca me decepciona, meu amor.

— Mas o senhor disse que teremos outra atividade de paintball e,


dessa vez, posso ser um fracasso e morrer de primeira.

— Normal, querida. Isso não quer dizer que eu vá ficar decepcionado


contigo. Repito: alguns desses caras têm treinamento militar, outros de
polícia. São guarda-costas, vida, estão preparados para qualquer situação,
com o máximo de estresse que se pode imaginar.

— Tá bom, papai. Tentarei não me cobrar tanto.


— Não se cobre, raio de Sol. E no final do treino conseguiu acertar o
alvo?

— Dois tiros.

Ele gargalhou afastando-se para cozinha.


— Se quiser posso treinar com você, vida.

— Perdi foi o amor por esse treinamento. Principalmente porque perdi


o treino na pista de corridas. Eu adoro aquilo!

— Que pena, raio de Sol. Mas eu mandei para o estande de tiro todos
os que não estavam desempenhando bem nessa área. Você mesma falou que
queria levar o curso a sério e pediu que eu não a tratasse com favoritismo,
certo?

Ele me pegou, usando minhas próprias palavras, e aquilo me fez


sorrir.
— Vá para o seu banho, vida, que a comida ainda vai demorar um
pouco.

— Combinado.

Bastou entrar embaixo do chuveiro e a água tocar meu corpo para


meus pensamentos voarem até os meus sete maravilhosos desejos. Era
impossível não pensar em Adam durante o banho. Era impossível não
lembrar de Garcia também e imaginar como seria o dia seguinte com Uriel e
Pablo. Seria quase impossível conseguir viabilizar os dois encontros. Ítalo
seguramente os informou que eu sairia para correr muito cedo, mas mesmo
assim...
Meu pai estaria presente o dia todo e já havia avisado que o
treinamento seria mais puxado que o normal.

Mas tinha certeza de que eles tentariam imaginar alguma maneira, os


meus lindos estrategistas...

Depois do banho, me joguei na cama, peguei o celular e havia uma


mensagem da minha mãe:
Adele: Quando puder, me mande um oi. Te amo.

Summer: Oi, mamãe.

Adele: Oi, filha. Como você está?


Summer: Estou ótima e a senhora?

Adele: Muito bem meu amor. Curtindo as férias?


Summer: Muito, e está cada vez melhor.

Adele: Que bom, meu amor.

Summer: A senhora queria falar algo?

Adele: Bem. Sim. É que o Travis veio aqui em casa...

Summer: O Travis? Por quê?


Adele: Ele queria falar com você. Você não falou para ele que iria
viajar, filha?

Summer: Não.

Adele: Você devia ter me avisado. Eu acabei contando sem querer.


Summer: Sério?

Adele: Sim. Mas acabei percebendo que ele não sabia, então
desconversei. Disse que era para espairecer, para se encontrar, para
descansar.

Adele: Mas ele sabe que você está com seu pai no Brasil, meu amor.
Summer: Poxa, mamãe...

Adele: Juro que não falei nada. Ele intuiu.

Summer: Fazer o quê? Bem, pelo menos a senhora não disse quando
eu ia voltar, disse?
Adele: Não contei, eu juro.

Summer: Tudo bem, mamãe. A culpa foi minha, a senhora não tinha
como adivinhar... Desculpe se pareci ríspida nas mensagens.

Adele: Não foi, meu amor.


Summer: Vou jantar agora, mamãe. Depois mando notícias.

Adele: Por favor. Eu já estou morta de saudades.

Summer: Eu também.

Adele: Estou louca para ver as fotos da sua viagem.

Summer: Vou atualizar meu Instagram. É que não estou


conseguindo parar por aqui.

Adele: Isso é bom, meu bem. Agora vá jantar.

Summer: Vou sim, mamãe. Te amo.

Adele: Também, meu amor.


Depois que mamãe e eu nos despedimos, descobri que havia uma
enxurrada de mensagens de Maisie:

Maisie: Como assim deu?

Maisie: Pode descrever melhor esse verbo?


Maisie: Deu o que exatamente?

Maisie: Summer? Você está aí?

Maisie: Por favor, detalhes. Não consigo visualizar sem detalhes.


Maisie: Summer, qual o tamanho da...” responsabilidade” ... do
sujeito?

Maisie: Você vai encontrar o moço novamente?

Maisie: Ah, amiga, sempre falei que tinha que ter aproveitado mais
os paus do mundo. Os caras mais velhos são uma delícia.
Maisie: Summer, quer matar a amiga de curiosidade? Estou quase
pegando um voo para São Paulo.

Maisie: Summer! Apareça, sua amiga desnaturada!

Eu me acabei de rir com aquilo.

Summer: Oi, sua louca. Estou aqui agora. Você está por aí?

Maisie: Não desgrudei do celular esperando alguma resposta sua.


Summer: É que o dia foi bem corrido. Ando muito ocupada por aqui.

Maisie: Espero que fazendo o que estou pensando que está fazendo.

Summer: Também.
Maisie: AAAAAAAHHHHHHHHH... ADORO!!!

Maisie: Finalmente minha menina está crescendo.

Summer: Rsrsrsrsrs... Louca!


Maisie: Conta mais. Como rolou?

Summer: Segui seu conselho. Me abri com eles.

Maisie: Se abriu com eles ou se abriu para eles?

Summer: Quer ou não quer saber? Vai me deixar contar?

Summer: Conversamos e eles disseram que também estavam a fim de


mim.

Maisie: Todos eles?


Summer: Todos eles! Então firmamos um acordo. Eu iria dormir com
cada um deles. Um de cada vez. Um por dia. Por sorteio.

Summer: Então eu já fiquei com o Garcia e com o Adam.


Summer: Mas descobrimos hoje que o curso vai terminar mais cedo e
tivemos que acelerar um pouco o combinado.

Summer: Então é possível que eu precise ficar com dois deles no


mesmo dia...
Summer: Isso começa a partir de amanhã. Não tenho nem ideia de
como será essa loucura, mas vamos tentar.

Summer: O que acha de tudo isso, Maisie?

Summer: Maisie?

Summer: Você ainda tá aí?

Maisie: Amiga, eu desmaiei de emoção quando li “Vou transar com


sete caras gostosos, um por dia”. Estou voltando a mim agora.

Summer: Não foi bem isso o que eu disse...


Maisie: Mas foi assim que eu interpretei. E sobre o que eu acho...
Porra, Summer. Estou muito feliz por você. Como eu tinha dito, já estava na
hora de você viver um pouco, conhecer outros horizontes.

Summer: É, mas... O Travis esteve lá em casa hoje procurando por


mim.

Maisie: O que tem?


Summer: Acho que ele deve estar sofrendo muito, amiga. E eu aqui
me divertindo. Não sei se o que estou fazendo é o certo.

Maisie: Amiga, eu só digo uma coisa: aproveite. Depois você


descobre se o que está fazendo é certo ou não. Depois você descobre como
esquecer ou tentar ser perdoada. Mas eu vivo em um mundo em que prefiro
me arrepender do que fiz a lamentar o que não fiz. Então curta muito esses
caras. Eu só estou chateada com uma coisa: ainda não vi nem uma única
foto deles. Resolva esse problema com urgência, por favor.

Summer: Hahahahaha! Safada. Não vou mandar fotos dos meus


desejos para você. Vai endoidar quando vir os caras de tão lindos que são e
vai querer vir aqui tomar os sete de mim.
Maisie: Nunca faria isso, amiga. Mais fácil tomar seu pai de você.

Summer: Ih, chegou tarde, papai está namorando.

Maisie: Namorando... Não capado, querida.

Summer: Amiga, meu pai já deve estar me esperando há um tempão


para jantar. Vou lá.

Maisie: Pode ir, mas vou querer detalhes depois. Você omitiu todos
eles.

Summer: Vou pensar no seu caso. Tchau, amiga.


Maisie: Tchau, querida.

Fui até a cozinha e meu pai já estava terminando de colocar a mesa.

— Demorou, vida.

— Mamãe e Maisie ficaram puxando conversa, papai. Mil desculpas.

— Não por isso. É que estou varado de fome.

— Ai, tadinho.
Nós nos sentamos e começamos a comer.

— Papai, sabe o que o senhor poderia fazer?

— O quê, raio de Sol?


— Poderia trazer sua namorada aqui para jantarmos juntos amanhã.
— Summer! De novo com isso?

— Ah, papai, por favor. — Fiz beicinho.

— Vou pensar, querida. Mas não prometo nada.

Ao terminar o jantar, lavamos a louça e fui para meu quarto.

Desabei na cama, esgotada. Acordaria muito cedo no dia seguinte


para minha corrida.

Ai Deus, como seria essa corrida?

Ouvi o mesmo barulhinho que havia escutado alguns dias antes e me


levantei correndo, fui até a janela e a abri. Do outro lado, estava Enrico.

— Você é louco? Meu pai ainda está acordado.


— Sou. Sou ou devo estar ficando, porque eu nunca fui de fazer
loucuras.

— Vá embora daqui, vamos...

— Não sem antes provar seus lábios.


Ele me puxou e eu permiti, porque eu estava mais sedenta por ele do
que ele poderia estar por mim.

Nos beijamos com suavidade, completamente entregues àquela


atração que nos unia, separados pela mureta da janela.

Eu protegida pela escuridão e pelo calor do meu quarto, e ele à luz da


Lua, envolvido pelo frio da noite.
Não foi um beijo longo, mas foi um beijo quase... apaixonado.

— Boa noite, anjo.

— Boa noite, Enrico.


Ele me soltou e partiu.

Voltei para a cama abalada. Ele, mais do que todos, tinha o dom de
me fazer estremecer daquela forma profunda, com apenas um beijo inocente.
Era muita tentação, Senhor!

Na manhã seguinte, ainda não eram nem cinco horas e eu já começara


a correr. Fui em direção ao campo de treinamento, que não ficava muito
longe da casa.
Era um caminho tranquilo e eu era presenteada o tempo todo com
sons que vinham da natureza. Que delícia de lugar!

Passei pelos pátios, pela academia e pelos alojamentos. Não iria na


direção do lago, permaneci no itinerário que os rapazes costumavam
percorrer, rumo a uma elevação no meio da mata. Eu estava começando a me
cansar.

Era um longo trajeto e estava longe de terminar. Escutei passos se


aproximando rapidamente e me virei.

Era Pablo.

— Você está na trilha, guapa.

— Sim. Qual o problema?


— Venha por aqui.

Pablo passou por mim e pegou um caminho à esquerda, entrando por


uma trilha que parecia muito pouco usada. Passamos a caminhar por dentro
da mata, envoltos por árvores antigas, um cheiro marcante de umidade da
terra e os raios de Sol que se infiltravam através das folhas das grandes copas
acima de nós.

Eu não parava de admirar seu porte físico, enquanto ele dava passadas
firmes à minha frente. As pernas grossas no calção curto e folgado. A
camiseta clara, mostrava o caminho do suor descendo por suas costas e
deixando parte do trapézio e dos músculos dos braços à mostra. Ele diminuiu
o ritmo e fiz o mesmo.
Finalmente virou-se, prendendo meus olhos aos dele.

— Você sempre corre neste horário? — Pablo perguntou.

— Nunca.
— Veio correr hoje por nossa causa?

— Achei que seria bom facilitar a vida de vocês um pouco...

Ele sorriu sedutor, apertando ainda mais aqueles olhos castanhos


lindos e veio para mim, tomando meu rosto com as mãos e minha boca com a
sua.
— Como escolheram qual dos dois viria me encontrar aqui?

Perguntei entre os beijos, enquanto arrancávamos a roupa um do


outro.

— Tiramos no cara ou coroa.


— Sério?

— Ou foi no par ou ímpar, não me lembro mais.

Beijava a lateral de meu pescoço enquanto puxava as alças do sutiã


para baixo.
— Ou foi pedra, papel e tesoura... Ou será que foi porque Ítalo falou
que meu nome foi o primeiro a ser sorteado? Você está fazendo perguntas
muito difíceis neste momento, guapa.

Eu sorria e ele também. Que sensação! Não estava nadando em um


lago, mas era como Ítalo havia dito: me expor completamente nua para a
natureza era uma experiência fenomenal e indescritível.
— Infelizmente, não teremos muito tempo, Pablo. Temos que ser
rápidos.

— Então vamos aproveitar cada segundo, pasión[3]!

Eu beijei seu peito, livre de pelos e firme como uma rocha. Desci os
lábios por sua pele e encontrei a resistência da cueca. Ergui meus olhos e o vi
com os braços apoiados com firmeza na árvore atrás de mim. Tinha o olhar
concentrado em mim e aguardava meu próximo passo.
Determinada, puxei a boxer para baixo lentamente e expus o eixo, que
saltou à frente, rígido, quase atingindo meu rosto.

Robusto e ativo, vi seu membro pulsar em frente a mim. Minhas mãos


correram por suas pernas e passaram por suas coxas quentes, vi o pau latejar
mais uma vez, mais forte, ereto. Abri a boca e deixei a ponta da minha língua
tocar a glande.

Ele gemeu quando os meus dedos envolveram suas bolas e minha


boca se fechou em volta da cabeça brilhante e inchada.

Ah, que mulher infernal!

Summer segurou meu comprimento com uma das mãos, mergulhou-o


por completo na boca e o percorreu, sugando-o lentamente até a ponta e
levando consigo minha sanidade. Ela passava a língua em cada centímetro do
meu eixo e voltava a se prender a ele, me provando com prazer.

Eu ia gozar a qualquer momento. Eu me abaixei e a interrompi, sob


protestos:
— Deixe-me terminar de te provar, Pablo.

— Tenho que lembrá-la que nosso tempo é escasso e que, se eu gozar


agora, posso demorar a me recompor, guapa?

Eu me abaixei para alcançar uma camisinha em um dos bolsos do


meu calção.
— Mas eu quero...

Eu a calei com um beijo.

Apertei sua bunda com firmeza, aproximando-a de mim e ergui uma


de suas pernas para aumentar o atrito. Ela respondeu ao meu avanço com o
mesmo desejo.
Eu estava muito duro, precisava penetrar aquela mulher sem perda de
tempo.

E eu sabia que ela me desejava com a mesma intensidade.

Eu levei a embalagem à boca, a encostando na árvore, ao mesmo


tempo que a arrancava do chão.
Ela me ajudou e tirou o preservativo, deslizando-o sobre o membro
choroso. Segurei-a pelas ancas e a prendi em mim. Ela se abria e envolvia as
pernas em meus quadris, colando ainda mais nossos sexos. Eu acompanhava
suas mãozinhas trabalharem com dedicação e eu gemia de forma
incontrolável quando ela me apertava de leve.

— Maldita bruja. ¿Quieres tomar mi cordura?[4]

Ela apenas sorriu e eu afastei a calcinha de renda para o lado. Ajeitei


meu vergalhão pulsante no centro de suas pernas e ele deslizou fácil para o
interior úmido e quente. Ela começou a rebolar sobre ele, assim que se sentiu
preenchida por completo.

Ela ia me matar de prazer. Era certo.

Comecei a comer Summer com força, acompanhando os movimentos


que ela exercia sobre mim. Éramos duas pessoas famintas, que não
conseguiam se saciar com tão pouco.
Beijei seu rosto e desci minha boca por seu pescoço, sugando o suor
produzido não apenas pela corrida, mas também por nosso sexo ardente e
lascivo. Lambia até o queixo e retornava, com beijos molhados e sedentos.
Sem nunca parar de me mover em sua boceta cremosa e gulosa, devorando
tudo que lhe oferecia de bom grado, até o talo.

Ele era firme. E se apressava, pois não tínhamos muito tempo,


mesmo. Era muito bom sentir Pablo todinho dentro de mim, tão duro, tão
vigoroso. E quando ele falou em espanhol, eu adorei. Seu pau entrava e saía
com uma velocidade de espantar, e era tão forte... Sem vacilar, não me largou
uma única vez, mantendo-me no ar, me empalando sem pena enquanto
segurava minhas coxas abertas para ele.
Nossas respirações se confundiam. Nossos gemidos também. Nossa
saliva há muito era uma só e nosso suor brincava entre nossos corpos. Não
me privei de nada naquela entrega.

Quando senti os primeiros sinais do orgasmo chegando, avassalador,


finquei minhas unhas em sua pele e o deixei tomar meu corpo. Soltei um
grito em agonia, choramingando com os espasmos tomando tudo de mim.
Pablo não se demorou também.

Em uma das estocadas mais fortes, ele travou e em seguida se pôs a


gritar várias palavras desconexas em espanhol. Seu gozo saiu forte e seu
corpo sinalizou o clímax. Eu passava as mãos por seus cabelos molhados e
beijava seus lábios enquanto recebia o calor feroz de seu prazer. Era lindo.

No final, ambos estávamos sorrindo. Nos beijamos inúmeras vezes,


ainda conectados. Vez ou outra ele entrava e saía lentamente, meio duro, até
que finalmente saiu por inteiro e me ajudou a sentir novamente o chão com
os pés.
Pablo segurou meu rosto e me beijou com dedicação.

— Hermosa de mi corazón[5].

— Fale mais.

— Te quiero tanto. Mucho más[6].

— Você fica tão lindo falando em espanhol...

— Hermosa eres tu[7].


— Pablo, eu adorei ter ficado contigo!

— Pena que um encontro é tão pouco...

— Concordo. — O beijei novamente. — E teve que ser tão breve.


— Mas adorei cada momento. Eres una delicia de mujer[8].

— Tenho algo para você, Pablo.

— O que é?

Tirei minha calcinha e entreguei a ele.

— É sua.
— Minha?

— Sim. Um presente meu. Preta. A cor que você escolheu naquele dia
no meu quarto. Mas só se você quiser.

— Eu quero. Claro que quero.


— Vamos nos vestir. Vai ser melhor eu chegar antes que meu pai
acorde.

— Saiu escondida de casa...

Ele riu animado.


— Mais ou menos. Sim. Sim. Está satisfeito?

Vestiu a cueca e o calção, guardou a calcinha, voltou para mim e


beijou os meus lábios.

— Você é muito linda, Summer. Você é linda.


Depois que nos vestimos eu disse:

— Vou na frente... Talvez seja melhor você sair pelo outro lado,
assim não levantamos suspeitas. O que acha?

— Por mim, tudo bem.


Nos beijamos uma última vez e partimos cada um para um lado da
trilha regular. Voltei por onde vim, já que o caminho era mais curto e ele foi
em direção o percurso total. E na subida.

Coitadinho. Lindo. Gostoso.


Não parava de pensar no sexo maravilhoso que acabara de ter!

Sexo de manhã cedinho.

Ao natural, na natureza, com um homão nada natural.

Delícia demais.

Vi alguém correr em minha direção, apesar da distância, aproximava-


se rápido. Minha mente ainda se fixava no quanto havia sido delicioso ser
preenchida pelo pau do Pablo e em como ele era forte. Devia ser muito
experiente para ter uma desenvoltura daquelas e saber se encaixar tão bem e...

— Puta que pariu...


Minha mente estava embrenhada no corpo do espanhol e meu pé se
embrenhou em um galho no meio do caminho.

O chão chegou tão rápido que eu só percebi quando já estava com a


cara enfiada nas folhas e na lama. Senti uma dor no pé e não me mexi por
alguns segundos, ainda tentando entender o que havia acontecido.

Senti duas mãos me ajudando e uma voz chamando minha atenção:


—Mitchell, a senhorita está bem?

— Ai, meu pé está doendo.

Me virei e dei de cara com Rodrigues. Ele era um rapaz muito


bonzinho, mas um dos mais jovens que estavam no treinamento.
— Você poderia me ajudar a ficar em pé, Rodrigues?
— É claro, Mitchell. Venha, se apoie em mim.

Quando me ergui e senti o pé, percebi que devia ter torcido algo.

— Ai. Tá doendo muito, Rodrigues. Será que você pode chamar meu
pai?

— Calma, Mitchell, eu levo você até a enfermaria.

Ele não esperou uma resposta minha. Já me pegou no colo e começou


a caminhar de volta para o campo de treinamento.

— Eu sou pesada, Rodrigues...

— A senhorita? — Ele gargalhou. — É leve como uma pena. É logo


ali, não se desespere. Assim que chegarmos, a deixo na enfermaria e corro
para chamar o médico do campo.

— Muito obrigada, querido. Se você não estivesse correndo a essa


hora também, não sei o que seria de mim. Poderia ser devorava pelos coiotes.
Ele gargalhou mais.

— Não existem coiotes no Brasil, Mitchell.

— Eu sei, falei brincando.

Assim que chegamos ao pátio, alguns rapazes correram em nossa


direção. Entre eles, alguns membros de minha equipe visivelmente aflitos.

— O que aconteceu com ela, Rodrigues?

Enrico era sempre tão preocupado!


— Ela levou um tombo enquanto corria. Caiu bem na minha frente.

— Eu estava distraída, meu pé enroscou em algo e fui ao chão.

— Vou chamar o médico. — Adam correu sem esperar resposta.


— Deixe-me carregá-la agora, Rodrigues — Enrico pediu.

— Eu aguento, Soares.

— Você está me carregando há muito tempo, Rodrigues, deve estar


cansado...

Falei com jeitinho, mas percebi que ele entendeu minha verdadeira
intenção.

Que vergonha!

— Tudo bem. Cuidado, Soares, não vá deixá-la cair...

— Ah, Rodrigues. Você foi o meu herói. Muito obrigada, de verdade.


— Beijei seu rosto.

— De nada, Mitchell. Quer que eu vá chamar seu pai agora?


— Vamos ver o que o médico vai dizer. Qualquer coisa, eu vou para
casa em seguida. Muito obrigada mesmo.

Enrico partiu para a enfermaria me carregando no colo. Era o dobro


do tamanho de Rodrigues e eu me sentia muito mais segura naqueles braços.

— Distraída é? — ele reclamou.

— Sim. Aí tropecei e caí.

— Espero que não tenha quebrado o pé, anjo.

— Acho que não, ou a dor seria muito pior. Nem está doendo tanto
quanto antes.
Entramos na enfermaria e ele me colocou em uma cadeira, ajoelhou-
se à minha frente e segurou meu rosto.

— Tem certeza de que foi só o pé, anjo?


— Sim.

Minhas palavras não foram o suficiente. Ele foi até a mesa ao lado,
pegou gaze e álcool e avisou:
— Tem um arranhão no seu joelho. Vou limpar. Pode doer um
pouquinho.

Concordei e ele pressionou a gaze encharcada com o líquido em meu


joelho. Apertei meus lábios para encobrir a dor e o vi soprar de leve o
arranhão. Ele ergueu os olhos para mim. Eles demonstravam toda aflição que
tinha em seu peito e fui eu que me inclinei para tomar seus lábios. Nos
beijamos demoradamente até escutar a porta da frente se abrir e nos
afastarmos.

— O que temos aqui?


O doutor Arnaldo entrou e já foi se abaixando para avaliar o meu pé.

— Temos uma desastrada — disse.

— Não diga isso, mocinha. Consegue apoiar o pé no chão?


— Agora sim, mas ainda está dolorido... E na hora da queda doeu
horrores.

— Consegue tirar o tênis e a meia?

— Acho que sim.


Tirei, e Arnaldo examinou meu pé.

— Foi uma torção leve. Vá para casa e não o force por dois dias. Vou
receitar um anti-inflamatório. Faça compressas com gelo.

— Eu não poderei mais participar dos treinamentos?


— Hoje, eu acho difícil, Mitchell. Amanhã, talvez, dependendo do
tipo de exercício.

Olhei desconsolada para Enrico. Ele se esforçou para me consolar:


— Mais importante agora é a sua saúde, Mitchell. Calce o tênis, vou
levá-la para casa.

— Meu pai vai ficar louco. E eu não quero passar as minhas férias
trancada em casa, de cama.

Arnaldo me entregou um comprimido e um copo com água. Quando


terminei de tomar, ele me deu a caixa do medicamento e tentou me animar:
— Se você repousar bastante agora pela manhã e tomar o remédio
direitinho, quem sabe não melhora o suficiente para vir até o campo de
treinamento à tarde...

— É... quem sabe.

Aceitei os braços de Enrico novamente.


Quando saímos, vários dos meus desejos estavam ali, preocupados,
misturados aos rapazes da outra equipe.

Pablo perguntou diretamente para Enrico:

— Como ela está?


Eu mesma respondi, amuada:

— “Ela” está bem. Eu não machuquei a língua, sabia? Só o pé, um


pouquinho. Vou descansar agora de manhã e à tarde volto.

— Devia ficar de cama o dia todo, Mit...


Interrompi Uriel imediatamente:
— Vai depender de como eu estiver. Obrigada a todos pela
preocupação.

Ítalo já havia deixado um carro na porta da enfermaria, então Enrico


assumiu o volante e partimos logo. Quando chegamos, ele me ajudou a sair
do carro e me amparou, mas não conseguimos chegar até a porta de casa sem
que meu pai corresse até nós, preocupado.
Tive que explicar tudo — bem... quase tudo — o que havia
acontecido com muita calma e paciência para o Comandante durão, que quase
chorou de preocupação. Enrico me colocou na cama e partiu sem maiores
intimidades.

Resolvi tomar um banho e foi uma dificuldade convencer papai de


que eu não ia precisar de ajuda para isso.

Quando saí do banheiro, ele já havia preparado um saco com gelo


picado e uma toalha. Envolveu meu pé e colocou o gelo por cima da toalha.
— Eu estou bem, papai. Foi só um tropeção bobo.

— Não saia dessa cama o dia todo, vida.

— Papai, o médico disse que à tarde eu já estaria boa e meu pé nem


está doendo mais...
— Não dá para ter certeza se isso foi mesmo só um mau jeito...

— Deixa de exagero, homem. À tarde vou visitar o campo de


treinamento, e se tudo estiver bem...

— Mas não vai mesmo! Nem invente, mocinha! Eu tenho que ir ao


campo daqui a pouco, mas se precisar de qualquer coisa, me ligue que volto
imediatamente. Acho que vou mandar o Barata ficar de plantão na porta de
casa, no caso de...
— Ah, papai, sério? Não, né? Eu estou bem! Acalme-se, homem!

Ele respirou, ficou mais um pouco comigo e, quando partiu para o


trabalho, já estava quase parecendo um ser humano normal e racional.
Fiquei sozinha na cama, sofrendo de solidão e por não poder apreciar
meus sete desejos deliciosos a manhã toda.

Entretanto, era melhor eles estarem preparados.

À tarde, eles não iam me escapar.


Fotos no lago

Passei a manhã descansando o corpo, mas a mente não parou de


pensar nos rapazes. Como eu podia estar pensando tanto neles?
É chato demais ficar acamada, sem contar que meus pensamentos
impuros tiravam toda minha paz.

Eu precisava distrair a mente de alguma forma, então aproveitei para


organizar meus arquivos de fotos, coisa que não fazia desde antes da viagem.

Papai veio almoçar comigo e constatou que meu pé estava bem


melhor. Eu não sentia mais quase nenhuma dor. Um tanto a contragosto, me
liberou para visitar o campo de treinamento, mas eu não iria participar do
treino.
Já estava feliz. Iria levar meu equipamento fotográfico e iria me
esbaldar de tanto fotografar meus sete desejos lindos.

Passamos a tarde na academia. Eles tiveram treinamento de defesa


pessoal em grupo, três contra dois, ou dois contra um. Passei um longo tempo
ali e aproveitei para registrar muitos detalhes dos corpos dos meus homens.
Meus! Hahahaha!

Será que podia chamá-los assim? Acho que só por aquele curto
período, protegida por aquele louco acordo, eu queria acreditar que sim.
Se eles imaginavam que estavam se aproveitando de mim? Bem, isso
era possível. Muito provável, na verdade, já que eles aceitaram muito
facilmente esse acordo e eram homens. Vários homens comendo a mesma
mulher. O que talvez eles não imaginassem é que eu também sentia que
estava me aproveitando muito deles.

Ah, como eu estava!

E iria me aproveitar até quando pudesse.


— Summer? Summer, querida?

— Oi?

— Estou te chamando faz tempo, vida.


— Perdão, papai, estava distraída com minhas fotos.

Ele sorriu:

— Você vai para o mundo da Lua quando se coloca atrás dessa sua
máquina, menina.
— O que o senhor queria?

— Quero que vá ver o doutor Arnaldo.

— Ah, eu estou ótima, papai. Não sinto mais nada mesmo. Olha só!
Mexi meu pé para todos os lados, mas não foi o suficiente.

Eu teria que ir até a enfermaria.

Comecei a guardar meu equipamento e notei, ao lado do tripé, um


pedaço de papel dobrado que parecia ter sido arrancado do mesmo caderno
que eles haviam usado para escrever os nomes para fazer o sorteio. Eu o abri,
discretamente:
LAGO DEPOIS DO TREINO
Sorri com malícia, tentando imaginar como aquele papel havia parado
ali.

Na enfermaria, o médico apenas confirmou aquilo que eu não cansava


de repetir para todos que me perguntavam sem parar.

— Seu pé está ótimo, Mitchell. Pode voltar a treinar amanhã, mas, se


eu fosse você, pegaria leve apenas por precaução. Se o Comandante passar
algum exercício que exija mais da mobilidade dos seus pés, peça dispensa.
— Obrigada, Arnaldo. Por favor, repita isso bem devagarzinho para o
meu pai. Ele é muito preocupado.

— Pode deixar, repetirei.

Saí de lá decidida a não retornar à academia.


Antes de me entregar à minha escapada noturna, queria tentar capturar
aquele crepúsculo tão lindo, coisa que não pudera fazer no dia em que fui
para o lago, de castigo.

As cores daquele entardecer eram exuberantes.

Fui ao carro e peguei uma manta. Caminhei calmamente pela mata até
chegar a um ponto em que o horizonte se descortinava exibindo uma paleta
de tons laranja e púrpura inacreditáveis. Não era muito perto do lago, mas
havia tantos elementos lindos que resolvi me instalar ali. Estendi a manta,
armei o tripé de forma a colocar a câmera quase rente ao chão, deitei-me de
barriga para a manta e comecei a fotografar. Consegui um enquadramento
perfeito, equilibrando na imagem a clareira e o lago com o céu fulgurante.

Já era fim de tarde e a noite começava a cair. Comecei a guardar meu


equipamento na mala, quando escutei os risos.
Inconfundíveis.

Eram eles. Voltei a deitar-me sobre a manta. Eu estava a alguma


distância da trilha até a clareira e, se me mantivesse quieta, eles não me
veriam.

Passaram a alguns metros de mim e foram montar uma fogueira.


Alguns já começavam a arrancar a roupa, sem cerimônias, ficando apenas de
cueca. Coloquei uma teleobjetiva[9], passei a máquina para modo
infravermelho e comecei uma série de cliques noturnos.
Ítalo, Raul e Pablo caíram na água. Brincavam e riam. Enrico
conversava com Garcia, e Adam tirou toda a roupa correndo pelado para a
água. Até eu sorri com a molecagem dele. Era um palhaço mesmo.

Enrico e Garcia conversavam sobre algo sério, pois nenhum dos dois
sorria.

Mas não estava interessada em conversas, e sim nos músculos que


eles exibiam, sem camisa.
Lindos. Pela lente, percorri todos, um a um.

Um, dois, três, quatro, cinco, seis...

Seis?
Espere, onde está Uriel?

Eu me virei tarde demais. Meu corpo foi agarrado pelos grandes


braços italianos e por muito pouco eu não soltei um grito de susto. Tive que
tapar minha própria boca para me controlar e ele apenas abriu o grande
sorriso.

— Porque você está se escondendo, bella?


— Shhhhh... não faça barulho!

— Quer dizer que te peguei no flagra, mocinha?

— Totalmente.

Ele olhou na direção do lago e voltou a olhar para mim. Se fosse


possível morrer de vergonha, aquele era o momento do meu último suspiro.
Adeus, mundo cruel.

— Pelo jeito, você viu o meu bilhete...

— Evidentemente.
— E resolveu aproveitar para espiar os rapazes nadando pelados?

— Tecnicamente apenas o Adam está pelado.

Sussurrávamos entre nossa conversa e os sorrisos.


— Posso olhar por suas lentes?

— Claro.

Ele se inclinou sobre a manta, deitando-se sobre ela e olhou pela


câmera. Fiquei sentada ao seu lado e levei uma das mãos até seus cabelos tão
negros quanto aquela noite. Fiz carinhos por sua cabeça e na nuca e senti
quando sua pele se arrepiou.

— O infravermelho dessa câmera é o melhor que já vi. E essa tele[10] é


espetacular.

Ele virou-se para mim e eu sorri, orgulhosa:


— Sim, meu equipamento é o melhor que existe.

— Volte a espiar os rapazes, bella.

— N-não preciso.

— Eu adoraria te ver espionando...

Eu o encarei, desconfiada. O que será que ele queria insinuar com


aquilo?

Eu não me cansava de apreciar a beleza de Summer. Era tão linda


com esse ar docemente envergonhado.

O dia estava se perdendo quase por completo no horizonte, Vênus


havia surgido e as fracas fontes de luz que ainda permitiam que eu me
deslumbrasse com a formosura de Summer eram a fogueira que os meus
amigos haviam acendido e o prateado de uma Lua imensa.
Aquela mulher maravilhosa os observava em segredo e nenhum deles
tinha a mínima ideia. Se eu não tivesse ficado para trás e me deparado com
ela — ou não soubesse que ela iria aparecer depois que deixei o bilhete —,
também seria o objeto dos olhares furtivos de minha bella.

Bella mia.

Belissima.
Ela havia montado o tripé de forma a deixar a câmera quase roçando o
chão, o que permitia que ela permanecesse deitada sobre uma manta que
repousava sobre a relva macia, quase sensual. E eu me perguntava há quanto
tempo ela estava ali.

— Como está seu pé, bella?

— Não sinto mais nada. Obrigada por perguntar.

— Pelo que o Rodrigues contou, foi um tombo e tanto.

— Sou desastrada às vezes.


Inclinei-me e minha boca encontrou a dela. Entreabri os lábios e a
provei um pouco mais. Um mel aromático e doce se escondia naquele beijo.

— Desculpe-me por isso, Summer, eu não resisti. Não estou exigindo


que você faça nada... Você está...

— Por favor, não diga machucada. Eu já disse que estou bem.


— Tudo bem. Ficarei calado então. Volte ao seu passatempo...

Ela sorriu faceira antes de voltar a me beijar. Nossas línguas se


rodearam, em um balé cheio de calor e nos afastamos novamente.

— Por que quer que eu volte a olhar os meninos?


— Porque gosto de vê-la excitada.

— Ah, Uriel...

Gemeu antes de me beijar novamente e aquele som estremeceu as


minhas bolas.
Ela deitou-se na manta de barriga para baixo e voltou a se concentrar
em seu voyeurismo[11]. Recobri seu corpo com o meu e me entreguei a
desenhar com beijos tépidos uma linha que percorreu seu pescoço até os
ombros. Subi sua camisa e beijei com paixão as suas costas antes de abrir o
fecho do sutiã.
— Tem certeza de que está bem, bella?

— Estou ótima. Só estou preocupada com...

Ela parou para poder aspirar o ar. Já estava sôfrega e eu nem havia
começado nada ainda.

— Com o que está preocupada, bella?

— Eles estão tão pertinho... E se escutarem algo?

— Não estamos tão perto assim. Acho que conseguimos disfarçar


bem nossos gemidos.

— Fale por você...

Sorri com aquela declaração cheia de sinceridade sacana.


— Eu quero te comer enquanto você observa os rapazes.

Ela soltou outro gemidinho torturante e eu voltei a me dedicar à sua


pele macia e cheirosa. Ela tentava se concentrar na sua missão, enquanto
meus lábios procuravam cobrir cada pedacinho de sua pele arrepiada.

Tirei seus tênis com todo o cuidado do mundo e arranquei a calça


jeans que estava usando. Voltei deslizando meus dedos por suas panturrilhas
e, quando cheguei às coxas, permiti à minha mão fazer uma pressão firme em
suas carnes, tingindo-as temporariamente de vermelho. Tirei a camisa e
deixei a carteira ao lado de Summer, antes de puxar a calça, já com algum
desespero. Ela se livrou da camisa e do sutiã que já estava aberto, ficando
apenas de calcinha.
Eu a acomodei de quatro, e a despi da última peça que restava sobre
ela, revelando uma bocetinha inchada, voraz, umedecida por um néctar denso
que escorria com abundância. Passei a língua no portal daquele templo de
prazer e, ao primeiro contato com seu sabor alucinante, eu me tornei um
escravo e não resisti mais.

Eu não queria resistir.


Implorava por aquela mulher com todas as fibras do meu ser. Retirei a
cueca e cobri o eixo rijo com um preservativo. Colei-me atrás de minha
Bella, rebolando ali, apenas para que ela sentisse o quanto eu desejava me
enfiar naquela bocetinha até o talo.

Eu me afastei e conduzi o mastro à beiradinha de sua entrada apertada


e escorregadia, provocando mais um pouco. Bem devagarinho fui abrindo
passagem, saboreando cada momento, entrando aos poucos, descobrindo
mais do seu interior úmido e acolhedor, que pulsava ao redor do meu pau.

E o meu pau vibrava por estar ali.


— Isso é delicioso, bella.

— É mesmo... ahhh...

— O que... os rapazes... estão fazendo?


Ela havia parado de olhar, a cabeça enfiada na manta, com o traseiro
empinado para mim, entregando-me seu tesouro.

— Não sei.

— Descreva tudo...
Cheguei ao limite do meu comprimento e depois fui deslizando
lentamente para fora, quase a ponto de me desconectar daquele paraíso. E
voltei ansioso, mas devagar, para frente, para trás, para frente, para trás...
Deixei que ela desfrutasse de cada movimento, vagarosamente, sentindo meu
pau inchar ainda mais, dilatando seu canal com minha grossura.
— Raul também... tirou a cueca... como Adam....

— Isso, bella. E está gostando do que vê?

— Sssiiimmm... está delicioso assim devagaaarrr...

Sorri enquanto não parava de resvalar para fora dela até a glande e
voltar a me enterrar até a base. Eu podia passar uma semana inteira comendo
aquela mulher daquele jeito moroso, com ela de quatro, empinada para mim.

Segurei as maçãs quentes de sua bunda com as mãos. Eu as apertava e


as dividia, mas já estava escuro demais para que eu apreciasse da maneira
como eu desejava. Sombras mal definidas faziam minha imaginação delirar, o
que me encheu com desejos de comer aquela bundinha.
— O que você está vendo agora, Summer?

— Aahhhhh... Garcia e Enrico... foram para a água... Ítalo e Pablo...


estão conversando algo... engraçado. Todos estão... rindo...

Meu pau estava praticamente todo para fora e o impulsionei de uma


vez, em uma estocada firme que fez nossas carnes estalarem. Ela gemeu alto
e baixou a cabeça tapando a boca com as mãos.

Repeti o ataque e ela respondeu, tornando o contato ainda mais


violento. Meus joelhos doíam, mas era um preço muito pequeno a pagar por
aquele prazer inenarrável.

Intensificamos todos os movimentos, entradas e saídas longas e fortes


se sucediam, nos entregando à intensidade total do prazer, sem nos contermos
de forma nenhuma.
Eu queria gritar, gritar como uma louca. Uriel estava me comendo
com força, segurando meus quadris e movendo-se intensamente atrás de
mim, metendo fundo e com vigor, abrindo-me cada vez mais e me fazendo
suar à sua frente.

Eu sentia minhas coxas meladas, sentia como ele deslizava,


estrangulado dentro de mim, sentia nosso cheiro e desejava que não
estivéssemos tão expostos. Não queria que os rapazes nos flagrassem.

A última visão que tive antes de Uriel começar a me comer com tanto
vigor foi Garcia livrando-se de toda a roupa para mergulhar, e Enrico o
seguiu, ainda de cueca. Antes disso, havia visto o quanto o pau de Raul era
grande quando ele tirou a cueca brincando e a jogou para o alto antes de se
perder na água também. Não queria nem pensar no que ia acontecer comigo
no dia dele.

— Ahhh... Isso é muito bom... muito bom, Uriel — eu gemia


manhosa em meio aos solavancos.

Ele apenas chiava coisas sem nexo, possivelmente em italiano.


— Eu não vou aguentar muito mais, bella.

— Nem eu...

Deixei os espasmos percorrerem meu corpo e eles me transformaram


em gelatina.
Em toda a minha vida, eu nunca havia atingido tantos orgasmos em
tão pouco tempo. E cada um deles era sempre uma experiência tão única e tão
maravilhosa.

Uriel acelerou ainda mais antes de despejar um urro rouco e surdo


atrás de mim e denunciar o ápice. Apertou minha cintura com força e senti
seu corpo tremer, atado ao meu.

Caiu sobre mim e nos deitamos, exaustos, sobre a manta e sob a


escuridão da noite. Ele saiu de cima de mim e me puxou para o seu peito.
Pude sentir melhor seu perfume.
Eu adorava o perfume de Uriel.

Ele beijou minha testa e em seguida meus lábios.

— Deliciosa, Summer.

— Você foi... Nossa, me tirou o fôlego.

— Digo o mesmo.

Ficamos quietinhos, um nos braços do outro por muito pouco tempo.


— Você consegue me ajudar a arrumar tudo e a encontrar o caminho
de volta para o meu carro? — pedi.

— Claro, bella.

Começamos a organizar minhas coisas e não esqueci de lhe entregar


seu prêmio pós-sexo. Minha calcinha da cor que ele havia escolhido. Ele
agradeceu, enfiando-a no bolso, depois de cheirá-la com devoção.

Nossa, mais um para o Clube dos Cheiradores de Calcinhas!

Ele foi comigo até o prédio da academia para não levantar nenhuma
suspeita e me acompanhou até o carro. Ele me prensou contra a parede do
prédio e me encheu de beijos antes de me deixar partir.

Cheguei em casa e meu pai não estava, mas havia um bilhete em cima
da mesa:
“Querida, vejo que anda se esforçando mais que deveria.
Descanse, por favor. Volto lá pelas onze da noite, não precisa me
esperar para jantar. Te amo mais que tudo, Lúcio.”

— Eu também te amo, papai, e, se o senhor soubesse como eu ando


me esforçando, hummm, não ia gostar nadinha.

Fui direto para o banheiro e me arrumei para deitar. Na cozinha,


esquentei no micro-ondas um prato com a comida que havia trazido do
refeitório na noite anterior e jantei rapidamente.

O que eu queria mesmo era colocar gelo no pé e tentar parar de pensar


naquelas tentações.
Isso aí.

Vou parar de chamá-los de desejos e vou passar a chamá-los de


tentações.

Sorri sozinha.
Assim que entrei no quarto, vi um vulto do lado de fora da janela e
gritei de susto.

— Calma, anjo, sou eu.

— Puta que pariu, Enrico. Quer me matar?


— Não, eu juro que não. Por favor, me desculpe se te assustei.

— Porra, homem! Um dia você consegue!

Abri as duas folhas da janela e levei a mão ao coração, que ainda batia
acelerado. Ele segurou a outra mão e a beijou, apertando as sobrancelhas,
angustiado por ter me assustado.

— Me desculpa — falou com tristeza.

— Claro que desculpo. O que faz aqui? Vai vir todas as noites agora?

— Posso?

— Vou adorar.
— Estamos quebrando todas as regras, sua danada. Mas não vim para
ganhar outro beijo de boa-noite, apesar de ainda desejar o beijo.

— Não veio? Veio porque então?

— Vim em uma missão.


— Qual?

— Esperar você sortear quem serão os sortudos de amanhã.

— Esqueci novamente, não foi? — falei sem graça. — Espere só um


minuto.
Entrei e escrevi o nome dos três últimos em pequenos pedaços de
papel. Dobrei-os e pedi que ele estendesse uma das mãos para mim.
Depositei os bilhetes de loteria nela e ele a fechou em uma meia concha. Sem
tirar os olhos de Enrico, mexi nos papéis e peguei o primeiro:

Raul
Mostrei para Enrico, e ele concordou com a cabeça. Escolhi o
segundo e o abri, o coração acelerando a cada dobra reveladora:

Ítalo
— Raul e Ítalo.
— Certo. Vou avisar os dois. Pode ser que a ordem dos dois tenha que
ser invertida, dependendo das circunstâncias. Está cada vez mais difícil
arranjar alguma brecha ao longo do dia. Tudo bem?

Senti a tristeza em sua voz.


— Sinto muito, Enrico.

— Não sinta, anjo. Já sabemos quem será depois de amanhã.

— E serei só sua.

Ele me entregou o papel ainda dobrado em sua mão e eu o entreguei


os dois sorteados. Inclinei-me para receber meu beijo de boa-noite, mas ele se
afastou.

— Hoje não, Summer.

— O quê? Por quê?


Ele apenas negou com a cabeça e afastou-se lentamente.

Eu me recusei a ser rejeitada por Enrico. Não por ele.

Joguei o papel no chão e, com esforço, pulei a janela, me arrependi no


momento que apoiei o pé no chão. Senti uma pontadinha ali. Droga.

— Ai. Ai. Ai.

Para piorar tudo, minha camisola ainda ficou presa e ela estava
erguida até a cintura, deixando toda minha retaguarda de fora. Eu devia ter
feito algo muito ruim na minha outra encarnação, para que meu traseiro
sempre acabasse dando um jeito de ficar exposto.

— O que foi, anjo? Se machucou?


Enrico já estava ao meu lado, soltando a camisola e prestes a me
pegar no colo.

— Eu acho que não devia ter descido apoiando o pé machucado.

— Não devia ter descido de jeito nenhum. Que ideia louca foi essa,
garota?

— Como você pode ir embora sem me beijar?

Encostei um dedo em seu peito enorme e não me amedrontei com seu


tamanho.

Ele apenas sorriu.

Cafajeste.

— Se queria tanto assim um beijo meu, era só ter implorado.


Estava claramente brincando e sorriu mais ainda.

Cafajeste lindo.

— Venha aqui, anjo.


Envolveu minha cintura com seu enorme braço completamente
tatuado e me colou a ele. Desceu os lábios procurando os meus e nossas
bocas fizeram amor, como sempre faziam ao se tocar.

Beijar Enrico era algo surreal.

Era realmente difícil explicar o que ele me fazia sentir.


Cafajeste delicioso.

Ele correu o beijo pelo queixo e beijou a lateral do meu rosto antes de
voltar à minha boca. Sua mão desceu quase tímida por minha bunda e apertou
de leve ali. Dei um pequeno sorriso, que ele percebeu, e em resposta mordeu
de leve meu lábio inferior, afastando-se.
Ele também nunca prolongava os nossos beijos.

Cafajeste covarde.

Eu quero mais...

Muito mais...

— Volte para dentro, anjo.


— Vem comigo, Enrico.

— Não é meu dia. E você deve estar exausta, Summer.

— Não tem ideia de como eu desejo você.


Ele me encarou com aquele jeito sisudo e passou a mão por meus
cabelos, beijando minha testa.

— Deixe-me te ajudar a voltar para o seu quarto.

— Converse comigo, Enrico. Não se tranque dentro de si.


— Não tenho nada para falar, anjo.

— Você não está à vontade com esses encontros, não é?

Ele pensou longamente antes de responder.

— Não estou acostumado com isso. Nunca fiz isso, Summer — ele
falou sério e eu não sabia o que dizer. — Eu aceitei fazer parte do jogo por
você, mas eu preferiria não estar te dividindo com ninguém...

— Eu...

— Por favor, me deixe terminar. Por outro lado, gosto de saber que
faço parte de um momento em que você está vivendo algo novo. Na noite que
firmamos o acordo, você afirmou que nunca havia feito nada além do
básico... Bem... Gosto de saber que está tendo novas experiências, se
descobrindo. E que, como disse, eu faço parte disso...

— Você é um bom homem, Enrico.

— Tento ser. A maior parte do tempo, quando consigo.

— Você sabe que não precisa se esforçar para isso... Você já é.


Responsável. Se preocupa com todos antes de você mesmo. É lindo e
gostoso.

Eu consegui fazê-lo sorrir.

— Boba. Vamos, deixe eu te colocar de volta para dentro.

Ele me pegou no colo e me ergueu facilmente, deixando-me


suavemente no chão do quarto. Virei-me depressa, antes que ele pudesse
escapar novamente e o prendi em um abraço. Ele me abraçou de volta. E riu:

— Você tem o traseiro mais lindo que já vi.


— Você se aproveitou para olhar enquanto eu estava indefesa.

— Claro que sim. Todas as vezes.

Rimos juntos nos soltando.

— Ei, eu não menti quando disse que era um bom homem.

— Eu sei. Obrigado.

— E o quanto era lindo e gostoso.


— Obrigado — riu mais. — Eu também não menti sobre sua bunda.

— Você precisa parar de andar com o Adam.

Ele se afastou gargalhando.


Quando ele sumiu, abaixei-me e peguei o papel ainda dobrado no
chão. Abri e fiquei presa ao nome que estava ali:

Enrico
Como eu o desejava!
Olhares e Morangos

— Bom dia, raio de Sol. Como se sente?


— Muito bem, papai.

Maravilhosamente bem.

Estonteantemente bem.
Fodidamente bem.

Como nunca havia sido antes na vida.

— Quem bom, meu amor. Mesmo assim, gostaria que não


participasse do exercício agora da manhã.
— Mas eu posso...

— Sei que pode, querida. É que tenho uma nova missão para você.

— Tem?
— Sim. Sabe, observei você ontem, fotografando a tarde toda, e
pensei... Será que eu não poderia usar esse seu enorme talento para a
fotografia?
Ele queria ver as fotos que tirei ontem? Mas noventa por cento delas
eram os meus desejos, seminus...

Fodeu.
— Minhas fotos?

— Sim. Você poderia fazer um estudo fotográfico para colocarmos no


site do campo e melhorar o marketing da empresa. O que acha, vida?

Ufa!

— Acho a ideia excelente, papai. É um ótimo projeto, e posso passar


a manhã fazendo uma cobertura das instalações, fotos do treinamento
direcionadas especificamente para isso... É claro que, nesse caso, vamos
precisar do consentimento por escrito dos rapazes. Mas que tipo de
abordagem o senhor está pensando?

— Fique livre para soltar sua imaginação. Você sabe que eu adoro o
seu trabalho e eu não quero meras imagens de divulgação, mas algo mais
artístico, que traga um ar sofisticado para o site. Quanto aos alunos, pode
deixar que falo com eles. Você faria isso para o seu velho?

— Claro que sim, papai. Finalmente poderei colocar meu talento a seu
favor.
— Uma hora isso ia ter que acontecer. Suas fotografias sempre me
encheram de orgulho, você sabe...

— Papai!

— Vamos deixar os sentimentalismos para lá... Hoje os rapazes vão


fazer todo o treinamento da manhã no lago, e vai ser um tanto monótono.
Dependendo do que você tiver em mente, pode ser um bom momento para
fazer imagens das dependências do campo. Tenho a impressão de que à tarde
o treino será mais interessante e você poderia se concentrar nos alunos. Mas
claro que isso é só uma sugestão, a artista é quem decide. Ah, mas quero que
você participe do treino do final da tarde.

— Haverá um treino no final da tarde?


— Sim. E se você realmente estiver se sentindo recuperada, acho que
seria interessante você participar dele.

— Legal.

— Assim que voltar, quero ver as primeiras fotos, tudo bem?


— Vai sair?

— Sim, preciso resolver alguns problemas depois do almoço, por isso


esse treino será tão tarde.

— Então deixarei tudo pronto para mostrar para você.


— Será muito bom ter seu trabalho no site da empresa, vida. Fotos de
uma profissional, vejam só... — ele falou todo orgulhoso, saindo da mesa.

— E eu ganhei um dia inteiro só para fotografar! Yay! — comemorei


sozinha.

Chegamos ao campo de treinamento e os rapazes já estavam a postos.


Papai já havia falado com todos e eles concordaram em assinar o termo de
autorização de uso de imagem para que eu pudesse fotografar os treinos à
vontade.

Já no caminho fui fazendo as primeiras fotos e, quando chegamos à


pista de obstáculos, me preparei para capturar os melhores ângulos de cada
homem que passava por mim em diversos passos do exercício.
Dessa vez com um ponto de vista bem menos... lascivo.

O destino era o lago. Foi lá que paramos. Eu, com o cartão de


memória da máquina carregado de imagens incríveis, e os rapazes
completamente sujos de lama e mato.
— Para a água — papai gritou. — Tirem as botas e quero todo mundo
dentro da água. Vamos, vamos!

Não havia entendido muito bem aquele exercício. Os coitados


entraram e ficaram em fila, parados com água até o pescoço. Imóveis.
Aguardando novas ordens que não vinham.

— Que exercício mais esquisito, papai.


— É para ganharem resistência, vida. Vamos ficar nisso por um bom
tempo. Talvez seja melhor você fazer imagens do resto do campo, como eu
havia sugerido.

Olhei para todos aqueles homens mergulhados na água, imóveis e


concordei que havia muito pouco a fazer ali.

— Hum. Tá bom.

Fiz algumas fotos daquele monte de cabeças flutuando na água e parti


com o coração apertado por ver meus rapazes naquela situação.

Comecei a percorrer as instalações do complexo em busca de imagens


e, aos poucos, fui consolidando o conceito que havia concebido para o estudo
que iria fazer parte do site.

Passei pela academia, sala de tiro, enfermaria, pista de pilotagem.


Eles estavam demorando para voltar. Fui para os alojamentos e tirei
algumas fotos do alojamento da Equipe 1. Nossa, os rapazes eram muito
organizados! Depois, fui até o alojamento da Equipe 2 e encontrei a mesma
ordem impecável.

Será que em suas casas, livre das ordens do meu pai, eles
continuavam a ser esses monstros de organização? Ri sozinha.
Continuei a passear pelo alojamento e passei os dedos por um dos
beliches. Apenas sete deles tinham travesseiros e cobertas. Peguei o
travesseiro mais perto de mim e, quando o levei ao rosto, reconheci o
perfume imediatamente.

Uriel.

Ah, aquele cheiro que despertou minha libido era de Uriel. Sem
dúvida nenhuma. Eu adorava aquela fragrância.
— Homem cheiroso.

Fui até o próximo beliche, sentei-me sobre a cama e fiz o mesmo. Era
de Adam. Coloquei o travesseiro de volta e tentei desamassar a fronha e
esticar novamente o lençol, mas não conseguia de forma alguma deixar tudo
tão perfeito como estava.

— Como ele consegue?

— Vejam quem está bagunçando nossas coisas.

A voz de Adam me flagrou e dei um pulo de susto, virando-me de


uma vez.

— Eu... eu... Não estava...


— Estava sim que eu vi, gatinha.

Eles todos entravam completamente sujos e encharcados. Adam veio


até mim. Eu permanecia parada ao lado de sua cama e ele me beijou a boca,
certeiro.

— Pode desarrumar o que quiser, gatinha, mas eu ia achar bem


melhor se nós bagunçássemos a minha cama juntos... — Adam falou safado,
continuando enquanto partia para o banheiro. — Vamos tomar banho agora,
caso queira nos acompanhar.
— O quê?

Pablo fez o mesmo que Adam e beijou meus lábios com delicadeza.

— Ele está brincando, guapa.


— Mas sua reação a esse convite foi, no mínimo, curiosa...

Garcia disse isso rindo, depois que me beijou também, e apertei os


olhos para ele, demonstrando uma indignação fingida.

— Vai almoçar conosco, bella?


Uriel perguntou antes de me beijar e ficou à minha frente, esperando
resposta, enquanto todos os outros já entravam no banheiro coletivo.

— Não. Vou para casa.

— Tudo bem.

Ele partiu também e foi uma tortura escutar a água dos chuveiros
caindo. Já ia saindo quando senti um grande vulto se aproximar.

— É impressão minha ou sou sempre o último, anjo? — Enrico


constatou com um sorrisinho nos lábios.

— Só porque você quer... — disse baixinho. — Te convidei para


minha cama antes de toda essa loucura começar.
— Eu e esse meu senso de ética... Ele ainda vai me colocar em maus
lençóis.

— Nesse caso, o tirou deles. — Rimos juntos. — Não vai me beijar?

— Só depois que te limpar um pouquinho.

— Como?

Enrico tirou a camisa na minha frente e a usou para limpar o meu


rosto. Eu não prestei atenção em nada que ele fazia. Estava hipnotizada pelas
tatuagens no peito dele. Assim, tão de perto, eram ainda mais lindas.

— Prontinho, anjo.

— O que eu tinha no rosto?

— Lama. Aqui... e aqui. Se seu pai visse...


Ele sorriu, lindo.

Eu tinha certeza de que ainda ia morrer com aqueles sorrisos, gente!

— Obrigada.
Fechei os olhos e fiz biquinho. Nem dei chance para ele se recusar a
me beijar dessa vez, abri apenas um dos olhos e o vi sorrir, mostrando todos
os dentes.

— Está esperando o quê? — perguntei e fiz a pose dramática


novamente.

— Você não existe, anjo.


Ele me beijou com carinho, mas sem investir da maneira como os
outros fizeram, apenas colando nossos lábios em um beijo casto.

— Agora saia daqui, em segundos aquele monte de homens ali dentro


vai sair, todos pelados.
— Já vi quase todos eles pelados.

Ele fez uma careta fofa e apertou os olhos.

— Não gosto de imaginá-la vendo isso, mas... Vou mudar meu


argumento então. Seu pai estava te procurando, portanto, é melhor sair antes
que ele venha te procurar aqui e a encontre no meio de um monte de homens
pelados.

— Excelente argumento. Tchau, Enrico. Tchau, rapazes!

Todos responderam, de forma desordenada.


Parti e, ao longe, avistei meu pai. Para não ser pega no pulo, corri por
dentro da mata, atravessei o prédio da academia e fingi sair de lá. Caminhei
calmamente, apesar de o meu coração bombear tão forte a ponto de sentir
pequenos trovões em meu peito. Cheguei por um novo ângulo, cobrindo o
rosto com uma das mãos. Quando me viu, acenou me chamando e fui ao
encontro dele.

— Estou saindo, vida. Estava onde?

— Trabalhando nas fotos para o site.

— Excelente. Quando eu voltar, você me mostra. Ou à noite, quando


chegarmos em casa.

— Tá ótimo, papai. Achei que ia dar tempo de almoçarmos juntos. Eu


ia pegar comida para nós, mas então acho que vou almoçar por aqui e depois
vou para casa descansar. A que horas eu me apresento para o treino?

— Vamos começar às dezesseis horas em ponto.


— Combinado. Até lá então, papai.

— Até, raio de Sol.


Vi papai partir em seu carro e fui para o refeitório. Observei todos os
rapazes entrarem quase ao mesmo tempo e, desta vez, eles juntaram as mesas
e sentamos todos juntos, as duas equipes misturadas, rindo e brincando,
contando histórias que eles presenciaram, e eu fiquei boba ao perceber como
aquela profissão podia ser exigente e perigosa.

Eu estava inquieta. Queria falar com Ítalo, queria pedir para ele me
encontrar em casa assim que pudesse, mas como eu conseguiria dizer isso
para ele sem que Raul notasse? Embora tivesse ficado combinado que nesse
dia a ordem dos dois seria em função das oportunidades que aparecessem,
tecnicamente Raul era o próximo.
Se eu simplesmente levantasse da mesa e dissesse: ”Bom, pessoal vou
para casa descansar enquanto meu pai não está...”, seria quase certo que
Raul é quem iria para lá.

Mas eu tinha planejado algo para o safado do Ítalo que tinha que ser
executado lá em casa. Que droga.

— Alguma coisa te preocupa, anjo? — Enrico falou baixinho, de uma


forma tão discreta que me assustei.
— Como você consegue me ler tão bem?

Ele apenas ergueu os ombros e virou o rosto, já puxando assunto com


Garcia. Eles tinham aquele maldito código de olhares. Eles sabiam se
comunicar com aquela merda, será que eu conseguiria também? Não custava
nada tentar.

— ...então elas tiveram que voltar para dentro do iate às pressas.


Mandaram o piloto zarpar e esqueceram todos os seguranças no píer — Costa
contava, rindo que chorava, fazendo os colegas rirem também. — E tudo por
causa de dois cachorros de rua. Acreditam?
Enquanto ele falava eu mirei Ítalo do outro lado da mesa e apertei
meus olhos para ele, mas o desgraçado não desviava os olhos do amigo que
prosseguia com a história, animado.

Relaxei os ombros e tentei chamar a atenção dele, olhando, piscando


os dois olhos e desviando, olhando, piscando e desviando, como se fosse
alguma espécie de código, mas isso também não funcionou.
— Nós ficamos armados, na porra do píer, sem saber o que esperar,
apontando as armas para o vazio e os cães aos nossos pés balançando os
rabos. Só depois soubemos do pavor que nossa cliente tinha de cães. Mas os
gritos dela... Gente, vocês precisavam ver, parecia que ela e a filha iam ser
sequestradas por alienígenas.

Costa fazia todos rirem e a última coisa que alguém fazia era prestar
atenção em mim. Já estava ficando irritada.

Enrico, fazendo o possível para não chamar a atenção, insistiu:


— Quer ajuda com algo?

Queria, mas como eu ia dizer a ele que queria avisar a outro que
queria transar? Logo ele?

— Eu dou um jeito...
Ao contrário de Enrico, Adam sussurrou nada delicado:

— Tá parecendo estar com dor de barriga, com esses seus olhares,


gatinha.

Meu Deus! Que vergonha!


Eu pensei que ninguém estivesse reparando em mim. Pelo menos
Adam e Enrico estavam. E se todos eles tivessem percebido? Afinal, eu fiquei
um tempão piscando o meu brilhante código secreto para Ítalo e o filho da
mãe nem se deu ao trabalho de desviar o olhar na minha direção.

Cobri o rosto com uma das mãos para tentar disfarçar a vergonha e
peguei o prato sujo, afastando a cadeira e saindo da mesa.
— Já vou, rapazes. Continuem e divirtam-se.

Peguei minha máquina fotográfica e saí sem esperar resposta de


nenhum deles.

Eu queria achar o primeiro buraco aberto e me enterrar.


Fui para casa imaginando o que eles podiam estar pensando de mim.

Nem tanto os meus desejos, mas principalmente os rapazes da outra


equipe.

Entrei em casa, liguei o notebook e conectei minha câmera.


Deixei as fotos carregando e fui para o banho. Lavei os cabelos e
troquei de roupa. Peguei um copo de água e voltei para o computador. Os
arquivos já haviam terminado de serem salvos e eu começava a selecionar as
melhores imagens em uma pasta para mostrar ao papai.

Ouvi três batidas na porta e ergui a cabeça para ver pelo vidro,
imaginando que devia ser Raul.

Era Ítalo!
Sério?

Eu me levantei e puxei o shortinho do baby doll para baixo, mas ele


não cobriu nada das minhas coxas. Tentei fazer o mesmo com a camiseta do
conjunto e percebi que ou corria e trocava de roupa ou o receberia seminua.

O que não deixava de ser uma economia de tempo.


Ela abriu a porta e eu só consegui ter olhos para os seios dela que
quase saltavam da camiseta mínima. Ali eu tive a certeza de que Summer
tinha o péssimo hábito de comprar roupas menores que o seu tamanho, pois o
shortinho também era tão curto que eu tombei a cabeça de lado, sentindo
minha boca salivar ao apreciar o formato de sua bocetinha pressionada nele.

Subi os olhos por parte de sua barriguinha sedosa, que estava à


mostra, e vi o momento em que seus mamilos começaram a se entumecer. Ela
mordia o lábio inferior e seus grandes olhos azuis me olhavam ávida.

— Você está me devendo um beijo — ela disse tão natural que meu
pau pulsou dentro da calça.

— Por quê?
— Todos os rapazes me beijaram no alojamento, menos você e o
Raul.

— Porque vamos te beijar muito hoje. E você me deve uma transa.

— Vou pensar no seu caso...


Maldita.

Dei um passo para dentro e prendi sua boca à minha. As mãos de


Summer foram direto para minha camisa, puxando-a para cima. Facilitei a
ação e a despi da camiseta, expondo seus mamilos rosados.

Eu me abaixei tendo como alvo seu seio esquerdo, tomei-o com


voracidade, rodeando toda a auréola com minha língua fervendo. Prossegui
lambendo e chupando o mamilo rígido, prendendo-o suavemente entre meus
dentes. Me dediquei a ambos os seios, passando a sugá-los com devoção.

Enfiei uma das mãos por dentro de seu micro shortinho e a apalpei
com vontade, prendendo alguns dedos na fenda de sua bunda, e conduzi sua
outra mão até meu eixo, para que sentisse como eu estava duro por ela.
Summer simplesmente gemia a cada investida e, ao sentir seus dedos
fecharem-se sobre meu pau, enlouqueci. Eu a suspendi do chão e a levei até o
sofá atrás dela. Coloquei-a deitada ali e fui para cima daquela mulher
deliciosa, encaixando-me entre suas pernas.

— Eu achei que era a vez do Raul... — ela observou, buscando o ar.

— Jura? Depois de todos aqueles olhares?


Ela me encarou. Passei uma mão por seus cabelos, rindo.

— Mas...Você nem olhou para mim...

Eu mantinha o corpo apoiado sobre meus braços. Observava cada


movimento que ela fazia.
— Você que pensa... A gente já tinha percebido que você ia passar a
tarde sozinha, então o Raul já estava pronto para vir. Mas quando vimos o
seu jeito hilário de tentar chamar a minha atenção com aquele Código Morse
fajuto de olhares e piscadas, até o Raul concordou que por algum motivo
você queria que fosse eu quem viesse para cá...

— Mas... então...?

— Eu vi você piscando desde o começo. Mas, se você percebesse


isso, ia parar de tentar, então que graça ia ter?
Ela tapou o rosto com as mãos e prensou seus seios, fazendo-os ainda
mais suculentos para mim. Eu acrescentei:
— Sua sorte é que o Costa sabe contar uma história como ninguém,
moranguinho. Acho que os caras da outra equipe não notaram nada...

— Então eu passei aquela vergonha toda à toa? — a voz saiu abafada.

— Tire as mãos do rosto, Summer.

Ela o revelou tímida. Primeiro os olhos e depois ele todo. Estava


vermelha.

— Foi só uma brincadeirinha inocente...


Ela abriu lentamente um sorriso cheio de luxúria e deslizou a língua
pelos lábios:

— Mas o castigo que o senhor vai receber não vai ser nada inocente...

Prensei meu pau contra sua boceta e suas pernas abriram-se mais. Eu
a desejava. Ah, como eu a desejava.
— Pelo que entendi, eu já paguei o beijo que devia...

Ela me puxou ao seu encontro e provou meus lábios lentamente.


Passou a língua sobre eles e deixei que ela sentisse meu volume latejar contra
ela. Nos devoramos mais uma vez e desci com beijos pelo queixo, continuei
pela garganta e desta vez deliciei-me com seu peito direito. Summer
agarrava-se ao meu cabelo e mexia-se embaixo de mim.

Puxei o shortinho para baixo, livrando-a dele.


— Você fica vestida desse jeito com seu pai em casa?

— Não... tá doido?

Minha língua correu por uma costela e beijei seu umbigo, fazendo-a
sorrir.
— Eu não sabia que era você quem vinha, Ítalo — falou manhosa.

— Não gostou que eu vim?

— Adorei, mas... não estou usando uma calcinha azul. Se soubesse


que seria você, eu...

Dei uma mordidinha em sua boceta, por cima da renda branca do que
ela chamava de calcinha.

— Você tem problemas com tamanhos de roupas, moranguinho.

Summer gargalhou, me levando a rir também.

— Quer dizer que, se soubesse que eu vinha, teria vestido uma


calcinha azul?

— Sim, porque você respondeu azul quando pedi para escolher.


— Na verdade, branco passou a ser a minha nova cor favorita. Veja
como o branco fica lindo nessa pele perfeita, Summer.

— Espere, eu tenho uma surpresa para você.

— Não conseguiu com a calcinha, vai tentar com outra coisa?

— Vou. Saia, vamos.

Ela afastou-se, saindo do sofá e me deixando abandonado ali. Que


sacanagem era aquela? Aproveitei para tirar as botas, as meias e a calça. Tirei
os preservativos da carteira e os deixei em cima da mesa.

Quando ela voltou, eu não acreditei em meus olhos. Trazia uma tigela
de morangos e um spray de chantilly.
— Sempre achei que você adoraria me provar com morangos, por
isso...
Não a deixei continuar. Agarrei-a pelas coxas e pela cintura e a deitei
novamente no sofá.

Onde estava essa mulher esse tempo todo? Ela existia mesmo?
— Vou provar cada pedacinho dessa pele com morangos e chantilly,
Summer.

Ela abriu um grande sorriso e fui até ela, prensando-a sob meu corpo,
sentindo seu calor embaixo de mim. Eu a beijei muito antes de esticar a mão
e pegar a primeira fruta, levá-la até sua boca e vê-la morder de forma
apetitosa, deixando o vermelho vivo do morango desaparecer em sua boca e o
sumo escorrer no canto de seus lábios. Passei a língua por ele e suguei o
líquido delicioso. Mordi o resto do morango jogando o caule no chão. Provei
os lábios de Summer mais uma vez, com nossos gostos se misturando.

Sentei-me sobre minhas pernas e puxei os quadris dela, encaixando-a


em mim. Ela não desviava seu olhar e eu tinha visão total de seu corpo. Abri
mais suas pernas e movi minha mão sobre o tecido da calcinha. Meu polegar
encontrou certeiro o alto de sua boceta, pressionando seu ponto mais sensível.
Apreciei quando ela fechou os olhos e se contorceu procurando algum tipo de
apoio, mas não encontrou.

Puxei a calcinha um pouco, mas ela não desceu, pois Summer estava
aberta demais. Juntei suas pernas, fechando-as, trazendo seus pés até meu
peito e voltei para tirar a última peça que ainda cobria a minha deusa loira.
Fiz Summer apoiar uma perna de cada lado do meu corpo novamente,
deixando-a escancarada para mim.

Encarei a fenda rosada à minha frente e sua lubrificação brilhosa me


fez salivar.

Meu pau não tinha mais o que crescer, ele estava dolorido de tão
inchado, implorando liberdade para se afundar sem pudores naquela mulher.
Afastei-me, deixando-a relaxar sobre o estofado e minha boca se atirou
certeira entre suas pernas. Eu me deliciei com seu gosto, e Summer gritou ao
sentir meus dentes arranharem os lábios delicados de sua intimidade.
Nenhum morango na Terra era tão doce e gostoso quanto Summer. Ela sim
era perfeita.

Fiz uma leve pressão com a língua em sua entrada, depois escorreguei
livremente a minha língua por toda aquela extensão de prazer pulsante. Ela
jorrava fluidos e gemidos na mesma intensidade. Eu envolvi o clitóris com a
língua e a torturei mais um pouco.
— Por favor, eu quero você...

Não respondi ao seu apelo, continuei me deleitando com seu gosto.


Finalmente, eu me ergui e a encarei. Ela tinha olhos caídos e nem havia
gozado ainda.

Eu queria mais de Summer. Queria tudo.


Peguei o spray de chantilly e ela estremeceu. Agitei a embalagem e
fiz um desenho com o creme sobre a pele, formando uma camada branca
sobre seu púbis, coberto por pelos ralos e dourados. A neve adocicada
começou a deslizar por sua fenda e Summer já miava como a gata dengosa
que era. Não me demorei, agarrei outro morango e o espremi sobre a pele,
onde o chantilly havia tocado e o suco vermelho fez o mesmo caminho do
fluxo branco e doce. Desci a boca até a mistura adocicada e o sabor,
juntando-se ao da boceta de Summer, era extraordinário.

Tragava cada gota que havia escorrido por entre sua abertura,
provando-a profundamente e com intensidade, arrancando gritos torturantes e
súplicas para que eu a comesse logo, mas eu a queria ainda mais louca, eu a
queria...

Summer começou a estremecer e fechou as pernas prendendo minha


cabeça entre elas. Eu as abri e não parei de investir sobre ela com chupões.
Só ia parar quando seu corpo acalmasse.

E o orgasmo a pegou de jeito, pois ela demorou a voltar a si. Apenas


quando ela pousou a mão em minha cabeça e apertou meu cabelo foi que eu
parei. Passei a língua por seu clitóris uma última vez e ela gemeu alto.

Fui para cima dela, que mantinha os olhos fechados e a respiração


descontrolada.
— Olhe para mim, moranguinho.

— Um minuto!

Ela ergueu um dedo no ar e não se moveu. Eu apenas sorri e encostei


o queixo em sua barriga, apreciando os montes que subiam e desciam bem à
altura de meus olhos. Já estava louco para abocanhá-los novamente.
Com sofrimento ela ergueu a cabeça e me encarou.

— Venha aqui, Ítalo.

Ela me chamou e eu obedeci. Fui para cima dela e a envolvi com um


beijo forte, exploratório, querendo desvendar todos os mistérios daquela
mulher que havia afirmado que não conhecia nada além do básico.
E eu adorava apresentar o novo às mulheres.

— Já foi devorada com alguma fruta, moranguinho?

— Mais ou menos.
— E isso quer dizer o quê?
— Com meu namorado... Uma vez comi algumas uvas sobre a barriga
dele, mas foi mais uma brincadeira do que algo sexual...

— Você tem namorado, Summer?


Percebi um filete de preocupação em seus olhos tão límpidos.

— É enrolado.

— É um ex-namorado então?

— Está mais para ex a cada momento... Demos um tempo antes de eu


viajar para cá.

— Hum. Acho que começo a entender seu interesse todo em nós.

— O que quer dizer, Ítalo?


— Somos suas cobaias. Você está se aproveitando de todos nós. De
nossos corpos. De nossa virilidade. De nossa inocência...

Ela esperou um segundo e depois explodiu em uma gargalhada


gostosa que tomou todo a sala, e ri com ela. Como uma mulher podia ser tão
linda? E gostosa?

— Minha vez, lindo.

— Ah, é? Sua vez do quê?

— Lembro muito bem de um certo cara implorar para que tivéssemos


muito, muito oral... Acho que não estava se referindo apenas a mim...

Inteligente. Simpática. Gostosa. Linda.


E boa de memória.

Eu vou socar tanto nela hoje que o Raul não vai conseguir nem
encostar nela mais tarde. Puta que pariu.
Minha mão correu entre nossos corpos e meus dedos invadiram sua
cueca. Eu podia sentir o caminho dos pelos e as veias pulsando em meus
dedos. Assim que eles se fecharam em volta do seu membro, Ítalo gemeu. O
pau ganhou vida e pulou na minha mão uma, duas, três vezes. Passei o dedo
por sua glande e senti o fluido sair pela cabeça. Queria aquele pau na minha
boca. Imediatamente.
— Vire-se. Minha vez de ficar por cima.

— Porra.

Ele deitou-se e pude vislumbrar o mastro pressionando para cima o


tecido de algodão. Segurei a cueca pelas laterais e a puxei, fazendo saltar o
pau duro, esticado sobre sua barriga, apontando vivo e vibrante para o alto.
Sem tocá-lo com as mãos, eu engatinhei por cima de Ítalo e sem tirar meus
olhos dos dele, abri a boca e passei a língua morosamente desde a base até a
cabeça.
Vi o momento que os olhos de Ítalo se reviraram e ele deixou a
cabeça pender sobre a almofada. Voltei e desta vez demorei-me em suas
bolas e voltei a lamber todo o comprimento, até devorar sua ereção. Sorvi
algumas vezes, levando-o até minha garganta, meu limite, sufocando-me e
retendo as lágrimas em meus olhos.

Assim como Ítalo fez comigo, eu queria fazer com ele. Peguei o
chantilly que ele havia deixado ao nosso lado, no sofá e quando ia começar
meu trabalho sobre o pau, ele falou, malandro:

— Se me melar com esse troço, vai ter que chupar até não sobrar uma
gota.

Ah, cachorro safado!

— Pode deixar, vou me certificar de que suguei tudinho.

Ele arfou, rouco, e voltou a soltar a cabeça para trás. O jato cremoso
começou a pintar o membro que não parava de pulsar, excitado. Coloquei a
embalagem ao nosso lado novamente.

Minha língua e minha boca entraram em ação.

Ah, delícia de homem lindo!

Brincava com seus pelos pubianos enquanto segurava a base para


poder firmá-lo para mim. Eu o sugava com uma pressão firme e, como
prometido, limpei direitinho todo o chantilly jogado sobre ele.

Ítalo não parou de gemer. Era interessante, pois ele era o primeiro a
demonstrar de forma tão audível o prazer que sentia.
Vi as embalagens de preservativos em cima da mesa de centro. Saí do
meio de suas pernas e fui pegar um preservativo. Tirei-o da embalagem e o
coloquei entre meus lábios.

— Puta que pariu, você vai fazer o que estou pensando que vai fazer?
— Ítalo perguntou, mas não respondi com palavras.

Segurei o pau com firmeza em minhas mãos e o busquei com minha


boca. Eu o fiz deslizar até a garganta, cobrindo-o com a camisinha e o liberei
da minha boca úmida e apertada. Sorri no momento que ele passou as duas
mãos pelos cabelos.
Assim como ele havia feito comigo, eu não iria dar trégua para seu
prazer. Fui para cima dele e o encaixei embaixo de mim, montando-o e
começando a cavalgá-lo de forma enérgica. Ele segurou minhas ancas e
começou a me ajudar com os movimentos de subir descer, acelerando nosso
ritmo, e o atrito gerado ali nos fazia delirar. Ítalo soltou minha bunda e levou
as duas mãos aos meus seios, segurando-os, impedindo o chacoalhar
descontrolado deles.

Eu estava faminta por aquele homem, apesar de não ter parado de


transar nos últimos dias, cada dia sendo mais intenso do que o outro.

Mas Ítalo era um homem lindo e sabia o que queria ao foder uma
mulher. Era muito intenso, e eu me sentia tão excitada e dominada por ele
que não demorou para eu ser arrebatada por um novo orgasmo.

Gritei jogando o corpo para trás, mas Ítalo mexeu os quadris, sem
deixar os movimentos cessarem. Eu estava fora de mim, só me deixava guiar
por ele, que não parava de me comer, como um cão faminto, selvagem.

Ele afundava-se em mim com força, apertava minhas coxas, minha


bunda e meus seios sem piedade. Dava tapas em meu traseiro sem aviso e
parecia se regozijar com meus gritos que misturavam prazer e dor. Eu nunca
vivi nada como o que estava vivendo naqueles dias. Nem conhecia mais
aquela Summer que esperava ansiosa pelo próximo tapa e ardor de gozo,
desfrutando daquele pau tão enterrado em mim que era possível senti-lo tocar
meu útero.
Eu adorei que ele tentava prolongar nossa experiência, mas sabia que
Ítalo estava em seu limite também. Ele iria gozar a qualquer momento e eu
então perguntei:

— Você quer gozar na minha boceta ou na minha boca?

— Quê?
— Quer gozar na minha boceta ou na minha boca? — repeti.

Ele me olhou intensamente. Como se ninguém nunca houvesse


perguntado aquilo a ele. Nem eu mesma sabia por que eu havia perguntado.
— Em sua boceta.

— Perfeito.

Apoiei minhas mãos em seu tórax e o cavalguei como uma louca. A


fricção entre nossos sexos era uma loucura, a pressão exercida também.

— Ahhhhh...

Ítalo começou a se entregar ao orgasmo e continuei a subir e descer


em seu pau babado por meus fluidos. Ele gritou, rouco, arfante, delirando
com o prazer que sentia, até que segurou minha cintura, me fazendo parar, e
eu sorri, deixando meu corpo cair sobre o dele. Meus cabelos cobriram seu
pescoço e senti o beijo sobre eles.

Ainda estávamos sem fôlego.


Ítalo me abraçou e ficamos assim, colados. Eu sentia seu peito se
encher e secar de ar. Subir e descer, a princípio muito depressa e depois se
acalmando. Senti um novo beijo em minha cabeça e ergui o rosto. O próximo
beijo foi em meus lábios.

— Você é o melhor morango que já provei, Summer.

Sorri.
— Fico feliz em saber.

— Nunca mais comerei morangos sem me lembrar de você.

— Será que estraguei todos os morangos para você?


— Você criou um patamar de qualidade que será difícil eles
alcançarem.

Rimos juntos.
— Será que estamos falando dos mesmos morangos?

— Isso importa, moranguinho?

— Sei lá. Não consigo mais pensar em nada depois do que acabamos
de fazer.

Rimos ainda mais. Ergui meu corpo e saí de cima dele. Se aquele sofá
do meu pai falasse, eu estava muito fodida.

Ele sentou-se ao meu lado e eu fui rápida em jogar a cueca dele em


seu rosto.

— Vista-se lindo. Meu pai não demora.


— Você sempre estraga o prazer de todos os rapazes dessa forma?

— Eu não, meu pai.

Nos vestimos e, quando ele já estava de calça e botas, colocando a


camisa, sentado no sofá, eu voltei a sentar em seu colo, de frente para ele.
Ítalo me segurou pela cintura e me deu vários pequenos beijos na boca, me
fazendo sorrir.
— O que é que você está aprontando, louquinha?

— Eu? Nada. Feche os olhos.

— Nunca. Tendo uma gostosa dessas à minha frente, acha mesmo que
vou fechar os olhos?
— Fecha, Ítalo.
— Não vou fechar. O que tem aí atrás das costas? Me mostra.

Ele tentou pegar e eu tentei escapar, em vão.

Ele era bem mais forte e agarrou minha mão.

— Eu mostro, eu mostro, seu estraga-prazeres. — Trouxe a mão à


frente e a abri revelando minha calcinha. — Queria mesmo que ela fosse
azul.

— Você vai me dar a calcinha usada por você?

— É a intenção.

— Ah, moranguinho. Já disse e repito, branco é minha nova cor


preferida. E seu cheiro é meu novo perfume preferido.

Ele me beijou sedento e parou bruscamente.


— Espere um minuto, moranguinho.

— O que foi?

— Se você está me entregando sua calcinha, então você está sem...


O safado puxou a costura do meu shortinho para o lado revelando
minha boceta exposta e ainda melada do sexo que havíamos acabado de
fazer.

— Puta gostosa do caralho!

Ítalo voltou a me beijar com firmeza e desceu um dedo até minha


entrada, enfiando-o fundo nela e brincando com o meu grelinho com o
polegar, me masturbando, me comendo com uma das mãos. Ele era
insaciável. Ele metia e tirava o dedo de dentro de mim e eu miava a cada
investida.
— Ítalo.

— Eu quero que goze na minha mão. No meu colo.

— Ahhh.

Eu me agarrei em seus ombros e comecei a cavalgar em sua mão.


Mexendo os quadris sobre ela.

Aquele homem sabia me tirar de mim.

Ele me torturava e eu adorava aquilo. Que delícia! Ah, que delícia!

Arqueei as costas e desci já delirando, atingida por outro orgasmo que


Ítalo fazia questão de me dar. Minhas pernas tremeram e senti meu corpo se
enfraquecer. Ele me abraçou e me beijou muito o rosto e o pescoço. Eu
buscava o ar, sorrindo satisfeita e feliz.

— Deliciosa.
— Louco.

— Foi bom, moranguinho?

— Sim. Muito.

— Então agora posso ir embora feliz.

— Por que quis me fazer gozar novamente?

— Você acabou de me dar um presente. Nada mais justo que lhe dar
outro em troca. — Sorriu safado.
— Não te dei a calcinha para que me desse algo em troca.

— Eu sei linda, mas eu quis assim mesmo.

Ele deu um tapinha fraco na minha bunda e cochichou enquanto me


beijava:
— Pode ir se levantando, eu tenho que ir embora e você está me
impedindo. Se eu levar um tiro do seu pai, a culpada será você.

Nós dois rimos e saí de cima do pilantra, que não parava de me tocar
e me beijar até o momento em que saiu da casa e me deixou solitária ali.
Fui arrumar a sala e limpar tudo. Depois voltei para organizar as fotos
e tive que recomeçar do zero, pois nem me lembrava mais o que eu estava
fazendo antes de ter sido atingida pelo tornado Ítalo.

Ah, que sexo delícia.

Pare, Summer!
Concentração.

Escolha as fotos para mostrar para o seu pai.


Um esquecimento que valeu a pena

Resolvi levar o equipamento para o treino, pois ainda queria continuar


fotografando.
Cheguei ao pátio por volta das três e meia, e fui até a sala do meu pai.
Ele estava saindo.

— Oi, vida. Você veio.

— Claro! O senhor pediu.


— E o pé?

— Ótimo. — Mexi o pé para todos os lados e ele acompanhou os


movimentos. — E como será o treino de agora?

— Não sei se você vai gostar muito.


— Ah, não. Envolve tiro, não é?

— É. Venha. Qualquer coisa, eu mesmo faço dupla com você.

— Vou adorar, papai.


Fui ao lado dele e no caminho já tirava mais algumas fotos, sempre
acompanhada pelos olhos atentos do Comandante Lúcio.

— Como estão as fotos, querida?

— Ficaram ótimas. Espero que goste do meu trabalho.

— Impossível não gostar, raio de Sol.

Vimos os rapazes de longe, já prontos para o treinamento começar.


— Summer, vou te perguntar algo e quero que seja sincera comigo.

— Claro, papai.

— Nenhum desses caras deu em cima de você, né?


Minha saliva desceu cortando como uma navalha em minha garganta.
Odiava mentir para o meu pai, mas eu jamais poderia responder:

Sabe, papai, na verdade eu resolvi transar com sete deles, já foram


cinco, só faltam dois. O senhor não vai ficar chateado, vai?

É, eu não podia mesmo responder aquilo. Papai tinha ciúmes até do


Travis, que eu namorava desde sempre.
— Não, papai. Acho que eles me tratam mesmo como um membro da
equipe. O que é o máximo, não? Mostra companheirismo e determinação.

— Só achei estranho porque... Bem, se você diz, acredito em você,


vida.

Ai! Meu coração começou a sangrar e eu sentia a fenda por onde ele
vertia o sangue. Estava doendo muito mentir para ele. Achei melhor me calar
e fingir demência. Virei para o lado e dei alguns cliques aleatórios de mato
desfocado e sujo. Só queria escapar daquela conversa.
O campo de tiro foi um dos primeiros lugares em que estive e foi
onde Pablo tentou me ensinar a atirar, mas, quando chegamos lá, a área de
treinamento estava diferente.

Várias barreiras haviam sido montadas com barris, paletes de madeira


e sucata velha. Em vários pontos espalhados por todo o campo, havia alvos
como os da sala de tiros.
Fui até um dos bancos de descanso que haviam por ali, arrumei todo o
equipamento dentro da mala e a fechei, deixando-a pronta para levá-la para o
carro quando o treino terminasse. Peguei o celular para checar as mensagens
e nesse momento ouvi a voz de meu pai, autoritária:

— Atenção! Todos em formação!

Saí correndo desesperada e me coloquei em posição.


— Cada um terá que percorrer todo o trajeto do campo, seguindo a
trilha determinada no chão e tentando acertar o maior número de alvos.
Vocês serão divididos em duplas, e cada dupla receberá uma pistola com
balas de cores diferentes. Ao final, será avaliada a precisão e, em caso de
empate, o fator de desempate será quem completar o trajeto no menor tempo.
A dupla que se sair melhor poderá sair hoje e comemorar, mas com
moderação. Entendidos?

— Sim, senhor!

Ele começou a formar as duplas, e me chamou:


— Mitchell, eu havia pensado em ser o seu par, mas um dos rapazes
ficará desfalcado, então você vai com o Ferreira.

Adam se aproximou de mim e assentiu.

— Coitado do rapaz, Comandante. Vai perder uma folga por minha


causa.
Adam sorriu maroto. Era um safado descarado mesmo.

— Não tema, Mitchell. Nós vamos acabar com todos eles.

Adam respondeu e meu pai sorriu.

Papai estava se divertindo:

— Se for pela confiança, essa dupla já garantiu o primeiro lugar.


Vamos lá, turma?

Enquanto estávamos nos preparando, Adam tentava me tranquilizar:

— Não fique nervosa, gatinha.

— Impossível, gatinho. E nesse treino é para errar também? — Ri


fazendo graça.
— O oposto, linda. Lembre-se de tudo o que ensinamos e acerte o
máximo que puder.

Cada dupla partia, e quando terminavam o percurso, meu pai


autorizava a próxima a entrar.

— Somos os próximos, Mitchell. Eu vou na frente, você vem logo


atrás, tudo bem?

— Tá certo, chefe — brinquei com Adam e ele riu. Lindo.

Assim que meu pai deu o comando, Adam partiu. Logo que ele sumiu
atrás do primeiro obstáculo, eu segui meu parceiro.

Estava nervosa: ele contava comigo.


Minha mão suava e isso não era nada favorável. Assim que avistava
um alvo eu mirava o melhor que podia e atirava sem conferir, pois tinha que
ser rápida e partir para o alvo seguinte, me escondendo atrás dos obstáculos e
tentando fazer toda a cena, como se estivesse mesmo combatendo inimigos
mortais.

Dei o último tiro e voltamos por fora da pista para o ponto inicial.
Barata apareceu trazendo os alvos e os entregou a Adam. Fez sinal e meu pai
deu a ordem para os próximos seguirem.
— Como fomos, Adam?

— Fomos bem, Summer. Fomos bem.

— Isso é o mesmo que muito mal, não é?


Ele riu, carinhoso.

— Não fomos ótimos, mas veja, você acertou todos os alvos.

— Como foram? — Ítalo chegou e pediu para ver o resultado.


— Mitchell conseguiu acertar todos os alvos. Isso é excelente —
Adam disse confiante.

— Nossa, estou me sentindo péssima, gente.

— Por quê? — Garcia quis saber. Não havia pegado a história do


início.

— Eu não sei por que, Mitchell. Você acertou todos, veja.

Adam mostrou os alvos e, enquanto ele e os rapazes comemoravam


tiros certeiros, eu conseguia ver a tinta quase fora dos alvos. Me chateei com
aquele resultado e pedi licença, me afastando. O dia morria e não ia demorar
a escurecer.

Passei no banco de descanso, peguei a mala de equipamentos, entrei


no carro sem olhar para trás e fui para casa.
— Eu tenho que melhorar meu tiro. Eu tenho que melhorar.

Não conseguia tirar da mente o quão incompetente eu era com uma


arma na mão. Eu odiava errar. Me cobrava muito por perfeição e tentava ser a
melhor que podia em todos os quesitos da minha vida.
Não adiantava minha mãe passar minha vida inteira tentando me
aconselhar a pegar mais leve, eu sempre voltava e voltava, e tentava e tentava
até acertar e ser a melhor que podia. Sempre fui assim e era fácil me frustrar
quando não conseguia, até me superar e ser realmente incrível.

Cheguei em casa de cabeça quente, fui para a cozinha e peguei um


resto de comida do almoço na geladeira. Requentei no micro-ondas e comecei
a comer, chateada.

Já estava terminando quando escutei o carro do meu pai estacionar.


— Posso saber que merda foi aquela, Summer?

A voz trovejante invadiu a casa e eu olhei em sua direção. Eu não


entendi sua pergunta. Por que ele estava tão bravo? Ele era sempre tão gentil
comigo...

— Do que exatamente o senhor está falando?

— Por que abandonou o treino sem avisar?

— Eu... Eu fiquei com raiva do meu resultado, tá bom?

Levantei e joguei o prato na pia, já querendo tomar a direção do meu


quarto.
— Não. Não está bom, filha. Volte e sente essa bunda na cadeira
agora mesmo.

Eu o desafiei, fechando a cara e cruzando os braços embaixo dos


seios.

Mas no final eu me sentei.

— Ferreira me disse que havia ficado chateada com o seu resultado e


por isso saiu de lá daquele jeito. Mas você tem que entender uma coisa,
menina mimada. Nem sempre você acerta na vida. Esses exercícios são sobre
isso também. São sobre como você reage quando erra. Como enfrenta suas
limitações e o que faz para lidar com elas. E pelo jeito eu descobri que você...
foge! Eu não criei filha minha para fugir em situações difíceis. Até onde sei,
eu criei você para enfrentar todas as dificuldades de frente.

— Mas, papai...

— Nada de mas... Você pediu para fazer esse curso. Você pediu para
ser tratada como qualquer outro dos alunos daqui. O que você acha que eu
faria com o Garcia ou com o Rodrigues se um deles fizesse o que você fez?
No mínimo iam passar uma noite inteira dentro do lago. Isso se eu não os
expulsasse imediatamente do campo aos berros.
Permaneci estática, com os olhos arregalados.

— Escute aqui, mocinha. — Ele tirou um rolo de papéis amassados de


trás do corpo e os abriu sobre a mesa. — Seus companheiros de equipe
estavam certos quando me falaram que te explicaram que você acertou todos
os tiros...

— Mas eu não acertei para valer...


— Você quer saber mais que os fatos, Summer? Os tiros nos alvos
provam que acertou todos eles. Você pode não ter acertado na cabeça, como
sempre quer, mas acertou todos. E para uma pessoa que nunca havia
segurado uma arma antes de chegar aqui, você foi excelente. Deixe de
reclamar como uma garotinha rica mimada e aja como uma mulher. Como a
mulher que espero que seja.

— Pap...
— Que droga.

Ele passou por mim e foi para o quintal. Eu fiquei encarando as folhas
espalhadas em cima da mesa. De fato, eu tinha acertado todos os alvos, e
haviam sido bons tiros, olhando de uma forma mais calma e depois daquela
super bronca. Eu me levantei, segui os passos dele e o encontrei encarando a
mata.

Cheguei de mansinho e me aconcheguei em seu peito forte.


— Me desculpe, papai. O senhor está coberto de razão.

— A vida não costuma perdoar fácil, Summer. Não é só errar e pedir


desculpas a ela.

— Eu sei.
Ele envolveu os braços por mim e apertou forte.

— Todos os exercícios aqui têm um objetivo, raio de Sol. E foi muito


chato descobrir que fugiu ao se deparar com tão pouco...

— Eu cobro muito de mim mesma, papai. E quando eu percebi que eu


não havia sido boa o suficiente, me desesperei. Fiquei possessa pensando que
eu nunca iria aprender aquela merda... Desculpa pelo palavrão.
— Você não pode se cobrar tanto, meu amor. E eu sei a fibra que
você tem. Eu me lembro como fui muito chato quando descobri que você
queria ser fotógrafa, mas você mostrou que era algo que amava e me
convenceu. Seja uma excelente profissional, uma filha querida, uma esposa
amável, uma mãe carinhosa, mas não se cobre tanto, ou você não viverá,
apenas passará pela vida correndo atrás de perfeições que são impossíveis de
atingir.

— Poxa, papai. O senhor nunca falou comigo assim antes.


— Porque antes nunca foi necessário.

O apertei em meu abraço.

— O senhor não me desculpou.

— Eu te desculpo sempre, minha vida. Mas da próxima vez quero ver


uma nova Summer, reagindo às dificuldades.

— Eu prometo que tentarei mudar.

— Já é algo. E agora, que tal me mostrar as fotos que selecionou para


o meu site?
— Acho uma excelente ideia.

Entramos e fomos para a mesa da sala, liguei meu notebook e comecei


a mostrar a ele meu trabalho. Ainda bem que havia dado tempo de fazer a
seleção mesmo depois do sexo louco, porém delicioso com o Ítalo.

— Suas fotos estão ótimas, Summer.


— Ainda bem que o senhor gostou. Tirei mais algumas antes do
treino de tiro, depois eu descarrego. Agora eu quero ver se a Maisie...

Saltei da cadeira, agitada, e ele tomou um susto.

— O que foi, Summer?


— Meu celular... Droga, deve ter ficado naquele banco. Saí tão doida
que peguei a mala da câmera e não vi mais nada...
— Calma, vida. Alguém deve ter pegado e guardado na minha sala.
Os rapazes sempre fazem uma vistoria geral antes de irem embora.

— Eu vou lá agora...
— Você pega amanhã...

— Mas eu queria muito mesmo conversar com mamãe e com a


Maisie antes de dormir...

— Pegue as chaves da minha sala, então, e veja se alguém levou para


lá. Vou comer, tomar um banho e dormir. Estou cansado.
— Vou tentar voltar logo.

— Certo.

— Papai. Quem ganhou a noite de folga?


— Silva e Resende.

— Ah, legal. Eles são muito bons mesmo. Fico feliz por eles.

— Sei que fica, sua doidinha. Agora vai de uma vez pegar seu celular,
antes que tenha um troço.

— Vou sim. Ao resgate.

Gritei animada erguendo um braço e fazendo meu pai sorrir.

Mal estacionei o carro, vi Raul vindo em minha direção. Saí do


veículo e caminhei até ele.
— Eu esqueci meu...

— Celular. Sei. Eu estava te esperando para te devolver, coração.

— Ah, graças a Deus que vocês acharam. Obrigada mesmo, Raul!


Fiquei na ponta do pé e lhe beijei de leve os lábios.

Eu me afastei e nos encaramos, sérios, por alguns segundos e partiu


de mim o convite:
— Raul, quer vir comigo até o meu carro?

— Até o seu carro?

— Sim.

Mordi o lábio inferior e encarei o chão.

— E vamos fazer o que no seu carro, coração?

Ele desceu a mão do meu ombro por meu braço.


— O que gostaria de fazer lá?

— Ah, você nem sonha o que eu gostaria de fazer com você dentro e
fora de um carro, coração.

Ai todos os santos das calcinhas molhadas, é agora que eu estou


muito fodida.
— Dentro e... fora?

— Sim.

Minha imaginação começou a decolar para a estratosfera. Eu queria


descobrir o que ele desejava fazer comigo, como seria sua pegada, se me
viraria do avesso.
Eu o queria... agora!

— Então vamos ter que achar um lugar mais calmo, longe de


possíveis observadores.

— Seria bem mais interessante, Summer.


Foda-se o mundo! E que venha Raul...

— Ah, vamos logo então, porque eu não faço ideia do que você pode
fazer comigo dentro e fora de um carro.
Segurei sua mão e o puxei na direção do automóvel. Escutei ele rindo
atrás de mim. Entrei no banco do motorista e esperei que ele ajustasse o
banco e o cinto no lado do passageiro.

— Já sabe para onde vai me levar? — o safado me perguntou.

— Não faço ideia.


— Então dê ré e siga o caminho que eu indicar.

Ela estava ruborizada há algum tempo. O rosto corado destacava seus


lindos olhos azuis brilhantes. Ela seguia todas as minhas instruções rumo a
uma viela mais escondida. O bom de sair para correr todos os dias fazendo
trajetos diferentes é que eu descobrira vários lugares interessantes naquela
região.

Já estávamos chegando ao nosso destino e levei minha mão à sua


coxa. Senti a pele vibrar sob meu toque.

Estava nervosa?

Como?
Ela já havia se deitado com os meus outros amigos. Não deveria estar
para lá de acostumada a trepar com os caras?

— Tudo bem, coração?


— Tudo.

Ela sorriu sem tirar os olhos do caminho acidentado entre a mata.

— Acho que já pode parar aqui.

— Certo.

Não havia muito para onde ir, o espaço na mata só cabia praticamente
o carro e não tinha acostamento. Era de fato apenas desligar o automóvel e
aproveitar.

Assim que ela girou a chave fomos envolvidos pela escuridão da


noite. Acendi o visor do meu celular e o joguei em cima do painel. Liberei
meu cinto e me virei na direção de Summer.

— Posso começar a pôr em prática o que desejo, coração?

— P-pode.
Soltei o cinto dela e me aproximei, sedento por tocar seus lábios com
os meus.

Nossa, que beijo delicioso o de Summer!

Mas apesar de ter adorado seu gosto, eu estava ali para foder. Foder
aquela mulher linda. Era meu único intuito, queria tê-la rebolando em cima
do meu pau.
Puxei mais seu rosto e absorvi tudo dela. Ela gemia entre os beijos e
meu membro pulsava a cada novo miado manhoso da garota. Desci minha
mão por seu pescoço e agarrei seu seio esquerdo, apertando-o por cima do
sutiã. Tinha que fazê-la minha o quanto antes. Antes de minhas bolas
explodirem.

Desci a outra mão por sua barriga delgada e continuei o percurso até
encontrar sua calça e abri o botão e o zíper.

Ela tinha que ser minha. E logo.

— Tire a calça, coração — murmurei em sua boca e ela começou a se


soltar da roupa.

Arranquei minha camisa.

A penumbra deixava tudo mais excitante e quente. Nossa respiração


já fazia os vidros se embaçarem e não demorei a puxar a camisa e o sutiã dela
para cima, revelando seus montes. Segurei seus seios em minhas mãos e os
uni com uma pressão que a fez choramingar novamente. Lambi e mordisquei
cada um deles, demorando-me nos mamilos já duros, me aguardando.
Eu a queria rendida a mim, louca para se entregar por completo,
embora eu tivesse dúvidas se ela se entregaria da maneira que eu ansiava.
Deslizei meus dedos por sua barriga macia e a fiz arfar com meu toque.

Adentrei sua calcinha e comprovei que estava encharcada para mim.


Ela abriu as pernas e meu dedo escorregou, acariciando suas dobras, quase
entrando na fenda que eu cobiçava. Mas eu só queria ter certeza de sua
lubrificação, queria foder Summer com meu pau, não com meu dedo. Mas
deixei meu polegar brincar e trabalhar em seu clitóris, queria deixá-la
completamente preparada.

— Quero você agora, coração — gemi sedutor.


— Eu... Eu também quero... — ela miou em minha boca.

Segurei sua mão direita e a levei até o meio das minhas pernas,
fazendo-a pressionar meu membro duro. Queria que ela sentisse o que a
esperava. Não podia evitar, meu volume crescia em sua mãozinha, rijo e
forte, pulsando e implorando liberdade.
— Você quer sentir meu pau dentro de você?

— Ah... Deus... eu quero.

— Quero te provar primeiro, paixão.

— Aqui é muito apertado... Não temos muito tempo...

E era mesmo apertado. E tinha o maldito tempo.


Voltei para meu banco, soltei o botão e desci a calça com cueca até os
calcanhares. Eu não esperaria mais.

— Venha aqui para o meu colo, coração.

Foi quando eu percebi seu olhar preso em meu pênis. Eu tinha noção
do que se passava naquela cabecinha e ri sozinho.
— Assustada com o tamanho?

— Eu... — Ela tentou engolir e subiu os olhos para me encarar. —


Não diria assustada. Só acho que não vai caber.

Era inacreditável aquilo. Eu gargalhei como nunca na vida. Eu nunca


esqueceria essa trepada surreal demais.

— Eu vou provar que vai sim, coração.

Me abaixei e peguei minha carteira no bolso da calça, quase esqueci a


merda da camisinha. Rasguei a embalagem e vesti o látex sobre meu pau.
Quando me virei, vi que Summer havia tirado a camisa e o sutiã que eu
apenas havia erguido e aquela era uma visão muito foda. Aqueles dois
montes livres, com bicos intumescidos e apontando para mim. Não me
contive, me abaixei e chupei um de cada vez.

Summer tentava se segurar onde podia e uma ou duas vezes ela


esbarrou na buzina do carro me dando um susto desgraçado. Rimos de toda
aquela loucura e não me contive mais, arranquei sua calcinha de qualquer
jeito e a trouxe para meu colo. Ela estava escanchada sobre mim, colada ao
meu peito e ambos sentíamos meu membro latejar desesperado, pedindo
boceta.

Ela pediu, manhosa:


— Você promete ir devagar?

Ah, gostosura, tudo que eu não queria ir era devagar contigo...

— Do jeito que estou louco por você, eu não sei se posso prometer
isso, não...
Eu tinha certeza de que quando ela se acostumasse com as minhas...
dimensões, era ela quem iria implorar para ser comida com força.

Ajudei-a a se erguer do meu colo, encaixei a cabeça do pau em sua


fenda e ela começou a descer devagar. Com os olhos fechados, ela foi
escorregando, aos poucos e parou.

— Relaxa, coração. Você está tensa demais. Prometo que não vou te
machucar.

— Tá bom. Desculpe o nervosismo.

Apenas sorri antes de responder beijando-a várias vezes.

— Até parece sua primeira vez.


— Com alguém do seu tamanho é!

Ri e continuei beijando aquela menina gostosa.

Ajudei Summer a subir e descer lentamente, até que ela se


acostumasse a tomar meu mastro por completo e logo ela estava cavalgando
sobre mim, rebolando aquele traseiro gostoso, que subia e descia esfomeado,
sugando-me todo para dentro dela.

— Puta que pariu, isso tá bom demais, coração.

— Tá...

Ela não conseguia falar. Estávamos em uma posição horrível ali,


esmagados no espaço minúsculo do automóvel. Presos ali dentro, parecia que
estávamos em uma sauna.

Abri a porta e sentimos o ar gelado tomar nossas peles.

Virei meu corpo com Summer sobre mim, tirei meus calçados e com
dificuldade a roupa presa em meus pés. Saí do veículo levando Summer
conectada a mim e, do lado de fora, a posicionei sobre o capô do carro.

Abri mais suas pernas, aproveitando-me de sua flexibilidade e passei


a mover os quadris, socando cada vez mais forte e fazendo-a gritar para a
escuridão da noite. E me provocava tanto tesão que eu já estava prestes a
gozar.

Puta merda!

Eu não conseguia mais respirar, estava sufocando com todo aquele


atrito... Ele não parava, parecia uma máquina socando e socando, forte e sem
interrupções...

Ai meu Deus!
Eu já havia gozado e eu acho que ele nem havia percebido, pois
parecia um animal no cio, mas era maravilhoso ser tomada por aquele macho
afoito. Assustei-me quando ele parou e retirou-se de mim e me tirou de cima
do carro.

Só então tentei controlar a respiração, mas foi em vão, pois ele


rapidamente me colocou em pé, de costas para ele, apoiou seu membro em
minha entrada e mergulhou novamente em meu interior.
Segurou meus cotovelos e começou a bombear com força, por trás. Eu
certamente ia estourar de tanto prazer... ou de tanto gozar, porque meu corpo
estremeceu inteiro com o orgasmo foda que me atingiu.

Eu tentava falar, mas não conseguia dizer nada coerente. Eu


definitivamente nunca havia feito nada como aquilo. Soltou meus cotovelos e
deixei o corpo pender sobre o capô do carro. Ele imediatamente segurou meu
traseiro e continuou me comendo, forte e fundo, sentia seu pau enorme bater
em meu útero, de tão rápido que me comia.

Eu estava alucinando, completamente entregue àquela loucura.


O que era aquilo, gente? O homem era uma máquina de sexo!

Foi quando eu senti um dedo exploratório rondar uma outra região


sensível e antes que eu pudesse questionar, ele passou a enfiar seu polegar em
minha bunda também.

Filho da puta!
Já ia abrir a boca para reclamar quando ele se movimentou mais, em
meus dois canais e me fez arfar sem fôlego. Seus carinhos eram torturantes e
deliciosos demais. Ele ia me matar, era certeza. E foi quando eu senti o
orgasmo de Raul através de estocadas cadenciadas e elétricas. Ele gemeu
forte e deixou-se levar pelo prazer.

Não ousei me mexer porque eu tinha medo de cair. Não sentia minhas
pernas e o filho da puta demorou a sair de mim, ainda entrando e saindo,
lentamente e me fazendo desejar que ele recomeçasse tudo novamente. Até
que saiu e eu continuei ali, largada, acabada e sem saber se ainda estava viva.

Fodida eu estava, com certeza.


— Deixa eu te ajudar, coração.

Eu o senti passar um tecido em minhas pernas, desde os meus


calcanhares até a entrada da minha boceta. Ele estava me limpando. Eu devia
estar completamente besuntada com meu próprio líquido. Ele colocou minha
roupa sobre o carro, ao meu lado.

— Já pode se vestir, paixão.


Virei e o vi pegando suas próprias roupas dentro do assoalho do carro.
Ele se vestia me observando, enquanto eu também me vestia. Minhas pernas
tremiam e a aceleração do meu coração não diminuía. Ele se aproximou
quando terminei de me vestir e cobriu meu corpo, me abraçando e me
beijando muito.

— Você está bem, coração?

— Estou.

— Eu te machuquei?

— Quase me matou. Pensei que dessa vez eu ia partir...

Rimos juntos. Ele tinha uma gargalhada muito gostosa.


— Vai dizer que nunca transou no carro?

— Que parte do sexo básico você não entendeu, coração?

Ele sempre me olhava curioso.


— Mas você tem quantos anos mesmo, Summer?

— Vinte e três. E descobri nessas férias o quanto deixei de viver...


pelo menos por um lado.
— Deixou mesmo, garota. Espero que esteja aproveitando muito.

— Isso eu estou. Muito, muito mesmo. Pegue. Nem lembro mais que
cor você escolheu. Ainda estou zonza com tudo o que aconteceu.

— O que é isso?

Ele tateou o que eu segurava e colocou contra o retrovisor


aproveitando a pouca luz que vinha de dentro do carro.

— Está me dando sua calcinha?

— Sim. Presente. Ah, é amarela. Acho que essa não é a cor que você
escolheu aquele dia...
— Não, foi branca, mas gosto muito de amarelo, é uma cor vibrante e
alegre, como tudo o que fizemos aqui. — Ele me beijou novamente. —
Nunca vou me esquecer de hoje, sabia?

— E você acha que eu vou esquecer?

Me beijou novamente moendo sobre mim o pau que já voltava a se


agigantar. Safado gostoso.
— Temos que ir, coração. Se ficarmos mais cinco minutos, me afundo
em você de novo.

— Por mais que eu adorasse, não posso, Raul. Falei para o meu pai
que ia só pegar o celular no escritório central. E já estou fora há meia hora.

— Eita, e vai dizer o que para o Comandante?


— Que encontrei alguns colegas e bati um papinho antes de voltar.
Avise os garotos para confirmarem a história.

— Dê meu nome, o do Adam e o do Ítalo.


— São os mais safados, né?

— Não, porque nesse caso ia faltar o Garcia e o Pablo também.

— Putz, são todos safados.

Gargalhamos.

— Vamos, coração. Deixa eu dirigir até o caminho da sua casa? Aqui


só saímos na ré e você não está acostumada com o câmbio manual....

— Tá dizendo que não sei dirigir de ré?


— Não, estou querendo ganhar tempo para você chegar logo em casa,
mas, se quiser dirigir, não tem problema algum, paixão.

— Estou brincando, pode dirigir, Raul. Nem estou sentindo minhas


pernas mesmo.

Entramos no carro e ele conseguiu pilotar muito bem para quem


estava em uma posição tão desconfortável e no escuro.

— Você é de onde, Raul? Tem um sotaque diferente, não parece com


os dos rapazes.

— Eu sou soteropolitano. Nasci em Salvador. Bahia.

— Ai que máximo. Não sabia. Por isso essa gostosura toda de


rebolado.
Ele riu com vontade.

Quando chegamos ao caminho que me levaria para casa, ele me deu


um último beijo e falou antes de saltar do carro:

— Eu falei sério, Summer. Nunca vou me esquecer de hoje.

— Nem eu.

Eu o observei pegar o caminho para seu alojamento e segui para casa.

Quando entrei, não vi meu pai. Ele já devia ter ido para o quarto.
Depois do banho e de me jogar na cama, esperei as pedrinhas de
Enrico, mas elas não vieram.

Nem me lembrei de verificar minhas mensagens no fim das contas.

Adormeci vencida pelo cansaço de tanto exercício. Eu não tinha


prática alguma, comparada à daqueles homens experientes.
Uma ligação inesperada

— Toque de alvorada, Summer.


A voz parecia vinda de tão longe...

Ergui a cabeça como se quisesse conferir se ainda sonhava ou se


havia mesmo escutado alguma coisa, mas como ninguém se pronunciou,
voltei a dormir.

— Eu não acredito que ainda está dormindo, menina.


O grito do meu pai e as batidas na porta me fizeram pular da cama.
Corri para o banheiro sem nem olhar que horas eram. Usei o sanitário,
escovei os dentes, passei o pente nos cabelos e me vesti de forma relâmpago.
Abri a porta e fingi que havia acordado há horas.

— Por que está tão afobado, papai?

Passei por ele com a melhor cara de dissimulada que tinha.


— Até parece que me engana, mocinha. Estava dormindo até agora.
Vai chegar atrasada ao treinamento.
— Eu me atrasei sim. Desculpe, papai.

Não resisti, fiz cara de choro e já estava enchendo a caneca de café.

— Eu vou na frente, não volte a dormir. Vou fazer os rapazes se


aquecerem enquanto você chega.

— Cinco minutos. Já estou terminando de comer — falei com a boca


cheia.

Voltei correndo ao quarto, peguei toda minha roupa suja e joguei na


máquina de lavar. Meu pai não podia sonhar nas escapadas que eu estava
dando e minha roupa podia me denunciar. Fui para o carro em seguida e
parti, acelerando para o pátio de treino. Cheguei lá correndo e, assim que meu
pai me viu, disse logo.
— Então, como finalmente Mitchell decidiu se juntar a nós, podemos
começar nosso treino. Silva, comande a corrida e, assim que chegarem, me
avise que começamos os exercícios.

Poxa, que maldade, nem me aqueci e me preparei para uma corrida e


já tinha que...

— Vamos, vamos, vamos, está esperando o quê, Mitchell?

— Nada, Comandante, nada...

— Dê-se por feliz de não ganhar nenhum castigo por ter chegado
atrasada e corra!

Comecei a correr como uma louca.


Que pai mais chato quando quer ser!

Estava me sentindo o máximo! Era muito bom ser mais rápida que
todos, comandar a fila e... Droga, os primeiros rapazes começaram a me
passar com menos de dez minutos de corrida... ou era eu que estava ficando
para trás?

Eu... estava... ficando... cansada...


— Precisa de ajuda, Mitchell? — Silva veio em meu auxílio.

— Eu... não... tudo... bem...

— Beba um pouco de água.

Ele me estendeu uma garrafinha plástica e tomei apenas um gole.

— Pode... ir... vou no... meu ritmo.

— Vou aqui te fazendo companhia.


— Valeu.

Foi uma corrida de quase uma hora e, assim que cheguei ao pátio, me
joguei no chão, exausta. Mal havia conseguido beber um pouco mais de água
que o Uriel trouxe para mim quando meu pai já chegou todo autoritário,
mandando o grupo fazer formação e começarmos os apoios de frente.

— Eu não consigo fazer tantos...

— Faça quantos conseguir. Quando cansar, faça uma pausa e


continue. Vá intercalando até completar o exercício. Quando acabarem, quero
cem burpees.

— Ele quer foder a gente? — perguntei a Garcia, que estava do meu


lado.

— Pelo jeito ele acordou de mau humor.


— Porra. Tá foda esse treino de hoje.

— Escutei isso, Mitchell. Depois dos burpees quero todo mundo


fazendo cem agachamentos.

— O que é isso, senhor? — reclamei.

— Achando pouco? Posso resolver o seu problema já, já!

Calei a minha imensa boca e comecei a série de vinte apoios de frente


que era o máximo que conseguia fazer, só que diluí meu exercício nos cem
que os coitados dos rapazes fizeram.

Os burpees eram o pior! Aquilo não havia sido inventado por Deus,
não! A cada um que eu completava eu tinha certeza de que estava mais perto
da morte. Quando os agachamentos chegaram, eu já nem sentia mais meu
corpo e acho que só consegui pela inércia da repetição.
Acabamos e papai enfim se pronunciou:

— Muito bem. Todos para o pátio de pilotagem.

E partimos. Quase pedia para um dos meus desejos me carregar,


porque eu não sentia mais nada mesmo.
Vi duas motos enormes estacionadas e logo me apavorei. Não fazia
ideia nem de como subir em uma moto. A Maisie iria adorar aquele desafio,
não eu. Não mesmo.

— O resto da manhã iremos praticar suas habilidades com motos.

— Fodeu — falei baixinho.


— Não sabe pilotar moto, guapa? — Pablo perguntou.

— Nop!

Ele não respondeu mais nada, olhou para frente e continuamos


prestando atenção nas orientações do Comandante. Antes de começar a
chamar os rapazes, papai veio até mim e perguntou:
— Cadê sua câmera?

— No carro, senhor.

— Vá pegar.

— S-sim, senhor.

Saí correndo como uma doida.


Rapidamente voltei a me animar e a dor começou a passar. Bastava o
pensamento de fotografar que eu ganhava vida. Me tornava outra pessoa.

Voltei e já vi dois rapazes em cima das motos. Eles cruzavam alguns


obstáculos.

Meu dedinho nervoso começou a disparar, pegando os melhores


ângulos e enquadramentos. Os rapazes eram feras e driblavam aquele
exercício muito bem, sem nenhum esforço. Um a um eram substituídos e
faziam o percurso tortuoso rapidamente.
— O senhor não vai me mandar subir em uma dessas, vai? —
perguntei a meu pai.

— E desde quando sabe pilotar moto, Mitchell? — ele respondeu de


volta.

— Não sei.
— Então. Claro que não vou fazer você executar o exercício. Por isso
pedi para pegar a máquina fotográfica, pois teria o que fazer enquanto eles
treinam. Rodrigues, repita o percurso mais uma vez. Você ainda foi muito
devagar e dessa vez esbarrou em dois cones.

— Sim, senhor.

Meu pai não estava mesmo animado aquele dia. Será que ele havia
descoberto algo? Meu Deus, será que ele ia me chamar para alguma conversa
séria logo mais e estava esperando o momento certo? Ai, meu coração. Eu
não podia me preocupar com algo tão impactante àquela hora da manhã. Eu
estava morta de fome e...

— Mitchell!
Eu me assustei tão feio que minha câmera só não voou para o chão
porque eu nunca esquecia de prender muito bem a tira no meu pescoço.

— Que é isso, Comandante? Precisa chamar gritando?

— Que é isso pergunto eu, tá nervosa?


— Não. Claro que não. Estava concentrada. Aff.

— Então aproveite que se desconcentrou e, quando acabar o treino,


me encontre na minha sala. Barbosa, é com você a partir daqui.

— Sim, Comandante.
Ele sabia. Papai sabia de tudo e eu estava muito ferrada.

Eu comecei a suar e passava as mãos pela calça de tecido grosso.


Tentava recuperar a calma, mas não consegui tirar boas fotos. Quando o
treino acabou, os rapazes vieram falar comigo:

— Você está bem, gatinha? — Adam começou.


— Não. Papai me chamou para uma conversa na sala dele. Estou com
medo de que ele tenha descoberto algo.

— Fique tranquila, moranguinho. Ele não sabe de nada, tenho certeza.

— Eu não consigo parar de pensar que isso é a única coisa que ele
pode ter para falar comigo, Ítalo.
— Vá conversar em paz, tigresa. Se for isso e ele der uma bronca em
você, venha nos chamar que conversamos com o Comandante.

— Aí vocês morrem todos juntos comigo, né, Garcia? Não estou tão
louca ainda. Vou logo lá descobrir o que é.
— E não esqueça de nos contar depois o que foi — Adam pediu.

— Se eu ainda estiver viva. — Ri e acenei para eles.

Cheguei ao escritório de papai e a porta estava fechada.

Bati, esperei a autorização para entrar e entrei.

— Papai, seja lá o que for, eu posso explicar.

Ele ergueu o rosto de alguns papéis para encontrar o meu.


— Você tem alguma coisa para explicar, mocinha? Bom saber disso...

Meu rosto esquentou. Minhas pernas amoleceram. Meu coração


acelerou.

Falei merda! Falei merda!


— O que o senhor queria falar comigo mesmo?

— Que tal você começar me dizendo que “explicação” é essa?

— Ah, papai. Eu só fiquei nervosa. Desde ontem o senhor está


irritado. E sumiu depois que voltei para casa, quando vim pegar o celular e...
só posso imaginar que esteja bravo com algo que fiz. Não tenho ideia do que
seja, mas eu tenho certeza de que sou capaz de explicar.
Ele finalmente sorriu e me apontou a cadeira em frente à sua mesa.

— Sente-se, vida. Eu te chamei aqui porque tenho que te comunicar


algo.
— O que é, papai? — perguntei enquanto procurava a cadeira com a
mão, sem tirar os olhos dos dele.

— Hoje à noite vamos receber alguém para jantar conosco.


— Alguém...?

— Sim. Você insistiu tanto que falei com ela... — ele respirou pesado
e continuou. — Falei com a minha namorada e ela vai jantar conosco lá em
casa hoje.

— Ela... Sua namorada...


Tapei a boca com as duas mãos e me ergui da cadeira dando pulinhos.

— Ai meu Deus! Ai meu Deus! O senhor vai levar a namorada lá em


casa hoje.

— E você ainda está animada, menina?


— Claro que estou. O senhor não está? — Parei minha sessão de
pulos e fiquei séria. — É por isso que o senhor está de mau humor desde
ontem?

— Summer, minha vida, razão de eu acordar todos os dias, amor que


transcende tudo... sente-se. Acalme seu coração e entenda uma coisa. Esta
será a primeira namorada que você vai conhecer desde que me separei de sua
mãe.

— Sim e daí? — Sentei-me como ele pediu.


— Em quinze anos, raio de Sol.

— Papai, eu não sou mais uma criança. Um dia o senhor vai aceitar
essa dura realidade, não é?

— Para mim será sempre uma menininha, Summer.


— Ai, papai. E quando eu me casar? E quando tiver meus próprios
filhos? Bem, não vamos falar de mim, quero falar de hoje à noite. A que
horas ela chega? O que vamos servir? O que devo esperar?

— Acho que vamos pedir algo, Summer. É mais fácil, rápido. Vou
buscá-la depois do treino da tarde. Não sei mesmo o que deve esperar, vida.
Só vamos jantar e depois vou deixá-la em casa.
— Ela mora em São Paulo?

— Sim.

— Então vou para casa! Quero fazer pelo menos alguma coisa para
servir para ela.
— Como assim vai para casa, menina?

— Eu quero dar uma geral na casa. Almoço por lá e já preparo


algo bem gostoso de sobremesa, papai. Vamos ter um jantar maravilhoso.

Dei um beijo em sua bochecha e, antes de sair, ainda falei:


— Deixe esse mau humor de lado e sorria mais. Hoje à noite será
lindo!

Vi o sorriso se formar nos cantos de sua boca antes de sair.

Corri para casa, joguei a roupa no varal. Enquanto preparava um


cheesecake, comi uma salada básica com peito de peru defumado.
Meu telefone tocou e corri para atender. Atendi animada, sem nem
olhar quem era.

— Alô?

— Oi, Summer.
— Tra-Travis?

— Sim, amor... Finalmente estamos nos falando. Como você está?

— Estou bem, Travis.

— Eu estou morto de saudades, linda.

Puta merda!
O que eu deveria responder? O que eu poderia responder?

Dúvidas, dúvidas, dúvidas...

Eu estava com saudades dele, mas... estava com saudades suficientes?


Saudades dele como meu namorado? Saudades dele como meu amigo? Como
seria aquele relacionamento depois de tudo o que eu estava vivendo nessas
férias doidas?
Sentei-me na cama e passei a mão pelo rosto.

— Eu... Eu também estou com saudades da Califórnia. De tudo aí,


Travis... Travis, querido, não havíamos combinado de não nos falarmos
durante esse mês? De darmos um tempo? De nos descobrirmos, refletirmos
se queríamos mesmo ficar o resto de nossas vidas ao lado um do outro...?

— Eu nunca precisei de tempo algum para ter certeza do que quero,


Summer. Eu te amo e quero passar minha vida toda ao seu lado.
Fechei os olhos e respirei fundo. Travis não era um homem que
perdoaria o que eu estava fazendo. Mesmo que eu alegasse que não
estávamos juntos, que havíamos dado um tempo e que de fato eu acreditava
que não o estava traindo.

— Travis... querido... não responda nada ainda... Como foi seu Natal?

— Péssimo. Longe de ti. E vejo que a virada do ano será tão ruim
quanto.

— Travis. Poxa. Assim você acaba comigo. Não faça assim.

— E é para fazer o quê, amor? Eu estou implorando para você não


terminar comigo. Eu te amo. Quero que seja minha esposa, mãe dos meus
filhos e...

— Pare, Travis. Pare, por favor. Não vê que me fere? Que já tivemos
essa conversa? Eu precisei desse tempo justamente porque não estou
aguentando a pressão. Será que você não entende?

— Mas, Summer...
— Travis, eu me inscrevi para trabalhar na National Geographic. —
Pronto, contei. — Será que consegue entender agora meu desespero? E se eu
for aceita? E se eu for trabalhar do outro lado do planeta? Como vai ser a
nossa vida? Você vai aguentar me ver partindo e voltando o tempo todo,
passando semanas ou meses longe, sem nos vermos? Ou vai largar tudo para
viver dentro do mato ou cobrindo alguma reportagem de guerra comigo?

O som da minha voz parou de reverberar no meu quarto. Eu consegui


escutar o batuque acelerado do meu coração. E, aos poucos, apenas o
silêncio. Lágrimas já corriam pelo meu rosto.

Eu tentei me manter forte.


— Você ainda está aí?

— Estou, Summer.

— Travis, me desculpe pela forma que contei...


— Você sempre soube, não é? Sempre soube que iria embora, seguir
seus sonhos e eu ficaria aqui...
— Eu nunca, nunca escondi quais eram meus sonhos, Travis.

— Summer... estamos exaltados amor... acho melhor conversarmos


quando você voltar.
Travis, meu Deus! Como será quando eu voltar? Mas ele insistia tanto
que eu estava me dando por vencida.

— Tudo bem, meu querido. Quando eu voltar então...

— Isso, linda. Então, até logo. E nunca esqueça do quanto eu te amo.

— Tchau, Travis.

— Tchau, Summer.

Desliguei.
— Puta que pariu, o que foi isso?

Levei a mão à testa preocupada. Eu não estava preparada para ter


aquela conversa com ele. Nem naquele momento, nem no futuro. E no futuro
seria muito pior. Como eu teria forças para contar?

Procurei o contato do meu pai e disquei.

— Papai, o senhor poderia me liberar à tarde?

— O que aconteceu, vida?

— Nada...
— Eu sei que aconteceu algo, Summer.

— Travis. Acabou de ligar, papai. Eu não estou legal, mas é só


emocional. O senhor poderia...

— Fique em casa, raio de Sol. Não precisa vir. Descanse, ou passe a


tarde trabalhando nas suas fotos, eu sei que você adora isso. Mas se distraia,
não pense naquele idiota.

— Papai, o Travis não é idiota. Só demos um tempo em um


relacionamento de muitos anos. Não sei como será quando eu voltar para
casa. Mas independentemente de qualquer coisa, ele é um cara muito legal.
— Se ele te faz sofrer, é um idiota.

— Tá bom, papai. Obrigada por compreender.

Desliguei e voltei para a cozinha. Joguei o resto do almoço fora,


limpei tudo e depois me ocupei limpando a casa. Como papai havia dado a
ideia, passei o resto da tarde trabalhando no material do site do campo de
treinamento. Escolhi as fotos, tratei as imagens e babei nos meus desejos.
Papai chegou pouco depois das cinco.

— Oi, vida. Como você está?

— Estou bem.
Ele veio até onde eu estava e me beijou a cabeça. Olhou a tela do
computador e acompanhou comigo toda a sequência de fotos que eu havia
escolhido. Ele riu quando chegou ao fim.

— Está uma belezura, raio de Sol. Você é muito boa com esse
negócio de mexer em computador. Vou tomar um banho e vou pegar minha
namorada em casa. E me encarrego de trazer o nosso jantar.

— Eu fiz uma sobremesa deliciosa.


— Obrigado por se preocupar, vida.

Ele sumiu para dentro da casa e eu continuei trabalhando. Depois que


ele saiu, fui tirar a roupa do varal e, em seguida, tomar banho e trocar de
roupa.
Eu estava arrumando a mesa de jantar quando escutei o carro
estacionar e fiquei um tanto nervosa. Pouco depois, ouvi papai conversando
em voz baixa com uma mulher do lado de fora, por um tempo maior do que
se poderia considerar normal. Finalmente a porta se abriu e meu pai entrou,
segurando algumas sacolas.

Sozinho.
Enruguei a testa, intrigada, e ele começou, encabulado:

— Summer... Raio de Sol... Quando eu disse que ia apresentar minha


namorada para você hoje, isso era uma meia-verdade...

— Como assim, papai? O senhor a trouxe até aqui e agora está


desistindo...
— Não, não é isso... Na verdade eu não posso apresentar ela a você
porque... porque... Ah, não tem jeito, melhor fazer isso de uma vez. Lília,
querida, pode entrar, por favor...

Lília?

A mulher jovem, elegante e sofisticada atravessou a porta e eu não


acreditei:

— Lília? Você é a namorada secreta de papai?

Corri até ela e nos abraçamos calorosamente. Eu não estava


acreditando naquilo. Lília era a irmã de Sandra, a minha melhor amiga de
infância, e nós duas sempre nos demos muito bem.

—Me desculpe não ter te contado nada, Summer... Eu e seu pai


começamos a sair há pouco tempo. Lúcio estava tão preocupado com a
possibilidade de você ficar chateada ao ver a gente namorando que ele me fez
jurar não dizer nada até ele estar pronto para revelar tudo para você. Eu não
contei nem para Sandra, porque sabia que ela não ia conseguir se conter.

Era por isso que papai ficava tão temeroso quando eu perguntava
sobre a namorada! O grande Comandante estava ali ao lado, tenso,
angustiado, sem saber o que dizer. Ele tentou esboçar uma explicação.
— Minha filha me desculpe... Eu devia ter contado antes, mas...

— Papai, eu só vou desculpar o senhor porque descobri que está


namorando uma mulher fantástica e que tenho certeza de que vai fazê-lo
muito feliz. Lília é uma amiga querida. Alguém aceita uma taça de vinho?

Aquilo deixou o clima leve e percebi que papai começou a se soltar.


— Ah, agora que eu me lembrei! Você e Sandra moram no
condomínio do papai!

— Como acha que conquistei esse gostoso? Quero dizer... seu pai...
Falei com todo respeito, Summer!

— Pode falar o quanto quiser que meu pai é lindo, porque ele é
mesmo.
— Modos, Summer. Modos.

E o Comandante estava de volta, em toda a sua glória!

Comemos animados, dividindo lembranças e saboreamos alegrias.


Meu pai se tranquilizou ao perceber que eu estava feliz por ele estar
namorando minha amiga e era nítido que ele estava mais à vontade em nossa
presença.
Meu cheesecake fez sucesso e, por volta das dez da noite, papai e
Lília se ajeitaram para sair. Ela brincou:

— Boa noite, Summer. Adorei te reencontrar.


— Ah, eu também adorei descobrir que era você a prometida do
papai. Quando eu for para São Paulo, temos que repetir o jantar.

— Já está combinado. Ouviu, Lúcio? — Lília cobrou do meu pai.


— Estou frito na mão de vocês duas, não estou?

— Claro que não, papai.

— Querida, só volto amanhã de manhã, tudo bem?

— Tranquilo. O treinamento começa às oito, certo?

— É sim. E dessa vez quem chegar atrasado vai ter que pagar castigo
mesmo!

— Serei pontual, senhor Comandante.


Rimos todos e os vi partir.

Era tão bom ver meu pai feliz...

Recolhi a louça suja e apenas a deixei sobre a pia. Guardei as sobras


de comida em potes plásticos na geladeira e fui para o meu quarto. Tirei a
roupa, continuei de calcinha e vesti uma camiseta curtinha e sem mangas.
Aquela noite estava quente.

Pulei na cama e peguei o celular para mandar uma mensagem para


Maisie.

Summer: Está por aí, amiga?

Não houve resposta.


A primeira pedrinha chamou minha atenção e meus lábios se abriram
em um sorriso. Envolvi o lençol em volta do corpo e fui até a janela,
chegando lá bem no momento que a segunda pedrinha acertou o vidro. Olhei
para fora e quase não vi Enrico na mata. Era uma noite nublada, sem Lua e lá
fora estava muito escuro. A iluminação amarelada e fraca do meu quarto
provinha de um solitário abajur ao lado da cama.

Esperei que ele se aproximasse.


— Vim desejar boa-noite. Você não voltou à tarde para o
treinamento...

— Como assim veio desejar boa noite?

— Senti saudade do seu beijo, anjo. Vim para...


— Pule a janela, Enrico. Entre.

— Como?

— Hoje é seu dia, Enrico. Finalmente é nossa vez de ficarmos juntos.


— Summer, você não...

— Entre neste quarto agora mesmo, Soares!

— E se seu pai...
— Ele só vai voltar amanhã de manhã. Vai passar a noite na casa da
namorada.

— Tem certeza de que você quer que eu...

Saí da frente da janela e fiz sinal com a mão, dando total liberdade
para ele entrar. Enrico sorriu, pulou o parapeito e ficamos muito próximos.
Eu ainda segurando meu lençol e ele sem saber o que fazer com as mãos.
Nervoso.
Será que ele era mais inexperiente que seus amigos? Logo ele, aquele
cara todo lindo e grandão...
Tatuagens e Cheesecake

— Por que está segurando esse lençol como se fosse sua vida? —
perguntou rindo.
— Por causa disso...

Larguei o tecido e deixei que ele visse o que eu vestia, ou melhor o


que eu mal vestia. Os olhos de Enrico encontraram certeiros o volume dos
meus seios, modelados pela camiseta curtinha e colada. A seguir, desceram
mais, queimando cada centímetro da minha pele que seu olhar percorria,
passando por minha barriga, prosseguindo por meu ventre e chegando às
minhas coxas. Seu olhar subiu novamente. Ele segurou o meu rosto e me
puxou, comentando antes de nossas bocas se encontrarem:

— Você é linda, anjo.


Nosso beijo foi ardente, e a sensação de enfim poder me entregar a ele
fazia tudo ganhar um grau mais elevado, delicioso e envolvente. Nossas
línguas brincavam uma sobre a outra, sondando cada canto, buscando mais de
nós. O beijo ganhou intensidade, e ele agarrou minha bunda puxando-me para
ele, como se já pudesse se fundir a mim.
Não, ainda não, meu desejo, você está vestido demais!

Comecei a puxar sua camisa e ele afastou-se, desnudando ele mesmo


o tórax robusto. Depois voltou a mim, sedento por meus lábios.
Eu só queria saber de me aproveitar de todos aqueles músculos em
contato com a minha pele. Queria me aproveitar de cada pedacinho dele e
descobrir a história por trás de cada tatuagem, já que eram tantas.

— Summer, antes de continuarmos...

Oi? O quê? Parou por quê?


— Pode me responder uma coisa?

— Claro.

— Você... — Ele segurava meu rosto com as duas mãos sem desviar
nosso olhar. — Como vou perguntar isso, Jesus?
— Perguntando.

— Você não está cansada... pera, não era isso que eu queria dizer...
dolorida... por ter... transado com tantos caras?

Era tão nítida a vergonha na fala dele que o homem conseguiu me


encabular um pouco. Sério que ele queria saber aquilo em um momento tão
quente?
Ai, que você vai me pagar... na cama, Enrico!

— Eu estou um tanto cansada... dolorida... — ri, mais de nervosismo


por estar respondendo aquilo, do que por qualquer outro motivo. — Mas
nunca fui tão feliz, sexualmente, Enrico, pois nesses cinco dias vivi
experiências que jamais imaginei sequer que existissem durante a minha vida
toda. Então, se sua preocupação é se você vai me machucar, ou se eu vou
aguentar você, bem, o que posso dizer é: eu estou louca para transar contigo,
você nem imagina o quanto e, não, você não vai me machucar. Mostre-me do
que é capaz, garotão.

Ao terminar de falar eu abri sua calça e puxei sua ereção para fora.
Envolvi meus dedos por aquela grossura e lambi o queixo de Enrico. Ele
sugou minha língua antes de me afastar e seu pau pulsou ainda mais em
minha palma. Ambos já gemíamos, enlouquecidos pela luxúria que nos
consumia e cegava.

— Quero você completamente nua, anjo.

— Como um anjo... — sussurrei, sofrendo, ao largar seu comprimento


e ergui os braços para que ele fizesse o serviço.

Enrico abraçou minha cintura com as mãos e subiu, seguindo a curva


do meu corpo, prendendo os dedos na borda da camisa e deslizando-a para
cima lentamente. Assim que as dobras abaixo dos seios foram reveladas, ele
soltou um suspiro rouco e profundo. Subiu mais, descortinando os mamilos,
rijos de excitação e, por fim, passou a camisa por meu rosto, tirou-a de meus
braços e a jogou no chão.
Então, me agarrou pela cintura e me ergueu, levando-me até a cama e
deixando-me desabar sobre o colchão. Eu o vi tirar o resto da roupa que ainda
vestia e jogar algo sobre a cama.

Veio, rápido, para cima de mim e pairou sobre meu corpo,


completamente nu. Eu podia sentir sua ereção cutucar minha barriga e abri as
pernas para poder acomodá-lo melhor.

— Você tem alguma ideia de como eu esperei por esse momento,


Enrico?
— Então vamos fazer valer a pena.

Enrico desceu os lábios molhados por meus seios, que o aguardavam


com os bicos completamente túrgidos. Afundou a boca em um deles, com
fome, enquanto acariciava o outro. Sentia sua língua rodeando um mamilo
enquanto esfregava e beliscava o outro com a ponta dos dedos. Eu já me
contorcia embaixo dele, em busca de ar.
Senti a mão escorregar por meu ventre e achar o centro do universo
do meu prazer, que me incendiava. Ele esfregou o clitóris arrancando de mim
miados dengosos, até eu sentir o dedo me invadir, firme. Tirava e metia
novamente, fundo.

Ah! Se eu já estava delirando com aquele dedo, como seria com o seu
pau... mergulhado no meu interior melado, apertado e quente? Eu não
aguentava mais. Eu precisava de Enrico agora mesmo.

— Me come... agora... por favor.


— Ainda não...

— Agora... pare de me torturar, por favor!!! — exclamei, chorosa, e


consegui fazê-lo se erguer e sentar-se sobre os joelhos.

Procurava algo sobre a cama e eu não perdi tempo em começar a


explorar aquele corpo maravilhoso. Fiquei de joelhos e depois caí de boca em
seu cacete, que vibrou quando o ajeitei com minhas mãos e o mergulhei
garganta adentro.
— Puta que pariu...

Ele não esperava por minha invasão. Grunhiu alucinado e agarrou


meus cabelos para afastá-los de meu rosto. Eu descia passando a língua por
seu pau e o sugava fazendo uma pressão que o fazia apertar meu couro
cabeludo.

— Pare agora ou só continuamos depois que me recompor da gozada


que estou prestes a dar na sua boca.
Sorri e o larguei, erguendo meus olhos e fazendo cara de santa. Eu o
observei vestir a camisinha e depois vir para cima de mim. Já havia voltado
para a posição anterior e abri as pernas, exibindo-me para ele, que não se fez
de rogado e soube apreciar a visão que eu lhe oferecia. Sorria safado, do jeito
que eu gostava e era tão raro de se ver, já que sua pose sisuda era o habitual.

Eu o senti segurar minhas coxas e abri-las ainda mais. O pau


encontrou sem dificuldade a minha entrada e ele mergulhou em minha vulva
melada, que se abriu para recebê-lo.

Ele não fazia com força. Não fazia com pressa. Ele parecia querer me
conhecer, apreciar, com carinho, ahhh... eu era uma iguaria a ser degustada
daquela forma... lentamente... entrava até a base... eu gemia e ele saía...
morosamente... eu o puxava para um beijo... ele voltava... ahhh... podíamos
foder a noite toda daquela forma... que maravilha...
O que ele tá fazendo...

Sem que eu esperasse ele me ergueu e me deixou sentada em seu pau,


sobre seus joelhos dobrados, e começou a me comer assim. Eu o ajudava
subindo e descendo e eu definitivamente adorava aquela posição tão
inusitada...

Não conseguia mais me controlar, comecei a acelerar meus pulos e


meus seios saltavam bem em frente ao seu rosto. Enrico segurou um deles,
enfiando-o na boca e sugando-o com força. Nosso sexo começou a se acelerar
e meus gritos também.
Eu tinha que me controlar mais...

Minha nossa! Que escandalosa!

Ele devorava minha boca e engolia meus gemidos, era delicioso.

Seu corpo estava coberto por gotículas de suor, que ressaltavam suas
tatuagens. O peito largo e os braços fortes subiam e desciam com os
movimentos frenéticos que eu fazia. Nossa respiração parecia uma só, veias
saltavam em seu pescoço e em seus ombros, pela força que ele exercia.

Quando sua boca não estava colada em mim, estava entreaberta, mas
seus olhos não se fechavam, estavam sempre explorando meu corpo ou fixos
nos meus.
Era uma tentação!

Como não gozar com um homem desses te dominando?

Fui tomada completamente pelo êxtase e joguei meu corpo para trás,
mas ele me segurou e continuou metendo com rapidez. Os espasmos
percorreram meu corpo, deixando-me bêbada, inebriada, arrebatada por tanto
envolvimento. E senti o membro latejar dentro de mim. Ele me puxou,
abraçando-me, e ejaculou, potente, rosnando contra meu ombro, vibrando
embaixo de mim, apertando-me e colando-me ainda mais a ele.
Procurávamos o ar com dificuldade. Olhávamo-nos com carinho,
quase sem piscar. Passei as mãos pelos cabelos dele, e Enrico voltou a me
deitar, deslizando para fora de mim com delicadeza e cuidado, deitando-se ao
meu lado. Ele beijou meu rosto antes de beijar a minha boca. Deitamo-nos de
lado, encarando-nos.

— Enrico! Nossa... foi incrível!

— Você disse isso a todos — percebi que ele tentou brincar.


— Não vamos falar dos outros. Lembre-se da regra.

— Desculpe. Não quis...

— Sei que não. Eu queria que o treinamento durasse mais...

— Vamos embora amanhã, anjo.

— Como é?
— Foi confirmado. O Comandante anunciou hoje à tarde.

— Por que ele não me falou nada?

— Achei que você já sabia...


Não, isso não pode estar acontecendo.

Como assim eles iam partir amanhã? Eu não os veria mais? Mas eu
própria partiria em alguns dias e não era para logo ali, eu iria para outro país.
Mas, mesmo assim, eu não conseguia deixar de ter o coração apertado,
esmagado por uma dor invisível, e...

Olhei para Enrico, que continuava passando os dedos por meu rosto e
pelos meus cabelos. Era por ele. Era por Enrico que eu sentia uma atração
incrível. Era ele que despertava em mim algo que não sentia há muito tempo.
Se é que já havia sentido. Mas havia os outros rapazes, e havia Travis e...
Eu estou tão confusa. Eles vão embora amanhã!

— Está tudo bem, anjo?

— Hã? Sim. Tudo bem.


— Quero que saiba que adorei nossos momentos juntos.

— Fico feliz que tenha vindo, que tenhamos ficado juntos antes de
partir. Que bom que tudo deu certo no final.
— Sim.

Beijei sua boca com delicadeza. Lágrimas umedeceram meus olhos,


mas eu não iria chorar. Eu não sou assim. Foi um acordo que fechamos e o
tempo acabou. Foi bom o que vivi com todos, uma experiência que levarei
para a vida e nunca vou me esquecer deles.
Dele.

— Vou pegar algo para beber, você quer também?

— Não seria melhor eu ir embora?


— Claro que não. Vinho, cerveja, água...?

— O que você for tomar.

— Já volto.
Vesti meu roupão e saí para a cozinha. Peguei duas taças e a garrafa
de vinho que ainda estava pela metade na geladeira. Fui até o quarto e vi que
ele havia se ajeitado e jogado o lençol por cima de seus países baixos... Que
pena...

Entreguei a ele as taças e o vinho e voltei à cozinha. Cortei duas fatias


da minha sobremesa e voltei, equilibrando os pratos e as colheres. Subi na
cama e sentei-me sobre seu colo. Enrico apenas sorria do meu jeito
atrapalhado.

— O que é isso?
— Prove. Se gostar, fui eu que fiz, se não gostar, nego até a morte.

Ele riu mais e aceitou a colher com o doce que coloquei em sua boca.

— Hum... está muito bom.


— Obrigada. Obrigada.

Provei do mesmo doce e pedi uma das taças que descansava sobre a
mesinha ao lado da cama. Ele a entregou e eu tomei um gole.
— Então já começam a trabalhar depois da virada do ano?

— Na verdade ainda não sabemos, pois como trabalhamos para uma


empresa, podem surgir serviços esporádicos enquanto a Tensão Elétrica não
volta à ativa.

— Ah, eles ainda estão de férias...


— Sim, mas voltam logo... Eles nunca param de fato. Só vão fazer
uma pausa em fevereiro, porque o Alex vai ser pai. Durante essa pausa, o
Carlos já organizou todo um esquema, pois, embora eles deixem de fazer
shows, sempre precisamos acompanhá-los em diversas situações. E como eu
disse, sempre surgem serviços extras e nos colocam neles também.

— Entendo. E você nunca ficou com medo?

— Sempre dá medo, anjo. É um trabalho que, se você não tiver medo,


não está fazendo direito. Temos que estar atentos a tudo. A vida de outras
pessoas depende da nossa atenção e habilidade.

— Muita responsabilidade, Enrico.

— Sempre.

Entreguei minha taça vazia a ele e lambi os lábios.


— Quer mais vinho, anjo?

— Não, obrigada. Me conte das suas tatuagens. Sempre fui curiosa


em relação a elas.

Levei novamente a colher com o cheesecake até os lábios dele, e ele


aceitou com prazer, recebendo a colher com a ponta da língua sobre o lábio
inferior.

Que perdição, Senhor!


— O que quer saber, anjo?

— Por que um gorila e um leão?

Apontei para as duas gigantescas tatuagens que recobriam seu tórax


totalmente, a cara de um bicho de cada lado.

— São animais poderosos, meus preferidos... Quis representá-los em


mim.

— E esses rostos de mulheres, são ou foram pessoas importantes?

Ele sorriu abrindo a boca para receber mais do doce e eu dei.


— Meu braço esquerdo inteiro é uma homenagem à cultura Maia. O
México. Eu gosto. Só isso. Essa mulher aqui do braço direito eu vi em um
álbum em um estúdio de tattoo, e achei foda para caralho, o tatuador a
acrescentou em continuidade com a folhagem que sai daqui do leão e achei
que ficou incrível. Não faço ideia de quem seja. O antebraço foi apenas
complemento do braço esquerdo, com símbolos arcaicos, termina aqui na
mão com essa carranca, vê? Na panturrilha direita ainda tenho uma tatuagem
completa em homenagem à cultura egípcia.

— Nossa. Você gosta mesmo de mitologias e de outras culturas.

— Sim. Muito. Assim como você, não é mesmo?


— Muito.

Lambi a colher com um pensamento que não me deixava em paz. Será


que ele aceitaria se eu pedisse? Mas com que coragem eu pediria?
— O que a incomoda, anjo?

— Esqueço que consegue ler minha alma.

Ele apenas sorriu.

Pousei a colher ao lado da torta e coloquei o prato de plástico


repousado em seu abdômen malhado. Puxei as tiras que envolviam meu
roupão e as soltei, fazendo o roupão deslizar e revelar meu corpo nu em cima
dele. Joguei a peça no chão e enfiei um dedo no creme da torta, levando-o até
Enrico e sujando apenas o canto de sua boca. Ele fechou os olhos, sorrindo
mais. Tirei o prato de cima dele e deixei ao lado do outro, em cima da cama.
Inclinei-me sobre ele e lambi o doce. Repeti a brincadeira e melei seu peito,
lambendo e sugando o creme ali.

— Sabe que esse é um jogo que pode ser jogado por dois, não sabe,
anjo?
— Então vou aproveitar enquanto estou jogando.

Lambi o creme que passei em sua barriga e a seguir em suas bolas.


Comecei a chupá-lo novamente, mas dessa vez ele não iria me interromper.

Summer era deliciosa. Ela se deixava ser fodida como eu desejava e


ao mesmo tempo procurava seu próprio prazer a cada momento, e isso era
bom para caralho. Quando ela agarrou meu pau e o meteu na boca eu
alucinei, joguei minha cabeça no travesseiro e aproveitei cada contato
daquela boquinha quente me provando como se eu fosse o último doce da
Terra.
Summer babava, chupava, lambia, beijava e socava meu comprimento
em sua boca, de uma forma como eu nunca havia sentido antes...

Era do outro mundo! E sua língua!


Aaaahhhh!

Sua língua maldosa me torturava quando deslizava por meu membro


duro, já implorando para se afundar entre suas pernas. Ela se deliciava,
dedicando sempre momentos especiais à cabeça do meu pau, e era nesses
momentos que eu gemia mais alto, procurando seus cabelos e ajudando-a
com alguns movimentos. Decidi que não iria segurar o gozo quando ele
decidisse vir, pois sabia que ela não desgrudaria a boca dali.

— Eu vou gozar, anjo...


Avisei, mas ela não se afastou. Joguei a cabeça para trás no momento
que senti meu corpo vibrar. A explosão rompeu em seus lábios. Ela recebeu
meu sêmen com um chupão mais forte e manteve-se firme, bebendo tudo de
mim. Apenas quando a eletricidade de meu corpo cessou foi que ela voltou
engatinhando, dengosa e sedutora, deslizando por minha pele suada.

Eu estava muito fodido por aquela mulher! Puta que pariu!

E tudo se acabaria no dia seguinte.


— Delicioso.

Eu estava fodido demais.

— Você é perfeita, anjo. Sabia disso?


— Estou longe de ser perfeita, Enrico.

Eu a puxei mais para cima de mim e a beijei com devoção. Não queria
que aquela noite acabasse nunca mais, queria meus lábios assim, colados aos
dela por muito tempo, por mais tempo do que iria durar aquele acordo...

Aquele acordo bosta de dividi-la com meus amigos.

— Enrico, quero te pedir uma coisa.

— Pode pedir o que quiser, anjo. Depois de um boquete desses você


sabe que pode pedir o mundo, que eu te dou, não é?

Ela gargalhou. Era tão linda rindo daquela forma.

Meu Deus, que essa noite não termine nunca!

— Eu quero que me coma de novo.

— É esse seu pedido? Você tinha a ilusão que eu não ia te comer


outra vez? Espere só mais um pouquinho que eu já entro em ação novamente.
Percebi que ela ficou vermelha. Queria me contar algo e estava com
vergonha de falar. Era um caixinha de surpresas essa garota, mas era
impossível ela me esconder algo. Passei um dedo ao longo de seu nariz e
disse baixinho.

— O que mais quer que eu faça, Summer?

— Quero que... que...

Mordeu os lábios e evitou me olhar. Ergui o seu rosto. segurando seu


queixo, mas nem mesmo isso a fez olhar para mim.

— Eu queria que você... me comesse por trás.

— De quatro? Adoro.
Ela encheu as bochechas e expirou, nervosa.

— É de quatro, sim. Mas não apenas de quatro...

Ela abriu a gaveta do móvel de cabeceira, tirou um tubo de


lubrificante íntimo, mostrou-o para mim e balbuciou:

— Você não está entendendo? Mesmo?

Eu estava, só não estava acreditando no pedido. Foi uma das regras


dela. Nada de sexo anal.

— Pode me responder algo antes, anjo?

— C-claro.

— Algum dos rapazes...?

— Não. Nenhum...

— E por que mudou de ideia agora, anjo?


— Eu quero muito. Com você...

Comigo.

Apenas comigo.
O que será que aquilo significava? Porra, meu pau dava sinais de vida
desde o momento que descobri a possibilidade de comer aquela bundinha
linda.

— Você já fez sexo anal antes, anjo?

— Uma vez. Mas não foi nada prazeroso, por isso coloquei a regra.
Meu namorado não foi muito... atencioso, se é que me entende! Foi há muito
tempo...
— Ah! Então o que você quer é experimentar com outra pessoa?

— Isso.

Eu a olhei por algum tempo, refletindo em suas palavras e perguntei:


— Seu namorado?

— Isso.

— E você tem namorado, anjo?

Ela assentiu.

— E vocês... ainda estão juntos?


— Não. Talvez. É complicado. Eu pedi um tempo a ele. Estava
precisando repensar algumas coisas na minha vida...

— Entendo. E sobre o seu namorado... quando voltar para Califórnia?

— Vamos conversar.
Sabia que uma garota daquelas não podia estar sozinha. Estava
aproveitando o tempo em que estavam separados para viver novas
experiências. Ela certamente voltaria para o namorado quando retornasse para
casa.

Droga!

— Então? — ela perguntou receosa.

— Venha aqui, anjo.

Eu a puxei e ela beijou meus lábios.

Saboreei a língua que me ofereceu, e ela fez o mesmo quando lhe


entreguei a minha. Tomei sua boca por um longo tempo, desfilando minhas
mãos por seu corpo macio até que parei sobre as maçãs de sua bunda,
apertando-a e abrindo-a de leve.
— Quer que eu te coma?

— Quero.
— Como eu desejar?

— Não. Com carinho.

Ri de sua resposta:

— E de que outra forma seria, anjo?

Virei-a para baixo de mim e soltei parte do meu peso sobre ela. Desci
beijos por sua pele, parei nos seios, unindo-os e sugando-os juntos, lambendo
e mordiscando os mamilos intumescidos e rosados. Prossegui aquele caminho
de desejo e só parei quando minha língua encontrou e se afundou na fenda
encharcada.
Ela rebolou na minha cara e meu pau reclamou novamente por eu
ainda não estar socado dentro dela. Remexeu os quadris e passou as mãos por
meus cabelos curtos, miando chorosa.

Essa garota quer fazer minhas bolas explodirem com esses


gemidinhos? Vai conseguir!

Mantive a boca febril, firme em possui-la, deliciando-me de seu


clitóris e levando-a à loucura. Tateei a cama à procura de minha carteira e
enfiei a mão em uma fatia de cheesecake que ainda estava em cima da cama.

Ergui o rosto e a mão melada pelo creme branco e macio. Ela me


olhou, ansiosa por saber por que eu havia parado e quando viu a situação de
minha mão começou a rir. Eu também. Passei a mão em seu ventre e comecei
a sugar todo o creme, antes de retomar o ato de revestir meu pau com uma
camisinha e voltar para o meio de suas pernas. Eu a senti gozar em minha
boca, a vulva palpitante despejando seu mel para mim. Suguei-a como ela fez
comigo. Aquilo era delicioso demais para desperdiçar uma gota sequer.

Ajoelhei-me no meio de suas pernas e mergulhei nela. Duro e carente.


Deitei-me sobre Summer e mexi os quadris, movendo-me rápido. Já conhecia
seu corpo, seus limites, seus desejos.

Eu a beijei e exigi sua língua, que suguei, e lhe entreguei a minha.


Mordi seu lábio e senti quando ela envolveu minha cintura com suas pernas,
trazendo-me ainda mais para o fundo dela. E ela segurou meus ombros com
força e pouco depois estava com as unhas cravadas em minhas costas,
levando com aquela dor prazerosa o resto da minha sanidade.

Parece que ela tenta se colar em mim, como uma das minhas
tatuagens.

Se ao menos ela soubesse que já é como uma delas.

Se Summer soubesse o quanto é especial para mim.


Mas aquilo era algo que não podia ser dito. Ela partiria em breve e
não haveria laço capaz de nos prender um ao outro.

— Vire-se, anjo.

Ela sorriu e beijou meus lábios.


Summer se colocou de quatro, descendo o corpo e deixando apenas a
bunda empinada para mim.

Nem conseguia mais pensar; enfiei-me nela novamente, comendo-a


com força, fazendo nossos corpos se chocarem, suados e melados.

Lambuzei um de meus dedos com seus fluidos, peguei um pouco do


lubrificante e comecei a prepará-la para me receber. Não deixava de socar
dentro de Summer ao mesmo tempo que comia seu cuzinho, inicialmente
com um dedo, e depois com dois. Alargando-a. Relaxando-a.
E pude ver que ela adorou, pois não parava de gemer e rebolar para
mim.

Saí de dentro de Summer e apalpei sua bundinha linda. Abri as


laterais com as mãos e apreciei ainda mais minha perdição. Agoniado, troquei
a camisinha rapidamente, espalhei sobre ela o lubrificante e pousei o membro
rijo em sua fenda. Friccionei ali, me esfregando por ela toda, aproveitando
que estava melado.
Comecei a penetrá-la lentamente, com muito cuidado para não
machucá-la e, a cada gemidinho de dor, eu parava para que ela conseguisse se
acostumar com a grossura e o tamanho.

Parei quando estava todo dentro dela, até o fundo. Que sensação
maravilhosa!

— Está gostando, anjo? Posso continuar?


— Sssiiimmm...

Aquele “sim” gemido, do fundo da alma, me fez pulsar dentro dela.

Comecei a me mover, lentamente ainda, comendo aquele rabo


apertado e com um lindo formato de coração. Sem que eu esperasse, meu
anjo lindo empinou ainda mais a bundinha, e eu enlouqueci de tesão. Aquele
movimento facilitou o acesso às minhas estocadas, e pude ir mais rápido e
mais fundo.
Alucinado de volúpia, dei um tapa em uma de suas laterais, mas me
arrependi no momento que o fiz.

— Faz... de novo... — ela implorou, e eu enlouqueci.

Dei um novo tapa e a puxei mais, firme, empalando-a até minhas


bolas se colarem na vagina.
A sensação era indescritível.

Eu a fiz se deitar mais e a cobri, intercalando socadas lentas e fortes,


ao mesmo tempo em que beijava seu ombro e seu pescoço. Deitei-me de lado
e a puxei para mim, abrindo suas pernas para facilitar minha entrada. Procurei
com a mão o seu clitóris e comecei a masturbá-la, enquanto não parava de me
afundar em seu traseiro.
Ouvi Summer gritar e explodir, com espasmos violentos que a
fizeram tremer inteira. Era uma delícia ter aquela mulher se derretendo
comigo afundado nela. Arremeti mais algumas vezes antes de também chegar
ao ápice, enchendo o preservativo de porra e aliviando a pressão do meu
corpo.

Respirávamos de forma descontrolada e saí de trás de Summer com


cuidado. Ela deitou-se, exausta pelo orgasmo intenso, com os olhos fechados
e a mão sobre o peito, que subia e descia, acelerado. Tomei sua mão entre as
minhas e a beijei longamente.

— Você está bem, anjo?


Ela não respondeu com palavras, apenas assentiu e eu sorri para
aquele gesto. Passou a mão por seu rosto molhado e satisfeito.

— Foi parecido com sua outra experiência?

Ela negou.
— Mas gostou?

— Adorei.

Ela me puxou para um novo beijo. Eu não cansava de beijá-la.


— Enrico. Eu não sei se sabe, mas... estou em cima do cheesecake...
— Mentira! — ri porque eu nem me lembrava mais de nenhum
cheesecake depois daquela loucura.

Ela gargalhou antes de se virar e me mostrar as costas completamente


brancas do creme e a colcha da cama toda lambuzada.
— Ainda bem que os pratinhos são de plástico ou você poderia ter se
machucado feio.

— Ainda bem, né? Acho que agora vou ter que ir para o banho...

Ela saiu da cama e eu me levantei também, retirando a camisinha de


costas para ela. Escutei quando ela recolheu os lençóis e me virei quando,
caminhando em direção ao banheiro, ela disse:
— Você ainda tem quantas camisinhas? Esse banho pode ser bem
demorado se você quiser me acompanhar...

Porra de mulher insaciável! Desse jeito, vai acabar me secando.

— Não sei, anjo. Tenho que olhar na carteira.


— Pois olhe, pegue uma e venha.
Sem despedidas

Acordei com o dia entrando pela janela e a claridade invadindo todo o


quarto. Estava sonolenta e aspirei o cheiro gostoso de Enrico. Ele ainda
servia de travesseiro para mim. Espreguicei-me ao mesmo tempo em que o
abracei com força. Senti seu corpo vibrar e o riso preencheu o ambiente. Era
muito bom acordar daquela forma. Ergui meu rosto amarrotado pelo sono e
recebi um selinho nos lábios.
— Bom dia, anjo.

— Bom dia, Enrico.

— Dormiu bem?
— Muito bem. Nem queria acordar...

Não consegui continuar. Escutamos a porta de um carro sendo


fechada.

Papai!
— Meu pai chegou, Enrico. Você tem que ir.
Pulamos da cama ao mesmo tempo. Ele foi vestindo a roupa de
qualquer jeito e eu corri para o banheiro, catando a minha e começando a me
vestir também. Quando retornei, peguei a calcinha que havia ficado no chão e
a enfiei no bolso da calça dele, antes que ele pulasse a janela. Eu o puxei pela
mão e nos beijamos uma última vez antes que ele sumisse pela mata em
direção ao seu alojamento.

Respirei aliviada por não termos sidos flagrados e sorri com a


loucura. Tanto aquela que acabamos de passar, como toda a noite anterior e
por quase não termos dormido. Fui para a cozinha e vi papai terminando de
passar o café.
— Bom dia, papai.

— Bom dia, vida. Vou só tomar um banho, me arrumar rapidinho e


saímos.

— Combinado.
Servi a mesa e me sentei, já adiantando meu café.

Fiquei perdida nas lembranças dos carinhos de Enrico. Cada vez que
nos tocávamos, percebíamos o quanto estávamos atraídos um pelo outro e foi
maravilhoso descobrir isso na prática, pois Enrico o demonstrava a cada
toque, cada beijo, cada contato. Ele não era imediatista ou parecia apenas
desejar sexo, ele parecia querer...

— Menina, acorde.
— O quê?

— Estou falando com você há dez minutos.

— Desculpe, papai. Estava no mundo da Lua.


Uma Lua chamada Enrico. Gostoso, quente, grosso... e que sabe
rebolar que é uma beleza.

— Eu perguntei se você vai participar do treino da manhã.


— Papai, na verdade...

— O que foi, raio de Sol?

— Eu já queria ir hoje mesmo para São Paulo.

— Mas por quê?

— Não tem um porquê, eu só queria ir mais cedo para aproveitar a


cidade...

— Mas você podia esperar para ir comigo amanhã...


— Eu queria mesmo ir embora hoje...

Ele me encarou como se tentasse me ler. Eu era horrível em mentir


para o Seu Lúcio, mas ele concordou:

— Hum... tudo bem. Apesar de ainda achar que você deveria voltar
comigo só amanhã. Vai perder a despedida dos rapazes.

— Ah, eles também voltam hoje?

Eu me fiz de desentendida, e ele ficou um pouco constrangido:

— Perdão, eu estava tão nervoso com a história da Lília que acabei


me esquecendo de dizer. Antecipamos o final do treinamento, assim todos
podem passar a virada do ano em casa com seus familiares e amigos.
— Ah, legal para eles. Eu devo sair depois do almoço. Tudo bem?

— Claro, vida. Vou deixar a chave lá de casa para você.

— E o que está planejando para a sua virada de ano, papai?


— Vamos fazer uma comemoração simples lá em casa. A família da
Lília vai para lá. Espero que não se importe. Claro que vou compreender se
você preferir passar em algum outro lugar, querida.

— Que outro lugar, Seu Lúcio? Está louco? Vou só escovar os dentes
e já vamos.
— Então você resolveu participar do treino da manhã?

— Vou, sim. O que vai ser?

— Batalha de paintball.
— Que ótimo! Foi a única vez que eu me dei bem com as armas.
Achei tão divertido... E papai, por favor: não conte a ninguém que eu vou
embora no meio do dia, eu odeio me despedir, e eu me apeguei aos rapazes.

— Se apegou? Se apegou quanto? O que quer dizer com isso, vida?

— Aaaahhh... Papai! Eles foram minha equipe por todos esses dias.
Acha mesmo que eu não ia criar vínculos com eles?
Ele analisou a minha resposta e o meu rosto.

— Desde que não tenha passado de amizade...

Disfarço um sorriso animado.


— O senhor e seu ciúmes!

— Sempre. Mas pode deixar, querida. Não falarei nada.

— Obrigada.
Ao chegarmos ao campo, papai foi direto para seu escritório e eu fui
vestir meu uniforme. Vi alguns rapazes saírem do vestiário já prontos,
animados e sorridentes.
— Bom dia, Mitchell.

— Bom dia!

Entrei e vi alguns dos meus desejos terminando de se arrumar e outros


preparados para sair.

— Bom dia, meninos.

— Bom dia! — eles responderam.

Fui para meu armário e peguei meu colete, e o coloquei facilmente.


Travei as fivelas nas laterais, prendendo melhor o equipamento.

Estava difícil segurar as lágrimas, pois eu sabia que não ia mais vê-
los.

Não iria mais vê-lo!


Mas era melhor assim. Eu estava indo embora em alguns dias também
e aquela despedida seria inevitável.

— Seria melhor ter vestido a balaclava primeiro, gatinha. Por causa


do seu cabelo.

Me virei e vi Adam segurando a máscara, pronto para me ajudar. Eu


estava transparente e tenho certeza de que ele pôde ler minha alma.
— Aconteceu alguma coisa, gatinha?

Ele deslizou o polegar por meu rosto. Neguei e percebi que os rapazes
já tinham saído, exceto Ítalo, que ainda estava por ali. Ao escutar a pergunta
do amigo, veio até nós.

— Se tiver algo te incomodando, pode falar conosco, moranguinho.


— Não é nada... Quer dizer... É sim, meninos. Hoje é o último dia de
treinamento. Não vamos mais nos ver e...

Adam se inclinou e tomou minha boca. Me beijou com força,


saudoso.
Entreguei-me a ele e ofereci tudo o que ele quis de mim. Soltou-me
depois de satisfeito.

— Só queria que soubesse que esses dias que passei aqui contigo
foram inesquecíveis, gatinha. Eu nunca ri tanto e nunca senti tanto tesão por
esperar a porra de uma mulher... peraí... Você não é porra... Você entendeu,
não entendeu?

— Eu entendi, seu doido. Eu também adorei cada minuto que passei


ao lado de todos vocês.
— Legal. Bem, não vamos nos despedir ainda. Teremos a noite para
isso.

Adam olhou para Ítalo e deu um tapinha no ombro dele antes de lhe
entregar minha balaclava e sair.

— Deixa eu te ajudar a terminar de se vestir.

Eu já estava mais do que acostumada a colocar a roupa de proteção,


mas concordei, ansiando por aquela proximidade.

A cada equipamento colocado, Ítalo me beijava. E cada beijo era mais


quente e demorado que o outro.

— Eu vou sofrer muito sem os seus beijos, sabia, menina bonita?


— Eu também, Ítalo.

Ele apenas encostou a testa na minha e sorriu. Porra de homem de


sorriso lindo dos infernos!
— Vamos, moranguinho.

— Vamos.

Saímos e encontramos todos nos esperando.

Papai parecia muito bem humorado e descontraído.

— Bem, como hoje é o último dia de curso, vocês merecem um


refresco. Diversão mesmo. É o mais simples possível: a equipe que eliminar
completamente a outra, vence. A Equipe 1 aguarda aqui. A Equipe 2 vai ter
quinze minutos de dianteira para se posicionar nos arredores do lago. Vamos
ver se sobra alguém vivo no final. Entendido?
—Sim, Comandante!

Desfizemos a formação e nos preparamos para sair. Quando eu estava


ajeitando o cinturão de munições, ouvimos Silva dizer, brincalhão:

— Cuidado com a Mitchell, gente. Ela é o elemento mais perigoso da


Equipe 2.
Todos riram, até mesmo meu pai, e eu entrei na brincadeira:

— Engraçadinho. É bom terem medo mesmo. Sou rápida no gatilho.


Rodrigues, minha primeira vítima, está aí para não me deixar mentir.

Todos riram novamente. Papai resolveu impor um pouco de ordem:


—Vamos. Vamos. Não percam tempo.

Começamos a correr em direção ao lago. Sabia que eu não teria tempo


de me despedir deles.

Não, não era isso.


Eu não queria me despedir deles.
Seria um adeus silencioso. Covarde. Mas não, eu não ia dizer nada.
Cortaria a dor de forma rápida. Sem contatos futuros. Ao final da manhã, eu
mataria tudo que havíamos vivido naqueles últimos dias.

— Você está muito distraída hoje, tigresa. Preste atenção onde pisa ou
vai torcer o pé novamente.
Olhei para os lados e percebi que Garcia e eu éramos os últimos da
fila.

— Garcia. — Parei, arrancando minha máscara e puxando a


balaclava. — Me beija.

— Você gosta mesmo de me beijar nos treinos de paintballs...


Eu não precisei pedir novamente. Ele se aproximou, ergueu sua
balaclava e tocou meus lábios com os dele, já enfiando a língua em minha
boca e exigindo o mesmo de mim. Não demoramos nos beijando e, antes de
voltarmos a correr, declarei:

— Queria que você soubesse que adorei tudo que fizemos. Você é
incrível.

— Não, tigresa. Incrível é você. Eu também adorei ficar com você.


Venha, temos que correr ou não chegamos vivos ao lago.
Quando chegamos, Enrico já havia assumido o papel de líder:

— Eu, Garcia e Ribeiro vamos pela direita. Ferreira, Alfaro e Souza,


pela esquerda; Mitchell e Barone pelo centro.

Eu perguntei inocentemente:
— Mas pelo centro é quase um campo aberto... Quem for por ali não
vai ser um alvo fácil? Só se for para servir de isca...
— Exato — Enrico respondeu um tanto afobado.

— Mas tinha que ser eu? Que injustiça!

Ele tentou me consolar:

— Porque todos os outros são melhores em tiros, anjo. Às vezes, a


vitória da equipe só vem às custas do sacrifício de alguns...

— Ainda acho uma injustiça, mas vamos lá. Eu te protejo, Uriel. Não
se preocupe.

— Sei que estou nas melhores mãos, bella.

— Vamos primeiro. Vocês dois, esperem dois minutos e vão. Atirem


sem pena, para atrair bem a atenção deles.

E para nos acertarem logo, não é mesmo?


— Certo, senhor — Uriel concordou e assenti, um tanto irritada.

Vimos os rapazes partindo e me virei para Uriel abaixando minha


balaclava.

— Uriel, queria te falar que eu adorei ter ficado contigo. Muito


mesmo.

— Eu também, bella. — Uriel segurou meu rosto com carinho. —


Você é muito querida. Tão carinhosa.

— Me beija?

— Nem precisa pedir.


Ele se inclinou um pouco e me beijou daquela forma sedutora dele. E
depois de saborearmos nosso beijo nos largamos.

— Temos que ir — lamentei.


— Sim, bella. Vamos.

Avançamos pelo centro da mata, seguindo a trilha que dava ao lago.


Nós seguíamos bem devagar, nos escondendo entre as árvores. Escutamos os
primeiros disparos, que daí em diante não pararam mais.
— Ai, estou com medo.

— Não tenha, bella. Divirta-se.

Escutamos os rapazes se aproximando e começamos a atirar como


loucos, tentando nos proteger como dava. Ríamos um para outro e
avançávamos aos poucos. Ouvimos gritos, havia risos e muitos disparos. Vi
Pablo correndo em nossa direção, fazendo muito esforço para evitar ser
atingido. Ele parou bem à minha frente, cobrindo meu corpo, se protegendo
atrás da mesma árvore que eu.
— Oi, guapa.

— Oi, Pablo.

Vários tiros voaram em nossa direção. As árvores à nossa volta já


estavam cobertas por manchas vivamente coloridas.

— Estou com saudade de você.

— Eu também, lindo.

— Que bom.
Ele puxou nossas máscaras e me beijou. Aceitei aquele carinho tão
gostoso e quente. Ele ajeitou nossas balaclavas e partiu novamente. Olhei
com cuidado para depois da árvore e atirei antes de avançar. Senti dois
solavancos em minha barriga e a dor me acertou. Fui ao chão, dobrando-me
sobre onde havia sido atingida. Doía muito. Fiquei deitada esperando a dor
passar e, quando consegui, ergui a arma primeiro e depois as duas mãos. Fui
caminhando pela lateral do caminho, seguindo em direção ao pátio.

— Morreu também, coração? — Era Raul.


— Morri. E tá doendo para caralho.

Ele gargalhou. Arrancamos nossas máscaras e seguimos juntos.


Passamos por alguns rapazes da equipe adversária e prosseguimos em direção
ao pátio enquanto os sobreviventes continuavam lutando bravamente.

Me joguei na frente de Raul e o impedi de continuar. Segurei seu


rosto e o beijei com fervor.
— Raul, eu adorei tudo o que fizemos.

— Eu também, coração.

— Nunca vou esquecer você.


— Nem eu.

Nos beijamos novamente e continuamos.

— Vejam quem está chegando. A grande matadora morreu.

Meu pai sorriu ao me ver com os dois tiros no meio do colete.

— Olhe, atingiram o colete e tá doendo para burro. Imagine um tiro


desses sem proteção.

— Nós avisamos, Mitchell — Ítalo falou.


Quase todos os rapazes já estavam ali. Só estavam faltando Garcia,
Silva e Costa, mas eles não demoraram a chegar.

E apenas Silva estava incólume. O único sobrevivente.

— Parabéns, Equipe 1. Parabéns, Silva. Espero que todos tenham se


divertido.

— Isso sim! — concordei.

Os rapazes começaram a se dispersar, cheios de energia e ainda


brincando. Fui tirar o equipamento e, quando terminei, a sala estava vazia.

Lá fora, olhei para os lados e imaginei que os rapazes tinham ido para
o alojamento. Fui até lá e entrei no quarto da Equipe 2. Percebi meus desejos
me olharem com curiosidade. Eu procurava apenas um deles, e ele não estava
ali. Caminhei em direção ao banheiro coletivo e entrei.

Duas cabines de banho estavam sendo usadas. Chamei, aflita:


— Enrico?

Uma das portas se abriu imediatamente e encontrei o rosto surpreso


dele.

Enrico!
O homem que me vem roubando o sono e preenchendo meu coração.

— O que você está fazendo aqui?

Não esperei que ele terminasse, nem me importei em fechar a porta,


joguei-me em seus braços e minha boca esmagou a sua. Nos beijamos com
água escorrendo por nossos corpos. Ele me colou na parede gelada e
continuou me tomando.
— Só queria te beijar novamente antes de você partir. Não sei se mais
tarde eu conseguiria.

— Que bom que veio, anjo.

Passamos algum tempo nos encarando.


Eu já estava ensopada, sentindo a botina cheia de água. Ele me beijou
novamente e nos abraçamos no final.

Eu não queria largar aquele corpo.


Eu não queria me despedir de Enrico.

E eu acho que ele sentiu isso. Agradeci estarmos embaixo da ducha,


pois minhas lágrimas se confundiam com a água do chuveiro.

— Até mais tarde, Enrico.

— Até, anjo.

Ele segurou meu rosto e me encarou novamente.

— Não fique triste.


Sorri, falsamente.

— Não estou.

Saí de lá com os olhos de todos sobre mim, mas eu abaixei o rosto e


parti quase correndo. Fui até o porta-malas do carro, peguei algumas roupas
que meu pai havia posto lá e cobri o banco antes de partir para casa. Eu não
parava de chorar.

Meu coração sangrava.

— Como eu posso estar sofrendo tanto? Como?

Assim que cheguei, fui imediatamente trocar de roupa e arrumar


minhas coisas. Nem me lembrei de comer algo, eu estava muito angustiada.
Coloquei minhas malas na varanda, pedi um Uber e entrei novamente
apenas para ligar para o meu pai e avisá-lo que já estava partindo.

Quando deixei o campo de treinamento, eu estava completamente


destroçada. E como a pior de todas as covardes. Sentia muita vergonha de ter
partido sem dizer adeus a nenhum deles.

A ele.
Mas eu não conseguiria. E não teria forças de pronunciar as palavras
necessárias. Seria fraca.

Carregaria aquela mágoa para sempre, mas pelo menos tive forças
para me distanciar. Não sabia como conseguiria fazer para continuar a viver
normalmente.

Tudo o que fiz quando entrei na casa de papai foi levar as malas para
o meu quarto e me jogar na cama.

Comecei a chorar tanto que apaguei.

Acordei quando começava a escurecer, fui à cozinha apenas para


beber água e acendi as luzes da casa.
Voltei para o quarto e caí no sono novamente. Assim eu não precisava
pensar em nada.

Em Travis. Nos meus desejos. Na minha covardia.

Acordei com batidas na porta. O quarto estava escuro, mas alguma luz
vinda da casa o invadia e quebrava a escuridão, deixando-o na penumbra.
Levantei-me apressada e corri até a porta. Abri sem perguntar quem
estava do outro lado. Dei de cara com Lília, e ela sorriu, mas seu sorriso foi
esmorecendo aos poucos. Ela disse meio sem jeito:

— Eu ia desejar boa-noite, mas pelo jeito não é o caso...

— Estou tão horrível assim?


Passei as mãos pelos cabelos e tentei sorrir.

— Bem, pode-se dizer que você não está tão linda quanto ontem. Seu
pai já voltou?
— Não, só amanhã pela manhã.

— Ah, tá ótimo. Ele me disse isso, mas aí eu vi as luzes acesas e


estranhei. Eu sabia que ele não abandonaria o campo antes de os rapazes do
curso irem embora.

Minhas sobrancelhas se apertaram e meu rosto se contorceu


involuntariamente. Cobri depressa meu rosto, antes que as lágrimas
explodissem por ele.
Senti as mãos frias de Lília tocarem meus ombros e ela me abraçou,
de lado.

— Ei, Summer. Tudo bem?

— Não.
— Ei, vamos entrar... — Deixei que ela me guiasse e nos sentamos no
sofá. — Quer me contar o que aconteceu?

— Não sei se posso.

— Ei, saiba que o seu pai não saberá de uma única palavra do que
conversarmos. Talvez eu não seja tão íntima de você como a minha irmã é,
mas sou sua amiga. Antes de ser a namorada do seu pai, eu sempre fui sua
amiga. E eu adoraria que você continuasse confiando em mim como sempre
fez.
— Obrigada, Lília, mas é porque é tão complicado e... pode ser que
você considere a situação toda um tanto depravada. Não sei o que você
pensaria de tudo...

— Ah, querida! Eu estou aqui para te ajudar, não para julgar. Mas só
conte se achar melhor mesmo. Jamais te forçaria a falar nada.
— Eu gostaria muito de ter alguém para desabafar, na verdade.

Ela permaneceu calada, passando uma das mãos suavemente por


meus cabelos. Limpei o nariz com as costas da mão e a encarei. Eu ia mesmo
fazer isso e resolvi despejar de uma vez o pior:

— Eu fiz um acordo com sete caras e transei com os sete. Em cinco


dias.
Um silêncio sólido permaneceu no ar por alguns instantes. Ela abriu
muito os olhos, e eu podia sentir que ela estava tentando digerir aquilo.

— E... você... gostou de ter ficado com esses caras?

— Adorei, porque até então eu só havia transado com meu


namorado... De quem eu me afastei por enquanto... Estamos dando um
tempo... Eu acho...
— Então foi a maneira que você achou de se dar a oportunidade de
conhecer outras perspectivas, de descobrir o que o mundo lá fora pode
esconder... e oferecer...

— Acho que é mais ou menos isso.

— Hum, entendo você demais, Summer. E essa tristeza toda é por


quê?
— Porque o tempo com eles acabou. Tive que vir para cá e eles
devem estar voltando para casa.

— Ah, claro. Eles estavam no campo de treinamento do seu pai.


— Estavam.

— E Lúcio...

— Não! Pelo amor de Deus, meu pai não pode saber de nada!

— Ei, calma. Não é nada disso, eu não vou contar nada. O que eu ia
perguntar era se Lúcio não desconfiou de nada.

— Eu acho que não. Não. Com certeza não. Se ele desconfiasse de


algo, teria matado os meninos pessoalmente. E a mim também.

— E imagino que se despedir deles deve ter sido algo doloroso.

— Não. Eu não tive coragem de me despedir. Eu simplesmente fugi


para cá.

— Ai, Summer. Sério?


— Sim. Eu sei que fiz mal.

— Só você pode avaliar como tudo isso a afetou, mas posso só dizer
algo?

Assenti.

— O problema de você ter saído de lá desse jeito é que as coisas


acabaram ficando mal resolvidas... Você deixou esse capítulo da sua vida
aberto.

— Eu sei. Me arrependi no momento que fugi. E pior é que os rapazes


já devem ter saído de lá e eu não os encontrarei novamente.

— É... bem... Você não tem o contato deles? Se for o caso, seu pai
sabe onde eles trabalham. É amigo dos chefes deles.
— Acha mesmo que eu teria coragem de perguntar ao meu pai onde
eles trabalham? Nem morta. Meu pai é muito ciumento. A única coisa que ele
me pediu enquanto estive no campo foi para não me envolver com nenhum
dos rapazes. E papai é tão ciumento que nem o Travis ele aceitava na minha
vida.

— Travis é o seu namorado?


— Sim. E ele continua acreditando que estamos apenas dando um
tempo. Que assim que eu voltar vamos continuar como se nada tivesse
acontecido.

— Mas e você?

— Cada vez mais eu acho que não tem mais volta. Principalmente
agora.
— Posso saber por que principalmente agora?

Nossa, como era fácil conversar com Lília! Ela arrancava as coisas de
mim com tanta facilidade.

— Depois de ter tido essas experiências, de ter conhecido os rapazes.


De ter conhecido... ele.

Abaixei o rosto e meu pensamento vagou imediatamente até Enrico.

— Entendi. Você se apaixonou por um deles?

— Eu não... não sei. Mas mesmo que sim, eu não posso, entende? Foi
um acordo entre eu e eles. Começamos essa “brincadeira” já sabendo que
tinha prazo de validade. Logo eu volto para a Califórnia, e então? Como fica
tudo?
— É, já vi. Mas me tire uma última dúvida. Esses homens não são
daqui de São Paulo?
— São.

— Então aproveite, Summer. Vá atrás deles. Ou só desse aí, que te


balançou mais. Converse com eles... ou ele. Proponha esticar esse momento
até a sua partida.
— Eu acho melhor não... Com que cara eu vou aparecer na frente
deles depois de fugir desse jeito? Eu não teria coragem. E mesmo que eu
consiga, só vai servir para me fazer sofrer mais, Lília.

— Sofrer por sofrer, sofra fodendo. Desculpe a franqueza. E se seu


pai desconfiar que falei algo assim para a filhinha dele, eu vou negar até o
infinito. Mas é sério, Summer.

Ela foi tão espontânea que eu ri verdadeiramente pela primeira vez.


— Se precisar de ajuda, conte comigo. E digo mais: se a Sandra
souber da sua história, ela vai pirar. Vai revirar São Paulo até dar um jeito de
você se encontrar com eles de novo.

— Lília. Você não acha mesmo estranho eu ter ficado com sete
homens?

— A vida é sua, Summer. Você acha estranho eu ficar com seu pai?
Temos mais de vinte anos de diferença de idade.
— Claro que não. Inclusive tenho uma amiga que só fica com caras
bem mais velhos.

— E eu já tive sua idade. Tudo bem que faz pouco tempo, mas sei
muito bem o que é querer aproveitar. Nunca namorei tantos caras, mas já
namorei uns três ao mesmo tempo. Agora é a minha vez de pedir, a sério:
Lúcio não pode saber disso de jeito nenhum. E, você, não fique com pulga
atrás da orelha, que eu não faço mais isso. Seu pai dá conta do serviço.
— Eu não precisava de detalhes. — Rimos juntas. — Lília, obrigada
por conversar comigo. Eu ainda não sei o que vou fazer, mas acalmou muito
o meu coração.

— Que bom que pude ajudar um pouquinho. Vou indo. Amanhã de


manhã estou por aqui. Para ver seu pai e para começar a ajudar nos
preparativos para a virada do ano.
— Legal. Traga a Sandra.

— Vou convidá-la. Até querida. E se precisar...

Ela foi até a mesa, pegou uma caneta e escreveu em uma folha de um
bloco, como se já conhecesse a casa muito bem. Estendeu o pedaço de papel
em minha direção e sorriu, dizendo:
— Esse é o meu telefone.

— Ah, obrigada. Espero não precisar alugar mais o seu ombro.

— Nossa, o oposto disso, Summer. Por favor, chame se precisar.


— Tá bom. — Sorri agradecida. — Muito obrigada mesmo pelo
apoio.

— De nada, querida.

Ela me abraçou com carinho e partiu.


Fui até o quarto e liguei o notebook. Pensei em fazer uma busca
rápida por eles. Não me lembrava do nome da empresa para a qual
trabalhavam, mas não seria difícil descobrir, pois faziam a segurança de uma
das bandas mais famosas do Brasil. E eu sabia o nome e sobrenome de seis
deles. Com um pouco de paciência, eu poderia localizá-los no Facebook.
Quantos perfis de Uriel Barone ou Pablo Alfaro poderiam existir em São
Paulo?

Mas fechei o computador.

Primeiro eu tinha que parar de chorar. E eu precisava pensar uma


maneira sutil de me aproximar novamente deles.

De uma coisa eu tinha certeza: depois daquela minha fuga


vergonhosa, eu não teria coragem de simplesmente aparecer como se nada
tivesse acontecido e convidar um ou mais deles para sair. Ainda por cima, eu
estava para ir embora do país em menos de uma semana. Além disso, nosso
acordo só valia enquanto estávamos no campo de treinamento. O que me
garantia que depois que saímos de lá eles ainda teriam algum interesse em
mim?

O que eu precisava era imaginar algum jeito de nos encontrarmos


casualmente para eu poder sondar o que se passava na cabeça deles. Parecia
complicado, mas isso não me impediria de tentar.
A fase garota fraca e sofrida havia acabado. Começava a fase garota
arrependida e que lutaria por mais alguns dias de prazer. Lília estava certa.
Eu tinha que achar... Quem?

Eles ou ele?

Isso eu teria que descobrir e rápido.


Investigações silenciosas

Acordei e escutei ruídos na casa. O cheiro de comida também me


acertou em cheio, tanto que minha barriga roncou. Eu me levantei, fiz minha
higiene pessoal, me arrumei e saí do quarto ainda sonolenta.
Ao chegar à cozinha, vi meu pai de costas, perto do fogão e Lília
sentada à mesa, erguendo uma xícara enorme, que cobria quase todo o seu
rosto. Sorri com a cena. Quando eu imaginaria vir de férias e ver seu Lúcio
cozinhando para uma namorada? Nunca! E ainda por cima era minha amiga,
tão legal e atenciosa...

— Bom dia, vocês dois — cumprimentei e sentei-me perto de Lília.

— Bom dia, raio de Sol. O dia acabou de ficar mais bonito.


— Bom dia, Summer.

— Eu tenho ou não tenho o pai mais lindo do planeta? Quem o vê


falar assim comigo nem reconhece o brutamontes do Comandante.

Lília sorriu e fiz meu pai me olhar por cima dos ombros, também
sorrindo.
— O que eu posso fazer se sou completamente apaixonado por você
desde o dia em que nasceu, vida? Você é minha alegria todos os dias e sabe
disso.

— Seu pai é mesmo o mais coruja que conheço, Summer.


Sorri cheia de carinho para meu velho.

— O que está fazendo aí que é tão cheiroso, pai?

— Omelete. Mas um bem brasileiro, com muito cheiro verde e queijo.

— Amo! Estou com muita fome.

Enchi minha xícara com o café e senti Lília tocar minha mão e apenas
balbuciar:

— Você está melhor?


Assenti e sorri para ela, devolvendo na mesma intensidade:

— Obrigada.

— Então, Summer, vai passar a virada do ano conosco?


— Sim, papai. Eu posso, né? Sei que vim sem avisar e cheguei de
supetão... Se já tiverem feito planos, eu posso...

— Imagine, Summer— Lília falou depressa. — Nem brinque com isso.


Vamos só receber alguns amigos aqui na casa do seu pai.

— Sendo assim, fico mais tranquila. Odeio a ideia de atrapalhar


vocês.
— Você nunca, nunca atrapalha minha vida, meu amor. — Papai
chegou à mesa com uma enorme travessa de omelete. — Os rapazes
perguntaram por você. Porque não estava lá para se despedir deles.
— Perguntaram? Quem?

— Vários. Rodrigues era o mais interessado. Ele andou se enxerindo


para o seu lado?
— O quê? Claro que não, papai. Só fiquei amiga de vários deles. Até
mesmo do turrão do Silva.

Papai sorriu.

— Eu disse apenas que você teve que vir para São Paulo mais cedo,
por isso não pôde se despedir. Mas eles ficaram chateados. Deu para
perceber.
— Me arrependo agora de não ter ficado. Fiz de fato boas amizades
ali.

— Bem, mas não ficou e assim eu não precisei ficar vendo você de
abracinhos e beijinhos no rosto com aqueles marmanjos.

— Que é isso, Lúcio? Deixe Summer ter amigos, pelo amor de Deus!
— Lília protestou.
— Nada disso. Nada de minha filhinha se engraçando para marmanjos
não.

Rimos todos, mas eu sabia que papai falava muito a verdade.

Tomamos café tranquilamente e eles me explicaram os planos para a


noite. Seria, de fato, uma comemoração muito tranquila e caseira. Apenas
com amigos mais íntimos e ali mesmo do condomínio.
Fui para o meu quarto com um novo astral. Renovada pela conversa
da noite anterior e decidida a pensar em uma maneira de me reaproximar de
meus amigos.
Assim que entrei, escutei a chamada no celular. Quando vi que era
Maisie, gelei. Com tudo o que andava acontecendo, há dias não entrava em
contato com ela, de maneira nenhuma. Ela ia me comer viva. Atendi, receosa:

— Alô...
— Você sente alguma falta de mim? — A voz triste da minha amiga
do outro lado da linha me atingiu fundo.

— Maisie! É claro que sinto sua falta. O tempo todo, mas é que...

— Nada de desculpas. Estou muito triste contigo, amiga. Não liguei e


nem mandei mensagens todos esses dias porque queria só ver quando você ia
dar sinal de vida.
Eu era uma pessoa horrível e ela só confirmava isso.

— Me perdoe, Maisie. Você tem razão, não tem mesmo desculpas. Eu


deveria...

— Deveria mesmo.
— Estou me sentindo péssima.

— E eu estou me sentindo ótima! Não vai imaginar o que me


aconteceu!

Sorri. Era uma doida. Estava me dando uma lição de moral em um


momento e no instante seguinte queria me contar as novidades. Era minha
amiga linda, a irmã que a vida me deu e pela qual eu agradecia todos os dias.
— A única coisa que me vem à mente é você ter ficado com algum
cara muito gato.

— Gato mesmo. Bem mais velho. Amigo do meu pai... E Summer,


puta que pariu, como o cara fode bem! Eu fico toda molhada só de imaginar.
Já quero me encontrar com ele novamente.

— Volta só um pouco, querida. Você disse amigo do seu pai? Tipo, se


ele descobre, você pode foder com essa amizade certo?
— Claro que não. Para começar, meu pai não é igual ao seu. Minha
vida é minha vida, e ele sabe muito bem que não adianta nada se meter. Além
disso, não vai rolar mais. Já conversamos. Foram só duas vezes.

— Duas! — Ela não existia mesmo. Era a melhor. — Então espero


que tenha valido a pena.

— Ah, valeu. E se valeu! Quer rir agora?


— Sempre adoro rir das suas loucuras.

— A primeira vez que ficamos juntos, fomos flagrados bem na hora.


O filho e a namorada nos pegaram! Eu pulando como uma doida em cima do
pau do homem!

— Você está de sacanagem?


— Eu adoraria estar, mas não estou. Meu Deus, foi muito louco. O
filho do Felipe levou numa boa, mas a namorada só faltou explodir de tanta
vergonha.

— Maisie do céu! E você fala tudo isso gargalhando!

— E não era para ser? Assim que eles subiram para o quarto,
recomeçamos de onde havíamos parado e ele me comeu ali mesmo, na sala,
por longas horas. Ah, foi demais!
— Estou feliz por você.

— E no dia seguinte a namoradinha envergonhada me ajudou a dar


uma foda rapidinha no quarto do garanhão. Com vários convidados nos
esperando para jantar, incluindo meu pai e um monte de gente importante.

— Minha nossa senhora! E eu pensei que estava aprontando por aqui!

— Ah, já que tocou no assunto, como vão suas escapadas com os


gostosões?

— Acabaram — falei triste.

— Como assim acabaram?

— Foi bom enquanto durou, mas o treinamento acabou e cada um foi


para seu lado.

— Mas vocês não voltaram todos para a capital?

— Voltamos.
— Então continue a suruba por aí, ora!

— Eu já pensei nisso, mas ainda não tenho certeza. Para você ter uma
ideia, eu saí fugida, sem me despedir ou pegar o contato de ninguém. E na
verdade, não sei se quero continuar com todos.

— Não gostou da experiência?

— Tá brincando? Foi fantástico.

— Então? Aproveita. Dá um jeito de achar os caras. Basta achar um,


que ele contacta os outros.

— É que eu acho... Ainda não sei direito... Mas acho que adoraria
passar algum tempo a mais só com um deles!
— Hummm... vai ficar com o que fode melhor?

— Na verdade todos fodem de um jeito alucinante.

— Estou com inveja, só quero deixar registrado! Então o que esse aí


tem de especial?

— Não sei. Acho que a química entre nós foi a melhor. E ele é tão...
carinhoso, cuidadoso, atencioso...
— É muito “oso” para um cara só. Então... Vai atrás só desse.

Fiquei calada por um tempo e continuei, respirando fundo:

— Sabe quem ligou? O Travis. Perguntando se eu estava com


saudades e dizendo que ainda me ama.

— Putz. Sério, Summer?

— Muito sério.

— O que você respondeu?


— Disse para ele respeitar o tempo que havíamos estipulado, mas ele
não desligou antes que eu prometesse que iríamos conversar quando eu
voltasse. Deixou claro que iria esperar por mim, apesar de eu insistir que ele
aproveitasse esse tempo.

— Nossa, que situação, amiga... Sinto muito.

— Ah, o que é isso... Não quero te encher com meus problemas.

— Você nunca me enche, Summer. Adoro compartilhar tudo contigo


e te apoiar quando precisa. Vou desligar agora. Liguei também porque logo
não conseguiremos mais falar, todas as linhas estarão congestionadas. Feliz
Ano Novo, minha irmã linda! Eu te amo muito e desejo para o ano que vem
muitas fodas tão boas quanto essas que você teve!

Gargalhei alto com aquilo. Eu desejava o mesmo para mim. Porque


ela, eu sabia, sempre se aproveitava de todos os caras que estivessem à sua
disposição.
— Ah, Maisie, eu te amo tanto também. Nem tem ideia do amor que
sinto por ti. Um Ano Novo incrível, com muito sucesso para suas empresas e
que vocês criem muitas receitas novas de chocolate para eu poder
experimentar todas. E que você encontre um amor verdadeiro e arrebatador.

— Deus me livre. Pode dispensar esse último desejo aí. Eu também te


amo ao infinito, Summer. E pare de se esquecer de mim. Quero saber como
foi a caça ao gostosão.

— Não disse que vou procurá-lo.

— Sei que vai. E quero saber mais detalhes dos encontros passados.
Ainda estou esperando.

— Prometo mandar vários áudios depois. Tchau, amiga.


— Tchau, querida.

Rimos juntas e desligamos juntas também.

O resto do dia passei na companhia de papai, Lília e Sandra. A minha


amiga mais antiga. Colocamos o papo em dia e a atualizei de muita coisa
enquanto estávamos longe de meu pai.

Veio dela algumas ideias mirabolantes de como me reencontrar com


meus desejos sem me expor demais. Desconfiava que eu tinha o dom de só
ter amigas loucas, mas isso era divertido, pois eu sempre me considerava
metódica e chata.

À noite, mamãe me ligou com felicitações para o Ano Novo e, em


seguida, foi a vez de Travis. Ele mais uma vez insistiu que me aguardava para
retomarmos o relacionamento e eu, mais uma vez, fui evasiva, evitando me
comprometer com uma resposta direta.

À noite a festa já corria animada no deck, na parte de trás da casa. Fui


direto para a mesa onde Sandra estava, e mal me sentei ela já encheu um copo
com cerveja e o colocou à minha frente.

— Ai, Sandrinha, nem sei se quero. Não fui muito feliz da última vez
que bebi muito.
— Então beba pouco, gata.

Tomei um gole e fiquei olhando o povo animado, bebendo, dançando


e comendo. Parecia que a única que não se encaixava naquele lugar era eu,
mas tentava disfarçar o melhor que podia.

— Vai ficar até quando, Summer? — Sandra perguntou.


— Acho que só mais uma semana. Ia ficar mais, mas é provável que
volte antes.

— Então vamos comigo a uma festa no sábado?

— Hum, não sei se estou no clima.


— Você tem que superar os caras, gata. Vamos curtir então.

— Posso dar resposta amanhã?

— Claro. Eu vou de qualquer forma, mas adoraria que você fosse


junto.
Sorri agradecida por ela tentar me enturmar com seu mundo. Papai
chegou abraçado a Lília, e os dois se sentaram conosco.

— E por que as duas não estão se divertindo?

— Nós estamos sim, Lúcio. Principalmente quando vem carne assada


aqui para mesa — Sandra respondeu.
— Ah, pois já vou providenciar mais.
Papai fez um sinal e um garçom veio até a mesa e nos serviu. Um
celular tocou e Lília fez cara feia:

— De novo, homem? Esse telefone não parou a noite toda!


— São meus clientes, querida. É só um minuto. Oi, Carlos. Feliz Ano
Novo também, rapaz. Obrigado. Desejo tudo em dobro para você. Sim, seus
homens se saíram muito bem. Sim. A próxima equipe pode começar na
segunda, dia 4. Tudo certo sim. Estou aguardando. Divirta-se e já sabe, se for
beber, peça um táxi ou um Uber. Obrigado. Também, irmão.

Ele desligou e voltou a nos olhar. Estávamos sérias, esperando que ele
acabasse a ligação.

— Esse era o chefe dos rapazes, papai?


— Era sim, vida — respondeu virando o resto da cerveja e enchendo
o copo.

— Com o que é que esses homens trabalham mesmo, Seu Lúcio? —


Sandra perguntou dissimulada e eu quase ri.

— Carlos tem uma empresa de segurança privada. Os rapazes, como a


Summer chamou, estavam em treinamento lá no campo.

— Ah, que interessante. Deve ser muito difícil ser segurança


particular. Muito perigoso também — Sandra permaneceu no assunto.

— E é mesmo.

— E como chama a empresa dele, amor?


Lília fez a pergunta casualmente, de forma muito calma. Eu cheguei a
abrir a boca sem conseguir disfarçar. Eu estava com a melhor dupla de
amigas do mundo, bem à minha frente. Percebi imediatamente que aquela foi
a maneira que Lília havia encontrado para me incentivar a ir em busca dos
meus desejos.

— Lynx Segurança.
— Hum, é aquela ali na Avenida Paes de Barros, na Mooca?

— Essa mesma. Conhece, Sandra?

— Não. Mas já passei em frente. Só não sabia que era um lugar tão
bem frequentado, com um monte de homens lindos, Seu Lúcio.

Ele virou imediatamente o rosto para mim, mas perguntou para ela:

— E quem te disse que são homens lindos?

Sandrinha travou, abrindo a boca e arregalando os olhos.


— Summer, você disse para Sandra que os rapazes do treinamento
eram lindos?

Eu encarei incrédula a minha amiga. Eu ia matar a desgraçada.

— Eu não disse lindos. Eu disse que eram homens bonitos e amigos


queridos. Ah, papai, pelo amor de Deus. Os caras eram bonitões, o senhor
não quer que eu minta para o senhor agora, quer?

Mais do que eu já menti nessas férias... Me sinto horrível...

Inesperadamente, ele abriu um sorriso que se transformou em


gargalhada. Nós três ficamos sem graça.

— Está rindo do que, Lúcio? — Lília perguntou.


— Da cara de desespero da Summer. É claro que podia dizer que os
meninos eram boa-pinta, querida. Não posso negar. Também, eles treinam e
malham para estar em forma.
— Ai, papai. Terrorismo até aqui, Comandante? Eu não aguento não.
— Tentei aliviar a pressão do susto.

— E como funciona esse negócio de segurança privada, Seu Lúcio?


Sandra estava mais interessada do que eu. Ela estava tramando algo,
eu sentia.

— O que quer saber, menina?

— Como funciona? A pessoa liga para a Lynx e diz “oi, eu preciso de


um segurança para me proteger do perigo”?
Ela tinha um ar zombeteiro, mas era evidente que estava articulando
algo. Sua mente era diabólica.

Meu pai caiu na risada e respondeu.

— Não sei se é assim... Mas o cliente entra em contato com a


empresa, descreve o tipo de trabalho de segurança que deseja, eles fazem um
orçamento levando em conta o equipamento necessário, o número de
homens... E escolhem os elementos mais adequados ao tipo de serviço,
levando em conta as habilidades específicas de cada um.

— Habilidades específicas? Ah, disso eu não sabia, eles não me


falaram — interrompi.

— Cada um deles tem o seu forte, querida. Por que você acha que o
Silva saiu vivo no final do último treino? Ele é o melhor atirador da Lynx.

— E por que morreu no primeiro treino?


— Coisas que acontecem...

— O Raul e o Enrico são bons no volante. Isso eu constatei.

— Exato. Enfim, alguns têm especialidades, outros são bons de um


modo geral.

Ah, eu sei de uma coisa em que todos são especialistas...


maravilhosos!
Abri um sorrisinho com os cantos da boca ao me lembrar de alguns de
nossos momentos. Caras deliciosos.

— Então, continuando. Eles passam o orçamento, você concorda e daí


para a frente eu não sei bem como funciona, mas, se você quiser, posso
perguntar ao Carlos.

— Não precisa não, era só curiosidade. E eles estão abertos nessa


época de feriados?
— Se interessou mesmo, Sandra! — Meu pai se divertia. — Não sei
se fecham totalmente porque eles têm clientes importantes e que podem
precisar deles a qualquer momento. Sem contar que, nesse período de fim de
ano, eles podem conseguir novos clientes.

— Hum, entendi. Nossa. É um mundo totalmente novo. Nunca


imaginei, Seu Lúcio.

Sandra tomou mais um gole da cerveja, me encarando, e no final


sorriu para mim.
Eu sabia que aquela doida estava aprontando.

Na manhã seguinte, eu e Sandra estávamos dentro do carro dela. A


avenida estava bem vazia e a doida parou em um estacionamento particular
de uma loja do outro lado da rua. Estávamos quase em frente à Lynx
Segurança e pudemos constatar que estava aberta.
Sandra havia insistido tanto que eu acabei concordando, mas eu não
tinha ideia do que estávamos fazendo ali.

— Será que seus rapazes estão lá? — Sandra perguntou.


— É claro que não. Provavelmente eles quase nem aparecem por aqui.
Pense bem: se estão em serviço, estão fora, com os clientes. Se não estão,
devem ficar em casa aguardando para serem convocados para o próximo
trabalho. E de qualquer forma, ontem devem ter caído na farra. Devem estar
todos curtindo uma ressaca agora.

— Que mulher de pouca fé. Olha só, parou um carrão lá. Deve ser
cliente.

Um homem e uma mulher desceram e entraram na Lynx.


Continuamos dentro do carro, mas na parte de trás, viradas para a
entrada da empresa, observando todo o movimento. Melhor, o não
movimento. Fora o casal que não se demorou lá dentro, era a maior calma do
mundo.

— Eu falei para você que isso é perda de tempo. E mesmo que eles
estivessem lá, o que eu iria fazer?

— Entrar lá e dizer que ficou com saudades deles e quer marcar algo.
Simples.
— Eu já cansei de repetir que não quero que eles pensem que eu estou
atrás deles.

— Poderíamos contratá-los para serem nossos seguranças na festa


amanhã?

— Tá louca? De novo: eu não quero que eles pensem...


— Tá, tá... Mas, eu acho que seria um plano do caralho. Já imaginou a
gente chegando acompanhada de um monte de seguranças lindões?

— E que devem custar uma fortuna. Não. Isso está fora de questão.
— Vamos ligar e perguntar quanto custa então.

Ela sacou o telefone e me desesperei.

— Não, Sandra. Por favor, não...

— Alô? É da Lynx Segurança? Ótimo. Eu gostaria de saber como


funciona o serviço de segurança de vocês. Sim. É que irei a uma festa
amanhã à noite com uma amiga e gostaria de contratar alguém. Ah... Isso eu
não sei responder agora... Na verdade é a primeira vez que entro em contato
com uma empresa especializada e... Ah, seria excelente. Vou adorar. Pode
anotar? Meu e-mail é sandraquerida@gmail.com. É querida mesmo, pode rir.
Vou aguardar. Obrigada.

— Você ligou!

— Claro. Foi um homem que atendeu. Será que era um dos seus
rapazes?

— Claro que não, sua louca! Eles são seguranças, não recepcionistas.

— Ele disse que vai me enviar um e-mail explicando tudo, com


tabelas de valores e contratos de serviços para analisar. E que possuem
equipes disponíveis para amanhã, caso eu precise.

— E isso me ajuda como, Sandra?


— Não se preocupe, porque eu estou pensando em algo que vai
resolver o seu problema.

— Então vamos embora logo antes que alguém nos flagre aqui. É
muito suspeito o que estamos fazendo, sua doida.

Fomos para os bancos da frente e Sandra ligou o motor no momento


em que outro carro estacionou lá. Ela deu a ré e engatou a marcha para partir
quando eu o vi descer do carro.
— Puta que pariu. É ele.

— Ele quem?

Sandra diminuiu a velocidade e encarou o homem que entrava na


empresa. Usava calça jeans apertada e uma camiseta tão justa que dava para
ver cada gominho da barriga e a modelagem de seus músculos.
— Puta que pariu, vai dizer que aquele filho da puta gostoso é um dos
caras com quem você ficou?

— É.

— Summer... puta... merda! Ele é lindoooo!!!


— É, não é?

— Como é o nome dele?

— Enrico.

Depois que ele entrou, ela ainda insistiu:

— Olha só, é a coisa mais simples do mundo. A gente espera ele sair,
não importa quanto vai demorar, e você fala com ele...

— Sandra, não! Você falou que achava que tinha um plano para que
eu me encontrasse com eles como se fosse por acaso. Vamos para casa, a
gente vê se isso é possível. Se não for, eu decido se deixo a minha vergonha
de lado e vou atrás deles com a cara e a coragem ou se desisto de vez de
voltar a vê-los.
Ela ficou visivelmente irritada:

— Gata, é o seguinte. Vamos ter que conseguir fazer você encontrar


esses fodidos novamente desse jeito doido que você quer. Você vai pirar se
não os encontrar. E, porra, Summer. O cara é lindo. Se os outros forem
daquele tipo, meu Deus amado!
— Ah, são. Tão lindos quanto.

— Vamos para a minha casa e eu vou te passar o meu plano. Vou


ligar para a Mayza, ela vai ser uma parte essencial. É quem está promovendo
a festa. A mulher tem tudo na vida, então é tão entediada que eu aposto que
vai adorar ajudar. Tenho certeza.

— Ai, Sandra. Por favor, vamos ter cuidado para isso não ganhar
proporções grandes demais.
— Confie em mim, Summer. Eu nunca colocaria uma amiga minha
em saia justa. Você vai conseguir reencontrar seus gatos. Não. Se meu plano
der certo, seus gatos vão reencontrar você...

Partimos para o condomínio e passamos a tarde arquitetando o plano


infalível, como ela chamou.
Planos e a tão esperada festa

Sandra tomou conta de quase toda a situação. A amiga dela também.


A ideia era simples: convidá-los para a festa. Assim, se eu me
deparasse com algum deles, poderia simplesmente fingir surpresa e ver o que
aconteceria a seguir.

Como Sandra havia dito, Mayza era uma milionária entediada que
conhecia uma infinidade de pessoas, e suas festas eram enormes e muito
conhecidas. Todos faziam o possível para serem convidados.

Enquanto eu estava no notebook procurando pelo contato dos rapazes


no Facebook, Sandra me chamou, e conversamos com Mayza no viva-voz.
Assim que ela ficou sabendo que os garotos faziam a segurança da Tensão
Elétrica, deu uma grande risada, pediu para aguardarmos um pouco e
desligou.
Continuei a minha pesquisa, que logo em seguida se provou
desnecessária.

O telefone de Sandra tocou e ela atendeu Mayza no viva-voz:


— Meninas, assim que vocês mencionaram a Tensão Elétrica, tive
uma inspiração e funcionou! Mandei uma mensagem para Beatriz Rocha, a
empresária da banda. É uma velha conhecida, e eu pedi que ela me mandasse
os e-mails dos rapazes para eu poder mandar convites para eles. Ela ainda
está no exterior, mas me respondeu mesmo assim. Ela imaginou que os
rapazes vão adorar vir à minha festa. E como ela sabe que sou meio maluca,
nem quis saber como eu consegui os nomes. Mas quando fui enviar os
convites, descobri que quase todos já faziam parte da minha lista de
convidados habituais para as festas maiores.

Eu não podia acreditar que, no fim, aquele plano doido podia acabar
dando certo. Sandra, por outro lado, ficou tão empolgada que contratou
mesmo dois seguranças da Lynx.
O único problema era que tinha gente demais sabendo dessa história,
e eu não estava nada confortável com isso.

No dia seguinte, Sandra e eu chegamos à festa um pouco mais cedo e


fomos procurar Mayza entre tantos convidados que já tomavam o lugar.

— Ahhhh, você chegou Sandra. Estava ansiosa para conhecer


pessoalmente a sua amiga.

Mayza era a empolgação em vida, dando pulinhos e me olhando


curiosa. Era uma morena lindíssima, e a roupa que vestia valorizava seu
corpo perfeito: camiseta com muito brilho e uma bermudinha muito alinhada.
Os saltos a deixavam bem mais alta do que realmente era.

— Olá! É um prazer finalmente conhecê-la, Mayza.


Estendi a mão, mas ela me abraçou e deu um beijo no meu rosto.
— O prazer é meu, querida. Espero que nosso plano funcione! — ela
cochichou a última parte.

— Tomara mesmo!
— Eu tenho uma novidade. Vocês elogiaram tanto esses rapazes que
eu também contratei alguns seguranças da Lynx para “proteger” a festa.

Ela fez aspas com os dedos.

— Os caras já estão rondando por aí, de ternos pretos, belíssimos.

— Você fez isso? — perguntei, surpresa.

— Siiimmm! Não é um máximo? Vieram seis. Quem sabe algum


deles não é um dos homens que você está procurando? Se for, eu a autorizo a
dizer que ele pode deixar o seu posto pelo tempo que for necessário...

— Nossa, Mayza. Nem sei o que falar. Ou como agradecer. Estou até
um tanto envergonhada.
— Ah, não brinca! Eu estou adorando essa caçada. Animou muito
minha festa. Veja, ali está um dos seguranças.

Ela apontou em uma direção e nós três nos prendemos à visão de um


homem maravilhoso que passava lentamente beirando o muro e parou
encarando os convidados. Ele levou a mão até a orelha, falou algo e voltou a
ficar sério. Tinha uma postura impecável e mantinha-se calmo, mas sisudo.

— É um deles, Summer? — Sandra perguntou.


— Não. Infelizmente não. Aquele nem estava no treinamento. Ai,
meninas, acho que a gente está se empolgando demais. Nada garante que
qualquer um deles apareça!

— Não se aflija, Summer — Mayza tomou a frente. — Qualquer um


que recebe um convite para as minhas festas faz o possível para vir. Isso eu
posso garantir.

— Ai, gente. Esse negócio está dando trabalho demais e acho


melhor...
— Veja. Lá está outro segurança.

Mayza apontou nada discreta em outra direção e quase não encontrei


o cara em meio às pessoas que já lotavam o lugar. Também não o conhecia.

— Meninas, acho que os rapazes que estavam no curso devem estar


de férias, sei lá. Esse eu também não conheço.
— E eu torço mesmo para que os seus sejam apenas convidados. Mas,
de qualquer forma, fique atenta. Ainda temos mais seis contratados, quatro
espalhados aqui pela festa, e os dois que já devem estar chegando para
proteger a Sandra. Como está se sentindo, amiga, com dois guarda-costas
para te proteger?

— Super importante. Sempre imaginei que isso fosse acontecer um


dia.

Elas se divertiam com as circunstâncias.

— Vamos dar uma volta, nos espalhar e depois nos juntamos


novamente para ver como tudo se desenrola, Summer — Mayza indicava os
lugares. — O salão principal é assim que entram e...

— Ainda tem mais? — perguntei incrédula. — A festa não é só isso


aqui?

Ela riu
— Claro que não, querida. Isso aqui é só a recepção. Como estava
dizendo, temos festas distintas em dois salões da casa, na parte externa perto
da piscina e, se precisarem usar, os quartos no andar superior estão liberados.
Bem, não apenas os quartos, qualquer lugar que tenha porta. Fiquem à
vontade. Vou receber mais alguns amigos.

Ela nos beijou antes de sair.


— As festas dela são sempre assim? — perguntei.

— Sim. Ela até dá algumas festas menores, mas normalmente são


assim, regadas a muita bebida, drogas e sexo.

— Puta que pariu, se papai descobre... E você ainda me traz para um


lugar desses!
— E você é santa por acaso? Só faça o que lhe convir.

— Desculpe. Estou nervosa.

Um garçom passou próximo a nós, e ela foi até ele, sacolejando o


corpo ao ritmo da música, voltou, tomou um gole de sua bebida e estendeu
um copo para mim:
— Pegue. Tequila. Vire de uma vez.

— Sandra. Se analisar friamente, estou na casa de uma completa


desconhecida. Tem tantas pessoas aqui que estou assustada. Você tem certeza
de que quer me embebedar?

— É o melhor jeito de se soltar ou superar sete paus. Mas como sei


que não quer superá-los, vamos nos soltar um pouco, certo?
— Então vamos lá.

Ao dizer isso, virei meu copo e fiz uma careta descomunal com o
líquido que desceu queimando pela minha garganta. A doida beijou meu
rosto e disse:

— Então vamos beber para comemorar as lembranças de sete


gostosos te comendo pra valer!
— Sandra, você é a amiga mais louca que alguém poderia ter!

— Vou pegar uma nova dose.

Sandra se afastou, e eu também.

Fui esbarrando em algumas pessoas até conseguir entrar na casa.

A sala estava lotada. Não havia meio de passar por tanta gente. Como
alguém poderia conhecer tantas pessoas? Todos dançavam ao som do brega-
funk que soava nos alto-falantes da casa luxuosa.

Estava me sentindo muito deslocada ali, sem conhecer ninguém e em


um ambiente que não combinava em nada comigo. Estilo, música, pessoas.
— Por que eu aceitei mesmo vir para esta festa?

A pergunta retórica não encontrou resposta na minha mente, mas,


quando meus olhos se fixaram em alguém parado a poucos metros de mim,
meu sangue gelou.

Ele estava vestido como os seguranças do lado de fora, de terno


completo, cabelo muito bem penteado e de uma beleza que assustava. Eu só o
havia visto de roupas de treino e foi um bálsamo para meus olhos vê-lo
daquela forma.
Resende.

O cara que eu derrubei no treinamento de luta corporal. Ele estava


bem ali e não me viu. Estava deslumbrante, vestido daquela forma.
Mantinha-se sério e atento ao movimento, ignorando os esbarrões que levava
de um ou de outro.

Minhas esperanças retornaram com força total. Resende aqui. Tão


perto. Não fui falar com ele, ainda.
Mas ver um dos rapazes do treinamento ali, renovou a minha
esperança.

Era um sinal.

Voltei a confiar. O plano ia dar certo!

Ahhhhhhh!!! Eu gritei internamente.

Eu estava eufórica, eu poderia pular como uma louca, como aquelas


pessoas desconhecidas. A vida havia voltado a mim. Enrico estava bem
próximo agora.

Ele...
Espere.

Ele?

Só ele?

Eu pensava mais nele do que nos outros? E os outros? Bem, não


quero analisar isso agora!

Eu me virei, tentando me conter e respirei fundo. Olhei em todas as


direções tentando achar mais um dos seguranças. Não vi mais ninguém e
passei para a próxima sala, dedicada a um estilo musical que instigava os
casais a dançarem muito colados, esfregando-se. Perto das escadas, vi outro
segurança. Mesmo estilo de vestimenta, tão lindo quanto Resende, mas outro
desconhecido.

Porra. E que cara lindo.


Era requisito de Carlos e do irmão só contratarem caras fodidamente
deslumbrantes? Eu tinha que conhecê-los um dia, nem que fosse só para
perguntar isso.

Sem a presença do meu pai, de preferência.


Será que eu não os veria mais até voltar para os Estados Unidos? Eu
não poderia voltar ao vórtice de sofrimento em que havia me envolvido.

Não. Eu me negava a isso.

Em último caso, eu ia jogar aquele meu orgulho besta no lixo, engolir


a vergonha e entrar no Facebook de um por um, pedindo perdão pela fuga e
dizendo que não me importava que o nosso acordo havia acabado ou que eu
iria embora daqui a alguns dias... Eu queria mais, eu queria tudo o que
pudessem e quisessem, quisesse, me oferecer naquele pouco tempo em que
eu ainda permaneceria no Brasil.
— Sandra sempre tem razão. Eu tenho é que encher a cara. Mas me
recuso a esquecer meus sete paus.

Só percebi que havia dito isso em voz alta — e bem alta — quando
alguns rostos se viraram na minha direção. Uma moça sorriu, outra arregalou
os olhos e um cara passou a língua sobre os lábios. Cobri o rosto tentando ser
discreta e me afastei dali. Fui até um dos bares espalhados em vários pontos
da enorme mansão e pedi:

— Me dê qualquer coisa que contenha muito álcool.


A bartender sorriu para mim e preparou algo que tinha uma cor
intermediária entre amarelo e vermelho, que parecia pegar fogo. Encostei
meus lábios no copo.

Apenas provei o drink e a pequena amostra me esquentou até as


entranhas.

— Obrigada. Perfeito — agradeci e me afastei.

Tentei passar pelas muitas pessoas que dançavam se agarrando muito,


perambulei de uma sala a outra novamente, mantendo distância de Resende.
O ar estava pesado e com muita fumaça de cigarro. Alguém pisou no meu pé
e eu reclamei, empurrando o cara. Alguém me apalpou a bunda e me fez
soltar um gritinho, mas, quando me virei, todos faziam cara de santo e eu
apertei os olhos, desconfiada de dois jovens.

Em um saguão um pouco menos movimentado, parei rapidamente em


frente a um espelho para admirar meu visual. Meus cabelos soltos caíam por
minhas costas. A maquiagem era leve e apenas o batom matte se destacava,
tingindo meus lábios de um suave tom de pêssego. O vestidinho branco, curto
e folgado, só marcava minha cintura, porque o cinto preto fino dava várias
voltas ali, proporcionando volume aos meus seios e aos meus quadris
salientes. Percebi que era mais curto do que eu pensara, pois terminava no
começo das minhas coxas.

Desisti de me olhar e continuei meu trajeto. Estava sufocada pela


fumaça e pelo cheiro de suor. Quando finalmente consegui chegar à área da
piscina, percebi que a quantidade de pessoas não diminuiu. O som dali era
mais eletrônico e mantinha todas as pessoas animadas, dançando,
conversando pertinho ou agarrando-se a céu aberto.
De fato, muitos casais se beijavam e se esfregavam sem nenhum
pudor. Corpos se encontravam e se desejavam quase se comendo ao embalo
da balada contagiante. Ok, tenho que admitir, era excitante estar em meio
àquela verdadeira orgia de corpos, suor, pele, cabelos e pouco tecido. Vi uma
cadeira de Sol vazia mais à frente e caminhei depressa naquela direção.
Consegui me sentar e me arrependi no momento que o fiz, pois ao meu redor
casais se devoravam já quase sem roupa alguma, em espreguiçadeiras iguais
à minha.

Eram quentes demais aqueles casais! Uau!


Minha mente viajou imediatamente até os meus gostosos e a cada um
dos deliciosos momentos ao lado deles.

Eu fechei os olhos por um instante e tomei um grande gole da bebida


de fogo. O calor aumentou dentro de mim.

Senti minha calcinha se encharcar ao me transportar para os dias em


que estive com cada um. Que delícia foi cada loucura. Viajei nos sorrisos
sacanas de Adam, no cheiro maravilhoso de Uriel, nos beijos suculentos de
Enrico, no gingado malicioso de Raul, nos galanteios sutis de Pablo, nos
braços fortes de Garcia e no corpo perfeito de Ítalo.
Cada um havia me conquistado de uma forma singular e...

— Anjo? O que você faz aqui?

Depois que entramos naquele quarto, tudo virou uma loucura.

Não demorei a sentir oito mãos percorrerem meu corpo e começarem


a arrancar toda a roupa que me cobria em tempo recorde. O cinto voou para
algum lugar e não sei dizer onde caiu. Quatro mãos, que eu não tinha ideia a
quem pertenciam, ergueram meu vestido e antes mesmo de a roupa passar
pela minha cabeça, ouvi suspiros e grunhidos roucos.

Eu tentaria dar conta de tantos homens.


Puxei a camisa de Adam para cima e a tirei. Fiz o mesmo com Ítalo,
que terminou o que comecei. Quando me virei para Pablo, ele já estava
apenas de boxer e eu salivei com a visão daquele espanhol suculento. Senti as
mãos no fecho do meu sutiã e um segundo depois, Enrico puxava a peça para
frente, libertando meus seios.

Meu susto foi tão grande quanto a satisfação. Ítalo e Pablo caíram de
boca em mim. Cada um de um lado, sugando um mamilo. Quase gritei com a
sensação. Mas não tive tempo para me restabelecer. Uma terceira boca se
afundou nas carnes de minha bunda. Beijava e mordia com a mesma
intensidade. Senti dedos em meu rosto e ele foi levado para o lado. Fixei-me
nos olhos sóbrios de Enrico.
— Você será nossa hoje, anjo.

— Serei...?

Enrico me beijou com doçura.


— Quatro lobos comendo sua cordeirinha — Adam falou atrás de
mim.

— Não sou cordeirinha... nem santa... — gemia na boca de Enrico.

— Você não é mesmo — Ítalo concordou.

Eu prendia meus dedos nos cabelos de Pablo e Ítalo ao mesmo tempo.


Os dois continuaram a me chupar, enquanto eu me deliciava com a língua de
Enrico. Adam puxou minha calcinha, liberando meu traseiro e o abriu,
descendo beijos desde a minha fenda até o períneo.

Alguém tirou minha sandália e ergueu minha panturrilha, apoiando-a


em sua coxa, liberando passagem para Adam. Este aproveitou a maior
liberdade e enfiou a língua entre minhas carnes mornas, que vibraram com o
contato molhado da língua voraz. Dei um gritinho quando o senti me invadir
tão afoito com a boca. Eu estava segurando um orgasmo que explodiria a
qualquer momento.

Ou eles eram muito experientes ou eu, muito carente.


Meus seios foram abandonados momentaneamente para que outras
partes de meu corpo fossem exploradas. Os quatro não descolavam os lábios
de mim. Tirei a camisa de Enrico e o puxei para mais perto.

— Tire a roupa — miei, autoritária, encarando-o, delirando de tesão e


depois levando a cabeça para trás. — Tirem toda a roupa.

Eles se ergueram e quem ainda vestia algo ficou nu em dois segundos.


Eu os admirei, pelados e duros para mim.

Ítalo segurava o pau, massageando-o, e eu segurei o de Enrico e o de


Pablo ao mesmo tempo, fazendo o mesmo movimento neles. Os dois
aproximaram-se, tomando meu pescoço e segurando meus peitos, um dos
quais foi logo abocanhado por Ítalo.

Adam pegou uma camisinha entre as muitas que estavam sobre uma
mesa de canto e se posicionou atrás de mim. Eu não podia ver o que ele
estava aprontando, mas ele mantinha o mastro muito próximo à minha bunda.
Sem que eu esperasse, ele fez meu corpo ir à frente e tive que tirar as mãos
dos rapazes e me apoiar apenas em Ítalo para não cair. Minha boca ficou na
altura do membro dele, e o puxei, gulosa, introduzindo-o quase inteiro em
minha boca. Escutei Ítalo gemendo de prazer em uníssono com o urro de
regozijo de Adam quando se enterrou pela primeira vez dentro da minha
boceta.
Eu estava extasiada.

Em pé, de pernas abertas e sendo estocada sem piedade por aquele


homem esfomeado.

Pablo aproximou-se e eu segurei seu pau, levando-o até minha boca


também. Intercalando entre um e outro, ao mesmo tempo que tentava me
entregar à urgência de Adam.
Senti quando Adam me liberou e me ergui, mas apenas para Ítalo me
agarrar firme, segurar minhas pernas e mergulhar fundo dentro de mim, me
levando até a parede mais próxima, movendo-se com agilidade e força. Eu
segurava-me como podia em seus ombros e encarava o sorriso lindo em seu
rosto, que não desviava sua atenção de mim.

— Você é deliciosa, moranguinho.

Não respondi nada. Foi impossível.


Fui dominada pelo orgasmo e gritei desvairada, ficando minhas unhas
em sua carne.

— Isso, Summer. Hoje vamos te fazer gozar tanto que você vai achar
que atravessou os portais do paraíso — ele advertiu, continuando a socar em
mim, até que parou e me largou.

Pablo me pegou no colo e levou até a cama. Deitou-se e me fez sentar


sobre o seu pau. Comecei a cavalgar nele com devoção. Ele segurou meus
seios que não paravam de saltar. Ítalo apareceu em pé ao lado da cama
oferecendo-se para mim e o suguei novamente. Eu sabia que Ítalo adorava
sexo oral e eu adorava o gosto dele. Ele segurou minha cabeça e começou a
foder minha boquinha sem pena. Não demorou para que eu o sentisse ondular
em minha boca e enchê-la de porra, e eu tomei cada gota, limpando os lábios
com a língua.
— Ah, que delícia, moranguinho. Que delícia!
Olhei para os lados e vi Enrico e Adam em pé, ambos ao lado da
cama, como se aguardassem a vez de agir. Entretanto, meu olhar despertou
algo neles, que os fez subir. Enrico veio à frente e começou a lamber meus
seios, fazendo-me sofrer com aquela língua quente; Adam foi para trás de
mim, massageando e brincado com minha bunda e meu buraquinho. Enfiando
um dedo, me alargando, preparando-me para o que eu mesma desejava. Ele
implorou:

— Você vai me deixar comer esse rabo hoje, gatinha?

Desci meus olhos até Enrico, que ergueu o rosto para mim.

— Não.

— Como assim, não? Claro que vai. Veja como você quer. Quer foder
com dois caras ao mesmo tempo... Está preparada e relaxada, é só socar...
Deixa, vai...
— Não, Adam. Aprenda que não é não... — gemi já cansada de tantos
movimentos. — Você não.

— Como assim eu não? Vai deixar um de nós comer seu cu?

— Vou.

— Vai? — Ítalo e Pablo perguntaram ao mesmo tempo.

— Enrico. Eu quero você. Só você.

Sussurrei a última frase, colando os lábios nos dele.


— Como assim o Enrico? — Adam estava inconformado. — Você já
comeu a bunda da Summer antes? Filho de uma puta, já comeu a bunda dela?
Você deixou, Summer? E sua regra?

Fui impedida de falar porque Enrico ajeitou-se atrás de mim e, antes


de introduzir fundo, Pablo parou de se movimentar e esperou. Senti quando
Enrico se enterrou, me abrindo inteira. Foi uma loucura me sentir tão
completamente preenchida.

— Podemos nos movimentar, anjo? — A voz veio de trás de mim.


— Ah! Podem... devagar, por favor.

Eles começaram a me comer, lentamente.

Apoiei as mãos no peito de Pablo para aguentar toda a pressão vinda


daqueles dois. Eles começaram a aumentar o ritmo e eu, os gemidos.
Meu Deus, aquilo podia melhorar?

Adam apareceu ao meu lado, segurando o pênis na altura do meu


rosto.

Sim, poderia.
Eu o segurei e comecei a masturbá-lo, levando-o até minha boca para
lambê-lo e chupá-lo sempre que tinha forças para fazê-lo.

— Saia, Enrico.

Ouvi Pablo dizer e Enrico me abandonou ao mesmo tempo que Pablo


me ergueu e explodiu em um gozo violento que o fez vibrar por completo. Eu
não sabia se conseguiria continuar, estava mesmo exausta. Entretanto, vi
Enrico sentar-se e encostar-se no painel da cama. Me chamou com uma das
mãos e eu apenas obedeci indo até ele, engatinhando.
— Quer dizer que a sua bunda é só minha?

Ele balbuciou antes de me beijar e eu me sentei em seu colo. Como eu


amava estar colada àquele homem!

— Gostou que fosse assim? — Não parávamos de nos beijar.


— Adorei. Venha, vamos continuar...

Ele me virou, colando minhas costas ao seu peito.

— Sente-se no meu pau, anjo. Quero continuar comendo o que é só


meu.

Nada podia me deixar mais acesa do que aquela declaração dita com
malícia safada em meu ouvido. Como se confessássemos segredos apenas
nossos. Era muito íntimo, muito quente, muito nosso.

Eu me ergui e passei as pernas por suas coxas grossas. Precisei de


apoio para encaixar meu cuzinho nele novamente e sentei até a base. Enrico
segurava minha cintura e começou a me movimentar para cima e para baixo.
Ergui as pernas, apoiando-as nas suas e minhas mãos foram para seu
abdômen de aço. Nós nos movíamos lentamente, para que eu me acostumasse
com sua grossura e não demorou para que eu me sentisse completamente
confortável em nosso ir e vir. Adam veio para minha frente e voltou a abrir-
me, admirando minha vagina completamente inchada, aberta e pingando.
Implorando por seu pau.

— Você está muito gostosa hoje, Summer.

— Estou?
— Muito.

Ele afundou-se em mim sem pena e sem esperar por Enrico, latejando
dentro da minha boceta, inteiro e duro. Minha vulva palpitava, apertada,
estrangulada pelos dois. Eles continuaram me comendo, cada vez mais
rápido.

Lancei um olhar sedento para Ítalo que já estava duro novamente, e


para Pablo que voltava a se tocar. Os chamei e eles vieram para cima da
cama. Um de cada lado. Eu segurava os dois pênis, esfregando-os, no ritmo
do movimento que os outros impunham sobre mim.

Vi de relance quando Ítalo, desesperado, tentava rasgar uma


embalagem de preservativo com os dentes. Senti Adam travar e explodir de
gozo dentro de mim. Ele gemeu alto fechando os olhos enquanto terminava
de se liberar em meu interior.
Saiu e mal tive tempo de respirar, Ítalo tomou o lugar do amigo,
socando forte e duro dentro de mim, sem que Enrico me abandonasse um
minuto.

O ar começou a me faltar:

— Gente, eu vou morrer com vocês me sufocando. Tá muito quente.


— Ligue o ar-condicionado, Adam — Pablo pediu. — Nem
lembramos disso, porra.

Escutei o aparelho ser ligado, mas minha aflição não se abrandou. Eu


estava em brasas. Ítalo apertava meus seios ao mesmo tempo em que não
parava de me beijar. Enrico ainda me dava algum alívio, pois Ítalo não tinha
dó da minha boceta, socando fundo. Pablo ficou em pé e aproximou o pau de
mim.

— Eu só quero sua boquinha agora, guapa.


— Então a terá.

Envolvi sua glande com meus lábios e comecei a chupá-lo, sugando-o


o máximo que conseguia. Massageava as bolas ao mesmo tempo em que os
beijos em minhas costas e em meus ombros cessaram por um tempo, e Enrico
me afastou rapidamente para ajeitar-me melhor em seu peito. Foi nesse
momento que senti o cacete quente pulsando enlouquecido dentro de mim e o
urro quase animalesco de Ítalo.

— Puta que pariu, isso é bom demais!

Ele continuou me preenchendo até voltar a se acalmar. Pablo deslizou


o membro para dentro de minha boca cada vez mais rápido e mais
profundamente, fazendo-me engasgar algumas vezes e lágrimas surgirem em
meu rosto. Quando o orgasmo o atingiu, ele pulsou em minha boca,
descarregando o sêmen dentro dela. Eu o chupei até que ele também se
acalmasse. Os dois se afastaram, e Enrico também parou.

Entretanto, Enrico não havia chegado ao ápice nenhuma vez.

Ele me tirou de cima dele e me deitou na cama jogando-se por cima


de mim. Trocou o preservativo e me olhou fundo nos olhos:
— Estou por um triz, anjo.

— Então somos dois — gemi.

Ele mergulhou mais uma vez dentro de mim, mas desta vez em minha
boceta. Ergueu minhas pernas, prendendo-as em seu tórax para conseguir ir
ainda mais fundo em mim. Nossos olhos não se desviavam e eram cúmplices
em uma conversa só nossa. Eu podia quase ler a paixão naqueles lindos olhos
verdes. Mas não tinha certeza do que via.
— Quero que goze primeiro, anjo.

— Ah, mas que injusto...

Eu estava me segurando para prolongar aquele prazer. Não queria que


ele saísse de dentro de mim.
Mas não consegui me conter por muito tempo. Meu corpo foi
dominado pelo orgasmo e ele estava mesmo apenas me esperando para se
acabar comigo. Entregando-se ao prazer máximo, unindo-nos ainda mais
naquela troca de fluidos e intimidade sem tamanho. Era tanta emoção em
nossa união que por muito pouco eu não disse o que não devia.

Enrico soltou minhas pernas e veio para cima de mim, ainda com
nossos sexos unidos.
Me beijou de uma forma tão doce e carinhosa...

Passou uma das mãos por meus cabelos completamente desarrumados


e depois repetiu o beijo em minha testa.

— Linda e perfeita, anjo.


— E você, delicioso. Todos. Deliciosos.

Olhei para o lado e vi Adam já de cueca, sentado em um sofazinho


perto de uma janela. Ele mexia no celular.

— Onde estão Pablo e Ítalo? — perguntei.


— Devem estar tomando banho. Vamos também?

— Por favor. Ainda estou em chamas...

Ele sorriu e me beijou mais uma vez. Com a mesma devoção e amor.

Levantou-se e me pegou no colo, como se eu não pesasse nada, e me


carregou até o banheiro. Ítalo saía e Pablo terminava de se enxaguar. Em
seguida, entrei com Enrico e voltamos a nos beijar e nos agarrar embaixo do
chuveiro.

— Pensei que não ia te ver antes de você voltar para a Califórnia.

— Eu também.
Nosso amasso não durou, pois os rapazes estavam no quarto. Saímos,
e fui de um em um beijando-os individualmente e demoradamente. Depois
fui para a cama.

Todos já haviam começado a se vestir.


— Será que a Mayza se incomoda se eu descansar só um pouquinho?
Vocês acabaram comigo!

Os quatro sorriram. Safados.

— Desde que mantenha a porta fechada, ninguém vai vir incomodá-


la, moranguinho.
— Descanse, anjo.

Enrico se deitou em minhas costas, passando a mão por meus cabelos.


Ítalo se deitou à minha frente e fazia carinhos em minha mão, beijando cada
nó dos meus dedos. Senti um toque de mão em meu pé e olhei rapidamente
para ver Pablo ali, massageando-o. Estava tão bom assim, sendo cuidada por
todos eles, que não demorei a cochilar.
Depois da festa

Não havia lugar melhor para estar. Com Summer deitada à minha
frente.
Ítalo mantinha um olhar de admiração para ela também. Será que
nutria a mesma paixão que eu? Percebi que Pablo se afastou da cama quando
percebeu que ela adormecera. Eu continuei acarinhando meu anjo
adormecido e inocente que se surpreendia tanto a cada descoberta.

Era óbvio que eu ficava com ciúmes de outros caras comendo


Summer, mas, por outro lado, eu adorava perceber que eu participava do
mundo de descobertas daquela mulher.

Aquilo era foda demais.


Ela era foda demais, havia aguentado nós quatro! Beijei seus cabelos
e me afastei sorrindo, encantado, apaixonado.

Os momentos que eram só nossos... Nossa!

Ela fazia questão de criar esses momentos. Eu não a vi fazer isso com
nenhum dos rapazes. E aquele lance de dar o cuzinho só para mim, quase
explodiu minhas bolas. Porra de mulher linda. Eu estava quase duro
novamente. Podia foder com ela a noite toda. Mas acho que exageramos...
Melhor que ela descansasse mesmo.

Com o canto de olho, percebi Adam e Pablo terminando de se vestir.


Neste momento Ítalo saiu da cama e começou a procurar suas roupas pelo
quarto. Estavam todas misturadas, as nossas e as dela.
— Onde vocês vão? — perguntei, incrédulo.

— Como assim onde vamos? — Adam perguntou. — Cara, estamos


em uma festa da Mayza, porra.

— E o que isso tem a ver, Adam?


— O que tem é um monte de gatas lá fora esperando o lindão aqui
para serem comidas...

Saí da cama irritado, mas controlando a voz para não acordar


Summer.

— Sério que você vai procurar outras garotas para foder depois do
que fizemos aqui?

— Aposto que você vai ficar aqui com ela, não vai? Então ela vai
estar protegida. Não tem por que ficarmos todos...

Olhei para o lado e vi que os rapazes terminavam de se arrumar


também.

— Vocês vão seguir esse imbecil? — Eles não conseguiram me


responder, desviando os olhares para o chão. — Vocês não têm nenhum
respeito por essa mulher que se entregou tanto a nós todos? É isso mesmo?
— Cara, faça o que quiser. Pelo jeito, está claro que a Summer
também tem suas preferências, já que só deu o cu para você, mas não impeça
seus companheiros de se divertirem, certo? — Adam deu um tapinha no meu
peito e saiu em direção à porta.

— Vocês vão mesmo acompanhar o Adam? Pablo? Ítalo?


Pablo argumentou, sem ter coragem de olhar para Summer,
profundamente adormecida:

— Enrico, por favor... A noite só está começando, cara. O Adam tem


razão. Eu gosto muito da Summer, adorei toda a loucura que fizemos no
campo, mas voltamos à nossa realidade, cara. Ela vai estar protegida com
você cuidando dela. E olha o estado dela, a menina já está morta.

— “Menina” não! Essa mulher exuberante aguentou quatro rolas,


porra. Nos deu um grau de prazer que eu tenho certeza de que nenhum de
vocês já havia experimentado. Pelo menos por mim eu posso afirmar isso.
Não era para estar cansada não? Vocês queriam o quê? Podem ir, saiam logo
daqui, seus putos.
Ítalo ia dizer algo, mas não esperei. Eu o empurrei para fora e tranquei
a porta. Passava as mãos pelos cabelos, muito irritado mesmo. Como eles
puderam fazer aquilo com ela?

Voltei para cima da cama e a aconcheguei em mim com todo o


cuidado para não a acordar. Ela ressonava baixinho e beijei sua testa. Será
que Adam tinha razão, será que Summer nutria algo a mais por mim?

Se isso fosse verdade, ela teria se despedido de mim antes de deixar o


campo de treinamento daquela maneira.
Fiquei acalentando seu sono, mas pouco depois ela despertou, serena
e morosa. Sorriu quando seus olhos encontraram os meus e ela beijou meu
tórax.

— Eu apaguei — falou manhosa.

Eu adorei aquela vozinha suave e dengosa de quem havia acabado de


acordar satisfeita de tanto que transou.

— Dormiu só um pouquinho. Ainda muito cansada?

— Não vai me dizer que vocês querem recomeçar? Eu não aguento


não.

Sorri.

— Não, anjo. Só perguntei por estar preocupado mesmo.

Ela virou o corpo à procura de algo.


À procura deles.

Aquilo me incomodou profundamente.

Ela se voltou para mim e perguntou:


— Onde estão os rapazes?

— Saíram, Summer.

— Saíram? — Ela franziu as sobrancelhas tentando entender. —


Foram aonde?
— Voltaram para a festa.

Ela sentou-se e cobriu os seios com as mãos. Estávamos ainda como


havíamos vindo ao mundo. Ela olhou novamente para o quarto vazio, na
direção da porta e depois para mim, que já me sentava também. Ela levantou-
se e foi até a pequena bolsa que estava caída sobre seu vestido. Pegou o
celular de dentro e fez uma ligação ficando de costas para mim.
— Oi, Sandra. Está me escutando? Eu quero ir embora agora mesmo,
posso ir em seu carro? Não, amiga. Não. Por favor, Sandra. Depois eu
explico.

Sua voz a denunciou e pela primeira vez notei que ela havia bebido
muito.
Summer jogou a bolsa e o celular em cima do sofá e, em seguida,
pegou a roupa e partiu em direção ao banheiro. Fiz o mesmo e vesti a cueca e
o jeans esperando-a voltar. Peguei minha camisa do chão e a joguei no
mesmo sofá onde estavam suas coisas. Quando ela apareceu, estava com
lágrimas nos olhos e aquilo me preocupou.

— Eu nunca passei de sexo para vocês, não foi?

— Como é, anjo?
— Pare de me chamar assim. Esses apelidinhos fofos foram só para
me seduzir e me levar para cama. Foder comigo.

Ela voltou para dentro do banheiro e desta vez eu a segui.

— Ei, Summer. O que é isso?

— O que é isso, Enrico? É que finalmente a idiota entendeu tudo.

— Entendeu o quê, anj... Summer?

Sua voz se enrolava devido ao efeito do álcool, enquanto ela


despejava as palavras:
— Entendi que nunca passei de uma boneca de sexo, que me deixei
seduzir por vocês. Que raiva de ter sentido saudades, de desejar reencontrar
vocês...

— Summer, você não é nada disso... para mim. Para mim você não é
só sexo. E infelizmente foi você quem partiu sem se despedir, sem deixar
nenhum contato. Eu já estava ficando louco. Ontem eu até fui falar com o
Carlos para pedir o telefone do Comandante, mas ele não estava. Eu queria te
encontrar novamente antes de você partir, Summer. Eu tinha que te ver por
que eu acho que...

— Que o quê, Enrico? Que está apaixonado por mim? Você é louco
ou idiota? Que homem apaixonado assiste outro cara transar com a garota de
quem ele gosta? Quem dirá vários? Por que ficou? Por que não foi com seus
amigos?
— Porque eu me importo contigo...

— Vai se foder! Você e seus amigos...

— Summer, por favor, se acalme...


— Me acalmar, Enrico? Se coloque no meu lugar. Você acha mesmo
que eu deveria estar calma?

Ela saiu em direção ao quarto novamente, pegou a bolsa no sofá, as


sandálias no chão e partiu descalça porta a fora. Eu não pensei em mais nada,
corri desesperado atrás dela.

Eu não ia perdê-la novamente.


Ela mantinha um passo acelerado rumo à saída, mas ao chegar ao
final da escada, ela estacou. Tentei descobrir para onde ela olhava. Era Adam,
se agarrando com uma mulher em uma parede. Devorava os lábios dela e
dava a impressão de estarem transando ali mesmo, em pleno salão.

Puta que pariu!

Vi Summer voar naquela direção e apertei o passo atrás dela, mas no


tempo que ficamos no quarto parecia que a quantidade de pessoas na casa
havia dobrado. Só vi de longe Summer tocar o ombro de Adam e, quando ele
se virou, ela fechou o punho e o acertou em cheio no olho esquerdo.

Ela berrou algo para ele, que ainda tentava entender o que o havia
acertado. A acompanhante dele se afastou, tentando fugir da confusão. Sem
esperar Adam se recompor, Summer correu para a saída. Eu a perdi de vista
no próximo salão. Enquanto a procurava, vi que Resende estava por ali e
corri até ele.

— E aí, amigo? — cumprimentei-o.

— Enrico! Tudo bem, garoto? O Ítalo estava por aí também, mas acho
que foi embora.

— Beleza. Não quero saber dele. Você viu para onde a Mitchell foi?
— A Mitchell? Aqui? Nessa loucura?

— Sim.

— Não vi não. Tem certeza de que a filha do Comandante está aqui?


— Valeu, cara. Nos falamos depois.

Corri em direção à área de estacionamento, em vão. Encontrei


Rodrigues, que estava na área externa, e ele também não a havia visto.

Porra. Porra. Porra.


— Mano, você não esqueceu de nada, não? — Rodrigues me alertou e
só então percebi que estava nu da cintura para cima.

— Valeu, cara.

Voltei correndo ao quarto, mas quando tentei abrir a porta, ela não
cedeu.
— Droga! Agora essa!

Bati e ninguém atendeu. Bati novamente. E nada. Continuei batendo


incessantemente até um homem de muito mau humor atender à porta pelado e
de pau duro.
— O que é, porra?

— Cara, eu esqueci minha camisa aí dentro, em cima do sofá. Aquela


ali, vermelha, perto da janela...?

O cara foi até lá e a trouxe para mim.


— Pega essas merdas e me deixa em paz.

Ele me entregou a camisa e um celular que não era o meu.

— Não!
Deslizei o dedo pela tela e a imagem de Summer apareceu. Ela
abraçada a outra garota de cabelos negros e olhos claros, como os de
Summer. As duas tinham os rotos colados e estavam felizes. Muito felizes.

Linda. Summer era perfeitamente linda.

Foi então que percebi que o aparelho exigia uma digital para ser
desbloqueado.
Desci as escadas ainda encarando o aparelho e fui para o meu carro
com esperança de que ela ligasse para recuperá-lo, mas cheguei em casa e
nada. Ou ela não se deu conta do esquecimento ou estava com tanta raiva que
decidiu dá-lo como perdido de uma vez.
Como Sandra não quis me dar as chaves do carro, pois eu ainda
estava meio alta do álcool, ela me ajudou a pegar um Uber. Ele me deixou em
frente do condomínio e fui caminhando para casa.

Estava me sentindo tão humilhada. Tão usada por eles. Como


puderam fazer isso comigo?
Limpei as lágrimas que não pararam de cair durante todo o trajeto,
desde que saíra da festa. Entrei em casa e dei de cara com Lília deitada no
peito de meu pai no sofá, assistindo algo na TV. Os dois olharam para mim e
tentei disfarçar o meu estado o melhor possível.

— Oi, gente.

Apertei o passo em direção ao meu quarto.


— Já voltou? — Foi meu pai quem perguntou. — Tudo certo lá na
festa?

— Tudo ótimo — respondi, já entrando e trancando a porta.

Corri para o banheiro e tomei um banho. Queria me ver livre do


cheiro deles. Esquecer o toque deles. O gosto deles. Encolhi-me no canto do
box e deixei a tristeza me dominar novamente.

— Como eles puderam transar daquela forma comigo e em seguida já


irem procurar outras?

Me sentia suja.

— Como puderam me usar daquele jeito?


Cobri meu rosto e chorei mais.

Sentia aos poucos os efeitos do álcool irem embora. Lentamente.

Minha mente se clareou por um instante e eu me peguei lembrando o


momento em que acordei, com os braços de Enrico em volta do meu corpo.

— Ele não foi com os outros. Ele ficou. Ficou comigo.

Passei as costas da mão por meu nariz, que escorria.

— Ele ficou e eu o tratei super mal por estar com raiva dos outros.
Mas ele ficou. Ficou comigo, ao meu lado.

A confusão dentro de mim estava me deixando instável.

— E que história é aquela de estar apaixonado? Ah, me poupe,


Enrico. Alguém apaixonado ia aceitar me dividir com os outros? Se bem que
ele sempre insistiu que não se sentia à vontade com o acordo, só o aceitou
porque eu pedi. Porque foi o que eu quis, desde o início.

Eu me levantei e terminei o banho. Vesti meu baby doll e me joguei


na cama. Estava esgotada, desabei na cama, mas o sono não vinha.

Eu precisava falar com alguém, senão ia explodir.


Maisie.

Acendi a luz e abri minha bolsa.

— Cadê meu telefone?

Despejei o conteúdo da bolsa sobre a cama e nada.

Pensei por um segundo e me lembrei onde o deixara.

—Puta que pariu! Puta que pariu!


Aquilo só piorava. Eu tinha que avisar a Sandra. Pedir para ela falar
com Mayza. Tentar descobrir se alguém havia encontrado o celular. Senão,
eu estava frita ao cubo.

Fui me deitar, mas a preocupação me assaltou o sono. Demorei a


dormir e acordava a cada instante. Assim que percebi o dia clarear, me
levantei, me arrumei e saí de casa. Precisava procurar paz e não a encontraria
ali, presa naquele quarto.

Fiz um rápido aquecimento e comecei uma caminhada que me levou


para fora do condomínio.

Corri por quase uma hora, e o exercício me acalmou um pouco, mas


definitivamente não o suficiente.

Quando voltei, fui fazer o café e esperar que papai e Lília acordassem.
Ainda não sabia se ela dormia ali todos os dias ou apenas esporadicamente.
Fui ao quarto e troquei de roupa antes de voltar para a cozinha e começar a
comer sozinha.
— Já acordada, filha?

— Iiii... o senhor anda muito preguiçoso, Seu Lúcio. Eu já estou


acordada há um tempão. Já fui correr e tudo!

— Eita, que disposição!

— Ainda estou no pique do campo de treinamento.

— Estou vendo. Vou esperar Lília acordar para tomar café com ela.

— Hum, que romântico, papai.


— Menina!

Ele me beijou a cabeça antes de sair da cozinha.

— Papai!
Ele voltou.
— O senhor me empresta seu celular um minuto?

— Cadê o seu?

— Não estou achando. Acho que ficou no carro da Sandra. Queria


apenas confirmar se ficou com ela.

— Esqueceu o celular de novo, filha? Que distraída... Espere, vou


pegar o meu. — Ele se foi e voltou logo. — Quando acabar, basta deixar aí
em cima da mesa. Não tem senha.

— Obrigada, papai.
Ele foi para o quarto novamente. Passei o dedo pela tela e procurei
meu nome.

— Bem. Se alguém encontrou, vai atender.

Chamou uma vez. Chamou uma segunda vez.


— Anjo?

— Enrico?

— Bom dia, anj... Summer.

— Você encontrou meu celular?

— Você esqueceu no quarto, e eu guardei para poder te devolver.

Fiquei muda. Na verdade, tentava entender o que estava acontecendo


comigo. Meu coração estava tão acelerado que levei a mão ao peito.
— Você ainda está aí, Summer?

— Estou... Enrico, eu...

— Que tal nos encontrarmos hoje para eu te entregar?


Me coloquei de pé e caminhei para o quintal. Poderia falar melhor de
lá.

— Acho melhor não, Enrico... Eu ainda estou muito irritada com tudo
o que aconteceu. E estou morrendo de vergonha pela maneira como eu tratei
você. Fiquei com raiva dos outros e descontei em você, que ficou ao meu
lado... Para falar a verdade, da maneira como estou me sentindo nesse
momento, eu acho que eu queria mesmo era esquecer toda essa história,
deixar isso para trás...

— Ei, ei, calma, Summer. Pensei em te levar para jantar. Apenas isso.

— Um jantar?

— Sim. E, desta vez, apenas nós dois. Se você aceitar, é claro.


— Eu tenho alternativa caso queira reaver meu celular?

— Claro que tem, anj... Summer. Eu posso deixar na portaria do


condomínio do seu pai. Você não precisa nem me ver. Eu nunca te forçaria a
nada. Você sabe que eu sempre aceito o que você decide. Mesmo quando dói.

Levei o celular ao peito, pensando no que fazer. Ainda magoava tanto


o que os outros três fizeram comigo na noite anterior...

Mas Enrico ficou. Ele ficou. E se ele for de fato diferente dos outros?
Levei o aparelho de volta ao ouvido.

— ...está aí? Summer?

— Oi. Eu estou aqui.


— Pensei que a ligação tinha caído.

— Eu ainda estou aqui, Enrico. Você promete que será apenas o


jantar? Eu ainda estou confusa demais com tudo isso...
— Eu prometo, Summer. E se você permitir, podemos conversar
melhor sobre o que aconteceu ontem. O que acha?

— Eu... vou gostar disso. Eu explodi de raiva, não foi?


— Mas, pela situação, dá até para entender... Bem... Vamos mesmo
deixar essa conversa para hoje à noite, o que acha?

— Sim. Vamos.

— Posso te pegar em casa umas... oito?

— Pode sim. Eu envio o endereço por mensagem.

— Você pode enviar para o meu celular? Eu não tenho como


desbloquear o seu. Tem como anotar?

— Ah, claro. Só um minuto.


Corri para dentro de casa e fui direto para o caderno que Lília havia
usado. Eu já estava com a caneta e o papel em prontidão, Enrico falou
número por número, repetindo pausadamente, para ter certeza de que eu
havia anotado certo.

Ri com a preocupação dele.

— Pois eu envio agora. Esse telefone é do meu pai. Só para você


saber, caso resolva ligar para esse número e der com a voz do Comandante.
— Opa, bom saber. Só ligarei em último caso. Tá bom assim?

— Melhor mesmo. Vou inclusive apagar a mensagem que eu te


mandar, apenas por garantia, tudo bem?

— Por mim, sem problemas. Então... até às oito, Summer.


— Até, Enrico.
Era esquisito ouvi-lo me chamando apenas de Summer. Desliguei,
enviei o endereço, apaguei a mensagem e deixei o aparelho em cima da mesa,
como combinado. Olhei as horas e fui até a casa de Sandra.

Tínhamos muitas coisas para conversar.


Malditos botões

— Quero ouvir mais uma vez — Sandra pediu.


— Não vou repetir, sua louca.

— Que merda, Summer!

— Eu sei. Eu sei e estou me punindo até agora, não precisa me deixar


mais arrasada.
— Certo. Mas foi uma sacanagem eles te abandonarem logo depois da
foda.

— Nem todos foram. Enrico ficou.

— Bem. Isso é verdade. O cara foi legal, Summer. Enquanto todos os


outros cafajestes caíram na festa, ele ficou velando seu sono.
— Foi o que pensei depois. Mas na hora eu o tratei tão mal...

— Nisso você estava errada mesmo, amiga, me desculpe falar. Mas


eu até entendo. Você estava puta, tinha bebido e acabou explodindo com
quem estava à mão. Pena que foi justamente com o único que não merecia.
— E ele tentou explicar. E manteve a calma.

— E tentou dizer que estava apaixonado por você!

— Exato, Sandrinha. Ainda tem isso. O que eu faço com essa


informação?

— Como é que eu vou saber?

— E eu volto para a Califórnia em uma semana!

— Eu realmente não sei o que te dizer, amiga! E esse jantar hoje,


hein?

— Estou indo apenas para pegar meu celular.

— Sei.
— Ei! É apenas para isso mesmo.

— Se você diz... tudo bem...

— E que lance foi esse com os seguranças, Sandra?


— Eu quase morro, mulher. Que homens lindos da porra! Vou juntar
dinheiro todos os meses para contratar aqueles dois caras para me
acompanharem para algum lugar. Nem que seja para o supermercado.

Ri alto.

— Você lembra os nomes deles?


— Lopes e ... como era mesmo o nome do outro? Acho que Silva...

— Ah, sei muito bem quem são. Menina, você estava muito bem
protegida, viu? Os caras são muito bons.

— Não vai dizer que ficou com eles.


— Não! Não! Com esses não. Esses são apenas amigos queridos. Mas
você está certa em dizer que são lindos.

— Porra. Vou me inscrever para o próximo treinamento no campo do


seu pai! Minha filha, que é isso! Pelo amordi!
Sorri.

— Bem, pelo menos parte do plano deu certo. Pena que descobrimos
que os infelizes eram uns cafajestes.

— Mas nem todos, Summer, lembre-se. E foi melhor ter descoberto


isso. Assim você pode investir todo o tempo que lhe resta aqui no Brasil para
se concentrar no gostosão atencioso.
— Isso é verdade. Mas, Sandra, voltando aos seguranças que te
escoltaram até aqui...

— Menina, os caras são muito profissionais. E eu vi de cara que eles


notaram que eu não precisava do serviço deles, de verdade. Isso acabou me
deixando meio envergonhada, então mal trocamos umas poucas palavras...
Fiquei arrasada.

— Pois acho que vai ser a minha vez de dar uma de cupido para o seu
lado.
— Eu aceito. Aceito. Já disse que aceito?

Rimos juntas.

— Deixe-me ir embora. Passei praticamente o dia todo aqui. Vou me


arrumar para o jantar.
— Ai, amiga. Vá na paz. Esse cara parece ser decente. Bem. Ele foi,
né?!
— Foi mesmo. E é. Sempre.

Beijei o rosto da minha amiga antes de sair.

Em casa, papai se arrumava para sair com Lília.

— Tem certeza de que não quer ir conosco, raio de Sol?

— Claro que tenho, papai, pelo amor de Deus... Não vim para cá para
ficar atrapalhando os encontros com a sua namorada.

— Já falei que você...

— Atrapalho sim, senhor. E já disse que também vou sair hoje.

— Só não me disse para onde e com quem.


— Conheci um cara no Tinder e vou encontrá-lo em um motel.

— Summer, se você quer mesmo me fazer te escoltar para esse


encontro, você está conseguindo.

— Papai, é claro que estou brincando! Acha mesmo que se fosse


verdade eu ia contar?
Ele permaneceu sério e cruzou os braços à frente do corpo. Merda.
Não devia ter brincado com algo assim, logo com meu pai. Eu deveria ter
previsto aquela reação.

— Vou apenas jantar com um amigo.

Disse aquilo de forma despreocupada, como se fosse algo casual, mas


meu pai não moveu um músculo.
— O que é, Seu Lúcio?

— Que amigo é esse? Até onde sei você só conhece a Sandra e a


Lília.
— Pois saiba que fiz vários amigos ontem na festa, tá? Ah, papai,
deixa eu me arrumar... Estou quase atrasada.

Saí quase correndo da sala.


— Summer! Volte aqui, mocinha! Essa menina vai me deixar com
mais cabelos brancos durantes essas férias do que em toda a minha vida.

Ouvi a última frase antes de fechar a porta. Corri para o chuveiro e


tomei um banho, sem molhar os cabelos. Escolhi um vestido tomara-que-caia
preto, folgadinho na saia. Uma carreira de botões prateados à frente deixava-
o ainda mais bonito. Fiz uma maquiagem mais caprichada, destacando os
olhos e não me esqueci de colocar algumas pulseiras combinando com os
botões do vestido. Por baixo apenas uma calcinha vermelha e uma liga da
mesma cor, na coxa.

Porque eu sabia que era a cor preferida do meu maior desejo. E


mesmo sabendo que aquele encontro não acabaria na cama — eu não
permitiria —, não custava nada me arrumar para matar.
Sorri sozinha.

— Estou indo, querida.

— Tá bom, papai.
— Não precisa esperar por mim. Quando chegar, tranque tudo.

— Combinado, papai. Eu não vou demorar.

— Espero mesmo, vida.


— É o pai mais ciumento do planeta.

Escutei sua risada se afastando.

Terminei de me arrumar: ajeitei os cabelos, deixando-os soltos e


calcei sandálias altíssimas.

Quando ainda faltavam dez minutos para as oito horas, fui para a
frente do condomínio, pois ele não sabia que meu pai havia saído e
provavelmente ia evitar pedir que o porteiro me avisasse que havia chegado.
Assim que o carro parou, eu o reconheci e ele estava sorrindo.
Caminhei até o lado do passageiro e entrei.

— Boa noite, Enrico — cumprimentei.

— Boa noite, Summer.


Ele estendeu o celular para mim e eu o segurei curiosa.

— Já vai me entregar?

— Por que não entregaria? Eu não quero usar o celular como refém,
Summer. Gostaria que saísse comigo por vontade própria.
Eu abaixei o rosto para o telefone e estranhei o carro não estar se
movimentando. Voltei a encará-lo, e ele me olhava de uma forma muito
intensa.

— Não vamos? — perguntei.

— Você vai querer jantar comigo, Summer? Porque se for apenas


pelo seu celular, não precisa fazer esse sacrifício.
Abri a boca surpresa. Será que ele estava magoado pela forma como o
tratei?

— Eu quero jantar contigo, Enrico. Eu estou aqui porque realmente


quero jantar contigo.

— Que bom ouvir isso.


Seus olhos desceram, abandonando meu rosto, e ele sussurrou:

— Tem um botão aberto. Um perigo, esse seu vestido.

Olhei imediatamente para baixo e constatei o botão aberto, deixando


meu decote ainda mais exposto. Coloquei o celular no colo e fechei
apressadamente o vestido.

— Perdão...

— Não por isso, Summer.

— Enrico, lembre-se do que combinamos. Não vamos transar, certo?

— Eu não tocarei em você se você não quiser. Eu sempre cumpro


meus acordos, você sabe disso...

Uma tristeza invadiu sua voz, e eu fiquei em silêncio, mas ele voltou a
sorrir:
— Gosta de frutos do mar?

— Gosto.

— Ótimo.

Ele ligou o carro e partiu.

Malditos botões que insistiam em ficar se abrindo e desviando minha


atenção. E sempre, quando eu menos esperava, explodiam em algum lugar
expondo a pele branquinha e macia de Summer.
— Estou tão arrependida de ter colocado este vestido, que eu juro que
se a nossa comida já não estivesse chegando, eu ia querer voltar para casa
para trocar de roupa.

Summer não fazia ideia de como era linda quando ficava encabulada.
Outro botão se soltou perto do umbigo. Era o tipo de vestido que você
consegue abrir ao meio com apenas um puxão!

Porra de pensamento que não saía de minha cabeça! E como eu


adoraria fazer aquilo...

Aqueles botões miseráveis não paravam quietos nas casas, fugindo


delas com tanta facilidade que já havia perdido a conta de quantas vezes ela
havia precisado fechá-los.
— Não se preocupe com isso, Summer.

Sorvi um gole de refrigerante para disfarçar o desejo de ajudá-la com


os danados. Mas para abri-los, e não para abotoá-los.

— Fala isso porque está adorando o show que eu e meus botões


estamos dando.
— Isso eu não posso negar.

Ela sorriu. Linda.

— Quando vai voltar a me chamar de anjo, Enrico?


— Você pediu que eu não a chamasse mais assim. E repito: eu sempre
respeito os seus desejos.

— Eu... Enrico.

Ela fechou os olhos e apertou as sobrancelhas, em uma demonstração


clara de dor. Quando os abriu novamente e aquelas duas grandes esferas
azuladas me encararam, eu congelei.
— Eu falei muita coisa ontem. Muita coisa sem pensar e eu lhe devo
desculpas. As mais sinceras e verdadeiras desculpas.

— Summer, não precisa. Você estava chateada. A situação...


— Não. Eu não estava certa em descontar minha raiva em você,
Enrico.

Ela pediu minha mão por cima da mesa e eu a cedi. Eu cederia a tudo
que aquela mulher me pedisse.

— Você ficou lá, comigo.


— Era o melhor lugar para estar naquele momento. Você consegue
me entender, anjo?

Ela sorriu e outro maldito botão resolveu se manifestar, fugindo do


lugar e aumentando o decote. Expondo mais da curva de seu seio. Me
fazendo transpirar. Ela soltou minha mão e ajeitou o botão.

— Devia deixá-lo aberto. Assim, ele não tem como abrir de novo... —
sugeri.
— Você ia adorar isso, não ia?

— Claro que ia, mas é mais para você não ficar preocupada o tempo
todo em colocá-los no lugar.

— Mas, se eu não os fechar, vou ficar completamente nua em pleno


restaurante, seu louco. Quando não são os botões de cima, são os botões de
baixo.
Eu ri:

— Isso que dá usar roupas menores do que o seu tamanho.

— Esse vestido é do meu tamanho, Enrico.


Ela estava se descontraindo. Isso era bom.

— Eu não sei o que está acontecendo com ele, eu nunca tive


problemas antes. Parece que esses botões ganharam vida própria.
O garçom chegou com nosso pedido e o aroma maravilhoso da
comida nos dominou por algum tempo. Começamos a comer calados até que
ela quebrou o gelo:

— Você tem algum sonho secreto, Enrico?

Summer me pegou desprevenido. Comecei a mastigar lentamente,


pensando naquela pergunta.
— Sabe que eu tenho mesmo, anjo? Acho que... Bem, eu adoro o que
faço, mas eu sempre pensei em ser instrutor físico. Quem sabe um dia...
Retomar os estudos, abrir meu próprio espaço...

— Hum, é um ótimo plano. Eu seria uma aluna assídua em suas aulas,


professor gostosão.

Ri tão alto que chamei atenção para mim.


— Quer dizer que se matricularia para ter aulas comigo?

— Pode apostar que sim. E com toda certeza meu condicionamento


físico seria minha última preocupação.

Ri ainda mais. Summer começava a se soltar e ficava mais espontânea


a cada minuto.
— E você, senhorita Mitchell, eu sei qual é o seu sonho. Mas se não
fosse fotógrafa o que você gostaria de ser?

— Ah, essa é fácil. Seria fotógrafa.

— Ei, não vale — brinquei.


— Claro que vale. Eu não consigo me ver fazendo mais nada, Enrico.
Fotografar é minha vida. Minha essência. Minha alma. O meu começo, meio
e fim. A coisa que me define desde sempre e que vai me acompanhar até a
morte. Fotografar é tudo para mim. Se eu não pudesse mais fazer isso... eu
não sei se seria capaz de continuar.

— Ei, claro que continuaria. Só que com uma nova paixão. Talvez só
não saiba qual ainda.

— Não sei.

— É impressionante o seu amor pela profissão.

— Não menti em nada. Nem exagerei. E começou quando eu ainda


era criança. A primeira vez que minha mãe me mostrou uma máquina
fotográfica e me ensinou a tirar fotos, eu passei o dia todo fascinada. Meu pai
diz que sempre sonhou que eu seria médica, mas percebeu que era uma causa
perdida quando via o modo como meus olhos brilhavam quando eu pegava
uma câmera.
— Ainda bem que descobriu cedo a sua vocação na vida.

— E você, como acabou se tornando segurança particular?

—Uma coisa foi levando à outra e, no final, quando cheguei à Lynx,


recebi uma proposta muito boa, com um salário bacana, e fiquei.
— Está lá há muito tempo?

— Sim. Bastante tempo.

— E sempre acompanhou a Tensão Elétrica?


— Já vai começar a perguntar sobre os integrantes da banda?

— Com ciúmes?
— Agora sim.

— Agora?

— Sim. Depois de ontem. Da nossa conversa. De estar em casa


sozinho... Summer, eu pensei bastante e não sei o que você pretende fazer
com o tempo que lhe resta aqui em São Paulo, mas, se ainda for continuar se
encontrando com os rapazes, eu vou entender e respeitar, porque, enfim, você
não me deve nada e eu fico feliz que esteja vivendo suas experiências. Mas
eu não vou mais participar de nada disso. Não vou conseguir mais dividir
você com outros homens.

Achei melhor abrir meu coração e expor o que sentia. Eu sempre fui
assim, racional e lógico nas minhas decisões. Ela poderia continuar desejando
aquela loucura, mas eu não suportaria ver outro cara comendo a mulher que
eu queria apenas em meus braços, e não apenas para a cama, mas para meus
carinhos, minha atenção e...

Meu amor?
Será?

— Ei, você acha mesmo que eu vou querer foder com aqueles filhos
da puta novamente? Nem sonhando.

Ri satisfeito com a resposta. Por mais que ela não fosse mais querer
ficar comigo, pelo menos não ia mais querer ficar com aqueles três sacanas.
— Eu tenho que reconhecer que seu soco de direita é bem forte.

Seu rosto se abriu em um grande sorriso.

— Como você sabe?


— Tá brincando, anjo? Eu vi o momento em que acertou o Adam.
Acho que ele está tentando descobrir até agora o que o atingiu.

Ela sorriu mais.

— Eu estava enfurecida mesmo.

— Então não vamos falar mais disso.

— Melhor.
Já havíamos acabado de jantar e o garçom trocava os pratos sujos
pelas taças de sobremesa.

— Até quando você vai ficar em São Paulo, Summer? — perguntei


sem a fitar.

— Só mais alguns dias. Mais uma semana.


Só uma semana? Não! É muito pouco tempo.

— Sério?

Eu estava desnorteado. Abalado com a revelação.


— Sim.

Foi sua vez de descer os olhos para a sobremesa gelada e enfiar a


colher de qualquer jeito ali. Respirei fundo, sem tentar disfarçar minha
insatisfação.

— E já decidiu o que vai fazer nesta semana?


— Quer que eu seja sincera? — Assenti. — Ainda não.

— Hum. Será que podemos nos encontrar? Apenas como amigos, se


você quiser.

Eu tinha que tentar. Não podia deixar aquela garota escapar tão fácil.
— Claro que sim. Vou adorar.

Ela ainda ajeitou mais dois botões antes de sairmos do restaurante.


Ela prendeu-se em meu braço direito e foi agarrada a mim até chegarmos ao
carro. Abri a porta e ela permaneceu parada ali na lateral, sem querer entrar
ainda.
— Eu ainda não te agradeci, Enrico.

— Pelo quê, anjo?

Fui para sua frente e ela segurou minhas mãos. A saia folgada
balançava com o vento que soprava ali fora e outro botão abaixo do umbigo
teimou em se soltar e eu fiz questão de prendê-lo.
— Eu vou jogar esse vestido fora quando chegar em casa.

— Não faça isso, Summer! Você ficou tão linda neste vestido e esses
botões, ah, eu os adoro na mesma proporção que os odeio, sabia? — Ela
gargalhou, e eu adorava aquele som. — Mas, voltando ao assunto, por que
quer me agradecer?

— Quero agradecer por ter ficado comigo naquele quarto. Quero


agradecer por ter me protegido enquanto eu dormia. Quero agradecer por não
ter ido correr atrás de outro rabo de saia depois de termos feito amor.
Ah, maldita promessa de não avançar sobre ela... Tudo que mais
desejava era beijá-la desesperadamente.

— Já falamos sobre isso hoje, anjo, não precisa mesmo...

Ela encurtou o espaço que nos distanciava e senti o calor de sua


respiração antes de nossas bocas se unirem. Segurei sua cintura e a trouxe um
pouco mais perto. Nossas línguas se provavam e nossos lábios pareciam
queimar com o contato. Eu tinha consciência de que ela sentia meu pau duro
implorando por ela, mas eu não ligava mais, estava ávido por seu gosto.

— Fique comigo esta semana, anjo.

Pedi.

Implorei.

— Fique apenas comigo esta semana.


Voltamos a nos beijar novamente e meu corpo reclamava a cada
contato que fazia com o dela. Eu passava minhas mãos pela pele macia de
seus braços e afundava meus dedos em seus cabelos sedosos. Como uma
mulher podia me tirar o juízo como aquela me tirava? Ela afastou o rosto para
respirar e miou com os lábios colados aos meus.

— Eu fico...

Ah, o que senti foi comparável ao melhor orgasmo que tive com
Summer. Eu a teria por mais uma semana. Eu a teria, e apenas para mim.
Nada de dividi-la com nenhum outro homem. Eu mostraria àquela mulher o
que era receber carinho e ser paparicada de todas as formas que ela merecia.
— Você não tem noção de como estou feliz, anjo.

— Devo ter alguma noção, já que estou também. Vamos embora,


Enrico? Quero chegar em casa antes do meu pai.

— Vamos sim.
Quando nos afastamos, o vestido dela só não foi ao chão porque três
botões o salvaram da queda livre. Parte das coxas, a barriga e as curvas dos
seios de Summer ficaram completamente à mostra e eu precisei de uma força
de vontade descomunal para que minhas mãos não corressem a ajudar
aqueles últimos botões a se soltarem também.
— Puta que pariu — o gritinho dela me fez sorrir de leve.

Seus dedos foram rápidos em fechar a roupa que a deixava tão


exposta.
— Eu gosto cada vez mais deste seu vestido, anjo.

— Safado. Ainda bem que estamos no estacionamento.

— Você estaria fodida se estivéssemos no meu apartamento.

Ela fechou o último botão e ergueu os olhos para os meus.

— Você vai me convidar para ir ao seu apartamento? — ela


perguntou curiosa.

— Estava nos planos, depois que você aceitou passar esta semana
comigo.
— Uau!

— Você aceitaria ir? Digo, se eu a convidar?

— Acho que sim. Me convide primeiro — falou maliciosa e meu


pênis pulsou apertado dentro do jeans.

— Só se prometer ir com esse vestido.

Beijei seu lábio de leve, provocando-a.

— Ah, vou pensar, homem dos infernos.


— Vamos, Mitchell. Não quero encrenca com seu pai.

— Sim, vamos.

Pouco tempo depois, eu estava estacionando em frente ao condomínio


onde o pai dela morava.
— Entregue. Sã e salva — falei sorrindo.

— E sem assédio para me levar para a cama. Isso é impressionante,


Enrico.
— Bem, teve algum assédio, sim, mas de ambas as partes...

Rimos juntos. Ela soltou o cinto e falou baixinho.

— Poderia afastar um pouco mais o seu banco para trás?

— Por quê?

— Eu quero descer do carro.

Na hora percebi a intenção dela, mas... Será que eu tinha entendido


direito mesmo? Ou ela estava apenas me provocando? Só havia uma maneira
de saber.
Tirei o cinto e afastei o banco, como ela havia pedido e em seguida
ela veio para cima de mim.

— Não faça isso comigo, anjo. Puta que pariu, que maldade...

Ela parou com as pernas abertas, bem em cima do meu pau, que
inchava com o contato da mulher sobre ele. A saia subiu e deixou a liga, que
eu já havia visto, mais à mostra.
— Você sempre usa esses adereços sexy?

Passei os dedos sobre o elástico e a renda e puxei a liga de leve,


querendo arrancar aquilo com minha boca.

— Sim. Adoro.
— Tanto quanto suas calcinhas fio dental?

— Tanto quanto.
— Ah, veja o que faz comigo, sua doida.

Segurei sua bunda e a fiz se esfregar mais sobre meu pau, moendo-o
sôfrego sob a boceta da mulher. Ela segurou-se em meu pescoço e gemeu
baixinho, desfrutando do contato, fechando os olhos e me beijando em
seguida.
— Você ia mesmo pedir o telefone do meu pai para o seu chefe?

Ela quebrou o clima que esquentava.

— Fui sim. Mas, como falei, o Carlos não estava. Quem estava lá era
o Barbosa. Como não sou tão próximo dele, eu ia voltar lá amanhã para falar
com o Carlos mesmo.
— E o que você teria dito quando o meu pai atendesse o telefone? Ia
simplesmente pedir meu número?

— Claro que não. Ia dizer: “Oi, seu Lúcio. Aqui é o Soares, tudo bem
com o senhor? Sabe o que é? Eu me apaixonei por Mitchell enquanto estava
no treinamento e gostaria de sua autorização para eu convidá-la para sair”.

Percebi o rosto de Summer se iluminar e então emendei:

— “É que eu queria muito foder a sua filha. Ela me tira o juízo”.

Recebi o tapinha merecido no ombro e rimos juntos.

— Você não diria isso.


— Só não diria a última parte, linda.

— Você só acha que está apaixonado por mim, Enrico.

— E se estiver?
— Não quero pensar nisso.
— Por que eu vou sofrer quando você for embora?

— Sim. Também.

É, eu também não quero imaginar como vai ser quando você for
embora, anjo.

— Então não vamos pensar sobre isso. Vamos apenas aproveitar essa
semana, tudo bem?

— Tudo bem. Quando você volta a trabalhar?

— Não se preocupe com isso. Não se preocupe com nada, anjo.

Ela sorriu uma última vez antes de me beijar novamente e ajeitou


mais três botões que se soltaram, antes de abrir a porta do meu lado e sair por
ali, fechando a porta em seguida.

— Tchau, lindo.
Ela se inclinou sobre a janela e a beijei. Dei um sorriso aberto quando
ela se afastou.

— O que foi, Enrico?

— É que invertemos os papéis. Agora é você quem está aí do lado de


fora da janela. Como eu fazia no campo de treinamento.
Aquilo a fez sorrir e aproveitei para beijá-la uma última vez.

— Tchau, anjo. Você tem meu contato. Fico esperando você me


ligar.

— É verdade, não te passei o meu.


— Sei que vai me ligar.

Espero que me ligue.


Liguei o motor e saí. Imediatamente ouvi o grito de Summer e
estaquei o carro preocupado. Estava a poucos metros, não havia ganhado
velocidade ou distância e não estava preparado para o que vi pelo retrovisor.

Summer estava completamente nua em plena calçada. Ela tentava


cobrir os seios com uma das mãos e com a outra tapar o sexo. Só não estava
totalmente nua porque estava com uma calcinha de renda vermelha e a liga
presa à coxa esquerda.

Que porra era aquela?

Só quando abri a porta do carro percebi o vestido caindo no chão.

Ele havia se prendido na porta do carro?


Putz! Como ela conseguiu?

Summer correu em minha direção ao mesmo tempo em que fui a ela.

Ambos tentávamos recolocar o vestido fujão, sem êxito. Estávamos


nervosos, atrapalhados e foi quando o porteiro do condomínio se aproximou,
aflito com o ocorrido.
— A senhorita está bem?

Percebi na hora para onde os olhos do desgraçado foram.

— Quer olhar para o outro lado, por favor? —pedi. — Não vê que já
estou ajudando minha namorada?
Virei meu corpo, me colocando entre ela e o porteiro. Finalmente, eu
e Summer conseguimos nos entender com aquele pedaço de pano. Aos
poucos ela conseguia fechar os botões restantes, mas vários haviam voado
com o puxão do carro. Enquanto ela segurava o vestido na altura dos seios,
tirei minha própria camisa e entreguei a ela, que a colocou por cima do
vestido.

Foi um trabalho hercúleo, pois ia contra todos os meus instintos: tudo


o que eu queria era estar despindo aquele corpo deslumbrante, não o
cobrindo.
Quando terminamos, perguntei:

— Você está bem, anjo?

— Estou morta de vergonha. — Ela cobriu o rosto com as mãos. —


Não sei se terei coragem de olhar para você por uma semana.
— Ah, não diga isso nem brincando, moça bonita. Uma semana é
tudo que temos. Não está mesmo machucada? O carro não a puxou?

— Estou bem, Enrico, acho que as merdas dos botões estavam tão
folgados que o vestido só... foi. Me deixando nua em... ai, que vergonha,
meu Deus.

— Ei, não fique assim. — Eu a abracei com força, prendendo-a contra


meu peito. — Por acaso já disse hoje o quanto é linda?
— Não. Safado.

Sorri com sua observação.

— Louco por você. — Olhei para trás e vi o porteiro ainda ali, parado.
— O que ainda está fazendo aqui, cara?
— Me desculpem, eu só queria mesmo saber se a senhorita está bem...

— Eu estou bem, obrigada, moço.

Olhei de cara feia para ele e beijei a cabeça de Summer.


— Boa noite. Vou esperar você entrar desta vez, para ter certeza de
que não vai prender seu vestido no portão e de que esse porteiro não vai se
oferecer para te ajudar.

Ela riu alto.


— Ciúmes não combina contigo, bonitão.

— Acho que já provei que não sou muito de ter ciúmes. Só um


pouquinho talvez. Boa noite, anjo.

— Boa noite.

Esperei Summer sumir por trás do portão do condomínio para voltar


para o carro, que permanecera ligado e parado no acostamento. Aquela noite
não poderia ter terminado de maneira mais cômica e fodidamente deliciosa.

Eu ia ter muito em que me inspirar quando estivesse batendo uma


punheta mais tarde.
Uma agradável noite e um dia excelente

Entrei em casa, nervosa.


Nunca na minha vida tinha passado uma vergonha tão fenomenal. Só
queria desaparecer. Percebi que meu pai ainda não havia chegado e fui para o
quarto depois de tomar água na cozinha.

Tirei aquele vestido maldito e vesti apenas a camisa de Enrico para


dormir. Era muito gostoso ficar sentindo o perfume dele. Antes enviei muitos
áudios para minha amiga Maisie, explicando, desta vez em detalhes, tudo o
que eu havia vivido.

Repousei o celular sobre a barriga depois de enviar a última


mensagem. Fechei os olhos e descansei daquele dia louco.
E que encontro mais lindo com Enrico!

Ele é tão perfeito. Ou só está tentando ser para me levar para a cama
novamente?

— Não. Não está! Se estivesse, ele não se preocuparia tanto com


alguns detalhes. E não teria me deixado sair daquele carro depois que me
sentei nele daquele jeito. Obrigada, Raul, pelas aulas...

Eu tinha que parar de pensar nos outros safados, já que havia


resolvido ficar com Enrico — e só com ele— aquela semana. Olhei para o
lado e me lembrei do papel em cima da mesinha lateral. Dobrei o corpo e
estiquei a mão para pegá-lo, digitei o número e o salvei no celular. Enviei
uma mensagem, sabendo que meu número ainda não estava registrado na
lista de contatos dele.

Summer: Oi.

Enrico: Oi. Quem é?

Summer: Uma admiradora.


Enrico: E como conseguiu meu número?

Summer: Toda mulher tem seus segredos.

Enrico: Sim. Verdade. Então, me conhece de onde?


Summer: Quer que me entregue tão fácil?

Enrico: Tenho que tentar.

Summer: Apostou bem. Sabia que te acho muito lindo?

Enrico: Obrigado. Pena que não sei o que dizer de você. Quer me
dar uma dica de como é? Qual a cor dos seus cabelos?

Summer: Pretos. Posso saber como você está vestido agora?

A resposta demorou a chegar. Eu estava me divertindo com aquilo.


Percebi Enrico começar a digitar.
Enrico: Não. Minha namorada pode não gostar se eu te disser como
estou.
Aquela frase me pegou desprevenida. Como assim namorada?

Summer: Ah. Só te admiro de longe, não sabia que tinha namorada.

Enrico: Tenho.

Summer: E ela está aí contigo agora?

Enrico: Não.
Que porra era aquela?

Summer: E ela é ciumenta?

Enrico: Não sei. Nunca demonstrou nada.


Summer: Pois então... Sabia que desejo ter você me abraçando à
noite antes de dormir nos seus braços?

Resolvi provocá-lo com declarações mais oferecidas para ver qual


seria a dele. Mais uma vez ele demorou a responder, mas a mensagem acabou
chegando.

Enrico: Quer realizar seu sonho amanhã à noite? Estarei sozinho no


meu apartamento...

Eu não queria acreditar no que lia. Eu queria estar na frente de Enrico


para poder jogar o celular na cabeça dele. Ele estava dando mole para outra
mulher? Logo depois de tudo que o que aconteceu naquela noite? Logo
depois de tudo o que ele disse?

Enrico: Parou por quê, anjo? Não vai continuar a tentar me seduzir?

Filho da puta!
Ele sabia que era eu!?

Ainda tentei desconversar:


Summer: Quem é anjo?

Enrico: Você. Minha namorada. Que ainda não sei se é ciumenta.


Aliás, você é ciumenta, anjo?
Abri um sorriso feliz.

Summer: Sou. Nem invente de dormir com um monte de mulheres na


minha frente. Prometo que o que vivi, nunca mais vou repetir.

Enrico: Fico feliz em ler isso. Prometo que só me agarrarei a você.


Quando quiser, é claro. E sobre o convite?
Summer: Que convite?

Enrico: Em vir aqui para meu apartamento amanhã à noite?

Summer: Acho melhor não. Ainda não.


Enrico: Tudo bem, anjo. Mas poderíamos passear à tarde. Quero te
mostrar um lugar.

Summer: Jura? Qual?

Enrico: Surpresa. Mas terá que levar sua máquina fotográfica.

Summer: Já gostei desse passeio.

Enrico: Vai gostar mais quando chegarmos lá. Depois podemos


comer algo e te levo em casa.

Summer: Perfeito. Como soube que era eu, Enrico?


Enrico: DDI dos Estados Unidos, anjo. Foi fácil.

Summer: Às vezes esqueço que você é treinado. Corro perigo de você


ser um stalker[12]?
Enrico: Rsrsrsrsrsr. Não mesmo. Se bem que, se eu fosse, eu nunca
admitiria, não é mesmo? Mas não sou, confie em mim.

Summer: Eu confio.
Enrico: Confia?

Summer: Sim.

Enrico: Então amanhã?

Summer: Passeio à tarde e à noite.

Enrico: Perfeito. Te pego umas 15h?

Summer: Pode ser!


Enrico: Vou salvar seu contato, anjo.

Summer: Sim, salve. Agora pode falar diretamente comigo quando


precisar.

Enrico: E sempre que eu quiser?


Summer: Depende.

Enrico: Ainda quer saber como estou vestido?

Summer: Tinha até esquecido. Quero.


Enrico: Só de cueca.

Summer: Que delícia.

Enrico: Ainda está com a calcinha vermelha?


Summer: Estou sim. Mas vestida com sua camisa também. Que
vergonha! Já joguei o maldito vestido fora.

Enrico: Não diga isso. Por favor. Quero vê-la nele novamente.
Summer: Rsrsrsrs... Já falei que você é um safado hoje?

Enrico: Sim. Vá dormir, anjo. Descanse.

Summer: Vou mesmo. Você também. Boa noite, Enrico.

Enrico: Boa noite, anjo.

Dormi logo em seguida. Um sono leve e tranquilo.

Acordei muito cedo, não eram nem quatro e meia da manhã, quando
escutei alguma coisa e me levantei atenta. Vesti o roupão e fui ver o que
estava acontecendo. Dei de cara com meu pai na cozinha.

— Já acordado, Seu Lúcio? — Passava as mãos no rosto.


— Tenho que partir para o campo, vida. Eu te acordei?

Fui até meu pai e o abracei com força. Ele retribuiu o abraço com
carinho e senti um beijo em minha testa.

— Sim. Mas não tem problema. Eu posso dormir depois. Deixe-me te


ajudar. Quero aproveitar meu pai só mais um pouquinho antes de você partir.

— Ah, filha, não fala assim que vou ficar com remorso de ter que
trabalhar.

— Não fique, papai. Sua vida não pode parar só porque eu apareci
assim sem avisar. Eu compreendo e vou ficar bem.

Fui à geladeira, peguei frios, leite e levei para a mesa ao mesmo


tempo que ele levava as outras coisas. Sentamos juntos e comecei a
acompanhá-lo no café.
— Como foi seu encontro ontem, papai?
— Foi ótimo, filha.

— Sinto que estou tirando sua privacidade.

— Você não está tirando nada, raio de Sol. Você apenas acrescenta. E
o seu passeio, foi bom?

Eu ri, porque ele fez questão de chamar de passeio e não de encontro.

— Foi sim. Normal.

— Espero que tenha ficado tudo dentro da normalidade mesmo, meu


amor.

Pelo jeito, o senhor não parou para uma conversinha com o porteiro
da noite quando voltou para casa.

— Garanto que sim.


— Filha, eu vou ficar a semana toda lá no campo, esta primeira
semana é sempre a mais puxada. Os rapazes precisam entrar nos eixos, e eu
preciso analisar o desempenho de um por um para avaliar onde precisam
melhorar, para eu poder elaborar o resto do treinamento. Eles sofrem um
pouco mais, e eu preciso estar presente.

— Tudo bem, papai.

— Mas, se precisar de mim, é só ligar que venho correndo.


— Não se preocupe, Seu Lúcio.

— E a Lília e a Sandra estarão aqui do ladinho.

— Eu sei, papai.
— E não traga nenhum homem para casa...

— Papai!
— Não custa nada reforçar, certo?

Bati continência:

— Entendido, Comandante!

Ele se levantou, levando a xícara suja e a colocou dentro da pia.

— Já estou indo, vida. — Beijou o topo da minha cabeça. — Volto


sexta à noite ou sábado pela manhã.

— Tá bom, papai.

Eu o acompanhei até o carro e vi Lília se aproximar dele. Entrei para


lhes dar privacidade e comecei a retirar a mesa. O dia começava a clarear. Ia
aproveitar que estava acordada, trocar de roupa e correr um pouco. Escutei
batidas na porta e fui até lá.

— Bom dia, Summer.


— Bom dia, Lília.

— Só vim dizer que, se precisar de algo, não hesite em me chamar.


Ou chamar a Sandra.

— Obrigada. Chamo sim.

Ela concordou com a cabeça e partiu para casa abraçada a uma grande
blusa de moletom que eu suspeitava ser de papai.

Passei a manhã e o início da tarde quase no automático.

Eu desejava que já fossem três da tarde.


Conversei com Maisie, com minha mãe, escolhi a roupa que usaria
para sair com Enrico, fiz meu almoço e comi, impaciente. E depois de
trabalhar um tempão com algumas seleções de fotos para postar no
Instagram, constatei que não havia se passado tanto tempo assim. A
impaciência me consumia.

Estava à beira de ligar para Enrico e antecipar nosso passeio.


Mas, enfim o relógio marcou três horas da tarde, e eu fui para a frente
do condomínio. O carro dele já estava lá, e eu entrei imediatamente.

— Boa tarde.

— Boa tarde, anjo.

Inclinei-me e exigi o beijo, que ele deu, feliz.

— Melhorou meu dia.

— O meu também. Para onde vamos, Enrico?


— Você já vai descobrir.

Partimos e atravessamos a cidade.

Estacionamos nas proximidades da Avenida Paulista.


Ele fez questão de segurar minha mão e caminhamos assim,
coladinhos, mas por pouco tempo. A arquitetura, o movimento incessante das
pessoas, um grupo de skatistas, fazendo manobras radicais ao lado da
avenida... Tudo aquilo chamou minha atenção e eu não resisti: puxei a
máquina fotográfica de dentro da bolsa e comecei meus cliques nervosos.

Summer parecia ter se transportado para outra dimensão, totalmente


concentrada no que se passava através da lente. Quando andávamos, ela
insistia em continuar a fotografar e eu tinha que ajudá-la a se desviar de
alguns pedestres ou a não esbarrar em algum poste. Nem me passava pela
cabeça impedi-la de fazer o que mais amava e eu, na verdade, me divertia em
vê-la tão feliz. Quando chegamos ao nosso destino, ela nem percebeu, pois
estava concentrada em fotografar algo do outro lado da rua. Apenas quando
se deu por satisfeita, abaixou a máquina e olhou sorrindo para mim. Ah, eu
podia morar naquele sorriso por toda uma vida.

Ela estava muito descontraída:

— Estou adorando nosso passeio!

— E ele nem começou ainda, veja só!

— Não?
Virei Summer e mostrei a entrada da Casa das Rosas. Ela abriu um
bocão e me olhou sorrindo, mas não perdeu tempo e se dirigiu a um canteiro
de flores. Ela parecia uma criança se lambuzando com um monte de doces.
Depois de um longo tempo fotografando, ela virou-se de uma vez e me
perguntou:

— Podemos descansar um pouquinho?

— Podemos fazer o que quiser, anjo.

Fomos até o café dentro do centro cultural e nos sentamos lado a lado.

— Posso ver o que você andou aprontando? — pedi, indicando a


máquina.

— Chegue mais perto.


Ela revelou no visor da máquina fotográfica a última imagem que
havia feito e começou a deslizar as demais para o lado. As imagens eram
fantásticas e era nítido que Summer tinha muito talento e uma sensibilidade
incrível.

Eu estava cada vez mais impressionado com aquela mulher.

Dei um beijo em seu pescoço, surpreendendo-a e ela riu alto. Uma


garçonete chegou e pedimos dois cafés.

— Venha aqui, Enrico. — Summer me abraçou, esticou o braço e


apontou a lente da câmera para nós.

— Jura que uma fotógrafa profissional vai usar uma câmera


maravilhosa como essa só para tirar uma selfiezinha mixuruca comigo?
— Tá duvidando?

Colei meu rosto ao dela e Summer ajeitou-se, mas eu virei o rosto e a


beijei no momento em que ela apertou o botão.

— Não valeu, seu trapaceiro. — Ela ria. — Vamos tentar mais uma.
Fizemos a nova pose e fiz o mesmo, mas desta vez beijei seu pescoço
cheiroso.

— Enrico, por favor, fique parado.

— Estou parado... Mas parado te beijando.

Finalmente resolvi me comportar e ela nos enquadrou novamente:

— Sorria, Enrico. Seu sorriso é lindo.

— Você precisa de óculos, anjo.


Rimos juntos da brincadeira.

Nossos cafés chegaram, e Summer resolveu guardar a câmera por


enquanto. Ela se inclinou para arrumar o equipamento e eu me aproveitei da
posição para deliciar-me de sua pele macia. Beijei seu ombro, puxando com
delicadeza as alcinhas da camiseta e do sutiã para baixo.

— Está me deixando toda arrepiada, Enrico. Pare.

Parei. Mas não queria.

Olhamos as selfies, mas eu nem notei como eu havia saído nas fotos.
Eu só conseguia olhar para a imagem dela ao meu lado.

— Você poderia me mandar essas fotos? — pedi.

— Claro. Mais tarde te passo. Adorei este lugar.

— Lembrei de quando passamos a noite no lago, você falou que


adorava fotografar flores e insetos. Então achei que você adoraria aqui.

— Você se lembrou disso?


— Eu me lembro de tudo, anjo.

Tomamos nossos cafés em clima de namoro. Com muitos beijos


castos e conversas paralelas. O dia já estava acabando e a apressei para nosso
novo destino.

Subimos até o mirante do Sesc Avenida Paulista. Ela ficou encantada


com o pôr do sol que se formava no horizonte. Fomos para o terraço mais
alto e a prendi contra meu corpo enquanto Summer não perdia um momento
para registrar cada variação de luz, até que finalmente parou e guardou seu
equipamento.
— O que foi, linda?

— Tá bom de fotos. Eu quero aproveitar esse momento contigo.

Ela puxou minhas mãos e me fez abraçá-la com mais força, colando-
nos mais. Apoiei meu queixo em seu ombro e aquilo era bom demais.
Apreciar a noite caindo sobre as luzes da cidade que começavam a se
acender, com Summer em meus braços. Ela virou-se, colocando-se de frente
a mim e nos encaramos profundamente.

— Um beijo.
Passei minha língua em meus lábios e a beijei com calma. Provando
seu sabor inconfundível e delicioso.

— Se me dissessem há um ano que eu estaria hoje ao lado de uma


mulher maravilhosa como você, eu jamais acreditaria, anjo. Sabia que adoro
cada momento ao seu lado?

— Saiba que é recíproco, então. Antes dessa viagem, minha vida era
uma rotina sem fim. Eu tinha certeza de que seria esposa de Travis... — Ela
parou de repente. — Desculpe. Eu não queria falar dele...
— Não tem problema, Summer. Eu sei que você tinha uma vida antes
de me conhecer. Não sou louco de te cobrar nada.

— E você? Nunca me falou nada sobre sua vida amorosa.

— É difícil ter um relacionamento sério com a profissão que tenho,


anjo. Nós viajamos muito, ou estamos sempre em campo. As folgas são
programadas e por isso...

— É mais fácil apenas ficar com garotas esporádicas como na festa da


Mayza.

Fui obrigado a concordar:

— É, mais ou menos isso.


Ela passou a mão pela frente do meu rosto e fechei os olhos para
receber a pontinha de seus dedos deslizando por eles e descendo por meu
nariz, pelos lábios, e ela parou quando segurou meu queixo, me fazendo
sorrir. Quando reabri os olhos, ela ainda me encarava.

— E que história é essa de eu ser sua namorada?

— Só por esta semana. Ah, Summer... Como eu desejaria que você


não fosse embora, que esse namoro não fosse apenas uma página na sua vida.
Mas sei que não posso alimentar esperanças. Você tem que voltar. Então, por
favor, deixe que possa sonhar em ser seu namorado esta semana. Só por uma
semana eu...

— Só por uma semana?

— É!
— Então tá bom, namorado.

Sorri, beijando-a mais.

— Meus dias poderiam ser todos preenchidos de você, sabia, anjo?


— E os meus de você. Foi uma angústia esperar chegar a hora do
nosso passeio.

— Vamos jantar? Não quero te levar muito tarde para casa, seu pai
pode não gostar.

— Ele não está em casa. Vai passar a semana no campo de


treinamento.
Eu a olhei com malícia. Tenho certeza de que apertei meus olhos e a
comi bem ali, em cima daquele terraço, apenas com o olhar, porque ela foi
rápida em continuar falando:

— Não se empolgue, namorado temporário. Não vou te convidar para


ir à minha casa. Prometi ao meu pai que não ia deixar homens entrarem lá.

Ela gargalhou com o meu desespero, e eu a puxei para um novo beijo.


Eu podia dizer em voz alta que amava aquele jeito dela, mas não o fiz. Não
podia.

— Tudo bem, anjo. Jantar e te deixo em frente do seu condomínio.


Como havíamos combinado antes. Não vamos mudar os planos.
— E amanhã? Já temos planos?

— Claro que sim. Para a semana inteira.

— Nossa. Você é um estrategista nato.

Depois de um jantar muito agradável e divertido, eu a levei para o


condomínio do pai.

— Você não vai mesmo tentar me persuadir a ir para o seu


apartamento? — ela perguntou, divertida, retirando o cinto.

— Não. Sei que você mesma pedirá para ir quando estiver pronta.
— Certo, namorado temporário.

— Por favor, não me chame assim.

Não gostava. Parecia que ela levava o que eu havia dito na brincadeira
e eu não era muito de brincar. Se ela não havia gostado de eu tê-la chamado
assim, deveria ter me dito logo, mas sempre que ela me chamava daquele
jeito... Não. Melhor parar logo antes que um dos dois se magoasse mais.
— Eu prometo não comentar mais que você é minha namorada, anjo.

— Ei... pronto, não chamo mais você assim. Me desculpe. Não vamos
terminar a noite chateados, por favor. — Ela puxou meu rosto e me beijou,
falando com os lábios colados aos meus. — Eu gosto quando me chama de
namorada.

Sorriu e se afastou.
— Só está dizendo isso porque me chateei.

— Não. Eu gosto mesmo. E sabe mais? Pena que sou sua namorada
apenas de uma semana.
Aquilo era verdade. Eu poderia repensar toda a minha vida para
mantê-la ao meu lado por muito mais tempo.

— Sempre damos de cara com um prazo de validade, não é mesmo?

— Sim.

Havia uma profunda tristeza no olhar dela. Passou a mão pelo meu
rosto como havia feito em cima do mirante. Percorrendo-o da testa ao queixo.
Sentindo-o com a ponta dos dedos. E eu adorava aquele toque suave.

— Até amanhã, Enrico.

— Até, anjo. Te pego no começo da tarde.


— Vou esperar a manhã inteira.

Ela abriu a porta para sair e eu reclamei.

— Como assim? Não vai sair pela minha porta, não?

— Não mesmo. Ontem cometi aquela loucura e acabei ficando sem


roupa! Vou sair do jeito tradicional hoje.

— Hoje não tinha como ficar sem roupa, está de jeans, Summer.

— Do jeito que sou desastrada, não duvido nada.


Ela me beijou mais uma vez e finalmente se foi, atravessando o portão
de entrada do condomínio.

Parti triste. Não queria manter distância daquela menina doce. Mas
um passo de cada vez.
O dia seguinte seria mais um dia divertido com a minha Summer.

Minha?

Pelo menos durante poucos dias, acho que poderia dizer que era
minha.
Um dia Maravilhoso

Eu estava nervosa.
No dia anterior, Enrico havia me levado para conhecer mais alguns
lugares de São Paulo que me deixaram encantada.

Entretanto, quando ele me deixou em casa à noite, recebeu uma


mensagem convocando-o para uma reunião de equipe na Lynx Segurança, na
quarta-feira pela manhã, à qual ele não poderia faltar.

A princípio, Enrico ficou arrasado, pois ele havia feito planos para
aquela manhã, mas o convenci que poderia acompanhá-lo até a Lynx e de lá
poderíamos ir ao passeio que ele havia programado. Eu só queria vê-lo sorrir
novamente, e ele estava bem triste.
— Não sei se é uma boa ideia.

— Por quê?

— Adam, Ítalo e Pablo estarão lá, Summer. É uma reunião geral. Só


não vai participar quem está em treinamento com o seu pai.
Merda!
Eu não havia pensado nisso...

Agora a merda estava feita. Mas eu não ia voltar atrás:

— Eu vou estar ao seu lado, não vou? Isso é tudo que importa!

Foda-se. Que Deus me ajudasse.

Vesti uma calça jeans e a camisa mais bem comportada que encontrei
entre as minhas coisas. Foi um esforço consciente para deixar claro que eu
queria evitar qualquer tipo de tensão sexual em relação aos rapazes.

E tomei a decisão de que, se tivesse oportunidade, conversaria com


Pablo, Adam e Ítalo como a amiga que sempre fui, ignorando a atitude deles
naquela festa. Aquilo havia passado. E como Sandra havia dito, acabou
servindo para eu tomar a decisão de ficar com o melhor de todos.

Enrico era um amor e me dava tanta atenção que eu nem me lembrava


da existência daqueles que até pouco tempo eu considerava como meus
outros desejos. O que eu sentia por ele era especial. Acho que sempre foi.
Sempre tivemos uma conexão.

Meu celular vibrou e olhei o visor com a mensagem de Enrico.


Qualquer indicativo da presença dele sempre fazia meu coração acelerar.

Como aquilo era possível? Era muito lindo, Senhor!

“Estou aqui fora”


Eu me olhei no espelho uma última vez e corri ao encontro dele.
Entrei e logo beijei-o nos lábios. Ele estava mais sério do que costumava ficar
quando vinha me buscar.
— Tudo bem, lindão?

— Tudo.
Ele ligou o motor e partimos.

— Você está linda, anjo. Te acho linda de vermelho.

— Sei que gosta. Também te adoro de vermelho... Enrico, você está


assim porque sabe que os rapazes vão estar lá?

— Eu não quero que você se sinta desconfortável.

— Ah! Mas não fique preocupado, ouviu? Estamos bem. Eu estou


adorando nossa semana.

— Eu também estou. Cada minuto ao seu lado.

Enrico procurou minha mão e levou até seus lábios, depositando um


beijo casto ali. Tivemos que parar o carro em uma rua paralela, pois o
estacionamento em frente à Lynx já estava cheio. Viemos caminhando de
mãos dadas e, quando nos aproximamos, ele a soltou.

— Por que soltou minha mão? — perguntei incrédula.


— Eu... — Enrico parou e segurou meus ombros. — Eu estou sem
saber como agir, Summer. Se entrarmos lá de mãos dadas, vai parecer que
estamos...

— Namorando? Eu pensei que estivéssemos. Pelo menos, por toda


essa semana.

— Summer, entenda. Uma coisa é dizer isso entre a gente, ficar entre
nós... outra é expor esse... namoro. É tudo que mais quero, mas não sei você,
anjo. Você tem certeza... certeza de que quer fazer isso?
— Tenho. Claro que tenho, Enrico. Eu não sei por que sua dúvida, sua
confusão.

Ele não me esperou falar mais nada, me puxou e nos beijamos ali
mesmo, quase na porta da empresa. Retribuí cada avanço, cada mordida, cada
chupão delicioso.

— Tem um motel na outra esquina.


Ao ouvir aquilo, nos soltamos para ver que era um colega de Enrico
se aproximando. Enrico e ele apertaram as mãos e se abraçaram rapidamente.

— Reginaldo, essa é Summer. Summer, este é Reginaldo.

— Prazer.

Dissemos juntos, nos cumprimentando também. Ele perguntou a


Enrico:

— Cara, tá sabendo de algo sobre essa reunião?

— Não sei nada. Deve ser para organizar as escalas para a retomada
do trabalho. Os rapazes da Tensão já estão por aí. O Raul já está na lida
substituindo o José desde o dia 2. O Alex deu folga a ele por uma semana.
— É, deve ser isso mesmo. E você, vai ficar esperando esse meu
amigo feioso até acabarmos a reunião? — ele perguntou diretamente para
mim enquanto segurava o ombro de Enrico.

— Bem, não sei de quem você está falando, já que vou esperar esse
lindão aqui. — Abracei a cintura de Enrico e ele sorriu me abraçando de
volta.

— Então vamos entrar, pombinhos. Quanto antes essa reunião acabar,


mais rápido vocês vão para aquele motel que eu indiquei. É logo ali. — Ele
esticou o braço para apontar e recebeu um murro de Enrico, fazendo-nos
sorrir.
Lá dentro, a recepção estava cheia, e vários rapazes olharam para mim
abraçada a Enrico. Alguns surpresos, outros animados. Garcia se levantou
logo e veio até nós.

— Olhe só, a tigresa por aqui. Posso te dar um abraço?


Eu olhei rapidamente para Enrico e aceitei o abraço de Garcia.

— Nós todos ficamos muito tristes quando descobrimos que você


precisou voltar mais cedo para São Paulo e não pudemos nos despedir.

— Mitchell!

A voz do jovem Rodrigues veio de trás de Garcia, que abriu passagem


para que ele me abraçasse também:

— Queríamos ter desejado para a senhorita uma boa viagem de volta


aos Estados Unidos.

— Obrigada, Rodrigues. Volto na próxima segunda.


— Então quer dizer que estão juntos?

Aquele sotaque sedutor misturado com o perfume inconfundível. Ah,


Uriel! Olhei mais uma vez para Enrico e segurei a mão dele.

— Sim. Estamos juntos.

Enrico deu um sorriso quase tímido para mim. Acho que ele não
gostava muito de sorrir perto dos amigos. Tentava manter aquela pose durona
o tempo todo quando estava com eles.

— Isso é bom. Isso é bom — Garcia falou dando um tapinha no


ombro do amigo. — Eu estou muito feliz por você, irmão. Por vocês.

Eu recebi o abraço de Uriel também e mais palavras doces:


— Também fico feliz por vocês. Enrico é um cara muito especial,
Summer. E de muita sorte...

Logo Silva, Costa, Alves, Resende e Lopes também estavam nos


cumprimentando. Eu apenas olhei para Adam, Ítalo e Pablo. Acenei para não
fazer desfeita e fiquei puxando conversa com os rapazes que estavam perto de
mim. Um homem negro, alto e forte se aproximou e os avisou que a reunião
ia começar. Enquanto todos começavam a se dirigir à sala de reuniões, ele
estendeu a mão para mim e nos cumprimentamos:

— E quem é esta jovem?

— Essa é Summer, Carlos. Filha do Comandante Lúcio — Enrico


respondeu por mim.

— E namorada de Enrico — completei e percebi o olhar duro que


Carlos lançou para Enrico.
— Namorada? — Carlos repetiu.

— Sim — eu reforcei.

— Vamos ter que entrar agora, querida. Espero que não se incomode
em esperar seu namorado. Pode ser que demore.

— Tudo bem. Mas, Carlos, será que eu poderia fazer uma pergunta?

— Claro.

— É algum pré-requisito da sua empresa só contratar homens lindos e


enormes? Porque vou te confessar: no quesito beleza, sua agência de
segurança está arrasando, meu amigo.
Carlos ficou me encarando por alguns segundos, levou os olhos para
Enrico, depois voltou para mim, como se procurasse as palavras certas, mas
elas não vieram.
O que saiu de sua boca foi uma gargalhada forte e contagiante.

— Isso é sério? Essa pergunta é séria, menina?

— Claro que é!

— Não é nenhum pré-requisito não. Nem tinha notado que esses


marmanjos eram assim tão lindos. Vou cobrar uma taxa extra caso alguma
mulher resolva solicitar algum serviço especial. O que acha?

— Hum, depende qual o tipo de serviço...

Ele soltou uma nova gargalhada e beijou minha mão.

— Devolvo já seu namorado.

— Obrigada. Foi um prazer, Carlos.


— O prazer foi meu. Seu pai é um amigo muito querido.

— Ele também o considera assim. Ele lhe estima muito, tenha certeza
disso.

Carlos e Enrico seguiram por um corredor.


Sentei-me no sofá e puxei o celular para enviar algumas mensagens
para Maisie quando escutei uma voz um tanto distante:

— Você é louco de namorar a filha do Lúcio?

Levantei a cabeça no momento em que uma porta se fechava no fundo


do corredor e não ouvi mais nada. Voltei a atenção para o celular e continuei
a encher Maisie de mensagens. Estávamos em fusos diferentes, mas tinha
certeza de que, quando ela pudesse, me responderia.

Pouco mais de quarenta minutos haviam se passado quando escutei


passos e percebi Ítalo vindo do corredor, em minha direção. Eu me pus em pé
antes que ele chegasse.

— Moranguinho.
— Moranguinho um caralho. O que você quer?

— Eu vim para conversar rapidinho. Disse ao Carlos que ia ao


banheiro.

— Então vá mesmo. Lá é seu lugar.

— Summer, me deixe falar.

— Não. O que passou, passou e eu não quero mais falar sobre isso. Eu
sou uma pessoa adulta, ninguém me obrigou a fazer nada que eu não
quisesse. O nosso acordo era claro, ninguém devia nada a ninguém e eu não
tenho o direito de cobrar nada de vocês, isso eu sei. Mas eu achei que, para
além do acordo, eu havia me tornada pelo menos uma amiga de vocês. Ou no
mínimo um ser humano que merecesse respeito. Mas a atitude de vocês três
naquela festa... Só por curiosidade: se o Enrico não tivesse ficado comigo,
vocês teriam me abandonado sozinha naquele quarto?

— Se ele não tivesse ficado contigo, eu teria ficado, Summer. Porque


estou apaixonado por você.
Eu o olhei incrédula.

Eu juro que achava que já havia superado tudo, mas aquilo me tirou
do sério:

— Apaixonado? Você é mesmo um grande filho da puta, Ítalo. Só


está dizendo isso para tentar me levar para a cama de novo.
Eu apertava as sobrancelhas, sem acreditar em uma única palavra
dele.

— Não, Summer. Quando eu saí daquele quarto, fui embora da festa.


Eu não fiquei. E eu não tinha como ficar naquele maldito quarto, vendo a cara
que o Enrico fazia... O puto está louco por ti.
— Ele sim está apaixonado, Ítalo. Ele sim se importa comigo. Ele sim
cuidou e cuida de mim.

— Summer.

— Ítalo. Você não tem nenhuma noção do estado em que eu fiquei


quando acordei e percebi que vocês três haviam sumido. Que só Enrico
estava lá.
— Isso é coisa do Enrico. Ele fez sua cabeça. Ele te disse que fomos
atrás de mulher quando saímos do quarto, não é?

— Não. Não é, Ítalo. Ele falou apenas que vocês voltaram para a
festa, não acusou ninguém de ter ficado com nenhuma mulher.

Dei as costas a ele, e Ítalo segurou meus ombros, mas eu dei um passo
pra longe dele.

— Summer.

— Não me toque.

— Você não vai mesmo me perdoar?


Respirei fundo. Recuperei a calma.

— Como eu disse, o que passou, passou. Se é tão importante para


você, pode se considerar perdoado, mas não tenha esperanças de me tocar
nunca mais, Ítalo. Eu estou namorando o Enrico.

— Namorando? Vocês estão brincando! Você está brincando com o


cara, Summer. Você vai embora para os Estados Unidos e o fodido vai ficar
aqui, sofrendo por você.

— Não vai ser assim. Entramos nessa sabendo os riscos. Ítalo, por
favor, volte para a sua reunião.
— Vou voltar mesmo. E, Summer, sinto muito. Sinto muito mesmo.
Eu não devia ter saído daquele quarto. Eu devia ter ficado ao seu lado. Só
saiba que me arrependo muito, muito mesmo. Você é uma mulher incrível e
desejo do fundo do meu coração que realize todos os seus sonhos.

— Obrigada, Ítalo. Desejo o mesmo para você.

Ele ainda me encarou por algum tempo. Tinha um olhar tão intenso,
tão profundo. Por fim, acenou com resignação e voltou para a sala de
reuniões.
A reunião ainda demorou mais algum tempo até os rapazes
começarem a sair. A grande maioria veio até mim e me abraçou novamente
antes de ir embora, se despedindo e me desejando boa viagem. Enrico estava
do outro lado da sala, conversando com Carlos e Garcia.

Pablo veio até mim desta vez, mas apenas estendeu a mão.

— Queria lhe desejar um bom retorno e... lhe pedir desculpas pelo
que aconteceu no sábado.
— Obrigada por ambos.

Não falei mais nada. Ele acenou e saiu. Depois de Rodrigues me


abraçar alegre e também se despedir, Adam se aproximou, hesitante:

— Eu mereci aquele soco, Summer.


Olha vejam só. Nada de gatinha, nem galanteios safados. Parece que o
moleque aprendeu.

— Mereceu mesmo.

— Só queria me desculpar. Ia me sentir horrível se você fosse embora


sem que eu me desculpasse.

— Tão horrível quanto eu me senti naquela noite?

— Eu fiquei de cabeça quente, Summer. Deu para ver na hora a sua


preferência pelo Enrico. Havia quatro de nós lá, mas era nítido que ele era
especial.
Prendeu seus olhos nos meus enquanto falava e apenas no final
abaixou rapidamente o rosto e o ergueu novamente, dizendo:

— Eu não devia ter feito o que fiz e a acredite, aprendi a lição. Nunca
mais farei algo parecido com mulher alguma.

— Então meu sofrimento valeu a pena. Eu aceito suas desculpas se


estiver sendo sincero, Adam.
Como Pablo, ele partiu cabisbaixo. Ítalo passou por mim sem se
despedir, mas ele não desviou o olhar de mim.

— Vamos, anjo? — Enrico chamou.

— Vamos.
— Tchau, querida — Garcia me abraçou novamente. — Raul mandou
um beijão. Ele está em serviço.

— Por favor, deixe meu beijo a ele.

— Deixo.
Enrico segurou minha mão e fomos para o carro.
A reunião havia tomado a manhã inteira, então fomos almoçar.

À tarde fomos visitar o MASP e depois ele me levou para conhecer o


Beco do Batman.

— Cansada?

— Um pouco.

Já escurecia e o tempo havia esfriado bastante.

— Está com fome?

— Agora não. Não paramos de comer o dia todo. Sempre beliscando


algo.
Caminhávamos colados.

— Aguenta ir em mais um lugar, anjo?

— Mais um? Nossa. Imagino o que ainda vem por aí até domingo.
— Ah, ainda tenho mais alguns lugares bem legais para te mostrar
nesta cidade.

Partimos em seu carro e, ao sair do veículo, já nos grudamos


novamente. Eu adorava muito estar presa a ele e já tinha se tornado natural
caminhar abraçada àquele homem lindo que chamava atenção. Entramos em
uma sorveteria poucas quadras depois, e ele pediu um sorvete enorme, mas
fui eu que escolhi os quatro sabores. Nós nos sentamos e saboreamos sem
culpa aquele monstro gelado, doce e cremoso.

— Está gostando dos nossos passeios, anjo?


— Muito. Mas e o seu trabalho, Enrico? Você não comentou nada
sobre a reunião.

— É como eu imaginava. O Carlos já passou a escala de trabalho de


todos.
— E quando você volta?

— Terça que vem.

Eu o encarei. Era um dia depois da minha viagem.

— Tem certeza de que pode ficar esse tempo todo longe do serviço?

— Claro que sim. Eu não ficarei um dia longe de você por causa de
trabalho, anjo. Não com você...

Ele calou-se, encarou a taça de sorvete, encheu uma colher e a levou à


boca. Eu completei o que ficara no ar:
— ...indo embora segunda.

— Isso. Conversei com o Carlos. Ele compreendeu.

— Hum. Obrigada por querer passar esse tempo ao meu lado, Enrico.
Sabe... Não sei como te dizer, mas não queria terminar nosso dia sem te
contar algo.

— O que é, anjo?

— Enquanto estavam na reunião... O Ítalo veio falar comigo.

Enrico largou a colher dentro da taça e dobrou os braços sobre a


mesa. Mas não falou nada. Eu continuei procurando palavras:
— Ele veio me pedir desculpas pelo que fez. Disse que, quando saiu
do quarto, foi embora, não ficou na festa. E disse... que está apaixonado por
mim.
Enrico não deixava transparecer nenhum sentimento em seu rosto.
Que droga. Como ele conseguia fazer aquilo, se manter tão neutro? Eu não
sabia como continuar.

— Fale alguma coisa, homem.


— O que você respondeu a tudo isso que ele falou?

— Disse que ele deveria ser como você, que ficou ao meu lado, e não
ter me abandonado naquele quarto. E que eu o perdoava, pois não quero mais
pensar naquilo. E que era louco por estar apaixonado por mim.

Enrico levou as duas mãos fechadas até à boca e pensou mais.


— E ele falou algo sobre querer te encontrar?

— Não. Ele viu que eu recusaria.

— E você também me acha louco por estar apaixonado por você?


Ah, meu querido...

— Não. Porque eu acho que também estou apaixonada por você.

Finalmente o rosto dele se transformou. De sério para surpreso.

— Repita, Summer.

— Eu acho que...

Ele se levantou, veio até o meu lado e me ergueu em seus braços,


beijando-me.
Nunca senti tanto amor em um beijo na minha vida.

Com lábios gelados, sabores misturados e o calor de nossos corpos.


Eu passava as mãos por seus braços fortes ao mesmo tempo em que sentia
suas mãos em minha cintura e em minha nuca, puxando-me para si. Quando
nos soltamos, continuei:

— Estou apaixonada por você. — Ele sorriu, mas eu não. — Você


entende que não podemos, não entende, Enrico? Eu vou embora.
— Eu tenho consciência de tudo, Summer. Sei que a probabilidade de
nos machucarmos é enorme, mas... por favor... vamos viver isso. Até a sua
partida?

— Enrico? — Meu coração sangrava com aquele pedido. — Eu


quero. Mesmo correndo o risco de sofrer horrores, eu aceito viver isso
contigo.

— Obrigado, anjo.
Ele passou o polegar por meu rosto e me admirou.

— Vamos embora? Já está tarde. A não ser que ainda queira parar em
algum lugar para comer algo.

— Você me acha magra, homem? Quer me engordar? Não para de me


fazer comer. Como eu consigo comer mais alguma coisa depois dessa
montanha de sorvete?

Rimos juntos e caminhamos para a entrada, mas, ao chegarmos à


saída da sorveteria, percebemos que uma forte chuva havia desabado sobre
São Paulo. Eu olhei para ele surpresa, pois não parecia que ia chover tão
forte.

— Eu lhe apresento mais uma característica típica da minha cidade: as


quatro estações do ano em um único dia. Ninguém consegue prever o tempo
que vai fazer.

— Podemos correr até o carro.


— Vamos chegar lá encharcados.

— Você se importa?

Eu ergui os ombros e ele sorriu, se divertindo. Era tão incrivelmente


lindo quando ele sorria daquele jeito espontâneo.

— Não mesmo, linda.

Segurou minha mão e saímos correndo pela noite. Os pingos caíam


fortes e, em poucos passos, estávamos completamente molhados. Riamos
enquanto corríamos como loucos até onde ele havia estacionado. Quando
chegamos, Enrico virou meu corpo e me prensou contra ele, beijando-me em
meio à tormenta. A água corria forte por nossos corpos e eu já tremia de frio.
Ele deve ter percebido, pois interrompeu o beijo.
— Vamos, anjo.

Ele destravou o carro e já ia abrir a porta quando eu o puxei e


sussurrei, em meio ao beijo que dei nele:

— Podemos ir para o seu apartamento?


Ele respirou fundo.

— Tem certeza, anjo?

— Ah, tenho. Tenho sim. Muita certeza.


Ele sorriu enquanto me beijava novamente, fazendo nossos dentes
quase se chocarem, tal a euforia que nos dominava. Entramos no carro e
finalmente fui conhecer o apartamento de Enrico.
Saímos do elevador aos beijos e ela pulou em meu colo assim que abri
a porta. Entrei em casa segurando Summer pela bunda e devorando seus
lábios. Estávamos molhados da chuva e a tensão sexual estava nos
consumindo.

— Vamos... conhecer primeiro... meu quarto... depois... te mostro o


resto da casa ... — falei entre os beijos.
— Apoio... totalmente... essa decisão... — ela respondeu da mesma
forma.

Eu a prensei contra a parede, perto do meu guarda-roupa. Meu corpo


inteiro gritava Summer, implorava por Summer, desejava Summer. Comecei
a desabotoar sua camisa e a arranquei. Avancei sobre seus seios ainda
cobertos pela renda vermelha.

— Você programou isso, Summer? Vir para minha casa hoje. Vir toda
de vermelho?
— Não estou toda de vermelho... Minha calça é jeans.

Rimos sem parar de nos tocarmos e nos provarmos.

— Você está muito fria. Venha aqui.

Voltei a caminhar com ela pelo quarto e fui para o banheiro.


Coloquei-a em pé ao lado do box e quase não consegui ligar a ducha, pois ela
tirava minha roupa vorazmente. Senti com a palma da mão a temperatura da
água e quando me virei, ela estava completamente nua atrás de mim, o que
me fez arrancar as minhas roupas instantaneamente, instigado pela urgência
que ela exigia.

Puxei-a, também sedento, para baixo da água que fluía sem parar.

Ela beijava e lambia meu peito, ao mesmo tempo que sua mão direita
acompanhava a água em nossos corpos e escorria por meu abdômen até
enlaçar meu pau duro. Ela o massageava e eu fazia miséria em sua boca,
provando tudo que ela era capaz de me dar.

Deslizei meus dedos por seu corpo acetinado e puxava-a para mim.
Ela começou a descer os beijos e eu já sabia o que aquela boca sedutora
procurava com avidez.
— Ainda não, anjo. Primeiro eu vou te comer, depois você pode me
comer como quiser.

— Não esqueça a camisinha.

— Nem sonhando.
Me desgrudei dela e fui procurar minha calça, que eu não sabia onde
ela havia jogado. Encontrei-a e peguei o preservativo. Cobri o membro,
voltando para a água e a visão de Summer molhando-se na ducha era de outro
mundo. Era um pedaço de mau caminho, aquela mulher. Summer passava as
mãos pelos cabelos, de costas para mim, aproveitando a água que caía tão
suave sobre sua pele.

Ah... que tentação...

Eu me aproximei, agarrando-a por trás, segurando seus seios e


afundando minha boca em seu ombro. Mordi de leve e depois a lambi onde
havia mordido.
— Você quer que eu te coma, Summer?

— Quero.

— Quer ele todo dentro de você?


— Siiimmm... Agora.
Ela entreabriu as pernas e apoiou as mãos no azulejo. Puxei seus
quadris para trás e meti meu pau em sua boceta apertada.

Fundo.
Sem pena.

Até aquela delícia quente me envolver inteiro, enquanto se abria para


acomodar todo o meu tamanho. Ela gemia, entreabrindo a boca, procurando o
ar que lhe faltava.

Enfiei um dedo em sua boca e comecei a me mover atrás dela.


Entrando e saindo... Parando lá no fundo, para que ela sentisse o mastro
latejando forte. Penetrando-a de forma deliciosa, uma das melhores da minha
vida. Summer chupava meu dedo e, quando não o fazia, gemia alto. Eu a
acompanhava em cada gemido, pois não suportava tanto prazer.
Transbordava de mim o que eu sentia ao comer aquela mulher.

Desliguei a água e saí de dentro de Summer, virando-a para mim.


Provei seus lábios antes de começar a provar seu queixo... o pescoço... os
seios...

Ela enfiava os dedos em meus cabelos, aprovando cada investida que


eu dava. Continuei a descer beijos por sua barriga e quando meus lábios
atingiram o cume de seus pelos finos, sabia que chegava a meu objetivo final.
Meu pau também sabia, pois ele pulsava inquieto, reclamando sem parar.
Apoiei meus joelhos no chão e puxei uma das pernas de Summer para
meu ombro, abrindo-a para mim. Ela se desequilibrou a princípio, mas achou
apoio. Afundei minha língua sem dó no meio de seu sexo quente e melado.
Abria os grandes lábios e sugava o clitóris com prazer. Summer rebolava sem
poder conseguir se controlar.
Passei a língua em seu interior e afundei o máximo que pude: queria
fodê-la daquela forma, apenas com a boca. Voltei a sorver seu ponto mais
sensível, intercalando as carícias eróticas, levando-a ao delírio enquanto ela
fazia o mesmo comigo com aqueles miados de gata no cio.

Foi quando senti Summer se ondular para mim. Ah, como eu adorava
sentir aquela mulher gozando para mim. Se entregando para mim.
Não a soltei até sentir seu corpo se acalmar.

Eu me ergui sem soltar sua coxa, ajeitei o pênis em sua entrada e


introduzi apenas a glande, movimentando-me com lascívia, provocando-a,
fazendo-a implorar por mim. Ah, e ela fazia! Tentava me puxar para que eu
me enterrasse mais e mais nela. Sorria entre os beijos que eu lhe dava.

Ah... eu podia dizer que amava aquela mulher!


— Quer mais, anjo?

— Quero. Me dá mais, Enrico.

— Dou.
Mergulhei novamente naquela gostosura e voltamos a nos devorar
enquanto eu impulsionava o quadril para frente e para trás em uma dança
erótica e sem pausas.

E não parávamos.

Era absurdamente visceral o que sentíamos ao nos entregarmos um ao


outro. Até que não suportei mais e meu peito explodiu, junto com meu gozo
dentro dela.
Era muita emoção que eu sentia ao me completar com Summer.

Beijei aquela mulher com fervor enquanto deixava o prazer me


consumir e continuava a dar pequenas estocadas involuntárias em sua vulva
quente. Eu queria poder gritar o que estava sentindo, mas preferi me calar
para não a assustar.

— Ah, Enrico. É sempre tão maravilhoso...


— Sempre, sempre... Estou tentando me recompor, anjo. Você
detonou minha sanidade... e minhas bolas.

Ela sorriu me beijando.

— Imagine então o que fez comigo, seu lindo.


Saímos do banho e finalmente apresentei meu apartamento a ela da
melhor forma possível, pois transamos em cada um dos cômodos. Nem eu
havia conhecido o lugar daquela forma. Summer se mostrava tão insaciável
por mim, quanto eu por ela.

Fomos nos deitar com os primeiros burburinhos da cidade


despertando para o dia.

Acordei exausta. Não paramos de transar a noite inteira.

Era sempre muito intenso fazer amor com Enrico.

Virei o rosto e o encontrei dormindo de lado, de frente para mim. Um


sono profundo e reparador. Tão lindo que por muito pouco não o acordei para
recomeçarmos tudo mais uma vez. Só não o fiz porque eu não estava me
sentindo muito bem.
Eu estava febril e levei a mão à testa para constatar o calor na minha
pele.

Saí da cama com cuidado para não o acordar. Usei o banheiro,


coloquei minhas roupas e fui até a sala para procurar minha bolsa.
Ela estava perto da porta. Peguei o celular e digitei:

Summer: Enrico, já fui para casa. Preferi não te acordar para te


deixar descansar um pouquinho mais. Você é tão lindo dormindo... ♡♡♡
Podia passar o dia te admirando. Podemos não sair hoje? Podemos deixar
para amanhã? Estou esgotada. Você exauriu todas as minhas forças.
Rsrsrsrsrs. Mas adorei cada parte da noite. Espero repeti-la em breve. ヅ

Deixei para chamar o Uber da recepção do prédio.


Quando cheguei em casa, eu me sentia pior. Resolvi retirar a roupa
ainda úmida e me cobri com uma roupa de dormir completa, com calça de
tecido fino e camisa de mangas longas. Joguei um edredom por cima do meu
lençol e me atirei embaixo das cobertas, caindo logo no sono.

Acordei com tudo escuro.

— Que horas serão?

Eu estava queimando de febre. Estava tão quente que fiquei


preocupada. Ao retirar as cobertas, comecei a bater o queixo de frio, de forma
incontrolável e forte demais. Acendi a luz lateral e tentava me orientar. Fui
caminhando com dificuldade até a sala e peguei meu celular na bolsa, ligando
para o meu pai:

— Oi, vida.

— Papai, eu não estou bem. Acho que estou doente. O senhor poderia
vir para casa?
— O que você tem, Summer?

— Não sei. Estou com muita febre.

— Ligue para Lília. Peça para ela te levar para um hospital, eu já


estou voltando agora mesmo.

— Tá bom, papai.

Desliguei e fiz o que ele mandou.

— Oi, Lília. Você poderia me levar para um hospital?


Nada me faria sair do lado dela

Droga. Droga. Droga.


O que eu havia feito de errado?

Passei a quinta-feira inteira ligando para Summer, mas ela não


atendeu e nem visualizou nenhuma mensagem. Só não ia ao condomínio dela
porque não queria parecer invasivo. E se eu tivesse exagerado?

Mas ela parecia estar gostando tanto... E ela me provocava tanto


quanto eu a provoquei. Eu não forcei nada, em nenhum momento.

Forcei?

Eu já não sabia o que pensar. Puta que pariu.

Quando a noite chegou, fui derrotado pelo cansaço. Resolvi dar um


tempo. Talvez eu a tivesse magoado de alguma forma. Ou talvez estivesse
triste com a nossa iminente separação e precisasse de um tempo sozinha.
Acordei ansioso, ainda sem ter certeza do que fazer.

Praticamente não almocei direito e estava agora sentado no sofá


encarando o número dela na tela do celular. Ah, foda-se, eu não suporto mais.
Se ela não atender até às três da tarde, eu vou lá.

Liguei a primeira vez aquele dia. Chamou algumas vezes e ela não
atendeu.
Desliguei e passei as mãos pelos cabelos. Estava nervoso.

Será que ela tinha ido embora sem se despedir como fez no campo de
treinamento?

Ela não seria capaz. Não dessa vez.


Tentei mais uma vez. As chamadas começaram e ela atendeu.

Ela atendeu?

Finalmente atendeu?
Graças a Deus, ela atendeu!

— Alô, Summer?

— Não. Aqui é o Lúcio.


O Comandante?!

Me coloquei em pé, preocupado. Será que ela sofreu algum acidente


depois que saiu aqui de casa? Só podia ser! Não, meu Deus, não permita isso!

— Boa tarde, senhor. Aconteceu algo com Summer?


— Quem fala?

— É o Soares, senhor. Trabalho para o Carlos, na...

— Sei quem você é, Soares. Por que está ligando para a minha filha?
E por que seu nome está identificado como “Anjo”?
— Senhor...

Não ia ter forma fácil de explicar aquilo. Não sei o tamanho da


enrascada em que eu ia meter Summer, mas eu precisava de respostas.
Eu precisava saber como ela estava.

— Senhor, eu e sua filha estamos namorando.

— Impossível. Ela viaja em três dias.

— Sabemos disso, senhor. Por favor, senhor. Summer está bem? Ela
não me atendeu ontem, estou preocupado.

— Ela esteve muito doente. Ontem à noite foi para o hospital com
uma febre muito alta, mas agora está descansando.

Deixei meu corpo cair no sofá. Eu estava mortificado. Ela estava


doente. Precisou de mim e eu não estive lá para ajudá-la.
— Senhor, eu posso ir à casa do senhor para vê-la?

— Não. Minha filha está fraca, e a última coisa que precisa agora é
de agitação. Se você se preocupa mesmo com ela, finja que ela já voltou para
a Califórnia e deixe-a descansar.

Desligou?
Ele desligou?

Quem ele pensa que sou? Uma criança irresponsável?

Tomei um banho rápido e troquei de roupa, partindo imediatamente


para o condomínio. Passei em um restaurante e comprei um pote de canja
para levar para meu anjo e Lúcio ia ter que entender que nada me faria sair do
lado dela.
Ele querendo ou não.

Cheguei à portaria e reconheci o porteiro. Tive certeza de que ele


também me reconheceu.
— Boa tarde, amigo. Vim ver minha namorada. Summer Mitchell.

— Só um minuto, por favor. Vou avisar que está aqui.

Fodeu. O Comandante não vai me deixar entrar.

Aconteceu o esperado:

— Senhor, infelizmente o senhor não pode...

Larguei o porteiro falando sozinho e liguei imediatamente para o


celular do Comandante.
— Alô. — Ele já atendeu emburrado.

— Boa tarde, Comandante. É o Enrico. Por favor, libere a minha


entrada. Eu vim cuidar da Summer.

— Ela já está sendo muito bem cuidada, Soares. Espere um minuto,


amor... Saia agora da frente do meu condomínio, Soares.

Percebi ele afastar o celular e ainda escutei antes de ele desligar:

— Eu não vou deixar esse doido entrar, Lília. Desde quando a


Summer tem namor...

Puta merda. Puta merda.


Retirei o veículo da entrada do portão e estacionei no meio-fio, ao
lado do condomínio. Não saí de dentro do carro. Tentei ligar novamente para
o celular da Summer, mas apenas chamava. Nem ela, nem o pai, atenderam.
Liguei para o Comandante mais uma vez e ele também não atendeu.
Eu passava a mão continuamente pelos cabelos, sem saber o que
fazer.

Será que se eu ligasse para o Carlos e ele falasse com o amigo...


Inesperadamente, ouvi algumas batidas na janela e vi uma mulher.
Abaixei o vidro e esperei o que ela tinha a dizer.

— Oi, você é o suposto namorado da Summer?

— Não sou suposto, não, dona, eu sou o namorado dela. Meu nome é
Enrico Soares.
— Oi, tudo bem? Meu nome é Lília. Sou namorada do Lúcio. Pode
me seguir com o carro. Deixe o porteiro comigo.

A mulher mais poderosa da porra toda fez o que falou.

Me colocou para dentro e fui seguindo seus passos delicados até ela
parar em frente a uma casa onde o Troller do Comandante estava
estacionado. Parei o carro e fui até ela.
— Não ligue para o mau humor do Lúcio. Ele só é preocupado
demais com a filha.

— Obrigado por me ajudar.

— De nada. Eu conheço a história de vocês. Sei o quanto Summer se


importa contigo.
Acompanhei Lília, mas ela pediu para eu esperar na porta, e ela sumiu
para o interior da casa.

— Você fez o quê?

O grito veio de dentro da casa e foi seguido por passos pesados se


aproximando.
— O que faz aqui, Soares? Eu não mandei você ir embora?

— Senhor, com todo o respeito, eu quero pedir permissão para estar


ao lado da sua filha. Para cuidar dela, para velar o sono de Summer quando
ela estiver dormindo, ou para estar ao lado dela quando acordar. Fazendo
companhia a ela se ela quiser. Senhor, com todo o respeito, eu estou
apaixonado pela sua filha e ela diz sentir o mesmo por mim. E eu só tenho
mais três dias antes que ela vá embora para Califórnia, talvez para sempre,
provavelmente para nunca mais nos encontrarmos. Quero pedir, por favor,
que me deixe ficar ao lado dela nesses dias. Eu não sabia que ela estava
doente. Se eu soubesse, eu mesmo teria levado Summer ao hospital. Eu
trouxe canja para ela, senhor. Eu trouxe...
Senti a umidade na mão que passei pelo meu rosto e só então percebi
as lágrimas que desciam por ele.

— Eu trouxe o meu amor. E se o senhor permitir, juro que terei todo o


respeito e cuidado com ela, mas não me afaste de Summer. Comandante, por
favor, não me afaste da sua filha.

Eu não desviei meu olhar do dele nem por um segundo. Percebi


quando Lília se enlaçou no Comandante e limpou o rosto também.

— Deixe-o entrar, Lúcio — ela pediu baixinho.

— O quarto de Summer é o segundo à esquerda — Lúcio falou,


saindo de frente da porta.

Eu não podia acreditar.


— Obrigado, senhor. Obrigado.

Estendi a sacola de papel com a o pote de canja na direção dele, mas


quem o pegou foi Lília.
Entrei na casa com cautela. Estava silenciosa. Cheguei à segunda
porta e encarei a madeira.

— Ela está dormindo, mas pode entrar. Deixe a porta aberta, só para
deixar Lúcio mais calmo — Lília falou do meu lado.
Essa mulher é espetacular!

— Tá bom. Obrigado, Lília.

— De nada, querido.

Girei a maçaneta e abri a porta bem devagarzinho. O quarto estava na


penumbra. A janela estava aberta, mas as cortinas estavam fechadas,
movendo-se com o ar que entrava e saía.

Vi Summer deitada, dormindo de lado, tão linda...

Fui para o lado da cama e me acocorei ali. Depositei suavemente dois


dedos na palma de sua mão. Não queria correr o risco de acordá-la e falei tão
baixo que tive dúvidas se minha voz realmente saiu:
— Eu estou aqui, amor. Estou aqui e não deixarei que nada mais te
machuque.

Demorei-me naquela posição até sentir a mão em meu ombro e


perceber Lília ao meu lado, segurando uma cadeira. Aceitei e sentei-me ainda
sem desgrudar os meus olhos de Summer. Em dado momento, ela esticou a
mão e segurou a minha, apertando-a inconscientemente.

Mas aquele gesto aqueceu meu coração.


Percebi o Comandante entrar no quarto. Ele me olhava como se
tentasse me analisar com uma máquina de raios-x para descobrir todos os
meus segredos.
— Ela tem que acordar. Tem que tomar o remédio — ele disse e eu
concordei com a cabeça.

Deslizei a mão pelos cabelos de meu anjo, fazendo carinho ao mesmo


tempo que ela despertava com o toque. De forma suave, sem sustos ou
afobação. Summer descortinou suas duas pedras azuis e encarou-me. A
princípio me sorriu como se acordasse de um sonho lindo.
— Eu estou sonhando? — ela perguntou.

Tão linda.

— Não está não, anjo. Está acordada.


— Mas como?

Vi seu sorriso se transformar em angústia e ela olhou para o lado,


encontrando o pai em pé, ao meu lado.

— Papai.
— O Soares já me contou que estão namorando, mocinha. Depois que
melhorar, os dois terão muito o que se explicar comigo.

— Você contou? — ela fez a pergunta a mim.

— Contei, Summer. Foi a única forma de o Comandante me deixar


entrar para cuidar de você. Desculpe se fiz mal.
— Você enfrentou meu pai para ficar ao meu lado?

— Eu enfrentaria o mundo, anjo. Ainda mais sabendo que estava


doente e precisava de mim.

Ela voltou a sorrir com delicadeza.


— Sente-se, vida. Tem que tomar o remédio. Depois volte a
descansar.

— Tá bom, papai.

Ela aceitou o comprimido e o copo de água que o pai lhe entregou.


Tomou tudo, entregando o copo vazio a ele, que saiu do quarto. Ela voltou a
deitar-se, mas, desta vez, segurou minha mão conscientemente e a beijou
várias vezes antes de falar:

— Eu não acredito que enfrentou o Comandante.

— Já disse que enfrentaria o mundo. Eu estava para ficar louco sem


notícias suas. Só pensei o pior.
— Pensou o pior de mim?

— Pensei o pior de mim. Pensei que eu havia magoado você de


alguma forma...

— Nunca! Desculpe não ter te avisado. Eu estava muito mal quando


acordei ontem e foi tudo tão rápido e hoje só fiz dormir e...
— Ei, não precisa se desculpar. Já está tudo bem agora. — Passei
meus dedos pelos cabelos dela. — Descanse, como seu pai falou. Vai acordar
bem melhor. Eu vou estar bem aqui quando acordar.

O rosto dela se aliviou.

— Obrigada.
Seus olhos se fecharam e ela não demorou a dormir novamente.

Acordei e Enrico cochilava do meu lado. Estava todo torto na cadeira,


com os braços dobrados no peito e a cabeça caída para frente.

Percebi outro vulto e olhei na direção da porta. Meu pai estava ali,
parado encarando-nos. Ele tinha cara de poucos amigos, mas não desviava os
olhos. Voltei a olhar para Enrico e o toquei, fazendo-o ficar alerta.
— Oi, anjo. Está tudo bem?

— Comigo sim. Você estava todo torto.

— Não se preocupe comigo, linda. Precisa de algo?

— Não. Acho que vou me levantar e comer alguma coisa.

— Vou esquentar sua canja, vida.

Enrico e eu nos viramos para o meu pai, que abandonou seu posto na
porta do quarto e saiu.
— Ele estava ali há muito tempo? — Enrico perguntou.

— Eu não sei. Quando acordei, ele já estava. E você dormindo.

Sentei-me na borda da cama e passei os dedos pelo seu rosto.


— Desculpe por isso, anjo. Eu estava tão cansado, mal preguei o olho
à noite pensando um monte de besteira.

— Desculpe novamente.

— Não. Não vamos gastar nosso tempo pedindo desculpas. — Ele


também fez carinhos em meu rosto. — Afinal o que você teve?
— Parece que foi uma virose. Como passei o dia ontem alimentando a
febre debaixo de um monte de cobertas, sem comer, minha imunidade baixou
e piorei muito à noite. Mas já estou bem melhor.

— Ainda bem. Devia ter me ligado, eu teria te levado ao hospital.


— Não queria te preocupar. Sem contar que só pensei no meu pai. Ele
é meu herói, entende?

Enrico sorriu para mim.


— Entendo sim, anjo. Melhor colo quando estamos doentes é o dos
nossos pais.

— Pois é. E eu tenho uma ligação muito forte com os meus. Me


espera só um pouquinho? Vou só trocar de roupa, passar um pente nos
cabelos e escovar os dentes. Afinal, não quero assustar meu namorado.

Ele riu alto desta vez.


— O único jeito de me manter afastado daqui será se me pedir para
sair. Enquanto me deixar, eu cuido de você.

Não o beijei para não o contaminar. Não sabia se o que eu tinha era
contagioso.

Voltei e segurei sua mão, puxando-o na direção da cozinha. Meu pai


já havia organizado os pratos à mesa e, em um deles, havia canja, enquanto
os outros dois estavam vazios.

— As panelas estão sobre a mesa, Soares — meu pai começou. —


Janta conosco, certo?

Enrico olhou para ele e assentiu.

— Se não for problema, senhor.


— Nenhum. O seu é esse, raio de Sol. Coma tudinho.

— Sim, papai.

Sentamo-nos um ao lado do outro. Enquanto eles se serviam de algo


mais substancioso, eu já começava a tomar a minha canja. Perguntei animada
para tentar alegrar a mesa:

— Hum, está uma delícia, papai. Foi o senhor que fez?

— Não, foi seu namorado quem trouxe — ele falou, ranzinza.

Olhei de volta para Enrico e ele piscou o olho sorrindo para mim.

— Que bom que gostou, Summer.


— Obrigada, Enrico — sussurrei.

— Agora que estamos todos servidos, já podem começar a me


explicar que história é essa de namoro e desde quando estão namorando.

Nos olhamos mais uma vez e eu comecei:


— Já começamos a nos atrair no campo de treinamento, papai. Mas
foi naquela festa que fui com a Sandra... Eu reencontrei o Enrico lá. Daí
ficamos na festa e de lá para cá temos nos encontrado muito. Ele tem me
mostrado muitos lugares pela cidade.

Meu pai olhou para Enrico.

— Você ficou com a Summer mesmo sabendo que ela era minha
filha.

— Não mandamos em nosso coração, senhor.

— Mas ela vai embora. A casa dela não é aqui.

— Infelizmente, eu sei disso senhor.


— E como é então essa história de namoro? Um namoro que já vai
acabar?

— Resolvemos ser felizes enquanto durasse.

— Feliz como nunca fui ao lado de Travis, papai.


— Você sabe que não estou gostando nada dessa história, não sabe,
mocinha? Tem tudo para você sair magoada disso...

— Sei muito bem, papai. Mas me deixe ser feliz só esses últimos dias.
Obrigada por ter deixado o Enrico entrar. Obrigada. Ele cuida de mim, me
respeita, me faz rir, ama e apoia minha profissão...
— Fala como uma mulher apaixonada — meu pai reconheceu.

Olhei para Enrico e segurei sua mão antes de sorrir para ele.

— E estou.
— Eu também estou, Comandante.

— Me chame de Lúcio aqui em casa.

— Sim, senhor. O senhor pode me chamar de Enrico.


— Eu não quero te ver sofrer, vida.

— Eu vou sofrer, papai. Mas aprendi com um certo Comandante que


não podemos fugir de alguns obstáculos da vida.

Meu pai sorriu com certo orgulho. Abaixou os olhos para seu prato e
continuou comendo. Eu e Enrico fizemos o mesmo, mas a próxima frase fez
ambos se engasgarem.
— Mas eu não quero saber de você comendo minha filha, ouviu bem,
Soares?

— Papai! Pelo amor de Deus!

— O que foi, filha? Só estou tendo uma conversa franca com meu
genro de três dias. Ela está fraquinha e tem que se recuperar. Nem cogite
querer fazer coisas com a minha filha naquela cama.
— Eu quero morrer! — Cobri o rosto com as duas mãos e escutei o
riso vindo do meu lado.

— Sim senhor, Lúcio. Pode deixar. Prometo não fazer coisas com sua
filha naquela cama. E concordo com o senhor. Ambos queremos ver essa
menina bem, logo.
— Muito bem. Vamos, vida. Termine toda sua comida ou
infelizmente vou ter que entrar em contato com Adele e avisar a ela o que
você vem aprontando por aqui.

— Não precisa preocupar a mamãe.

— Queria saber como adoeceu assim.


— Acho que foi porque tomei banho de chuva. Foi tão inusitado e
divertido.

— E veja só que preocupação causou. E tenho que resolver um monte


de coisas no campo.

— Eu não quero ser um fardo, papai. Pode voltar ao trabalho, eu já


estou melhor.

— Eu nunca deixaria você sozinha em casa, filha.

— Eu fico com ela, senhor — Enrico se ofereceu.

— Não sabia que tinha senso de humor, rapaz. — Enrico permaneceu


sério e meu pai percebeu. — Ah, foi uma oferta real? E quando foi que eu fiz
você acreditar que eu te deixaria sozinho com a minha filha na nossa casa?
— O senhor pode não ter acreditado, mas entenda que fui muito
sincero e que minhas intenções com sua filha são reais. Eu não vou brincar
com ela, muito menos magoá-la e nada me dará mais felicidade que cuidar de
Summer e saber que está bem.

— Ah, tá bom. Parem os dois. Eu estou aqui, lembram-se? Papai, o


senhor pode voltar para o seu trabalho pela manhã. Enrico, você fica e cuida
de mim. E se quiser contar para a mamãe, quero estar do seu lado, papai, para
escutar o que ela dirá. Isso será histórico. Acabei! A louça é minha hoje,
papai?
Papai me olhava em um misto de incredulidade, admiração e surpresa.

— Não, vida. Pode deixar aí que já lavo tudo. Vá descansar.

— Estou cansada de ficar deitada. Vou assistir a algum filme. Você


vem comigo, Enrico?
— Depois que eu ajudar seu pai, Summer. Vai escolhendo o que
vamos assistir.

— Perfeito.

Fui para a sala e deixei aqueles dois se entendendo sozinhos.


Mandei uma mensagem para Lília e ela não demorou a aparecer. O
cheiro de pipoca de micro-ondas encheu a casa e nos animamos quando
vimos os dois voltarem da cozinha.

— Oi, amor. Você aqui? — papai perguntou, já se sentando ao lado


da namorada.

— A Summer convidou para a noite de cinema e não pude recusar.


Fiz mal?
— Pelo contrário.

Enrico sentou-se ao meu lado e passou logo o braço pelo meu ombro,
entregando-me a bacia com as pipocas. Encostei a cabeça em seu peito e
apertei o botão para iniciar o filme. Escutei pelo menos duas vezes Lília dizer
baixinho para meu pai: “O filme é na televisão, Lúcio. Preste atenção,
homem”. Tinha certeza de que nesses momentos ele devia estar com os olhos
grudados em nós dois. Apesar de haver uma certa tensão no ar, foi muito
divertido aquele programa, a não ser quando Enrico percebeu minha febre
querer voltar.

— Você está quentinha, Summer.

— Ela não pode tomar nada agora, o remédio dela é só às duas da


manhã.

— Mas se a febre aumentar pode sim, Lúcio — Lília comentou vindo


até mim e levando também a mão à minha testa. — É, está quentinha.

— Gente, vocês estão exagerando. O filme já está acabando. Vamos


terminar.
Terminamos, mas, assim que acabou, foram os três para cima de mim,
me fazendo voltar para o quarto. Meu pai fez Enrico esperar na sala enquanto
eu tomava um novo banho e trocava de roupa novamente. Aff, que pai mais
ciumento! Só depois de estar enfiada embaixo do lençol, ele pôde retornar.

— Você vai passar a noite aqui, não vai? — perguntei e ele arregalou
os olhos, surpreso com o pedido.

— E você sabe me dizer se seu pai guarda armas dentro de casa? Quer
me ver morto?
Eu gargalhei alto e aquilo chamou a atenção de seu Lúcio.

— Está melhorzinha, vida?

— Eu estou bem. Vocês que são preocupados demais.


— E qual o motivo de toda essa animação?

Ele perguntou, bem no momento em que Lília entrou no quarto e veio


até mim, levando a mão à minha testa e conferindo minha temperatura.
— Eu pedi ao Enrico para ele passar a noite aqui comigo, e ele ficou
com medo de o senhor matá-lo.

— Rapaz esperto, filha. É óbvio que ele não...

— Pois eu achei uma ideia excelente, Summer.

Lília cortou meu pai voltando até ele e o abraçando.

— Desde que deixem a porta aberta a noite toda, você pode ficar de
vigília ao lado de Summer, caso a febre volte, certo, Enrico?

— P-posso sim, Lília.


— Excelente. Assim você dorme em paz hoje para aguentar o rojão
do trabalho amanhã, amor — Lília falou já beijando os lábios do meu pai.

— Você sabe que paz não é bem o que eu vou ter sabendo que tem
um homem dormindo no quarto da minha filha, não é, Lília?

— Bem. Eu confio nos dois. Sei que não vão aprontar nada, ainda
mais sabendo que o Enrico quer que a Summer se recupere logo. Não é
mesmo, rapaz?
— Com certeza, senhora.

— Nada de senhora, por favor. E para você ficar bem mais tranquilo,
eu passo a noite com você, amor. O que acha?

— Hum — papai resmungou rabugento, mas rendido pela mulher.


Eu amo a Lília!
— Prometem se comportar?

— Claro que sim, né, papai!

— E não inventem de transar comigo aqui do lado!

— Ai, meu Senhor bom Deus!

Levei a mão ao rosto pela trigésima vez naquele curto espaço de


tempo em que meu pai e Enrico estavam juntos.

— Digo o mesmo para os dois. Não quero escutar nenhum gemido


imoral, Seu Lúcio.

— Olha o respeito, menina.

— Peço o mesmo respeito, papai.


Ele saiu com Lília abraçada ao corpo dele, mas não demorou a
retornar segurando uma caixinha de medicamentos.

— Enrico, este é o remédio que a Summer tem que tomar às duas da


manhã. Mas se ela tiver febre, pode dar 40 gotinhas deste aqui e, se não
passar, não hesite em me chamar.

— Pode deixar, senhor. Cumprirei todas as instruções à risca.

— Obrigado. — Meu pai apertou o ombro de Enrico e depois veio até


a cama e sentou-se ao meu lado, beijando-me os cabelos. — E descanse,
mocinha. Nada de ficar conversando até tarde, ouviu?

— Prometo, papai.

Tive que esperar ele medir minha temperatura e conferir que a febre
havia abrandado com o banho. Me beijou novamente e saiu.
— Não fechem a porta...
— Vai ficar aberta. Prometemos — respondi.

Ele saiu enfim e percebi Enrico colocar os remédios em cima da


mesinha lateral. Depois, programou o alarme do celular para as duas da
manhã. Acomodou-se melhor na cadeira e sorriu para mim.
— O que você está fazendo, Enrico?

— O quê? Vou esperar você dormir, anjo.

— Aham. Aqui, deitado comigo. Por favor, né?

— Como?

— Venha aqui para a minha cama agora.

— Você não tem noção nenhuma de perigo, Summer.


— Eu tenho sim. Nem precisa tirar a roupa se não quiser. Mas eu
quero dormir abraçada a você.

Ele me olhava tentando absorver aquelas palavras.

Finalmente, retirou os tênis, deu a volta na cama e deitou-se por cima


do lençol. Eu me virei e abracei o seu tronco, apoiando minha cabeça em seu
peito. Respirei fundo, absorvendo seu perfume e senti os beijos na minha
testa.
— Agora durma, anjo.

Agora sim eu poderia dormir em paz.


Adeus

Estava sendo muito mais difícil partir do que eu havia previsto.


— Esqueça, querida, ele não vai vir — papai falou e o encarei sem
acreditar em suas palavras.

— Cale a boca, Lúcio. Por favor! — Lília reclamou, puxando meu pai
para o outro lado do saguão do aeroporto.

Abaixei minha cabeça entre os joelhos, passando as mãos por meus


cabelos.

— Ele vai vir. Ele vai vir.

Enrico passou o sábado comigo e cuidou de mim.


Mesmo percebendo que eu estava melhor, ele fez questão de tornar
cada momento daquele dia especial.

Fez uma chamada de vídeo para meu pai e me colocou para falar com
o rabugento. Assim, ele teria certeza de que a filhinha estava bem. Preparou
nosso café da manhã com o que encontrou na cozinha e fez nosso almoço,
também improvisado.

— Que outro tipo de besteira você pensou quando não conseguiu falar
comigo? — perguntei.
— Quer mesmo saber, anjo?

— Claro que quero!

— Teve um momento que pensei que... — Ele ergueu os olhos e


ponderou se me contava. Joguei um pano de pratos nele sorrindo.
— Vai logo.

— Pensei: será que ela voltou para os Estados Unidos sem se despedir
de mim?

— Jura que pensou isso?


— Infelizmente sim. Bem, já havia acontecido antes, então... — Ele
ergueu os ombros e os abaixou derrotado.

Eu toquei o queixo dele, o ergui e olhei em seus olhos:

— Prometo que não vou embora sem me despedir.

— Assim espero, anjo. Ou ficarei ainda mais arrasado do que vou


ficar.

Desviei minha atenção dele. Aquele era um assunto em que eu não


queria tocar.

— O que mais pensou?


Ele riu, aliviando a tensão entre a gente:

— Será que transei tão mal assim que afugentei a mulher?


— Mentira que pensou isso?

— Não, não pensei bem assim, mas fiquei com medo de que, no calor
da empolgação, eu tivesse, sem perceber, te forçado a algo que você não
queria.
— Ah, meu querido! Duas coisas: primeiro, você transa bem para
caralho. E segundo, você nunca me levou a fazer nada que eu não quisesse.

Ele exigiu minha mão e a beijou.

— E o que mais pensou? — voltei a perguntar.


— Acho que foi principalmente isso. O pior mesmo foi ficar
imaginando algum acidente, já que você havia dito que ia pegar um carro
para te levar em casa. Não sei que loucura foi essa até agora. Podia ter me
acordado.

— Você estava tão lindo adormecido.

— Linda e perfeita é você.


Ele passou um dedo pelo meu rosto e eu passei a ponta de meus dedos
pelo dele.

— Sabe o que vamos fazer agora?

— O quê, anjo?
Eu o puxei levando-o até a porta do meu quarto e retirei sua camisa.
Quando eu ia entrando, ele me segurou:

— Não, anjo. Não podemos.

— Não precisa se preocupar, eu já estou bem...


— Não é isso. Eu prometi ao seu pai. Eu prometi a ele que não ia
fazer coisas com você naquela cama.

Ele apontou para dentro do quarto e eu olhei para ele, incrédula:

— Isso é sério?

— Claro que sim. Sou um homem de palavra.

Ele tirou lentamente a camisa que eu vestia, expondo meus seios nus e
me puxou pela mão.

— Mas parece que a casa tem um outro quarto de hóspedes muito


confortável, com outra cama a respeito da qual eu não fiz nenhuma
promessa...

— Ah, como eu adoro homens honrados... e inteligentes...

Ele me guiou até o quarto dos fundos e fizemos amor a tarde inteira.
À noite, recebemos Lília e Sandra em casa, e foi muito divertido. Lília
me garantiu que papai só viria para casa pela manhã e que faria um churrasco
apenas para a gente, no quintal. Ele adorava aquilo, e o faria para minha
despedida.

Enrico aproveitou que as meninas ficaram comigo e foi para casa


tomar banho, trocar de roupa e pegar roupas extras para o dia seguinte.

Ele retornou, e foi impossível não darmos boas risadas quando eu e


Sandra revelamos o nosso plano para a festa de Mayza. Enrico não queria
acreditar quando contamos que nós duas demos plantão na frente da Lynx e o
vimos entrar lá. Ele e Lília rolavam de rir e apenas alguns detalhes foram
omitidos, como eu ter transado com quatro caras e ter sido deixada para trás
por três deles.
— Enrico, você tem que apresentar casualmente o Silva, fora do
ambiente de trabalho, para a Sandra — pedi.

— Pode ser qualquer um dos dois bonitões, meu querido — Sandra


ressaltou.
— Aconselho sinceramente o Silva — Enrico disse. — Ele é um dos
caras mais decentes que conheço na Lynx.

— Foi exatamente o que eu disse, Enrico. Eu quero conhecer mesmo


o Silva.

Rimos todos.
— Faça esse favor, meu querido. Minha irmã precisa parar em um
galho só — Lília divertia-se.

— Tá me chamando de macaca?

— Hum.... Sim!
Ríamos todos.

— Ai, amiga, não queria que fosse embora!

Sandra me abraçou com força. Estávamos no quintal da casa do meu


pai e apenas Sandra bebia uma Smirnoff Ice.

— Mas eu tenho que ir, Sandrinha. Minha vida é lá. Mas eu prometo
que venho nas próximas férias.

— Aham. Daqui a cinco anos novamente?

— Não. Espero que bem antes — olhei encabulada para Enrico. —


Não quero mais passar tanto tempo sem ver meu pai.
— Ele sente muitas saudades de você, Summer — Lília constatou. —
Bem! Está mais que na hora de partirmos, Sandra. Crianças, Lúcio deve
chegar perto das cinco da manhã como sempre. Então cuidado.

Rimos.

— Obrigada por toda a ajuda, Lília. Sei que não conseguiria sem
você.

Eu a abracei com força.

— Não teríamos mesmo — Enrico afirmou. — Sandra, anota meu


contato para eu poder arranjar tudo entre você e o Silva.

— Você vai mesmo fazer isso?

— Claro que vou. Só não garanto nada porque o cara consegue ser
mais sério que eu às vezes.

— Isso é verdade.
— Uau! Vamos ver se eu não consigo fazer o cara sorrir na cama. Ele
vai parecer um abobado por uma semana. Eu garanto.

Eu e Enrico rimos.

— Aff, como sempre ela exagerou na bebida — Lília, vermelha,


tentava justificar, puxando a irmã.

— Tá louca, irmã? Eu só bebi essa garrafinha.

Acompanhamos as duas até a entrada e tranquei a porta. Eu me virei e


joguei meus braços pelo pescoço de Enrico, já o puxando para um beijo.

— Enrico, quero conversar algumas coisas contigo e precisa ser hoje,


enquanto temos privacidade, sem meu pai nos cercando.
— Fale, anjo.

— Eu não... quero que espere por mim.


— Imaginei mesmo que não esperaríamos um pelo outro.

— Não vamos. Eu não sei quando volto.

— Talvez em cinco anos como sua amiga falou?

— Provável. Principalmente se eu conseguir o emprego com a


National Geographic.

— Eu entendo, Summer.

— Caso eu volte antes, e se você estiver com alguém, uma namorada,


noiva ou... quem sabe, mesmo casado, saiba que estarei muito feliz por você.
Ficarei feliz se pudermos nos ver, mesmo que você vá acompanhado, pois
você se tornou, acima de tudo, um amigo querido.

— Eu também ficarei muito feliz em te ver novamente algum dia.


Ficarei feliz se pudermos continuar nos comunicando.

— Isso seria muito legal. Eu adoraria também.


— E, quem sabe, se o trabalho me levar aos Estados Unidos, ali pelos
lados da Califórnia, não poderíamos nos encontrar? Apenas para colocar o
papo em dia.

— Seria muito bom. Me avise se for.

— Aviso.
Nos calamos. Não nos soltávamos. Não desviamos os olhos um do
outro.

— Summer...

— Oi?
— Quando você voltar para casa, você vai retomar o namoro com o
seu ex?

— Eu ainda não sei responder isso, Enrico. Aconteceu tanta coisa em


tão pouco tempo... Mas eu quero conversar com ele. Eu devo pelo menos isso
a ele, antes de tomar uma decisão.
— Entendo.

Eu o beijei lentamente, arranhando meu rosto em sua barba por fazer.

— Faz amor comigo novamente? — pedi.

— Você tem que descansar, anjo.

— Tenho uma viagem de horas para descansar na segunda. Eu só


quero te largar quando meu pai estacionar o carro na garagem.

— Então vamos aproveitar cada minuto, linda.


Ele me escanchou em sua cintura e me levou para o quarto dos
fundos, onde não dormimos nem um minuto.

Só saímos de lá pouco antes de meu pai chegar.

Estávamos nos divertindo muito no churrasco que meu pai


improvisou no domingo. Papai ficava a cada minuto mais impressionado com
a maneira como eu e Enrico nos dávamos bem e como ele era cuidadoso
comigo. Era tudo que Seu Lúcio mais prezava nas pessoas que se
aproximavam de mim.

Até risadas Enrico estava conseguindo arrancar do meu pai. Eu, Lília
e Sandra nos divertíamos com aquela demonstração explícita de papai em
aceitar Enrico perto de mim.

Já era tarde quando Silva apareceu na nossa festinha. Obviamente,


Lília havia advertido meu pai, e ele adorou ter mais um companheiro para
conversar, o que chateou Sandra, pois ele roubava a atenção do boy
pretendido por ela. Entretanto, em vários momentos, conseguimos dar um
jeito de deixar os dois sozinhos e parecia que eles se entendiam muito bem.

Puxei Enrico para o meu quarto e liguei o computador.


— Digite aqui seu e-mail, Enrico.

Ele digitou.

Fiz a seleção das fotos e enviei.


— O que foi isso que enviou para mim?

— As fotos que tiramos nos nossos passeios. Como trabalho com


definição muito alta e são muitos arquivos, enviei um link para você baixar
direto da minha nuvem.

— Ah, obrigado por se lembrar, anjo.


Ele desviou o rosto para o lado e viu minha mala, já bem cheia.

— Começou a fazer as malas?

— Sim. Enquanto você ajudava o papai hoje pela manhã, adiantei


algumas coisas.
— Vai acontecer não vai, Summer?

— Vai, Enrico.

Deixei o computador sobre a cama e me sentei em seu colo,


abraçando-o.
— Sentirei muito sua falta, Summer.

— Eu também. — Respiramos fundo. — Você vai até o aeroporto


amanhã?

— Claro que irei. Que horas é seu voo?

— Às nove e quarenta da noite.

— É claro que estarei lá contigo, anjo. Até o último minuto.

— Obrigada.
Beijei Enrico, tentando saborear cada momento que tinha com ele.

Que não durou muito.

Escutamos batidas na porta aberta e vimos Silva parado ali, segurando


um celular.
— Enrico... o Carlos quer falar conosco.

— O Carlos?

— Sim.
— Vai lá, bonitão. Vou voltar para o quintal — disse enquanto Silva e
Enrico foram na direção do jardim falando no viva-voz do aparelho.

— Cadê seu boy? — Lília perguntou.

— O Silva o chamou para uma ligação do chefe deles.


— Hummmm... Será que teve algum problema?

— Acho que não. Ele está de folga até terça e...

— Summer, podemos conversar? — Enrico me chamou tão sério que


me assustei.
— Claro.

Silva foi falar com quem havia ficado no quintal e eu segui Enrico.
Ele já estava com a mochila que havia trazido na noite anterior nas costas.

Caminhamos até a sala.

— Anjo. Eu infelizmente tenho que ir agora. Eu e o Silva. O Carlos


tem um serviço para nós e não pode ser feito por outros.

— Mas você disse...

— Eu sei o que eu disse, Summer. Acredite, meu coração está em


pedaços.

— E amanhã? Você...?

— Eu prometo que estarei no aeroporto amanhã.

— Você vai correr algum risco nesse serviço?


— Eu não posso falar, anjo.

Eu podia ver o sofrimento em seu rosto.

Abracei-o com força, procurando a todo custo controlar as lágrimas,


mas não consegui mantê-las presas. Ele segurou meus ombros e me afastou
para poder prender meus lábios aos seus em um beijo forte.

— Me espere amanhã.

— Eu vou esperar. Você vai me manter informada se está bem?

— Eu não sei se vou poder, anjo. Se conseguir, aviso sim.


— Tá... tá bom.

— Ei, não chore. Eu vou estar com o Silva, lembra?

— Eu sei.
Vimos Silva e meu pai caminhando em nossa direção. Silva beijou
minha cabeça e se despediu.

— Tenha uma boa viagem, Summer.

— Obrigada, Silva. Tome conta do Enrico.

— Sempre cuidamos um do outro. Não se preocupe.

Segui abraçada a Enrico e vi quando Silva subiu em sua moto e


partiu.

— Se cuide, Enrico. E até amanhã.

— Até amanhã, anjo.

Nos beijamos mais uma vez e ele foi para o carro. Enrico olhou para o
meu pai e acenou com a cabeça. Papai apenas retribuiu o cumprimento da
mesma forma. Me agarrei a meu pai, que estava logo atrás de nós.
— Amanhã será bem pior, vida.

— Eu sei, papai.

Entrei enxugando as lágrimas e fui para o meu quarto terminar de


arrumar as malas.

— Summer, não podemos esperar mais — escutei meu pai.

Ergui o rosto e encarei papai e Lília. Ela demonstrava tanta dor que
não conseguia disfarçar.
— Eu sei.

Levantei-me, e os dois foram ao meu lado até o limite da sala de


embarque. Abracei Lília com muito carinho.

— Obrigada por estar ao lado do meu pai e por cuidar dele com tanto
amor.

— É isso que sinto por ele, Summer. Amor.

— Ai, fico tão feliz por vocês! Esse meu velho merece ser feliz.

— Olhe o respeito, menina!

Foi a vez de abraçar meu pai amado. Ah, como eu amava esse
homem, que me ensinou tantos valores, me apoiou e sempre acreditou mais
que todos em mim!
— Papai, obrigada.

— Pelo quê, vida?

— Por ter aceitado o Enrico lá em casa esses dias. Foi muito


importante para mim.
— Eu sei que foi, meu bem. Fico feliz por ter visto todo o amor que o
rapaz tem por você. Aquele sim é um bom rapaz, não o traste daquele Travis.

Parte de mim concordava.

— Obrigada também por ter me deixado participar do treinamento! O


que eu aprendi lá vai me ajudar muito quando eu for fotografar nos confins
do mundo. E eu me diverti como nunca na vida. E fiz boas amizades.
— Pena que ficou tão pouco tempo, raio de Sol...

— Veja o que me prometeu, Seu Lúcio. É sua vez de me visitar.

— Prometo, meu amor.


— Leve Lília.

— Levarei, vida.

Ele me abraçou novamente e o larguei, sofrendo.


— Até mais, gente.

Acenei e entrei na sala de embarque. Sentei-me em um banco mais


isolado e não conseguia parar de chorar. Não queria acreditar que eu não o
veria mais. Enxugava as lágrimas como podia e, sem que eu esperasse, um
lenço de papel foi estendido na minha direção. Eu aceitei.
— Obrigada.

Ergui meu rosto e encontrei os olhos verdes de Enrico.

— Você veio?
Fiquei em pé pulando em seu pescoço.

— Eu disse que viria.

— O que faz aqui dentro?


— Carlos. Ele tem muitos contatos.

Beijei Enrico com fervor. Aqueles seriam muito provavelmente os


últimos beijos que eu daria naquele homem. Eram beijos tão quentes que não
sabia como os funcionários do aeroporto não chamaram nossa atenção.

— Você está tão lindo com essa roupa.

Lindo mesmo!

De terno completo todo preto e camisa branca.

Ele sorriu e voltou a me beijar.


Não queria conversar.

Apenas nunca mais parar de me beijar.

O alto-falante chamou os passageiros do meu voo e, mesmo assim,


não interrompemos nossos beijos.
— Eu vou sentir tanta saudade, Summer!

— Eu também, Enrico.

— Não deixe de viver seus sonhos, anjo!

— Você também. Volte a estudar.

Uma nova chamada e sabíamos que tínhamos que nos despedir em


definitivo.

— Faça uma boa viagem, Summer. E me avise quando conseguir o


emprego na National Geographic.

Sorri com a certeza que ele passou quando enfatizou o quando.

— Aviso sim.
Nos beijamos novamente tendo a atenção roubada pela última
chamada para o voo.

— Adeus, Enrico.

— Adeus.
Corpos que atraem – Desejos latentes
Pouco mais de sete anos no futuro

Ela estava de volta.

Summer estava de volta a São Paulo.

Só demorou sete anos, mas ela estava de volta.


E não soube por ela. Soube por Lúcio. E por Carlos.

E pelos jornais, TV e sites de programação cultural.

“A renomada fotógrafa, Summer Mitchell, chega a São


Paulo com sua exposição Corpos que atraem – Desejos latentes em
curta apresentação no Instituto Tomie Ohtake. Coquetel de
abertura para a imprensa na próxima sexta, às 19h. Aberta ao
público a partir do dia seguinte.”
Muitos conhecidos nossos estariam presentes. Carlos fez questão de
conseguir convites para a abertura da exposição para todos os que estiveram
com ela no campo de treinamento.

Lúcio e eu havíamos nos tornado bons amigos depois da partida de


Summer e nos encontrávamos ocasionalmente, embora houvesse um acordo
tácito entre nós, nunca verbalizado, de evitarmos falar sobre ela. Ter
mencionado a exposição foi uma das raras vezes em que ele violou essa
regra.

Não sabia como seria sua reação quando me visse.

Não tinha ideia de como seria reencontrar a mulher que roubara meu
coração há tantos anos.

E que nunca me deu notícias suas.


Logo que voltou à Califórnia, ela me escreveu dizendo que tentaria
reconstruir a relação com o namorado. A partir desse momento, nossos
contatos diretos cessaram totalmente.

Por algum tempo, acompanhei sua carreira pela internet, mas aos
poucos aquilo foi se tornando doloroso demais, e parei.

Das poucas informações que Lúcio deixava escapar, pude concluir


que, logo depois, ela decidiu se separar do namorado quando conseguiu ser
contratada pela National Geographic. Em seguida, descobriu que estava
grávida dele, mas resolveu assumir a criança sozinha.
Claro, era fácil notar que era muita coisa ao mesmo tempo
acontecendo na vida dela e que isso até poderia ter feito com que tudo o que
vivemos perdesse parte da importância para Summer.

Mas eu precisava ouvir isso dela.


Eu tinha que olhar nos olhos dela e perguntar: Por que você nunca
mais entrou em contato? Por que você nunca respondeu a uma mensagem?
Por que você resolveu se calar depois de tudo que vivemos?

Eu só queria respostas para aliviar a dor que me perseguia sem


tréguas.
Eu havia mudado no decorrer daqueles anos e foi graças a ela. Queria
que ela soubesse. Queria agradecer.

— Será que ela vai falar comigo? Talvez ela nem te conheça mais, seu
idiota — eu proferi para o cara do outro lado do espelho.

Continuava a me arrumar. Eu queria estar impecável para quando a


visse. Meu Deus, meu coração está acelerado? Levei a mão até o peito e
comprovei que sim. Só de pensar que iria reencontrá-la ele ficava assim.
Mesmo depois de tudo que me fez sofrer com seu afastamento.
— Ela hoje faz o que sempre sonhou, viaja o mundo todo, uma
fotógrafa internacional de talento reconhecido, uma mulher realizada. Não se
iluda, cara. Para ela, você não é mais do que uma recordação apagada de um
momento de loucura, Enrico. Deixe de ser otário.

Eu não cansava de repetir desculpas para mim mesmo em frente ao


espelho.

Sete anos e três meses.


Como será que ela estava?

Linda, certamente.

Vesti meu terno, passei a mão pelo cabelo uma última vez e saí.
Assim que entrei no Instituto, percebi a grande quantidade de pessoas
por todo o grande hall. Eu me misturei a elas e meus olhos foram atraídos
pelo enorme retrato de Summer, que cobria parte da parede ao lado da
entrada de uma das galerias. Ela estava sentada no chão, com as pernas
cruzadas em “X”, segurando uma máquina fotográfica e olhando para a lente
que a fotografava. Seus cabelos estavam presos no alto da cabeça e vestia-se
de forma muito despojada.

Mesmo assim, estava tão perfeitamente linda que esqueci de respirar


por alguns segundos.
Garçons passavam ao meu lado sem parar, servindo bebidas e
pequenos canapés, mas não aceitei nada. Analisava as pessoas, procurava
rostos conhecidos, mas eu principalmente me esforçava, me fixava, em achar
Summer.

Resolvi entrar na galeria, e a primeira foto da exposição era a mesma


que eu acabara de ver ampliada no painel de entrada, revelada nas dimensões
de 15 x 21 centímetros. Estava montada em um quadro de vidro com moldura
preta.

Numa placa abaixo da foto, se lia:

By: A. Mitchell.
– porque o amor transpassa gerações –

Olhei para os lados e me lembrei de ter visto uma representante


comercial da exposição no grande hall. Voltei até o salão e a encontrei
facilmente. Algumas pessoas conversavam com ela e a mulher digitava algo
em um tablet.

— Boa noite — comecei. — Todas as fotos da exposição estão à


venda?
— Nem todas, senhor.

— Aquela primeira foto, a foto dela mesma, está?

Ela consultou rapidamente o tablet.

— Infelizmente, já está reservada.

— Sério? — Puta que pariu, eu queria aquela foto. — Poderia me


dizer quem a reservou? Eu gostaria de ter a oportunidade de tentar persuadir
o comprador...

— Infelizmente não podemos fornecer essa informação, senhor.


— Obrigado, mesmo assim.

Voltei à galeria arrasado. Passei ainda um longo tempo admirando a


foto de Summer antes de começar a percorrer o grande salão. O que me
surpreendeu foi que, foto após foto, tudo o que se via eram partes de corpos
masculinos. Todos nus. Mostrando músculos, suor e... tatuagens.

Era eu!
A legenda na placa dizia:

By: S. Mitchell
– poder acordar ao lado de quem se ama é uma dádiva –

Voltei uma foto e li:


By: S. Mitchell
– o esforço da vida está em levantarmos todos os dias –

Era a panturrilha de um homem em esforço físico, com os músculos


tensionados. Eu voltei mais uma foto e li.

By: S. Mitchell
– com o suor do nosso trabalho, temos o reconhecimento do nosso
talento –

A imagem mostrava o suor escorrer no tríceps completo de um cara.


Percorri todas as fotos que eu já havia visto e confirmei que não havia
nenhuma menção tão íntima como a que havia na minha fotografia.
Voltei à minha foto e observei com atenção redobrada o close nas
minhas tatuagens do peito. A luz dava vida aos animais, o leão e o gorila
pareciam estar respirando.

Era eu.

Era eu e reli a frase com lágrimas nos olhos:

By: S. Mitchell
– poder acordar ao lado de quem se ama é uma dádiva –
Continuei a apreciar as fotos e desta vez lia cada legenda atentamente.
Quando cheguei ao final da exposição, virei-me. Procurava algum porto
seguro, alguém que pudesse me apoiar depois daquele baque.

Vi Silva entrar ao lado de Rodrigues e fui até eles.


— E aí, caras? — cumprimentei.

— Olha quem está aqui! — Silva disse me abraçando e depois


Rodrigues fez o mesmo. — Não sabia que você ia aparecer.

— O Carlos me mandou um convite. Fico feliz que ele tenha se


lembrado de mim.
— Não seja besta, o cara nunca se esquece de você — Silva reforçou.

— Já viu a Mitchell por aí? — Rodrigues perguntou.

— Ainda não. Não deve ter chegado ainda — respondi.


— Ou deve estar cercada de pessoas roubando sua atenção.

Caminhava ao lado deles, enquanto eles apreciavam as fotos da


exposição. Quando paramos em frente à minha foto, Silva virou incrédulo
para mim. Depois apertou meu ombro e disse baixinho:

— Sinto muito, irmão.


— Eu também sinto.

— Sente muito pelo quê? — Rodrigues perguntou. Ele não sabia da


minha história.

— Por nada, vamos continuar — Silva o puxou.


Ao chegarmos ao final da exposição, nós nos viramos para encarar a
galeria que já começava a lotar.
— Vamos voltar para o grande hall? — Rodrigues chamou. — Quero
comer alguns daqueles petiscos.

Rimos com ele.


— Vamos! — Silva concordou e os segui para não ficar sozinho.

Mas, ao passar pela porta que dividia os dois ambientes, meu coração
parou.

No meio do salão, eu vi Summer.

Estava divinamente, fodidamente, completamente deslumbrante em


um vestido social longo e...

Vermelho!

Os cabelos estavam presos e pequenos fios despencavam para os


lados.
Garcia e Raul a abraçavam, e ela estava de costas para nós. Eu
precisei da ajuda de Silva para dar o próximo passo.

— Tudo bem, Enrico? — Ele segurou meu ombro.

— Sim. Tudo, Silva.

— Quer ir até lá?

— Sim. Vamos.

Nos aproximamos e pude escutar claramente Garcia dizendo:


— Ainda bem que você não seguiu a carreira de segurança...

A risada de Summer encheu o salão e o meu peito.

— E como vocês estão? Como estão os meninos?


— O gato aqui está casado — Raul falou apertando o ombro de
Garcia.

— Não diga! Que felicidade! Por que não trouxe a esposa?


Paramos atrás de Summer e vi quando Silva pediu silêncio a eles.

— Porque o Carlos só conseguiu um convite — Garcia respondeu. —


Vim só dar um beijo em uma velha amiga e desejar boa sorte em sua carreira.

— Obrigada, Garcia. E você, Raul?

— Eu o quê?

— Casado também?

— Nada. Trabalhando muito. Tenho tempo para essas coisas não.


Os três riram.

— Ítalo também se casou. Uriel está enrolado. Adam, noivo — Garcia


foi dando informações sobre cada um deles.

— Não diga! Eu jamais imaginaria Adam noivo...


— Pois está, e é um ciúme louco da Márcia — Raul disse divertindo-
se. — Pablo está como eu, solteiro na vida.

— Ah! E o... — Summer vacilou. — E o Enrico?

— Pergunte a ele — Garcia apontou para trás com a cabeça.


Foi visível a tensão que se instalou no corpo de Summer.

Ela virou-se lentamente, e parecia que todas aquelas dezenas de


pessoas haviam desaparecido como em um passe de mágica.

Só estávamos nós dois no meio daquele hall enorme.


— Oi... Enrico.

— Oi... anjo.

— Oi, Mitchell!

Rodrigues se colocou entre nós dois e abraçou Summer com força,


roubando sua atenção. Ela sorriu para ele.

— O que andou comendo, Rodrigues? Está enorme. Está quase do


tamanho do Garcia.

— Quando não estou trabalhando, estou treinando. Participo até de


campeonatos, não é, professor?

Ele virou o rosto na minha direção, com brilho no olhar. Era um de


meus melhores alunos.

Summer olhou curiosa para mim.


— Estou vendo, Rodrigues. Veja esses bíceps! Uau!

— Tem que me ver treinando qualquer dia. Com todo respeito,


Mitchell. E estou estudando para seguir os passos do meu instrutor.

— Não queira conquistar a garota tão rápido, Rodrigues. Já te


explicamos como as coisas funcionam — Raul brincou.
Todos eles riram e eu forcei uma risada também.

— Ficarei pouco tempo no Brasil, mas quem sabe eu não consiga um


tempo para ir te ver, Rodrigues? Vou adorar. Com todo o respeito. — Rimos
mais. — E como você está, meu amigo?

Ela foi até Silva e o abraçou.


— Muito feliz por você. Sua exposição está incrível, Summer.
— Obrigada, Silva. Já viu?

— Sim, acabamos de ver tudo.

— Sandra não veio contigo? Eu enviei convite para ela.

— Vocês não se falaram? — Silva perguntou e ela apenas negou com


a cabeça. — Ela está trabalhando até tarde hoje, mas é certo que ela virá
prestigiar seu trabalho.

— Espero que sim. Vocês estão bem?

— Sim. Muito bem, obrigado.

— Opa, vamos olhar também, Garcia. Summer, coração, vamos ver


suas fotos, depois nos falamos mais. — Raul beijou seu rosto e saiu
acompanhado de Garcia, que fez o mesmo.

— Vamos com vocês — Silva aproveitou a deixa. — Venha,


Rodrigues.
— Vamos olhar as fotos de novo? — O rapaz seguia Silva
contrariado.

— Sim, agora com mais calma. Vamos, vamos.

Eles se afastaram e ficamos apenas nós dois, de volta a um mundo só


nosso.
— Parabéns, Summer. Seu trabalho é incrível.

— Obrigada, Enrico.

— Então... seguiu em frente com a sua vida?


— Segui. Você fez o mesmo?

— Sim.
— Que bom ouvir isso. — Ela olhou para o lado quebrando nosso
encanto e depois voltou a me olhar apontando em uma direção. — Eu tenho
que...

— Sim, vá, por favor. Hoje é a sua noite.


Ela concordou acenando com a cabeça. Antes que se afastasse o
suficiente, eu disse:

— Summer? — Ela virou-se para me escutar. — Você está linda e...


obrigado pela homenagem com a foto.

Ela apenas sorriu de leve e foi encontrar o próximo grupo de


convidados.
Virei-me e entrei vendo meus amigos fazendo graça e conversando
alegres perto de alguns quadros. Fui até eles e, em pouco tempo, outros
amigos se juntaram a nós, incluindo Carlos e Lúcio, que passou rapidamente
cumprimentando a todos. Ficamos conversando por um longo tempo, tanto
que percebemos a galeria se esvaziar.

— É isso, rapazes. Hora de ir — Raul falou e todos eles concordaram.

— Vou só falar com a organização, pois quero comprar um quadro —


falei e eles riram de mim.
— Hum, que quadro você quer comprar? Qual gostou mais, hein? —
Garcia fazia graça comigo e rimos juntos.

— O que dá um close no pau do cara — respondi.

— Você sabe que aquele pau é meu, não sabe? — ele respondeu rindo
mais e fazendo todos nós gargalharmos. Já chamávamos atenção.
— Vai se foder, Garcia. — Eu me despedi de meus companheiros e
eles partiram. Aproximei-me da mesma representante de antes. — Boa noite,
eu gostaria de reservar o quadro de número 4587.

Ela olhou o maldito tablet e, quando ergueu os olhos para mim, eu já


sabia que estava pronta para me dar uma má notícia.
— Perdão, senhor.

— O quê? Já compraram esse também? — respondi sem acreditar.

— Na verdade, esta é a única foto da exposição que não está à venda.

— Você está brincando comigo?

— Não, senhor. Está aqui: o quadro 4587 não está à venda.

Olhei para trás procurando Summer. Ela não podia fazer aquilo. Eu
queria comprar minha foto. Já não tinha quase nenhum convidado no hall.
Voltei para dentro da galeria e a vi conversando com... aquilo era
inacreditável. Ela estava ao lado de Jéssica Lins e Amanda Dantas.
Há quanto tempo não as via...

Aproximei-me e escutei:

— Querida, eu queria estar no seu lugar tirando essas fotos. Puta que
pariu, só caras gostosos — Amanda falou sem nenhum pudor.
— Amanda. Pelo amor de Deus! — O comentário de Jéssica fez as
três sorrirem.

— Com licença. Será que você pode me dar só um segundo, Summer?


— pedi chamando a atenção das três mulheres.

Ela olhava de mim para as duas e de volta para mim, sem saber como
agir diante o meu pedido.
Ao me ver, Jéssica quase gritou:

— Enrico! Há quanto tempo! Como você está, meu querido?

Ela veio até mim e beijou meu rosto e depois me deu um abraço
apertado.

— Estou ótimo, Jéssica. E como estão as crianças? E Alex?

— Estão todos bem.

— Quem veio acompanhando vocês? — Olhei em volta, à procura do


segurança que deveria estar com elas e Amanda respondeu:

— Eu raptei a Jéssica. Estamos sem escolta hoje.

— Aposto que teve ajuda do Gustavo — falei para Amanda, que


sorriu travessa e em seguida comentei carinhosamente com Jéssica: — Mas
acho que Alex não vai gostar nada de saber disso.
— Você os conhece muito bem. E ele não vai gostar mesmo, não é?

Ela sorriu e retribuí o sorriso.

— Vocês se conhecem?

Summer perguntou, ganhando nossa atenção e respondi:

— Jéssica é esposa de Alex Lins, o vocalista da banda Tensão


Elétrica. E Amanda, esposa de Gustavo Dantas, o baixista.

— Uau! — Summer se admirou. — Eu estou sempre tão atarefada


que não reconheci vocês duas. Desculpa.
— Não se preocupe. Então, vamos deixar os dois conversando. —
Jéssica se adiantou em sua alegria sempre presente. — Foi um prazer falar
contigo, Summer Mitchell. Sua exposição está incrível.
— O prazer foi meu, Jéssica. Obrigada.

— Vamos continuar apreciando um pouco mais essas belezuras,


querida. Saiba que sua exposição está estupenda. Estupenda. — Amanda
beijou o rosto de Summer antes de se afastar ao lado da amiga.
— Pois não, Enrico?

— Eu quero comprar o quadro 4587.

Ela olhou para trás na direção do quadro e voltou a olhar para mim.

— Sinto muito. Ele não está à venda.

— Aquele sou eu. Eu quero minha foto.

Ela não alterou a voz:


— Não está à venda, Enrico. Todos vocês assinaram um contrato de
cessão de direito de uso comercial de imagem para as fotos que tirei no
campo de treinamento do meu pai.

— Tem mais algum dos meninos nessas fotos?

— Não, não tem. Todos os outros são modelos profissionais.

— E a sua paixão por fotos da natureza?

— A natureza, os lugares remotos, tudo isso permanece. Esta é apenas


uma outra vertente do meu trabalho, numa pequena exposição itinerante. Em
cada apresentação, cada país, são apresentadas fotos diferentes. Todas de
corpos masculinos.

— E a minha é exposta nessas exibições?


— A sua é a única que está em todas elas. A única que resistiu ao
tempo.
Eu me calei. Era muito duro ter Summer tão perto e tão longe ao
mesmo tempo.

— Posso te encontrar? — pedi. Eu suplicaria se fosse preciso. —


Para um jantar? Um café? Poderia ser agora, eu espero tudo acabar.
— Agora eu não posso, Enrico.

— Não pode ou não quer?

Ela me olhou com muita intensidade. Parecia estar travando uma


batalha interna sem tamanho, como se estivesse prestes a desabafar um peso
enorme.
— Não posso. Sinto muito.

Assenti, sério.

— Tudo bem. Fique com a minha foto. Só me responda uma coisa:


por que você sumiu? Por que não respondeu a nada, não entrou em contato,
desapareceu? Por quê?
Ela abaixou os olhos e se calou.

— Sério, Summer? Sério que vou embora sem respostas?

Ela não ergueu mais o rosto.


Eu me virei para a porta de saída, mas fui pego de surpresa quando
uma mulher loira entrou de supetão na galeria, perseguindo um garotinho que
ria animado. Ele passou por mim correndo, balançando os cabelinhos
compridos e loiros. Estava vestido a caráter, com um pequeno terno completo
e sapatos sociais.

A semelhança com Summer chamava a atenção.

— Mamãe, mamãe. Adivinhe quem comeu toda a comida?


Ele falava em um inglês perfeito e meus olhos viram o momento em
que Summer abaixou-se e suspendeu o menininho no ar, prendendo-o em seu
colo. Summer também respondeu em inglês, e toda a conversa seguinte se
desenrolou nessa língua.

— Deixe-me ver. Você! — Summer beijou o pescoço dele, fazendo-o


sorrir.
— Isso mesmo. Eu e a vovó.

— Muito bem, meu amor.

Eu estava paralisado, com a boca aberta, encarando os dois bem à


minha frente. A mulher loira finalmente alcançou os dois e falou, empolgada:
— Não apenas comeu toda a comidinha, mas também toda a
sobremesa.

— Mas essa foi a melhor parte, vovó.

Summer percebendo o quão atônito eu estava, me chamou e não sei


como me aproximei, mas só lembro de estar ao lado deles.
— Mamãe, este é o Enrico. Enrico, está é Adele, minha mãe.

Ela nos apresentou em português, mas eu respondi em inglês, pois


sabia que a mãe de Summer era americana:

— Muito prazer, Adele.


A mulher ficou boquiaberta e se virou para a filha, sem conseguir se
conter:

— Ele é o Enrico? O namorad... seu amigo de uma semana. O Enrico?

Não esperei Summer responder:


— Sim, sou o Enrico, Adele. Você já ouviu falar de mim?

Percebi seus olhos arregalarem um pouco por ter percebido que havia
falado demais.
— O prazer é todo meu, querido. E sim, eu te conheço.

— Now me, mom[13].

— E este é o Andrew. Andrew, este é um grande amigo da mamãe.

— Hi, Enrico. How are you?

— Em português, Andrew — Summer pediu.

— Oi, Enrico. Como você vai?


A partir daí todos começamos a falar em português.

Ele estendeu o bracinho na minha direção e o cumprimentei. Aqueles


enormes olhos eram de Summer, azuis vivos e vibrantes.

— Estou muito bem, Andrew. É um enorme prazer. E você está bem?


— Estou sim. Acabei de comer. Você já comeu?

— Ainda não. Mas vou jantar assim que sair daqui.

— Aqui perto tem um monte de restaurantes, sabia?


O português de Andrew era muito bom, embora ele tivesse um
sotaque muito parecido com o de Summer.

— Sabia sim. Se já não tivessem jantado, iria convidá-los para me


acompanharem.

— Ah, mas não tem nenhum problema — Adele falou logo,


segurando o menino por baixo dos braços e o colocando no chão. — Eu e o
Andrew vamos para o hotel e a Summer vai jantar com você!

— Mamãe! — Summer deu um gritinho.

— É bom, mamãe. Assim a senhora não fica com fome.

— Andrew! Eu não estou com fome — Summer ralhou com ele.

— Devia estar. Comeu quase nada e só no almoço. Depois fica


pedindo para eu comer tudinho. — O menino cruzou os bracinhos em frente
ao peito.

Vi Summer revirar os olhos.

— Bem, se não formos demorar, posso jantar com você, Enrico. Mas
apenas para que certas pessoas não reclamem no futuro.

Ela olhou para o filho com um canto de olho, depois o encarou de


uma vez e se abaixou para beijá-lo no rosto, fazendo-o perder a pose de
machão.
— Come pudim, mamãe. É muito bom.

— Vou experimentar sua dica, campeão. — Summer se pôs de pé


novamente. — Mamãe, eu não vou demorar. Sabe chegar ao hotel?

— Claro, meu amor. E não se preocupe com nada. Estaremos bem.


— Sei que sim. Até logo. Até logo, Andrew, e não demore a dormir.

Ela beijou a cabeça do filho mais uma vez.

— A senhora viu, mamãe? Minha foto foi a primeira a ser vendida.


— Eu vi sim, meu amor.

— Você gostou da minha foto, Enrico?

— Sua foto?
Eu ainda estava preso no olho do tornado, sem conseguir entender
quase nada do que acontecia à minha frente. Saber que Summer havia tido
um filho era uma coisa. Encontrar aquela criança meiga, espertíssima e
absolutamente encantadora como a própria mãe era outra.

— Sim, vem ver.


Andrew segurou minha mão e me puxou, dono de si. Chegamos perto
da porta que levava ao hall e apontou para a foto de Summer. A foto que eu
queria comprar.

— Eu que tirei.

Ele apontou depois para si, colando seu dedinho no próprio peito.
— Foi você?

— Foi sim. Eu também serei um grande fotógrafo.

— Ou médico, se depender do seu avô — Adele reclamou ao nosso


lado.
— Foi vovô quem comprou minha foto. Por milhões de dólares.

Nós três rimos.

Foi impossível não rir.


— E esses milhões irão todos para sua poupança da universidade —
Summer indicou o destino do dinheiro. — Afinal, até os grandes fotógrafos
têm que estudar.

— Isso mesmo.

— Mas você vai tirar de letra. — Fiquei de cócoras para falar com
ele. — Você é muito inteligente. Quantos anos você tem?
— Seis anos e meio. Quase sete!

Algo estranho aconteceu. Eu já sabia disso, claro, mas ouvir a voz


inocente daquela criança dizer: “quase sete!” provocou uma reação
inesperada na minha mente. Voltou com força a constatação de que ela havia
reatado com Travis assim chegou na Califórnia. E logo depois se separou
dele, teve o filho e seguiu sua vida. Seus sonhos.
Quase sete!

E nesses quase sete anos eu havia sido completamente esquecido.


Nada do que tivemos representou algo verdadeiro.

Summer, meu anjo, agora era mãe de um garotinho incrivelmente


maravilhoso. Engoli em seco e comentei:
— Isso aí. É muito inteligente.

— Sou mesmo, né, mamãe?

— O mais inteligente que eu conheço. Em todos os lugares que


viajamos, nunca vi um menino tão inteligente, Enrico. Agora vá com sua avó
que vou jantar. Depois vou direto para o hotel.

Eles saíram de mãos dadas. Summer acompanhou o filho com o olhar,


e seu rosto ganhou novamente aquela expressão de quem carregava um peso
imenso sobre as costas. Mas dessa vez ela se virou para mim com um ar
decidido:

— Temos muito o que conversar, Enrico.

— Vejo que sim, Summer.


Jantar regado a revelações

Eu tentava.
Juro que tentava disfarçar o nervosismo, mas era quase impossível.

— Sabe mesmo onde é o restaurante que Andrew falou?

— Acho que não é o mesmo em que eles foram, mas é excelente.


Você gosta de comida havaiana?
— Você sabe que gosto de frutos do mar, então, sim, gosto sim.

— Por isso pensei em te levar lá. É bem perto. Infelizmente só não sei
se terá pudim.

— Ah, isso. Não liga não. O Andrew adora conhecer coisas novas e,
quando gosta de algo, quer que a experiência se repita. É algo só nosso.
— Como assim?

— Eu o ensino a viver intensamente tudo o que a vida possa oferecer.


Desde muito novo. Então, quando encontra algo que gosta muito, deve me
mostrar. E todas as experiências que eu gosto eu faço com que ele repita
também. Assim, temos sempre as melhores experiências sendo divididas
entre nós dois.

— Nossa! Que intenso.


— Tudo é intenso com Andrew.

Nos calamos e ele permaneceu caminhando ao meu lado, com o terno


desabotoado e as mãos nos bolsos. Caminhava cabisbaixo e calado, como se
preso em seus pensamentos. Eu caminhava ao lado dele, tentando não pensar
em tudo que eu estava prestes a lhe dizer, olhando-o vez ou outra. Mesmo
com a mente afogada em preocupações, difícil era não olhar para aquele
monumento. Enrico havia ficado mais lindo com o passar do tempo. Controle
a respiração, Summer. Lembre-se como se respira. Dobramos a esquina e
chegamos ao restaurante.

— Sente-se, Summer.
Ele puxou a cadeira e eu me sentei, colocando a bolsa no colo. Ele
retirou o paletó e a gravata, os deixou sobre o espaldar da cadeira e sentou-se
à minha frente. Olhei para os lados e vi como o lugar era movimentado.

— Aqui deve ser mesmo muito bom... Está cheio.

— É sim.
Fizemos os pedidos e Enrico não desviou os olhos de mim depois que
a garçonete se afastou.

— E como andam os rapazes da Tensão Elétrica? — perguntei apenas


para quebrar o gelo.

— Na verdade, não sei. Não sou mais segurança deles.


— Ah, que pena... Foi designado a outros famosos?
— Não. Não trabalho mais como segurança.

— Sério? Mas o que você anda fazendo então? Pelo visto, algo que
continua exigindo bom preparo físico.
Abaixei meus olhos o suficiente para apreciar seu peitoral e seus
braços enormes, que se destacavam na camisa social branca. Percebi tarde
demais que não fui nada discreta e voltei a olhá-lo. Seu cabelo começava a
apresentar alguns fios brancos nas laterais e eu achei aquilo um charme sem
tamanho.

— Não foi o que quis dizer... — falei, desengonçada.

— Sei que não foi. Quando você partiu, segui seu conselho.
Eu não estava conseguindo raciocinar direito. Tentei me lembrar, mas
não consegui:

— Meu conselho? Qual?

— Voltei a estudar. Há um ano e meio me formei e montei meu box


de crossfit. Hoje dou aulas. Todos os seguranças da Lynx fazem exercícios
comigo. E tenho muitos outros clientes, vários deles indicados por seu pai...
Eu não paro.

Eu estava de boca aberta há muito tempo. Ele seguiu mesmo com a


vida. Que lindo! Não trabalhava mais com nada perigoso, graças a Deus, e
estava ainda mais gato do que já era.

Eu estava muito fodida.

Eu não estava ali para isso. Mas ainda não estava preparada também.
Continuava tentando ganhar coragem e resolvi continuar com as amenidades
por enquanto:
— Eu não sabia... Papai e eu nunca conversamos sobre... Por isso o
Rodrigues te chamou de professor!

— Sim. Ele é um dos alunos mais dedicados. Uma graça. Diz que
também vai terminar os estudos para trabalhar comigo no box. Participa de
muitos campeonatos.
— Ah, Enrico. Estou muito feliz por você. Você venceu mesmo na
vida.

— Acho que ainda estou vencendo, Summer. É muito difícil ser


empreendedor no Brasil.

— Imagino, Enrico. E... como anda o coração?


— Muito bem. Faço checapes periódicos. Tenho uma alimentação
muito saudável e, como percebeu, faço muitos exercícios físicos.

Aquilo me deixou um pouco mais leve e consegui até brincar. Apertei


os olhos, fingindo raiva.

— Engraçadinho. Sabe muito bem o que perguntei.


— Estou sozinho, Summer. Neste momento. Tive alguns
relacionamentos durante a jornada até aqui, mas hoje não. Não por enquanto.

Desviei de seu olhar rapidamente. Percebi a garçonete trazer nossa


comida.

— Tenham uma excelente refeição. — A moça se afastou.


— Obrigada.

— Obrigado.

Falamos juntos e sorrimos.


— Que tal você... — Ele parou por um instante. — Como será,
Summer? Eu faço as perguntas ou você simplesmente vai...

— Enrico. É uma longa história.


— Acredito que seja uma história enorme mesmo. De sete anos,
Summer.

— Não será uma conversa nada fácil. Entende isso, Enrico? Não será
fácil para eu contar e não será fácil para você escutar.

— Estou esperando por esta conversa há sete anos, Summer. Eu posso


suportar qualquer coisa.
Ele não suportaria.

Eu engolia a comida deliciosa sem prazer algum.

Respirei fundo, pois a história não era apenas longa, era muito
complicada.
— Quando cheguei em casa...

Maldita hesitação. Força, Summer, você consegue.

— Bem. Primeiro fui matar a saudade da minha mãe e de Maisie.


Contar todas as novidades. Contar tudo o que havia acontecido, em detalhes...
— Em detalhes?

— Em detalhes para as duas!

— Por isso sua mãe me conhece?


— Exato! E claro, não demorou para o Travis aparecer. E tivemos a
grande conversa.

— A grande conversa — ele repetiu.


— Sim.

— E o que resolveram durante a conversa?

— Que iríamos voltar. Eu queria contar tudo o que aconteceu durante


a minha viagem, tinha certeza de que ele jamais aceitaria o que fiz, mas ele se
recusou a ouvir. Tudo o que ele queria era que eu voltasse para ele.

Abaixei a cabeça sem conseguir encará-lo.

— Eu tinha uma vida antes de passar as férias aqui, Enrico. Antes de


te conhecer, será que entende? Só existia o Travis para mim, primeiro beijo,
primeira transa, primeira viagem, primeiro tudo! Fomos namorados de uma
vida toda... Eu tinha que ao menos tentar.
Ele abaixou a cabeça e mexeu na comida

— Eu entendo, sim.

— Aceitei o noivado desde que ele aceitasse minha profissão, caso a


National Geographic me chamasse para o emprego. Lembra-se disso?
— Claro.

Ele se concentrava em escutar e eu me mantinha fixa nele.


Perscrutava cada pequeno movimento que ele fazia.

— Ele aceitou essa condição. Enfim, aceitei o pedido e, apesar de o


meu coração estar sofrendo, ainda me iludia que Travis poderia vir a ser o
homem da minha vida.
— Por que seu coração estava sofrendo, Summer?

— Você sabe muito bem por que, Enrico. — Curvei meu rosto
observando-o melhor. Tinha certeza de que a minha tristeza transparecia
claramente. — Por isso resolvi pôr um fim no meu sofrimento, não te
respondendo mais. Não entrando em contato. Mudando o número do meu
telefone. Sumindo para você. Eu tinha que te arrancar do meu coração. De
uma forma ou de outra...

— E conseguiu?
Não responderia aquilo. Simplesmente continuei:

— Mas logo em seguida eu recebi a proposta da National


Geographic. Eu havia sido contratada.

— Fiquei sabendo disso. Parabéns, Summer. Você é mesmo incrível.


— Obrigada. Mas aí as coisas começaram a acontecer muito
depressa...

As lembranças me invadiam enquanto eu falava. Ele permanecia


atento, como se soubesse que qualquer interrupção poderia me fazer desistir e
sair correndo dali sem olhar para trás.

— Imediatamente a revista me designou um trabalho. Eu iria para


uma floresta na Tailândia acompanhar por dois meses uma excursão feita em
conjunto com o departamento de Botânica da Universidade de Oxford, para
catalogar e documentar diversas espécies de orquídeas. Eu não pude
acreditar.
Ele sorriu com a minha empolgação, mas permaneceu
cuidadosamente em silêncio.

— Aquilo despertou algo em mim. Eu estava a ponto de realizar o


sonho de uma vida, conseguido à custa de muito sacrifício e ao mesmo tempo
a ponto de me casar com um homem que não despertava em mim a menor
paixão. Eu me lembrei de tudo o que havia acontecido aqui, coisas boas,
coisas ruins, mas coisas apaixonantes, cheias de energia e vida. E
principalmente, de você. A maior paixão de todas.

— Então porque você não voltou, ou me chamou, ou pelo menos


entrou em contato?
— Era a minha intenção. Na verdade, tomei duas decisões. Uma,
imediata. Tive uma conversa definitiva com Travis. Dessa vez, sem lhe dar
qualquer esperança. Ele ficou arrasado, mas acabou aceitando. E eu ia
procurar você. Assim que voltasse da Tailândia, ia comprar uma passagem
para o Brasil e surpreendê-lo.

Ele disse, simplesmente, melancolicamente:

— Mas...
— Mas quando a viagem estava chegando quase ao final, descobri
que estava grávida.

— Summer!

Foi impossível não me emocionar. Enrico também lutava para não


deixar as lágrimas caírem, mas elas eram visíveis em seus olhos. Limpei a
primeira lágrima, mas ainda tentava manter o sorriso.

—Aquilo me abalou muito. Resolvi que antes de sequer pensar em


voltar para o Brasil, eu tinha que lidar com aquela situação inesperada. Assim
que voltei para a Califórnia, fui procurar Travis. Expliquei a ele que tinha a
intenção de criar esse criança sozinha, que ela me acompanharia pelo mundo
em minhas viagens, que eu iria preferir que ele não participasse da vida dela.
Ele ficou surpreso, pois nós também nunca transávamos sem camisinha, mas
esboçou o desejo de fazer parte da vida do filho. Mas eu contei sobre tudo o
que acontecera durante a minha viagem ao Brasil e insisti que assim que o
bebê nascesse, fizéssemos um teste de paternidade. A essa altura, a NatGeo
me propôs outro trabalho, e eu resolvi aceitar.

— Puta merda.

— Pois é! Imagina meu desespero. Eu tinha que cobrir algumas fotos


na Alemanha. Acredita?

— E você foi?

— Claro que fui.

— É louca.

— Aquela foi só a primeira viagem do Andrew. Eu tinha contratos


com a NatGeo. Contratos curtos, para fazer poucas fotos, esporádicas. E da
Alemanha fomos para a Dinamarca, depois para a Turquia, até ele nascer na
Grécia.

— O Andrew é grego?
— É sim.

Rimos os dois.

— Bem. Minha mãe foi para lá me ajudar. Ficamos apenas dois meses
e voltamos para os Estados Unidos. Consegui mais dois meses de folga do
trabalho, já que havia adiantado muitas fotos para eles. Quando voltamos,
finalmente fizemos o teste de DNA.
— Isso seu pai deixou escapar. Travis é o...

— Não, Travis não é o pai.

Vi o momento em que os olhos de Enrico se estufaram e ele se


levantou de súbito, levando as duas mãos à cabeça. Ameaçou sair, dando-me
as costas, mas se virou de repente, perguntando:
— Andrew pode ser meu filho? Andrew tem quase sete anos,
Summer. Ele pode ser meu filho?

Limpei mais lágrimas do meu rosto.


— Eu disse que não seria uma conversa fácil, Enrico.

— Por favor, responda.

— Até onde sei, ele pode ser de qualquer um de vocês sete. E é por
isso que eu...

— Puta que pariu.

Enrico socou a mesa, chamando a atenção de muita gente e se afastou


novamente. Tanto, que o perdi de vista.

Pedi a conta e paguei. Eu me ergui, pegando o terno e a gravata de


Enrico da cadeira e caminhei na direção em que ele havia ido. Assim que saí
do restaurante, lá estava ele, a alguns passos, com um braço erguido, apoiado
na parede e escondendo o rosto nele. Aproximei-me e constatei que ele
chorava.
— Sinto muito, Enrico. Sinto mesmo.

— Você errou, Summer. Você errou feio, sabia? Você não tinha o
direito de fazer isso. Não podia ter escondido o nascimento dessa criança.

— Eu fiz o que achei certo, num momento muito confuso da minha


vida. Mas se você me escutar...
— Você tem noção de quanta raiva estou sentindo agora, Summer?
Você tem alguma noção? O Andrew pode ser meu filho. — Ele falou essa
última frase separando palavra por palavra. — Como você pôde saber que
estava grávida de um de nós e não contar nada? Por todo esse tempo ?
— Eu... Eu... Foi um conjunto de situações, Enrico. A vergonha de ter
que descobrir qual entre sete homens seria o pai do meu filho... uma
vergonha tão grande que me levou até a me afastar definitivamente de você.
A constatação de que eu queria meu filho ao meu lado, viajando comigo para
onde fosse, sem ninguém interferindo nisso... Eu não sabia quem era o pai de
Andrew, e isso não parecia interessar naquele momento, nem para mim, nem
para ele. Ele se tornou o meu mundo e eu não precisava de mais ninguém.
Enquanto eu tivesse meu filho junto a mim, tudo se resolveria...

— Você tem noção do quanto isso é egoísta, Summer? Eu quero fazer


um teste de paternidade! O Andrew pode ser meu filho. — Ele repetia aquilo
com tanta emoção na voz. — E se for, eu vou querer fazer parte da vida dele.
— Enrico, por favor eu ainda preciso...

— Eu não acredito que você sempre soube que havia a possibilidade


de eu ser o pai dele e me negou esse conhecimento. Você estava certa,
Summer. Eu não estava preparado para esta conversa. Não estava preparado
para conhecer a pessoa egoísta que você se tornou.

Ele se afastou de mim arrancando das minhas mãos suas vestimentas,


jogou-as sobre o ombro e então deu dois passos para trás. As lágrimas
voltaram a cair.
Enrico veio para cima de mim e me encurralou contra a parede.
Mantinha os dois braços em volta de mim, apoiados no concreto atrás das
minhas costas, deixando-me refém dele.

— Mas eu tinha o direito de saber, Summer. Eu tenho o direito de


saber. E se eu for o pai dele?

Eu estava me sentindo acuada, e aquilo não era bom. Ergui meu dedo
na altura do seu peito e o encostei ali, cuspindo minhas palavras com ódio e
fazendo Enrico recuar alguns passos:

— Ei, vamos deixar uma coisa muito clara: o Andrew é meu filho. Só
meu. Por todos esses anos! Nós não precisamos de ninguém! Somos só nós
no mundo!
Senti as mãos enormes de Enrico segurarem meus ombros, e seu
corpo me conduziu para trás. Assustei-me com a sua agressividade e só
percebi tarde demais quando ele me colou na parede e senti seus lábios nos
meus.

O homem me roubou o beijo, e eu não consegui oferecer nenhuma


resistência, pois, assim que ele aprofundou o beijo e enfiou a língua em
minha boca, eu me rendi, deixando minhas mãos penderem para os lados,
mole e possuída por ele.

Enrico se afastou por um momento e eu não reagi. Ambos tínhamos


lágrimas nos olhos e respirávamos desconcertados.
— O que foi isso? — perguntei.

— Um beijo. Faz tanto tempo assim que não beija ninguém?

— Nem lembro qual foi a última vez que fui beijada à força.

— Eu te beijei à força? Parecia bem à vontade chupando minha


língua.

Que cachorro... lindo... Porra, Enrico. Por que faz tudo ser mais
difícil do que já é? Passei minhas mãos por cima das mangas de sua camisa,
sentindo os músculos dele. Cheguei a seus ombros largos e envolvi seu
pescoço, finalmente sentindo o calor que vinha daquele corpo bronzeado. Tão
diferente do meu.

— Tem uma coisa que eu não consegui falar... — disse baixinho.


Senti seu corpo se tensionar.

— Ainda tem mais?

— Tem, mas disso acho que você vai gostar...

— Será?

— Na verdade, há algum tempo eu tenho pensado em parte do que


você disse. Não acho que Andrew precise de um pai. Mas ele está crescendo
e está chegando a uma idade em que vai começar a ficar curioso. E à medida
que o tempo passa, fico pensando o que vou dizer a ele quando me perguntar
diretamente quem é o pai. E eu resolvi que ele merece saber. Isso poderá
revelar uma página do meu passado que pouquíssimas pessoas conhecem,
mas a felicidade do meu filho é mais importante. Por isso eu vim para o
Brasil. Para descobrir quem é o pai do Andrew.
Ele me olhou, boquiaberto:

— E por que você me deixou pensar que você não queria...?

— E você me deixou falar? Mas eu vou precisar da sua ajuda para


conversar com todos os rapazes.

— Vamos descobrir quem é, querida. Andrew merece saber. O pai


merece saber.

Assenti.

— Eu tenho que ir embora.


— Vai me passar seu contato?

Retirei minhas mãos de Enrico e puxei o celular, entregando a ele.

— Coloque seu número — pedi.


Ele o fez e eu enviei uma mensagem para ele.

— Obrigado, Summer. Venha, vou te levar até seu hotel.

— Não precisa, eu vou de táxi.

— Eu te levo! Por favor.

Respirei fundo ainda tentando absorver o que havia acontecido


naquela noite. Assenti, concordando com a carona. Caminhamos até o carro
dele e entramos.

Meu hotel não era longe de onde estávamos e logo chegamos lá.
Quando já ia descer, ele segurou meu pulso e, assim que me virei, puxou-me
pela nuca, para mais perto de seu rosto. Minhas mãos foram quase de forma
involuntária para seu ombro e desta vez fui eu quem o beijou. Provando os
lábios dele, devorando sua língua e deixando que devorasse a minha.

— Estava com saudade dos nossos beijos de boa-noite, anjo... Até


logo.

— Até, Enrico.
Quando entrei no quarto, minha mãe e meu filho já dormiam. Eu me
deitei e abracei o corpinho de Andrew, que dividia a cama comigo. Ele
reclamou do meu aperto e o soltei um pouco. Tudo o que eu queria era não o
largar nunca mais e protegê-lo de qualquer mal.

Enrico quisera a todo custo fazer o teste de paternidade o mais rápido


possível, como se ansiasse que Andrew fosse seu filho. Ele sempre foi
honrado e eu não entendia por que estava tão surpresa. Aquela seria uma
atitude típica dele.

Como aquele beijo.


Toquei de leve meus lábios, lembrando a maciez do beijo delicioso.

— Boa noite, meu amor.


Um dia de conquistas e risadas

Acordar aquele sábado foi diferente. Minha mente vagou até Summer
e Andrew. Meu peito doía ao imaginar que eu poderia ser pai e que perdi os
primeiros anos do meu filho.
— Um filho. Será mesmo real?

A manhã inteira, enquanto treinava meus alunos, eu precisava me


cobrar atenção, pois meus pensamentos fugiam com facilidade, voando até os
dois. E, por isso mesmo, sabia que não suportaria ficar longe deles por muito
tempo. Tinha que vê-los à tarde.

Já estava prestes a sair, mas a sensação não me abandonava. Eu passei


o dia sorrindo como um bobo e fazendo mil planos para tentar mudar o
passado. Não apenas em relação ao meu possível filho, mas em relação a
Summer também.
O beijo que demos foi muito especial e fez renascer antigas chamas,
como se a brasa estivesse apenas adormecida e, quando nossas bocas se
tocaram, foi como jogar álcool: nos incendiamos...

Morava em um pequeno apartamento em cima do meu box. Passei por


ele rapidamente apenas para me trocar. Analisei o tempo e estava feliz por
parecer que não ia chover. Estacionei e fui quase saltitante para dentro do
prédio.

Assim que entrei vi várias pessoas caminhando pelo hall e Summer


dava uma entrevista a uma emissora de televisão. Ela não me viu entrar e
caminhei com calma até onde Adele estava, com Andrew em pé à sua
frente.

— Boa tarde, Adele. Boa tarde, Andrew.

— Good Afternon[14] — responderam, e rimos os três.

— Desculpe, querido, é o hábito.


— Não peça desculpas por isso, Adele.

— Veio falar com a minha mãe? — Andrew perguntou.

— Acho que ela não vai poder conversar, Enrico... Ela tem mais umas
duas ou três entrevistas pela frente — Adele comentou.
— Uau! Bem, mas respondendo à sua pergunta, Andrew, vim em
outra missão. Imaginei que Summer estaria bem ocupada com a exposição,
então, gostaria de saber se querem dar uma volta pela cidade. Vocês dois.

Os olhos de Andrew se arregalaram e ele abriu a boca em um grande


sorriso. Virou para a avó e, sem que ele dissesse nada, ela soube interpretar a
alegria viva do garoto.

— Vamos ter que perguntar à sua mãe, mocinho.


— Isso mesmo, Andrew. Nem imaginei que fôssemos sem a
autorização dela — concordei com Adele.

Esperamos mais alguns minutos e percebemos Summer


cumprimentando e se despedindo do repórter e do operador de câmera.

Sem que eu ou Adele esperássemos, Andrew correu até onde Summer


estava e a puxou pela mão, apontando para mim animado, mas ela perdeu
parte do sorriso quando me viu parado ao lado da mãe.
— Oi, Enrico. O que faz aqui?

— Pede, pede, Enrico. Mamãe vai deixar.

— Pedir o quê, Andrew? — Summer falou diretamente para o filho.

— Eu imaginei que, se você estivesse muito ocupada hoje à tarde...


Eu... Será que eu poderia levar Adele e Andrew para passearem um pouco
por São Paulo?

Minha frase a atingiu como se eu estivesse executando um sequestro.


Ela imediatamente abraçou o menino pelo peito e o puxou para perto de si,
colocando-o em suas pernas. Não respondeu logo, mas seu olhar foi até a mãe
e Adele apenas acenou positivamente em silêncio. Summer virou o rosto para
mim e perguntou:

— Aonde você pretende levá-lo?

— Pensei em levá-los para ver o lago das carpas coloridas no


Pavilhão Japonês no Ibirapuera ou à Casa de Pedra. Acho que Andrew iria se
divertir muito. Amanhã pela manhã poderíamos ir os quatro até a Avenida
Paulista. Aos domingos, ela fica fechada para os carros e aberta para passear,
com muitos grupos musicais se apresentando e podemos fazer algo juntos.

— Deixa, mãe. Por favor.

— Mamãe, a senhora toma conta dele?


— É claro, meu amor.
— E eu também estarei lá. Você se lembra qual era a minha profissão
quando nos conhecemos? Sabe como sou cuidadoso e responsável, né?

— S-sei sim. É só que... Muito bem, podem ir.


Ela olhou para baixo encarando a felicidade do filho, que não parava
de dar pulinhos e rodopiar, fazendo esvoaçar seus cabelinhos loiros.

— Mas voltem cedo. Andrew janta sempre antes das oito, Enrico.

— Prometo trazê-los antes.

— Tá bom. Então podem ir.

Andrew puxou Summer, afastando-se dela apenas um passo e a fez se


abaixar para que ele falasse no ouvido dela. Summer sorriu, carinhosa, e
beijou a cabeça do filho antes de voltar a ficar em pé:

— Pode deixar, eu falo com ele. — Voltaram e, desta vez, foi ela
quem me convidou para nos afastarmos de Andrew e Adele. — O que você
está aprontando?
— Eu? Nada!

— Que ideia é essa de levar o meu filho para passear?

— Melhor do que deixar o garoto o dia todo aqui dentro trancado,


não? Ele é uma criança. Quer brincar e...
— Há muito poucas chances de ele ser seu filho, Enrico. Você não
tem que fingir gostar dele ou fazer algo para agradar e...

— Summer, não me ofenda, por favor. Eu não mereço. Não estou


fazendo isso para agradar ninguém, conquistar ninguém ou provar nada a
ninguém. Faço isso porque quero, porque, independentemente de qualquer
coisa, eu adorei o moleque, a inteligência dele e... Puta que pariu, como eu
queria te beijar!

Passei meu polegar por seu rosto e vi seus pelos se arrepiarem.

— Está louco?

— Acho que sempre fui. Vai dizer que também não está louca para
me beijar?

— Não, claro que não...

— Seus olhos dizem o oposto disso.

Ela não parava de fitar meus lábios e eu sorria.

— Traga meu filho são e salvo, ouviu?


— Sim, senhora.

— E tem mais. Ele falou para eu te pedir uma coisa.

— O quê?
— Ele pediu que... Bem, se ele precisar ir ao banheiro, se você
poderia acompanhá-lo.

— Como é?

— É porque quando ele sai com a minha mãe, ela o leva sempre ao
banheiro feminino para ele poder fazer as necessidades, e ele diz que tem
vergonha. Sempre quer usar o banheiro dos homens, então... — Summer fez
movimentos divertidos com as mãos em frente ao corpo. — Como você
também é homem, se ele precisar, poderia acompanhá-lo dentro do banheiro
masculino. Não precisa entrar em pânico. Ele já sabe fazer tudo sozinho, não
é nenhum bebê que precisa trocar fraldas.
Ela emendou a fala como um foguete e eu apenas ri quando ela
acabou, jogando uma dúvida para ela imediatamente.

— Você falou que, quando ele sai com a sua mãe, ela o leva ao
banheiro feminino.
— Isso.

— E quando ele sai com você, você não faz o mesmo?

— Claro que não. Eu respeito os pedidos do meu filho.

— Você vai com ele para o banheiro masculino?

— Sim. O quê? O que está passando por essa sua cabecinha, rapaz? O
Andrew me avisa quando não tem homens lá dentro. OK? E quando estamos
dentro, eu tranco a porta para que nenhum entre de surpresa.

— Mas vai dizer que nunca entrou com ele apertado e...
— Já! Tá bom? Era isso que queria escutar? Já peguei alguns caras
mijando enquanto entrava com meu filho no banheiro de um shopping.

Explodi na gargalhada chamando atenção de algumas pessoas.

— Eu daria tudo para ver isso — falei ainda rindo.

— Tenho certeza que sim. O tempo passa e você continua sendo um


depravado.

— Não sou depravado. Me respeite.

Estávamos os dois nos divertindo.


— Enrico, você promete mesmo que vai cuidar do meu filho?

A voz dela saiu apreensiva. Summer se mostrava uma mãe cuidadosa.

— Com a minha vida, anjo. Não se preocupe.


— Eu vou me preocupar, sou muito protetora.

— Percebi. Voltamos antes das oito para ele poder jantar.

— Tá bom. Obrigada por se preocupar com ele e por querer levá-lo


para passear.

— E amanhã você poderá passear conosco?

— Vamos ver. Não prometo nada.

Voltamos aos dois que nos esperavam e depois de uma série de


recomendações de cuidados, partimos.

Fomos direto para a Casa de Pedra e, assim que chegamos, Andrew


explodiu em alegria. Era um lugar temático com muitos muros de escalada
para crianças e adultos, sem contar os ambientes próprios para outras
atividades físicas. Eu o acompanhei vestindo a cadeirinha de segurança nele e
segurei sua mãozinha para ajudá-lo na atividade.
— Adele, você pode nos dar licença agora? Vamos escalar alguns
paredões super perigosos, não é mesmo, amigão?

— Yes. Let’s go![15]

— Em português, Andrew! E tenha cuidado. Escute tudo que o Enrico


falar e não saia de perto dele.
— Sim, senhora.

— Não se preocupe, Adele. Eu cuido dele. Se quiser vir conosco, é só


vestir uma cadeira de segurança também.

— Nem em sonhos, meu rapaz. Podem ir, vou ficar olhando.


Parti sem me desgrudar do garoto. Expliquei como tudo funcionava,
como prendia a corda, como ele fazia para escalar, onde pegar, onde colocar
os pezinhos e a atenção que dedicava a todas as minhas recomendações era
impressionante. Ele apenas balançava a cabecinha e repetia tudo com uma
precisão que me assustava. Eu estava fascinado por sua desenvoltura e
concentração.

— Vamos tentar? Eu vou ficar aqui te ajudando.

— Você não vai sair daí, vai?

— Não vou, prometo. Vou ficar segurando sua corda. Não se


preocupe com nada. Se por acaso se cansar ou escorregar, não vou te soltar.

— Tá bom.
Ainda inseguro, ele começou a subir e teve que recomeçar umas duas
vezes até se sentir confiante para avançar mais que um metro e começar a
escalar o paredão com firmeza. Eu o ajudei a escalar vários paredões
diferentes e, em pouquíssimo tempo, ele já estava se enturmando e fazendo
amizades. Era tão espontâneo e cativante quanto a mãe.

Depois de algum tempo, vendo Adele sozinha, pedi a um monitor que


acompanhasse Andrew enquanto fazia companhia a ela. Aquilo foi mais
difícil do que imaginei: eu me senti horrível ao deixá-lo. Confiar a segurança
dele a outra pessoa era de fato um desafio. Só saí de perto quando o instrutor
me passou confiança total.

— O Andrew te cansou? — Adele perguntou, assim que eu me sentei.


— Impossível. Eu passaria a semana inteira ao lado dele e não
cansaria um minuto.

— Queria ver isso na prática. Aquele menino tem mais energia que
eu, você e Summer juntos.

— Não duvido.

Eu não tirava os olhos do garoto, que ria ao subir a parede ao lado de


um novo coleguinha.

— Ele é lindo, não é, Adele?

— É sim. Summer sabe criá-lo muito bem.

— Pensei que ela não fosse deixar que ele saísse comigo.

— Ah, aquilo? É que Andrew nunca teve a presença de nenhum


homem na vida, Enrico. Summer guarda o menino em uma caixinha. Ele só
convive comigo, ela e a Maisie.

— Maisie?
— Sim, a madrinha dele. Andrew só vê o avô Lúcio muito
esporadicamente. Você foi o primeiro homem que Summer permitiu que
levasse o filho para um passeio...

— Mas ela não apresenta o menino aos namorados?

— Não. Ela mantém tudo bem separado na vida dela. E sendo muito
sincera, minha filha praticamente não tem tempo para relacionamentos mais
sérios. A vida da Summer são as viagens, as fotografias e Andrew.
— Poxa. Não sei se fico feliz ou triste ao ouvir isso... — Olhei de
lado, quase envergonhado ao dizer aquilo em voz alta. — Mas tenho que
admitir que mais feliz que triste.

Adele apenas sorriu para mim.

— Adele, o Andrew fica com você quando a Summer precisa viajar a


trabalho?
— Entenda uma coisa sobre a Summer e o Andrew, Enrico. Eles não
se desgrudam. Ele sempre viajou com ela, desde bebezinho. Muito raramente
ela se separa dele. Acho que conto nos dedos de uma única mão as viagens
que Summer fez e deixou Andrew comigo.

— Mas isso não é loucura?


— Talvez. Mas convença minha filha do oposto.

— E como ela faz com a escola dele?

— Tutores on-line. Ele sempre estudou assim. Até aqui ele tem aulas
on-line.
— Mas e amigos? Quando o menino fará amigos? — perguntei
angustiado.

— Lembra do que falei? Ele só convive comigo, Maisie e a mãe.

Olhei para o menino que se divertia com as outras crianças. Ele


merecia uma infância repleta de amigos.
Mas quem era eu para me meter na criação do filho da Summer?

— Adele, ela lhe contou sobre os possíveis pais?

— Sim. Summer me conta tudo. Inclusive que você insistiu em fazer


o teste de paternidade antes mesmo de ela propor isso. O que você espera
desse teste, Enrico?
Virei meu rosto em sua direção encarando aqueles olhos azuis que
conhecia tão bem em Summer e também estavam presentes no pequeno
Andrew.

— Eu espero sinceramente que ele seja meu filho, Adele. Nunca


desejei tanto algo na minha vida. — Ela apenas abriu um pequeno sorriso. —
Sabe, vai parecer estranho o que vou falar, mas... Não, melhor não falar nada
ainda.

— Pode dizer, por favor. — Ela segurou minha mão e senti muito
carinho e conforto com aquele gesto.
— Eu ia dizer que já o amo. De alguma forma, que não sei explicar, já
o amo. Isso me dá alguma certeza de que ele é meu filho.

— Ah, meu querido. Isso é lindo, mas não seria melhor esperar o
resultado?

— Sei que seria o melhor a fazer, mas como controlar nosso coração,
Adele? Acho que basta saber que aquele menino tão esperto vem dela para...
Parei e abaixei a cabeça.

— Você ainda ama a minha filha, Enrico?

— Ainda? E eu deixei de amá-la, Adele? Vivi outros amores, dormi


com outras mulheres, acho que procurando esquecer, procurando respostas,
tentando substituir esse sentimento aqui dentro, e pensei que havia
conseguido. Mas foi só receber aquele ingresso e começar a ler sobre o
retorno dela que meu coração começou a se descompassar novamente. Você
deve me achar um idiota, não é mesmo?
— Como eu acharia um homem que ama a minha filha um idiota,
Enrico?

Vimos Andrew se soltar da corda e disparar em nossa direção. O


monitor nos olhou e nós acenamos, indicando que estava tudo em ordem. Ele
veio correndo, passando pelas pessoas e gargalhando, eufórico, até que, de
repente, foi ao chão, caindo e quase batendo a cabeça. Eu pulei do banco,
aflito, mas Adele segurou meu braço.
— Calma. Calma. Só um segundo antes de entrarmos em pânico na
frente do Andrew.

Assim como ele caiu, levantou-se rápido, bateu os joelhos e voltou a


correr até nós, ainda com o sorriso no rosto.
— Vocês viram? Eu subi até o topo! Sou o rei do Universo!

— Eu vi, meu amor. Acho que sua mãe vai ficar tão orgulhosa —
Adele falou satisfeita e Andrew ergueu os braços no ar.

— Você não se machucou? — Eu me abaixei para conferir se o


menino estava inteiro e ele me olhou esquisito.
— Com o quê?

— Com a queda que acabou de levar?

Eu apertava todos os dedinhos de suas duas mãos.


— Não, só ralou um pouquinho o joelho, mas quando chegar em casa,
mamãe dá beijinho e passa. Por que você está rodando meus dedinhos?

— Estou conferindo se não quebrou nenhum osso. Deixa ver agora os


braços e pernas.

Fiz movimentos divertidos com ele, fazendo rodar e dar cambalhotas


assistidas por mim. Ele ria ainda mais. Depois de movimentá-lo todo e
arrancar muitas risadas, que eu descobri que amava, finalmente me convenci:
— Está inteiro. Certeza absoluta, não quebrou nada. Já pode escalar
mais paredes.

— A senhora sabia que era assim que conferia se o osso está


quebrado, vovó?

— Eu acho que não é bem assim, Andrew. Mas eu concordo com


Enrico: acho que não quebrou nada. — Adele se divertia tanto quanto o
menino. — Antes de voltar, beba mais água. Não pode ficar desidratado.

Ele bebeu e depois me fez abaixar e falou no meu ouvido.


— Será que você pode ir comigo até o banheiro?

— Claro que sim. Voltamos logo, Adele. Não escale nenhuma parede
sozinha, espere por nós dois.

— Isso mesmo, vovó.

Saímos de mãos dadas e, assim que entramos no banheiro, eu o ajudei


a retirar a cadeirinha de segurança.

— Quer ajuda, amigão?

— Não. Sei fazer xixi sozinho. É só porque mamãe fala que não posso
vir sozinho, pode ser perigoso.
— Ela tem razão, vou ficar aqui fora, na porta. Tipo um guarda-
costas. Não vou deixar ninguém entrar.

— Tá bom. Mas acho que não precisa. — Ele se divertia.

Quando acabou, foi até a pia e embora eu soubesse que ele seria capaz
de alcançar a pia destinada às crianças, fiz questão de o erguer para ajudá-lo a
lavar as mãos. Qualquer oportunidade de sentir seu cheirinho gostoso era
muito bem-vinda.
Ele de fato já era especial para mim.

Enxugamos as mãos e saímos.

— Meninos, acho que já temos que ir. Já está tarde — Adele chamou
nossa atenção.
— Ainda não, vovó. Aqui é muito legal.

— Querido, já faz horas que está brincando.

— Horas? — Até eu estava admirado. O tempo ali voava.

— Sim. E Summer não vai ficar nada feliz se você jantar muito tarde.

— Então podemos ficar só mais um pouquinho e jantar antes de ir


para a mamãe — Andrew pediu e nós dois fizemos cara de pidão.

— Vão logo os dois. Vou ligar para Summer e avisar que vamos
jantar quando sairmos daqui. Sei que a bronca vai sobrar para mim. Vão logo,
estão esperando o quê? Só mais meia-hora.

Peguei Andrew no colo e saí correndo com ele para o paredão infantil
mais próximo. Queria aproveitar muito com ele aquele tempinho a mais que
nos foi concedido.

De lá, fomos jantar em um shopping próximo e partimos para o


Instituto chegando lá quase às nove horas da noite. Ao estacionar, percebi
Andrew dormindo no banco de trás, junto a Adele.
Eu o peguei no colo, levando-o preso ao meu ombro, até entrarmos e
encontrarmos uma Summer muito irritada. Assim que nos viu, ela veio
correndo e nos encontrou ainda na entrada.

— O que ele tem? — Ela pousou uma mão nas costas de Andrew.

— Está exausto. Dormiu — respondi.


— Exausto? — Ela não entendia.

— Sim, filha. Andrew não parou de brincar a tarde e a noite toda. Só


parou mesmo quando nos sentamos para jantar e, mesmo assim, não parou de
falar das aventuras do passeio.
O olhar de Summer passeava entre Adele, Andrew e eu.

— E ele se alimentou direitinho?

— Claro! O que foi mesmo que ele comeu, Adele? Salgadinhos,


batatinhas fritas e sorvete?

Summer abriu uma boca enorme de surpresa e arregalou os olhos


encarando a mãe. Adele soltou uma risada:

— Claro que não, filha. Jantamos direitinho. Nada de porcarias.

— Faz isso para me provocar, não é, Enrico?

Ela ainda estava brava. Ficava muito sensual assim. Imaginava aquela
gata brava na cama, usando as unhas...

Porra, para de pensar em sacanagem, cara!


— Me entrega ele, Enrico. Vamos embora. Estou esperando vocês há
um tempão.

— Eu levo vocês.

— Não precisa...

— Eu levo vocês. Por favor, Summer.

Ela demorou a concordar, mas aceitou. Esperei que ela entrasse no


banco de trás e deitei o menino em seu colo, enquanto Adele se ajeitou no
banco da frente. Dirigi em baixa velocidade. Não queria passar por nenhum
imprevisto ou ter que frear de surpresa e correr o risco de machucar Andrew.

Estacionei em uma rua paralela e, sob protestos de Summer, carreguei


Andrew dormindo em meu colo novamente. Chegamos ao andar e era Adele
quem me convidava o tempo todo.
— Por aqui, Enrico.

Foi ela quem abriu a porta, e eu entrei no quarto espaçoso. Só havia


uma cama de casal e uma de solteiro.
— Pode colocá-lo na cama de casal — Summer pediu. — Ele está tão
cansado que vai dormir sem banho. Nunca tinha visto esse menino tão
esgotado.

— Tinha que ter visto o Andrew brincando, filha. Tão feliz! Tirei
inúmeras fotos para te mostrar.

— Ah, jura? Quero ver todas.


— A que horas amanhã, Adele?

— Umas nove está bom, querido?

Summer ficou inquieta:


— Amanhã? O que tem amanhã?

— Amanhã vamos para o nosso passeio na Paulista — Adele


informou.

— Ei, esperem aí. Não combinamos nada.

Eu a lembrei:

— Mas falamos disso hoje à tarde, antes do nosso passeio!

— Não, não, não. Você apenas comentou, eu não aceitei nada.


— Mas, filha... Andrew está tão empolgado com esse passeio
amanhã...

Adele atuava como uma cúmplice, apoiando-me em tudo que eu dizia.

— Mas, gente! Eu já combinei com o papai que vamos almoçar na


casa dele...

Adele foi pega de surpresa:

— Eu também?

— A senhora também.

— Ah, então está decidido: vamos passear com o Enrico pela manhã e
depois vamos todos juntos para esse almoço. Se vou ter que aturar o traste do
seu pai, pelo menos quero me divertir antes. Enrico me prometeu que vai
levar um skate para eu aprender a andar.
Eu ri alto com aquela declaração.

— A senhora vai andar de skate, mamãe? Tá louca?

— Talvez esteja... Indo almoçar com o seu pai. Nos vemos amanhã às
nove, querido. Boa noite.
Adele me deu um beijo no rosto e foi até uma mala que estava aberta
no chão.

— Boa noite. Até amanhã.

Eu virei para sair e, assim que alcancei o corredor, senti uma mão me
puxar.
— O que você está pretendendo com essa aproximação toda, Enrico?

Encarei Summer e sua irritação.

— Quero apenas conhecer Andrew um pouco mais. Quero absorver


um pouco a alegria e a felicidade daquele menino tão fofo e aquecer meu
coração, Summer, porque eu percebi que, sempre que ele sorri, algo dentro de
mim se energiza, ganha vida, força...
— Enrico, eu tenho tanto medo de que você se machuque.

— E você acha que eu já não estou acostumado a me machucar? Mas


se eu posso aproveitar algum tempo com ele, se eu posso fazê-lo sorrir, por
favor, não tire isso de mim. — Segurei o rosto de Summer e a puxei para
mim. Ela se assustou. — Você ainda me deve uma resposta.
— Uma resposta?

— Sim. Você não me respondeu: está ou não está louca para me


beijar?

— Ah! — Seu hálito estava tão próximo a mim que eu podia sentir o
seu calor.
Ela abraçou minha nuca e colou nossas bocas.

Eu havia encontrado a chave do paraíso novamente. Estava muito


próximo de entrar no céu.

Nos devoramos como se fosse a primeira vez que nos beijávamos na


vida. Nossas línguas duelavam para permanecerem mais tempo dentro da
boca um do outro e nossas mãos não paravam de explorar nossos corpos.
Ignorávamos que estávamos em um corredor de hotel e que poderíamos ser
flagrados em um amasso quase explicito.
Que droga, ela dividir o quarto com a mãe e o filho.

Porra, do jeito que estávamos, não faltava nada para nos entregarmos
sem pudor a tanto desejo. Mas, como sempre, era ela quem me afastava,
fazendo-me sofrer.

— Ah, Deus! O que foi isso? — ela sussurrava.


— Quer repetir para tentar descobrir o que foi, Anjo?
— Safado... delicioso.

Ela me puxou para um novo beijo bem mais comportado.

— Vá embora agora. Até passou pela minha cabeça expulsar minha


mãe do quarto, mas jamais poderia fazer o mesmo com Andrew.

— Que horrível, anjo. Deixe só Adele saber disso...

— Você não é louco de contar a ela.

Rimos juntos.

— Se eu contasse, seria um hipócrita, porque pensei exatamente a


mesma coisa. Em respeito à Dona Adele, vou embora. Mas quero descobrir
como esses beijos poderiam acabar. Posso ter esperança? Você vai me
mostrar qualquer dia desses?

Ela ergueu os ombros, se desfazendo de mim. Abriu o sorriso lindo


que me deixava de quatro por ela.
Ah, como eu a desejava!

Beijou-me de leve mais uma vez, mordendo delicadamente meu lábio


inferior. Ela queria foder minhas bolas.

— Não sei. Até amanhã de manhã, seu louco.


— Ah, que sacanagem me fazer ir embora agora. Eu poderia alugar
um quarto aqui no hotel...

— Não, Enrico! Você é mesmo louco. Vá, vamos. Tchau. Até


amanhã.

Ela se virou para voltar ao quarto e eu a puxei para mais um beijo,


que foi correspondido com delicadeza, mas ela se remexeu e se libertou,
voltando a caminhar para longe.
Rebolando aquele traseiro lindo e redondinho para mim.

Como não havia mesmo outro jeito, apertei o botão do elevador,


partindo com o pau duro e as bolas doendo, mas com a esperança de que não
demoraria para poder conversar melhor com Summer e, quem sabe, nos
acertar. E quando descobríssemos que Andrew era realmente meu filho, tudo
seria mais fácil. Ainda teríamos que resolver o problema da distância e como
faríamos quando Summer precisasse viajar a trabalho, mas isso seria algo
para o futuro.

Hoje, bastava a felicidade daquele dia, que era imensa, e a certeza de


que aquela noite eu dormiria em paz.

Finalmente.
Um dia de confissões e choros

Acordei sentindo a mãozinha de Andrew passando por meu rosto. O


dedinho dele desenhava minhas sobrancelhas e corria até a ponta do meu
nariz. Sorri ainda de olhos fechados e ouvi aquele risinho inconfundível.
— Você acordou, mamãe?

— Acordei. — Abri os olhos e vi as duas pedras azuis me encarando,


divertidas. — Que sacanagem é essa de me acordar cedinho? Ainda estou
com sono.

— A vovó já desceu para tomar café da manhã. Eu já estou arrumado


para irmos passear, só falta a senhora.
— Jura que estou atrasando o passeio de todo mundo?

— Está.

— Então vou me arrumar rapidinho. — Não me movi um dedo,


passava minha mão pelos cabelinhos dele. — Tá feliz por que vai ver o vovô
hoje?
— Estou.
— Andrew, queria te perguntar uma coisa.

— Pode perguntar, mamãe. Mas, se for muito difícil, eu posso não


responder?
— Pode. Queria saber se você sente falta de ter um pai.

— Hum... Eu gosto que somos só eu e a senhora.

Ah, como meu coração se aliviou ao escutar aquilo. Mas então, ele
completou:

— Mas seria legal ter um pai também.

Ai, meu coração. Ai, meu coração.

— Você gostou de passear ontem com o Enrico?


— Foi muito legal, mamãe. Ele é super forte e ensina a escalar super
bem. Eu aprendi bem rápido. E quando ele escalou comigo, uau! Ele é
rapidão, tipo o Homem-Aranha.

Ri muito da observação dele. Mas aquilo finalmente me deu a


motivação de que eu precisava para começar a tocar naquele assunto tão
delicado:

— O seu pai mora aqui no Brasil, Andrew, mas eu não sei quem ele é
ainda. Eu posso tentar descobrir, mas apenas se você quiser.
— Ele mora aqui?

— Sim.

— Então vamos encontrar o meu pai.


— Você quer encontrá-lo?

— Ele vai ser legal que nem o Enrico?


— Pode ser que sim.

Se ele soubesse que o Enrico era uma das opções... Mas quanto a isso,
eu já me decidira a não contar ainda, para não alimentar esperanças nele.
— Mas, se não for, vamos aprender a lidar com um pai mais ou
menos legal. O que você acha?

— Pode ser. E eu só o verei de vez em quando, né? Nós moramos no


mundo.

— Isso mesmo, meu amor. Nada vai mudar entre nós. Você vai
continuar viajando comigo para onde eu for.
— Então pode ser, mamãe. Mas como a gente faz para descobrir?

— Vamos ter que fazer alguns exames e esperar o resultado.

— Ai. Vai doer?


— Acho que não. Mas vou descobrir e te aviso antes como tudo vai
funcionar, combinado?

— Combinado. Agora temos que levantar, mamãe. O Enrico vai vir


logo e estou com fome.

— Então deixa eu me arrumar rapidinho.


Descemos para o café da manhã. Recebi a mensagem de Enrico
informando que já estava a caminho. Ele deixou o carro nas proximidades do
hotel e fomos de metrô até nosso destino, às nove horas em ponto. Eu sempre
me admirava com a infalível pontualidade de Enrico.

Saímos da estação de metrô e fomos surpreendidos pelo mundo de


gente que andava em todas as direções pelo meio da Avenida Paulista.
Andrew se animou logo, dando muitos pulinhos, mas eu não soltava a mão
dele. Logo à frente havia muitas crianças brincando em uma amarelinha
desenhada na calçada, e ele me puxou até lá. Seguimos todos e esperamos
enquanto ele se divertia um tanto com a brincadeira.

Continuamos nosso passeio, paramos para ver artistas de rua cantando


e dançando e demos uma volta pelo Parque Trianon. Claro que levei minha
câmera e registrava muitos momentos de Andrew... e de Enrico. Os dois eram
quase inseparáveis e havia momentos que eu sentia ciúmes do meu filho
porque ele puxava Enrico e não a mim para ir com ele a algum lugar.

Os dois juntos estavam sempre sorrindo e aquilo era tão gostoso de


ver...

— São lindos juntos, não são, filha?

— Não podemos alimentar nenhuma esperança, mamãe. De nenhum


deles.
— Não foi sobre isso que eu falei querida. Eu sei que a probabilidade
de Enrico ser pai de Andrew é uma em sete. O que estou dizendo é que eles
dois são lindos juntos.

— O que a senhora está insinuando exatamente, Dona Adele?

— Que, independente de Enrico ser o pai biológico, ele ainda tem


toda a pinta de pai.
— Mamãe!

— Só estou comentando! Ele tem muito jeito com o Andrew.

— E pode ser que, ao descobrir que não é o pai, se afaste do meu


filho. Já pensou nisso?
Mamãe me olhou assustada.
— Não. Não havia pensado nisso.

— Então não vamos alimentar esperanças de ninguém até sabermos a


verdade. Ok?
— Ok, filha.

Os dois voltaram animados. Andrew preso nos ombros de Enrico e


segurando-se nos cabelos curtos dele.

— Água, mamãe! O Sol tá quente.

— Pegue. — Entreguei a garrafinha a ele, que bebeu ainda agarrado


às costas de Enrico. — Vamos embora? Papai já deve estar esperando.

— Ai, vamos lá, né? Fazer o quê? — Mamãe reclamou e Enrico foi
ao nosso lado, ainda carregando Andrew nos ombros.

Voltamos até o hotel para pegar o carro de Enrico e chegamos ao


condomínio onde meu pai morava por volta de meio-dia. Papai e Lília nos
receberam na porta, e a expressão no rosto de papai ao ver Enrico foi
impagável.
— O que...?

Enrico o interrompeu, cumprimentando-o:

— Obrigado pelo convite, Lúcio. Fazia algum tempo que eu não


vinha aqui.
— Verdade, querido — Lília respondeu dando um passo à frente e
beijando o rosto de Enrico. — Seja bem-vindo. E quem é o menino mais
lindo da casa?

Ela se abaixou para abraçar Andrew, que pulou no pescoço dela.

— Com cuidado, rapazinho. Não vai querer machucar a bebezinha,


vai?

Papai era todo cuidadoso com a gravidez de seis meses de Lília.

— Desculpe, bebê. Você vai ser minha titia, sabia?

Andrew falou diretamente para a barriga de Lília, e ela apenas sorriu,


beijando Andrew novamente.

— Seja bem-vinda, Adele. Entrem. Entrem todos, vamos. Como você


está, vida? — Papai veio até mim e me abraçou.

— Estou ótima, papai. Soube que comprou minha foto na exposição


por milhões de dólares.

Ele ficou intrigado:

— Milhões de dólares?
— Sim, foi o Andrew que me contou. Eu avisei a ele que os milhões
iriam para a conta da universidade dele.

Meu pai soltou um riso frouxo e me provocou:

— Muito bem, filha. A faculdade de Medicina é bem cara.

— Papai! Ele vai fazer o que quiser na vida.

Passei no meu antigo quarto, que agora estava reformado para a


chegada da bebezinha, e deixei a mochila de Andrew lá. Fomos para o quintal
e encontramos minha amiga Sandra já aproveitando o almoço que haviam
preparado.

Éramos um bando de adultos com uma criança tentando chamar nossa


atenção, e não demorou até Enrico se afastar de nós para se dedicar
inteiramente a Andrew. O que provocou um tanto de ciúmes no meu pai.
— O que ele faz aqui, filha?

— Eu o convidei — mamãe cortou logo. — Ele foi muito gentil nos


levando para passear ontem, e o convidei. Espero não ter feito mal.
— Não fez, Adele. Enrico é um amigo da família — Lília frisou.

— Vai dizer que voltou com aquela história de namoro de uma


semana, filha?

— Lúcio?! — Lília chamou sua atenção. — Isso não é da nossa conta.


Summer pode fazer o que quiser.
— Isso mesmo, Lúcio.

Mamãe concordou com Lília. Pobre papai... Acho que as duas se


davam melhor do que ele gostaria...

— Calma. Eu só queria saber. — Ele ergueu as mãos, divertido, como


se quisesse se proteger. — Eu vi o estado em que esse rapaz ficou depois que
você partiu, vida. Ele continuou me visitando, nossa amizade não cessou
quando você foi embora. Eu só não quero ver o Enrico na merda de novo.
— Não está rolando nada entre nós, papai. Não por enquanto. Mas
confesso que, se rolar, vou adorar.

— Hum... vocês jovens. Ele está muito apegado ao meu neto.

— Eles se adoram! — Mamãe era tão coruja com Andrew quanto era
de Enrico.
— Enrico é muito esperto. Sabe que se conquistar Andrew, terá o
coração da minha filha.

— Ele não é assim, papai.

Eu me levantei e fui até onde os dois estavam, no final do quintal, de


joelhos no chão olhando algo. Me abaixei ao lado de Andrew e perguntei:

— O que vocês estão tão concentrados olhando?

— Um caracol. — Andrew apontou. — Ele parece um daqueles que a


gente viu na Jamaica, mãe. E veja como anda devagar.

— Você se lembrou da regra da natureza, Andrew?

Foi Enrico quem respondeu:

— Não só ele se lembra como ele me ensinou...

Enrico começou a recitar, em inglês, e Andrew o acompanhou,


fazendo coro:

— A natureza é linda, mas também muito frágil e pode ser perigosa.


Deve ser apreciada com os olhos ou através da lente, nunca com as mãos.
Enrico prosseguiu:

— E ele também me prometeu que vai lavar as mãos quando


acabarmos de brincar na terra.

Andrew cobriu o sorriso com as duas mãozinhas.

— Enrico seria um bom pai, mamãe. No seu exame a senhora pode


pedir para o Enrico ser meu pai?

Eu e Enrico nos entreolhamos atônitos.

— Como é, Andrew? — Enrico perguntou a ele.


— É que minha mãe falou que vai procurar o meu pai. Eu queria que
meu pai fosse legal que nem você.

— Do que ele está falando, Summer?

— Eu perguntei a ele se gostaria de conhecer o pai dele. Disse que eu


poderia tentar achá-lo e que, apenas se ele quisesse, poderíamos fazer alguns
testes e tentar descobrir quem é o pai dele, já que ele mora aqui no Brasil. Só
que Andrew insiste em dizer que quer que o pai seja legal como você.
Percebi o momento em que os olhos de Enrico se encheram de
lágrimas.
— Qualquer pai teria orgulho de ter um filho tão especial como você,
Andrew. E eu vou adorar fazer o teste também, só para ver se é possível que
eu seja seu pai.

Andrew deu um pulo e abraçou o pescoço de Enrico.

— Sim. Eu vou adorar.


Era evidente que Andrew não entendia a complexidade de tudo que
falávamos, mas ver os dois daquela forma, abraçados, foi emocionante
demais. Eu sabia que não podia alimentar esperanças, mas eu desejava tanto
que fossem pai e filho... Por tudo que eu e Enrico havíamos vivido, por tudo
que ele estava descobrindo ao lado de Andrew e por tudo o que meu filho
estava aprendendo com ele. Eu desejava aquilo como nunca havia desejado
mais nada.

— Mas posso te pedir uma coisa, campeão? — pedi. — Vamos deixar


guardado isso em segredo? Será o nosso segredo, por enquanto, tudo bem?

— Tudo bem. Eu estou com fome, vou pedir comida para a minha
avó.
Ele largou Enrico e correu na direção da minha mãe.

— Eu conversei com ele hoje pela manhã.

— Eu estou tão feliz por saber disso, Summer.


— Tinha que ver os olhinhos dele, Enrico. Como eu pude deixar de
lado por tanto tempo a necessidade do meu filho saber quem é o pai dele?

— E ele disse que queria que o pai fosse como eu? Porra, Summer.
Eu surtei quando ouvi isso.
— Não se empolgue, bonitão. Ele não tem muitos parâmetros de
comparação. Claro que Andrew está encantado contigo.

— Não estrague meu momento, sua chata.

Ele se ergueu e me estendeu a mão, dando apoio para eu me levantar.


A tarde passou rapidamente e foi muito agradável. Andrew foi
disputado entre meu pai e Enrico. Os dois não paravam de inventar
brincadeiras para divertir o menino enquanto eu e as mulheres nos
empanturrávamos de comidas e doces maravilhosos.

A noite começava a cair e eu já queria ir embora. Estava cansada.


Ainda queria conversar com Enrico antes que ele partisse e, se ele
concordasse com o meu plano, o dia seguinte poderia ser bem estressante.

— Vamos indo, mamãe?

— Vamos sim, querida. Andrew, vamos arrumar suas coisas? — ela


disse na direção dele e ele fez cara de tristeza.

— Agora não, vovó. O vovô tá me ensinando a assar carne.

— Ninguém aguenta mais comer nada, Andrew. Vamos.


— Enrico, diga que podemos ficar mais um pouquinho. Se você já
fosse meu pai poderia pedir à minha mãe, né?

Olhei sem chão para Andrew, depois para Enrico, que empalideceu, e
depois para o meu pai, que foi ganhando um vermelho vivo que assustava.
Levantei-me rápido e fui na direção dos três.

— Como é? Enrico é seu pai?

— Ele pode ser... A mamãe ainda vai tentar descobrir quem é, de


verdade. Mas eu quero que seja ele.

— Calma, papai, eu posso explicar — cheguei tarde para intervir na


explosão do Seu Lúcio.

Papai esboçou um sorriso forçado para Andrew.

— Meu querido, você não quer ir brincar um pouquinho lá dentro


com a vovó Adele?

Ela já estava ao nosso lado e o pegou no colo entrando na casa.

— Você me disse que o pai do meu neto era o imprestável do Travis.


— Pois é! Descobri que não é! Mas, papai, deixe-me explicar...

— Lúcio, se acalme, podemos explicar — Enrico tentou intervir.

— Você engravidou a minha filha e não quis nem saber do menino. É


isso?

— Não foi bem assim que aconteceu, Lúcio. Eu nunca soube que
havia uma chance de eu ser o pai...

— Papai, por favor, se acalme. Tem mais...

— Mais? Mais, Summer?


— Sim, papai.

— Lúcio, tenha calma, pelo amor de Deus, homem. — Lília também


já estava do nosso lado tentando acalmar a fera.

— O Enrico pode não ser o pai. Vamos testar todos os possíveis pais
para descobrir quem é.

— Todos... os... possíveis... pais? Summer, você testará quantos


homens para descobrir quem é o pai do meu neto?
— S-sete, papai.

— Sete? — Ele passou a mão pelos cabelos e virou-se de costas para


nós. — Mas, se você não sabe quem é o pai, isso quer dizer que você dormiu
com esses sete homens em menos de um mês, Summer?

— Sim, papai. Naquelas férias que passei aqui, no campo de


treinamento.
Papai veio para cima de mim, com um dedo apontado no meu rosto,
com a face transtornada.

— Embaixo do meu nariz!

Enrico se colocou entre nós e tentou me defender:


— Calma, Comandante, deixe ela tentar explic...

O soco veio tão rápido e de forma tão inesperada que Enrico não
conseguiu se desviar. Ele cambaleou para trás esbarrando em mim. O caos
estava formado. Ele olhou para mim e perguntou.

— Você está bem?


Meu rosto já estava banhado pelas lágrimas.

— Estou. Ele te machucou?

— Não ligue para isso.


— Eu quero que você saia da minha casa agora, seu filho da puta.
Fingindo essa história de namorado só para comer a minha filha dentro da
minha casa. Saia agora.

— Eu vou embora, senhor, não se preocupe, mas o senhor tem que se


acalmar antes. Veja o estado em que está deixando todas as mulheres...
Lília chorava tanto quanto eu, mas foi quando escutamos a vozinha de
Andrew que meu coração quase parou.

— Mamãe! Vovô, não machuque a minha mãe.

Eu me virei assim que o vi correr na minha direção com os bracinhos


abertos, e ele se agarrou às minhas pernas.
— Vovô não está me machucando, campeão. Estou bem.

— A senhora está chorando. — Ele estava chorando e muito. — Não


quero que meu avô machuque nem a senhora nem o Enrico.

— Está tudo bem, amigão. Vovô já está bem, ele não machucou
ninguém.
Enrico falou diretamente com Andrew, abaixando-se para falar com
ele, passando a mão em seus cabelos e tentando limpar as lágrimas do
rostinho assustado.

— Eu estou indo embora, Lúcio. Fique calmo. Converse com a sua


filha com calma. Lília, tente se acalmar também, muita emoção não deve ser
legal para a bebezinha.

Enrico saiu, passando por minha mãe, que estava parada na porta da
cozinha, com as mãos na boca. Eu fui até ela com Andrew em meus braços e
pedi:
— Mamãe, por favor, peça para o Enrico ficar com o Andrew só um
minuto dentro do carro. Andrew, eu preciso que você vá com a vovó e tome
conta do Enrico para mim. Eu só vou demorar um minuto. Mamãe, depois
que arrumar as coisas do Andrew, vá para o carro também.

— Tá bom — os dois concordaram.


Voltei até onde meu pai estava. Ele estava abraçado a Lília e chorava.
Eu nunca havia visto meu pai chorar, e meu coração se partiu ao ver aquela
cena.

— Papai, me perdoe. Me perdoe por todo o sofrimento que causei ao


senhor. Me perdoe pelas mentiras que já contei. Pelas traições da sua
confiança. Mas nunca foi minha intenção causar mal ao senhor. Se causei, foi
para tentar proteger o senhor dessa dor e dessa amargura que está sentindo
agora. Acabou que todo o mal que fiz não serviu para nada. O senhor
descobriu tudo.

— Quem é o pai de Andrew?


— Eu não sei, papai. A única certeza que tenho é de que o Travis não
é.

— E por que me disse que ele era o pai, Summer?

— Porque o senhor precisava de resposta, papai. E eu sempre fui


covarde. Eu não tinha coragem de dizer que podia ser um entre sete homens.
— Pois devia. Você acha que eu estou assim alterado só porque
descobri que você dormiu com todos esses homens quase ao mesmo tempo?

Eu estava envergonhada demais para dizer qualquer coisa.

— Claro que isso me chocou, como me chocou saber que você fez
isso traindo a minha confiança. Mas o que está me deixando louco, fora de
mim, é a sua covardia e o seu egoísmo.
— Papai, me desculpe...

— Sim, você me deve desculpas, mas não só a mim. Você escondeu


de mim a verdade. Pior: você escondeu do pai do seu filho a verdade, seja lá
qual for ele entre esses sete homens. E isso foi covardia. Mas você escondeu
do seu filho a verdade!
Tentei interrompê-lo:

— Mas eu estou aqui exatamente...

Ele não me deixou terminar. Estava muito alterado:


— Do seu próprio filho, que merece mais do que ninguém saber a
própria origem. Isso foi egoísmo, um egoísmo tão... Você nem parece minha
filha. Por favor, é melhor você sair da minha frente. Eu não consigo nem
olhar para você agora.

— P-papai?

— Vá embora, Summer. Pelo menos por enquanto. Agora não é uma


boa hora para continuarmos essa conversa.
— É melhor você ir agora, querida — Lília pediu. — Só por
enquanto. Até ele se acalmar.

Eu apertei minha camisa na altura do meu coração. Doía tanto que me


faltou o ar momentaneamente. Tentei tocar o ombro do meu pai, mas ele se
esquivou do meu contato. Lília limpava as lágrimas tentando acalmá-lo.

— Eu vou, papai. Mas precisamos continuar essa conversa.


Ele nem se dignou a olhar para mim. Deu-me as costas.

Foi quando senti as mãos da minha amiga Sandra nos meus ombros.
Ela me guiou para fora da casa. Eu tive que parar na sala.
Chorei muito, chorei como nunca havia chorado na vida. Eu nunca
imaginei que magoaria meu pai daquela forma, e foi um dos piores
sentimentos que já havia experimentado na vida. Eu tinha que me acalmar
antes de ir encontrar Andrew.

Quando me tranquilizei um pouco, Sandra me ajudou a chegar ao


carro.

— Enrico, desculpa te fazer esperar. Você poderia nos levar ao hotel?


— perguntei, entrando no banco de trás e recebendo Andrew em meu colo.

— Claro. Imaginei isso quando Adele me pediu para esperar.


— Você está bem?

— Não se preocupe, anjo. E você?

Apenas assenti olhando-o pelo retrovisor.


— Vovô não quer que o Enrico seja meu pai, mamãe?

Andrew perguntou baixinho em meu ouvido, mas eu sabia que Enrico


havia escutado.

— Não é isso, querido. Ele só está chateado porque eu demorei muito


tempo para procurar seu papai. Ele queria que eu tivesse procurado antes.
— Ah. Mas não tem problema, mamãe. Só viemos agora para o
Brasil.

— Descansa, filho. Não vamos pensar nisso agora, tá bom?

— Tá.
Ele deitou a cabecinha no meu peito. Algum tempo depois, ele pegou
no sono no meu colo. Quando Enrico terminou de estacionar, me ajudou com
Andrew e subimos juntos até nosso quarto. O clima estava horrível e
permanecíamos todos calados.

Enrico colocou Andrew na cama e eu tirei a camisa e as sandálias do


meu filho. Passei a mão pelo peito de Andrew e depois pelos cabelinhos dele.
Foi impossível não ser dominada pelas lágrimas, e Enrico acocorou-se à
minha frente.

— Ei, anjo. Não fique assim.

— Desculpe.

— Não fique assim, filha. — Minha mãe já estava do meu lado


também. — Não precisa pedir desculpas. Sempre soubemos que, quando seu
pai descobrisse, ele não ia reagir bem.
— Não chore, anjo. — Enrico passava as mãos pelos meus cabelos.

— Enrico, eu passei o dia todo pensando — falávamos em sussurros


para não acordar Andrew. — Eu não quero adiar mais isso. Será que você
poderia reunir os rapazes amanhã para eu conversar com todos? Para eu pedir
a todos que façam o teste?

— Amanhã? Tem certeza, filha? O dia hoje foi tão difícil...


— Tenho, mamãe. Não dá para esperar mais. Já que mexi no
vespeiro, vamos ver que zangão vou atingir. Melhor isso do que fazer um
teste de cada vez e demorar o que vai parecer uma eternidade para descobrir a
verdade.

— Eu falo com eles. Te dou resposta assim que puder.

Enrico foi solidário, mas eu podia sentir que ele ainda estava
preocupado comigo.
— Eu preciso mesmo fazer isso logo, Enrico.

— Eu acho que você está certa, linda. Vou indo. Boa noite, gente.

Ele beijou meus cabelos, fez o mesmo com Andrew e apertou a mão
da minha mãe. Saiu em seguida.

Olhei para minha mãe e ela disse baixinho:

— O que está esperando, filha?

Corri atrás de Enrico e o encontrei encarando as portas do elevador,


mas ele se virou quando escutou meus passos se aproximando e me recebeu
no momento em que as portas se abriram. Entramos e eu o envolvi com meus
braços já procurando seus lábios e beijando-o.

— Você ia mesmo embora sem me dar um beijo de boa-noite?

Senti seu sorriso em meio ao beijo e ele me puxou ainda mais para
seu corpo, provando-me com paixão. Não apertamos nenhum botão e
estávamos entregues ao destino. A porta se abriu para dar passagem para
algumas pessoas vindas da recepção. Olhamos desconcertados e descemos.
Fui abraçada a Enrico até o carro dele.

— Estou com medo dessa conversa com os rapazes — revelei enfim.

— Não tenha medo, anjo.

— Enrico, tudo pode mudar depois que descobrirmos a verdade.


— Summer, eu não sei como você está encarando esse acontecimento
e eu não sei se percebeu, mas eu estou esperando pacientemente por você.
Para termos uma conversa como dois adultos, que já viveram algo muito
intenso no passado. E que, pelo menos da minha parte, eu adoraria reviver.

Ele diminuía a voz, aproximando-se de mim e parando ao me beijar.


Correspondi ao beijo interrompido e não respondi ao que ele havia acabado
de dizer.

— Vou esperar você me avisar — disse baixinho.


— Aviso sim. Boa noite, anjo.

— Boa noite.

Eu o vi entrar no carro e partir. Voltei apreensiva para dentro do hotel.


Mais uma conversa difícil

Passei a manhã ajudando Andrew com as tarefas escolares. Recebi


uma mensagem de Enrico com os links de três clínicas onde poderíamos fazer
os testes de paternidade. Enquanto meu filho respondia a alguns exercícios,
eu fiz uma rápida pesquisa e me decidi por uma delas.
Almoçamos juntos e, à tarde, fui para o Instituto. Minha mãe ficou
com Andrew, pois Lília combinou de pegá-los para passear com eles. Recebi
uma nova mensagem de Enrico com um endereço, informando que estava
tudo certo para hoje à noite, por volta das oito horas.

— Ai, meu Deus amado. Seja o que o Senhor quiser.

Passei no hotel e minha mãe e Andrew já haviam voltado.


— Mamãe, vou encontrá-los, a senhora poderia cuidar do Andrew
mais um pouco?

Eu pedi, enquanto me arrumava para sair.

— É claro, filha. Tenha paciência e tente explicar a todos com muita


calma.
— Eu terei calma, mamãe. Não sei se eles terão, como vão reagir.
Acho que a clínica que escolhi é ótima. Eu já mandei o link para a senhora
dar uma pesquisada também.

Fui até Andrew jogado em cima da cama.


— Ei, mocinho. Não demore a dormir, tá bom?

— Tá bom. A senhora vai demorar?

— Não sei. Mas a vovó vai ficar aqui.

— Mas eu gosto de dormir com a senhora.

— Hum, eu sei. Mas sabe que essa folga é só nessa viagem, não é
mesmo?

— Eu sei — falou emburrado.


— Então beijinho de boa-noite. — Ele beijou minha bochecha e fiz o
mesmo com ele. — Boa noite, campeão. Boa noite, mamãe.

Fui até minha mãe e beijei sua cabeça.

— Aproveite e estique um pouco mais a noite se houver


oportunidade, filha.

— Mamãe! A senhora está andando muito com a Maisie.

— Só um pouquinho. E, aliás, ela reclamou que você não falou com


ela ainda.

— Ela sempre reclama.


Chamei um táxi e cheguei pouco antes do combinado. Enrico havia
marcado o encontro no box do trabalho dele. Entrei e uma recepcionista me
atendeu.
— Boa noite. A senhora já conhece como funciona o nosso box?

— Oi, boa noite. Na verdade, eu vim falar com o Enrico Soares.


Poderia chamá-lo?
— Mitchell!

Aquela voz era inconfundível. Rodrigues se aproximou sorrindo,


apenas de short, suado e... Minha nossa senhora, o garoto estava uma
perdição de lindo! Que corpo era aquele?

Desvia de mim essa visão, Senhor!


— Rodrigues! Você por aqui.

— Ele está sempre aqui — a garota ao meu lado respondeu e eu sorri.

Rodrigues me deu um beijo no rosto e perguntei.


— O Enrico está?

— Ele subiu. Mas deixou outro instrutor no lugar dele. Quer falar
com ele? — A garota fez um barulho como se limpasse a garganta e
Rodrigues olhou para ela. — Mitchell, essa é a Jack, minha namorada. Ela
trabalha aqui meio-período para ajudar o professor.

— Oi, Jack. É um enorme prazer — cumprimentei. — Que bom que o


Enrico tem a ajuda de vocês. Ééé... Rodrigues, você disse que ele subiu, subiu
para onde?
— Ah, que doido. Nem expliquei, não foi? O Enrico mora ali em
cima. — Ele apontou para cima do box onde tinha uma janela aberta com a
luz ligada. — A escada é ali pela lateral, pode subir.

— Fred, você nem sabe se ela pode subir e já libera para...

— Ah, amor. A Mitchell já é conhecida do professor. Tenho certeza


de que ela pode subir.

Sorri para ele, agradecida.

— Obrigada, gente. Vou... lá então.

Subi a escada e percebi a porta entreaberta. Ele havia deixado assim


de propósito? Espiei, com todo o respeito, e vi Enrico apenas de bermudão
indo de um lado para o outro. Havia acabado de tomar banho e ainda estava
com a pele úmida.

Eu não merecia aquela visão do paraíso, Senhor!


Ou merecia?

Todas as tatuagens à mostra. Pele bronzeada. Cada músculo do


homem gritava meu nome, implorando que eu pulasse nele. Tenho certeza de
que eu podia escutar o corpo dele implorando o meu, era tão claro para mim.

Parou em frente ao espelho para pentear os cabelos e foi quando seu


olhar encontrou o meu, me pegando no flagra. Ele sorriu e se virou.
— Entre, Summer.

Pigarreei desconcertada e envergonhada e entrei.

— Minha casa é bem mais simples que o apartamento que conheceu


há sete anos, mas eu precisei vendê-lo para comprar e investir no box.
— Não ligue para isso, Enrico.

Olhei em volta e ele morava em um único cômodo, onde cozinha,


quarto e sala eram uma coisa só. Mas era um espaço grande.

— Como o Andrew está? — Ele me trouxe de volta à realidade.


— Está bem. Ficou chateado porque saí.
Enrico sorriu procurando uma camisa dentro do guarda-roupa. Eu
voltei a ficar perdida em pensamentos pecaminosos, babando no corpo
escultural do homem. Quando pensei que ele não podia ficar mais bonito, me
aparece assim, sem camisa, bem na minha frente.

— Vai quebrar o pescoço, tigresa.


A voz estrondosa soou bem no meu ouvido e eu dei um grito com o
susto que tomei.

— Vai se foder, Garcia. Puta que pariu. Quer me matar do coração?

Ele gargalhou alto, e Enrico nos olhou sem entender. Vi quando Raul
e Uriel também entraram.
— O que foi que esse otário fez com você, coração? — Raul abriu os
braços para me abraçar e fui até ele para receber o carinho.

— Esse filho de uma mãe quase me mata de susto agora.

— Eu não tenho culpa se você estava babando pelo meu amigo sem
camisa. Ainda bem que vestiu logo essa camiseta, Enrico. A garota estava
quase pulando em cima de você.

Enrico apenas riu. Safado... lindo. Mas eu estava mesmo.

Fui até Uriel e beijei seu rosto.

— E eu não vou ganhar beijo, não? — Garcia reclamou.


— Não. Para deixar de ser ruim. Para lembrar de nunca mais assustar
os outros.

Adam e Pablo entraram também.

— Gatinha, eu infelizmente vou ter que cortar suas asinhas. — Adam


começou com seu jeito divertido. — Eu não vou poder aceitar nenhum novo
acordo, minha noiva é ciumenta para caralho. Ela corta minhas bolas fora se
imaginar que recebi uma proposta indecente.

— Quem vai cortar suas bolas fora sou eu, se imaginou mesmo isso.
— Você complicou minha cabeça. Se não era para propor algo
indecente, então por que quis reunir todos nós novamente?

— Acho melhor esperarmos o Ítalo chegar para eu explicar apenas


uma vez.

— Turma, podem ir se acomodando onde conseguirem. — Enrico


tentava puxar uma cadeira de trás da mesa de quatro lugares e indicava a
cama para que se sentassem.
Ítalo chegou encarando a todos e tinha cara de poucos amigos.

— Eu só posso ficar trinta minutos, gente.

— Melhor acelerar, Summer, que a dona Ribeiro é exigente — Uriel


disse sorridente.
Estavam todos sentados, menos Ítalo, Enrico e eu.

— Gente, pedi para o Enrico entrar em contato com todos porque


tenho um assunto muito sério para tratar com vocês.

Eles permaneceram calados e eu apenas continuei.


— Em primeiro lugar, queria pedir perdão por não ter conversado
antes com vocês e, por favor, antes de entrarem em pânico, deixem-me
explicar tudo.

Puxei da bolsa uma foto do Andrew e mordi o lábio inferior


encarando a felicidade de meu filho na imagem congelada. Era meu tesouro
mais valioso e eu ia dividir com eles parte da minha vida.
— Esse é Andrew. Meu filho.

Mostrei a foto a eles e estendi na direção de Garcia. Pedi para ele


passar adiante e eles a foram passando de um para outro.
— E ele é filho de um de vocês.

A foto estava na mão de Adam quando eu disse isso e ele a deixou


cair no chão de tão aturdido que ficou. Raul pegou a foto e encarou a
imagem.

— Nossa, minha cara. Loirinho igual a mim.


— Poxa, sem ironia, Raul, por favor — pedi chateada.

— Desculpe, coração, mas o Andrew, veja, ele não lembra nenhum de


nós. Ele é todo... você.

— Eu sei.
Pablo e Uriel vieram para perto de Raul, pedindo para ver a foto
novamente.

— Como você sabe que ele é de um de nós? — Adam não ria mais.

— Porque, além do meu ex-namorado, eu só trepei com vocês sete


antes de engravidar — respondi com ironia.
— E seu ex-namorado? — Ítalo perguntou.

— Ele fez um teste de paternidade e deu negativo.

— Andrew está com quantos aninhos, Summer? — Garcia estava


visivelmente emocionado.
— Ele está com quase sete.

— Seis anos e meio, como ele mesmo fala — Enrico sorriu.


— Você conheceu o moleque, Enrico? — Garcia voltou a perguntar.

— Sim. É de uma inteligência monstra. Tão esperto, vocês iam ficar


encantados.
— Dá para perceber quem está bem encantado. — Ítalo foi irônico.

— Ele é muito lindo, Summer — Uriel disse também.

— E você nos chamou aqui para...? — Adam perguntou afastando-se


do grupo.

— Eu queria pedir, por favor, para todos vocês fazerem um teste, para
eu descobrir quem é o pai biológico de Andrew.

Garcia, Uriel, Pablo e Raul sorriram, e era nítido que aprovavam a


ideia. Ítalo e Adam congelaram, sem conseguir disfarçar o choque. Mas todos
me encaravam com tanta atenção que tive que continuar.

— Vamos deixar uma coisa bem clara. Eu sou a mãe do Andrew,


sempre fomos nós dois e eu só quero fazer isso porque cheguei à conclusão
de que o meu filho merece saber quem é o pai dele. Só isso. Seja lá quem
for, se não quiser, não precisa fazer parte da vida dele de forma alguma. Mas
eu prometi ao meu filho que eu ia descobrir quem era o pai dele. A única
coisa que eu pediria ao pai é que se encontre uma vez com Andrew, para o
menino conhecer o pai. Se depois disso quiser se afastar completamente, para
sempre, é uma decisão da pessoa.
Eu gesticulava com as mãos e braços, estava mais nervosa que
sempre.

— Claro que vou fazer o teste — Garcia foi o primeiro a se


pronunciar.

— Eu também farei com todo o prazer, coração, apesar de achar que o


menino não tem uma gota de sangue baiano nele.

Ele sorriu com carinho para mim e lhe agradeci com os olhos.

— Eu não vou fazer teste nenhum— Ítalo já estava se virando para


sair.

— Ei, espere — Pablo segurou o braço dele. — Por que você não?

— Porque não me interessa saber se esse menino é ou não meu filho.


Espero mesmo que não seja.

Abri a boca, surpresa com a declaração dele. Vários rapazes também


ficaram chocados.

— Se está preocupado com a dona encrenca, cara, você escutou a


Summer. Ela só quer saber quem é o pai. Sua esposa não vai precisar saber de
nada se você não quiser — Adam falou tentando convencer o amigo. — Eu
também não quero fazer o exame, também não quero que o menino seja meu,
vai bagunçar a minha vida, lindão, mas... Você vai voltar para os Estados
Unidos, não vai, Summer?

— Na verdade, eu trabalho pelo mundo. Eu não pretendo voltar ao


Brasil tão cedo. Você não precisa se preocupar, Ítalo, você não...

— Tá vendo? A gente faz esse exame, vê quem é o pai do filho da


Summer e ela vai embora — Adam ainda tentou argumentar.

— Eu não vou fazer a merda desse exame. Devia testar apenas o


Enrico, afinal, você passou a semana toda dando para o cara, não foi? Já
posso ir?

Acompanhei Enrico inchar de raiva e avançar para falar com Ítalo:


— Você está louco, Ítalo? Para que desrespeitar a Summer assim? Ela
só está pedindo educadamente para que a gente tente descobrir quem é o pai
do Andrew. Há sete anos, quando inventamos aquele maldito acordo, todo
mundo aqui aceitou os termos e adorou participar da brincadeira, não foi?
Agora seja homem e assuma isso. E se não assumir, vou apenas reconhecer
em você um covarde de merda. Agora, o que eu não vou permitir é que você
e nenhum puto aqui desrespeite a Summer.

Ítalo ficou furioso:

— Quer dizer que a bonitona descobre que está grávida, tem um filho
que pode ser de um de nós e decide que o pai da criança não merece saber da
existência do menino! Aí, anos depois, acorda um dia, resolve que agora é
conveniente para ela descobrir de quem é essa criança e vem interferir na
vida dos outros, sem saber que consequências isso vai trazer para o tal pai?
Não, obrigado!

Ele tomou fôlego e continuou:

— Summer, deixe eu te contar uma coisa: se seis anos atrás eu


soubesse que você estava grávida de mim, eu ia procurar você onde quer que
você estivesse, não tenha a menor dúvida. Mas hoje eu tenho a minha vida, a
minha esposa, que eu adoro, e não pense que você vai estragar isso. Se era
mesmo tão importante saber quem é o pai do seu filho, você que tivesse
aparecido por aqui logo que a criança nasceu.
Aquilo me atingiu profundamente, mas não tive tempo de pensar.
Ítalo e Enrico se encaravam com ódio no rosto. Eu não queria que eles
acabassem brigando. Eu não desejava que eles se enfrentassem por minha
causa ou por causa do Andrew, então falei:

— Pode ir embora, Ítalo. Se deseja isso, pode ir. Obrigada por...

Ele não me esperou terminar de falar. Saiu batendo a porta. Eu me


esforçava para engolir as lágrimas: eu não ia me emocionar.

— Ele nunca esqueceu que foi trocado pelo Enrico, Summer — Adam
falou.
— Não, Adam. Ele estava com muita raiva, mas o que ele disse não
deixa de ser verdade. Eu devo desculpas a todos vocês. Eu não devia ter
escondido isso por tanto tempo.

Virei-me respirando fundo, voltei a encará-los e perguntei:

— Mais alguém vai desistir?


Eles negaram com a cabeça.

— Summer, minha noiva não pode sonhar que estou fazendo esse
exame. Falei sério que também não quero fazer essa merda, mas vou fazer
por você, pelo Andrew... — Adam avisou.

— Ela não vai saber. Prometo.


— Summer — Uriel me chamou. — Mas e se o pai quiser fazer parte
da vida dele?

— Eu não sei como isso daria certo, Uriel. Mas podemos pensar em
algo. Sempre há comunicação a distância e quem for o pai, se quiser, poderá
nos visitar onde quer que estejamos no mundo.

— Isso pode não ser suficiente, Summer, você sabe disso — Pablo
também questionou.
— Mas vai ter que ser assim. Como eu disse, somos eu e Andrew no
mundo.

Enrico veio para o meu lado e segurou minha mão. Ele disse me
apoiando:
— Hoje a Summer é uma mulher independente. Ela tem a profissão
dela, viaja constantemente pelo mundo, desenvolveu toda uma rotina com
Andrew, já que o cria sozinha há sete anos. Vamos combinar que todos nós
mudamos. Acho que o que ela está querendo dizer é que, independentemente
de quem seja o pai, Andrew não vai entrar na vida dessa pessoa para ser um
fardo. Ele entrará para somar. Somar apenas alegrias, porque o garoto é
incrível.

Aquelas palavras de Enrico me deixaram profundamente emocionada.


Eu o amava. Eu amava mais a cada segundo que passava a seu lado. Nem
acreditava que ele estava ali, me apoiando, mesmo sem saber se realmente era
o pai do meu filho.
— Vamos fazer assim, tigresa — Garcia comentou. — Vamos fazer
os exames e depois do resultado conversamos.

— Por favor.

— E quando poderíamos fazer o exame? — Pablo perguntou.


— Queria fazer amanhã. Porque, assim, já teríamos o resultado na
sexta-feira.

— Ótimo. Onde e que horário?

— Amanhã pela manhã. Nesse laboratório aqui.


Mostrei o laboratório a eles no meu celular.

— Eu passo o endereço para vocês por mensagem — Enrico se


prontificou.

— Gente, eu nem sei como agradecer a vocês.


— Eu vou falar com o Ítalo — Adam falou. — O cara é cabeça-dura.
— Eu agradeço se você puder falar com ele.

— Mas se todos nós fizermos o exame e der negativo, ele será o


positivo automaticamente, certo? — Uriel argumentou.
— Mas eu realmente gostaria que Andrew pudesse conversar com o
pai, pelo menos uma vez. E se ele não quiser nem fazer o teste, quais as
chances disso?

— Verdade. — Garcia levantou-se, veio até mim e me abraçou com


carinho. — Estaremos lá amanhã pelo Andrew, por você.

— Obrigada, Garcia.
Um a um, todos vieram me abraçar e se despedir de mim. Quando
todos já tinham ido embora, me virei para Enrico e falei:

— Acho que também já vou.

— Não vá ainda, anjo. O box já está fechando. Espere só um


pouquinho. Já jantou?
— Ainda não.

— Eu peço comida para nós. Fica? Por favor.

Ah, como negar algo àquele homem?


— Eu fico.

— Vou descer para fechar tudo e já subo, tudo bem?

— Tá bom.
Ele desceu e eu fiquei sozinha no apartamento. Fui até o guarda-roupa
e abri a porta, passando a mão pelas roupas dele, sentindo o perfume
maravilhoso de Enrico. Fechei e voltei a me sentar na cama. Depois de algum
tempo, ele retornou segurando duas sacolas com sanduíches e aquilo me fez
rir.

— Jura que é isso que vamos jantar?


— Você não gosta? Ou é porque todas as vezes que a levei para jantar
fora só comemos frutos do mar e você ficou mal-acostumada? — Rimos
mais. — Pedi meus sabores preferidos: atum e frango. Pode escolher.

— Adoro.

Fomos até a mesa e, enquanto eu ajeitava os sanduíches nos pratos


que ele havia colocado sobre a mesa, Enrico nos serviu de suco de uva que
trouxe da geladeira. Sentou-se enfim à minha frente e eu comecei a falar:
— Eu fiquei pensando no que Ítalo falou...

— O cara foi um escroto, não liga para isso não.

— Ele foi um escroto, sim, mas ele disse quase a mesma coisa que o
meu pai. E acho que os dois têm razão em muita coisa... Eu fiquei tão
envolvida no mundo que eu criei para o Andrew, tentando protegê-lo, que eu
me fechei lá dentro e não consegui ver mais nada à minha volta. Nem mesmo
o fato de que eu estava impedindo meu filho de conhecer o pai.

— Mas agora você está aqui, tentando corrigir isso.

— Mas tirando a reação de Ítalo, e mais ou menos a de Adam, acho


que a conversa com os rapazes foi boa.

— Também acho.
Comemos calados, mas nos encarando.

— Você falou sério sobre aquele lance de não retornar ao Brasil tão
cedo? — ele perguntou e eu quase me engasguei.
— Falei, Enrico. Quando voltarmos, viajaremos em pouco tempo para
a Europa, tenho uma série de contratos a cumprir por lá e...

— Summer, seria tão bom se o Andrew tivesse uma vida mais


tranquila.
— Enrico, eu acho fofo o seu jeito com ele, sua preocupação, mas já
temos um jeito só nosso de lidar com a vida. Obrigada.

Ele se ergueu da cadeira e começou a andar na minha direção. O que


ele ia fazer?

— Seria tão bom se ele tivesse um monte de amiguinhos, anjo. Tinha


que ver a felicidade dele brincando com outras crianças.
— Eu sei, Enrico, mas eu tenho o meu trabalho, que eu adoro e não
vou abandonar. E eu não vou jogar meu filho nas costas da minha mãe.

Ele se colocou de cócoras bem ao meu lado e falou, rouco:

— Mas já cogitou que, se eu for o pai do Andrew, estou disposto a


ajudar?
— Você vai ajudar? Que fofo, Enrico — brinquei, mas quando virei o
rosto para encará-lo, o vi sério. — Enrico, criar uma criança exige muito.

— Eu sei disso. E eu estaria disposto a aprender e a te ajudar, não


tomar seu lugar. — Ele segurou minha mão e continuou. — Eu só penso
nisso desde sexta, Summer. Eu só penso em como eu seria feliz se você
pudesse me deixar ajudar a cuidar do Andrew.

— Mas meu receio é ver você se afastar se...


— Se?

— Se descobrirmos que ele não é seu filho.


Enrico abaixou a cabeça e depois voltou a me encarar.

— Ele já é meu filho. — Enrico levou minha mão e a colocou em seu


peito. — Aqui ele já é meu.
— Enrico! — Balancei negativamente a cabeça. — Você está...

— Seu rosto está sujo de molho — ele me cortou.

— Onde? — Passei a mão do lado direito do rosto, perto da boca e


não senti nada.

— Aí não. Aqui.

Ele veio até mim e passou a língua no outro lado, no canto de minha
boca. Senti o calor e a maciez de sua língua tocarem minha pele e o calor
percorreu minhas pernas e minha espinha.

— Queria te fazer uma pergunta desde o momento que te vi na


exposição — sussurrou em meu ouvido.
— Qual?

— Você ainda usa aquelas calcinhas minúsculas?

— Hum... quer descobrir?

Acho que o provoquei demais. Enrico me pegou no colo e não esperou


que chegássemos à cama para devorar minha boca. Deixou meu corpo cair
sobre os lençóis e já veio para cima de mim, encaixando-se entre as minhas
pernas.

— Passe a noite comigo — pediu.

— Não posso, mas posso ficar mais algumas horas.


Ele sorriu satisfeito.
Seus lábios desceram por minha garganta ao mesmo tempo que suas
mãos desabotoavam minha camisa. Afastou meu sutiã para o lado expondo
meu seio e começou a mordiscar meu mamilo.

Ah, como eu pude esquecer que o simples toque daquele homem me


enlouquecia a um nível estratosférico?
Eu me contorcia embaixo dele, tentando me desvencilhar daquela
tortura maravilhosa, mas, quanto mais me mexia, mais ele me prendia e
sugava com mais vigor o cume do meu seio.

Segurou o outro peito com a mão e o ajeitou para abocanhá-lo em


seguida. Sugando-o com a mesma intensidade. Segurei seu rosto e o trouxe
de volta a mim, mergulhando minha língua em sua boca, delirando ao senti-lo
me sugar sempre com o mesmo desejo, não importava qual parte de mim ele
provava.

— Quero mais de você, anjo.


Sua boca desceu para além dos seios e parou ao encontrar a calça
ainda fechada. Desafivelou o cinto e abriu botão e zíper. Puxou a calça para
baixo deixando-me ainda de calcinha. Jogou minha calça no chão e com
apenas um movimento fácil, o homem me virou de bruços, o que me fez
arfar.

— Ah, anjo. Ainda usa a calcinha como eu amo.

Ele passou a língua por cima da renda, provando e provocando minha


boceta e percorreu a fenda da minha bunda até chegar ao pequeno pedaço de
tecido no final de seu percurso. Senti ele morder ali e puxar minha calcinha,
tirando-a.
— Você me deseja, anjo?
— Sim — apenas deixei o som sair.

— Quanto?

— Sinta — pedi, mas quem sentiu fui eu.

Senti o momento que Enrico brincou na entrada de minha boceta e eu


me empinei para ele, deixando o convite para que ele...

— Ahhh... enfia mais...

Ele socava dois dedos dentro de mim e mordia meu ombro, fazendo
com que eu me arrepiasse inteira.

— Continua excitada por mim, anjo.

— Sim...
— Quer meu pau dentro de você?

— Quero. Muito. Agora. — Já me faltava o ar e o homem ainda nem


me preenchia.

Ele livrou-me de seus dedos e saiu da cama. Voltei a relaxar o corpo,


mas olhei por cima do ombro, vendo-o arrancar a camisa e descer a bermuda
com urgência. Vestiu o pênis com uma camisinha e voltou a subir na cama.

Ah, como eu esperei por aquele pau dentro de mim!

Ele me ergueu, colocando-me de quatro e ajeitou-se atrás de minha


entrada. Senti ele deslizar apenas um pouco e sair, voltar a entrar mais e desta
vez vir até o fim, encaixando-se por completo, preenchendo o vazio que eu
sempre senti esses anos todos.

O vazio que era causado pela falta dele.


Enrico estava mais duro que em minhas lembranças mais sacanas e
começou a socar com mais força que em meus sonhos mais molhados. Ele
segurou a camisa e o sutiã que ainda estavam presos em meu corpo e os usou
para ajudar nos movimentos de vaivém que fazíamos. Provocava uma pressão
absurda e seus gemidos roucos de prazer se misturavam a meus gritos de puro
delírio.

Minha pele queimava e eu tinha certeza de que ele sentia como eu


estava quente. Meus cabelos eram jogados para todos os lados e meus seios
saltavam para fora do sutiã que ele havia descido. Desci meu corpo deixando-
me mais aberta e vulnerável a ele, que não parou de me comer mesmo depois
que minhas carnes se ondularam, quando fui atingida pelo orgasmo,
apertando seu pau enorme em minha fenda úmida. Ele socava e socava, como
um sinal que me marcava: eu era dele e não iria sair dali, a não ser que ele
quisesse. E eu esperava que quisesse ficar dentro de mim por muito tempo.
E ficou.

Virou-me e me comeu de tantas formas e em tantas posições que eu


nem lembrava mais em qual havíamos começado e por quantas já havíamos
passado. Demonstrava um enorme grau de autocontrole, se negando a gozar,
mantendo-se duro como uma rocha, como se eu fosse fugir assim que ele
jorrasse dentro de mim. Eu, por outro lado, me entregava sem freios àquele
homem que me devorava como se fosse nossa última noite na Terra.

— Anjo... suportei o... quanto pude...


Eu estava em cima dele e o cavalgava como uma amazona das lendas
mitológicas. Movia-me como uma cobra, provando seu comprimento com
tanta devoção que sabia que ele não resistiria por muito tempo. Intensifiquei
nosso atrito, arrancando de Enrico um urro de prazer, fazendo-o segurar
minhas coxas e apertá-las.
Eu me movi mais algumas vezes com sedução, provocando o pau que
ainda pulsava quente e grosso em meu interior. Até que me deitei em seu
peito e deixei meu corpo relaxar ali.

— Eu não queria que esta noite acabasse — ele falou com os lábios
colados aos meus cabelos.
— Imaginei que sim. Eu também não queria.

Beijei seu peito, suas tatuagens que se mantinham intactas.

— Fez alguma nova tattoo?


— Sim, só uma.

— Qual?

— Você vai ter que sair de cima de mim para poder ver.
— Jura?

— Sim — ele riu.

— Eu vejo depois então... Tá bom demais aqui. — Ele sorriu mais. —


Ah, não! Sou curiosa demais.

Saí de cima de Enrico e me sentei ao seu lado na cama. Ele sentou-se


também, retirou a camisinha e apontou a imagem. Perto da virilha, no
encontro da coxa com seu “V” delicioso. Uma linda mulher com duas asas de
anjo. A tatuagem não era grande, na verdade era bem discreta, mas era
belíssima.

— Você fez...?

— Uma vez você me perguntou se já havia feito alguma tatuagem em


homenagem a uma mulher, a resposta está aqui. Esta eu fiz em sua
homenagem. Você é meu anjo, Summer.
Inclinei-me e beijei a tatuagem. Continuei meus beijos subindo até
encontrar seus lábios e me fartar deles.

— Por que nossas vidas tiveram que nos separar, Enrico?


— Porque tivermos que aprender algo no percurso. Eu estou mudado,
você está mudada. Somos mais maduros para encarar novas realidades e
saber identificar quais coisas são realmente indispensáveis e importantes para
ambos. Você sabe o que é indispensável para você, anjo?

— S-sei. Acho que sei.

— Pois saiba que eu tenho absoluta certeza. E queria que soubesse


que você e Andrew estão entre minhas coisas indispensáveis.
— Enrico...!

— Eu vou te levar. Já tem que ir, não é?

— Já... já... Amanhã vamos...


— Eu sei. Venha.

Ele segurou minha nuca e me puxou para um novo beijo. Quando ele
me soltou, me virei para me levantar e me faltou cama. Fui ao chão como
uma manga madura de encontro ao solo. Ele ergueu-se depressa para me
ajudar e o fez rindo.

— Estou rindo com todo o respeito, Summer.


— Seu cretino, filho de uma mãe boa.

— Mas que negócio foi esse de se jogar no chão? — Ele não


conseguia parar de rir.

— Eu não me joguei. Calculei mal o tamanho da sua cama.


— Ah, sua doidinha. Não seria você se não me fizesse rir em algum
momento.

— Pare de rir. Esse negócio de rir com respeito não existe.


Ele riu mais, mas já estávamos em pé e com os corpos nus colados e
abraçados. Ah, que homem perfeito.

— Desculpe. Eu vou parar. Até chegarmos ao hotel, eu paro, prometo.

Dei um tapa em seu peito.

— Desse jeito, chamo um táxi.

— Não, não. Prometo que paro. É tão linda brava! É linda de todos os
jeitos.

Ele me beijou inúmeras vezes, até que partimos.


Negativos e positivo

Cheguei com minha mãe e Andrew ao laboratório pouco antes das


nove da manhã. Eu iria coletar a amostra do meu filho antes que os rapazes
chegassem. Entretanto, assim que entramos, demos de cara com Enrico, que
se aproximou rápido, preocupado com Andrew. O menino já foi erguendo os
braços e Enrico se abaixou para abraçá-lo e o puxou para seu colo.
— Oi, Enrico!

— Está preparado, amigão?

— Eu estou com medo, Enrico.


— Pelo que a Monique me explicou agorinha, eles vão colocar uma
haste com um algodãozinho, igual a um cotonete, na sua boca e vão dar um
furinho na pontinha do seu dedo para coletar só um pouquinho do seu sangue.
Talvez essa última parte doa um pouquinho, mas a mamãe vai estar lá
contigo e ela é especialista em beijinhos que curam, certo?

— É sim. — Ele assentiu olhando para mim. — E você vai também?

— Eu acho que eu não posso, mas talvez a vovó Adele possa também.
Não perguntei quantos podem entrar contigo — Enrico explicou.

— Senhora, é seu filho que fará o teste? — a atendente perguntou.

— Sim.

— Meu nome é Monique. A senhora pode preencher a ficha dele, por


favor?

— Claro. Ah, o pagamento é no crédito. Preciso do resultado em três


dias úteis. Vou ter que pagar uma taxa extra para isso, certo?

— Sim, senhora.

Quando Andrew foi chamado, ele se virou e agarrou-se ao pescoço de


Enrico falando com a voz manhosa e chorosa.

— Vai doer, Enrico.


— Não vai não. E se doer, vai ser só um pouquinho.

Enrico passava a mão pelos cabelos e pelas costas dele, tentando


acalmá-lo.

— Você fala isso porque você é grande. Eu sou pequeno. Vai doer.

— Como falei, se doer, será rapidinho. Logo passa. E sua mãe vai
estar lá. Ela vai dar beijinhos para passar mais rápido.

Andrew concordou, mas com muita relutância. Ele veio para o meu
colo e agarrou-se ao meu corpo, fechando e apertando os olhos. Dentro da
sala, ele ficou no meu colo e fez todos os procedimentos iniciais. O último,
de fato, foi furar o dedo e nessa etapa ele abriu um berreiro, mas a enfermeira
colheu o sangue em sete lâminas de vidro e depois colocou um curativo
colorido em seu dedinho. Eu dei muitos beijinhos no dedinho dele, mas ele
estava muito dengoso, e demorou a parar de chorar. Quando saímos da sala,
Enrico estava estacado do outro lado da porta e não demorou a pegar Andrew
no colo e afastar-se, acalentando meu filho com conversas divertidas.

Minha mãe se aproximou e suspirei em um desabafo:


— Estamos fazendo isso, mãe.

— Sim, querida. Estamos sim.

Nós duas vimos o momento em que Enrico saiu com Andrew do


laboratório, sem desviar a atenção da criança.

— Ele é incrível com o Andrew, não é?

— Sim, meu amor. Ele se apegou muito rápido a ele. Parece que o
ama há toda uma vida.

— E talvez ame, mãe. — Olhei para ela com carinho. — Ele ama
Andrew até demais. Meu medo é ele não ser o pai. Isso pode partir o coração
dele.
— Mas independentemente de quem seja o pai, o mais importante é
descobrirmos a verdade e revelarmos isso a Andrew. Nosso menino é a coisa
mais importante nisso tudo.

— Isso acima de tudo, mãe.

Saímos ao encalço dos dois e, do lado de fora, vi Enrico deitado na


grama do jardim e ele tentava equilibrar Andrew em seus joelhos. Ambos
gargalhavam. Minha mãe, é claro, correu atrás do menino para evitar
qualquer acidente. Aquela foi a pagação de mico mais fofa que já vi alguém
fazer pelo meu filho.
— Hora de ir, Andrew. Você vai com a vovó.

— Ah, não, mamãe. Estou aprendendo a me equilibrar. Enrico falou


que é importante.

Olhei para Enrico apertando os olhos.

— Tudo é importante na vida para o Enrico. E você se equilibra


melhor que eu, que vivo caindo.

Enrico gargalhou muito alto, erguendo suas costas do chão, sentando-


se e agarrando Andrew antes que ele se desequilibrasse. O homem começou a
beijar a barriga de Andrew e o fazia chorar de rir.

— Pare, Enrico. Faz mal fazê-lo rir tanto — pedi.


— Faz mal é ficar de mau humor — Enrico respondeu parando a
brincadeira, ainda rindo com Andrew.

Minha mãe ajudou Andrew a ficar de pé, e Enrico pediu ajuda a ele
para se colocar em pé também, mas levantou-se sozinho, fazendo meu filho
acreditar que ergueu um homem daquele tamanho sozinho.

— Como está o dedinho, filho?


— Ah, nem dói mais.

— E foi aquele escândalo, né?

— É que na hora doeu.


Eu sorri da forma dissimulada como ele falou e mamãe partiu com ele
logo em seguida. Enrico ficou ao meu lado para esperar os rapazes que
chegariam a qualquer momento.

Um a um foram chegando, preenchendo os dados na recepção e já


entrando para coletar o material para análise.
Uriel ficou muito pouco tempo, pois precisava voltar para o trabalho.

Me despedi de Raul e fui até a recepcionista agradecer-lhe toda a


atenção. Quando virei, dei de cara com um Garcia sorridente e carinhoso:
— Eu tenho que ir, tigresa. Mas antes tenho que comentar, eu
concordo com o Ítalo: você já tem o pai do seu filho. Enrico fala do Andrew
com tanto amor que parece que o menino já é dele. — Garcia me abraçou
antes de partir. — Tenho que ir trabalhar. Você me avisa do resultado?

— Aviso sim. Muito obrigada, meu amigo.

Eu o beijei no rosto antes que ele partisse.


— Também tenho que ir.

Pablo também veio me abraçar e, a seguir, Ítalo se aproximou:

— Summer, só queria pedir desculpas por ontem. Eu estava nervoso,


falei um monte, você não merecia... — Ítalo falou e eu apenas concordei com
a cabeça.
— Não se preocupe. Muito obrigada por ter vindo. Significa muito. E
não se preocupe, sua esposa não precisa saber de nada.

— Obrigado, Summer. Sabe, eu e Cíntia nos damos muito bem... e...


— Ele demorou, mas completou. — Ela está grávida.

— Ítalo, parabéns!
— É o nosso primeiro. Estamos bem felizes. Eu tenho medo,
Summer. Estou apavorado que uma informação como essa possa afetar de
alguma forma nosso bebê ou nosso relacionamento. Porra, Summer, eu sei
que estou falando merda aqui, isso não é desculpa, mas...

Ele abaixou a cabeça derrotado, depois a ergueu tentando parecer


forte, mas força era tudo que seu olhar não demonstrava.

— Bem, vou indo então. Boa sorte. Espero de verdade que aquele
meu amigo seja o pai de Andrew, ele merece ser feliz.
Apenas sorri levemente concordando com a cabeça. Ele acenou e
partiu. O último que veio até mim foi Adam. Ele ficou sem jeito, como se
tentasse me dizer o que tinha em sua mente e, sem que eu esperasse, falou:

— Summer, eu não posso ser o pai do seu filho.

— Adam! — Eu, de fato, não esperava por aquilo.


— Eu... eu sinto muito querida, mas... Summer... eu não posso. Eu
não quero... eu estou muito bem com a minha noiva. Vamos nos casar em
breve, se ela descobre... pode colocar tudo a perder. Sinto... sinto muito. Mas
espero não ser o pai do Andrew.

Meu Deus. Ele não está fazendo isso. Como pôde dizer isso? Nem
sabe o resultado ainda. Eu não sentia minhas pernas, meu corpo não
respondia direito aos comandos mais básicos, eu apenas falei:

— Isso não tem nada a ver, Adam. Não se preocupe, ela não precisa
saber. Se for você, coisa que ainda não sabemos, basta você se apresentar a
ele como seu pai e pronto... Não precisa ver nenhum de nós dois nunca mais
na sua vida.
— Não... não dá, Summer.

— Por que veio então? Você sempre pensou em não se revelar a


Andrew, não foi? Se é assim, por que veio?

— Apenas para ter a certeza. Para não passar o resto da minha vida
com essa dúvida, mas vai dar negativo. Tem que dar. Eu não posso ser o pai.
Bem, vou embora agora. Estou realmente feliz por você.
Eu não tinha palavras para argumentar depois do que eu acabei de
ouvir.

— Eu sinto muito por tudo que falou, Adam. Sinto mesmo. Porque,
apesar de eu ter criado o Andrew sozinha, ter guardado ele apenas para mim,
em um ato egoísta e mesquinho de protegê-lo, ele não foi gerado sozinho.
Mas tudo bem, como sempre disse a mim mesma minha vida toda, eu posso
criá-lo sozinha. Eu espero de verdade que seja feliz, Adam. — Minha voz
nunca saiu tão irônica em toda a vida. — Seja muito feliz com sua futura
esposa. Eu envio mensagem na sexta avisando o resultado.
— Vou esperar. — Ele apertou de leve minha mão e depois a soltou.
— Adeus, gatinha.

— Adeus, Adam.

Ele foi embora sem mais uma palavra e Enrico se aproximou me


abraçando. Às vezes achava que ele pressentia quando eu mais precisava de
apoio.
Voltamos para o hotel. Enrico havia tirado aquele dia de folga e fizera
muitos planos de passeios para depois do almoço. Sorri e abracei a cintura
dele em busca de um lugar para me proteger e ele me apertou mais em seu
corpo.

Os dias passavam se arrastando, pois esperava por aquele resultado


ansiosa. Eu deveria ter pago a taxa de urgência para receber o resultado em
vinte e quatro horas, mas seria um valor exorbitante levando em consideração
que foram sete testes. A espera só não foi pior porque Enrico manteve-se
muito presente. Passava as manhãs e as tardes trabalhando e tirava os fins de
tarde e as noites para ficar com Andrew, minha mãe e comigo.
Com ajuda de mamãe, consegui escapar duas noites para ficar a sós
com Enrico. E sabíamos aproveitar muito bem esse tempo sozinhos.

Papai, por outro lado, me evitou ao máximo. Não atendeu aos meus
telefonemas e passara a semana toda no campo de treinamento. Eu
conversava muito com Lília e ela apenas me pedia para ter paciência.
Aquela sexta também se alongava infinitamente, pois quando liguei
pela manhã para o laboratório, me disseram que o resultado estaria disponível
no final da tarde. E claro, só saiu bem no final mesmo. Eram quase cinco e
meia quando saí de lá e fui direto para o box de Enrico. Ele já me aguardava
e, quando cheguei, subimos para seu apartamento.

Eu poderia ter visto o resultado pela internet, mas era algo importante
demais... Eu precisava de uma prova física, de algo concreto...

Eu tinha sete envelopes em minha mão e olhávamos para eles sem


coragem de abri-los.
— Abra, anjo.

Ergui os olhos marejados para Enrico.

— E aquele “se”?

— Aquele “se” não existe, Summer. Lembre-se do que falei. É


impossível eu amar menos o Andrew.

Vi Enrico pousar a mão no peito e apertei as sobrancelhas feliz e


sofrendo ao mesmo tempo.

— Vou abrir o seu primeiro.


— Certo.

Deixei os outros envelopes ao lado dele em cima da cama e rompi o


lacre, puxei a folha de papel de dentro e abri expondo o... Não!

Resultado: Negativo

Eu não soube disfarçar meu choque. Foi isso. Enrico pegou a folha do
exame das minhas mãos muito facilmente. Eu não sentia as pernas. Ele não
era o pai. Aquilo não estava acontecendo. Não estava.

Enrico se levantou e foi até a janela do outro lado do apartamento.


Reuni forças e fui até ele, mas, ao me aproximar, Enrico ergueu a mão e disse
com voz embargada:

— Só me dê um minuto, Summer.
Ele estava desolado. Ele sofria tanto quanto eu.

Assenti, fui à cama, peguei os demais resultados e saí do apartamento,


sentando-me no meio da escada. Limpei as lágrimas com as costas das mãos
e procurei o exame cujo resultado eu mais temia que desse positivo: Adam.

Resultado: Negativo
Respirei profundamente aliviada e, dessa vez, não escolhi: peguei o
próximo exame em cima da pilha: Pablo.

Resultado: Negativo

Raul.
Resultado: Negativo

A roleta russa chegava ao fim, só restavam três exames a abrir. Peguei


o próximo envelope e escutei a porta atrás de mim se abrindo. Enrico desceu
a escada e sentou-se um degrau atrás de mim. Beijou minha cabeça e me
abraçou com força.

— Não muda nada, anjo. Não muda nada.


Levei minha cabeça para trás e ele beijou minha boca. Estávamos
ambos emocionados e abatidos por descobrir que ele não era o pai biológico
de Andrew.

— Já abriu quantos exames?


— Três. Adam, Raul e Pablo. Todos negativos também.

— Certo, vamos continuar.

Ele fungou atrás de mim e apoiou a cabeça no meu ombro, esperando-


me terminar de abrir o exame. Levei as mãos à cabeça e comecei a chorar
descontroladamente. Enrico me abraçou com força e esperou que eu me
acalmasse um pouco.
— Deu positivo?

Confirmei com a cabeça.

— De quem é o exame, anjo?


— Ele não vai aceitar, Enrico. Ele não vai... Ele está construindo uma
nova vida...

— Quem é, Summer?

— Ítalo. É Ítalo. O pai do Andrew é... Ítalo — eu repetia em voz alta,


como se tentasse assimilar aquela informação.
Enrico me ergueu e me colocou em seu colo. Eu o abracei e chorei
tanto que molhei sua camisa. Percebia que ele também chorava, mas tentava
se conter para me passar força e tentar me acalmar.

— Como eu vou falar isso para um homem que disse que está feliz
com a esposa e que ela está esperando um filho dele?

— Falando, Summer. Mas você pode estar se desesperando à toa. No


fim, ele foi fazer o teste, não foi? E o único que disse que ia se recusar a
conhecer Andrew foi Adam.

Enviei uma mensagem para cada um dos rapazes cujo teste dera
negativo e fiquei olhando, parada, para o exame de Ítalo:
Resultado: Positivo

Já estava mais controlada e naturalmente aquilo não podia ser


comunicado através de uma mensagem.

Coloquei o telefone no viva-voz e ouvimos chamar três vezes antes


que ele atendesse.
— Estou trabalhando. Fale.

— Desculpa atrapalhar, não vai demorar.

— Aham.
— Ítalo, peguei os resultados. Deu positivo. Você é o pai do Andrew.

— O quê?

— Você... Você é o pai — Minha voz tremia.

— Como? Não pode ser.

— Mas é. O resultado está aqui na minha mão.

— Summer, eu nunca... nunca pensei que fosse dar positivo para


mim.
— Mas deu, Ítalo. Se quiser, posso te enviar o resultado por e-mail.

— Não. Por favor, não faça isso.

Ouvi silêncio do outro lado da linha e Enrico beijou de leve meus


cabelos, permanecendo com os lábios ali.
— Summer, me faz outro favor?

— Claro.

— Rasgue esse teste e jogue fora. Eu não posso ser o pai dele. Sinto
muito.

— Mas Ítalo... — Ele desligou. — Ele desligou!

Caí em prantos novamente e me levantei para ir embora, mas Enrico


foi mais rápido e me levou de volta para dentro do quarto. Deitou-me na
cama e eu chorei abraçada a um de seus travesseiros com Enrico encaixado
em mim.
— Por que... eu fui dizer... ao Andrew... que eu... ia encontrar... o...
pai dele... ? Como... eu vou... dizer para... o meu filho... que o... pai... dele...
não quer... não quer...?

— Vamos pensar em algo, anjo. Ítalo pode ter falado isso porque
ficou nervoso.

— Não foi... não... Você não ouviu... a voz... dele...?


— Calma. Vamos pensar em algo. Acalme-se, anjo.

Ele passava a mão pelos meus cabelos tentando me consolar. Beijava


minha cabeça e mantinha nossos corpos conectados. Ele me fazia lembrar que
estávamos unidos pelo amor e pela dor. Ele me passava segurança e a
confiança de que não sairia do meu lado quando eu mais precisasse dele. Que
sempre estaria ali por mim, não importava o momento ou o motivo. E fui
pega de surpresa quando sua voz saiu confiante bem perto do meu ouvido:

— Casa comigo, Summer?


Parei de chorar quase imediatamente.
Virei-me na direção dele, encarando-o.

— Tá louco, Enrico?

— Eu te amo, Summer. Sempre amei.

— Enrico...

— Desde o momento em que todos os caras viram sua bunda no


campo de treinamento e eu só tinha olhos para o seu rosto quando se virou,
vermelha, envergonhada. Com aquelas duas pedras azuis se destacando na
vermelhidão... Eu te amo desde sempre, anjo. Só nunca disse.
Eu o beijei com paixão.

Eu também te amo, Enrico, mas...

— Casar é uma loucura, Enrico. Eu não...


— Não me diga não, anjo. Ainda não. Não depois de eu receber o pior
não da minha vida. Eu não quero te forçar a nada te pedindo isso, por favor,
não entenda assim, só... por favor, pense um pouco.

— Mas nossas vidas... Você tem seu box, seu trabalho...

— Que eu posso exercer em qualquer lugar do mundo, desde que eu


esteja ao seu lado e ao lado do Andrew.
— Enrico...

— E se ficarmos juntos, Andrew terá um pai... que não será o Ítalo,


mas eu prometo amar tanto aquele moleque que você jamais vai se arrepender
de me ter ao seu lado.

Ah, meu coração, como não derreter com uma declaração dessas?
— Eu vou pensar então, apesar de ainda achar uma loucura. Mas eu
não vou mais mentir para o meu filho, Enrico. Veja onde isso me trouxe. Se
for preciso, vou achar um jeito de contar a ele que o pai biológico não quer
saber dele. Não tenho nem ideia de como eu vou fazer isso. Mas não vou
mentir.

— Sim, eu sei. — Ele me puxou para me prender em seu abraço


apertado. — Vamos ter que pensar em uma forma de falar com ele sem que o
magoe tanto.

— O problema é que agora não consigo pensar em nada que não o


faça sofrer.

Permanecemos apenas assim, colados, entregues à dor da revelação e


ao impasse do pedido não respondido.

Ele me pediu mesmo em casamento?


Por que me ama de fato ou por que ficou com pena de mim?

Eu gostaria de acreditar no sonho de constituir uma vida ao lado dele,


mas seria justo ele jogar tudo o que construiu para me acompanhar nas
minhas viagens? Meu coração apertava-se em igual sofrimento, mas com
uma ponta de alegria por saber que Enrico me amava e que estava disposto a
tudo por mim e por Andrew.
Reconciliações

Às sete horas da manhã daquele sábado eu estava na porta da casa do


meu pai. Na noite anterior, no caminho para casa, eu havia ligado para Lília.
Ela me informou que ele havia voltado para ficar aquele fim de
semana com ela.

Bati uma primeira vez e esperei. Bati mais algumas vezes e esperei
mais. Olhei para o carro do meu pai, estacionado bem à frente da casa.
Quando ia bater novamente, a porta se abriu.

Ele estava com cara de sono, enrolado em um robe.


— Summer?

Não suportei mais segurar o pranto que estava engasgado na minha


garganta.

— Me perdoe. Me perdoe por tudo, papai. Me perdoe por todas as


mentiras, por todo mal que eu possa ter causado ao senhor e ao meu filho,
apenas me perdoe, porque eu preciso tanto do senhor agora...
Cobri meu rosto com as minhas mãos para tentar esconder o choro e
senti seus braços me envolvendo.

— Venha... Entre, vida. O que aconteceu?

Ele me guiou para o sofá e sentou-se ao meu lado, abraçando-me forte


e esperando que eu me acalmasse.

— Tá tudo bem? — Escutei a voz de Lília.

— Ela vai ficar bem. Quer um copo de água, raio de Sol?

Eu neguei, me recompondo.

— Estou bem. Obrigada. Está tudo bem contigo e com a bebê, Lília?

— Estamos ótimas. Vou deixar vocês a sós.


Ela saiu e eu encarei meu pai que tinha um rosto repleto de carinho
voltado para mim. Ele passava a mão pelos meus cabelos e falou baixinho:

— Quer me contar o que aconteceu, meu amor?

— Eu descobri quem é o pai do Andrew, papai.


— Descobriu? É o Enrico?

— Infelizmente não, papai. Esse é o problema.

— E qual o problema, vida?


— O pai do Andrew não quer que o filho saiba que ele é o pai.

— Mas o quê? Quem é esse desgraçado?

— Ah, papai, eu não vim aqui para que você me desse sermão. Eu
vim pedir colo.
O abracei com força e ele retribuiu o abraço.

— Quem é esse idiota?


Ele abrandou a raiva e eu sorri com sua colocação.

— É o Ribeiro, papai. — Me afastei para encará-lo.

— E por que ele não quer conhecer o meu neto?

— Ele me explicou que não quer assumir a criança, que não quer ser
reconhecido como pai, porque a atual esposa dele não pode saber que ele já
tem um filho.

— Quer dizer que o Andrew vai pagar porque o filho da puta não quer
que a esposa saiba das merdas que ele fez no passado?
— Papai. Por favor. Eu estou me fodendo para o que ele pensa ou
deixa de pensar. Eu nunca precisei desse cara para sustentar o meu filho,
muito menos para dar amor a ele. Minha única preocupação é: como eu vou
dizer para o meu filho que o pai não quer conhecê-lo?

— Summer! — Eu percebi que ele ficou tenso. — Não vamos


apresentar esse cara como o pai dele.

— Eu não posso fazer isso com o Andrew, papai. Eu já menti demais,


por tempo demais, para gente demais. E não quero mais mentir para o meu
filho.

— Mas, meu amor, então vamos ter que convencer o Ribeiro a mudar
de pensamento.

— Eu só queria que ele se apresentasse ao Andrew como pai dele.


Logo vamos embora e ele nunca mais precisa saber do meu filho.

— Eu vou conversar com ele então, vida.


— E tem outra coisa, papai.

— Outra, Summer?
Acenei com a cabeça.

— O Enrico... ele me pediu em casamento.

— Ele é louco?

— Ele me ama.

— E você aceitou?
— Ainda não.

— Ainda?

— Ele ama o Andrew.


— Isso eu vi.

— Ele ficou tão arrasado quando descobriu que não era o pai. Ele
falou que o que sente por ele não mudou em nada ao descobrir que o pai é o
Ítalo. Ele falou que quer se casar comigo. O Andrew terá um pai.

— Ele falou isso tudo, vida?


— Falou sim, papai. Tem noção de como é se sentir amparada por
esse homem? Que está tentando de tudo para acolher e amar o meu filho,
enquanto o outro... O que eu devo fazer, papai?

— O que seu coração mandar, filha.

— Ah, papai. Se eu seguir meu coração nesse momento... — balancei


a cabeça negando minha vida.
— O que ele seguiria, raio de Sol? O que ele está dizendo a você?

— Ele está dizendo...


Cheguei à Lynx no primeiro horário e conversei com Carlos. Ele
estava animado aquela manhã e a conversa se prolongou. Alguns de meus
antigos colegas chegaram, me cumprimentaram e fiz o mesmo.
Esperava Ítalo, pois Carlos já havia me informado que haveria uma
reunião para a equipe dele. Quando ele chegou, perguntei se poderíamos
conversar e fomos até o estacionamento.

— Cara, se você veio aqui por causa do filho da Summer... — Ítalo


começou e eu o cortei.

— Seu filho, amigo.


— Um filho que não desejei...

— E algum de nós desejou? Summer desejou? Ela vem criando o


menino sozinha, nunca pediu nada a nenhum de nós, amigo. A única coisa
que ela pediu foi para que o pai biológico conhecesse o filho.

— Mas, Enrico...

— Ela não te pediu nada. Não vai te pedir nada, você sabe disso. Se
você quiser, a Cíntia nem precisa saber de nada. Você sabe disso.

Ítalo se afastou pensando.

— Você sabe que eu fui apaixonado por ela?


— Acho que todos fomos, Ítalo. Em maior ou menor grau.

— Mas você conseguiu ficar com a garota — Ítalo virou-se falando


com amargura.
— Por favor, amigo, não diga que está fazendo isso por minha causa.

— Até o menino é louco por você.

— Tudo só aconteceu como aconteceu porque eu não me afastei dela.


Tudo acontece como acontece com o Andrew porque eu busquei me
aproximar do seu filho, Ítalo. Ah, meu amigo, se você soubesse como ele é
especial. É tão inteligente. E o sorriso dele lembra o seu.

Ítalo virou-se me fitando.

— Lembra?
— Sim. Em muitos momentos eu tentava identificar quem o menino
me lembrava, mas só depois de ter a comprovação, eu consegui me dar conta.
Ele tem esse sorriso frouxo, que conquista corações. O menino será tão
lindão quanto o pai.

— Ainda mais tendo uma mãe como a Summer — Ítalo comentou.

— É, será ainda mais lindo que o pai — comprovei. — Putz. As


meninas estão fritas.
Ítalo sorriu comigo. Mas o sorriso dele morreu aos poucos.

— Eu não posso, Enrico. Cíntia não pode saber. Ela vai ficar
chateada, você conheceu a fera.

— Vamos marcar apenas um encontro. Você se apresenta e se


despede. Pelo que a Summer falou, eles vão embora logo. Ela tem que
cumprir agenda na Europa ou sei lá onde.
— Você quer isso, não quer? Quer que eu me afaste?

— Está louco, cara? Se você quiser fazer parte da vida dele, eu vou
achar muito bom. O Andrew só ganha com isso. Terá dois pais.
— Dois pais?

— Eu vou lutar pela Summer, Ítalo. Vou lutar para que ela me aceite
na vida dela. Eu amo o Andrew como a um filho. Eu quero ser pai dele
também, se a teimosa da Summer aceitar meu pedido.
— Você a pediu em casamento?

— Pedi.

— E ela ainda não aceitou?

— Não. Conhece a garota. Mas eu farei de tudo para conquistar


aquele coração.

Ítalo se afastou passando as mãos pelos cabelos e voltou até onde eu


estava.

— Eu vou falar com ele, Enrico. Mas vou contar a verdade ao


menino.
— Entendo.

— E eu fico feliz que você esteja tentando conquistar a Summer. E


que queira fazer parte da vida do Andrew.

— Obrigado.
— Você sabe que não é fácil para mim dizer isso, não sabe?

— Assim como não é fácil para mim vir pedir que se aproxime dela e
do filho dela. Vir pedir a você que converse e fale com o menino que eu já
considero meu filho. E que você parta o coraçãozinho dele nessa conversa.

— Sinto muito por isso.


— Não sinta. Eu agradeço por tentar. Vou conversar com a Summer e
te aviso quando podem.

— Será que poderia ser hoje? Assim acabávamos logo com isso.

— Eu concordo, mas preciso ver com a Summer. Obrigado mais uma


vez, amigo.

Eu ergui a mão e Ítalo agarrou-se a ela, puxando-me para um abraço.

— Faça Summer e o moleque felizes.

— Farei. Eu prometo.

Saí de lá com o coração um pouco mais tranquilo.

Liguei imediatamente para Summer e expliquei o que havia


acontecido. Pedi que ela me passasse um local e um horário para Ítalo
conversar com Andrew. Ela não acreditou que eu tinha conseguido convencê-
lo e me agradeceu imensamente. Disse que iria conversar com Andrew e me
enviaria uma mensagem com as informações que pedi.

Chegava ao hotel quando recebi a ligação de Enrico. Eu tive que me


apoiar na parede quando ele me explicou que havia falado com Ítalo e que ele
havia concordado em conversar com Andrew. Me alertou que ele teria uma
conversa sincera com meu filho e que explicaria que não poderia ser o pai
dele.

Eu prepararia Andrew para aquela conversa.


Estava muito mais segura depois de escutar os conselhos do meu pai e
entrei no quarto do hotel encontrando minha mãe ao lado de Andrew. Ele
fazia suas lições, que não tinham pausa nem mesmo nas manhãs de sábado.
Sentei-me ao lado deles e ele me encarou com aqueles olhões vivos,
segurando os cabelinhos, como se resolvesse um problema enorme e difícil.

— Tá complicado, amor?
— Só um pouquinho, mamãe.

— Quer ajuda?

— Eu estou ligando os objetos aos nomes. Mas eu não sei todos os


nomes ainda.
— Qual nome você não sabe?

— Esse.

— É uma fruta que você adora. Vermelha e comemos em tortas


especiais que faço aos domingos.
— É maçã.

— Isso.

— Então já sei qual é o desenho. Obrigado, mamãe. Terminei.

— Que bom, querido. Agora eu queria conversar contigo só um


pouquinho. Seria bom que a senhora ouvisse também, mamãe.

— Tá bom.

Ele baixou a tela do computador e minha mãe se ajeitou melhor na


cadeira.
— Lembra que fizemos o teste para descobrir quem é seu pai?

— Sim. É o Enrico?

— Não, meu amor. Não é ele. Mas descobrimos quem é.


— Ele é legal?

— É sim. É muito legal, mas tem só um probleminha.

— Qual? — foi minha mãe quem perguntou.

— O seu pai, ele não vai poder ser seu pai.

— Ele não quer ser meu pai?


Olhei para minha mãe, que estava com a boca aberta e surpresa.

— Bem, ele vai te explicar melhor, meu amor. Mas ele tem os
motivos dele para explicar. Só queria que soubesse antes para não ficar muito
triste.

— Mas... O Enrico não vai mais me ver?


— Ele vai sim, querido. O Enrico quer te ver sempre. Tanto que disse
que vai também para caso você precise de um ombro forte para te apoiar.

— E ele é fortão!

Andrew ergueu os dois braços e fez força, mostrando os dois


músculos inexistentes. Rimos os três e continuei:

— E eu também vou estar lá. Se achar que vai precisar de mim, eu


estarei lá.

— A senhora sempre está, mamãe.

— Sempre e para todo o sempre, meu amor.


Me levantei e o peguei no colo caindo com ele sobre a cama e o
enchendo de beijos estalados e fazendo-o sorrir. Não havia som mais gostoso
de ouvir.

Mandei a mensagem para Enrico marcando a reunião para uma


pracinha pertinho do hotel, assim estaríamos perto para retornar caso tudo
desse errado.

Agendei para o começo da noite.

Eu estava sentada em um banco e Andrew dava voltas em torno de


mim e do banco, sem parar, voando com seu super-herói de brinquedo. Eu já
estava ficando tonta com tantas voltas.

— Enrico!
Ouvi seu grito e escutei seus passos se afastando.

Olhei na direção em que ele correu e vi o momento em que Enrico se


abaixou e o pegou nos braços, erguendo-o até acima da cabeça, sorrindo para
Andrew e falando algo para ele. Ele parou e conversaram um pouco. Andrew
apenas acenava com a cabeça sem parar. Depois ele apontou na minha
direção e Enrico beijou seu rostinho antes de vir andando até onde eu estava
sem o tirar do colo. Só quando chegaram perto, foi que ele o colocou no
chão.

— Boa noite, anjo.

— Boa noite, Enrico.

Ele sentou-se ao meu lado, segurou minha mão e a beijou, sem


desviar os olhos de mim. Fiquei vermelha na hora.

Jesus, me dê forças para resistir a tanta beleza em frente ao meu filho


e...
— Vocês são namorados?

Olhamos ao mesmo tempo para Andrew, que estava parado bem à


nossa frente. Olhei para Enrico e ele abriu um pequeno sorriso e soltou:

— E aí, anjo. Qual a resposta?

Voltei a olhar para Andrew e respondi:

— Ainda não sabemos, meu amor.

Andrew ergueu os ombros e voltou a correr em volta do banco em que


estávamos sentados. De repente ele parou e se escondeu atrás de nós.
Procuramos descobrir o que ele havia visto.

Ítalo.

Meu sangue gelou. Havia chegado a hora e eu não tinha como prever
como seria aquela conversa. Eu não sabia como poderia proteger meu filho e
aquilo me apavorava.

— Boa noite — Ítalo cumprimentou.


— Boa noite — eu e Enrico falamos juntos.

— Venha cá, Andrew. Venha desejar boa noite.

Ele deu a volta no banco, encabulado e sentou-se entre mim e Enrico.

— Oi. Boa noite.

— Boa noite, Andrew — Ítalo se abaixou para falar com ele.

— Amor, eu e o Enrico vamos ficar sentados naquele outro banco


bem ali, tá vendo, Andrew? É pertinho e não vamos a lugar algum, tá bom?
— Tá bom — ele respondeu baixinho.

— Ítalo, por favor...

— Não se preocupe, Summer.


— Confio em você.

Ítalo assentiu e sentou-se ao lado de Andrew quando nos levantamos


do banco.
Meu coração ficou apertado ao deixar meu menino ali.

— Ouvi dizer que você é um dos garotos mais inteligentes dos


Estados Unidos, é verdade?
— É.

E modesto, pensei. Que carinha incrível.

— Estou vendo!
— Mas eu só sou inteligente porque minha mãe me ensina muito. Eu
tenho que estudar todos os dias.

— Até nos domingos?

— Até nos domingos. Acredita?

— Acredito. É típico da Summer mesmo. Ela também é muito


inteligente.

— É mesmo. Minha mãe deve ser a mãe mais inteligente do mundo.

Ri mais uma vez e concordei com ele.


— Andrew, você já deve saber que eu sou seu pai biológico, certo?

— Sei. Mas o que é pai biológico?

Puta merda! Como assim, eu teria que explicar aquilo?


— Bem, digamos que existem muitos tipos de pais. Os pais biológicos
são os responsáveis por terem gerado os bebês. No meu caso, eu sou seu pai
biológico. Existem pais de coração. Esse são pais que amam as crianças que
foram geradas por outros pais. Essas crianças são especiais, tão especiais, que
eles as amam como se fossem seus filhos biológicos.

Olhei na direção de Enrico. Ele segurava a mão de Summer e pude ter


certeza de que aqueles três formariam uma família perfeita.

— Então um pai biológico e um pai de coração são iguais?

— Digamos que sim, pois eles têm a mesma capacidade de amar. O


filho sendo ou não gerado dele.

— E você me ama?
Eu tinha que ser cuidadoso com as palavras. Andrew merecia somente
a verdade e eu devia isso a ele.

— Andrew. Eu não sabia que você existia até uma semana atrás. Até
sua mãe vir perguntar a mim se eu poderia fazer o exame.

— Eu sei. Ela me prometeu que acharia o meu pai.

— E ela sempre cumpre as promessas, não é?

— Sim. Até as ruins, tipo quando diz que vai me colocar de castigo
quando eu faço algo muito errado.

Eu gargalhei. Ele não era apenas inteligente: era verdadeiro, como a


mãe.
— Andrew, eu mal te conheço, mas eu já te amo um pouquinho.

— Só um pouquinho? — Ele fez um sinal juntando dois dedinhos da


mesma mão.
— Sim. Ainda é bem pouquinho.

— Tudo bem. Eu também vou te amar só um pouquinho.

Ri timidamente e não previ que as palavras dele me atingissem tanto.


Enrico estava certo, Andrew era espetacular.

— Muito justo, querido.

Ele balançou as perninhas penduradas no banco.

— Mamãe me falou que você não quer ser meu pai. Não quer por
quê? Por que só me ama um pouquinho?

Olhei novamente na direção do casal, que não tirava os olhos de onde


estávamos.

— Sabe, Andrew, quando eu conheci sua mãe e nós namoramos, eu


nunca imaginei que você nasceria. Você veio de surpresa como um presente
maravilhoso e tenho certeza de que sua mãe te ama mais que tudo.
— Ela me ama mesmo. Ela vive dizendo isso.

— Eu tenho certeza. Mas infelizmente eu só soube de você agora. E


neste momento eu tenho outra família, uma esposa que eu amo muito,
entende? E por mais que eu quisesse, eu não posso ser seu pai no momento.

— Hum.
Ele não parava as perninhas, olhava-me como se tentasse assimilar
minhas palavras. Será que ele compreendia bem o português? Só nesse
momento me liguei daquilo.

— Está me entendendo, Andrew?

Ele balançou a cabeça e respondeu:


— Acho que estou.

— Mas lembra que falei que existem muitos tipos de pais?

— Sim.

— Eu tenho certeza de que, um dia, um cara bem legal vai aparecer,


um cara que queira ser seu pai de verdade e por um longo tempo. Que vai te
amar tanto quanto sua mãe. Porque nem todo pai precisa ser biológico para
ser pai. Pai é quem cria, quem ama, quem acompanha, quem apoia, quem faz
rir, quem acredita em você, quem...

— Igual ao Enrico?
Ele apontou na direção dele e olhei para o casal, que ficou alerta com
o dedinho de Andrew apontado na direção deles.

— É sim, querido. Igual ao Enrico.

— Mas você vai ficar triste se ele também for meu pai?
— Claro que não, Andrew. Eu ficarei muito feliz, sabe por quê?

— Por quê?

— Porque eu e o Enrico somos amigos há muitos anos e eu sei que ele


vai cuidar tão bem de você que nem eu sei se eu mesmo seria capaz de cuidar
tão bem. O Enrico é um dos caras mais legais que eu conheço.
— E ele é fortão.

O moleque ergueu os braços e forçou os músculos para me mostrar e


eu sorri com a demonstração ousada. Olhei para Summer e ela também estava
rindo, com as duas mãos escondendo o riso. Certeza que ela sabia de quem o
filho falava, porque ela olhou para o lado e beijou o rosto de Enrico, que
pareceu não entender nada.
— Andrew, você me perdoa por eu não poder ser seu pai agora?

— Hum! Mas será que você podia falar comigo no meu aniversário?

Uau! Que pedido enorme. Como eu poderia negar algo tão grande?

— Eu vou falar com a Summer. Posso pedir autorização a ela e ligar


para você.

— Ou fazer chamada de vídeo, que nem meu avô faz. E minha avó
quando estamos na Europa.

— Vocês vão muito para a Europa?

— Sim. Muitão. Mas tia Maisie sempre vai para todos os meus
aniversários, não importa onde eu esteja. Ela diz que tem um radar Andrew.
Que sempre sabe onde eu estou. Ela deve estar escutando a nossa conversa
agora. Acho que ela tem superpoderes. Ela é muito esperta.

— Não tenho dúvidas. Tem que ser mesmo muito esperta para te
achar escondido pelo mundo.
— É sim. É a madrinha mais esperta dos Estados Unidos. E ela sabe
fazer chocolates, então é a melhor madrinha também.

Ri alto, sem me controlar. Era muito fácil se apaixonar por aquele


moleque.

— Então você me perdoa por não estar sempre presente na sua vida se
eu fizer chamadas de vídeo no seu aniversário?
— Perdoo. Eu vou fazer chamada de vídeo no seu aniversário
também. Eu posso?

— Eu vou adorar. E eu posso nos Natais?

— Pode. E eu posso no dia dos pais?


Aquilo foi demais.

Foi demais.

Eu levei a mão à frente do rosto cobrindo os olhos e não consegui


evitar as lágrimas.

— Tudo bem, pai. Se não puder, eu não ligo para você.

Senti sua mãozinha na minha coxa, me consolando. Escutar sua


vozinha me chamar de pai abalou todas as minhas estruturas. Um minuto
depois senti o abraço em meu ombro e ergui a cabeça para ver que Enrico
estava do meu lado e Summer ao lado do filho. Voltei a olhar para Andrew e
falei com a voz embargada:
— Eu vou... adorar. Promete que liga?

— Tá bom. Prometo.

— Ligar? — Summer perguntou.


— Prometemos que teremos algumas datas especiais em que vamos
nos falar por chamada de vídeo.

— Igual o vovô faz.

Summer me olhou curiosa e perguntou:


— E quais serão as datas?

— Nossos aniversários, o Natal e o dia dos pais — respondi.

— Acho que não poderiam ter escolhido datas melhores. — Summer


sorriu para o filho e o beijou na cabeça. — E como vocês ficaram?
— Meu pai disse que me ama um pouquinho.

Ele ia me matar de vergonha! Tinha que falar algo e rápido:


— Mas eu posso aprender a amar um montão com o tempo.

— Pode? — perguntou curioso.

Ergui os ombros.

— Tudo é possível.

— Você ia gostar, Andrew? — Enrico perguntou e ele balançou a


cabeça em sinal de positivo me fazendo sorrir.

— Aí eu vou poder ter dois pais. Um biológico e um de coração.

Puta merda. Ele precisa ser sempre tão verdadeiro... como uma certa
mulher que eu conhecia e que estava bem à minha frente.

— Como assim, filho? — Summer quis saber.


— Ele é meu pai biológico e o Enrico é meu pai de coração.

Vi o momento em que Summer abriu a boca surpresa e olhou para


mim e depois para Enrico e depois para mim novamente.

— Você falou...?
Ela perguntou para mim e eu ergui as mãos.

— Wow... Não me olhe assim. Não me culpe de nada. Eu só


expliquei a ele que existiam muitos tipos de pais no mundo. Quem escolheu o
pai de coração foi ele.

Olhei para Enrico, que estava com os olhos marejados. Ele sempre foi
muito sério e concentrado quando trabalhava conosco. Era muito estranho vê-
lo emotivo daquele jeito. Parecia uma manteiga derretida, aquele meu amigo.
Ele saiu do banco e abaixou-se em frente a Andrew.
—Você quer que eu seja seu pai do coração?
Ele concordou com a cabecinha, mas falou logo em seguida:

— Mas eu não quero que você faça videochamadas.

— Não quer? — Enrico ficou triste.

— Não. Eu quero que você venha morar comigo e com a minha mãe
na Europa.

Era agora que Enrico ia ficar maluco.

Ele pegou o menino nos braços e o abraçou tão forte que pensei que ia
perder o filho que havia acabado de ganhar. Summer ergueu-se também e
abraçou os dois. Enrico a puxou para seus braços e os três se abraçaram. Eles
já eram uma família, só não haviam se atentado disso ainda.

— Bem, gente. Eu tenho que ir — falei quebrando o clima deles.

Enrico limpou o rosto e estendeu a mão em minha direção e eu a


apertei com carinho. Summer me abraçou com força e me agradeceu
baixinho:
— Muito obrigada por tudo.

— Não tem que agradecer. — Eu a olhei por um tempo, procurando


as palavras certas. — Summer, me desculpe. Me desculpe, por favor. Eu
sinceramente não sei o que teria acontecido na minha vida se eu tivesse
descoberto que era o pai do Andrew logo que ele nasceu. Mas acho que o
destino deve encontrar formas tortas para resolver alguns impasses da vida,
dando um jeito de juntar todas as peças.

Virei o rosto e encarei Enrico, que não desviava os olhos de mim,


com Andrew preso em seu braço. E prossegui:
— Eu sinto mesmo. E estou muito feliz por todos vocês. De coração.
Por favor, não perca meu contato. Quero saber o dia do aniversário dele.

— E tenho que saber qual é o dia do seu aniversário. Muito obrigada,


Ítalo.
— De nada, Summer. Obrigado por me deixar participar um
pouquinho da vida dele. E o que prometi a ele, tentarei cumprir.

— E o que foi?

Ela se afastou para me encarar.

— Que tentarei amá-lo mais que um pouquinho. E quem sabe um


dia... Quem sabe o que o futuro nos reserva, não é mesmo? Fui surpreendido
com esse presente sete anos depois de te conhecer...

— Sim. Vamos esperar para ver o que o futuro nos reserva.

Fui até Enrico e Andrew e o chamei para meus braços. Era mais
pesado do que supus vendo Enrico erguê-lo com tanta facilidade.
— Bem, foi um prazer te encontrar e descobrir que sou seu pai.

— Eu também gostei, papai.

Ele me abraçou apertando meu pescoço e eu me emocionei quando


ele me chamou daquela forma. Crianças são verdadeiras, elas são puras em
seus sentimentos e eu não tinha o direito de magoá-lo.
— Te vejo logo, combinado?

— Sim. A mamãe que sabe ligar o vídeo, tá bom? Aí eu vou ter que
esperar ela para ligar.

— Combinado. Eu espero tranquilo. Faça boa viagem de volta para


casa.
— Obrigado.

Eu o coloquei no chão e apertei a mão de Enrico mais uma vez. Me


virei e parti para o meu carro. Ainda bem que meu amigo me convenceu a ter
aquela conversa com Andrew.
Apesar de não ser a conversa perfeita, foi melhor que pude imaginar.
E ele era tão fofo e lindo que acho que seria impossível fazer apenas quatro
chamadas de vídeo por ano.

E eu teria uma conversa muito séria com a Cíntia. E isso não poderia
demorar.

Meu coração ainda estava acelerado de emoção. Foi especial demais


ser escolhido por Andrew para ser seu pai. Pai de coração, como ele me
chamou. E poderia existir pai mais especial? Claro que não!

Summer ligou para a mãe e ela desceu, nos encontrando no


restaurante do hotel. Jantamos juntos e conversamos muito tempo sobre a
reunião com Ítalo. As coisas que Andrew contava nos emocionavam, pois
percebemos o quão delicado Ítalo foi ao tratar de um assunto tão sério com
uma criança tão pequena. E eu podia ver como Summer era uma boa mãe,
pois Andrew se comportava muito bem com aquela situação.

Após o jantar, acompanhei os três até o quarto. Entrei e coloquei


Andrew na cama de casal.
— Escovar os dentes, agora, mocinho.

— Ah, mãe!
Ele partiu chateado e Adele o seguiu para ajudá-lo. Me aproximei de
Summer rapidamente e lhe roubei um beijo rápido.

— Aqui não — ela ralhou comigo, mas me puxou para um novo beijo
me fazendo sorrir no final.
Quando Andrew voltou, ele já estava de pijama e subiu na cama,
deitando-se no centro dela.

— Olha, até tomou banho. Isso é inédito? — brinquei e ele riu


divertindo-se.

— Eu tomo banho todos os dias. Né, mãe?


— Às vezes. — Summer revirou os olhos e se corrigiu em seguida. —
Brincadeira, ele toma banho todos os dias.

Ele riu mais, enchendo o quarto de alegria. Como deveria ser gostoso
ter aqueles risos preenchendo todos os momentos do dia.

— Venha, Enrico. Você deita aqui e mamãe aqui.


Ele apontou cada um de seus lados para que nos deitássemos.

— Eu tenho que ir, amigão.

Adele voltou ao quarto também pronta para dormir. Apagou a luz


central e ligou o ar-condicionado, conferindo a porta antes de se jogar em
baixo do lençol.
— Boa noite, crianças — ela falou e virou-se de costas para nós.

— Ela fechou a porta? — perguntei baixinho para Summer, que


apenas assentiu.

Ela retirou os tênis e foi até o banheiro voltando em seguida, vestida


com uma camiseta e uma calça de algodão folgadinha. Ela se jogou ao lado
em que Andrew havia indicado e os dois ficaram me encarando. Summer
sorria safada e mantinha-se presa ao filho. Retirei os tênis também e subi na
cama.

— Só vou ficar um pouquinho. Até você dormir, amigão, depois vou


embora.
— Tá bom.

Virei na direção dos dois e ele fechou os olhinhos. Summer mexia


com carinho nos cabelinhos dele, mas seus olhos estavam presos em mim.
Ela passou a ponta dos dedos pelo rosto dele algumas vezes e isso me
lembrou quando ela fez aquilo em mim no passado. Eu fazia carinhos na
barriguinha dele.

O sono não demorou a chegar para Andrew e ficamos os três unidos


naquela cama.
Minha mão segurou a de Summer por cima de Andrew e o
envolvíamos em um abraço silencioso. Protegendo-o de qualquer mal.

Summer fechou os olhos e passei as costas dos dedos por seu rosto
suave. Também fechei os meus olhos. Eu pensava que a melhor forma de
dormir era ter Summer colada a mim. Não imaginava que estar daquela forma
era ainda melhor. Perto dos dois amores da minha vida.

Eu também já estava perto de cochilar quando escutei.


— Eu aceito.

Abri os olhos surpreso. Não sabia se havia escutado direito ou se


havia sonhado.

— O quê?
— Eu aceito, Enrico.

Apertamos nossas mãos como se elas representassem o beijo que não


podíamos dar no momento. Sorrimos um para o outro e voltamos a descansar,
agora em êxtase.
Vidas decididas em uma semana

Acordei com a cama se mexendo. Logo em seguida vieram as


risadinhas abafadas e a voz dos dois, em inglês:
— Vai, filho, faz como eu falei.

— Shhh, mamãe. Ele vai acordar.

Mais risadinhas delatando que estavam aprontando alguma. Fingi


continuar dormindo para ver até onde aqueles dois iriam.
— Vai, filho.

— Tá bom.

Senti primeiro algo tocar a pontinha do meu nariz e sabia que era o
dedinho de Andrew. Fiz esforço para não rir, nem espirrar.
— Ele não acorda, mamãe.

— Vai de novo.

Ah, Summer danada. Era tão traquina quanto uma criança.


Senti agora o dedo de Andrew em meu olho e a gargalhada de
Summer explodiu do outro lado da cama. Foi impossível evitar o sorriso se
formar em meus lábios. Sem que Andrew esperasse, eu segurei rápido sua
mão e ele soltou um grito pelo susto que tomou.

— AAAHHHHHHHH...
Levei seu dedinho que ainda estava esticado até minha boca e o mordi
com os dentes protegidos por meus lábios e ele enlouqueceu, tentando se
livrar do meu ataque.

— Socorro, mamãe! Ele acordou maluco! Quer comer meu dedo!

Summer apenas se acabava de rir.


— Quer dizer que queria me acordar enfiando o dedo no meu olho?

— Foi ideia da mamãe. Foi ideia da mamãe.

— Ei, seu delator. Tem que sustentar o segredo da parceria até sob
tortura, viu? — Summer cutucou a barriga dele e ele riu com as cócegas.
— Ah, então tem cócegas? — falei, me divertindo: aquilo eu já sabia!

Ergui a camisa do seu pijaminha e comecei a distribuir um monte de


beijos e barulhinhos engraçados ali, fazendo-o rir mais.

— Socorro, mamãe. Socorro.


— Largue o meu filho, seu cara fortão.

Summer pulou em cima de mim, aproveitando que eu estava sentado


sobre os joelhos e inclinado sobre a criança. Enlaçou as pernas em minha
cintura e abraçou meu peito.

Ela estava se aproveitando para tirar uma casquinha de mim,


disfarçando com aquele ataque?
Que safada!

— Eu nunca mais vou largar essa barriguinha — falei com uma voz
rouca e Andrew não parava de rir.
Sem que esperássemos, a porta do quarto se abriu de uma vez e nós
três olhamos na direção de Adele, que, ao entrar segurando algumas sacolas,
parou vendo a cena em cima da cama: Andrew deitado com a camisa erguida
e a barriga babada, eu sentado sobre os joelhos ao lado dele e Summer em
cima de mim, presa ao meu corpo.

— Eu posso saber que bagunça é essa?

— O cara fortão está atacando minha barriguinha, vovó, vem me


salvar — Andrew gritou em súplica e eu sorri para Adele, já levando meu
rosto novamente para meu ponto de ataque.
— Acha que sua avó vai poder te salvar? Está muito enganado...

Voltei ao ataque e escutei a voz de Adele:

— Largue meu neto, seu homem fortão.


Aquele momento foi maravilhoso.

Terminamos a brincadeira todos cansados e às risadas.

Sentei-me na cama, deixando uma das pernas para fora e dobrando a


outra por cima do colchão. Adele estava do outro lado e tirava a camisa de
Andrew para que ele fosse tomar o banho matinal e Summer sentou-se à
minha frente, colando as costas em mim. Aquilo, é claro, me surpreendeu, já
que ela fazia questão de nunca demonstrar nada perto de Andrew. Apenas
passei uma das mãos por sua cintura e beijei rapidamente seu ombro.
— Mamãe! Andrew! Eu queria falar algo para vocês — Summer
começou e fiquei sério.

Será que ela iria contar para eles sobre nós? Para o Andrew?

— Andrew, meu amor. Como sabe, eu e o Enrico somos amigos de


longa data. — Ele apenas balançou a cabeça. — Mas a mamãe sempre gostou
muito dele. Mais do que se gosta apenas de amigos.

— Você gosta dele como namorado?

— Exato, querido.

Eu não estava acreditando. Ela ia mesmo falar sobre nós para o filho.

Eu não havia sonhado. Ela havia dito que aceitava se casar comigo na
noite passada.

— E esses últimos dias eu e Enrico conversamos muito e queremos


nos tornar namorados de verdade. E queríamos saber o que você acha.
— E eu posso achar algo?

— Claro que sim, amigão, sua opinião é super importante para a gente
— falei nervoso em saber qual seria a resposta dele.

— Eu acho... — Andrew fez uma pausa dramática, típica de filmes, e


olhou para avó, que sorriu para o neto. — Vó — ele a chamou baixinho e
cochichou no ouvido dela, mas nós pudemos escutar tudo. — Eu quero que
minha mãe namore o Enrico, porque eu quero que ele seja meu pai do
coração. Se ela namorar ele, ele vai ser meu pai do coração?
— Eu acho que ele já é seu pai do coração, namorando ou não a sua
mãe. Maaasss... — Ela esticou o “mas” sorrindo para Andrew. —
Dependendo do que você responder, os dois vão ficar muito felizes.

— Então já sei o que vou responder.


Andrew nos olhou como se não tivéssemos escutado nada daquilo.
Óbvio que àquela altura eu já havia virado um bebê chorão e estava
emocionado com as palavras dos dois.

— Eu acho que eu ia gostar que a senhora namore o Enrico. Eu quero


muito que ele seja meu pai do coração.
Ele apertou os lábios sorrindo, tendo certeza que aquela era a resposta
certa. Summer abriu os braços o chamando e ele foi para seu colo. Ela o
sentou e o cobriu de beijos.

— Ah, meu amor. Eu fico tão feliz.

Eu abracei os dois. Eram a família que eu desejava ter.


Ele saiu do colo de Summer e pediu o meu, abraçando-me com força.

— Não chore, Enrico. Eu quero mesmo que você seja meu pai do
coração, mas você sempre chora quando eu falo isso.

Ele achava que eu chorava de tristeza? Meu Deus, se ele soubesse


como eu estava feliz, como meu coração quase não cabia no peito por
tamanha alegria ao ser escolhido por ele para também ser seu pai!

— Eu choro sempre, Andrew, porque sou o cara mais sortudo que


conheço por ter sido escolhido por você para ser seu pai.

Ele sorriu para mim e então olhou para a mãe, perguntando:

— Então o Enrico vai com a gente para a Europa, mãe?


Summer virou o rosto na minha direção.

— Ainda não conversamos sobre isso, campeão. Mas ainda temos


alguns dias para conversar.

— Vocês viajam quando, anjo?


Eu estava evitando aquela pergunta.

Não queria saber quando ela ia embora. Não queria imaginar os dois
longe de mim.
— Em uma semana.

— Uma... semana?

— Sim. Parece que nossas vidas sempre devem ser decididas em uma
semana, não é mesmo?

Era tão pouco tempo. Eu teria que resolver tudo e...

— Hora do banho, Andrew. Depois vamos tomar café da manhã para


você poder fazer suas tarefas!

Summer o colocou em pé fora da cama e deu uma palmadinha em sua


bunda para ele começar a andar.
— Mas hoje é domingo! Tem que fazer tarefas? — perguntei tentando
defendê-lo das lições.

Eu estava me mostrando um pai todo derretido que logo estragaria o


garoto.

— Tem sim, senhor. O ensino dele não é tradicional, Enrico. Temos


lições todos os dias, para não acumular. Assim tem tempo para estudar,
brincar, fazer esportes e passear. Né, Andrew?
— É sim. É chato às vezes, Enrico, mas eu consigo fazer rápido.

— Então corre para o banho para podermos comer.

— Tá bom.
Ele saiu maluquinho, correndo e gritando para o banheiro. Adele se
virou para nós dois e falou.

— Estou muito feliz por vocês. Mereciam mesmo ser felizes.

— Obrigada, mamãe.

— Obrigado, Adele.

Ela seguiu Andrew para o ajudar e Summer se virou para mim,


sentando-se melhor, encaixando-se em mim.

— Enrico, desculpe se ainda não contei sobre o pedido de casamento,


mas é porque...

— Ei, eu entendo. Não se preocupe, eu entendo. Como você ia falar


da minha loucura se ele nem sabia que estávamos juntos? Nem eu mesmo
sabia.

Ela sorriu. Linda.


— Eu estive pensando à noite... Como vamos fazer para isso dar
certo?

— Você mudou de ideia, anjo?

— Não! Não. De forma alguma. Eu aceito. Eu aceito — pronunciou a


última frase colando os lábios nos meus e me beijando docemente. — Eu
aceito. Mas não paramos para analisar as consequências desse namoro, desse
pedido... Você tem sua vida aqui, eu tenho minha vida... Sei lá para onde vão
me mandar... Tenho uma casa completa, mobiliada e que mal uso, ao lado da
casa da minha mãe na Califórnia, mas... Ah, Enrico... Temos tanta coisa para
resolver ainda. Mas não pense nem por um segundo que não tentarei fazer
com que isso dê certo.
— Era só o que eu precisava saber, anjo. Vai dar tudo certo então.
Puxei-a para novamente provar um pouco mais dos seus lábios
macios. E, claro, a risadinha malandra começou a invadir o quarto. Olhamos
na direção de Andrew e lá estava ele, pelado no meio do quarto com as duas
mãos cobrindo a boca.

— Vocês estão mesmo namorando!


— Vá se vestir, Andrew! Que feio, pelado em frente às visitas.

Summer cobriu meus olhos com as mãos e eu sorri.

Pouco depois estávamos todos vestidos, comendo e nos divertindo


novamente em volta da mesa do quarto. Adele havia comprado alguns
quitutes deliciosos para o desjejum e nos fartamos do café da cafeteira
disponível no quarto.
Depois de comermos, Summer me acompanhou quando saí.

Teria que começar a repensar minha vida e sabia que muitas decisões
seriam bem difíceis. Mas eu tinha a oportunidade de recomeçar ao lado da
mulher que amava e que não deixaria fugir novamente e do filho maravilhoso
que a vida acabara de me dar.

Paramos ao lado do elevador.

— Você volta hoje à noite? — ela perguntou.

— Pensei que pudesse ir lá para casa, para comemorarmos tantas


coisas boas. Não que eu não goste de comemorar com o Andrew e sua mãe.
Sabe muito bem que não é esse o problema.

— Hum, sei sim. Sei muito bem qual o intuito desse convite.
— Se sabe, então só posso ficar imaginando como estará vestida.

— Nem disse que eu vou.


— Ah, não vai?

— Claro que vou. Mas como sempre...

— Eu sei, volta para cá no meio da noite. Eu já aceitei suas regras,


mocinha das regras.

Ela me beijou e saiu rebolando de volta ao quarto. Ela sabia que eu ia


ficar de olho naquele traseiro lindo quando ela se afastasse.

Passei a tarde no Instituto Tomie Ohtake, tanto para dar atenção aos
visitantes da exposição, como para acertar os detalhes do encerramento, na
próxima semana.

Saí de lá já anoitecendo. Passei em um restaurante japonês que ficava


pertinho do Instituto e parti para o apartamento do Enrico.

Ele abriu a porta animado. Me puxou para os seus braços, quase me


fazendo derrubar o que levava nas mãos.

— Tenho uma notícia boa e uma ruim. Não vou te deixar escolher,
anjo. Vou começar pela boa.

— Ok. Já que não tenho opção mesmo!

— Propus sociedade no meu box para o Rodrigues e ele aceitou. Ele


vai ficar tomando conta do negócio quando eu partir.
— Uau! Enrico! Mas você já tomou essa decisão?

— Sim. E ele vai alugar meu apartamento também, assim é uma renda
que vai entrar enquanto organizo a vida nova.
Ele me ajudou a colocar os sacos de papel em cima da mesa e depois
me colocou sentada ali, ao lado da comida e segurando meu rosto.

— Enrico, tem certeza de que vai fazer isso... quero dizer...


— Parece que não ficou feliz, Summer.

— Não é isso, Enrico. É que pensei que íamos conversar antes, pensei
que, quando soubesse como é minha vida, fosse ficar tão contrariado que
pudesse desistir e...

— Eu jamais, jamais vou desistir de vocês... de nós.


Ai, meu coração de marshmallow não aguentava quando o Enrico se
declara no plural, envolvendo meu filho na conversa. Eu amava muito isso.

— E tem mais uma coisa, anjo. Algo que queria conversar sério
mesmo contigo. — Ele me olhou de forma muito profunda.

— Sério?
— Sim. Eu sei que seu trabalho exige que viaje pelo mundo. E que
não gosta de deixar o Andrew com a sua mãe para não dar trabalho a ela, mas
acho que podemos começar a pensar em colocá-lo em uma escola tradicional,
com alguns amiguinhos da idade dele, na Califórnia, e eu cuidaria dele. Sua
mãe poderia me ajudar e...

Eu comecei a rir sem querer. Ri alto sem me controlar.

— Você, cuidando sozinho de uma criança?


— Está me ofendendo. Acha que não sou capaz?

Parei de rir.

— Não é isso... É que... Está falando sério?


— Sim. Estou sim, anjo. Quando viaja a trabalho, normalmente fica
muito tempo fora?

— Depende do contrato, mas... posso rever com meu chefe e... Você
está mesmo falando sério?
— Estou sim, Summer. Já imaginou? Eu posso me estabelecer na
cidade em que você mora, ficar cuidando do Andrew enquanto trabalha e,
sempre que voltar para a gente, encontrará nosso lar cheio de amor para te
receber. E claro, sempre que Andrew estiver de férias, poderíamos viajar
contigo. O que acha?

Eu achava que estava fazendo algum tipo de careta, pois ele meio que
me imitou.

— A não ser que essa cara signifique que odiou minha ideia e ache
que me precipitei e não imaginava que eu já pretendia me mudar com vocês
e... Que merda de cara é essa, Summer? Você está tendo um AVC?
— Não... é... é... É que... Você está mesmo falando sério? Em se
mudar, cuidar do Andrew, lar cheio de amor, essas coisas...?

— Por que fica me perguntando isso sem parar? É claro que estou,
anjo. Eu te amo. Eu te amo e não quero mais ficar contigo só uma semana.
Quero ficar uma década... — Ele me beijou. — Duas décadas... — Um novo
beijo. — Três décadas... Posso continuar por muitas décadas se isso significar
novos beijos.

Sorri.
— Enrico... Nem em todos os meus sonhos mais lindos, nem nos mais
safados também, imaginei que fosse me propor algo assim tão maravilhoso.

— Então você aceita?


— Ah... Ainda não sei... Vamos com calma só um pouquinho? Eu e
Andrew nunca nos afastamos, sempre estivemos juntos a vida toda, então
vamos ter que ver a adaptação dele também. Eu sei como você acha
importante ele ter amiguinhos, mas vamos no tempo dele também, pode
aceitar isso?

— Posso. Claro que posso, anjo. Não sou nenhum louco ditador que
vai chegar na vida do moleque impondo um monte de coisas novas. Eu sei
que a minha presença na vida de vocês já será algo muito diferente.

— Será mesmo. Ei, espere. Não que eu queira, mas você está me
devendo a notícia ruim.

— Sim. Sim. Eu não conseguirei viajar com vocês em uma semana.

— Ah, não diga isso!


— Infelizmente não. Terei muita coisa para resolver por aqui. Sem
contar organizar visto, passaporte... Quando eu for, espero estar pronto para
ficar por um longo tempo.

— Você está certo, Enrico. Não vamos atropelar nosso sonho de


ficarmos juntos.

— Não, não vamos, meu amor. Mas eu prometo que esta semana eu
não largarei vocês. Que te encherei de tanto carinho e amor que vai querer
ficar mais uma semana.
Ri, inclinando-me para trás e ele se aproveitou para beijar meu
pescoço.

— Quero só ver — duvidei. — Vamos jantar? Estou com fome.

— O que trouxe nessas sacolas?


— Comida japonesa.

— Adoro! Vou comer meu sushi em cima do seu corpo nu. E tomar
saquê no seu umbigo. Mas só depois que me fartar de você.
Ele me agarrou pela bunda e me levou até a cama. Eu soltei um grito
pela pressão que fez ao colar nossos sexos e perceber a ereção monstruosa
que ele já exibia. Era um insaciável mesmo aquele gostoso que inventei de
escolher como futuro marido.

Uma semana depois


Enrico não largava Andrew. Tudo que tinha que resolver fazia com o
menino nos braços, recusava-se a deixá-lo ir para o chão, e foi uma briga de
braço com meu pai quando ele pediu Andrew para se despedir. Eu o abracei
imediatamente quando papai pegou Andrew e o levou até uma loja de
souvenirs.

— Precisava levar Andrew para longe? — Enrico resmungou,


chateado.

— Eita ciúmes da porra! Papai já traz o menino. Aproveita que está


sozinho comigo para me beijar, vai!
Ele fez o que pedi e foi minha vez de ser agarrada e não ser largada
por ele. Sabia o quanto ele estava sofrendo em nos levar ao aeroporto, pois eu
mesma não sabia como estava aguentando partir e deixá-lo ali. Enrico só
conseguiria ir para nos encontrar em uns dois meses e seriam os piores dois
meses da minha vida. Só não seriam piores porque eu estaria trabalhando.

— Vou sentir saudades de vocês todos os dias, anjo — ele disse


ressentido, com a voz triste.
— Você sabe que eu também vou, não sabe? Nós dois vamos.

— Sei.

Ele não parava de me beijar. Beijava minha testa, minha cabeça, meu
pescoço, meus lábios.

Quando viu meu pai voltando segurando a mão de Andrew, falou:

— Lá vem eles. Já era tempo.

— Deixe de ser controlador. Olha só quem quer que o menino tenha


um monte de amiguinhos.

— Hum... vou repensar isso aí...

Rimos juntos e, quando os dois já estavam bem próximos, Andrew


largou a mão do meu pai e correu, jogando-se... nos braços de Enrico! É
claro... Ele só sabia correr para Enrico ultimamente...
Revirei os olhos.

— Olha só quem está com ciúmes agora! — Enrico falou beijando


meu rosto e sorri para ele ao colocar Andrew no chão.

— Veja o que meu avô comprou para mim, mamãe. Um monte de


revistinhas.
— Ah, é a Turma da Mônica, Andrew. Eu adoro.

— A senhora lê para mim no avião? Tá em português.

— Leio sim.
— Vamos aprender a ler em português também, né? — disse Enrico.

— Sim. E mamãe falou que tenho mais um monte de línguas para


aprender.
— Muito bem. Não seria sua mãe se não falasse isso.

Foi então que vimos Ítalo ao longe. Vinha abraçado a uma mulher
jovem e muito bonita, com uma barriguinha aparente. Quando chegaram, ele
fez as apresentações:
— Oi, gente. Esta é Cíntia, minha esposa. Estes são Summer, Enrico e
o Comandante... — Ítalo tentava sorrir para o meu pai, mas não conseguia. —
Seu Lúcio. E esse aqui é o carinha super especial de quem te falei, amor. É o
Andrew.

Ítalo e Cíntia se abaixaram para ficar na altura dele.

— O senhor veio se despedir de mim? — Andrew perguntou. —


Pensei que a gente só fosse se ver pelo vídeo.
— É claro que viemos, querido. — Foi Cíntia quem respondeu. — Eu
e seu pai queríamos te ver para desejar um bom retorno à sua casa.

— Sim. E queríamos que soubesse que vamos sentir saudades — Ítalo


completou.

— Vocês vão sentir saudades de mim?

— Claro que sim, amigão.

— Então você já me ama um pouquinho mais, pai?

Vi o casal rindo e eles se entreolharam. Enrico me abraçou forte.


— Amo sim, Andrew. Eu queria que soubesse, antes de você partir,
que, quando falei com a sua mãe que não queria ser seu pai, eu estava com
muito medo. Mas agora, conhecendo você, depois de conversar com a sua
mãe, com a minha esposa e com o Enrico, eu não tenho mais tanto medo.

Ítalo passou a mão pelos cabelos de Andrew e tocou seu rosto com
muito carinho.

— Então o senhor vai me amar um montão bem rápido, não é?

Ítalo riu com a colocação do meu filho.

— Eu suspeito que sim, Andrew.

— E você também vai me amar, Cíntia? — ele perguntou diretamente


para ela.

— Com certeza vou, meu amor. E sua irmãzinha ou irmãozinho, que


está aqui dentro, também vai te amar muito.

— Posso colocar a mão na sua barriga?

— Claro, amor. Venha.


Andrew colocou a mãozinha espalmada na barriga pouco
protuberante.

— Tchau, bebê. Eu sou seu irmão mais velho, então comporte-se


quando eu não estiver perto e estude muito. Minha mãe fala que só estudando
a gente consegue descobrir o segredo da vida. — Ele inclinou-se só um
pouco para falar baixinho na direção da barriga de Cíntia. — Mas se eu
descobrir qual é o segredo antes de você, eu te conto, tá?

Todos nós caímos na gargalhada e ele virou o rosto para tentar


entender do que riamos.
— Obrigada pelo conselho, meu querido. — Cíntia deu um beijo em
seu rostinho.

— Vocês podem me mandar fotos do bebê quando ele nascer? —


Andrew pediu aos dois, que se entreolharam animados.

— Claro que podemos, Andrew — Cíntia se prontificou.


— E podemos fazer chamada de vídeo para vocês se conhecerem,
também. — Ítalo se animou e ergueu os olhos para mim. — Se estiver tudo
bem para você, Summer.

— Vamos adorar conhecer o irmão do Andrew por chamada de vídeo.


E quando possível, pessoalmente também. Se não tiver problemas para vocês.
— Claro que não. Andrew será muito bem recebido na nossa casa. —
Cíntia beijou mais uma vez Andrew e pediu ajuda a Ítalo para se erguer.

Ela cumprimentou a todos nós enquanto Ítalo abraçava com força o


filho. Ele estava ali, entregue àquele momento, e eu sabia que aos poucos ele
mudaria em relação a Andrew.

Meu filho tinha o dom de conquistar as pessoas.


Mamãe e Lília chegaram perto de nós também e foram apresentadas a
Ítalo e a esposa.

— Bem, hora de irmos, filha. Vamos?

— Ahhh... Não!
Andrew foi até Enrico e abraçou as pernas dele, procurando segurança
e consolo.

— Eu não quero ir, Enrico.

— Ei, o que é isso? Logo, logo eu estarei com vocês. Será tão rápido
que você não vai nem perceber. E vamos poder fazer aquelas videochamadas
que a mamãe e você me ensinaram. Vamos poder nos falar sempre que você
sentir saudades.
— Eu vou poder falar contigo todos os dias então?

Enrico se abaixou e o abraçou com força, fechando os olhos. Eu sabia


que ele se esforçava para não chorar. Era meu lindo gostoso.

— Se você quiser, sim.

— Tchau, papai. — Foi a minha vez de abraçar meu pai. — Te amo.


Obrigada por toda a conversa que tivemos. Obrigada por ter nos perdoado.

— Nunca mais vamos falar sobre aquilo, vida. Não há mesmo o que
perdoar. Tudo foi esclarecido e somos uma família que só cresce, pelo visto.

Ele olhou na direção de Enrico.

— Sim. Ela só cresce e logo será ainda mais linda com a minha
irmãzinha maravilhosaaa! — Fui até Lília e a abracei com carinho. — Cuide
muito bem dessa Ferrazinha.

— Pode deixar, Summer. Se essa tiver toda a sua força e


determinação, ah, já estou feliz com o destino dela.

— Ah, essa aí será mais, Lília. Porque ela terá muito das Almeida
também, e você e sua família são mais guerreiras que eu.
Ela me abraçou novamente.

— Obrigada, Summer. Tenha uma ótima viagem, querida.

— Obrigada. E quero ver muitas fotos e vídeos dela daqui a três


meses.
— Tenha certeza de que vai receber muitas e muitas fotos dela.

Minha mãe se despediu dos dois e conseguiu tirar Andrew, a


contragosto, do colo de Enrico. Com o neto no colo, ela foi se despedir dos
demais.

Enrico enfim me abraçou uma última vez e me virou para que seu
corpo enorme escondesse dos parentes o beijo apaixonado que me deu.
— Eu te amo. Te amo. Te amo. Nunca se esqueça disso, anjo.

Ele dizia enquanto encostava sua testa na minha e segurava meu


rosto.
— Eu também te amo muito, amor. Dois meses passam rapidinho,
não passam?

— Passam sim. Logo estaremos nós três juntos, para sempre.

Nos beijamos novamente. Em um beijo demorado e já cheio de


saudades. Nós nos afastamos e segurei a mão de Andrew para que Enrico
pudesse se despedir de minha mãe. Seguimos para a sala de embarque e a
sensação de deixar meu coração foi tão grande que só me controlei porque
tinha que ser forte por meu filho, afinal sabia que ele também sofria.
Alguns passos depois escutei o grito de Enrico:

— Summer?

Virei e vi o momento em que Enrico correu até mim novamente.


— O que foi?

Ele chegou ofegante, retirando o cordão fino que mantinha um


pingente com a letra “S” pendurado em seu pescoço. Ele guardou o pingente,
pegou minha mão direita e começou a enrolar o cordão sobre meu dedo
anelar.

— Isso não é uma aliança, isso não é nem mesmo um anel, mas quero
que saiba que te amo, amo de todo o meu coração e que mantenho meu
pedido, case-se comigo. Seja minha esposa. Eu serei o marido mais feliz e
abençoado por tê-la como mulher e ainda ganhar Andrew como meu filho. Eu
te amo, Summer. Eu te amo tanto.
Olhei para a mão e o que era antes um cordão, agora formava a mais
linda aliança de casamento. Várias voltas da prata enroscavam-se desenhando
meu futuro. Meu futuro ao lado dele.

— Sim, Enrico. Eu direi sim todas as vezes que me pedir em


casamento, porque eu também te amo.
Ele me beijou mais uma vez e acreditei que aquela despedida seria
apenas um capítulo daquele romance que ele descreveu uma vez. Apenas um
breve parêntese em nossa felicidade infinita.
Eu sou completo

Dois meses depois

Eu estava tão nervoso que sentia a pele fria.

Peguei minhas malas na esteira, as coloquei no carrinho e as empurrei


para a saída. Assim que passei pelo portão e vi as pessoas que esperavam
seus entes queridos, avistei a placa em português, erguida acima da cabecinha
de Andrew, que estava sentado nos ombros de Summer:

“Bem-vindo, papai. Eu estava com mais saudades que a mamãe”

Foi impossível não sorrir.

Apressei meu passo até eles e abandonei meu carrinho para poder
abraçar os dois. Beijei a mulher da minha vida primeiro e ajudei a tirar meu
filho de suas costas, abraçando-o com força.
— Será que estava com mais saudades que eu, Andrew? — perguntei.

— É claro, papai.

Ah, aquela palavra, dita por ele, não tinha preço. Voltei a abraçar
Summer com Andrew preso ao meu peito e estava finalmente completo
novamente.

Alguns meses depois

Eu estava em frente à nossa casa, terminando de cortar a grama


quando o táxi parou e Summer desceu depois de pagar a corrida. Fui até ela,
ajudando-a com a mala pequena que trazia.

— Ele já chegou? Ele já chegou?


— Não chegou ainda, amor. Pode ficar tranquila. Deve chegar a
qualquer momento.

Ela enfim me beijou. Mal nos largamos, o ônibus escolar estacionou


duas casas antes da nossa e fomos caminhando abraçados até lá. Assim que
Andrew viu a mãe, largou a mochila e a lancheira e saiu correndo para
abraçá-la.

— Mamãe. Mamãe. Você voltou.


Ela se abaixou para receber o corpinho de Andrew, que se jogou
contra o dela. Fui até onde ele havia abandonado as coisas e peguei tudo.
Quando voltei, eles já estavam em pé.
— Eu não perderia seu primeiro dia de aula. Infelizmente, não pude
estar aqui na hora que saiu, mas consegui chegar para recebê-lo. O que
achou, meu amor?

— Eu... adorei, mamãe. Tem um milhão de crianças. Já fiz quatro


amigos.
— Uau. Isso é maravilhoso. Isso não é maravilhoso, Enrico?

— Acho que é mais que maravilhoso. E acho que rapidinho você fará
ainda mais amigos.

— Eu também acho. Tenho um monte de tarefas para fazer. Você me


ajuda, pai?
— Claro que sim. Vamos jantar primeiro e depois vamos às tarefas.

Summer beijou novamente o filho, e o menino em seguida correu até


Adele, que saía de dentro de casa.

— Vovó. Vovó. Eu já fiz quatro amigos.


— Uau. E quais os nomes deles?

Summer envolveu meu corpo, abraçando-me e exigindo um novo


beijo.

— Obrigada, Enrico.
— Pelo quê, anjo?

— Por me mostrar a importância de Andrew ir à escola, fazer amigos


e principalmente, por cuidar dele, de mim...

— Ah, meu amor, faço tudo isso com amor.


Algumas semanas depois

Parabéns para você,

Nesta data querida,

Muitas felicidades!
Muitos anos de vida!

Viva o Andrew! Viva!

Ítalo e Cíntia terminaram de cantar e bateram muitas palmas.


— Obrigado, papai. Obrigado, Cíntia.

— Muitos anos de vida cheios de saúde e muitas brincadeiras,


querido — Cíntia falou animada.

— Obrigado. A Malu tá acordada? Eu posso vê-la só um pouquinho?


— Tá sim, Andrew. Vou pegá-la — Cíntia confirmou e saiu da frente
da tela.

— Como se sente completando sete anos?

— Sabe como é, pai. Estou me sentindo mais velho e maduro.


Todos nós gargalhamos.

— Nossa. Muito mais velho e maduro — Maisie disse atrás de


Andrew e Ítalo riu ainda mais.

Minha mãe também se acabava de rir do outro lado da mesa. Cíntia


voltou a aparecer em frente à tela do computador trazendo a filha de poucas
semanas. Ela era tão lindinha, com cabelos castanhos e os olhos claros de
Cíntia.

— Não vejo a hora de poder conhecer minha irmãzinha pessoalmente.


— A Malu também está louca para conhecer o irmãozinho. Quando é
que você vem visitar a gente? — Cíntia falou e o convite me encheu de
felicidade.

— Pode demorar um pouco. Papai Enrico está montando um box aqui


e mamãe tem um montão de fotos para tirar, né, mãe?

— É sim, amor. Mas avisamos com antecedência quando formos. O


que não queremos é atrapalhar — falei.
— Vocês não atrapalham — Ítalo disse. — E como é isso do box aí,
Enrico?

— Ainda tem que ser a passos lentos, Ítalo. Aqui as coisas são bem
burocráticas. Ainda não tenho cidadania e isso complica tudo. Só quando nos
casarmos é que conseguirei a licença para ministrar as aulas, levando em
consideração meu diploma do Brasil. E eu já me inscrevi para dar
continuidade nos estudos por aqui também. Vou fazer um mestrado na área
do crossfit, isso vai facilitar.

— Cara, fico muito feliz. De verdade.


— Obrigado pela força.

— Andrew, vamos desligar agora, mas você sabe que pode ligar
quando quiser, né?

— Sei sim, papai. Obrigado por se lembrar do meu aniversário e ter


me ligado.
— Eu nunca esqueceria. Vamos nos falando e no Natal estaremos
juntos novamente.

— Tá bom. Tchau, Malu! Tchau, Cíntia! Tchau, papai!


— Tchau, querido — os dois se despediram antes de a tela escurecer.

— Ficou feliz, Andrew? — perguntei.

— Sim. Pensei que ele fosse esquecer. Fazia tanto tempo que
tínhamos nos falado, só quando a Malu nasceu.

— Verdade, mas acho que ele não esquece de você, amigão — Enrico
falou atrás dele, beijando sua cabeça. — É impossível esquecer de um dos
garotos mais especiais que todos nós conhecemos.

— Eu vivo falando isso para ele — Maisie disse. — O mais especial,


querido, inteligente, lindo, fofo...

— Tá bom, madrinha, eu já sei, eu já sei.


— É fácil descobrir de quem Andrew ganha tanta confiança. A Maisie
não para de tecer elogios para o moleque — Enrico disse, brincalhão.

— Eu só conto verdades, né, campeão? — Minha amiga louca ergueu


a mão para Andrew.

— É sim. — Ele correspondeu na hora o aceno da mão dela.


Andrew sorriu, divertindo-se. Adorava quando Maisie enchia sua
bola, o que acontecia o tempo todo. Peguei o cupcake em cima do balcão e
acendi a velinha, colocando-o na frente de Andrew.

— Faça o pedido antes de apagar — pedi.

Ele fechou os olhos, depois os abriu e assoprou a velinha.


— Yay! Pediu o quê, filho? — perguntei.

— Um irmãozinho. Mas não no Brasil, aqui comigo.

— Você fez o quê?

Soltei um grito e Enrico, Maisie e minha mãe riram alto. Acendi


novamente a velinha.

— Nada disso. Vamos refazer esse pedido.

Andrew fechou os olhos novamente e soprou mais uma vez.

— Qual seu pedido agora, Andrew? — questionei.

— Eu disse que podia ser irmãzinha, eu não me incomodava não.


Os outros adultos não se cabiam de tanto que riam. Fuzilei
principalmente Enrico com meu pior olhar matador, mas o infeliz não parava.

— Andrew Mitchell. O senhor quer ficar de castigo? Nada de irmão


nem irmã.

Acendi mais uma vez a velinha.


— Agora faça outro pedido, vamos, rapazinho.

Andrew fechou os olhos, mas o danado abriu apenas um olho, indo de


mim para Enrico e voltando a mim. O fechou novamente e soprou a velinha.

— Eu disse agora que, se forem gêmeos, podia ser um menino e uma


menina.
— Isso aí, filhão! — Enrico ergueu a mão na direção de Andrew, que
bateu a mão na dele.

— Eu não mereço vocês dois. Eu não mereço...

Peguei o cupcake, tirei a velinha e comecei a comer, indo em direção


à sala.

Dois anos depois

— Andrew, o jantar já está na mesa.

— Eu vou chamar a mamãe.

— Eu vou. Pode começar, filho.


Subo as escadas em silêncio. Tento ser cauteloso ao entrar em nosso
quarto. Summer está dormindo na nossa cama.

Está deitada de lado, tão linda, tão serena.

Tiro alguns fios de cabelo de seu rosto e me viro na direção do berço.


Christian também dorme sossegado. Passo a ponta dos dedos pelos
cabelinhos escuros do meu filho e sorrio, bobo. Ele é tão lindo quanto
Andrew.
— Ele acordou? — A voz de Summer veio apagada, de trás de mim.

— Não, amor. Ele dorme que é uma beleza.

Me viro e subo na cama. Summer escorrega para o meu peito e volta a


ressonar baixinho.
— Já terminei o jantar e já servi, anjo.

— Aham.
Sorrio e beijo o topo de sua cabeça. Ela anda cansada porque o bebê
troca a noite pelo dia.

— Descanse um pouco mais, anjo. Eu trago sua comida mais tarde,


tudo bem?
— Obrigada. Eu te amo tanto por isso.

— Eu sabia que você me amava só para se aproveitar dos meus dotes


culinários.

— E seu capricho em ser pai. Andrew já fez as tarefas de hoje?


— Já sim, amor.

— Que bom. Que bom — ela estava exausta. — Enrico...

Iiii... ela fez uma pausa dramática. Isso não era bom.
— O que foi, querida?

— Recebi um e-mail hoje... para fazer fotos no Canadá. É pertinho.

— Summer! — ralhei com ela, mas sabia que era impossível prender
aquela mulher. — Para quando precisam de você?

— Eu disse que só poderia ir em pelo menos uns quarenta dias... ou


um mês, no mínimo.

— Sabe quanto tempo vai ficar?

Já assumo sua ida. Ela é um espírito livre quando se trata do trabalho.


Summer ergue o corpo e eu tenho a atenção da mulher presa em mim.

— Eu pedi para ficar no máximo... uma semana. E o Christian vai


comigo, fica mais leve para você.

— Uma semana... — Ergui os olhos pensando e falei brincando: —


Eu acho que posso lidar com o Andrew sozinho.

— Jura? Ai, Enrico. Você é o melhor.

— Claro que sim! Fica tranquila e arrasa, meu amor.

— Obrigada, obrigada! Vamos ter tempo para nos organizarmos e...

— Não se preocupe com nada. Eu vou pegar o Andrew todos os dias


na escola e o levo para o trabalho.

Ela volta a erguer o rosto para mim.

— O que foi, anjo? Eu prometo não deixar ele se meter com os


equipamentos pesados. — Dou um sorriso e ela continua me encarando com
aquele jeito engraçado. — Eeeee... qualquer coisa, peço para algum instrutor
me substituir nas aulas se eu precisar ajudá-lo com as lições.

— Sabe o que as alunas de crossfit amam mais que professores gatos


de crossfit?
Eu rio internamente, pois descobrir uma Summer ciumenta é
engraçado demais.

— Não, amor. O que elas amam mais?

— Professores de crossfit que têm filhos lindos de morrer. Sempre


que você leva o Andrew lá é a mesma coisa, todas ficam rondando, à sua
volta, babando por ele... já falei: à sua volta, Enrico.
— Hum... entendi agora.

— Acho melhor cancelar essas fotos.

Ela volta a se deitar em meu peito, ritmado ao som do meu riso.


— Acha mesmo que eu ia me aproveitar do nosso filho para
conquistar corações, sendo que o único coração que desejo está bem aqui, nos
meus braços?

— Hum... — Funga chateada. — Não é com você que tenho que me


preocupar, senhor gostosão!
— Você vai, sim, fazer suas fotos, senhora encrenqueira. E não vai se
preocupar com nada.

Summer beija meu peito por cima da camisa.

— Ô, pai! Eu não acredito que o senhor veio chamar a mamãe e vocês


dois ficaram aí, namorando! — Um Andrew mandão aparece na porta com as
duas mãos na cintura. — Eu estou com fome, sabiam?
— Eu falei para você jantar, filhão... — digo me soltando de Summer
e já saindo da cama.

— Mas eu preferi esperar vocês.

— Ai, que lindinho. — Summer também sai da cama, calçando os


chinelos de dedo. — Vamos jantar contigo, meu amor.
— Ainda bem. A senhora só faz dormir e cuidar do Christian
ultimamente.

— Desculpa, meu amor. Tudo vai se ajeitar logo, prometo. Ligue a


babá eletrônica, Enrico.

— Sim, anjo.
Ligo o aparelho ao lado do berço e levo comigo o receptor. Sentamo-
nos à mesa, que já estava posta e com a comida fria. Coloco a babá eletrônica
entre mim e Summer e começamos a nos servir.

Summer conversa animada com Andrew e eu não consigo ter olhos


para mais nada. Formei a família perfeita, com a mulher que amo e com os
filhos mais carinhosos e lindos que um pai poderia pedir a Deus.

Eu sou completo.
Estou muito feliz que tenha chegado até aqui. Isso quer dizer que você
deu uma chance ao romance. Uau! Que felicidade!!! Muito obrigada por ter
lido.

Eu adoraria saber o que achou da leitura!

Eu posso pedir que, se gostou dela, indique para suas amigas e


amigos, e principalmente, que avalie na Amazon. Não sei se você sabe, mas
essas avaliações, nem que sejam uma frase apontando seu carinho pelo livro,
ajudam demais o meu trabalho!!! As avaliações incentivam outros leitores
que não me conhecem a ter uma opinião sobre o livro e assim, quem sabe, eu
conquiste novos leitores. Lembrando que, se leu pelo aparelho Kindle, depois
é necessário entrar no site por seu celular ou computador, pois aquelas
estrelas que damos no final da leitura dos livros digitais não são exibidas.
Pode não parecer muito, mas alguns minutos de sua dedicação ao
escrever algumas palavras sobre o romance fazem muita diferença para meu
livro e minha carreira.

Quero reforçar o convite para fazer parte do meu grupo do WhatsApp.


Entre em contato comigo por alguma de minhas redes sociais e solicite a
entrada no grupo. Você será muito bem-vindx e sentirá todo o amor da minha
família Tyannetes.

Escrevo esta parte com o coração transbordando alegria, pois sei que
leu o livro todo. Obrigada. Obrigada. Obrigada.
Beijos,
AHA!

Te peguei no flagra, hein!


Pensou que eu ia ficar de boas, só esperando você ignorar meu
primeiro recado lá embaixo? Eu não perco uma batalha tão fácil!

Você está prestes a saber o final do romance, então este é o seu último
aviso.

Dê uma chance a este livro, controle a ansiedade e o leia de forma


tradicional.

Eu ainda posso tentar psicologia reversa, quer que eu o faça?

Bem, eu tentei. Ninguém pode dizer que eu não tentei.

rsrsrsrsrsrs

(fechando meus olhinhos para o que está prestes a fazer)

Brincadeiras à parte, tenha uma excelente leitura, com ou sem


spoilers!

Com muito amor,


Todos os sorteios feitos no livro foram realizados da forma tradicional
na vida real. Eu enrolei o nome dos desejos em pequenos papéis e coloquei
em um potinho. Quando aparecia uma situação em que tinha que escolher
entre um deles, ou executar um sorteio, lá estava eu puxando papéis para
saber a ordem dos rapazes.

Isso inclui também as cores das calcinhas que cada um escolheu. Eu


não consegui escolher por eles, então foi feito um sorteio para saber qual
seria a cor preferida de cada um.
Agradeço especialmente minhxs leitorxs maravilhosxs, que me
enchem de ideias incríveis como a deste livro. Este foi um livro delicioso de
escrever (em muitos sentidos – rsrsrsrs) e muito graças ao incentivo de vocês.

Espero que eu tenha conseguido escrever um romance à altura de


nossas conversas, e, apesar de ter apenas o plot daquele bate-papo: “Uma
mulher vai ficar com muitos caras ao mesmo tempo”, me emprenhei ao
máximo para deixar este livro inesquecível para todos que o lerem hoje, em
sete semanas ou em um futuro muito distante. Que a construção dos
personagens tenha atingido suas expectativas e que eu tenha agradado ao
máximo de vocês que leram até aqui, afinal, este livro é todinho dedicado a
vocês, leitores.

Na mesma linha de meus agradecimentos, tenho que lembrar sempre


de agradecer à minha equipe de revisão show: Fernando Duca e Leticia
Borges. Tanta pressão em seus ombros, em tempos tão complexos que
estamos vivendo (este livro foi escrito durante a epidemia de Covid-19 em
2020), só me faz ter mais orgulho de tê-los como profissionais e, acima de
tudo, amigos.
Quero agradecer especialmente à minha beta Roberta Macedo, pois
ela passou por muitas dificuldades este ano, como uma enchente que
enfrentou em sua cidade. Mesmo assim, com tudo o que enfrentava, não
abandou a leitura. Poxa, gratidão e amor sempre amiga. Você é uma guerreira
e eu torço muito para que tenha um futuro próspero e cheio de conquistas.
Você merece!

Queria também agradecer minha amiga querida e assessora, Val


Gonçalves, por todos os puxões de orelha, conselhos e carinho. Você é muito
especial.
A meu marido, que me apoia em todos os meus sonhos e é
testemunha diária do meu esforço, empenho, dedicação e amor por meu
trabalho.

Obrigada também às minhas leitoras: Flávia Soares, Juliete


Nascimento, Aline Pereira, que me ajudam com meu grupo do Facebook.
Vocês são incríveis, pois estão sempre buscando formas de animar e
movimentar a rede social.

Obrigada também a todas as minhas parceiras, que fazem parte da


minha vida em tantos meios de comunicação (principalmente o Instagram).
Vocês são tão queridas e especiais. Sou muito grata à vida por me
proporcionar trabalhar ao lado de pessoas tão competentes e carinhosas.
Saibam que vocês são influenciadoras e fazem toda a diferença para o mundo
de muitas pessoas, então sim, vocês são indispensáveis para o coração de
seus seguidores. Vocês arrasam muito todos os dias.

Não posso deixar de agradecer a tantas amigas escritoras por quem


tenho um carinho que não cabe em mim. Nos encontramos em muitos grupos,
nos apoiando e dividindo alegrias e sofrimentos. Nos apoiamos para tentar
caminhar juntas contra a maré que é o meio literário, mas que, ao final, as
amizades e conquistas são uma benção de complexidade, carinho e
companheirismo. Dizer nomes seria injusto com muitas que ficariam de fora,
mas se está lendo este trecho e ele lhe tocou, e sabe de nossa amizade, sim,
esta parte foi dedicada a você.
E para este livro eu tive a ajuda de um time muito especial. Elas me
ajudaram com a última leitura do romance. Patricia Mitsunari, Debby Costa,
Ingridy Estefany, Flávia Soares, vocês arrasaram muito. Obrigada.

Por fim, e nunca menos importe, meu obrigada especial às minhas


maravilhosas, incríveis, lindas, supremas Tyannetes. Meu grupo de
WhatsApp que ganhou dimensões épicas e que hoje é o grupo mais fofo,
querido e amado por mim. Vocês iluminam minha vida e me dão força para
escrever os próximos parágrafos dessa história como escritora que tento
construir com tanto amor e empenho.

E se você chegou até aqui, porque deu uma oportunidade ao livro,


espero que minhas palavras de abertura não tenham sido em vão. Que você
tenha se apaixonado pelo romance e que o leve em um potinho cheio de amor
por toda uma vida. E, é claro, meu mais sincero e cheio de amor: Obrigada.
Eu sei que algumas pessoas ADORAM spoilers! Acho isso incrível,
respeito, já que cada um tem o dom de ser um indivíduo extraordinariamente
complexo e cheio de diferenças.

MAS

Se você for dessas pessoas, eu tenho um pedido muito especial a lhe


fazer:

Por favor, não leia o final do livro, leia-o na sequência e se


surpreenda com cada parágrafo. Mergulhe no mundo de Summer e
seus sete desejos, descobrindo cada parágrafo e revelação,
emocionando-se com cada descoberta e se divertindo com cada
parte cômica.

Dito isso, só posso dizer que eu tentei.

HahahAHahaHahAha
MEU DESEJO DE ROCK

Sinopse:
Quando Jéssica Alves descobre que sua banda de rock preferida vai
tocar na cidade, a alegria logo é substituída pela tristeza ao perceber que não
tem como pagar pelo ingresso. Um milagre vem na forma de um encontro
inesperado e Jéssica consegue ir ao show.
Só que esse momento muda tudo.

Recebendo uma proposta de emprego que exige que ela se mude para
São Paulo, a garota tem de escolher entre trabalhar na equipe da banda
Tensão Elétrica e seguir seus maiores ídolos ou ficar e continuar o curso de
Psicologia que ela tanto ama.
Quando um futuro certo e o futuro dos sonhos colidem, qual caminho
seu coração seguirá?

Ebook: Clique aqui e comece a ler


PARKER’S – O sabor de uma paixão

Sinopse:
Uma mulher.

Dois irmãos.

Um amor que nasce no colegial e se perpetua. Megan casará com um


dos irmãos Parker; o outro sofrerá em silêncio.
Três pessoas unidas pelos laços de família e por suas profissões. O
sacrifício mudo. A glória de ser o melhor. Um acordo mantido em segredo. A
sedução silenciosa.

Vida, trabalho e amor encontram-se traçados até que a roda do destino


gira, pegando todos de surpresa.
Descubra o que o futuro reserva para esse amor.

Ebook: Clique aqui e comece a ler


AMOR COM AROMA DE CAFÉ

Sinopse:
Graduanda em moda e secretária particular de uma das maiores
estilistas do Brasil, a jovem Eduarda Santos não tem muito tempo livre para
se preocupar com a sua vida amorosa. Por isso, sua chefe e, no momento,
única amiga, consegue convencê-la a usar um famoso aplicativo de
relacionamentos.

As coisas não saem muito bem logo no primeiro encontro. A ideia de


desistir da "sorte" que o tal aplicativo pode proporcionar bate com força total.
Porém, uma segunda e última tentativa faz com que o caminho de Eduarda
cruze o de Marcos Lopes, barista e dono de um dos cafés mais badalados de
Porto Alegre.

O que acontecerá entre os encontros e desencontros desses dois você


pode descobrir ao acompanhar essa história cheia de brilho, glamour,
passarelas, cafeína e cenas de tirar o fôlego.

Ebook: Clique aqui e comece a ler


MEU DESEJO DE ROCK – AS FÉRIAS

Sinopse:
Os integrantes da banda Tensão Elétrica querem férias e eles vão
infernizar o empresário para consegui-las.

Cada um deles pretende aproveitar de uma forma diferente, e nós


vamos acompanhar nosso amado casal, Alex Lins e Jéssica Alves, em uma
viagem apaixonante.

Nesta novela, cheia de aventuras, revelações, paixões, reencontros e


emoções à flor da pele, vamos acompanhar os dias que se seguem após a
turnê nacional e que antecedem a viagem para a realização da tão esperada
turnê pela Europa.

Ebook: Clique aqui e comece a ler


VANESSA – Livro 1 da Série Irmãs Agnelli

Sinopse:
Vanessa é uma arquiteta renomada que conquistou o sucesso de sua
carreira por conta própria. Independente e focada, é obcecada por seu
trabalho. Até que um jovem bonito e charmoso cruza o seu caminho de forma
curiosa.

Sem trocarem contatos, ambos não param de pensar no encontro


singular que tiveram.

De maneira tão inusitada quanto da primeira vez, eles se reencontram


e, a partir de então, vivem uma história de amor cheia de complicações, idas e
vindas, e provações que só o amor e o tempo serão capazes de vencer.

A trama é marcada pela presença da conturbada família Carter: um


pai autoritário, uma mãe submissa e irmãs gêmeas de personalidades muito
distintas.
Venha viver esse romance forte e avassalador, em que mundos
diferentes se encontram.

Ebook: Clique aqui e comece a ler


MEU DESEJO DE ROCK – A TURNÊ

Sinopse:

Para comemorar os 10 anos de carreira, a banda Tensão Elétrica fará


uma turnê pela Europa. Entretanto, alguns contratempos pegam os integrantes
de surpresa. Fotos comprometedoras e uma briga inesperada podem cancelar
a turnê ou transformá-la em um grande desastre.

Com os acontecimentos, alguns integrantes se isolam em seus


próprios mundos, e lembranças do passado trazem à tona a esperança de um
amor adormecido. Todos se reencontrarão em Portugal, e a distância entre
eles os deixa ansiosos para esse reencontro iminente.

Uma história que dará continuidade ao livro Meu Desejo de Rock e


que te levará a novas aventuras cheias de surpresas, revelações, emoções,
risadas, romances, músicas e cenas de tirar o fôlego. Venha se apaixonar mais
uma vez com Alex, Jéssica, Beatriz, Roberto, Gustavo e Bill.

Ebook: Clique aqui e comece a ler


JAMAIS TE ESQUECEREI

Sinopse:

Duas crianças unem forças para vencer todas as adversidades das


duras condições que a vida lhes apresenta: o abandono e as ruas. Mas
Samanta e Lucca sempre tiveram um ao outro — desde o aprendizado
forçado, as risadas passageiras, a luta contra as intempéries, a proteção um do
outro. Entretanto, a separação acaba sendo inevitável. Mesmo tentando se
manter sempre juntos, a vida põe o sentimento deles à prova mais uma vez
fazendo com que um desapareça, e o outro o procure por onze anos.

Emocionante e envolvente, este romance vai te levar a um universo


cheio de música, mistério, revelações, risos, tomadas de decisões inesperadas,
realidades fortes e a busca por um passado que unirá ainda mais a vida desses
personagens.

Ebook: Clique aqui e comece a ler


BIANCA – Livro 2 da Série Irmãs Agnelli

Sinopse:

Bianca decide cursar Arquitetura seguindo os passos da irmã: a


renomada arquiteta Vanessa Agnelli.

Ela divide seu tempo entre os estudos e um novo estágio e, graças às


objeções do pai autoritário, seu mundo solitário se torna ainda maior. É nesse
momento que Bianca conhece Tiago e, logo, eles se tornam grandes amigos.
Aos poucos, um sentimento mais intenso passa a existir entre os dois,
algo forte o bastante para fazer com que Bianca, ao lado dele, supere
obstáculos que antes nunca acreditou ser capaz. Entretanto, a relação recebe
um duro golpe, que pode abalar as vidas de ambos para sempre.

Bianca traz um enredo apaixonante, com uma reviravolta


surpreendente, uma gravidez inesperada, um romance que aquece o coração e
aquele suspense de tirar o fôlego.

Venha viver tudo isso e descobrir se ela terá forças para ultrapassar
todas as barreiras e alcançar o sonhado final feliz com seu amado.

Ebook: Clique aqui e comece a ler


MEU FAROL É VOCÊ

Sinopse:
Rafaela é uma jovem de 18 anos que passa pela perda recente da mãe.
Entretanto, ela descobrirá que essa ausência lhe custará muito mais que a
saudade.

Ganância, desespero e fúria serão a combinação perfeita para a


tragédia anunciada quando a jovem inocente é jogada ao mar. Porém, o
destino age em favor dela, que sobrevive graças à luz de um farol na noite
fria.
Lauro é um pescador de 45 anos que, em um passeio pela orla,
encontra o corpo desfalecido da garota na praia. Ele a leva pra sua casa e
oferece ajuda, passando a cuidar da garota. O que o pescador não esperava é
que o destino agiria mais uma vez, traçando caminhos tortuosos em seu
coração adormecido desde a morte da esposa.

Rafaela, sem experiência alguma, vive todas as descobertas ao lado de


Lauro. Seu primeiro beijo, os primeiros toques e a descoberta do amor. E, por
mais que ele lutasse contra aquela atração, principalmente por não aceitar a
diferença de idade, o amor voltou a renascer onde ele achava que mais nada
brotaria.
Meu farol é você é um clichê, mas que contém muitas surpresas. A
história apresenta momentos para suspirar e outros que causam aflição pela
continuação do próximo capítulo. Uma história com um final surpreendente e
que deixará saudade em seu coração.

Ebook: Clique aqui e comece a ler


ALICE – Livro 3 da Série Irmãs Agnelli

Sinopse:
Alice é a mais extrovertida de todas as irmãs Agnelli. Sabe o que quer
e nunca desiste de seus sonhos. Mas ao decidir cursar a faculdade em outro
estado com o namorado, enfrenta seu primeiro grande desafio: a resistência
do pai.

Contando com a ajuda inicial da irmã mais velha, ela enfrenta


obstáculos para se manter na nova cidade. Para provar que é capaz de vencer
na vida sozinha, corre atrás de uma bolsa de estudos. O que Alice não
imaginava era conseguir a vaga para a bolsa tão almejada com o professor
Leonel Queiroz, um dos homens mais cobiçados por todas as mulheres da
Universidade.

Ela não nega a atração irresistível que sente por esse professor, mas
também não quer abrir mão do seu namoro. Quem disse que o amor precisa
caber em uma caixinha da normalidade? Essa irmã Agnelli vai mostrar
diferentes formas de amar e ser amada.

Ebook: Clique aqui e comece a ler


SARAH – Livro 4 da Série Irmãs Agnelli

Sinopse:
Sarah se casou com um homem que, a exemplo de seu pai, é egoísta e
autoritário, e agora se vê forçada a viver uma submissão sofrida. Uma mulher
que sempre havia sido forte e independente, aos poucos se tornou incapaz de
entender que o amor não habita um relacionamento marcado por abusos
físicos e psicológicos, e se conforma em tê-lo sempre às margens de sua vida.

Mal sabe ela que o grande e verdadeiro amor existe. Ele pode estar
mais perto do que imagina, na figura de Miguel, um amigo de infância, que a
ama em segredo. Algo está prestes a se romper na vida de Sarah, quando seu
coração se torna palco de um duelo entre dois sentimentos controversos:
permanecer presa ao duro destino, ou arriscar tudo e se entregar ao amor?

O último livro da série irmãs Agnelli, narra uma história impactante


que, por vezes, confunde-se com a realidade. Prepare-se para viver intensas
emoções.
MEU DESEJO DE ROCK – EM FAMÍLIA

Sinopse:
De volta ao Brasil, cada casal terá que enfrentar seus próprios
desafios!

Alex e Jéssica descobrindo os prazeres e as dificuldades de se


tornarem pais.

Bill e Mônica e todo o esforço para tornar realidade o sonho de seus


filhos.
Beatriz e Roberto, encarando juntos um enorme impacto que atinge a
família dele.

E Gustavo e Amanda... Será que o amor que nasceu de um encontro


inesperado irá vencer todas as dificuldades que serão impostas a eles?
Meu Desejo de Rock – Em família é um livro com uma pegada mais
aconchegante, para nos colocar dentro da casa dos nossos casais favoritos,
para fazer parte do cotidiano deles, para nos emocionar com os laços que os
unem a todos, para descobrir que amores antigos e novos são inquebráveis
quando existe confiança e respeito.

Ebook: Clique aqui e comece a ler


MEU DESEJO DE ROCK – FIM DE ANO

Sinopse:
Os rapazes da banda Tensão Elétrica estão de férias! Como os bons
meninos que são, passarão o Natal e a virada do ano com suas famílias.

Acompanhe as aventuras de cada integrante em quatro contos


surpreendentes de aquecer corações – e outras partes do corpo!

Vamos viajar com Alex e Jéssica; Roberto e Beatriz; Gustavo e


Amanda, além de Bill e sua amada esposa Mônica. Conheça lugares lindos e
paisagens exóticas, enquanto eles vivem situações de tirar o fôlego - o deles e
o seu.

Venha se divertir e conhecer mais intimamente os quatro roqueiros


mais amados do Brasil, enquanto eles vivem a magia do Natal e Ano Novo.

Ebook: Clique aqui e comece a ler


EU E MEUS SETE DESEJOS

Sinopse:

Summer é uma jovem com uma garra inabalável, determinada a vencer


obstáculos e alcançar seu tão almejado sonho: ser fotógrafa da National
Geografic.
Em dúvida sobre seu futuro amoroso, a jovem decide passar as festas
de fim de ano com seu pai, no Brasil. O que ela não sabe, é que essa viagem
vai mudar sua vida para sempre.
Summer se vê diante de uma situação que a faz refletir profundamente
sobre seus valores, amarras e tabus. Um momento em que seus princípios
serão colocados à prova pelos seus sete desejos.
Sete homens que a desejam com a mesma intensidade.
Sete maneiras de sentir e dar prazer.
Sete caminhos para seguir e ser aceita.
Sete formas de receber amor sem ser julgada.
Será que amor e luxúria podem andar lado a lado? Summer está prestes
a descobrir essa resposta em: Eu e meus sete desejos
Tyanne Maia é cearense e mora com seu marido e cinco filhos de
quatro patas (todos gatos). Já publicou dois livros infantis e alguns contos de
suspense em antologias coletivas. É uma ávida leitora, apaixonada por filmes
e séries e louca por música. Sem contar que adora pizza e sorvete.

Ela escreve desde criança, mas quando nova, não entendia que as
letras poderiam se tornar, um dia, sua profissão. Escrever sempre foi algo
muito natural, que a acompanhou a vida toda, não lembrando exatamente
quando começou, mas sabendo que ainda não parou. Ela costumava dizer que
não se sentia sozinha, pois estava sempre acompanhada de seus personagens.
Hoje dedica-se exclusivamente a seus romances. Apesar de seus
livros terem teor erótico, esse não é o foco de suas histórias, e os temas
abordados vêm em primeiro plano. Então estejam preparados para encontrar
assuntos atuais, polêmicos e que merecem ser discutidos, mesmo que as
narrativas venham mascaradas em forma de clichês dramáticos.
Estou sempre pelas redes sociais e caso queira bater um papo, fale
comigo:

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Site: www.tyannemaia.com.br

Playlist: https://is.gd/playlist_tyannemaia
[1]
Revista da National Geografic Society, dedicada a reportagens fotográficas destinadas ao estudo da
natureza e das culturas humanas e suas realizações ao redor do planeta.
[2]
Linda, bonita.
[3]
Paixão.
[4]
Feiticeira maldita. Você quer tirar minha sanidade?
[5]
Linda do meu coração.
[6]
Te quero tanto. Muito mais.
[7]
Linda é você.
[8]
Você é uma delícia de mulher.
[9]
Lente de aproximação, utilizada especialmente para fotos à distância.
[10]
Lente teleobjetiva.
[11]
Fetiche sexual que consiste em se excitar enquanto se observa outras pessoas nuas ou envolvidas
em ato sexual
[12]
Perseguidor obsessivo.
[13]
Agora eu, mamãe.
[14]
Boa tarde
[15]
Sim. Vamos logo.

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